14.03C Pesquisador de civilizações antigas (por ocasião do centenário do nascimento do acadêmico Boris Piotrovsky) O museu Hermitage, de São Petersburgo, comemora neste ano o centenário do nascimento do acadêmico Boris Piotrovsky – eminente arqueólogo, orientalista e historiador russo, que chefiou durante mais de vinte e cinco anos, - de 1964 a 1990, - este acervo famoso de valores artísticos mundiais. Boris Piotrovsky esteve ligado a Hermitage não somente durante os últimos vinte e cinco anos da sua vida, quando chefiava este museu. Está vinculado a este acervo de cultura por toda a sua biografia: chegou aí secundarista de 14 anos, apaixonado pela história e cultura do Antigo Egito. Foi precisamente em Hermitage, que dispõe de uma coleção rica de monumentos do Egito antigo, ele começou a estudar a língua e a arte desta grande civilização. Mais tarde, já estudante universitário, Piotrovsky ajudava na qualidade de voluntário a organizar e efetuar exposições de Hermitage, jamais renunciando mesmo ao trabalho mais pesado. Depois foi durante muitos anos pesquisador do museu, completando as suas coleções com novos objetos, encontrados nas expedições arqueológicas. Boris Piotrrovsky foi fiel durante toda a sua vida ao seu primeiro “amor” cientifico – história do Egito. Mas foi parar nesta terra antiga só em 1961, quando era já cientista de renome mundial. Irradiava textualmente a felicidade, não parando de repetir: “É como um conto de fadas – vai realizar-se o meu sonho de ver o Egito com olhos próprios”. Esta sua viagem de pesquisas cientificas foi realizada sob o patrocínio da UNESCO, que tinha resolvido estudar mais detalhadamente os monumentos da cultura no território, em que naquela época estava sendo construída a barragem de Assuan. Depois da conclusão da obra, o planalto deserto de Vadi Alaki, famoso desde épocas mais remotas por seus terrenos auríferos, foi inundado pelas águas do rio Nilo. Não foi por acaso que Boris Piotrovsky queria tanto participar desta expedição arqueológica: mais
tarde ele resumiu os seus resultados na monografia cientifica “Vadi Alaki, uma via para minas de ouro”, que virou best–seller da egiptologia moderna. Porém a mais importante descoberta cientifica da vida foi feita por Boris Piotrovsky no Cáucaso. As suas escavações na proximidades de Yerevan, capital da Armênia, evidenciaram que nos séculos 9 – 6 antes do Cristo aí existia realmente o Estado de Urartu, tido até então como algo quase mítico. A informação, recolhida pelo acadêmico, juntamente com os seus colegas – arqueólogos, deu início a um ramo novo da ciência – urartologia e Boris Piotrovsky entrou na história mundial na qualidade de fundador desta ciência. Aliás, o mais admirável nisso não é a própria descoberta cientifica, mas, sim, o fato de que a obra fundamental de Piotrovsky “História e cultura de Urartu” foi criada por ele durante a Segunda Guerra Mundial, na época do bloqueio de São Petersburgo por fascistas. Naquela época a cidade chamava-se Leningrado. O acadêmico Piotrovsky estava sempre, juntamente com outros funcionários de Hermitage, dentro do prédio do museu, protegendo-o contra os ataques da aviação e liquidando os resultados dos bombardeios. Nesta época terrível, enfrentando permanentemente a fome, o frio e os incessantes bombardeios, o cientista russo dialogava mentalmente com esta civilização desaparecida, analisando a história do seu florescimento e da sua decadência. Ele restabeleceu um elemento importante do quadro do mundo, o que se pode qualificar, - sem incorrer em exagero, - uma façanha intelectual e moral. Hoje, ao dedicar ao centenário do nascimento de Boris Piotrovsky toda uma série de exposições e de conferências, o museu Hermitage como que abrange todo o espaço mundial da cultura – tanto no plano geográfico, como histórico, - afirma o atual diretor do museu Mikhail Piotrovsky, filho do acadêmico.
(fone) Mikhail Piotrovsky diz que estas solenidades aniversárias tem por objetivo relatar a escola de Piotrovsky, que é a escola da arqueologia russa, e o mundo de Hermitage – mundo personificado por Boris Piotrovsky e pessoas que o cercavam. Era uma geração magnífica e audaz de cientistas e de museólogos. Um outro ponto marcante da atividade de Piotrovsky na qualidade de diretor de Hermitage é a ampliação de vínculos internacionais do museu e a sua transformação em centro de cooperação cultural. Uma das últimas exposições importantes, promovidas em vida de Boris Piotrovsky, chamava-se “Obras-primas da pintura da Europa Ocidental, procedentes dos museus da Europa e dos EUA”. Muitas pessoas consideram até hoje esta exposição como prólogo à atual “expansão” internacional de Hermitage.