Zero Julho 12

  • May 2020
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12 Economia Edição: Lívia Freitag

Florianópolis, julho de 2009

Empresas aderem à rastreabilidade Tecnologia está sendo implementada em SC e permite ao consumidor saber qual é a origem do alimento Além de informações sobre calorias e ingredientes, agora os rótulos de alguns produtos também vão oferecer ao consumidor dados sobre a origem do alimento que está sendo comprado. A tecnologia, chamada de rastreabilidade, está começando a ser aplicada por empresas de Santa Catarina. A Associação dos Apicultores da Encosta da Serra Geral passou a utilizá-la em seus produtos em junho e para a Cooperativa Aurora, de Chapecó, falta finalizar a etapa de impressão do código nas embalagens. O objetivo principal é monitorar a qualidade e a segurança dos alimentos. Por meio de um código impresso na embalagem, o consumidor pode ter acesso pela internet a informações sobre os processos tanto de produção quanto de transporte do alimento. “A rastreabilidade agrega valor ao produto, já que se dá mais certeza ao consumidor da segurança dele. É uma ferramenta de garantia. Caso tenha algum problema, o consumidor pode, através do código, descobrir a origem”, explica Fábio Zanuzzi, coordenador da área de Agronegócios do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae-SC). Zanuzzi idealizou e coordena o projeto implantado pela Associação dos Apicultores da Encosta da Serra Geral. No mercado interno, a rastreabilidade é utilizada, principalmente, como um diferencial do produto. O mel, por exemplo, pode ser comprado hoje em vários lugares, desde supermercados até estradas. “Esse mel pode ser de boa qualidade, mas a falta de um controle de origem ou rastreabilidade não garante uma qualidade consistente do produto,

Joana Caldas

O consumidor tem acesso, via internet, a informações sobre os processos de produção e transporte do alimento. Produtos da Associação dos Apicultores da Encosta da Serra Geral já possuem o código impresso na embalagem que pode não ser mel puro”, afirma Thomas Ekschmidt, autor de O livro verde da rastreabilidade, lançado este mês, e sócio da empresa que desenvolveu a tecnologia de rastreamento de mel. Custo alto As maiores dificuldades em implementar a rastreabilidade na cadeia de produção são o custo e a complexidade do processo. A Associação de Apicultores não revela o valor investido no seu sistema, mas a Cooperativa Aurora estima que foram gastos cerca de R$ 1 milhão no seu. “Custos para promover a rastreabilidade de alimentos são grandes, pois envolvem investimentos em processos logísticos. No caso do Brasil, nas cadeias agroindustriais, são feitas transações principalmente de commodities, onde apenas o preço é relevante”, explica Rosa Moreira

Machado, professora do Departamento de Administração e Economia da Universidade de Lavras, de Minas Gerais, em sua tese de doutorado, Rastreabilidade, tecnologia da informação e coordenação de sistemas agroindustriais. Os valores variam de acordo com o volume de produção da empresa. A rede de supermercados Pão de Açúcar, por exemplo, investiu durante dois anos, até 2008, cerca de R$ 5 milhões no desenvolvimento e implantação de um projeto de rastreabilidade dos produtos in natura de sua cadeia de lojas. Os produtos que possuem esse tipo de tecnologia também apresentam a tendência de serem mais caros que os tradicionais. “Da mesma forma que no início, os produtos orgânicos apresentavam um custo diferenciado em relação ao produto convencional, hoje, muitos produtos

orgânicos têm preços muito competitivos quando comparados com o preço dos produtos convencionais. O mesmo vai acontecer com o produto rastreado”, acredita Ekschmidt. Apesar do preço mais alto, Francisco Gelinski, professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especializado em economia agrícola, entende que quem mais ganha com a rastreabilidade é o próprio consumidor, já que a preocupação com a questão da segurança dos alimentos é uma tendência que cresce desde a década de 90. “A polêmica quanto ao mal da Vaca louca, o aumento da preocupação com o meio ambiente e até com a questão do bem-estar animal fez com que a sociedade ficasse mais apreensiva com a segurança alimentar”, explica. Essa preocupação recai, princi-

palmente, sobre alimentos in natura, que são consumidos em seu estado natural, como frutas, vegetais e leites e derivados. Por estragarem mais rápido que outros tipos de alimento, esses produtos possuem um risco maior de expor o consumidor a contaminações. A Cooperativa Aurora está implementando a rastreabilidade em toda sua cadeia de lácteos e também na suinocultura e avicultura, mas não há previsão de quando a parte industrial - de impressão dos códigos nas embalagens - será finalizada. No final de abril, um incêndio destruiu parte da fábrica da Aurora de Pinhalzinho, no oeste do estado. Equipamentos do setor de queijos, requeijão e manteiga foram perdidos, o que deu um prejuízo de R$ 50 milhões à empresa.

Camila Augusto

Demandas do mercado externo incentivam uso do serviço A preocupação com o mercado externo é um dos principais motivos que impulsionam empresas de alimento a adotarem a rastreabilidade em suas cadeias de produção. Fábio Zanuzzi, coordenador da área de Agronegócios do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae-SC) acredita que a tecnologia logo será exigência para a exportação de todos os produtos. A União Européia (UE) impõe, desde 2002, que toda carne exportada para países da comunidade possua um sistema de identificação e registro de animais. O bloco econômico dá multas para quem não produz segundo as normas da Organização Internacional

de Padronização (ISO). A legislação da União Européia obriga também que todos os alimentos, in natura e processados, vendidos ao consumidor, sejam rastreados. Esse aspecto reforça a necessidade de investimentos na tecnologia de rastreamento no país. Rosa explica que é preciso pagar mais para ampliar a oferta de produtos nessas condições. No mesmo ano em que a UE impôs essas exigências, o ex-senador Carlos Patrocínio (PTB-TO) apresentou um projeto de lei para tornar obrigatória a disponibilização de dados sobre a origem dos alimentos nos rótulos das embalagens, mas o projeto foi arquivado. “É simplesmente o modo

correto de oferecer ao consumidor as informações relevantes antes que se concretize o ato de aquisição de determinado produto”, defendeu Patrocínio na época. Problemas com a UE Recentemente, o Brasil enfrentou problemas com seu Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (Sisbov). No início do ano, houve um desacordo com a União Européia quanto ao número de fazendas certificadas. Enquanto inspetores da UE autorizaram apenas 300, o Brasil apresentou uma lista com 2.600 fazendas . A partir disso, o bloco passou a questionar as garan-

tias de qualidade do Sisbov e, no dia 1º de fevereiro, embargou a importação de carne do país. Para tentar reverter essa situação, o Projeto de Lei 3514/08, que altera as normas para a rastreabilidade de bovinos e búfalos, está aguardando análise do Senado Federal. O PL foi aprovado no último dia 24 de junho na Câmara dos Deputados. As mudanças foram definidas por uma Subcomissão Especial criada em março desse ano. Caso seja aprovado, produtores terão até 2 anos para se adaptarem à lei. A rastreabilidade será feita pela marca no animal - a fogo ou em tatuagens, através da guia de trânsito (documento obrigatório que acompanha a

movimentação do animais), pelo atestado de vacinação e pelo registro nos serviços de inspeção. As novas regras tiram a exigência de que o serviço seja feito por certificadoras, empresas privadas autorizadas pelo governo. Segundo informações do jornal O Estado de São Paulo do dia 11 de julho, o Ministério da Agricultura vai investir, também, R$ 1 milhão em um sistema de rastreabilidade eletrônica de gado no Pará. Em junho, as três maiores redes de supermercado do país suspenderam a compra de produtos bovinos de 11 frigoríficos do Pará que não davam garantia de que a carne não provinha de áreas desmatadas. (C.A)

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