Viagem no. 1 24/07/2007 TABA das Artes pela manhã condução de Abel pulula mexe quer sair plantas me habitam passeiam dentro da minha barriga a cabeça é livre a cabeça é serpente ele me devora cada músculo por dentro era como se estivesse ali desde sempre. Encoberta por terra, há tanto tempo ali, imóvel. O tempo sem tempo. Saio, tento subir, me desfazer, me desligar. A terra me devolve à terra que conheço sem abrir os olhos. Os braços feito cordão umbilical. A terra me engole. Raízes me transpassam. Só a cabeça se move, percebe. Não quero levantar, quero estar aqui entregue à terra, à mãe, parte da mãe. Quieta. Quero estar quieta. O ventre trepida. Estou em todos os lugares. Me carrego no colo. Sou tudo e sou todos. Sou a minha cadela. Sou a minha amante. Um mundo povoado de Paulas. Gigantescas, as esculturas de Adelina me rodeiam, em círculo. Me observam silenciosas. Vieram me buscar. Um anjo. Aquilo que vim ao mundo para ser. É chegada a hora. A grande mãe me estende os braços. Só eu e ela. As outras duas figuras observam mais ao longe. Eu e ela. Deposita sobre meu ventre um instrumento musical. A ascensão. O canal, o portal. As figuras se vão, de costas, se afastando. Um instrumento diferente. Será redondo? De cordas. Sobre meu ventre. As figuras no círculo me olhando. Uma pequena luz brilha no centro do meu peito.
Respirar. Me perco. Não sei onde estou. Em meio a uma inspiração e outra me esqueço de mim. Mergulho. É um mundo suave. Bexigas coloridas caem do céu às milhares. Eu sobrevôo um campo verde e do céu lanço bexigas. Eu lá embaixo apanho as bexigas. Eu seguro o mundo onde me vejo voando e recebendo as bexigas. Tudo sou eu. Me vejo em cada pequena coisa. Sou casada comigo. Minhas amigas sou eu. Minha cadela sou eu. Me pego no colo. Adelina sou eu. Gorda. Me abraço. Queria abraçar as bonecas de Adelina, grandes, gigantes.