Trabalho Escrito

  • June 2020
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Índice

......................................................................................................................4 Introdução .....................................................................................................5 Conceitos essenciais......................................................................................6 Património Cultural.......................................................................................................6 Cultura.......................................................................................................................6 Património.................................................................................................................6 Identidade Cultural........................................................................................................7 Património cultural imaterial.........................................................................................7

Contextualização...........................................................................................8 Vindimas antigas.........................................................................................10 O “apalavrar”...............................................................................................................10 Trajes dos trabalhadores..............................................................................................10 As rogas.......................................................................................................................11 Alimentação ................................................................................................................12 Cantigas.......................................................................................................................12 Os Cestos.....................................................................................................................13 Lagaradas ....................................................................................................................13 Oferta do ramo.............................................................................................................15

Vindimas na actualidade.............................................................................17 Apalavrar vs empreiteiros ...........................................................................................17 Roupa de trabalho........................................................................................................17 Rogas actuais...............................................................................................................18 Alimentação................................................................................................................18 Cantigas.......................................................................................................................19 Cestos de vime vs cestos de plástico...........................................................................19 Lagaradas.....................................................................................................................21

Comparação.................................................................................................22 Conclusão ...................................................................................................24 Bibliografia .................................................................................................25

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Introdução

A formação da Região Demarcada do Douro ocorre já desde há vários séculos, assumindo-se, no presente, como uma das mais belas paisagens mundiais, possuindo mesmo a classificação de Património da Humanidade, e concorre actualmente para o estatuto de Maravilha da Natureza. Nos nossos dias, foi gerada a ideologia de que a região Duriense é somente pura beleza, capaz de deslumbrar qualquer pessoa, ignorando-se, desta forma, o facto de a actualidade ser resultado de muito suor, sangue e lágrimas por parte de tantos homens durienses. Várias gerações foram trabalhando esta região ao longo dos séculos, com o seu esforço e através das suas próprias mãos. A mão e a face do Homem Duriense é o próprio rosto desta maravilhosa região. Muito esforço e dedicação foi necessária para atingir a beleza paisagística actual. Este cenário torna-se, assim, o resultado de um perfeito equilíbrio entre o binómio Homem - Natureza. A paisagem do Douro é cultural e afirma-se como um tipo de paisagem viva e evolutiva com o passar do tempo. Visto o Douro ser tão simples nas suas paisagens, mas ao mesmo tempo tão complexo na forma como foi trabalhado, iremos abordar este tema focando as nossas atenções, em particular, para a actividade das vindimas. Este trabalho encontra-se dividido em duas grandes partes: numa primeira fase focamos as vindimas antigas e, posteriormente as vindimas na actualidade. Explicadas e até mesmo recordadas, todas as tradições que envolveram (e ainda envolvem) as vindimas, elaborando uma pequena comparação, concluindo as diferenças constatáveis, entre estes dois tempos.

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Conceitos essenciais

Património Cultural Cultura Ao olhar para a expressão património cultural, inicialmente cabe-nos indagar: “O que é cultura?”, “O que é património?”, conceitos cujo desenvolvimento é de extrema utilidade para a compreensão da enorme diversidade cultural a ser preservada. A origem etimológica da palavra cultura remonta ao final do século XVIII e princípio do seguinte, do termo germânico Kultur, utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor no vocábulo inglês Culture que “tomado no seu sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Ao longo da história, a palavra “cultura” variou de conceito em função de escolas de pensamento, da evolução da sociedade ou das diversas épocas, assim como da sua aplicação a um ou outro campo de estudo, sendo que, as tentativas de delimitá-la conceitualmente não têm chegado a avanços significativos.

Património O património, por sua vez, é uma bela e antiga palavra que estava, ligada às estruturas familiares, económicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no tempo e no espaço. Requalificada por diversos adjectivos (genético, natural, histórico, etc...) que fizeram dela um conceito nómada. Nos dias de hoje, este conceito segue uma trajectória diferente. Designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objectos que se congregam pelo seu passado comum: obras e obras-primas das belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e

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produtos de todos os saberes. Numa sociedade mutante, constantemente transformada pela mobilidade, a noção de património remete a uma instituição e a uma mentalidade. A institucionalização do património nasce no final do século XVIII, com a visão moderna de história e de cidade. É na época das Luzes que o património histórico, constituído pelas antiguidades, tem uma renovação iconográfica e conceitual.

Identidade Cultural A identidade cultural caracteriza as pessoas pelo modo de agir, de falar, é como se as “rotulasse” a partir dos modos específicos da sua cultura. A cultura é fruto da miscigenação de diferentes povos que introduziram os seus hábitos e costumes, com o contacto de uma cultura e outra, podendo gerar uma cultura ainda mais diferenciada e variada. A identidade cultural move os sentimentos, os valores, o folclore e uma infinidade de itens impregnados nas mais variadas sociedades do mundo, apresentandose como o reflexo da convivência humana.

Património cultural imaterial Representa um conjunto de elementos ou expressões da cultura tradicional, que uma comunidade considera parte da sua identidade colectiva, que preservam para as gerações futuras, reconhecendo como parte integrante do seu património cultural. Os saberes, os modos de agir e fazer, formas de expressão, celebrações e festas, danças e jogos populares, lendas, músicas, costumes, rituais, práticas sociais por vezes relacionadas com a natureza – a língua, conhecimentos e aptidões, a gastronomia, os pregões, a medicina tradicional, os instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais, as tradições orais, o artesanato tradicional e mesmo os próprios ofícios típicos ou tradicionais, constituem-se como uma herança cultural. Todos estes elementos são utilizados pelo Homem para sobreviver unido enquanto sociedade, sendo por isso necessária a transmissão, para que a sua sobrevivência, e se possível a sua proliferação, seja assegurada.

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Contextualização

A origem do nome Régua produziu diversas correntes de opinião: se para uns historiadores o nome da cidade deriva de “vila regula”-casa de campo romana – visto ter sido invadida e posteriormente habitada por romanos e bárbaros, para outros, pode ter surgido de “regra”, em alusão ao direito de os descendentes herdarem as terras dos seus antepassados, baseando-se esta teoria na doação de terras feita pelo Conde D. Henrique a D. Hugo, no ano de 1903 que, por sua vez, doou a D. Egas Moniz. Assim, “regra” originaria a palavra “Régoa” que, mais tarde viria a transformar-se em “Régua”. Muitas outras teorias foram avançadas sobre este assunto e, como não existiu consenso, nenhuma possui total aprovação. Da mesma forma que entre os historiadores não existiu unanimidade em relação à palavra Régua, também a proveniência da palavra Peso deu origem a enormes divergências. As correntes mais válidas incidem sobre a possibilidade de derivar do lugar onde as mercadorias eram pesadas e cobrados os impostos, ou na probabilidade de o nome ter surgido de “Penso”, lugar onde os animais de transporte eram alimentados ou pensados. O Peso da Régua é, actualmente uma cidade moderna, facto que se deve sobretudo à produção do conceituado vinho da região, que se iniciou na época pombalina com a criação da Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, em 1956. Podemos considerar a produção vinícola como sendo o grande motor para a nomeação desta região como Património Mundial. O reconhecimento desta região como Duriense, data aproximadamente 400 anos, aquando da invasão de um número elevado de pessoas que se deslocaram até aqui para trabalharem as terras como forma de sustento. A região foi-se alargando e a criação de vinhas aumentou. Actualmente o concelho do Peso da Régua abrange 96,12 km² de área, com 17 492 habitantes. Actualmente é frequente o pensamento de que o Douro se resume á sua beleza natural, mas é um facto que a construção da região tal e qual a conhecemos, é obra de um trabalho enorme e sobre-humano, onde até algumas vidas foram perdidas. A altura do ano em que esta região recebe mais visitantes é, sem dúvida, na época das vindimas (final de Agosto até Outubro). O concelho é invadido por turistas que desejam participar nesta actividade tão fascinante.

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As videiras estão prontas a dar os seus frutos aos trabalhadores, que durante horas a fio enfrentam o tórrido calor e as oscilações dos terrenos Durienses. Ao longo dos tempos as tradições foram-se alterando e perdendo, mas a dedicação e o esforço do Homem Duriense continua patente nos seus trabalhos.

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Vindimas antigas As primeiras vindimas na Região Duriense eram revestidas de diversas tradições: desde o “apalavrar” da população das aldeias por parte do feitor, até às tão célebres “lagaradas”, verificando-se esta época como uma das mais desejadas e envolta de uma enorme festa.

O “apalavrar” Em tempos passados, antes de a vindima começar o dono das vinhas ou, por vezes, o feitor da quinta, ia até às aldeias vizinhas para apalavrar os habitantes, a fim de, conseguir trabalhadores para vindimarem as suas terras. Homens, mulheres e até crianças, eram convidados para se deslocarem até às propriedades do Senhor e permanecer aí até as vindimas acabarem. As poucas horas que tinham para dormir, eram nos velhos cardenhos junto aos lagares ou aos armazéns. Trabalhavam cerca de 12 horas sob um sol tórrido seguido de lagaradas pela noite dentro.

Trajes dos trabalhadores As vestes das pessoas que participavam na vindima possuíam características tradicionais e variavam consoante a função desempenhada, deste modo existiam os seguintes trajes: •

Homem do cesto1 – As calças utilizadas eram de cotim, camisa lisa aos quadrados ou às riscas, sem colarinho. Botas grossas em sola cardada ou alpercatas. Tinha um carapuço tipo saco, normalmente em serapilheira, para que o mosto não estragasse a roupa, bem como um adereço denominado “cabeçada”, que tinha como função equilibrar os cestos às costas do Homem pelas íngremes encostas do Douro. Para se equilibrar ao logo dos caminhos era também utilizada uma vara.

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Consultar anexo 1

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Homem da pousa (do lagar) – Usava ceroulas arregaçadas ate ao meio da coxa e camisa às riscas. Em alguns casos vestia calças velhas cortadas por cima dos joelhos. Utilizava também um boné ou boina preta. Antes de entrar no lagar usavam socos, abertos atrás.



Mulher vindimadeira2– Trajava saia de roda ate ao tornozelo, blusa e avental. Em alguns casos usava colete às riscas ou de fazenda. A blusa era metida por dentro da saia, com lastro na cinta. Como adorno utilizava um lenço sem franja, de lã ou às riscas. Utilizava chinelas, socos ou alpercatas, com meias de algodão. Estas vestes eram igualmente utilizadas pela cozinheira e pela rapariga responsável pelo transporte da alimentação dos trabalhadores.

As rogas Em Setembro os homens deixam as eiras da Terra Fria e descem, em rogas, a escadaria do lagar de xisto. Cantam, dançam e trabalham. Depois sobem. E daí a pouco há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do Mundo. Torga in Portugal (Um Reino Maravilhoso – Trás-os-Montes).

A chegada dos trabalhadores às terras prontas a serem vindimadas era feita em animadas rogas, onde homens e mulheres cantavam e faziam uso de instrumentos típicos da região: bombos, ferrinhos, acordeões e concertinas. As mulheres traziam um cesto, à cabeça, com a sua roupa, merenda e a cesta para onde cortavam as uvas, no braço. Por sua vez, os homens traziam uma trouxa e um sachinho para segurarem o cesto vindimo. Quando chegavam a casa dos patrões, faziam uma grande roda e começavam a cantar dando as vivas ao patrão, ao feitor e ao rogador. No fim, o patrão, dava de beber a todo o pessoal, apelidado de mata-bicho – bagaço com açúcar – e um naco de broa de milho e centeio

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Consultar anexo 2

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Entre os homens existia um grupo, que através da ajuda dos já referidos instrumentos típicos, tentavam alegrar a vindima, apesar de serem igualmente responsáveis pelo transporte dos cestos. Entre os homens, existia um que tinha um assobio com o qual orientava o passo dos mesmos, pois andavam em fila e com o passo certo.

Alimentação Ao longo de um dia de trabalho, que normalmente consistia entre 10 a 16 horas, o patrão das propriedades fornecia a alimentação aos trabalhadores, desde as vindimadeiras aos homens dos cestos. Era normalmente distribuída por três refeições: o almoço, o jantar e a ceia. Ao almoço, correspondente ao pequeno-almoço, era oferecido normalmente aos homens dos cestos, uma tigela com batatas cozidas e uma posta de bacalhau frito. Enquanto que aos vindimadores era fornecida uma tigela de sopa e uma sardinha. No jantar, equivalente ao nosso almoço, era servido a todos os trabalhadores o mesmo: podia variar entre arroz, batatas e frango; arroz de feijão com peixe frito; massa de bacalhau, entre outros. Esta refeição verificava-se rica em hidratos de carbono, para dar energia aos trabalhadores. A última refeição não era partilhada por todos, ou seja, apenas os homens que iam pisar as uvas noite dentro, teriam direito à ceia. O pão, caso os trabalhadores desejassem, teria de ser trazido pelos próprios, pois o patrão apenas fornecia o vinho. A má confecção e a escassez de géneros alimentícios, faziam destas comidas um tipo de alimentação que, pelo aspecto e cheiro, mais parecia ração destinada aos animais.

Cantigas Para alegrar este trabalho, considerado por muitos como um esforço sobrehumano, as vindimadeiras entoavam cantigas tradicionais, geralmente relacionadas com o amor ou com as próprias vindimas. A mais ouvida e também mais conhecida, cantada ainda na actualidade, dá pelo nome de “Fui ao Douro às Vindimas”3. Outras como 3

Consultar anexo 3

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“Chora a Bideirinha”, “Não se me dá que vindimem”, “A Videirinha” e “Videira” , também eram cantadas durante dias a fio no tórrido calor de Setembro. A maior parte das canções, cantadas pelas vindimadeiras, tinham o amor pelo sexo masculino explícito nas suas cantigas, mesmo sendo o tema principal as vindimas ou os trabalhos nas vinhas. Também eram cantadas músicas que, naquele tempo, estavam em moda.

Os Cestos Os grandes cestos de vindima em vime, são um dos produtos mais típicos da Região Demarcada do Douro, mais propriamente das vindimas, visto representarem o esforço e árduo trabalho que caracterizavam o trabalho sobre-humano que era exigido nas vindimas no Douro. As melhores varas de castanho, para a produção de cestos vindimos, eram provenientes das Beiras e de Trás-os-Montes, sendo que a sua qualidade definia a longevidade do cesto. Um vime para os cestos demorava cerca de duas horas a fazer, a madeira tinha que ser tratada e trabalhada de uma maneira muito própria, onde primeiramente decorria o corte, em seguida a madeira era rachada para ser posta a secar, para posteriormente ser humedecida, com o objectivo de ser mais flexível e fácil de manobrar sem quebrar. A melhor época para cortar a madeira era durante o mês de Abril e por vezes no mês de Agosto. Estes cestos foram utilizados durante varias décadas para o transporte de uvas, durante a vindima, sendo que a sua capacidade era geralmente de 70kg, por isso, podemos tentar calcular o esforço efectuado pelo Homem Duriense no transporte destes enormes cestos com uvas. Estes cestos vindimos eram a única forma de fazer chegar aos lagares as uvas cortadas nos íngremes e inacessíveis socalcos e patamares na região duriense. Devido á sua importância, tornaram-se portanto num símbolo desta linda região.

Lagaradas As lagaradas4 constituíam-se como a parte festiva do dia de vindima, ocorrendo no período nocturno, nos lagares. Começavam cerca das 20 horas e 4

Consultar anexo 4

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prolongavam-se pela noite dentro, isto depois de um dia esgotante de trabalho sob o tórrido e esgotante sol, que banhava os rostos de suor dos trabalhadores nas quintas. Os homens responsáveis por esta tarefa, retiravam as botas e os seus meiotes, arregaçando as ceroulas enquanto passavam os pés por água para entrar no lagar. Devido ao frio, muitas vezes bebiam aguardente para aquecer não só o corpo, como também para ganhar força e aquecer a alma -como muitas vezes é ouvido - para a cansativa tarefa que iriam desempenhar. Existia o mandante, que era o homem que definia o ritmo da lagarada e que comandava os outros, que respondia perante o caseiro, e que geralmente era o homem mais velho ou o que mais experiência detivesse. Abraçavam-se uns aos outros e moviam-se ao mesmo ritmo para que a lagarada fosse bem realizada. Ao chegar ao fim do lagar, davam meia volta e voltavam para trás, sempre no mesmo ritmo. Após algumas voltas, o mandante proferia o grito de “Liberdade”, ao que os homens respondiam com uma salva de palmas, porque constituía um momento de descanso para eles. Aproveitavam para limpar o suor e dirigiam-se à beira do lagar, onde o caseiro tinha uma travessa com uma posta de bacalhau para cada elemento, acompanhada de um pouco de água-pé para dar energia aos humildes homens. Após comida a posta de bacalhau, era hora de voltar ao trabalho e de chegar o homem da concertina e restantes elementos para animarem a lagarada, porque só podiam começar a tocar após o, já referido, grito de “Liberdade”. E é então que entram as mulheres e crianças, para tornar a lagarada uma bela festa e animar o árduo trabalho dos homens que pisam as uvas. Após os homens pisarem bem as uvas e o vinho se encontrar bem mexido, o caseiro media o grau do vinho para aferir a sua qualidade. Por vezes o patrão visitava também a lagarada para saudar os seus trabalhadores e marcar presença na festa. Mas não pudemos esquecer que esta “festa” era realizada no final de um dia de esgotante trabalho, carregando os cestos vindimos de 70kg de uvas para os lagares sob calor intenso e terrenos sinuosos, tornando isto como uma nota de enaltecimento às qualidades da humilde gente das vindimas Durienses.

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Oferta do ramo No último dia de vindimas, quando as forças pareciam estar no fim, ainda existia ânimo e energia, por parte dos trabalhadores, para a última festa que envolvia esta actividade Duriense: a oferenda do ramo ao (s) patrão (ões) da quinta. A rapariga mais "jeitosa" da roga era incumbida de ir entregar o ramo. Junto iam escritos uns versos como forma de agradecimento ao patrão pela hospitalidade. Este dava dinheiro para dividir por todos os trabalhadores, ou oferecia um lanche para todos. Depois cantava-se e bebia-se vinho generoso. Durante esta faina o ar transbordava de alegria e cantigas. O ramo podia ter diversas formas, sendo o mais usual, o que se apresentava com duas canas em cruz com efeitos de papel ou seda, flores e dois cachos de uvas (um branco e um preto).

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Vindimas na actualidade As tradições que faziam das vindimas uma festa com enorme alegria no fim do trabalho realizado, têm sido esquecidas, diminuindo a alegria deste lindo processo que é vindimar. Costumes como as rogas, que visavam alegrar o trabalho tão doloroso de dezenas de trabalhadores, as lagaradas, as refeições servidas aos trabalhadores, entre tantas outras tradições, têm-se perdido ao longo dos tempos. Já não é conferida importância aos rituais porque, tal como os tempos mudaram, os valores mudaram igualmente, sendo que, aquilo que actualmente tem mais importância, é descobrir qual o processo que permite mais lucro, ignorando as tradições, tradições essas que produziram a imagem reconhecida de um povo, o povo Duriense.

Apalavrar vs empreiteiros Há uns anos que os feitores das quintas, ou os próprios proprietários, deixaram de ir às aldeias vizinhas apalavrar a população para ajudarem no corte das uvas. Actualmente essa tarefa compete aos empreiteiros, que têm uma equipa de trabalhadores já contratados e oferecem os seus préstimos aos proprietários. Os donos das quintas, na sua maioria, vivem nas grandes cidades, como é o caso do Porto, e deixam a quinta à responsabilidade do caseiro durante o ano. As pessoas contratadas pelos empreiteiros são as que exigirem menos dinheiro, sendo que nos dias que correm, já homens de leste realizam as vindimas em terras do Douro porque, como sabemos, sujeitam-se a condições que actualmente os portugueses, orgulhosos, não se admitem.

Roupa de trabalho Actualmente é facilmente constatável que já não existem trajes de trabalho na vindima, ou seja, os trajes típicos deixaram de ser utilizados, e foram substituídos por roupa velha de cada pessoa, que sirva para usar especificamente para um trabalho árduo e sujo. Não existe uma roupa específica para vindimar sendo que, cada pessoa usa as roupas que acha mais cómodas e apropriadas.

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Rogas actuais A evolução da humanidade, produziu também nesta linda tradição efeitos negativos, ou seja, a sua extinção. Podemos verificar que na actualidade não existe rogas nas quintas Durienses, o que retirou a alegria e a especificidade da festa que antigamente se verificava nas vindimas desta região. Através da evolução do ser humano, foram inventados os rádios, e mais recentemente os leitores de cds, os mp3, entre outros aparelhos que foram substituindo as cantigas das rogas. Desta forma, os trabalhadores utilizam um rádio ou outro aparelho que lhes permita distrair. As rogas foram desaparecendo, porque a rapaziada nova também não confere grande interesse em andar a cantar musicas tradicionais pelas vindimas. Mais uma tradição de relevante beleza que foi extinta pela evolução do conhecimento por parte da humanidade e por desinteresse relativamente à causa da preservação deste rico e belo património imaterial.

Alimentação A alimentação, também um aspecto tão típico e tradicional desta linda região, sofreu enormes alterações com o passar do tempo. Como muitas vezes se ouve, mudamse os tempos, mudam-se as vontades, e hoje em dia as refeições já não são idênticas àquelas que eram fornecidas aos trabalhadores antigamente. Podemos verificar que o tipo de comida que é fornecida já é melhor, sendo alvo de melhores condições na sua confecção, porque hoje em dia as pessoas exigem, também, melhor alimentação e renumeração para se sujeitarem a determinados trabalhos. A alimentação fornecida pelos patrões já não se verifica. Os trabalhadores trazem as suas próprias refeições ou, em caso de serem contratados por empreiteiros, estes, por vezes, tratam de alimentar os seus operários. Desta forma, aquelas comidas típicas ricas em hidratos de carbono deixaram também elas de ser servidas nas tradicionais cabaças e a alimentação possui mais qualidade e variedade.

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Cantigas Como já referimos, em relação as rogas, as cantigas começaram também elas a deixar de existir, porque as pessoas que trabalham não constituem um grupo tão unido como antigamente. Repare-se que até imigrantes trabalham nas nossas quintas. Tudo isto contribui para o desaparecimento de alguma mística na faina das vindimas. Antigamente as mulheres eram as responsáveis pelo corte as uvas, e eram elas que cantavam e que produziam juntamente com as rogas, a alegria durante as vindimas, sendo que actualmente, como já é indiferente o sexo ou idade para o processo do corte, os homens não se encontram dispostos a cantar enquanto cortam as uvas. Por isso com o passar dos anos, com o corte na transmissão das cantigas para as gerações que provinham, as cantigas tradicionais das vindimas foram desaparecendo e caindo no esquecimento.

Cestos de vime vs cestos de plástico Os cestos de vime, que constituem um símbolo da região, e do esforço do Homem Duriense perante as adversidades do doloroso processo que caracterizava as vindimas, foram sendo substituídos, com o passar do tempo, por baldes ou caixas de plástico. Esta mudança deve-se ao facto de as caixas de plástico serem mais higiénicas, porque são mais facilmente laváveis. Outra vantagem inerente a esta mudança, baseia-se no facto de as caixas terem um peso muito inferior que os cestos de vime: enquanto que antigamente o homem que carregava os cestos tinha de suportar um peso na ordem dos 70kg, actualmente as caixas de plástico não ultrapassam os 30kg. Esta é, sem dúvida, uma mudança positiva. Após a entrada em vigor desta lei, os cestos de vime deixaram de ser utilizados, e o transporte é hoje completamente efectuado através dos baldes plastificados ou das caixas. Os cestos de vime, actualmente, apenas são usados como decoração ou em exposições.

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Lagaradas O serviço do Homem no lagar foi também ele alterado com a evolução do ser humano e da própria tecnologia. Neste caso concreto o triturador substituiu em grande parte o trabalho árduo do Homem Duriense no lagar após o dia de trabalho na quinta. Por isso nas lagaradas já não se encontra tanta gente, nem as pessoas responsáveis pela sua animação, o que originou a perda da festa e do misticismo em volta das célebres lagaradas. Hoje em dia as lagaradas vivem de grupos em excursão que se dirigem às quintas para participar, muitas vezes grupos estrangeiros, que têm curiosidade em observar como é feito o delicioso “néctar” do vinho do porto. Podemos então constatar que a evolução, conseguiu penetrar fundo no coração desta maravilhosa tradição e fazê-la extinguir-se sob os moldes em que antigamente se desenrolava. Maquinaria Actualmente o serviço do homem no processo das vindimas foi alterado, através da maquinaria, do triturador por exemplo, dos tractores, das carrinhas, ou seja, o trabalho do Homem foi facilitado pelo uso das máquinas. O trabalho é feito por máquinas e, por isso, não é necessária a presença de tantos homens para a realização de processos como o transporte e o pisar das uvas no lagar, deixando de existir inevitavelmente também, as pessoas responsáveis por alegrar o árduo trabalho que se desenvolvia antigamente. Por isso, foram perdidas maravilhosas tradições festivas do processo das vindimas, devido á evolução tecnológica que afectou o referido processo. Actualmente os proprietários das quintas optam pelo uso de máquinas, que substituem o esforço dos homens, por ser um método mais rápido e mais lucrativo, visto ser esse o grande interesse por parte dos proprietários…o lucro.

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Comparação As tradições que faziam deste doloroso processo uma festa com enorme alegria no fim do trabalho realizado, tem sido esquecidas e isso vai diminuindo a alegria deste lindo processo que é vindimar. As vindimas são um espectáculo imperdível, que toda gente deveria ter direito a aceder, mas infelizmente isso não é possível e existem muitas pessoas que não conhecem e ignoram as vindimas, produzindo uma quebra na importância desta região, porque apesar da cidade da Régua (aquela que estamos a estudar mais pormenorizadamente) ter mais pontos de interesse, sabemos que ela se encontra no estado actual devido ao justo reconhecimento internacional da qualidade ao nível da produção do vinho, nomeadamente o vinho do porto. Actualmente temos conhecimento que estrangeiros pagam, para puderem participar neste processo das vindimas e deslocam-se à nossa região para participar e observar, enquanto os portugueses não se interessam por ele, não lhe conferem a justa importância, e assim, o que outrora fora uma identidade cultural, vai-se apagando e deixando de existir. Se a mentalidade não for sendo incutida nos descendentes, provavelmente daqui a uns anos não se efectuará a vindima através da participação do Homem Duriense, nem Português, mas sim de maquinaria e talvez de povo estrangeiro. As vindimas na actualidade são efectuadas de uma forma mais mecânica, exigindo muito menos esforço ao trabalhador e talvez aumentando ainda mais a qualidade do vinho produzido, porque sabemos que ele foi sofrendo evoluções ao longo dos anos e séculos, mas retirou alguma da festividade inerente a esta grande festa, que acaba por ser o processo da vindima nesta região. Os donos das quintas, nos dias que correm, já quase não as visitam, e talvez por isso, se perderam algumas tradições, como por exemplo, a oferenda de um ramo por parte dos trabalhadores ao patrão no fim da vindima, demonstrando não só o objectivo cumprido, como também a vontade de receber a merecida renumeração pelo seu árduo trabalho. Antigamente existiam tarefas de acordo com o sexo ou idade da pessoa, actualmente isso não possui relevância porque seja jovem ou mais velho, mulher ou homem, toda a gente corta as uvas e se necessário carrega cestos. Os cestos, as lagaradas, que deram origem á cultura e identidade de um povo deixaram de existir, por 22

exemplo, no caso dos cestos encontra-se actualmente proibido a utilização de cestos com capacidade superior a 30kg, quando antigamente como sabemos os homens transportavam nas suas costas cestos com 70kg, sendo que em vez de serem fabricados em vime, são plastificados. Os sistemas mecânicos efectuam a tarefa dos homens que pisavam as uvas nas lagaradas pelas noites dentro, eliminando uma das tradições mais lindas e alvo de maior festa durante o período das vindimas. Os tractores e máquinas substituíram em grande parte o trabalho manual do Homem, não só nas lagaradas, como já foi referido, mas por exemplo também na eliminação da utilização dos carros de bois5, em detrimento do uso de tractores. Os horários actualmente são melhores, visto que não se trabalha de sol a sol como antigamente se encontravam sujeitos os trabalhadores, e a alimentação aumentou de qualidade, bem como a renumeração inerente, porque hoje em dia é pequena a percentagem de pessoas que se submete a trabalhos tão forçados. Mas muitas mais coisas deixaram de existir, as rogas e as cantigas tão tradicionais foram substituídas ou por rádios, ou pelo silêncio de pessoas às quais a música não cativa tanto interesse, a roupa de trabalho já não é específica como antigamente. Enfim, o trabalho desenvolvido actualmente é menos duro sem dúvida, mas muito menos festivo e tradicional….

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Consultar anexo 5

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Conclusão

Algum sangue, muitas lágrimas e imenso suor… foi assim que a Região do Douro nasceu e se tornou no paraíso terrestre que é nos dias de hoje, como se verifica ao longo do nosso trabalho. Autênticos jardins suspensos que, aliados ao rio, por entre montanhas e vales, vai escavando a sua própria rota. Actualmente a região do Douro em geral, Peso da Régua em particular, é um lugar evoluído, moderno, que fornece aos seus habitantes as condições necessárias para viverem, pois existe uma grande preocupação, por partes dos autarcas, em combater a desertificação do Douro. Com a chegada dos primeiros raios de sol da Primavera, chegam também os primeiros cruzeiros às águas do rio Douro e, com eles, centenas de turistas atentos e curiosos que se querem deixar envolver no misticismo que cobre esta região. Mas o turismo intensifica-se aquando dos primeiros corte de uvas. São as vindimas o ponto mais alto da região. Todos querem participar nesta actividade, como vimos, tão dolorosa, e até pagam para poderem passar um dia nos socalcos do Douro a vindimar. Este tipo de promoção, entre outras actividades, como idas ao Museu, passeios pela região, devem ser apoiados e colocados em prática pois, só assim, o Douro poderá conseguir passar de uma simples paisagem bonita a visitar, a uma região interactiva, moderna, onde o binómio Homem – Terra funcione na totalidade.

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Bibliografia Livros: •

ROSEIRA Luís, Uma Vida Pelo Douro, 1992 Edições ASA



BARRETO António, Douro, 1993, Edições INAPA S.A.



CAMPOS Maria Emília, O Douro – Músicas Danças e Cantares



Câmara Municipal de Lamego, As Vozes do Douro, Antologia dos textos Durienses, Tomo 2



CARVALHO, Manuel, Ilha de Xisto, Guia do Douro e do Vinho do Porto, 2006 Edição Pedra da Lua

Sites: •

http://www.lusowine.com/displayarticle174.html



http://sol.sapo.pt/blogs/oserrano/archive/2007/05/17/Respingos-do-Douro_2D00_-A-Gastronomia-na-Vindima.aspx



http://terradouro.blogspot.com/search/label/Festas%20do%20Douro



http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=4&id_news=295267



http://www.douronet.pt/default.asp?id=57&mnu=57



http://www.eb1-favaios-n2.rcts.pt/trabalhos.html



http://sol.sapo.pt/blogs/oserrano/archive/2007/05/17/Respingos-do-Douro_2D00_-A-Gastronomia-na-Vindima.aspx



http://www.noticiasdevilareal.com/noticias/index.php? action=getDetalhe&id=2255



http://sol.sapo.pt/blogs/oserrano/archive/2007/05/11/Respingos-do-Douro_2D00_-A-lagarada.aspx



http://sonoridades.catus.net/Documentos/musicatradicionalportuguesa.htm



http://www.unesco.pt/cgi-bin/cultura/temas/cul_tema.php?t=9



http://olhares.aeiou.pt/antes_das_vindimas_tambem_se_lavam_os_cestos/foto793 713.html



http://terradouro.blogspot.com/2007_10_01_archive.html

25



http://olhares.aeiou.pt/vindimas_2006___douro/foto853384.html



http://cardoso-penajoia.blogspot.com/2007/07/cestos-da-vindima-os-cestos-devindima.html



http://www.douronet.pt/default.asp?id=57&mnu=57



http://www.eb1-paco-amarante.rcts.pt/trabalhos1.htm

Artigos de Revistas: •

Revista de Vinhos, pp.104 a 108, Nº 179, Outubro 2004

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Anexo 1

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Anexo 2

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Anexo 3

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Chora a bideirinha ela chora, chora, pelo seu amore que se bai imbora. (...) pelo seu amore, que se bai embarcare. E: Chora a bideira, deixa-a chorare chora a bideira pois quer amare. Chora a bideira não chora não, chora a bideira meu coração.

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Ó bideira, dá-me um gacho, ó silba, dá-me uma amora, ai ai ai, amor dá-me o teu retrato, ai ai ai, quero bê-lo a toda a hora.

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Lá vai o comboio, lá vai Lá vai ele à’sobiar, Lá vai o meu rico amor Par’à vida militar. Par’á vida militar, Par´áquela triste sina Lá vai o comboio, lá vai Leva pressa na subida. Leva pressa na subida, Leva pressa no andar, Lá vai o meu rico amor Par’à vida militar.

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Deitei meus olhos ao rio, Para ver teu brio. Estavas a lavar. Lava, lava, lavadeira Estás na brincadeira, Estás a namorar. Deitei meus olhos ao rio, Para ver teu brio. Estavas a torcer. Torce, torce, lavadeira Tua roupa branca, Que se pode ver. Deitei meus olhos ao ar, Para ver de que lado O sol estav’à dar. Para nesse lindo arame, Estender tua roupa, Para a ver secar.

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Anexo 4

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Anexo 5

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Anexo 6

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