Trabalho Geografia Humana - Aluno 11087208

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Portugal: Como desenvolver?

Universidade Lusíada de Lisboa Faculdade de Arquitectura e Artes Licenciatura em Arquitectura (Mestrado Integrado)

Geografia Humana

4º Ano – Turma V – Aluno n.º 1108 72 08

André Roldão Salvador Tribolet LISBOA, QUINTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2009

– Univ. Lusíada de Lisboa – Fac. de Arquitectura e Artes – Lic. em Arquitectura (Mestrado Integrado) – – Geografia Humana – 4º Ano – Turma V – Aluno n.º 11087208 – André Roldão S. Tribolet –

ÍNDICE Capítulo

1. 2. 3. 4. ANEXO

Assunto

Página

Enquadramento

2

Temas relevantes

4

Notas

22

Directrizes Pessoais de Abordagem

25

 

CD

Consultas realizadas na Internet Vídeo do texto transcrito declamado por Victor de Sousa.

– Portugal: Como desenvolver? –

– INDICE – QUINTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2009

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1. Enquadramento Vivemos na actualidade um período de incerteza. É uma altura muito interessante para se viver, apesar da incerteza e situações de potencial conflito que nos “batem à porta” no dia-a-dia, em que a crise global é justificação dos dirigentes institucionais para a situação social, económica, financeira e política. Foi neste prisma que nos foi pedido para estruturarmos, através de um trabalho, um conjunto de ideias base, que expliquem como, no nosso entender podemos desenvolver o nosso país, mostrando também que a realidade do nosso Portugal é pequena, não sendo tão afectada pelos movimentos internacionais, mas sofrendo os impactos globais. Alguns conceitos fazem obrigatoriamente parte deste processo de raciocínio. Temos de compreender a nossa história, a nossa cultura, a nossa realidade física, economia, ecologia e geografia. Tendo como base esses conceitos temos maneira de verificar qual tem sido o nosso potencial, enquanto inseridos nos referidos conceitos, para a partir daí ser criada uma teoria/tese a ser testada, avaliada. Para a compreensão dos conceitos base são utilizadas referências várias, conteúdos discutidos em aulas tanto de Geografia Humana, como de História da Arquitectura, Cidade e Território, Urbanismo, Planeamento Regional e Urbano, Sociologia, entre outras da licenciatura em arquitectura. Com base nesses conceitos surgirá uma hipótese/especulação, mas que não tem maneira de ser atestada sem ser verificada in loco através da experimentação em um determinado contexto, controlado e monitorizando os resultados que se vão obtendo.

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Para monitorizar resultados, controlar o produto final desse ensaio, é necessário criar um conjunto de indicadores de desenvolvimento, crescimento, estabilidade e sustentabilidade, ou seja, indicadores relacionados aos mencionados conceitos, na sua relação com a população alvo do ensaio. Temos como ponto de partida o facto de Portugal estar em profunda crise económica, social e política, que caminha a passos largos para a crise ecológica. Somos da opinião que a marca sem retorno já não está longe e é agora que tem de se tomar medidas claras e corajosas, que direccionem os cidadãos, encaminhando-os noutra direcção, a sustentável, que não nos conduza à catástrofe e influencie outros a seguir um rumo paralelo ao nosso, em direcção ao Futuro. Da mesma maneira que a assertividade é a chave para as relações interpessoais, por reunir o que temos de dizer a outra pessoa, com a maneira correcta da outra pessoa a ouvir, a sustentabilidade é a maneira correcta de globalizar, uma relação input/output.

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2. Temas Relevantes Ainda antes, anterior ao séc. XX, Antero de Quental discursa a “Causa da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos” em que identifica que as principais causas da decadência dos povos peninsulares são a contra-reforma, a politica centralizada da monarquia e o sistema económico instalado pelos descobrimentos, ao dizer: «A decadência dos povos da Península nos três últimos séculos é um dos factos mais incontestáveis, mais evidentes da nossa história: pode até dizer-se que essa decadência, seguindo-se quase sem transição a um período de força gloriosa e de rica originalidade, é o único grande facto evidente e incontestável que nessa história aparece aos olhos do historiador filósofo. Como peninsular, sinto profundamente ter de afirmar, numa assembleia de peninsulares, esta desalentadora evidência. Mas, se não reconhecermos e confessarmos francamente os nossos erros passados, como poderemos aspirar a uma emenda sincera e definitiva? O pecador humilha-se diante do seu Deus, num sentido acto de contrição, e só assim é perdoado. Façamos nós também, diante do espírito de verdade, o acto de contrição pelos nossos pecados históricos, porque só assim nos poderemos emendar e regenerar. Conheço quanto é delicado este assunto, e sei que por isso dobrados deveres se impõem à minha crítica. Para uma assembleia de estrangeiros não passará esta duma tese histórica, curiosa sim para as inteligências, mas fria e indiferente para os sentimentos pessoais de cada um. Num auditório de peninsulares não é porém assim. A história dos últimos três séculos perpetua-se ainda hoje entre nós em opiniões, em crenças, em interesses, em tradições, que a representam na nossa sociedade, e a tornam de algum modo actual. Há em nós todos uma voz íntima que protesta em favor do passado, quando alguém o ataca: a razão pode condená-lo: o coração tenta ainda absolvê-lo. É que nada há no homem mais delicado, mais melindroso, do que as ilusões: e são as nossas ilusões o que a razão crítica, discutindo o passado, ofende sobretudo em nós. (…) Já o disse há dias, inaugurando e explicando o pensamento destas Conferências: não pretendemos impor as nossas opiniões, mas simplesmente expô-las: não pedimos a adesão das pessoas que nos escutam; pedimos só – Portugal: Como desenvolver? –

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a discussão: essa discussão, longe de nos assustar, é o que mais desejamos, porque; ainda que dela resultasse a condenação das nossas ideias, contanto que essa condenação fosse justa e inteligente, ficaríamos contentes, tendo contribuído, posto que indirectamente, para a publicarão de algumas verdades. São prova da sinceridade deste desejo aqueles lugares e aquelas mesas, destinadas particularmente aos jornalistas, onde podem tomar nota das nossas palavras, tornando-lhes nós assim franca e fácil a contradição. Meus Senhores: a Península, durante os séculos XVII, XVIII e XIX; apresenta-nos um quadro de abatimento e insignificância, tanto mais sensível quanto contrasta dolorosamente com a grandeza, a importância e a originalidade do papel que desempenhámos no primeiro período da Renascença, durante toda a Idade Média, e ainda nos últimos séculos -da Antiguidade. Logo na época romana aparecem os caracteres essenciais da raça peninsular: espírito de independência local e originalidade de génio inventivo. Em parte alguma custou tanto à dominação romana o estabelecer-se, nem chegou nunca a ser completo esse estabelecimento. Essa personalidade independente mostra-se claramente, na literatura, onde os espanhóis Lucano, Séneca, Marcial, introduzem no latim um estilo e uma feição inteiramente peninsulares, e singularmente característicos. Eram os prenúncios da viva. originalidade que ia aparecer nas épocas seguintes. Na Idade Média a Península, livre de estranhas influências, brilha na plenitude do seu génio, das suas qualidades naturais. O instinto político de descentralização e federalismo patenteia-se na multiplicidade de reinos e condados soberanos, em que se divide a Península, como um protesto e uma vitória dos interesses e energias locais, contra. a unidade uniforme, esmagadora e artificial. Dentro de cada uma dessas divisões as comunas, os forais, localizam ainda mais os direitos, e manifestam e firmam, com um sem-número de instituições, o espírito independente e autonómico das populações. E esse espírito não é só independente: é, quanto a época o comportava, singularmente democrático. Entre todos os povos da Europa central e ocidental, somente os da Península escaparam ao jugo de ferro do feudalismo. O espectro torvo do castelo feudal não assombrava os nossos vales, não se inclinava, como uma ameaça, sobre a margem dos nossos rios, não entristecia os nossos horizontes com o seu perfil duro e sinistro. Existia, certamente, a nobreza, como uma ordem distinta. Mas o foro nobiliário generalizara-se tanto, e tornara-se de tão fácil acesso, naqueles séculos heróicos de guerra incessante, que não é exagerada a expressão daquele poeta que nos chamou, a nós Espanhóis, um povo de nobres. Nobres e populares uniam-se por interesses e sentimentos, e diante deles a coroa dos reis era mais um símbolo brilhante do que uma realidade poderosa. Se nessas idades ignorantes a ideia do Direito era obscura e mal definida, o instinto do Direito agitava-se enérgico nas consciências, e as acções surgiam viris como os caracteres. (…) – Portugal: Como desenvolver? –

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No princípio do século XVII, quando Portugal deixa de ser contado entre as nações, e se desmorona por todos os lados a monarquia anómala, inconsistente e desnatural de Filipe II; quando a glória passada já não pode encobrir o ruinoso do edifício presente, e se afunda a Península sob o peso dos muitos erros acumulados, então aparece franca e patente por todos os lados a nossa improcrastinável decadência. Aparece em tudo; na política, na influencia, nos trabalhos da inteligência, na economia social e na indústria, e como consequência de tudo isto, nos costumes. A preponderância, que até então exercêramos nos negócios da Europa, desaparece para dar lugar à insignificância e à impotência. Nações novas ou obscuras erguem-se e conquistais no mundo, à nossa custa, a influência de que nos mostrámos indignos. A coroa de Espanha é posta em leilão sangrento no meio das nações, e adjudicada, no fim de doze anos de guerra, a um neto de Luís XIV. Com a dinastia estrangeira começa uma política antinacional, que envilece e desacredita a monarquia. E esse rei estrangeiro custa à Espanha a perda de Nápoles, da Sicília, do Milanês, dos Países Baixos! Em Portugal, é a influência inglesa, que, por meio de cavilosos tratados, faz de nós uma espécie de colónia britânica. Ao mesmo tempo as nossas próprias colónias escapam-nos gradualmente das mãos: as Molucas passam a ser holandesas; na índia lutam sobre os nossos despojos holandeses, ingleses e franceses: na China e no Japão desaparece a influência do nome português. Portugueses e Espanhóis, vamos de século para século minguando em extensão e importância, até não sermos mais que duas sombras, duas nações espectros, no meio dos povos que nos rodeiam!... E que tristíssimo quadro o da nossa política interior! As liberdades municipais, à iniciativa local das comunas, aos forais, que davam a cada população uma fisionomia e vida próprias, sucede a centralização, uniforme e esterilizadora. A realeza deixa então de encontrar uma resistência e uma força exterior que a equilibre, e transforma-se no puro absolutismo; esquecendo a sua origem e a sua missão, crê ingenuamente que os povos não são mais do que o património providencial dos reis. O pior é que os povos acostumam-se a crê-lo também! Aquele espírito de independência que inspirava o firme si no, no! da Idade Média adormece e morre no seio popular. O povo emudece; negam-lhe a palavra, fechando-lhe as Cortes; não o consultam, nem se conta já com ele. Com quem se conta é com a aristocracia palaciana, com uma nobreza cortesã, que cada vez se separa mais do povo pelos interesses e pelos sentimentos, e que, de classe, tende a transformar-se em casta. Essa aristocracia, como um embaraço na circulação do corpo social, impede a elevação natural de um elemento novo, elemento essencialmente moderno, a classe média, e contraria assim todos os progressos ligados a essa elevação. Por isso decai também a vida económica: a produção decresce, a agricultura recua, estagna-se o comércio, deperecem uma por uma as indústrias nacionais; a riqueza, uma riqueza faustosa e estéril, concentrase em alguns pontos excepcionais, enquanto a miséria se alarga pelo resto do país: a população, dizimada pela guerra, pela emigração, pela miséria, diminui de uma maneira assustadora. Nunca povo algum absorveu tantos – Portugal: Como desenvolver? –

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tesouros, ficando ao mesmo tempo tão pobre! No meio dessa pobreza e dessa atonia, o espírito nacional, desanimado e sem estímulos, devia cair naturalmente num estado de torpor e de indiferença. É o que nos mostra claramente esse salto mortal dado pela inteligência dos povos peninsulares, passando da Renascença para os séculos XVII e XVIII. A uma geração de filósofos, de sábios e de artistas criadores, sucede a tribo vulgar dos eruditos sem crítica, dos académicos, dos limitadores. Saímos duma sociedade de homens vivos, movendo-se ao ar livre: entrámos num recinto acanhado e quase sepulcral, com uma atmosfera turva pelo pó dos livros velhos, e habitado por espectros de doutores. A poesia, depois da exaltação estéril, falsa, e artificialmente provocada do gongorismo, depois da afectação dos conceitos (que ainda mais revelava a nulidade do pensamento), cai na imitação servil e ininteligente da poesia latina, naquela escola clássica, pesada e fradesca, que é a antítese de toda a inspiração e de todo o sentimento. Um poema compõe-se doutoralmente, como uma dissertação teológica. Traduzir é o ideal: inventar considera-se um perigo e uma inferioridade: uma obra poética é tanto mais perfeita quanto maior número de versos contiver traduzidos de Horácio, de Ovídio. Florescem a tragédia, a ode pindárica, e o poema herói-cómico, isto é, a afectação e a degradação da poesia. Quanto à verdade humana, ao sentimento popular e nacional, ninguém se preocupava com isso. A invenção e originalidade, nessa época deplorável, concentra-se toda na descrição cinicamente galhofeira das misérias, das intrigas, dos expedientes da vida ordinária. Os romances picarescos espanhóis e as comédias populares portuguesas são irrefutáveis actos de acusação, que, contra si mesma, nos deixou essa sociedade, cuja profunda desmoralização tocava os limites da ingenuidade e da inocência no vício. Fora desta realidade pungente, a literatura oficial e palaciana espraiava-se pelas regiões insípidas do discurso académico, da oração fúnebre, do panegírico encomendado – géneros artificiais, pueris, e mais que tudo soporíficos. Com um tal estado dos espíritos, o que se podia esperar da arte? Basta erguer os olhos para essas lúgubres moles de pedra, que se chamam o Escorial e Mafra, para vermos que a mesma ausência de sentimento e invenção, que produziu o gosto pesado e insípido do classicismo, ergueu também as massas compactas, e friamente correctas na sua falta de expressão, da arquitectura jesuítica. Que triste contraste entre essas montanhas de mármore, com que se julgou atingir o grande, simplesmente porque se fez o monstruoso, e a construção delicada, aérea, proporcional e, por assim dizer, espiritual dos Jerónimos, da Batalha, da Catedral de Burgos! O espírito sombrio e depravado da sociedade reflectiu-o a Arte, com uma fidelidade desesperadora, que será sempre perante a história uma incorruptível testemunha de acusação contra aquela época de verdadeira morte moral. Essa morte moral não invadira só o sentimento, a imaginação, o gosto: invadira também, invadira sobretudo a inteligência. Nos últimos dois séculos não produziu a Península um único homem superior, que se possa pôr ao lado dos grandes criadores da ciência moderna: não saiu da Península uma só das grandes descobertas intelectuais, que – Portugal: Como desenvolver? –

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são a maior obra e a maior honra do espírito moderno. Durante 200 anos de fecunda elaboração, reforma a Europa culta as ciências antigas, cria seis ou sete ciências novas, a anatomia, a fisiologia, a química, a mecânica celeste, o cálculo diferencial, a crítica histórica, a geologia: aparecem os Newton, os Descartes, os Bacon, os Leibniz, os Harvey, os Buffon, os Ducange, os Lavoisier, os Vico – onde está, entre os nomes destes e dos outros verdadeiros heróis da epopeia do pensamento, um nome espanhol ou português? Que nome espanhol ou português se liga à descoberta duma grande lei científica, dum sistema, duma facto capital? A Europa culta engrandeceu-se, nobilitou-se, subiu sobretudo pela ciência: foi sobretudo pela falta de ciência que nós descemos, que nos degradámos, que nos anulámos. A alma moderna morrera dentro em nós completamente. (…) Da decadência moral é esta a causa culminante! O catolicismo do Concílio de Trento não inaugurou certamente no mundo o despotismo religioso: mas organizou-o duma maneira completa, poderosa, formidável, e até então desconhecida. Neste sentido, pode dizer-se que o catolicismo, na sua forma definitiva, imobilizado e intolerante, data do século XVI. As tendências, porém, para esse estado vinham já de longe; nem a Reforma significa outra coisa senão o protesto do sentimento cristão, livre e independente, contra essas tendências autoritárias e formalísticas. Essas tendências eram lógicas, e até certo ponto legítimas, dada a interpretação e organização romana da religião cristã: não o eram, porém, dado o sentimento cristão na sua pureza virginal, fora das condições precárias da sua realização política e mundana, o sentimento cristão, numa palavra, no seu domínio natural, a consciência religiosa. É necessário, com efeito, estabelecermos cuidadosamente uma rigorosa distinção entre cristianismo e catolicismo, sem o que nada compreenderemos das evoluções históricas da religião cristã. Se não há cristianismo fora do grémio católico (como asseveram os teólogos, mas como não podem nem querem aceitar a razão, a equidade e a crítica), nesse caso teremos de recusar o título de cristãos aos luteranos, e a todas as seitas saídas do movimento protestante, em quem todavia vive bem claramente o espírito evangélico. Digo mais, teremos de negar o nome de cristãos aos apóstolos e evangelistas, porque nessa época a catolicismo estava tão longe do futuro que nem ainda a palavra católico fora inventada! É que realmente o cristianismo existiu e pode existir fora do catolicismo. O cristianismo é sobretudo um sentimento: o catolicismo é sobretudo uma instituição. Um vive da fé e da inspiração: o outro do dogma e da disciplina. Toda a história religiosa, até ao meado do século XVI, não é mais do que a transformação do sentimento cristão na instituição católica. A Idade Média é o período da transição: há ainda um, e o outro aparece já. Equilibram-se. A unidade vêse, faz-se sentir, mas não chega ainda a sufocar a vida local e autonómica. Por isso é também esse o período das igrejas nacionais. As da Península, como todas as outras, tiveram, durante a Idade Média, liberdades e – Portugal: Como desenvolver? –

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iniciativas, concílios nacionais, disciplina própria, e uma maneira sua de sentir e praticar a religião. Daqui, dois grandes resultados, fecundos em consequências benéficas. O dogma, em vez de ser imposto, era aceite, e, num certo sentido, criado: ora, quando a base da moral é o dogma, só pode haver boa moral deduzindo-a dum dogma aceite, e até certo ponto criado, e nunca imposto. Primeira consequência, de incalculável alcance.» Causa da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos - Discurso proferido por Antero de Quental, Casino Lisbonense, 27/Mai/1871, 1.ª sessão - Conferências Democráticas

Muito tem sido escrito e falado sobre as maleitas de Portugal. Em 1934, era Ministro da Agricultura Leovigildo Queimado Franco de Souza e Ministro da Economia / Presidente do Concelho de Ministros António de Oliveira Salazar, quando, numa festa de carnaval, João Vasconselos e Sá (avô de António Pinto Basto) lê o seguinte texto: «Exmo. Sr. Ministro da Agricultura, Exposição: Porque julgamos digno de registo a nossa exposição senhor ministro, erguemo-nos até vós humildemente uma pelada uníssona e plangente, em que evitamos o menor deslize e em que damos razão da nossa crise. Senhor em vão esta província inteira, desmoita, lavra, atalha a sementeira, suando até à fralda da camisa, mas falta-nos a matéria orgânica precisa, na terra que é delgada e sempre fraca. A matéria em questão chama-se caca! Precisamos de merda senhor “soiza” e nunca precisámos de outra coisa! Se os membros desse ilustre ministério querem tomar o nosso caso bem a sério, se é nobre o sentimento que os anima, mandem cagar-nos toda a gente em cima dos maninhos torrões de cada herdade… e mijem-nos também, por caridade! O senhor Oliveira Salazar quando tiver vontade cagar venha até nós, solicito, calado, busque um terreno que estiver lavrado, deite as calças a baixo, com sossego, ajeite o cú bem apontado ao rego e como presidente do conselho, queira espremer-se até ficar vermelho. A nação confiou-lhe os seus destinos? Então comprima, aperte os intestinos. E se lhe escapar um traque não se importe, quem sabe o cheirá-lo dará sorte? Quantos porão as suas esperanças num traque do Ministro das Finanças? E também quem vive aflito e sem recursos já não – Portugal: Como desenvolver? –

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distigue os traques dos discursos. Não precisa falar! Tenha a certeza que a nossa maior fonte de riqueza, desde as grandes herdades, às courelas, provém da merda que juntamos nelas. Precisamos de merda senhor “soiza” e nunca precisámos de outra coisa! Adubos de potassa, cal, azote… traganos merda pura do bispote e de todos os penicos portugueses, durante pelo menos uns seis meses, sobre o montado, sobre a terra rampa, continuamente eles nos despejem trampa! Ah, terras alentejanas, terras nuas, desespero de arados e charruas, quem a compra ou arrenda ou quem as herda, sempre a paixão nostálgica da merda! Precisamos de merda senhor “soiza” e nunca precisámos de outra coisa! Ah merda grossa e fina! Merda boa das inúteis retretes de Lisboa… como é triste saber que todos vós andais cagando sem pensar em nós!! Se querem fomentar a agricultura, mandem vir muita gente, com soltura, nós daremos o trigo em larga escala, pois até nos faz falta a merda rala. Ah venham todas as merdas à vontade, não faremos questão da qualidade: formas normais ou esquisitas; desde o cagalhão às caganitas; desde a pequena póia à grande bosta, tudo o que vier a gente gosta! Precisamos de merda senhor “soiza” e nunca precisámos de outra coisa!!!» Transcrição da declamação de Victor de Sousa, programa televisivo “Levanta-te e Ri” - RTP2 a 6/Ago./2008

A Agenda 21 diz-nos: «O crescimento da população mundial e da produção, associado a padrões não sustentáveis de consumo, aplica uma pressão cada vez mais intensa sobre as condições que tem nosso planeta de sustentar a vida. Esses processos interativos afetam o uso da terra, a água, o ar, a energia e outros recursos. As cidades em rápido crescimento, caso mal administradas, deparam-se com problemas ambientais gravíssimos. O aumento do número e da dimensão das cidades exige maior atenção para questões de Governo local e gerenciamento municipal. Os fatores humanos são elementos fundamentais a considerar nesse intricado conjunto de vínculos; eles devem ser adequadamente levados em consideração na formulação de políticas abrangentes para o desenvolvimento sustentável. Tais políticas devem atentar para os elos existentes entre as tendências e os fatores demográficos, a utilização dos recursos, a difusão de tecnologias adequadas e o desenvolvimento. As políticas de controle demográfico também devem reconhecer o papel desempenhado pelos seres humanos sobre o meio ambiente e o desenvolvimento. É necessário acentuar a percepção dessa questão entre as – Portugal: Como desenvolver? –

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pessoas em posição de tomar decisões em todos os níveis e oferecer, de um lado, melhores informações sobre as quais apoiar as políticas nacionais e internacionais e, de outro, uma estrutura conceitual para a interpretação dessas informações. (…) De modo geral, os planos existentes de apoio ao desenvolvimento sustentável reconhecem tendências e fatores demográficos como elementos que exercem uma influência crítica sobre os padrões de consumo, a produção, os estilos de vida e a sustentabilidade a longo prazo. No futuro, porém, será necessário dedicar mais atenção a essas questões por ocasião da formulação da política geral e da elaboração dos planos de desenvolvimento. Para fazê-lo, todos os países terão de aperfeiçoar suas próprias condições de avaliar as implicações de suas tendências e fatores demográficos no que diz respeito a meio ambiente e desenvolvimento. Além disso, conforme apropriado, esses países também terão de formular e implementar políticas e programas de ação. Essas políticas devem ser estruturadas de forma a avaliar as conseqüências do crescimento populacional inerente à tendência demográfica e, ao mesmo tempo, idealizar medidas que ensejem uma transição demográfica. Devem associar preocupações ambientais a questões populacionais no âmbito de uma visão holística do desenvolvimento, cujos objetivos primeiros incluam: mitigação da pobreza; garantia dos meios de subsistência; boa saúde; qualidade de vida; melhoria da condição e dos rendimentos da mulher e seu acesso à instrução e ao treinamento profissional, bem como a realização de suas aspirações pessoais; e reconhecimento dos direitos de indivíduos e das comunidades. Reconhecendo que nos países em desenvolvimento irão ocorrer aumentos de monta na dimensão e no número das cidades dentro de qualquer cenário populacional provável, deve ser dedicada maior atenção à preparação para o atendimento da necessidade, especialmente das mulheres e crianças, por melhores administrações municipais e Governos locais.» http://homologa.ambiente.sp.gov.br/agenda21/ag05.htm visitado a 21 de Maio de 2009

João Ferrão nos seus textos refere: «A diversidade de discursos que o invocam e a variedade de contextos em que o fazem dificultam qualquer tentativa de definição. Apesar disso, parece legítimo afirmar que a «interior» e a «interioridade» se associam basicamente três elementos: uma situação (subdesenvolvimento), uma causa principal (isolamento e dificuldades de acesso às áreas mais dinâmicas, localizadas no litoral), uma consequência particularmente grave (a – Portugal: Como desenvolver? –

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desertificação, considerada nas suas várias componentes). Envolvendo estes três elementos surge um discurso marcado por uma cultura de fatalismo e de apelo à intervenção assistencialista do Estado. (…) Reconstruir o Interior destruindo a interioridade implica, pois, o desenvolvimento de estratégias activas de inclusão: mobilizar actores individuais e colectivos, integrá-los em objectivos comuns e em linhas de rumo estrategicamente partilhadas, co-responsabilizá-los na missão de criar condições de desenvolvimento para as regiões onde vivem e actuam. E, nesta tarefa específica, cabe ao Estado um papel crucial, impulsionando directa e indirectamente estas estratégias ao mesmo tempo que combate com vigor a cultura assistencialista.(…)» J. Ferrão - Reconstruir o Interior destruindo a Interioridade: para uma estratégia activa de inclusão de actores (s/d)

«No final de oitocentos, autores como Alberto Sampaio e Basílio Telles, curiosamente ambos do Norte, propuseram explicações de natureza étnica para esta oposição. O predomínio de povos de origem “ariana” (celtas, gregos, romanos, germanos) a Norte e de proveniência « semita » (fenícios, cartagineses, árabes, berberes, judeus) a Sul justificaria não só as diferentes características de cada uma destas grandes regiões, mas também a superioridade do Norte sobre o Sul. Para Orlando Ribeiro, contudo, a explicação é bem mais complexa, devendo ser encontrada nas especificidades que os mundos atlântico e mediterrâneo estimulam do ponto de vista do esforço de adaptação das populações, já de si distintas, a meios físicos diferenciados. A oposição Norte/Sul é considerada, antes de mais, como o resultado de contrastes civilizacionais, e tem tradução directa na forma como os agrupamentos humanos ocupam, organizam e usam o território, isto é, na articulação que historicamente se vai estabelecendo entre meios físicos, modos de vida e paisagens. (…) A geografia da modernidade e do desenvolvimento realça a faixa litoral entre Braga (curiosamente, uma aglomeração com uma história consolidada de industrialização) e Sines (simbolicamente, um exemplo da nova realidade industrial a construir), mas inclui ainda um sector crescente da orla algarvia, espaço significativamente sensível aos benefícios resultantes da abertura externa proporcionada pelo desenvolvimento de actividades

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modernas, neste caso, o turismo internacional. Para trás fica o Portugal esquecido, perdedor, física e simbolicamente remoto: o interior. (…) A crescente terciarização da economia portuguesa, com o consequente reforço do papel das cidades como focos de emprego, as alterações pro-fundas verificadas a partir da adesão de Portugal à Comunidade Europeia em 1986 na rede viária, nos sistemas de transportes públicos e no parque automóvel privado, e, mais recentemente, o impacto das novas tecnologias de informação e comunicação, levaram a que o território continental português se tenha vindo a organizar cada vez mais como um arquipélago. As aglomerações urbanas e respectivas bacias de emprego imediatas, não raro de características rurais, constituem as ilhas desse arquipélago, ligadas entre si por auto-estradas, sistemas de transporte público inter-cidades e redes de comunicação e cooperação institucional de base urbana que ignoram os espaços intersticiais que as separam. Embora com uma presença mais relevante nas faixas litorais, dado que aí se concentram as aglome-rações urbanas com maior capacidade polarizadora, estas ilhas da nova sociedade da informação e do conhecimento repartem-se um pouco por todo o país, incluindo o interior, onde um número significativo de instituições de ensino superior se desenvolveu nos últimos anos. (…) O modo como os portugueses se relacionam com o espaço nacional (continental) reflecte a coexistência destas várias espacialidades macro-regionais, das divisões geográficas do país que cada uma delas suscitou e das identidades de base territorial que proporcionaram, numa recombinação complexa onde sobrevivências do passado se encontram lado a lado com fertilizações cruzadas que dão origem a novas espacialidades, reais ou imaginadas. A recusa do processo de regionalização deve ser, aliás, enten-dida neste contexto : na verdade, o nível regional proposto era atípico face às várias espacialidades macroregionais reconhecidas pelos portugueses e, ao mesmo tempo, não foi considerada como sendo uma recombinação com efeitos operatórios úteis do ponto de vista do quotidiano das pessoas e das organizações. Tratou-se de uma carta fora de um baralho, heterogéneo, é certo, mas com contornos que a história permite identificar. E, por isso, foi rejeitada.» João Ferrão, Lusotopie 2002/2 : 151-158

De acordo com Louis Wirth: – Portugal: Como desenvolver? –

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«A característica distintiva do modo de vida do homem na idade moderna consiste na sua concentração em grandes aglomerados urbanos, em redor dos quais, outros menores se constituem e a partir dos quais irradiam as ideias e as práticas a que chamamos civilização.» WIRTH, Louis. Cidade, Cultura e Globalização. pp. 45-65

Mais ainda José Jacinto diz: As modernas redes de informação, com especial destaque para o sector das telecomunicações, ocupam um lugar de grande relevo na sociedade moderna, desempenhando um papel de primeiro plano nas transformações económicas e sociais. Como meio de transmissão de informação à distância, as telecomunicações transportam o fluxo de informação, favorecendo todo o tipo de actividades: económicas, administrativas, financeiras, culturais ... O transporte da informação com rapidez e qualidade é, nos nossos dias, a "chave" para o progresso das nações e consequente melhoria da qualidade de vida das populações. Tem-se, aliás, medido o nível de desenvolvimento de um país, a sua produtividade e a qualidade de vida também pelo desenvolvimento das telecomunicações. Nas áreas periféricas, ou de maior isolamento, onde os transportes são menos eficientes, as telecomunicações assumem um papel fundamental, pois permitem um contacto rápido e eficaz com outras áreas com as quais têm de manter ligações mais ou menos frequentes, além de proporcionarem a prestação de serviços sem necessidade de deslocações (telecompras, telebanco, teletexto, etc.). Claro que nem sempre as telecomunicações poderão substituir as viagens. Note-se que ao nível das empresas, os contactos pessoais continuarão a ser importantes para o desenvolvimento de novos mercados e no relacionamento com os fornecedores. Para os produtores localizados a grande distância dos consumidores, continuarão também a ser indispensáveis meios eficientes de transporte de mercadorias, pelo que as telecomunicações devem ser encaradas como complementares, embora tornem as distâncias cada vez mais fáceis de transpor. Tanto o deslocamento físico, que implica a comunicação, como a transmissão de informação são considerados aspectos distintos da mesma necessidade de interacção - "efeito de interacção". Sem dúvida que grande número de transacções se realiza hoje por telecomunicações. Este simples facto, permitiu a muitos autores e estudiosos falar do "efeito de substituição" do transporte pelas telecomunicações, enaltecendo as vantagens: descongestionamento do tráfego urbano; poupança de energia; redução da poluição atmosférica; economias no

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orçamento familiar; sector vital na produção e emprego. E ao "efeito de substituição", associa-se a realidade da complementaridade entre as redes. (…) A política das cidades não pode dissociar-se de uma política regional. As políticas urbanas como instrumento de captação, dinamização e criação de vantagens competitivas são promovidas pela União Europeia que fomenta as redes de cooperação intercidades (Peixoto, 1997). Emerge, desta forma, um espaço de «cooperação entre cidades com objectivos, necessidades e estratégias compartilhadas», que «se revela um recurso não desprezível face aos desafios actuais de desenvolvimento urbano» (Fortuna, 1997), mormente os impactos (positivos e negativos) da globalização, tentando retirar benefícios de novas oportunidades ou vencer adversidades, entretanto, surgidas. As redes de cidades e as redes telemáticas que integram a flexibilização das relações interurbanas associadas à melhoria das condições de circulação, mobilidade e acessibilidade, visando objectivos de troca de experiências e de obtenção de "massas críticas" suficientes e de efeitos de escala, constituem exemplos de estratégias de cooperação "horizontal", segundo os princípios de organização em rede, fundamentais na definição de critérios de implantação de infra-estruturas. As concepções hierarquizadas têm, nesta medida, dado lugar a espaços de relação reticular. Ora este conceito, no âmbito de um novo paradigma, sublinha os aspectos relacionais, destacando as formas de organização reticulares, sugerindo a ideia de um espaço de relações entre cidades e entre cidades e regiões, estruturado em nós e fluxos. Ou seja, a cidade não está só, não é uma "ilha", não é um ente espacial isolado: a cidade insere-se na região e integra um sistema de cidades numa rede - o conceito de sistema urbano que pode ser entendido como associado ao aspecto dinâmico da rede urbana que designa um facto espacial de repartição das cidades no interior de um quadro regional -. Uma política de cidades não pode menosprezar ou negligenciar as relações "cidade-região", na perspectiva intraregional, bem como as relações "cidades-regiões" (interregional), funcionando o próprio sistema urbano como sistema "nervoso" do sistema de regiões (Simões Lopes, 1997). (…) A mundialização (cidades e regiões globais) tenderá a realizar-se através de sistemas complexos de interdependência e integração regionais, que se tornarão em pontos fulcrais da organização económica, tecnológica, social e também política e cultural. Por conseguinte, na "sociedade pós-industrial" e quando a ciência social diagnostica a crise do modelo de desenvolvimento urbano-industrial, as cidades continuam a desempenhar um papel como impulsionadores do processo de civilização mediante a concentração e adquirindo – Portugal: Como desenvolver? –

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a dimensão de "cidade global". Na opinião de vários autores, longe de contrariarem este género de tendências concentradoras, as novas tecnologias de informação e comunicação, estão é a reforçar as actuais linhas do desenvolvimento urbano.» José Jacinto – “Avançados de Telecomunicações (SAT) e o desenvolvimento das cidades e das regiões: que novo paradigma?” em “A cidade do futuro é o futuro do nosso mundo” – The European, Junho de 1996

A aplicação directa do modelo clássico de reger a nossa Cidade, tanto a nível da arquitectura, como da organização territorial, não é possível, especialmente desde a revolução industrial, mas, pode considerar-se que, desde o fim da idade média que se procura um novo modelo organizacional, que defenda o Homem de si mesmo. No entanto sem grande sucesso no criar de novos modelos, apesar de várias tentativas (por exemplo a Carta de Atenas), os aglomerados urbanos foram crescendo através dos século, os problemas agravando-se, atingindo uma nova escala durante o séc. XX em que a maior parte da população mundial reside dentro de aglomerados urbanos densos, nas cidades e em redor delas. Uma teia de cidade, aglomerados, de diferentes urbanidades que vivem em simbiose. Surge, por estes factores, aquele que poderá ser o maior problema do séc. XXI: a sustentabilidade. O balanço do impacto global de uma sociedade densificada, completamente despreocupada com o impacto ambiental, consumista e produtor de enormes quantidades de dióxido de carbono é negativo para todos. Já todos sabemos que o rumo tido até agora só nos leva para a destruição do equilíbrio planetar e o suicídio do Homem. O que nos faz dizer “vivo em...” determinada cidade e não noutra, são as relações pessoais, de identidade, de história e territorialidade. Essas relações vão ficando cada vez mais estreitas tradicionalmente pelo crescimento do tecido urbano e, actualmente, também pelas novas tecnologias de informação, de comunicação e de transporte. É assim importantíssimo a maneira – Portugal: Como desenvolver? –

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como a informação chega até nós (filtrada ou não) mas também e principalmente, como é interpretada essa informação por nós (se temos capacidade cultural para interpretar correctamente a informação), por último, mas não menos importante, o termos acesso, ou não, à informação. Estes elementos são definidos pela economia, pelo ambiente em que estamos integrados (profissional, etc.), e também pela sociedade ou grupos em que estamos. O que controla tudo isto é o sistema político em que nos integramos, mais liberal, conservador, democrático, comunista ou comunitário, feudal, monárquico, etc., influência directamente, da mesma maneira que é influenciado. Numa grande Cidade Global os eventos mais ou menos localizados influenciam-nos a todos, um “efeito borboleta” inevitável, pelo que podemos começar a analisar uma cidade (tradicional) pela sua área de influência, como se relaciona com outras cidade e aglomerados urbanos, que está directamente relacionado com a demografia, a complexidade social, o nível de fragmentação e pelo grau de comunicabilidade (dentro dessa cidade e com outras). O Homem continua extremamente preso a uma realidade profissional física. São raros, mas felizmente em número crescente, empresas em que o trabalhador não necessita de se deslocar ao escritório para fazer o seu trabalho, fazendo uso de ferramentas como internet-móvel e telemóvel, retirando das cidades cada vez mais automóveis, e transporta estas pessoas para realidades menos urbanas ao procurarem zonas mais saudáveis onde viver. A comunicabilidade tem um papel importantíssimo na nossa sociedade, mais do que em qualquer época histórica. Vivemos numa era de informação. De acordo com o texto de José Jacinto «O transporte da informação com rapidez e qualidade é, nos nossos dias, a "chave" para o progresso das nações e consequente melhoria da qualidade devida das populações. Tem-se, aliás, medido o nível de desenvolvimento de um país, a sua produtividade e a qualidade de vida também pelo desenvolvimento das telecomunicações.»

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Nas periferias das cidades a comunicabilidade tem um papel claro de reduzir a distância, tornando desnecessárias deslocações. Além do disso as políticas urbanas de uma cidade têm obrigatoriamente de ser vistas e encaradas não só no ponto de vista local, mas regional, do país ou mesmo global. É um facto que «(...) as cidades são cada vez menos "ilhas", passaram a "arquipélagos" e constituíram redes que, nalguns casos, são mesmo apelidadas de "cidades-região"», como mencionado pelo Prof. João Ferrão. Muitos opõem-se à dependência das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, considerando que as NTIC conduzem a maiores desigualdades sociais. Outros referem como é possível, fazendo aplicação das NTIC a nível global, obtermos maior equilíbrio entre sociedades, independentemente do local onde se situam. Contudo, nas periferias, menos ricas e por vezes formando guetos, a tecnologia chegará sempre mais tarde numa sociedade de mercado, em que as decisões são tomadas de acordo com a capacidade de retorno após investimento em determinada zona. A desigualdade no desenvolvimento é a nível das SAT e NTIC mas não só, as próprias infra-estruturas básicas de habitabilidade e mobilidade exigíveis no séc. XXI são normalmente precárias nestas zonas. Consegue-se verificar que são criadas, com mais ou menos equilíbrio entre o físico e o virtual, sociedades-rede, que nos permitem tirar vantagem do físico e do virtual (Asher, 1998), cada vez mais para um projecto a ser desenvolvido em determinado lugar, os donos do terreno a construir são de um país, os projectistas de outro, o empreiteiro é de outro país, que usam equipa(s) de desenhadores com 8/12 fusos horários de diferença (permitindo que enquanto a obra está parada, de noite, os desenhadores estão a preparar os desenhos para o dia seguinte), no final de contas localmente só há representantes e os serventes de construção civil, porque até as reuniões são online. Sem dúvida que o Homem irá sempre necessitar de cidades, aglomerados onde centralizar funções, estilos, identidades, etc., mas a forma da cidade está mais do que alguma vez esteve – Portugal: Como desenvolver? –

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em profunda transformação. O fenómeno da globalização da cidade, criação das sociedadesrede, do criar de duas realidades, uma física e outra virtual, tendencialmente acontece através das relações simbióticas das cidades, a capacidade de integração da cidade na rede global. Também se verifica que é nas cidades que as empresas, com maior poder económico, criam sede, exactamente no centro da cidade (Ferrão, 1992), contribuindo em muito para a existência contínua da cidade, em muito pela exigência das tais infra-estruturas e de SAT e NTIC, e também pela relação de centralidade. Mesmo assim, é exactamente através do sector terciário, ao procurarem entre outras coisas, mão-de-obra mais barata, que se encontra também a descentralização. Começa-se assim a entender que em cima do espaço geográfico, que faz conjunto com o espaço topológico, existe cada vez mais um espaço virtual e um espaço tecnológico em que nos integramos e interligamos, na crescente interdependência de fluxos (Mela, 1999). Claro que as SAT e as NTIC vieram permitir novas abordagens do tema da cidade, mas também do conceito de cidadania. Estas tecnologias permitem a cada cidadão ter mais acesso a informação e melhorar os níveis de cultura, bem como transformar-se num cidadão mais participativo, transformando as velhas democracias eleitorais e representativas em obsoletas. Os cidadãos portugueses do séc. XXI não se identificam com as cidades onde vivem, não dão valor às cidades onde habitam. Uma economia desfeita, a poluição, uma sociedade (local) envelhecida, ou então de diferentes origens, entre outras razões contribuem para o não funcionar da democracia portuguesa, dando assim origem a cidades insustentáveis. As cidades portuguesas surgem e crescem das regras de mercado livre, em que nada é feito a pensar no todo, mas sim nas partes (empresas individuais). O Prof. João Ferrão refere inclusive que “não precisamos de mais cidades, precisamos de mais cidade”, no entanto as suas considerações levam-nos para temas da paisagem global. Porém é

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verdade, no sentido em que é necessário melhorar-se a qualidade da nossa democracia e a partir daí transformarmos as nossas cidades em espaços que queremos e não só precisamos. A partir da segunda metade do séc. XX as SAT e as NTIC foram progressivamente passando a ter um papel mais importante. As relações, os fluxos gerem-se agora, no início do séc. XXI, quase a nível global. Porém as decisões tomadas localmente são em muitos casos (demasiados até) tomadas por uma só entidade, não sendo tidas em consideração as decisões globais (desconsiderando até repercussões dessa acção) e muito menos da população. Irão sempre existir aglomerados urbanos mais ou menos extensos, zonas de centralidade física. Está a surgir um novo tipo de espaço, com um novo tipo de sociedade, o espaço tecnológico e uma sociedade virtual, que se relacionam com o espaço físico e a sua sociedade. A nível profissional continua a ser exigidas deslocações, a descentralização é para fora de Portugal, intensificando o êxodo rural. A falta de confiança faz com que seja necessário a fiscalidade que as SAT e as NTIC permitiriam não existir. Parece que começamos a ter infraestruturas e tecnologia para sermos mais Humanos, para nos relacionarmos mais e melhor, para aprendermos mais uns com os outros, porém parece que estamos mais esquizofrénicos que antes. Verifica-se que em Portugal as SAT e NTIC surgem da mesma forma que a própria cidade, pelas regras e necessidades de mercado, não por ser uma maior valia, o resultado é que a área de influência de uma cidade está directamente ligada ao número de empresas sediadas nessa cidade. Uma entidade internacional reguladora é imprescindível para começar a acabar com a desconfiança, mas também o aumento da qualidade de ensino, que não passa obrigatoriamente pelo aumento da escolaridade obrigatória.

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Tendo em conta a desertificação e degelo polar o que significa menos espaço terrestre habitável. Por outras razões, durante a nossa idade média, o império Chinês viu crescer verdadeiras cidades flutuantes, criadas pelo número crescente de Juncos e Sampanas que aportavam junto às grandes cidades (Cantão, Formosa, etc.). Poderá ser essa uma maneira saudável de habitar para os próximos séculos ou milénios, desde se preveja as exigências das várias formas de sustentabilidade (ecológica e tecnológica).

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3. Notas Após o império romano a ordem imperial perde-se, bem como as referências ao período clássico, entre os sécs. V e X. Nessa altura reorganiza-se os países e estabiliza-se das condições políticas. A especialização da mão-de-obra tornou-se novamente uma realidade. A estabilização foi ajudada por ter sido ultrapassado o ano 1000 e deitadas por terra as teorias milenaristas da época. Em Portugal a realidade era diferente. No séc. VIII a península ibérica está ocupada por árabes muçulmanos. No séc. XI o rei de França enviou dois nobres a Castela com o objectivo de auxiliar o rei de Leão e Castela a reconquistar a península. É assim criado, na fronteira de combate, o condado portucalense, entregue a sua administração ao nobre francês D. Henrique, de Borgonha. O condado portucalense era a região mais pobre e abandonada do reino de Castela, praticamente sem população, devido a uma política de ermamento por parte de Leão e Castela. Logo de início de Portugal não tem população. Nessa altura D. Henrique nada, ou praticamente nada, faz para conquistar. É o seu filho, D. Afonso Henriques, que se interessa e em pouco tempo chega a Lisboa. D. Afonso Henriques declara-se Rei de Portugal, com bênção do Papa e entra em conflito com Castela, que dura até ao séc. XIV, conflito este mais difícil, complicado e complexo que a própria reconquista. A falta de população, que ficasse nas povoações após a conquista, e de população cristã em número suficiente para ser superior à muçulmana. Portugal surge no âmbito da conquista cristã a árabes. D. Afonso Henriques entra em conflito com Castela, conflito esse que continuou até ao séc. XIV, até mesmo depois dos 60 anos de domínio Castelhano houve cerca de 20 anos de conflitos contínuos na fronteira (tal como

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aconteceu na Catalunha). Foi necessário comprar o reconhecimento internacional (do Papa, etc.) para dar como finalizado este conflito latente. Os portugueses, com menos população e menos recursos, têm sempre a intenção e objectivo de fazer mais e melhor que os outros. Com os descobrimentos Portugal ficou novamente despovoado. Consequentemente não foram criadas as infra-estruturas necessárias que deram origem à revolução industrial. Acrescendo a isto tudo é centralizado em Lisboa, que sofre muito no terramoto, em 1755, provocando a morte da maior parte da população da Capital. Em meados do séc. XX ainda os bairros do meio das avenidas novas de Lisboa estavam por construir. Os proprietários foram forçados por Duarte Pacheco, que instaura uma nova lei, que os obriga a construir ou os terrenos são expropriados. Neste momento decorre uma guerra “ao terrorismo” no médio-oriente, o mercado económicofinanceiro das democracias capitalistas está falido (grande parte do hemisfério Norte) a Ásia, apesar de mostrar alguma abertura, continua extremamente fechada ao ocidente, os continentes Sul-Americano e Africano continuam a ser espaços sem liberdade em que a “a lei da bala” é a que se aplica, a Austrália/Oceânia e Nova-Zelândia estão à parte do resto do mundo. Como será possível então que as SAT transformem positivamente as sociedades de forma a serem criadas cidades sustentáveis (tanto a nível ecológico como económico e artístico)? Estamos um momento de viragem, mais do que, de século, mas também e principalmente, de postura perante a ocupação do território. Demonstra-se imprescindível compreender como e o que foi feito até este momento, com o objectivo de aproveitar o melhor, corrigir os erros do Passado e preparar o Futuro de acordo com a Presente postura. Palavras como sustentabilidade, ecologia, democracia, salubridade estão na “boca do povo” e demonstram que a necessidade de mudança é real, inevitável e desejada, algo que em Portugal era abafado até ao 25 de Abril de 1974. Só a partir daí, com o surgir da democracia portuguesa, – Portugal: Como desenvolver? –

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a população começou a ter conhecimento do país real, não aquele que era mostrado nos jornais e RTP até aí controlados pela censura. Confundiu-se muito crescimento com desenvolvimento. As cérceas aumentaram e os preços aumentaram (fruto da especulação). Não se desenvolveu as redes de água potável, de electricidade e viária. Nos anos 80 são criadas REN e RAN, que veio travar a ocupação desregrada do território, que não impediu no entanto a destruição de algumas zonas muito importantes para a sustentabilidade ecológica. Com o objectivo de procurar uma vida melhor a população rural migra para a cidade urbana, em Portugal, especialmente para as do litoral. Durante o século XX o aumento da população urbana provocou não só o envelhecimento da população rural, mas também o estabelecer de inúmeros bairros de origem clandestina. Num país burocrático não era possível acompanhar as reais necessidades de crescimento das cidades, em especial de Lisboa e Porto, originando “bairros de lata” e bairros clandestinos, muitas vezes, sem condições de salubridade exigíveis num país desenvolvido. Houve crescimento sem desenvolvimento. As REN e RAN são um início para um crescimento sustentável, mas é apenas um início, muito tem de ser feito, tendo como base essas redes, mas desenvolvendo essas ideias. Não só definir o que não pode e o que tem de ser feito para garantir a sustentabilidade ecológica, mas igualmente verificar o que foi feito e prejudica o equilíbrio de forma a corrigir os erros. Temos no Presente um território com o qual não nos identificamos, sem condições de sustentabilidade a vários níveis (económico, politico, social e ecológico), em que a história foi indiscriminadamente substituída. A democracia estabelece-se com a valência do funcionar do sistema judicial para garantir a liberdade de todos e não só daqueles que têm mais de algo que outros, mas não está a funcionar. – Portugal: Como desenvolver? –

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4. Directrizes Pessoais de Abordagem Há que existir empenho em libertarmo-nos das amarras do passado. Voltarmos a ter uma visão macro da razão da sociedade estar assim organizada, ou seja, compreendermos a razão porque criamos relações interpessoais (profissionais, familiares, etc.) e o que é verdadeiramente necessário e/ou importante para nós e para essas relações. Tirar o máximo partido das nossas ferramentas é imprescindível! Da mesma maneira que o agricultor usa a enxada ou mesmo o tractor de maneira a tirar o máximo partido dessa ferramenta, o arquitecto (por exemplo) tem de tirar o máximo partido das ferramentas que hoje tem, como a realidade virtual (como maneira de vivenciar a arquitectura sem a construir). Para isso não é necessário deslocarmo-nos, aliás no caso exemplificado o objectivo é esse mesmo, não ser necessário deslocações. As relações interpessoais vão ser sempre baseadas num mundo físico, porém há que optimizar recursos. Um profissional residente noutro país, com outra cultura é uma riqueza quando inserido numa equipa pela diversidade que trás a essa equipa. Sendo esta realidade um facto cada vez mais comum. Assiste-se também à possibilidade de uma equipa ser constituída por elementos que nunca se encontraram fisicamente e todos representam a mesma empresa, cada um em seu país. Trabalham através da “rede”, fazendo uso das ferramentas. A sua relação é puramente profissional. O resultado é a existência de aglomerados urbanos mais ou menos extensos, dependendo da sua história, identidade, etc., que albergam um grupo mais ou menos constante de pessoas. O espaço denominado rural, tradicionalmente no interior, que ecologicamente deixará de suportar agricultura (devido ao processo de desertificação, já iniciado) dará lugar a novas formas de ocupação. Eventualmente já dando lugar ao tão falado Continuum Naturale, recuperando

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(lentamente) a estrutura da natureza que se perdeu devido a vários factores (humanos ou naturais). O povoamento em pequenas “ilhas” ligadas em rede (física e virtual) pode transformar todo o planeta num conjunto de penínsulas urbanas, inclusive na água, em que os intervalos são ocupados por espaço natural, ecologicamente protegido. Nós, portugueses, com pouca densidade populacional, temos ainda uma pegada ecológica relativamente controlada, quando comparados a outros países. A nossa industrialização foi fraca e lenta, o que significa que o impacto da revolução industrial pouco se sente. É certo que vivemos numa zona sísmica, mas há poucos registos de desastres naturais acontecidos em Portugal. Com esta realidade temos excelentes condições para o desenvolvimento sustentado. O elevado grau de insatisfação, a falta de identidade, um forte sentimento de injustiça, associados à falta de disponibilidade financeira do país faz com que esse desenvolvimento não apareça de maneira espontânea. É necessário que alguns se juntem, se organizem, e sistematizem um projecto de desenvolvimento sustentável e quando se fala de sustentabilidade não se fala só de ecologia ou só de economia financeira, é tudo isto e mais. Depois é necessário que esses poucos saibam ouvir e sejam assertivos para se conseguirem explicar. Criar uma identidade em torno da qual todos se juntam, para implementar um conjunto de ideias que pode ter partido de um grupo mais restrito, mas sofreu influência de todos. Costuma-se dizer que “Sem cacau, não há caco!”, ou seja, que é necessário investir para poder lucrar. Há várias formas de investir e a maior parte do investimento não é dinheiro: é principalmente tempo (e algum “suor”). Nestes casos “o número faz a força”, quantas mais pessoas colaboram no desenvolvimento sustentado menos custa ao indivíduo. O lucro vem depois…

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Compreende-se assim que através de trabalho comunitário, suportado nos já existentes mecanismos democratas, conseguir-se-á então criar um modelo de desenvolvimento sustentado para Portugal, que apesar da realidade da sua crise ser diferente da crise internacional, pode ser uma mais-valia, quer por osmose quer por servir de base ao desenvolvimento por influência directa (através da rede de cidades), no inverter o ciclo de crise em que se está a nível internacional, colocando novamente Portugal no mapa (do Presente e não só do Passado), bem como garantir a subsistência do Homem.

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