EM DEFESA DA LIBERDADE... Como se viveu a liberdade em Portugal Crescer em democracia Nasci em 1994, no seio de uma família onde toda a gente tem o direito de dizer o que pensa mesmo que seja muito absurdo. As longas conversas com os meus pais em que cada um expõe as suas ideias e as justifica e o hábito de decidirmos algumas coisas por votação com justificação, fazme pensar que isto sempre foi assim. Faz-me pensar que na casa dos meus avós também era assim. Mas não! Os meus pais falam muitas vezes que a educação em casa dos meus avós era bem diferente e ter opiniões diferentes das dos meus avós não era autorizado. Explicaram-me que era o reflexo do tempo que se vivia. Também eles não podiam exprimir as suas opiniões livremente quando falavam com amigos ou na escola ou nos seus locais de trabalho com o receio de que alguém os pudesse ouvir e fosse contar à polícia do governo daquele tempo. Também não podiam estar filiados num partido à sua escolha, porque só havia um e só aquele é que tinha o direito de se representar na que na altura se chamava Assembleia Nacional. Disseram-me também que mesmo a participação em associações culturais e desportivas era controlado pelo governo e os eventos tinham de ser aprovados pela “censura”. Contaram-me que os jornais e revistas só eram impressos depois de uns senhores chamados “censores” lerem todos os artigos e cortarem todas as partes que comprometessem o regime. Além disso, quem escrevia os artigos que lhes desagradavam poderia ser preso e torturado. Havia muita fome encoberta e os trabalhadores eram mal pagos e explorados no horário e na forma de trabalho. Mantinham uma guerra pela defesa das colónias, para onde eram enviados os jovens e onde muitos morriam a lutar pelo que não lhes pertencia e por ideais que também não eram seus. Claro que me contaram muita mais coisas mas só estas já dão para perceber porque gosto de comparar a liberdade ao ar puro. É que para mim que não vivi nada disto se tivesse de viver seria como respirar ar poluído, que mais cedo ou mais tarde mata. Devemos agradecer àqueles que nos proporcionaram a possibilidade de vivermos em liberdade e com liberdade para nos exprimirmos, nos reunirmos, de optarmos politicamente, de não haver presos políticos e termos o direito de, livremente, eleger e sermos eleitos. É que assim o AR é mais puro! Mónica Lopes, 9ºE
Diário de um ex-combatente
6 de Novembro de 1961 Esta madrugada chegou uma patrulha. O comandante desta patrulha, ao sobrevoar a mata para procurar caça, descobriu um acampamento de guerrilheiros; é certo que vamos ter confusão. Ao almoço, os trabalhadores negros fugiram todos quando soaram os tiros. Comi peixe com batatas e, provavelmente, é o que irei comer durante os próximos tempos. Os prisioneiros negros que estavam sob a nossa guarda foram de avioneta para indicarem o caminho para o acampamento do inimigo. Na volta foram lançados sem pára-quedas. Estive de serviço até ao almoço e de tarde fui à praia e joguei à bola com uns camaradas. Quando estávamos na praia, um camarada meu disse uma frase da qual certamente nunca me vou esquecer: “A guerra começou com o gritar do G-3 e irá calar-se com as lágrimas do soldado.” Durante a tarde lembrei-me do dia 28 de Junho, dia em que embarquei no paquete Vera Cruz. Não posso descrever o que me custou a partida. Depois de perdermos de vista a costa, muitos camaradas ainda choravam. Lembro-me que transportávamos todos uma mochila com um cobertor e duas ou três injecções para ajudar a combater uma picada de algum insecto ou animal. São 22 : 20, acho que me vou deitar, estou bastante cansado. Transportar uma G-3 e um sabre todo o dia cansa. Estou a lembrar-me da Isabel e apetece-me chorar, mas não posso! João Nobre, 9ºA (baseado no relato de um familiar)