Lado a lado, os dois músicos posam para a objectiva de Michel Giacometti. A sonoridade dos instrumentos pouco importa. O semblante sério revela o respeito que a situação lhes cria. E as mãos, junto às cordas e aos botões, tocam músicas que temos na memória. As obras que vemos em fundo são o país em profunda transformação, pela emigração, a guerra colonial, o fim da agricultura como actividade principal. A viola tem já as marcas de uma modernidade desejada, no tampo, com sombreados que imitam os violões de série dos conjuntos de baile. As decorações de embutidos junto ao cavalete fazem a ponte com um outro tempo em que os artesãos cuidavam das marcas que nos permitem encontrar semelhanças com as violas tocadas no Brasil e em Cabo Verde, levadas pelos tocadores do Norte de Portugal. A concertina é claramente o instrumento vencedor na disputa dos terreiros onde se dançava, das festas e romarias em que a viola foi perdendo espaço e repertório, incapaz de competir com uma sonoridade mais forte e com tocadores que acrescentavam ao repertório popular as músicas em voga na rádio. Seria preciso esperar mais alguns anos para que os dois instrumentos pudessem tocar lado a lado, através da captação electrónica onde o timbre e potencialidades de cada um são preservados. São por isso instrumentos de um presente que o Michel também desejou. Domingos Morais (Junho de 2009)