Teologia

  • April 2020
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Teologia Conceitos. Termo que designa, em sentido restrito, a disciplina dedicada ao estudo das crenças sobre Deus e sua mensagem revelada. Por extensão, toda reflexão coerente a respeito de Deus. Quando se organizou o pensamento filosófico, a idade da razão do gênero humano, o homem passou a buscar uma origem racionalmente inteligível para os fenômenos que até então se explicavam pelo mito. O advento da ciência foi ainda mais radical no questionamento da verdade religiosa. A teologia, corpo doutrinário coerente, é a tentativa de conciliar fé religiosa e pensamento racional. Teologia, que significa literalmente "estudo de Deus", é a disciplina cujo objeto é a divindade, seus atributos e sua relação com os homens. Em sentido estrito, limita-se ao cristianismo; em sentido amplo, aplica-se a qualquer religião. Os temas da teologia são Deus, o homem, o mundo, a salvação e a escatologia (estudo do fim dos tempos). Natureza da teologia. O conceito de teologia teve origem na tradição grega, mas ganhou conteúdo e método apenas no interior do cristianismo. Platão, com quem o conceito emergiu pela primeira vez, associou ao termo teologia uma intenção polêmica, como fez também seu discípulo Aristóteles. Para Platão, a teologia descrevia o mítico e podia ter um significado pedagógico e temporário benéfico ao estado. A identificação entre teologia e mitologia continuou no pensamento grego posterior. Diferentes dos filósofos, os "teólogos" confundiam-se com os poetas míticos, como Hesíodo e Homero. A teologia portanto se tornou significativa como meio de proclamar os deuses, de professar a fé e de ensinar a doutrina. Nessa prática da "teologia" pelos gregos está a prefiguração do que mais tarde se tornaria a teologia no cristianismo. Apesar de todas as contradições que emergiriam na formulação desse conceito nas várias confissões e escolas cristãs de pensamento, um critério formal permaneceu constante: teologia é a tentativa, levada à prática pelos adeptos de uma fé, de representar suas afirmações de crença de modo consistente, explicando-as a partir de seus fundamentos e relacionando a religião às demais referências humanas, como a natureza e a história, e aos processos cognitivos, como a razão e a lógica. A teologia, como tentativa de explicar a fé por parte de quem a professa, não é neutra, nem tentada da perspectiva de observação distanciada, como seria por exemplo uma história da religião. O enfoque religioso não admite um esquema formal e indiferente, dentro do qual se enquadre, para efeito de estudo, qualquer religião. Influenciada por suas raízes nas tradições grega e cristã, a teologia é intransferível para religiões não-ocidentais. Teologia, história das religiões e filosofia. A teologia explica a maneira como os adeptos de uma religião a compreendem. Isso significa que a disciplina se pretende normativa. A história das religiões, que modernamente compreende também psicologia da religião, sociologia da religião, fenomenologia da religião e filosofia da religião, libertou-se do elemento normativo em favor de uma análise puramente empírica. Esse enfoque, que corresponde à concepção moderna de ciência, pode ser aplicado apenas a objetos materiais, ou a entidades empiricamente verificáveis, como as relações sociais nas ciências humanas. A verdade revelada, no entanto, compreendida como emanada de um campo transcendental, não é passível de objetivação. Apenas as formas de vida religiosa, que são positivas e evoluem a partir da experiência, podem ser objetivadas. Entretanto, não se pode dizer simplesmente que a teologia e a história das religiões se excluam mutuamente. O que ocorre é que se podem fazer afirmações analíticas ou afirmações teológicas sobre os mesmos fenômenos religiosos, e por isso o objeto da história das religiões e os da teologia não podem ser nitidamente separados. Apenas são abordados com categorias e critérios diferentes. Desde que a história das religiões não dispensa a neutralidade, já que isso reduziria a disciplina à antropologia num sentido ideológico (isto é, a religião compreendida como mera projeção da psique ou de condições sociais), a teologia reconhece a história das religiões como uma das ciências no universo científico. Enquanto a teologia se baseia numa verdade revelada, a filosofia se fundamenta em evidências atemporais, com as quais a razão autônoma compreende que é confrontada. No entanto, como a teologia também usa a razão e desenvolve seus princípios de modo sistemático, há entre as duas disciplinas muitas áreas em comum, que em parte se complementam e em parte levam a tensões polêmicas. Significado religioso da teologia. As reflexões teológicas não se limitam a uma esfera religiosa especial, separada da vida comum. Quem fala de Deus fala também do homem e do significado da existência, e portanto faz afirmações sobre o mundo, as condições da criação, o afastamento do propósito da criação (isto é, o pecado) e seu fim determinado (escatologia ou visão dos últimos tempos). Dessas afirmações resultam diretrizes para a vida no mundo, que não se limitam apenas ao acesso à salvação, mas ao comportamento ético nas relações interpessoais, na família e na sociedade. Para as religiões mais primitivas, todas as áreas de comportamento (isto é, relações entre os sexos, higiene, trabalho e outras funções sociais e individuais) são determinadas pela religião e permeadas das formas e práticas dos cultos. Nesse sentido, cada religião contém a totalidade do ser que sua "teologia" pretende expressar. A tribo representa o eixo em torno do qual giram todas as relações mundanas. O tempo primevo (ou mítico) ao qual a tribo remete suas origens é também o tempo de salvação e plenitude. Assim, as religiões primitivas basicamente se ocupam do culto ancestral. Incluem-se no domínio do pensamento religioso tribal os conceitos de mana (poder espiritual ou força), isto é, o ensinamento de que chefes tribais, curandeiros e feiticeiros são dotados de carisma especial (poder ou influência espiritual) e maiores poderes de vida. Nas religiões orientais e ocidentais, essa compreensão é extremamente refinada, desenvolvida e teologicamente estruturada.

Na relação do homem com o mundo, muitas religiões orientais (principalmente o hinduísmo) têm uma visão negativa e cética de toda a realidade, especialmente se comparadas à doutrina cristã da criação. Enquanto no cristianismo a criação é um "evento feliz", no pensamento oriental o chamado à vida e à realidade é compreendido de maneira oposta; a criação não deveria nunca ter ocorrido. Importância cultural da teologia. Como a teologia não permanece restrita ao domínio do esotérico e do sagrado, tem grande significado para a evolução cultural e a vida intelectual geral. A concepção de história contida no Antigo Testamento tornou possível o conceito ocidental de história, entendida como processo linear, dirigido a um objetivo (o reino de Deus) e marcado pela característica da singularidade. Essa visão da história contrasta com a compreensão cíclica própria das sociedades primitivas, em que a sucessão de eventos se entende como realização do mito, que se repete infinitamente. Tanto a universidade como a escola foram inauguradas historicamente pela igreja, já que a teologia tematizou as várias dimensões da vida: natureza, história, ética e outras áreas. Muito da filosofia moderna também emergiu de temas e categorias teológicas, como se pode observar no pensamento dos existencialistas Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre, e até mesmo em Karl Marx. A filosofia moderna se emancipou apenas em parte de sua origem teológica; essa emancipação ocorreu também de tal forma que manteve a relação dialética entre teologia e filosofia. Modernamente, as questões teológicas já não são objeto privilegiado de interesse, como eram na Idade Média, mas isso não diminui seu significado. Sempre voltam a emergir, muitas vezes de forma dissimulada, como na busca do significado da vida e da existência, ou na resignação niilista contra essa busca; mais ainda, emergem na busca pela dignidade da existência humana, a inviolabilidade da vida, o respeito aos direitos humanos e muitas outras questões. Temas teológicos. Os temas discutidos pela teologia são de dimensões universais. Abrangem a doutrina de Deus, do homem e do mundo. Mesmo quando não existe uma "doutrina de Deus" no sentido estrito do termo, como no caso das "religiões ateísticas" (por exemplo, certas áreas do hinduísmo e budismo), o homem e o mundo são compreendidos num contexto de finalidade, e portanto têm especificidades religiosas. A inclusão do mundo na discussão teológica significa que o comportamento no mundo (a ética) está incluído na teologia; em algumas áreas, como no confucionismo, ganha posição dominante. Concepções éticas -- derivadas de conceitos teológicos no significado mais amplo de teologia -- são desenvolvidas em formas contraditórias; podem levar à ascética negação do mundo, mas também a uma afirmação definitiva do mundo. A primeira forma é realizada no budismo e no hinduísmo, a segunda no confucionismo. No cristianismo, as duas formas estão representadas. O tema teológico da relação entre o homem e o mundo foi descrito pelo pensador francês Blaise Pascal como a doutrina da "dignidade e pobreza do homem" -- isto é, a doutrina da criação e queda -- e, relacionado a isso, a proclamação da salvação e a apresentação de um caminho para a salvação. Esse caminho leva, nas várias religiões, a direções muito diferentes. Pode ficar sob o comando exclusivo da graça divina (como no budismo amida e no cristianismo protestante); pode depender da atividade e iniciativa do homem (como no confucionismo); ou pode ser caracterizado por uma fusão dos dois (como no budismo Zen e na combinação católica de graça e mérito). Finalmente, a teologia também inclui entre seus vários temas o processo e objetivo da história (escatologia), especialmente no que se refere à relação entre história secular e história da salvação. Funções da teologia. Baseada na autoridade (revelação), e como essa autoridade é documentada nas Sagradas Escrituras a teologia deve recorrer necessariamente a essas fontes, que analisa criticamente por meio da disciplina denominada hermenêutica, ou interpretação crítica das Escrituras. Nessa tarefa, colocam-se questões difíceis e controversas, como determinar em que grau o cânon (padrão da escritura) das fontes de revelação foi deturpado e modificado pela tradição, e que valor normativo a tradição modificadora tem ou deve ter. Esses problemas desempenham uma parte importante na relação entre protestantismo e catolicismo, embora cada denominação trate os problemas de modo independente. A questão da verdade levantada pela teologia exige a constituição de uma disciplina -- a teologia sistemática -- que se preocupe especificamente com questões fundamentais. Sua tarefa pode ser determinada da seguinte maneira: (1) desenvolver a totalidade dos ensinamentos religiosos (dogmática, ou doutrina da fé); (2) interpretar a existência do homem no mundo e determinar as normas (ética derivada da fé) para a ação no mundo -- isto é, para a disposição do indivíduo frente a seu semelhante e às estruturas e instituições políticas e sociais; (3) representar sua pretensão à verdade no contexto de confronto com outras pretensões à verdade e com outros critérios de verificação (apologética, polêmica). Assim, é uma tarefa contemporânea da teologia coordenar sua doutrina da criação ou sua doutrina da revelação do transcendente (por exemplo, o evento de Cristo no cristianismo) com a visão de mundo da moderna ciência natural e sua tese da imanência do ser -- isto é, de ser que é autocontido. Outro aspecto dessa tarefa é o confronto com a pretensão de outras religiões à verdade, o que pode levar a resultados muito diferentes: por exemplo, pode levar à tese das posições complementares de religiões, e portanto à tolerância (como no hinduísmo ou em algumas escolas no Ocidente), ou à pretensão de deter a verdade absoluta (como no cristianismo, pelo menos entre seus representantes mais importantes). Nessa situação, essa pretensão pode ter diferentes manifestações. Pode adotar uma rejeição total de outras religiões como coisa diabólica, ou entender as outras religiões como passos iniciais e sementes de um processo de evolução religiosa que, segundo sua teologia, se completará nela mesma. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Teologia, disciplina que expressa a razoabilidade dos conteúdos de uma fé religiosa, apresentados em um conjunto coerente de proposições. A teologia aplica, no estudo de seus conteúdos, os procedimentos metodológicos, críticos e intelectuais da filosofia. Porém, estes procedimentos são diametralmente opostos aos das ciências naturais e humanas porque partem do pressuposto da fé e seu objetivo final, Deus, não é passível de pesquisa empírica. Portanto, o problema de estabelecer um método rigoroso de raciocínio sobre Deus é crucial em teologia. Judeus, cristãos e muçulmanos dão às escrituras (Torá, Bíblia e Alcorão) uma autoria divina, o que não acontece no hinduísmo e no budismo. A transmissão oral é outro meio de expressão e comunicação da revelação original já que, onde a escrita parece confusa ou inconsistente, a comunidade de crentes a interpreta. Isso ocorre muito mais no islamismo do que no catolicismo. A experiência própria, seja pessoal ou comunitária, tem importante influência na teologia. O teólogo procura a fé em Deus em fenômenos religiosos — como no misticismo e na conversão — e também na vivência cultural, social e política da época. 2 MÉTODO TEOLÓGICO Não existe um único método, de caráter universal, reconhecido na teologia. Os teólogos protestantes da Reforma, e posteriores a ela, têm tentado generalizar sem método, regendo-se estritamente pela Bíblia. É nisto que consiste o trabalho da exegese, que visa a compreender um significado. Os teólogos devem questionar como tem evoluído o significado original de um texto no decorrer da história doutrinal. Também devem procurar o significado que poderia ter este texto na época e situação cultural em que foi escrito. Este passo é a hermenêutica. A interpretação é um ato criativo e inovador e não somente a transposição de significados de um contexto antigo para outro moderno. Uma distinção deve ser feita entre Teologia apologética (tentativa de expor as crenças religiosas enquanto se atende ou se responde às objeções e críticas) e Teologia dogmática que é a exposição ordenada das crenças. Alguns teólogos rejeitam a primeira, argumentando que a apologética é, apenas, uma clara exposição da crença. Embora a Bíblia seja um rico depositário de material teológico, não é um manual de teologia. A Epístola de Paulo aos Romanos é, talvez, a proposta mais próxima de um tratado teológico no Novo Testamento. No Oriente, o escritor Orígenes (século III) foi o teólogo mais influente da era cristã primitiva. O grande teólogo do Ocidente foi Santo Agostinho de Hipona. Ambos foram influenciados pela filosofia de Platão. A figura que mais se destacou na teologia medieval foi São Tomás de Aquino. Seu tratado Summa Theologica é uma detalhada exposição das doutrinas sobre Deus: natureza humana, encarnação e salvação. Com sutileza, Tomás de Aquino — baseando-se na filosofia de Aristóteles — mistura temas filosóficos e religiosos, exercendo uma influência sem precedentes na teologia católica romana. No século XVI, o teólogo mais importante da reforma protestante foi João Calvino. Destacando a soberania de Deus até elaborar uma nova tese de predestinação, Calvino, ainda assim, tentou fundamentar suas doutrinas nos postulados da Bíblia.

Depois da Reforma, veio um período de estagnação teológica. A antiga teologia tinha perdido o prestígio para dois filósofos do século VIII: o cético inglês David Hume e o idealista alemão Emmanuel Kant. Por isto, o teólogo alemão do século XX, Friedrich Schleiermacher, conclamou para que a experiência da comunidade de fiéis fosse considerada uma nova base teológica. Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.

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