UFSJ – Universidade Federal de São João del Rei, 27 de agosto de 2009 Curso de Letras - Módulo: Teorias da Comunicação Professor: Luiz Ademir de Oliveira Aluna: Francine N. Alves de Oliveira DEUS LÍQUIDO As constantes transformações resultantes da “ditadura” do moderno fazem do ser humano um ser tão incerto quanto a decorrência de sua própria vida. Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman as condições da sociedade mudam de maneira tão rápida que a consolidação de seus hábitos e rotinas não chega a acontecer; a essa sociedade ele dá o nome de “líquido-moderna”, uma vez que não há tempo para que as realizações individuais se solidifiquem. O sentimento que ilustra os tempos atuais é o da incerteza, frente à incapacidade de se prever o futuro, priorizando-se, assim, a vivência do presente, permeado de “ligações frouxas e compromissos revogáveis”, a fim de se manter a rotatividade dos processos de destruição e criação, numa “sucessão de reinícios”. O inquestionável não existe mais, pois a necessidade de atualização frequente faz do novo algo obsoleto antes mesmo de que ele se estabeleça. O ser humano deixa, portanto, de se preocupar com a construção de uma identidade sólida e imutável, priorizando o curto prazo que exige apenas a identificação sem que haja comprometimento. A Internet cumpre esse papel de instrumento de inserção do novo, constantemente renovável e aberto a qualquer tipo de “destruição criativa”, tendo se tornado o maior canal midiático da atualidade, de disponibilidade pública (todos podem se expressar, expor seu trabaho, informar e se informarem pela rede). A cada dia é criada uma nova comunidade para hospedar perfis pessoais, álbuns de fotografia, diários etc. Diante de um computador é possível, em um único dia, começar e terminar vários relacionamentos; tornar-se objeto de consumo e personalidade descartável,
que, adquirindo fama imediata e a nível mundial, acorda no dia seguinte como pessoa comum sem ter de enfrentar qualquer consequência maior. Até mesmo a religião deixa de ser uma escolha de estilo de vida para se tornar item de conveniência que pode facilmente ser trocado. O cartunista virtual Carlos Ruas ilustra o mundo moderno através de histórias curtas, publicadas em seu blog Um Sábado Qualquer..., que tem Deus como personagem principal: uma pessoa que cria o planeta, mas, nem por isso, deixa de ser questionável e suscetível a erros, estando ele mesmo inseguro diante do comportamento moderno e da velocidade com que as mudanças ocorrem. É interessante perceber como Deus, apesar de seus poderes como criador, interage com outros personagens: Adão, Eva e os demais personagens bíblicos – representados na forma de bonecos de palito –, além de personalidades que eventualmente aparecem em cena. A primeira dessas personalidades é o papa Bento XVI, com quem Deus tenta conversar depois que Adão diz estar com AIDS porque o papa proibiu o uso da camisinha; Darwin surge para discutir a eficácia do criacionismo; Nietzsche se passa por um assassino de deuses e inclusive mata a deidade hindu Krishna; Freud é indicado por Adão, que sugere a Deus uma terapia; até Oscar Niemeyer aparece para questionar o senso de estética do Criador. Nas tirinhas do blog, Deus é representado apenas como mais uma pessoa famosa, de crenças mutáveis e sem conhecimento pleno devido à crescente quantidade de informações, tendo se tornado, desde o surgimento do ser humano, um observador. Na mistura de teorias (como o Big Bang, a presença dos dinossauros antes da criação de Adão e de um posterior evolucionismo que convive com suas novas criações), ele é aquele que fez o mundo, mas não o determinante ou detentor do destino da humanidade, que age e pensa por si só, e que está evoluindo de maneira independente e incessante. A ironia das reações humanas atribuídas a um “ser superior” que se torna viciado em Internet e em fast-food exemplifica também a facilidade de se publicarem opiniões pessoais, outrora condenadas por instituições como a própria Igreja que vem perdendo sua força e seus fiéis.
Em suma, a liquidez da vida moderna já não admite verdades definitivas, pois todos estão sujeitos a transformações, fruto de outras transformações anteriores. Essa constante necessidade de adaptação faz com que o tradicional se perca entre o surgimento de novas teorias e descobertas, responsáveis pela frequente sensação de se estar desatualizado, iminente ao sujeito contemporâneo. Referências bibliográficas BAUMAN, Zygmunt. Sobre a vida num mundo líquido-moderno. In: Vida líquida. Rio de Janeiro: Zorge Zahar Editor, 2007, pp.7-23. FRANCISCO, Luciano Vieira. A modernidade da fusão social pela solidificação individual: Modernidade Líquida, de Zygmunt Bauman. In: Klepsidra – Revista virtual de História. Disponível em: www.klepsidra.net/klepsidra23. Último acesso: 24 de agosto de 2009 às 11h50min. RUAS,
Carlos.
Um
sábado
qualquer...
Disponível
em:
http://www.umsabadoqualquer.com Último acesso: 23 de agosto de 2009 às 13h45min. Anexo
Fonte: http://www.umsabadoqualquer.com/2009_01_01_archive.html ; postagem de 29 de janeiro de 2009
Ninguém é perfeito 2
Fonte: http://www.umsabadoqualquer.com/2009_01_01_archive.html; tirinha 47
Papa 7
Fonte: http://www.umsabadoqualquer.com/2009_02_01_archive.html; tirinha 69
Darwin 6
Fonte: http://www.umsabadoqualquer.com/2009_03_01_archive.html; tirinha 82
Namoro virtual
Fonte: http://www.umsabadoqualquer.com/2009_03_01_archive.html; tirinha 88
Crise
Fonte: http://www.umsabadoqualquer.com/2009_04_01_archive.html; tirinha 108
Nietzsche
Fonte: http://www.umsabadoqualquer.com/2009_05_01_archive.html; tirinha 144
Sim City 2
Fonte: http://www.umsabadoqualquer.com/2009_07_01_archive.html; tirinha 166
TV 2
Fonte: http://www.umsabadoqualquer.com/2009_07_01_archive.html; tirinha 178