Xamanismo

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XAMANISMO Vanderlei Dallagnolo1 Blumenau, 25 de novembro de 2005 1 INTRODUÇÃO Este trabalho refere-se ao resultado de uma pesquisa sobre Xamanismo. A religião, em geral, é um assunto extremamente controverso, sem falar nas suas implicações. Geralmente, conceitua-se a religião pelo termo latino “religare”, com o intuito de expressar uma religação do homem com Deus, princípio criador/divino ou realidade transcendental em relação à realidade mundana do cotidiano. Entretanto, isto não é um consenso e outras fontes citam que o termo religião pode ter origem em outras expressões como “reler” (do latim, relegere), “reeleger” (do latim, religere) ou “deixado pelos antepassados” (do latim, relinquere).(WIKIPÉDIA, 2006). Existem também algumas tentativas de classificação do fênomeno religioso, entretanto, também de modo arbitrário e não consensual. Uma classificação concisa e aceitável, divide as religiões em PANTEÍSTA, POLITEÍSTA, MONOTEÍSTA, ATEÍSTA e NEO-PANTEÍSTA2. (VALÉRIO, [ca. 2000]). Entretanto, também esta classificação tem suas limitações. Por exemplo, mesmo analisando as religiões monoteístas ocidentais3, veremos que elas têm componentes do politeísmo. O que significa dizer que as religiões têm em maior ou menor grau características de um ou outro tipo da classificação, não sendo puramente monoteísta ou ateísta, etc. Existem inúmeras manifestações religiosas oriundas de várias partes da Terra, que são todas colocadas sob a mesma denominação, o Xamanismo. Entretanto, essa visão gera muito mais confusão do que algum esclarecimento. É muito comum vermos situações onde o termo xamã é empregado como sinônimo de bruxo, mago ou feiticeiro, o que não descreve muito bem a realidade. Muitas vezes, realmente, o Xamanismo engloba atividades que podem ser consideradas como bruxaria, magia ou feitiçaria, mas estes termos têm conotação própria e não exprimem toda a dimensão do que seja o Xamanismo. O motivo desta confusão é que, na verdade, as práticas xamânicas estão na base ou origens das práticas que deram origem as religiões modernas e a toda uma gama de exoterismos diversos. Esta afirmação deve ser interpretada do ponto de vista de que o Xamanismo é a primeira e mais antiga forma de religiosidade (remontando ao Paleolítico) e não que seja uma forma primitivamente inferior das religiões atuais.

2 XAMANISMO 1

[email protected] PANTEÍSMO remete à idéia de que Deus é Tudo. POLITEÍSMO remete à idéia de que Deus é Muitos. MONOTEÍSMO remete à ideia de que Deus é Único. ATEÍSMO remete à idéia de que Deus é Nada. NEOPANTEÍSMO está entre monoteísmo e panteísmo, mas com algumas peculiaridades 3 Religiões monoteístas ocidentais são CRISTIANISMO, JUDAÍSMO e ISLAMISMO 2

O Xamanismo é um conjunto de práticas muito antigas que tem três objetivos principais: a cura do indivíduo, o auto-conhecimento e a proteção da comunidade. O nome Xamanismo deriva de xamã, que é o praticante desta “arte”. Mas, praticante num sentido muito mais profundo do que a mera repetição de rituais e fórmulas prontas. Praticante no sentido de quem vive na prática uma outra forma de ver e vivenciar a realidade. A palavra xamã é derivada de saman na língua do povo Tungu da Sibéria4. A palavra saman significa alguém que está excitado, comovido, “elevado”, e é a denominação do indivíduo que realiza curas neste povo. Este é um ponto muito importante para o entendimento do que é o Xamanismo, pois a capacidade de entrar em estados alterados de consciência5 é característica preponderante do xamã. Como as primeiras pesquisas antropológicas sobre as práticas xamânicas foram realizadas com o povo Tungu, o nome xamã acabou se disseminando a medida que pesquisas eram feitas com outros povos de diversas partes do mundo e encontravam-se características semelhantes.

FIGURA 1 - Xamã Khorolkan da Tribo Kambaghir dos Evenk (Tungu), início do sec. XIX FONTE: http://www.salves.com.br/xamanism.htm

Em certos povos o conhecimento xamânico é mais ou menos disseminado por toda a população, sendo o xamã apenas a figura central e dirigente do aspecto espiritual da vida. 4

A Sibéria (Russo: Сиби́рь, Sibir) é uma vasta região da Rússia e do Norte do Cazaquistão, integralmente no norte da Ásia, estendendo-se dos Urais ao Oceano Pacífico, e para sul desde o Oceano Ártico até aos montes do centro-norte do Cazaquistão e até à fronteira com a Mongólia e China. (WIKIPÉDIA, 2006) 5 O estado alterado de consciência, geralmente denominados pela sigla EAC, é um estado onde observamos diferenças de percepção e de comportamento cerebral. Podem ocasionar as mais diversas manifestações e experiências, bem como déficit ou aumento das percepções e atenção. Melhor identificado por aspectos subjetivos do que por medições objetivas, como o eletroencefalograma.

Em outras situações o xamã é detentor exclusivo de todo o conhecimento sobre estas práticas. O xamã trabalha com praticamente todos os elementos da natureza. Pode também fazer uso de (tanto em si como recomendar) rituais e práticas diversas como abstinências, jejuns e isolamentos. Pode induzir ou colocar-se em estado alterado de consciência a fim de entrar em contato com uma realidade não ordinária de onde obtém os recursos necessários para atingir determinado objetivo. Sobre este ponto é interessante frisar a respeito do uso de plantas específicas com o objetivo de atingir estes estados específicos. Estas plantas também são conhecidas como plantas de poder. Uma destas bebidas é conhecida como AYAHUASCA, que significa cipó da alma.

FIGURA 2 - Banisteriopsis caapi - o cipó utilizado na produção da AYAHUASCA FONTE: http://www.amazonlink.org/biopirataria/ayahuasca.htm

Sobre regras de comportamento, dogmas e afins Walsh6 (apud RUPANCO, 2006) nos informa o seguinte. “No xamanismo não existem dogmas ou regras obrigatórias a seguir, sua única regra básica é seguir o caminho do coração sempre respeitando a Criação e todas as criaturas(!) através da ligação com as forças da natureza.” (Informação pessoal, grifo meu) Existe um processo para tornar-se um xamã, conforme Artese7 (apud RUPANCO, 6

RUPANCO, Karen S.. Xamanismo - Você realmente sabe o que é ? [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por [email protected] em 26 set. 2006. 7 RUPANCO, Karen S.. XAMANISMO - A BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO - PARTE 1

2006), citando Mircea Eliade8: Segundo Mircea Eliade uma pessoa torna-se xamã por: 1) vocação espontânea (chamamento ou eleição); 2) transmissão hereditária da profissão xamânica e 3) por decisão pessoal ou, mais raramente pela vontade do clã. Mas independentemente do método de seleção, um xamã só é reconhecido como tal no fim de uma dupla instrução: 1) de ordem extática (sonhos, visões, transes, etc.) e 2) de ordem tradicional (técnicas xamânicas, nomes e funções dos espíritos, mitologia e genealogia do clã, linguagem secreta, etc.). É sobretudo a síndrome da vocação mística que nos interessa. O futuro xamã singulariza-se por um comportamento estranho; procura a solidão, torna-se sonhador, adora vaguear nos bosques ou lugares desertos, tem visões, canta durante o sono, etc.

(Informação pessoal) Apesar de englobar diversas práticas e instrumentos nestas práticas, o centro da prática xamânica é a obtenção de estados alterados de consciência. Estes estados são obtidos através do uso de determinadas plantas (consumidas na forma de bebidas), através de cantos e danças, através de jejuns e isolamento, através de técnicas respiratórias e postura corporal e, de uma postura (moralmente) específica e maneira de se relacionar com o mundo a sua volta que mantém o xamã em um íntimo contato com realidades não perceptíveis aos sentidos das pessoas comuns. Existem, inclusive, referências a um Estado Xamânico de Consciência. O sonho tem um papel muito importante dentro do Xamanismo. Através do sonho o xamã aprende ou é instruído, obtém informações e, inclusive, executa algumas ações práticas que terão reflexo na realidade convencional. Montardo (2002, p. 43), descreve a relevância do sonho como forma de aprendizado dentro do Xamanismo guarani, onde diz que o “processo de aprendizado ocorre através dos sonhos [...], que inclusive orienta a interpretação dos sonhos e ensina a tocar o mbaraka [chocalho]”; em outro trecho ainda reforça dizendo que a “música guarani é aprendida nos sonhos, em encontros da xamã com guardiões espirituais”. (MONTARDO, 2002, p. 264). A ênfase na obtenção de estados alterados de consciência e controle desta habilidade, não faz do xamã um indivíduo alienado, muito pelo contrário. Ele é capaz de discernir sobre qual o melhor estado a se colocar de acordo com a situação. E também, deve ser capaz de avaliar a mesma circunstância segundo a percepção fornecida por diferentes estados. Conforme Artese9 (apud RUPANCO, 2006), citando Jamie Sams, com ênfase na experimentação e no aspecto iniciático, um “ Xamã é aquele indivíduo que caminhou até os portais do seu inferno pessoal e teve coragem de entrar (!). Um verdadeiro Xamã é aquele que enfrentou e venceu os demônios autoconcebidos do medo, da insanidade, da [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por [email protected] em 26 set. 2006. 8 Mircea Eliade (Bucareste, 13 de Março de 1907 — Chicago, 22 de abril de 1986) foi um historiador e romancista romeno naturalizado estadunidense. (WIKIPEDIA, 2006) 9 RUPANCO, Karen S.. XAMANISMO - A BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO - PARTE 5 [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por [email protected] em 27 setembro 2006.

solidão, da auto-importância e dos vícios ao passar pela gama de mortes do Xamã.(!)” (Informação pessoal, grifo meu)

3 ORIGEM DA RELIGIÃO A origem do Xamanismo perde-se nas brumas da origem da própria história humana. Do desenvolvimento do primeiro sentimento e necessidade de compreensão e relacionamento com uma realidade intangível. As inúmeras similaridades encontradas pelos quatro “cantos” da Terra, de práticas religiosas, místicas, de cura, proteção e auto-desenvolvimento, de tal forma semelhantes que dão caracterizadas sob o nome de Xamanismo, nos fazem conjecturar uma mesma fonte ou origem para tal categoria de conhecimentos. Ou essa fonte é acessível a todos em qualquer tempo e lugar, fazendo com que ressurjam os elementos que convergem para as práticas xamânicas ou, adentrando um pouco no terreno da antropologia biológica10, houve uma fonte primordial que desenvolveu estes conhecimentos e, após milênios de migrações e expansão, o conhecimento se disseminou com a humanidade por todo o mundo. Existe, também, uma terceira opção que seria um misto das duas anteriores. Particularmente, enxergo o Xamanismo como mais um exemplo de que o ser humano vai intuindo e re-descobrindo ciclicamente os mesmos conceitos, pois todo o saber provém de uma única fonte, acessível a todos e a todo momento. O meio é que define quais aspectos serão preponderantes ficando mais ou menos aparentes dependendo da circunstância. Por exemplo, o uso das chamadas plantas de poder, que em dada região é amplamente utilizado e recomendado, enquanto em outras não é. Entretanto, todas as demais práticas observadas entre ambas estas regiões podem permanecer muito semelhantes, bem como sua mitologia e cosmologia. Também levando em conta a questão da disseminação destas práticas a partir de uma única fonte, convém lembrar das evidências físicas que levam-nos a acreditar que os povos ameríndios eram descendentes dos primitivos habitantes do extremo oriente (como os antepassados dos primeiros povos classificados como praticantes do Xamanismo na Sibéria). Esta migração teria ocorrido supostamente, durante uma das eras glaciais quando havia uma espécie de ponte ligando as extremidades do Estreito de Bering. Entretanto, este fato apenas explica a disseminação destas práticas a partir da Ásia para o continente americano, não explicando a sua disseminação por todo o mundo, como é observado.

10

A Antropologia física ou biológica estuda o surgimento do homem, suas migrações e evolução até os dias atuais

FIGURA 3 – Foto de satélite do Estreito de Bering FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estreito_de_Bering Portanto, no tempo, costuma-se localizar a origem destas práticas em uma das fases do período conhecido como Paleolítico (cerca de 80 mil anos a.C). Já no espaço (geográfico) parece que é apressado definir uma única origem, haja visto que estas práticas aparentam ser inerentes ao desenvolvimento da expressão religiosa humana em toda parte.

4 PRINCIPAIS CRENÇAS As práticas xamânicas são encontradas em todos os continentes, praticadas por diversos povos, sob as mais diversas formas. Entretanto, alguns pontos em comum podem ser traçados dentro desta multiplicidade. Podemos citar como exemplos, o totemismo, o animismo, a existência de outros mundos ou planos de realidade, a existência de uma energia inerente a todos os seres e elementos da natureza, a existência de um procedimento para torna-se um xamã, o aspecto cíclico e rítmico da natureza refletindo na vida humana, a devoção e reconhecimento de Deus em todas as manifestações do Universo. O totemismo é um conjunto de crenças e práticas que se refere a uma relação próxima ou de parentesco entre os elementos da natureza (animais, fogo, água, rochas, etc) e grupos humanos ou clãs. Daí resulta a crença no chamado animal de poder; espírito de animal que empresta algumas de suas características às pessoas sob sua influência, bem como as protegem. Verificam-se em algumas circunstâncias onde o clã ou pessoa que se identifica com determinado totem personaliza determinadas características do totem, por exemplo, na maneira de se vestir.

FIGURA 4 – Representação de Totem no Alasca FONTE: http://www.alaskacdc.org/acdc_photo_album1 O animismo é a crença de que todos os elementos da natureza (cósmicos, naturais e animais) possuem um princípio vital e pessoal. Significa que num certo sentido todos estão vivos e manifestam uma espécie de consciência. Esta consciência pode ser diversa daquela presente nos seres humanos, mas muitos atributos seriam idênticos (como capacidade de percepção, comunicação e relação com outros seres). No Xamanismo também temos a crença na existência de diversos planos da realidade; os planos não ordinários sendo acessíveis através da indução a estados alterados de consciência. Estes planos são habitados por diversas categorias de seres e possuem leis próprias. Estes planos de realidade são muito úteis para o xamã na realização de seus trabalhos, pois neles é possível contatar seres que podem auxiliá-lo (como espíritos guardiões, animais de poder, etc). Através deste planos é que o xamã realiza o “vôo da alma”, onde conseguiria deslocar sua consciência através do espaço (as vezes em forma de ave conforme relatado) para obtenção de informações inacessíveis de outra forma. Também é praticamente consensual o procedimento para tornar-se um xamã autêntico. Independente do indivíduo ter sido escolhido ou ter optado voluntariamente por esta vocação, existe a crença de que ele somente será um xamã após um processo iniciático. Ele deve empreender uma jornada (simbólica, extática ou real) na qual morrerá simbolicamente, para renascer como xamã. Existe no Xamanismo um profundo senso de que os ritmos e ciclos da natureza devem ser respeitados. Exatamente como ocorre para uma adequada relação com o meio ambiente; uma vida em contato com a natureza. Estas observações se refletem na vida cotidiana do ser humano e servem como fatores no processo de cura e compreensão das causas dos problemas. Lembra muito o conceito da relação entre macrocosmo e microcosmo encontrado em diversas linhas de pensamento. Provavelmente estas devem ter

sido originadas das observações xamânicas sobre o reflexo das manifestações, épocas e “humor” da natureza sobre o comportamento humano. E, principalmente, existe no Xamanismo, profundamente arraigado, o senso de respeito por todas as manifestações da Criação. Nesta concepção o homem não é superior, nem inferior. É mais um elemento, tão importante quanto todos os outros. A exploração da natureza para finalidades egoístas, sem o cuidado necessário, provocando desequilíbrios ambientais é totalmente contrária a esta visão. 5 RITOS SAGRADOS Um dos pontos mais importantes sobre o Xamanismo é sua disseminação em toda a parte. Podem ser encontradas práticas xamânicas em todos os locais habitados pelo homem. Inclusive, nas sociedades modernas, em meio a nossas grandes cidades já temos o resgate destas práticas adaptadas a esta nova realidade. Esta miríade de expressões torna difícil exemplificar ritos sagrados que reflitam o Xamanismo Universal (ou como um todo). Talvez, um exemplo sejam as ritualizações sazonais marcando os períodos em que ocorrem as mudanças de estação. São os momentos conhecidos como equinócios. Ao longo da história, em vários locais do planeta foram construídos monumentos que permitem visualizar estes eventos. E, então, eram (são) realizados rituais referentes a estas passagens.

FIGURA 5 – Solstício de verão sobre StoneHenge FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Solst%C3%ADcio

Mesmo em locais onde não houve o desenvolvimento dos conhecimentos astronômicos que permitem observar ou prever estas alterações, as mudanças ciclícas da natureza (por exemplo, das estações) eram observadas de outras formas. Como, por exemplo, através das mudanças na vegetação e comportamento dos animais. E então, também eram realizadas as ritualizações. Muitas das religiões modernas substituíram estes rituais originais (baseados na observação dos aspectos da natureza), por outros baseados em seus sistemas de crença, fazendo com que se perdessem, ao longo do tempo o significado original destas práticas ou de certos monumentos em muitas regiões. Esta ritualização e observação da sazonalidade está ligada aos aspectos de influência dos ritmos e ciclos da natureza sobre o ser humano.

6 SÍMBOLOS Este é mais um aspecto do Xamanismo no qual é difícil fazer generalizações. O Xamanismo é um conjunto de diversas práticas, disseminadas por várias partes do planeta e com um origem histórica muito antiga, reunidas sob os mesmos princípios. Uma outra característica importante é que diversos povos adeptos destas práticas eram ágrafos, ou seja, não possuíam escrita. E a escrita, nada mais é do que uma forma profunda e altamente sofisticada de abstração por meio de símbolos. Dentre estes princípios, os que denotam uma estreita ligação do homem com a natureza são os mais evidentes. As ferramentas de trabalho do xamã também são os elementos da natureza e, sua própria habilidade de controlar seus estados de consciência (mas ele mesmo é um elemento da natureza). Portanto, é fácil observar que os símbolos no xamanismo são em sua maioria intuídos a partir dos próprios elementos naturais, sem a necessidade de serem criados, manipulados ou “maquiados” em formas ocultas e abstratas. Mas, podem divergir em significado de região para região. Para o xamã, a natureza apresenta sua própria linguagem e ele aprende a decifrar os sinais. E também, os sonhos são extremamente simbólicos para os xamãs. Aos animais são atribuídos muitos significados, mas obviamente que nem todos os animais estão representados na simbologia de todos os xamãs, pois, a fauna varia de região para região. Podemos exemplificar o círculo como sendo um símbolo xamânico muito relevante. Apesar de que é importante frisar, generalizações devem ser atentamente avaliadas na análise de um assunto tão diversificado como este. O círculo representa ciclos. Os ciclos presentes em todas as coisas, desde fenômenos naturais, passando pelo comportamento dos animais, bem como na vida do homem. Ciclos

sem começo ou fim, mas que se repetem infinitamente. E, assim como nos ciclos, também se observam os círculos com freqüência nos elementos da natureza. Os objetos celestes são visualizados como círculos, diversos animais constróem abrigos circulares, etc. Por isto, encontramos muitas menções ao círculo e a observação do movimento circular da vida, no ponto de vista xamânico.

FIGURA 6 – Círculo simbólico FONTE: http://www.fogosagradodobrasil.com.br/ 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Xamanismo é vasto, diversificado, profundo e muito antigo. Mas, apesar das origens remotas isto não significa estagnação. Isto seria contrário a sua própria essência. A natureza é mutável, mas as leis que a dirigem são perenes. Assim, também é o Xamanismo. Adaptando-se a todas as épocas, circunstâncias e caminhos que o homem percorreu, porém sempre mantendo-se dentro da estrita observância do princípio de respeito por todas as obras da natureza. Isto siginifica harmonizar-se com suas leis. Este é o segredo da longevidade do Xamanismo. Ele sempre se renova. Tem mortes aparentes e ressurge novamente mais forte do que antes. Em seu caminho vai gerando novos “filhos”. Todas as religiões têm aspectos xamânicos em seus sistemas. E este processo de criação não terminou ainda. Somente no Brasil temos alguns exemplos de novas expressões religiosas que tem como precursor práticas xamânicas (com a inclusão de novos elementos), como a Umbanda, o Santo Daime, etc. Provavelmente, este movimento ocorre em outra partes também. O resgate de práticas xamânicas no ambiente urbano está em evolução, com ênfase nas práticas terapêuticas. Práticas que vem oferecer algum alívio ao homem moderno, que perdeu seu contato com a Terra e, agora, encontra conforto junto a este “espírito” que a tanto tempo resolveu dar as costas. As habilidades desenvolvidas pelos xamãs podem contribuir muito para a compreensão do psiquismo e da manutenção de uma saúde mental positiva. Sua capacidade de controle dos estados de consciência é o extremo oposto de nossa situação atual. Onde o

descontrole é a regra, percebida nos constantes casos de depressão, ansiedade, estresse, agressividade descontrolada e congêneres. O pensamento xamânico que orienta ao respeito por todos os seres pode ser um remédio valioso para diversos de nossos problemas que iniciam com a falta de respeito por nós mesmos, por conseguinte pelos nossos semelhantes e, no final, restando até um certo desprezo pelo resto do mundo que nos cerca. Obviamente, que não devemos todos nos tornar xamãs. Mesmo em povos totalmente imersos nesta cultura, nem todos são xamãs. O Xamanismo não é a solução milagrosa de todos os nossos problemas. Não creio que exista tal coisa. Mas creio na importância do auto-conhecimento e do posterior autodesenvolvimento. E, neste aspecto a contribuição dos princípios xamânicos é inegável. Também acredito que a exploração (no contexto adequado) dos estados alterados de consciência é uma ferramenta valiosa para uma melhor compreensão do mundo a nossa volta. Talvez seja a porta para os tão aclamados poderes ocultos inerentes ao ser humano. Só saberemos pesquisando e experimentando. Neste ponto também o xamanismo nos dá uma importante lição. Ele nos impele a dar maior relevância para a experiência do que para a crença. Creio ser positiva esta postura. O pensamento a seguir, conclui bem esta pesquisa. “Quando o homem tiver poluído o último rio, envenenado o último peixe e derrubado a última árvore, aí verá que não pode comer dinheiro.” (Autor desconhecido) 8 REFERÊNCIAS ALASCA CDC. ACDC Photo Album. Disponível em: . Acesso em: 26 de setembro de 2006. ALVES, Sergio Pereira. Xamanismo. Disponível em: . Acesso em: 26 de setembro de 2006. ESTREITO DE BERING. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2006. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Estreito_de_Bering>. Acesso em: 26 de setembro de 2006. FOGO SAGRADO DO BRASIL Disponível em: < http://www.fogosagradodobrasil.com.br/>. Acesso em: 26 de setembro de 2006. MONTARDO, Deise Lucy Oliveira. ATRAVÉS DO MBARAKA: MÚSICA E XAMANISMO GUARANI. 2002. 277f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, São Paulo. MIRCEA ELIADE. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2006. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Mircea_Eliade>. Acesso em: 26 de setembro de 2006. RELIGIÃO. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2006. Disponível em:

. Acesso em: 28 de agosto de 2006. RUPANCO, Karen S.. Xamanismo - Você realmente sabe o que é ? [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por [email protected] em 26 setembro 2006. RUPANCO, Karen S.. XAMANISMO - A BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO - PARTE 1 [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por [email protected] em 26 set. 2006. RUPANCO, Karen S.. XAMANISMO - A BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO - PARTE 5 [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por [email protected] em 27 setembro 2006. SIBÉRIA. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2006. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Sib%C3%A9ria>. Acesso em: 26 de setembro de 2006. SOLSTÍCIO. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2006. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Solst%C3%ADcio>. Acesso em: 26 de setembro de 2006. VALÉRIO, Marcus. Religião: o que é Religião. Página pessoal. Disponível em: < http://www.xr.pro.br/Religiao.html>. Acesso em: 28 de agosto de 2006.

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