UMA EMPRESA CHAMADA CAMPANHA. Toda Campanha Eleitoral para obter o sucesso esperado deve ser encarada com uma empresa. Uma empresa de responsabilidade ilimitada e tempo de duração limitado. Montada para se vencer a eleição, tem um tempo de duração previsto. Será fechada e baixará o CNPJ assim que o candidato prestar contas aos tribunais, rotina normalmente exercida por especialistas em contabilidade e legislação. Buscando inspiração em Theodore Levitt*, a empresacampanha tem por objetivo mercadológico “Conquistar e manter eleitores para o candidato ao qual está servindo”. E toda a sua estrutura é montada em torno dessa candidatura, mantendo o comportamento o mais empresarial possível com atitudes como: • Obedecer a um organograma. • Ter tarefas claras distribuídas entre seus integrantes. • Prover-se de recursos para sua manutenção. O candidato (tal como o produto), nas eleições proporcionais (para deputados e vereadores) tem que definir sua abordagem e para qual público se destina: Será um candidato de nichos ou votos pingados? Pretende se eleger com os votos dos fiscais da Receita, dos migrantes, dos professores, dos trabalhadores ou definir uma ideologia, uma bandeira? No caso da eleição majoritária, o candidato terá de ser mais plural. Deve responder às expectativas de todas as camadas da população que pretende representar no Senado, administrar como Prefeito ou dirigir como Governador. Os componentes da eleição proporcional têm efeito limitado neste caso. Quem não se lembra do insucesso do slogan “Trabalhador vota em trabalhador” adotado pelos candidatos do PT na década de 80.
Mas essa definição inicial não é apenas uma questão de escolha. Ela surge em função de uma análise mais profunda do meio ambiente eleitoral somada ao retrato do político. Fazer diferente é correr o risco de fracasso. Exemplo disso é a imagem que se tem de um candidato que na vida “civil” sempre foi ligado às elites e de repente, no período eleitoral, é visto comendo pastel no mercado, ou carregando uma criancinha remelenta e barriguda.
A IMPORTÂNCIA DAS PESQUISAS NO PLANEJAMENTO INICIAL. O planejamento empresarial define o comportamento da empresa diante do mercado e todas as suas variáveis. O mesmo processo vale para a empresa eleitoral. Com um planejamento correto, teremos nosso norte definido, saberemos a hora de tomar essa ou aquela atitude, detectamos os pontos fortes e fracos e o mais importante saberemos exatamente os anseios do eleitorado. A bússola que aponta essa direção é a pesquisa. Portanto, antes de colocar o bloco na rua, com plataforma e bandeiras devemos ter um bom programa de pesquisas quantitativas e qualitativas. E, mais ainda, saber ler os resultados dessas pesquisas. Em 2000, nas eleições municipais de Goiânia, as pesquisas apontavam para uma direção. Embora satisfeitos com o prefeito que administrava a cidade, mas não concorria à reeleição, todos os eleitores representados nos grupos ouvidos gostariam de ter uma experiência diferente da que vivenciavam com Nion Albernaz (este era o Prefeito à época). Claro que essa informação chegou a todos os comitês e coordenações de marketing, mas somente o candidato Pedro Wilson, por agilidade ou opção, adotou o slogan: “Pedro é diferente”. E agregou a ele o seu discurso e sua plataforma. O resultado não foi outro: Pedro Wilson foi eleito, embora estivesse, no começo do processo eleitoral, em terceiro lugar e distante do franco favorito. ENTRADAS E BANDEIRAS: AS PLATAFORMAS.
Ao definir sua bandeira e se posicionar em um ponto estratégico na entrada do funil eleitoral o candidato diz ao que veio e está pronto para cair em campo em busca de votos. As plataformas e idéias que serão defendidas, as propostas apresentadas, tudo isso deve estar em coerência com o que foi apontado pelas pesquisas qualitativas e quantitativas. Surge mais uma vez um paralelo entre o marketing convencional e o eleitoral: • O produto pronto e acabado vai para a rua, enfrentar a vontade do consumidor. • O candidato vai para a campanha submeterse à vontade do eleitor. E aí começa a construção do discurso. Dizer aquilo que precisa ser dito e o que ser ouvido. O Produto Eleitoral está pronto para ser colocado ao alcance dos seus públicos-alvos. Não como um produto de prateleira qualquer. E aí, surge o grande debate entre marqueteiros e defensores da campanha pura (como se isso fosse possível). O Candidato fala, tem passado, tem história e compromissos. Ele não pode, de uma hora para a outra transmudar-se em defensor de proprietários rurais para um baluarte do MST. Mudar a linguagem de homem do campo, ligado à produção agrícola e começar a falar o economês dos banqueiros. Em teoria da comunicação isso tem um nome complicado: dissonância cognitiva. Ou seja, o candidato não é percebido pelo seu eleitorado como aquele ao qual deveria dedicar seus votos. Fica algo de falso no ar. E, diante da ameaça o eleitor procura um porto mais seguro. AS FUNÇÕES DE UMA EMPRESA-CAMPANHA. Começou o jogo. O Candidato já está pronto. Tem um discurso na ponta da língua. Sabe em que segmento vai buscar mais votos. Falta, no entanto, profissionalizar sua campanha. Por menor que seja a estrutura que tenha a seu dispor, tanto mais estará próximo do sucesso quanto for organizado.
Em uma campanha, como nas empresas, temos funções variadas, exercidas por especialistas da confiança do candidato, do partido ou por indicação de colaboradores leais. Uma Campanha-Empresa precisa ter, no mínimo e para começar, as funções de: FINANÇAS – Que cuida do caixa da campanha e supre suas necessidades MARKETING – Que define qual será a postura do candidato, sua imagem e engloba toda a comunicação de massa. POLÍTICA – Que organiza as alianças, negociações, o controle dos cabos eleitorais e ligações interpartidárias. MATERIAL - Que funciona como um grande almoxarifado e controla todo o material de apoio ao candidato e seus aliados. MOBILIZAÇÃO – Que cuida da rua. Dos comícios, grandes aparições e mobilizações, contração de artistas, militância a ser mobilizada e distribuição de materiais. Com o tempo vamos acrescentando novas tarefas, e se formando uma infra-estrutura mais claramente definida e com funções determinadas, postas e detalhadas. PLANEJAMENTO DO TEMPO Temos que escolher o timing exato. Não se pode sair antes nem depois. Passamos basicamente por três fases: • Pré-Candidatura • Lançamento Público • Campanha. Mas isso é assunto para outro artigo. Roberto Lima - Consultor Filiado à ABCOP – Associação Brasileira de Consultores Políticos