Trab. Port. Livro romance 1. Bibliografia Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 12 de setembro de 1831 — Rio de Janeiro, 25 de abril de 1852) foi um escritor da segunda geração romântica (UltraRomântica), contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro, autor de Noite na Taverna. Principais obras: • • • •
1853 Poesias de Manuel António Álvares de Azevedo, Lira dos Vinte Anos (única obra preparada para publicação pelo autor) e Poesias diversas; 1855 Obras de Manuel António Álvares de Azevedo, primeira publicação da sua prosa (Noite na Taverna); 1862 Obras de Manuel António Álvares de Azevedo, 2ª e 3ª edições, primeira aparição do Poema do Frade e 3ª parte da Lira. 1866 O Conde Lopo, poema inédito.
Merece um Destaque Especial a "Lira dos Vinte Anos", composta de diversos poemas. A Lira é dividida em três partes, sendo a 1ª e a 3ª da Face Ariel e a 2ª da Face Caliban. A Face Ariel mostra um Álvares de Azevedo ingênuo, casto e inocente. Já a Face Caliban apresenta poemas irônicos e sarcásticos. 2. Resumo do enredo (provisório) A história se passa em uma taverna na idade moderna onde um grupo de amigos enquanto bebem vão se lembrando e contando suas histórias de amor, enquanto vai se desenvolvendo uma das historia que esta mal acabada. 3. Personagens Os personagens principais de Noite na Taverna são, basicamente, os jovens Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann, Johann e Artur que se encontram reunidos na taverna. Além deles, Geórgia, que reaparecendo já no final do livro, acrescenta uma nota de plausibilidade às histórias narradas. Todos os protagonistas são do tipo antiherói, pois que, mesmo em posição de herói pelas coisas que contam, mostram-se iguais ou inferiores aos outros componentes do grupo. Ou são vítimas da adversidade ou são presa de seus próprios defeitos de caráter. 4. Tempo O texto apresenta basicamente, três tempos: 1) A conversa entre os convivas, na taverna, ocorre no presente, tempo que predomina nos capítulos 1 e 7; 2) As histórias contadas pelos rapazes situam-se no passado, que predomina nos capítulos 2, 3, 4, 5 e 6, se bem que no início, durante e no fim de cada narrativa, os personagens retornam rapidamente para a taverna. A interação dos tempos (presente, passado e presente do passado) produz no leitor a impressão de estar se movendo em um mundo estranho, mágico, no qual acaba sendo introduzido, ao sabor da narrativa; 3) Os diálogos existentes em todas as narrativas conferem atualidade às histórias narradas pelos personagens principais. A única referência histórica que dá uma vaga noção de localização cronológica do encontro na taverna está presente no relato do velho que interrompe a narrativa de Bertram: (...) e banhei minha fronte juvenil nos últimos raios de sol da águia de
Waterloo - Apertei ao fogo da batalha a mão do homem do século. Assim, o velho seria jovem em 18 de junho de 1815, quando Napoleão enfrentava o Duque de Wellington, em Waterloo. Em razão desta referência, pode-se situar o encontro fictício na taverna mais ou menor na época em que o texto foi escrito. No livro de Álvares de Azevedo, nada há de seguro ou definitivo em relação ao tempo. Datas, épocas ou duração dos fatos são apenas superficialmente sugeridos. Foi escrito tanto em tempo cronológico quanto em tempo psicológico. O tempo que decorre dentro da taverna é real: (...)Cala-te,Johann! Enquanto as mulheres dormem(...) Ocorre o que chamamos de flash back. A partir do momento em que os jovens começam a contar suas histórias, eles mergulham nas lembranças do passado e o tempo passa a ser psicológico: Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela no verão(...) No decorrer do enredo, há uma alternância entre passado, presente e futuro, tempo real e tempo psicológico. Quando um personagem faz sua narrativa, retorna, uma vez ou outra, ao ambiente da taverna, não permanecendo sempre no tempo psicológico. 5. Espaço De início, o espaço é a própria taverna, onde o diálogo é travado. A medida que se desenvolve a trama e as histórias de cada um vão sendo contadas, temos como espaço da narrativa: o palácio, o cemitério, a igreja, a ponte e as ruas da cidade; a casa, o quarto da casa (Solfieri); a casa do pai, o jardim da casa de Ângela, a casa dela, diversos locais pelos quais viajam juntos (não especificados), o palácio do nobre, o local onde joga com o pirata Siegfried (não especificado), o rochedo de onde salta para a morte, os diversos locais citados pelo velho que interrompe o narrador (Waterloo, Bélgica, taverna em Portugal, túmulo de Dante na Itália, Grécia e outros não especificados), a corveta, o mar, a cabine do comandante (sugerida), o navio pirata, a jangada e o brigue inglês Swalow (Bertram); a casa do mestre, o quarto de Gennaro, o quarto de Laura, o quarto do casal, a cabana na montanha, a cabana dos camponeses (Gennaro); o teatro, o palácio de Eleonora, o quarto dela, as ruas da cidade, os corredores e o pátio do castelo, o carro, a estalagem, o quarto alugado, a casa do casal Claudius e Eleonora, o quarto do casal (Claudius Hermann); o bilhar, o hotel, o quarto de Artur, fora da cidade, o sobrado da amante de Artur, a escada da casa, a porta de saída, a calçada na rua, o quarto da irmã (Johann). 6. Foco narrativo O livro é, inicialmente, narrado em terceira pessoa, apresentando os personagens na taverna. Após essa introdução, passa a ser narrado em primeira pessoa, na qual cada personagem tece sua trama. 7. Estilo O estilo do autor é mostrado com clareza no livro, o seu ultra-romantismo, amores impossíveis, em todas as histórias a mulher morre, exceto na última onde Artur se mata no lugar da Geórgia, uma linguagem bem elevada e com expressões de difícil entendimento, o uso de vários flashbacks para fazer a história se desenrolar, 8. Verossimilhança As histórias de Noite na Taverna são carregadas de fantasia. São homens devassos que se apaixonam por mulheres perdidas ou virgens misteriosas que terminam por perder-se. A sexualidade é sempre punida com a loucura e com a morte e o amor jamais se realiza plenamente. A atmosfera das cidades é corrompida e nebulosa, povoada de figuras fantasmagóricas. A imaginação romântica de Álvares de Azevedo marca de forma exuberante os contos do livro, narrados num estilo repleto de adjetivos e reticências. Em
síntese, Azevedo escreveu: - em tumulto, - sem muito senso crítico; - com traços de perversidade; - demonstrando um cansaço precoce da vida; - corporificando as várias tendências psíquicas de uma geração; - com uma viva fantasia; - apresentando características como egocentrismo, dualidade, auto-ironia, pessimismo e humor negro, ou seja, como um legítimo representante do ultra-romantismo. 9. Movimento literário A obra é classificada romântica e o autor que é deste movimento literário deixa isto bem claro a partir da primeira história mesmo, mostra claramente conceitos como a idealização da mulher, individualismo, pessimismo, noturnismo, e nas histórias contadas pelos personagens apresentam temas como a dúvida, o sofrimento, o medo de amar. 10. Conclusões Em Noite na Taverna não há justiça, probidade, remorso nem compaixão. Os rapazes na taverna, enquanto contam suas aventuras, são como anjos da morte e da destruição semeando a ruína e o desastre por onde passam. Sua postura é narcisista. Apenas buscam o prazer e a satisfação dos próprios desejos. O livro é marcado pelo incesto, a necrofilia, o fratricídio, o canibalismo, a traição, o assassínio - cuja função para os românticos era mostrar os abismos virtuais e as desarmonias da nossa natureza, assim como a fragilidade das convenções. Associados a isto a modo de correlativo, a noite, a tempestade, o raio, o naufrágio, o tufão constituindo o arsenal daquele belo sublime que podia costear o horrível, como indicam algumas páginas críticas de Álvares de Azevedo. O texto não está construído de forma a incutir susto ou medo no leitor (como seria o caso na literatura de horror ou sobrenatural), mas antes, provocar o estranhamento e a repulsa. No entanto, uma das suas qualidades é, justamente, prender a atenção, página a página, através do emaranhado das situações descritas.