TEOLOGIA SISTEMÁTICA [Clique em SUMÁRIO]
Augustus Hopkins Strong Título original:
Systematic Theology PREFÁCIO DO AUTOR A presente obra é uma revisão e ampliação da minha Systematic Theology, primeiramente publicada em 1886. Da obra original foram impressas sete edições, cada uma das quais incorporando sucessivas correções e supostos aprimoramentos. Durante os vinte anos que mediaram entre a primeira publicação, reuni muito material novo, que agora ofereço ao leitor. Meu ponto de vista filosófico e crítico nesse período também sofreu alguma mudança. Conquanto ainda eu sustente as doutrinas antigas, interpreto-as diferentemente e exponho-as com maior clareza, porque a mim me parece ter chegado a uma verdade fundamental que lança novas luzes sobre todas elas. Esta verdade tentei estabelecer em meu livro intitulado Christ in Creation, e delas faço referências ao leitor para mais informações. Que Cristo é aquele único Revelador de Deus, na natureza, na humanidade, na história, na ciência, na Escritura, a meu juízo, a chave da teologia. Este ponto de vista implica uma concepção monística e idealista do mundo, juntamente com uma idéia evolutiva quanto à sua origem e progresso. Mas é o próprio antídoto do panteísmo que reconhece a evolução como único método do Cristo transcendente e pessoal, que é tudo em todos e que faz o universo teológico e moral a partir do centro da sua circunferência e desde o seu começo até agora.
Teologia Sistemática (Strong) 2 Nem a evolução, nem a alta crítica tem algo de aterrador para aquele que as considera como parte do processo criador e educador da parte de Cristo. O mesmo Cristo em quem estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento fornece todas as salvaguardas e limitações necessárias. Tão somente porque Cristo tem sido esquecido é que a natureza e a lei tem sido personificada, e a história tem sido considerada como um desenvolvimento sem propósito, que se tem feito referência ao judaísmo como tendo uma origem simplesmente humana, que se tem pensado que Paulo tirou a igreja do seu próprio curso mesmo antes de iniciar o seu próprio curso, que a superstição e ilusão vieram a parecer o único fundamento do sacrifício dos mártires e o triunfo das missões modernas. De modo nenhum creio numa evolução irracional e ateísta como esta. Contrariamente, creio naquele em quem consistem todas as coisas, que está com o seu povo até o fim do mundo e prometeu conduzi-lo em toda a verdade. A filosofia e a ciência são boas servas de Cristo, mas pobres guias quando rejeitam o Filho de Deus. Quando chego ao meu septuagésimo ano de vida e, no meu aniversário escrevo estas palavras, sou grato por aquela experiência da união com Cristo que me capacitou a ver na ciência e na filosofia o ensino do meu Senhor. Porém esta mesma experiência pessoal fez-me mais consciente do ensino de Cristo na Escritura, e fez-me reconhecer em Paulo e João uma verdade mais profunda do que a que foi descoberta por quaisquer escritores, uma verdade com relação ao pecado e a sua expiação e que satisfaz os mais profundos anseios da minha natureza e que por si mesma é evidente e divina. Preocupam-me algumas tendências teológicas dos nossos dias, porque creio que elas são falsas tanto na ciência como na religião. Como homens que se sentem pecadores perdidos e que uma vez receberam o perdão do seu Senhor e Salvador crucificado podem daí em diante rebaixar seus atributos, negar a sua divindade e expiação, arrancar da sua fronte a coroa do milagre e soberania, relegá-lo ao lugar de um mestre
Teologia Sistemática (Strong) 3 simplesmente moral que nos influencia apenas como o fez Sócrates com palavras proferidas através dos tempos, passa pela minha compreensão. Eis aqui o meu teste de ortodoxia: Dirigimos nossas orações a Jesus? Invocamos o nome de Cristo como Estêvão e toda a igreja primitiva? O nosso Senhor vivo é onipresente, onisciente, onipotente? Ele é divino só no sentido em que nós também o somos, ou é ele o Filho unigênito, Deus manifesto em carne, em quem habita corporalmente toda a plenitude da divindade? Que pensais vós de Cristo? esta ainda é a pergunta crítica, e a ninguém que, diante da evidência que ele nos forneceu, se não pode responder corretamente, assiste o direito de chamar-se cristão. Sob a influência de Ritschl e seu relativismo kantiano, muitos dos nossos mestres e pregadores têm deslizado para negação prática da divindade de Cristo e da sua expiação. Parece que estamos à beira do precipício de uma repetida falha unitária, que esfacelará as igrejas e compelirá a cisões, de maneira pior que a de Channing e Ware há um século. Os cristãos americanos se recuperaram daquele desastre somente ao afirmar vigorosamente a autoridade de Cristo e a inspiração das Escrituras. Necessitamos de uma visão do Salvador como a que Paulo teve no caminho de Damasco e João na ilha de Patmos, para nos convencermos de que Jesus está acima do espaço e do tempo, que a sua existência antedata a criação, que ele conduziu a marcha da história dos hebreus, que ele nasceu de uma virgem, sofreu na cruz, levantou-se dentre os mortos, e agora vive para sempre, é Senhor do universo, o único Deus com quem nos relacionamos, nosso Salvador aqui e Juiz no futuro. Sem haver avivamento nesta fé nossas igrejas se tornarão secularizadas, a missão morrerá, e o castiçal será removido do seu lugar como ocorreu às sete igrejas da Ásia e como tem sido com as igrejas da Nova Inglaterra, que se apostataram. Imprimo esta edição revista e ampliada da minha Systematic Theology, na esperança de que a sua publicação possa fazer algo para refrear esta veloz maré que avança, e confirmar a fé nos eleitos de Deus. Não tenho dúvida de que os cristãos, em sua grande maioria, ainda
Teologia Sistemática (Strong) 4 mantêm a fé que, de uma vez por todas foi entregue aos santos e que eles, cedo ou tarde, hão de separar-se daqueles que negam o Senhor que os comprou. Quando o inimigo entra como um dilúvio, o Espírito do Senhor levanta o estandarte contra ele. É preciso que eu faça a minha parte levantando tal estandarte. É preciso que eu conduza outros a reconhecer, como eu, a despeito das opiniões arrogantes da moderna infidelidade, a minha firme crença, reforçada somente pela experiência e reflexão de meio século nas velhas doutrinas da santidade como atributo fundamental de Deus, de uma transgressão e pecado de toda a raça humana, na preparação divina da história hebréia da redenção do homem, na divindade, na preexistência, nascimento virginal, expiação viçaria e ressurreição corporal do nosso Senhor Jesus Cristo, e na sua futura vinda para julgar os vivos e os mortos. Eu creio que estas são verdades da ciência assim como da revelação; que ainda se verá que o sobrenatural é mais verdadeiramente natural; e que não o teólogo de mente aberta, mas o cientista de mente estreita será obrigado a esconder a sua cabeça na vinda de Cristo. O presente volume, ao tratar do Monismo Ético, da Inspiração, dos Atributos de Deus e da Trindade, contém um antídoto para a mais falsa doutrina que agora ameaça a segurança da igreja. Desejo agora chamar especialmente a atenção para o assunto Perfeição e os Atributos por ela envolvidos, porque eu creio que a recente fusão da Santidade com o Amor e a negação prática de que essa Retidão é fundamental na natureza de Deus são responsáveis pelos pontos de vista utilitários da lei e os pontos de vista superficiais sobre o pecado que agora prevalecem em alguns sistemas de teologia. Não pode haver nenhuma apropriada doutrina da retribuição, quando se recusa a sua preeminência. O amor deve ter uma norma ou padrão, e isto só pode ser encontrado na Santidade. A velha convicção do pecado e do senso de culpa que conduz o pecador convicto à cruz são inseparáveis de uma firme crença no atributo de Deus logicamente auto-afirmante, anterior ao autocomunicante e condicionado a ele. A teologia da nossa época carece de
Teologia Sistemática (Strong) 5 um novo ponto de vista sobre o Justo. Tal ponto de vista esclarecerá que deve haver uma reconciliação com Deus antes que o homem seja salvo, e que a consciência humana seja apaziguada só na condição de que se faça uma propiciação à Justiça divina. Neste volume eu proponho o que considero a verdadeira Doutrina de Deus, porque nela deve basear-se tudo o que se segue nos volumes sobre a Doutrina do Homem e a da Salvação. A presença universal de Cristo, luz que ilumina a todo homem tanto em terras pagas como cristãs, para dirigir ou governar todos os movimentos da mente humana, dá-me a confiança de que os recentes ataques à fé cristã fracassarão no seu propósito. Torna-se evidente, por fim, que não só atacam-se as obras primorosas, mas até mesmo a cidadela. Pede-se que se abandone toda a crença na revelação especial. Dizem que Jesus Cristo veio em carne exatamente como qualquer um de nós, e ele era antes de Abraão senão só no mesmo sentido que nós somos. A experiência cristã sabe como caracterizar tal doutrina tão logo se estabelece de um modo claro. E a nova teologia entrará em voga possibilitando que até mesmo crentes comuns reconheçam a heresia destruidora de almas mesmo sob a máscara de professa ortodoxia. Não faço apologia alguma do elemento homilético do meu livro. Para ser verdadeira ou útil, a teologia deve ser uma paixão. Pectus est quod teologum facit, e nenhum zombador que apregoa a "Teologia Peitoral" me impedirá de sustentar que os olhos do coração devem ser iluminados para perceber a verdade de Deus e que, para conhecer a verdade, é necessário praticá-la. A teologia é uma ciência cujo cultivo pode ser bem sucedido somente em conexão com sua aplicação prática. Por isso, em cada discussão dos seus princípios devo assinalar suas relações com a experiência cristã, e a sua força para despertar emoções cristãs e levar a decisões cristãs. Teologia abstrata, na verdade, não é científica. Só é científica a teologia que traz o estudioso aos pés de Cristo. Eu anseio pelo dia em que, em nome de Jesus, todo joelho se dobre. Creio que, se cada um servir a Cristo, o Pai o honrará, e ele
Teologia Sistemática (Strong) 6 honrará o Pai. Eu mesmo não me orgulharia de crer tão pouco, mas sim de crer muito. Fé é a medida com que Deus avalia o homem. Por que haveria de duvidar que Deus falou aos pais pelos profetas? Por que haveria de pensar que é incrível Deus ressuscitar os mortos? O que é impossível aos homens é possível a Deus. Quando o Filho do homem vier, porventura achará fé na terra? Queira Deus que encontre fé em nós, que professamos ser seus seguidores. Na convicção de que as trevas presentes são apenas temporárias e que serão banidas por um glorioso alvorecer, ofereço ao público esta nova edição da minha "Teologia" rogando a Deus para que qualquer que seja a boa semente que frutifique e qualquer que seja a planta que o Pai não plantou que seja arrancada. ROCHESTER THEOLOGICAL SEMINARY ROCHESTER, N. Y., 3 de agosto de 1906.
SUMÁRIO Parte I - PROLEGÔMENOS Capítulo I - IDÉIA DE TEOLOGIA..........................................................24 I. Definição de Teologia....................................................................24 II. Alvo da Teologia...........................................................................25 III. Possibilidade da Teologia............................................................27 1. Na existência de um Deus que se relaciona com o universo.....27 2. Na capacidade humana de conhecer Deus.................................32 3. Na revelação do próprio Deus...................................................44 IV. Necessidade da Teologia............................................................52 1. No instinto organizador da mente humana................................52 2. Na relação da verdade sistemática com o desenvolvimento do caráter.................................................................................53 3. Na importância dos pontos de vista definidos e justos da doutrina cristã para o pregador................................................54
Teologia Sistemática (Strong) 7 4. Na íntima conexão entre a doutrina correta e o firme e agressivo poder da igreja...........................................................56 5. Nas injunções diretas e indiretas da Escritura..........................58 V. Relação da Teologia com a Religião...........................................59 1. Derivação...................................................................................59 2. Falsas Concepções.....................................................................60 3. Idéia Essencial..........................................................................62 4. Inferências.................................................................................64 Capítulo II - MATERIAL DA TEOLOGIA................................................68 I. Fontes da Teologia.........................................................................68 1. A Escritura e a natureza.............................................................70 2. A Escritura e o Racionalismo....................................................76 3. A Escritura e o Misticismo........................................................80 4. A Escritura e o Romanismo.......................................................84 II. Limitações da Teologia.................................................................86 1. Na finitude do entendimento humano........................................86 2. No estado imperfeito da ciência natural e metafísica................86 3. Na inadequação da língua..........................................................87 4. No nosso conhecimento incompleto das Escrituras..................88 5. No silêncio da revelação escrita................................................88 6. Na falta de discernimento espiritual causada pelo pecado........89 III. RELAÇÕES DO MATERIAL COM O PROGRESSO DA TEOLOGIA............................................................................90 1. É impossível um sistema perfeito de teologia............................90 2. Apesar de tudo isso a teologia é progressiva..............................91 Capítulo IV - MÉTODO DA TEOLOGIA..................................................93 I. Requisitos para o Estudo da Teologia.........................................93 1. Uma mente disciplinada..........................................................93 2. Um hábito mental intuitivo distinto de um outro simplesmente lógico...............................................................94
Teologia Sistemática (Strong) 8 3. Conhecimento das ciências física, mental e moral...................95 4. Conhecimento das línguas originais da Bíblia........................96 5. Afeição santa para com Deus..................................................96 6. A influência iluminadora do Espírito Santo ............................98 II. Divisões da Teologia................................................................ 99 III. História da Teologia Sistemática...........................................104 IV. Ordem de Tratamento na Teologia Sistemática......................115 1. Vários métodos de ordenação dos tópicos de um sistema teológico.................................................................115 2. O método sintético...............................................................117 Parte II - A EXISTÊNCIA DE DEUS Capítulo 1 - ORIGEM DA NOSSA IDÉIA DA EXISTÊNCIA DE DEUS .........118 I. Primeiras Verdades em Geral........................................................120 1. Sua natureza..............................................................................120 2. Seus critérios.............................................................................124 II. A Existência de Deus, uma Primeira Verdade.............................125 III. Outras Supostas Fontes da Nossa Idéia......................................137 IV. Conteúdo desta Intuição ............................................................146 Capítulo II - EVIDÊNCIAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS............ 153 I. Argumento Cosmológico...............................................................156 1. Defeitos do Argumento Cosmológico.......................................157 II. Argumento Teleológico..............................................................160 1. Mais explicações......................................................................161 2. Defeitos do Argumento Teleológico........................................167 III. Argumento Antropológico..........................................................171 IV. Argumento Ontológico...............................................................180 1. De Samuel Clarke ....................................................................180 2. De Descartes ............................................................................181 3. De Anselmo..............................................................................182
Teologia Sistemática (Strong) 9 Capítulo III - EXPLICAÇÕES ERRÔNEAS E CONCLUSÃO.......................189 I. Materialismo................................................................................189 II. Idealismo Materialista..................................................................199 III. Panteísmo Idealista...................................................................208 IV. Monismo Ético...........................................................................218 Parte III - AS ESCRITURAS, UMA REVELAÇÃO DA PARTE DE DEUS
Capítulo I - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.....................................228 I. Razões a Priori para Esperar uma Revelação da Parte de Deus...228 1. Necessidades da natureza do homem......................................228 2. Pressuposição de um suprimento..............................................231 II. As Marcas da Revelação que o Homem pode Esperar................234 1. Quanto à sua substância...........................................................234 2. Quanto ao seu método..............................................................234 3. Quanto à sua certificação.........................................................239 III. Os Milagres, um Atestado da Revelação Divina.......................240 1. Definição de Milagre ..............................................................240 2. Possibilidade do Milagre ........................................................247 3. Probabilidade dos Milagres ....................................................252 4. Testemunho necessário para se provar um milagre.................258 5. Força Evidencial dos Milagres ..............................................260 6. Falsos Milagres........................................................................267 IV. Profecia Atestando uma Revelação Divina...............................271 1. Definição................................................................................271 2. Relação da profecia com os milagres.....................................273 3. Requisitos na profecia, considerados como Evidência da Revelação...........................................................................274 4. Características Gerais da Profecia nas Escrituras ..................274 5. Profecia messiânica em geral..................................................276 6. Profecias especiais pronunciadas por Cristo...........................276 7. Sobre o duplo sentido da Profecia.........................................279
Teologia Sistemática (Strong) 10 8. Propósito da Profecia - até onde não se cumpriu...................282 9. Poder Evidencial da Profecia – quando cumprida.................284 V. Princípios de Evidência Histórica Aplicáveis à Prova de uma Revelação Divina................................................................285 1. Quanto à evidência documentária...........................................285 2. Quanto ao testemunho em geral..............................................287 Capítulo II - PROVAS POSITIVAS DE QUE AS ESCRITURAS SÃO A REVELAÇÃO DIVINA.....................................................292 1. Genuinidade dos Livros do Novo Testamento........................294 2. Genuinidade dos Livros do Velho Testamento..................... .330 II. Credibilidade dos Escritores da Bíblia...................................... 343 III. O Caráter Sobrenatural do Ensino da Escritura........................347 1. O ensino da Escritura em geral...............................................347 2. Sistema Moral do Novo Testamento......................................352 3. A pessoa e o caráter de Cristo................................................371 4. O testemunho do próprio Cristo.............................................375 IV. Resultados Históricos da Propagação da Doutrina da Escritura 379 Capítulo III - INSPIRAÇÃO NAS ESCRITURAS.....................................390 I. Definição de Inspiração.............................................................390 II. Prova da Inspiração...................................................................394 III. Teorias Sobre a Inspiração........................................................402 1. Teoria da Intuição ...................................................................402 2. Teoria da Iluminação...............................................................407 3. Teoria do Ditado......................................................................415 4. Teoria da Dinâmica.................................................................419 IV. União dos Elementos Divino e Humano na Inspiração............421 V. Objeções à Doutrina da Inspiração..........................................441 1. Erros em matéria de Ciência...................................................442 2. Erros em matéria de História...................................................449 3. Erros no campo da Moral.......................................................456
Teologia Sistemática (Strong) 11 4. Erros de Raciocínio..................................................................461 5. Erros na citação ou interpretação do Velho Testamento..........464 6. Erros na Profecia.....................................................................467 7. Alguns livros não merecem um lugar na Escritura inspirada......470 8. Porções dos livros da Escritura escritos por outras pessoas que não são aquelas a quem são atribuídos...........................473 9. Narrativas Céticas ou Fictícias................................................474 10. Reconhecimento da não inspiração de mestres da Escritura e de seus escritos......................................................................481 Parte IV - NATUREZA, DECRETOS E OBRAS DE DEUS Capítulo I - ATRIBUTOS DE DEUS.......................................................483 I. Definição do Termo Atributos...................................................484 II. Relação dos Atributos Divinos com a Essência Divina.............485 1. Os atributos têm uma existência objetiva................................485 2. Os atributos são inerentes à essência divina............................487 3. Os atributos pertencem à essência divina como tal.................488 4. Os atributos manifestam a essência divina..............................489 III. Métodos para Determinar os Atributos Divinos........................490 1. Método racional.......................................................................490 2. Método bíblico.........................................................................491 IV. Classificação dos Atributos.......................................................492 V. Atributos Absolutos ou Imanentes.............................................495 Primeira divisão - Espiritualidade e os atributos envolvidos por ela......495 1. Vida..........................................................................................498 2. Pessoalidade.............................................................................501 Segunda Divisão - Infinitude e os atributos por ela envolvidos......504 1. Existência própria....................................................................510 2. Imutabilidade...........................................................................511 3. Unidade...................................................................................514
Teologia Sistemática (Strong) 12 Terceira Divisão - Perfeição e os atributos por ela envolvidos.......517 1. Verdade...................................................................................517 2. Amor........................................................................................522 3. Santidade..................................................................................532 VI. Atributos Relativos ou Transitivos...........................................548 Primeira Divisão - Atributos relacionados com Tempo e Espaço..548 1. Eternidade...............................................................................548 2. Imensidade..............................................................................554 Segunda Divisão - Atributos relacionados com a Criação..............557 1. Onipresença.............................................................................557 2. Onisciência..............................................................................562 3. Onipotência.............................................................................571 Terceira Divisão - Atributos relacionados com os seres morais.....575 1. Veracidade e Fidelidade ou Verdade transitiva......................575 2. Misericórdia e Bondade ou Amor Transitivo.........................577 3. Justiça e Retidão, ou Santidade Transitiva.............................579 VII. Nível e Relações dos Vários Atributos...................................589 1. Santidade, atributo fundamental de Deus...............................590 2. A santidade de Deus, a base da obrigação moral...................595 Capítulo II - DOUTRINA DA TRINDADE.............................................605 I. Na Escritura há Três que são Reconhecidos como Deus............608 1. Provas do Novo Testamento...................................................608 2. Indicações do Velho Testamento............................................633 II. Estes três são Descritos na Escritura de tal Modo que Somos Compelidos a Concebê-los como Pessoas Distintas..................643 1. O Pai e o Filho são pessoas distintas uma da outra...............643 2. O Pai e o Filho são pessoas distintas do Espírito...................643 3. O Espírito Santo é uma pessoa................................................644 III. Esta Tripessoalidade da Natureza Divina não é Simplesmente Econômica e Temporal, mas Imanente e Eterna.......................650 1. Prova da Escritura de que estas distinções de pessoalidade
Teologia Sistemática (Strong) 13 são eternas..............................................................................650 2. Erros refutados pelas passagens anteriores.............................652 IV. Esta Tripessoalidade não é Triteísmo; pois, Conquanto Haja Três Pessoas, há Apenas Uma Essência....................................659 V. As Três Pessoas, Pai, Filho, e Espírito Santo, são Iguais..........665 1. Estes títulos pertencem às Pessoas..........................................665 2. Sentido qualificado destes títulos...........................................667 3. Geração e processos consistentes com a igualdade.................676 VI. Inescrutável, Embora não Autocontraditória, esta Doutrina Fornece a Chave para Todas as Outras Doutrinas....................684 1. O modo desta existência triúna é inescrutável........................684 2. A Doutrina da Trindade não é autocontraditória....................688 3. A doutrina da Trindade tem importantes ilações com outras doutrinas........................................................................690 Capítulo III - OS DECRETOS DE DEUS................................................702 I. Definição de Decretos................................................................702 II. Prova da Doutrina dos Decretos ................................................706 1. Da Escritura.............................................................................706 2. Da Razão.................................................................................708 III. Objeções à Doutrina dos Decretos............................................715 1. Que eles são inconsistentes com a livre atuação do homem...715 2. Que eles afastam todo o motivo do exercício humano............721 3. Que eles fazem Deus o autor do pecado.................................726 IV. Notas Finais..............................................................................732 1. Empregos práticos da doutrina dos decretos...........................732 2. O verdadeiro método da pregação da doutrina........................734 Capítulo IV - AS OBRAS DE DEUS; OU A EXECUÇÃO DOS DECRETOS SEÇÃO I - CRIAÇÃO I. Definição de Criação..................................................................735
Teologia Sistemática (Strong) 14 II. Prova da Doutrina da Criação.....................................................740 1. Declarações diretas da Escritura.............................................741 2. Evidência indireta da Escritura...............................................747 III. Teorias que se opõem à Criação ...............................................748 1. Dualismo................................................................................748 2. Emanação...............................................................................759 3. Criação a partir da eternidade.................................................765 4. Geração espontânea................................................................771 IV. O Relato Mosaico da Criação..................................................774 1. Sua dupla natureza..................................................................774 2. Interpretação adequada............................................................779 V. O Fim de Deus na Criação.........................................................785 1. O testemunho da Escritura.....................................................786 2. O testemunho da razão...........................................................788 VI. Relação da Doutrina da Criação com as outras Doutrinas.......795 1. Com a santidade e a benevolência de Deus.............................795 2. Com sabedoria e livre vontade de Deus..................................798 3. Com Cristo como revelador de Deus......................................801 4. Com a Providência e a Redenção............................................804 5. Com a observância do Sábado................................................806 SEÇÃO II - PRESERVAÇÃO I. Definição de Preservação............................................................811 II. Prova da Doutrina da Preservação..............................................813 1. Da Escritura.............................................................................813 2. Da Razão.................................................................................814 III. Teorias que virtualmente negam a doutrina da Preservação.....818 1. Deísmo...................................................................................818 2. Criação contínua ....................................................................821 IV. Notas sobre a Parceria Divina..................................................825
Teologia Sistemática (Strong) 15 SEÇÃO III - PROVIDÊNCIA I. Definição de Providência............................................................827 II. Prova da Doutrina da Providência..............................................829 1. Prova escriturística..................................................................829 2. Prova racional..........................................................................839 III. Teorias opostas à Doutrina da Providência...............................842 1. Fatalismo................................................................................842 2. Casualismo.............................................................................844 3. Teoria de uma providência simplesmente geral......................845 IV. Relações da Doutrina da Providência.......................................852 1. Com os milagres e com as obras da graça..............................852 2. Com a oração e a resposta......................................................854 3. Com a atividade cristã............................................................866 4. Com os maus atos dos agentes livres....................................872 SEÇÃO IV - OS ANJOS BONS E OS MAUS I. Afirmações e Sugestões da Escritura........................................878 1. Quanto à natureza e atributos dos anjos..................................878 2. Quanto ao seu número e organização.....................................883 3. Quanto ao seu caráter moral ..................................................888 4. Quanto às suas funções...........................................................890 II. Objeções à Doutrina dos Anjos..................................................908 1. À doutrina dos anjos em geral ...............................................908 2. À doutrina dos anjos maus em particular...............................910 III. Empregos práticos da Doutrina dos Anjos...............................914 1. Emprego da doutrina dos anjos bons......................................914 2. Empregos da doutrina dos anjos maus...................................916 PARTE V - ANTROPOLOGIA, OU DOUTRINA DO HOMEM Capítulo I - PRELIMINARES........................................................919 I. O homem, uma criação de Deus e um filho de Deus..................919
Teologia Sistemática (Strong) 16 II. Unidade da raça humana.............................................................941 1. A partir da história...................................................................943 2. A partir da língua.....................................................................945 3. A partir da psicologia..............................................................948 4. A partir da fisiologia...............................................................948 III. Elementos essenciais da natureza humana................................954 1. Teoria Dicotomista..................................................................954 2. Teoria Tricotomista.................................................................956 IV. Origem da alma.........................................................................963 1. Teoria da Preexistência...........................................................963 2. Teoria Criacionista..................................................................969 3. Traducianista...........................................................................973 V. Natureza moral do homem.........................................................981 1. Consciência.............................................................................982 2. Vontade...................................................................................993 Capítulo II - O ESTADO ORIGINAL DO HOMEM...................1011 I. Essência do estado original do homem......................................1012 1. Semelhança natural com Deus, ou pessoalidade...................1013 2. Semelhança moral com Deus, ou santidade..........................1017 II. Incidentes do estado original do homem..................................1029 1. Resultados da posse da imagem divina da parte do homem 1029 2. Concomitância da posse da imagem divina pelo homem.....1033 Capítulo III. PECADO, OU ESTADO DE APOSTASIA DO HOMEM 1049
SEÇÃO I - A LEI DE DEUS I. Lei em geral...........................................................................1049 1. A lei é uma expressão da vontade......................................1049 2. A lei é uma expressão geral da vontade.............................1050 3. A lei implica poder de impor.............................................1052 4. A lei expressa e determina a natureza................................1053 II. A Lei de Deus em particular.................................................1056
Teologia Sistemática (Strong) 17 III. Relação da lei com a graça de Deus....................................1077 SEÇÃO II - NATUREZA DO PECADO I. Definição................................................................................1082 1. Prova...................................................................................1088 2. Inferências..........................................................................1098 II. O princípio essencial do pecado...........................................1101 1. Pecado como Sensitividade...............................................1102 2. Pecado como adaptação.....................................................1110 3. O pecado como Egoísmo...................................................1117 SEÇÃO III - UNIVERSALIDADE DO PECADO I. Todo ser humano que chegou à consciência moral cometeu atos, ou acalentou disposições contrárias à lei divina.........1130 1. Prova da Escritura............................................................1120 2. Prova da história, da observação e do juízo comum da humanidade..................................................................1133 3. Prova a partir da experiência cristã..................................1136 II. Todo membro da raça humana, sem exceção, possui uma natureza corrompida, que é a fonte do verdadeiro pecado, e por si mesma é pecado......................................................1139 1. Prova da Escritura............................................................1139 2. Prova da Razão.................................................................1143 SEÇÃO IV - ORIGEM DO PECADO NO ATO PESSOAL DE ADÃO
I. O relato escriturístico da tentação e queda em Gn. 3.1-7.....1149 1. Seu caráter geral não mítico ou alegórico, mas histórico..1149 2. O curso da tentação e a resultante queda...........................1151 II. Dificuldades em conexão com a queda consideradas como o ato pessoal de Adão..........................................................1154 1. Como poderia cair um ser santo?.....................................1154
Teologia Sistemática (Strong) 18 2. Como poderia Deus, com justiça, permitir a tentação satânica?...........................................................1160 3. Como poderia, com justiça, uma pena tão grande estar em conexão com uma ordem tão insignificante?............1163 III. Conseqüências da queda no que respeita a Adão................1164 1. Morte – Esta morte era dupla. Ela era parcialmente.......1164 2. Exclusão positiva e formal da presença de Deus............1169 SEÇÃO V - ATRIBUIÇÃO DO PECADO DE ADÃO À SUA POSTERIDADE
I. Teorias da atribuição..............................................................1177 1. Teoria Pelagiana, ou da Inocência Natural do Homem.....1177 2. Teoria Arminiana, ou Teoria da Depravação voluntariamente apropriada..............................................1186 3. Teoria da Nova Escola, ou Teoria da Viciosidade não Condenável.................................................................1196 4. Teoria Federal, ou Teoria da Condenação por Pacto........1208 5. Teoria da Atribuição Mediata ou da Condenação pela Depravação................................................................1216 6. Teoria Agostiniana, do Encabeçamento natural de Adão........1221 Π. Objeções à doutrina agostiniana da atribuição.....................1238 SESSÃO VI – CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO DE ADÃO À POSTERIDADE
I. Depravação.............................................................................1254 1. A depravação é total ou parcial?.......................................1255 2. Capacidade, ou incapacidade?...........................................1260 II. Culpa.....................................................................................1267 1. Natureza da culpa..............................................................1267 2. Graus de culpa...................................................................1274 III. Pena.....................................................................................1283 1. Idéia da Pena....................................................................1283 2. A verdadeira pena do pecado...........................................1291 SEÇÃO VII - A SALVAÇÃO DAS CRIANÇAS
Teologia Sistemática (Strong) 19 PARTE VI - SOTERIOLOGIA, OU DOUTRINA DA SALVAÇÃO ATRAVÉS DA OBRA DE CRISTO Ε DO ESPÍRITO SANTO Capítulo I - CRISTOLOGIA, OU A REDENÇÃO OPERADA POR CRISTO.........................................................1308 SEÇÃO I - PREPARAÇÃO HISTÓRICA PARA A REDENÇÃO
I. Preparação Negativa.............................................................1308 II. Preparação Positiva...............................................................1311 SEÇÃO II - A PESSOA DE CRISTO
I. Levantamento histórico dos pontos de vista relativos à pessoa de Cristo.....................................................................1316 II. As duas naturezas de Cristo - sua realidade e integridade....1324 1. A Humanidade de Cristo....................................................1324 2. A Divindade de Cristo.......................................................1340 III. A união das duas naturezas em uma só pessoa...................1344 1. Prova desta União.............................................................1344 2. Falsas Interpretações Modernas desta União...................1350 3. A Natureza Real desta União...........................................1358 SEÇÃO III - OS DOIS ESTADOS DE CRISTO I. Estado de humilhação...........................................................1377 1. Natureza desta humilhação................................................1377 2. Estágios da humilhação de Cristo......................................1383 II. O estado de exaltação...........................................................1388 1. A natureza da exaltação...................................................1388 2. Os estágios da exaltação de Cristo...................................1389 SEÇÃO IV - OS OFÍCIOS DE CRISTO I. O ofício profético de Cristo...................................................1396 1. Natureza da obra profética de Cristo................................1396
Teologia Sistemática (Strong) 20 2. Estágios da obra profética de Cristo.................................1398 II. O ofício sacerdotal de Cristo................................................1401 1. A Obra Sacrificial de Cristo, ou Doutrina da Expiação...1402 2. A Obra Intercessora de Cristo..........................................1522 III. Ofício real de Cristo............................................................1526 Capítulo II - RECONCILIAÇÃO DO HOMEM COM DEUS, OU APLICAÇÃO DA REDENÇÃO ATRAVÉS DA OBRA DO ESPÍRITO SANTO.........................1530 SEÇÃO I - APLICAÇÃO DA REDENÇÃO DE CRISTO NA SUA PREPARAÇÃO I. Eleição...................................................................................1534 1. Prova da Doutrina da Eleição..........................................1534 2. Objeções à Doutrina da Eleição......................................1548 II. Vocação...............................................................................1559 SEÇÃO II - A APLICAÇÃO DA REDENÇÃO DE CRISTO PRECISAMENTE NO COMEÇO I. União com Cristo...................................................................1567 1. Representações Escriturísticas desta União.......................1568 2. Natureza desta união..........................................................1575 3. Conseqüências desta União relativa ao que crê.................1584 II. Regeneração..........................................................................1596 1. Representações Bíblicas....................................................1599 2. Necessidade da Regeneração.............................................1603 3. Causa eficiente da Regeneração........................................1609 4. Recursos empregados na Regeneração.............................1621 5. Natureza da Mudança Operada na Regeneração...............1626 III. Conversão............................................................................1637 1. Arrependimento................................................................1643 2. Fé......................................................................................1653
Teologia Sistemática (Strong) 21 IV. Justificação.........................................................................1678 1. Definição de Justificação..................................................1678 2. Prova da Doutrina da Justificação....................................1679 3. Elementos da Justificação................................................1689 4. Relação da justificação com a Lei e santidade de Deus...1698 5. Relação da Justificação com a União com Cristo e com a Obra do Espírito............................................................1702 6. Relação da Justificação com a Fé....................................1708 7. Conselho aos Inquiridores exigido pelo Ponto de vista da Escritura sobre a Justificação.......................................1715 SEÇÃO III - CONTINUAÇÃO DA APLICAÇÃO DA REDENÇÃO DE CRISTO I. Santificação..........................................................................1717 1. Definição..........................................................................1717 2. Explicações e Provas Bíblicas..........................................1721 3. Pontos de vista errôneos refutados por estas passagens da Escritura.......................................................................1730 II. Perseverança........................................................................1743 1. Prova da Doutrina da Perseverança..................................1744 2. Objeções à Doutrina da Perseverança..............................1747 Parte VII - ECLESIOLOGIA, OU A DOUTRINA DA IGREJA Capítulo I - CONSTITUIÇÃO DA IGREJA............................1754 I. Definição...............................................................................1754 Π. Organização da igreja...........................................................1768 1. O fato da organização........................................................1768 2. Natureza desta Organização..............................................1774 3. A Gênese da Organização.................................................1781 ΙΠ. Governo da igreja................................................................1786 1. Natureza desse governo em geral.....................................1786
Teologia Sistemática (Strong) 22 2. Oficiais da igreja..............................................................1808 3. Disciplina na Igreja..........................................................1828 IV. Relação mútua entre as igrejas locais.................................1833 1. A Natureza geral desta relação é de comunhão entre si...1833 2. Comunhão envolve o dever de consulta especial sobre assuntos que afetam o interesse comum.................1834 3. Esta comunhão pode ser quebrada pelos manifestos desvios da fé ou da prática da Escritura da parte de qualquer igreja...1835 Capítulo II - ORDENANÇAS DA IGREJA.............................1839 I. Batismo..................................................................................1840 1. Batismo, uma Ordenança de Cristo....................................1840 2. O Modo de Administrar o Batismo....................................1845 3. Simbolismo do Batismo.....................................................1858 4. A quem se destina o batismo?............................................1868 Π. Ceia do Senhor.....................................................................1894 1. A ceia do Senhor, uma ordenança instituída por Cristo....1895 2. O modo de administrar a Ceia do Senhor.........................1896 3. O simbolismo da Ceia do Senhor.....................................1901 4. Pontos de vista errôneos sobre a Ceia do Senhor.............1906 5. Pré-requisitos para a participação da Ceia do Senhor......1915 Parte VIII - ESCATOLOGIA, OU A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS ESCATOLOGIA......................................................................1936 I. Morte física..........................................................................1939 1. Sobre bases racionais.......................................................1942 2. Em bases escriturísticas...................................................1956 II. Estado intermediário...........................................................1970 1. A respeito dos justos........................................................1970 2. A respeito dos ímpios......................................................1973
Teologia Sistemática (Strong) 23 III. A segunda vinda de Cristo.................................................1980 1. A natureza desta vinda....................................................1983 2. O tempo da vinda de Cristo............................................1985 3. Precedentes da vinda de Cristo.......................................1990 4. Relação da segunda vinda de Cristo com o milênio.......1996 IV. A ressurreição....................................................................2004 V. Juízo final............................................................................2020 1. Natureza do juízo final....................................................2022 2. Objetivo do juízo final....................................................2025 3. O Juiz no juízo final........................................................2029 4. Quem está sujeito ao juízo final?....................................2031 5. Bases do juízo final.........................................................2032 VI. Estado final do justo e o do ímpio.....................................2034 1. Do justo...........................................................................2034 2. Dos ímpios......................................................................2042
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Parte I - PROLEGÔMENOS Capítulo I IDÉIA DE TEOLOGIA I. DEFINIÇÃO DE TEOLOGIA Teologia é a ciência de Deus e das relações entre Deus e o universo. Embora a palavra "teologia" seja empregada às vezes em escritos dogmáticos para designar um simples departamento da ciência que trata da natureza e atributos divinos, o uso prevalecente, desde Abelardo (1079-1142 A.D.), que intitulou seu tratado geral "Theologia Christiana", o qual abrange sob este termo todo o acervo da doutrina cristã. Por isso, a teologia trata, não só de Deus, mas das relações entre Deus e o universo, motivo por que falamos da Criação, da Providência e da Redenção. Os Pais chamam o Evangelista João de "o teólogo", porque ele trata mais plenamente do relacionamento interno das pessoas da Trindade. Gregório Nazianzeno (328) recebeu esta designação porque defendia a divindade de Cristo contra os arianos. Para um exemplo moderno deste emprego do termo "teologia" no sentido restrito, veja o título do primeiro volume do Dr. Hodge: "Systematic Theology, Vol. I: Teologia". Mas teologia não é somente "a ciência de Deus", nem mesmo "a ciência de Deus e do homem". Ela também dá conta das relações entre Deus e o universo. Se o universo fosse Deus, a teologia seria a única ciência. Visto que o universo é apenas uma manifestação de Deus e distingue-se dele, há ciências da natureza e da mente. A teologia é a "ciência das ciências", não no sentido de incluir todas estas, mas no de empregar os seus resultados e mostrar a sua base subjacente; (ver WARDLAW, Theology, 1.1,2). A ciência física não é uma parte da teologia. Somente como físico, Humboldt não precisava mencionar o nome de Deus em seu Cosmos (contudo vejamos Cosmos, 2.413, onde ele diz: "O Salmo 104 apresenta uma imagem do
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cosmos todo"). O Bispo de Carlisle: "A ciência é atéia, mas nem por isso pode ser ateísta". Só quando consideramos as relações das coisas finitas com Deus é que o estudo delas fornece material para a teologia. A antropologia é uma parte da teologia porque a natureza do homem é obra de Deus e porque a forma de Deus tratar o homem lança luz sobre o caráter de Deus. Deus é conhecido através das suas obras e das suas atividades. Por isso a teologia dá conta destas obras e atividades na medida que elas acompanham o nosso conhecimento. Todas outras ciências exigem a teologia para sua explicação completa. Proudhon: "Se você se aprofundar muito na política, esteja certo de entrar na teologia".
II. ALVO DA TEOLOGIA O alvo da teologia é a certificação dos fatos que dizem respeito a Deus e às relações entre Deus e o universo, e a apresentação de tais fatos em sua unidade racional como partes conexas de um formulado e orgânico sistema de verdade. Ao definirmos a teologia como ciência, indicamos o seu alvo. A ciência não cria; descobre. A teologia responde a esta descrição da ciência. Descobre fatos e relações, mas não os cria. Fisher, Nature and Method of Revelation, 141 - "Schiller, referindo-se ao ardor da fé em Colombo, diz que, se o grande descobridor não tivesse achado um continente, ele o teria criado. Mas a fé não é criativa. Se Colombo não tivesse achado a terra - não teria havido uma resposta objetiva da sua crença - sua fé teria sido mera fantasia". Porque a teologia trata de fatos objetivos, recusamo-nos a defini-la como "ciência da religião"; versus Am. Theol. Rev., 1850.101-126, e Thornwell, Theology, 1.139. Tanto os fatos como as relações de que a teologia trata têm uma existência independente dos processos mentais subjetivos do teólogo.
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Ciência não é apenas observação, registro, verificação e formulação de fatos objetivos; é também o reconhecimento e explicação das relações entre estes fatos e a síntese tanto dos fatos como dos princípios racionais que os unem em um sistema abrangente, corretamente proporcional e orgânico. Tijolos e madeiramento espalhados não são uma casa; braços, pernas, cabeças e troncos separados numa sala de dessecação não são homens vivos; e fatos isolados não constituem ciência. Ciência = fatos + relações; Whewell, History Inductive Sciences, I, Introd., 43 - "Pode haver fatos sem ciência, como no conhecimento do cavouqueiro; pode haver pensamento sem ciência, como na antiga filosofia grega". A. MacDonald: "O método a priori relaciona-se com o método a posterioricomo as velas com o mastro de uma embarcação: quanto melhor é a filosofia, maior é a providência de um número suficiente de fatos; doutra forma ocorre o perigo de transtornar o empreendimento". Presidente Woodrow Wilson: "A enfática injunção da nossa era diz aos historiadores: 'dai-nos os fatos'. ... Mas os fatos em si não constituem a verdade. A verdade não é concreta; é abstrata. É só a idéia, a revelação correta, do sentido que as coisas têm. Ela só é evocada pela distribuição e ordenação dos fatos que sugerem o sentido". Dove, Logic of the Christian Faith, 14 -"Perseguir a ciência é perseguir as relações". Everett, Science of Thought, 3 - "Logia" (p.ex. na palavra "teologia"), de logov, = palavra + razão, expressão + pensamento, fato + idéia; cf. Jo. 1.1 "No princípio era o Verbo". Como a teologia trata de fatos objetivos e suas relações, assim a disposição destes fatos não é opcional, mas determinada pela natureza da matéria de que ela trata. A verdadeira teologia repensa os pensamentos de Deus e os põe na disposição de Deus, como os construtores do templo de Salomão tomaram as pedras já lavradas e as fixaram nos lugares para os quais arquiteto as havia designado; Reginald Heber: "Não caiu nenhum martel nenhum machado tiniu; Como a longa palmeira, surgiu a fábrica mística". Os cientistas não temem que os dados da física bitolem ou comprimam o seu intelecto; nem devem temer os fatos objetivos que são os dados da teologia. Não podemos fazer teologia do mesmo modo que não podemos fazer uma lei da natureza física. Como o filósofo natural é "Naturae
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minister et interpres", assim o teólogo é servo e intérprete da verdade objetiva de Deus.
III. POSSIBILIDADE DA TEOLOGIA A possibilidade da Teologia tem uma tríplice base: 1. Na existência de um Deus que se relaciona com o universo; 2. Na capacidade da mente humana de conhecer Deus e algumas de tais relações; 3. Na provisão de meios pelos quais Deus se põe em real contato com a mente ou, em outras palavras, na provisão de uma revelação. Qualquer ciência em particular só se torna possível quando combina tu condições, a saber, a verdadeira existência do objeto de que ela trata, a cap cidade subjetiva da mente humana conhecer tal objeto, e a provisão de meios definidos pelos quais os objetos entram em contato com a mente. Podermos ilustrar as condições da teologia a partir da selenologia - a ciência, não como "política lunar", que de modo tão infundado John Stuart Mill pensava perseguir, mas da física lunar. A selenologia é possível sob três condições: 1. a existência objetiva da lua; 2. a capacidade subjetiva da mente humana de conhecê-la; e 3. a provisão de alguns meios (p.ex., os olhos e o telescópios pelos quais a lacuna entre o homem e a lua se ligam e pelos quais a mente pode apossar-se do conhecimento verdadeiro dos fatos relativos à lua.
1. Na existência de um Deus que se relaciona com o universo Tem-se objetado, na verdade, que desde que Deus e estas relações são objetos apreendidos só pela fé, não são objetos próprios do conhecimento ou assuntos próprios da ciência. Respondemos: a) A Fé é conhecimento e o mais elevado tipo de conhecimento. - A ciência física também se apóia na fé – fé na nossa existência, na existência do mundo objetivo e exterior a nós e na existência de outras
Teologia Sistemática (Strong) 28 pessoas além de mesmos; fé nas nossas convicções primitivas, tais como espaço, tempo, como substância, desígnio, certeza; fé na confiabilidade das nossas faculdades testemunho dos nossos semelhantes. Nem por isso a ciência física é invalidada, porque tal fé, embora diferente na percepção sensorial ou demonstração lógica, é ainda um ato cognitivo da razão e pode ser definido como certificação relativa à matéria em que a verificação é impossível. A citada e respondida objeção à teologia expressa-se nas palavras de Sir William Hamilton, Metaphysics, 44, 531 - "Fé - crença - é o órgão pelo qual nós apreendemos o que está além do nosso conhecimento". Mas ciência é conhecimento e o que está além do nosso conhecimento não pode ser matéria de ciência. O Presidente E. G. Robinson diz com precisão que o conhecimento e a fé não podem ser separados um do outro, como os compartimentos de um navio, dos quais o primeiro pode ser esmagado enquanto o segundo ainda mantém o navio flutuando. A mente é uma só, "ela não pode ser seccionada em duas com uma machadinha". Fé não é antítese do conhecimento, ela é um tipo maior e mais fundamental de conhecimento. Ela nunca se opõe à razão, mas apenas à vista. Tennyson estava errado quando escreveu: "Nós temos somente fé: não podemos conhecer; Porque conhecemos aquilo que vemos" (In Memoriam, Introd...). Isto tornaria os fenômenos sensitivos os únicos objetos do conhecimento. A fé nas realidades supra-sensíveis, ao contrário, é o mais elevado exercício da razão. Sir William Hamilton declara consistentemente que a mais elevada conquista da ciência é o levantamento de um altar "Ao Deus Desconhecido". Esta, entretanto, não é a representação da Escritura. Cf. Jo. 17.3 - "a vida eterna é esta, que te conheçam a ti como único verdadeiro Deus"; e Jr. 9.24 - "o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor". Para a crítica de Hamilton, ver H. B. Smith, Faith and Philosophy, 297-336. Fichte: "Nós nascemos na fé". Até mesmo Goethe se dizia alguém que crê nos cinco sentidos. Balfour, Defense of Philosophic Doubt, 277-295, mostra que as crenças intuitivas nas categorias de espaço, tempo, causa, substância, justiça pressupõem uma aquisição de todo o conhecimento. Dove, Logic of the Christian Faith, 14 - "Se se deve destruir a teologia
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porque parte de termos e proposições primárias, deve-se, então, proceder de igual modo com todas as ciências". Mozley, Miracles, define fé como a "razão não verificável".
b) A fé é um conhecimento condicionado pelo sentimento santo. - A fé que apreende o ser divino e sua obra não é opinião ou imaginação. É certeza relativa às realidades espirituais sobre o testemunho da nossa natureza racional e sobre o testemunho de Deus. Sua única peculiaridade como ato cognitivo da razão é que está condicionado ao sentimento santo. Como a ciência da estética é produto da razão incluindo o poder de reconhecer o belo praticamente inseparável do amor ao belo e como a ciência da ética é produto da razão incluindo o poder de reconhecer o moralmente correto praticamente inseparável do amor ao moralmente correto, assim a ciência da teologia é produto da razão, is da razão que inclui o poder de reconhecer o Deus, que é praticamente parável do amor a Deus. Empregamos aqui o termo "razão" para significar a força total do conhecimento. Razão, neste sentido, inclui o estado de sensibilidade desde que seja indispensável ao conhecimento. Não podemos conhecer uma laranja só de olhá-la; para entendê-la, é tão necessário saboreá-la como vêla. A matemática do som não pode dar-nos entendimento da música; é necessário também ouvi-la. Só a lógica não pode demonstrar a beleza do pôr do sol, ou de um caráter nobre; o amor ao belo e à justiça antecede o conhecimento do belo e da justiça. Ullman chama a atenção para a derivação de sapientia, sabedoria, de sapere, saborear. Não podemos conhecer Deus só pelo intelecto; o coração deve acompanhar o intelecto a fim de possibilitar o conhecimento das coisas divinas. "As coisas humanas", diz Pascal, só precisam ser conhecidas para serem amadas; mas as coisas divinas primeiro precisam ser amadas para serem conhecidas". "Esta fé [religiosa] do intelecto", diz Kant, "fundamenta-se na aceitação do temperamento moral". Se alguém fosse totalmente indiferente às leis morais, continua o filósofo, até mesmo as verdades religiosas "teriam o apoio dos fortes argumentos da analogia, mas, do mesmo modo que o coração obstinado, o cético não poderia conquistá-las".
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A fé, então, é o mais elevado conhecimento porque é a ação integral da alma, a perspicácia, não somente de um olho, mas dos dois olhos da mente, do intelecto e do amor a Deus. Com um olho podemos ver um objeto plano, mas, se quisermos vê-lo como um todo e captar o efeito estereótipo, devemos empregar ambos os olhos. Não é o teólogo, mas o astrônomo não devoto que tem a ciência caolha e, portanto, incompleta. Os erros do racionalista são os da visão defeituosa. O intelecto tem-se divorciado do coração, isto é, da disposição correta, das afeições corretas e do propósito correto da vida. O intelecto diz: "Não posso conhecer Deus"; e o intelecto está certo. O que o intelecto diz, a Escritura também o diz: 1 Co. 2.14 - "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente"; 1.21 - "na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus". Por outro lado, a Escritura declara que "pela fé, entendemos" (Hb. 11.3). Para a Escritura a palavra "coração" significa tão somente a disposição governante ou sensibilidade + vontade; e ela indica que o coração é um órgão do conhecimento: Ex. 35.25 - "mulheres que eram sábias de coração"; SI. 34.8 - "provai e vede que o Senhor é bom" = o provar vem antes do ver; Jr. 24.7 - "Dar-lhes-ei um coração para que me conheçam"; Mt. 5.8 - "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus"; Lc. 24.25 -"tardos de coração para conhecer"; Jo. 7.17 - "Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou falo de mim mesmo"; Ei. 1.18 - "tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais"; 1 Jo. 4.7,8 - "qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus".
c) Portanto, a fé, e só a fé pode fornecer o material adequado e suficiente para uma teologia científica. - Como uma operação da mais elevada natureza racional do homem, embora distinta da visão ocular ou do raciocínio, a fé é o mais elevado tipo de conhecimento. Ela nos dá o entendimento que só pelos sentidos seria inacessível, a saber, a existência de Deus e ao menos algumas das relações entre Deus e a sua criatura.
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Phillippi, Glaubenslehre, 1.50, segue Gerhard, ao tornar a fé um ato conjunto do intelecto e da vontade. Hopkins, Outline Study of Man, 77,78, fala não só da "razão estética", mas da "razão moral". Murphy, Scientific Bases of Faith, 91, 109, 145, 191 - "Fé é a certeza a respeito daquilo em que é impossível a verificação". Emerson, Essays, 2.96 - "A crença consiste em aceitar as afirmações da alma - a descrença em rejeitá-las". Morell, Philosophy. of Religion, 38,52,53, cita Coleridge: "A fé consiste na síntese da razão e da vontade do indivíduo, ... e em virtude daquela (isto é, da razão), a fé deve ser uma luz, uma forma de conhecimento, uma contemplação da verdade". A fé, então, não deve ser representada como uma menina cega apegada a uma cruz - a fé não é cega - "Doutra forma a cruz pode muito bem ser um crucifixo ou uma imagem de Gautama", "A cega descrença", não a fé cega, "sem dúvida deve errar, e esquadrinhar suas obras em vão". Como na consciência reconhecemos uma autoridade invisível, conhecemos a verdade em exata proporção com o nosso desejo de "praticar a verdade", assim na religião só a santidade pode conhecer a santidade e só o amor pode entender o amor (cf. Jo. 3.21 - "quem pratica a verdade vem para a luz"). Se um estado correto do coração for indispensável à fé bem como o conhecimento de Deus, pode haver qualquer "theologia irregenitorum", ou teologia dos irregenerados? Sim, respondemos; do mesmo modo que um cego pode ter uma ciência da ótica. O testemunho dos outros dá sua reivindicação a ele; a obscura luz que penetra a obscura membrana corrobora este testemunho. O irregenerado pode conhecer a Deus como poder e justiça, e temê-lo. Mas isto não é o conhecimento do mais íntimo caráter de Deus; ele fornece um certo material para uma teologia defeituosa ou desproporcional; mas não fornece material suficiente para uma correta teologia. Como, para tornar esta ciência da ótica satisfatória e completa, um oftalmologista competente deve remover a catarata dos seus olhos, assim, para qualquer teologia completa ou satisfatória, é preciso que Deus lhe retire o véu do coração (2 Co. 3.15,16- "o véu está posto no coração deles. Mas, quando [marg. 'os homens'] se converterem ao Senhor, o véu se tirará"). A nossa doutrina da fé é o conhecimento e o mais elevado de todos; deve distinguir-se do de Ritschl, cuja teologia é um apelo ao coração para a exclusão da cabeça - para a fiducia sem notitia. Mas fiducia inclui notitia;
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doutra forma é cega, irracional e anticientífica. Robert Browning igualmente caiu num profundo erro especulativo quando, para comprovar sua fé otimista, estigmatizou o conhecimento humano como simplesmente aparente. O apelo tanto de Ritschl como de Browning da cabeça para o coração deve mais ser um apelo do mais estreito conhecimento do simples intelecto para o maior conhecimento condicionado à correta afeição.
2. Na capacidade humana de conhecer Deus Porém tem-se argumentado que tal conhecimento é impossível pelas seguintes razões: A) Podemos conhecer apenas os fenômenos. Respondemos: a) Como conhecemos os fenômenos físicos assim também conhecemos os mentais. b) Conhecendo os fenômenos, quer físicos, quer mentais, conhecemos a substancia subjacente aos fenômenos, manifestada através deles e que constitui a base de sua unidade. c) A nossa mente traz à observação do fenômeno não só o conhecimento da substância, mas também de tempo, de espaço, de causa e de justiça, realidades que em nenhum sentido são fenomenais. Porque estes objetos do conhecimento não são fenomenais, o fato de que Deus não é fenomenal não nos impede de conhecê-lo. Não precisamos aqui determinar o que é substância. Quer sejamos realistas ou idealistas, somos compelidos a admitir que não pode haver fenômenos sem os númenos, não pode haver aparências, não pode haver qualidades sem algo que seja qualificado. Este algo que serve de base ou está sob a aparência ou qualidade chamamos substância. Em nossa filosofia somos mais lotzeanos do que kantianos. Dizer que não conhecemos o eu, mas apenas as suas manifestações no pensamento, é confundir o eu com o seu pensamento e ensinar psicologia sem alma. Dizer que de modo nenhum conhecemos o mundo exterior, mas apenas as suas manifestações nas sensações, é ignorar o princípio que liga tais sensações; porque, sem algo a
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que as qualidades são inerentes, elas não têm base alguma para sua unidade. De igual modo, dizer que não conhecemos nada de Deus a não ser suas manifestações, é confundir Deus com o mundo e praticamente negar que haja Deus. Stahlin, em sua obra sobre Kant, Lotze e Ritschl, 186-191,218,219, diz com precisão que "a limitação do conhecimento dos fenômenos envolve, na teologia, a eliminação de todas as reivindicações do conhecimento dos objetos da fé cristã como são em si mesmas". Esta crítica, com justiça, põe na mesma classe Ritschl junto com Kant, ao invés de pô-los com Lotze que sustenta que, conhecendo os fenômenos, conhecemos também os númenos manifestos neles. Conquanto Ritschl professe seguir Lotze, toda a tendência da sua teologia caminha na direção da identificação kantiana do mundo com as nossas sensações, a mente com os nossos pensamentos e Deus, com atividades tais que lhe são peculiares como nós as percebemos. Nega-se a natureza divina, independente das suas atividades, o Cristo preexistente, a Trindade imanente. Afirmações de que Deus é amor e paternidade consciente de si mesmo tornam-se juízos de valor meramente subjetivo. Admitimos que conhecemos Deus só até onde as suas atividades o revelam e até onde as nossas mentes e corações são receptivos à sua revelação. Deve-se exercer o conjunto de faculdades apropriadas - não as matemáticas, as lógicas ou as que se referem à prudência, mas a ética e a religiosa. Ritschl tem o mérito de reconhecer a razão prática da especulativa; seu erro não consiste em reconhecer que, quando usamos adequadamente os poderes do conhecimento, tomamos posse não simplesmente da verdade subjetiva, mas também da objetiva e não somente entramos em contato com as atividades de Deus, mas com o próprio Deus. Os juízos religiosos normais, embora dependam das condições subjetivas, não são apenas "juízos de mérito", ou "juízos de valor", - elas nos fornecem o conhecimento das "próprias coisas". Edward Caird diz do seu irmão John Caird (Fund. Ideas of Christianity, Introd... cxxi) - "A pedra fundamental da sua teologia é a convicção de que se pode conhecer e conhece-se a Deus e de que, no sentido mais profundo, todo o nosso conhecimento é o dele". O fenomenalismo de Ritschl está aliado ao positivismo de Comte, que considera todo o assim chamado conhecimento de outro tipo que não sejam os objetos fenomenais puramente negativos. A expressão "Filosofia Positiva"
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na verdade implica que todo o conhecimento da mente é puramente negativo; ver Comte, Pos. Philosophy, tradução de Martineau, 26,28,33 "Para observar o vosso intelecto deveis fazer uma pausa nas atividades embora queirais observar essa mesma atividade. Se não puderdes fazer a pausa, não podereis observar; se a fizerdes, nada há a observar". Dois fatos refutam este ponto de vista: 1) a consciência e 2) a memória; porque a consciência é o conhecimento do eu ao lado do conhecimento dos seus pensamentos e a memória é o conhecimento do eu ao lado do conhecimento do passado dela. Os fenômenos são "fatos, distintos da sua base, princípio, ou lei"; "não se percebem os fenômenos nem as qualidades, como tais, mas os objetos, as percepções, ou os seres; e é por um pensamento posterior ou por um reflexo que estes se ligam como qualidades e são tidos como substâncias". Os fenômenos podem ser interiores, i. e., pensamentos; neste caso, o númeno é a mente cujas manifestações são os pensamentos. Por outro lado, os fenômenos podem ser exteriores, e.g., a cor, a dureza, a forma, o tamanho; neste caso, o númeno é a matéria, cujas qualidades são as manifestações. Mas as qualidades, quer mentais, quer materiais, implicam a existência de uma substância a que pertencem; não se pode concebê-las como uma existência a parte da substância, mais do que como um lado superior de uma tábua assim como não se pode concebê-las como existentes sem um lado inferior; ver Martineau, Types of Ethical Theory, 1.455,456 - "A suposição de Comte de que a mente não pode conhecer a si mesma ou os seus estados opõe-se à de Kant, de que a mente nada pode conhecer a não ser a si mesma. ... É exatamente porque todo o conhecimento vem dos relacionamentos que ele não vem e nem pode vir só dos fenômenos. O absoluto não pode se conhecido per se porque, ao ser conhecido, ele se relacionaria ipso facto e não mais seria absoluto. Mas nem o elemento fenomenal pode ser conhecido per se, i. e., como fenomenal, sem a cognição simultânea do que é o não fenomenal". McCosh, Intuitions, 138-154, estabelece as características das substâncias como 1) ser, 2) poder, 3) permanecer. Diman, Theistic Argument, 337,363 - "A teoria que rejeita Deus, rejeita o mundo exterior e a existência da alma". Conhecemos algo além dos fenômenos, a saber, lei, causa, força, - ou não podemos ter ciência.
Teologia Sistemática (Strong) 35 B) Porque só podemos conhecer o que tem analogia com a nossa natureza ou experiência. Respondemos: a) Para o conhecimento não é essencial que haja semelhança de natureza entre conhecedor e conhecido. Conhecemos tanto pela diferença como pela semelhança, b) Nossa experiência passada, apesar de facilitar grandemente novas aquisições, não é a medida do nosso conhecimento possível. Se assim fosse, seria inexplicável o primeiro ato de conhecimento c toda a revelação dos mais elevados caracteres até os menores seria excluída assim como todo o progresso no conhecimento que ultrapassa o nosso presente conhecimento. c) Mesmo que o conhecimento dependesse da semelhança entre a natureza e a experiência, poderíamos conhecer Deus, visto que somos feitos à sua imagem e há importantes analogias entre a natureza divina e a nossa. a) O dito de Empédocles, "Similia similibus percipiuntur", deve ser suplementado por um outro: "Similia dissimilibus percipiuntur". Mas conhecer é distinguir, e deve haver um contraste entre os objetos a fim de nos despertar a atenção. Deus conhece o pecado, embora este seja a antítese do seu santo ser. O eu conhece o não-eu. Não podemos conhecer até mesmo o eu sem considerá-lo objetivamente, distinguindo-o dos seus pensamentos e considerando-o como um outro. b) Versus Herbert Spencer, First Principles, 79-82 - "Conhecimento é o reconhecimento e a classificação". Mas retrucamos que é necessário perceber primeiro uma coisa para reconhecê-la, ou compará-la com outra; e isto é verdade, tanto a respeito da primeira sensação como da última e as mais definidas formas de conhecimento; na verdade, não há nenhuma sensação que não envolva, como complemento, ao menos uma percepção incipiente. c) Porter, Human Intellect, 486 - "A indução só é possível baseada na suposição de que o intelecto do homem é um reflexo do divino, ou que o homem é feito à imagem de Deus". Note, contudo, que o homem é feito à imagem de Deus, e não Deus à imagem do homem. A pintura é a imagem paisagística, não o contrário a paisagem, a imagem da pintura; porque há
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muito na imagem que não tem nada que corresponda a ela na pintura. A idolatria perversamente faz Deus à imagem do homem e deifica as fraquezas das impurezas do homem. A Trindade em Deus pode não ter a exata contrapartida na atual constituição do homem, embora possa descortinar-nos o objetivo do desenvolvimento futuro do homem e o sentido da crescente diferenciação das forças do homem. Gore, Incarnation, 116 "Se o antropomorfismo aplicado a Deus é falso, ainda o teomorfismo aplicado ao homem é verdadeiro; o homem é feito à imagem de Deus, e as suas qualidades não são, a medida das divinas, mas a contrapartida destas e a verdadeira expressão".
C) Porque conhecemos apenas aquilo que podemos conceber, no sentido de formar uma imagem mental adequada. Respondemos: a) É verdade que conhecemos só aquilo que podemos conceber se pelo termo "conceber" significamos nossa distinção entre o pensamento do objeto conhecido e os demais objetos. Mas b) a objeção confunde concepção com o que é meramente seu acessório ocasional e auxílio, a saber, o quadro que a imaginação faz do objeto. Neste sentido, não é teste final da verdade. c) Torna-se claro que a formação de uma imagem mental não é essencial à concepção ou ao conhecimento, quando lembramos que, de fato, tanto concebemos como conhecemos muitas coisas de que não podemos formar imagem mental seja ela qual for e que em nada corresponde à realidade; por exemplo: força, causa, lei, espaço, nossas próprias mentes. Assim podemos conhecer Deus apesar de que não podemos formar imagem mental adequada a respeito dele. A objeção aqui refutada se expressa mais claramente nas palavras de Herbert Spencer, First Principles, 25-36, 98 - "A realidade subjacente às aparências é total e permanentemente inconcebível por nós". Mansel, Prolegomena Lógica, 77,78 (cf. 26) sugere que a fonte deste erro encontrase num ponto de vista falho da natureza do conceito: "A primeira característica distintiva de um conceito, a saber, que não pode por si mesmo ser descrito no sentido e na imaginação". Porter, Human Intellect, 392 (ver
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tb. 429,656) - "Conceito não é uma imagem mental" - só a percepção o é. Lotze: "De um modo geral não se representa a cor através de qualquer imagem; ela não se apresenta nem verde nem vermelha, mas não tem qualquer caracterização". O cavalo, genericamente, não tem uma cor particular, embora individualmente possa ser preto, branco ou baio. Sir William Hamilton fala das "noções de inteligência impossíveis de ser representadas em pintura". Martineau, Religion and Materialism, 39,40 - "Esta doutrina da Nesciência encontra-se na mesma relação com o poder causai, quer você a construa com o Poder Material, quer com a Atuação Divina. Nem pode ser observada; deve-se aceitar um ou outro. Se você admite para a categoria do conhecimento o que se aprende a partir da observação, seja particular, seja generalizada, então se trata de uma Força desconhecida; se você amplia a palavra ao que é importado pelo próprio intelecto em nossos atos cognitivos, para torná-los assim, então se conhece Deus". A matéria, o éter, a energia, o protoplasma, o organismo, a vida, - nenhum deles pode ser retratado para a imaginação; contudo, o Sr. Spencer os trata como objetos da Ciência. Se não são inescrutáveis, por que ele considera inescrutável a Força que dá unidade a todas estas coisas? Na verdade, Herbert Spencer não é coerente consigo mesmo, pois, em diversas partes dos seus escritos, ele chama Realidade inescrutável dos fenômenos a Existência Absoluta, Poder e Causa unas, eternas, ubíquas, infinitas, últimas. "Parece", diz o Padre Dalgairns, "que se conhece muita coisa do Desconhecido". Chadwick, Unitarianism, 75 - "A pobre expressão 'Desconhecido' torna-se, depois das repetidas designações de Spencer, tão rica como todo o conhecimento salvador de Creso". Matheson: "Saber que nada sabemos já significa ter chegado a um fato do conhecimento". Se o Sr. Spencer pretendia excluir Deus do reino do Conhecimento, devia primeiro têlo excluído do reino da Existência; porque admitir que ele é, já é admitir que nós não podemos conhecê-lo, mas, na verdade, em certo ponto, nós o conhecemos.
D) Porque podemos conhecer, na verdade, só o que conhecemos no todo, não em parte.
Teologia Sistemática (Strong) 38 Respondemos: a) A objeção confunde conhecimento parcial com o conhecimento de uma parte. Conhecemos a mente em parte, mas não conhecemos uma parte da mente, b) Se a objeção fosse válida, nenhum conhecimento real de qualquer coisa seria possível, visto que não conhecemos uma só coisa em todas as suas relações. Concluímos que, embora Deus não seja formado de partes, podemos ainda ter um conhecimento parcial dele e tal conhecimento, embora não exaustivo, pode ser real e adequado aos propósitos da ciência. a) A objeção mencionada no texto é estimulada por Mansel, Limits of Religious Thought, 97, 98 e é Martineau, Essays, 1.291 quem a responde. A mente não existe no espaço e não tem partes: não podemos falar do seu quadrante sudoeste, nem podemos dividi-la em metades. Contudo, encontramos o material para a ciência mental no conhecimento parcial da mente. Assim, conquanto não sejamos "geógrafos da natureza divina" (Bowne, Review of Spencer, 72), podemos dizer com Paulo, não que "agora conhecemos uma parte de Deus", mas que "agora conheço [Deus] em parte" (1 Co. 13.12). Podemos conhecer verdadeiramente o que não conhecemos exaustivamente; ver Ef. 3.19 - "conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento". Não me entendo perfeitamente, contudo me conheço em parte; assim posso conhecer a Deus, apesar de não entendê-lo perfeitamente. b) O mesmo argumento que prova que Deus é incognoscível prova também que também o mundo o é. Visto que todas partículas da matéria atraem-se mutuamente, nenhuma delas pode ser explicada exaustivamente sem levar em conta as demais. Thomas Carlyle: "É um fato matemático que o lançamento desta pedra da minha mão altera o centro de gravidade do universo". Tennyson, Higher Pantheism: "Flor na parede rachada, eu a arranco das rachaduras; / Segure-se aqui, raiz e tudo, na minha mão, ó florzinha, porém não posso entender / O que é você, raiz e tudo, e em tudo,7 Devo conhecer o que Deus é e o que é o homem". SCHURMAN, Agnosticism, 119 - "Mesmo parcial como é, esta visão do elemento divino transfigura a vida do homem sobre a terra". Pfleiderer, Philos. Religion, 1.167 - "O agnosticismo de coração fraco é pior que o arrogante e titânico gnosticismo contra o qual ele protesta".
Teologia Sistemática (Strong) 39 E) Porque todos os predicados de Deus são negativos e, por isso, não fornecem conhecimento real. Respondemos: a) Os predicados derivados da nossa consciência, tais como, espírito, amor e santidade são positivos. b) Os termos "infinito" e "absoluto", contudo, expressam não meramente uma idéia negativa, mas positiva, - a idéia, naquele caso, da ausência total de limite, a idéia de que o objeto assim descrito continua e continua sempre; a idéia, neste caso, de inteira auto-suficiência. Porque os predicados de Deus, portanto, não são meramente negativos, o argumento acima mencionado não fornece nenhuma razão válida por que não podemos conhecê-lo. Versus Sir William Hamilton, Metaphysics, 530 - "O absoluto e o infinito podem ser concebidos somente com a negação do objeto do pensamento; a saber, de qualquer modo não temos em outras palavras nenhuma a concepção do absoluto e do infinito". Hamilton aqui confunde o infinito, ou ausência de todos limites, com o indefinido, ou a ausência de todos limites conhecidos. Per contra, ver CALDERWOOD, Moral Philosophy, 248, e Philosophy of the Infinite, 272 - "A negação de uma coisa só é possível através da afirmação de outra". Porter, Human Intellect, 652 - Se os moradores da Ilha de Sandwich, por falta de nome, tinham chamado o boi de não porco (not-hog), o emprego de um nome negativo não autoriza necessariamente a inferência de falta de concepções definidas ou conhecimento positivo". Deste modo com o infinito, ou não finito, o incondicionado ou não condicionado, o independente, ou não dependente, estes nomes não implicam que não podemos conceber e conhecer como algo positivo. Spencer, First Principles, 92 - "O nosso conhecimento do Absoluto, embora indefinido, não é negativo, mas positivo". Schurman, Agnosticism, 100, fala da "farsa da nesciência atribuindo à onisciência os limites da ciência". "O agnóstico", diz ele, "erige o quadro invisível de um Grand Être, sem forma e sem cor, separado de modo absoluto do homem e do mundo - branco interiormente e vazio por fora com sua existência indistinguível da sua não existência e, curvando-se
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diante da criação idolatra, derrama a sua alma em lamentações sobre a incognoscibilidade de tal mistério e pavorosa ausência de identidade. ... A verdade é que se desconhece a abstração agnóstica da Deidade, porque tal abstração é irreal". Ver MCCOSH, Intuitions, 194, nota; MIVART, Lessons from Nature, 363. Deus não é necessariamente infinito em todos aspectos. Ele só é infinito em toda a excelência. Um plano ilimitado em um aspecto de comprimento pode ser limitado em outro aspecto, como, por exemplo, a respiração. A nossa doutrina aqui não é, por isso, inconsistente com o que se segue de imediato.
F) Porque conhecer é limitar ou definir. Por isso o Absoluto como ilimitado e o Infinito como indefinido não pode ser conhecido. Respondemos: a) Deus é absoluto, não como existindo sem nenhuma relação, mas como existindo sem nenhuma relação necessária; e b) Deus é infinito, não excluindo toda a coexistência do finito com ele mesmo, mas como a base do finito, e assim, não algemado por ele. c) Deus, na verdade, está limitado pela imutabilidade de seus atributos e distinções pessoais bem como pela auto-escolha das suas relações com o universo que ele criou e com a humanidade na pessoa de Cristo. Portanto, Deus se limita e se define no sentido de tornar possível o conhecimento dele. Versus Mansel, Limitations of Religious Thought, 75-84, 93-95; cf. Spinoza: "Omnis determinatio est negatio"; por isso definir Deus é negá-lo. Respondemos, entretanto, que a perfeição é inseparável da limitação. O ser humano pode ser um outro além do que é: com Deus não acontece isso, ao menos interiormente. Mas tal limitação inerente em seus imutáveis atributos e distinções pessoais, é a perfeição de Deus. Exteriormente, todas limitações sobre Deus são auto-limitações e, portanto consistentes com a sua perfeição. Esse Deus não deve ser capaz de limitar-se na criação e a redenção tornaria todo o seu sacrifício impossível e o sujeitaria à maior das limitações. Pelo exposto podemos dizer que 1. A perfeição de Deus envolve sua limitação a) a pessoalidade, b) a Trindade, c) a retidão; 2. A revelação de Deus envolve sua auto-limitação a) no decreto, b) na criação, c) na
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preservação, d) no governo, e) na educação do mundo; 3. A redenção envolve sua infinita auto-limitação a) na pessoa e b) na obra de Jesus Cristo. Bowne, Philos. of Creation, 135 - "O infinito não é o todo quantitativo; o absoluto não é o não relacionado ... Tanto o absoluto como o infinito significam apenas a base independente das coisas". Julius Müller, Doctrine of Sin, Introd..., 10 - "A religião tem a ver não com um Objeto que deve ser por si mesmo conhecido porque da sua própria existência é contingente em ser conhecido, mas com o Objeto com que nos relacionamos, na verdade, submissos, na dependência dele e no aguardo da sua manifestação". James Martineau, Study of Religion, 1.346 - "Não devemos confundir o infinito com o total. ... A abnegação própria da infinitude é tão somente a forma de autoafirmação e a única em que ela pode revelar-se. ... Embora o pensamento onisciente seja instantâneo, embora certa a força onipotente, sua execução tem de ser distribuída no tempo e deve ter uma ordem de passos sucessivos; em outros termos, o eterno pode tornar-se temporal e o infinito falar articuladamente no finito". A pessoalidade perfeita exclui não a determinação própria, mas a que vem de fora através de um outro. As auto-limitações de Deus são as do amor e, conseqüentemente, as evidências da sua perfeição. São sinais não de fraqueza, mas de poder. Deus limitou-se ao método da evolução desenvolvendo-se gradualmente na natureza e na história. O governo dos pecadores por um Deus santo envolve constante auto-repressão. A educação da raça é um longo processo de abnegação divina. HERDER: "As limitações do aluno são também as do mestre". Na inspiração, Deus se limita através do elemento humano por quem ele opera. Sobretudo, na pessoa e obra de Cristo, temos infinita auto-limitação: A infinitude se estreita até na encarnação e a santidade suporta as agonias da Cruz. As promessas de Deus são também auto-limitações. Deste modo tanto a natureza como a graça são restrições impostas a si mesmo por Deus e são os recursos através dos quais ele se revela.
G) Porque todo o conhecimento é relativo ao agente conhecedor; isto é, o que conhecemos, conhecemos, não como é objetivamente, mas só no que se relaciona com nossos sentidos e faculdades.
Teologia Sistemática (Strong) 42 Respondemos: a) Admitimos que podemos conhecer só o que se relaciona com as nossas faculdades. Mas isto somente equivale a dizer que conhecemos só aquilo que vem ao nosso contato mental, isto é, conhecemos apenas o que conhecemos. Mas b) negamos que conhecemos aquilo que vem ao nosso contato mental como outra coisa além do que é. Até onde conhecemos, conhecemos como é. Em outras palavras, as leis do nosso conhecimento não são meramente arbitrárias e regulativas, mas correspondem à natureza das coisas. Concluímos que, em teologia, temos a garantia de admitir que as leis do nosso pensamento são as leis do pensamento de Deus e que os resultados do pensamento normalmente conduzido em relação a Deus correspondem à realidade objetiva. Versus Sir William Hamilton, Metaph., 96-116 e Herbert Spencer, First Principles, 68-97. Esta doutrina da relatividade deriva de Kant, que, na Crítica da Razão Pura, sustenta que os juízos a priori são somente "reguladores". Respondemos, entretanto, que, quando se acha que as crenças primitivas são apenas reguladoras, elas deixam de regulamentar. As formas de pensamento são também fatos da natureza. Diferentemente do vidro de um caleidoscópio, a mente não fornece as formas; ela reconhece que estas têm existência exterior a ela mesma. A mente lê as suas idéias não rumo ao interior da natureza, mas nela. Nossas intuições não são lentes verdes que fazem o mundo todo parecer verde: são lentes de um microscópio, que nos capacitam a ver o que é objetivamente real (Royce, Spirit of Mod. Philos., 125). Kant chamava o nosso entendimento de "legislador da natureza". Mas isto é verdade, só como descobridor das suas leis, não como seu criador. A razão humana impõe as suas leis e formas sobre o universo; mas, fazendo isso, ela interpreta o sentido real dele. Ladd, Philos. of Knowledge: "Todo juízo implica uma verdade objetiva segundo a qual julgamos e que constitui o padrão e com a qual temos algo em comum, i.e., as nossas mentes são parte de uma mente infinita e eterna". Aforismo francês: "Quando você está certo, você está mais certo do que pensa estar". Deus não nos põe em permanente confusão intelectual. Foi debalde que Kant escreveu "trânsito não impedido" sobre a razão em
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seu mais elevado exercício. Martineau, Study of Religion, 1.135,136 - "Bem ao contrário da suposição de Kant de que a mente nada pode conhecer além de si mesma, podemos estabelecer a suposição de Comte, igualmente sem garantia, de que a mente não pode conhecer-se a si mesma ou os seus estados. Não podemos ter filosofia sem suposições. Você dogmatiza se diz que as formas correspondem à realidade; mas igualmente você dogmatiza se diz que não correspondem. ... 79 - Que as nossas faculdades cognitivas correspondem às coisas tais quais são, é muito menos surpreendente do que se elas correspondem às coisas que não são". W. T. Harris, in Journ. Spec. Philos., 1.22, expõe as contradições próprias de Spencer: "Todo o conhecimento não é absoluto, mas relativo; nosso conhecimento deste fato, entretanto, não é relativo, mas absoluto". Ritschl, Justification and Reconciliation, 3.16-21, estabelece limites, com uma correta afirmação da natureza do conhecimento, e adere à doutrina de Lotze, distinta da de Kant. A declaração de Ritschl pode resumirse da seguinte maneira: Tratamos, não do Deus abstrato da metafísica, mas do Deus que a si mesmo se limitou e se revela em Cristo. Não conhecemos ou as coisas, ou Deus independentemente dos seus fenômenos ou manifestações, como imaginava Platão; não conhecemos os fenômenos ou manifestações sozinhos, sem conhecer as coisas ou Deus, como supunha Kant; mas, na verdade, conhecemos tanto as coisas como Deus nos fenômenos e manifestações, como ensinava Lotze. Não sustentamos a união mística com Deus, tendo como retaguarda toda a experiência religiosa, como ensina o Pietismo; a alma está sempre e somente em atividade e a religião é a atividade do espírito humano no qual o sentimento, o conhecimento e a vontade combinam-se numa ordem inteligível". Porém o Dr. C. M. Mead, Ritschl's Place in the History of Doctrine, bem mostra que Ritschl não seguiu Lotze. Seus "juízos de valor" são apenas uma aplicação do princípio "regulador" de Kant à teologia. Ele sustenta que podemos conhecer as coisas não como são em si mesmas, mas só como se nos apresentam. Retrucamos que, o que as coisas são para nós depende do que são em si mesmas. Ritschl considera as doutrinas da preexistência de Cristo, divindade e expiação como intromissões da metafísica na teologia, matéria a respeito da qual não podemos conhecer e com a qual nada temos a ver. Não há propiciação ou união mística com Cristo; e Cristo é o nosso
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exemplo, mas não o nosso Salvador expiador. Ritschl faz bem em reconhecer que o amor em nós dá olhos à mente e nos capacita a ver a beleza de Cristo e sua verdade. Mas o nosso juízo não é, como ele defende, um juízo de valor meramente subjetivo, - é uma entrada em contato com o fato objetivo.
3. Na revelação do próprio Deus Como neste lugar não tentamos apresentar uma prova positiva da existência de Deus ou da capacidade que o homem tem de conhecer a Deus, assim não tentamos, por ora, provar que Deus entrou em contato com a mente humana através da revelação. Daqui para frente consideraremos as bases desta crença. Por ora, nosso alvo é simplesmente mostrar que, admitindo o fato da revelação, é possível uma teologia científica. Isto tem sido negado nas seguintes bases: A) Que a revelação, como um processo de tornar conhecido, é necessariamente interior e subjetiva - quer seja um modo de inteligência, quer um despertar das forças cognitivas - e, por isso, não pode fornecer nenhum fato objetivo que constitua material próprio para ciência. Morell, Philos. Religion, 128-131,143 - "A Bíblia não pode com a estrita exatidão da língua, ser chamada de revelação, visto que uma revelação sempre implica um verdadeiro processo de inteligência em uma mente viva". F. W. Newman, Phases of Faith, 152 - "Nada conhecemos do nosso Deus moral e espiritual exteriormente - sempre interiormente". Theodore Parker: "A revelação verbal nunca pode comunicar uma simples idéia como a de Deus, da Justiça, do Amor, da Religião". James Martineau, Seat of Authority in Religion: "Tantas mentes quantas existem conhecem a Deus ao primeiro contato, tem havido tantos atos reveladores e tantos quantos o conhecem indiretamente são estranhos à revelação"; assim, admitindo que a revelação exterior seja impossível, Martineau sujeita todas provas de tal revelação à desleal crítica destrutiva. Pfleiderer, Philos. Religion, 1.185 - "Como toda revelação é originariamente uma experiência de vida interna, o aparecimento da verdade religiosa no coração, nenhum evento pode pertencer de si
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mesmo à revelação, independente de ser natural ou sobrenaturalmente ocasionado". Prof. George M. Forbes: "Nada nos pode ser revelado que não se prenda à nossa razão. Segue-se que, na medida em que a razão age normalmente, ela é uma parte da revelação". Ritchie, Darwin and Hegel, 30 "A revelação de Deus é o desenvolvimento da sua idéia".
Em resposta a esta objeção, apresentada principalmente pelos idealistas na filosofia: a) Admitimos que a revelação, para ser eficaz, deve ser o meio de induzir a um novo modo de inteligência, ou, em outras palavras, deve ser entendida. Admitimos que este entendimento das coisas divinas é impossível sem um despertar das forças cognitivas do homem. Além disso, admitimos que a revelação, quando originariamente transmitida, via de regra era interior e subjetiva. Matheson, Moments on the Mount, 51-53, sobre Gl. 1.16 - "revelar o seu Filho em mim"; "A revelação no caminho de Damasco não teria iluminado Paulo se não fosse somente uma visão dos seus olhos. Nada pode ser revelado para nós que não tenha sido revelado dentro de nós. O olho não vê a beleza da paisagem, nem o ouvido ouve a beleza da música. Do mesmo modo a carne e o sangue não nos revelam Cristo. Sem o ensino do Espírito, os fatos exteriores serão somente como as letras de um livro para uma criança que não sabe ler". Podemos dizer com Channing: "Estou mais certo de que minha natureza racional vem de Deus mais do que qualquer livro que expresse a sua vontade".
b) Mas negamos que a revelação exterior é, por isso, inútil e impossível. Mesmo que as idéias religiosas surgissem totalmente de dentro, uma revelação externa podia despertar os poderes dormentes da mente. Contudo, as idéias não surgem totalmente de dentro. A revelação exterior pode transmiti-las. O homem pode revelar-se através de comunicação exterior e, se Deus tem poder igual ao do homem, pode revelar-se de igual maneira.
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Rogers, Eclipse of Faith, indaga assinaladamente: "Se a Sra. Morell e a Sra. Newman ensinam através de um livro, não pode Deus fazer o mesmo?" Lotze, Microcosm, 2.660 (livro 9, cap. 4), fala da revelação "contida em algum ato divino, da ocorrência histórica ou repetido continuamente no coração do homem". Mas, na verdade, não há nenhuma alternativa aqui; a força do credo cristão é que a revelação de Deus é tanto exterior quanto interior. Rainy, Critical Review, 1.1-21, diz com precisão que, sem garantia, Martineau isola da alma do indivíduo a testemunha de Deus. As necessidades interiores precisam ser combinadas com as exteriores a fim de assegurar que não se trata de um capricho da imaginação. É necessário distinguirmos as revelações de Deus das nossas fantasias. Daí, antes de dar-nos o padrão interior, Deus, via de regra, nos dá o exterior, através do qual testamos nossas impressões. Somos finitos e pecadores e necessitamos de autoridade. A revelação exterior recomenda-se como tendo autoridade sobre o coração que reconhece as suas necessidades espirituais. A autoridade exterior evoca o testemunho interior e lhe dá maior clareza, mas só a revelação histórica fornece prova inconteste de que Deus é amor e nos dá a segurança de que os nossos anseios para com Deus não são vãos.
c) Por isso a revelação de Deus pode ser e, como veremos daqui em diante, em grande parte, uma revelação exterior em obras e palavras. O universo é ima revelação de Deus; as obras de Deus na natureza precedem as suas pala-k-rus na história. Contudo, reivindicamos que, em muitos casos em que se comunicou a verdade originariamente de forma interior, o mesmo Espírito que a comunicou efetuou seu registro exterior, de modo que a revelação interior pôde ser transmitida a outros além dos que primeiro a receberam. Não devemos limitar a revelação às Escrituras. O Verbo eterno antedatou a palavra escrita e, através do Verbo eterno, Deus se fez conhecido na natureza e na história. A revelação exterior precede e condiciona a interior. No tempo certo a terra aparece antes do homem e a sensação antes da percepção. A ação expressa melhor o caráter e a revelação histórica ocorre mais pelos fatos do que pelas palavras. Dorner, Hist. Prot. Theol, 1.231-264 -"O Verbo não está apenas nas Escrituras. Toda a criação o revela. Na natureza Deus mostra o seu poder; na encarnação a
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sua graça e verdade. A Escritura dá testemunho delas, mas não é a Palavra essencial. Na verdade, a Escritura a apreendeu e apropriou quando, nela e através dela vemos o Cristo vivo e presente. Ela não só confina a si os homens, mas aponta para Cristo de quem testifica. Cristo é a autoridade. Nas Escrituras ele nos aponta para si mesmo e demanda a nossa fé nele. Uma vez gerada esta fé, ela não nos leva a uma nova apropriação da Escritura, mas à uma nova crítica a respeito dela. Cada vez mais encontramos Cristo na Escritura e ainda julgamo-la cada vez mais segundo o padrão que há em Cristo". Newman Smith, Christian Ethics, 71 -82: "Há somente uma autoridade Cristo. Seu Espírito opera de muitas maneiras, mas principalmente de duas: primeiro, a inspiração das Escrituras e segundo, a condução da igreja rumo à verdade. Esta não deve isolar-se ou separar-se daquela. A Escritura é a lei da consciência cristã, e a consciência cristã no tempo faz a lei voltar-se para a Escritura - interpretando-a, criticando-a, verificando-a. A palavra e o espírito respondem um ao outro. A Escritura e a fé são coordenadas. O protestantismo tem exagerado a primeira; o romanismo a segunda. Martineau deixa de captar a coordenação entre a Escritura e a fé."
d) Com este registro exterior também veremos que ocorre sob adequadas condições a influência especial do Espírito de Deus, da modo a despertar os poderes cognitivos que o registro exterior reproduz em nossas mentes as idéias de que as mentes dos escritores estavam divinamente cheias. Podemos ilustrar a necessidade da revelação interna a partir da egiptologia, que é impossível até onde a revelação externa nos hieróglifos não é interpretada; a partir do tique-taque do relógio no escuro compartimento, onde só a vela acesa capacita-nos a narrar o tempo; a partir da paisagem espalhada em volta do Rigi na Suíça, invisível até que os primeiros raios do sol toquem os nevosos picos da montanha. A revelação exterior (fanerwiv, Rm. 1.19,20) deve ser suplementada pela interior (apokaluqiv, 1 Co. 2.10,12). Cristo é o órgão da revelação exterior, o Espírito Santo da interior. Em Cristo (2 Co. 1.20) estão o "sim" e "o Amém" a certeza objetiva e a subjetiva, a realidade e a realização.
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A certeza objetiva deve tornar-se subjetiva para a teologia científica. Antes da conversão temos a primeira, a verdade exterior de Cristo; só na conversão e depois dela passamos a ter a segunda, "Cristo formado em nós" (Gl. 4.19). Temos a revelação objetiva no Sinai (Ex. 20.22); a revelação subjetiva no conhecimento que Eliseu teve de Geazi (2 Re. 5.26). James Russel Lowell, Winter Evening Hymn to my Fire: "Por isso, contigo gosto de ler os nossos bravos poetas antigos: ao teu toque como despertas a Vida nas palavras secas! Como a correnteza retrocede as sombras do Tempo! e como os lampeja ainda pela sua massa morta o verso incandescente, Como quando sobre a bigorna do cérebro lança o brilho, ciclopicamente produzido Através dos velozes malhos latejantes do pensamento do poeta!"
e) As revelações interiores assim registradas e as exteriores assim interpretadas fornecem ambas fatos objetivos que podem servir como material próprio para a ciência. Apesar de que a revelação, em seu mais amplo sentido pode incluir e, constituindo a base da possibilidade da teologia na verdade inclui, tanto o discernimento como a iluminação, também pode ser empregada para denotar simplesmente uma provisão dos recursos exteriores do conhecimento e a teologia tem que ver com as revelações interiores só na medida em que se expressam neste padrão objetivo ou que concordam com elas. Já sugerimos aqui o vasto escopo e ainda as insuperáveis limitações da teologia. Em qualquer lugar em que Deus se revela, quer na natureza, na história, na consciência, ou na Escritura, a teologia pode encontrar material para a sua estrutura. Porque Cristo não é somente o Filho de Deus encarnado, mas também o Verbo eterno, o único Revelador de Deus, não existe teologia alguma separada de Cristo e toda ela é teologia cristã. A natureza e a história são apenas mais sóbrios e generalizados descortinos do Ser divino, de que a Cruz é o clímax e a chave. Deus não tem a intenção de ocultar-se.' Ele quer ser conhecido. Ele se revela em todos os tempos tão plenamente como a capacidade das suas criaturas o permitem. O intelecto infantil não pode entender a infinitude de Deus, nem a disposição perversa entender a desinteresseira afeição de Deus.
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Apesar do que, toda a verdade está em Cristo e está ao dispor do descobrimento pela mente e pelo coração preparados. O Infinito, em qualquer lugar em que não se revela, sem dúvida é desconhecido do finito. Mas o Infinito, onde quer que se revela, é conhecido. Isto sugere o sentido das seguintes declarações: Jo. 1.18 - "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho Unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer"; 14.9 - "Quem me vê a mim vê o Pai"; 1 Tm. 6.16 - "a quem nenhum dos homens viu, nem pode ver". É por isso que nós aprovamos a definição de Kaftan, Dogmatik, 1 - "A Dogmática é a ciência da verdade cristã crida e reconhecida na igreja baseada na revelação divina" - até onde ela limita o escopo da teologia à verdade revelada por Deus e apreendida pela fé. Porém a teologia pressupõe tanto a revelação externa de Deus, como a interna e estas, como veremos, incluem a natureza, a história, a consciência e a Escritura.
B) Que muitas das verdades assim reveladas são demasiadamente indefinidas para constituir matéria para ciência porque pertencem à região dos sentimentos, porque estão além do nosso pleno entendimento, ou porque são destituídas de um arranjo ordenado. Respondemos: a) A teologia tem que ver com os sentimentos subjetivos só naquilo em que podem ser definidos e apresentados como efeitos da verdade objetiva na mente. Elas não são mais obscuras que os fatos da moral e da psicologia e a mesma objeção que excluiria tais sentimentos da teologia tornaria impossíveis estas ciências. Ver Jacobi e Schleiermacher, que consideram a teologia como mero relato dos sentimentos dos devotos cristãos, em cuja base encontram-se fatos históricos objetivos, matéria de relativa indiferença (Hagenbach, Hist. Doctrine, 2.401-403). Por isso Schleiermacher chamou seu sistema de teologia "Der Christliche Glaube", e muitos, a partir da sua época, passaram a chamar os seus respectivos sistemas pelo nome "Glaubenslehre". Os "juízos de valor" de Ritschl, de igual modo, fazem da teologia uma ciência simplesmente subjetiva, se é que se pode ter ciência subjetiva. Kaftan vai
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além de Ritschl, admitindo que conhecemos, não só os sentimentos cristãos, mas também os seus fatos. A teologia é a ciência de Deus e não somente da fé. Em aliança com o ponto de vista já mencionado encontra-se o de Feuerbach, para quem a religião é matéria de fantasia subjetiva; e o de Tyndall, que remete a teologia à região da aspiração e do sentimento vago, mas o exclui do reino da ciência.
b) Os fatos da revelação que estão além do nosso pleno entendimento podem, como a hipótese nebular na astronomia, a teoria atômica na química, ou a teoria da evolução na biologia, fornecer um princípio de união entre as grandes classes de outros fatos irreconciliáveis. Podemos definir nossos conceitos de Deus e mesmo da Trindade ao menos o suficiente para distingui-los de outros conceitos; e qualquer que seja a dificuldade que possa embaraçar a linguagem só mostra a importância de tentá-lo e o valor de um sucesso próximo. Horace Bushnell: "A Teologia nunca pode ser uma ciência em vista da debilidade da linguagem". Porém este princípio tornaria vaga tanto a ciência ética quanto a política. Fisher, Nat. and Meth. of Revelation, 145 - "Hume e Gibbon fazem referência à fé como algo demasiado sagrado para apoiar-se em provas. Assim as crenças religiosas são feitas para enforcar, suspenso, sem qualquer apoio. Mas o fundamento destas crenças não é menos sólido para a razão que os testes empíricos inaplicáveis a elas. Os dados nos quais se apóiam são reais e, com razão, tiram-se inferências a partir dos dados". Hodgson, na verdade, destila descontentamento em todo o método intuitivo ao dizer: "Qualquer coisa que você ignora totalmente, afirma ser a explicação de todas as outras coisas!" Contudo, é provável qúe admita começar suas investigações a partir da sua própria existência. Não compreendemos integralmente a doutrina da Trindade e aceitamo-la, a princípio, apoiados no testemunho da Escritura; a sua prova completa encontra-se no fato de que cada uma das sucessivas doutrinas da teologia liga-se a ela e com ela permanece ou cai. A Trindade é racional porque explica a experiência e a doutrina cristãs.
Teologia Sistemática (Strong) 51 c) Mesmo que não houvesse um arranjo ordenado destes fatos, quer na natureza quer na Escritura, uma cuidadosa sistematização delas pela mente humana não se provaria impossível, a não ser que se admitisse um princípio que mostrasse também a impossibilidade de toda a ciência física. A astronomia e a geologia se constroem reunindo múltiplos fatos que, à primeira vista, parecem não ter nenhuma ordem. O mesmo também ocorre com a teologia. Contudo, apesar de a revelação não nos apresentar um sistema dogmático pronto, este não está só implicitamente contido nisso, mas partes do sistema se operam nas epístolas do Novo Testamento, como por exemplo, em Rm. 5,12-19; 1 Co. 15.3,4; 8.6; 1 Tm. 3.16; Hb. 6.1,2. Podemos ilustrar a construção da teologia a partir de um mapa dissecado, do qual um pai reúne duas peças, deixando ao filho a tarefa de reunir as restantes. Ou podemos ilustrar a partir do universo físico, que, sem pensar, revela pouco da sua ordem. "A natureza não tem cercas". Parece que uma coisa desliza para a outra. A preocupação do homem é distinguir, classificar e combinar. Orígenes: "Deus nos dá a verdade em simples laçadas, que podemos tecer em uma textura acabada". Andrew Fuller diz que as doutrinas da teologia "estão unidas como encadeamento de projéteis, de tal modo que, se um entra no coração os demais seguem o mesmo caminho". George Herbert: "Ah! se eu pudesse combinar todas as tuas luzes, e a configuração da sua glória; vendo não apenas como brilha cada verso, Mas toda a constelação da história"! A Escritura sugere possibilidades de combinação, em Rm. 5.12-19, com seu agrupamento de fatos sobre o pecado e a salvação em torno de duas pessoas: Adão e Cristo; em Rm. 4.24,25, ligando a ressurreição de Cristo à nossa justificação; em 1 Co. 8.6, indicando as relações entre o Pai e Cristo; em 1 Tm. 3.16, resumindo de forma poética os fatos da redenção; em Hb. 6.1,2 afirmando os primeiros princípios da fé cristã. O fornecimento de fatos concretos da teologia por Deus, os quais nós mesmos deixamos de sistematizar, está em plena concordância com o seu método processual relativo ao desenvolvimento de outras ciências.
Teologia Sistemática (Strong) IV. NECESSIDADE DA TEOLOGIA Esta necessidade baseia-se:
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1. No instinto organizador da mente humana Este princípio organizador faz parte da nossa constituição. A mente não pode continuar suportando a confusão ou aparente contradição nos fatos conhecidos. A tendência de harmonizar e unificar seu conhecimento aparece tão logo a mente começa a refletir; na proporção exata dos dotes e cultura é impulsionada a sistematizar e formular o desenvolvimento. Isto é verdade em todos os departamentos da pesquisa humana, mas particularmente no nosso conhecimento de Deus. Porque a verdade relativa a Deus é a mais importante de todas, a teologia vai ao encontro da mais profunda necessidade da natureza racional do homem. Se todos sistemas teológicos existentes fossem hoje destruídos, novos sistemas surgiriam amanhã. Tão inevitável é a operação desta lei que os que mais desacreditam a teologia mostram que eles têm feito uma teologia para si mesmos e com freqüência muito magra e disparatada. A hostilidade à teologia, onde não origina temores equivocados na corrupção da verdade de Deus, ou na estrutura naturalmente ilógica do pensamento, freqüentemente procede da licenciosidade da especulação que não pode tolerar o comedimento de um sistema escriturístico completo. Presidente E. G. Robinson: "Todo homem tem tanto de teologia quanto possa comportar". Consciente ou inconscientemente, filosofamos, tão naturalmente quanto falamos. "Se moquer de Ia philosophie c'est vraiment philo-sopher". Gore, Incarnation, 21 - O cristianismo tornou-se metafísico, só porque o homem é racional. Esta racionalidade significa que ele deve tentar 'dar conta das coisas', no dizer de Platão, 'porque ele é homem, e não somente porque ele é grego'". Freqüentemente os homens denunciam a teologia sistemática ao mesmo tempo em que enobrecem a ciência da matéria. Será que Deus deixou os fatos relativos a si mesmo num estado de
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tal modo não relacionados que o homem não pode coordená-los? Todas as outras ciências só têm valor na medida em que elas contêm ou promovem o conhecimento de Deus. Se é louvável classificar os besouros, pode-se permitir raciocinar a respeito de Deus e da alma. Ao falar de Schelling, Royce, Spirit of Modern Philosophy, 173, satiricamente nos exorta: "Confiai no vosso gênio; segui o vosso nobre coração; mudai a vossa doutrina sempre que o vosso coração mude, e mudai-o freqüentemente, - como acontece com o credo dos românticos". Ritchie, Darwin and Hegel, 3 "Exatamente aquelas pessoas que negam a metafísica são às vezes mais capazes de ser infectadas pela doença que professam detestar - e não sabem quando isto ocorreu".
2. Na relação da verdade sistemática com o desenvolvimento do caráter A verdade integralmente digerida é essencial ao desenvolvimento do caráter cristão no indivíduo e na igreja. Todo o conhecimento de Deus influi no caráter, porém principalmente de todo o conhecimento dos fatos espirituais em seus relacionamentos. A teologia não pode, como muitas vezes se tem objetado, mortificar os sentimentos religiosos, visto que só tira de suas fontes e estabelece conexão racional de umas para com as outras verdades que melhor se prestam a alimentar os sentimentos religiosos. Por outro lado, os mais fortes cristãos são os que têm a mais firme segurança nas grandes doutrinas do cristianismo; as épocas heróicas da igreja são as que têm mais consistente testemunho delas; a piedade que pode ser ferida pela sua sistemática exibição deve ser fraca, ou mística, ou equívoca. Para a conversão é necessário algum conhecimento - pelo menos do pecado e de um Salvador; a união destas duas grandes verdades é o começo da teologia. Todo o subseqüente desenvolvimento do caráter está condicionado à evolução do conhecimento. Cl. 1.10 — auxanomenoi eiv thn epignwsin tou yeou [omitir en] = crescendo através do conhecimento de Deus"; o dativo instrumental representa o conhecimento de
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Deus como o orvalho ou a chuva que alimenta o desenvolvimento da planta; cf. 2 Pe. 3.18 - "crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo". Para os textos que representam a verdade como alimento ver Jr. 3.15 "vos apascentem com conhecimento e inteligência"; Mt. 4.4 — "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus"; 1 Co. 3.1,2 - "como crianças em Cristo ... leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido"; Hb. 5.14 - "o mantimento sólido é para os perfeitos". O caráter cristão apóia-se na verdade cristã como alicerce; ver\ Co. 3.10-15 - "pus eu ... um fundamento e outro edifica sobre ele". A ignorância é a mãe da superstição, não da devoção. Talbot W. Chambers: - "A doutrina sem o dever é uma árvore sem frutos; o dever sem a doutrina é uma árvore sem raízes". A moralidade cristã é um fruto que cresce só a partir da árvore da doutrina cristã. Não podemos por muito tempo guardar os frutos da fé depois de cortarmos a árvore na qual eles cresceram. Balfour, Found, of Belief, 82 - "A virtude naturalista é parasitária e, quando o hospedeiro perece, o parasita perece também. A virtude sem a religião também morrerá". Kidd, Social Evolution, 214 - Porque o fruto sobrevive por algum tempo quando removido da árvore, e mesmo maduro e saboreável diremos que é independe da árvore?" As doze maneiras pelas quais os frutos da árvore do natal só se prendem é que eles nunca crescem lá, e nunca reproduzem a sua espécie. A maçã murcha incha num recipiente vazio, mas voltará outra vez à sua forma mirrada primitiva; o mesmo ocorre com a retidão própria dos que se retiram da atmosfera de Cristo e não têm o ideal divino com o qual se comparam. W. M. Lisle: "É um equívoco e um desastre do mundo cristão procurar os efeitos ao invés das causas". George Gordon, Christ of Today, 28 - "Sem o Cristo histórico e o amor pessoal por esse Cristo, a grande teologia atual se reduzirá a um sonho, incapaz de despertar a igreja do seu sono".
3. Na importância dos pontos de vista definidos e justos da doutrina cristã para o pregador A sua principal qualificação intelectual deve ser o poder de conceber clara e compreensivamente e expressar precisa e poderosamente a verdade. Ele pode o agente do Espírito Santo na
Teologia Sistemática (Strong) 55 conversão e santificação dos homens só quando pode brandir "a espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Ef. 6.17), ou, em outra linguagem, só quando pode imprimir a verdade nas mentes e consciências de seus ouvintes. Sem dúvida, nada mais anula seus esforços do que a confusão e inconsistência na apresentação da doutrina. Seu objetivo é substituir as concepções obscuras e errôneas entre os seus ouvintes pelas corretas e vívidas. Ele não pode fazer isto sem conhecer os fatos relativos a Deus e suas relações - em resumo, conhecê-los como partes de um sistema. Com esta verdade ele se investe de confiança. Mutilar a doutrina ou interpretála falsamente não é só um pecado contra o seu Revelador, - pode levar à ruína as almas dos homens. A melhor salvaguarda contra tal mutilação ou falsa interpretação é o estudo diligente das várias doutrinas da fé nas inter-relações e especialmente nas relações com o tema central da teologia, a pessoa e obra de Jesus Cristo. Quanto mais refinada e refletida for a época mais requer razões para sentir a imaginação exercida na poesia e na eloqüência e, como na política ou na guerra, não é menos forte do que antigamente, - só é mais racional. Note o progresso vindo do "Buncombe" (N.Trad.: linguagem desarrazoada e não sincera), na oratória legislativa e forense, no discurso sensível e lógico. Bassânio, no Mercador de Veneza de Shakespeare, — "Graciano profere uma porção infinita de nulidades. ... Seus raciocínios são como dois grãos de trigo perdidos em dois alqueires de palha". O mesmo ocorre na oratória de púlpito: não bastam simples citação da Bíblia e férvido apelo. O mesmo ocorre com um uivante daroês (N.Trad.: religioso muçulmano), a comprazerse na jactanciosa declamação. O pensamento é a matéria prima da pregação. Pode aparecer o sentimento, desde que com a finalidade exclusiva de conduzir os homens "para conhecerem a verdade" (2 Tm. 2.25). O pregador deve fornecer a base do sentimento, produzindo a convicção inteligente. Ele deve instruir mais que comover. Se o objetivo primordial do pregador é o conhecer Deus e, a seguir, tornar Deus conhecido, o estudo da teologia é absolutamente necessário ao seu sucesso. Como pode o médico exercer a medicina sem estudar fisiologia, ou o advogado exercer o direito sem estudar jurisprudência? Prof. Blackie: "Bem
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se pode esperar de um mestre em esgrima fazer-se um grande patriota, do mesmo modo que de um simples retórico, um grande orador". O pregador necessita de conhecer doutrina para não se tornar um simples realejo, tocando sempre, sempre as mesmas músicas. John Henry Newman: "O falso pregador tem de dizer alguma coisa; o verdadeiro pregador tem alguma coisa para dizer". Spurgeon, Autobiography, 1.167 - "Mudança constante de credo significa, sem dúvida, estar perdido. Se se tiver que arrancar uma árvore duas ou três vezes por ano, não haverá necessidade de um armazém muito grande para guardar as maçãs. Quando se muda muito de princípios doutrinários, não se espere a produção de muitos frutos.... Nunca teremos grandes pregadores enquanto não tivermos grandes teólogos. Não espere, de estudantes superficiais, grandes pregadores que convençam almas". Pequenas divergências da doutrina correta da nossa parte podem ser danosamente exageradas naqueles que nos sucederem. 2 Tm. 2.2 - "E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros".
4. Na íntima conexão entre a doutrina correta e o firme e agressivo poder da igreja A segurança e o progresso da igreja dependem do "padrão das sãs palavras" (2 Tm. 1.13), e de ser "coluna e esteio da verdade" (1 Tm. 3.15). O entendimento defeituoso da verdade, mais cedo ou mais tarde, resulta em falhas de organização, de operação e de vida. A compreensão integral da verdade cristã como um sistema organizado fornece, por outro lado, não só uma incalculável defesa contra a heresia e a imoralidade, mas também indispensável estímulo e instrumento no agressivo labor da conversão do mundo. Os credos da cristandade não se originaram de uma simples curiosidade especulativa e de minuciosos artifícios lógicos. São afirmações da doutrina em que a igreja atacada e em perigo procurou expressar a verdade que constitui a sua própria vida. Os que zombam dos credos primitivos têm uma reduzida concepção do ápice intelectual e da seriedade moral que contribuiu para a sua feitura. Os credos do terceiro e quarto
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séculos incorporam os resultados das controvérsias que esgotaram as possibilidades de heresia relativas à Trindade e à pessoa de Cristo e que fixaram barreiras contra a falsa doutrina do fim dos tempos. Mahafi: "O que converteu o mundo não foi o exemplo da vida de Cristo, - foi o dogma da sua morte". Coleridge: "Aquele que não resiste, não está em lugar firme". Sra. Browning: "A total tolerância intelectual é a marca daqueles que não crêem em nada". E. G. Robinson, Christian Theology, 360-362 - "Doutrina é apenas um preceito no estilo de uma proposição; preceito é apenas doutrina em forma de uma ordem. ... A teologia é o jardim de Deus; suas árvores são o seu plantio; e "avigoram-se as árvores do Senhor" (SI. 104.16). Bose, Ecumenical Councils: "O credo não é católico porque um concilio de muitos ou poucos bispos o decretou, mas porque expressa a convicção comum de gerações inteiras de homens e mulheres que puseram em novas formas de palavras a sua compreensão do Novo Testamento". Dorner: "Os credos são a precipitação da consciência religiosa dos homens e tempos poderosos". Foster, Christ. Life and Theol, 162 - "Freqüentemente ela requer o choque de algum grande evento para despertar os homens para a clara apreensão e cristalização da sua crença substancial. Tal choque ocorreu através da rude e grosseira doutrina de Ário, sobre a qual chegou à conclusão, no Concilio de Nicéia, seguido tão rapidamente na gelada água os cristais de gelo que às vezes se formarão quando o vaso que os contém recebe um golpe". Balfour, Foundations of Belief, 287 - "Os credos não eram explicações, mas negações de que as explicações arianas e gnósticas eram suficientes e declarações de que irremediavelmente empobreciam a idéia de Deus. Insistiam em preservar a idéia em toda a sua inexplicável plenitude". Denny, Studies in Theology, 192 - "As filosofias pagas tentaram atrair a igreja para os seus próprios fins, e voltar-se para uma escola. Em sua defesa própria, a igreja foi compelida a tornar-se uma espécie de escola por sua própria conta. Ela teve de fixar seus fatos; teve de interpretar a seu modo os fatos que os homens estavam interpretando falsamente". Prof. Howard Osgood: "O credo é como a espinha dorsal. O homem não tem necessidade de usá-la diante de si; mas ele precisa tê-la, e que esteja correta, ou ele será flexível se não for um cristão corcunda". É bom lembrar que os credos são credita, não credenda; as afirmações históricas do que a igreja tem crido, não prescrições infalíveis do que a igreja deve
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crer. George Dana Boardman, The Church, 98 - "Os credos podem tornar-se celas prisionais". Schurman, Agnosticism, 151 - "Os credos são fortificações defensivas da religião; elas deveriam ter se tornado, às vezes, artilharia contra a própria cidadela". T. H. Green: "Dizem-nos que devemos ser leais às crenças dos Pais. Sim, mas em que os Pais creriam hoje?" George A. Gordon, Christ of Today, 60 - "A suposição de que Espírito Santo não se preocupa com o desenvolvimento do pensamento teológico, nem se manifesta na evolução intelectual da humanidade, é superlativa heresia da nossa geração.... A metafísica de Jesus é absolutamente essencial à sua ética. ... Se o seu pensamento é um sonho, seu empenho pelo homem é uma ilusão".
5. Nas injunções diretas e indiretas da Escritura A Escritura nos estimula ao estudo integral e abrangente da verdade (Jo. 5. "examinai as Escrituras"), à comparação e harmonização de suas diferentes partes (1 Co. 2.13 – "comparando as coisas espirituais com as espirituais"), à reunião de tudo em torno do fato central da revelação (Cl. 1.27 - "que é Cristo em vós, esperança da glória"), à pregação na forma sadia assim como em suas devidas proporções (2 Tm. 4.2 "prega a palavra"). O ministro do evangelho é chamado "escriba que se fez discípulo do reino do céu" (Mt. 13.52); os "pastores" das igrejas devem ser ao mesmo tempo "mestres" (Ef. 4.11); o bispo deve ser "apto para ensinar" (1 Tm. 3.2), "que maneja bem a palavra da verdade" (2 Tm. 2.15), "retendo firme a palavra fiel, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para exortar na sã doutrina como para convencer os contradizentes" (Tt. 1.9). Como um meio de instrução da igreja e de garantia do progresso no entendimento da verdade cristã, é bom que o pastor pregue regularmente, a cada mês, um sermão doutrinário e exponha os principais artigos da fé. O tratamento da doutrina em tais sermões deve ser bastante simples a fim de ser compreensível à inteligência jovem; convém torná-lo vivido e interessante auxiliado por breves ilustrações; e pelo menos um terço de
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cada sermão deve ser dedicado a aplicações práticas da doutrina proposta, ver o sermão de Jonathan Edwards sobre a Importância do Conhecimento da Verdade Divina, in Works, 4.1-15. Os verdadeiros sermões de Edwards, contudo, não servem de modelo para a pregação doutrinária para a nossa geração. Eles são de forma muito escolástica, de substância muito metafísica; há muito pouco de Bíblia e muito pouco de ilustração. A pregação doutrinária dos Puritanos Ingleses de igual modo se dirigia quase somente a adultos. Por outro lado, a pregação do nosso Senhor adaptava-se também às crianças. Nenhum pastor se consideraria fiel, se permitisse aos seus jovens crescerem sem a instrução regular do púlpito no círculo inteiro da doutrina cristã. Shakespeare, Rei Henrique VI, 2ª parte, - "A ignorância é a maldição de Deus; o conhecimento é a asa com que voamos ao céu".
V. RELAÇÃO DA TEOLOGIA COM A RELIGIÃO A teologia e a religião relacionam-se uma com a outra como efeitos em diversas esferas da mesma causa. Como a teologia é o efeito produzido na esfera do pensamento sistemático com os fatos relativos a Deus e o universo, assim a religião é o efeito que estes mesmos fatos produzem na esfera da vida individual e coletiva. Com relação à palavra 'religião', note: 1. Derivação a) A derivação de religare, "ligar novamente" (o homem a Deus), é negada pela autoridade de Cícero e dos melhores etimologistas modernos; em vista da dificuldade, nesta hipótese, de explicar formas tais como religio, religens; e pela necessidade, em tal caso de pressupor um conhecimento mais completo do pecado e da redenção do que era comum ao mundo antigo. b) A derivação mais correta é relegere, "reexaminar", "ponderar cuidadosamente". Portanto, seu sentido original é "observância reverente" (dos deveres para com os deuses).
Teologia Sistemática (Strong) 2. Falsas Concepções
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a) Religião não é, como declarava Hegel, um tipo de conhecimento; então, só seria uma forma incompleta de filosofia e a medida do conhecimento em cada caso seria a medida da piedade. No sistema do panteísmo idealista, como o de Hegel, Deus é tanto o suje to como o objeto da religião. A religião é o conhecimento do próprio Deu através da consciência humana. Hegel não ignora totalmente outros elementos na religião. "O sentimento, a intuição e a fé pertencem-lhe", diz ele, "e conhecimento desacompanhado é caolho". Contudo, Hegel sempre aguardava o movimento do pensamento em todas formas da vida; Deus e o universo são apenas um desenvolvimento da idéia primordial. "O que o conhecimento precisa saber", pergunta ele, "se Deus é incognoscível?" O conhecimento de Deus é a vida eterna e o pensamento é também a verdadeira adoração". O erro de Hegel está em considerar a vida como um processo do pensamento, ao invés de considerá-lo como um processo da vida. Eis aqui a razão c amargura entre Hegel e Schleiermacher. Hegel considera corretamente que sentimento deve tornar-se inteligente antes que seja verdadeiramente religioso, mas não reconhece a suprema importância do amor no sistema teológico. Ele abre menos espaço para a vontade do que para as emoções, e não vê que o conhecimento de Deus de que fala a Escritura não se limita ao intelecto mas compreende o homem todo, incluindo a natureza afetiva e a voluntária. Goethe: "Como pode o homem vir a conhecer a si mesmo? Nunca através dos pensamentos, mas da ação. Tente praticar o seu dever e você saberá que você merece. Você não pode tocar uma flauta apenas soprando, - você precisa empregar os dedos". Do mesmo modo nunca podemos chegar conhecer a Deus só através do pensamento. Jo. 7.17- "Se alguém quer faz a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus". Os Gnósticos, Stapfer, Henrique VIII, mostraram que pode haver muito conhecimento teológico sem a verdadeira religião. A máxima de Chillingworth, "Somente Bíblia, a religião dos protestantes", é inadequada e imprecisa; porque a Bíblia sem a fé, o amor, e a obediência pode tornar-se
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um fetiche e uma armadilha. Jo. 5.39,40 - "Vós examinais as Escrituras, ... e não quereis vir a mim para terdes vida".
b) A religião não é, como sustentava Schleiermacher, o simples sentimento de dependência; pois tal sentimento de dependência não é religioso, a não ser quando exercido para Deus e acompanhado por esforço moral. Na teologia alemã, Schleiermacher constitui a transição do velho racionalismo para a fé evangélica. "Como Lázaro, com a mortalha da filosofia panteísta embaraçando os seus passos", embora com a experiência morávia da vida de Deus na alma, ele baseou a religião nas certezas interiores do sentimento cristão. Mas o presidente Fairbairn assinala: "A emoção é impotente a não ser que ela fale baseada na convicção; e onde há convicção existe a emoção que é poderosa para persuadir". Se o cristianismo for apenas um sentimento religioso, não há diferença alguma entre ele e as outras religiões porque todas são produto do sentimento religioso. Mas o cristianismo se distingue das outras religiões pelas suas concepções religiosas peculiares. A doutrina precede a vida e a doutrina cristã, não o simples sentimento religioso, é a causa do cristianismo como religião distintiva. Apesar de que a fé começa com o sentimento, não termina aí. Vemos o demérito do sentimento nas emoções transitórias dos que vão ao teatro e nos ocasionais fenômenos avivalistas. Sabatier, Philos. Relig., 27, acrescenta ao elemento passivo da dependência de Schleiermacher, o elemento ativo da oração. Kaftan, Dogmatik, 10 -"Schleiermacher considera Deus como a Fonte do nosso ser, mas esquece que ele também é o nosso Fim". A comunhão e o progresso são elementos tão importantes como a dependência; a comunhão deve anteceder o progresso - ela pressupõe perdão e vida. Parece que Schleiermacher não crê nem num Deus pessoal nem na sua imortalidade pessoal; ver Life and Letters, 2.77-90; Martineau, Study of Religion, 2.357. Charles Hodge compara-o a uma escada num poço - boa coisa para quem quer sair, mas não para quem quer entrar. Dorner: "A irmandade morávia era a sua mãe; a Grécia a sua pagem".
Teologia Sistemática (Strong) 62 c) Religião não é, como sustentava Kant, moralidade ou ação moral; pois moralidade é conformidade com uma lei abstrata de direito, enquanto a religião é essencialmente relação com uma pessoa de quem a alma recebe bênção e a quem se entrega em amor e obediência. Kant, Kritik der praktischen Vernunft, Beschluss: "Conheço apenas de duas coisas belas: o céu estrelado acima da minha cabeça e o senso do dever dentro do meu coração". Mas o simples senso do dever quase sempre causa angústia. Fazemos objeção à palavra "obedecer" como um imperativo da religião porque 1) faz da religião somente matéria da vontade; 2) a vontade pressupõe o sentimento; 3) o amor não está sujeito à vontade; 4) faz que Deus seja todo lei e não graça; 5) faz do cristão apenas um servo, não um amigo; cf. Jo. 15.15 - "Já vos não chamarei servos ... mas tenho-vos chamado amigos" - uma relação não de serviço mas de amor (Westcott, Bib. Com., in loco). A voz que fala é a voz do amor, em vez da voz da lei. Fazemos objeção também à definição de Matthew Arnold: "Religião é a ética elevada, iluminada, acendida pelo sentimento; é a moral tocada pela emoção". Isto exclui o elemento receptivo na religião assim como a sua relação com o Deus pessoal. A afirmação mais verdadeira é que a religião é a moral em direção a Deus, como a moral é a religião em direção ao homem. Bowne, Philos. of Theism., 251 - "A moral que não vai além da simples consciência deve recorrer à religião"; ver Lotze, Philos. of Religion, 128-142. Goethe: "A atividade desqualificada, seja de que tipo for, conduz, por fim, à bancarrota".
3. Idéia Essencial Religião, em sua idéia essencial, é vida em Deus, vivida no reconhecimento de Deus, em comunhão com Deus e sob o controle do Espírito de Deus q habita o homem. Porque é vida, não pode ser descrita como consistindo unicamente no exercício de qualquer das forças do intelecto, do sentimento e vontade. Como a vida física envolve unidade e cooperação de todos os órgãos do corpo, assim a religião, ou vida espiritual, a obra unificada de todas forças da alma. Para sentir, contudo, devemos atribuir prioridade lógica, vi; que todo o sentimento para com
Teologia Sistemática (Strong) 63 Deus comunicado na regeneração é condição para o verdadeiro conhecimento de Deus e para o verdadeiro serviço presta a ele. Ver GODET, on the Ultimate Design of Man - "Deus no homem, e o homem em Deus" - Princeton Review, nov. 1880; Pfleiderer, Die Religion, 579, e Religionsphilosophie, 255 - A religião é "Sache des ganzen Geisteslebens" (N.T.: O objetivo da vida espiritual como um todo): Crane, Religion of Tomorrow, 4 - "Religião é a influência pessoal do Deus imanente"; Sterrett, Reason Authority in Religion, 31,32 - "A Religião é a relação recíproca ou a comunhão entre Deus e o homem, envolvendo 1) a revelação, 2) a fé; Dr. J. W. A. Stewart: "Religion is fellowship with God"; Pascal: "Piedade é a sensibilidade de Deus para com o coração"; Ritschl, Justif. and Reconcil., 13 - "O cristianismo é uma elipse com dois focos Cristo como Redentor e Cristo como Rei, Cristo por nós e Cristo em nós, redenção e moralidade, religião e ética"; Kaftan, Dogmatik, 8 - "A religião cristã é 1) o reino de Deus como a meta acima do mundo, a ser atingida pelo desenvolvimento moral aqui, e 2) reconciliação com Deus permitindo atingir esta meta a despeito dos nossos pecados. A teologia cristã, uma vez estabelecida no conhecimento que o homem tem de Deus; agora partimos para a religião, i.e., o conhecimento cristão de Deus, que chamamos fé". Herbert Spencer: "Religião é uma teoria a priori do universo"; Romanes, Thoughts on Religion, 43, acrescenta: "que admite a personalidade inteligente como a causa originadora do universo; a ciência trata do Como, o processo fenomenal, a religião trata do Quem, a Personalidade inteligente que opera através do processo". Holland, Lux Mundi, 27 - "A vida natural é a vida err Deus que ainda não chegou a tal reconhecimento" - o reconhecimento de fato de que Deus está em todas as coisas - "contudo, não é, como tal, religioso; ... A religião é a descoberta, através do filho, de um Pai, que está err todas as suas obras, embora distinto de todas elas". Dewey, Psychology, 282 - "O sentimento acha a sua expressão absolutamente universal na emoção religiosa, que é o encontro ou realização do eu em uma personalidade completamente realizada, que reúne em si a verdade, ou a unidade completa de relação de todos os objetos, beleza ou unidade completa de todos os valores ideais, e retidão ou a unidade completa em todas as pessoas. A emoção que acompanha a vida religiosa é aquela que acompanha a nossa atividade completa; o eu se
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realiza e encontra a sua verdadeira vida em Deus". Upton, Hibbert Lectures, 262 - "A ética é simplesmente o discernimento que se desenvolve na sociedade e o esforço para atualizar-se nela, o senso do reinado fundamental e a identidade substancial em todos homens; conquanto a religião seja emoção, e a devoção que assiste a realização em nossa consciência própria sobre o mais íntimo relacionamento espiritual provindo dessa unidade de substância que constitui o homem o verdadeiro filho do Pai eterno".
4. Inferências Desta definição de religião segue-se: a) Que, a rigor, só há uma religião. O homem é, na verdade, um ser religioso, que tem a capacidade desta vida divina. Contudo, ele é realmente religioso, só quando entra nesta relação viva com Deus. As falsas religiões são caricaturas que os homens fazem do pecado, ou a imaginação que o homem tateia após a luz, forma da vida da alma em Deus. Peabody, Christianity the Religion of Nature, 18 - "Se o cristianismo for verdadeiro, não é uma religião, mas a religião. Se o judaísmo também for verdadeiro, não se distingue do cristianismo, mas coincide com ele, que é a única religião com que pode relacionar-se. Se houver porções de verdade em outros sistemas religiosos, estes não são porções de outras religiões, mas da única que, de uma forma ou de outra se incorporaram a fábulas e falsidades". John Caird, Fund Ideas of Christianity, 1.25 - "Você nunca pode alcançar a verdadeira idéia ou essência da religião somente tentando descobrir algo comum a todas religiões; não são as inferiores que explicam as mais elevadas, mas, ao contrário, a mais elevada explica todas as inferiores". George P. Fisher: "O reconhecimento de alguns elementos da verdade nas religiões étnicas não significa que o cristianismo tem defeitos que devem ser corrigidos tomando de empréstimo delas; significa que as crenças étnicas têm em fragmentos o que o cristianismo tem no seu todo. A religião comparativa não traz para o cristianismo alguma verdade nova; ela fornece ilustrações de como a verdade cristã vai ao encontro das
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necessidades humanas e aspirações e dá uma visão completa daquilo que o mais espiritual e o mais dotado entre os pagãos só discernem obscuramente". Dr. Parkhurst, Sermon on Pv. 20.27- "O espírito do homem é a lâmpada do Senhor" - "Uma lâmpada, mas não necessariamente iluminada; uma lâmpada que pode ser acesa só pelo toque de uma chama divina" = o homem tem natural e universalmente capacidade para a religião, mas não é natural e universalmente religioso. Todas as falsas religiões têm algum elemento de verdade; caso contrário nunca poderiam ter obtido e conservado o apoio sobre a humanidade. Precisamos reconhecer tais elementos de verdade ao tratá-los. Há alguma prata em um dólar falsificado; caso contrário, não enganaria ninguém; mas o fino banho de prata sobre o chumbo não impede que seja um dinheiro de má qualidade. Clarke, Christian Theology, 8 - "Veja os métodos de Paulo tratar a religião paga, em Atos 14 com o grosseiro paganismo e em Atos 17 com a sua forma erudita. Ele a trata com simpatia e justiça. A teologia cristã tem a vantagem de andar à luz da manifestação própria de Deus em Cristo, enquanto as religiões pagas tateiam em Deus e o adoram na ignorância"; cf. At. 14.15 - "e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo"; 17.22,23 "em tudo vos vejo acentuadamente religiosos. ... Esse que honrais não conhecendo é o que eu vos anuncio". Matthew Arnold: "O cristianismo é totalmente exclusivo, porque é absolutamente inclusivo. Ele não é um amálgama de religiões, mas tem em si tudo de melhor e mais verdadeiro de outras religiões. É a luz branca que contém todas as demais cores." Matheson, Messages of the Old Religions, 328-342 - "Cristianismo é reconciliação. Inclui a aspiração do Egito; vê, nesta aspiração, Deus na alma (bramanismo); reconhece o poder do mal do pecado com o Zoroastrismo; retrocede a um início puro como a China; entrega-se à fraternidade humana como Buda; extrai tudo do interior como o judaísmo; torna bela a vida presente como a Grécia; procura o reino universal como Roma; apresenta o desenvolvimento da vida divina como os teutões. O cristianismo é a múltipla sabedoria de Deus".
Teologia Sistemática (Strong) 66 b) Que o conteúdo da religião é maior do que o da teologia. Os fatos da religião se nivelam aos da teologia só naquilo que podem ser concebidos um modo definido, precisamente expressos em linguagem e postos em relação racional uns com os outros. Este princípio capacita-nos a definir os limites próprios de uma comunhão religiosa. Deve ser de tal modo amplo como a própria religião. Mas é importante lembrar o que é a religião. Ela não deve ser identificada com a capacidade de ser religioso. Nem podemos considerar as perversões e caricaturas da religião como méritos da nossa comunhão. Caso contrário, poder-se-ia requerer que tivéssemos comunhão com o culto aos demônios, com a poligamia, com o banditismo e com a inquisição; porque tudo isso tem sido dignificado em nome da religião. A verdadeira religião envolve um certo conhecimento, embora rudimentar, do verdadeiro Deus, o Deus da justiça; algum senso do pecado como o contraste entre o caráter humano e o padrão divino; um certo lançamento da alma sobre a misericórdia divina e o processo divino da salvação em lugar da justiça própria para obter o mérito e a confiança nas obras e nas sua memórias; algum esforço prático para realizar o princípio ético em uma vida pura e na influência sobre os outros. Sempre que aparecerem estas marcas da verdadeira religião, ainda que nos unitários, romanistas, judeus ou budistas, reconhecer-se-á a demanda de comunhão. Mas atribuímos também estes germes da verdadeira religião na operação da obra do Cristo onipresente, "a luz que alumia todo homem" (Jo. 1.9), e vemos neles c incipiente arrependimento e a fé, embora o seu objetivo ainda seja nominalmente desconhecido. A comunhão cristã deve ter maior base na verdade cristã aceita e a comunhão da igreja ainda maior base no reconhecimento comum do ensino do NT. no que se refere à igreja. A comunhão religiosa, neste sentido mais amplo, apóia-se no fato de que "Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo" (At. 10.34,35).
c) Que a religião pode distinguir-se do louvor formal, que é simplesmente a expressão exterior da religião. Como tal expressão, o louvor é "a comunhão formal entre Deus e seu povo". Nele Deus fala ao homem e o homem a Deus. Portanto, inclui adequadamente a leitura da
Teologia Sistemática (Strong) 67 Escritura e a pregação da parte de Deus e a oração e o cântico da parte do povo. Sterrett, Reason and Authority in Religion, 166 - "A adoração cristã é o pronunciamento do espírito". Porém no verdadeiro amor existe mais do que se pode pôr numa letra amorosa e, na religião, existe mais do que se pode expressar quer na teologia, quer na adoração. A adoração cristã é comunhão entre Deus e o homem. Mas a comunhão não pode ser unilateral. Madame de Stael, que Heine chamava de "torvelinho em saias", encerra um dos seus brilhantes solilóquios, dizendo: "Que deliciosa conversa tivemos!" Podemos achar uma ilustração melhor da natureza do culto nos diálogos de Thomas A. Kempis entre o santo e o seu Salvador, na Imitação de Cristo. Goethe: "Contra a grande superioridade de uma outra pessoa não há remédio senão o amor. ... Louvar um homem é pôrse no seu nível". Se este for o efeito do amor e louvor ao homem, qual não deve ser o de amar e louvar a Deus! Inscrição na Igreja em Grasmere: "Quem quer que sejas tu que entras na igreja, não a deixes sem um louvor a Deus por ti mesmo, por aqueles que ministram, e por aqueles que adoram neste lugar". Tg. 1.27 - "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, guardar-se da corrupção do mundo" - "religião", yrhskeia, é cultus exterior, e significa "o serviço exterior, o garbo externo, o próprio ritual do cristianismo, é vida de pureza, amor e devoção própria. O escritor não diz qual pode ser a sua verdadeira essência, o recôndito do seu espírito, mas deixa que se infira".
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Capítulo II MATERIAL DA TEOLOGIA I. FONTES DA TEOLOGIA Em última análise, o próprio Deus deve ser a única fonte do conhecer a respeito do seu ser e relações. Portanto, a teologia é um resumo e explicação do conteúdo das revelações que Deus faz de si mesmo. São estas, em primeiro lugar, a revelação de Deus na natureza; em segundo lugar e supremamente revelação de Deus nas Escrituras. Ambrósio: "A quem creditarei maior grandeza a respeito de Deus senão ao próprio Deus"? Von Baader: "É impossível conhecer Deus sem Deus; não r conhecimento sem aquele que é a fonte primordial". C. A. Briggs, Whither, 8 "Deus revela a verdade em diversas esferas: na natureza universal, na constituição da humanidade, na história da nossa raça, nas Escrituras Sagrada mas, acima de tudo, na Pessoa de Jesus Cristo, nosso Senhor". F. H. Johnson, What is Reality?, 399 - "O mestre interfere quando é necessário. A revelação auxilia a razão e a consciência, mas não as substitui. O catolicismo porém, afirma que a igreja as substitui, e o protestantismo que é a Bíblia que faz isto. A Bíblia, como a natureza, dá muitos dons gratuitos, porém, em germ O crescimento dos ideais éticos deve interpretar a Bíblia". A. J. F. Behrends: "A Bíblia é apenas um telescópio; não é o olho que vê, nem as estrelas que o telescópio traz à vista. Você tem a preocupação e eu também de ver as estrelas com os nossos próprios olhos". Schurman, Agnosticism, 178 - "A Bíblia uma lente através da qual se vê o Deus vivo. Mas ela é inútil quando você desvia dela os olhos". Só podemos conhecer a Deus na medida em que ele se revela. Conhece-se o Deus imanente, mas o Deus transcendente não conhecemos como conhecemos uma das faces da lua, a que se volta para nós. A. H. Strong, Christ in Creation, 113 - "A palavra 'autoridade' deriva de auctor, augeo, 'acrescentar'. A autoridade acrescenta alguma coisa à verdade comunicada. O que se acrescenta é o elemento pessoal do testemunho. Isto
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é necessário sempre que não se pode remover a ignorância com o nosso próprio esforço, oi falta de vontade que resulta do nosso próprio pecado. Na religião precisa acrescentar ao meu próprio conhecimento aquilo que Deus concede. A razão, a consciência, a igreja, a Escritura, todas são autoridades delegadas subordinadas; a única autoridade original e suprema é o próprio Deus revelado e que se fez compreendido por nós". Gore, Incarnation, 181 "Toda a legítima autoridade representa a razão de Deus, educando a razão do homem e comunicando-se com ela. ... O homem foi feito à imagem de Deus: ele é, na capacidade fundamental, filho de Deus, e torna-se assim de fato, e completamente, através da união com Cristo. Por isso, na verdade de Deus, como Cristo a apresenta a ele, pode reconhecer como sua a melhor razão, -usando a bela expressão de Platão, ele pode saudá-la com a força do instinto como alguma coisa que está aquém de si mesmo, antes que dê satisfação intelectual dela". Balfour, Foundations of Belief, 332-337, sustenta que não existe a razão desassistida e, mesmo que houvesse, a religião natural não é um dos seus produtos. Diz ele: atrás de toda a evolução da nossa própria razão, está a Razão Suprema. "A consciência, os ideais éticos, a capacidade de admirar, a simpatia, o arrependimento, a justa indignação, assim como o prazer no belo e na verdade, tudo deriva de Deus". Kaftan, in Am. Jour. Theology, 1900.718,719, sustenta que não há outro princípio para a dogmática além da Escritura Sagrada. Embora ele sustente que o conhecimento nunca vem diretamente da Escritura, mas da fé. A ordem não é: Escritura, doutrina, fé; mas Escritura, fé, doutrina. A Escritura não é uma autoridade direta mais do que a igreja. A revelação se dirige a todo o homem, isto é: à vontade do homem e reivindica obediência da parte dele. Visto que todo conhecimento cristão é mediado através da fé, ele se apoia na obediência à autoridade da revelação e a revelação é a manifestação própria da parte de Deus. Kaftan devia ter reconhecido mais plenamente que não só a Escritura, mas toda a verdade capaz de ser conhecida, é uma revelação de Deus e que Cristo é "a luz que alumia todo homem" (Jo. 1.9). A revelação é um todo orgânico, que começa na natureza, mas tem seu clímax e chave no Cristo histórico que a Escritura nos apresenta.
Teologia Sistemática (Strong) 1. A Escritura e a natureza
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Por natureza significamos aqui não somente os fatos físicos ou os fatos relativos às substâncias, propriedades, forças e leis do mundo material, mas também os fatos espirituais ou fatos relativos à contribuição intelectual e moral do homem e o arranjo ordenado da sociedade e história humanas. Empregamos aqui a palavra "natureza" no sentido comum, incluindo o homem. Existe um outro emprego de tal palavra mais próprio que a torna somente um complexo de forças e seres sob a lei de causa e efeito. O Homem só pertence à natureza, neste sentido a respeito do seu corpo, enquanto imaterial e pessoal ele é sobrenatural. A livre vontade não está sob a lei da física e da causa mecânica. É como diz Bushnell: "A natureza e o elemento sobrenatural constituem juntos o sistema único de Deus." Drummond, Natural Law in the Spiritual World, 232 - "As coisas são naturais ou sobrenaturais conforme a posição em que se encontram. O homem é sobrenatural com relação ao elemento mineral; Deus é sobrenatural com relação ao homem". Em capítulos posteriores empregaremos o termo "natureza" em sentido mais restrito O emprego universal da expressão "Teologia Natural", contudo, compele-nos neste capítulo a valermos-nos da palavra "natureza" em seu sentido mais amplo, incluindo o homem, apesar de fazê-lo sob protesto e explicando este sentido mais adequado do termo. E. G. Robinson: "Bushnell separa a natureza do sobrenatural. A natureza é um cego encadeamento de causas. Deus nada tem a ver com ela, exceto que anda nela. O homem é sobrenatural porque está fora da natureza, tendo o poder de originar um independente encadeamento de causas". Se esta fosse a concepção adequada da natureza, poderíamos ser compelidos a conclui com P. T. Forsyth, Faith and Criticism., 100 - "Não há nenhuma revelação n natureza. Não pode haver, porque não há perdão. Não podemos estar certo dela. Ela é apenas estética. Seu ideal não é a reconciliação, mas harmonic ...pois a consciência acometida ou forte, não tem palavra... A natureza não contém a sua própria teleologia e porque a alma moral que recusa ser alimentada de fantasia, Cristo é o sorriso luminoso na tenebrosa face do mundo Mas isto confina virtualmente a
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revelação de Cristo à Escritura ou à encarnação. Como havia uma astronomia sem o telescópio, assim havia uma teologia antes da Bíblia. George Harris, Moral Evolution, 411 - "A natureza é tanto uma evolução como uma revelação. Tão logo a questão Como é respondida levantam-se as questões De onde e Por quê. A natureza é para Deus o que fala é para o pensamento. O título do livro de Henry Drummond devia ter sido "A Lei Espiritual no Mundo Natural", porque a natureza é tão somente a atividade livre embora natural de Deus; o que chamamos sobrenatural é somente a sua obra extraordinária.
a) Teologia natural - O universo é uma fonte da teologia. As Escrituras afirmam que Deus se revelou na natureza. Não há apenas um testemunho exterior da sua existência e caráter na constituição e governo do uni\ (SI. 19; At. 14.17; Rm. 1.20), mas também um testemunho interno de existência e caráter no coração de cada homem (Rm. 1.1720,32; 2 A sistemática apresentação destes fatos derivados da observação, história ou ciência, constitui a teologia natural. Testemunho externo: SI. 19.1-3 - "Os céus declaram a glória de Deus At. 14.17 - "Não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos"; Rm. 1.20 - "Porque as coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a si divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão cri das", Testemunho interno: Rm. 1.19 - to gnwston tou yeou = "o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta". Compare o apokaluptetai do evangelho no vs. 17, com o apokaluptetai da ira no vs. 18 - duas revelações, uma da orgh, a outra da Cariv; \/er Shedd, Homiletics, 11. Rm. 1.32 - "conhecendo a justiça de Deus"; 2.15 - "mostram a obra da lei escrita no seu coração". Por isso mesmo os pagãos são "inescusáveis" (Rm. 1.20). Há dois livros: A Natureza e a Escritura - uma escrita, a outra não: e há necessidade de estudar ambos. Spurgeon falava de uma pessoa piedosa que, quando descia o Reno, fechava os olhos para não ver a beleza da cena que desviaria a sua mente dos temas espirituais. O puritano virava as costas para portulaca, dizendo
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que não levaria em conta coisa alguma encantadora na terra. Mas isto é desprezo às obras de Deus. J. H. Barrows: "O Himalaia contém as letras em alto relevo em que nós, crianças cegas púnhamos os dedos para ler o nome de Deus". Desprezar as suas obras é desprezar o próprio Deus. Ele está presente na natureza e fala através dela. SI. 19.1 - "Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos" - verbos no presente. A natureza não só é um livro, mas também uma voz. Hutton, Essays, 2.236 -"O conhecimento direto da comunhão espiritual deve ser suplementado pelo dos processos divinos provindos do estudo da natureza. A negligência do estudo natural dos mistérios do universo conduz a uma intromissão arrogante e ilícita das aceitações morais e espirituais num mundo diferente. Esta é a lição do livro de Jó". Hatck, Hibbert Lectures, 85 "O homem, servo e intérprete da natureza também o é, conseqüentemente, do Deus vivo". Os livros científicos são o registro das interpretações passadas do homem relativas às obras de Deus.
b) Teologia Natural Suplementada - A revelação cristã é a principal fonte da teologia. As Escrituras declaram plenamente que a revelação de Deus na natureza não supre todo o conhecimento de que um pecador necessita (At. 17.23; Ef. 3.9). Portanto, esta revelação é suplementada por outra na qual os atributos divinos e as misericordiosas provisões só obscuramente projetadas na natureza tornam-se conhecidas ao homem. Esta última revelação consiste em uma série de eventos sobrenaturais e comunicações cujo registro é apresentado nas Escrituras. At. 17.23 - Paulo mostra que, embora os atenienses, na edificação do altar a um Deus desconhecido, "reconhecessem uma existência divina além de qualquer que os ritos comuns da sua adoração reconheciam, tal Ser ainda lhes era desconhecido; eles não tinham uma concepção exata da sua natureza e suas perfeições" (Hackett, in loco). Ef. 3.9 - "o mistério que esteve oculto em Deus" - mistério este que, no evangelho, tornou conhecida ao homem a salvação. Hegel, Philosophy of Religion, diz que o cristianismo é a única religião revelada porque o Deus cristão é o único de quem ela pode vir. Podemos acrescentar que, como a ciência é o registro da interpretação progressiva do homem relativa à revelação de Deus no reino natural, do mesmo modo a Escritura é o registro da interpretação
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progressiva do homem sobre a revelação de Deus no reino espiritual. A expressão "palavra de Deus" não indica primordialmente um registro, - é a palavra falada, a doutrina, a verdade vitalizadora, descortinada por Cristo; Mt. 13.19 - 'Ouvindo a palavra do Reino"; Lc. 5.1 - "ouvir a palavra de Deus"; At. 8.25 - "tendo falado a palavra do Senhor"; 13.48,49 - "glorificavam a palavra do Senhor: ... a palavra do Senhor se divulgava"; 19.10,20-"ouviram a palavra do Senhor,... a palavra Senhor crescia poderosamente"; 1 Co. 1.18-"a palavra da cruz"-design, do não um documento, mas uma palavra não escrita; cf. Jr. 1.4 - "veio a n • palavra do Senhor"; Ez. 1.3 - "veio expressamente a palavra do Senhor a Ezequiel, o sacerdote".
c) As Escrituras, o padrão final de apelo - A ciência e a Escritura lançam luz uma sobre a outra. O mesmo Espírito divino que deu ambas revelações ainda está presente, capacitando o crente a interpretar uma pela outra e, agressivamente chegar ao conhecimento da verdade. Por causa da nossa adequação e por causa do pecado o registro total das comunicações de Deus passadas na Escritura é mais fidedigna fonte da teologia do que nossa alusões a partir da natureza ou nossas impressões particulares do ensino do Espírito. A teologia, portanto, encara a própria Escritura como sua principal fonte de material e seu padrão final de apelo. Existe uma obra interna do Espírito divino através da qual a palavra exterior tornou-se a obra interior e a sua verdade e poder manifestam-se no coração. A Escritura representa a obra do Espírito, não concedendo uma n verdade, mas uma iluminação da mente para que perceba a plenitude sentido que se encontra envolto na verdade já revelada. Cristo é "a verdade" (Jo. 14.6); "em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria ciência" (Cl. 2.3); Jesus diz que o Espírito Santo "há de receber do que é r e vo-lo há de anunciar" (Jo. 16.14). A encarnação e a cruz expressam o coração de Deus e o segredo do universo; todas as descobertas da teologia apenas desdobramento da verdade que estes fatos envolvem. O Espírito de Cristo capacita-nos a comparar a natureza com a Escritura e vice-versa, corrigir os equívocos na interpretação de um à luz do outro. Porque a igreja como um todo através da qual entendemos o conjunto dos verdadeiros
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crentes em toda a parte e em todos os tempos tem a promessa de ser conduzida "em toda a verdade" (Jo. 16.13) é que podemos confiantes esperar o progresso da doutrina cristã. A experiência cristã às vezes é considerada como uma fonte origina verdade religiosa. Contudo, ela é apenas teste e prova da verdade con objetivamente na revelação de Deus. A palavra "experiência" deriva de experior, testar, tentar. A consciência cristã não é "norma normans", mas "norma normata". Como a vida, a luz nos vem através da mediação dos out Embora esta vem de Deus como realmente aquela, da qual sem hesita dizemos: "Deus me fez", apesar de termos pais humanos. Como através do encanamento recebo a mesma água que se encontra armazenada nos reservatórios no alto da montanha, assim nas Escrituras eu recebo a verdade que o Espírito Santo originariamente comunicou aos profetas e apóstolos. Calvino, Institutes, livro I, cap. 7 - "Como a natureza tem uma manifestação imediata de Deus na consciência, uma manifestação mediata nas suas obras, assim a revelação tem uma manifestação imediata de Deus no Espírito, e mediata nas Escrituras". "A natureza do homem", diz Spurgeon, "não é uma mentira organizada, embora sua consciência interior tenha sido deformada pelo pecado e apesar de que uma vez tenha sido um guia infalível à verdade e ao dever o pecado a fez muito enganadora. O padrão de infalibilidade não está na consciência do homem, mas nas Escrituras. Quando em qualquer matéria a consciência contraria a Palavra de Deus, devemos saber que ela não é a voz de Deus, mas do diabo". Dr. George A. Gordon diz que "a história cristã é a revelação de Cristo adicional ao conteúdo do Novo Testamento". Não deveríamos dizer "ilustrativa", em vez de "adicional"? H. H. Bawden: Deus é a autoridade máxima apesar de que existem autoridades delegadas, tais como a família, o estado, a igreja; os instintos, os sentimentos, a consciência; a experiência genérica da raça, as tradições, o valor utilitário; a revelação na natureza e na Escritura. Porém a autoridade de maior valor para os homens na moral e na religião é a verdade a respeito de Cristo contida na literatura cristã. A verdade a respeito de Cristo, encontra-se determinada 1) pela razão humana condicionada pela atitude correta dos sentimentos e da vontade; 2) à luz de toda a verdade derivada da natureza, incluindo o homem; 3) à luz da história do cristianismo; 4) à luz
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da origem e desenvolvimento das próprias Escrituras. A autoridade da razão em geral e a da Bíblia são correlatas visto que se desenvolveram sob a providência de Deus e esta em grande escala porém como reflexo daquela. Este ponto de vista capacita-nos a uma concepção racional da função da Escritura na religião. Este ponto de vista capacita-nos a raciocinar sobre o que se chama inspiração da Bíblia, natureza e extensão da inspiração, a Bíblia como elemento histórico - registro do desdobramento histórico da revelação; a Bíblia como literatura - compêndio dos princípios de vida, mais do que um livro de regras; a Bíblia cristocêntrica - encarnação do pensamento e da vontade divinos e no pensamento humano e na linguagem".
d) A teologia da Escritura não é antinatural - Apesar de termos falado que as verdades sistematizadas da natureza constituem a teologia natural, não devemos inferir que a teologia escriturística é fora do natural. Porque as Escrituras têm o mesmo autor que a natureza, os mesmos princípios são ilustrados em uma como na outra. Todas doutrinas da Bíblia têm sua razão na mesma natureza de Deus que constitui a base de todas as coisas materiais. O cristianismo é uma dispensação suplementar, não contradizendo ou corrigindo erros na teologia natural, porém de modo mais perfeito revelando a verdade. O cristianismo é o plano base no qual toda a criação é edificada - a verdade original e eterna cuja teologia natural é apenas uma expressão parcial. Por isso a teologia da natureza e a teologia da Escritura são interdependentes. A teologia natural não só prepara o caminho para a teologia escriturística, mas recebe o estímulo e auxílio dela. A teologia natural pode agora ser uma fonte da verdade, que, antes que a Escritura viesse, ela não poderia fornecer. John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 23 - "Não existe esta coisa que se chama religião natural ou religião da razão distinta da revelada. O cristianismo é mais profunda, compreensiva e racionalmente, mais concorde com os mais profundos princípios da natureza e pensamento humanos que a religião natural; ou, como podemos situá-lo, o cristianismo é a religião
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natural engrandecida e feita religião revelada". Peabody, Christianity the Religion of Nature, preleção 2 - "Revelação é o desvendamento, o descobrimento daquilo que antes já existia e exclui a idéia de novidade, de invenção, de criação.... A religião terrena revelada é a religião natural do céu." Compare Ap. 13.8 - "o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo" = a vinda de Cristo não se fez por mudança; no verdadeiro sentido, a Cruz existiu desde a eternidade; a expiação é a revelação de um fato eterno no ser divino. Observe a ilustração de Platão da caverna que facilmente pode ser ameaçada por alguém que tinha entrado com uma tocha. A natureza é uma luz embaçada que vem da entrada da caverna; a tocha é a Escritura. Kant para Jacobi, in Jacobi's Werke, 3.523 - "Se o evangelho não tivesse ensinado as leis morais universais, a razão não teria adquirido tão perfeito discernimento delas". Alexander McLaren: "Os pensadores não cristãos falam agora eloqüentemente sobre o amor de Deus e até mesmo rejeitam o evangelho em nome de tal amor, chutando a escada pela qual subiram. Mas foi a cruz que ensinou ao mundo o amor de Deus e independentemente da morte de Cristo os homens podem esperar que haja um coração no centro do universo, mas nunca estão certos dele". O papagaio fantasia que ele ensinou os homens a falar. Do mesmo modo o Sr. Spencer fantasia que inventou a ética. Ele só está empregando o crepúsculo depois que o sol se pôs. Dorner, Hist. Prot. Theol., 252,253 - "Na Reforma, a fé primeiro forneceu certeza científica; daí em diante continuou a banir o ceticismo na filosofia e na ciência".
2. A Escritura e o Racionalismo Apesar de que as Escrituras tornam conhecido muito do que está além poder da razão humana desauxiliada para descobrir ou compreender pie mente seus ensinos, quando tomados juntos, de modo nenhum contradiz uma razão condicionada em sua atividade pelo santo sentimento e iluminado pelo Espírito de Deus. As Escrituras apelam para a razão, em seu amplo sentido, incluindo o poder da mente de reconhecer
Teologia Sistemática (Strong) 77 Deus e as relações morais -no sentido estrito de um simples raciocínio ou o exercício da faculdade pi mente lógica. A) O ofício apropriado da razão, neste sentido amplo, é: a) Fornecer-no idéias primárias de espaço, tempo, causa, substância, desígnio, justiça e Deus, que são as condições de todo o subseqüente conhecimento. b) julgar com relação à necessidade de uma revelação especial e sobrenatural da parte do homem. c) Examinar as credenciais da comunicação que professam ser tal revela ou dos documentos que professam registrá-la, d) Avaliar e reduzir a um sistema os fatos da revelação quando estes foram achados apropriadamente atestados. e) Deduzir destes fatos suas conclusões naturais e lógicas. Assim a própria razão prepara o caminho para uma revelação acima da razão e garante ma confiança em tal revelação quando dada. Dove, Logic of the Christian Faith, 318 - A razão termina na proposição: "Conte com a revelação". Leibnitz: "A revelação é o vice-rei que apresenta logo as suas credenciais à assembléia provincial (razão) e, depois, ele mesmo preside". A razão pode reconhecer a verdade depois que ela se tornou conhecida, como por exemplo nas demonstrações da geometria, embora ela nunca possa descobrir a verdade por si mesma, Ver a ilustração de Calderwood sobre o grupo perdido nos bosques, que toma sabiamente o curso indicado por alguém que se encontra no topo da árvore com maior visão do que a dele (Philosophy of the Infinite, 126). O noviço faz bem em confiar seu guia na floresta ao menos até que aprenda a reconhecer por si mesmo as marcas chamuscadas sobe as árvores. Luthardt, Fund. Thruts, lect. viii - "A razão nunca podia ter inventado um Deus auto-humilhante, tendo como berço uma manjedoura e morrendo numa cruz". Lessing, Zur Geschichte und Litterature (A Respeito da História e da Literatura), 6.134 "Qual o sentido de uma revelação que não revela nada"? Ritschl nega que as pressuposições de qualquer teologia baseada na Bíblia como a infalível palavra de Deus por um lado, e na validade do conhecimento de Deus obtido por processos científicos e filosóficos por outro. Porque os filósofos, cientistas e mesmo os exegetas, não concordam entre si, ele conclui que nenhum resultado fidedigno é atingível pela razão
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humana. Admitimos que a razão sem o amor cairá em muitos erros relativos a Deus e que, por isso, a fé é, portanto, o órgão pelo qual a fé religiosa deve ser apreendida. Reivindicamos que a fé inclui a razão e esta na sua mais elevada forma. A fé critica e julga os processos da ciência natural bem como o conteúdo da Escritura. Mas ela também reconhece, anteriormente, na ciência e na Escritura a operação do Espírito de Cristo que é a fonte e autoridade da vida cristã. Ritschl ignora as relações terrenas de Cristo e, por isso, seculariza e deprecia a ciência e a filosofia. A fé na qual ele confia como a fonte da teologia, sem garantia, está separada da razão. Torna-se um padrão subjetivo e arbitrário ao qual, mesmo o ensino da Escritura deve ter precedência. Sustentamos um ponto de vista contrário; o de que observam-se resultados na ciência e na filosofia e na interpretação da Escritura como um todo e que tais resultados constituem uma revelação que tem autoridade. Ver ORR, The Theology of Ritschl; Dorner, Hist. Prot. Theol., 1.233 - "A questionável razão na razão empírica é escrava da fé, que é a verdadeira razão nascente, não confiante em si mesma, mas defensora do cristianismo objetivo".
B) Por outro lado, o racionalismo sustenta que a razão é a fonte última de toda a verdade religiosa enquanto a Escritura é a autoridade só naquilo que suas revelações concordam com as conclusões prévias da razão ou pode ser demonstrada racionalmente. Cada forma de racionalismo, portanto, comete ao menos um dos seguintes erros: a) O de confundir a razão com o simples raciocínio, ou com o exercício da inteligência lógica. b) O de ignorar a necessidade de um sentimento santo como condição de toda a correta razão nos assuntos religiosos, c) O da negação da nossa dependência das revelações de Deus no nosso estado presente de pecado. d) O de considerar a razão desapoiada mesmo em seu estado normal e desapaixonado, como capaz de descobrir, compreender e demonstrar toda a verdade religiosa. Não se deve confundir razão com raciocínio, ou simples arrazoado. Vamos seguir a razão? Sim, mas não o arrazoado individual contra o testemunho dos que têm melhor informação do que nós; nem insistir na demonstração, na qual a evidência provável por si só é possível; nem confiar
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somente na evidência dos sentidos quando estão em jogo as coisas espirituais. Coleridge, respondendo aos que argumentavam que todo o conhecimento nos vem dos sentidos, diz: "De qualquer modo devemos trazer à luz todos os fatos como os vemos". É isto que o cristão faz. A luz do amor revela muita coisa que, de outra forma, seria invisível. Wordsworth, Excursion, book 5 (598) - "A razão desnuda não deve garantir o apoio da mente. A verdade moral não é uma estrutura mecânica edificada através de regras". O racionalismo é a teoria matemática do conhecimento. A ética de Spinoza é uma ilustração disso. Ela deduziria o universo a partir de um axioma. O Dr. Hodge muito erroneamente descreveu o racionalismo como "um abuso da razão". Mais do que isso é o uso de uma razão anormal, pervertida, inadequadamente condicionada; ver Hodge, Syst. Theol., 1.34,39,55, e a crítica de Miller, O Fetiche na Teologia. A expressão "intelecto santificado" apenas significa o intelecto acompanhado de justos sentimentos para com Deus e instruídos na operação sob a influência deles. Bispo Butler: "Observe-se a razão, mas não se deixe que criaturas como nós continuem a opor-se a um esquema infinito a ponto de não vermos a necessidade ou utilidade de todas as suas partes e a isto chamemos razão". Newman Smith, Death's Place in Evolution, 86 - "A descrença é uma haste imersa nas trevas da terra. Afundo-a mais e aparecerá no raio solar do outro lado da terra". As pessoas mais desarrazoadas do mundo são as que dependem exclusivamente da razão, no sentido restrito. "Quanto mais elas exaltam a razão, mais tornam o mundo irracional". "A galinha que choca patinhos anda com eles até à beira da água, mas pára ali e fica assustada quando eles avançam. Do mesmo modo a razão pára e a fé continua encontrando o seu elemento mais adequado no invisível. A razão são os pés que se apóiam na terra sólida; a fé são as asas que nos capacitam a voar; o homem normal é uma criatura que tem asas". Compare gnwsewv (1 Tm. 6.20 - "falsamente chamada ciência") com epignwsewv; (2 Pe. 1.2 "conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor" = pleno conhecimento, ou verdadeiro conhecimento).
Teologia Sistemática (Strong) 3. A Escritura e o Misticismo
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Como o racionalismo reconhece que muito pouca coisa vem de Deus assim o misticismo reconhece-a excessiva. A) O Verdadeiro Misticismo - Vimos que há uma iluminação das mentes de todos os crentes pelo Espírito Santo. Contudo, o Espírito não faz nenhuma revelação nova da verdade já revelada por Cristo na natureza e nas Escrituras. A obra iluminadora do Espírito é, portanto, a de abrir as mentes dos homens para entender as revelações prévias de Cristo. Como um iniciado nos mistérios do cristianismo, cada crente verdadeiro pode ser chamado de místico. O verdadeiro misticismo é o mais alto conhecimento e comunhão que o Espírito Santo concede através do uso da natureza e da Escritura como meio subordinado e principal. "Místico" = iniciado, de muw, "fechar os olhos" - provavelmente para que a alma possa ter a visão interior da verdade. Porém a verdade divina é um "mistério", não só como algo em que alguém deve iniciar-se, mas como uperballousan thv gnwsewv (Ef. 3.19) - ultrapassando o pleno conhecimento, mesmo para o crente; ver Meyer sobre Rm. 11.25 - "Não quero, irmãos, que ignoreis este mistério". Os alemães têm a palavra Mystik com um sentido favorável, Mysticismus com um sentido desfavorável, correspondendo, respectivamente, ao nosso verdadeiro e falso misticismo. O verdadeiro misticismo é sugerido em João 16.13 - "aquele Espírito da verdade ... vos guiará em toda a verdade"; Ef. 3.9 - "dispensação do mistério"; 1 Co. 2.10 - "Deus no-las revelou pelo seu Espírito". Nitzsch, Syst. Of Christ. Doct., 35-"Sempre que a verdadeira religião revive, há um clamor contra o misticismo, i.e., um conhecimento mais elevado, uma comunhão, uma atividade através do Espírito de Deus no coração". Compare a acusação contra Paulo de que ele estava louco, em At. 26.24,25, com a sua própria vindicação em 2 Co. 5.13 - "se enlouquecemos, é para Deus". Inge, Christian Mysticism, 21 - "Harnack fala do misticismo como racionalismo aplicado à esfera acima da razão. Ele deveria ter dito razão aplicada à esfera acima do racionalismo. Sua doutrina fundamental é a unidade de toda a existência. O homem pode realizar a sua individualidade
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apenas transcendendo-a e achando-se na unidade maior do ser divino. O homem é um microcosmo. Ele recapitula a raça, o universo, o próprio Cristo". Ibid., 5 -O misticismo é "a tentativa de realizar no pensamento e no sentimento a imanência do temporal no eterno e do eterno no temporal. Isto implica 1) que a alma pode ver e perceber a verdade espiritual; 2) que o homem, para conhecer a Deus, deve ser participante da natureza divina; 3) que, sem a santidade, ninguém pode ver o Senhor; 4) que o verdadeiro hierofante dos mistérios de Deus é o amor. A 'scala perfectionis' é a) a vida purificadora; b) a vida iluminativa; c) a vida unificadora". Stevens, Joanninne Theol., 239,240 - "O misticismo de João ... não é do tipo subjetivo que absorve a alma na autocontemplação e devaneio, mas objetivo e racional, que vive no mundo da realidade, apreende a verdade divinamente revelada e baseia sua experiência nela. É um misticismo que se alimenta, não dos seus próprios sentimentos e fantasias, mas de Cristo. Envolve uma aceitação e obediência a ele. O seu mote é: Perseverando em Cristo". Como a pressão da força não pode dispensar o tipo, assim o Espírito de Deus não dispensa a revelação externa de Cristo na natureza e na Escritura. E. G. Robinson, Christian Theology, 364, - "A palavra de Deus é uma forma ou molde ao qual o Espírito Santo nos entrega quando nos recria"; cf. Rm. 6.17"obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues".
B) Falso Misticismo - O misticismo, contudo, como se usa comumente o termo, erra ao sustentar a aquisição do conhecimento religioso pela comunicação direta de Deus e da absorção passiva das atividades humanas na divina. Parcial ou totalmente perde de vista a) os órgãos externos da revelação, da natureza e das Escrituras; b) a atividade dos poderes humanos na recepção de todo conhecimento religioso; c) a personalidade do homem e, por conseqüência, a personalidade de Deus. Em oposição ao falso misticismo, devemos lembrar que o Espírito Santo opera através da verdade revelada exteriormente na natureza e na Escritura (At. 14.17 - "Não se deixou a si mesmo sem testemunho"; Rm. 1.20 - "as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, ... claramente se vêem"; At. 7.51 - "vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como os vossos pais"; Ef. 6.17 - "a espada do Espírito, que é a palavra de Deus"). Através desta verdade já entregue devemos provar toda a nova
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comunicação que contradiz ou vai além dela (1 Jo. 4.1 - "não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus"; Ef. 5.10 - "aprovando o que é agradável ao Senhor"). Através destes testes podemos por à prova o Espiritismo, o Mormonismo, Swedenborgianismo. Note a tendência mística em Francisco de Sales, em Tomás à Kempis, em Madame Guyon, em Thomas C. Upham. Tais escritores parecem, às vezes, defender uma abnegação insustentável da nossa razão e vontade e uma "absorção do homem em Deus". Mas Cristo não nos priva da razão e da vontade; ele só nos tira a perversidade da nossa razão e o egoísmo da nossa vontade; assim restauram-se a razão e a vontade à sua clareza normal e força. Compare SI. 16.7 - "o Senhor me aconselhou; até o meu coração me ensina de noite" = Deus ensina o seu povo através do exercício das próprias faculdades deste. O falso misticismo está presente, embora, às vezes, não reconhecido. Toda expectação dos resultados sem o emprego de recursos participa dele. Martineau, Seat of Authority, 288 - "A vontade preguiçosa gostaria de ter a visão enquanto o olho que a apreende dorme". Pregar sem preparação é como lançarmo-nos do pináculo de um templo e depender de que Deus mande um anjo a amparar-nos. A Ciência Cristã confiaria em agentes sobrenaturais enquanto deixa de lado os agentes naturais que Deus já providenciou; como se aquele que está se afogando confiasse na oração, recusando-se a agarrar na corda. Usando a Escritura "ad aperturam libri" é como guiar a ação de alguém lançando o dado. Allen, Jonathan Edwards, 171, nota - "Tanto Charles como John Wesley concordavam em aceitar o método morávio de solucionar as dúvidas como curso de uma ação, abrindo a Bíblia ao acaso e considerando a passagem em que o olho se fixou primeiro como uma revelação da vontade de Deus sobre o assunto"; cf. Wedgwood, Life of Wesley, 193; Southey, Life of Wesley, 1.216. J. G. Patton, Life, 2.74 - "Após muitas orações e lutas e lágrimas, pus-me a sós diante do Senhor e, de joelhos, lancei sorte, com um solene apelo a Deus, e veio a resposta: 'Volte!'". Uma única vez ele fez isso na sua vida, em esmagadora perplexidade, sem encontrar luz vinda do conselho humano. "A quem quer que tenha esta fé", diz ele, "obedeça-lhe". F. B. Meyer, Christian Living, 18 - "É um equívoco buscar um sinal do céu; correr de conselheiro a conselheiro; tirar sorte; ou confiar em alguma
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coincidência fortuita. Isto não significa que Deus não possa revelar a sua vontade desta forma; mas que este é um comportamento duro de um filho para com o Pai. Há um caminho mais excelente", - a saber, o próprio Cristo que é sabedoria e, quando avançamos, é certo que seremos guiados à medida em que se der um novo passo, ou a cada palavra proferida, ou decisão tomada. O nosso culto deve ser "um culto racional" (Rm. 12.1); a ação cega e arbitrária é inconsistente com o espírito do cristianismo. Este tipo de ação nos torna vítimas de temporário sentimento e presas do engano satânico. No caso de perplexidade, aguardando a iluminação e aguardando a vontade de Deus, freqüentemente nos tornaremos capazes de tomar uma decisão inteligente, porque "o que não é de fé é pecado" (Rm. 14.23). "O falso misticismo alcançou seu resultado lógico na teosofia budista. Nesse sistema o homem torna-se mais divino na extinção da sua própria pessoalidade. Chega-se ao Nirvana através de oito passos do ponto de vista correto, da aspiração, da palavra, da conduta, do viver, do esforço, da mente, do êxtase; Nirvana é a perda da capacidade de dizer: 'Este ser sou eu', e 'Isto é meu'. Tal foi a tentativa de Hipatéia, através da sujeição própria, ao ser impelida aos braços de Jove. George Eliot equivocava-se quando dizia: 'A mulher mais feliz não tem história'. A autonegação não é autoanulação. O sino quebrado não tem individualidade. Em Cristo tornamo-nos completos". Cl. 2.9,10 - "porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade e nele estais perfeitos". Royce, World and Individual, 2.248,249 - Impõe-se o homem espiritual; O homem natural é abnegado. A carnalidade do eu é a raiz de todos os males; o eu espiritual pertence ao reino mais elevado. Mas este eu espiritual jaz, a princípio, fora da alma; ele se torna nosso somente pela graça. Platão está certo quando faz das idéias eternas a fonte de toda a verdade e bondade humanas. A sabedoria vem ao homem como o nouv de Aristóteles". A. H. Bradford, The Inner Light, ao fazer o ensino direto do Espírito Santo a fonte suficiente senão a única do conhecimento religioso, parece ignorar o princípio da evolução na religião. Deus constrói sobre o passado. A sua revelação aos profetas e apóstolos constitui a norma e correção da nossa experiência individual, mesmo quando a nossa experiência lança novas luzes sobre a revelação.
Teologia Sistemática (Strong) 4. A Escritura e o Romanismo
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Enquanto a história da doutrina, mostrando a progressiva apreensão e desdobramento da verdade contida na natureza e na Escritura da parte da igreja é uma fonte subordinada da teologia, o protestantismo reconhece a Bíblia, sob Cristo, como a autoridade primeira e final. O Romanismo, por outro lado, comete o duplo erro de a) tornar a Igreja e não a Escritura, a fonte imediata e suficiente do conhecimento religioso; e b) fazer a relação do indivíduo com Cristo depender de sua relação com a igreja, ao invés de fazer tal relação com a igreja depender, seguir e expressar sua relação com Cristo. Há no Catolicismo Romano um elemento místico. As Escrituras não são o completo e final padrão de fé e prática. Deus dá ao mundo, de tempo em tempo, através de papas e concílios, novas comunicações da verdade. Cipriano: "Quem não tem a igreja como sua mãe não tem Deus como seu Pai". Agostinho: "Eu não creria na Escritura, se a autoridade da igreja também me influenciasse". Francisco de Assis e Inácio de Loyola representam pessoa verdadeiramente obediente como um morto, movimentando-se só quando movido por seu superior; o verdadeiro cristão não tem vida própria é um instrumento cego da igreja. John Henry Newman, Tracts, Theol. and Eccl., 287 - "Os dogmas cristãos estavam na igreja desde o tempo dos apóstolos, - substancialmente sempre foram o que são agora". Mas demonstra-se que isto não é verdade a respeito da concepção imaculada da Virgem a respeito do tesouro dos méritos distribuídos em indulgências; da infalibilidade de do papa (ver Gore, Incarnation, 186). Em lugar da verdadeira doutrina, "Ubi Spiritus, ibi ecclesia", o romanismo emprega a máxima, "Ubi ecclesia, ibi Spiritus". Lutero viu nisto o princípio do misticismo quando disse: "Papatus est merus enthusiasmus". Em resposta ao argumento romanista de que a igreja é antes da Bíblia e que o mesmo corpo que deu a verdade no princípio pode fazer acréscimos à verdade, dizemos que a palavra não escrita existiu antes da igreja e possibilitou esta mesma igreja. A palavra de Deus existiu antes que fosse escrita e por aquela palavra os primeiros discípulos bem como os posteriores gerados (1 Pe. 1.23 - "fostes regenerados ... mediante a palavra
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de Deus"). A contextura da verdade na doutrina católica romana se expressa em 1 Tim 3.15 - "a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade" = a igreja é a proclamadora da verdade, eleita por Deus; cf. Fp. 2.16 - "retendo a palavra da vida". Mas a igreja só pode proclamar a verdade edificada sobre a verdade. Deste modo podemos dizer que a República Americana é a coluna e base da liberdade no mundo; mas isto só é verdade desde que a República seja edificada no princípio da liberdade como seu alicerce. Quando o romanista pergunta: "Onde estava a sua igreja antes de Lutero?" o protestante retrucar: "Onde estava o seu rosto antes de você lavá-lo? Onde estava a farinha antes que o trigo fosse para o moinho?" Lady Jane Grey, três dias antes da sua execução, em 12 de fevereiro de 1554, disse: "A minha fé está fundamentada na palavra de Deus, não na igreja; pois, se a igreja for boa, a sua fé deve ser testada pela palavra de Deus, e não a palavra de Deus ser testada pela palavra da igreja, nem ainda a minha fé". A Igreja Romana queria manter os homens em perpétua infância fazendo-os ir a ela em busca da verdade, ao invés de ir diretamente à Bíblia; "como a mãe tola que guarda o menino em casa para que não tope o seu artelho; e quer amá-lo mais fazendo-o permanecer sempre um bebê e assim continuar sendo a sua mãe". Martensen, Christian Dogmatics, 30 - "O romanismo está de tal modo preocupado com a construção de um sistema de salvaguardas que esquece a verdade do Cristo que ela quer garantir". George Herbert: "Que desastre pode causar-lhe qualquer lugar, cuja casa é repugnante enquanto ele adora a sua vassoura!" É uma doutrina meio parasita de segurança sem inteligência ou espiritualidade. O romanismo diz: "O homem para a máquina!" O protestantismo: "A máquina para o homem!" O catolicismo reprime a individualidade; o protestantismo devolve-a. Não obstante o princípio romanista aparece em igrejas ditas protestantes. O catecismo publicado pela Liga da Santa Cruz, da Igreja Anglicana, contém o seguinte: "Só ao sacerdote a criança deve confessar seus pecados, se desejar que Deus lhes perdoe. Sabe por quê? É porque Deus, quando na terra, deu aos seus sacerdotes, e só a eles, o poder de perdoar pecados. Vá ao sacerdote, que é o médico da sua alma e que cura em nome de Deus". Mas isto contradiz Jo. 10.7 - "eu sou a porta"; e 1 Co. 3.11 - "ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo" = atinge-se a salvação pelo acesso imediato a Cristo e não há nenhuma porta entre a alma e ele.
Teologia Sistemática (Strong) II. LIMITAÇÕES DA TEOLOGIA
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Apesar de a Teologia derivar seu material da dúplice revelação de Deus, ela não professa dar um exaustivo conhecimento de Deus e de suas relações com o universo. Depois de mostrar que material temos, devemos mostrar que material não temos. Já indicamos as fontes da Teologia; examinaremos agora suas limitações. São elas: 1. Na finitude do entendimento humano Isto dá surgimento a uma classe de mistérios necessários, ou mistérios em conexão com a infinitude e incompreensibilidade da natureza divina (Jó 11.7; Rm. 11.33). Jó 11.7 - "alcançarás tu os caminhos de Deus, ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso?" Portanto, cada doutrina tem seu lado inexplicável. Eis aqui o sentido próprio das palavras de Tertuliano: "Certum est, quia impossibile est; quo absurdius eo verius"; de Anselmo: "Credo ut intelligam"; e de Abelardo: "Qui credi cito, levis corde est". Drummond, Nat. Law in Spirit World: "Desconhece-se a ciência sem mistério; é absurdo uma religião sem mistério". E. G. Robinson: "Um ser finito não pode captar até mesmo suas próprias relações com o Infinito". Hovey, Manual of Christ. Theol., 7 - "Inferir da perfeição de Deus que todas as obras [natureza, homem, inspiração] serão absoluta e imutavelmente perfeitas; inferir do perfeito amor de Deus que não pode haver pecado algum ou sofrimento no mundo; inferir da soberania de Deus que o homem não é um agente moral livre; - tudo isso é precipitação; são inferências a partir da causa para o efeito enquanto se conhece a causa de um modo imperfeito".
2. No estado imperfeito da ciência natural e metafísica Isto dá surgimento a uma classe de mistérios acidentais, ou mistérios que consistem na natureza aparentemente irreconciliável das verdades que, são perfeitamente compreensíveis.
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Somos vítimas de um astigmatismo, que permite ver só um ponto da verdade como se fossem dois. Vemos Deus e homem, sabedoria divina e liberdade humana, o natural e o sobrenatural, respectivamente, como dois fatos desconexos, quando numa visão talvez mais profunda seria apenas uma. A astronomia tem suas forças centrípetas e centrífugas, embora sejam indubitavelmente uma só. A criança não pode segurar duas laranjas ao mesmo tempo na sua mãozinha. Disse um pregador negro: "Você não pode carregar duas melancias debaixo de um braço". Shakespeare, Anthony and Cleopatra, 1.2 - "No infinito livro secreto da natureza, Eu, pequenino, leio". Cooke, Credentials of Science, 34 - "O progresso do homem na ciência tem sido tão constante e rapidamente acelerado que se tem obtido mais durante a vida do ser humano que durante toda a sua história passada". E, contudo, podemos dizer com D'Arcy, Idealism and Theology, 248 - "A posição do homem no universo é excêntrica. Só Deus é o centro. Só em torno dele orbita a verdade completamente exposta. ... Há circunstâncias em que para nós o momento adiante da verdade pode parecer retrocesso".
3. Na inadequação da língua Porque a língua é um meio pelo qual se expressa e se formula a verdade, a invenção de um vocabulário na Teologia, como em cada uma das outras ciências, é condição e critério de seu progresso. As Escrituras reconhecem uma dificuldade peculiar no emprego das verdades espirituais em linguagem terrena (1 Co. 2.13; 2 Co. 3.6; 12.4). 1 Co. 2.13 - "não com palavras ensinadas pela sabedoria humana"; 2 Co. 3.6 - "a letra mata"; 12.4 - "palavras inefáveis". Deus se submete a condições de revelação; cf. Jo. 16.12 - "Tenho ainda muita coisa que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora". Tem de ser criada a linguagem. As palavras tem de ser tomadas do emprego comum e ser postas numa aplicação mais ampla e sagrada de modo que "variem sob o peso do sentido" - p.ex., a palavra "dia", em Gn. 1, a palavra agaph em 1 Co. 13. ver GOULD, 1 Co. 13.12 - - "agora vemos como em espelho obscuramente" metálico, cuja superfície é obscura e cujas imagens são obscuras = Agora contemplamos a Cristo, a verdade, apenas refletido na fala imperfeita - "mas então face a face" = imediatamente, sem a intervenção de um meio
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imperfeito. "Tão veloz como um túnel num banco de areia do pensamento, as pedras da linguagem devem ser construídas em paredes e arcos, para um futuro progresso rumo à mina ilimitada".
4. No nosso conhecimento incompleto das Escrituras Porque não é a simples letra das Escrituras que constitui a verdade, o progresso da Teologia depende da Hermenêutica, isto é, da interpretação da Palavra de Deus. Note o progresso ao comentar, do homilético ao gramatical, ao histórico, ao dogmático, ilustrado em Scott, Ellicott, Stanley, Lightfoot. John Robinson: "Na verdade estou persuadido de que o Senhor tem mais verdade ainda para revelar a partir da sua palavra". Uma crítica recente mostrou a necessidade de estudar cada porção da Escritura à luz da sua origem e conexões. Tem havido uma evolução na Escritura, tão verdadeira como na ciência natural e o Espírito de Cristo que estava nos profetas causou um progresso desde a expressão germinal e típica até a completa e clara. Contudo, ainda necessitamos de apresentar a oração do SI. 119.18 "Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei".
5. No silêncio da revelação escrita Para nossa disciplina e prova, muito se nos oculta, do que podemos compreender com nossas atuais forças. Exemplo de silêncio da Escritura sobre a vida e morte da Virgem Maria, o aparecimento pessoal de Jesus e suas realizações no começo da sua vida, a origem do mal, o método de expiação, o estado depois da morte. A mesma coisa sobre questões sociais e políticas, tais como a escravidão, o tráfico de bebida alcoólica, virtudes domésticas, corrupção dos governantes. "Jesus estava no céu na revolta dos anjos, embora ele nos conte pouca coisa a respeito dos anjos ou do céu. Ele não faz discurso a respeito do Éden, ou de Adão, ou da queda do homem, ou da morte como resultado do pecado de Adão; e pouco diz dos espíritos desencarnados, se estão
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perdidos ou salvos". Foi melhor inculcar princípios e incumbir aos seus seguidores a sua aplicação. Seu evangelho não pretendia gratificar uma vã curiosidade. Ele não desviaria a mente dos homens de perseguir uma coisa necessária; cf. Lc. 13.23,24 - "Senhor, são poucos os que se salvam? E ele lhes respondeu: Porfiai por entrar pela porta estreita, porque eu vos digo que muitos procurarão e não poderão". O silêncio de Paulo sobre questões especulativas que ele deve ter ponderado com absorvedor interesse é a prova da sua inspiração divina. Cf. Jo. 13.7 - "O que eu faço não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois". A coisa mais bela no rosto é aquilo que um quadro nunca pode expressar. Aquele que podia falar bem podia omitir bem. Story: "A parte silenciosa é a melhor de cada obra nobre; De todas expressões que não podem ser expressas". Cf. 1 Co. 2.9 - "As coisas que os olhos não viram e os ouvidos não ouviram e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam"; Dt. 29.29 - "As coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para os nossos filhos".
6. Na falta de discernimento espiritual causada pelo pecado Porque o sentimento santo é condição do conhecimento religioso, toda a imperfeição moral no cristão individualmente, bem como na igreja, serve como embaraço na operação de uma Teologia completa. Jo. 3.3 - "aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus". As eras espirituais produzem mais progresso para a teologia - é o testemunho da metade do século após a Reforma e a metade do século após o grande avivamento na Nova Inglaterra na época de Jonathan Edwards. Ueberweg, Logic (trad, de Lindsay), 514 - "A ciência tem sofrido muita influência da vontade; e a veracidade do conhecimento depende da pureza da consciência. A vontade não tem poder algum para resistir à evidência científica; mas não se obtém evidência científica sem a lealdade contínua à vontade". Lorde Bacon declara que o homem não pode entrar no reino da ciência do mesmo modo que não se pode entrar no reino do céu sem se tornar uma criança. Darwin descreve a sua própria mente como
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tendo se tornado uma espécie de máquina de triturar as leis gerais das grandes coleções de fatos que resultam na "atrofia da parte do cérebro de que dependem os mais elevados sabores". Porém é possível semelhante atrofia anormal no caso da faculdade moral e religiosa (ver GORE, Incarnation, 37). O Dr. Allen diz na sua Introd. Lecture at Lane Theol. Seminary. "Estamos muito alegres ao vê-los na qualidade de estudantes; mas as cadeiras dos professores estão todas ocupadas".
III. RELAÇÕES DO MATERIAL COM O PROGRESSO DA TEOLOGIA 1. É impossível um sistema perfeito de teologia Não temos esperança de construir tal sistema. Toda a ciência apenas reflete a presente aquisição da mente humana. Nenhuma ciência é completa ou conclusa. Aconteça o que acontecer com as ciências da natureza e do homem, nunca se chegará a um conhecimento exaustivo da ciência de Deus. Não podemos esperar que se demonstrem todas as doutrinas apoiados em bases nacionais, ou mesmo em cada caso ver o princípio de conexão entre elas. Onde não podemos fazer isto, devemos, como em cada uma das outras ciências, estabelecer os fatos revelados em seus respectivos lugares e aguardar mais luz, ao invés de ignorá-las ou rejeitar qualquer uma delas porque não as podemos entendê-las ou não podemos entender a sua relação com as outras partes do nosso sistema. Três problemas insolúveis os egípcios transmitiram à nossa geração: 1) a duplicação do cubo; 2) a trissecção do ângulo; 3) a quadratura de um círculo. Dr. Johnson: "Os dicionários são como vigias; o pior é melhor do que nenhum; não se pode esperar que seja perfeitamente verdadeiro". Hood fala da "Contradição" do Dr. Johnson, tanto "interior" quanto "exterior". Sir William Thomson (Lorde Kelvin) no qüinquagésimo aniversário de magistério disse: "Uma palavra caracteriza o mais árduo esforço para o avanço da ciência que eu, persistentemente, fiz por cinqüenta e cinco anos: a palavra é falha; eu não entendo mais de energia elétrica e magnética ou das relações
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entre o éter, a eletricidade e a matéria ponderável, ou de afinidade química, do que sei e tentei ensinar os meus alunos de filosofia natural cinqüenta anos atrás em minha primeira sessão como professor". Allen, Religious Progress, menciona três tendências. "A primeira delas diz: Destrua o novo! A segunda diz: Destrua o velho! A terceira diz: Não destrua nada! Deixe o velho gradual e silenciosamente desenvolver-se rumo ao novo, como queria Erasmo. Devemos aceitar as contradições quer sejam intelectualmente solucionáveis quer não. A verdade nunca prosperou forçando alguma 'via media'. A verdade se encontra mais na união das proposições opostas, como divindade e humanidade de Cristo e graça e liberdade. Blanco partiu de Roma para a infidelidade; Orestes Brownson da infidelidade para Roma; assim os irmãos John Henry Newman e Francis W. Newman, e os irmãos George Herbert de Bemerton e Lorde Herbert de Cherbury. Um queria secularizar o divino, o outro divinizar o secular. Mas se um estava certo, o outro também. Adotemos ambos. Todo progresso é uma penetração mais profunda no sentido da antiga verdade e sua maior apropriação".
2. Apesar de tudo isso a teologia é progressiva É progressiva no sentido de que nosso entendimento subjetivo dos fatos pode e na verdade se aperfeiçoa. Porém a Teologia não é progressiva no sentido de que seus fatos objetivos mudam, quer em número, quer em sua natureza. Com Martineau podemos dizer: "A religião tem sido rejeitada como não sendo progressiva; sendo imperecível, tem feito correções". Apesar de o nosso conhecimento poder ser imperfeito, ainda terá grande valor. Nosso sucesso em construir uma Teologia dependerá da proporção que os fatos claramente expressos da Escritura têm para com as simples inferências e sobre o grau em que elas são coerentes a respeito de Cristo, pessoa e tema centrais. O progresso da teologia está na apreensão da parte do homem, não no progresso da comunicação da parte de Deus. A originalidade na astronomia não está na criação de novos planetas, mas na descoberta dos que nunca foram vistos antes, ou no esclarecimento das relações entre aqueles de cuja
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existência nunca se suspeitara. Robert Kerr Eccles: "A originalidade é um hábito de se voltar às origens - o hábito de garantir a experiência pessoal através da sua aplicação a fatos originais. Não se trata de uma inferência a partir de coisas novas quer da natureza, quer da Escritura, quer da consciência; em vez disso é o hábito de recorrer a fatos primitivos e garantir as experiências pessoais que surgem do contato com tais fatos". Fisher, Nat. And Meth. Of Revelation, 48 - "Os céus estrelados são agora o que eram desde a antiguidade; não há um aumento no universo estelar, a não ser que surja através do aumento da capacidade e emprego do telescópio". Não podemos imitar o ingênuo marinheiro que, quando começou a dirigir, disse que tinha "navegado através daquela estrela". Martineau, Types, 1.492,493 - "A metafísica desde que seja verdadeira no seu desempenho, é estacionária, exatamente porque trata não do que começa ou do que termina, mas do que sempre é.... É absurdo louvar o movimento porque sempre faz o caminho, enquanto zomba do espaço porque ele ainda é o que sempre foi: como se o movimento que você prefere pudesse existir, sem o espaço que você reprova". Newman Smith, Christian Ethics, 45,67-70,79 "O verdadeiro conservadorismo é o progresso que provém do passado e cumpre o que é bom; o falso conservadorismo é uma limitadora e desesperançada volta ao passado, e que trai a promessa do futuro. Jesus não veio destruir a lei ou os profetas'; ele não veio 'destruir, mas cumprir' (Mt. 5.17).... O último livro sobre a Ética Cristã não será escrito antes do Dia do Juízo". John Milton, Areopagitica: "A verdade é comparada na Escritura a uma fonte corrente; se as suas águas não fluírem em progressão perpétua, elas adoecerão na lagoa lodacenta da conformidade e tradição. O homem pode ser um herege na verdade". Paulo em Rm. 2.16 e 2 Tm. 2.8 - menciona o "meu evangelho". É dever de cada cristão ter seu próprio conceito sobre a verdade, conquanto respeite os dos outros. Não esperamos novos mundos, nem necessitamos de esperar novas Escrituras; mas podemos esperar progresso na interpretação de ambos. Os fatos findam, a interpretação não.
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93 Capítulo III
MÉTODO DA TEOLOGIA I. REQUISITOS PARA O ESTUDO DA TEOLOGIA Os requisitos para o bem sucedido estudo da Teologia já foram em parte indicados quando se falou das suas limitações. Em que pese alguma repetição, contudo, mencionamos os seguintes: 1. Uma mente disciplinada Só essa mente pode, com paciência, coletar os fatos, sustentar em suas mãos muitos fatos de uma vez, inferir através de contínua reflexão seus princípios que estabelecem conexão, suspender um julgamento final até que suas conclusões sejam verificadas pela Escritura e pela experiência. Robert Browning, Ring and Book, 175 (Pope, 228) - "A verdade não está em nenhum lugar, embora esteja em todos, nisto; Não em uma porção absoluta, apesar de evoluída pelo todo: por fim evolui dolorosamente, sustentada por mim de modo vigoroso". Os mestres e alunos podem dividirse em duas classes: 1) os que já conhecem o suficiente; 2) os que querem aprender mais do que conhecem agora. O lema da Escola de Winchester na Inglaterra: "Disce aut discede" [N.T.: Estuda ou retira-te]. Butcher, Greek Genius, 213,230 - "Os sofistas fingiam que estavam comunicando educação quando somente estavam transmitindo resultados. Aristóteles ilustra o método deles, dando o exemplo do sapateiro que, professando ensinar a arte de fazer sapatos indolores, põe na mão do aprendiz um grande sortimento de sapatos já prontos. Um espirituoso francês põe na mesma classe os que supostamente tornam popular a ciência, inteligível a metafísica e respeitável o vício. A palavra scólh, que, inicialmente, significava 'ócio', daí 'discussão filosófica', e, finalmente, 'escola', mostra o puro amor do aprendizado entre os gregos". Robert G. Ingersoll dizia que,
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em média, o clero provincial é como a terra do Potomac na fala de Tom Randolph, quase indigna do seu estado original e transformada totalmente assim pela cultura. Lotze, Metaphysics, 1.16 - "o amolar constante da faca é tedioso se ela não se dispõe a cortar". "Fazer os seus deveres é apenas uma diversão", é a descrição que Tucídides apresenta sobre o caráter ateniense. Chitty perguntou a um pai sobre as qualificações da lei: "O seu filho pode comer serragem sem manteiga?"
2. Um hábito mental intuitivo distinto de um outro simplesmente lógico – ou, confiar nas convicções primitivas assim como em seu processo de raciocínio. O teólogo deve ter insight (N.T.: discernimento), assim como entendimento. Ele deve acostumar-se a ponderar os fatos espirituais bem como os sensoriais e materiais; a ver estas coisas em suas relações interiores como também em suas formas exteriores; acalentar confiança na realidade e unidade da verdade. Vinet, Outlines of Philosophy, 39,40 - "Se eu não sinto que o bem é bem quem o provará a mim?" Pascal: "A lógica, que é uma abstração, pode abalar tudo. Um ser puramente intelectual será irremediavelmente cético". Calvino: "Satanás é um teólogo refinado". Algumas pessoas vêem uma mosca na porta de um celeiro à uma milha de distância, e não vêem a porta. Zeller, Outlines of Greek Philosophy, 93 - "O sofista Górgias era capaz de mostrar, metafisicamente, que nada existe; que não podemos conhecer aquilo que existe; e que aquilo que conhecemos não se pode transmitir aos outros" (citado por Wenley, Socrates and Christ, 28). Aristóteles diferia dos moderados que pensavam ser impossível passar pelo mesmo rio duas vezes, - sustentava que isto não podia ser feito nenhuma vez (cf. Wordsworth, Prelude, 536). Dove, Logic of the Christian Faith, 1-29 e especialmente 25, dá uma demonstração da impossibilidade do movimento: Uma coisa não pode mover-se no lugar onde está; não pode mover-se nos lugares onde não está; mas o lugar onde está e os lugares onde não está são os lugares que existem; por isso uma coisa não pode mover-se. Hazard, Man a Creative First Cause, 109, mostra que o fundo de um poço não se
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move porque não recua tão rápido como o topo também não avança. Uma fotografia instantânea torna a parte superior uma mancha confusa enquanto ele se refere à parte inferior distintamente visível. Abp. Whately: "Os argumentos fracos freqüentemente são confiados diante do meu caminho; porém, embora não sejam mais substanciais, não é fácil destruí-los. Não se conhece proeza mais difícil do que cortar uma almofada com uma espada". Cf. 1 Tm. 6.20 - "oposições da falsamente chamada ciência"; 3.2 - "que o bispo seja ... sóbrio" – swfpwn = "bem equilibrado". A Escritura fala da "sã [agaphv = sadia] doutrina" (1 Tm. 1.10). Contraste com 1 Tm. 6.4 - [noswn = doentia] "delira acerca de questões e contendas de palavras".
3. Conhecimento das ciências física, mental e moral O método para conceber e expressar a verdade da Escritura é assim afetado nossas noções elementares de tais ciências e as armas com as quais a i é atacada e defendida são tão freqüentemente tiradas dos arsenais o estudante nau pode permitir-se ignorá-las. Goethe explica sua própria grandeza através da fuga da metafísica: Mein Kind, Ich habe es klug gemacht: Ich habe nie über's Denken gedacht" "Meu filho, tenho sido sábio em nunca pensar em torno de uma coisa"; ele teria sido mais sábio se tivesse ponderado mais profundamente nos princípios fundamentais da sua filosofia. Muito do sistema teológico caiu, como Campanile em Veneza, porque os seus alicerces eram inseguros. Sir William Hamilton: "Nenhuma dificuldade levanta na teologia aquilo que antes não tinha emergido na filosofia". N. W. Taylor: "Dá-me um moço na metafísica e eu não terei preocupação com ele em teologia". Presidente Samson Talbot: "Amo a metafísica, porque ela trata de realidades". A máxima "Ubi tres medici, ibi duo athei" (Onde há três médicos, lá estão dois ateus), atesta a verdade das palavras de Galeno: "o melhor médico é também filósofo". A teologia não pode dispensar a ciência nem a ciência pode dispensar a filosofia. E. G. Robinson: "A ciência não invalidou qualquer verdade fundamental da revelação, embora tenha modificado a afirmação de muitos. ... A ciência física, sem dúvida, chocar-se-á na cabeça de alguns dos nossos deuses de barro e quanto mais depressa melhor". Há grande vantagem para o pregador em dedicar-se, como o fez Frederick W.
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Robertson, a uma ciência após outra. A química entrou na sua estrutura mental, como dizia ele, "como o ferro no sangue".
4. Conhecimento das línguas originais da Bíblia Isto é necessário para capacitar-nos não só a determinar o sentido dos termos fundamentais da Escritura, tais como, santidade, pecado, propiciação, justificação, mas, também, a interpretar declarações da doutrina através das suas conexões com o contexto. Emerson dizia que o homem que lê um livro numa língua estrangeira, quando pode ler numa boa tradução, é um tolo. O Dr. Behrends retruca que é tolo quem se satisfaz com o substituto. E. G. Robinson: "A língua é um grande organismo e nenhum estudo disciplina a mente como dissecção de um organismo". Crisóstomo: "Eis a causa de todos os males - o nosso desconhecimento das Escrituras". Contudo, um erudito moderno disse: "A Bíblia é o mais perigoso de todos os dons que Deus concedeu ao homem". É possível adorar a letra enquanto deixamos de perceber o espírito. Uma interpretação bitolada pode contradizer o seu sentido. Depende muito da conexão das expressões, como por exemplo, o dia touto e ef w, em Rm. 5.12. O Prof. Philip Lindsley de Princeton, 1813-1853, dizia aos seus alunos: "Um dos melhores preparos para a morte é o conhecimento integral da gramática grega". Erasmo, na sua juventude: "Quando recebo algum dinheiro, adquiro alguns livros de Grego e, depois disso, algumas roupas". As línguas mortas, na verdade, são vivas - livres do perigo do falso entendimento provindo da mudança do emprego. A Providência divina pôs a revelação em formas fixas no Hebraico e no Grego. Sir Williams Hamilton, Discussions, 330 - "Ser um teólogo competente é, de fato, ser um erudito".
5. Afeição santa para com Deus Só o coração renovado pode adequadamente sentir sua necessidade da revelação divina ou entender tal revelação quando concedida.
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Sl. 2514 - "O segredo do Senhor é para os que o temem"; Rm. 12.2 – "para que experimenteis qual seja ... a vontade de Deus"; cf. SI. 36.1 - A prevaricação do ímpio fala no íntimo do seu coração". "Não é o cérebro, mas o coração que chega ao Altíssimo". "Aprender de cor é mais que aprender através da mente, ou da cabeça (N.Trad.: "de cor" é uma locução que, em inglês significa de coração, ou relativo ao coração, ou a partir do coração). Toda heterodoxia (N. Trad: falsa doutrina) é precedida da heteropraxia (W. Trad: falsa prática, ou comportamento). No "Peregrino", de Bunyan, o Fiel não atravessa o Pantanal do Desânimo, como fez o Cristão; e ao atravessar por cima da cerca, deve achar um caminho mais fácil para que o Cristão e o Esperançoso entrem no Castelo da Dúvida e se entreguem nas mãos do Gigante Desespero. "Grandes pensamentos vêm do coração", diz Vauvenargues. O pregador não pode, como fazia o Dr. Kane, acender uma fogueira com lente de gelo. Aristóteles: "O poder de alcançar a verdade moral depende de agirmos com justiça". Pascal: "Conhecemos a verdade, não só pela razão, mas pelo coração.... O coração tem razões que a razão desconhece". Hobbes: Até mesmo os axiomas da geometria seriam questionados se as paixões humanas não se preocupassem com eles". Macaulay: "A lei da gravidade ainda seria controvertida se ocorresse a interferência de interesses pessoais". Normau, Degeneration: "Os sistemas filosóficos somente apresentam as desculpas que a razão demanda para os impulsos da raça durante um dado período". Lorde Bacon: "Uma tartaruga no seu passo normal vence um corredor no seu passo errado". Goethe: "Tais são as inclinações como as opiniões.... A cabeça só pode compreender uma obra de arte com a acessoria do coração. ... Só a lei pode dar-nos liberdade". Fichte: "Nosso sistema de pensamento mui freqüentemente é a história do coração.... A verdade descende da consciência. ... A vontade dos homens não atende a sua razão, mas a razão é que atende a sua vontade". O lema de Neander era: "Pectus est quod theologum facit" - "O coração é que faz o teólogo". John Stirling: "Terrível é o olho que pode dividir-se a partir de um vivo coração celestialmente humano, e ainda conservar sua visão introspectiva, - tal como o olho das Górgonas". Porém acrescentamos que esse olho não é introspectivo. E. G. Robinson: "Nunca estude Teologia com sangue frio". W. C. Wilkinson: "A cabeça é uma agulha magnética cuja verdade aponta para um dos pólos. Mas o coração é uma massa de ferro magnético oculta. A
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cabeça é atraída para o seu pólo natural, a verdade; mas a maior parte é atraída pelo magnetismo mais próximo".
6. A influência iluminadora do Espírito Santo Como somente o Espírito sonda as coisas de Deus, só ele pode iluminar nossas mentes para apreendê-las. 1 Co. 2.11,12 — "ninguém sabe as coisas de Deus senão o Espírito de Deus. Mas ... foi-nos dado o espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer". Cícero, Natura Deorum, 66 – "Nemo ígitur vir magnus sine aliquo adflato divino unquam fuit". Prof. Beck de Tubingen: "Para o estudante não há nenhum caminho privilegiado que conduz à verdade; o único é o mesmo do inculto; é o da regeneração e da gradual iluminação através do Espírito Santo; sem ele, a teologia não só é uma pedra fria, como um perigoso veneno". Como todas as verdades dos cálculos diferenciais e integrais estão envoltas no mais simples axioma da matemática, do mesmo modo toda a teologia está compreendida na declaração de que Deus é santidade e amor, ou no proto-evangelho proferido nos portais do Éden. Entretanto, as mentes embotadas não podem por si mesmas desenvolver os cálculos a partir do axioma, nem os corações pecadores desenvolver a teologia a partir da primeira profecia. É preciso que os mestres demonstrem os teoremas geométricos, e que o Espírito Santo nos mostre que o "novo mandamento", ilustrado na morte de Cristo, é o único "antigo mandamento que tivestes desde o princípio" (1 Jo. 2.7). Os Princípios de Newton são uma revelação de Cristo do mesmo modo que as Escrituras. O Espírito Santo nos capacita a penetrar no sentido das revelações de Cristo tanto na Escritura como na natureza; a interpretar uma através da outra; e assim elaborar as demonstrações e aplicações originais da verdade; Mt. 13.52 - "Por isso, todo escriba instruído acerca do Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas".
Teologia Sistemática (Strong) II. DIVISÕES DA TEOLOGIA
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Comumente a Teologia se divide em Bíblica, Histórica, Sistemática e Prática. 1. A Teologia Bíblica tem como alvo ordenar e classificar os fatos da revelação limitando-se às Escrituras quanto ao seu material e tratando a doutrina só na medida em que ela se desenvolveu até o fim da era apostólica. Por exemplo: De Wette, Biblische Theologie; Hofmann, Schriftbeweis; Nitzsch, System of Christian Doctrine. Contudo, esta última tem mais de elemento filosófico do que de Teologia Bíblica. O terceiro volume de Justificação e Reconciliação pretende ser um sistema de Teologia Bíblica; o primeiro e segundo volumes são pouco mais do que uma introdução histórica. Mas a metafísica, de realidade e fenomenalismo kantianos, penetra tão grandemente na avaliação e interpretações de Ritschl, que torna suas conclusões parciais e racionalistas. Observe um emprego questionável do termo Teologia Bíblica para designar a parte da teologia de uma parte da Escritura separada do resto, como na Teologia Bíblica do Velho Testamento de Steudel; Teologia Bíblica do Novo Testamento de Schmidt e nas expressões comuns: Teologia Bíblica de Cristo, ou de Paulo. Estas expressões são passíveis de objeção ao indicar que os livros da Escritura têm uma origem humana. Aceitando a hipótese de que não há uma autoria divina comum da Escritura, concebe-se a Teologia Bíblica como uma série de fragmentos correspondentes a diferentes ensinos dos vários profetas e apóstolos e sustenta-se que a teologia de Paulo não tem garantia e é um acréscimo incôngruo à teologia de Jesus.
2. A Teologia Histórica traça o desenvolvimento das doutrinas bíblicas desde o tempo dos apóstolos até os nossos dias e dá conta dos resultados deste desenvolvimento na vida da igreja. O desenvolvimento doutrinário é o progressivo desenvolvimento e absorção que a igreja assume da verdade explícita e implicitamente con Escritura. Ao explicar a forma da fé cristã nas declarações doutrinárias, a
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Teologia Histórica é chamada História da Doutrina. Ao descrever o resultado e acompanhamento das mudanças exteriores e interiores na vida da igreja, a Teologia Histórica é chamada História da Igreja.
3. A Teologia Sistemática toma o material fornecido pelas Teologias Bíblica e Histórica e, com este material, busca edificar um todo orgânico e consistente do nosso conhecimento de Deus e de suas relações com o universo, quer este conhecimento seja originariamente derivado da natureza, quer das Escrituras. Por isso a Teologia Sistemática é chamada teologia propriamente dita; a Teologia Bíblica e a Histórica são seus estágios incompletos e preparatórios. Deve-se distinguir a Teologia Sistemática da Teologia Dogmática. No emprego estrito, Teologia Dogmática é a sistematização das doutrinas expressas nos símbolos da igreja, associando a sua base às Escrituras e à apresentação, até onde possível, da sua necessidade racional. Por outro lado, Teologia Sistemática não começa com os símbolos, mas com as Escrituras. Ela não indaga primeiro qual a crença da igreja, mas qual a verdade de Deus revelada na sua palavra. Examina a palavra com todos os acessórios que a natureza e o Espírito lhe deram, utilizando a Teologia Bíblica e a Histórica como mestras, mas como suas servas e auxiliares. Note aqui o emprego técnico da palavra "símbolo", de sumballw, = breve lançamento conjugado, ou afirmação condensada da essência da doutrina cristã. Sinônimos: Confissão, credo, consenso, declaração, formulário, cânones, artigos de fé. O dogmatismo estimula os resultados inevitáveis. Contudo, dogmatismo não deriva de "dog", como jovialmente sugere Douglas Jerrold quando diz que "o dogmatismo é o caninismo na plenitude do seu desenvolvimento do dokew, penso, opino. A Teologia Dogmática tem dois princípios: 1) Autoridade absoluta dos credos, nas decisões da igreja; 2) A aplicação dos credos da lógica formal com o propósito de demonstrar sua verdade, ao entendimento. Na Igreja Católica Romana, a autoridade decisiva não se encontra na Escritura, mas na igreja e no dogma dado por ela. Contrariamente o princípio protestante é que a Escritura decide e é ela que julga o dogma. Schleiermacher, Albert Schweitzer defende o pensamento de
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que o termo "Dogmatik" deve ser descartado como essencialmente antiprotestante e que "Glaubenslehre" deve ocupar o seu lugar; e Harnack, Hist. Dogma, 6, assinala que o "dogma sempre, no progresso da história, tem devorado seus progenitores". Conquanto seja verdadeiro que cada novo e avançado pensador na teologia tem sido contado como herege, sempre tem havido uma fé comum "a fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd. 3) - e o estudo da Teologia Sistemática tem sido um dos principais meios de preservar esta fé no mundo. Mt. 15.13,14 - "Toda planta que o Pai celestial não plantou será arrancada. Deixai-os; são condutores cegos"; = a verdade é plantada por Deus e tem vida divina permanente. Os erros humanos não têm vitalidade permanente e por si mesmos perecem.
4. Teologia Prática é um sistema de verdades considerado como um meio de renovar e santificar o homem ou, em outras palavras, a Teologia em sua disseminação e reforço. Pertencem a este departamento da teologia a Homilética e a Teologia Pastoral, visto que estas são apenas apresentações científicas dos métodos corretos de desdobrar a verdade cristã e de trazer aos homens e à igreja. Às vezes se afirma que há outros departamentos da teologia não incluídos nos acima mencionados. Porém eles, em sua maioria, senão todos eles, pertencem a outras esferas da pesquisa e não podem apropriadamente ser classificados dentro da teologia. A assim chamada Teologia moral, ou ciência da moral cristã, ética, ou ética teológica, na verdade, é o resultado da teologia, mas não deve confundir-se com ela. A assim chamada teologia especulativa, que trata a verdade como matéria de opinião, ou é extraescriturística e assim pertence ao campo da filosofia da religião, ou é uma tentativa de explicar a verdade já revelada e, deste modo, entra no campo da Teologia Sistemática. "A teologia especulativa parte de alguns princípios a priori, e deles empreende determinar o que é e o que deve ser. Deduz seu esquema da doutrina das leis da mente ou de axiomas que supõe operar-se em sua constituição". Bíblia Sacra, 1852.376 - "A teologia especulativa tenta mostrar que os dogmas concordam com as leis do pensamento enquanto a filosofia da religião tenta mostrar que as leis do pensamento concordam com os dogmas". A Enciclopédia (a palavra significa "instrução em círculo") Teológica é uma introdução geral a todas as divisões da Teologia,
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juntamente com um cômputo das relações entre elas. A Enciclopédia de Hegel era uma tentativa de apresentar os princípios e conexões de todas as ciências. As relações da teologia com a ciência e a filosofia têm sido variadamente estabelecidas, mas nenhuma melhor do que a de H. B. Smith, Faith and Philosophy, 18 - "A filosofia é um modo do conhecimento humano - não o conhecimento todo, mas um modo dele - o conhecimento racional das coisas". A ciência pergunta: "O que conheço?" A filosofia pergunta: "O que posso conhecer?" William James, Psychology, 1.145 - "A metafísica não significa nada senão um incomum esforço obstinado de pensar claramente". Aristóteles: "As ciências em particular são o operário que trabalha com afinco enquanto a filosofia é o arquiteto. Os operários são escravos; existe para eles um senhor livre. Deste modo é que a filosofia governa a ciência". Com relação à filosofia e à ciência Lorde Bacon assinala: "Aqueles que têm manejado o conhecimento têm sido homens ou observadores ou raciocinadores abstratos. Aqueles são como a formiga: só coletam o material e o põe em uso imediato. Os raciocinadores abstratos são como as aranhas que fazem as teias da sua própria substância. Mas a abelha assume um meio termo: ela colhe seu material das flores do jardim e do campo e o transforma e digere o que ajuntou através da sua própria força. Não difere da obra do filósofo". Novalis: "A filosofia pode não assar nenhum pão; mas ela pode apresentar-nos Deus, liberdade e imortalidade". Prof. De Witt de Princeton: "A ciência, a filosofia e a teologia são os três grandes modos de organizar o universo em um sistema intelectual. A ciência nunca desce abaixo das causas secundárias; se já não é mais ciência, - torna-se filosofia. A filosofia encara o universo uma unidade e a sua meta é sempre procurar encontrar a fonte e o centro desta unidade - o Absoluto, a Causa Primeira. Tal meta da filosofia é o ponto de partida para a teologia. O que a filosofia está lutando para achar, a teologia afirma que já achou. Por isso a teologia parte do Absoluto, a Causa Primeira". W. N. Clarke, Christian Theology, 48 – "A ciência examina e classifica oi a filosofia inquire os meios espirituais. A ciência procura conhecer o universo; a filosofia, entendê-lo".
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Balfour, Foundations of Belief, 7 - "A ciência natural tem como assunto as coisas materiais e eventos. A filosofia é a apresentação sistemática das bases do nosso conhecimento. A metafísica é o nosso conhecimento sobre as realidades não fenomenais, i.e., Deus e a alma". Knight, Essays it Philosophy, 81 - "O alvo das ciências é o crescimento do conhecimento através da descoberta de leis em que todos fenômenos podem ser incluídos e por meio dos quais podem ser explicados. Por outro lado, o alvo da filosofia é explicar as ciências incluindo-as e, ao mesmo tempo, transcendendo-as. A substância e essência são a sua esfera". Bowne, Theory of Thoughtand Knowledge, 3-5 - "Filosofia = doutrina do conhecimento (é a mente passiva ou e conhecimento? - Epistemologia) + doutrina do ser (é fundamental q mecânica e não inteligente, ou proposicional e inteligente? – Metafísica). Os sistemas de Locke, Hume e Kant são proeminentemente teorias do cimento; os sistemas de Spinoza e de Leibnitz são proeminentemente do ser. Historicamente as teorias do ser vêm em primeiro lugar porque o objetivo é o único determinante do pensamento reflexo. Porém o instrumento da filosofia é o próprio pensamento. Então, em primeiro lugar, devemos estudar a Lógica, ou a teoria do pensamento; em segundo lugar, a Epistemologia, a teoria do conhecimento; em terceiro, a Metafísica, teoria do ser". Prof. George M. Forbes sobre a Nova Psicologia: "Locke e Kant relatam as duas tendências da filosofia - por um lado, a empírica, física, científica, e, por outro, a racional, metafísica, lógica. Locke fornece a base esquemas associativos de Hartley, Mills e Bain; Kant para o esquema idealista de Fichte, Schelling e Hegel. As duas não são contraditórias, mas complementares e os escoceses Reid e Hamilton combinam ambas em reação contra o extremo empirismo e o ceticismo de Hume. Hickok, Porter e McCosh representam a escola escocesa na América. É exclusivamente analítica psicologia é a das faculdades; representa a mente como um feixe de facilidades. A filosofia unitária de T. H. Green, Edward Caird, na GrãBretanha e, na América, de W. T. Harris, George S. Morris e John Dewey foi uma reação contra a psicologia das faculdades, sob a influência de Hegel. A segunda reação sob a influência da doutrina herbartiana da apercepção (N.Trad.: = intuição, faculdade de apreender imediatamente pela consciência e sem intermediário lógico, uma idéia, uma verdade) substitui a função pela faculdade tornando todos processos fases da apercepção. G. F. Stout e J.
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Mark Baldwin representam esta psicologia. Uma terceira reação vem da influência da ciência física. Todas tentativas de unificação relegam-se a um hades metafísico. Nada há a não ser estados e processos. A única unidade são as leis da sua coexistência e sucessão. Não existe nada a priori. Wundt identifica a apercepção com a vontade e considera-a como um princípio unitário. Külpe e Titchener não encontram um eu, ou uma vontade, ou uma alma, mas tratam isto como interesses quase sem garantia. A sua psicologia não tem alma. A antiga psicologia era exclusivamente estática, enquanto a nova dá ênfase ao ponto de vista genético. O crescimento e desenvolvimento são as idéias mestras de Herbert Spencer, Preyer, Tracy, e Stanley Hall. William James é explícito, enquanto George T. Ladd é descritivo. Cattel, Scripture, e Münsterberg aplicam os métodos de Fechner e o seu órgão é a Psychological Review. O erro deles está em sua atitude negativista. A antiga psicologia é necessária à suplementação da nova. Tem maior escopo e uma significação mais prática.
III. HISTÓRIA DA TEOLOGIA SISTEMÁTICA 1. Na Igreja do Oriente, pode-se dizer que a Teologia Sistemática teve seu início e fim com João Damasceno (700-760). Inácio (morte, 115 A.D. Tralles, cap. 9) dá-nos "a primeira declaração de fé distinta composta de uma série de proposições. Tal sistematização formou, mais tarde, a base de todos os esforços" (Prof. A. H. Newman). Orígenes de Alexandria (186-254) escreveu o seu Neri 'Acwn; Atanásio de Alexandria (300-373) seu tratado sobre a Trindade e a Divindade de Cristo; e Gregório de Nissa na Capadócia (332-398) seu Aocwov kathchtikóv ó mecav. Hatch, Hibbert Lectures, 323, considera o "De Principiis" de Orígenes como o primeiro sistema completo de dogma", e considera Orígenes como "o discípulo de Clemente de Alexandria, o primeiro grande mestre do cristianismo filosófico". Mas enquanto os Pais mencionados parecem ter concebido o plano de exposição ordenada das doutrinas e mostrar o seu relacionamento de umas com as outras, na verdade, foi João Damasceno (700-760), quem primeiro executou tal plano. Sua Transmissão Exata da Fé Ortodoxa pode ser considerada a mais antiga obra de Teologia Sistemática. Neander chama-a "o mais importante texto doutrinário da Igreja
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Grega". Como a Igreja Grega, em geral, João é especulativo, teológico, semi-pelagiano, sacramentalista. O assim chamado Credo dos Apóstolos, na sua forma presente, não é anterior ao século quinto; ver Schaff, Creeds of Christendom, 1.19. O Sr. Gladstone sugere que o Credo dos Apóstolos é um desenvolvimento da fórmula batismal. McGiffert, Apostles' Creed, atribui à fraca forma original uma data do terceiro quartel do segundo século, e considera provável a origem romana do seu símbolo. Foi estruturado como fórmula batismal, mas não especificamente em oposição aos ensinos de Marcião, que, naquela época causava muita perturbação a Roma. Contudo, Harnack data o Credo Apostólico original no ano de 150 e Zahn em 120.
2. Na Igreja do Ocidente, (com Hagenbach) podemos distinguir três períodos: Período do Escolasticismo, - introduzido por Pedro Lombardo (1100-1160), chegando ao clímax com Tomás de Aquino (1221-1274) e Duns Scotus (1265-1308). Embora a Teologia Sistemática tivesse tido o seu começo na Igreja do Oriente, seu desenvolvimento limitou-se quase totalmente ao Ocidente. Agostinho (353-430) escreveu o seu "Encheiridion ad Laurentium" e a "De Civitate Dei', João Scoto Erígena (morte, 850), Roscelino (1092-1122) e Abelardo (1079-1142), na sua tentativa de uma explicação racional da doutrina cristã prefiguravam as obras dos grandes mestres escolásticos. Anselmo de Cantuária (1034-1109), com seu "Proslogion de Dei Existentia" e "Cur Deus Homo", tem sido, às vezes chamado, embora erroneamente, o fundador do Escolasticismo. Allen, Continuity of Christian Thought, apresenta a transcendência de Deus como o princípio controlador da teologia agostiniana e da Ocidental. A Igreja Oriental, sustenta ele, tinha baseado a sua teologia na imanência de Deus. Paine, Evolution of Trinitarism, mostra que isto é errado. Agostinho era um teísta da linha monista. Ele declara que "Dei voluntas rerum natura est" (N.Trad.: a vontade de Deus é a natureza das coisas), e considera a preservação de Deus uma criação contínua. A teologia ocidental reconhece a imanência de Deus tanto como a sua transcendência. Contudo, Pedro Lombardo (1100-1160), o "magister sententiarum", foi o primeiro grande sistematizador da Igreja Ocidental e seu "Libri
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Sententiarum Quator" foi o livro de texto da Idade Média. Mestres proferiram preleções com base nas "Sentenças" (Sententia = sentença, Satz, locus, ponto, artigo de fé), como fizeram nos livros de Aristóteles, que forneceu ao Escolasticismo seu impulso e direção. Cada doutrina é tratada na ordem das quatro causas de Aristóteles: material, formal, eficiente e final. ("Causa" aqui = requisito: 1) matéria em que uma coisa consiste, p.ex. tijolos e argamassa; 2) forma que assume, p.ex. o plano ou projeto; 3) agente produtor, p.ex., o construtor; 4) a finalidade por que foi feita, p.ex., moradia). A organização da ciência física bem como da teológica deve-se a Aristóteles. Dante o chamou "o mestre dos que conhecem". James Ten Broeke, Bap. Quar. Rev, jan. de 1892.1-26 - "O Avivamento do Aprendizado mostrou ao mundo que o verdadeiro Aristóteles era muito mais aberto que o Aristóteles escolástico - informação muito bem-vinda à Igreja Romana". Para a influência do Escolasticismo, compare os métodos literários de Agostinho e de Calvino, - aquele nos dá o seu material em desordem, como soldados em bivaque durante a noite; este, pondo-os em ordem como os mesmos soldados formados para a batalha. Candlish, art.: Dogmatic, in Encycl. Brit, 7.340 - "Ao lado de uma poderosa força intelectual tem preponderância todo o material dogmático coletado, e crescido sem os grandes sistemas escolásticos, que têm sido comparados com as grandes catedrais góticas obra da mesma época". O dominicano Tomás de Aquino (1221-1274), o "doctor angelicus", agostiniano e realista, - e o franciscano Duns Scotus (1265-1308), "doctor subtilis", elaboraram a teologia escolástica de modo mais completo e deixaram atrás de si, em suas Summae, gigantescos monumentos de indústria intelectual e argúcia. O escolasticismo tinha como alvo a prova e sistematização das doutrinas da Igreja por meio da filosofia de Aristóteles. Por fim, tornou-se um ilimitado charco de sutilezas e abstrações e acabou no ceticismo nominalista de Guilherme de Occan (1270-1347).
b) Período do Simbolismo, - representado pela Teologia Luterana de Filipe Melanchton (1497-1560) e pela Teologia Reformada de João Calvino (1509-1564); aquela em conexão com a Teologia Analítica de
Teologia Sistemática (Strong) 107 Calixto (1585-1656) e esta em conexão com a Teologia Federal de Cocceius (1603-1669). Teologia Luterana — Os pregadores vêm antes dos teólogos; Lutero (1485-1546) era mais pregador do que teólogo. Mas Melanchton (14971560), "o preceptor da Alemanha", como era chamado, incorporava a teologia da Igreja Luterana em suas "Loci Communes" = pontos de doutrina comuns aos crentes (primeira edição agostiniana, depois substancialmente arminiana; um desenvolvimento das preleções sobre a Epístola aos Romanos). Foi seguido de Chemnitz (1522-1586), "claro e preciso", o mais culto dos discípulos de Melanchton. Leonhard Hutter (1563-1616), chamado "Lutherus redivivus" e João Gerhard (1582-1637) seguiram Lutero mais do que Melanchton. "Cinqüenta anos após a morte de Melanchton, Leonhard Hutter, seu sucessor na cadeira de teologia em Wittenberg, numa época quando se apelava para a autoridade de Melanchton, destronava-se da parede o retrato do grande Reformador, e se esmagava sob os pés na presença da assembléia" (E. D. Norris, num jornal por ocasião do 60a aniversário do Seminário de Lane). George Calixto (1586-1656) seguiu Melanchton em vez de Lutero. Ele ensinava uma teologia que reconhecia o lado bom tanto na doutrina reformada como na romanista e a isto chamava "sincretismo". Separava a Ética da Teologia Sistemática e aplicava a esta o método analítico de investigação, começando com o fim, ou a causa final, de todas as coisas, a saber: a bem-aventurança. E em seu método analítico ele foi seguido por Dannhauer (1603-1666), que tratava a teologia de uma forma alegorizante; Calóvio (1612-1686), "o mais intransigente defensor da ortodoxia luterana e o mais drástico polemista contra Calixto"; Quenstedt (1617-1688), que Hovey chama "culto, abrangente e lógico"; e Hollaz (morte em 1730). A teologia luterana tinha como alvo purificar a igreja existente, sustentando que aquilo que não é contra o evangelho é por ele. Dava ênfase ao princípio material da Reforma: a justificação pela fé; mas conservava muitos costumes romanistas não proibidos expressamente na Escritura. Kaftan, Am. Jour. Theol., 1900.716 - "Porque a filosofia escolar medieval sustentava principalmente o emprego da arma, a teologia protestante, representando a nova fé, acomodava-se necessariamente ao conhecimento por ela condicionado, isto é, as formas essencialmente católicas".
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Teologia Reformada - A palavra 'Reformada" é aqui empregada no sentido técnico, designando aquela fase da nova teologia que se originou na Suíça. O reformador suíço Zwínglio (1484-1531), diferindo de Lutero quanto à Ceia do Senhor e quanto à Escritura, mais do que Lutero era chamado pelo nome de teólogo sistemático. Alguns dos seus escritos podem ser considerados o começo da teologia reformada. Mas coube a João Calvino (1509-1564), após a morte de Zwínglio, pôs em ordem os princípios daquela teologia em forma sistemática. Calvino cavou canais para que o dilúvio de Zwínglio fluísse, como aconteceu com Melanchton em relação a Lutero. Seus Institutos (Institutio Religionis Christianae), é uma das maiores obras de teologia (como obra sistemática superior à "Loci" de Melanchton). Calvino foi seguido por Pedro, o Mártir (1500-1562), Chamier (1565-1621) e Teodoro Beza (1519-1605). Beza levou a doutrina calvinista da predestinação ao extremo do supralapsarianismo, que é mais hipercalvinista do que calvinista. Cocceius (1603-1669) e, depois dele, Witsius (1626-1708) fizeram da teologia o centro em torno da idéia dos concertos e fundaram a teologia Federal. Leydecker (1642-1721) tratou da teologia na ordem das pessoas da Trindade. Amiraldo (1596-1664) e Plaques de Saumur (1596-1632) modificaram a doutrina calvinista, esta através da teoria da imputação mediata e aquela através da defesa do hipotético universalismo da graça divina. Turrettin (1671-1737), esclarecido e poderoso teólogo cuja obra ainda hoje é livro de texto em Princeton e Pictet (1655-1725), ambos federalistas mostram a influência da filosofia cartesiana. A teologia reformada tinha como alvo edificar uma nova igreja, afirmando que o que não deriva da Bíblia é contra ela. Dava ênfase ao princípio formal da Reforma: a autoridade única da Escritura. Em geral, enquanto a linha entre católicos e protestantes na Europa corre do Ocidente para o Oriente, a linha entre os luteranos e reformados corre do sul para o norte; a teologia reformada flui com a corrente do Reno para o norte a partir da Suíça para a Holanda e para a Inglaterra, na qual os trinta e nove Artigos representam a fé reformada, conquanto o Livro de Oração da Igreja Inglesa é substancialmente arminiano.
c) Período da Crítica e da Especulação, - nas suas três divisões: a Racionalista, representada por Semler (1725-1791); a Transitória, por
Teologia Sistemática (Strong) 109 Schleiermacher (1768-1834); a Evangélica por Nitzsch, Müller, Tholuck e Dorner. Primeira Divisão. Teologias racionalistas: Apesar de a Reforma, em grande parte, ter livrado a teologia dos laços do escolasticismo, após um certo tempo vieram outras filosofias. O exagero das forças da religião natural Leibnitzianas e Wollfianas abria o caminho para os sistemas racionalistas de teologia. Buddeus (1667-1729) combatia os novos princípios, mas a teologia de Semler (1725-1791) foi edificada sobre eles e representava as Escrituras como tendo um caráter simplesmente local e temporário. Michaelis (17161784) e Doederlein (1714-1789) seguiram Semler e a filosofia crítica de Kant (1724-1804) para quem "a revelação era problemática e a religião positiva simplesmente um meio através do qual comunicam-se as verdades práticas, assistiu grandemente a tendência para o racionalismo" (Hagenbach, Doctrine Hist, 2.397). Ammon (1766-1850) e Wegscheider (1771-1848) representavam esta filosofia. Daub, Marheinecke e Strauss (1808-1874) eram dogmáticos hegelianos. O sistema de Strauss assemelhava-se "a teologia cristã como o cemitério assemelha-se a uma cidade". Storr, (17461805), Reinhard (1753-1812) e Knapp (1753-1825), empenhados em reconciliar a revelação com a razão, no centro evangélico, porém não eram mais nem menos influenciados pelo espírito racionalizante. Pode-se dizer que Bretschneider (1776-1828) e De Wette (1780-1849) tinham defendido uma base intermédia. Segunda Divisão. Transição para uma teologia mais escriturística. Herder (1744-1803) e Jacobi (1743-1819), com a sua filosofia mais espiritual, prepararam o caminho para Schleiermacher (1768-1834) formar a base da sua doutrina nos fatos da experiência cristã. Os escritos de Schleiermacher marcaram época e tiveram grande influência no livramento que a Alemanha teve das armadilhas do racionalismo em que ela havia caído. Agora podemos falar de uma. Terceira Divisão - e nesta podemos mencionar os nomes de Neander e Tholuck, Twesten e Nitzsch, Müller e Luthardt, Dorner e Philippi, Ebrard e Thomasius, Lange e Kahnis, todos eles expoentes de uma teologia bem mais pura e evangélica do que era comum na Alemanha de um século atrás. Contudo, duas novas formas de racionalismo apareceram na Alemanha:
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uma baseada na filosofia de Hegel, que contava entre os seus seguidores Strauss e Baur, Biedermann, Lipsius e Pfleiderer; a outra baseada na filosofia de Kant e defendida por Ritschl e seus seguidores: Harnack, Hermann e Kaftan; aquela dava ênfase ao Cristo ideal e esta ao histórico; porém nenhuma delas reconhecia plenamente o Cristo vivo presente em cada crente (ver Johnson's Cyclopaedia, art. Theology, de A. B. Strong).
3. Entre os teólogos de pontos de vista diferentes da fé protestante prevalecente, podem ser mencionados os seguintes: a) BELARMINO (1542-1621), Católico Romano. Além de Belarmino, "o mais controvertido escritor da sua época" (Bayle), a Igreja Católica Romana conta entre os seus notáveis teólogos: Petávio (1583-1652), cuja teologia dogmática Gibbon chama de "uma obra de incrível labor e alcance"; Melchior Canus (1523-1560), um opositor dos jesuítas e seus métodos escolásticos; Bossuet (1627-1704), que idealizou o catolicismo em sua Exposição da Doutrina e atacou o protestantismo na sua História das Igrejas Protestantes; Jansen (1585-1638), que tentou, em oposição aos jesuítas, reproduzir a teologia de Agostinho, e que contou no seu poderoso auditório com Pascal (1623-1662). O jansenismo, no que se refere às doutrinas da graça, mas não aos sacramentos, é o protestantismo virtual dentro da Igreja Católica Romana. O Simbolismo de Moehler, as "Prelectiones Theologicae" de Perrone e o "Compendium Theologiae Dogmaticae" de Hurter são as últimas e as exposições de maior aprovação da Doutrina Católica Romana.
b) ARMÍNIO (1560-1609), o opositor da doutrina da predestinação. Entre os seguidores de Armínio deve-se contar Episcopius (15831643), que levou o arminianismo aos extremos do pelagianismo; Hugo Grotius (1553-1645), jurista, estadista, autor da teoria governamental da expiação; e Limborch (1633-1712), o mais completo expositor da doutrina arminiana.
Teologia Sistemática (Strong) 111 c) LÉLIO SOCÍNIO (1525-1562) e FAUSTO SOCÍNIO (1539-1604), líderes do movimento unitário. As obras de Lélio Socínio e do seu sobrinho, Fausto Socínio constituíram-se no início do unitarismo moderno. Lélio Socínio era pregador e reformador e Fausto Socínio, o teólogo; ou, como se expressa Baumgarten Crusius: "aquele foi o fundador do socianismo e este o fundador da seita". Os seus escritos est]ao coletados na Bibliotheca Fratrum Polonorum. O Catecismo Racoviano, que tomou este nome devido à cidade polonesa de Racow, contém a mais resumida exposição dos pontos de vista deles. Em 1660, a Igreja Unitária dos Coccíneos, na Polônia, foi destruída por uma perseguição; uma ramificação dela, na Hungria, conta com mais de cem congregações.
4. Teologia Britânica, representada pelos seguintes grupos: a) Os Batistas, John Bunyan (1628-1688), John Gill (1697-1771) e Andrew Fuller (1754-1815). Parte da melhor teologia britânica é batista. Entre as obras de John Bunyan, podemos mencionar "Verdades Abertas do Evangelho", apesar de que "O Peregrino" e a "Guerra Santa" são tratados teológicos em forma alegórica. Macaulay chama Milton e Bunyan de as duas mentes criativas da Inglaterra durante a última parte do século XVII. "O Organismo da Divindade Prática" de J. Gill apresenta muita habilidade, apesar de que o aprendizado rabínico do autor apresenta-se numa curiosa exegese, como na análise da palavra "Abba" ele assinala: "Vós vedes que esta palavra que significa 'Pai' é lida da mesma forma para frente ou para trás; o que sugere que Deus é o mesmo e de qualquer modo que o vemos". "As Cartas sobre a Divindade Sistemática" de Andrew Fuller são um breve compêndio de teologia. Seus tratados sobre doutrinas especiais são marcados por um sadio juízo e um claro discernimento. Eles foram o mais influente fator de salvaguarda contra o antinomismo nas igrejas evangélicas da Inglaterra. Justificam o epíteto que Robert Hall, um dos maiores pregadores batistas, lhe deu: "sagaz", "esclarecido", "poderoso".
Teologia Sistemática (Strong) 112 b) Os Puritanos John Owen (1616-1683), Richard Baxter (16151691), . ii in Howe (1630-1705) e Thomas Ridgeley (1666-1734). Owen foi o mais rígido, do mesmo modo que Baxter o mais liberal dos puritanos. A Enciclopédia Britânica assinala: "Como pensador e escritor teológico, John Owen mantém o seu próprio lugar distintamente definido entre aqueles titânicos intelectos dos quais a época era abundante. Ultrapassado por Baxter no assunto e no sentimento por Howe na imaginação e na mais elevada filosofia, não tem rival no poder do desdobramento dos ricos sentidos da Escritura. Nos seus escritos foi proeminentemente o grande teólogo". Baxter escreveu um "Methodus Theologiae", e uma "Teologia Católica"; John Howe é conhecido principalmente por seu "Templo Vivo"; Thomas Ridgeley por seu "Corpo da Divindade". Charles H. Spurgeon nunca deixou de estimular os seus estudantes a se familiarizarem com os Puritanos Adams, Ambrósio, Bowden, Manton e Sibbes.
c) Presbiterianos escoceses TOMÁS BOSTON (1676-1732), JOHN DICK (1764-1833) e THOMAS CHALMERS (1780-1847). Dos presbiterianos escoceses, Boston é o mais prolífico, Dick o mais calmo e justo, Chalmers o mais fervoroso e popular.
d) Os Metodistas JOHN WESLEY (1703-1791) e RICHARD WATSON (1781-1833). Dos metodistas, a doutrina de John Wesley encontra-se presente na "Teologia Cristã", coletada dos seus escritos pelo Rev. Thornley Smith. O maior livro de texto metodista é "Institutos" de Watson, que sistematizou e expôs a teologia wesleyana. Pope, recente teólogo inglês, segue o arminianismo modificado e aprimorado de Watson, enquanto Whedon e Raymond, escritores americanos recentes, defendem um arminianismo radical e extremo.
Teologia Sistemática (Strong) 113 e) Quacres [quakers], GEORGE FOX (1624-1691) e ROBERT BARCLAY (1648-1690). Como Jesus, o pregador e reformador, precedeu o teólogo Paulo; como Lutero, precedia Melanchton; como Zwínglio precedia Calvino; como Lélio Socínio precedia Fausto Socínio; como Wesley precedia Watson; assim Fox precedia Barclay. Barclay escreveu uma "Apologia à Verdadeira Divindade Cristã", que o Dr. E. G. Robinson descreve como "um tratado não formal de Teologia Sistemática, porém a mais hábil exposição dos pontos de vista dos Quacres". George Fox era reformador, William Penn o fundador social, Robert Barclay, o teólogo dos quacres.
f) Clérigos ingleses, RICHARD HOOKER (1553-1600), GILBERT BURNET (1643-1715) e JOHN PEARSON (1613-1686). A igreja inglesa não produziu nenhum grande teólogo sistemático (veras razões em Dorner, Geschichte der Protest. Theologie, 470). O judicioso Hooker ainda é o seu maior escritor teológico, apesar de que a sua obra encontra-se apenas na "Política Eclesiástica". O Bispo Burnet é o autor da "Exposição dos XXXIX Artigos", e a "Exposição do Credo" do Bispo Pearson. Ambos são livros de textos ingleses comuns. Um recente "Compêndio de Teologia Dogmática" de Litton mostra uma tendência para a volta do arminianismo comum da Igreja Anglicana para o velho agostinianismo; assim também os "Esboços da Doutrina Cristã' do Bispo Moule e a "Fé do Evangelho" de Mason.
5. Teologia Americana, em duas linhas: a) O sistema Reformado de Jonathan Edwards (1706-1758), modificado sucessivamente por Joseph Bellamy (1719-1790), Samuel Hopkins (1721-1803), Timothy Dwight (1752-1817), Nathanael Emmons (1745-1840), Leonard Woods I IS54), Charles G. Finney (1792-1875), Nathanael W. Taylor (1786-1858) e Horace Bushnell
Teologia Sistemática (Strong) 114 (1802-1876). O calvinismo assim modificado, é freqüentemente chamado de teologia da Nova Inglaterra, ou da Nova Escola. Jonathan Edwards, um dos maiores metafísicos e teólogos, é um idealista que sustenta que Deus é a única verdadeira causa, quer no reino da matéria, quer no da mente. Ele considera o principal bem como felicidade - uma forma de sensibilidade. A virtude é a escolha voluntária deste bem. Por isso a união com Adão nos atos e exercícios é suficiente. Esta vontade de Deus causou a identidade do ser com Adão. Isto conduziu ao sistema de exercício de Hopkins e Emmons, por um lado, e à negação da parte de Belamy e de Dwight de qualquer atribuição do pecado de Adão ou depravação inata, por outro lado - em que com a última negação concordam muitos outros teólogos da Nova Inglaterra que rejeitam o esquema de exercício, como, p.ex. Strong, Tyler, Smally, Burton, Woods e Park. O Dr. N. W. Taylor acrescenta um elemento mais distintamente arminiano: o poder da escolha contrária - e com este ensino da teologia de New Haven, Carlos Finney, de Oberlin, substancialmente concorda. Horace Bushnell praticamente sustenta o ponto de vista sabeliano da Trindade, e a teoria de uma influência moral na expiação. Assim, a partir de certos princípios admitidos por Edwards, que sustenta principalmente a teologia da Velha Escola, desenvolveu-se a Nova Escola. Robert Hall chamava Edwards "o maior do filhos dos homens". O Dr. Chalmers considerava-o como "o maior dos teólogos". O Dr. Fairbairn diz: "Ele não é apenas o maior de todos os pensadores que a América produziu, mas também o mais elevado gênio especulativo do século dezoito. Em um grau bem mais elevado que Spinoza ele era 'um homem intoxicado de Deus'". Sua noção fundamental de que não há nenhuma causalidade senão a divina tornou-se a base de uma teoria da necessidade que está nas mãos dos deístas a que ele se opõe e que é estranha não só ao cristianismo, mas também ao teísmo. Edwards não podia ter recebido o seu idealismo de Berkeley; pode ter-lhe sido sugerido pelos escritos de Locke ou de Newton, Cudworth ou Descartes, John Norris ou Arthur Collier.
b) O velho Calvinismo representado por CHARLES HODGE, o pai, (1797-1878) e A. A. HODGE, o filho, (1823-1886), juntamente com
Teologia Sistemática (Strong) 115 HENRY B. SMITH (1815-1877), ROBERT J. BRECKINRIDGE (1800-1871), SAMUEL J. BAIRD e WILLIAM G. T. SHEDD (1820-1894). Todos estes, apesar das pequenas diferenças, sustentavam pontos de vista sobre a depravação humana e graça divina em mais próxima conformidade com a doutrina de Agostinho e Calvino e por esta razão se distinguem dos teólogos da Nova Inglaterra e seus seguidores pelo título popular de Velha Escola. A teologia da Velha Escola, com o seu ponto de vista da predestinação, exalta Deus; a teologia da Nova Escola, dando ênfase à livre vontade, exalta o homem. Ainda mais importante é notar que a Velha Escola tem como doutrina característica a culpa pela depravação inata. Mas entre os que sustentam tal ponto de vista, uns são federalistas e criacionistas e justificam a condenação de todos os homens por Deus baseados em que Adão representava a sua posteridade. Em geral são teólogos de Princeton, incluindo Charles Hodge, A. A. Hodge, e os irmãos Alexander. Contudo, entre os que sustentam a doutrina da Velha Escola sobre a depravação inata, há outros que são traducionistas e justificam a aplicação do pecado de Adão à sua posteridade baseados na união natural entre aquele e esta. O "Elohim Revelado" de Baird e o ensaio de Shedd sobre o pecado original (Pecado como natureza e a culpa da natureza) representam esta concepção realista do relacionamento da raça com o seu pai. R. J. Breckenridge, R. L. Dabney e J. H. Thornwell defendem o fato da corrupção inerente e culpa, mas recusam-se a admitir qualquer razão para isso, embora tendam para isso. H. B. Smith sustenta firmemente a teoria da atribuição mediata. IV. ORDEM DE TRATAMENTO NA TEOLOGIA SISTEMÁTICA
1. Vários métodos de ordenação dos tópicos de um sistema teológico a) O método analítico de Calixto começa com o admitido fim de todas as coisas, bênçãos e daí passa para o sentido pelo qual ele é assegurado.
Teologia Sistemática (Strong) 116 b) O método trinitário de Leydecker e Martensen considera a doutrina cristã uma manifestação sucessiva do Pai, do Filho e do Espírito Santo. c) O método federal de Cocceius, de Witsius e de Boston trata a Teologia sob duas alianças. d) O método antropológico de Chalmers e Rothe; aquele começa com a doença do homem e passa para o remédio; este, dividindo a sua dogmática em consciência do pecado e consciência da redenção. e) O método cristológico de Hase, Tomasius e Andrew Fuller trata de Deus, do homem, como pressuposições da pessoa e obra de Cristo. Também pode-se fazer menção do: f) método histórico seguido por Ursino e adotado pela História da redenção de Jonathan Edwards e o g) método alegórico de Dannhauer, no qual o homem é descrito como um peregrino, a vida como uma estrada, o Espírito Santo como uma luz, a igreja como um candeeiro, Deus como o fim e o céu como o lar; do mesmo modo é a Guerra Santa de Bunyan e o Templo Vivo de Howe. A conhecida Hist, of Redemption de Jonathan Edwards "era na realidade um sistema de teologia em forma histórica. Ela "começava e terminava com a eternidade, com todos os grandes eventos e épocas do tempo sendo visto 'sub specie eternitatis'. As três palavras - céu, terra e inferno - seriam as cenas deste grande drama. Era para incluir os tópicos da teologia como fatores vivos, cada um deles em seu próprio lugar", e formando um todo completo e harmonioso; ver Allen, Jonathan Edwards, 379,380.
2. O Método Sintético Que adotamos neste compêndio, é o mais comum e mais lógico de pôr em ordem os tópicos da teologia. Parte da causa para o efeito, ou, empregando a linguagem de Hagenbach (História da Doutrina), "começa
Teologia Sistemática (Strong) 117 com mais elevado princípio, que é Deus, e destina-se ao homem, Cristo, a redenção e, para encerrar, o fim de todas as coisas". Em tal forma de tratar a teologia, podemos pôr em ordem os nossos tópicos na seguinte disposição: 1o A existência de Deus. 2o As Escrituras, uma revelação de Deus. 3o Natureza, decretos e obras de Deus. 4o O homem, semelhança original com Deus e subseqüente apostasia. 5o A redenção através da obra de Cristo e do Espírito Santo. 6o Natureza e leis da igreja de Cristo. 7° O fim do atual sistema de coisas.
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Parte II - A EXISTÊNCIA DE DEUS Capítulo I ORIGEM DA NOSSA IDÉIA DA EXISTÊNCIA DE DEUS Deus é o Espírito infinito e perfeito em quem todas as coisas têm sua fonte, Outras definições; Calovius: "Essentia spiritualis infinita"; Ebrard: "A fonte eterna de tudo o que é temporal"; Kahnis: "O Espírito infinito"; John Howe: "Um ser eterno, não causado, independente, necessário, que tem poder ativo, vida, sabedoria, bondade e qualquer outra excelência na mais elevada perfeição em si e de si mesma"; Catecismo de Westminster: "Um Espírito infinito, eterno, imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade"; Andrew Fuller: "A primeira causa e o último fim de todas as coisas".
A existência de Deus é uma verdade primeira; em outras palavras, o conhecimento direto da existência de Deus é uma intuição racional. Logicamente precede e condiciona toda a observação e raciocínio. Cronologicamente, só o reflexo sobre os fenômenos da natureza e da mente ocasiona seu surgimento na consciência. O termo intuição significa somente o conhecimento direto. Lowndes (Phil. Of Primary Beliefs, 78) e Mansel (Metaphysics, 52) empregam o termo apenas para designar o nosso conhecimento direto das substâncias, como o eu e o corpo; Porter aplica-o, de preferência, ao nosso conhecimento das primeiras verdades como já foram mencionadas. Harris (Philos. Basis of Theism., 44-151, esp. 45,46) inclui ambos. Ele divide as intuições em duas classes: 1. Presentes, como a autoconsciência (em virtude da qual percebo a existência do espírito e já entro em contato com o sobrenatural), e a percepção através do sentido (em virtude da qual percebo a existência da matéria, ao menos em meu próprio organismo e entro em contato com a natureza); 2. Racionais, como espaço, tempo, substância, causa, causa
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final, justiça, ser absoluto. Podemos aceitar esta nomenclatura, empregando os termos "primeiras verdades" e "intuições racionais" como equivalentes uma à outra, classificando as intuições racionais sob o título de 1) intuições de relações, como espaço e tempo; 2) intuições de princípios, como substância, causa, causa final, justiça; e 3) intuição do Ser absoluto, Poder, Razão, Perfeição, Personalidade, como Deus. Sustentamos que, na ocasião em que os sentidos conhecem a) a extensão da matéria, b) sucessão, c) qualidades, d) mudança, e) ordem, f) ação, respectivamente, a mente conhece (a) espaço, (b) tempo, (c) substância, (d) causa, (e) desígnio, (f) obrigação, ao conhecermos nossa adequação, dependência e responsabilidade, a mente conhece diretamente a existência de uma Autoridade Infinita e Absoluta, Perfeição, Personalidade de que dependemos e perante a qual somos responsáveis. Bowne, Theory of Thought and Knowledge, 60 - "Quando andamos em completa ignorância dos nossos músculos, pensamos, com freqüência, na ignorância completa dos princípios que fundamentam e determinam o pensamento. Porém como a anatomia revela que o ato aparentemente simples de andar envolve uma atividade muscular altamente complexa, do mesmo modo a análise revela que o ato aparentemente simples de pensar envolve um sistema de princípios mentais". Dewey, Psychology, 238,244 "A percepção, a memória, a imaginação, a concepção - cada uma delas é um ato de intuição. ... Cada ato concreto do conhecimento envolve uma intuição de Deus". Martineau, Types, 1.459 - A tentativa de despojar a experiência de cada um dos preceitos ou intuições é "como a tentativa de raspar uma bolha na pesquisa das suas cores e seu conteúdo: in tenuem ex oculis evanuit auram"; (N.Trad.: desaparece dos olhos com a suave brisa) Study, 1.199 - "tente com todas as suas forças fazer algo difícil, p.ex., fechar a porta contra o furioso vento e você reconhecerá o Eu e a Natureza vontade causai, contra a causalidade externa; 65 - "Como a Percepção nos dá a Vontade na forma de causalidade contra nós no não eu, assim a Consciência nos dá a Vontade na forma de Autoridade contra nós no não eu"; Types, 2.5 - "Na percepção, é o eu e a natureza, na moral o eu e Deus, que frente a frente estão em antítese subjetiva e objetiva"; Study, 2.2,3 - "Na experiência volitiva enfrentamos a causalidade objetiva; na experiência moral, a autoridade objetiva, - ambas são objeto do conhecimento imediato, no mesmo nível de certeza que a apreensão do mundo material exterior.
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Não conheço nenhuma vantagem lógica que a crença nos objetos finitos possa ostentar sobre a crença na Causa infinita e justa de tudo"; 51 - "No reconhecimento de Deus como causa destacamos a Universidade; no reconhecimento de Deus como Autoridade, destacamos a Igreja". Kant declara que a idéia de liberdade é a fonte da nossa idéia de personalidade; esta consiste na liberdade da alma inteira sobre o mecanismo da natureza. Lotze, Metaphysics, par. 244 - "Até onde e até quando conhece a si mesma como idêntica à experiência interior, é, e é chamada tão somente por esta razão, substância". Illingworth, Personality, Human and Divine, 32 -"Nossa concepção de substância não deriva do mundo físico, mas do mental. Antes de nada, substância é aquilo que apóia nossos sentimentos mentais e manifestações". James, Will to Believe, 80 "Como diz Kant, substância significa 'das Beharrliche', o persistente, aquilo que será como tem sido, porque o ser é essencial e eterno". Neste sentido temos uma crença intuitiva em uma substância permanente que apóia os nossos pensamentos e vontade e a isto chamamos alma. Mas temos também uma crença intuitiva om uma substância permanente que apóia todos fenômenos naturais o todos os event história, e este ser denominamos Deus.
I. PRIMEIRAS VERDADES EM GERAL 1. Sua natureza a) Negativamente - Uma verdade primeira não é a) Verdade escrita antes da consciência sobre a substância da alma - pois tal conhecimento passivo implica um ponto de vista materialista da alma; b) O verdadeiro conhecimento de que a alma tem posse no nascimento - pois não se pode provar que a alma o tem; c) Uma idéia, não desenvolvida no nascimento, tem o poder de autodesenvolvimento independentemente da observação e da experiência – pois isto contraria todo o conhecimento das leis do desenvolvimento mental.
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Orígenes, Adv. Celsum, 1.4 - "Os homens não seriam culpados se não tivessem em suas mentes noções comuns de moralidade, inatas e escritas com letras divinas". Calvino, Institutes, 1.3.3 - "Os que julgam corretamente sempre concordarão em que há um indelével senso de divindade inscrito nas nossas mentes". Fleming, Vocab. of Philosophy, art.: "Idéias inatas" "Supõe-se que Descartes tenha pensado (e Locke dedicou o primeiro livro dos seus Ensaios à refutação da doutrina) que as idéias são inatas ou conatas à alma; i.e., o intelecto acha a si mesmo no nascimento, ou tão logo desperta para a atividade consciente a fim de ser possuído de idéias às quais cabe-lhe apenas atribuir nomes adequados, ou juízos que ele apenas precisa expressar em pressuposições adequadas - i.e., antes de qualquer experiência sobre cada objeto". Royce. Spirit of Modem Philosophy, 77 - "Descartes ensina que, em certas famílias, a boa conduta e a queda são inatas. Contudo, naturalmente, os filhos de tais famílias precisam ser instruídos nas boas maneiras e as crianças, aprendendo a andar, parecem perfeitamente felizes por estarem livres da queda. Do mesmo modo a geometria nos é inata, mas não vem ao nosso conhecimento sem muito esforço"; 79 – Locke não encontra idéias inatas. Em resposta, ele sustenta que "as crianças, com as suas matracas, não sinais de consciência de que as coisas são iguais às mesmas que são iguais entre si". Shopenhauer diz que "Jacobi tem a banal fraqueza de tomar tudo o que aprendeu e aprovou antes dos quinze anos como idéias inatas da mente humana". Principles of Ethics, 5 - "Ninguém questiona que a experiência dos sentidos condiciona as idéias racionais e são conseqüência dela (i.e., da experiência); do mesmo modo ninguém duvida de que a experiência mostra uma ordem sucessiva de manifestações. Mas o sensacionalista tem sempre apresentado uma curiosa cegueira sobre a ambigüidade de tal fato. Para ele, o que vem depois deve ser uma modificação daquilo que veio antes; contudo, ela pode ser aquilo, e pode ser uma nova manifestação de uma natureza ou lei imanente, apesar de condicionada. Afinidade química não é gravidade, embora aquela não se manifeste até que a gravidade estabeleça certas relações entre os elementos".
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Pfleiderer, Philosophy of Religion, 1.103 - "Este princípio não se encontrava no começo na consciência do homem; pois, para produzir idéias no pensamento, a razão, que no primeiro homem da raça podia ser de tal modo pequena como nas crianças, precisa desenvolver-se claramente. Contudo, isto não exclui o fato de que havia desde o começo o impulso racional inconsciente que é base da formação da crença em Deus, por múltiplos que possam ter sido os motivos que cooperam com ele". O eu implica o mais simples ato de conhecimento. Os sentidos nos apresentam duas coisas, p.ex., preto e branco; mas não posso compará-los sem estabelecer a diferença para mim. Diferentes sensações não fazem nenhum conhecimento, sem um eu que as reúna. Upton, Hibbert Lectures, prel. 2 "Pode-se provar tão facilmente a existência de um mundo exterior ao ser humano que não tem sentidos para percebê-lo, como se pode provar a existência de Deus a alguém que não tem consciência dele".
b) Positivamente - Uma verdade primeira é um conhecimento que, apesar de desenvolvido na ocasião da observação e reflexão, não deriva nem de uma, nem de outra; ao contrário, tem tal prioridade lógica que deve ser assumida ou suposta a fim de tornar possível qualquer observação ou reflexão. Por isso, tais verdades não são primeiro reconhecidas na ordem do tempo; algumas delas são admitidas em um período um tanto tardio no desenvolvimento da mente; para a grande maioria dos homens elas nunca são totalmente formuladas. Contudo, constituem as suposições necessárias nas quais repousa todo o conhecimento, e a mente não só tem a capacidade inata de envolvê-los tão logo se apresentem as ocasiões adequadas, mas o seu reconhecimento é inevitável logo que a mente começa a contar com o seu próprio conhecimento. Mansel, Metaphysics, 52, 279 - "Descrever a experiência como a causa da idéia do espaço seria tão impreciso como falar do solo em que foi plantado, como a causa do carvalho - embora o plantio no solo seja a condição para que se manifeste a força do seu fruto". Coleridge: "Vemos antes de sabermos que temos olhos; mas uma vez tomado conhecimento disso, percebemos que os olhos devem ter preexistido para capacitar-nos a ver". Cole-
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ridge fala das primeiras verdades como "aquelas necessidades da mente ou formas de pensamento, que, embora reveladas a nós pela experiência, devem ter preexistido para torná-la possível". McCosh, Intuitions, 48,49 -As instituições são "como a flor e o fruto, que estão na planta desde o seu embrião, mas não podem ser realmente formados enquanto não tenham existido caule, ramos, e folhas". Porter, Human Intellect, 501,519- "Não se pode conhecer algumas verdades ou assenti-las antes de tudo". Algumas chegam ao fim de tudo. A intuição moral freqüentemente se desenvolve tarde e às vezes, até mesmo, por ocasião de um castigo físico. "Todo homem é tão ocioso quanto lhe permitam as circunstâncias". A nossa ociosidade física é ocasional; nossa ociosidade mental é freqüente; nossa ociosidade moral é incessante. Somos excessivamente ociosos para pensar e especialmente para pensar em religião. Por conta dessa depravação da natureza humana devemos esperar que, finalmente, a intuição para Deus se desenvolva. O homem se esquiva do contato com Deus e de pensar em Deus. Na verdade o seu desagrado da intuição para Deus o leva, não raro, a negar todas as outras intuições, mesmo as de liberdade e de justiça. Daí a moderna "psicologia sem alma". Schurman, Agnosticism and Religion, 105-115 - "A idéia de Deus ... se desenvolve mais tardiamente na consciência clara ... e deve ser mais tardia porque é a unidade da diferença entre o eu e o não eu, porque estes são pressupostos". Mas "ela não tem menor valor em si; não atribui menos fidedigna certeza de realidade que a consciência do eu ou a do não eu.... A consciência de Deus é o prius lógico da consciência do eu e do mundo. Mas, como já se observou, não o (prius) cronológico; porque, conforme a profunda observação de Aristóteles, o que vem em primeiro lugar na natureza das coisas é a ordem do desenvolvimento final. Exatamente porque Deus é o primeiro princípio do ser e do conhecer, ele deve ser o último a manifestarse e a ser conhecido. ... O finito e o infinito são conhecidos simultaneamente e é tão impossível conhecer um sem conhecer o outro como apreender um ângulo sem os lados que o formam".
Teologia Sistemática (Strong) 2. Seus critérios
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São três os critérios pelos quais as verdades primeiras devem ser testadas: a) Sua universalidade. Isto não significa que o homem concorda com elas ou as entenda quando propostas em forma científica, mas que todos os homens manifestam uma crença prática nelas através da linguagem, das ações e das expectações. b) Necessidade. Não significa que é impossível negar estas verdades, mas que a mente é compelida por sua própria constituição a reconhecê-las com base na ocorrência de condições próprias e empregálas em seus argumentos para provar sua não existência. c) Independência e prioridade lógicas. Significa que estas verdades não podem ser resolvidas em nenhuma outra; que elas pressupõem a aquisição de todos os outros conhecimentos e, portanto, não podem derivar de nenhuma outra fonte que não seja um poder cognitivo da mente. Exemplos da negação reconhecida e formal das primeiras verdades: o positivista nega a causalidade; o idealista nega a substância; o panteísta nega a pessoalidade; o necessitário nega a liberdade; o niilista nega a sua própria existência. De igual modo o homem pode argumentar que não há necessidade de uma atmosfera; mas ainda enquanto ele argumenta, ele respira. É um exemplo de argumento arrasador para demonstrar a liberdade da vontade. Admito minha própria existência ao duvidar dela; pois "cogito, ergo sum", como o próprio Descartes insiste, na verdade, significa "cogito, scilicet sum"; H. B. Smith: "Declaração é análise, não prova". Ladd, Philosophy of Knowledge, 59 "O cogito, no latim bárbaro = cogitans sum: pensar é ser consciente de si mesmo". Bentham – "A palavra devo é de impostura de autoridade o precisa ser banida do reino da moral". Spinoza e Hegel, na verdade, negam a consciência própria quando fazem do homem um fenômeno do infinito. Royce assemelha o homem que nega a pessoalidade para aquele quo sai da sua própria casa e declara que
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ninguém mora nela porque, quando olha para dentro da janela, não vê ninguém. O Prof. James, em sua Psychology, admite a realidade de um cérebro, mas recusa-se a admitir a realidade de uma alma. Esta é essencialmente a posição do materialismo. Porém esta suposição de um cérebro é metafísica, embora o autor reivindique estar escrevendo uma psicologia sem metafísica. Lado, Philosophy of Mind, 3 - "O materialista crê na causa própria ao explicar a origem da mente a partir da matéria, mas, quando se lhe pede que veja na mente a causa da mudança física, no mesmo instante ele se torna um simples fenomenalista". Royce, Spirit of Modem Philosophy, 400 - "Eu sei que todos os seres, desde que saibam apenas contar, acham que três e dois são cinco. Talvez os anjos não saibam contar; mas, se eles souberem, este axioma é verdadeiro também para eles. Se eu encontrasse um anjo que declarasse que a sua experiência ocasionalmente havia mostrado que três e dois não são cinco, eu saberia de uma vez que tipo de anjo era ele".
II. A EXISTÊNCIA DE DEUS, UMA PRIMEIRA VERDADE 1. Que o conhecimento da existência de Deus responde ao primeiro critério da universalidade é evidente a partir das seguintes considerações: a) É fato reconhecido que a grande maioria dos homens na verdade tem reconhecido a existência de um ser ou seres espirituais de quem eles supõem depender. Os Vedas declaram: "Há apenas um Ser- não um segundo". Max Müller, Origin and Growth of Religion, 34 - "Não se invocam os seres visíveis, sol, e estrelas, mas algo que não pode ser visto". As tribos inferiores têm consciência, têm medo da morte, crêem em bruxas, fazem propiciação ou exorcizam os maus fados. Mesmo o adorador de fetiche, que chama a pedra ou a árvore um deus, mostra que já tem a idéia de Deus. Não devemos medir as idéias dos pagãos pela sua capacidade de expressão,
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nem julgar a crença da criança na existência do seu pai pelo seu sucesso ao desenhar um quadro dele.
b) As raças e nações que, a princípio, parecem destituídas de tal conhecimento, uniformemente, têm sido encontradas como possuindo-o, de modo que na tribo de que temos conhecimento pode ser considerada desprovida de um objeto de culto. Podemos admitir que tal conhecimento será visto como verdadeiro mais adiante. Moffat, que relata certas tribos africanas destituídas de religião, foi corrigido pelo testemunho do seu genro, Livingstone: "A existência de Deus e de uma vida futura é reconhecida em toda a parte da África". Onde os homens são os mais destituídos de qualquer conhecimento formulado de Deus, as condições do despertar da idéia são as mais ausentes. Uma macieira pode ser de tal modo condicionada que nunca produza maçã. "Não julgamos os carvalhos pelo não crescimento, ou espécimes sem flores nos confins do Círculo Ártico". A presença de um ocasional cego, ou surdo ou mudo não anula a definição de que o homem é uma criatura que vê, ouve e fala. Bowne, Principles of Ethics, 154 - "Não precisamos tremer por causa da matemática, mesmo que se encontrem algumas tribos que desconhecem a tabuada. ... Sempre nos deparamos com a existência sub-moral e subracional no caso de crianças; e, se encontrássemos isto em outra parte, não teria maior importância". Vítor Hugo: "Alguns homens negam o infinito; alguns também negam o sol; são cegos". Gladden, What is Left?, 148 - "O homem pode escapar da sua sombra indo para o escuro; se vem para a luz, ei-la de volta. Do mesmo modo o homem pode ser mentalmente tão indisciplinado que não reconheça estas idéias; mas aprenda ele a utilizar a razão e reflita sobre os seus próprios processos mentais e conhecerá que tais processos são idéias necessárias".
c) Corrobora esta conclusão o fato de que os indivíduos em terras pagas ou cristãs que professam não ter qualquer conhecimento de um
Teologia Sistemática (Strong) 127 poder ou poderes superiores a eles manifestam indiretamente a existência de tal idéia em suas mentes e sua influência positiva sobre eles. Comte diz que a ciência conduz Deus à fronteira e daí o lança fora agradecendo os serviços prestados. Mas Herbert Spencer afirma a existência de uma "Força de que não se concebe limite algum de tempo e de espaço, da qual todos os fenômenos presentes na consciência são manifestações". A intuição de Deus, embora formalmente excluída, está contida implicitamente no sistema de Spencer, na forma de "irresistível crença" num Ser Absoluto, que distingue a sua posição da de Comte; ver H. Spencer, que diz: "Uma verdade deve tornar-se sempre mais clara - uma inescrutável existência manifesta em toda a parte, que nem podemos encontrar e cujo princípio ou fim não podemos conceber - aquela certeza absoluta de que estamos sempre na presença de uma energia infinita e eterna da qual procedem todas as coisas". O Sr. Spencer admite unidade na Realidade subjacente. Frederick Harrison, escarnecendo, pergunta-lhe: "Por que não dizer 'forças' em vez de 'força'?" Enquanto Harrison nos dá um ideal moral supremo sem base metafísica, Spencer dá-nos um princípio metafísico último sem propósito moral final. A idéia de Deus é a síntese das duas: "São apenas luzes que partem de Ti, e tu, ó Senhor, és mais do que elas" (Tennyson, in Memoriam). Sólon fala de Deus como o yeov e como to yeion, e Sófocles como o megav yeov. O termo para Deus é idêntico em todas línguas indoeuropéias e, por isso, pertence a uma época anterior à separação daquelas línguas. Na Eneida de Virgílio, Mezêncio é um ateu e despreza os deuses e confia só na lança e em seu braço direito; mas, quando lhe trazem o cadáver de seu filho, seu primeiro ato é levantar as mãos ao céu. Hume era cético, mas disse a Ferguson, em uma noite estrelada: "Adão, Deus existe"! Voltaire orou numa tempestade trovejante nos Alpes. Shelley escreveu seu nome no livro de visitantes na usada em Montanvert, e acrescentou: "Democrata, filantropo, ateu"; contudo, ele gostava de pensar num "fino espírito penetrando o universo"; e também escreveu: "Aquele permanece, muitos mudam e passam; a luz do Céu brilha sempre, a sombra da terra voa". Strauss adora o Cosmos porque "a ordem e a lei, a razão e a bondade" são a sua alma. Renan confia na bondade, no desígnio, nos fins. Charles
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Darwin, Life, 1.274 - "Nas minhas extremas flutuações, nunca fui ateu, no sentido de negar a existência de Deus".
d) Este acordo entre indivíduos e nações tão amplamente separados no tempo e no espaço pode ser satisfatoriamente explicado supondo que tem sua base, não em circunstâncias acidentais, mas na natureza do homem como tal. As diversificadas e imperfeitamente desenvolvidas idéias do supremo ser que prevalecem entre os homens são levadas em conta de melhor forma como falsas interpretações e perversões de uma convicção intuitiva comum a todos. Huxley, Lay Sermons, 163 - "Há selvagens sem Deus, em qualquer sentido apropriado da palavra; mas não há nenhum sem espíritos". Martineau, Study, 2.353, retruca com propriedade: "Ao invés de fazer outros povos voltarem-se para os espíritos e daí um apropriar-se de nós mesmos [e atribuir outro a Deus, podemos acrescentar] por imitação, partimos do senso de continuidade pessoal, e depois atribuímos os mesmos predicativos de outros, sob as figuras que conservam a maior parte do elemento físico e perecível". 3ANT Allen descreve as mais elevadas religiões como "um grosseiro desenvolvimento de um fungóide", que se reuniu em torno do culto ancestral. Mas o faz derivar o maior do menor. Sayce, Hibbert Lectures, 358 - "Não vejo nenhum traço de culto ancestral na literatura babilônica que tenha sobrevivido até nós" - isto parece fatal para o ponto de vista de Huxley e de Allen de que a idéia de Deus deriva da primitiva crença do homem nos espíritos dos mortos. C. M. Tyler, in Am. Jour. Theol., Jan., 1899.144 "Parece impossível deificar um morto, a não ser que haja uma consciência primitiva embrionária anterior ao conceito de divindade". Renouf, Religion of Ancient Egypt, 93 - "Toda a mitologia do Egito ... gira em torno das histórias de Rá e Osíris. ... Descobriram-se textos que identifi-tm Osíris e Rá. ... Conhecem-se outros textos em que Rá, Osíris, Ámon e outros deuses desaparecem, a não ser como simples nomes, e afirma-se a unidade de Deus na mais nobre linguagem da religião monoteísta". Estes fatos são mais antigos que qualquer culto aos ancestrais. "Eles apontam para na idéia original da divindade acima da humanidade" (ver Hill, Genetic Philosophy, 317). Podemos acrescentar a idéia do
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elemento sobre-humano, antes de considerarmos o animismo ou culto aos ancestrais em uma religião. Tudo o que o homem primitivo via na sua natureza sugeria tal elemento sobre-humano, especialmente a vista dos altos céus e aquilo que ele conhece de causalidade relacionado com eles.
2. Ver-se-ά que o conhecimento da existência de Deus responde ao segundo critério da necessidade, considerando-se: d) Que o homem, sob circunstâncias adequadas à manifestação deste conhecimento, não pode deixar de reconhecer a existência de Deus. A contemplação da existência finita, inevitavelmente sugere a idéia de um ser infinito como seu correlato. Quando a mente percebe a sua finitude, dependência, responsabilidade, imediata e necessariamente percebe a existência de um ser infinito e incondicionado de quem ela depende e perante o qual ela é responsável. Não podemos reconhecer o finito como tal a não ser comparando-o com um padrão já existente - o Infinito. Mansel, Limits of Religious Thought, prel. 3 - Ά constituição da nossa mente nos compele a crer na existência de um Ser Absoluto e Infinito - crença que parece impor um complemento da nossa consciência do relativo e do finito". Fisher, Jour. Chr. Philos., jan. 1883.113 -"O ego e o não ego, cada um condicionado pelo outro, pressupõe um ser não condicionado de que eles dependem. O ser não condicionado é a pressuposição de todo o nosso conhecimento". O ser dependente percebido implica um independente; o independente é perfeitamente autodeterminante; autodeterminação é Personalidade infinita. John Watson, in Philos. Rev., set. 1893.526 - "Não há consciência do eu sem a consciência de outros eus e de outras coisas; não há consciência do mundo sem a consciência da Realidade simples que ambos pressupõem". E. Caird, Evolution of Religion, 64-68 - Cada ato da consciência implica elementos primários: "a idéia do objeto, ou de não eu; a idéia do sujeito, ou do eu; e a idéia da unidade que pressupõe a diferença entre o eu e o não eu que agem e reagem numa relação recíproca".
Teologia Sistemática (Strong) 130 b) Que o homem, em virtude da sua humanidade, tem capacidade para a religião. Tal reconhecida capacidade para a religião é prova de que a idéia de Deus é necessária. Se a mente, na ocasião própria, não desenvolvesse esta idéia, não haveria nada no homem para o que a religião pudesse apelar. "É a sugestão do Infinito que distancia a linha do horizonte, vista acima da terra ou do mar, muito mais do que as belezas de qualquer paisagem limitada". Em situações de choque e de perigo, esta intuição racional tornase cognoscível; o homem se torna cada vez mais consciente da existência de Deus do que da existência dos seus companheiros e instintivamente clama por auxílio da parte de Deus. Nos mandamentos ou reprimendas de natureza moral a alma reconhece um Legislador e Juiz de cuja voz a consciência é simplesmente um eco. Aristóteles chamava o homem de "um animal político"; há mais verdade na declaração de Sabatier, de que "o homem é um religioso incurável". São Bernardo: "Noverim me, noverim te". O. P. Giffort: "Como a nata do leite que, em condições adequadas não sobe, não é leite, do mesmo modo o homem que, no tempo próprio, não apresenta nenhum conhecimento do Deus, não é homem; é bruto'. Entretanto, não se deve esperar nata de um leite congelado. Há necessidade de condições e ambiente próprios. É o reconhecimento de uma personalidade divina na natureza que constitui o maior mérito e encanto da poesia de Wordsworth. Em sua obra Abadia de Tintem, ele fala de "Uma presença que me perturba com a alegria de pensamentos elevados; um senso de algo muito mais profundamente mesclado Cuja moradia é a luz dos sóis poentes e o redondo oceano e o ar vivente, e o céu azul e, na mente do homem: Um movimento e um espírito que impele todas as coisas pensantes, todos os objetivos de todo pensamento, e rola através de todas as coisas". Robert Browning vê Deus na humanidade, como Wordsworth vê Deus na natureza. Na sua HohenstielSchwangau ele escreve: "Eis a glória concebida, ou sentida ou conhecida em todos: Eu tenho uma mente - Não minha, mas como se o fosse - porque é a dupla alegria que faz todas as coisas por mim e eu em seu favor". John Ruskin sustenta que a fonte da beleza no mundo é a presença de Deus. Ele nos diz que, em sua juventude, tinha "uma contínua percepção da santidade
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na natureza toda, desde as menores às mais vastas coisas - um misto instintivo de temor e prazer, uma indefinível comoção tal como às vezes imaginamos indicar a presença de um espírito desencarnado". Porém o Espírito que nós vemos é encarnado. Nitzsch, Christian Doctrine, par. 7 - "A não ser que a consciência inata de Deus como uma predisposição operante preceda a educação e a cultura, nada há que estas consigam realizar".
c) Que aquele que nega a existência de Deus deve tacitamente assumir tal existência em seu próprio argumento, empregando processos lógicos cuja validade se apóia no fato da existência de Deus. A plena prova disto se encontra o subtítulo seguinte. "Deus sabe que eu sou ateu" - é o absurdo que dá início à desaprovação da existência divina. Cutler, Beginnings of Ethics, 22 "Mesmo os niilistas, cujo primeiro princípio é que Deus e o dever são grandes espantalhos a serem abolidos, admitem que Deus e o dever existem e são impelidos pelo senso do dever a aboli-los". Sra. Browning, The Cry of the Human: "'Não há Deus', diz o néscio; Porém ninguém diz: 'Não há tristeza'; Ε a natureza sempre clama por fé; Na amarga necessidade tomará emprestado; Olhos que o pregador não pode ensinar Pelas sepulturas à beira do caminho levantam-se; e os lábios dizem, 'Deus tem piedade', nunca dizem, 'Louvado seja Deus'". Dr. W. W. Keen, chamado para tratar da afasia de um irlandês, disse: "Bem, Dennis, como vai você?" "Oh! doutor, eu não posso falar!" "Mas, Dennis, você está falando". "Oh! doutor, há muitas palavras que eu não sei falar!" "Bem, Dennis, vou tentar ajudá-lo. Veja se você não pode dizer: 'cavalo'". "Oh! querido doutor, 'cavalo' é uma palavra que eu não sei dizer!"
3. Pode-se mostrar que o conhecimento da existência de Deus responde ao terceiro critério da independência lógica e prioridade da seguinte maneira: a) Implica todos outros conhecimentos como condição e fundamentação lógica. A validade dos mais simples atos mentais, tais
Teologia Sistemática (Strong) 132 como percepção sensorial, consciência própria e memória depende da aceitação de que existe um Deus que constituiu as nossas mentes de modo a dar-nos o conhecimento das coisas como são. Pfleiderer, Philos, of Religion, 1.88 - "Não se deve encontrar a base da ciência e do conhecimento em geral, nem no sujeito, nem no objeto per se, mas só no pensar divino a combinar os dois, que, como base comum das formas de ser em Iodas as coisas, possibilita a correspondência entre aquele e este, ou, em urna palavra, possibilita o conhecimento da verdade". 91 "Pressupõe-se a crença religiosa em todo o conhecimento científico, como base da sua possibilidade". Este é o pensamento do SI. 36.9 - "Na tua luz veremos a luz". A. J. Balfour, Foundations of Belief, 303 - "Não se pode provar a uniformidade da natureza a partir da experiência, pois é ela que possibilita a provada experiência. ... Admita-o e acharemos que os fatos se conformam com ela.... 309 - Só se pode estabelecer a uniformidade da natureza com o auxílio desse mesmo princípio que necessariamente está comprometido nas tentativas de prová-lo. ... Deve haver um Deus que justifique a nossa confiança nas idéias inatas". Bowne, Theory of Thought and Knowledge, 276 - "A reflexão mostra que a comunidade de inteligências individuais só é possível através de uma Inteligência totalmente abrangente, originadora e criadora das mentes finitas". A ciência apóia-se no postulado de uma ordem mundial. Huxley: "O objetivo da ciência é a descoberta da ordem racional que permeia o universo". Esta ordem racional pressupõe um Autor racional. Dubois, New Englander, nov. 1890.468 - "Admitimos a uniformidade e a continuidade, ou não podemos ter ciência. Uma Vontade Criativa inteligente é uma hipótese científica genuína [postulado?] que a analogia sugere e a experiência confirma, não contradizendo a lei fundamental da uniformidade, mas explicando-a". Ritchie, Darwin and Hegel, 18 - "A natureza como um sistema é uma suposição subjacente às mais antigas mitologias: preenche esta concepção no objetivo da mais tardia ciência". Royce, Relig. Aspect of Philosophy, 435 - "Existe uma coisa que se chama erro; mas o erro é inconcebível a não ser que haja uma sede da verdade, um Pensamento ou uma Mente que inclui tudo; é por isso que a referida Mente existe".
Teologia Sistemática (Strong) 133 b) Só se pode confiar nos mais complicados processos da mente, tais como a indução e a dedução, supondo uma divindade pensante que fez as várias partes do universo e os vários aspectos da verdade corresponderem-se uns aos outros e às faculdades investigadoras do homem. Argumentamos a partir de uma maçã para com as outras que estão na árvore. A partir da queda de uma maçã Newton raciocinou sobre a gravitação na lua e em todo o sistema solar. A partir da química do nosso mundo Rowland raciocinou sobre a de Sirius. Em todos esses raciocínios admite-se um pensamento unificador e uma Divindade pensante. Este é o "emprego científico da imaginação" de Tyndall. Diz ele: Alimentado pelo conhecimento em parte adquirido e ligado pela cooperação da razão, a imaginação é o mais poderoso instrumento da física; descobridora". O que Tyndall chama de "imaginação" é, na verdade, o discernimento relativo aos pensamentos de Deus, o grande Pensador. O discernimento prepara o caminho para o raciocínio lógico; não é um simples produto do raciocínio. Por esta razão Goethe chama imaginação "Die Vorschule des Denkens", "a pré-escola do pensamento". Peabody, Christianity, the Religion of Nature, 23 - "A indução é um silogismo termo constante são os imutáveis atributos de Deus". Porter, Hum. set, 492 - "A indução apóia-se na suposição, quando demanda como base, que existe uma Divindade pessoal ou pensante"; 658 - "Ela não tem sentido ou validade a não ser que admitamos que o universo é constituído de tal modo que pressupõe um originador não condicionado, mas absoluto de suas forças e leis"; 662 - "Analisamos os vários processos do conhecimento em suas suposições subjacentes e achamos que a subjacente a todas é a de uma Inteligência auto-existente que o homem não só pode, mas deve conhecer para que possa conhecer outras coisas mais". Harris, Philos. Basis of Theism, 81 - Os processos de pensamento reflexivo implicam que o universo se fundamenta na razão e em sua manifestação"; 560 - "A existência de um Deus pessoal é um dado necessário do conhecimento científico".
Teologia Sistemática (Strong) 134 c) Nossa crença primitiva na causa final ou, em outras palavras, nossa convicção de que todas as coisas têm o seu fim, que o desígnio permeia o universo, uma crença na existência de Deus. Admitindo que há um universo, que é um todo racional, um sistema de relações de pensamento, admitimos a existência de um pensador absoluto, de cujo pensamento o universo é expressão. Pfleiderer, Philos, of Religion, 1.81 - "Só se pode pensar no real se se tratar de um pensamento realizado, previamente elaborado, que pode repetir-se. Por isso, o real, para ser objeto do nosso pensamento, deve ter sido realizado a partir da criação, de uma Razão divina eterna que se apresenta ao nosso pensar cognitivo". Royce, World and Individual, 2.41 - "A teologia universal constitui a essência de todos os fatos". A. H. Bradford, The Age of ι, 142 – "O sofrimento e a tristeza são universais. Quer Deus possa ou não impedi-los e, por isso, ele nem é benéfico, nem amoroso; ou será que ele não pode impedi-los e conseqüentemente há alguma coisa maior que Deus e, por isso, não há Deus? Mas eis aqui o emprego da razão no raciocínio individual. O raciocínio no indivíduo necessita a razão absoluta ou universal. Se há uma razão absoluta, então o universo e a história são administrados em harmonia com a razão; nesse caso o sofrimento e a tristeza nem podem ser sem sentido, nem finais, porque seriam uma contradição da razão. Não é possível no universal e absoluto aquilo que, no homem, contradiz a razão".
d) Nossa crença primitiva na obrigação moral ou, em outras palavras, nossa convicção de que o direito tem autoridade universal, envolve a crença na existência de Deus. Admitindo que o universo é um todo moral, admitimos a existência de uma vontade absoluta, de cuja justiça o universo é expressão. Pfleiderer, Philos, of Religion, 1:88 - "A base da obrigação moral não é encontrada nem no sujeito nem na sociedade, mas somente na vontade universal e divina que combina a ambas ... 103 - A idéia de Deus é a unidade da verdade e do bem, ou das duas idéias mais altas que nossa razão pensa como razão teorética, mas requer como razão prática ... Na
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idéia de Deus nós encontramos a única síntese do mundo que é - o mundo da ciência e do mundo que deve ser - o mundo da religião." Seth, Ethical Principles, 425 - "Isto não é uma demonstração matemática. A filosofia jamais é uma ciência exata. É, pelo contrário, oferecida como o único fundamento suficiente da vida moral ... A vida de bondade ... é uma vida baseada na convicção de que sua fonte e sua propagação estão no Eterno e no Infinito." Como verdade e bondade finitas só são compreensíveis à luz de algum princípio absoluto que fornece a elas um padrão ideal, desse modo a beleza finita é inexplicável exceto quando ali existe um padrão perfeito com o qual pode ser comparado. A beleza é mais do que o agradável ou o útil. Proporção, ordem, harmonia, unidade na diversidade - tudo isto são características da beleza. Todas elas, porém, implicam um ser intelectual e espiritual, de quem elas procedem e por quem elas podem ser medidas. Tanto a beleza física quanto a moral, em coisas e seres finitos, são símbolos e manifestações daquele que é o autor e amante da beleza e que é em si mesmo a infinita e absoluta beleza. A beleza na natureza e nas artes mostra que a idéia da existência de Deus é logicamente independente e anterior. Ver Cousin, The True, The Beautiful, and the Good, 140-153; Kant, Metaphysic of Ethics, que sustenta que a crença em Deus é a pressuposição necessária da crença no dever.
Repetindo estes quatro pontos de outra forma - a intuição de uma razão absoluta é a) pressuposição necessária de todos os outros conhecimentos de modo que não podemos conhecer a existência de qualquer coisa sem, antes de mais nada, admitir que Deus existe; b) a base necessária de todo o pensamento lógico de modo que não podemos confiar em qualquer dos nossos processos de raciocínio a não ser admitindo que uma divindade pensante construiu nossas mentes com relação ao universo e à verdade; c) a implicação necessária de nossa crença primitiva no desígnio de modo que podemos admitir que todas as coisas existem com um propósito, fazendo uma pressuposição de que existe um Deus proponente – pode considerar o universo como um pensamento somente postulando a existência de um Pensador absoluto; e d) o fundamento necessário da nossa convicção de obrigação moral de modo que podemos crer na autoridade universal do direito, só admitindo
Teologia Sistemática (Strong) 136 que existe um Deus de justiça que revela sua vontade tanto na consciência do indivíduo como na moral do universo em toda a sua extensão. Não podemos provar que Deus é; mas podemos mostrar que, para a existência de qualquer conhecimento, pensamento, razão, consciência, o homem precisa admitir que Deus é. Eis o que Jacobi diz a respeito do belo: "Es kann gewiesen abor nicht bewiesen werden" - pode-se mostrar, mas não provar. Bowne, Metaphysics, 472 - Ό nosso conhecimento objetivo a respeito do finito deve apoiar-se na confiança ética no infinito"; 480 - "O teísmo é o postulado absoluto de todo conhecimento, ciência e filosofia"; "Deus é o fato mais certo do conhecimento objetivo". Ladd, Biblia Sacra, out. 1877.611-616- "Cogito ergo Deus est. Somos constrangidos a postular um ser que não é nós mesmos e que age em favor da racionalidade assim como da justiça". W. T. Harris: "Até mesmo a ciência natural é impossível, onde a filosofia ainda não ensinou que a razão fez o mundo e que a natureza é a revelação do racional". Pascal: "A Natureza confunde o pirrônico e a Razão confunde o dogmático. Temos uma incapacidade de demonstração que aquele não pode vencer; temos uma concepção da verdade que este não pode perturbar". "Não existe nenhum incrédulo! Qualquer que diz 'Amanhã', Ό Desconhecido', Ό Futuro', confia que a Força sozinha não ousa repudiar". Jones, Robert Browning, 314 - "Na verdade não podemos provar Deus como uma conclusão de um silogismo, porque ele é a primeira hipótese de todas as provas". Robert Browning, Hohenstiel-Schwangau: "Eu sei que ele está ali, como eu estou aqui, com a mesma prova, que parece não provar nada, e isto vai além das formas familiares de prova"; Paracelsus, 27 - "Conhecer consiste em abrir caminho pelo qual o esplendor aprisionado pode escapar em vez de efetuar a entrada de uma luz que se supõe estar do lado de fora". Tennyson, O Santo Graal: "Que as visões da noite ou do dia venham quando quiserem e muitas vezes. ... Nos momentos quando ele sente que não pode morrer e não conhece nenhuma visão de si mesmo, e nenhuma de Deus nos altos, nem daquele Ser que ressuscitou"; O Antigo Sábio, 548, "Tu não podes provar o Inominável, ó meu filho! nem podes provar o mundo em que tu te moves. Tu não podes provar que tu és só um corpo, nem que tu és só espírito, nem que tu és ambos em um. Tu não podes provar que tu
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és imortal, não, nem ainda que tu és mortal. Ora, meu filho, tu não podes provar que eu, que falo contigo, não estou em conversa contigo mesmo. Porque nada que merece prova pode-se provar, nem rejeitar: Portanto, sê sábio, apega-te sempre ao lado mais ensolarado da dúvida e sobe em escalada para a fé além das formas da fé".
III. OUTRAS SUPOSTAS FONTES DA NOSSA IDÉIA Nossa prova de que a idéia da existência de Deus é uma intuição racional o se completará enquanto não mostrarmos que são insuficientes as tentativas de contar, por outros meios, a origem da idéia e requerem como pressuporão a própria intuição que elas suplantariam ou reduziriam a uma posição secundária. Reivindicamos que isto não pode derivar de qualquer outra fonte le não seja uma força cognitiva originária da mente. 1. Não da revelação exterior, quer comunicada a) através das Escrituras, ter b) através da tradição; pois, a menos que o homem tivesse de outra fonte um conhecimento prévio da existência de um Deus a partir do qual pudesse vir uma revelação, esta não teria nenhuma autoridade para ele. a) H. B. Smith, Faith and Philosophy, 18 - "Uma revelação tem como certo que aquele a quem ela se faz tem algum conhecimento de Deus, embora possa ampliá-lo e purificá-lo". Não podemos provar Deus a partir da autoridade das Escrituras e daí provar as Escrituras a partir de Deus. A própria idéia da Escritura como revelação pressupõe a crença em um Deus que pode fazê-la. Newman Smyth, New Englander, 1878.355 - Não podemos derivar do relógio de sol nosso conhecimento da existência de um astro deste tipo. O relógio de sol pressupõe o sol e não pode ser entendido sem um prévio conhecimento deste. Wuttke, Christian Ethics, 2.103 - "A voz do ego divino não vem primeiro à consciência do ego do indivíduo a partir de fora; ao contrário disto, cada revelação externa pressupõe a interna; deve ecoar vindo de dentro do homem algo ligado à revelação exterior para ser reconhecido e aceito como divino".
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Fairbairn, Studies in Philos, of Relig. and Hist, 21.22 - "Se o homem depende da revelação externa para a sua idéia de Deus, então ele deve ter aquilo que, com felicidade, Schelling expressou, denominando de 'um ateísmo original da consciência'. Em tal caso a religião não pode estar enraizada na natureza do homem; ela deve ser implantada a partir de fora". Schurman, Belief in God, 78 - "A revelação primitiva de Deus dotara o homem da capacidade de apreender sua origem divina. Tal capacidade, como qualquer outra, realiza-se apenas na presença de condições apropriadas". Clarke, Christian Theology, 112 - "A revelação não pode demonstrar a existência de Deus, porque deve admiti-la; mas manifestará sua existência e caráter aos homens e lhes servirá como a principal fonte de certeza a respeito de Deus porque lhes ensinará o que não poderiam conhecer por outros meios". b) Nem a nossa idéia de Deus vem primeiramente da tradição porque "esta só pode perpetuar o que já foi originado" (Patton). Se o conhecimento assim transmitido é o de uma revelação primitiva, então, aplica-se o argumento já estabelecido - que a própria revelação pressupunha naqueles que primeiro a receberam e pressupõe naqueles a quem é transmitida algum conhecimento de um ser de quem tal revelação poderia vir. Se o conhecimento assim transmitido é somente o dos resultados dos raciocínios da raça, então o conhecimento de Deus vem originariamente da razão explicação que consideraremos adiante. Semelhantes respostas devem ser dadas a muitas explicações comuns sobre a crença do homem em Deus. "Primus in orbe deos fecit timor" (Primeiro o medo na terra fez um deus); a Imaginação fez a religião; os Sacerdotes inventaram a religião; a Religião é matéria de imitação e moda. Porém perguntamos ainda: O que causou o medo? Quem fez a imaginação? O que tornou possível os sacerdotes? O que tornou natural a imitação e a moda? Dizer que o homem adora somente porque vê outros homens adorarem é tão absurdo como dizer que o cavalo come feno porque vê outros cavalos comerem-no. Deve haver na alma fome a ser satisfeita ou as coisas exteriores nunca atrairiam o homem à adoração. Os sacerdotes nunca poderiam impor aos homens com tanta continuidade se não houvesse na natureza humana uma crença universal em um Deus que pudesse comissionar os sacerdotes como seus representantes. Por si mesma a imaginação requer alguma base de realidade, que aumenta à medida que a
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civilização avança. O fato de que a crença na existência de Deus amplia o apoio sobre a raça, que aumenta a cada século, mostra que, ao invés de o medo ter causado a crença em Deus, a verdade é que a crença em Deus causou o temor; na verdade, "o temor do Senhor é o princípio de toda a sabedoria" (SI. 111.10).
2. Não da experiência, quer esta signifique a) percepção sensorial e reflexão do indivíduo (Locke), b) os resultados acumulados das sensações e associações das gerações passadas da raça (Herbert Spencer), quer c) o real contato da nossa natureza sensitiva com Deus, realidade supra-sensível, através do sentimento religioso (Newman Smyth). A primeira forma desta teoria é inconsistente com o fato de que a idéia de Deus não é a idéia de um objeto sensível ou material, nem uma combinação de tais idéias. Porque o espiritual e o infinito são opostos diretos do material e finito, nenhuma experiência destes pode contar com a nossa idéia daqueles. Com Locke (Essay on Hum. Understanding, 2.1.4), experiência é receptividade passiva das idéias pela sensação e pela reflexão. A teoria da "tábula rasa" de Locke confunde a ocasião das nossas idéias primitivas com a causa destas. Para a sua afirmação: "Nihil est in intellectu nisi quod ante fuerit in sensu" (N. Trad.: Nada há no intelecto, que não esteja anteriormente no sentido), Leibnitz responde: "Nisi intellectus ipse" (N.Trad.: a não ser o próprio intelecto). Às vezes a consciência é chamada a fonte do nosso conhecimento de Deus. Mas a consciência, como um simples conhecimento acessório de nós mesmos, ou dos nossos estados, não é propriamente a fonte de qualquer outro conhecimento. O alemão Gottesbewusstsein = não a "consciência de Deus", mas o "conhecimento de Deus"; Bewusstsein aqui = não um "com-ciência", mas o "ser-ciência". Fraser, Locke, 143-147 - As sensações são os tijolos e a associação a argamassa, do edifício mental. Bowne, Theory of Thought and Knowledge, 47 - "Desenvolver a linguagem permitindo que os sons se associem e evoluam o sentido por si mesmos? Contudo este é o exato paralelo da
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filosofia cujo objetivo é edificar a inteligência a partir da sensação. ... 52 "Aquele que não sabe ler debalde olha para o sentido de uma página impressa e debalde procura auxiliar a sua deficiência utilizando óculos fortes". Contudo, mesmo que a idéia de Deus fosse um produto da experiência, não teríamos a garantia de rejeitá-la como irracional, ver Brooks, Foundations of Zoology, 132 - "Não há nenhum antagonismo entre os que atribuem o conhecimento à experiência e os que o atribuem à nossa razão inata; entre os que atribuem o desenvolvimento do germe a condições mecânicas e os que o atribuem à potencialidade inerente do próprio germe; entre os que sustentam que toda a natureza estava latente no vapor cósmico e os que crêem que tudo na natureza tem uma intenção imediata e predeterminada". Todos estes podem ser métodos do Deus imanente.
A segunda forma da teoria está aberta à objeção de que mesmo a primeira experiência do primeiro homem do mesmo modo que a última experiência do homem pressupõe tal intuição assim como outras intuições e portanto não podem ser a sua causa. Contudo, mesmo que esta teoria da origem fosse correta, ainda assim seria impossível pensar no objeto da intuição como se não existisse, ainda representaria para nós a mais elevada medida de certificação atualmente ao alcance do homem. Se a evolução das idéias destina-se à verdade ao invés da falsidade, é a parte da sabedoria que age sobre a hipótese de que a nossa primitiva crença é verdadeira. Martineau, Study, 2.26 - "A natureza tanto é digna de confiança em seus processos, como em suas dádivas". Bowne, Examination of Spencer, 163,164 - "Devemos nós buscar a verdade nas mentes dos macacos préhumanos, ou nas cegas excitações de qualquer massa primitiva? Nesse caso podemos, na verdade, pôr de lado toda a nossa ciência, mas, juntamente com ela, pôr de lado a grande doutrina da evolução. A filosofiaexperiência não pode escapar a esta doutrina; ou os pronunciamentos positivos da consciência da nossa natureza devem ser aceitos como se apresentam ou toda a verdade deve ser declarada impossível".
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Charles Darwin, em uma carta escrita um ano antes da sua morte, referindo-se às suas dúvidas quanto à existência de Deus, pergunta: "Podemos nós confiar nas convicções da mente de um macaco?" Podemos responder: "Podemos confiar nas conclusões de alguém que outrora foi bebê"? Bowne, Ethics, 3 - "A gênese e emergência de uma idéia são uma coisa; sua validade é bem outra. O valor lógico da química não pode ser decidido recitando princípios da alquimia; e o valor lógico da astronomia independe do fato de que ela começou com a astrologia. ... 11 - Mesmo que o homem viesse do macaco, não teríamos necessidade de tremer pela validade da sua tabela de multiplicação ou da Regra Áurea. Se temos discernimento moral, não importa como o adquirimos; e se não temos tal discernimento, não há auxílio algum para qualquer teoria psicológica. ... 159 - Não devemos apelar para os selvagens e bebês a fim de encontrar o que é natural para a mente humana.... No caso de qualquer coisa que está sob a lei do desenvolvimento podemos achar a sua verdadeira natureza, não retrocedendo às suas rudes origens, mas estudando o resultado acabado". Dowson, Mod. Ideas of Evolution, 13 - "Se a idéia de Deus for o fantasma de um cérebro símio, podemos confiar na razão ou consciência em qualquer outra matéria? Não podem a ciência e a filosofia por si mesmas ser semelhantes a fantasias, envoltas por mero acaso ou pelo elemento desarrazoado?" Mesmo que o homem viesse do macaco, não há como explicar suas idéias através das dele: "O homem é o homem porque o é". Devemos julgar os princípios pelos fins, não os fins pelos princípios. O importante não é como ocorre o desenvolvimento do olho nem como era imperfeito o sentido da visão, já que o olho agora nos dá a informação correta dos objetos exteriores. Do mesmo modo não Importa como se originaram as intuições de justiça e de Deus, visto que agora elas nos dão o conhecimento da verdade objetiva. Temos que admitir como certo que a evolução das idéias não vêm a partir do sentido para o não sentido. C. H. Lewes, Study of Psychology, 122 - "Podemos entender a ameba e o pólipo só através da luz refletida do estudo do homem". Seth, Ethical Principles, 429 - "O carvalho explica o fruto até de modo mais veraz que o oposto". Sidgwick: "Ninguém apela do senso de belo do artista para o da criança". Os maiores matemáticos não são menos verdadeiros porque podem ser apreendidos só pelo exercício do intelecto. Não se atribui nenhuma importância estranha ao que se sentiu ou se pensou em primeiro lugar31.
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Robert Browning, Paracelsus: "O homem, tendo descoberto, imprime para sempre a sua presença a todas as coisas inertes. ... Um refluxo suplementar da luz ilustra todos os graus inferiores, explica cada passo anterior no círculo". O homem, com as suas mais elevadas idéias, mostra o sentido e conteúdo de tudo o que se destina a ele. Ele é o último degrau na subida da escada e, a partir deste mais elevado produto e de suas idéias, podemos inferir quem é o seu Criador. Bixby, Crisis in Morals, 162,245 - "A evolução dá ao homem apenas tamanha altura que ele pode ao menos discernir as estrelas da verdade moral que outrora estiveram abaixo do horizonte. Isto é muito diferente de dizer-se que as verdades morais são apenas produtos transmitidos da experiência da utilidade. ... O germe da idéia de Deus como da idéia de direito devem ter estado no homem logo que ele se tornou homem; ganhando do bruto, ela o tornou um homem. A razão não é apenas um registro dos fenômenos físicos e da experiência de prazer e de dor: é também criativa. Discerne a unidade das coisas e a supremacia de Deus". Sir Charles Lyell: "A presunção é enorme porque todas as nossas faculdades, embora sujeitas a errar, são verdadeiras na essência e apontam para os reais objetivos. A faculdade religiosa no homem é, de todas, uma das mais fortes. Existiu nas mais primitivas eras e, ao invés de desgastar-se ante o avanço da civilização, torna-se cada vez mais forte e hoje é mais desenvolvida entre as mais elevadas raças do que jamais fora antes. Penso confiar seguramente que ela aponta para uma grande verdade". Fisher, Nat. and Meth. of Rev., 137, cita Agostinho: "Securus judicat orbis terrarum" (N. Trad.: O universo seguro julga as terras), e diz-nos que se admite ser o intelecto um órgão do conhecimento, embora possa ter evoluído. Mas, se o intelecto é digno de confiança, também a natureza o é. George A. Gordon, The Christ of Today, 103 - "Para Herbert Spencer, a história humana é apenas um incidente da história natural e suprema é a força. Para o cristianismo a natureza é tão somente o começo e o homem a sua consumação. O que é que dá a mais elevada revelação da vida da árvore: a semente, ou o fruto?"
A terceira parte da teoria parece fazer Deus um objeto sensorial a reverter a apropriada ordem do conhecimento e sentimento, a ignorar o fato de que em todo o sentimento há pelo menos algum conhecimento de
Teologia Sistemática (Strong) 143 um objeto e a esquecer que a validade deste mesmo sentimento só pode ser mantida admitindo anteriormente a existência de uma divindade racional. Newman Smyth diz-nos que o sentimento vem em primeiro lugar; a idéia em segundo. Não se negam as idéias intuitivas, mas declara-se que reflexos diretos dos sentimentos no pensamento. São elas a percepção imediata daquilo que ele sente que existe. Considera-se idealista o conhecimento direto de Deus pela intuição; considera-se que, chegar-se a Deus por inferência, é uma tendência racionalista. Admitimos que, mesmo no caso dos impenitentes, grande perigo, grande regozijo, grande pecado freqüentemente transformam a intuição racional de Deus em intuição perceptível aos sentidos. Contudo, não se pode afirmar que a intuição perceptível aos sentidos seja comum a todos os homens. Não fornece fundamento ou explicação de uma capacidade universal para a religião. Sem a intuição racional, não seria possível a intuição perceptível aos sentidos, visto que é só o racional que capacita o homem a receber e a interpretar o elemento perceptível aos sentidos. A própria confiança que depositamos no sentimento pressupõe uma crença intuitiva em um Deus verdadeiro e bom. Em 1869 Tennyson dizia: "Sim, é verdade que há momentos quando a carne nada é para mim; quando eu sei e sinto que a carne é a visão; Deus e o elemento espiritual são o elemento real; ele me pertence mais do que minhas mãos e pés. Você pode dizer-me que as minhas mãos e os meus são apenas símbolos imaginários da minha existência; posso até crer em você; mas você nunca, nunca pode convencerme de que o eu não é uma Realidade eterna e de que o espiritual não é a minha parte real e verdade
3. Não do raciocínio, porque: a) A verdadeira aparição deste conhecimento na grande maioria das mentes não resulta de qualquer processo consciente de raciocínio. Por outro lado, com base na ocorrência de condições próprias, ele lampeja sobre a rapidez e força de uma revelação imediata.
Teologia Sistemática (Strong) 144 b) O poder da fé do homem na existência de Deus não é proporei' poder da faculdade de raciocinar. Por outro lado, o homem de maio lógico é freqüentemente um inveterado cético, enquanto o de fé não os está entre os que não podem mesmo entender os argumentos da existe Deus. c) Há mais neste conhecimento que o raciocínio jamais poderia ter fornecido. O homem não limita a sua crença em Deus às conclusões do argumento. Os argumentos da existência divina, valiosos para os propósitos a serei trados daqui para frente, não bastam por si mesmos para garantir nossa convicção de que existe um ser infinito e absoluto. Aparecerá apoiado no que um argumento a priori só é capaz de provar uma proposição abstrata e ideal, mas nunca pode conduzir-nos à existência de um Ser real. Parece argumentos a posteriori da existência meramente finita, nunca podem demonstrar a existência do infinito. Nas palavras de Sir Wm. Hamilton - "Uma demonstração do absoluto a partir do relativo é logicamente absurda como em tal silogismo podemos colecionar na conclusão o que não está distribuído nas premissas" - em resumo, a partir das premissas finitas não podemos tirar conclusão infinita. Sir Wm. Hamilton: "Saindo do particular, admitimos que não é possível, em nossas mais elevadas generalizações, transcendermos o finito". E. G. Robinson: "A mente humana revela maior provisão do que jamais contiveram os grandes reservatórios". Existe mais na idéia de Deus do que poderia ter escoado de um tão pequeno funil como é o raciocínio humano. Uma simples palavra, uma nota acidental, ou uma atitude de oração sugere a idéia a uma criança. Helen Keller contou a Phillips Brooks que ela sempre soubera que há um Deus, mas não o conhecia pelo nome. Ladd, Philosophy of Mind, 119 -"Há uma tola suposição de que nada se pode conhecer ao certo a não ser que seja alcançado como resultado de um processo silogístico, ou que, quanto mais complicado e sutil for tal processo, mais certa é a conclusão. O conhecimento por inferência sempre depende da certeza superior do conhecimento imediato". George Duncan, in Memorial of Noah Porter, 246 - "Toda a dedução apóia-se num prévio processo de
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indução, ou nas intuições de tempo e espaço que envolvem Infinito e Absoluto".
d) Nem os homens chegam ao conhecimento da existência de Deus por inferência; pois a inferência é silogismo condensado e, como forma de raciocínio, está igualmente aberto à objeção já mencionada. Vimos, contudo, que todo processo lógico se baseia na aceitação da existência de Deus. Evidentemente o que se pressupõe em todo raciocínio não pode ser provado pela razão. Referimo-nos, naturalmente, à inferência, mediata, porque na imediata (p.ex., "Todos os governantes são justos; logo, nenhum dos governantes injustos governa bem") não há nenhum raciocínio e nem progresso no pensamento. A inferência mediata é raciocínio - é silogismo condensado; e o que é muito condensado pode ampliar-se em forma lógica regular. Inferência dedutiva: "O negro é uma criatura como eu; logo aquele que bate no negro é uma criatura como eu". Inferência indutiva: "O primeiro dedo fica antes do segundo; logo fica antes do terceiro". Flint, Theism, 77 e Herbert, Mod. Realism Examed, chegariam ao conhecimento da existência de Deus pela inferência. Esta declara que Deus é indemonstrável, mas, quanto à sua existência, infere-se como a dos nossos semelhantes. Replicamos, porém, que, neste último caso, só inferimos o finito a partir do finito, mas, no caso de Deus, infere-se o infinito a partir do finito. Contudo, este processo de raciocínio pressupõe a existência de Deus como Razão absoluta, pelo processo já demonstrado. Substancialmente, H. B. Smith, Introd. to Chr. Theol., 84-133, e Diman, Theistic Argument, 316,364, ambos cometem o mesmo erro dos que admitem um elemento intuitivo, mas empregam-no só para suprir a insuficiência do raciocínio. Consideram que a intuição nos fornece apenas uma idéia abstrata, que não contém em si nenhuma prova da existência de um verdadeiro ser que corresponde à idéia e que só chegamos ao ser real pela inferência dos fatos da nossa natureza espiritual e do nosso mundo exterior. Replicamos, entretanto, com as palavras de McCosh, que "as intuições, em primeiro lugar dirigem-se individualmente aos objetos". Não
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conhecemos o infinito no abstrato mas o espaço e o tempo infinitos, e o Deus infinito. Schurman, Belief in God, 43 - "Sou incapaz de atribuir à nossa crença em Deus uma certeza mais elevada que aquela que possuímos através da tese da ciência ... 57 - A abordagem mais próxima que a ciência faz à hipótese da existência de Deus encontra-se na afirmação da universalidade da lei... baseada na convicção da unidade e na conexão sistemática de toda a realidade ... 64 - Só se pode encontrar esta unidade no espírito autoconsciente". O defeito deste raciocínio é que ele não nos dá nenhum ele necessário ou absoluto. Exemplos de hipóteses são a nebulosa na astronomia, a lei da gravitação, a teoria atômica da química, o princípio da evolução. Nenhuma destas é logicamente independente ou tem prioridade. Cada uma delas é provisória e cada uma pode ser ultrapassada por nova descoberta. Não é o caso da idéia de Deus. Todas as outras pressupõem esta idéia como condição de cada processo mental e garantia da sua validade.
IV. CONTEÚDO DESTA INTUIÇÃO 1. Neste conhecimento fundamental de que Deus é, necessariamente está implicado que, em certa extensão, o homem conhece intuitivamente o que Deus é, a saber, a) a Razão na qual se baseiam os processos mentais; b) uma Força superior de que o homem depende; c) uma Perfeição que impõe a lei sobre a natureza moral; d) uma Personalidade que pode ser reconhecida na oração e no louvor. Sustentar que temos uma intuição racional de Deus de modo nenhum implica que é impossível uma intuição presente de Deus. Tal intuição presente talvez fosse característica do homem decaído; às vezes pertence ao cristão; será uma bênção do céu (Mt. 5.8 - "os limpos de coração verão a Deus"; - "verão a sua face"). As experiências dos homens de apreenderem Deus face a face, em perigo ou senso de culpa, dão alguma razão para crer que um conhecimento de Deus pela sua presença é condição normal da humanidade. Mas como esta intuição da
Teologia Sistemática (Strong) 147 presença de Deus não está no nosso estado universal atual, reivindicamos aqui somente que todo o homem tem uma intuição racional de Deus. Convém lembrar, contudo, que a perda do amor a Deus obscureceu até mesmo a intuição racional, de modo que a revelação da natureza nas Escrituras necessita ser despertada, confirmada e aumentada e a obra do Espírito de Cristo no sentido de tornar conhecida pela amizade e comunhão. Assim, a partir do conhecimento a respeito de Deus, conhecemos Deus (Jo. 17.3 – "A vida eterna é esta, que te conheçam a ti"; 2 Tm. 1.12 - "Eu sei em quem tenho crido"). Platão dizia que a substância não pode ser nenhum oti oiden sem algo a oiden. Harris, Philosophical Basis of Theism, 208 - "Através da intuição racional o homem sabe que o Ser absoluto existe; seu conhecimento daquilo que é progressivo, como progressivo é o conhecimento do homem e da natureza". Hutton, Essays: "Uma presença assombrosa assusta o homem atrás e adiante. É um mal a que ele não pode escapar. Dá novos sentidos aos seus pensamentos e novo terror aos seus pecados. Torna-se intolerável. O homem é levado a estabelecer um ídolo esculpido segundo a sua própria natureza, que tomará o seu lugar- um Deus não moral que não perturbará o seu sonho de descansar. É uma Vida e uma vontade justa, não uma simples idéia de justiça que importuna tanto os homens". Porter, Hum. Int., 661 - "O Absoluto é um Agente pensante". A intuição não se desenvolve na certeza; o que se desenvolve é a ansiedade por aplicá-la e o poder de expressá-la. A intuição não é complexa; complexo é o Ser intuitivamente conhecido. O conhecimento de uma pessoa torna-se conhecimento pessoal através da verdadeira comunicação ou revelação. Em primeiro lugar vem o conhecimento intuitivo de Deus, o qual todo homem possui - a suposição de que existe uma Razão, uma Força, uma Perfeição, uma Pessoalidade que torna correto o pensamento e possível a ação. Em segundo lugar, vem o conhecimento do ser de Deus e os atributos que a natureza e a Escritura fornecem. Em terceiro lugar, surge o conhecimento pessoal vindo através da experiência, derivado da verdadeira reconciliação e intercomunicação com Deus, através de Cristo e do Espírito Santo. Stearns, Evidence of Christian Experience, 208 - "A experiência cristã verifica as reivindicações da doutrina pela experimentação, transformando o conhecimento provável em
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conhecimento real". Biedermann, citado por Pfleiderer, Grundriss, 18 - "Deus se revela ao espírito humano, 1. como uma Base infinita, na razão; 2. como uma Norma infinita, na consciência; 3. como uma Força infinita, na ascendência à verdade religiosa, à bem-aventurança e à liberdade". Objetarei eu a esta experiência cristã, só porque relativamente poucos a possuem e não estou entre eles? Porque eu não vi as luas de Júpiter, como duvidarei do testemunho do astrônomo quanto à sua existência? A experiência cristã como a visão das luas de Júpiter, não é possível a todos. Clarke, Christian Theology, 113 - "Quem tiver prova completa da realidade da bondade de Deus deve submetê-la ao teste experimental. Deve tomar o bom Deus como real e receber a confirmação que se seguirá. Quando a fé atinge Deus, ela o encontra.... Aqueles que o encontram serão os mais sensatos e os mais verdadeiros do seu gênero e as suas convicções estarão entre as mais seguras entre os homens. ... Os que vivem em comunhão com o bom Deus crescerão em bondade, e apresentarão evidência prática da sua existência além do testemunho oral que possam dar".
2. As Escrituras, portanto, não tentam provar a existência de Deus, mas, por outro lado, tanto admitem como declaram que o conhecimento de Deus é universal (Rm. 1.19-21,28,32; 2.15). Deus embutiu a evidência desta verdade fundamental na própria natureza do homem de modo que em parte alguma há ausência de testemunho a seu respeito. O pregador pode, com confiança, seguir o exemplo da Escritura admitindoa. Mas deve também explicitamente declará-la como faz a Escritura. "Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo." (kayoratai espiritualmente vistos); o órgão para este propósito é a nouv (nooumena); mas, então - eles são "percebidos mediante as coisas criadas" (toiv poihmasin, Rm. 1.20). Sobre Rm. 1.19-21, ver Weiss, Biblische Theologie des Neuen Testament, 251, nota; ver também os comentários de Meyer, Alford, Tholuck e Wordsworth; tò gnwston tou yeou = não "o que se pode conhecer",
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mas "aquilo que se conhece" de Deus; nooumena kayopatai = vêem-se claramente no que é percebido pela razão - nooumena expressa o modo de kayopatai (Meyer); comp. Jo. 1.9; At. 17.27; Rm. 1.28; 2.15. Sobre 1 Cor. 15.34, ver Calderwood, Philosophy of Infinite, 466 – agnwsian yeou tinev ecousui = não possuais o conhecimento de Deus especialmente exaltado, que pertence aos crentes em Cristo (cf. 1 Jo. 4.7 - "qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus"). Sobre Ef. 2.12, ver Pope, Theology, 1.240 - ayeou em tw kosma opõe-se a estar em Cristo, e significa mais abandonado de Deus do que negá-lo ou ignorá-lo inteiramente. E. G. Robinson: "A primeira afirmação da Bíblia não é que existe um Deus, mas que 'no princípio criou Deus os céus e a terra' (Gn. 1.1). A crença em Deus nunca foi e nunca pode ser o resultado de argumento lógico; doutra forma a Bíblia nos apresentaria provas". Muitos textos em que se confia como provas da existência de Deus são simplesmente explicações da idéia de Deus; p.ex., Sl. 94.9,10 - "Aquele que fez o ouvido não ouvirá? E o que formou o olho não verá? Aquele que interroga as nações não as castigará? E o que dá ao homem o conhecimento não saberá?" Platão diz que Deus sustenta a alma pelas raízes dela, pelo que não precisa demonstrar à alma o fato da sua existência. Martineau, Seat of Authority, 308, diz com precisão que a Escritura e a pregação só interpretam o que já está no coração ao qual se dirige: "Lançando um sopro quente ao interior dos oráculos ocultos na invisível tinta, ele os torna articulados e deslumbrantes como o manuscrito na parede. O divino Vidente não tem para vós a sua revelação, mas capacita-vos a receber a vossa própria. Esta relação mútua só é possível através da presença comum de Deus na consciência da humanidade". Shedd, Dogmatic Theology, 1.195-220 - "A terra e o céu causam as mesmas impressões sensíveis nos órgãos de um bruto que os causam nos de um homem; mas o bruto nunca discerne as 'coisas invisíveis' de Deus 'tanto o seu eterno poder como a sua divindade"'(Rm. 1.20). Nossa atividade subconsciente, até onde é normal, está sob a orientação da Razão imanente. A sensação, antes de resultar em pensamento, tem em si elementos locais fornecidos pela mente - não nossa, mas do infinito. Cristo o Revelador de Deus, revela-o na vida mental de cada
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homem e o Espírito Santo pode ser o princípio da consciência própria no homem como também em Deus. Harris, God the Creator, diz-nos que "o homem encontra a Razão que é eterna e universal revelando-se no exercício da sua própria razão". Savage, Vida após a Morte, 268 - "Como você sabe que a sua consciência subliminar não fere a Onisciência e apossa-se dos fatos do universo?" Contudo, Savage nega esta sugestão e, erroneamente, favorece a teoria do espírito. Ver pp. 295-329 deste livro. C. M. Barrows, Proceedings of Soe. for Psychical Research, vol. 12, parte 30, pp. 34-36 - "Existe um agente subliminar. Que pensar se este é somente um Ator inteligente, enchendo o universo com a sua presença, como o éter faz com o espaço; o Inspirador comum de toda a humanidade, hábil músico, presidindo sobre muitas flautas e teclas e tocando através de cada um, que música se ouvirá? O eu subliminar é uma fonte universal de energia e cada homem é um canal da correnteza. Cada eu pessoal está contido nela, e assim cada homem se torna unido a cada ser humano. Nesta Força profunda, o último fato atrás do qual a análise não pode ir, todos efeitos psíquicos e físicos encontram sua origem comum". Esta afirmativa necessita de ser qualificada pela declaração da natureza ética do homem e personalidade distinta; ver nesta obra o Monismo Ético, no cap. III. Mas há aqui uma verdade como aquela que Coleridge procurava expressar em sua Harpa Eólia: "E o que acontece se toda a Natureza animada for apenas harpas diversamente estruturadas, que tremem no pensamento, quando por elas passa, Plástica e vasta, uma brisa intelectual, a um só tempo a alma de cada um, e o Deus de todos?" Dorner, System of Theology, 1.75 - "O conhecimento de Deus é a verdadeira firmeza da nossa própria consciência. ... Visto que é só na consciência de Deus que a mais íntima personalidade do homem vem à luz, de igual modo, por meio do entrelaçamento da consciência de Deus e do mundo, este mundo é visto em Deus (sub specie eternitatis), e a certeza do mundo obtém primeiro a segurança absoluta do seu espírito". Royce, Spirit of Mod. Philosophy, sinopse na N. Y. Nation: "O único fato indubitável é a existência de um eu infinito, um Logos, ou uma mente terrena (345). Isto se torna claro, I. Porque o idealismo mostra que as coisas reais não são nada mais, nem nada menos que idéias, ou 'possibilidade de experiência'; mas a mera possibilidade", como tal, nada é e o mundo das experiências
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'possíveis', até onde ela é real, deve ser o mundo da experiência verdadeira para um certo eu (367). Se, então, há um mundo real, ele tem tudo enquanto existe como ideal e mental mesmo antes de tornar-se conhecido pela mente particular com a qual nós concebemos entrar em conexão (368). II. Mas há um mundo real; pois, quando eu penso em um objeto, quando eu me refiro a ele, não só tenho em mente uma idéia semelhante a ele porque eu o tenho por objeto, seleciono-o, em certa medida eu já o possuo. Então, o objeto já está presente em essência no meu eu oculto (370). Como a verdade consiste no conhecimento de conformidade com uma cognição do seu objeto, que, por si pode conhecer uma verdade que inclui tanto a idéia como o objeto. Este conhecedor é o Eu Infinito (374). Em essência sou idêntico a isso (371); é o meu eu maior (372); e só este eu maior é (379). Inclui toda a realidade, e conhecemos outras mentes finitas, porque estamos unidos a elas" (409). É instrutiva a experiência de George John Romanes. Durante anos ele não pôde reconhecer nenhuma Inteligência pessoal no controle do universo. Cometeu quatro equívocos: 1. Esqueceu-se de que só o amor pode ver, que Deus não se revela simplesmente ao intelecto, mas apenas ao homem como um todo; à mente integral, que a Escritura chama "os olhos do coração" (Ef. 1.18). Finalmente, a experiência da vida ensinou-lhe a fraqueza do mero raciocínio e levou-o a depender mais dos sentimentos e intuições. Então, como se poderia dizer, ele deu ao raio X do cristianismo uma oportunidade de fotografar Deus na sua alma. 2. Começou pelo fim errôneo, mais com a matéria do que com a mente, mais com as categorias de causa e efeito do que com o certo e o errado e, deste modo, envolveu-se na ordem mecânica e tentou interpretar o reino moral através dela. Resultado: em vez de reconhecer a liberdade, a responsabilidade, o pecado, a culpa, descartou-os como pretensos. Porém o estudo da consciência e da vontade o puseram no caminho certo. Ele aprendeu a levar em conta o que ele encontrava, em vez de voltar-se para alguma coisa mais e, desta forma, veio a interpretar a natureza pelo espírito em vez de interpretar o espírito pela natureza. 3. Tomou as partes pelo cosmos, em vez de considerá-lo como um todo. Seu antigo pensamento insistia em encontrar uma determinação em cada parte em separado, ou em nenhuma parte. Porém, ao chegar à maior maturidade reconheceu que seria sábio e razoável tratá-lo como um todo ordenado. Entendendo que isto é um universo, não conseguiu desembaraçar-se da
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idéia de uma Mente organizadora. Passou a ver que o Universo, como um pensamento, implica a existência de um Pensador. 4. Fantasiou que a natureza exclui Deus, em vez de saber que ela é o único método de operação de Deus. Quando aprendeu como se fez uma determinada coisa, a princípio concluiu que Deus e natureza não são mutuamente exclusivos. Deste modo, passou a não ver dificuldade até mesmo na aceitação dos milagres e da inspiração; porque o Deus que está no homem e de cuja mente e vontade a natureza é apenas a expressão, pode revelar-se, se necessário, de formas especiais. Portanto, Georges John Romanes voltou a orar, voltou a Cristo, e voltou à igreja.
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Capítulo II EVIDÊNCIAS CORROBORATIVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS Embora o conhecimento da existência de Deus seja intuitivo, pode ser explicado e confirmado por argumentos tirados do próprio universo e das idéias abstratas da mente humana. Nota 1. Tais argumentos são prováveis, mas não demonstrativos. Por esta razão eles se suplementam um ao outro e constituem-se uma série cumulativa de evidências em sua natureza. Embora tomados de uma forma isolada, nenhum deles pode ser considerado absolutamente decisivo, juntos fornecem uma corroboração de nossa convicção primitiva da existência de Deus, que é de grande valor prático e em si mesmos suficientes para aglutinar a ação moral do homem. Butler, Analogy, Introd., Bonn's ed., 72 - A evidência provável admite graus desde a mais elevada certeza moral até a mais baixa presunção. Contudo a probabilidade é o guia da vida. Em matéria de moral e religião, não vamos esperar uma evidência matemática ou demonstrativa, mas apenas a provável e a mais leve preponderância de tal evidência pode ser suficiente para cegar a nossa ação moral. A verdade da nossa religião como a verdade das matérias comuns, deve ser julgada pela total evidência global; porque, ao acrescentarem-se as supostas provas, não só aumentam a evidência, mas multiplicam-na. Dove, Logic of Christian Faith, 24 – O valor dos argumentos, tomados englobadamente, é muito maior do que o de qualquer um isolado. Ilustração da água, do ar e do alimento juntos, não separadamente, sustentando a vida; o valor de 1000 de libras não está no papel, na estampa, na escrita, na assinatura, tomadas separadamente. Um feixe de varas não pode ser quebrado, apesar de que cada vara do feixe o pode separadamente. A resistência do feixe é a força do todo. Lord Bacon, Essay on Atheism: "Uma mirrada filosofia inclina a mente do homem para o ateísmo, mas o seu aprofundamento aproxima a mente humana da religião. Por algum tempo a mente do homem respeita algumas causas secundárias
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separadas, pode às vezes apoiar-se nelas e não ir mais adiante, porém, quando olha para o encadeamento delas confederadas e unidas, sente-se necessidade de voar para a Providência e para Divindade". Murphy, Scientific Bases of Faith, 221 -223 - "A prova de um Deus e de um mundo espiritual que nos deve satisfazer consiste em numerosas linhas de prova divergentes e convergentes". No caso em que só se alcança a evidência circunstancial, muitas linhas da prova convergem e embora nenhuma das linhas alcance a marca, a conclusão para a qual todas apontam torna-se a única racional. Duvidar de que haja uma Londres, ou de que houve um Napoleão, seria indicar insanidade; contudo, só a evidência provável demonstra a existência de Londres e de Napoleão. Não há nenhuma eficácia coativa no argumento da existência de Deus; mas o mesmo se pode dizer de todo o raciocínio não demonstrativo. É possível outra interpretação dos fatos, mas nenhuma outra é tão satisfatória como a de que Deus é; ver Fisher, Nature and Method of Revelation, 129. Prof. Rogers: "Se nos negócios práticos fomos levados a hesitar em agir até que tivéssemos demonstrada a certeza absoluta, nunca deveríamos começar a nos mover". Por esta razão um velho oficial indiano aconselhou um jovem juiz a "dar sempre o seu veredicto, mas sempre evitar de apresentar os seus fundamentos. Bowne, Philos. of Theism, 11-14 - "Ao invés de duvidar de cada coisa que oferece condições para tal, melhor é não duvidar de nada até que sejamos compelidos a isso. ... Na sociedade, é melhor admitirmos que os homens são verdadeiros, e só duvidarmos quando houver razão especial, do que admitirmos que todos homens são mentirosos e crermos só quando a isso formos compelidos. Por isso, em todas as nossas investigações progredimos mais se admitirmos a veracidade do universo e da nossa própria natureza do que duvidarmos de ambos. ... O primeiro método parece mais rigoroso, mas só pode ser aplicado à matemática, que é ciência puramente subjetiva. Quando tratamos da realidade, o método aproxima o pensamento de uma pausa. ... A lei que a lógica estabelece é: Não se pode crer em nada que não seja provado. A lei que a mente na verdade segue é: O que quer que a mente demande para a satisfação de seus interesses subjetivos e tendências pode-se admitir como real na ausência de uma refutação positiva".
Teologia Sistemática (Strong) 155 Nota 2. Uma consideração destes argumentos pode também servir para explicar o conteúdo de uma intuição que reconstituiu o elemento obscuro e apenas semiconsciente por falta de reflexão. Na verdade, os argumentos são esforços da mente que já tem uma convicção da existência de Deus de dar a si mesma um relato final de sua crença. Uma exata apreciação do seu valor lógico e de sua relação com a intuição que buscam expressar de forma silogística é essencial para qualquer adequada refutação ao raciocínio ateísta e panteísta. Diman, Theistic Argument, 363 - "Não tenho reivindicado que a existência até mesmo deste Ser se pode demonstrar como podemos fazer com as verdades abstratas da ciência. Tenho só reivindicado que o universo, como um grande fato, demanda uma explicação racional e que a mais racional que se pode dar é a concepção fornecida de um tal Ser. A razão apóia-se nesta conclusão e recusa apoiar-se em qualquer outra". Rückert: "Wer Gott nicht fühlt in sich und alien Lebens-kreisen, dem werdet ihr nicht ihn beweisen mit Beweisen". Harris, Philos. Basis of Theism, 307 - "A teologia depende da ciência noética (que se origina no intelecto) e empírica para dar a ocasião a que surja a idéia do Ser Absoluto e fornecer o conteúdo à idéia". Andrew Fuller, Part of Syst. of Divin., 4.283, questiona "se a argumentação em favor da existência de Deus não criou mais céticos do que crentes". Até onde isto é verdade, deve-se a um exagero nos argumentos e uma exagerada noção do que se deve esperar deles. "Evidências do cristianismo?" diz Coleridge, "estou cansado dessa palavra". Quanto mais o cristianismo foi provado, menos se creu nele. O aviva-mento religioso sob Whitefield e Wesley fizeram o que todos os apologistas do século dezoito não conseguiram; ele despertou as intuições do homem para a vida, e praticamente as fez reconhecer Deus. Martineau, Types, 2.231 - O homem pode "dobrar os joelhos diante do Zeitgeist (espírito do tempo), enquanto dá as costas para o consenso de todas as eras"; Seat of Authority, 312 - "Nosso raciocínio nos leva a explicitar o teísmo porque parte do teísmo implícito". Illingworth, Div. And Hum. Personality, 81 - "As provas são tentativas de dar conta e explicar e justificar algo que já existe; decompor um elevado complexo através de um juízo imediato em seus
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elementos constituintes, nenhum dos quais, quando isolado, pode ter a plenitude ou ação conjunta da convicção original como um todo." Bowne, Philos. of Theism, 31,32 - A demonstração é o único paliativo para socorrer na ignorância do insight. ... Quando chegamos ao argumento em que se destina a natureza toda, o argumento parece ser fraco ou forte conforme a natureza é débil ou plenamente desenvolvida. O argumento moral em favor do teísmo não pode parecer forte a alguém que não tem consciência. O argumento a partir dos interesses cognitivos esvaziará quando não há nenhum interesse desse tipo. As pequenas almas acharão muito pouco que exige explicação ou que desperta surpresa e estarão satisfeitos com um ponto de vista correspondentemente pequeno da vida e da existência. Em tal caso não podemos esperar um acordo universal. Só podemos proclamar a fé que está em nós na esperança de que esta proclamação não possa existir sem alguma resposta em outras mentes e corações. ... Só temos provável evidência da conformidade da natureza ou do sentimento dos amigos. Também não podemos provar através da lógica. As mais profundas convicções não são as certezas da lógica, mas as da vida".
Nota 3. Os argumentos da existência divina podem ser reduzidos a quatro: I) Cosmológico; II) Teleológico; III) Antropológico; IV) Ontológico. Examiná-los-emos em sua ordem, procurando determinar as precisas conclusões a que respectivamente conduzem e, então, certificar de que maneira os quatro podem ser combinados. I. ARGUMENTO COSMOLÓGICO Não se trata de um argumento do efeito para a causa; pois a proposição de que cada efeito deve ter uma causa é simplesmente idêntico e apenas significa que o evento causado deve ter uma causa. Ao invés disso é um argumento da existência começada para uma causa suficiente de tal começo e pode ser precisamente estabelecido da seguinte maneira:
Teologia Sistemática (Strong) 157 Tudo o que começa, quer substância, quer fenômeno, deve sua existência a alguma causa produtiva. O universo, pelo menos no que se refere à sua forma presente, é algo começado e deve sua existência a uma causa que corresponde à sua produção. Tal causa deve ser indefinidamente grande. Convém notar que este argumento move-se no reino da natureza. A partir da constituição do homem e início neste planeta ele é considerado sob um outro título (ver Argumento Antropológico). Não só a observação pessoal, mas o testemunho da geologia garante-nos que a presente forma do universo não é eterna no passado, mas teve um início. Freqüentemente Locke, Clarke e Robert Hall têm reivindicado que este argumento é suficiente para conduzir a mente a uma Primeira Causa Eterna e Infinita. Por esta razão prosseguimos mencionando
1. Defeitos do Argumento Cosmológico a) É impossível mostrar que o universo, no que tange à sua substância, teve um começo. A lei da causalidade declara, não que cada coisa tem uma causa -pois, então, o próprio Deus teria uma causa porém, ao invés disto, que cada coisa iniciada, ou em outras palavras, que cada evento ou mudança tem uma causa. Hume, Phil. Works 2.411 sg., declara, com razão, que nós nunca vimos um mundo feito. Muitos filósofos em terras cristãs, como Martineau, Essays, 1.206 e as opiniões prevalecentes dos tempos pré-cristãos sustentam que a matéria é eterna. Bowne, Metaphysics, 107 - "Para o próprio ser, a razão reflexiva nunca exige uma causa, a menos que o ser mostre sinais de dependência. A mudança é que primeiro ocasiona a demanda de uma causa". Martineau, Types, 1.291 - "Não é a existência como tal que exige uma causa, mas o surgimento daquilo que não existia anteriormente. A lei intelectual da causalidade é a lei dos fenômenos não da entidade".
Teologia Sistemática (Strong) 158 b) Aceitando que o universo, no que se refere aos seus fenômenos, teve uma causa, é impossível mostrar que se requer qualquer outra além da que existe em si mesma, como supõem os panteístas. Flint, Theism, 65-0 argumento cosmológico por si só prova a força; e esta sozinha não é Deus. "A inteligência deve caminhar com ela para fazer com que o Ser possa chamar-se Deus". Diman, Theistic Argument "O argumento cosmológico sozinho não pode decidir se a força que causa a mudança é a mente perene auto-existente, ou a perene matéria autoexistente". Só a inteligência fornece base para uma resposta. No universo apenas a mente nos capacita a inferir a mente do criador. Porém o argumento a partir da inteligência não é o Cosmológico, mas o Teológico e a este pertencem todas as provas da divindade a partir da ordem e combinação na natureza. Upton, Hibbert Lectures, 201-296 - A ciência tem que ver com as mudanças que uma porção do universo visível causa em outra porção. A filosofia e a teologia tratam da Causa Infinita que faz existir e sustenta toda a série de causas finitas. Acaso perguntamos nós a causa das estrelas? A ciência diz: A nebulosa ígnea, ou um retrocesso infinito de causas. A teologia diz: Admite-se; mas este retrocesso infinito demanda, para sua explicação, a crença em Deus. Devemos tanto crer em Deus como numa infinda série de causas finitas. Deus é a causa de todas as causas, a alma de todas as almas: "Centro e alma de cada esfera, Contudo, quão perto de cada coração que ama"! Não necessitamos somente da ciência para pensar em qualquer começo.
c) Admitindo que o universo deva ter tido uma causa exterior a si, é impossível mostrar que tal causa não foi causada, i.e. consiste em uma série infinita de causas dependentes. O princípio da causalidade não requer que todas as coisas começadas remontem a uma causa não causada; demanda que atribuamos uma causa, mas não uma causa primeira.
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O mesmo ocorre com toda a série de causas. O materialista se sente na obrigação de encontrar uma causa para esta série, tão logo ela tem início. Porém a própria hipótese de uma série infinita de causas exclui a idéia de tal início. Uma cadeia infinita não tem nenhum elo extremo (versus Robert Hall); uma sucessão sem causa e eterna não necessita de causa (versus Clarke e Locke). Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.128, diz que o retrocesso até chegarmos a uma causa que não é em si mesma um efeito não pode satisfazer o princípio causal - aquele que é a causa sui; Aids to Study of German Theology, 15-17 - Ainda que o universo seja eterno, a sua natureza contingente e relativa requer que postulemos um Criador eterno. Diman, Theistic Argument, 86 -"Conquanto a lei de causa não conduz logicamente à conclusão de uma causa primeira, compele-nos a afirmá-la". Retrucamos que não é a lei da causa que nos compele a afirmá-la, porque esta, certamente "não nos leva, pela lógica, à conclusão". Se inferimos uma causa não causada, fazemo-lo, não por processo lógico, mas em virtude da crença intuitiva que há em nós. Assim pensam Secrétan e Whewell, em Indications of a Creator, e em Hist. of Scientific Ideas, 2.321,322 - "A mente se refugia na suposição de uma Causa Primeira a partir de um emprego inconsistente com a sua própria natureza"; inferimos necessariamente uma Causa Primeira embora as ciências paleontológicas apenas apontam-na, mas não nos conduzem a ela".
d) Admitindo que a causa do universo não foi em si mesma causada, é impossível mostrar que esta causa não seja finita, como o próprio universo. O princípio causai requer uma causa não maior que a suficiente para o efeito. Por isso, não podemos inferir uma causa infinita a não ser que o universo seja infinito e isto implica em admitir um infinito para provar um infinito. Porém nenhum número pode ser infinito porque qualquer número, embora grande, pode receber o acréscimo de uma unidade, o que mostra que anteriormente não era infinito. Mesmo aqui nós vemos que as formas mais aceitas do Argumento Cosmológico são obrigadas a avaliar-se sobre a intuição do infinito a fim de suplementar o processo lógico. Versus Martineau, Study, 1.418 -"Embora não possamos inferir diretamente a infinitude de Deus a partir de uma criação limitada, indiretamente podemos
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excluir qualquer outra posição recorrendo à ilimitada cena da existência (espaço)". Isto, porém, garantiria igualmente a nossa crença na infinitude dos nossos semelhantes. Ou se trata do argumento de Clarke e Gillespie (ver abaixo o Argumento Ontológico). Schiller, Die Gròsse Welt, parece defender a existência do universo ilimitado. Ele mostra um espírito causado, buscando o limite da criação. Um segundo peregrino encara-o a partir dos espaços além, com as seguintes palavras: Steh! du segelst umsohnst, - vor dir Unendichkeit" - "Eia! em vão tu vagueias; diante de ti, só o infinito".
2. O valor do Argumento Cosmológico, é, pois, tão somente este; prova a existência de uma causa do universo indefinidamente grande. Quando vamos além disto e inquirimos se esta é uma causa do ser, ou simplesmente uma causa da mudança do universo; se é uma causa independente do universo ou é uma com ele; se é uma causa eterna ou uma causa dependente de outra; se é inteligente ou não, infinita ou finita, una ou múltipla, este argumento não nos pode garantir. II. ARGUMENTO TELEOLÓGICO Este não é um argumento do desígnio para o designador; pois que o desígnio implica um designador é uma proposição idêntica. Pode-se estabelecer mais corretamente o seguinte: A ordem e a colocação útil, permeando um sistema implicam respectivamente inteligência e propósito como a causa de tal ordem e colocação. Porque a ordem e a colocação útil permeiam o universo deve existir uma inteligência adequada à produção dessa ordem e uma vontade adequada a dirigir a colocação para fins úteis. Etimologicamente, "argumento teleológico" = argumento destinado aos fins, ou causas finais, isto é, "causas que, começando com um pensamento, elaboram-se em um fato como um fim, ou um resultado (Porter, Human Intellect, 592-618); a saúde, p.ex., é a causa fina! do exercício, enquanto este é a causa daquela. Esta definição do argumento se ampliaria o bastante para abranger a prova de uma inteligência oriunda da constituição do homem. Este, contudo, é tratado como parte do Argumento Antropológico,
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que lhe sucede, e o Argumento Teleológico abrange apenas a prova de uma inteligência determinante provinda da natureza. Por isso, Kant, Crítica da Razão Pura, chama-o de argumento físico-teológico. Hicks, Critique of Design-Arguments, 347-389, apresenta dois argumentos em vez de um: 1) o da ordem para a inteligência ao qual e|e chama de Eutaxiológico; 2) o argumento da adaptação para o propósito a que ele restringe o nome Teleológico. Ele sustenta que a verdadeira teleologia não pode provar a inteligência porque, quando fala nos "fins", afinal de contas, deve admitir a própria inteligência que ele procura provar; já se estabeleceu anteriormente que ela apenas prova o exercício intencional de uma inteligência. "As circunstâncias, forças, ou agentes que convergem para um resultado racional definido implicam volição - implicam que se pretende este resultado - a volição e o fim. Esta é a premissa maior da nova teleologia". Ele faz objeção à expressão "causa final". Na verdade, o fim não é a causa - é um motivo. O elemento característico da causa é o poder de produzir um efeito. Os fins não têm tal poder. A vontade pode escolhê-los, ou rejeitá-los. Admitida a inteligência, os fins não podem prová-la. Concordamos com isto no ponto principal e consideramos um valioso auxílio para o estabelecimento e compreensão do argumento. Na própria observação da ordem, contudo, assim como no argumento a partir dela somos obrigados a admitir a mesma inteligência que estabelece a disposição total. Em vista disso, não vemos nenhuma objeção em fazer da Eutaxiologia a primeira parte do Argumento Teleológico como fizemos acima.
1. Mais explicações a) A premissa maior expressa uma convicção primitiva. Isto não é invalidado pelas objeções: a) de que a ordem e a colocação útil podem existir sem propósito - pois a nossa própria constituição mental nos compele a negar isto em todos os casos onde a ordem e a colocação permeiam um sistema; b) de que a ordem e a colocação útil podem resultar da simples operação de forças e leis físicas - pois estas mesmas
Teologia Sistemática (Strong) 162 forças e leis implicam, ao invés de excluir, uma inteligência e vontade originadoras e superintendentes. Janet, Final Causes, 8, nega que a finalidade seja uma convicção primitiva como a causalidade e chama-a resultado de uma indução. Por isso ele prossegue a partir 1) das marcas da ordem e colocação útil 2) para a finalidade na natureza e, a seguir, 3) para uma causa inteligente da referida finalidade, ou pré-conformidade com o evento futuro". Do mesmo modo também, Diman, Theistic Argument, 105, reivindica simplesmente que, como a mudança requer uma causa, assim a mudança ordenada requer uma causa inteligente. Contudo, já mostramos que a indução e o argumento de cada gênero pressupõem uma crença intuitiva na causa final. A natureza não a dá; mas ela também não nos dá a causa eficiente. A mente nos dá ambas e as dá de forma tão clara baseada na experiência como depois de um milheiro. Ladd: "As coisas têm uma mente em si: também nós não podemos lembrá-las". O Duque de Argyll disse a Darwin que lhe parecia totalmente impossível atribuir os ajustes da natureza a qualquer outro agente que não seja a mente. "Bem", disse Darwin, "esta impressão freqüentemente tem-me assediado com uma força intensa. Mas, então, outras vezes, ela me parece tudo -"; e a seguir ele passou as mãos sobre os olhos, como que indicando uma visão alheia à vista. O Darwinismo não é uma refutação dos fins da natureza, mas apenas uma teoria particular relativa ao meio em que os fins se realizam no mundo orgânico. Darwin começaria com um germe infinitesimal e faria todo o subseqüente desenvolvimento não teológico. a) Momerie, Christianity and Evolution, 72 - "Só dentro dos estreitos limites é que se produzem, casualmente, os arranjos aparentemente propositais. E, por isso, à medida que os sinais do propósito se desenvolvem, a suposição da sua origem acidental diminui". Elder, Ideas from Nature, 81,82 - "A uniformidade dos mármores de um menino mostra que eles são produto do desígnio. Quando se trata de um único pode ser acidental, mas uma dúzia não. Do mesmo modo a uniformidade atômica indica a manufatura". Dr. Carpenter: "O ateísta é como um homem que examina o mecanismo de um grande moinho e, achando que todo ele é movido por um eixo que se origina de uma parede de tijolos, infere que o
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eixo é a explicação suficiente para o que ele vê e que não há nenhuma força motora atrás de si". Lord Kelvin: "A idéia ateísta não é disparatada". J. G. Paton, Life, 2.191 - "A perfuração de um poço na ilha de Aniwa convence o chefe canibal Namakei de que Yahweh Deus, o Invisível, existe. b) Bowne, Review of Herbert Spencer, 231-247 - "A lei não é uma causa; é um método. O homem não pode apresentar o próprio fato a ser explicado como razão suficiente". Martineau, Essays, 1.144 - "Damasco padronizado, não feito pelo tecelão, mas pelo tear"? Dr. Stevenson: "A casa não requer nenhum arquiteto porque é construída por especialistas em pedras e por carpinteiros"? Joseph Cook: "A lei natural sem Deus não é mais do que uma luva sem mão e tudo que se faz com a mão de Deus calçada na natureza, não é a luva que faz, mas a mão. A evolução não é uma força; é um processo; não é uma operatória, mas um método de operação. Um livro não é escrito pelas leis de soletração e da gramática mas de acordo com tais leis. Do mesmo modo, as leis do calor, da eletricidade, da gravitação, da evolução não escrevem o livro do universo, mas este é escrito de conformidade com tais leis". G. F. Wright, Ant. and Orig. of Hum. Race, lecture IX - "A evolução não pode fornecer evidência que afaste da natureza o desígnio. Ela pode retrocedê-lo a um ponto mais remoto da entrada, aumentando a nossa admiração na força do Criador no cumprimento dos desígnios ulteriores por processos diferentes". A evolução é o método de Deus. Ela se refere ao como, não ao por quê, dos fenômenos e, por isso, não é inconsistente com o desígnio, porém é a sua nova e mais elevada ilustração. Henry Ward Beecher: "No atacado, o desígnio é maior do que no varejo". Frances Power Cobbe: "É singular o fato de que, sempre que achamos como se faz uma coisa, nossa primeira conclusão parece indicar que não foi Deus quem a fez". Por que iríamos dizer: "Quanto maior é a lei menor é Deus"? O teísta faz referência aos fenômenos como uma causa que se conhece por si mesma e sabe-se o que ela está fazendo; o ateísta faz referência a eles como uma força de que nada se conhece e não se sabe o que ela está fazendo (Bowne). George John Romanes dizia que, se Deus fosse imanente, todas as causas naturais deveriam parecer mecânicas e não há argumento nenhum contra a origem divina que prove que se devem a causa natural: "As causas na natureza não tornam óbvia a necessidade de uma causa nela". Shaler, Interpretation of
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Nature, 47 - A evolução mostra que a direção dos negócios está sob o controle de algo como a nossa inteligência: "A evolução soletra o propósito". Clarke, Christ. Theology, 105 -"A moderna doutrina da evolução tem despertado a existência de inúmeros fins dentro do universo, mas não o grande fim em favor do próprio universo". Huxley, Criquitiques and Addresses, 274,275,307 - "Os pontos de vista teleológico e mecânico do universo não são mutuamente excludentes". Sir William Hamilton, Metaphysics: "A inteligência se põe em primeiro lugar na ordem da existência. As causas finais precedem as causas eficientes".
b) A premissa menor expressa um princípio operante de toda a ciência, a saber, que todas as coisas têm o seu uso, que a ordem permeia o universo e que os métodos da natureza são racionais. Evidências disto aparecem na correlação dos elementos químicos uns com os outros; na adequação do mundo inanimado que é a base e suporte da vida; nas formas típicas e na unidade do plano que aparece na criação orgânica; na existência e cooperação das leis naturais; na ordem cósmica e compensações. Esta premissa menor não é invalidada pelas seguintes objeções: a) Que freqüentemente entendemos mal o fim na verdade submetido pelos eventos naturais e objetos; pois o princípio não é que conhecemos necessariamente o verdadeiro fim, mas que necessariamente cremos que há um certo fim em cada caso da ordem e colocação sistemáticas, b) Que a ordem do universo é manifestamente imperfeita; pois, se isto fosse aceito, argumentaríamos, não a ausência da invenção, um certo tipo de razão da imperfeição, ou nas limitações da própria inteligência inventora, ou na natureza do fim que se procura (como, por exemplo, a correspondência com o estado moral e provação dos pecadores). As evidências de ordem e colocação útil encontram-se tanto na indefinidamente pequena como na indefinidamente grande. As moléculas são artigos manufaturados; e as compensações do sistema solar que guarnecem aquele achatamento da órbita terrestre resultarão num arredondamento dessa mesma órbita, como mostra uma inteligência bem
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mais transcendente que a nossa; ver Cooke, Religion and Chemistry, and Credentials of Science, 23 -"O belo é a harmonia das relações que a perfeita adequação produz; a lei é o princípio prevalecente que sustenta essa harmonia. Por isso, tanto o belo como a lei implicam desígnio. A partir da energia, da adequação do belo, da ordem, do sacrifício, demonstramos o poder, a habilidade, a perfeição, a lei, e o amor numa Inteligência Suprema. O cristianismo implica desígnio e é a complementação do seu argumento". Pfleiderer, Philos. Religion, 1.168-"Uma boa definição do belo é a intencionalidade imanente, o cenário teleológico da realidade ideal, o brilho da Idéia através dos fenômenos". Bowne, Philos. of Theism, 85 - "O desígnio nunca é casual. Ele é apenas ideal e a sua realização demanda uma causa eficiente. Se o gelo não deve afundar existe alguma estrutura molecular que faça o seu volume maior que o de um peso igual ao da água". Jackson, Theodore Parker, 355 "Os órgãos rudimentares são como as letras mudas em muitas palavras: ambos testemunham uma história passada; e há uma inteligência na sua preservação". Diman, Theistic Argument: "Observamos não somente a mudança no mundo, que é a base do Argumento Cosmológico, mas percebemos que tal mudança age de acordo com uma regra fixa e invariável; na natureza inorgânica, na ordem geral, ou na regularidade) na ordem orgânica, especial ou na adaptação". Bowne, Review of H. Spencer, 113-115, 224-230: "A ciência indutiva se apóia no postulado de que o racional e o natural são um". Kant: "O anatomista deve admitir que nada no homem existe em vão". a) É fruto do desígnio que os rios sempre cortam grandes cidades? que as cidades são sempre fundadas em centros de jogatina? As plantas são feitas em benefício do homem e o homem em benefício dos vermes? Voltaire: "Os narizes são feitos para os óculos - vamos usá-los"! Pope: "Enquanto o homem exclama 'tudo existe para o meu uso', retruca o venturoso néscio: 'em meu benefício'". Não se colhem as cerejas no frio do inverno quando não têm bom sabor e as uvas no calor do verão quando o vinho novo se transforma em vinagre? A natureza divide os melões em seções por conveniência ao serem saboreados pela família? A corticeira é feita para arrolhar as garrafas? A criança a quem se perguntou por que existe sal no oceano, respondeu que isto se deve à existência do bacalhau, confundindo a
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causa final com a causa eficiente. O professor pergunta: "Que são marsupiais"? O aluno responde: "São animais que têm bolsas". "Para quê?", pergunta o professor. Resposta do aluno: "Para esconder-se dentro dela quando perseguidos". Por que os dias são mais longos no verão do que no inverno? Porque esta é a propriedade de todos objetos naturais: alongaremse sob a influência do calor. Um professor da cidade de Hiena ensinava que os médicos não existem por causa da doença, mas as doenças é que existem para que possa haver médicos. Kepler era um quixotesco astrônomo. Discutia as reivindicações de onze diferentes donzelas de se tornarem a sua segunda esposa e comparava os planetas a animais correndo pelo céu. Muitas das objeções ao desígnio surgem da confusão de uma parte da criação com o todo ou uma estrutura no processo de desenvolvimento com uma estrutura completa. b) Alphonse de Castile ofendeu-se com o sistema ptolomaico e insinuou que, se ele tivesse sido consultado na criação, teria sugerido progressos mais valiosos. Lange, em sua History of Materialism, ilustra alguns dos métodos da natureza com milhões de barris de armas atirando em todas direções para matar apenas uma lebre; comprando dez mil chaves ao acaso para entrar num compartimento fechado; edificando uma cidade para obter uma casa. Não é um exagero o gelo que cobre os pólos? O ataque à natureza de John Stuart Mill em sua obra póstuma, Essays on Religion, 29 - "A natureza fere o homem, quebra-o como se sobre uma roda o lançasse para ser devorado pelos animais selvagens, esmaga-o com pedras como o primeiro mártir cristão, mata-o de fome, congela-o com o frio, envenena-o com a rápida ou lenta peçonha das suas exalações e centenas de outras terríveis mortes, tais como a engenhosa crueldade jamais ultrapassada por Nábis ou por Domiciano". A doutrina da evolução responde muitas destas objeções, mostrando que a ordem e a colocação útil no sistema como um todo é necessária e adquirida ao baixo preço pela imperfeição e sofrimento nos estágios iniciais de desenvolvimento. Impõe-se a pergunta: O sistema como um todo implica um desígnio? Minha opinião é que não há nenhum valor quanto a utilidade de uma complicada máquina para cujo propósito eu ignoro. Se eu me posto no começo de uma estrada e não sei aonde ela me conduz, presumo que ela assinale um destino mais direto. Bowne, Philos. of Theism, 20-22 - "Para
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contrabalançar as impressões que a aparente desordem e a imoralidade operam em nós, temos de admitir que o universo, em sua raiz, não é apenas racional e bom. Isto é fé, mas um ato do qual depende toda a vida moral". Metaphysics, 165 -"O mesmo argumento que nega a mente na natureza nega a mente no homem". Fisher, Nat And Meth. of Rev., 264-"Há cinqüenta anos, quando o guindaste tocou o topo da torre da Catedral de Colônia, ainda por terminar, não havia evidência nenhuma do desígnio da estrutura toda"? Embora aceitemos que, enquanto não podemos com John Stuart Mill explicar as imperfeições do universo por quaisquer limitações da Inteligência que a planejou, não nos dispomos a considerá-las como se pretendessem corresponder ao estado moral e provação dos pecadores que Deus previu e proveu para a criação.
2. Defeitos do Argumento Teleológico Estes se ligam não às premissas, mas à conclusão que se busca tirar delas. a) O argumento não pode provar um Deus pessoal. A ordem e colocações úteis do universo só podem ser os mutantes fenômenos de uma inteligência e vontade pessoais, como supõe o panteísmo. A finalidade só pode ser a imanente. Existe uma coisa que se chama finalidade imanente e inconsciente. O espírito nacional, sem o propósito estabelecido, constrói a língua. A abelha trabalha inconscientemente para os seus fins. Estráton de Lâmpsaco considerava o mundo como um grande animal. Neander: "A obra divina parte de dentro para fora". John Fiske: "O argumento do relógio tem sido superado pelo da flor". Iverach, Theism, 91 - "O efeito da evolução tem sido somente o de transferir a causa da mera influência externa operando de fora para um princípio racional imanente". Martineau, Study, 1.349,350 - "De modo nenhum o teísmo comprometeu a doutrina de um Deus exterior ao mundo ... nem a inteligência requer, para alcançar seu objetivo, que se exteriorize". Newman Smyth, Place of Death, 62-80 - "O universo existe em alguma Inteligência toda permeável. Suponha que você possa ver um pequeno mon-
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te de tijolos, fragmentos de metal, e pedaços de argamassa, formando-se gradualmente nas paredes e estrutura interna do edifício, acrescentando-se o material necessário à medida que a obra avança e, por fim, apresentando em seu acabamento uma fábrica mobiliada com máquinas variadas e bem trabalhadas. Ou uma locomotiva contendo um processo de auto-reparo para compensar o desgaste, aumentando o seu tamanho, soltando de si, com relativa freqüência, pedaços de latão ou de ferro dotados de capacidade de desenvolver-se passo a passo em outras locomotivas capazes de correr e reproduzir-se, por sua vez, em novas locomotivas". Do mesmo modo, a natureza, em suas partes separadas, pode parecer mecânica, mas no seu todo ela é racional. Weismann não "nega a força diretiva"; tal força é "a retaguarda do mecanismo como sua causa final... que deve ser teleológica". Por serem impressionantes estas evidências da inteligência no universo como um todo e em número aumentado à luz da evolução, devemos ainda sustentar que a natureza por si só não pode provar que esta inteligência é pessoal. Hopkins, Miscellanies, 18-36 - "Até onde existe essa inteligência impessoal e adaptável na criação irracional, não podemos necessariamente inferir a partir de leis imutáveis um Deus livre e impessoal". Ver Fisher, Supernatural Origin of Christianity, 576-578. Kant mostra que o argumento não prova a inteligência independentemente da palavra (Critique, 370). Devemos trazer a mente ao mundo, se quisermos achá-la nele. Deixe o homem ausente e a natureza não poderá ser apropriadamente interpretada: a inteligência e a vontade na natureza podem ainda estar inconscientes. Porém, no caso do homem, somos obrigados a ter a idéia da inteligência e da vontade na natureza a partir do mais elevado tipo de inteligência que conhecemos, isto é, a dele. "Nullus in microcosmo spiritus, nullus in macrocosmo Deus" "Recebemos apenas o que damos e, na nossa vida, só vive a Natureza". Por isso, o Argumento Teleológico necessita de ser suplementado pelo Antropológico, isto é, da constituição mental e moral do homem. Por si só, ele não prova a existência de um Criador. Porque a justiça pertence só à pessoalidade, este argumento não pode provar a justiça de Deus. Flint, Theism, 66 - "A força e a inteligência, por si só, não se constituem Deus, embora sejam infinitas. Um ser pode possuí-las e, se não houver justiça,
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pode tratar-se de um diabo". Vemos aqui novamente a necessidade da sua suplementação pelo Argumento Antropológico.
b) Mesmo que este argumento pudesse provar a pessoalidade na inteligência e na vontade que originou a ordem do universo, não poderia provar ou a unidade, ou a eternidade, ou a infinitude de Deus; a unidade – pois as colocações úteis do universo poderiam ser o resultado da unicidade do conselho, ao invés de a unicidade da essência, na inteligência inventiva; a eternidade - pois um demiurgo criado talvez pudesse ter designado o universo; nem a infinitude - porque todas as marcas da ordem e colocação dentro da nossa observação simplesmente são finitas. Diman, Theistic Argument, 114 afirma que todos os fenômenos do universo se devem à mesma fonte - visto que todos, de igual modo, estão sujeitos ao mesmo método de seqüência, p. ex. gravitação - e que a evidência nos aponta irresistivelmente para alguma causa explicativa. Podemos considerar esta afirmação somente como um pronunciamento de uma crença primitiva numa causa primeira, não como a conclusão de uma demonstração lógica porque conhecemos uma parte infinitesimal do universo. Do ponto de vista de uma Razão Absoluta, contudo, podemos cordialmente assentir com as palavras de F. P. Patton: "Quando consideramos a 'correnteza da tendência', o 'incognoscível de Spencer', o 'mundo da vontade' de Schopenhauer e a elaborada defesa da finalidade como o produto da inteligência inconsciente de Hartmann, podemos perguntar se os teístas com a sua crença em um Deus pessoal não estão de posse da única hipótese que pode salvar a linguagem destes escritores da acusação de ausência de sentido e de delírio idiota" (Journ. Christ. Philos, abr. 1883,283-307). O mundo antigo, que tinha apenas a luz da natureza, cria em muitos deuses. William James, Will to Believe, 44 - "Se houver um divino Espírito do universo, a natureza, tal como a conhecemos, possivelmente não é a última palavra para o homem. Ou não há um espírito revelado na natureza, ou ele se revela inadequadamente nela; e (como tem admitido as mais elevadas religiões) o que chamamos de natureza visível, ou este mundo, deve ser
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apenas um véu e uma aparência superficial cujo significado pleno reside num elemento suplementar invisível, um outro mundo". Bowne, Theory of Thought and Knowledge, 234 - "Mas a inteligência não é em si mesma um mistério dos mistérios? ... Sem dúvida, o intelecto é um grande mistério. ... Porém há uma escolha neles. Alguns mistérios deixam outras coisas claras, e alguns deixam as deixam tão obscuras e impenetráveis como sempre. Naquele caso encontra-se o mistério da inteligência. Isto torna possível a compreensão de todas as coisas exceto ela mesma".
3. O valor do Argumento Teleológico é simplesmente este: prova a partir de suas colocações úteis e exemplos de ordem que claramente tivemos um começo, ou, em outras palavras, a partir da harmonia do universo, que existe uma inteligência e uma vontade adequadas ao seu plano. Mas este argumento não pode garantir-nos se esta inteligência e esta vontade são pessoais ou impessoais, se o criador ou moldador é um ou são muitos, se é finito ou infinito, se eterno ou deve seu ser a outro, se necessário ou livre. Contudo, nisto damos um passo a frente. O poder causativo que provamos através do Argumento Cosmológico transformou-se numa força inteligente e voluntária. John Stuart Mill, Three Essays on Theism, 168-170 - "No presente estado do nosso conhecimento, as adaptações da natureza fornecem um grande balanço da probabilidade em favor da causa através da inteligência". Ladd sustenta que, sempre que um ser age sobre o seu semelhante, cada um sofre mudanças de estado que pertencem à sua própria natureza sob certas circunstâncias. A ação de um corpo sobre o outro nunca consiste em transferir o estado de um para o outro. Por isso não há mais dificuldade nos seres que são díspares agirem sobre um outro do que em seres semelhantes. Não transferimos idéias para outras mentes, - apenas despertamo-las para que desenvolvam as suas próprias. Do mesmo modo a força não é positivamente transferível. Bowne, Philos. of Theism, 49, começa com "a concepção das coisas que interagem segundo a lei e formam um sistema inteligível. Não se pode construir tal sistema através do pensamento sem que se suponha que um ser unitário é a realidade fundamental do
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sistema. 53 - Nenhuma passagem de influências ou forças terá valor para cobrir a lacuna, quando as coisas são consideradas independentes. 56-0 próprio sistema não pode explicar esta interação porque o sistema é formado apenas dos seus membros. Neles deve haver algum ser que é a realidade deles e de que em certo sentido são fases e manifestações. A saber, há um monismo fundamental". Substancialmente este é o ponto de vista de Lotze. Falckenberg, Geschichte derneueren Philosophie, 454, mostra como o ponto de vista de Lotze de que a sua suposição da unidade monística e continuidade não explicam como a mudança de condição, como a equiparação e compensação seguem a mudança de estado de qualquer coisa. Lotze explica esta realidade através da concepção ética de uma Pessoa de total extensão.
III. ARGUMENTO ANTROPOLÓGICO Este é um argumento da condição moral e mental do homem para com a existência de um Autor, Legislador e um Fim. Às vezes é chamado de Argumento Moral. O título comum "Argumento Moral" é demasiadamente limitado, porque parece levar em conta apenas a consciência do homem, enquanto o argumento que este título tão imperfeitamente designa, na verdade, procede da natureza intelectual do homem do mesmo modo que a moral. Ao escolher a designação que adotamos, desejamos, contudo, resgatar do simples termo médico "Antropologia" - um termo a que ele atribuiu uma significação muito limitada e que, ao empregá-lo, implica que o homem é somente um animal, para o qual a Antropologia é apenas o estudo de Ia bête humaine. A Antropologia não é somente a ciência da natureza física do homem, sua origem, e relacionamentos, mas também a que trata do seu mais elevado ser espiritual. Por isso, em Teologia, o termo Antropologia designa a divisão da matéria que trata da natureza espiritual e seus dotes, seu estado original e subseqüente apostasia. Por isso, como argumento a partir da natureza mental e moral do homem, podemos, com perfeita propriedade, chamar o presente argumento de Antropológico.
É um argumento complexo e pode dividir-se em três partes.
Teologia Sistemática (Strong) 172 1. A natureza intelectual e moral do homem deve ter tido como seu autor um Ser intelectual e moral. Os elementos da prova são os seguintes: a) O homem, como ser intelectual e moral, teve um começo no planeta, b) As forças materiais e inconscientes não fornecem causa suficiente para a consciência, razão e vontade livre do homem, c) O homem, como um efeito, pode referir-se a uma causa possuidora de natureza autoconsciente e moral, em outras palavras, pessoalidade. Este argumento é parte de uma aplicação dos princípios tanto do Argumento Cosmológico como do Teleológico ao homem. Flint, Theism, 74 "Embora a causalidade não envolva o desígnio, nem o desígnio a bondade, contudo este envolve a causalidade, e a bondade envolve tanto a causalidade como o desígnio". Jacobi: "A natureza oculta Deus; o homem o revela". O homem é um efeito. A História das eras geológicas prova que o homem nem sempre existiu e, mesmo que as criaturas inferiores fossem seus progenitores, seu intelecto e liberdade não são eternos a parte ante. Consideramos o homem não como um ser físico, mas espiritual. Thompson, Christian Theism, 75 - "Toda a verdadeira causa deve ser suficiente para explicar o efeito". Locke, Essays, book 4, cap. 10 - "A inteligência que cogita não pode ser produzida a partir da que não o faz". Ainda que o homem tivesse sempre existido, não precisaríamos abandonar o argumento. Deveríamos partir, não do começo da existência, mas do começo dos fenômenos. Eu poderia ver Deus no mundo, do mesmo modo que vejo o pensamento, a vontade, no meu companheiro. Fullerton, Plain Argument for God: Eu não infiro a respeito de você, como a causa da existência do seu corpo: Reconheço que você está presente e operante através do seu corpo. As mudanças que ele apresenta no gesto e na fala revelam uma pessoalidade através deles. Deste modo não preciso argumentar sobre um Ser que outrora causou a natureza e a história; reconheço um Ser presente, exercendo sabedoria e poder, através de sinais tais que revelam pessoalidade no homem. A natureza é por si mesma o Relojoeiro manifestando-se no próprio processo da feitura do relógio. Este é o sentido do nobre Epílogo à Dramatis Personae de Robert Browning, 252 -
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"Aquele rosto, longe de desvanecer-se, desenvolve-se, Ou decompõe-se, mas recompõe-se, Torna-se o meu universo que sente e conhece". "Esse é o Rosto de Cristo; é assim que eu o sinto". A natureza é expressão da mente e da vontade de Cristo, do mesmo modo que o meu rosto o é da minha mente e da minha vontade. Porém em ambos os casos, formando a retaguarda e cobrindo o rosto, acha-se uma pessoalidade da qual este é apenas a expressão parcial e temporária. Bowne, Philos. Theism, 104,107 - "Os meus companheiros agem como se tivessem pensamento, sentimento e vontade. Assim a natureza olha como se o pensamento, o sentimento e a vontade servissem de sua retaguarda. Se negarmos a mente na natureza, devemos negá-la no homem. Contudo, se não existir uma mente controladora na natureza, também não pode existir no homem porque, se o poder básico é cego e necessário, então tudo depende também do que é necessitado". LeConte, em Royce's Conception of God, 44 - "Só existe um lugar no mundo onde podemos adquirir os fenômenos físicos, sob o véu da matéria, a saber, o nosso cérebro e nele encontramos o eu, a pessoa. Não será razoável que, se pudermos adquiri-lo sob o véu da natureza, do mesmo modo achemos uma Pessoa? Porém a admitir-se isto, podemos deduzir uma Pessoa infinita e, portanto, a única Pessoalidade completa que existe. A pessoalidade perfeita não é apenas a consciência própria, mas a existência própria. Elas são apenas imagens imperfeitas, como se fossem fragmentos separados da Pessoalidade infinita de Deus". Personalidade = consciência própria + determinação própria com vista a fins morais. O bruto tem inteligência e vontade, mas nem tem percepção própria, nem consciência, nem vontade livre. Diman, Theistic Argument, 91,251 -"Suponha que 'as intuições da faculdade moral sejam resultados da experiência recebida da raça lentamente organizados'; ainda, tendo achado que o universo oferece evidência de uma causa supremamente inteligente, podemos crer que a natureza moral do homem oferece a mais elevada ilustração do seu modo de operar"; 358 - "Explicaremos as formas inferiores da vontade pelas mais elevadas, ou as mais elevadas pelas inferiores"?
2. A natureza moral do homem prova a existência de um Legislador e juiz santo. Os elementos da prova são: d) A consciência reconhece a
Teologia Sistemática (Strong) 174 existência de uma lei moral que tem autoridade suprema, b) Os sentimentos de abandono do mal e temores do julgamento são conseqüências das conhecidas violações desta lei moral, c) Porque esta lei moral não é auto-imposta e porque as ameaças de julgamento não são auto-executadas defendem respectivamente a existência de uma vontade santa que impôs a lei e do poder punitivo que executará as ameaças da natureza moral. Ver, do Bispo Butler, Sermons on Human Nature, in Works, Bohn's ed, 385-414. A grande descoberta de Butler é a da consciência na constituição moral do homem: "Se ela tivesse a mesma força que a justiça, se tivesse o mesmo poder com que manifesta a autoridade, governaria o mundo de um modo absoluto". Consciência = justiça moral da alma - sem lei, sem policiamento, mas com juiz; ver abaixo Antropologia. Diman, Theistic Argument, 251 -"A consciência não depõe uma lei; adverte-nos da sua existência; e não só da lei, mas do propósito - não nosso, mas dos outros, missão a ser realizada". Ver Murphy, Scientific Bases of Faith, 218, seg. Isto prova a pessoalidade do Legislador porque os seus pronunciamentos não são abstratos, como os da razão, mas encontram-se na natureza do mandamento; eles não estão no modo indicativo, mas no imperativo; o mandamento diz: "farás", ou "não farás". . Isto convence a vontade. Hutton, Essays, 1.11 - "A consciência é um Moisés ideal, e os trovões de um Sinai invisível"; o ateu não considera a consciência como clarabóia, aberta para penetrar na natureza humana uma infinita aurora vinda do alto, mas como um arco polido ou domo, completando e refletindo todo o edifício embaixo". Porém a consciência não pode ser um simples reflexo e expressão da natureza, pois ela reprime e condena-a. Tullock, Theism: "Como a agulha magnética, a consciência indica a existência de uma Força desconhecida que, de longe, controla suas vibrações e treme diante da sua presença". Nero passa noites de terror vagando pelos salões da sua Casa Dourada. Kant sustenta que a fé no dever requer fé num Deus que defenderá e galardoará o dever -ver Crítica da Razão Pura, 359-387. Kant, em sua Metafísica da Ética, representa a ação da consciência como "conduzindo um processo perante a corte" e acrescenta: "Agora que
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ele é acusado diante da sua consciência seria absurdo imaginar que seja justo a própria pessoa exercer a função de juiz no tribunal; em tal circunstância, o acusador sempre perderia a sua causa. Por isso a consciência deve representar para si sempre uma outra pessoa como Juiz, a não ser que pretenda entrar em contradição consigo mesma". Ver também Crítica da Razão Prática, Werke, 8.214 - "Dever, sublime e poderoso nome, que nada tens em ti que atraia ou lucre, porém a mais desafiadora submissão; e ainda não ameaças dirigir a vontade através daquilo que pode despertar o terror natural ou aversão, mas somente divagar sobre a Lei; a Lei, que por si mesma descobre entrada na mente e mesmo quando nós desobedecemos, contra a nossa vontade compele-nos à reverência, uma Lei em cuja presença todas inclinações se tornam mais surdas, mesmo quando se tornam ocultamente rebeldes; que origem existe que seja digna de ti? Onde podes encontrar a raiz da tua nobre descendência, que orgulhosamente rejeitas todo o reinado com as inclinações? O Arcebispo Temple responde em suas Bampton Lect, 58,59, "Esta Lei eterna é o próprio Eterno, o Deus Onipotente". Robert Browning: "Dentro de mim o senso de que eu tenho um débito Garante-me - Em algum lugar deve haver Alguém, pronto a cumprir o seu dever. Tudo se volta para o seguinte: Onde há o dever existe a conseqüente aceitação: procura Aquele que aceita o dever". Salter, Ethical Religion, citada no artigo de Pfleiderer sobre Moralidade sem Religião, Am. Jour. Theol., 3.237 - "A terra e as estrelas não criam a lei da gravidade a que elas obedecem; nem o homem, ou os exércitos dos seres racionais no universo unidos, criam a lei do dever". A vontade expressa no imperativo moral é superiora nossa porque doutra forma não haveria ordens. Contudo ela é uma com a nossa como a vida de um organismo está unida à dos seus membros. A teonomia não é heteronomia, mas a mais elevada autonomia, a garantia da nossa liberdade pessoal contra toda a servidão humana. Sêneca: "Deo parere libertas est" (A liberdade se parece com Deus). Knight, Essays in Philosophy, 272 - "Na consciência vemos um 'alter ego', em nós embora não de nós, mas outra Pessoalidade apoiando-nos". Martineau, Types, 2.105 - "Só uma pessoa pode ter autoridade sobre outra pessoa. ... Um ser solitário sem natureza sensível no universo não sentiria nenhum dever"; 1.26 - "Como a Percepção nos dá a Vontade na forma de Causalidade contra nós no Non-Ego, do mesmo modo a Consciência nos dá a Vontade na forma de Autoridade em
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oposição completa a nós nele.... 2.7 - "Não podemos deduzir os fenômenos do caráter a partir de um agente que nada possui". Hutton, Essays, 1.41,42 "Quando desobedecemos à consciência, a Força interna deixou de movernos; retirou-se apenas para observar- vigiar como nos moldamos a nós mesmos". Cardeal Newman, Apology, 377 - "Se não fosse pela voz que tão claramente fala à minha consciência e ao meu coração, eu seria um ateu ou um panteísta, ou um politeísta ao examinar cuidadosamente o mundo".
3. A natureza emotiva e voluntária do homem prova a existência de um ser que pode fornecer em si um objeto satisfatório do sentimento humano e de um fim que manifestará as mais elevadas atividades do homem e garantirá o seu mais elevado progresso. Só um ser que possui poder, sabedoria, santidade e bondade e tudo isto infinitamente maior do que conhecemos na terra pode atender a demanda da alma humana. Não há dúvida de que tal ser existe. Caso contrário, não seria suprida a maior necessidade do homem e a crença em uma mentira seria mais produtiva virtude do que a crença na verdade. Feuerbach chama Deus "o reflexo do próprio homem arruinado"; "a consciência de Deus = a consciência de si mesmo"; "a religião é um sonho da alma humana"; "a teologia toda é uma antropologia"; "o homem fez Deus à sua imagem". Porém a consciência mostra que o homem não reconhece em Deus apenas um seu semelhante, mas também o seu antagônico. Não como Galeno: Piedade = consciência + instabilidade". As mais refinadas mentes são as do tipo debilitado; ver Agostinho, Confessions, 1.1 - "Tu nos fizeste para ti, e o meu coração não tem repouso enquanto não descansa em ti". Sobre John Stuart Mill - "uma mente que não pôde achar Deus e uma mente que não pôde agir sem Deus". Comte, em seus últimos dias, construiu um objeto de adoração na Humanidade Universal e inventou um ritual que Huxley chama "Catolicismo minus Cristianismo". Ver também Tyndall, Belfast Address: "Se eu não cresse, dizia-me certa ocasião um grande homem, que existe uma Inteligência no cerne das coisas, minha vida na terra seria intolerável". A última linha do Peregrino de Schiller diz: "Und das Dort ist niemals Hier ("O ali nunca está aqui"). O finito nunca satisfaz. Tennyson, Two Voices:
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"Eis a vida de que os nossos nervos são escassos, Oh vida, não morte, por cuja causa ofegamos; Mais vida, mais completa eu quero". Seth, Ethical Principles, 419 - "Um universo moral, um Ser moral absoluto, é o ambiente indispensável da vida ética, sem o qual não pode atingir o desenvolvimento perfeito. ... Há um Deus moral, ou isto não é universo". James, Will to Believe, 116 — "Deus é o mais adequado objeto possível das mentes estruturadas como a nossa para conceber como enganosa a raiz do universo. Qualquer coisa sem muito de Deus não é um objeto racional, qualquer coisa mais do que Deus não é possível, se o homem não necessita de um objeto de conhecimento, sentimento e vontade". Romanes, Thoughts on Religion, 41 - "Falar da Religião do Incognoscível, Religião do Cosmismo, a Religião da Humanidade, em que não se reconhece a pessoalidade da Primeira Causa não tem sentido do mesmo modo que falar do amor de um triângulo ou da racionalidade do equador". Dizia-se que, no sistema de Comte, "derramando-se o vinho da presença real, pedia-se que adorássemos a taça vazia". "Queremos um objeto de devoção e Comte nos brinda com espelho" (Martineau). Huxley dizia que ele adoraria a selvageria dos macacos logo que a dos positivistas racionalizassem o conceito de humanidade. Trata-se apenas da humanidade ideal, seu elemento divino que pode ser adorado. Uma vez concebido isto, não podemos nos satisfazer enquanto isto não se realize em algum lugar ou em alguém, como em Jesus Cristo. Upton, Hibbert Lectures, 265-272 - Huxley crê que a evolução é "um processo lógico materializado"; que nada permanece exceto o fluxo de energia e "a ordem racional o permeia"; Na sua primeira parte deste processo, a natureza, não existe moralidade nem benevolência. Mas o processo termina com a produção do homem, que pode ser a causa daquele apenas utilizando a guerra moral contra as forças naturais que o impelem. Ele deve ser benévolo e justo. Não diremos nós, em que pese o ponto de vista do Sr. HuxLEy, que isto deixa claro em que consiste a natureza do sistema e que deve existir um Ser benévolo e justo que a põe em ordem? Martineau, Seat of Authority, 63-68 -"Embora se conheça a autoridade do mais elevado incentivo, ela não pode ser criada; por enquanto ela está em mim e acima de mim. ... A autoridade a que a consciência me introduz, embora emergindo na consciência, é objetiva em todos nós e
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necessariamente se refere à natureza das coisas independentemente dos acidentes da nossa constituição. Ela não depende de nós, é independente. Todas as mentes nascidas no universo são introduzidas à presença de uma justiça real, tão certamente como numa cena de um espaço real. A percepção revela um outro ser além de nós mesmos; a consciência revela um mais elevado que nós mesmos". Contudo, livremente devemos admitir que este argumento a partir das aspirações do homem só tem peso se supusermos que existe um Deus sábio, verdadeiro, santo e benévolo, que constituiu as nossas mentes para que o seu pensamento e sentimentos correspondam à verdade e a ele mesmo. Um ímpio poderia ter-nos constituído tal lógica que nos induziria ao erro. Por isso, o argumento é o desenvolvimento e expressão da nossa idéia de Deus. Luthard, Fundamental Truths: "A natureza é como um documento escrito contendo apenas consoantes. Nós é que devemos fornecer as vogais que o decifrarão. A não ser que portemos conosco a idéia de Deus, a natureza mostrar-se-nos-á apenas muda".
a) Defeitos do Argumento Antropológico: a) não pode provar um criador do universo material, b) Não pode provar a infinitude de Deus. c) Não pode provar a misericórdia de Deus. Mas b) O valor do Argumento é que ele nos assegura da existência de um ser pessoal, que nos dirige em justiça e que é o próprio objeto do sentimento supremo e serviço. Mas se este Ser é o criador original de todas as coisas, ou simplesmente o autor da nossa existência, quer seja ele infinito ou finito, quer seja ele um Ser de simples justiça ou também de misericórdia, este argumento não nos garante. Entre os argumentos da existência de Deus, contudo, atribuímos a este o lugar principal, visto que ele acrescenta às idéias de poder causativo (que derivamos do Argumento Cosmológico) e da inteligência criativa (que derivamos do Argumento Teleológico), as bem mais amplas idéias de pessoalidade e justo senhorio. Sir William Hamilton, Works of Reid, 2.974, nota U; Lectures on Metaph., 1.33 - "Os únicos argumentos válidos da existência de Deus e da
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imortalidade da alma encontram-se na natureza moral do homem"; "a teologia depende inteiramente da psicologia, pois, com a prova da natureza moral do homem permanece em pé ou cai a da existência de Deus". Porém Diman, Theistic Argument, 244, muito apropriadamente rebate este argumento a partir da natureza do homem como única prova da divindade: "Seria mais adequado mostrar os atributos do Ser cuja existência já tem sido provada a partir de outras fontes"; "por isso o Argumento Antropológico depende tanto do Cosmológico e do Teleológico como estes dependem daquele". Contudo, o Argumento Antropológico é necessário para suplementar as conclusões dos dois outros. Aqueles que, como Herbert Spencer, reconhecem um Ser infinito e absoluto, Poder e Causa, podem ainda deixar de reconhecer o referido ser como espiritual e pessoal somente porque não reconhecem a si mesmos como tais, isto é, não reconhecem a razão, a consciência e a livre vontade do homem. O agnosticismo na filosofia envolve-o na religião. R. K. Eccles: "Todas as línguas mais avançadas escrevem as palavras 'Deus' e 'Eu' com letra maiúscula". Cook, Religion and Chemistry. "Deus é amor; mas a natureza não pode prová-lo e é para atestálo que o Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo". Na filosofia, tudo depende do nosso ponto de partida, quer da natureza ou do eu, quer do elemento necessário quer do livre. Por isso, em certo sentido, na prática devemos começar com o Argumento Antropológico e, a partir daí empregar o Cosmológico e o Teleológico para garantir a aplicação das conclusões que temos tirado do homem para natureza. Como Deus está frente a frente ao homem na Consciência e diz-lhe: "Tu"; semelhantemente o homem está com relação a Deus na Natureza e pode dizer-lhe "Tu". Mulford, Republic of God, 28 - "Como a pessoalidade do homem tem seu fundamento na pessoalidade de Deus, assim também a realização da sua própria pessoalidade pelo homem aproxima-o mais de Deus". É muito comum em tais circunstâncias tratar o que se chama os Argumentos Histórico e Bíblico da existência de Deus - aquele argumentando, a partir da unidade da história, este a partir da Bíblia; tal unidade deve, em cada caso, ter a sua causa e explicação na existência de Deus. É uma razão suficiente para não discutir estes argumentos; sem a prévia crença na existência de Deus, ninguém verá unidade nem na história, nem na Bíblia.
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O pintor Turner expôs um quadro que parecia um nevoeiro e uma nuvem até que ele lhe deu uma pincelada escarlata. Foi o que bastou para dar-lhe o verdadeiro ponto de vista e o resto tornou-se inteligível. Deste modo, a vinda de Cristo e o seu sangue tornaram inteligíveis tanto as Escrituras como a história humana. Ele ostenta em seu cinto a chave de todos mistérios. Schopenhauer, que não conhecia a Cristo, não admitia a filosofia da história. Considerava a história um simples jogo fortuito do capricho do indivíduo. Pascal: "Jesus Cristo é o centro e o objeto de todas as coisas; aquele que não o conhece ignora a natureza e a si mesmo".
IV. ARGUMENTO ONTOLÓGICO Este argumento infere a existência de Deus a partir de idéias abstratas e necessárias da mente humana. Apresenta-se em três formas: 1. De Samuel Clarke Espaço e tempo são atributos da substância ou ser. Mas espaço e tempo são, respectivamente, infinito e eterno. Portanto, deve haver uma substância infinita e eterna ou Ser a quem pertencem tais atributos. Gillespie apresenta o argumento de um modo um tanto diferente. Espaço e tempo são modos de existência. Mas eles são respectivamente infinitos e eternos. Por isso, certamente há um ser infinito e eterno que subsiste em tais modos. Porém replicamos: Espaço e tempo nem são atributos de substância, nem modos de existência. Se válido, o argumento provaria que Deus não é mente, mas matéria, pois não poderia ser mente, mas só matéria, da qual o espaço e o tempo seriam ou atributos ou modos. O Argumento Ontológico é chamado freqüentemente de argumento a priori, isto é, daquilo que é logicamente anterior, ou mais antigo que a experiência, a saber, nossas idéias intuitivas. Todas as formas do Argumento Ontológico, neste sentido, são a priori. Para o ponto de vista
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contrário ver Calderwood, Moral Philos., 226 - "Começar, como Clarke, com a proposição de que 'algo existia desde a eternidade', é virtualmente propor um argumento depois de ter admitido o que falta ser provado. A forma do argumento a priori de Gillespie, partindo da proposição de que 'a infinitude da extensão existe necessariamente', está sujeita à mesma objeção com a desvantagem de atribuir a Deus uma propriedade da matéria." H. B. Smith diz que Brougham interpretou mal Clarke: "O argumento de Clarke está na sua sexta proposição e supõe a existência provada daquilo que vem antes. Seu alvo aqui é estabelecer a infinitude e onipresença deste Primeiro Ser. Ele não prova a existência a partir da imensidão". Porém retrucamos que, ele nem pode provar a infinidade de Deus a partir da imensidão do espaço. Espaço e tempo não são substâncias nem atributos, mas relações. A doutrina de que espaço e tempo são atributos ou modos da existência de Deus tende ao panteísmo materialista como o de Spinosa, que defende que a "substância una e simples" (substantia una et única) nos é conhecida através dos dois atributos: pensamento e extensão; mente = Deus no modo do pensamento; matéria = Deus no modo da extensão. Dove, Logic of the Christian Faith, 127, diz, com propriedade que um Deus extenso é um Deus material; "espaço e tempo nem são atributos da matéria, nem da mente"; "devemos ter a idéia moral no mundo natural não a idéia natural no mundo moral". H. M. Stanley, on Space and Science, in Philos. Rev., Nov. 1898; 615 - "O espaço não é cheio de coisas, mas as coisas são espaçosas.... Espaço é uma forma de aparecimento dinâmico". Prof. C. A. Strong: "O mundo composto de consciência e outras existências não se encontra no espaço, embora possa estar em algo de que o espaço é o símbolo".
2. De Descartes Temos a idéia de um Ser infinito e perfeito. Esta idéia não pode ser derivada de coisas imperfeitas e finitas. Portanto, deve haver um Ser infinito e perfeito que é a sua causa.
Teologia Sistemática (Strong) 182 Porém respondemos que este argumento confunde a idéia de infinito com uma idéia infinita. A idéia que o homem tem do infinito não é infinita, mas finita e de um efeito finito não podemos argumentar uma causa infinita. Esta forma do argumento Ontológico, conquanto seja a priori, baseada na idéia necessária da mente humana é, diferentemente das outras formas do mesmo argumento, a posteriori, raciocinando a partir desta idéia, como um efeito, para a existência de um Ser que é a sua causa. Argumento a posteriori = daquilo que é mais tardio para o que é mais antigo, isto é, do efeito para a causa. Os Argumentos Cosmológico, Teleológico e Antropológico são a posteriori. Deste tipo é o de Descartes; ver Descartes, Meditação, 3: Haec idea quae in nobis est requirit Deum pro causa; Deusque proinde existit". A idéia na mente dos homens é a impressão do nome do trabalhador indelevelmente estampada no seu trabalho - a sombra projetada na alma humana pelo Ser invisível de cuja existência e presença obscuramente ela nos informa. Blunt, Diet, of Theol., 739; Saisset, Pantheism, 1.54 - "Descartes restringe o fato da consciência, enquanto Anselmo a concepção abstrata"; "O argumento de Descartes podia ser considerado um ramo do Argumento Antropológico ou Moral, pelo fato de que este último procede da constituição humana e não das suas idéias abstratas".
3. De Anselmo Temos a idéia de um Ser absolutamente perfeito. Porém a existência é um atributo da perfeição. Deve existir um ser absolutamente perfeito. Respondemos que este argumento confunde existência ideal com existência real. Nossas idéias não são a medida da realidade externa. Anselmo, Poslogion, 2 - "Id quod majus cogitari nequit, non potest esse in intellectu solo". A premissa maior aqui não é que todas idéias perfeitas implicam a existência do objeto que elas representam, porque então, como Kant contrapõe, eu poderia argumentar da minha idéia perfeita de uma nota
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de $100 que eu realmente possuía, o que está longe do fato. Deste modo eu tenho uma idéia perfeita de um mau ser, de um centauro, de nada, - mas não se segue que o mau ser, o centauro, ou que o nada existe. O argumento é mais exatamente da idéia do Ser absoluto e perfeito - de "que, não se pode conceber maior do que ele". Só pode haver um ser assim como uma só idéia com esta mesma característica. Contudo, mesmo que se entenda deste modo, não podemos argumentar a partir desta idéia em favor da existência real de tal ser. Case, Physical Realism, 173 - "Deus não é uma idéia e consequentemente não se pode inferir a partir de simples idéias". Bowne, Philos. Theism, 43-0 Argumento Ontológico "apenas assinala que a idéia do perfeito deve incluir a da existência; mas nada há que mostre que a idéia autoconsistente representa uma realidade objetiva". Imagino a serpente do mar, o Jinn das Mil e Uma Noites, "A Antropofagia e os homens cujas cabeças crescem sob os seus ombros". O Cavalo Alado de Uhland tinha todas as virtudes possíveis, mas faltava-lhe só uma, -não tinha vida. Se cada idéia perfeita implica a realidade do seu objetivo, pode haver cavalo com dez patas e árvores com raízes no ar. "O argumento de Anselmo implica", diz Fisher, in Journ. Christ. Philos., Jan., 1883.114, que a existência in Re. é um elemento constituinte do conceito. Concluir-se-ia a existência do ser a partir da definição de uma palavra. Esta inferência só se justifica com base no realismo filosófico". Dove, Logic of the Christ. Faith, 141 - "O Argumento Ontológico é a fórmula algébrica do universo que conduz a uma conclusão válida sobre a existência real só quando a enchemos de objetos que conhecemos nos argumentos a posteriori. Dorner, Glaubenslehre, 1.197, dá-nos a melhor afirmativa do Argumento Ontológico: "A razão pensa em Deus como existente. Se não fosse a razão, não se pensaria na existência de Deus. A razão só existe quando se admite que Deus é". Porém, evidentemente, isto não é argumento; é uma vivida afirmação da suposição necessária da existência de uma Razão absoluta que condiciona e valida a nossa.
Teologia Sistemática (Strong) 184 Apesar de que esta última deve ser considerada a mais perfeita forma do Argumento Ontológico, é evidente que nos conduz a uma conclusão ideal, não a uma existência real. Em comum com as duas formas anteriores do argumento, contudo, admite tacitamente, como já existindo na mente humana, aquele conhecimento da existência de Deus que derivaria da demonstração lógica. Tem valor, portanto, para mostrar o que Deus deve ser, se é que ele existe. Mas a existência de um Ser infinitamente grande, Causa pessoal, Criador e Legislador, tem sido provada nos argumentos anteriores; pois a lei da parcimônia requer que apliquemos as conclusões dos três primeiros argumentos àquele único Ser e não a muitos. A este Ser devemos agora atribuir a infinitude e a perfeição, idéia na qual se assenta a base do Argumento Ontológico – não porque são demonstradamente dele, mas porque a nossa constituição mental não nos permitirá pensar de outra forma. Assim, revestindo-o de toda a perfeição que a mente humana pode conceber e esta na ilimitada plenitude, temos aquele que com justiça chamamos Deus. McCosh, Div. Gov., 12, nota – "É neste lugar, se não nos enganamos, que entra a idéia do Infinito. Não se pode provar (como defende Kant) que a capacidade que a mente humana tem de formar tal idéia ou, mais do que isto, sua crença intuitiva, num Infinito que sente ser-lhe impossível formar um conceito adequado da existência de um Ser infinito; mas estamos convencidos de que os meios pelos quais a mente se capacita de revestir a Divindade, mostra-se existir em outras bases, com os atributos da infinitude, isto é, de ver este ser, poder, bondade, e todas as suas perfeições como infinitas". Even Flint, Theism, 68, que sustenta que chegamos à existência de Deus por inferência, fala das "condições necessárias do pensamento e sentimento e aspirações inerradicáveis que nos impõem idéias da existência absoluta, infinitude e perfeição, e nunca nos permitirão negar estas perfeições a Deus, nem atribuí-las a qualquer outro ser". A crença em Deus não é a conclusão de uma demonstração, mas a solução de um problema.
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Calderwood, Moral Philosophy, 226 - "Ou se admite a questão toda logo de início, ou não se atinge o Infinito". Clarke, Christian Theology, 97-114, divide a sua prova em duas partes: I. Evidência da Existência de Deus a partir do ponto partida intelectual: Fazse a descoberta da Mente no universo, 1. inteligibilidade do universo para conosco; 2. através dá idéia da causa; 3. através da presença dos fins do universo. II. Evidência da existência de Deus a partir do elemento religioso: Faz-se a descoberta do bom Deus, 1. através da natureza religiosa do homem; 2. através do grande dilema - Deus: o melhor ou o pior; 3. através da experiência espiritual do homem especialmente no cristianismo. Deste modo, até onde a prova do Dr. Clarke pretende ser uma afirmativa, não de uma crença primitiva, mas de um processo lógico, devemos sustentar que ela é defeituosa, do mesmo modo que as três formas de prova que vimos fornecer alguma evidência corroborativa da existência de Deus. Por isso Dr. Clarke, com muita propriedade, acrescenta: A religião não se produz através da prova da existência de Deus e não será destruída pela sua insuficiência em algumas mentes. A religião existia antes do argumento; de fato é a preciosidade da religião que induz a buscar toda a confirmação possível da realidade de Deus". As três formas de provar a existência de Deus já mencionadas - o Argumento Cosmológico, o Teleológico e o Antropológico - podem ser comparadas a três arcos de uma ponte sobre um largo e veloz rio. A ponte tem apenas dois defeitos, mas bem sérios. O primeiro é que não se pode avançar para ela; a extremidade da borda aquém não existe; não se pode entrar na ponte do argumento lógico a não ser que se admita a validade dos processos lógicos; esta suposição tem como certo, de início, a existência de um Deus que induziu nossas faculdades a agirem corretamente; avançamos para a ponte, não por um processo lógico, mas somente por um salto da intuição e admitindo, logo ao começo, a própria coisa que se pretende provar. O segundo defeito da assim chamada ponte do argumento é que, quando se caminha, nunca se sai. Também falta a conexão com a outra margem. Todas as premissas com que argumentamos, sendo finitas, garantem-nos apenas a extração de uma conclusão finita. O argumento não pode atingir o Infinito e só Um merece ser chamado Deus. Não podemos sair da nossa ponte lógica por processo lógico, mas somente por outro salto final
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da intuição e admitindo mais uma vez a existência do Ser infinito que em vão temos procurado alcançar por mero argumento. Parece haver aqui uma referência a Jó 11.7 - "Porventura alcançarás os caminhos de Deus, ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso?"
Como processo lógico este é defeituoso, visto que toda lógica bem como toda observação para sua validade depende da pressuposta existência de Deus e, visto que este processo particular, mesmo admitindo a validade da lógica em geral, não garante a conclusão de que Deus existe, exceto com base na suposição de que nossas idéias abstratas de infinitude e de perfeição se apliquem também ao Ser a quem o argumento nos conduziu. Porém, apesar de que ambos os fins da ponte lógica são totalmente falhos, o processo pode servir e na verdade serve a um propósito mais útil que o da simples demonstração, a saber, o de despertar, explicando e confirmando uma convicção que, apesar de a mais fundamental de todas, pode ter sido parcialmente adormecida por falta de pensamento. Morell, Philos. Fragments, 177,179 - "De fato, não podemos provar a existência de um Deus através de um argumento lógico do mesmo modo em que não o podemos no que tange a um mundo externo; mas também não podemos ao menos obter tão forte convicção prática de um como do outro". "Chegamos a uma crença científica na existência de Deus do mesmo modo em que o fazemos em qualquer outra verdade humana possível. Admitimolo, como uma hipótese absolutamente necessária a fim de explicar os fenômenos do universo; e então as evidências de cada quadrante começam a convergir para ele, até que, com o passar do tempo, o senso comum da humanidade, cultivada e iluminada por todo o conhecimento acumulado, pronuncie a validade da hipótese com uma voz raramente menos decisiva e universal que no caso das nossas mais elevadas convicções científicas". Fisher, Supernal Origin of Christianity, 572 - "Qual é, então, o propósito e qual a força dos vários argumentos da existência de Deus? Respondemos que tais provas são os diferentes modos em que a fé se expressa e busca
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confirmação. Neles concebe-se ou define-se a fé ou o objeto desta e neles não se encontra a corroboração arbitrária, mas a substancial e valiosa daquilo que a fé extrai da própria alma. Por isso, tais provas nem são, por um lado, suficientes para criar e sustentar a fé, nem, por outro lado, para desprezá-las como se não tivessem valor algum. A. J. Barrett: "Os argumentos, em si mesmos, não são tanto uma ponte, mas cabos que sustentam firmes a grande ponte pênsil da intuição, através da qual atravessamos o abismo entre o homem e Deus. Ou, conquanto não sejam uma escada pela qual podemos alcançar o céu, são o Ossa no Pélion de cuja altura combinada podemos divisá-lo". Anselmo: "Negligentia mihi videtur, si postquam confirmati sumus in fide non studemus quod credimus intelligere". Bradley, Appearance and Reality. "A metafísica é a descoberta das más razões por que cremos no instinto; mas descobrirmo-las não é menos que um instinto". Illingworth, Div. and Hum. Personality, Lect. Ill - "A crença num Deus pessoal é juízo instintivo justificado progressivamente pela razão". Knight, Essays in Philosophy, 241 -"Os argumentos são memoriais históricos dos esforços da raça humana para vindicar a si mesma a existência de uma realidade da qual ela está consciente, mas que não pode definir perfeitamente". H. Fielding, The Hearts of Men, 313 - "Os credos são a gramática da religião. Eles são para a religião o que a gramática é para a fala. As palavras são a expressão da nossa vontade; a gramática é a teoria formada posteriormente. A fala nunca procede da gramática, mas ocorre o contrário. Como a fala procede e muda a partir de causas desconhecidas, a gramática deve seguila". Pascal: "O coração tem razões que a própria razão desconhece". Frances Power Cobbe: "As instituições são 'tuições' de Deus". Hegel, em sua Logic, p. 3, falando da disposição relativa às provas da existência de Deus como o único meio de produzir fé em Deus, diz: "Tal doutrina encontraria seu paralelo se disséssemos que comer é impossível antes de ter adquirido o conhecimento das propriedades químicas, botânicas e zoológicas do nosso alimento; e que devemos adiar a digestão até que tenhamos terminado o estudo da anatomia e da fisiologia". É um erro supor que não há vida religiosa sem uma teoria correta da vida. Devo recusar-me a beber água ou a respirar o ar até que eu possa fabricá-los por mim mesmo? Algumas coisas nos são dadas. Entre elas estão "a graça e a verdade" (Jo.
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1.17; cf. 9). Mas sempre há os que não querem receber nada de graça e insistem em operar todo o seu conhecimento, assim como toda a salvação, através do seu próprio processo. O pelagianismo, com a sua negação das doutrinas da graça é apenas um desenvolvimento de um racionalismo que se recusa a aceitar as verdades primitivas a menos que sejam demonstradas logicamente. Visto que a existência da alma, do mundo, e de Deus não pode ser provada por este processo, o racionalismo é levado a reduzir ou a interpretar falsamente os pronunciamentos da consciência e disso resultam alguns sistemas a serem mencionados a seguir.
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Capítulo III EXPLICAÇÕES ERRÔNEAS E CONCLUSÃO Qualquer explicação correta do universo deve postular um conhecimento intuitivo da existência do mundo externo, de si mesmo, e de Deus. O desejo da unidade científica, contudo, tem ocasionado tentativas de reduzir estes três fatores a um e, conforme um e outro destes três, tem sido considerado como o princípio todo inclusivo, tem resultado em Materialismo, Idealismo Materialista ou Panteísmo Idealista. Um sistema que podemos designar como Monismo Ético satisfaz mais a contento este impulso científico. Podemos resumir o presente capítulo da seguinte forma: 1. Materialismo: Universo = átomos. Resposta: Os átomos nada podem fazer sem a força e não podem ser coisa alguma (inteligível) sem as idéias. 2. Idealismo Materialista: Universo = Força + Idéias. Resposta: As Idéias pertencem à Mente e a Força só pode ser exercida pela Vontade. 3. Panteísmo Idealista: Universo = Mente e Vontade Imanentes e Impessoais. Resposta: O espírito no homem mostra que o Espírito Infinito deve ser Mente e Vontade Transcendentes e Pessoais. Destas três formas de erro somos levados a uma conclusão que podemos denominar 4. Monismo Ético: Universo = Manifestação finita, parcial, graduada da Vida divina; a matéria é a autolimitação de Deus sob a lei da necessidade; a humanidade é a autolimitação sob a lei da liberdade; a Encarnação e a Expiação são as autolimitações de Deus sob a lei da graça. O Monismo Metafísico, ou a doutrina de uma Substância, Princípio ou Base do Ser, é consistente com o Dualismo Psicológico, ou a doutrina de que a alma é, por um lado, pessoalmente distinta da matéria e, por outro, de Deus.
I. MATERIALISMO O Materialismo é o método de pensamento que dá maior prioridade à matéria do que à mente nas explicações do universo. Com base neste ponto de vista os átomos materiais constituem a realidade última e
Teologia Sistemática (Strong) 190 fundamental de que todas as coisas, quer racionais, quer irracionais, são apenas combinações e fenômenos. A força é considerada como uma propriedade universal e inseparável da matéria. O elemento de verdade no materialismo é a realidade do mundo externo. Seu erro está em considerar o mundo externo como tendo existência original e independente e considerar a mente como seu produto. O materialismo considera os átomos como tijolos com cujo universo material é construída a casa em que moramos. Sir William Thomson (Lord Kelvin) imagina que, se uma gota de água fosse aumentada ao tamanho da nossa terra, os átomos em que ela consiste pareceriam maiores do que as bolinhas de vidro de um menino, e ainda bem menores que as bolas de bilhar. Todas coisas, visíveis e invisíveis, são feitas destes átomos. A mente, com todas as suas atividades, é uma combinação ou fenômeno de átomos. "Man ist was er iszt: ohne Phosphor kein gedanke" (A pessoa é o que come: sem fósforo, não há nenhum pensamento). A ética é um bilhete de passagem; e a adoração, como o calor, é um tipo de movimento. Contudo, Agassiz, espirituosamente perguntou: "Então, os pescadores são mais inteligentes que os agricultores, porque eles comem tanto peixe e, por isso, ingerem mais fósforo"? É evidente que muito do que se atribui aos átomos, na realidade pertence à força. Prive da força os átomos e tudo o que sobra é extensão, que = espaço = zero. Contudo, "se se estendem os átomos, estes não podem ser os últimos, porque a extensão implica divisibilidade e aquilo que se concebe como divisível não pode ser o último elemento filosófico. Porém, se os átomos não se estendem, conseqüentemente uma infinita multiplicação e combinação deles não pode produzir uma substância extensa. Além do mais, não se concebe um átomo que nem é substância extensa, nem substância pensante. O último elemento real é a força, que não pode ser exercida pelo nada, mas, como veremos doravante, só um Espírito pessoal pode exercê-la porque só ele possui as características da realidade, a saber, definibilidade, unidade e atividade". Não só a força, mas também a inteligência, deve ser atribuída aos átomos antes de poderem explicar qualquer operação da natureza. Herschel não só diz que "a força da gravitação parece assemelhar-se à de uma
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vontade universal", mas os próprios átomos, ao reconhecerem-se uns aos outros para combinarem-se, mostram em grande parte "a presença da mente". Ladd, Introd. to Philosophy, 269 - "Um distinto astrônomo disse que cada corpo no sistema solar comporta-se como se soubesse precisamente como deveria fazê-lo em consonância com a sua própria natureza e com o comportamento de cada um dos outros corpos no mesmo sistema solar. ... Cada átomo já percorreu incontáveis milhões de milhas com incontáveis milhões de pares, muitos dos quais requeriam importante modificação no seu modo de mover-se sem jamais apartarem-se do seu passo correto ou ritmo". J. P. Cooke, Credentials of Science, 104, 177, sugere que há algo mais necessário do que os átomos para explicar o universo. Deve-se admitir uma Inteligência correlata. Por si mesmo, os átomos seriam como um montão de pregos soltos, que necessitam de ser magnetizados para manterem-se unidos. Precisariam ser resolvidas todas as estruturas e desaparecer todas as formas da matéria se se quisesse afastar a Presença que as sustenta. O átomo, como as mônadas de Leibnitz, é "parvus in genere deus" - "um deus pequenino na sua natureza" - tão somente por ser a expressão da mente e da vontade de um Deus imanente. Platão fala dos homens que ficam "deslumbrados quando se aproximam de coisas materiais". Não percebem que as próprias coisas materiais, visto que só podem ser interpretadas em termos de espírito, devem ser na essência espirituais. O materialismo é a explicação de um mundo do qual conhecemos alguma coisa - o mundo da mente - através de um mundo do qual quase nada conhecemos - o da matéria. Upton, Hibbert Lectures, 297, 298 - "Como estão os átomos materiais e as moléculas cerebrais? Eles não têm existência real a não ser como objeto do pensamento e, por isso, o próprio pensamento, que você diz que os átomos produzem, voltam a ser a precondição da sua própria existência". Com isto concordam as palavras do Dr. Ladd: "O conhecimento da matéria envolve repetidas atividades da sensação e da reflexão, da inferência indutiva e da dedutiva, da crença intuitiva na substância. Tudo isto são atividades da mente. Só quando ela tem vida autoconsciente obtém-se qualquer conhecimento do que é a matéria ou do que ela pode fazer.... Tudo aquilo que está sempre sujeito a estados mutantes é real. O que toca, sente, vê é mais real do que o tocado, sentido, visto".
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H. N. Gardner, Presb. Rev., 1885.301, 665, 666 - "A mente dá à matéria seu principal sentido - por isso a matéria por si só nunca pode explicar o universo". Gore, Incarnation, 31 - "A mente não é um produto da natureza, mas seu constituinte necessário, considerado como um sistema ordenado cognoscível". Fraser, Philos. of Theism: "Um ato imoral deve proceder de um agente imoral; não se conhece um efeito físico que origina sua causa física". A matéria orgânica ou inorgânica pressupõe uma mente; mas não é verdade que a mente pressupõe a matéria. LeConte: "Se eu pudesse remover a cobertura do seu cérebro, o que eu veria? Só alterações físicas. Mas quanto a você - o que você pode perceber? A consciência, o pensamento, a emoção, a vontade. Agora, tome o exterior da natureza, o Cosmos. De fora, o observador só vê fenômenos físicos. Mas não deve haver também neste caso - por outro lado - fenômenos psíquicos, o Eu, a Pessoa, a Vontade"? A impossibilidade de encontrar na matéria, considerada como simples átomos, quaisquer atributos de uma causa, tem levado a um abandono geral deste velho materialismo de Demócrito, Epicuro, Lucrécio, Condillac, Holbach, Feuerbach, Büchner; e o Idealismo Materialista tomou o seu lugar, que, ao invés de considerar a força como uma propriedade da matéria, considera-a como manifestação da força. Por isso, a partir desta seção, passaremos ao sistema de forças e de idéias. Há um quarto de século, John Tyndall, em seu discurso de abertura como Presidente da Associação Britânica em Belfast, declarou que, na matéria, dever-se-ia encontrar a promessa e a potência de cada forma de vida. Mas, em I898, Sir William Crookes, em seu discurso como Presidente daquela mesma Associação Britânica, reverteu o apotegma e declarou que, na vida, ele via a promessa e a potência de cada forma da matéria.
Em acréscimo ao erro geral indicado acima objetamos a este sistema do seguinte modo: 1. Em conhecendo a matéria, a mente se julga necessariamente diferente em gênero e em nível mais elevado do que a matéria que ela conhece.
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1) Expomos aqui simplesmente uma convicção intuitiva. Ao usar seu organismo físico e ao pôr a natureza exterior a seu serviço, a mente reconhece-se diferente da matéria e superior a ela. Ver Martineau, citado na Brit. Quar., April, 1882.173, e no artigo do Presidente Thomas Hill, Bibliotheca Sacra, abril, 1852.353 - "Tudo o que, na verdade, a ação sentidopercepção dá é existência do eu consciente, flutuando no ilimitado espaço e no ilimitado tempo rodeado e apoiado pela ilimitada força. A matéria móvel, que inicialmente pensamos ser a grande realidade, é apenas a sombra do nosso verdadeiro ser, que é imaterial". Harris, Philos. Basis of Theism, 317 "Imagine um ser infinitesimal no cérebro, vigiando a ação das moléculas, mas omitindo o pensamento. Do mesmo modo a ciência observa o universo, mas omite Deus". Robert Browning, "o mais sutil afirmador da alma em cântico", faz o Papa, em Anel e o Livro, dizer: "A mente não é matéria, nem provém da matéria, mas do alto". De igual modo o Presidente Francis Wayland: "O que é a mente"? "O que é a matéria"? "Não vai ao caso". Sully, The Human Mind, 2.369 -"A consciência é uma realidade inteiramente distinta dos processos materiais e, por isso, não pode ser resolvida neles. O materialismo faz o que é conhecido imediatamente (nossos estágios mentais) subordinado àquilo que só indiretamente ou por inferência se conhece (coisas exteriores). Contudo, é um absurdo uma entidade material existente per se fora da relação com uma mente pensante". Como os materialistas elaboram a sua teoria, a sua assim chamada matéria torna-se cada vez mais etérea, até, finalmente, chegar a um estágio quando não se pode distinguir daquilo que os outros chamam de espírito. Martineau: "A matéria que eles descrevem é tão excessivamente inteligente, que a tudo supera, mesmo ao escrever Hamlet e ao descobrir a sua própria evolução. Em resumo, mas ao soletrar o seu nome, ela não parece diferir apreciavelmente dos nossos velhos amigos: Mente e Deus". A. W. Momerie, Christianity and Evolution, 54 - "Um ser consciente da sua unidade não pode, possivelmente, ser formado de numerosos átomos inconscientes da sua diversidade. Qualquer pessoa que pensa ser isto possível é capaz de afirmar que meia dúzia de tolos poderiam resultar em um sábio".
2. Visto que os atributos da mente – a) identidade contínua, b) atividade própria, c) não relacionamento com o espaço – são diferentes
Teologia Sistemática (Strong) 194 em gênero e de nível mais elevado que os atributos da matéria, é racional concluir que a mente é em si mesma diferente da matéria em gênero e mais elevada em nível que esta. Este é um argumento a partir das qualidades específicas que é subjacente às qualidades e as explica, a) A memória prova a identidade pessoal. Não se trata de uma identidade de átomos materiais, porque os átomos mudam. As moléculas que vêm não podem lembrar as que partiram. Há alguma parte imutável no cérebro, organizado, ou não? O organizado desaparece; o desorganizado = a alma, b) A inércia mostra que a alma move-se a si mesma. Duas porções são necessárias, e estas, para a ação útil, requerem o ajuste através de uma força que não pertence à matéria. Evolução do universo é inexplicável a não ser que a matéria seja movida primeiro por alguma força exterior a si mesma, c) As mais elevadas atividades da mente independem das condições físicas. A mente controla e domina o corpo. Ela não pára de desenvolver-se mesmo quando o corpo pára de crescer. Quando o corpo se aproxima da dissolução, a mente, com freqüência, afirma-se mais notadamente. Kant: "A unidade da apreensão é possível por causa da unidade transcendental da autoconsciência". Obtenho a minha idéia de unidade a partir do eu indivisível. Stout, Manual of Psychology, 53-"Até onde a matéria existe, independentemente da presença de um sujeito cognitivo, não pode ter propriedades materiais, tais como extensão, dureza, cor, peso etc. ... O mundo dos fenômenos materiais pressupõe um sistema de atuação imaterial. Neste se origina a consciência individual. Alguns dizem que este agente é o pensamento, outros, que é a vontade". A. J. Dubois, in Century Magazine, dez. 1894.228 - Visto que cada pensamento envolve um movimento molecular no cérebro e este movimenta o universo inteiro, a mente é o segredo do universo e não devemos interpretar a natureza como a expressão de um propósito subjacente. A ciência é a mente que segue os traços desta. Não pode haver mente sem uma antecedente. O fato de que todos os seres humanos têm os mesmos modos mentais mostra que estes não se devem somente ao meio ambiente. Bowne: "As coisas agem sobre a mente e esta reage com o conhecimento. O conhecimento não é uma aquisição passiva, mas uma construção ativa". Wundt: "Somos compelidos a
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admitir que o desenvolvimento físico não é a causa, porém é muito mais; é o efeito do desenvolvimento psíquico". Paul Carus, Soul of Man, 52-64, define a alma como "a forma de um organismo", e a memória como "o aspecto psíquico da preservação da forma na substância viva". Isto parece dar prioridade ao organismo ao invés de dála à alma, sem considerar o fato de que sem a alma não se concebe o organismo. A argila não pode ser o ancestral do oleiro, nem a pedra o ancestral do pedreiro, nem a madeira, do carpinteiro. W. N. Clarke, Christian Theology, 99 - "A inteligibilidade do universo para nós é forte e evidência sempre presente de que há uma Mente racional que invade todas as coisas e, a partir dela, o universo recebe a sua característica". À máxima "cogito, ergo sum" devemos acrescentar a outra: "Intelligo, ergo Deus est". Pfleiderer, Philos. Relig., 1.273 - "Toda a filosofia idealística dos tempos modernos é, de fato, a elaboração e o embasamento da convicção de que o Espírito ordena a Natureza como um meio subserviente visando aos seus fins eternos; por isso não é, como pensava o naturalismo pagão, um e todos, a última e mais elevada das coisas, mas tem sobre si o Espírito e os fins morais, como seu Senhor e Mestre". A percepção pela qual as coisas são conhecidas precede-as na ordem lógica e, por isso, não pode ser explicada através delas ou derivar delas.
3. Por isso, não a matéria, mas a mente deve ser considerada como a entidade original e independente a menos que se possa cientificamente demonstrar esta é material na sua origem e natureza. Mas são reconhecidamente falhas todas tentativas de explicar o psíquico a partir do físico, o orgânico a partir do inorgânico. Quando muito, o que se pode reivindicar é que as mudanças psíquicas são sempre acompanhadas de mudanças físicas e que o inorgânico é o esteio do orgânico. Apesar de que se desconhece a exata conexão entre a mente e o corpo, o fato de que a continuidade das mudanças físicas é insolúvel quando da atividade psíquica torna certo que a mente não é uma transformação da força física. Se os fatos da sensação indicam a dependência da mente em relação ao corpo, os fatos da volição igualmente indicam a dependência do corpo em relação à mente.
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O químico pode produzir substâncias orgânicas, mas não organizadas. A vida não pode ser produzida a partir da matéria. Mesmo nas coisas vivas só o plano pode garantir o progresso. A multiplicação da vantagem desejada no esquema darwiniano requer um pensamento selecionado; a saber, afinal de contas, a seleção natural é artificial. John Fiske, Destiny of the Creature, 109 -"A fisiologia do cérebro diz-nos que, durante a vida presente, apesar de que o pensamento e o sentimento sempre se manifestam em conexão com uma forma peculiar da matéria, ainda não pode haver nenhuma possibilidade do pensamento e o sentimento serem produtos da matéria. Nada pode ser mais grosseiramente anticientífico do que a famosa nota de Cabanis, de que o cérebro segrega o pensamento como o fígado segrega a bílis. Nem mesmo se deve dizer que se processa no cérebro. O que se processa no cérebro é uma série admiravelmente complexa de movimentos moleculares com os quais o pensamento e o sentimento são de alguma desconhecida forma correlatos, não como efeitos ou como causas, mas como concomitantes". A "harmonia preestabelecida" de Leibnitz indica a dificuldade de definir a relação entre a mente e a matéria. Elas são como dois relógios inteiramente desconexos, um dos quais tem o mostrador e indica a hora através dos ponteiros, enquanto o outro simultaneamente indica a mesma hora por seu aparelho de bater as horas. Para Leibnitz o mundo é um agregado de almas atômicas que conduz almas absolutamente separadas. Não há nenhuma ação real de um sobre o outro. Tudo na mônada é o desenvolvimento de sua atividade não estimulada. Contudo, há uma harmonia entre todos eles ordenada desde o começo pelo Criador. O desenvolvimento interno de cada mônada ajusta-se de tal modo a todas as outras que produz a falsa impressão de que elas são mutuamente influenciadas entre si. A teoria de Leibnitz envolve a completa rejeição da liberdade da vontade humana no sentido libertário. Para escapar desta arbitrária conexão da mente e da matéria na harmonia preestabelecida de Leibnitz, Spinoza rejeita a doutrina cartesiana das duas substâncias criadas por Deus e sustenta que há apenas uma substância, a saber, o próprio Deus. Há um fluxo aumentado de sangue para a cabeça nos tempos de atividade mental. Às vezes, no calor intenso da composição literária, o
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sangue brota com fartura através do cérebro. Nenhuma diminuição da atividade física acompanha os maiores esforços da mente, mas um maior aumento dela. "A consciência causa mudanças físicas, porém a recíproca não é verdadeira. Dizer que a mente é uma função do movimento é dizer que a mente é uma função de si mesma, porque o movimento só existe em função da mente. É melhor supor que os elementos físicos e psíquicos são apenas um, do mesmo modo que o som do violino é a mesma coisa que a vibração. A volição é uma causa na natureza porque tem atuação cerebral do seu lado anverso e inseparável. Mas, se não há movimento sem a mente, então não pode haver universo sem Deus".... 34 - Porque dentro dos limites da experiência humana só se conhece a mente associada com o cérebro, não se segue que a mente não pode existir sem ele. A explicação de Helmholtz sobre o efeito de uma das sonatas de Beethoven no cérebro pode ser perfeitamente corrigida, mas a explicação do efeito causado por um músico pode igualmente ser corrigida dentro da sua categoria". Herbert Spencer, Principles of Psychology, 1. par. 56 - "Duas coisas coexistem: a mente e a ação nervosa; mas não podemos imaginar de que forma elas se relacionam". Tyndall, Fragments of Science, 120 - "É impossível pensar na passagem da física do cérebro para os fatos". Schurman, Agnosticism and Religion, 95 - "Facilmente se crê que a metamorfose das vibrações para as idéias conscientes é um milagre em comparação com a flutuação do ferro (2 Rei. 6.6), ou a transformação da água em vinho". Bain, Mind and Body, 131 - Não há rompimento na continuidade física.
4. Negando a prioridade do espírito, a teoria materialista não pode fornecer nenhuma causa suficiente das mais elevadas características do universo existente, a saber, sua inteligência pessoal, suas idéias intuitivas, sua livre vontade, seu progresso moral, sua crença em Deus e na imortalidade. Herbert, Modern Realism Examined: "O materialismo não tem nenhuma evidência física da existência da consciência nos outros. Como ele declara que os nossos semelhantes são destituídos de livre vontade, deve declarar também que o são de consciência; deve chamá-los, do mesmo modo que os
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brutos, de puros autômatos. Se o elemento físico é tudo, nem Deus, nem o homem existem". Alguns dos mais antigos seguidores de Descartes costumavam chutar os seus cães e bater neles, rindo enquanto eles ganiam, chamando-os de "máquinas de chiar". Huxley, que chama os brutos de "autômatos conscientes", crê no gradual banimento daquilo que chamamos espírito e espontaneidade de todas as regiões do pensamento humano; trata-se apenas de um efeito sem causa". Clerk Maxwell, Life, 428 - "Tenho olhado para a maior parte dos sistemas filosóficos e nada vi que opere sem um Deus". Presidente E. B. Andrews: "A mente é a única coisa substantiva neste universo; tudo o mais é adjetivo. A matéria não é primordial, mas é uma função do espírito". Theodore Parker: "O homem é o mais elevado produto da sua própria história. O descobridor não encontra nada de tamanha estatura e grandeza como ele mesmo; nada tão valioso como ele. A maior estrela acha-se no pequeno terminal do telescópio - ela olha, e não indaga, e nem vê". O materialismo faz do homem "uma comitiva sério-cômica de figuras de cera ou de graciosos elencos de barro" (Bowne). O homem é "o mais gracioso dos relógios". Mas se não existisse nada a não ser a matéria, não poderia haver materialismo porque um sistema de pensamento como este implica consciência. Martineau, Types, prefaces, xii, xiii - "É a irresistível alegação da consciência moral que primeiro me induziu a rebelar-me contra os limites da concepção simplesmente científica. Tornou-se incrível para mim que nada era possível a não ser o real". Dewey, Psychology, 84 - "Sem elementos ideais o mundo seria o lar formado de quatro paredes e um teto para proteger do frio e da chuva; a mesa, uma refeição para animais; e o túmulo, um buraco na terra". Omar Khayyám, Rubaiat, estrofe 72 - "E aquela tigela invertida chamam de Céu, sob o qual, engaiolados vivemos e morremos, levantamos as mãos pedindo-lhe auxílio - porque a impotência nos impele tanto a você como a mim". Vítor Hugo: "Você diz que a alma nada é a não ser o resultado das forças corpóreas? Por que, então, a minha alma se mostra mais luminosa quando as minhas forças corporais começam a fracassar? O inverno cobre a minha cabeça, e a eterna primavera domina o meu coração. ... Quanto mais me aproximo do fim, mais claramente ouço as imortais sinfonias dos mundos, que me convidam".
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Diman, Theistic Argument, 348 - "O materialismo nunca pode explicar o fato de que a matéria sempre está combinada com a força. Princípios coordenados? então se trata de dualismo ao invés de monismo. Força causa da matéria? então preservamos a unidade, mas destruímos o materialismo; porque ligamos a matéria a uma fonte imaterial. Atrás da multiplicidade das forças naturais devemos postular alguma força simples - que nada pode a não ser a mente coordenadora". Mark Hopkins resume o materialismo na Princeton Rev., nov. 1879.490, da seguinte maneira: "1. O homem, que é uma pessoa, é feito por uma coisa, isto é, matéria. 2. A matéria deve ser adorada como criadora do homem, se ela deve ser alguma coisa (Rm. 1.25). 3. O homem deve adorar a si mesmo - o seu Deus é o ventre".
II. IDEALISMO MATERIALISTA O idealismo propriamente dito é o método de pensamento que considera todo o conhecimento como versado só com os sentimentos da mente perceptiva. Seu elemento de verdade consiste no fato de que tais sentimentos da mente perceptiva são condições do nosso conhecimento. Seu erro está em negar que através destes e nestes conhecemos aquilo que existe independentemente da nossa consciência. O idealismo dos nossos dias é principalmente materialista. Define a matéria e a mente de igual modo em termos de sensação e considera ambos como lados opostos ou manifestações sucessivas de uma força subjacente e desconhecida. O moderno idealismo subjetivo é o desenvolvimento de um princípio fundado desde Locke. Ele deriva todo o nosso conhecimento da sensação; a mente apenas combina as idéias que a sensação fornece, mas não dá matéria alguma propriamente sua. Berkeley sustenta que exteriormente podemos estar certos somente das sensações; não se pode estar certo de qualquer mundo exterior sem a mente. O idealismo de Berkeley, contudo, é objetivo; porque ele sustenta que, conquanto as coisas não existem independentes da consciência, elas independem da nossa consciência, a saber, na mente de Deus, que na filosofia correta toma o lugar de um mundo
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exterior que não tem a mente como a causa das nossas idéias. De igual modo, Kant defende existências fora das nossas mentes embora as considere como desconhecidas e desconhecíveis. Em oposição a estas formas de idealismo objetivo devemos colocar o subjetivo de Hume, que sustenta que internamente também não podemos estar certos de qualquer coisa que não sejam os fenômenos mentais; conhecemos pensamentos, sentimentos e vontade, mas não conhecemos a substância mental dentro deles, mais do que a substância material de fora; nossas idéias são uma fieira de contas sem qualquer fieira; não necessitamos de causa alguma para estas idéias, no mundo exterior, na alma, ou em Deus. Mill, Spencer, Bain e Tyndall são humistas (seguidores de) e é ao idealismo subjetivo deles que nos opomos. Todos eles consideram o átomo material como um simples centro de força, ou uma causa hipotética das sensações. Por isso a matéria é uma manifestação da força como para o velho materialismo a força era uma propriedade da matéria. Mas se matéria, mente e Deus são apenas sensações, então o corpo não é nada mais que sensações. Não há nenhum corpo com a finalidade de ter sensações e nenhum espírito, a não ser o humano e o divino, que as produzam. John Stuart Mill, Examination of Sir William Hamilton, 1.234-253, faz das sensações as únicas fontes originais do conhecimento. Ele define a matéria como "uma possibilidade permanente da sensação", e a mente como "uma série de sentimentos despertos para ela mesma". Deste modo, Huxley chama a matéria "tão somente um nome da causa desconhecida dos estados da consciência"; apesar disso, ele também declara: "Se sou compelido a escolher entre o materialismo de um homem como Büchner e o materialismo de Berkeley, optarei por Berkeley". Ele defende a prioridade da matéria e ainda considera-a totalmente ideal. Visto que John Stuart Mill, de todos os materialistas idealistas, dá as mais precisas definições da matéria e da mente, tentaremos mostrar a inadequação deste modo de tratar o assunto. Porter sustenta que a percepção original dá-nos somente os sentimentos do nosso próprio aparelho sensorial do corpo; como causa deles adquirimos o conhecimento da extensa exterioridade. Sir William Hamilton: "A sensação própria não tem nenhum objetivo a não ser um sujeito-objeto". Mas Porter e Hamilton sustentam que, através destas
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sensações conhecemos aquilo que existe independentemente das nossas sensações. O realismo natural de Hamilton, contudo, é um exagero da verdade. Bowne, Introd. To Psych. Theory, 257, 258 - "No desejo de Sir William Hamilton de não ter nenhum intermédio na percepção, ele se sente forçado a sustentar que cada sensação é sentida onde parece estar e por isso a mente ocupa o corpo inteiro. Do mesmo modo ele foi obrigado a afirmar que o objeto da visão não é a coisa em si, mas os raios de luz e, mesmo que o próprio objeto tivesse ao menos trazido à consciência. Assim ele chegou ao absurdo de que o verdadeiro objetivo da percepção é algo de que somos totalmente inconscientes". Seguramente não podemos estar imediatamente conscientes do que está fora do nosso conhecimento. James, Psychology, 1.11 - "Os órgãos terminais são telefones, e as células cerebrais são os receptores que a mente ouve". Existe, contudo, um idealismo que não está aberto às objeções de Hamilton, às quais os filósofos modernos, em sua maioria, aderiram. É o idealismo objetivo de Lotze. Ele argumenta que nada conhecemos sobre a extensão do mundo a não ser através do ar ou do éter, e o interpretamos como som, luz, movimento, conforme eles afetam nossos nervos auditivos, ópticos, ou táteis. Mas a única força que conhecemos imediatamente é a da nossa vontade; afinal de contas não podemos entender a matéria, ou devemos entendê-la como o produto de uma vontade comparável à nossa. As coisas são apenas "leis concretas de ação", ou idéias divinas a que a vontade divina deu a realidade permanente. Já vimos na seção anterior que os átomos não podem explicar o universo; eles pressupõem tanto as idéias como a força. Agora podemos ver que tal força pressupõe a vontade e tais idéias pressupõem a mente. Mas como se pode ainda reivindicar que esta mente não é autoconsciente e que esta vontade não é pessoal, passaremos na seção seguinte a considerar o Panteísmo Idealista de que tais reivindicações são características. O Idealismo Materialista, na verdade é apenas a residência em meio ao caminho entre o Materialismo e o Panteísmo em que a lógica da inteligência não encontra nenhum abrigo permanente. Lotze, Outlines of Metaphysics, 152 - "Pelo exposto, a objetividade do nosso conhecimento consiste em que não é despropositado tratá-lo como simples aparência; mas põe diante de nós um mundo cuja coerência se
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ordena na busca da injunção da Realidade única do mundo, a profundidade do entendimento, o Bem. Por isso, o nosso conhecimento possui mais verdade do que se copiasse exatamente um mundo que não tem valor em si mesmo. Embora não compreenda tudo o que é fenômeno que se apresenta à vista, ainda entende qual é o seu sentido total; é como o espectador que compreende a significação estética daquilo que ocorre no palco de um teatro e não obteria nada de essencial se ele fosse ver ao lado o mecanismo pelo qual alteram-se os efeitos no referido palco". Prof. C. A. Strong: "A percepção é uma sombra lançada sobre a mente por uma coisa em si mesma". A sombra é o símbolo da coisa; e, como as sombras não têm alma nem vida, pode parecer que os objetos físicos também não têm alma e são mortos, conquanto a realidade simbolizada nunca é a da presença de uma alma e de uma vida. A consciência é uma realidade. A única existência que podemos conceber é de natureza mental. Toda a existência em favor da consciência é, na verdade, da consciência. A sombra do cavalo o acompanha, mas não o ajuda a puxar a carroça. O evento cerebral é apenas o estado mental em si mesmo considerado a partir do ponto de vista da percepção". Aristóteles: "A natureza da substância antecede ao relacionamento" = não pode haver relacionamento sem coisas que se relacionem. Fichte: O conhecimento, exatamente porque é conhecimento, não é realidade; não vem em primeiro lugar, mas em segundo". Veitch, Knowing and Being, 216, 217, 292, 293 - "O pensamento nada pode fazer, senão como um sinônimo do Pensador. Nem o consciente finito, nem o infinito, sozinhos ou juntos, podem constituir um objeto exterior ou explicar a sua existência. Esta logicamente precede a sua percepção. Percepção não é criação. Não é o pensar que faz o ego, mas o ego que faz o pensar". Seth, Hegelianism and Personality. "Os pensamentos divinos pressupõem um Ser divino. Os pensamentos de Deus não constituem o mundo real. A força real não se encontra neles; ela está no Ser divino, como vontade viva e ativa". Eis aqui o erro fundamental de Hegel, que considera o universo simplesmente como uma Idéia e tributa pouco pensamento ao Amor e à Vontade que o constituem.
A este ponto de vista podemos apresentar as seguintes objeções:
Teologia Sistemática (Strong) 203 1. Sua definição de matéria como uma "permanente possibilidade de sensação" contradiz nosso juízo intuitivo de que, conhecendo os fenômenos da matéria, temos o conhecimento direto da substância como fenômenos subjacentes, distintos das nossas sensações, e exteriores à mente que as experimenta. Bowne, Metaphysics, 432 - "Provavelmente pode-se desconhecer a possibilidade de um odor ou gosto ser a causa da cor amarelada de uma laranja, a não ser para a mente que entende que dois mais dois são cinco". Martineau, Study 1.102-112 - "Se as impressões exteriores são telegrafadas para o cérebro, a inteligência deve receber a mensagem no começo assim como liberá-la no fim. ... É o objeto exterior que dá a possibilidade, não a possibilidade que dá o objeto exterior. A mente não pode ser tanto a sua própria cognita como a sua cognitio. Não se pode dispensar uma base de apoio para os pés, ou a atmosfera para as asas". Professor Charles A. Strong: "Kant sustenta que as coisas em si mesmas têm como retaguarda os fenômenos físicos bem como as coisas em si têm como retaguarda os fenômenos mentais; o seu pensamento é que as coisas em que formam a retaguarda da força física são idênticas às coisas em si como retaguarda dos fenômenos mentais. E visto que os fenômenos mentais, nesta teoria, não são espécimes da realidade e a realidade manifesta-se indiferentemente através delas e dos fenômenos físicos, naturalmente ele conclui que nós não temos base para supor que a realidade seja semelhante ou, que devemos concebê-la com 'weder Materie noch ein denkend Wesen', 'nem matéria nem ser pensante', uma teoria do desconhecível. Seria o caso também do Impensável e do Indizível!" Ralph Waldo Emerson era um idealista subjetivo; mas, quando chamado a inspecionar uma carga de madeira de um fazendeiro, disse aos seus companheiros: "Desculpem-me por um momento, meus amigos; temos que dar atenção a estes assuntos, como se fossem reais".
2. Sua definição de mente como "uma série de sentimentos conscientes dela mesma" contradiz nosso juízo intuitivo de que, conhecendo os fenômenos da mente, temos conhecimento direto de uma substância espiritual de que tais fenômenos são manifestações, que retém
Teologia Sistemática (Strong) 204 sua identidade independentemente de nossa consciência e que, neste conhecer, ao invés de ser o recipiente passivo das impressões vindas de fora sempre age a partir de dentro através de uma força que lhe é própria. James, Psychology, 1.226 - "É como se o fato psíquico elementar não fosse pensamento, ou este pensamento, ou aquele pensamento, mas o meu pensamento e todo ele possuído. O fato consciente universal não é o de que 'os pensamentos e sentimentos existem', mas o de que 'eu penso', e 'eu sinto'". O Professor James é compelido a dizer isto apesar de que ele começa a sua obra Psicologia sem insistir na existência de uma alma. Hamilton, Reid, 443 -"Acaso suporei que o pensamento subsiste por si mesmo? ou que as idéias podem sentir prazer ou dor"? R. T. Smith, Man's Knowledge, 44 - "Dizemos 'minhas noções e minhas paixões' e, quando empregamos tais expressões, implicamos que o nosso eu central se sente algo diferente das noções ou paixões que lhe pertencem, ou caracterizam-no durante um certo tempo". Lichtenberg: "Deveríamos dizer: 'Pensa-se'; do mesmo modo que dizemos: 'Brilha', ou 'Chove". Então as faculdades são uma arma sem um general, ou uma locomotiva sem um maquinista? Neste caso não deveríamos ter, sensações; mas ser sensações. Professor C. A. Strong: "Tenho conhecimento de outras mentes. Este conhecimento não empírico - que transcende as coisas em si não derivam da experiência nem do raciocínio e, ao admitir que semelhantes conseqüências (movimentos inteligentes) devem ter semelhantes antecedentes (pensamentos e sentimentos) e, ao admitir também instintivamente que existe algo fora da minha mente - isto refuta o fenomenalismo pós-kantiano. Percepção e memória também envolvem transcendência. Em ambas eu transcendo os limites da experiência de modo tão verdadeiro como no meu conhecimento de outras mentes. Na memória eu reconheço um passado, distinto do presente. Na percepção eu conheço uma possibilidade de outras experiências semelhantes ao presente e isto só dá um senso de permanência e realidade. A percepção e a memória refutam o fenomenalismo. Convém admitir as coisas em si a fim de preencher as lacunas entre as mentes individuais e dar coerência e inteligibilidade ao universo e desta forma evitar o pluralismo. Se a matéria pode influenciar e mesmo extinguir as nossas mentes, ela deve ter alguma força de si mesma, alguma existência de si mesma. Se a consciência é um produto evolutivo,
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deve ter surgido de fatos mentais mais simples. Porém tais fatos mentais são apenas outro nome para as coisas em si mesmas. Um profundo instinto pré-racional compele-nos a reconhecê-los porque não se pode demonstrálos logicamente. Devemos admiti-los para dar continuidade e inteligibilidade às nossas concepções do universo".
3. Até onde esta teoria considera a mente como o anverso da matéria ou como um mais tardio e mais elevado desenvolvimento da matéria, mera referência tanto da mente como da matéria a uma força subjacente não poupa a teoria de quaisquer dificuldades do já mencionado materialismo puro; porque, neste caso, também a força é considerada como puramente física e se nega a prioridade do espírito. Herbert Spencer, Psychology, citado por Fiske, Cosmic Philosophy, 2.80 - "A mente e a ação nervosa são faces subjetivas e objetivas da mesma coisa. Contudo ainda continuamos totalmente incapazes de ver, ou mesmo de imaginar, como ambas se relacionam. A mente ainda continua a ser para nós algo como o reinado de outras coisas". Owen, Anatomy of Vertebrates, citado por Talbot, Bap. Quar., Jan. 1871.5 - "Tudo que eu sei sobre a matéria e a mente em si é que aquela é um centro exterior da força e esta um centro interior". New Englander, set. 1883.636 - "Se o átomo for simplesmente um centro da força e não uma coisa real em si, então ele é uma essência supersensível, um ser imaterial. Fazer de algo imaterial a fonte da mente consciente é fazer algo tão maravilhoso como uma alma imortal ou um Criador pessoal". Martineau, Study, 102-130, e Relig. and Mod. Materialism, 25-"Se se toma a mente para construir o universo, como pode a negação da mente constituí-lo"? David Hill, Genetic Philosophy, 200,201, parece negar que o pensamento precede a força ou que a força precede o pensamento: "Objetos, ou coisas do mundo exterior, podem ser os elementos do processo do pensamento em um assunto cósmico sem que eles mesmos estejam conscientes. ... Uma verdadeira análise e uma gênese racional requerem o igual reconhecimento dos elementos da experiência tanto objetiva quanto subjetiva sem prioridade de tempo, separação no espaço ou, ruptura do ser. Até onde as nossas mentes podem penetrar a realidade, descoberta nas
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atividades do pensamento, em qualquer lugar enfrentamos uma Razão Dinâmica". No relato do Dr. Hill sobre a gênese do universo, contudo, vem em primeiro lugar o inconsciente e dele parece derivar o consciente. A consciência do objeto é apenas o anverso do objeto da consciência. Isto é, segundo assinala Martineau, Study 1.341, fazer o mar embarcar no navio". Preferimos grandemente o ponto de vista de Lotze, 2.641 - "As coisas são atos do Infinito operadas só dentro das mentes ou estados que o Infinito não experimenta em parte alguma a não ser nas mentes. ... As coisas e os eventos são a soma das ações que o mais elevado Princípio apresenta em todos espíritos de modo tão uniforme e coerente que, para tais espíritos pode parecer um mundo de coisas substanciais e eficientes que existem no espaço fora delas". Os dados dos quais extraímos nossas inferências quanto à natureza do mundo exterior mental e espiritual é mais racional atribuir ao mundo uma realidade espiritual do que aquela de que a nossa experiência não tem nenhum conhecimento.
4. Até onde esta teoria sustenta a força subjacente de que a matéria e a mente são manifestações em qualquer sentido inteligentes e voluntárias, torna necessária a suposição de que há um Ser inteligente e voluntário que exerce tal força. As sensações e as idéias, contudo, só são explicáveis como manifestações da Mente. Muitos recentes pensadores cristãos como Murphy, Scientific Bases of Faith, 13-15, 29-36, 42-52, definiriam a mente como uma função da matéria, a matéria como função da força, a força como função da vontade e, conseqüentemente, o poder de um Deus onipresente e pessoal. Toda força, exceto a da vontade livre do homem, é a vontade de Deus. Escritores como Herschel, Lectures, 460; Argyll, Reign of Law, 121-127; Wallace, on Nat. Selection, 363-371; Martineau, Essays, 1.63, 121, 145, 265; Bowen, Metaph. and Ethics, 146-162, são levados à sua conclusão em grande parte pelas considerações de que nenhuma coisa morta pode ser uma causa própria; essa vontade é a única causa de que temos conhecimento imediato; que as forças da natureza são inteligíveis só quando consideradas como esforços da vontade. Por isso a matéria é o centro da força - a expressão da mente e da vontade de Deus regular e, como se fosse, automática. As causas
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secundárias na natureza são apenas atividades secundárias da grande Primeira Causa. Bowne sustenta também este ponto de vista em sua Metaphysics. Ele considera como real apenas a pessoalidade. A matéria é fenomenal, embora seja uma atividade da vontade divina fora de nós. Por isso, o fenomenalismo de Bowne é um idealismo objetivo, altamente preferível ao de Berkeley, que, na verdade, defende a energia de Deus, mas só dentro da alma. Este idealismo de Bowne não é panteísmo, pois sustenta que, conquanto não haja causas secundárias na natureza, o homem é uma segunda causa com uma pessoalidade distinta da de Deus e elevada acima da natureza pelas forças da vontade livre. Contudo, Royce, Religious Aspect of Philosophy, and The World and the Individual, faz a consciência do homem uma parte ou aspecto de uma consciência universal e, assim, em vez de fazer Deus vir à consciência no homem, faz o homem vir à consciência em Deus. Enquanto em um ponto de vista este esquema parece poupar a pessoalidade de Deus, pode-se duvidar que garanta igualmente a pessoalidade do homem ou abra espaço para a liberdade, a responsabilidade, o pecado e a culpa do homem. Bowne, Philos. Theism, 175 - "A 'razão universal' é um termo de classe que não denota nenhuma existência possível e que tem realidade só na existência possível de que se abstrai". Bowne reivindica que o finito impessoal só tem procedimento de um outro quando um pensamento ou ato o tem para com o seu sujeito. Não há nenhuma existência substancial a não ser em pessoas. Seth, Hegelianismo e Pessoalidade: "O neokantismo erige a Deus a simples forma da consciência própria em geral, isto é, confunde consciência überhaupt (genérica) com uma consciência universal". Bowne, Theory of Thought and Knowledge, 318-348 - "Há na existência algo que não seja eu mesmo? Sim. Para escapar ao solipsismo devo admitir ao menos outras pessoas. Existe o mundo de objetos que só aparecem para mim? Não; ele existe também para os outros, de modo que vivemos num mundo comum. E este mundo comum consiste em algo mais do que uma semelhança de impressões nas mentes infinitas, de modo que além dele não há nada? Este ponto de vista não pode ser desaprovado, mas concorda tão mal com a nossa experiência total que é praticamente impossível. Então, o mundo das coisas é uma existência contínua de algum tipo finito independente do pensamento e da consciência? Este ponto de vista não
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pode ser demonstrado, mas é o único que não envolve dificuldades insuperáveis. O que é a natureza e onde fica o lugar desta existência cósmica? Eis a questão entre o Realismo e o Idealismo. O Realismo vê as coisas existirem num espaço real e como verdadeiras entidades ontológicas. O Idealismo tanto as vê como o espaço em que elas estão existindo só, como para uma Inteligência cósmica e independente de serem elas absurdas e contraditórias. As coisas independem do nosso conhecimento total, de uma grosseira materialidade que é a antítese e negação da consciência".
III. PANTEÍSMO IDEALISTA Panteísmo é o método de pensamento que concebe o universo como o desenvolvimento de uma substância inteligente e voluntária, embora impessoal, que atinge a consciência só no homem. Portanto, identifica Deus, não com cada objeto individualmente no universo, mas com a totalidade das coisas. O Panteísmo corrente nos nossos dias é idealista. Os elementos de verdade no Panteísmo são a inteligência e a voluntariedade de Deus e sua imanência no universo; seu erro está em negar a pessoalidade e transcendência de Deus. O panteísmo nega a existência real do finito ao mesmo tempo que priva o infinito da sua consciência própria e liberdade. Hutton, Popular Pantheism, in Essays, 1.56-76 - "O 'creio em Deus' do panteísta é uma contradição. Ele diz: 'Eu percebo o exterior diferente de mim mesmo; porém, ao refletir mais tarde, percebo que tal exterioridade era em si mesmo um agente percebedor'. Assim, o objeto de adoração afinal de contas é o próprio adorador". Harris, Philosophical Basis of Theism, 173 - "O homem é uma garrafa nas águas do oceano, por pouco tempo distinguível por sua limitação dentro da garrafa, mas perdida outra vez no oceano tão logo estes frágeis limites se quebrem". Martineau, Types, 1.23 - A simples imanência exclui o Teísmo; a transcendência conserva-o ainda possível; 211-225 - O panteísmo declara que "não existe nada a não ser Deus; ele não é apenas causa, mas efeito total; ele é tudo em todos". Espinosa tem sido chamado falsamente "o
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homem intoxicado de Deus". "Ao contrário, Spinoza trouxe Deus para o universo; foi Malebranche que o transfigurou em Deus". O bramanismo tardio é panteísta. Rowland Williams, Christianity and Hinduism, citado em Mosley, Miracles, 284 - "No estado final a pessoalidade desvanece. Você não aceita, diz o brâmane, o termo 'vazio' como descrição adequada da natureza misteriosa da alma, mas você a apreenderá claramente no estado final para tornar-se um pensamento, conhecimento, regozijo invisível e intocável - o que vem a ser o próprio Deus". Flint, Theism, 69 -"Onde se deseja o fim da existência, como entre os hindus, há marcante incapacidade de pensar em Deus como causa ou vontade e constante tendência inveterada para o panteísmo". Hegel nega a transcendência de Deus: "Deus não é um espírito além das estrelas; ele é um espírito em todo espírito"; o que significa que Deus, o impessoal e inconsciente Absoluto, vem apenas à consciência do homem. Se o sistema eterno dos pensamentos abstratos fossem por si mesmos conscientes, o consciente finito desapareceria; daí a alternativa: ou não Deus, ou não homem. Stirling: "A Idéia, desta forma concebida, é um ídolo cego, surdo, invisível e a teoria é a mais desesperançada jamais apresentada à humanidade". Trata-se de uma autolatria prática, ou autodeificação. O mundo reduz-se a um mero processo de lógica; o pensamento pensa; há pensamento sem pensador. A esta doutrina de Hegel podemos opor as seguintes notas de Lotze: "Não podemos fazer a mente o equivalente ao infinitivo pensar, sentimos para que isto possa ser aquilo que pensa; a essência das coisas não pode ser ou a existência ou a atividade; ela deve ser aquilo que existe e aquilo que age. Pensar não significa nada se deixarmos de fora o conceito de um sujeito distinto daquelas e de que eles procedem". Para Hegel, o Ser é o Pensamento; para Spinoza o ser tem Pensamento + Extensão; parece que a verdade é que o ser tem Pensamento + Vontade e pode revelar-se na extensão e na evolução (Criação). Contudo, para outros filósofos, Hegel se interpreta de outra forma. O Prof. H. Jones, Mind, Jul., 1893, 289-306, reivindica que a Idéia fundamental de Hegel não é o Pensamento, mas o ato de Pensar: Para ele o universo não é um sistema de pensamentos, mas uma realidade pensante manifesta
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mais completamente no homem. ... A realidade fundamental é a inteligência universal cuja operação devemos procurar detectar em todas as coisas. No fundo toda realidade é explicável como Espírito, ou Inteligência, pelo que a nossa ontologia deve ser uma Lógica e as leis das coisas devem ser as do ato de pensar". De igual modo, Sterrett, Studies in Hegel's Philosophy of Religion, 17, cita a Lógica de Hegel, tradução para o inglês de Wallace, 89,91,236: "A Substância de Spinoza é, como se fosse, um escuro abismo sem forma, que devora todo conteúdo definido como totalmente nulo e, a partir dele, nada produz que tenha subsistência positiva em si.... Deus é Substância; contudo, não é menos que Pessoa Absoluta". Isto é essencial para a religião; entretanto, diz Hegel, Spinoza nunca o percebeu: "Tudo depende da percepção da Verdade Absoluta, não simplesmente como Substância, mas como Sujeito". Deus é um Espírito autoconsciente e autodeterminante. Fica excluída a necessidade. O homem é livre e imortal. Os homens não são componentes mecânicos de Deus, nem perdem a sua identidade, apesar de que verdadeiramente se acham nele. Com esta avaliação do sistema de Hegel concordam substancialmente Caird, Erdmann e Mulford. Este é o "Mais Elevado Panteísmo" de Tennyson. Seth, Ethical Principles, 440 - "Hegel concebe a superioridade do seu sistema ao spinozismo consistente na substituição do Sujeito pela Substância. O verdadeiro Absoluto deve conter relações ao invés de aboli-las; o verdadeiro monismo deve incluir o pluralismo e não excluí-lo. Aquele que, como a Substância de Spinoza, ou o Absoluto hegeliano, não é capaz de pensar nos muitos, não pode ser o verdadeiro Uno - a unidade da multiplicidade. ... Visto que o mal existe, Schopenhauer substitui o Panlogismo de Hegel, que afirma a identidade do racional e do real, um impulso cego da vida, para a Razão absoluta ele substitui uma Vontade irracional" - sistema de pessimismo prático. Alexander, Theories of Will, 5 - "Spinoza não reconhece distinção entre a vontade e a afirmação ou negação intelectual". Hegel chama a Identidade ou o Absoluto de Schelling "a noite infinita em que todas as vacas são pretas" - uma alusão ao Fausto de Goethe, parte 2, ato 1, onde se acrescentam as palavras: "e os gatos são pardos". Embora a preferência de Hegel pelo termo Sujeito, em lugar de Substância, tenha levado muitos a sustentar que ele cria em uma pessoalidade de Deus distinta da do homem, sua ênfase na Idéia, e seu relativo desprezo aos elementos do Amor e da Vontade, fica ainda a dúvida se a sua Idéia é algo mais que a inteligência
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inconsciente e impessoal - na verdade menos materialista que a de Spinoza, contudo, abrem-se muitas das mesmas objeções.
Objetamos a este sistema da seguinte maneira: 1. Sua idéia de Deus contradiz-se a si mesma porque ela o faz infinito, embora consistindo só no finito; absoluto, embora existindo na relação necessária com o universo; supremo, embora contendo em si um processo de auto-evolução e dependência da autoconsciência do homem; sem autodeterminação, contudo, a causa de tudo o que existe. Saisset, Pantheism, 148 - "Um Deus imperfeito, embora a perfeição surja da imperfeição". Shedd, History of Doctrine, 1.13 - "O panteísmo aplica a Deus um princípio de desenvolvimento e imperfeição, que só pertence ao finito". Calderwood, Moral Philos., 245 - Seu primeiro requisito é o momento, ou o movimento, que assume mas não explica". Aplica-se aqui o sarcasmo de Caro: "O vosso Deus ainda não foi feito - ele ainda está em processo de fabricação". Ver H. B. Smith, Faith and Philosophy, 25. O panteísmo é um ateísmo prático, pois o espírito impessoal é apenas uma força cega e necessária. Angelus Silesius: "Wir beten 'Es gescheh', mein Herr und Gott, dein Wille'; Und sie', Er hat nicht Will', - Er ist ein ew'ge Stille" - o que Max Müller traduz da seguinte forma: "Rogamos, Senhor, nosso Deus: Faze a tua santa vontade'; e vê! Deus não tem vontade; ele está calmo e tranqüilo". Angelus Silesius consistentemente faz Deus depender da consciência própria no homem: "Eu sei que Deus não pode viver um instante sem mim; ele deve deixar o espírito se eu deixar de existir". Seth, Hegelianism and Personality. "O hegelianismo destrói tanto Deus como o homem. Reduz o homem a um objeto do Pensador universal e deixa-o sem qualquer verdadeira pessoalidade". O panteísmo é um jogo de solitário, em que Deus joga em ambos os lados.
2. A sua suposta unidade substancial não somente carece de prova, mas contradiz diretamente nossos juízos intuitivos. Martineau, Essays, 1.158 - "Mesmo para imanência deve haver algo em que se pode abrigar e, para a vida, sobre o que se pode apoiar para
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agir". Muitos deles confundem harmonia entre duas e absorção em uma. "Na Escritura nunca encontramos o universo chamado de tò pân, porque isto sugere a idéia da unidade contida em si mesma; em lugar disto temos em toda parte ta panta". A Bíblia reconhece o elemento de verdade no panteísmo - Deus é 'por todos'; também o elemento de verdade no misticismo – Deus está 'em vós todos'; mas acrescenta o elemento transcendência que ambos deixam de reconhecer – Deus é 'acima de todos' (Ef. 4.6). G. D. B. Pepper: "Aquele que é sobre todos e em todos é, contudo, distinto de todos. Se alguém é acima de alguma coisa, ele não é aquela mesma coisa sobre a qual ele é. Se alguém está em alguma coisa deve ser distinto dela. E do mesmo modo o universo sobre o qual e no qual Deus está deve-se pensar como alguma coisa distinta de Deus. A criação não pode ser idêntica a Deus ou uma simples forma de Deus". Contudo, acrescentamos que pode ser uma manifestação de Deus de quem depende como os nossos pensamentos e atos são manifestações da nossa mente e vontade e dependem delas embora eles não sejam a nossa mente e a nossa vontade. Pope escreve: "Todos são apenas partes de um estupendo todo; A eles pertence a natureza corpórea; e Deus é a sua alma". Mas Case, Physical Realism, 193, replica: "Não é assim. A natureza é para Deus o que as obras são para os homens; e, como as obras dos homens não são o seu corpo, assim também a natureza não é o corpo de Deus". Matthew Arnold, on Heine's Grave: "O que somos nós todos senão um modo, um simples modo da vida Do Ser em quem existimos Que é o único de todas as coisas em um"? Hovey, Studies, 51 - "A Escritura reconhece o elemento de verdade no panteísmo, mas também ensina a existência de um mundo de coisas, animadas e inanimadas, distintas de Deus. Ele representa os homens como propensos a adorar a criatura em lugar do Criador. Descreve-os como pecadores dignos de morte ... agentes morais. ... para ele, os homens são, literalmente, partes de Deus mais do que os filhos partes dos seus pais, como os súditos são parte do seu rei". A. F. J. Behrends: "A verdadeira doutrina está entre dois extremos; o do dualismo grosseiro, que faz Deus e o mundo duas entidades contidas em si mesmas, e um monismo substancial em que o universo tem apenas uma existência fenomenal. Não se trata de nenhuma entidade da substância, nem de divisão da divina. O universo é eternamente dependente do produto não simplesmente fabricado do Verbo divino. A criação é principalmente um ato espiritual". Prof. Forbes: "A matéria
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existe numa dependência subordinada a Deus. O corpo de Cristo é o Cristo exteriorizado, manifesto à percepção sensível. Quando apreendo a matéria, estou apreendendo a mente e a vontade de Deus. Este é o mais elevado tipo de realidade. Nem a matéria nem os espíritos finitos são meros fenômenos".
3. Não atribui nenhuma causa suficiente ao fato do universo que é do nível mais elevado e, portanto, carece da maior explicação, a saber, a existência de inteligências pessoais. Uma substância que em si mesma é inconsciente e está sob a lei da necessidade não pode produzir seres que são autoconscientes e livres. Gess, Foundations of our Faith, 36 - "O instinto animal e o espírito de uma nação que elabora a sua linguagem, poderiam fornecer analogias se, como resultado, produzissem personalidades, mas não o oposto. Tais tendências não se originam por si mesmas; são recebidas de uma fonte exterior". Seth, Freedom as na Ethical Postulate, 47 - "Se o homem é um 'imperium in império', não uma pessoa, mas apenas um aspecto ou expressão quer do universo quer de Deus, então ele não pode ser livre. O homem pode ser despersonalizado na natureza ou em Deus. Através da concepção da nossa própria personalidade chegamos à de Deus. Para desenvolver a nossa personalidade na de Deus seria necessário negar a própria grandeza divina, invalidando a concepção através da qual se chegou a ela". Bradley, Appearance and Reality, 551, é ainda mais ambíguo: "A relação positiva de cada aparência para com a Realidade é como um adjetivo; e é como a presença da realidade perante as suas aparências em diferentes graus e com diversificados valores; achamos que esta dupla verdade é o centro da filosofia". Ele protesta tanto contra "uma transcendência vazia" como contra um "raso panteísmo". A imanência hegeliana e o conhecimento, afirma ele, identificam Deus e o homem. Porém Deus é mais do que o homem ou do que o pensamento deste. Deus é espírito e vida - melhor entendido a partir do eu humano, com seus pensamentos, sentimentos e vontade. É necessário que a transcendência qualifique a imanência. "Deus não é Deus até que se torne tudo em todos e, um Deus que é tudo em todos não é o Deus da religião. Deus é um aspecto, e isto pode apenas significar uma aparência do Absoluto".
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4. Portanto, contradiz as afirmações da nossa natureza moral e religiosa ao negar a liberdade e responsabilidade do homem; fazendo Deus incluir em si todo o mal assim como todo o bem; e excluindo toda oração, todo louvor e toda esperança de imortalidade. A consciência é a testemunha eterna contra o panteísmo. Ela dá testemunho da nossa liberdade e responsabilidade e declara que as distinções morais não são ilusórias. Renouf, Hibbert Led, 234 - "Está fora da condescendência para com a linguagem popular que os sistemas panteístas podem reconhecer as noções de certo e errado, de iniqüidade e pecado. Se tudo, na verdade, emana de Deus, não pode haver pecado. E os mais capazes filósofos que têm sido conduzidos aos pontos de vista panteístas debalde têm-se empenhado em harmonizar tais pontos de vista com o que entendemos por noção de pecado ou mal moral. A grande obra sistemática de Spinoza intitula-se 'Ética'; porém podemos encontrar a verdadeira ética consultando os Elementos de Euclides". Hodge, Systematic Theol., 1.299330 - "O panteísmo é fatalista. Em tal teoria, dever = prazer; direito = poder; pecado = bom de se fazer. Satanás, do mesmo modo que Gabriel, é um desenvolvimento de Deus. Os efeitos práticos do panteísmo sobre a moral popular e a vida, onde quer que tenha prevalecido, tanto na índia budista como na China, demonstram sua falsidade". Wordsworth: "Volte os olhos para o alto céu! o industrioso sol Já corre em meio ao seu curso; Ele não pode parar ou desviar-se; Porém nossos espíritos imortais o podem". Presidente John H. Harris: "Você nunca pede a opinião do ciclone a respeito dos dez mandamentos". Bowne, Philos. of Theism, 245 -"O panteísmo torna o homem um autômato. Mas como pode um autômato ter deveres"? Principles of Ethics, 18 - "A Ética é definida como a ciência da conduta e apóia-se nas convenções da linguagem contam com a cobertura total do fato de que não há nenhuma 'conduta' neste caso. Se o homem é, na verdade, um autômato, bem podemos falar da conduta dos ventos do mesmo modo que da conduta de um ser humano; e um tratado sobre os movimentos planetários do sistema solar é tão verdadeiramente ético como um tratado sobre os movimentos humanos é a ética do homem". Porque falta um claro reconhecimento da pessoalidade quer humana, quer
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divina, a Ética de Hegel é desprovida de todo o alimento espiritual, - sua "Rechtsphilosophie" tem sido chamada de "repasto de fibras". Contudo, o Professor Jones, Mind, jul., 1893.304, diz-nos que a tarefa de Hegel é "descobrir que concepção do princípio simples ou unidade fundamental é por si só e coaduna-se com as diferenças que apresenta. Ele acha que o 'Ser3, não abre espaço para diferenças; elas o potencializam excessivamente.... Ele acha, ainda, que a Realidade só pode existir como consciência própria absoluta, como um Espírito, que é universal e que a si mesmo se conhece em todas as coisas. Em tudo isto ele trata não somente dos pensamentos, mas da Realidade". Contudo, a vindicação do Prof. Jones a respeito de Hegel ainda deixa por decidir se aquele filósofo considera a consciência própria da parte de Deus distinta da dos seres finitos, ou se inclui somente estes.
5. Nossa convicção intuitiva da existência de um Deus de perfeição absoluta compele-nos a conceber um Deus possuído de cada uma das mais altas qualidades e atributos dos homens e, portanto, especialmente daquilo que constitui a principal dignidade do espírito humano, sua personalidade. Diman, Theistic Argument, 328 - "Não temos direito de representar a causa suprema como inferior a nós mesmos, embora o façamos quando a descrevemos com expressões derivadas da causa física". Mivart, Lessons from Nature, 351 - "Não podemos conceber qualquer coisa como impessoal, ainda que de natureza mais elevada que a nossa; qualquer ser que não tenha conhecimento e vontade deve ser indefinidamente inferior àquele que os tem". Lotze sustenta, com verdade, não que Deus é supra-pessoal, mas infra-pessoal e vê que só no Ser infinito está a auto-suficiência e, por isso, a pessoalidade perfeita. Knight, Essays in Philosophy, 224 - "A característica radical da pessoalidade é a sobrevivência do eu permanente sob todas as fases inconstantes ou efêmeras da experiência; a saber, a identidade pessoal que está envolvida na afirmação 'eu sou'. ... É a limitação um acessório necessário dessa noção"? Seth, Hegelianism: "Como em nós há mais para nós mesmos do que para os outros, do mesmo modo em Deus há mais pensamento para ele
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mesmo do que o próprio Deus nos manifesta. A doutrina de Hegel é a da imanência sem a transcendência". Heinrich Heine foi aluno e amigo íntimo de Hegel. Diz ele: "Eu era jovem e me sentia orgulhoso e era agradável a minha vangloria quando eu aprendia de Hegel que o verdadeiro Deus não era, como cria a minha avó, o Deus que vivia no céu, porém era, em vez disso, eu mesmo aqui na terra". John Fiske, Idea of God, xvi - "Visto que a nossa noção de força é puramente uma generalização das nossas sensações subjetivas de resistência superada, dificilmente há menos antropomorfismo na expressão Poder Infinito' do que em 'Pessoa Infinita'. Devemos simbolizar a divindade de alguma forma que tem sentido para nós; não podemos simbolizá-la como física; temos de simbolizá-la como psíquica. Por isso podemos dizer: Deus é Espírito. Isto implica pessoalidade de Deus".
6. Sua objeção à pessoalidade divina, que diante do Infinito não pode haver na eternidade passada nenhum non-ego que invoque a autoconsciência, se refuta considerando que mesmo a cognição do nonego por parte do homem logicamente pressupõe conhecimento do ego, do qual o non-ego se distingue; que, na mente absoluta, a autoconsciência não pode ser condicionada, como no caso da mente finita, ao contato com o não-eu; e que, se a distinção do eu em relação ao não-eu fosse condição essencial da autoconsciência divina, as eternas distinções pessoais na natureza divina ou estados eternos da mente divina poderiam fornecer tal condição. Pfleiderer, Die Religion, 1.163,190 sgt. - "A autoconsciência não é primordialmente uma distinção entre o ego e o não ego, porém, ao invés disto, é uma distinção entre o próprio ser e ele mesmo, isto é, entre a unidade do eu e a pluralidade do seu conteúdo. ... Antes que a alma estabeleça distinção entre o eu e o não eu, ela deve conhecer o eu - ou não poderá perceber tal distinção. Seu desenvolvimento tem conexão com o conhecimento do não eu, porém isto se deve, não ao fato da pessoalidade, mas da pessoalidade finita. O homem maduro pode viver por muito tempo com seus próprios recursos. Deus não precisa de um outro, para estimular a atividade mental. A finitude é um embaraço no desenvolvimento da nossa personalidade". Lotze, Microcosm, vol. 3, cap. 4; trad, na N. Ingl. mar.,
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1881.191-200 - "O espírito finito, não tendo por si mesmo condições de existência, só pode conhecer o ego na ocasião em que conhece o não ego. Por isso o infinito não é limitado. Só ele tem existência independente que não é introduzida nem desenvolvida através qualquer coisa a não ser ele mesmo, mas, numa atividade interior sem início nem fim, sustenta-se a si mesmo". Dorner, Glaubenslehre: "Pessoalidade Absoluta = consciência perfeita do eu e perfeito poder sobre o eu. Nós necessitamos de algo exterior para despertar a nossa consciência - apesar de que a autoconsciência vem [logicamente] antes da consciência do mundo. É o ato da alma. Só depois de se distinguir o eu do próprio eu pode-se conscientemente distinguir o eu de um outro ser". Revista British Quarterly, Jan. 1874.32, nota; jul. 1884.108 -"O ego só é pensante em relação ao não ego; mas o ego é vivente muito tempo antes de qualquer relacionamento. Shedd, Dogm. Theol., 1.185,186 -No esquema panteísta, "Deus se distingue do mundo e, conseqüentemente, encontra o sujeito que o objeto requer;... no esquema cristão, Deus se distingue de si mesmo não a partir de algo que não seja ele mesmo". Sobre o panteísmo, ver Martineau, Study of Religion, 2.141-194, esp. 192 - "A pessoalidade de Deus consiste na sua atuação voluntária como causa livre numa esfera não comprometida, isto é, a que transcende a da lei imanente. Mas também isto constitui precisamente sua infinitude, estendendo sua influência depois que ela cobriu o real, sobre todo o possível, comandando alternativas indefinidas. Embora você possa negar sua infinitude sem prejuízo da sua pessoalidade, não pode negar esta sem sacrificar aquela: porque há um modo de ação - o preferencial, o próprio que distingue os seres racionais - do qual você o exclui"; 341 - "Os metafísicos que, na impaciência de distinguir, insistem em levar o mar a bordo de uma embarcação, não só a inundam, o pensamento que ela defende, como abandonam uma infinitude que, quando não penetra nenhum olho e não cochicha a nenhum ouvido, contradizem-se na sua própria afirmação". Para o ponto de vista oposto, ver Biedermann, Dogmatik, 638-647 - "Só o homem, espírito finito, é pessoal; Deus, espírito absoluto, não o é. Contudo, na religião as relações mútuas de intercâmbio e comunhão são sempre pessoais. ... Pessoalidade é o único termo adequado pelo qual
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podemos representar a concepção teísta de Deus". Bruce, Providential Order, 76 - "Schopenhauer não nivela por cima a força cósmica à humana, mas nivela por baixo a força de vontade à cósmica. Spinoza sustenta que o intelecto em Deus não é mais semelhante ao do homem do que a estrela da constelação do Cão ao cão. Hartmann acrescentou o intelecto à vontade de Schopenhauer, porém o intelecto é inconsciente e nada entende das distinções morais". ... Panteísmo = Deus consiste em todas as coisas; Teísmo = Todas as coisas consistem em Deus, base delas, não a sua soma. O espírito no homem mostra que o Espírito infinito deve ser uma Mente e uma Vontade pessoal e transcendente.
IV. MONISMO ÉTICO Monismo Ético é o método de pensamento que sustenta uma só substância, base, ou princípio do ser, isto é, Deus, mas também sustenta os fatos éticos da transcendência de Deus assim como sua imanência e a pessoalidade de Deus distinta da pessoalidade do homem, garantindo-a. Embora não admitamos aqui a autoridade da Bíblia, reservando a nossa prova disto à divisão seguinte sobre As Escrituras, uma Revelação de Deus, podemos, contudo, citar passagens que mostram que a nossa doutrina não é inconsistente com os ensinos da Escritura Sagrada. A imanência de Deus está implicada em todas declarações da sua onipresença, como por exemplo: SI. 139.7 ss. - "Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua face"? Jr. 23.23,24 - "Eu sou apenas Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? ... não encho os céus e a terra"? At. 17.27,28 - "não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, nos movemos, existimos". A transcendência de Deus está implicada em passagens tais como: 1 Re. 8.27 - "Eis que os céus e até o céu dos céus te não poderiam conter"; SI. 113.5 - "que habita nas alturas"; Is. 57.15 - "o Alto e o Sublime que habita na eternidade". Eis a fé que Agostinho sentia: "Ó Deus, tu nos fizeste para ti e o nosso coração não repousa enquanto não descansar em ti. ... E não poderia ser, ó meu Deus, não poderia ser afinal de contas se tu não fosses comigo; se eu não estivesse em ti, de quern são todas as coisas, por quem são todas as
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coisas, em quem são todas as coisas". E Anselmo, Proslogion, fala sobre a natureza divina: "É a essência do ser, o princípio da existência, de todas as coisas. ... Sem partes, sem as diferenças, sem acidentes, sem mudanças, pode-se dizer, em certo sentido, que só ela existe porque, comparadas a ela, as outras coisas que aparecem não têm existência. O Espírito imutável é tudo o que é e ela é isto sem limite de modo simples e intérmino. É a Existência perfeita e absoluta. O resto proveio da não entidade e para lá voltará se não for sustentada por Deus. Ela não existe por si mesma. Neste sentido só o Criador existe; as coisas criadas não".
1. Enquanto o Monismo Ético abrange o elemento de verdade contido no Panteísmo - a verdade de que Deus está em todas as coisas e que todas as coisas estão em Deus - considera esta unidade científica inteiramente consistente com os fatos da ética - liberdade, responsabilidade, pecado e culpa do homem; em outras palavras, o Monismo Metafísico, ou a doutrina da substância, base ou princípio do ser, é qualificado pelo Dualismo psicológico, ou doutrina de que a alma é pessoalmente distinta, por um lado da matéria e, por outro, de Deus. O Monismo Ético defende os fatos éticos da liberdade do homem e a transcendência e pessoalidade de Deus; é o monismo da livre vontade em que a pessoalidade tanto humana como divina, o pecado e a justiça, Deus e o mundo permanecem - dois em um, um em dois - em sua antítese moral bem como em sua unidade natural. Ladd, Introd to Philosophy. "O dualismo é submissão, na história e nas salas da razão, a uma filosofia monística. ... Alguma forma do monismo filosófico é indicada pelas pesquisas da psicofísica e pela filosofia da mente que constrói sobre princípios alicerçados em tais pesquisas. Como realidades correlatas, o corpo e a mente devem ter uma espécie de base comum. ... Eles se completam na Realidade última; têm a sua vida entrelaçada como expressões daquela Vida que é imanente nos dois.... Apenas alguma forma do monismo que satisfará os fatos e verdades a que tanto o realismo como o idealismo apelam podem ocupar o lugar da filosofia verdadeira e final.... Deste modo, o monismo deve construir seus princípios quanto à preservação, ou pelo menos não contradizer e destruir as verdades implicadas na distinção entre o eu e o não eu, ... entre o moralmente bom e o moralmente mau. Nenhuma forma de monismo que
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erige seu sistema sobre as ruínas dos princípios e ideais fundamentalmente éticos pode persistentemente sustentar-se".... Filosofia da Mente, 411 - "O dualismo deve ser diluído em alguma solução monística última. O Ser do mundo de que todos os seres em particular constituem-se apenas partes e devem assim concebidos como o que nele pode ter a base de todas existências e atividades inter-relacionadas. ... Este Princípio é a Outra Mente Absoluta". ? Dorner, Hist. Doct. Person of Christ, II, 3.101, 231 -"A unidade da essência em Deus e no homem é a grande descoberta da época presente.... A característica marcante de toda a Cristologia recente é o empenho em assinalar a unidade essencial, Deus e homem. Para a teologia dos nossos dias o divino e o humano não são magnitudes mutuamente excludentes, mas conexas. ... Contudo, a fé postula uma diferença entre o mundo e Deus, entre os que a religião procura unir. A fé não quer um relacionamento consigo mesma ou com suas representações e pensamentos; isto seria um monólogo; a fé deseja um diálogo. Por isso não combina com um monismo que reconhece só Deus, ou só o mundo; contrapõe tal monismo como este. A dualidade é, de fato, uma condição da verdadeira unidade vital. Mas dualidade não é dualismo. Ela não tem nenhuma pretensão de opor-se à demanda pela unidade". Professor Small de Chicago: "Com raras exceções de cada lado, toda a filosofia atual é monística em suas pretensões ontológicas; é dualística em seus procedimentos metodológicos". A. H. Bradford, The Age of Faith, 71 -"Os homens e Deus são, em substância, os mesmos, embora não idênticos como indivíduos". A teologia de cinqüenta anos atrás era simplesmente individualista e ignorava a verdade complementar da solidariedade. Do mesmo modo pensamos a respeito dos continentes e ilhas do nosso globo separados uns dos outros. O dissociável mar é considerado como uma barreira absoluta entre eles. Mas se se pudesse secar o oceano, ver-se-ia que, durante todo o tempo tinha havido conexões submarinas e a unidade escondida de todas as terras apareceria. Do mesmo modo a individualidade dos seres humanos, real como é, não é apenas realidade. Há o fato mais profundo da vida comum. Mesmo os grandes picos das montanhas da personalidade são distinções superficiais comparadas com a unidade orgânica em que elas estão arraigadas, em que elas se aprofundam e de que todas elas, como os vulcões, recebem às
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vezes rápidos e transbordantes impulsos de discernimento, emoção e energia.
2. Em contraste com os dois erros do Panteísmo – a negação da transcendência de Deus e a negação da pessoalidade de Deus – o Monismo Ético sustenta que o universo, ao invés de ser um com Deus e contérmino com Deus, é apenas uma manifestação finita e progressiva da Vida divina: A Matéria é a autolimitação de Deus sob a lei da Necessidade; a Humanidade é a autolimitação de Deus sob a lei da Liberdade; a Encarnação e a Expiação a autolimitação de Deus sob a lei da Graça. O universo se relaciona com Deus do mesmo modo que os meus pensamentos se relacionam com o pensador, que sou eu. Eu sou maior do que os meus pensamentos e os meus pensamentos variam em valor moral. O Monismo Ético remonta a um começo, enquanto o panteísmo considera o universo coeterno com Deus. O Monismo Ético afirma a transcendência de Deus, enquanto o panteísmo considera Deus aprisionado no universo. O Monismo Ético afirma que o céu dos céus não podem contê-lo, mas que, contrariamente, o universo tomado em seu todo, com seus elementos e forças, seus sóis e sistemas solares são apenas um leve bafejo da boca divina ou uma gota de orvalho caída sobre a franja das suas vestes. Upton, Hibbert Lect: "O Eterno está presente em cada coisa finita e sente-se e se conhece a sua presença em cada alma racional; porém ainda não está quebrada em individualidades; ao contrário, sempre permanece um e a mesma substância eterna, um e o mesmo princípio unificador, presente de modo imanente e indivisível em cada um dos que formam a incontável pluralidade dos indivíduos finitos em que o entendimento analítico dos homens disseca o Cosmos". James Martineau, abr. 1895.559 - "O que é a natureza senão a província dos comprometidos com Deus e a habitual causalidade? E o que é o Espírito senão a província da livre causalidade atendendo às necessidades e sentimentos dos seus filhos? ... Deus não é um arquiteto aposentado, que pode a qualquer momento ser chamado a fazer reparos. A natureza não é por si mesma ativa e a atuação de Deus não é intrometida".
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Muitos poetas mostram sua simpatia por esta doutrina. "Cada nova criação vigorosa, Improvisação divina, procede do coração de Deus". Robert Browning assevera a imanência de Deus; Hohenstiel-Schwahgau: "Eis a glória que em tudo que se concebe Ou se sente, ou se conhece, Reconheço uma mente -não a minha, mas semelhante a ela - para duplo regozijo, Faz tudo em meu benefício e eu em seu benefício"; Pope, The Ring and Book: "Tu, que neste lugar a mim és representado do modo como o concebe a minha alma - Sob a tua imensurabilidade, na minha amplitude atômica! A mente humana, o que é senão uma lente convexa, que converge todos os pontos espalhados Colhidos da imensidão do céu, Para nele reunir, seja o nosso céu pela terra, O nosso Conhecido Desconhecido, nosso Deus revelado ao Ser humano"? Mas Browning também afirma a transcendência de Deus; Morte no Deserto: "O homem não é Deus, mas tem como fim servilo, Como um Senhor a ser obedecido, uma causa a ser defendida, Como algo a ser lançado, algo a ser transformado"; em Véspera de Natal, o poeta escarnece: "Importante tropeço De acrescentar, ele, o sábio e humilde, é também um só com o Criador". Assim também o Alto Panteísmo de Tennyson "O sol, a lua as estrelas, os mares, os montes, e as planícies, não são estas, Ó minha alma, a visão daquele que reina? As trevas são o mundo para ti; tu mesmo és o motivo; Pois não ele, mas tu és tudo, tu, que tens o poder de sentir o 'eu sou eu'? Fala-lhe tu, porque ele ouve e o espírito pode encontrar-se com o espírito; Ele está mais perto do que o sopro do que as mãos e os pés. E o ouvido do homem não pode ouvir e nem o olho pode ver; Mas se pudéssemos ver e ouvir não seria Ele mesmo esta visão"?
3. A imanência de Deus, como uma substância, base e princípio do ser, não destrói, mas garante a individualidade e os direitos de cada porção do universo de modo que há variedade de nível e dotação. No caso dos seres morais, determina-se o grau do reconhecimento voluntário e apropriação do divino. Enquanto Deus é tudo, ele também está em tudo; faz assim o universo uma manifestação graduada e progressiva de si mesmo tanto no seu amor pela retidão como na sua oposição ao mal moral.
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Tem-se acusado que esta doutrina do monismo envolve necessariamente indiferença moral; que a presença divina em todas as coisas quebra todas as distinções de nível e torna as coisas iguais umas às outras; que se legitima e se consagra o mal do mesmo modo que o bem. Isto é verdade a respeito do monismo panteístico, mas não o é a respeito do monismo ético; porque este é o monismo que reconhece o fato ético da inteligência e da vontade pessoais tanto em Deus como no homem e, com estes, o propósito de Deus tornar o universo uma variada manifestação de si mesmo. A adoração de gatos, de touros e de crocodilos no antigo Egito, e a deificação da luxúria nos templos bramânicos da índia eram expressões de um monismo não ético, que não via em Deus atributos morais e identificava Deus com as suas manifestações. Como ilustração dos equívocos em que os críticos do monismo podem cair por falta de discriminação entre o monismo que é panteísta e o monismo que é ético, fazemos a seguinte citação de Emma Marie Caillard: "As partes integrantes de Deus estão, nas premissas monísticas, enganosas, sensualistas, assassinas, de mau humor dos maus pensadores em cada descrição. Seus crimes e suas paixões intrinsecamente entram na experiência divina. O Indivíduo infinito em sua inteireza pode, na verdade, rejeitá-las, mas estes maus indivíduos finitos não se constituem partes dele, em menor escala que os rebentos de uma árvore, embora não sejam árvore e, embora a árvore transcenda qualquer ou todas elas, apesar de que se constituem partes dela. Pode aquele cuja consciência universal inclui e define toda a consciência finita ser outra coisa a não ser a responsável por todas ações e motivos finitos"? A esta acusação podemos responder com as palavras de Bowne, The Divine Immanence, 130-133 - "O vinho novo da imanência tem aquecido algumas cabeças fracas a ponto de pôr todas as coisas no mesmo nível, e considerar os homens e camundongos como se fossem de igual valor. Porém nada há na dependência de todas as coisas relativamente a Deus que remova as suas distinções valorativas. Um conversador confuso deste tipo foi levado a dizer que ele não tinha nenhuma dificuldade quanto à noção de um homem divino, como também cria em uma ostra divina. Outros têm utilizado a doutrina para cancelar as diferenças morais; porque, se Deus estiver em todas as coisas e, se todas as coisas representam a sua vontade, qualquer coisa está certa. Mas isto é muito precipitado. Sem dúvida, mesmo a vontade má não independe de Deus, mas vive, e se move, e existe na vontade divina e através dela. Porém, pelo seu poder misterioso de
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individualidade e de autodeterminação, a vontade má é capaz de assumir uma atitude de hostilidade para com a lei divina que imediatamente vindica para si através das reações próprias. "Tais reações não são divinas no sentido ideal ou mais elevado. Elas nada representam daquilo que Deus deseja ou de que ele se deleita; mas são divinas como coisas a serem feitas sob certas circunstâncias. No caso do bem, a reação divina se distingue daquela que é contra o mal. Ambas são divinas por representarem a ação de Deus, mas só a primeira o é por representar a aprovação e simpatia da parte de Deus. Todas as coisas prestam serviço, diz Spinoza. As coisas boas prestam serviço e este as favorece. As coisas más também prestam serviço de uma forma completa. Segundo Jonathan Edwards, os ímpios são úteis 'pelo que eles representam e pelo de que dispõem'. Como 'vasos de desonra' eles podem revelar a majestade de Deus. Por isso nada há na imanência divina em sua forma defensável, que cancele as distinções morais, ou minorem a retribuição. A reação divina contra a iniqüidade é ainda mais solene nesta doutrina. O cerceamento de Deus é o eterno e inevitável ambiente; e somente quando estamos em harmonia com ele é que podemos ter paz. ... O que Deus pensa a respeito do pecado e qual a preocupação da sua vontade pode-se claramente perceber nas conseqüências naturais que advêm do referido pecado. ... Na própria lei temos de encarar Deus face a face; e as conseqüências naturais têm um sentido sobrenatural".
4. Porque Cristo é o Logos de Deus, o Deus imanente, Deus revelado na Natureza, na Humanidade, na Redenção, o Monismo Ético reconhece o universo criado, sustentado, e governado pelo mesmo ser que, no curso da história, manifestou-se em forma humana e fez a expiação pelo pecado do homem na morte no Calvário. O segredo do universo e a chave para os seus mistérios encontram-se na Cruz. Jo. 1.1-4, 14, 18 - "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens.... E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.... Ninguém jamais viu a Deus. O Filho unigênito
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que está no seio do Pai, este o fez conhecer". Cl. 1.16,17 - "porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele". Hb. 1.2,3 - "pelo Filho ... por quem ele também fez o mundo ... sustentando todas as coisas pela sua palavra do seu poder"; Ef. 1.22,23 - "igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos" = preenche todas as coisas com tudo o que elas contêm de verdade, beleza e bondade; Cl. 2.2,3,9 - "mistério de Deus - Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. ... porque nele habita corporalmente a plenitude da divindade". Este ponto de vista da relação do universo com Deus lança o fundamento para uma aplicação cristã da recente doutrina filosófica. A matéria não mais é cega e morta, mas é de natureza espiritual, não no sentido de que ela é espírito, mas no sentido de que é a manifestação contínua do espírito, do mesmo modo que os meus pensamentos são uma manifestação viva e contínua de mim mesmo. Contudo, a matéria não consiste em idéias, pois estas, desprovidas de um objeto externo e de um sujeito interno, ficam suspensas no ar. As idéias são o produto da Mente. Porém só se conhece a matéria como a operação da força, e a força é produto da Vontade. Visto que esta força opera de forma racional, só pode ser o produto do Espírito. O sistema de forças que chamamos universo é o produto imediato da mente e da vontade de Deus; e, porque Cristo é a mente e a vontade de Deus em exercício, Cristo é o Criador e Sustentador do universo. A natureza é o Cristo onipresente, manifestando Deus às criaturas. Cristo é o princípio da coesão, atração, interação não só no universo físico, mas também no intelectual e no moral. Em todo o nosso conhecimento, o conhecedor e a coisa conhecida estão "ligados por algum Ser que é a realidade deles"; este ser é Cristo, "luz que alumia todo homem (Jo. 1.9). Nós conhecemos em Cristo, assim como "nele vivemos, nos movemos e existimos" (At. 17.28). Como a atração gravitacional e o princípio da evolução apenas são nomes para Cristo, do mesmo modo ele é a base do raciocínio indutivo e o suporte da unidade moral na criação. Sou constrangido a amar o meu próximo como a mim mesmo porque ele tem em
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si a mesma vida que está em mim: a vida de Deus em Cristo. O Cristo em quem toda a humanidade é criada e em quem ela consiste, sustenta o universo moral, trazendo todo homem para si e, conseqüentemente para Deus. Através dele Deus "reconcilia consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus" (Cl. 1.20). Como o Panteísmo = imanência exclusiva = Deus aprisionado, assim o Deísmo = transcendência exclusiva = Deus banido. O Monismo Ético defende a verdade contida em cada um destes sistemas, enquanto evita os seus erros. Fornece a base para uma nova interpretação de muitas doutrinas teológicas e filosóficas. Ajuda-nos a entender a Trindade. Se dentro dos limites do ser divino podem existir multidões de pessoalidades finitas, tornase mais fácil compreender como dentro dos mesmos limites pode haver três pessoalidades eternas e infinitas; na verdade, a integração da consciência de plural em uma consciência divina de total alcance pode encontrar analogia na integração da consciência subordinada na pessoalidade una do ser humano. O Monismo Ético, porque é ético, abre espaço para a vontade humana e para a sua liberdade. Conquanto o homem não pode romper o limite natural que o une a Deus, pode romper o espiritual e introduzir na nova criação um princípio de discórdia e mal. Amarre firme um cordão em torno do seu dedo; você o isola em parte, diminui a sua nutrição, provoca atrofia e enfermidade. Do mesmo modo se tem dado a cada agente pensante e moral o poder, a espiritualidade para isolar-se de Deus conquanto naturalmente ele ainda esteja ligado a Deus. Como a humanidade é criada em Cristo e vive só nele, o isolamento próprio do homem consiste na sua separação. Simon, Redemption of Man, 339 - "Rejeitar Cristo não é tanto recusar tornar-se um com ele, como é recusar continuar a ser um com ele e não deixar que ele seja a nossa vida". Todos os homens são naturalmente um com Cristo através do nascimento físico antes de se tornarem moralmente um com ele através do nascimento espiritual. Os homens podem posicionar-se contra ele e opor-se a ele para sempre. Isto o nosso Senhor dá a entender quando nos diz que há varas naturais de Cristo, que não "estão na videira" ou que não "produzem frutos" e por isso "são lançadas fora", "secam-se" e "são queimadas" (Jo. 15.4-6).
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Contudo, o Monismo Ético, porque é Monismo, capacita-nos a entender o princípio da Expiação. Embora a santidade de Deus nos constranja a punir o pecado, o Cristo que se juntou ao pecador deve compartilhar do seu castigo. Aquele que é a vida da humanidade deve tomar sobre o seu próprio coração o fardo da vergonha e da pena que pertence aos seus membros. Amarre o cordão em torno do seu dedo; não é só o dedo que sofre mas também o coração; a vida de todo o sistema ergue-se para expulsar o mal, para desatar o cordão, para livrar o membro enfermo e sofredor. A humanidade está ligada a Cristo como o dedo ao corpo. Visto que a natureza humana está entre "todas coisas" que "subsistem" ou mantém-se unida em Cristo (Cl. 1.17), e o pecado do homem é uma autoperversão de uma parte do próprio corpo de Cristo, todo ele deve ser ferido pelo ferimento auto-aplicado; "convinha que Cristo padecesse" (At. 17.3). Simon, Redemption of Man, 321 - "Se o Logos é o Mediador da imanência divina na criação, especialmente no homem; se os homens são diferenciações da efluente energia divina; e se o Logos é o princípio imanente controlador de toda a diferenciação - isto é, o princípio de toda a forma - não deve haver autoperversão de todas estas diferenciações que reagem naquele que é o seu princípio constitutivo"? Uma explicação mais completa das relações do Monismo Ético com outras doutrinas deve estar reservada ao nosso tratamento da Trindade, Criação, Pecado, Expiação, Regeneração.
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Parte III - AS ESCRITURAS, UMA REVELAÇÃO DA PARTE DE DEUS Capítulo I CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES I. RAZÕES A PRIORI PARA ESPERAR UMA REVELAÇÃO DA PARTE DE DEUS 1. Necessidades da natureza do homem A natureza intelectual e moral do homem, para preservar-se da constante deterioração, e garantir seu desenvolvimento e progresso, requer uma revelação de autoridade e auxílio da verdade religiosa de um mais elevado e mais completo tipo que qualquer outro a que, em seu presente estado de pecado, pode atingir sem o uso de forças auxiliares. A prova desta proposição é em parte psicológica e em parte histórica. A) Prova psicológica - a) Nem a razão, nem a intuição lançam luz sobre certas questões cuja solução é da mais elevada importância para nós; por exemplo, Trindade, expiação, perdão, método de adoração, existência pessoal após a morte, b) Mesmo a verdade a que chegamos através dos nossos poderes naturais necessita da confirmação divina e autoridade quando dirige as mentes e vontades pervertidas pelo pecado, c) Para quebrar esta força do pecado e fornecer estímulo para o esforço moral necessitamos de uma revelação especial do aspecto misericordioso e auxiliador da natureza divina. a) Bremen Lectures, 72, 73; Platão, Segundo Alcibíades, 22, 23; Fedo, 85 - lógou yeiou tinov Jâmblico, perì toû IIuyagopikoû Bioû, cap. 28. Esquilo, em Agamenon, mostra quão completamente a razão e a
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intuição deixaram de suprir o conhecimento de Deus necessário ao homem: "O renome é espalhafatoso", diz ele, "e não deve perder o senso de que Deus é a maior dádiva. ... Ser louvado de modo ultrajante é grave; porque aos olhos de tal pessoa Zeus lança a pedra fulminante. Pelo que, na verdade, eu decido por tantas coisas e não por mais prosperidade do que a sua inveja não possa vigiar". Embora os deuses pudessem ter seus preferidos, eles não gostavam dos homens como tais, mas tinham inveja deles e os odiavam. William James, Is Life Worth Living? Intern. Jour. Ethics, out., 1895.10 - "Tudo o que sabemos de bom e de belo procede da natureza, mas nada menos do que conhecemos do mal. ... Para uma mulher de baixa reputação não devemos nenhuma fidelidade moral. ... Se há um Espírito divino do universo, ou da natureza tal como a conhecemos, é possível que, para o homem, não seja ela a última palavra. Ou o Espírito não se revela na natureza, ou revela-se de forma inadequada; e como todas as religiões elevadas tem admitido, o que chamamos de natureza visível, ou denominamos este mundo, deve ser apenas um véu e uma apresentação superficial cujo pleno sentido reside num outro mundo, ou num mundo invisível". b) Versus Sócrates: Os homens só fazem o que é certo se o conhecem. Pfleiderer, Philos. of Relig., 1.219 - "Em oposição à opinião de Sócrates de que a maldade apóia-se na ignorância, Aristóteles já lembrava o fato de que a prática do bem nem sempre está combinada com o seu conhecimento, porque isso também depende das paixões. Se a maldade consistisse apenas na falta de conhecimento, então os teoricamente mais cultos deveriam ser os melhores, o que ninguém se arrisca a afirmar". W. S. Lilly, Shibboleths: "Com freqüência sustenta-se que a ignorância é a raiz de todos os males. Porém só o conhecimento não transforma o caráter. Ele não pode ministrar a uma mente enferma. Não pode converter a vontade má em boa. Pode conduzir o crime por diferentes canais e torná-lo menos fácil de detectar. Não muda as propensões naturais do homem ou a sua disposição de gratificá-las à custa de outras. O conhecimento faz o homem bom mais poderoso para o bem e o mau mais poderoso para o mal. E é só isso que ele pode fazer". Gore, Incarnation, 174 - "Não devemos subestimar o método do argumento, porque Jesus e Paulo ocasionalmente o empregaram na forma socrática, mas devemos reconhecer que ele não é a base do sistema cristão, nem o método primordial do cristianismo". Martineau, in Nineteenth
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Century, 1.331, 531 e Types, 1.112 - "Platão diluiu a idéia do que é certo naquilo que é bom e isto ainda indistintamente se mescla com a do verdadeiro e do belo". c) Versus Thomas Paine: "A religião natural ensina-nos, sem qualquer possibilidade de equívoco, tudo o que é necessário e apropriado para ser conhecido". Platão, Laws, 9.854, c, "Sede bons; mas, se não puderdes, suicidai-vos". Farrar, Darkness and Dawn, 75 - "Platão diz que o homem nunca conhecerá Deus enquanto ele não se tiver revelado na aparência de um homem sofredor e que, quando tudo estiver à beira da destruição, o mesmo Deus veja a aflição do universo e, pondo-se ao leme, restaure-o à ordem". Prometeu, tipo da humanidade, nunca será libertado "enquanto um deus não desça a ele nas negras profundezas do Tártaro". De igual modo, Sêneca ensina que o homem não pode salvar-se a si mesmo". Diz ele: "Você acha estranho que o homem se dirija aos deuses? Deus vem aos homens, sim, para dentro dos homens". Somos pecadores; os pensamentos de Deus não são os nossos, nem os seus caminhos o são. Por isso ele deve torná-los conhecidos a nós, ensinar-nos o que somos, o que é o verdadeiro amor e o que é do seu agrado. Shaler, Interpretation of Nature, 227 - "O inculcamento das verdades morais só pode efetuar-se com sucesso de modo pessoal; ... demanda influência da pessoalidade; o peso da impressão depende da voz e do olho de um mestre". A saber, não só precisamos exercer autoridade, como também a manifestação do amor.
B) Prova histórica – a) O conhecimento da verdade moral e religiosa das nações e épocas em que se desconhece a revelação especial é grosseira e crescentemente imperfeito, b) A verdadeira condição do homem nos tempos pré-cristãos e nas modernas terras pagas é de extrema depravação moral, c) Com tal depravação há uma convicção geral de desamparo e da parte das mais nobres naturezas um anseio e esperança de cima. Pitágoras: "Não é fácil conhecer [os deveres], a não ser que o próprio Deus, ou alguma pessoa que os tenha recebido dele, ou os obtenha através dos seus recursos, os ensine aos homens". Sócrates: "Aguardemos com paciência, até que tenhamos a certeza do conhecimento de como devemos
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nos portar para com Deus e para com o homem". "Aguardaremos alguém, seja Deus, seja um homem inspirado, que nos instrua sobre os nossos deveres e que afastemos as trevas dos nossos olhos". Discípulo de Platão: "Façamos da probabilidade a nossa jangada enquanto navegamos pela vida, a não ser que possamos ter um meio de transporte mais seguro e garantido, como deve ser alguma comunicação divina". Platão pensava três coisas a respeito de Deus: 1. que ele nasceu com uma alma racional; 2. que ele nasceu grego; e 3. que ele viveu nos dias de Sócrates. Contudo, com todas estas vantagens é provável que ele tivesse apenas uma jangada em que navegava por mares estranhos ao pensamento além das suas próprias profundidades e aguardava "uma mui firme palavra dos profetas? (2 Pe. 1.19).
2. Pressuposição de um suprimento O que conhecemos de Deus através da natureza fornece base para a esperança de que estas carências de nosso ser intelectual e moral encontrarão um suprimento correspondente na forma de uma revelação divina especial. Argumentamos isto a partir de: a) Nossa convicção necessária da sabedoria de Deus. Tendo feito o homem um ser espiritual, para fins espirituais, pode-se esperar que ele forneça os meios necessários para assegurar tais fins. b) Sua verdadeira, embora incompleta, revelação já dada na natureza. Visto que Deus, na verdade, empreendeu tornar-se conhecido aos homens, podemos esperar que ele completará a obra que começou, c) A conexão geral da carência e suprimento. Quanto mais elevadas as nossas necessidades, mais intrincados e engenhosos são, em geral, os artifícios para ir ao seu encontro, d) Analogias da natureza e da história. Sinais de bondade reparadora na natureza e tolerância no providencial trato levam-nos a esperar que, conquanto se execute a justiça divina, Deus pode tornar conhecido o caminho da restauração dos pecadores. a) Houve dois estágios na fuga que o Dr. Duncan fez do panteísmo: 1. quando ele primeiro creu na existência de Deus e "dançou de alegria"; e 2.
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quando, sob a influência de Malan, ele veio a crer que Deus devia conhecêlo". Na história do velho Leitor da Aldeia, a mãe sucumbiu completamente quando o seu filho parecia tornar-se cada vez mais tolo, mas as suas lágrimas conquistaram-no e o mudaram. Laura Bridgeman era cega, surda e muda e tinha apenas um leve sentido do paladar e do olfato. Quando sua mãe, após longa separação, foi visitá-la em Boston, o seu coração materno estava grandemente aflito, supondo que sua filha não viesse a reconhecê-la. Finalmente, com um sinal que era peculiar à mãe, ela perfurou o véu da insensibilidade, o que proporcionou um momento feliz para ambas. Do mesmo modo, Deus, nosso Pai, tenta revelar-se às nossas almas cegas, surdas e mudas. A agonia da cruz é o sinal do pesar pela insensibilidade do ser humano causada pelo pecado. Se ele é o Criador do ser humano, sem dúvida procurará adequá-lo à comunhão consigo para o que foi designado. b) Gore, Incarnation, 52, 53 - "A natureza é o primeiro volume incompleto que demanda um segundo que é Cristo", c) R. T. Smith, Man's Knowledge of Man and of God, 228 - "Os mendigos não fazem os seus pedidos num deserto onde não há quem lhes atenda. Eles têm recebido um suprimento suficiente para manter vivo o senso de necessidade", d) Na ordem natural da cura das escoriações nas plantas e na soldadura dos ossos quebrados na criação animal, na provisão de agentes medicinais para a cura de doenças humanas e especialmente no adiamento da aplicação do castigo sobre o transgressor e o espaço concedido a ele para que se arrependa, temos algumas indicações que, se não contraditadas por outra evidência, podem levar-nos a considerar o Deus da natureza como o da paciência e misericórdia. O tratado de Plutarco "De Sera Numinis Vindicta" é uma prova de que este pensamento tinha ocorrido entre os pagãos. Na verdade, é possível duvidar de que uma religião paga continue a existir livremente sem algum elemento de esperança. Contudo, este próprio adiamento na execução do juízo divino gerou dúvida sobre a existência de um Deus que, ao mesmo tempo é bom e justo. "A Verdade perene no patíbulo, O Erro sempre no trono", é um escândalo para o governo divino que só o sacrifício de Cristo pode remover plenamente. O problema também se apresenta no Velho Testamento. Em Jó 21 e nos Salmos 17, 37, 49, 73 há respostas parciais; ver Jó 21.7 - "Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder?" 24.1 -
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"Visto que do Todo-poderoso se não encobriram os tempos, por que não vêem os seus dias os que o conhecem?" O Novo Testamento sugere a existência de uma testemunha da bondade de Deus entre os pagãos, enquanto, ao mesmo tempo, declara que só Cristo traz o pleno conhecimento e a salvação. Compare At. 14.17 - "contudo, não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria o vosso coração"; 17.25-27 - "ele mesmo é quem dá a vida a respiração e todas as coisas; e, de um só, fez todas as gerações de homens.... para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, pudessem achar"; Rm. 2.4 - "a benignidade de Deus te leva ao arrependimento"; 3.25 - "para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos sob a paciência de Deus"; Ef. 3.9 - "e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus, que tudo criou"; 2 Tm. 1.10 "nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho".
Concluímos esta seção sobre as razões a priori esperando uma revelação da parte de Deus no reconhecimento de que os fatos garantem que o grau de expectação que chamamos esperança podemos melhor chamar de grau de expectação de segurança: e isto em razão de que, enquanto a consciência dá prova de que Deus é um Deus de santidade, não temos, à luz da natureza, igual evidência de que Deus é um Deus de amor. A razão ensina ao homem que, como pecador, merece condenação; mas ele não pode, só a partir da razão, saber que Deus terá misericórdia dele e prover-lhe salvação. Suas dúvidas só podem ser removidas pela voz do próprio Deus garantindo-lhe a "redenção ... o perdão ... dos delitos" (Ef. 1.7) e revelando-lhe o caminho pelo qual o perdão se tornou possível. A consciência não conhece nenhum perdão, nem Salvador. Hovey, Manual of Christian Theology, 9, parece-nos ir longe demais quando diz: "Mesmo o sentimento natural e a consciência fornecem alguma diretriz para bondade e a santidade de Deus, embora seja necessário muito mais da parte daquele que se submete ao estudo da teologia cristã". Admitimos que
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o sentimento natural dá alguma diretriz para a bondade de Deus, mas consideramos a consciência apenas como um reflexo da santidade de Deus e da sua aversão ao pecado. Concordamos com Alexander McLaren: "O amor de Deus necessita de prova? Sim, como mostra o paganismo. Há deuses cheios de vícios, deuses descuidados, deuses cruéis, deuses belos em abundância; mas onde há um deus que ama"?
II. AS MARCAS DA REVELAÇÃO QUE O HOMEM PODE ESPERAR 1. Quanto à sua substância Podemos esperar que esta mais tardia revelação não se contraponha, mas confirme e amplie o conhecimento de Deus que derivamos da natureza enquanto remedeia os defeitos da religião natural e lança luz sobre os seus problemas. Isaías apela para as anteriores comunicações da verdade da parte de Deus: Is. 8.20 - "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a minha alva". Malaquias segue o exemplo de Isaías; Mq. 4.4 - "Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo". O próprio nosso Senhor baseou seus argumentos nos primitivos pronunciamentos de Deus: Lc. 24.27 - "Começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas Escrituras".
2. Quanto ao seu método Esperamos que ele siga os métodos de Deus no procedimento em outras comunicações da verdade. Bispo Butler (Analogy, parte ii, cap. iii) nega que haja qualquer possibilidade de julgar a priori como se dará uma revelação divina. "Nós não somos nenhum tipo de juizes por antecipação", diz ele, "por cujos métodos, ou em cuja proporção se espera que esta luz e instrução sobrenaturais nos sejam
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fornecidas". Porém o Bispo Butler, um pouco mais tarde, em sua grande obra (parte ii, cap. iv) mostra que o plano progressivo de Deus na revelação tem analogia com os lentos e sucessivos passos através dos quais Deus cumpre os seus fins na natureza. Sustentamos que a revelação na natureza fornece algumas suposições sobre a revelação da graça como, por exemplo, as que aparecem abaixo. Leslie Stephen, Nineteenth Century, fev. 1891.180 - "Butler respondeu o argumento dos deístas, de que o Deus do cristianismo é injusto, argumentando que o Deus da natureza era igualmente injusto. James Mill, admitindo a analogia, recusa-se a crer em ambos os Deuses. O Dr. Martineau diz, por semelhantes razões, que Butler 'escreveu um dos mais terríveis argumentos ao ateísmo jamais produzidos'. Do mesmo modo o argumento da 'morte ou da cura' de J. H. Newman é, em sua essência, ou que Deus não revelou nada, ou fez revelações em algum outro lugar além da Bíblia. Seu argumento, como o de Butler, pode ser de tal modo bem persuasivo ao ceticismo como à crença". A esta acusação de Leslie Stephen respondemos que ele é convincente só na medida em que ignoramos o fato do pecado humano. Admitindo este fato, o nosso mundo passa a ser de disciplina, provação e redenção e, tanto o Deus da natureza como o Deus do cristianismo são escoimados de toda a suspeita de injustiça. A analogia entre os métodos de Deus no sistema cristão e os seus métodos na natureza torna-se um argumento a favor daqueles.
d) Do contínuo desenvolvimento histórico; para ele que seja dado em germe às primitivas eras e seja mais completamente desenvolvido quando a raça estiver preparada para recebê-lo. Exemplos de desenvolvimento contínuo na comunicação de Deus encontram-se na história geológica; no desenvolvimento das ciências; na educação progressiva do indivíduo e da raça. Nenhuma outra religião, a não ser o cristianismo, mostra "um firme progresso da visão de um Caráter infinito desdobrando-se em favor do homem por um período de muitos séculos". Arthur H. Hallan, John Brown's Rab and his Friends, 282 - "A Revelação é uma aproximação gradual do Ser infinito com os recursos e pensamentos da humanidade finita". Uma centelha pode incendiar uma
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cidade ou o mundo; porém o décuplo do calor desta centelha, desde que amplamente fracionado, não incendiará coisa alguma.
b) Do pronunciamento a uma simples nação e a simples pessoas nessa nação para que possa através delas ser comunicado à humanidade. Cada nação representa uma idéia. Como o grego tinha o gênio da liberdade e do belo, e o romano da organização e da lei, a nação hebréia tinha "o gênio da religião" (Renan); contudo, esta última teria sido inútil sem o auxílio e supervisão divinos especiais, como testemunham outras produções desta mesma raça semítica, tais como Bel e o Dragão, no Velho Testamento Apócrifo; os evangelhos do Novo Testamento Apócrifo; e, por fim, o Talmude e o Corão. Os Apócrifos do Velho Testamento relatam que, quando Daniel foi lançado pela segunda vez na cova dos leões, um anjo agarrou Habacuque, pelos cabelos, na Judéia, e o levou com uma tigela de sopa para dar a Daniel no jantar. Sete leões e Daniel entre eles permaneceram sete dias e sete noites. Tobias parte da casa de seu pai para garantir a sua herança e o seu cachorrinho vai junto. Nas barrancas de um grande rio um grande peixe ameaça devorá-lo, mas ele o captura e despoja. Finalmente, retorna com sucesso à casa do pai juntamente com o cachorrinho. Nos Evangelhos Apócrifos, Jesus leva água em seu manto quando da quebra do seu cântaro; faz passarinhos de barro no dia de sábado, e, repreendido, os faz voar; fere de morte um grupo de jovens, e, a seguir, amaldiçoa seus acusadores com a cegueira; zomba dos seus mestres e ressente-se do controle. Mais tarde, lendas muçulmanas declaram que Maomé causou trevas ao meio-dia; depois disso, a lua voou para ele, rodeou sete vezes a Caaba, curvou-se, entrou na sua manga direita, cortou em duas metades; lançando-se, depois, à esquerda e a duas metades; retirou-se para o extremo oriente e para o extremo ocidente reuniu-as. Estes produtos da raça semítica mostram que nem a influência do ambiente nem um gênio nativo da religião fornecem uma explicação adequada das nossas Escrituras. Como a chama no altar de Elias não foi causada por varas mortas, mas pelo fogo do céu, do mesmo modo a inspiração do Onipotente pode explicar a única revelação do Velho e do Novo Testamentos.
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Os hebreus vêem Deus na consciência. Porque a mais genuína expressão da sua vida "devemos ver sob a superfície, na alma, onde a adoração e a aspiração encontram-se face a face com Deus" (Genung, Epic of the Inner Life, 28). Mas a religião do hebreu precisava ser suplementada pela vista de Deus na razão e na beleza do mundo. Os gregos tinham a beleza do conhecimento e do senso estético. Butcher, Aspects of the Greek Genius, 34 -"Os fenícios ensinaram a escrita aos gregos, mas foram estes que escreveram". Aristóteles foi o iniciador da ciência e além da raça ariana, ninguém, a não ser os sarracenos, jamais sentiu o impulso científico. Porém os gregos evidenciaram o seu problema solucionando todas as quantidades desconhecidas. Pensavam que nunca teriam obtido a aceitação universal e estabilidade se não fosse a jurisprudência e imperialismo romanos. A Inglaterra contribuiu com o seu governo constitucional e a América com o seu sufrágio universal e liberdade religiosa. Um pensamento tão definido a respeito de Deus incorporou-se a cada nação e cada uma tem uma mensagem para a outra. At. 17.26 - Deus "fez de toda geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação"; Rm. 3.1,2 - "Qual é, logo, a vantagem do judeu? ... primeiramente as palavras de Deus lhe forma confiadas". A escolha da nação hebréia por Deus, como guardadora e comunicadora da verdade religiosa, tem analogia com a das outras nações, com relação à verdade estética, científica, e política. Hegel: "Nenhuma nação que exerceu um papel de peso e ativo na história do mundo jamais produziu a partir do simples desenvolvimento de uma só raça as linhas estáveis de relacionamento sangüíneo. Deve haver diferenças, conflitos, um conjunto de forças opostas". A consciência do hebreu, o pensamento do grego, a organização do latino, a lealdade pessoal do teutônico, devem unir-se para formar um todo perfeito. "Enquanto a igreja grega era ortodoxa, a latina era católica; enquanto os gregos tratavam das duas vontades em Cristo, os latinos tratavam da harmonia das nossas vontades para com Deus; enquanto os latinos salvavam através de uma corporação, os teutônicos salvavam através de uma fé pessoal". Bereton, Educational Review, nov. 1901.339 - O problema da França é o das ordens religiosas; o da Alemanha, da construção da sociedade; o da América, do capital e trabalho". Pfleiderer, Philos. Religion, 1.183,184 - "As grandes idéias nunca vieram das massas, mas de indivíduos marcados. Contudo,
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quando propostas, estas idéias despertaram nas massas um eco que mostra que elas tinham estado inconscientemente adormecidas nas almas dos outros". Surgem as horas e aparece um Newton, que interpreta a vontade de Deus na natureza. Do mesmo modo, um Moisés ou um Paulo que interpretam a vontade de Deus na moral e na religião. Os poucos grãos de trigo encontrados no punho fechado da múmia egípcia ter-se-iam perdido totalmente se um grão tivesse sido semeado na Europa, um outro na Ásia, outro na África e, por fim, um outro na América; plantados juntos todos num pote de argila e o seu produto no leito de um jardim e, mais tarde o seu produto, no campo de um agricultor, haveria o trigo do novo Mediterrâneo suficiente para distribuir ao mundo todo. Deste modo Deus seguiu o seu método comum concedendo a verdade religiosa a princípio a uma única nação através da qual pôde transmitir-se à humanidade toda.
c) Da preservação escrita de documentos transmitidos por aqueles a quem originariamente foi comunicada. Para o conhecimento da história do passado dependemos principalmente dos alfabetos, dos escritos, dos livros; todas as grandes religiões do mundo são religiões de livros; os carênios (da Birmânia) esperavam que os seus mestres da nova religião lhes trouxessem um livro. Porém note que as falsas religiões têm escrituras, mas não a Escritura; seus livros sagrados não têm o princípio da unidade fornecido pela inspiração divina. H. P. Smith, Biblical Scholarship and Inspiration, 68 - "Maomé descobriu que as Escrituras dos judeus eram a fonte da religião deles. Chamou-os 'povo do livro', e empenhou-se em construir um código similar para os seus discípulos. Nele Deus é o único que fala; o profeta conhece todo o seu conteúdo por revelação direta; seu estilo arábico é perfeito; seu texto é incorruptível; é a autoridade absoluta na lei, na ciência e na história". O Corão é uma grosseira paródia humana da Bíblia; suas exageradas pretensões sobre a divindade, sem dúvida, são a melhor prova da sua origem puramente humana. Por outro lado, a Escritura não tem essas reivindicações para si mesma, mas aponta Cristo como a única e final autoridade. Neste sentido, podemos dizer como Clarke, Christian Theology, 20 - "O cristianismo não é uma religião do livro, mas uma religião da vida. A Bíblia não nos dá Cristo, mas Cristo no-la dá". Ademais, é verdade que, para o nosso conhecimento de Cristo, dependemos totalmente da Escritura. Ao
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dar a sua revelação ao mundo, Deus seguiu o seu método comum de transmitir e preservar documentos através da escrita. Contudo, recentes investigações tornam agora provável que a expectação que os carênios tinham de um livro foi a sobrevivência do ensino dos missionários nestorianos que, no começo do século oitavo, penetraram os lugares mais remotos da Ásia e deixaram no muro da cidade de Singuádu ao noroeste da China uma tábua como monumento dos seus trabalhos.
3. Quanto à sua certificação Podemos esperar que esta revelação seja acompanhada da evidência de que seu autor é o mesmo que anteriormente reconhecemos com o o Deus da natureza. Esta evidência deve constituir-se a) numa manifestação do próprio Deus; b) no mundo exterior assim como no interior; c) só o poder ou conhecimento de Deus pode fazê-lo; e d) como tal não pode ser contraditado pelo mal ou equivocado pela alma cândida. Em resumo, podemos esperar que Deus ateste pelos milagres e pela profecia a missão e autoridade divinas daqueles a quem ele comunica uma revelação. Tal sinal parece ser necessário, não só para assegurar ao recipiente original que a suposta revelação não é um capricho da sua própria imaginação, mas também dar autoridade à revelação recebida por um só indivíduo e transmitida a todos (compare Jz. 6.17,36-40 - Gideão pede um sinal para si; 1 Reis 18.36-38 - Elias pede um sinal para os outros). Mas para que a nossa prova positiva de uma revelação divina possa não ser obstada pela suspeita de que os elementos miraculosos e proféticos na história da Escritura criem uma pressuposição contra sua credibilidade convém ocuparmo-nos neste ponto do assunto geral dos milagres e profecia.
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III. OS MILAGRES, UM ATESTADO DA REVELAÇÃO DIVINA
1. Definição de Milagre a) Definição preliminar Milagre é um evento perceptível aos sentidos, produzido com um propósito religioso pela atuação imediata de Deus; portanto, um evento que, apesar de não contrariar qualquer lei da natureza, se plenamente conhecida, não se explica sem a atuação direta de Deus. Esta definição corrige várias concepções errôneas de milagre: - a) Milagre não é a suspensão ou violação de uma lei natural; porque a lei natural está em operação na época em que ocorre o milagre como anteriormente. b) Não é um produto súbito de agentes naturais simplesmente previstos por aquele que o opera; é o efeito de uma vontade exterior à natureza. c) Não é um evento sem causa; porque tem sua causa direta na volição de Deus. d) Não é um ato irracional ou caprichoso de Deus; mas um ato de sabedoria realizado segundo as leis imutáveis de seu ser de modo que, nas mesmas circunstâncias, segue-se o mesmo curso. e) Não é contrário à experiência; porque não é contrário à experiência de uma nova causa seguida de um novo efeito. f) Não é matéria de experiência interior como a regeneração e a iluminação; mas um evento perceptível aos sentidos e que em tudo pode servir como prova objetiva de que o seu operador é divinamente comissionado como mestre religioso. A definição acima tem a intenção simplesmente de referir-se aos milagres da Bíblia, ou, em outras palavras, aos eventos que professam atestar uma revelação divina contida nas Escrituras. O Novo Testamento designa estes eventos de uma dupla forma, focalizando-os, quer subjetivamente, produzindo efeitos sobre os homens, quer objetivamente, revelando o poder e a sabedoria de Deus. Naquele primeiro aspecto eles são chamados terata, 'maravilhas', e semeia 'sinais', (João 4.48; At. 2.22).
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Neste segundo são chamados dunameiv, 'poderes' e eria 'obras' (Mt. 7.22; Jo. 14.11). Ver H. B. Smith, Lect. On Apologetics, 90-116, esp. 94 "shmeion, sinal, marcando o propósito ou objetivo, o fim moral, colocando o evento em conexão com a revelação". A Versão da União Bíblica uniforme e adequadamente traduz terav por 'maravilha', dunamiv por 'milagre', erion por 'obra', e shmeion por 'sinal'. Goethe, Fausto: "Alles Vergängliche ist nur ein Gleichniss: Das Unzulängliche wird hier Ereigniss" - "Todo o transitório é uma parábola; o inatingível aparece como um fato sólido". Assim os milagres do Novo Testamento são parábolas em ação; Cristo abre os olhos ao cego para mostrar que ele é a luz do mundo; multiplica os pães para mostrar que ele é o pão da vida; ressuscita os mortos para mostrar que ele levanta os homens da morte dos delitos e pecados. Ver Boadus, Com. de Mateus, Casa Publicadora Batista, 1949,1 vol. p. 144a. Contudo, um grande grupo de físicos cristãos, no suposto interesse de uma lei natural demanda uma modificação desta definição de milagre. Tal modificação é proposta por Babbage, Ninth Bridgewater Treatise, cap. viii. Ele ilustra o milagre com uma ação de uma máquina calculadora, que apresenta ao observador numa sucessão regular a série de unidades a partir de um até dez milhões, mas dá um salto e mostra, não dez milhões e um, mas cem milhões; Ephraim Peabody ilustra o milagre como um relógio de catedral que apenas soa uma vez em cada cem anos; contudo, ambos resultados devem-se tão somente à construção original das respectivas máquinas. Babbage e Peabody negam que o milagre se deve à atuação direta ou indireta de Deus, e consideram-no pertencente a uma ordem mais elevada da natureza. Deus só é o autor do milagre no sentido de que, no princípio, ele instituiu as leis da natureza e no tempo próprio providenciou o seu resultado. A favor deste ponto de vista tem-se reivindicado que ele não dispensa a operação divina, mas apenas a recua para a origem do sistema enquanto ainda sustenta que a obra de Deus é essencial, não só para sustentar o sistema, mas também para inspirar o mestre religioso ou líder no conhecimento necessário à predição da obra incomum do sistema. A maravilha está limitada à profecia que pode igualmente atestar uma revelação divina. Mas é claro que um milagre deste tipo não tem muito da 'sinalização' necessária se a finalidade é cumprir o seu propósito. Apresenta a grande
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vantagem de que o milagre, como a princípio se define, possui uma providência muito especial como um atestado da revelação - a saber, a vantagem de que, enquanto a providência especial fornece alguma garantia de que esta revelação vem de Deus, o milagre dá garantia plena de que ele vem de Deus. Visto que o homem pode por meios naturais apossar-se do conhecimento das leis físicas, o verdadeiro milagre que Deus opera e o pretenso milagre que só o homem opera, estão nesta teoria bem menos fácil de distinguir-se entre si: Cortez, por exemplo, poderia enganar Montezuma predizendo um eclipse solar. Certos milagres típicos, como a ressurreição de Lázaro, recusam-se ser classificados como eventos pertencentes ao reino da natureza, no sentido em que esta se emprega comumente. Contudo, o nosso Senhor parece excluir claramente uma teoria como esta quando diz: "Se eu expulso demônios pelo dedo de Deus" (Lc. 11.20); Mc. 1.41 - "Eu quero; sê limpo". O ponto de vista de Babbage é inadequado, não só porque deixa de reconhecer qualquer exercício imediato da vontade no milagre, mas porque considera a natureza como uma simples máquina que pode operar independentemente de Deus - um método de concepção puramente deística. Sobre este ponto de vista muitos dos produtos da mera lei natural poderiam ser chamados milagres. Os milagres seriam apenas a manifestação ocasional de uma ordem da natureza mais elevada, como o cometa que ocasionalmente invade o sistema solar. William Elder, Ideas from Nature: "A planta do século que vimos crescer desde a nossa infância pode não desabrochar suas flores até que cheguemos à velhice, porém, não obstante, a súbita maravilha é natural". Contudo, se interpretarmos a natureza mais que dinamicamente, e a considerarmos como a operação regular da vontade divina ao invés de considerarmos a operação automática de uma máquina, há muita coisa que podemos adotar neste ponto de vista. O milagre pode ser tanto natural como sobrenatural. Podemos sustentar com Babbage que ele tem seus antecedentes naturais, enquanto, ao mesmo tempo, sustentamos que ele é produzido pela atuação imediata de Deus. A seguir, apresentaremos, portanto, uma definição alternativa e preferível, que, a nosso juízo, tem ambos méritos já mencionados.
b) Definição Alternativa e preferível: Milagre é um evento na natureza em si mesmo tão extraordinário e tão coincidente com a profecia ou a determinação de um mestre religioso ou um líder que
Teologia Sistemática (Strong) 243 garante plenamente a convicção da parte dos que o testemunham que Deus o operou com o desígnio de certificar que o mestre ou líder foi comissionado por ele. Esta definição tem algumas marcantes vantagens em comparação com a anterior: - a) Reconhece a imanência de Deus e sua atuação imediata na natureza ao invés de assumir uma antítese entre as leis da natureza e a vontade de Deus. b) Considera o milagre simplesmente como um ato extraordinário do mesmo Deus que já está presente em todas operações naturais e que está revelando nelas seu plano geral. c) Sustenta que a lei natural como método da atividade regular de Deus de modo nenhum exclui os esforços do seu poder quando estes garantiriam melhor seu propósito na criação. d) Permite a possibilidade de que todos os milagres tenham suas explicações naturais e daí em diante sejam atribuídos a causas naturais enquanto tanto os milagres como suas causas naturais podem ser apenas nomes da única e mesma vontade de Deus. e) Harmoniza as reivindicações tanto da ciência como da religião: da ciência, permitindo quaisquer possíveis ou prováveis antecedentes físicos do milagre; da religião, sustentando que estes mesmos antecedentes juntamente com o milagre devem ser interpretados como sinais da comissão especial de Deus através daquele cujo ensino ou liderança o milagre se opera. Agostinho, que declara que "Dei voluntas rerum natura est" (A natureza das coisas é a vontade de Deus), define o milagre em De Civitade Dei, 21.8 "Portentum ergo fit non contra naturam, sed contra quam est nota natura" (Não há milagre na natureza, mas no que se observa nela). Ele diz também, que o nascimento é mais miraculoso do que a ressurreição porque é mais maravilhoso que algo que nunca havia começado a ser, do que qualquer coisa que tinha sido e deixou de ser e começasse a ser outra vez. E. G. Robinson,, 104 - Ό natural é obra de Deus. Ele o originou. Não há nenhuma separação entre o natural e o sobrenatural. O natural é sobrenatural. Deus opera em todas as coisas. Cada fim, embora atingido por processos mecânicos, é tão verdadeiramente o fim de Deus como se ele o operasse através de um milagre". Shaler, interpretation of Nature, 141, considera o
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milagre como algo excepcional, embora sob o controle da lei natural; o elemento latente na natureza manifestando-se subitamente; a resultante revolução da lenta acumulação das forças naturais. No incêndio do Hotel Windsor o madeiramento aquecido e carbonizado subitamente irrompeu em chamas. A chama é bem diferente do simples calor, mas pode ser o resultado de uma temperatura regularmente crescente. A natureza pode ser a ação regular de Deus; o milagre, o seu único resultado. A ação regular de Deus pode ser inteiramente livre, embora o seu resultado extraordinário possa ser inteiramente natural· Com estas qualificações e explicações podemos adotar a afirmação de Biedermann, Dogmatik, 581-591 - "Tudo é milagre; por isso a fé enxerga Deus em toda a parte; Nada é milagre; pelo que a ciência não enxerga Deus em lugar algum". Os escritores da Bíblia nunca consideram os milagres como infrações da lei. Bp. Southampton, Place of Miracles, 18 - Ό historiador ou profeta hebreu considera os milagres apenas como a emergência na experiência sensível da força divina que estava desde o princípio, embora de modo invisível, controlando o curso da natureza". Hastings' Bible Dictionary, 4.117 - Ό hebreu não sentiria a força do milagre surgindo da noção da lei porque ele não tinha noção de lei natural". SI. 77.19,20 - "Pelo mar foi o teu caminho, e tuas veredas, pelas grandes águas e as tuas pegadas não se conheceram" = Eles e nós não as conhecemos e por que meios precisos operou-se o livramento, ou por que trilha se efetuou a passagem do Mar Vermelho; tudo o que sabemos é que "Guiaste o teu povo, como a um rebanho, pela mão de Moisés e de Arão". J. M. Whiton, Miracles and Supernatural Religion: Ό sobrenatural está na própria natureza, no seu próprio cerne, como a sua própria vida; não se trata de uma força exterior interferindo no curso da natureza, mas uma força interior vitalizando-a e operando através dela". Griffith-Jones, Ascent through Christ, 35 - Ό milagre, ao invés de um sortílego 'monstro', no dizer de Emerson, somente testemunha o aspecto de outra forma desconhecido ou irreconhecível do caráter divino". Shedd, Dogm. Theol, 1.533 - "Fazer o sol e Lázaro levantarem-se, demanda onipotência; mas a forma como a onipotência opera em um caso difere da outra". Milagre é uma operação direta de Deus; porém, porque todos processos naturais são operações imediatas de Deus, não é preciso negar o
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emprego destes processos naturais, aonde quer que eles se dirijam, no milagre. Deste modo, as maravilhas do Velho Testamento, como a destruição de Sodoma e de Gomorra, a separação do Mar Vermelho e do Jordão, a invocação do fogo do céu por Elias e a destruição do exército de Senaqueribe são obras de Deus quando se considera que foram operadas pelo emprego de recursos naturais. No Novo Testamento Cristo transformou a água em vinho, tomou cinco filões para torná-los pães, como em dez mil vinhas hoje as torna em mosto ao molhar a terra e em dez mil campos está transformando o carbono em cereais. O nascimento virginal de Cristo pode ser um exemplo extremo de partenogênese, que o Professor Loeb, de Chicago, demonstrou ocorrer em outra forma de vida, além das inferiores e que ele crê ser possível em todos. A ressurreição de Cristo pode ser uma ilustração do poder do normal e perfeito espírito humano tomar para si um corpo próprio e ser o tipo e profecia da grande mudança quando deixarmos a nossa vida e a retomarmos. O cientista pode ainda achar que a sua descrença não se refere apenas a Cristo, mas também à ciência. Todo milagre pode ter seu lado natural, embora no momento não sejamos capazes de discerni-lo; e ainda que isto fosse verdade, o argumento cristão não se enfraqueceria nem um pouquinho porque ainda o milagre evidenciaria a extraordinária obra do Deus imanente e a concessão do seu conhecimento ao profeta ou apóstolo que se tornou seu instrumento. Este ponto de vista do milagre torna inteiramente desnecessário e irracional o tratamento que alguns teólogos modernos fazem para harmonizar as narrativas da Escritura. Há uma credulidade do ceticismo que minimiza o elemento miraculoso na Bíblia e o trata como mítico ou legendário apesar da nítida evidência de que ele pertence ao reino da história real. Pfleiderer, Philos. Relig., 1.295 - "As lendas miraculosas surgem de dois modos: em parte da idealização do real e em parte da realização do ideal. ... Toda ocorrência pode obter em favor do juízo religioso a significação de um sinal ou prova do poder, da sabedoria, da justiça de Deus, governante do mundo. ... As histórias miraculosas são realizações poéticas de idéias religiosas". Pfleiderer cita o apotegma de Goethe: Ό milagre é o filho queridinho da fé". Foster, Finality of the Christian Religion, 128-138 - "Honramos mais as narrativas dos milagres bíblicos quando procuramos entendê-los como poesias". Ritschl define os milagres como "aquelas ocorrências que têm conexão com a experiência relativa ao auxílio
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especial de Deus". Ele apresenta dúvida sobre a ressurreição corpórea de Cristo e muitos da sua escola negam isso. Não precisamos interpretar a ressurreição de Cristo como simples aparição do seu espírito aos discípulos. Gladden, Seven Puzzling Books, 202 -"Nas mãos do homem perfeito e espiritual as forças da natureza são dóceis e tratadas como se não fossem nossas. A ressurreição de Cristo é apenas um sinal da superioridade da vida do espírito perfeito sobre as condições exteriores. Ela pode estar em perfeito acordo com a natureza". Myers, Human Personality, 2.288 - "Faço uma predição de que, como conseqüência da nova evidência, daqui a um século todos homens razoáveis crerão na ressurreição de Cristo". Podemos acrescentar que o próprio Jesus apresenta indícios de que a operação de milagres daqui em diante será uma manifestação comum e natural da nova vida que ele concede: Jo. 14.12 - "Aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai". Acrescentamos numerosas opiniões antigas e modernas a respeito dos milagres; todas no intento de mostrar a necessidade de defini-los desta forma para não se chocar com as justas reivindicações da ciência. Aristóteles: "A natureza não é cheia de episódios como uma tragédia ruim". Shakespeare, All's Well that Ends Well, 2.3.1 - "Dizem que os milagres já passaram; e temos nossas pessoas filosofantes que modernizam e familiarizam as coisas sobrenaturais e sem causa. Por isso é que damos pouca importância aos terrores, ocultando-nos no aparente conhecimento quando deveríamos nos submeter a um temor desconhecido". Hill, Genetic Philosophy 334 - "A ciência biológica e a psicológica unem-se para afirmar que cada evento orgânico ou psíquico deve ser explicado nos termos dos seus antecedentes imediatos e só assim podem ser explicados. Por isso não há necessidade alguma, não há lugar nenhum para interferências. Se a existência de Deus depende da evidência de uma intervenção e atuação sobrenatural, a fé no elemento divino parece destruir-se na mente científica". Theodore Parker: "Em Deus não há capricho; por isso não há milagre na natureza". Armour, Atonement and Law, 15-33 - "O milagre da redenção, como todos os milagres, ocorre por intervenção de uma força adequada, não da suspensão da lei. A redenção não é 'a grande exceção'. É a mais completa revelação e vindicação da lei". Gore, Lux Mundi, 320 - "A redenção não é natural, mas sobrenatural - isto é, em vista da falsa natureza que o
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homem fez para si excluindo Deus. Caso contrário, a obra da redenção é apenas a reconstrução da natureza que Deus projetou". Abp. Trench: Ό mundo da natureza é uma testemunha integral do mundo do espírito, procedentes da mesma mão, desenvolvendo-se a partir da mesma raiz e constituindo-se para a mesma finalidade. Os caracteres da natureza que em toda parte encontram o olho não são uma escrita comum, mas uma escritura sagrada; são os hieróglifos de Deus". Pascal: "A natureza é a imagem da graça". Presidente Mark Hopkins: Ό cristianismo e a razão perfeita são idênticos".
2. Possibilidade do Milagre Um evento na natureza pode ser causado por um agente nela embora acima dela. Isto é evidente nas seguintes considerações: a) As forças e leis inferiores na natureza freqüentemente contrapõem e transcendem as mais elevadas (forças e leis mecânicas pelas químicas e as químicas pelas vitais), conquanto ainda as forças e leis inferiores não são suspensas ou aniquiladas, mas surgem em mais elevadas, e assistem em propósitos complementares no que são diferentes quando deixadas ao léu do seu destino. James Robertson, Early Religion of Israel, 23 - "Acaso é impossível haver coisas únicas no mundo? É científico afirmar que não haja"? Gore, Incarnation, 48 - "A Evolução vê a natureza numa ordem progressiva em que há novos departamentos, ganha vigorosos níveis, desconhece os fenômenos anteriores. Quando apareceu a vida orgânica, o futuro não se assemelhava ao passado. O mesmo aconteceu quando o homem apareceu. Cristo é uma nova natureza - o Verbo criativo que se fez carne. Espera-se que, com a nova natureza ele apresente novos fenômenos. Dele irradiará nova energia vital controladora das forças materiais. Os milagres são os acessórios adequados à sua pessoa". Podemos acrescentar que, como Cristo é o Deus imanente, ele está presente na natureza e, ao mesmo tempo, acima dela, e a sua firme vontade é a essência de toda lei natural; transcende a todos óbices passados dessa vontade. O Infinito não é um ser
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de infinda monotonia. William Elder, Ideas from Nature, 156 - "Deus não está, sem esperança, limitado ao seu processo, como Íxion, preso à sua roda" (Íxion = deus grego condenado a ser amarrado no inferno a uma roda e a girá-la sem cessar).
b) A vontade humana age sobre seu organismo físico e sobre a natureza e produz resultados que a natureza deixada ao léu do seu destino, nunca cumpriria enquanto ainda não se suspende ou viola nenhuma lei da natureza. A gravitação ainda opera sobre o machado enquanto o homem o levanta à superfície da água - pois o machado ainda tem seu peso (cf. 2 Reis 6.5-7) Versus Hume, Philos. Works, 4.130 - "Milagre é violação das leis da natureza". Os apologistas cristãos com freqüência têm desnecessariamente se embaraçado ao aceitarem a definição de Hume. O estigma é totalmente desmerecido. Se o homem pode manter o machado na superfície da água enquanto a gravitação age sobre ele, não há dúvida de que Deus também pode, através da palavra do profeta, fazer o ferro flutuar enquanto a gravitação age sobre ele. Mas este último é um milagre. Mansel, Essay on Miracles, em Aids to Faith, 26, 27 "Depois que a maior onda da estação fixou a pedra no alto da praia, eu posso removê-la um pouco mais adiante sem alterar a força do vento, ou da onda, ou do clima à distância de um continente. A. A. Hodge: Retirar um novo registro do órgão não o impede de funcionar nem destrói a harmonia dos outros registros. A bomba não suspende a lei da gravitação, nem o lançamento de uma bola no ar. Se a gravitação não agisse, a velocidade da bola para cima não diminuiria e a bola nunca retornaria. "A gravitação atrai o ferro para baixo. Mas o magneto vence essa atração e traz o ferro para cima. Contudo aqui não há suspeita ou violação das leis, mas uma harmoniosa obra de duas leis, cada qual na sua esfera. Não é a vida, mas a morte que é a lei da natureza. Não obstante, os homens vivem. A vida é sobrenatural. Só uma força adicional às simples obras da natureza causam a existência da vida. Do mesmo modo a vida espiritual emprega as leis da natureza e as transcende" (Sunday School Times). Gladden, What Is Left! 60 - "Onde quer que esteja o pensamento, a escolha, o amor, você encontra algo que não está sob o domínio de uma lei rígida. São atributos da livre pessoalidade". William James: "Precisamos
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substituir o ponto de vista pessoal da vida pelo impessoal e mecânico. O racionalismo mecânico é a mais estreita e parcial indução dos fatos - isto não é ciência".
c) Em toda causalidade livre há uma atuação sem meio. O homem age sobre a natureza exterior através do seu organismo físico, mas, ao movê-lo, ele age diretamente sobre a matéria. Em outras palavras, a vontade humana pode valer-se de meios só porque ela tem o poder de agir inicialmente sem eles. A. J. Balfour, Foundations of Belief, 311 - "Não é só a Divindade que intervém no mundo das coisas. Toda alma viva, em sua medida e grau, faz o mesmo". De qualquer forma, cada alma ao seu redor, age assim com relação ao princípio do milagre. Phillips Brooks, Life, 2.350 - "A prática de todos feitos miraculosos não é uma abolição do milagre assim como o brilho solar, inundando o mundo, não é a extinção do sol". George Adam Smith, sobre Is. 33.14 - "fogo devorador... chamas eternas": "Se olhamos para um incêndio através de um vidro enfumaçado, vemos prédios desmoronando, mas não vemos fogo. Assim também a ciência vê os resultados, mas não a força que os produz; vê a causa e o efeito, mas não vê Deus". P. S. Henson: "A corrente em um fio elétrico é invisível mesmo circulando uniformemente. Corte o fio e insira um pedaço de carvão entre os dois terminais rompidos e você terá um arco de luz que afasta a escuridão. Do mesmo modo o milagre é apenas uma interrupção momentânea na operação das leis uniformes, o que fornece luz por muito tempo"; ou, melhor dizendo, a mudança momentânea no método operacional pelo qual a vontade de Deus toma nova forma de manifestação.
d) O que a vontade humana, considerada como força sobrenatural, e o que as forças químicas e vitais da própria natureza são visivelmente capazes de cumprir não pode ser considerado como além do poder de Deus, porquanto ele habita e controla o universo. Se a vontade do homem pode agir diretamente sobre a matéria em seu organismo físico, Deus pode operar imediatamente sobre o sistema que ele criou e sustenta. Em outras palavras, se há um Deus, e se ele é um ser pessoal,
Teologia Sistemática (Strong) 250 os milagres são possíveis. A impossibilidade dos milagres só pode ser sustentada nos princípios do ateísmo ou do panteísmo. Cox, Miracles, Argumento e Desafio: "É preferível o antropomorfismo ao hilomorfismo". Newman Smyth, Old Faiths in a New Light, cap. 1 "Milagre não é um súbito golpe aplicado na cara da natureza, mas o emprego desta, conforme a sua capacidade inerente, através das mais elevadas forças". Dubois, Science and Miracle, New Englander, jul., 1889.132 - Três postulados: 1) Todas partículas do universo atraem-se reciprocamente; 2) A vontade do homem é livre; 3) Cada volição se faz acompanhar da ação cerebral correspondente. Por isso cada uma das nossas volições muda através do universo inteiro; ver também Century Magazine, dez, 1894.229 - As condições nunca são dúplices na mesma natureza; tudo resulta da vontade, por sabermos que pelo menos o nosso pensamento abala o universo; milagre é tão somente a ação da vontade em condições singulares; o começo da vida, a origem da consciência, são milagres embora estritamente naturais; a oração, e a mente que a estrutura são condições que, na natureza, a Mente não pode ignorar. Cf. SI. 115.3 - "o nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz" = sua força onipotente e liberdade afastam todas objeções a priori sobre os milagres. Se Deus não é só uma força, mas uma pessoa, então os milagres são possíveis.
e) Tal possibilidade dos milagres torna-se duplamente segura aos que vêem em Cristo o Deus imanente manifesto às criaturas. O Logos, ou a Razão divina, que é o princípio de todo o desenvolvimento e evolução, pode tornar Deus conhecido tão somente por meio de sucessivas concessões novas de sua energia. Porque todo o progresso implica em incremento e Cristo é a única fonte da vida, toda a história da criação é testemunha da possibilidade do milagre. A. H. Strong, Christ in Creation, 163-166 - "Este conceito de evolução é o de Lotze. Esse grande filósofo cuja influência é mais poderosa do que qualquer outra neste pensamento, não considera o universo como um plenum ao qual nada se pode acrescentar por meio da força. Ele considera o universo mais como um organismo plasmável ao qual novos impulsos
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podem-se conceder a partir daquele de cujo pensamento e vontade o universo é expressão. Tais impulsos, uma vez concedidos, continuam no organismo e daí em diante sujeitam-se à sua lei. Embora tais impulsos venham de dentro, não partem de um mecanismo finito, mas do Deus imanente. "A expressão de Robert Browning, Tudo é amor, mas tudo é lei' (Browning faz um jogo de palavras 'love' com law' / amor com lei), deve-se interpretar com o sentido de que os movimentos dos planetas e todas operações da natureza são revelações de um Deus pessoal e presente, mas não se deve interpretar como se Deus corresse em trilhas, entre as quais ele está bitolado a um mecanismo inevitável de manifestações de poder único e surpreendente. "O homem constrói uma casa. Ao lançar o alicerce ele emprega pedra e argamassa, mas faz as paredes de madeira e o forro de folha-de-flandres. Na superestrutura ele se vale de leis diferentes das que se aplicam no alicerce. Há continuidade não material, mas de planejamento. O desenvolvimento desde o porão até ao sótão requer quebras aqui e ali, e o emprego de novas forças; de fato, sem o emprego dessas novas forças, seria impossível a evolução da casa. Agora substitua o alicerce e a superestrutura por coisas vivas como a crisálida e a borboleta; imagine a força de trabalho a partir não de fora, mas de dentro; e você observará que a verdadeira continuidade não exclui novos começos, mas envolve-os." "A evolução, então, depende do incremento de forças somadas à continuidade do plano. Há possibilidade de novas criações porque o Deus imanente não se cansa. O milagre é possível porque Deus não está muito distante, mas bem próximo para atender quaisquer necessidades que o universo moral possa requerer. São possíveis a regeneração e as respostas à oração pelo mesmo motivo de que são elas o objetivo para o qual o universo foi construído. Se fôssemos deístas, crendo em um Deus distante e em um universo mecânico, a evolução e o cristianismo seriam irreconciliáveis. Mas porque cremos em um universo dinâmico de que o Deus pessoal e vivo é a fonte interior da energia, a evolução é apenas a base, o alicerce e o cenário do cristianismo, a silenciosa e regular obra daquele que, na plenitude dos tempos, profere a sua voz em Cristo e na Cruz".
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A afirmação do ponto de vista do próprio Lotze pode encontrar-se em seu Microcosmos, 2.479 sq. O Professor James Ten Broeke interpretou-a da seguinte forma: "Ele faz a possibilidade do milagre depender da ação e reação próximas e íntimas entre o mundo e o Absoluto pessoal, em cuja conseqüência os movimentos do mundo natural realizam-se só através do Absoluto, com a possibilidade de variação no curso geral das coisas, conforme os fatos existentes e o propósito do divino Governante".
3. Probabilidade dos Milagres A) Reconhecemos que, até onde confinamos nossa atenção à natureza, há uma predisposição contra os milagres. A experiência atesta a uniformidade da lei natural. A uniformidade geral é necessária para tornar possível um cálculo racional do futuro, e uma ordem própria da vida. G. D. B. Pepper: "Onde não há lei, não há ordem e não pode haver milagre. O milagre pressupõe a lei e a importância atribuída aos milagres é o reconhecimento do reino da lei. Porém a fabricação e lançamento de um navio podem ser regidos por uma lei do mesmo modo que a navegação após o seu lançamento. Do mesmo modo a introdução de uma ordem espiritual mais elevada em uma ordem simplesmente natural constitui um novo e único evento". Alguns apologistas cristãos têm cometido o erro de afirmar que o milagre era anteriormente tão provável como qualquer outro evento, mas, na verdade, só a sua improbabilidade antecedente lhe dá o valor de prova da revelação.
B) Mas negamos que esta uniformidade da natureza seja absoluta e universal. a) Não é uma verdade da razão que não pode ter nenhuma exceção, a não ser que o todo seja maior que as partes. b) A experiência não poderia garantir uma crença na uniformidade universal a não ser que a experiência fosse idêntica ao conhecimento absoluto e universal. c) Sabemos, ao contrário, com base na geologia, que tem havido lapsos
Teologia Sistemática (Strong) 253 nesta uniformidade, tais como a introdução da vida vegetal, da animal e da humana que não pode ser tida senão como manifestação de um poder sobrenatural. a) Compare a probabilidade de o sol levantar-se amanhã cedo, com a certeza de que dois mais dois são quatro. Huxley, Lay Sermons, 158, com indignação nega que há um 'deve' em torno da uniformidade da natureza: "Ninguém tem o direito de dizer a priori que qualquer assim chamado evento miraculoso é impossível". Ward, Naturalism and Agnosticism, 1.84 - "Não há nenhuma evidência para afirmar-se que a massa do universo é quantitativamente definida e imutável"; 108, 109 - Por que se admite com tanta confiança que uma rígida e monótona uniformidade é a única, ou a mais elevada indicação da ordem, a de um Espírito eternamente vivo, acima de tudo? Como é que depreciamos os artigos industrializados e preferimos os que apresentam o impulso artístico, ou a adequação do caso individual, livre para dar forma e fazer o que literalmente é manufaturado (feito à mão)? ... Tão perigoso como os argumentos teleológicos genericamente sejam, podemos ao menos com confiança dizer que o mundo não foi destinado a tornar fácil a ciência. ... Chamar de mecânicos os versos de um poeta, a política de um estadista, a ponderação de um juiz, implica, como Lotze assinala, notável disparate, embora isto implique, também, precisamente tais características - exatidão e invariabilidade - em que Maxwell nos mostra um sinal do elemento divino". Sem dúvida não devemos, então, insistir em que a sabedoria divina deve sempre correr em sulcos, que ela deve sempre ser repetitiva, nunca deve apresentar-se em atos exclusivos como na encarnação e na ressurreição. b) S. T. Coleridge, Table Talk, 18 de dezembro de 1831 - "A luz que a experiência nos fornece é uma lanterna na popa do navio e só brilha nas ondas que deixamos atrás de nós". Hobbes: "A experiência nada conclui de modo universal". Brooks, Foundations of Zoology, 131 - "A evidência só nos pode dizer o que aconteceu, mas nunca nos garantir que o futuro deve ser semelhante ao passado; 132 - A prova de que toda a natureza é mecânica não seria inconsistente com a crença de que tudo na natureza é sustentado imediatamente pela Providência e que a minha vontade explica alguma coisa na determinação do curso dos eventos". Royce, World and Individual, 2.204 -"A uniformidade não é absoluta. A natureza é um reino da vida e do sentido
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mais vasto e nós, seres humanos, fazemos parte dele; a sua unidade final está na vida de Deus. O ritmo da pulsação cardíaca tem sua regularidade normal, embora sua persistência seja limitada. A natureza pode constar simplesmente de hábitos da vontade livre. Cada região deste mundo universalmente consciente pode ser o centro de onde procede a nova vida consciente para a comunicação com todos os mundos". Reitor Fairbairn: "Natureza é Espírito". Preferimos dizer: "A natureza é a manifestação do espírito, da regularidade da liberdade". c) Outras quebras na uniformidade da natureza são a vinda de Cristo e a regeneração da alma humana. Harnack, What is Christianity, 18, sustenta que, embora não haja nenhuma interrupção na obra da lei natural, esta não é ainda plenamente conhecida. Conquanto não haja nenhum milagre, há uma fartura de milagrosos. O poder da mente sobre a matéria vai além das nossas concepções atuais. Bowne, Philosophy of Theism, 210 - Os efeitos não são mais conseqüências das leis do que as leis conseqüências dos efeitos = tanto as leis como os efeitos são exercícios da vontade divina. King, Reconstruction in Theology, 56 - Não devemos sustentar a uniformidade da lei, mas a sua universalidade; porque a evolução tem estágios sucessivos e novas leis entram e dominam o que não aparecia anteriormente. O novo e mais elevado estágio é praticamente um milagre do ponto de vista do inferior.
C) Porque a invocação da lei moral na constituição e curso da natureza mostra que a natureza existe, não para si mesma, mas para a contemplação e uso dos seres morais, é provável que o Deus da natureza produza os efeitos além dos da lei natural, sempre que haja fins morais suficientemente importantes a serem servidos por ela. Sob a expectação da uniformidade acha-se a intuição da causa final; por isso aquela pode ocasionar esta. Ver Porter, Human Intellect, 592-615 "As causas eficientes e as finais podem entrar em conflito e então as eficientes dão lugar às finais. Eis o milagre. Shedd, Dogm. Theol., 1.534,535 -"A ordem do universo não é um fim; é um meio e, como todos outros meios, deve abrir caminho quando o fim pode ser promovido de forma melhor sem ela. É um marco da mente fraca idolatrar a ordem e o método; apegar-se a
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formas estabelecidas de negócios quando dificultam ao invés de desenvolvê-los. Balfour, Foundations of Belief, 357 - "A estabilidade dos céus à vista de Deus é menos importante que o desenvolvimento moral do espírito humano". Isto é o que prova a Encarnação. O cristão vê em sua minúscula terra a cena da maior revelação de Deus. A superioridade do elemento espiritual sobre o físico ajuda-nos a ver a nossa verdadeira dignidade na criação, a dirigir o nosso corpo, a vencer os nossos pecados. O sofrimento de Cristo nos mostra que Deus não é um espectador indiferente à dor humana. Ele se sujeita às nossas condições ou, ao invés disso, revelanos o eterno sofrimento de Deus por causa do nosso pecado. A expiação capacita-nos a solucionar o problema do pecado.
D) A existência da desordem moral conseqüente dos atos livres da vontade humana, portanto, muda a pressuposição contra os milagres em pressuposição em seu favor. O não aparecimento dos milagres, neste caso, seria a maior das maravilhas. Stearns, Evidence of Christian Experience, 331-335 - Deste modo, a consciência pessoal que o homem sente a respeito do pecado e acima de tudo a sua experiência pessoal da graça regeneradora, constituirá a melhor preparação para o estudo dos milagres. "Não se pode provar o cristianismo a não ser para uma consciência má". Com precisão disse o moribundo Vinet: "O maior milagre que eu conheço é a minha conversão. Eu estava morto e estou vivo; era cego e vejo; era escravo e sou liberto; era inimigo de Deus e amo-o; a oração, a Bíblia, a comunhão dos cristãos eram para mim a fonte do profundo ennui (tédio); agora são os prazeres do mundo que me entediam e a piedade é a fonte de toda a minha alegria. Eis o milagre! Ε se Deus foi capaz de operá-lo, nada há de que ele seja incapaz". Contudo os elementos físico e moral não são "como que separados por um machado". A natureza é apenas um estágio inferior ou uma forma imperfeita da revelação da verdade, da santidade e do amor de Deus. Ela abre o caminho para o milagre sugerindo, embora de forma obscura, as mesmas características essenciais da natureza divina. A ignorância e o pecado precisam de um novo descortino. G. S. Lee, The Shadow Christ, 84 - "A coluna de nuvem era a lâmpada noturna obscura que o Senhor conservava
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queimando acima dos seus infantes para mostrar-lhes que ele estava ali. Eles não sabiam que a própria noite era Deus". Por que temos presentes de Natal em lares cristãos? É porque os pais não amam os seus filhos em outros tempos? Não; mas é porque a mente se torna preguiçosa ante a generosidade meramente regular e há necessidade de dons especiais a despertar-lhe a gratidão. Deste modo, as nossas mentes preguiçosas e desamorosas necessitam de testemunhos especiais sobre a misericórdia divina. Será que só Deus silencia para as tolas uniformidades de ação? Será que só o Pai celeste é incapaz de produzir comunicações especiais de amor? Então, por que os milagres e aviva-mentos da religião não são constantes e uniformes? Porque as bênçãos uniformes seriam consideradas simplesmente mecânicas.
E) Como a crença na possibilidade dos milagres se apóia na nossa crença na existência de um Deus pessoal, assim a crença na probabilidade dos milagres se apóia na nossa crença de que Deus é um ser moral e benevolente. Aquele que não tem nenhum Deus, a não ser um Deus de ordem física considerará os milagres como uma importante intromissão na referida ordem. Mas aquele que cede ao testemunho da consciência e considera Deus como o Deus de santidade verá que a falta de santidade do homem torna a interposição miraculosa de Deus mais necessária ao homem e mais apropriada a Deus. Nosso ponto de vista sobre os milagres, portanto, será determinado pela nossa crença em um Deus moral, ou amoral. Filo, Life of Moses, 1.88, falando dos milagres das codornizes e da água que jorrou da rocha, diz que "todas estas inesperadas e extraordinárias coisas são divertimentos e brinquedos de Deus". Ele crê que há lugar para arbitrariedade no procedimento divino. Contudo, a Escritura representa o milagre como um ato extraordinário e não arbitrário. É "a sua obra, a sua estranha obra ... o seu ato, o seu estranho ato" (Is. 28.21). O método extraordinário de Deus é o do crescimento e desenvolvimento regulares. Chadwick, Unitarianism, 72 -"A natureza é econômica. Se ela quer uma maçã, desenvolve uma folha; se quer um ramo, desenvolve uma vertebra. Sempre formulamos um bom pensamento a respeito da coluna vertebral; e
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se foi uma sugestão sadia de Goethe, agora pensamos melhor a respeito dela". É prático, mas bem errôneo, admitir que o milagre requer um exercício maior de poder do que aceitarem-se os processos comuns naturais da parte de Deus. Porém as nossas medidas de tal poder não se aplicam a um Ser onipotente. A questão não se prende ao poder, mas à racionalidade e ao amor. O milagre implica uma limitação, bem como um desdobramento da parte daquele que o opera. Por isso não se trata de um método de ação divina comum; é adotado somente quando não bastam os regulares; freqüentemente parece acompanhado de um sacrifício de sentimento da parte de Cristo (Mt. 17.17 - "Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e até quando vos sofrerei? Trazei-mo aqui"; Mc. 7.34 "levantando os olhos ao céu, suspirou e disse: Efatá, isto é, abre-te"; cf. Mt. 12.39 - "Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém não se lhe dará outro sinal, senão o do profeta Jonas".
F) Do ponto de vista do monismo ético a probabilidade do milagre torna-se ainda maior. Porque Deus não é simplesmente a razão intelectual, mas a razão moral do mundo, as perturbações na sua ordem devidas ao pecado são matéria que o afetam mais profundamente. Cristo, a vida do sistema todo, assim como a humanidade, deve sofrer; e porque temos evidência de que ele é misericordioso e justo é provável que ele retificará o mal através de recurso extraordinário quando não forem suficientes os recursos simplesmente ordinários. Como a criação e a providência, como a inspiração e a regeneração, o milagre é uma obra em que Deus limita-se a si mesmo, através de um novo e peculiar exercício do seu poder, como parte de um processo de amor condescendente e como recurso para ensinar a humanidade sob o senso do ambiente e o fardo do pecado o que não aprenderia de outro modo. Contudo, a limitação própria é a própria perfeição e glória de Deus, porque sem ela nenhum amor que a si mesmo se sacrifica seria possível (ver p. 9 F). Por isso, defende-se a probabilidade dos milagres não só a partir da santidade de Deus, mas também do seu amor. O seu desejo de salvar os homens dos seus pecados deve ser de natureza infinita. A encarnação, a
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expiação, a ressurreição, quando se nos tornam conhecidas, recomendamse, não só como satisfação das nossas necessidades humanas, mas como dignas da perfeição moral de Deus. Um argumento em favor da probabilidade do milagre pode ser tirado das concessões de Thomas Η. Huxley, um dos seus principais opositores modernos. Em diferentes lugares, ele nos diz que o objetivo da ciência é "a descoberta da ordem racional que permeia o universo"; apesar do seu agnosticismo declarado é um testemunho inconsciente da Razão e Vontade, base de todas as coisas. Diz-nos, ainda, que não há necessidade alguma na uniformidade da natureza: "Quando mudamos 'faremos' por 'devemos', introduzimos uma idéia de necessidade que não tem nenhuma garantia nos fatos observados, e nem de que eu posso descobri-la em parte alguma". Ele fala da "iniqüidade infinita que assistiu o curso da história humana". Contudo, não tem esperança de que o homem possa salvar-se a si mesmo: "Eu gostaria de, em breve, adorar a selvageria dos macacos", como a concepção panteísta de humanidade racionalizada. Ele admite que Jesus Cristo é "o mais nobre ideal que a humanidade jamais adorou". Por que ele não avançou e admitiu que Jesus Cristo com muito maior veracidade representa a Razão infinita no cerne das coisas e que a sua pureza e amor, demonstrados através do sofrimento e da morte tornam provável que Deus empregará extraordinários recursos em favor do livramento do homem? É de duvidar que Huxley reconhecesse a sua própria pecaminosidade pessoal tão plenamente como reconhecia a da humanidade em geral. Fizesse ele isso, e teria desejado aceitar o milagre até mesmo apoiado na mais leve base atribuída por Hume, a qual passaremos doravante a mencionar.
4. O testemunho necessário para provar um milagre Não é maior do que o requisito para provar a ocorrência de qualquer outro evento incomum, mas perfeitamente possível. Hume, na verdade, argumentava que o milagre é tão contraditório a toda a experiência humana que é mais razoável crer em qualquer soma de falso testemunho do que crer que um milagre seja possível.
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A forma original do argumento pode ser encontrada em Hume, Philosophical Works, 4.124-150. Ver também Bíblia Sacra, out. 1867.615. O argumento sustenta, em substância, que as coisas são impossíveis porque são improváveis. Ele ridiculariza a credulidade daqueles que "comprimem os seus punhos contra os postes Ε ainda insistem em ver os espíritos", apoia o filósofo alemão que declara não crer em milagre mesmo que veja com os seus próprios olhos. O cristianismo é tão miraculoso que produz o milagre para fazer alguém crer nele.
O argumento é falaz porque: a) É acusável de petitio principi, fazendo a nossa experiência pessoal a medida de toda a experiência humana. O mesmo princípio tornaria impossível a prova de qualquer fato novo. Mesmo operando um milagre, Deus nunca o poderia provar. b) Envolve uma autocontradição porque procura derrotar a nossa fé no testemunho humano acrescentando ao contrário a experiência geral dos homens de que conhecemos só a partir do testemunho. Tal experiência geral, contudo, é simplesmente negativa e não pode neutralizar a que é positiva a não ser apoiada em princípios que invalidariam todo o testemunho qualquer que seja. c) Requer crença em uma maravilha maior do que aquelas que escapariam. Que a multidão de homens inteligentes e honestos se uniriam contra todos os seus interesses na deliberada e persistente falsidade sob as circunstâncias narradas no registro do Novo Testamento, envolve uma mudança nas seqüências da natureza bem mais incríveis do que os milagres de Cristo e de seus apóstolos. a) John Stuart Mill, Essays on Theism, 216-241, admite que, mesmo que tivesse ocorrido um milagre, seria impossível prová-lo. Nisto ele só repete Hume, Miracles, 112 - Ό padrão último através do qual determinamos todas polêmicas que podem surgir derivam sempre da experiência e da observação". Porém neste ponto a nossa experiência pessoal torna-se o padrão através do qual se julga toda experiência humana. Whately, Hist. Doubts, relativas a Napoleão Bonaparte, mostra que a mesma regra exigiria
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que negássemos a existência do grande francês, porque as conquistas dele contrariam toda experiência e as nações civilizadas nunca tinham sido subjugadas anteriormente. O Periódico Londrino de 18 de junho de 1888, pela primeira vez em pelo menos cem anos ou em 31.200 edições, apareceu com a data errada e em algumas páginas lia-se 17 de junho apesar de que esse dia era domingo. Contudo esse jornal o teria admitido em uma corte de justiça como evidência de um casamento. A verdadeira maravilha não é a falha na experiência, mas a sua continuidade sem a falha. b) Lyman Abbott: "Se o Velho Testamento contasse a história de uma batalha naval entre o povo judeu e um pagão, em que todos os navios dos pagãos fossem absolutamente destruídos e nenhum só homem entre os judeus foi morto, todos os céticos teriam escarnecido da narrativa. Agora todos crêem na narrativa, exceto os que moram na Espanha" (Trata-se do fato histórico da Invencível Armada). Há pessoas que, de igual modo, recusam-se a investigar os fenômenos do hipnotismo, segundo a vista, a clarividência e a telepatia, declarando a priori que todas essas coisas são impossíveis. Desacredita-se a profecia no sentido de predição. Com base no mesmo princípio, o telégrafo sem fio poderia ser denunciado como uma impostura. O filho de Erin, acusado de homicídio, defendeu-se dizendo: "Meritíssimo, eu posso trazer cinqüenta pessoas que não me viram cometer tal ato". A nossa fé no testemunho não pode dever-se à experiência.
5. Força Evidencial dos Milagres a) Os milagres são os acessórios e atestados naturais das novas comunicações da parte de Deus. As grandes épocas dos milagres representadas por Moisés, pelos profetas, pela primeira e pela segunda vindas de Cristo - coincidem com as grandes épocas da revelação. Os milagres servem para atrair a atenção para uma nova verdade e cessam quando esta nova verdade ganhou curso e apoio. Os milagres não estão disseminados uniformemente em todo o curso da história. Poucos são registrados durante os 2.500 anos no período entre Adão e Moisés. Quando o Cânon do Novo Testamento se completou e a evidência interna da Escritura atingiu a plenitude da sua força, os atestados
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exteriores através do milagre ou são afastados ou começam a desaparecer. As maravilhas espirituais da regeneração permanecem e por estas o caminho tem sido preparado pelo longo progresso desde os milagres do poder operado por Moisés até os da graça operados por Cristo. Os milagres desapareceram porque mais recentes e mais elevadas provas os tornaram desnecessários. Melhores coisas do que estas estão agora em evidência. Thomas Fuller: "Milagres são cueiros da igreja infante". John Foster: Os milagres são o grande sino do universo que convoca os homens para o sermão de Deus". Henry Ward Beecher: "Os milagres são as parteiras das grandes verdades morais; as velas acendem antes do nascer do sol, mas apagam-se após o seu aparecimento". Illingworth, Lux Mundi, 210 - "Quando nos dizem que os milagres contradizem a experiência, apontamos para a ocorrência diária do milagre espiritual da regeneração e perguntamos: 'Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda?' (Mt. 9.5)". Os milagres e a inspiração caminham juntos; se aqueles permanecem na igreja, esta também. A. J. Gordon, Ministry of the Spirit, 167 - Os apóstolos foram comissionados para falar por Cristo até que as Escrituras do N.T., voz de autoridade dele, se completassem; o primeiro ser dotado de autoridade ad interim para perdoar pecados, e o segundo com autoridade in perpetuo". O Dr. Gordon traça uma analogia entre o carvão, que é a luz solar fossilizada, e o Novo Testamento que é a inspiração fossilizada. Sabatier, Philos. Religion, 74 - "A Bíblia está bem livre dos prodígios da mitologia oriental. Os grandes profetas - Isaías, Amos, Miquéias, Jeremias, João Batista, não operaram nenhum milagre. A tentação de Jesus no deserto é uma vitória da consciência moral sobre a religião do mero prodígio físico". Trench diz que os milagres agrupam-se em torno da fonte do reino teocrático sob o governo de Moisés e de Josué, e em torno da restauração desse reino sob Elias e Eliseu. No A.T., os milagres refutam os deuses do Egito sob Moisés, o Baal fenício sob Elias e os deuses da Babilônia sob Daniel.
b) Os milagres geralmente certificam a verdade da doutrina não direta, mas indiretamente; de outra forma um novo milagre necessitaria acompanhar cada nova doutrina ensinada. Os milagres, em primeiro lugar e diretamente, certificam a comissão e autoridade divinas de um
Teologia Sistemática (Strong) 262 mestre religioso e, portanto, garantem a aceitação das suas doutrinas e aceitação das ordens de Deus, quer sejam comunicadas em intervalos, quer juntos, oralmente ou em documentos escritos. As exceções do que se afirmou acima são bem poucas e ocorrem apenas em casos que não envolvem alguma doutrina fragmentária, mas toda comissão e autoridade de Cristo. Jesus apela para os seus milagres como prova da verdade do seu ensino em Mt. 9.5,6 - "Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados - disse então ao paralítico: Levanta-te, toma a tua cama e vai para a tua casa"; 12.28 - "se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é consequentemente chegado a vós o Reino de Deus". Do mesmo modo Paulo em Rm. 1.4 diz que Jesus "foi declarado Filho de Deus em poder... pela ressurreição dos mortos". Mair, Christian Evidences, 223, cita de Natural Religion, 181 - "Conta-se que o teofilântropo LarévellièreLépeaux confidenciou a Talleyrand seu desapontamento com o insucesso na tentativa de trazer à voga um tipo de cristianismo melhorado, um tipo de racionalismo benévolo, que ele inventara para ir ao encontro dos anseios de uma era benévola. 'Sua propaganda não vingou', disse ele. Ό que teria acontecido'? perguntou. O ex-bispo Talleyrand educadamente lamentou, temeu ser difícil a tarefa de descobrir uma nova religião, e mais difícil do que imaginava, tão difícil que não tinha condições de aconselhá-lo. 'Ainda', depois de alguns momentos de reflexão, 'há um plano que você poderia pelo menos tentar: Eu recomendaria que você fosse crucificado e ressuscitasse ao terceiro dia".
c) Portanto, os milagres, não são as únicas evidências. O poder sozinho não prova a comissão divina. A pureza da vida e a doutrina devem acompanhar os milagres para garantir-nos que um mestre religioso veio da parte de Deus. Os milagres e a doutrina sustentam-se um ao outro e fazem parte de um todo. A evidência interna do sistema cristão pode ter maior força em certas mentes e em certas épocas do que a evidência externa.
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O aforismo de Pascal - "as doutrinas devem ser julgadas pelos milagres e os milagres pelas doutrinas" - necessita de ser suplementado pela afirmação de Mozley de que "um fato sobrenatural é a própria prova de uma doutrina também sobrenatural, conquanto esta não é a própria prova de um fato sobrenatural". E. G. Robinson, Christian Theology, 107, "defende os milagres, mas não faz deles um apoio para o Cristianismo. ... Quantidade nenhuma de milagres pode convencer um bom homem da comissão divina de um homem reconhecidamente mau; nem, por outro lado, qualquer tipo de poder miraculoso basta para silenciar as dúvidas de um ser humano de má índole. ... O milagre é uma certificação só para aquele que pode perceber o seu sentido. ... A igreja cristã tem em si a ressurreição sobrescrita. Sua própria existência é a prova da ressurreição. Doze homens nunca poderiam tê-la fundado, se Cristo tivesse permanecido na tumba. A igreja viva é a sarça ardente que não se consumiu". Gore, Incarnation, 57 - "Após a ressurreição, Jesus não apareceu aos incrédulos, mas só aos crentes, o que significa a coroação de uma fé já existente, não a criação de uma fé que não existia". Christian Union, 11 de jul. de 1891 - "Se a antecipada ressurreição de Joseph Smith tivesse ocorrido, nada acrescentaria à autoridade dos Mórmons". Schurman, Agnosticism and Religion, 57 - Os milagres são apenas sinos a chamar os povos primitivos para a igreja. Doces como a música que outrora faziam, os ouvidos modernos os acham desagradáveis e desentoados e suas notas dissonantes afugentam almas piedosas que, resignadas, entrariam no templo de adoração". Uma nova definição de milagre que reconhece sua possível classificação como ocorrências extraordinárias na natureza, embora vendo em toda ela a obra do Deus vivo, pode remover tal preconceito. Bispo de Southampton, Place of Miracles, 53 "Sozinhos, os milagres não podem produzir convicção. Os fariseus os atribuíam a Belzebu. Embora Jesus tivesse feito tantos sinais, não creram. ... Embora fossem operados com tanta freqüência, raramente constituíam-se um apelo para a evidência do evangelho. Eram apenas sinais da presença de Deus no mundo. Por si só o milagre não tem força evidenciai. O único teste distintivo dos milagres divinos em oposição aos satânicos é o caráter moral e o propósito de quem os opera; em vista disto, por sua força na apreciação anterior, os milagres dependem do caráter e personalidade de Cristo (79). Os mais antigos apologistas não se valiam dos milagres. Estes
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não tinham valor a não ser em conexão com a profecia." Os milagres são a revelação de Deus não a sua prova.
d) Contudo, os milagres cristãos não perdem o seu valor evidenciai no correr dos tempos. Quanto mais elevada for a estrutura da vida e da doutrina cristãs maior a necessidade da sua segurança. A autoridade de Cristo como mestre de verdade sobrenatural apóia-se em seus milagres e especialmente no da sua ressurreição. O milagre a que a igreja remonta como a fonte da sua vida leva consigo irresistivelmente todos os outros mil registrados na Escritura; só nele podemos firmar com segurança a prova de que as Escrituras são uma revelação de autoridade da parte de Deus. Os milagres de Cristo são simples correlatos da Encarnação - a própria insígnia da sua realeza e divindade. Contudo, através da mera evidência externa podemos mais facilmente provar a ressurreição do que a encarnação. Em nossos argumentos para com os céticos não devemos começar com a jumenta de Balaão, ou o peixe que engoliu Jonas, mas com a ressurreição de Cristo; admitido isto, todos os outros milagres bíblicos parecerão apenas preparação natural, acessórios, ou conseqüências. G. F. Wright, Bíblia Sacra, 1889.707 - "As dificuldades criadas pelo caráter miraculoso do cristianismo podem ser comparadas às assumidas pelo construtor quando se deseja grande permanência na estrutura que foi levantada. É mais fácil lançar o alicerce de uma estrutura temporária do que a de uma que deve resistir por séculos". Pressencé: "A tumba vazia de Cristo foi o berço da igreja e, se neste fundamento da fé a igreja tem-se equivocado, afirmo que ela deve ter necessidade de lançar-se junto aos restos mortais, não de um homem, mas de uma religião". Presidente Schurman crê que a ressurreição de Cristo seja um "quadro obsoleto de uma verdade eterna - o fato de uma vida contínua com Deus. Harnack, Wesen des Christenthums, 102, pensa que não há nenhuma união consistente dos relatos da ressurreição de Cristo contidos nos evangelhos; aparecem dúvidas sobre uma ressurreição literal e física; contudo, o cristianismo remonta a uma fé invencível na vitória de Cristo sobre a morte. Mas por que crer nos evangelhos quando falam da simpatia de Cristo e descrer deles quando falam do poder miraculoso? Não temos direito de
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confiar na narrativa quando nos apresentam as palavras de Cristo "Não chores" à viúva de Naim (Lc. 7.13), e desconfiar dela quando nos fala da ressurreição do seu filho. As palavras "Jesus chorou" pertencem inseparavelmente à história de que faz parte a expressão "Lázaro, sai para fora" (Jo. 11.25,43). É improvável que os discípulos tivessem crido num tão estupendo milagre como o da ressurreição de Cristo, se não tivessem antes visto outras manifestações do poder miraculoso da parte dele. O próprio Cristo é o grande milagre. A sua concepção como o Salvador ressurrecto e glorificado só pode ser explicada pelo fato de que ele ressuscitou. E. G. Robinson, Theology, 109 - "A igreja atesta o fato da ressurreição exatamente do mesmo modo que atesta a origem divina da igreja. Como uma evidência, a ressurreição depende da existência da igreja que a proclama".
e) A ressurreição do Nosso Senhor Jesus Cristo – pela qual significamos a saída do sepulcro em corpo e em espírito – é demonstrada pela evidência como variada e conclusiva que nos prova qualquer fato da história antiga. Sem ela o próprio cristianismo é inexplicável como a falha das modernas teorias racionalistas mostram no seu aparecimento e progresso. Ao discutir a evidência da ressurreição de Jesus, defrontamo-nos com três teorias racionalistas: I. Teoria do desmaio, de Strauss. Ele sustenta que Jesus na verdade não morreu. O frio e as especiarias despertaram-no. Respondemos que o sangue e a água e o testemunho do centurião (Mc. 15.45) provam que ele estava realmente morto. A pedra removida e a força imediata de Jesus logo depois, são inconsistentes com o desmaio e suspensa animação imediatamente antes. Como foi preservada a sua vida? aonde ele foi? quando ele morreu? a não morte dele implica mentira da parte dele ou da parte dos seus discípulos. II. Teoria do espírito, de Keim. Na verdade morreu, mas apareceu apenas o seu espírito. O espírito deu aos discípulos um sinal da sua vida contínua, uma espécie de telegrama do céu. Porém respondemos que o telegrama não foi verdadeiro porque afirmou que o seu corpo ressuscitou do
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sepulcro. O sepulcro estava vazio e as peças de linho mostraram uma saída ordeira. O próprio Jesus negou que fosse um espírito sem corpo: "um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho (Lc. 24.39). A "sua carne viu corrupção" (At. 2.31)? O ladrão arrependido ressuscitou dos mortos como ele? Godet, Lectures in Defense of the Christian Faith, prel. i: Um dilema para os que negam o fato da ressurreição de Cristo: ou o seu corpo permaneceu nas mãos dos seus discípulos ou foi entregue aos judeus. Se os discípulos o retivessem, seriam impostores: mas os racionalistas modernos não defendem isto. Se os judeus o retiveram, por que não o apresentaram como evidência contra os discípulos? III. Teoria da visão, de Renan. Jesus morreu e não houve nenhuma aparição objetiva até mesmo do seu espírito. Maria Madalena foi vítima de alucinação subjetiva contagiante. Isto ocorreu porque os judeus esperavam que o Messias operasse milagres e que ressuscitaria dentre os mortos. Respondemos que os discípulos não esperavam a ressurreição de Jesus. As mulheres não foram ao sepulcro para ver o Redentor ressuscitado, mas para embalsamar um corpo morto. Tome e os que caminhavam para Emaús abandonaram toda esperança. Quatrocentos anos tinham-se passado desde os dias dos milagres; João Batista "não fez nenhum sinal" (Jo. 10.41); os saduceus diziam "não haver ressurreição" (Mt. 22.23). Houve treze aparições diferentes: 1. a Maria Madalena; 2. a outras mulheres; 3. a Pedro; 4. aos caminhantes de Emaús; 5. aos doze; 6. novamente, após oito dias, aos doze; 7. junto ao mar da Galiléia; 8. na montanha na Galiléia; 9. a quinhentas pessoas na Galiléia; 10. a Tiago; 11. ascensão em Betânia; 12. a Estêvão; 13. a Paulo, no caminho de Damasco. Paulo descreve o aparecimento de Cristo a ele como algo não subjetivo, mas objetivo e implica que os aparecimentos anteriores de Cristo aos outros também foram objetivos: "por derradeiro de todos [os aparecimentos físicos], ... me apareceu também a mim" (1 Cor. 15.8). Bruce, Apologetics, 396 - Ό interesse e intenção de Paulo em classificar ambas juntas era nivelar a sua própria visão [de Cristo] à objetividade das cristofanias primitivas. Ele cria que os onze, particularmente Pedro, tinham visto o Cristo ressurreto com os olhos do seu corpo e reivindicava para si uma visão do mesmo tipo". Paulo tinha uma natureza sã e forte. Visões subjetivas não transformam vidas humanas; a ressurreição moldou os apóstolos; eles não criaram a ressurreição. Tais aparições logo cessaram, diferentemente da lei das
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alucinações, que aumentam em freqüência e intensidade. É impossível explicar as ordenanças, o dia do Senhor, e até o próprio cristianismo, se Jesus não ressuscitou dentre os mortos. A ressurreição de nosso Senhor ensina três importantes lições: 1) Mostra que a sua obra da expiação completou-se e obteve a aprovação divina: 2) Que ele é o Senhor de tudo e que deu uma suficiente prova externa do cristianismo; 3) Forneceu a base e penhor da nossa ressurreição e deste modo "trouxe à luz a vida e a incorrupção" (2 Tm. 1.10). Convém lembrar que a ressurreição foi o único sinal sobre o qual o próprio Jesus apoiou as suas reivindicações - "o sinal de Jonas" (Lc. 11.29); e que a ressurreição não é só uma prova do poder de Deus, mas do poder do próprio Cristo: Jo. 10.18 -"tenho poder para a dar e para tornar a tomá-la"; 2.19 - "Derribai este templo, e em três dias o levantarei". ... 21 - "ele falava do templo do seu corpo".
6. Falsos Milagres Porque só um ato operado por Deus pode, com propriedade, ser chamado de milagre, segue-se que os eventos surpreendentes operados pelos espíritos maus ou por homens através do uso de agentes além do nosso conhecimento não têm o direito a esta designação. As Escrituras reconhecem a sua existência, mas os chamam de "prodígios de mentira" (2 Ts. 2.9). Estes falsos milagres em várias épocas mostram que a crença neles é natural à raça e em algum lugar deve existir a verdade. Servem para mostrar que nem todas ocorrências sobrenaturais são divinas e mostrar a necessidade de cuidadoso exame antes de aceitá-las como divinas. Os falsos milagres comumente podem distinguir-se dos verdadeiros: a) pela conduta imoral que os acompanha ou doutrina contrária à verdade já revelada – como no espiritismo moderno; b) por suas características interiores de inanidade e extravagância - como na liquefação do sangue de São Januário, ou nos milagres do Novo Testamento Apócrifo; c) pela insuficiência de objetivos que se propõem
Teologia Sistemática (Strong) 268 a promover – como no caso de Apolônio de Tiana, ou dos milagres que se dizem acompanhar a publicação das doutrinas da Imaculada Conceição e da infalibilidade papal; d) por sua falta de evidência substancial – como nos milagres medievais tão raramente atestados pelas testemunhas contemporâneas e desinteressadas; e) pela negação ou subestima da prévia revelação que Deus faz de si mesmo na natureza – mostrada pela negligência dos meios comuns como no caso da cura pela fé e da assim chamada Ciência Cristã. Somente o que é valioso é passível de falsificação. Os falsos milagres pressupõem os verdadeiros. Fisher, Nature and Method of Revelation, 283 "Os milagres de Jesus originaram fé, enquanto as imitações medievais vieram depois que a fé já se estabelecera. Os apóstolos deram o seu testemunho em face da incredulidade dos saduceus. Por causa disto estes ridicularizavam e maltratavam. Não havia tempo para sonhos devotos e invenção de romances". Conta-se que o sangue de São Januário estava depositado numa salva que, de um lado do vidro era grosso, enquanto do outro era fino. Semelhante milagre operou-se em Hales em Gloucestershire. Santo Albano, o primeiro mártir da Bretanha depois de decepada a cabeça, levou-a em sua mão. Na Irlanda, mostra-se o lugar onde São Patrício no século quinto dirigiu os sapos e cobras sobre um precipício nas regiões inferiores. A lenda, contudo só se tornou corrente alguns séculos depois que os ossos dos santos se esmigalharam no pó de Saulo, perto de Downpatrick. Compare com a história do livro de Tobias (6-8), que relata a expulsão de um demônio pela fumaça de um coração queimando e o fígado de um peixe apanhado no Rio Tigre e a do Apócrifo do Novo Testamento (I, Infância), que fala do menino Jesus expulsando, de Judas, Satanás na forma de um cachorro louco. Alguns escritores modernos têm sustentado que o dom dos milagres ainda permanece na igreja. Bengel: "A razão por que muitos milagres não se operam agora não é tanto porque a fé já se estabeleceu, mas porque reina a incredulidade". Christlieb: "Atualmente o maior embaraço ao mais notável aparecimento desse miraculoso poder que circunstancialmente opera na ocultação silenciosa é a falta de fé. A incredulidade é a razão final e mais importante para o retrocesso dos milagres". Edward Irving, Works, 5.464 - "A
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doença é o pecado que aparece no corpo, e o pressentimento da morte, precursora da corrupção. Ora, como Cristo veio para destruir a morte, e quer redimir o corpo da escravidão da corrupção, se a igreja tem as primícias ou o penhor deste poder, é porque recebe o poder sobre as enfermidades e sobre o penhor da morte". Em resposta aos que defendem a cura pela fé em geral devemos admitir que a natureza é plasmável nas mãos de Deus; que ele pode operar milagres quando e onde lhe apraz; e que ele prometeu, com certas limitações bíblicas e racionais, estimular a oração da fé na cura de enfermidades. Mas inclinamo-nos a crer que, ultimamente, Deus responde tal oração, não através de um milagre, mas de uma providência especial e de incentivo, fé e vontade, agindo desta forma diretamente através do seu Espírito sobre a alma e só indiretamente sobre o corpo. As leis da natureza são, genericamente a vontade de Deus; ignorá-las e desusá-las significa presunção e desrespeito ao próprio Deus. A promessa da Escritura quanto à fé sempre é expressa e subentende o emprego dos recursos à disposição: devemos operar a nossa salvação pela mesma razão que é Deus quem a opera em nós; não adianta ao homem que está se afogando orar se ele se recusa a segurar a corda que lhe é lançada. Os remédios e os médicos são a corda que Deus nos lança; não podemos esperar um auxílio milagroso, enquanto negligenciarmos o auxílio que Deus já nos deu; recusar este auxílio é praticamente negar a revelação de Cristo na natureza. Por que não vivemos sem comer do mesmo modo em que pretendemos recuperar a saúde sem tomar remédio? A fé na alimentação é tão racional como a fé na cura. Excetuar casos de doença a partir desta regra geral quanto ao emprego dos meios não tem nenhuma garantia nem na razão nem na Escritura. A expiação comprou a salvação completa e a qualquer dia a salvação será nossa. Mas a morte e a deprava-ção ainda continuam, não como uma pena, mas como um castigo. O mesmo acontece com a doença. Hospitais para doenças incuráveis e a morte mesmo para os que defendem a cura pela fé mostra que eles também são compelidos a reconhecer um limite à aplicação da promessa do Novo Testamento. Com base na discussão anterior não devemos considerar a assim chamada Ciência Cristã nem cristã nem científica. A Sra. Mary Baker G. Eddy nega a autoridade de toda aquela parte da revelação que Deus fez ao
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homem na natureza, e que sustenta que as leis da natureza podem ser desconsideradas com impunidade pelos que têm apropriada fé. Bispo Lawrence de Massachusetts: "Um dos erros da Ciência Cristã é a negligência do conhecimento acumulado, do fundo de informação armazenado nestes séculos cristãos. Tal conhecimento é tão magnífica dádiva de Deus como a obtida através da revelação direta. Ao rejeitar o conhecimento acumulado e a capacidade profissional, a Ciência Cristã rejeita o dom de Deus". As professadas curas da Ciência Cristã são, na maioria, explicáveis pela influência da mente sobre o corpo, através da hipnose ou da sugestão. Os distúrbios mentais podem tornar o leite materno um veneno para o filho; a excitação mental é causa comum da indi-gestão; a depressão mental induz a desarranjos intestinais; a mente deprimida e as condições morais tornam uma pessoa suscetível à gripe, à pneumonia, à febre tifóide. Lendo o relato de um acidente no qual o corpo é dilacerado ou mutilado, sentimos a dor no mesmo lugar em nós mesmos; quando a mão de um filho é esmagada, a da mãe, embora a certa distância incha; os stigmata medievais resultaram, provavelmente, da impressão contínua dos sofrimentos de Cristo. Porém os estados mentais tanto podem prejudicar como podem ajudar o corpo. A esperança mental facilita a cura da enfermidade. O médico auxilia o paciente inspirando-lhe esperança e coragem. A imaginação opera maravilhas especialmente no caso de perturbações nos nervos. Dizem que a Ciência Cristã cura as enfermidades deste tipo. De tempo em tempo os faquires, os mesmerianos e os impostores têm empregado estes recursos das forças mentais subjacentes. Induzindo a expectação, inculcando coragem, despertando a vontade paralisada, indiretamente têm causado mudanças físicas que se confundem com o milagre. Tácito nos fala da cura de um cego pelo imperador Vespasiano. Sem dúvida as curas têm sido operadas pelo toque real na Inglaterra. Visto que tais maravilhas têm sido feitas pelos índios curandeiros, não podemos considerá-los como se tivessem qualquer caráter cristão específico e quando, como no caso atual, vemo-lo utilizado na disseminação de uma falsa doutrina a respeito do pecado, de Cristo, da expiação e da igreja, devemos classificá-los como "prodígios de mentira" de que há advertência em 2 Ts. 2.9.
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IV. PROFECIA ATESTANDO UMA REVELAÇÃO DIVINA
Consideramos profecia no seu sentido estrito de simples predição, reservando para um capítulo subseqüente sua consideração como interpretação da vontade divina em geral. 1. Definição Profecia é a predição de eventos futuros em virtude da comunicação direta de Deus - predição, portanto, que, apesar de não contrariar quaisquer leis da mente humana, se plenamente conhecidas, sem a atuação divina, não se explicariam suficientemente. Ao discutir o assunto da profecia, enfrentamos, logo no começo, a controvérsia de que não há e nunca houve, predição real de eventos futuros além do que é possível à presciência natural. Este é o ponto de vista de Kuenen, Prophets and Prophecy in Israel. Pfleiderer, Philos. Relig., 2.42, nega qualquer predição direta. A profecia em Israel, sugere ele, é somente a consciência da retidão de Deus proclamando os seus ideais do futuro e declarando que a vontade de Deus é o ideal moral do bem e da lei da história do mundo, de modo que a sorte das nações condiciona-se à atitude para com o propósito de Deus: Ό erro fundamental da apologética vulgar é que ela confunde profecia com a adivinhação dos pagãos - salvação nacional sem caráter". W. Robertson Smith, Encyc. Britannica, 19.821, diznos que a "predição pormenorizada ocupa um lugar bem secundário nos escritos dos profetas; ou, ao invés disto, na verdade, o que parece serem predições em pormenores são, via de regra, apenas livres ilustrações poéticas de princípios históricos, que nem receberam, nem demandaram um cumprimento exato". Como no caso dos milagres, nossa fé em um Deus imanente, que não é outro senão o Logos ou o grande Cristo, dá-nos um ponto de vista a partir do qual podemos harmonizar as controvérsias dos naturalistas e sobrenaturalistas. Profecia é um ato imediato de Deus; porém, visto que todo gênio natural se deve também à atuação energética de Deus, não
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precisamos negar o emprego dos dons naturais de profecia no homem. Os exemplos de telepatia, de pressentimento, e de uma segunda visão que a Sociedade de Pesquisa Psicológica demonstrou serem fatos esclarecem que a predição, na história da revelação divina, pode ser somente uma intensificação de uma força latente sob o impulso extraordinário do Espírito divino no mesmo grau em todos homens. O autor de toda a grande obra da imaginação criativa sabe que uma força mais elevada do que a dele o possui. Em toda razão humana há uma atividade natural da Razão divina ou Logos que é "a luz que alumia a todo homem" (Jo. 1.9). Deste modo há uma atividade natural do Espírito Santo e aquele que completa o círculo da consciência divina também completa o da consciência humana, dá o senso do eu a cada alma, torna valiosos ao homem tanto os dons naturais como os dons espirituais de Cristo; cf. Jo. 16.14 - "há de receber do que é meu e volo há de anunciar". O mesmo Espírito que no princípio "pairava sobre a face das águas" (Gn. 1.2) também paira sobre a humanidade e é ele que, segundo a promessa de Cristo, deve "anunciar o que há de vir" (Jo. 16.13). O dom da profecia pode ter o seu lado natural, como o dos milagres, embora, ao fim, possa explicar-se apenas como resultado de uma obra extraordinária da qual o Espírito de Cristo que, em certo grau, se manifesta na razão e consciência de cada homem; cf. 1 Pe. 1.11 -"indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir". A. B. Davidson, em seu artigo sobre Profecia e Profetas, in Hastings' Bible Dictionary, 4.120,121, dá pouco peso a este ponto de vista de que a profecia se baseia no poder natural da mente humana: "Os argumentos pelos quais Giesebrecht, Berufsgabung, 13 sgs., apóia a teoria de uma 'faculdade do pressentimento' têm pouca força convincente. Supõe-se que esta faculdade revela-se particularmente na aproximação da morte (Gn. 28 e 49). Os contemporâneos das mais religiosas personagens têm atribuído a eles um dom profético. A resposta de John Knox aos que lhe creditam tal dom merece ser lida: 'Minha segurança não são as maravilhas de Merlin, nem ainda as tenebrosas sentenças da profecia profana. Mas, em primeiro lugar, a nítida verdade da palavra de Deus; em segundo lugar, a invencível justiça do eterno Deus; e, em terceiro lugar, o curso comum das suas punições e pragas desde o começo são a minha segurança e a minha
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base'". Conquanto Davidson admita o cumprimento de algumas das específicas predições da Escritura, a serem daqui a pouco mencionadas, sustenta que "tais pressentimentos, até onde podemos observar sua autenticidade, são principalmente fruto da consciência ou da razão moral. A verdadeira profecia apóia-se em bases morais. Em toda parte o futuro ameaçador se prende ao mal ocorrido na palavra 'portanto' (Mq. 3.12; Is. 5.13; Am. 1.12)". Sustentamos com Davidson o elemento moral na profecia, mas também reconhecemos uma força na humanidade normal que ele minimiza ou nega. Reivindicamos que a mente humana, mesmo em sua operação comum e secular, apresenta índices ocasionais de transcendência das limitações dos nossos dias. Se crermos na atividade contínua da Razão divina na do homem, não temos necessidade alguma de duvidar da possibilidade de uma perspicácia quanto ao futuro e esta é necessária nas grandes épocas da história religiosa. Expositor's Greek Testament, 2.34 "Savonarola predisse em 1496 a tomada de Roma, o que aconteceu em 1527 e isto não só em termos gerais, mas em pormenores. Suas palavras concretizaram-se literalmente quando as Igrejas de São Pedro e de São Paulo tornaram-se, como o profeta predisse, estábulos para os cavalos dos conquistadores".
2. Relação da profecia com os milagres Os milagres são certificações do processo de revelação a partir do poder divino; a profecia é uma certificação do processo de revelação a partir do conhecimento divino. Só Deus pode conhecer as contingências do futuro. Pode-se argumentar a possibilidade e probabilidade da profecia na mesma base que a possibilidade e probabilidade dos milagres. Como evidência da revelação divina, contudo, a profecia possui duas vantagens sobre os milagres, a saber: a) A prova, no caso da profecia, não deriva de testemunho antigo, mas está sob as nossas vistas, b) A evidência dos milagres não pode tornar-se mais forte enquanto cada novo cumprimento se acrescenta ao argumento da profecia.
Teologia Sistemática (Strong) 274 3. Requisitos na profecia, considerados como Evidência da Revelação a) O pronunciamento deve estar distante do evento. b) Não deve existir coisa alguma que sugira que o evento seja simples presciência natural. c) O pronunciamento deve estar livre de ambigüidade. d) Contudo, não deve ser muito preciso quanto ao assegurar seu próprio cumprimento. e) O evento predito deve segui-la no tempo devido. Hume: "Todas profecias são verdadeiros milagres e somente assim podem ser admitidos como prova de qualquer revelação", a) Centenas de anos mediaram entre algumas predições do A.T. e o seu cumprimento, b) Stanley exemplifica a sagacidade natural de Burke, que o capacitou a predizer a Revolução Francesa. Mas Burke também predisse em 1793 que a França seria repartida como a Polônia entre uma confederação de forças hostis. Canning também predisse que as colônias sul-americanas cresceriam como os Estados Unidos. Disraeli predisse que a nossa Confederação do Sul se tornaria uma nação independente. Ingersoll predisse que, dentro de dez anos, haveria uma relação de dois teatros para cada igreja. c) Ambigüidade das profecias ilustrada pelo oráculo de Delfos: "Atravessando o rio, tu destróis uma grande nação" - o oráculo não determina se dele mesmo ou do inimigo. d) Strauss sustenta que a própria profecia do AT. determinou os eventos ou as narrativas dos evangelhos, e) Cardan, matemático italiano, predisse o dia e a hora da sua própria morte e suicidou-se no exato momento para provar que a pre-dição era verdadeira. O Senhor faz do cumprimento das suas predições a prova da sua divindade na controvérsia com os falsos deuses: Is. 41.23 -"Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses"; 42.9 - "Eis que as primeiras coisas passaram, e novas coisas eu vos anuncio, e, antes que venham à luz, vo-las faço ouvir".
4. Características Gerais da Profecia nas Escrituras a) Sua grande quantidade – ocupando grande porção da Bíblia e estendendo-se por centenas de anos. b) Sua natureza ética e religiosa – os
Teologia Sistemática (Strong) 275 eventos futuros são considerados como desenvolvimentos e resultados da presente atitude dos homens para com Deus. c) Sua unidade na diversidade - tendo como ponto central Cristo, o verdadeiro servo de Deus e libertador do seu povo. d) Seu verdadeiro cumprimento quando considera muitas das predições - conquanto parecendo não cumprimentos, explicam-se pela sua natureza figurativa e condicional. A. B. Davidson, em Hastings' Bible Dictionary, 4.125, sugere razões para o aparente não cumprimento de algumas predições: A profecia é poética e figurada; não deve haver muita pressão sobre os pormenores; eles são apenas ornamentos da idéia. Em Is. 13.16 - "As suas crianças serão despedaçadas ... e a mulher de cada um, violada" - o profeta dá um quadro ideal do saque da cidade; estas coisas, na verdade não aconteceram, mas Ciro entrou na Babilônia "em paz". Contudo, permaneceu a verdade essencial de que a cidade caiu nas mãos do inimigo. A predição de Ezequiel sobre a cidade de Tiro, Ez. 26.7-14, é reconhecida em Ez. 29.17-20 como tendo sido cumprida não nos pormenores, mas na sua essência - o verdadeiro evento foi a quebra do poder de Tiro por Nabucodonosor. Is. 17.1 - "Eis que Damasco será tirada e já não será cidade, mas um montão de ruínas" - deve ser interpretado como predizendo a extinção do seu domínio, visto que Damasco provavelmente nunca deixou de ser cidade. A natureza condicional da profecia explica outros aparentes casos não cumpridos. As predições freqüentemente eram ameaças que podiam ser revogadas pelo arrependimento. Jr. 26.13 - "melhorai os vossos caminhos ... e arrependerse-á o Senhor do mal que falou contra vós". Jn. 3.4-"Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida.... 10-Ε Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que lhes faria e não o fez"; cf. Jr. 18.8; 26.19. Exemplos do verdadeiro cumprimento da profecia encontram-se, segundo Davidson, na predição que Samuel fez de algumas coisas que aconteceriam a Saul e que a história declara que aconteceram. Jeremias predisse a morte de Hananias no ano que ocorreu (Jr. 28 esp. vs. 16,17). Micaías predisse a derrota e morte de Acabe em Ramote-Gileade (1 Reis 22 esp. vs. 25 e 34). Isaías predisse o fracasso da coalizão do norte na sujeição de Jerusalém (Is. 7); a ruína de Damasco, em dois ou três anos, e do norte
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de Israel diante dos assírios (Is. 8 e 17); o insucesso de Senaqueribe no domínio de Jerusalém e a dispersão do seu exército (Is. 37,34-37). Ε, de um modo geral, independentemente dos pormenores, as principais predições dos profetas relativas a Israel e às nações verificaram-se na história, por exemplo, em Amós 1 e 2. As principais predições dos profetas referem-se à iminente queda dos reinos de Israel e de Judá; ao que está além disso, a saber, a restauração do reino de Deus; e quanto ao estado do povo em sua condição de felicidade final". Sobre as predições do exílio e volta de Israel, ver especialmente Am. 9.9 - "Porque eis que darei ordem e sacudirei a casa de Israel entre todas as nações, assim como se sacode o grão no crivo, sem que caia na terra um só grão. ... 14 - Ε removerei o cativeiro do meu povo Israel e reedificarei as cidades assoladas". Mesmo que aceitemos a teoria da co-autoria do livro de Isaías, ainda temos a predição da volta dos judeus da Babilônia e a designação de Ciro como agente de Deus, em Is. 44.28 "quem diz de Ciro: É meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; dizendo também a Jerusalém: Sê edificada; e ao templo: Funda-te"; ver George Adam Smith, Hastings' Bible Dictionary, 2.493. Frederico, o Grande disse ao seu capelão: "Dá-me em uma palavra a prova da origem divina da Bíblia"; o capelão bem respondeu: "Os judeus, Majestade". No caso dos judeus temos ainda mesmo agora os únicos fenômenos de um povo sem terra e uma terra sem povo, embora ambos estivessem previstos séculos antes deste evento.
5. Profecia messiânica em geral a) Predições diretas dos eventos – como as profecias veterotestamentárias sobre o nascimento, sofrimento e subseqüente glória de Cristo. b) Profecia geral do Reino no Velho Testamento e seu triunfo gradual. c) Tipos históricos em uma nação e em indivíduos como Jônatas e Davi. d) Prefigurações do futuro em ritos e ordenanças como no sacrifício, na circuncisão, e na páscoa. 6. Profecias especiais pronunciadas por Cristo d) Quanto à sua morte e ressurreição. b) Quanto aos eventos ocorrentes entre a sua morte e a destruição de Jerusalém (multidão de
Teologia Sistemática (Strong) 277 impostores; guerras e rumores de guerras; fome e peste). c) Quanto à destruição de Jerusalém e a política judaica (Jerusalém sitiada pelos exércitos; abominação da desolação no lugar santo; fuga dos cristãos; miséria; massacre; dispersão). d) Quanto à difusão do evangelho pelo mundo todo (a Bíblia já era o livro de mais ampla circulação no mundo). A mais importante característica da profecia é o elemento messiânico; ver Lc. 24.27 - "começando por Moisés e por todos os profetas, explicavalhes o que dele se achava em todas Escrituras"; At. 10.43 - "a este dão testemunho todos os profetas"; Ap. 19.10 - "o testemunho de Jesus é o espírito de profecia". Os tipos pretendem ser semelhança, designação de prefigurações; p.ex.\ Jonas e Davi são tipos de Cristo. A natureza típica de Israel apóia-se no profundo fato da comunidade de vida. Como vida de Deus, o Logos é a base da humanidade universal e interpenetra em cada parte, pelo que desta humanidade universal se desenvolve genericamente Israel; de Israel, como nação, surge o Israel espiritual; de Israel espiritual, Cristo segundo a carne, - o alto da pirâmide encontra o clímax e culminação nele. Daí as predições relativas ao "Servo do Senhor" (Is. 42.1-7), e ao "Messias" (Is. 61.1; Jo. 1.41), cumprem-se em parte em Israel, mas de um modo perfeito só em Cristo. Sabatier, Philos. Religion, 59 - "Se, potencialmente, a humanidade não fosse em certo sentido Emanuel, Deus conosco, nunca teria produzido do seu seio aquele que nasceu e revelou este bendito nome". No A.T., o Senhor é o Redentor do seu povo. Ele opera através de juizes, profetas, mas ele mesmo continua sendo o Salvador; "só o elemento divino neles é que salva"; "Ao Senhor pertence a salvação" (Jn 2.9; Rev. e At. do Brasil). O Senhor se manifesta no reinado de Davi sob a monarquia; em Israel, o Servo do Senhor, durante o exílio; e no Messias, ou Ungido, no período pós-exílico. Devido à sua consciente identificação com o Senhor, Israel é sempre um povo com visão avançada. Cada novo juiz, rei ou profeta é considerado um arauto do futuro reino de justiça e paz. Tais pronunciamentos terrenos são aguardados com arrebatadora expectação; os profetas expressam-na em termos que transcendem as possibilidades do presente; quando ela deixa de ser plenamente realizada, a esperança messiânica simplesmente se transfere para um futuro mais distante. Cada
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profecia em separado tem a sua roupagem fornecida pelas circunstâncias imediatas e encontra sua ocasião em algum evento da história contemporânea. Mas gradualmente fica evidente que só um Rei e Salvador ideal e perfeito pode preencher os requisitos da profecia. Só quando Cristo aparece, torna-se manifesto o real sentido das várias predições do Velho Testamento. Então o homem é capaz de combinar as profecias aparentemente inconsistentes de um sacerdote que é ao mesmo tempo um rei (SI. 110) e de um régio Messias ao mesmo tempo sofredor (Is. 53). Não nos basta perguntar o que significa o próprio profeta ou o que entendiam por profecia os seus ouvintes. Isto equivale a considerar a profecia como tendo um só autor e este humano. No espírito do homem em cooperação com o de Cristo, o Espírito Santo (1 Pe. 1.11 - "o Espírito de Cristo que estava neles"; 2 Pe. 1.21 - "a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum; mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo"). Toda profecia tem uma dupla autoria: humana e divina; o mesmo Cristo que falou através dos profetas operou o cumprimento das suas palavras. Não é de estranhar que aquele que através dos profetas proferiu predições relativas a si mesmo tenha sido, quando encarnado, o profeta por excelência (Dt. 18.15; At. 3.22 - "Porque Moisés disse: O Senhor, vosso Deus, levantará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis"). Nas predições de Jesus encontramos a chave própria para a interpretação da profecia em geral e a evidência de que, conquanto nenhuma das três teorias - dos preteristas, dos continuístas, dos futuristas fornece uma explicação exaustiva, mas cada uma tem seu elemento de verdade. Nosso Senhor fez o cumprimento da predição da sua própria ressurreição um teste da sua comissão divina: foi "o sinal do profeta Jonas" (Mt. 12.39). Ele prometeu que os seus discípulos teriam os dons da profecia: Jo. 15.15 - "Já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer; 16.13 - "aquele Espírito da verdade ... vos anunciará o que há de vir". Ágabo predisse a fome e o aprisionamento de Paulo (At. 11.28; 21.10); Paulo predisse heresias (At. 20.29,30), naufrágio (At. 27.10, 21-26), "o homem do pecado" (2 Ts. 2.3), a segunda vinda de Cristo e a ressurreição dos santos (1 Ts. 4.15-17).
Teologia Sistemática (Strong) 7. Sobre o duplo sentido da Profecia
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a) Certas profecias aparentemente contêm uma plenitude de sentido que não se esgota no evento a que mais óbvia e literalmente se referem. Uma profecia que teve um cumprimento parcial em um tempo não distante do seu pronunciamento pode achar seu principal cumprimento em um evento bem distante. Porque os princípios da administração de Deus sempre se repetem e ampliam a ilustração na história as profecias que já tiveram cumprimento parcial podem ter ciclos inteiros ainda diante de si. Na profecia há uma ausência de perspectiva; como nos quadros japoneses o próximo e o longe parecem eqüidistantes; como nos pontos de vista diluídos, o futuro imediato se funde num futuro imensuravelmente bem distante. A vela que brilha através de uma abertura envia a sua luz através de uma área sempre crescente; as seções de um triângulo correspondem-se umas às outras, porém quanto mais distantes maiores se tornam que as mais próximas. O chalé junto à montanha pode parecer um gato preto sobre um monte de lenha, ou uma pinta na vidraça. "Uma montanha que parece estar pouco atrás de outra encontra-se numa abordagem mais próxima quando há um maior afastamento dela". O pintor, ao reduzir, reúne coisas ou partes que são relativamente distantes umas das outras. O profeta é um pintor cujas reduções são sobrenaturais; ele parece livre da lei do espaço e do tempo e é arrebatado para a intemporalidade de Deus, vê os eventos da história "sub specie eternitatis". A profecia é um esboço de um mapa. Mesmo o profeta não pode aclarar o rascunho. A ausência de perspectiva na profecia pode explicar o equívoco de Paulo na Carta aos Tessalonicenses, e a necessidade das suas explicações em 1 Ts. 2.1,2. Em Is. 10 e 11, a queda do Líbano (Assíria) está em conexão imediata com o aparecimento do ramo (Cristo); em Jr. 41.51, a captura e completa destruição da Babilônia estão em conexão recíproca, sem que se perceba o intervalo de mil anos entre ambas.
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Contudo, exemplos de duplo sentido da profecia podem ser encontrados em Is. 7.14-16; 9.6,7 - "uma virgem conceberá e dará à luz um filho, ... um filho se nos deu" - comparado com Mt. 1.22,23, onde a profecia se aplica a Cristo (ver Meyer in loco); Os. 11.1 - "Do Egito chamei a meu filho" - que originariamente se refere à chamada da nação do Egito - em Mt. 2.15 refere-se a Cristo, que incorporou e consumou a missão de Israel; SI. 118.22,23 -"A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a cabeça de esquina" - que originariamente se referia à nação judaica, conquistada, retirada e jogada como inútil, mas divinamente destinada a um futuro de importância e grandeza, é mencionada por Jesus em Mt. 21.42 como sendo ele mesmo, a verdadeira incorporação de Israel. William Arnold Stevens, em The Man of Sin, Baptist Quar. Rev, jul. 1889. 328-360 - Como em Dn. 11.36, o grande inimigo da fé, que "se levantará e se engrandecerá sobre todo deus", é Antíoco Epifanes, rei da Síria, assim "o homem do pecado" descrito por Paulo em 2 Ts. 2.3 é o corrupto e ímpio judaísmo da era apostólica. Ele tinha o seu assento no templo de Deus, mas estava sentenciado à destruição ao vir o Senhor na queda de Jerusalém. Mas mesmo este segundo cumprimento da profecia não exclui um outro futuro e final. Broadus em Mateus. - Em Is. 41.8 até o cap. 53, as predições relativas ao "servo do Senhor" fizeram uma gradual transição de Israel até o Messias; aquele só em 41.8, e o Messias também aparece em 42.1 sg., e Israel sumindo de vista no cap. 53. A mais notável ilustração do duplo sentido da profecia, contudo, deve ser encontrada em Mt. 24 e 25, especialmente 24.34 e 25.31, onde a profecia de Cristo sobre a destruição de Jerusalém passa a ser uma profecia do fim do mundo. Adamson, The Mind in Christ, 183 - "Para ele a história é a roupa de Deus e, por isso, uma constante repetição de posições realmente semelhantes, caleidoscópicas combinações de umas poucas verdades, como os variados fatos em que elas devem ser incorporadas". A. J. Gordon: "A profecia não se tornou mais rapidamente em história, do que a história em profecia". Lorde Bacon: "As profecias divinas têm elasticidade e cumprimento germinativo através de muitos anos, embora a altura ou plenitude delas podem referir-se a uma época". De igual modo há uma multiplicidade de sentidos na Divina Comédia de Dante. C. E. Norton, Inferno, xvi - "A narrativa espiritual do poeta é tão vivida e consistente que
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tem toda a realidade de um relato de uma verdadeira experiência; mas internamente e abaixo flui uma corrente de alegoria não menos consistente e dificilmente menos contínua que a própria narrativa". A. H. Strong, The Great Poets and their Theology, 116 - Ό próprio Dante contou-nos que há quatro sentidos separados que ele pretende apresentar na história. Há o literal, o alegórico, o moral e o analógico. No Salmo 114.1 temos as palavras: "Quando Israel saiu do Egito...". Isto, diz o poeta, pode ser tomado literalmente como a verdadeira libertação do antigo povo de Deus; ou alegoricamente, como a redenção do mundo através de Cristo; ou moralmente, como o resgate da escravidão do pecado; ou analogicamente como a passagem tanto da alma como do corpo da vida inferior da terra para a mais elevada vida no céu. Deste modo, a partir da Escritura, Dante ilustra o método do seu poema".
b) Nem sempre o profeta estava consciente do sentido das suas profecias (1 Pe. 11.11). Basta que suas profecias constituam uma prova da revelação divina, se é que se podem demonstrar correspondências entre elas e os verdadeiros eventos são tais que indicam sabedoria e propósito divinos ao transmiti-las – em outras palavras, basta que o Espírito inspirador conheça o seu sentido, mesmo que o profeta inspirado não o conheça. Não há inconsistência com este ponto de vista; ao contrário, confirmase que o evento próximo, e não o cumprimento distante, principalmente com freqüência, se não com exclusividade, na mente do profeta quando escreveu. A Escritura declara que os profetas nem sempre entendiam as suas próprias predições: 1 Pe. 1.11 - "indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir". Emerson: "Ele mesmo da parte de Deus não podia ser livre; edificava mais do que sabia". Keble: "Como as criancinhas balbuciam e falam do céu, assim são os pensamentos além dos seus pensamentos para os altos bardos". Westcott: Preface to Com. on Hebrews, vi - "Ninguém limitaria o ensino das palavras do poeta ao que está bem claro em sua mente. Menos ainda podemos supor que aquele que é inspirado para dar a mensagem de Deus a todas as eras vê a plenitude da verdade que a vida
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toda serve para iluminar". Alexander McLaren: "Pedro ensina que os profetas judeus predisseram os eventos da vida de Cristo e especialmente os seus sofrimentos; que eles agiram deste modo como órgãos do Espírito de Deus; que eram de modo tão completo órgãos de uma voz mais elevada que não entendiam a significação das suas próprias palavras, mas eram mais sábios do que sabiam e tinham que sondar qual era o tempo e quais as características das coisas estranhas que eles prediziam; e que pela revelação aprenderam que 'a visão é ainda para muitos dias' (Is. 24.22; Dn. 10.14). Se Pedro estava certo em sua concepção da natureza da profecia messiânica, muitos sábios dos nossos dias estão errados". Matthew Arnold, Literature and Dogma: "Não podiam os ideais proféticos ser sonhos poéticos e a correspondência entre eles e a vida de Jesus, até onde é real, apenas um curioso fenômeno histórico?" Bruce, Apologetics, 359, retruca: "Tal ceticismo só é possível àqueles que não têm fé num Deus vivo, que realiza propósitos na história". Isto só pode comparar-se à descrença do materialista que considera a constituição física do universo explicável pelo concurso fortuito dos átomos.
8. Propósito da Profecia - até onde não se cumpriu a) Não capacitar-nos a mapear os pormenores do futuro; mas b) dar segurança geral do poder de Deus e sabedoria previdente e a certeza de seu triunfo; e c) fornecer, depois do cumprimento, a prova de que Deus viu o fim desde o começo. Dn. 12.8,9 - "Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso, eu disse: Senhor meu, qual será o fim dessas coisas? Ε ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim"; 2 Pe. 1.19 - a profecia é "uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça" = não até que os raios do dia possam dificultar os objetos de serem vistos; 20 "nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação" = só Deus, através do evento, pode interpretá-la. Sir Isaac Newton: "Deus não deu as profecias para satisfazer a curiosidade dos homens capacitando-os a entender antecipadamente as coisas, mas para que, depois de cumpridas, pudessem ser interpretadas não pelo próprio intérprete, mas pelo evento manifesto ao mundo e pela providência do mesmo Deus". Alexander
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McLaren: Os grandes tratados da Escritura nos são obscuros até que a vida os explique e, a partir daí, nos venham com a força de uma nova revelação, como as antigas mensagens enviadas através de uma faixa de pergaminho escrita, enrolada num bastão e ininteligível, a não ser que o destinatário tenha um bastão correspondente que a envolva". A. H. Strong, The Great Poets and their Theology, 23 -"Arquíloco, poeta que viveu aproximadamente em 700 d.C, fala de ‘uma aflitiva scytale’ - a scytale era um bastão no qual se enrolava uma faixa de couro com a finalidade de escrever em sentido oblíquo, de sorte que a mensagem inscrita na faixa não pudesse ser lida a não ser que se enrolasse em outro bastão do mesmo tamanho; visto que só o remetente e o destinatário possuíam bastões de idênticos tamanhos, a scytale atendia a finalidade de uma mensagem cifrada". A profecia é como a sentença alemã: não pode ser entendida apenas ao ler a última palavra. A. J. Gordon, Ministry of the Spirit, 48 - "A providência de Deus é como a Bíblia hebraica; para entendê-la, devemos começar do fim para trás". Contudo o Dr. Gordon parece afirmar que tal entendimento é possível mesmo antes do seu cumprimento: "Cristo não tinha conhecimento do dia do fim enquanto no seu estado de humilhação; mas conhece-o agora. Mostrou o seu conhecimento no Apocalipse e temos recebido a 'Revelação de Jesus Cristo a qual Deus deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer' (Ap. 1.1)". Contudo, um estudo dos múltiplos e conflitantes pontos de vista dos assim chamados intérpretes da profecia nos leva a preferir o ponto de vista do Dr. Gordon ao de Briggs, Messianic Prophecies, 49 - "O primeiro advento é a solução de toda a profecia do Velho Testamento;... o segundo dará a chave para a profecia do Novo Testamento. É Ό Cordeiro, que foi morto' (Ap. 5.12)... o único que abre o livro selado, que resolve os enigmas do tempo e os símbolos da profecia". Nitzsch: "É condição essencial da profecia que não perturbe a relação do homem com a história". Na medida em que se olvida este pormenor e admite-se erroneamente que o propósito da profecia é capacitar-nos a mapear os eventos exatos do futuro antes que aconteçam, o estudo da profecia ministra uma doentia imaginação e desvia a atenção de uma dúvida cristã prática. Calvino: "Aut insanum inveniet aut faciet"; ou, na tradução de Lorde Brougham: Ό estudo da profecia, ou acha o homem louco, ou o torna
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tal". Os adeptos do segundo advento geralmente não buscam conversões. O Dr. Cumming advertia as mulheres do seu rebanho que não deveriam estudar a profecia assim como não deveriam negligenciar os deveres de casa. Paulo tem isto em mente em 2 Ts. 2.1,2 - "pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo ... que não vos movais facilmente do vosso entendimento ... como se o dia do Senhor já estivesse perto"; 3.11 -"Porque ouvimos que alguns de vós andam desordenadamente".
9. Poder Evidencial da Profecia – quando cumprida A profecia, como os milagres, não é a única evidência da comissão divina dos escritores e ensinadores da Escritura. É somente uma certificação corroborativa que se une aos milagres para provar que o ensinador religioso veio de Deus e fala com autoridade divina. Não podemos, contudo, dispensar a parcela de evidências, pois, a não ser que a morte e a ressurreição de Cristo sejam eventos previstos e preditos por ele mesmo, assim como pelos profetas antigos, perdemos sua principal prova de autoridade como mestre da parte de Deus. Stearns, Evidence of Christian Experience, 338 - "A própria vida do cristão é um cumprimento progressivo da profecia de que aquele que aceita a graça de Cristo nascerá de novo, santificado e salvo. Por isso o cristão pode crer no poder que Deus tem de predizer e nas verdadeiras predições de Deus". Stanley Leathes, O. T. Prophecy, xvii - "Se não tivermos acesso ao sobrenatural, não teremos acesso a Deus". Nas nossas discussões sobre a profecia, devemos lembrar que antes de fazer a verdade do cristianismo elevar ou cair em qualquer passagem que tenha sido considerada como predição, devemos estar certos de que a passagem trata de uma predição e não simplesmente de uma descrição figurativa. Gladden, Seven Puzzling Bible Books, 195 – O livro de Daniel não é uma profecia, é um apocalipse.... O autor [de tais livros] põe as suas palavras na boca de algum eminente escritor histórico ou tradicional. Isto se pode exemplificar com o Livro de Enoque, a Assunção de Moisés, Baruque, 1, 2 Esdras e os Oráculos Sibilinos. A forma enigmática indica pessoas sem declarar-lhes o nome e os eventos históricos como formas de animais ou como operação da natureza.
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... O livro de Daniel não pretende ensinar-nos história. Ele não retrocede ao século sexto a.C, mas ao segundo. É um tipo de conto que os judeus chamavam de Haggada. Seu alvo é Antíoco Epifanes, que, por suas manifestações ocasionais de melancolia, foi chamado Epifanes, ou Antíoco, o Louco". Qualquer que possa ser a conclusão quanto à autoria do livro de Daniel, devemos reconhecer nele um elemento que realmente se cumpriu. Os mais radicais intérpretes não fixam a sua data para mais tarde do que 183 a.C. O nosso Senhor vê no livro uma referência clara a si mesmo (Mt. 26.64 - "o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu"; cf. Dn. 7.13; e com ênfase repete algumas predições do profeta ainda não cumpridas (Mt. 24.15 - 'Quando virdes, pois, a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel; cf. Dn. 9.27; 11.31; 12.11). Por isso o livro de Daniel deve ser tido como valioso não só por suas lições, mas também por suas predições de Cristo e do triunfo universal do seu reino (Dn. 2.45 - "do monte foi cortada uma pedra, sem mãos").
Removida esta pressuposição originariamente existente contra os milagres e a profecia, podemos agora considerar as leis da evidência e determinar as regras a seguir no cálculo do peso do testemunho da Escritura. V. PRINCÍPIOS DE EVIDÊNCIA HISTÓRICA APLICÁVEIS À PROVA DE UMA REVELAÇÃO DIVINA.
1. Quanto à evidência documentária. a) Os documentos aparentemente antigos, que não têm em sua face as marcas de falsificação e achados na custódia própria, presume-se que sejam genuínos até que não haja evidência em contrário. Os documentos do Novo Testamento, porque se encontram na custódia da igreja, depositária natural e legítima, por esta regra, devem ser considerados genuínos.
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Os documentos cristãos não foram encontrados, como o livro do Mórmon, em uma caverna, ou na custódia de anjos. Martineau, Seat of Authority. 322 -Ό profeta Mórmon, que não pode falar em Deus com o diabo pertinho, está bem de acordo com a história de ambos os mundos e comissionado para receber a segunda terra prometida". Washington Gladden, Who Wrote the Bible? - "Apareceu um anjo a Smith e contou-lhe onde encontraria este livro; foi à clareira designada e achou numa caixa de pedra um volume de seis polegadas de grossura, formado de finas placas de ouro, de oito por sete polegadas unidas por três anéis de ouro; estas placas eram recobertas com uma escritura na 'língua egípcia reformada'; com este livro estavam os 'Urim e Tumim', um par de óculos sobrenaturais, através dos quais ele foi capaz de ler e traduzir tal 'língua egípcia reformada'". Sagebeer, The Bible in Court, 113 - "Se o livro Razão (um dos livros contábeis) de uma empresa sempre foi recebido e considerado como um Razão, seu valor não é contestado desde que seja impossível contar com o seu guarda-livros particular para cuidar dele. ... A Epístola aos Hebreus não seria menos valiosa como evidência se se provar que foi escrita por Paulo".
b) As cópias de antigos documentos, feitas pelos mais interessados em sua fidedignidade, presume-se que correspondam aos originais apesar de que estes não existem. Porque é do interesse da igreja ter cópias fiéis, a carga de prova repousa no opositor aos documentos cristãos. Baseada na evidência de uma cópia dos seus próprios registros, porque os originais se perderam, a Casa dos Lordes decidiu reivindicar a nobreza; não há manuscrito de Sófocles mais antigo do que o décimo século, conquanto ao menos dois manuscritos do N.T. remontam ao quarto século. Frederick George Kenyon, Handbook to Textual Criticism of Ν. Τ: "Devemos o nosso conhecimento da maior parte das grandes obras da literatura grega e latina -Esquilo, Sófocles, Tucídides, Horácio, Lucrécio, Tácito e muitos mais - a manuscritos produzidos desde 900 a 1500 anos após a morte dos seus autores; enquanto do N.T. temos duas excelentes e quase completas cópias num intervalo de 250 anos. Ademais, dos escritores clássicos temos como regra só umas poucas vintenas de cópias (freqüentemente menos) uma ou duas das quais destacam-se como decididamente superiores às demais; porém, do N.T. temos mais de 3000
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cópias (além de grande número de versões) e muitas de valor distinto e intendente". A mãe de Tischendorf chamava-o Lobgott porque o temor de que o seu bebê nasceria cego não se tornou verdadeiro. Nenhum ser humano jamais teve uma visão tão aguda do que ele. Ele passou a sua vida decifrando velhos manuscritos que outros olhos não podiam ler. O manuscrito Sinaítico que ele descobriu recua-nos três séculos do tempo dos apóstolos.
c) Ao determinar o fato, segundo o lapso de tempo considerável, permite-se à evidência documentária maior peso do que a testemunha oral. Nem a memória, nem a tradição podem prolongar a confiança de dar relatos absolutamente corretos de fatos particulares. Os documentos do Novo Testamento, portanto, são de maior peso na evidência do que seria a tradição, mesmo que houvesse um lapso de apenas trinta anos após a morte dos atores nas cenas que eles relatam. A Igreja Católica Romana, nas suas lendas dos santos, mostra quão vivida a simples tradição pode tornar-se corrompida. Abraão Lincoln foi assassinado em 1865, embora sermões pregados no aniversário de nascimento atualmente excluem-no do Unitarismo, do Universalismo e da Ortodoxia, conforme crê o próprio pregador.
2. Quanto ao testemunho em geral a) Quanto aos fatos, a questão não é se é possível que o testemunho seja falso, mas se há probabilidade de que seja verdadeiro. É estranho, portanto, permitir que o nosso exame das testemunhas da Escritura seja prejudicado pela suspeita, simplesmente porque a sua história é sagrada. Não deve haver nenhum preconceito contra a verdade; a mente deve estar aberta; deve haver aspiração normal após os sinais de comunicação da parte de Deus. A telepatia, os quarenta dias de jejum, a partenogênese, tudo isto pode, por antecedência, ter parecido incrível. Agora vemos que
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teria sido mais racional admitir sua existência na apresentação de adequada evidência.
b) Prova-se uma proposição de fato quando se estabelece através da sua verdade a evidência competente e satisfatória. Evidência competente é a natureza daquilo que se admite estar provado. Evidência satisfatória soma de provas que via de regra satisfazem uma mente sem preconceitos que está além da dúvida razoável. Provam-se, contudo, os fatos escriturísticos quando estabelecidos pelo tipo e grau de evidência que, em assuntos da vida comum satisfazem a mente e a consciência de um homem comum. Quando temos este tipo e grau de evidência é irracional querer mais. Em matéria de moral e religião a evidência competente não precisa ser matemática nem mesmo lógica. Os casos de crime, em sua maioria, são decididos com base na evidência circunstancial. Não determinamos a nossa escolha dos amigos e dos companheiros através dos estritos processos de raciocínio. O coração e a cabeça devem permitir que uma voz e uma evidência competente incluam considerações que partem das necessidades morais da alma. Contudo, a evidência não requer demonstração. Até mesmo um leve balanço da probabilidade, quando nada mais certo se alcança, pode ser suficiente para constituir uma prova racional e determinar a nossa ação moral.
c) Na ausência de circunstâncias que geram suspeita deve-se presumir que cada testemunho é digno de crédito até que se prove o contrário; a carga de impedimento de seu testemunho está no opositor. O princípio que leva os homens a darem verdadeiro testemunho dos fatos é mais forte do que aquele que os leva a dar falso testemunho. Portanto, é injusto compelir o cristão a estabelecer a credibilidade de sua testemunha antes de continuar a aduzir o testemunho deles; é igualmente injusto permitir o testemunho não corroborado de um escritor profano para preponderar o de um escritor cristão. Os testemunhos cristãos não devem ser considerados interesseiros e, portanto, não fidedignos; porque eles
Teologia Sistemática (Strong) 289 fizeram os cristãos contrários aos seus interesses terrenos e porque eles não puderam resistir à força do testemunho. Variados relatos entre eles deviam ser avaliados como avaliamos os relatos dos escritores profanos. O relato que João faz de Jesus difere do dos sinóticos; porém de semelhante modo e provavelmente pela mesma razão, o relato de Platão a respeito de Sócrates difere do de Xenofonte. Cada um viu e descreveu o lado do seu foco que, por natureza mais se adequava à compreensão; compare a Veneza de Canaletto com a de Turner; naquele o quadro de um experiente pintor, neste a visão de um poeta que vê os palácios dos doges glorifica-dos pelo ar e névoa e distância. Em Cristo há um "esconderijo da sua força" (He. 3.4); "quão pouco é o que temos ouvido dele"! (Jó 26.14); mais do que Shakespeare, ele é "a mente mirióide"; não se pode esperar que evangelista algum o conheça ou descreva senão "em parte" (1 Cor. 13.12). Frances Power Cobbe, Life, 2.402 - "Todos nós, seres humanos que somos, assemelhamo-nos a diamantes, que têm diversas facetas do nosso caráter; e, como sempre apresentamos uma delas a uma pessoa e outra a outra pessoa, via de regra há um vigoroso lado a ser visto em uma gema particularmente brilhante". Ε. Ρ. Tenney, Coronation, 45 - "A vida secreta e poderosa que ele [o herói da história] conduzia era como algumas correntes: profundas, largas, fluentes, que, invisíveis, fluem pelas vastas e ermas florestas. Tão ampla e variada é a natureza deste homem que todos os cursos da vida poderiam medrar em seus recônditos; e os seus vizinhos poderiam tocá-lo e conhecê-lo somente do lado a que se lhes assemelhava".
d) Uma leve porção de testemunho, até que não seja contraditada, prepondera sobre grande soma de testemunho simplesmente negativo. O silêncio de uma segunda testemunha, ou o testemunho dela, não pode contrabalançar o testemunho positivo de uma primeira testemunha ocular. Portanto, devemos valorizar o silêncio dos escritores profanos a respeito dos fatos narrados na Escritura exatamente como devemos valorizá-lo se os fatos sobre os quais eles silenciam foram narrados por literatos profanos, ao invés de serem narrados por escritores da Bíblia.
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Os monumentos egípcios não fazem nenhuma menção da destruição de Faraó e seu exército; mas, então, os despachos de Napoleão não mencionam a derrota em Trafalgar. Na sepultura dele nos Inválidos de Paris, as paredes têm a inscrição de nomes de uma multidão de lugares em que ocorreram as suas batalhas, mas Waterloo, a cena da sua grande derrota, não está registrada. Do mesmo modo Senaqueribe, nunca se refere à destruição do seu exército na época de Ezequias. Napoleão reuniu 450.000 homens em Dresden para invadir a Rússia. Em Moscou a neve se incumbiu de derrotá-lo. Em uma noite 20.000 cavalos morreram de frio. Não é sem razão que, em Moscou, no aniversário da retirada da França, lê-se nas igrejas a exultação do profeta pela queda de Senaqueribe. James Robertson, Early History of Israel, 395, nota - Whately, Historic Doubts, chama a atenção para o fato de que o principal jornal parisiense em 1814, no mesmo dia em que os exércitos aliados entraram em Paris como conquistadores, não faz nenhuma menção a tal evento. A batalha de Poitiers em 732, que efetivamente registrou a expansão do maometismo através da Europa, nenhuma vez referiu-se a isto nos anais monásticos da época. Sir Thomas Browne viveu durante as guerras civis e a Commonwealth, mas não há uma única sílaba nos seus escritos a esse respeito. Sale diz que os maometanos consideram a circuncisão como uma instituição divina antiga; o rito esteve em uso muitos anos antes de Maomé, embora não seja mencionado no Corão". Embora admitamos que Josefo não faz menção a Jesus, temos um paralelo em Tucídides, que nunca menciona Sócrates, a mais importante personagem dos vinte anos que abrangeram a sua história. Contudo Wieseler, Jahrbuch für die Theologie, 23.98, defende a genuinidade essencial da passagem geralmente rejeitada sobre Jesus em Josefo, Antigüidades Judaicas, 18.3.3, omitindo, contudo, como interpoladas as expressões "se, com efeito, é correto chamá-lo homem"; "este é o Cristo"; "ele apareceu redivivo ao terceiro dia conforme a profecia"; a serem genuínas, estas provariam ser Josefo um cristão; ou, segundo os antigos relatos, não o seria. Josefo viveu de 34 a, possivelmente, 114 d.C. Na verdade ele fala de Cristo; porque ele registra (20.9.1), que Albino "reuniu o sinédrio de juizes e lhes apresentou o irmão de Jesus, chamado o Cristo, cujo nome era Tiago e alguns outros ... e os livrou de serem apedrejados". Rush Rhees, Life of Jesus of Nazareth, 22 - "Para mencionar mais
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completamente Jesus seria preciso alguma aprovação da sua vida e ensino. Isto condenaria o seu próprio povo que ele desejava fosse recomendado à consideração dos gentios e parece que, covardemente silenciou a respeito do assunto, mais notadamente àquela geração do que ele escreve de um modo mais completo".
e) "O crédito devido ao registro das testemunhas depende: primeiro, da sua capacidade; segundo, da sua honestidade; terceiro, do número e consistência do seu testemunho; quarto, da conformidade do seu testemunho com a experiência; e quinto, da coincidência do seu testemunho com as circunstâncias colaterais". Confiantes submetemos os testemunhos a cada um dos referidos testes.
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Capítulo II PROVAS POSITIVAS DE QUE AS ESCRITURAS SÃO A REVELAÇÃO DIVINA I. GENUIDADE DOS DOCUMENTOS CRISTÃOS, ou prova de que os livros do Velho e do Novo Testamentos foram escritos na época e pelos homens ou classe de homens a que lhes foram atribuídos. A presente discussão compreende a primeira parte e só esta, da doutrina do Cânon (κανών, cana, vara; daí, regra, padrão). É importante observar que a determinação do Cânon, ou lista dos livros da Escritura Sagrada, não é obra da igreja como entidade organizada. Nós não recebemos estes livros dos Pais ou dos Concílios. Recebemo-los, como os Pais e os Concílios os receberam, porque temos evidência de que eles sãos os escritos dos homens, das classes de homens, cujos nomes eles detêm, merecem crédito, e são inspirados. Se a epístola citada em 1 Cor. 5.9 fosse descoberta e universalmente julgada autêntica, podia ser alinhada às outras de Paulo e faria parte do Cânon ainda que estivesse perdida por 1800 anos. Bruce, Apologetics, 321 - "De um modo abstrato o Cânon é uma Questão aberta. Ele nunca pode ser outra coisa além dos princípios do Protestantismo que nos impedem de aceitar como finais as decisões dos concílios eclesiásticos, quer antigos, quer modernos. Mas praticamente a questão do Cânon está encerrada". A Confissão de Westminster diz que a autoridade da Palavra de Deus "não se apóia na evidência histórica; não se apóia na autoridade dos Concílios; não se apóia no consenso do passado ou na excelência da matéria; mas no Espírito de Deus, que testemunha aos nossos corações a respeito da sua autoridade divina". Clarke, Christian Theology, 24 - "Para nós o valor das Escrituras não depende de sabermos quem as escreveu. No A.T. metade das passagens é de autoria incerta. Novas datas significam nova autoria. A crítica é um dever, porque a data da autoria concede meios de interpretação. As Escrituras são poderosas porque Deus está nelas e porque elas descrevem a entrada de Deus na vida do homem".
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Saintine, Picciola, 782 - "Por acaso uma fraca vara proveu o homem da sua primeira seta, sua primeira caneta, seu primeiro instrumento musical"? Hugh Macmillan: "A idéia dos primeiros instrumentos de corda a princípio derivou do som da corda do arco retesado, quando o arqueiro atirava as setas; a lira e a harpa que discorrem a mais suave música de paz foram inventadas por aqueles que, a princípio, ouviam o seu som inspirador no estímulo para a batalha. Do mesmo modo não há música tão deleitável em meio às altercações discordantes do mundo, transformando tudo em música e harmonizando terra e céu, como quando o coração surge da melancolia da ira e da vingança e converte o seu arco em harpa e entoa ao Senhor o cântico do infinito perdão". George Adam Smith, Mod. Criticism and Preaching of O. T., 5 - "A igreja nunca renunciou a sua liberdade de revisar o Cânon. No começo, a liberdade não pode ser maior que a que vem depois. O Espírito Santo não abandona os líderes da igreja. Os escritores apostólicos em lugar algum definem os limites do Cânon mais do que Jesus o fez. Na verdade eles empregaram escritos extracanônicos. Cristo e os apóstolos em lugar nenhum impediram a igreja de crer em todos ensinos do A.T. Cristo discrimina e proíbe a interpretação literal do seu conteúdo. Muitas interpretações apostólicas desafiam o nosso senso de verdade. Boa parte da sua exegese era temporária e falsa. O julgamento deles é que boa parte do que está no A.T. é rudimentar. Isto abre a questão do desenvolvimento na revelação e justifica a tentativa de fixar a ordem histórica. A crítica do NT. a respeito do A.T. dá liberdade para o criticismo, e a necessidade, e a sua obrigação. O criticismo do A.T não é, como o de Baur a respeito do N.T., resultado de um raciocínio hegeliano a priori. A partir do tempo de Samuel temos uma história real. Os profetas não apelam para os milagres. Há mais evangelho no livro de Jonas quando tratado como parábola. O A.T. é uma gradual revelação ética de Deus. Poucos entendem que a igreja de Cristo tem a mais elevada garantia para o seu Cânon do A.T. do que para o do N.T. O A.T. é o resultado do criticismo no mais amplo sentido da palavra. Mas o que a igreja assim atingiu pode a qualquer momento revisar". Reservamos para um ponto um tanto tardio a prova da credibilidade e a inspiração das Escrituras. Por ora apresentamos a sua genuinidade como : apresentaríamos a de outros livros religiosos, como o Corão, ou documentos seculares como as Catilinárias de Cícero. A genuinidade no sentido em que empregamos o termo não implica necessariamente autenticidade (i.e.
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veracidade e autoridade). Podem ser genuínos os documentos que são escritos integralmente ou em parte por outras pessoas além daquelas cujos nomes constam, desde que pertençam à mesma classe. A Epístola aos Hebreus, embora não escrita por Paulo, é genuína porque procede de alguém que pertence à classe apostólica. A adição de Dt. 34, após a morte de Moisés, não invalida a genuinidade do Pentateuco; nem a teoria de um mais tardio Isaías, mesmo que fosse aceita, desaprovaria a genuinidade dessa profecia; em ambos os casos as adições foram feitas por homens da classe profética.
1. Genuinidade dos Livros do Novo Testamento Não precisamos acrescentar provas da existência dos livros do Novo Testamento antes do terceiro século, pois possuímos manuscritos dos que têm pelo menos catorze séculos e, porque no terceiro século as referências a eles tem-se entretecido em toda a história e literatura. Portanto, começamos a nossa prova mostrando que estes documentos não só existiram, mas eram geralmente aceitos como genuínos antes do fim do segundo século. Orígenes nasceu por volta do início de 186 A.D.; contudo, Tregelles diz-nos que as obras de Orígenes contêm citações abrangendo 2/3 do Novo Testamento. Hatch, Hibbert Lectures, 12 -Os primitivos anos do cristianismo, em certos aspectos, eram como os nossos primeiros anos de vida. ... Estes são sempre os mais importantes para a nossa educação. Nesse período aprendemos, a duras penas conhecemos, com esforço e luta e inocentes equívocos, a empregar os nossos olhos e ouvidos, a medir a distância e a direção, por um processo que se desenvolve através de passos inconscientes até a certeza de que sentimos a nossa maturidade. ... Por esse processo inconsciente é que o pensamento cristão dos primeiros séculos adquiriu gradualmente a forma que encontramos quando ele emerge na humanidade do quarto século".
A) Todos livros do Novo Testamento, com a única exceção de 2 Pedro, não só foram recebidos como genuínos, mas foram usados numa
Teologia Sistemática (Strong) 295 forma mais ou menos colecionada, na última metade do segundo século. Estas coleções de escritos, tão vagarosamente transcritos e distribuídos, implicam a longa existência continuada dos livros em separado e proíbem-nos de fixar sua origem em data posterior à primeira metade do segundo século. (a) Tertuliano (160-230) apela para o 'Novo Testamento' formado pelos 'Evangelhos' e 'Apóstolos'. Ele garante a genuinidade dos quatro evangelhos, de Atos, de 1 Pedro, de 1 João, das 13 epístolas de Paulo e do Apocalipse; em resumo, vinte e um dos vinte e sete livros do nosso Cânon. Sanday, Bampton Lectures for 1893, confia que os três primeiros evangelhos assumiram a sua presente forma antes da destruição de Jerusalém. Seu pensamento, contudo é de que o primeiro e terceiro evangelhos e provavelmente o segundo são de origem composta. Não foi depois de 125 A.D. que os quatro evangelhos ganharam reconhecida e excepcional autoridade. Professores de Andover, Divinity of Jesus Christ, 40 - "O mais antigo dos quatro evangelhos foi escrito por volta do ano de 70. O mais primitivo, ora perdido, que em grande parte está preservado em Lucas e Mateus, provavelmente foi escrito poucos anos antes".
(b) O Cânon Muratoriano no Ocidente e a Peshito no Oriente (com uma data comum de cerca de 160) em seus catálogos dos escritos do Novo Testamento simultaneamente complementam um ao outro as ligeiras deficiências, e juntas testemunham o fato de que cada livro do nosso atual Novo Testamento, a exceção de 2 Pedro foi recebido como genuíno. Hovey, Manual of Christian Theology, 50 - Ό fragmento no Cânon, descoberto por Muratori em 1738, provavelmente foi escrito em 170 A.D., em Grego. Começa com as últimas letras de uma sentença que deve ter sido uma referência a Marcos e continua a falar do Terceiro Evangelho como tendo sido escrito pelo médico Lucas, que não viu o Senhor; a seguir, fala do
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Quarto Evangelho como tendo sido escrito por João, discípulo do Senhor, a pedido dos seus companheiros de discipulado e dos presbíteros". Bacon, Ν. Τ. Introduction, 50, apresenta o Cânon Muratoriano por completo; 30 "Teófilo de Antioquia (181 -190) é o primeiro a mencionar um evangelho pelo nome, citando Jo. 1.1 como sendo de 'João, um daqueles que foram vasos do Espírito".
(c) O Cânon de Marcião (140), apesar de rejeitar todos os evangelhos menos o de Lucas e todas epístolas menos dez das de Paulo, mostra, contudo, que naquela época primitiva "os escritos apostólicos eram considerados como regra de doutrina original e completa". Mesmo Marcião, contudo, não nega a genuinidade dos escritos que por razões doutrinárias ele rejeita. O gnóstico Marcião era inimigo de todo o judaísmo e considerava o Deus do AT. uma divindade restrita, inteiramente diferente do Deus do N.T. Marcião era "ipso Paulo paulinior" (mais paulino do que o próprio Paulo) - na expressão francesa "plus loyal que le roi" ou no ditado em português "mais realista do que o rei". Ele sustentava que o cristianismo era algo inteiramente novo e que se opunha a tudo que apareceu antes dele. O seu Cânon consistia em duas partes: o "Evangelho" (Lucas, com o seu texto truncado pela omissão dos hebraísmos) e o Apostólicon (as epístolas de Paulo). A epístola a Diogneto, de um autor desconhecido, e a epístola de Barnabé, participavam do ponto de vista de Marcião. O nome de Deus foi mudado de Yahweh para Pai, Filho e Espírito Santo. O ponto de vista de Marcião tinha prevalecido; o Velho Testamento ter-se-ia perdido para a Igreja Cristã. A revelação de Deus teria sido privada da sua prova a partir da profecia. O desenvolvimento a partir do passado e a conduta divina da história judaica teriam sido negados. Porém sem o Velho Testamento, como sustentava H. W. Beecher, o Novo Testamento estaria despido de um cenário; nossa principal fonte de conhecimento sobre os atributos naturais de Deus - poder sabedoria e verdade -estariam removidos; o amor e a misericórdia revelados no Novo Testamento pareceriam características de um ser fraco que não podia fortalecer a lei ou inspirar respeito. Uma árvore tem tanto fôlego sob a terra como sobre ela; deste modo as raízes da
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revelação do Deus do Velho Testamento são tão extensas e necessárias como o tronco, os ramos e as folhas do Novo Testamento.
B) Os cristãos e Pais Apostólicos que viveram na primeira metade do segundo século não só citam estes livros e fazem-lhes alusão, mas testificam que eles foram escritos pelos próprios apóstolos. Portanto, somos compelidos a recuar bem mais sua origem, a saber, ao primeiro século, quando viveram os apóstolos. (a) Irineu (120-200) menciona e cita os quatro evangelhos pelo nome e entre eles o evangelho segundo João: "Mais tarde, João, o discípulo do Senhor, que se reclinava sobre o seu peito, igualmente, publicou um evangelho, enquanto morava em Éfeso, na Ásia". Irineu era discípulo e amigo de Policarpo (80-166), que pessoalmente conheceu o apóstolo João. O testemunho de Irineu é virtualmente a evidência de Policarpo, contemporâneo e amigo do Apóstolo, de que cada um dos evangelhos foi escrito pela pessoa que leva o seu nome. A este testemunho objeta-se que Irineu diz que há quatro evangelhos porque há quatro quadrantes do mundo e quatro criaturas vivas nos querubins. Porém respondemos que Irineu aqui não está firmando a sua própria razão de aceitar quatro e não mais que quatro evangelhos, mas o que ele concebe que a razão de Deus é que ordena que haja quatro. Nada nos garante nesta suposição que ele aceitasse quatro evangelhos em qualquer outra base além do testemunho de que eles eram o produto de homens apostólicos. De igual modo, Crisóstomo compara os quatro evangelhos a uma carruagem e quatro: Quando o Rei da Glória estiver montado nela, receberá as aclamações triunfais de todos os povos. Do mesmo modo Jerônimo: Deus cavalga no querubim e, porque há quatro querubins, deve haver quatro evangelhos. Entretanto, tudo isto é um esforço primitivo na filosofia da religião e não um esforço para demonstrar o fato histórico. L. L. Paine, Evolution of Trinitarianism, 319-367, apresenta o ponto de vista radical da autoria do quarto evangelho. Ele sustenta que o apóstolo João morreu no ano 70 A.D., ou logo depois, e Irineu confundiu os dois homônimos que
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Papias tão claramente distinguiu: o apóstolo João e o presbítero João. Do mesmo modo que Harnack, Paine supõe que o evangelho foi escrito por João, o presbítero, contemporâneo de Papias. Entretanto, respondemos que o testemunho de Irineu implica uma longa tradição anterior. R. W. Dale, Living Christ and Four Gospels, 145 - "Veneração religiosa tal como aquela com que Irineu considerava estes livros é de um lento desenvolvimento. Eles devem ter ocupado um importante lugar na igreja até onde alcança a memória humana".
(b) Justino, o Mártir (falecido em 148) fala das 'memórias (απομνημονεύματα) de Jesus Cristo' e suas citações, apesar de às vezes feitas de memória, evidentemente aparecem nos nossos evangelhos. A este testemunho objeta-se: 1) Justino, o Mártir, emprega o termo 'memórias' em lugar de 'evangelho'. Respondemos que em outra parte ele emprega o termo 'evangelhos' e identifica as memórias com eles: Apologia, 1.66 -"Os apóstolos, nas memórias compostas por eles, as quais eram chamadas evangelhos," i.e., não memórias, mas evangelhos, o que era propriamente o título ou os registros escritos. Ao escrever a sua Apologia a Marco Aurélio e a Marco Antonino, imperadores pagãos, escolheu o termo 'memórias', ou 'memorabilia', que Xenofonte empregara como título da sua narrativa de Sócrates, tão somente para evitar expressões eclesiásticas não familiares aos seus leitores e pudesse recomendar os seus escritos aos amantes da literatura clássica. Note que Mateus deve ser acrescentado a João, a fim de justificar a repetida afirmação de Justino de que havia "memórias" do nosso Senhor "escritas pelos apóstolos", e que Marcos e Lucas foram adicionados para justificar sua posterior afirmação de que tais memórias foram compiladas pelos "seus apóstolos e os que os seguiram". Em analogia ao emprego da palavra 'memória' por Justino encontra-se o termo 'domingo', em vez de sábado (Sabath): Apologia 1.67 - "No dia chamado 'domingo', todos os que moram em cidades ou no campo reúnemse num lugar, e lêem-se as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas". Eis aqui o emprego dos nossos evangelhos nos cultos públicos, com igual autoridade às Escrituras do A.T.; de fato, Justino cita constantemente as palavras e atos da vida de Jesus a partir da fonte escrita, empregando a palavra γέγραπται.
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Objeta-se ao testemunho de Justino: 2) Citando as palavras vindas do céu no batismo do Salvador, ele as faz dizer: "Meu filho, hoje te gerei", citando, deste modo, o SI. 2.7 e mostrando que ele não conhecia o nosso atual evangelho, Mt. 3.17. Respondemos que provavelmente isto foi um lapso de memória perfeitamente natural numa época quando os evangelhos existiam de uma forma tão incômoda como eram os rolos manuscritos. Justino também se refere ao Pentateuco em dois fatos que não se encontram nele; porém não devemos, a partir disso, argumentar que ele não possuía o nosso atual Pentateuco. As peças de Terêncio são citadas por Cícero e Horácio e não precisamos nem mais testemunhas e nem mais antigas para aceitarmos a sua genuinidade, - embora Cícero e Horácio tivessem escrito cem anos depois de Terêncio. É injusto recusar semelhante evidência quanto aos evangelhos. Justino tinha um modo de combinar em um as palavras de diferentes evangelistas - uma insinuação que Taciano, seu aluno, provavelmente seguiu ao compor o seu Diatessarão.
(c) Papias (80-164), a quem Irineu chama 'ouvinte de João', testifica que Mateus "escreveu no dialeto hebraico os oráculos sagrados (τα λόγια)" e que "Marcos, o intérprete de Pedro, escreveu segundo Pedro, (ύστερον Πέτρω) (ou sob a direção de Pedro), um relato não sistemático (ου τάξει)" dos eventos e discursos. A este testemunho objeta-se: 1) Papias não podia ter tido o nosso evangelho de Mateus, porque este é grego. Replicamos, ou com Bleek, que Papias supôs erroneamente que uma tradução hebraica que ele possuía de Mateus fosse o texto original; ou, com Weiss, que o texto original de Mateus tinha sido escrito em hebraico, enquanto o nosso texto atual de Mateus é uma versão ampliada do mesmo. A Palestina, como o atual país de Gales, era um território bilíngüe; Mateus, como Tiago, podia escrever tanto em hebraico como em grego. Enquanto B. W. Bacon data o escrito de Papias tão tardio como 145-160 A.D., Lightfoot o data de 130 A.D. Nesta última data Papias facilmente poderia lembrar as histórias que lhe foram contadas até de 80 A.D., pelos homens mais jovens na época quando o Senhor ainda viveu, morreu, ressuscitou e ascendeu ao céu. A obra de Papias tinha como título Λογίων κυριακών έξήγησις - "Exposição dos Oráculos relativos ao
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Senhor" = Comentários sobre os Evangelhos. Dois destes evangelhos eram Mateus e Marcos. O ponto de vista de Weiss mencionado acima tem sido criticado apoiado no fato de que as citações do Velho Testamento em discursos de Jesus em Mateus são todos tirados não do hebraico, mas da Septuaginta. Westcott responde a esta crítica sugerindo que, ao traduzir o seu evangelho hebraico para o grego, Mateus substituiu a sua versão oral dos discursos de Cristo pela destes já existentes no evangelho oral comum. Há uma base oral comum do verdadeiro ensino, o "depósito" - την παραθήκην - confiado a Timóteo (1 Tm. 6.20; 2 Tm. 1.12,14), a mesma história contada muitas vezes e recebida para ser contada da mesma forma. As narrativas de Mateus, Marcos e Lucas são versões independentes deste testemunho apostólico. Em primeiro lugar veio a crença; em segundo lugar, o ensino oral; em terceiro os evangelhos escritos. Admite-se que o nome oriental para "joio" tenha vindo do oriental zawan, (Mt. 13.25) transliterado para o grego ζιζάνια; ο evangelho original foi escrito em aramaico. Morison, Coment.on Mathews, é de opinião que Mateus escreveu originariamente em hebraico uma coleção de frases de Jesus Cristo, que os nazarenos e ebionitas acrescentaram, em parte vindas da tradição, e em parte da tradução do seu evangelho completo até que o resultado fosse o assim chamado Evangelho dos Hebreus; mas que Mateus escreveu o seu próprio evangelho em grego depois de ter escrito as frases em hebraico. O pensamento do professor W. A. Stevens é que Papias provavelmente fez alusão ao autógrafo original que Mateus escreveu em aramaico, mas que depois ampliou e traduziu para o grego. Ao testemunho de Papias também se objeta: 2) Marcos é o mais sistemático de todos evangelistas; apresenta os eventos como um verdadeiro analista em ordem cronológica. Respondemos que, no que concerne à ordem cronológica, Marcos é sistemático; no que concerne à ordem lógica, ele é o menos sistemático de todos os evangelistas, mostrando pouco poder de agrupamento histórico tão discernível em Mateus. Mateus tinha como objetivo retratar uma vida mais do que registrar uma cronologia. Ele agrupa os ensinos de Jesus nos capítulos 5, 6 e 7; seus milagres em 8 e 9; suas orientações aos apóstolos no capítulo 10; em 11 e 12 descreve a crescente oposição; no 13 enfrenta esta oposição com as suas parábolas; o restante do evangelho descreve a preparação do nosso Senhor para a morte, a sua caminhada para Jerusalém, a consumação da
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sua obra na cruz e na ressurreição. Eis o verdadeiro sistema, um arranjo filosófico do material, comparado com o método de Marcos que é eminentemente o menos sistemático.
(d) Os Pais Apostólicos, - Clemente de Roma (falecido em 101), Inácio de Antioquia (martirizado em 115), e Policarpo (80-166), companheiros e amigos dos apóstolos, deixaram-nos em seus escritos mais de uma centena de citações dos escritos do Novo Testamento ou alusões a eles e entre estes, está representado cada livro, exceto as quatro epístolas menores (2 Pedro, Judas, 2 e 3 João). Embora simples testemunhos, devemos ter em mente que eles estão entre os principais das igrejas da sua época e que expressam a opinião das suas próprias igrejas. "Como estandartes de um exercito oculto, ou picos de uma fileira de montanhas distantes, representam e são sustentados pelos grupos compactos contínuos". Num artigo de P. W. Calkins, McClintock e a Enciclopédia de Strong, 1.315-317, citações dos Pais Apostólicos em grande número colocam-se lado a lado com as passagens do Novo Testamento, das quais eles fazem citações ou alusões. Um exame de tais citações e alusões convence-nos de que estes Pais possuíam todos os principais livros do Novo Testamento. Nash, Ethics and Revelation, 11 -"Inácio diz a Policarpo: 'Os tempos chamam por ti como os ventos chamam pelo piloto'. Assim os tempos chamam pela reverente e destemida erudição na igreja". Somos persuadidos de que tal erudição já demonstrou a genuinidade dos documentos do N.T.
(e) Nos evangelhos sinóticos, a ausência de toda menção do cumprimento de todas profecias de Cristo a respeito da destruição de Jerusalém é evidência de que estes evangelhos foram escritos antes da ocorrência do referido evento. Em Atos dos Apóstolos, universalmente atribuído a Lucas, temos uma alusão ao 'primeiro tratado', ou o evangelho do mesmo autor, que deve, portanto, ter sido escrito antes do fim do primeiro aprisionamento de Paulo em Roma e provavelmente com o auxílio e sanção do apóstolo.
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At. 1.1 - "Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo o que Jesus começou não só a fazer, mas a ensinar". Se Atos foi escrito em 63 A.D., dois anos após a chegada de Paulo a Roma, então o "primeiro tratado", o evangelho segundo Lucas dificilmente pode datar de após o ano de 60; visto que a destruição de Jerusalém ocorreu em 70, Mateus e Marcos devem ter publicado os seus evangelhos quando muito cedo, em 68, quando as multidões ainda estavam vivas e tinham sido testemunhas oculares dos eventos da vida de Jesus. Fisher, Nature and Method of Revelation, 180 "Seja qual for a consideração de uma data mais tardia [do que a tomada de Jerusalém] evitar-se-ia ou explicar-se-ia a aparente conjunção da destruição da cidade e do templo com a Parousia. ... Deste modo, Mateus aparece depois do começo da luta mortal dos romanos contra os judeus, ou entre os anos de 65 e 70. O evangelho de Marcos ainda é o mais antigo. A linguagem das passagens relativas à Parousia, em Lucas, é consistente com a suposição de que ele escreveu depois da queda de Jerusalém, mas não da suposição de que foi muito mais tarde".
C) Nos evangelhos sinóticos, a ausência de toda menção do cumprimento de todas profecias de Cristo a respeito da destruição de Jerusalém é evidência de que estes evangelhos foram escritos antes da ocorrência do referido evento. Em Atos dos Apóstolos, universalmente atribuído a Lucas, temos uma alusão ao 'primeiro tratado', ou o evangelho do mesmo autor, que deve, portanto, ter sido escrito antes do fim do primeiro aprisionamento de Paulo em Roma e provavelmente com o auxílio e sanção do apóstolo. (a) Há evidência de que as igrejas primitivas tomaram todo o cuidado para elas mesmas assegurarem-se da genuinidade destes escritos antes de aceitá-los. Evidências das precauções são as seguintes: Paulo, em 2 Ts. 2.2, estimula as igrejas a tomarem cuidado, "não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavras, quer por epístola"; 1 Cor. 5.9 - "Já vos tenho escrito que não vos associeis com
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os que se prostituem"; Cl. 4.16 - Έ, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei também que o seja na igreja dos laodicenses; e a que veio de Laodicéia, lede-a vós também". Melito (169), Bispo de Sardes, que escreveu um tratado sobre o Apocalipse de João, foi à Palestina para certificar-se in loco sobre os fatos relativos ao Cânon do A.T. e, como resultado dessas investigações, excluiu os Apócrifos. Ryle, Cânon of O. T., 203 - "Melito, bispo de Sardes, enviou a um amigo uma lista das Escrituras do A.T. que ele professava ter obtido através de uma cuidadosa pesquisa, em viagem à Síria, no Oriente. O seu conteúdo concorda com o Cânon hebreu, exceto na omissão de Ester". Serapião, bispo de Antioquia (191-213, Abbot), diz: "Recebemos Pedro e outros apóstolos como Cristo, mas, como homens sábios, rejeitamos aqueles escritos falsamente atribuídos a eles". George H. Ferris, Baptist Congress, 1899.94 - "Serapião, depois de permitir a leitura do Evangelho de Pedro em cultos públicos, decidiu-se, finalmente, contra ele, não porque pensasse não haver um quinto evangelho, mas porque na sua opinião ele não foi escrito por Pedro". Tertuliano (160-230) dá um exemplo de deposição de um presbítero na Ásia Menor por publicar uma pretensa obra de Paulo.
(b) O estilo dos escritos do Novo Testamento e sua plena correspondência a tudo o que conhecemos das terras e tempos em que eles professam ter sido escritos fornecem convincente prova de que eles pertencem à era apostólica. Note a mescla de Latim e Grego, como no caso de σπεκουλάτωρ (Mc. 6.27) e κεντυρίων (Mc. 15.39) de Grego e Aramaico em πρασιαι πρασιαί (Mc. 6.40) e βδέλυγμα της έρημώσεως (Mt. 24.15); isto dificilmente teria ocorrido após o primeiro século. Compare os anacronismos de estilo e a descrição em "Henry Esmond" de Thackeray, que, a despeito dos estudos especiais do autor e de sua determinação de excluir todas as palavras e expressões que se originaram no seu século, foi frustrado pelos erros históricos que Macaulay, em seus momentos mais remissos, dificilmente teria cometido. James Russell Lowell disse a Thackeray que "different to" não tinha um século de existência. "Hang it, no!" replicou Thackeray. Diante desta falha, da parte do autor de grande habilidade literária, ao construir uma história com a pretensão de ter sido produzida um século antes da sua
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época e que podia servir de teste de crítica histórica, podemos bem considerar o sucesso dos nossos evangelhos em foco testes tais como uma demonstração prática de que eles não foram escritos depois da era apostólica, mas nela mesma.
(c) A genuinidade do quarto evangelho é confirmada pelo fato de que Taciano (155-170), o assírio, discípulo de Justino, repetidamente citava-o sem nomear o autor e compôs uma harmonia dos quatro evangelhos a que chamou de Diatessarão; enquanto Basílides (130) e Valentino (150), os Gnósticos, também o citam. A obra cética intitulada "Religião Sobrenatural", publicada em 1874, diz: "Ninguém parece ter visto a Harmonia de Taciano, provavelmente pela simples razão de que tal obra não existia"; e "não há nenhuma evidência de conexão do Evangelho de Taciano com os do nosso Cânon". Contudo, em 1876, em Veneza foi publicado em Latim o Comentário de Efrém Sírio sobre Taciano; começava assim: "No princípio era o Verbo (Jo. 1.1). Em 1888, o Diatessarão foi publicado em Roma na forma de uma tradução arábica feita no século dezessete a partir da Siríaca. J. Rendel Harris, na Contemp. Review, 1893.800 sq., diz que a recuperação do Diatessarão de Taciano pospôs indefinidamente o funeral literário de S. João. Os críticos avançados, sugere ele, são assim chamados porque correm à frente dos fatos que eles discutem. Os evangelhos devem ter estado bem estabelecidos na igreja cristã quando Taciano se propôs a combiná-los. Sra. A. S. Lewis, em S. S. Times, 23 jan. 1904 - os evangelhos foram traduzidos para o Siríaco antes de 160 Á.D. Segue-se que o documento grego do qual eles foram traduzidos era mais velho ainda e, visto que um inclui o evangelho de S. João, o outro também o inclui. Hemphill, Literature of the Second Century, 183-231, dá o nascimento de Taciano por volta de 120 A.D. e a data do Diatessarão em 172 A.D. A diferença no estilo entre o Apocalipse e o evangelho de João se deve ao fato de que aquele foi escrito durante o exílio de João em Patmos, sob o império de Nero em 67 ou 68 logo depois que João deixou a Palestina e fixou sua residência em Éfeso. Até então ele falara Aramaico e o grego lhe era relativamente pouco familiar. O evangelho foi escrito trinta anos depois,
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provavelmente por volta de 67, quando o Grego tinha se tornado para ele como se fosse a sua língua materna. Expressões e idéias que indicam uma autoria comum entre o Apocalipse e o evangelho são as seguintes: "o Cordeiro de Deus", "o Verbo de Deus", Ό Verdadeiro" como um epíteto aplicado a Cristo, "os judeus" como inimigos de Deus, "maná", "aqueles que o traspassaram". No quarto evangelho temos αμνός, em Ap. temos άρνίον, talvez melhor para distinguir "o Cordeiro do diminutivo το θηρίον, "ο animal". Comuns tanto ao evangelho como ao Ap. temos ποιεΐν, "fazer" [a verdade]; περιπατεΐν, sobre a conduta moral; αληθινός, "genuíno"; διψαν, πειναν, os mais elevados desejos da alma; σκηνοΰν έν, ποιμαίνειν, όδηγεΐν; também Vencer', 'testemunho', 'noivo', 'Pastor', 'água da vida'. No Apocalipse há solecismos gramaticais: nominativo em lugar do genitivo, 1.4 - άπό ό ων; nominativo em lugar de acusativo, 7.9 - εΐδον... όχλος πολύς; acusativo em lugar do nominativo, 20.2 - τον δράκοντα ό όφις. Semelhantemente em Rm. 12.5 - τό δέ καθ' εις em lugar de το δε καθ^ ενα, onde κατά perde essa regência - solecismo freqüente nos escritores gregos tardios. Emerson lembrava Jones Very que certamente o Espírito Santo escreve em boa gramática. O Apocalipse parece mostrar que Emerson estava errado. O autor do quarto evangelho fala de João na terceira pessoa. Mas César fala de si mesmo do mesmo modo em seus Comentários. Harnack considera tanto o quarto evangelho como o Apocalipse como obra do Presbítero ou Ancião, aquele escrito não depois de 110 A.D.; este de 93-96, mas é uma revisão de um ou mais apocalipses judaicos. Vischer expôs este ponto de vista do Apocalipse; Porter sustenta substancialmente a mesma coisa em seu artigo sobre o Livro de Apocalipse no Hastings' Bible Dictionary, 4.239-266. "É óbvia a vantagem das hipóteses de VischerHarnack que coloca a obra original na época de Nero e a edição revista e cristianizada na época de Domiciano". (Sanday, Inspiration, 371,372 descarta esta hipótese que levanta mais dificuldades do que as remove. Ele põe o Apocalipse entre a morte de Nero e a destruição de Jerusalém por Tito). Martineau, Seat of Authority, 227, apresenta objeções morais à autoridade apostólica, e considera o Apocalipse, desde 4.1-22.5, como um documento puramente judaico que data de 66-70, suplementado e revisado por um cristão e editado não antes de 136: "Quão estranho é termos pensado que é possível alguém que assiste no ministério de Jesus escrever ou editar um livro mesclando ferozes conflitos messiânicos em que, com
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espada, veste ensangüentada, chama furiosa, vara de ferro, como seus emblemas, conduz a marcha militar e esmaga o lagar da ira de Deus até que o dilúvio de sangue chegue aos freios dos cavalos com a especulativa cristologia do segundo século, sem uma memória da sua vida, uma característica do seu olhar, uma palavra da sua voz, um retrospecto às montanhas da Galiléia, aos tribunais de Jerusalém, a estrada rumo a Betânia onde a sua imagem deve ser vista para sempre"! Contudo, a força desta afirmativa é grandemente quebrada se considerarmos que o apóstolo João, em seus primeiros dias, foi um dos "Boanerges, que significa: filhos do trovão" (Mc. 3.17), mas tornou-se nos últimos anos o apóstolo do amor: 1 Jo. 4.7 - "Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus". A semelhança do quarto evangelho com a epístola, esta, sem dúvida, obra do apóstolo João, indica a mesma autoria que a do evangelho. Thayer assinala que "a descoberta do evangelho segundo Pedro afasta meio século de discussão. Breve como é o documento recuperado, atesta indubitavelmente todos os nossos quatro livros canônicos". Riddle, em Popular Com., 1.25 - "Se um falsário escreveu o quarto evangelho então Belzebu tem estado expulsando demônios por estes dezoito séculos".
(d) A Epístola aos Hebreus parece ter sido aceita durante o primeiro século depois que foi escrita (assim testemunham Clemente de Roma, Justino, o Mártir, e a versão Peshito). Então, por dois séculos especialmente nas igrejas de Roma e do Norte da África e provavelmente porque suas características eram inconsistentes com a tradição de uma autoria paulina, duvidava-se de sua genuinidade (Tertuliano, Cipriano, Irineu, o Cânon Muratoriano). No fim do quarto século, Jerônimo examinou a evidência e decidiu em seu favor; Agostinho fez o mesmo; o terceiro Concílio de Cartago formalmente o reconheceu (397); desde essa época as igrejas latinas se uniram ao Oriente, recebendo-a, e assim definitivamente se removeu a dúvida final.
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A Epístola aos Hebreus, cujo estilo é tão diferente do empregado pelo apóstolo Paulo, provavelmente foi escrita por Apolo, judeu alexandrino, "varão eloqüente e poderoso nas Escrituras" (At. 18.24); porém, não obstante, pode ter sido escrita por sugestão e sob a direção de Paulo e, conseqüentemente, na essência, paulina. A. C. Kendrick, no American Commentary on Hebrews, assinala que, conquanto o estilo de Paulo seja predominantemente dialético e só em breves momentos torna-se retórico ou poético, na Epístola aos Hebreus predomina o estilo retórico, livre de anacolutos, sempre dominado pela emoção. Ele sustenta que estas características apontam para Apoio como o seu autor. Estabeleça também um contraste do método que Paulo utiliza para citar o A.T.: "está escrito" (Rm. 11.8; 1 Cor. 1.31; Gl. 3.10) com ode Hebreus: "diz ele" (8.5,13), "disse" (4.4). Paulo cita o A.T. cinqüenta e sete vezes, mas nunca deste modo. Hb. 2.3 - "a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois, confirmada pelos que a ouviram" - mostra que o escritor não recebeu o evangelho de primeira mão. Lutero e Calvino viram corretamente nisto uma prova decisiva de que Paulo não é o autor porque ele sempre insistia no caráter primário e independente do seu evangelho. A princípio, Harnack supunha que a epístola tivesse sido escrita por Barnabé aos cristãos de Roma, 81-96 A.D. Com o passar do tempo, contudo, ele a atribui a Priscila, mulher de Áqüila ou à autoria conjunta. A majestade da sua dicção, contudo, parece desfavorável a este ponto de vista. William Τ. C. Hanna: "As palavras do autor... são comandadas grandiosamente e se movem numa estratégia militar como um aumento de uma onda de maré". Plumptre, Introduction to N.T., 37, e no Expositorvol. I, considera o autor da epístola o mesmo da Apócrifa Sabedoria de Salomão, esta composta antes, aquela depois da conversão do escritor ao cristianismo. Talvez a nossa conclusão mais segura seja a de Orígenes: "Só Deus sabe quem a escreveu". Contudo, Harnack assinala: "Já se foi o tempo em que a nossa antiga literatura cristã, Introduction to N.T., tinha sido considerada como um entrelaçamento de ilusões e falsificações. A mais antiga literatura da igreja é, nos pontos essenciais e, na maior parte dos seus pormenores, verdadeira e fidedigna".
(e) Quanto a 2 Pedro, Judas e 2 e 3 João, epístolas mais freqüentemente tidas como espúrias, podemos dizer que, apesar de não termos nenhuma evidência externa conclusiva anterior a 160 A.D. e, no
Teologia Sistemática (Strong) 308 caso de 2 Pedro, nenhuma anterior a 230-250 A.D., podemos argumentar em favor da sua genuinidade não só por suas características internas do estilo literário e valor moral, mas também pela sua aceitação geral desde o terceiro século como verdadeiras produções dos homens ou classes de homens que lhes dão os nomes. Firmiliano (250), bispo de Cesaréia, na Capadócia, é a primeira clara testemunha de 2 Pedro. Orígenes (230) cita-a, mas, ao fazê-lo, admite que a sua genuinidade é questionada. O Concilio de Laodicéia (372) foi o primeiro a recebê-la no Cânon. Com este mesmo reconhecimento e aceitação de 2 Pedro, compare a perda das últimas obras de Aristóteles durante cento e cinqüenta anos após a sua morte e o reconhecimento delas como genuínas tão logo foram recuperadas da adega da família de Neleu na Ásia; a primeira publicação de algumas cartas de Lutero por De Wette após o lapso de trezentos anos, embora sem ocasionar dúvida quanto à sua genuinidade; ou a ocultação do Tratado de Doutrina Cristã de Milton, entre os trastes do Diário Oficial de Londres, de 1677 a 1823. Sir William Hamilton queixava-se de que havia tratados de Cudworth, Berkeley e Collier ainda não publicados e mesmo desconhecidos de seus editores, biógrafos e colegas de metafísica, mas ainda do mais elevado interesse e importância. 2 Pedro provavelmente foi remetido do Oriente pouco antes do martírio de Pedro; a distância e a perseguição podem ter impedido a sua rápida circulação nos outros países. Sagebeer, The Bible in Court, 114 - "Pode ter-se perdido o razão (livro contábil) ou a sua autenticidade ao longo do tempo ser objeto de dúvida, mas, uma vez descoberto e provado é considerado fidedigno como qualquer parte dos res gestae (feitos ilustres)". Os que duvidavam da genuinidade de 2 Pedro insistiam em que a epístola fala dos "vossos apóstolos", do mesmo modo em que Jd. 17 sobre "os apóstolos", como se o escritor não se contasse entre eles. Mas 2 Pedro começa com "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo", e Judas, "irmão de Tiago" (vs. 1) era irmão do nosso Senhor, mas não apóstolo. Hovey, Introduction to Ν. Τ., xxxi -"A mais antiga passagem manifestamente baseada em 2 Pedro parece estar na assim chamada Segunda Epístola do Romano Clemente, 16.3, que agora se sabe tratar-se de uma homília cristã da metade do segundo século". Orígenes (nascido em 186) testifica que
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Pedro deixou uma epístola, "e talvez uma segunda de que se discute". Também ele diz: "João escreveu o Apocalipse e uma epístola de poucas linhas; e pode ser que uma segunda e uma terceira; porque nem todos admitem que sejam genuínas". Também ele faz citação de Tiago e de Judas acrescentando que se duvida da sua canonicidade. Harnack considera 1 Pedro, 2 Pedro, Tiago e Judas escritos respectivamente por volta de 160,170,130 e 130, mas não pelos homens aos quais são atribuídos - a atribuição a estes autores é adição feita mais tarde. Hort assinala: "Se alguém me perguntasse, eu diria que o balanço do argumento é contra 2 Pedro, mas no momento em que ajo assim devo começar a pensar que eu devo estar errado". Sanday, Oracles of God, 73 nota, considera os argumentos favoráveis a 2 Pedro não convincentes, mas o mesmo ocorre com os argumentos contrários. Ele não pode ir além do non liquet (não evidente). Ele se refere a Salmon, Introduction to N. T, 529-559, ed. 4, expressando o seu ponto de vista. Porém mais tarde as conclusões de Sanday são mais radicais. Em suas Bampton Lect. sobre a Inspiração, 348,399, diz: 2 Pedro "é provavelmente ao menos nesta extensão uma contrapartida que aparece sob o nome que não é o do verdadeiro autor". Chase, em Hastings' Bible Diet. 3:806-817, diz que "a primeira peça de certa evidência é a passagem de Orígenes citada por Eusébio, embora dificilmente se admite dúvida de que a Epístola fosse conhecida por Clemente de Alexandria. ... Não encontramos nenhum traço da epístola no período quando a tradição dos dias apostólicos ainda estava viva. ... Não é a obra do apóstolo, mas do segundo século ... adiantar-se sem qualquer motivo sinistro ... a personificação do apóstolo, um artifício literário e não uma fraude religiosa ou controvertida. A adoção de tal veredicto só pode causar perplexidade quando a promessa do Senhor de guiar a sua igreja for considerada como total infalibilidade". Contra este veredicto apresentamos a dignidade do valor espiritual de 2 Pedro - evidência interna que, a nosso juízo, faz a balança pender para a autoria apostólica.
(f) Sobre nenhuma outra hipótese além da sua genuinidade pode a aceitação geral destas quatro epístolas, desde o terceiro século, e de todos os outros livros do Novo Testamento, desde a metade do segundo século, ser satisfatoriamente levada em conta. Se tivessem sido meras
Teologia Sistemática (Strong) 310 coleções de lendas flutuantes, não poderiam ter garantida ampla circulação como livros sagrados pelos quais os cristãos responderiam com o próprio sangue. Se tivessem sido forjados, as igrejas, em geral, nem poderiam ter sido enganadas quanto à sua não existência prévia, nem teriam sido induzidas unanimemente a fingir que elas eram antigas e genuínas. Contudo, tanto quanto outros relatos sobre a origem delas, inconsistentes com a sua genuinidade, agora correntes, continuamos a examinar mais detidamente os mais importantes destes pontos de vista. A genuinidade do Novo Testamento como um todo ainda seria demonstrável mesmo que houvesse dúvida quanto a um ou dois dos seu livros. Não importa se o 2º Alcibíades não foi escrito por Platão, ou Péricles por Shakespeare. O Concilio de Cartago em 397 deu lugar no Cânon aos Apócrifos do A.T., mas os Reformadores os cortaram. Sobre o Apocalipse Zwínglio diz: "Não é um livro bíblico" e Lutero fala de modo desfavorável a respeito da Epístola de Tiago. O juízo da cristandade em geral é mais fidedigno que as impressões particulares de qualquer erudito cristão. Sustentar que os livros do N.T. foram escritos no segundo século por outras pessoas que não são as que levam os seus nomes não é somente uma falsidade, mas uma conspiração de falsidade. Deve haver vários falsários da obra e, visto que os seus escritos maravilhosamente concordam, deve ter havido uma conspiração entre eles. Contudo, tais homens têm sido esquecidos, enquanto os nomes de escritores bem mais fracos do segundo século têm sido preservados. G. H. Wright, Scientific Aspects of Christian Evidences, 343 - "Há na lei civil 'estatutos de limitações' determinando que o reconhecimento de um fato proposto durante um certo período será considerado como sua evidência conclusiva. Por exemplo: se alguém permanece na posse da terra sem ser perturbado durante um certo número de anos, presume-se que tenha o direito de reivindicá-la e a ninguém é dado o direito de contestá-lo". Mair, Evidences, 99 - "É possível que não tenhamos um décimo da evidência de que as igrejas primitivas aceitassem os livros do N.T. como produções genuínas dos seus autores. Temos apenas o seu veredicto". Wynne, em Literature of the Second Century, 58 - "Aqueles que abriram mão das Escrituras são vistos por seus companheiros cristãos como 'traditores',
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traidores, desistiram basicamente daquilo que deveriam ter entesourado como a coisa mais preciosa da vida. Porém todos os seus livros eram igualmente sagrados. Alguns eram essenciais à fé e outros não o eram. Por isso estabeleceu-se a distinção entre os canônicos e os não canônicos. A consciência geral dos cristãos tornava-se um registro cada vez mais distinto". A tal registro confere-se o mais elevado respeito e reforço à carga comprobatória sobre o opositor.
D) Teorias racionalistas quanto à origem dos evangelhos. São tentativas de eliminar o elemento miraculoso dos registros do Novo Testamento e reconstruir a história sagrada apoiada nos princípios do naturalismo. Contra elas apresentamos a objeção geral de que são anticientíficas em seu princípio e método. Examinar os documentos do Novo Testamento na suposição de que toda a história é um desenvolvimento natural e que, portanto, os milagres são impossíveis, é fazer da história matéria não de testemunho, mas de especulação α priori. Na verdade torna impossível toda a história de Cristo e dos apóstolos porque as testemunhas cujo depoimento quanto aos milagres é desacreditado não pode mais ser considerado digno de crédito no relato da vida e doutrina de Cristo. Há meio século, na Alemanha, era famoso "o homem que avança com o seu machado através da espessura do arvoredo" (SI. 74.5), do mesmo modo que entre os índios norte-americanos ele não era contado como o homem que não podia mostrar a sua cabeleira. Os críticos felizmente escalpam-se reciprocamente. Nicoll, The Church's One Foundation, 15 "Como os mascarados no passado, os críticos céticos mandavam alguém adiante deles varrer com uma vassoura o palco, limpando-o para a apresentação do drama. Se admitirmos no limiar do estudo do evangelho que tudo que se refere à natureza do milagre é possível, as perguntas específicas decidem-se antes que os críticos comecem a operar a todo vapor". Matthew Arnold: "Nossa religião popular atualmente concebe o nascimento, o ministério e a morte de Cristo como impregnados de prodígios, transbordantes de milagres, e os milagres não acontecem". Esta pressuposição influencia as investigações de Kuenen e de A. E. Abbott, em
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seu artigo na Encyclopaedia Britannica sobre os evangelhos. Damos atenção especial a quatro teorias baseadas nesta suposição.
1ª) A teoria do Mito de Strauss (1808-1874) Segundo este ponto de vista, os evangelhos são cristalizações das idéias messiânicas na história que por muitas gerações encheram a cabeça dos homens de imaginação na Palestina. O mito é uma narrativa de que tais idéias inconscientemente se revestem e cujo elemento de engano intencional e deliberado está ausente. Este primitivo ponto de vista de Strauss, que se identificou com o seu nome mudou nos últimos anos para um outro mais avançado que ampliou o sentido da palavra 'mito' de modo a incluir todas as narrativas que brotam de uma idéia teológica e que admitiam a existência de 'fraudes piedosas' nos evangelhos. Baur, diz ele, primeiro o convenceu de que o autor do quarto evangelho tinha não raro composto meras fábulas sabendo que eram ficções". O espírito animador tanto dos velhos pontos de vista como dos novos é o mesmo. Strauss diz: "Sabemos com certeza o que Jesus não era e o que ele não fez, a saber, nada de sobre-humano e sobrenatural". Nenhum evangelho pode reivindicar esse grau de credibilidade histórica que seria requerido para fazer-nos abater a razão até ao ponto de crer nos milagres". Ele chama a ressurreição de Cristo "ein weltgeschichtlicher Humbug (um disparate histórico terreno)". "Se os evangelhos realmente são documentos históricos, não podemos excluir o milagre da vida da história de Jesus". Vatke, Einleitung in A.T., 210,211 estabelece diferença entre mito e saga ou lenda: O critério do puro mito é que é impossível a experiência enquanto a saga é uma tradição de antigüidade remota; o mito tem em si só o elemento da crença, a saga tem em si o elemento de história. Sabatier, Philos. Religion, 37 - "O mito só é falso na aparência. O Espírito divino pode valer-se das ficções da poesia do mesmo modo que o arrazoado da lógica. Quando o coração é puro, as veias da fábula sempre permitem que a face da verdade brilhe. Ε não ocorre a infância na maturidade e na "idade senil?" É claro que o amor infantil pela verdade não é o espírito animador de Strauss. Ao contrário, seu espírito é o da crítica sem remorso e da intransigente hostilidade ao sobrenatural. Com muita propriedade se tem dito que
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ele reuniu todas as objeções anteriores dos céticos quanto à narrativa do evangelho e as arremessou em uma massa exatamente como qualquer saduceu no tempo do julgamento de Jesus tinha posto todos os escárnios e chacotas, todos os tapas e insultos, toda vergonha e cusparada despedida contra a face do Redentor. Uma octogenária e santa senhora alemã sem suspeita disse que "seja como for ela nunca podia estar interessada" na Leben Jesu (Vida de Jesus) de Strauss que o seu filho cético lhe dera como leitura religiosa. A obra é quase totalmente destrutiva. Só o último capítulo sugeria o ponto de vista do próprio Strauss sobre o que Jesus é. Se for verdadeiro o dito de Lutero de que "o coração é o melhor teólogo", Strauss deve ser considerado destituído da principal qualificação para a sua tarefa. Encyclopaedia Britannica, 22.592 - "A mente de Strauss é quase exclusivamente analítica e crítica, sem profundidade de sentimento religioso, ou penetração filosófica, ou simpatia histórica. Sua obra é raramente construtiva e, exceto quando trata do espírito aparentado, ele fracassa como historiador, biógrafo e crítico, ilustrando de modo marcante o princípio profundamente verdadeiro de Goethe de que a amorosa simpatia é essencial à crítica produtiva". Pfleiderer, Strauss's Life of Jesus, xix "Strauss mostra que a igreja forma tradições mitológicas a respeito de Jesus por causa da fé nele como Messias; mas ele não mostra como a igreja veio pela fé de que o Jesus de Nazaré é o Messias".
Objetamos à Teoria Mito de Strauss, da seguinte maneira: a) O tempo entre a morte de Cristo e a publicação dos evangelhos foi muito curto para o desenvolvimento e consolidação de tais histórias míticas. Os mitos, ao contrário, como dão testemunho os hindus, os gregos, os romanos e os escandinavos são o lento desenvolvimento de séculos. b) O primeiro século não foi uma época em que tal formação era possível. Ao invés de ser uma época crédula e imaginativa foi de investigação histórica e de saduceísmo em matéria de religião. Horácio, Odes 1.34 e 3.6, denuncia a negligência e a esqualidez dos templos pagãos e Juvenal, Sátira 2.150 diz que "Esse aliquid manes et subterrânea regna Nec pueri credunt". [Nem as crianças acreditam que haja algum manes (espírito bom) e reinos subterrâneos"]. Arnold de Rugby: "Ah,
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essas idéias de homens escrevendo histórias mitológicas entre os tempos de Lívio e uie de Paulo confundindo-os com realidades!" A pergunta cética de Pilatos, "o que é a verdade?" (Jo. 18.38) é o que de melhor representa a época. "Já se foi a era mitológica quando uma idéia se apresentava de forma abstrata -independente da narrativa". A seita judaica dos saduceus mostra que o espírito racionalista não está confinado a gregos e romanos. A pergunta de João Batista, (Mt. 11.3) "És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?" e a resposta do nosso Senhor, (11.4,5) "Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: os cegos vêem ... os mortos são ressuscitados", mostram que os judeus esperavam que o Messias operasse milagres; contudo, João 10.41 -"João não fez sinal algum" não mostra nenhuma inclinação irresistível de investir os mestres populares de poderes miraculosos.
c) Os evangelhos não podem ser um desenvolvimento mítico de idéias e expectações judaicas porque, em suas principais características, eles contrariam diretamente estas idéias e expectações. O casmurro e exclusivo nacionalismo dos judeus não podia ter feito surgir um evangelho para todas as nações, nem as suas expectações de um monarca temporal podia ter conduzido à história de um Messias sofredor. Os Apócrifos do AT. mostram quão limitada era a visão dos judeus. 2 Esdras 6.55,56 diz que o Onipotente fez o mundo "por causa de nó&\ outros povos, embora "também originados de Adão", "são apenas como a saliva". Toda a multidão deles está apenas diante do Eterno "semelhantes a uma gota imunda que cai do casco" (C. Geikie, S. S. Times). O reino de Cristo difere daquele que os judeus esperavam, tanto pela sua espiritualidade como pela sua universalidade (Bruce, Apologetics, 8). Não existe nenhum impulso missionário no mundo pagão; por outro lado, para o tribal é uma blasfêmia fazer conhecido o seu deus a um estranho (Nash, Ethics and Revelation, 106). Os evangelhos apócrifos mostram que tipo de mitos na época do N.T. teriam sido elaborados: Conta-se que de uma moça demoníaca Satanás saiu em forma de um moço (Bernard, em Literature of the Second Century, 99-136).
Teologia Sistemática (Strong) 315 d) A crença e propagação de tais mitos são inconsistentes com o que sabemos dos caracteres sóbrios e das vidas auto-sacrificiais dos apóstolos. e) A teoria mítica não pode explicar a aceitação dos evangelhos entre os gentios, que não tinham nada das idéias e expectações judaicas. f) Ela não pode explicar o próprio cristianismo com a sua crença na crucificação e ressurreição de Cristo e as ordenanças que comemoram estes fatos. Como a existência da República dos Estados Unidos é prova de que houve outrora uma Revolução, do mesmo modo o cristianismo é uma prova da morte de Cristo. A mudança do sétimo dia para o primeiro, na observância do Sabbath (guarda do descanso) nunca poderia ter ocorrido em uma nação tão "sabatária" se o primeiro dia da semana não tivesse sido a celebração da verdadeira ressurreição. Do mesmo modo não se pode explicar a Páscoa Judaica e o Dia da Proclamação da Independência, o batismo e a Ceia do Senhor, senão como monumentos e memoriais de fatos históricos do começo da igreja cristã.
2a) Teoria da Tendência, de Baur (1792-1860) Sustenta que os evangelhos se originaram na metade do segundo século e foram escritos sob nomes supostos como um meio de ocultar tendências opostas judaicas e gentílicas na igreja. "Estas grandes tendências nacionais acham sua satisfação, não nos eventos correspondentes a elas, mas na elaboração das ficções conscientes". Baur data o quarto evangelho de 160-170 A.D.; Mateus de 130; Lucas 150; Marcos de 150-160. Baur nunca indaga quem era Cristo. Ele volta a sua atenção para os documentos. Se estes se provam anti-históricos, não há necessidade de examinar os fatos, pois não há fatos para examinar. Ele indica a pressuposição destas investigações, quando diz: Ό principal argumento
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para a origem mais tardia dos evangelhos deve sempre continuar a ser esta, que separadamente e ainda mais quando reunidos eles dão um relato da vida de Jesus que implica impossibilidades" - i.e., os milagres. Por isso ele queria remover a autoria deles para bem distante do tempo de Jesus a fim de considerar os milagres como invenções. Baur sustenta que em Cristo unem-se o espírito universalista da nova religião, e a forma particularista da idéia messiânica judaica; alguns dos seus discípulos dão ênfase a uma, alguns a outra; daí o primeiro conflito, mas por fim a reconciliação. E. G. Robinson interpreta Baur da seguinte maneira: "Paulo = Protestante; Pedro = sacramentalista; Tiago = ético; Paulo + Pedro + Tiago = Cristianismo. A pregação protestante deve residir mais na ética - casos de consciência menos na mera doutrina, como regeneração e justificação". Baur era estranho às necessidades da sua própria alma e, deste modo, ao caráter real do evangelho. Um dos seus amigos e conselheiros escreveu, após a morte dele, em termos laudatórios: "A sua natureza era inteiramente objetiva. Nenhum traço de necessidade pessoal ou de luta se discerne em conexão com as suas investigações sobre o cristianismo". A avaliação da posteridade talvez se expresse no juízo da Escola de Tubingen feito por Harnack: "O possível quadro esboçado não era o real, e a chave com que ele tentou resolver todos os problemas não bastou para o mais simples. ... Os pontos de vista de Tubingen na verdade foram forçados a submeter-se a modificações. A respeito do desenvolvimento da igreja no segundo século pode-se dizer seguramente que a hipótese da Escola de Tubingen provou-se em toda a parte inadequada, muito errônea, e hoje só é sustentada por poucos eruditos".
Objetamos a Teoria-tendência de Baur da seguinte maneira: d) A crítica destrutiva a que sujeita os evangelhos, se aplicada aos documentos seculares, privar-nos-ia de qualquer conhecimento certo do passado e tornaria toda a história impossível. A suposição de um artífice é em si mesma desfavorável a um cândido exame dos documentos. Uma perversa perspicácia pode desacreditar as evidências de um oculto animus nas mais simples e ingênuas produções literárias.
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b) As tendências doutrinárias antagônicas que professa achar nos vários evangelhos são mais satisfatoriamente explicadas apenas como aspectos consistentes variantes do mesmo sistema de verdade sustentado pelos apóstolos. Baur exagera as diferenças doutrinárias e oficiais entre os principais apóstolos. Pedro não foi simplesmente um cristão judaizante, mas o primeiro pregador aos gentios e a sua doutrina parece ter sido subseqüentemente influenciada em grande parte pela de Paulo (ver Plumptre, sobre 1 Pedro 6880). Paulo não foi exclusivamente um cristão helenizante, mas invariavelmente dirigia o evangelho aos judeus antes de se dirigir aos gentios. Os evangelistas apresentam quadros de Jesus de diferentes pontos de vista. Como o escultor parisiense constrói o seu busto com o auxílio de uma dúzia de fotografias do seu propósito, todas partindo de diferentes pontos de vista, do mesmo modo a partir dos quatro exemplares que nos são fornecidos por Mateus, Marcos, Lucas e João devemos construir a sólida e simétrica vida de Cristo. A mais profunda realidade que estabelece a reconciliação dos diferentes pontos de vista possíveis é o verdadeiro Cristo histórico. Marcus Dods, Expositor's Greek Testament, 1675 - "Não se trata de dois Cristos, mas de um, que é a pintura dos quatro evangelhos: divergente no contorno e na frente do rosto, mas recíproco complemento ao invés de uma contradição". Godet, Introduction to Gospel Collection, 272 - Mateus mostra a grandeza de Jesus - é o seu retrato em tamanho grande; Marcos, a sua incansável atividade; Lucas, a sua benéfica compaixão; João, a sua divindade essencial. Mateus escreveu, inicialmente a Logia Aramaica. Esta foi traduzida para o Grego e completada com uma narrativa do ministério de Jesus para as igrejas gregas fundadas por Paulo. Não foi Mateus que fez esta tradução, nem se valeu do texto de Marcos (217-224). E. D. Burton: Mateus = cumprimento da profecia feita no passado; Marcos = manifestação do poder presente. Mateus é o argumento a partir da profecia; Marcos, a partir do milagre. Mateus, no que se refere à profecia, causou maior impressão nos leitores judeus; Marcos, como poder, mais se adaptou aos gentios. O Prof. Burton sustenta que Marcos se baseia só nas tradições orais; Mateus, na Logia (seu verdadeiro evangelho) e outras notas
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fragmentares; enquanto Lucas tem origem mais completa nos manuscritos e em Marcos.
c) É incrível que produções de tal poder literário e tão elevado ensino religioso como os evangelhos teriam surgido em meados do segundo século, ou que teriam sido publicados sob nomes supostos para fins velados. O caráter geral da literatura do segundo século é ilustrado pelo fanático desejo de martírio da parte de Inácio, cujo valor Hermas atribui ao rigor ascético, nas insípidas alegorias de Barnabé, na crença na fênix da parte de Clemente de Roma e nos absurdos dos Evangelhos Apócrifos. O autor do quarto evangelho entre os escritores do segundo século teriam sido uma montanha entre os montículos. Wynne, Literature of the Second Century, 60 - "Os escritos apostólicos e subapostólicos diferem entre si como uma pepita de ouro puro difere de um bloco de quartzo com veias do precioso metal brilhando através dele". Dorner, Hist. Doct. Person Christ, 1.1.92 - "Ao invés dos escritores do segundo século, marcando um avanço na era apostólica, ou desenvolvendo o germe que os apóstolos lhes deram, o segundo século mostra um grande retrocesso; seus escritores não foram capazes de reter ou compreender tudo o que lhes tinha sido dado". Martineau, Seat of Authority, 291 -"Escritores bárbaros, não só na fala, e rudes na arte, mas também freqüentemente pueris nos conceitos, apaixonados no temperamento, e crédulos na sua fé. As lendas de Papias, as visões de Hermas, a imbecilidade de Irineu, a fúria de Tertuliano, o rancor e indelicadeza de Jerônimo, a intempestiva intolerância de Agostinho, não podem deixar de aturdir e repelir o estudante; e, se ele se volta para o mais manso Hipólito, é introduzido por uma chocada de trinta heresias que tristemente dissipam o seu sonho da unidade da igreja". Não podemos aplicar aos escritores do segundo século a pergunta de Ingersoll na controvérsia Shakespeare-Bacon: "Será possível que Bacon deixaria os melhores filhos do seu cérebro na soleira da porta de Shakespeare e apenas conservasse em casa os deformados?"
d) A teoria requer de nós que creiamos em uma anomalia moral, a saber, que um fiel discípulo de Cristo no segundo século pudesse ser
Teologia Sistemática (Strong) 319 culpado de fabricar uma vida do mestre, e reivindicar autoridade para isto na base de que o autor tinha sido um companheiro de Cristo ou de seus apóstolos. "Genial posicionamento dos religionários jesuíticos" - com mente e coração suficientes para o evangelho segundo João e que, ao mesmo tempo com sangue frio têm a sagacidade suficiente para retirar dos seus escritos cada traço de desenvolvimento da autoridade da igreja pertencente ao segundo século. O recém-descoberto "Ensino dos Doze Apóstolos", talvez datado da primeira parte do referido século, mostra que tal combinação é impossível. As teorias críticas supõem que aquele que conheceu Cristo como homem não podia considerá-lo como Deus. Lowrie, Doctrine of St. John, 12 - "Se S. João escreveu, não é possível dizer que o gênio de S. Paulo impingiu à igreja uma concepção originariamente estranha aos apóstolos". Fairbairn bem mostrou que, se o cristianismo tivesse sido somente o ensino ético do Jesus humano, teria desaparecido da terra como as seitas dos fariseus e dos saduceus; por outro lado, se a doutrina do Logos fosse somente a do Cristo divino, teria desaparecido como as especulações de Platão e de Aristóteles; porque o cristianismo une a idéia do eterno Filho de Deus com a do encarnado Filho do homem é adequado a uma religião universal e se tornou igual a ela; ver Fairbairn, Philosophy of the Christian Religion, 4, 15 - "Sem o encanto pessoal do Jesus histórico, os credos ecumênicos nunca teriam sido formulados ou tolerados e, sem a concepção metafísica de Cristo, a religião cristã há muito teria deixado de viver. ... Não é o Jesus de Nazaré que entrou tão poderosamente na história; é o Cristo deificado que se tornou objeto de crença, de amor e de obediência como o Salvador do mundo. ... As duas partes da doutrina cristã combinamse no nome 'Jesus Cristo'".
e) Esta teoria não pode dar conta da aceitação universal dos evangelhos no fim do segundo século entre as comunidades amplamente separadas onde a reverência pelos escritos dos apóstolos era marca de ortodoxia e onde as heresias gnósticas teriam feito novos documentos sujeitos a suspeita e exame minucioso.
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Abbot, Genuineness of the Fourth Gospel, 52, 80, 88, 89. Se doutrina joanina do Logos fosse proposta na primeira na metade do segundo século, teria imediatamente garantido a rejeição daquele evangelho pelos gnósticos, que atribuíram a criação, não ao Logos, mas aos sucessivos "eons". Como os gnósticos, sem hesitação, vieram a aceitar como genuíno aquilo que na sua época tinha surgido nas igrejas? Conquanto Basílides (130) e Valentino (150), que eram gnósticos, citam o quarto evangelho, não discutem a sua genuinidade nem sugerem que fosse de origem recente. Bruce, em sua Apologetics, diz a respeito de Baur: "Ele cria na plena suficiência da teoria hegeliana do desenvolvimento através do antagonismo. Essa tendência ele viu em toda a parte. Qualquer coisa que se adiciona, proporcionando mais conteúdo à pessoa e ao ensino de Jesus do que se presta ao estágio inicial de desenvolvimento, deve ser considerado espúrio. Se encontramos Jesus em qualquer dos evangelhos reivindicando ser uma pessoa sobrenatural, tais textos podem, com a máxima confiança, ser postos de lado como espúrios, porque tal pensamento não pode pertencer ao estágio inicial do cristianismo". Porém tal concepção, sem dúvida, existiu no segundo século e antagonizava diretamente as especulações dos gnósticos. F. W. Farrar, sobre Hb. 1 2 - "A palavra eon foi empregada mais tarde pelos gnósticos para descrever as várias emanações pelas quais eles tentavam ao mesmo tempo ampliar e estabelecer uma ponte sobre o abismo entre o humano e o divino. Sobre essa lacuna imaginária João lançou a arca da encarnação ao escrever: Ό Verbo se fez carne' (Jo. 1.14)". Um documento que contraditava tanto os ensinos gnósticos não podia, no segundo século, ter sido citado por eles mesmos sem discutir a sua genuinidade se não tivesse sido há muito reconhecido nas igrejas como obra do apóstolo João.
f) O reconhecimento de Baur de que as epístolas aos Romanos, aos Gaiatas e aos Coríntios foram escritas por Paulo no primeiro século é fatal para a sua teoria visto que estas epístolas testificam não só os milagres no período em que foram escritos, mas os principais eventos da vida de Jesus e o milagre da sua ressurreição como fatos já há muito reconhecidos na igreja cristã. Baur, Paul der Apostei (O Apóstolo Paulo), 276 - "Nunca houve a mais leve suspeita da não autenticidade lançada sobre estas epístolas (Gaiatas, 1
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e 2 Coríntios e Romanos) e elas apresentam de tal modo o caráter da origem paulina que não se concebe nenhuma base para a afirmação de dúvidas críticas neste caso". Ao discutir a aparição de Cristo a Paulo no caminho de Damasco, Baur explica o elemento exterior a partir o interior: Paulo traduziu a intensa e súbita convicção da verdade da religião cristã numa cena exterior. Porém isto não pode explicar o som exterior que os seus companheiros ouviram.
3a) Teoria Romance de Renan (1823-1892) Esta teoria admite uma base de verdade nos evangelhos e sustenta que todos eles pertencem ao século da morte de Jesus. A expressão "Segundo" Mateus, Marcos, etc., contudo, significa só que Mateus, Marcos, etc., escreveram estes evangelhos em substância. Renan reivindica que os fatos da vida de Jesus foram tão sublimados pelo entusiasmo e tão obscurecidos com a fraude piedosa que os evangelhos na forma presente não podem ser aceitos como genuínos; em resumo, os evangelhos devem ser considerados como romances históricos que só se fundamentam no fato. O animus desta teoria é claramente apresentado em Renan's Life of Jesus, prefácio à 13§ edição - "Se os milagres e a inspiração de certos livros são reais, meu método é detestável. Se os milagres e a inspiração dos livros são crenças sem realidade, meu método é bom. Porém a questão a respeito do sobrenatural decide-se, para nós, com absoluta certeza através da simples consideração de que não há lugar para se crer em algo a respeito de que o mundo não oferece nenhum traço experimental". "No seu todo", diz Renan, "eu admito como autênticos os quatro evangelhos canônicos. Na minha opinião, todos datam do primeiro século e os autores são, de um modo geral, aqueles que lhes são atribuídos". Ele considera Gálatas, 1 e 2 Coríntios e Romanos "indiscutíveis e não discutidos". Fala deles como "textos de autenticidade absoluta, sinceridade completa e isentos de lendas" (Les Apôtres, xxix; Les Évangiles, xi). Entretanto, ele nega a Jesus a "sinceridade para consigo mesmo"; atribui a ele "artifício inocente" e tolerância à fraude piedosa, como, por exemplo, no caso das histórias de
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Lázaro e da sua própria ressurreição. "Não basta conceber o bem: é necessário que ele seja bem sucedido; para cumprir isso, é preciso, pelo menos, seguir as veredas puras. ... Sua consciência não perdeu nenhuma pureza original; sua missão o oprimia. ... Acaso ele negligenciou a sua natureza elevada e, vítima da sua própria grandeza, lamentou que não tivesse permanecido como um simples artesão?" Deste modo Renan "pinta mais tarde a vida de Cristo como uma miséria e mentira, embora ele requeira de nós que nos curvemos diante deste pecador e de seu superior, Xáquia-Múni, como semideuses" (ver Nicoli, The Church's One Foundation, 62, 63). Da imaginação altamente errônea operada a respeito de Maria Madalena, diz ele: "Ó divino poder do amor! sagrados momentos em que a paixão de alguém cujos sentidos foram enganados nos dá um Deus ressurreto!" Ver Renan, Life of Jesus, 21.
A esta Teoria-romance de Renan objetamos: a) Ela envolve um tratamento arbitrário e parcial dos documentos cristãos. A reivindicação de que um escritor não só tomou emprestado dos outros, mas interpolou ad libitum (a seu bel-prazer), é contraditada pela concordância essencial dos manuscritos citados pelos Pais e agora existentes. Segundo Mair, Christian Evidences, 153, Renan data Mateus de 84 A.D.; Marcos de 76; Lucas de 94; João de 125. Estas datas marcam um considerável recuo das posições que Baur assumiu. Em seu capítulo sobre os Recentes Reveses na Crítica Negativa, Mair atribui este resultado às tardias descobertas relativas à Epístola de Barnabé, a Refutação de Hipólito a todas Heresias, as Homílias Clementinas e o Diatessarão de Taciano: "Conforme Baur e seus seguidores imediatos, possuímos menos de um quarto do N.T. pertencendo ao primeiro século. Para Hilgenfeld, atual cabeça da escola de Baur, temos menos de três quartos pertencentes ao primeiro século, conquanto substancialmente a mesma coisa se pode dizer a respeito de Holzmann. Segundo Renan, temos distintamente mais de três quartos do N.T. incidindo no primeiro século e, conseqüentemente, dentro da era apostólica. Isto indica seguramente um retrocesso bem decidido e extraordinário desde o tempo do grande assalto de Baur, isto é, dentro dos últimos cinqüenta anos". Podemos acrescentar que a outorga da autoridade
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dentro da era apostólica torna nula a hipótese de Renan de que os documentos do N.T. foram ampliados através de uma fraude piedosa pelo que eles não podem ser aceitos como relatos fidedignos de tais eventos como milagres. A própria tradição oral atingiu uma forma tão fixa que os muitos manuscritos empregados pelos Pais estavam em substancial acordo com respeito a estes mesmos eventos e a tradição oral no Oriente transmitenos sem séria alteração narrativas muito mais longas que as dos nossos evangelhos. Os Pundita Rambai podem repetir, após um lapso de vinte anos, porções dos livros sagrados hindus em uma quantidade muito grande do conteúdo do nosso Velho Testamento. Muitos homens cultos em Atenas conheciam de cor toda a Ilíada e a Odisséia de Homero. A memória bem como a reverência conservam as narrativas do evangelho livres da corrupção que Renan supõe.
b) Atribui a Cristo e aos apóstolos um fervor alternado de entusiasmo romântico e falsa pretensão de poder miraculoso que são inteiramente irreconciliáveis com a manifesta sobriedade e santidade de suas vidas e ensinos. Se Jesus não operou milagres, ele foi um impostor. Sobre Ernest Renan, His Life and the Life of Jesus, ver A. H. Strong, Christ in Creation, 332-363, especialmente 356 - "Renan atribui a origem do cristianismo à predominância de uma suscetibilidade aos sentimentos místicos na Palestina. Para ele Cristo é a encamação da simpatia e das lágrimas, ternos impulsos e apaixonados ardores, cujo gênio nativo era comover os corações dos seres humanos. Para ele, verdade ou falsidade faziam pouca diferença; era válida qualquer coisa que confortasse o pobre ou tocasse os mais refinados sentimentos da humanidade; êxtases, visões, trejeitos derretidos, eram os segredos do seu poder. A religião era uma superstição benéfica, uma doce ilusão - excelente como bálsamo, consolo para a multidão ignorante, que nunca podia filosofar ainda que tentasse. Deste modo, o rio do evangelho, como diria alguém, se volta para a fonte de homens e mulheres cujos cérebros destilaram choro dos seus olhos e a perfeição da espiritualidade acaba por tornar-se um tipo de ébrio monasticismo. ... Quão diferente do forte e santo amor de Cristo, que salva o homem aproximando-o da verdade, e que reivindica a imitação deste tão somente porque, sem amar a Deus e a alma, ele não tem a verdade. Deste
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ponto de vista, quão inexplicável é o fato de que um puro cristianismo em toda a parte tem despertado o intelecto das nações e que cada avivamento, como a Reforma, é seguido de poderosos saltos da civilização para frente. Acaso foi Paulo levado por sonhos místicos e entusiasmo irracional? Que digam a aguda habilidade dialética das suas epístolas e a sua profunda firmeza nos grandes assuntos da revelação! Porventura tem a igreja de Cristo sido um grupo de choramingas sentimentalistas? Que testemunhe a morte heróica dos mártires em favor da verdade! Ele deve ter uma tacanha idéia do que ele é e mais ainda de quem é o Deus que o fez e crer que os mais nobres espíritos da raça surgiram para a grandeza através da abnegada vontade e da razão e tornaram-se influentes em todas as eras pela auto-resignação".
c) Deixa de dar conta da força e progresso do evangelho como sistema direto oposto ao sabor e predisposição natural dos homens sistema que substitui a verdade por romance e a lei por impulso. A. H. Strong, Christ in Creation, 358 - Έ se mais tarde os triunfos do cristianismo são inexplicáveis com base na teoria de Renan, como explicar o seu fundamento? O doce campônio da Galiléia, querido pelas mulheres por causa da sua beleza, fascinando a iletrada multidão com o seu discurso dócil e seus ideais poéticos, confortando e enchendo de esperança os pobres, possuído de um poder sobrenatural que, a princípio, ele supõe não muito digno de negar e, por fim, gratifica a multidão fingindo exercer, levado por oposição a polêmicas e invectivas até que o agradável jovem rabi se torna um obscuro gigante, e obstinado fanático, feroz revolucionário, cuja denúncia contra os poderosos o leva à cruz, o que há dentro dele que explica a maravilha moral que chamamos cristianismo e o começo do seu império no mundo? Nem as deliciosas pastorais como as do primeiro período de Jesus, nem a febre apocalíptica como a do segundo período, segundo o evangelho de Renan, fornecem qualquer explicação racional para esse poderoso movimento que varreu a terra e revolucionou a fé da humanidade". Berdoe, Browning, 47 - "Se Cristo não fosse Deus, sua vida no palco da história do mundo não poderia ter possibilidade alguma de possuir a força
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vitalizadora e compulsiva que as páginas de Renan em toda a parte descortinam." Ao esforçar-se por destruir a fé em Cristo, Renan fortaleceu-a. Ao discutir o aparecimento de Cristo a Paulo no caminho de Damasco, Renan explica a interiorização a partir da exteriorização, invertendo precisamente a conclusão de Baur. Paulo considerou uma súbita tempestade, o clarão de um relâmpago, um súbito ataque de febre oftálmica como aparição do céu. Porém retrucamos que um perspicaz e racional observador não poderia ter sido enganado desta forma. Nada poderia torná-lo o apóstolo aos gentios a não ser a visão real do Cristo glorificado e a revelação simultânea da santidade de Deus, o seu próprio pecado, o sacrifício do Filho de Deus, sua eficácia universal, a obrigação que lhe foi imposta de proclamá-la até o fim da terra.
4a) A Teoria Desenvolvimento de Harnack (nascido em 1851) Esta teoria sustenta que o cristianismo é um desenvolvimento dos germes destituídos tanto de dogma como de milagre. Jesus era um mestre de ética e o evangelho original é mais claramente representado pelo Sermão do Monte. A influência grega e especialmente a da filosofia alexandrina acrescentaram a este evangelho um elemento teológico e sobrenatural e assim mudaram o cristianismo de uma vida para uma doutrina. Harnack data Mateus de 70-75; Marcos de 65-70; Lucas de 78-93; o quarto evangelho de 80-110. Ele não considera o quarto evangelho nem o Apocalipse como obras do apóstolo João, mas de João, o presbítero. Faz uma separação entre o quarto evangelho e o seu prólogo e considera este como prefácio adicionado após a composição original a fim de capacitar o leitor helenista a entendê-lo. "O próprio evangelho", diz Harnack, "não contém nenhuma idéia do Logos; ele não se desenvolveu a partir de uma idéia do Logos, como floresceu em Alexandria; ele só está em conexão com a referida idéia. O próprio evangelho baseia-se no Cristo histórico; este é o assunto de todas as suas afirmações. Tal traço histórico, de modo algum pode ser dissolvido por qualquer tipo de especulação. A memória do que é
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verdadeiramente histórico ainda é muito poderosa para admitir neste ponto quaisquer influências gnósticas. A idéia de Logos no prólogo é a do judaísmo de Alexandria, o Logos de Filo, e deriva, por fim, da expressão 'Filho do homem' do livro de Daniel. ... O quarto evangelho, que não procede do apóstolo João e não tem essa pretensão, não pode ser empregado como fonte histórica no sentido comum da palavra.... O autor o administra com soberana liberdade; transpõe ocorrências e as põe a uma luz que lhes é estranha; por si só compõe os discursos de acordo com seu próprio pensar, e ilustra elevados pensamentos inventando situações para eles. É difícil reconhecer que uma verdadeira tradição na sua obra não possa ter falhas. Contudo, para a história de Jesus, dificilmente, em qualquer parte isso pode ser levado em conta; muito pouco se pode tomar a partir dele e, assim mesmo, com reservas. ... Por outro lado, ele é uma fonte de primeira linha para as respostas à questão de quais os vivos pontos de vista da pessoa de Jesus, que luz e que calor o evangelho trouxe ao ser".
À Teoria-desenvolvimento de Harnack objetamos: a) O Sermão do Monte não é a súmula do evangelho, nem a sua forma original. Marcos é o mais original dos evangelhos, contudo, omite o Sermão do Monte e é proeminentemente o evangelho do operador de milagres. b) Todos os quatro evangelhos dão ênfase não à vida e ensino ético de Cristo, mas à sua morte e ressurreição. Mateus implica a divindade de Cristo quando afirma seu conhecimento absoluto do Pai (11.27), seu juízo universal (25.32), sua autoridade suprema (28.18) e sua onipresença (28.20), enquanto a expressão "Filho do Homem" implica que ele também é "Filho de Deus". Mt. 11.27 - "Todas as coisas me foram entregues por meu Pai: e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar"; 25.32 - "e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; 28.18 - "É-me dado todo o poder no céu e na terra"; 28.20 - "e eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos". Estas palavras de Jesus no evangelho de Mateus mostra que o
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conceito da grandeza de Cristo não era peculiar a João: "Eu estou" transcende ao tempo; "convosco" transcende ao espaço. Jesus fala "sub specie etemitatis"; seu pronunciamento equivale ao de João 8.58 - "antes que Abraão existisse, eu sou", e ao de Hb. 18.8 - "Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente". Paulo declara em Ef. 1.23 que ele é aquele que "cumpre tudo em todos", isto é, onipresente. A. H. Strong, Philos. and Religion, 206 - A expressão "Filho do homem" indica que Cristo é mais que homem: "Suponha que eu intentasse proclamar-me 'Filho do homem'. Quem não perceberia nisso uma impertinência, a não ser que eu reivindicasse ser algo mais. 'Filho do Homem? Mas o que de que? Será que cada ser humano chama a si mesmo este ser?' Quando se assume o título de 'Filho do homem' por sua designação característica, como o fez Jesus, está implicado que há algo estranho neste ser o Filho do homem; que esta não é a sua condição e dignidade originais; que ser Filho do homem é uma condescendência da parte dele. Em resumo, quando Cristo chama a si mesmo Filho do homem está implicado que ele veio de um nível mais elevado para habitar nesta nossa humilde terra. Ε deste modo, quando nos perguntam: 'Que pensais vós do Cristo? de quem ele é filho?' não devemos responder simplesmente que ele é o Filho do homem, mas também Filho de Deus". Sanday: Ό Filho é assim chamado primordialmente como encarnado. Mas porque ele também é a essência da Encarnação necessariamente é mais do que isso. É necessário ter as suas raízes na eternidade de Deus". Gore, Incarnation, 65, 73 - "Cristo, o Juiz final, dos sinóticos, não está dissociado do elemento divino, do Ser eterno, do quarto evangelho".
c) A preexistência e expiação de Cristo não podem ser consideradas acréscimo ao evangelho original visto que acham expressão em Paulo, que escreveu antes dos nossos evangelistas e em suas epístolas antecipou a doutrina do Logos de João. d) Podemos admitir que a influência grega, apesar da filosofia alexandrina, ajudou os escritores do Novo Testamento a discernir o que já estava presente na vida e obra e ensino de Jesus; mas como o microscópio, que descobre, mas não cria, nada acrescenta à substância da fé.
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Gore, Incarnation, 62 - "A divindade, a encarnação, a ressurreição de Cristo não representam uma soma à crença original dos apóstolos e de seus primeiros discípulos, pois todas estas são reconhecidas como matéria incontroversa de fé nas quatro grandes epístolas de Paulo escritas numa data em que a maior parte dos que viram o Cristo ressurreto ainda estava viva". A filosofia alexandrina não é a fonte da doutrina apostólica, mas apenas a forma como a doutrina foi apresentada, a luz lançada sobre aquela que produziu este sentido. A. H. Strong, Christ in Creation, 146 - "Por isso, quando nos encaminhamos para o evangelho de João, encontramos nele tão somente o desdobramento da verdade que substancialmente existiu no mundo nos últimos setenta anos.... Se a filosofia platonizante de Alexandria assistiu neste desenvolvimento genuíno da doutrina cristã, então tal filosofia é um auxílio providencial à inspiração. O microscópio não inventa; ele só descobre. Paulo e João nada acrescentam à verdade de Cristo; o seu instrumental filosófico é apenas um microscópio que aclara a visão da verdade já existente". Pfleiderer, Philos. Religion, 1.126 - "A concepção metafísica do Logos, imanente no mundo e ordenadora segundo a lei, estava cheia de conteúdo religioso e moral. Em Jesus o princípio cósmico da natureza tornou-se um princípio religioso de salvação". Kilpatrick sustenta que Harnack ignora a autoconsciência de Jesus; não interpreta racionalmente o livro de Atos quando menciona o primitivo culto a Jesus na igreja antes que a filosofia grega a tivesse influenciado; refere-se às peculiaridades intelectuais das concepções dos escritores do N.T. nas quais Paulo insiste tão somente na fé de todo o povo cristão como tal; esquece a idéia da união com Deus garantida através da obra expiatória e reconciliadora do Redentor pessoal que transcende totalmente ao pensamento grego e fornece a solução para o problema em que a sua filosofia sem fundamento tateia.
e) Apesar de que Marcos nada diz sobre o nascimento virginal porque sua história se limita ao que os apóstolos testemunharam dos feitos de Jesus, Mateus parece dar-nos a história de José e Lucas dá a história de Maria -ambas naturalmente publicadas só depois da ressurreição de Jesus.
Teologia Sistemática (Strong) 329 f) O maior entendimento da doutrina depois da morte de Cristo foi predito pelo próprio Nosso Senhor (Jo. 16.12). O Espírito Santo deveria trazer à memória os seus ensinos e transmitir a todos a verdade (16.13) e os apóstolos deveriam continuar a obra do ensino que ele começou. João 16.12,13 - "Ainda tenho muito que vos dizer, mas não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade"; At. 1.1 - "Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo o que Jesus começou não só a fazer, mas a ensinar". A. H. Strong, Christ in Creation, 146 - "Que o discípulo amado, depois de meio século de meditação sobre o que tinha visto e ouvido de Deus manifesto em carne teria penetrado mais profundamente no sentido daquela maravilhosa revelação não apenas deixa de surpreender; é precisamente o que o próprio Jesus predisse. O nosso Senhor tinha muitas coisas a dizer aos seus discípulos, mas naquele tempo eles não estavam preparados para ouvi-las. Ele prometeu que o Espírito Santo traria à memória deles tanto a sua própria pessoa como as suas palavras e os conduziria em toda a verdade. Ε aí está todo o segredo do que se chama acréscimo ao cristianismo original. Até onde elas estão contidas na Escritura, são descobertas e desdobramentos, não especulações e invenções. Não são adições, mas elucidações, não vãs imaginações, mas interpretações corretas. ... Quando mais tarde a teologia, então, lança fora o sobrenatural e o dogmático, como se não viessem de Jesus, mas das epístolas de Paulo e do quarto evangelho, o nosso argumento é que Paulo e João não só são inspirados e são, com autoridade, intérpretes de Jesus, vendo eles mesmos e fazendo-nos ver a plenitude da divindade que habita nele". Enquanto Harnack, a nosso juízo, erra em seu ponto de vista de que Paulo contribuiu para os elementos do evangelho o qual ele mesmo originariamente não possuía, mostrou-nos bem claramente muitos dos elementos que ele foi o primeiro a reconhecer. Em sua Wesen des Christenthums, 111, ele nos conta que há poucos anos um célebre teólogo protestante declarou que Paulo, com sua teologia rabínica, era um destruidor da religião cristã. Outros o têm considerado como fundador dessa religião. Mas a maioria o tem visto como o apóstolo que melhor entendeu o seu Senhor e fez o máximo para continuar a sua obra. Harnack sustenta que Paulo, logo no começo, compreendeu de um modo definido o evangelho: 1)
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como uma redenção completa e uma salvação presente - o Cristo crucificado e ressurreto propiciando acesso a Deus e com isso justiça e paz; 2) como algo novo que afasta da lei a religião; 3) significativo para todos e, conseqüentemente, também para os gentios, na verdade, substituindo o judaísmo; 4) expresso não simplesmente em termos gregos, mas também humanos, Paulo tornou o evangelho compreensível ao mundo. O islamismo, que surgiu na Arábia, ainda é uma religião árabe. O budismo continua a ser uma religião Hindu. O cristianismo existe em todas as terras. Paulo deu uma nova vida ao império romano e inaugurou a cultura cristã no Ocidente. Ele transformou a religião local em universal. Contudo, segundo Harnack, a sua influência tendia para a indevida exaltação da organização e do dogma e da inspiração do A.T. – pontos nos quais, a nosso ver, Paulo assumiu uma base sóbria e salvou a verdade cristã para o mundo.
2. Genuinidade dos Livros do Velho Testamento Porque quase metade do Velho Testamento é de autoria anônima e alguns de seus livros podem ser atribuídos a caracteres históricos definidos por classificação conveniente ou personificação literária, para nós genuinidade é honestidade de propósito e liberdade de qualquer coisa falsa ou intencionalmente enganosa a respeito da época ou autoria dos documentos. Mostramos a genuinidade dos livros do Velho Testamento: a) A partir do testemunho do Novo Testamento, no qual, a não ser seis, citam-se ou faz-se alusão a todos os livros do Velho Testamento como genuínos. O N.T. mostra coincidências na linguagem com os livros Apócrifos do A.T., mas contém só uma citação direta deles; enquanto, exceto Juizes, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos, Ester, Esdras e Neemias, cada livro do cânon hebraico é empregado ou para ilustração, ou para prova. A única citação do Apócrifo se encontra em Jd. 14 e, com toda a probabilidade, extraída do livro de Enoque. Embora Volkmar date este livro de 132 A.D. e, embora alguns críticos sustentem que Judas tenha citado só a tradição primitiva da qual o autor do livro de Enoque fez uso mais tarde, o peso da
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erudição moderna se inclina para a opinião de que o mesmo livro foi escrito, quando muito de 170-70 a.C, e que é dele que Judas faz citação; Sanday, Bampton Lect. on Inspiration, 95 - "Se Paulo pôde citar poetas gentios (At. 17.28; Tt. 1.12), é difícil entender por que Judas não poderia fazer o mesmo com uma obra que, sem dúvida, estava no mais alto padrão entre os fiéis"; enquanto Jd. 14 nos dá a única e expressa citação de um livro Apócrifo, o mesmo livro, nos versos 6 e 9 contém alusões ao livro de Enoque e à Assunção de Moisés. Em Hb. 1.3, temos palavras extraídas de Sabedoria 7.26; e Hb. 11.34-38 é uma reminiscência de 1 Mc.
b) A partir do testemunho das autoridades judaicas antigas e modernas que declaram que os mesmos livros são sagrados, e só eles, que agora compreendem as nossas Escrituras do Velho Testamento. Josefo enumera vinte e dois destes livros "que, com justiça, gozam de crédito". Nossa atual Bíblia Hebraica tem vinte e quatro; separa Rute de Juizes e o livro de Lamentações do de Jeremias. Filo (20 a.C.) nunca cita um livro Apócrifo, apesar de que ele cita quase todos os livros do AT. George Adam Smith, Modern Criticism and Preaching, 7 - "Os fatos não apóiam a teoria que atribui o Cânon do AT. a uma simples decisão da igreja judaica nos dias da sua inspiração. O desenvolvimento do Cânon do A.T. foi gradual. Virtualmente ele começou em 621 a.C. com a aceitação do livro de Deuteronômio por toda a tribo de Judá e a adoção da Lei, ou os cinco primeiros livros do A.T., com Neemias em 445 a.C. A seguir, vieram os profetas antes de 200 a.C. e os Hagiógrafos a partir de um ou dois séculos mais tarde. A definição estrita da última divisão não estava completa no tempo de Cristo. Ele parece dar testemunho da Lei, dos Profetas e dos Salmos; Nem Cristo, nem os seus apóstolos fazem qualquer citação de Esdras, Neemias, Ester, Cânticos dos Cânticos, ou Eclesiastes; este último ainda não era reconhecido por todas escolas judaicas. Porém, conquanto Cristo seja a principal autoridade sobre o A.T., ele também foi o seu primeiro crítico. Ele rejeitava algumas partes da Lei e era indiferente a muitas outras. Ampliou o sexto e o sétimo mandamentos e reverteu o "olho por olho", e a permissão do divórcio; tocou no leproso e considerou lícitos todos os alimentos; desprezou a observância literal do Sábado; não deixou nenhum mandamento a respeito do sacrifício, do culto no templo, circuncisão, mas,
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através da instituição da Nova Aliança ab-rogou estes sacramentos da Velha. Os apóstolos apelaram para os escritos não canônicos". Gladden, Seven Puzzling Bible Books, 68-96 - "Surgiram dúvidas na época do nosso Senhor quanto à canonicidade de várias partes do A.T., especialmente Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos e Ester".
c) A partir do testemunho da tradução da Septuaginta, que data da primeira metade do terceiro século ou de 280 a 180 a.C. Os manuscritos da Septuaginta contêm, na verdade, os Apócrifos do A.T., mas os escritores destes não reconhecem a sua própria obra como pertencente ao nível das Escrituras, que consideram distintos de todos outros livros (Eclesiástico, prólogo, e 48.24; tb. 24.23,27; 1 Mc. 12.9; 2 Mc. 6.23; 1 Ed. 1.28; 6.1; Br. 2.21) Assim também os antigos e modernos judeus. No prólogo ao livro apócrifo de Eclesiástico lê-se "a Lei e os profetas e os demais livros", o que mostra que até 130 a.C, data provável de Eclesiástico, reconhecia-se uma tríplice divisão dos livros judaicos sagrados. Contudo, a partir desta afirmação de que o avô de Jesus também escreveu, parece evidente que o autor não concebia tais livros como se eles constituíssem um cânon completo. 1 Mc. 12.9 (80-90 a.C.) fala dos "livros sagrados que estão agora em nossas mãos". Hastings' Bible Dictionary, 3.611 - "O A.T. foi o resultado de um processo gradual que começou com a sanção do Hexateuco por Esdras e Neemias e praticamente encerrou com as decisões do Concilio de Jâmnia" - Jâmnia é a antiga Jabne, 7 milhas ao sul do lado ocidental de Tiberíades, onde se reuniu um concilio de rabinos ao mesmo tempo entre 90 e 118 A.D. Tal Concilio decidiu em favor de Cântico dos Cânticos e Eclesiastes e encerrou o cânon do A.T.. Josefo diz que a versão grega do Pentateuco que faz parte da Septuaginta foi feita no reinado de Ptolomeu Filadelfo, rei do Egito, por volta de 270 ou 280 a.C, e por sua ordem. "A lenda diz que foi feita por setenta e duas pessoas em setenta e dois dias. Contudo, críticos modernos supõem que esta versão dos vários livros é obra não de diferentes mãos, mas de épocas separadas. É provável que, a princípio, só o Pentateuco, tivesse sido traduzido e os demais livros gradualmente; mas crê-se que a tradução foi completada no segundo século a.C." (Century Dictionary in voce). Por isso fornece importante testemunha sobre a genuinidade dos nossos documentos
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do AT. Driver, Introduction to O. T. Lit., xxxi - "A opinião, freqüentemente encontrada nos livros modernos, de que o cânon do A.T. foi encerrado por Esdras ou na sua época, não tem nenhum fundamento na antigüidade. Tudo o que pode ser tratado como histórico nos relatos dos trabalhos literários de Esdras limita-se à Lei".
d) A partir das indicações de que logo depois do exílio e recuando aos tempos de Esdras e Neemias (500-450 a.C), o Pentateuco juntamente com o livro de Josué não só existia mas era considerado possuidor de autoridade. 2 Mc. 2.13-15 indica que Neemias fundou uma biblioteca e há uma tradição de que uma "Grande Sinagoga" se reuniu nessa época para determinar o Cânon. Mas o Hastings, Dictionary, 4.644, afirma que "a Grande Sinagoga originariamente não era uma instituição, mas uma reunião. Reuniu-se de uma vez por todas e, tudo o que se diz a esse respeito, salvo o que lemos em Neemias, mais tarde, é pura fábula dos judeus". De igual modo não se deve causar dependência da tradição de que Esdras miraculosamente restaurou as antigas Escrituras que se perderam durante o exílio. Clemente de Alexandria diz: "Visto que as Escrituras desapareceram no cativeiro de Nabucodonosor, Esdras (forma grega de Ezra) o Levita, o sacerdote, no tempo de Artaxerxes, rei dos persas, tendo sido inspirado no exercício da profecia, restaurou novamente as Escrituras antigas por inteiro". Porém a obra agora dividida em 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias, menciona Dario Codomano (Ne. 12.22), datado de 336 a.C. A máxima prova da tradição é que, cerca de 300 a.C, o Pentateuco, em certo sentido era atribuído a Moisés.
e) A partir do testemunho do Pentateuco Samaritano, que data do tempo de Esdras e Neemias (500-450 a.C). Os samaritanos foram trazidos de "Babel, e de Cuta, e de Ava, e de Hamate, e de Sefarvaim (2 Re. 17.6,24,26) pelo rei da Assíria, para apossarse do lugar do povo de Israel que foi levado cativo para a sua própria terra. Os colonizadores trouxeram consigo os seus deuses pagãos, e as incursões de animais selvagens que a interrupção da lavoura ocasionou fez surgir a
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crença de que o Deus de Israel se opunha a eles. Por isso foi mandado um dos sacerdotes judeus cativos para ensinar-lhes "o costume do Deus da terra" e ele lhes ensinou como deviam temer ao Senhor (2 Re. 17.27,28). Como resultado eles adotaram o ritual judaico, mas combinaram o culto do Senhor com o das suas imagens de escultura (33). Quando os judeus voltaram da Babilônia e começaram a reconstruir os muros de Jerusalém, os samaritanos ofereceram-lhes auxílio, mas os judeus não o aceitaram (Ed. 4 e Ne. 4). Surgiu hostilidade entre judeus e samaritanos - que continuou não só na época de Cristo, mas até os nossos dias. Visto que o Pentateuco Samaritano substancialmente coincide com o dos Hebreus, fornece-nos um passado definido no que de correto existe quase em sua forma presente. Ele testemunha a existência do nosso Pentateuco essencialmente em sua forma atual como no tempo de Esdras e Neemias. Green, Higher Criticism of the Pentateuch, 44, 45 - "Depois de expulsos pelos judeus, os samaritanos, para substanciar a sua reivindicação de procederem do antigo Israel, avidamente aceitaram o Pentateuco que lhes foi trazido por um renegado sacerdote". W. Robertson Smith, Encyclopaedia Britannica, 21.244 - "A lei sacerdotal que se baseia totalmente na prática dos sacerdotes de Jerusalém anterior ao cativeiro, reduziu-se à forma após o exílio, e Esdras publicou-a como a lei da reconstrução do Templo de Sião. Por isso os samaritanos devem ter derivado o seu Pentateuco dos judeus conforme as reformas de Esdras, i.e., após 444 a.C. . Antes disso, o samaritanismo não pode ter existido formalmente em tudo, ao que sabemos; mas houve uma comunidade pronta a aceitar o Pentateuco".
f) A partir da descoberta do "livro da lei" no templo, no ano dezoito do rei Josias, ou em 621 a.C. 2 Re. 22.8 - "Então, o sumo sacerdote Hilquias disse ao escrivão Safa: Achei o livro da Lei na Casa do Senhor". 23.2 -" O livro do concerto" foi lido diante do povo pelo rei, que o proclamou ser a lei da terra. Curtis, Hastings' Bible Diet., 3.596 - Ό mais antigo escrito da Lei ou livro de instrução divina de que ou de cuja ordem se tem um autêntico relato, é Deuteronômio ou sua principal parte representada como encontrada no templo no ano 18 do rei Josias (621 a.C.) e proclamada pelo rei como a lei da terra. Daí em diante Israel teve a lei escrita que ao crente piedoso se determinava observasse de
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dia e de noite (Js 1.8; SI. 1.2); e deste modo a Tora, como literatura sagrada, começava em Israel. A lei tinha como objetivo a aplicação correta dos princípios mosaicos". Ryle, Hastings' Bible Diet. 1.602 - A lei do Deuteronômio representa uma ampliação e desenvolvimento do antigo código contido em Ex. 20-23 e precede a formulação final do rito sacerdotal que só recebeu sua última forma no último período da revisão da estrutura do Pentateuco". Andrew Harper, sobre Deuteronômio, em Expositor's Bible: "Deuteronômio não reivindica ter sido escrito por Moisés. Fala-se dele na terceira pessoa na introdução e na estrutura histórica, conquanto as palavras de Moisés estejam na primeira. Nas partes onde o autor fala por si mesmo, a expressão 'além do Jordão' significa o ocidente do referido rio; a única exceção encontra-se em Dt. 3.8, que não pode originariamente ter sido parte da fala de Moisés. Porém o estilo de ambas as partes é o mesmo e, se as partes que estão na terceira pessoa são de um autor tardio, as que estão na primeira também o são. Ambas diferem dos outros discursos de Moisés no Pentateuco. Pode o autor ser um escritor contemporâneo que escreve as palavras de Moisés como João apresentou as de Jesus? Não, porque Deuteronômio compreende apenas o livro da aliança, em Ex. 20-23. Ele emprega o JE, mas não o P, com o qual o JE se acha entrelaçado. Mas o JE aparece em Josué e contribui com ele um relato da morte de Josué. JE fala dos reis de Israel (Gn. 36.31-39). Deuteronômio nitidamente pertence aos primeiros séculos do reino, ou à metade dele". Bacon, Genesis of Genesis, 43-49 - "A lei no Deuteronômio era tão curta que Safa pôde lê-la em voz alta diante do rei (2 Re. 2.10) e o rei pôde lê-la toda diante do povo (23.2); compare a leitura do Pentateuco por uma semana inteira (Ne. 8.2-18). Foi na forma de aliança; difere por causa das maldições; era uma expansão e modificação de uma Tora de Moisés, totalmente dentro da legítima província do profeta, codificada a partir da forma tradicional de pelo menos um século antes. Essa Tora existente foi atribuída a Moisés e agora acha-se incorporada como "o livro do concerto" (Ex. 24.7). Por isso o ano de 620 é o terminus a quo de Deuteronômio. A data do código sacerdotal é 444 a.C". Sanday, Bampton Lectures, 1893, admite "1) a presença de um considerável elemento no Pentateuco que, em sua presente forma, muitos defendem ser mais antiga que o cativeiro; 2) a composição do livro de Deuteronômio, não faz tempo, ou não faz muito
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tempo antes da sua promulgação pelo rei Josias em 621, que deste modo se torna a data pivô na história da literatura hebraica".
g) A partir das referências nos profetas Oséias (743-737 a.C.) e Amos (759-745) a um curso do ensino e revelação divinos estendendo-se até os dias deles. Os. 8.12 - "Escrevi para eles as grandezas da minha lei"; afirma-se aqui não só a existência de uma lei anterior ao profeta, mas de uma lei escrita. Todos os críticos admitem que o livro de Oséias é uma produção genuína do profeta, a qual data do seu oitavo século a.C. Am. 2.4 - "rejeitaram a lei do Senhor e não guardaram os seus estatutos"; eis uma prova de que, mais de um século antes do descobrimento de Deuteronômio no templo, Israel conhecia a lei de Deus. Fisher, Nature and Method of Revelation, 26,27 - Ό elevado plano encontrado pelos profetas não se encontrou num só limite. ... Deve ter havido uma raiz que se estendia pela terra". Kurtz assinala que "os mais tardios livros do A.T. seriam uma árvore sem raízes se a composição do Pentateuco fosse transferida para um período mais tardio na história hebraica". Se à palavra 'Pentateuco' substituirmos as palavras 'Livro do concerto', concordaremos com as palavras de Kurtz. Há evidência suficiente de que, antes de Oséias e Amos, Israel possuía uma lei escrita compreendida em Ex. 20-24 - mas o Pentateuco, como o conhecemos hoje, incluindo Levítico, parece não datar de muito antes de Jeremias, 445 AC. A lei levítica, contudo, foi tão somente a codificação dos estatutos e costumes cuja origem é bem anterior e que se crê ser a expansão natural dos princípios da legislação mosaica. Leathes, Structure of O.T., 54 - O zelo pela restauração do templo após o exílio implica que bem antes ele tinha sido o centro da política nacional, que havia um rito e uma lei antes do exílio". Present Day Tracts, 3.52 - As instituições levíticas não podiam ter sido estabelecidas por Davi. É inconcebível que ele "pudesse ter tomado uma tribo inteira e não sobrasse nenhum traço de tão revolucionária medida como o seqüestro das suas propriedades para fazê-los ministros religiosos". James Robertson, Early History of Israel: "A variada literatura de 850-750 a.C. implica a existência da leitura e escrita há bom tempo. Amos e Oséias sustentam no período pós-
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mosaico o mesmo esquema da história que os críticos modernos declaram não ser históricos, mas tardios. O século oitavo a.C. foi um período grandemente histórico quando Israel teve um relato a dar de si mesmo e da sua história. Os críticos apelam para os profetas, mas os rejeitam quando estes dizem que outros mestres ensinaram a mesma verdade antes deles e quando declaram que a sua nação recebeu o ensino de uma religião melhor e abriu mão dele, isto é, que tinha havido lei muito antes daquela época. Os reis não legislaram. Os sacerdotes propuseram-na. Deve ter havido um sistema de leis mais antigo do que admitem os críticos e também uma referência mais antiga ao seu culto, aos grandes eventos que fizeram deles um povo separado". Dillman recua mais e declara que Moisés pressupõe "um estágio preparatório da mais elevada religião em Abraão".
h) A partir das repetidas declarações da Escritura de que o próprio Moisés escreveu uma lei para o seu povo confirmadas pela evidência da atividade literária e legislativa em outras nações bem antes dessa época. Ex 24.4 - "Moisés escreveu todas as palavras do Senhor"; 34.27 "Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas palavras; porque conforme o teor destas palavras tenho feito um concerto contigo e com Israel; Nm. 33.2 "E escreveu Moisés as suas saídas, segundo as suas jornadas, conforme o mandado do Senhor"; Dt. 31.9 - "E Moisés escreveu esta lei e a deu aos sacerdotes, aos filhos de Levi, que levaram a arca do concerto do Senhor, e a todos os anciãos de Israel"; 22 - "Assim Moisés escreveu este cântico naquele dia e o ensinou aos filhos de Israel"; 24-26 - "E aconteceu que, acabando Moisés de escrever as palavras desta Lei num livro, até de todo as acabar, deu ordem Moisés aos levitas que levassem a arca do concerto do Senhor, dizendo: Tomai este livro da Lei e ponde-o ao lado da arca do concerto do Senhor, vosso Deus para que ali esteja por testemunha contra ti". É possível que a Lei aqui mencionada seja só "o livro do concerto" (Ex. 20-24) e os discursos de Moisés em Deuteronômio tenham sido transmitidos oralmente. Mas o fato de que Moisés era "instruído em toda a sabedoria dos egípcios" (At. 7.22), juntamente com o fato de que a arte de escrever já era conhecida no Egito por muitas centenas de anos antes dele, torna mais provável que a maior porção do Pentateuco era de sua composição.
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Keyon, Hastings' Diet, artigo: Escrita, data os Provérbios de Ptahhotep, a primeira composição registrada no Egito, de 3580-3586 a.C. e afirma o livre emprego da escrita entre os habitantes sumerianos da Babilônia tão antigos como 4000 a.C. Os estatutos de Hamurábi, rei da Babilônia, comparam-se por extensão aos de Levítico, embora datem do tempo de Abraão, 2 200 a.C; na verdade, Hamurábi é agora considerado por muitos como o Anrafel de Gn. 14.1. Contudo, tais estatutos antedatam Moisés em setecentos anos. É interessante observar que Hamurábi professa ter recebido seus estatutos diretamente do deus Sol de Sipar sua cidade capital. Kelso, Princeton Theol. Rev., jul., 1905.399-412 - Fatos "autenticam a data tradicional do livro do concerto, lançam a fórmula profetas e lei, restauram a velha Lei e Profetas e põem em perspectiva histórica a tradição de que Moisés foi o autor da legislação sinaítica".
Como a controvérsia com relação à genuinidade dos livros do Velho Testamento vieram com as reivindicações da mais alta crítica em geral e do Pentateuco em particular reunimos notas separadas sobre estes assuntos. A Alta Crítica em Geral. Alta Crítica não significa a critica em qualquer sentido insidioso, do mesmo modo que a Crítica da Razão Pura de Kant também não era um exame desfavorável ou destrutivo. É tão somente uma investigação desapaixonada da autoria, data e propósito dos livros da Escritura à luz da sua composição, estilo, e características internas. Como a Baixa Crítica, a Alta é uma crítica de estrutura. Um ilustre francês descreveu a crítica literária como alguém que destrói uma boneca para obter a serragem que há dentro dela. Isto pode ser feito com espírito cético ou hostil e pode haver pouca dúvida de que algumas das mais elevadas críticas do A.T. tenham iniciado os seus estudos com predisposição contra o sobrenatural, o que tem viciado todas as conclusões. Tais pressuposições são freqüentemente inconscientes, mas nenhuma menos influente. Quando o Bispo Colenso examinou o Pentateuco e Josué, descartou qualquer intenção de atacar a narrativa miraculosa como tal; é como se ele tivesse dito: "meu querido peixinho, você não precisa ter medo de mim; eu não quero capturá-lo; eu só pretendo esgotar a água em que você vive". Para
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muitos eruditos as águas parecem muito vagarosas no Hexateuco e, na verdade, em todo o A.T. Shakespeare fez mais: incorporou muitas das velhas crônicas de Plutarco e Holinshed e muitos contos italianos e tragédias antigas de outros escritores; mas Péricles e Tito Andrônico ainda são tidos como de Shakespeare. Ainda agora falamos da "Gramática Hebraica de Gesênius", apesar de que, das suas vinte e sete edições, catorze foram publicadas após a sua morte. Falamos do "Dicionário de Webster", embora haja no seu todo milhares de palavras e definições que Webster nunca viu. Francis Brown: "Um escritor moderno domina mais velhos registros e escreve um livro totalmente novo. O mesmo não acontece com os historiadores orientais. O que veio por ultimo, diz Renan, 'absorve os seus antecessores sem assimilálos, de sorte que os mais recentes têm em seus fragmentos as obras anteriores num estado rudimentar'. O Diatessarão de Taciano é paralelo à estrutura composta dos livros do A.T Uma passagem desenvolve as seguintes: Mt. 21.12a, Jo. 21.12a; Mt. 21.12b; Jo. 12.14b, 15; Mt. 21 12c, 13; Jo. 12.16; Mc. 11.16; Jo. 2.17-22; todos sucedem-se sem quebra". Gore, Lux Mundi, 353 - "Nada há materialmente inverídico, embora haja algo acrítico a atribuir a toda a legislação, ao atribuí-la toda a Moisés agindo sob o mando divino. Apenas uma parte da coleção dos Salmos proveio de Davi e o mesmo acontece com os Provérbios de Salomão". Os opositores da Alta Crítica têm muito a dizer como réplica. Sayce, Early History of the Hebrews, sustenta que os primeiros capítulos de Gênesis foram copiados de fontes babilônicas, mas insiste em data mosaica ou pré-mosaica da sua cópia. Hilprecht, contudo, declara que a fé monoteísta de Israel nunca podia proceder "da babilônica montanha de deuses - do mausoléu cheio de corrupção e de ossos humanos". Bissell, Genesis Printed in Colors, Introduction, iv – "É improvável que tantas histórias documentares existissem há tanto tempo e que, existindo, o compilador tivesse tentado combiná-las. É estranho que o mais antigo fosse J e que fosse empregada a palavra 'Yahweh' enquanto mais tarde Ρ empregasse 'Elohim, quando 'Yahweh' seria mais adequado ao Código Sacerdotal.... xiii – As tábuas babilônicas contêm numa narrativa contínua os mais proeminentes fatos das alegadas seções eloístas, como os jeovistas de Gênesis e os apresentam especialmente na ordem bíblica. Várias centenas
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de anos antes de Moisés o que os críticos chamam dois fosse um. É um absurdo dizer que a unidade se deve a um redator do período do exílio em 444 a.C. Aquele que crê que Deus se revela ao homem primitivo como um Deus, verá na história acadiana uma corrupção politeísta da monoteísta original". Não devemos avaliar a antigüidade de um par de botas pelo remendo que o sapateiro acrescentou; nem devemos avaliar a antigüidade de um livro da Escritura pelas glosas e explicações posteriormente acrescidas pelos editores. O London Spectator assinala sobre o problema homérico: "É impossível que um poema, ou obra de arte, de primeiro nível se produza sem a mente de um grande mestre que, a princípio, concebe o todo como um refinado touro vivo se desenvolve a partir de salsichas de boi". A seguir, veremos ainda que estes pronunciamentos atribuem valor elevado à unidade do Pentateuco e ignoram algumas evidências marcantes do seu desenvolvimento gradual e de sua estrutura composta. A Autoria do Pentateuco em particular. Recentes críticos, especialmente Kuenen e Robertson Smith, têm sustentado que o Pentateuco é mosaico só no sentido de ser um agrupamento da lei tradicional em desenvolvimento gradual, que foi codificado, quando muito tarde, no tempo de Ezequiel e, com o desenvolvimento do espírito e ensino do grande legislador, recebeu por ficção legal o nome de Moisés que lhe foi atribuído. Por isso, a verdadeira ordem da composição é: 1) O Livro do Concerto (Ex. 20-23); 2) Deuteronômio; 3) Levítico. Entre as razões atribuídas a este ponto de vista estão os fatos: a) que Deuteronômio termina com o relato da morte de Moisés e, por isso, não podia ter sido escrito por ele; b) que os levitas, no livro de Levítico, são meros servos dos sacerdotes enquanto em Deuteronômio os sacerdotes são os levitas em exercício; isto é, todos os levitas são sacerdotes; c) que os livros de Juizes e 1 Samuel com o seu registro de sacrifícios oferecidos em muitos lugares não apresentam nenhuma evidência de que Samuel ou a nação de Israel tivesse qualquer conhecimento de uma lei que limitasse o culto a um santuário local. Em resposta tem-se argumentado 1) que Moisés pode ter escrito não em forma autobiográfica, mas, através de um escriba (talvez Josué) e que este pode ter completado a história em Deuteronômio com o relato da história de Moisés; 2) que Esdras ou os profetas que lhe sucederam podem ter sujeitado o Pentateuco a uma recensão e acrescentado notas
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explicativas; 3) que os documentos de épocas anteriores podem ter sido incorporados, durante a sua composição por Moisés, ou subseqüentemente por seus sucessores; 4) que a aparente falta de distinção entre as diferentes classes de levitas em Deuteronômio podem ser explicadas pelo fato de que, conquanto Levítico foi escrito com pormenor exato para os sacerdotes, Deuteronômio é o registro de um sumário geral e a orla da lei dirigido ao povo em geral e, por isso, naturalmente menciona o clero como um todo; 5) que o silêncio do livro de Juizes quanto ao ritual mosaico pode ser explicado pelo propósito do livro de contar apenas a história geral e pela probabilidade de que, no tabernáculo, observava-se um ritual que o povo em geral ignorava. Os sacrifícios em outras partes acompanhavam apenas as manifestações divinas especiais que tornavam o destinatário temporariamente um sacerdote. Ainda que se provasse que a lei relativa a um santuário central não fosse observada não mostraria a não existência da lei, nem que a violação do segundo mandamento por Salomão prova sua ignorância do decálogo ou a negligência medieval do N.T. pela Igreja Romana prova que o N.T. não existia. Não podemos argumentar que "onde não havia transgressão não havia lei" (Watts, New Apologetic, 83 e a The Newer Criticism). À luz de recente pesquisa, contudo, não podemos considerar satisfatórias estas respostas. Woods, em seu artigo sobre o Hexateuco, Hastings' Diet, 2.365, apresenta uma declaração moderada dos resultados da alta crítica que se nos recomenda como mais fidedigna. Ele a chama de teoria da estratificação e sustenta que "alguns documentos mais ou menos independentes que tratam da mesma série de eventos foram compostos em diferentes períodos ou diferentes auspícios e mais tarde combinados de modo que o nosso atual Hexateuco, que nada mais é que o Pentateuco + Josué, contém estes vários estratos literários diferentes. ... Eis as principais bases para que se aceite a hipótese da estratificação: 1) que as várias peças literárias, com poucas exceções, encontram-se para exame para arranjo através das características comuns em grupos relativamente pequenos; 2) que uma consecução original da narrativa pode freqüentemente ser traçada entre o que, na sua presente forma são os fragmentos isolados. Pode-se entender melhor isto através da seguinte ilustração. Suponhamos um problema deste tipo: Dada uma colcha de retalhos, aplique o caráter
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das peças originais de que foram feitos os retalhos. Notamos em primeiro lugar que, conquanto as cores bem podem mesclar-se, embora possam formar um todo bonito e completo, muitas das peças não são do mesmo material, da mesma textura, do mesmo padrão, cor etc. Ergo (logo, portanto), elas foram feitas de peças de estofo bem diferente. ... Mas suponhamos que mais tarde cheguemos a descobrir que muitos dos retalhos, embora agora separados, são semelhantes uns aos outros quanto ao material, textura, etc, podemos conjeturar que estes foram cortados de uma única peça. Porém provaremos isto além de qualquer dúvida razoável, se encontrarmos diversos retalhos, quando não os unirmos, de modo que o padrão de um seja a continuação de outro; e ainda mais, se todos os de igual tipo formam, por assim dizer, quatro grupos; cada um dos quais foi anteriormente uma peça do estofo, embora as peças de cada um estejam em falta, porque, sem dúvida, não se exigiu que cada qual formasse o todo. Mas estreitaremos mais a analogia do Hexateuco se supusermos que, em certas partes, a colcha de retalhos que pertence, digamos, a dois destes grupos combina a tal ponto que forme um padrão subsidiário dentro de um padrão maior da colcha inteira; evidentemente foram costuradas umas das suas partes às outras; podemos estreitar mais se supusermos que, além dos retalhos mais importantes, acrescentaram-se outros menores enfeites, bordados, etc. a fim de melhorar o efeito do todo". Em seguida, o autor deste artigo assinala três partes do Hexateuco que diferem essencialmente entre si. Há três códigos distintos: o do Concerto (C = Ex. 20.22-23.33 e 24.3-8), o do Deuteronômio (D) e o Sacerdotal (Ρ) (= do Inglês Priest). Tais códigos relacionam-se peculiarmente com a narrativa do Hexateuco. Por exemplo, em Gênesis, "a grande parte do livro divide-se em grupos de maiores ou menores pedaços, em geral parágrafos ou capítulos que se distinguem, respectivamente, pelo emprego exclusivo de Elohim ou de Yahweh como o nosso Deus". Chamemos tais porções de J e E. Porém encontraremos tão estreitas afinidades entre C e JE que podemos considerá-los substancialmente um. Veremos que a parte maior das narrativas, diferentemente das leis de Êxodo e de Números pertencem a JE, enquanto, com exceções especiais, as porções legais pertencem a P. Nos últimos capítulos de Deuteronômio e em todo o livro de Juizes encontramos elementos do JE. Neste livro encontramos também elementos que estão em conexão com D.
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"Convém observar que não encontramos aqui e ali trechos separados no Hexateuco, que, pelos seus caracteres, pertencem a estas três fontes, JE, D e P, mas trechos que apresentarão freqüentemente conexão através de uma óbvia continuidade do assunto quando reunidos a pedaços de remendos na mencionada ilustração. Por exemplo: Se lermos sem parar Gn. 11.17-32; 12.4b, 5; 13.6a, 11b, 12e; 16.1a, 3, 15 16; 17; 19.29; 21.1a, 2b-5; 23; 25.7-11a-passagens principalmente com outras bases atribuídas a P, obteremos um quase contínuo e completo, apesar de muito conciso, relato da vida de Abraão". Podemos admitir a substancial correção do ponto de vista assim proposto. Isto simplesmente mostra o verdadeiro método de D fazer o registro da sua revelação. Podemos acrescentar que qualquer erudito que admita que Moisés não escreveu o relato da sua morte e sepultamento no último capítulo de Deuteronômio ou que reconheçam dois relatos diferentes da criação em Gênesis caps. 1 e 2 já começaram uma análise do Pentateuco e aceitaram os princípios essenciais da alta crítica.
II. CREDIBILIDADE DOS ESCRITORES DA BÍBLIA
Tentaremos provar isto apenas sobre os escritores dos evangelhos; pois, se eles são testemunhas dignas de crédito, a credibilidade do Velho Testamento, de que eles dão testemunho, vem como conseqüência. 1. Eles são testemunhas capazes ou competentes, isto é, possuem real conhecimento relativo aos fatos que professam. a) Tiveram oportunidade de observar e inquirir. b) Eram homens sóbrios e de discernimento e não podiam por si mesmos ser enganados. c) As circunstâncias eram tais que os eventos de que eles testemunhavam impressionavam de modo profundo as suas mentes. 2. Eles são testemunhas honestas. Isto é evidente ao considerar que: a) Seu testemunho não põe em perigo os interesses terrenos. b) A elevação moral de seus escritos e a sua manifesta reverência pela verdade e pelo seu constante inculcar relativo mostra que eles não eram enganadores intencionais, mas homens de bem. c) Há indicações
Teologia Sistemática (Strong) 344 menores da honestidade destes escritores no elemento circunstancial de sua narrativa, na ausência de expectação de que elas seriam questionadas na sua liberdade de toda a disposição de protegê-las ou proteger os apóstolos de qualquer censura. 3. Os escritos dos evangelistas recíproca e simultaneamente apóiam-se. Apresentamos sua credibilidade com base no número e consistência do seu testemunho. Conquanto haja suficiente discrepância ao mostrar que não tem havido conluio entre eles, há concorrência bastante para tornar a falsidade deles todos infinitamente improvável. Quatro pontos sob este tópico merecem menção: a) Os evangelistas são testemunhas independentes. Isto suficientemente se demonstra nas tentativas de provar que qualquer um deles abreviou ou transcreveu o outro. b) As discrepâncias entre eles não são nada irreconciliáveis com a verdade dos fatos registrados, mas só apresentam os fatos sob novas luzes ou com pormenor adicional. c) O fato de que estas testemunhas eram amigas de Cristo não diminui o valor de seu depoimento unido, visto que seguiram Cristo só porque estavam convencidas de que os fatos eram verdadeiros. d) Conquanto uma testemunha dos fatos do cristianismo podia estabelecer sua verdade, a evidência combinada das quatro testemunhas nos dá garantia pela fé nos fatos do evangelho tal como não possuímos de nenhum outro fato na historia antiga qualquer que seja. A mesma regra que recusa a crença nos eventos registrados nos evangelhos "lançaria dúvida sobre qualquer evento na história". Ninguém assina ou pode assinar duas vezes precisamente do mesmo modo. Por isso, quando duas assinaturas apostas pela mesma pessoa, são precisamente iguais, conclui-se com segurança que uma delas é falsa. Compare o testemunho combinado dos evangelistas com o dos nossos cinco sentidos. "Admitamos", diz o Dr. C. E. Rider, "que as possibilidades de equívoco sejam de um décimo, quando empregamos só os nossos olhos, um vigésimo, quando empregamos só os nossos ouvidos, um quarenta avôs só o tato; quais serão elas, se empregarmos todos ao mesmo tempo? O
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verdadeiro resultado se obtém multiplicando estas proporções. Isto resulta um para oito mil".
4. Conformidade do testemunho do evangelho com a experiência. Já mostramos que, aceitando a realidade do pecado e a necessidade de uma atestada revelação de Deus, os milagres não podem fornecer pressuposição alguma contra o testemunho dos que registram tal revelação, mas como essencialmente pertencem a tal revelação, os milagres podem ser provados pelo mesmo tipo e grau de evidência como se requer na prova de qualquer fato extraordinário. Podemos declarar, então, que nas histórias do Novo Testamento não há nenhum registro de fatos não testemunhados na experiência comum - nos quais, portanto, podemos crer se a evidência em outros respeitos é suficiente. 5. Coincidência deste testemunho com os fatos e circunstâncias colaterais. Sob este tópico podemos fazer referência a) às inúmeras correspondências entre as narrativas dos evangelistas e a história contemporânea; b) o insucesso de cada tentativa longe de mostrar que a história sagrada é contraditada por qualquer simples fato derivado de outras fontes; c) a infinita improbabilidade de que esta pequena e incompleta harmonia sempre deve ter sido assegurada em narrativas fictícias. 6. Conclusão a partir do argumento para a credibilidade dos escritores dos evangelhos. Tendo sido provado que estes escritores são testemunhas dignas de crédito, suas narrativas, incluindo os relatos dos milagres e profecias de Cristo e de seus apóstolos devem ser aceitos como verdadeiros. Mas Deus não operaria milagres ou revelaria o futuro para atestar reivindicações de falsos mestres. Cristo e seus apóstolos devem, portanto, ter sido o que eles reivindicavam ser, mestres enviados por Deus e a sua doutrina, revelação de Deus aos homens.
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Nenhum apologista moderno apresenta o argumento para a credibilidade do N.T. com maior clareza e força do que Paley, Evidences, caps. 8-10 – "Nenhum fato histórico é mais certo do que os primitivos propagadores do evangelho voluntariamente sujeitaram-se a viver em fadiga, perigo e sofrimento no prosseguimento da sua empreitada. A natureza do empreendimento, o caráter das pessoas que nele se empenharam, a oposição dos seus princípios às expectações fixadas do país em que no início os impulsionavam, sua indisfarçável condenação da religião dos outros países, sua total falta de poder, autoridade ou força tornam, no mais elevado grau, provável que este deve ter sido o caso. "A probabilidade aumenta quando conhecemos o destino do Fundador da instituição, o qual foi morto por atentado e pelo que também sabemos do cruel tratamento dos convertidos à instituição trinta anos após o seu início ambos pontos atestados pelos escritores pagãos e, uma vez admitidos, achamos incrível que os primeiros emissários da religião, que exerciam seu ministério entre os que tinham destruído o seu Mestre, e mais tarde entre os que perseguiram os convertidos, sairiam impunes ou continuariam no propósito tranqüilos e seguros. "Tal probabilidade defendida pelo testemunho estrangeiro, evolui, penso eu, para a certeza histórica através da evidência dos nossos próprios livros, através dos relatos de um escritor que foi companheiro de pessoas cujos sofrimentos ele relata, pelas cartas das próprias pessoas, através de predições das perseguições atribuídas ao Fundador da religião, que as predições não seriam inseridas nesta história, muito menos os estudos se fixariam, se não estivessem de acordo com o evento e que, mesmo que falsamente atribuídas a ele, só poderiam sê-lo porque o evento as sugeria; por fim, através de incessantes exortações ao fortalecimento e à paciência e por seriedade a repetição e urgência sobre o assunto que deveria diferentemente ter aparecido se não tivesse havido naquela época alguma chamada extraordinária para o exercício de tais virtudes. Escreveu-se, penso eu, com suficiente evidência que, tanto os mestres quanto os convertidos à religião em conseqüência da nova profissão seguiram um novo curso de vida e conduta."
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"A questão seguinte é para que faziam isso. Era para uma história miraculosa do mesmo gênero, visto que para a prova de que o Jesus de Nazaré devia ser recebido como Messias, ou como mensageiro de Deus, eles nem tinham, nem podiam basear-se em qualquer coisa a não ser nos milagres. ... Se isto é assim, a religião deve ser verdadeira. Estes homens não podiam ser enganadores. Bastava não darem testemunho para que eles pudessem ter evitado todos estes sofrimentos e viver tranqüilamente. Homens em tais circunstâncias fingiriam ter visto o que nunca viram; afirmariam fatos de que não tinham conhecimento algum; andariam mentindo a fim de ensinar a virtude e, embora não só convencidos de que Cristo era um impostor, mas, tendo visto o sucesso da sua impostura na crucificação, ainda persistiam em trazer sobre si, por nada e, com pleno conhecimento das conseqüências, a inimizade, o ódio, o perigo e a morte?" Contudo, os que sustentam isto requerem que creiamos que os escritores da Bíblia eram "vilões cujo fim não era outro senão ensinar a honestidade, e mártires sem a mínima perspectiva de honra ou vantagem". A impostura deve ter um motivo. A devoção própria dos apóstolos é a mais forte evidência da verdade, pois até mesmo Hume declara que "não podemos fazer uso de um argumento mais convincente em prova da honestidade do que provar que as ações atribuídas a quaisquer pessoas contrariam o curso da natureza e que nenhum motivo humano, em tais circunstâncias, poderia induzi-los a tal conduta".
III. O CARÁTER SOBRENATURAL DO ENSINO DA ESCRITURA
1. O ensino da Escritura em geral A) A Bíblia é obra de uma mente: a) Apesar da variedade da sua autoria e da grande separação de seus escritores entre si no tempo, há uma unidade de assunto, espírito e objetivo em seu todo. Começamos aqui um novo departamento das evidências cristãs. Deste modo temos acrescentado apenas a evidência externa. Agora voltamos a nossa atenção para a evidência interna. A relação entre aquela e esta
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parece ser sugerida em duas perguntas de Cristo em Mc. 8.27,29 - "Quem dizem os homens que eu sou? ... quem dizeis que eu sou?" A unidade na variedade apresentada na Escritura é uma das principais evidências internas. Tal unidade está indicada na palavra "Bíblia", no singular. Contudo, a palavra original era "Bíblia" no plural. O mundo passou a ver uma unidade no que outrora eram fragmentos: os muitos "bíblia" (livros) tornaram-se uma Bíblia. Num sentido a controvérsia de R. W. Emerson é verdadeira: "A Bíblia não é somente um livro". Ela é formada de sessenta e seis, escritos por quarenta autores de todos os níveis: pastores, pescadores, sacerdotes, estadistas, reis, compondo suas obras num período de dezessete séculos. Evidentemente não é possível nenhum conluio entre eles. O ceticismo tende sempre a atribuir às Escrituras maior variedade de autoria e data, mas tudo isto aumenta a maravilha da unidade da Bíblia. Se é notável a unidade em meia dúzia de escritores, é de estarrecer o mesmo fato em se tratando de quarenta. Os bem diversos instrumentos desta orquestra executam uma música perfeita; por isso sentimos que eles são regidos por um maestro e compositor". Contudo, o mesmo Espírito que inspirou a Bíblia ensina a sua unidade. A unidade não é exterior ou superficial, mas interior e espiritual.
b) Nenhum pronunciamento moral ou religioso de todos estes escritores foi contraditado ou derrotado pelos pronunciamentos dos que vieram mais tarde, mas todos constituem um sistema consistente. Devemos aqui estabelecer a distinção entre a forma exterior e a substância moral e religiosa. Jesus declara em Mt. 5.21, 22, 27, 28, 33, 34, 38, 39, 43, 44, "Ouvistes o que foi dito aos antigos ... eu porém vos digo" e, à primeira vista, parece que ele veio ab-rogar alguns dos mandamentos originais. Mas ele também declara nesta conexão: Mt. 5.17,18 - "Não penseis que vim destruir a Lei ou os profetas; eu não vim destruir, mas cumprir. Porque, em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem nem um j nem um til se omitirá da Lei sem que tudo seja cumprido". Os novos mandamentos de Cristo apenas revelam o sentido oculto dos antigos. Ele não os cumpre na sua forma natural, mas em seu espírito essencial. Deste modo, o N.T. completa a revelação do AT. e dá à Bíblia uma unidade perfeita. Nesta unidade a Bíblia ocupa um lugar ímpar. Os livros religiosos hindus, persas e chineses não contêm nenhum sistema de fé consistente.
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Há progresso na revelação desde os mais antigos até os mais recentes livros da Bíblia, mas não através de sucessivos passos de falsidade; há progresso a partir do menos para o mais claro desdobramento da verdade. A verdade total, em germe, encontra-se no proto-evangelho proferido aos nossos primeiros pais (Gn. 3.15 - a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente).
c) Cada um desses escritos, quer antigos quer tardios, têm representado idéias morais e religiosas em grande avanço na época em que apareceram e essas idéias ainda dirigem o mundo. Todas as nossas idéias com todo o espírito progressista do cristianismo moderno devem-se às Escrituras. As nações clássicas não tinham tais idéias nem tal espírito a não ser quando os herdaram dos hebreus. A profecia de Virgílio em sua quarta Écloga, sobre a vinda de uma virgem e do reino de Saturno e a volta do período áureo era apenas o eco dos livros sibilinos e da esperança de um Redentor com a qual os judeus fermentaram o mundo romano todo.
d) É impossível dar conta dessa unidade sem supor tal sugestão sobrenatural e controle que a Bíblia, enquanto em suas variadas partes escrita por agentes humanos, é ainda igualmente a obra de uma inteligência sobre-humana. Podemos contrastar as contradições e refutações que seguem simplesmente as filosofias humanas com a harmonia entre os diferentes escritores da Bíblia - p.ex., o idealismo hegeliano e o materialismo de Spencer. Hegel é "um nome para jurar como também pelo qual jurar". O Dr. Stirling, Secret of Hegel, "guarda todo o segredo para si, se é que o conhece". Uma ocasião um francês perguntou a Hegel se ele não podia englobar e expressar sua filosofia em uma sentença. "Não", respondeu Hegel, 'pelo menos em francês". Se for verdadeira a máxima de Talleyrand de que aquilo que não for inteligível não é francês, a resposta de Hegel está correta. Hegel dizia a respeito dos seus discípulos: "I [falha no livro]
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Goeschel, Gabler, Daub, Marheinecke, Erdmann, são a ala direita de Hegel, ou representantes ortodoxos e seus seguidores no campo da teologia. Hegel é seguido por Alexander e Bradley na Inglaterra, mas contraditado por Seth e Schiller. Upton, Hibbert Lectures, 279-300, dá grandioso valor à sua posição e influência: Hegel é todo pensamento e vontade. A oração não tem nenhum efeito para Deus; é um fenômeno parapsicológico. Não existe livre vontade; o pecado humano assim como a santidade é manifestação do Eterno. A evolução é um fato, mas só a evolução fatalista. Contudo, Hegel prestou o grande serviço de substituir o conhecimento da realidade em favor da relatividade opressiva kantiana e, através do banimento da antiga noção de matéria como substância misteriosa inteiramente diferente e incompatível com as propriedades da mente. Ele também prestou o grande serviço de mostrar que as interações matéria e mente só se explicam pela presença do Todo Absoluto em cada parte, embora estivesse grandemente errado ao explicar que a idéia da unidade Deus/homem além dos seus limites próprios e ao negar que Deus deu à vontade do homem qualquer poder de se colocar em antagonismo à vontade do próprio Deus. Hegel presta um grande serviço ao mostrar que não podemos conhecer nem mesmo a parte se não conhecermos o todo, mas erra ao ensinar, como T. S. Green, que as relações constituem a realidade da coisa. Ele priva tanto a existência física como a psíquica do grau de individualidade ou de independência essencial tanto à ciência como à religião. Não queremos a mera idéia, mas a sua verdadeira força; não o mero pensamento, mas a verdadeira vontade.
B) A mente que fez a Bíblia é a mesma que fez a alma, porque a Bíblia adapta-se divinamente à alma: a) Mostra completo conhecimento da alma. A Bíblia se destina a todas as partes da natureza do homem. Existem a Lei e as Epístolas em benefício da razão do homem; os Salmos e os Evangelhos para os sentimentos; os Profetas e as Revelações para a sua imaginação. Daí a popularidade das Escrituras. Sua variedade sustenta os homens. A Bíblia entrelaçou-se à vida moderna. Lei, literatura, arte, tudo isso molda a sua influência.
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b) Julga a alma - contraditando suas paixões, revelando sua culpa e humilhando seu orgulho. Nenhum produto da mera natureza humana pode contemplá-la e condená-la. A Bíblia nos fala a partir de um nível mais elevado. As palavras da mulher samaritana aplicam-se a todo o orbe da revelação divina; contanos todas as coisas que fazemos (Jo. 4.29). Um brâmane declarou que Rm. 1, com toda a sua descrição dos vícios pagãos, deve ter sido forjado depois que os missionários vieram à índia.
c) Vai ao encontro das mais profundas necessidades da alma através de soluções de seus problemas, revelações do caráter de Deus, apresentações do caminho do perdão, consolações e promessas de vida e de morte. Nem Sócrates, nem Sêneca realçaram a natureza, a origem e as conseqüências do pecado cometido contra a santidade de Deus, nem assinalaram o caminho do perdão e da renovação. A Bíblia nos ensina o que a natureza não pode, isto é: a criação de Deus, a origem do mal, o método da restauração, a certeza do estado futuro e o princípio do galardão e do castigo.
d) Contudo, silencia a respeito de muitas questões para as quais os escritos de origem puramente humana buscam prover soluções. Compare o relato da infância de Jesus com as fábulas dos Apócrifos do N.T.: observe as raras afirmações da Escritura relativas ao futuro com as revelações de Maomé e Swedenborg sobre o Paraíso.
e) Há abismos infinitos e inesgotáveis alcances de sentido na Escritura, que a diferenciam de outros livros e que nos compelem a crer que seu autor deve ser divino.
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Sir Walter Scott, no seu leito mortal: "Traze-me o livro!" "Que livro?" disse Lockhart, seu genro. "Há apenas um livro", disse o moribundo. Reville conclui um Ensaio na Revue des deux Mondes (1864): "Um dia começou a perguntar numa assembléia que livro condenava o homem à prisão perpétua e a quem seria permitido levar à cela a não ser um livro. O grupo era formado de católicos, protestantes, filósofos e até mesmo de materialistas, mas todos concordavam em que a sua escolha recairia sobre a Bíblia".
2. Sistema Moral do Novo Testamento Geralmente admite-se a perfeição deste sistema. Todos admitirão que ele ultrapassa grandemente qualquer outro sistema conhecido entre os homens. Entre suas características distintivas podem ser mencionadas: a) Sua compreensibilidade, incluindo todos os deveres do homem em seu código, mesmo os geralmente menos compreendidos e negligenciados enquanto não permite nenhum vício qualquer que seja. O budismo considera a vida familiar como pecaminosa. Muitos filósofos antigos condenavam o suicídio. Entre os espartanos, o furto era louvável; só quando apanhados roubando considerava-se crime. Os tempos clássicos desprezavam a humildade. Thomas Paine dizia que o cristianismo cultivava "o espírito de um bajulador" e J. S. Mill afirmava que Cristo ignorava os deveres para com o estado. Contudo, Pedro estimula os cristãos a acrescentarem à sua fé a varonilidade, a coragem, o heroísmo (2 Pe. 1.5 "acrescentai à , vossa fé a virtude"), e Paulo declara que o estado é uma instituição de Deus (Rm. 13.1 - "Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus e as autoridades foram ordenadas por Deus"). A defesa patriótica da unidade nacional e da liberdade sempre tem o seu principal estímulo e base nestas injunções da Escritura. E. G. Robinson: "A ética cristã não contém nenhuma partícula de palha - é feita toda de puro trigo".
b) Sua espiritualidade, não aceitando nenhuma conformidade simplesmente exterior com os preceitos justos, mas julgando toda ação através dos pensamentos e motivos dos quais ela surge.
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A superficialidade da moral paga é bem ilustrada pelo tratamento do cadáver de um sacerdote em Sã: Cobre-se o corpo com folhas douradas e depois deixa-se apodrecer e brilhar. O paganismo divorcia a religião da ética. As observâncias exteriores e cerimoniais tomam o lugar da pureza do coração. Por outro lado, o Sermão da Montanha pronuncia a bênção somente sobre o estado interior da alma. SI. 51.6 - "Eis que amas a verdade no íntimo e no oculto me fazes conhecer a sabedoria"; Mq. 6.8 - "o que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a beneficência e andes humildemente com teu Deus?"
c) A simplicidade, inculcando princípios ao invés de impor regras; reduzindo estes princípios a um sistema orgânico; e estabelecendo conexão deste sistema com a religião, resumindo todo o dever humano a uma ordem do amor a Deus e ao próximo. O cristianismo não apresenta nenhum extenso código de regras como o dos fariseus ou dos jesuítas. Tais códigos sucumbem sob o seu próprio peso. As leis do estado de Nova Iorque constituem apenas uma biblioteca própria que são de domínio exclusivo dos juristas. Conta-se que o maometano tem registrados sessenta e cinco mil exemplos especiais em que o leitor é orientado como agir corretamente. O mérito do sistema de Jesus é que todos os requisitos se reduzem a um. Mc. 12.29-31 - Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. Ε o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes". Wendt, Teaching of Jesus, 2.384,814, chama a atenção para a unidade interior do ensino de Jesus. A doutrina de que Deus é um Pai amoroso aplica-se com incontestável consistência. Jesus confirmava tudo o que é verdadeiro no A.T. e punha de lado o que é indigno. Ele não ensina tanto a respeito de Deus e do seu reino e da comunhão ideal entre Deus e o homem. A moralidade é a expressão necessária e natural da religião. Em Cristo, ensino e vida se mesclam. Ele representa a religião que ensina.
Teologia Sistemática (Strong) 354 d) Sua praticabilidade, exemplificando seus preceitos na vida de Jesus Cristo; e enquanto declara a depravação e incapacidade do homem de guardar a lei, fornecendo motivos para a obediência e o auxílio do Espírito Santo para torná-la possível. A revelação tem dois lados: A lei moral e a provisão para o cumprimento da lei moral, que foi quebrada. Os sistemas pagãos podem incitar reformas temporárias e podem aterrorizar com ameaças de castigo. Mas só a graça regeneradora de Deus pode tornar boa a árvore de tal sorte que o seu fruto também seja bom (Mt. 12.33). Há diferença entre tocar o pêndulo do relógio e dar corda neste: aquilo pode pô-lo temporariamente em movimento, mas isto pode garanti-lo regular e permanente. O sistema moral do N.T. não é meramente uma lei; é também graça: Jo. 1.17- "a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Cristo". O trato do Dr. William Ashmore representa um chinês num poço. Confúcio olha para o poço e diz: "Se você tivesse feito o que eu lhe disse você nunca teria entrado aí". Buda olha para dentro do poço e diz: "Se você estivesse aqui em cima eu lhe mostraria o que fazer". Deste modo procedem tanto Confúcio quanto Buda. Jesus salta para dentro do poço e ajuda o pobre chinês a sair. No Congresso de Religiões em Chicago foram propostos muitos ideais de vida, mas nenhuma religião a não ser o cristianismo mostrou que há poder para realizar tais ideais. Quando Joseph Cook desafiou os sacerdotes das religiões antigas a responderem a pergunta de Lady Macbeth: "Como limpar o vermelho desta mão direita?" os sacerdotes emudeceram. Mas o cristianismo declara que "o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1 Jo. 1.7). E. G. Robinson: O cristianismo, é diferente de todas as outras religiões porque 1) é uma religião histórica; 2) porque torna a lei abstrata em uma pessoa a ser amada; 3) porque fornece uma demonstração do amor de Deus em Cristo; 4) porque prove a expiação do pecado e o perdão do pecador; 5) porque dá força para cumprir a lei e santifica a vida. Bowne, Philos. of Theism, 249 - Ό cristianismo, tornando a lei moral a expressão da Santa Vontade, tirou aquela lei da abstração impessoal e garantiu-lhe o triunfo final. Os princípios morais podem ser o que eram antes, mas a prática moral é sempre diferente. Até mesmo a terra tem outra aparência agora que tem um céu acima dela". Francis Power
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Cobbe, Life, 92 - "A proeza do cristianismo não foi inculcar uma nova moralidade, nem mesmo uma moralidade sistemática) partir da Introdução de um novo espírito para a moralidade; como o próprio Cristo disse, um fermento para a massa informe". Podemos argumentar que um sistema moral tão puro e perfeito, visto que ultrapassa todos os poderes humanos de invenção e corre contra os sabores e paixões naturais dos homens, deve ter tido uma origem sobrenatural, divina. Os sistemas pagãos de moralidade, via de regra, são defeituosos por não fornecer para a ação moral do homem nenhum exemplo, regra, motivo ou fim suficientes. Eles não podem fazer isso porque praticamente identificam Deus com a natureza e não conhecem a clara revelação da sua santa vontade. O homem é abandonado ao seu próprio ser e, visto que ele não é concebido como totalmente responsável e livre, permite-se que os baixos impulsos assim como os elevados influam e o egoísmo não seja considerado como pecado. Como o paganismo não reconhece a depravação, do mesmo modo não reconhece a sua dependência da graça divina e a sua virtude é a justiça própria. O paganismo é o vão esforço do homem para elevar-se a Deus; o cristianismo é a descida de Deus ao homem para salvá-lo. Martineau, 1.15,16 chama a atenção para a diferença entre a ética psicológica do paganismo e a do cristianismo. A ética psicológica começa com a natureza; e, achando na natureza a regra uniforme da necessidade e a operação da causa e do efeito, chega por fim ao homem e aplica-lhe a mesma regra, extinguindo deste modo toda fé na personalidade, na liberdade, na responsabilidade, no pecado e na culpa. A ética psicológica, ao contrário, sabiamente começa com aquilo que melhor conhecemos, isto é, o homem; e, achando nele a livre vontade e um propósito moral, continua a exteriorizar-se na natureza e interpreta-a como a manifestação da mente e vontade de Deus. "A ética psicológica é peculiar ao cristianismo. ... Outros sistemas começam com a parte exterior e consideram a alma como homogênea ao universo aplicando à alma o princípio da necessidade que prevalece fora dela. ... Na religião cristã, por outro lado, o interesse, o mistério do mundo concentram-se na natureza humana. ... O senso de pecado - sentimento que
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não deixou traço nenhum em Atenas - envolve uma consciência de alienação pessoal do Bem Supremo; a aspiração pela santidade dirige-se à união de sentimento e vontade com a fonte de toda a Perfeição; o agente da transformação do homem a partir da velha alienação para a nova reconciliação é uma Pessoa de quem os elementos divino e humano dependem; e o Espírito santificador pelo qual eles são sustentados nas alturas mais puras da vida, é uma viva ligação da comunhão entre a mente deles e a Alma das almas. ... Deste modo, a Natureza, para a consciência cristã, imerge no acidental e no neutro". Medindo-nos a nós mesmos pelos padrões humanos, alimentamos o orgulho; medindo-nos a nós mesmos pelos padrões divinos, alimentamos a humildade. As nações pagas, ao identificar Deus com a natureza ou com o homem, não são progressivas. A arquitetura plana do Partenon, com suas linhas paralelas à terra, tipifica a religião paga; os arcos aspirados da catedral gótica simbolizam o cristianismo. Sterrett, Studies in Hegel, 33, diz que Hegel caracteriza a religião chinesa como a da medida, ou conduta temperada; o bramanismo, como a da Fantasia, ou inebriante vida de sonhos; o budismo como o autoenvolvimento; a do Egito, como a embrutecida relação do Enigma, simbolizado pela Esfinge; a da Grécia, como a religião do Belo; a judaica, como a religião da Sublimidade; e o cristianismo, como a religião absoluta da verdade e liberdade plenamente reveladas. Em tudo isto Hegel deixa de firmar-se nos elementos da Vontade, da Santidade, da Vida, que caracterizam o judaísmo e os distinguem de todas outras religiões. R. H. Hutton: "O judaísmo nos ensina que a natureza deve ser interpretada pelo nosso conhecimento de Deus, não Deus pelo conhecimento da Natureza". Lyman Abbott: Ό cristianismo não é uma nova vida, mas uma nova força; não é uma convocação para uma nova vida, mas o seu oferecimento; não uma reordenação da velha lei, mas o poder de Deus para a salvação; não o amor a Deus e ao homem, mas a mensagem do Cristo que nos ama e nos ajudará na vida do amor". Beyschlag, N. T. Theology, 5,6 - "O cristianismo postula a abertura do coração do Deus eterno para o coração do homem que vem a ele. O paganismo apresenta o coração do homem desatinadamente agarrando-se à bainha das vestes de Deus e, confundindo a Natureza, sua veste
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majestosa, com o próprio Deus. Só na Bíblia o homem se fixa nas manifestações exteriores de Deus rumo ao próprio Deus".
Em contraste com o sistema cristão de moralidade, os defeitos dos sistemas pagãos são de tal modo marcantes e fundamentais que constituem uma forte evidência corroborativa da origem divina da revelação escriturística. Em vista do que, aduzimos alguns fatos e referências relativas aos sistemas pagãos em particular. 1. CONFUCIONISMO. Confúcio (Kung-fu-tse), 551 -478 a.C, contemporâneo de Pitágoras e de Buda. Sócrates nasceu dez anos após a morte de Confúcio. Mêncio (371-278) foi discípulo de Confúcio. Matheson, em Faiths of the World (St. Giles Lectures), 73-108, reivindica que o confucionismo foi "uma tentativa de substituir uma moralidade por uma teologia". Contudo, Legge, Present Day Tracts, 3. η9 18, mostra que isto é um equívoco. Confúcio somente deixou a religião onde ela se encontrava. Deus, ou o Céu, é adorado na China, mas só pelo imperador. A religião chinesa parece uma sobrevivência do culto da família patriarcal. O pai de família era o único chefe e sacerdote. Na China, embora a família se expandisse na tribo, e a tribo na nação, o pai ainda conservava a sua exclusiva autoridade e, como pai do seu povo, só o imperador oferecia oficialmente sacrifício a Deus. Entre Deus e o povo o abismo se ampliou tanto que se pode dizer que o referido povo praticamente não tinha conhecimento de Deus, ou comunicação com ele. Dr. W. A. P. Martin: Ό confucionismo degenerou-se numa mistura de panteísmo e tornou-se a adoração a uma 'anima mundi', sob formas diretivas da natureza visível". Dr. William Ashmore, numa carta particular: Ό povo comum da China tem: 1) O culto ancestral e o culto a heróis deificados; 2) Geomancia, ou a crença na força controladora dos elementos da natureza; mas atrás destes e antedatando-os, há 3) o culto do Céu e da Terra, ou Pai e Mãe, dualismo bem antigo; isto também pertence ao povo comum, embora uma vez por ano o imperador, como um tipo de sumo sacerdote do seu povo, ofereça sacrifício no altar do Céu; neste só ele atua. 'Joss' afinal não é uma palavra chinesa. É uma forma degenerada da palavra em Português 'Deus'. A palavra 'pidgin' igualmente é uma tentativa de dizer 'business' [negócio,
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ocupação], (big-i-ness ou bidgin). Por isso 'Joss-pidgin' significa simplesmente 'culto divino', ou culto prestado ao Céu e à Terra, ou aos espíritos de qualquer tipo, bons ou maus. Há muitos deuses, uma Rainha do Céu, um Rei do Hades, Deus da Guerra, deus da literatura, deuses das montanhas, vales correntezas, uma deusa da bexiga, da gestação e de todos os negócios dos seus deuses. A mais elevada expressão chinesa é 'Céu', ou 'Supremo Céu', ou 'Céu Azul'. Esta é a indicação sobrevivente de que em tempos mais remotos eles tinham conhecimento de uma Força suprema, inteligente e pessoal que dirigia tudo". O Sr. Yugoro Chiba mostrou que os clássicos chineses permitiam o sacrifício por todo o povo. Mas também é verdade que o sacrifício ao "Supremo Céu" está praticamente limitado ao imperador que, como o sumo sacerdote judeu, oferece uma vez por ano pelo seu povo. Confúcio nada fez para estabelecer a moralidade em base religiosa. Na prática, as relações dos seres humanos entre si são as únicas em consideração. Usufruem-se a benevolência, a retidão, a propriedade, a sabedoria, a sinceridade, mas não se diz nenhuma palavra sobre o relacionamento do homem para com Deus. O amor a Deus não é um mandamento - não se pensa nisto como uma coisa possível. Embora o ser humano seja teoricamente uma ordenança de Deus, o homem é uma lei para si mesmo. O primeiro mandamento de Confúcio é o da piedade filial. Mas isto inclui a adoração dos ancestrais mortos e há tanto exagero como sepultar da vista os deveres relativos ao marido para com a mulher e do pai para com o filho. Confúcio torna um dever do filho matar o assassino do pai, assim como Moisés insiste numa pena retaliativa com derramamento de sangue. Ele tratava os seres invisíveis e superiores com respeito, mas mantinha-os a distância. Reconhecia o "Céu" da tradição; mas ao invés de aumentar o nosso conhecimento a seu respeito, abafava qualquer pergunta. Dr. Legge: "Tenho estado lendo livros chineses por mais de quarenta anos e qualquer exigência do amor a Deus, ou menção a qualquer que realmente o ame ainda está para passar pelos meus olhos". Ezra Abbot afirma que Confúcio deu uma regra áurea em forma tanto positiva quanto negativa. Contudo, parece que Dr. Legge, Religions of China, 1-58, nega-o. Wu Ting Fang, outrora ministro chinês para Washington, admite a afirmação de que Confúcio deu uma regra áurea
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apenas em sua civilização agressiva, que por isso, tornou-se dominante. A regra áurea que Confúcio deu é: "Não façais aos outros o que não quiserdes que eles vos façam". Compare isto com Isócrates: "Sede para os vossos pais o que quiserdes que os vossos filhos sejam para vós. ... Não façais aos outros as coisas que vos façam irar quando os outros vo-las fizerem"; Heródoto: "Aquilo que eu punir em outro homem, eu, por mim mesmo, evitarei"; Aristóteles: "Devemos nos portar para com os nossos amigos como queremos que eles se portem para conosco"; Tobias 4.15 - "Não faças a ninguém aquilo que detestas"; Filo: "O que detestas suportar, não lho faças"; Sêneca nos manda: "dá como queres receber"; Rabino Hillel: Ό que quer que vos aborreça, não o façais a outrem; eis a lei completa e o demais é explicação". (Em espanhol: "manos qui no dais qui esperais?"; no Brasil: "Deus lhe dê em dobro o que você me deseja"). Broadus, American Commentary on Matthew, 161 (O tradutor faz citação da Edição em Português, Comentário de Mateus, John A. Broadus, Vol. I, 1949, Casa Publicadora Batista, p. 234a): "Deve notar-se que os ditos de Confúcio, Isócrates e dos três mestres judaicos, são meramente negativos; o de Sêneca limita-se a dar e o de Aristóteles limita-se ao tratamento dos amigos. Nosso Senhor dá uma regra de ação positiva, e para todos os homens". Ele ensina que eu estou incumbido de fazer aos outros tudo o que eles poderiam com justiça desejar que eu lhes fizesse. Por isso a regra áurea requer uma suplementação, para mostrar o que os outros podem com justiça desejar, a saber, em primeiro lugar a glória de Deus e o bem-estar deles como segunda e incidental conseqüência. O cristianismo fornece este padrão divino e perfeito; a falha do confucionismo é que não tem nenhum padrão mais elevado que a convenção humana. Conquanto o confucionismo exclua o politeísmo, a idolatria e a deificação do vício é um sistema sem profundidade e tantalizante, porque não reconhece a corrupção hereditária da natureza humana, nem fornece remédio algum para o mal moral a não ser as "doutrinas dos sábios". Ό coração do homem", diz, "é de modo natural perfeitamente íntegro e correto". O pecado é apenas "uma doença, a ser curada com a autodisciplina; a dívida deve ser cancelada pelos atos meritórios; remove-se a ignorância através do estudo e da contemplação".
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2. OS SISTEMAS HINDUS. O bramanismo, expresso nos Vedas, data de 1000 a 1500 a.C. Como Caird (em Faiths of the World, St. Giles Lectures, preleção i) mostrou que ele se originou na contemplação da força na natureza independente da Pessoalidade moral que opera na natureza e através dela. Na verdade, podemos dizer que todo o paganismo é uma escolha humana do Deus amoral em lugar de um Deus moral. O bramanismo é um sistema de panteísmo, "uma consagração falsa ou ilegítima do finito". Todas as coisas são manifestação de Brama. Por isso o mal é deificado do mesmo modo que o bem. Muitos milhares de deuses são adorados como representações parciais do princípio vivo que se move através de tudo. "Quantos deuses têm os hindus" perguntava o Dr. Duff à sua classe. Henry Drummond pensava que houvesse vinte e cinco. "Vinte e cinco?" retrucou indignado o professor; "vinte e cinco milhões de milhões!" Enquanto os antigos Vedas apresentam um culto à natureza relativamente puro, mais tarde o bramanismo se torna o culto do vicioso, e do vil, do não natural e do cruel. Jaganata (= Vishnu, sob seu avatar Krishna, que significa: Senhor do Mundo. O verdadeiro centro é Krishna. Jaganata e Puri, e as cerimônias com ele relacionadas adquirem, por vezes, caráter licencioso; E.B.M.) e o sati (= cremação voluntária da mulher indiana que subia à fogueira em que se incinerava o marido, para acompanhá-lo na morte; C. Aulete in loco) não pertenciam à religião original hindu. Bruce, Apologetics, 15 - "Na teoria, o panteísmo sempre significa, na prática, politeísmo". Os antigos Vedas manifestam esperança no espírito; mais tarde, o bramanismo vem a ser a religião do desapontamento. A casta se fixa e se consagra como uma manifestação de Deus. Originariamente pretendia expressar, em suas quatro divisões - sacerdote, soldado, agricultor, escravo - os diferentes graus de ausência de participação terrena e a atuação interna do elemento divino e torna-se um encadeamento de elos de ferro a impedir toda a aspiração e progresso. A religião hindu procurava exaltar a receptividade, a unidade da existência e o repouso a partir da autodeterminação e das suas lutas. Por isso ela atribuía aos seus deuses o mesmo caráter das forças da natureza. Deus é a força comum do bem e do mal. Sua ética é a de indiferença moral. Sua caridade é a que se dirige ao pecado e a temperança que ela deseja é a que só deixa intemperante. Mozoomdar, por exemplo, está pronto a aceitar tudo no cristianismo, menos
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a sua reprovação ao pecado e demanda de retidão. O bramanismo degrada a mulher, mas deifica a vaca. O budismo, começando com Buda, 600 a.C, "convoca a mente para uma elevação acima do finito", de que o bramanismo sucumbiu. Em certo sentido, Buda foi um reformador. Ele protestava contra as castas e proclamava que a verdade e amoralidade valem para todos. Por isso, o budismo, possuidor de uma pequena parcela de verdade, apela para o coração humano e torna-se, depois do cristianismo, a maior religião missionária. Observe, em primeiro lugar, o seu universalismo. Entretanto, observe também que se trata de um falso universalismo, pois ignora o individualismo e leva à estagnação e à escravidão. Enquanto o cristianismo é uma religião da história, da vontade, do otimismo, o budismo é uma religião de ilusão, de quietismo, de pessimismo. Ao caracterizar o budismo como religião missionária, devemos notar, em segundo lugar, seu elemento de altruísmo. Porém, tal altruísmo destrói o eu, ao invés de preservá-lo. O futuro Buda, da compaixão para o famélico tigre, permite que esta fera o devore. "Encarnado numa lebre, ele pula no fogo para cozer-se a fim de servir de alimento a um mendigo, tendo antes disso se abalado três vezes de sorte que nenhum dos insetos em seu pelo pereçam com ele. Buda pretende livrar o homem não através da filosofia, nem do ascetismo, mas da auto-renúncia. Todo o isolamento e pessoalidade são pecado cuja culpa, contudo, repousa não sobre o homem, mas sobre a existência em geral. Enquanto o bramanismo é panteísta, o budismo, em seu espírito é ateísta. Pfleiderer, Philos. Religion, 1.285 - "A acomia bramânica, que tinha explicado o mundo como simples aparência, conduziu ao ateísmo budista". A acomodação e a separação constituem um mal e o único meio de purificar e descansar é deixar de existir. Isto é o pessimismo essencial. A mais elevada moralidade é agüentar aquilo que deve aparecer e escapar da realidade e da existência pessoal tão logo seja possível. Daí a doutrina do Nirvana. Rhys Davis, em Hibbert Lectures, defende que o budismo primitivo identificado por Nirvana, não é uma aniquilação, mas a extinção da vida própria e que isto se atinge durante a presente existência mortal do homem. Porém o termo Nirvana agora significa, para a grande maioria dos que o empregam, a perda de toda a pessoalidade e consciência e a absorção na vida geral do universo. Originariamente o termo denotava só a liberdade do
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desejo do indivíduo e os que entraram para o Nirvana podiam ainda sair dele. Mas mesmo em sua forma original, procurava-se o Nirvana só a partir de um motivo egoísta. A auto-renúncia e a absorção no todo não era o entusiasmo da benevolência; era o refúgio do desespero. Trata-se de uma religião sem deus ou sem sacrifício. Ao invés da comunhão com um Deus pessoal, o budismo tem em vista só a extinção da pessoalidade como recompensa das indizíveis eras da auto-conquista solitária que se estende através de muitas transmigrações. De Buda, na verdade se tem dito "que tudo aquilo que ele tinha para satisfazer a necessidade do homem Nada era e o melhor do seu ser é Apenas o não ser". Wilkinson, Epic of Paul, 296 "Ele, por seu próprio ato de morrer em todo o tempo, Em incessante esforço de parar totalmente, Querer querendo não querer Deseja desejando não mais desejar até que, por fim a fugitiva caminhada para ser livre, emancipe Apenas tornando-se nada". A respeito de Cristo, com precisão, diz Bruce: "Que contraste este médico da enfermidade e Pregador do perdão ao mais indigno, para Buda a religião da desesperança!" O budismo é fatalista. Ele inculca submissão e compaixão - virtudes meramente negativas. Mas nada entende da liberdade humana, ou do amor ativo - virtudes positivas do cristianismo. Leva o homem a fazer concessões aos seres humanos, mas não a ajudá-lo. Sua moralidade não gira em torno de Deus, mas do eu. Não tem em si nenhum princípio organizador, pois não reconhece de modo algum Deus, nem inspiração, nem alma, nem salvação, nem imortalidade pessoal. O budismo salva o homem apenas induzindo-o a fugir da existência. Para o hindu, a vida familiar envolve pecado. O homem perfeito deve deixar a esposa e os filhos. Toda a gratificação dos apetites e paixões naturais é um mal. A salvação não se refere ao pecado, mas ao desejo e disto o homem pode ser salvo escapando da própria vida. O cristianismo sepulta o pecado, mas salva o homem; Buda salva o homem matando-o. O cristianismo simboliza a entrada do convertido na nova vida levantando-o das águas batismais; o batismo budista deve consistir numa imersão sem emersão. A idéia fundamental do bramanismo, extinção da pessoalidade, continua a mesma no budismo; a única diferença é que o resultado é garantido pela expiação ativa naquele e contemplação passiva neste. A virtude e o conhecimento de que tudo na terra é uma desvanecedora centelha da luz original liberam o homem da existência e da miséria.
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Prof. G. H. Palmer, de Harvard, in The Outlook, 19 jun. 1897-"O budismo difere do cristianismo pelo fato de abolir a miséria abolindo o desejo; nega a pessoalidade ao invés de afirmá-la; tem muitos deuses, mas nenhum Deus vivo e consciente; reduz a existência em vez de alongá-la como recompensa da retidão. O budismo não faz nenhuma provisão para a família, para a igreja, para o estado, para a ciência e para a arte. Dá-nos uma religião escassa, enquanto necessitamos de uma farta". Dr. Ε. Benjamin Andrews: "Schopenhauer e Spencer são apenas mestres do budismo. Eles consideram a fonte central de tudo como uma força desconhecida em vez de considerá-la um Espírito vivo e santo. Isto retira todo o impulso para uma investigação científica. Não é preciso partirmos de uma coisa, mas de uma Pessoa". Para comparação do sábio da índia, Xáquia Muni, mais freqüentemente chamado Buda (apropriadamente "o Buda" = o iluminado; mas que, apesar do título "Luz da Ásia" dado por Edwin Arnold, é representado não como o purificado dos prazeres carnais antes de começar a sua obra), com Jesus Cristo, ver Kellogg, The Light of Asia and the Light of the World; Beal, Catena of Buddhist Scriptures, 153 - Ό Budismo declara ignorar qualquer modo de existência pessoal compatível com a idéia de perfeição espiritual e, consequentemente, ignorar Deus"; 157 - "A mais primitiva idéia do Nirvana parece ter incluído em si não mais que o gozo de um estado de descanso como conseqüência da extinção de todas as causas da tristeza". O fato de que o próprio Buda foi uma apresentação apoteótica para fornecer um objeto de adoração mostra a impossibilidade de satisfazer o coração humano com um sistema de ateísmo. Foi assim que o budismo transformou-se em bramanismo. Monier Williams: "Maomé tem muito mais direito de reivindicar o título de 'a Luz da Ásia' do que Buda. De onde vem a luz de Buda? Não vem da depravação do coração, ou da origem do pecado, ou da bondade, justiça, santidade, paternidade de Deus, ou remédio para o pecado, mas unicamente de sair do sofrimento fugindo da vida - doutrina do merecimento, da autoconfiança, do pessimismo e da aniquilação da pessoalidade". Cristo, o ser pessoal, amoroso e santo, mostra que Deus é uma pessoa de santidade e amor. Robert Browning: "Aquele que criou o amor não amará?"
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Unicamente porque Jesus é Deus é que temos um evangelho para o mundo. A reivindicação de que Buda é "a Luz da Ásia" lembra a do homem que declarou que a lua vale mais que o sol porque ela brilha na escuridão enquanto o sol brilha de dia quando não há necessidade. 3. SISTEMAS GREGOS. Pitágoras (584-504) baseia a moralidade no princípio dos números. Ό bem moral é identificado com a unidade; o mal com a multiplicidade; a virtude é a harmonia da alma e sua semelhança com Deus. O objetivo da vida é fazer representar a bela ordem do universo. Toda a tendência prática do pitagorismo é ascética e inclui um estrito controle e uma diligente cultura". Parece que já vemos aqui o defeito da moralidade grega confundindo o bem com o belo e fazendo a moralidade um simples autodesenvolvimento. Matheson, Messages of the Old Religions. A Grécia revela a intensidade da hora, o valor da vida presente, a beleza do mundo atual. Sua religião é a da bela humanidade. Antecipa o novo céu e a nova terra. Por outro lado Roma firma-se na união, na incorporação, num reino universal. Mas a sua religião deifica só o imperador, não a humanidade. Não é a religião do amor, mas da força e identifica a igreja com o estado. Sócrates (469-400) faz do conhecimento uma virtude. A moralidade consiste em subordinar os desejos irracionais ao conhecimento racional. Apesar de que neste ponto elevamos o bem subjetivamente determinado como a meta do esforço moral, ainda não temos o sentido apropriado do pecado. O motivo não é o amor, mas o conhecimento. Se o homem conhece o direito, ele o pratica. Esta é uma grande alta avaliação do conhecimento. Para Sócrates, o ensino é um tipo de parto - não depositando informação na mente, mas extraindo o conteúdo do nosso próprio conhecimento. (A isto, Sócrates dá o nome de maiêutica = profissão de parteira. A mãe dele exercia tal profissão). Lewis Morris descreve isso como a obra da vida de Sócrates de que "dúvidas lançam fora dúvidas". Sócrates acha justo ferir os inimigos. Ele se orgulha do louvor próprio em seu discurso próximo à morte. Adverte contra a pederastia, embora transija com ela. Não insiste na mesma pureza da vida familiar descrita por Homero em Ulisses e Penélope. Charles Kinsley, em Alton Locke, assinala que o espírito da tragédia grega é o 'homem dominado pela circunstância'. Mas os trágicos gregos, conquanto mostrassem o homem desta forma dominado, contudo ainda o representam
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interiormente livre, como no caso de Prometeu e este sentido da liberdade e responsabilidade humanas aparece até certo ponto em Sócrates. Platão (430-348) sustenta que a moralidade é o prazer do bem, como o verdadeiramente belo e que o conhecimento produz virtude. O bem tem semelhança com Deus; aqui temos vislumbres de um objetivo e modelo fora do humano. O corpo, como a matéria, sendo inerentemente mau, é um embaraço para a alma; vislumbra-se aqui a depravação hereditária. Mas Platão "reduz o mal moral à categoria de mal natural". Ele deixa de reconhecer Deus como o criador e senhor da matéria; deixa de reconhecer a depravação do homem devida à sua própria apostasia de Deus; deixa de encontrar a moralidade na vontade divina ao invés de encontrá-la na própria consciência do homem. Ele nada sabe da humanidade comum e considera a virtude como prerrogativa de poucos. Como não há pecado comum, do mesmo modo não há redenção comum. Platão pensa encontrar Deus só através do intelecto, quando só a consciência e o coração conduzirem a ele. Ele crê numa liberdade da alma num estado preexistente em que se faz uma escolha entre o bem e o mal, mas crê que depois de tomada a decisão anterior à terrena, os destinos determinam os atos e vida do homem de modo irreversível. A razão conduz dois cavalos: o apetite e a emoção. Porém o curso deles já está predeterminado. O homem age do modo em que a razão administra. Todo o pecado é ignorância. Nada há nesta vida a não ser o determinismo. Martineau, Types, 13,48,49,78,88 - Platão, de um modo geral, não tem uma noção própria da responsabilidade; ele reduz o mal moral à categoria do mal natural. Com uma única exceção suas idéias não são causas. A causa é a mente e a mente é o Bem. O Bem é o ápice e coroa das Idéias. O Bem é a mais elevada das Idéias e esta Idéia mais elevada é uma Causa. Platão tem um frágil conceito de pessoalidade quer em Deus, quer no homem. Embora Deus seja uma pessoa, em qualquer sentido o homem é uma pessoa e a pessoalidade do homem é a autoconsciência reflexiva. A vontade em Deus ou no homem não é tão clara. A justiça se dilui no Bem. Platão defende o infanticídio e o extermínio dos velhos e desamparados. Aristóteles (384-322) deixa de lado até mesmo o elemento de semelhança com Deus e o mal anterior ao terreno que Platão de modo tão obscuro reconhece e faz da moralidade o fruto da mera autoconsciência
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racional. Ele admite a inclinação para o mal, porém recusa-se a chamá-la de imoral. Defende uma certa liberdade da vontade e reconhece as tendências inatas que batalham contra esta liberdade, mas não sabe dizer como tais tendências se originaram, nem como o homem pode livrar-se delas. Nem tudo pode ser moral; a maior parte pode ser impelida pelo medo. Ele não encontra em Deus nenhum motivo e o amor a Deus não é tanto como se acha mencionado como fonte da ação moral. O homem orgulhoso, seguro, egocêntrico e reservado é o seu tipo ideal. Alexander, Theories of Will, 39-54 - Aristóteles sustenta o desejo e a razão como as fontes da ação. Contudo ele não sustenta que o conhecimento por si mesmo tornaria o homem virtuoso. Ele é determinista. As ações são livres apenas no sentido de que devem ser causadas por compulsão externa. Via a escravidão como racional e justa. Butcher, Aspect of Greek Genius, 76 - "Enquanto Aristóteles atribuía ao Estado uma pessoalidade mais completa do que realmente possui, não se apega à profundeza e sentido da pessoalidade do indivíduo". A. H. Strong, Christ in Creation, 289 -Aristóteles não tem nenhuma concepção de unidade da raça humana. A sua doutrina da unidade não vai além do Estado. "Diz que Ό todo vem antes das partes', mas para ele Ό todo' é o mundo pan-helênico, o reino unido dos gregos; nunca pensa na humanidade e a expressão 'gênero humano' nunca sai dos seus lábios. Ele não pode entender a unidade da raça humana porque ele nada conhece a respeito de Cristo, seu princípio organizador". Sobre a concepção aristotélica de Deus, ver James Ten Broeke, em Bap. Quar. Rev., jan. 1892 - Reconhece-se Deus como pessoal, embora ele não seja o Pai vivo, amoroso, provedor da revelação hebréia, mas apenas a Razão Grega. À dinâmica em seu tratamento da causalidade divina Aristóteles substitui a lógica. Deus não é poder; é pensamento. Epicuro (342-270) considera a felicidade, sentimento subjetivo do prazer, como o mais elevado critério da verdade e do bem. Um cálculo prudente para o prolongado prazer é a mais elevada sabedoria. Ele leva em conta apenas esta vida. É tolice preocupar-se com o galardão e com a mais elevada sabedoria. Se há deuses, estes não se preocupam com o homem. "Sob o pretexto de atender à sua tranqüilidade, Epicuro saúda os deuses e os despede da existência". A morte é a separação dos átomos e a cessação eterna da consciência. As misérias desta vida se devem à imperfeição do universo fortuita-mente construído. Quanto mais numerosas tais imerecidas
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misérias, maior é o nosso direito de buscar o prazer. Alexander, Theories of the Will, 55-75 – Os epicuristas sustentam que a alma é formada de átomos, mas a vontade é livre. Os átomos da alma são isentos da lei de causa e efeito. O átomo pode declinar ou desviar na queda universal; esta é a idéia epicurista de liberdade. Todos os gregos céticos, embora materialistas sustentavam este indeterminismo. Zenão, fundador da filosofia estóica (340-264), considera a virtude como o único bem. O pensamento deve subjugar a natureza. O espírito livre é legislador de si mesmo, dependente de si mesmo e auto-suficiente. O critério da verdade e do bem é não sentir, mas pensar. O prazer não é o fim da ação moral, mas a sua conseqüência. Há um irreconciliável antagonismo da existência. O homem não pode reformar o mundo, mas pode aperfeiçoarse. Por isso o orgulho ilimitado é uma virtude. O sábio nunca se arrepende. Não há o mínimo reconhecimento da corrupção moral da humanidade. Não há nenhum ideal divino objetivo, ou vontade divina revelada. O estóico só descobre a lei moral interior e nunca suspeita da sua própria perversão moral. Por isso ele mostra controle próprio e justiça, mas nunca humildade e amor. Ele não necessita de compaixão ou perdão, e não admite nada para os outros. A virtude não é um caráter exteriormente operante, mas uma resistência passiva à realidade irracional. O homem pode retratar-se a si mesmo. O estóico é indiferente ao prazer e à dor, não porque ele crê num governo divino, ou num amor divino para com a humanidade, mas como um orgulhoso desafio do mundo irracional. Ele não precisa de Deus ou da redenção. Como o epicurista se dá aos prazeres do mundo, o estóico se dá à queixa dele. Em todas aflições ele pode dizer: "A porta está aberta". Para o epicurista o refúgio é a intoxicação; para o estóico o refúgio é o suicídio: "Se a casa fumega, abandone-a". Wuttke, Christian Ethics, 1.62-161, de quem se condensam muitos destes relatos dos sistemas gregos, descreve o epicurismo e o estoicismo tornando igualmente subjetiva a moral, embora o epicurismo considere o espírito como determinado pela natureza, enquanto o estoicismo considera a natureza como determinada pelo espírito. Os estóicos são materialistas e panteístas. Embora falem em um Deus pessoal, fazem-no como figura de linguagem. A falsa opinião é a raiz de todo o vício. Crísipo nega o que nós chamamos de liberdade de indiferença, dizendo que não pode haver efeito sem causa. O homem é escravo da
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paixão. Os estóicos não podem explicar como um viciado pode tornar-se virtuoso. O resultado é apatia. O homem só age segundo o caráter; esta é a doutrina do destino. A indiferença estóica ou apatia no infortúnio não é uma proeza, mas um covarde recuo. É no verdadeiro sofrimento do mal que o cristianismo encontra "a alma do bem". O ofício do infortúnio é disciplinar e purificar. "A sombra da pessoa do sábio, projetada no vazio, chama-se Deus e, como o sábio há muito abandonou o interesse na prática da vida, ele espera que a sua divindade faça o mesmo". Os estóicos reverenciam Deus exatamente por causa da sua inatingível majestade. O Cristianismo vê em Deus um Pai, um Redentor, um amparador nas mínimas necessidades, um libertador do nosso pecado. Ele nos ensina a ver em Cristo a humildade do ser divino, a afinidade com Deus, o supremo interesse de Deus na obra das suas mãos. Cristo morreu pela menor das suas criaturas. O reinado com Deus dignifica o homem. A individualidade que o estoicismo perde no todo, o cristianismo torna o fim da criação. O estado existe para desenvolvê-lo e promovê-lo. Paulo resume e infunde novo sentido a certas expressões da filosofia estóica sobre a liberdade e realeza do sábio, assim como João adotou e glorificou algumas expressões da filosofia alexandrina sobre o Verbo. O estoicismo é solitário e pessimista. Os estóicos dizem que a melhor coisa é não nascer; depois disso a melhor coisa é morrer. Porque o estoicismo não tem um Deus de socorro e simpatia, sua virtude é só a conformidade com a natureza, com o egoísmo majestoso e com a autocomplacência. Nos romanos Epíteto (89), Sêneca (+65) e Marco Aurélio (121-180), o elemento religioso mais se aproxima do primeiro plano e a virtude mais uma vez aparece como semelhança a Deus. Mas é possível que mais tarde o estoicismo tenha sido influenciado pelo cristianismo. 4. SISTEMAS DA ÁSIA OCIDENTAL. Zoroastro (1000 a.C.), fundador dos parses, era dualista, ao menos quanto à explicação da existência do mal e do bem através da presença original, em tudo, de dois lados opostos no autor. Aqui se encontra um limite na soberania e santidade de Deus. O homem não depende totalmente dele, nem a vontade de Deus é uma lei incondicional para as suas criaturas. Em oposição aos sistemas indianos, a insistência de Zoroastro na pessoalidade divina fornece uma base muito melhor para uma moralidade vigorosa e masculinizante. Deve-se obter a
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virtude através de uma luta dos seres livres contra o mal. Por outro lado, entretanto, concebe-se este mal como devendo-se originariamente não aos próprios seres finitos, mas a uma divindade má que guerreia contra o bem, ou a um princípio mau na própria divindade. Por isso o fardo da culpa é transferido do homem para o seu criador. A moralidade torna-se subjetiva e abalada. O amor próprio e o autodesenvolvimento é que fornecem o motivo e alvo da moralidade e não o amor a Deus ou a imitação a ele. Nenhuma paternidade ou amor se reconhece na divindade e há adoração de outras coisas além de Deus (p.ex., o fogo). Não pode haver nenhum aprofundamento na consciência do pecado, nem esperança de libertação divina. O único mérito do parseísmo é que ele reconhece o conflito moral do mundo; seu erro é que ele conduz este conflito moral à própria natureza de Deus. Podemos aplicar ao parseísmo as palavras da Conferência das Juntas de Missões Estrangeiras junto aos budistas do Japão: "Todas as religiões expressam a dependência do homem, mas só uma prove a comunhão com Deus. Todas as religiões falam de uma verdade mais elevada, mas só uma fala dessa verdade num amoroso Deus pessoal, que é o nosso Pai. Todas as religiões mostram a desesperança do homem, mas só uma fala de um salvador divino, que oferece ao homem o perdão do pecado e a salvação pela morte de uma pessoa rediviva, que opera em todo aquele que nele crê, para torná-lo santo, e justo, e puro". Matheson, Messages of Old Religions, diz que o Parseísmo reconhece um elemento de obstrução no próprio Deus. O mal moral é uma realidade; mas não há nenhuma reconciliação, nem se mostra que todas as coisas cooperam para o bem. Maomé (570-632 A.D.), fundador do islamismo, dá-nos, no Corão, um sistema que contém quatro dogmas de imoralidade fundamentais, a saber, poligamia, escravidão, perseguição, e supressão do juízo privado. O maometismo é o paganismo na forma monoteísta. Seus pontos bons são a consciência e o relacionamento com Deus. Tem prosperado porque tem pregado a unidade de Deus e porque é uma religião de um livro. Mas o mesmo acontece com o judaísmo e o cristianismo. Tem se valido dos santos do Velho Testamento e até mesmo de Jesus. Mas nega a morte de Cristo e não vê necessidade da expiação. Não reconhece a força do pecado. A idéia de pecado, entre os maometanos, é vazia de todo o conteúdo positivo. O
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pecado é tão somente uma falha, explicada pela fraqueza e pouca visão do homem, o que é inevitável no universo fatalista ou no momento de ira não lembrado pelo Pai indulgente e misericordioso. Perdão é indulgência e a concepção de Deus é vazia de qualidade de justiça. O mal só pertence ao indivíduo, não à raça. O homem alcança o favor de Deus através das boas obras, baseadas no ensino profético. A moral não é fruto da salvação, mas um meio para obtê-la. Não há nenhuma penitência ou humildade, mas apenas a justiça própria; e esta é consistente com a grande sensualidade, o ilimitado divórcio e o despotismo absoluto nos negócios de família, nos civis e religiosos. Não há conhecimento da paternidade de Deus ou da fraternidade entre os homens. Em todo o Corão não existe uma declaração como esta: "Deus amou o mundo" (Jo. 3.16). A submissão do islame não tem a ver com o amor de Deus, mas com a vontade arbitrária. No amor não há base para a moral. O mais elevado bem é a felicidade sensual do indivíduo. Deus e o homem são exemplos exteriores um do outro. Maomé é um mestre, mas não é um sacerdote. Mosley, Miracles, 140,141 - "Maomé não tem fé na natureza humana. Ele pensa que há duas coisas que o homem pode e deve fazer para a glória de Deus: praticar formas religiosas, e lutar, e nestes dois pontos ele é severo; mas na esfera da vida prática comum, onde estão as grandes provações do homem, seu código apresenta frouxidão desdenhosa do legislador que acomoda suas regras ao receptor e mostra sua valorização deste pela acomodação que ele adota. ... A natureza humana é fraca', diz ele". Lord Houghton: O Corão é todo sabedoria, todo lei, todo religião, por todo o tempo. Os mortos curvam-se diante do Deus morto. "Embora o mundo esteja girando em constante mudança e os reinos do pensamento estejam em expansão, a letra não se expande ou se altera, mas está rígida como a mão de um morto". A qualquer lugar aonde o maometismo se vai, acha-se ou se faz um deserto. Fairbairn, em Contemp. Rev., dez 1882.866 "O Corão congelou o pensamento maometano; obedecer é abandonar o progresso". Muir, em Present Day Tracts, 3. no. 14 -"O maometismo reduz o homem ao nível da morte da depressão social, do despotismo e do semibarbarismo. O islame é obra do homem; o cristianismo é obra de Deus".
Teologia Sistemática (Strong) 3. A pessoa e o caráter de Cristo
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A) A concepção da pessoa de Cristo, apresentando a divindade e humanidade indissoluvelmente unidas e a concepção do caráter de Cristo com sua infalibilidade e total excelência não podem ser consideradas como hipótese, mas como realidades históricas. A estilóbata do Partenon em Atenas ergue-se cerca de três polegadas em meio a 101 pés (± 34m), e quatro polegadas em meio a 228 pés (± 76m) nos flancos. No entablamento acha-se uma linha mais ou menos paralela. Os eixos das colunas inclinam-se para o interior quase três polegadas numa altura de 34 pés, dando assim um tipo de caráter piramidal à estrutura. Deste modo, o arquiteto supera a aparente curvatura das linhas horizontais e ao mesmo tempo aumenta a aparente altura do edifício. O desprezo da contradição desta ilusão de óptica tornou a Madeleine em Paris uma cópia rígida e ineficaz do Partenon. O camponês galileu que por minuciosamente descrevesse tais particularidades do Partenon provaria, não só que o edifício era realmente histórico, mas que na verdade o tinha visto. Bruce, Apologetics, 343 - "Lendo as memórias dos evangelistas, você se sente como outrora alguém se sentiria numa exposição de quadros. Os seus olhos brilham quando vêem o retrato de uma pessoa conhecida. Você olha para ele com intensidade por um bom tempo e, a seguir, assinala ao seu companheiro: 'Deve ser como o original. - é como se estivesse vivo'". Theodore Parker: "Eu gostaria de ter Jesus para reproduzi-lo".
a) Não se pode atribuir nenhuma fonte de que os evangelistas pudessem ter derivado tal concepção. Os avatares hindus eram apenas uniões temporárias da divindade com a humanidade. Os gregos tinham homens feitos semideuses, mas não união entre Deus e o homem. O monoteísmo judaico achou a pessoa de Cristo um escândalo. Os essênios em princípio se opunham mais ao cristianismo do que os rabinistas. Herbert Spencer, Data of Ethics, 279 - "É impossível a coexistência entre o homem perfeito e a sociedade imperfeita; os dois poderiam coexistir se a conduta resultante não fornecesse o padrão ético procurado". Devemos
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concluir que a humanidade perfeita de Cristo é um milagre, o maior dos milagres. Bruce, Apologetics, 346,351 - "Quando Jesus pergunta: 'Por que me chamas bom?' ele quer significar: 'Aprende primeiro o que é bondade e não chames homem algum de bom enquanto não estiveres seguro de que ele o merece'. A bondade de Jesus é totalmente livre do escrúpulo religioso; distingue-se pela humanidade; é cheia de modéstia e humildade. ... O budismo floresceu há 2000 anos. embora pouco se conheça do seu fundador. O cristianismo poderá perpetuar-se deste modo. mas não é o que acontece. Eu quero estar certo de que o ideal se incorporou na vida real. Caso contrário, trata-se apenas de uma poesia e a obrigação de conformarse com ele cessa".
b) Nenhum simples gênio humano e muito menos o gênio dos pescadores judeus podia ter originado tal concepção. Os maus só inventam tais caracteres com os quais eles simpatizam. Mas o caráter de Cristo condena a maldade. Tal retrato não podia ter sido desenhado sem o auxílio sobrenatural. Mas tal auxílio não seria objeto de fabricação. A concepção só pode ser explicada aceitando que a pessoa e o caráter de Cristo são realidades históricas. Conta-se que entre Pilatos e Tito 30.000 judeus foram crucificados em torno dos muros de Jerusalém. Muitos eram jovens. O que leva alguém a ficar fora das páginas da história? Duas são as respostas: O caráter de Jesus é perfeito e ele é ao mesmo tempo Deus e homem. Gore, incarnation, 63 – "Se o Cristo dos evangelhos não é verdadeiro para a história, representa um esforço combinado da imaginação criativa sem paralelo na literatura. Mas as características literárias da Palestina do primeiro século tornam a hipótese de tal esforço moralmente impossível". Os evangelhos apócrifos mostram-nos o que a simples imaginação é capaz de produzir. O retrato de Cristo não é uma assertiva pueril, insana, histérica, egoística e autocontraditória e isto pode dever-se apenas ao fato de que é a fotografia da vida real. Para uma notável exibição dos argumentos sobre o caráter de Jesus, ver Bushnell, Nature and the Sobrenatural, 276-332 que menciona a originalidade e vastidão do plano de Cristo, apesar da sua simplicidade e
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adaptação prática; seus traços morais de independência, compaixão, mansidão, sabedoria, zelo, humildade, paciência; a combinação de qualidades nele aparentemente opostas. Com toda a sua grandeza, ele foi condescendente e simples; não foi mundano, mas austero; tem sentimentos fortes, embora possuído de si mesmo; indignou-se contra o pecado, mas compadeceu-se do pecador; mostrou devoção ao seu trabalho, mas tranqüilidade sob a oposição; filantropia universal, mas suscetibilidade nos assuntos privados; autoridade de um Salvador e Juiz, mas a gratidão e ternura de um filho; a mais elevada devoção, porém uma vida de atividade e esforço.
B) A aceitação e crença nas descrições de Cristo no Novo Testamento não podem ser explicadas a não ser baseadas no fato de que a pessoa e caráter descritos tem existência real. a) Se estas descrições fossem falsas, ainda haveria testemunhas vivas que tinham conhecido Cristo e que as teriam contraditado. b) Não havia nenhum motivo para induzir a aceitação de tais falsos relatos, mas todo o motivo para o contrário. c) O sucesso de tais falsidades só poderia ser explicado com o auxílio sobrenatural, mas Deus nunca auxiliou a falsidade. Esta pessoa e este caráter, portanto, não devem ter sido fictícios, mas reais; e se reais, então as palavras de Cristo são verdadeiras e o sistema de que sua pessoa e caráter são parte é uma revelação de Deus. "A imitação pode por pouco tempo enganar o mundo todo; mas o aumento da operação da mentira faz nascer a verdade". Matthew Arnold, The Better Pan: "Cristo era um homem como nós? Vejamos se nós também podemos ser homens tais como ele foi!" Quando o espalhafatoso cético declara: "Eu não creio que esse Jesus jamais tenha vivido!" George Warren simplesmente responde: "Eu gostaria de ser como ele!" Dwight L. Moody foi chamado de hipócrita, porém o valoroso evangelista respondeu: "Bem, suponho que eu sou. Como isto o torna melhor? Sei de algo melhor a meu respeito, mas não posso dizer nada contra o meu Mestre". Goethe: "Que a cultura do espírito progrida sempre; que o espírito humano se amplie tanto
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quanto ele deseja; contudo, ele nunca ultrapassará a altura e a cultura do cristianismo como ele cintila e brilha nos evangelhos". Renan, Life of Jesus: "Jesus fundou a religião absoluta, nada excluindo, nada determinando, exceto a sua essência. O alicerce da verdadeira religião na verdade é a obra dele. Depois dele nada restou senão desenvolver e frutificar". Ε um erudito cristão assinalou: "É uma espantosa prova da direção divina conceder aos evangelistas o que ninguém, da sua época, ou desde então, foi capaz de retocar o quadro de Cristo sem desvalorizá-lo". Podemos encontrar uma ilustração disto nas palavras de Chadwick, Old and New Unitarianism, 207 - "A doutrina do casamento ensinada por Jesus era ascética, sua doutrina da pobreza era a comunitária, sua doutrina da caridade era sentimental, sua doutrina da não resistência era tal que se recomenda a Tolstoy, mas não a muitos outros da nossa época. O exemplo de Jesus é o mesmo dos seus ensinos. Seguido sem reservas, não justificaria que se dissesse: "A esperança da raça está na sua extinção; acabar subitamente com todas as nossas alegrias e tristezas?" A isto podemos responder com as palavras de Huxley, que declara que Jesus Cristo é o mais nobre ideal da natureza humana que o ser humano ainda adora". Gordon, Christ of To-Day, 179 - "A questão não é se Cristo é suficientemente bom para representar o Ser Supremo, mas se o Supremo Ser é suficientemente bom para ter Cristo como seu representante. John Stuart Mill encara a religião cristã como o culto a Cristo, ao invés de prestálo a Deus, e explica desta forma o benefício da sua influência". John Stuart Mill, Essays on Religion, 254 – "A mais valiosa parte do efeito sobre o caráter que o cristianismo produz sustentando numa pessoa divina um padrão de excelência e um modelo digno de imitação, é valioso mesmo para o totalmente descrente, e que nunca mais se perde para a humanidade. Porque é Cristo e não Deus que mantém para os que crêem um padrão de perfeição para a humanidade. É o Deus encarnado em vez do Deus dos judeus ou o da natureza, que, sendo idealizado, assumiu tão grande e salutar força na mente moderna. Ε seja o que for retirado de nós pela crítica racional, Cristo ainda permanece: a única figura, não mais diferente de todos os seus antecessores do que todos os seus seguidores, mesmo os que auferiram benefícios diretos da sua pregação pessoal. ... Quem, entre os seus discípulos, ou entre os seus prosélitos, foi capaz de
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inventar palavras atribuídas a Jesus, ou de imaginar a vida e o caráter revelado nos evangelhos? ... A respeito da vida e palavras de Jesus há um selo de originalidade pessoal em combinação com a profundidade de discernimento que, se abandonarmos a ociosa expectação de encontrar precisão científica onde algo bem diferente se objetivava, deve situar o profeta de Nazaré, até na valorização dos que não crêem na sua inspiração, no primeiro nível dos homens de gênio sublime de quem nossa espécie pode orgulhar-se. "Quando este proeminente gênio se combina com as qualidades da probabilidade ou do maior reformador moral e mártir da missão que jamais existiu sobre a terra, não se pode dizer que a religião fez uma escolha má ao fixar neste homem o representante ideal e guia da humanidade; nem mesmo agora seria tranqüilo, até para um incrédulo, encontrar uma tradução melhor da regra de virtude a partir do abstrato para o concreto do que o empenho no viver que Cristo aprovaria para a nossa vida. Quando acrescentamos a isto que, à concepção racional do cético permanece a possibilidade de que Cristo na verdade é ... um homem incumbido de uma comissão especial, expressa e única da parte de Deus de conduzir à verdade e à virtude, bem podemos concluir que as influências da religião no caráter, que continuarão depois que a crítica racional fez o máximo contra as evidências da religião, bem merecem ser preservadas e aquilo que lhes falta na força direta em comparação com as da mais firme crença é muito mais compensada pela maior verdade e retidão da moral que elas sancionam".
4. O testemunho do próprio Cristo Como um mensageiro de Deus e uno com Deus. Só uma personagem na história reivindicou ensinar a verdade absoluta, ser um com Deus e atestar sua missão divina por obras tais que só Deus podia operar. A) Este testemunho não pode ser explicado com base na hipótese de que Jesus era um enganador intencional: pois a) a perfeitamente consistente santidade da sua vida; b) a confiança não oscilante com que ele desafiava a investigação das suas reivindicações e firmava todos
Teologia Sistemática (Strong) 376 sobre o resultado; c) a grande improbabilidade de uma duradoura mentira nos declarados interesses da verdade; e d) a impossibilidade de que o engano tivesse operado tal bênção ao mundo, tudo isso mostra que Jesus não era nenhum consciente impostor. Fisher, Essays on the Supernal Origin of Christianity, 515-538 - Cristo sabia quão vastas eram as suas reivindicações, embora estivesse firme em todas elas. Apesar de que outros duvidassem, ele mesmo nunca duvidou. Perseguido até à morte ele nunca abandonou o seu testemunho consistente. Continua a defender a humildade: Mt. 11.29 -"Eu sou manso e humilde de coração". Como podemos reconciliar a sua constante auto-afirmação com a humildade? Respondemos que a auto-afirmação de Jesus é absolutamente essencial à sua missão porque ele e a verdade são um: ele não podia afirmar a verdade sem afirmar a si mesmo e não podia afirmar a si mesmo sem afirmar a verdade. Visto que ele é a verdade, é preciso que a diga por amor aos homens e por amor à verdade e poderia ser manso e humilde de coração ao dizê-lo. Humildade não é autodepreciação, mas o julgamento de nós mesmos segundo o padrão perfeito de Deus. A palavra 'humildade' deriva de 'humus'. É a descida do etéreo e vão auto-engrandecimento para a base sólida, solo impermeável, do verdadeiro fato. Deus só requer de nós humildade na medida que for consistente com a verdade. A glorificação própria do egocêntrico é nauseante porque indica grosseira ignorância ou falsa interpretação do eu. Mas é preciso ser autoafirmativo, na medida em que representamos a verdade e a justiça de Deus. Há uma nobre auto-afirmação que é perfeitamente consistente com a humildade. Jó conservou a sua integridade. A humildade de Paulo não era uma variante de Urias. Quando a ocasião exigia, ele podia afirmar a sua varonilidade e os seus direitos, como em Filipos no Castelo de Antônia. Do mesmo modo o cristão deve, com franqueza, dizer a verdade que está dentro de si. Cada cristão tem a sua própria experiência e deve contá-la aos outros. Ao testemunhar a verdade ele só está seguindo o exemplo de "Jesus Cristo, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão" (1 Tm. 6.13).
Teologia Sistemática (Strong) 377 B) Nem o testemunho de Jesus a seu próprio respeito pode ser explicado com base na hipótese de que ele enganava-se a si mesmo: pois isso indicaria a) fraqueza e tolice somadas à insanidade positiva. Mas seu caráter e vida total demonstram calma, dignidade, equilíbrio, insight, domínio próprio totalmente inconsistentes com tal teoria. Ou indicaria b) uma ignorância de si mesmo e exagero de si mesmo que só podiam brotar da mais profunda perversão moral. Mas a pureza absoluta da consciência, a humildade do espírito, a altruística beneficência da sua vida mostram que esta hipótese é incrível. Rogers, Superhuman Origin of the Bible, - Se ele fosse um homem, exigir que o mundo todo se curvasse diante dele seria um escárnio como o que sentimos por algum monarca de Bedlam ostentando uma coroa de palha. Forest, The Christ of History and of Experience, 22,76 - Cristo nunca se uniu com os discípulos em oração. Ele subiu ao monte para orar, mas não orar com eles: Lc. 9.18 - "estando ele orando em particular, estavam com ele os seus discípulos". A consciência da preexistência é precondição indispensável da demanda que ele faz nos sinóticos. Adamson, The Mind in Christ, 81,82 - Avaliamos o testemunho dos cristãos conforme a sua comunhão com Deus. Devemos muito mais avaliar o testemunho de Cristo. Só aquele que, sendo em primeiro lugar divino, também sabe que ele é divino, pode revelar as coisas celestes com a nitidez e certeza que pertencem aos pronunciamentos de Jesus. Nele temos algo bem diferente dos flashes do discernimento que nos deixam na maior escuridão. Nash, Ethics and Revelation, 5 - Ό respeito próprio apóia-se na capacidade de tornar o que se deseja ser; e, se a capacidade freqüentemente é inferior à tarefa, as fontes do respeito próprio secam-se; os motivos da felicidade e da ação heróica murcham. A ciência, a arte, a generosa vida cívica e especialmente a religião vêm em socorro do homem", mostrando-lhe sua verdadeira grandeza e o fôlego do ser em Deus. O Estado é o eu maior do indivíduo. A humanidade e até mesmo o universo são partes dele. É dever do homem capacitar todos os homens a ser humanos. É possível que os homens não só de um modo verdadeiro, mas racional façam afirmativas até mesmo em assuntos terrenos. Chatham ao Duque de Devonshire: "Meu Senhor, creio que posso salvar este país, e que
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ninguém mais pode". Leonardo da Vinci, aos trinta anos, ao Duque de Milão: "Posso completar todo tipo de obra de escultura, em argila, mármore e em bronze; também em pintura posso executar tudo o que demandam, do mesmo modo que quem quer que seja". Horácio: "Exegi monumentum aere perennius" (Esculpi um monumento mais duradouro que o bronze). Savage, Life beyond Death, 209 - Um velho ministro famoso disse certa feita, quando um jovem e zeloso entusiasta tentou entabular com ele uma conversa e, falhando, explodiu com isto: "Afinal você não tem uma religião?" "Não tenho nenhuma de que eu deva falar", foi a resposta. Quando Jesus percebeu nos discípulos uma tendência para a glorificação de si mesmos, argumentou com o silêncio; mas quando percebeu a tendência de introspecção e inércia, ele os mandou proclamar o que ele tinha feito por eles (Mt. 8.4; Mc. 5.19). Nunca é correto o crente proclamar-se a si próprio; mas, se Cristo não proclamasse a si mesmo, o mundo nunca poderia ser salvo. Rush Rees, Life of Jesus of Nazareth, 235237 - No ensino de Jesus, dois tópicos ocupam um lugar de destaque: o Reino de Deus e a sua própria pessoa. Ele procurava ser o Senhor, e não apenas o Mestre. Contudo, o seu Reino não é de força, ou nacional, ou exterior, mas de amor paterno e de fraternidade recíproca". Jesus realizou alguma coisa de efeito, ou como um simples exemplo? Não é assim. O seu batismo teve para ele um significado como de consagração de si mesmo à morte pelos pecados do mundo e a lavagem dos pés dos discípulos foi o apropriado começo da ceia pascal e o símbolo do abandono da glória celestial a fim de purificar-nos para as bodas do Cordeiro. Thomas à Kempis: "Tu não és mais santo do que és louvado e nada pior porque tu és censurado. O que tu és, tu és, e isto nada vale para ser tratado como melhor do que tu és à vista de Deus". A consciência de Jesus sobre a sua ausência absoluta de pecado e sua comunhão com Deus é o mais forte testemunho da sua natureza divina e missão.
Se Jesus, então, não pode ser acusado de insanidade mental ou moral, seu testemunho deve ser verdadeiro e ele mesmo deve ser um com Deus e o revelador de Deus aos homens.
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Nem Confúcio, nem Buda reivindicavam ser divinos, ou órgãos da revelação divina, embora ambos fossem mestres morais e reformadores. Parece que Zoroastro e Pitágoras criam ser incumbidos de uma divina missão, embora os seus mais antigos biógrafos tenham escrito alguns séculos após a morte deles. Sócrates nada reivindicava para si que estivesse além do poder dos outros. Maomé cria que os estados extraordinários do seu corpo e da sua alma deviam-se à ação de seres celestes; ele produziu o Corão como "uma advertência a todas as criaturas", fez uma convocação ao rei da Pérsia e ao imperador de Constantinopla, assim como a outras potestades, para que aceitassem a religião do Islam; contudo, lamentou, quando à morte, que não tivesse tido a oportunidade de corrigir os equívocos do Corão e os da sua própria vida. Se Confúcio ou Buda, Zoroastro ou Pitágoras, Sócrates ou Maomé reivindicassem todo o poder no céu e na terra revelariam insanidade ou perversão moral. Mas isto é precisamente o que Jesus reivindicava. Ou ele era mental ou moralmente insano, ou o seu testemunho é verdadeiro.
IV. RESULTADOS HISTÓRICOS DA PROPAGAÇÃO DA DOUTRINA DA ESCRITURA
1. O rápido progresso do evangelho nos primeiros séculos da nossa era mostra a sua origem divina. A) É uma reconhecida maravilha da história que o cristianismo teria suplantado o paganismo em três séculos. A conversão do Império Romano ao cristianismo foi a mais espantosa revolução na fé e no culto jamais conhecida. Cinqüenta anos após a morte de Cristo havia igrejas em todas as principais cidades do Império Romano. Nero (37-68) encontrou (como declara Tácito) uma "ingens multituto" (grande multidão) de cristãos para perseguir. Plínio escreve a Trajano (52117) que eles "invadiram não somente as cidades, mas as aldeias e campos de sorte que os templos estavam quase desertos". Tertuliano (160-230) escreve: "Nós somos apenas de ontem e, contudo, temos enchido os vossos lugares, as vossas cidades, as vossas ilhas, os vossos castelos, as vossas casas de concilio, até os vossos campos, vossas tribos, vosso senado,
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vosso fórum. Nada vos temos deixado a não ser os vossos templos". No tempo do imperador Valeriano (253-268), os cristãos constituíam-se a metade da população de Roma. A conversão do imperador Constantino (272-337) subordinou o império todo, apenas trezentos anos após a morte de Cristo, ao domínio do evangelho.
Β) Α maravilha é maior quando consideramos os obstáculos ao progresso do cristianismo: a) O ceticismo das classes cultas; b) o preconceito e a aversão pelo povo simples; e c) as perseguições realizadas pelo governo. a) Os missionários, mesmo atualmente, acham difícil ter um ouvinte entre as classes cultas dos pagãos. Mas o evangelho apareceu na mais iluminada era da antigüidade - a era da literatura de Augusto e da pesquisa histórica. Tácito chamou a religião de Cristo "exitiabilis superstitio" - quos per flagitia invisos vulgos Christianos appelabat" (fatal superstição - os quais, por causa da sua infâmia, o povo chamava de cristãos). Plínio: "Nihil aliud inveni quam superstitionem pravam immodicam". Se o evangelho fosse falso, seus pregadores não se teriam aventurado nos centros da civilização e refinamento; ou se o tivessem, seriam detectados, b) Considere o entrelaçamento das religiões pagas com todas as relações da vida. Freqüentemente os cristãos tiveram de enfrentar o furioso zelo e a cega ira da turba, como em Listra e Éfeso. c) Rawlinson, em Historical Evidences, defende que as Catacumbas de Roma compreendiam novecentas milhas de ruas e sete milhões de sepulturas dentro de um período de quatrocentos anos - número bem maior do que poderia ter morrido de morte natural - e que grande multidão deles deve ter sido massacrada por causa da sua fé. Contudo, a Enciclopédia Britânica, chama a estimativa de Di Marchi, que Rawlinson parece ter tomado como autoridade, um grande exagero. Ao invés de novecentas milhas de ruas, Northcoate apresenta trezentas e cinqüenta. O número de enterros seria de menos que três milhões. As Catacumbas começam a ser desertadas no tempo de Jerônimo. Na época, quando os cristãos as empregavam universalmente, não chegariam a mais de duzentos anos. Elas não começaram em covas de areia. Havia três tipos de tufo: 1) rochoso empregado em escavações e de consistência dura para o propósito cristão; 2) arenoso, empregado em fossos de areia, muito
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macios para permitirem a construção de galerias e túmulos; 3) granular, empregado pelos cristãos. A existência das Catacumbas deve ter sido bem conhecida pelos pagãos. Depois do Papa Dâmaso começou uma exagerada reverência por elas. Eram decoradas e aprimoradas. Por isso muitas pinturas são de data posterior a 400 e testificam a política papal, não a do cristianismo primitivo. As botijas não contêm sangue, mas o vinho da eucaristia celebrada no funeral. Fisher, Nature and Method of Revelation, 256-258, chama a atenção para a descrição de Matthew Arnold sobre as necessidades do mundo pagão, não obstante a cegueira a respeito do verdadeiro remédio: "Naquele duro mundo pagão o desgosto e aversão caíram; cansaço e saciada luxúria fizeram da vida do homem um inferno. No frio salão, olhos desfigurados, jaz o nobre romano; dirigia em furiosa aparência, através da Via Ápia; com ferocidade e rapidez bebia e coroava de flores o seu cabelo; nem mais tranqüilo, nem mais rápido passava as desvairadas horas". Embora com mescla de orgulho e tristeza, o Sr. Arnold fastidiosamente rejeita o alimento celestial. A respeito de Cristo ele diz: "Ei-lo agora morto! Longe daqui jaz, na longínqua cidade síria e, na sua sepultura, de olhos brilhantes, as estrelas sírias olham para baixo". Ele vê que os milhões "têm tal necessidade de alegria cujas terras são verdadeiras que impregnam os corações do mesmo modo como no passado quando ainda eram novas". O mundo tem necessidade de: "Uma poderosa onda de pensamento e de alegria elevando a humanidade vigorosamente". Mas o poeta não vê apoio para a esperança: "Tolos! tão freqüentes aqui, a felicidade zomba das nossas orações e acho que poderia fazer-nos temer semelhante evento alhures, fazer-nos voar não para os sonhos, mas para o desejo moderado". Ele canta o tempo quando o cristianismo era jovem: "Ah! se eu vivesse aqueles grandes dias, como a sua glória encheria a terra e o céu novamente e também captaria o meu espírito arrebatador!" Mas a desolação do espírito não traz consigo qualquer humildade de auto-estima, nem mesmo a humildade que deplora a presença e a força do mal na alma e os anseios do livramento. "Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes" (Mt. 9.12).
C) A maravilha torna-se ainda maior quando consideramos a insuficiência natural dos meios empregados para garantir esse progresso.
Teologia Sistemática (Strong) 382 a) Os proclamadores do evangelho eram em geral homens iletrados pertencentes a uma nação desprezada. b) O evangelho que eles proclamavam era de salvação pela fé em um judeu que tinha sido levado a uma morte ignominiosa. c) O evangelho estimulava repugnância natural, rebaixando o orgulho dos homens, tocando na raiz dos pecados deles e exigindo vida de labor e auto-sacrifício. d) Contudo, o evangelho era exclusivo, não admitindo nenhum rival e declarando-se a religião universal e única. a) Não é mais improvável que os cristãos primitivos fizessem mais convertidos do que os modernos judeus com relação aos prosélitos, em grande número nas principais cidades da Europa e da América. Celsus chamava o cristianismo de "religião da ralé". b) A cruz correspondia à forca romana – punição para os escravos. Cícero chama-a "servitutis extremum summumque suplicium" (suplício extremo e supremo da escravidão). c) Havia muitas religiões más; por que o brando Império Romano perseguiu só as boas? Em parte a resposta é: A perseguição não tem origem nas classes oficiais; na realidade procedia do povo em geral. Tácito chamava os cristãos de "abominadores da raça humana". Os homens reconheciam no cristianismo um inimigo de todos os seus antigos motivos, ideais e objetivos. O altruísmo romperia com a velha sociedade, porque todo esforço centrado no eu ou na vida presente era estigmatizado pelo evangelho como indigno. d) Não tendo credo ou princípios, o paganismo não se preocupava com a sua propagação. "O homem deve ser muito fraco", dizia Celsus, "para imaginar que os gregos e bárbaros na Ásia, Europa e Líbia nunca podem unir-se sob o mesmo sistema de religião". Deste modo o governo romano não permitiria religião nenhuma que não participasse da adoração do Estado. "Guardai-vos dos ídolos", "nós não adoramos outro Deus", era a resposta do cristão. Gibbon, Hist. Decline and Fall, 1. cap. 15, menciona como causas secundárias: 1) o zelo dos judeus; 2) a doutrina da imortalidade; 3) os poderes miraculosos; 4) as virtudes do cristianismo primitivo; 5) o privilégio na participação do governo da igreja. Porém estas causas eram apenas
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secundárias e todas seriam insuficientes se não houvesse uma invencível persuasão da verdade do cristianismo. A perseguição destrói a falsidade ao induzir seus defensores a investigar as bases da sua crença; mas reforça e multiplica a verdade ao induzir seus defensores a ver mais claramente os fundamentos da sua fé. Deve ter havido muitos perseguidores conscientes: Jo. 16.2 - "Expulsar-vos-ão das sinagogas: vem a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus". O Decreto do Papa Urbano II reza: "Porque não consideramos homicidas os que, casualmente, em seu incandescente zelo contra os excomungados, os levarem à morte". S. Luís, rei da França, estimulava seus oficiais: "Não discutais com os infiéis, mas dominai os incrédulos cravando a espada até onde ela possa penetrar". Conta-se que a tortura na Inglaterra em certa ocasião, era empregada com toda a brandura que a natureza do instrumento permitia. Isto lembra a instrução de Isaak Walton quanto ao uso da rã: "Ponha gancho através da sua boca e da sua papada; e, ao fazer isso, use de muito amor para com ela". Robert Browning, em Easter Day, 275-288, dá-nos o propósito epitáfio de um Mártir, inscrito na parede das Catacumbas, que fornece um valioso contraste com o cético e pessimista esforço de Matthew Arnold: "Nasci doente, pobre e fraco, escravo; nenhuma miséria poderia impedir os guardadores da pérola preciosa da inveja de César; por isso duas vezes lutei contra os animais e três vezes vi meus filhos sofrerem por causa da sua lei; à distância sofri o abandono; houve ocasião em que eu estava para ser queimado, mas uma certa Mão aproximou-se de mim através do fogo que havia sobre a minha cabeça e conduziu a minha alma a Cristo, que agora vejo. Meu irmão Sérgio escreve-me este testemunho na parede - Por mim esqueci tudo".
Não se pode explicar o progresso de uma religião de tal modo desprovida de atrativos e sem compromisso com a aceitação e domínio exteriores, no período de trezentos anos, sem que se suponha a assistência de sua promulgação e, portanto, que o evangelho é uma revelação da parte de Deus.
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Stanley, Life and Letters, 1.527 - "Na Catedral do Kremlin, sempre que o Metropolitano avançava do altar para dar a sua bênção, sob os seus pés havia um tapete bordado com uma águia da antiga Roma Paga, a indicar que a Igreja Cristã e o Império de Constantinopla alcançou sucesso e triunfou".
2. A influência benéfica das doutrinas e preceitos da Escritura onde quer que tenham tido preponderância, mostra a origem divina. A) Sua influência na civilização em geral, garantindo um reconhecimento dos princípios que o paganismo ignorava, tais como Garbett menciona: a) a importância do indivíduo; b) a lei do amor recíproco; c) a santidade da vida humana; d) a doutrina da santidade interior; e) a santidade do lar; f) a monogamia e a igualdade religiosa de ambos os sexos; g) identificação da crença e prática. A contínua corrupção das terras pagas mostra que esta mudança não se deve a quaisquer leis de simples progresso natural. As confissões dos escritores antigos mostram que isto não se deve à filosofia. Sua única explicação é que o evangelho é o poder de Deus. Brace, Gesta Christi, prefácio, vi - "Práticas e princípios implantados, estimulados ou sustentados pelo cristianismo: As que levam em consideração a personalidade do mais fraco e do mais pobre; o respeito pela mulher; o dever de cada membro das classes privilegiadas de elevar os infortunados; a humanidade para com a criança, para com o prisioneiro e para com o estrangeiro, para com o necessitado, e até mesmo para com o animal irracional; a incessante oposição a toda forma de crueldade, opressão e escravidão; o dever de pureza pessoal, e a santidade do matrimônio; a necessidade da temperança; a obrigação de uma divisão mais eqüitativa do rendimento do trabalho, e da maior cooperação entre empregadores e empregados; o direito que cada ser humano tem de maior oportunidade de desenvolver suas faculdades e de todas pessoas usufruírem iguais privilégios políticos e sociais; o princípio de que a ofensa à nação é ofensa a todos e o interesse e dever do comércio e intercâmbio irrestrito entre todos os países; e, finalmente, uma profunda oposição à guerra, uma
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determinação de limitar seus males quando advenham e impedir o seu surgimento através da arbitragem internacional". Max Müller: Ό conceito de humanidade é o dom de Cristo". Guizot, History of Civilization, 1. Introduction, conta-nos que nos tempos antigos o indivíduo existia em função do Estado; nos tempos modernos o Estado existe em função do indivíduo. Ό indivíduo é uma descoberta de Cristo". Sobre as relações entre o cristianismo e a economia política, ver A. H. Strong, Philosophy and Religion, pp. 443-160; sobre a causa da mudança do ponto de vista considerado na relação do indivíduo para com o Estado, ver p. 207 – "O que operou a mudança? Nada a não ser a morte do Filho de Deus. Quando se viu que a menor criança e o mais humilde escravo têm uma alma tão digna de que Cristo deixasse o seu trono e entregasse a sua vida para salvá-lo, os valores do mundo alteraram-se e foi então que começou a história moderna". Luciano, satírico e humorista grego, 160 A.D., dizia a respeito dos cristãos: "Seu primeiro legislador [Jesus] pôs na cabeça deles que eles são todos irmãos". Foi o espírito da fraternidade comum que na maioria dos países levou à abolição do canibalismo, do infanticídio, da queima das viúvas e à abolição escravidão. Príncipe Bismarck: "Para o bem-estar social eu não peço nada a não ser o cristianismo sem frases" - o que significa a religião de fatos mais do que de credos (Os romanos diziam: Res, non verba - ações, não palavras). Na revelação histórica de Deus em Cristo só a fé tornou possíveis os feitos cristãos. Shaler, Interpretation of Nature, 232-278 - Se Aristóteles pudesse contemplar a sociedade dos dias atuais, pensaria no homem moderno como uma nova espécie, saindo em simpatia aos povos distantes. Isto não pode resultar de uma seleção natural, porque o sacrifício próprio não tem proveito algum para o indivíduo. As emoções altruísticas devem sua existência a Deus. A adoração a Deus fluiu sobre as emoções humanas tornando-as mais simpáticas. Autoconsciência e simpatia, entrando em conflito com as emoções do bruto, originam o senso do pecado. É aí que começa a guerra entre o elemento natural e o espiritual. O amor da natureza e absorção em outros é o verdadeiro Nirvana. A humanidade necessita mais de educação do que de ciência física.
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H. E. Hersey, Introduction to Browning's Christmas Eve, 19 - "Sidney Lanier diz-nos que os vinte últimos séculos gastaram o melhor de sua força no desenvolvimento da personalidade. A literatura, a educação, o governo e a religião aprenderam a reconhecer o indivíduo como a unidade de força. Browning vai um passo adiante. Ele declara que tão poderosa força é a personalidade completa que ao seu próprio toque dá vida, e coragem, e potencialidade. Ele se volta para a história em busca de inspiração para persistir na virtude e no estímulo a um esforço sustentado e encontra ambos em Cristo". J. P. Cooke, Credentials of Science, 43 – A mudança do antigo filósofo para o moderno investigador é a da auto-afirmação para a devoção de si mesmo e a grande revolução pode ser traçada sob a influência do cristianismo e do espírito de humildade apresentado e inculcado por Cristo. Lewes, Hist Philos., 1.408 -A moralidade grega nunca abrangeu qualquer conceito de humanidade; nenhum grego jamais atingiu a sublimidade de tal ponto de vista. Kidd, Social Evolution, 165,287 – Não é o intelecto que impulsiona o mundo dos tempos modernos; é o sentimento altruísta que se originou na cruz e no sacrifício de Cristo. A Revolução Francesa tornou-se possível porque as idéias humanitárias solaparam as próprias classes altas, e foi-lhes impossível a resistência eficaz. O socialismo aboliria a luta pela existência da parte dos indivíduos. Que segurança haveria para o progresso social? Remover todas as restrições à população garante a deterioração progressiva. Uma comunidade não socialista vai além da socialista, onde todos os principais desejos da vida estariam garantidos. A tendência real da sociedade é pôr todo o povo em rivalidade, não só no que tange à igualdade política, mas às condições de oportunidades sociais equânimes. No futuro, o Estado interferirá e controlará para preservar e garantir a livre competição, não obstá-la. O objetivo não é o socialismo ou o gerenciamento do Estado, mas a competição em que todos terão vantagens iguais. A evolução da sociedade humana não é primordialmente intelectual, mas religiosa. As raças vencedoras são as religiosas. Os gregos tinham mais intelecto, mas nós temos mais civilização e progresso. Os atenienses estavam tão acima de nós como nós acima da raça negra. Gladstone dizia que somos intelectualmente mais fracos que os medievais. Quando o desenvolvimento intelectual de qualquer setor da raça na época ultrapassa o ético, a seleção aparentemente é prejudicada, como qualquer outro produto inadequado. A
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evolução está desenvolvendo a reverência com suas qualidades aliadas: energia mental, resolução, empreendimento, aplicação prolongada e concentrada, com humildade e com o propósito único do cumprimento do dever. Só a religião pode sobrepujar o egoísmo e o individualismo e garantir o progresso social.
B) Sua influência no caráter e felicidade do indivíduo em qualquer parte tem sido testada na prática. Esta influência se vê a) nas transformações morais que eles operaram – como no caso do apóstolo Paulo e pessoas em cada comunidade cristã; b) nos labores altruístas para o bem-estar humano que eles conduziam - como no caso de Wilberforce e Judson; c) nas esperanças que eles inspiraram nos tempos de tristeza e morte. Estes frutos benéficos não podem ter sua fonte em causas simplesmente naturais independentemente da verdade e divindade das Escrituras; pois nesse caso as crenças contrárias seriam acompanhadas pelas mesmas bênçãos. Mas porque achamos estas bênçãos só em conexão com o ensino cristão podemos com justiça considerar esta como a sua causa. Este ensino, então, deve ser verdadeiro e as Escrituras devem ser uma revelação divina. Caso contrário, Deus teria feito uma mentira ser uma grande bênção para a raça. Os missionários morávios nas índias Ocidentais andavam seiscentas milhas para tomar um navio, trabalhavam pela passagem e vendiam-se como escravos a fim de obter o privilégio de pregar aos negros. ... O pai de John G. Paton era um tecelão de meias. A família toda, exceto as criancinhas, trabalhava desde as 6 da manhã até as 10 da noite, com uma hora para o jantar e meia hora para o desjejum e para a ceia. Ainda a família regularmente orava duas vezes por dia. Nesses intervalos para as refeições diárias John G. Paton empregava parte do seu tempo para estudar a gramática latina, a fim de preparar-se para a obra missionária. Quando o seu tio lhe disse que, se ele fosse para as Novas Hébridas, os canibais poderiam devorá-lo, ele retrucou: "Daqui a pouco o senhor vai estar morto e vai ser sepultado e eu prefiro ser devorado pelos canibais a ser devorado pelos
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vermes". Os aneitiumesi durante quinze anos arrancavam raízes de mandioca e as vendiam para pagar as 1200 libras exigidas para a impressão da Bíblia em sua própria língua. A assistência universal da igreja e o estudo da Bíblia fizeram das Ilhas do Mar do Sul o lugar mais celeste da terra aos sábados. Em 1839, vinte mil negros da Jamaica reuniram-se para iniciar uma vida de liberdade. Em um caixão eram postos algemas e grilhões, relíquias da estaca de tortura e o açoite. Quando o relógio soava as doze badaladas à noite, um pregador clamava com grande ênfase: Ό monstro está morrendo"! e deste modo, ao fim, com a última badalada, ele clamava: Ό monstro morreu!". Então todos os que estavam de joelhos levantavam-se e cantavam: "Louvado seja Deus de quem fluem todas bênçãos!"... "Por que fazeis isso?" dizia o enfermo chinês que o médico estava cuidando na cama com uma atenção que nunca ele havia recebido desde nenê. O missionário aproveitou a oportunidade para falar-lhe do amor de Cristo. ... Quando disseram a uma idosa mãe australiana que duas filhas missionárias na China tinham sido ambas assassinadas por uma turba paga, só respondeu: "Isto me faz tomar uma decisão: agora eu é que irei à China e tentarei ensinar àquelas pobres criaturas o que é o amor de Jesus". ... Dr. William Ashmore: "Morra um missionário e dez virão ao seu funeral". Um sapateiro, ensinando meninos e meninas abandonados, enquanto trabalhava em sua banca, causou o impulso à vida de fé de Thomas Guthrie. Devemos julgar as religiões não por seus ideais, mas por suas realizações. Omar Kayyám e Mozoomdar dão-nos belos pensamentos, mas aquele não é a Pérsia, nem este é a India. Quando a pesquisa microscópica do ceticismo, que tem caçado os céus e sondado os mares para negar a existência de um Criador, tem voltado a sua atenção para a sociedade humana e tem achado neste planeta um lugar de dez milhas quadradas onde um homem decente pode viver com decência, conforto e segurança, sustentando e educando seus filhos, livres de saques e poluição; um lugar onde a senilidade é reverenciada, a infância é protegida, o ser humano é respeitado, a mulher é honrada e a vida humana é tida na devida consideração - quando os céticos puderem encontrar tal lugar com dez milhas quadradas neste globo, aonde não chegou o evangelho de Cristo e limpou o caminho e lançou os fundamentos e tornou possível a decência e a segurança, então estará em
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ordem que os literatos céticos se movimentem e ventilem os seus pontos de vista. Mas enquanto estes mesmos homens dependerem da própria religião, eles não gozarão desse privilégio, bem podem hesitar antes de roubar ao cristão a sua esperança e humanitarismo da sua fé no único Salvador que concedeu tal esperança de vida eterna que torna a vida tolerável e a sociedade possível e rouba da morte os seus terrores e da sepultura as suas agonias".
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Capítulo III INSPIRAÇÃO NAS ESCRITURAS I. DEFINIÇÃO DE INSPIRAÇÃO Inspiração é a influência do Espírito de Deus sobre as mentes dos escritores da Bíblia que fizeram dos escritos o registro de uma revelação divina progressiva, suficiente, quando tomada no seu conjunto e interpretada pelo mesmo Espírito que os inspirou a dirigir cada inquiridor a Cristo e à salvação. Observe o sentido de cada parte da definição: 1. Inspiração é uma influência do Espírito de Deus. Não é simplesmente um fenômeno da natureza, ou um capricho psicológico, mas o efeito da operação interior do Espírito divino pessoal. 2. Contudo, a inspiração não é uma influência sobre o corpo, mas sobre a mente. Deus garante o seu fim, não através da comunicação exterior ou mecânica, mas despertando os poderes racionais do homem. 3. Os escritos dos homens inspirados são o registro de uma revelação. Eles não são, por si mesmos, a revelação. 4. Tanto a revelação como o registro são progressivos. Nenhum deles é completo no seu início. 5. Os escritos bíblicos devem ser considerados em conjunto. Deve-se ver cada uma das partes em conexão com a que precede e com a que se segue. 6. Para conhecermos a verdade, o mesmo Espírito Santo, que fez as revelações originais deve interpretar o seu registro. 7. Assim empregados e interpretados, estes escritos são suficientes, tanto em qualidade como em quantidade, para o seu propósito religioso. Não tem por fim fornecer-nos um modelo de história ou fatos da ciência, mas conduzir-nos a Cristo e à salvação.
a) Por isso, a inspiração deve ser definida, não por seu método, mas por seu resultado. É um termo geral incluindo todos estes tipos e graus de influência do Espírito Santo que operaram nas mentes dos escritores
Teologia Sistemática (Strong) 391 da Bíblia a fim de garantir a postura na forma da verdade permanente e escrita melhor adaptada às necessidades morais e religiosas do homem. b) A inspiração pode freqüentemente incluir a revelação, ou a comunicação direta da verdade de Deus que o homem não poderia atingir por forças desauxiliadas. Pode incluir a iluminação ou despertar as forças cognitivas do homem para entender a verdade já revelada. A inspiração, contudo, não inclui necessariamente e sempre a revelação e a iluminação. É simplesmente a influência divina que garante a transmissão da verdade necessária ao futuro e segundo a natureza da verdade a ser transmitida, pode apenas ser uma inspiração de superintendência, ou pode ser também e ao mesmo tempo uma inspiração de iluminação ou revelação. c) Não se nega, mas afirma-se, que a inspiração pode qualificar pronunciamento oral da verdade, ou liderança sábia e atos ousados. Os homens podem ser inspirados a prestar serviço exterior ao reino de Deus, como nos casos de Bezalel e Sansão; apesar de que esse serviço é prestado involuntária ou inconscientemente como nos casos de Balaão e Ciro. Na verdade, toda a inteligência humana se deve à inspiração do mesmo Espírito que criou o homem no princípio. Preocupamo-nos agora com a inspiração no sentido de autoria da Escritura. Gn. 2.7 - "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente"; Ex. 31.2,3 -"Eis que tenho chamado por nome Bezalel... e o enchi do Espírito de Deus ... e de ciência em todo artifício"; Jz. 13.24,25 - "chamou o seu nome Sansão; e o menino cresceu, e o Senhor o abençoou. Ε o Espírito do Senhor o começou a impelir"; Nm. 23.5 - "Então o Senhor pôs a palavra na boca de Balaão e disse: Torna a Balaque e fala assim"; 2 Cr. 36.22 - "despertou o Senhor o espírito de Ciro"; Is. 44.28 - "quem diz de Ciro: É meu pastor"; 45.5 - "eu te cingirei, ainda que tu não me conheças"; Jó 32.8 - "há um espírito no homem, e a inspiração do Todo-poderoso os faz entendidos". Estas passagens mostram o verdadeiro sentido de 2 Tm. 3.16 - "Toda Escritura divinamente inspirada". A palavra θεόπνευστος deve ser entendida como alusão ao sopro original da vida da parte de Deus, não como o sopro do
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flautista no seu instrumento. A flauta é passiva, mas a alma do homem é ativa. A flauta produz só o que recebe, mas o homem inspirado sob a influência divina é consciente e livre originador do pensamento e da expressão. Embora a inspiração de que estamos tratando seja somente a dos escritos da Bíblia, podemos entender melhor este emprego restrito do termo, lembrando que todo o conhecimento real tem em si um elemento divino e que somos possuídos da consciência completa só quando vivemos, nos movemos e existimos em Deus. Porque Cristo, o divino Logos ou Razão, é "a luz que alumia a todo homem" (Jo. 1.9), uma influência especial do "Espírito de Cristo que estava neles" (1 Pe. 1.11) racionalmente explica o fato de que "homens de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" (2 Pe. 1.21). É possível auxiliar o nosso entendimento dos termos acima se acrescentarmos exemplos de: 1) Inspiração sem revelação, como em Lucas e Atos, Lc. 1.1-3; 2) Inspiração incluindo revelação, como em Apocalipse, Ap. 1.1,11; 3) Inspiração sem iluminação, como nos profetas, 1 Pe. 1.11; 4. Inspiração incluindo iluminação, como no caso de Paulo, 1 Co. 2.12; 5. Revelação sem inspiração, como nas palavras de Deus no Sinai, Ex. 20.1,22; 6. Iluminação sem inspiração, como nos pregadores modernos. Ef. 2.20. Outras definições são as de Park: "Inspiração é uma influência sobre os escritores da Bíblia de tal sorte que todos os seus ensinos são fidedignos; de Wilkinson: "Inspiração é o auxílio da parte de Deus de modo a preservar o relato da revelação divina livre do erro. Auxílio a quem? Não importa desde que se garanta o resultado. O resultado final, isto é, o registro ou relato da revelação, deve ser imune de erro. A inspiração pode afetar um ou todos os agentes empregados"; de Hovey: "A inspiração é uma influência do Espírito de Deus nas forças do homem que se preocupa em receber, em reter e expressar a verdade religiosa - uma influência de tal modo penetrante e poderosa que o ensino dos homens inspirados concorda com a mente de Deus. O ensino deles não abrange toda a verdade a respeito de Deus, ou do homem, ou o caminho da vida; mas compreende a verdade em cada assunto em particular de acordo com a medida da fé através do mestre
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inspirado e feita útil àqueles a quem se destina. Neste sentido, o ensino dos documentos originais que compõem a nossa Bíblia podem ser declarados isentos de erro"; de G. B. Foster: "Revelação é a ação de Deus na alma do seu filho, resultando na própria expressão divina: Inspiração é a ação de Deus na alma do seu filho resultando na apreensão e apropriação da expressão divina. A revelação tem prioridade lógica, mas não cronológica"; de Horton, Inspiration and the Bible, 10-13 - "Por inspiração significamos exatamente as qualidades e características que são marcas ou notas da Bíblia ... Dizemos que a nossa Bíblia é inspirada; com isso significamos que, através da sua leitura e estudo, encontramos o caminho para Deus, a sua vontade para nós, e o meio de nos conformarmos com a vontade dele". Fairbairn, Christ in Modern Theology, 496, conquanto nobremente estabelece a naturalidade da revelação, tem um conceito errôneo sobre a relação da inspiração com a revelação dando prioridade à primeira: "Podese dizer que a idéia de uma revelação escrita envolve logicamente a noção de um Deus vivo. A fala é própria da natureza do Espírito; e se, por natureza, Deus é espírito, será próprio da sua natureza revelar-se a si mesmo. Mas se ele fala ao homem, será através de homens; e os que melhor ouvem são os mais possuídos de Deus. Tal posse chama-se 'inspiração'. Deus inspira, o homem revela: a revelação é o modo ou forma palavra, caráter, ou instituição - em que o homem incorpora o que recebeu. Os termos, embora não equivalentes, são coextensivos: um denota o processo ou lado interior, o outro o exterior". Esta afirmação, embora aprovada por Sanday, Inspiration, 124,125 parece-nos quase precisamente reverter o sentido correto das palavras. Preferimos o ponto de vista de Evans, Scholarship and Inspiration, 54 - "Primeiro Deus revelou-se e, depois, inspirou homens para interpretarem, registrarem e aplicarem esta revelação. Na redenção, a inspiração é o fator formal, do mesmo modo que a revelação é o fator material. Os homens são inspirados, como diz Stowe. Os pensamentos são inspirados, como diz o Prof. Briggs. As palavras são inspiradas, como diz Hodge. A urdidura e a trama da Bíblia é o πνεύμα: "as palavras que eu vos disse são espírito e vida" (Jo. 6.63). As bordas escapam, como é inevitável, para o secular, material e psíquico". Phillips Brooks, Life, 2.351 - "Se a verdadeira revelação de Deus está em Cristo, a Bíblia não é propriamente uma revelação, mas uma história desta. Isto não é apenas um fato, mas uma necessidade porque não se pode revelar uma pessoa
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num livro, mas deve-se encontrar revelação, se é que isto é possível, numa pessoa. Por isso o centro e o cerne da Bíblia encontram-se nos evangelhos, como a história de Jesus". Alguns, como Priestley, têm sustentado que os evangelhos são autênticos, mas não inspirados. Por isso, acrescentamos às provas da genuinidade e credibilidade da Escritura a prova da sua inspiração. Chadwick, Old and New Unitarianism, 11 - "A crença de Priestley na revelação sobrenatural é intensa. Ele sente absoluta falta de confiança na razão como capaz de fornecer um conhecimento adequado aos assuntos religiosos e, ao mesmo tempo, uma perfeita confiança na razão qualificada para o elemento negativo e determinar o conteúdo da revelação". Podemos reivindicar a verdade histórica dos evangelhos ainda que não os chamemos de inspirados. Gore, em Lux Mundi, 341 - "O cristianismo traz consigo uma doutrina da inspiração das Escrituras Sagradas, mas não se baseia nela". Warfield e Hodge, Inspiration, 8 - "Conquanto a inspiração das Escrituras seja verdadeira e, assim sendo, fundamental para a sua interpretação adequada, não é, em primeiro plano, um princípio fundamental da religião cristã".
II. PROVA DA INSPIRAÇÃO 1. Porque temos mostrado que Deus fez uma revelação de si mesmo ao homem, com razão podemos presumir que ele não confiará esta revelação totalmente à tradição e falsa interpretação humanas, mas também provera um registro dela essencialmente fidedigno e suficiente; em outras palavras, que o mesmo Espírito que originariamente comunicou a verdade presidirá a sua publicação até onde for necessário para cumprir seu propósito religioso. Porque toda inteligência natural, como já vimos, pressupõe a habitação de Deus no homem e, porque na Escritura a atmosfera totalmente prevalecente, com sua constante pressão e esforço para entrar em cada fresta e em cada canto do mundo emprega-se como ilustração do impulso do onipotente Espírito de Deus a fim de vivificar e encher de energia cada alma humana (Gn. 2.7; Jó 32.8), podemos inferir que, a não ser para o
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pecado, todo homem seria moral e espiritualmente inspirado (Nm. 11.29 "Quisera Deus que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito!"; Is. 59.2 - "as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus"). Vimos também que o método de Deus comunicar a sua verdade em matéria de religião é talvez análogo ao de comunicar a verdade secular como a da astronomia ou a da história. Há um processo original de falar à uma nação isoladamente e a pessoas isoladamente na mesma nação, para que através delas se chegue à humanidade. Sanday, Inspiration, 140 - "Há um 'propósito de Deus segundo a eleição' (Rm. 9.11); há uma 'eleição' ou 'seleção da graça'; e o objeto dessa seleção é Israel e os que tomam o seu nome a partir do Messias de Israel. Se a torre é edificada em alas ascendentes, os que ficam nas alas inferiores ainda estarão em nível acima do chão e alguns podem estar mais elevados que outros, mas a plena e desimpedida visão está reservada aos que estão no topo. Eis o lugar destinado a nós se quisermos assumi-lo". Se seguirmos a analogia da operação de Deus em outras comunicações do conhecimento, razoavelmente presumiremos que ele preservará o registro de suas revelações em documentos escritos e acessíveis, transmitidos a partir daqueles a quem estas revelações primeiro foram comunicadas, e espera-se que tais documentos mantenham-se corretos e fidedignos a fim de cumprir o seu propósito religioso, a saber, o fornecimento ao honesto inquiridor de um guia rumo a Cristo e à salvação. O médico faz a sua prescrição por escrito; o amanuense do Congresso registra os seus procedimentos; o Departamento de Estado do nosso governo instrui os nossos embaixadores no exterior, não oralmente, mas através de despachos. Maior ainda é a necessidade de que a revelação seja registrada porque deve ser transmitida às eras distantes; ela contém longos discursos; abrange doutrinas misteriosas. O próprio Jesus não escreveu; porque ele não é simplesmente o canal da revelação, mas a sua mensagem. A sua despreocupação com a imediata incumbência aos apóstolos para que escrevessem o que eles viram e ouviram seria inexplicável se ele não esperasse que a inspiração os assistiria. Chegamos à discussão da Inspiração com uma suposição bem diferente da de Kuenen e de Wellhausen, que escrevem no interesse do quase declarado naturalismo. Kuenen, nas primeiras sentenças da sua
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Religião de Israel, na verdade afirma o governo terreno de Deus. Mas Sanday, Inspiration, 117, está certo ao dizer que "Kuenen conserva esta idéia bem no pano de fundo. Ele gastou um volume inteiro de 593 páginas impressas (Prophets and Prophecy in Israel, Londres, 1877) para provar que os profetas não foram movidos a falar por Deus, mas os seus pronunciamentos eram deles mesmos". O seguinte extrato, diz Sanday, indica a posição que o Dr. Kuenen realmente sustentava: "Não nos permitimos ser privados da presença de Deus na história. Nos sucessos e desenvolvimento das nações, e não menos claramente nos de Israel, nós O vemos, o santo e totalmente sábio Instrutor dos seus filhos humanos. Mas os velhos contrastes devem ser postos de lado. Quando derivamos a nossa parte separada da vida religiosa de Israel diretamente provinda de Deus e permitimos que a revelação sobrenatural ou imediata intervenha em um só ponto, a nossa opinião do todo continua a ser incorreta e nós mesmos vemos cá e lá a necessidade de violentar o conteúdo bem autenticado dos documentos históricos. Só a suposição de um desenvolvimento natural é que explica todos os fenômenos: (Kuenen, Prophets and Prophecy in Israel, 585).
2. Jesus, de quem já se provou não só ser testemunha digna de crédito, mas um mensageiro de Deus, garante a inspiração do Velho Testamento citando-o na fórmula: "Está escrito"; declarando que nem um jota nem um til dele "se passará" e que a "Escritura não pode ser quebrada". Jesus cita quatro dos cinco livros de Moisés, e Salmos, Isaías, Malaquias e Zacarias, com a fórmula "está escrito"; ver Mt. 4.4, 6, 7; 11.10; Mc. 14.27; Lc. 4.4-12. Esta fórmula entre os judeus indicava que a citação vinha do livro sagrado e era divinamente inspirada. Sem dúvida Jesus considerava o Velho Testamento com tanta reverência como os judeus contemporâneos. Ele declarou que "nem um jota nem um til se omitirá da lei (Mt. 5.18). Ele disse que "a Escritura não pode ser anulada" (Jo. 10.35) = "a autoridade normativa e judicial da Escritura não pode ser desprezada; note aqui [no singular, ή γραφή] a idéia da unidade da Escritura" (Meyer). Leve-se em conta que o emprego da Escritura do A.T. pelo nosso Senhor era inteiramente livre do literalismo supersticioso que prevalecia entre os seus
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contemporâneos judeus. As expressões "palavra de Deus" (Jo. 10.35; Mc. 7.13), "sabedoria de Deus" (Lc. 11.49) e "palavras de Deus" (Rm. 3.2) provavelmente designam as revelações originais de Deus e não os registros destes na Escritura; cf. 1 Sm. 9.27; 1 Cr. 17.3; Is. 40.8; Mt. 13.19; Lc. 3.2; At. 8.25. Jesus se recusa a aceitar a lei do A.T. sobre o sábado (Mc. 2.27), contaminação exterior (Mc. 7.15), divórcio (Mc. 10.2). Ele "não veio destruir a lei, mas cumprir" (Mt. 5.17); embora ele cumprisse a lei fazendo o interior do seu espírito uma vida perfeita, e não uma obediência formal e minuciosa aos seus preceitos. Os apóstolos citam o A.T. como um pronunciamento de Deus (Ef. 4.8 διό λέγει se. θεός). Α insistência de Paulo na forma de até mesmo uma simples palavra, como em Gl. 3.16, e o seu emprego no A.T. com o propósito alegórico, como em Gl. 4.21-31, mostram que, no seu ponto de vista, o texto do A.T. é sagrado. Filo, Josefo e o Talmude na sua interpretação do A.T., continuamente caem num "estreito e infeliz literalismo". Ό Ν.Τ., na verdade, não escapa aos métodos rabínicos, mas mesmo onde estes são mais proeminentes parece afetar a forma muito mais do que a substância. E, através da forma temporária e local, o escritor constantemente penetra no próprio cerne do ensino do A.T.".
3. Jesus comissionou seus apóstolos como mestres e lhes deu promessas de um auxílio sobrenatural do Espírito Santo em seu ensino, como a promessa feita aos profetas do Velho Testamento. Mt. 28.19,20 – "Ide ... ensinando ... e eis que eu estou convosco". Compare as promessas de Moisés (Ex. 3.12), Jeremias (Jr. 1.5-8), Ezequiel (Ez. 2 e 3). Ver também Is. 44.3 e Jl 2.28 - "Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne"; Mt. 10.7 - "e indo, pregai"; 19 - "não vos dê cuidado como ou o que haveis de falar"; Jo. 14.26 - "o Espírito Santo ... vos ensinará todas as coisas"; 15.26,27 - "aquele Espírito da verdade ... testificará de mim; e vós também testificareis" = o Espírito testificará em vós e através de vós; 16.13 "ele vos guiará em toda a verdade" = 1) limitação - toda a verdade de Cristo, i.e. não da filosofia e da ciência, mas da religião; 2) extensão - toda a verdade dentro de um limitado nível, i.e., suficiência da Escritura como regra de fé e prática (Hovey); 17.8 - "porque lhes dei as palavras que tu me deste"; At. 1.4 - "determinou-lhes ... que esperassem a promessa do Pai"; Jo. 20.22
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- "assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo". Eis aqui tanto a promessa como a comunicação pessoal do Espírito Santo. Compare Mt. 10.19,20 - "será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito do vosso Pai é que fala em vós". Aqui o testemunho de Jesus é o de Deus. Em Dt. 18.18 se diz que Deus porá as suas palavras na boca do grande profeta. Em Jo. 12.49,50 Jesus diz: "Porque eu não tenho falado de mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. Ε sei que o mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito". Jo. 17.7,8 - "tudo quanto me deste provém de ti; porque lhes dei as palavras que me deste". Jo. 8.40 - "homem que vos tem dito a verdade que de Deus tem ouvido".
4. Os apóstolos reivindicam ter recebido este Espírito prometido e falar sob a sua influência com autoridade divina, pondo seus escritos no nível das Escrituras do Velho Testamento. Não temos só declarações diretas de que tanto a matéria como a forma do seu ensino eram supervisionadas pelo Espírito Santo, mas temos evidência indireta de que este é o caso no tom da autoridade que permeia os seus discursos e epístolas. Afirmações: 1 Co. 2.10,13 – "Deus no-las revelou pelo Espírito ... as quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo nos ensina"; 11.23-"eu recebi do Senhor o que também vos ensinei" 12.8,28 - a λόγος σοφίας parece um dom peculiar aos apóstolos; 14.37,38 - "as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor"; Gl. 1.12 - "não o recebi nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo"; 1 Ts. 4.2,8 - "vós bem sabeis que mandamento vos temos dado pelo Senhor Jesus ... portanto, quem rejeita isto não rejeita o homem, mas, sim, a Deus que nos deu também seu Espírito Santo". As passagens a seguir põem o ensino dos apóstolos no mesmo nível da Escritura do A.T.: 1 Pe. 1.11,12 -"o Espírito de Cristo, que estava neles" [pregadores do N.T.]; "pelo Espírito Santo vos pregavam o evangelho"; 2 Pe. 1.21 - Os profetas do AT. "falaram inspirados pelo Espírito Santo"; 3.2 - "que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos
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profetas" [V. T.] e do mandamento do Senhor e Salvador mediante os vossos apóstolos" [N.T.] 16 -"torcem [as Epístolas de Paulo], e igualmente as outras Escrituras, para a sua própria perdição". Cf. Ex. 4.14-16; 7.1. Implicações: 2 Tm. 5.16 – "Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa" – implicação clara da inspiração, embora não seja uma declaração direta a seu respeito = há uma Escritura divinamente inspirada. Em 1 Co. 5.3-5, Paulo, determinando à igreja de Corinto sobre o incestuoso, é arrogante ou inspirado. Há mais imperativos nas Epístolas que em quaisquer outros escritos da mesma extensão. Observe a contínua afirmação da autoridade, como em Gl. 1.1,2 e a declaração de que a descrença do registro é pecado e, como em 1 Jo. 5.10,11. Jd. 3 - "fé que uma vez (άπαξ) foi dada aos santos". As passagens acima citadas mostram que os homens distinguem inspiração do seu próprio pensamento desauxiliado. Estes homens defendem que a sua inspiração é a mesma que a dos profetas. Ap. 22.6 - Ό Senhor, o Deus dos santos profetas, enviou o seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve hão de acontecer" = a inspiração lhes deu o conhecimento sobrenatural do futuro. Como a inspiração no AT. é obra do Cristo anterior à encarnação, do mesmo modo a inspiração no NT. é obra do Cristo que subiu ao céu e foi glorificado pelo seu Espírito Santo. Sobre a Autoridade Relativa dos Evangelhos, ver Gerhardt, em Am. Journ. Theol., abr. 1899, 275-294, o qual mostra que as palavras de Jesus nos evangelhos não representam a revelação final, mas que o ensino do Cristo ressurreto e glorificado é visto em Atos e nas Epístolas. Estas são obras póstumas de Cristo. Pattison, Making of the Sermon, 23 - Os apóstolos, crendo-se inspirados, freqüentemente pregavam sem textos; e o fato de que os seus sucessores não seguiam o seu exemplo mostra que, por si mesmos, eles não faziam tal reivindicação. A inspiração cessou e, por isso, a autoridade encontra-se no emprego das palavras das Escrituras agora completas".
5. Os escritores apostólicos do Novo Testamento, diferentemente dos sábios e poetas pagãos reconhecidamente inspirados, atestaram através de milagres ou da profecia que eles eram inspirados por Deus e
Teologia Sistemática (Strong) 400 há razão para crer que as produções dos que não eram apóstolos, tais como Marcos, Lucas, Hebreus, Tiago e Judas foram recomendadas às igrejas como inspiradas, pela sanção e autoridade apostólicas. Os doze operaram milagres (Mt. 10.1). A expressão "sinais do meu apostolado" (2 Co. 12.12) (em grego σημεία του αποστόλου); Rev. e Atualizada do Br., credenciais do apostolado; King James, signs of an apostle [sinais de um apóstolo] = milagres. A evidência interna confirma a tradição de que Marcos era "intérprete de Pedro", e que o evangelho de Lucas e o livro de Atos tiveram a sanção de Paulo. Visto que o propósito da outorga do Espírito devia qualificar aqueles que seriam os mestres e fundadores da nova religião, é razoável admitir que a promessa do Espírito feita por Cristo era válida não só para os doze, mas para todos os que ocupavam o lugar deles e a estes não apenas como porta-vozes, mas também aos escritores, porque para isto eles tinham maior necessidade de direção. A Epístola aos Hebreus, juntamente com Tiago e Judas, aparecem enquanto alguns dos doze ainda eram vivos e continuaram inalteráveis; o fato de que todas elas, excetuando-se, possivelmente, 2 Pedro, bem cedo foram aceitas pelas igrejas organizadas e orientadas pelos apóstolos, é evidência suficiente de que estes as consideravam produções inspiradas. Para evidência de que os escritores consideravam os seus livros como autoridade universal, ver 1 Co. 1.2 - "à igreja de Deus que está em Corinto ... com todos os que, em todo lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo" etc.; 7.17 - "É o que eu ordeno em todas igrejas"; Cl. 4.16 - "E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei também que o seja na igreja dos laodicenses"; 2 Pe. 3.15,16 - "como também nosso amado irmão Paulo escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada". Johnson, Systematic Theology, 40 - Os dons miraculosos foram concedidos no Pentecostes a muitos além dos apóstolos. A profecia não era um dom incomum durante o período apostólico". Não há nenhuma improbabilidade antecedente de que a inspiração se estenderia a outros além dos principais líderes da igreja e, visto que temos exemplos expressos de tal inspiração em pronunciamentos orais (At. 11.28; 21.9,10), parece que deve ter havido exemplos de inspiração em pronunciamentos escritos
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também. Em alguns casos isto parece ter sido só uma inspiração de superintendência. Clemente de Alexandria diz só que Pedro nem proibiu, nem estimulou Marcos em seu plano de escrever o evangelho. Irineu contanos que o evangelho de Marcos foi escrito depois da morte de Pedro. Papias diz que Marcos escreveu o que ele lembrava ter ouvido de Pedro. Lucas não parece ter estado consciente de qualquer auxílio miraculoso em seu escrito e seus métodos parecem ter sido os de um historiador normal.
6. Contudo, a principal prova da inspiração deve sempre ser encontrada nas características internas das próprias Escrituras como as reveladas pelo Espírito Santo ao sincero inquiridor. O testemunho do Espírito Santo combina com o ensino da Bíblia de convencer o mais ávido leitor de que este ensino está como um todo em toda a essência além do poder comunicador do homem e que, portanto, deve ter sido posto por inspiração de Deus em forma permanente e escrita. Foster, Christian Life and Theology, 105 - "O testemunho do Espírito é um argumento da identidade dos efeitos - as doutrinas da experiência e as da Bíblia - para a identidade da causa. ... A experiência da operação de Deus prova a da Bíblia. ... Isto abrange a Bíblia como um todo, senão por inteiro. Ela é verdadeira em tudo o que podemos testá-la. Deve-se crer muito mais se não há nenhuma outra evidência". Lyman Abbott, em Theology of an Evolutionist, 105, chama a Bíblia de "o registro laboratorial de um ser humano no reino espiritual, uma história da aurora da consciência de Deus e da vida divina na alma humana". Isto nos parece excessivamente subjetivo. Preferimos dizer que a Bíblia é também para nós um testemunho de Deus sobre a sua presença e obra do coração e do homem - a qual prova sua origem divina despertando em nós experiências semelhantes às que ela descreve e que estão além do que o homem pode originar. G. P. Fisher, em Mag. Of Christ. Lit, dez. 1892.239 - "É a Bíblia infalível? No sentido de que todas as suas afirmações estendem-se até minúcias em matéria de história e ciência estritamente completa não é. Nem no sentido de que toda a afirmação doutrinária e ética em todos estes livros é incapaz de produzir correção. O todo deve formar juízo sobre as partes. A revelação é progressiva. Há um fator humano assim como um divino. O
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tesouro encontra-se em vasos de barro. Mas a Bíblia é infalível no sentido de que qualquer que se rende num espírito dócil aos seus ensinos não cairá no doloroso erro em matéria de fé e caridade. Melhor do que tudo, encontrará nela o segredo de uma nova, santa e abençoada vida 'escondida com Cristo em Deus' (Cl. 3.3). As Escrituras testemunham de Cristo. ... Através delas ele verdadeira e adequadamente se faz conhecido a nós". Denney, Death of Christ, 314 -"São termos correlatos a unidade da Bíblia e a sua inspiração. Se pudermos discernir nela uma unidade real - e creio podermos quando virmos que ela converge e culmina no amor divino que suporta o pecado do mundo - então tal unidade e inspiração passam a ser uma e a mesma coisa. Ε ela não é apenas inspirada como um todo; ela é o único livro inspirado. É o único livro no mundo pelo qual Deus põe o seu selo nos nossos corações quando o lemos na busca de uma resposta para a pergunta: Como o pecador será justo para com Deus? ... A conclusão do nosso estudo sobre a Inspiração deve ser a convicção de que a Bíblia nos dá um corpo doutrinário - uma 'fé que uma vez foi dada aos santos' (Jd. 3)".
III. TEORIAS SOBRE A INSPIRAÇÃO
1. Teoria da Intuição Sustenta que a inspiração é apenas um desenvolvimento do insight (discernimento) da verdade que todos homens possuem em certo grau; um modo de inteligência em matéria de moral e religião que dá surgimento aos livros sagrados, como um modo correspondente de inteligência em matéria de verdade secular dá surgimento a grandes obras de filosofia ou arte. Tal modo de inteligência é considerado como produto das próprias forças do homem, quer sem influência divina especial, quer só através da operação de um Deus impessoal. Esta teoria naturalmente tem conexão com os pontos de vista pelagiano e racionalista sobre a independência do homem relativa a Deus ou às concepções do homem como a maior manifestação de uma inteligência totalmente permeável, mas inconsciente. Morell e F. W. Newman na Inglaterra e Parker nos Estados Unidos representam esta teoria. Ver Morell,
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Philos. of Religion, 127-179 - "A inspiração é apenas uma potência mais elevada que cada homem possui em certo grau". Vier também Francis W. Newman (irmão de John Henry Newman), Phases of Faith (= fases da descrença); Theodore Parker, Discourses of Religion, and Experiences as a Minister. "Deus é infinito; por isso ele é imanente na natureza, embora transcendente a ela; imanente em espírito, embora transcendente a ele. Ele deve preencher cada ponto do espírito, do mesmo modo que do espaço; a matéria deve inconscientemente obedecer; o homem, consciente e livre, até certo ponto pode desobedecer, mas obedecendo, o Deus imanente age no homem do mesmo modo que na natureza" - citado em Chadwick, Theodore Parker, 271. Daí o ponto de vista de Parker on Inspiration: Se se cumprem as condições, a inspiração ocorre em proporção com os dons do homem e com o emprego desses dons. O próprio Chadwick, em Old and New Unitarism, 68, diz que "as Escrituras são inspiradas na medida em que elas estão inspirando e nada mais". W. C. Gannett, Life of Ezra Stiles Gannet, 196 - O espiritualismo de Parker afirmava, como grande verdade da religião, a imanência de um Deus infinitamente perfeito na matéria e na mente e sua atividade em ambas as esferas". Martineau, Study of Religion, 2.178-180 - "Theodore Parker trata os resultados regulares das faculdades humanas como uma obra imediata de Deus e considera os princípios de Newton como inspirados.... Em que, então, se torna a personalidade humana? Ele chama Deus não só de onipresente, mas de omniativo (que age em todas esferas). É então Shakespeare por cortesia o autor de Macbeth? ... Se isto fosse mais que retórico, seria panteísmo incondicional". Tanto a natureza como o homem são expressões da divindade em nós, mas a nossa razão e empenho pessoais, pensa ele, não podem ser atribuídos a Deus. A palavra νους não tem plural: sempre que o intelecto se manifesta, sendo um, como a verdade é uma e a mesma, embora possa apresentar-se na consciência de muitas pessoas; ver Martineau, Seat of Authority, 403; Palmer, Studies in Theological Definition, 27 - "Não podemos traçar nenhuma distinção aguda entre a mente humana descobrindo a verdade e a mente divina concedendo a revelação". Kuenen pertence a esta escola.
Com relação a esta teoria assinalamos:
Teologia Sistemática (Strong) 404 a) Na verdade, o homem tem um certo insight da verdade e admitimos que a inspiração o utiliza até onde pode e o faz um instrumento na descoberta e registro de fatos da natureza ou da história. Por exemplo: na investigação de assuntos puramente históricos, tais como os registros de Lucas, o discernimento meramente natural pode às vezes ter sido suficiente. Quando o caso é este, Lucas pode ter-se entregado ao exercício de suas próprias faculdades, enquanto a inspiração apenas estimula e supervisiona a obra. George Harris, Moral Evolution, 413 "Deus não podia revelar-se ao homem, a não ser que primeiro ele se revelasse no homem. Se no céu estivessem escritas as letras: 'Deus é bom', - as palavras não teriam sentido, a não ser que a bondade já tivesse sido conhecida nas volições humanas. A revelação não é um impulso emocional, mas um processo contínuo. Não é algo imposto, mas inerente. ... O gênio é inspirado; porque a mente que percebe a verdade deve corresponder à Mente que fez todas as coisas serem o veículo do pensamento". Sanday, Bampton Lectures on Inspiration: "Ao reivindicar a inspiração da Bíblia não excluímos a possibilidade de outros graus inferiores ou mais parciais de inspiração em outras literaturas. O Espírito de Deus, sem dúvida, tocou em outros corações e outras mentes ... de tal modo a dar discernimento para a verdade, além dos que podiam reivindicar a descendência de Abraão". Filo pensava que os tradutores da LXX, filósofos gregos, e às vezes até mesmo ele, fossem inspirados. Considera Platão como "mais sagrado (ίερώτατος), mas todos os homens bons são, em diferentes graus inspirados. Contudo, Filo nunca cita como tendo autoridade qualquer livro a não ser os Canônicos. Atribui a eles uma autoridade única em seu gênero.
b) Em toda a matéria de moral e religião, contudo, o insight da verdade da parte do homem é viciado por sentimentos errôneos e, a não ser que uma sabedoria sobrenatural o oriente, ele certamente errará e induzirá outros ao erro. 1 Co. 2.14 - "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente"; 10 - "Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as
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profundezas de Deus". Vera citação de Coleridge, em Shairp, Culture and Religion, 114 - "A água não pode subir mais alto que a sua fonte; assim também a razão humana"; Emerson, Prose Works, 1.474; 2.468 - "É curioso que nós cremos só na medida do aprofundamento da nossa vida". Por esta razão, sustentamos uma comunicação da verdade religiosa, pelo menos às vezes, mais direta e objetiva do que admitia George Adam Smith, Com. on Isaiah, 1.372 - "Para Isaías, a inspiração não era mais nem menos que a posse de algumas fortes convicções morais e religiosas, que, conforme ele sentia, deviam-se à comunicação do Espírito de Deus e segundo o qual ele interpretava e ousava predizer a história do seu povo e do mundo. O nosso estudo, apoiado na evidência da própria Bíblia, afasta completamente esse ponto de vista da inspiração e predição como é sustentado na igreja". Se isto significa uma negação de qualquer comunicação da verdade além da interior e subjetiva, nós nos opomos. Nm. 12.6-8 - "Se entre vós houver profeta, eu, o Senhor, em visão, a ele me farei conhecer, ou, em sonhos falarei com ele. Não é assim com meu servo Moisés, que ele é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, e de vista, não por figuras; pois, ele vê a semelhança do Senhor".
c) A teoria em questão, sustentando como o faz que o insight natural é a única fonte de verdade religiosa, envolve uma contradição; se a teoria for verdadeira, então o homem é inspirado a proferir o que um segundo é inspirado a pronunciar falso. Os Vedas, o Alcorão e a Bíblia não podem ser inspirados por contradizerem-se um ao outro. Os Vedas permitem o roubo e o Corão ensina a salvação pelas obras; estes não podem ser inspirados e a Bíblia também. Paulo não pode ser inspirado quando escreve as suas epístolas e Swedenborg também inspirado ao rejeitá-las. A Bíblia não admite que os ensinos pagãos tenham o mesmo endosso que os seus próprios. Entre os espartanos o roubo era louvável; só o ser apanhado roubando era crime. Sobre a consciência religiosa com relação à pessoalidade de Deus, a bondade divina, a vida futura, a utilidade da oração, em tudo o que a senhorita Cobbe, o Sr. Greg e o Sr. Parker discordam um do outro, ver Bruce, Apologetics, 143,144. Com Matheson podemos admitir que a idéia mestra da inspiração é "o desenvolvimento do divino através da capacidade do humano", embora
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ainda neguemos que a inspiração se limita a esta iluminação subjetiva das faculdades humanas e também exclua da operação divina todos aqueles pronunciamentos perversos e errôneos que resultam do pecado humano.
d) Faz a verdade moral e religiosa ser uma coisa puramente subjetiva -matéria de opinião particular - não tendo nenhuma realidade objetiva independentemente das opiniões que os homens têm dela. Neste sistema a verdade é aquilo que o homem 'lança'; as coisas são aquilo que o homem 'pensa' - As palavras representam apenas o elemento subjetivo. "Melhor é o grego αλήθεια = 'não oculto' (verdade objetiva)" – Harris, Philos. Basis of Theism, 182. Se não houver verdade absoluta, a 'busca da verdade' de Lessing é a única coisa que nos resta. Mas quem buscará se não houver verdade a ser encontrada? Até um gato sábio não caçará eternamente a sua cauda. O exercício dentro dos seus limites sem dúvida é útil, mas o gato o interrompe logo que se convence de que não consegue apanhar a sua cauda. Sir Richard Burton tornou-se católico romano, brâmane e maometano sucessivamente e parecia sustentar como Hamlet que "não há nada bom ou mau a não ser pensar em agir assim". Este mesmo ceticismo quanto à existência da verdade objetiva aparece nas palavras: "A sua religião é boa para você e a minha para mim"; "Um nasce agostiniano, outro pelagiano". Ver Dix, Pantheism, Introduction, 12. Richter: "Não é o objetivo, mas o curso que nos faz felizes".
e) Envolve logicamente a negação de um Deus pessoal que é a verdade e revela a verdade e assim faz o homem ser a mais elevada inteligência do universo. Isto deve explicar a inspiração através da negação da sua existência; porque, se não há Deus pessoal, a inspiração é apenas uma figura de linguagem de um fato puramente natural. O animus desta teoria é a negação do sobrenatural. Como a negação dos milagres, ela não pode ser sustentada apenas nas bases do ateísmo ou do panteísmo. O ponto de vista em questão, como assinala Hutton em seus Essays, seria permitir-nos dizer que a palavra do Senhor veio a Gibbon, em
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meio às ruínas do Coliseu, dizendo: "Vai escrever a história do Declínio e Queda!" Porém Hutton retruca: Tal opinião é panteísta. A inspiração é a voz de um amigo vivo, diferentemente da de um morto, i.e., a influência da sua memória. O impulso interior do gênio, de Shakespeare, por exemplo, não é apropriadamente chamado de inspiração.
2. Teoria da Iluminação Considera a inspiração simplesmente como uma intensificação e elevação das percepções religiosas do cristão, o mesmo em gênero, apesar de que maior em grau, com a iluminação de cada crente pelo Espírito Santo. Sustenta não que a Bíblia é, mas contém a palavra de Deus e que não os escritos, mas os escritores são inspirados. A iluminação dada pelo Espírito Santo, contudo, põe o escritor inspirado só em plena posse dos seus poderes normais, mas não comunica a verdade objetiva além da sua capacidade de descobrir ou entender. Esta teoria estabelece conexão com os pontos de vista arminianos da simples cooperação com Deus. Difere da Teoria da Intuição por conter vários elementos distintivamente cristãos: 1) a influência de um Deus pessoal; 2) uma obra extraordinária do Espírito Santo; 3) o caráter cristológico das Escrituras, formando uma revelação da qual Cristo é o centro (Ap. 19.10). Porém, conquanto admita que os escritores da Bíblia foram "movidos pelo Espírito Santo" (φερόμενοι - 2 Pe. 1.21), ignora o fato complementar de que a própria Escritura é "inspirada por Deus" (θεόπνευστος - 2 Tm. 3.16). O ponto de vista de Lutero assemelha-se a este. Na França, Sabatier, Philos. Religion, 90, assinala: "A inspiração profética é a piedade elevada ao quadrado" - difere da piedade do homem comum só em intensidade e energia. Na Inglaterra, Coleridge propõe este ponto de vista em suas Confissões de um Espírito Inquiridor (Obras, 5.669) - "o que quer que se ache em mim dá testemunho de que procede do Espírito Santo; na Bíblia há mais que se acha em mim do que eu tenho experimentado nos outros livros reunidos". [Chamaremos de inspirado o "Repouso dos Santos" de Baxter
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enquanto não o chamaremos os Livros da Crônicas?] Ver também F. W. Robertson, Sermon I; Life and Letters, carta 53, vol. 1.270; 2.143-150 - Ό outro caminho, uns vinte ou trinta homens na história do mundo tiveram comunicação especial, miraculosa, vinda de Deus; sobre este caminho, todos podem tê-lo e por devoto e ávido cultivo da mente e do coração podem tê-lo ampliado de forma ilimitada". Frederick W. H. Myers, Thoughts on the Bible and Theology, 10-20, dá ênfase à idéia de que as Escrituras são, nas primeiras partes, não meramente inadequadas, mas parcialmente inverídicas e, subseqüentemente superadas por revelações mais completas. O principal pensamento é o da acomodação) o registro da revelação não é necessariamente infalível. Allen, Religious Progress, 44, cita o Bispo Thirlwall: "Se esse Espírito através do qual cada homem fala desde os tempos antigos é vivo e presente, as suas lições mais tardias bem podem transcender as mais antigas"; o colossal homem de Pascal é a raça; os primitivos homens apenas representam a infância; nós somos 'os antigos', e somos mais sábios que os nossos país. Ladd, em Andover Review, jul. 1885, em What is the Bible? e em Doctrine of Sacred Scripture, 1.759 - "Grande parte dos seus escritos (de autores norte-americanos) é inspirada; 2.178,275,497 - "essa é a falsa concepção fundamental que identifica a Bíblia com a palavra de Deus"; 2.488 - "Inspiração como condição subjetiva da revelação bíblica e o predicativo da palavra de Deus é especificamente a mesma iluminadora, vivificadora, engrandecedora e purificadora obra do Espírito Santo como a que se processa nas pessoas pertencentes à comunidade que crê". Por isso, o Prof. Ladd reduz o predicativo profecia e considera Is. 53, não como direta e unicamente, mas apenas tipicamente messiânica. Clarke, Christian Theology, 35-44 - "Inspiração é exaltação, é o despertar da capacidade, estímulo do poder espiritual; é a elevação e aumento da capacidade de percepção, compreensão e pronunciamento; e sob a influência de um pensamento, uma verdade, ou um ideal que dominou a alma. ... A inspiração para escrever não é diferente da influência comum de Deus sobre o seu povo. ... A desigualdade nas Escrituras é nítida. ... Ainda que estivéssemos convencidos de que algum livro deveria ser omitido do Cânon, nossa confiança nas Escrituras não seria, por esta razão, abalada. Não foi o Cânon que fez a Escritura, mas a Escritura que fez o Cânon.
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A inspiração da Bíblia não prova sua excelência, mas sua excelência prova a sua inspiração. O Espírito produziu as Escrituras para auxílio da obra de Cristo, mas não para ocupar o seu lugar. Com Paulo a Escritura diz: 'Não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores do vosso gozo; porque pela fé estais em pé' (2 Co. 1.24)". E. G. Robinson: Ό ofício do Espírito Santo na inspiração não é diferente daquele que é exercido em favor dos cristãos na época em que os evangelhos foram escritos. ... Quando os profetas dizem: 'Assim diz o Senhor', simplesmente estão significando que eles têm autoridade divina naquilo que eles estão pronunciando". Calvin E. Stowe, History of Books of Bible, 19 - "Não são as palavras da Bíblia que são inspiradas. Não são os pensamentos da Bíblia que são inspirados. São os homens que escreveram a Bíblia que o são". Thayer, Changed Attitude toward the Bible, 63 - "Não foi antes do espírito polêmico se tornar freqüente nas controvérsias que se seguiram à Reforma que a distinção fundamental entre a palavra de Deus e o registro dessa palavra se tornou obliterada e tornou-se corrente a pestilenta tendência de que a Bíblia é absolutamente livre de cada erro de todo tipo". Principal Cave, em Homiletical Review, fev. 1892, admitindo erros na Bíblia, embora nenhum sério, propõe uma afirmação mediadora para esta controvérsia, a saber, que a Revelação implica inerrância, mas que a Inspiração não. Tudo o que Deus revela é verdadeiro, mas muita coisa se tornou inspirada sem se tornar infalível.
Com relação a esta teoria, assinalamos: a) Inquestionavelmente Espírito Santo ilumina a mente de cada um que crê e admitimos que pode ter havido exemplos em que a influência do Espírito na inspiração acrescentava só a iluminação. Algumas aplicações e interpretações da Escritura do Velho Testamento, como por exemplo, a aplicação de João Batista a Jesus na profecia de Isaías (Jo. 1.29 - "Eis o Cordeiro de Deus, que tira [rodapé 'leva'] o pecado do mundo"), e a interpretação de Pedro sobre as palavras de Davi (At. 2.27 - "Não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção"), podem apenas ter requerido a influência iluminadora do Espírito Santo. Há um sentido em que podemos dizer que as
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Escrituras são apenas inspiradas para aqueles que em si mesmos são inspirados. O Espírito Santo deve mostrar-nos Cristo antes de reconhecermos a obra do mesmo Espírito na Escritura. As doutrinas da expiação e da justificação talvez não precisassem novamente ser reveladas aos escritores do Novo Testamento; a iluminação relativa às antigas revelações podem ter sido suficientes. Mas provavelmente o fato de que Cristo existia antes da sua encarnação e de que há distinções pessoais em Deus, exigisse revelação. Edison diz que inspiração é simplesmente perspiração". O gênio tem sido definido como o "ilimitado poder de tomar as dores". Porém, ao invés disso - o poder de fazer espontaneamente e sem esforço o que o homem comum faz a duras penas. Todo o grande gênio reconhece que este poder se deve ao influxo de um Espírito maior que o seu próprio - o Espírito de divina sabedoria e energia. Os autores da Escritura atribuem o seu entendimento das coisas divinas ao Espírito Santo.
b) Mas negamos que este foi o método constante de inspiração ou que tal influência pode explicar a revelação da nova verdade dos profetas e dos apóstolos. A iluminação do Espírito Santo não dá nenhuma verdade nova, mas só uma apreensão da verdade já revelada. Qualquer comunicação original da verdade deve ter requerido uma obra do Espírito diferente não em grau, mas em gênero. As Escrituras distinguem claramente revelação, ou a comunicação de uma nova verdade, da iluminação, ou o despertar das forças cognitivas para perceber a verdade já revelada. Nenhum aumento na força dos olhos ou do telescópio fará mais do que aclarar o ponto de vista que já está dentro do seu nível. A iluminação não levanta o véu que oculta o que está além. Por outro lado, a revelação é um 'desvendamento' - o levantamento de uma cortina, ou o ato de trazer para dentro ou para o nosso nível o que antes estava escondido. Tal operação especial de Deus é descrita em 2 Sm. 23.2,3 - Ό Espírito do Senhor falou por mim e a sua palavra esteve em minha boca. Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim falou"; Mt. 10.20 - "Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós"; 1 Co. 2.9-13 -"As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as coisas que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito;
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porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que está nele? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus". A clarividência e a segunda visão, de que em muitos casos de imposição e exagero parecem ser um pequeno resíduo de um fato provado, mostram que pode haver operações extraordinárias das nossas forças naturais. Mas, no caso do milagre, a inspiração da Escritura necessitava de uma exaltação de tais forças naturais que só a influência do Espírito Santo pode explicar. Parece claro que o produto é inexplicável por uma simples iluminação quando nos lembramos de que a revelação às vezes excluía a iluminação quanto ao sentido daquilo que se comunicava, porque os profetas são representados em 1 Pe. 1.11 como "indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir". Visto que nenhum grau de iluminação pode explicar a predição das "coisas que hão de vir" (Jo. 16.13), esta teoria tende à negação de qualquer revelação imediata na assim chamada profecia, e a negação facilmente se estende a qualquer revelação imediata da doutrina.
c) A simples iluminação não pode resguardar os escritores da Bíblia do freqüente e aflitivo erro. A percepção espiritual do cristão é considerada sempre, em certa extensão, imperfeita e enganosa por conservar a depravação. Assim o elemento subjetivo predomina nesta teoria para que não permaneça nenhuma certeza com relação à fidedignidade das Escrituras como um todo. Conquanto admitamos imperfeições nos pormenores em matéria não essencial ao ensino moral e religioso da Escritura, reivindicamos que a Bíblia fornece um norte suficiente rumo a Cristo e à salvação. A teoria que estamos considerando, contudo, ao fazer da santidade a medida da inspiração, torna até mesmo o testemunho coletivo dos autores da Escritura um guia incerto para a verdade. Por isso assinalamos que a inspiração não é de um modo
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absoluto limitada pela condição moral dos que são inspirados. No cristão, o conhecimento pode ir além da conduta. Balaão e Caifás não eram homens santos, contudo foram inspirados (Nm. 23.5; Jo. 11.49-52). A promessa do Messias assegurava ao menos a fidedignidade essencial do seu testemunho (Mt. 10.7,19,20; Jo. 14.26; 15.26,27; 16.13; 17.8). Esta teoria de que a inspiração é uma comunicação da verdade totalmente subjetiva leva à rejeição prática de importantes partes da Escritura, pelo fato da rejeição de toda a Escritura que professa conter a verdade além do poder de descoberta e entendimento do homem. Note o progresso de Thomas Arnold (Sermons2A .5) a Matthew Arnold (Literature and Dogma, 134, 137). Note também a rejeição de Swedenborg de quase metade da Bíblia (Rute, Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos e todo o Novo Testamento exceto os evangelhos e o Apocalipse), em conexão com a autoridade divina para esta nova revelação. "Todos os seus interlocutores 'sweden-borgam'" (R. W. Emerson).
d) Esta teoria é logicamente indefensável insinuando que a iluminação relativa à verdade pode ser concedida sem conceder a própria verdade enquanto Deus deve primeiro fornecer a verdade objetiva a ser percebida antes que ele possa iluminar a mente para perceber o sentido da verdade. A teoria assemelha-se aos pontos de vista de que a preservação é uma contínua criação; conhecimento é reconhecimento; regeneração é o aumento de luz. Para que haja preservação, deve-se primeiro criar algo que possa ser preservado; para que haja reconhecimento, algo deve ser reconhecido ou conhecido outra vez; para que haja aumento de luz em qualquer emprego, é preciso que haja primeiro a capacidade de ver. De igual modo, a inspiração não pode ser mera iluminação porque o exterior necessariamente precede o interior, o objetivo precede o subjetivo, a verdade revelada precede a apreensão daquela verdade. Caso a verdade ultrapasse a capacidade humana normal de perceber ou evoluir, deve haver uma comunicação especial da parte de Deus; a revelação deve anteceder a inspiração; a inspiração sozinha não é revelação. Não importa se a comunicação da verdade vem de fora ou de dentro. Como na criação, Deus pode operar a partir de dentro, embora o novo resultado não seja explicado
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como simples reprodução do passado. O olho não pode ver apenas quando recebe e utiliza a luz externa fornecida pelo sol, apesar de que também é verdade que sem o olho não adiantaria haver a luz do sol. Pfleiderer, Grundriss, 17-19, diz que, para Schleiermacher, revelação é o aparecimento original de uma vida religiosa apropriada; a vida não deriva da comunicação exterior, nem da invenção ou reflexão, mas de uma concessão divina, que não pode ser considerada como uma influência meramente instrutiva ao homem, mas como dotação determinando toda a sua existência pessoal - dotação análoga ás mais elevadas condições de exaltação poética e heróica. O próprio Pfleiderer dá o nome de "revelação" a "cada experiência original de que o homem se torna ciente e à qual ele se apega; verdade supra-sensível, que não vem de concessão exterior nem de uma reflexão proposta, mas de uma base transcendental consciente e indivisível e, deste modo, recebida como um dom de Deus por meio da atividade da Alma humana". Kaftan, Dogmatik, 51 sgte. - "Devemos pôr a concepção da revelação no lugar da inspiração. A Escritura não é o registro da revelação divina. Não propomos nenhuma doutrina nova sobre a inspiração, em lugar da velha. Necessitamos apenas de revelação e, aqui e ali, da providência. Dá-se o testemunho do Espírito Santo, não para inspiração, mas para revelação -verdades que tocam o espírito humano e têm sido historicamente reveladas". Allen, Jonathan Edwards, 182 - Edwards sustentava que Deus dá a vida espiritual na alma só aos seus filhos queridos e preferidos, enquanto a inspiração pode ser lançada fora como se fosse aos cães e aos porcos Balaão, Saul, Judas. O maior privilégio dos apóstolos e profetas não é a sua inspiração, mas a sua santidade. Ter graça no coração é melhor do que ser a mãe de Cristo (Lc. 11.27,28). Maltbie D. Babcock, em S. S. Times, 1901.590 - Ό homem que lamenta porque não se pode obter a infalibilidade na igreja, ou num guia, ou num conjunto de padrões, não sabe quando ele se sente bem fora. Como poderia Deus desenvolver as nossas mentes, a nossa capacidade de julgamento moral, se não houvesse nenhum 'espírito para ser tentado (1 Jo. 4.1), nem necessidade de discriminação, nem disciplina a ser seguida e desafio e escolha? Dar a resposta correta a um problema é pôr o homem do lado da infalibilidade relativa à resposta, mas isto equivale a fazê-lo um erro inefável sobre a sua verdadeira educação. A
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bênção da escola da vida não está em conhecer a resposta correta, mas em desenvolver a força por meio da luta". Por que John Henry Newman rendeu-se à Igreja de Roma? Porque ele supunha que uma autoridade externa é absolutamente essencial à religião e, quando se segue tal suposição, Roma é o único fim lógico. Ό dogma", diz ele, "é o princípio fundamental da minha religião". O ritualismo moderno é uma volta à noção medieval. "O cristianismo dogmático", diz Harnack, "é Católico. Ele necessita de uma Bíblia inerrante e de uma igreja infalível que interprete essa Bíblia. O protestante dogmático está no mesmo campo que o católico sacramentai e infalível". Lyman Abbott: "A nova Reforma nega a infalibilidade da igreja. Não há autoridade infalível. A autoridade infalível é indesejável. ... Deus nos deu algo bem melhor, a vida. ... A Bíblia é o registro da manifestação gradual de Deus ao homem na experiência humana, nas leis morais e suas aplicações e na vida daquele que é o Deus manifesto em carne". Leighton Williams: "Não há inspiração alguma independente da experiência. Os batistas não são sacramentais, nem estão presos a credos, mas são cristãos por experiência" - não romanistas, nem protestantes, mas crêem numa luz interior. "À medida em que a vida se desenvolve, ela se desperta na consciência própria. Esta se torna a mais confiável testemunha quanto à natureza da vida da qual ela é um desenvolvimento. Dentro dos limites da sua própria esfera, sua autoridade é suprema. A profecia é o pronunciamento da alma em momentos de profunda experiência religiosa. A inspiração dos autores da Escritura não é uma coisa peculiar; é dada para que a inspiração possa ser perfeita naqueles que lerem os seus escritos". Cristo é a única autoridade final e revela-se de três modos: através da Escritura, da Razão, e da Igreja. Só a Vida salva, o Caminho conduz através da Verdade à Vida. Os batistas estão mais perto do sistema episcopal de vida do que do sistema presbiteriano de credo. Whiton, Gloria Patri, 136 - O erro está em olhar para o Pai acima do mundo ao invés de olhar para o Filho e para o Espírito dentro do mundo como a fonte imediata da revelação. ... A revelação é o desdobramento da vida e do pensamento de Deus dentro do mundo. Não se deve estar perturbado ao achar imperfeições em qualquer obra física de Deus, como achá-la no olho humano".
Teologia Sistemática (Strong) 3. Teoria do Ditado
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Esta teoria sustenta que a inspiração consistiu em o Espírito Santo possuir as mentes e corpos dos escritores da Bíblia, para que eles se tornem instrumentos passivos ou amanuenses - a pena e não o calígrafo de Deus. Esta teoria naturalmente tem conexão com o ponto de vista dos milagres que os considera como suspensão ou violação da lei natural. Dorner, Glaubenslehre, 1.624 o chama de "ponto de vista docético de inspiração. Defende a abolição das causas secundárias e a perfeita passividade do instrumento humano; nega qualquer inspiração de pessoas e defende a inspiração só dos escritos. Este exagero do elemento divino conduziu à hipótese de um sentido divino multiforme na Escritura e, ao atribuir o sentido espiritual, um espírito racionalista dirigiu o caminho". Representam este ponto de vista Quenstedt, Theol. Didact., 1.76 - "O Espírito Santo inspirou seus amanuenses com as expressões que eles teriam empregado, se eles tivessem sido deixados livres para escrever como quisessem"; Works, 2.383 - "Eles nunca falaram ou escreveram de si mesmos uma palavra, mas proferiram sílaba por sílaba o que o Espírito pôs nas suas bocas"; Gaussen, Teopneustia, 61 - "A Bíblia não é um livro cuja feitura Deus incumbiu os homens já iluminados sob a sua proteção; é um livro que Deus lhes ditou"; Cunningham, Theol. Lectures, 349 -"A inspiração verbal das Escrituras [que ele defende] implica em geral que as palavras da Escritura foram sugeridas ou ditadas pelo Espírito Santo, assim como a substância da matéria, e isto não só em algumas porções das Escrituras, mas na sua totalidade". Isto lembra a velha teoria de que Deus criou os fósseis nas rochas quando nem ainda os antigos mares existiam. Sanday, Bampton Lect. sobre a Inspiração, 74, cita Filo dizendo: Ό profeta não produz nada de si próprio, mas age como intérprete ao soprar para um outro todos os seus pronunciamentos e até quando, sob a inspiração, ele está na ignorância; sua razão, afastando do seu lugar, dominando a cidadela da alma, quando o Espírito divino penetra nela e nela habita e afeta o mecanismo da voz, soando através dela a nítida declaração do que ele profetiza"; em Gn. 15.12 - "E, pondo-se o sol, um profundo sono
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caiu sobre Abraão" - o sol é a luz da razão humana que se põe e dá lugar ao Espírito de Deus. Sanday, 78, também diz: "Josefo sustenta que até mesmo as narrativas históricas como as do começo do Pentateuco, que foram escritas por profetas contemporâneos obtiveram-se graças à inspiração direta de Deus. Os judeus, desde o seu nascimento, consideram a sua Escritura como los decretos de Deus', aos quais eles obedecem estritamente, e em cujo favor morreriam, se necessário". Os rabinos diziam que "Moisés não escreveu uma palavra tirada do seu próprio conhecimento". Os reformadores defendiam um ponto de vista muito mais livre do que este. Lutero dizia: Ό que não leva consigo a pessoa de Cristo não é apostólico, embora Pedro ou Paulo o ensinasse. Se os nossos adversários se afastarem da Escritura em oposição a Cristo, nós nos oporemos à Escritura em favor de Cristo". Lutero recusava a autoridade canônica dos livros que não foram escritos ou compostos, na verdade, por apóstolos, como Marcos e Lucas, sob a direção deles. Assim ele rejeitava do rol da autoridade canônica os livros de Hebreus, Tiago, Judas, 2 Pedro e Apocalipse. Até Calvino duvidava da autoria de Pedro à segunda carta, que leva o seu nome; excluía da Escritura o livro de Apocalipse sobre o qual ele escreveu Comentários e, do mesmo modo ignorou a segunda e terceira epístolas de João. A teoria ditado é posterior à Reforma. H.P. Smith, Bib. Scholarship and Inspiration, 85 - "Após o Concilio de Trento, a polêmica Católica Romana tornou-se mais acirrada. Aquele partido empenhou-se em mostrar a necessidade da tradição e não confiar apenas na Escritura. Isto levou os protestantes a defender a Bíblia com mais tenacidade que antes". A Fórmula Suíça do Consenso, em 1675, não só chamou as Escrituras "a palavra do próprio Deus", mas declarou a pontuação hebraica das vogais como inspirada e alguns teólogos remontam isso a Adão. John Owen defendia a inspiração da pontuação das vogais. Sobre a era que produziu a teologia dogmática protestante, Charles Beard, Hibbert Lectures, 1883, diz: "Não conheço nenhuma época do Cristianismo a que eu pudesse mais confiadamente assinalar na ilustração do fato de que, onde não há teologia, há menos religião".
Sobre este ponto de vista assinalamos:
Teologia Sistemática (Strong) 417 a) Admitimos que há exemplos quando as comunicações de Deus eram proferidas em voz audível ou tomavam forma definida de palavras e que isto, às vezes, era acompanhado da ordem de escrevê-las. Como exemplos, veja Ex. 3.4 - "bradou Deus a ele do meio da sarça e disse: Moisés! Moisés!" 20.22 - "Vós tendes visto que eu falei convosco desde os céus"; cf. Hb. 12.19 - "a voz das palavras, a qual, os que a ouviram pediram que se lhes não falasse mais"; Nm. 7.89 - "E, quando Moisés entrava na tenda da congregação para falar com o Senhor, ouvia a voz que lhe falava de cima do propiciatório, que está sobre a arca do Testemunho entre os dois querubins; assim com ele falava"; 8.1 - "E falou o Senhor a Moisés, dizendo"; Dn. 4.31 - "Ainda estava a palavra na boca do rei, quando caiu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Passou de ti o reino"; At. 9.5 -"E ele disse: Quem és, Senhor? Ε disse o Senhor: Eu sou Jesus a quem tu persegues"; Ap. 19.9 -Έ disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro"; 21.5 - Έ o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas"; cf. 1.10,11 -"e . ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: O que vês, escreve-o num livro e envia-o às sete igrejas". Do mesmo modo a voz vinda do céu no batismo e na transfiguração de Jesus (Mt. 3.17 e 17.5 ver Broadus, nas páginas em loco).
b) A teoria em questão, contudo, apóia-se em uma indução parcial de fatos da Escritura, sem garantia, admitindo que tais exemplos ocasionais de ditado direto revelam o método invariável das comunicações da verdade de Deus aos escritores da Bíblia. Em lugar nenhum a Escritura declara que a comunicação das palavras é universal. Em 1 Co. 2.13 - ουκ έν διδακτοΐς ανθρωπινής σοφίας λόγοις, άλλ' εν διδακτοΐς πνεύματος, texto citado como prova de invariável ditado - Meyer diz: "aqui não há ditado; διδακτοΐς exclui todo o elemento mecânico". Henderson, Inspiration, 333.349 - "Como a sabedoria humana não dita palavra por palavra, assim também acontece com o Espírito". Paulo reivindica para a Escritura um estilo geral de clareza que se deve à influência do Espírito. Manly: "Ditado para o amanuense não é ensino". A
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nossa Versão Revista (norte-americana) apropriadamente traduz o resto do verso, 1 Co. 2.13 - "combinando as coisas espirituais com as obras espirituais".
c) Não pode explicar o elemento manifestamente humano nas Escrituras. Há peculiaridades de estilo que distinguem as produções de cada escritor das de outro e há variações nos relatos do mesmo trecho que são inconsistentes com a teoria de uma autoria exclusivamente divina. Note o anacoluto de Paulo e as suas explosões de pesar e indignação (Rm. 5.12 sq., 2 Co. 11.1 sq.) e seu desconhecimento do número preciso de quem ele batizou (1 Co. 1.16). Um ou dois pedintes (Mt. 20.30; cf. Lc. 18.35); "uns vinte e cinco ou trinta estádios" (Jo. 6.19); "derramado por muitos" (Mt. 26.28 tem περί, Mc. e Lc. tem υπέρ). Ditado de palavras que imediatamente se perderiam por causa da transcrição imperfeita? Clarke, Christian Theology, 33-37 - "Não temos obrigação nenhuma de sustentar a inerrância completa das Escrituras. Nelas temos a completa liberdade da vida em vez da extraordinária precisão da afirmativa ou exatidão de pormenor. Nós nos tornamos cristãos não obstante as diferenças entre os evangelistas. As Escrituras são variadas, progressivas, livres. Não há autoridade na Escritura para a aplicação da palavra 'inspirada' à nossa atual Bíblia como um todo e a teologia não está escravizada à utilização desta palavra na definição das Escrituras. O cristianismo se fundamenta na história e permanecerá quer as Escrituras sejam inspiradas quer não. Se a inspiração especial fosse totalmente desaprovada, Cristo ainda seria o Salvador do mundo. Mas o elemento divino nas Escrituras nunca será desaprovado".
d) É inconsistente com uma sábia economia de meios supor que os escritores da Bíblia teriam ditado a eles o que eles já sabiam ou o de que eles podiam informar-se com a utilização de recursos naturais. Por que, afinal de contas, empregar testemunha ocular? Por que não ditar os evangelhos aos gentios que viveram há milhares de anos? Deus respeita os instrumentos que ele chamou e os usa segundo os seus dons
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constitucionais. George Eliot representa o Stradivarius dizendo: - Se a minha mão enfraquecesse, eu roubaria Deus - visto que ele é o mais completo bem -deixando um branco em lugar dos violinos, Deus não pode fazer os violinos de Antônio Stradivarius, sem o Antônio. Mc. 11.3 - "o Senhor precisa dele", pode aplicar-se tanto ao homem como ao animal.
e) Contradiz o que sabemos da lei da operação de Deus na alma. Quanto mais elevadas e mais nobres as comunicações de Deus, mais plenamente o homem está de posse e uso das suas próprias faculdades. Não podemos supor que esta mais elevada obra do homem sob a influência do Espírito fosse puramente mecânica. José recebe a comunicação através de uma visão (Mt. 1.20); Maria através das palavras de um anjo proferidas quando estava acordando (Lc. 1.28). Quanto mais avançado for o receptor, mais consciente é a comunicação. Estas quatro teorias quase podiam ser chamadas de: pelagiana, arminiana, docético, e dinâmica. Sabatier, Philos. Religion, 41, 42, 87 - "No Evangelho dos Hebreus, o Pai diz no batismo de Jesus: 'Meu Filho, em todos os profetas eu estava aguardando por ti, para que tu pudesses vir, e para que eu pudesse repousar em ti. Porque tu és o meu Repouso'. A inspiração se torna cada vez mais interior até que em Cristo seja contínua e completa. Com base no oposto ponto de vista docético, a mais perfeita inspiração deve ter sido a da besta de Balaão". Semler representa o ponto de vista pelagiano ou ebionita, como Quenstedt representa o seu docético. Semler fixa o local e o tempo do conteúdo da Escritura. Contudo, embora ele leve isto ao extremo de excluir qualquer autoria divina, presta um bom serviço ao encaminhar o estudo da Bíblia.
4. Teoria da Dinâmica Este ponto de vista verdadeiro, em oposição à primeira destas teorias, sustenta que a inspiração não é simplesmente um fato natural, mas também sobrenatural e que é obra imediata de um Deus pessoal na alma do homem.
Teologia Sistemática (Strong) 420 Em oposição à segunda, sustenta que a inspiração pertence não só ao homem que escreveu a Bíblia, mas à Bíblia que ele escreveu, de modo que, tomada em seu conjunto, constitui um registro da revelação divina confiável e suficiente. Em oposição à terceira teoria, sustenta que as Escrituras contém um elemento humano assim como um divino, de modo que, enquanto apresentam um conjunto de verdades reveladas, estas são formadas em moldes humanos e adaptadas à inteligência humana comum. Em resumo, a inspiração nem é caracteristicamente natural, parcial, nem mecânica, mas sobrenatural, plena e dinâmica. Sob o tópico União dos Elementos Divino e Humano na Inspiração, agrupar-se-ão mais explicações na seção que se segue imediatamente. Se o círculo pequeno for tomado como símbolo do elemento humano na inspiração e o círculo grande como símbolo do divino, a Teoria da Intuição será representada só pelo círculo pequeno; a Teoria do Ditado só pelo círculo grande; a Teoria da Iluminação pelo círculo pequeno exterior ao grande, tocando-o só num ponto; a Teoria Dinâmica por dois círculos concêntricos, incluindo o pequeno no grande. Mesmo quando a inspiração é apenas a exaltação e intensificação das forças naturais do homem, deve ser considerada como obra de Deus assim como do homem. Deus pode operar tanto a partir de dentro como de fora. Como a criação e a regeneração é obra do Deus ; imanente ao invés do transcendente, do mesmo modo a inspiração em geral do íntimo da alma do homem ao invés da parte exterior. A profecia pode ser natural à humanidade perfeita. A revelação é o desvendamento e o Raio X nos capacita a ver através de um véu. Mas o discernimento dos autores da Escritura para com a verdade além das suas forças mentais e morais é inexplicável a não ser por uma influência sobrenatural na mente deles; a saber: se eles não forem elevados à Razão divina e dotados da sabedoria de Deus. Conquanto proponhamos esta Teoria Dinâmica como a que melhor explica os fatos da Escritura, não a consideramos, assim como as outras, como de importância essencial. Nenhuma teoria da inspiração é necessária à fé cristã. A revelação precede a inspiração. Havia religião antes do Velho Testamento - e um evangelho oral antes do Novo. Deus podia revelar-se
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sem o registro; podia permitir o registro sem o atestado de algo mais que o ensino religioso e da história; apenas ela era necessária ao referido ensino religioso. Qualquer que seja a teoria que estruturamos, resultará de uma estrita indução dos fatos da Escritura e não um esquema a priori com o qual a Escritura deve conformar-se. A falta de muitas discussões passadas sobre o assunto supõe que Deus deve adotar algum método particular de inspiração ou garantir uma perfeição absoluta dos pormenores em matéria não essencial ao ensino religioso da Escritura. Talvez a melhor teoria da inspiração seja não ter nenhuma. Warfield e Hodge, Inspiration, 8 - "É importante estabelecer muitíssimas verdades religiosas e históricas antes de entrarmos na questão da inspiração; p.ex., o ser divino e o seu governo, a condição do homem decaído, o fato de um esquema redentor, a verdade geral histórica das Escrituras e a validade e autoridade da revelação da vontade de Deus que elas contêm, i.e., a verdade geral do cristianismo e suas doutrinas. Por isso, segue-se que, conquanto a inspiração das Escrituras seja verdadeira e, assim sendo, é um princípio fundamental da interpretação adequada da Escritura, não é, em primeira instância, um princípio fundamental da religião cristã". Warfield, em Presb. and Ref. Rev. abr., 1893.208 - "Não achamos o sistema cristão todo na doutrina da inspiração.... Se não houvesse esta coisa que se chama inspiração, o cristianismo seria verdadeiro e todas as suas doutrinas essenciais nos seriam testemunhadas de uma forma digna de crédito" - nos evangelhos e na igreja viva. F. L. Patton, Inspiration, 22 "Devo fazer uma exceção à disposição que alguns têm de arriscar as fortunas do cristianismo na doutrina da inspiração. Não que eu concorde com qualquer um em qualquer convicção profunda da verdade e importância da doutrina. Mas é natural ter em mente a imensa vantagem do argumento que o cristianismo tem também a partir da inspiração dos documentos nos quais ela se apóia". IV. UNIÃO DOS ELEMENTOS DIVINO Ε HUMANO NA INSPIRAÇÃO
1. As Escrituras são igualmente a produção de Deus e do homem e, portanto, nunca devem ser consideradas como simplesmente humanas, ou simplesmente divinas.
Teologia Sistemática (Strong) 422 O mistério da inspiração não consiste separadamente em nenhum destes termos, mas na união dos dois. Contudo, disto há analogias na interpenetração dos poderes humanos pela eficiência divina na regeneração e santificação e na união das naturezas divina e humana na pessoa de Jesus Cristo. Segundo a "lei de Dalton", cada gás é um vácuo para cada um dos outros: "Os gases são reciprocamente passivos e passam entre si como em vácuo". Cada um interpenetra no outro. Porém isto não fornece uma ilustração perfeita do nosso assunto. O átomo do oxigênio e o átomo do nitrogênio, no ar comum, permanecem lado a lado, mas não se unem. Na inspiração, os elementos humano e divino se unem. A máxima de Lutero "Mens humana capax divinae" (A mente humana está contida na divina), é um dos mais importantes princípios de uma verdadeira teologia. Os luteranos pensam que a humanidade é algo feito por Deus para ele mesmo e para recebê-lo. Os reformados pensam na divindade como sempre preservando-se de qualquer confusão com a criatura. Eles temem o panteísmo e a idolatria" (Bispo de Salisbury, citado em Swayne, Our Lord's Knowledge, xx). Sabatier, Philos. Religion, 66 - "Esse mistério inicial, a relação em nossa consciência entre o elemento individual e o universal, entre o finito e o infinito, entre Deus e o homem, como podemos entender a coexistência e a união deles e como podemos sentir dúvida disso? Onde está o homem pensante que hoje não quebrou a fina crosta da sua vida diária e não captou um vislumbre daquelas profundas e obscuras águas em que flutua a nossa consciência? Quem não sentiu dentro de si uma presença velada e uma força muito maior do que a sua própria? Que trabalhador em uma elevada causa não percebeu dentro da sua atividade pessoal e saudou com um sentimento de veneração a misteriosa atividade de uma Força universal e eterna? 'In Deo vivimus, movemur et sumus' (Em Deus vivemos, movemonos e existimos).... Não se pode dissipar o mistério porque, sem ele, a religião não mais existiria". Quackenbos, Harper's Magazine, jul. 1900.264, diz que "a sugestão hipnótica é apenas inspiração". A analogia da influência humana assim comunicada pode ao menos ajudar-nos a entender um pouco da divina. í
Teologia Sistemática (Strong) 423 2. Não se deve conceber esta união dos agentes divino e humano na inspiração como conceito e recebimento externos. Por outro lado, os que Deus levantou e providencialmente qualificou para a realização da sua obra, falaram e escreveram as palavras de Deus, quando inspirados, não de fora, mas de dentro, não passivamente, porém na mais consciente posse e no mais elevado exercício de seus próprios poderes do intelecto, sentimento e vontade. O Espírito Santo não habita no homem como a água num vaso. Podemos ilustrar a experiência dos autores da Escritura através da experiência do pregador que, sob a influência do Espírito de Deus, é levado além de si mesmo e está consciente de uma apreensão mais nítida da verdade e da grande capacidade de proferi-la do que pertencer à sua desauxiliada natureza, embora reconheça que ele não pode ser um veículo de uma comunicação divina, mas estar, como nunca antes, na posse e exercício de suas próprias forças. A inspiração dos escritores da Bíblia, contudo, vai além da iluminação admitida pelo pregador que os capacita a estabelecer a verdade sem erro, na forma escrita permanente. Contudo, a inspiração é mais do que preparação providencial. Como os milagres, a inspiração pode valer-se das forças naturais, mas tais forças naturais não a explicam. Moisés, Davi, Paulo e João foram providencialmente dotados e educados para a sua obra de produzir a Escritura, porém isto em si não é inspiração, mas a preparação para ela. Beyschlag: "Com João, a lembrança e a exposição tornaram-se inseparáveis". E. G. Robinson: "Os novelistas não criam personagens; eles reproduzem, com modificações, o material representado à sua memória. Do mesmo modo os apóstolos reproduziam as suas impressões de Cristo". Hutton, Essays, 2.231 - "Os salmistas vacilam entre a primeira e a terceira pessoas quando expressam os propósitos de Deus. Ao se aquecerem com a inspiração espiritual eles se perdem na pessoa do Deus que os inspira e depois voltam-se outra vez ao que eram". Stanley, Life and Letters, 1.380 "A revelação não se resolve num simples processo humano porque somos capazes de distinguir a atuação natural através da qual ela foi comunicada"; 2.102 -"Parece-me que você transfere muito as nossas noções modernas da origem divina a estes antigos profetas e escritores e chefes.... A nossa, ou
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melhor, a moderna noção puritana da origem divina é a de uma força ou voz preternatural, pondo de lado os agentes secundários e separados de tais agentes por um abismo intransponível. A noção bíblica oriental antiga é a de uma vontade suprema atuante através de tais agentes, ou melhor, inseparável deles. Nossas noções de inspiração e comunicação divina insistem na perfeição absoluta dos fatos, da moral, da doutrina. A noção bíblica é que a inspiração é compatível com a fraqueza, a enfermidade, a contradição. Ladd, Philosophy of Mind, 182 - "Na inspiração, os pensamentos, sentimentos, propósitos organizam-se num outro Ser que não é o eu no qual eles mesmos nasceram. Esse outro Ser está neles. Estes entram em comunhão com ele. Entretanto, este pode ser sobrenatural, embora se empreguem os recursos psicológicos. Inspiração exterior, afinal de contas, não é inspiração". Contudo, esta última sentença parece-nos um desnecessário exagero do princípio verdadeiro. Conquanto Deus inspire originariamente a partir de dentro, ele pode também comunicar a verdade a partir de fora.
3. Portanto, a inspiração não removeu, mas investiu para o seu próprio serviço todas as peculiaridades pessoais dos escritores com todos os seus defeitos de cultura e estilo literário. Toda a imperfeição não inconsistente com a verdade na composição humana pode existir na Escritura inspirada. A Bíblia é a Palavra de Deus no sentido de que ela nos apresenta a verdade divina nas formas humanas e é uma revelação não para uma classe seleta, mas para a mente comum. Corretamente entendida, esta própria humanidade da Bíblia é prova da sua divindade. Locke: "Quando Deus fez o profeta, não desfez o homem". Prof. Day: "A sarça em que Deus apareceu a Moisés continuou sendo sarça, embora ainda queimasse com o brilho e a expressão da majestade da mente de Deus". Os parágrafos do Corão são chamados ayat, ou "sinal", por causa da sua suposta elegância sobrenatural. Mas as elegantes produções literárias não tocam o coração. A Bíblia não é simplesmente a palavra de Deus; é também o verbo que se fez carne. O Espírito Santo oculta-se a si mesmo para poder apresentar Cristo (Jo. 3.8); ele é conhecido apenas pelos seus
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efeitos - um padrão para os pregadores, que são ministros do Espírito (2 Co. 3.6). O maometano declara que cada palavra do Corão veio do sétimo céu pela atuação de Gabriel e que o seu próprio pronunciamento é inspirado. Melhor é a doutrina de Martineau, Seat of Authority, 289 - "Embora o padrão seja divino, a teia que o sustenta ainda deve ser humana". Jackson, James Martineau, 255 - "Não se deve permitir que a metáfora de Paulo sobre 'esse tesouro em vasos de barro' (2 Co. 4.7) seja o seu guia; não basta apenas que o tesouro venha do alto, mas também, do mesmo modo, o escrínio e que seja do cristal celeste. É preciso ser o registro divino, não só no espírito, mas também na letra". Charles Hodge, Systematic Theology, 1.157 "Quando Deus ordena que a boca das crianças louvem, elas devem falar como crianças, ou perder-se-á toda a força ou beleza tributada". Evans, Bib. Scholarship and Inspiration, 16,25 - "Ο πνεύμα de um vento morto nunca muda, como pensavam os antigos rabinos, em πνεύμα de um espírito vivo. Os corvos que alimentaram Elias não eram mais que um pássaro. Nem o homem, quando sobrenaturalmente influenciado, deixa de ser um homem. Um homem inspirado não é Deus, nem um autômato divinamente manipulado"; "Na Escritura pode haver tanta imperfeição como nas partes de qualquer organismo; seria consistente com a perfeita adaptação de tal organismo ao fim a que se destina. Então, a Escritura, tomada no seu conjunto, é uma afirmação da verdade moral e religiosa suficiente para a salvação dos homens, ou uma regra infalível e suficiente de fé e prática". J. S. Wrightnour: "Inspira meios para introduzir o ar, como o flautista sopra o seu instrumento. Como diferentes flautas têm diferentes formas, peculiaridades, o que pareceriam ser defeitos, aqui também ocorre o mesmo; contudo, todos são soprados pelo mesmo Espírito. O mesmo Espírito que os inspirou selecionou os instrumentos melhores para o seu propósito, do mesmo modo que o Salvador selecionou seus apóstolos. Por isso, nestes escritos, nos é dado de forma precisa, o melhor caminho para nós: a instrução espiritual e o alimento de que necessitamos. O alimento para o corpo não é dado na mais concentrada forma, porém na que mais se adapta à digestão. Do mesmo modo Deus dá o ouro, não em moeda cunhada, mas no quartzo da mina de onde deve ser cavado e fundido". Os restos de Arthur Hallam, em John Brown's Rate and his Friends, 21A - "Vejo
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que a Bíblia é adequada a cada parte do coração humano. Eu sou um ser humano e creio que ele é o livro de Deus porque é o livro do homem".
4. Na inspiração Deus se vale de todos métodos corretos e normais da composição literária. Como reconhecemos na literatura a função própria da história, da poesia, e da ficção; da profecia, da parábola e do drama; da personificação e do provérbio; da alegoria e da instrução dogmática; e mesmo do mito e da lenda; não podemos negar a possibilidade de Deus usar qualquer destes métodos da verdade comunicante, deixando que determinemos em qualquer simples caso qual destes métodos ele adotou. Na inspiração, como na regeneração e na santificação, Deus opera "de muitas maneiras" (Hb. 1.1). As Escrituras, como os livros da literatura secular, devem ser interpretadas à luz do seu propósito. A poesia não pode ser tratada como a prosa, e a parábola não pode ser tratada de qualquer forma (em Inglês "andar de quatro"), quando ela indica o caminhar ereto e o simples contar uma história. O drama não é história, nem a personificação deve ser considerada como uma biografia. Há um exagero retórico que apenas tem em vista uma vivida ênfase de uma importante verdade. A alegoria é um modo popular de fazer ilustração. Mesmo o mito e a lenda podem trazer grandes lições de outra forma impossíveis que mentes infantis e sem instrução apreendam. Para julgarmos a Escritura há necessidade de um senso literário, o que falta na crítica muito hostil. Denney, Studies in Theology, 218 - "Há um estágio em que todo o conteúdo da mente, embora não tendo capacidade para a ciência e para a história, pode ser chamado mitológico. O que a crítica nos mostra, ao tratar dos capítulos iniciais de Gênesis, é que Deus não menospreza o falar à mente, nem através dela, mesmo quando num estágio inferior. Até mesmo o mito, no qual o início da vida humana, estando além da possibilidade de pesquisa, é representado numa linguagem infantil da raça, pode tornar-se um recurso da revelação. ... Mas isso não faz do primeiro capítulo de Gênesis ciência, nem também do terceiro capítulo história. Ε a autoridade nestes capítulos não é a forma semi-científica ou semi-histórica, mas a mensagem que através deles vem, da sabedoria e força criativas de Deus,
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ao coração do homem". Gore, em Lux Mundi, 356 - Os variados tipos de atividade mental e literária desenvolvem-se em suas diferentes linhas a partir de uma condição primitiva na qual não se diferenciam, mas fundem-se. Podemos chamar vagamente isto de estágio mítico da evolução mental. Mito não é falsidade; é um produto da atividade mental, instrutivo como mais tarde qualquer outra produção, mas caracteriza-se por não ser distinta da história, da poesia e da filosofia". Do mesmo modo Grote chama de mitos gregos o grupo intelectual todo da época a que pertenciam - a raiz comum de toda história, poesia, filosofia, teologia, de que mais tarde divergiram e de que procederam. Assim, a parte inicial de Gênesis pode pertencer à natureza do mito no qual não podemos distinguir o germe histórico, embora não neguemos que ele exista. O Clive e Andrea del Sarto de Robert Browning são essencialmente representações corretas de caracteres históricos, embora os pormenores em cada poema sejam imaginários.
5. O Espírito inspirador deu as Escrituras ao mundo por um processo de evolução gradual. Como, ao comunicar as verdades da ciência natural, Deus comunicou as verdades da religião em passos sucessivos, a princípio em germe, mais plenamente tornou o homem capaz de compreendê-las. A educação da raça é semelhante à de uma criança. Primeiro vêm as figuras, as lições objetivas, os ritos externos, as predições; depois a chave destes em Cristo, e sua exposição didática, nas Epístolas. Assim tem sido "muitas vezes", assim como "de muitas maneiras" (Hb. 1.1). As primeiras profecias como a de Gn. 3.15 - a semente da mulher esmagando a cabeça da serpente - eram apenas fracos lampejos da aurora. O homem tinha de elevar-se porque era capaz de receber e transmitir a comunicação divina. Moisés, Davi, Isaías marcam sucessivos avanços no recebimento e transparência da luz celestial. A inspiração tem-se valido de homens de vários graus de capacidade, cultura e discernimento religioso. Como todas as verdades dos cálculos estão, de forma germinal, no mais simples axioma da matemática, do mesmo modo todas as verdades da salvação estão compreendidas na afirmação de que Deus é santidade e amor. Mas nem todo erudito pode dominar o cálculo do axioma. O mestre pode ditar proposições que o aluno não entende; ele pode demonstrar um
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caminho de tal modo que o aluno participe do processo; ou, melhor ainda, ele pode estimular o aluno a operar a demonstração por si mesmo. Parece que Deus empregou todos estes métodos. Mas há exemplos de ditado e iluminação e a inspiração às vezes os inclui; o método geral parece ter sido o despertar divino das forças humanas para que o homem descubra e expresse a verdade por si mesmo. A. F. Balfour, Foundations of Belief, 339 - "Vista do lado divino, a inspiração é aquilo a que chamamos de descoberta quando vista do lado humano. ... Cada acréscimo ao conhecimento humano, quer no indivíduo, ou na comunidade, quer científico, ético ou teológico, deve-se a uma cooperação entre a alma humana que assimila, e o poder divino que inspira. Nem age, ou poderia agir, num isolamento independente. Para a 'razão desassistida', é uma ficção, e é impossível conceber-se uma pura receptividade. Mesmo o mais vazio recipiente deve limitar a quantidade e determinar a configuração de qualquer líquido que possa enchê-lo. ... A inspiração não se limita a qualquer idade, ou país, ou povo". Os antigos semitas tinham-na, como também os grandes reformadores orientais. Não se colhem uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos. Tudo o que é verdadeiro ou bom na história humana provêm de Deus.
6. A inspiração não garante a inerrância em coisas não essenciais ao principal propósito da Escritura. A inspiração não vai além da fidedigna transmissão dos escritores responsáveis pela apresentação da verdade. Inspiração não é onisciência. É a concessão de vários tipos e graus de conhecimento e auxílio, de acordo com a necessidade; às vezes sugere uma nova verdade, às vezes preside a coleção do material preexistente e resguarda do erro essencial na elaboração final. Como a inspiração não é onisciência, não é santificação completa. Nem invoca infalibilidade pessoal. Deus pode valer-se de recursos imperfeitos. A imperfeição dos olhos não desaprova a autoria divina e, como Deus se revela na natureza e na história a despeito das suas deficiências, assim a inspiração pode cumprir o seu propósito tanto através dos escritores como dos escritos em certo
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sentido imperfeitos. Deus está, na Bíblia assim como na história dos hebreus, conduzindo o seu povo para Cristo, mas apenas através de um desdobramento da verdade. Os autores da Escritura não eram perfeitos. Paulo, em Antioquia, resistiu Pedro "porque era repreensível" (Gl. 2.11). Mas Pedro diferia de Paulo, não nos pronunciamentos públicos, nem nas palavras escritas, mas em seguir os seus ensinos (cf. Atos 15.6-11). Os defeitos pessoais não invalidam um embaixador, apesar de que eles podem dificultar o recebimento da sua mensagem. O mesmo ocorre com a ignorância dos apóstolos sobre o tempo da segunda vinda de Cristo. Só gradualmente eles vieram a entender as doutrinas cristãs; eles não ensinavam as doutrinas todas de uma só vez; seus últimos pronunciamentos suplementavam e completavam os primeiros; e todos eles forneciam só aquela medida do conhecimento que Deus via necessária ao ensino moral e religioso da humanidade. Muitas coisas ainda estão sem ser reveladas e muitas que inspiraram os homens a pronunciar, eles não entendiam plenamente. Pfleiderer, Grundriss, 53, 54 - "A palavra é divina-humana no sentido de que contém a verdade divina condicionada na forma humana, histórica e individual. A Escritura Sagrada contém a palavra de Deus de um modo claro, e inteiramente suficiente para gerar a fé salvadora". Frances Power Cobbe, Life, 87 - "A inspiração não é uma coisa miraculosa e conseqüentemente incrível, mas normal e concorde com o relacionamento natural entre o espírito infinito com o finito, influxo divino da luz mental em analogia perfeita com a influência moral que os teólogos chamam graça. Como toda alma devota e obediente pode ter a expectativa de compartilhar da graça divina, do mesmo modo elas têm compartilhado, como ensina Parker, na inspiração divina. E, como o recebimento da graça mesmo em grande medida não nos torna impecáveis, assim também o da inspiração não nos torna infalíveis!'. Podemos admitir com a Srta. Cobbe que a inspiração é consistente com a imperfeição embora admitamos que os escritores da Bíblia têm uma autoridade mais elevada que a nossa.
7. A Inspiração nem sempre, ou geralmente, envolve comunicação direta dos escritores da Bíblia com as palavras que eles escreveram.
Teologia Sistemática (Strong) 430 Apesar disso, é possível pensamento sem palavras e, na ordem da natureza, ele precede as palavras. Os escritores da Bíblia parecem ter sido tão influenciados pelo Espírito Santo que perceberam e sentiram mesmo as novas verdades que eles deviam publicar, como descobertas das suas próprias mentes e, ao expressar tais verdades, permitiu-se a ação das suas próprias mentes, com a única exceção de que eles eram sobrenaturalmente imunes na seleção de palavras erradas e, quando necessário, proviam as corretas. Portanto, a inspiração não é verbal, conquanto reivindiquemos que não se admitiu nenhuma forma de palavras tomadas em suas conexões que ensinassem o erro na Escritura. Antes da expressão é preciso que haja algo a ser expresso, apesar de que é possível o pensamento sem linguagem. Pode existir o conceito sem palavras. O inspirador interrompe só quando a memória do falante deixa de existir. O mestre guia a mão do aluno só quando este tende a errar. O pai permite que o filho ande sozinho, a não ser que ele corra o perigo de tropeçar. Se o conhecimento se tornar certo, ele é tão bom como a revelação direta. Porém sempre que a mera comunicação das idéias ou a direção rumo ao material apropriado for suficiente para garantir o pronunciamento correto, os escritores sagrados eram orientados na própria seleção das palavras. A crítica minuciosa prova de modo cada vez mais concludente a adequação da roupagem verbal dos pensamentos expressos; toda a exegese bíblica, na verdade, baseia-se na suposição de que a sabedoria divina fez da forma exterior um veículo fidedigno da substância interior da revelação. Watts, New Apologetic, 40, 111 sustenta a inspiração verbal: "As garrafas não são o vinho, mas se elas se quebrarem, o vinho derramará"; o Espírito inspirador deu a linguagem a Pedro e aos outros no Pentecostes, pois os apóstolos falaram em outras línguas; os santos homens do passado não só pensavam, mas "os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" (2 Pe. 1.21). Assim também Gordon, Ministry of the Spirit, 171 - "Por que o estudo minucioso das palavras da Escritura, produzido por todos expositores, a busca da precisa sombra do sentido verbal, sua atenção para os mínimos detalhes da linguagem e para todo o delicado
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matiz do tempo, modo e pronúncia"? Os eruditos liberais, pensa o Dr. Gordon, assim afirmam a doutrina que eles negam. Rothe, Dogmatics, 238, fala de uma "língua do Espírito Santo". Oetinger: "É o estilo da corte celestial". Porém Broadus, erudito quase igualmente conservador, em seu Com. on Mathews 3.17 diz que a diferença entre "Este é o meu Filho amado", e Lc. 3.22 "Tu és meu Filho amado", nos faz tomar cuidado em teorizar a inspiração verbal e sugere que essa hipótese não oferece garantia. A teoria da inspiração verbal é refutada por dois fatos: 1. que as citações que o N.T. faz do A.T., em 99 casos diferem tanto do hebraico como da LXX; 2. que as próprias palavras de Jesus são relatadas com variações pelos diferentes evangelistas. Helen Keller disse a Phillips Brooks que sempre ela soube que há um Deus, mas nunca tinha conhecido o seu nome. O Dr. Z. F. Westervelt, do Instituto de Surdos-Mudos tinha sob a sua responsabilidade quatro filhos de diferentes mães. Eram todos mudos embora não tivessem a falta da audição e os órgãos da fala eram perfeitos. Mas as suas mães nunca os tinham amado e nunca tinham conversado com eles de uma forma amorosa, que provocasse imitação. Os filhos ouviam fria e duramente, mas isto não os atraía. Do mesmo modo os velhos membros da igreja, em particular e nas reuniões de oração deveriam ensinar os mais novos a falar. Mas a áspera e contenciosa conversa não produzirá o resultado; é preciso que seja uma conversa de amor cristão. William D. Witney, na Max Muller's Science of Language, 26-31, combate o ponto de vista de Müller de que o pensamento e a linguagem são idênticos. A resposta do Major Bliss Taylor a Santa Anna: Ό General Taylor nunca se rende!" é substancialmente correta, embora a versão das verdadeiras palavras profanas do general fosse diplomática e eufemística. Cada autor da Escritura proferiu uma antiga verdade em novas formas com as quais sua própria experiência a revestiu. Davi chegou à sua grandeza abandonando a mera repetição de Moisés e falando do seu próprio coração. Paulo chegou à sua grandeza desprezando o que lhe teria sido ensinado e mostrando em que consiste, afinal de contas, o plano da misericórdia de Deus para com todos. Agostinho: "Scriptura est sensus Scripturae" - "A Escritura é o que a Escritura significa". Entre os escritores de teologia que admitem a possibilidade de os autores da Bíblia errarem em matéria não essencial ao ensino moral e espiritual estão Lutero, Calvino,
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Cocceius, Tholuck, Neander, Lange, Stier, Van Oosterzee, John Howe, Richard Baxter, Conybeare, Alford, Mead.
8. Contudo, não obstante o elemento humano sempre presente, a inspiração das Escrituras, totalmente permeável, faz destes vários escritos um todo orgânico. Porque a Bíblia é em todas as suas partes a obra de Deus, cada parte deve ser julgada, não isoladamente, mas em sua conexão com cada uma das outras partes. As Escrituras não devem ser interpretadas como tantas produções simplesmente humanas de diferentes autores, mas também como a obra de uma mente divina. Coisas aparentemente triviais devem ser explicadas a partir da sua conexão com o todo. Uma história deve ser edificada a partir de vários relatos da vida de Cristo. Uma doutrina deve suplementar a outra. O Velho Testamento é parte de um sistema progressivo, cujo clímax e cuja chave devem ser encontrados no Novo Testamento. O assunto central e o pensamento que liga todas as partes da Bíblia a cuja luz devem ser interpretados, é a pessoa e obra de Jesus Cristo. A Bíblia diz: "Não há Deus" (SI. 14.1); mas, então, deve-se tomar o contexto: "Disse o néscio no seu coração". A expressão de Satanás "está escrito" (Mt. 4.6) é suplementada pela de Cristo: "Também está escrito" (Mt. 4.7). As trivialidades são como o cabelo e as unhas - eles têm o seu lugar como partes de um todo. O verso que menciona a capa de Paulo em Trôade (2 Tm. 4.13) é 1) sinal de genuinidade - um embusteiro não o inventaria; 2) uma evidência de necessidade temporal suportada para o evangelho; 3) uma indicação dos limites da inspiração: mesmo Paulo devia ter livros e rolos. Cl. 2.21 - "não toques, não proves, não manuseies" - deve ser interpretado com o contexto no v. 20 - "por que vos carregam ainda com ordenanças"? e pelo verso 22 "segundo os preceitos e doutrinas dos homens". Hodge, Systematic Theology, 1.164 - "A diferença entre o evangelho de João e o livro das Crônicas é como entre o cérebro do homem e o cabelo da sua cabeça; contudo, a vida do corpo está de modo tão
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verdadeiro no cabelo como no cérebro". Como os cupons da estrada de ferro, os textos da Escritura "não devem ser desatacados". Crooker, The New Bible and its New Uses, 137-144, nega inteiramente a unidade da Bíblia. O Prof. A. B. Davidson, de Edimburgo, diz que "Uma teologia do A.T., na verdade, é impossível, porque o AT. não é um todo homogêneo". Estas negações procedem de um conhecimento insuficiente do princípio da evolução na história e doutrina do AT. As doutrinas no começo da Escritura são como os rios na sua fonte; não estão completamente expandidos; muitos afluentes ainda virão. Bruce, Apologetics, 323 - "A literatura dos estágios antigos da revelação devem compartilhar os defeitos da revelação que ela registra e interpreta. ... A revelação final capacita-nos a ver os defeitos dos mais antigos. ... Devemos achar Cristo no AT. como a borboleta na lagarta e o homem, coroa do universo, na nuvem ígnea". Crane, Religion of Tomorrow, 224 - Cada parte deve ser modificada por outra. Nenhum verso é verdadeiro fora do Livro, mas o Livro inteiro é verdadeiro desde que tomado no seu conjunto. Gore, Lux Mundi, 350 - "Reconhecer a inspiração das Escrituras é entrarmos na escola em cada parte delas".
9. Quando se reconhece plenamente a unidade da Escritura, a Bíblia, apesar das imperfeições em matéria não essencial ao propósito religioso, fornece orientação segura e suficiente para a verdade e para a salvação. O reconhecimento da atuação do Espírito Santo torna racional e natural crer na unidade orgânica da Escritura. Quando se tomam as partes mais antigas em conexão com as mais tardias e quando se interpreta cada parte como um todo, desaparece a maioria das dificuldades relativas à inspiração. Toma- das juntas, tendo Cristo como clímax e explicação, a Bíblia fornece a regra de fé cristã e prática. A Bíblia responde a duas perguntas: "O que Deus fez para me salvar? O que devo fazer para ser salvo? As proposições de Euclides não são invalidadas pelo fato de que ele cria que a terra é plana. A ética de Platão não deve ser rejeitada por causa dos seus equívocos relativos ao sistema
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solar. Do mesmo modo a autoridade religiosa independe do conhecimento meramente secular. - Sir Joshua Reynolds foi um grande pintor e um grande mestre da sua arte. Suas preleções sobre a pintura lançaram os princípios que têm sido aceitos como autoridade por diversas gerações. Mas ele ilustra o assunto a partir da história e da ciência. Era uma época quando tanto a história como a ciência eram jovens. Em alguns assuntos sem importância, que não afetam nem um pouco as suas conclusões, ele ocasionalmente vacila; suas afirmações não são seguras. Por isso não é ele uma autoridade no que tange à sua arte? - O Duque de Wellington uma vez disse que nenhum ser humano sabia quando começou a batalha de Waterloo. Um historiador rece- beu a história de um combatente e fixou a hora como sendo onze da manhã. Um outro historiador teve a informação vinda de um outro combatente e fixou-a como ao meio-dia. Podemos dizer que esta discrepância indica erro em todo o relato e que não mais temos certeza de que ocorreu a batalha de Waterloo? Deve-se admitir livremente tais insignificantes imperfeições, conquanto ao mesmo tempo insistimos que a Bíblia, tomada como um todo, é incomparavelmente superior a todos os outros livros e "que pode fazer-te sábio para a salvação" (2 Tm. 3.15). Hooker, EccI. Polity. Ό que quer que se fale de Deus ou das coisas pertencentes a ele além do que é a verdade, embora pare-ça uma honra, é uma injúria. Ε como os louvores tributados aos homens tão freqüentemente abatem e prejudicam o crédito da sua merecida aprovação, assim devemos de igual modo tomar cuidado para que, ao atribuir à Escritura mais do que ela possa ter, não causemos incredulidade mesmo naquelas coisas que abundantemente sejam avaliadas com menos reverência". Baxter, Works, 21.349 - "Aqueles que pensam que as imperfeições humanas dos escritores avançam mais e podem aparecer em algumas passagens de cronologias ou da história que não são parte da regra de fé e vida, não destroem a causa cristã. Porque Deus pode capacitar os seus apóstolos para um registro e pregação do evangelho infalíveis, mesmo nas coisas necessárias à salvação, embora ele não os tivesse feito infalíveis em cada variante ou circunstância, nem ainda numa vida sem defeito". A Bíblia, diz Beet, "contém erros possíveis em pequenos pormenores ou alusões, mas dá-nos com absoluta certeza os grandes fatos do
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cristianismo e, com base neles e só neles apoia-se a nossa fé". Evans, Bib. Scholarship and Inspiration, 15, 18, 65 - "Ensina que a concha é parte do cerne e os homens que acham que não podem guardar a concha jogam-na fora juntamente com o cerne. Esta afirmação da inspiração fez Renan, Bradlaugh e Ingersoll céticos. ... Se, na criação, Deus pode operar um resultado perfeito através da imperfeição, por que não pode fazer o mesmo na Inspiração? Se em Cristo Deus pode aparecer na fraqueza e ignorância humanas por que não na palavra escrita?" Por isso abrimos exceção ao ponto de vista de Watts, New Apologetic, 71 - "Adote-se a teoria dos erros históricos e dos científicos e o cristianismo compartilhará do destino do hinduísmo. Se os seus escritores inspirados erram quando nos dizem coisas terrenas, ninguém crera quando falarem das celestiais". Watts acrescenta exemplos de Espinosa desistindo da forma enquanto reivindica sustentar a substância e, deste modo, reduzir a revelação a um fenômeno do panteísmo naturalista. Respondemos que nenhuma teoria a priori sobre a perfeição na inspiração divina deve cegar-nos quanto à evidência da real imperfeição da Escritura. Como na criação e em Cristo, assim na Escritura Deus se humilha para adotar métodos humanos e imperfeitos da sua própria revelação. Ver Jonathan Edwards, Diário: Observo que os velhos raramente têm qualquer vantagem de novas descobertas porque eles estão à beira do caminho que utilizaram durante tanto tempo. Resolvido, se eu viver durante anos, serei imparcial ao ouvir as razões de todas as pretensas descobertas e, se racionais, recebê-las embora por muito tempo eu tenho me valido de outro modo de pensar". Bowne, The Immanence of God, 109, 110 - "Aqueles que acham a fonte da certeza e a sede da autoridade só nas Escrituras, ou só na igreja, ou só na razão e na consciência, ao invés de encontrá-la na complexa e indivisível cooperação de todos estes fatores devem ter em mente a história do pensamento religioso. A mais rígida doutrina da inerrância da Escritura não tem evitado conflitantes interpretações; e os que situam a sede da autoridade na razão e na consciência são forçados a admitir que fora da iluminação pode haver muito lugar para ambos. Em certo sentido, a religião do espírito é um fato muito importante, mas, quando se coloca em oposição à religião de um livro, a luz que está nele é capaz de tornar-se em trevas".
Teologia Sistemática (Strong) 436 10. Conquanto a inspiração constitui a Escritura uma autoridade mais fidedigna que a razão individual ou os credos da igreja, a autoridade última é o próprio Cristo. Cristo não construiu a Escritura para dispensar sua presença pessoal e ensino através do seu Espírito. A Escritura é o espelho imperfeito de Cristo. O espelho é deficiente, contudo, reflete-o e conduz a ele. A autoridade não está no espelho, mas em Cristo e o seu Espírito capacita individualmente o cristão e a igreja coletivamente a distinguir o essencial do não essencial e assim perceber a verdade em Jesus. Julgando e interpretando desta forma a Escritura, não somos racionalistas, porém, ao invés disso, crentes naquele que prometeu estar conosco todos os dias até o fim do mundo e dirigir-nos pelo seu Espírito a toda a verdade. Tiago fala da lei como um espelho (Tg. 1.23-25) "como o varão que contempla ao espelho o seu rosto natural... que atenta para a lei perfeita"); a lei convence do pecado porque reflete Cristo. Paulo fala do evangelho como um espelho (2 Co. 3.18) - "todos nós, refletindo como um espelho a glória do Senhor"); o evangelho nos transforma porque reflete Cristo. Contudo, tanto o evangelho como a lei são imperfeitos; são como espelhos de metal polido, cuja superfície é freqüentemente opaca e cujas imagens são obscuras; (1 Co. 13.12 - "Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face"); mesmo os homens inspirados conheciam apenas em parte e a profecia só em parte. A própria Escritura é a concepção e o pronunciamento de uma criança, e que desaparecerá quando vier o que é perfeito, e virmos Cristo como ele é. A autoridade é o direito de impor crenças ou de ordenar obediência. A autoridade única é Deus, porque ele é a verdade, a justiça e o amor. Mas ele pode impor crenças e ordenar obediência só na medida em que ele é conhecido. Por isso a autoridade pertence só ao Deus revelado e, porque Cristo é o Deus revelado, ele pode dizer: "Toda autoridade me é dada no céu e na terra" (Mt. 28.18). A autoridade final na religião é Jesus Cristo. Cada uma das suas revelações de Deus tem autoridade. Tanto a natureza como a natureza humana são tais revelações. Ele exerce a sua autoridade através das autoridades delegadas e subordinadas, tais como os pais e o
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governo civil. Estes corretamente reivindicam obediência, dentro dos limites das suas respectivas esferas e reconhecem a sua relação de dependência dele. "As autoridades que há foram ordenadas por Deus" (Rm. 13.1), apesar de que elas são manifestações imperfeitas da sabedoria e justiça dele. As decisões da corte suprema são de autoridade embora os juizes são falíveis e limitados no estabelecimento da justiça. Autoridade não é infalibilidade quer no governo da família, quer no do estado. A igreja da Idade Média considerava-se possuidora da autoridade absoluta. Mas a Reforma Protestante mostrou quão vãs eram as suas pretensões. A igreja só é autoridade quando reconhece e expressa a suprema autoridade de Cristo. Os reformados sentiram a necessidade de alguma autoridade externa no lugar da igreja. Em substituição, eles usaram a Escritura. A expressão "a palavra de Deus", que designa a verdade oralmente pronunciada ou que afeta a mente do homem vem a significar só um livro. A suprema autoridade foi atribuída só a ele. Freqüentemente usurpa-se o lugar de Cristo. Enquanto vindicamos a apropriada autoridade da Escritura, devemos mostrar que a sua autoridade não é imediata e absoluta, mas mediata e relativa, através de registros humanos e imperfeitos e que necessitam de um ensino suplementar e divino para interpretá-los. A autoridade da Escritura não independe de Cristo e nem está acima dele, mas na subordinação exclusiva a ele e ao seu Espírito. Aquele que inspirou a Escritura deve capacitar-nos a interpretá-la. Não se trata de uma doutrina do racionalismo, pois ele sustenta a dependência absoluta da iluminação do Espírito de Cristo. Também não se trata do misticismo que sustenta que Cristo nos ensina apenas abrindo o sentido das revelações passadas. Não esperamos palavras novas na nossa astronomia, nem novas Escrituras na nossa teologia. Esperamos, sim, que o mesmo Cristo que deu as Escrituras nos dê um novo discernimento para o novo sentido e nos capacite a fazer novas aplicações aos seus ensinos. O direito e o dever do juízo privado com relação à Escritura não pertencem a nenhuma casta privilegiada, mas são liberdades inalienáveis da igreja de Cristo e do membro da igreja individualmente. Contudo, de um outro ponto de vista, este julgamento não é privado. Não se trata de julgamento arbitrário ou fruto do capricho. Ele não torna a consciência cristã suprema, se por este termo significarmos a consciência dos cristãos independente do
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Cristo que neles habita. Tendo vindo a Cristo, ele nos une a si, senta-nos consigo no seu trono, dá-nos o seu Espírito e determina que empreguemos a nossa razão ao seu serviço. Ao julgar a Escritura, damos supremacia a Cristo, não a nós e reconhecemo-lo como a única autoridade última e infalível em matéria de religião. Podemos crer que a revelação total de Cristo na Escritura é uma autoridade superior à razão do indivíduo, ou a qualquer simples afirmação da igreja ainda que não creiamos que esta mesma autoridade da Escritura tem sua limitação e que o próprio Cristo deve ensinar-nos qual é a sua revelação total. Deste modo o juízo que a Escritura estimula a passar sobre as suas próprias limitações só induz a uma final e implícita confiança no vivo e pessoal Filho de Deus. Ele nunca pretendeu que a Escritura devesse ser um substituto da sua presença e apenas o seu Espírito, que foi prometido para dirigir-nos em toda a verdade. Sobre a autoridade da Escritura ver A. H. Strong, Christ in Creation, 113-136 - "A fonte de toda a autoridade não é a Escritura, mas Cristo. ... Em lugar nenhum se diz que a Escritura por si é capaz de convencer o pecador ou de levá-lo a Deus. É uma brilhante palavra, mas é a 'espada do Espírito'; e, a não ser que o Espírito a use, nunca penetrará no coração. É um martelo pesado, mas só o Espírito pode empregá-lo para despedaçar a rocha. É o tipo de forma fechada, mas o papel nunca receberá uma impressão enquanto o Espírito não aplicar o seu poder. Nenhum mero instrumento terá a glória que pertence a Deus. Toda alma sente a sua inteira dependência dele. Só o Espírito Santo pode fazer a palavra exterior interiorizar-se. Ε ο Espírito Santo é o Espírito de Cristo. Cristo entra em contato direto com a alma. Ele mesmo dá testemunho da verdade. Ele dá testemunho da Escritura ao invés de a Escritura dar testemunho dele".
11. A discussão anterior capacita-nos ao menos a lançarmos três princípios cardeais e darmos respostas a três perguntas comuns a respeito da inspiração. Princípios: a) A mente humana pode ser habitada e receber energia da parte de Deus enquanto ainda atinge e retém sua mais elevada inteligência e liberdade. b) Sendo obra do Deus uno bem como dos homens em quem Deus se move e habita, as Escrituras constituem uma unidade articulada e orgânica. c) A unidade e autoridade da Escritura
Teologia Sistemática (Strong) 439 como um todo são inteiramente consistentes com sua gradual evolução e imperfeição das partes não essenciais. Perguntas: a) Alguma parte da Escritura não é inspirada? Resposta: Cada parte da Escritura é inspirada em sua conexão e relação com cada uma das outras partes. b) Há graus de inspiração? Resposta: Há graus de valor, mas não de inspiração. Cada parte em conexão com as demais é plenamente verdadeira e plenitude não tem grau. c) Como podemos saber que partes são de maior valor e qual é o seu ensino integral? Resposta: O mesmo Espírito de Cristo que inspirou a Bíblia promete tomar as coisas de Cristo e, apresentando-as a nós, conduzir-nos progressivamente a toda a verdade. Note o valor do Velho Testamento, revelando os atributos naturais de Deus como base e cenário para a revelação da misericórdia no Novo Testamento. A revelação encontra-se em muitas partes (πολυμερώς - Hb. 1.1) assim como de muitas maneiras. "Cada oráculo, tomado isoladamente, é parcial e incompleto" (Robertson Smith, O. Τ. in Jewish Ch., 21). Mas a pessoa e as palavras de Cristo resumem e completam a revelação, de modo que, em seu conjunto e em conexão com ele, as várias partes da Escritura constituem uma infalível e suficiente regra de fé e prática. A influência divina sobre as mentes dos escritores pós-bíblicos, levando à composição de alegorias tais como O Peregrino e dramas como o Macbeth não devem ser denominadas de inspiração, mas de iluminação porque tais escritos contêm erros assim como verdades em matéria de religião e de moral; além disso eles não acrescentam nada de essencial ao que as Escrituras nos conferem; mesmo quando expressam a verdade, já feitas conhecidas, elas não merecem um lugar no cânon sagrado. W. Η. Ρ. Faunce: "Quão distante está o verdadeiro Peregrino de Bunyan de apresentar a experiência cristã! Ela é inverídica: 1. No que trata do desespero do mundo. O Peregrino tem de deixar este mundo a fim de ser salvo. A experiência moderna anseia por fazer a vontade de Deus aqui, e salvar outros ao invés de abandoná-los. 2. Na sua agonia relativa ao pecado e ao conflito assustador. Bunyan ilustra a experiência moderna melhor em a
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Cristã e seus filhos, que atravessam o Vale da Sombra da Morte durante o dia e sem o conflito com Apoliom. 3. Na incerteza constante da luta do Peregrino. O Cristão entra no Castelo da Dúvida e depara-se com o Gigante Desespero, mesmo depois de ter tido a maioria das vitórias. Na experiência moderna, "no tempo da tarde haverá luz" - (Zc. 14.7). 4. Na constante convicção de um Cristo ausente. O Cristo de Bunyan nunca se encontra neste lado da Cidade Celestial. A Cruz diante da qual o fardo caiu simboliza um ato sacrificial, mas não é o próprio Salvador. A experiência moderna tem Cristo vivendo em nós e conosco sempre, e não somente um Cristo que esperamos ver no fim da jornada". Beyschlag, N. T. Theol., 2.18 - Paulo declara que a sua própria profecia e inspiração, em essência, são imperfeitas (1 Co. 13.9, 10,12; cf. 1 Co. 12.10; 1 Ts. 5.19-21). Admitido isso, justifica-se uma crítica cristã mesmo nestes pontos de vista. Ele pode pronunciar um anátema sobre os que pregam Outro evangelho' (Gl. 1.8,9), porque no que se refere a uma simples fé, os fatos da salvação são absolutamente certos. Mas onde o pensamento profético e discurso vão além destes fatos relativos à salvação, a madeira e a palha podem misturar-se com o ouro, a prata e as pedras preciosas edificadas sobre um fundamento. Deste modo, ele distingue a sua modesta γνώμη da επιταγή κυρίου (1 Co. 7.25,40)". Clarke, Christian Theology, 44 "A autoridade da Escritura não põe limites, mas liberta. Escrevendo sobre a Escritura, Paulo diz: 'Não que tenhamos o domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores do vosso gozo; porque pela fé estais em pé' (2 Co. 1.24)". Cremer, em Herzog, Realencypaedia, 183-203 - "A doutrina da igreja é de que as Escrituras são inspiradas, mas nunca a igreja determinou como isso ocorreu". Butler, Analogy, parte II, cap. Ill - "A única questão concernente à verdade é se a revelação é real, não se atende a cada circunstância que se espera; sobre a autoridade da Escritura, se ela é o que reivindica ser, não se é um livro de tal tipo, e promulgado deste modo, como os fracos são capazes de fantasiar um livro que contém a revelação divina. Por isso, nem a obscuridade, nem a aparente incúria de estilo, nem as várias leituras, nem as primitivas disputas sobre os autores de certas partes, nem outras semelhantes coisas, embora tenham sido mais consideráveis do que são, podem destronar a autoridade da Escritura; a não ser que os profetas,
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os apóstolos ou o nosso Senhor tivessem prometido que o livro contendo a revelação divina garantiria estas coisas". W. Robertson Smith: "Se me perguntarem por que eu recebo as Escrituras como a palavra de Deus e como a única regra de fé e vida, respondo com todos os Pais da igreja Protestante: 'Porque a Bíblia é o único registro do amor redentor de Deus; porque só na Bíblia eu encontro Deus trazendo o homem a Jesus Cristo e declarando a sua vontade de salvar-nos. Ε ο registro que eu sei que é verdadeiro pelo testemunho do seu Espírito, que está no meu coração, pelo qual eu estou certo de que nenhum outro, além do próprio Deus é capaz de falar tais palavras à minha alma". O evangelho de Jesus Cristo é o άπαξ λεγόμενον do Onipotente.
V. OBJEÇÕES À DOUTRINA DA INSPIRAÇÃO
Em conexão com uma obra divino-humana como a Bíblia, pode-se esperar que se apresentem dificuldades por si mesmas insolúveis. Contudo, até onde se sustenta sua inspiração pela competente e suficiente evidência, tais dificuldades não podem com justiça impedir nossa plena aceitação da doutrina, senão como uma desordem e mistério na natureza garantem-nos o abandono das provas da sua autoria divina. Tais dificuldades diminuem com o tempo; algumas já desapareceram; muitas podem ser devidas à ignorância e podem ser removidas daqui em diante; as que são permanentes podem pretender estimular a pesquisa e disciplinar a fé. É notável que as objeções comuns à inspiração apresentam-se, não tanto contra o ensino religioso das Escrituras, como contra certos erros em assuntos seculares que se supõe entrelaçados com ela. Mas se se provar que na verdade são erros, isto não derrotará necessariamente a doutrina da inspiração; só nos compelirá a dar maior lugar ao elemento humano na composição das Escrituras e considerá-las mais exclusivamente como um livro-texto de religião. Como regra de fé e prática religiosas elas ainda são a infalível palavra de Deus. A Bíblia deve ser julgada como um livro cujo único alvo é livrar o homem do
Teologia Sistemática (Strong) 442 pecado e reconciliá-lo com Deus, e nestes respeitos achar-se-á um registro de verdade substancial. Isto aparecerá mais plenamente se observarmos as objeções uma a uma. "As Escrituras nos são dadas não para ensinar como são os céus, mas como ir aos céus". Seu objetivo certamente não é ensinar ciência ou história a não ser onde elas são essenciais ao seu propósito moral e religioso. Algumas das suas doutrinas, como o nascimento virginal de Cristo e sua ressurreição física, são fatos históricos e alguns fatos, como o da criação, também são doutrinas. A respeito destes tão grandes fatos, sustentamos que a inspiração nos dá relatos essencialmente fidedignos sejam quais forem as imperfeições nos pormenores. Minar a fidedignidade científica dos Vedas indianos é minar a religião que eles ensinam. Mas isto só porque a sua doutrina é parte essencial ao seu ensino religioso. Na Bíblia, a religião não depende da ciência física. As Escrituras têm como objetivo somente declarar o ato criativo e senhorio do Deus pessoal. O método da sua obra pode ser descrito como uma pintura sem afetar a sua verdade substancial. As cosmogonias indianas, por outro lado, por serem politeístas ou panteístas, ensinam a inverdade essencial, descrevendo a origem das coisas como devidas a uma série de transformações sem sentido, desprovidas da base da vontade e da sabedoria. Quando as dificuldades da Escritura referem-se à forma ao invés de à substância de suas características incidentals, em lugar de à principal doutrina, podemos dizer das suas obscuridades o que Isócrates disse da obra de Heráclito: Ό que eu entendo dela é tão excelente que posso tirar conclusões relativas ao que não entendo". "Se Bengel acha na Bíblia coisas tão duras para a sua faculdade crítica, ele não acha nada tão duro para a sua faculdade de crer". Com John Smith, que morreu em Amsterdã em 1612, podemos dizer: "Confesso minha mudança e ainda estarei pronto a mudar para melhor"; e com John Robinson, em seu discurso de despedida aos Padres Peregrinos: "Estou bem persuadido de que o Senhor tem mais verdade a surgir da sua santa palavra".
1. Erros em matéria de Ciência Sobre esta objeção assinalamos:
Teologia Sistemática (Strong) 443 a) Não admitimos a existência de erro científico na Escritura. O que se acusa como tal apresenta-se em formas populares e impressionantes. A mente comum recebe uma idéia mais correta dos fatos não familiares quando narrados em linguagem fenomenal e resumida do que quando descritos em termos abstratos e no pormenor exato da ciência. Os escritores da Bíblia inconscientemente observam o princípio de estilo de Herbert Spencer: A economia da atenção do leitor ou do ouvinte; quanto mais energia se gasta na forma, menos sobra para agarrar-se à substância (Ensaios, 1-47). Wendt, Teaching of Jesus, 1.130, apresenta o princípio do estilo de Cristo: "Maior nitidez no menor espaço". Por isso a Escritura emprega expressões da vida comum em lugar da terminologia científica. Deste modo emprega-se a linguagem da aparência em Gn. 7.19 "todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu foram cobertos" isto seria a aparência, mesmo que o dilúvio fosse local em vez de universal; em Js 10.12,13 - "e o sol se deteve" - tal seria a aparência, ainda que os raios solares fossem uma simples refração de modo a sobrenaturalmente alongar o dia; no SI. 93.1 - "o mundo também está firmado e não poderá vacilar" - tal é a aparência apesar de que a terra gira em torno do eixo e se move em torno do sol. Na narrativa, substituir para "ocaso" alguma descrição científica desviaria a atenção da principal matéria. Seria preferível que se lesse no A.T.: "Quando a revolução da terra em torno do seu eixo fizeram os raios do luminar sol incidir horizontalmente sobre a retina, Isaque saiu para orar (Gn. 24.63)"? "Le secret d'ennuyer est de tout dire" (O segredo para enfadar está em dizer tudo). Charles Dickens em American Notes, 72, descreve o ocaso numa campina: "Aqui o declínio do dia é bem magnífico; tinge o firmamento de um profundo vermelho e dourado o horizonte do arco da abóbada que está acima de nós" (citado por Hovey, Manual of Christian Theology, 97). Será que, por isso, Dickens cria que o firmamento fosse uma peça sólida da obra de um construtor? Canon Driver rejeita a história bíblica da criação porque as distinções feitas pela ciência moderna não podem ser encontradas no hebraico primitivo. No seu pensamento, o estado fluido da substância da terra devia ter sido chamado de caos emergente", ao invés de "águas" (Gn. 1.2). A falácia de sustentar que a Escritura dá com pormenores todos os fatos
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ligados à narrativa histórica induziu a muitos curiosos argumentos. O Calendário Gregoriano, que faz o ano começar em janeiro é contraposto por representar Eva sendo tentada no princípio através de uma maçã, o que seria possível só se o ano começasse em setembro.
b) Não é necessário ao ponto de vista próprio da inspiração supor que os autores humanos tivessem em mente a apropriada interpretação científica dos eventos naturais que registraram. Basta que esteja na mente do Espírito inspirador. Através das concepções relativamente estreitas e da linguagem inadequada dos escritores bíblicos, o Espírito da inspiração pode ter garantido a expressão da verdade em tal forma germinal a ser inteligível nos tempos em que foi publicada e ainda capaz de expansão na medida em que a ciência avança. No quadro miniatural da criação no primeiro capítulo de Gênesis e em seu poder de ajustar-se a cada progresso na investigação científica temos forte prova da inspiração. A palavra "dia" em Gn. 1 é um exemplo deste modo geral da expressão. Seria um absurdo ensinar às raças primitivas, que lidavam apenas com números pequenos, as miríades de anos da criação. O objetivo da lição aos filhos, com o gráfico resumido, tem em sua mente uma verdade maior do que a elaborada e exata afirmativa apresentaria. Conant (Gn. 2.10), sobre a descrição do Éden e seus rios, diz: "É claro que o objetivo do autor não é uma descrição topográfica minuciosa, mas uma concepção geral e impressionante como um todo". Embora o progresso da ciência só mostre que estes relatos não são menores, mas maiores que do supõem aqueles que a princípio o receberam. Nem os "shasters" hindus, nem qualquer cosmogonia paga pode sustentar tal comparação com os resultados da ciência. Por que mudar nossas interpretações da Escritura tão freqüentemente? Resposta: Não serem na origem mestres de ciência, mas apenas intérpretes da Escritura com as novas luzes que temos. Esta concepção do antigo ensino da Escritura, elementar e adequado à infância da raça, se os fatos o requeressem, tornaria possível interpretar os primeiros capítulos de Gênesis como mitológicos ou legendários. Deus podia
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condescender com as "fórmulas de jardim de infância". Goethe diz que "Devemos tratar as crianças como Deus nos trata: nós somos mais felizes sob a influência de ilusões inocentes". Longfellow: "Quão bela é juventude! com que brilho ela reluz, com suas ilusões, aspirações, sonhos! Livro dos princípios, história sem fim, cada donzela uma heroína e cada homem um amigo!" Podemos defender com Goethe e com Longfellow, se apenas excluirmos de Deus o ensino de todo erro essencial. As narrativas da Escritura podem dirigir-se à imaginação e, deste modo assumir a forma mitológica ou legendária, conquanto ainda contenham a verdade substancial que, de nenhum outro modo, o homem bem as apreendera; ver o poema "Desenvolvimento" de Robert Browning, em Asolando. Por outro lado, o Corão não deixa lugar para a imaginação, mas fixa o número de estrelas e declara que o firmamento é sólido. Henry Drummond: "A evolução deu-nos uma nova Bíblia. ... A Bíblia não é um livro que foi feito; ela se desenvolveu". Bagehot diz-nos que "Um dos mais notáveis sermões do Padre Newman de Oxford explica como a ciência ensina que a terra gira em torno do sol e como a Escritura ensina que o sol gira em torno da terra; e termina aconselhando ao crente discreto a aceitar ambos". Esta é uma escrituração contábil de duas entradas. Lenormant, em Contemp. Review, nov. 1879 Enquanto a tradição do dilúvio sustenta tão considerável lugar nas memórias legendárias de todos os ramos da raça ariana, os monumentos e textos originais do Egito, com muitas especulações cosmogônicas, não têm fornecido, ainda que de longe, qualquer alusão a tal cataclismo". Lenormant aqui erroneamente admite que a linguagem da Escritura é a científica. Se se trata de linguagem de aparência, então o dilúvio pode não ser uma catástrofe universal, mas local. G. F. Wright, Ice Age in North America, sugere que as numerosas tradições do dilúvio podem ter tido sua origem nas enormes enchentes das geleiras recorrentes. No sudoeste da Queensland o Departamento de Meteorologia registrava a média padrão de 10%, 20, 35%, 10% de polegada pluvial, em 77Vk de polegada em quatro dias sucessivos.
c) Pode-se dizer com segurança que a ciência ainda não mostrou que qualquer passagem da Escritura bem interpretada seja inverídica. Com relação à antigüidade da raça, podemos dizer que, devido às diferenças de leitura entre a Septuaginta e o texto hebraico há lugar para
Teologia Sistemática (Strong) 446 dúvida se qualquer das cronologias recebidas tem a sanção da inspiração. Apesar de que a ciência tornou provável a existência do homem na terra num período anterior às datas designadas nestas cronologias, nenhuma afirmação da Escritura inspirada por isso se prova falsa. O esquema cronológico de Usher baseado no hebraico põe a criação no ano 4004 a.C. Com base na LXX, Hales a situa em 5411 a.C. Os Pais seguiram a LXX. Mas as genealogias anteriores e posteriores ao dilúvio podem apresentar-nos só os nomes dos "líderes e representantes". Alguns desses nomes parecem figurar, não como indivíduos, mas como tribos, p.ex.: Gn. 10.16 - onde se diz que Canaã gerou ao jebuseu e ao amorreu; 29 -Joctã gerou a Ofir e a Havilá. Em Gn. 10.6, lemos que Mizraim pertencia aos filhos de Cam. Mas Mizraim é um dual, usado para designar as duas partes: o Alto e o Baixo Egito. Por isso um filho de Cam não podia ter o nome de Mizraim. Em Gn. 10.13 lê-se: "E Mizraim gerou a Ludim". Porém Ludim é uma forma de plural. A palavra significa uma nação inteira, e "gerou" não é empregado no sentido literal. Assim, os versos 15 e 16 Canaã gerou ... ao jebuseu", uma tribo; um dos ancestrais teria sido chamado Jebus. Abraão, Isaque e Jacó, contudo, são nomes de indivíduos, não de tribos ou nações. E. G. Robinson: "Podemos bem seguramente remontar ao tempo de Abraão, porém, não mais longe". Bíblia Sacra, 1899.403 - "As listas em Gênesis podem não referir-se a indivíduos, mas a famílias". G. F. Wright, Ant. and Origin of Human Race, Lect. II – Quando no tempo de Davi se diz que 'Sebuel, filho de Gérson, o filho de Moisés, era o maioral dos tesouros' (1 Cr. 23.16; 26.24), Gérson era o filho imediato de Moisés, mas Sebuel estava separado de Gérson por muitas gerações. Assim, quando se diz que Sete gerou a Enos quando tinha 105 anos (Gn. 5.6), entende-se que, segundo o emprego hebraico, Enos descendia da linhagem de Sete da qual se separava havia 105 anos e se omitiu qualquer número de ligação intermediária". Parece que o texto completo se deve à sua alteração no curso dos séculos. Na expressão "Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão" (Mt. 1.1) omitem-se entre trinta e oito e quarenta gerações. Isto pode ter ocorrido em algumas genealogias do Velho Testamento. Há espaço para uma centena de milhar de anos, se for o caso (Conant). W. H. Green, em Bíblia Sacra, abr. 1890.303 e em Independent,
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18 de jun. de 1891 – "As Escrituras não nos fornecem nenhum dado para um cálculo cronológico anterior à vida de Abraão. Os registros mosaicos não fixam, e nem pretendem fixar, a precisa data do Dilúvio ou da Criação. ... Elas dão uma série de vidas de espécimes, com os próprios números atribuídos, para mostrar, através de exemplos selecionados, o que foi o termo original da vida humana. Fazer deles um registro completo e contínuo e deduzir a partir deles a antigüidade da raça é empregá-los para uma finalidade a que não se prestam". A comparação com a história secular também mostra que tal distância de cem mil anos para a existência do homem sobre a terra não parece necessária. Rawlinson, in Jour. Christ. Philosophy, 1883.339-364, data o começo da monarquia caldaica de 2400 a.C. Lenormant situa a entrada dos indianos sanscríticos no Indostão em 2500 a.C. Os mais antigos Vedas estão entre 1200 e 1000 a.C. (Max Müller). A chamada de Abraão, provavelmente em 1945 a.C. É provável que a história chinesa tenha começado em 2356 a.C. (Legge). É possível que o antigo Império no Egito tenha começado em 2650 a.C. Rawlinson situa o Dilúvio em 3600 a.C. e acrescenta 2000 anos entre o dilúvio e a criação, fazendo a era do mundo 1886+ 3600+2000 = 7486. S. R. Pattison, em Present Day Tracts, 3. nº 13, conclui que "as deduções a partir da história, da geologia e da Escritura garantem um termo de cerca de 8000 anos". A evidência de uma natureza geológica estar acumulando, o que tende a provar o advento do homem sobre a terra pelo menos há dez mil anos. Uma cabeça-de-seta de cobre temperado e numerosos ossos humanos nas minas de Rocky Point, perto de Gilman, Colorado, a 400 pés abaixo da superfície da terra, envoltos numa veia de minério prateado. Mais de cem dólares de minério colado aos ossos quando foram removidos da mina. G.F. Wright, Man and the Glacial Epoch, preleções IV e X e na McClure's Magazine, jun. 1901 e Bíblia Sacra, 1903.31 – "falou primeiro em 300 milhões de anos como uma simples bagatela de tempo geológico. Seu filho George limita a 50 ou 100 milhões; Lorde Kelvin, a 24 milhões; Thompson e Newcomb para apenas 10 milhões". Sir Archibald Geikie, na Associação Britânica de Dover em 1899, disse que 100 milhões de anos bastavam para a pequena porção da história da terra que está registrada na crosta das rochas estratificadas.
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Shaler, Interpretation of Nature, 122, considera que a vida vegetal existia no planeta pelo menos 100 milhões de anos. Warren Upham, em Pop. Science Monthly, dez 1893.153 - "Que idade tem a terra? 100 milhões de anos". D. G. Brighton, em Forum, dez 1893.454, situa o limite mínimo da existência do homem sobre a terra em 50 mil anos. G. F. Wright não duvida de que a presença do homem neste continente é pré-glacial, isto é, há onze ou doze mil anos. Ele afirma que houve um rebaixamento da Ásia Central e do Sudeste da Rússia desde o advento do homem e que ainda se encontram focas árticas no Lago Baical na Sibéria. Conquanto admite que a civilização egípcia pode remontar a 50 mil a.C, ele sustenta que não mais de 6 mil ou 7 mil anos antes disto eram necessários como preparação para a história. Le Conte, Elements of Geology, 613 – Os homens viram as grandes geleiras da segunda época glacial, mas não há evidência segura da sua existência antes da primeira época. Deltas, implementos, as praias lacustres, as quedas d'agua, indicam apenas de 7 mil a 10 mil anos. Cálculos recentes do Prof. Prestwich, o mais eminente geólogo vivo da Grã Bretanha, tende a dar-nos o fim da época glacial abaixo de 10 mil ou 11 mil anos.
d) Mesmo que se encontrasse erro em matéria de ciência na Escritura, não desaprovaria a inspiração, visto que ela se preocupa com a ciência só quando os pontos de vista científicos corretos são necessários à moral e à religião. Grandes prejuízos resultam da identificação da doutrina cristã com as teorias específicas do universo. A Igreja Romana sustentava que a Escritura ensinava a revolução do sol em torno da terra e que a fé cristã requeria a condenação de Gauleu; John Wesley ensinava que o cristianismo é inseparável da crença na feitiçaria; os oponentes da alta crítica consideram a autoria mosaica do Pentateuco "articulus stantis vel cadentis ecclesiae" (inabalável artigo ou assunto encerrado da igreja). É grande o nosso engano ao ligarmos a inspiração à doutrina científica. O propósito da Escritura não ensinar ciência, mas religião e, exceto a obra criadora e preservadora de Deus no universo, nenhuma verdade científica é essencial ao sistema de doutrina cristã. A inspiração pode deixar os escritores da Bíblia de posse das idéias científicas da sua época, apesar de que eles eram cheios do poder de declarar corretamente tanto a verdade ética como a religiosa. O espírito
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justo, na verdade, recebe um certo discernimento quanto ao sentido da natureza e deste modo os escritores da Bíblia parecem estar imunes de incorporar na sua produção muitos erros científicos da sua época. Mas a inteira liberdade de tal erro deve ser considerada como um acessório necessário da inspiração.
2. Erros em matéria de História A esta objeção retrucamos: a) O que é atacado como tal são freqüentemente simples equívocos na transcrição e não tem nenhuma força como argumento contra a inspiração, a não ser que primeiro se possa demonstrar que os documentos inspirados são pelo mesmo fato de sua inspiração isentos da operação das leis que afetam a transmissão de outros documentos antigos. Não temos nenhum direito de esperar que a inspiração do escritor original será seguida de um milagre no caso de cada copista. Por que crer que haja copistas infalíveis, assim como impressores infalíveis? Deus nos ensina a tomar cuidado com a sua palavra e com a transmissão correta. O respeito tem conservado as Escrituras mais livres de várias leituras do que ocorre com os outros manuscritos antigos. Nenhuma das variações existentes põe em perigo qualquer importante artigo de fé. Contudo, provavelmente há alguns erros na transcrição. Em 1 Cr. 22.14, em vez de 100 mil talentos de ouro e um milhão de talentos de prata (=3 bilhões e setecentos e cinqüenta milhões de dólares), Josefo divide o total por dez. Dr. Howard Osgood: "O escritor francês Revillout explica os números diferentes em Reis e Crônicas do mesmo modo em que, mais tarde ele explica as mesmas diferenças nos relatos egípcios e assírios, pela mudança no valor do dinheiro e desvalorização do poder aquisitivo. Ele mostra a mudança em toda a Ásia ocidental". Em 2 Cr. 13.3,17, onde se diz que o número de homens nos exércitos da Palestina afirma-se que 400 mil e 800 mil e 500 mil foram mortos numa só batalha, "algumas cópias antigas da Vulgata e traduções latinas de
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Josefo registram quarenta mil, oitenta mil e cinqüenta mil". Em 2 Cr. 17.1419, o exército de Josafá reúne um milhão e seiscentos mil além das guarnições das suas fortalezas. É possível que, por erro na transcrição, estes números tenham sido multiplicados por dez. Outra explicação, contudo, talvez mais provável é apresentada na letra (d) abaixo. Semelhantemente, compare 1 Sm. 6.19, onde 50.070 são mortos contra 70 de Josefo; 2 Sm. 8.4 - "mil e setecentos cavaleiros" contra 1 Cr. 18.4 - "sete mil cavaleiros"; Et 9.16 - 75 mil mortos pelos judeus contra LXX - "15 mil". Em Mt. 27.9 temos "Jeremias" em lugar de "Zacarias" - Calvino admite que isto seja um erro; e, se se trata de um erro, então foi cometido pelo primeiro copista porque ele aparece em todos os unciais, todos manuscritos e todas as versões, exceto a Siríaca Peshita onde ele é omitido evidentemente com apoio na autoridade do copista individual e do tradutor. Em At. 7.16 "sepultura que Abraão comprara" - Hackett considera "Abraão" como um erro em lugar de "Jacó" (compare Gn. 33.18,19).
b) Outros assim chamados erros devem ser explicados como um uso permissível de números redondos que não podem ser negados aos escritores sagrados a não ser apoiados no princípio de que a precisão matemática é mais importante que a impressão geral a ser garantida pela narrativa. Em Nm. 25.9 menciona-se que na praga caíram 24 mil; 1 Co. 10.8 fala em 23 mil. É possível que o número esteja entre os dois. Com base em semelhante princípio, não temos nenhum escrúpulo em celebrar o Desembarque dos Peregrinos em 22 de dez. e o nascimento de Cristo aos 25. Falamos da batalha de Bunker Hill, embora nesse local não tenha havido nenhuma batalha. Em Ex. 12.40,41, declara-se que a peregrinação dos israelitas foi de 430 anos. Contudo, Paulo, em Gl. 3.17, diz que a doação da lei através de Moisés foi a 430 anos após a chamada de Abraão e esta ocorreu 215 anos antes de Jacó e seus filhos descerem para o Egito; Paulo teria dito 645 anos em vez de 430. Franz Delitzsch: "A Bíblia hebraica conta da peregrinação egípcia (Gn. 15.13-16), mais corretamente 430 anos (Ex. 12.40); mas segundo a LXX (Ex. 12.40) este número compreende a peregrinação em Canaã e no Egito, de modo que 215 de peregrinação em Canaã e 215 de cativeiro no Egito. Este tipo de cálculo não é exclusivamente
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helenístico; encontra-se também no antigo Midraxe Palestino. Paulo defende isto em Gl. 3.17, fazendo, não a imigração para o Egito, mas a aliança com Abraão o terminus a quo dos 430 anos que terminam no êxodo do Egito e na legislação". O propósito de Paulo não era fazer cronologia, de sorte que ele seguiu a LXX e chama o tempo entre a promessa a Abraão e a entrega da lei a Moisés 430 anos e não os verdadeiros 600. Se ele tivesse dado um número maior, poderia ter causado perplexidade e discussão sobre o assunto que nada tinha a ver com a questão vital em foco. A inspiração pode ter empregado afirmações correntes embora não precisas em assuntos que se referem à história, porque eram recursos mais valiosos para impressionar a mente dos homens sobre a verdade de modo mais importante. Em Gn. 15.13 os 430 anos são arredondados para 400, o que também ocorre em At. 7.6.
c) Diversidade de relatos do mesmo evento no que não se refere a nenhuma verdade substancial pode dever-se à pequenez da narrativa e pode-se explicar plenamente se algum simples fato, ora não registrado, é somente conhecido. Explicar estas aparentes discrepâncias não só estaria além do propósito do registro, mas destruiria uma valiosa evidência da independência dos diversos escritores ou testemunhas. No julgamento de Stokes, o juiz falou em duas testemunhas aparentemente conflitantes, mas nenhuma delas necessariamente falsa. Sobre a diferença entre Mateus e Lucas quanto à cena do Sermão do Monte (Mt. 5.1; cf. Le. 6.17) ver Stanley, Sinai and Palestine, 360. Quanto à existência de um cego ou dois (Mt. 20.30 cf. Le. 18.35) ver Bliss, Com. on Luke, 275 e Gardiner, em Bíblia Sacra jul. 1879.513,514; Jesus pode ter curado os cegos durante a excursão de um dia partindo de Jerico e isto pode ser descrito como "quando eles saíram", ou "quando eles se aproximaram de Jerico". Prof. M. B. Riddle: "Le. 18.35 descreve o movimento geral para Jerusalém e não o preciso por-menor que antecedeu ao milagre; Mt. 20.30 sugere que o milagre ocorreu durante uma excursão a partir da cidade; Lucas mais tarde fala da partida final"; Calvino defende dois encontros; Godet duas cidades; se Jesus curou dois cegos, sem dúvida ele curou um e Lucas não precisava mencionar mais de um, ainda que tivesse conhecimento de ambos; ver Broadus sobre Mt. 20.30. Em Mt. 8.28, onde se registram dois demoníacos
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em Gadara e Lucas só um em Gerasa, Broadus supõe que a aldeia de Gerasa pertença à cidade de Gadara, poucas milhas ao sudoeste do lago e cita o caso de Lafayette: Em 1824 Lafayette visitou os Estados Unidos e foi recebido com honras e pompa. Alguns historiadores mencionam apenas Lafayette, mas outros relatam a mesma visita e as mesmas honras recebidas por duas pessoas, a saber, Lafayette e seu filho. Não estarão as duas narrativas certas?" Agostinho: "Locutiones variae, sed non contrariae; diversae, sed non adversae" (Pronunciamentos vários, mas não contrários; diversos, mas não adversos). Bartlett, em Princeton Rev., jan. 1880.46,47, dá as seguintes ilustrações modernas: Winslow's Journal (da Plantação de Plymouth) fala de um navio enviado "pelo Mestre Weston". Mas Bradford em sua narrativa mais breve sobre o assunto, menciona-o como enviado "pelo Sr. Weston e uma outra pessoa". John Adams, em suas cartas, conta a história da filha de Otis sobre os manuscritos do seu próprio pai. Na época ele a faz dizer: "Em um dos seus infelizes momentos ele os entregou todos às chamas"; contudo, numa segunda carta, ela se apresenta dizendo que "ele passou vários dias fazendo isso". Um jornal diz: o Presidente Hayes assistiu ao centenário de Bennington; um outro diz: o Presidente e a sua esposa; um terceiro: o Presidente e o seu Gabinete. O Gabinete de Arquibaldo; um quarto: o Presidente, a Sra. Hayes e a maioria do seu Gabinete. Arquibaldo Forbes, em seu relato de Napoleão III em Sedan, assinala um acordo de narrativas quanto aos pontos relevantes combinados com as "desesperançadas e confusas discrepâncias quanto aos pormenores", mesmo quando feitos por testemunhas oculares, inclusive ele próprio, Bismarck e o General Sheridã que estava em terra assim como os outros. Thayer, Change of Attitude, 52 fala do "rude anacronismo a respeito de Teudas" - At. 5.36 - "Porque, antes destes dias, levantou-se Teudas". Josefo, Antiquities, 20.5.1, menciona um rebelde Teudas, mas a data e outros incidentes não concordam com os de Lucas. Josefo, contudo, pode ter errado a data com a mesma facilidade que Lucas, ou ter feito referência a um outro homem do mesmo nome. A inscrição na cruz é dada em Mc. 15.26, como "o Rei dos judeus"; em Lc. 23.38, como "Este é o Rei dos judeus"; em Mt. 27.37 como "Este é Jesus o Rei dos judeus"; e em Jo. 19.19, como "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus". A inscrição inteira em hebraico, grego e
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latim pode ter contido cada palavra dada pelos demais evangelistas combinados e pode ter sido "Este é Jesus, Nazareno, o Rei dos Judeus", e cada relato separado pode ser inteiramente correto.
d) Enquanto as descobertas históricas e arqueológicas em muitas importantes particularidades sustenta a correção geral das narrativas da Escritura e nenhuma declaração essencial do ensino moral e religioso da Escritura foi invalidado, a inspiração ainda é consistente com muita imperfeição no pormenor histórico e suas narrativas "não parecem estar isentas das possibilidades de erro". As últimas palavras citadas são de Sanday. Em suas Bampton Lectures on Inspiration, 400, assinala que "ela pertence aos livros históricos e tem uma lição religiosa em vez de histórias; interpreta em vez de narrar claramente o fato. O ponto crucial é que, quanto a estes últimos, parecem isentos das possibilidades de erro". R.V. Foster, Systematic Theology, (Presbiteriano de Cumberland): Os escritores da Bíblia "não foram inspirados a fazer outra coisa senão tomar estas afirmativas como as encontraram". Inerrância não é estar livre de afirmativas equívocas, mas do erro definido como aquilo que desencaminha em qualquer sentido sério ou importante". "Quando comparamos os relatos de 1 e 2 Crônicas com os de 1 e 2 Reis achamos naqueles um exagero de números, uma supressão de material desfavorável ao propósito do escritor e uma ênfase naquilo que é favorável que contrasta fortemente com o método deste. Estas características são de tal modo contínuas que a teoria dos erros na transcrição não parece suficiente para explicar os fatos. O objetivo do autor é tirar lições religiosas da história e os pormenores históricos não têm para ele relativa importância. H. P. Smith, Bib. Scholarship and Inspiration, 108 - "A inspiração não corrige o ponto de vista histórico do escritor das Crônicas, nem corrige o científico, que faz da terra o centro do sistema solar. Por isso deixa-o aberto para receber documentos e utilizá-los, os que idealizaram a história do passado e descreveram Davi e Salomão conforme as idéias dos tempos mais tardios e da classe sacerdotal. Omitiram-se pecados de Davi e multiplicaram-se os números a fim de dar maior dignidade ao reino antigo".
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Como os Idílios do Rei de Tennyson apresentam um quadro mais nobre do rei Artur e um aspecto mais definido da sua história do que os verdadeiros registros justificam, enquanto o quadro ensina grandes lições morais e religiosas, assim o escritor das Crônicas parece ter manipulado o seu material no interesse da religião. Os assuntos de aritmética são de valor inferior. "Majoribus inventus est". Ε. G. Robinson: "Os números da Bíblia são característicos de uma era semibárbara. Os escritores tiveram o cuidado de conjeturar o suficiente. A tendência de tal época é exagerar sempre". Dois selvagens de Formosa dividem cinco peças entre si, tomando duas cada um e jogando fora uma. As tribos inferiores podem contar só nos dedos das suas mãos: quando também usam os artelhos, isto marca um avanço na civilização. Para a criança moderna cem é um número tão grande como um milhão. Do mesmo modo as Escrituras parecem empregar os números com uma ignorância infantil quanto ao seu significado. Centenas de milhares podem ser substituídos por dezenas de milhares e a substituição só parece um tributo próprio da dignidade do sujeito. Gore, em Lux Mundi, 353 - "Não se trata de uma perversão consciente, mas de uma idealização inconsciente da história, leitura de registros passados, de um desenvolvimento ritual que mais tarde se realizaria. A inspiração exclui o engano consciente, mas parece ser perfeitamente consistente com este tipo de idealização; sempre supondo que o resultado lido na história antiga na verdade representa o propósito real de Deus e só antecipa a realização". Há alguns que contraditam, dizendo que estas imperfeições históricas se devem à transcrição e que não pertencem aos documentos originais. Watts, New Apologetic, 71.111, quando interrogado sobre o que se ganha contendendo pelos autógrafos originais infalíveis, se eles sempre foram corrompidos, responde: "É exatamente o que ganhamos contendendo sobre a perfeição original da natureza humana, apesar de que o homem a corrompeu. Devemos crer no testemunho do próprio Deus acerca da sua própria obra. Deus pode permitir que os outros façam o que, como Deus santo e justo, ele não pode fazer". Quando o opositor trata de um assunto de pouca importância se um par de calças originariamente era ou não perfeito, já que agora elas estão rasgadas, Watts responde: Ό alfaiate que as fez provavelmente preferiria ter entendido que elas não saíram do seu ateliê no
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seu atual estado de desleixo. Deus não solta os pontos e libera a obra imperfeita". Contudo, Watts parece dominado por uma teoria a priori de inspiração, que o impede de ver os verdadeiros fatos da Bíblia. Evans, Bib. Scholarship and Inspiration, 40 - "O erro atual destrói a inspiração da Bíblia como a temos? Não. Então, por que o erro original destrói a inspiração da Bíblia, como nos foi dada? Há manchas lá no sol. Assim também na Bíblia". A inspiração parece ter permitido reunir o material à mão, muito mais do que um editor moderno faz para construir seu relato do movimento do exército a partir dos relatórios de observadores; ou um historiador moderno pode combinar os registros do passado com todas as imperfeições dos seus pormenores. No caso dos escritores da Bíblia, contudo, sustentamos que a inspiração não permitiu nenhum sacrifício da verdade moral e religiosa na Escritura completa, mas teceu o seu material num todo orgânico que ensina todos os fatos essenciais ao conhecimento de Cristo e da salvação. Quando vimos examinar nos pormenores das narrativas históricas, nem devemos ser crédulos, nem céticos, mas simplesmente cândidos e de mente aberta. A respeito, por exemplo, da grande época dos patriarcas do Velho Testamento, não temos garantia para rejeitar os relatos da Escritura baseados em que a vida nos últimos tempos é muito mais breve, do que rejeitar o testemunho dos botânicos quanto as árvores da família Sequoia de quatrocentos ou quinhentos pés de altura, ou o testemunho dos geólogos quanto aos sáurios com cem pés de altura, baseados no fato de que as árvores e répteis que conhecemos são muito menores. Cada espécie, na sua Introdução, parece apresentar o máximo de tamanho e vitalidade. Weismann, Heredity, 6, 30 - "As baleias vivem algumas centenas de anos; os elefantes, duas centenas - a gestação deles leva dois anos. Os gigantes provam que o plano sobre o qual o homem é edificado pode também ser produzido numa escala bem maior que a normal". E. Ray Lankaster, Adv. of Science, 205-237.26 - concorda com Weismann em sua teoria geral. Sir George Cornwall Lewis por muito tempo negou o centenarismo, mas finalmente o admitiu. Charles Dudley Warner, em Harper's Magazine, jan. de 1895, dá exemplos de homens com uma idade de 137,140 e 192 anos. O Haller germânico afirma que "o último limite da vida humana não vai além de dois séculos; é muito difícil fixar o número exato de anos". J. Norman Lockyer,
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em Nature, considera a idade dos patriarcas como anos lunares. No Egito usa-se o sol como unidade de tempo para um ano; mas na Caldéia a unidade de tempo era o mês porque o padrão de tempo era a lua. Divida os números por doze e a vida dos patriarcas se aproximará muito da dos nossos dias. Contudo, podemos perguntar como esta teoria operaria no encurtamento da vida entre Noé e Moisés.
3. Erros no campo da Moral a) Os que são acusados como tal são, às vezes, os atos maus e palavras dos homens bons - palavras e atos não sancionados por Deus. Estes são narrados pelos escritores inspirados como simples matéria de história e os resultados subseqüentes, ou deixa-se que a própria história aponte a moral do conto. Exemplos deste tipo são a bebedeira de Noé (Gn. 9.20-27); o incesto de Ló (Gn. 19.30-38); a trapaça de Jacó (Gn. 27.19-24); o adultério de Davi (2 Sm. 11.1-4); a negação de Pedro (Mt. 26.69-75). Ver Lee, inspiration, 265 nota. Não se recomenda a vingança de Ester, nem as personagens do Livro de Ester dizem que ela agiu em obediência a uma ordem divina. Crane, Religion of To-morrow, 241 - "Na lei, nos salmos e na profecia não vemos a influência de Yahweh operando como um fermento no meio de um povo primitivo e bárbaro. Contemplando as Velhas Escrituras à luz do que se disse, tornamo-nos luminosos para com a divindade e nos é fornecido o princípio pelo qual discrimina-se entre o elemento divino e o humano no livro. Em Davi, particularmente, vemos um rude, semicivilizado rei, cheio de erros grosseiros, vigoroso e impetuoso embora permeado do Espírito divino, que o levanta, lutando, chorando, guerreando até às mais elevadas concepções a respeito de Deus que a mente humana pode ter. Como um ser angélico, Davi é uma caricatura; como um homem de Deus, ele é um exemplo esplêndido. A prova de que a igreja é de Deus não é a impecabilidade, mas o seu progresso".
Teologia Sistemática (Strong) 457 b) Onde os maus atos parecem à primeira vista ser sancionados, freqüentemente há alguma intenção correta ou virtude inerente, em vez do ato em si, sobre o qual a determinação é concedida. Como a fé de Raabe, não a sua duplicidade (Js 2.21-24); cf. Hb. 11.31 e Tg. 2.25); o patriotismo de Jael, não a sua traição (Jz. 4.17-22 cf. 5.24). Ou será que elas lançaram sua sorte com Israel e empregaram estratagemas comuns na guerra (ver parágrafo seguinte)? Herder, "As limitações do aluno são também as do professor". Enquanto Dean Stanley louva Salomão por tolerar a idolatria, James Martineau, Study, 2.137, assinala: "Seria pedantescamente ridículo aplicar argumentos do julgamento privado a comunidades como do antigo Egito e Assíria. ... É a sobrevivência da coação depois que a consciência surgiu para superá-la que nos choca e revolta na perseguição".
c) Sancionam-se algumas determinações ou atos como relativamente justos - expressões de justiça tais como a época poderia compreender e devem ser julgadas como partes de um sistema desdobrado de moralidade cuja chave e clímax temos em Jesus Cristo. Ex 20.25 - "também lhes dei estatutos que não eram bons" - como a permissão mosaica do divórcio e a retaliação (Dt. 24.1; cf. Mt. 5.31,32; Ex. 21.24) cf. Mt. 5.38,39). Compare a descida de fogo por Elias (2 Re. 1.10-12) com a recusa de Jesus fazer o mesmo e a sua sugestão de que o espírito de Elias não é o de Cristo (Lc. 9.52-56; cf. Moments on the Mount, 253-255, sobre Mt. 17.8 - "ninguém senão Jesus": "O poder de Elias era fraco diante dele. Derramar o sangue dos inimigos requer menos força do que derramar o seu próprio e, conquistar a fogo é mais fácil do que conquistar por amor". Hovey: "Na revelação divina, primeiro vem o brilho da estrela, depois a aurora e, finalmente, o dia". George Washington certa vez deu para que se levasse às índias Ocidentais e se vendesse um negro teimoso que lhe causou transtorno. Isto não é uma variante da melhor moral da sua época, mas se encaixa nos padrões de hoje. As crianças e os bárbaros às vezes necessitam mais do emprego da força do que da persuasão moral. No A.T., o apelo para a esperança das recompensas terrenas era adequado a um estágio de desenvolvimento ainda não instruído quanto ao céu e ao inferno
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pela vinda e obra de Cristo; compare Ex. 20.12 com Mt. 5.10; 25.46. O A.T. tinha como objetivo fixar na mente de um povo selecionado a idéia da unidade e santidade de Deus; a fim de exterminar a idolatria, pospôs-se um outro ensino bem diferente. (231) Por isso, quando achamos no canto inspirado da profetisa Débora (Jz. 5.30) uma alusão aos despojos da guerra - "uma ou duas moças a cada homem" ou em Pv. 31.6,7 - "Dai bebida forte aos que perecem e o vinho aos amargosos de espírito; para que bebam e se esqueçam da sua pobreza e do seu trabalho não se lembrem mais" não é necessário sustentar que estas passagens fornecem padrões para a nossa conduta moderna. O Dr. Fisher chama este "o pior conselho para uma pessoa em aflição ou desanimado com a perda da sua propriedade". Marcam estágios na direção providencial de Deus para a humanidade. Na verdade um estágio mais elevado encontra-se sugerido em Pv. 31.4 - "Não é próprio dos reis beber vinho, nem dos príncipes beber bebida forte". Vemos que Deus pode empregar instrumentos bem imperfeitos e pode inspirar homens imperfeitos. Permitiram-se muitas coisas por causa da "dureza do coração" (Mt. 19.8) dos homens. O Sermão do Monte representa um grande avanço sobre a lei de Moisés (Mt. 5.21 - Ouvistes o que foi dito aos antigos"; cf. 22 - "eu, porém, vos digo"). Robert G. Ingersoll teria perdido seu estoque no comércio se os cristãos tivessem de um modo geral reconhecido que a revelação é gradual e só foi completada em Cristo. Admite-se tal gradação da revelação nas palavras: "nova dispensação". Abraão Lincoln mostrou-se sábio nunca indo além do senso comum do povo. Do mesmo modo, Deus adaptou a sua legislação à capacidade de cada época sucessiva. A ordem dada a Abraão para que sacrificasse o seu filho (Gn. 22.1-19) foi um teste adequado à sua fé numa época em que o sacrifício humano não violava nenhum padrão ético humano porque a "pátria potestas" do hebreu, como do romano, não considerava o filho como uma individualidade separada, mas incluía-o no pai e tornava-o co-responsável pelo pecado do pai. Mas esta mesma ordem só foi dada como um teste de fé, com a intenção de fazer da obediência a ocasião de Deus prover um substituto e, assim fazendo, abolir o sacrifício humano para sempre. Bem podemos imitar a gradual revelação divina no nosso tratamento relativo à dança e ao tráfico da bebida.
Teologia Sistemática (Strong) 459 d) Ajusta soberania de Deus fornece a chave para outros eventos. Ele tem o direito de fazer o que ele quer com o que lhe pertence e punir o transgressor quando e onde quer; e ele pode com justiça tornar os homens preditores ou executores dos seus propósitos. Os preditores, como nos Salmos imprecatórios (137.9 cf. Is. 13.16-18 e Jr. 50.16,29) executores, como na destruição dos cananeus (Dt. 7.2,16). Naquele caso, não era a efervescência da ira pessoal, mas a expressão da indignação judicial contra os inimigos de Deus. Devemos distinguir a substância da forma. A substância é a denúncia dos justos juízos de Deus; a forma é tomada dos costumes comuns na guerra no tempo do salmista. Ver Revista Presbiteriana e Referências, 1897.490-505; cf. 2 Tm. 4.14 - "o Senhor lhe pague segundo as suas obras" = não uma maldição, mas uma profecia, não άποδώη, como na Versão Americana, mas άποδώση (A Versão Revista e Atualizada da Soe. Bíblica do Brasil traduz: "o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras"). Neste último caso, uma guerra exterminante só seria uma cirurgia benéfica que amputaria um membro pútrido e, deste modo, salvaria a vida religiosa da nação hebraica e do mundo posterior. Tem sido proposta outra interpretação destes eventos, a qual os faria ilustrações dos princípios indicados acima (c): E. G. Robinson, Christian Theology, 45 - "Deus não inspirou uma imprecação do Salmo, mas seus propósitos e idéias de que estes eram nessa época um veículo necessário; como o adultério de Davi não foi uma ordem divina, embora através dela cumpriu-se o propósito de Deus do mesmo modo que na descida de Cristo". John Watson (Ian Maclaren), Cure of Souls, 143 - "Quando o massacre dos Cananeus e alguns procedimentos de Davi lançam-se diante dos cristãos, não é mais necessário apresentar evasões ou justificativas especiais. Podese admitir com franqueza que, do ponto de vista deste ano da graça, tais feitos são atrozes e eles nunca poderiam estar de acordo com a mente de Deus, mas devem ser julgados pela sua época, e considerados os defeitos dos processos morais elementares. Vindica-se a Bíblia porque ela é, no seu todo, uma firme ascensão e porque culmina em Cristo".
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Lyman Abbott, Theology of an Evolutionist, 56 - "Abraão confundiu a voz ou a consciência e chamou-o para consagrar seu único filho a Deus e interpretou isto como uma ordem para sacrificar o seu filho como holocausto. Israel interpretou falsamente a sua justa indignação nos cruéis e imorais ritos da religião dos cananeus como uma determinação de destruir o culto levando os seus adoradores à morte; um povo não desenvolvido no juízo moral não poderia distinguir entre os regulamentos formais sobre a vida do campo e os princípios eternos de justiça tais como: amarás a teu próximo como a ti mesmo; mas poderia incorporá-los no mesmo código e parece considerá-los de igual autoridade". Wilkinson, Epic of Paul, 281 - "Se um homem assim posicionado ... tomava parte neste pronunciamento feito por ele mesmo, profanando-o, ser o veículo do sentido não significa que isto ocorre pela augusta Vontade inspiradora suprema'' - i.e. pondo parte de sua ira pecaminosa nas calmas predições do juízo de Deus. Compare as firmes palavras finais de Zacarias, filho do sacerdote Joiada quando apedrejado até à morte no pátio do templo: Ό Senhor o verá e o requererá" (2 Cr. 24.20-22), com as últimas palavras de Jesus: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc. 23.34) e as de Estêvão: "Senhor, não lhes imputes este pecado" (At. 7.60).
e) Outras aparentes imoralidades se devem a interpretações não garantidas. O símbolo é, às vezes, tomado como um fato literal: a linguagem da ironia é entendida como afirmação sóbria: o ardor e a liberdade da descrição oriental são julgados pelo estilo desapaixonado da literatura ocidental; o apelo aos motivos inferiores é tomado como se excluísse, ao invés de preparar para os mais elevados. Em Os. 1.2,3 a determinação de que o profeta se case com uma prostituta provavelmente foi recebida e executada como uma visão e só podia ser simbólica: Compare Jr. 25.15-18-"Toma este copo ... e darás a beber a todas as nações". A obediência literal teria feito o profeta vil para com aqueles que ele haveria de instruir e que exigiria muito tempo para despertar, ou destruir, o efeito designado. Em 2 Re. 6.19 a assim chamada mentira de Elias provavelmente foi irônica ou benéfica; o inimigo não ousava resistir porque estava inteiramente sob o seu poder. No Cântico de Salomão temos, como os escritores sempre têm sustentado, uma descrição altamente
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dramática da união entre Yahweh e o seu povo, que devemos julgar, não segundo os padrões literários ocidentais, mas pelos orientais. Francis W. Newman, em Phases of Faith, acusou até o Novo Testamento de apresentar motivos baixos para a obediência humana. É verdade que se apela para todos os motivos justos e alguns deles são do tipo mais elevado que outros. A esperança do céu e o medo do inferno não são os mais elevados motivos, mas podem ser empregados como incidentes na ação, apesar de que só o amor a Deus e à santidade garantem a salvação. Tais motivos são estimulados tanto por Cristo como pelos apóstolos: Mt. 6.20 - "ajuntai tesouros no céu"; 10.28 - "temei aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo"; Jd. 23 "salvai alguns arrebatando-os do fogo". Neste sentido o N.T. não difere do AT. George Adam Smith assinalou que os realistas apelam para os textos "toda alma esteja sujeita às autoridades superiores" (Rm. 13.1) e "sujeitai-vos ... ao rei como superior" (1 Pe. 2.13), a partir do N.T., enquanto o A.T fornece textos que favorecem os defensores da liberdade. Enquanto o AT. trata da vida nacional e desempenho das funções sociais e políticas, o N.T. trata principalmente das individuais e suas relações com Deus.
4. Erros de Raciocínio a) Os que são acusados como tais devem geralmente ser explicados como argumento válido expresso na forma altamente condensada. A aparência de erro pode ser devida à supressão de um ou mais elos do raciocínio. Em Mt. 22.32, o argumento de Cristo para a ressurreição tirado do fato de que Deus é o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó é perfeita e obviamente válido, a partir do momento em que introduzimos a premissa de que não se pode admitir com propriedade a relação viva para com Deus aqui implicada simplesmente como algo espiritual, mas requer necessariamente uma nova vida do corpo restaurada. Se Deus é Deus dos vivos, então, Abraão, Isaque e Jacó ressuscitarão dos mortos. Ver uma exposição mais completa, no estudo da Escatologia. Alguns dos argumentos da Escritura são entimemas e entimema, segundo Arbuthnot e Pope, é "um silogismo em
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que a premissa maior se casa com a menor e o casamento é guardado em segredo".
b) Onde não podemos ver a propriedade das conclusões tiradas das premissas dadas, há maior razão para atribuir nossa falha à nossa ignorância da lógica divina do que à acomodação ou argumentos ad hominem da parte dos escritores da Bíblia. A lógica divina é simplesmente aquela cujos elementos e processos são corretos embora não os entendamos. Em Hb. 7.9,10 (o pagamento dos dízimos por Abraão tratados por Levi), provavelmente há um reconhecimento da unidade orgânica da família que, em miniatura, ilustra a unidade orgânica da raça. Em Gl. 3.20 - "o medianeiro não é de um só; mas Deus é um" - a lei, com as suas duas partes contratantes, está em oposição à promessa que só procede do fiat de Deus e por isso é imutável. Aqui o argumento de Paulo apóia-se na divindade de Cristo como seu fundamento caso contrário, Cristo teria sido um mediador no mesmo sentido em que Moisés o foi. Em Gl. 4.21 -31, Agar e Ismael, por um lado e Sara e Isaque por outro, ilustram a exclusão do escravo com relação à lei por causa dos privilégios da semente espiritual de Abraão. As duas mulheres de Abraão e as duas classes de povos nos dois filhos representam os dois pactos (conforme Calvino). Em Jo. 10.34 - "eu disse: vós sois deuses", implica que o judaísmo não é um mero sistema de monoteísmo, mas de teísmo tendente à teantropia, verdadeira união entre Deus e o homem (Westcott, Biblical Com., in loco). Godet bem assinala que aquele que duvida da lógica de Paulo fará bem em suspeitar primeiro da sua própria.
c) A adoção dos métodos judaicos de raciocínio, até onde se pode provar, não indicaria erro da parte dos escritores da Bíblia, porém, ao invés disso, uma sanção inspirada do método aplicado àquele caso em particular. Em Gl. 3.16 - "Não diz: Ε às posteridades, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua posteridade, que é Cristo". Sugere-se aqui que a própria forma da expressão em Gn. 22.18, que denota unidade, foi
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selecionada pelo Espírito Santo para significar aquela pessoa, Cristo, que é a verdadeira semente de Abraão em quem todas as nações devem ser abençoadas. O argumento a partir de uma só palavra está no seu caso correto, apesar de que os rabinos freqüentemente fazem mais das simples palavras do que o Espírito Santo pretende. Watts, New Apologetic, 69 - "F.W. Farrar afirma que o plural dos termos hebraicos e gregos para 'posteridade' (em inglês seed = semente) nunca é empregado pelos escritores dessas duas línguas com a designação de descendência humana. Mas veja Sófocles (Édipo em Colona, 599, 600 - γης έμής άπηλάθην προς των έμαυτοΰ σπερμάτων - 'fui retirado do meu país (minha terra) e da minha geração (semente)'". Em 1 Co. 10.1-6 - "a pedra era Cristo" - declara-se que a tradição rabínica de que a rocha que foi ferida acompanhou os israelitas nas peregrinações é apenas o absurdo de literalizar um fato espiritual - a presença contínua de Cristo, o Logos preexistente, com o seu antigo povo.
d) Se, contudo, parece em investigação posterior que os métodos rabínicos foram erroneamente empregados pelos apóstolos em sua argumentação, podemos ainda estabelecer distinção entre a verdade que eles procuram transmitir e os argumentos pelos quais eles a sustentam. Pode-se conceber a inspiração como a verdade que se torna conhecida e ainda deixa a expressão da verdade para a dialética humana assim como para a retórica humana. Johnson, Quotations of the Ν. Τ. from the Ο. T., 137,138 - "Na total ausência de toda evidência em contrário, devemos supor que as alegorias do N.T. são como as da literatura em geral, simplesmente incorporações luminosas da verdade. ... Se estas alegorias não são apresentadas por seus escritores como evidências, elas não são menos preciosas, visto que iluminam a verdade evidenciada de outra forma e, assim, tornam-na clara à apreensão e atrativa ao sabor". Contudo, se o propósito dos escritores era empregar estas alegorias como prova, podemos ainda ver brilhar através das frestas da sua tradicional lógica a verdade que eles estavam se empenhando para apresentar. A inspiração pode ter-lhes dado a posse
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desta verdade sem alterar os seus métodos escolásticos de demonstração e expressão. Horton, Inspiration, 108 - "As discrepâncias e raciocínios ilógicos eram apenas desigualdades ou rachaduras nos espelhos que materialmente não distorcem ou escondem a pessoa" cuja glória eles procuravam refletir. Lutero foi ainda mais longe do que isto quando disse que um certo argumento na epístola é "suficientemente bom para os gaiatas".
5. Erros na citação ou interpretação do Velho Testamento a) O que se acusa como tal são comumente interpretações do sentido da Escritura original pelo mesmo Espírito que no começo a inspirou. Em Ef. 5.14 "levanta-te dentre os mortos e Cristo te esclarecerá" é uma interpretação inspirada em Is. 60.1 - "Levanta, resplandece, porque já vem a tua luz". SI. 68.18 - "recebeste dons para os homens" - é citado em Ef. 4.8 "deu dons aos homens". As palavras em hebraico são, provavelmente uma expressão concisa para "tu tomaste despojos que não podes distribuir como dons aos homens". Ef. 4.8 concorda exatamente com o sentido, embora não concorde com as palavras do salmo. Em Hb. 11.21, Jacó ... adorou encostado à ponta do seu bordão" (LXX); Gn. 47.31 tem "inclinou-se sobre a cabeceira da cama". O sentido é o mesmo, porque o bordão do chefe e a lança do guerreiro eram postos à cabeceira da cama. Jacó, tão fraco para levantar-se, orou na sua cama. Aqui Calvino diz que "o apóstolo não hesita em acomodar ao seu propósito o que freqüentemente recebia; eles não eram tão escrupulosos" no que se refere aos pormenores. Até mesmo Gordon, Ministry of the Spirit, 177, fala em "reelaborar as suas próprias palavras através do Autor delas". Preferimos, com Calvino, ver nestas citações a evidência de que os escritores sagrados insistiam na substância da verdade ao invés de insistir na forma, no espírito e não na letra.
b) Onde se cita uma aparente falsa tradução da Septuaginta, a sanção da inspiração se dá expressando pelo menos uma parte da
Teologia Sistemática (Strong) 465 plenitude do sentido contido no original divino - plenitude de significado que duas traduções variantes não esgotam em certos casos. Sl. 4.4 - Hebraico: "Perturbai-vos e não pequeis" (= não mais); LXX: "Irai-vos e não pequeis". Ef. 4.26 cita a LXX. As palavras podem originariamente ter sido dirigidas aos companheiros de Davi, exortando-os a conservar a sua ira dentro dos limites. Ambas traduções são necessárias ao sentido original. SI. 40.6-8 - "os meus ouvidos abriste" aparece traduzido em Hb. 10.5-7 -"mas corpo me preparaste". Aqui a epístola cita a LXX. Porém o hebraico significa literalmente: "As minhas orelhas furaste" - alusão feita ao costume de furar com a sovela a orelha do escravo junto à porta do seu senhor, como sinal de completa sujeição. Por isso a epístola contém o sentido do verso: "Tu me fizeste teu de corpo e alma - sim, venho fazer a tua vontade." A. C. Kendrick: "A entrada de Davi no seu reino logo após a perseguição é o tipo da entrada de Cristo na missão terrena. Por isso, põemse na boca de Cristo as palavras de Davi. Porque as "orelhas", órgãos com que ouvimos e obedecemos e Davi concebeu terem sido furadas por Deus, o autor da Carta aos Hebreus emprega a palavra 'corpo', como o instrumento geral äo cumprimento da vontade de Deus".
c) A liberdade destas interpretações inspiradas, contudo, não nos garante igual liberdade de interpretação no caso de outras passagens cujo sentido, com autoridade, não se tornou conhecido. Não temos nenhuma razão para crer que o cordão escarlate de Raabe é uma prefiguração do sangue de Cristo, nem que as três medidas de farinha em que a mulher introduziu o fermento (Mt. 13.33) simbolizam Sem, Cam e Jafé, as três divisões da raça humana. C. H. M. em suas notas sobre o taber-náculo em Êxodo, diz-nos que "as laçadas de pano azul = a graça celestial; os colchetes de ouro = a divina energia de Cristo; peles de carneiro tintas de vermelho = consagração e dedicação de Cristo; peles de texugo = sua santa vigilância contra a tentação"! Na verdade, o tabernáculo é um tipo de Cristo (Jo. 1.14 -έσκήνωσεν. 2.19,21 "em três dias o levantarei... Mas ele falava do templo do seu corpo"); contudo, não se segue que cada pormenor da estrutura seja significativa. Do mesmo modo, cada parábola ensina uma lição central: as particularidades podem ser meros acessórios; conquanto
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possamos usar as parábolas como ilustração, nunca devemos atribuir autoridade às nossas impressões particulares sobre o seu sentido. Mt. 25.1-13 - a parábola das cinco virgens prudentes e das cinco tolas tem sido empregada para ensinar que o número dos salvos se iguala ao dos perdidos. Agostinho defende a perseguição com base nas palavras em Lc. 14.23 - "forçai-os a entrar". Justificava-se a Inquisição em Mt. 13.30 -"atai-os em molhos para os queimar". Inocêncio III nega as Escrituras aos leigos, citando Hb. 12.20 - "Se até um animal tocar o monte será apedrejado". Um Irmão de Plymouth sustentava que seria poupado numa peregrinação evangelizadora porque leu em Jo. 19.36 - "Nenhum dos seus ossos será quebrado". Mt. 17.8 - "a ninguém viram, senão Jesus" - tem-se sustentado que isto significa que nós confiamos só em Jesus. A Epístola de Barnabe descobriu nos 318 servos de Abraão uma predição da crucificação de Jesus e outros têm visto na viagem de três dias que Abraão fez ao Monte Moriá os três estágios no desenvolvimento da alma. Clemente de Alexandria acha os quatro elementos naturais nas quatro cores do Tabernáculo Judaico. Tudo isto para fazer uma parábola "correr (ou andar) de quatro". Conquanto chamamos de leão a um herói, não precisamos achar no homem algo que corresponda à juba e às garras de um leão.
d) Conquanto não admitimos que os escritores do Novo Testamento, em qualquer sentido próprio, tenham citado ou interpretado erroneamente o Velho Testamento, não consideramos a correção absoluta a estes respeitos como essencial à sua inspiração. O Espírito inspirador pode ter comunicado a verdade e pode, como um todo, ter garantido, nas Escrituras, um registro da verdade suficiente para as necessidades morais e religiosas dos homens sem conceder dons perfeitos de erudição ou exegese. Em resposta a Toy, Quotations in the N. T., que toma um ponto de vista geralmente desfavorável sobre a correção dos escritores do N.T., Johnson, Quotations of the Ν. Τ. from the O.T., sustenta a sua correção. Nas páginas χ, xi, da sua Introdução, Johnson assinala: "Penso ser justo considerar os escritores da Bíblia como criadores de uma grande literatura e julgá-los e interpretá-los segundo as leis da literatura. Eles produziram as principais
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formas de literatura como: história, biografia, anedota, provérbio, oratória, alegoria, poesia, ficção. Por isso eles necessitaram de todos os recursos da fala humana, sua sobriedade e precisão científica numa página, os matizes do arco-íris e a imaginação numa outra, o fogo da paixão ainda noutra. Eles não poderiam ter movido homens de maneira melhor se tivessem rejeitado a máxima força e liberdade de linguagem; se eles tivessem se recusado a empregar seu amplo recurso de expressões exatas ou poéticas; se não tivessem tomado emprestadas, sem restrições, suas muitas formas de raciocínio, de terror, de arroubo, de esperança, de alegria e de paz. Do mesmo modo, eles teriam necessitado de incomum liberdade de alusão e citação literária, tendo em vista a recomendação do juízo, dos gostos e dos sentimentos dos seus leitores".
6. Erros na Profecia a) O que se acusa como tal pode freqüentemente explicar-se lembrando-se de que boa parte da profecia ainda não se cumpriu. Admite-se às vezes que o livro de Apocalipse, por exemplo, refere-se inteiramente a eventos do passado. Moses Stuart, em seu Comentário e a Parousia de Warren, representam esta interpretação preterista. A julgar-se assim, contudo, muitas predições do livro teriam falhado.
b) As conjecturas pessoais dos profetas quanto ao sentido das profecias que eles registraram podem ter sido incorretas, enquanto, contudo, as próprias profecias são inspiradas. Em 1 Pe. 1.10,11, o apóstolo declara que os profetas inquiriram "em que tempo, ou ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir". Do mesmo modo Paulo, embora não anuncie como certo, parece ter tido uma certa esperança de que ele havia de viver para testemunhar a segunda vinda de Cristo. Ver 2 Co. 5.4 "não porque queremos ser despidos, mas revestidos" (έπενδύσασθαι - vestir o corpo espiritual, como no presente, sem a intervenção da morte); 2 Ts. 4.15,17 - "nós, os que ficarmos vivos, para a vinda do Senhor". Deste modo
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Mt. 2.15 cita Os. 11.1 - "Do Egito chamei o meu Filho", e aplica a profecia a Cristo, embora Oséias, sem dúvida, estivesse pensando apenas no êxodo do povo de Israel.
c) Os mais antigos pronunciamentos do profeta não podem ser separados dos mais tardios que os elucidam, nem da revelação toda da qual eles são uma parte. É injusto proibir ao profeta que explique o seu próprio sentido. 2 Tessalonicenses foi escrito expressamente para corrigir inferências errôneas quanto ao ensino do apóstolo tiradas do seu modo peculiar de falar na primeira epístola. Em 2 Ts. 2.2-5 ele remove a impressão de "que o dia do Senhor já tivesse chegado", ou "estivesse próximo"; declara que "não virá antes que venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado"; ele lembra os tessalonicenses: "estas coisas eu vos dizia quando estava convosco". No verso 1 ele fala da "vinda do nosso Senhor Jesus Cristo, e a nossa união novamente com ele". Tomadas juntas, estas passagens mostram: 1) que as duas epístolas se unem num só ensino; 2) que não há na epístola qualquer predição da vinda imediata do Senhor; 3) que na segunda epístola contam-se grandes eventos antes da sua vinda; 4) que, embora Paulo nunca ensinasse que Cristo viria durante a vida dele, ele a esperava pelo menos durante a primeira parte da sua vida e que podia acontecer assim - esperança que parece ter sido dissipada nos últimos anos. (Ver 2 Tm. 4.6 - "já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício e o tempo da minha partida está próximo".) Contudo, convém lembrar que houve uma "vinda do Senhor" na destruição de Jerusalém dentro de três ou quatro anos da morte de Paulo. Henry Van Dyke: Ό ensino de Paulo em 1 e 2 Ts. não é de que Cristo esteja vindo amanhã, mas que ele seguramente está vindo". A ausência de perspectiva na profecia pode explicar o fato de Paulo não definir o tempo preciso do fim e, deste modo, deixar de ser um equívoco. Por isso, a segunda Epístola aos Tessalonicenses só torna mais claro o sentido da primeira, e acrescenta novos itens à predição. É importante reconhecer nas epístolas de Paulo um progresso na profecia, na doutrina e na estrutura da igreja. A afirmação plena da verdade surgiu de uma forma
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gradual, sob as influências do Espírito, por ocasião das sucessivas demandas e experiências internas. É necessário aprender muito através do estudo da ordem cronológica das epístolas de Paulo, assim como dos outros livros do N.T. Como evidência de semelhante progresso compare 1 Pe. 4.7 com 2 Pe. 3.4 sq.
d) O caráter da profecia como um rude esboço geral do futuro, na mais elevada linguagem figurada e sem qualquer perspectiva histórica torna peculiarmente provável que o que à primeira vista parece ser erro deve-se à nossa falsa interpretação, o que confunde o acessório com a substância, ou aplica sua linguagem a eventos a que não têm nenhuma referência. Tg. 5.9 e Fp. 4.5 são exemplos do que um grande pronunciamento profético considera o futuro distante como bem próximo porque é tão certo para a fé como para a esperança da igreja. Sanday, Inspiration, 376-378 "Sem dúvida os cristãos da era apostólica viviam numa expectação da Segunda Vinda, que culminou com a crise em que foi escrito o Apocalipse. No Apocalipse, como em toda profecia previsional, há um elemento de dúvida, de um lado derivado das circunstâncias presentes e de outro apontando para o futuro. ... Todas estas coisas no exato e literal sentido deixaram a posposição daquele evento de que elas eram o centro. Desde o começo eles apenas tratavam como um revestimento pictorial imaginativo e símbolo daquele evento. Não podemos dizer que medida de cumprimento real o Apocalipse ainda está destinado a receber. Mas na profecia previsional, mesmo quando verificada mais de perto, tem sua essência menos na predição do que nas leis eternas da verdade moral e religiosa que o fato predito revela ou exemplifica". Deste modo reconhecemos tanto a divindade como a liberdade da profecia e rejeitamos a teoria racionalista que relaciona a queda do governo de Beaconsfield no modo de Mateus: "Cromwell falava que isto podia ser cumprido, dizendo: 'prossiga e abra espaço para os homens honestos!' "
Teologia Sistemática (Strong) 470 7. Alguns livros não merecem um lugar na Escritura inspirada a) Esta acusação pode mostrar-se que, em cada caso, apóia-se numa falsa apreensão do alvo e do método do livro e sua conexão com o restante da Bíblia juntamente com uma estreiteza da natureza ou do ponto de vista que impede a crítica de apreciar as carências da classe peculiar de homens a que o livro especialmente se presta. Lutero chama Tiago "uma epístola de palha". Sua constante ponderação da doutrina da justificação só pela fé tornou difícil para ele agarrar-se à verdade complementar de que somos justificados só pela fé que produz boas obras, ou a perceber o acordo essencial entre Tiago e Paulo. Prof. R. E. Thompson, em Sunday School Times, 3 de dez de 1898. 803,804 – "Lutero recusou a autoridade canônica dos livros que na verdade não foram escritos pelos apóstolos ou compostos (Marcos e Lucas) sob a sua direção. Deste modo ele rejeita no nível de autoridade canônica Hebreus, Tiago, Judas, 2 Pedro, Apocalipse. Até mesmo Calvino duvidava da autoridade petrina de 2 Pedro, excluía da Escritura o livro de Apocalipse sobre o qual ele escreveu Comentários e, do mesmo modo ignorava 2 e 3 Jo". G. P. Fisher em S. S. Times, 29 de ago. de 1891 - "Lutero, em seu prefácio ao N.T. (Ed. 1522), apresenta uma lista do que considera os principais livros do N.T. São eles: Evangelho e Primeira Epístola de João, As Epístolas de Paulo, especialmente Romanos e Gaiatas e a Primeira Epístola de Pedro. A seguir ele acrescenta que a Epístola de São Tiago é exatamente uma epístola de palha comparada com elas -'ein recht strohern Epistel gegen sie', deste modo caracterizando-a como não absoluta, mas relativa". O próprio Zwínglio diz a respeito de Apocalipse: "Não é um livro bíblico". Thomas Arnold, com seu exagerado amor pela precisão histórica e panorama definido, achou a imagem oriental e as compreensivas visões do livro de Apocalipse tão bizarras e de mau gosto que duvidava da sua autoridade divina.
b) O testemunho da história da igreja e a geral experiência cristã quanto à utilidade e divindade dos livros em discussão é de maior peso do que as impressões pessoais dos poucos que os criticam.
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Exemplo dos testemunhos das épocas de perseguição dignas das profecias asseguram ao povo de Deus que a sua causa, sem dúvida, triunfará. Denney, Studies in Theology, 226 - Ό mínimo que se pode dizer é que, provavelmente, o indivíduo deve ser insensível à mensagem divina num livro, do mesmo modo que a igreja deve ter julgado que ele contém tal mensagem". Milton, Areopagítica: "A Bíblia põe os mais santos homens apaixonadamente murmurando contra a Providência através de todos os argumentos de Epicuro". Bruce, Apologetics, 329 - "A religião do AT. era queixosa, vindicativa, filolevítica, hostil para com os estrangeiros, morbidamente autoconsciente e tendente à justiça própria. O livro de Eclesiastes nos mostra como não devemos nos sentir. Andar clamando Vanitas! é deixar de ensinar a lição significativa, a saber, que o Velho Concerto é vaidade - que prova ser vaidade permitir que um filho do Concerto entre num modo de desespero". Chadwick diz que Eclesiastes entrou no Cânon só depois que recebeu um pós-escrito ortodoxo. Pfleiderer, Philos. Religion, 1.193 - O temor escravizante e a justiça própria na consideração para com Deus são características não agradáveis da religião judaica legalista para a qual o idealismo ético dos profetas se degenerara e estes traços marcam-nos mais visivelmente no farisaísmo.... É este lado da religião do AT. a que o cristianismo assumiu uma atitude crítica e destruidora enquanto revela um novo e mais elevado conhecimento de Deus. Porque, diz Paulo, 'não recebestes um espírito de escravidão, para, outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção' (Rm. 8.15). Na unidade com Deus o homem não perde a sua alma, mas preservaa. Deus não só manda, mas dá". Ian Maclaren (John Watson), Cure of Souls, 144 - "Quando o livro de Eclesiastes se refere aos dias do século terceiro a.C, sua nota surpreende e qualquer que tenha errado e esteja amargurado pela tirania política e pela corrupção social tem o seu amargo clamor incluído no livro de Deus".
c) Tal testemunho pode ser acrescido em favor do valor de cada um dos livros aos quais se faz exceção tais como Ester, Jó, Cânticos dos Cânticos, Eclesiastes, Jonas, Tiago, Apocalipse.
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Depois do Pentateuco, Ester é o livro mantido na mais elevada reverência pelos judeus. "Jó foi o descobridor da infinitude e o primeiro a ver o procedimento da infinitude na justiça. É a volta da religião à natureza. Jó ouviu a voz além da voz do Sinai" (Cross of Shadow, 89). Inge, Christian Misticism, 43 – "Quanto ao Cântico dos Cânticos, sua influência sobre o misticismo cristão tem sido simplesmente deplorável. Um gracioso romance em honra ao verdadeiro amor tem sido distorcido num precedente e numa sanção com o fim de dar lugar a emoções histéricas em que a imaginação sexual foi empregada livremente para simbolizar a relação entre a alma e o seu Senhor". Chadwick diz que Cântico dos Cânticos entrou no Cânon só porque recebeu uma interpretação alegórica. Gladden, Seven Puzzling Bible Books, 165, acha impossível que "a adição de mais um morador no harém de Salomão, aquele rei libertino, se tornaria o tipo da afeição espiritual entre Cristo e a sua igreja. Ao invés disto, o livro é uma glorificação do amor puro. A sulamita, transportada para a corte de Salomão, permanece fiel ao seu amoroso pastor e é restaurada a ele". Bruce, Apologetics, 321 – "O Cântico dos Cânticos, literalmente interpretado como uma história de amor verdadeiro, prova contra as carícias do harém palaciano, está corretamente no Cânon como um apoio à verdadeira religião; porque o que quer que seja feito com vistas à pureza no relacionamento de sexos se faz para o louvor de Yahweh – o culto a Baal e a impureza estão intimamente associados entre si". Rutherforth, McCheyne e Spurgeon tinham mais textos extraídos de Cântico dos Cânticos do que de qualquer outra porção da Escritura em igual extensão. Charles G. Finney, Autobiography, 378 – "Agora parece como se a minha alma estivesse casada com Cristo no sentido de que eu nunca tive qualquer pensamento ou conceito das coisas anteriores. A linguagem do Cântico dos Cânticos era tão natural para mim como a respiração. Eu pensava que pudesse entender bem o estado em que ele se sentia quando escreveu aquele Cântico e concluí, então, que sempre pensava assim e que ele escreveu o Cântico após ter-se recuperado da apostasia. Não só tive a plenitude do primeiro amor, mas um grande acesso a ele. Na verdade o Senhor levantou-me acima de qualquer coisa que eu tivesse experimentado antes e ensinou-me muito do sentido da Bíblia do relacionamento de Cristo e
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da força e da vontade que achei em mim mesmo, dizendo-lhe: Eu não tinha conhecido tal coisa como verdadeira". Sobre Jonas, ver R. W. Dale, em Expositor, jul. 1892, defendendo o caráter não histórico e alegórico do livro. Bíblia Sacra, 10.737-764 - "Jonas representa a nação de Israel emergindo através de um milagre do exílio para executar a sua missão ao mundo todo. Ensina que Deus é o Deus de toda a terra; que as ameaças de punição são condicionais".
8. Porções dos livros da Escritura escritos por outras pessoas que não são aquelas a quem são atribuídos A objeção se apóia num falso entendimento da natureza e do objetivo da inspiração. Pode ser removida considerando que a) No caso dos livros formados de documentos preexistentes, a inspiração simplesmente preservou os seus compiladores da seleção inadequada ou material impróprio. O fato de tal compilação não impugna o seu valor como registros de uma revelação divina porque estes livros suplementam as deficiências uns dos outros e juntos se bastam às necessidades religiosas do homem. Lucas distintamente nos informa que obteve o material para o evangelho a partir de relatos de outros que foram testemunhas oculares dos eventos que ele registrou (Lc. 1.1-4). O livro de Gênesis apresenta marcas de ter incorporado documentos dos tempos antigos. O relato da criação que começa com Gn. 2.4 evidentemente é escrito por um autor diferente de 1.131 e 2.1-3. Exemplos do mesmo tipo podem ser encontrados nos livros de Crônicas. De igual modo, a Vida de Washington, escrita por Marshall, incorpora documentos de outros escritores. Ao incorporá-los, Marshall garante a verdade deles. Dorner, Hist. Prot. Theology, 1.243 - "Lutero atribui à fé a autoridade crítica relativa ao Cânon. Ele nega a canonicidade de Tiago, sem considerálo como espúrio. Do mesmo modo, Hebreus e Apocalipse, embora mais tarde, em 1545, ele tenha mudado para um julgamento mais favorável sobre
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este último. Ele mesmo fala de uma prova acrescentada por Paulo em Gaiatas que é muito fraca para sustentar-se. Permite que, em assunto externo, não só Estêvão, mas até mesmo os autores sacros contêm imprecisões. A autoridade do AT. não lhe parece invalidada por admitir que vários dos seus escritos passaram por mãos revisoras. O que importaria, pergunta ele, se o Pentateuco não fosse escrito por Moisés? Os profetas estudaram Moisés e um outro. Se eles edificaram em muita madeira, feno e palha juntamente com o resto, ainda o fundamento permanece; o fogo do grande dia consumirá aquilo; porque desta maneira tratamos os escritos de Agostinho e de outros. Deve-se crer muito mais em Reis do que em Crônicas. Eclesiastes foi forjado e não pode ter vindo de Salomão. O livro de Ester não é canônico. A igreja pode ter errado ao adotar o livro no Cânon. A fé requer prova. Por isso lança para fora do Cânon do A.T. os Apócrifos. Deste modo, algumas partes do Ν Τ. recebem apenas uma posição secundária, deuterocanônica. Há uma diferença entre a palavra de Deus e as Escrituras Sagradas, não simplesmente quanto à forma, mas também quanto ao assunto". H. P. Smith, Bib. Scholarship and Inspiration, 94 - Ό Editor dos Profetas Menores uniu num mesmo rol os fragmentos proféticos que estavam em circulação na sua época. Encontrando um fragmento sem o nome de um autor, ele o incluía na série. Não se teria distinguido da obra do autor que o antecedeu. Deste modo, Zc. 9.1-4 passou assumir o nome de Zacarias e Is. 40-66 o de Isaías. Reuss chama isto de 'estudos anatômicos'".
b) No caso dos acréscimos aos livros da Escritura por escritores mais tardios, é razoável supor que tais acréscimos, assim como os originais, foram feitos por inspiração e nenhuma verdade essencial é sacrificada por permitir que tudo se submete ao nome do autor principal. Mc. 16.19,20 parece ter sido acrescentado mais tarde por um copista (ver, Versão Revista Inglesa). A Versão Revista Inglesa também põe entre parênteses ou segrega uma parte do v. 3 e o v. 4 inteiro em Jo. 5 (o mover das águas pelo anjo) e a passagem inteira de Jo. 7.53-8.11 (a mulher apanhada em adultério). Westcott e Hort consideram esta passagem uma interpolação provavelmente de origem "oriental" (do mesmo modo também
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Mc. 16.9-20). Outros a consideram autêntica, embora não escrita por João. O último capítulo de Deuteronômio parece ter sido acrescentado após a morte de Moisés -talvez por Josué. Se a crítica provasse que outras porções do Pentateuco foram escritas depois do tempo de Moisés, a inspiração do Pentateuco não seria invalidada, visto que Moisés foi o principal autor, ou ainda a fonte original e o fundador da sua legislação (Jo. 5.46 - "de mim escreveu ele"). Gore -Lux Mundi, 355 - "O Deuteronômio pode ter sido uma nova publicação da lei, no espírito e força de Moisés e posto dramaticamente na sua boca". Conta-se que, num local perto do Tanque de Siloé, Manasses ordenou que Isaías fosse serrado em pedaços com uma serra de cortar madeira. O profeta ainda é cortado em pedaços pela crítica recente. Mas a sua profecia começa (Is. 1.1) com a afirmação de que o livro foi composto num período que abrange quatro reinados - Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias - aproximadamente quarenta anos. Num tão longo tempo o estilo do escritor sofre grandes alterações. Os capítulos 40-66 podem ter sido escritos na idade avançada de Isaías depois que ele se afastou da vida pública. Compare a mudança do estilo de Zacarias, João e Paulo, com o de Thomas Carlyle e o de George William Curtis. Isaías prosperou nos anos 740-700 a.C. Os últimos vinte e sete capítulos tratam do cativeiro (598-538) e de Ciro (550), que eles citam. O livro não é uma profecia contínua, mas numerosas orações separadas. Alguns reivindicam que são do próprio Isaías e têm títulos tais como: "Visão de Isaías, filho de Amoz" (1.1); "Visão que teve Isaías, filho de Amoz" (2.1). Porém esses títulos só descrevem profecias individuais que eles encabeçam. Outras porções do livro, sobre outros assuntos e em diferentes estilos, não apresentam nenhum título. Os capítulos 40-66 não reivindicam ser dele. Há nove citações dos discutíveis capítulos no N.T., mas nenhuma feita pelo nosso Senhor. Nenhuma destas citações no N.T. foi apresentada em resposta à pergunta: Escreveu Isaías os capítulos 44-66? O nome de Isaías é mencionado só como referência. Os capítulos 44-66 tratam do exílio e do cativeiro como um evento já ocorrido. Fala-se a Israel como pronto para o livramento. Assinala-se Ciro como prova de que aquelas profecias de livramento finalmente estão prestes a acontecer. Não é mencionado como uma predição, mas como uma prova de que a predição está sendo cumprida. O profeta não podia ter feito referência ao pagão Ciro como prova
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de que a profecia tinha-se cumprido se ela não tivesse sido visível a eles em toda a importância da guerra. A Babilônia ainda está para cair antes que os exilados sejam libertos. Porém os capítulos 40-66 falam da vinda de Ciro como um acontecimento já ocorrido e a queda da Babilônia como algo que ainda iria ocorrer. Por que não ter empregado o perfeito profético em ambos, se ambos ainda fossem futuros? A cor local, a linguagem e o pensamento são todos consistentes com a autoria exílica. Tudo é adequado ao exílio, mas tudo é estranho aos assuntos e métodos de Isaías, por exemplo, o emprego dos termos justo e justiça. Calvino admite a autoria exílica (em Is. 55.3). Contudo, a passagem de 56.9-57 é uma exceção e é preexílica; 40-48 certamente são de um só escritor e podem ser datados de 555-538. Segundo Isaías não é uma unidade, mas consiste em numerosas peças escritas antes, durante e após o exílio, para consolar o povo de Deus.
c) É injusto negar à Escritura inspirada o direito exercido por todos historiadores de introduzir certos documentos e ditos como simplesmente históricos enquanto sua completa veracidade nem é atestada, nem negada. Um exemplo sobre o assunto é a carta de Cláudio Lísias em At. 23.2630 – que representa a sua conduta num ponto de vista mais favorável que os fatos poderiam justificar – porque ele não aprendeu que Paulo era romano quando o resgatou no templo (At. 21.31-33; 22.26-29). Uma afirmação incorreta pode ser relatada corretamente. Um conjunto de folhetos impressos na época da Revolução Francesa poderia ser um apêndice a alguma história daquele país sem implicar que o historiador garantia a verdade deles. Semelhantemente os historiadores sagrados podem ter sido inspirados a empregar apenas o material ao seu alcance, deixando aos seus leitores a tarefa da comparação com outros textos da Escritura a fim de julgar sobre a sua veracidade e valor. Este parece ter sido o método adotado pelo compilador de 1 e 2 Crônicas. As lições morais e religiosas da história são patentes apesar da imprecisão no relato de tais fatos. Deste modo as declarações dos escritores dos Salmos não podem ser tomadas como verdade absoluta. Os autores não são modelo de impecaminosidade para o cristão; na verdade só Cristo o é. Porém os Salmos nos brindam com um registro da verdadeira experiência dos crentes no passado. Tem a sua
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fraqueza humana, mas não podemos tirar proveito dela, muito embora se expresse às vezes em imprecações. Jr. 20.7 -"Persuadiste-me, Senhor" possivelmente pode ser explicado deste modo.
9. Narrativas Céticas ou Fictícias a) Descrições da experiência humana podem estar compreendidas na Escritura, não como modelos a serem imitados, mas como ilustrações das dúvidas, lutas e necessidades da alma. Nestes casos a inspiração pode atestar, não a correção dos pontos de vista expressos pelos que assim descrevem a sua história mental, mas só a correspondência da descrição relativa ao fato verdadeiro, e sua utilidade ensinando indiretamente importantes lições morais. O livro de Eclesiastes, por exemplo, é o registro da luta mental de uma alma que busca satisfação sem Deus. Se escrito por Salomão no tempo do seu declínio religioso, ou quase no fim deste, constituir-se-ia o mais valioso comentário sobre a história inspirada. Pode ainda ser igualmente valioso embora composto mais tarde por algum escritor sob direção e inspiração divinas. H. P. Smith, Bib. Scholarship and Inspiration, 97 - "Supor que Salomão é o autor de Eclesiastes é como supor que Spencer escreveu In Memoriam". Lutero, Keil, Delitzsch, Ginsburg, Hengstenberg, todos declaram tratar-se de uma produção em tempos mais tardios (330 a.C). O livro mostra a experiência do desgoverno. Um escritor mais antigo não pode escrever no estilo de um mais tardio embora o mais tardio possa imitar o mais antigo. Os antigos Pais Romanos e Gregos citavam a Apócrifa Sabedoria de Salomão como escrita por Salomão. Gore, em Lux Mundi, 355 - "Eclesiastes, embora semelhante ao livro de Sabedoria, que se propõe a ser de Salomão, pode ser de um outro autor. ... 'Uma fraude piedosa' não pode ter sido inspirada; uma personificação idealizadora, como um tipo normal de literatura, pode ser inspirada". Entretanto, Bernard Schäffer, Das Buch Koheleth, habilmente sustenta a autoria salomônica.
b) A verdade moral pode ser posta pelos escritores bíblicos em forma parabólica ou dramática e os ditos de Satanás e dos perversos
Teologia Sistemática (Strong) 478 podem formar partes de tal produção. Em tais casos, a inspiração pode atestar, não a verdade histórica, muito menos a verdade moral de cada declaração em separado, mas só a correspondência do todo com o fato ideal; em outras palavras, a inspiração pode garantir que a história é verdadeira para a natureza e é valiosa contendo a instrução divina. Não é necessário supor que os discursos poéticos dos amigos de Jó tivessem, na verdade, sido proferidos nas palavras que chegaram até nós. Mesmo que Jó nunca tivesse tido uma existência histórica, o livro ainda seria do mais alto valor e nos traria uma grande soma de verdadeiro ensino relativo ao problema do mal e de como Deus o trata. O fato é local; a verdade é universal. Algumas novelas contêm mais verdade do que se pode encontrar em algumas histórias. Outros livros da Escritura, contudo, garantem-nos que Jó é uma personagem real. (Ez. 14.14; Tg. 5.11). Não é necessário supor que o nosso Senhor, ao proferir a parábola do Filho Pródigo (Lc. 15.11-32) ou ado Mordomo Infiel (16.1-8), tivesse em mente pessoas reais das quais cada parábola é uma descrição exata. A ficção não é um veículo indigno da verdade espiritual. A parábola e até mesmo a fábula podem conter valiosas lições. Ε Jz. 9.14,15, as árvores, a vinha, o espinheiro, todos conversam. Se a verdade puder ser transmitida em mito ou lenda, sem dúvida Deus faz uso destes métodos de comunicá-la e mesmo que Gn. 1-3 fossem míticos poderiam ser inspirados. Aristóteles dizia que a poesia é mais verdadeira que a história. Esta só nos diz que algumas coisas aconteceram. A poesia apresenta-nos as permanentes paixões, aspirações e feitos dos homens as quais estão na retaguarda de toda a história e fazem dela o que ela é. Ainda que o livro de Jó fosse um drama e o de Jonas um apólogo, ambos podem ser inspirados. David Copperfield, A Apologia de Sócrates, Fra Lippo Lippi, não são os autores das produções que levam os seus nomes, mas Dickens, Platão, e Browning. A impessoalidade é um método próprio da literatura. A linguagem de Heródoto e a de Tucídides podem ser análogas às contidas em Deuteronômio e em Atos e ainda estes últimos podem ser inspirados. O livro de Jó podia não ter sido escrito na época dos patriarcas. As cidades muradas, os reis, as cortes, as ações judiciais, os presídios, o tronco, a mineração encontram-se nele. Os ricos subornam os juizes para decidir contra o pobre. Tudo isto pertence a estes anos do Reino Judaico. É
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aí que se encontra o livro de Jó? O Peregrino de Bunyan e a parábola do Bom Samaritano não são mentirosos. O livro de Jó é um poema dramático. De igual modo o Macbeth ou o Anel e o Livro fundamentam-se em fatos. H. P. Smith, Biblical Scholarship and Inspiration, 101 - "O valor do livro de Jó acha-se no espetáculo da alma humana na mais terrível aflição operando através das suas dúvidas e, por fim, confessando humildemente as suas fraquezas e pecaminosidade na presença do seu Criador. A inerrância não está nas palavras de Jó ou nas dos seus amigos, mas na verdade do quadro apresentado. Se as palavras de Yahweh contidas no fim do livro são verdadeiras então os trinta e cinco primeiros capítulos não são um ensino infalível". Gore, em Lux Mundi, 355, semelhantemente sugere que os livros de Jonas e de Daniel podem ser composições dramáticas elaboradas com base na história. George Adam Smith, no Expositor's Bible, diz-nos que Jonas alcançou o ápice de sua carreira em 780 a.C, no reinado de Jeroboão II. Nínive caiu em 606. O livro implica que foi escrito depois disso (3.3 - "era, pois, Nínive uma grande cidade"). O livro não reivindica ter sido escrito por Jonas, por testemunha ocular, ou por um contemporâneo. A linguagem tem formas aramaicas. A sua data provável é 300 a.C. Há uma ausência dos dados precisos, tais como o pecado de Nínive, a peregrinação do profeta para lá, o local da terra onde ele foi lançado, o nome do rei da Assíria. O livro ilustra a missão de Deus profetizar aos gentios, seu cuidado para com eles, a suscetibilidade deles à palavra de Deus. Israel se esquiva do dever, mas é resgatado para levar a salvação aos gentios. Jeremias representara Israel engolido e lançado fora (Jr. 51.34,44 sq. - "Nabucodonosor, rei da Babilônia, me devorou ... como dragão me tragou, encheu seu ventre das minhas delicadezas e lançou-me fora... tirarei da sua boca o que ele tragou". Uma tradição do anúncio da destruição de Nínive pode ter fornecido a base para o apólogo. O nosso Senhor emprega a história simplesmente como ilustração, do mesmo modo que a homilética emprega os dramas de Shakespeare. As expressões, "Como diz o Macbeth", "como diz o Hamlet", não nos obrigam a aceitar a realidade histórica de Macbeth ou de Hamlet. Jesus pode dizer quanto às perguntas da crítica: "Homem, quem me pôs por juiz ou repartidor entre vós?"; "eu não vim para julgar o mundo, mas para salvar o mundo" (Lc. 12.14; Jo. 12.47). Ele não tinha pensado em confirmar ou deixar de confirmar o caráter da história. É difícil conceber a compilação de um salmo através de um homem na posição de Jonas. Não se trata da
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oração de alguém que se acha no ventre de um peixe, mas de alguém que já é salvo. Há mais de quarenta anos passados, o Presidente Woolsey de Yale admitiu que o livro de Jonas era provavelmente um apólogo.
c) Em nenhum destes casos a dificuldade de distinguir as palavras do homem das palavras de Deus, ou a verdade ideal da verdade real deve impedir nossa aceitação do fato da inspiração; pois nesta variedade da Bíblia combinada com o estímulo que ela dá à pesquisa e ao planejamento geral das suas lições temos as características próprias que devemos esperar em um livro cuja autoria é divina. A Escritura é uma correnteza de água em que "o cordeiro pode vadear e o elefante pode nadar". Há necessidade tanto do senso literário quanto do discernimento espiritual para interpretá-la. Só o Espírito de Cristo, o Espírito Santo, que inspirou os vários escritos para que testemunhassem dele de vários modos e que estão presentes no mundo para receberem as coisas de Cristo e as mostrarem para nós pode dar tal senso e tal discernimento (Mt. 28.20; Jo. 16.13,14). Num sentido subordinado, o Espírito Santo nos inspira a reconhecer a inspiração na Bíblia. No sentido aqui sugerido, podemos concordar com as palavras do Dr. Charles H. Parkhurst na aula inaugural como Professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico União (Union Theological Seminary), 01 de nov. de 1893 - "Infelizmente temos condenado a palavra 'inspiração' a um particular e isolado campo da operação divina, e é uma transgressão do uso corrente na preeminência do seu intento escriturístico tanto na conexão com a vossa obra como com a minha. Mas a palavra proclama uma realidade tão ligada ao cerne da matéria cristã que não podemos relegá-la a uma função simples ou técnica. Tanto nos nossos dias como no passado, nos primórdios do cristianismo, aqueles que declaram as verdades de Deus devem ser inspirados a contemplá-las. ... A única persuasão irresistível é aquela que nasce da visão, e esta não é simplesmente capaz de descrever o que algum vidente viu, embora Paulo e Moisés fossem videntes".
Teologia Sistemática (Strong) 481 10. Reconhecimento da não inspiração de mestres da Escritura e de seus escritos Esta acusação se apóia principalmente na falsa interpretação de duas passagens particulares: a) At. 23.5 ("eu não sabia, irmãos, que ele era o sumo sacerdote") pode explicar-se, ou como à linguagem de ironia indignada: "Não reconheço tal homem como sumo sacerdote"; ou, mais naturalmente, uma confissão real de ignorância pessoal e falibilidade que não afeta a inspiração de qualquer dos ensinos ou escritos finais de Paulo. A dissimulação de Pedro em Antioquia, ou a negação prática das suas convicções, ou o seu afastamento dos cristãos gentios eram do tipo mais repreensível (Gl. 2.11-13). Aqui não há nenhum ensino público, mas a influência do exemplo particular. Porém, nem neste caso, nem no mencionado acima Deus suportou a continuação do erro. Pela atuação de Paulo, o Espírito Santo corrigiu-o.
b) 1 Co. 7.12,10 ("eu, não o Senhor"; "não eu, mas o Senhor"). Aqui o contraste não é entre o apóstolo inspirado e o apóstolo não inspirado, mas entre as palavras do apóstolo e um verdadeiro dito do Nosso Senhor como em Mt. 5.32; 19.3-10; Mc. 10.11; Lc. 16.18. As expressões podem ser parafraseadas: - "Sobre esta matéria nenhuma ordem expressa foi dada por Cristo antes da sua ascensão. Inspirado por Cristo, contudo, dou o meu mandamento". Meyer sobre 1 Co. 7.10 - "Por isso Paulo não estabelece aqui e nos versos 12, 25 a distinção entre os mandamentos dele e aquilo que é inspirado, mas entre o que procede dele mesmo (inspirado por Deus) subjetivamente e o que o próprio Cristo proveu através da sua palavra". "Paulo conhecia de viva voz da tradição quais mandamentos Cristo tinha dado sobre o divórcio". Ou se deve sustentar que Paulo aqui nega a inspiração, suposição rebatida pela palavra δοκώ que vem a seguir "também eu cuido que tenho o Espírito de Deus" (Verso 40), - apenas prova
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uma só exceção à inspiração dele e porque é expressamente mencionado, e isto apenas uma vez, implica a inspiração de todos os escritos. Podemos ilustrar o método de Paulo, se for o caso, com o curso do Arauto de Nova Iorque quando da sua primeira publicação. Os outros jornais ficaram com os seus próprios equívocos e nunca quiseram reconhecer o erro. O Herald (Arauto) ganhou a confiança do público através da correção de cada erro dos seus repórteres. Resultado: quando não havia confissão do erro, o jornal era considerado totalmente fidedigno. Deste modo, o reconhecimento da não inspiração de Paulo pode implicar que em todos outros casos as suas obras eram de autoridade divina.
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PARTE IV – NATUREZA, DECRETOS E OBRAS DE DEUS Capítulo I ATRIBUTOS DE DEUS Contemplando as palavras e atos de Deus, assim como contemplando as palavras e atos do homem como indivíduo, somos compelidos a atribuir efeitos uniformes e permanentes a uniformes e permanentes causas. Palavras e atos santos, argumentamos, devem ter sua fonte em um princípio de santidade; palavras e atos verdadeiros, em uma propensão para a verdade; palavras e atos benévolos, em uma disposição benévola. Contudo, estas fontes de expressão e ação permanentes e uniformes a que aplicamos os termos princípio, propensão, disposição, porque existem de modo harmônico na mesma pessoa, devem ser inerentes e achar a sua unidade em uma subjacente substância espiritual ou realidade da qual são características inseparáveis e manifestações parciais. Deste modo, somos levados naturalmente das obras aos atributos e dos atributos à essência de Deus. Com relação a todos os propósitos práticos, podemos empregar as palavras essência, substância, ser, natureza como sinônimas umas das outras. Assim também podemos falar de atributo, qualidade, característica, princípio, tendência, disposição, como praticamente a mesma coisa. Como, conhecendo a matéria, passamos dos seus efeitos na sensação para as qualidades que a produzem e, a seguir, à substância material a que pertencem as qualidades; e como, conhecendo a mente, passamos dos seus fenômenos relativos ao pensamento e à ação para as faculdades e disposições que causam o surgimento de tais fenômenos e, a seguir, à substância mental a que estas faculdades e disposições pertencem; do mesmo modo, conhecendo Deus, passamos das suas palavras e atos às
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suas qualidades ou atributos e, depois, à substância ou essência a que estas qualidades ou atributos pertencem. O professor de um Seminário Feminino descreveu a substância como uma almofada, na qual os atributos são aplicados como alfinetes. Porém alfinetes e almofada são igualmente substâncias; nenhum deles é qualidade. Erro oposto ilustra-se a partir da experiência de Abraão Lincoln no Rio Ohio. "O que é ο transcendentalismo de que tanto ouvimos falar"? pergunta o Sr. Lincoln. Vem a resposta: "Você vê aquelas andorinhas fazendo buracos naquele banco?" Bem, retire o banco que fica em volta daqueles buracos e o que fica é o transcendentalismo". Freqüentemente a substância é representada como sendo deste modo transcendental. Se tais representações fossem corretas, na verdade, a metafísica seria "aquilo de que os que ouvem não entendem nada, e aquele que fala não se entende a si mesmo", e a metafísica seria a raposa que corre para a toca e, em seguida, puxa a toca para trás de si. Substância e atributos são correlatos; nenhum deles é possível sem o outro. Não existe nenhuma qualidade que não qualifique alguma coisa. Aplicando as categorias da substância e atributo de Deus não condescendemos em nenhuma especulação simplesmente curiosa, mas, ao invés disso, produzimos as necessidades do pensamento racional e mostramos como devemos pensar em Deus se é que pensamos.
I. DEFINIÇÃO DO TERMO ATRIBUTOS Os atributos de Deus são as características distintivas da natureza divina inseparáveis da idéia de Deus e que constituem a base e apoio das suas várias manifestações às suas criaturas. Chamamo-los atributos porque somos compelidos a atribuí-los a Deus como qualidades ou poderes fundamentais ao seu ser a fim de dar um relato racional de alguns fatos constantes nas auto-revelações de Deus.
Teologia Sistemática (Strong) 485 II. RELAÇÃO DOS ATRIBUTOS DIVINOS COM A ESSÊNCIA DIVINA 1. Os atributos têm uma existência objetiva Eles não são meros nomes das concepções humanas de Deus, as quais têm sua única base na imperfeição da mente finita. São qualidades objetivamente distintas da essência divina e entre si. A noção nominalista de que Deus é um ser de simplicidade absoluta e de que em sua natureza não há nenhuma distinção de qualidades ou poderes tende diretamente para o panteísmo; nega toda a realidade das perfeições divinas; ou, se estas, em qualquer sentido ainda existem, exclui todo o conhecimento delas por parte dos seres finitos. Dizer que conhecimento e poder, eternidade e santidade, são idênticos à essência de Deus e de umas com as outras é negar que, na verdade, conhecemos Deus. As declarações da Escritura sobre a possibilidade de se conhecer Deus, juntamente com a manifestação dos atributos distintos da natureza, são conclusivas contra esta falsa noção da simplicidade divina. Aristóteles diz com propriedade que não existe uma ciência do único, daquilo que não apresenta analogias ou relações. Conhecer é distinguir; aquilo que não podemos distinguir de outras coisas não podemos conhecer. Embora uma falsa tendência de considerar Deus como um ser de simplicidade absoluta tenha vindo do escolasticismo medieval, tem infectado muito da teologia posterior à Reforma e encontra-se até mesmo tão recentemente como em Schleiermacher, Rothe, Olshausen e Ritchl. E. G. Robinson define os atributos como "nossos métodos de conceber Deus". Mas esta definição sofre a influência da doutrina kantiana sobre a relatividade e implica que não podemos conhecer a essência de Deus, isto é, a coisa em si, o ser real de Deus. Bowne, Philosophy of Theism, 141 "Esta noção da simplicidade divina reduz Deus a uma rígida e inerme fixidez de olhos.... O Deus uno é múltiplo sem ser muitos".
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A simplicidade divina é o ponto de partida de Filo: Deus é um ser completamente desprovido de qualidade. Toda qualidade nos seres finitos tem limitação e nenhuma limitação pode ser atribuída a Deus, que é eterno, imutável, substância simples, livre, auto-suficiente melhor do que o bem e o belo. Atribuir qualquer qualidade a Deus seria reduzi-lo à esfera da existência finita. Dele só podemos dizer que ele é, não o que ele é. Encontram-se ilustrações desta tendência em Escoto Erígena: "Deus nescit se quid est, quia non est quid"; e em Occam: Os atributos divinos não se distinguem nem substancialmente nem logicamente um do outro ou da essência divina; a única distinção é de nomes. O escritor puritano Charnock identifica tanto o conhecimento como a vontade com a essência simples de Deus. Schleiermacher faz todos os atributos serem modificações da força ou da causalidade; no seu sistema, Deus e o mundo = "natura naturans" e "natura naturata" de Spinoza. (Recuando à cadeia de causas chegamos à Causa. Como causa, é Natura naturans que é subjacente aos fenômenos. Como causada, é Natura naturata; i.e., em certo sentido idêntica ao mundo fenomenal [ERE, vol. 11, p. 772 b]). Não há nenhuma distinção de atributos e nenhuma sucessão de atos em Deus e, por isso, nenhuma pessoalidade ou mesmo ser espiritual. Schleiermacher diz: "Meu Deus é o universo". Deus é força causativa. A eternidade, a onisciência e a santidade são apenas aspectos da causalidade. Por outro lado, Rothe faz a onisciência ser um princípio todo abrangente da natureza divina; e Olshausen, sobre Jo. 1.1 de igual modo tenta provar que o Verbo de Deus deve ser objetivo e substancial, admitindo que conhecimento = vontade; donde parece seguir-se que, visto que Deus quer todas as coisas que ele conhece, ele deve querer o mal moral. Bushnell e outros identificam a justiça em Deus com a benevolência e, por isso, não pode ver que qualquer expiação necessita de ser feita a Deus. Ritchl também sustenta que o amor é o atributo divino fundamental e que a onisciência e mesmo a pessoalidade são apenas modificações do amor. Spencer apenas avança pouco mais quanto ao princípio quando ele conclui que Deus é tão somente uma força desconhecida. Porém chamar Deus de tudo é o mesmo que chamá-lo de nada. Com Dorner, podemos dizer que "definição não é nenhuma limitação". Quando surgimos na escala da criação a partir do simples bloco gelatinoso para o
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homem, o homogêneo se torna heterogêneo, há diferença de funções, a complexidade aumenta. Inferimos que Deus, o mais elevado de todos, em vez de ser uma simples força, é infinitamente complexo, que tem uma variedade infinita de atributos e forças. Tennyson, Palace of Art (linhas omitidas nas mais tardias edições): "Toda a natureza se desenvolve para cima: sempre a mais simples essência é inferior: a mais complexa é mais perfeita e a que possui mais discurso é mais amplamente sábia". Jr. 10.10 - Deus é "o Deus vivo"; Jo. 5.26 - ele "tem a vida em si mesmo" – riquezas inescrutáveis dos atributos positivos. Jo. 17.23 - "tens amado a mim" - multiplicidade na unidade. A complexidade em Deus é a base da sua felicidade e o nosso progresso: 1 Tm. 1.11 - "Deus bendito"; Jr. 9.23,24 -"glorie-se nisto: em me conhecer". A complexa natureza de Deus permite que se ire contra o pecador e, ao mesmo tempo, tenha compaixão dele: SI. 7.11 -"um Deus que se ira todos os dias"; Jo. 3.16- "Deus amou o mundo"; SI. 85.10,11 – "A misericórdia e a verdade se encontraram". Martensen, Dogmatics, 91 -"Se Deus fosse apenas o Ser, το απλώς εν, ο abismo místico em que cada forma de determinação fosse extinta, não haveria nada na Unidade a ser conhecido". Conseqüentemente "nominalismo é incompatível com a idéia da revelação. Com realismo ensinamos que os atributos de Deus são determinações objetivas na sua revelação e, por isso, estão arraigadas na sua mais profunda essência".
2. Os atributos são inerentes à essência divina Eles não são existências separadas. São atributos de Deus. Enquanto nos opomos ao ponto de vista nominalista que sustenta que eles são meros nomes com os quais, por necessidade do nosso pensamento, revestimos a essência divina simples, precisamos igualmente evitar o extremo realista oposto que faz deles partes separadas de um Deus composto. Só podemos conceber os atributos como pertencendo a uma essência subjacente que fornece sua base de unidade. Se representarmos Deus como um composto de atributos, pomos em perigo a unidade da divindade.
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Note a necessidade análoga de atribuir as propriedades da matéria a uma substância subjacente e os fenômenos do pensamento a uma essência espiritual também subjacente; além disso, a matéria se reduz a uma simples força e a mente a uma simples sensação; em resumo, todas coisas são engolidas por um vasto idealismo. A explicação puramente idealista dos atributos e as concepções politeístas de Deus tendem a diminuir. A mitologia da Grécia é o resultado da personificação dos atributos divinos. Os nomina tornaram-se númina, como diz Max Müller. Ver também do Natal de Evans descrevendo um concilio da divindade, no qual os atributos de Justiça, Misericórdia, e Poder discutem entre si. Robert Hall chama o Evans do Natal de "o orador caolho dos ingleses", mas acrescenta que o seu único olho pode "iluminar um exército através do deserto". Devemos lembrar que "o realismo pode deste modo exaltar os atributos que nenhum assunto pessoal deixa de constituir a base da unidade. Encarando a pessoalidade como antropomorfismo, cai na pior personificação, a da onipotência, santidade, benevolência, que são apenas pensamentos cegos a não ser que haja alguém que seja onipotente, santo e bom".
3. Os atributos pertencem à essência divina como tal Eles devem distinguir-se de outros poderes ou relações que não pertencem à essência divina universalmente. As distinções pessoais (proprietates) na natureza do Deus uno não podem ser denominadas atributos; pois cada uma destas distinções pessoais não pertence à essência divina como tal e universalmente, mas só à pessoa particular da Trindade que tem o seu nome enquanto, ao contrário, todos atributos pertencem a cada uma das pessoas. Contudo, o relacionamento que Deus mantém, com o mundo (predicata), tais como a criação, a preservação, o governo não deve ser denominado de atributos; porque estes não são necessários ou inseparáveis de Deus, mas acidentais. Deus seria Deus ainda que ele nunca tivesse criado. Fazer a criação eterna e necessária é destronar Deus e entronizar o desenvolvimento fatalista. Segue-se que a natureza dos atributos deve ser
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ilustrada não só, ou principalmente, a partir da sabedoria e santidade do homem, que não são inseparáveis da natureza do homem, sem a qual ele deixaria de ser também um ente humano. Só se trata de um atributo de que se pode dizer com segurança que aquele que o possui, se privado dele, deixaria de ser Deus. Shedd, Dogm. Theol., 1.335 - "Atributo é a essência total agindo de um certo modo. O centro da unidade não está em qualquer atributo, mas na essência.... A diferença entre o atributo divino e a pessoa divina é que a pessoa é um modo da existência da essência, enquanto o atributo é um modo da relação, ou da operação da essência".
4. Os atributos manifestam a essência divina A essência se revela só através dos atributos. Sem seus atributos ela é desconhecida e incognoscível. Apesar de que só podemos conhecer Deus como ele se nos revela através dos atributos, não obstante, em conhecendo tais atributos, conhecemos o ser a quem eles pertencem. O fato de que este conhecimento é parcial não impede sua correspondência, até onde se pode chegar, à realidade objetiva na natureza de Deus. Por isso, todas revelações de Deus são as de si mesmo nos seus atributos ou através deles. Nosso alvo deve ser a determinação, a partir das obras e palavras de Deus, das qualidades, disposições, determinações, forças de sua essência, de outra forma invisível e insondável, a qual ele, na verdade, tornou conhecidas a nós; ou, em outras palavras, quais os atributos divinos revelados. Jo. 1.18 - "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer"; 1 Tm. 6.16 - "a quem nenhum dos homens viu, nem pode ver"; Mt. 5.8 - "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus"; 11.27 - "ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar". C. A. Strong: "Kant, não contente em conhecer a realidade nos fenômenos, estava tentando conhecer a realidade independente deles; ele estava procurando conhecer, sem cumprir as condições do conhecimento; em resumo, ele queria
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conhecer sem o conhecimento". Deste modo o agnosticismo perversamente considera Deus escondido pela sua própria manifestação. Contrariamente, conhecendo os fenômenos, conhecemos o objeto em si. J. C. C. Clarke, Self and the Father, 6 - "Na linguagem, como na natureza, não há verbo sem sujeito, mas sempre estamos caçando substantivo que não tem nenhum adjetivo e, verbo que não tem nenhum sujeito e sujeito que não tem nenhum verbo. Consciência é necessariamente consciência do eu. O idealismo e o monismo gostariam de ver todos verbos sólidos com seus sujeitos, e escrever 'eu faço' ou 'eu sinto' no emaranhado de um monograma, mas a consciência recusa e, ao invés de dizer 'Faço' ou 'Sinto', acaba dizendo 'Eu'." Katrina de J.G. Holland, a quem ela amava: "Deus não é adorado em seus atributos. Eu não amo os teus atributos, mas eu te amo. Os teus atributos encontram-se em qualquer parte em outras pessoas. Na verdade, nem eu os amo, nem os adoro, nem os que os tem. Mesmo o manchado de pardo correria o perigo que te empalideceria; mas a sua coragem de aço roubaria de ti o meu coração? Ludibriarias a tua consciência, porque sabes que eu posso gostar dos teus atributos, ainda que eu não te amasse".
III. MÉTODOS PARA DETERMINAR OS ATRIBUTOS DIVINOS
Já vimos que a existência de Deus é uma verdade primeira. Pressupõe-se em todo o pensamento humano e é mais ou menos conscientemente reconhecida por todos homens. Vimos que este conhecimento intuitivo de Deus é corroborado e explicado por argumentos tirados da natureza e da mente. A razão nos leva a uma Inteligência causativa e pessoal de que dependemos. Este Ser de indefinida grandeza revestimos, por necessidade do nosso pensamento, de todos os atributos da perfeição. Dois grandes métodos para determinar o que são estes atributos são o Racional e o Bíblico. 1. Método racional É tríplice: - a) via negationis, ou por meio da negação, que consiste em negar a Deus todas as imperfeições observadas nos seres criados; b)
Teologia Sistemática (Strong) 491 via eminentiae, ou por meio do clímax, que consiste em atribuir a Deus em grau infinito todas as perfeições encontradas nas criaturas; e c) via causalitatis, ou por meio da causalidade que consiste em predicar a Deus os atributos requeridos nele para explicar o mundo da natureza e da mente. Este método racional explica a natureza de Deus a partir do da sua criação, enquanto a própria criação pode ser plenamente explicada só a partir da natureza de Deus. Apesar de que o método é valioso, tem insuperáveis limitações, e está em lugar de subordinação. Enquanto o empregamos continuamente para confirmar e suplementar resultados obtidos de outra forma, nosso principal meio de determinar os atributos divinos deve ser 2. Método bíblico Trata-se simplesmente do método indutivo, aplicado aos fatos relativos a Deus revelados nas Escrituras. Agora que provamos que as Escrituras são revelação de Deus, inspiradas em cada uma das partes, podemos com propriedade considerá-las como autoridade decisiva sobre os atributos de Deus. Há quem diga que o método racional de determinar os atributos de Deus teve sua origem com Dionísio, o areopagita, supostamente um juiz no tempo de Paulo em Atenas e que morreu em 95 A.D. Provavelmente é mais eclético, combinando os resultados alcançados por muitos teólogos e aplicando as intuições de perfeição e causalidade que são a base de todo o pensamento religioso. Do nosso estudo anterior sobre os argumentos em favor da existência de Deus evidencia-se que, da natureza não podemos aprender a Trindade ou a misericórdia de Deus e que tais deficiências em nossas conclusões a respeito de Deus devem ser fornecidas pela revelação. Spurgeon, Autobiography, 166 - Ό antigo dito é 'Deus a partir da Natureza até o Deus da Natureza'. Mas é duro trabalhar subindo a colina. A melhor coisa é partir da Natureza de Deus descendo até a Natureza; e se você atinge a Natureza de Deus e crê nele e o ama, é surpreendente como é fácil
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ouvir a música nas ondas e as canções no silvo dos ventos na mata e ver Deus em toda a parte".
IV. CLASSIFICAÇÃO DOS ATRIBUTOS Os atributos podem ser divididos em duas grandes classes: Absolutos ou Imanentes e Relativos ou Transitivos. Absolutos ou Imanentes são os atributos que se referem ao ser interior de Deus, envolvidos nas relações de Deus consigo mesmo e pertencentes à sua natureza independentemente de sua conexão com o universo. Relativos ou Transitivos são os atributos que se referem à revelação exterior do ser divino e envolvem as relações de Deus com a criação e se realizam em conseqüência da existência do universo e sua dependência dele. Sob o tópico Atributos Absolutos ou Imanentes podemos fazer uma tríplice divisão em Espiritualidade com os atributos que ela envolve, a saber, vida e pessoalidade; Infinitude com os atributos que ela envolve, a saber, Existência Própria, Imutabilidade e Unidade; e Perfeição com os atributos que ela envolve, a saber, Verdade, Amor e Santidade. Sob o tópico Atributos Relativos ou Transitivos podemos fazer uma tríplice divisão conforme a ordem da revelação deles em atributos relativos ao Tempo e Espaço como a Eternidade e a Imensidade; Atributos relativos à Criação como Onipresença, Onisciência e Onipotência; e Atributos relativos aos Seres Morais como Veracidade e Fidelidade, ou Verdade Transitiva; Misericórdia e Bondade, ou Amor Transitivo; e Justiça e Retidão, ou Santidade Transitiva. Pode-se entender melhor esta classificação a partir do seguinte quadro:
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Convém observar, examinando o quadro acima, que a nossa classificação apresenta Deus primeiro como Espírito, depois como Espírito infinito e, finalmente, como Espírito perfeito. Isto concorda com a nossa definição do termo Deus (verParte II, Existência de Deus, cap. I, Origem da nossa idéia da existência de Deus). Também corresponde à ordem em que os atributos geralmente se apresentam à mente humana. Nosso primeiro pensamento de Deus é que se trata de um Espírito misterioso e indefinido diferentemente do nosso. A seguir vem à nossa mente a grandeza de Deus; o elemento quantitativo é sugerido por si mesmo; surgem diante de nós os atributos naturais; nós o reconhecemos como o Infinito. Por fim, vem o elemento qualitativo; a nossa natureza moral reconhece um Deus moral; diferentemente do nosso erro, do egoísmo, da impureza, percebemos sua perfeição absoluta. Convém também observar que esta perfeição moral, como atributo imanente, envolve a relação de Deus consigo mesmo. Verdade, amor e santidade, como implicam, respectivamente, um exercício no Deus intelecto, sentimento e vontade, podem ser concebidos como o conhecimento próprio de Deus, o amor próprio de Deus e a vontade própria de Deus. A significação disto aparece mais nitidamente na discussão dos atributos em separado. Note a distinção entre os atributos absolutos e relativos, imanentes e transitivos. Absolutos = que não existem em nenhuma relação necessária com as coisas fora de Deus. Relativos = existentes em tal relação. Imanentes = "que permanecem dentro da natureza em sua atividade e efeito, limitados, inerentes e habitando nela - em oposição aos emanentes ou transitivos". Transitivos = que tem um objeto fora do próprio Deus. Falamos de verbos transitivos e significamos verbos seguidos de objeto. Os atributos transitivos de Deus são assim chamados porque eles se referem e afetam coisas e seres fora de Deus. O objetivo desta classificação em Atributos Absolutos e Relativos é tornar clara a auto-suficiência divina. A criação não é uma necessidade, porque há um πλήρωμα em Deus (Cl. 1.19), mesmo antes que ele faça o mundo ou se torne encarnado. O πλήρωμα não é "o enchimento material", nem "o vaso cheio", mas "que é completo em si mesmo", ou, em outras palavras, "plenitude", "compleição", "totalidade", "abundância". O universo inteiro é apenas uma gota de orvalho na franja das vestes de Deus, ou um
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sopro exalado da sua boca. Ele poderia criar o universo cem vezes maior. A natureza é apenas o símbolo de Deus. As ondas da vida são apenas frágeis expressões da sua vida. Os atributos imanentes mostram-nos o quanto a criação e a redenção dependem da graça e quão inefável é a condescendência daquele que assumiu a nossa humanidade e humilhou-se até a morte da cruz. SI. 8.3,4 - "Quando vejo os teus céus ... que é o homem mortal para que te lembres dele"? 113.5,6 - "Quem é como o Senhor, nosso Deus, que habita nas alturas; que se curva para ver o que está nos céus e na terra"? Fp. 2.6,7 - "que, sendo em forma de Deus, ... esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo". Ladd, Theory of Reality, 69 - "Eu sei que eu sou, porque, como a base de todas discriminações quanto a o que eu sou e, como o cerne de todo esse conhecimento próprio, eu conheço a mim como uma vontade". Deste modo, quanto ao non ego "o que as coisas realmente são é um fator do meu conhecimento a respeito delas surgindo da raiz de uma experiência comigo mesmo como uma vontade, ao mesmo tempo ativa e inibida, como um agente, apesar de oposto a um outro". O ego e o non ego também são fundamental e essencialmente uma vontade. "A matéria deve ser, per se, uma Força. Mas isto significa ... ser uma Vontade" (439). Não conhecemos nada do átomo independentemente da sua força (442). Ladd cita G. E. Balley: "O princípio da vida, variando apenas em grau, é onipresente. Há apenas uma onisciência e inteligência indivisível e isto vibra através de cada átomo do Cosmos todo" (446). "A ciência fez apenas o substrato das coisas materiais cada vez mais completamente auto-semelhantes" (449). O Espírito é o Ser verdadeiro e essencial do que é chamado Natureza (472). "O último ser do mundo é a Mente e Vontade autoconsciente que é a base de todos objetos feitos conhecidos na experiência humana" (550).
V. ATRIBUTOS ABSOLUTOS OU IMANENTES Primeira divisão - Espiritualidade e os atributos envolvidos por ela Ao chamar a espiritualidade um atributo de Deus, significamos, não que nos justificamos em aplicar à natureza divina o adjetivo "espiritual", mas que o substantivo "Espírito" descreve aquela natureza (Jo. 4.24,
Teologia Sistemática (Strong) 496 "Deus é espírito"; Rm. 1.20-"as coisas invisíveis dele"; 1 Tm. 1.17"incorruptível, invisível"; Cl. 1.15 - "o invisível Deus"). Isto implica, negativamente, que a) Deus não é matéria. Espírito não é uma forma refinada da matéria, mas uma substância imaterial, invisível, não composta, indestrutível. b) Deus não depende da matéria. Não se pode mostrar que a mente humana, em outro estado que não seja o presente, depende, para sua consciência, de sua conexão com um organismo físico. Muito menos é verdade que Deus depende do universo material como base dos seus sentidos. Deus não é só espírito, mas espírito puro. Ele não só não é matéria, mas não tem nenhuma conexão necessária com ela (Lc. 24.39 - "Espírito não tem carne e ossos como vedes que eu tenho"). João nos dá os três atributos característicos de Deus, quando diz que Deus é "espírito", "luz", "amor" (Jo. 4.24; 1 Jo. 1.5; 4.8) - não diz um espírito, uma luz, um amor. Le Conte, em Conception of God, de Royce, 45 - "Deus é espírito porque espírito é essencial à vida, e essencial à energia, e essencial ao amor, e essencial ao pensamento; em uma palavra, essencial à pessoa". Biedermann, Dogmatik, 631 - "Das Wesen des Geistes als des reinen Gegensatz zur Materie, ist das reine Sein, das in sich ist, aber nicht da ist. (A característica do espírito como do puro contraste da matéria, é o puro ser, que está em si, mas que não o é). Martineau, Study, 2.366 - "O ego subjetivo sempre está aqui, também oposto a tudo, o qual está de modo variado ali... Por isso, sem relação local, a alma é inacessível". Mas Martineau continua, "se a matéria for apenas centro de força, toda a alma precisa ser centro de ação". Romanes, Mind and Motion, 34 - "Porque dentro dos limites da experiência humana conhece-se a mente apenas como associada ao cérebro não se segue que ela não possa existir em qualquer outro modo". La Place varreu os céus com seu telescópio, mas não pôde achar Deus em parte alguma. "Ele bem poderia", diz o Presidente Sawyer, "ter a sua cozinha com uma vassoura". Visto que Deus não é um ser material, não pode ser apreendido por quaisquer recursos físicos.
As passagens da Escritura que parecem atribuir a Deus a posse de partes do corpo e órgãos como olhos e mãos devem ser consideradas como antropomórficas e simbólicas. Quando se fala que Deus aparece
Teologia Sistemática (Strong) 497 aos patriarcas e anda com eles, tais passagens devem ser explicadas como referindo-se às manifestações temporárias do próprio Deus em forma humana - manifestações que prefiguravam o tabernacular final do Filho de Deus em carne. Ao lado destas expressões e manifestações antropomórficas, contudo, há declarações específicas que representam quaisquer concepções materializadas de Deus; como, por exemplo, que o céu é o seu trono e a terra o escabelo de seus pés (Is. 66.1) e que o céu dos céus não podem contê-lo (1 Re. 8.27). Êx 33.18-20 declara que o homem não pode ver Deus e viver; 1 Co. 2.7-16 sugere que sem o ensino do Espírito de Deus não se pode conhecer Deus; tudo isto ensina que Deus está acima de qualquer percepção sensorial, em outras palavras, que ele não é um ser material. O segundo mandamento do Decálogo não condena a escultura ou pintura, mas apenas o fazer a imagem de Deus. Proíbe-se a nossa concepção de Deus à semelhança de uma coisa, mas não se proíbe conceber Deus à semelhança do eu interior, i.e., um ser pessoal. Isto ainda mostra que Deus é um ser espiritual. A imaginação pode ser empregada na religião e dela pode derivar um grande auxílio. Contudo, não podemos conhecer Deus através da imaginação, que só nos ajuda a entender de um modo vivido a presença do Deus que já conhecemos. Quase podemos dizer que algumas pessoas não têm imaginação suficiente para serem religiosas. Mas a imaginação não deve soltar as suas asas. Em suas representações de Deus, é bom não estar confinado a um quadro, ou a uma forma, ou a um lugar. A humanidade tende muito a se apoiar no elemento material e sensorial; devemos evitar todas as representações de Deus que identifiquem o Ser que é adorado com os auxílios empregados para entender a sua presença; Jo. 4.24 - "os que o adoram o adorem em espírito e em verdade". Um hino egípcio ao Nilo, datando da XIX dinastia (século 14 a.C), contém estas palavras: "Não se conhece a sua habitação; não se encontrou nenhum santuário com pinturas; não há nenhum edifício que o contenha" (Cheyne, Isaías, 2.120). O repúdio às imagens entre os antigos persas, como entre os xintoístas japoneses, indica as reminiscências de uma primitiva religião espiritual. A representação de Yahweh com corpo e formas degrada-o ao nível dos deuses pagãos. Os quadros do onipotente sobre as
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cancelas das catedrais romanistas confinam a mente e degradam a concepção do adorador. Podemos utilizar a imaginação na oração, pintando Deus uma forma benigna tendo braços de misericórdia, mas não devemos considerar tais quadros como andaimes para a construção de um edifício de adoração, conquanto reconheçamos, com a Escritura, que a realidade adorada é imaterial e espiritual. De outra forma, nossa idéia de Deus é rebaixada ao nível do ser material do homem. Até mesmo a natureza espiritual do homem pode ser mal interpretada através de imagens físicas, quando os artistas medievais pintavam a morte através da figura de uma boneca deixando o corpo e na boca de uma pessoa às portas da morte. O anseio por um Deus tangível e encarnado encontra sua satisfação em Jesus Cristo. Contudo, até mesmo as figuras de Cristo logo perdem a sua força. Lutero dizia: "Se eu tiver uma figura de Cristo no meu coração, por que não nas telas?" Respondemos: Porque a figura no coração pode mudar e aprimorar, do mesmo modo que nós mudamos e aprimoramos; a figura na tela é fixa e mantém as velhas concepções das quais devemos livrar-nos. Thomas Carlyle: Os homens nunca pensam na figura do rosto de Cristo até que percam a impressão dele nos seus corações". Modernamente, Swedenborg representa o ponto de vista de que Deus existe na forma de um homem -antropomorfismo do qual a feitura dos ídolos é uma forma mais grosseira e mais bárbara. Esta é também a doutrina do mormonismo. Os mórmons ensinam que Deus é um homem; que tem numerosas esposas através das quais povoa o espaço com infinito número de espíritos. Cristo é o filho preferido de uma esposa preferida, mas o nascimento como homem foi o único meio através do qual veio a usufruir da vida real. Estes espíritos também são filhos de Deus, mas podem realizar e usufruir da sua filiação só através do nascimento. Eles estão em torno de nós esperando nascer. Daí a poligamia.
Consideremos a importância positiva do termo Espírito. A espiritualidade de Deus envolve os dois atributos: Vida e Pessoalidade. 1. Vida As Escrituras representam Deus como um Deus vivo.
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Jr. 10.10 - "Ele mesmo é o Deus vivo"; 1 Ts. 1.9 - "como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro"; Jo. 5.26 - "o Pai tem a vida em si mesmo"; cf. 14.6-"Eu sou ... a vida"; e Hb. 7.16"segundo o poder de uma vida indissolúvel"; Ap. 11.11 - "o Espírito de vida".
Vida é uma simples idéia impossível de definição real. Conhecemola, contudo, em nós mesmos e podemos perceber a insuficiência e inconsistência de algumas de suas definições. Não podemos considerar a vida em Deus como: a) Simples processo sem um sujeito; pois não podemos conceber uma vida divina sem um Deus que a viva. Versus Lewes, Problems of Life and Mind, 1.10 - "Vida e mente são processos; nenhuma é substância; nenhuma é força;... o nome dado ao conjunto de fenômenos se transforma na personificação dos fenômenos e supõe-se que o resultado tenha sido o produtor". Aqui temos um produto sem produtor - uma série de fenômenos sem qualquer substância de que eles são manifestações. Lemos igualmente em Dewey, Psychology, 247 - "O eu é uma atividade. Não é alguma coisa que age; é atividade. ... É constituído de atividades. ... Através da sua atividade a alma é". Não se diz aqui como pode haver atividade sem qualquer sujeito ou ser ativo. A inconsistência deste ponto de vista se manifesta quando Dewey passa a dizer: "A atividade pode ir mais adiante ou desenvolver o eu". Do mesmo modo, o Dr. Burdon Sanderson diz: "A vida é um estado de incessante mudança, - mudança com permanência; a matéria viva sempre muda conquanto seja sempre a mesma". Plus ça change, plus c'est la même chose". (Quanto mais muda mais fica a mesma coisa). Mas esta coisa permanente no meio da mudança é o sujeito, o eu, o ser, que tem vida.
Nem podemos considerar a vida como: b) Simples correspondência à condição e ambiente exteriores; pois isto tornaria a vida impossível a Deus antes da existência do universo.
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Versus Herbert Spencer, Biology, 1.59-71 - "A vida é a combinação definida de mudanças heterogêneas simultâneas e sucessivas correspondendo a coexistências externas e seqüências". Na melhor das hipóteses, temos aqui uma definição de vida física e finita; e até mesmo isto não basta porque a definição não reconhece nenhuma fonte original de atividade interna, mas apenas uma força de reação em resposta ao estímulo externo. Também podemos dizer que a chaleira que está fervendo está viva (Mark Hopkins). Este defeito também encontramos nas linhas de Robert Browning, The Ring and the Book (O Papa, 1307): "O Tu - representado aqui para mim em tal concepção que qualquer alma permite - sob a tua imensurabilidade, minha amplitude atômica! - A mente do homem, o que é senão uma lente convexa na qual reunimos todos os pontos dispersos apanhados na imensidão dos céus, A fim de reuni-los para ser o nosso céu aqui na terra, O nosso conhecido Desconhecido, nosso Deus revelado ao homem?" A vida é algo mais que uma receptividade passiva.
c) A vida é mais do que energia mental, ou energia do intelecto, sentimento e vontade. Deus é o Deus vivo, tendo em seu próprio ser a fonte do ser e da atividade tanto para si como para os outros. Vida significa energia, atividade, movimento. Aristóteles: "Vida é a energia da mente". Wordsworth, Excursion, livro 5.602 - "Vida é amor e imortalidade; um é o Ser e um é o elemento. ... Vida, repito, é energia do amor divino ou humano". Prof. C. L. Herrick, Critics of Ethical Monism, na Denison Quarterly, dez. 1896.248 - "Força é energia sob resistência, ou energia auto-limitada, porque todas as partes do universo derivam da energia. A energia, manifestando-se sob condicionamento de si mesmo ou sob formas diferenciais é força. A mudança da energia pura em força é criação". O Prof. Herrick cita de Coleridge, Anima Poetae: "Espaço é um nome para Deus; é a mais perfeita imagem da alma - a alma pura para nós nada mais é do que a ação sem resistência. Sempre que há resistência, começa a limitação e a limitação é o primeiro elemento constituinte do corpo; quanto mais onipresente ele está no espaço tanto mais esse espaço é corpo ou matéria; e assim todo corpo pressupõe alma assim como toda resistência pressupõe ação". Schelling: "Vida é a tendência para o individualismo".
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Se no homem o espírito implica vida, o espírito em Deus implica vida sem fim e inesgotável. A vida inteira do universo é apenas uma pálida imagem dessa energia que chamamos a vida de Deus. Dewey, Psychology, 253 -"A sensação de estar vivo é muito mais vivida na infância do que mais tarde. Leigh Hunt diz que, quando ele era criança ver certas cercas de paliçadas pintadas de vermelho dava-lhe mais aguçado prazer do que qualquer experiência da idade adulta". Matthew Arnold: "Felicidade era a de que naquela aurora estava vivo, Mas ser jovem era o próprio céu". O prazer da criança nas cenas campestres e as nossas intensificadas percepções no febril cérebro mostram-nos através do contraste quão rasa e turva é a correnteza da nossa vida comum. Nesta vida a necessidade do espírito humano se satisfaz apenas no Deus infinito. Ao invés da expressão de Tyndal: "A matéria tem em si a promessa e a potência de cada forma da vida", aceitamos o dito de William Crooke: "A vida tem em si a promessa e a potência de cada forma da matéria".
2. Pessoalidade As Escrituras representam Deus como um ser pessoal. Pessoalidade significa o poder de autoconsciência e autodeterminação. Para maior explicação assinalamos: a) Autoconsciência é mais do que consciência. Quanto a esta última, supõe-se que o bruto a tenha, visto que o bruto não é um autômato. O homem não só é consciente de seus próprios atos e estados, mas, por abstração e reflexão reconhece o eu que é o sujeito destes atos e estados. b) Autodeterminação é mais do que determinação. O bruto mostra determinação, mas sua determinação é o resultado de influências externas; não há nenhuma espontaneidade interior. O homem, em virtude de sua vontade livre, determina sua ação a partir do interior. A si mesmo determina em vista dos motivos, mas sua determinação não é causada por motivos; ele mesmo é a causa. Deus, como pessoal, no mais elevado grau de consciência, é autoconsciente e autodeterminante. O aparecimento da idéia de Deus em
Teologia Sistemática (Strong) 502 nossas mentes, como pessoal, depende em grande parte do nosso reconhecimento da pessoalidade em nós mesmos. Os que negam o espírito no homem põem uma barreira no caminho do reconhecimento de tal atributo de Deus. Êx. 3.14 – "E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós". Deus não é um eterno "Ele é", ou "Eu era", mas o eterno "EU SOU"; "EU SOU" implica tanto pessoalidade com presença. 1 Co. 2.11 - "ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus"; Ef. 1.9 - "segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo"; 11 - "conselho da sua vontade". Seguem-se definições da pessoalidade: Boethius - "Persona est animae rationalis individua substantia" (Citada em Dorner, Glaubenslehre. 2.415). Trad.: Pessoa é a substância racional indivisível da alma. F. W. Robertson, Gn. 3 "Pessoalidade = consciência própria, vontade, caráter". Porter, Human Intellect, 626 - "Subsistência distinta real ou de modo latente autoconsciente e autodeterminante". Harris, Philos. Basis of Theism: Pessoa = "ser, cônscio de si mesmo subsistente na individualidade e identidade e dotado de razão intuitiva, sensibilidade racional e vontade livre". Ver Harris, 98, 99 citação de Mansel - "A liberdade da vontade está tão longe de ser, como em geral se considera, uma questão controvertida na filosofia, que é fundamental postular sem o que toda a ação e toda especulação, a filosofia em todos os seus ramos e a própria consciência humana, seria impossível". Uma das mais surpreendentes comunicações em toda a literatura é que Matthew Arnold, em sua "Literature and Dogma", que as Escrituras Hebraicas reconhecem apenas em Deus, "e não em nós, a força que produz a justiça" = o Deus do panteísmo. O "EU SOU" de Ex. 3.14 dificilmente poderia ter sido tão mal entendido, se Matthew Arnold não tivesse perdido o senso de sua própria pessoalidade e responsabilidade. A partir da livre vontade do homem dirigimo-nos para a liberdade em Deus - "Essa Vontade viva que resiste, quando tudo o que é aparente sofre abalo". Observe que a pessoalidade necessita de ser acompanhada pela vida - a força da autoconsciência e autodeterminação necessita de ser acompanhada pela atividade - a fim de formar a nossa total idéia de Deus como Espírito. Só
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esta pessoalidade de Deus oferece o sentido próprio à condenação ou ao perdão da parte dele. Illingworth, Divine and Human Personality, 1.25, mostra que o senso de pessoalidade tem tido um crescimento gradual; que o seu reconhecimento anterior ao cristianismo é imperfeito; que a sua definição final se deve ao cristianismo. Em 29-53, ele observa que a razão, o amor, e a vontade são características da pessoalidade. O bruto percebe; só o homem apercebe, i.e., reconhece que a sua percepção pertence a si mesmo. No conto alemão Dreiäuglein, uma criança com três olhos, tem, além dos seus dois olhos normais, um outro para ver o que os dois olhos fazem e, além da sua vontade natural, tem uma vontade adicional para determinar se aquela estava certa. Sobre a consciência e a autoconsciência, ver Shedd, Dogm. Theol., 1.179189 - "Na consciência do objeto acha-se outra substância além do sujeito; mas na autoconsciência o objeto é a mesma substância que o sujeito". Tennyson, em seu Palace of Art, fala das "profundezas abissais da personalidade". Não nos conhecemos, nem ainda a nossa relação com Deus. Mas a consciência divina abrange todo o conteúdo do ser divino: "o Espírito penetra todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus" (1 Co. 2.10). Não somos plenamente senhores de nós mesmos. Nossa autodeterminação é tão limitada como a nossa autoconsciência. Mas a vontade divina absolutamente não tem embaraço; a atividade de Deus é constante, intensa e infinita; Jó 23.13 - "o que a sua alma quiser isso fará"; Jo. 5.17 - "Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também". O conhecimento próprio e o senhorio próprio são a dignidade do homem; também são a dignidade de Deus; Tennyson: "A auto-reverência, o autoconhecimento, o autocontrole, estes três conduzem a vida ao poder soberano". Moberly, Atonement and Personality, 6,161,216-255 - "Talvez a raiz da pessoalidade seja a capacidade para o sentimento". ... "Nossa personalidade é incompleta; raciocinamos apenas com o auxílio de Deus; nosso amor vence no mais elevado Amor; só quando Deus opera em nós é que vamos querer e agir; para nos tornarmos verdadeiramente nós mesmos necessitamos de uma Pessoalidade que suplemente e dê energia à nossa (pessoalidade); somos completos somente em Cristo (Cl. 2.9,10 - "Nele habita toda a plenitude da divindade, e nele estais perfeitos".
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Webb, em Idéia da Personalidade aplicada a Deus, no Jour. Theol. Studies, 2.50 - "O eu conhece a si mesmo e aquilo que em si mesmo não é como dois porque ambos são igualmente envolvidos dentro da unidade da sua experiência, sobressaem diante da própria essência dessa racionalidade ou pessoalidade que nos distingue dos animais inferiores. Achamos esse cenário, Deus, presente em nós, ou, ao invés disso, achamo-nos presentes nesse cenário. Mas, se eu me acho presente nele, então ele, como é mais completo, é simplesmente mais pessoal do que eu. O nosso não eu está fora de nós, de sorte que somos finitos e solitários, mas o não eu divino está dentro dele, de modo que há uma interioridade mútua do amor e discernimento de que a mais perfeita comunhão entre os homens é apenas um fraco símbolo. Nós somos 'espíritos eremitas', no dizer de Keble e nos unimos aos outros realizando nossa união com Deus. A pessoalidade não é impenetrável no homem, porque 'nele vivemos, nos movemos e existimos' (At. 17.28) e 'nele estava a vida' (Jo. 1.3,4)". Palmer, Theologie Definition, 39 - "Aquilo que tem a sua causa sem ele próprio é uma coisa, enquanto aquilo que tem a sua causa em si mesmo é uma pessoa".
Segunda Divisão - Infinitude e os atributos envolvidos por ela Infinitude não significa que a natureza divina não tem limites ou fronteiras conhecidos, mas que não tem nenhum limite ou fronteira. Aquilo que simplesmente não tem limites é indefinido. A infinitude de Deus implica que ele não tem nenhum caminho limitado pelo universo ou confinado ao universo; ele é tanto transcendente como imanente. Contudo, não se deve conceber a transcendência simplesmente como liberdade de restrições espaciais, porém, ao invés disso, como recurso ilimitado de que a glória de Deus é expressão. Sl. 145.3 - "a sua grandeza é insondável"; Jó 11.7-9 - "como as alturas dos céus ... mais profunda do que o inferno"; Is. 66.1 - "O céu é o meu trono e a terra o escabelo dos meus pés"; 1 Re. 8.27 - Ό céu e o céu dos céus te não poderiam conter"; Rm. 11.33 - "Quão insondáveis são os teus juízos e quão inescrutáveis os teus caminhos". Não pode haver nenhum número infinito, visto que a qualquer número que se pode atribuir pode-se acrescentar
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uma unidade, o que mostra que esse número não era anteriormente infinito. Não pode haver nenhum número infinito no universo porque só se concebe um universo infinito como um número infinito de mundos ou de mentes. O próprio Deus é o único verdadeiro Infinito e o universo é apenas a expressão ou símbolo da sua grandeza. Por isso objetamos a afirmação de Lotze, Microcosm, 1.446 - "O sistema completo, apanhado em sua totalidade, oferece uma expressão da sua natureza inteira.... A causa faz da existência verdadeira a sua manifestação completa". De igual modo, Schurman, Belief in God, 26, 173178, admite a infinitude, mas nega a transcendência: "O Espírito infinito pode incluir o finito, como a idéia de um organismo simples abarca dentro de uma simples vida uma pluralidade de membros e funções.... O mundo é a expressão de uma vontade sempre ativa e inesgotável. A ciência torna muito provável que a manifestação exterior seja tão ilimitada como a vida que ela expressa. Aconteça o que acontecer, não temos a mínima razão para contrastar a infinitude do mundo com a infinitude de Deus. ... Se a ordem natural é eterna e infinita, como parece não haver razão para duvidar, será difícil achar um sentido para 'além' ou 'aquém'. Deus é a base interna ou substância deste universo ilimitado e sempre existente. Não há nenhuma evidência, nem se requer de nós qualquer necessidade religiosa de crermos que o Ser divino manifesto no universo tenha existência real ou possível em outra parte, em alguma esfera transcendental. ... A vontade divina pode expressar-se só como o faz, porque nenhuma outra expressão revelaria o que ela é. O universo é a eterna expressão dessa vontade".
Em explicação do termo infinitude, podemos notar: a) Que a infinitude só pode pertencer a um Ser e, portanto, não pode ser repartida com o universo. Infinitude não é uma idéia negativa, mas positiva. Não surge da falta de poder do pensamento, mas é uma convicção que constitui a base de todos os outros conhecimentos. Ver Porter, Human Intellect, 651, 652 e, neste Compêndio, págs. 59-62. Versus Mansel, Proleg. Lógica, cap. 1 - "Tais noções negativas ... implicam de uma só vez uma tentativa de pensar e deixar fazer essa tentativa". Do contrário, a concepção do Infinito é perfeitamente distinguível da do finito e é
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tanto necessária como logicamente antecede à do finito. Isto não é verdade a respeito da nossa idéia do universo, do qual tudo o que conhecemos é finito e dependente. Por isso consideramos tais pronunciamentos de Lotze e Schurman mencionados acima e os de Chamberlin e Caird abaixo como tendência panteísta, apesar de que a crença destes escritores na pessoalidade divina e humana os poupa de cair em outros erros do panteísmo. Prof. T. C. Chamberlin da Universidade de Chicago: "Não basta ao pensamento científico moderno pensar num Governante fora do universo nem em um universo com Governante fora. O supremo Ser que não abrange todas atividades e possibilidades e potências do universo parece algo menor que o mais supremo Ser, e um universo com um Governante fora parece algo menor que o universo. Por isso o pensamento cresce na mente dos pensadores científicos que o supremo Ser é universal, abarcando e compreendendo todas as coisas". Caird, Evolution of Religion, 2.62 - "Se a religião quer continuar a existir, deve combinar a idéia monoteísta com a que freqüentemente tem considerado seu maior inimigo, o espírito do panteísmo". Em resposta, admitimos que a religião deve aceitar o elemento de verdade no panteísmo, a saber, que Deus é a única substância, base e princípio do ser, mas consideramo-lo fatal à religião ao lado do panteísmo na sua negação da transcendência e pessoalidade de Deus.
b) Que a infinitude de Deus não envolve sua identidade com ‘o todo’, ou a soma da existência, nem impede a coexistência dos seres derivados e finitos com que se relaciona. Infinitude implica simplesmente que Deus não existe em nenhuma relação necessária com as coisas ou seres finitos e que, qualquer que seja a limitação dos resultados da natureza divina a partir da sua existência, é, da parte de Deus, uma autolimitação. Sl. 113.5,6 - "que se curva para ver o que está nos céus e na terra". A infinitude de Deus implica que não deve haver nenhuma barreira na sua autolimitação na criação e na redenção (ver p. 9 F). Jacob Boehme diz: "Deus é infinito porque Deus é tudo". Mas isto faz de Deus toda a imperfeição. Harris, Philos. Basis Theism: "A relação do absoluto para com o infinito não é a matemática do todo para as partes, mas a dinâmica e
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racional". Shedd, Dogm. Theol., 1.189-191 -"Infinito não é total; o'todo' é um pseudo infinito e, afirmar que é maior que o simples infinito é o mesmo erro que se comete na matemática quando se afirma que um número infinito mais um grande número finito é maior do que o simples infinito". Fullerton, Conception of the Infinite, 90 -Ό infinito, embora envolva possibilidade de quantidade ilimitada, não é em si mesmo uma concepção quantitativa mas qualitativa". Hovey, Studies of Ethics and Religion, 39-47 - "Qualquer número de seres finitos, mentes, amor, vontade, não pode revelar a plenitude de um Ser, Mente, Amor, Vontade. Deus deve ser transcendente, assim como imanente no universo ou ele nem é infinito nem objeto de suprema adoração". Clarke, Christian Theology, 117 - "Por maior que seja o universo, Deus não se limita a ele, que é totalmente absorvido por aquilo que ele está fazendo, e não é capaz de fazer mais. Deus no universo não é como a vida da árvore na árvore, que faz tudo o que é capaz tornando-a a árvore que ela é. Deus no universo tem mais semelhança com espírito do homem no seu corpo, o qual é maior do que este, capaz de dirigi-lo e de exercer as atividades em que o corpo não tem participação. Deus é espírito livre, pessoal, dirigido por si mesmo, e cujas atividades presentes não o exaurem". O poeta persa estava certo quando dizia: Ό mundo é um botão de flor do seu arco de beleza; o sol é uma centelha de luz da sua sabedoria; o céu é uma bolha no mar da sua força". Faber: "Para a grandeza que é infinita, o descanso abre espaço para todas as coisas em sua volta. Seríamos esmagados por uma curta magnificência da infinitude. Partilhamos daquilo que é infinito; pertence-nos porque nós e ela somos Teus. O que aproveito, ó grande Deus, através do que é teu por direito, é mais do que sem dúvida meu".
c) Que se deve conceber a infinitude de Deus de modo intensivo em vez de extensivo. Não atribuímos a Deus extensão infinita, mas energia de vida espiritual infinita. A que age até a medida de seu poder é simplesmente força natural ou física. O homem se ergue acima da natureza em virtude de suas reservas de poder. Mas em Deus a reserva é infinita. Há nele um elemento transcendente que não esgota nenhuma auto-revelação quer na criação ou redenção, quer na lei ou promessa.
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A transcendência não é mera exteriorização; é um suprimento interior ilimitado. Deus não é infinito em virtude de existir "extra flammantia moenia mundi (enchimento fora das muralhas do mundo" (Lucrécio) ou o enchimento de um espaço fora do espaço; ele é mais infinito por ser a Mente pura e perfeita que vai além de todos os fenômenos e constitui a base deles. Tal concepção do infinito é apenas supracósmica; esta é tão somente transcendente. A vida de Deus "opera sem desgaste". A legenda estampada com as Colunas de Hércules nas moedas da Espanha é Ne plus ultra - "Nada mais além", mas, quando Colombo descobriu a América, a legenda mudou com propriedade para Plus ultra - "Mais além". De igual modo o lema da Universidade de Rochester é Meliora - "Coisas melhores". Visto que os infinitos recursos de Deus empenham-se em nosso auxílio, podemos, como nos determina Emerson, "puxar o nosso carro na direção de uma estrela", e crer no progresso. Tennyson, Locksley Hall: Homens, meus irmãos, homens trabalhadores, sempre colhendo alguma coisa nova, para que não façam apenas as coisas para que sejam feitas". O Angelus de Millet dá testemunho da necessidade que o homem tem da transcendência de Deus. O objetivo de Millet era pintar, não o ar, mas a oração. Necessitamos de um Deus que não esteja confinado à natureza. Como Moisés no começo do seu ministério clamou, "Rogo-te que me mostres atua glória" (Ex. 33.18), do mesmo modo necessitamos de experiências marcantes no início da vida cristã para que possamos ser testemunhas vivas do sobrenatural. Ε ο nosso Senhor promete tais manifestações dele mesmo: Jo. 14.21 - "Eu o amarei e me manifestarei a ele". Sl. 71.15 - "A minha boca relatará as bênçãos da tua justiça e da tua salvação todo o dia, posto que não conheça o seu número" = infinito. SI. 89.2 - "a tua benignidade será edificada para sempre" = sempre crescentes manifestações e ciclos de cumprimento - primeiro literal e depois espiritual. SI. 113.4-6 - "Exaltado está o Senhor, acima de todas as nações, e a sua glória sobre os céus. Quem é como o Senhor, nosso Deus, que habita nas alturas; que se curva para ver o que está nos céus e na terra"? Ml. 2.15 "Não fez ele somente um, sobejando-lhe espírito"? = ele podia ter criado muitas esposas para Adão, mas ele criou apenas uma. Neste "sobejando-lhe espírito", diz Caldwell, Cities of our Faith, 370, "ainda está latente - como o
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vento calmo no ar de um verão meridiano, como o imenso calor fica frio e escondido nas montanhas de carvão - a bênção e a vida das nações, a infinita amplitude de Sião". Is. 52.10 - Ό Senhor desnudou o seu santo braço" = a natureza não esgota nem sepulta Deus; a natureza é a manta em que ele normalmente se revela; mas ele não está agrilhoado pela roupa que usa - ele pode lançá-la de lado e desnudar o seu braço nas interposições providenciais de pronunciamentos terrenos e nos poderosos movimentos da história com vistas à salvação dos pecadores e o estabelecimento do seu reino. Ver também Jo. 1.16 - "nós recebemos também da sua plenitude graça sobre graça" = "Cada bênção tornou-se o fundamento de uma bênção maior. Ter realizado e usado uma medida da graça é ter ganho maior medida em trocar χάρη αντί χάριτος; é o que se encontra em Westcott, Bib. Com., in loco. Cristo pôde dizer ao crente como disse a Natanael (Jo. 1.50) "Coisas maiores do que estas verás". Porque Deus é infinito, pode amar cada crente como se aquela simples alma fosse a única que ele teria de cuidar. Tanto na providência como na redenção o coração inteiro de Deus está envolvido com planos do interesse e felicidade de um coração. As ameaças não revelam a metade de Deus, nem as suas promessas expressam a metade do "peso da eterna glória" (2 Co. 4.17). Dante, Paradiso, 19.40-63 - Deus "não podia escrever a impressão do seu poder, mas a sua palavra ainda fica a uma distância infinita". "Duvidar do Santo de Israel" (SI. 78.41) é falsidade e pecado. Este atributo da infinitude, ou da transcendência, qualifica todos os outros atributos e consequentemente é o fundamento das representações da majestade e da glória pertencentes a Deus (verEx. 33.18; SI. 19.1; Mt. 6.13; At. 7.2; Rm. 1.23; Hb. 1.3; 1 Pe. 4.14; Ap. 21.23). A glória não é em si mesma um atributo divino; é um resultado - objetivo - do exercício dos atributos divinos. A glória existe independentemente da revelação e do seu reconhecimento na criação (Jo. 17.5). Só Deus pode perceber e revelar a sua própria glória. Tudo ele faz para a sua glória. Todas as religiões fundamentam-se na glória de Deus. Toda adoração é o resultado desta qualidade imanente da natureza divina. Kedney, Christian Doctrine, 1.360373, 2.354, parece conceber a glória divina como um ambiente material de
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Deus do qual o universo foi formado. Isto parece contradizer tanto a espiritualidade como a infinitude de Deus. Tal infinitude implica plenitude absoluta independente de qualquer coisa exterior a ele. Por isso consideraremos, a seguir, os atributos que a infinitude envolve.
Dos atributos que a infinitude envolve mencionamos: 1. Existência própria Auto-existência é: a) Deus é causa sui, e sua existência baseia-se em si mesmo. Cada ser deve basear sua existência em si ou fora de si. Temos a base da nossa existência fora de nós. Deus não é dependente. Ele é a se; por isso falamos da asseidade de Deus. A existência própria de Deus está implicada no nome "Yahweh" (Ex. 6.3) e na declaração "EU SOU O QUE SOU" (Ex. 3.14); ambos significam que ser faz parte da natureza de Deus. A existência própria, sem dúvida, nos é incompreensível, apesar de que uma pessoa com existência própria não é um mistério maior do que uma coisa com existência própria, como Herbert Spencer supõe ser o universo; na verdade, o mistério não é tão grande, pois é mais fácil derivar a matéria da mente do que a mente da matéria. Johannes Angelus Silesius: "Gott ist das war Er ist; Ich was Ich durch Ihn bin; Doch kennst du Einen wohl so kennst du mich und Ihn". Martineau, Types, 1.302 - "Uma causa pode ser eterna, mas nada que seja causado o pode ser". Ele protesta contra a expressão "causa sut'. Assim Shedd, Dogm. TheoL, 1.338, faz objeção à expressão "Deus é a sua própria causa", porque Deus é um Ser não causado. Mas quando falamos em Deus como "causa sut', não lhe atribuímos começo de existência. Ao invés disso a expressão significa que a base da sua existência não é exterior a ele mesmo, mas que ele mesmo é a fonte viva de toda energia e de todo o ser.
Mas, para que isto não seja mal construído, acrescentamos:
Teologia Sistemática (Strong) 511 b) Deus existe pela necessidade de seu próprio ser. É sua natureza ser. Por isso a natureza de Deus não é contingente, mas necessária. Baseia-se, não na sua vontade, mas na sua natureza. Julius Müller, Doctrine of Sin., 2.126,130,170, parece sustentar que Deus é em primeiro lugar vontade, de sorte que a essência de Deus é o seu ato: "A essência de Deus não precede a sua liberdade"; "se a essência de Deus lhe fosse dada, presente, não haveria possibilidade de esquivar-se à pergun- ta 'a partir de onde se deu?'; a essência de Deus nesse caso deve ter sua origem em algo independente dele e, deste modo, a verdadeira concepção de Deus desapareceria inteiramente". Mas isto implica que a verdade, a razão, o amor, a santidade, igualmente essência de Deus, são todos eles produto da sua vontade. Contudo, se a essência de Deus fosse o seu ato, Deus teria o poder de aniquilar-se. Agir pressupõe essência; se não, Deus não agiria. A vontade através da qual Deus existe e em virtude da qual ele é causa sui, portanto, não é vontade no sentido de volição, mas no sentido de que ele é o movimento total do seu ser ativo. Com o ponto de vista de Müller concordam Tomásio e Delitzsch. A essência de Deus não é o seu ato, não só porque isto implicaria que ele poderia destruir-se a si mesmo, mas porque antes de querer existe o ser. Os que sustentam que a essência é simples atividade são impelidos a este ponto de vista pelo medo de postular alguma coisa morta em Deus que anteceda todo o exercício da faculdade. G. C. Miller, Evolution of Love, 43 -"A ação perfeita, consciente e volitiva é a mais elevada generalização, a última unidade, a natureza incondicionada do Ser infinito"; i.e., a natureza de Deus é ação subjetiva, enquanto a natureza exterior é a ação objetiva. Melhor afirmação é a de Bowne, Philos, of Theism, 170 — "Enquanto há uma necessidade na alma, ela só se torna controladora através da liberdade; e podemos dizer que cada um deve constituir-se uma alma racional. ... "Esta é uma verdade absoluta a respeito de Deus".
2. Imutabilidade Significa que a natureza, os atributos e a vontade de Deus são isentos de toda mudança. A razão nos ensina que em Deus não é possível
Teologia Sistemática (Strong) 512 nenhuma mudança, quer de aumento quer de diminuição, progresso ou regresso, contração ou ampliação. Toda a mudança deve ser para melhor ou para pior. Mas Deus é perfeição absoluta e não é possível nenhuma mudança para melhor. Igualmente inconsistente com a perfeição é a mudança para pior. Não há nenhuma causa para tal mudança de Deus quer exterior quer interior ou no próprio Deus. Sl. 102.27 - "tu és o mesmo"; Ml. 3.6 - "Eu, o Senhor, não mudo"; Tg. 1.17 -"em quem não há mudança nem sombra de variação". Bowne, Philos, of Theism, 146, define a imutabilidade como "a constância e continuidade da natureza divina que existe através de todos os atos divinos como sua lei e fonte".
As passagens da Escritura que parecem à primeira vista atribuir mudança em Deus devem ser explicadas de uma das três formas: a) Como ilustração dos variados métodos através dos quais Deus manifesta sua imutável verdade e sabedoria na criação. Os princípios matemáticos ganham nova aplicação em cada estágio sucessivo da criação. A lei da coesão dá lugar à lei da química e a química às forças vitais, mas através de todas estas mudanças há uma verdade divina e uma sabedoria que não muda e que reduz tudo à ordem racional. John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 2.140 - "Imutabilidade não é mesmice, mas impossibilidade de desvio por um fio de cabelo do curso, que é o melhor. O homem de grande força de caráter está continuamente achando novas ocasiões para a manifestação e aplicação do princípio moral. Em Deus a consistência infinita se une à flexibilidade infinita. Não há nenhuma impassibilidade infinita com férreos limites, mas uma originalidade infinita nele".
b) Como representações antropomórficas da revelação dos imutáveis atributos de Deus nas mutáveis circunstâncias e variadas condições morais das criaturas.
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Gn. 6.6 - "arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem" - deve ser interpretado à luz de Nm. 23.19 - Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa". Do mesmo modo cf. 1 Sm. 15.11 com I5.29. A imutável santidade de Deus requer que ele trate o ímpio de modo diferente do justo. Quando o justo se torna ímpio, o seu tratamento para com ele deve mudar. O sol não é inconstante ou parcial porque derrete a cera, mas endurece o barro; a mudança não está no sol, mas nos objetos sobre os quais ele brilha. Descreve-se de um modo antropomórfico a mudança no tratamento divino para com o homem, como se a mudança se operasse em Deus; outras passagens em conjunção perfeita com a primeira que foi dada para corrigir qualquer possível falsa interpretação. As ameaças não cumpridas, como em Jn 3.4,10 devem ser explicadas através da sua natureza condicional. Daí a própria imutabilidade de Deus torna certo que o seu amor se adapta a cada modo variante ou condição dos seus filhos, na direção dos passos deles, a simpatia para com as suas mágoas, respostas às suas orações. Deus responde mais rapidamente que o rosto materno se muda diante do seu bebê. Godet, em The Atonement, 338 - "Deus é, dentre todos os seres o mais delicada e infinitamente sensível". A imutabilidade de Deus não é a da pedra, que não tem experiência interna, mas como a da coluna de mercúrio, que sobe e desce a cada mudança de temperatura na atmosfera ambiente. Quando o homem anda na bicicleta contra o vento em torno dele e vai com o vento em vez de ir contra ele, parece que o vento muda, apesar de que está soprando exatamente como antes. O pecador que luta contra o vento da graça preveniente até parece lutar contra um muro de pedra. A regeneração é uma conquista da nossa vontade por Deus através do seu poder e a conversão é a alteração e obra com Deus ao invés de contra Deus. É então que nos movemos sem esforço porque temos Deus à nossa retaguarda; Fp. 2.12, 13 - "Operai a vossa salvação ... porque é Deus quem opera em vós". Deus não mudou; nós é que mudamos; Jo. 3.8 - Ό vento sopra onde quer... assim é todo aquele que é nascido do Espírito". A primeira luta de Jacó com o anjo é um quadro da vontade própria da sua vida, em oposição a Deus; sua subseqüente luta em oração é o quadro de uma vontade consagrada, operando com Deus (Gn. 32.24-28). A impressão que se tem é que conquistamos Deus, mas a realidade é que Deus nos conquista. Tem-se a impressão de que Deus muda, mas nós é que mudamos.
Teologia Sistemática (Strong) 514 c) Como descrevendo, no tempo, execuções dos propósitos existentes na mente de Deus. Não se deve confundir imutabilidade com imobilidade. Isto negaria toda a vontade imperativa de Deus através da qual ele entra na história. As Escrituras garantem-nos que a criação, os milagres, a encarnação, a regeneração são atos imediatos de Deus. A imutabilidade é consistente coma atividade constante e a liberdade perfeita. A abolição da dispensação mosaica não indica mudança no plano de Deus; ao invés disso é a execução do seu plano. A vinda e a obra de Cristo não foram um súbito expediente paliativo, para remediar falhas imprevistas no esquema do Velho Testamento: ao invés disto, Cristo veio na "plenitude dos tempos" (Gl. 4.4) para cumprir o "conselho" de Deus (At. 2.23). Gn. 8.1 – "lembrou-se Deus de Noé" = interpondo, através de um ato especial em favor do livramento de Noé, mostrou que ele se lembrava de Noé. Apesar de nós mudarmos, Deus não muda. Não há volubilidade ou inconstância nele. Onde nós o encontramos, continuamos ainda a encontrá-lo, como Jacó em Betel (Gn. 35.1,6,9). A imutabilidade é uma consolação para o fiel, mas um terror para os inimigos de Deus (Ml. 3.6 - "eu, o Senhor, não mudo; por isso, ó filhos de Jacó, não sois consumidos"; SI. 7.11 - "um Deus que se ira todos os dias"). Isto é consistente com a constante atividade na natureza e na graça (Jo. 5.17 - "Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também"; Jó 23.13,14 - "se ele resolveu alguma coisa, quem o pode dissuadir? Porque ele cumprirá o que está ordenado e muitas coisas como estas ainda tem consigo"). Se a imutabilidade de Deus fosse imobilidade, não poderíamos adorá-lo como os gregos adoravam o Fado. Arthur Hugh Clough: "Fortifica a minha alma para saber que, apesar de que eu pereço, a verdade é esta: Ainda que eu me desvie e vagueie, faça eu o que fizer, tu não mudas. Apresso o passo quando lembro que, se escorregar, tu não cais".
3. Unidade Significa: a) que a natureza divina não é dividida e é indivisível (unus); e b) que há um só Espírito infinito e perfeito (unicus).
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Dt. 6.4 - Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor"; Is. 44.6 - "fora de mim não há Deus"; Jo. 5.44 - "do Deus único"; 17.3 - "único Deus verdadeiro"; 1 Co. 8.4 - "não há outro Deus senão um só"; 1 Tm. 1.17 "ao único Deus"; 6.15 - "e único Senhor"; Ef. 4.5,6 - "um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos". Quando lemos Mason, Faith of the Gospel, 25 - "A unidade de Deus não é numérica, negando a existência de um segundo; é integral, negando a possibilidade de divisão", respondemos que a unidade de Deus é ambos; inclui tanto elementos numéricos como integrais. Humboldt, Cosmos, assinalou que a unidade e a atuação criativa do Pai celestial deu unidade à ordem da natureza e deste modo forneceu o impulso para a ciência física moderna. A nossa fé num "universo" apóia-se historicamente na demonstração da unidade de Deus dada pela encarnação e morte de Cristo. Tennyson, In Memoriam: "Esse Deus que sempre vive e ama, Deus único, uma lei, um elemento, e distante do evento divino a que a criação toda se move". Alexander McLaren: Os pagãos têm muitos deuses e nenhum que satisfaça os famintos corações ou corresponda aos seus inconscientes ideais. A plenitude não é alcançada unindo fragmentos. O sábio mercador trocará alegremente um saco abarrotado de boas pérolas por uma de grande preço. Felizes os que desprezam muitas para adquirir Uma"!
Contra o politeísmo, o triteísmo ou o dualismo argumentamos que a noção de dois ou mais deuses é autocontraditória; visto que um limita o outro e destrói sua divindade. Na natureza das coisas, a infinitude e perfeição absolutas são possíveis só a um. É antifilosófico, contudo, admitir a existência de dois ou mais deuses, já que um explica todos os fatos. A unidade de Deus, contudo, não é de modo algum inconsistente com a doutrina da Trindade; pois, enquanto esta doutrina sustenta a existência das distinções hipostáticas, ou pessoais na natureza divina, também sustenta que esta natureza divina é numérica e eternamente uma. O politeísmo é uma tentativa de livrar-se da noção de responsabilidade para com um legislador moral e juiz, dividindo as suas manifestações e
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atribuindo-as a vontades separadas. Deste modo, a Força, na terminologia de alguns teoristas, é tão somente um Deus sem os seus atributos morais. "O henoteísmo", diz Max Müller, Origin and Growth of Religion, 285, "concebe cada deus individualmente ilimitado pelo poder dos outros deuses. Sente-se cada um, no tempo, como supremo e absoluto, não obstante as limitações que, para as nossas mentes, surgem do seu poder condicionado ao poder de todos os deuses". Mesmo o politeísmo não pode apoiar-se na doutrina dos muitos deuses como uma explicação do universo exclusiva e de total explicação do universo. Os gregos criam num Fado supremo que dirigia tanto os deuses como os homens. Aristóteles: Deus, apesar de ser um, tem muitos nomes, porque ele é chamado segundo os estados nos quais ele está sempre se encontrando novamente. A doutrina da unidade de Deus deve ensinar o homem a abandonar a esperança em qualquer outro Deus, que se revele a eles ou os salve. Eles estão nas mãos de um só Deus e, por isso, há uma só lei, um evangelho, uma salvação; uma doutrina, um dever, um destino. Não podemos nos livrar da responsabilidade chamando-nos de mero amontoado de impressões ou meras vítimas das circunstâncias. Como Deus é um, assim a alma feita à imagem de Deus também é uma. Moberly, Atonement and Personality, 83 - "O Alfa e o Ômega, o começo e o fim e a súmula e o sentido do Ser, é apenas Um. Nós, que cremos num Deus pessoal, não cremos num Deus limitado. Não queremos dizer mais um, um tipo maior de existência entre as existências. Em vez disso, queremos dizer que a realidade da existência em si mesma é pessoal: esse Poder, essa Lei, essa Vida, esse Amor, por fim, em sua realidade, identificado como um supremo e, de um modo necessário, é uma existência pessoal. Ora, esse Ser supremo não é múltiplo: é incapaz de pluralizar-se: não pode ser um termo genérico. Não pode haver mais do que um de alcance total, mais do que um último, mais do que um Deus. O pensamento cristão não tem, em qualquer ponto, ou qualquer momento ousado ou suportado a mínima abordagem a tal pensamento ou expressão como esta: 'dois Deuses'. Se o Pai é Deus e o Filho é Deus, eles são integralmente o mesmo Deus, sem reservas. A palavra Deus é um termo particular, único e geral. Cada um não só é Deus, mas é o mesmo 'singularis unicus et totus Deus'. Eles não são dois genericamente Deuses, apesar de que a palavra
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Deus' pode ser um atributo ou um predicativo; mas ambos identicamente Deus, o Deus, de total alcance, indivisível. ... Se o pensamento que deseja ser ortodoxo tivesse menos tendência de tornar-se triteísta, o pensamento que reivindica ser livre seria menos unitário".
Terceira Divisão - Perfeição e os atributos por ela envolvidos Perfeição não é simples plenitude quantitativa, mas excelência qualitativa. Os atributos que a perfeição envolve são morais. A ação correta entre os homens pressupõe uma organização moral perfeita, um estado normal do intelecto, do sentimento e da vontade. Assim a atividade de Deus pressupõe um princípio de inteligência, sentimento e vontade em seu mais íntimo ser e a existência de um objeto digno de cada uma destas forças da sua natureza. Mas no passado da eternidade nada há que exista fora ou separado de Deus. Ele deve achar, e acha mesmo o suficiente objetivo do intelecto, do sentimento e da vontade em si mesmo. Há um conhecimento próprio, um amor próprio e uma vontade própria que constituem sua perfeição absoluta. Conclui-se com propriedade a consideração dos atributos imanentes, portanto, com o relato daquela verdade, amor e santidade que entendem Deus inteiramente suficiente a si mesmo. Mt. 5.48 - "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai, que está nos céus"; Rm. 12.2 - "perfeita vontade de Deus"; Cl. 1.28 - "perfeito em Cristo"; cf. Dt. 32.4 - "Rocha cuja obra é perfeita"; SI. 18.30 - Ό caminho de Deus é perfeito".
1. Verdade É o atributo da natureza divina em virtude do qual o ser de Deus e o conhecimento de Deus conformam-se eternamente um com o outro. Para maior explicação assinalamos:
Teologia Sistemática (Strong) 518 A) Negativamente: a) A verdade imanente de Deus não deve ser confundida com a veracidade e fidelidade que em parte a manifestam às criaturas. Estas são verdades transitivas e pressupõe o atributo absoluto e imanente. Dt. 32.4 - "Deus é fidelidade e nele não há injustiça; é justo e reto"; Jo. 17.3 - "conheçam a ti só por único Deus verdadeiro" (άληθινόν); 1 Jo. 5.20 "conhecermos o que é verdadeiro" (τον άληθινόν). Nestas duas passagens αληθινός descreve Deus como o genuíno, o real, distinto de αληθής, ο veraz (compare Jo. 6.32 - "o verdadeiro pão"; Hb. 8.2 - "o verdadeiro tabernáculo"). Jo. 14.6 - "Eu sou ... a verdade". Como "Eu sou ... a vida" não significa "eu sou um ser vivente", mas "eu sou aquele que é a vida e a fonte da vida", do mesmo modo "eu sou ... a verdade" não significa "eu sou o verdadeiro", mas "eu sou aquele que é a verdade e a fonte da verdade"; a saber, a verdade do ser, não simplesmente a verdade da expressão. Verdade é Deus perfeitamente revelado e conhecido. Pode assemelhar-se à corrente elétrica que manifesta e mede a força do dínamo. Não existe o reino da verdade sem a base do mundo, como não há lei da natureza sem o seu autor. Enquanto conhecemos a nós mesmos só em parte, Deus conhece a si mesmo totalmente. John Caird, Fund Ideas of Christianity, 1.192 -"Na vida de Deus não existem possibilidades não realizadas. A pressuposição de todo o nosso conhecimento e atividade é a absoluta e eterna unidade do conhecimento e do ser que é tão somente a outra expressão da natureza de Deus. Em certo sentido, ele é toda a realidade, enquanto toda a existência finita é apenas um tornar que nunca é". Lowrie, Doctrine of St. John, 57-63 -"Verdade é realidade revelada. Jesus é a verdade porque nele apresenta-se e revela-se ao mundo a súmula das qualidades ocultas em Deus; a natureza de Deus em termos de força e relacionada com a sua criação racional". Contudo, esta definição ignora o fato de que Deus é verdade independente e anteriormente a toda a criação. Por ser um atributo imanente, a verdade implica uma conformidade do conhecimento de Deus com o ser de Deus, que antedata o universo.
b) A verdade em Deus não é simplesmente um atributo da natureza divina. Deus é verdade, não só no sentido de que ele é o ser que
Teologia Sistemática (Strong) 519 verdadeiramente conhece, mas também no sentido de que ele é a verdade conhecida. O passivo precede o ativo; a verdade do ser precede a verdade do conhecer. Platão: "Verdade é o seu corpo (de Deus), e a luz a sua sombra". Hollaz (citado por Tomásio, Christi Person und Werk, 1.137 diz que "verdade é conformidade da essência divina com o intelecto divino". Ver Gerhard, Ioc. ii. 152; Kahnis, Dogmatik, 2.272, 279; 3.193 - "Distinguir em Deus a consciência pessoal própria [espiritualidade, pessoalidade - ver páginas 252,253] a partir do desdobramento deste no conhecimento divino, que não pode ter nenhum outro objetivo senão o próprio Deus. Ora, como o conhecimento de Deus é absolutamente idêntico ao ser, é absolutamente verdadeiro. Porque a verdade é o conhecimento que responde ao seu ser e o ser que responde ao conhecimento". Royce, World and Individual, 1.270 - "Verdade pode significar o que está em volta do que julgamos, ou pode significar a correspondência entre as nossas idéias e os seus objetivos. Srta. Clara French, The Dramatic Action and Motive of King John: "Você grafa a palavra Verdade com letra maiúscula, e faz dela uma existência independente a ser sondada e absorvida; mas, se a verdade não significar Deus, o que ela pode valer para o homem? É apenas uma pessoalidade que pode tocar uma pessoalidade". Deste modo concordamos com a declaração do poeta, que diz: "A Verdade, esmagada na terra, ressurgirá", porque só a verdade é pessoal. Cristo, o Revelador de Deus, é a Verdade. Ele não é tão somente um recurso, mas também o objeto de todo o conhecimento; Ef. 4.20 - "não aprendestes assim a Cristo" = conhecíeis mais do que a doutrina a respeito de Cristo; vós conhecíeis o próprio Cristo; Jo. 17.3 – "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem tu enviaste".
B) Positivamente: a) Toda a verdade entre os homens, quer matemática, lógica, moral, quer religiosa, deve ser considerada como tendo seu fundamento nesta verdade imanente da natureza divina como os fatos revelados no ser divino.
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Há uma mente mais elevada do que a nossa. Nenhum apóstolo pode dizer "eu sou a verdade", apesar de que cada um deles pode dizer "eu falo a verdade". A Verdade não é uma coisa científica ou moral, mas substancial "nicht Schulsache, sondem Lebensache". Eis aqui a dignidade da educação, que o conhecimento da verdade é o conhecimento de Deus. As leis da matemática nos são reveladas não simplesmente a partir da razão divina, porque isto implicaria a verdade fora e diante de Deus, mas da natureza divina. J. W. A. Stewart: "A ciência é possível porque Deus é científico". Platão: "Deus geometriza". Bowne: "Os céus são a matemática cristalizada". A afirmação de que dois mais dois são quatro, ou de que se recomenda a verdade e condena-se o vício, expressa um princípio eterno no ser divino. As afirmações separadas da verdade são inexplicáveis sem a revelação total da verdade, e esta revelação total é inexplicável sem Aquele que é a verdade e que se revela deste modo. As lâmpadas elétricas separadas em nossas ruas são inexplicáveis sem a corrente elétrica que passa pelos fios, e esta corrente elétrica também é inexplicável sem o dínamo escondido cuja força ele expressa e dimensiona. As luzes da verdade separadas se devem à atuação realizadora da obra de Cristo, o Logos divino; Cristo é aquele revelador único do que habita "na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu, nem pode ver" (1 Tm. 6.16). Prof. W. E. Webster começa as suas preleções "admitindo o Senhor Jesus Cristo e a tabuada de multiplicação". Mas isto é uma tautologia, porque o Senhor Jesus Cristo, a Verdade, o único revelador de Deus, inclui a tábua de multiplicação. Assim também Wendt, Teaching of Jesus, 1.257; 2.202, inadequadamente limita o escopo da revelação de Cristo quando sustenta que a verdade de Jesus não é a verdade que corresponde à realidade, mas, ao invés disso, à conduta reta que corresponde ao dever prescrito por Deus. "A graça e a verdade" (Jo. 1.17) significa o favor de Deus e a justiça que Deus aprova. É impossível entender Jesus sem eticamente ser semelhante a ele. Ele é o rei da verdade; nesta ele revela a justiça e encontra essa obediência a ela entre os homens. Este aspecto ético da verdade, replicaríamos, por ser importante, não exclui, mas, ao invés disso, requer como seu complemento e pressuposição esse outro aspecto da verdade como a realidade com a qual todo ser deve conformar-se e a conformidade de todo o ser com a referida realidade. Porque Cristo é a verdade de Deus, só somos bem sucedidos na busca da verdade quando o
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reconhecemos. "Todos caminhos conduzem a Roma" depende da direção que você toma. Siga um ponto da terra na direção do mar, e você só vai encontrar o oceano. Dando as costas a Cristo tudo o que se segue segundo a verdade conduz à névoa e às trevas. O homem ideal de Aristóteles era o "caçador da verdade". Mas a verdade nunca pode ser encontrada separada do amor, nem aquele que não tem o amor pode discerni-la. "Porque a amorosa minhoca que está dentro do seu torrão não é mais divina que o deus sem amor" (Robert Browning). É por isso que Cristo diz: Jo. 18.37 "Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz".
b) Portanto, este atributo constitui o princípio e garantia de toda a revelação enquanto mostra a possibilidade de uma eterna autocontemplação divina independente de toda a criação. Isto se deve entender só à luz da doutrina da Trindade. Contudo, uma grande escola de filósofos se opôs a toda esta doutrina. Duns Scotus sustentava que a vontade de Deus fez tanto a verdade quanto a justiça. Descartes dizia que Deus não pode ter considerado não verdadeiro o fato de que todos os raios de um círculo são iguais. Lorde Bacon dizia que o pecado de Adão consistia em procurar o bem em si mesmo ao invés de contentar-se somente com o bem empírico. Whedon, On the Will, 316 - "A sabedoria e a santidade infinitas consistem eternamente nas volições de Deus e nos seus resultados". Replicamos que, fazer a verdade e o bem simplesmente matéria da vontade, é negar que qualquer coisa seja verdadeira ou boa em si mesma. Se Deus pode fazer da verdade uma falsidade e da injustiça a justiça, então Deus é indiferente à verdade ou à falsidade, ao bem ou ao mal e, portanto, deixa de ser Deus. A verdade não é arbitrária; é matéria de ser; o ser de Deus. Não há nenhum princípio regulador do conhecimento que não seja também transcendental. Deus conhece e quer a verdade porque ele é a verdade. Robert Browning, A Soul's Tragedy, 214 - "Se não fosse por Deus, penso eu, que esperança de verdade - Falar verdade, ouvir verdade - o que seria do Homem?" A vontade de Deus não faz a verdade, mas a verdade faz a vontade de Deus. O conhecimento perfeito de Deus na eternidade passada tem um objetivo: o próprio Deus. Ele é a verdade conhecida, assim como o verdadeiro conhecedor. Mas o objetivo perfeito deve ser pessoal. A doutrina da
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Trindade é complemento necessário à doutrina dos atributos. Shedd, Dogm. Theol., 1.183 - "A coluna de nuvem converte-se em coluna de fogo". Sobre a questão se é justo enganar, ver Paine, Ethnic Trinities, 300339. Platão diz que o emprego de tais medicamentos deve restringir-se aos médicos. Os governantes do estado podem mentir para o bom público, mas o povo particular não: "officiosum mendacium". É melhor dizer que a mentira só é justificável onde a pessoa enganada, do mesmo modo que o animal selvagem, ou um criminoso, ou um inimigo na guerra, afastou-se da sociedade humana e privou-se do direito à verdade. Mesmo aí a mentira é uma triste necessidade que dá testemunho da condição dos negócios humanos. Com James Martineau, interrogado sobre que resposta ele daria se encontrasse um suposto assassino quando a verdade implicasse em morte, podemos dizer: "Acho que devo dizer uma inverdade e, depois disso, lamentar para sempre".
2. Amor Amor é o atributo da natureza divina em virtude do qual Deus é eternamente movido à autocomunicação. 1 Jo. 4.8 - "Deus é amor"; 3.16 - "nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós"; Jo. 17.24 - "tu me hás amado antes da criação do mundo"; Rm. 15.30 - "pelo amor do Espírito".
Para mais explicações assinalamos: A) Negativamente: a) O amor imanente de Deus não deve ser confundido com misericórdia e bondade para com as criaturas. Estas são suas manifestações e devem ser denominadas amor transitivo. Tomásio, Christi Person und Werk, 1.138, 139 - "A consideração de Deus pela felicidade das suas criaturas flui destes atributos autocomunicantes da sua natureza. No verdadeiro sentido da palavra, o amor é a viva boa vontade com impulsos de comunicação e união;
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autocomunicação (bonum communicavum sui); devoção que surge do ego num outro, para permear, encher, abençoar este outro consigo mesmo, e com este outro, como no eu do outro, a fim de que possua a si mesmo sem abandonar a si mesmo ou perder-se a si mesmo. Por isso, o amor só é possível entre pessoas e sempre pressupõe pessoalidade. Apenas como a Trindade tem o amor de Deus, amor absoluto; porque como Pai, Filho e Espírito Santo ele está em perfeita comunicação própria, devoção própria e comunhão consigo mesmo". Julius Müller, Doc. of Sin, 2.136 - "Deus tem em si mesmo o eterno e inteiramente adequado objeto do seu amor, independentemente do seu relacionamento com o mundo". Na mitologia grega, Eros é um dos mais velhos e ainda um dos mais jovens porque é um dos mais próximos dos deuses. Dante faz o mais velho dos anjos ser o mais jovem porque está mais próximo da fonte da vida. Em 1 Jo. 2.7, 8, "este mandamento antigo" do amor é sempre um "mandamento novo", porque reflete este eterno atributo de Deus. Clara Elizabeth Ward: "Se eu pudesse reunir cada olhar de amor que cada criatura humana emprega e todos os olhares alegres da mãe, todos os olhares pesarosos que os mortais têm e misturasse com a graça do Unigênito de Deus, suponho que veria o rosto do Salvador".
b) O amor não é um atributo ético totalmente inclusivo de Deus. Ele não inclui a verdade, nem a santidade. Ladd, Philosophy Conduct, 352, muito apropriadamente nega que a benevolência seja uma virtude toda inclusiva. A Justiça e a Verdade, assinala ele, não se reduzem à benevolência. Numa revisão da obra de Ladd em Bíblia Sacra, jan. 1903.185, C. H. Mead acrescenta: "Ele chegou à conclusão de que é impossível resolver todas as virtudes em geral no amor ou benevolência sem dar uma definição desta, que apresenta garantia e virtualmente anula o fim almejado ou deixa de reconhecer algumas virtudes que são tão genuínas como a própria benevolência. Particularmente argumenta-se que as virtudes da vontade (coragem, constância, temperança), e as virtudes do juízo (sabedoria, justeza, veracidade), não têm nenhum reconhecimento nesta tentativa de agrupar todas virtudes sob a do amor. Ά unidade das virtudes se deve à da pessoalidade nas relações ativas e variadas com outras pessoas' (361). Se benevolência significa
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querer felicidade para todos os homens, então ela se torna o bem último e aceita-se o eudemonismo como a verdadeira filosofia ética. Mas se, por outro lado, para evitar esta conclusão, a benevolência passa a significar desejar o mais elevado bem-estar para todos os homens, e concebe-se o mais elevado bem-estar como uma vida de virtude, então chegamos à conclusão inane de que a essência da virtude é querer que os homens sejam virtuosos".
c) Nem o amor de Deus é simples consideração pelo ser em geral sem relação com sua qualidade moral. Jonathan Edwards, em seu tratado On the Nature of Virtue, define esta como relativa ao ser em geral. Considera que o amor de Deus, antes de nada, dirige-se a si mesmo compreendendo a maior quantidade do ser, e só secundariamente dirige-se às suas criaturas cuja quantidade é infinitesimal comparada com a dele. Respondemos, porém, que o ser, em geral, é uma coisa muitíssimo abstrata para provocar ou justificar o amor. Charles Hodge dizia, com verdade, que, se a obrigação é o primeiro dever do ser em geral, então não há mais virtude no amor de Deus do que no amor de Satã. Sustentamos que a virtude não deve consistir no amor pelo ser em geral, mas no amor aos bons, isto é, por Deus como santo. O amor não tem valor moral a não ser que esteja sobre um objetivo justo e que seja proporcional ao mérito desse objeto. Ό amor ao ser em geral" torna a virtude uma coisa irracional porque não tem padrão de conduta. Ao invés disto, a virtude é o amor de Deus tão justo como a fonte da justiça. G. S. Lee, The Shadow-Cross, 38 - "Deus é amor e a lei é o meio como ele nos ama. Porém é verdade também que Deus é lei e o amor é o meio como ele nos governa". Clarke, Christian Theology, 88 - Ό amor é o desejo que Deus tem de dar de si, e deste modo dar todo o bem, às outras pessoas e adquiri-las para a sua própria comunhão espiritual". A intenção de comunicar-se a si mesmo é a de comunicar santidade e este é o "terminus ad quem" da administração de Deus. Drummond, Ascent of Man, mostra que o amor começou com a primeira célula viva. A evolução não é um conto de guerra, mas uma história de amor. Passamos gradualmente do egocentrismo para o altruísmo. A evolução é o objeto da natureza e o altruísmo é o objeto da evolução. Homem = nutrição, olhando para as suas
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próprias coisas; a mulher = reprodução olhando para as coisas alheias. Mas a maior destas é o amor. Os mamíferos = as mães que, no fim e no ponto mais alto cuidam dos outros. Como a mãe dá do seu amor, assim o pai dá da sua justiça. A lei, outrora latente, agora se torna ativa. O pai produz um tipo de consciência naqueles que dependem dele. A natureza, como Rafael, retrata uma Sagrada Família". Jacob Boehme: "Lança o teu coração aberto, lança-o para fora. Porque, se tu não exercitares o teu coração e o amor dentro dele, sobre cada ser humano que há no mundo, o teu amor próprio, o teu orgulho, a tua inveja, a tua aversão, a tua antipatia, ainda terão domínio sobre ti. ... No nome de Deus e na sua força, ama a cada ser humano. Ama a teu próximo como a ti mesmo e faze ao teu próximo o que tu fazes para ti. Ε faze-o já. Porque agora é o tempo aceitável e agora é o dia da salvação". Estas são expressões escriturísticas e valiosas desde que interpretadas eticamente e entendidas tendo em vista inculcar o supremo dever de amar o Santo, de ser santo como ele é santo e procurar pôr todos os seres inteligentes em conformidade com a santidade daquele que é Santo.
d) O amor de Deus não é simplesmente um sentimento emocional procedente do sentido ou do impulso nem é motivado por considerações utilitárias. Das duas palavras designativas de amor no N.T., φιλέω se refere a uma afeição emocional que não é, e nem pode ser, uma ordem (Jo. 11.36 "Vede como ele o amava!") enquanto αγαπάω expressa uma afeição racional e benévola que brota de uma escolha deliberada (Jo. 3.16- Deus amou o mundo"; Mt. 19.19 - "Amarás o teu próximo como a ti mesmo"; 5.44 "Amai os vossos inimigos"). Thayer, N. T. Lex., 653 - αγαπάν, "denota propriamente o amor fundamentado na admiração, na veneração, na estima, como no latim, diligere, estar bondosamente disposto para com alguém, querer bem a alguém; mas φιλείν denota uma inclinação sugerida pelo sentido, pela emoção, em latim amare. ... Daí dizer-se αγαπάν sobre o relacionamento para com Deus e não φιλείν". Nesta palavra αγάπη, quando empregada para Deus, já está implicado que Deus ama, não por causa do que ele possa obter, mas por aquilo que ele pode dar. A racionalidade do
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seu amor, contudo, envolve uma subordinação do elemento emocional a uma lei mais elevada do que ela mesma, a saber, a da santidade. Até o amor de Deus para consigo mesmo deve ter uma razão e norma na perfeição do seu próprio ser.
B) Positivamente: d) O amor imanente de Deus é um sentimento racional e voluntário baseado na razão perfeita e na escolha deliberada. Ritschl, Justification and Reconciliation, 3.277 - "Amor é vontade, tendo como alvo a apropriação do objeto, ou o enriquecimento da sua existência por ser movido por um sentimento do seu mérito. ... O amor destina-se a pessoas; é uma vontade constante; tem como alvo a promoção do fim pessoal de um outro, conhecido ou conjeturado; eleva o fim pessoal do outro e faz dele parte de si mesmo. A vontade, como o amor, não abandona a si mesma por causa do outro; seu alvo é o mais estreito companheirismo com o outro em benefício de um fim comum". A. H. Strong, Christ in Creation, 388-405 - "O amor não é, com justiça, independente das faculdades da outra pessoa, mas está sujeito a um regulamento e controle. ... Às vezes dizemos que a religião consiste no amor.... Seria mais estritamente verdadeiro dizer que ela consiste numa nova direção do nosso amor, uma mudança da correnteza na direção de Deus, a qual flui para si mesmo.... O cristianismo retifica os sentimentos, outrora excessivos, impulsivos, ímpios; dá-lhes objetivos dignos e imortais, regula a intensidade deles na devida proporção ao valor das coisas sobre as quais se apóia e ensina os verdadeiros métodos das suas manifestações. Na verdadeira religião, o amor forma uma co-participação com a razão. ... O amor de Deus não é uma torrente de emoção arbitrária, selvagem, apaixonada ... e tomamo-nos semelhantes a Deus, submetendo nossas emoções, simpatias, sentimentos ao domínio da razão e da consciência".
b) Porque o amor de Deus é racional, envolve uma subordinação do elemento emocional até uma lei mais elevada do que ele mesmo, a saber, o da verdade e santidade.
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Fp. 1.9 - "E peço isto: que o vosso amor aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento". O verdadeiro amor entre os seres humanos ilustra o amor de Deus. Ele se mistura com um ser amado ao invés de fazer do outro um apêndice de si. Busca o verdadeiro bem do ser amado, não simplesmente a recompensa ou vantagem. Seu objetivo é realizar a idéia divina no ser amado e, por isso, exercido por amor de Deus e no poder que Deus concede. Em conseqüência é um amor em razão da santidade. Deste modo o amor de Deus leva em conta os mais elevados interesses e faz um sacrifício infinito para garanti-los. A fim de salvar o mundo de pecadores, Deus "não poupou o seu próprio Filho, antes o entregou por todos nós" (Rm. 8.32) e "o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós" (Is. 53.6). O amor exige uma regra ou padrão de regulamentação. Esta regra ou este padrão é a santidade de Deus. Mais uma vez vemos que o amor não pode incluir a santidade, porque está sujeito à lei desta. O amor só deseja o melhor para o objeto amado e o melhor é Deus. A regra áurea não nos determina dar o que os outros desejam, mas o que eles precisam: Rm. 15.2 - "cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para a edificação".
c) Portanto, o amor imanente de Deus requer e acha um perfeito padrão em sua própria santidade e objeto pessoal à imagem de suas próprias perfeições infinitas. Deve ser entendido só à luz da doutrina da Trindade. Como há uma Mente maior do que a nossa, do mesmo modo há um Coração maior do que o nosso. Deus não é apenas aquele que ama; ele é também o Amor que é amado. Há uma vida infinita de sensibilidade e de afeição em Deus. Deus tem sentimento e em grau infinito. Mas só sentimento não é amor. O amor não implica somente receber, mas dar; não somente emoção, mas entrega. Mostra-se assim o amor de Deus em sua doação eterna. Tg. 1.5 -"Deus que dá", ou "Deus doador" (του δίδοντος θεού) = doação não é um episódio no seu ser - dar é a sua natureza. Ε não só dar, mas dar a si mesmo. Isto acontece eternamente na comunicação de si mesmo na Trindade; isto ele faz transitivamente, e temporariamente ao entregar-se em nosso benefício na pessoa de Cristo, e a nós na pessoa do Espírito Santo.
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Jonathan Edwards, Essays on Trinity, (ed. G. P. Fisher), 79 - Ό fato de que em João, Deus é amor mostra que há mais do que uma pessoa na divindade, pois mostra que o amor é essencial e necessário à divindade, de sorte que a sua natureza consiste nela, o que leva a supor que há um objeto eterno e necessário, porque todo amor se relaciona com outro que é amado. Para o apóstolo, amor significa algo além do que vulgarmente se chama amor-próprio, que impropriamente é chamado amor e que é de natureza muito diferente do sentimento ou virtude do amor de que o apóstolo está falando". Quando Newman Smith, Christian Ethics, 226-239, considera o amor a primeira característica da auto-afirmação e quando Dorner, Christian Ethics, 73, faz da auto-afirmação parte essencial do amor, estão violando o emprego lingüístico ao incluir sob a palavra amor o que apropriadamente pertence à santidade.
d) O amor imanente de Deus constitui a base da bem-aventurança divina. Porque há um objetivo do amor infinito e perfeito assim como do conhecimento e vontade na natureza a existência do universo não é necessária à sua serenidade e alegria. A bem-aventurança não é por si mesma um atributo divino; ao invés disto é o resultado do exercício dos atributos divinos. É um resultado subjetivo deste exercício do mesmo modo em que a glória é um resultado objetivo. As faculdades perfeitas com os objetos perfeitos para o seu exercício garantem a felicidade de Deus. Entretanto, o amor é de um modo especial a sua fonte. At. 20.35 - "Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber". Felicidade (inglês happiness [hap, happen = ocorrer, acontecer]) baseia-se nas circunstâncias; a bem-aventurança, no caráter. O amor precede a criação e é a sua base. Por isso o seu objeto não pode ser o universo porque ele não existe e, se não existia, não podia ser o apropriado objeto do amor de um Deus infinito. O único objeto do seu amor é a imagem da sua própria perfeição, porque só ela é igual a ele mesmo. Upton, Hibbert Lectures, 264 - De um modo mais verdadeiro o homem realiza a sua própria natureza quando ele é dirigido pelo amor racional, que se esquece de si mesmo. Ele não pode ajudar a inferir que a coisa mais elevada na consciência do indivíduo é o elemento dominante em toda a
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extensão do universo". Podemos aqui concordar, se nos lembrarmos de que não o próprio amor, mas o que é amado deve ser o elemento dominante e veremos que não é o amor, mas a santidade. Jones, Robert Browning, 219 - Para Browning, o amor é o conceito mais elevado, mais rico que o ser humano pode formar. É a nossa idéia daquilo que é perfeito; nem mesmo podemos imaginar algo melhor. A idéia de evolução explica necessariamente o mundo como a volta do mais elevado para si mesmo. O universo volta para o seu limite. ... Potencialmente tudo é espírito e todos os fenômenos do mundo são manifestações do amor.... A emanação direta do mais íntimo ser de Deus não é a razão do homem, mas o homem". (345) Browning deveria ter aplicado à verdade e à santidade o mesmo princípio que ele reconheceu a respeito do amor. Mais gratos nos sentimos em aceitar os seus ditos: "Aquele que criou o amor não ama? ... Deus! Tu és o amor! Nisto edifico a minha fé".
e) O amor de Deus envolve também a possibilidade do sofrimento divino e o sofrimento por causa do pecado que a santidade necessita da parte de Deus é em si a expiação. Cristo é "o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo" (Ap. 13.8); 1 Pe. 1.19,20 - "com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, noutro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo". Enquanto a santidade requer expiação, o amor a prove. A felicidade de Deus é consistente com a tristeza da miséria humana e do pecado. Deus é passível ou capaz de sofrimento. A permissão do mal moral no decreto da criação foi custosa para Deus. A Escritura atribui-lhe emoções de pesar e ira contra o pecado humano (Gn. 6.6 - "pesou-lhe em seu coração"; Rm. 1.18 - "a ira de Deus"; Ef. 4.30 - "Não entristeçais o Espírito Santo de Deus"); doloroso sacrifício na entrega de Cristo (Rm. 8.32 -"nem mesmo a seu próprio filho poupou"; cf. Gn. 22.16 - "não negaste o teu filho") e a participação no sofrimento do seu povo (Is. 63.9 - "em toda angústia deles foi ele angustiado"); Jesus Cristo em sua tristeza e simpatia, lágrimas e agonia, é o revelador dos sentimentos de Deus para com a raça e somos estimulados a seguir os seus passos, para
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sermos perfeitos, como perfeito é o Pai que está no céu. Na verdade, não podemos conceber amor sem sacrifício próprio, nem sacrifício próprio sem sofrimento. Parece, então, como a imutabilidade é inconsistente com as volições imperativas na história humana, do mesmo modo a felicidade de Deus pode ser consistente com as emoções de tristeza. Mas será que Deus sente, na proporção da sua grandeza, como a mãe sofre mais do que o filho doente de quem ele cuida? Será que Deus sofre infinitamente a cada sofrimento das suas criaturas? Devemos lembrar que Deus é infinitamente maior que a sua criação e que vê todo o pecado humano e sofrimento como parte do seu grande plano. Só temos o direito de atribuir-lhe só tal passibilidade quando ela é consistente com a infinita perfeição. Combinando a passibilidade com a felicidade, então, concordaremos com que a felicidade seja o elemento controlador, porque a nossa idéia fundamental de Deus é a da perfeição absoluta. Martensen, Dogmatics, 101 - "Esta limitação é devorada no interior da perfeição que Deus vive, em independência total da sua criação e numa perspectiva triunfante do cumprimento dos seus grandes desígnios. Por isso podemos dizer com os velhos escritores teosóficos: 'Nas câmaras exteriores está a tristeza, mas nas interiores o gozo não confuso'". Cristo foi "ungido com óleo de alegria mais do que os seus companheiros" e "pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz" (Hb. 1.9; 12.2). O amor se regozija mesmo na dor, quando esta faz bem aos amados. "O eterno brilho do sol se estabelece à sua cabeça embora as nuvens circundantes que se espalham rondem a sua base". Na George Adam Smith's Life, 11, Drummond clama por ouvir as confissões dos homens que vêm a ele: "Sinto-me doente com os pecados destes homens! Como é que Deus agüenta?" Simon, Reconciliation, 338343, mostra que, antes da encarnação, o Logos sofria por causa dos pecados dos homens. Contudo, este sofrimento foi verificado e contrabalançado por sua consciência como um fator da divindade e pelo nítido conhecimento de que os próprios homens são a causa de tal sofrimento. Depois da sua encarnação, ele sofreu sem saber de onde veio todo o sofrimento. Tinha uma vida subconsciente em que se entrelaçavam elementos devidos à conduta pecaminosa da raça cuja energia foi extraída dele mesmo e em acréscimo uniu-se a ela. Se isto é limitação, é também
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autolimitação que Cristo poderia ter evitado deixando de criar, preservar e redimir a humanidade. Nós nos alegramos em entregar a filha a um casamento apesar de que isto resulte em dor. A mais elevada felicidade do cristão coincide com a agonia pelas almas dos outros. Participamos da alegria de Cristo só quando conhecemos a comunhão dos seus sofrimentos. Gozo e tristeza podem coexistir, como o fogo grego, que queima sob a água. Abbé Gratry, La Morale et la Loi de l'Histoire, 165,166 - O quê! Você realmente supõe que o Deus pessoal, livre e inteligente, que ama e é bom, que conhece cada pormenor da tortura humana e ouve cada suspiro - este Deus que vê, que, como nós, ama, e o faz mais do que nós - você crê que ele está presente e sem piedade olha para o que quebranta o seu coração e, o que para ele deve ser o espetáculo de Satanás revelado no sangue da humanidade? A história nos ensina que deste modo os homens sentem pelos sofredores que eles foram tirados para morrer com eles de sorte que os seus executores se tornaram os próximos mártires. Ε ainda você representa Deus, a bondade absoluta, apenas como impassível? Aí é que entra a nossa fé evangélica. O nosso Deus se fez homem para sofrer e morrer! Sim, eis aqui o verdadeiro Deus. Desde o princípio ele sofreu em todos que sofreram. Ele teve fome em todos que tiveram fome. Ele foi imolado em todos e com todos que ofereceram as suas vidas. Ele é o Cordeiro desde a fundação do mundo". Do mesmo modo Alexander Vinet, Vital Christianity, 240, assinala que, Ό Deus sofredor não é somente o ensino dos teólogos modernos. É o pensamento de um Novo Testamento e é alguém que responde todas as dúvidas que surgem à vista do sofrimento humano. Saber que Deus está sofrendo torna esse sofrimento mais terrível, porém dá força e vida e esperança, pois sabemos que, se Deus está nele, o sofrimento é a estrada da vitória. Ele participa do nosso sofrimento e nós participaremos a sua coroa", e podemos dizer com o salmista, 68.19 "Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos cumula de benefícios; o Deus que é a nossa salvação", e com Is. 63.9 - "Em toda angústia deles foi ele angustiado e o Anjo da sua presença os salvou". Borden P. Bowne, Atonement "Algo como esta obra da graça é uma necessidade da graça para com a obra de Deus. Terrível a responsabilidade lançada com as suas temíveis possibilidades do bem e do mal. Por isso Deus se submete à obrigação infinita de cuidar da sua família humana; e as
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reflexões sobre a sua posição como criador e governador, em vez de remover só tornam mais patente esta obrigação. Enquanto concebermos Deus sentado separado na tranqüilidade suprema e satisfação própria, ele não é, afinal de contas, amor, mas tão somente um reflexo do nosso egoísmo e vulgaridade. Enquanto o concebemos como doador de bênçãos sobre nós por causa da sua plenitude infinita, mas sem custar nada de real para si mesmo, ele mergulha a um nível inferior ao dos heróis da nossa raça. Sempre é possível um pensamento mais elevado, até que vejamos Deus tomando o mundo sobre o seu coração, comungando com a nossa tristeza, e tornando-se o portador do nosso supremo fardo e líder no sacrifício próprio. Só então as possibilidades da graça e da condescendência e do amor e do heroísmo se enchem de modo que não haja nada de mais elevado. Ε a obra de Cristo, enquanto um evento histórico, deve ser vista não simplesmente como uma peça da história, mas também como uma manifestação daquela cruz oculta no amor divino desde a fundação do mundo e que está envolvida na existência do mundo todo". Royce, Spirit of Modem Philosophy, 264 - "A eterna resolução de que, se o mundo há de ser trágico, ainda será, apesar de que Satanás, um ser espiritual, é a própria essência do gozo desse Espírito do Mundo de cuja sabedoria a nossa é apenas um reflexo fragmentário. ... Quando você sofre, os seus sofrimentos são de Deus; não a sua obra exterior, nem a sua pena externa, nem o fruto da sua negligência, mas de modo idêntico a sua dor pessoal. Em você o próprio Deus sofre, exatamente como você, e tem toda a razão que você tem para vencer esta mágoa". Henri Ν. Dodge, Christus Victor. "Ó tu, que, desde a eternidade, sobre o teu coração ferido, suportas cada dor lancinante e grito de miséria em que o nosso coração humano se dilacera, na dolorosa cruz teu amor, fanal do tempo, arde, sempre compartilhando a dor e a perda em cada ser humano em todo o lugar. Quão grande, quão grande sacrifício, indo e vindo os séculos, esperando-o até que o sacrifício retire o último gélido e tardio coração!"
3. Santidade Santidade é a pureza auto-afirmada. Em virtude deste atributo da sua natureza, Deus eternamente quer e mantém sua excelência moral.
Teologia Sistemática (Strong) 533 Esta definição contém três elementos: primeiro, pureza; segundo, vontade de pureza; terceiro, vontade de pureza em si mesma. Êx. 15.11 - "glorificado em santidade"; 19.10-16 - o povo de Israel deve purificar-se antes de vir à presença de Deus; Is. 6.3 - "Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos" - note o contraste com os lábio impuros, que devem ser purificados com uma brasa tirada do altar (v. 5-7); 2 Co. 7.1 "purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus"; 1 Ts. 3.13 - "irrepreensíveis em santidade"; 4.7 -"Deus não nos chamou para a imundícia, mas para a santificação"; Hb. 12.29 - "o nosso Deus é um fogo consumidor" - de toda a iniqüidade. Estas passagens mostram que a santidade se opõe à impureza e que santidade é pureza. O desenvolvimento do conceito de santidade na história hebraica era, sem dúvida, gradual. No começo pode ter incluído pouco mais do que a idéia de separação de tudo o que é comum, pequeno e fraco. A limpeza física e a aversão pelo mal moral foram elementos adicionais que, com o tempo tornaram-se dominantes. Contudo devemos lembrar que o sentido próprio de um termo deve ser determinado não pelo uso primitivo mas pelo recente. A natureza humana é ética desde o começo e procura expressar o pensamento de uma regra ou padrão de obrigação e de um Ser justo que impõe essa regra ou padrão. Aos primeiros conceitos de majestade e separação que se ligam à apreensão da divindade na infância da raça mistura-se ao menos um certo sentido do contraste entre a pureza de Deus e o pecado do homem. O homem menos desenvolvido tem uma consciência que condena algumas formas de cometer erro, e causa um sentimento de separação entre o poder e os poderes superiores. A contaminação física torna-se um símbolo natural do mal moral. Investem-se lugares e vasos e ritos de dignidade associada com a divindade ou consagrada a ela. O fato de que só aos poucos esse conceito de santidade purifica-se dos elementos estranhos e não essenciais e recebe expressão plena só na revelação do Novo Testamento e especialmente na vida e obra de Cristo não nos deve cegar sobre o fato de que os germes da idéia estão bem atrás, no começo da existência do homem na terra. Mesmo aí o sentido de erro interior teve como seu correlato uma justiça exterior obscuramente
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reconhecida. Tão logo o homem conhece a si mesmo como um pecador, passa a conhecer algo da santidade do Deus que ele ofendeu. Por isso devemos abrir exceção à nota de Schurman, Belief in God, 231 "Provavelmente os primeiros deuses não eram seres morais", pois o próprio Schurman já havia dito: "Um Deus sem caráter moral na realidade não é Deus". Dillmann, O. T. Theology, com muita propriedade, faz do pensamento fundamental da religião do A.T. não a unidade ou a majestade de Deus, mas a sua santidade. Só isto forma a base ética da revelação e da lei. E. G. Robinson, Christian Theology - Ό único objetivo do cristianismo é a santidade pessoal. Mas este será o objetivo que absorve e atinge o homem só quando este reconhece ser o atributo proeminente em Deus. Daí tudo o que é divino é santo - o templo, as Escrituras, o Espírito". O desenvolvimento da idéia de santidade assim como da idéia de amor foi preparado antes do advento do homem. A. H. Strong, Education and Optimism: "Houve tempo quando a história passada da vida sobre o planeta parecia a de carnificina sem coração e cruel. A sobrevivência do mais adequado teve como o outro lado da moeda a destruição de miríades. A natureza tinha o dente vermelho e garras de ravina'. Porém o pensamento mais tarde mostrou que este ponto de vista sombrio resulta de uma indução parcial dos fatos. A vida paleontológica foi marcada não só por uma luta pela vida, mas por uma luta pela vida dos outros. O começo do altruísmo deve ser visto no instinto de reprodução e no cuidado dos filhos. Em cada cova de leões e toca dos tigres, na provisão de alimentos da águia para com os filhotes, há um sacrifício que palidamente mostra a subordinação dos interesses do homem aos interesses dos outros. Mas, nas priscas eras do homem, pode ser encontrada a justiça numa forma incipiente como também o amor numa forma incipiente. A luta pela vida própria tem seu lado moral do mesmo modo que a luta pela vida dos outros. O instinto de autopreservação é o princípio do direito da retidão, da justiça e da lei terrena. Cada criatura tem o dever diante de Deus de preservar o seu próprio ser. Deste modo podemos achar um esboço da moralidade até mesmo na luta predatória e exterminadora das eras geológicas. O Deus imanente estava preparando o caminho para o direito, a dignidade, a liberdade do ser humano'. E, podemos acrescentar, estava preparando o caminho para o entendimento do seu próprio atributo fundamental da santidade pelos homens.
Teologia Sistemática (Strong) Para maior explicação assinalamos que:
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A) Negativamente, a santidade não é: d) Justiça ou pureza exigindo a pureza das criaturas. Justiça, atributo relativo ou transitivo, na verdade é a manifestação e expressão do atributo imanente da santidade, mas não deve ser confundido com ele. Quenstedt, Theol., 8.1.34, define santidade como "summa omnisque labis expers in Deo puritas, puritatem debitam exigens a creaturis" definição de santidade transitiva, ou justiça, em vez do atributo imanente. Is. 5.16 – "O Senhor dos exércitos será exaltado em juízo, e Deus, o santo, será santificado em justiça" = a justiça é somente a santidade de Deus em sua atividade judicial. Apesar de que a santidade normalmente é um termo de separação e expressa a oposição inerente de Deus a todo o que é pecador, também é empregada como um termo de união, como em Lv. 11.44 - "serei santos porque eu sou santo". Quando Jesus voltou do encontro com o moço rico (Mc. 10.23) ele ilustrou a primeira; Jo. 8.29 ilustra a segunda: "aquele que me enviou está comigo". Lowrie, Doctrine of St. John, 51-57 - " 'Deus é luz' (1 Jo. 1.5) indica o caráter de Deus, pureza moral revelada, produzindo gozo e vida, em contraste com as más obras, andando nas trevas, num estado de perdição". A consciência humana universal é em si mesma uma revelação da santidade de Deus e a reunião do sofrimento em todo o lugar com o pecado é a revelação da justiça de Deus. A cólera, a ira, o ciúme de Deus mostram que esta reação da natureza de Deus é necessária. A própria natureza de Deus é santa, justa e boa. A santidade não é substituída pelo amor, como sustenta Ritchl, visto que não há nenhuma doação própria sem autoafirmação. A santidade não demanda apenas lei, mas concede o Espírito Santo. Santayana, Sense of Beauty, 69 - "Se a perfeição é a justificação última do ser, podemos entender a base da dignidade moral do belo. O belo é um penhor da possível conformidade entre a alma e a natureza e, conseqüentemente a base da fé na supremacia do bem". Contudo, consideramos a natureza apenas como o símbolo e expressão de Deus e, deste modo, consideramos o belo como a base da fé na sua soberania. Há mais verdade a respeito do que Santayana diz sobre o belo com relação à
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santidade. Em qualquer lugar que o vemos, reconhecemos nele um penhor da possível conformidade entre a alma e Deus e, conseqüentemente, a base da fé na supremacia de Deus.
b) Santidade não é um termo complexo designativo do conjunto das perfeições divinas. Por outro lado, a noção de santidade é, tanto na Escritura como na experiência cristã, perfeitamente simples e perfeitamente distinta dos outros atributos. Dick, Theol., 1.275 - Santidade = veneração, i.e., "nenhum atributo particular, mas o caráter geral de Deus que resulta dos atributos morais". Wardlaw chama a santidade de união de todos atributos, como a pura luz branca é a união de todos os raios coloridos do espectro (Theology, 1.618634). H. W. Beecher: "Santidade = totalidade". A abordagem desta concepção é a definição de W.N. Clarke, Christian Theology, 83 - "Santidade é a gloriosa plenitude da bondade de Deus, consistentemente sustentada como o princípio da sua própria ação e o padrão para as suas criaturas". Isto implica, segundo o Dr. Clarke: 1. O caráter interior da sua bondade; 2. O caráter como princípio consistente da sua própria ação; 3. A bondade que é o princípio da sua própria ação é o padrão da deles". A saber; santidade é 1. caráter; 2. autoconsistência; 3. requisito. A esta definição objetamos que ela deixa de definir. Não se diz que é essencial ao caráter; a definição inclui em santidade aquilo que apropriadamente pertence ao amor; omite toda a menção dos mais importantes elementos na santidade, a saber, a pureza e a justiça. Semelhante falta de definição clara aparece na afirmação de Mark Hopkins, Law of Love, 105 - "É este duplo aspecto do amor revelando a natureza moral toda e voltando a cada caminho como a espada flamejante que guarda o caminho da árvore da vida que se chama santidade". Como já mostramos acima, na Escritura, a santidade não se contrasta com a simples finitude ou pequenez, ou o infortúnio, ou mesmo a irrealidade, mas só com a impureza e com a pecaminosidade. E. G. Robinson, Christ. Theology, 80 -"A santidade no homem é a imagem de Deus. Mas é claro que a santidade no homem não é proporcional às outras perfeições do seu ser - à sua força, ao seu conhecimento, à sua sabedoria apesar de ser proporcional à retidão da
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sua vontade - e, por isso, não pode ser a resultante de todas as perfeições.... Identificar a santidade com a soma de todas as perfeições é fazer dela apenas a plenitude do caráter".
c) Santidade não é o amor próprio de Deus, no sentido da suprema consideração no seu próprio interesse e felicidade. Não há nenhum elemento utilitário na santidade. Buddeus, Theol. Dogmat, 2.1.36, define santidade como o amor próprio de Deus. Mas Deus ama e se afirma, não como o eu, mas como o mais santo. Não existe em Deus uma busca de si mesmo. Nem dos interesses de Deus, mas o amor a Deus como santo, é o princípio e fonte da santidade no homem. Chamar a santidade de Deus de amor próprio é dizer que Deus é santo em razão do que ele pode fazer através disso, i.e., negar que a santidade tem existência independente. Não devemos negar, mas, ao contrário, sustentar que há um adequado amor próprio que não é egoísmo. Contudo, este amor próprio não é, afinal de contas, amor. Ao invés disso, é o respeito próprio, a preservação própria, a vindicação própria e constitui uma importante característica da santidade. Porém, definir santidade como amor de Deus por si mesmo é deixar de lado a definição da razão para este amor na pureza e retidão da natureza divina. O respeito próprio de Deus implica que Deus respeita a si mesmo por algo em seu próprio ser. Ε o que é este algo? A santidade é "excelência moral" de Deus (Hopkins), ou a sua "bondade perfeita" (Clarke)? Mas o que é esta excelência moral, ou bondade perfeita? Temos aqui descritos o método e o fim, mas não o motivo e a base. Deus não ama a si mesmo por causa do seu amor, mas ele ama a si mesmo por causa da sua santidade. Os que sustentam que o amor é a auto-afirmação assim como autocomunicação e, por isso, a santidade é o amor de Deus por si mesmo, devem ainda admitir que este auto-afirmante que é a santidade condiciona e fornece o padrão ao amor auto-comunicante que é a benevolência. G. B. Stevens, Johannine Theology, 364, diz-nos que "a justiça de Deus é o respeito próprio do perfeito amor". Miller, Evolution of Love, 53 - "O amor próprio é o tipo de ação que no ser perfeito realiza, no finito procura
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realizar o eu perfeito ou ideal". A saber, o amor é a auto-afirmação. Porém, objetamos que o amor próprio não é, afinal de contas, amor porque nele não há nenhuma comunicação própria. Se em qualquer sentido a santidade é uma forma ou manifestação do amor - questão que ainda temos de considerar - sem dúvida, não se trata de um amor próprio unitário e utilitário, que seria idêntico ao egoísmo, mas, ao invés disso, um sentimento que implica centralização trinitária no outro ser e o apoio do eu como um objeto ideal. Este parece ser o sentido de Jonathan Edwards, Essay on the Trinity (ed. Fischer), p. 79 - "Todo amor se refere a outro ser, que é amado. Para o apóstolo, a palavra amor certamente significa algo mais que aquilo que normalmente se chama amor próprio: isto é impropriamente chamado de amor e faz parte de uma natureza bem diversa do sentimento ou virtude de que o apóstolo está falando". Veremos ainda que, conquanto Jonathan Edwards nega que a santidade seja um amor próprio unitário e utilitário, ele considera a essência deste como sendo o amor trinitário de Deus para consigo mesmo, de excelência moral perfeita. A falta de convicção trinitária de Ritschl faz ser-lhe impossível fornecer qualquer base própria para o amor ou para a santidade na natureza de Deus. Ritschl sustenta que, como pessoa, Cristo é um fim em si mesmo; ele realizou o seu próprio ideal; desenvolveu a sua própria personalidade; atingiu a sua perfeição na sua obra em favor do homem; ele não é somente um homem destinado à salvação dos homens. Mas, ao chegar à sua doutrina de Deus, estranhamente Ritschl é inconsistente com tudo isso, porque deixa de representar Deus como tendo um fim em si mesmo, e tratao somente como um meio para o reino de Deus assim como um fim. Garvie, Ritschilian Theology 256,278,279, com propriedade assinala que pessoalidade significa a posse de si mesmo assim como a autocomunicação, distinção de outros seres assim como união com eles. Ritschl não considera que o amor de Deus em primeiro lugar se dirige ao seu Filho e só depois à comunidade cristã. Deste modo ele ignora a Trindade imanente. Antes da autocomunicação deve haver uma autosustentação. Caso contrário, Deus deixa a sua independência e torna necessária a existência criada.
d) Santidade não é idêntica ao amor, ou sua manifestação. Porque a auto-manutenção deve preceder a autoconcessão e porque a
Teologia Sistemática (Strong) 539 benevolência tem seu objetivo, motivo, padrão e limite na retidão, na santidade, o atributo auto-afirmante não pode de modo algum ser resolvido no amor auto-comunicante. A doutrina de Jonathan Edwards é que a santidade é uma forma de amor; Essay on the Trinity (ed. Fisher), 97 - "É no infinito amor de Deus a si mesmo que consiste a santidade. Como toda criatura, a santidade deve ser resolvida no amor, como nos ensina a Escritura, assim a santidade do próprio Deus consiste no amor infinito a si mesmo. A santidade de Deus é a beleza infinita e a excelência da sua natureza, e a excelência de Deus consiste no amor a si mesmo". Em seu tratado sobre The Nature of Virtue, Jonathan Edwards define a virtude com relação ao ser em geral. Ele considera que o amor de Deus, antes de tudo, destina-se a si mesmo tendo a maior quantidade do ser e, só depois, às suas criaturas cuja quantidade de seres é infinitesimal comparada com ele. Por isso Deus acha o seu principal fim em si mesmo e o amor próprio de Deus é a sua santidade. Este princípio tem permeado e dominado a subseqüente teologia da Nova Inglaterra, desde Samuel Hopkins, Works, 2.9-66, que defende que esta santidade = amor do ser em geral. Horace Bushnell, Vicarious Sacrifice, declara: "A justiça, mudada em uma palavra de sentimento, é o amor; o amor, traduzido em uma palavra da consciência, é a justiça; a lei eterna do direito é apenas uma outra concepção da lei do amor; os dois princípios, justiça e amor, aparecem exatamente um na medida do outro". Dorner, Christian Ethics, 73,93,184, ensina doutrina semelhante - Ό amor une a existência do eu com a existência dos outros, auto-afirmação e entrega de si mesmo. ... Amor próprio em Deus não é egoísmo, porque ele é a sede original e necessária do bem em geral e do bem universal. Deus conserva a sua honra até dando de si mesmo aos outros. ... O amor é a força e o desejo de ser do eu enquanto no outro ser e, enquanto o eu de qualquer pessoa estiver em outro ser recebido no coração até o fim. ... Devo amar o meu próximo só como a mim mesmo. ... Contudo, a virtude requer não só a boa vontade, mas a vontade daquilo que é justo". Do mesmo modo, Newman Smith, Christian Ethics, 226, 239, sustenta que 1. O amor é uma auto-afirmação. Daí ele defende que santidade ou respeito próprio envolve amor. A justiça não é uma excelência independente em contraste com a benevolência, ou em oposição a ela; é parte essencial do amor. 2. O amor é
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a doação de si mesmo. O único limite é ético. Eis aqui uma imanência sempre profunda, apesar de que sempre de Deus, porque Deus não pode negar-se a si mesmo. 3. O amor encontra-se a si mesmo em outro ser. O elemento vicário pertence ao amor. Retrucamos a Dorner e a Smith que o seu reconhecimento de que o amor tem sua condição, seu limite, seu motivo, objeto e padrão mostra que há um princípio mais elevado que o amor e que o regula. Reconhece-se este princípio como sendo ético. É idêntico ao direito. Deus não pode negar-se a si mesmo porque ele é fundamentalmente justo. Esta auto-afirmação é a santidade e a santidade não pode ser uma parte do amor, ou uma forma dele porque ela condiciona e domina o amor. Chamá-la benevolência é ignorar sua distinção majestosa e pôr em perigo sua legítima supremacia. Deus deve em primeiro lugar sustentar o seu próprio ser antes de poder dar a outro e esta auto-sustentação deve ter sua razão e motivo no merecimento daquilo que é sustentado. Santidade não pode ser amor porque o amor é irracional e caprichoso a não ser quando tem um padrão pelo qual ele é regulado e este não pode ser o próprio amor, mas a santidade. Concordamos com Clarke, Christian Theology 92, em que "o amor é o desejo de conceder santidade". O amor é um meio de santidade e, por isso, a santidade é o supremo bem, algo mais elevado que só o amor. Então, ao invés de dizer, com Clarke, que "a santidade é o centro em Deus, mas o amor é essencial à santidade", é preferível dizer: "O amor é o centro em Deus, mas a santidade é o centro do amor", apesar de que, neste caso, devemos empregar o termo amor incluindo o amor próprio. Melhor ainda é não empregar a palavra amor referindo-se ao cuidado de Deus para consigo mesmo. No uso comum, amar significa considerar os outros e ter comunhão com eles. Abranger nele a auto-afirmação de Deus é interpretar mal a santidade e considerá-la um meio de alcançar um fim, ao invés de fazer o que realmente é, o objeto superior e o princípio regulador, do amor. Aquele que lança a norma ou padrão do amor deve ser superior ao referido amor. Quando esquecemos que "justiça e juízo são a base do seu trono" (SI. 97.2), destruímos um dos principais marcos da doutrina cristã e envolvemo-nos numa névoa de erro. Ap. 4.3 - "ao redor do trono há um arco-íris" = no meio do arco-íris do perdão e da paz há um trono de
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santidade e juízo. Em Mt. 6.9,10, "Venha o teu reino" não é a primeira petição, mas ao invés disso, "Santificado seja o teu nome". É uma falsa idéia da simplicidade divina reduzir os atributos a um. A auto-afirmação não é uma forma de doação de si mesmo. A não sensibilidade, estado de sensibilidade, apesar de ser a mais pura benevolência, é fundamental, porém, mais do que isso, é a atividade daquela vontade e a sua justa direção. Hodge, Essays, 133-136, 262-273, bem mostra que o amor santo é controlado pela santidade. A santidade não é um simples meio para a felicidade. Ser feliz não é a razão última de ser santo. Certo e errado não são matéria de lucro e perda. Dizer que Deus é apenas benevolência e que ele pune apenas quando a felicidade do universo o requer destrói toda a nossa lealdade para com Deus e violenta a constituição da nossa natureza. A doutrina de que Deus é apenas amor tem sido chamada de "o papado de Deus". Deus é um "mar de verão de bondade, nunca agitado por tempestades" (Dale, Ephesians, 59). Jesus, porém nos dá a melhor idéia a respeito de Deus e nele achamos não só a piedade, mas às vezes a indignação moral. Jo. 17.11 - "Pai santo" = mais do que amor. O amor pode ser exercido por Deus só quando é o amor correto. A santidade é o trilho no qual a locomotiva do amor deve correr. O amor não pode ser a locomotiva. Se um inclui o outro, então a santidade é que inclui o amor, visto que a santidade é a manutenção da perfeição de Deus e a perfeição envolve amor. Aquele que é santo afirma a si mesmo como também o perfeito amor. Se o amor fosse fundamental, nada haveria para dar e, deste modo, o amor seria vão, e inútil. Não se pode dar o eu, sem que haja antes a auto-afirmação. Deus não é santo porque ele ama, mas ama porque é santo. O amor não pode dirigir-se a si próprio; ele está limitado à santidade. A justiça não depende do amor para ser reta. Stephen G. Barnes: "O simples bem não é o único conteúdo da lei; ele não basta nos tempos de prova de fogo; é inadequado como base para a retribuição. O amor necessita da justiça e a justiça do amor; ambos são comandados pela lei de Deus e são revelados perfeitamente no caráter de Deus". Pode haver um atrito entre ambas as mãos do homem e pode haver um conflito entre a consciência e a vontade do homem, entre o seu intelecto e o seu sentimento. A força é a energia de Deus sob a resistência; a força e a energia pertencem-lhe. Deste modo, quando o homem peca, a santidade e
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o amor em Deus tornam-se pólos ou forças opostas. O primeiro e mais sério efeito do pecado não é o que ocorre sobre o homem, mas sobre Deus. A santidade necessariamente requer sofrimento e o amor o suporta. Este sofrimento eterno de Deus por conta do pecado é a expiação; o Cristo encarnado apenas mostra o que foi no coração de Deus desde o princípio. Fazer a santidade uma forma de amor é, na verdade, negar a sua existência e, conseqüentemente, negar a necessidade de qualquer expiação para a salvação do homem. Se santidade é a mesma coisa que amor, como é que o mundo clássico, que conhecia a santidade de Deus, não conhecia também o seu amor? Aqui a ética lembra o caldo de carne de Abraão Lincoln feito da sombra de um pombo que morreu de fome. Santidade que é só boa vontade não é santidade, porque lhe faltam os elementos essenciais da pureza e retidão. Nas bases da agulha (desvio de estrada de ferro) para o leste de Rochester, existe um homem cuja responsabilidade é movimentar para a esquerda ou para a direita uma barra de ferro de duas ou três polegadas. Deste modo ele determina se o trem vai para Nova Iorque ou para Washington, para Nova Orleans ou para São Francisco. Neste ponto da teologia a nossa conclusão igualmente determina qual será o nosso sistema futuro. O princípio de que a santidade é uma manifestação de amor, ou uma forma de benevolência, leva à conclusão de que a felicidade é o único bem e o único fim; que a lei é um mero expediente para a garantia da felicidade; que a pena é simplesmente dissuasiva, ou tem um fim reformatório; que não há necessidade de nenhuma expiação a ser oferecida a Deus pelo pecado humano; que não se pode vindicar a retribuição eterna porque não há esperança de recuperação. Este ponto de vista ignora o testemunho da consciência e da Escritura de que o pecado é intrinsecamente mau e, por isso, deve ser punido não porque a punição vai operar o bem do universo; na verdade, não poderia operar o bem ao universo a não ser que este fosse justo e reto. Ignora o fato de que a misericórdia é uma opção de Deus, enquanto a santidade é invariável; que a punição muitas vezes está ligada à santidade de Deus, mas nunca ao amor; que Deus não é somente amor, mas luz - luz moral - e, por isso, "um fogo consumidor" (Hb. 12.29) para toda a iniqüidade. O amor castiga (Hb. 12.6), mas a santidade pune (Jr. 10.24 - "Castiga-me, ó Senhor,
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mas com medida; não na tua ira"; Ez. 28.22 - "quando executar juízos e nela me santificar"; 36.21,22 - em juízo "Não é por vosso respeito que faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome"; 1 Jo. 1.5 - "Deus é luz e não há nele treva nenhuma" -treva moral; Ap. 15.1,4-"a ira de Deus ... só tu és santo ... os teus juízos são manifestos"; 16.5 - "justo és tu ... porque julgaste estas coisas"; 19.2 - "verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta").
B) Positivamente, santidade é: a) Pureza de substância – Na natureza moral de Deus, agindo necessariamente, há, na verdade, os dois elementos da vontade e do ser. Mas o passivo precede logicamente o ativo; o ser vem antes da vontade; Deus é puro antes de desejar a pureza. Porque a pureza, contudo, ordinariamente é um termo negativo e significa apenas liberdade da mácula e do erro, devemos incluir nele também a idéia positiva de retidão moral. Deus é santo no sentido de que ele é a fonte e o padrão do direito. E. G. Robinson, Christian Theology, 80 - "Santidade é pureza moral, não só no sentido de ausência de toda mancha moral, mas de complacência em todo bem moral". Shedd, Dogm. Theology, 1.362 - "Santidade em Deus é conformidade com a sua própria natureza perfeita. A única regra para a vontade divina é a razão divina; e esta prescreve tudo o que é benéfico que um Ser faça. Deus não está sob lei, nem acima dela. Ele é a lei. Ele é reto por natureza e por necessidade. ... Deus é a fonte e o autor da lei para todos os seres morais". Podemos melhorar a definição de Shedd dizendo que santidade é o atributo em virtude do qual o ser divino e a vontade divina conformam-se eternamente um com o outro. Deste modo, sustentando que o ser santo logicamente precede o querer santo, diferimos do ponto de vista de Lotze, Philos, of Religion, 139 - "Tal vontade de Deus não segue a partir da natureza como secundária a ela, ou precede-a como primordial a ela mais do que, no movimento, a direção pode ser antecedente ou subseqüente à velocidade". Bowne, Philos, of Theism, 16 - "A natureza de Deus = uma lei fixa da atividade ou modo de manifestação. ... Mas as leis do
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pensamento não são limitação alguma porque são apenas modos do pensamento com atividade. Elas não regem o intelecto, mas apenas expressam o que o intelecto é". Apesar destas afirmações de Lotze e de Bowne, devemos sustentar que, a verdade do ser logicamente precede a verdade do conhecer e uma natureza amorosa precede as emoções amorosas, do mesmo modo a pureza da substância precede à pureza da vontade. A doutrina oposta conduz a afirmações tais como a de Whedon (On the Will, 316): "Deus é santo naquilo que livremente ele escolhe para fazer a sua própria felicidade no direito eterno. Que ele não pudesse fazer-se igualmente feliz no erro é mais do que podemos dizer.... A sabedoria infinita e a santidade infinita consistem eternamente nas volições de Deus e delas resultam". Whedon, contudo, não crê na imutabilidade de Deus, mas sim em sua constância. Ele não pode dizer se motivos quaisquer não podem em algum tempo provar-se mais fortes que conduziriam à apostasia. A santidade essencial de Deus não proporciona base para uma certificação. Como dizíamos a respeito da verdade, do mesmo modo aqui dizemos a respeito da santidade que, fazer da santidade assunto de mera vontade, em vez de considerá-la característica do ser de Deus, é negar que qualquer coisa é santa em si mesma. Se Deus pode transformar a impureza em pureza, então Deus em si mesmo é indiferente à pureza ou impureza e, portanto deixa de ser Deus. Robert Browning, A Soul's Tragedy, 223 - "Confio em Deus - o Justo será o Justo e outra coisa que não seja o Erro enquanto ele existir". P.S. Moxom: "Revelação é descoberta da retidão divina. Não adicionamos o pensamento quando dizemos que é também a descoberta do amor divino, porque o amor é uma manifestação ou realização daquela retidão que é a integridade. H.B. Smith, System, 223-231 - Virtude = amor tanto na felicidade como na santidade, apesar de que a santidade é como o último elemento; o amor à mais elevada Pessoa e aos seus fins e objetivos".
b) Energia da vontade – A pureza não é simplesmente uma qualidade passiva e morta; é penetrada e permeada pela vontade. Santidade é o movimento moral livre de Deus.
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Como existe uma Mente mais elevada que a nossa e um coração maior que o nosso, do mesmo modo também existe uma Vontade maior do que a nossa. A santidade contém este elemento de vontade, embora seja uma vontade que expressa a natureza, ao invés de causá-la. Não é uma pureza calma e imóvel, da neve recentemente caída, ou do azul sem mancha do céu estivai. É a mais tremenda das energias num movimento insone. É um "mar de vidro" (Ap. 15.2), mas um "mar de vidro misturado com fogo". A. J. Gordon: "Santidade não é uma pureza de brancura mortal, perfeição da estátua de mármore perfeito. A vida, assim como a pureza entra na idéia de santidade. Os que são 'perfeitos diante do trono' são os que 'seguem o Cordeiro aonde quer que ele vá'; atividade santa que atende e expressa o seu estado santo". Martensen, Christian Ethics, 62,63 - "Deus é a unidade perfeita do eticamente necessário e do eticamente livre"; "Deus não pode agir de outra forma que não seja a sua natureza essencial". (274) O centro da personalidade é a vontade. O conhecimento tem seu fim no sentimento e o sentimento tem seu fim na vontade. Por isso devo subordinar o sentimento à vontade e a felicidade à justiça. Devo querer com Deus e empregar toda a minha influência sobre os outros para torná-los como Deus na santidade. William James, Will to Believe, 123 - "A mente deve primeiramente obter sua impressão sobre o objeto; depois definir o que é esse objeto e que medidas ativas a sua presença demanda; e, finalmente, reagir. ... Toda fé e toda filosofia, modo e sistema, são subservientes e passam a um terceiro estágio, o da ação". O que é verdade a respeito do homem também o é a respeito de Deus. Toda vontade do homem, combinada, na verdade, toda energia ativa da humanidade em todo lugar e em todas as eras nada é comparada com a extensão e vontade de Deus. O momento todo do ser divino está escudado na lei moral. Tal lei é a expressão dele mesmo. Seu braço benéfico ao mesmo tempo que terrível está sempre defendendo e executando. Deus deve manter a sua santidade porque ela é a divindade. Se ele não a mantivesse, o amor não teria nada a apresentar, ou não tornaria os outros participantes dele. Será que Deus quer o bem porque este é bom, ou o bem é bom porque Deus o quer? No primeiro caso, parece que o bem está acima de Deus; no segundo, o bem é algo arbitrário e mutável. Kaftan, Dogmatik, 186,187, diz que nenhuma destas opções é verdadeira; ele sustenta que não há nenhum
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bem a priori antes da vontade dele e sustenta que a vontade sem a direção não é vontade; o bem é bem por causa de Deus não antes, mas em sua autodeterminação. Dorner, System Doctrine, 1.432, contrariamente, sustenta que ambos são verdadeiros porque Deus não é simplesmente uma forma de ser, quer necessária, quer livre, mas ao invés disso, um ser multiplamente diverso, embora absolutamente correlato e reciprocamente condicionante; isto é, um ser trinitário, tanto necessário como livre. Aqui concordamos com Dorner e defendemos a crença de que o ser de Deus é necessário a uma ética correta e a uma teologia também correta. Celsus justificava o politeísmo sustentando que seja o que for Deus se revela Deus, serve Deus e, conseqüentemente, pode racionalmente ser adorado. Ele livra o cristianismo desta ampla tolerância, porque este adora um Deus zeloso, que não se satisfaz em ser um entre muitos. Mas este zelo realmente significa que Deus é um Ser para quem as distinções morais são reais. O Deus de Celsus, o do panteísmo, é zeloso, não porque é Santo, mas somente porque é Absoluto. A categoria da ética surge da categoria do ser. O grande defeito da teologia moderna é precisamente o ético; a santidade surge da benevolência; não há o reconhecimento próprio da justiça de Deus. Jo. 17.25 - "Pai justo, o mundo não te conheceu" - é um texto tão verdadeiro atual como o foi nos tempos de Jesus. Isole, Begriff der Heiligkeit in Ν. T., 41,84, define a santidade em Deus como "perfeição ética de Deus na exaltação dela acima de tudo o que é pecaminoso" e a santidade no homem como a "condição correspondente à de Deus em que o homem se conserva puro relativamente ao pecado".
c) Auto-afirmação – Santidade é a vontade própria de Deus. Sua própria pureza é o supremo objetivo de sua própria consideração e sustento. Deus é santo no sentido de que sua excelência moral infinita afirma e se declara como o mais elevado motivo e fim possíveis. Como a verdade e o amor este atributo só pode ser entendido à luz da doutrina da Trindade. Santidade é a pureza que deseja a si mesma. Temos analogia no dever de autopreservação, respeito próprio e auto-afirmação do homem. A virtude se obriga a sustentar-se e defender-se como no caso de Jó. Nos seus melhores momentos, o cristão sente que a pureza não é apenas a
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negação do pecado, mas a afirmação de um princípio de justiça interior e divino. Thomasius, Christi Person und Werk, 1.137 - Santidade é a concordância perfeita da vontade divina com o ser divino; pois, como a criatura pessoal é santa quando quer e determina a si mesma quanto à vontade de Deus, assim Deus é o santo porque ele deseja ser o que ele é. Em virtude deste atributo, Deus está isento de tudo o que contradiz a sua natureza, e se afirma em seu ser absolutamente bom: ser semelhante a si mesmo". Tholuck, on Romans, 5ª ed., 151 – "O termo santidade deve ser empregado para indicar uma relação de Deus consigo mesmo. É santo aquele que, não se perturba com o que vem de fora; é totalmente semelhante a si mesmo". Dorner, System of Doctrine, 1.456 – "Faz parte da sua bondade proteger a bondade". Quando considerarmos a Trindade, veremos que esta doutrina tem estreitas relações com a dos atributos imanentes. É no Filho que Deus tem o objeto perfeito da sua vontade bem como do conhecimento e do amor. O objeto da vontade de Deus na eternidade passada não é nada fora de si mesmo. Ela deve ser a mais elevada de todas as coisas. Vemos o que ela deve ser só quando nos lembramos de que a justiça é o imperativo incondicional da nossa natureza moral. Visto que nós fomos feitos à imagem de Deus, devemos concluir que ele quer eternamente a justiça. Nem todos atos de Deus são de amor, mas todos são de santidade. O respeito próprio, a preservação de si mesmo, a auto-afirmação, a vindicação de si mesmo, que chamamos santidade de Deus, apenas palidamente se refletem em afirmações tais como em Jó 27.5,6 - "Até que eu expire, nunca apartarei de mim a minha sinceridade. À minha justiça me apegarei e não a largarei"; 31.37 -"O número dos meus passos lhe mostraria; como príncipe me chegaria a ele". O fato de que o Espírito de Deus é denominado Espírito Santo deve ensinar-nos qual é a natureza essencial de Deus e a exigência de que nós sejamos santos como ele o é ensinam-nos qual é o verdadeiro padrão do dever humano e o objetivo da ambição humana. Contudo, porque a santidade de Deus é auto-afirmação, fornece a garantia de que o amor de Deus não deixa de garantir o seu fim e que todas as coisas atendem ao seu propósito. Rm. 11.36 — "Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém".
Teologia Sistemática (Strong) VI. ATRIBUTOS RELATIVOS OU TRANSITIVOS
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Primeira Divisão - Atributos relacionados com Tempo e Espaço 1. Eternidade Isto significa que a natureza de Deus a) não tem começo nem fim; b) não tem sucessão de tempo; e c) contém em si a causa do tempo. Dt. 32.40 - "Porque levantarei a minha mão aos céus e direi: Eu vivo para sempre"; SI. 90.2 - "Antes que os montes nascessem ... de (desde a) eternidade ... tu és Deus"; 102.27 - "os teus dias nunca terão fim"; Is. 41.4 "Eu, o Senhor, o primeiro, e com os últimos"; 1 Co. 2.7 - προ των αιώνων "antes dos séculos" = προ καταβολής κόσμου - "antes da fundação do mundo" (Ef. 1.4). 1 Tm. 1.17 - Βασιλεΐ των αιώνων - "Rei dos séculos" (também Ap. 15.8). 1 Tm. 6.16 - aquele que tem, ele só, a imortalidade". Ap. 1.8 - "o Alfa e o Ômega". Dorner: "Não devemos fazer o Cronos (tempo) e o Urano (espaço) divindades mais antigas do que Deus". Eles estão entre "todas as coisas" que "foram feitas por ele" (Jo. 1.3). Apesar de que nem tempo, nem espaço são substâncias] nem são atributos (qualidades da substância); ao invés disso, são relações da existência finita". (Porter, Human Intellect, 568, prefere chamar o tempo e o espaço "correlatos aos seres e eventos"). Eles apareceram com a existência finita; não são meros conceitos reguladores da nossa mente; eles existem objetivamente quer os percebamos, quer não. Ladd: "O tempo é a pressuposição mental da duração dos eventos e dos objetos. Tempo não é uma entidade; caso fosse, seria necessário supor algum outro tempo em que ele continuasse a existir. Pensamos no espaço e no tempo como incondicionais, porque eles fornecem as condições do nosso conhecimento. A idade de um filho condiciona-se à do seu pai. As próprias condições não podem ser condicionadas. Espaço e tempo são formas, mas não apenas isso. Há algo além da mente no caso do espaço e do tempo, como no caso do som". Êx. 3.14 – "Eu sou" – envolve eternidade. SI. 102.12-14 – " Mas tu, ó Senhor, permanecerás para sempre ... Tu te levantarás e terás piedade de Sião; pois é tempo de te compadeceres dela ... Porque os teus servos ... se
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compadecem do seu pó" = porque Deus é eterno, ele terá compaixão de Sião: ele fará isto, porque até mesmo nós, seus filhos, amamos até o seu próprio pó. Jd. 25 - "glória e majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre". Pfleiderer, Philos. Religion, 1.165 "Deus é 'Rei dos éons (séculos)' (1 Tm. 1.17), porque ele distingue, em seu pensamento, sua eterna essência desde a sua obra mutável no mundo. Ele não está absorvido no processo". Edwards, o moço, descreve a intemporalidade como "a posse imediata e invariável de toda a vida ilimitada junta e de uma vez". Tyler, Greek Poets, 148 - Os deuses pagãos tinham apenas existência sem fim. Parece que os gregos nunca conceberam a existência sem começo". Tennyson, Life, 1.322 - "Porque era, é e será significam apenas é: Ε toda a criação é um ato instantâneo, O nascimento da luz; mas nós que não somos tudo, como partes, podemos ver apenas partes, ora esta, ora aquela, por força de pensar sobre o pensamento e fazer do ato um fantasma da sucessão: Nossa fraqueza é como a forma da sombra, o Tempo". Agostinho: "Mundus non in tempore, sed cum tempore, factus est" (O mundo foi feito não no tempo, mas com o tempo). Não há nenhum sentido na pergunta: Por que ocorreu a criação num tempo, quando poderia ter ocorrido antes? ou outra pergunta: O que Deus estava fazendo antes da criação? Estas perguntas pressupõem um tempo independente no qual Deus criou - um tempo antes do tempo. Por outro lado, a criação não ocorreu antes do tempo, mas Deus deu tanto o mundo como o tempo da sua existência. Royce, World and Individual, 2.111-115 - Ό tempo é a forma da vontade, assim como o espaço é a forma do intelecto (cf. 124,133). O tempo corre só numa direção (diferentemente do espaço), para o cumprimento da luta ou expectação. Perseguindo seus objetivos, o eu vive no tempo. Todo o agora é também uma sucessão, como ilustra cada melodia. Para Deus o universo é 'totum simul', como para nós qualquer sucessão é um todo. 233 A morte é uma mudança na pequena extensão de tempo - o mínimo de tempo em que uma sucessão pode aparecer como um todo completo. Para Deus "mil anos são como um dia" (2 Pe. 3.8). 419 - Deus, na sua totalidade, como um Ser Absoluto, está consciente, não no tempo, mas do tempo, e tudo o que o tempo infinito contém. No tempo, seguem-se, na sua seqüência, as cordas da sua infinita sinfonia. Para ele esta é a sinfonia toda da vida de uma só vez ... Você une presente, passado e futuro numa só
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consciência sempre que você ouve qualquer das três palavras sucessivas: uma para o passado, outra para o presente, ao mesmo tempo que uma terceira é o futuro. Assim Deus une na percepção ausente do tempo a sucessão toda dos eventos finitos. ... As notas simples não se perderam na melodia. Você está em Deus, mas você não está perdido em Deus". Mozart, citado em William James, Principles of Psychology, 1.255 -"Toda a invenção e a feitura prosseguem em mim como um belo sonho forte. Mas o melhor de tudo é ouvi-lo todo de uma só vez".
Eternidade é infinitude com relação ao tempo. Implica que a natureza de Deus não está sujeita à lei do tempo. Deus não está no tempo. Mais correto é dizer que o tempo não está em Deus. Apesar de que há sucessão lógica nos pensamentos de Deus, não há sucessão cronológica. O tempo é a duração medida por sucessões. Duração sem sucessão ainda seria duração, apesar de imensurável. Reid, Intellectual Powers, ensaio 3, cap. 5 - "Podemos medir a duração pela sucessão dos pensamentos na mente, como podemos medir a distância por polegadas ou pés, mas a noção ou idéia de duração deve anteceder a sua medida, como a noção de distância antecede o ser medido". Deus não está sob a lei do tempo. Solly, Will, 254 – "Deus olha através do tempo e nós olhamos através do espaço". Murphy, Scientific Bases, 90 – "A eternidade não é, como se pensa, anterior e posterior a nós, uma linha sem fim. Não, ela é um círculo, infinitamente grande -todas as circunferências com criações amontoadas: Deus habita no centro, contemplando tudo. Quando nos movemos neste círculo eterno, a porção finita que só vemos atrás de nós já passou; o que está adiante chamamos de futuro. Mas para aquele que habita longe no centro, igualmente distante de cada ponto da circunferência, ambos são semelhantes, tanto o futuro como o passado". Vaughan (1655): Outra noite vi a eternidade, como um grande anel de pura e intérmina luz e calma em seu brilho; e em torno abaixo dele, o tempo, nas horas, dias, anos, dirigidos pelas esferas, como uma grande sombra se movia e nela o mundo e todo o seu séquito se arremessava".
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Não podemos ter derivado da experiência nossa idéia de duração no passado porque a experiência nos dá só a duração que teve começo. Por isso a idéia de duração sem começo deve ser-nos dada pela intuição. Case, Physical Realism, 379,380 - "O tempo é a continuação, ou contínua duração, do universo". Bradley, Appearance and Reality, 39 - Considere o tempo como uma correnteza - sob uma forma espacial: "Se você tomar o tempo como uma relação entre as unidades sem duração, então o tempo todo não tem duração alguma e, na verdade não é tempo algum. Mas se você atribuir duração ao tempo todo, então, de uma vez por todas as unidades passam a possuí-lo e elas deixam de ser unidades". O agora não é tempo a não ser que de passado se torne futuro e isto é um processo. O agora consiste em agoras e estes não podem ser descobertos. A unidade nada é a não ser a sua própria relação com alguma coisa além, impossível de se descobrir. Por isso o tempo não é real, mas uma aparência. John Caird, Ideas, 1.185 - "Aquilo que se prende e correlaciona objetos no espaço não pode por si mesmo ser uma das coisas do espaço; aquilo que apreende e estabelece conexão entre os eventos que se sucedem uns aos outros no tempo deve permanecer acima da sucessão ou corrente de eventos. Por ser capaz de medi-los, não pode estar fluindo com eles. Não poderia haver para a consciência própria tal coisa como o tempo, se não fosse, em um dos seus aspectos, acima do tempo, se não pertencesse a uma ordem que é ou tem em si um elemento que é eterno.... Como pensamento a sucessão não é sucessiva". A. H. Strong, Historical Discourse, 9/5/1900 - "Deus é acima do espaço e do tempo e nós estamos em Deus. Assinalamos a passagem do tempo e escrevemos as nossas histórias. Mas não podemos fazer isto apenas porque em nosso mais elevado ser não pertencemos ao espaço e ao tempo, mas temos em nós uma pitadinha da eternidade. John Caird, nos diz que não podemos perceber o fluxo da correnteza se não fizermos parte da corrente; só quando os pés estão plantados na sólida rocha podemos observar que a água corre junto dela. Pertencemos a Deus; estamos aquém de Deus; enquanto o mundo passa e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre". J. Eslin Carpenter e P. H. Wicksteed, Studies of Theology, 10 - "Dante fala de Deus como aquele em quem 'qualquer lugar e em qualquer tempo focalizam-se num ponto', isto é, para quem cada estação é agora e cada lugar é aqui".
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Amiel's Journal: "Ó tempo é a ilusão suprema. É o prisma interior através do qual decompomos o ser e a vida, o modo pelo qual percebemos sucessivamente o que é simultâneo à idéia. ... O tempo é a dispersão sucessiva do ser, do mesmo modo que a palavra é a análise sucessiva de uma intuição, ou de um ato da vontade. Em si mesmo ele é um ser relativo e negativo, e desaparece dentro do absoluto. ... Tempo e espaço são fragmentos do Infinito para o uso das criaturas finitas. Deus os permite para que ele não fique sozinho. Eles são o modo sob o qual tornam-se possíveis e concebíveis. ... Se o universo subsiste é porque a Mente eterna ama para perceber o seu próprio conteúdo, em toda a sua riqueza e expressão especialmente em seus estágios de preparação. ... As radiações da nossa mente são reflexos imperfeitos da grande demonstração dos fogos de artifício movimentados por Brama e a grande arte só é grande por causa da sua conformidade com a ordem divina - com aquilo que ela é".
Ainda que estamos longe de dizer que o tempo, que agora existe, não tem nenhuma realidade objetiva para com Deus. Para ele passado, presente e futuro são "um eterno agora", não no sentido de que não há nenhuma distinção entre eles, mas só no sentido de que ele vê o passado e o futuro de um modo tão vivido como o presente. O tempo começou com a criação e porque as sucessões da história são verdadeiras sucessões, aquele que vê segundo a verdade deve reconhecê-las. Thomas Carlyle chama Deus de "o Eterno Agora". Mason, Faith of the Gospel, 30 - "Deus não é um zombador do tempo. ... Um dia é para o Senhor como mil anos. Ele vale o infinitésimo no tempo, assim como no espaço. Daí a paciência, a longanimidade, a expectação de Deus". Devemos lembrar a inscrição no relógio de sol em que se fala a respeito das horas: "Pereunt et imputantur"- "Eles passam de largo e são acusados por nossa causa". Um certo pregador assinalou sobre a sabedoria de Deus que assim ordenou que os momentos de tempo vêm sucessivamente e não de um modo simultâneo e deste modo impedem a confusão infinita! Shedd, Dogm. Theol., 1.344, ilustra a eternidade de Deus através de dois meios nos quais uma pessoa pode ver uma procissão: em primeiro lugar, de um portal na rua pelo qual a procissão está passando; em segundo lugar do alto de uma torre que comanda a visão de toda a procissão ao mesmo tempo.
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S. E. Meze, citado em Royce, Conception of God, 40 - "Como se todos nós fôssemos cilindros, com os seus terminais removidos movendo-se através das águas de um lago plácido. Para os cilindros as águas parecem mover-se. O que passou é uma memória; o que está para vir é duvidoso. Mas o lago sabe que toda a água é igualmente real e que é tranqüila, imóvel não turbulenta. Falando tecnicamente, o tempo não é uma realidade. As coisas parecem passadas e futuras e, em certo sentido, não existentes para nós, mas, na verdade, são tão genuinamente reais como o presente o é". Mesmo aqui existe uma ordem. Você não pode executar uma sinfonia do fim para o começo e ter uma música. Esta qualificação deve ao menos ser posta nas palavras de Berkeley: "Acho que uma sucessão de idéias constitui o tempo e não é apenas a medida sensível dele, como pensam o Sr. Locke e outros". Finney, citado em Bíblia Sacra, out. 1877.722 - "Eternidade para nós significa toda a duração passada, presente e futura. Mas para Deus significa só agora. Duração e espaço, com relação à existência dele, significa coisas infinitamente distintas do que elas fazem com referência a nossa existência. A existência de Deus e seus atos, com relação à existência finita, referem-se ao tempo e ao espaço. Mas quando se relacionam com a nossa existência, tudo é aqui e agora. Sobre todas existências finitas, Deus pode dizer: Eu fui, eu sou, eu serei, eu farei; mas sobre a sua própria existência, tudo o que ele pode dizer é: Eu sou, eu faço". Edwards, o moço, Works, 1.386,387 - "Na mente divina não há sucessão alguma; por isso não ocorre nenhuma nova operação. Todos atos divinos são desde a eternidade; para Deus não há tempo. Os efeitos destes atos divinos, na verdade, todos ocorrem no tempo e numa sucessão. Se se pudesse dizer que nesta suposição os efeitos não ocorrem senão após os atos através dos quais eles são produzidos, eu responderia que eles agem assim de acordo com o nosso ponto de vista, mas não no de Deus. Para ele o tempo não existe; nem antes nem depois a respeito do tempo; o tempo não tem existência na mente divina nem na natureza das coisas separadas das mentes e percepções das criaturas; mas ele depende da sucessão das percepções". Devemos qualificar esta afirmação do jovem Edwards com a de Julius Müller, como segue: "Se a operação de Deus pode não ter
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nenhuma relação com o tempo, todos os limites da união entre Deus e o mundo transformam-se em pedaços através das dentadas". Pergunta interessante é esta se o espírito humano é capaz de uma existência independente do tempo e se a concepção deste é puramente física. Em sonhos parece que perdemos de vista a sucessão; na dor extrema a idade se comprime num minuto. Será que isto lança luz sobre a natureza da profecia? É a alma do profeta um rapto na existência e visão independente do tempo? É de duvidar que Ap. 10.6 - οτι χρόνος ούκέτι εσται (Strong cita uma tradução bem próxima da língua original: "não existirá mais tempo"; a Revista e Atualizada dá: "já não haverá demora"; a Revista e Corrigida: idem) merece confiança como prova afirmativa; porque a Revised Version marg. e American Revisers traduzem "there shall be delay no longer" (não haverá mais demora). Julius Müller, Doct. of Sin, 2.147 - "Toda a consciência própria é uma vitória sobre o tempo". Shedd, Dogm. Theol., 1.351 - "Há aqui sucessão e série tão grandemente rápida que parece simultânea". Esta rapidez, contudo, é tão grande que mostra que cada homem pode no fim ser julgado num instante.
2. Imensidade Isto significa que a natureza de Deus d) não tem extensão; b) não está sujeita a nenhuma limitação de espaço; e c) contém em si a causa do espaço. 1 Re. 8.27 - "eis que os céus e até o céu dos céus te não poderiam conter". O espaço é uma criação de Deus; Rm. 8.39 - "nem a altura, nem a profundidade, nem outra criatura". Zahn, Bib. Dogmatik, 149 - "A Escritura não ensina a imanência de Deus no mundo, mas a imanência do mundo em Deus". Dante não põe Deus como centro, mas Satanás; e, no centro, Satanás é esmagado com todo o peso do universo. Deus é o ser que abrange tudo. Todas as coisas existem nele. E. G. Robinson: Ό espaço é uma relação; Deus é o autor das relações e dos nossos modos de pensamento; por isso Deus é o autor do espaço. O espaço condiciona o nosso pensamento, mas não condiciona o de Deus".
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Jonathan Edwards: "Lugar em si é mental e dentro e fora são concepções. ... Quando digo que o universo material existe só na mente, quero dizer que ele depende absolutamente da concepção da mente para a sua existência e não existe como os espíritos, cuja existência não consiste na concepção das nossas mentes, nem depende delas". H. M. Stanley, sobre Espaço e Ciência, em Philosophical Rev., nov. 1898.615 - Ό espaço não é cheio de coisas, mas as coisas são espaçosas.... O espaço é uma forma de aparências dinâmicas". Bradley leva ao extremo a idealidade de espaço quando, em sua Appearance and Reality, 35-38, diz-nos: Espaço não é uma simples relação, porque ele tem partes e o que podem ser as partes de uma relação? Mas o espaço não é nada a não ser uma relação porque é distâncias de distâncias - nada que possamos achar. Não podemos achar nenhum termo quer dentro, quer fora. O espaço, para ser espaço, deve ter espaço exterior a si mesmo. Por isso Bradley conclui que espaço não é realidade, mas apenas aparência.
Imensidade é infinitude em relação ao espaço. A natureza de Deus não está sujeita à lei de espaço. Deus não está no espaço. É mais correto dizer que o espaço está em Deus. Contudo, o espaço tem uma realidade objetiva para Deus. Com a criação o espaço começou a ser e, porque Deus vê segundo a verdade, ele reconhece as relações de espaço na criação. Muitas das notas apresentadas na explicação do tempo aplicam-se ao espaço. O espaço não é uma substância, nem um atributo, mas uma relação. Ε ele existe tão logo a matéria extensa exista, e existe como sua condição necessária, quer suas mentes percebam, quer não. Reid, Intellectual Powers, ensaio 2, cap. 9 - Espaço não é tão apropriadamente um objeto do sentido como um elemento concomitante dos objetos da visão e do tato". Quando vemos ou tocamos um corpo temos a idéia do espaço em que o corpo existe, mas a idéia de espaço não é fornecida pelo sentido; é uma cognição da razão a priori. A experiência fornece ocasião para a sua evolução, mas a mente evolui a sua concepção através da sua própria energia nativa.
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Anselmo, Proslogion, 19 - "Nada te contém, mas tu conténs todas coisas". Contudo, não é absolutamente preciso dizer que o espaço está em Deus porque esta expressão parece sugerir que Deus é um espaço maior que de certo modo inclui o menor. Ao invés disto, Deus é não espacial e Senhor do espaço. A noção de que espaço e a imensidão divina são idênticos conduz à uma concepção materialista de Deus. Espaço não é atributo de Deus, como sustentava Clarke e nenhum argumento da existência divina pode ser construído a partir desta premissa (ver pp. 85,86; Apost. 14; Apênd. Criação, p. 36). Martineau, Types, 1.138,139,170 "Malebranche dizia que Deus é o lugar de todos os espíritos, do mesmo modo que o espaço é o lugar de todos os corpos. ... Descartes sustentava que não há esta coisa de espaço vazio. O nada não pode possivelmente ter extensão. Onde quer que esteja a extensão ali está alguma coisa estendida. Daí a doutrina de um plenum. É inconcebível a existência de um vácuo". Lotze, Outlines Metaphysics, 87 - "Segundo o ponto de vista comum ... o espaço existe, e as coisas existem nele; segundo o nosso ponto de vista, só as coisas existem e entre elas não existe nada, mas o espaço existe nelas". Case, Physical Realism, 379,390 - "Espaço é a continuidade, ou a extensão contínua, do universo como substância". Ladd: "É o espaço extenso? Então deve ser extenso em algum outro espaço. Esse outro espaço é o de que falamos. Então o espaço não é uma entidade, mas uma pressuposição mental da existência da substância extensa. Espaço e tempo nem são finitos nem infinitos. Nem é circunferência, nem centro; seu centro seria toda a parte. Afinal de contas nem podemos imaginar o espaço. É somente uma precondição da mente capacitar-nos a perceber as coisas". Em Biblia Sacra, 1890.415-444, art.: É o Espaço uma realidade? O prof. Mead se opõe à doutrina de que o espaço é puramente subjetivo, como ensina Bowne; também a doutrina de que o espaço é uma certa ordem de relações entre realidades; que o espaço nada é sem as coisas; mas que as coisas, quando existem, ocorrem em certas relações, e que a soma, ou sistema, de tais relações constitui o espaço. Preferimos o ponto de vista de Bowne, Metaphysics, 127,137,143, de que "Espaço é a forma da experiência objetiva e nada é da abstração dessa experiência. ... "É uma forma de intuição e não um modo de existência. Segundo este ponto de vista, as coisas não estão no espaço e nas relações
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de espaço, mas aparentam estar. Em si mesmas essencialmente elas são não espaciais; mas através das suas interações recíprocas e com a mente, elas causam a aparência de um mundo de coisas extensas num espaço comum. Então, os predicados de espaço pertencem apenas aos fenômenos, não às coisas em si.... A realidade aparente existe de um modo espacial; mas a própria realidade ontológica existe de um modo não espacial e sem predicados espaciais".
Segunda Divisão - Atributos relacionados com a Criação 1. Onipresença Isto significa que Deus, na totalidade da sua essência, sem difusão ou expansão, multiplicação ou divisão, penetra e ocupa o universo em todas as suas partes. Sl. 139.7 sq. - "Para onde me irei do teu Espírito? ou para onde fugirei da tua face?"; Jr. 23.23,24 - "Sou eu apenas Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? Não encho eu os céus e a terra?"; At. 17.27,28 -"não está longe de nós; porque nele vivemos, nos movemos e existimos". Faber: "porque Deus nunca está tão longe; na verdade, está perto. Ele está dentro de nós. Nosso espírito é o lar que ele sustenta com apreço. Pensar nele como alguém que está ao nosso lado é quase tão inverídico como remover o seu santuário dos céus azuis coalhados de estrelas. Do mesmo modo, sempre quando pensava em mim mesmo como sem-teto, abandonado e fatigado, perdendo o meu regozijo, caminhava pela terra ao santuário de Deus". Henri Amiel: "De cada ponto da terra estamos igualmente perto do céu e do infinito". Tennyson, The Higher Pantheism: "Fala-lhe, então, porque ele ouve, e o espírito com o espírito pode encontrarse; ele está mais perto do que o fôlego, mais perto do que as mãos e os pés". "Tão pleno, tão perfeito, como a um fio de cabelo do coração". O ateu escreveu: "Deus não está em lugar nenhum", mas a sua filhinha leu: "Deus está agora aqui", e isto o converteu. [Em inglês: "God is nowhere (nowhere = em parte alguma, em nenhum lugar)" e a menina leu: "God is now here (now here = agora aqui)"]. A criança às vezes pergunta: "Se Deus
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está em toda a parte, como pode haver lugar para nós?" e a única resposta é que Deus não é um ser material, mas espiritual, cuja presença não exclui a existência finita, mas, ao invés disso, torna tal existência possível. Esta presença universal de Deus teve de ser aprendida gradualmente. Requereu grande fé em Abraão para que saísse de Ur dos caldeus, e ainda sustentar que Deus estaria com ele numa terra distante (Hb. 11.8). Jacó aprendeu que a escada celeste o seguia por qualquer lugar aonde ele fosse (Gn. 28.15). Jesus ensinou que "nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai" (Jo. 4.21). As misteriosas vindas e idas do nosso Senhor após a sua ressurreição pretendiam ensinar aos seus discípulos que estaria com eles "todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt. 28.20). A onipresença de Jesus demonstra, a fortiori, a onipresença de Deus.
Como explicação deste atributo, podemos dizer: d) A onipresença de Deus não é potencial, mas essencial. Rejeitamos a representação sociniana de que a essência de Deus está no céu e só o seu poder está na terra. Quando se diz que "Deus habita no céu", deve-se entender ou como linguagem simbólica ou como expressão de exaltação acima das coisas terrenas, ou como uma declaração de que suas mais especiais e gloriosas manifestações próprias são aos espíritos do céu. Sl. 123.1 - "Para ti, que habitas nos céus"; 113.5 - "que habita nas alturas"; Is. 57.15 - "o Alto e o Sublime, que habita na eternidade". A simples onipresença potencial é tanto deística como Sociniana. Como as aves do céu, ou os peixes do mar, "em casa ou fora ainda estamos rodeados com Deus". Não precisamos subir até o céu para pedir que ele desça ou ao abismo para que ele suba (Rm. 10.6,7). A melhor ilustração se encontra na presença da alma em cada parte do corpo. Parece que a mente não está confinada ao cérebro. Na filosofia, o realismo natural, diferente do idealismo, requer que a mente esteja no ponto de contato com o mundo exterior, ao invés de ter relacionamentos e idéias trazidas para o cérebro. Todos os que crêem numa alma consideram-na presente ao menos em todas as partes do cérebro e isto é uma onipresença relativa em princípio não menos difícil que a sua presença em todas as partes do corpo. O cérebro de um animal pode estar congelado num pedaço sólido como um gelo, apesar de que, após o
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degelo, ele agirá como antes: apesar de que o congelamento de todo o corpo causará a morte. Se o princípio imaterial estivesse confinado ao cérebro, seria de esperar que o congelamento do cérebro causasse a morte. Mas se a alma pode estar onipresente no corpo ou mesmo no cérebro, o Espírito pode estar onipresente no universo. Bowne, Metaphysics, 136 - "Se as coisas finitas são modos do infinito, cada coisa deve ser um modo do infinito inteiro; e o infinito deve estar presente em sua unidade e plenitude em cada coisa finita, exatamente como a alma inteira está presente em todos os seus atos". Esta concepção idealista da mente toda presente em todos os seus pensamentos deve ser considerada como a melhor analogia da onipresença de Deus no universo. A este ponto de vista objetamos que esta onipresença é simplesmente potencial conforme encontramos em Clarke, Christian Theology, 74 - "Nós sabemos e só nós sabemos que Deus é capaz de produzir a sua ação, sem levar em conta o lugar. ... A onipresença é um elemento da imanência de Deus. ... Se ele não está em toda a parte, na verdade, ele não é Deus em parte nenhuma. A onipresença está implicada em toda a providência, em toda a oração, em toda a comunhão com Deus e confiança nele". Até onde se concebe que a consciência não está confinada a um só ponto no cérebro, a pergunta se outras porções do cérebro ou do corpo também podem ser sede da consciência pode ser considerada como puramente acadêmica, e a resposta não precisa afetar o nosso presente argumento. Admitimos o princípio da onipresença uma vez que sustentamos que a alma é consciente em mais de um ponto do organismo físico. Contudo a pergunta sugerida acima é interessante e a respeito dela os psicólogos estão divididos. Paulsen, Einleitung in die Philosofie (1892), 133-159, sustenta que a consciência é correlata à soma total dos processos corporais e com ele concordam Fechner e Wundt. "Plüger e Lewes dizem que, como os hemisférios do cérebro devem a sua inteligência à consciência que sabemos estar nele assim a inteligência dos atos do nervo espinhal deve realmente ser devido à presença de uma consciência de grau inferior". A cascavel do Prof. Brewer após várias horas de ter sido decapitada ainda o atacava com o seu pescoço ensangüentado quando ele tentava agarrá-la pela cauda. A partir da reação da perna do sapo decapitado não podemos inferir alguma consciência? "Robin, ao fazer cócegas no peito de um
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criminoso uma hora depois da sua decapitação viu o braço e a mão moverem-se para a marca". Hudson, Demonstration Of a Future Life, 239249, cita Hammond, Treatise on Insanity, cap. 2, para provar que o cérebro não é o único órgão da mente. O instinto não reside exclusivamente no cérebro; ele está situado na medulla oblongata, ou nervo espinhal ou em ambos órgãos. A mente objetiva, no entender de Hudson, é função do cérebro físico e cessa quando o cérebro perde a sua vitalidade. Alguns animais executam atos instintivos após a retirada do cérebro e seres humanos nascidos sem o cérebro fazem o mesmo. Johnson, Andover Rev., abr 1890.421 -"O cérebro não é a única sede da consciência. A mesma evidência que aponta para o cérebro como a principal sede da consciência também aponta para os centros nervosos situados no nervo espinhal ou em outra parte como sede de uma consciência ou inteligência mais ou menos subordinada". Ireland, Blot on the Brain, 26 - "Não vejo prova de que a consciência está totalmente limitada ao cérebro". A despeito destas opiniões, contudo, devemos admitir que o consenso geral entre os psicólogos está do outro lado. Dewey, Psychology, 349 -Os nervos sensoriais e os motores têm pontos de contato no nervo espinhal. Quando se transfere o estímulo de um nervo sensorial para um motor sem a intervenção consciente da mente, temos uma ação reflexa.... Se alguma coisa se aproxima do olho o estímulo é transferido para o nervo espinhal e, em vez de ser contínuo até o cérebro e causar o aparecimento de uma sensação, descarrega-se num nervo motor e o olho se fecha imediatamente. ... A ação reflexa em si mesma não envolve consciência". William James, Psychology, 1.16,66,134,214 - Ό córtex cerebral é o único órgão da consciência do homem. ... Se houver qualquer consciência pertencente aos centros inferiores, trata-se de uma consciência de que o eu nada conhece. ... Nos animais inferiores não é este o caso. ... A sede da mente no que se refere às suas relações dinâmicas, encontra-se em alguma parte no córtex do cérebro".
b) A onipresença de Deus não é a presença de uma parte, do todo divino em toda a parte. - Isto se segue da concepção de Deus como incorpóreo. Rejeitamos a representação materialista de que Deus é composto de elementos materiais que podem ser divididos e separados.
Teologia Sistemática (Strong) 561 Não há nenhuma multiplicação ou difusão de sua substância que corresponda às partes dos seus domínios. A essência una de Deus está presente ao mesmo tempo em tudo. 1 Re. 8.27 - "o céu e até o céu dos céus não poder-te-iam conter (circunscrever)". Deus deve estar presente em toda a sua essência e em todos os seus atributos em todo lugar. Ele é o "totus in omne parte". Alger, A Poesia do Oriente: "Apesar de que Deus se estende além dos limites da Criação, cada um dos menores átomos contém todo o seu ser". Disto se segue que o Logos todo pode estar unido ao homem Jesus Cristo presente nele, enquanto ao mesmo tempo ele ocupa e governa o universo todo; e deste modo o Cristo todo pode estar unido ao simples crente e presente nele, de modo tão pleno como se o crente fosse o único a receber a sua plenitude. A. J. Gordon: "Na matemática o todo é igual à soma das partes. Mas sabemos que, no Espírito, cada parte é igual ao todo. Cada igreja, cada verdadeiro corpo de Jesus Cristo tem o tanto de Cristo como qualquer outra e que tem o Cristo por inteiro". Mt. 18.20 - Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles". "O pároco de austeridade subiu à torre de uma Igreja Anglicana a fim de estar mais próximo de Deus de modo a poder entregar a sua palavra ao povo. Ε no esboço do sermão escreveu o que ele pensava que ter vindo do céu. Ε ele o despejou na cabeça do povo duas vezes por dia durante sete dias. Foi então que Deus disse: 'Desce e morre', e ele clamou lá da torre: Onde estás, Senhor"? Ε ο Senhor respondeu: 'Lá embaixo no meio do meu povo' ".
c) A onipresença de Deus não é necessária, mas livre. - Rejeitamos a noção panteísta de que Deus está confinado ao universo como o universo está confinado a Deus. Deus é imanente no universo, não por coação, mas por ato livre da sua vontade, e esta imanência é qualificada por sua transcendência. Deus poderia por sua vontade deixar de ser onipresente, porque ele poderia destruir o universo; mas, enquanto o universo existir, ele está e deve
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estar em toda a parte. Deus é a vida e a lei do universo; esta é a verdade do panteísmo. Mas ele também é pessoal e livre; isto o panteísmo nega. O Cristianismo sustenta a liberdade do mesmo modo que a onipresença essencial – entretanto, qualificada e suplementada pela transcendência de Deus. A alardeada verdade no panteísmo é um princípio elementar do cristianismo e é só a pedra de travessia para uma verdade mais nobre: a presença pessoal de Deus na sua igreja. O Talmude contrasta a adoração de um ídolo com a do Senhor: "O ídolo parece tão próximo, mas está tão longe, enquanto o Senhor está tão longe, mas está tão perto!" A onipresença de Deus garante-nos que ele está presente conosco para ouvir-nos e presente em cada coração nos confins da terra para responder a oração. O puritano voltou da moita de beldroega, dizendo: "Eu aprendi a não chamar nada na terra de encantador". Entretanto, este é o desprezo não só do artesanato, mas da presença do Todo-poderoso. A menor coisa na natureza merece estudo porque é a revelação do Deus presente. A uniformidade da natureza e o reino da lei nada são a não ser a firme vontade do Deus onipresente. A gravitação é a onipresença de Deus no espaço, como a evolução é a presença de Deus no tempo. Dorner, System of Doctrine, 1.73 - Sendo Deus onipresente, o contato com ele pode ser conseguido em qualquer momento em oração e na contemplação; é certo que é sempre verdade que nele vivemos, nos movemos e existimos como a fonte perene e onipresente da nossa existência". Rm. 10.6-8 - "Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu (isto é, para trazer do alto a Cristo;)? Ou: Quem descerá ao abismo (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo)? Mas o que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração". Lotze, Metaphysics, par. 256, citado em Illingworth, Divine Immanence, 135,136. Aluno da Escola Dominical: "Deus está no meu bolso"? "É claro que sim". "Não. Ele não está porque eu não tenho bolso". Deus é onipresente até onde há um universo, mas ele deixa de ser onipresente quando o universo deixa de ser.
2. Onisciência Isto significa que Deus conhece perfeita e eternamente todas as coisas que são objeto do seu conhecimento quer reais ou possíveis, passadas, presentes ou futuras.
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Deus conhece a sua criação inanimada: SI. 147.4 - "conta o número das estrelas, chamando-as todas pelos seus nomes". Ele tem conhecimento dos brutos: Mt. 10.29 - pardais - "nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai". Dos homens e suas obras: SI. 33.13-15-"olha todos os filhos dos homens ... contempla todas as suas obras". Do coração dos homens e seus pensamentos: At. 15.8 - "Deus, que conhece os corações"; SI. 139.2 - "de longe entendes o meu pensamento". Das nossas necessidades: Mt. 6.8 -"sabe o que vos é necessário". Das mínimas coisas: Mt. 10.30 - "até mesmo os cabelos das vossas cabeças estão contados". Do passado: Ml. 3.16 - "um memorial escrito". Do futuro: Is. 46.9.10 - "anuncio o fim desde o princípio". Dos atos livres dos homens: At. 2.23 - "a este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus". Do idealmente possível: 1 Sm. 23.12 - "Entregar-me-iam os cidadãos de Queila, a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul? Ε disse o Senhor: Entregariam" (se. se tu permanecesses); Mt. 11.23 - "se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje". Desde a eternidade: At. 15.18-O Senhor, que faz estas coisas que são conhecidas desde a eternidade". Incompreensível: SI. 139.6 - "Tal ciência é para mim maravilhosíssima"; Rm. 11.33 - "Ó profundidade das riquezas tanto da sabedoria como da ciência de Deus". Relacionada com a sabedoria: SI. 104.24 - "Todas as coisas fizeste com sabedoria"; Ef. 3.10 - ""multiforme sabedoria de Deus". Jó 7.20 - "Ó Guarda dos homens"; SI. 56.8 - "tu contaste as minhas vagueações" = toda a minha vida tem sido um exílio contínuo; põe as minhas lágrimas no teu odre" = o odre do oriente; há tantas lágrimas que podem enchê-lo; "não estão elas no teu livro?" = nenhuma lágrima caiu no solo sem ser notada; Deusas reuniu todas. Hb. 4.13-"Não há nenhuma criatura encoberta diante dele, antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daqueles com quem temos de tratar" - τετραχηλισμένα - com a cabeça pendida para trás e o pescoço nu como os animais mortos em sacrifício, ou agarrados pela garganta e lançados às costas de modo que o sacerdote pudesse descobrir se havia qualquer mancha. Diz o provérbio japonês: "Deus se esqueceu de esquecer".
d) A onisciência de Deus pode ser demonstrada a partir da sua onipresença assim como a partir da sua verdade ou autoconhecimento,
Teologia Sistemática (Strong) 564 no qual o plano da criação tem sua eterna base e a partir da profecia, que expressa a onisciência de Deus. Convém lembrar que a onisciência, como designação de um atributo relativo e transitivo, não inclui o autoconhecimento de Deus. O termo é empregado num sentido técnico de Deus conhecer todas as coisas pertencentes ao universo da sua criação. A.H. Gordon: "Viagens leves mais rápidas que o som". Você pode ver um lampejo do fogo da boca do canhão a uma milha de distância, bem antes que o ruído da descarga chegue ao ouvido. Deus produziu o lampejo de uma predição nas páginas da sua palavra e nós o vemos. Aguardemos um pouco e veremos o próprio evento". Royce, The Conception of God, 9 - Ό ser onisciente deve ser aquele que se apresenta não em virtude de processos de investigação fragmentários e gradualmente completos, mas em virtude de um discernimento de alcance total direto e transparente para com a sua própria verdade; o que eu digo é que ele apresenta a si mesmo a resposta realizada, a cada pergunta genuinamente racional".
b) Porque ela é livre de toda a imperfeição, o conhecimento de Deus é imediato como distinto do conhecimento que vem através do sentido ou da imaginação; simultâneo, não adquirido por observação ou construído por processos de raciocínio; distinto, livre de toda a vacuidade ou confusão; verdadeiro, correspondendo perfeitamente à realidade das coisas; eterno, compreendido em um ato que independe do tempo na mente divina. Uma mente infinita deve sempre agir e agir de um modo absolutamente perfeito. Em Deus não há sentido, símbolo, memória, abstração, crescimento, reflexo, arrazoado; seu conhecimento é totalmente direto e sem intermediários. Os egípcios com propriedade não representavam Deus tendo olho, mas sendo-o. Para nós, seus pensamentos "são mais do que se podem contar" (SI. 40.5), não porque haja sucessão neles, ora lembrando, ora esquecendo, mas porque nunca há um momento da nossa existência em que estejamos fora da sua mente; ele está sempre pensando em nós. Gn. 16.13 - "tu
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és Deus que vê". Mivart, Lessons from Nature, 37'4 - "Cada criatura de cada ordem de existência, conquanto sustentada, é tão complacentemente contemplada por Deus, que a atenção de todos os homens de ciência juntos podem apenas formar um símbolo inadequado de tal contemplação divina". Deste modo, o escrutínio de Deus sobre cada ato das trevas é mais do que um simples relance de um Coliseu total de espectadores e o seu olho é mais vigilante sobre os bons do que todos os exércitos do céu e da terra juntos. Armstrong, God and the Soul: "A energia de Deus é a atenção concentrada, concentrada em toda a parte. Podemos dar atenção a duas ou três coisas ao mesmo tempo; o pianista toca e conversa ao mesmo tempo; o mágico faz uma coisa enquanto aparenta fazer outra. Deus dá atenção a todas as coisas ao mesmo tempo". Marie Corelli, Master Christian, 104 - Ό biógrafo é uma indicação de que cada cena da vida humana panorama movendo-se em algum lugar, para ver alguma pessoa". O telégrafo sem fio é uma estupenda advertência de que para Deus não há segredo e que "nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saberse" (Mt. 10.26). Os raios de Röntgen (raios x) que fotografam o nosso interior, mesmo através das nossas roupas e mesmo na escuridão da meianoite, mostram que, para Deus "a noite resplandece como o dia" (SI. 139.12). O telescópio equatorial do Prof. Mitchel, que vagarosamente é movimentado por um cronógrafo na direção do ocaso, subitamente tocou o horizonte e descobriu um menino numa árvore roubando maçãs, mas o menino não sabia que estava sob a mira do astrônomo. Nada tão temível para o prisioneiro no cachot (calabouço) francês como o olho do guarda que nunca parava de vigiá-lo em perfeito silêncio pelo furo na porta. Como no Império Romano o mundo todo era para um malfeitor uma grande prisão e, em sua fuga para as mais distantes terras, o imperador podia saber o que se pensava dele, do mesmo modo, no governo de Deus nenhum pecador pode escapar ao olho do seu Juiz. O texto de Gn. 16.13 - "Tu és Deus que vê" tem sido empregado como um constrangimento do mal ao invés de um estímulo para o bem. Para os filhos do diabo, sem dúvida deve haver tal constrangimento. Para os filhos de Deus, entretanto, não há dúvida de que se trata do estímulo para o bem. Deus não deve ser considerado como um exator que supervisiona ou que ameaça, mas, ao invés disso, alguém que
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nos entende, nos ama e nos ajuda. SI. 139.17,18 - "Quão preciosos são para mim, ó Deus, os teus pensamentos! Quão grande é a soma deles! Se os contasse, seriam em maior número do que a areia; quando acordo, ainda estou contigo".
c) Porque Deus conhece as coisas como são, ele conhece as seqüências necessárias de sua criação como necessárias, os atos livres da criaturas como livres, os idealmente possíveis como idealmente possíveis. Deus sabe o que teria acontecido sob circunstâncias não presentes agora; sabe o que o universo teria sido se ele tivesse escolhido um plano diferente para a criação; sabe o que teriam sido as nossas vidas se tivéssemos tomado decisões diferentes no passado (Is. 48.18 - "Ah! se tivesses dado ouvido ... Então a tua paz seria como um rio"). Clarke, Christian Theology, 77 - "Deus tem um duplo conhecimento do seu universo. Ele o conhece desde a eternidade como é em sua mente, como existe desde, do mesmo modo que conhece a sua idéia; e conhece-o como realmente é no tempo e no espaço, movendo-se, mudando, crescendo, num processo de perpétua sucessão. Em sua própria idéia, ele conhece tudo ao mesmo tempo; mas ele também sabe da perpétua transformação e, com referência aos eventos, ele tem a presciência, o conhecimento presente, e o conhecimento posterior sobre como eles ocorrem. ... Ele concebe todas as coisas simultaneamente, mas observa-as em sua sucessão". Royce, World and Individual, 2.374 - sustenta que Deus não prevê temporariamente qualquer coisa exceto quando ele expressa nos seres finitos, ainda que o Absoluto possua um conhecimento perfeito num relance de toda a ordem temporal, presente, passada e futura. Isto, diz ele, não é presciência, mas conhecimento eterno. Priestley negava que qualquer evento contingente fosse objeto do conhecimento. Mas Reid diz que a negação de que qualquer ação livre pode ser prevista envolve a negação da própria atuação livre de Deus visto que as suas ações futuras podem ser previstas pelos homens; além disso, conquanto Deus prevê as suas ações livres, isto não as determina de modo necessário.
Teologia Sistemática (Strong) 567 d) O fato de que nada há na condição presente das coisas a partir das quais as ações futuras das criaturas livres necessariamente se seguem por lei natural não impede Deus de prever tais ações porque seu conhecimento não é mediato, mas imediato. Ele não só conhece antecipadamente os motivos que ocasionarão os atos dos homens, mas diretamente conhece diretamente os próprios atos. A possibilidade de tal conhecimento direto sem atribuir sua base é aparente se admitirmos que o tempo é uma forma de pensamento finito a que a mente divina não está sujeita. Aristóteles sustentava que não há nenhum conhecimento exato das ocorrências futuras eventuais. De igual modo, Socínio, conquanto admita que Deus conhece todas as coisas cognoscíveis, resume os objetos do conhecimento divino, afastando do número aqueles cuja existência futura ele considera incerta, tais como as determinações dos agentes livres. Estes, sustenta ele, não podem ser conhecidos antecipadamente porque nada há na condição presente das coisas a partir das quais eles necessariamente vêm em conseqüência de um causa natural. O homem que fabrica um relógio pode dizer quando ele vai bater as horas. Mas a vontade livre, não estando sujeita às leis mecânicas, não pode ter seus atos preditos ou conhecidos com antecedência. Deus conhece as coisas nas suas causas os eventos futuros só nos seus antecedentes. Com esta doutrina sociniana concordam alguns arminianos, como McCabe em Foreknowledge of God e em Divine Nescience of Future Contingencies a Necessity. McCabe, contudo, sacrifica o princípio da livre vontade, em defesa do qual ele faz esta rendição da presciência de Deus, dizendo que, nos casos de profecia cumprida, como a negação de Pedro e a traição de Judas, Deus exerceu influências especiais a fim de garantir o resultado; de modo que a vontade de Pedro e a de Judas agiram isentas da responsabilidade sob a lei de causa e efeito. Ele cita o Dr. Daniel Curry declarando que a negação absoluta da presciência divina é complemento essencial à teologia metodista sem o que sua incompleta filosofia é indefensável contra a consistência lógica do calvinismo". Ver também o artigo de McCabe na Methodist Review, set. 1892.760-773. Ver também Simon, Reconciliation, 287-"Deus constituiu uma criatura cujas ações ele só
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pode conhecer como tais depois de executadas. Na presença do homem, em certa extensão, até mesmo o grande Deus condescende em esperar; ainda mais: ele assim ordenou as coisas para que pudesse aguardar, inquirindo: "O que ele vai fazer?'" Também Dugald Stewart: "Arriscarei afirmar aquilo que excede ao poder de Deus permitir tal conjunto de eventos contingentes para que ocorram quando a sua própria presciência não alcança?" Martensen sustenta este ponto de vista e Rothe, Theologische Ethik, 1.212-234, que declara que as escolhas livres dos homens aumentam continuamente o conhecimento de Deus. Do mesmo modo também Martineau, Study of Religion, 2.279 – "A crença na presciência divina sobre o nosso futuro não apresenta base nenhuma na filosofia. Nós não mais consideramos ser verdade que Deus conhece o memento da minha vida moral que virá a seguir. Até mesmo ele não sabe se eu vou me entregar à tentação secreta ao meio-dia. Para ele a vida é um drama cuja conclusão ele desconhece". Então, diz o Dr. A.J. Gordon, nada há tão lugubre e tão terrível como viver sob a direção de um Deus assim. O universo está correndo como um trem expresso sem farol ou sem maquinista; a qualquer momento podemos cair no abismo. Lotze não nega a presciência de Deus a respeito das livres ações do homem, mas considera para o intelecto humano insolúvel o problema da relação de tempo para com Deus e tal presciência como "um dos postulados a respeito dos quais não sabemos como eles podem cumprir-se". Bowne, Philosophy of Theism, 159 – "A presciência de um ato livre é o conhecimento sem a base própria para conhecer. Sobre a suposição de um tempo real, é difícil achar uma saída para esta dificuldade. ... A doutrina da idealidade do tempo ajuda-nos, sugerindo a possibilidade de um presente de total alcance, ou um eterno agora, para Deus. Neste caso, o problema desaparece com o tempo, que é a sua condição". Quanto à doutrina da nesciência divina, insistimos não só na nossa fundamental convicção sobre a perfeição de Deus, mas no constante testemunho da Escritura. Em Is. 41.21,22 Deus faz da sua presciência o teste da sua divindade na controvérsia com os ídolos. Se Deus não pode antecipar o conhecimento dos atos livres do homem, "o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo" (Ap. 13.8), então foi somente um sacrifício a ser oferecido no caso de Adão cair, e Deus não sabia se cairia ou
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não, e no caso de Judas trair Cristo, Deus não sabia se Judas trairia ou não. Na verdade, visto que o curso da natureza muda de acordo com a vontade do homem quando ele queima cidades e derruba florestas, segundo esta teoria Deus não pode predizer nem mesmo o curso da natureza. Por isso, toda a profecia é um protesto contra este ponto de vista. Não somos capazes de dizer de que modo Deus tem a presciência das livres decisões do homem, mas então o método do conhecimento de Deus a respeito de muitas outras coisas nos é desconhecido. Têm sido propostas as seguintes explicações. Deus pode ter a presciência dos atos livres: 1. Mediatamente, tendo a presciência dos motivos destes atos, quer porque estes motivos induzem a tais atos, 1 ) necessariamente, ou 2) com certeza. Deve-se aceitar este último caso quer porque os motivos nunca são causas, mas somente ocasiões, da ação. A causa é a vontade, ou o próprio homem. Mas pode-se dizer que ter presciência dos atos através dos motivos, afinal de contas não é ter presciência, mas é raciocinar ou, ao invés disso, inferir. Contudo, apesar de que os seres inteligentes normalmente agem segundo motivos previamente dominantes, eles também, em momentos críticos, como na queda de Satanás e na de Adão, escolheram entre motivos e, em tais casos, o conhecimento dos motivos que eles tinham não lhes deu a chave para as suas decisões. Por isso, outra afirmação se propõe a resolver estas dificuldades, a saber, Deus pode ter a presciência dos atos livres; 2. Imediatamente, através da pura intuição, inexplicável para nós. Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.203,225 - "Se Deus pode conhecer um evento futuro como certo apenas através do cálculo das causas, pode-se admitir que ele não pode ter a presciência com certeza de qualquer ato livre do homem; porque a sua presciência seria, então, uma prova de que o ato em questão é a conseqüência necessária de algumas causas e não é em si mesma livre. Ao contrário, se o conhecimento divino for considerado intuitivo, vemos que ele está na mesma relação que o próprio ato quanto aos seus antecedentes e deste modo fica removida a dificuldade". Mesmo sobre este ponto de vista permanece a dificuldade de perceber como pode haver na mente de Deus uma certeza subjetiva relativa aos atos a respeito dos quais não há nenhuma base objetiva fixa da certeza. Contudo, a despeito
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desta dificuldade, sentimo-nos tanto limitados à Escritura como à idéia fundamental da perfeição de Deus a fim de sustentar o perfeito conhecimento de Deus sobre os atos livres das suas criaturas. Dizemos com o Presidente Pepper: Ό conhecimento da contingência não é necessariamente conhecimento contingente". Com Whedon: "Não se trata de cálculo, mas de puro conhecimento".
e) A presciência não é em si mesma causativa. Não deve ser confundida com a vontade pré-determinante de Deus. As ações livres não ocorrem porque são previstas, mas são previstas porque ocorrem. Ver uma coisa no futuro não a faz ser, mais do que ver uma coisa no passado. Quanto aos eventos do futuro, podemos, com Whedon, dizer: Ό conhecimento os recebe, não os fez". A presciência pode, e faz, pressupor, mas não é a predeterminação. Tomás de Aquino, em sua Summa, 1.38; 1.1, diz que o conhecimento de Deus é a causa das coisas"; mas ele se sente na obrigação de acrescentar: "Deus não é a causa de todas as coisas que ele conhece, visto que as coisas más que ele conhece não provêm dele".
f) A onisciência abrange o real e o possível, mas não abrange o autocontraditório e impossível porque estes não são objetos do conhecimento. Deus não sabe qual seria o resultado se dois e dois fossem cinco, nem sabe "se uma quimera ruminando no vácuo devorasse segundas intenções"; e isso, simplesmente em razão de que ele não pode conhecer a autocontradição e o absurdo. Tais coisas não são objeto de conhecimento. Clarke, Christian Theology, 80 - "Pode Deus fazer um velho num minuto? Poderia ele fazer o bem ao ímpio enquanto este permanecesse ímpio? Poderia ele criar um mundo em que dois e dois são cinco?" Royce, Spirit of Modern Philosophy, 366 - "Deus conhece o número total que é a raiz quadrada de 65? ou que montanhas adjacentes há que não têm vales entre si? Deus conhece quadrados redondos e cubos de sal formados de açúcar, sinarcas, 'Boojums' e Abracadabra?"
Teologia Sistemática (Strong) 571 g) A onisciência, qualificada por vontade santa, denomina-se na Escritura "sabedoria". Em virtude da sua sabedoria Deus escolhe os mais elevados fins e usa os mais adequados meios para cumpri-los. Sabedoria não é somente "consideração de todas as coisas segundo o seu próprio valor" (Olmstead); ela tem também em si o elemento do conselho e propósito. Tem sido definida como "o talento de empregar os talentos próprios". Implica em duas coisas: primeiro, a escolha do mais elevado fim; segundo, a escolha do melhor recurso para garanti-lo. J. C. C. Clarke, Self and the Father, 39 - "A sabedoria não consiste em concepções inventadas, ou harmonia de teorias com teorias; mas na humilde obediência da mente ao recebimento dos fatos encontrados nas coisas". Deste modo, a sabedoria do homem, a obediência, a fé são nomes para os diferentes aspectos da mesma coisa. Em Deus a sabedoria é a escolha moral que torna a verdade e a santidade supremas. Bowne, Principles of Ethics, 261 "O socialismo persegue um fim louvável através de recursos insanos ou destrutivos. Não basta ser bom. Nossos métodos devem levar em conta a natureza das coisas, se se espera que sejam bem sucedidas. Não podemos produzir bem-estar através da lei. Nenhuma legislação remove desigualdades da natureza e da constituição. A sociedade não pode produzir igualdade, assim como não pode fazer um rinoceronte cantar, ou legislar a transformação de um gato em leão".
3. Onipotência É o poder de Deus fazer todas as coisas que são objeto do seu poder com o sem o uso de meios. Gn. 17.1 - "Eu sou o Deus Todo-poderoso". Ele forma as maravilhas naturais: Gn. 1.1-3 - "Haja luz"; Is. 44.24 - "estendo os céus por mim mesmo"; Hb. 1.3 - "sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder". Maravilhas espirituais: 2 Co. 4.6 - "Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações"; Ef. 1.19"sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos"; Ef. 3.20 - "poderoso para fazer muito mais abundantemente". Poder para criar novas coisas: Mt. 3.9 -"mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão";
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Rm. 4.17 - "vivifica os mortos e chama as coisas que não são como se fossem". Segundo o seu próprio prazer: SI. 115.3-"faz tudo o que lhe apraz"; Ef. 1.11 -"faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade". Nada impossível: Gn. 18.14 - "Haveria alguma coisa difícil para o Senhor?" Mt. 19.26 - "a Deus tudo é possível". E. G. Robinson, Christian Theology, 73 "Se, para a sua existência, todo o poder do universo depende da sua vontade criativa, é impossível conceber qualquer limite para o seu poder a não ser aquele deixado por sua própria vontade. Mas esta é apenas uma prova negativa; a onipotência absoluta não é demonstrável logicamente, embora prontamente reconhecida como um justo conceito do Deus infinito, quando proposto na autoridade de uma revelação positiva. A onipotência de Deus é ilustrada pela obra do Espírito Santo, que na Escritura é comparado ao vento, à água e ao fogo. As manifestações comuns destes elementos não fornecem nenhum critério sobre os efeitos que eles podem produzir. O poderoso vento que soprou no Pentecostes é a analogia do vento Espírito, que teve tudo diante de si no primeiro dia da criação (Gn. 1.2; Jo. 3.8; At. 2.2). O derramamento do Espírito assemelha-se ao dilúvio de Noé quando as janelas do céu se abriram e não houve lugar suficiente para receber aquilo que caía Ml. 3.10. Ε o batismo do Espírito Santo é como o fogo que destruirá toda a impureza até o fim do mundo (Mt. 3.11 ; 2 Pe. 3.7-13).
a) A onipotência não implica poder de fazer o que não é objeto do poder; por exemplo, aquilo que é autocontraditório ou contradiz a natureza de Deus. Coisas autocontraditórias: "facere factum infectum" - fazer de um evento passado que não tenha ocorrido (daí a inutilidade de orar: "Faça-se aquilo que é bom"); fazer, entre dois pontos, um caminho mais curto do que a reta; reunir duas montanhas separadas sem um vale entre elas. Coisas contrárias à natureza de Deus: mentir, pecar, morrer. Fazer tais coisas não implicaria poder, mas impotência. Deus tem todo o poder consistente com a perfeição infinita - todo o poder para fazer o que é digno dele mesmo. Deste modo, o homem não pode dizer coisa maior do que esta: "Eu me atrevo a fazer tudo quanto possa tornar-se um homem; quem se atreve a fazer mais
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é filho de nada". Até mesmo Deus não pode fazer o errado ser certo, nem detestar-se por ser bendito. Há quem sustente que o evitar o pecado num sistema moral não é objeto de poder e, por isso, Deus não pode evitar o pecado num sistema moral. Sustentamos o contrário. Dryden, Imitation of Horace, 3.29.71 - "Sobre o passado nem o céu tem poder; Aquilo que foi, foi e já tive a minha hora" - palavras aplicadas por Lord John Russell à sua própria carreira. Emerson, The Past "Tudo agora está garantido e firme; Nem os deuses podem abalar o passado". Um aluno da Escola Dominical: Professor, Deus pode fazer uma rocha tão grande que não possa erguê-la?" Professor do Seminário: "Pode Deus mentir?" Estudante do Seminário: "Tudo para Deus é possível".
b) Onipotência não implica o exercício de todo o poder da parte de Deus. Ele tem poder sobre o seu poder; em outras palavras, o seu poder está sob o controle da sábia e santa vontade. Deus pode fazer tudo o que ele quer, mas não quer tudo o que ele pode. De outra forma seu poder seria mera força agindo necessariamente, e Deus seria escravo de sua onipotência. Schleiermacher sustenta que a natureza não se baseia apenas na causalidade divina, mas expressa-a plenamente; não existe em Deus uma força causativa de algo que não seja real e verdadeiro. Tal doutrina não difere essencialmente da natura naturans e natura naturata de Spinoza. Mas a onipotência não é instintiva; é uma força utilizada segundo o beneplácito de Deus. De modo algum Deus está limitado às leis da natureza, ou preso a uma evolução necessária do seu próprio ser, como supõe o panteísmo. Como Rothe já demonstrou, Deus tem um poder livre sobre o poder da natureza e não está compelido a tudo o que ele pode fazer. Das pedras que estão na rua ele pode "suscitar filhos a Abraão", mas ele não o fez. Em Deus estão encerrados os tesouros, uma fonte inexaurível de novos princípios, novas criações, novas revelações. Supor que, na criação, ele despendeu todas as possibilidades do seu ser é negar a sua onipotência. Jó 26.14 - "Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem, pois, entenderia o trovão do seu poder?"
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1 Pe. 5.6 - "Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus" - sua poderosa mão da providência, da salvação, da bênção - para que, a seu tempo, vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós". "As poderosas forças sobre o poderoso controle" - esta é a maior apresentação do poder. A ausência de limites não é a maior liberdade. Os jovens devem aprender que a autolimitação é a verdadeira força. Pv. 16.32 - "Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade". Shakespeare, Coriolano, 2.3 "Temos em nós mesmos poder para fazê-lo, mas é um poder de termos força para não fazermos". Quando a dinamite se abre, tudo se abre: sem reservas. Deus emprega o seu poder tanto quanto lhe apraz: o que lhe sobra da ira, do mesmo modo que nos outros, ele sufoca.
c) A onipotência em Deus não exclui, mas implica, o poder de autolimitação. Porque toda essa limitação é livre, é ato e manifestação do poder de Deus. A liberdade humana não se torna impossível por causa da onipotência divina, mas existe em virtude dela. Há um ato de onipotência quando Deus se humilha e assume a carne humana na pessoa de Jesus Cristo. Tomásio: "Se Deus está sobre todas as coisas e em todas as coisas, ele não as pode ser". SI. 113.5,6 - "Quem como o Senhor, nosso Deus ... que se curva para ver o que está no céu e na terra"? Fp. 2.7,8 - "esvaziou-se a si mesmo ... humilhou-se a si mesmo". O Presidente Woolsey apresentou o verdadeiro poder quando controlou a sua indignação e deixou um estudante que o ofendeu ir embora. A respeito de Cristo na Cruz, ver Moberly, Atonement and Personality, 116 - "Foi o poder [de conservar a sua vida, a fim de escapar do sofrimento], com a vontade de valer-se dele e não o empregou, que deu provas daquilo que ele era: homem obediente e perfeito". Somos mais parecidos com o onipotente quando nos limitamos em função do amor. O atributo da onipotência é a base da confiança assim como do temor, da parte das criaturas de Deus. Isaac Watts: Cada palavra da sua graça é tão forte como aquele que edifica os céus; a voz que gira as estrelas profere todas as promessas".
Teologia Sistemática (Strong) 575 Terceira Divisão - Atributos relacionados com os seres morais 1. Veracidade e Fidelidade ou Verdade transitiva Veracidade e fidelidade são a verdade transitiva de Deus em sua dupla relação com as criaturas em geral e com seu povo redimido em particular. Sl. 138.2 - "louvarei o teu nome pela tua benignidade e pela tua verdade: pois engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome"; Jo. 3.33 - "aquele que aceitou o testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro"; Rm. 3.4 -"seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso"; Jo. 14.17 ~ "o Espírito de verdade"; 1 Co. 1.9 - "Fiel é Deus"; 1 Ts. 5.24 - "Fiel é o que vos chama"; Nm. 23.19 - "Deus não é homem para que minta"; Tt. 1.2 - "Deus, que não pode mentir, prometeu"; Hb. 6.18 - "nas quais é impossível que Deus minta".
a) Em virtude da sua veracidade, todas as suas revelações às criaturas são consistentes com o ser essencial dele e umas com as outras. Na veracidade de Deus temos a garantia de que as nossas faculdades em seu exercício normal não nos enganam; que as leis do pensamento são as leis das coisas; que o mundo exterior e as causas secundárias que há nele têm existência objetiva; que as mesmas causas sempre produzem os mesmos efeitos; que as ameaças da natureza moral executar-se-ão no transgressor impénitente; que a natureza moral do homem é a imagem de Deus; e que podemos tirar justas conclusões a respeito do que é a consciência em nós sobre o que a santidade é nele. Por isso podemos esperar que todas as revelações passadas, quer na natureza, quer na sua palavra não serão contraditadas pelo nosso conhecimento futuro, mas, ao invés disso, provarão ter nelas mais verdades do que jamais sonhávamos. A palavra do homem pode passar, mas a palavra de Deus permanece para sempre (Mt. 5.18 - "nem um jota, nem um til se omitirá da lei sem que tudo seja comprido"; Is. 40.8 - "a palavra de Deus permanece para sempre").
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Mt. 6.16 - "não sejais como os hipócritas". Em Deus, a expressão exterior e a realidade interior correspondem-se sempre. Os desejos dos assírios eram escritos numa tabuinha encaixada em outra sobre a qual estava escrita a mesma coisa. A quebra ou falsificação do invólucro exterior podia ser corrigida pela referência interior. Do mesmo modo a nossa vida exterior deve estar em conformidade com o coração, que se acha no interior, e o coração, no interior, com a vida exterior. Sobre o dever de falar a verdade e as limitações desse dever, veja-se Newman Smith, Christian Ethics, 386-403 - "entrega a verdade sempre àqueles que, no âmbito da humanidade têm o direito à verdade; esconda-a, ou falsifica-a só quando o direito à verdade tiver sido perdido, ou esteja em falta, por doença, fraqueza, ou alguma intenção criminosa".
b) Em virtude da sua fidelidade, ele cumpre todas as suas promessas ao seu povo, quer expressas em palavras quer implicadas na constituição que ele lhes conferiu. Na fidelidade de Deus temos uma base segura da confiança de que ele executará aquilo que o seu amor o levou a prometer aos que obedecem o evangelho. Visto que as suas promessas não se baseiam naquilo que somos ou que temos feito, nas no que Cristo é e fez, nossos defeitos e erros não os invalidam, desde que sejamos verdadeiramente penitentes e tenhamos fé: 1 Jo. 1.9 - "fiel e justo para nos perdoar os pecados" = fiel à sua promessa e justo para com Cristo. A fidelidade de Deus também garante um suprimento de todas as reais necessidades do nosso ser tanto aqui como daqui em diante, visto que tais necessidades implicam promessas daquele que nos fez: SI. 84.11 - "não negará bem algum aos que andam na retidão"; 91.4 - "A sua verdade é escudo e broquel"; Mt. 6.33 - "e as demais coisas vos serão acrescentadas"; 1 Co. 2.9 - "as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as coisas que Deus preparou para os que o amam". Régulo volta a Cartago para morrer ao invés de quebrar a sua promessa aos seus inimigos. George William Curtis economiza durante anos e desiste de ser rico para pagar as dívidas do seu pai, que morreu. Quando o General Grant vendeu todos os presentes que lhe deram as cabeças
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coroadas da Europa e pagou em que o seu filho insolvente o envolvera, disse: "A pobreza e a honra é melhor do que a riqueza e a desgraça". Muitos homens de negócio prefeririam morrer a deixar de cumprir a sua promessa e permitir que o seu título fosse a protesto. A veracidade de Deus não é menor do que a do homem mortal.
2. Misericórdia e Bondade ou Amor Transitivo Misericórdia e bondade são o amor transitivo de Deus em sua dupla relação com o desobediente e com as porções de suas criaturas. Tt. 3.4 - "amor de Deus ... para com os homens"; Rm. 2.4 "benignidade de Deus"; Mt. 5.44.45 - "amai a vossos inimigos ... para que sejais filhos do Pai"; Jo. 3.16 - "Deus amou o mundo"; 2 Pe. 1.3 - "nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade"; Rm. 8.32 - "nos dará com ele todas as coisas"; Jo. 4.10 - "Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados".
a) Misericórdia é o princípio eterno da natureza de Deus que o leva a buscar o bem temporal e a salvação eterna dos que se opuseram à vontade dele, mesmo a custo do sacrifício próprio. Martensen: "Visto na relação com o pecado, o amor eterno é a graça compassiva". A contínua entrega da vida natural da parte de Deus é uma prefiguração, numa esfera menor, a comunicação da vida espiritual e eterna através de Jesus Cristo. Quando ele nos determina que amemos os nossos inimigos, ele só nos manda seguirmos o seu exemplo. Shakespeare - Titus Andronicus, 2.2 - "Podes aproximar-te da natureza dos deuses? Aproxima-te deles, então, sendo misericordioso". Twelfth Night, 3.4 - "Não há na natureza nenhuma mácula a não ser a mente; nada pode deformar-se a não ser a ausência de bondade. Virtude é beleza".
b) Bondade é o princípio eterno da natureza de Deus que o leva a comunicar sua própria vida e bênção aos que são semelhantes a ele no
Teologia Sistemática (Strong) 578 caráter moral. Bondade, portanto, é quase idêntica ao amor da complacência; misericórdia ao amor da benevolência. Note, contudo, que o amor transitivo é apenas uma manifestação exterior do amor imanente. O eterno e perfeito objetivo do amor de Deus está na sua própria natureza. Os homens tornam subordinados os objetivos desse amor só quando eles se tornam conexos e identificados com o seu principal objetivo, a imagem da perfeição de Deus em Cristo. Os homens se tornam filhos de Deus somente no Filho. O requisito para isto acha-se na aceitação de Cristo pelo homem. Deste modo pode-se dizer que Deus entrega-se ao homem justo quando este deseja recebê-lo. Ε como Deus se dá ao homem, em todos os seus atributos morais, a fim de responder por ele e renovar o seu caráter, há verdade na afirmação de Nordell (Examiner, 17/01/1884) de que a manutenção da santidade é função da justiça divina; a difusão da santidade é função do amor divino". Admitimos que isto é substancialmente verdade, conquanto neguemos que o amor é uma simples forma ou manifestação da santidade. A entrega própria é diferente da autoafirmação. O atributo que move Deus a derramar não é idêntico ao que o leva a mantê-lo. Estas duas idéias, de santidade e de amor, são de tal modo distintas como, por um lado, a da integridade e, por outro, da generosidade. Park: "Em certo sentido Deus ama Satanás e nós também devemos amá-lo". Shedd: "Este mesmo amor de compaixão Deus sente para com o não eleito; mas proíbe-se a expressão dessa compaixão por razões que, para Deus, são suficientes, mas inteiramente desconhecidas da sua criatura". A bondade de Deus é a base do galardão, sob o governo de Deus. A fidelidade leva Deus a guardar as suas promessas; a bondade o leva a cumpri-las. Edwards, Nature of Virtue, in Works, 2.263 - O amor da benevolência não pressupõe beleza no seu objeto. O amor da complacência a pressupõe. Virtude não é amor a um objeto por sua beleza. A beleza dos seres inteligentes não consiste no amor à beleza, ou a virtude no amor a esta. Virtude é o amor ao ser em geral, exercido numa boa vontade geral. Esta é a doutrina de Edwards. Preferimos dizer que virtude é amor, não ao ser em geral, mas ao bom ser, e assim a Deus, o Santo. O amor da compaixão é perfeitamente compatível com a abominação do mal e com a indignação contra aquele que o comete. O amor não implica necessariamente
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aprovação, mas o desejo de que todas as criaturas cumpram o propósito da sua existência através da moral, de conformidade com o Santo. Rm. 5.8 - "Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores". Devemos amar os nossos inimigos e Satanás é o nosso pior inimigo. Devemos querer o bem de Satanás e acalentar para com ele o amor da benevolência, apesar de não o amor da complacência. Isto não envolve tolerância para com o seu pecado, ou ignorância da sua depravação moral como os versos de Wm. C. Gannett parecem implicar: "O poema tem o fruto do arbusto quando chega ao olho do poeta; a rua começa para o mascarado quando Shakespeare passa por ela. Cristo vê a brancura do coração de Judas e ama também o seu traidor; para o anjo, Deus explora o seu novo céu, o seu mais profundo inferno".
3. Justiça e Retidão, ou Santidade Transitiva Justiça e retidão são a santidade transitiva de Deus, em virtude da qual seu tratamento para com as criaturas se conforma com a pureza de sua natureza, -a retidão demandando de todos os seres morais a conformidade com a perfeição de Deus, e a justiça visitando a inconformidade com aquela perfeição na perda judicial ou sofrimento. Gn. 18.25 - "Não faria justiça o Juiz de toda a terra"? Dt. 32.4 - "todos os seus caminhos juízos são; Deus é a verdade e nele não há injustiça; justo e reto é"; SI. 5.5 - "aborreces a todos os que praticam a maldade"; 7.9-12 "ó justo Deus, provas o coração ... salvas os retos ... é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias"; 18.24-26 - retribuiu-me o Senhor conforme a minha justiça ... com o benigno te mostrarás benigno ... com o perverso te mostrarás indomável". Mt. 5.48 - "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus"; Rm. 2.6 - "recompensará a cada um segundo as suas obras"; 1 Pe. 1.16 - "Sede santos porque eu sou santo". Estas passagens mostram que Deus ama as mesmas pessoas que ele detesta. Não é verdade que ele detesta o pecado, mas ama o pecador; ele tanto ama como detesta o pecador; detesta-o quando ele é um vivo e voluntário antagonista da verdade e da santidade, ama-o quando ele é uma criatura capaz do bem e arruinado pela sua transgressão.
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Não há nenhum pecado abstrato separado das pessoas em quem esse pecado está representado e incorporado. Thomas Fuller achava difícil esfomear a profanação, mas alimentar a pessoa do impudico mendigo que recorre a ele por alimento. O Sr. Finney declarava que mataria o caçador de escravos, mas o amaria de todo o seu coração. Na guerra civil dos Estados Unidos o Dr. Kirk dizia: "Deus sabe que nós amamos os rebeldes, mas Deus também sabe que nós os mataremos se eles não depuserem as suas armas". A complexa natureza de Deus não só permite como necessita deste mesmo duplo tratamento para com o pecador e o pai terreno experimenta o mesmo conflito de emoções quando o seu coração anseia pelo filho corrompido que ele é obrigado a banir da sua casa. Moberly, Atonement and Personality, 7 – "Quem é punido é o pecador, não o pecado".
a) Porque justiça e retidão são simplesmente santidade transitiva - e a retidão designa esta santidade principalmente em seu aspecto determinativo, a justiça principalmente no punitivo, - elas não são manifestações de benevolência, ou da disposição de Deus de assegurar a mais alta felicidade das suas criaturas, nem se baseiam na natureza das coisas como algo separado de Deus ou acima dele. Cremmer, N. Τ Lexicon: δίκαιος = a perfeita coincidência que existe entre a natureza de Deus a qual é o padrão para todos e para os seus atos". Justiça e retidão são apenas santidade exercida para com as criaturas. A mesma santidade que existe em Deus na eternidade passada manifesta-se como justiça e retidão logo que as criaturas inteligentes passam a existir. Muito do que se disse da santidade como atributo imanente de Deus aplicase também aqui. A tendência moderna de se confundir santidade com amor mostra-se na incorporação de justiça e retidão na simples benevolência. Vejamos alguns exemplos desta tendência: Ritschl, Unterricht, par. 16 - "A retidão de Deus denota a maneira como Deus opera a sua amorosa vontade na redenção do mesmo modo que a humanidade como um todo e o homem em particular; por isso a sua justiça não se distingue da sua graça". Prof. Georges M. Forbes: "Só o justo faz o amor moral; só o amor faz o justo moral". Jones, Robert Browning, 70 - "Não é a beneficência que coloca a
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morte como o centro do pecado? Carlyle se esqueceu disso. Deus não é apenas um grande realizador de tarefas. O poder que impõe a lei não é um poder estranho". D'Arcy, Idealism and Theology, 237-240 - "Como a autorealização pode ser a realização dos outros? Como o verdadeiro bem pode ser sempre o bem comum? Por que o fim de cada um é o fim de todos? ... Precisamos um universal concreto que unifique todas as pessoas". Do mesmo modo também, Harris, Kingdom of Christ on Earth, 39-42; God, The Creator. 287,299,302 - Ό amor, como a razão requer e regula, pode chamar-se retidão. Amor é boa vontade universal ou benevolência, regulada em seu exercício pela retidão. Amor é escolha de Deus e do homem como objeto de confiança e serviço. Esta escolha envolve a determinação da vontade de buscar o bem-estar universal e, neste aspecto, está a benevolência. Envolve também o consentimento da vontade sobre a razão, e a determinação de regular toda ação na busca do bem-estar através da verdade, da lei, e do ideal; neste aspecto ele é retidão.... Justiça é o consentimento da vontade para com a lei do amor, com sua autoridade, seus requisitos e sanções. A ira de Deus é a reação necessária da lei do amor na constituição e na ordem do universo contra o malfeitor que não lhe obedece e os sacrifícios de Cristo expiam o pecado afirmando e mantendo a autoridade, a universalidade e a inviolabilidade da lei do amor de Deus na redenção dos homens e perdão dos seus pecados. ... A retidão não pode ser o todo do amor porque isto nos encerraria no espírito formal da lei sem dizernos o que a lei requer de nós. A benevolência não pode ser o amor completo porque isto nos encerraria no hedonismo, na forma de utilitarismo, excluindo a retidão do caráter de Deus e do homem". Newman Smith também, em Christian Ethics, 227-231, diz-nos que "o amor, como auto-afirmação, é retidão; a entrega de si mesmo é benevolência; como o seu encontro próprio nos outros, é simpatia. A retidão como consideração subjetiva ao nosso ser moral é santidade; como consideração objetiva pela pessoa dos outros é justiça. A santidade está envolvida no amor como respeito a si mesma; o Pai celeste é o Pai santo (Jo. 17.11). O amor contém em sua unidade uma virtude trina. O amor afirma sua própria dignidade, concede o bem aos outros e acha sua vida ainda no bem-estar dos outros. O limite ético da entrega própria encontra-se na auto-afirmação. O amor em doação de si mesmo não pode tornar-se
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suicida. A benevolência do amor tem os seus laços morais na santidade do amor. Em Deus o verdadeiro amor mantém a sua transcendência e exclui o panteísmo". A doutrina acima, citada substancialmente de Newman Smith, parecenos incluir no amor, sem garantia, aquilo que apropriadamente pertence à santidade. Virtualmente nega que a santidade tenha qualquer existência independente como atributo de Deus. Fazer da santidade uma manifestação do amor parece-nos tão irracional como dizer que a auto-afirmação é uma forma de auto-entrega. Admitir que a santidade regula e limita o amor mostra que a santidade não pode por si mesma ser amor, mas deve ser um atributo independente e superior. O justo fornece a regra e a lei para o amor, mas não é verdade que o amor fornece a regra e a lei para o justo. Não existe esta tal dupla soberania como esta teoria quer implicar. O único atributo independente e supremo é a santidade e o amor é somente o impulso para comandar esta santidade. William Ashmore: "O Dr. Clarke dá grande ênfase ao caráter de um 'bom Deus'. ... Mas ele é muito mais que um bom Deus; ele é um Deus justo e um Deus reto e um Deus santo - um Deus que se 'ira contra o ímpio' mesmo enquanto ele está pronto a perdoar se o ímpio se arrepende do seu caminho e não do próprio ímpio. Ele é o Deus que trouxe o dilúvio sobre o mundo dos ímpio; que fez chover fogo e enxofre dos céus; e que deve vir no 'fogo fazendo vingança sobre aqueles que não conhecem a Deus' e não obedecem ao evangelho do seu Filho. ... Paulo raciocinava a respeito da 'bondade' e da 'severidade' de Deus".
b) Santidade transitiva, como retidão, impõe a lei na consciência e na Escritura e pode ser chamada santidade legislativa. Como justiça, executa as penas da lei e pode ser chamada santidade distributiva ou judicial. Na retidão Deus revela principalmente seu amor de santidade; na justiça principalmente sua aversão ao pecado. A auto-afirmativa pureza de Deus demanda igual pureza naqueles que foram feitos imagem sua. Como Deus quer e mantém a sua própria excelência moral, do mesmo modo todas as criaturas devem querer e manter a
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excelência moral de Deus. Só pode haver um centro no sistema solar; o sol é o seu centro bem como o de todos os planetas. Bixby, Crisis in Morals, 282 -"Não é racional ou seguro para a mão separar-se do coração. Isto é um universo, e Deus é o coração do grande sistema. O altruísmo não resulta da sociedade, mas esta resulta daquele. Começa com as criaturas e desce até o homem. Os animais que sabem como agrupar-se têm maior chance de sobrevivência. Os animais anti-sociais morrem mais cedo. O organismo mais perfeito é o mais sociável. A justiça é o dever que a parte deve ao todo". Isto nos parece apenas uma expressão parcial da verdade. A justiça é maior que uma dívida para com os outros; é uma dívida para com o eu, e o elemento auto-afirmante, auto-preservador, auto-respeitador constitui-se o limite e o padrão de toda a atividade. O sentimento de lealdade é em grande parte uma reverência a este princípio de ordem e estabilidade no governo. SI. 145.5 – "Falarei da magnificência gloriosa da tua majestade e das tuas obras maravilhosas"; 97.2 – "Nuvens e obscuridade estão ao redor dele; justiça e juízo são a base do seu trono". John Milton, Eikonoklastes: "Verdade e justiça são uma coisa só; porque a verdade é apenas a justiça no nosso conhecimento e a justiça é apenas a verdade na nossa prática. ... Porque a verdade não é propriamente mais que contemplação e a sua suprema eficiência é apenas o ensino; mas, na sua própria essência, a justiça é com toda força e atividade e tem posta uma espada na sua mão a fim de usar contra toda a violência e opressão da terra. Ela não aceita a pessoa e não isenta ninguém da severidade do seu golpe". A. J. Balfour, Foundations of Belief, 326 - "Até mesmo o poeta não tem se atrevido a representar Zeus torturando Prometeu sem a terrível figura de um Fado Vingativo que aguarda em silêncio na retaguarda. ... A evolução, operando uma justiça cada vez mais nobre é prova de que Deus é justo. Eis aqui uma 'ação preferencial'". S. S. Times, 9/06/900 - "O homem natural nasce com uma errônea astronomia pessoal. Deveria abandonar o conceito de ser o centro de todas as coisas. Deveria aceitar a teoria copérnica e contentar-se com um lugar à beira das coisas, que é o seu verdadeiro lugar. Nós sempre rimos de John Jasper e de sua tese de que 'O sol se move'. A teoria de Copérnico está destruindo todas as relações humanas, como aparece na expressão corrente: 'Há outros'".
Teologia Sistemática (Strong) 584 c) Nem a justiça nem a retidão, portanto, é matéria de vontade arbitrária. São revelações da mais íntima natureza de Deus: uma na forma de exigência moral e a outra na forma de sanção judicial. Como Deus não pode demandar de suas criaturas que sejam como ele no caráter moral assim ele não pode forçar a execução da lei que impõe sobre eles. A justiça leva Deus a punir como leva o pecador a ser punido. Aqui se exclui toda a arbitrariedade. Deus é o que é: pureza infinita. Ele não pode mudar. Se as criaturas precisam atingir o fim do seu ser, devem assemelhar-se a Deus na pureza moral. Justiça não é apenas o reconhecimento e execução desta necessidade natural. A lei é apenas a transcrição da natureza de Deus. A justiça não faz a lei; ela apenas a revela. A pena é tão somente a reação da santidade de Deus contra aquilo que é o seu oposto. Visto que a retidão e a justiça são apenas santidade legislativa e retributiva, Deus pode deixar de exigir pureza e punir o pecado só quando deixa de ser santo, isto é, quando deixa de ser Deus. "Judex damnatur cum nocens abolvitur". Simon, Reconciliation, 141 - "Reivindicar a execução do dever é tão verdadeiramente obrigatório como executar o dever prescrito". E. H. Johnson, Systematic Theology, 84 - "A benevolência pretende o que é bom para a criatura; a justiça insiste naquilo que é próprio. Mas o que é bom e o que é adequado para nós coincidem. A única coisa que é boa para nós é a nossa aplicação normal e desenvolvimento; mas prover isto é precisamente o que é adequado e por isso é o nosso dever. Na natureza divina, a distinção entre justiça e benevolência é quanto à forma". Criticamos esta afirmação por não levar suficientemente em conta a natureza do direito. O direito não é simplesmente o que é adequado. A adequação é apenas a adaptação geral que não pode ter em si nenhum elemento enquanto o direito é apenas e exclusivamente ético. Por isso o direito regula o adequado e constitui o seu padrão. O que é bom para nós deve ser determinado por aquilo que nos é justo, mas a recíproca não é verdadeira. George W. Northrup: "Deus não é obrigado a conceder as mesmas dádivas às criaturas, nem a conservar todos em estado de santidade para sempre, nem redimir o decaído, nem garantir a maior felicidade do universo. Mas ele deve propor e fazer o que a sua santidade absoluta requer. Ele não tem nenhum atributo,
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nenhuma vontade, nenhuma soberania, acima desta lei do seu ser. Ele não pode mentir, não pode negar-se a si mesmo, olhar para o pecado com complacência, dispensar a culpa sem uma expiação".
d) Nem a justiça nem a retidão concedem recompensas. Isto se segue do fato de que a obediência se deve a Deus ao invés de ser opcional ou uma gratuidade. Nenhuma criatura pode reivindicar qualquer coisa pela sua obediência. Se Deus recompensa, ele o faz em virtude de sua bondade e fidelidade, não em virtude de sua justiça ou retidão. O que a criatura não pode reivindicar, contudo, Cristo pode, e as recompensas que são bondade para a criatura são retidão para Cristo. Deus recompensa a obra de Cristo por nós e em nós. Bruch, Eigenschaftslehre, 280-282, e John Austin, Province of Jurisprudence, 1.88-93, 220-223, negam, e nisso estão certos, que a justiça concede galardões. A justiça simplesmente pune as infrações da lei. Em Mt. 25.34 -"possuí por herança o reino" - herança não implica mérito; 46 - os ímpios são adjudicados ao castigo eterno; os justos não ao galardão eterno, mas à vida eterna. Lc. 17.7-10 - "quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer". Rm. 6.23 - o castigo é "o salário do pecado": mas a salvação é "o dom de Deus"; 2.6 - Deus galardoa não por causa da obra do homem, mas "segundo as suas obras". Deste modo o galardão é visto na Escritura como matéria de graça para com a criatura; só a Cristo, que opera por nós na expiação e em nós na regeneração e santificação, é matéria de dívida (ver também Jo. 6.27 e 2 Jo. 8). Martineau, Types, 2.86, 244, 249 - Ό mérito é para o homem; a virtude é para Deus". Todo o simples serviço não tem proveito porque só produz o equivalente ao dever e não existe nenhum crédito. Não há possibilidade de obras super-rogatórias porque tudo o que fazemos é devido a Deus. Ele nos conduz à região da amizade, compreende que ele fez, tratando-nos não como um senhor (relativamente aos escravos), mas como Pai, entra numa relação de amor incalculável. Com esta cláusula de que os galardões são matéria de graça, não de dívida, podemos concordar com a máxima de Sólon: "Uma república anda com os dois pés - a justa punição para os
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indignos e o devido galardão para os dignos". George Harris, Moral Evolution, 139 – "O amor busca a retidão e não se satisfaz com nada que não seja isso". Mas quando Harris adota as palavras do poeta: "A própria ira da piedade brota, do amor dos homens, a ira do erro", ele nos parece negar virtualmente que Deus detesta o mal por qualquer outra razão de suas desvantagens utilitárias e parece também implicar que o bem não tem existência independente na sua natureza. Bowne, Ethics, 171 - Ό mérito exige galardão, ou melhor, exige a aprovação". Tennyson: "Porque o mérito vive de homem para homem e não do homem para ti, Ó Senhor". Baxter: A palavra merecimento está escrita acima do portal do inferno; acima da porta do céu, apenas O Dom de Deus".
e) Em Deus, a justiça como revelação de sua santidade é destituída de toda paixão ou capricho. Em Deus não há uma ira egoísta. As penas que ele inflige sobre a transgressão não são vingativas, mas vindicativas. Elas expressam a reação da natureza de Deus ao mal moral, a indignação judicial da pureza contra a impureza, a auto-declaração da santidade infinita contra seu antagonista e suposto destruidor. Mas porque suas decisões são calmas, são irreversíveis. Dentro de certos limites, a ira é um dever do homem. SI. 97.10 - "Vós que amais ao Senhor, aborrecei o mal"; Ef. 4.26 - "Irai-vos e não pequeis". A indignação calma do juiz que com lágrimas pronuncia a sentença é a verdadeira imagem da ira santa de Deus contra o pecado. Weber, Zorn Gottes, 28, torna a ira apenas um zelo do amor. Com mais verdade é o zelo da santidade. Prof. W. A. Stevens, Com. on 1 Thess. 2.10 - "santa e justamente" são termos que descrevem a mesma conduta em dois aspectos; aquela, a conformidade do próprio caráter de Deus; esta, conformidade com a sua lei; ambas são positivas". Lillie, 2 Thess 1.6 - Ό juízo é 'justo diante de Deus;. A justiça divina o requer para a sua própria satisfação". De Gaston de Foix, o velho cronista admiravelmente escreveu: "Ele amava o que devia ser amado e detestava o que devia ser detestado e nunca houve descrença para com ele". Compare SI. 101.5,6 - "aquele que
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tem o olhar altivo e o coração soberbo não suportarei. Os meus olhos procurarão os fiéis da terra para que estejam comigo". Até mesmo Horace Bushnell falava do "princípio da ira" em Deus. 1 Re. 11.9- "Pelo que o Senhor se indignou contra Salomão" por causa da sua poligamia. A ira de Jesus não era menos nobre que o seu amor. O amor do justo envolvia a ira contra o erro. Aqueles que se iram contra o mal podem irar-se porque o mal merece ira e por amor a Deus. Detestai primeiro o pecado em vós mesmos e depois detestai-o nele mesmo e no mundo. Irai-vos só em Cristo e com a ira de Deus. W. C. Wilkinson, Epic of Paul, 264 - "Mas devemos purificar-nos a nós mesmos do respeito próprio ou pecaremos ao detestar o pecado". A "Ira furor brevis est" de Horácio - "A ira é uma loucura temporária" - é verdade só em se tratando da ira egoísta ou pecaminosa. Por isso o homem que se ira é popularmente chamado de "louco". Mas a ira, embora capaz de tornar-se pecaminosa, não o é necessariamente. A justa ira nem é loucura, nem é breve. Um exemplo é a ira judicial da igreja de Corinto infligindo a exclusão (em ingl. excomunication = excomunhão): 2 Co. 7.11 - "Que apologia, que indignação, que temor, que saudade, que zelo, que vingança!". O único revide permitido à igreja cristã é aquela em que persegue e extermina o pecado. Ser incapaz de indignação moral contra o erro é faltar o amor para com o justo. Dr. Arnold de Rugby nunca estava certo a respeito de um menino que só amava o bem; enquanto ele não começou a detestar o mal, Dr. Arnold não sentia que ele estava seguro. Herbert Spencer dizia que a boa natureza para com os americanos tornou-se um crime. Lecky, Democracy and Liberty. "Há uma coisa pior que a corrupção: é a tolerância para com ela". Colestock, Changing Viewpoint, 139 - "Xenofonte pretende proferir uma coisa bem recomendável a respeito de Ciro, o moço, quando escreve a seu respeito que ninguém fizera mais bem aos seus amigos ou coisa mais danosa aos seus inimigos". Lutero disse a um monge antagonista: "Quebrarei o teu coração de latão e pulverizarei o teu cérebro de ferro". Shedd, Dogmatic Theology, 1.175-178 - Ό caráter humano é indigno na proporção em que a aversão pelo pecado esteja faltando nele. Está no mesmo nível de Carlos II. que 'não sentiu nenhuma gratidão pelos benefícios e nenhum ressentimento pelos erros; não amou quem quer que seja, e não sentiu ira por ninguém'. Era indiferente ao certo e ao errado e o único sentimento que ele tinha era
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de desdém" . Mas veja a cena do leito de morte do alegre monarca no Bispo Burnet, Memórias de Evelyn, ou na Vida do Bispo Ken. Na verdade "o fim da alegria é a tristeza" (Pv. 14.13 b). Stout, Manual of Psychology, 22 - "Charles Lamb conta-nos que seu amigo George Dyer nunca podia ser trazido para dizer qualquer coisa em condenação dos mais atrozes crimes, mas o criminoso deve ter sido muito excêntrico". Prof. Seeley: "Nenhum coração que não é apaixonado é puro". D. W. Simon, Redemption of Man, 249,250, diz que o ressentimento de Deus "é de um caráter essencialmente altruísta". Se isto significa que ele é perfeitamente consistente com o amor pelo pecador, podemos aceitar esta afirmação; se significa apenas que o amor é a fonte do ressentimento, consideramos a afirmação uma falsa interpretação da justiça de Deus, que é apenas a manifestação da santidade e não é uma simples expressão do seu amor. Ver semelhante afirmação de Lidgett, Spiritual Príncipe of the Atonement, 251 -"Porque Deus é amor, o seu amor coexiste com a sua ira contra os pecadores, é a própria vida dessa ira e é tão persistente que emprega a sua ira como um instrumento, enquanto, ao mesmo tempo, busca e fornece uma propiciação". Esta afirmação ignora o fato de que, na Escritura, a punição nunca é considerada como uma expressão do amor de Deus, mas da sua santidade. Quando dizemos que amamos a Deus, estejamos certos de que é o verdadeiro Deus, o Deus da santidade, que nós amamos, porque só este amor nos assemelhará a ele. A indignação moral de um universo todo dos seres santos contra o mal moral, acrescida das agonizantes auto-condenações da consciência despertada de todos os não santos, é apenas um fraco e pequeno reflexo da terrível reação da infinita justiça de Deus sobre a impureza e o egoísmo das suas criaturas e da intensa reação orgânica, necessária e eterna do seu ser moral na sua própria vindicação e punição do pecado; ver Jr. 44.4 - Ora, não façais esta coisa abominável que aborreço!"; Nm. 32.23 - "sentireis o vosso pecado quando vos achar"; Hb. 10.30,31 - "Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei recompensa. Ε outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo".
Teologia Sistemática (Strong) 589 VII. NÍVEL Ε RELAÇÕES DOS VÁRIOS ATRIBUTOS Os atributos se relacionam uns com os outros. Como o intelecto, o sentimento e a vontade no homem não se deve conceber nenhum deles exercido separado dos demais. Cada um dos atributos é qualificado por todos os outros. O amor de Deus é imutável, sábio, santo. A infinitude pertence ao conhecimento, ao poder, à justiça de Deus. Contudo, isto não significa que um atributo tem o mesmo nível que o outro. Os atributos morais de verdade, amor, santidade, merecem maior reverência dos homens cuidadosamente guardados por Deus do que os atributos naturais da onipresença, onisciência e onipotência. Mesmo ainda entre os atributos morais um se apresenta como supremo. Sobre este e sua supremacia passaremos a falar. A água só será água, se for composta de oxigênio e hidrogênio. O oxigênio não pode ser resolvido no hidrogênio, nem o hidrogênio no oxigênio. O oxigênio tem o seu próprio caráter, apesar de que, na combinação com o hidrogênio, aparece a água. A vontade do homem nunca age sem o intelecto e a sensibilidade, e a vontade, mais que o intelecto ou a sensibilidade ela é a manifestação do homem. Deste modo, quando Deus age, ele não manifesta um atributo sozinho, mas a sua total excelência moral. Ainda a santidade, como um atributo de Deus, tem direito peculiar a si mesma; ela determina a atitude dos sentimentos; mais do que qualquer outra faculdade ela constitui o ser moral de Deus. Clarke, Christian Theology, 83,92 - "Deus não seria santo se não fosse amor e não poderia ser amor se não fosse santo. O amor é um elemento da santidade. Se faltasse, não haveria caráter perfeito como princípio da sua própria ação ou como padrão para nós. Por outro lado só sendo perfeito ele pode ser amor. A santidade requer que Deus haja como amor, porque a santidade é a autoconsistência de Deus. O amor é o desejo de transmitir santidade. A santidade faz do caráter de Deus o padrão para as suas criaturas; mas o amor, desejando transmitir o melhor bem, faz o mesmo. Toda a obra de amor é obra de santidade e toda a obra de santidade é obra de amor.
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É impossível haver conflito de atributos, porque a santidade sempre inclui o amor e o amor sempre expressa a santidade. Eles nunca necessitam de reconciliação recíproca". A correção geral da afirmação anterior é prejudicada porque o conceito de santidade é vago. As Escrituras não consideram que a santidade inclua o amor, ou fazem todos os atos de santidade serem atos de amor. Autoafirmação não inclui doação de si mesmo, e o pecado necessita de um exercício de santidade que também não é um exercício de amor. Mas para a Cruz, e para o sofrimento de Deus por causa do pecado cuja expressão se encontra nela, haveria conflito entre santidade e amor. A sabedoria de Deus apresenta-se principalmente, não na reconciliação entre o homem e Deus, mas na reconciliação entre a santidade de Deus e o seu amor.
1. Santidade, atributo fundamental de Deus É evidente que a santidade é o atributo fundamental de Deus: a) A partir da Escritura, - na qual a santidade de Deus não só constante e poderosamente atraem a atenção do homem, declara-se que é o principal do regozijo e adoração no céu. O atributo da santidade de Deus é o que primeiro e mais proeminentemente se apresenta à mente do pecador e a consciência só segue o método da Escritura: 1 Pe. 1.16 - "Sede santos, porque eu sou santo"; Hb. 12.14 -"santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor"; cf. 5.8 - "Senhor, ausenta-te de mim, porque sou um homem pecador". Contudo, esta insistência constante sobre a santidade não pode ser somente devida ao atual estado de pecado do homem, porque no céu, onde não há pecado, existe a mesma reiteração. Is. 6.3 - "Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos"; Ap. 4.8 -"Santo, santo, santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso". De nenhum outro atributo se diz que o trono de Deus está sobre ele: SI. 97.2 - "justiça e juízo são a base do seu trono"; 99.4,5,9 - "A força do Rei ama o juízo ... Exaltai ao Senhor nosso Deus ... nosso Deus é santo". Devemos substituir a palavra santidade na afirmação de Newman Smith, Christian Ethics, 95 - "Admitimos que o amor é senhor na vontade divina, não que a
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vontade de Deus seja soberana sobre o seu amor. A onipotência de Deus, como diria Dorner, existe por causa do seu amor".
b) A partir da nossa constituição moral, - na qual a consciência declara sua supremacia sobre cada um dos outros impulsos e sentimentos da nossa natureza. Como podemos ser bondosos, mas devemos ser retos, assim Deus, a cuja imagem fomos feitos, pode ser misericordioso, mas deve ser santo. Ver os Sermões do Bispo Butler sobre Human Nature, ed. de Bohn, 385-414, que mostram a supremacia da consciência na constituição moral do homem". Devemos ser justos antes de sermos generosos. Deste modo, para Deus, deve-se fazer sempre a justiça; a misericórdia é optativa para ele. Deus não tem obrigação de prover uma redenção para os pecadores: 2 Pe. 2.4 - "porque Deus não perdoou os anjos, quando pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno... ". Salvação é matéria de graça não de dívida. Shedd, Discourses and Essays, 277-298 - "A qualidade da justiça é exigência necessária, mas não se (co)age a qualidade da misericórdia"' [cf. Denham: "A sua alegria é forçada e intensa"]. Deus pode aplicar a salvação após tê-la operado a qualquer que ele queira: Rm. 9.18 - "compadece-se de quem quer". Young, Night-Thoughts, 4.233 - "Um Deus que é todo misericórdia é um Deus injusto". Emerson: "A sua bondade deve ter o seu limite; caso contrário ela não é nada". Martineau, Study, 2.100 - "Ninguém pode ser justo sem subordinar a Piedade ao senso de Justiça". Podemos aprender a santidade de Deus a priori. Até mesmo os pagãos podiam dizer: "Fiat justitia, ruat coelum", ou "pereat mundus". Mas, para o nosso conhecimento da misericórdia de Deus, dependemos de uma revelação especial. A misericórdia, como a onipotência, pode existir em Deus mesmo sem ser exercida. Misericórdia não é graça, mas dívida se é que Deus deve o seu exercício quer ao pecador, quer a si mesmo; versus G. Β. Stevens em New Engl., 1888.421-443. "Mas a justiça é um atributo que não existe por necessidade, mas deve ser exercido por ela; porque não exercê-lo seria injustiça". Se se disser que, por paridade de raciocínio, para Deus o não exercer misericórdia é mostrar-se incompassivo, - respondemos que isto não é verdade porque os interesses mais elevados requerem que tal
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exercício seja recusado. Eu não sou incompassivo quando me recuso a dar ao pobre o dinheiro necessário para pagar uma dívida honesta; nem ainda o governador é incompassivo quando se recusa a perdoar o criminoso condenado e não arrependido. A misericórdia tem suas condições, continuamos a mostrar, e não deixa de ser quando estas condições não permitem que ela seja exercida. Com a justiça não é assim; deve-se sempre exercer a justiça; quando ela deixa de ser exercida, também deixa de ser justiça. A história do Filho Pródigo mostra o amor que sempre se interessa pelo filho na terra distante, mas que sempre está condicionado pela santidade do pai e deixa de agir até que o filho abandona a sua vida rebelde. Um pai justo pode banir um filho corrupto da sua casa, apesar de que pode amá-lo tão carinhosamente que o seu banimento causa uma estranha dor. E. G. Robinson: "Deus, Cristo e o Espírito Santo têm uma consciência, isto é, distinguem entre o certo e o errado". E. H. Johnson, Syst. Theology, 85,86 "A santidade relaciona-se primeiramente com a benevolência; porque a) a santidade é em si mesma excelência moral, enquanto a excelência moral da benevolência pode ser explicada. b) A santidade é um atributo do ser, enquanto a benevolência é um atributo da ação; mas a ação pressupõe e é controlada pelo ser. c) A benevolência deve tomar conselho da santidade, visto desejar o contrário da santidade seria querer para si o dano, enquanto a santidade leva Deus a buscar a benevolência, o melhor para a criatura. d) A dispensação mosaica elaborada simbolicamente e a dispensação cristã faz a provisão atender os requisitos da santidade como supremos; Tg. 3.17 'Primeiramente pura, depois, [conseqüentemente] pacífica'". Devemos praticar "a justiça" bem como "amar a beneficência e andar humildemente" para com Deus (Mq. 6.8). Dr. Samuel Johnson: "Como surpreende encontrar muito mais beneficência do que justiça contida na sociedade"! Existe uma misericórdia pecaminosa. Um inspetor escolar acha um trabalho horrível ouvir professores incompetentes pedindo para que não os dispensem e pode ficar nervoso apenas porque as crianças cuja educação pode ser afetada por recusar-se a fazer justiça. Amor e piedade não são o todo do dever cristão, nem são os atributos diretivos de Deus.
Teologia Sistemática (Strong) 593 c) A partir dos reais procedimentos de Deus, - nos quais a santidade condiciona e limita o exercício dos outros atributos. Assim, por exemplo, na obra redentora de Cristo, apesar de que o amor faz a expiação, violase a santidade que o requer; na punição eterna do ímpio, a exigência da santidade para a auto-vindicação reprime a defesa do amor aos sofredores. O amor não pode ser o atributo fundamental de Deus porque o amor sempre requer uma norma ou padrão e tal norma ou padrão só se encontra na santidade; Fp. 1.9 - "E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção"; ver A. H. Strong, Christin Creation, 388-405. Esta é a mais elevada de todas as condições. Por isso a misericórdia de Deus não consiste em ultrajar a própria lei da santidade, mas em permanecer firme na aflição penal pela qual se satisfaz a lei da santidade. A consciência do homem é apenas o reflexo da santidade de Deus. A consciência não demanda retribuição ou expiação. Esta demanda Cristo atende através do seu sofrimento vicário. O seu sacrifício sacia a sede da consciência do homem assim como que se demanda do homem a santidade de Deus: Jo. 6.55 - "Porque a minha carne verdadeiramente é comida e o meu sangue verdadeiramente é bebida". Ver Shedd, Discourses and Essays, 280,291,292; Dogmatic Theology, 1.377,378 - "A soberania e a liberdade de Deus a respeito da justiça não se relacionam com a abolição, nem com o relaxamento [linguagem jurídica significando diminuição da pena], mas com a substituição, da punição. Não consiste em poder violar ou desistir das exigências legais. O exercício dos outros atributos de Deus é regulado e condicionado através dessa justiça. ... Onde está, então, a misericórdia de Deus se a justiça é estritamente satisfeita através de uma pessoa viçaria? Existe misericórdia em permitir que uma outra pessoa faça pelo pecador o que o pecador precisa fazer por si mesmo; e maior misericórdia em prover tal pessoa; e ainda maior misericórdia em tornar-se aquela pessoa". O entusiasmo, como o fogo, não só deve queimar, mas deve ser controlado. O homem inventou as chaminés para reter o calor, mas para soltar a fumaça. Há necessidade de parede de discrição e controle próprio para conduzir a chama do amor. A santidade de Deus é o princípio regulador
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da sua natureza. O oceano da sua misericórdia limita-se às praias da sua justiça. Mesmo que a santidade seja o amor próprio de Deus no sentido de respeito próprio ou autopreservação, ainda tal amor próprio deve condicionar o amor às criaturas. É apenas porque Deus se mantém na sua santidade que ele pode ter qualquer coisa digna de ser dada; na verdade o amor nada é senão a autocomunicação da sua santidade. E, se dizemos, como J. M. Whiton, que a auto-afirmação no universo no qual Deus é imanente por si mesmo é uma forma de doação própria, ainda assim esta forma de doação própria deve condicionar e limitar a outra forma de doação própria a que chamamos amor às criaturas.
d) A partir do eterno propósito da salvação da parte de Deus, - em que a justiça e a misericórdia se reconciliam somente através do sacrifício previsto e predeterminado de Cristo. A declaração de que Cristo é "o Cordeiro imolado desde a fundação do mundo" implica a existência de um princípio na natureza divina que requer satisfação, antes que Deus possa entrar na obra da redenção. Tal princípio não pode ser outro a não ser a santidade. Visto que a misericórdia e a justiça são exercidas para os pecadores da raça humana, de outra forma o antagonismo entre elas só se remove através da morte expiatória do Deus-homem. As suas reivindicações opostas não impedem a bênção divina porque a reconciliação existe nos conselhos eternos de Deus. Isto se acha indicado em Ap. 13.8 - "Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo". Esta mesma reconciliação aparece mencionada em SI. 85.10 - "A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram"; e em Rm. 3.26 - "para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus". Então, se o homem deve ser salvo, a expiação é necessária, não principalmente por causa do homem, mas de Deus. Shedd, Discourses and Essays, 279 - O sacrifício de Cristo foi uma "expiação ab Introda, uma oblação da parte do próprio Deus através da qual satisfazem-se os imperativos imanentes e eternos da natureza divina sem a qual deve encontrar sua satisfação no castigo do transgressor, ou caso contrário, ser ultrajado". Assim, a palavra de Deus sobre a redenção do mesmo modo que sobre a criação para sempre "permanece no céu" (SI. 119.89). Sua execução na cruz estava "de acordo com o padrão" nas
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alturas. O sacrifício mosaico prefigurava o sacrifício de Cristo; mas este foi apenas uma revelação temporal de um fato eterno na natureza de Deus. Deus requer a satisfação porque ele é santo, mas ele satisfaz porque ele é amor. O próprio Juiz, com a ira contra a transgressão, ainda ama o transgressor e desce da tribuna para tomar o lugar do criminoso e suportar a sua pena. Mas esta é uma eterna provisão e um eterno sacrifício. Hb. 9.14 "o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus". Matheson, Voices of the Spirit, 215, 216 - "O sacrifício de Cristo foi oferecido através do Espírito. Não foi arrancado de uma alma relutante através da obediência a uma lei exterior; veio do interior do coração, do impulso do imorredouro coração. Foi uma oferta completa que começou antes do Calvário; foi vista pelo Pai antes que o mundo a visse. Findou no Espírito antes que começasse na carne, terminou na hora em que Cristo exclamou: 'não seja como eu quero, mas como tu queres' (Mt. 26.39)". Lang, Homer, 506 - "É Apoio é quem traz a peste e a afasta, conforme a bem conhecida regra de que os dois grandes atributos opostos devem combinar-se na mesma divindade". Lord Bacon, Confession of Faith: Nem anjo, homem ou mundo podem subsistir, ainda que por um momento à vista de Deus sem contemplá-lo na face do Mediador; e, por isso, diante dele, juntamente com quem estão presentes todas as coisas, o Cordeiro de Deus morto antes de todos os mundos; sem cujo conselho eterno seria impossível descer a qualquer obra da criação". Orr, Christ View of God and the World, 319 -"A criação está edificada sobre as linhas da redenção" - o que significa dizer que a encarnação e a expiação estavam incluídas no desígnio original de Deus a respeito do mundo.
2. A santidade de Deus, a base da obrigação moral A) Pontos de vista errôneos. A base da obrigação moral não está: a) No poder, - quer da lei civil (Hobbes, Gassendi), quer da vontade divina (Occan, Descartes). Não somos obrigados a obedecer qualquer um destes apoiados no fato de que eles são certos. Esta teoria admite que nada é bom ou certo em si, e que a moral é simples prudência.
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Lei civil: Ver Hobbes, Leviatã, parte i, caps. 6 e 13; parte ii, cap. 30; Gassendi, Opera, 6.120. Neste ponto de vista o poder faz o direito; as leis de Nero são sempre coativas; o homem pode quebrar a sua promessa quando a lei civil permite; não existe obrigação alguma de obedecer o pai, um governador civil, e até o próprio Deus, quando é certo que a desobediência se ocultará ou quando o ofensor está disposto a sofrer a punição. Martineau, Seat of Authority, 67 - "A mera magnitude da escala não tem nenhuma qualidade moral; nem a multidão toda dos demônios, por uma votação unânime, poderia conferir justiça à vontade deles ou torná-la obrigatória ainda que fosse a um Abdiel". Robert Browning, Christimas Eve, xvii - "A justiça, o bem, a verdade ainda seriam divinas, ainda que, por alguma vontade demoníaca, ódio e erro tivesse sido proclamada uma lei por todo o mundo e o direito fosse falseado". Vontade divina: Martineau, Types, 148 - "Descartes sustentava que a vontade de Deus não revela, mas inventa as distinções morais. Deus podia ter de feito de Euclides uma mistura de mentiras, e de Satanás um modelo de perfeição moral". Sobre este ponto de vista, o certo e o errado são quantidades variáveis. Duns Scotus sustentava que a vontade de Deus não apenas faz a verdade, mas também o direito. Deus pode fazer a mentira ser virtuosa e a pureza ser um erro, um bem e um mal. Respondemos que, atrás da vontade divina, encontra-se a natureza divina e que, na perfeição moral dessa natureza encontra-se a única base da educação moral. Deus derrama o seu amor e exerce o seu poder conforme algum princípio determinante da sua própria natureza. Tal princípio não é a felicidade. Finney, Syst. Theology, 936,937 -"O mando de Deus pode tornar obrigatória a má vontade para com ele? Se não pode, então, a sua vontade não é base para a obrigação moral. A coisa mais valiosa, a saber, o mais elevado bem de Deus e o do universo devem ser tanto o fim como a base. É a razão divina e não a sua vontade que invade e confirma a lei da conduta. A vontade divina publica, mas não origina, a regra. A vontade de Deus não pode fazer do vício uma virtude". Como, por um lado, entre o poder e a utilidade e, por outro, o direito, devemos considerar este como o mais fundamental. Contudo, como veremos mais adiante, não podemos situar a base da obrigação moral, mesmo no direito, considerada como um princípio abstrato; mas, ao invés
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disto colocá-la na excelência moral daquele que é o Direito pessoal e, portanto a fonte do direito. O caráter obriga e o senhor freqüentemente se curva no seu coração ao servo, quando este é o mais nobre ser humano.
b) Não na utilidade, - ou nossa própria felicidade ou vantagem presente ou eterna (Paley), pois a consideração suprema do nosso interesse não é virtude; ou a maior felicidade ou vantagem de ser em geral (Edwards), pois julgamos que a conduta é útil porque é reta, não reta porque é útil. Esta teoria nos compeliria a crer que na eternidade passada Deus era santo só por causa do bem que ele aufere, isto é, não havia algo como a santidade em si e não havia uma coisa como o caráter moral em Deus. Nossa própria felicidade: Paley, Moral, and Polit. Philosoph., livro i, cap. vii - "Virtude é fazer bem à humanidade, em obediência à vontade de Deus e por amor à felicidade eterna". Isto une a) e b). John Stuart Mill e o Dr. Ν. W. Taylor sustentavam que a nossa felicidade é o fim supremo. Estes escritos na verdade consideram que a mais alta felicidade se atinge só através dos outros (altruísmo de Mill), mas eles não atribuem nenhuma razão por que alguém que não conhece nenhuma outra felicidade além dos prazeres dos sentidos não adotaria a máxima de Epicuro, que, segundo Lucrécio, ensinava que "ducit quemque voluptas" (o prazer conduz cada pessoa). Esta teoria torna impossível a virtude; porque a virtude que considera tão somente o nosso interesse não é virtude, mas prudência. Temos um senso do certo e do errado independente de todas considerações da felicidade ou da sua perda". James Mill sustenta que a utilidade não é o critério da moralidade, mas ela mesma constitui a moralidade. G. B. Foster responde com propriedade que a virtude não é uma simples sagacidade egoística e o ato moral não é somente um inteligente empreendimento de negócio. Todas as línguas distinguem entre virtude e prudência. Dizer que a virtude é uma grande utilidade é confundir o efeito com a causa. Carlyle diz que o homem pode agir sem a felicidade. Browning, Red Cotton Nightcap Country: "Os cabeçudos devem reconhecer o Diabo, aquele oscilante, com o seu truque da utilidade geral, que talvez conduz para baixo, mas que só apresenta futilidades". Esta é a modalidade da Mãe Ganso: Ele Introduz o seu polegar e arranca uma pluma e diz: 'que bom menino que eu sou!'".
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E. G. Robinson, Principles and Practice of Morality, 160 - "A utilidade não tem nada de último em si e por isso não pode fornecer nenhuma base para a obrigação. A utilidade é uma simples adequação de alguma coisa à finalidade de ministrar outra". Dizer que as coisas são certas porque são úteis é como dizer que elas são belas porque são agradáveis. Martineau, Types of Ethical Theory, 2.170,511,556 - "No momento em que os apetites passam para o estado de consciência própria e se tornam fins ao invés de impulsos, eles tiram para si mesmos os termos da censura. ... Deste modo a consciência intelectual ou a estrita submissão da mente à evidência tem sua inspiração no amor puro da verdade e não sobrevive uma hora se não depositar a sua confiança na providência ou no sentimento social. ... Os instintos permitem que eles conheçam não o que são a prova de que a necessidade é o impulso original para a ação ao invés de ser o prazer do seu fim". Na teoria da felicidade os apelos para o interesse próprio em favor da religião devem ser eficazes; na verdade poucos são movidos por eles. Dewey, Psychology, 300,362 - "A emoção se volta para dentro e engole-se a si mesma. Viva nos sentimentos ao invés de viver nas coisas a que os sentimentos pertencem, e você derrotará o seu próprio fim, esgotará o seu próprio poder de sentimento, cometerá o suicídio emocional. Daí surgirão o cinismo, o espírito do nil admirari, a incansável busca pela mais tardia sensação. O único remédio é sair de si mesmo, dedicar o seu eu a algum objeto digno, não por amor ao sentimento, mas ao objeto.... Não desejamos o objeto porque ele nos dá prazer, mas ele nos dá prazer porque satisfaz o impulso que, em conexão com a idéia do objeto, constitui o desejo. ... O prazer é o acessório da atividade ou desenvolvimento do eu". Salter, First Steps in Philosophy, 150 - "É um direito ter como alvo a felicidade. Esta é um fim. O utilitarismo erra ao fazer da felicidade o único e mais elevado fim. Ela exalta um estado de sentimento para com a coisa supremamente desejável. A institucionalização dá o mesmo lugar ao estado da vontade. A verdade inclui ambos. O verdadeiro fim é o mais elevado desenvolvimento do ser, do eu e de outros, a realização da idéia divina, Deus no homem". Bowne, Principles of Ethics, 96 - "O padrão de apelo não é a verdadeira felicidade do verdadeiro homem, mas a felicidade normal do homem normal. ... A felicidade não deve ter lei. Mas, neste caso, a lei deve dirigir a felicidade. ... O verdadeiro alvo ético é realizar o bem. Mas, neste
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caso, o conteúdo deste bem tem de ser determinado segundo o ideal inato do merecimento e dignidade humanos. ... Nem todo o bem deve ser alvo da ação, mas só o verdadeiro, não só as coisas que agradam, mas as que causam prazer". Bixby, Crisis in Morals, 223 - "O unitário está realmente investigando sobre o mais sábio método de encarnar o ideal. Ele pertence ao segundo estágio em que o artista moral considera através de que material e em que forma ou cor ele pode realizar melhor o seu pensamento. Ele deve dizer-nos o que é o ideal e por que é o mais elevado. A moral começa não no sentimento, mas na razão. A razão é impessoal. Ela discerne a igualdade moral das personalidades". Genung, Epic of the Inner Life, 20 - Jó fala do seu caráter como um dos heróis de Robert Browning. Ele ensina que "há um serviço de Deus que não opera o galardão: é a lealdade do coração, a fome da presença de Deus, que sobrevive à perda e ao castigo; que, a despeito da aparência contraditória, apega-se ao que é divino como a agulha busca o pólo; e que excede às trevas e dureza da sua vida à luz e ao amor". O maior bem do ser. Não apenas Edwards, mas Priestley, Bentham, Dwight, Finney, Hopkins, Fairchild sustentam este ponto de vista. Ver Edwards, Works, 2.261 -304 - "Virtude é benevolência para com o ser em geral"; Dwight, Theology, 3.150-162 - "A utilidade é o fundamento da virtude". Esta teoria considera o bem somente como um estado da sensibilidade, ao invés de consistir na pureza do ser. Esquece que na eternidade passada "amor pelo ser em geral" = somente o amor próprio de Deus, ou a consideração que Deus tem pela sua própria felicidade. Isto implica que Deus é santo só com um propósito; ele está impedido de não ser santo, se o resultado for bem maior; isto é, a santidade não independe da sua natureza. Admitimos que freqüentemente se sabe que uma coisa é certa pelo fato de que ela é útil; mas isto é bem diferente de dizer que a sua utilidade a torna correta. "A utilidade é apenas o aparelho de diamante que marca, mas não determina o seu valor". "Se a utilidade for um critério de retidão será apenas por se tratar de uma revelação de natureza divina". Bp. Butler, Nature of Virtue, em Works, ed. de Bohn, 334 - "A benevolência é o verdadeiro amor próprio". O amor e a santidade são obrigatórios em si mesmos, não por promoverem o bem geral. Cícero, com propriedade, disse
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que aqueles que confundem o honestum com o utile merecem ser banidos da sociedade. Encyc. Britannica, 7.690, sobre Jonathan Edwards - "Ser em geral, sem quaisquer qualidades, é coisa muito abstrata para ser a causa primordial do amor. O sentimento a que Edwards se refere não é o amor, mas o temor ou reverência e ainda necessariamente o temor cego. Apropriadamente afirmava-se, por isso, que a verdadeira virtude, segundo Edwards, consistiria num temor cego do ser em geral; apenas isso seria inconsistente com a sua definição de virtude existente em Deus. Na verdade, quando ele faz da virtude somente o segundo objeto do amor, esta teoria se identifica com o utilitarismo ao qual estão associados os nomes de Hume, Bentham e Mill". Hodge, Essays, 275 - "Se a obrigação em primeiro lugar se deve ao ser em geral, então não há mais virtude em amar Deus - desejar o seu bem - do que amar Satã. Mas, em sua natureza, o amor a Cristo difere da benevolência para com o Diabo". A virtude consiste claramente, não no amor em benefício do ser, mas no amor ao ser que é bom, ou, em outras palavras, no amor ao Deus santo. A santidade de Deus é a base da obrigação moral, não o bem maior do ser. Dr. Ε. A. Park entende que a teoria de Edwards sustenta que a virtude é o amor a todos os seres segundo o seu valor, por isso, mais o amor do maior do que do menor, "amor a alguns seres em particular numa proporção gradual dos seres e de virtude ou benevolência para com o seu ser". Amor é escolha. Park diz que a felicidade não é o único bem e menos ainda a felicidade das criaturas. O maior bem é a santidade apesar de que o último é a felicidade. A santidade é o amor desinteresseiro - a livre escolha do bem geral, acima do particular. Mas retrucamos que isto não nos dá nenhuma razão ou padrão de virtude. Não nos diz o que é bom e por que deve ser escolhido. Martineau, Types, 2.70,77,471,484 - "Por que promover o bem geral? Por que sacrificar-me pelos outros? Só porque isto é bom. Nunca teria sido prudente fazer o que é certo se não tivesse sido algo infinitamente maior. ... Não é a adequação que torna moral um ato, mas é a moralidade que o torna adequado". Herbert Spencer, deve ser classificado como um utilitarista. Ele diz que a justiça requer que "cada homem seja livre para fazer o que quer desde que
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não infrinja o igual direito dos outros". Mas desde que isto permite ferir o outro submetendo-o a uma ofensa como revide, o Sr. Spencer limita a liberdade a "ações tais como uma vida de subserviência". Isto praticamente equivale a dizer que a maior felicidade é o fim último.
c) Nem na natureza das coisas (Price), - ou pelo que significamos sua adequação (Clarke), verdade (Wollaston), ordem (Jouffroy), relacionamentos (Wayland), merecimento (Hickok), simpatia (Adam Smith), ou direito abstrato (Haven e Alexander); pois esta natureza de coisas não é a última, mas tem sua base na natureza de Deus. Somos compelidos a adorar o altíssimo; se existe algo além e acima de Deus somos compelidos a adorá-lo, - o que, na verdade, é Deus. Em oposição a todas as formas desta teoria, argumentamos que não há nada que independa de Deus ou que esteja acima dele. "Se a base moral não depende de Deus, ou ela não tem nenhuma autoridade última, ou usurpa o trono do Onipotente. Qualquer ser racional que guarda a lei seria perfeito sem Deus e o centro moral de todos os seres inteligentes estaria fora de Deus" (Talbot). Deus não é um Júpiter controlado pelo Fado. Ele não está sujeito a nenhuma lei a não ser à lei da sua própria natureza. Noblesse oblige (a nobreza exige), - o caráter dirige - a pureza é o elemento mais elevado. Por isso, para que haja santidade, todas as criaturas, voluntária ou involuntariamente, são constrangidas a curvar-se diante dele. Hopkins, Law of Love, 77 -Ό certo e o errado nada têm a ver com a natureza das coisas que existem necessariamente, mas apenas com a natureza das pessoas". Houve uma outra pessoa que disse: "A idéia do direito não pode ser original, visto que direito significa conformidade com algum padrão ou regra". Este padrão ou esta regra não é uma abstração, mas um ser existente: o Deus infinitamente perfeito. Faber: O direito é direito, visto que Deus é Deus; e o dia do direito triunfará; duvidar implicaria em deslealdade, hesitar seria pecado" Tennyson: Ε porque o certo é certo, seguir o que é certo seria sabedoria, sem medir conseqüências". O Certo é certo e eu devo querer o certo, não porque Deus o quer, mas porque Deus é certo. E. G. Robinson, Principles and Practice of Morality, 178-180 - "A utilidade e as relações somente revelam a constituição
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das coisas e deste modo representam Deus. A lei moral não é feita com o propósito utilitário, nem as relações constituem a razão da obrigação. Elas apenas mostram qual é a natureza do Deus que fez o universo e nele se revela. Na sua natureza encontra-se a razão da moral". S. S. Times, 17 de out. 1891 - "Só o nível se conforma com a curvatura da terra. A reta tangente à curva da terra estaria mais nas extremidades distantes do centro da terra do que no seio meio. Ora, eqüidade significa nível. O padrão de eqüidade não é algo impessoal, 'natureza das coisas' fora de Deus. Não se deve conceber eqüidade ou retidão independente do centro divino em lugar do nível compreensível independente do centro da terra. Visto que Deus acha a regra e limitação das suas ações apenas no seu próprio ser e o seu amor está condicionado à sua santidade, devemos divergir de pontos de vista tais como os de Moxom: "Quer definamos a natureza de Deus como perfeita santidade quer o perfeito amor seja imaterial, visto que a natureza divina se manifesta apenas através da sua ação, ela se opera através da sua relação com os outros seres. A maior parte do nosso raciocínio sobre o padrão divino de retidão ou a última base da obrigação moral é o raciocínio em círculo, visto que nós sempre podemos voltar para Deus como princípio da sua ação; tal princípio podemos conhecer só através da sua ação. Deus, o ser perfeitamente justo, é o padrão ideal da retidão humana. Por isso a retidão no homem é a conformidade com a natureza de Deus. Deus, em conformidade com a sua natureza perfeita, sempre deseja o que é perfeitamente bom para o homem. Sua retidão é uma expressão do seu amor; este é uma manifestação da sua retidão". Do mesmo modo também Smith: "A retidão é a genuinidade eterna do amor divino. Por isso não é uma excelência independente a ser contrastada com a benevolência, ou mesmo em oposição a ela; é parte essencial do amor". Em replica, argumentamos, como antes, que aquilo que é objeto de amor, que limita e condiciona o amor, que fornece a norma e a razão do amor não pode por si mesmo ser o amor nem pode estar no mesmo nível dele. Um duplo padrão é tão irracional na ética como no comércio e nela conduz à mesma diminuição dos valores e ao mesma instabilidade das relações como resultou na nossa moeda na tentativa de fazer a prata regular o ouro ao mesmo tempo que o ouro regular a prata.
Teologia Sistemática (Strong) 603 B) Ponto de vista Escriturístico. - Segundo as Escrituras, a base da obrigação moral é a santidade de Deus, ou a perfeição moral da natureza divina, em conformidade com a qual está a lei do nosso ser moral (Robinson, Chalmers, Calderwood, Gregory, Wuttke). Demonstramos isto: a) A partir dos mandamentos: "Sede santos", onde a base da obrigação é simples e única: "porque eu sou santo" (1 Pe. 1.16); e "portanto, sede perfeitos" onde se estabelece o padrão: "como vosso Pai celestial é perfeito" (Mt. 5.48). Aqui temos uma última razão e base para sermos e fazermos o reto, a saber, que Deus é reto, ou, em outras palavras, que a santidade é a sua natureza. b) A partir da natureza do amor no qual se resume toda a lei (Mt. 22.37 -"Amarás o Senhor, teu Deus"; Rm. 13.10 - "portanto, o amor é o cumprimento da lei"). Este amor não é considerado direito abstrato, ou a felicidade do ser, muito menos seu próprio interesse, mas considera Deus como a fonte e padrão de excelência moral ou, em outras palavras, amor a Deus como santo. Por isto, este amor é o princípio e fonte da santidade no homem. c) A partir do exemplo de Cristo, cuja vida foi essencialmente a apresentação da consideração de Deus e da suprema dedicação à sua santa vontade. Como Cristo não viu nada de bom a não ser o que estava em Deus (Mc. 10.18 - "não há bom senão um que é Deus") e só fez o que viu o Pai fazer (Jo. 5.19; verso 30 - "busco não a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou"), assim a nós sermos semelhantes a Deus é a súmula de todo o dever e a infinita excelência moral é a suprema razão porque devemos ser semelhantes a ele. Talbot, Ethical Prologomena, in Bap. Quar., jul., 1877.257-274 - "A base de toda a lei moral é a natureza de Deus, ou a natureza ética de Deus na relação com semelhante natureza no homem ou o imperativo da natureza
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divina". Platão: "A vontade divina é a fonte de toda a eficiência; a razão divina é a fonte de toda a lei; a natureza divina é a fonte de toda a virtude". Se se disser que Deus é amor assim como santidade, perguntamos: Amor a quê? Ε a única resposta é: Amor ao direito ou à santidade. Perguntar por que o direito é bom não sensibiliza mais do que perguntar por que a felicidade é um bem. Deve existir alguma coisa última. Schiller diz que há pessoas que querem saber por que dez não é doze. Não podemos estudar o caráter separado da conduta e nem a conduta separada do caráter. Mas isto não nos impede de reconhecer que o caráter é a coisa fundamental e que a conduta é tão somente a sua expressão. A perfeição moral da natureza divina inclui a verdade e o amor, mas, visto que é a santidade que condiciona o exercício de cada um dos outros atributos, devemos concluir que a santidade é a base da obrigação moral. A infinitude também se une com a santidade para fazê-la a base perfeita, mas porque o elemento determinante é a santidade, chamamos esta e não a infinitude de base da obrigação. J. H. Harris, Baccalaureate Sermon, Bucknell, University, 1890 - "Como a santidade é atributo fundamental de Deus, deste modo é o supremo bem do homem. Aristóteles percebe isto quando declara que o principal bem do homem é o fortalecimento segundo a virtude. O cristianismo conta com o suprimento do Espírito Santo e torna possível tal suprimento". A santidade é o alvo da carreira espiritual do homem; ver 1 Ts. 3.13 - "para confortar os vossos corações para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai". Arthur H. Hallan, em John Brown's Rab and his Friends, 272 "Santidade e felicidade são duas noções da mesma coisa. ... Por isso, a não ser que o coração de um ser criado esteja unido ao coração de Deus, ele só pode ser miserável". Há mais verdade em dizer que a santidade e a felicidade são, como a causa e o efeito, inseparavelmente ligados entre si. Martineau, Types, 1. xvi; 2.70-77 - "É indispensável que haja duas classes de fatos para que tenhamos conhecimento: quais as fontes da conduta voluntária e quais os seus efeitos"; Study, 1.26 - "A Ética deve aperfeiçoarse na religião ou desintegrar-se no hedonismo". William Law assinala: "A Ética não é exterior, mas interior. A essência de um ato moral não está no seu resultado, mas no motivo de que ele brota. Ε ele é bom ou mau se se conforma ou não com o caráter de Deus".
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Capítulo II DOUTRINA DA TRINDADE Na natureza de Deus há três distinções eternas que se nos representam sob a figura de pessoas e estas três são iguais. Esta tripessoalidade de Deus é uma verdade exclusiva da revelação. Faz-se claramente, apesar de não formalmente conhecida no Novo Testamento e podem achar-se indicações dela no Velho Testamento. A doutrina da Trindade pode expressar-se nas seguintes seis afirmações: 1. Há na Escritura três que são reconhecidos como Deus. 2. Estes três são descritos de tal modo que somos compelidos a concebê-los como pessoas distintas. 3. Esta tripessoalidade da natureza divina não é simplesmente econômica e temporal, mas imanente e eterna. 4. Esta tripessoalidade não é triteísmo; pois, conquanto haja três pessoas, há apenas uma essência. 5. As três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo são iguais. 6. Inescrutável, embora não autocontraditória, esta doutrina fornece a chave de todas outras doutrinas. Passamos agora a provar e elucidar estas declarações. A razão nos mostra a unidade de Deus; só a revelação nos mostra a sua Trindade, preenchendo os contornos desta Unidade e vivificando-a. O termo ‘Trindade’ não se encontra na Escritura, apesar de que o conceito que ela expressa é escriturístico. Atribui-se a invenção do termo a Tertuliano. Os montanistas foram os primeiros que definiram a pessoalidade do Espírito e os primeiros que formularam a doutrina da Trindade. O termo ‘Trindade’ não é metafísico, é apenas a designação de quatro fatos: 1) o Pai é Deus; 2) o Filho é Deus; 3) o Espírito é Deus; 4) há um só Deus. Park: "Por um lado a doutrina da Trindade não afirma que as três pessoas estão unidas numa pessoa, ou três seres num só ser, ou três deuses num só Deus (triteísmo); nem, por outro lado, que Deus simplesmente se manifesta em três diferentes modos (trindade modal, ou de manifestações); mas, ao invés disso, que há três eternas distinções na
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substância de Deus". Smith, Prefácio a Edwards, Observations on Trinity: "A doutrina da igreja sobre a Trindade afirma que há em Deus três hipóstases distintas ou subsistências -Pai, Filho, e Espírito Santo - cada um possuindo uma única e mesma natureza divina embora de maneira diferente. Os pontos essenciais são 1) a unidade da essência; 2) a realidade das distinções imanentes ou ontológicas". Ver Park em Eduards' View of The Trinity a respeito da Trindade, em Bíblia Sacra, abr. 1881.333. Princeton, Essays, 1.28 – "Há um Deus; Pai, Filho e Espírito Santo são este Deus uno; há esta distinção entre Pai, Filho e Espírito Santo quanto ao lançamento de uma base suficiente para o emprego recíproco dos pronomes pessoais". Joseph Cook: "(Pai, Filho e Espírito Santo são um Deus; 2) cada um tem uma peculiaridade incomunicável aos outros; 3) nenhum é Deus sem os outros; 4) cada um, com os outros é Deus". Consideramos a doutrina da Trindade implicitamente sustentada pelos apóstolos e envolvida nas declarações do Novo Testamento sobre Pai, Filho e Espírito Santo, enquanto admitimos que a doutrina não foi formulada pelos escritores do Novo Testamento. Eles a defendiam como solução; só o tempo, a reflexão e o choque da controvérsia e oposição fizeram-na cristalizar-se na forma definida e dogmática. Chadwick, Old and New Unitarianism, 59,60, reivindicam que a origem judaica do cristianismo mostra que o Messias judaico não podia originariamente ter sido concebido como divino. Se Jesus tivesse reivindicado isso, ele não teria sido levado a Pilatos; os judeus o teriam matado. A doutrina da Trindade, diz Chadwick, não se desenvolveu até o Concilio de Nice, 325. E. G. Robinson: "Não havia doutrina da Trindade no período da patrística, como também não havia a doutrina da expiação antes de Anselmo. The Outlook, Notes and Queries, 30 de mar 1901 - "Não se pode dizer que a doutrina da Trindade assumiu a forma final antes do aparecimento do assim chamado Credo Atanasiano no século 8º, ou 9º. O Credo Niceno formulado no quarto século, é chamado pelo Dr. Schaff, do ponto de vista ortodoxo, 'semitrinitário'. O mais antigo tempo que se sabe que Jesus foi deificado encontra-se, depois dos escritores do Novo Testamento, nas cartas de Inácio, no começo do segundo século".
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Gore, Incarnation, 179 - "A doutrina da Trindade não é muito ouvida ou defendida nas afirmações da Escritura". George P. Fisher cita um amigo capaz e piedoso que diz: "O que encontramos no Novo Testamento é a disjecta membra (membros separados) da Trindade". G. B. Foster: "A doutrina da Trindade é a tentativa cristã de tornar inteligível a pessoalidade de Deus sem depender do mundo". Charles Kingsley dizia que, se a doutrina da Trindade está ou não na Bíblia, deveria estar nela, porque a nossa natureza espiritual clama por ela. Shedd, Dogmatic Theology, 1.250 "Apesar de que a doutrina não pode ser descoberta pela razão humana, ela é suscetível à defesa racional, quando revelada". Sobre o trinitarismo na Nova Inglaterra, ver New World, 1896.272-295 - art. de Levi L. Paine. Ele diz que a sua última fase é representada por Phillips Brooks, James M. Whiton e George A. Gordon. Estes sustentam a divindade essencial da humanidade e principalmente de Cristo, o único representante da humanidade, que, neste sentido é a verdadeira encarnação da divindade. Neander declara que a Trindade não é doutrina fundamental do cristianismo. Contudo, ele falava da forma especulativa, metafísica que a doutrina assumiu na teologia. Mas ele fala bem diferentemente da forma devota e prática em que as Escrituras a apresentam, como na fórmula batismal e na bênção apostólica. A respeito disto, diz ele: "Reconhecemos o conteúdo essencial do cristianismo resumido de uma forma breve". Whiton, Gloria Patri, 10,11,55,91,92 - "O Deus transcendente, o Pai, releva-se através do Deus imanente, o Filho. Esta natureza pertence tanto a Deus como a Cristo e à humanidade e neste fato baseia-se a imutabilidade das distinções morais e a possibilidade do progresso moral. ... A vida imanente do universo é a mesma do poder transcendente; a corrente filial é a mesma da Fonte paternal. Pertence à supremacia de Cristo o nome de Filho, que inclui toda essa vida que é gerada de Deus. Em Cristo o outrora Filho inconsciente do mundo desperta a consciência do Pai. O Pai é a vida transcendente, acima de tudo. Em Cristo temos o coletivismo; no Espírito Santo temos o individualismo; como diz Bushnell: "O principal poder do mundo é a pessoalidade".
Teologia Sistemática (Strong) 608 I. NA ESCRITURA HÁ TRÊS QUE SÃO RECONHECIDOS COMO DEUS 1. Provas do Novo Testamento A) O Pai é reconhecido como Deus, - e em tão grande número de passagens (tais como Jo. 6.27 - "o Pai, Deus, o selou", e 1 Pe. 1.2 "presciência de Deus, Pai") que não precisamos nos delongar acrescentando extensas provas. B) Jesus Cristo é reconhecido como Deus. a) Ele é expressamente chamado Deus. Em João 1.1- θεός ην ό λόγος - a ausência do artigo mostra que θεός é predicativo (cf. 4.24 - πνεύμα ό θεός). Este predicativo precede o verbo para dar ênfase, indicando progresso no pensamento = ‘O Logos não só estava com Deus, mas era Deus’ (ver Meyer e Luthardt, Com. in loco). "Só ό λόγος pode ser o sujeito, pois na Introdução toda, a questão não é, quem é Deus, mas quem é o Logos" (Godet). Westcott, Bib. Com., in loco - Ό predicado está, de um modo enfático, em primeiro lugar. Necessariamente está sem o artigo visto que descreve a natureza do Logros e não identifica a sua pessoa. Seria puro sabelianismo dizer: Ό Logos era ό Θεός'. Assim temos neste verso 1 estabelecido o Logos em seu absoluto ser eterno, a) sua existência: além do tempo; b) sua existência pessoal: em comunhão ativa com Deus; c) sua natureza: Deus em essência". Marcus Dods, em Expositor's Greek Testament, in loco: Ό Logos se distingue de Deus, contudo, Θεός fjv ό λόγος - ο Logos era Deus, quanto à natureza divina; não 'um Deus', o que ao ouvido de um judeu teria sido abominável, nem ainda idêntico a tudo o que pode ser chamado Deus, porque, então, o artigo teria sido inserido (cf. 1 Jo. 3.4)".
Em João 1.18, μονογενής θεός – ‘O Deus unigênito’ - deve-se considerar como a leitura correta e uma clara atribuição da divindade
Teologia Sistemática (Strong) 609 absoluta a Cristo. Ele não é simplesmente o único revelador de Deus, mas ele é o próprio Deus revelado. Jo. 1.18 - "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer" (Rev. e Corrigida). "Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou" (Rev. e Atual, no Br.). Nesta passagem, apesar de que Tischendorf (8§ ed.) tem μονογενής υίός, Westcott e Hort (com N*BC*L Peshita Siríaca) reza μονογενής Θεός, e a Rev. Vers, "the only begotten God" (ο unigênito Deus) na margem, apesar de que conserva "o Filho unigênito" no texto. Harnack diz que a leitura μονογενής Θεός está "além de uma contradição estabelecida". Aqui temos uma nova e inequívoca afirmação da divindade de Cristo. Meyer diz que os apóstolos realmente chamam Cristo de Deus só em Jo. 1.1 e 20.28 e que Paulo nunca o reconhece deste modo. Porém Meyer é capaz de sustentar a sua posição chamando as doxologias a Cristo, em 2 Tm. 4.18, Hb. 13.21 e 2 Pe. 3.18 de pós-apostólicas.
Em João 20.28, a palavra dirigida por Tomé ό κύριος μου και ό θεός μου, - 'meu Senhor, meu Deus' - porque não foi repreendida por Cristo, equivale a uma declaração da sua parte como reivindicação da divindade. Jo. 20.28 - "Tomé respondeu e disse-lhe: Senhor meu e Deus meu". Isto não pode ser interpretado como um súbito apelo a Deus causado por surpresa e admiração, sem acusar o apóstolo de profanação. Nem se pode considerar uma simples apresentação super-elaborado entusiasmo, já que Cristo a aceitou. Contraste a conduta de Paulo e Barnabe, quando os pagãos em Listra apresentavam-lhes sacrifícios como se eles fossem Júpiter e Mercúrio (At. 14.11-18). As palavras de Tome, proferidas diretamente a Cristo e aceitas por ele, podem ser consideradas como um justo reconhecimento da parte de Tome de que Cristo era o seu Senhor e seu Deus. Alford, Commentary, in loco: Ό ponto de vista sociniano de que estas palavras são simplesmente uma exclamação é refutado 1) pelo fato de que tais exclamações não eram empregadas entre os judeus; 2) pelo ειπεν αύτώ; 3) pela impossibilidade de ό κύριος μου referir-se a outra pessoa que não fosse Jesus; ver v. 13; 4) pelo emprego no Novo Testamento da expressão
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do vocativo pelo nominativo com o artigo; 5) pelo absurdo psicológico de tal suposição; de que alguém convencido da presença daquele que com apreço amava, ao invés de se dirigir a ele, irrompia em irrelevante clamor; 6) por outro absurdo, o de supor que, se tal fosse o caso, o apóstolo João, que, de todos os escritores sacros, de modo mais constante conserva em mente o objetivo para o qual ele escreveu, tenha registrado alguma coisa tão alheia ao objetivo; 7) pela íntima conjunção de πεπίστευκας (2 pess. sing. perf. ind. de πιστεύω)" Cf. Mt. 5.34 - "de maneira nenhuma jureis ... pelo céu" - não se diz jurar por Yahweh porque nenhum judeu juraria desta forma. Esta exclamação de Tome, o que mais duvidou entre os doze, é a conclusão natural do evangelho de João. A tese "o Logos era Deus" (Jo. 1.1) torna-se agora parte da vida e consciência dos apóstolos. O capítulo 21 é apenas um Epílogo, ou Apêndice, que João escreveu mais tarde, para corrigir o erro de que ele não deveria morrer. A divindade de Cristo é o assunto do apóstolo que melhor entendeu o seu Mestre. Lyman Beecher: "Jesus Cristo é a divindade atuante do universo".
Em Romanos 9.5, a oração ό ών έπι πάντων θεός εύλογητός não pode ser traduzida "bendito seja o Deus sobre todos', pois ών é supérfluo se a oração é uma doxologia; "εύλογητός precede o nome de Deus numa doxologia, mas segue-o, como aqui, em uma descrição" (Hovey). A oração pode, portanto, corretamente ser interpretada só como uma descrição da mais alta natureza do Cristo que já se dissera, το κατά σάρκα, ou conforme sua mais humilde natureza ter tido sua origem em Israel (ver Tholuck, Com. in loco). Sanday, Comentary on Rm. 9.5 - "As palavras naturalmente referem-se a Cristo, a não ser que a palavra 'Deus' seja tão nitidamente um substantivo próprio que implica um contraste consigo mesmo (isto é, com o próprio substantivo). Já vimos que isto não é assim". Por isso, Sanday traduz: "de quem é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente".
Em Tito 2.13, έπιφάνειαν της δόξης του μεγάλου θεοΰ και σωτήρος ημών Ίησοΰ Χρίστου consideramos (com Ellicott) como "uma declaração direta, definida e mesmo estudada da divindade de Cristo" =
Teologia Sistemática (Strong) 611 "o aparecimento .... da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo" (assim é a Versão Inglesa Revisada). Επιφάνεια é um termo aplicado especialmente ao Filho e nunca ao Pai e μεγάλου não é um termo exigido se empregado em relação ao Pai, mas peculiarmente apropriado se empregado em relação a Cristo. Apoiados nos mesmos princípios devemos interpretar semelhante texto em 1 Pedro 1.1 (ver Huther, no Com. de Meyer. "A estreita justaposição indica a certeza da unidade de Deus e Jesus Cristo da parte do autor"). Tt 2.13 - "aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo" (Rev. e Corr.). "aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" (Rev. e Atual, do Br.); Westcott e Hort põem entre parênteses a palavra ημών. Estas considerações diminuem o poder de convicção desta passagem como texto comprobatório, ainda que a média do argumento nos pareça pender em favor da interpretação de Ellicott dada acima.
Em Hebreus 1.8, προς δε τον υίόν: ό θρόνος σου, ό θεός, εις τον αιώνα cita-se dirigindo a Cristo e o verso 10, que se segue - "Tu, Senhor, no princípio lançaste o fundamento da terra" - aplicando a Cristo uma atribuição a Yahweh, mostra que ό θεός no verso 8, é empregado no sentido do Deus absoluto. Objeta-se às vezes que atribuir o nome de Deus a Cristo nada prova quanto à divindade absoluta, visto que os anjos e até mesmo os juízes humanos são chamados deuses, ao representar a autoridade de Deus e executar a sua vontade. Mas respondemos que, conquanto seja verdade que o nome às vezes é assim aplicado, é sempre com adjuntos e em conexões que não deixam dúvida sobre o seu sentido figurado e secundário. Entretanto, quando aplicado a Cristo, ao contrário, é com adjuntos e em conexões que não deixam dúvida de que significa o Deus absoluto. Ver Ex. 4.16 - "tu lhe serás por Deus"; 7.1 - "Eis que te tenho posto por Deus sobre Faraó"; 22.28 - "os juízes não amaldiçoarás e o príncipe dentre o teu povo não maldirás" (Rev. e Corr.); "Contra Deus não blasfemarás, nem
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amaldiçoarás o príncipe do teu povo" (Rev. e Atual, no Br.) SI. 82.1 - "Deus está na congregação dos poderosos; julga no meio dos deuses" (Rev. e Corr.); "Deus assiste na congregação divina; no meio dos deuses, estabelece o seu julgamento" (Rev. e Atual. no Br.) [entre os poderosos]; 6 "eu disse: vós sois deuses e vós outros todos filhos do Altíssimo"; 7 todavia, como homens morrereis como qualquer dos príncipes". Cf. Jo. 10.34-36 - "se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida" (que foram comissionados e indicados representantes), quanto mais àquele que é um com o Pai chama-se a si mesmo Deus. Como em Sl. 82.7 - aqueles que foram chamados bons são representados como morrendo, do mesmo modo em 97.7 - "Prostrai-vos diante dele todos os deuses" - são ordenados a que se curvem diante do Senhor. Ann. Par. Bible: "Apesar de que as divindades dos pagãos não têm existência positiva, freqüentemente são descritas na Escritura com se a tivessem e curvando-se diante da majestade do Senhor". Este verso é citado em Hb. 1.6 -"e todos os anjos de Deus o adorem" - i.e., a Cristo. Aqui Cristo é identificado com Yahweh. Trata-se de uma citação da Septuaginta, que tem a palavra "anjos" em lugar de "deuses". Seu emprego aqui está de acordo com o espírito da palavra hebraica, que inclui tudo o que o erro humano podia considerar como objeto de culto". Determina-se aos que figurada e retoricamente são chamados "deuses" que se dobrem em adoração diante de Jesus Cristo, que é o verdadeiro Deus.
Em 1 João 5.20 - έσμέν έν τώ άληθινώ, έν τώ υίώ αύτοΰ Ίησοΰ Χριστώ, ούτος έστιν ό αληθινός θεός - "seria uma categórica repetição depois que o Pai tinha chamado duas vezes ό αληθινός, dizer outra vez: 'este é ό αληθινός. Nosso ser em Deus tem sua base em Cristo, seu Filho, e este também torna mais natural que οΰτος se refira a υίώ. Mas não deve ό αληθινός estar sem o artigo (como em João 1.1- θεός ην ό λόγος)? Não, pois é o propósito de João dizer em 1 João 5.20, não o que Cristo é, mas quem ele é. Declarando o que alguém é, o predicativo não deve ter artigo; declarando quem alguém é deve ter o artigo. João aqui diz que este Filho, em quem nosso ser repousa no verdadeiro Deus, é o mesmo verdadeiro Deus" (ver Ebrard, Com. in loco).
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Outras passagens podem ser aqui acrescentadas, como Cl. 2.9 - "nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade"; Fp. 2.6 - "sendo em forma de Deus"; mas preferimos considerar estas sob outros títulos como prova indireta da divindade de Cristo. Contamos ainda com outras passagens como afirmações diretas dadas como razão textual. São elas At. 20.28 cuja leitura correta, com toda probabilidade, não é έκκλησίαν του Θεού, mas έκκλησίαν του Κυρίου (como se acha em ACDE Tregelles e Tischendorf; contudo, B e Alef, contudo, têm του Θεοΰ. A Versão Revista continua a registrar "a igreja de Deus"; contudo, os revisores americanos continuam a registrar "a igreja do Senhor"); e 1 Tm. 3.16, onde ος inquestionavelmente deve ser substituído por Θεός, apesar de que mesmo aqui έφανερώθη indica preexistência. O Rev. George E. Ellis, D. D., diante do Unitarian Club, Boston, Nov. 1882 - "Cinqüenta anos de estudo, pensamento e leitura dedicados em grande parte à Bíblia e à literatura peculiarmente relaciona-se com ela, trouxeram-me a esta conclusão de que o livro, tomado com a qualidade divina especial e seu caráter, e deste modo, por extensão, atribuído a ele, como inspirado e infalível como um todo, e em todo o seu conteúdo - é um livro ortodoxo. Ele produz aquilo que se chama credo ortodoxo. A grande maioria dos seus leitores, seguindo a sua letra, seu sentido óbvio, seu significado natural e causando a impressão de que alguns dos seus textos enfáticos encontram nele ortodoxia. Só esse tipo de tratamento forçado, ingênuo, especial, discriminativo e, acrescente-se, de candura, que recebe de nós, os liberais podem fazer o livro ensinar qualquer coisa que não seja a ortodoxia. As assim chamadas seitas evangélicas estão claramente certas ao sustentar que este seu ponto de vista da Escritura e de suas doutrinas traça uma profunda e ampla divisão dos credos entre eles e nós. Na sua vibrante controvérsia através de panfletos entre os Drs. Channing e Ware, de um lado, e os Drs. Worcester e Woods e o Professor Stuart, de outro, controvérsia que fez o povo da nossa comunidade há sessenta anos passados mais do que fizeram as nossas recentes campanhas políticas estou plenamente convencido de que os polemistas pioraram. A exegese bíblica, a lógica e o argumento estavam claramente ao lado dos polemistas ortodoxos. E, deste modo, isto aconteceu principalmente porque o grupo liberal se pôs no mesmo plano que o ortodoxo no seu modo de considerar e tratar os textos bíblicos no seu procedimento sobre a controvérsia. O
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liberalismo não pode vencer a ortodoxia se ele faz concessões a este último no seu próprio modo de considerar e tratar a Bíblia como um todo. Martinho Lutero dizia que os papistas queimavam a Bíblia porque não lhes favorecia. Ora, não devo atacar a Bíblia por não estar do meu lado; mas devo objetar com tanta ênfase quanto eu posso contra o caráter e qualidade atribuídos à Bíblia, que por si mesma não reivindica, que não pode certificar-se em seu favor; e a origem e o crescimento e a intensidade das influências ternas e supersticiosas resultantes desse ponto de vista não podemos trazer de modo distinto a agentes por conta da crença corrente, mas sem garantia. A ortodoxia não pode reajustar os seus credos enquanto não reajustar a sua avaliação das Escrituras. A única salvação que alguém que professa o credo ortodoxo pode encontrar é, ou forçar sua ingenuidade sobre os textos que servem de prova, ou abrir mão da sua liberdade fora deles". Com esta confissão de um notável unitário é interessante comparar a opinião do assim chamado trinitário, Lyman Abbott, que diz que o Novo Testamento em parte alguma chama Cristo de Deus, mas em toda a parte o chama homem, como em 1 Tm. 2.5 - "Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem". Sobre esta passagem o próprio Prof. L. L. Paine assinala no New World, dez. 1894 "Que Paulo confundiu Cristo com o próprio Deus ou considerou-o de qualquer modo como a Suprema Divindade, é uma posição invalidada não só pelas afirmações diretas, mas também pela tendência das suas epístolas".
b) Descrições veterotestamentárias de Deus aplicadas a ele. Esta aplicação de nomes e títulos a Cristo exclusivamente apropriados a Deus é inexplicável, se Cristo não era considerado como sendo ele mesmo Deus. O temor peculiar com que o termo 'Yahweh' era separado por uma nação de firmes monoteístas como nome sagrado e incomunicável nome do Deus auto-existente e guardador da aliança proíbe crer que os escritores da Bíblia o poderiam ter usado para designar um ser subordinado e criado.
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Mt. 3.3 - "Preparai o caminho do Senhor" - é uma citação de Is. 40.3 "Preparai ... o caminho de Yahweh". João 12.41 - "Isaías disse isso quando viu a sua glória e falou dele" [i.e., Cristo] - refere-se a Is. 6.1 - "No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono". Do mesmo modo em Ef. 4.7,8 "a medida do dom de Cristo. ... levou cativo o cativeiro" - é uma aplicação do que se diz em SI. 68.18 a Cristo. Em 1 Pe. 3.15, contudo, lemos, com todos os grandes unciais, vários dos Pais e todas as melhores versões: "santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração"; aqui o apóstolo toma de empréstimo a linguagem de Is. 8.13, onde se lê: "Ao Senhor dos exércitos, a ele santificai". Quando nos lembramos de que, com os judeus, o título pactuai de Deus é tão sagrado que, para o Kethib (= "escrito") Yahweh é sempre substituído por Keri (= "leia" imperativo) Adonai, para evitar a pronúncia do grande nome, parece mais notável que o equivalente grego de 'Yahweh' deve ter sido empregado constantemente para designar Cristo. Cf. Rm. 10.9 - "confessarmos ... Jesus como Senhor"; 1 Co. 12.3 - "Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo". Convém lembrar também a indignação dos judeus na afirmação de Cristo sobre a sua igualdade e unidade com o Pai. Comparar a expressão de Goethe, "Er dar ihm nennen? com a de Carlyle, "O terrível inominável deste Universo". Tem-se dito que os judeus sempre oscilaram entre o monoteísmo e o moneyteísmo. Contudo, Tiago, o mais forte dos hebreus, na sua epístola emprega a palavra 'Senhor' livre e alternadamente referindo-se a Deus, o Pai e a Cristo, o Filho. Isto teria sido impossível se Tiago não cresse na comunidade da essência entre o Filho e o Pai. É interessante notar que 1 Mc. (Macabeus) não emprega a palavra Θεός, ou κύριος, ou qualquer outra designação direta de Deus exceto ουρανός (cf. 'de maneira nenhuma jureis nem pelo céu' - Mt. 5.34). Do mesmo modo o livro de Ester não contém nenhuma menção do nome de Deus apesar de que os apócrifos acréscimos de Ester, encontrados só no grego, contém o nome de Deus no primeiro verso e menciona-o ao todo oito vezes.
c) Ele possui os atributos de Deus. Entre eles estão: vida, existência própria, imutabilidade, verdade, amor, santidade, eternidade, onipresença, onisciência, onipotência.
Teologia Sistemática (Strong) 616 Todos estes atributos são aplicados a Cristo em conexões que mostram que os termos não são empregados em nenhum sentido secundário, nem em qualquer sentido aplicável a uma criatura. Vida: Jo. 1.4 - "Nele estava a vida"; 14.6 - "Eu sou ... a vida". Existência própria: Jo. 5.26 - "ter vida em si mesmo"; Hb. 7.16 - "virtude de vida incorruptível (ακατάλυτου)". Imutabilidade: "Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente". Verdade: Jo. 14.6 - "Eu sou ... a verdade"; Ap. 3.7 - "o que é verdadeiro". Amor: 1 Jo. 3.16 - "Conhecemos o amor (την άγάπην = Amor pessoal, como a Verdade pessoal) nisto: que ele deu a vida por nós". Santidade: Lc. 1.35 - "o santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus"; Jo. 6.69 - "tu és o Santo de Deus"; Hb. 7.26 - "santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores". Eternidade: Jo. 1.1 - "No princípio era o Verbo". Godet diz έν άρχη' = não 'na eternidade', mas 'no começo da criação'; a eternidade do Verbo é uma inferência de ήν - o Verbo era, quando o mundo foi criado: cf. Gn. 1.1 "No princípio criou Deus". Porém Meyer diz: έν άρχη' aqui está acima da concepção histórica de "no princípio" em Gênesis (que inclui o começo do próprio tempo) até a concepção absoluta de anterioridade no tempo; a criação é algo subseqüente. Ele acha um paralelo em Pv. 8.23 - έν αρχή προ του την γήν ποιήσαι. Α interpretação 'no princípio do evangelho' é inteiramente não exegética. Do mesmo modo Jo. 17.5 - "glória que tinha contigo antes que o mundo existisse"; Ef. 1.4 - "também nos elegeu antes da fundação do mundo". Dorner também diz que έν αρχή em Jo. 1.1 não é Ό começo do mundo', mas designa o ponto atrás do qual é impossível recuar, i.e., a eternidade; a primeira vez que se fala do mundo é no verso 3. Jo. 8.58 - "antes que Abraão existisse, eu sou"; cf. 1.15; Cl. 1.17 - "E ele é antes de coisas as coisas"; Hb. 1.11 - os céus "perecerão, mas tu permanecerás"; Ap. 21.6 - "Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim". Onipresença: Mt. 28.20 - "eu estou convosco todos os dias"; 18.20 "Porque onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles". Onisciência: Mt. 9.4 - "Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos..."; Jo. 2.24,25 - "porque a todos conhecia ... ele bem sabia o que estava no homem"; 16.30 - "sabes tudo"; At. 1.24 - "Tu, Senhor, conhecedor do coração de todos ..." oração dirigida antes do dia de
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Pentecostes e que mostra a atitude dos discípulos para com o seu Mestre; 1 Co. 4.5 - "até que o Senhor venha, o qual trará à luz as coisas ocultas das trevas e manifestará os desígnios dos corações"; Cl. 2.3 - "em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência". Onipotência: Mt. 28.18 - "Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra"; Ap. 1.8 - "Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, que era, e que há de vir, o Todo-poderoso". Beyschlag, N. T. Theology, 1.249-260, sustenta que a preexistência de Jesus é simplesmente a forma completa dada a uma concepção ideal. Jesus recua a si mesmo no tempo, como tudo o que é santo e divino recua nas concepções do seu tempo até uma origem celeste na qual preexistiam antes do seu aparecimento terreno; p.ex.: o tabernáculo em Hb. 8.5; Jerusalém em Gl. 4.25 e Ap. 21.10; o Reino de Deus em Mt. 13.24; muito mais o Messias em Jo. 6.62 - "subir o Filho do Homem para onde primeiro estava"; 8.58 "antes que Abraão fosse, eu sou"; 17.24 - "tu me amaste antes da fundação do mundo". Este ponto de vista de que Jesus existia antes da criação só numa forma ideal na mente divina, significa só que Deus o conhecia anteriormente e sabia da sua vinda. O ponto de vista é refutado pelas múltiplas indicações de uma preexistência pessoal, distinta da ideal. Lowrie, Doctrine of St. John, 115 - "A expressão 'no princípio' (Jo. 1.1) sugere que o autor está empenhado em escrever um segundo livro de Gênesis, sobre uma nova criação". Como a criação pressupõe um criador, a preexistência de um Verbo pessoal aparece como uma explicação do ser do universo. O ήν indica existência absoluta, o que é uma idéia mais elevada que a da simples preexistência, apesar de que esta a inclui. Enquanto se diz que João Batista e Abraão ressuscitaram, apareceram, vieram a ser, diz-se que o Logos era, e que o Logos era Deus. Isto implica coeternidade com o Pai. Mas se o ponto de vista que estamos combatendo fosse correto, João Batista e Abraão preexistiriam do mesmo modo que Cristo. Sem dúvida não é este o sentido de Jesus em Jo. 8.58 - "Antes que Abraão nascesse eu sou"; cf. CI. 1.17 - "ele é antes de todas as coisas" - "αυτός dá ênfase à pessoalidade, enquanto εστίν declara que a preexistência é existência absoluta" Lightfoot); Jo. 1.15 - "o que vem depois de mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu" = não que Jesus tivesse nascido antes de João Batista, porque ele nasceu seis meses mais tarde, mas que ele existia
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antes. Ele é antes de João em grau, porque ele existia muito antes de João, no tempo; 6.62 - "Subir o Filho do Homem para onde primeiro estava"; 16.28 - "Saí do Pai e vim ao mundo". Também Is. 9.6,7, chama Cristo de "Pai eterno" = a eternidade é um atributo do Messias. T. W. Chambers, em Jour. Soc. Bib. Exegesis, 1881.169-171 - "Cristo é o Eterno, 'cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade' (Mq. 5.2). Όο incremento deste principado da paz, não haverá fim' (Is. 9.7) porque a sua existência não teve começo".
d) As obras de Deus são atribuídas a ele. Não falamos aqui dos milagres, que podem ser operados por poder comunicado, mas de obras tais como a criação do mundo, o sustento de todas as coisas, a ressurreição final dos mortos e o julgamento de todos os homens. O poder de realizar estas obras não pode ser delegado, pois são características da onipotência. Criação: Jo. 1.3 - "Todas as coisas foram feitas por intermédio dele"; 1 Co. 8.6 - "um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas"; Cl. 1.16 - "tudo foi criado por meio dele e para ele"; Hb. 1.10- "Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra e os céus são obra das tuas mãos"; 3.3,4 - "o que edificou todas as coisas é Deus" = Cristo, o edificador da casa de Israel, é o Deus que fez todas as coisas; Ap. 3.14 - "o princípio da criação de Deus" (cf. Platão: "A mente é a αρχή do movimento"). Sustentando: Cl. 1.17- "todas as coisas subsistem por ele"; Hb. 1.3 - "sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder". Ressuscitando os mortos e julgando o mundo: Jo. 5.27-29 - "autoridade para exercer o juízo ... todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz, e sairão"; Mt. 25.31,32 - "... se assentará no trono da sua glória; e todas as nações se reunirão diante dele". Se o nosso argumento fosse dirigido totalmente aos crentes poderíamos também argumentar com a obra de Cristo no mundo como Revelador de Deus e Redentor dos pecados, como prova da sua divindade. Afirmações sobre a atividade criadora de Cristo e seu sustento estão combinadas em Jo. 1.3,4 - Πάντα διΛαύτοϋ έγένετο, και χωρίς αυτού έγένετο ουδέ εν. ό γέγονεν έν αύτώ ζωή ήν - "Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada foi feito. Nele estava a vida e a vida era a
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luz dos homens". Westcott: "Seria difícil encontrar um consenso mais completo das antigas autoridades em favor de qualquer leitura do que a que defende esta pontuação". Por isso Westcott a adota. A passagem mostra que o universo 1. existe dentro dos limites do ser de Cristo; 2. que ele não é morto, mas vivo; 3. que ele deriva a sua vida de Cristo. A criação requer a presença divina, assim como a sua atuação. Deus cria através de Cristo. Todas as coisas foram feitas, não υπό αύτοϋ - "por ele", mas δΓαύτοΰ "através dele". Van Oosterzee, Christian Dogmatics, Iv, Ivi - Aquilo que muitos teólogos conjeturavam obscuramente, a saber, que Deus não produziu o mundo de uma forma absoluta, imediata, mas de um modo ou de outro, mediatamente, aqui se nos apresenta com a clareza da revelação e exalta tanto mais a reivindicação do Filho de Deus à nossa profunda e reverente homenagem". Ah! Se tais cientistas como Tyndall e Huxley pudessem ver Cristo na natureza, e, fazendo a sua vontade, pudessem aprender a sua doutrina e ser conduzidos ao Pai! O mais humilde cristão que vê a mão de Cristo no universo físico e na história humana conhece mais do segredo do universo do que todos os cientistas juntos. Cl 1.17 - "todas as coisas subsistem por ele", ou "reúnem-se", não significa nada menos que Cristo é o princípio da coesão no universo, fazendo um cosmos, não um caos. Tyndall dizia que a atração do sol sobre a terra é tão inconcebível como se um cavalo puxasse a carroça sem varais. Sir Isaac Newton: "A gravitação deve ser causada por um agente em acordo constante com determinadas leis" Lightfoot: "A gravitação é uma expressão da mente de Cristo". A evolução também é o método da sua operação. As leis da natureza são os hábitos de Cristo e a natureza em si é apenas a sua firme e constante vontade. Ele determina em conjunto com o homem e a natureza num todo orgânico de modo que podemos falar de um universo. Sem ele não haveria nenhuma ligação, nenhuma uniformidade da lei, nenhuma unidade da verdade. O meio de interação entre as coisas é também o meio de intercomunicação entre as mentes. É adequando isso que ele reúne e sustenta o físico e o intelectual, deve reunir o universo, moral trazendo para si todos homens (Jo. 12.32) e deste modo para Deus e reconciliando todas as coisas no céu e na terra (Cl. 1.20). Em Cristo "a lei
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aparece, em caracteres vivos", porque ele é a base e a fonte de toda a lei tanto na natureza como na humanidade.
e) Ele recebe a honra e o louvor devidos só a Deus. Em acréscimo às palavras de Tome em João 20.28, que já citamos entre as provas de que Jesus é expressamente chamado Deus e em que a honra divina é tributada a ele, podemos fazer referência à oração e adoração oferecidas pelas igrejas apostólicas e pós-apostólicas. Jo. 5.23 - "que todos honrem o Filho, como honram o Pai"; 14.14 -"Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei"; At. 7.59 - "Estêvão, que em seu coração dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito" (cf. Le. 23.46 Palavras de Jesus: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito"); Rm. 10.9 "Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor"; 13 - "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (cf. Gn. 4.26 - "então se começou a invocar o nome do Senhor"; 1 Co. 11.24, 25 - "fazei isto em memória de mim" = adoração a Cristo; Hb. 1.6 - "todos os anjos de Deus o adorem"; Fp. 2.10,11 -"ao nome de Jesus se dobre todo joelho ... toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor"; Ap. 5.12-14 - "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder..."; 2 Pe. 3.18 - "Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória"; 2 Tm. 4.18 e Hb. 13.21 - "a quem seja glória para todo sempre" - estas inscrições de glória eterna a Cristo implicam sua divindade. Ver também 1 Pe. 3.15 - "santificai a Cristo, como Senhor ", e Ef. 5.21 - "sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo". Aqui está uma atitude da mente para com Cristo, o que seria uma idolatria se Cristo não fosse Deus. Foster, Christian Life and Theology, 154 - "Na liturgia eucarística do 'Ensino' lemos: 'Hosana ao Deus de Davi'; falando do 'sangue de Deus', em evidente alusão a At. 20.28; a epístola a Diogneto toma as palavras de Paulo e o chama 'arquiteto e construtor do mundo por quem [Deus] criou os céus', e o chama Deus (cap. vii); Hermas fala a respeito dele como 'O santo Espírito preexistente, que criou toda a criatura'; estilo de expressão seguido por Justino, que o chama Deus, como mais tarde o fizeram os grandes escritores. Na segunda epístola de Clemente (130-160, Harnack), lemos:
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'Irmãos, cabe a vós pensar em Jesus Cristo como Deus - como Juiz dos vivos e dos mortos'. Ε Inácio o descreve como 'gerado e não gerado, passível e impassível,... que era antes da eternidade com o Pai'. " Estes testemunhos só dão evidência de que os Pais da Igreja viram na Escritura divina honra atribuída a Cristo. Mais tarde eles foram apenas precursores de uma hoste de intérpretes. Num período de calmaria do massacre dos cristãos armênios em Sassouan, ouviu-se um dos selvagens curdos perguntar: "Quem era o 'Senhor Jesus' que eles estavam invocando?" Na sua agonia de morte, os cristãos, como Estêvão no passado, ele invocou o nome do Senhor. Robert Browning citou, numa carta a uma senhora na sua enfermidade terminal, as palavras de Charles Lamb, quando "em alegre fantasia com alguns amigos sobre como ele e os seus amigos se sentiriam se o maior dos mortos aparecesse repentinamente em carne e osso mais uma vez - na primeira sugestão, Έ se Cristo entrasse nessa sala?' mudasse o seu tom num instante e gaguejasse como quando estava comovido: 'Veja só - se Shakespeare entrasse, nós nos levantaríamos; se Ele aparecesse, nós nos ajoelharíamos'."
f) Seu nome é associado ao de Deus no mesmo pé de igualdade. Não fazemos alusão aqui a 1 João 5.7 (as três testemunhas celestiais), pois esta parte do verso é inquestionavelmente espúria; mas à fórmula do batismo, às bênçãos apostólicas e às passagens em que se diz que a vida eterna depende igualmente de Cristo e de Deus, ou em que os dons espirituais são atribuídos a Cristo do mesmo modo que ao Pai. Fórmula do batismo: Mt. 28.19 - "batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo"; cf. At. 2.38 - "cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo"; Rm. 6.3 - "batizados em Jesus Cristo". "Na fórmula batismal comum o Filho e o Espírito são coordenados com o Pai e εις όνομα tem significação religiosa". Seria tanto absurdo como profano falar em batizar em nome do Pai e de Moisés. Bênção apostólica: 1 Co. 1.3 - "graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo"; 2 Co. 13.13 - "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós
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todos". "Na bênção a graça é algo divino e Cristo tem poder para concedêla. Mas por que encontramos a palavra 'Deus' e não 'Pai' como na fórmula do batismo? Porque é só o Pai que não se torna homem ou tem existência histórica. Em outra parte ele é chamado 'Deus, o Pai', para distingui-lo de Deus, o Filho e de Deus, o Espírito Santo (Gl. 1.3; Ef. 3.14; 6.23)". Outras passagens: Jo. 5.23 - "para que todos honrem o Filho, como honram o Pai"; Jo. 14.1 - "crede(s) em Deus, crede(s) também em mim" Westcott, Bible Com., in loco entende tratar-se de duplo imperativo; πιστεύετε tanto pode ser près. ind. 2 pess. pl., como imperativo près. 2pess. pl.; nas ambas vezes esse verbo pode ser traduzido como près. ind. ou imperativo près., podendo aparecer: "crede em Deus, crede também em mim"; ou credes em Deus credes também em mim; credes em Deus, crede também em mim; crede em Deus credes também em mim. 17.3 - "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a teu Filho a quem enviaste"; Mt. 11.27 - "Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar"; 1 Co. 12.4-6 - "o mesmo Espírito ... o mesmo Senhor [Cristo] ... o mesmo Deus [Pai] concedendo dons espirituais, p.ex., fé: Rm. 10.17 - "a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Cristo" (alguns documentos em lugar da palavra Cristo registram a palavra Deus); paz: Cl. 3.15 - "seja a paz de Cristo o árbitro dos vossos corações". 2 Ts. 2.16,17 - "Ora o nosso Senhor Jesus Cristo e Deus, nosso Pai console os vossos corações" - dois nomes com o verbo no singular indicam unidade entre Pai e Filho (Lillie). Ef. 5.5-"Reino de Cristo e de Deus"; Cl. 3.1 - "Cristo ... assentado à destra de Deus" = participação na soberania do universo; o diva oriental tinha não só o monarca, mas também o seu filho. Hackett: "Como, ao morrer, o Salvador disse ao Pai, 'Em tuas mão entrego o meu espírito' (Lc. 23.46), do mesmo modo, Estêvão, ao morrer, disse ao Salvador: 'recebe o meu espírito' (At. 7.59)".
g) Reivindica-se expressamente igualdade com Deus. Aqui podemos fazer referência ao testemunho de Jesus sobre si mesmo já tratado (ver pp. 189,190) entre as provas do caráter sobrenatural do ensino da Escritura. A igualdade com Deus não é só
Teologia Sistemática (Strong) 623 reivindicada por Jesus para si mesmo, mas é reivindicada para ele pelos apóstolos. Jo. 5.18 - "dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus"; Fp. 2.6 - 'subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus" = contava a sua igualdade a Deus uma coisa que devesse ser retida à força. Cristo fez e deixou aos seus contemporâneos a impressão de que ele reivindicava ser Deus. O Novo Testamento deixou, sobre a grande maioria dos que o leram, a impressão de que Jesus Cristo reivindica ser Deus. Se ele não é Deus, é um enganador, ou engana-se a si mesmo e, em qualquer caso, Christus, si non Deus, non bonus.
h) Mais provas da divindade de Cristo podem encontrar-se na aplicação das seguintes expressões a ele: 'Filho de Deus', 'Imagem de Deus'; nas declarações de sua unidade com Deus; na atribuição da plenitude da divindade a ele. Mt. 26.63,64 - "Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Disse Jesus: Tu o disseste" - é por esse testemunho que Cristo morre. Cl. 1.15-"imagem do Deus invisível"; Hb. 1.3-"resplendor da sua glória [do Pai], e a imagem expressa da sua pessoa"; Jo. 10.30 - "Eu e o Pai somos um"; 14.9 - "quem me vê a mim vê o Pai"; 17.11,22 - "para que sejam um, assim como nós" - não εις, mas εν; não unus, mas unum; não uma pessoa, mas uma substância. "Unum é o antídoto ariano, sumus da heresia sabeliana". Cl. 2.9 - "nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade"; cf. 1.19 - "porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse"; (marg.) "para toda a plenitude de Deus habitar nele". Jo. 16.15 "tudo quanto o Pai tem é meu"; 17.10 - "todas as minhas coisas são tuas, e todas as tuas coisas são minhas". Meyer, on Jo. 1.30 – "Eu e o Pai somos um" – "Aqui os arianos entendem que se trata de uma simples harmonia ética ensinada nas palavras "somos um" é insatisfatória porque é irrelevante ao exercício do poder. A unidade da essência, embora não contida nas palavras em si mesmas, está, pela necessidade do argumento, pressuposta nelas". Dalman, As Palavras de Jesus: "Em lugar nenhum encontramos Jesus
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chamando-se Filho de Deus no sentido de sugerir mera relação religiosa e ética com Deus - relação que os outros também tinham e que eram capazes de atingir ou estavam destinados a adquirir". Podemos acrescentar que enquanto no mais humilde sentido eles são muitos 'filhos de Deus', há apenas um 'Filho unigênito'.
i) Estas provas da divindade de Cristo a partir do Novo Testamento são corroboradas pela experiência cristã. A experiência cristã reconhece Cristo como um Salvador absolutamente perfeito, revelando perfeitamente a divindade e merecedor de ilimitado louvor e adoração; isto é, praticamente reconhece-o como Deus. Mas a experiência cristã também reconhece que através de Cristo ela tem a Introdução e reconciliação com Deus como alguém distinto de Jesus Cristo, como alguém que estava afastado da alma por causa pecado dela, mas que agora se acha reconciliada através da morte de Jesus. Em outras palavras, enquanto reconhecendo Jesus como Deus, somos compelidos a reconhecer uma distinção entre o Pai e o Filho e através deste chegamos ao Pai. Apesar de que esta experiência não pode ser considerada como testemunha independente das reivindicações de Jesus, porque ela só testa a verdade que já se tornou conhecida na Bíblia, ainda o irresistível impulso de cada pessoa a quem Cristo salvou de elevar seu redentor ao mais alto lugar, e de curvar-se diante dele no mais modesto louvor, é forte evidência de que só esta interpretação da Escritura que reconhece a divindade absoluta de Cristo pode ser verdadeira. É a consciência da igreja sobre a divindade do Senhor, na verdade, e não simples especulação sobre as relações Pai, Filho e Espírito Santo, que tem compelido a formulação da doutrina escriturística da Trindade. Estas provas da divindade de Cristo a partir do Novo Testamento são corroboradas pela experiência cristã.
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A experiência cristã reconhece Cristo como um Salvador absolutamente perfeito, revelando perfeitamente a divindade e merecedor de ilimitado louvor e adoração; isto é, praticamente reconhece-o como Deus. Mas a experiência cristã também reconhece que através de Cristo ela tem a Introdução e reconciliação com Deus como alguém distinto de Jesus Cristo, como alguém que estava afastado da alma por causa pecado dela, mas que agora se acha reconciliada através da morte de Jesus. Em outras palavras, enquanto reconhecendo Jesus como Deus, somos compelidos a reconhecer uma distinção entre o Pai e o Filho e através deste chegamos ao Pai. Apesar de que esta experiência não pode ser considerada como testemunha independente das reivindicações de Jesus, porque ela só testa a verdade que já se tornou conhecida na Bíblia, ainda o irresistível impulso de cada pessoa a quem Cristo salvou de elevar seu redentor ao mais alto lugar, e de curvar-se diante dele no mais modesto louvor, é forte evidência de que só esta interpretação da Escritura que reconhece a divindade absoluta de Cristo pode ser verdadeira. É a consciência da igreja sobre a divindade do Senhor, na verdade, e não simples especulação sobre as relações Pai, Filho e Espírito Santo, que tem compelido a formulação da doutrina escriturística da Trindade. Na carta de Plínio a Trajano, se diz dos cristãos primitivos "quod essent soliti carmen Christo quasi Deo dicere invicem" (que seria um poema dedicado a Cristo de quem se diz ser quase Deus). As orações e hinos da igreja mostram o que se cria que a Escritura ensinava. Conta-se que Dwight Moody teve a primeira convicção da verdade do evangelho ao ouvir as palavras finais de uma oração: "Por amor de Jesus. Amém", quando despertou de um ligeiro cochilo na igreja do Dr. Kirk, em Boston. Estas palavras, sempre quando proferidas implicam a dependência do homem e a divindade de Cristo. Em Ef. 4.32 a Versão Revisada substitui "em Cristo" por "por amor de Cristo". Esta expressão não se encontra no N.T. na conexão com a oração, apesar de que no A.T., "por amor do meu nome" (SI. 25.11) passa para o N.T. "em nome de Jesus" (Fp. 2.10); cf. SI. 72.15-"e, continuamente, por ele se fará oração" = as palavras do hino: "Por ele se fará oração sem fim e bênçãos sem fim coroarão a sua cabeça". Tudo isto é prova de que a idéia de que a oração por amor de Cristo se encontra na Escritura, apesar de que a expressão não aparece.
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Uma caricatura esboçada no Palatino, em Roma, datando do século terceiro, representa uma figura humana com a cabeça de um asno, suspensa numa cruz, enquanto um homem se posta em pé diante dela em atitude de adoração. Sob a efígie vê-se a inscrição: "Alexâmenos adora o seu Deus". Foi Schleiermacher quem primeiro fez este apelo ao testemunho da consciência cristã. William Ε. Gladstone: "Tudo bem, penso eu e espero-o baseado na divindade do nosso Senhor, centro da esperança dos nossos pobres e norte da nossa raça". E. G. Robinson: "Quando você prega a salvação em Cristo, prega a Trindade". W. G. T. Shedd: "A construção da doutrina da Trindade, parte não da consideração das três pessoas, mas na crença na divindade de uma delas".
Contemplando passagens aparentemente inconsistentes com aquelas ora citadas, nas quais se imputa a Cristo fraqueza e ignorância, limitação e sujeição, devemos lembrar, primeiro, que o Senhor era verdadeiramente homem assim como era verdadeiramente Deus e que tal ignorância e fraqueza podem ser predicados dele como o Deus-homem em quem a divindade e a humanidade se unem; segundo, que a natureza divina em certo sentido limitou-se humilhou-se durante a vida terrena do nosso Salvador e que estas passagens podem descrevê-lo como ele era no seu estado de humilhação mais do que em sua original e presente glória; e terceiro, que há uma ordem de ofício e operação que é consistente com a unidade e igualdade essenciais, mas que permite falar-se do Pai como primeiro e o Filho como segundo. Estas declarações serão melhor elucidadas ao tratar-se da presente doutrina e em subseqüente exame da doutrina da pessoa de Cristo. Há algumas coisas que Cristo não sabia: Mc. 13.32 - "daquele Dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai". Ele estava sujeito ao cansaço físico: Jo. 4.6 - "Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se junto da fonte". Houve uma limitação conseqüente da sua carne humana: Fp. 2.7 - "a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens"; Jo. 14.28 - "o Pai é
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maior do que eu". Há uma sujeição relativa à ordem do ofício e operação que é consistente com a igualdade da essência e unidade com Deus: 1 Co. 15.28 - "então o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos". Isto deve ser interpretado em consistência com Jo. 17.5 - "glorifica-me, ó Pai, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo" e Fp. 2.6 onde se descreve a sua glória como "forma de Deus" e "igual a Deus". Mesmo na sua humilhação, Cristo era a Verdade Essencial, e o seu desconhecimento nunca implicou em erro ou ensino falso. O seu desconhecimento podia às vezes tornar o seu ensino incompleto; nunca, em qualquer sentido, falso. Ainda aqui devemos distinguir entre o que ele pretendia ensinar e o que era simplesmente incidental ao seu ensino. Quando ele diz: Moisés "escreveu de mim" (Jo. 5.46) e "Davi, em espírito, lhe chama Senhor" (Mt. 22.43), se o seu propósito era ensinar a autoridade do Pentateuco e a do Salmo 110, devemos considerar que as suas palavras têm autoridade absoluta. Mas é possível que ele apenas pretendesse situar as referidas passagens e, se assim, as suas palavras não podem ser empregadas para tirar conclusões críticas quanto à sua autoridade. Adamson, The Mind of Christ, 136 -"Se ele falou de Moisés ou de Davi foi tão somente para identificar a passagem. A autoridade da antiga dispensação não se apóia no fato de dever-se a Moisés, nem a propriedade do Salmo apóia-se no fato de ter sido proferido por Davi. Não há nenhuma evidência de que a questão da autoridade veio antes dele". Mais precariamente Adamson sugere que "pode ter havido um lapso de memória na menção de Jesus sobre 'Zacarias, filho de Baraquias' (Mt. 23.35), visto que se trata de matéria sem valor espiritual". Para as afirmações sobre o conhecimento de Jesus, ver Jo. 2.24,25 "a todos conhecia ...não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem"; 6.64 - "bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam e quem era o que o havia de entregar"; 12.33 - "Dizia isto, significando de que morte havia de morrer"; 21.19-"Disse isso significando com que morte ele [Pedro] havia de glorificar a Deus"; 13.1 — "sabendo que era chegada a sua hora de passar"; Mt. 25.31 -"quando o Filho do Homem vier na sua glória, e todos os santos anjos, com ele, então se assentará no trono da sua glória" = ele sabia que
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haveria de atuar como o juiz final da raça humana. Outros exemplos citados por Adamson, The Mind in Christ, 24-49: 1. O conhecimento que Jesus tinha de Pedro (Jo. 1.42); 2. o descobrimento de Filipe (1.43); 3. o reconhecimento de Natanael (1.47-50); 4. da mulher samaritana (4.17-19,39); 5. a pesca maravilhosa (Lc. 5.6-9; Jo. 21.6); 6. a morte de Lázaro (Jo. 11.14); 7. o jumentinho (Mt. 21.2); 8. do cenáculo (Mc. 14.15); 9. da negação de Pedro (Mt. 26.34); 10. do tipo da sua própria morte (12.33; 18.32); 11. o tipo de morte de Pedro (Jo. 21.19); 12. a queda de Jerusalém (Mt. 24.2). Por outro lado, há afirmações e implicações do desconhecimento de Jesus: ele não sabia qual era o dia do fim (Mc. 13.32), apesar de que mesmo aqui ele dá indicações da sua superioridade relativa aos anjos; 5.3034 -"quem tocou nas minhas vestes?" apesar de que saiu virtude dele para curar; Jo. 11.34 - Onde o puseram?" apesar de que ele estava em vias de ressuscitar Lázaro; Mc. 11.13 - "Vendo longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa" = ele não sabia que ela não tinha fruto, ainda que tivesse poder para amaldiçoá-la. Com estas evidências das limitações do conhecimento de Jesus, devemos admitir o juízo de Bacon, Genesis of Genesis, 33 - "Devemos abrir mão de fixar a autoridade de Jesus numa questão de crítica literária"; e Gore, Incarnation, 195 - "Não penso que precisamos admitir que o emprego de uma expressão, da parte de Jesus como 'Moisés escreveu a respeito de mim' leva-nos à autoria mosaica do Pentateuco como um todo". É inconcebível que uma simples criatura diga: "Deus é maior do que eu", ou que se diga dela como por fim e de modo misterioso tornando-se "súdito de Deus". Neste estado de humilhação, Cristo estava sujeito ao Espírito (At. 1.2 - "depois de ter dado um mandamento, pelo Espírito Santo"; 10.38 - "Deus o ungiu com o Espírito Santo ... porque Deus estava com ele"; Hb. 9.14 - "pelo Espírito eterno ofereceu-se imaculado a Deus"), mas no seu estado de exaltação Cristo é o Senhor do Espírito (κυρίου πνεύματος - 2 Co. 3.18 - Meyer), dando o Espírito e através do Espírito. Hb. 2.7, marg. - "Tu o fizeste pouco menor do que os anjos".
C) O Espírito Santo é reconhecido como Deus d) Fala-se dele como Deus. At. 5.3,4 - "mentisses ao Espírito Santo ... não mentiste aos homens, mas a Deus"; 1 Co. 3.16 - "vós sois o templo de Deus ... o Espírito de Deus
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habita em vós"; 6.19-0 vosso corpo é o templo do Espírito Santo"; 12.4-6 - "o mesmo Espírito ... o mesmo Senhor ... o mesmo Deus, que opera em vós todas as coisas" - "A divina Trindade é aqui indicada num clímax ascendente de tal modo que passamos do Espírito que concede os dons ao Senhor [Cristo], que é servido por meio deles e, finalmente a Deus, como a primeira causa absoluta e possuidor de todas as forças cristãs opera a inteira soma de todos os dons carismáticos em todos os que são dotados" (Meyer, in loco).
b) Atributos de Deus. Os atributos de Deus tais como vida, verdade, amor, santidade, eternidade, onipresença, onisciência, onipotência são aplicados a ele. Vida: Rm. 8.2 - "o Espírito de vida". Verdade: Jo. 16.13 - "Espírito de verdade". Amor: Rm. 15.30- Ό amor do Espírito". Santidade: Ef. 4.30-Ό Espírito Santo de Deus". Eternidade: Hb. 9.14 - Ό Espírito eterno". Onipresença: SI. 139.7 - "Para onde me irei do teu Espírito?" Onisciência: 1 Co. 12.11 -"Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas [incluindo os dons de cura e milagres], repartindo a cada um como quer".
c) Obras de Deus. Ele faz as obras de Deus tais como criação, regeneração, ressurreição. Criação: Gn. 1.2 - Ό Espírito de Deus pairava (hebr., chocava) sobre a face das águas". Expulsão de demônios: Mt. 12.28 - "Mas, se eu, pelo Espírito de Deus expulso demônios". Convencimento do pecado: Jo. 16.8 "convencerá o mundo do pecado". Regeneração: Jo. 3.8 - "nascido do Espírito"; Tt. 3.5 - "renovação do Espírito Santo". Ressurreição: Rm. 8.11 "vivificará o vosso corpo mortal pelo seu Espírito"; 1 Co. 15.45 - "o último Adão, espírito vivificante".
d) Honra devida a Deus. 1 Co. 3.16 - "vós sois o templo de Deus ... o Espírito de Deus habita em vós" - aquele que habita no templo é objeto de adoração nele.
Teologia Sistemática (Strong) e) Associado com Deus. Fórmula do batismo":
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Mt. 29-8.19 - "batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Se a fórmula batismal é adoração, temos a adoração prestada ao Espírito. Bênção Apostólica: 2 Co. 13.13 - "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós todos". Se a bênção apostólica é oração, temos aqui uma oração ao Espírito. 1 Pe. 1.2 -"Presciência de Deus Pai... santificação do Espírito ... a aspersão do sangue de Cristo". Sobre Hb. 9.14, Kendrick, Commentary in loco, interpreta: "As ofertas de si mesmo em virtude de um espírito eterno que nele habita e concede ao sacrifício uma eficácia espiritual e eterna. O 'espírito' de que se fala aqui, então não é o 'Espírito Santo'; não é a sua natureza puramente divina; é aquela propensão para a natureza divina com sua pessoalidade humana que forma o mistério do seu ser, esse 'espírito de santidade' em virtude do qual ele foi declarado 'Filho de Deus com poder', por causa da sua ressurreição dentre os mortos". Hovey acrescenta uma nota ao Comentário de Kendrick, in loco, como segue: "Este adjetivo 'eterno' naturalmente sugere que a palavra 'Espírito' se refere à mais elevada e divina natureza de Cristo. Sua natureza verdadeiramente humana, do seu lado espiritual, na verdade, é eterna quanto ao futuro, mas é também o espírito de cada homem. O único valor superlativo do sacrifício próprio de Cristo parece dever-se ao impulso do lado divino da sua natureza". A expressão 'espírito eterno' significa, então, a sua divindade. De ambas interpretações preferimos aquela que faz a passagem referir-se ao Espírito Santo e, como apoio, citamos At. 1.2 - "Ele tinha dado mandamentos através do Espírito Santo aos apóstolos"; 10.38 "Deus o ungiu com o Espírito Santo". Sobre 1 Co. 2.10, Mason, Faith of the Gospel, 63, assinala: "O Espírito de Deus não acha nada até mesmo em Deus que frustra seu escrutínio. A sua 'busca' não é uma busca do conhecimento ainda além dele. ... Nada a não ser Deus pode sondar as profundezas de Deus".
Como espírito, ele é nada menos que o princípio interior da vida e o espírito do homem é o próprio homem, assim o espírito de Deus deve ser Deus (ver 1 Co. 2.11 - Meyer). Contudo, a experiência cristã expressa
Teologia Sistemática (Strong) 631 nas orações e hinos na igreja, fornece um argumento para a divindade do Espírito Santo semelhante à da divindade de Jesus Cristo. Quando nossos olhos se abrem para ver Cristo como Salvador, somos compelidos a reconhecer em nós a obra do divino Espírito que tomou as coisas de Cristo e no-las mostrou; e este Espírito divino distinguimos necessariamente tanto do Pai como do Filho. Contudo, a experiência cristã não é uma testemunha da divindade do Espírito Santo original e independente: simplesmente mostra o que a igreja tem sustentado ser a interpretação natural e não forçada das Escrituras e assim confirma o argumento escriturístico já acrescentado. O Espírito Santo é o próprio Deus pessoalmente presente naquele que crê. E. G. Robinson: "Se 'Espírito de Deus' não mais implica divindade além do que o 'anjo de Deus', por que o Espírito Santo não é chamado somente o anjo ou mensageiro de Deus"? Walker, The Spirit and the Incarnation, 337 "O Espírito Santo é Deus no seu mais íntimo ser ou essência, princípio de vida tanto do Pai como do Filho; nele Deus tanto Pai como Filho, faz tudo, e nele vem a nós e, em nós, crescentemente através das suas manifestações. Através da habitação e operação do Espírito Santo, Deus, na sua pessoa do Filho encarnou-se plenamente em Cristo". Gould, Am. Com. on 1 Co. 2.11 "Porque quem dentre os homens conhece as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? do mesmo modo ninguém conhece as coisas de Deus a não ser o Espírito de Deus" - "Não se pode levar para muito longe a analogia como se o Espírito de Deus e Deus fossem termos coexistentes, como o são os termos correspondentes, substancialmente no homem. O centro da analogia evidentemente é o conhecimento próprio, e em ambos os casos o contraste se dá entre o espírito dentro e qualquer coisa fora". Andrew Murray, Spirit of Christ, 140 - "Não devemos esperar sempre sentir o poder do Espírito quando ele opera. A Escritura liga poder e fraqueza de um modo maravilhoso, não como coisas que se sucedem umas às outras, mas como coexistentes. 'Estive convosco na fraqueza ... minha pregação esteve em poder' (2 Co. 12.10). Aquele que comanda a natureza deve em primeiro lugar e de modo mais absoluto, obedecer-lhe. ...
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Queremos receber a posse do Poder, e usá-la. Deus quer o Poder para apossar-se de nós".
Esta prova da divindade do Espírito Santo não é invalidada pelas limitações da suas obra na dispensação do Velho Testamento. Jo. 7.39 "porque o Espírito Santo ainda não fora dado" - significa somente que o Espírito Santo ainda não podia cumprir o seu ofício peculiar como revelador de Cristo até que se completasse a obra expiatória de Cristo. Jo. 7.39 deve ser interpretado à luz de outras Escrituras que afirmam a atuação do Espírito Santo sob a velha dispensação (SI. 51.11 - "não retires de mim o teu Espírito Santo") e que descreve o seu ofício peculiar sob a nova dispensação (Jo. 16.14,15 - "ele há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar"). Limitações na maneira da obra do Espírito no AT. envolvia uma limitação na extensão e também no poder. O Pentecostes foi o fluxo de uma maré de influência espiritual que até agora tinha sido barrada. A partir daí o Espírito Santo foi o Espírito de Jesus Cristo, recebendo as coisas de Cristo e apresentando-as, aplicando sua obra final aos corações humanos, e tornando-se até agora o Salvador onipresente dos seus seguidores espalhados por toda a parte até o fim dos tempos. Nas condições da sua humilhação, Cristo era um servo. Toda autoridade no céu e na terra foi-lhe dada só depois da sua ressurreição. Por isso ele não podia mandar o Espírito Santo até que ele ascendeu ao céu. A mãe pode mostrar o seu filho só quando ele está desenvolvido. O Espírito Santo só pôde revelar Cristo quando houve um Cristo completo para ser revelado. O Espírito Santo só pôde santificar após o exemplo e motivo da santidade serem fornecidos na vida e morte de Cristo. Archer Butler: Ό divino Artista não podia apropriadamente descer para copiar antes de ter sido providenciado o original". Ainda o Espírito Santo é "o Espírito eterno (Hb. 9.14) e ele não só existe, mas também operou nos tempos do AT. Antes de Cristo "o Espírito Santo ainda não fora dado" (Jo. 7.39), do mesmo modo que antes de Edison ainda não existia a eletricidade. Havia tanta eletricidade no mundo antes de Edison como há agora. Ele somente nos ensinou a sua existência e como
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utilizá-la. Ainda podemos dizer que, antes de Edison, a eletricidade como meio de iluminação, aquecimento e transporte não existia. Também até o Pentecostes, o Espírito Santo, como revelador de Cristo, "'ainda não fora dado'. Agostinho chama o Pentecostes de dies natalis, ou dia do nascimento, do Espírito Santo; pela mesma razão que chamamos o dia em que Maria gerou o primeiro filho, o dia do nascimento de Jesus Cristo, apesar de que antes que Abraão nascesse, Cristo era. O Espírito tinha estado empenhado na criação e tinha inspirado os profetas, mas, oficialmente, como mediador entre os homens e Cristo, "o Espírito Santo não fora dado". Ele não podia mostrar as coisas de Cristo até que elas estivessem prontas para serem mostradas.
2. Indicações do Velho Testamento As passagens que parecem mostrar que mesmo no Velho Testamento há três que, implicitamente são reconhecidos como Deus, podem ser classificados sob quatro tópicos: A) Passagens que parecem ensinar um certo tipo de pluralidade em Deus. a) Emprega-se o substantivo plural Myhla com verbo no plural – notável emprego quando consideramos que o singular la também existia; b) Deus usa pronomes plurais referindo-se a si mesmo; c) Yahweh distingue-se de Yahweh; d) Atribui-se um Filho a Yahweh; e) Distingue-se o Deus do Espírito de Deus; f) Há tríplice atribuição e tríplice bênção. a) Gn. 20.13 - "Quando Deus me fez [hebr. plural] andar errante da casa do meu pai"; 35.7 - "edificou ali um altar e chamou aquele lugar ElBetel, porquanto Deus ali se lhe revelou [plural]". b) Gn. 1.28 - "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança"; 3.22 - "eis que o homem se tornou como um de nós"; 11.7 -
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"Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua"; Is. 6.8 - "A quem enviarei e quem há de ir por nós?" c) Gn. 19.24 – "Então o Senhor fez chover enxofre e fogo do Senhor desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra"; Os. 1.7 - "Mas da casa de Judá me compadecerei e os salvarei pelo Senhor, seu Deus"; cf. 2 Tm. 1.18 – "O Senhor lhe conceda que, naquele dia, ache misericórdia diante do Senhor" – apesar de que Ellicott aqui decide contrariamente à referência trinitária. d) SI. 2.7 - "Tu és meu Filho; eu hoje te gerei"; Pv. 30.4 - "Quem estabeleceu todas extremidades da terra"? Qual é o seu nome, e qual é o nome de seu filho, se é que o sabes?" e) Gn. 1.1 e 2 - "criou Deus ... o Espírito de Deus pairava (hebr. chocava)"; SI. 33.6 - "Pela palavra do Senhor foram feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito [sopro] da sua boca"; Is. 48.16 - "o Senhor Yahweh me enviou o seu Espírito"; 63.7,10 - "as benignidades do Senhor... contristaram o seu Espírito Santo". f) Is. 6.3 – O triságio: "Santo, santo, santo"; Nm. 6.24-26 – "O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz". Tem-se sugerido que, como Baal era adorado em diferentes lugares sob diferentes nomes, Baal-Berite, Baal-Hanã, Baal-Peor, Baal-Zebu (Beizebu), e seus sacerdotes poderiam invocar qualquer um destes como possuindo certos atributos personificados de Baal enquanto no seu todo eram chamados com o termo plural 'Baalim', e Elias poderia dizer: "Invocai os vossos deuses", do mesmo modo 'Elohim' pode ser a designação coletiva do Deus que era adorado em diferentes localidades; ver Robertson Smith, Old Testament in the Jewish Church, 229. Mas isto ignora o fato de que Baal é sempre mencionado no singular, nunca no plural, enquanto o plural 'Elohim' é o termo normalmente empregado quando de dirige a Deus. Isto parece mostrar que 'Baalim' é um coletivo, enquanto 'Elohim' não o é. Deste modo, quando Ewald, Lehre von Gott, 2.333, distingue cinco nomes de Deus, correspondendo aos cinco grandes períodos da história de Israel, a saber, o Onipotente" dos patriarcas, o Yahweh do Concerto, o "Deus dos Exércitos" da Monarquia, o "Santo" do judaísmo, ele ignora o fato de que estas designações não estão limitadas aos tempos a que são atribuídas, apesar de que podem predominantemente terem sido empregadas nos referidos tempos.
Teologia Sistemática (Strong) 635 O fato de que Myhla é usado às vezes em sentido mais estrito como aplicável ao Filho (SI. 45.6; cf. Hb. 1.8), não impede necessariamente de crer que o termo foi originariamente escolhido como contendo alusão a uma certa pluralidade na natureza divina. Nem basta chamar este plural de simples pluralis majestaticus; porque é mais fácil derivar esta figura comum do uso divino do que derivar o uso divino desta figura comum especialmente quando consideramos a constante tendência de Israel para o politeísmo. Sl. 45.6 – "O teu trono, ó Deus é eterno e perpétuo"; cf. Hb. 1.8 - "Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos". Aqui é Deus que chama Cristo de "Deus" ou "Elohim". A palavra Elohim adquiriu aqui a significação de um singular. Houve tempos em que se pensava que o estilo real da fala era um costume de data mais tardia do que a mosaica. Faraó não a emprega. Em Gn. 41.41 -44, ele diz: "Vês aqui te tenho posto sobre toda a terra do Egito. ... Eu sou Faraó". Porém, mais tarde as investigações parecem provar que o plural para a palavra Deus foi empregado pelos cananeus antes da ocupação hebréia. Faraó é chamado 'meus deuses' ou 'meu deus', indiferentemente. A palavra 'senhor' encontra-se normalmente no AT. na forma do plural (cf. Gn. 24.9,51 - "Então, pôs o servo a sua mão debaixo da coxa de Abraão, seu senhor. ... seja a mulher do filho do teu senhor, como tem dito o Senhor"; 39.20 - "E o senhor de José o tomou"; 40.1 - "pecaram o copeiro do rei do Egito e o padeiro contra o seu senhor, o rei do Egito"). O plural dá ao pronunciamento um sentido de terror. Significa magnitude e plenitude. Este emprego do plural no hebraico antigo a Deus freqüentemente se explica como mero plural de dignidade, = alguém que combina em si muitas razões para a adoração (Myhla de Mla: invocar a Deus, temer a Deus, adorar). (Dehler, O. T. Theology, 1.128-130, chama-a de "plural quantitativo", significando grandeza ilimitada. Os hebreus tinham muitas formas de plural nas quais deveriam empregar o singular, como 'céus' em lugar de 'céu', 'águas' em lugar de 'água'. Nós falamos em 'notícias', 'honorários', Vós' em vez de 'tu'. Mas os Pais da igreja tais como Barnabe, Justino Mártir, Irineu, Teófilo, Epifânio e Teodoreto viam neste plural uma alusão à Trindade e
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sentimos uma inclinação para segui-los. Se se pluralizam as coisas finitas para expressar a reverência do homem, seria muito mais natural pluralizar o nome de Deus. Ε ο propósito de Deus ao garantir tal pluralização pode ter tido maior alcance e maior inteligência do que a do homem. O Espírito Santo que presidiu o desenvolvimento da revelação bem pode ter dirigido o emprego generalizado do plural e até mesmo a sua adoção no nome Elohim em particular, com vistas a um desdobramento futuro da verdade relativa à Trindade. Por isso discordamos do ponto de vista de Hill, Genetic Philosophy, 323, 330 - "A religião hebraica, mesmo muito mais tarde que Moisés, como existia na mente popular, estava, segundo os escritos proféticos, muito distante de um real monoteísmo e consistia numa oscilante aceitação da proeminência de um Deus tribal com forte inclinação para um politeísmo genérico. Por isso é impossível supor que qualquer coisa que abordasse o monoteísmo filosófico da teologia moderna pudesse ter sido elaborado ou mesmo aceito pelo homem primitivo. ... 'Não terás outros deuses diante de mim' (Ex. 20.3), o primeiro preceito do monoteísmo hebreu não foi, a princípio, entendido como uma negação da fé politeísta mas somente como uma reivindicação exclusiva da adoração é da obediência". E. G. Robinson diz, em semelhante linha, que podemos explicar as tendências idolátricas dos judeus só baseados na suposição de que ele tinham noções reservadas de que Deus era simplesmente um deus nacional". Sobre os pontos de vista tanto de Hill como de Robinson, retrucamos que a primitiva intuição de Deus não é a de muitos, mas a de um só Deus. Paulo nos diz que o politeísmo é um tardio e retrógrado estágio de desenvolvimento devido ao pecado do homem (Rm. 1.19-25). Preferimos a afirmação de McLaren: Ό plural Elohim não é uma sobrevivência de um estágio politeísta, mas expressa a natureza divina na multiplicidade das suas plenitudes e perdições, mais do que na unidade abstrata do seu ser" - e, acrescentamos, expressa a natureza divina em sua plenitude essencial, como um complexo de pessoalidades.
B) Passagens relativas ao Anjo do Senhor. a) O anjo de Yahweh se identifica com Yahweh; b) ele é identificado por outros com o Yahweh; c) ele aceita a adoração devida
Teologia Sistemática (Strong) 637 somente a Deus. Apesar de que a expressão 'anjo de Yahweh' é às vezes empregada mais tarde nas Escrituras para denotar simplesmente mensageiro humano ou anjo criado, parece no Velho Testamento, dificilmente com mais de uma exceção, designar o Logos preencarnado, cujas manifestações em forma angélica ou humana prefiguravam sua vinda final em carne. a) Gn. 22.11,16 - "o Anjo do Senhor lhe [a Abraão quando estava para sacrificar Isaque] bradou desde os céus ... Por mim mesmo jurei, diz o Senhor"; 31.11,13 - "E disse-me [ a Jacó] o Anjo de Deus ... Eu sou o Deus de Betel". Gn. 16.9,13 - "Então, lhe disse o Anjo do Senhor ... ela chamou o nome do Senhor, que com ela falava: Tu és Deus que vê"; 48.15,16 - "O Deus que me sustentou ... o Anjo que me livrou", c) Ex. 3.2,4,5 - "Ε ο Anjo do Senhor lhe apareceu ... bradou Deus a ele do meio da sarça ... tira os teus sapatos de teus pés"; Jz. 13.20-22 - "o Anjo do Senhor subiu ... Manoá e a sua mulher... caíram em terra sobre o seu rosto ... Manoá disse ... certamente morreremos, porquanto temos visto Deus". O "anjo do Senhor" parece ser um mensageiro humano em Ageu 1.13 "Ageu, o embaixador do Senhor"; um anjo criado em Mt. 1.20 - "apareceulhe um anjo do Senhor [chamado Gabriel]"; em At. 8.26 - "o anjo do Senhor falou a Filipe" e em 12.7 - "sobreveio [a Pedro] um anjo do Senhor". Mas normalmente, no A.T. o "anjo do Senhor" é uma teofania uma manifestação do próprio Deus. A única distinção acha-se entre o Senhor em si mesmo e o Senhor numa manifestação. As aparições do "anjo do Senhor" parecem ser manifestações preliminares do Logos divino, como em Gn. 18.2,13 - "três varões estavam em pé junto a ele [Abraão]... e disse o Senhor a Abraão"; Dn. 3.25,28 - "o aspecto do quarto é semelhante ao filho dos deuses ... bendito seja o Deus ... que mandou o seu anjo". O "anjo do Senhor" no N.T. não permite que o adorem; o 'anjo do Senhor no A.T. o requer (Ap. 22.8,9 Olha, não faças tal"; cf. Ex. 3.5 - "tira os teus sapatos").
C) Descrições da Sabedoria e Palavra divinas. a) A Sabedoria é representada como distinta de Deus e eternamente existente com Deus; b) o Verbo de Deus distingue-se de Deus como o executor da sua vontade desde a eternidade.
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a) Pv. 8.1 - "Não clama a sabedoria?" Cf. Mt. 11.19 - "a sabedoria é justificada pelas suas obras"; Lc. 7.35 - "a sabedoria é justificada por todos os seus filhos"; 11.49 - "Por isso, diz também a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei"; Pv. 8.22,30,31 - Ό Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos e antes de suas obras mais antigas. ... eu estava com ele e era seu arquiteto; eu era as suas delícias. ... e achando as minhas delícias com os filhos do homens"; cf. 3.19 - "o senhor, com sabedoria, fundou a terra", e Hb. 1.1,2 - "seu Filho ... por quem fez também o mundo". b) SI. 107.20 - "Enviou a sua palavra, e os sarou"; 119.89 - "Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu"; 147.15-18 - "Quem envia o seu mandamento ... manda a sua palavra". No livro apócrifo intitulado Sabedoria, 7.26,28, a sabedoria é descrita como "reflexo de luz eterna", "espelho nítido da majestade de Deus", e "imagem da sua bondade" - lembrando-nos Hb. 1.3 - "o resplendor da sua glória e a expressão exata do seu ser". Ε Sabedoria (Sb) 9.9,10, representase a sabedoria presente com Deus quando ele fez o mundo e o autor do livro roga para que a sabedoria lhe seja enviada dos santos céus de Deus e do trono da sua glória. Em 1 Ed. 4.35-38 fala-se da verdade, semelhantemente, como um ser pessoal: "Grande é a verdade e mais forte do que todas as coisas. Toda a terra invoca a Verdade, e o céu a abençoa; todas as obras se abalam e tremem diante dela, e com ela não há coisa injusta. Quanto à verdade, ela suporta e é sempre forte; ela vive e conquista eternamente".
Convém reconhecer que em nenhuma destas descrições encontra-se a idéia de pessoalidade claramente desenvolvida. Ainda menos verdade é que o apóstolo João derivou sua doutrina do Logos das interpretações de tais descrições no judeu Filo. A doutrina de João (João 1.1 -18) é radicalmente diferente da idéia alexandrina de Filo sobre o Logos. Esta é uma especulação platonizante sobre o princípio mediador entre Deus e o mundo. Filo parece às vezes tender para o reconhecimento da pessoalidade no Logos, apesar de seus escrúpulos monoteístas levaremno outras vezes a tomar de volta o que ele deu e descrever o Logos ou como o pensamento de Deus ou como sua expressão no mundo. Mas João é o primeiro a apresentar-nos um consistente ponto-de-vista da sua
Teologia Sistemática (Strong) 639 pessoalidade para identificar o Logos com o Messias e distinguir o Verbo do Espírito de Deus. Dorner, em History of the Doctrine of the Person Christ, 1.13-45, e em seu System of Doctrine, 1.348,349, dá o melhor relato da doutrina de Filo sobre o Logos. Ele diz que Filo chama o Logos αρχάγγελος, άρχιερεύς, δεύτερος θεός. É de duvidar que isto signifique mais que personificação, pois Filo chama o Logos de κόσμος νοητός (cosmos inteligente). Sem dúvida, como ele faz o Logos uma pessoalidade distinta, ele o faz também um ser subordinado. Ele é acusado de fazer a doutrina da Trindade originar-se da filosofia platônica unindo alexandrina à teologia judaica. Mas o platonismo não tinha Trindade. A verdade é que, através desta doutrina, o cristianismo se firmou contra as falsas idéias pagas da multiplicidade e imanência de Deus, bem como contra as falsas idéias judaicas da unidade e transcendência de Deus. Nada deve a fontes estranhas. Não precisamos atribuir ao evangelho de João uma origem mais tardia, a fim de dar conta da sua doutrina do Logos, nem precisamos atribuir uma origem mais tardia aos sinóticos para dar conta da doutrina de um Messias sofredor. Ambas doutrinas eram igualmente desconhecidas de Filo. O Logos de Filo não se torna e nem pode tornar-se homem. Assim diz Dorner. Westcott, em Bible Commentary on John, Introduction, xv-xviii, e sobre Jo. 1.1 - "O emprego teológico do termo [no evangelho de João] parece derivar diretamente dos Memra palestinos e não do Logos alexandrino". Ao invés de a doutrina de Filo ser uma pedra de avanço do judaísmo para o cristianismo, foi uma pedra de tropeço. A mesma coisa aconteceu com a doutrina do Messias e a da expiação. Bennett e Adeny, Bib. Introd., 340 - "A diferença entre Filo e João pode ser estabelecida da seguinte maneira: O Logos de Filo é a Razão, enquanto o de João é o Verbo; o de Filo é impessoal, enquanto o de João é pessoal; o de Filo não é o Messias, enquanto o de João é o Messias". (321) Filo viveu de 10 ou 20 AC a, certamente 40 A.D., quando ele foi ao chefe da embaixada judaica em Roma, a fim de convencer o Imperador de abster-se de reivindicar aos judeus a honra divina. Em sua De Opifice Mundi ele diz: "A palavra nada é senão o mundo inteligível". Gore, Incarnation, 69 -"Para Filo, o Logos deve ser traduzido por 'Razão'. Mas nos
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Targuns, ou antigas paráfrases judaicas do A.T., fala-se constantemente no 'Verbo' de Yahweh (Memra, Devra), como o instrumento eficiente da ação divina, nos casos onde o A.T. fala do próprio Yahweh. Ό Verbo de Deus' viera a ser empregado pessoalmente, quase como um equivalente à manifestação do próprio Deus, ou Deus em ação". George Η. Gilbert, em Biblical World, jan. 1899.44 - "A filosofia grega é que sugeriu o emprego do termo Logos por João, apesar de que nessa mesma época o conteúdo da palavra era judaico". Hatch, Hibbert Lectures, 174-208 - "Os estóicos investiram o Logos de pessoalidade. Eles eram monistas e fizeram do λόγος e do ύλη as formas ativa e passiva do princípio uno. Alguns fizeram de Deus um modo da matéria - natura naturata; outros fizeram da matéria um modo de Deus - natura naturans = o mundo, uma evolução de Deus. As formas platônicas, como múltiplas expressões de um simples λόγος, foram expressas por um termo no singular, Logos, ao invés de os Logoi de Deus. A partir deste Logos saíram todas formas da mente ou da razão. Eis o que sustentava Filo: Ά mente é um produto da alma divina e feliz (de Deus), produto não separado dele, porque nada do elemento divino é cortado ou separado, mas apenas estendido'. O Logos de Filo não é apenas uma forma, mas uma força - a energia criadora de Deus – o mais antigo do 'Eu Sou', com todas as forças do mundo visíveis e invisíveis". Wendt, Teaching of Jesus, 1.53 - "Filo leva a transcendência de Deus às suas conclusões lógicas. A doutrina judaica dos anjos se expandiu em sua doutrina do Logos. Os filósofos alexandrinos depois representaram o cristianismo como o judaísmo espiritualizado. Porém um sistema filosófico dominado pela idéia da transcendência divina nunca poderia ter fornecido um motivo para a obra missionária como o de Paulo. A crença de Filo na transcendência abateu suas esperanças redentora. Inversamente, porém, as esperanças redentoras do judaísmo ortodoxo salvaram-no de alguns erros da transcendência exclusiva". Ver a citação de Siegfried na História do Povo Judeu de Schürer, artigo sobre Filo: "A doutrina de Filo desenvolveu-se a partir da distinção de Deus e a distância do mundo. É dualista. Daí a necessidade de princípios mediadores, alguns menores do que Deus e outros maiores do que a criatura. A significação cósmica de Cristo estabelecia uma ponte sobre o abismo entre o cristianismo e o pensamento
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grego contemporâneo. O Cristianismo representa um Deus que se revela. Porém uma doutrina do Logos como a de Filo pode revelar menos do que na verdade esconde. Ao invés do Deus encarnado para a nossa salvação, podemos ter simplesmente um princípio mediador entre Deus e o mundo, como no arianismo". A afirmação anterior é fornecida em substância pelo Prof. Williams Adam Brown. Concordamos com ela, acrescentando a nota de que a filosofia alexandrina deu ao cristianismo, não a substância da sua doutrina, mas apenas a terminologia da sua expressão. O apóstolo João se apegou à verdade atrás da qual Filo tateava e publicou-a só na medida em que ele pôde, ele que ouviu, viu, e manejou "a Palavra da Vida" (1 Jo. 1.1). A doutrina cristã sobre o Logos, antes de qualquer outra coisa, talvez fosse um esforço para expressar como Jesus Cristo era Deus (Θεός), e, contudo, noutro sentido não era Deus (ό θεός); vale dizer, não era a divindade total" (citado em Marcus Dods, Expositor's Bible, sobre João 1.1).
D) Descrições do Messias. a) Ele é um com Yahweh; b) contudo, em certo sentido, ele é distinto de Yahweh. a) Is. 9.6 - "um menino nos nasceu, um filho se nos deu ... e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz"; Mq. 5.2 - "tu, Belém ... que és pequena ... de ti sairá o que será Senhor em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade", b) SI. 45.6,7 – "O teu trono, ó Deus é eterno e perpétuo ... por isso, Deus, teu Deus te ungiu"; Ml. 3.1 - "eu envio o meu anjo, que preparará o caminho diante de mim e, de repente, virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o anjo do concerto, a quem vós desejais". Henderson, em seu Comentário sobre esta passagem, assinala que o Messias aqui é chamado "o Senhor" ou "o Soberano" - título em lugar nenhum dado nesta forma (com artigo) a qualquer um a não ser a Yahweh; que se prediz a seu respeito como vindo ao templo como seu proprietário; e que é identificado como um anjo do concerto, em outra parte mostrado como o próprio Yahweh.
Teologia Sistemática (Strong) 642 Convém lembrar, considerando isto, assim como outras classes de passagens anteriormente citadas que nenhum escritor judeu antes da vinda de Cristo tinha sido bem sucedido na construção de uma doutrina da Trindade. Só os que lhes trouxeram a luz da revelação do Novo Testamento na verdade mostraram seu real sentido. Nossa conclusão geral sobre as indicações veterotestamentárias devem, portanto, ser de que, conquanto elas mesmas não fornecem base suficiente para a doutrina da Trindade, contém o seu germe e podem ser empregadas na sua confirmação quando sua verdade é substancialmente provada a partir do Novo Testamento. A partir do fato de que os judeus unem-se aos maometanos acusando os trinitários de politeísmo, fica evidente que a doutrina da Trindade não é claramente ensinada nas Escrituras Hebraicas. Não nos surpreende que não se desenvolve e é obscuro o ensino do Velho Testamento sobre esta matéria. A primeira necessidade é que se deve insistir na unidade de Deus. Até que passe o perigo da idolatria, uma clara revelação da Trindade tem sido um embaraço ao progresso religioso. Na tenra idade, a raça de então, deve aprender a unidade de Deus antes de ensinar-se de forma proveitosa a doutrina da Trindade; caso contrário, cairá no triteísmo. Por isso não devemos começar a nossa prova da Trindade com uma referência às passagens do Velho Testamento. Devemos falar destas passagens, na verdade, como fornecendo indicações da doutrina, ao invés de prová-la. Contudo, depois de ter encontrado prova da doutrina no Novo Testamento temos que achar traços dela no Velho que corroboram nossas conclusões. De fato, veremos que os traços da idéia de uma Trindade acham-se não só nas Escrituras hebraicas, mas também em algumas das religiões pagas. E. G. Robinson: "A doutrina da Trindade subjacente no A.T., sem que os seus escritores o percebam, foi a princípio reconhecida na revelação econômica do cristianismo e enunciada claramente na evolução da doutrina cristã".
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II. ESTES TRÊS SÃO DESCRITOS NA ESCRITURA DE TAL MODO QUE SOMOS COMPELIDOS A CONCEBÊ-LOS COMO PESSOAS DISTINTAS
1. O Pai e o Filho são pessoas distintas uma da outra a) Cristo distingue o Pai de si mesmo como 'outro'; b) o Pai e o Filho distinguem-se como o gerador e o gerado; c) o Pai e o Filho distinguem-se como o que envia e o que é enviado. a) Jo. 5.32.37 - "Há outro que testifica de mim ... o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim", b) SI. 2.7 - "Tu és meu Filho; eu hoje te gerei"; Jo. 1.14 - "o unigênito do Pai"; 18 - "o Filho unigênito, que está no seio do Pai"; 3.16 - "seu Filho unigênito". c) Jo. 10.36 - "àquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: sou Filho de Deus?" Gl. 4.4 - "vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho".
2. O Pai e o Filho são pessoas distintas do Espírito a) Jesus distingue o Espírito dele mesmo e do Pai; b) o Espírito procede do Pai; c) o Espírito é enviado pelo Pai e pelo Filho. a) Jo. 14.16,17-"Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o Espírito da verdade" = aquele cuja obra é revelar e aplicar a verdade, e especialmente tornar manifesto aquele que é a verdade". Jesus tinha sido o Consolador deles. Se ele mesmo era uma pessoa, então o Espírito é uma pessoa, b) Jo. 15.26 - "aquele Espírito de verdade que procede do Pai", c) Jo. 14.26 - "aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome"; 15.26 - 'quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar"; Gl. 4.6 - Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho". A igreja grega sustenta que só o Espírito procede do Pai; a igreja latina, que o Espírito procede tanto do Pai como do Filho. A verdadeira fórmula é: O Espírito procede do Pai através ou pelo (não 'e') Filho. Moberly, Atonement and Personality, 195 - "A expressão Filioque é uma defesa valiosa da verdade que o Espírito Santo não é somente a abstrata segunda Pessoa da Trindade, mas, ao invés disso, o
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Espírito do Cristo encarnado, reproduzindo no coração humano e revelando nele o sentido da verdadeira natureza humana".
3. O Espírito Santo é uma pessoa A) Recebe designação própria de pessoalidade. a) O pronome masculino εκείνος, apesar de que πνεύμα é neutro; b) o nome παράκλητος que não pode ser traduzido como 'consolo', ou ser tomado como substantivo de qualquer influência abstrata. O Consolador, Instrutor, Protetor, Guia, Advogado deve ser uma pessoa. Isto se evidencia na aplicação de 1 João 2.1 a Cristo - "temos um Advogado παράκλητον - com o Pai, Jesus Cristo, o justo". a) Jo. 16.14 - "Ele (εκείνος) me glorificará"; em Ef. 1.14 também, alguma das melhores autoridades, incluindo Tischendorf (8a ed.), reza δς, pronome masculino: "o qual é o penhor da nossa herança". Mas em 14.1618, παράκλητος é seguido dos neutros δ e αυτό, porque interveio a palavra πνεύμα. Considerações não teológicas, mas gramaticais controlaram o escritor. Ver G. D. Stevens, Johannine Theology, 189-217, especialmente sobre a distinção entre Cristo e o Espírito Santo. O Espírito Santo não é Cristo; é uma outra pessoa a despeito de Cristo dizer sobre a vinda do Espírito Santo: "virei para vós". b) Jo. 16.7 - "se eu não for, o Consolador não virá a vós". A palavra παράκλητος como aparece em 1 Jo. 2.1, citada acima, é um termo de mais amplo significado que um simples "Consolador". Na verdade, o Espírito Santo é, como já se disse, "o princípio mater da divindade", e "como alguém que a sua mãe consola" assim Deus, através do seu Espírito, consola os seus filhos (Is. 66.13). Mas o Espírito Santo também é um Advogado das reivindicações de Deus na alma, e dos interesses da alma na oração (Rm. 8.26 - "intercede por nós"). Ele consola não só por ser nosso advogado, mas por ser nosso instrutor, protetor, e guia; e todas estas idéias acham-se ligadas à palavra παράκλητος no bom emprego da língua grega. Na verdade, a palavra é um adjetivo verbal, significando 'chamado para auxiliar alguém', daí um 'ajudador'; a idéia de encorajamento está incluída assim como a de consolo e defesa.
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T. Dwight, em Sunday School Times, sobre Jo. 14.16-0 sentido fundamental da palavra παράκλητος, que é um adjetivo verbal, 'chamado para o auxílio a alguém', e deste modo, quando empregado como substantivo, tem a idéia de 'auxiliador'. Este sentido mais genérico liga-se ao emprego no evangelho de João, enquanto na Epístola (1 Jo. 2.1,2) tem a idéia de Jesus agindo como advogado em nosso lugar diante de Deus como juiz". Deste modo em latim a palavra advocatus significa 'chamado para' - i.e., chamado para ajudar, aconselhar, pleitear. Nesta conexão Jesus diz: "Não vos deixarei órfãos" (Jo. 14.18). Cumming, Through the Eternal Spirit, 228 "Como a família órfã, no dia da morte do pai, necessita de um amigo que alivie o seu sentimento de perda através da sua presença, do mesmo modo o Espírito Santo é 'invocado' para conceder o amor e auxílio que os doze estavam perdendo na morte de Jesus". A. A. Hodge, Pop. Lectures, 237 - Ό 'cliente' romano, o pobre e dependente apelava para que o seu 'patrono' o ajudasse nas suas necessidades. O patrono pensava, aconselhava, dirigia, apoiava, defendia, supria as necessidades, restabelecia, consolava o seu cliente em todas dificuldades. O cliente, embora fraco, com um patrono poderoso, era social e politicamente seguro sempre".
B) Seu nome é mencionado em conexão imediata com as outras pessoas e de tal modo que implicam sua pessoalidade. a) Em conexão com os cristãos; b) em conexão com Cristo; c) em conexão com o Pai e o Filho. Se o Pai e o Filho são pessoas o Espírito deve também ser pessoa. a) At. 15.28 - "pareceu bem ao Espírito Santo e a nós", b) Jo. 16.14 "Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar"; cf. 17.4 - "Eu glorifiquei-te na terra", d) Mt. 28.19 - "batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" 2 Co. 13.13 - "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós todos"; Jd. 20,21 - "orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia do nosso Senhor Jesus Cristo". 1 Pe. 1.2 - "eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo". Contudo, é notável que nestas passagens não há nenhuma obstrução da pessoalidade do Espírito Santo como se ele desejasse atrair a atenção para
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si mesmo. O Espírito Santo mostra não a si mesmo, mas Cristo. Como João Batista, ele é somente uma voz e, assim, um exemplo para os pregadores cristãos que "fez capazes de ser ministros ... do Espírito" (2 Co. 3.6). Por isso freqüentemente não se percebe a sua liderança; ele apenas se junta a nós para que infiramos a sua presença a partir de novos e santos exercícios da nossa própria mente; ele continua a operar em nós mesmo quando se ignora a sua presença e os nossos pecados ultrajam a sua pureza.
C) Ele opera os atos próprios da pessoalidade. Aquele que sonda, conhece, fala, testifica, revela, convence, manda, luta, move, auxilia, guia, cria, recria, santifica, inspira, intercede, ordena os negócios da igreja, opera milagres, ressuscita os mortos - não pode ser uma simples força, influência, efluxo, ou atributo de Deus, mas deve ser uma pessoa. Gn. 1.2 - "o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas"; 6.3 "Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem"; Lc. 12.12 - "na mesma hora o Espírito Santo vos ensinará o que convém falar"; Jo. 3.8 "nascido do Espírito" - Bengel aqui traduz: "O Espírito sopra onde quer e ouves a sua voz" - ver também Gordon, Ministry of the Spirit, 166; "convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo"; At. 2.4 - "o Espírito lhes concedia que falassem"; 8.29 - "o Espírito disse a Filipe: Chega-te"; 10.19,20 - "disse-lhe [a Pedro]: Eis que três varões te buscam ... vai com eles... porque eu os enviei"; 13.2 - "disse o Espírito Santo: "Apartaime a Barnabé e a Saulo"; 16.6,7 -"foram impedidos pelo Espírito Santo ... o Espírito de Jesus não lho permitiu"; Rm. 8.11 — Vivificará também o vosso corpo mortal", por meio do seu Espírito"; 26 - "o Espírito ajuda as nossas fraquezas ... intercede por nós"; 15.19 -pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus"; 1 Co. 2.10,11 - "o Espírito penetra todas as coisas ... ninguém sabe as coisas de Deus senão o Espírito de Deus"; 12.811 - distribui os dons espirituais "a cada um como quer" - aqui Meyer chama a atenção para as palavras "como quer", como prova da pessoalidade do Espírito; 2 Pe. 1.21 - "homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo"; 1 Pe. 1.2 - "santificação do Espírito". Como uma pessoa pode receber em várias medidas? Respondemos: sendo permitido operar
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em nosso benefício com vários graus de poder. "Poder não pertence ao impessoal".
D) Ele é afetado pelos atos dos outros como uma pessoa. Aquele a quem se pode resistir, contristar, irritar, blasfemar deve ser uma pessoa; pois só uma pessoa pode perceber um insulto e ofenderse. A blasfêmia contra o Espírito Santo não pode ser simplesmente blasfêmia contra uma força ou atributo de Deus porque em cada caso a blasfêmia contra Deus seria um crime menor do que a blasfêmia contra o seu poder. Aquilo contra o que se pode cometer pecado imperdoável deve ser uma pessoa. Is. 63.10 - "eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo"; Mt. 12.31 - "todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o espírito não será perdoada"; At. 5.3,4,9 - "mentisses ao Espírito Santo ... não mentiste aos homens, mas a Deus ... Por que é que entre vós concertastes para tentar o Espírito do Senhor?" 7.51 - "vós sempre resistis ao Espírito Santo"; Ef. 4.30 - "Não entristeçais o Espírito Santo de Deus". Satanás não pode ser 'contristado'. O egoísmo não pode ser irritado, mas o amor pode ser contristado. Blasfemar contra o Espírito Santo é como blasfemar contra a própria mãe. As passagens já citadas mostram que o Espírito possui uma natureza emocional. Por isso lemos sobre "o amor do Espírito" (Rm. 15.30). Os gemidos inexprimíveis do cristão na oração intercessora (Rm. 8.26,27) revelam a mente do Espírito e mostram as profundezas infinitas do sentimento que são despertadas no coração de Deus pelos pecados e necessidades dos homens. Os profundos desejos e emoções que só em parte nos são comunicados e que só Deus pode entender são uma prova conclusiva de que o Espírito Santo é uma pessoa. Eles são apenas o transbordamento da fonte do amor divino em nós ao qual o Espírito Santo nos une. Como Cristo no jardim "começou a entristecer-se e angustiar-se muito" (Mt. 26.37), se entristece e se perturba com a ignorância, o desprezo, a resistência à sua obra, da parte daqueles que ele está tentando resgatar do pecado e conduzir para a liberdade e gozo da vida cristã. Luthardt em Sunday School Times, 26 de maio de 1888 - "Todo pecado pode ser
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perdoado - mesmo contra o Filho do homem - exceto o pecado contra o Espírito Santo. O pecado contra o Filho do homem pode ser perdoado porque ele pode ser falsamente concebido. Porque ele não se parece com aquilo que realmente é. Essência e aparência, verdade e realidade, contradizem-se uma à outra". Por isso Jesus podia orar: "Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem" (Lc. 23.34). Contudo, o ofício do Espírito Santo é mostrar aos homens a natureza da conduta deles e, pecar contra o Espírito Santo é pecar contra a luz e sem desculpa". Ver A. H. Strong, Christ in Creation, 297-313. Salmond, em Expositor's Greek Testament, sobre Ef. 4.30 - Ό que o amor é em nós aponta, na verdade, embora numa forma oscilante, para o que é o amor em Deus. Em nós, porém, o amor, na medida em que é verdadeiro e soberano tem tanto o seu lado iroso como o entristecedor; e assim deve ser com Deus, embora seja difícil para nós pensar que isto esteja excluído".
E) Ele se manifesta em forma visível distinto do Pai e do Filho embora em conexão direta com atos pessoais operados por eles. Mt. 3.16,17 - "Sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. Ε eis que uma voz do céu dizia: Este é o meu Filho amado em quem me comprazo"; Lc. 3.21,22 - "sendo batizado também Jesus, orando ele, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como uma pomba; e ouviu-se uma voz do céu, que dizia: Tu és meu Filho amado; em ti me tenho comprazido". Aqui está a oração de Jesus, a voz de aprovação do Pai, e o Espírito Santo descendo em forma visível para ungir o Filho de Deus para a sua obra. "I ad Jordanem, et videbis Trinitatem".
F) Tal atribuição de uma subsistência pessoal ao Espírito distinta da do Pai e do Filho não se pode explicar como personificação; pois: a) Seria interpretar uma prosa sóbria utilizando os cânones da poesia. Tal personificação contraria o gênio da poesia hebraica na qual a própria Sabedoria é mais naturalmente interpretada designando existência pessoal. b) Tal interpretação tornaria uma multidão de passagens tautológicas, sem sentido, ou absurdas, – como se pode ver
Teologia Sistemática (Strong) 649 facilmente substituindo pelo nome Espírito Santo os termos erradamente sustentados como equivalentes; tais como força, ou influência, ou efluxo, ou atributo de Deus. c) É contraditada pelas passagens nas quais o Espírito Santo se distingue dos seus próprios dons. a) A Bíblia não é primordialmente um livro de poesia apesar de ter em si poesia. É mais apropriadamente um livro de história e de lei. Ainda que os métodos de alegoria fossem empregados pelos salmistas e pelos profetas, não devemos esperar que eles caracterizem grandemente os evangelho e as epístolas; 1 Co. 3.4 - Ό amor é sofredor, é benigno" - é um exemplo raro em que o estilo de Paulo assume a forma de poesia. Contudo, os evangelhos e epístolas é que mais constantemente representam o Espírito Santo como uma pessoa. b) At. 10.38 - "Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder" = ungiu-o com poder e com poder? Rm. 15.13 - "para que abundeis em esperança pelo poder do Espírito Santo" = no poder do poder de Deus? 19 - "pelo poder de sinais e prodígios, no poder do Espírito de Deus" = no poder do poder de Deus? 1 Co. 2.4 - "demonstração do Espírito e do poder" = demonstração do poder e do poder? c) Lc. 1.35 - "Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra"; 4.14 - "pelo poder do Espírito voltou Jesus para a Galiléia"; 1 Co. 12.4,8,11 - depois de mencionar os dons do Espírito, tais como, sabedoria, conhecimento, fé, curas, milagres, discernimento de espíritos, línguas e interpretação de línguas, tudo isso é atribuído ao Espírito que os concede: "mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer". Não só dando, mas dando discretamente, no exercício de uma vontade independente que só pertence a uma pessoa. Rm. 8.26 - "o mesmo Espírito intercede por nós" interprete-se, se o Espírito não é uma pessoa distinta do Pai, significando que o Espírito Santo intercede consigo mesmo. "A pessoalidade do Espírito Santo foi virtualmente rejeitada pelos arianos, assim como também por Schleiermacher e positivamente negada pelos socinianos" (E. G. Robinson). Gould, Bib. Theol. N.T., 83,96 - "Os Doze representam o Espírito enviado pelo Filho, que foi exaltado para que pudesse enviar este novo poder dos céus. Paulo representa o Espírito
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trazendo-nos o Cristo. No Espírito Cristo habita em nós. O Espírito é o Jesus histórico traduzido em termos de Espírito universal. Através do Espírito estamos em Cristo e Cristo em nós. Para Paulo o ser divino que habita é alternadamente Cristo e o Espírito. O Espírito é o princípio encarnado em Jesus explicando a sua preexistência (2 Co. 3.17,18). Jesus é uma encarnação do Espírito de Deus". Esta aparente identificação do Espírito com Cristo deve ser explicada com base no fato de que a essência divina é comum a ambos e permite que o Pai habite e opere através do Filho e o Filho habite e opere através do Espírito. Não nos deve cegar a igualdade escriturística patente de que há um relacionamento pessoal entre Cristo e o Espírito Santo e a obra realizada por este em que Cristo é o objeto e não o sujeito; Jo. 16.14 - "Ele me glorificará porque ele há de receber do que é meu e vo-lo-á de anunciar". O Espírito Santo não é alguma coisa, mas é alguém] não αυτό, mas Αυτός; ο alter ego de Cristo, ou o outro eu. Por isso devemos tornar vivida a nossa crença nas orações que fazemos e nos hinos que entoamos como "Jesus lover of my soul" e "Come, Holy Spirit, heavenly Dover.
III. ESTA TRIPESSOALIDADE DA NATUREZA DIVINA NÃO É SIMPLESMENTE ECONÔMICA E TEMPORAL, MAS IMANENTE Ε ETERNA.
1. Prova da Escritura de que estas distinções de pessoalidade são eternas Provamos isto a) a partir das passagens que falam da existência do Verbo desde a eternidade com o Pai; b) a partir das passagens que declaram ou implicam a preexistência de Cristo; c) a partir das passagens que implicam intercâmbio entre o Pai e o Filho antes da fundação do mundo; d) a partir das passagens que declaram a criação do mundo por Cristo; e) a partir das passagens que declaram ou implicam a eternidade do Espírito Santo.
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a) Jo. 1.1,2 - "No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus"; cf. Gn. 1.1- "No princípio criou Deus os céus e a terra"; Fp. 2.6 - "sendo em forma de Deus ... ser igual a Deus". b) Jo. 8.58 - "Antes que Abraão existisse, eu sou"; 1.18 - Ό Filho unigênito, que está no seio do Pai"; Cl. 1.15-17 - "primogênito de toda a criação" ou "antes de toda a criatura ... ele é antes de todas as coisas". Nestas passagens "sou" e "é" indicam um fato eterno; o presente expressa ser permanente. Ap. 22.13,14 – "Eu sou o Alfa e Ômega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Derradeiro". c) Jo. 17.5 - "glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse"; 24 -"tu me hás amado antes da fundação do mundo". d) Jo. 1.3 - "Todas as coisas foram feitas por ele"; 1 Co. 8.6 - "um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas"; Cl. 1.16 – "nele foram criadas todas as coisas ... tudo foi criado por ele e para ele". Hb. 1.2 - "por quem fez também o mundo"; 10 -"Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos". e) Gn. 1.2 - "o Espírito de Deus pairava" - existia antes da criação; SI. 33.6 -"Pela palavra do Senhor foram feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito (sopro) da sua boca"; Hb. 9.14 - "pelo Espírito eterno". Com estas passagens diante de nós, devemos discordar da afirmação do Dr. Ε. G. Robinson: "A respeito da Trindade ontológica não conhecemos absolutamente nada. A Trindade que podemos contemplar é somente revelada, de manifestações econômicas. Podemos supor que o ontológico é subjacente ao econômico". A nosso juízo, a Escritura nos compele a avançar para além disso e a sustentar que há relações pessoais entre Pai, Filho e Espírito Santo, independentemente da criação e do tempo. Há três consciências eternas e três vontades externas na natureza divina. Aqui estabelecemos apenas o fato; a sua explicação e sua reconciliação com a unidade fundamental de Deus será tratada na próxima seção. A seguir, mostraremos que os dois sistemas variantes que ignoram esta tripessoalidade são antibíblicos e estão, ao mesmo tempo, expostos à objeção filosófica.
Teologia Sistemática (Strong) 2. Erros refutados pelas passagens anteriores
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A) O Sabeliano Sabélio (da Ptolemaida em Pentápolis, 250) sustentava que Pai, Filho e Espírito Santo são simples desenvolvimentos ou revelações às criaturas, no tempo, de outra forma ocultadas por Deus desenvolvimentos que, porque as criaturas sempre existirão, não são transitórios, mas que ao mesmo tempo não são eternos a parte ante. Deus unido à criação é Pai; Deus unido a Jesus Cristo é Filho; Deus unido à igreja é Espírito Santo. A Trindade de Sabélio é, portanto, econômica e não imanente - de forma de manifestações, mas não necessária e eterna na natureza divina. Alguns têm interpretado que Sabélio nega que a Trindade é eterna aparte post, assim como aparte ante e sustenta que, quando o propósito destas manifestações temporárias se cumpre, a Tríade é resolvida em mônada. Este ponto de vista surge em outro que faz as pessoas da Trindade simples nomes para fases mutantes da atividade divina. A melhor afirmação da doutrina sabeliana, segundo a interpretação a princípio mencionada, é a de Schleiermacher, traduzida com comentários de Moses Stuart, em Biblical Repository, 6.1-16. O Deus imutável reflete-se de um modo diferente a partir do mundo por causa das diferentes formas de recebê-lo. Práxeas de Roma (200), Noeto de Esmirna (230) e Berilo da Arábia (250) defendiam substancialmente os mesmos pontos de vista. Eles eram chamados monarquistas (μονή αρχή), porque não criam na tríada mas na mônada. Eles eram chamados patripassianos, porque defendiam que, como Cristo é o único Deus em forma humana, este Deus sofre e, por isso, o Pai sofre. Knight, Coloquia Peripatetics, xlii, sugere uma conexão entre sabelianismo e emanacionismo. Horace Bushnell, em seu God in Christ, 113-115,130 sq., 172-175, e Christ in Theology, 119,120 defendia um ponto de vista semelhante ao de Sabélio – "Pai, Filho e Espírito Santo, incidentals à revelação de Deus,
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podem e provavelmente são de eternidade a eternidade, tanto quanto Deus pode revelar-se eternamente e, com certeza, se revelará até onde a nossa mente pode conhecê-lo. De fato, a natureza de Deus pode revelar-se, tão verdadeiramente como o sol brilha ou como a mente viva pensa". Ele não nega a Trindade imanente, mas simplesmente diz que nada conhecemos a esse respeito. Ainda ele chama a Trindade de Pessoas na própria essência divina um claro triteísmo. Prefere tratar a sua doutrina como "trindade instrumental" a tratá-la como "trindade modal". A diferença entre Bushnell, por um lado, e Sabélio e Schleiermacher, por outro, parece ser a seguinte: Sabélio e Schleiermacher sustentam que Deus se torna três no processo da revelação e os três se tornam meios ou modos da revelação. Pai, Filho e Espírito Santo são apenas nomes aplicados a estes modos da ação divina e não há distinções internas na sua natureza. Isto é modalismo, ou uma Trindade modal. Bushnell fica só com a Trindade da revelação e protesta contra quaisquer raciocínios construtivos a respeito da Trindade imanente. Contudo, mais tarde em seus escritos ele reverte para Atanásio e fala de um Deus eternamente "fazendo-se três". Lyman Abbott, The Outlook, propõe como ilustração da Trindade, 1. o artista trabalhando nas suas telas; 2. o mesmo homem ensinado os alunos como sofrer; 3. o mesmo homem recebendo os seus amigos em casa. Ele não levou em conta estes tipos de conduta. Não há máscaras (personae), nem ofícios, que ele assume e abandona. Nele há uma tríplice natureza nele: é artista, mestre, amigo. Deus não é simples; é complexo. Eu não o conheço, a não ser depois de conhecer todos estes relacionamentos. Contudo, é evidente que o ponto de vista do Dr. Abbott não fornece base nenhuma para o amor ou para a sociedade dentro da natureza divina. As três pessoas são apenas três aspectos ou atividades sucessivas do único Deus. O General Grant, quando estava na ativa, era apenas uma pessoa, apesar de que ele era pai, Presidente, e comandante em chefe do Exército e da Marinha dos Estados Unidos.
É evidente que esta teoria em qualquer forma que possa ser sustentada está longe de satisfazer as exigências da Escritura. A Escritura fala da segunda pessoa da Trindade como existindo e agindo antes do
Teologia Sistemática (Strong) 654 nascimento de Jesus Cristo e do Espírito Santo como existindo e agindo antes da formação da igreja. Ambos têm uma existência pessoal, eterna no passado assim como no futuro - o que esta teoria expressamente nega. Uma revelação que não é a auto-revelação de Deus não é honesta. Stuart: Visto que Deus se revela como três, ele deve ser de modo essencial e imanente três a partir da revelação; caso contrário, a revelação não seria verdadeira. Dorner: A Trindade da revelação será uma falsa interpretação se não tiver como retaguarda a Trindade da natureza. A duplicidade chega propriamente à triplicidade ao considerar, não tanto o que envolve a revelação de Deus a nós, como o que a mesma revelação é para ele. A falta de correspondência da doutrina sabeliana para com as Escrituras é clara, se nos lembrarmos de que neste ponto de vista os Três não podem existir ao mesmo tempo; quando o Pai diz "Tu és o meu Filho amado" (Lc. 3.22), ele simplesmente está falando a si mesmo; quando Cristo envia o Espírito, ele está enviando a si mesmo. Jo. 1.1 - "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" - "afasta a noção de que o Verbo se tornou pessoal em primeiro lugar antes da criação, ou na encarnação" (Westcott, Bib. Com., in loco). Mason, Faith of the Gospel, 50,51 - "Sabélio reivindicava que a unidade tornou uma Trindade através da expansão. A Paternidade começa com o mundo. Deus não é eternamente Pai. Só temos um Deus impessoal, ininteligível que agiu sobre nós e confundiu o nosso entendimento apresentando-se a nós sob três disfarces. Antes da criação não há nenhuma Paternidade, nem mesmo em germe". Segundo Pfleiderer, Philos. Religion, 2.269, Orígenes sustentava que a divindade podia ser representada por três círculos concêntricos: o maior, abrangendo o ser por inteiro, é o do Pai; a seguir, o do Filho, que se estende à criação racional; e o menor, o do Espírito que rege todos os homens santos da igreja. King, Reconstruction of Theology, 192,194 - "Afirmar as relações sociais na divindade é asseverar o Triteísmo absoluto. ... O unitarismo dá ênfase à humanidade de Cristo, a fim de preservar a unidade de Deus; o verdadeiro ponto de vista dá ênfase à divindade de Cristo, a fim de preservar a unidade".
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L L. Paine, Evolution of Trinitarianism, 141,287, diz que o Trinitarismo da Nova Inglaterra se caracteriza por três coisas: 1. Patripassianismo sabeliano; Cristo é tudo o que há no Pai, e o Espírito Santo é a continuação da vida de Cristo; 2. Consubstancialidade, ou comunidade de essência, entre Deus e o homem; diferentemente do que há entre o ser criado e o não criado que o dualismo platônico sustentava, esta teoria torna a semelhança moral em semelhança essencial; 3. Monismo filosófico, para o qual a matéria é em si mesma a evolução do Espírito. ... Na forma seguinte da doutrina científica da evolução a divinização do homem torna-se uma verdade vital e dela surge a cristologia que, na verdade, remove o Jesus de Nazaré da ordem da divindade absoluta, mas ao mesmo tempo o exalta a um lugar de eminência moral que é seguro e supremo". Contra o perigo de considerar Cristo como uma manifestação econômica e temporária de Deus, só podemos nos resguardar defendendo a doutrina da Escritura sobre a Trindade imanente. Moberly, Atonement and Personality 86,165 - Não podemos incorrer no perigo sabeliano ao sustentarmos - que aquilo que é revelado dentro da unidade divina não é apenas uma distinção de aspectos ou de nomes, mas uma reciprocidade real do relacionamento mútuo. Um 'aspecto' não pode contemplar, o outro ou ser amado por ele. ... O sabelianismo degrada as pessoas da divindade em aspectos. O calor e a luz da chama não podem separadamente contemplar e estar no amor recíproco".
Β) Ο Ariano Ário (de Alexandria; condenado pelo Concilio de Nice, 325) sustentava que o Pai é o único ser divino absolutamente sem começo; o Filho e o Espírito Santo, através de quem Deus cria e recria, foram criados do nada antes que o mundo fosse; e Cristo foi chamado Deus, porque ele é o seguinte em relação a Deus e dotado por Deus de poder de criar. Os seguidores de Ário diferiam quanto ao nível preciso e reivindicações de Cristo. Enquanto Socínio sustentava com Ário que a adoração de Cristo era obrigatória, os unitários mais tarde perceberam a
Teologia Sistemática (Strong) 656 impropriedade da adoração mesmo nos mais elevados seres criados e constantemente tendiam para um ponto de vista do Redentor que o considera simplesmente um homem em relação peculiarmente íntima com Deus. O assim chamado Credo Atanasiano, que o próprio Atanásio nunca escreveu, é com muito mais propriedade designado como Symbolum Quicumque. Também tem sido chamado, embora jocosamente, ‘O Credo Anatemasiano’. Contudo, nenhum erro na doutrina pode ser mais perigoso ou digno de condenação do que o de Ário (1 Co. 16.22 - "Se alguém não ama o Senhor Jesus Cristo, seja anátema"; 1 Jo. 2.23 - "Qualquer que nega o Filho também não tem o Pai"; 4.3 - "todo o espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; e este é o espírito do anticristo"). Considera que Cristo é chamado Deus só por cortesia do mesmo modo que o vicegovernador recebe o título de Governador. Antes da criação do Filho, o amor de Deus, se pudesse haver amor, seria despendido no próprio Deus. Gwatkin, Studies of Arianism: "O Cristo ariano é apenas um ídolo pagão, inventado para manter um supremo paganismo num isolamento pagão do mundo. Quanto mais próximo a atenção da divindade do Filho puxa-o para baixo na direção do homem, mais remota se torna a não participada divindade do Pai. Você tem um Être Suprême (fr. Ser Supremo) do qual praticamente não há aproximação, o simples um em todos, destituído de pessoalidade". Gore, Incarnation, 90,91,110, mostra a imensa importância da controvérsia sobre όμοούσιον e όμοιούσιον. Carlyle, certa vez, zombou de que "o mundo cristão estivesse cortado em pedaços por causa de um ditongo". Porém, mais tarde, ele passou a ver que o próprio cristianismo estava em perigo e que teria descido ao nível de uma lenda se os arianos tivessem vencido a batalha. Ário não apelou para a Escritura, mas principalmente para a lógica. Ele defendia que o Filho deve ser mais novo que o seu Pai. Mas estava expondo o princípio do paganismo e da idolatria, que demanda a adoração a uma criatura. Os godos convertiam-se facilmente ao arianismo. Para eles, Cristo era um deus herói, um semideus e mais tarde os godos puderam adorar Cristo e os ídolos pagãos sem parcialidade.
Teologia Sistemática (Strong) 657 É evidente que a teoria de Ário não satisfaz as exigências da Escritura. Como um Deus criado, cuja existência teve um começo e, portanto, pode ter um fim, feito de uma substância que em certa época não era e, portanto, diferente da do Pai, não é Deus, mas criatura finita. Mas a Escritura fala de Cristo sendo no começo com Deus. Lutero, fazendo alusão a Jo. 1.1, diz: “ ‘O Verbo era Deus’ contraria Ário; ‘O Verbo estava com Deus’ contraria Sabélio”. O Catecismo Racoviano, Quaes. 183, 184, 211, 236, 237, 245, 246, ensina que Cristo deve ser verdadeiramente adorado e nega-se que sejam cristãos os que se recusam adorá-lo. Davidis foi perseguido e morto na prisão por recusar-se a adorar Cristo; Socínio foi acusado, embora talvez injustamente, de ter causado o aprisionamento dele. O Chanceler Bartolomeu, de Essex, ariano, foi morto queimado em Smithfield, a 13 de mar. de 1613. O Rei Jaime (King James) perguntou-lhe se ele não dirigia suas orações a Cristo. A resposta do chanceler foi que "na verdade ele orava a Cristo nos dias da sua ignorância, mas não nestes últimos sete anos"; o que chocou de tal modo Jaime que afastou-o com um chute". Na fogueira o chanceler ainda recusou-se a retratar-se e assim foi queimado até às cinzas em meio a um grande ajuntamento de pessoas. No mês seguinte, outro ariano chamado Whiteman foi queimado em Burton-onTrent. Era preciso ter coragem, mesmo uma geração mais tarde, para John Milton, em sua Christian Doctrine, declarar-se um elevado ariano. Nesse tratado ele ensina que "o Filho de Deus não existia desde a eternidade, não é contemporâneo ou coexistente ou co-igual com o Pai, mas veio à existência através da vontade de Deus para ser o seu seguinte e o primogênito e bem amado, o Logos ou Verbo através de quem toda a criação teria o seu início". Deste modo Milton considera o Espírito Santo como um ser criado, inferior ao Filho e possivelmente confinado aos céus e à terra. O arianismo de Milton, contudo, é característica dos seus escritos mais tardios do que mais antigos.
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Quando perguntaram ao Dr. Samuel Clarke se o Pai que tinha criado não podia também destruir o Filho, respondeu que ainda não tinha pensado no assunto. Ralph Waldo Emerson rompeu com a sua igreja e deixou o ministério porque ele não podia celebrar a Ceia do Senhor; isto implicava numa reverência mais profunda para com Jesus do que ele poderia prestar. Escreveu: "Parece-me que, na igreja atual, o Ofício da Comunhão, como é agora celebrado aqui, documenta uma estupidez da raça. Como, meus caros vizinhos, os diáconos, com seus cálices e bandejas teriam se aprumado no seu vigor se a proposição veio a eles para honrar um colega". Contudo o Dr. Leonard Bacon dizia que os unitários "pareciam como se a sua contemplação exclusiva de Jesus Cristo em seu caráter humano como exemplo a imitarmos tivesse operado neles uma excepcional beleza e semelhança viva de Cristo". Chadwick, Old and New Unitarian Belief, 20, fala do arianismo como exaltando a um grau de indiferença inapreciável de Deus, enquanto Socínio o venerava como um homem miraculosamente dotado e cria num livro infalível. O termo "unitário", reivindica ele, deriva de "uniti", uma sociedade na Transilvânia, em apoio à tolerância mútua entre calvinistas, romanistas e socinianos. Tal nome se aplicava aos que defendiam a unidade divina porque eram os seus mais ativos membros. B. W. Lockhart: "A Trindade garante a cognoscibilidade de Deus. Ário ensinava que Jesus nunca foi humano nem divino, mas criado num nível de ser entre os dois, essencialmente desconhecido do homem. Um Deus ausente fez de Jesus o seu mensageiro; o próprio Deus não tocou diretamente o mundo em qualquer ponto; desconhecido e desconhecível a este. Atanásio, ao contrário, afirmava que Deus não mandou um mensageiro em Cristo, mas ele mesmo veio, de sorte que, conhecer Cristo é realmente conhecer Deus, que essencialmente se revela nele. Foi ele que deu à igreja a doutrina do Deus imanente, ou Emanuel, o Deus cognoscível e verdadeiramente conhecido pelo homem, porque verdadeiramente está presente". Chapman, Jesus Christ and the Present Age, 14 – "O mundo nunca foi mais adiante do unitarismo do que hoje; podemos acrescentar que o unitarismo nunca foi além de si mesmo".
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IV. ESTA TRIPESSOALIDADE NÃO É TRITEÍSMO; POIS, CONQUANTO HAJA TRÊS PESSOAS, HÁ APENAS UMA ESSÊNCIA
a) O termo 'pessoa' só representa aproximadamente a verdade. Apesar de que esta palavra mais aproximadamente do que qualquer outra, expressa a concepção que as Escrituras nos dão da relação entre Pai, Filho e Espírito Santo não é de si mesma empregada nesta conexão na Escritura e empregamo-la em um sentido qualificado, não no sentido comum em que aplicamos a palavra 'pessoa' a Pedro, Paulo e João. A palavra 'pessoa' é apenas a expressão imperfeita e inadequada de um fato que transcende a nossa experiência e compreensão. Bunyan: "Minhas obscuras e nebulosas palavras apenas conservam a verdade, como armários que guardam o ouro". Três Deuses, limitando-se um ao outro, privariam reciprocamente a divindade um do outro. Enquanto mostramos que a unidade é articulada pelas pessoas, é igualmente importante lembrar que as pessoas são limitadas pela unidade. Para nós a pessoalidade implica separação total de todas as demais. Nele as distinções pessoais devem ser tais como são consistentes com a sua unidade. Este é o mérito da afirmação contida no Symbolum Quicumque (ou o erroneamente chamado Credo de Atanásio): Ό Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; entretanto não há três Deuses, mas um só. De igual modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor. Porque como somos compelidos pela verdade cristã a reconhecer cada pessoa por si mesma como Deus e Senhor, do mesmo modo, pela mesma verdade, somos proibidos de dizer que há três Deuses ou três Senhores". Acrescentamos que a pessoalidade de Deus como um todo é separada e distinta de todas outras e, a respeito disto, há maior analogia com a pessoalidade do homem do que com a do Pai e do Filho. A igreja de Alexandria no segundo século cantava: "Um só é santo, o Pai; Um só é santo, o Filho; Um só é santo, o Espírito". Moberly, Atonement and Personality, 154,167,168 - "As três pessoas nem são três Deuses, nem três partes de Deus. Ao invés disso são triplicemente, tripessoalmente Deus. ... A distinção pessoal em Deus é interior e de unidade: Não se trata de uma distinção que qualifica a Unidade, ou usurpa o seu lugar, ou o destrói. Não
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se trata de uma relação de exclusão mútua, mas de inclusão. Nenhuma pessoa é ou pode ser sem as outras. ... A pessoalidade do supremo e absoluto Ser não pode existir sem a reciprocidade autocontida de relações tais como Vontade e Amor. Porém a reciprocidade não seria real a menos que o sujeito que se torna objeto e o objeto que se torna sujeito fossem em cada lado semelhantemente e ao mesmo tempo pessoais. A unidade que tudo abrange é um modo mais elevado da unidade do que a do simples elemento distintivo. ... Os discípulos não devem ter a presença do Espírito em lugar do Filho, mas ter o Espírito é ter o Filho. Deus pessoal não é uma alternativa limitada para abstrações ilimitadas, tais como lei, santidade, amor, mas plenitude transcendente e inclusiva de todos eles. Os termos Pai e Filho sem dúvida são termos que surgem imediatamente dos fatos temporais da encarnação mais do que as relações eternas do ser divino. Contudo, são metáforas que significam bem mais na esfera espiritual que na material. Deste modo, pecado, juízo, graça, são metáforas. Mas em Jo. 1.118 não se emprega a palavra 'Filho', mas 'Verbo'".
b) A qualificação necessária é que, enquanto três pessoas entre os homens têm só uma unidade específica de natureza ou essência - isto é, têm a mesma espécie de natureza ou essência, - as pessoas da divindade têm uma unidade numérica de natureza ou essência - isto é têm a mesma natureza ou essência. A essência não dividida de Deus pertence igualmente a cada uma das pessoas; Pai, Filho e Espírito Santo, cada um possui toda a substância e todos atributos da divindade. A pluralidade de Deus não é, portanto, pluralidade de essência, mas de distinções hipostáticas ou pessoais. Deus não é três e um, mas três em um. A essência una indivisível tem três modos de subsistência. Trindade não é um consórcio em que cada membro pode apor a sua assinatura; porque isto é apenas uma unidade de contrato e operação, não de essência. A natureza de Deus não é uma unidade abstrata, mas orgânica. Como um ser vivente, Deus não pode ser uma simples Mônada. A Trindade é o organismo da Divindade. O ser divino uno existe em três modos. A vida da parreira se faz conhecida na vida dos ramos e Cristo emprega esta união entre a parreira e os ramos para ilustrar a união entre o
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Pai e ele mesmo. ( Ver Jo. 15.10 - "Se guardardes os meus mandamentos permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor"; cf. ν. 5 - "eu sou a videira e vós as varas; quem está em mim e eu nele, este dá muito fruto"; 17.22,23 - "para que sejam um, como nós somos um. Eu neles e tu em mim"). Deste modo, no organismo do corpo, o braço tem a sua própria vida diferente da cabeça ou do pé, apesar de que a tem só participando da vida do todo. Ver Dorner, System of Doctrine, 1.450-453 - "A pessoalidade divina é tão presente em cada uma das distinções, que estas, que simplesmente e por si mesmas não seriam pessoais, contudo, participam da pessoalidade divina, cada uma a seu modo. Esta pessoalidade divina é a unidade dos três modos de subsistência que participam dela mesma. Também não é pessoal sem as outras. Em cada uma, a seu modo, está a divindade completa". O corpo humano não é um organismo simples, mas complexo, uma unidade que abrange um número infinito de organismos subsidiários e dependentes. A vida do corpo manifesta-se na vida do sistema nervoso, da vida do sistema circulatório, e da vida do sistema digestivo. A destruição completa de qualquer um destes sistemas destrói os outros dois. A psicologia do mesmo modo que a fisiologia revela-nos a possibilidade de uma tríplice vida dentro dos limites de um só ser. No homem como indivíduo há às vezes uma dupla ou tripla consciência. Herbert Spencer, Autobiography, 1.459; 2.204 - "Presumo que as mentes mais ativas têm, mais ou menos freqüentes experiências de dupla consciência - uma parecendo tomar nota do que a outra está para fazer, e aplaudir ou censurar". Ele menciona um exemplo da sua própria experiência. "Pode ser possível um pensamento bicéfalo, como há uma visão binocular? ... Em tais casos como se se estivesse prosseguindo bem afastado do consciente que parece constituir o meu eu: algum tipo de processo de elaboração de pensamentos coerentes apesar de que uma parte do meu eu seja um originador independente sobre cujas palavras e atos eu não tenha controle algum, e que em grande medida seja consistente; conquanto a outra parte do meu eu seja um espectador ou ouvinte passivo, completamente despreparado para muitas das coisas de que trata a primeira parte e que, contudo, embora inesperada, não seja ilógica". Isto que pode ser mais do que uma consciência na mesma pessoalidade entre os seres humanos deve tornar-nos prudentes ao negar que possa haver três consciências em Deus.
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Genericamente a humanidade também é um organismo, e este fato empresta confirmação à afirmação paulina da interdependência orgânica. A sociologia moderna é a doutrina de uma vida constituída pela união de muitos. "Unus homo, nullus homo" é um princípio de ética assim como de sociologia. Ninguém pode ter consciência para consigo mesmo. A vida moral de um resulta da vida moral de todos e há uma interpenetração mútua. Contudo, todos os homens vivem, movem-se e existem em Deus (At. 17.28). Dentro dos limites da consciência universal e divina há uma múltipla consciência finita. Por que, então, pensar que é incrível que na natureza deste Deus uno haja três consciências infinitas? Baldwin, Psychology, 53,54 – "A integração da consciência finita numa abrangente consciência divina pode encontrar uma analogia na integração da consciência subordinada na personalidade unida do homem. No estado hipnótico, as múltiplas consciências podem ser induzidas no mesmo organismo nervoso. Na insanidade há uma consciência secundária em guerra com aquela que normalmente domina". Schurman, Belief in God, 26, 161 - Ό Espírito infinito pode incluir o finito, como a idéia de um simples organismo abrange dentro de uma só vida uma pluralidade de membros e funções. ... Todas as almas são partes ou funções da eterna vida de Deus, que é acima de todos, e através de todos, e em todos, e em quem vivemos, nos movemos e existimos". Tiraríamos a conclusão de que, como no corpo e na alma do homem tanto individualmente como na raça, existe a diversidade na unidade e uma tríplice consciência e vontade consistentes com uma só essência e nela encontramos a sua perfeição. Pessoalidade de Deus é mais do que a pessoalidade do Filho e a do Espírito. A pessoalidade de Deus é distinta e separada de todas as outras e é, a este respeito, como a do homem. Por isso Shedd, Dogm. Theol., 1.294, diz: é melhor falar da pessoalidade da essência do que da sua pessoa; porque a essência não é uma pessoa, mas três. ... A essência divina não pode ser ao mesmo tempo três pessoas e uma pessoa, se a palavra 'pessoa' for empregada numa significação; mas pode ao mesmo tempo ser três pessoas e um só Ser pessoal". Conquanto falamos de um Deus que tem uma pessoalidade na qual há três pessoas, não devemos chamá-la de superpessoalidade, caso se pretenda que este termo sugira que a pessoalidade de Deus é menos que a do homem. A de Deus é inclusiva, ao
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invés de exclusiva.Com esta qualificação podemos concordar com as palavras de D'Arcy, Idealism and Theology, 93,94,218,230, 236,254 - "A mais profunda verdade das coisas é que se deve conceber Deus como pessoal; mas deve-se crer que a última Unidade, que é a dele, é superpessoal. É uma unidade de pessoas, não uma unidade pessoal. Para nós, pessoalidade é a última forma da unidade. Com ele não é assim. Para ele todas as pessoas vivem se movem e existem. ... Deus é pessoal e superpessoal. Há nele uma unidade transcendente que pode abranger uma multiplicidade pessoal. ... Há em Deus uma unidade superpessoal na qual todas as pessoas são uma - [todas as pessoas humanas e as três divinas]. ... A substância é mais do que a qualidade e o sujeito é mais real que a substância. A mais real de todas é a totalidade concreta, o Universal todo inclusivo. ... O que o amor luta para realizar - o domínio da oposição de pessoa para com a pessoa - atinge-se perfeitamente na Unidade divina. ... A pressuposição de que a filosofia está afastada - [de que pessoas têm uma base subjacente de unidade] é idêntica àquela em que se fundamenta a teologia cristã".
c) Esta unidade de essência explica o fato de que, enquanto Pai, Filho e Espírito Santo, a respeito de sua pessoalidade, são subsistências distintas, há uma intercomunhão de pessoas e uma imanência de uma pessoa divina na outra que permite a obra peculiar atribuir-se, com uma simples limitação, a qualquer uma das outras e a manifestação de uma se reconheça na manifestação de outra. A limitação é simplesmente esta, que, apesar de o Filho ser mandado pelo Pai e o Espírito pelo Pai e pelo Filho, não se pode dizer o contrário, que o Pai é mandado pelo Filho ou pelo Espírito. As representações da Escritura sobre esta intercomunhão impedem-nos de conceber tais distinções chamadas Pai, Filho e Espírito Santo como envolvendo separação entre elas. Dorner acrescenta que "em um está cada um dos outros". Isto é verdade com a limitação mencionada no texto acima. Qualquer coisa que Cristo faz, pode-se dizer que Deus, o Pai o faz; porque Deus age só em Cristo o Revelador e através dele. Qualquer coisa que o Espírito Santo faz, pode-se dizer que Cristo faz; porque o Espírito Santo é o Espírito de Cristo.
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O Espírito é o Jesus onipresente; o dito de Bengel é verdadeiro: "Ubi Spiritus, Ibi Christus" (Onde está o Espírito, ali está Cristo). Seguem-se passagens que ilustram esta intercomunhão: Gn. 1.1 "Criou Deus"; cf. Hb. 1.2 - "por quem [o Filho] fez também o mundo"; Jo. 5.17,19 - "Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também. ... o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai, porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente"; 14.9 -"quem me vê a mim vê o Pai"; 11 - "eu no Pai e o Pai em mim"; 18 - "não vos deixarei órfãos; voltarei para vós", (através do Espírito); 15.26 - "quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito da verdade"; 17.21 - "para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti"; 2 Co. 5.19- "Deus estava em Cristo reconciliando"; Tt. 2.10 - "Deus, nosso Salvador"; Hb. 12.23 - "Deus, o juiz de todos"; cf. Jo. 5.22 - "Ε também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo"; At. 17.31 - "com justiça há de julgar o mundo por meio do varão que destinou". É esta intercomunhão, juntamente com a ordem da pessoalidade e operação a ser mencionada mais adiante que explica o emprego ocasional do termo 'Pai' aplicado à divindade toda; como em Ef. 4.6 - "um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos [em Cristo], e em todos [através do Espírito]". Esta intercomunhão também explica a designação de Cristo como "o Espírito", e do Espírito como "o Espírito de Cristo", como em 1 Co. 15.45 -"o último Adão em espírito vivificante"; 2 Co. 3.17 - "Ora, o Senhor é espírito"; Gl. 4.6 - "enviou o Espírito de seu Filho"; Fp. 1.19 "socorro do Espírito de Jesus Cristo" (ver Alford e Lange sobre 2 Co. 3.17,18). Do mesmo modo Lamb, em Ap. 5.6, "sete pontas e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados a toda a terra" = o Espírito Santo, com suas múltiplas forças, é o Espírito do Cristo onipotente, onisciente e onipresente. Teólogos têm designado esta intercomunhão através dos termos περιχώρησις, circumincessio, intercommunicatio, circulatio, inexistentia. A palavra ουσία é empregada para denotar essência, substância, natureza, ser; e as palavras πρόσωπον e ύπόστασις, para pessoa, distinção, modo de subsistência. Sobre os empregos mutantes das palavras πρόσωπον e ύπόστασις, ver Dorner, Glaubenslehre, 2.321, nota 2. O Espírito Santo é o alter ego de Cristo, ou outro eu. Quando Jesus se retirou, ocorreu uma mudança da sua presença para a sua onipresença; do
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poder limitado para o ilimitado; do companheirismo para a morada dentro do crente. Porque Cristo vem ao homem no Espírito Santo, ele fala através dos apóstolos com tanta autoridade como se os seus próprios lábios proferissem as palavras. Cada crente, tendo o Espírito Santo, tem toda a pessoa de Cristo; ver A. J. Gordon, Ministry of the Spirit, Gore, Incarnation, 218 – "As pessoas da Santa Trindade não são indivíduos separáveis. Cada um envolve os outros; a vinda de cada um é a dos outros. Deste modo a vinda do Espírito deve ter envolvido a vinda do Filho. Mas a especialidade do dom do Pentecostes parece ser a vinda do Espírito Santo daquela humanidade do Filho encarnado, que ascendeu e foi glorificada. O Espírito é o doador da vida, mas a vida em que ele opera na igreja é a do Encarnado, a vida de Jesus". Moberly, , 85 - "Durante séculos e séculos, a unidade essencial de Deus tem sido queimada e marcada na consciência de Israel. Primeiro teve de ser totalmente estabelecida, como elemento básico do pensamento, indispensável inalterável, antes que, para o homem, pudesse começar a revelação da realidade das relações eternas dentro do indivisível ser de Deus. Ao chegar tal revelação, não houve modificação, mas interpretação e iluminação, da unidade proposta de forma absoluta". E. G. Robinson, Christian Theology, 238 - Existe uma dificuldade extrema em fazer qualquer afirmação de uma trindade que, por um lado, não se transforme em triteísmo, e por outro, num mero modismo. É muito natural que Calvino fosse acusado de sabelianismo, e John Howe de triteísmo". V. AS TRÊS PESSOAS, PAI, FILHO, Ε ESPÍRITO SANTO, SÃO IGUAIS
Como explicação, note que: 1. Estes títulos pertencem às Pessoas d) O Pai não é Deus como tal; pois Deus não é só Pai, mas Filho e Espírito Santo. O termo 'Pai' designa a distinção hipostática na natureza divina em virtude da qual Deus se relaciona com o Filho e através do Filho e do Espírito Santo com a igreja e com o mundo. Como autor da
Teologia Sistemática (Strong) 666 vida espiritual e da natural do crente, Deus é duplamente seu Pai; mas esta relação que Deus sustenta com as criaturas não é a base do título. Deus é Pai primeiro em virtude da relação que sustenta com o Filho eterno; só quando nos unimos espiritualmente a Jesus Cristo tornamonos filhos de Deus. b) O Filho não é Deus como tal; pois Deus não é só Filho, mas também Pai e Espírito Santo. Ό Filho' designa a distinção em virtude da qual Deus se relaciona com o Pai, é enviado pelo Pai para redimir o mundo e com o Pai envia o Espírito Santo. c) O Espírito Santo não é Deus como tal; pois Deus não é só Espírito Santo, mas também Pai e Filho. Ό Espírito Santo' designa esta distinção em virtude da qual Deus se relaciona com o Pai e com o Filho e é enviado por eles para cumprir a obra de renovar os ímpios e santificar a igreja. Nenhum destes nomes designa a Mônada como tal. Cada um designa esta distinção pessoal que forma a base eterna e fundamento para uma revelação particular. No sentido de ser o Autor e provedor da vida natural do homem, Deus é Pai de todos. Mas mesmo esta filiação natural é mediada por Jesus Cristo; ver 1 Co. 8.6 - "um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele". Contudo, a expressão "Nosso Pai" pode ser empregada como a mais elevada verdade pelo regenerado que de Deus nasceu de novo, unindo-se a Cristo através do Espírito Santo. Ver Gl. 3.26 "Porque vós sois filhos de Deus, em Jesus Cristo"; 4.4-6 - "Deus enviou seu Filho ... para que recebêssemos a adoção de filhos ... enviou o Espírito do seu Filho aos nossos corações, que clama: Aba, Pai"; Ef. 1.5 - "e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo". O amor de Deus por Cristo é a medida do seu amor por aqueles que são um em Cristo. A natureza humana em Cristo eleva-se à vida e comunhão da Trindade eterna. A paternidade humana é um reflexo da divina, mas a recíproca não é verdadeira; a divina não é um reflexo da humana; cf. Ef. 3.14,15-"o Pai, do qual toda a família (πατριά) nos céus e na terra toma o nome". Chadwick, Unitarianism, 77-83, faz o nome do 'Pai' apenas um símbolo da grande Causa da evolução orgânica, o Autor de todos os seres. Mas podemos
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retrucar com Streans, Evidence of Christian Experience, 177 – "conhecer Deus fora da esfera da redenção não é conhecê-lo no mais profundo sentido do termo 'Pai'. Só através do Filho é que o conhecemos: Mt. 11.27 'Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar' ". Whiton, Gloria Patri, 38 - "Só se pode conhecer o invisível através do visível que provém daquele. Aquele que gera todos ou a Vida Paternal que nos é oculta só pode ser conhecido pelos que foram gerados e os que têm a Vida Filial em que se revela. A bondade e a justiça que habita a eternidade só pode ser conhecida através da bondade e justiça que provém da referida eternidade nos sucessivos nascimentos do tempo. Deus acima do mundo só se faz conhecido através de Deus no mundo. O Pai, Deus transcendente, é revelado através do Filho, Deus imanente". Faber: "Ó maravilhoso e adorável Deus! Não se ouve um só cântico, ou um único som, a não ser em toda a parte e a toda hora, no amor, na sabedoria e na força; o Pai profere o seu dileto Verbo eterno". Podemos interpretar isso como significando que a própria expressão é uma necessidade da natureza de uma Mente infinita. Por isso o Verbo é eterno. Cristo é o espelho do qual brilham sobre nós os raios do invisível Luminar. O Reitor Fairbairn diz: "A teologia não deve estar no seu lado cristocêntrico histórico, mas no seu lado teocêntrico doutrinário". Salmond, Expositor's Greek Testament, sobre Ef. 1.5 – "Para Paulo, 'adoção' não significa a concessão dos plenos privilégios da família daqueles que originariamente não são filhos e por direito na relação própria dos que são filhos por nascimento. Por isso nunca se afirma em Cristo a υιοθεσία, pois só ele é Filho de Deus por natureza. Deste modo Paulo não considera que a nossa filiação está na relação natural dos homens para com Deus como filhos, mas implicando a nova relação da graça, encontrada na relação pactuai com Deus e na obra de Cristo (Gl. 4.5 sq.)".
2. Sentido qualificado destes títulos Como a palavra 'pessoa', os nomes Pai, Filho e Espírito Santo não devem ser confinados às precisas limitações de sentido que requereriam se aplicados aos homens.
Teologia Sistemática (Strong) 668 a) As Escrituras ampliam nossas concepções da filiação de Cristo, dando a ele em seu estado preexistente os nomes de Logos, Imagem e Resplendor de Deus. - O termo 'Logos' combina em si duas idéias de pensamento e palavra, de razão e expressão. Enquanto o Logos como pensamento divino ou razão é um com Deus, o Logos como palavra divina ou expressão distingue-se de Deus. Palavras são significados pelos quais os seres pessoais expressam-se ou revelam-se. Porque Jesus Cristo era "o Verbo" antes que houvesse criaturas a quem as revelações pudessem ser feitas, parece que só é necessária a inferência deste título que em Cristo deve ser desde a eternidade expresso e revelado a si mesmo; em outras palavras, que o Logos é o princípio da verdade, ou autoconsciência em Deus. - O termo 'Imagem' sugere as idéias de cópia ou contrapartida. O homem é a imagem de Deus só de um modo relativo e derivado. Cristo é a imagem de Deus de modo absoluto e arquétipo. Como a perfeita representação das perfeições do Pai, o Filho parece ser o objeto e princípio do amor em Deus. - O termo 'Resplendor', finalmente, é uma alusão ao sol e sua radiação. Como o resplendor do sol manifesta a natureza do sol, que doutra forma não seria revelado, ainda inseparável do sol e sempre com ele, assim Cristo revela Deus, mas é eternamente um com Deus. Eis aqui um princípio de movimento, da vontade, que parece estabelecer conexão dele mesmo com a santidade, ou pureza autodeclarante da natureza divina. Smith, Introd. to Edward's Observations on the Trinity. "As relações ontológicas das pessoas da Trindade não são um simples vácuo no pensamento humano". Jo. 1.1 - "No princípio era o Verbo" - significa mais do que "no princípio era οχ,ο zero". Na verdade Godet diz que o Logos = 'razão' só nos escritos filosóficos, mas nunca nas Escrituras. A isto ele chama de noção hegeliana. Porém tanto Platão quanto Filo tinham feito esta uma significação comum. Sobre o λόγος como = razão + fala ver Lightfoot sobre Cl, 369 -Logos = "Revelador eterno da essência divina". Bushnell: "Espelho da imaginação criadora"; "forma de Deus".
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Verbo = 1. Expressão; 2. Expressão definida; 3. Expressão ordenada; 4. Expressão completa. Nós fazemos o pensamento definido pondo-o em linguagem. Deste modo, a riqueza de idéias de Deus está no Verbo formado num Reino ordenado, um verdadeiro Cosmos; ver Mason, Faith of the Gospel, 76. Max Müller: "A palavra é tão somente o pensamento expresso como som de forma audível. Tire o som da palavra e o que resta é somente o seu pensamento". Whiton, Gloria Patri, 72,73 - "O grego via na palavra o permanente pensamento através da forma passageira. O Verbo era Deus e, contudo, finito - finito só quanto à forma, infinito quanto ao que a forma sugere ou expressa. O Verbo deve sugerir alguma forma e qualquer forma é finita. O Verbo é a forma tomada pela Inteligência infinita que transcende a todas formas". Consideramos esta identificação do Verbo com a manifestação finita do Verbo em contradição com Jo. 1.1, onde o Verbo é representado como existindo antes da criação, e em Fp. 2.6, onde o Verbo é representado existindo na forma de Deus antes da sua autolimitação na natureza humana. A Escritura requer de nós que creiamos numa objetivação do próprio Deus na pessoa do Verbo antes de qualquer manifestação finita de Deus ao homem. Cristo existia como Verbo e o Verbo como Deus antes que ele se fizesse carne e antes que o mundo viesse a ser; a saber, o Logos era o princípio eterno da verdade ou a consciência própria na natureza de Deus. Eis aqui passagens que representam Cristo como a imagem de Deus: Cl. 1.15 - "o qual é a imagem de Deus invisível"; 2 Co. 4.4 - "Cristo, que é a imagem (εικών) de Deus"; Hb. 1.3 - "a imagem expressa da sua pessoa (χαρακτήρ της υποστάσεως αυτού)"; aqui χαρακτήρ significa 'impressão', 'contrapartida'. Cristo é a imagem perfeita de Deus, como os homens não o são. Por isso ele tem consciência e vontade. Ele possui todos os atributos e poderes de Deus. A palavra 'imagem' sugere a igualdade perfeita a Deus que o título 'Filho' a princípio parece negar. A imagem viva de Deus que é igual a ele mesmo e que é o objeto do seu amor infinito não pode ser nada menos que pessoal. Como o solteiro nunca pode satisfazer o seu anseio por companheirismo alinhando o quarto com espelhos que apenas fornecem um reflexo sem vida de si mesmo, assim também Deus requer para o seu amor pessoal do mesmo modo um objeto infinito. A Imagem não é precisamente a repetição do original. A marca do selo não é precisamente a reprodução do selo. As letras no reverso do selo podem ser facilmente ser lidas só quando
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a impressão está diante de nós. Do mesmo modo Cristo é a interpretação e a revelação do Deus invisível. Como apenas no amor chegamos a conhecer as profundezas do nosso ser, assim também apenas no Filho é que "Deus é amor" (1 Jo. 4.8). Cristo é citado como o Resplendor de Deus em Hb. 1.3 - "que, sendo o resplendor da sua glória" (απαύγασμα της δόξης); cf. 2 Co. 4.6 - "resplandeceu em vossos corações, para a iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo". Note que o brilho do sol é tão velho quanto o próprio sol e sem ele o sol não seria o que é. Do mesmo modo Cristo é igual e coeterno com o Pai. SI. 84.11 - "o Senhor Deus é um sol". Entretanto, não podemos ver o sol a não ser através da sua luz. Cristo é a luz solar que flui do Sol e que torna este visível. Se há um Sol eterno, deve haver também uma Luz Solar eterna e Cristo deve ser eterno. Westcott sobre Hb. 1.3 -"O emprego do termo intemporal e absoluto ω[ν, 'sendo' protege contra o pensamento de que a filiação do Senhor não é por natureza, mas por adoção, απαύγασμα não expressa pessoalidade e χαρακτήρ não expressa coexistência. As duas palavras se relacionam exatamente do mesmo modo que ομοούσιος e μονογενής, e como devem ser combinados a fim de dar a plenitude da verdade. A verdade assim expressa sustenta de modo autêntico o que é absolutamente bom. ... Em Cristo distingue-se a essência de Deus; em Cristo se vê a revelação do caráter de Deus".
b) Os nomes assim dados à segunda pessoa da Trindade, se têm qualquer significação, trazem-no para diante das nossas mentes no aspecto geral de Revelador e sugerem uma relação da doutrina da Trindade com a verdade, amor e santidade, atributos imanentes de Deus. As preposições empregadas para descrever as relações internas da segunda pessoa com a primeira não são preposições de repouso, mas de direção e movimento. A Trindade como organismo da Divindade garante um movimento de vida de Deus, processo em que sempre se objetiva e no Filho anuncia sua plenitude. Cristo representa a ação centrífuga da divindade. Mas deve haver também a ação centrípeta. No Espírito Santo o movimento se completa e a atividade divina e o pensamento retornam para si mesmos. A verdadeira religião, trazendo-nos de volta para Deus,
Teologia Sistemática (Strong) 671 reproduz em nós, dentro de nossos limites, este eterno processo da mente divina. A experiência cristã testemunha que Deus em si mesmo é desconhecido; Cristo é o órgão da revelação externa; o Espírito Santo é o órgão da revelação interna - só ele pode dar-nos a apreensão interior ou entendimento da verdade. É "através do Espírito eterno" que Cristo "se ofereceu sem mácula diante de Deus" e é só através do Espírito Santo que a igreja tem acesso ao Pai, ou as criaturas decaídas podem voltar-se para Deus . Aqui vemos que Deus é Vida, Vida auto-suficiente, Vida infinita, da qual a vida do universo é apenas um reflexo, um filete da fonte, uma gota no oceano. Visto que Cristo é o único Revelador, o único princípio proveniente de Deus é aquele em quem vem a ser e se mantém unida. Ele é a vida da natureza; toda a beleza natural e grandiosidade, todas as forças moleculares e molares, todas as leis da gravitação e da evolução, operam e manifestam o Cristo onipresente. Ele é a vida da humanidade: os impulsos intelectuais e morais do homem até onde eles são normais e relevantes, devem-se a Cristo; ele é o princípio do progresso e aprimoramento da história. Ele é a Vida da igreja; o único e exclusivo Redentor e cabeça espiritual da raça além de seu Mestre e Senhor. Toda revelação objetiva de Deus é obra de Cristo. Mas toda a manifestação subjetiva de Deus é obra do Espírito Santo. Como Cristo é o princípio de toda a saída, do mesmo modo o Espírito Santo é o princípio da volta para Deus. Deus levanta as criaturas finitas para si mesmo, sopra nelas o seu espírito ensinando-os a lançar os seus barquinhos na corrente infinita da sua vida. Nossos carros elétricos podem galgar as montanhas em grande velocidade desde que presos aos cabos. A fé é o apoio que nos liga à energia movedora de Deus. Ό universo é a ligação de volta", porque o Espírito Santo está sempre transformando a revelação objetiva em subjetiva e dirigindo de um modo consciente ou inconsciente os homens a fim de apropriar o pensamento e o amor e o propósito daquele em quem todas as coisas acham o objetivo e o fim "porque dele, por ele e para ele são todas as coisas" (Rm. 11.36); aqui há uma alusão ao Pai como a fonte, o Filho como um meio, e o Espírito como agente aperfeiçoador e complementador, nas operações de Deus. Mas todos esses processos externos são apenas sinais
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e reflexos finitos de um processo interno de vida na direção da natureza de Deus. Meyer sobre Jo. 1.1 - "o Verbo estava com Deus": προς τον θεόν não = παρά τώ θεώ, mas expressa a existência do Logos em Deus com respeito ao intercâmbio. A essência moral desta comunhão essencial é o amor, que exclui qualquer concepção modal. "Marcus Dods, Expositor's Greek Testament, in loco: "Esta preposição implica intercâmbio e, por isso, pessoalidade separada". Mason, Faith of the Gospel, 62 - "Ε o Verbo estava com Deus" = o seu rosto não estava fora, como se estivesse apenas revelando, ou esperasse revelar, Deus na criação. O seu rosto estava voltado para o interior. Sua pessoa inteira se dirigia para Deus, movimento correspondendo a movimento, pensamento a pensamento. ... Nele Deus se revela a si mesmo. Estabeleça um contraste da atitude de Adão após o pecado, com o seu rosto desviado de Deus. Godet, sobre Jo. 1.1 - "Προς τον θεόν não só indica pessoalidade, mas movimento. ... A tendência do Logos ad extra apóia-se numa anterior e essencial relação admira. Para revelar Deus é preciso conhecê-lo; para projetá-lo exteriormente é preciso mergulhar no seu seio". Compare com Jo. 1.18 - Ό Filho unigênito, que está no seio do Pai" onde não achamos, έν τω κόλπω, mas εις τον κόλπον. Como ην εις την πόλιν significa 'foram para a cidade e estavam ali', do mesmo modo o emprego destas preposições indica em Deus movimento assim como repouso. A preposição então deve implicar que o Revelador, que existia no princípio, estava sempre junto a Deus no processo de vida da Trindade, como a perfeita objetivação de si mesmo. Há em toda a inteligência humana uma triplicidade que aponta para uma vida trinitária em Deus. Podemos distinguir um Wissen (saber), uma Bewusstsein (consciência), uma Seibstbewusstsein (autoconsciência). Na autoconsciência completa há os três elementos: 1. Nós somos nós mesmos; 2. Nós formamos um Quadro de nós mesmos; 3. Nós reconhecemos este quadro como nós mesmos. O menininho fala de si mesmo na terceira pessoa: "Nenê fez". O objeto vem antes do sujeito; "me" vem antes e em estágio mais avançado vem o eu; "a si mesmo" ainda mantém o seu lugar antes de "ele mesmo". Mas esta dualidade só pertence à inteligência não
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desenvolvida; é característica da criação animal; voltamos para ela nos nossos sonhos; os insanos são vítimas permanentes disso; visto que o pecado é insanidade moral, o pecador não tem nenhuma esperança até que, como o filho pródigo, ele "caia em si"(Lc. 15.17). O insano é mente alienatuse falamos ao médico que se trata de um alienista. A simples dualidade nos dá apenas a noção de separação. A perfeita consciência própria quer no homem quer em Deus requer um terceiro elemento unificador. Ε em Deus a mediação entre o "eu" e o "tu" deve ser obra de uma Pessoa, e a Pessoa que medeia entre os dois deve ser em qualquer respeito o igual a ambos ou ele não pode adequadamente interpretar um ao outro. Dogm. Theol., 1.179-189, 276-283 -"É um dos efeitos da convicção através do Espírito Santo a fim de converter a consciência em consciência própria. ... A convicção do pecado é a consciência do eu como autor culpado pelo pecado. A consciência própria é trina enquanto a consciência simples é dúplice. ... um e o mesmo espírito humano subsiste em dois modos ou distinções: sujeito e objeto. ... As três consciências hipostáticas em sua combinação e unidade constituem a consciência de Deus ... como as três pessoas formam uma só essência". Dorner considera as relações internas da Trindade (System, 1.412 sq.) em três aspectos: 1. Físico. Deus é causa sui. Mas o efeito igual à causa deve ser causativo. Aqui estaria a dualidade, se não fosse o terceiro princípio da unidade. Trinitas dualitatem ad unitatem reducit (A Trindade reduz a dualidade à unidade). 2. Lógico. A consciência própria estabelece o eu sobre o eu. Contudo, o pensador não deve considerar o eu como um dos muitos, e chamar a si mesmo de 'ele', como fazem as crianças; porque então o pensador não seria um autoconsciente, mas mente alienatus, 'ao lado de si mesmo'. Por isso ele 'cai em si' na terceira pessoa como não acontece com o bruto. 3. Ético. Deus = direito de querer por si mesmo. Mas o direito derivado de uma vontade arbitrária não será direito. O direito baseado na natureza passiva também não é direito. Direito como um ser = Pai. Direito como vontade = Filho. Sem este último princípio de liberdade, temos uma ética morta, um Deus morto, uma necessidade entronizada. A unidade entre a necessidade e a liberdade é encontrada por Deus, assim como pelo
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cristão, no Espírito Santo. O Pai = eu; o Filho = me; o Espírito = unidade dos dois. Não deve haver apenas o Sol e a luz solar, mas o olho para contemplar a Luz. William James, em Psychology, distingue o Me, o eu conhecido, do Eu, o eu como conhecedor. Ebrard, Dogmatik, 1.172, fala do Filho como o movimento centrífugo, enquanto o Espírito Santo é o movimento centrípeto de Deus. Deus, independentemente de Cristo, é o não revelado (Jo. 1.18 - "Deus nunca foi visto por alguém"); Cristo é o órgão da revelação exterior ("O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer"); o Espírito Santo é o órgão da revelação interna (1 Co. 2.10 - "Mas Deus no-las revelou pelo Espírito"). Que o Espírito Santo é o princípio de todo o movimento para Deus aparece em Hb. 9.14 -"Cristo, pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus"; Ef. 2.18 - "acesso ao Pai em um mesmo Espírito"; Rm. 8.26 - "o Espírito ajuda as nossas fraquezas ... o Espírito intercede por nós"; Jo. 4.24 - "Deus é espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito; 16.8-11 -"convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo". Mason, Faith of the Gospel, 68 - "É o gozo do Filho de receber, sua alegria ao saudar mais aqueles desejos do Pai que mais custam para ele mesmo. O Espírito também tem sua alegria ao tornar conhecido; ao aperfeiçoar a comunhão e conservar vivo o amor eterno que soa incessante desde as profundezas que ele torna o coração do Pai conhecido ao Filho, o coração do Filho ao Pai". Podemos acrescentar que o Espírito Santo é o órgão da revelação interna até mesmo ao Pai e ao Filho.
c) À luz do que já se disse, podemos entender um pouco mais completamente as diferenças características entre a obra de Cristo e a do Espírito Santo. Podemos resumi-las nas quatro afirmações: primeira: toda saída parece obra de Cristo e todo retorno para Deus obra do Espírito; segundo: Cristo é o órgão da revelação exterior e o Espírito Santo o órgão da revelação interior; terceiro: Cristo é o nosso advogado no céu e o Espírito Santo é o advogado em nossa alma; quarto: na obra de Cristo somos passivos e na obra do Espírito somos ativos. Trataremos da obra de Cristo mais plenamente adiante, quando falarmos dos ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei. Tratar-se-á da obra do Espírito Santo quando
Teologia Sistemática (Strong) 675 falarmos da aplicação da redenção na regeneração e santificação. É suficiente dizer aqui que o Espírito Santo é representado nas Escrituras como o autor da vida - na criação, na concepção de Cristo, na regeneração, na ressurreição; e como doador da luz - na inspiração dos escritores da Bíblia, em convencer os pecadores, na iluminação e santificação dos cristãos. Gn. 1.2 – "Espírito de Deus pairava"; Lc. 1.35 - a Maria: "Descerá sobre ti o Espírito Santo"; Jo. 3.8 - "nascido do Espírito"; Ez. 37.9,14 - "Vem dos quatro ventos, ó espírito ... Porei em vós o meu Espírito, e vivereis"; Rm. 8.11 - "vivificará o vosso corpo mortal pelo seu Espírito". 1 Jo. 2.1 - "um advogado (παράκλητον) para com o Pai, Jesus Cristo, o justo"; Jo. 14.16,17 - "outro Consolador (παράκλητον), para que fique convosco para sempre, o Espírito da verdade"; Rm. 8.26 - "o Espírito intercede por vós"; 2 Pe. 1.21 "homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo"; Jo. 16.8 "convencerá o mundo do pecado"; 13 - "quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade"; Rm. 8.14 - "todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus"; McCosh: As palavras do Espírito são Convicção, Conversão, Santificação, Consolação. Donovan: O Espírito é de convicção, iluminação, reconhecimento do pecado; e de revelação, lembrança, testemunho, santificação, consolação para o Santo. O Espírito ilumina o pecador, como um lampejo ilumina o viajante que tropeça à beira do precipício à noite; ilumina o cristão quando, surgindo o sol, revela uma paisagem que já se encontrava diante dele, mas que estava oculta aos seus olhos até que o grande luminar a tornou visível. "A luz matinal não criou o amável projeto que ela revelou; apenas mostrou o real estado daquilo que as trevas ocultavam". A defesa de Cristo perante o trono é como aquele conselho legal em nossa defesa; a defesa do Espírito Santo no coração é como a mãe que ensina o seu filho a orar por si mesmo. J. W. A. Stewart: "Sem a obra do Espírito Santo teria sido impossível a redenção, tão impossível como ao combustível aquecer sem acendê-lo, ou o pão não nutriria se não se comesse. Cristo é Deus entrando na história humana, mas, sem o Espírito, o cristianismo só seria história. O Espírito é
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Deus entrando nos corações humanos. O Espírito Santo vivifica o credo. Cristo é o médico que deixa o remédio e retira-se. O Espírito Santo é o enfermeiro que aplica e administra o remédio e fica com o paciente até que se complete a cura". Matheson, Voices of the Spirit, 78 - "De nada vale existir o espelho no compartimento, se ele está iludindo o seu rosto; os raios solares chegar não podem chegar se o rosto estiver encoberto a eles. O céu está em torno de ti não só na tua infância, mas sempre. Entretanto, não basta haver um lugar preparado para ti; tu deves estar preparado para o lugar. Não basta que a tua luz tenha vindo; tu mesmo deves levantar-te e brilhar. Nenhum brilho externo pode revelar, a não ser que tu mesmo sejas o refletor da sua glória. O Espírito deve pôr-se em ti ou aos teus pés para que tu possas ouvir o que ele te diz (Ez. 2.2)". O Espírito Santo não revela a sua pessoa, mas a de Cristo. Jo. 16.14 "Ele me glorificará porque há de receber de mim e vo-lo-á de anunciar". Deste modo devem os servos do Espírito ocultar-se enquanto anunciam Cristo. E. H. Johnson, The Holy Spirit, 40 - "Há alguns anos uma grande locomotiva toda envidraçada apresentou-se por volta do campo. Quando entrou em operação podiam ser vistos o pistão e as válvulas em funcionamento; mas não se via o que as fazia funcionar. Quando o vapor está bem quente, a ponto de se dilatar, é invisível". Do mesmo modo percebemos a presença do Espírito Santo não através de visões ou de vozes, mas através do efeito que ele produz dentro de nós na forma de um novo conhecimento, de um novo amor, e de uma nova energia das nossas forças. Denney, Studies in Theology, 161 - "Ninguém pode testemunhar de Cristo e de si ao mesmo tempo. Esprit é fatal à unção; ninguém pode dar a impressão de que ele mesmo é inteligente e que Cristo é poderoso para salvar. Só se sente o poder do Espírito Santo quando a testemunha está inconsciente de si e os outros continuam inconscientes dele". Moule, Veni Creator (Vem, ó Criador), 8 - "Como diz Tertuliano, o Espírito Santo é o vigário de Cristo. Na noite que antecedeu à crucificação, o Espírito Santo estava presente na mente de Cristo como uma pessoa". Gore, Lux Mundi, 318 – "Acusa-se Orígenes de que a sua linguagem parece envolver uma exclusão do Espírito Santo da natureza e uma limitação da sua atividade na igreja. A sua vida toda sem dúvida é dele. Ε ainda, porque o seu atributo especial é a santidade, só nas naturezas
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racionais é que são capazes da santidade, que exerce a sua influência especial. Uma inalação especial do Espírito divino dá ao homem a sua própria existência". Ver Gn. 2.7 - "O Senhor Deus ... soprou nas suas narinas o fôlego da vida; e o homem se tornou alma vivente"; Jo. 3.8 - Ό Espírito sopra onde quer... assim é todo aquele que é nascido do Espírito". Ε. Η. Johnson, sobre Os Ofícios do Espírito Santo, em Bíblia Sacra, jul., 1892.361-382 - Porque ele é chamado especialmente o Santo, quando o Pai e o Filho também o são, a não ser porque ele produz a santidade, i.e., faz com que a santidade de Deus seja individualmente nossa? Cristo é o princípio do coletivismo; o Espírito Santo, do individualismo. O Espírito Santo apresenta ao homem o Cristo que está nele. Deus acima de todos = Pai; Deus através de todos = Filho; Deus em todos = Espírito Santo (Ef. 4.6)". A doutrina do Espírito Santo nunca foi desdobrada cientificamente. Nenhum tratado a seu respeito se mostrou comparável à Doutrina do Pecado de Julius Müller, ou à História da Doutrina da Pessoa de Cristo de Ι. Α. Dorner. No passado, o progresso da doutrina foi marcado por sucessivos estágios. Atanásio tratou da Trindade; Agostinho, do pecado; Anselmo, da expiação; Lutero, da justificação; Wesley, da regeneração; e cada um destes desdobramentos se fez acompanhar de avivamentos religiosos. Estamos no aguardo de uma discussão completa sobre a doutrina do Espírito Santo e cremos que os avivamentos disseminados seguirão o reconhecimento do Agente Todo poderoso neles.
3. Geração e processos consistentes com a igualdade Sugere-se em Salmos 2.7 que a geração de Cristo é eterna. "Hoje te gerei" é interpretado mais naturalmente como a declaração de um fato eterno na natureza divina. Nem a encarnação, nem o batismo, nem a transfiguração, nem a ressurreição marcam o começo da filiação de Cristo, ou constituem-no Filho de Deus. Estes são apenas reconhecimentos e manifestações de uma filiação preexistente, inseparável de sua divindade. Ele "nasceu antes de cada criatura" (enquanto nenhuma coisa criada existia - ver Meyer sobre Cl. 1.15) e "pela ressurreição dos mortos" não veio a ser, mas só "declarou ser",
Teologia Sistemática (Strong) 678 "segundo o Espírito de santidade" (= segundo sua natureza divina) "o Filho de Deus com poder" (ver Philippi e Alford sobre Ro 1.3,4). Sua filiação é única - não aplicável a qualquer criatura ou compartilhada com ela. As Escrituras sugerem, não só uma geração eterna do Filho, mas um eterno procedimento do Espírito. Sl. 2.7 - "Recitarei o decreto: O Senhor me disse: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei"; ver Alexander, Com. in loco; ver também sobre At. 13.33 - "A palavra 'hoje' refere-se à ocasião do decreto; mas isto, como um ato divino, é eterno; e não deve ser uma declaração sobre a Filiação". Filo diz que a palavra "hoje" para Deus significa "sempre". Este ato de gerar de que o salmo fala não é a ressurreição, porque enquanto Paulo em At. 13.33 se refere ao salmo para estabelecer o fato da Filiação de Jesus, o mesmo ocorre com os versos 34,35 relativos a outro salmo, o de número 60, para estabelecer o fato de que este Filho de Deus devia ressurgir dentre os mortos. Jesus é apresentado como o Filho de Deus através da sua encarnação (Hb. 1.5,6 - "quando outra vez introduz no mundo o Primogênito diz: Ε todos os anjos de Deus o adorem"), do seu batismo (Mt. 3.17 - "Este é o meu Filho amado"), na sua transfiguração (Mt. 17.5 - "Este é o meu Filho dileto"), na sua ressurreição (At. 13.34,35 - "que o ressuscitaria dentre os mortos ... num outro salmo diz: Não permitirás que o teu santo veja corrupção"). Cl. 1.15- "o primogênito de toda a criação" - πρωτότοκος πάσης κτίσεως = primogênito antes de toda a criação" (Julius Müller, Textos-prova, 14); ou "primogênito antes de cada criatura, i.e., gerado e isto antes que cada coisa fosse criada" (Ellicott, Com. in loco). "Aqui" (diz Luthardt, Comp. Dogmatik, 81, sobre Cl. 1.15) se indica uma origem anterior à terrena de Deus - relação interna com a natureza divina". Lightfoot, sobre Cl. 1.15, diz que em Rabbi Bêchai Deus é chamado "primogenitus mundi". Em Rm. 1.4 (ορισθέντος = "manifestado para ser o onipotente Filho de Deus") Ver Comentário de Lange, notas de Schaff nas pp. 56 e 61. Bruce, Apologetics, 404 – "A ressurreição foi a verdadeira introdução de Cristo na plena posse da Filiação divina que lhe pertencia, não só por causa do interior de uma essência espiritual santa, mas também do exterior de uma existência em poder e glória celeste". Allen, Jonathan Edwards, 353,354 "Calvino aponta para uma geração eterna como uma 'ficção absurda". Mas
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sustentar a divindade de Cristo simplesmente baseado na suposição de que ela é essencial para que ele faça uma expiação adequada do pecado é envolver a rejeição da sua divindade se é que a doutrina da expiação se torna detestável. ... Tal era o processo do qual, no pensamento do século passado, a doutrina da Trindade estava solapada. Não basear as distinções da essência divina por alguma necessidade imanente eterna é facilitar a negação do que tem sido chamado de Trindade ontológica e, a seguir, não foi difícil ou afastada a rejeição da Trindade econômica". Se a leitura de Westcott and Hort ό μονογενής Θεός, "ο Deus unigênito", em Jo. 1.18, estiver correta, temos uma nova prova da Filiação eterna de Cristo. Meyer explica εαυτού em Rm. 8.3 - "Deus, enviando o seu Filho", como uma alusão à Filiação metafísica. Que esta Filiação é única está claro em Jo. 1.14,18 - "o unigênito do Pai ... o Filho unigênito que está no seio do Pai"; Rm. 8.32 - "seu próprio Filho"; Gl. 4.4 - "enviou seu Filho"; cf. Pv. 8.22-31 -"quando compunha os fundamentos da terra; então eu estava com ele e era seu aluno"; 30.4 - "Quem estabeleceu os fins da terra? Qual é o seu nome e qual é o nome do seu filho, se é que o sabes"? O processo eterno do Espírito parece estar implicado em Jo. 15.26 - "o Espírito de verdade que procede do Pai" - ver Westcott, Bib. Com., in loco; Hb. 9.14 "o Espírito eterno". Westcott diz aqui que παρά (não έξ) mostra que se refere à missão temporal do Espírito Santo não ao processo eterno. Ao mesmo tempo ele sustenta a correspondência temporal com a eterna.
Os termos da Escritura 'geração' e 'procedimento', aplicados ao Filho e ao Espírito Santo são apenas expressões aproximadas da verdade e, através de outras declarações bíblicas, devemos corrigir quaisquer impressões imperfeitas que podemos derivar somente delas. Empregamos estes termos em um sentido especial, que explicitamente estabelecemos e definimos excluindo toda a noção de desigualdade entre as pessoas da Trindade. A geração eterna do Filho que nós sustentamos. a) Não é criação, mas comunicação do próprio Pai ao seu Filho. Porque os nomes Pai, Filho e Espírito Santo não são aplicáveis à essência divina, mas só se aplicam a suas distinções hipostáticas, elas
Teologia Sistemática (Strong) 680 não implicam nenhuma derivação da essência do Filho a partir da essência do Pai. O erro dos Pais nicenos é o de explicar a Filiação como derivação da essência. O Pai não pode transmitir a sua essência ao Filho e ainda retê-la. O Pai não é fons deitatis (fonte da deidade), mas fons trinitatis (fonte da trindade).
b) Não é começo de existência, mas uma eterna relação com o Pai; nunca há um tempo quando o Filho começou a ser, ou quando o Filho não existiu como Deus com o Pai. Se tivesse havido um sol eterno, é evidente que haveria também raio solar eterno. Ainda o raio eterno teria procedido do sol. Quando perguntaram a Cirilo se o Filho existia antes da geração, ele respondeu: "A geração do Filho não precede à sua existência, mas ele sempre existiu, e isto por geração".
c) Não é um ato da vontade do Pai, mas uma necessidade interna da natureza divina, - de modo que o Filho não depende mais do Pai do que o Pai depende do Filho e de modo que, se for consistente com a divindade do Pai, é igualmente consistente com a divindade do Filho. O sol depende da luz solar do mesmo modo que a luz solar depende do sol; porque sem luz solar o sol não é o verdadeiro sol. Do mesmo modo o Pai depende do Filho assim como o Filho depende do Pai; porque sem o Filho o Pai não seria o verdadeiro Pai. Dizer que asseidade pertence apenas ao Pai é logicamente arianismo e o próprio subordinacionismo, porque implica uma subordinação da essência do Filho para com o Pai. A subordinação essencial seria inconsistente com a igualdade. Ver Thomasius, Christi Person und Werk, 1.115. Palmer, Theol. Definitions, 66, 67, diz que Pai = vida independente; Filho unigênito = vida independente voluntariamente sujeita a limitações; Espírito = conseqüência necessária da existência dos outros dois. ... As palavras e ações pelas quais designamos
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afeto aos outros são "geradas". A atmosfera da influência inconsciente não é "gerada", mas "procedente".
d) Não é uma relação de qualquer modo análogo à derivação física, mas um movimento vivo da natureza divina em virtude da qual Pai, Filho e Espírito Santo, conquanto iguais em essência e dignidade, relacionam-se um com o outro em ordem de pessoalidade, ofício e operação e em virtude do que o Pai opera através do Filho e o Pai e o Filho através do Espírito. A subordinação da pessoa do Filho à do Pai, ou, em outras palavras, uma ordem de pessoalidade, ofício e operação que permite ao Pai ser oficialmente o primeiro, o Filho o segundo e o Espírito o terceiro é perfeitamente consistente com a igualdade. Prioridade não é necessariamente superioridade. A possibilidade de uma ordem, que ainda não envolve nenhuma desigualdade, pode ser ilustrada na relação entre marido e mulher. No ofício, o marido está em primeiro lugar e a mulher em segundo, mas a alma da mulher é tão digna como a do homem; ver 1 Co. 11.3- "Cristo é a cabeça de todo o varão, e o varão, a cabeça da mulher; e Deus, a cabeça de Cristo". Sobre Jo. 14.28 - "o Pai é maior do que eu" - ver Westcott, Bib. Com., in loco. Edwards, Observations on the Trinity (editado por Smith), 22 - "No Filho toda a divindade e glória do Pai é como se fosse repetida e duplicada. Tudo no Pai é repetido ou novamente expresso, e plenamente, de sorte que não há nenhuma inferioridade". Edwards, Essay on the Trinity (editado por Fisher), 110-116 - Ό Pai é a divindade subsistente na sua maneira excelente, não originada e em grau absolutíssimo, isto é, a divindade na sua existência direta. O Filho é a divindade gerada pelo entendimento de Deus, ou tendo uma Idéia de si mesmo e subsistindo nessa Idéia. O Espírito Santo é a divindade subsistindo nos atos, ou é a essência divina fluente e bafejada no amor infinito de Deus e a satisfação em si mesmo. Eu creio que toda a essência divina subsiste tanto na Idéia divina como no Amor divino e cada um deles é uma pessoa distinta. ... Não encontramos nenhum outro atributo de que na Escritura se diga que eles são Deus, ou que Deus é eles, a não ser λόγος e αγάπη, a Razão e o Amor de Deus; Luz não é diferente da
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Razão.... O Entendimento pode ser predicado deste Amor. ... O Pai tem Sabedoria ou Razão pelo fato de o Filho estar nele.... O Entendimento está no Espírito Santo porque o Filho está nele". Contudo, o Dr. Edwards A. Park declara que a geração eterna é uma "tolice eterna", e pensa-se que ocultou o não publicado Ensaio sobre a Trindade de Edwards por muitos anos porque ensinava a referida doutrina. O Novo Testamento não chama Cristo de ό Θεός, mas de Θεός. Com toda a franqueza reconhecemos uma subordinação eterna de Cristo ao Pai, mas sustentamos ao mesmo tempo que esta subordinação é de ordem, de ofício, e de operação, não o é de essência. "Non de essentia dicitur, sed de ministeris" (Não se diz de essência, mas de ministério). E.G. Robinson: "Geração eterna não é necessariamente subordinação e dependência eternas. Parece que até mesmo os mais ortodoxos escritores anglicanos, tais como Pearson e Hooker admitem isto plenamente. A subordinação de Cristo ao Pai não é essencial, mas simplesmente oficial. Whiton. Gloria Path, 42,96 - "Para os primeiros trinitários a Filiação é, em primeiro lugar, que é da própria natureza de Deus tornar-se expressão visível. Por isso, a seguir, esta expressão exterior de Deus não é outra coisa além de Deus, mas é o próprio Deus, em sua própria expressão tão divino como a divindade oculta. Deste modo responderam ao grito de Filipe: 'mostra-nos o Pai. o que nos basta' (Jo. 14.8) e deste modo confirmaram a declaração de Jesus, garantiram a fé paulina de que Deus nunca se deixou sem testemunha. Com isso eles significavam: 'quem me vê a mim vê o Pai' (Jo. 14.9). ... O Pai é a vida transcendente, a Fonte divina, 'sobre todos'; o Filho é a Vida imanente, a Corrente divina, 'por meio * de todos'; o Espírito Santo é a vida individualizada, 'em todos' (Ef. 4.6). O Espírito Santo tem sido chamado o executivo de Deus' ". Whiton aqui está falando da Trindade econômica; porém tudo isto é muito mais verdadeiro no que se refere à Trindade imanente.
Os mesmos princípios sobre os quais interpretamos a declaração da eterna filiação de Cristo se aplicam ao procedimento do Espírito Santo a partir do Pai através do Filho e mostram que isto não é inconsistente com a igual dignidade e glória do Espírito.
Teologia Sistemática (Strong) 683 Portanto, só formulamos a verdade que se expressa concretamente na Escritura e que é reconhecida em todas as épocas da igreja nos hinos e orações dirigidos ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, quando declaramos que na natureza do Deus uno há três distinções eternas que são melhor descritas como pessoas e cada uma das quais no objeto próprio e igual da adoração cristã. Também temos a garantia declarando que, em virtude destas distinções pessoais ou modos de subsistência, Deus existe nas relações, respectivamente, primeiro de Fonte, Origem, Autoridade e nesta relação está o Pai; segundo, de Expressão, Meio, Revelação e nesta relação está o Filho; terceiro, de Apreensão, Execução, Realização e nesta relação está o Espírito Santo. John Owen, Works, 3.64,92 - "O ofício do Espírito Santo é o de concluir, completar, aperfeiçoar. Ao Pai atribuímos as opera naturae; ao Filho, as opera gratiae procuratae; ao Espírito, opera gratiae applicatae". Todas as revelações de Deus se operam através do Filho ou de Espírito e este inclui aquele. Kuyper, Work of the Holy Spirit, designa os três ofícios respectivamente como de Causa, de Construção, de Consumação; o Pai produz, o Filho dispõe, o Espírito aperfeiçoa. Allen, Jonathan Edwards, 365373 – Deus é Vida, Luz, Amor. Como os Pais consideram a Razão tanto em Deus como no homem como pessoal, a onipresente segunda Pessoa da Trindade, do mesmo modo Jonathan Edwards considera o Amor, tanto em Deus como no homem, como pessoal, a onipresente terceira Pessoa da Trindade. Por isso nunca se diz que o Pai ama o Espírito, como se diz que ama o Filho - porque este amor é o Espírito. Menciona-se que o Pai e o Filho amam os homens, mas nunca se diz que o Espírito os ama porque o amor é o Espírito Santo. Mas por que Edwards não podia também sustentar que o Logos ou Razão divina habitava na humanidade de sorte que o homem seria constituído em Cristo e compartilharia com ele na imagem consubstanciai ao Pai? A natureza exterior reflete a luz de Deus e ela contém Cristo; por que não a humanidade universal"? Moberly, Atonoment and Personality, 136,202, fala de "1. Deus. o Eterno, o Infinito, como ele mesmo; 2. Deus expressa a si mesmo na
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natureza e nas faculdades do homem - corpo, alma, e espírito - a consumação e a interpretação e a revelação do que a verdadeira humanidade significa e é, na sua própria verdade, na sua relação com Deus; 3. Deus como Espírito da Beleza e Santidade, presentes nas coisas criadas, animadas e inanimadas e constituindo em si a resposta divina para com Deus; constituindo acima de tudo na pessoalidade criada a plena realidade da sua resposta pessoal. Ou ainda: 1. O que o homem em si mesmo é invisivelmente em si mesmo; 2. sua projeção material exterior ou expressão como corpo; e 3. a resposta de que aquilo que ele é através da sua expressão e operação corporal o faz verdadeiro eco ou expressão de si mesmo". Moberly procura deste modo achar na natureza humana uma analogia com os processos interiores do divino.
VI. INESCRUTÁVEL, EMBORA NÃO AUTOCONTRADITÓRIA, ESTA DOUTRINA FORNECE A CHAVE PARA TODAS AS OUTRAS DOUTRINAS.
1. O modo desta existência triúna é inescrutável É inescrutável porque não há nenhuma analogia com ela em nossa experiência finita. Por esta razão, todas as tentativas para representá-la adequadamente são vãs: a) A partir das coisas inanimadas - como a fonte, a correnteza e o riacho que corre dela (Atanásio); a nuvem, a chuva e o nevoeiro que caem (Boardman); cor, forma e tamanho (F. H. Robertson); princípios actínicos, luminosos e calóricos no raio de luz (Solar Hieroglyphics, 34). Lutero: "Quando a lógica faz objeção a esta doutrina que não se enquadra nas suas regras, devemos dizer: ‘Mulier taceat in ecclesia’ ” (A mulher esteja calada na igreja). Lutero chamava a Trindade uma flor, na qual se pode distinguir a forma, a fragrância, e a sua eficácia medicinal. Geer encontra uma ilustração da Trindade no espaço infinito com as suas três dimensões. Para a analogia da nuvem, chuva, névoa, ver Boardman, A mais Elevada Vida Cristã, Solar Hieroglyphics, 34 (Rev. da Nova Inglaterra, out. 18.74.789) - "A Divindade é uma unidade tripessoal e a luz é uma trindade.
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Sendo imaterial e homogênea e, deste modo, essencialmente una na natureza, a luz inclui uma pluralidade de constituintes ou, em outras palavras, é essencialmente três na constituição, seus princípios constituintes são: o actínico, o luminífero, e o calorífico; na gloriosa manifestação a luz é uma, criada, constituída, e o emblema ordenado do Deus tripessoal" - de quem se diz que "Deus é luz e nele não há treva nenhuma" (1 Jo. 1.5). Os raios actínicos são por si mesmos invisíveis; só se vêem como manifestos luminíferos; só se sentem como caloríficos. Joseph Cook: "A luz solar, o arco-íris, o calor - uma radiação solar; Pai, Filho, Espírito Santo, um só Deus. Como o arco-íris, quando desdobrado, mostra o que é a luz. assim Cristo revela a natureza de Deus. Como o arcoíris é a luz revelada, do mesmo modo Cristo o é em Deus, e o Espírito, representado pelo fogo é a vida contínua de Cristo*. Ilustrações mais rudes são as de Oon Paul Krüger: o azeite, o pavio, a chama, na lamparina; e Agostinho: a raiz, o tronco e os ramos, todos de uma mesma madeira, na árvore. Na ilustração de Geer, acima, das três dimensões do espaço, não podemos demonstrar que não haja um quarto, além da distância· da amplidão, da espessura, não podemos conceber a sua existência. Como estas très esgotam, até onde sabemos, todos os modos possíveis do ser material, do mesmo modo não podemos conceber uma quarta pessoa em Deus.
b) A partir da constituição ou processo das nossas mentes - como a unidade psicológica intelecto, sentimento e vontade (substancialmente sustentada por Agostinho); a unidade lógica tese, antítese e síntese (Hegel); a unidade metafísica sujeito, objeto, sujeito-objeto (Melanchton, Olshausen, Shedd). Agostinho: "Mens meminrt sui, intellkjrt se, diligit se; si hoc cemimus, Trinitatem cemimus". ... [A mente lembra de si, compreende-se a si mesma, honra-se a si mesma; se percebemos isto. percebemos a Trindade]. Existo, tenho consciência, tenho vontade; existo como consciente e quero; estou consciente de existir e de querer; quero existir e ser consciente; e estas três funções, embora distintas, são inseparáveis e formam uma vida, uma mente, uma essência. Calvino chama o ponto de vista de Agostinho de
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"especulação longe de ser sólida". Mas o próprio Agostinho disse: "Se pedirem que definamos a Trindade, apenas podemos dizer que não é isto ou aquilo" (podemos dizer o que não é). João Damasceno: "tudo o que sabemos da natureza divina é que ela não deve ser conhecida". Com isso, contudo, tanto Agostinho como João Damasceno significam que o modo preciso da existência triúna de Deus não se acha revelado e é inescrutável. Hegel, Philos. Relig., trad., 3.99,100 - "Deus é, mas ao mesmo tempo é o Outro, o próprio diferenciador, no sentido de que este é o próprio Deus e tem potencialmente em si a natureza divina e que a abolição dessa diferença, desta característica de ser o outro, esta volta, este amor, é o Espírito". Hegel chama Deus de "Idéia absoluta, unidade de Vida e Cognição, a Universal que pensa por si mesma e se reconhece numa Realidade infinita, a partir da qual, com sua característica imediata não menos se distingue de si outra vez". A doutrina geral de Hegel é que a mais elevada unidade deve ser achada apenas através do mais completo desenvolvimento e reconciliação do mais profundo e amplo antagonismo. O ser puro é o nada puro; devemos morrer para viver. A Luz é a tese, a Escuridão é a antítese, a Sombra é a síntese, ou união de ambas. A Fé é a tese, a Descrença é a antítese, a Dúvida é a síntese, ou união de ambas. Zweifel (dúvida) vem de Zwei (dois) como a palavra dúvida vem de δύο (dois). Hegel chamava Napoleão de "ein Weltgeist zu Pferde" (um espírito do mundo a cavalo). Ladd, Introd. to Philosophy, 202, fala do monótono tit-tattoo da lógica hegeliana". Ruskin fala dela como "pura, definida, sem sentido". No princípio hegeliano o bem e o mal não podem ser contraditórios entre si; sem o mal não poderia haver o bem. Stirling com propriedade intitulou a sua exposição da filosofia hegeliana de Ό Segredo de Hegel", e os seus leitores freqüentemente assinalaram que, se Stirling descobrisse o segredo, ele nunca o tornaria conhecido. O Lorde Coleridge disse a Robert Browning que ele não podia entender toda a sua poesia. "Bem", respondeu o poeta, "se um leitor do seu calibre entender dez por cento do que eu escrevo, devo dar-me por contente". Quando disseram a Wordsworth que o Sr. Browning tinha se casado com a senhorita Barrett, ele disse: "É uma boa coisa que os dois se entendam, porque, senão, ninguém os entenderá". Um aluno trouxe a Hegel uma passagem dos escritos deste e pediu-lhe a interpretação. O filósofo a
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examinou e respondeu: "Quando essa passagem foi escrita, havia duas pessoas que conheciam o seu sentido: Deus e eu mesmo. Agora há apenas um: Deus". Heinrich Heine, falando do efeito do hegelianismo sobre a vida religiosa de Berlin, diz: "Eu poderia acomodar-me ao próprio cristianismo acomodado, filtrado de toda superstição que poderia ter havido nas igrejas e que estava livre da divindade de Cristo, como a sopa de tartaruga sem a tartaruga". Quando os sistemas alemães de filosofia morrerem, os seus fantasmas se levantarão em Oxford. Mas se eu vejo um fantasma sentado numa cadeira, atrevidamente, ele se ofenderá e irá embora. A mais satisfatória exposição da analogia de sujeito, objeto, sujeitoobjeto encontra-se em Shedd, History of Doctrine, 1.365, nota 2. Moberly, Atonement and Personality, 174, tem semelhante analogia: 1. O eu invisível do homem; 2. a expressão visível dele mesmo num quadro ou poema; 3. a resposta deste quadro ou poema para ele mesmo. Sustenta-se que a analogia da família é melhor porque nenhuma pessoalidade do homem é completa em si mesma; marido, mulher e filhos são necessários para tornar perfeita a unidade. Allen, Jonathan Edwards, 372, diz que, na igreja primitiva a Trindade era a doutrina da razão; na Idade Média era um mistério; no século dezoito era o dogma sem sentido ou irracional; ainda no século dezenove tornou-se a doutrina da razão, verdade essencial à natureza de Deus. Para a caracterização de Allen sobre os estágios na história da doutrina acrescentaríamos que, atualmente, não podemos dizer que é possível uma completa exposição da Trindade. A Trindade é um fato único, cujos aspectos diferentes podem ser ilustrados, enquanto, como um todo, não tem analogia. O máximo que podemos dizer é que a natureza humana, nos seus processos e poderes, aponta para algo mais elevado que ela mesma e que, em Deus, a Trindade é necessária a fim de constituir a perfeição do ser que o homem procura como objeto do amor, adoração e serviço.
Nenhuma destas fornece qualquer apropriada analogia da Trindade porque em nenhuma delas se acha o elemento essencial da tripessoalidade. Tais ilustrações podem às vezes ser usadas para desarmar a objeção, mas não fornecem nenhuma explicação para o
Teologia Sistemática (Strong) 688 mistério da Trindade e, a não ser cuidadosamente resguardadas, podem levar a cruel erro. 2. A Doutrina da Trindade não é autocontraditória Deveria sê-lo só se declarasse que Deus é três no mesmo sentido numérico em que se diz ser um. Não declaramos isto. Declaramos simplesmente que o mesmo Deus que é um a respeito de sua essência é três em relação às suas distinções internas de tal essência, ou a respeito dos modos de seu ser. Não se pode negar tal possibilidade a não ser admitindo que a mente humana é em todos os respeitos a medida da divina. O fato de que a escala ascendente da vida é marcada pela crescente diferenciação de faculdade e função deve levar-nos principalmente a esperar no mais elevado de todos os seres uma natureza mais complexa do que a nossa. No homem muitas faculdades se unem em um ser inteligente e, quanto mais inteligente for o homem mais distintas se tornarão tais faculdades umas das outras; até que o intelecto e o sentimento, consciência e vontade admitam uma independência relativa e apareça até mesmo a possibilidade de conflito entre elas. Nada há de irracional ou autocontraditório na doutrina de que em Deus as principais funções são ainda mais notadamente diferenciadas, de modo a torná-las pessoais, enquanto ao mesmo tempo tais pessoalidades se unem pela fé em que cada uma delas e de igual modo manifestam a indivisível essência. A unidade é tão essencial à Divindade como a triplicidade. O mesmo Deus, em certo sentido é três, noutro é um. Não dizemos que um Deus é três Deuses, nem que uma pessoa é três pessoas, nem que três Deuses são um Deus, mas que há um Deus com três distinções no seu ser. Não nos referimos às faculdades do homem que fornecem qualquer analogia apropriada às pessoas da Divindade; ao invés disso negamos que a natureza humana forneça tal analogia. Intelecto, sentimento e vontade no
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homem não são pessoalidades distintas. Se fossem pessoalizados poderiam fornecer tal analogia. F. W. Robertson, Sermons, 3.58, fala a respeito de Pai, Filho e Espírito Santo melhor concebidos sob a figura de intelecto, sentimento e vontade pessoalizados. Com isto concordam as palavras de Sócrates, que chamava o pensamento de conversa consigo mesmo. Sl. 86.11 - "une o meu coração ao teu nome" - indica uma complexidade de forças no homem e uma possível desorganização devida ao pecado. Só o temor e o amor de Deus podem reduzir nossas faculdades à ordem e dar-nos paz, pureza e força. Quando William depois de muito tempo de corte propôs um casamento, Maria lhe disse que ela "unanimemente consentia". "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de toda a tua força, e de todo o teu entendimento" (Lc. 10.27). O homem não pode ter uma vida dual, uma vida dupla, como a de Dr. Jekyll e Sr. Hyde. A vida boa é a unificada. H. H. Bowden: "Teoricamente o desenvolvimento simétrico é o critério completo. Este é o velho conceito grego de vida perfeita. O termo que traduzimos por 'temperança' ou 'autocontrôlé' é expresso de melhor forma por 'mente integral' ". Illingworth, Personality Divine and Human, 54-80 - "Nosso senso de pessoalidade culmina com a Doutrina da Trindade. A pessoalidade do homem é essencialmente triúna, porque consiste num sujeito, um objeto, e a relação deles. O que é a potencial triunidade no homem é completa em Deus. ... Nossa própria pessoalidade é triúna, mas é uma triunidade potencial irrealizável, incompleta em si mesma e deve ir além de si mesma por inteireza, como por exemplo na família. ... Mas a pessoalidade de Deus nada tem de potencial ou irrealizável a seu respeito. ... Trindade é o modo mais inteligível de conceber Deus como pessoal". John Caird, Fundamental Ideas of Christianity, 1.59,60 - "As partes de uma pedra são precisamente iguais; as partes de um hábil mecanismo são diferentes umas das outras. Em qual dos dois casos a unidade é mais real em qual delas há ausência de distinção, ou em qual delas há diferença essencial de forma e função, e cada parte separada tem uma individualidade e atividade própria? As mais elevadas unidades não são simples; são complexas". Gordon, Christ of Today, 106 - "Todas coisas e todas pessoas são modos de uma consciência infinita. Por isso não é incrível que possa
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haver três consciências em Deus. Além das múltiplas pessoalidades finitas há três pessoalidades infinitas. Na Divindade o socialismo pode ser a base da sociedade humana. Os fenômenos da dupla ou mesmo da tripla consciência no mesmo indivíduo confirmam este ponto de vista. Este fato de mais de uma consciência numa criatura finita aponta para a possibilidade de uma tríplice consciência na natureza de Deus. Romanes, Mind and Motion, 102, sugere que o organismo social, se alcança o nível mais elevado da perfeição psíquica, pode ser dotado de pessoalidade e tem algo semelhante a ela fenômenos do pensamento e conduta que nos compelem a conceber famílias e comunidades e nações como tendo um tipo de personalidade moral que implica responsabilidade e prestação de contas. "O Zeitgeist", diz ele, "é o produto de um tipo de psicologia coletiva, que é algo além da soma de todas as mentes individuais de uma geração". Nós não defendemos que qualquer uma dessas consciências fragmentares ou coletivas alcança a pessoalidade no homem, ao menos na vida presente. Defendemos que elas indicam que é possível uma vida maior e mais complexa do que aquela de que temos experiência comum, e que não há nenhuma contradição necessária na doutrina de que na natureza do Deus perfeito há três distinções pessoais. R. H. Hutton: "Pode-se esperar que uma auto-revelação voluntária revele até mesmo as mais profundas complexidades das relações espirituais na sua natureza e essência eternas do que supomos que existam na nossa humanidade - a simplicidade de uma complexidade harmônica, não a simplicidade da unidade absoluta".
3. A doutrina da Trindade tem importantes relações com outras doutrinas A) É essencial a qualquer apropriado teísmo. Nem a independência de Deus nem a bênção de Deus podem ser mantidas em bases de unidade absoluta. O antitrinitarismo torna quase necessariamente a criação indispensável à perfeição de Deus, tende a uma crença na eternidade da matéria e, por fim, conduz, como o
Teologia Sistemática (Strong) 691 maometanismo e moderno judaísmo e unitarismo ao Panteísmo. "A um ser solitário é impossível o exercício do amor". Sem a Trindade não podemos sustentar uma unidade viva em Deus. Brit. And For. Evang. Review., Jan. 1882.35-63 - "O problema é encontrar um objetivo perfeito, harmônico e adequado, à inteligência perfeita, e a resposta é: 'uma perfeita inteligência'". O autor deste artigo cita James Martineau, o filósofo unitário, como segue: "Há apenas um recurso para completar a necessária objetividade de Deus, a saber, admitir de alguma forma a coexistência da matéria como condição ou meio da atuação ou manifestação divina. Falhando a prova [da origem absoluta da matéria] restam-nos a causa divina, e a condição material de toda a natureza, na presença eterna e sua relação, como o objeto supremo e o objeto rudimentar". Ver também Martineau, Study, 1.405 - "Ao negar que seja possível uma pluralidade de existências próprias, refiro-me apenas às causas da mencionada existência própria. Existência própria que não de modo nenhum deve ser excluída, até onde podemos ver, por uma existência própria que é uma causa; ora, ela é requerida até mes mo para o exercício da sua causalidade". Vemos aqui que o unitarismo de Martineau logicamente conduz ao dualismo. Mas a bem-aventurança de Deus, baseada neste princípio, requer não simplesmente um universo eterno, porque nada fornece objeto menos adequado a uma mente infinita. Um Deus que se limita necessariamente ao universo, que não é ele mesmo, existe eternamente, não é infinito, independente ou livre. A única saída para esta dificuldade é negar a autoconsciência e autodeterminação de Deus ou, em outras palavras, a mudança do nosso teísmo para o dualismo, e o nosso dualismo para o panteísmo. E. H. Johnson, Bíblia Sacra, jul., 1892.379, cita da Oxenham's Catholic Doctrine of the Atonement, 108,109 - "Há quarenta anos James Martineau escreveu a Macdonald: 'Nem a minha preferência intelectual nem a minha admiração moral caminha com os heróis, seitas e produções unitários, de qualquer época. Ebionitas, Arianos, Socinianos parecem-me todos desfavoravelmente em contraste com os seus opositores em apresentar, no seu todo, um tipo de pensamento menos digno do gênio do cristianismo'. Em seu jornal intitulado Um Meio da Controvérsia Unitária, Martineau diz que o unitário adora o Pai; o trinitário, o Filho: 'Mas o Filho em um credo é o Pai
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em outro. ... Os dois credos concordam naquilo que constitui a seiva e o cerne de ambos. O Pai é Deus em sua essência original. Mas Deus manifesta-se no Filho' ". O Dr. Johnson acrescenta: "Deste modo Martineau, após uma vida inteira de serviço prestado ao púlpito e ao magistério unitário, publicamente aceita como verdade a substância daquilo que, em comum com a igreja, ele achou proveitoso e diz aos unitários que eles e nós adoramos o Filho porque tudo o que sabemos acha-se revelado na atuação do Filho". Após ter chegado aos oitenta, Martineau saiu do grupo unitário embora nunca se tivesse ligado a qualquer igreja trinitária. H. C. Minton, em Princeton Rev., 1903.655-659, citou alguns dos mais significativos pronunciamentos, tais como: "A grande força da doutrina ortodoxa está, sem dúvida, no apelo que ela faz ao 'senso de pecado' interior - o triste peso cujo fardo oprime toda a alma séria. A grande fraqueza do unitarismo tem sido a sua insensibilidade quanto à tristeza permanente da consciência humana. Mas o remédio ortodoxo, sem dúvida, é o mais terrível de todos os equívocos, a saber, livrar-se do fardo, lançando-o sobre Cristo, ou permitindo-lhe que o leve.... Da minha parte, eu mesmo busquei a literatura para o meu sustento e inspiração da Fé, Esperança e Amor que é quase o produto das versões ortodoxas da religião cristã. Os hinos dos Wesley, as orações dos Amigos, as Meditações da Lei e Tauler têm uma força despertadora e elevadora que dificilmente eu sinto nos bons livros das nossas estantes unitárias. ... Contudo, eu posso me apropriar menos, ou até recusar intelectualmente qualquer artigo caracteristicamente trinitário sobre o esquema da salvação". Whiton, Gloria Patri, 23-26, procura harmonizar as duas formas da crença afirmando que "tanto os trinitários quanto os unitários consideram a natureza humana essencialmente una com a divina. Os Pais nicenos edificaram melhor que sabiam quando declararam Cristo homoousios com o Pai. Afirmamos a mesma coisa a respeito da humanidade". Mas aqui Whiton vai além do que a Escritura garante. De ninguém a não ser o Filho unigênito se pode dizer que é antes que Abraão nascesse e que nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade (Jo. 8.57; Cl. 2.9). O unitarismo tem demonstrado repetidamente sua insuficiência lógica através deste "facilis descensus Averno", este lapso entre o teísmo e o
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panteísmo. Na Nova Inglaterra o alto arianismo de Channing degenerou-se no panteísmo meio alado de Theodore Parker e no totalmente alado de Ralph Wando Emerson. O moderno judaísmo é panteísta quanto à sua filosofia e também o era a filosofia arábica do maometismo. Sente-se que a simples pessoalidade é insuficiente para a concepção de perfeição absoluta da mente. Nós evitamos pensar num Deus eternamente só. "Refugiamo-nos no termo 'divindade'. Os literatos encontram consolo falando em 'deuses'". Tweten (traduzido em Bíblia Sacra, 3.502) - "Pode haver no politeísmo um elemento de verdade, apesar de desfigurado e mal entendido. João Damasceno orgulhava-se de que a Trindade cristã estava a meio caminho entre o monoteísmo abstrato dos judeus e o politeísmo idolatra dos Gregos". Tweten, citado por Shedd, Dogm. Theology, 1.255 - "Existe um πλήρωμα em Deus. A Trindade não contradiz a unidade, mas só a solidão que é inconsistente com a plenitude e bem-aventurança vivas atribuídas a Deus na Escritura e que Deus possui em si mesmo independentemente do finito". O próprio Shedd assinala: "A tentativa do deísta e do sociniano de construir a doutrina da unidade divina é um erro, porque deixa de construir a doutrina da pessoalidade divina. Por implicação ela questiona que Deus tenha conhecimento de si próprio como simplesmente um sujeito, sem objeto; sem as distinções que, contemplando, o sujeito envolve o objeto contemplado e a percepção da identidade de ambos". Mason, Faith of the Gospel, 75 - "Deus não é uma unidade estéril e imóvel". Bispo Phillips Brooks: Ό unitarismo tem a noção de Deus como isolado e individual como é possível torná-la e está morrendo em sua fraca deidade". O unitarismo não é a doutrina de um Deus - porque o trinitarismo também sustenta isto; ao invés disto é a unipessoalidade de um Deus. A natureza divina demanda ou um Cristo eterno ou uma criação eterna. O Dr. Calthorp, unitário, de Siracusa, por isso, consistentemente declara que "Natureza e Deus são a mesma coisa". É a velha adoração de Baal e Astarote - a deificação da força e do prazer. Porque "Natureza" inclui tudo todos impulsos tanto maus como bons. Quando o homem descobre a gravidade, ele não descobre Deus, mas apenas uma das manifestações dele.
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Gordon, Christ of Today, 112 - "A suprema divindade de Cristo é apenas a expressão soberana da história humana da grande diferença de identidade que percorre o universo inteiro e que tem a sua sede no coração de Deus". Até mesmo James Freeman Clarke, em sua Ortodoxia, em Thruths and Errors, 436, admite que "existe uma verdade essencial oculta na idéia da Trindade. Enquanto a doutrina da igreja, em cada forma que assumiu, deixou de satisfazer o intelecto humano, o coração dos homens apegou-se à substância contida em todos eles". William Adams Brown: "Se, por natureza, Deus é amor, ele deve também por natureza ser social. Paternidade e Filiação nele devem ser imanentes. Nele removem-se as limitações da pessoalidade finita". Mas o Dr. Brown erroneamente acrescenta: "Estão abertos nesta doutrina não os mistérios do ser de Deus, como ele é em si, mas como ele se revela". Do mesmo modo P. S. Moxom: "Não sei como é possível atribuir qualquer qualidade moral a uma pessoa que é absolutamente alheia a relações com outras pessoas. Se se concebesse Deus como um solitário no universo, ele não poderia ser caracterizado como justo". Mas o Dr. Moxom erroneamente pensa que essas pessoalidades morais devem ser exteriores a Deus. Sustentamos que a justiça, como o amor, requer só pluralidade de pessoas dentro da Divindade. W. L. Walker, Christian Theism, 317, cita o Dr. Paul Carus, Primer of Philosophy, 101 - "Não podemos conceber Deus sem atribuir-lhe trindade. Uma unidade absoluta seria uma inexistência. Pensar em Deus como real e ativo envolve uma antítese que pode ser formulada como Deus e o Mundo, ou natura naturans e natura naturata, ou de alguma outra forma. Esta antítese já implica a concepção de trindade. Quando pensamos em Deus, não só como aquele que é eterno e imutável na existência, mas também como aquilo que muda, desenvolve-se, e evolui não podemos escapar ao resultado e devemos nos encaminhar para a idéia de um Deus triúno. A concepção de um Deus-homem, de um Salvador, e de um Deus revelado na evolução apresenta a antítese do Deus Pai e do Deus Filho e a própria concepção deste relacionamento implica Deus Espírito Santo, que procede de ambos". A confissão de uma Trindade econômica é racional apenas no que implica uma trindade imanente e eterna.
Teologia Sistemática (Strong) B) É essencial a qualquer apropriada revelação.
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Se não houver Trindade, Cristo não é Deus e não pode conhecer ou revelar perfeitamente Deus. O cristianismo não mais é a revelação una, total e final, porém só um dos muitos sistemas conflitantes e competitivos, dos quais cada um tem sua parcela de verdade, mas também sua parcela de erro. Assim também com o Espírito Santo. "Como Deus só pode ser revelado através de Deus assim também podese apropriar dele só através de Deus. Se o Espírito Santo não for Deus, então o amor e a autocomunicação de Deus à alma humana não são uma realidade". Em outras palavras, sem a doutrina da Trindade retornaremos à mera religião natural e ao deísmo do Deus distante, - e, por fim, mudase em panteísmo da forma já mencionada. Martensen, Dogmatics, 104: Thomasius, Christi Person und Werk, 156. Se Cristo não é Deus, ele não pode conhecer perfeitamente a si mesmo, e o testemunho de si mesmo não tem nenhuma autoridade independente. Na oração o crente tem evidência prática da Trindade e pode perceber o valor da doutrina; porque ele vem a Deus Pai, em nome de Cristo, e ensina como orar corretamente através do Espírito Santo. Ver Rm. 8.27 - "Ele examina os corações [i.e., Deus] sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos". Ver também, Godet sobre Jo. 1.18 - "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer"; note aqui a relação entre o ων e έξεγήσατο. Napoleão I: Ό cristianismo diz com simplicidade: 'Ninguém viu Deus a não ser Deus'". Jo. 16.15 - "Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar"; aqui Cristo reivindica para si tudo que pertence a Deus e declara que o Espírito Santo o revelará. Só o Espírito divino pode fazer isso do mesmo modo que só o Cristo divino pode impedir a mão não presunçosa de tomar tudo o que pertence ao Pai. O agnóstico estará perfeitamente correto em suas conclusões, se não houver Cristo, se não houver meio de comunicação, se não houver princípio de revelação na Divindade. Só o Filho revelou o Pai. Até mesmo Royce, em seu Spirit of Modem Philosophy, fala da existência da influência de um eu
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infinito, ou Logos, ou Mente do Mundo, de que todas as mentes individuais são partes ou pedacinhos e de cuja escolha sem fim participamos. Alguns desses princípios na natureza divina devem ser assumidos se o cristianismo é a revelação completa e suficiente da vontade de Deus ao homem. O ponto de vista unitário considera a religião de Cristo como apenas "uma das atuais obras da humanidade "- um momento evanescente no avanço incessante da raça. Por outro lado, o cristão considera Cristo como o único revelador de Deus, o único Deus com quem temos que ver, a autoridade final em religião, a fonte de toda a verdade e o juiz da humanidade. Ό céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar" (Mt. 24.35). A ressurreição dos justos e dos injustos será a sua obra (Jo. 5.28), e a retribuição futura será "a ira do Cordeiro" (Ap. 6.16). Visto que Deus nunca pensa, diz ou faz qualquer coisa, a não ser através de Cristo e, visto que Cristo faz a sua obra no coração humano só através da obra do Espírito Santo, podemos concluir que a doutrina da Trindade é essencial a qualquer revelação apropriada.
C) É essencial a qualquer redenção apropriada. Se Deus for absoluta e simplesmente um, não pode haver nenhuma mediação ou expiação porque o abismo entre Deus e a mais exaltada criatura é infinito. Cristo não pode aproximar-nos de Deus mais do que ele mesmo. Só alguém que é Deus pode reconciliar-nos com Deus. Assim, também, só alguém que é Deus pode purificar nossas almas. Um Deus que é só unidade, mas em quem não há pluralidade, pode ser nosso juiz, mas, até onde podemos ver, não pode ser nosso salvador ou santificador. "Deus é o caminho para ele mesmo". "Nada de humano sustenta diante de Deus e nada a não ser Deus pode satisfazer Deus". Por isso, o melhor método de se argumentar com os unitários é despertar o senso de pecado; porque a alma que tem qualquer convicção apropriada dos seus pecados sente que só um Redentor infinito pode salvá-la. Por outro lado, a pouca avaliação do pecado está logicamente em conexão com um baixo ponto de vista da dignidade de Cristo. Twesten, traduzido em Bíblia Sacra, 3.510 "Parece não ser um mero acidente que o pelagianismo, quando logicamente
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levado a efeito, como por exemplo entre os socinianos, sempre conduziu ao unitarismo". Na ordem reversa, também, é manifesto que a rejeição da deidade de Cristo deve tender a tornar mais superficiais os pontos de vista do pecado e da culpa e do castigo de que Cristo veio salvá-los e, com isso, matar o sentimento religioso e cortar as ligações de todo o esforço evangelizante e missionário (Jo. 12.44; Hb. 10.26). Ver Arthur, sobre a Divindade do nosso Senhor a respeito da sua obra da Expiação, em Present Day Tracts, 6. nº 35; Ellis, citado por Watson, Theol. Inst, 23; Gunsaulus, Transfiguration of the Christ, 13 -"Temos tentado ver Deus à luz da natureza, enquanto ele diz: 'Na tua luz veremos a luz' (SI. 36.9)". Devemos ver a natureza à luz de Cristo. Só se alcança a vida eterna através do conhecimento de Deus em Cristo (Jo. 16.9). Conseqüentemente, aceitar Cristo é aceitar Deus; rejeitar Cristo é dar as costas para Deus: Jo. 12.44 "Quem crê em mim crê não em mim, mas naquele que me enviou"; Hb. 10.26,29 - "não resta mais sacrifício pelos pecados. ... [para aquele] que pisar o Filho de Deus". No centro de Midlothian [SE da Escócia], Jeanie Deans vai a Londres para assegurar o perdão da sua irmã. Com as vestes de camponesa, ela não pode dirigir-se ao rei porque ele não a receberá. Dirige-se a um mordomo escocês em Londres; através dele, ao Duque de Argyle; através dele, à Rainha; através da Rainha, ela recebe o perdão do Rei, que ela nunca vê. Esta era a intervenção medieval. Mas agora vamos diretamente a Cristo e isto nos basta, porque ele mesmo é Deus (The Outlook). Uma ocasião um homem foi à cela de um assassino convicto, a pedido de sua mulher e pediu que ele confessasse o seu crime e aceitasse a Cristo, mas ele se recusou. O falso clérigo era o governador, com o perdão que se propunha a dar caso o assassino, caso se arrependesse. A. H. Strong, Christ in Creation, 86 - "Eu ouvi dizer que, durante a nossa Guerra Civil, um oficial fanfarrão, bêbado, blasfemo insultou e quase atirou do estaleiro de Alexandria um homem inofensivo em trajes civis; mas ouvi dizer que o mesmo oficial voltou-se pálido, caiu de joelhos e pediu misericórdia enquanto o homem exigiu a sua espada, deu-lhe voz de prisão e deu-se a conhecer como General Grant. Podemos abusar e rejeitar o Senhor Jesus Cristo e fantasiar que ignoramos as suas reivindicações e desobedecer as suas ordens com impunidade; mas a coisa parece mais séria quando por fim
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achamos que aquele de quem abusamos e rejeitamos outro não é senão o Deus vivo diante de cuja barra de tribunal nós nos encontramos". Henry Β. Smith no começo da vida tinha influência unitária e forte preconceito contra a doutrina evangélica, especialmente a da depravação e da divindade de Cristo. No ano da conclusão do curso superior ele se converteu. Cyrus Hamlin diz: "Considero a conversão de Smith como o acontecimento mais notável da minha época na Faculdade". As dúvidas sobre a depravação desvaneceram-se quando, de relance, ele olhou para o seu próprio coração; as dúvidas a respeito da divindade de Cristo não resistiram diante da sua confissão: "De uma coisa estou seguro: Necessito de um Salvador infinito". Eis aqui a força última da doutrina trinitária. Quando o Espírito Santo convence o homem do pecado, e o põe frente a frente com a ultrajada santidade e com o amor de Deus, ele é movido a clamar das profundezas da sua alma: "Ninguém, a não ser o Salvador infinito, jamais pode salvar-me"! Só em um Cristo divino - que por nós suportou a Cruz, e em nós através do seu Espírito - pode a alma convencida encontrar paz e descanso. Deste modo todo o avivamento da verdadeira religião dá novo impulso à doutrina da Trindade. Henry Β. Smith escreveu no fim da sua vida: "Quando a doutrina da Trindade foi abandonada, outros artigos de fé tais como a expiação e a regeneração, quase sempre se seguiram, por necessidade lógica, como quando se tira o fio de um colar de gemas, estas se desprendem".
D) É essencial a qualquer modelo apropriado de vida humana. Se não há Trindade imanente na natureza divina, então a paternidade em Deus teve um começo e pode ter um fim; A filiação, contudo, não mais é perfeição, porém imperfeição, ordenada com um propósito temporário. Mas se a doação paternal e o recebimento filial são eternos em Deus, então a lei do amor requer de nós conformidade com Deus em ambos estes respeitos como a mais elevada dignidade de nosso ser. Ver Hutton, Essays, 1.232 - "A Trindade nos fala de algo da natureza absoluta e essencial de Deus; não somente o que ele é para nós, mas o que
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ele é em si mesmo. Se Cristo é o eterno Filho do Pai, Deus é na verdade e na essência o Pai; a natureza social, o surgimento do amor é a própria essência do Ser eterno; a comunicação da vida, a reciprocidade de afeto vai além do tempo, pertence ao próprio ser de Deus. A idéia unitária de um Deus solitário afeta profundamente a nossa concepção de Deus e a reduz a uma simples força e identifica Deus com a causa e pensamento abstratos. O amor baseia-se na força, não a força no amor. O Pai surge no gênio onisciente e onipotente do universo". Portanto, 1 Jo. 2.23 - "Qualquer que nega o Filho também não tem o Pai". D'Arcy, Idealism and Theology, 204 "Se Deus for simplesmente uma grande pessoa então temos que pensar nele como esperando até que o processo todo da criação se tenha completado antes que o seu amor possa encontrar um objeto ao qual se entregue. Nesse caso, o seu amor pertence, não à sua íntima essência, mas à relação com as suas criaturas. As palavras 'Deus é amor' (1 Jo. 4.8) tornam-se um exagero retórico, ao invés de expressão de uma verdade acerca da natureza divina". Hutton, Essays, 1.239 - "Precisamos também da inspiração e auxílio de uma perfeita vontade filial. Não podemos conceber o Pai participando dessa atitude dependente do espírito que é a nossa principal necessidade espiritual. É a perfeição do Pai que origina - a do Filho recebe. Necessitamos de simpatia e auxílio nesta vida receptiva; daí o auxílio do verdadeiro Filho. A humildade, o sacrifício próprio, a submissão, são celestes, eternos, divinos". A vida filial de Cristo é a raiz de toda a vida filial em nós. Ver Gl. 2.19,20 "não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e a vida que eu vivo na carne vivo-a na fé que está no Filho de Deus, que me amou e deu a sua vida por mim". Thomas Erskine de Liniathen, The Spiritual Order, 233 - "Não existe nada de degradante nesta dependência porque participamos dela com o Filho eterno". Gore, Incarnation, 162 - "Deus pode limitar-se através das condições da humanidade, porque, em si, Deus contém eternamente o protótipo do sacrifício próprio e limitação própria humanos, porque Deus é amor". Sobre as trindades pagãs, ver Bib. Repository, 6.116; Christlieb, Mod. Doubt and Christian Belief, 266,267 - "Lao-tsé, 600 a.C, diz: Tao, o princípio inteligente de todos os seres, é por natureza um; o primeiro gerou o segundo; ambos geraram o terceiro; estes três fizeram todas as coisas' ". A
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Tríada egípcia de Abidos era Osíris, sua mulher Ísis, e seu Filho Hórus. Mas estes não eram pessoas de verdade; porque não só o Filho procedia do Pai, mas o Pai procedia do Filho; a trindade egípcia era panteísta quanto ao sentido. Ver Renouf, Hibbert Lectures, 29; Rawlinson, i, 46,47. A Trindade dos Vedas era Diaus, Indra, Agni. Seria derivada das três dimensões do espaço? Ou da família - pai, mãe, filho? O homem cria Deus à sua imagem e vê a vida familiar em Deus? A Trimúrti brâmane, ou Trindade, cujos membros são Brama, Vishnu, Shiva – fonte, sustento, fim – é a personificação do todo panteístico, que habita de igual modo nos bons e nos maus, em deus e no homem. Os três são representados pelas três letras místicas da sílaba Om, ou Aum, e, em Elefanta, através da imagem de três cabeças e um corpo. Os lugares dos três são revezados. Williams: "Nas três pessoas apresenta-se um só Deus; cada uma em primeiro lugar, cada uma em último, nenhuma sozinha; de Shiva, Vishnu, Brama, cada uma pode ser Primeira, segunda, terceira entre as três benditas". Há dez encarnações de Vishnu para a salvação dos homens nos vários tempos de necessidade; e um espírito que temporariamente investe-se de qualidades da matéria reduz-se à sua essência original no fim do eon (Kalpa). Esta é apenas uma forma grosseira do sabelianismo, ou de uma Trindade modal. Segundo Renouf não é mais antiga do que 1400 A.D. O budismo, em tempos mais tardios tinha a sua Tríada. O primeiro princípio, Buda, ou Inteligência, associado com o princípio da matéria, Darma, ou Lei, através da influência combinadora de Sanga, ou ordem, princípio mediador. A trindade grega compunha-se de Zeus, Atena e Apoio. Apoio ou Lixos (λόγος) profere as decisões de Zeus. "Estes três ultrapassam os outros deuses no caráter moral e no cuidado providencial sobre o universo. Eles mantêm tão estreitos e caros relacionamentos recíprocos de que se pode dizer que 'concordam em um' ". Contudo, a trindade grega, enquanto nos apresenta três pessoas, não nos apresenta unidade de essência. É um sistema de triteísmo. Plotino, 300 A.D. apresenta-nos uma trindade filosófica em seu το εν, ό νους, ή ψυχή. Watts, New Apologetic, 195 - As trindades pagas são "fragmentos residuais do conhecimento perdido de Deus, não estágios diferentes num pro-
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cesso de evolução teológica, mas evidência de uma degradação moral e espiritual". John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 92 - "Nos Vedas as várias divindades individuais não estão separadas por dura e rápida distinção recíproca. Elas apenas são nomes para um todo indivisível de que a divindade particular invocada num determinado tempo é o tipo ou representação. Há um reconhecimento latente de uma unidade sob toda a multiplicidade dos objetos de adoração. Nunca se emprega o elemento pessoal ou antropomórfico como na mitologia grega e romana. A pessoalidade atribuída a Mitra ou a Varuna ou a Indra ou Agni dificilmente é mais real do que o nosso moderno céu sorridente, ou a nossa ciosa brisa ou lamentoso e taciturno incansável mar. 'Há apenas um', dizem eles, 'embora os poetas o chamem por diferentes nomes'. O céu de total alcance, a poderosa natureza é a realidade atrás de cada uma destas manifestações parciais. O elemento panteístico implícito na fase védica da religião hindu torna-se explícita no bramanismo e, em particular, nos assim chamados sistemas hindus de filosofia e nos seus poemas épicos. Eles procuram encontrar no fluxo e variedade das coisas a permanente essência subjacente. Isto é Brama. Deste modo Espinosa procurava repousar na substância eterna e queria ver as coisas "sob a forma da eternidade'. Todas as coisas e seres são formas de um todo, da substância infinita que chamamos Deus". O agrupamento das religiões pagas segundo uma trindade em Deus, juntamente com a sua incapacidade de construir o seu esquema, são evidências de uma vontade racional na natureza humana que só a doutrina cristã é capaz de fornecer. Este poder de satisfação das mais íntimas necessidades do crente é prova desta verdade. Encerramos este nosso assunto com as palavras de Jeremy Taylor: "Aquele que intenta falar do mistério da Trindade e o faz por palavras e nomes de invenção humana, falando de essência e existências, hipóstases e pessoalidades, prioridade na igualdade, e unidade na pluralidade, pode entreter-se e construir um tabernáculo na sua cabeça, e conversar algo - não sabe o quê; mas o homem renovado, que sente o poder do Pai, para quem o Filho se faz sabedoria, santificação e redenção em cujo coração o amor do Espírito de Deus é derramado - tal homem, embora nada entenda do ininteligível, verdadeiramente entende a doutrina cristã da Trindade".
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Capítulo III OS DECRETOS DE DEUS I. DEFINIÇÃO DE DECRETOS Decretos são o plano eterno pelo qual Deus tornou certos todos os eventos do universo, passados, presentes e futuros. a) Os decretos são muitos somente para a nossa compreensão finita; em sua própria natureza eles são apenas um plano que abrange não só os efeitos, mas também as causas; não só os fins a serem assegurados, mas também os meios necessários para assegurá-los. Rm 8.28 - "chamados por seu decreto" - os muitos decretos para a salvação de muitos indivíduos são representados como formando apenas um propósito de Deus. Ef. 1.11 - "predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade" - note ainda que a palavra propósito está no singular. Ef. 3.11 - "segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor". Este propósito ou plano de Deus inclui tanto os meios como os fins, oração e resposta, trabalho e fruto. Provérbio tirolês: "Deus tem seu Plano para cada homem". Cada homem, do mesmo modo que Jean Paul, é "der Einzige" - o único. Há um simples plano que abrange todas as coisas; "empregamos a palavra 'decreto' quando pensamos na sua participação" (Pepper). Ver Hodge, Outlines of Theology, 1ª ed., 165, 2- ed., 200 - "Na verdade não há evento isolado: a determinação de um envolve a determinação de toda a concatenação das causas e efeitos que constituem o universo". Prefere-se a palavra "plano" à palavra "decretos", porque aquela exclui as idéias 1) de pluralidade, 2) de visão curta, 3) de arbitrariedade, 4) de compulsão.
b) Os decretos, como ato eterno de uma vontade infinitamente perfeita, apesar de ter relações lógicas uns com os outros, não têm nenhuma relação cronológica. Portanto, eles não são resultado de deliberação em qualquer sentido que implique visão curta ou hesitação.
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Logicamente, no decreto de Deus, o sol precede o seu brilho, e o decreto de criar o pai precede o decreto de que haverá um filho. Deus decreta o homem antes de decretar os atos deste; decreta a criação do homem antes de decretar a existência deste. Entretanto, não há sucessão cronológica. A palavra "conselho" em Ef. 1.11 - "o conselho da sua vontade" - não significa deliberação, mas sabedoria.
c) Porque a vontade na qual os decretos têm sua origem é livre, os decretos não são simplesmente exercício instintivo ou necessário da inteligência ou vontade divina como supõe o panteísmo. É próprio da perfeição de Deus que ele tenha um plano, e o melhor possível. Nisto não há nenhuma necessidade, mas apenas a certeza de que a sabedoria infinita age sabiamente. Deus não é os seus decretos; eles não são idênticos à sua essência; eles não fluem do seu ser do mesmo modo necessário em que o Filho eterno procede do Pai eterno. Em Deus existe a vontade livre, que age com certeza infinita, embora não coagido por uma necessidade. Chamar o decreto de salvação necessária é negar a graça, e fazer de Deus um ser não livre.
d) Os decretos têm referência às coisas exteriores a Deus. Deus não decreta ser santo, nem existir como três pessoas em uma essência. Os decretos são a preparação para os eventos externos - o alcance de algumas coisas e atos dentro de um plano. Eles não incluem os processos e operações dentro da divindade que não têm nenhuma relação com o universo.
e) Os decretos primeiramente dizem respeito aos atos do próprio Deus, na Criação, na Providência e na graça; em segundo lugar, aos atos das criaturas livres, que ele prevê resultarão delas. "Apesar de negarmos a afirmação de Whedon, de que o plano divino abrange apenas as ações divinas", admitimos que o plano de Deus refere-se primordialmente às suas próprias ações, e que os atos pecaminosos dos
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homens, em particular, não são objetos de um decreto de que Deus os executará eficientemente, mas de que Deus permitirá aos homens que, no exercício da sua livre vontade, as executem.
f) O decreto de agir não é agir. Os decretos são exercício interior e manifestação dos atributos divinos e não devem ser confundidos com a Criação, a Providência e a Redenção que consistem na execução dos decretos. Os decretos são a primeira operação dos atributos, e a primeira manifestação da pessoalidade de que temos qualquer conhecimento dentro da divindade. Eles pressupõem os atos essenciais ou movimentos dentro da natureza divina que chamamos geração ou procedimento. Conseqüentemente, envolvem a execução dos decretos que denominamos Criação, Providência e Redenção, mas que não devem ser confundidos com qualquer um deles.
g) Portanto, os decretos não se dirigem às criaturas; não são da natureza da lei estatuída; e nem impõe coação ou obrigação à vontade dos homens. Deste modo, ordenar o universo a cuja ação os homens vão dar prosseguimento é coisa bem diferente de declarar, ordenar ou mandar que eles façam. "Nossos atos concordam com os decretos, mas não necessariamente; podemos agir de outra forma e freqüentemente o fazemos" (Park). O francês que caiu na água e gritou: "Eu vou me afogar; que ninguém venha ajudar-me!" estava naturalmente consentindo em afogar-se; se ele tivesse dito: "Eu vou me afogar; ninguém quer ajudar-me!", talvez tivesse chamado alguma pessoa amigável para auxiliá-lo.
h) Todos os atos humanos, quer maus quer bons, entram no plano divino, e assim são objetos dos decretos de Deus, apesar de que a verdadeira atuação de Deus com relação ao mal é apenas permissiva.
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Nenhum decreto de Deus reza: "Pecarás". Porque 1) nenhum decreto é dirigido a você; 2) nenhum decreto sobre você diz: você fará; 3) Deus não pode fazer pecar, ou decretar fazê-lo. Ele somente decreta criar, e ele mesmo agir, de tal modo que você queira, de sua livre escolha, cometer o pecado. Deus determina sobre os seus atos prever qual será o resultado dos atos livres das suas criaturas e, deste modo, determina os resultados. Este decreto permissivo é tão somente o decreto de Deus a respeito do pecado. O próprio homem é capaz de produzir o pecado. Por si mesmo ele é incapaz de produzir a santidade. Na produção da santidade devem concorrer duas forças: a vontade de Deus e a do homem; a de Deus deve agir em primeiro lugar. Por isso, o decreto do bem não é simplesmente permissivo, como no caso do mal. No caso daquele, o decreto de Deus é o de produzir os agentes positivos na sua execução, tais como as circunstâncias, os motivos, as influências do Espírito. Mas, no caso do mal, os decretos de Deus são apenas as disposições para que o homem aja como lhe apraz; Deus apenas prevê o resultado. Não se deve confundir o agente permissivo com o condicional, nem o decreto permissivo com o condicional. Deus preordenou o pecado indiretamente. A máquina não é construída para a fricção, mas a despeito dela. Na parábola de Mt. 13.24-30, pergunta-se: "Por que tem, então, joio?" Não se responde dizendo: "Eu decretei o joio", mas: "O inimigo é quem fez isso". Contudo, devemos fazer uma exceção ao Diretor Fairbairn, Place of Christin Theology, 456, ao dizer: "Deus não permite que haja o pecado; em sua essência, ele é a transgressão da lei divina e a única atitude de Deus para com o pecado é a de oposição. O pecado ocorre porque o homem contraditou e resistiu a vontade de Deus". Aqui a verdade da oposição divina ao pecado se evidencia tão nitidamente como se nega o decreto do pecado em qualquer sentido. Sustentamos que Deus decreta o pecado no sentido do alcance no plano das transgressões previstas do homem, enquanto ao mesmo tempo sustentamos que estas transgressões previstas são atribuídas totalmente ao homem e não a Deus.
i) Enquanto o plano total com relação às criaturas é chamado predestinação, ou preordenação, seu propósito de agir de tal modo que alguns crerão e serão salvos chama-se eleição e seu propósito de agir de
Teologia Sistemática (Strong) 706 tal modo que alguns se recusarão a crer e se perderão é chamado reprovação. Discutiremos eleição e reprovação em capítulo posterior como parte da aplicação da Redenção. Os decretos de Deus podem ser divididos em: relativos à natureza, e aos seres morais. A estes chamamos preordenação, ou predestinação; e destes decretos sobre os seres morais há dois tipos: o decreto da eleição e o da reprovação; ver doutrina da Eleição. II. PROVA DA DOUTRINA DOS DECRETOS 1. Da Escritura A) As Escrituras declaram que todas as coisas estão incluídas nos decretos divinos. B) Elas declaram que se decretam as coisas e eventos especiais; como, por exemplo, a) a estabilidade do universo físico; b) as circunstâncias externas das nações; c) a duração da vida humana; d) o modo da nossa morte; e) os atos livres do homem tanto bons como maus. C) Elas declaram que Deus decretou a) a salvação dos crentes; b) O estabelecimento do reino de Cristo; c) a obra de Cristo e de seu povo em seu estabelecimento. A) Is. 14.26,27 - "Este é o conselho que foi determinado sobre toda esta terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o Senhor dos Exércitos o determinou ... Ε a sua mão estendida está; quem, pois, a fará voltar atrás?" 46.10,11 - "que anuncio o fim desde o começo e, desde a antigüidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade ... porque assim disse e assim acontecerá; eu o determinei e também o farei". Dn. 4.35 - "segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; e não
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há quem possa estorvar a sua mão e lhe diga: Que fazes?" Ef. 1.11 - "o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade". B) (a) Sl. 119.89-91 - "Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu. A tua fidelidade estende-se de geração a geração; tu firmaste a terra, e firme permanece. Conforme tudo o que ordenaste, tudo se mantém até hoje; porque todas as coisas te obedecem". (b) At. 17.26 - "e de um fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação"; cf. Zc. 6.1 -"quatro carros que saíram dentre dois montes, e estes eram montes de metal" = seriam os decretos dos quais procedem os desígnios providenciais de Deus? (c) Jó 14.5 - "Visto que os seus dias estão determinados, contigo está o número dos seus meses; e tu puseste limites, e não passará além deles". (d) Jo. 21.19 – "E disse isso, significando com que morte havia ele de glorificar a Deus ". (e) Atos bons: Is. 44.28 - "Quem diz de Ciro: Ele é o meu pastor, e cumprirá tudo o que me apraz; dizendo também a Jerusalém: Sê edificada; e ao templo: Funda-te"; Ef. 2.10 - "Porque somos feitura sua, criados em Cristo para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas". Atos maus: Gn. 50.20 - "vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida um povo grande"; 1 Re. 12.15 - Ό rei, pois, não deu ouvidos ao povo, porque esta revolta vinha do Senhor"; 24 - "eu é que fiz esta obra"; Lc. 22.22 - "E, na verdade, o Filho do Homem vai, segundo o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído"! At. 2.23 "este, que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos"; 4.27,28 - "verdadeiramente, contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer"; Rm. 9.17 - "Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o teu poder"; 1 Pe. 2.8 - "para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados"; Ap. 17.17 - "Porque Deus tem posto em seu coração que cumpram o seu intento, e tenham uma mesma idéia, e que dêem à besta o seu reino até que se cumpram as palavras".
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C) (a) 1 Co. 2.7 - "a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para a nossa glória"; Ef. 3.10,11 - "a multiforme sabedoria de Deus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor". Ef. 1 é um peã em louvor aos decretos de Deus. (b) O maior de todos os decretos é o que se refere à dádiva de Cristo ao mundo. SI. 2.7,8 - "Recitarei o decreto: ... eu te darei as nações por herança"; cf. ν. 6 - "eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu monte Sião"; 1 Co. 15.25 - "Porque convém que ele reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés". (c) Devemos fazer deste o nosso decreto; a vontade de Deus deve ser executada através da nossa vontade. Fp. 2.12,13 - "operai a vossa salvação com temor e tremor; porque é Deus que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade"; Ap. 5.1,7 - "E vi na destra do que estava sentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos ... Ε [o Cordeiro] veio e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono"; 9 - "Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos" = Só Cristo tem a onisciência para conhecer, e a onipotência para executar os decretos divinos. Quando João chora porque não há ninguém no céu ou na terra para soltar os selos e ler o livro dos decretos de Deus, o Leão da tribo de Judá aparece para abri-lo. Só Cristo conduz o curso da história rumo ao seu fim indicado.
2. Da Razão a) A partir da presciência divina Presciência implica fixidez e fixidez implica decreto. - Desde a eternidade Deus previu todos os eventos do universo como fixos e certos. Tal fixidez e certeza não podiam ter tido sua base quer no destino cego ou nas variáveis vontades dos homens visto que nenhum destes tinha sua existência. Não podia ter tido sua base em coisa alguma fora da mente divina, pois na eternidade nada existia além da mente divina. Mas para esta fixidez deve ter havido uma causa; se algo no futuro era fixo alguma coisa deveria tê-lo fixado. Esta fixidez podia ter tido sua base só no plano e propósito de Deus. Por fim, se Deus previu o futuro como
Teologia Sistemática (Strong) 709 certo, deve ter sido porque havia algo nele que o tornou certo; ou, em outras palavras, porque ele o decretara. Por isso objetamos a afirmação de E. G. Robinson, Christian Theology, 74 – "O conhecimento de Deus e os propósitos de Deus, sendo ambos eternos, não se pode conceber como a base recíproca nem serem atribuídos à exclusão de um deles como causa das coisas, mas como correlatos e eternos, devem ser quantidades coiguais do pensamento". Retrucamos que, conquanto o decreto não preceda cronologicamente, logicamente ele precede a presciência. A presciência não é formada de eventos possíveis, mas daquilo que, sem nenhuma dúvida vai ser um evento. A certeza dos eventos futuros, que Deus antecipadamente conhece pode ter sido a base só do seu decreto, visto que só ele existia para ser a base e explicação desta certeza. Os eventos só foram fixados porque Deus os fixou. Shedd, Dogm. Theol., 1.397 - "Um evento deve tornar-se certo, antes de ser conhecido como um evento certo". Turretin, Inst. Theol., loc. 3, quaes. 12,18 - "Praecipuum fundamentum scientiae divinae circa futura contingentia est decretum solum". (Só o decreto é o principal fundamento da ciência divina sobre as contingências futuras.)
Decretar a criação implica decretar os resultados previstos da criação. – Para enfrentar a objeção de que Deus poderia ter previsto os eventos do universo, não porque ele decretara cada um, mas só porque ele decretara criar o universo e instituir suas leis, poderemos colocar o argumento de outra forma. Na eternidade não podia ter havido nenhuma causa da existência futura do universo, afora o próprio Deus porque não existia nenhum ser além do próprio Deus. Na eternidade Deus previu que a criação do mundo e a instituição de suas leis tornaria certa sua verdadeira história nos mais insignificantes pormenores. Mas Deus decretou criar e instituir estas leis. Em assim decretando, ele necessariamente decretou tudo ou que haveria de vir. Por fim, Deus previu os futuros eventos do universo como certos porque ele decretara criar; mas esta determinação de criar envolvia também a determinação
Teologia Sistemática (Strong) 710 de todos os verdadeiros resultados de tal criação; ou, em outras palavras, Deus decretou aqueles resultados. E. G. Robinson, 84 - "Pode-se inferir a existência dos decretos divinos a partir da existência da lei natural". Lei = certeza = vontade de Deus. Os positivistas externam grande desprezo pela doutrina do propósito eterno de Deus embora eles nos confiem a férrea necessidade das forças físicas e das leis naturais. O Dr. Robinson também assinala que os decretos estão "implicados nas profecias. Não podemos conceber que todos eventos devem ter convergido para o grande evento - a morte de Cristo - sem a intercessão de um propósito eterno". E. H. Johnson, Outline Syst. TheoL, 2- ed., 251, nota - "A razão é confrontada pelo paradoxo de que os decretos divinos são ao mesmo tempo absolutos e condicionais; a solução do paradoxo é que Deus, de um modo absoluto, decretou um sistema condicional - contudo, um sistema cujas obras ele conhece previamente". A rude pedra não cortada e a estátua em que foi transformada estão ambas incluídas no plano do escultor.
Nenhum evento não decretado pode ser previsto. - Admitimos que Deus decreta em primeiro lugar e diretamente seus atos da criação, providência e graça; mas sustentamos que isto envolve também em segundo lugar e indiretamente o decreto dos atos das criaturas livres que ele prevê resultarem deles. Não há, portanto, em Deus, uma coisa tal como scientia media, ou conhecimento de um evento que ocorrerá apesar de não entrar no plano divino; pois dizer que Deus prevê um evento não decretado é dizer que ele vê como futuro um evento que é simplesmente impossível; ou, em outras palavras, que ele vê um evento não como ele é. Reconhecemos só dois tipos de conhecimento: 1) O dos possíveis não decretados e 2) o conhecimento antecipado dos reais decretados. Scientia media é um suposto conhecimento intermediário entre os dois, a saber 3) conhecimento antecipado dos reais decretados. Ver mais explicações abaixo. Negamos a existência deste terceiro tipo de conhecimento. Sustentamos que o pecado é decretado no sentido da determinação da parte de Deus sobre um sistema cuja previsão existia de tornar-se certo. O pecado do
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homem pode ser previsto, embora Deus não seja a sua causa imediata. Deus conhece as possibilidades, sem, afinal de contas, tê-las decretado. Mas Deus não pode prever as coisas reais a não ser que, por seu decreto, as tenha tornado certas no futuro. Ele não pode prever aquilo que não há para ser previsto. Royce, World and Individual, 2.374, sustenta que Deus tem, não a presciência, mas o conhecimento eterno, das coisas temporais. Porém retrucamos que prever como um ser moral vai agir não é mais impossível do que saber como um ser moral estando em dadas circunstâncias iria agir.
Só o conhecimento do que é decretado é presciência. – O conhecimento de um plano como ideal ou possível pode preceder o decreto; mas o conhecimento de um plano como real ou fixo deve seguir o decreto. Só este conhecimento é apropriadamente presciência. Deus, portanto prevê a criação, as causas, as leis, os eventos, as conseqüências; isto é, porque ele abarcou todos estes em seu plano. A negação dos decretos logicamente envolve a negação do presciência de Deus sobre as ações humanas livres; e a isto na verdade são conduzidos os socinianos e alguns arminianos. Um exemplo arminiano desta negação encontra-se em McCabe, Foreknowledge of God, and Divine Nescience of Future Contingencies a Necessity. Per contra ver notas sobre a presciência de Deus, neste compêndio, págs. 283-286 (O atributo da onisciência). Pepper: "A volição divina fica logicamente entre duas divisões e tipos de conhecimento divino". Deus conheceu as ações livres do homem como possíveis, antes de decretá-las; conheceu-as como futuras, porque ele as decretou. Logicamente, embora não cronologicamente, o decreto vem antes da presciência. Quando eu digo, "eu sei o que eu vou fazer", é evidente que já determinei e que o meu conhecimento não precede a determinação, mas segue-a e baseia-se nela. Por isso não é correto dizer que os decretos são presciência. Ele conhece antecipadamente aquilo que ele decretou e o conhece antecipadamente porque ele o decretou. Seus decretos são eternos e nada que é eterno pode ser objeto de presciência. G. F. Wright, em Bíblia Sacra, 1877.723 - "O conhecimento de Deus abrangeu os pormenores e
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incidentes de cada plano possível. A escolha de um plano fez do seu conhecimento determinado uma presciência". Por isso há dois tipos de conhecimento: 1) conhecimento do que pode ser – do possível (scientia simplicis intelligentiae); 2) Conhecimento do que é, e deve ser, porque Deus o decretou (scientia visionis). Entre estes dois, Molina, jesuíta espanhol, erroneamente pensava que houvesse 3) um conhecimento médio das coisas que deveriam ser, apesar de que Deus não as tinha decretado (scientia media). Naturalmente que este seria um conhecimento que Deus derivou, não de si mesmo, mas das criaturas! Ver Dick, Theology, 1.351. A. S. Carman: "É difícil ver como o conhecimento de Deus pode ter sua causa a partir da eternidade por algo que não existe até um ponto definido do tempo". Se se disser que aquilo que deve ser será, "na natureza das coisas", respondemos que a "natureza das coisas não existe independentemente de Deus e que a base da certeza objetiva assim como da subjetiva que corresponde a ela, só se encontra no próprio Deus. Mas o decreto de Deus criar, quando ele prevê que ocorrerão alguns atos livres dos homens, é o decreto daqueles atos livres, apenas no sentido em que empregamos a palavra decretar como se acha deste modo, a saber, alguns ou abrangendo em seu plano. Nenhum arminiano que crê na presciência de Deus sobre os atos livres tem boa razão para negar os decretos de Deus explicados deste modo. Sem dúvida Deus não sabia antecipadamente que Adão existiria e o pecado, quer Deus determinasse criá-lo, quer não. Então a onisciência se torna conhecimento antecipado só sob a condição do decreto de Deus. O fato de a presciência de Deus sobre os atos livres é intuitiva não afeta esta conclusão. Admitimos que, conquanto o homem possa predizer os atos livres só pelo fato de ser racional (i.e., na direção do motivo previamente dominante), Deus pode predizer a ação livre seja ela racional, ou não. Mas nem mesmo Deus pode predizer o que não está certo de acontecer. Deus tem uma presciência intuitiva dos atos livres no homem por causa da condição do seu próprio decreto de criar; e este decreto de criar, na previsão de tudo aquilo que se seguirá é o decreto do que se segue.
Teologia Sistemática (Strong) b) A partir da sabedoria divina
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É parte da sabedoria divina prosseguir em cada empreitada segundo um plano. Quanto maior a empreitada, mais necessário é o plano. A sabedoria, contudo, mostra-se em uma cuidadosa provisão de todas as possíveis circunstâncias e emergências que podem surgir na execução de seu plano. O fato de que muitas de tais circunstâncias e emergências não são contempladas e não são providas nos planos dos homens deve-se apenas às limitações da sabedoria humana. Portanto, pertence à sabedoria infinita não só ter um plano, mas abrangê-lo todo, até nos mínimos pormenores no plano do universo. Nenhuma arquiteto tentaria edificar uma catedral de Colônia sem um plano; ao contrário, se possível, faria um desenho de cada pedra. O grande pintor não faz um estudo da sua tela à medida em que ele vai pintando; o seu plano surge desde o começo; as preparações para os últimos efeitos fizeram-se a partir do início. Do mesmo modo, na obra de Deus, cada pormenor é previsto e tomadas as devidas providências; o pecado e Cristo entraram no plano original do universo. Raymond, Syst. Theol., 2.156, diz que esta atitude implica que Deus não pode governar o mundo sem que todas as coisas sejam reduzidas a fórmulas mecânicas; e isto não pode ser verdade, em razão de que o governo de Deus não trata de coisas, mas de pessoas. Replicamos que o sábio estadista não governa coisas, mas pessoas, contudo na exata proporção da sua sabedoria e dirige a sua administração conforme um plano preconcebido. Deus poderia governar o universo abrangendo todas as coisas, até as mínimas ações humanas, em seu plano, mas a sua sabedoria não o faria.
c) A partir da imutabilidade divina O que Deus faz sempre propôs fazê-lo. Porque com ele não há aumento de conhecimento ou poder como acontece com os seres finitos, segue-se que aquilo que sob dadas circunstâncias ele permite ou faz, ele deve ter eternamente decretado fazer ou permitir. Supor que Deus tem
Teologia Sistemática (Strong) 714 uma multidão de planos e que ele muda seu plano de acordo com as exigências da situação é fazê-lo infinitamente dependente das variadas vontades das suas criaturas e negar-lhe um elemento necessário à perfeição, a saber, a imutabilidade. Deus tem sido imerecidamente comparado a um jogador de xadrez, que dá um xeque-mate no seu adversário qualquer que seja o lance deste (George Harris). Do mesmo modo se diz que Napoleão tinha numerosos planos antes de cada batalha e mudou de um para o outro à medida que a sorte demandava. Com Deus não é assim. Jó 23.13 - "se ele está contra alguém, quem o desviará"? Tg. 1.17 - "Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação". Contraste com este trecho a afirmação de McCabe, Foreknowledge of God, 62 - "Este novo fator, a liberdade do homem semelhante à de Deus, é capaz de contrapor-se, e em inúmeros exemplos o faz, a vontade divina, e compele o grande Eu Sou a modificar suas ações, seus propósitos e seus planos, no tratamento para com indivíduos e comunidades".
d) A partir da benevolência divina Os eventos do universo, se não determinados pelos decretos divinos, devem ser determinados ou por acaso ou pelas vontades das criaturas. Contraria qualquer apropriada concepção da benevolência divina supor que Deus permite o curso da natureza e da história e os fins a que ambos se movem e são determinados por miríades dos seres que sentem por qualquer outra força ou vontade além da sua própria. Tanto a razão como a revelação, portanto, compelem-nos a aceitar a doutrina da Confissão de Westminster de que "Deus, desde toda a eternidade, pelo mais justo e santo conselho da sua própria vontade, livre e imutavelmente ordenou o que quer que venha a ocorrer". Não seria benévolo da parte de Deus tirar do seu poder aquilo que é tão essencial à felicidade do universo. Tyler, Memoir and Lectures, 231-243 "A negação dos decretos envolve a negação dos atributos essenciais de
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Deus, tais como a onipotência, a onisciência, a benevolência; apresenta-o como um ser desapontado e infeliz; implica em negação da sua providência universal; conduz a uma negação da maior parte do nosso próprio dever de submissão; enfraquece as obrigações de gratidão". Damos graças a Deus pelas bênçãos que nos vêm através dos livres atos dos outros; porém, se Deus não tiver proposto tais bênçãos, devemos a nossa gratidão, não a Deus, mas aos outros. Dr. A. J. Gordon diz com propriedade que um universo sem decretos seria tão irracional e aterrador como um trem expresso sem farol ou maquinista sem nenhuma certeza de que, no momento seguinte pudesse mergulhar no abismo. Ε mesmo Martineau, Study, 2.108, apesar de negar a presciência de Deus a respeito dos atos livres do homem, é compelido a dizer: "Não se pode deixar por conta da simples natureza criada jogar incondicionalmente com leme, ou mesmo um simples mundo e dirigi-lo de modo descontrolado para o céu ou para os recifes; deve-se obter alguma segurança evitando alguma falta dentro dos limites toleráveis".
III. OBJEÇÕES À DOUTRINA DOS DECRETOS 1. Que eles são inconsistentes com a livre atuação do homem A isto respondemos que: a) A objeção confunde os decretos com a sua execução. Os decretos são, como a presciência, um ato eterno da natureza divina e não são mais inconsistentes com a livre atuação do que a presciência. Mesmo a presciência dos eventos implica que tais eventos são fixos. Se esta fixidez absoluta e a presciência não são inconsistentes com a atuação livre, muito menos aquilo que é mais afastado da ação do homem, a saber, a causa oculta da fixidez e presciência - os decretos de Deus pode ser inconsistente com a atuação livre do homem. Se algo for inconsistente com a atuação livre do homem, deve ser, não os decretos de Deus, mas a execução dos decretos na criação e providência.
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Sobre esta objeção, ver Forbes, Predestination and Free Will, 3 "Todas as coisas são predestinadas por Deus, tanto as boas como as más, não pré-necessitadas, isto é, de um modo causai preordenado por ele - a não ser que façamos Deus o autor do pecado. Deste modo a predestinação não é uma palavra indiferente mesmo quando trata do autor da origem de qualquer coisa: Deus como o originador do bem, mas a criatura, do mal. Por isso predestinação significa que Deus incluiu em seu plano a respeito do mundo cada ato, bom ou mau, de cada criatura. Ele predestinou alguns atos de modo causai, outros de modo permissivo. Convém distinguir a certeza do cumprimento de todos os propósitos de Deus da necessidade deles". Isto simplesmente significa que o decreto de Deus não é a causa de qualquer ato ou evento. Os decretos de Deus podem ser executados pela eficiência causai das suas criaturas ou pela sua própria eficiência. Em cada caso é, quando ocorre, a execução, e não o decreto, que é inconsistente com a liberdade humana.
b) A objeção se apóia numa falsa teoria da livre atuação - a saber, que esta implica indeterminação ou incerteza; em outras palavras, que a livre atuação não coexiste com a certeza como os resultados de seu exercício. Mas é a necessidade, não a certeza, que é inconsistente com a atuação livre. Esta é o poder de autodeterminação em vista dos motivos ou o poder de o homem d) escolher entre os motivos e b) dirigir sua subseqüente atividade conforme o motivo escolhido. Os motivos nunca são uma causa, mas só uma ocasião; eles influem, mas nunca coagem; e o homem é a causa e nisto é que está a liberdade. Mas também é verdade que o homem nunca se acha em estado de indeterminação; nunca age sem um motivo, ou contrariamente aos motivos; há sempre uma razão por que ele age e nisto se acha sua racionalidade. Ora, até onde o homem age segundo o anterior espírito dominante - ver (b) acima - podemos, conhecendo seu motivo, predizer sua ação e nossa certeza sobre o que será a ação de modo nenhum afeta a liberdade do homem. Podemos mesmo fazer os motivos apoiarem-se em outros, a influência do que prevemos, os que agem sobre eles podem agir em perfeita liberdade. Mas se o homem, influenciado pelo homem, pode ainda ser livre, então,
Teologia Sistemática (Strong) 717 influenciado pelos motivos divinamente previstos, pode ainda ser livre e os decretos divinos, que simplesmente certificam as ações do homem podem também ser perfeitamente consistentes com a sua liberdade. Não devemos admitir que os fins decretados só podem ser assegurados por compulsão. Os propósitos eternos não necessitam a causa eficiente do proponente. A liberdade pode ser o próprio meio para cumprir o propósito. E. G. Robinson, Christian Theology, 74 - "A certeza absoluta dos eventos, que é tudo que a onisciência determina a respeito deles, não é idêntica à necessidade deles". John Milton, Christian Doctrine: "Com toda a certeza os eventos futuros que Deus previu acontecerão, mas não por necessidade. Sem dúvida eles acontecerão, porque a presciência divina não se enganará; mas não acontecem necessariamente, porque a presciência não tem nenhuma influência no objeto conhecido antecipadamente, até mesmo porque é uma ação intransitiva".
Há, contudo, uma classe menor de ações humanas através das quais se muda o caráter, mais do que se expressa, na qual o homem age segundo um motivo diferente daquele que anteriormente o dominou – ver (a) acima. Deus também conhece antecipadamente tais ações apesar de que não podem ser preditas pelo homem. A liberdade do homem nelas seria inconsistente com os decretos de Deus se a certeza anterior de sua ocorrência fosse, não certeza, mas necessidade; ou, em outras palavras, se os decretos de Deus fossem em todos os casos eficazes para produzir os atos de suas criaturas. Mas não é este o caso. Os decretos de Deus podem ser executados pela livre causa do homem tão facilmente como pela de Deus; e decreto desta livre causa no que se refere à criação do universo de que ele prevê que esta causa será uma parte, de modo nenhum interfere na liberdade da referida causa, porém mais do que isso assegura-a e a estabelece. Porém o escrúpulo da consciência e a testemunha da consciência de que Deus decreta não se executam impondo coação sobre as vontades livres do homem.
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O agricultor que, depois de ouvir um sermão sobre os decretos de Deus, rumou para o caminho do despenhadeiro, ao invés do caminho seguro para a sua casa e, conseqüentemente quebrou a carreta, concluiu antes do fim da viagem que, de qualquer forma, tinha sido predestinado a ser um tolo e que tinha cumprido a sua vocação e eleição certas. Ladd, Philosophy of Conduct, 146,187, mostra que a vontade é livre, em primeiro lugar, através da consciência da capacidade do homem, e em segundo lugar, através da consciência da atribuição da culpabilidade do homem. Por natureza, ele é potencialmente autodeterminante; de fato, ele freqüentemente se torna autodeterminante. Allen, Religious Progress, 110 – "A futura igreja deve abranger a soberania de Deus e a liberdade da vontade; a depravação total e a divindade da natureza humana; a unidade de Deus e as distinções na Divindade; o gnosticismo e o agnosticismo; a humanidade de Cristo e a sua divindade encarnada; o individualismo e a solidariedade; a razão e a fé; a ciência e a teologia; o milagre e a uniformidade da lei; a cultura e a piedade; a autoridade da Bíblia como a palavra de Deus com a absoluta liberdade da crítica bíblica; o dom da administração como no episcopado histórico e o dom da profecia como a mais elevada sanção da comissão ministerial; a sucessão apostólica, mas também a direta e imediata vocação que só conhece a sucessão do Espírito Santo". Sem concordarmos com estas últimas cláusulas podemos recomendar o espírito abrangente do pronunciamento especialmente sobre a perturbadora questão da soberania divina com a liberdade humana.
Ajudar-nos-ia, estimando a força desta objeção pelo notar os quatro sentidos nos quais o termo 'liberdade' pode ser mudado. Pode ser usado como equivalente a 1) liberdade física, ou ausência de constrangimento exterior; 2) liberdade formal, ou um estado de indeterminação moral; 3) liberdade moral ou autodeterminação do ponto de vista dos motivos; 4) e liberdade real ou habilidade de se conformar ao padrão divido. Nós não nos relacionamos com o primeiro destes pontos, porque todo o acordo que o decreto estabelece não leva ao constrangimento exterior do homem. A liberdade no segundo sentido não tem existência, porque
Teologia Sistemática (Strong) 719 todos os homens têm caráter. A livre atuação, ou a liberdade no terceiro sentido manifestou-se ser consistente com os decretos. A liberdade no quarto sentido ou a liberdade real é um dom especial de Deus e não deve ser confundido com a livre atuação. A objeção mencionada acima se estabelece completamente na segunda dessas definições da livre atuação. Provou-se ser falso e esta objeção cai por terra. Ritschl, Justification and Reconciliation, 133-188, dá uma boa definição deste quarto tipo de liberdade: "Liberdade é a autodeterminação através de ideais universais. Limitar os nossos fins aos da família ou do país é um refinado egoísmo. Liberdade é autodeterminação através do amor universal para com o ser humano ou através do reino de Deus. Porém o homem livre deve então depender de Deus em tudo, porque o reino de Deus é uma revelação de Deus". John Caird, Fund. Ideas of the Christianity, 1.133 "Sendo determinados por Deus somos autodeterminados; i.e., determinados por coisa alguma além de nós mesmos, mas pelo nosso mais nobre e mais verdadeiro eu. A vida universal vive em nós. A consciência eterna torna-se nossa; porque 'quem está em amor está em Deus, e Deus, nele'" (1 Jo. 4.16). Moberly, Atonement and Personality, 226 - "Livre vontade não é independência da criatura, mas, ao invés disso é a sua auto-realização em perfeita dependência. Liberdade é identidade própria com a bondade. Tanto a bondade quanto a liberdade estão, em sua perfeição, em Deus. Na criatura, bondade não é a distinção da bondade de Deus, mas a correspondência com ela. Na criatura, a liberdade corresponde à identidade própria com Deus com a bondade. É realizar-se e achar a si mesmo, seu verdadeiro eu, em Cristo, de modo que o amor de Deus em nós se torne uma resposta divina adequada a Deus, por verdadeiramente espelhá-lo". G. S. Lee, The Shadow Christ, 32 -Os Dez Mandamentos não podem ser cantados. Os israelitas cantavam sobre o Senhor e sobre o que ele havia feito, mas não o que ele determinou que fosse feito, razão por que eles nunca cantaram-no. A concepção do dever que não pode ser cantada, mas lamentada, até que ela aprenda a cantar. Esta é a história dos hebreus".
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"Há uma liberdade, não cantada pelos poetas e não louvada pelos senadores, que os monarcas não podem admitir nem todas as potências da terra e do inferno confederados afastam; uma liberdade contra a perseguição, contra a fraude, contra as opressões, contra as prisões, não têm poder para impor; qualquer que a saboreia nunca mais poderá ser escravizado. Έ a liberdade do coração comprada com o sangue que ele deu à humanidade e com o mesmo sinal selou". Robert Herrick: Os muros de pedra não formam uma prisão, nem as barras de ferro uma cela; as mentes inocentes e tranqüilas têm isto como eremitério. Se no meu amor tenho liberdade, e na minha alma sou livre, só os anjos nas alturas gozam tal liberdade". Uma discussão mais completa sobre a Vontade encontra-se no estudo da Antropologia, Vol. II. Por enquanto basta dizer aqui que as objeções arminianas sobre os decretos surgem quase totalmente do conceito errôneo de liberdade quanto ao poder decisório da vontade, em qualquer caso, contra o seu próprio caráter e todos os motivos apresentados em seu apoio. Mais adiante veremos que isto é praticamente uma negação de que o homem tem um caráter, ou de que a vontade através das suas ações certas ou erradas assim como o intelecto e o sentimento, uma inclinação permanente ou predisposição para o bem ou para o mal. Isto significa estender o poder de escolha contrária, o qual pertence à esfera da volição transitória sobre todos estados permanentes do intelecto, do sentimento e da vontade que recebem o nome de caráter moral e dizer que podemos mudar diretamente através de uma simples volição que, de fato, só podemos mudar por um processo e recursos indiretos. Contudo, mesmo este ponto de vista exagerado de liberdade parece não excluir os decretos de Deus, ou evitar uma reconciliação prática dos pontos de vista arminianos e calvinistas, até onde os arminianos admitem a presciência de Deus relativa aos atos humanos livres, e os calvinistas admitem que o decreto de Deus relativo a estes atos não significa necessariamente que Deus os produzirá de uma forma eficiente. Por isso sustentamos a certeza da ação humana e deste modo nos associamos aos arminianos. Não podemos com Whedon (On The Will), e Hazard (Man a Creative First Cause), atribuir à vontade a liberdade de indiferença, ou o poder de agir sem motivo. Juntamente com Calderwood,
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Moral Philosophy, 183, sustentamos que a ação sem motivo, ou ato da pura vontade, é desconhecida da consciência (ver, ainda uma afirmação inconsistente de Calderwood na p. 188 da mesma obra). Todo ato humano futuro não será executado com um motivo, mas, sem dúvida, será mais uma coisa do que outra. Qualquer que seja o método da presciência de Deus, e o que quer que derive dos motivos quer seja intuitivo, tal presciência pressupõe o decreto de Deus criar e, deste modo, pressupõe a execução de alguns dos atos livres que se seguem à criação. Mas esta certeza não significa necessidade. Ao harmonizar os decretos de Deus com a liberdade humana, não devemos ir ao outro extremo, e reduzir a liberdade humana ao mero determinismo, ou ao poder de o agente proceder a partir do seu caráter em circunstâncias determinadas pelo seu ambiente. Ação humana não é simplesmente a expressão de sentimentos anteriores dominantes; doutra forma nem Satanás, nem Adão poderiam ter caído, nem o cristão jamais pecaria. Por isso compartilhamos com Jonathan Edwards e seu Tratado sobre a Liberdade da Vontade, assim também com Edwards, o moço (Works, 1.420), Alexander (Moral Science, 107) e Charles Hodge (Systematic Theology, 2.278), que seguiram todos Jonathan Edwards, ao identificar a sensibilidade com a vontade, ao considerar os sentimentos como causa das volições e falar da conexão entre o motivo e a ação como necessários. Contrariamente, sustentamos que a sensibilidade e a vontade são duas forças distintas, que os sentimentos são ocasiões, mas nunca causa das volições e que, conquanto os motivos possam persuadir, eles nunca coagem a vontade. O poder de tomar uma outra decisão reside na vontade, ainda que nunca seja exercida. Juntamente com o puritano Charnock (Attributes, 1.448-450), dizemos que "o homem tem poder para agir de outra forma que não seja a que Deus sabe antecipadamente o que ele vai fazer". Então, visto que os decretos de Deus não se executam por compulsão sobre a vontade humana, eles não são inconsistentes com a vontade livre do homem.
2. Que eles afastam todo o motivo do exercício humano Quanto a isto respondemos que:
Teologia Sistemática (Strong) 722 a) Eles não podem influir assim os homens porque não se dirigem aos homens, não são a regra da ação humana e se tornam conhecidos só depois do evento. Esta objeção é, portanto, desculpa para indolência e desobediência. Os homens raramente apresentam essa desculpa em qualquer empreendimento em que a sua esperança e interesse estejam em jogo. É principalmente em matéria de religião que os homens empregam os decretos divinos para defender-se da sua preguiça ou inércia. Os passageiros do navio marítimo não negar a sua capacidade de andar do estibordo para o bombordo, na certeza de que eles estão sendo levados ao destino por forças além do seu controle. Tal certeza seria ainda mais irracional no caso da inércia dos passageiros, como no caso de incêndio, que pudesse resultar na destruição do navio.
b) A objeção confunde os decretos de Deus com o destino. Porém deve-se observar que o destino não é inteligente enquanto os decretos são estruturados por um Deus pessoal na sabedoria infinita; o destino não se distingue da causa material e não deixa lugar para a liberdade humana enquanto os decretos excluem toda a noção de necessidade física; o destino não abrange nenhuma idéia ou fim moral enquanto os decretos fazem estas controlarem o universo. North British Rev., abr., 1870 – "O determinismo e a predestinação surgem de premissas que estão em regiões perfeitamente separadas do pensamento. O predestinacionista é obrigado por sua teologia a admitir a existência de uma vontade livre em Deus e, de fato, ele a admite no diabo. Mas a consideração final que estabelece uma grande lacuna entre o determinista e o predestinacionista é que este afirma a realidade da noção vulgar da deserção moral. Mesmo que ele não fosse obrigado por sua interpretação da Escritura a afirmar isto, ele o seria para aceitar a doutrina da reprovação eterna". Hawthorne expressa a sua crença na liberdade humana quando diz que o próprio destino freqüentemente tem piorado na tentativa de afastá-lo
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do jantar. Benjamin Franklin, em sua Autobiography, cita a desculpa do índio para embebedar-se: Ό Grande Espírito fez todas as coisas para algum uso e qualquer que seja o uso para o que elas foram feitas, para isso elas foram postas. O Grande Espírito fez o rum para que os índios se embebedem e assim deve ser". Marta, em Isabel Carnaby desculpa-se por ter quebrado os pratos, dizendo: "Parece que tinha que ser assim. É o cantinho fino que no tempo certo se voltará e outra vez e quebrará". Um professor do Seminário: "Você já viu alguém morrer antes do Tempo"? O estudante: "Eu nunca soube de um caso desses". Os decretos de Deus, considerados como um plano de alcance total da parte de Deus, tem lugar na liberdade humana.
c) A objeção ignora a relação lógica entre o decreto do fim e o decreto dos meios que o asseguram. Os decretos de Deus não só garantem o fim a ser obtido, mas garantem a ação livre do homem anterior a ela. Todo o conflito entre os decretos e o exercício humano deve, portanto, ser aparente e não real. Porque o escrúpulo da consciência assegura-nos que a livre atuação deve existir pelo decreto divino; e apesar de que podemos ignorar o método através do qual executam-se os decretos, não temos nenhum direito de duvidar ou dos decretos ou da liberdade. Deve-se sustentar que eles são consistentes até que se prove que um deles é enganoso. O homem que leva um vaso de peixe dourado não impede que o peixe se mova com desenvoltura dentro do vaso. O trilho duplo da estrada de ferro permite que o trem em formidável aproximação deslize sem colidir consigo mesmo. O nosso globo nos leva consigo, enquanto corre em torno do sol, apesar de que fazemos as nossas tarefas normais sem interrupção. Os dois movimentos que, à primeira vista, parecem inconsistentes entre si, na verdade são partes de um todo. O plano de Deus e o esforço do homem estão igualmente em harmonia. Myers, Human Personality 1.272, fala no "movimento molecular em meio à calma molar". Dr. Duryea: "O caminho da vida tem duas cercas. Uma é arminiana, que nos livra do fatalismo; a outra é a calvinista, que nos livra do pelagianismo. Alguns bons irmãos gostam de andar sobre as cercas. Mas
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deste modo é difícil alguém conservar o equilíbrio. Ε é desnecessário porque há um lugar cheio de cercas. Quanto a mim, prefiro andar na estrada". A afirmação de Archibald Alexander é ainda melhor: Ό calvinismo é o mais amplo dos sistemas. Ele considera a soberania divina e a vontade humana como dois lados de um teto que se liga a uma cumeeira além das nuvens. O calvinismo aceita ambas verdades. O sistema que nega um dos dois tem apenas metade do teto cobrindo a sua cabeça". Spurgeon, Autobiography, 1.176, e The Best Bread, 109 – "O sistema de verdade revelada na Escritura não é simplesmente uma linha reta, mas duas, e ninguém jamais tem o direito de ver o evangelho enquanto não sabe olhar as duas linhas de uma só vez. ... Estes dois fatos [a soberania divina e a liberdade humana] são linhas paralelas; não posso uni-las, mas não se pode fazer cruzar uma com a outra". John A. Broadus: "Não se pode ver os dois lados de um edifício ao mesmo tempo; se se vai do outro lado, vêem-se dois lados diferentes, mas o primeiro está oculto. Isto é uma verdade se se está no solo. Mas se se sobe ao telhado ou num balão, pode-se ver que há dois lados e os dois juntos. Do mesmo modo a nossa mente infinita pode apossar-se da soberania e da liberdade de modo alternado, mas não simultâneo. Deus, do alto, pode ver ambos e, do céu também podemos ser capazes de olhar para baixo e ver".
d) Porque os decretos estabelecem conexão entre os meios e os fins e os fins são decretados só como resultado dos meios, estimulam esforço ao invés de desestimulá-lo. A crença no plano de Deus de que o sucesso compensará as lutas estimulará o corajoso e o perseverante esforço. Com base no próprio decreto de Deus a Escritura incentiva-nos ao uso diligente dos meios. Deus decretou a colheita só como resultado do trabalho de semeadura e ceifa do homem; Deus decreta a riqueza do homem que trabalha e poupa; deste modo decretam-se as respostas à oração, e a salvação à fé. Compare a declaração de Paulo sobre o propósito de Deus (At. 27.22,24 - "não se perderá a vida de nenhum de vós ... Deus te deu todos quantos navegam contigo") advertindo o centurião e soldados que utilizem os recursos de segurança (v. 31 – "Se estes não ficarem no navio, não podereis salvarvos"). Ver também Fp. 2.12,13 - "operai a vossa salvação com temor e com
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tremor, porque é Deus quem opera em vós tanto o querer como o efetuar segundo a sua boa vontade"; Ef. 2.10 - "somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas"; Dt. 29.29 - "As coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus, porém as reveladas são para nós e para os nossos filhos, para sempre, para cumprirmos as palavras desta lei". Sl. 59.10 [58.11] – "Deus meu, a misericórdia dele se antecipará" [Traduzida em Português segundo a Vulgata Latina pelo Pe. Antônio Ferreira de Figueiredo; Ed. aprovada 1842] antecipará, ou virá antes de mim; Is. 65.24-"antes que eles clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei"; SI. 23.2 - "Guia-me"; Jo. 10.3 - "chama pelo nome às suas ovelhas e as traz para fora". Estes textos descrevem a graça preveniente na oração, na conversão, e na obra cristã. Platão chama a razão e a sensibilidade de um casal de má parceria de que sempre um se adiantava em relação ao outro. Decretos e liberdade parecem ser de má parceria, mas não o são. Mesmo Jonathan Edwards, de teoria determinista da vontade, em seu sermão sobre a Pressão no Reino insiste no emprego dos meios e apela para os homens como se tivessem o poder de escolher entre os motivos do eu e os de Deus. A soberania de Deus e a liberdade humana assemelhamse aos pólos positivo e negativo do magneto; eles são inseparáveis um do outro e são ambos elementos indispensáveis na atração do evangelho. Pedro Damião, o grande monge-cardeal, diz que, no seu entendimento, o pecado mais duro de desarraigar é a disposição para o riso. A homenagem tributada ao ascetismo é a mesma tributada ao conquistador. Mas nem todas conquistas merecem homenagem. Temos aqui as melhores palavras de Lutero: "Se o nosso Deus pode fazer um grande lúcio (tipo de peixe) e o bom vinho do Reno, eu bem posso ter a ventura de comer e beber. Tu podes gozar de cada prazer no mundo que não é pecado; o teu Deus não te proíbe, mas ao invés disso o quer. Ε agrada ao querido Deus sempre que te regozijas e ris desde o fundo do coração". Mas a nossa liberdade tem limite. Marta Baker Dunn: "Pescando peixes miúdos, um homem atrai com um peixinho vivo e o lança na água. O peixinho parece estar nadando feliz à vontade, mas, no momento em que ele tenta sair do seu caminho planejado, percebe que há um anzol no seu dorso. É o que achamos quando tentamos nadar contra a correnteza dos decretos de Deus".
Teologia Sistemática (Strong) 3. Que eles fazem Deus o autor do pecado
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Sobre isto respondemos: d) Eles fazem Deus não o autor do pecado, mas o autor dos seres livres que são os autores do pecado. Deus não decreta eficazmente operar os maus desejos ou escolhas nos homens. Ele só decreta o pecado no sentido de criar e preservar os que hão de pecar; em outras palavras ele decreta preservar as vontades humanas que, ao escolherem seus cursos, serão maus e farão o mal. Em tudo isso o homem atribui o pecado a si mesmo e não a Deus, e Deus detesta, denuncia e pune o pecado. Os irmãos de José não eram menos maus pelo fato de que Deus pretendia fazer a conduta deles resultar num bem (Gn. 50.20). O Papa Leão X e suas indulgências causaram a Reforma, mas, nem por isso, ele foi menos culpado. Os senhores de escravos não teriam sido mais desculpáveis, mesmo que tivessem sido capazes de provar que a raça negra foi amaldiçoada na pessoa de Canaã (Gn. 9.25 - "Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos"). Fitch, em Christian Spectator, 3.601 "Pode haver e há um propósito de Deus que não é eficiente. Ele abrange os atos voluntários dos seres morais sem criá-los pela eficácia divina". Mt. 26.24 - "Em verdade o Filho do Homem vai, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Bom seria para esse homem se não houvera nascido. Estava previsto que Cristo haveria de sofrer, mas isso não faz os homens agentes menos livres, nem diminui a culpa da sua traição e injustiça. Robert G. Ingersoll perguntou: "Por que Deus criou o diabo?" Respondemos que Deus não o criou. Deus fez um espírito livre e santo que abusou da sua liberdade, e que criou o pecado, e se fez diabo. Pfleiderer, Philos. Religion, 1.299 - "Tem sido feita referência ao mal 1. como um princípio extra-divino - a uns ou muitos espíritos maus, ou ao destino, ou à matéria - de qualquer modo a um princípio que limita o poder divino; 2. a uma falta ou defeito na divindade, ou à sua sabedoria imperfeita, ou à sua bondade imperfeita; 3. à culpabilidade humana, ou a uma
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imperfeição universal da natureza humana, ou transgressões particulares dos primeiros homens". Destas explicações, a terceira é a única verdadeira: a primeira é irracional; a segunda é blasfema. Contudo esta segunda é a explicação de Omar Khayyam, Rubáiyat, estrofes 80, 81 - Ó Tu, que fizeste com armadilha e com alçapão estabeleceste a estrada na qual hei de peregrinar, não queres com o predestinado rondar o Enmesh e depois atribuir a minha culpa ao pecado. Ó Tu, que fizeste o homem da mais mesquinha terra e com o Paraíso imaginaste a serpente: Porque todo o pecado juntamente com o rosto do homem está pretejado - dá o perdão ao homem - e o toma"! Ε igualmente David Harum diz: "Se fiz algo de que deva entristecer, quero ser perdoado".
b) O decreto de permitir o pecado não é, portanto eficiente, mas permissivo, ou o decreto de permitir, distinto de um decreto de produzir pela eficácia do próprio pecador. Nenhuma dificuldade atribui a tal decreto permitir o pecado, que não atribua à verdadeira permissão dele. Mas Deus, na verdade, permite o pecado e para ele é correto permiti-lo. Deve, portanto ser correto para ele decretar permiti-lo. Se a santidade e sabedoria de Deus e o poder não são impugnados pela verdadeira existência do mal moral, eles não são impugnados pelo decreto original de que o pecado deve existir. Jonathan Edwards, Works, 2.100 - Ό sol não é a causa da escuridão que se segue ao ocaso, mas apenas a sua ocasião. 254 - "Se a expressão autor do pecado quer dizer pecador, o agente, ou produtor do pecado, ou aquele que pratica mal - será um vitupério e uma blasfêmia supor que Deus seja o agente do pecado. ... Mas se autor do pecado quer dizer o permissor ou não embaraçador do pecado e, ao mesmo tempo, o que dispõe do estado dos acontecimentos de tal modo para fins e propósitos sábios, santos e mais excelentes, tal pecado, se permitido e não obstado, certamente ocorrer, não nego que Deus é o autor do pecado; não é vitupério para o Altíssimo ser, portanto, o autor do pecado". Sobre a objeção de que a doutrina dos decretos atribui a Deus duas vontades, e que ele preordenou o que ele proibiu, ver Bennet Tyler, Memoir and Lectures, 250-252 - "Um governante pode proibir a traição; mas a sua ordem não o obriga a empregar toda a força para impedir a desobediência. Ele pode promover o bem do seu reino
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para impedir que se cometa a traição e o traidor seja punido conforme a lei. O Fato de que, em vista deste resultado ele escolhe não impedir a traição, não implica qualquer contradição ou oposição à vontade do monarca". Um editor ímpio desculpou o seu vício no jornalismo, dizendo que ele não se envergonhava de descrever qualquer coisa que a Providência tinha permitido que acontecesse. Mas a palavra "permitido" tem aqui uma implicação de causa. Neste sentido concordamos com as palavras de Jonathan Edwards: "O Ser divino não é autor do pecado, mas tão somente dispõe as coisas de modo tal que sem dúvida resultarão nele". Estas são as palavras encontradas no tratado sobre o Pecado Original. Neste Ensaio sobre a Liberdade da Vontade ele acrescenta uma doutrina da causa a qual devemos repudiar: "A essência da virtude e do vício existente na disposição do coração e manifesta nos atos da vontade não está na sua Causa, mas na sua Natureza". Respondemos que o pecado não poderia ser condenado na sua natureza, se o homem não fosse a sua causa, mas Deus. Robert Browning, Mihrab Shah: "Por que razão qualquer mal acontece ao homem - desde a dor da carne até a agonia da alma - Já que a misericórdia total de Deus concorre com a onipotência? Por que permite o mal para si mesmo, isto é, o pecado do homem, considerado como tal? Imagine um mundo livre de toda a dor, com um habitante próprio; purificado do mal em pensamento, palavras e obras; não seria bom? Ε por que é diferente"? Fairbairn responde a pergunta da seguinte maneira, em Modern Theology, 456 - "Uma vez que se pretende que se vença o mal permitindo-o; mas se houvesse obstáculo à sua aniquilação, então a vitória coincidiria com o mal que compeliu o Criador a refazer os seus passos. Ε recuar o seu impedimento para um outro estágio, se a possibilidade do mal tivesse embaraçado a ação criadora de Deus, então seria como que vencida pela sua própria sombra. Mas, por que ele criou um ser capaz de pecar? Do mesmo modo que ele criou-o capaz de obedecer. A capacidade de fazer o bem implica na capacidade de fazer o mal. A máquina não pode obedecer nem desobedecer, e a criatura que não tem a dupla capacidade só pode ser uma máquina, não um filho. Pode-se alcançar a perfeição moral, mas não criar-se; Deus pode criar um ser capaz de ação moral, mas não um ser com todos os frutos da referida ação armazenada dentro dele".
Teologia Sistemática (Strong) 729 c) A dificuldade consiste em que na substância prende-se igualmente a todos os sistemas teístas – a questão porque se permite o mal moral sob o governo de um Deus infinitamente santo, sábio, poderoso e bom. Este problema é, para as nossas forças finitas, incapaz de plena solução e deve permanecer em elevado grau envolto em mistério. Com relação a ele podemos dizer: Negativamente, – que Deus não permite o mal moral porque ele não é inalteradamente oposto ao pecado; nem porque o mal moral não fosse previsto e independesse de sua vontade; nem porque ele não pudesse impedi-lo em um sistema moral. Tanto a observação quanto a experiência que atestam múltiplos exemplos de libertação do pecado sem violação das leis do ser humano, proíbem-nos de limitar o poder de Deus. Positivamente, – parecemos constrangidos a dizer que Deus permite o mal moral apesar de ser contrário à sua natureza e ainda o incidente de um sistema adaptado ao seu propósito da auto-revelação; ainda mais, porque é sua sábia e soberana vontade instituir e manter este sistema de que o mal moral é um incidente mais do que deter sua auto-revelação ou revelar-se através de outro sistema em que o mal moral seja continuamente evitado pelo exercício do poder divino. Há quatro perguntas que, nem a Escritura, nem a razão nos capacitam a resolver completamente e que podemos com segurança dizer que só o altíssimo conhecimento do estágio futuro fornecerão respostas. São elas: Primeira: Como pode um Deus santo permitir o mal moral? Segunda: Como um ser criado puro pode cair? Terceira: Como podemos ser responsáveis pela depravação inata? Quarta: Como, com justiça, poderia Cristo sofrer? Vamos enfrentar a primeira pergunta. Uma teodicéia completa (Θεός, Deus e δική, justiça) seria uma vindicação da justiça de Deus, permitindo o mal natural e moral que existe no seu governo. Conquanto uma teodicéia completa está além das nossas forças, lançamos alguma luz sobre a permissão, da parte de Deus, do mal moral, considerando: 1) que a liberdade da vontade é necessária à virtude; 2) que, mais do que o homem, Deus sofre com o pecado; 3) que, com a permissão do pecado, Deus
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providenciou uma redenção; e 4) que Deus, em benefício do bem, terá domínio sobre todo o mal. É possível que os anjos eleitos pertençam a um sistema moral em que se evite o pecado através de motivos repressivos. Não podemos negar que Deus impede o pecado em um sistema moral. Mas é de duvidar muito que Deus impeça o pecado num sistema moral melhor. É indispensável a mais perfeita liberdade para que se alcance a mais elevada virtude. Spurgeon: "Não poderia ter havido nenhum governo moral sem a permissão do pecado. Deus poderia ter criado marionetes, mas elas não teriam virtude". Behrends: "Se os seres morais fossem incapazes de perversão, o homem teria tido toda a virtude do planeta; isto é, nenhuma virtude". Então permitiu-se o pecado só porque ele poderia ser dominado em favor de um bem que é maior. Acrescentamos que este maior bem não é somente a mais elevada nobreza e virtude da criatura, mas também a revelação do Criador. Para o pecado, porém, no universo, não se entenderiam a justiça de Deus assim como a sua misericórdia. E. G. Robinson: "Deus não poderia ter revelado o seu caráter tão perfeitamente sem o mal moral como o faz com este". Robert Browning, Christimas Eve, diz-nos que era plano de Deus fazer o homem à sua imagem: "Criar o homem e depois deixá-lo capaz, como diz a sua palavra, de entristecê-lo; mas também capaz de glorificá-lo, como nunca uma máquina poderia fazer, que ora e adora, consciente da sua capacidade de qualquer coisa além de adorar e orar, naturalmente faz uma coisa perfeita". Upton, Hibbert Lectures, 268-270, 324, sustenta que o pecado e a iniqüidade são um mal absoluto, mas um mal permitido porque o seu cancelamento seria também o da possibilidade de atingir o mais elevado bem espiritual ao mesmo tempo de Deus e do homem. C. G. Finney, Skeletons of a Course of Theological Studies, 26,27 -"A bondade infinita, o conhecimento e o poder apenas implicam que, se se fizesse um universo, seria melhor que fosse o mais natural possível". Dizer que Deus não pode ser o autor do universo em que há tanto mal, diz ele, "supõe que um universo melhor, sobre tudo, seria uma possibilidade natural. Isto supõe que o universo dos seres morais poderia, sob um governo moral administrado da melhor e mais sábia maneira seria completamente isento de pecado; mas tal ponto de vista carece de prova, o que nunca vai acontecer.
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... O melhor universo possível não pode ser o melhor universo. Aplique-se a máxima legal Ό réu deve gozar do benefício da dúvida, na proporção do reconhecido caráter da sua reputação'. Indica-se tão claramente a benevolência de Deus, que podemos crer nela onde não podemos vê-la". Segundo o ponto de vista do Dr. Taylor, Deus não tem um controle completo sobre o universo moral; os agentes morais podem praticar erros sob toda a possível influência que os evite; Deus prefere, consideradas todas as coisas, que as suas criaturas sejam santas e felizes e tudo faz para o sejam; a existência do pecado em seu todo não existe para melhor; o pecado existe porque Deus não pode impedi-lo num sistema moral; a bemaventurança de Deus, na verdade, não é prejudicada pela desobediência das suas criaturas. Para a crítica destes pontos de vista ver Tyler, Letters on the New Haven Theology, 120,219. Tyler argumenta que a eleição e a não eleição implicam o poder de Deus para impedir o pecado; que permitir não é só submeter-se a alguma coisa que ele possivelmente não pode impedir. Acrescentamos que, de fato, Deus preservou os santos anjos e há "homens justos" que foram "aperfeiçoados? (Hb. 12.23) sem violar as leis da atuação moral. Inferimos que Deus poderia deste modo ter preservado Adão. A história da igreja induz a crer que não há nenhum pecador tão obstinado que tenha um coração impossível de ser renovado por Deus; mesmo um Saulo pode tornar-se um Paulo. Por isso não nos atrevemos a atribuir limites ao poder de Deus. Enquanto o Dr. Taylor insiste em que Deus não pode evitar o pecado em um sistema moral, isto é, em qualquer sistema moral, entende-se que o Dr. Park sustenta o ponto de vista grandemente preferível de que Deus não pode evitar o pecado no melhor sistema moral. Flint, Christ's Kingdom upon Earth, 59 - "A alternativa é, não o mal ou nenhum mal, mas o mal ou o impedimento do mal". Mas mesmo admitindo que o sistema moral atual é o melhor e que em tal sistema o mal não pode ser evitado em consistência com a sabedoria e bondade de Deus fica ainda a questão de como o decreto do início de tal sistema pode consistir com o atributo fundamental de Deus, que é a santidade. Deste insolúvel mistério podemos dizer com o Dr. John Brown, em Spare Hours, 273, diz a respeito da Teodicéia Novíssima de Arthur H. Hallam: "Como era de se esperar, permanece a tremenda questão onde ele a encontrou. O seu brilhante amor e gênio lançam um brilho aqui e ali na
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obscuridade, mas é tão breve como o relâmpago na noite escura como fuligem de chaminé - as queixadas da escuridão devoram-na - tal segredo pertence a Deus. Através das profundas e deslumbrantes trevas e do seu abismo de densas nuvens, 'tudo trevas, trevas, irrecuperáveis trevas', nenhum raio, por decidido que seja, jamais tem ou terá vindo; sobre a sua face as suas próprias trevas devem chocar até somente aquele para quem trevas e luz são a mesma coisa, para quem a noite brilha como o dia, diz: 'Haja luz'!" Contudo, devemos ter em mente que o decreto da redenção é tão antigo como o da apostasia. A provisão da salvação em Cristo mostra a que grande custo para Deus permitiu-se a queda da raça em Adão. Aquele que ordenou o pecado também ordenou a expiação do pecado e um meio de livrar-se dele. Shedd, Theol. Dogm., 1.388 - "A permissão para pecar teve um custo maior para Deus do que o tem para o homem. Homem algum jamais suportou sacrifício algum ou sofrimento por causa do pecado como o Deus encarnado suportou. Isto mostra que Deus não está agindo como egoísta ao permiti-lo".
VI. NOTAS FINAIS 1. Empregos práticos da doutrina dos decretos a) Inspira humildade pela representação dos insondáveis conselhos e absoluta soberania de Deus. b) Ensina confiança naquele que sabiamente ordenou nosso nascimento, nossa morte e circunstâncias mesmo nas mínimas particularidades e fez todas as coisas colaborarem no triunfo do seu reino e para o bem dos que o amam; c) Mostra aos inimigos de Deus que, como foram previstos os seus pecados e proveuse um plano de Deus, assim eles nunca podem, enquanto permanecerem nos seus pecados, esperar escapar da pena decretada e ameaçada. d) Estimula o pecador a valorizar-se nos meios graciosos indicados, se ele for contado entre o número daqueles para quem Deus decretou a salvação.
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Esta doutrina é um daqueles ensinos avançados da Escritura que, para a sua compreensão, requer uma mente madura e uma profunda experiência. No início da vida cristã não se percebe o valor ou mesmo a verdade desta doutrina, mas, com o passar dos anos, ela se tornará um esteio sobre o qual se tem apoio. Nos tempos de aflição, calúnia, e perseguição a igreja tem encontrado seu consolo nos decretos e nas profecias em que eles se acham publicados. Só baseados nos decretos é que podemos crer que "todas as coisas concorrem para o bem" (Rm. 8.28) e orar "seja feita a tua vontade" (Mt. 6.10). É uma evidência marcante da verdade da doutrina que mesmo os arminianos oram e cantam como os calvinistas. O arminiano Charles Wesley escreve: "Ele quer que eu seja santo - O que pode resistir a sua vontade? O conselho da sua graça dentro de mim, sem dúvida ele cumprirá". Na teoria arminiana, não há lugar para a oração a Deus visando ao abrandamento dos corações endurecidos; a oração deve dirigir-se ao pecador; para a referida teoria, não é a vontade de Deus, mas a do pecador que encaminha a salvação. Ε apesar de que a doutrina dos decretos, que, à primeira vista parece desestimular o esforço, ela é o maior, aliás, o único incentivo eficaz ao esforço. Por esta razão, os calvinistas têm sido os mais firmes defensores da liberdade civil. Os que sem reservas mais se submetem à soberania de Deus são os que mais estão libertos do temor do homem. Não foi o arminiano Wesley, mas o calvinista Whitefield que originou o grande movimento religioso de que nasceu a igreja metodista, e o ministério de Spurgeon foi tão frutífero no trabalho das conversões como o de Finney. O calvinismo logicamente requer a separação entre a igreja e o estado; embora Calvino não veja isto, o calvinista Roger Williams o vê. Logicamente o calvinismo requer uma forma republicana de governo; Calvino introduziu os leigos no governo da igreja e o mesmo princípio requer a liberdade civil como correlata. O calvinismo sustenta o individualismo e a responsabilidade direta do indivíduo para com Deus. Nos países baixos, na Escócia, na Inglaterra, na América, o calvinismo influiu poderosamente no desenvolvimento da liberdade civil. Ranke: "João Calvino foi virtualmente o fundador da América". Motley: "Para os calvinistas mais do que para qualquer outra classe de pessoas, são a causa da liberdade política da Holanda, da Inglaterra e da América".
Teologia Sistemática (Strong) 2. O verdadeiro método da pregação da doutrina
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a) Devemos evitar mais cuidadosamente o exagero ou a declaração desnecessariamente detestável. b) Devemos dar ênfase ao fato de que os decretos não se baseiam na vontade arbitrária, mas na sabedoria infinita. c) Devemos esclarecer que qualquer coisa que Deus faz ou quer fazer desde a eternidade ele se propôs fazer. d) Devemos ilustrar a doutrina até onde possível com exemplos de plenitude e ampla visão nos planos humanos das grandes empreitadas. e) Então podemos fazer ampla aplicação da verdade ao estímulo do cristão e à admoestação do não crente. Como ilustração da previsão, veja-se o exemplo de Luís Napoleão, planejando o Canal de Suez e declarando a sua política como imperador, muito antes de subir ao trono da França. Sobre o tratamento prático dos decretos na pregação, ver Bushnell, Sermão sobre A Vida de Cada Homem como um Plano de Deus, em Sermons for the New Life; Neemias Adams, Evenings with the Doctrines, 243; Spurgeon's Sermon on Os. 44.3 "Porquanto te agradaste deles". Robert Browning, Rabi Ben Esra: "Envelhece em minha companhia! Melhor ainda é, pelo resto da vida estar com aquele que, no princípio nos deu a vida; Contempla todas as coisas, mas não te atemorizes'!" Shakespeare, King Lear, 1.2 - "Eis o excelente janotismo do mundo que, quando envoltos na fortuna (sempre a superfluidade do nosso comportamento), acusamos o sol, a lua e as estrelas de serem culpados da nossa derrocada, como se fôssemos vilões por necessidade, tolos por compulsão e todo mal que nos ocorre se deve à confiança em Deus; extraordinária fuga do homem que deita a sua disposição à culpa de uma estrela"! Bom é Tudo que Bem Acaba: "Nossos remédios, que atribuímos ao céu, sempre estão dentro de nós; o destino celeste dá-nos o livre escopo; só deixam para trás os nossos leves desígnios quando somos obtusos". Júlio César: "Por vezes os homens são senhores dos seus destinos; a falha, caro Bruto, não está nas nossas estrelas, mas em nós mesmos, em nós, que somos subordinados."
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Capítulo IV AS OBRAS DE DEUS; OU A EXECUÇÃO DOS DECRETOS SEÇÃO I – CRIAÇÃO I. DEFINIÇÃO DE CRIAÇÃO Criação é o ato livre do Deus trino pelo qual, no princípio, para sua glória, ele fez, sem o uso de matéria preexistente, todo o universo visível e invisível. Criação designa origem através de um Deus transcendental e pessoal. Em si mesma, ela mesma não é Deus. O universo se relaciona com Deus como as nossas volições se relacionam conosco. Elas não são a nossa pessoa. Nós somos maiores que elas. A criação não é a simples idéia de Deus, ou mesmo o plano de Deus, mas a idéia exteriorizada, o plano executado; em outras palavras, implica um exercício não só do intelecto, mas também da vontade que não é instintiva e inconsciente, mas pessoal e livre. Tal exercício da vontade parece envolver, não o autodesenvolvimento, mas a autolimitação da parte de Deus; a transformação da energia em força e o começo do tempo com suas sucessões finitas. Mas qualquer que seja a relação da criação com o tempo, ela faz o universo totalmente dependente de Deus, como seu originador. F. H. Johnson, em Andover Rev., Março 1891 e What is Reality, 285 "Criação é origem com desígnio .... O homem nunca podia ter pensado em Deus como o criador do mundo sem que primeiro o tivesse conhecido como tal". Concordamos com a doutrina de Hazard de que o homem é a primeira causa criativa. Cria idéias e volições sem o emprego de matéria preexistente. Ele também, indiretamente, através dessas idéias e volições, cria modificações cerebrais. Como Johnson mostra, tal criação prescinde de
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mãos, mas é elaborada, seletiva e progressiva. Schopenhauer: "A matéria nada mais é do que causa; seu verdadeiro ser é sua ação". Prof. C. L. Herrick, Denison Quarterly, 1896: 248, e Psychological Review?, Março, 1899, defende o que chamamos dinamismo, que ele considera como única alternativa, para um dualismo materialista que situa no devido lugar a matéria e Deus acima e distinto dela. Ele defende que o predicativo da realidade só pode ser aplicado à energia. Falar de energia dentro de algo é introduzir um conceito inteiramente incôngruo, pois ela continua nossa hospede ad infinitum. "A força", diz ele, "é energia sob resistência, ou energia auto-limitada, pois todas partes do universo derivam da energia. Manifestando-se sob formas autocondicionantes, ou diferenciais, a energia é a força. A mudança da energia pura em força é a criação introdução à resistência. A complicação progressiva de tal interferência é a evolução - forma de solução ordenada da energia. Substância é energia pura espontânea. A substância de Deus é a sua energia - o infinito e inesgotável estoque de espontaneidade que forma o seu ser. A forma que a autolimitação imprime sobre a substância, revelando-a na força, não é Deus, porque não mais possui os atributos de espontaneidade e universalidade apesar de que a força emana de Deus. Quando falamos de energia autolimitada simplesmente indicamos que a espontaneidade é inteligente. A soma dos atos de Deus é o seu ser. Não há nenhuma causa posterior ou extranja, que o estimula. Devemos reconhecer na fonte o que surge como resultado. Podemos falar de uma substância absoluta, mas não infinita, ou imutável. O universo é tão somente a expressão parcial de um Deus infinito". Nosso ponto de vista sobre a criação aproxima-se tanto do de Lotze que condensam aqui as Dez afirmações de Broeke sobre a sua filosofia; "As coisas são as leis concretas da ação. Se a idéia do ser deve incluir a permanência bem como a atividade, devemos dizer que só a verdadeiramente pessoal o é. Tudo mais é fluxo e progresso. Só podemos interpretar a ontologia partindo da pessoalidade. A possibilidade da interação requer a dependência da multiplicidade mutuamente relativa do sistema sobre Aquele que é todo inclusivo e coordenativo. O finito é o modo ou fenômeno daquele que é O Ser. As coisas são apenas modos da energia do Ser. As personalidades autoconscientes são criadas, situadas e dependentes do Ser, de um modo diferente que a mente perceptiva
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interpreta como casual. A interação real só é possível entre o Infinito e o finito criado, isto é, pessoas autoconscientes. O finito não é parte do Infinito, nem esgota parcialmente a substância do Infinito. O Ser, por um ato de liberdade, situa os muitos e os muitos têm sua base e unidade na Vontade e no Pensamento do Ser. Tanto o finito como o Infinito são livres e inteligentes. "Espaço não é uma realidade extramental, sui generis, nem uma ordem de relações entre as realidades, mas uma forma de aparência dinâmica, cuja base é a mudança fixa ordenada na realidade. Assim, o tempo é a forma de mudança, a interpretação subjetiva da intemporalidade embora sucessiva na realidade. Sendo Deus a base do processo terreno, ele o é no tempo. Naquilo em que transcende o processo terreno na personalidade autoconsciente, ele não é temporal. O movimento também é a interpretação subjetiva das mudanças das coisas, que são determinadas pelas exigências do sistema terreno e do propósito realizado nele. A verdade não é o atomismo, mas o dinamismo. Os fenômenos físicos referem-se à atividade do Infinito, dada a um caráter substantivo porque pensamos sob a forma de substância e atributo. O mecanismo é compatível com a teleologia. O mecanismo é universal e necessário a todo o sistema. Entretanto é limitado pelo propósito e pelo possível aparecimento de qualquer nova lei, força ou ato de liberdade." "A alma não é uma função de atividades materiais, mas uma realidade verdadeira. O sistema é tal que pode admitir novos fatores e a alma é um desses possíveis novos fatores. A alma é criada como realidade substancial em contraste com outros elementos do sistema que são apenas manifestações fenomenais daquele que é a realidade. A relação entre a alma e o corpo é a interação entre a alma e o universo, e o corpo é a parte do universo que está em estreita relação com a alma (versus Bradley, que sustenta que 'O corpo e a alma são igualmente estruturas fenomenais e nenhuma delas tem qualquer direito ao fato de que é possuído pelo outro'). O pensamento é o conhecimento da realidade. Devemos supor um ajuste entre o sujeito e o objeto. A suposição baseia-se no postulado da perfeita moralidade de Deus". Para Lotze, então, a única criação real é a das personalidades finitas, - e a matéria outra coisa não é senão um modo da atividade divina."
Teologia Sistemática (Strong) 738 Para mais explicação da nossa definição devemos assinalar que: a) Criação não é "produção do nada", como se o "nada" fosse uma substância da qual se pudesse formar "algo". Não consideramos a doutrina da Criação ligada à expressão "criação a partir do nada" surgindo e caindo com ela. A expressão é filosófica e para ela não temos garantia bíblica; é passível de objeção por indicar que o "nada" pode ser objeto de pensamento e fonte do ser. O germe da verdade que pretende levar em si pode ser melhor compreendido na expressão "sem o emprego de matéria preexistente".
b) Criação não é moldagem de matéria preexistente, nem emanação da substância da Divindade, mas fazer existir aquilo que uma vez não existia, quer em forma quer em substância. Não há nada de divino na criação a não ser a origem da substância. A feitura compete também à criatura. Gassendi disse para Descartes, que a criação de Deus, se ele é o autor das formas, mas não das substâncias, é tão somente como o alfaiate que veste o homem com a roupa que é dele. Mas a substância não é necessariamente material. Ao invés disso, devemos concebê-la segundo a analogia das nossas próprias idéias e volições e manifestações do espírito. A criação não é apenas o espírito de Deus, nem mesmo o plano de Deus, mas a exteriorização daquele pensamento e a execução daquele plano. A Natureza é "uma grande folha da parte de Deus, caída do céu" e "nada contendo de comum ou impuro"; mas a matéria não é uma parte de Deus, assim como nossas idéias e volições não são parte de nós mesmos. A natureza é manifestação parcial de Deus, mas não exaure a pessoa de Deus.
c) Criação não é um processo instintivo ou necessário da natureza divina, mas um ato livre de uma vontade racional, exercido com uma finalidade definida e suficiente. Em gênero, a criação é diferente do eterno processo da natureza divina em virtude do qual falamos da geração e do procedimento. O Filho é gerado
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pelo Pai e é da mesma essência; o mundo é criado sem matéria preexistente; é diferente de Deus e feito por Deus. A geração é um ato necessário; a criação é um ato da livre graça de Deus. A geração é eterna, intemporal; a criação está no tempo, ou com o tempo. Studia Bíblica, 4.148 - Criação é a limitação voluntária que Deus impôs a si mesmo. ... Só pode ser considerada como uma criação de espíritos livres. ... É uma forma de o poder onipotente submeter-se à limitação. Criação não é desenvolvimento de Deus, mas sua circunscrição. ... O mundo não é a expressão de Deus, ou a emanação de Deus, mas sua autolimitação.
d) Criação é o ato do Deus trino no sentido de que todas as pessoas da Trindade, não criadas, têm parte na sua realização - o Pai como causa originadora, o Filho como causa mediadora e o Espírito como causa realizadora. Ao tratarmos da Trindade e da divindade de Cristo como elementos dessa doutrina, provou-se que toda a atividade criadora de Deus é exercida através de Cristo. Podemos aqui fazer referências a textos anteriormente considerados, a saber: Jo. 1.3,4 - "Todas as coisas foram feitas por intermédio dele e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele..." I Co. 8.6 - "um Senhor, Jesus Cristo, através de quem são todas as coisas". Cl. 1,16 - "Todas as coisas foram criadas através dele e para ele". Hb. 1,10 "Tu, Senhor, no começo lançaste o fundamento da terra e os céus são obras das tuas mãos". A obra do Espírito Santo parece ser a de completar, aperfeiçoar. Para entender isto, basta apenas lembrar que o Espírito Santo consuma o nosso conhecimento e amor cristão e que ele também é o princípio da nossa própria consciência, unindo sujeito e objeto em um sujeito-objeto. Se se concebe a matéria como manifestação do espírito, segundo a filosofia idealista, então o Espírito Santo pode ser considerado como agente aperfeiçoador e realizador na exteriorização das idéias divinas. Conquanto todas as coisas são feitas através do Verbo, o Espírito Santo é o autor da
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vida, da ordem e do adorno. A criação não é simples manufatura; é ato espiritual. John Caird, Fundamental Ideas of Christianity, 1.120 - "A criação do mundo não pode dever-se a um ser exterior. O poder pressupõe um objeto sobre o qual é exercido. 129 - Na própria natureza de Deus há uma razão por que ele deve revelar-se e comunicar-se, um mundo de existências finitas, ou cumprir e realizar-se no ser e vida da natureza e do homem. Sua natureza não seria o que é se esse mundo não existisse; sem ela faltaria algo na complementação do ser divino. 144 - Mesmo com relação ao pensamento humano ou inteligência é a mente ou espírito que cria o mundo. Não se trata de mundo pronto o qual podemos ver; ao perceber o mundo, fazemo-lo. 152-154 - Fazemos progresso quando deixamos de pensar os nossos pensamentos e fazemos a média da Inteligência universal". Conquanto aceitemos a interpretação idealística da criação de, discordamos da sua indicação de que a criação é uma necessidade de Deus. O ser trinitário de Deus o faz suficiente em si mesmo, ainda que não houvesse criação. Contudo, as próprias relações trinitárias lançam luz sobre o método da criação, visto que nos esclarecem a ordem de toda a atividade divina.
II. PROVA DA DOUTRINA DA CRIAÇÃO A criação é uma verdade da qual a mera ciência ou a razão não podem assegurar-nos completamente. A ciência física pode observar e registrar mudanças, mas nada conhece sobre as origens. A razão não pode absolutamente desaprovar a eternidade da matéria. Para a prova da doutrina da criação, portanto, confiamos totalmente na Escritura. A Escritura suplementa a ciência e torna sua explicação do universo completa. Drummond em sua Natural Law in the Spiritual World, defende o ponto de vista de que os átomos, como "artigos manufaturados", e a dissipação da energia, provam a criação do visível a partir do invisível. Mas Sir Charles Lyell diz-nos: "A Geologia é a autobiografia da terra; mas, como todas autobiografias, não remonta ao início". Hopkins, Yale Lectures, sobre Pontos
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de Vista Bíblicos a Respeito do Homem: "A priori nada há contra a eternidade da matéria". Wardlaw, Syst. Theol., 265 - Não podemos formar qualquer concepção distinta da criação a partir do nada. A sua própria idéia nunca podia ter vindo à mente humana se não tivesse sido tradicionalmente transmitida como parte da revelação aos pais da raça". O filósofo alemão Hartmann retrocede aos elementos originais do universo e diz que a ciência permanece petrificada ante a questão da sua origem como diante da cabeça da Medusa. Porém, diante de problemas, diz Dorner, o dever da ciência não é a petrificação, mas a solução. Isto é verdade peculiarmente se a ciência é, como pensa Hartmann, uma explicação completa do universo. Porque a ciência, por seu próprio reconhecimento, não fornece nenhuma explicação sobre a origem das coisas, a revelação da Escritura a respeito da criação vai ao encontro de uma demanda da razão humana acrescentando um fato sem o qual a ciência seria sempre destituída da mais elevada unidade e racionalidade. E. H. Johnson, Andover Review, Nov. 1891, 502 sg, assinala que a evolução pode reduzir-se a elementos cada vez mais simples, a matéria imóvel sem nenhuma qualidade que não seja o ser. Ora, torne-a mais simples, desvestindo-a da existência, e chegar-se-á à necessidade de um Criador. É impossível um infinito número de estágios. Não existe número infinito. Em algum lugar existe um começo. Admitimos com o Dr. Johnson que a única alternativa para a criação é o dualismo materialista, ou a matéria eterna que é o produto da mente e vontade divinas. A respeito das teorias do dualismo e da criação a partir da eternidade discutiremos daqui para frente.
1. Declarações diretas da Escritura A) Gênesis 1.1 - "No princípio criou Deus o céu e a terra". Tem-se objetado a isso que o verbo בּראnão denota necessariamente a produção sem o uso de matéria preexistente (ver Gn. 1.27 – "criou Deus o homem à sua imagem"; cf. 2.7 – "formou o Senhor o homem do pó da terra"; também Sl. 51.10 – "Cria em mim um coração puro").
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"Nos dois primeiros capítulos de Gênesis emprega-se בּרא1) para denotar a criação do universo; 2) para a criação dos grandes monstros (1.21); 3) para a criação do homem (1.27). Em todo lugar lemos que Deus faz a partir de uma substância já criada, o firmamento (1.7), o sol, a lua e as estrelas (1.16), o irracional (1.25); ou a formação dos animais do campo produzidos da terra (2.19); ou, por fim, a feitura da mulher a partir da costela do homem (2.22) -citada no Bib. Com. 1.3. Guyot, Creation, 30 - Portanto, reserva-se bará para assinalar a primeira introdução de cada uma das três esferas da existência -o mundo da matéria, o mundo da vida e o mundo espiritual representado pelo homem".
Em resposta admitimos que o argumento para a criação absoluta derivado da palavra [ בּראbara] não é inteiramente conclusivo. Outras considerações em conexão com o sentido desta palavra, contudo, parecem tornar esta interpretação de Gênesis 1.1a mais plausível. Passamos a mencionar algumas destas considerações. a) Conquanto reconheçamos que o verbo " בּראnão denota necessária ou invariavelmente produção sem o uso de matéria preexistente, sustentamos ainda que significa a produção de um efeito para o qual nenhum antecedente natural existia antes e que só pode ser o resultado da atuação divina". Por esta razão, usa-se a espécie no Kal somente para Deus e nunca vem acompanhado de um acusativo indicando matéria. O caso acusativo, indicando matéria, nunca vem depois de bará nas passagens indicadas em razão de que está ausente todo o pensamento sobre a matéria. Esta citação é de Green, Hebrew Chrestomathy, 67. Porém Ε. F. Robinson, Christian Theology, 88, assinala: Se a Escritura ensina a origem absoluta da matéria - cuja criação provém do nada, é questão aberta. ... Não se fornece nenhuma evidência decisiva da palavra hebraica bará". O Prof. W. J. Beecher, em S. S. Times, 23 de dezembro de 1893, 807, oferece uma afirmação moderada e erudita dos fatos - "Criar é gerar divinamente. ... A Criação no sentido bíblico não exclui a utilização de
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matéria preexistente; porque o homem foi tomado da terra (Gn. 2.7) e a mulher, da costela do homem (2.22). Comumente Deus traz à existência coisas através da operação de causas secundárias. Porém é possível, pensamos, desviar a atenção das causas secundárias e pensar em qualquer coisa simplesmente originada de Deus, independentemente das causas secundárias. Pensar em tal coisa é pensar na criação. A Bíblia fala em Israel como criado, da prometida prosperidade de Jerusalém como criada, dos Amonitas e do rei de Tiro como criados, de pessoas em qualquer época da história como criadas (Is. 43.1-15; Ez. 21.30; 28.13,15; SI. 102.18; Ec 12.1; Ml. 2.10). Pensa-se nos milagres e nos últimos princípios das causas secundárias como atos necessariamente criadores; segundo o propósito que se tem em mente pode-se pensar em todas outras origens das coisas, ou como criadas ou como efetuadas por causas secundárias".
b) No relato da criação, "[ בּראbara"] parece distinguir-se de עשׂה [asah] "fazer" com ou sem o uso de matéria já preexistente (הwהsel " בּראcriado através da feitura" ou "fazer através da criação", em 2.3; e seyר, do firmamento em 1.7) e de ruy [yatzar] "formar" de tal matéria (ver בּראyר,בּרא, sobre o homem como um ser espiritual, em 1.27; mas רeyר, a respeito do homem considerado como um ser físico, em 2.7). Conant, Genesis, 1; Bib. Com., 1,37 - " 'criado para fazer' (em Gn. 2.3) = criado do nada para que ele pudesse formular disso todas obras registradas nos seis dias". Contra estes textos, devemos colocar outros em que não aparece nenhuma distinção precisa destas palavras a respeito de uma ou de outra Bara é usada em Gn. 1.1, Asah em Gn. 2.4 a respeito da criação dos céus e da terra. A respeito da terra usa-se tanto yatzar como asah em Is. 45.18. Com relação ao homem, em Gn. 1.27 encontramos bará] em Gn. 1.26 e 9.6 temos asah; e em Gn. 2.7 yatzar. Em Is. 43.7 encontramse todos os três no mesmo verso: "... e o tenho bará para a minha glória e o tenho yatzar e o tenho asah". Em Is. 45.12 "asah a terra e bará o homem ..." Mas em Gn. 1.1 lemos "Deus bará a terra" e em 9.6 "asah o homem". Is. 44.2 "O Senhor que te asah (i.e. o homem) e te yatzar"; mas em Gn. 1.27 Deus "bará o homem". Em Gn. 5.2 "masculino e feminino os bará". Em Gn. 2.22 "da costela ele asah uma mulher"; em Gn. 2.7 "yatzar" o homem i.e.
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bará o masculino e o feminino, embora asah a mulher e yatzar o homem, asah nem sempre é usado para transformar. SI. 51.10 - "bará em mim um coração puro"; Is. 41.19- "a faia, o olmeiro e o álamo" na natureza – bará; Is. 65.18 – Deus "bará para Jerusalém alegria e para o seu povo gozo".
c) O contexto mostra que o sentido aqui é de fazer sem o uso de matéria preexistente. Porque a terra em sua condição rude, informe, caótica ainda é chamada "terra" no verso 2, a palavra בּראno verso 1 não pode referir-se a qualquer dimensão ou moldagem dos elementos, mas deve significar chamá-las a ser. Oehler, Theol. of O. T., 1,177 - "berashith, 'no princípio' a criação divina é fixada como o começo absoluto, não como obra realizada em algo que já existia". O v. 2 não pode ser o começo de uma história porque começa com a palavra 'e'. Delitzsch fala da expressão 'a terra era sem forma e vazia': a partir disto é evidente que o estado vazio e informe da terra não foi não criado e sem começo. ... "É evidente que ‘o céu e a terra’ como Deus os criou no princípio não eram o universo bem ordenado, mas o mundo em sua forma elementar".
d) A palavra בּראpode ter tido uma outra significação original de "cortar", "formar" e que retém este sentido na conjugação piei, não necessita prejuízo à conclusão a que se chega porque termos expressivos dos processos mais espirituais derivam de raízes sensoriais. Se בּראnão significa criação absoluta não há na língua hebraica nenhuma palavra que expresse esta idéia. e) Mas esta idéia de produção sem o uso de matéria preexistente inquestionavelmente ocorreu entre os hebreus. As mais tardias Escrituras mostram que ela havia se tornado natural à mente hebraica. A posse desta idéia pelos hebreus, conquanto não seja achada de modo algum, ou obscura e ambiguamente expressa nos livros sagrados dos pagãos, pode
Teologia Sistemática (Strong) 745 ser melhor explicada supondo que ela derivava desta antiga revelação em Gênesis. E. H. Johnson, Outline of Syst. TheoL, 94 - "Rm 4.17 dá-nos conta de que a fé de Abraão, a quem Deus prometera um filho, ligava-se ao fato de que Deus chama à existência as coisas que não são! Isto pode ser aceito como a interpretação de Paulo sobre o primeiro verso da Bíblia". É possível que o pagão tivesse ocasionais lampejos desta verdade apesar de que não com tanta clareza como a que Israel possuía. Talvez possamos dizer que, mais tarde, através das perversões, os cultos à natureza, algo da revelação original sobre a criação absoluta brilhasse, tão debilmente como o primeiro escrito de um palimpsesto que aparece através do subseqüente junto ao qual foi apagado. Se a doutrina da criação absoluta se encontra entre os pagãos, é grandemente rasurada e confusa. Nenhum dos livros pagãos a ensina como as Sagradas Escrituras dos hebreus. Contudo, fica a impressão de que sem esta "ênfase do Espírito Santo o desatento mundo ter-se-ia perdido". Bib. Com. 1,31 - "Talvez nenhuma outra língua antiga, por mais refinada e filosófica que fosse, poderia ter distinguido com tanta clareza os diferentes atos daquele que fez todas as coisas [como o hébreu fez com as quatro diferentes palavras], e isso porque toda a filosofia paga avaliava a matéria como não criada, mas eterna". Prof. Ε. D. Burton: "O Bramanismo e a religião original, de que o zoroastrismo é uma reforma, eram divisões orientais e ocidentais de uma religião ariana positiva e, provavelmente monoteísta. Os Vedas, que representam o Bramanismo, deixam uma pergunta sobre a origem do mundo: se de Deus pela emanação, ou feitura de material eternamente existente. Mais tarde o Bramanismo veio a ser panteísta e o Budismo, uma Reforma do Bramanismo, ateísta". Inclinamo-nos ainda a sustentar que nenhuma nação antiga, além dos hebreus, conheceu a doutrina da criação absoluta. Recentes investigações, contudo, tornam isto um tanto mais duvidoso do que outrora podia ser. Sayce, Hubert Lectures, 142,143, vê a criação entre os antigos babilônios. Em sua obra Religions of Ancient Egypt and Babylonia, 372-397, diz: "Os elementos da cosmologia hebraica são todos babilônicos; mesmo a palavra criadora em si era uma concepção babilônica; mas o espírito que inspira a
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cosmologia é a antítese daquele que inspirou a cosmologia da Babilônia. Entre o politeísmo da Babilônia e o monoteísmo de Israel há uma lacuna que não pode ser preenchida. Logo que temos um monoteísmo claro, vem a criação absoluta como corolário. Com a corrupção da idéia monoteísta, a criação deu lugar à transformação panteísta". Outros têm defendido agora que o Zoroastrismo, os Vedas e a religião dos antigos egípcios tinham a idéia da criação absoluta. Hino védico no Rig Veda, 10.9, citado por J. F. Clarke, Ten Great Religions 2.205 "Originariamente este universo era uma só alma; nada mais existia, quer ativo, quer inativo. Pensava ele: 'criarei mundos'; e assim criou vários mundos: a terra, a luz, o ser mortal, as águas". Renouf, Hibbert Lectures, 216-222, fala de um papiro sobre a escada do Museu Britânico que reza: Ό grande Deus, Senhor do céu e da terra, que fez todas as coisas que são ... o onipotente Deus, auto-existente, que fez o céu e a terra;... o céu ainda não era criado, não criada era a terra; tu ajuntaste a terra ... aquele que fez todas as coisas, mas não foi feito". Porém a religião egípcia, mais tarde, em seu desenvolvimento, assim como o Bramanismo, era panteísta e é possível que todas as expressões que temos citado devem ser interpretadas não como indicação de uma crença na criação a partir do nada, mas como afirmação da emanação, ou como a divindade assumindo novas formas e modos de existência.
B) Hebreus 11.3 - "Pela fé entendemos que os mundos foram formados pela palavra de Deus, de modo que o que se vê não foi feito do que aparece" = o mundo não foi feito da matéria perceptível aos sentidos e preexistente, mas pelo fiat direto da onipotência (ver Alford e Lünemann, Meyer's Com. In loco). Compare 2 Macabeus 7.28 - έξ ουκ όντων έποίησεν αυτά ό Θεός. A Vulgata traduz isto como "quia ex nihilo fecit illa Deus", e é da Vulgata que surge a expressão "criar a partir do nada". Hedge, Ways of the Spirit, assinala que a Sabedoria 11.17 contém έξ άμορφου ύλης e interpreta isto como o έξ ουκ όντων de 2 Macabeus e nega que isto se refere à criação a partir do nada. Porém convém lembrar que mais tarde foram compostos
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escritos apócrifos sob a influência da filosofia platônica; que a passagem na Sabedoria pode ser uma interpretação racionalista do que se acha em Macabeus; e que, ainda que fosse independente não deveríamos admitir a harmonia do ponto de vista nos apócrifos. 2 Macabeus 7.28 deve fixar-se como testemunho da crença judaica na criação sem matéria preexistente, crença que não pode levar a nenhuma outra fonte que não sejam as Escrituras do A.T. Comp. Ex. 34.10 - "Farei maravilhas tais como não têm sido feitas (criadas) em toda a terra"; Nm. 16.30 "se o Senhor fizer (criar uma criatura) uma nova coisa"; Is. 4.5 - Ό Senhor criará ... nuvem e fumaça"; 41.20 - "o Santo de Israel fez (criou) isso"; 45.7,8 -"Formo a luz, crio as trevas"; 57.19 - "Crio o fruto dos lábios"; 65.17 - "Crio novos céus e nova terra"; Jr. 31.22 - "O Senhor criou uma nova coisa". Rm. 4.17 - "Deus, que vivifica os mortos e chama as coisas que não são como se fossem"; 1 Co. 1.28 - "[Deus escolheu] as coisas que não são para aniquilar as que são"; 2 Co. 4.6 - "Deus, que disse, a luz brilhará nas trevas" = criou a luz sem matéria preexistente, porque as trevas não são matéria; CI. 1.16,17 - "Nele todas as coisas foram criadas .... e ele é antes de todas as coisas". Assim também SI. 33.9 - "Falou e logo se fez"; 148.5 "Mandou e foram criados"; Filo, Criação do Mundo, caps. 1-7 e A Vida de Moisés, livro 3, cap. 36 - "Ele produziu a mais perfeita obra, o Cosmos, do não existente (του μή οντος) para ser (εις το είναι)". Ε. Η. Johnson, Sys. Theol., 94 - "Não temos razão alguma para crer que a mente hebraica tinha a idéia da criação a partir de matéria invisível. Mas a criação a partir da matéria visível acha-se negada expressamente em Hb. 11.3. Este texto, portanto, equivale a uma afirmação de que o universo foi feito sem a utilização de qualquer matéria preexistente".
2. Evidência indireta da Escritura a) A duração passada do mundo é limitada; b) antes que o mundo começasse a ser cada pessoa da divindade já existia; c) a origem do universo é atribuída a Deus e a cada uma das pessoas da divindade. Estas representações da Escritura não são apenas mais consistentes com o ponto de vista de que o universo foi criado por Deus sem o uso de
Teologia Sistemática (Strong) 748 matéria preexistente, mas são inexplicáveis sob qualquer das outras hipóteses. a) Mc. 13.19 - "desde o princípio da criação, que Deus criou, até agora"; Jo. 17.5 - "antes que mundo existisse"; Ef. 1,4 - "antes da fundação do mundo". b) SI. 90.2 - "antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade tu és Deus". Pv. 8.23 "Desde a eternidade fui estabelecida; desde o princípio, antes do começo da terra"; Jo. 1.1 - "No princípio era o Verbo"; Cl. 1.17 - "Ele é antes de todas as coisas"; Hb. 9.14 - "o Espírito eterno" (ver Comentário de Tholuck in loco). c) Ef. 3.9 - "Deus, que tudo criou". Rm. 11.36 - "dele são todas as coisas". 1 Co. 8.6 - "um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas"... Jo. 1.3 -"Todas as coisas foram feitas por intermédio dele". Hb. 1.2 - "através de quem também fez os mundos". Gn. 1.2 - "e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas". Destas passagens podemos inferir que 1) todas as coisas dependem absolutamente de Deus; 2) Deus exerce o controle supremo sobre todas as coisas; 3) Deus é o único ser infinito; 4) só Deus é eterno; 5) não há nenhuma substância a partir da qual Deus cria; 6) as coisas não procedem de Deus por emanação necessária; o universo tem sua fonte e origem na vontade transcendente de Deus.
III. TEORIAS QUE SE OPÕEM À CRIAÇÃO 1. Dualismo Há duas formas de dualismo: A) A que sustenta dois princípios auto-existentes: Deus e a matéria. Estes são distintos e coeternos. A matéria, contudo, é uma substância inconsciente, negativa e imperfeita, e está subordinada a Deus e se torna instrumento da vontade dele. Este é o princípio subjacente dos gnósticos alexandrinos. É essencialmente uma tentativa de combinar com Cristo a concepção platônica ou aristotélica do ΰλη. Deste modo pensava-se
Teologia Sistemática (Strong) 749 contar com a existência do mal e escapar à dificuldade de imaginar uma produção sem o uso de matéria preexistente. Basílides (que floresceu em 125) e Valentino (falecido em 160), representantes deste ponto de vista, sofreram a influência da filosofia hindu e seu dualismo quase não difere do panteísmo. Semelhante ponto de vista tem sido sustentado modernamente por John Stuart Mill e talvez por Frederick W. Robertson. O dualismo procura mostrar como o Uno se torna múltiplo, como o Absoluto dá surgimento ao relativo, como o bem pode coexistir com o mal. A ύλη de Platão parece nada significar senão espaço vazio, do qual o não ser, ou simplesmente a existência negativa impede a plena realização das idéias divinas. Aristóteles considerava a ύλη como uma causa mais positiva da imperfeição, - é como se fosse a matéria dura que embaraça o escultor na expressão do seu pensamento. O verdadeiro problema tanto para Platão como para Aristóteles é explicar a passagem da existência puramente espiritual para a que é fenomenal e imperfeita, do absoluto e ilimitado para aquilo que existe no espaço e no tempo. Em vez de ser considerado criado, o finito é como se tivesse existência eterna, limitando todas manifestações divinas. A ύλη, por ser simples abstração, torna-se fonte positiva ou negativa do mal. Os judeus de Alexandria, sob a influência da cultura helenista, procuraram fazer este dualismo explicar a doutrina da criação. Basílides e Valentino, contudo, estavam também sob a influência de um filósofo panteísta trazida do remoto Oriente - a filosofia do budismo, que ensina que a fonte original de todos é um inominável Ser, destituído de todas as qualidades e, assim, não se distingue do Nada. Deste Ser, que é o nãoser, procedem todas as coisas existentes. Aristóteles e Hegel semelhantemente ensinam que o Ser puro é igual ao Nada. Mas, como o objetivo dos filósofos alexandrinos era mostrar como algo podia ser originado, eles foram obrigados a conceber o Nada primitivo como capaz de tal origem. Contudo, eles, na falta de qualquer concepção de criação absoluta, foram compelidos a conceber a matéria que podia ser formada. Por isso, o vazio, o Abismo toma lugar na natureza. Se se disser que eles não concebiam o Vazio ou o Abismo como substância, respondemos que eles lhe deram tanto existência substancial como deram a primeira Causa das coisas, que, apesar de suas descrições negativas envolviam a Vontade
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e o Desígnio. Ε embora eles não atribuam a esta substância secundária uma influência positiva para o mal, eles vêem o inconsciente empecilho de todo o bem. Principal Tulloch, Enciclopédia Britânica, 10.704 - "Na Gnose alexandrina ... a correnteza do ser em seu fluxo sempre externo entra em contato com a matéria morta que, deste modo, recebe animação e se torna uma fonte viva do mal". Windelband, Hist. Philosophy, 129, 144, 239 - "Com Valentino, lado a lado com a divindade derramada na Pleroma da Plenitude das formas espirituais, aparece o Vazio, igualmente original e a partir da eternidade; ao lado da Forma aparece a matéria; ao lado do bem aparece o mal". Mansel, Gnostic Heresies, 139 - "A teoria platônica da matéria inerte, semi-existente ... foi adotada pela gnose do Egito ... 187 - Valentino não se contenta, como Platão, ... em admitir como germe do mundo natural a matéria informe existente desde a eternidade. ... A teoria inteira pode ser descrita, na linguagem alegórica, como o desenvolvimento da hipótese panteísta que Basílides adotara em seu esboço". A. H. Newman, Ch. History, chama a filosofia de Basílides de "fundamentalmente panteísta". "Valentino", diz ele, "não se preocupava tanto em insistir na original não existência de Deus e de tudo". Respondemos que, mesmo para Basílides, o ser não existente é dotado de poder; e este poder nada realiza enquanto não entre em contato com as coisas não existentes e, a partir delas, modele a semente do mundo. As coisas não existentes são tão substanciais como o Modelador e implicam tanto objetividade como limitação. Lightfoot, Com. on Colossians, 76-113, traçou uma conexão entre a doutrina gnóstica, a mais antiga heresia colossense e o ainda mais antigo ensino dos essênios da Palestina. Todos estes se caracterizavam 1) pelo espírito de casta ou exclusividade intelectual; 2) pelos dogmas peculiares quanto à criação e quanto ao mal; 3) pelo ascetismo prático. A matéria é má e faz separação entre o homem e Deus; por isso os seres intermediavam entre o homem e Deus como objetos de adoração; também, por isso, a mortificação do corpo como um meio de purificar o homem do pecado. O antídoto de Paulo para ambos os erros era simplesmente a pessoa de Cristo, o verdadeiro e único mediador e santificador.
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Harnack, Hist. Dogma., 1.128 - "A maioria dos empreendimentos gnósticos podem ser vistos como tentativas de transformar o cristianismo em teosofia. ... No gnosticismo o espírito helênico desejava fazer-se mestre do cristianismo ou, mais corretamente, das comunidades cristãs". ... 232 – Harnack representa uma das doutrinas filosóficas fundamentais do gnosticismo, a do cosmos como mistura da matéria com centelhas divinas que surgiram de uma descida destas para aquela [gnosticismo alexandrino], ou, como diz alguém, de perverso, ou simplesmente permitiram o empreendimento de um espírito subordinado [gnosticismo sírio]. Podemos comparar o saduceu hebreu com o epicurista grego; o fariseu com o estóico; o essênio com o pitagórico. Os fariseus exageravam a idéia da transcendência de Deus. Os anjos devem estar entre Deus e o mundo. Os gnósticos intermediários eram a realização lógica. Só as obras exteriores de obediência eram válidas. Em lugar disto, Cristo pregou uma religião a partir do coração. Wendt, Teaching of Jesus, 1.52 - "A rejeição dos sacrifícios de animais e conseqüente abstinência da adoração no templo da parte dos essênios, que parecem estar em desarmonia com o resto da sua obediência legal explica-se melhor como conseqüência da idéia de que a oferta de sangue de animal a Deus era derrogatória ao seu caráter transcendental. Por isso, interpretavam a ordem do Velho Testamento alegoricamente". Lyman Abbott: Ό oriental sonha; o grego define; o hébreu age. Todas estas influências se encontram e interferem em Alexandria. As emoções são mediações entre o Deus absoluto, incognoscível, de alcance total e o Deus pessoal, revelado santo na Escritura. O Ascetismo é um resultado: a matéria não é divina, pelo que está livre disso. A licença é outro resultado: a matéria é não divina, pelo que a desconsidera - não há doença e não há pecado - é a moderna doutrina da Ciência Cristã". Kelney, Christian Doctrine, 1.360373; 2.354, concebe a glória divina como ambiente material eterno de Deus de que o universo é formado. O autor de "O Universo Invisível" (p. 17) erroneamente chama J. Stuart Mill de maniqueu. Entretanto, Mill nega a crença na pessoa/idade deste princípio que existe e limita Deus; ver seus Posthumous Essays on Religion, 176-195. F. H. Robertson, Lectures on Genesis 4-6 - "Antes a criação do mundo tudo era caos ... mas, com a criação, a ordem começou ... Deus não parou de criar, pois a criação continua a cada dia. A natureza é Deus em
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operação. Só após surpreendentes mudanças, como na primavera, dizemos figurada-mente, Deus descansa'".
Com relação a este ponto de vista notamos que: a) A máxima ex nihilo nihilfit, na qual se apóia, é verdadeira naquilo que afirma que nenhum evento ocorre sem causa. É falsa, se significa que nada jamais pode ser feito sem matéria preexistente. Portanto, a máxima é aplicável só ao reino das causas secundárias e não impede a força criativa da grande primeira Causa. A doutrina da criação não dispensa a causa; por outro lado, atribui ao universo uma causa suficiente em Deus. Lucrécio: "Nihil posse criari de nihilo, neque quod gentium est ad nihil revocari". Pérsio: "Gigni De nihilo, in nihilum nil posse reverteri". Martensen, Dogmatics, 135 - "O nada, de que Deus cria o mundo, é a possibilidade eterna do que ele quer que sejam as fontes de todas as realidades do mundo". Lewes, Problems of Life and Mind, 2.292 - "Por isso, quando se argumenta que nem se deve pensar na criação de alguma coisa a partir do nada e, por isso, peremptoriamente deve ser rejeitado, o argumento parece-me defeituoso. O processo merece a atenção do nosso pensamento, embora seja imaginável e concebível, mas não provável". Lipsius, Dogmatik, 288, assinala que a teoria do dualismo é tão difícil como a da criação absoluta. Ela pensa em um ponto no tempo quando Deus começa a moldar a matéria preexistente e não pode apresentar nenhuma razão por que Deus não o fez antes, visto que sempre deve ter havido nele um impulso para a referida moldagem.
b) Apesar de que a criação sem o uso de matéria preexistente é inconcebível, no sentido de ser irretratável à imaginação, contudo, a eternidade da matéria é igualmente inconcebível. Para a criação sem matéria preexistente, contudo, achamos remotas analogias na nossa própria criação de idéias e vontades, fato tão inexplicável como o de Deus causar substâncias novas.
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Mivart, Lessons from Nature, 371,372 - Em certo sentido temos um auxílio para o pensamento da criação absoluta em nossa vontade livre, que, originando e determinando de modo tão absoluto possamos tomá-la com um tipo do ato criativo". Falamos de 'faculdade criadora' do poeta ou do artista. Não podemos tornar reais os produtos da nossa imaginação como Deus pode fazer com as dele. Mas, se o pensamento fosse apenas substância, a analogia seria completa. Shedd, Dogm. Theol., 1.467 - "Nossos pensamentos e volições são criados ex nihilo no sentido de que um pensamento não se opera a partir de outro, nem uma volição a partir de outra". Deste modo, a substância criada pode ser apenas a mente e a vontade de Deus em exercício, automaticamente na matéria, livremente no caso dos seres livres. Beddoes: "Tenho um pouco do Fiat em minha alma e posso criar o meu mundozinho". Mark Hopkins: Ό homem é uma imagem de Deus como criador. ... Pode propositadamente criar, ou fazer existir, futuro que só teria existido para ele". E. C. Stedman, Nature of Poetry, 233 - "Assim como o Poeta, o artista é criativo; ele se torna participe da imaginação divina e poder e até mesmo da responsabilidade divina". Wordsworth chama o poeta de "sereno criador das coisas imortais". A imaginação, diz ele, é tão somente outro nome para "o mais claro discernimento, amplitude da mente e a razão na sua mais exaltada manifestação". Se somos 'deuses' (SI. 82.6), essa parte do Infinito que está incorporada em nós deve participar de uma limitada extensão do poder de criar". Veitch, Knowing and Being, 289 - "A vontade, expressão da personalidade, tanto originando soluções como moldando matéria existente na forma, é a mais próxima abordagem no pensamento que podemos fazer da criação divina". Criação não é apenas o pensamento de Deus; é também a vontade dele – pensamento é a expressão, razão exteriorizada. Vontade é criação a partir do nada no sentido de que não há o emprego de matéria preexistente. No exercício da imaginação criativa da parte do homem, existe a vontade assim como o intelecto. Royce, Studies of Good and Evil, 256, assinala que pode haver o elemento original 1) no estilo ou forma da nossa obra; 2) na seleção dos objetos que imitamos; 3) na invenção das novas combinações da matéria. O estilo, a combinação da matéria, então, abrangem os métodos da nossa originalidade. Nossas novas combinações da natureza como
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expressão da mente e vontade divinas aproximam mais a criação e a nossa compreensão do que o velho conceito do mundo como substância capaz de existir independente de Deus. Hudson, Law of Psychic Phenomena, 294, defende o pensamento de que temos poder para criar fantasmas visíveis ou pensamentos incorporados que podem subjetivamente ser percebidos pelos outros. Ver também de Hudson, Scientific Demonstration of Future Life, 153. Ele define o gênio como o resultado da ação sincrônica das faculdades subjetiva e objetiva. Jesus de Nazaré, em seu julgamento, foi um maravilhoso psíquico. Percepção intuitiva e razão objetiva estavam com ele sempre em ascendência. Seus milagres eram falsamente interpretados como fenômenos psíquicos. Jesus nunca reivindicou que as suas obras eram o lado exterior da lei natural. Todo homem tem o mesmo poder intuitivo, embora em diferentes graus. Podemos acrescentar que, quando o homem gera uma criança, dá existência substancial a um outro ser. O ato de Cristo criar o homem pode ser como o ato do Pai gerá-lo. Behrends: "A relação entre Deus e o universo é mais íntima e orgânica que a relação entre um artista e a sua obra. A figura do mármore independe do escultor no momento em que se completou. Ela continua, mesmo depois da morte dele. Mas o universo desapareceria com o afastamento da presença e atuação de Deus. Se eu tivesse de empregar qualquer figura seria a da geração. A imanência de Deus é o segredo da permanência e uniformidade da natureza. A criação é primordialmente um ato espiritual. O universo não é o que vemos e tateamos. O universo real é um império de energias, uma hierarquia de forças correlatas cuja realidade e cuja unidade estão arraigadas na vontade racional de um Deus perpetuamente ativo na preservação. Mas não há nenhuma identidade de substância, nem qualquer divisão da substância divina. Bowne, Theory of Thought and Knowledge, 36 - "Concebe-se uma mente que cria de modo integral seus objetos somente pela sua própria atividade e sem a dependência de qualquer coisa a não ser ela mesma. Tal é a nossa concepção da relação do Criador com os seus objetos. Mas não é este o caso em ligeira extensão. A nossa vida mental começa e chegamos gradualmente ao conhecimento das coisas e de nós mesmos. Em certo sentido, apresentam-se os nossos objetos; i.e. não temos objetos à vontade
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ou as suas propriedades variam ao nosso bel-prazer. Neste sentido somos passivos quanto ao conhecimento e nenhum idealismo pode afastar este fato. Entretanto, em certo sentido, nossos objetos são nossos produtos; pois um objeto existente torna-se objeto para nós só quando pensamos nele e assim fazemo-lo nosso. Neste sentido, o conhecimento é um processo ativo e não uma recepção passiva da informação pronta vinda de fora". Clarke, Seifand the Father, 38 - Somos nós humilhados por termos dados para que a nossa imaginação opere? por sermos incapazes de criar a matéria? Não o somos a menos que seja vergonhoso assemelharmo-nos ao Criador". A causa é tão misteriosa como a criação. Balzac convivia com suas personagens como se fossem seres reais.
c) É antifilosófico postular duas substâncias eternas quando uma Causa auto-existente de todas as coisas explicará os fatos. d) Contradiz nossa noção fundamental de Deus como soberano absoluto supor a existência de qualquer outra substância que independe da vontade dele. e) Esta substância com que Deus deve necessariamente operar, porque é, segundo esta teoria, inerentemente má, não só limita o poder de Deus, mas destrói sua bênção. f) Esta teoria não responde seu propósito de explicar o mal moral, a não ser que só se admita que o espírito é matéria, - caso em que o dualismo dá lugar ao materialismo. Martensen, Dogmatics, 121 - Deus se torna simplesmente um demiurgo, se a natureza existe antes do espírito. Só pode ter poder para completar esse espírito aquele que, em perfeito sentido, é capaz de começar a obra da criação". Se Deus não cria, ele não deve utilizar a matéria que ele acha e a sua obra com a matéria prima deve ser uma perpétua tristeza. Tal limitação no poder da divindade parece a John Stuart Mill a melhor explicação para as imperfeições existentes no universo.
Teologia Sistemática (Strong) 756 A outra forma de dualismo é: Β) A que sustenta a existência eterna de dois espíritos antagônicos, um mau e o outro bom. Neste ponto de vista a matéria não é substância negativa e imperfeita que, contudo, tem existência própria, mas é obra ou instrumento de uma inteligência pessoal positivamente maligna, que combate contra todo o bem. Este é o ponto de vista dos maniqueus. O maniqueísmo compõe-se de cristianismo e da doutrina persa das duas inteligências eternas e opostas. Zoroastro, contudo, faz com que a matéria seja pura e que a criação do bem venha a ser. Parece que Mani considera a matéria como escrava do espírito mau, ou sua absoluta criação. A velha história das viagens de Mani, na Grécia, é totalmente equívoca. Guericke, Church History, 1.185-187, sustenta que o maniqueísmo não contém nenhuma mistura da filosofia platônica, não tem nenhuma conexão com o judaísmo e, como seita, não veio de relações diretas com Igreja Católica. Harmoch, Wegweiser, 22, chama o Maniqueísmo de um composto de Gnosticismo e zoroastrismo. Herzog, Encyclopädie, art. Mani und Manichäer (Mani e os Maniqueus), considera o Maniqueísmo como o fruto, o clímax e a plenitude do Gnosticismo. O Gnosticismo é uma heresia na igreja; o Maniqueísmo, como o neoplatonismo, é uma anti-igreja. J. P. Langue: "Estas teorias opostas representam várias concepções pagas do mundo, que, como palimpsestos, apresentam-se através do Cristianismo". Isaac Taylor fala do "criador dos carnívoros"; e alguns cristãos modernos poeticamente consideram Satanás como um segundo deus e igual a ele. Monier Williams, no século XIX, janeiro 1881:155-177 – Ahúra-Masda foi o criador do universo. A matéria foi criada por ele e não se identifica com ele, e nem era sua emanação. Na natureza divina havia dois opostos, mas não opondo princípios ou forças, chamados "gêmeos" - um construtivo, o outro destrutivo; um benéfico, o outro maléfico. Zoroastro chamava estes "gêmeos" também pelo nome de "espíritos" e declarava que "um destes dois espíritos criou a realidade, o outro a irrealidade". Williams diz que estes dois princípios só se conflitam no nome. Só havia antagonismo entre o bem resultante e o mal produzido pelo agente livre, o homem.
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Podemos acrescentar que, mais tarde, esta personificação de princípios na divindade parece ter-se tornado uma crença definida nos dois espíritos pessoais opostos e que Mani, Manes, ou os maniqueus adotaram um tipo de zoroastrismo, acrescentando alguns elementos cristãos. Hagenbach, History of Doctrine, 1.470 - A doutrina dos maniqueus é de que a criação é obra de Satanás. A. H. Newman, Church History, 1.194-Ό Maniqueísmo é o Gnosticismo, com seus elementos cristãos reduzidos ao mínimo, e o Zoroastrismo, babilônico antigo e outros elementos orientais elevados ao máximo. O Maniqueísmo é o dualismo oriental com nomes cristãos, raramente retendo um traço do seu significado próprio. O que há de mais fundamental no Maniqueísmo é o dualismo absoluto. O reino da luz e o reino das trevas, com seus governantes, opõem-se eternamente um ao outro".
Deste ponto de vista podemos apenas dizer que se refuta a) com todos os argumentos da unidade, onipotência, soberania e bênção de Deus; b) com as representações escriturísticas do príncipe do mal como criatura de Deus e sujeito ao controle de Deus. Passagens da Escritura que mostram Satanás como criatura de Deus ou sujeito a ele são as seguintes: Cl. 1.16- "Porque nele foram criadas todas as coisas que há no céu e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele", cf. Ef. 6.12 - "porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais". 2 Pe. 2.4 - "porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo"; Ap. 20.2 - "Ele prendeu o dragão, a antiga serpente que é o diabo e satanás"; 10 - "e o Diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre". A mais estreita analogia com o dualismo maniqueu acha-se no conceito popular de Diabo, mantido pela igreja medieval romana. Resta a pergunta se ele era considerado como um rival ou como um servo de Deus. Matheson, Messages of Old Religions, diz que o zoroastrismo reconhece um elemento
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obstrutivo na natureza do próprio Deus. A moral iníqua é uma realidade e há o elemento de verdade no zoroastrismo. Porém não há nenhuma reconciliação nem há evidência de que todas as coisas cooperam para o bem. Ε. Η. Johnson: "Esta teoria estabelece a matéria como um tipo de divindade um ídolo insensível dotado do verdadeiro atributo divino da existência própria. Entretanto, podemos apenas reconhecer um Deus . Promover a matéria a uma coisa eterna, independente do Onisciente, mas sempre ao lado dele é a mais revolucionária de todas as teorias". Tennyson, Unpublished Poem (Life 1.314) - "Pobre de mim! pois que em volta de nós aqui há como se algum deus menor tivesse feito o mundo, mas não tivesse força para moldá-lo, como se ele ainda não fosse o altíssimo, contemplado do além e entrar nele e torná-lo belo? E. G. Robinson: Ό mal não é eterno; se fosse, estaríamos tributando nosso respeito a ele. ... Há muito de Maniqueísmo na piedade moderna. Influenciamos a alma através do corpo. Daí o sacramentalismo e a penitência. O puritanismo é o Maniqueísmo teológico. Cristo recomendou o jejum porque este pertencia à sua época. O Cristianismo veio do Judaísmo. O eclesialismo vem em grande parte da reprodução do que Cristo fez. O cristianismo não é perfunctório em suas práticas. Devemos jejuar só quando houver boa razão para isso". L. H. Mills, New World, março, 1805.51, sugere que o farisaísmo pode ser a mesma coisa que o farseísmo, que é outra forma do parseísmo. O pensamento dele é de que a ressurreição, a imortalidade, o Paraíso, Satanás, o Juízo, o Inferno, vieram de fontes persas e gradualmente evadiram para a simplicidade dos saduceus. Pfleiderer, Philos. Religion, 1.206 -"Segundo a lenda persa, o primeiro casal humano era boa criatura, Espírito totalmente sábio, Ahúra, que soprou neles o seu próprio ar. Porém, logo os homens primitivos deixaram-se seduzir pelo hostil Espírito Angromainiu na mentira e idolatria, pelo que os espíritos maus adquiriram força sobre eles e sobre a terra e espoliaram a criatura boa". Disselhoff, Die klassische Poesie und die göttliche Offenbarung, 13-25 Ό Gathas de Zoroastro são os primeiros poemas da humanidade. Neles o homem se levanta para afirmar sua superioridade com relação à natureza e afirmar a espiritualidade de Deus. Deus não se identifica com a natureza. Os deuses impessoais da natureza são ídolos vãos e causa da corrupção. Seus adoradores são servos da falsidade. Aúra-Masda (sábio-vivo) é uma
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personalidade moral e espiritual. Arimã é igualmente eterno, mas não igualmente poderoso. O bem não tem vitória completa sobre o mal. Admite-se o dualismo e perde-se a unidade. O conflito entre os tipos de fé leva à separação. Enquanto uma parte da raça permanece nas montanhas iranianas para sustentar a liberdade e a independência da natureza, a outra vai para o sudeste, às exuberantes margens do Ganges, servir às forças da natureza. O Oriente defende a unidade como o Ocidente a dualidade. Contudo, Zoroastro, nos Gathas, é quase deificado; e sua religião, que começa concedendo predominância ao Espírito bom, termina solapando a adoração à natureza".
2. Emanação Esta teoria sustenta que o universo é a mesma substância de Deus e produto de sucessivas evoluções do seu ser. Este é o ponto de vista dos gnósticos sírios. Seu sistema foi uma tentativa de interpretar o cristianismo nas formas da Teosofia oriental. Swedenborg, no século passado, ensinou semelhante doutrina. A esta teoria objetamos nas seguintes bases: d) Nega virtualmente a infinitude e a transcendência de Deus, - aplicando a ele um princípio de evolução, desenvolvimento e progresso que pertence apenas ao finito e imperfeito. b) Contradiz a santidade divina, - porque o homem, que por esta teoria é a substância de Deus, contudo, nunca é moralmente mau. c) Conduz logicamente ao panteísmo, - porque a reivindicação de que a pessoalidade humana é apenas ilusória não pode ser sustentada sem também abrir mão da crença na pessoalidade de Deus. Saturnino de Antioquia, Bardesana de Edessa, Taciano da Assíria, Marcião de Sinope, todos do segundo século, representavam este ponto de vista. Blunt, Diet, of Doct. and Hist. Theology, art. Emanação: "A operação divina estava simbolizada na imagem dos raios de luz provindos do sol, tanto mais intensos quanto mais próximos da substância luminosa do corpo de que fazem parte, mas decrescem em intensidade na medida em que recuam da fonte até, finalmente, desaparecerem nas trevas. Assim o resplendor
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espiritual da Mente Suprema formou um mundo do espírito, cuja intensidade varia inversamente à distância de sua fonte até a distância em que desaparece na matéria. Por isso há uma cadeia de eons sempre expansivos que são crescentes atenuações de sua substância e o conjunto que constitui a sua plenitude, i.e. a revelação plena de seu ser oculto". Emanação, de e, e manare, fluir para frente. Guericke, Church History, 1.160 - "muitas chamas de uma luz. ... o contrário direto da doutrina da criação a partir do nada". Neander, Church History, 1.372-374. A doutrina da emanação é nitidamente materialista. Ao contrário disto, sustentamos que o universo é expressão de Deus, porém não é emanação dele. Sobre a diferença entre a emanação oriental e a geração eterna, ver Shedd, Dogm. Theol., 1.470 e History Doctrine 1.11-13,318 nota-"1. O que é eternamente gerado não é finito, mas infinito; é uma pessoa divina e eterna que não é o mundo ou qualquer porção dele. Nos esquemas orientais, a emanação é um modo de relatar a origem do finito. Porém a geração eterna ainda deixa o finito ser originado. A geração do Filho é a geração de uma pessoa infinita que, mais tarde cria o universo finito de nihilo. 2. A geração eterna tem como resultado uma subsistência ou hipóstase pessoal totalmente distinta do mundo; mas a emanação relativa à divindade só produz uma energia impessoal ou, na melhor das hipóteses, personificada, ou efluência que é uma das forças ou princípios da natureza - uma simples anima mundi". As verdades das quais a emanação é perversão e caricatura são, portanto, a geração do Filho e o processo do Espírito. Reitor Tulloch, Encyc. Brit., 10.704 - "Todos os Gnósticos concordam em considerar que este mundo não proveio imediatamente do Supremo Ser. ... O Supremo Ser é considerado totalmente inconcebível e indescritível insondável Abismo (Valentino) - inominável (Basílides). Desta fonte transcendente brota, por emanação, a existência em uma série de forças espirituais. ... A passagem do mundo espiritual mais elevado para o material é, por um lado, apreendido como simples degenerescência contínua da Fonte da Vida, terminando no reino das trevas e morte - chegando ao caos que circunda o reino da luz. Por outro lado, a passagem é apreendida em uma forma dualística mais precisa como uma invasão positiva do reino da luz por um auto-existente reino das trevas. Com o Gnosticismo adota um ou outro destes modos de explicar a existência do mundo presente, cabem
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duas divisões que, a partir de seus lugares de origem, recebem os respectivos nomes de gnose alexandrino ou sírio. Uma, como vimos, apresenta um tipo de especulação mais ocidental, a outra mais oriental. O elemento dualista, em um caso, raramente aparece sob a noção panteísta e apresenta semelhança com a ΰλη platônica, simples necessidade vazia. No outro caso, o elemento dualista é claro e proeminente, correspondendo à doutrina zoroastriana do princípio ativo do mal e do bem - do reino de Arimã e do de Ormuz. Na gnose síria ... aparece em primeiro lugar um princípio hostil do mal em colisão com o bem". Convém lembrar que o dualismo é uma tentativa de substituir a doutrina da criação absoluta pela teoria de que a matéria e o mal se devem a algo negativo ou positivo fora de Deus. O dualismo é uma teoria de origens, não de resultados. Tendo isto em mente, podemos chamar os gnósticos alexandrinos de dualistas enquanto consideramos a emanação como o ensino característico dos gnósticos sírios. Estes fazem a natureza ser apenas um efluxo de Deus e o mal somente uma forma degenerada do bem. Se os sírios sustentam que a palavra independe de Deus, tal independência é concebida mais tarde somente como resultado ou produto, não como um fato original. Alguns, como Saturnino e Bardesana, tendem para a doutrina do Maniqueísmo, outros, como Taciano e Marcião, para o dualismo egípcio; mas todos sustentam a emanação para explicar filosoficamente o que as Escrituras chamam Criação. Estas notas servem como qualificação e crítica às opiniões que citamos a seguir. Sheldon, Ch. Hist, 1.206 - Os sírios, em geral, eram mais dualistas que os alexandrinos. Alguns, após acomodarem-se ao panteísmo hindu, consideravam o reino material como a região do vazio e da ilusão, o vago oposto ao Pleroma, o do mundo da realidade e plenitude espirituais; outros atribuem uma natureza mais positiva à matéria e consideram-na capaz de uma agressividade cruel mesmo independente de qualquer vivificação das vantagens da vida nos altos céus". Mansel, Gnostic Heresies, 139 - Como de Saturnino, se diz de Bardesana que combina a doutrina da malignidade da matéria com a de um princípio ativo do mal; e estabelece conexão destas duas teorias geralmente antagônicas, sustentando que a matéria inerte é coeterna com Deus, enquanto Satanás, como princípio ativo do mal, foi produzido a partir da matéria (ou, segundo outra declaração, coeterna com ela) e atua em
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conjunto com ela. 142 - A característica usualmente selecionada como da gnose síria é a doutrina do dualismo; isto significa a suposição da existência de dois princípios ativos e independentes; um do bem, o outro do mal. Esta suposição é distintamente sustentada por Saturnino e Bardesana ... em contraposição à teoria platônica da matéria inerte auto-existente, adotada pela gnose do Egito. Tal princípio encontra seu desenvolvimento lógico, no século seguinte, no Maniqueísmo; este conduz, quase com igual certeza, ao Panteísmo". A. H. Newman, Ch. History, 1.192 - "Marcião não especula quanto à origem do mal. O demiurgo e seu reino são aparentemente considerados como se existissem desde a eternidade. Ele também considera a matéria intrinsecamente má e pratica rígido ascetismo". Mansel, Gnostic Heresies, 210 - "Com a maioria dos gnósticos, Marcião não considera o Demiurgo um ser derivado e dependente, cuja imperfeição se deve ao fato de distar da mais elevada Causa; nem ainda, conforme a doutrina persa, admite um eterno princípio de pura malignidade. Seu segundo princípio independe do primeiro e é seu coe-terno; contudo, opõe-se a ele, não como o mal ao bem, mas como a imperfeição à perfeição, ou, como se expressa Marcião, como um ser justo com relação a um bom. 218-0 não reconhecimento de qualquer princípio do puro mal. Só há três princípios: O Supremo Deus, o Demiurgo, e a Matéria eterna, estes dois imperfeitos, porém não necessariamente maus. Parece que alguns dos marcionitas acrescentaram um espírito mau como um quarto princípio. ... Marcião é o menos gnóstico de todos. ... 31 - Pode-se ver a influência hindu no Egito, a persa na Síria. ... 32 - O Gnosticismo deve muito de sua forma filosófica e tendências ao Platonismo, modificado pelo Judaísmo. Ao dualismo da religião persa deve ao menos uma forma de suas especulações sobre a origem e remédio para o mal e muitos pormenores de sua doutrina das emanações. Ao Budismo da índia, modificado ainda provavelmente pelo Platonismo, creditam-se as doutrinas do antagonismo entre o espírito e a matéria e a irrealidade da existência derivada (o germe do Docetismo Gnóstico) e, ao menos em parte, a teoria que considera o universo como uma série de emanações sucessivas a partir da Unidade absoluta". A emanação sustenta que alguma substância procede da natureza de Deus e que ele formou a referida substância no universo. Mas, afinal de
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contas, a matéria não é composta de substância. É tão somente a atividade de Deus. Orígenes sustentava que, etimologicamente, ψυχή denota um ser que, separado de Deus, a fonte central de luz e calor, resfria-se em seu amor ao bem, mas ainda tem a possibilidade de retornar à sua origem espiritual. Pfleiderer, Philosophy of Religion, 2.271, assim descreve o ponto de vista de Orígenes: "Como o nosso corpo, embora constituído de muitos membros, ainda é um organismo conservado junto por uma alma, assim deve-se pensar no universo como um imenso ser vivo que se mantém junto através de uma alma, força e Logos de Deus". Palmer, Theol. Definition, 63, nota - "O mal do emanacionismo se vê na história do Gnosticismo. Emanação é uma parte da essência divina considerada separada dela e emitida como independente. Não tendo nenhum limite perpétuo de conexão com o divino, ou mergulha para a degradação, como pensa Basílides, ou se torna ativamente hostil ao divino, como criam os ofitas. ... De igual modo os deístas de época posterior vieram a considerar as leis da natureza como tendo existência independente i.e. como emanações". John Milton, Christian Doctrine, sustenta este ponto de vista. A matéria é um efluxo do próprio Deus e não é intrinsecamente má e incapaz de aniquilação. A existência finita é uma emanação da substância de Deus e este perdeu o seu domínio sobre as porções vivas ou centros de existência finita que ele dotou de vontade livre de modo que estes seres independentes podem originar ações moralmente não refreáveis por ele mesmo. Esta doutrina da vontade livre isenta Milton da culpa de Panteísmo. Lotze, Philos. Religion, xlviii, li, distingue criação de emanação, dizendo que a criação necessita de uma vontade divina, enquanto a emanação flui como conseqüência natural do ser divino. O motivo de Deus na Criação é o amor que o impulsiona a comunicar sua santidade a outros seres. Deus cria espíritos infinitos individuais e, conseqüentemente, permite que o pensamento, que a princípio é dele, se torne o pensamento destes outros espíritos. A criação do mundo consiste nesta transferência do seu pensamento pela vontade. F. W. Farrar, sobre Hb. 1.2 (Ά quem constituiu herdeiro de tudo, por quem também fez o mundo5) - "A palavra Eon foi empregada pelos gnósticos para descrever as várias emanações pelas quais eles tentavam de uma vez ampliar e estabelecer uma ponte sobre o abismo entre o humano e o divino. Acima dessa lacuna João lançou a arca da Encarnação quando escreveu 'e o Verbo se fez carne' (Jo. 1.14)".
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Upton, Hibbert Lectures, cap. 2 - "Na própria feitura das almas originadas da sua própria essência e substância e na falta da sua causalidade para que todos os homens sejam livres, Deus já morre para que eles vivam. Deus se afasta das nossas vontades para tornar possível a livre escolha e até a oposição a si mesmo. O individualismo admite o dualismo, mas não uma divisão completa. Nosso dualismo sustenta ainda o estabelecimento de conexões subterrâneas da vida entre os seres humanos, entre o homem e a natureza, entre o homem e Deus. Até mesmo a criação física é, em seu cerne, ética: cada coisa depende das outras e deve servi-las ou perder a sua própria vida e beleza. O ramo deve permanecer na videira, ou seca e é cortado e queimado" (275). Swedenborg defendia a emanação - ver Divine Love and Wisdom, 283, 303, 305 - Cada um que pensa a partir da razão clara vê que o universo não é criado do nada.... Todas as coisas foram criadas a partir de uma substância como somente Deus é uma substância em si mesma e, portanto, o esse real, é evidente que a existência das coisas não tem sua origem em nenhuma outra fonte. ... Contudo, o universo criado não é Deus porque Deus não está no espaço e no tempo. ... Há uma criação do Universo, e de todas as coisas nele, pela mediação contínua do primeiro. ... Nas substâncias e matéria em que consiste a terra nada há de divino em si mesmas, porém são desprovidas de tudo o que é divino em si mesmas. ... Ainda, pela continuação a partir da substância da soma espiritual traz aquilo que há no divino". O suedenborguismo é "o materialismo aprofundado e confirmado no seu interior". Este sistema remete à Oração Dominical, que diz: "assim na terra como no céu". Ele não gostava de algumas seitas e achava que todos os pertencentes a elas estavam nos infernos, condenados ao castigo eterno. A verdade não é emanação materialista, como imaginava Swedenborg, mas energia divina no espaço e no tempo. O universo é o sistema de Deus em relativa autolimitação da matéria à mente. Teve um começo e foi Deus quem o instituiu. É uma manifestação finita e parcial do Espírito infinito. A matéria é uma expressão do espírito, mas não emanação dele, algo mais do que são nossos pensamentos e volições. Os espíritos finitos, por outro lado, são diferenciações no ser do próprio Deus, e assim não são emanações. Napoleão perguntou a Goethe o que é matéria. "Espritgelé- espírito gelado" é a resposta que Schelling queria que Goethe tivesse dado. Mas a
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matéria nem é espírito, nem ambos são simples efluxos da substância de Deus. Requer-se uma divina instituição deles (citação de Dorner, System of Doctrine, 240). Schlegel igualmente chama a arquitetura de uma "música gelada" e outro escritor chama a música de "arquitetura dissolvida". Há um automatismo psíquico, como diz Ladd, em sua Philosophy of Mind, 169; e Hegel chama a natureza de "cadáver do entendimento - espírito em alienação de si mesmo". Mas o espírito é o Adão cuja natureza é Eva; e o homem diz para a natureza: "Esta é osso dos meus ossos e carne da minha carne" como Adão em Gn. 2.23.
3. Criação a partir da eternidade Esta teoria considera a criação como um ato de Deus na eternidade passada. Foi proposta por Orígenes e sustentada recentemente por Martensen, Martineau, John Caird, Knight e Pfleiderer. A necessidade de supor essa criação a partir da eternidade tem sido argumentada a partir da onipotência, da independência da categoria de tempo, da imutabilidade e do amor de Deus. Consideraremos estes argumentos em sua ordem. Orígenes sustenta que Deus é desde a eternidade o criador do mundo dos espíritos. Martensen, em sua Dogmatics, 114 favorece as máximas: "Sem o mundo, Deus não é Deus. ... Deus criou o mundo para satisfazer as suas necessidades. ... Ele só pode constituir-se o Pai dos espíritos". Tristezas de Werter öe Goethe: Ό vôo do pássaro acima da minha cabeça inspirou-me o desejo de ser transportado para as plagas das memoráveis águas e lá sorver os prazeres da vida, provenientes da global espuma do infinito". Robert Browning, Rabi Ben Ezra, 31 - "Mas agora eu, como outrora, careço de ti, ó Deus, que moldas o homem Ε daí, nem mesmo quando o torvelinho ameaça, Eu, no rodopio da vida abundante em cores e formas, em vertiginosa escravização - iludo o meu fim, para saciar a minha sede". Mas o criador considera isto como dependência e escravidão do seu próprio mundo.
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Pitágoras sustentava que as substâncias e leis da natureza são eternas. Martineau, Study of Religion, 1.144; 2.250, parece fazer a criação do mundo um processo eterno, concebendo-o como uma autodivisão da divindade em quem, de alguma forma, o mundo sempre esteve contido (Schurman, Belief in God, 140). Knight, Studies in Philos, and Lit, 94, cita de Caim de Byron -"Sente-se ele em seu grande e solitário trono, Criando mundos, para fazer a eternidade menos pesada à sua imensa existência e impartilhável solidão. ... Ele, infeliz em sua elevação incansável e feliz ainda deve criar e recriar". Byron põe estas palavras na boca de Lúcifer. Contudo, Knight em seus Essays in Philosophy, 143,147, considera o universo um perene efeito de uma causa eterna. O Dualismo, pensa ele, está envolto na própria noção de uma busca a Deus. W. N. Clarke, Christian Theology, 117 - "Deus é a fonte do universo. Quer por produção imediata em algum ponto no tempo de maneira que, depois de existir sozinho, eis que, por seu ato, veio o universo, ou por sua produção perpétua, a partir do seu próprio ser espiritual, de modo que a existência eterna sempre se fez acompanhar de um universo em algum estágio do ser, Deus fez com que o universo viesse a existir. ... Qualquer método pelo qual o Deus independente produza o universo que sem ele não poderia ter tido existência alguma, concorda com os ensinos da Escritura. Muitos acham filosoficamente mais fácil Deus, desde a eternidade, produzir a criação a partir de si mesmo de modo que nunca houve tempo em que não existiu um universo em algum estágio da existência, do que pensar em uma criação instantânea de todas as coisas existentes quando nada houvera a não ser Deus. A Teologia é compelida a decidir entre estes dois pontos de vista porque cremos que Deus é um espírito livre maior que o universo". Discordamos da conclusão do Dr. Clarke e sustentamos que a Escritura requer de nós que remetamos o universo a um começo, enquanto a razão se satisfaz com este ponto de vista mais do que a teoria da criação a partir da eternidade.
a) A onipotência de Deus não necessita a criação a partir da eternidade. Onipotência não implica necessariamente a verdadeira criação; implica só o poder de criar. Contudo, na natureza da causa, a
Teologia Sistemática (Strong) 767 criação é uma coisa começada. A criação a partir da eternidade é uma contradição de termos e o que é autocontraditório não é objeto de poder. O argumento se apóia em uma falsa concepção de eternidade considerando-a como um prolongamento do tempo num passado infinito. Em nossa discussão sobre a eternidade, já vimos, como um atributo de Deus, que ela não é um tempo sem fim, ou um tempo sem começo, mas superioridade com relação à lei do tempo. Visto que a eternidade não é mais passada do que presente, a idéia de criação a partir da eternidade é irracional. Devemos distinguir criação na eternidade passada (= Deus e o mundo coeternos, embora Deus causa o mundo do mesmo modo em que gera o Filho) da criação contínua (que é uma explicação da preservação, mas não da criação), Esta e não aquela que Rothe sustenta (sob a doutrina da preservação, 415,416/ ap. vol. 2 pg. 7). Birks, Difficultés of Belief, 81,82 - Não há criação a partir da eternidade porque a eternidade passada, na verdade, não pode focalizar mais do que podemos atingir sobre os limites de uma eternidade vindoura. Não havia tempo nenhum antes da criação porque não havia nenhuma sucessão". Birks, Scripture Doctrine of Creation, 78-105 - UO primeiro verso de Gênesis exclui cinco falsidades especulativas: 1. que nada há a não ser a matéria não criada; 2. que não há Deus independentemente de suas criaturas; 3. que a criação é uma série de atos sem um começo; 4. que não há universo real; 5. que nada pode ser conhecido de Deus ou da origem das coisas". Veitch, Knowing and Being, 22 - As idéias sobre a criação e energia não têm sentido e substituem a concepção ou ficção de um mundo de relacionamento eterno ou bilateral não do que tem sido, mas do que sempre é. É outra forma da filosofia da gangorra. Só o Eu eterno é, se o múltiplo eterno for; o múltiplo eterno é se o Eu eterno for. Um, sendo o outro, é ou faz-se um; o outro, sendo um, é ou faz-se o outro. Isto pode chamar-se unidade; ao invés disso, ele é, se é que podemos inventar um termo adequado à nova e maravilhosa concepção, uma duidade (de dois) original e não gerada".
b) A independência de Deus relativa ao tempo não necessita a criação a partir da eternidade. Porque Deus é livre da lei do tempo não se
Teologia Sistemática (Strong) 768 segue que a criação seja livre de tal lei. É verdade que não se concebe nenhuma criação eterna porque isto envolve um número infinito. O tempo deve ter tido um começo e, porque o universo e o tempo coexistem, a criação não pode ter sido desde a eternidade. Jd. 25 - "Por todos os séculos" - implica que o tempo teve um começo e Ef. 1.4 - "Antes da fundação do mundo" - implica que a própria criação teve um começo. É a criação infinita? Não, diz Dorner, Doctrine (Glaubenslehre), 1.459 porque para uma criação perfeita a unidade é tão necessária como a multiplicidade. O universo é um organismo e não pode haver nenhum organismo sem um número definido de partes. Por semelhante razão, Dorner, System Doctrine, 2.28, nega que o universo possa ser eterno. Admitindo, por um lado, que o mundo, apesar de eterno pudesse depender de Deus e logo o plano se desenvolvesse, não poderia haver nenhuma razão para que a execução fosse adiada, apesar de que, por outro lado a absoluta infinitude é imperfeita e não se concebe ou é possível nenhum universo com número ilimitado de partes. Assim Julius Müller, Doctrine of Sin, 1.220-225 - "Aquilo que tem um alvo ou um fim deve ter um começo; na teleologia a história implica criação". Lotze, Philos. Religion, 74 – "O mundo, com relação à existência, assim como seu conteúdo, depende totalmente da vontade de Deus e não é simplesmente o involuntário desenvolvimento dele.... A palavra 'criação' não deve ser empregada para designar uma obra de Deus assim como a dependência absoluta do mundo com relação a ele". Assim Schurman, Belief in God, 146,156,225 - "Criação é a dependência eterna do mundo com relação a Deus. ... A natureza é a exteriorização do espírito.... As coisas naturais existem somente como modos da atividade divina; elas não têm existência alguma em si mesmas". Sobre este ponto de vista de que Deus é a base, não o criador do mundo, ver Hovey, Studies in Ethics and Religion, 25-56 - "A criação não é mais um mistério do que a ação causal" em que tanto Lotze como Schurman crêem. Negar que o poder divino tem capacidade para originar o verdadeiro ser - poder acrescentar à soma total da existência - bem se assemelha a dizer que tal poder é finito". Ninguém pode provar que "a essência do espírito é revelar-se", ou que ele deve fazer isto através de um organismo ou exteriorização. A sucessão eterna de
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mudanças na natureza não é mais compreensível do que um Deus criador e que o universo tem origem no tempo.
c) A imutabilidade de Deus não necessita a criação a partir da eternidade. Sua imutabilidade requer, não uma criação eterna, mas tão somente um plano eterno da criação. O princípio oposto nos compeliria a negar a possibilidade dos milagres, da encarnação e da regeneração. Como a criação, estes seriam eternos. Fazemos distinção entre idéia e plano, entre plano e execução. Boa parte do plano de Deus ainda não foi executada. É tão fácil conceber o começo de sua execução como o seu prosseguimento. Mas o seu começo relativo ao plano de Deus é a criação. A vontade ativa é um elemento da criação. A vontade de Deus nem sempre é ativa. Ele espera "a plenitude dos tempos" antes de enviar seu Filho. Como podemos fazer um retrospecto da vida terrena de Cristo no começo, também podemos fazê-lo com o universo no começo. Os que defendem a criação a partir da eternidade geralmente interpretam Gn. 1.1 - "No princípio criou Deus os céus e a terra" e Jo. 1.1 "No princípio era o Verbo" significando igualmente "na eternidade". Mas nenhum destes textos tem tal sentido. Em cada um somos levados ao começo da criação e afirma-se que Deus é o autor e que o Verbo já era.
d) O amor de Deus não necessita a criação a partir da eternidade. Criação é finita e não pode fornecer a satisfação perfeita ao amor infinito de Deus. Contudo, Deus tem desde a eternidade um objeto de amor infinitamente superior a qualquer possível criação na pessoa de seu Filho. Visto que todas as coisas são criadas em Cristo, o Verbo eterno, Razão e poder de Deus, este pode "reconciliar consigo todas as coisas" em Cristo (Cl. 1.20). Atanásio chamava Deus de κτίστης, ους τεχνίτης - criador, não artesão. Com isso ele queria dizer que Deus é imanente, não o Deus do deísmo. Porém no momento em que concebemos Deus revelando-se em Cristo, a idéia da criação como satisfação eterna do seu amor desaparece. Deus pode ter um plano sem executá-lo. O decreto pode preceder à criação.
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As idéias do universo podem existir na mente divina antes de serem realizadas pela vontade de Deus. Há propósitos de salvação em Cristo que antedatam o mundo ("Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo"... Ef. 1.4). Uma vez aceita firmemente, a doutrina da Trindade capacita-nos a ver a falácia de tais pontos de vista como o de Pfleiderer, Philos. Religion, 1.286 - "Não se deve pensar no começo e no fim da criação de Deus. Isso equivaleria a supor uma mudança na criação e descanso de Deus, que igualaria o ser divino ao curso mutável da vida humana. Nem se pode conceber o que teria impedido Deus de criar o mundo até o começo da criação. ... Dizemos, com Scotus Erigena, que o criar divino é igualmente eterna como o ser de Deus".
e) A criação a partir da eternidade, ainda é inconsistente com a independência e pessoalidade divina. Porque o poder e o amor de Deus são infinitos uma criação que os satisfizesse deve ser infinita em extensão como eterna na duração passada - em outras palavras, uma criação igual a Deus. Mas um Deus assim dependente da criação exterior nem é livre nem soberano. Um Deus que existe em relações necessárias com o universo, se é diferente em substância do universo, deve ser o Deus do dualismo; se é da mesma substância, deve ser o Deus do Panteísmo. Gore, Incarnation, 136,137 - "A teologia cristã é a harmonia do panteísmo com o deísmo. ... Participa de todas as riquezas inerentes ao lado moral sem fazer Deus depender do mundo, como o mundo depende de Deus. Por outro lado, o cristianismo converte o deísmo inteligível em um teísmo racional. Ele pode explicar como Deus, no tempo, tornou-se o criador porque sabe como a criação tem seu análogo eterno na natureza não criada; a natureza de Deus deve eternamente produzir, comunicar-se, viver". Em outras palavras, pode explicar como Deus vive eternamente, independente, auto-suficiente, porque ele é trino. Criação a partir da eternidade é o desenvolvimento natural e lógico das tendências unitárias na teologia. Forma um todo com o monismo estóico de que lemos em Hatch, Hibbert Lectures, 177 - "O monismo estóico concebia o mundo como uma auto-evolução de Deus. A idéia de um começo não entra necessariamente em tal concepção.
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Ela consiste na idéia de um processo eterno de diferenciação. O que é sempre foi sob formas mudadas e mutáveis. A teoria é mais cosmológica do que cosmogônica. Ela explica o mundo ao invés de dar conta de sua origem".
4. Geração espontânea Esta teoria sustenta que a criação é apenas o nome de um processo natural ainda em andamento; a matéria tem em si o poder, sob condições apropriadas, de empreender novas funções e de desenvolver formas orgânicas. Sustentam este ponto de vista Owen e Bastian. Objetamos que a) É pura hipótese, não verificada, mas contrária a todos os fatos conhecidos. Nenhum exemplo digno de crédito da produção de formas vivas a partir da matéria inorgânica ainda foi acrescentado. Até onde a ciência pode atualmente ensinar-nos, a lei da natureza é "omne vivum e vivo" ou "ex ovo". Owen, Comparative Anatomy of the Vertebrates, 3.814-818 - sobre Monogenia e Taumatogenia; citado em Argile, Reign Law, 281 - "Não discernimos nenhuma evidência de pausa ou intromissão na criação ou aparecimento de novas plantas ou animais". Em favor da máxima de Redi, "omne vivum e vivo" Enciclopédia Britânica, art. Biologia, 689 - "Atualmente não há nenhuma sombra de fidedigna evidência direta de que a biogênese ocorre ou tem ocorrido dentro do período durante o qual se registra a existência da terra". Flint, Physiology of Man, 1.263-265 - Como o único verdadeiro ponto de vista filosófico de tratar a questão, admitimos, com quase todos os escritores modernos de Fisiologia, que não existe a geração espontânea, - e que não se entende o modo exato da produção dos mínimos infusórios na escala da vida". Sobre a Filosofia da Religião ver A. H. Strong, Philosophy and Religion, 39-57.
b) Se tais exemplos pudessem ser autênticos, nada provaria como uma doutrina apropriada da criação; pois ainda existiria uma impossibilidade de contar com tais propriedades vivificantes da matéria a
Teologia Sistemática (Strong) 772 não ser com base no ponto de vista escriturístico de um inventor e originador da matéria e suas leis. Em resumo, a evolução implica numa involução anterior; se é que algo vem da matéria, tal coisa deve ter sido posta nela. Sully: "Toda a doutrina da Evolução deve admitir algum arranjo inicial definido que se supõe conter as possibilidades da ordem que achamos estar desenvolvidas e nenhuma outra possibilidade". Bixty, Crisis of Morals, 258 Se não se pode crer em nenhum fiat criador a partir do nada, menos ainda é capaz de executar tal contradição". Como podemos obter moralidade só a partir de um ser moral, também só podemos obter vitalidade a partir de um germe vital. Martineau, Seat of Authority, 14 - "Ao chocar por muito tempo um ovo que a seguir não se torna em nada, você pode incubar qualquer universo real ou possível. Não há evidência de que isto é mero ardil de imaginação, ocultando os roubos de causa, perpetrando aos poucos e formando a pilha a partir do armazenamento de grão a grão?". A galinha precede os ovos. As formas orgânicas perfeitas antecedem a todas as células vivas quer animais, quer vegetais. "Omnis cellula e cellula, sed primaria cellula ex organismo". Deus criou primeiro a árvore e sua semente estava nela quando a criou (Gn. 1.12 ... "árvore frutífera cuja semente está nela"). O protoplasma não é o próton, mas o dêuteron; os elementos antecedem-lhe. Não é verdade que o homem não foi feito, mas que apenas se desenvolveu como pensa Topsy; Royce, Spirit of Modem Philosophy, 273 -"A Evolução é a tentativa de compreender o mundo da experiência nos termos dos postulados idealísticos fundamentais: 1) sem idéias não há realidade; 2) a ordem racional requer um Ser racional que a introduza; 1) sob o nosso eu inconsciente deve haver um Eu infinito: A pergunta é: O mundo tem um sentido? Basta que se faça referência às idéias do mecanismo. A evolução, da nebulosa ao homem, é tão somente o desdobramento da vida do Eu divino".
c) Esta teoria, portanto, se verdadeira, só suplementa a doutrina da criação original, absoluta, imediata com outra doutrina da criação mediata e derivada ou do desenvolvimento da matéria ou força originada no princípio. Tal desenvolvimento, contudo, não pode proceder a
Teologia Sistemática (Strong) 773 qualquer fim valioso sem a orientação da inteligência que o iniciou. Embora as Escrituras não sancionem a doutrina da geração espontânea, reconhecem processos de desenvolvimento que suplementam o fiat divino que no princípio fez os elementos virem a ser. Existe uma coisa que se chama vontade livre e esta não corre numa raia como a vontade determinista. Se há vontade livre no homem, então há muito mais vontade livre em Deus e a vontade de Deus não corre numa raia. Deus não está limitado por lei ou à lei. Sabedoria não implica monotonia ou uniformidade. Deus pode fazer uma coisa que nunca se repete. Circunstâncias nunca se assemelham duas vezes. Eis a base não só da criação, incluindo o milagre, a encarnação, a ressurreição, a regeneração, a redenção. Apesar de que a vontade em Deus e no homem é quase sempre automática e age segundo a lei, a força dos novos começos, da ação criativa, reside na vontade que sempre é livre e a vontade livre principalmente faz Deus ser Deus e o homem ser homem. Sem isso a vida seria dura, pois seria apenas a vida do irracional. Todo o esquema da evolução que ignora tal liberdade de Deus é panteísta em suas tendências, pois praticamente nega tanto a transcendência de Deus como a sua pessoalidade. Leibnitz declina de aceitar a teoria de Newton sobre a gravitação porque lhe parece substituir as forças de Deus pelas forças naturais. Atualmente muitos ainda se recusam a aceitar a teoria darwiniana da Evolução porque lhes parece substituir as forças de Deus pelas forças naturais. Mas a lei é apenas um método; ela pressupõe um legislador e um agente. A Gravitação e a Evolução apenas são operações habituais de Deus. Se se provasse ser verdadeira a geração espontânea, esta seria apenas um modo de Deus originar a vida. E.G. Robinson, Christian Theology, 91 - "A geração espontânea não excluiria a idéia de uma vontade criadora operando através da lei natural e causas secundárias.... A física nada sabe a respeito do começo da vida.... Compete falar dos processos da ciência da natureza e contra os seus ensinos relativos não há necessidade de que a teologia se ponha em hostilidade.... Ainda que o homem derivasse dos animais inferiores, isto não provaria que Deus não criou e ordenou as
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forças utilizadas. Pode ser que Deus tenha dotado a vida animal de um poder plasmável". Ward, Naturalism and Agnosticism, 1.180 - "É muito mais verdadeiro dizer que o universo é vida do que dizer que é um mecanismo. ... Nunca podemos chegar a Deus por um simples mecanismo.... Eu argumentaria com Leibnitz que a passividade absoluta, ou inércia, não é uma realidade, mas um limite. 269 - O senhor Spencer admite que é impossível interpretar o espírito em termos de matéria. 302 - A seleção natural sem os fatores teleológicos não se coaduna com o relato da evolução biológica e tais fatores teleológicos implicam algo psíquico dotado de sentidos e vontade, i.e., Life and Mind. 130-135 - O empenho é mais importante que a cognição. 149-151 - As coisas e eventos precedem o espaço e o tempo. 252-257 - A nossa assimilação da natureza é a congratulação do espírito pelo espírito. 259-267 - Ou a natureza é por si mesma inteligente, ou há inteligência além da natureza. 274-276 - As aparências não escondem a realidade. 274 - A verdade não é Deus e mecanismo, mas só Deus; não o mecanismo. 283 - O Naturalismo e o Agnosticismo, a despeito deles mesmos, levam-nos ao mundo do Monismo Espiritualista". Newman Smith, Christian Ethics, 36 - A geração espontânea é uma ficção na ética, assim como na Psicologia e na Biologia. O moral não pode derivar do amoral, nem ainda o consciente do inconsciente, ou a vida das rochas azóicas".
IV. O RELATO MOSAICO DA CRIAÇÃO 1. Sua dupla natureza; unindo as idéias de criação e de desenvolvimento. a) Declaração da criação. - A narrativa mosaica evita o erro de fazer o universo eterno ou resultado de um processo eterno. A cosmogonia de Gênesis, diferentemente das cosmogonias do paganismo, é prefaciada pelo ato originador de Deus e é suplementada por sucessivas manifestações do poder criativo na introdução da vida do bruto e do ser humano.
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Toda adoração da natureza, quer tome a forma do Panteísmo antigo, quer do materialismo moderno, contempla o universo apenas como um nascimento ou crescimento. Este ponto de vista tem um fundo de verdade ao considerar as forças naturais como tendo existência real. É falso ao considerar que estas forças não necessitam de um originador ou sustentador. Hesíodo pensava que no princípio a matéria era informe. Gênesis não começa assim. Deus não é demiurgo, laborando sobre a matéria eterna. Deus antedata a matéria. Ele é o criador da matéria no princípio (Gn. 1.1 bará) e subseqüentemente criou a vida animal (Gn. 1.21 "e criou Deus" - novamente bará). Muitas afirmações sobre a doutrina da Evolução erram, considerando-a como um processo eterno ou auto-originado. Mas o processo requer um originador e as forças requerem um sustentador. Cada passo implica incremento de energia e o processo na direção de um fim racional implica inteligência e previsão no poder governante. Schurman diz com precisão que o darwinismo explica a sobrevivência do mais apto, mas não pode explicar a sua chegada. Schurman, Agnosticism e Religion, 34 - "Um caos primitivo de pó estelar mantém no seu ventre não só o cosmos que enche o espaço, não só as criaturas vivas que gera, mas também o intelecto que o interpreta, a vontade que o confronta e a consciência que o transfigura, mas sem dúvida tem Deus como centro, como um universo mecanicamente organizado e periodicamente ajustado deve tê-lo na circunferência.... Não há nenhum antagonismo real entre a criação e a evolução. 59 - Causalidade natural é a expressão de uma Mente sobrenatural na natureza e o homem - um ser ao mesmo tempo de sensibilidade e de atividade própria racional e moral - é sinal e exemplo sempre presente do intercâmbio do natural com o sobrenatural na parte da existência universal mais próxima e melhor conhecida por nós". Seebohm, citado por J. J. Murphy, Nat. Selection and Spirit. Freedom, 76 - Quando admitimos que o argumento de Darwin em favor da teoria da Evolução prova sua verdade, duvidamos de que a relação natural possa ser em qualquer sentido a causa da origem das espécies. Provavelmente ela exerceu um papel importante na história da evolução; seu papel tem sido o de aumentar a rapidez com que o processo de desenvolvimento prosseguiu. É provável que de si mesmo fosse incapaz de originar as espécies; a
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mecânica através a qual estas vêm-se desenvolvendo independe completamente da seleção natural e pode ter produzido todos os resultados a que chamamos evolução das espécies sem seu auxílio; apesar de que o seu processo teria sido lento se não tivesse havido a luta da vida para aumentar sua marcha". New World, junho, 1896, 237-262, artigo de Howison sobre os limites da Evolução encontra-os 1) na realidade numenal; 2) na quebra entre o inorgânico e o orgânico; 3) na quebra entre a gênese fisiológica e lógica; 4) na incapacidade de explicar o grande fato sobre o qual seu movimento se apóia; 5) na consciência própria a priori que é o ser essencial e a verdade pessoal da mente. A Evolução, segundo Herbert Spencer, é "uma integração da matéria e concomitante dissipação do movimento durante o qual a matéria passa de uma indefinida homogeneidade incoerente para uma coerente homogeneidade definida e durante a qual o movimento retido passa para uma transferência paralela". D. W. Simon critica esta definição como defeituosa "porque 1) omite toda a menção tanto à energia como às suas diferenciações e 2) porque introduz na definição do processo um dos seus fenômenos, a saber, o movimento. De fato, tanto a energia e a força como a lei são subseqüente e ilicitamente introduzidas como fatores distintos do processo: portanto, eles devem ter achado reconhecimento na definição e descrição". Mark Hopkins, Life, 189 - "Qual a necessidade de Deus? Acaso não temos força uniforme em todas as coisas, e não continuam todas as coisas como eram desde o princípio da criação, como se tivessem sido assim desde o começo? Não temos nós o το πάν, o Todo universal, a alma do universo, operando em si mesmo a partir da inconsciência, através das moléculas e larvas e camundongos e marmotas e macacos até chegar ao clímax no homem"?
b) Reconhecido o desenvolvimento. - O relato mosaico representa a ordem atual das coisas como resultado não simplesmente da criação original, mas também do subseqüente arranjo e desenvolvimento. Descreve-se a formação da matéria inorgânica e o uso desta matéria na providência das condições da existência organizada. Descreve-se a vida como reproduzindo-se depois de sua introdução segundo as suas leis e em virtude de sua energia interior.
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Martensen erroneamente afirma que "o judaísmo representa o mundo exclusivamente como criatura não como natura como κτίσις não como φύσις". Isto não é verdade. A criação é representada como a produção, não de alguma coisa morta, mas viva e capaz de autodesenvolvimento. A criação lança os alicerces da cosmogonia. Não há apenas a moldagem e organização de matéria que o ato criativo original fez existir (Gn. 1.2,4,6,7,9,16,17; 2.2,6,7,8 - o Espírito pairando (chocando), a separação luz e trevas, águas e águas; aparecimento da terra seca; estabelecimento do sol, lua estrelas; a rega com a névoa; a formação do corpo do homem; a plantação do jardim), mas há também a dádiva e emprego de forças produtivas das coisas e seres criados (Gn. 1.12,22,24,28 - a terra produziu erva; as árvores deram frutos nos quais havia semente; a terra produziu criaturas vivas; o homem recebeu ordem para ser frutífero e multiplicar-se). Atualmente a tendência entre os cientistas é considerar toda a história da vida no planeta como resultado da Evolução, excluindo a criação tanto no começo da história como ao longo do seu curso. Sobre o progresso e, a partir do oróipo (gr. ορός = montanha+hippos=cavalo > cavalo montes), o menor membro dos eqüinos, animal de quatro artelhos, até o anquitério com três, seguido do hipário até, por fim, chegar ao nosso cavalo comum, ver Huxley. Ele argumenta que, se um animal complicado como o cavalo surgiu de uma modificação de uma forma inferior e menos especializada, não há razão para pensar que outros animais surgiram de modo diferente. Clarence King, Address At. Yale College, 1877, considera a Geologia americana como um ensino da doutrina de uma súbita, embora natural, modificação das espécies. "Quando explode a modificação catastrófica nas eras da uniformidade e soam aos ouvidos de cada de cada ser vivo as palavras: 'Muda ou morre!', a plasticidade torna-se o único princípio de ação". A natureza continuou aos saltos e correspondendo aos saltos da geologia, achamos os da biologia. Admitimos a probabilidade de que a grande maioria do que chamamos espécies surgiu de alguns de tais procedimentos. Se a ciência considera certo que todas espécies de criaturas vivas presentes derivaram por descendência natural de uns poucos germes originais e que estes eram uma evolução de forças inorgânicas e naturais, não devemos, evidentemente, considerar o relato mosaico como inverídico. A única coisa que se nos pede
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é que revisemos nossa interpretação da palavra bará em Gn. 1.21,27 e que lhe demos o sentido da criação mediata, ou criação via lei. Gn. 1.11 "produza a terra relva"; 20 - "produzam as águas abundantemente criaturas viventes que se movem"; 2.7 - "o Senhor formou o homem do pó"; 9 - "da terra o Senhor fez crescer toda árvore"; cf. Mc. 4.28 - αυτόματη ή γή καρποφορεί - "a terra produz fruto automaticamente" parece quase favorecer tal sentido. Goethe, Sprüche in Reimen - "Não, tal Deus não receberá minha adoração, esse Deus que põe o mundo ao léu da sorte do seu dedo, essa coisa eterna; Deus deve habitá-la". Todo o crescimento de uma árvore ocorre num período de quatro a seis semanas em maio, junho, julho. O crescimento da fibra entre a casca resulta do tronco não porque recebe uma nova força vinda de fora, mas porque desperta da vida interior. O ambiente muda e começa o crescimento. Podemos até mesmo falar em uma transcendência imanente de Deus vitalidade inesgotável que às vezes faz grandes movimentos progressivos. É o que os antigos tentavam expressar quando diziam que as árvores eram habitadas por dríadas e gemiam e, quando machucadas, sangravam. A vida de Deus está em tudo. Na Evolução não podemos dizer, com LeConte, que a mais elevada forma de energia "deriva da inferior". O que podemos dizer é que tanto as elevadas como as inferiores dependem constantemente de estar sob a vontade de Deus. A inferior é tão somente a preparação de Deus para a sua mais elevada manifestação. Mesmo Haeckel, Hist. Creation, 1.38, pode dizer que, na narrativa mosaica, "duas grandes e fundamentais idéias vêm ao nosso encontro - a da separação, ou diferenciação, e a do desenvolvimento progressivo ou aperfeiçoamento. Podemos tributar nossa justa e sincera admiração ao grande discernimento do legislador judaico à natureza e sua simples e natural hipótese da criação sem descobrir nela a revelação divina". Henry Drummond, cujo primeiro livro, Nature Law in the Spirit World, nos seus últimos dias sentiu pender para uma direção determinista e materialista, mas veio a crer em "uma lei espiritual num mundo natural". Sua obra Ascensão do Homem considera a evolução e a lei apenas como métodos de uma divindade presente. O darwinismo, a princípio parecia mostrar que a história passada da vida sobre o planeta era de carnificina impiedosa e cruel. A sobrevivência do mais capaz tinha como lado oposto a destruição de
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miríades. A Natureza era "vermelha nos dentes e tinha garras como o abutre". Mas outro pensamento tem mostrado que este ponto de vista sombrio resulta de uma indução parcial dos fatos. A vida paleontológica não era só uma luta pela vida, mas pela vida dos outros. O começo do altruísmo deve ser visto no instinto de reprodução e no cuidado com a descendência. Na cova dos leões e na toca dos tigres e a cada águia mãe alimentando o filhote há um sacrifício de si mesmo que se reflete ferozmente na subordinação dos interesses pessoais do homem em benefício dos interesses dos outros. O Dr. George Harris, em sua Moral Evolution, acrescentou à doutrina de Drummond outra consideração de que a luta pela vida de alguém tem seu lado moral assim como a luta pela vida dos outros. O instinto de preservação de si mesmo é o começo do direito, da retidão, da justiça e da lei terrena. Cada criatura deve-o a Deus a fim de preservar o seu próprio ser. Assim podemos encontrar um reflexo da moralidade mesmo no afã predatório e exterminador das eras geológicas. O Deus imanente sempre esteve preparando o caminho para o direito, para a dignidade, para a liberdade do ser humano. B. P. Bowne, no Independent, 19 de abril de 1900 - O sistema de Copérnico aturdiu o homem por algum tempo e apoiou-se no sistema ptolomaico para escapar da vertigem. De igual modo a concepção de Deus, revelando-se em grande movimento e processos históricos na consciência e na vida dos homens santos, no desenvolvimento da vida eclesiástica, torna aturdido o que crê em um livro ditado e anseia por alguma palavra firme que seja segura e consistente". Deus não se limita a criar do exterior: ele também cria a partir do interior; e o desenvolvimento é tanto uma parte da criação como é a origem dos elementos.
2. Interpretação adequada Nem adotamos a) a interpretação da narrativa mosaica alegórica ou mitológica, nem b) a muito literal, nem c) a muito científica; mas d) a pictórica resumida, que sustenta que a narrativa é um simples esboço da história da criação, verdadeiro em todas as características essenciais, mas apresentado em forma gráfica, adequado à mente comum e às épocas primitivas, assim como às tardias. Embora dando ao homem primitivo a
Teologia Sistemática (Strong) 780 idéia da obra de Deus de acordo com a compreensão do homem, a revelação ainda foi dada em linguagem embrionária de modo a poder expandir em todos os resultados verificados da subseqüente pesquisa física. Esta correspondência geral da narrativa aos ensinos da ciência e seu poder de adaptar-se a cada avanço do conhecimento humano diferencia-a de cada uma das outras cosmogonias correntes entre os homens. a) A interpretação alegórica ou mítica representa o relato de Moisés incorporando, como nas cosmogonias hindu e grega, as especulações poéticas de uma raça primitiva quanto à origem do sistema presente. A esta interpretação objetamos, baseados no fato de que a narrativa da criação está em inseparável conexão com a história que sucede e, portanto, é mais naturalmente considerada como história. Esta conexão na narrativa da criação com a subseqüente história, contudo, impede-nos de crer que ela seja a descrição de uma visão admitida por Moisés. O mais provável é que seja o registro de uma revelação original ao primeiro homem e transmitida até ao tempo de Moisés e empregada por ele como uma introdução própria à sua história. Objetamos também ao ponto de vista de alguns dos mais altos críticos que o livro de Gênesis contém duas histórias inconsistentes. Marcus Dodd, Book of Genesis, 2 – "O compilador deste livro ... põe lado a lado dois relatos da criação do homem que nenhuma ingenuidade pode harmonizar". Charles Briggs: "A doutrina da criação em Gênesis 1 é bem diferente da ensinada em Gênesis 2". W. N. Clarke, Christian Theology, 199-201 "Freqüentemente tem-se admitido que os dois são paralelos e contêm a mesma história, mas o exame mostra que não é esse o caso. ... Temos aqui o registro de uma tradição e não de uma revelação. ... Não se pode tomar a história como literal e ela não conta com autoridade divina como o homem foi criado". A estas afirmações respondemos que os dois relatos não são inconsistentes, mas complementares. O primeiro capítulo de Gênesis descreve a criação do homem como a coroa da obra geral de Deus. A segunda descreve a criação do homem com maior especificidade como começo da história humana.
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Canon Rawlinson, em Aids to Faith, 275, compara o relato mosaico com a cosmogonia de Beroso, o caldeu. Pfleiderer, Philos, of Religion, 1.267-272, dá uma relato das teorias pagas sobre as origens do universo. Anaxágoras foi o primeiro a representar a primeira matéria caótica formada através da compreensão ordenada (νους) de Deus e Aristóteles por essa razão o chamou "o primeiro sóbrio entre muitos ébrios". Schurman, Belief in God, 138 - "Nestas cosmogonias o mundo e os deuses crescem juntos; a cosmogonia é ao mesmo tempo teogonia". E. G. Robinson: Os escritores da Bíblia criam e pretendiam afirmar que o mundo foi feito literalmente em três dias. Mas, baseado no princípio de que Deus pode significar mais do que eles significaram, a doutrina dos períodos pode não ser inconsistente com o relato deles". b) A interpretação muito literal afastaria a narrativa de toda a comparação com as conclusões da ciência, pondo a história das eras geológicas em Gênesis 1.1,2 e fazendo o restante do capítulo 19 um relato da adequação da terra, ou alguma porção dela, limitada e seis dias de vinte e quatro horas cada. A este ponto de vista objetamos que não há na narrativa mosaica nenhuma indicação de tão grande intervalo entre o primeiro e o segundo versos; que não há nenhuma indicação de tal pausa na história geológica entre as eras de preparação e o presente; e que há indicações no registro mosaico de que a palavra "dia" não é empregada no sentido literal; enquanto as outras Escrituras inquestionavelmente empregam-na para designar um período de duração indefinida (Gn. 1.5 - "A luz Deus chamou dia" - um dia antes que houvesse sol; v. 8 - "Foi a tarde, a manhã e o dia segundo"; 2.2 - "Deus descansou no sétimo dia"; cf. 4.7-10 - o dia de descanso de Deus parece continuar e seu povo é exortado a entrar nele; Gn. 2.4 - "o dia em que o Senhor fez o céu e a terra" - "dia" aqui abrange sete dias; cf. Is. 7.12 - "o dia do Senhor dos Exércitos"; Zc. 14.7 "será um dia que é conhecido do Senhor; nem dia nem noite será"; 2 Pe. 3.8 - "um dia é para o Senhor como mil anos e mil anos como um dia"). c) A interpretação muito científica encontraria na narrativa uma minuciosa e precisa correspondência ao registro geológico. Não se deve esperar isto, mesmo porque é estranho ao propósito da revelação ensinar ciência. Apesar de que se pode assinalar um acordo geral entre as narrativas mosaica e geológica é um embaraço desnecessário sermos
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compelidos a achar em cada pormenor daquela uma precisa afirmação de algum fato científico. Com muito mais probabilidade afirmamos que é . d) A interpretação figurativa sumária. Antes de explicar isto em pormenores, apresentamos como premissa que a finalidade deste ou de qualquer outro esquema futuro não é harmonizar Gênesis e a geologia. Tal posicionamento de todas questões envolvidas pressupõe não só uma perfeita ciência do universo físico, mas também uma perfeita ciência da hermenêutica. Isto basta, se quisermos oferecer soluções tentativas que representam o estado presente do pensamento sobre a matéria. Lembrando, então, que tal esquema de harmonização pode desenvolver-se rapidamente sem o preconceito para com a narrativa da Escritura, apresentamos, a seguir, um relato aproximado das coincidências entre os registros mosaicos e os geológicos. O esquema dado aqui é uma combinação das conclusões de Dana e Guyot e admite a verdade substancial da hipótese nebular. É interessante observar que Agostinho, que nada conhecia da ciência moderna, tivesse chegado, por simples estudo do texto, a alguns dos mesmos resultados. Ver Confissões, 12.8 -Primeiro Deus criou uma matéria caótica que se seguiu ao nada. Esta matéria caótica, amorfa, foi, subseqüentemente, ordenada nos seis dias seguintes"; De Genes, ad Lit, 4.27 - "A duração desses dias não deve ser determinada pela duração dos nossos dias da semana. Em ambos os casos há uma série e é o que basta". A seguir, apresentamos o esquema: 1. Se originariamente na condição de um fluido gasoso, a terra deve ter sido vazia e sem forma como descreve Gn. 1.2. Contudo, a terra ainda não está aqui separada da névoa em condensação e a sua condição fluida é indicada pelo termo "águas". 2. O começo da atividade da matéria manifestar-se-ia na produção da luz porque esta resulta da atividade molecular. Isto corresponde à afirmação do v. 3. Como resultado da condensação, a névoa se torna luminosa e o processo das trevas para a luz é descrito da seguinte maneira: "foi a tarde, a manhã, o dia primeiro". Aqui temos o dia sem termos o sol - característica na narrativa bem consistente com dois fatos da ciência: primeiro, que a nebulosa seria materialmente de si mesma luminosa e, a seguir, que a própria terra, que chegou à presente forma antes do sol, seria, quando
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emitida, uma massa de si mesma luminosa e derretida. Portanto, o dia seria contínuo, sem noite. 3. O desenvolvimento da terra em uma esfera independente e sem separação do fluido em torno de si corresponde à divisão das "águas sob o firma-mento das águas sobre o firmamento" no v. 7. Aqui a palavra "águas" é empregada para designar a "matéria primordial cósmica", (Guyot, Creation, 35-37) ou à massa fundida da terra unida ao sol, do qual a terra foi lançada. O termo "águas" é o melhor que a língua hebraica tem para expressar a idéia de massa fluida. O Salmo 148 parece ter este sentido quando fala das "águas que estão acima nos céus" (v. 4) - águas que se distinguem dos "abismos" abaixo (v. 7) e de "vapor" (v. 8) acima. 4. A produção das características físicas da terra pela condensação dos vapores que envolviam a esfera ígnea e o conseqüente delineamento dos continentes e oceanos é descrito a seguir no v. 9 como o ajuntamento das águas em um lugar e o aparecimento da terra seca. 5. A expressão da idéia da vida nas plantas inferiores porque é em gênero e efeito a criação do reino vegetal, é descrita a seguir no v. 11, como produzindo a existência das formas características desse reino. Isto antecede a toda a menção da vida animal porque o reino vegetal é a base natural do animal. Se se dissesse que os nossos mais antigos fósseis são animais, responderíamos que as mais antigas formas vegetais, as algas facilmente se dissolviam e facilmente podiam desaparecer; que o grafite é o minério de ferro macio, parecendo inferior a qualquer animal remanescente, são o resultado de qualquer vegetação anterior; tais formas animais, quando e onde quer que existam devem subsistir aos vegetais e pressupô-los. A era eolítica necessariamente deve preceder à eozóica. Se se disser que as árvores frutíferas não foram criadas no terceiro dia, respondemos: porque a criação do reino vegetal foi descrita em um instante e não se deve fazer nenhuma menção subseqüente, o momento é certo para introduzir isto e mencionar suas principais características. 6. Os vapores que até então têm envolvido o planeta agora desanuviam-se como antes da introdução da vida em suas mais elevadas formas animais. O conseqüente aparecimento da luz solar é descrito nos v. 16 e 17 como a feitura do sol, da lua e das estrelas e o trato delas como luminares da terra. Compare Gn. 9.13 – "O meu arco tenho posto na nuvem". O arco-íris existia antes na natureza, mas agora é indicado para servir a um propósito peculiar, assim também o sol, a lua e as estrelas, que
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antes foram indicados como luzes visíveis para a terra, e isto porque a terra não tinha mais era luz e a luz do sol, lutando através das nuvens que envolvem a terra não bastava para as mais elevadas formas de vida que haveriam de vir. 7. A apresentação de quatro grandes tipos do reino animal (radiados [como a medusa], moluscos, articulados, vertebrados), que caracterizam o estágio seguinte do progresso geológico, está representada nos versos 20 e 21 como a criação dos animais inferiores - os que formam cardumes nas águas, as espécies da terra que rastejam e as que voam. Huxley, em seus Discursos Americanos, contrapõe-se a esta atribuição da origem dos pássaros no quinto dia e declara que os animais terrestres existem nos extratos mais baixos que qualquer forma de pássaros - os pássaros aparecem só na era oolítica, ou nova pedra arenosa. Mas respondemos que o quinto dia é dedicado às produções marinhas, enquanto as terrestres pertencem ao sexto. Os pássaros, segundo a mais tardia ciência, são produções marinhas, não terrestres. Eles se originaram dos sáurios e eram, a princípio, lagartos voadores. Havendo apenas uma menção às produções marinhas, todas, incluindo pássaros, povoam o quinto dia. Assim o Gênesis antecipa a mais tardia ciência. 8. A introdução dos mamíferos - espécies vivíparas que são eminentes acima de todos os vertebrados por uma qualidade profética de um elevado propósito moral, os novos mamam - é indicado nos v. 24 e 25 do gado e predadores ao sexto dia. 9. O homem, um ser de características morais e intelectuais e o primeiro em quem a unidade do grande desígnio tem plena expressão, forma tanto no registro mosaico como no geológico o último passo no progresso da criação (v. 26-31). Com o Prof. Dana podemos dizer que "na sucessão podemos observar não simplesmente uma ordem de eventos como aquela deduzida da ciência; há um sistema na ordenação e na profecia de longo alcance a que a filosofia não podia ter alcançado, contudo, podia ter instruído". Prof. John Taylor: Ό homem não é somente um ser mortal, mas moral. Se ele mergulha abaixo de seu plano de vida, deixa de trilhar o assinalado para ele por todo o seu desenvolvimento passado. Para o progresso, o mais alto vertebrado teve de subordinar tudo ao desenvolvimento mental. Para tornar-se humano, houve necessidade de desenvolver a inteligência
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racional. Para tornar-se mais elevado, o homem atual deve subordinar tudo ao desenvolvimento mental. Eis a grande lei do desenvolvimento animal e humano claramente revelado na seqüência das funções físicas e psíquicas". W. E. Gladstone, em S. S. Times, 26 de abril de 1890, chama os dias mosaicos de "capítulos da história da criação". Ele se recusa a chamá-los épocas ou períodos porque não são de igual duração e, às vezes, parciais. Mas defende a correspondência geral da narrativa mosaica às mais tardias conclusões da ciência e assinala: "Qualquer homem cujo labor e dever por várias vintenas de anos tem incluído como ponto central o estudo dos meios de tornar-se inteligível à massa está em muito melhor posição para julgar quais seriam as formas e métodos de falar adequados ao escritor mosaico, do que o mais perfeito hebraísta, o mais consumado físico devotado à ciência como tal".
V. O FIM DE DEUS NA CRIAÇÃO A sabedoria infinita deve, ao criar, propor a si mesma os mais abrangentes e mais valiosos fins; o fim mais digno de Deus e o mais frutífero no bem. Só à luz do fim proposto podemos apropriadamente ajuizar a obra de Deus, ou o caráter de Deus revelado através dela. Parece que a Escritura deve dar-nos resposta para a pergunta: Por que Deus criou? O grande Arquiteto pode melhor falar do seu próprio desígnio. Ambrósio: "A quem darei maior crédito sobre Deus do que o próprio Deus?" George A. Gordon, New Epoch for Faith, 15 - Deus é necessariamente o ser dos fins. A teleologia é a trama e solução da humanidade; também deve sêlo da divindade. A ciência da evolução tem-se empenhado neste ponto de vista. A ciência natural é apenas um fraco disfarce da ignorância quando não implica em propósito cósmico. O movimento da vida a partir do inferior para o superior é um movimento sobre os fins. A vontade é o último motivo do universo e a vontade é a faculdade dos fins. No momento em que se conclui que Deus é torna-se certo que ele é o ser dos fins. O universo vive do desejo e do movimento. Fundamentalmente é ao todo uma expressão da vontade. Segue-se que o fim último de Deus na história humana deve ser digno dele mesmo.
Teologia Sistemática (Strong) Ao determinar este fim, voltamo-nos primeiro para:
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1. O testemunho da Escritura Este pode ser resumido em quatro afirmativas. Deus acha seu fim a) em si mesmo; b) em sua própria vontade e prazer; c) em sua própria glória; d) em tornar conhecido seu poder, sua sabedoria e seu santo nome. Todas estas afirmativas podem ser combinadas no seguinte, a saber, que o supremo fim de Deus na criação não é nada fora de si mesmo, mas é a sua própria glória - na revelação da perfeição infinita do seu próprio ser, nas criaturas e através delas. a) Rm. 11.36 - "Para ele são todas as coisas". Cl. 1.16 - "Todas as coisas foram criadas ... para ele (Cristo)"; compare Is. 48.11 - "por amor de mim, por amor de mim o farei... e minha glória não darei a outrem"; e 1 Co. 15.28 "... se sujeitou aquele que todas as coisas lhe sujeitou para que Deus seja tudo em todos". b) Ef. 1.5,6,9 - "e nos predestinou ... segundo o beneplácito da sua vontade para o louvor e glória da sua graça ... mistério de sua vontade ... segundo o beneplácito que propusera em si mesmo"; Ap. 4.11 - "tu criaste todas as coisas e por tua vontade são e foram criadas". c) Is. 43.7 - "... que criei para a minha glória". d) SI. 143.11 - "por amor da tua justiça tira a minha alma da angústia"; Ez. 36.22 - "Não é por vosso respeito que faço isto, mas pelo meu santo nome"; 39.7 - "farei conhecido meu santo nome". Rm. 9.17 - a Faraó: "para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra". 22,23 - "riquezas da sua glória" tornada conhecida nos vasos da ira e nos vasos da misericórdia; Ef. 3.9,10 "criou todas as coisas; para que a multiforme sabedoria de Deus através da igreja seja conhecida dos principados e potestades nos céus".
Porque a santidade é o atributo fundamental em Deus, fazer-se a si mesmo, o seu próprio prazer, sua glória, sua manifestação, para ser o seu fim na criação, deve achar o seu principal fim na sua santidade, seu
Teologia Sistemática (Strong) 787 sustento, expressão e comunicação. Fazer seu principal fim, contudo, não é excluir alguns dos fins subordinados tais como a revelação de sua sabedoria, poder, amor e conseqüente felicidade das inúmeras criaturas a quem se faz a sua revelação. É a glória de Deus que o faz glorioso. Não é algo exterior como o louvor e a estima do homem, mas algo interior como a dignidade e o valor de seus próprios atributos. Para um nobre o louvor é bem insípido a não ser que ele esteja cônscio em si mesmo de algo que o justifique. Devemos ser como Deus para ter o respeito de si mesmo. Bem disse Pitágoras: "O fim do homem é ser como Deus" Assim Deus deve olhar para dentro de si e achar a sua honra e seu fim em si mesmo. Schurman, Belief in God, 214-216 "Deus glorifica a si mesmo ao comunicar-se. O objetivo do amor é o exercício da santidade. A auto-afirmação condiciona a autocomunicação. E. G. Robinson, Christian Theology, 94,196 - "A lei e o evangelho são apenas dois lados de um objeto, a altíssima glória de Deus no altíssimo bem do homem. ... Não há demérito em Deus fazer de si mesmo o seu principal fim: a) Tanto é indigno como criminoso um ser finito fazer-se o seu próprio fim porque é um fim que pode ser alcançado degradando-se e fazendo os outros errarem; mas b) para um Criador infinito não fazer-se o seu próprio fim seria desonrar-se a si mesmo e levar ao erro as suas criaturas, porque portanto c) ele deve agir sem um fim, o que é irracional, ou partir de um fim que é impossível sem levar suas criaturas ao erro, porque d) o mais elevado bem-estar de suas criaturas e conseqüentemente a sua felicidade é impossível a não ser através da subordinação e conformidade da vontade deles com a do seu rei infinitamente perfeito e e) sem este altíssimo bemestar e felicidade de suas criaturas o fim do próprio Deus em si torna-se impossível pois ele só é glorificado quando seu caráter se reflete em suas criaturas inteligentes e por elas é reconhecido". A criação nada pode acrescentar à riqueza essencial ou dignidade de Deus. Se o fim fosse exterior a ele mesmo, torná-lo-ia dependente e servo. Os antigos teólogos, portanto, falam da "glória declarativa" de Deus e da sua "glória essencial" como resultado da obediência e salvação do homem.
Teologia Sistemática (Strong) 2. O testemunho da razão
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Que a sua glória, no sentido já mencionado, é o supremo fim de Deus na criação, é evidente a partir das seguintes considerações: a) A própria glória de Deus é o único fim verdadeira e perfeitamente atingido no universo. A sabedoria e a onipotência não podem escolher um fim que seja destinado para sempre a não ser atingido; pois "o que ele desejar isso fará" (Jó 23.13). O supremo fim de Deus não pode ser a felicidade das criaturas porque muitas são miseráveis aqui e o serão para sempre. O supremo fim de Deus não pode ser a santidade das criaturas pois muitas são impuras e o serão para sempre. Mas, conquanto nem a santidade nem a felicidade das criaturas é verdadeira e perfeitamente atingida, a glória de Deus se faz conhecida e o será tanto nos salvos como nos perdidos. Este, então, deve ser o supremo fim de Deus na criação. Esta doutrina nos ensina que ninguém pode frustrar o plano de Deus. Deus receberá glória de cada vida humana. O homem pode glorificar Deus voluntariamente através do amor e obediência, mas, se não fizer isso, será coagido a glorificá-lo pela sua rejeição e castigo. Melhor será que o ferro fundido livremente corresponda ao molde preparado pelo grande Determinador do que ser o duro e frio ferro que deve ser malhado para receber a forma. Cleantes, citado por Sêneca: "Ducunt volentem fata, nolentem trahunt". W. C. Wilkinson, Epic of Saul, 271 - "Mas alguns são instrumentos e outros ministros de Deus, que opera sua santa vontade para com todos". Cristo batiza "no Espírito Santo e no fogo" (Mt. 3.11). Alexander Mc. Laren: "Há dois fogos; devemos nos libertar de um, ou de outro. Ou alegremente aceitamos o fogo purificador do Espírito Santo, que queima o nosso pecado, ou teremos de enfrentar o punidor que nos queima juntamente com o pecado. Ser purificado por um, ou ser consumido por outro é uma escolha que está diante de nós". Hare, A missão do Consolador em João 16.8 mostra que o Espírito Santo, ou convence os que se submetem à sua
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influência, ou convence os que resistem - a palavra ελέγχω tem esse duplo sentido.
b) A glória de Deus é intrinsecamente o fim mais valioso. O bem das criaturas é de insignificante importância comparado com este. A sabedoria dita que o maior interesse deve ter precedência sobre o menor. Porque Deus não pode escolher maior fim, ele deve escolher a si mesmo como o seu fim. Mas isto significa escolher sua santidade e sua glória na manifestação da referida santidade. Is. 40.15,16 - "Eis que as nações são como a gota de um balde e como o pó miúdo das balanças"; como a gota que caiu sem ser percebida, como o fino pó das balanças que o comerciante nem nota no peso, assim são todos os milhões tanto da terra como do céu diante de Deus. Ele criou e pode, num instante, destruir. O universo é apenas uma gota de orvalho na franja da sua veste. É mais importante que Deus seja glorificado do que o universo seja feliz. Como em Hb. 6.13 - "visto que não podia jurar por um outro maior, jurou por si mesmo" - aqui podemos dizer: Porque ele não podia escolher outro fim maior quando criou, escolheu a si mesmo. Jurar por si mesmo é jurar por sua santidade [Sl. 89.35 - "uma vez jurei por minha santidade (não mentirei a Davi")]. Inferimos que encontrar seu fim em si mesmo é achar esse fim na santidade dele. A vara ou a pedra não existem para si mesmas, porém para algum conhecimento. Em parte a alma do homem existe para si mesma. Mas ela está consciente de que num sentido mais importante ela existe para Deus. Diz-se que "o pensamento moderno louva e serve a criatura mais do que o Criador; na verdade, parece que o principal fim do Criador é glorificar o homem e agradá-lo sempre". Prof. Clifford: Ό reino de Deus é obsoleto; o reino do homem chegou". Tudo isto é a insanidade do pecado. Per contra, ver. Allen, Jonathan Edwards, 329,330 - "Duas coisas são claras na doutrina de Edwards: 1ê, que Deus não pode amar algo mais do que a si mesmo; ele é tão grande e tão preponderante todo o seu ser que o que fica de fora dificilmente merece consideração; 2§, Deus ama a sua criatura a ponto de se infundir nela: a plenitude de sua própria essência transborda no mundo
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exterior e o que ele ama nos seres criados é a essência concedida a eles". Acrescentaríamos que Edwards não diz que eles são a essência de Deus.
c) Sua própria glória é o único fim que se harmoniza com a independência e a soberania de Deus. Cada ser depende de quem quer que seja ou de qualquer coisa que ele faça o seu fim último. Se algo na criatura é o fim último de Deus, ele depende da criatura. Mas porque Deus depende só de si mesmo, ele acha em si mesmo o seu fim. Criar não é aumentar a bênção em Deus, mas revelá-la. Não há nenhuma necessidade ou deficiência que a criação supre. Todas as criaturas que derivam dele nada podem acrescentar-lhe. Toda a nossa adoração é apenas uma retribuição do que lhe pertence. Ele nos dá atenção por amor de si e não porque os nossos pequenos regatos de louvor acrescentam algo à sua oceânica plenitude de regozijo. Por amor a si mesmo e não por causa da nossa miséria ou das nossas orações ele nos redime e exalta. Fazer do nosso prazer e bem-estar o seu último fim seria abdicar do seu trono. Portanto, ele criou só por amor a si e por amor à sua glória. Por essa razão o London Spectator responde: "A glória de Deus é o esplendor de uma manifestação, não o intrínseco esplendor manifesto. Contudo, o esplendor de uma manifestação consiste no efeito desta naqueles a quem é dada. Preciosamente porque a manifestação da bondade de Deus pode ser útil a nós e não a ele, tal manifestação nos beneficia, não a ele. Por ela recebemos tudo - ele nada, exceto que se sente gratificado com o que ele deseja conceder-nos". Nesta última cláusula encontramos o nosso reconhecimento da fraqueza na teoria de que o fim supremo de Deus é o bem de suas criaturas. O que na verdade Deus recebe é a plenitude do seu plano, a realização da sua vontade, a manifestação de si mesmo. O grande pintor ama a sua tela menos do que o seu ideal. Ele pinta para expressar-se a si mesmo. Deus ama cada alma que ele criou, porém ainda mais a expressão das suas próprias perfeições. Tais próprias perfeições são o fim divino. Robert Browning, Paracelsus, 54 - "Deus é o poeta perfeito. Aquele que realiza suas próprias perfeições". O amor de Deus o faz um ser auto-expressivo. A auto-expressão é um impulso inato nas suas criaturas. Todo o gênio participa desta característica
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de Deus. O pecado substitui o transbordamento pela ocultação e interrompe a autocomunicação que faria o bem de cada um o bem de todos. Nem mesmo o pecado pode impedi-lo completamente. O ímpio é impelido a confessar. Pela lei natural revelar-se-ão, no juízo, os segredos de todos os corações. A regeneração restaura a liberdade e o regozijo da autorevelação. Cristianismo e confissão de Cristo são inseparáveis. O pregador é tão somente um cristão mais avançado neste privilégio divino. Necessitamos de falar. A oração é a mais completa expressão individual e a presença de Deus é o único lugar da expressão perfeitamente livre. No reino das coisas seculares, o grande poeta mais se aproxima da realização deste privilégio do cristão. Nenhum grande poeta jamais escreveu sua melhor obra por dinheiro, ou por fama, ou mesmo por fazer o bem. Hawthorne era mal-humorado e só parcialmente sincero quando dizia que nunca escrevera uma página a não ser em troca de pagamento. A esperança de pagamento pode ter posto a pena em ação, mas só o amor pela sua obra o podia ter feito. Motley com mais verdade declara que todas coisas perdem o sentido quando o escritor começa a considerar o que vai receber. Mas Hawthorne necessitava do dinheiro para viver enquanto Motley tinha um pai rico e um tio para sustentá-lo. O grande escritor certamente absorve-se em sua obra. Para ele, necessidade e liberdade combinam-se. Ele canta como os pássaros, sem intenção dogmática. Contudo, ele é grande em proporção quando tem o coração moral e religioso. "Arma virumque cano" (eu canto as armas e o varão) é a única vez que a Eneida emprega a primeira pessoa embora toda ela seja uma revelação de Virgílio. Pouco sabemos da vida de Shakespeare, mas muito de seu gênio. Nada se acrescenta à árvore quando produz flores e frutos; sozinha ela revela sua natureza íntima. Mas devemos distinguir no homem sua verdadeira natureza da falsa. O verdadeiro tesouro sobre o qual o grande poeta se realiza não são as suas peculiaridades privadas, mas a permanentemente universal. Longfellow: "Ele é o maior artista do lápis ou da pena, que segue a natureza. Nunca o homem, como artista ou artesão, perseguindo suas fantasias, pode tocar o coração ou prazer humano ou satisfazer nossas mais nobres necessidades". Tennyson, depois de observar a vida subaquática de um riacho exclamou: "Que imaginação Deus tem!" Caird, Philos. Religion, 245 – "O mundo das inteligências finitas, embora diferente de Deus, ainda
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em sua natureza ideal está unido a ele. Aquilo que Deus cria e pelo que ele revela os tesouros ocultos da sua sabedoria e amor não é estranho à sua própria vida infinita, mas está unido a ela. Ao conhecer as mentes que o conhecem, na entrega total dos corações que o amam, não há nenhum paradoxo em afirmar que ele conhece e ama a si mesmo".
d) Sua própria glória é um fim que abrange e assegura, como fim subordinado, cada interesse do universo. Os interesses do universo estão ligados aos interesses de Deus. Não há nenhuma santidade ou felicidade para as criaturas a não ser na absoluta soberania de Deus e reconhecimento como tal. Não é, portanto, o egoísmo, mas a benevolência que faz Deus e a sua própria glória o fim supremo da criação. Não se trata de vangloria e ao expressar seu ideal, isto é, ao expressar-se a si mesmo, na criação ele comunica à sua criatura o supremo bem possível. Esta expressão de si mesmo não é egoísmo, mas benevolência. Como o verdadeiro poeta se esquece de si mesmo na sua obra, assim Deus não se manifesta em conseqüência do que pode fazer por ela. Mas na manifestação de si mesmo Deus envolve todo o bem em favor de suas criaturas. Somos constrangidos a amar-nos a nós mesmos bem como a nossos interesses na mesma proporção do valor dos referidos interesses. O monarca de um reino ou o general de um exército devem ter cuidado com a sua própria vida porque a sua morte pode causar a perda de milhares de vidas de soldados ou de súditos. Da mesma maneira Deus é o cerne do grande sistema. Só sendo tributários do coração podem os membros ser supridos das correntes da santidade e felicidade. Portanto, só um ser no universo está certo de viver por si mesmo. O homem não vive em proveito de si mesmo, porque há um fim mais elevado. Porém, para Deus, não há mais elevado fim do que ele mesmo. "Espera-se que só um ser no universo não tem o dever de submissão. O homem deve estar sujeito às 'autoridades superiores' (Rm. 13.1). Mas não há nenhuma autoridade superior a Deus". Ver Park, Discourses, 181-209. Eis o lema de Bismarck: "Ohne Kaiser, kein Reich" - "Sem imperador não há império". Isto se aplica a Deus como o lema de Von Moltke: "Erst
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wägen, dann wagen" - "primeiro o peso (ponderação), depois a ousadia" aplica-se ao homem. Edwards, Works, 2.215 - Ό erário público é mais importante que o interesse particular. É natural e próprio que Deus valha infinitamente mais que suas criaturas". Shakespeare, Hamlet, 3.3 - "Se um simples particular está obrigado a defender a sua vida com toda força e vigor de seu talento, muito mais estará aquele em cujo bem-estar se estriba e apoia a existência das multidões. Quando sucumbe o monarca, a majestade real não morre só, mas, como um vórtice, arrasta consigo tudo quanto o rodeia. É como se fosse uma formidável roda, fixa no cume de altíssima montanha e a cujos raios estivessem sujeitas e aderidas dez mil peças menores que, ao serem derrubadas, arrastam consigo todos esses fracos ornatos, os quais, como séquito mesquinho, acompanham-na em sua impetuosa ruína. Basta que o rei suspire para que todo o reino gema".
e) A glória de Deus é o fim que num correto sistema moral se propõe às criaturas. Este deve, portanto, ser o fim que aquele a cuja imagem elas foram feitas propõe para si mesmo. Aquele que constitui o centro e o fim de todas as criaturas deve achar seu centro e fim em si mesmo. Este princípio de filosofia moral e a conclusão tirada dele são tanto explícita quanto implicitamente ensinados na Escritura. O começo de toda religião é a escolha da finalidade para Deus como também a nossa - o abrir mão da nossa preferência da felicidade e o entrar para uma vida dedicada a Deus. Do fato de que a busca da santidade não só é bem sucedida em si mesma, mas traz felicidade como conseqüência fica claro que a felicidade não é a base da obrigação moral. Arcebispo Leighton, Obras, 695 - "Um maravilhoso exemplo de sabedoria e bondade é que Deus estabeleceu conexão da sua própria glória com a nossa felicidade, de tal modo que não podemos propriamente querer uma, mas que a outra se segue naturalmente e a nossa felicidade, por fim, encontra solução na sua eterna glória". A verdadeira fonte de consolo na aflição, da força no labor, do estímulo na oração é que a vontade de Deus garante o fim para o qual ele criou, i.e., a sua glória e que o seu fim é o nosso. Ver SI. 25.11 - "Por amor do teu nome... perdoa a minha iniqüidade, pois é grande". 115.1 - "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória"; Mt. 6.33 - "Mas buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos serão
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acrescentadas"; 1 Co. 10.31 - "Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus"; 1 Pe. 2.9 - "vós sois a raça eleita ... para que possais mostrar as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz"; 4.11 - falando, ministrando "para que em tudo Deus seja glorificado através de Jesus Cristo a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre. Amém". É nosso dever fazer o máximo por nós mesmos por amor a Deus. Jr. 45.5 -"Ε procuras tu grandezas? não as busques". Mas em lugar nenhum se proíbe que busquemos grandes coisas para Deus. Devemos "procurar com zelo os melhores dons" (1 Co. 12.31). A auto-realização como a autoexpressão é próprio da humanidade. Kant: Ό homem, e com ele toda criatura racional, é um fim em si mesmo". Mas esta busca do seu próprio bem deve subordinar-se ao mais alto motivo: a glória de Deus. A diferença entre o regenerado e o não regenerado consiste totalmente no motivo. Este vive para o eu, aquele para Deus. O jovem que no Yale College começou a aprender suas lições para Deus ao invés de aprendê-las para si mesmo, deixando sua salvação nas mãos de Cristo bem ilustra o fato. Deus requer a auto-renúncia, tomando a cruz e seguindo a Cristo porque a primeira necessidade do pecador é mudar seu centro. Ser autocentrado é ser selvagem. A luta pela vida dos outros é melhor. Há, porém algo ainda mais elevado. A dignidade da vida depende do objeto que fixamos no lugar do eu. Siga a Cristo, faça Deus ser o centro da sua vida, - e assim você atingirá o melhor; ver Colestock, Changing Viewpoint, 113-123. George G. Gordon, The New Epoch for Faith, 11-13 - Ό último ponto de vista do universo é o religioso. É digno, por fim, do supremo Ser. Eis a nota de valor permanente no grande ensaio de Edwards sobre o Fim da Criação. O valor final da criação é o seu valor para Deus.... O homem vive na sociedade e através dela - eis a verdade que Aristóteles ensina - mas ele não vê que a sociedade só atinge seu fim em Deus e através dele. Hovey, Studies, 65 - "Manifestar a glória e a perfeição de Deus é, portanto, o principal fim da nossa existência. Viver de tal maneira que a vida dele se reflita na nossa; que o seu caráter reapareça, embora de modo frágil; que reconheçamos e declaremos a atividade e o amor dele é fazer aquilo para o que nós fomos criados. Ε assim, exigindo que nós o glorifiquemos, Deus simplesmente requer que façamos o absolutamente justo e ao mesmo tempo
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indispensável ao nosso mais elevado bem-estar. Qualquer objetivo inferior não pode ter sido posto diante de nós, sem tornar-nos contentes com um caráter diferente do Bem Primeiro e do bem-estar.
VI. RELAÇÃO DA DOUTRINA DA CRIAÇÃO COM AS OUTRAS DOUTRINAS
1. Com a santidade e a benevolência de Deus Como obra de Deus, a criação manifesta a necessidade dos atributos morais dele. Mas a existência do mal físico e moral no universo parece à primeira vista impugnar tais atributos e contradizer a declaração da Escritura de que a obra da mão de Deus era "muito boa" (Gn. 1.31). Esta dificuldade pode em grande parte ser removida ao considerar que: a) A princípio, o mundo era bom em dois sentidos: primeiro, como livre do mal moral, - o pecado foi um acréscimo posterior, obra não de Deus, mas dos espíritos criados; segundo, adaptado a fins benéficos, por exemplo, a revelação da perfeição de Deus e a provação e felicidade das criaturas inteligentes e obedientes. b) A dor física e imperfeição, até onde existiam antes da introdução do mal moral devem ser consideradas: primeiro como partes côngruas de um sistema em que o pecado foi previsto como um incidente; e segundo, constituindo, em parte, o meio da disciplina futura e redenção para os decaídos. Os coprólitos dos sáurios contêm as escamas e os ossos dos peixes que eles devoraram. Rm. 8.20-22 - "Porque a criação está sujeita à vaidade, não por sua própria vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a criação será libertada da servidão da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus . Porque sabemos que toda a criação (irracional) geme e está com dores de parto até agora; 23 - nosso corpo mortal como parte da natureza, participa do mesmo gemido. 2 Co. 4.17 "nossa leve e momentânea tribulação, produz para nós um peso eterno de glória mui excelente". Bowne, Philosophy of Theism, 224-240 - "Como
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explicar o nosso universo um tanto desgastado? O pessimismo admite que a sabedoria perfeita é compatível com a obra perfeita e que sabemos que o universo é verdadeiramente indigno e insignificante". John Stuart Mill, Essays of Religion, 29, traz uma terrível sentença da natureza, tempestades, relâmpagos, terremotos, peste, ruína e morte. Entretanto, o cristianismo considera-os devidos ao homem, não a Deus; como incidentes do pecado; como gemidos da criação clamando por livramento e liberdade. O corpo humano, como parte da natureza, aguarda a adoção, e a ressurreição do corpo deve acompanhar a renovação do mundo. Darwin julgava que no mundo da natureza e do homem em sua totalidade "prevalece decididamente a felicidade". Wallace, Darwinism, 36-40 - Os animais gozam toda a felicidade de que são capazes". Drummond, Ascent of Man, 203 sgs. - "Na luta pela vida não há ira - só fome". Martineau, Study, 1.330 -"A dissipação da vida é tão somente a exuberância da natureza". Newman Smith, Place of Death in Evolution, 44-56 - "A morte somente sepulta a dissipação inútil. A morte entrou por causa da vida". Estes pronunciamentos, contudo, diminuem a importância da maldade no mundo e ignoram o ensino escriturístico sobre a conexão entre a morte e o pecado. Um mundo futuro no qual o pecado e a morte não entram mostra que o mundo presente é anormal e que a moralidade é a única cura para a mortalidade. As imperfeições do universo não podem ser explicadas alegando que elas dão ensejo à luta e à virtude. Só podemos explicar a mortalidade pela imoralidade e esta não da parte de Deus, mas do homem. Fairbairn: "O sofrimento é o protesto de Deus contra o pecado". A teoria de Wallace a respeito da sobrevivência do mais adequado foi sugerida pela pródiga destruição da natureza. Tennyson: "Das cinqüenta sementes que ela freqüentemente traz apenas uma vinga". William James: "Nossos cães estão dentro da vida humana, mas não pertencem a ela. O cão, sob a faca da vivissecção, não é capaz de entender o propósito do seu sofrimento. Para ele só há dor. Do mesmo modo podemos estar embebidos numa mesma atmosfera espiritual, uma dimensão do seu ser para cuja apreensão não temos no momento nenhum órgão presente. Se conhecêssemos o propósito da nossa vida, tudo o que em nós é heróico concordaria religiosamente". Mason, Faith of the Gospel, 72 - "O amor está preparado para assumir medidas mais profundas e firmes do que a
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benevolência, que, por sua natureza, é algo de pouca profundidade". Os Lagos de Killarny, na Irlanda, mostram que paraíso poderia ser o mundo se a guerra não o tivesse desolado e se o homem adequadamente cuidasse dele. O nosso senso moral não pode justificar o mal na criação a não ser sob a hipótese de que este tem alguma causa e razão para a má conduta do homem. Este não é um mundo perfeito. Não era perfeito mesmo quando originariamente constituído. Sua imperfeição se deve ao pecado. Deus o fez com referência à queda, - o estágio ordenado para o grande drama do pecado e da redenção que devia legitimar-se nela. Aceitamos a idéia de Bushnell sobre as "conseqüências antecipadoras", e ilustraria com a construção de uma sala hospitalar enquanto nenhum membro da família está doente, e com a salvação dos patriarcas através de um Cristo que ainda estava para vir. Se os antigos vertebrados da história geológica forem tipos do homem e preparação para a sua vinda, então a dor e a morte entre os mesmos vertebrados podem de igual modo ter sido um tipo do pecado do homem e sua resultante miséria. Se o pecado não tivesse sido um incidente previsto e prevenido, o mundo poderia ter sido um paraíso. Ele só se tornará um paraíso quando se completar a obra redentora de Cristo. Kreibig, Versöhnung, 369 - "A morte de Cristo se fez acompanhar de assustadoras ocorrências no mundo exterior para mostrar que os efeitos do seu sacrifício atingiram até mesmo a natureza". Perowne menciona o SI. 96.10 - "Ele firmou o mundo para que não se abale" - para referir-se à restauração da criação dos seres inanimados; cf. Hb. 12.27 - "Ε esta palavra: Ainda uma vez, mostra a mudança das coisas móveis, como as coisas feitas, para que as imóveis permaneçam"; Ap. 21.1,5 - "Novo céu nova terra ... eis que faço novas todas as coisas". Tem-se feito muita zombaria sobre esta doutrina das conseqüências antecipadoras. James D. Dana: "É engraçado que o pecado de Adão teria matado os trilobitas! O bacamarte deve ter dado, no tempo, um coice de tão tremenda forma que golpearia os pobres inocentes!" Contudo cada apólice de seguro, cada tomada de um guarda-chuva, cada compra de alianças de casamento é uma conseqüência antecipadora. Negar que Deus fez o mundo ser o que é em vista dos eventos que ocorrem nele é atribuir-lhe menos sabedoria que aos nossos semelhantes. A mais racional explicação do mal
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físico no universo acha-se em Rm. 8.20,21 - "a criação está sujeita à vaidade ... por aquele que a sujeitou" - i.e. pelo pecado do primeiro homem "na esperança de que a própria criação também será libertada". Martineau, Types, 2.151 -"Que sentido tem a Piedade em um mundo onde o sofrimento não tivesse razão de ser?" Hicks, Critique of Design Arguments, 386 - "A própria maldade do mundo convence-nos de que Deus é bom". As palavras de Sir Henry Taylor: "A dor no homem tem a elevada missão de malhar e abanar o trigo; nos brutos isto é doloroso" têm como resposta: O bruto é tão somente um apêndice do homem e, como a natureza inanimada, ele sofre desde a queda do homem - sofre não totalmente em vão, pois mesmo nos brutos a dor serve para ilustrar a influência maligna do pecado e sugerir motivos para resisti-lo. Pascal - "Qualquer que seja o preço que a virtude possa ter é muito barato". A dor e a imperfeição do mundo são a severidade de Deus sobre o pecador e a sua advertência para com ele.
2. Com sabedoria e livre vontade de Deus Nenhum plano qualquer que seja duma criação finita pode expressar plenamente a perfeição infinita de Deus. Contudo, porque Deus é imutável deve sempre ter tido um plano para o universo; porque ele é perfeito deve ter tido o melhor plano possível. Como sábio ele não pode escolher um plano menos bom ao invés de um mais bom. Como racional não pode fazer uma escolha simplesmente arbitrária entre planos igualmente bons. Não há aqui nenhuma necessidade, mas só a certeza de que a sabedoria infinita agirá sabiamente. Como nenhuma coação vinda de fora, assim também nenhuma necessidade vinda de dentro leva Deus a criar o verdadeiro universo. A criação tanto é sábia como livre. Como Deus é racional e sábio, o fato de ter ele um plano sobre o universo deve ser melhor do que não ter o plano que deveria ser. Mas houve tempo em que o universo não era; contudo, sem o universo Deus era bendito e suficiente a si mesmo. Além disso, porque Deus é tanto racional como sábio, sua real criação não pode ser pior possível nem arbitrariamente
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escolhida entre duas ou mais igualmente boas. Consideradas todas as coisas deve ser a melhor possível. Não somos pessimistas; somos otimistas. Mas discordamos de que a forma de otimismo que considera o mal como indispensável condição do bem e o pecado como produto direto da vontade de Deus. Sustentamos que outra forma de otimismo que considera o pecado como naturalmente destrutivo, mas praticado, a despeito de si mesmo, por uma providência direta superior contribua para o mais elevado bem. Janet, em sua obra Final Causes, 429 sgs. e 490-503, reivindica que o otimismo sujeita Deus ao destino. Já tivemos a ocasião de mostrar que esta objeção equivoca a certeza, que é consistente com a liberdade e a necessidade, que é inconsistente com a liberdade. A doutrina oposta atribui arbitrariedade irracional a Deus. Estamos certos ao dizer que o universo atualmente existente, considerado como uma realização parcial do plano de desenvolvimento da parte de Deus, é o melhor possível neste ponto particular do tempo, - em resumo, que tudo é para melhor, - ver Rm. 8.28 "Todas as coisas colaboram para o bem dos que amam a Deus; 1 Co. 3.21 "tudo é vosso". Baird, Elohim Revealed, 397-419 especialmente 405 - A sabedoria cujos recursos tem sido de tal modo despendidos que não pode igualar suas realizações é uma capacidade finita e não uma profundeza ilimitada do Deus infinito". Entretanto respondemos que a sabedoria que não faz o melhor não é sabedoria. O limite não está no poder abstrato de Deus, mas nos seus outros atributos como a verdade, o amor e a santidade. Por isso Deus pode dizer em Is. 5.4 - "que mais podia fazer à minha vinha que eu não lhe tenha feito?" A perfeita antítese a um otimismo ético encontra-se no pessimismo amoral e ateísta de Schopenhauer (Die Welt als Wille und Vorstelung – O Mundo como Vontade e Representação) e Hartmann (Philosophie des Unbewussten - Filosofia do Inconsciente). "A vida toda se resume em esforço e o esforço é doloroso; portanto, vida é dor". Mas podíamos retorquir: A vida é ativa e a ação sempre se faz acompanhar de prazer; portanto vida é prazer. O pessimismo é natural em uma mente amargada pelo desapontamento e esquecimento de Deus: Ec 2.11 - "e eis que tudo era
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vaidade e aflição de espírito"; ou "tudo era vaidade e correr atrás do vento". Homero: "Nada há mais miserável que o homem". Sêneca louva a morte como a melhor invenção da natureza. Entretanto deixou-se a Schopenhauer e a Hartmann definir a vontade como anseio insatisfeito, considerar a vida como em si como enorme erro e a raça humana como a única medida de salvação permanente, ato coeso e universal de suicídio. G. H. Beard, Andover Rev., 1892 - Schopenhauer profere uma verdade do Novo Testamento: a completa desilusão da auto-indulgência. A vida dominada pelos desejos e dedicada tão somente à aquisição é um pêndulo oscilante entre a dor e o tédio". Bowne, Philos, of Theism, 124 - Para Schopenhauer a base do mundo é a pura vontade sem o intelecto ou a personalidade. Mas a pura vontade não é nada". Royce, Spirit of Mod. Philos., 253-260 - Schopenhauer uniu o pensamento de Kant Ά mais íntima de todas as coisas é uma', com o discernimento hindu, Ά vida de todas estas coisas, que és tu'. Para ele a música mostra melhor o que é a vontade: apaixonada, batalhadora, vagante, incansável, sempre voltada para si, cheia de anseios, vigor, majestade, capricho. Schopenhauer condena o suicídio individual e aconselha a resignação. O que eu sempre desejo, entretanto nunca adquiro plenamente, leva Hegel à concepção do espírito absolutamente ativo e triunfante. Schopenhauer vê nisso a prova da natureza totalmente má das coisas. Assim enquanto Hegel é otimista, Schopenhauer é pessimista". Winwood Reade, The Martyrdom of Man, pretende descrever a história humana. O. W. Holmes diz que o Peregrino de Bunyan representa o universo como uma armadilha que apanha a maioria dos vermes humanos que têm diante de si a isca". Strauss: "Se os profetas do pessimismo provam que o melhor que o homem devia fazer é nunca ter vivido, provam com isso que a melhor coisa que eles deviam ter feito é nunca ter profetizado". Hawthorne, Note-book. É curioso imaginar que lamentações e descontentamentos seriam estimulados, se algumas das assim chamadas calamidades dos seres humanos fossem abolidas, - como, por exemplo, a morte".
Teologia Sistemática (Strong) 3. Com Cristo como revelador de Deus
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Porque Cristo é o revelador de Deus na criação assim como na redenção o remédio para o pessimismo é 1) o reconhecimento da transcendência de Deus - atualmente o universo não expressa plenamente o seu poder, sua santidade ou seu amor, e a natureza é um esquema da evolução progressiva que compreendemos imperfeitamente e na qual há muito a seguir; 2) o reconhecimento do pecado como um ato livre da criatura que causou toda a tristeza e dor de modo que Deus não é no sentido adequado o seu autor; 3) o reconhecimento de Cristo por nós na cruz e de Cristo em nós pelo seu Espírito revelando a duradoura tristeza e sofrimento do coração de Deus por causa da transgressão humana e manifesta no amor auto-sacrificial para libertar os homens dos múltiplos males nos quais os pecados os envolveram; e 4) o reconhecimento da provação presente e do juízo futuro de modo que se faz a provisão removendo o escândalo ora sobre o governo divino e justificando os caminhos de Deus para o homem. A cruz de Cristo é a prova de que Deus sofre mais do que o homem por causa do pecado humano e o juízo de Cristo mostrará que o ímpio não será sempre próspero. Só em Cristo achamos a chave do tenebroso problema da história e a garantia do progresso humano. Rm. 3.25 - "o qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus". 8.32 - "Aquele que nem mesmo poupou seu próprio Filho, antes, o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas"? Hb. 2.8,9 - "não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas... vemos, porém, Jesus... coroado de glória e de honra"; At. 17.31 - "tem determinado um dia em que julgará a terra com justiça por meio do varão que destinou". G. A. Gordon, New Epoch of Faith, 199 - "Huxley chama o livro de Jó o clássico do pessimismo". O Deão Swift, sobre os seus próprios sucessivos aniversários natalícios costumava ler o terceiro capítulo de Jó que começa
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com o terrível "Pereça o dia em que nasci" (3.3). Mas a predestinação e a eleição não são arbitrárias. A sabedoria escolheu o melhor plano possível: ordenou a salvação de todos os que sabiamente podiam ter sido salvos, permitiu o menor mal que a sabedoria pode permitir. Ap. 4.11 - "Criaste todas as coisas e por tua vontade são e foram criadas". Mason, Faith of the Gospel, 79 - Todas as coisas estavam presentes na mente de Deus por causa da sua vontade e, quando lhe aprouve, deu-lhas". Pfleiderer, Grundriss, 36, advoga o idealismo realista. O Cristianismo, diz ele, não é otimismo abstrato, pois reconhece o mal do verdadeiro e considera o conflito como tarefa da história do mundo; não é pessimismo, pois não considera o mal como invencível, mas o bem como o fim e a força do mundo. Jones, Robert Browning, 109, 311 - Ό Panteísmo otimista afirma que todas as coisas são boas; o otimismo cristão afirma que todas as coisas cooperam para o bem. Reverie, Assolando: 'Era desde a primeira força - eu sei'. A vida me esclareceu que devo lutar, mas por pontos de vista definidos, o amor é tão claro que se pode ver'. Aventura de Balaustion: 'Alegria seja contigo, Auxiliador do mundo! Suponho que este é o autêntico sinal e selo do divinal que se torna cada vez mais alegre até atingir a alegria das flores, explode em ira a ponto de sofrer pela humanidade e recomeçar a tristeza'. Browning, empenhava-se em achar Deus no homem e ainda deixar livre o ser humano. Sua fé otimista buscava a reconciliação com a moralidade. Ele detestava a doutrina de que os males do mundo se devem simplesmente à arbitrária soberania e satirizava esta doutrina no monólogo de Caliban em Stebos: 'Não amando, não odiando, só escolhendo'. Pippa Passos: 'Deus está no céu - Tudo está certo com o mundo'. Mas como isto é consistente com a culpa do pecador? Browning não diz. O amor exige distinção entre Deus e o homem. Saul: Tudo é amor, mas tudo é lei'. Carlyle forma marcante contraste com Browning. Carlyle era pessimista. Ele renunciaria a felicidade pelo dever e, como um meio para alcançar esse fim, supriria não só a conversa sem valor, mas até o próprio pensamento. Estava iniciada a batalha embora em uma causa estranha. A causa de Deus não é nossa. O dever é tão grande ameaça como o do escravo. A lei moral não é uma revelação benéfica que reconcilia Deus com o homem. Tudo é medo e não há amor". Carlyle levou Emerson pelas favelas de Londres à meia-noite e perguntou-lhe: "Ε agora, você crê no Diabo"? Porém Emerson respondeu: "Estou cada vez mais convencido da grandeza e bondade do povo inglês".
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Henry Ward Beecher, quando interrogado se valia a pena viver, respondeu que dependia muito do fígado (há um trocadilho em Inglês: to live = viver; liver = fígado). Otimismo e pessimismo são em grande parte assunto de digestão. O Presidente Marc Hopkins perguntou a um brilhante estudante se ele não cria que este é o melhor sistema possível. Quando o estudante respondeu pela negativa, o presidente perguntou-lhe como poderia melhorar isso. Ele respondeu: "Eu mataria todos os percevejos, pulgas e faria crescerem ao Norte laranjeiras e bananeiras mais adiante". Uma senhora picada por mosquito perguntou se seria próprio falar de criaturas como "insetozinhos depravados". Disseram-lhe que isto seria impróprio porque a depravação sempre implica um anterior estado de inocência, enquanto o mosquito sempre foi mau como é agora. Dr. Lyman Beacher, contudo, parece ter sustentado o ponto de vista contrário. Quando ele capturou o mosquito que o picou, esmagando o inseto, disse: "Ora veja! Vou mostrar a você que existe um Deus em Israel". Ele identificou o mosquito com todo o mal que existe no mundo. Allen, Religious Progress, 22 - "Wordsworth tinha ainda esperança, apesar de que a Revolução Francesa o tinha oprimido. Macaulay, depois de 1er a História dos Papas de Ranke, negou todo o progresso religioso". Pfleiderer, Philos. Religion, 1.301, 302 - Os gregos da época de Homero tinham um ingênuo e jovial otimismo. Mas mudaram o seu ponto de vista para o pessimismo. Tal mudança foi causada pela crescente contemplação da desordem moral do mundo". Butcher sustenta que a grande diferença entre gregos e hebreus é que aqueles não tinham esperança ou ideal de progresso. A. H. Bradford, Age of Faith, 74-102 - Os poetas voluptuosos são pessimistas porque o prazer sensual passa rapidamente e deixa atrás de si lassidão e enervação. O pessimismo é a base do estoicismo. É inevitável onde não há fé em Deus e numa vida futura. A vida de uma semente enterrada não inspira, a não ser na previsão de sol, flores e frutos". Bradley, Appearance and Reality, xiv, resume o ponto de vista otimista da seguinte maneira: "O mundo é o melhor dos mundos possíveis e tudo que ele contém é um mal necessário". Ele devia acrescentar que a dor é a exceção e a livre vontade finita é a causa da perturbação. A dor torna-se o meio de desenvolver o caráter e, cumprido o seu propósito, ela passa.
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Jackson, James Martineau, 390 - "Tudo está bem, diz um pregador americano, porque, se há algo que não vai bem, é bom que não vá bem. É bom que a ira e a falsidade não vão bem, que a malícia e a inveja e a crueldade não vão bem. Que espera o mundo, ou que confiança se tem em Deus, se não estivessem bem? Viver se translitéra mal, só quando a lemos de modo errado". James Russel Lowell, Letters, 2.51 - "Quanto mais eu aprendo ... mais cresce a minha confiança no bom senso geral e intenções honestas.... Os sinais dos tempos deixam de alarmar e parecem tão naturais como para uma mãe a dentição do seu sétimo bebê. Grande é o meu consolo em Deus. Acho que às vezes ele se alegra conosco e gosta de nós como um todo e não nos deixaria numa caixa de jogo tão descuidadamente, a não ser que conhecesse a estrutura do seu universo como uma prova de fogo". Compare todo o pessimismo desesperançado de Omar Khayyam, Rubaiyat, estrofe 99 - "Ah Amor! poderíamos você e eu com ele conspirar para nos apegarmos a este inteiro esquema de coisas se não pudéssemos destroçar - e então remodelá-lo o mais próximo do modelo do coração?" Royce, Studies of Good and Evil, 14, discutindo o problema de Jó, sugere a seguinte solução: "Quando você sofre, os seus sofrimentos são os sofrimentos de Deus, não a sua obra externa, nem a sua pena externa, nem o fruto da sua negligência, mas exatamente o seu próprio ai pessoal. Em você o próprio Deus sofre, precisamente como você e tem a mesma preocupação em vencer este pesar". F. H. Johnson, What is Reality?, 349, 505 - Ό ideal cristão não é sustentável, se admitimos que Deus pode tão facilmente desenvolve sua criação sem conflito. ... A felicidade é apenas um dos fins dele; a solução do caráter moral é outra". A. E. Waffle, Uses of Moral Evil: "1) Auxilia o desenvolvimento do caráter santo através da oposição; 2) fornece oportunidade para ministrar; 3) torna conhecidos a nós os principais atributos de Deus; 4) realça as bênçãos do céu".
4. Com a Providência e a Redenção O cristianismo é essencialmente um esquema de amor e poder sobrenaturais. Concebe Deus acima do mundo assim como nele; capaz de manifestar o próprio Deus e manifestá-lo verdadeiramente por meios desconhecidos da simples natureza.
Teologia Sistemática (Strong) 805 Mas esta absoluta soberania e transcendência, que se manifestam na providência e na redenção, são inseparáveis do ato da criação. Se o mundo for eterno, como Deus, deve ser um efluxo da substância de Deus e deve ser absolutamente igual a Deus. Só uma adequada doutrina da criação pode garantir a distinção absoluta de Deus relativamente ao mundo e a soberania de Deus sobre o mundo. A alternativa lógica da criação é, portanto, um sistema de panteísmo, no qual Deus é uma força impessoal e necessária. Daí os ditos panteístas de Fichte: "A suposição de uma criação é o erro fundamental de toda a falsa metafísica e falsa teologia"; de Hegel: "Deus evolui o mundo de si mesmo para trazê-lo de volta outra vez a si mesmo no Espírito"; e de Strauss: "A Trindade e a criação, vistas especulativamente, são uma coisa só e tem o mesmo nome, - só que uma é vista de um modo absoluto e a outra empiricamente". Starret, Studies, 155,156 - Hegel sustentava que é próprio da natureza de Deus criar. A criação é o posicionamento de Deus com relação a um outro que não um outro. A criação é dele, pertence ao seu ser ou essência. Isto envolve o finito como objeto autoposicionado e sua auto-revelação. É necessário Deus criar. O amor, diz Hegel, é tão somente outra expressão do Deus eternamente Trino. O amor deve criar e amar o outro. Mas, amando este outro, Deus apenas está amando a si mesmo". Já mostramos em nossa discussão sobre a teoria da criação a partir da eternidade, a insuficiência da criação para satisfazer tanto o amor como o poder de Deus. Uma doutrina apropriada da Trindade considera a hipótese de uma criação eterna desnecessária e irracional. Tal hipótese é de tendência panteísta. Luthardt, Compendium der Dogmatik, 97 - Ό dualismo podia ser chamado de alternativa lógica da criação, mas pelo fato de que sua noção de dois deuses é autocontraditória e conduz ao rebaixamento da idéia de Deus, de tal modo que o impessoal deus do panteísmo toma o seu lugar". Dorner, System of Doctrine, 2.11 – "O mundo não pode ser refém da necessidade a fim de satisfazer, ou a falta, ou a grande plenitude em Deus. ... A doutrina da criação absoluta evita confundir Deus com o mundo. A declaração de que o Espírito pairava (hebr. chocava) sobre os elementos amorfos e a vida se desenvolveu sob a operação contínua das leis e presença de Deus, evita a
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separação de Deus com relação ao mundo. Evitam-se assim panteísmo e deísmo". Ver Kant e Spinoza contrastados em Shedd, Dogm. Theol., 1.468,469. O incomum tratamento completo da doutrina da criação neste capítulo deve-se à convicção de que a doutrina constitui um antídoto à maioria das falsas filosofias da nossa época.
5. Com a observância do Sábado A partir deste ponto de vista observamos, contudo, a importância e o valor do Sábado como ato comemorativo da criação de Deus e assim a personalidade, a soberania e a transcendência de Deus. a) O Sábado é obrigação perpétua como um memorial da atividade criadora indicado por Deus. Sua exigência antedata o Decálogo e forma uma parte da lei moral. Feita na criação, aplica-se ao homem como homem, em qualquer lugar e sempre em seu estado presente. Gn. 2.3 – "E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera". Nosso descanso deve ser uma representação miniatural do descanso de Deus. Como Deus trabalhou seis dias divinos e descansou um dia divino, assim devemos nós, em imitação a ele trabalhar seis dias humanos e descansar um dia humano. No Velho Testamento há indicações de uma observância do dia de sábado antes da legislação mosaica. Gn. 4.3 - "E aconteceu, ao cabo de dias, que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor"; 8.10,12 - Noé por duas vezes aguardou sete dias antes de enviar a pomba da arca; 29.27,28 "cumpre a semana"; cf. Jz. 14.12 - "os sete dias da festa"; Ex. 16.5 - a porção dobrada do maná prometida no sexto dia, para que não se ajuntasse no sábado (cf. vv. 20,30). Esta divisão de dias em semanas é melhor explicada pela instituição original do sábado na criação do homem. Moisés fala no quarto mandamento como já conhecido e observado: Êx. 20.8 "Lembra-te do dia do sábado para santificá-lo". O sábado é reconhecido nos relatos Assírios da Criação. Professor Sayce: "Sete era um número sagrado originado dos semitas desde os antecessores acádios. De sete em sete eram os nós mágicos das feiticeiras;
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o corpo do doente devia ser ungido sete vezes na purificação com óleo. Como o sábado de descanso caía no sétimo dia, assim os planetas, como demônios mensageiros de Anu, eram sete e os deuses de número sete recebiam uma honra especial". Mas agora a descoberta de uma tábua do calendário na Mesopotamia mostra-nos a semana de sete dias e o sábado em plena preponderância na antiga Babilônia muito antes dos dias de Moisés. Nessa tábua o sétimo, o décimo quarto, o vigésimo primeiro e o vigésimo oitavo dias eram chamados sábados, palavra empregada por Moisés seguida da expressão: 'dia de descanso'. As restrições são tão rígidas na tábua como lei de Moisés. Esta instituição deve ter remontado ao período acádico, anterior aos dias de Abraão. Em uma das descobertas recentes este dia é chamado 'O dia de descanso para o coração', mas dos deuses; por causa da propiciação oferecida nesse dia, seu coração se punha em repouso. S. S. Times, Jan. 1892, artigo do Dr. Jensen, da Universidade de Estrasburgo, sobre a Semana Bíblica e Babilônica: Subattu na Babilônia significa dia de propiciação, implicando propósito religioso. A narrativa babilônica do dilúvio implica uma semana de sete dias e o arco-íris continuou por seis dias desaparecendo no sétimo; outro período de sete dias entre o término da tempestade e o desembarque de Noé, a pomba, a andorinha e o corvo enviados outra vez no sétimo dia. Os sábados são chamados dias de descanso para o coração, dias de cessação de trabalho". Hutton, Essays, 2.229 - "Porque na mente de Deus há uma fonte de eterno repouso assim como de energia criadora, somos levados a respeitar a lei do descanso do mesmo modo que a lei do trabalho". Na verdade, podemos questionar se esta doutrina do descanso de Deus não refuta por si mesma a teoria da criação eterna contínua e necessária.
b) Nem o Nosso Senhor nem seus apóstolos ab-rogaram o Sábado do Decálogo. A nova dispensação afastou as prescrições mosaicas quanto ao método de guardar o Sábado, mas ao mesmo tempo declara que sua observância é de origem divina e é uma necessidade da natureza humana.
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Nem tudo na lei mosaica foi ab-rogado em Cristo. A adoração e a reverência, a consideração pela vida, pela pureza e pela propriedade ainda continuam obrigatórias. Cristo não pregou na cruz todos os mandamentos do Decálogo. Jesus não se defendeu da culpa da quebra do sábado dizendo que o sábado foi ab-rogado mas fixando a sua verdadeira idéia quanto à necessidade humana fundamental de cumpri-lo. Mc. 2.27 - "O sábado foi feito [por Deus] por causa do homem e não o homem por causa do sábado". As restrições puritanas não são essenciais ao sábado, nem mesmo correspondem mais tarde aos métodos da observância do Velho Testamento. O sábado judaico assemelhava-se mais ao Dia de Ações de Graças na Nova Inglaterra do que ao seu Dia de Jejum. Ne. 8.12,18 - "Então todo o povo se foi a comer, e a beber, e a enviar porções e a fazer grandes festas ... e celebravam a solenidade da festa sete dias e, no oitavo dia, a festa do encerramento, segundo o rito" - parece que inclui o sábado como dia de alegria. Orígenes, Homília 23 sobre Números (Migne, II. 358): "Deixando, portanto, as observâncias judaicas do sábado, vejamos em que devem elas consistir. No sábado, nenhuma de todas as ações do mundo deve ser feita". Cristo anda pela seara, cura o paralítico, ceia com um fariseu, tudo no sábado. John Milton em sua Christian Doctrine, é extremamente antisabatista, sustentando que o Decálogo foi abolido com a lei mosaica. O seu pensamento é que não é certo se "o dia do Senhor" era semanal ou anual. Na mente dele, a observância do sábado é matéria não de autoridade, mas de conveniência. Arcebispo Paley: "Na minha opinião, Paulo considerava o sábado como um tipo de ritual judaico, e não obrigatório para os cristãos. A cessação do trabalho nesse dia além do tempo de assistir ao culto público não se insinua em qualquer parte do Novo Testamento. A noção que Jesus e seus apóstolos tinham da guarda do sábado judaico, só mudando do sétimo para o primeiro prevalece sem razão suficiente". Segundo Guizot, Calvino se agradava tanto com um jogo praticado em Genebra no domingo que não só assistia, mas adiava seu sermão de modo que a sua congregação pudesse assistir. Quando John Knox visitou Calvino achou-o jogando uma partida de boliche no domingo. Martinho Lutero dizia: "Conserve santo o dia por causa do seu uso tanto físico como espiritual. Mas se em qualquer lugar o dia for santificado simplesmente por causa do dia, se
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se praticar qualquer observância com base judaica, então ordeno que trabalhem nele, de modo a fazer algo que reprove este abuso no espírito e liberdade cristãos". Porém os escritores mais liberais e mesmo os mais radicais reconhecem os empregos econômicos e patrióticos do sábado. R. W. Emerson diz que a sua observância é "o cerne da nossa civilização". Charles Summer: "Se perpetuarmos a nossa República, devemos santificála assim como fortificá-la e fazê-la ao mesmo tempo templo e cidadela". Oliver Wendel Holmes: "Aquele que ordenou o sábado amou os pobres". Na Pensilvânia trazem das minas cada domingo as mulas que estiveram trabalhando durante a semana toda na escuridão, - para que não fiquem cegas. Assim a vista espiritual do homem desaparecerá se não subirem semanalmente para a luz de Deus.
c) O Sábado obriga-nos a separar um sétimo do nosso tempo para o descanso e adoração. Não impõe a simultânea observância de uma porção de tempo fixo a todo o mundo, nem isso seria possível. O exemplo de Cristo e a sanção apostólica transferiram o Sábado do sétimo dia para o primeiro em razão de que este é o dia da ressurreição de Cristo e o dia quando a criação espiritual de Deus tornou-se completa em Cristo. O homem em diferentes longitudes não pode observar simultaneamente nenhuma porção exata do tempo absoluto. Em Berlin o dia começa seis horas antes de em Nova Iorque, de modo que uma quarta parte do que é domingo em Berlin ainda será sábado em Nova Iorque. Cruzando os 180 graus de longitude do Ocidente ao Oriente ganhamos um dia e o sabatista do sétimo dia que circunavega o globo pode retornar ao ponto de partida observando o mesmo sábado que os seus companheiros cristãos. A. S. Carman, Examiner, 4 de janeiro de 1894, afirma que Hb. 4.5-9 faz referência à mudança do sétimo dia para o primeiro nas alusões a "um repouso de sábado" que "resta" e a um "outro dia" tomando o lugar do dia original de repouso. O Ensino dos Doze Apóstolos: "No dia do Senhor ajuntai-vos, e rendei graças e parti o pão". A mudança do sétimo dia para o primeiro parece dever-se à ressurreição de Cristo no "primeiro dia da semana (Mt. 28.1), ao seu
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encontro com os discípulos naquele dia e no domingo seguinte (Jo. 20.26) e ao derramamento do Espírito no domingo de Pentecostes sete semanas depois. Assim pelo próprio exemplo de Cristo e pela sanção dos apóstolos o primeiro dia tornou-se "o dia do Senhor" (Ap. 1.10) no qual os crentes se reúnem regularmente em cada semana com o seu Senhor (At. 20.7 - "no primeiro dia da semana, quando nos reuníamos para partir o pão") e traziam as contribuições para beneficência (1 Co. 1,2 - "sobre a oferta que se levanta em favor dos santos ... no primeiro dia da semana, separai conforme a prosperidade, para que não se levantem coletas quando eu chegar"). Eusébio, Com. sobre o SI. 92 (Migne V. 1191, C): "Portanto as coisas [regulamentos levíticos] tendo já sido rejeitadas, o Logos através da Nova Aliança transferiu e mudou a festa do sábado para o dia do nascer do sol... o dia do Senhor... sábado santo e espiritual". Justino Mártir, Primeira Apologia: "No dia chamado domingo, todos os que moram na cidade ou no campo reúnem-se em um lugar e lêem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas. ... O domingo é o dia em que todos nós realizamos a assembléia comum porque é o primeiro dia em que Deus fez o mundo e o Nosso Salvador Jesus no mesmo dia ressuscitou dos mortos. Porque ele foi crucificado no dia anterior, que é o de Saturno (sábado); e no dia posterior ao de Saturno, que é o dia do Sol (domingo), tendo aparecido aos apóstolos e discípulos, ensinou-lhes estas coisas que apresentamos para vossa consideração". Isto parece indicar que, entre a ressurreição e a ascensão, Jesus deu a ordem a respeito da observância do primeiro dia da semana. Ele foi "recebido em cima" só depois que tinha dado o mandamento através do Espírito aos apóstolos que ele escolheu" (At. 1.2). Então o sábado cristão é o dia da ressurreição de Cristo. O sábado judaico comemorava só o começo do mundo; o sábado cristão comemora também a nova criação do mundo em Cristo em que a obra de Deus na humanidade pela primeira vez torna-se completa. C. H. M. sobre Gn. 2: "Se eu celebro o sétimo dia ele me marca como um homem terreno do mesmo modo em que o dia claramente é o descanso da terra - repouso da criação; se inteligentemente eu celebro o primeiro dia da semana, sou marcado como um homem celeste, crendo na nova criação em Cristo". (Gl. 4 10,11) Observais dias, e meses, e estações e anos. Receio de vós que eu haja
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trabalhado em vão para convosco". Cl. 2.16,17 - "Ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou pelo dia de festa, ou lua nova, ou dia de sábado; que são a sombra das coisas futuras; mas o corpo é de Cristo".
SEÇÃO II - PRESERVAÇÃO I. DEFINIÇÃO DE PRESERVAÇÃO É a atuação contínua pela qual Deus conserva existentes as coisas que ele criou, bem como as propriedades e forças de que as dotou. Como na doutrina da criação tentamos explicar a existência do universo, assim na doutrina da Preservação tentamos explicar sua continuação. Como explicação assinalamos: a) Preservação não é criação, pois a preservação pressupõe a criação. O que se preserva deve existir e isto pelo ato criador de Deus. b) Preservação não é simples negação da ação ou impedimento de destruição da parte de Deus. É uma atuação positiva pela qual, a cada momento, ele sustenta as pessoas e dá forças ao universo. c) Preservação implica um concurso natural de Deus em todas operações da matéria e da mente. Apesar de que os seres pessoais existem e de que a vontade de Deus não é a única força, ainda é verdade que, sem seu concurso, nenhuma pessoa e nenhuma força podem continuar a existir ou a agir. Dorner, System of Doctrine, 2.40-42 - "Criação e preservação não podem ser a mesma coisa, pois, nesse caso, o homem seria apenas um produto das forças naturais supervisionadas por Deus; porquanto o homem está acima da natureza e não se explica a partir desta. A natureza não é o todo do universo, mas tão somente a base dele. ... O descanso de Deus não é a cessação de atividade, mas um novo exercício do poder. Ε Deus não é a "alma do universo". Esta expressão é panteísta e implica que Deus é tão somente o agente.
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É uma coisa maravilhosa que a vida física continua. O bombeamento do sangue através do coração, quer durmamos, quer estejamos acordados, requer dispêndio de energia bem maior do que podemos avaliar. O músculo do coração nunca descansa a não ser entre as batidas. Todo o sangue do corpo passa pelo coração em cada meio minuto. A pressão do coração é maior do que a do punho. Os dois ventrículos do coração sustentam em média dez onças ou 5/8 de uma libra e este total é bombeado em cada batida. Em setenta e duas por minuto, i.e. 2.700 libras por hora, e 64.000 onças ou 32,4 toneladas por dia. Enciclopédia Britânica, 11.554 - "O coração realiza cerca de 1/5 de todo o trabalho mecânico do corpo - o equivalente ao levantamento do seu próprio peso 13.000 pés (± 4.333 m) por hora. Só descansa em curtos momentos como se a sua ação fosse contínua. Deve ser necessariamente o mais antigo sofredor de qualquer improvidência quanto à nutrição e a este respeito a emoção mental é tão poderosa causa da bancarrota constitucional como o mais violento exercício muscular". Antes da época da guilhotina na França, quando o criminoso era executado sentado em uma cadeira e decapitado ao golpe de uma afiada espada, um observador declarou que o sangue jorrava para cima a vários pés. Ainda esta grande força é tão ruidosamente exercida pelo coração, na maioria dos casos, que disso não temos consciência. A força em operação é o poder de Deus e a esse exercício do poder damos o nome de preservação. Crane, Religion of To-morrow, 130 - "Não ganhamos o pão porque Deus instituiu algumas leis para o crescimento do trigo ou para a ação de assar, deixando que as leis corram por si mesmas. Porém Deus, pessoalmente presente no trigo, o faz crescer e na massa o torna pão. Ele não faz a gravitação ou a coesão, mas elas são fases da sua ação presente. O Espírito é a realidade, a matéria e a lei são os modos da expressão dela. Assim, na redenção não é por operação de algum plano perfeito que Deus salva. Ele é o Deus imanente e todos os seus benefícios são apenas fases da sua pessoa e influência imediata".
Teologia Sistemática (Strong) II. PROVA DA DOUTRINA DA PRESERVAÇÃO
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1. Da Escritura Em numerosas passagens da Escritura a preservação distingue-se da criação. Apesar de que Deus descansou da obra da criação e estabeleceu uma ordem das forças naturais, declara-se que uma atividade divina especial e contínua se exerce no sustento do universo e de suas forças. Ademais, declara-se que esta atividade divina é a de Cristo; como ele é o agente mediador na criação, assim também o é na preservação. Ne. 9.6 - "Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há e tu os guardas a todos"; Jó 7.20 - "Tu, ó vigia [rodapé: 'preservador'] dos homens!"; SI. 36.6 - "Tu, Senhor, preservas os homens e os animais"; SI. 104.29,30 - "tira-lhes a respiração, morrem e voltam ao próprio pó. Envias o teu Espírito e são criados e renovas a face da terra". Ver Perrowne sobre o Sl. 104 - "Um salmo para o Deus que está na natureza e com ela para o próprio bem". Humboldt, Cosmos, 2.413 – "O SI. 104 apresenta uma imagem do cosmos inteiro". At. 17.28 - "nele vivemos, nos movemos e existimos"; Cl. 1.17 - "nele subsistem todas as coisas"; Hb. 1.2,3"sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder"; Jo. 5.17 - "meu Pai trabalha até agora e eu trabalho" - refere-se mais naturalmente à preservação, visto que a obra da criação já estava encerrada; cp. Gn. 2.2 "no sétimo dia terminou Deus a sua obra que tinha feito e descansou no sétimo dia de toda obra que tinha feito". Deus é o sustentador de toda a vida física; ver SI. 66.8,9 - "Bendizei, povos, ao nosso Deus ... que sustenta com vida a nossa alma". Deus é também o sustentador da vida espiritual; ver 1 Tm. 6.13 - "Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica (ζωογονοϋντος τα πάντα) = o grande Preservador capacita-nos a persistir em nossa carreira cristã. Mt. 4.4 - "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus" apesar de originariamente referir-se à alimentação física é igualmente verdadeiro sobre o sustento espiritual. No SI. 104.26 - "Ali passam os navios". Dawson, Mod. Ideas of Evolution, é de parecer que não se faz referência às obras do homem, mas
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às de Deus como no paralelismo: "e o leviatã" indicaria "e os navios flutuantes como o nautilus que é um 'naviozinho' ". O SI. 104 é um longo hino ao poder preservador de Deus, que conserva vivas todas as criaturas, tanto pequenas como grandes.
2. Da Razão Podemos argumentar a atuação preservadora de Deus com as seguintes considerações: a) A matéria e a mente não são auto-existentes. Porque elas não têm a causa do seu ser em si mesmas sua continuação bem como sua origem podem dever-se a um poder superior. Dorner, Glaubenslehre: "Se o mundo fosse auto-existente, seria um Deus e nenhuma religião seria possível. O mundo é receptivo a novas criações; mas estas, uma vez introduzidas, estão sujeitas, como as demais, à lei da preservação" - i.e. dependem da existência contínua de Deus.
b) Força implica em uma vontade da qual é a expressão direta ou indireta. Conhecemos a força somente através do exercício da nossa vontade. Porque a vontade é a causa única da qual temos conhecimento direto as causas secundárias na natureza são consideradas apenas como obras secundárias, reguläres e automáticas da grande primeira Causa. Martineau, Essays, 1.63,265 e Study, 1.244 - "As causas secundárias na natureza têm a mesma relação com a Causa Primária como o movimento automático dos músculos ao darem passos para a primeira decisão da vontade que iniciou a caminhada". Freqüentemente se objeta que não podemos identificar força e vontade porque, em muitos casos, o esforço da nossa vontade é infrutífero por falta da força nervosa e muscular. Mas isto só prova que a força não pode ser identificada com a vontade humana, e não que não possa ser identificada com a divina. Para a vontade divina não falta força alguma; em Deus vontade e força são a mesma coisa.
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Adotamos, portanto, ponto de vista de Maine de Biran, de que a causa pertence só ao espírito. Porter, Human Intellect, 582-588, faz a seguinte objeção a este ponto de vista: "Isto implica, primeiro, que a concepção de uma causa material é autocontraditória. Mas a mente reconhece em si mesma energias espirituais que não são voluntárias; porque derivamos da vontade a nossa noção de causa, não se segue que a relação causai sempre envolve vontade; seguir-se-ia que o universo, até onde não é inteligente é impossível. Em segundo lugar, implica que há apenas um agente no universo e que os simples fenômenos da matéria e da mente são apenas manifestações de uma simples força - a do Criador". Respondemos a este raciocínio afirmando que nenhuma coisa morta pode agir e que aquilo que chamamos energias espirituais involuntárias são, na verdade, atividades inconscientes ou esquecidas da vontade. A partir do nosso atual ponto de vista criticaríamos, também, Hodge, Systematic Theology, 1.596 - "Porque temos a nossa idéia de força a partir da mente, não se segue que esta seja a única força. O fato de que a mente é uma causa não prova que a eletricidade não o possa ser. Se a matéria é força e nada mais que força, então a matéria não é nada e o mundo exterior é tão somente Deus. Apesar de tal argumento, o homem crera que o mundo exterior é uma realidade - que a matéria é, e que ela é a causa dos efeitos que atribuímos à sua atuação". New Englander, set. 1883, 552 - "Nos tempos primitivos o homem empregava as causas secundárias, i.e., máquinas bem pequenas para cumprirem seus propósitos. Seu modo comum de ação era o uso direto das mãos ou da voz, e atribuía naturalmente aos deuses o mesmo método de que ele se valia. O próprio uso das causas secundárias conduziu o homem a mais elevadas concepções da ação divina". Dorner: "Se a palavra não tivesse nenhuma dependência, não refletiria Deus, nem a criação teria qualquer sentido". Mas tal independência não é absoluta. Apesar de que o homem vive, move-se e existe em Deus (At. 17.28), qualquer coisa material ou espiritual que tenha vindo a ser, só tem vida em Cristo (Jo. 1.3,4 "Todas as coisas foram feitas por intermédio dele e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida [rodapé:nada se fez. O que se fez era a vida nele. RSV). A Preservação é a vontade contínua de Deus. Bowne, Introdução à Psicologia, 305, fala de um tipo de vontade ao atacado. Agostinho: "Dei voluntas est rerum natura". Reitor Fairbairn: "A natureza é espírito".
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Tennyson, The Ancient Sage: "A força é das alturas". Lord Gifford, citado em Max Müller, Anthropological Religion, 392 - "A alma humana nem deriva de si mesma, nem subsiste por si mesma. Desvaneceria se não tivesse substância, e sua substância é Deus". Upton, Hibbert Lectures, 284,285 - A matéria é simplesmente o espírito em sua mais baixa forma de manifestação. A Causa absoluta deve ser o Eu mais profundo que achamos no cerne da nossa consciência própria. Através da autodiferenciação Deus cria tanto a matéria como a mente".
c) A soberania de Deus requer uma crença na sua atuação preservadora especial; porque esta soberania não seria absoluta se algo ocorresse ou existisse independente de sua vontade. James Martineau, Seat of Authority 29,30 - "Toda força cósmica é vontade. ... Esta identificação da natureza com a vontade de Deus seria panteísta só se mudássemos e identificássemos Deus com nada mais que a vida do universo. Porém nós não negamos a transcendência. As forças naturais são a vontade de Deus, mas esta é mais do que aquelas. Ele não equivale a tudo, mas à sua Mente diretiva. Deus não é a fúria do animal selvagem, nem o pecado do homem. Há coisas e seres que lhe são objetivos. ... Ele põe a sua força naquilo que é o outro ser além dele, e afasta-se do seu outro emprego através da antecipação do empenho relativo a um fim. Entretanto, ele é a fonte contínua e suprimento de força do sistema". As forças naturais são as volições genéricas de Deus. Porém as vontades humanas, com seu poder alternativo, são o resultado da autolimitação de Deus, até mais do que o é a natureza, pois as vontades humanas nem sempre obedecem à vontade divina; podem até opor-se a ela. Na vontade está o Infinito, não só como imanente, mas também como transcendente e, no caso do pecado, tanto opondo-se ao pecador como punindo-o. Esta contínua vontade de Deus tem sua analogia em nossa vontade subconsciente. J. M. Whiton, no Am. Jour. Theol., 1901.320 "Quando andamos, a nossa própria vontade desenvolve uma volição separada para cada passo, mas depende da ação automática dos centros nervosos inferiores, que ela não só movimenta como mantém a sua
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operação. Assim a Vontade divina não opera em inúmeros atos isolados da volição". A. R. Wallace: "O universo inteiro não só depende da vontade das inteligências mais elevadas, ou de uma suprema Inteligência, mas, na verdade, é umas e a outra. ... A livre vontade do homem é apenas uma artéria maior na corrente controladora da Vontade universal, cujo fluxo de duração evolutiva constitui a auto-revelação do Infinito". Esta declaração de Wallace une a vontade finita de forma muito mais completa à vontade de Deus. Isto é verdade com relação à natureza e com todos os santos, mas não é verdade a respeito do ímpio. Sem dúvida Deus mantém a existência deles, mas o mesmo Deus se opõe à sua conduta. A preservação deixa lugar para a liberdade humana, para a responsabilidade, para o pecado e para a culpa. Portanto, todas as forças naturais e todos os seres pessoais testemunham que a vontade de Deus originou estes e aquelas que ele sustenta continuamente. O universo físico, na verdade, em nenhum sentido independe de Deus, pois suas forças são apenas a vontade constante de Deus e suas leis são apenas os hábitos de Deus. Só na vontade livre dos seres inteligentes Deus separou de si qualquer porção da força e a fez capaz de contradizer a sua santa vontade. Mas mesmo aos agentes livres Deus não deixa de dar apoio. A doutrina da preservação, portanto, mantém uma base média entre dois extremos. Ela sustenta que os seres pessoais finitos têm existência real e independência relativa. Por outro lado, sustenta que estas pessoas retêm o seu ser e forças só quando sustentadas por Deus. Deus é a alma, mas não a soma, das coisas. O cristianismo defende a transcendência de Deus bem como a sua imanência. A imanência sozinha é o aprisionamento de Deus como a transcendência sozinha é o seu banimento. Gore, Encarnação, 136 sgs - A teologia cristã é a harmonia do panteísmo com o deísmo". Sustenta a transcendência e desse modo tem todo o bem do panteísmo sem suas limitações. Sustenta a imanência e desse modo tem todo o bem do deísmo sem a sua incapacidade de mostrar como Deus poderia ser bendito sem a criação. Diman, Theistic Argument, 367 - "A teoria dinâmica da natureza como um organismo plasmável permeado por um sistema de forças que unem por fim em uma Força suprema harmoniza-se mais com o espírito e ensino do Evangelho do que com as concepções mecânicas que prevaleciam há um século e que insistiam em ver a natureza
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como uma complicada máquina feita por um grande Artífice que está totalmente separado dela". A doutrina da preservação apresenta um Deus tanto na natureza como além dela. Conforme se considera um ou outro elemento, temos o erro do Deísmo, ou o da Criação contínua - teorias que ora passamos a considerar.
III. TEORIAS QUE VIRTUALMENTE NEGAM A DOUTRINA DA PRESERVAÇÃO 1. Deísmo Este ponto de vista representa o universo como um mecanismo auto-sustentado do qual Deus afastou-se tão logo o criou e que o abandonou a um processo de autodesenvolvimento. Defenderam-no nos séculos dezessete e dezoito os ingleses Herbert, Collins, Tindal e Bolingbroke. Lord Herbert of Cherbury foi um dos primeiros a sistematizar o deísmo. Seu Livro De Veritate foi publicado em 1624. Ele argumenta contra a probabilidade da revelação da vontade de Deus a apenas uma parte da terra. A isto ele chama de "religião particular". Contudo, buscou e, segundo o seu próprio relato, recebeu uma revelação do céu estimulando a publicação de sua obra que se opunha à revelação. "Pediu um sinal" e veio a resposta através de "um alto embora bondoso ruído vindo dos céus". Teve a vaidade de pensar que o seu livro era de tal importância à causa da verdade como à exortação à declaração da vontade divina, quando os interesses da metade da humanidade não garantiam nenhuma revelação; o que Deus não faria por uma nação, faria por um indivíduo. O Deísmo é o exagero da verdade sobre a transcendência de Deus. Melanchthon ilustra com o fabricante de navios: "Ut faber discedit a navi exstructa et relinquit earn nautis". Deus é o criador, não o guardador, do vigia. Em Sartor Resartus, Carlyle faz Teufelsdröckh falar de "um Deus ausente, sempre sentado ocioso desde o primeiro Sábado fora do universo, e vendo-o vagar".
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"O Deísmo dava ênfase à inviolabilidade da lei natural e defendia um ponto de vista mecânico do mundo (Ten Broeke). O seu Deus é um tipo de Brama hindu, "tão ocioso como a pintura de um navio na de um oceano" mero ser apático e imóvel. Bruce, Apologetics, 115-131 - "Deus fez o mundo tão bom no princípio que o melhor que podia fazer é deixá-lo. É inadmissível a oração. O Deísmo implica um ponto de vista pelagiano da natureza humana. A morte nos redime separando-nos do corpo. Há uma imortalidade natural, mas não há ressurreição. Lord Herbert de Cherbury, irmão do poeta George Herbert de Bremerton representa o nascimento do Deísmo; Lord Bolingbroke seu declínio. Blount atacava a Pessoa divina do fundador da fé; Collins sua base na profecia; Woolston sua comprovação miraculosa; Toland sua literatura canônica. Tyndal apoiava-se em uma base mais geral e procurava mostrar que era desnecessário buscar uma revelação especial, impossível de ser comprovada, e a religião da natureza é suficiente e superior a todas religiões de instituição positiva".
A este ponto de vista objetamos: a) Apóia-se em uma falsa analogia. - O homem é capaz de construir um relógio que se move por si mesmo tão somente porque ele emprega forças preexistentes tais como a gravidade, a elasticidade, a coesão. Mas em uma teoria que assemelha o universo a uma máquina tais forças são aquelas com as quais as próprias coisas contam. O Deísmo considera o universo como um "movimento perpétuo". Os pontos de vista modernos da dissipação da energia têm servido para desacreditá-lo. A vontade é a única explicação das forças da natureza. Mas segundo o deísmo, Deus constrói uma casa, fecha-se do lado de fora, tranca a porta e amarra suas próprias mãos para estar certo de nunca usar a chave. John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 114-138 - "Uma mente feita, uma natureza espiritual criada por uma onipotência exterior é uma noção impossível e autocontraditória. ... O inventor humano ou o artista trata da matéria preparada para a sua mão. O deísmo reduz Deus a uma personalidade antropomórfica finita, do mesmo modo que o panteísmo anula o mundo finito ou absorve-o no Infinito". Por isso Spinoza, o panteísta, foi o grande opositor do deísmo do século XVI.
Teologia Sistemática (Strong) 820 b) É um sistema de antropomorfismo, conquanto professa excluir o antropomorfismo. - Porque o sustento de todas as coisas envolveria uma multiplicidade de cuidados minúsculos se o homem fosse o agente, concebe o sustento do universo como que envolvendo tais pesos no caso de Deus. Assim poupa a dignidade de Deus negando virtualmente sua onipresença, sua onisciência e sua onipotência. A infinitude de Deus torna em fontes de prazer tudo o que seria preocupação para o homem. Para a inexaurível plenitude de Deus sobre a vida não há ônus que envolva o sustento do universo que ele criou. Contudo, porque Deus é observador perpétuo podemos alterar o verso do poeta e dizer: "Não há flor que nasça para enrubescer o invisível e destruir sua doçura no ar deserto". Deus não expõe seus filhos tão logo eles nascem. Eles não são apenas prole; eles também vivem, movem-se e existem nele e são participantes da natureza divina. Gordon, Christ of Today, 200 "A pior pessoa em toda a história é algo para Deus, ainda que seja nada para o mundo".
c) Ela não pode ser sustentada sem negar toda a interferência providencial na história da criação e na subseqüente história do mundo. Mas a introdução da vida, a criação do homem, a encarnação, a regeneração, a comunhão das criaturas inteligentes com um Deus presente e as interposições de Deus na história secular são fatos. Portanto, o deísmo tende para o ateísmo. Upton, Hibbert Lectures, 287 – "O defeito de deísmo é que, do lado humano, trata todos os homens como indivíduos isolados, esquecendo-se da natureza divina imanente que os inter-relaciona e, até certo, ponto os unifica; e que, do lado divino, separa de Deus os homens e torna a relação entre eles puramente exterior". Ruskin: "A mente divina é tão visível em sua plena energia operacional em cada plataforma inferior e na moldagem da pedra como o levantamento das colunas do céu e a fixação dos alicerces da terra; e para mente perceptiva correta manifestam-se a mesma majestade, o mesmo poder, a mesma unidade e a mesma perfeição no lançamento do barro como na disseminação das nuvens, na moldagem do pó como no acender a estrela diurna".
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Este ponto de vista considera o universo de momento a momento o resultado de uma nova criação. Sustentam-no os teólogos Edwards, Hopkins e Emmons t,, mais recentemente, na Alemanha, Rothe. Edwards, Works, 2.486-490, cita e defende a afirmação do Dr. Taylor: "Deus é a origem de todo o ser e a causa única de todos efeitos naturais". O próprio Edwards diz: "A manutenção que Deus faz da substância criada ou a causa da existência desta em cada momento sucessivo é o equivalente a uma produção imediata a partir do nada a cada momento". Ele argumenta que a existência passada de uma coisa não pode ser a causa da sua existência presente porque uma coisa não pode agir no tempo e lugar onde não está. "Isto equivale a dizer que Deus não pode produzir um efeito que dure por um momento além do exercício direto do seu poder criador. Parece que o que o homem pode fazer Deus não pode" (A. S. Carman). Hopkins, Works, 1.161-167 - A preservação "é, na realidade, a criação contínua". Emmons, Works, 4.363-389, esp. 381 - "Porque todos os homens são agentes dependentes, todos os seus movimentos, exercícios ou ações devem ter origem em uma eficácia divina". 2.683 - Há apenas uma verdadeira e satisfatória resposta à pergunta que tem agitado por séculos: 'De onde veio o mal?' ei-la: Veio da primeira grande Causa de todas as coisas. ... É consistente com a retidão moral da Divindade produzir exercícios pecaminosos ou santos nas mentes dos homens. Ele desenvolve uma influência positiva que faz os poderes morais agirem, em cada circunstância da sua conduta como lhe apraz". Portanto, Deus cria todas as volições da alma, quando opera com sua força onipotente todas as mudanças do mundo material. Rothe defende também este ponto de vista. Na mente dele a expressão exterior é necessária para Deus. Sua máxima é: "Kein Gott, ohne Welt" - "Sem Deus não há mundo". O elemento de verdade na criação contínua é o fato de admitir que toda força é vontade. Seu erro é sustentar que toda força é vontade divina, e esta no exercício direto. Mas a vontade humana é tanto uma força como a vontade divina e as forças da natureza não são obras primárias e imediatas de Deus, mas secundárias e automáticas. Estas notas podem capacitar-nos
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a avaliar o contexto de verdade nas seguintes afirmações que necessitam importante qualificação e limitação. Bowne, Philosophy of Theism, 202, compara o universo à nota musical que só existe na condição de ser incessantemente reproduzida. Herbert Spencer diz que "as idéias são como as cordas e cadências produzidas pelo piano, que sucessivamente desaparecem quando as outras são produzidas". Maudsley, Physiology of Mind, cita esta passagem, mas, bem pertinente, pergunta: Ό que pensar do exécutante, no caso do piano e no caso do cérebro, respectivamente? No cérebro, onde se acha o equivalente às concepções harmônicas na mente do exécutante?" Prof. Fitzgerald: "Toda natureza é pensamento vivo - a linguagem de Alguém em quem vivemos, nos movemos e existimos". Dr. Oliver Lodge, na Associação Britânica em 1891: "A barreira entre a matéria e a mente pode desaparecer como tem acontecido tantas vezes".
A isto objetamos nas seguintes bases: a) Contradiz o testemunho da consciência de que a atividade regular e executiva não é a simples repetição de uma decisão inicial, mas o exercício da vontade inteiramente diferente em gênero. Ladd, em sua Philosophy of Mind, 144, indica o erro na criação contínua da seguinte maneira: "Todo o mundo das coisas momentaneamente se extingue e é substituído por um mundo semelhante de realidades verdadeiramente novas". As palavras do poeta seriam então literalmente verdadeiras: "Cada nova e vigorosa criação, Divina improvisação, Do coração de Deus procede". Seth, Hegelianism e Personality, 60, diz isto a Fichte, "o mundo foi perpetuamente recriado em cada espírito finito, - e a revelação à inteligência é o único sentido admissível do termo assaz abusado, criação". A. L. Moore, Science and the Faith, 184,185 - "A teoria da intervenção ocasional implica, como correlata, a teoria da ausência comum. ... Para os cristãos os fatos da natureza são atos de Deus. A religião relaciona estes fatos com a autoria divina; a ciência os relaciona com partes de uma ordem visível reciprocamente. A religião não fala desta inter-relação; a ciência não fala da sua relação com Deus".
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A criação contínua é uma teoria errônea porque aplica às vontades humanas um princípio que é verdadeiro só com relação à natureza irracional e que só em parte é verdadeiro. Sei que eu não sou Deus em ação. A minha vontade é prova de que toda força é vontade divina. Mesmo no ponto de vista monístico, contudo, podemos falar de causas secundárias na natureza, visto que a ação regular e habitual de Deus é uma coisa secundária e subseqüente, enquanto seu ato de iniciação e organização é primária. Nem o universo, nem qualquer parte dele deve ser identificado com Deus, nem mesmo os meus pensamentos e atos devem ser identificados comigo. Martineau, Nineteenth Century, abril, 1895.559 - "O que é a natureza senão a promessa hipotecada de Deus e causalidade habitual? Ε o que é o espírito senão a província de sua livre causalidade correspondendo às necessidades e afeições de seus filhos livres? ... Deus não é um arquiteto aposentado que, de quando em quando pode ser chamado para fazer reparos. A natureza não é por si mesma ativa e a atuação de Deus não é intromissão". William Watson, Poems, 88 - "Se a natureza for um fantasma, como tu dizes, Uma esplêndida ficção e um sonho prodigioso, Não me apressarei a alcançar o real e verdadeiro, Mais do que contentar-me com os mundos que só aparentam".
b) Exagera o poder de Deus só sacrificando a sua verdade, seu amor e sua santidade; pois se as personalidades finitas não são o que parecem – a saber, existências objetivas – impugna-se a veracidade de Deus: se a alma humana não tem nenhuma liberdade e vida real, o amor de Deus não tem nenhuma autocomunicação com as criaturas; se a vontade de Deus é a única força no universo, não se pode mais declarar a santidade de Deus, pois deve-se considerar a vontade divina nesse caso como autora do pecado humano. Com base neste ponto de vista a identidade pessoal é inexplicável. Edwards baseia a identidade no decreto arbitrário de Deus. Portanto, Deus pode decretar, fazer a posteridade de Adão unida ao seu primeiro pai e responsável pelo seu pecado. A teoria da criação contínua de Edwards, na verdade, foi vista como uma explicação do problema da origem do pecado original. A união dos atos e exercícios com Adão divinamente indicada foi considerada suficiente sem a união substancial ou geração natural da parte
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dele para explicar o fato de que nascemos corruptos e culpados. Este ponto de vista teria sido impossível se Edwards não tivesse sido um idealista praticando muito mais de atos e exercícios e muito menos de substância. É difícil explicar a origem do idealismo de Jonathan Edwards. Às vezes tem-se atribuído à leitura de Berkeley. Dr. Samuel Johnson, mais tarde Presidente do King's College na cidade de Nova Iorque, amigo pessoal do Bispo Berkeley e ardente seguidor do seu ensino, foi tutor no Yale College enquanto Edwards estava em Wethersfield e Johnson permanecia em New Haven, e estava entre os desafetos de Johnson como tutor. Contudo, Edwards, em Original Sin, 479, parece fazer referência à filosofia de Berkeley quando diz: "O curso da natureza é demonstrado por recentes desenvolvimentos na filosofia, na verdade ... nada além da ordem estabelecida e operação do Autor da natureza". O Presidente McCracken, Philos. Ver., jan., 1892.26-42, sustenta que a Clavis Universalis de Arthur Collier é a fonte do idealismo de Edwards. É mais provável que seu idealismo fosse resultante de seu próprio pensamento independente, talvez ocasionado por simples sugestões a partir de Locke, Newton, Cudworth e Norris, cujos escritos ele conhecia. Em que consistia este idealismo integral de Edwards pode-se depreender do Discurso de Noah Porter sobre o Bispo George Berkeley, 71 e citações no Joun. Spec. Philos., outubro 1883.401-420 - "Nada mais a não ser o fato de que tem um ser próprio além do que os espíritos e os corpos são apenas a sombra do ser. ... Vendo que o cérebro apenas existe mentalmente, reconheço que falo de modo inadequado quando digo que a alma apenas concentra no cérebro as suas operações. Pois, falando ainda mais estritamente e de modo mais abstrato, ele é apenas a conexão da alma com estas e os modos de suas próprias idéias ou os atos mentais da divindade, que vê que o cérebro existe só na idéia. ... O que, na verdade, é a substância de todos os corpos é a idéia infinitamente exata e precisa e perfeitamente estável na mente de Deus, juntamente com sua vontade estável que a mesma será gradualmente comunicada a nós e a outras mentes conforme certos métodos e leis fixos e estabelecidos; ou, em linguagem um tanto diferente, a idéia divina infinitamente exata e precisa, com uma vontade responsável, perfeitamente exata, precisa e estável relativa às comunicações correspondentes às mentes criadas e os efeitos sobre tais mentes".
Teologia Sistemática (Strong) 825 c) Como o deísmo tende para o ateísmo assim a doutrina da criação contínua tende para o panteísmo. - Argumentando que, porque derivamos nossa noção de força da ação da nossa vontade, portanto, toda a força deve ser vontade e a vontade divina compele a vontade humana a unir-se a esta toda abrangente vontade de Deus. A mente e a matéria de igual modo tornam-se fenômenos de uma força que têm os atributos de ambas; e com a existência distinta e personalidade da alma humana, perdemos a existência distinta e personalidade de Deus assim como a liberdade e responsabilidade do homem. Lotze tenta escapar das causas materiais e ainda defender as causas secundárias dando a entender que tais causas secundárias podem ser espíritos. Porém, mesmo podendo ver como pode existir um tipo de espírito no irracional e no vegetal, é difícil ver como o que chamamos de matéria insensata pode ter espírito. Deve ser um tipo bem peculiar de espírito - e tal caso não ajudaria o nosso raciocínio. Com base nesta teoria, o corpo de um cão necessita de ser muito mais dotado que a sua alma. James Seth, Philos. Rev., jan. 1894.73 - "Este princípio de unidade é uma verdadeira cova de leões; todos os rastos apontam para a mesma direção. Ou se trata de uma árida unidade - Um anula muitos; ou é tão somente o Todo; a totalidade existencial desunificada". Bem assinala Dorner que "preservar não é fazer a criatura existir, mas é conceder-lhe poderes e conservar a sua atividade".
IV. NOTAS SOBRE A PARCERIA DIVINA a) A eficácia divina interpénétra à do homem sem destruí-la ou absorvê-la. O influxo da energia sustentadora de Deus é tal que os homens retêm suas faculdades e poderes. Deus não opera tudo, mas em todos. Preservação é, pois, o meio caminho entre os dois erros: a negação da causa primária (deísmo ou ateísmo) e a negação das causas secundárias (criação contínua ou panteísmo). 1 Co. 12.6 - "Há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos", cf. Ef. 1.23 - "que é o seu
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corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos". A ação de Deus não é actio in distans, ou ação onde ele não está. Em lugar disso é ação nos agentes livres e através deles, no caso dos seres inteligentes e morais, conquanto dependa de sua própria vontade contínua no caso da natureza. O homem é causa secundária no sentido em que a natureza não é. Deus opera através destas causas secundárias humanas, mas não as substitui. Não podemos ver a linha entre as duas - a ação das causas primárias e a das secundárias; embora ambas sejam reais cada uma é distinta da outra apesar de que o método da participação de Deus é inescrutável. Como a pena e a mão produzem juntas a escrita, assim a obra de Deus faz as forças naturais operarem com ele. O crescimento natural indicado nas palavras "cuja semente esteja nela" (Gn. 1.11) tem sua contrapartida no crescimento espiritual contido nas palavras "a sua semente permanece nele" (1 Jo. 3.9). Paulo se considera um agente reprodutor nas mãos de Deus: ele gerou filhos no evangelho: "eu, pelo evangelho, vos gerei" (1 Co. 4.15); o Novo Testamento fala desta ação de gerar como uma obra de Deus: "Bendito seja Deus ... que ... nos regenerou..." (1 Pe. 1.3). Recebemos a ordem de operar a nossa salvação com temor e tremor apoiados no fato de que é Deus quem opera em nós tanto o querer como o efetuar (Fp. 2.12,13).
b) Apesar de que Deus preserva a mente e o corpo na obra deles, devemos lembrar sempre que Deus concorre com os atos maus de suas criaturas somente quando são atos naturais e não quando são um mal. Na santa ação Deus concede as forças naturais e através da sua palavra e Espírito influencia a alma no uso correto de tais forças. Porém na ação má Deus somente concede as forças naturais; a má direção destas forças é causada só pelo homem. Jr. 44.4 - "Ora, não façais esta coisa abominável que aborreço"; He. 1.13 - "Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, olhas para os que procedem aleivosamente e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?" Tg. 1.13,14-"Ninguém, sendo tentado, diga: de Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência". Aarão desculpou-se por ter feito um ídolo egípcio, dizendo que o fogo o tinha feito; ele pediu ouro ao povo; "eles me deram, e
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lancei-o no fogo, e saiu este bezerro" (Ex. 32.24). Aarão omite um importante ponto - sua atuação pessoal em tudo. Do mesmo modo lançamos na natureza e em Deus a culpa dos nossos pecados. Pyn disse de Strafford que Deus lhe dera grandes talentos de que o Diabo fizera aplicação. Porém, é mais correto dizer que é o próprio ímpio que se vale dos poderes que Deus deu. Nós somos os carros elétricos para os quais Deus fornece a energia motriz, mas nós, os condutores, é que lhe damos a direção. Nós somos órgãos; mas o vento ou sopro do órgão é de Deus; entretanto, cabe a nós dedilhar as teclas. Visto que o fabricante do órgão também está presente em cada momento como seu preservador, o vergonhoso abuso do seu instrumento e a terrível música executada são um contínuo pesar e sofrimento da sua alma. Porque é Cristo que sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder, a preservação envolve o seu sofrimento e esta é a expiação cujo clímax e demonstração se vêem na cruz do Calvário (Hb. 1.3).
SEÇÃO III – PROVIDÊNCIA I. DEFINIÇÃO DE PROVIDÊNCIA É a atuação contínua de Deus pela qual ele faz todos os eventos do universo físico e moral cumprirem o desígnio para o qual ele o criou. Como a criação explica a existência do universo e como a Preservação explica sua continuação, assim a Providência explica sua evolução e progresso. Em explicação note: a) A Providência não deve ser tomada simplesmente no sentido de prever. É prever também ou é uma atuação positiva em conexão com todos os eventos da história. b) Deve-se distinguir providência de preservação. Enquanto a preservação é a manutenção da existência e dos poderes das coisas criadas, providência é um verdadeiro cuidado e controle delas. c) Porque o plano original de Deus é todo abrangente a providência que executa o plano também o é abarcando em seu escopo coisas
Teologia Sistemática (Strong) 828 pequenas e grandes e exercendo cuidado sobre indivíduos assim como sobre classes. d) Com relação aos atos bons dos homens, a providência abrange todas as influências naturais da hereditariedade e do meio que preparam o homem para a operação da palavra de Deus e do Espírito e que constituem motivos para a obediência. e) Com relação aos atos maus dos homens, a providência nunca é causa eficiente do pecado, obstante, permissiva, diretiva e determinativa. f) Porque Cristo é o único revelador de Deus e o mediador de toda a atividade divina a providência deve ser considerada a obra de Cristo; ver 1 Co. 8.6 - "um só Senhor, Jesus Cristo, por quem são todas as coisas"; cf. João 5.17 -"meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também". Os alemães têm em seu vocabulário a palavra Fürsehung, providência e a palavra Vorsehung, previsão, visão antecipada. A nossa palavra 'providência' abrange ambos os sentidos destas palavras. Providência é a atenção de Deus concentrada em toda a parte. Seu cuidado é tanto microscópico como telescópico. Robert Browning, Pippa Passos, ad finem: "Todo o trabalho é o mesmo para com Deus - Para com Deus, cujas marionetes, de melhor ou pior forma, somos nós: não há último nem primeiro". Canon Farrar: "Em um capítulo do Alcorão acha-se a história de como Gabriel, quando aguardado junto aos portais de ouro, foi enviado por Deus à terra para fazer duas coisas. Uma era impedir Salomão do pecado de esquecer a hora de orar em exultação por seus cavalos reais; a outra ajudar, na subida do Ararat, uma formiguinha amarela, que se tornara cada vez mais cansada no trabalho de levar alimento para o seu olheiro e que, sem o auxílio, pereceria na chuva. Para Gabriel aquela ordem parecia tão real como a outra porque a ordem partia de Deus. 'Silenciosamente ele partiu da Presença e impediu que o rei pecasse. Ε ajudou a formiguinha a entrar'. 'Nada é demasiado elevado ou humilhante; demasiado fraco ou poderoso, desde que seja da vontade de Deus'". Um pregador começou o seu sermão sobre Mt. 10.30 -"Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados" - dizendo: "Porque alguns de vós, meus ouvintes, não credes que até mesmo as vossas cabeças estão contadas!"
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Os problemas do tratamento providencial de Deus só são inteligíveis quando consideramos que Cristo é o revelador de Deus e que o seu sofrimento pelo pecado abre-nos o coração de Deus. A história toda é a manifestação progressiva da santidade e do amor de Cristo e na cruz temos a chave que destrava o segredo do universo. Focalizando a cruz, cremos que o Amor dirige tudo e que "todas as coisas colaboram para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm. 8.28).
II. PROVA DA DOUTRINA DA PROVIDÊNCIA 1. Prova escriturística A) A Escritura testemunha Um governo geral providencial e controle a) sobre o universo todo; b) sobre o mundo físico; c) sobre a criação irracional; d) sobre os negócios das nações; e) sobre o nascimento e destino da vida do homem; f) sobre os sucessos exteriores e derrotas na vida dos homens; g) sobre as coisas aparentemente acidentais ou insignificantes; h) na proteção dos justos; i) no suprimento das necessidades do povo de Deus; i) nas respostas às orações; k) na exposição e punição dos ímpios. a) Sl. 103.19 - "O seu reino domina sobre tudo"; Dn. 4.35 - "segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra"; Ef. 1.11 - "faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade". b) Jó 37.5,10 - "Deus troveja. ... pelo assopro de Deus se dá a geada"; SI. 104.14 - "Faz crescer a erva para os animais"; 135.6,7 - "Tudo o que o Senhor quis, ele fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos. ... vapores.... relâmpagos.... ventos"; Mt. 5.45 - "faz que o seu sol se levante. ... e a chuva desça"; SI. 104.16 - "Satisfazem-se as árvores do Senhor" = são plantadas e guardadas por Deus de modo tão cuidadoso como os que estão sob o cultivo humano; cf. Mt. 6.30 - "se assim o Senhor veste a erva do campo". c) Sl. 104.21,28 - "os leõezinhos bramam ... de Deus buscam o seu sustento ... dando-lho tu, eles recolhem"; Mt. 6.26 - "as aves dos céus, vosso
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Pai celestial as alimenta"; 10.29 - "dois pardais ... nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai". d) Jó 12.23 - "Multiplica os povos e os faz perecer; dispersa as nações e de novo as conduz"; SI. 22.28 - "o reino é do Senhor, e ele domina entre as nações"; 66.7 - "Ele domina eternamente pelo seu poder; os seus olhos estão sobre as nações"; At. 17.26 - "de um fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação". e) 1 Sm. 16.1 - "enche o teu vaso de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos me tenho provido de um rei"; SI. 139.16 - Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu livro todas estas coisas foram escritas"; Is. 45.5 - "eu te cingirei, ainda que tu não me conheças"; Jr. 1.5 - "Antes que eu te formasse no ventre, eu te conheci ... eu te santifiquei... e te dei por profeta"; Gl. 1.15,16 -"aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim para que o pregas-se entre os gentios". f) Sl. 75.6,7 - "nem do Oriente, nem do Ocidente, nem do deserto vem a exaltação. Mas Deus é o juiz; a um abate e a outro exalta"; Lc. 1.52 "depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes". g) Pv. 16.33 - "A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda a sua disposição"; Mt. 10.30 - "até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados". h) SI. 4.8 - "Em paz também me deitarei e dormirei, porque só tu, Senhor, me fazes habitar em segurança"; 5.12 - "circundá-lo-ás da tua benevolência como de escudo"; 63.8 - "a tua destra me sustenta"; 121.3 "aquele que te guarda não tosquenejará"; Rm. 8.28 - "todas as coisas contribuem juntamente para o bem dos que amam a Deus". i) Gn. 22.8,14-"Deus provera para si o cordeiro ... Yahweh jiré (o Senhor provera)"; Dt. 8.3 - "o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem"; Fp. 4.19 - Ό meu Deus suprirá todas as vossas necessidades". j) SI. 68.10 - "tu, ó Deus, proveste o pobre da tua bondade"; Is. 64.4 "nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalhe para aquele que nele espera"; Mt. 6.8 - "vosso Pai sabe o que vos é necessário antes de vós lho pedirdes"; 32.,33 - "todas essas coisas vos serão acrescentadas". k) Sl. 7.12,13 - "Se o homem se não converter, Deus afiará a sua espada; já tem armado o seu arco e está aparelhado; e já preparou para ele
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armas mortais; e porá em ação as suas setas inflamadas"; 11.6 - "Sobre os ímpios fará chover laços, fogo, enxofre e vento tempestuoso; eis a porção do seu copo". Recentes estudos de fisiografia confirmam notavelmente as afirmações da Escritura a respeito da providência de Deus. Nos estágios antigos do seu desenvolvimento o homem vivia quase totalmente sujeito à natureza, e o ambiente era o fator determinante no seu progresso. Aqui está o elemento de verdade no ponto de vista de Buckle. Mas ele ignorava o fato de que, à medida que a civilização avançava, as idéias, pelo menos esporadicamente, exerciam um papel de maior destaque no ambiente. O Desfiladeiro das Termópilas não pode ser explicado pelo clima. Em estágios mais tardios do desenvolvimento humano, a natureza, em grande parte está sujeita ao homem e o ambiente conta relativamente pouco. "Não haverá Alpes"! diz Napoleão. Charles Kingsley: "O espírito da tragédia antiga era o homem vencido pelas circunstâncias". Contudo, muitas características nacionais podem ser atribuídas a circunstâncias físicas e, quando é este o caso, elas se devem à providência de Deus. A necessidade que o homem tem de água fresca o leva aos rios; daí a localização original de Londres. O comércio requer portos marítimos; daí a localização de Nova Iorque. A necessidade de defesa leva o homem aos abrigos e às montanhas; daí a localização de Jerusalém, Atenas, Roma, Edimburgo. Estes lugares de defesa tornaram-se também lugares de adoração e de apelo para Deus. Goldwin Smith, em suas Lectures and Essays, sustenta que as características nacionais não são congênitas, mas resultam do ambiente. A grandeza de Roma e a da Inglaterra deveram-se à sua posição. Os romanos deveram o seu sucesso ao fato de serem, a princípio, menos afeitos à guerra do que os seus vizinhos. Eles eram comerciantes no centro da costa marítima e tiveram de depender da disciplina para enfrentar os saqueadores nas montanhas que os cercavam. Só quando se lançaram à conquista de outras terras a ascendência no espírito militar tornou-se completa e, a partir de então, o espírito militar trouxe o despotismo como a sua pena natural. Em contato com as variadas raças, Roma foi induzida à fundação de colônias. Adotou e assimilou as nações conquistadas e, governando-as, aprendeu a
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organização e a lei. A regra era parcere subjetis, como também debellare superbos. Semelhantemente Goldwin Smith sustenta que a grandeza da Inglaterra deveu-se à sua localização. Por ser uma ilha, somente sendo uma raça ousada e empreendedora poderia estabelecer-se. A migração marítima reforçou a liberdade. A localização insular livrou-a da invasão. Contudo, o isolamento tornou-a arrogante e confiante em si mesma. Tornou-se um natural centro de comércio. Há uma firmeza no progresso político que teria sido impossível no continente. Contudo, a sua consolidação foi tardia, porque a Grã Bretanha compreende diversas ilhas. A Escócia era a mais liberal; a Irlanda estava fadada à sujeição. Isaac Taylor, Spirit of Hebrew Poetry, tem um valioso capítulo sobre a Palestina como o teatro providencial da revelação divina. Pequena terra, mas um exemplo para todas terras e uma estrada que liga as maiores da antigüidade, ela foi preparada por Deus para receber e comunicar a sua verdade. A Geografia Histórica da Terra Santa de George Adam Smith é um repertório de informações sobre o assunto. Stanley, Life and Letters, 1.270271, trata da paisagem e da história da Grécia. Shaler, Interpretation of Nature, vê tal diferença entre a curiosidade grega e a investigação das causas, por um lado e, por outro a indiferença dos romanos para com a explicação científica dos fatos, que não pode pensar nos romanos e nos gregos como povos cognatos. Ele crê que a Itália foi, a princípio povoada pelos etruscos, raça semítica da África, e que os romanos descendiam deles. Os romanos tinham tão pouco do espírito naturalista como os hebreus. Os judeus e os romanos originaram e propagaram o cristianismo, mas não tinham nenhum interesse em ciências. Sobre a preparação do arranjo de Deus no que tange às condições físicas da vida nacional, podem ser encontradas marcantes sugestões em Shaler, Nature and Man in America. Um exemplo da colonização da Baía de Massachusetts entre 1689 e 1639, única década em que podiam ser encontrados homens como John Winthrop e a única em que eles verdadeiramente emigraram da Inglaterra. Depois de 1639 muita coisa tinha de ser feita na terra e, com Carlos II, o espírito que animou os peregrinos já não mais existia na Inglaterra. Os colonizadores edificaram o melhor que puderam, pois, apesar de que eles buscavam um lugar para adorar a Deus, não tinham a mínima idéia de transmitir esta mesma liberdade religiosa a
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outros. R. E. Thompson, The Hand of God in American, sustenta que a República Americana por muito tempo ter-se-ia despedaçado por causa do seu peso e dimensão se a invenção do navio a vapor em 1807, da locomotiva em 1829, do telégrafo em 1837, do telefone em 1877, não delimitassem as partes remotas do país. Uma mulher inventou a colheitadeira, combinando a ação de um conjunto de tesouras de corte. Isto aconteceu em 1835. Só em 1855 é que a competição da fazenda do Imperador em Compeiègne deu supremacia à colheitadeira. Sem ela a agricultura teria sido impossível durante a nossa guerra civil, quando os nossos homens estavam no campo e as mulheres e os meninos tinham que ajuntar a safra.
B) Um governo e controle extensivo às ações livres dos homens – a) aos atos livres dos homens em geral; b) aos atos pecaminosos dos homens também. a) Êx. 12.36 – "O Senhor deu graça ao seu povo em os olhos dos egípcios, e estes emprestavam-lhes, e eles despojavam os egípcios"; "o Senhor me tinha posto em tuas mãos (Saul a Davi); SI. 33.14,15 - "da sua morada contempla todos os moradores da terra. Ele é que forma o coração de todos eles" (i.e., de igual modo tanto um como o outro); Pv. 16.1 - "Do homem são as preparações do coração, mas do Senhor, a resposta da boca"; 19.21 - "Muitos propósitos há no coração do homem, mas o conselho do Senhor permanecerá"; 20.24 - "Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; o homem, pois, como entenderá o seu caminho?" 21.1 - "Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor; a tudo quanto quer o inclina" (i.e., tão facilmente como os riachos dos campos do oriente, voltam-se ao mínimo movimento da mão ou do pé do agricultor); Jr. 10.23 - Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho, nem do homem que caminha, o dirigir os seus passos"; Fp. 2.13 - "é Deus quem opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade"; Ef. 2.10 - "somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas"; Tg. 4.13-15 - "Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo". b) 2 Sm. 16.10- "se o Senhor lhe (a Simei) disse: Amaldiçoa a Davi"; 24.1 - "a ira do Senhor se tornou a acender contra Israel, e ele incitou a Davi
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contra eles, dizendo: Vai numera a Israel e a Judá"; Rm. 11.32 - "Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia"; 2 Ts. 2.11,12 - "Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que sejam julgados todos os que não creram a verdade; antes tiveram prazer na iniqüidade". Henry Ward Beecher: "Parece não haver nenhuma ordem nos movimentos das abelhas do enxame, mas o favo mostra que há um plano entre todas elas". John Hunter comparava o seu próprio cérebro com um enxame em que há um grande zumbido e aparente desordem embora sob tudo isto instala-se uma perfeita ordem. "Quando as abelhas reúnem blocos de doces em tempo de necessidade, mas são colonizadas pela superior inteligência do homem para atender os seus próprios propósitos do mesmo modo os homens planejam e trabalham dirigidos pela sabedoria infinita para a sua glória". Dr. Deems: Grande é o mundo no tempo e nas vagas, é Deus quem o guia; não se apressa. Feliz é o homem que faz o melhor que pode e não se preocupa com o resto".
A Escritura descreve a providência de Deus com relação aos atos maus dos homens em quatro tipos: a) Obstante, – Deus, pela sua providência, obsta o pecado que se cometeria. Deve-se considerar o fato de obstar o pecado como matéria não de obrigação, mas de graça. Gn. 20.6 Sobre Abimeleque: "eu te tenho impedido de pecar contra mim"; 31.24 - "Veio, porém, Deus a Labão, o aramameu, em sonhos, de noite, e disse-lhe: Guarda-te, que não fales a Jacó nem bem nem mal"; SI. 19.13 -"Também da soberba guarda o teu servo, para que não se assenhoreie de mim"; Os 2.6 - "Eis que cercarei o teu caminho com espinhos; e levantarei uma parede de sebe para que ela não ache as suas veredas" - aqui os "espinhos" e a "parede" podem representar os impedimentos e sofrimentos pelos quais Deus misericordiosamente reprime a fatal perseguição do pecado. Pais, governo, igreja, tradições, costumes, leis, idade, doença, morte são influências impeditivas. Às vezes o homem se acha à beira do precipício do pecado e uma forte tentação o impulsiona para o salto fatal. De repente todos nervos se relaxam, todo o desejo do mal se
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vai e ele recua do precipício no qual estava em vias de lançar-se. Deus interferiu através da voz da consciência e do Espírito. Isto também faz parte da sua providência impeditiva. Aos sessenta anos, é oito vezes menos provável que o homem cometa crimes do que com vinte e cinco. A paixão acalmou; o medo da punição aumentou. Quando perguntaram ao gerente de uma grande loja de departamentos o que podia impedir de absorver todo o negócio da cidade, respondeu: "A morte!" Sem dúvida a morte limita as agregações da propriedade, e assim constitui um recurso empregado por Deus para o exercício da providência impeditiva. Na vida de John G. Paton, a chuva mandada por Deus impediu que os nativos o assassinassem e lhe saqueassem os bens.
b) Permissivo, – Deus permite que os homens acalentem o pecado e manifestem as disposições más dos seus corações. A providência permissiva de Deus é simplesmente o ato negativo de conter os obstáculos no caminho do pecador, ao invés de obstar seu pecado através do exercício do poder divino. Não implica nenhuma ignorância, passividade, ou indulgência, mas consiste em detestar o pecado e determinar sua punição. 2 Cr. 32.31 - "Deus o desamparou [Ezequias], para tentá-lo, para saber tudo o que havia no seu coração"; cf. Dt. 8.2 - "para te humilhar, para te tentar, para saber o que estava no teu coração"; SI. 17.13,14 - "livra a minha alma do ímpio, pela tua espada; dos homens com a tua mão, Senhor"; 81.12,13 "pelo que eu o entreguei aos desejos do seu coração, e andaram segundo os seus próprios conselhos. Ah! Se o meu povo me tivesse ouvido! Se Israel andasse nos meus caminhos!"; Is. 53.4,10 - "Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades ... Todavia agradou ao Senhor moêlo"; Os. 4.17 - "Efraim está entregue aos ídolos; deixa-o"; At. 14.16 - "o qual, nos tempos passados, deixou andar todos os povos em seus próprios caminhos"; Rm. 1.24,28 - "Deus os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia ... Deus os entregou a um sentimento perverso para fazerem coisas que não convém"; 3.25 - "para mostrar a sua justiça, pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus"; Para o tópico da providência permissiva pode-se fazer referência a 1 Sm. 18.10 - "o mau espírito da parte de Deus se apoderou de Saul". Como os escritores
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hebreus viam nas causas secundárias a operação da grande primeira Causa e diziam: "O Deus da glória troveja" (SI. 29.3), assim, porque mesmo os atos dos ímpios entram no plano de Deus, os escritores hebreus às vezes representavam Deus como fazendo o que simplesmente permite que os espíritos finitos façam. Em 2 Sm. 24.1 Deus demove Davi de numerar Israel, mas em 1 Cr. 21.1 a mesma coisa se refere a Satanás. Contudo, a providência de Deus nestes casos pode ser tanto diretiva como permissiva. Tennyson, The Higher Pantheism: "Deus é lei, diz o sábio; e regozijemo-nos, ó alma, porque ele troveja pela lei; o trovão ainda é a sua voz". Fisher, Natures and Method of Revelation, 56 - "A clara separação da eficácia de Deus vinda do seu ato permissivo reservava-se para um dia posterior. Toda a ênfase estava no Velho Testamento depositada no soberano poder de Deus". Coleridge em suas Confissões de um Espírito Inquiridor, carta II, fala sobre "o hábito, universal entre os doutores hebreus, de referirem todas as coisas excelentes ou extraordinárias à grande primeira Causa sem mencionar as causas próximas e instrumentais - marcante ilustração do que se pode encontrar comparando as narrativas dos mesmos eventos nos Salmos e nos livros históricos. ... A distinção entre o providencial e o miraculoso não entraram em suas formas de pensamento de qualquer modo, em sua forma de expressar seus pensamentos". A mulher que tinha sido caluniada rebelou-se quando se disse que Deus o tinha permitido para o seu bem; ela sustentava que Satanás tinha inspirado seu acusador; ela precisava aprender que Deus tinha permitido a obra de Satanás.
c) Diretivo, – Deus dirige os atos maus para fins que, os que os cometem, não prevêem e nem pretendem. Quando o mal está no coração e na vontade, Deus ordena seu fluxo em uma direção e não em outra de modo que seu curso pode ser melhor controlado e não resulte em prejuízo. A isso às vezes dá-se o nome de providência dominante. Gn. 50.20 - "Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida um povo grande"; SI. 76.10-"Porque a cólera do homem redundará em teu louvor, e o restante da cólera, tu o restringirás"; = pôr como ornamento - veste-te a ti
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mesmo para a tua própria glória; Is. 10.5 - "Ai da Assíria, a vara da minha ira! Porque a minha indignação é como o bordão nas suas mãos"; Jo. 13.27 -"O que fazes faze-o depressa"; = faze de um modo particular o que, na verdade está sendo feito (Westcott, Bib. Com. in loco)] At. 4.27,28 - "contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer". Sobre este tópico da providência diretiva convém fazer referência às passagens a respeito de Faraó em Ex. 4.21 - "endurecerei o seu coração para que não deixe ir o povo"; 8.15 - "agravou o seu coração" - i.e. o próprio Faraó endureceu o seu coração. Aqui a atuação controladora de Deus não interferiu na liberdade de Faraó ou coagiu-o a pecar; mas, no julgamento da sua crueldade e impiedade anteriormente existentes, Deus retirou as suas restrições externas que estavam com aquele pecador nos seus limites e o pôs em circunstâncias que o teriam influenciado a agir corretamente num pensamento direcionado para o bem, mas que Deus previu conduziria a uma disposição como a de Faraó para uma maldição peculiar à impiedade que, na verdade ele estava perseguindo. Então, Deus endureceu o coração de Faraó, em primeiro lugar, permitindo que ele endurecesse o seu próprio coração; Deus é o autor do pecado de Faraó só no sentido de que ele é o autor de um ser livre que é o responsável direto pelo seu pecado; em segundo lugar, dando-lhe meios de esclarecimento, as próprias oportunidades são pervertidas por ele em ocasiões de mais virulenta iniqüidade e a resistência ao bem torna o resultado um mal maior; em terceiro lugar, abandonado judicialmente, Faraó, quando se torna manifesto que ele não faria a vontade de Deus tornando assim moralmente certo, embora não necessário, que ele fizesse o mal; e em quarto lugar, dirigindo as circunstâncias de Faraó para que o pecado dele se manifestasse mais de uma forma do que de outra. O pecado é como a lava de um vulcão, que, sem dúvida, efluirá, mas cujo curso Deus dirige montanha abaixo de sorte a causar o menor dano. A gravitação para baixo se deve à vontade má do homem; a direção para este lado ou para aquele deve-se à providência de Deus. Ver Rm. 9.17,18 - "Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e para que o meu nome seja
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anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer". Portanto, as próprias paixões que estimulam o homem a rebelar-se contra Deus são completamente subservientes aos seus propósitos. Deus endurece o coração de Faraó só depois de infligidas as primeiras pragas. Faraó já tinha endurecido o seu próprio coração. Deus não endurece o coração do homem que não o tinha endurecido antes. Crane, Religion of Tomorrow, 140 - "Nunca se diz que Deus endureceu o coração de um homem bom, ou de alguém que anda em retidão. Deus sempre aqueles que se inclinam para o mal. Faraó endurece o seu coração antes de Deus endurecê-lo. A natureza dos seres humanos deve endurecer quando resiste às influências amenizadoras". O Vigia, 5 de dezembro de 1901.11 - "Deus decretou a Faraó o que Faraó escolhera por si mesmo. A persistência na inclinação em certas direções e volições desperta dentro do corpo e da alma forças que não estão sob o controle da vontade e que induzem o homem ao caminho que ele escolheu. Com o passar do tempo a natureza endurece o coração do homem para fazer o mal".
d) Determinativo, – Deus determina os limites alcançados pelas más paixões de suas criaturas e a medida dos seus efeitos. Porque o mal moral é um germe capaz de indefinida expansão a determinação de Deus sobre a medida de seu desenvolvimento não altera seu caráter ou envolve cumplicidade de Deus na vontade pervertida que o embalou. Jó 1.12 - "E o Senhor disse a Satanás: eis que tudo quanto tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão"; SI. 124.2 - "Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, eles, então, nos teriam engolido vivos"; 1 Co. 10.13 - "não vos deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape para que a possais suportar"; 2 Ts. 2.7 - "Porque o mistério da injustiça opera; somente há um que, agora, resiste até que do meio seja tirado"; Ap. 20.2,3 - "Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos".
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Pepper, Outlines of Syst. Theol., 76 - A união da vontade de Deus com a do homem é "tal que, enquanto em um ponto de vista tudo pode ser atribuído a Deus, em outro tudo pode ser atribuído à criatura. Mas, como Deus e a criatura unem-se em operação, sem dúvida conhece-se e é cognoscível só por Deus. Fornece-se uma obscura analogia na união da alma com o corpo no homem. A mão retém suas próprias leis físicas, contudo obedece à vontade humana. Esta teoria reconhece a veracidade em seu testemunho da liberdade pessoal e ainda a plenitude do controle de Deus tanto sobre o mal como sobre o bem. Os seres livres são governados, mas como livres em sua liberdade. A liberdade não é sacrificada em benefício do controle. Os dois coexistem, cada um em sua integridade. Qualquer doutrina que não permite isto falseia a Escritura e destrói a religião".
2. Prova racional A) Argumentos a priori dos atributos divinos. a) Da imutabilidade de Deus. Este certifica que Deus executará seu eterno plano do universo e a história deste. Mas a execução deste plano não envolve só a criação e a preservação, mas também a providência. b) Da benevolência de Deus. Isto torna certo que ele cuidará do universo inteligente que ele criou. O que valeu a pena criar também vale a pena cuidar. Ε este cuidar é a providência. c) Da justiça de Deus. Como fonte da lei moral, Deus deve assegurar a vindicação da lei administrando justiça no universo e punindo os rebeldes. Ε esta administração da justiça é providência. Sobre as idéias da providência, ver Cícero, De Natura Deorum, 11.30, onde Balbus fala da existência dos deuses como "quo concesso, confitendum est eorum consilio mundum administrari". Epicteto, sec. 41-0 principal e mais importante dever na religião é ter a mente com noções justas e convenientes dos deuses - crer que há tão supremos seres e que eles governam e dispõem de todos os negócios do mundo com uma providência justa e boa". Marco Antonino: "Se não há deuses, ou se eles não se preocupam com os negócios humanos, por que eu desejaria viver num mundo sem deuses e sem providência? Mas não há dúvida de que há
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deuses e que eles se preocupam com os negócios humanos". Ver S/Ma Sacra, 16.374. Contudo, como veremos, muitos dos escritores pagãos criam numa providência geral ao invés de numa particular. (426) Sobre o argumento da providência derivado da benevolência de Deus, ver Appleton, Works. 146 - "É a indolência mais consistente com a majestade de Deus do que deve ser a ação? A felicidade das criaturas é um bem. Será que honra a Deus dizer que ele é indiferente àquilo que ele sabe que é bom e valioso? Ainda que o mundo tivesse vindo a existir sem a sua atuação, seria próprio do caráter moral de Deus dar alguma atenção a criaturas tão numerosas e tão suscetíveis ao prazer e à dor especialmente quando ele exercesse tão grande e favorável influência sobre as suas condições morais". Jo. 5.17 -"Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" - aplica-se tanto à providência como à preservação. A complexidade da ordem providencial de Deus pode ser ilustrada pela explicação de Tyndall sobre o fato de que a tranqüilidade emocional não se desenvolve na periferia das aldeias inglesas.: 1. Nas aldeias inglesas os cães correm soltos. 2. Em lugares onde os cães correm soltos, os gatos devem ficar em casa. 3. Nos lugares onde os gatos ficam em casa, há abundância de ratos nos campos. 4. Nos lugares onde há abundância de ratos no campo, destroem-se os ninhos de mamangava. 5. Nos lugares onde se destroem os ninhos de mamangava, não há fertilização do pólen. Por isso, nos lugares onde os cães vivem soltos, não se desenvolve a tranqüilidade emocional.
B) Argumentos α posteriori a partir dos fatos da natureza e da história. a) O destino exterior dos indivíduos e nações não está inteiramente nas mãos deles, mas em muitos respeitos reconhecidamente está ao dispor de uma força superior. b) A observada ordem moral do mundo, apesar de imperfeita, não pode ser compreendida sem o reconhecimento de uma providência divina. Retira-se o estímulo ao vício e recompensa-se a virtude além da força da simples natureza. Deve haver uma mente e uma vontade governante que outras não são senão as de Deus.
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O berço dos indivíduos e das nações, as forças naturais de que eles são dotados, as oportunidades e imunidade que eles gozam, estão além do seu próprio controle. O destino do homem no tempo e na eternidade pode ser praticamente decidido pelo nascimento num lar cristão, ao invés de num apartamento em Cinco Pontas, ou num craal dos hotentotes. O progresso depende grandemente da "variedade do ambiente (H. Spencer). Mas esta variedade ambiental independe em grande parte dos nossos esforços. "Há uma divindade que molda os nossos fins, a dureza os talha como queremos". Aqui Shakespeare expõe a consciência humana. "O homem propõe e Deus dispõe", tornou-se um provérbio. A experiência ensina que o sucesso e a derrota não se devem totalmente a nós. Freqüentemente o homem trabalha e perde; consulta e nada produz; peleja e se quebra". Nem sempre a providência está do lado dos mais pesados batalhões. Não são as armas que decidem o destino do mundo, mas as idéias - como Xerxes encontrou as Termópilas, e Napoleão Waterloo. Os grandes movimentos via de regra começam sem ter consciência da sua grandeza. Cf. Is. 42.16 "guiarei os cegos por um caminho que nunca conheceram"; 1 Co. 5.37,38 "semeias o simples grão ... mas Deus dá-lhe o corpo como quer". A obra retorna ao operador, e o caráter molda o destino. Isto é verdade ao longo da corrida. A eternidade há de mostrar o quanto é veraz essa máxima. Mas neste tempo numerosas exceções são suficientes para permitir que se torne possível a prova moral. Se o castigo sempre se seguisse ao mal, a justiça teria uma força compulsiva sobre a vontade e seria impossível a mais elevada virtude. Os amigos de Jó o acusaram de agir com base neste princípio. Os filhos hebreus negam esta verdade quando dizem: Έ, se não", mesmo que Deus não nos livre - "não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a estátua de ouro, que levantaste" (Dn. 3.18). Martineau, Seath of Authority, 298 - "Através de alguma falsa direção ou fraqueza, grande parte dos maiores agentes da história deixaram de alcançar o seu próprio ideal, embora tenham executado maiores e mais benéficas revoluções; as conquistas de Alexandre, do Império Romano, das Cruzadas, das perseguições eclesiásticas, do ascetismo monástico, do zelo missionário do cristianismo, têm desempenhado um papel momentoso no drama do mundo, embora seja uma parte surpreendente a cada um deles.
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Tudo isto mostra a presença controladora de uma Razão e de uma Vontade transcendental e divina". Kidd, Social Evolution, 99, declara que o progresso da raça ocorreu apenas sob condições que não tiveram a sanção da razão de grande parte dos indivíduos que se lhes submeteram. Ele conclui que uma religião racional é cientificamente impossível e que a função da religião é prover a sanção grandemente racional do progresso social. Preferimos dizer que a providência propulsiona a raça mesmo contra a sua vontade. James Russel Lowell, Letters, 2.51, sugere que o calmo controle que Deus exerce sobre as forças do universo tanto físicas como mentais devem garantir-nos confiança em tempos quando o mal parece iminente: "Quantas vezes tenho visto as máquinas a fogo da igreja e do estado retinindo e movendo-se para sair - falso alarme! Ε quando os céus carregam-se de nuvens, que brilho podem lançar as palhoças em fogo!"
III. TEORIAS OPOSTAS À DOUTRINA DA PROVIDÊNCIA 1. Fatalismo Sustenta a certeza, mas nega a liberdade de autodeterminação humana, substituindo a providência pelo destino. A este ponto de vista objetamos que a) contradiz o consciente que testifica que somos livres; b) exalta o poder divino com prejuízo da verdade, da sabedoria, da santidade, do amor de Deus; c) destrói toda a evidência da personalidade e liberdade de Deus; d) faz praticamente da necessidade o único Deus e deixa os imperativos da nossa natureza moral sem validade presente ou vindi-cação futura. Freqüentemente têm-se chamado os maometanos de fatalistas, e o efeito prático dos ensinos do Corão sobre as massas contribuem para isso. O maometano comum não tem médico ou remédio porque tudo acontece como Deus já havia predito. Contudo, Smith, em Maomé e o maometanismo (ing.), nega que o fatalismo seja essencial ao sistema. Islão - "submissão", e o particípio Muçuln = submetido, submisso", i.e., a Deus. Provérbio turco:
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"Não se pode escapar ao que está previamente escrito". O maometano pensa que o atributo dominante de Deus é a grandeza ao invés de ser a justiça, a força ao invés de ser a pureza. Deus não é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, mas a personificação da vontade arbitrária. Porém há no sistema uma ausência do sacerdotalismo, um zelo pela honra de Deus, uma fraternidade dos fiéis, uma reverência por aquilo que é considerado a palavra de Deus e uma audaciosa e habitual devoção dos seus seguidores à sua fé. Stanley, Life and Letters, 1.489, refere-se à tradição muçulmana que há no Egito como o destino do Islão que requer ao menos deve ser superado pelo cristianismo. F. W. Sanders "nega que o Corão seja peculiarmente sensual. As religiões cristã e judaica", diz ele, "também têm seu paraíso. O Corão faz isto a sua recompensa, mas não o ideal de conduta; Ά graça do teu Senhor - é a grandiosa bênção'. A ênfase do Corão está na vida correta. O Corão não ensina a propagação da religião pela força. Ele declara que não deve haver coação em assuntos religiosos. A prática de converter através da espada distinguese do ensino de Maomé, como a Inquisição e o tráfico de escravos do cristianismo não provam que Jesus os ensinava. O Corão não instituiu a poligamia. Ele encontrou uma ilimitada poligamia, o divórcio e o infanticídio. Este último é proibido; os dois primeiros restringem-se e são amenizados, como também Moisés encontrou a poligamia, mas permitiu-a com restrições. O Corão não é hostil ao ensino secular. O ensino floresceu sob os califados de Bagdá e Espanha. Quando os maometanos opõem-se ao ensino, fazemno sem a autoridade do Corão. A Igreja Católica Romana se opôs às escolas, mas não atribuímos isto ao evangelho". Os calvinistas defendem a liberdade, visto que a vontade do homem acha a mais elevada liberdade só na submissão a Deus. O islão também cultiva a submissão não do amor, mas do temor. A diferença essencial entre o maometismo e o cristianismo encontra-se na revelação que este dá do amor de Deus em Cristo - revelação que assegura dos livres agentes de submissão do amor.
Teologia Sistemática (Strong) 2. Casualismo
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Transfere a liberdade da mente para a natureza como o fatalismo transfere a fixidez da natureza para a mente. Assim troca a providência pelo acaso. Sobre este ponto de vista assinalamos: a) Se o acaso for o único nome para a ignorância humana, para o fato de que há ocorrências triviais na vida que não têm nenhum sentido ou relação conosco, - podemos reconhecer isto e ainda sustentar que a providência põe em ordem cada assim chamado acaso para propósitos que estão além do nosso conhecimento. O acaso, neste sentido, é coincidência providencial que não podemos entender e com a qual não precisamos nos preocupar. Nem todas oportunidades são de igual importância. O encontro casual de um estranho na rua não precisa trazer a providência de Deus diante de mim, embora eu saiba que Deus a ponha em ordem. Contudo, eu posso conceber tal encontro como oportunidade de entabular uma conversa religiosa e uma conversa com o estranho. Quando estamos preparados para isso, vemos muitas oportunidades que agora não têm sentido para nós do mesmo modo que o ouro no leito do rio para os índios da Califórnia. Eu seria ingrato se fugisse de um instantâneo relâmpago, e não agradecesse a Deus; contudo, a palavra do Dr. Arnold de que cada menino na fase escolar deve pôr o chapéu para a glória de Deus e com elevado propósito moral, parece mórbido. Há um lugar certo para o emprego de arbitrariedades. Não devemos nos afligir nem à igreja de Deus exigindo minúcias farisaicas. A vida é muito breve para debatermos questões sobre qual sapato devemos calçar primeiro. "Ame a Deus e faça o que ele quer que façamos", diz Agostinho; isto é, ame a Deus e age com base nesse amor de um modo simples e natural. Ser livre no trabalho que você presta, embora você sempre deve estar vigilante sobre as indicações da vontade de Deus".
b) Se o acaso for tomado no sentido de total ausência de todas conexões causais nos fenômenos da matéria e da mente, - opomos a esta noção o fato de que o juízo causal é formado segundo a lei fundamental
Teologia Sistemática (Strong) 845 e necessária do pensamento humano e nenhuma ciência ou conhecimento é possível sem a suposição da sua validade. Em Lc. 10.31, nosso Salvador diz: "ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho um certo sacerdote". Janet: "Acaso não é uma causa, mas uma coincidência de causas". Bowne, Theory of Though and Knowledge, 197 -"Acaso não significa falta de causa, mas a coincidência de um evento de uma série de causas mutuamente independentes. Deste modo, fala-se de um encontro fortuito entre duas pessoas como uma oportunidade casual quando o movimento de nenhuma delas implica a outra. A antítese da casualidade é o propósito"
c) Se o acaso for usado no sentido de causa sem desígnio, - é evidentemente insuficiente explicar as seqüências reguläres e uniformes da natureza ou do progresso moral da raça humana. Estas coisas mostram uma mente superintendente e designativo - em outras palavras, uma providência. Porque a razão não exige apenas uma causa, mas uma causa suficiente para a ordem do mundo físico e moral, o casualismo deve ser rejeitado. Perguntaram ao observador do sinal de rádio como estava o clima em Rochester. "Clima?" respondeu; "em Rochester não há condições climáticas; só há condições atmosféricas!" Do mesmo modo Chauncey Wright falava dos altos e baixos dos negócios humanos somente como "condições atmosféricas cósmicas". Mas a nossa intuição de desígnio compele-nos a ver a mente e o propósito no indivíduo e na história nacional bem como no universo físico. O mesmo argumento que prova a existência de Deus prova também a existência de uma providência.
3. Teoria de uma providência simplesmente geral Muitos que reconhecem o controle de Deus sobre os movimentos dos planetas e os destinos das nações negam qualquer arranjo divino nos eventos particulares. A maior parte dos argumentos contra o deísmo é
Teologia Sistemática (Strong) 846 igualmente válida contra a teoria de uma providência simplesmente geral. Este ponto de vista é, na verdade, a única forma do deísmo, que sustenta que Deus não se afastou totalmente do universo, mas que sua atividade nele se limita à manutenção das leis gerais. Este parece ter sido o ponto de vista da maior parte dos filósofos pagãos. Cícero: "Magna dii curant; parva negligunt (Os deuses cuidam das grandes causas; negligenciam as pequenas)". "Até mesmo nos reinos entre os homens", diz ele, "os reis não se perturbam com coisas insignificantes". Fullerton, Conceptions of the Infinite, 9 - "Plutarco pensava que não podia haver uma infinidade de mundos; é possível que a providência não se encarregasse de tantas coisas. Ό infinito perturbador e ilimitado não pode ser captado por nenhuma consciência". Os antigos cretenses faziam de Jove uma imagem sem ouvidos, porque diziam eles: "É uma vergonha crer que Deus ouça a conversa dos homens". Do mesmo modo, Jerônimo, o Pai da igreja, pensava ser absurdo que Deus devia saber quantos mosquitos e baratas há no mundo. Paráfrase de texto de David Harum: "Basta um número razoável de galãs para uma jovem; eles evitam que ela duvide que é uma moça".
Em acréscimo aos argumentos supracitados, podemos afirmar contra esta teoria que: a) O controle geral sobre o curso da natureza e da história é impossível sem o controle sobre as mínimas particularidades que afetam o curso da natureza e da história. Incidentes tão superficiais que quase escapam à observação quando da sua ocorrência freqüentemente determinam todo o futuro de uma vida humana e através dessa vida os destinos de um império todo e de uma era inteira. "Nada começou grande". "Tome cuidado com o centavo e os reais cuidarão de si mesmos". "Cuidar da corrente é cuidar dos seus elos". Exemplos disso são as insônias do rei Assuero (Et 6.1), e a aparente casualidade que levou à leitura do registro do serviço de Mardoqueu e até à salvação dos judeus na Pérsia; a teia da aranha tecida na entrada da caverna em que Maomé se refugiara, que deste modo enganou os
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perseguidores para que ele continuassem numa busca inútil, deixando ao mundo a religião e o império dos maometanos; a pregação de Pedro o Eremita, que ocasionou a primeira Cruzada; o fortuito tiro de um arqueiro que feriu o olho direito de Haroldo o último dos reis legitimamente inglês, ganhou a batalha de Hastings em favor de Guilherme, o Conquistador, e garantiu o trono da Inglaterra para os normandos; a revoada de pombos para o sudoeste, que mudou o curso de Colombo, até agora rumo a Virgínia, para as índias Ocidentais, e desta forma impediu o domínio espanhol sobre a América do Norte; a tempestade que dispersou a Armada Espanhola (vera Invencível Armada) e salvou a Inglaterra do Papado, e a tempestade que dispersou a frota francesa reunida para conquistar a Nova Inglaterra - esta última no dia de jejum e oração indicado pelos puritanos a fim de evitar a calamidade; a colonização da Nova Inglaterra pelos puritanos, em vez de ser pelos jesuítas franceses; a ordem do Concilio impedindo Cromwell e seus amigos de viajar para a América; a ausência dos aprisionadores do major André, que o levaram a fazer uma pergunta imprópria ao invés de mostrar o seu passaporte e que salvou a causa americana; o começo do frio inusitadamente antecipado, que frustrou os planos de Napoleão e destruiu o seu exército na Rússia; o tiro fatal no Forte de Sumter, que precipitou a guerra de secessão e resultou na abolição da escravatura na América do Norte. A natureza tem ligação com a história; a brisa muda o curso do projétil; o verme perfura a prancha do navio. Deus cuida do mínimo, ou ele não cuida do máximo. "As grandes portas oscilam em pequenas dobradiças". O latido do cão determinou a F. W. Robertson que se tornasse um pregador em vez de um soldado. Robert Browning, o Sr. Sludge, o médium: "Achamos que as grandes coisas são feitas de pequenas e as pequenas se tornam menores até que, finalmente, Deus aparece atrás de todas elas". E. G. Robinson: "Não podemos supor que só um pequeno esboço tenha estado na mente de Deus enquanto a complementação deixa de ser feita de alguma outra forma. O geral inclui o específico". Dr. Lloyd, um dos professores de Oxford, disse a Pusey: "Eu gostaria de que você aprendesse algo a respeito dos críticos alemães". "No espírito obediente daqueles tempos", escreve Pusey, "eu me pus de pronto a aprender alemão, e fui para Göttingen, a fim de estudar a língua e a teologia. Minha vida mudou com a sugestão do Dr. Lloyd".
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Goldwin Smith: "Se uma bala tivesse entrado no cérebro de Cromwell ou de Guilherme III em sua primeira batalha, ou se Gustavo não tivesse caído em Lützen, parece que o curso da história teria mudado. Até mesmo o curso da ciência mudaria se não tivesse havido um Newton ou um Darwin". A anexação da Córsega à França deu-a a Napoleão, e à Europa um conquistador. Martineau, Seat of Authority, 101 - "Se o mosteiro de Erfurt tivesse delegado outro que não fosse o jovem Lutero em sua peregrinação à paganizada Roma, ou se Leão X mandasse um agente menos escandaloso que Tetzel em sua negociação com a Alemanha, as sementes da Reforma teriam caído à beira do caminho onde não havia profundidade no solo, e a revolta ocidental da mente humana podia ter tomado outro rumo e outra forma".
b) O amor de Deus que assiste um cuidado geral o universo deve também assistir com um cuidado particular os mínimos eventos que afetam a felicidade de suas criaturas. Cabe ao amor de Deus nada considerar insignificante ou indigno de nota o que tem que ver com os interesses do objeto de seu sentimento. Pode-se esperar, portanto, que o amor infinito dê providência a todos até as mínimas coisas da criação. Sem a crença neste cuidado particular o homem não pode crer no cuidado geral de Deus. A fé em uma providência particular é indispensável ao próprio sistema da religião prática; pois os homens não adorarão ou reconhecerão um Deus que não tenha relação direta com eles. Os cuidados do homem com o seu próprio corpo envolve cuidado com os seus membros de menor importância. Conhece-se a dedicação daquele que ama através das mínimas preocupações para com o ser amado. Assim todos os negócios são de interesse de Deus. Pope, Essay of Man: "Toda a natureza é apenas arte para ti; Toda a eventualidade, a direção que tu não podes ver; Toda a discórdia, a harmonia não entendida; Todo o mal parcial, o bem universal". Se se fizesse a colheita e se perdesse sem a atuação de Deus; se a chuva ou o sol podem agir de igual sorte, varrendo os resultados dos anos e Deus não der uma mãozinha; se o vento e a tempestade naufragarem o navio e afogarem os nossos mais queridos amigos e Deus
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não cuidar de nós ou das nossas perdas, então toda possibilidade da confiança geral em Deus também desaparecerá. Mostra-se o cuidado de Deus nas mínimas coisas assim como nas maiores. No Getsêmani Cristo diz: "Deixai ir estes, para se cumprir a palavra que tinha dito: Dos que me deste nenhum deles perdi" (Jo. 18.8,9). É o mesmo espírito de sua oração com a finalidade de interceder: "Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição" (Jo. 17.12). Cristo se entrega a si mesmo como prisioneiro para que os seus discípulos possam ir livremente, assim como ele nos redime da maldição da lei fazendo-se maldição por nós (Gl. 3.13). O orvalho é moldado pela mesma lei que envolve os planetas em esferas. O Gal. Grant dizia que nunca, a não ser uma só vez, buscou um lugar para si mesmo e nesse lugar ele se encontrava em relativa falha; ele tinha sido um instrumento nas mãos de Deus para cumprir os seus propósitos independentemente de qualquer plano ou pensamento, ou sua própria esperança. No seu caminho pelo tenebroso continente à procura de Davi Livingstone, Henry M. Stanley escreveu no Scribner de junho de 1890: Oprimido na mais tenebrosa hora, confesso humildemente que sem o auxílio de Deus achava-me desamparado; fiz um voto na solidão da floresta que eu confessaria o seu auxílio diante de todos os homens. Como que um silêncio mortal envolveu-me; era meia-noite; estava debilitado pela doença, prostrado na fadiga e abatido de ansiedade por causa dos meus companheiros pretos e brancos, cujo fado era um mistério. Na angústia física e mental roguei a Deus que me devolvesse o meu povo. Nove horas mais tarde eu exultava com extasiante alegria. Via plenamente a bandeira carmesim crescente e sob as suas ondulantes faldas, eis a coluna da retaguarda a muito perdida. ... Os meus próprios desígnios foram constantemente frustrados por infelizes circunstâncias. Empenhei-me em tornar o meu curso o mais reto possível, mas havia uma incalculável influência no leme. ... Tenho estado consciente da realização de que a produção de cada esforço estava nas minhas mãos. ... Parece que a divindade nos cercou durante a peregrinação impelindo-nos para onde ela queria, efetuando a sua própria vontade, mas guiando-nos constantemente e protegendo-nos". Ele se recusa a crer que se trata do resultado da 'sorte', e
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encerra com uma doxologia que esperaríamos de Livingstone, mas não dele: "Graças te dou ó Deus, para todo o sempre"!
c) Em tempos de perigo pessoal e de notáveis conjunturas de negócios públicos, os homens indistintamente atribuem a Deus um controle dos eventos que ocorrem em torno deles. As orações que em tais espantosas emergências brotam dos lábios dos homens são provas de que Deus está presente e ativo nos assuntos humanos. Este testemunho da nossa constituição mental deve ser considerado virtualmente como o testemunho daquele que estruturou esta constituição. Nenhum avanço da ciência pode livrar-nos desta convicção, visto que ela vem de uma fonte mais profunda que a simples razão. A intuição do desígnio é despertada pela conexão dos eventos da nossa vida diária tanto quanto pelas adaptações que vemos na natureza. SI. 107.23-28 - "Os que descem ao mar em navios ... sobem aos céus, descem aos abismos ... e esvai-se toda a sua sabedoria. Então, clamam ao Senhor na sua tribulação". Uma estreita fuga da morte mostra-nos um Deus e Libertador presente. Temos um exemplo no general sentindo a terra inteira, manifesta na imprensa assim como no púlpito, na explosão da nossa rebelião e subseqüente Proclamação da Emancipação do Presidente. "Est deus in nobis; agitante calescimos illo" (Há um deus em nós; enquanto ele opera somos aquecidos). Contrastando a ignorância de Nansen a respeito de Deus em sua peregrinação polar com a invocação de Deus que o Dr. Jacob Chamberlain fez na sua dificuldade na índia, ver Missionary Review, maio, 1898. S. S. Times, 4 de mar. de 1893 - "Benjamin Franklin tornou-se deísta aos quinze anos. Antes da Guerra Revolucionária ele era apenas um negociante astuto e dinâmico. Tinha um espírito público; fez uma feliz descoberta científica. Mas as palavras de Poor Richard expressam a sua mente naquela época. Os perigos e ansiedades da grande guerra deram-lhe um discernimento mais profundo. Ele e outros caíram em si 'com uma corda no pescoço'. Quando ele à Convenção Constitucional de 1787, propôs que as sessões diárias fossem abertas com oração porque as experiências da guerra mostraram-lhe que 'Na verdade Deus dirige os negócios dos homens'. Na discussão sobre a cunhagem de moeda
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americana, Franklin propôs que não se estampasse nelas 'Centavo Economizado é Centavo ganho', ou qualquer outra peça de prudência internacional, mas Ό Temor do Senhor é o Princípio da Sabedoria'.
d) A experiência cristã confirma as declarações da Escritura de que Deus realiza os eventos particulares relativos especialmente ao bem e ao mal do indivíduo. Tais eventos ocorrem às vezes em conexão tão direta com as orações cristãs que não sobra nenhuma dúvida sobre a disposição providencial deles. A possibilidade de tal atuação divina nos eventos naturais não pode ser questionada por alguém que, como o cristão, teve a experiência das maiores maravilhas da regeneração e do relacionamento diário com Deus e que crê na realidade da criação, da encarnação e dos milagres. A providência abre o caminho para a conversão do homem, por vezes através da sua transformação parcial, às vezes através da súbita morte de uma pessoa próxima. É o que ocorreu com Lutero e com Judson. O cristão aprende que a mesma Providência que o conduz antes da conversão, depois dela preocupa-se em dirigir os seus passos e suprir as suas necessidades. Daniel Defoe: "Tenho sido alimentado mais por milagre do que Elias quando os anjos foram os seus provedores". No SI. 32, Davi celebra não só a misericórdia perdoadora de Deus, mas a sua subseqüente direção providencial: "sob as minhas vistas, te darei conselho" (v. 8). Podese objetar que freqüentemente enganamo-nos quanto ao sentido dos acontecimentos. Replicamos que, do mesmo modo que na natureza, também na providência, somos compelidos a crer, não que conhecemos os desígnios, mas que há um desígnio. Por exemplo, o afogamento de Shelley e a oração de Jacob Knapp para que o seu antagonista fosse acometido de surdez. O fato de Lyman Beecher atribuir a queima da igreja unitária ao juízo de Deus sobre a falsa doutrina foi invalidada pouco mais tarde pelo incêndio da igreja dele (de Beecher). Jó 23.10 - "Ele sabe o meu caminho", ou "o caminho que está comigo", i.e., meu mais íntimo caminho, vida e caráter: "Prove-me, e sairei como o ouro". 1 Co. 10.4 - "e a pedra era Cristo" = Cristo era a fonte sempre
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presente do seu refrigério e vida, tanto física quanto espiritual. A providência de Deus é totalmente exercida através de Cristo. 2 Co. 2.14 - Έ graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo". Paulo se gloria, não em conquistar, mas em ser conquistado. Que Cristo triunfe, não Paulo. Grande Rei da graça: que o meu coração seja dominado; serei conduzido também ao triunfo; cativo voluntário do meu Senhor; para que a própria conquista seja da sua palavra". Por isso Paulo chama-se a si mesmo de "prisioneiro de Cristo Jesus" (Ef. 3.1). Foi Cristo que o encerrou por dois anos em Cesaréia e, depois, dois anos em Roma.
IV. RELAÇÕES DA DOUTRINA DA PROVIDÊNCIA 1. Com os milagres e com as obras da graça A providência particular é a atuação de Deus naquilo que nos parece assunto de menor importância na natureza e na vida humana. A providência especial é apenas um exemplo da providência particular de Deus especialmente relativa a nós ou que causa impressão peculiar em nós. É especial, não no que respeita os recursos de que Deus se vale, mas o efeito que produz sobre nós. Na providência especial temos só uma manifestação mais impressionante do controle universal de Deus. Os milagres e obras da graça como a regeneração não devem ser considerados pertencentes a diferente ordem de coisas a partir de providências especiais de Deus. Eles também, como as providências especiais, podem ter conexões naturais e antecedentes, apesar de que eles sugerem mais prontamente sua autoria divina. A natureza e Deus não são mutuamente exclusivas, - a natureza é mais um método de operação de Deus. Porque a natureza é somente a manifestação de Deus, a providência especial, o milagre e a regeneração simplesmente são diferentes graus da natureza extraordinária. Algumas das maravilhas da Escritura, tais como a destruição do exército de Senaqueribe e a divisão do Mar Vermelho, as pragas do Egito, as codornizes e a pesca mara-
Teologia Sistemática (Strong) 853 vilhosa podem ser contadas como exagero das forças naturais, enquanto, ao mesmo tempo, são operações da obra maravilhosa de Deus. A queda da neve de um teto é um exemplo da providência comum (ou particular). Mas se ela matar alguém, ela se torna uma providência especial para a pessoa que foi morta e para outros que por essa causa aprendem a lição da insegurança da vida. Deste modo a provisão do carvão para o combustível nas eras geológicas pode ser considerada por diferentes pessoas ou à luz de uma providência geral ou especial. Em todas operações da natureza e em todos eventos da vida apresenta-se a providência de Deus. Ela se torna especial quando manifestamente sugere algum cuidado de Deus para conosco ou algum dever nosso para com Deus. Savage, Life beyond Death, 285 -"A vida de Mary A. Livermore foi salva durante as suas viagens no Oeste ao ouvir e imediatamente obedecer ao que lhe parecia uma voz. Ela não sabe de onde veio; mas saltou, à ordem da voz de um lado do carro para o outro e, na mesma hora, o lado onde ela estava sentada foi esmagado e totalmente destruído". Semelhantemente, a vida do Dr. Oncken foi salva num acidente ferroviário em Norwalk. Trench chama de "milagres providenciais" as maravilhas bíblicas que podem ser explicadas pela atuação de leis naturais (ver Trench, Miracles, 19). Mosley, também (Miracles, 117-120) chama tais maravilhas de milagres e providenciais especiais por causa da sua predição da palavra de Deus que as acompanha. Ele diz que, com efeito, a diferença entre os milagres e as providências especiais é que esta fornece alguma garantia, enquanto aquela, a garantia completa, por crer que são operadas por Deus. Ele chama a providência especial de "milagres invisíveis". O Bp. de Southampton, Place of Miracles, 12,13 - "A arte de Bezalel ao construir o tabernáculo e os planos de generais tais como Moisés e Josué, Gideão, Baraque e Davi, no Velho Testamento, são atribuídos à inspiração direta de Deus. Um pequeno escritor religioso os teria atribuído à instintiva habilidade militar. Não há o envolvimento necessário de nenhum milagre quando, ao tratar-se do sistema cerimonial, se diz: 'Falou o Senhor a Moisés' (Nm. 5.1). Deus está presente em toda a parte na história de Israel, mas os milagres são assinaladamente raros". Preferimos dizer que a linha divisória entre o natural e o sobrenatural, entre a providência especial e o milagre é arbitrária e que o mesmo evento pode freqüentemente ser considerado como providência especial ou como
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milagre conforme o modo como encaramos o ponto de vista da relação com outros eventos ou da sua relação com Deus. E. G. Robinson: "Se o Vesúvio despedisse cinzas e lava e um forte vento os espalhasse dir-se-ia que choveu fogo e enxofre, como em Sodoma e Gomorra". Há abundante evidência de ação vulcânica na região do Mar Morto. Ver artigo sobre Preparação Física de Israel na Palestina, de G. Frederick Wright, em Bíblia Sacra, abr., 1901.364. Os três grandes milagres - a destruição de Sodoma e Gomorra, a divisão das águas do Jordão, a queda dos muros de Jerico - são descritos como efeito da erupção vulcânica, elevação do leito do rio em uma das barrancas e o terremoto sob os muros. O lodo de sal lançado pode ter envolvido a mulher de Ló e feito dela "uma estátua de sal" (Gn. 19.26). De igual modo, algumas da curas de Jesus, como, por exemplo, as operadas nos paralíticos e epiléticos, podem ter uma explicação natural, apesar de que elas mostram que Cristo é o Senhor absoluto da natureza.
2. Com a oração e a resposta O que já se disse a respeito da conexão de Deus com a natureza sugere a pergunta: Como pode Deus responder a oração consistentemente com a fixidez da lei natural? Tyndall (ver referência acima), embora repelindo a acusação de negar que Deus pode responder a oração de todos, ainda nega que ele possa respondê-la sem um milagre. Ele diz expressamente que "sem perturbar a lei natural perfeitamente séria como a parada de um eclipse, ou a rolagem do São Lourenço nas Cataratas de Niagara, nenhum ato de humildade individual ou nacional poderia trazer chuva do céu ou mudar o curso do sol para nós".
Como resposta, replicamos: A) Negativamente, a verdadeira solução não deve encontrar-se: a) Fazendo o único efeito da oração ser uma influência reflexa do pedinte. – Oração pressupõe um Deus que ouve e responde. Não deve ser
Teologia Sistemática (Strong) 855 feita a não ser que se creia que cumpre os resultados objetivos e subjetivos. Conforme o primeiro ponto de vista mencionado acima, a oração é uma simples ginástica espiritual - um esforço para levantarmo-nos do solo atando a nós as correias das botinas. David Hume disse corretamente, depois de ouvir um sermão do Dr. Leechman: "Não podemos utilizar nenhuma expressão ou pensamento nas nossas orações e súplicas que não impliquem a influência de tais orações". O homem orará a um Deus que é surdo-mudo? Soará ao vento o marinheiro ao gurupés apenas para melhorar a sua voz? Horace Bushnell chamava este mau emprego da oração um simples "exercício de sino surdo". O Barão de Münchhausen saiu de um charco na China atando-se à cauda de um suíno. Hyde, God's Education of Man, 154,155 - "A oração não e o ato reflexo da minha vontade sobre ela, mas a comunhão de duas vontades em que o finito entra em conexão com o Infinito e, como o trole, se vale do seu propósito e força". Harnack, Wesen des Christenhums (A Existência do Cristão), 42, parece seguir Schleiermacher numa irracional limitação da oração às petições gerais que só recebem respostas subjetivas. Ele nos diz que "Jesus ensinou a Oração Dominical aos seus discípulos em resposta a um pedido de orientação sobre como orar. Entretanto, em vão buscamos nela requisitos de dádivas especiais de graça, ou bens particulares, muito embora elas sejam espirituais. O nome, a vontade, o Reino de Deus - são os objetos da prece". Harnack esquece que o mesmo Cristo também disse: "tudo o que pedirdes, orando, crendo, recebereis e tê-lo-eis" (Mc. 11.24).
b) Nem sustentando que Deus responde a oração simplesmente por meios espirituais, tais como a ação do Espírito Santo sobre o espírito do homem. – O reino do espírito não está menos sujeito à lei do que o reino da matéria. A Escritura e a experiência, contudo, igualmente testemunham que em resposta à oração os eventos ocorrem no mundo exterior o que não ocorreria se a oração não tivesse sido feita.
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Segundo esta teoria, Deus alimentou o faminto Elias, não com uma mensagem distinta do céu, mas dando uma disposição compassiva para com a viúva de Zarefate (ou Sarepta) de sorte que ela foi movida a ajudar o profeta. 1 Re. 17.9 - "eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente". Mas Deus também podia sustentar Elias enviando os corvos e o anjo (1 Re. 17.4; 19.15) e o derramamento da chuva que se seguiu à oração de Elias (1 Re. 18.42-45) não pode ser explicado como um fenômeno espiritual subjetivo. Diman, Theistic Argument, 268 - "Nossos atlas mapeiam não só a sólida praia, mas as correntes aéreas do oceano e consultamos os matutinos para certificar sobre a formação de tempestades nos déclives das Montanhas Rochosas". Mas a lei governa tanto no reino do espírito como no da natureza. O Governador Rice em Washington se sentiu movido a enviar dinheiro para uma família faminta em Nova Iorque e garantir-lhe o emprego. Apesar de que ele não tinha nenhuma informação sobre a necessidade, a família se ajoelhou em oração pedindo socorro precisamente antes de vir o auxílio.
c) Nem sustentando que Deus suspende ou interrompe a ordem da natureza em resposta a cada oração. - Este ponto de vista não leva em conta que as leis naturais têm existência objetiva e revelam a ordem do ser divino. Assim a onipotência pode suspender a lei natural, mas a sabedoria, até onde podemos perceber, não o faz. A terceira teoria bem podia ser defendida por aqueles que só vêem na natureza a vontade totalmente operada por Deus. Mas as propriedades e forças da matéria são revelações da vontade divina e a vontade humana só tem independência relativa no universo. Desejar que Deus responda todas as nossas orações é desejar a onipotência sem a onisciência. Portanto, toda a verdadeira oração expressa uma petição: "Seja feita a tua vontade" (Mt. 6.10). E. G. Robinson: "É muito comum orar e muitas orações são destituídas desta qualidade. O homem tem necessidade de orar em voz alta mesmo em particular para obter benefício. Um dos principais benefícios da liturgia inglesa é que o ministro não se destaca. O protestantismo faz com que você trabalhe; no romanismo a igreja faz tudo por você".
Teologia Sistemática (Strong) 857 d) Nem considerando a oração como uma força física, ligada em cada caso à sua resposta, como na física a causa está ligada ao seu efeito. – A oração não é uma força agindo diretamente na natureza; caso contrário não haveria nenhuma discrição quanto à sua resposta. Ela pode cumprir os resultados na natureza, só como influência de Deus. Educamos os nossos filhos de dois modos: em primeiro lugar, ensinando-os a fazer por si mesmos o que eles podem fazer; e em segundo lugar, estimulando-os a buscar auxílio em assuntos além de suas forças. Deus nos educa assim: em primeiro lugar, através de uma lei impessoal e, em segundo lugar, através da dependência pessoal. Ele tanto nos ensina a trabalhar como a pedir. Note a completa falta de sabedoria dos cientistas modernos que se submetem ao ensino da lei impessoal, pondo de parte o mais elevado e melhor ensino que depende da pessoalidade" (Hopkins, Sermon on the Prayer-gauge, 16).
Parece mais de acordo tanto com a Escritura quanto com a razão dizer que: Β) Deus pode responder a oração mesmo quando tal resposta envolve mudanças nas seqüências da natureza; a) Pelas novas combinações das leis naturais em regiões afastadas da nossa observação de modo que são produzidos os efeitos que, se estas mesmas forças fossem deixadas ao seu destino, nunca teriam cumprido. Como o homem combina as leis da atração química e da combustão para detonar a arma de fogo e explodir a rocha, assim Deus pode combinar as leis da natureza para efetuar as respostas à oração. Em tudo isto não há nenhuma suspensão ou violação da lei, mas o uso de uma lei que desconhecemos. Hopkins, Sermon on the Prayer-gauge: "A natureza é uniforme em seus processos, mas não em seus resultados. Você diz que a água não pode correr montanha acima? Pode e faz. Sempre que o homem constrói uma barragem a água sobe acima das montanhas em volta até alcançar o topo da barragem. O homem pode fazer uma faísca elétrica cumprir a sua ordem;
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porque Deus não pode usar um raio de eletricidade? Não somos escravos das leis, mas estas é que são. Elas cumprem as nossas ordens da melhor maneira porque são uniformes. Ε as nossas servas não são senhoras de Deus". Kendall Brooks: Ό senhor de um instrumento musical pode variar sem limite a combinação de sons e as melodias que tais combinações podem reproduzir. As leis do instrumento não se mudam, mas a firmeza imutável produz uma infinita variedade de sons. É necessário que eles sejam imutáveis para garantir o resultado desejado. Assim a natureza, que exerce a capacidade do Mestre divino, é governada por imutáveis leis; mas, por estas leis, ele produz uma infinita variedade de resultados". Hodge, Popular Lectures, 45, 99 – "O sistema de leis naturais é muito mais flexível nas mãos de Deus do que nas nossas. Atuamos externamente em causas secundárias; Deus age nelas internamente. Agimos sobre elas em apenas uns poucos pontos isolados; Deus age em cada ponto do sistema ao mesmo tempo. A natureza toda pode plasmar-se de tal modo à sua vontade como o ar nos órgãos do grande cantor que o articula em uma expressão adequada a cada pensamento e paixão da sua alma que se eleva". Upton, Hibbert Lectures, 155 – "Se todos os elementos químicos do nosso sistema solar preexistissem na névoa cósmica incandescente, pode não ter havido tempo quando bem subitamente as atrações entre estes elementos vencessem o grau de força calórica que os mantêm separados e a corrida dos elementos na união química deve ter sido consumada com inconcebível rapidez. O uniformitarismo não é universal". Shaler, Interpretation of Nature, cap. 2 - Através de um pequeno aumento da força centrífuga a órbita elíptica se muda em uma parábola e o planeta se torna em um cometa. Através de uma pequena redução na temperatura, a água se torna sólida e perde muitos dos seus poderes. Assim ocorrem resultados inesperados e surpresas tão revolucionárias como se uma Força Suprema imediatamente interviesse". William James, Address before Soc. For Psych. Research: "O pensamento transferência pode envolver um ponto crítico, como os psicólogos chamam, que passa só quando algumas condições psíquicas se realizam e de outra forma não se alcançariam - como uma grande conflagração romperá em certa temperatura abaixo da qual nenhuma conflagração, qualquer que seja, grande ou pequena, pode ocorrer". Tennyson, Life, 1.324 - "Orar é como abrir uma
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comporta entre o grande oceano e os nossos pequenos canais, quando o grande mar se une e flui com sua onda toda".
Porque a oração não é nada mais e nada menos do que um apelo a um Deus pessoal e presente, cuja concessão ou recusa da bênção requerida crê-se que é determinada pela própria oração, devemos concluir que esta deve mover Deus, ou, em outras palavras, induzi-lo a exercer da sua parte uma volição imperativa. Chalmers, Works, 2.314 e 7.234 elabora o ponto de vista de que, em resposta à oração, Deus combina as forças naturais. Ver Diman, Theistic Argument, 111 - "Quando se concebem as leis não como simples, mas como uma combinação, ao invés de serem imutáveis em sua operação, são agentes de incessante mudança. Os fenômenos são governados não por forças invariáveis, mas por infindas combinações variantes de invariáveis forças". Janet, Final Causes, 219 - "Acendo um fogo na minha fornalha. Só interfiro para produzir e combinar os diferentes agentes cuja ação natural importa na produção do efeito que eu necessito; mas dado o primeiro passo todos os fenômenos que constituem a combustão engendram um outro de conformidade com as suas leis, sem uma nova intervenção do agente; assim um observador que estudasse a série destes fenômenos, sem perceber a primeira mão que preparara tudo, não poderia de apoiar-se à mão, em qualquer ato especial, embora haja um plano e uma combinação preconcebidos". Hopkins, Sermon on Prayer-gauge: O homem, espalhando cal no campo pode fazer o cereal crescer mais abundantemente; acendendo grandes fogueiras e pondo fogo em canhão, pode provocar chuva; seguramente Deus, em resposta à oração, pode fazer tanto quanto o homem faz. Lewes diz que o caráter fundamental de toda a filosofia teológica é a concepção dos fenômenos como sujeitos à volição sobrenatural e, conseqüentemente, de modo tão eminente como irregularmente variável. Esta noção, diz ele, é refutada, em primeiro lugar, pela previsão exata e racional dos fenômenos e, em segundo lugar, pela possibilidade de modificarmos estes fenômenos de modo a promover a nossa própria vantagem. Mas, em resposta, perguntamos: se nós podemos modificá-los, e
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Deus, não pode? Mas, para que isto não pareça implicar mutabilidade de Deus ou inconsistência na natureza, em acréscimo, assinalamos que:
b) Deus pode predispor as leis do universo material e os eventos da história de tal modo que, conquanto a resposta à oração seja uma expressão da vontade dele, é atendida através da operação de agentes naturais perfeitamente de acordo com o princípio geral de que os resultados, tanto temporais como espirituais, devem ser alcançados pelas criaturas inteligentes através do uso de recursos apropriados e designados. J. P. Cooke, Credentials of Science, 194 – "O tear de Jacquard por si mesmo teceria uma fabricação perfeitamente uniforme; os cartões perfurados determinam uma seleção de linhas e, através de uma combinação de variadas condições tão complexas que o observador não pode seguir seus intricados trabalhos, aparece o predeterminado padrão". E. G. Robinson: "A mais formidável objeção a esta teoria é o aparente semblante que empresta à doutrina necessitaria. Mas se ele pressupõe que se levaram em conta as ações livres, não se pode facilmente mostrar que isto é falso". O bispo a quem se pediu através do seu curado que sancionasse as orações pedindo chuva era excessivamente cético quando respondeu: "Consulte primeiro o barômetro". Phillips Brooks: Orar não é conquistar a relutância de Deus, mas sustentar a voluntariedade de Deus", seco o lugar onde o auditório tinha-se reunido e, no dia seguinte, as chuvas desceram sobre a terra onde no dia anterior não tinham caído. Os peregrinos de Plymouth, em alguma parte em 1628, oravam pedindo chuva. Reuniram-se às 9 da manhã e continuaram a orar durante 8 ou 9 horas seguidas. Enquanto estavam reunidos ajuntaram-se nuvens e, na manhã seguinte começou a cair chuva que, com alguns intervalos, durou catorze dias. John Easter foi há muitos anos evangelista em Virgínia. Estava sendo realizada uma reunião ao ar livre. Milhares de pessoas participaram quando nuvens de pesada tempestade começaram a formar-se. Não havia abrigo para que as multidões se protegessem. A chuva já tinha atingido os campos quando John Easter bradou: "Tenham calma, irmãos, enquanto eu invoco a Deus para que pare a tempestade até que o evangelho seja
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pregado a esta multidão"! Então ele se ajoelhou e orou para que o auditório pudesse passar sem a chuva e que depois que eles tivessem ido pudessem ter refrescantes chuvas. Eis que as nuvens se foram como tinham chegado e passaram do lado da multidão e depois fecharam outra vez deixando seco o lugar onde o auditório tinha-se reunido e, no dia seguinte as chuvas desceram sobre o campo onde ela não havia caído no dia anterior.
Porque Deus é imanente na natureza, uma resposta à oração, ocorrendo através da intervenção da lei natural, pode ser uma revelação tão real do cuidado pessoal de Deus como se as leis da natureza fossem suspensas e Deus interviesse através do exercício de seu poder criativo. Oração e resposta, apesar de terem a volição imediata de Deus como seu limite de conexão podem ainda alcançar providência no plano original do universo. O universo não existe para si mesmo, mas para fins morais e para seres morais, para revelar Deus e facilitar o intercâmbio entre Deus e as criaturas inteligentes. Bispo Berkeley: Ό universo é a incessante conversa de Deus com as suas criaturas". O universo sem dúvida se presta a fins morais - o dissuasão ao vício e a recompensa à virtude; por que não a fins espirituais também? Quando nos lembramos de que não existe nenhuma oração verdadeira que Deus não inspire; que a verdadeira oração é uma parte do plano do universo unido a todo o restante e que recebeu provisões no começo; que Deus está na natureza e na mente supervisionando todos os seus movimentos, tornando cumprida a sua vontade e revelando o seu cuidado pessoal; que Deus pode ajustar as forças da natureza umas às outras muito mais habilmente do que o homem quando produz os efeitos que a natureza por si nunca pôde cumprir; que Deus não está confinado à natureza ou às forças dela, mas é capaz de operar por sua obra criativa e vontade onipotente, onde não bastam outros meios, - não precisamos ter medo algum ou de que a lei natural barrará as respostas divinas à oração, ou que estas respostas causarão um choque ou uma dissonância no sistema do universo. Matheson, Messages of the Old Religions, 321,322 - A poesia hebraica nunca trata a natureza exterior por nossa causa. O olho nunca repousa na
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beleza por ela mesma. Os céus são a obra das mãos de Deus, a terra é o escabelo dos pés de Deus, os ventos são os ministros de Deus, as estrelas são o exército de Deus, o trovão é a voz de Deus. O que chamamos natureza o judeu chama Deus". Srta. Heloise E. Hersey: "Platão, no Fedro, expõe em um esplêndido mito os meios pelos quais os deuses se refrigeram. Uma vez por ano, em um exército poderoso, eles conduzem as carruagens até o mais alto cume do céu. Daí eles podem contemplar as maravilhas e os segredos do universo; e avivados pela vista da grande planície da verdade, voltam refeitos e se alegram com a visão celestial. Arcebispo Trench, Poems, 134 -"Senhor, que mudança dentro de nós uma breve hora passada na tua presença prevalecerá para tornar - o que as cargas pesadas dos nossos peitos levam que ressequido solo se refresca como se chovesse! Ajoelhamo-nos e tudo em torno de nós parece humilhar-se; levantamo-nos todos distantes ou próximos avança em um esboço ensolarado, bravo e claro; Como fracos ajoelhamo-nos e levantamo-nos cheios de poder! Por isso, por que cometeremos este erro ou outros - para não sermos sempre fortes; para estarmos sempre sobrecarregados de cuidados; para sermos fracos e apáticos, ansiosos ou perturbados quando conosco em oração e a alegria e a força e a coragem estão em ti?
C) Ao perguntar-se se a relação entre a oração e sua providencial resposta pode ser testada cientificamente, respondemos que pode como um filho obediente pode testar o amor do pai. a) Há uma prova geral na experiência passada do cristão e na história passada da igreja. Sl. 116.1-8 – "Amo ao Senhor porque ele ouviu a minha voz e a minha súplica". Lutero ora pela morte de Melanchton, e ele recupera. George Müller confia na oração e constrói seus grandes orfanatos. Charles H. Spurgeon: "Se há algum fato que pode ser provado é que Deus ouve a oração. Se há qualquer declaração científica capaz de comprovação matemática, esta é uma". A linguagem do Sr. Spurgeon é retórica: ele simplesmente quer dizer que a resposta de Deus à oração remove toda dúvida. Adoniram Judson: "Eu nunca estive profundamente interessado em qualquer objeto, nunca orei sincera e fervorosamente por alguma coisa, mas ela veio; às vezes – não importa a distancia do dia – de algum modo, de
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alguma forma, provavelmente a última coisa que eu poderia ter divisado veio. Ε ainda sempre tenho tido a minha fé tão pequena! Que Deus me perdoe e embora ele condescenda em usar-me como seu instrumento, apaga o pecado da incredulidade do meu coração!"
b) Na condescendência para com a cegueira humana, Deus pode às vezes submeter a um teste formal de sua fidelidade e poder, - como no caso de Elias e os sacerdotes de Baal. Is. 7.10-13 - Acaz é repreendido por não pedir um sinal, - em Acaz ele indica descrença. 1 Re. 18.36-38 - Disse Elias: "manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel ... então caiu fogo do Senhor e consumiu o holocausto". Romaine fala de "um ano famoso pela descrença". Mt. 21.21,22 - "mas se até a este monte disserdes: Ergue-te e precipita-te no mar, assim será feito. Ε tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis". "Impossível?" diz Napoleão; "então se fará!" Arthur Hallam, citado em Tennyson, Life, 1.44 "Sobre a oração, você me pergunta como distinguir as operações de Deus em mim a partir dos movimentos em meu coração. Por que você os distinguiria, ou como você sabe que há distinção? É Deus menor porque ele age através de leis gerais quando trata dos elementos comuns da natureza?" "Preste atenção na oração para ver o que sucederá. Meninos traquinas que batem a uma porta por travessura, não ficam esperando que alguém a abra; mas o homem que tem um assunto a tratar bate e bate até obter resposta". Martineau, Seat of Authority, 102,103 - "Deus não somente está além da natureza, - ele está nela. Na natureza e na mente devemos encontrar a ação do seu poder. Não há necessidade alguma de que ele seja um terceiro fator bem acima da natureza e da vida do homem". Hartley Coleridge: "Não tenhas medo de orar, - orar é um direito. Se não podes orar com esperança, mas oras, embora a esperança seja fraca, ou adoeça por causa da demora: Ora na escuridão, se não há luz. Longo é o tempo, distante da vista humana, quando a guerra e a discórdia na terra cessarem; Se desejares o bem, pedeo ao céu, embora não esperes vê-lo; Ora buscando a perfeição, apesar de que o fermento impede ao espírito que chegue a alcançá-la aqui na terra;
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Mas se por qualquer circunstância não tens coragem de orar, ora, então a Deus pedindo que afaste tal indisposição".
c) Quando já foi dada a prova suficiente para convencer o cândido inquiridor, não pode haver consistência com a majestade divina continuar a impor um teste por simples curiosidade ou ceticismo, - como no caso dos judeus que pediam um sinal do céu. Mt. 12.39 - "Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém não se lhe dará outro sinal, senão o do profeta Jonas". A oração padrão de Tyndall garantiria um conflito de orações. Porque a nossa vida presente é uma provação moral, a demora na resposta às nossas orações e mesmo a negação de coisas específicas que nós pedimos pode apenas ser sinal da fidelidade e amor de Deus. George Müller: "Eu mesmo tenho apresentado alguns pedidos diante de Deus por dezessete anos e seis meses e até hoje não passei um só dia sem orar por eles; contudo, a resposta completa não ocorreu até agora. Mas eu espero; confiadamente espero". A oração de Cristo, "passa de mim este cálice" (Mt. 26.39), e a de Paulo para que pudesse passar o seu "espinho na carne" (2 Co. 12.7,8), não foram respondidas no sentido preciso do que se pediu. As nossas orações são respondidas da forma que esperamos. A oração de Cristo não foi respondida com a remoção literal do cálice, porque bebê-lo era realmente a glória dele; e a de Paulo não foi respondida pela a remoção literal do espinho porque este era necessário ao seu aperfeiçoamento. Tanto no caso de Jesus como no de Paulo, havia interesses maiores a serem consultados do que a libertação do sofrimento.
d) Porque a vontade de Deus é a ligação entre a oração e a resposta não pode haver uma demonstração física de sua eficácia em qualquer caso proposto. Os testes físicos não têm aplicação às coisas em que a vontade livre entra como elemento constitutivo. Mas há testes morais e estes são tão científicos como os físicos. Diman, Theistic Argument, 576, faz referência à negação de Goldwin Smith de que qualquer método científico pode ser aplicado à história porque
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faria o homem um elo necessário em uma cadeia de causa e efeito e assim negaria sua vontade livre. Mas Diman diz que isto não é mais impossível que o desenvolvimento do acordo individual relativo a uma lei fixa de crescimento, enquanto ainda a vontade livre é assiduamente respeitada. Froude diz que a história não é ciência porque nenhuma ciência poderia predizer o Maometanismo ou o Budismo; e Goldwin Smith diz que "a predição é a coroa de toda ciência". Mas Diman assinala; "a geometria, a geologia, a fisiologia são ciências, apesar de que elas não predizem". Buckle pôs a história em condição de desprezo afirmando que ela poderia ser analisada e mencionada somente com relação às leis e forças intelectuais. Contra tudo isto replicamos que pode haver testes científicos que não são físicos e nem mesmo intelectuais, porém somente morais. Tal teste Deus determina que o seu povo use em Ml. 3.10 - "Trazei os vossos dízimos à casa do Senhor... e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal que dela vos venha maior abastança". Tal oração é um reflexo das palavras de Cristo - um fragmento do seu ensino transformado em súplica (Jo. 15.7) Tal oração inteira é ainda a obra do Espírito de Deus (Rm. 8.26,27). É, portanto a certeza de uma resposta. Mas o teste da oração proposto por Tyndall não se aplica à coisa a ser testada por ela. Hopkins, Prayer and tha Prayer-gauge, 22 sgs. - "Não podemos medir o trigo pela jarda ou o peso de um discurso com um par de balanças. ... A sabedoria de Deus pôde ver que não é o melhor para os que pedem nem para os objeta-vos da sua petição aceitar o pedido. Portanto, os crentes não puderam, sem autorização divina especial, descansar a sua fé nos resultados de tal teste. ... Por que podemos nós pedir grandes mudanças na natureza? Pela mesma razão que uma criança bem informada não pede a lua como um brinquedo.... A oração tem duas limitações. Em primeiro lugar, a não ser por direção especial de Deus, não pode-mos pedir um milagre, pela mesma razão que uma criança não pediria a seu pai que queimasse a casa abaixo. A natureza é a casa em que vivemos. Em segundo lugar, não podemos pedir qualquer coisa sob as leis da natureza que se contraponha ao objetivo de tais leis. Qualquer coisa que pudermos fazer por nós mesmos sob estas leis, Deus espera que façamos. Se a
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criança está com frio, deixe-a aproximar-se do fogo, - não peça a seu pai que a carregue". A Sociologia de Herbert Spencer é apenas física social. Ele nega a liberdade e declara que qualquer que afixar D.V. (Deo Volente = se Deus quiser) ao anúncio da Conferência do Mildmay é incapaz de entender de sociologia. A previsão exclui a vontade divina ou a humana. Mas o Sr. Spencer insinua que os males da seleção natural podem ser modificados pela seleção natural. O que é isto senão a interferência da vontade? Ε se o homem tem a capacidade de interferir, Deus não pode fazer o mesmo? Até a criança sábia não espera que o pai dê tudo o que ela pede. Nem o pai que ama o filho lhe dá como brinquedo uma navalha, ou o enche de doces prejudiciais à saúde somente porque o filho deseja tais coisas. Se um operador de navio me desse a permissão para mover a alavanca que põe o mecanismo todo em movimento, eu abriria mão do meu poder e preferiria deixar a responsabilidade com ele a menos que antes ele me sugerisse e me apresentasse o processo de funcionamento. Assim o Espírito Santo "ajuda nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis" (Rm. 8.26). Ε não devemos falar em "submeter" à perfeita Sabedoria, ou em resignar-se ao perfeito Amor. Shakespeare, Antônio e Cleopatra, 2.1 – "O que eles (deuses) negam adiar eles não negam.... Nós, ignorantes de nós mesmos, pedimos com freqüência nossos próprios malefícios que as sábias forças nos negam para o nosso próprio bem; assim encontramos proveito em deixar de receber nossos rogos".
3. Com a atividade cristã Aqui a verdade está entre os dois extremos do quietismo e do naturalismo. a) Em oposição à falsa abnegação da razão humana e da vontade que o quietismo demanda, sustentamos que Deus nos guia, não através do contínuo milagre, mas por sua natural providência e energia das nossas faculdades através de seu Espírito, de modo que racional e
Teologia Sistemática (Strong) 867 livremente fazemos a nossa própria obra e operamos a nossa própria salvação. Upham, Interior Life, 356, define o quietismo como "a cessação de pensamentos vagantes e imaginações discursivas, sobra dos desejos e afeições irregulares e perfeita submissão da vontade". Seus defensores, contudo, têm freqüentemente falado disto como um abandono da nossa vontade e razão e a absorção total destas pela sabedoria e vontade de Deus. Esta fraseologia é equívoca e tem sabor de uma incorporação panteísta do homem em Deus. Dorner: O quietismo faz de Deus um monarca sem súditos vivos". Alguns quietistas ingleses, como os maometanos, não usarão os médicos em caso de doença. Eles citam 2 Cr. 16.12,13 - Asa "não buscou ao Senhor, mas os médicos. Ε Asa dormiu com seus pais". Eles se esquecem de que os médicos citados em Crônicas eram, provavelmente, os necromantes pagãos. Cromwell aos seus Ironsides (homens de atitude férrea): "Confiai em Deus, e conservai a vossa pólvora seca!" A providência não exclui, ao contrário, implica a operação da lei natural pela qual entendemos o meio regular da atuação de Deus. Não abre espaço para desculpa do sarcasmo do Medium Sr. Sludge de Robert Browning, 223 – "Poupai o vosso precioso eu daquilo que acontece aos trinta e três que a providência esqueceu". Schurman, Belief in God, 213 – Os templos estão repletos de ofertas votivas dos que só escaparam do afogamento". Bentham costumava dizer, quando algo particularmente aparente não ocorria como catástrofe natural. Deus se revela na lei natural. Os médicos e os remédios são os métodos dele, do mesmo modo que a concessão de fé e coragem ao paciente. Os que defendem a cura pela fé devem prover pela fé para que nenhum crente morra. Com os milagres apostólicos deve caminhar a inspiração segundo a declaração de Edward Irving. "Todo homem é tão ocioso como admitem as circunstâncias". Lançamos sobre os ombros da Providência os fardos cujo transporte é de nossa competência. "Operai a vossa salvação com temor e tremor; pois é Deus quem opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo o seu beneplácito" (Fp. 2.12,13). A oração sem o uso dos meios é um insulto a Deus. "Se Deus decretou que você deve viver, para que comer ou beber"? Pode um homem que está
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se afogando recusar-se a nadar, ou deixar de agarrar-se à corda que lhe é lançada e ainda pedir a Deus que o salve porque ele tem fé? "Amarre o seu camelo", diz Maomé, "e confie-o a Deus". Frederick Douglas costumava dizer que, quando escravo, freqüentemente orava por liberdade, mas sua oração nunca foi respondida até que ele orou com os seus pés - e saiu correndo. Whitney, Integrity of Christian Science, 68 - "A existência do dínamo na casa de força não torna desnecessário o cabo do trole, nem o motor secundário, nem a aplicação da força do condutor. O verdadeiro quietismo é descansar no Senhor após ter feito a nossa parte". SI. 37.7 "Descansa no Senhor e espera nele"; Is. 57.2 - "Ele entrará em paz; descansarão nas suas camas os que houveram andado na sua retidão". Ian MacLaren, Cure of Souls, 147 -"A religião tem três lugares de permanência: na razão, que é a teologia; na consciência, que é a ética; no coração, que é o quietismo". George Müller, escrevendo sobre a certeza da vontade de Deus, diz: No começo eu procuro ter meu coração em tal estado que não tenha vontade por si mesmo com relação a um dado assunto. Nove décimos das atividades são vencidos quando os nossos corações estão prontos para fazer a vontade do Senhor, qualquer que seja. Feito isto, não deixo de sentir o resultado ou a sua simples impressão. Se ajo desta forma, eu me exponho a um grande engano. Busco a vontade do Espírito de Deus através do seu Verbo, ou em conexão com ele. O Espírito e o Verbo devem estar em sintonia. Se olho para o Espírito sem o Verbo, abro espaço também para grandes enganos. Afinal de contas, se o Espírito Santo nos guia, ele o faz de acordo com as Escrituras e nunca as contraria. A seguir, leva em conta as circunstâncias providenciais. Com freqüência, estas indicam claramente a vontade de Deus em conexão com o Verbo e o Espírito. Peço a Deus em oração que me revele a vontade correta. Através da oração a Deus, do estudo da Palavra e da reflexão entro em deliberado juízo sobre o meu melhor conhecimento e habilidade e, se a minha mente estiver em paz, eu continuo". Não devemos confundir piedade racional com falso entusiasmo. Ver Isaac Taylor, Natural History of Enthusiasm. Ό que se exige de nós não é quietude (em Inglês quiescence), mas aquiescência". Como Deus alimenta "as aves do céu" (Mt. 6.26) não com gotas de comida nas suas bocas, mas
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estimulando-as a buscar o alimento por si mesmas, assim Deus prove às suas criaturas racionais dando-lhes um senso comum santificado e levandoas para usá-lo. No verdadeiro sentido o cristianismo nos dá mais desejo do que nunca. O Espírito Santo emancipa a vontade, estabelece-a sobre os objetivos apropriados, e enche-a de nova energia. Portanto, não devemos nos render passivamente a tudo o que professa ser uma sugestão divina; 1 Jo. 4.1 - "não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus". O teste é a palavra de Deus revelada: Is. 8.20 - "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva".
b) Em oposição ao naturalismo, sustentamos que Deus está continuamente perto do espírito humano por sua operação providencial e esta se ajusta à natureza e necessidades do cristão quanto ao fornecimento de instrução relativa ao dever, à disciplina do caráter religioso e do auxílio e conforto necessários nas provações. Na interpretação das providências de Deus, como na da Escritura, dependemos do Espírito Santo. A obra do Espírito é, sem dúvida, em grande parte uma aplicação da verdade da Escritura às circunstâncias presentes. Embora nunca nos permitimos agir cega ou irracionalmente, mas costumamos ponderar a evidência com relação ao dever, devemos esperar, como dom do Espírito, um entendimento das circunstâncias fino sentido dos propósitos providenciais com relação a nós, o que fará curso claro para nós, apesar de que nem sempre somos capazes de explicá-lo aos outros. O crente pode ter uma divina orientação contínua. Diferente do infiel e incrédulo de quem se diz no SI. 106.13, "não esperam o seu conselho", o verdadeiro crente tem a sabedoria do alto. SI. 32.8 - "Instruir-te-ei e ensinarte-ei o caminho que deves seguir"; Pv. 3.6 - "Reconhece-o em todos os teus caminhos e ele endireitará as tuas veredas"; Fp. 1.9 - "E peço isto: que o vosso amor aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento" (οασθήσει = discernimento espiritual); Tg. 1.5 - "se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto"; Jo. 15.15 - "Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos chamado amigos"; Cl. 1.9,10 - "que
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sejais cheios do conhecimento da sua vontade em toda a sabedoria e inteligência espiritual para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo". O Espírito de Deus torna tanto a Providência como a Bíblia um elemento pessoal para nós. O Deus vivo nos fala a partir de cada página da natureza, assim como da Bíblia. Tholuck: "Quanto mais reconhecemos em cada ocorrência diária a secreta inspiração de Deus, guiando-nos e controlando-nos, mais tudo o que aos outros parece um aspecto comum e diário nos provará ser um sinal e uma obra maravilhosa". Hutton, Essays: "Animais que são cegos escravos do impulso levados por forças interiores, têm, por assim dizer, poucas válvulas na sua constituição moral para entrar na orientação divina. Mas as mentes vivificadas em cada palavra de Deus dão constante oportunidade de interferir nas sugestões que podem alterar o curso da sua vida. Quanto mais elevada é a mente, mais desliza para a região do controle providencial. Deus transforma o bem através do mais frágil sopro do pensamento". Assim, o hino cristão "Guia-me, grande Yahweh!" compara a direção que Deus exerce sobre o crente com a de Israel através da coluna de fogo e da nuvem; e Paulo, em seu calabouço chama-se a si mesmo "prisioneiro de Jesus Cristo" (Ef. 3.1). A aflição é a disciplina da providência de Deus. Provérbio grego: "Aquele que não leva surra não recebe educação". Abraão "saiu sem saber para onde ia" (Hb. 11.8). Não conhecia o lugar do seu destino, a não ser depois de chegar a Canaã. Como um filho, ele pôs a sua mão na mão do seu Pai invisível, para ser conduzido ao lugar que ele não conhecia. Freqüentemente somos guiados sem discernimento disso. Is. 42.16 - "Guiarei os cegos por um caminho que nunca conheceram; fá-los-ei caminhar por veredas que não conheceram". Assim agimos mais sabiamente do que nós mesmos entendemos e depois olhamos para trás com espanto para ver o que fomos capazes de cumprir. Emerson: "Mesmo vindo de Deus por si não podia libertar-se; ele construiu melhor do que sabia". Provérbio chinês: "O bom Deus nunca fere com as duas mãos". O tato é um tipo de automatismo psíquico" (Ladd). Há um tato cristão que raramente é uma falha porque aquele que o possui "é guiado pelo Espírito de Deus" (Rm. 8.14). Contudo, devemos sempre fazer concessões como Cromwell costumava dizer, "em favor da possibilidade de errar".
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Quando os amigos de Lutero escreveram desesperançados sobre as negociações na Dieta de Worms, de Coburgo ele respondeu que estivera olhando para o alto ao céu noturno, recoberto de estrelas como lantejoulas e não tinha visto nenhuma coluna sustentando-as. Ε mesmo assim elas não caiam. Deus não precisa de nenhuma escora para as suas estrelas e planetas. Ele não as suspende em nada. Assim, na obra da providência de Deus, o invisível é a escora do visível. Henry Drummond, Life, 127 - "Processos para encontrar a vontade de Deus: 1. Orar. 2. Pensar. 3. Conversar com sábios, mas não considerar como final a decisão deles. 4. Acautelar-se quanto à tendência da sua vontade, mas não ter muito medo dela (Deus nunca opõe necessariamente a natureza e predileções do homem. É um erro pensar que a vontade dele está sempre em linha de desacordo). 5. Enquanto isso, faça o que se segue (porque fazer a vontade de Deus nas pequenas coisas é o melhor preparo rumo ao conhecimento dela sobre as grandes coisas). 6. Quando há necessidade de decisão e ação, siga à frente. 7. Nunca reconsidere a decisão uma vez executada. 8. É provável que você nunca descubra, mesmo mais tarde, talvez muito mais tarde que, afinal de contas, você foi dirigido". Amiel lamentava que tudo havia sido deixado sob a sua responsabilidade e declarava: "Este é o pensamento que me desgosta sobre o governo da minha vida. Para obter a verdadeira paz, o homem precisa sentir-se dirigido, perdoado e sustentado por uma Força suprema, a fim de sentir-se no caminho certo, no lugar em que Deus quer que ele esteja, - em harmonia com Deus e com o universo. Tal fé fortalece e acalma. Eu não a tenho. Tudo me parece arbitrário e fortuito". Muito melhor é a fé que sentia Wordsworth, Excursion, livro 4.581 - "Só existe um apoio adequado às calamidades da vida moral: uma firme crença em que o processo do nosso destino, conquanto triste e perturbado, é ordenado por um Ser de infinita benevolência e poder, cujos propósitos eternos abrangem todos acidentes, convertendo-os em bem". Sra. Browning, De profundis, estrofe xxiii Enquanto prosseguem meus dias, "louvo-te; enquanto os meus dias prosseguem, amo-te! Em meio a trevas e fome, em meio a fogo e gelo, de mãos vazias e tesouro perdido, graças te dou enquanto prosseguem meus dias!"
Teologia Sistemática (Strong) 4. Com os maus atos dos agentes livres
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a) Devemos aqui distinguir entre a atuação natural e a atuação moral de Deus, ou entre os atos da providência permissiva e os atos da causa eficiente. Sempre devemos lembrar que Deus nem opera o mal, nem faz as suas criaturas operá-lo. A culpa de todo o pecado é a vontade própria e a perversidade da criatura; declarar Deus o seu autor é a maior das blasfêmias. Bispo Wordsworth: "Deus prevê as más ações, mas nunca as força. Deus não causa o pecado, assim como o cavaleiro em um ginete que coxeia causa a sua coxeadura". Nem se pode dizer que Satanás é o autor do pecado do homem. As forças do homem são dele. Não é Satanás, mas o próprio homem que faz aplicação errada das suas forças. Ele não é a causa, mas a ocasião do pecado que está na ira; a causa está na vontade má que produz a sua persuasão.
b) Porém, conquanto o homem forma sua má decisão independentemente de Deus, por sua atuação natural, ele ordena o método em que este mal interior se expressará, limitando-o no tempo, no lugar e na medida, ou dirigindo-o para o fim que a sua sabedoria e o amor (não a intenção do homem) estabeleceram. Em tudo isto, contudo, Deus só permite que o pecado se desenvolva segundo a sua própria natureza, de modo que possa ser conhecido, detestado e, se possível, vencido e renegado. Philippi, Glaubenslehre, 2.272-284 – "A traição de Judas opera a reconciliação do mundo, e a apostasia de Israel a salvação dos gentios. ... Deus abranda o caminho do pecador e lhe dá a oportunidade da insurreição contra o mal como o sábio médico que traz para a superfície do corpo a doença que o tem devasta interiormente, para que possa ser curado, se possível, através de recursos brandos, ou, se não, com a faca".
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O cristianismo levanta-se apesar de, ou melhor, em conseqüência da oposição, como uma pipa contra o vento. Quando Cristo usou a espada de que ele se cingiu, como usou Ciro e o Assírio, quebrou-a e lançou-a fora. Ele transtorna o mundo que ele mesmo ordenou. Vale-se de cada membro da sociedade como a locomotiva usa cada dente da engrenagem. Os sofrimentos dos mártires aumentam em número a igreja; o culto das relíquias estimula as Cruzadas; o culto dos santos leva a peças de milagres e ao drama moderno; o culto de imagens auxilia a moderna arte; o monasticismo, o escolasticismo, o papado, e mesmo a crítica cética e destrutiva levantam defensores da fé. Shakespeare, Ricardo III, 5.1 - "Assim ele força a espada dos ímpios a tornarem seus próprios pontos contra os peitos dos seus senhores"; Hamlet, 1.2 - Os atos criminosos aparecerão aos olhos dos homens, muito embora estejam sepultados no mais profundo solo" vol. I Abril p. 214; Macbeth, 1.7 -"A justiça, com a mão eqüitativo, apresenta a nossos próprios lábios os ingredientes do cálice que nós mesmos empeçonhamos" (idem p. 133). O imperador da Alemanha foi a Paris incógnito e voltou, pensando que ninguém tinha notado a sua ausência. Mas a cada passo, indo e vindo, ele estava rodeado de detetives que viam que nenhum mal se aproximava dele. A andorinha repetidas vezes se dirigia para uma mariposa, mas havia uma vidraça entre ambos e nenhuma das duas o sabia. Charles Dickens pôs o queixo de encontro ao vidro da redoma da cobra, mas não pôde evitar de sobressaltar-se quando a cobra o atacou. Tácito, Annales, 14.5 - "Noctem sideribus illustrem, quasi convincendum ad scelus, dii praebuere" - "os deuses concederam uma noite brilhante de estrelas, como se tivessem o propósito de provar um crime". Ver F. A. Noble, Our Redemption, 59-76, sobre o registro de si mesmo e a revelação dos seus próprios pecados com a citação do discurso de Daniel Webster no caso de Knapp em Salém: "Convém confessar. Confessar-se-á. Não há nenhum refúgio da confissão a não ser o suicídio e o suicídio é confissão".
c) Nos casos da persistente iniqüidade, a providência de Deus ainda compele o pecador a cumprir o desígnio para o qual ele e todas coisas foram criadas, a saber, a manifestação da santidade de Deus. Apesar de lutar contra o plano de Deus, pela sua própria resistência, deve servir o
Teologia Sistemática (Strong) 874 dito plano. O pecado se faz o próprio detentor, juiz, atormentador dele. Seu caráter e sentença tornam-se uma advertência para os outros. Recusando glorificar Deus na sua salvação, ele o glorifica na destruição. Is. 10.5,7 - "Ai da Assíria, a vara da minha ira! Porque a minha indignação é como o bordão nas minhas mãos.... ainda que ele não cuide assim". Charles Kingsley, Two Years Ago: "Ele [Treludra] é uma daquelas naturezas básicas que o fato só açoita em grande fúria, - a Faraó, cujo coração o próprio Senhor só pode endurecer" - aqui acrescentaríamos a qualificação: 'em consistência com os limites que ele estabeleceu para a operação da sua graça'. A ordem de Faraó para destruir as crianças israelitas (Ex. 1.16) tornou-se o meio de pôr Moisés sob a proteção real, de treiná-lo para a obra futura e, por fim, resgatar toda a nação cujos filhos Faraó procurou destruir. Assim, do bem Deus extrai o mal. Emerson: Minha vontade se cumprirá, Pois à luz do dia como nas trevas O raio tem olhos para ver o seu caminho de volta ao para a minha terra". Cl 2.15 - "despojando os principados e potestades" - as hostes dos espíritos maus como enxames sobre ele em seu ocaso final - "os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo" i.e. na cruz, tornando assim o mal que eles praticaram em um bem. Royce, Spirit of Modem Philosophy, 443, -O Amor, andando à procura do mal absoluto, é como a lâmpada elétrica na pesquisa de uma sombra; quando o amor chega, a sombra desaparece". Porém isto não significa que todas as coisas são boas, mas que "todas as coisas cooperam para o bem" (Rm. 8.28). - Deus, encaminhando para o bem aquilo que em si mesmo é mau. John Wesley: "Deus sepulta o seu obreiro, mas continua a sua obra". Sermão sobre Os Equívocos do Diabo": Satanás pensava que podia vencer Cristo no deserto, no jardim e na cruz. Ele triunfou quando lançou Paulo na prisão. Mas a cruz foi para Cristo um levantamento que atrairia todos a ele (Jo. 12.32), e o aprisionamento de Paulo forneceu suas epístolas ao Novo Testamento. "Uma das maravilhas do amor divino é que mesmo as nossas máculas e pecados Deus tomará quando verdadeiramente nos arrependemos e as entregamos nas suas mãos e de algum modo transformam-se em bênçãos. Um amigo certa vez mostrou a Ruskin um lenço caro no qual havia uma mancha de tinta. 'Nada se pode fazer com isso', disse o amigo pensando
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que o lenço perdera o valor e agora estava estragado. Ruskin levou-o consigo e, depois de um certo tempo, devolveu-o ao amigo. De uma forma hábil e artística ele fez um esplêndido desenho com tinta da índia, usando o borrão como sua base. Ao invés de danificado, o lenço se tornou muito mais belo e precioso. Assim Deus faz os borrões e manchas nas nossas vidas, os nossos defeitos quando os cometemos a ele e, por sua maravilhosa graça, transforma-os em marcas de beleza. O aflitivo pecado de Davi não só foi perdoado, mas tornou-se um poder transformador na sua vida. A dolorosa queda de Pedro tornou-se um passo acima pelo perdão do Senhor e seu gentil tratamento". Assim "os homens podem levantar-se pisando as pedras do seu eu rumo às coisas mais elevadas" (Tennyson, In Memoriam, I).
SEÇÃO IV - OS ANJOS BONS E OS MAUS Como ministros da providência divina há uma classe de seres finitos, de maior inteligência e poder do que o homem em seu estado presente, alguns dos quais servem positivamente ao propósito de Deus através da santidade e execução voluntária de sua vontade, alguns negativamente, dando ao universo exemplos de rebelião derrotada e punida e ilustrando a graça distinta de Deus na salvação do homem. As sutilezas dos escolásticos que embaraçaram esta doutrina na Idade Média e as representações exageradas do poder dos espíritos maus que então prevaleciam, conduziram, por reação natural, a uma indevida depreciação da matéria em tempos mais recentes. Para as discussões escolásticas ver Tomás de Aquino, Summa (ed. Migne), 1.833-993. Os escolásticos debatiam questões tais como quantos anjos podem ao mesmo tempo ficar na ponta de uma agulha (relação dos anjos com o espaço); se um anjo pode estar em dois lugares ao mesmo tempo; qual é o intervalo entre a criação dos anjos e a sua queda; se o pecado de um anjo causou o pecado dos demais; se os que retiveram a integridade são tantos quantos os que caíram; se a nossa atmosfera é o lugar da punição dos anjos decaídos; se os anjos da guarda têm a sua incumbência a partir do batismo, ou desde o nascimento, ou enquanto a criança está no ventre materno; mesmo os excrementos dos anjos são
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objeto de discussão, pois se há "comida de anjos" (SI. 78.25) e se os anjos comiam (Gn. 18.8), argumentava-se que devemos seguir as conseqüências lógicas. Dante considera a criação dos anjos simultânea à do universo em toda a extensão. "Ele considera que a queda dos anjos rebeldes ocorreu dentro de vinte segundos após a criação e se originou no orgulho que fez Lúcifer não querer esperar o tempo prefixado pelo seu Criador para iluminá-lo com o seu perfeito conhecimento" - Ver Rossetti, Sombra de Dante, 14,15. Diferentemente de Dante, Milton põe a criação dos anjos em eras antes da criação do homem. Ele nos conta que o primeiro nome de Satanás no céu já se perdeu. As sublimes associações com que Milton cerca o adversário diminui nossa aversão do maligno. Satanás foi chamado o herói do Paraíso Perdido. A representação de Dante é muito mais verdadeira com relação à Escritura. Mas não devemos chegar ao extremo de dar designações ridículas ao Diabo. Isto indica e causa ceticismo quanto à sua existência. No período medieval a mente do homem estava carregada do terror do espírito do mal. Pensava-se que era possível vender a alma a Satanás através de um pacto escrito com sangue. Goethe representa Mefistófeles dizendo a Fausto: "Para o teu serviço aqui eu Concordo que tu me mandes Correr sem parar ao teu chamado; Quando bem distante tu me achares, Então f aras tanto por mim". As catedrais cultivavam e perpetuavam esta superstição através de figuras de demônios malignos que arreganham os dentes das gárgulas dos seus tetos e dos capitéis das suas colunas e a pregação popular exaltava Satanás ao nível de um deus rival - mais temido que o verdadeiro Deus vivo. Satanás era pintado como tendo chifres e cascos - imagem de sensual e bestial - que levou Cuvier a considerar que o adversário não podia devorar porque os chifres e cascos não indicavam um carnívoro mas um quadrúpede ruminante.
Mas certamente é possível que uma escala ascendente das inteligências criadas não atinjam o ponto mais alto no homem. Como a distância entre o homem e as formas inferiores de vida preenchem-se com inumeráveis gradações do ser, é possível que também entre o homem e Deus existam criaturas de inteligência mais elevada que a do homem. Esta possibilidade se transforma em certeza através das
Teologia Sistemática (Strong) 877 declarações expressas da Escritura. A doutrina está entrelaçada com os livros da revelação mais tardios assim como com os mais antigos. Quenstedt (Theology, 1.629) considera a existência dos anjos como os prováveis antecedentes porque não há lacuna na criação; a natureza não procede persaltum (aos saltos). Assim temos 1) seres puramente corpóreos, como as pedras; 2) seres em parte corpóreos e em parte espirituais como o homem 3) seres inteiramente espirituais como os anjos. Godet, em seus Biblical Studies of the O. T., 1-29, sugere outra série de gradações. Assim como temos 1) os vegetais = espécie sem individualidade; 2) os animais = individualidade limitada à espécie; e 3) o homem = espécie dotada de individualidade: também podemos esperar 4) os anjos = individualidade sem espécie. Se as almas vivem após a morte, sem dúvida há uma classe de espíritos desencarnados. Não é impossível que Deus tenha criado espíritos sem corpos. E. G. Robinson, Christian Theology, 110 - "A existência de deidades inferiores em todas as mitologias pagas e a disposição universal do homem para crer em seres superiores a si e inferiores ao Deus supremo é um argumento pressuposto em favor da sua existência". Locke: "Para mim é provável que haja mais espécies acima de criaturas inteligentes do que sensíveis e materiais abaixo de nós, porque em todo o mundo visível e corpóreo não vemos lacunas e brechas". Foster, Christian Life and Theology 193 - "Certamente pode-se crer na existência dos anjos com base no testemunho de alguém que defende ter vindo do mundo celeste se se pode crer no ornitorrinco com base no testemunho dos viajantes". Tennyson, Two Voices: "Esta verdade dentro da tua mente recita, Que um ilimitado universo É melhor, ou pior ilimitado. Pensais vós que este mundo de esperanças Não poderia achar-se mais imponente do que seus pares Em mais de cem milhões de esferas?" A doutrina dos anjos fornece uma barreira contra a falsa concepção de que este mundo inclui o universo espiritual inteiro. A terra é apenas uma parte de um organismo maior. Como o cristianismo uniu judeus e gentios, daqui em diante harmonizará a nossa ordem de criação assim como outras: Cl. 2.10 -"que é a cabeça de todo o principado e potestade" = Cristo é a cabeça dos anjos assim como dos homens; Ef. 1.10 - "congregar todas as coisas em Cristo, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra".
Teologia Sistemática (Strong) I. AFIRMAÇÕES Ε SUGESTÕES DA ESCRITURA
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1. Quanto à natureza e atributos dos anjos a) Eles são seres criados. Sl. 148.2-5 - "Louvai-o todos os seus anjos. ... pois mandou e logo foram criados"; Cl. 1.16 - "Porque nele foram criadas todas as coisas. ... sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades". cf. 1 Pe. 3.22 - "anjos, e autoridades e potestades". Deus é o único ser não criado e eterno. Isto está implicado em 1 Tm. 6.16 - "aquele que tem, ele só, a imortalidade".
b) São seres incorpóreos. Em Hb. 1.14, onde uma só palavra é empregada para designar os anjos, eles são descritos como "espíritos" - "não são todos eles espíritos ministradores?" Os homens, com sua dupla natureza, material e imaterial, não poderiam ser designados como "espíritos". Parece estar implicado em Ef. 6.12 -"porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas contra ... as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais" que a sua característica de "espíritos" impede-nos de considerar os anjos como tendo um organismo corpóreo; cf. Ef. 1.3 "bênçãos espirituais nos lugares celestiais"; 2.6 "e nos fez assentar nos lugares celestiais. Em Gn. 6.2 "filhos de Deus = não anjos, mas descendentes de Sete e adoradores do verdadeiro Deus. Em SI. 78.25, "o pão dos anjos" (Revista e Atualizada do Brasil) = maná vindo do céu, onde habitam os anjos; melhor, contudo, é o texto da Revista e Corrigida: "pão dos poderosos" - provavelmente significando anjos, apesar de que a palavra "poderosos" em parte alguma é aplicada a eles; possivelmente = "pão dos príncipes ou dos nobres", i.e. o mais refinado e mais delicado pão. Mt. 22.30 - "nem casam, nem são dados em casamento, mas serão como os anjos no céu" - e Le. 20.36 "nem podem morrer, pois são iguais aos anjos" - implicam só que os anjos não têm distinção de sexo. Os santos devem ser como os anjos, não que sejam incorpóreos, mas que não mantêm união sexual como aqui.
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Não existe "alma de anjos", como "almas dos homens" (Ap. 18.13) e podemos inferir que os anjos não têm corpos nos quais as almas possam morar; ver Elementos Essenciais da Natureza Humana. Nevius, DemonPossession, 258 atribui aos espíritos maus um instinto ou anseio de possuir um corpo mesmo que seja o de um animal inferior: "Assim na Escritura são representados espíritos vagando em busca de repouso em corpos e pedindo permissão para entrar nos porcos" (Mt. 12.43; 8.31). Portanto, os anjos, visto que não têm corpos, não conhecem nada sobre crescimento, idade, ou morte. Martensen, Christian Dogmatics, 133 - "Precisamente porque os anjos não são almas, mas apenas espíritos é que eles não podem possuir a mesma essência rica que o homem, cuja alma é o ponto de união em que se encontram o espírito e a natureza".
c) São agentes pessoais – isto é, inteligentes e voluntários. 2 Sm. 14.20 - "sábio, conforme a sabedoria de um anjo de Deus"; Lc. 4.34 - "bem sei que és o Santo de Deus"; 2 Tm. 2.26 "laços do diabo, em cuja vontade estão presos"; Ap. 22.9 - "Olha, não faças tal" = exercício da vontade; Ap. 12.12 - "o diabo desceu a vós e tem grande ira" = propósito mau.
d) Possuem inteligência e poder sobre-humanos que têm seus limites fixados. Mt. 24.36 - "do dia e da hora ninguém sabe, nem os anjos do céu" = o conhecimento deles, embora sobre-humano, é finito. 1 Pe. 1.12 - "para as quais coisas os anjos bem desejam atentar"; SI. 103.20 - "anjos ... magníficos em poder"; 2 Ts. 1.7 - "com os anjos do seu poder"; 2 Pe. 2.11 "enquanto os anjos, sendo maiores (que os homens) em força e poder; Ap. 20.2,10 - "prendeu o dragão ... e amarrou-o ... foi lançado no lago de fogo". Comp. SI. 72.18 - "Deus ... só ele faz maravilhas" = só Deus pode fazer milagres. Comparados com Deus os anjos são imperfeitos (Jó 4.18; 15.15; 25.5). Poder, mais do que beleza e inteligência, é a sua característica marcante. Eles são "principados e potestades" (Cl. 1.16). Assombram os que
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os contemplam (Mt. 28.4). O rolar da pedra sobre o sepulcro exigia força. Uma roda de granito com oito pés de diâmetro (2,54 m) e um pé (0,33 m) de espessura, rolando em um sulco, pesaria mais de quatro toneladas. Mason, Faith of the Gospel, 86 - Ό poder espiritual e a incandescente indignação no rosto de Estêvão lembrava ao Sinédrio uma visão angelical". Mesmo em seu terno ministrar eles eram fortes (Lc. 22.43 - Έ apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava" cf. Dn. 10.19 - "Anima-te, anima-te! Ε falando ele comigo, esforcei-me e disse: Fala, Senhor, porque me confortaste). Em 1 Tm. 6.15 "Rei dos reis e Senhor dos senhores" - as palavras "reis" e "senhores" (βασιλευόντων e κυριευόντων) podem referir-se aos anjos. Especialmente no caso dos espíritos maus, o poder parece a principal coisa na mente, i.e. "o príncipe deste mundo", "o homem forte armado", "a potestade das trevas", "os príncipes das trevas deste mundo", "o grande dragão", "todo o poder do inimigo", "dar-te-ei todas estas coisas", "livra-nos do maligno".
e) Distinguem-se dos homens em ordem de inteligência e são mais antigos que eles. Os anjos são distintos dos homens. 1 Co. 6.3 - "havemos de julgar os anjos"; Hb. 1.14 "Não são, porventura, todos eles espíritos ministradores enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?" Eles não são espíritos humanos glorificados; ver Hb. 2.16 - "Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão"; também 12.22,23, onde as inumeráveis hostes de anjos" distinguem-se da "igreja dos primogênitos" e dos "espíritos dos justos aperfeiçoados". Em Ap. 22.9 -"Eu sou um conservo teu" sugere semelhança com os homens, não na natureza, mas no serviço e subordinação a Deus, o objeto próprio da adoração. Sunday School Times, 15 de mar. de 1902.146 - Fala-se dos anjos como maiores em força e poder do que o homem, mas de que se pode dizer a respeito de muitos animais inferiores ou mesmo do redemoinho e do fogo. Nunca se fala dos anjos como uma ordem superior de seres espirituais. Nós devemos "julgar os anjos" (1 Co. 6.3) e os inferiores não devem julgar os superiores". Os anjos são uma ordem de inteligência mais antiga que o homem. Os Pais tornaram a criação dos anjos simultânea à formação do ser dos elementos, talvez baseando sua opinião no apócrifo Eclesiástico 18.1 -
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"Aquele que vive eternamente criou todas as coisas juntas". Em Jó 38.7, o paralelismo hebraico faz "as estrelas da manhã" = "filhos de Deus", de modo que se fala dos anjos como presentes em certos estágios da obra criativa de Deus. A menção da "serpente" em Gn. 3.1 implica que a queda de Satanás se deu antes da queda do homem. Podemos inferir que a criação dos anjos ocorreu antes da criação do homem - o inferior antes do superior. Em Gn. 2.1 "todo o seu exército", que Deus tinha criado pode-se pretender a inclusão dos anjos. O homem foi a coroa da criação, criado depois dos anjos. Mason, Faith of the Gospel, 81 – "Talvez os anjos tivessem sido criados antes do elemento material dos céus e terra – substrato espiritual sobre o qual as coisas materiais foram plantadas, criação preparatória para receber o que se seguiria. Na visão de Jacó eles sobem e descem; seu lugar natural é o mundo aqui embaixo".
Não se pode explicar a constante representação dos anjos como seres pessoais na Escritura como personificação do bem e do mal em acomodação às superstições judaicas sem opor-se a muitas passagens narrativas de sentido óbvio; implicando da parte de Cristo, ou dissimulação, ou ignorância quanto a um ponto importante da doutrina; e a crença na inspiração do Velho Testamento a partir da qual estes pontos de vista judaicos da crença angelical derivavam. Jesus se acomodou à crença popular com respeito ao menos ao "seio de Abraão" (Lc. 16.22) e confessou sua ignorância sobre o tempo do fim (Mc. 13.32); ver Rush Rhees, Life of Jesus of Nazareth, 245-248. Mas naquele caso seus ouvintes provavelmente tenham entendido que falasse figurada e retoricamente, enquanto neste não havia nenhum falso ensino, mas só limitação do conhecimento sobre a verdade. Nosso Senhor não hesitou em contradizer a crença farisaica sobre a eficácia das cerimônias e a negação da ressurreição e vida futura segundo a crença dos saduceus. A doutrina dos anjos tinha mais forte apoio na mente popular do que estes erros dos fariseus e saduceus. O fato de que Jesus não corrigiu ou negou a crença geral, mas ele mesmo a expressou e confirmou implica que a crença era racional e escriturística. Sobre uma das melhores declarações do argumento, ver Broadus, Com. sobre Mateus 8.28 (1º vol., p. 265, ed. em português).
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Ef. 3.10 – "a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus" - exclui a hipótese de que os anjos são apenas concepções abstratas do bem ou do mal. Falamos de pessoas no mundo da lua, como lunáticas só quando sabemos que ninguém supõe que creiamos que a lua exerce poder enlouquecedor. Mas os contemporâneos de Cristo supunham mesmo que ele cresse nos espíritos angélicos bons e maus. Se esta crença era um erro, de modo algum era prejudicial e a benevolência assim como a veracidade de Cristo tê-lo-iam levado a corrigila. Assim também, se Paulo tivesse sabido que não havia tais seres como os anjos, ele não teria honestamente contendido com os colossenses, proibindo-os de adorá-los (CI. 2.18), mas teria negado a sua existência, como negou a existência dos deuses pagãos (1 Co. 8.4). Theodore Parker dizia que havia muita evidência de que Jesus cria em um diabo pessoal. Harnack, Wesen des Christenthums (A Pessoa [ou caráter] do Cristão), 35 - "Não há dúvida de que Jesus compartilhava com seus contemporâneos a representação de dois reinos: o de Deus e o do diabo". Wendt, Teaching of Jesus, 1.164 - Jesus "faz Satanás aparecer como o tentador imediato. Sinto-me bem longe de pensar que ele age assim por simples linguagem figurada. Não há dúvida de que Jesus aceitava as idéias contemporâneas quanto à existência real de Satanás e, concordemente, nos casos particulares de doença, ele supõe uma tentação satânica real". Maurice, Theological Essays, 32,34 – "O reconhecimento de um espírito mau é característica do cristianismo". H. B. Smith, 261 - "Parece que o poder de Satanás no mundo chega ao ponto culminante no tempo de Cristo, e diminui daí em diante".
A mesma nota se aplica ao ponto de vista que considera Satanás tão somente como um termo coletivo para todos os seres maus, quer humanos, quer sobre-humanos. As representações bíblicas da ira progressiva do grande adversário, desde o primeiro assalto à virtude humana em Gênesis até a derrota no Apocalipse, somam-se ao já mencionado testemunho de Cristo, com o fim de impedir quaisquer outras conclusões que não sejam esta, de que há um ser pessoal de grande força, que pratica a oposição organizada ao governo divino.
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Crane, The Religion of To-morrow, 299 sgs. - "Dizemos bem 'diabo pessoal', porque não há nenhum diabo que não seja pessoalidade". Não podemos negar a pessoalidade de Satanás a não ser que sejamos compelidos a negar a existência dos anjos bons, a pessoalidade do Espírito Santo e a pessoalidade de Deus Pai, - podemos até acrescentar a pessoalidade da alma humana. Nigel Penruddock em "Endymion" do Lord Beaconsfield diz: "Dá-me um só argumento contra a sua (de Satanás) pessoalidade, que não se aplica à pessoalidade de Deus". Um dos mais ingênuos artifícios de Satanás é persuadir o homem de que ele não existe. A seguir vem o artifício de substituir a crença em um diabo pessoal pela crença em um espírito mau impessoal. Tal substituição achamos em Pfleiderer, Philosophy of Religion, 1.311 -"A idéia do diabo foi um expediente bem aceito para a necessidade da reflexão religiosa avançada, a fim de excluir Deus da relação com o maligno e com a maldade do mundo". Pfleiderer falanos que o otimismo primitivo dos hebreus, como o dos gregos, deu lugar nos últimos tempos ao pessimismo e desespero. Mas os hebreus ainda tinham esperança na libertação através do Messias e um apocalíptico reino do bem. Sobre o ponto de vista de que Satanás é simplesmente um termo coletivo designando os seres maus, ver Bushnell, Nature and the Supernatural, 134-137. Bushnell, ao sustentar que o mal moral deve ser uma "condição privativa" necessária de todos os seres como tais, crê que "todos os anjos bons passaram por uma queda e foram auxiliados, do mesmo modo que o será o redimido da humanidade". "Anjos eleitos" (1 Tm. 5.21) então seriam os salvos após a queda, não os salvos da queda; e "Satanás" seria, não α nome particular de uma pessoa, mas todos ou o total das mentes e forças más.
2. Quanto ao seu número e organização a) Eles são uma grande multidão. Dt. 33.2 – "O Senhor ... veio com dez milhares de santos"; SI. 68.17 "Os carros de Deus são vinte milhares, milhares de milhares"; Ap. 5.11 Ouvi uma voz de muitos anjos ... e era o número deles milhões de milhões e milhares de milhares". Anselmo pensava que o número dos anjos perdidos
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era completado pelo número dos homens eleitos. Savage, A Vida após a Morte, 61 - Os fariseus sustentavam noções exageradas do número de espíritos angélicos. Eles "diziam que, se o homem lançasse uma pedra sobre o seu ombro ou jogasse fora um caco de cerâmica, deveria pedir perdão a qualquer espírito que ele possivelmente pudesse acertar". Na época de W. Η. Η. Murray dizia-se que era perigoso no Adirondack atirar com arma de fogo, -poderia ferir um homem.
b) Constituem-se um grupo distinto de uma raça. Mt. 22.30 - "não casam, nem são dados em casamento, mas serão como os anjos no céu"; Lc. 20.36 - "já não podem mais morrer, pois são iguais aos anjos e são filhos de Deus". Nós somos chamados "filhos dos homens", mas os anjos nunca são chamados "filhos dos anjos", mas só "filhos de Deus". Eles não se desenvolvem a partir de uma estirpe e tal natureza comum não os une como acontece com a raça humana. Não há entre eles um caráter ou uma história comum. Cada um foi criado separadamente e cada anjo apóstata caiu por si mesmo. A humanidade toda caiu de uma vez em seu primeiro pai. Corte uma árvore e você cortará os seus galhos. Mas os anjos eram árvores separadas. Alguns caíram no pecado e alguns permaneceram santos. Ver Godet, Bib. Studies O. T., 1 -29. Talvez esta seja uma razão por que foi providenciada uma salvação para os homens decaídos, mas não para os anjos decaídos. Cristo pôde juntar-se à humanidade tomando a natureza comum a todos. Não havia natureza comum dos anjos a qual ele pudesse tomar. Ver Hb. 2.16 - "ele não tomou os anjos". Os anjos são filhos de Deus, não tendo pais terrenos e não tendo pai que não fosse o divino. Ef. 3.14,15 - "o Pai, do qual toda família (em uma das versões em Inglês = "fatherhood" = paternidade) nos céus e na terra leva o nome", - não "every family", como na Revised Version, pois não há famílias entre os anjos. A tradução no rodapé "paternidade" é melhor do que "família". Todas as πατριού provém de πατήρ. Dodge, Christian Theology, 172 - "A ligação entre os anjos é tão somente mental e moral. Eles nada podem receber em herança, nada através da vida doméstica e familiar, nada através de uma sociedade unida pelos laços de sangue.... Não pertencendo somente a um mundo, mas a dois, a alma humana tem em si as fontes da mais profunda e mais ampla experiência que os anjos.... Deus
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mais se aproxima do homem do que dos anjos". Newman Smith, Through Science to Faith, 191 - "A espécie morreu na ressurreição da vida do homem; o homem como indivíduo continua a viver. O sexo não será mais necessário para a vida; não se casarão, mas os homens e mulheres, os filhos vindos do casamento serão como os anjos. Como na consumação, através da morte da espécie humana, ganhar-se-á a imortalidade dos indivíduos".
c) Eles são de vários níveis e dons. Cl. 1.16 - "sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades"; 1 Ts. 4.16-"voz de arcanjo"; Jd. 9-"o arcanjo Miguel". Miguel (=quem é como Deus?) é o único expressamente chamado arcanjo na Escritura, apesar de que Milton chamou Gabriel (= o herói de Deus) de arcanjo. Na Escritura, Miguel parece o mensageiro da lei e do julgamento; Gabriel, o mensageiro da misericórdia e da promessa. O fato de que a Escritura tem apenas um arcanjo é prova de que a sua doutrina dos anjos não deriva, como às vezes se tem afirmado, de fontes babilônicas ou persas; pois nelas achamos sete arcanjos ao invés de um. Contudo, achamos o espírito mau entronizado como deus, enquanto na Escritura ele é representado como tremendo escravo. Wendt, Teaching of Jesus, 1.51 - "A devota e confiante percepção da aproximação de Deus que se expressa em tantos belos pronunciamentos do salmista, talvez mais tarde seja suplantada pela crença nos anjos no judaísmo, o que é bem análogo à supersticiosa crença da parte da Igreja Romana a respeito dos santos. É bem significativo que, no tempo de Jesus, os judeus não mais concebiam a promulgação da lei no Sinai, que era o fundamento de toda a sua religião, como revelação imediata de Yahweh a Moisés a não ser a instituída pela mediação dos anjos (At. 7.38,53; Gl. 3.19; Hb. 2.2; Josefo, Ant., 15.5,3).
d) Eles têm uma organização. 1 Sm. 1.11 – "Senhor dos Exércitos"; 1 Re. 22.19 – "Vi o Senhor assentado sobre o seu trono e todo o seu exército estava junto a ele à sua
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mão direita e à sua esquerda"; Mt. 26.53 - "doze legiões de anjos" - sugere a organização do exército romano; 25.41 - "o diabo e os seus anjos"; Ef. 2.2 "o príncipe das potestades do ar"; Ap. 2.13 - "trono de Satanás" (não "sentado"); 16.10 - "trono da besta" - "uma paródia infernal do reino celeste" (Trench). A expressão "exército do céu", em Dt. 4.19; 17.3; At. 7.42, provavelmente = estrelas; mas em Gn. 32.2, "o exército de Deus" = anjos, pois, quando Jacó viu os anjos, ele disse: "este é o exército de Deus". Em geral, as expressões "Deus dos exércitos", "Senhor dos exércitos" parecem significar 'Deus dos anjos", "Senhor dos anjos"; comp. 2 Cr. 18.18; Lc. 2.13; Ap. 19.14-"os exércitos que estão no céu". Contudo, em Ne. 9.6 e SI. 33.6 a palavra "exército" parece incluir tanto os anjos como as estrelas. Satanás é "o macaco de Deus". Ele tem um trono. Ele é o "príncipe do mundo" (Jo. 14.30; 16.11), "o príncipe das forças do ar" (Ef. 2.2). Há um cosmos e uma ordem do bem, apesar de que Cristo é mais forte do que o forte homem armado (Lc. 11.21) e governa até mesmo sobre Satanás. A primeira menção de Satanás está na Queda do homem em Gn. 3.1-15; a segunda, em Lv. 16.8, onde se diz que um dos dois bodes, no dia da expiação, é "para Azazel", ou Satanás; a terceira onde Satanás induziu Davi a enumerar Israel (1 Cr. 21.1); a quarta no livro de Jó 1.6-12; a quinta em Zc. 3.1-3, onde Satanás apresenta-se como adversário do sumo sacerdote Josué, mas o Senhor dirige-se a Satanás e o repreende. O pensamento de Cheyne, Com. on Isaiah, vol. 1, p. 11, é de que as estrelas eram chamadas os exércitos de Deus, indicando que eram criaturas animadas. Ultimamente a crença nos anjos lançou no cenário a crença de que as estrelas são seres animados; contudo, os anjos tinham conexão estreita com as estrelas. Marlowe, Tamburlaine, diz: "A lua, os planetas e a luz dos meteoros, Estes anjos de armadura de cristal combatiam um combate de dúvida".
Consideramos os 'querubins' de Gênesis, de Êxodo e de Ezequiel, com os serafins de Isaías e as 'criaturas vivas' do livro de Apocalipse devem ser identificadas, – a mais provável interpretação é a que os considera, não como verdadeiros seres de nível mais elevado que o homem, mas como aparências simbólicas que pretendiam representar a humanidade redimida dotada de todas as perfeições perdidas na queda e que se fizeram lugar de habitação de Deus.
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Alguns defendem que os querubins são símbolos dos atributos divinos, ou do governo de Deus sobre a natureza. Entretanto, qualquer que seja a verdade deste ponto de vista, pode incluir-se na doutrina fixada acima. Na verdade os querubins são símbolos da natureza permeada de energia divina e subordinada aos propósitos divinos, mas só são símbolos da natureza porque são símbolos do homem em sua dupla capacidade de imagem de Deus e sacerdote da natureza. Porque tem um corpo, o homem é parte da natureza; porque tem alma, emerge da natureza e lhe dá voz. Através do homem, a natureza, de outra forma cega e morta, é capaz de apreciar e expressar a glória do Criador. A doutrina dos querubins abrange os seguintes pontos: 1. Os querubins não são seres pessoais, mas figuras artificiais, temporárias, simbólicas. 2. Conquanto não sejam existências pessoais, são símbolo da existência pessoal - símbolos não das perfeições divinas ou angélicas, mas da natureza humana (Ex. 1.5 - "tinham a semelhança de um homem"; Ap. 5.9 - "com o teu sangue compraste para Deus". 3. São emblemas da natureza humana, não em seu estágio presente de desenvolvimento, mas possuídos de todas as suas perfeições originais; por esta razão as mais perfeitas formas animais - a coragem real do leão, o paciente trabalho do boi, a elevada perspicácia da águia - combinam-se com a do homem (Ez. 1 e 10; Ap. 4.6-8). 4. Estas formas querubínicas representam, não simplesmente as perfeições materiais e terrenas, mas a natureza humana espiritualizada e santificada. São "criaturas vivas" e a sua vida é santa e obediente à vontade divina (Ez. 1.12 - "para onde o Espírito havia de ir, iam"). 5. Simbolizam uma natureza humana exaltada ao lugar de habitação de Deus. Por isso as cortinas interiores do tabernáculo eram entretecidas com figuras de querubins e a glória de Deus se manifestava no propiciatório entre os querubins (Ex. 37.69). Enquanto a espada flamejante nos portais do Éden era símbolo da justiça, os querubins eram símbolos da misericórdia - guardando o "caminho da árvore da vida" para o homem, até pelo sacrifício e renovação que o Paraíso reconquistaria (Gn. 3.24). Em corroboração com este ponto de vista geral, note que os anjos e querubins nunca andam juntos; e que, nas visões finais do livro de Apocalipse, estas formas simbólicas não mais são vistas. Quando a humanidade redimida tiver entrado no céu, as figuras que tipificavam aquela
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humanidade, tendo servido o seu propósito, finalmente desaparecerão. Os leões alados, as águias e os touros, que guardam as entradas do palácio de Nínive, são adoradores e não divindades". Ultimamente tem sido mostrado que o touro alado era chamado "Kerub" quase em tempo tão remoto como o de Moisés. A palavra aparece em sua forma hebraica 500 anos antes que os judeus tivessem qualquer contato com o domínio persa. Os judeus não a derivaram de qualquer raça ariana. Ela pertencia à sua própria língua. A forma variável dos querubins parece provar que eles são aparições simbólicas e não seres reais. Pode-se encontrar um paralelo na literatura clássica. Em Horácio, Carmina, 3.11,15, Cérbero tem três cabeças; em 2.13,34, tem um cento. Breal, Semantics, sugere que as três cabeças podem ser três cabeças de cães, enquanto as cem cabeças podem ser cabeças de cobras. Mas Cérbero também é representado na Grécia como tendo só uma cabeça. Cérbero deve, portanto, ser um símbolo e não uma criatura existente. H. W. Congdon de Wyoming, Ν. Υ., sustentava, contudo, que os querubins são símbolos da vida de Deus no universo como um todo. Ez. 28.14-19 - "querubim ungido para proteger" = o poder do rei de Tiro era de tal modo penetrante em todo o seu domínio, sua soberania tão absoluta e os seus decretos tão prontamente obedecidos, que o seu reinado assemelhavase ao governo divino sobre o mundo. O Senhor Congdon considerava os querubins como uma prova do monismo.
3. Quanto ao seu caráter moral a) Foram criados santos. Gn. 1.31 - "Deus viu tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom"; Jd. 6 - "anjos que não guardavam o seu principado" - αρχήν aqui parece significar o seu começo no caráter santo e não o seu senhorio e domínio original.
b) Foram provados. Inferimos isto de 1 Tm. 5.21 - "os anjos eleitos"; cf. 1 Pe. 1.1,2 - "eleitos ... para a obediência". Parece seguir-se que houve um período de provação,
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durante o qual a obediência ou desobediência deles determinou o seu destino futuro. Mason, Faith of the Gospel, 106-108 - "Gn. 3.14 - 'Porquanto fizeste isto maldita serás' - na sentença contra a serpente parece implicar que o dia da graça de Satanás terminou quando seduziu o homem. Daí em diante foi levado a viver no pó, para triunfar só no pecado auferindo a subsistência do homem, para possuir o corpo ou a alma, para tentar os bons".
c) Alguns preservaram sua integridade. Sl. 89.7 - "a assembléia dos santos"; Mc. 8.38 - "os santos anjos". Shakespeare, Macbeth, 4.3 - "Os anjos ainda têm brilho, embora o mais brilhante caiu".
d) Alguns caíram do estado de inocência. Jo. 8.44 - "Ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade porque não há verdade nele"; 2 Pe. 2.4 - "anjos quando pecaram"; Jd. 6 -"anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram sua própria habitação". Shakespeare, Henrique VIII, 3.2 - "Cromwell, eu te determino que faças voar para longe a tua ambição; Por esse pecado caíram os anjos; como, então, o homem, Imagem do Criador, espera lucrar com isso? ... Quão desgraçado é o homem que depende dos favores dos príncipes! ... Quando ele cai, cai como Lúcifer, nunca recobra a esperança".
e) Os bons confirmam-se na bondade. Mt. 6.10 - "Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu"; 18.10 -"Os anjos no céu sempre contemplam a face de meu Pai, que está no céu"; 2 Co. 11.14 - "um anjo de luz".
f) Os maus confirmam-se na maldade. Mt. 13.19-"o maligno"; 1 Jo. 5.18,19-"o maligno não lhe toca ... o mundo todo jaz no maligno"; cf. Jo. 8.44 - "Vós tendes por pai ao diabo ...
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quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira"; Mt. 6.13 - "livra-nos do maligno". Destas afirmações escriturísticas inferimos que todas as criaturas livres passam por um período de provação; que tal provação não envolve necessariamente uma queda; que é possível um desenvolvimento dos seres morais sem pecado. Outros trechos da Escritura parecem indicar que a revelação de Deus em Cristo é objeto de interesse e de admiração para outras ordens de inteligência que não sejam a humana; que em Cristo eles estão mais próximos de Deus e de nós; em resumo, que eles se confirmam em sua integridade na cruz. Ver 1 Pe. 1.12 - "para as quais coisas os anjos desejam bem atentar"; Ef. 3.10 - "para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus"; Cl. 1.20 - "por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra com as que estão nos céus"; Ef. 1.10 - "tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra" = "a unificação do universo todo em Cristo como o centro divino ... O grande sistema é uma harpa cujas cordas todas estão afinadas a não ser uma, e essa corda dissonante desafina toda a harpa. O universo inteiro sentirá a influência e será reduzido a harmonia quando essa corda, o mundo em que vivemos, for afinada pela mão do amor e misericórdia" - citação livre de Leitch, God's Glory in the Heavens, 327-330. Não é impossível que Deus esteja usando esta terra como uma chocadeira para povoar o universo. Mark Hopkins, Life, 317 – "Enquanto finalmente estiver reunida e preservada, como Paulo diz, uma santa igreja e cada homem aperfeiçoado e a igreja imaculada ... haverá outras formas de perfeição em outros departamentos do universo. Ε quando o grande dia da restituição vier e Deus vindicar o seu governo, pode ser visto entrando de outros departamentos do universo um grande desfile de formas angelicais, grandes legiões brancas de Sírios, vindas de Arcturos e das câmaras do Sul em volta do trono de Deus em torno de cujo centro gira o universo".
4. Quanto às suas funções A) Funções dos anjos bons. a) Eles estão na presença de Deus e o adoram.
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Sl. 29.1,2 - "Dai ao Senhor, ó filhos dos poderosos, dai ao Senhor glória e força. Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome; adorai ao Senhor na beleza da sua santidade" - Perowne: "Pensa-se no céu como um grande templo, e todos os adoradores vestidos com vestes sacerdotais". SI. 89.7 "Deus deve ser em extremo tremendo na assembléia dos santos", i.e. anjos Perowne: "Os anjos são chamados uma assembléia ou congregação, do mesmo modo que a igreja acima, que, como a igreja abaixo, adora e louva a Deus". Mt. 18.10 - Os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai, que está nos céus". Parece que, em alusão a este texto, Dante representa os santos habitando na presença de Deus e ao mesmo tempo prestando humilde serviço aos seus companheiros homens aqui na terra. Em perfeita proporção com a sua aproximação de Deus e com a luz que dele recebem, está a influência que são capazes de exercer sobre os outros.
b) Regozijam-se nas obras de Deus. Jó 38.7 - "todos os filhos de Deus rejubilavam"; Lc. 15.10 - "há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende"; cf. 2 Tm. 2.25 -"se porventura Deus lhes dará arrependimento". Dante representa os anjos que estão mais perto de Deus, a infinita fonte da vida, como avançando sempre para a fonte da juventude, de sorte que os anjos mais velhos são os mais novos.
c) Executam a vontade de Deus, – operando na natureza. Sl. 103.20 - "Anjos seus, ... que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra"; 104.4 - "faz dos ventos seus mensageiros (anjos), dos seus ministros, um fogo abrasador", i.e. relâmpagos. Ver Alford sobre Hb. 1.7 - "Aqui a ordem das palavras hebraicas (no SI. 104.4) não é a mesma dos versos anteriores (ver especialmente o v. 3), onde temos: 'que fez das nuvens o seu carro'. Para esta transposição aqueles que insistem em que a passagem significa 'ele fez dos ventos seus mensageiros' não podem apresentar nenhuma razão". Farrar sobre Hb. 1.7 - de seus anjos faz ventos": "Os rabinos freqüentemente se referem ao fato de que Deus faz os anjos assumirem qualquer for-
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ma que lhe agrade, quer de homem (Gn. 18.2) ou de mulher (Zc. 5.9 - "duas mulheres; havia vento em suas asas"), ou vento, ou chama (Ex. 3.2 - "anjo do Senhor em chama de fogo"; 2 Re. 6.17). Mas essa forma inatingível e fugidia da existência que é a glória dos anjos seria de inferioridade com relação ao seu Filho. Ele não podia revestir-se, como os que dependem da vontade de Deus, com roupas fugidias de fenômenos materiais". John Henry Newman, em sua Apology, vê um anjo em cada flor. Mason, Faith of the Gospel, 82 -"Orígenes não pensava que uma folha de grama nem uma mosca existisse sem seu anjo. Ap. 14.18 - um anjo 'que tinha poder sobre o fogo'; Jo. 5.4 -fonte intermitente sob o controle de um anjo; Mt. 28.2 - a descida do anjo causou um terremoto na manhã da ressurreição de Cristo; Lc. 13.11 - o controle de doenças é atribuído a anjos".
d) Dirigindo os negócios das nações. Dn 10.12,13,21 - "Eu vim por causa das tuas palavras. Mas o príncipe do reino da Pérsia se pôs defronte de mim ... Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me ... Miguel, vosso príncipe"; 11.1 - "Eu, pois, no primeiro ano de Dario, medo, levantei-me para o animar e fortalecer"; 12.1 "E, naquele tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe que se levanta pelos filhos do teu povo". Mason, Faith of the Gospel, 87, sugere a questão "se o espírito da época" ou "o caráter nacional" em qualquer caso particular pode dever-se aos "principados" invisíveis aos quais vivem submissos. Sem dúvida Paulo reconhece em Ef. 2.2 "o príncipe das potestades do ar,... o espírito que opera nos filhos da desobediência". Será que os anjos bons não são responsáveis pela influência nos assuntos nacionais a fim de combater os maus e auxiliar os bons?
e) Velando pelos interesses das igrejas em particular. 1 Co. 11.10- "Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio [i.e., um véu], por causa dos anjos" - que cuidam da igreja e tem cuidado da ordem dela. Matheson, Spiritual Development of St. Paul, 242 "A cobertura do homem é o poderio da mulher. O poder dela é de ministrar e isto é que faz a aliança com alguém maior do que o homem - o anjo. O cristianismo é uma força feminina. O judaísmo tinha considerado a mulher só
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como um instrumento para um fim - a multiplicação da raça. Portanto o judaísmo a tinha degradado. Paulo a restaura à sua original e igual dignidade. Cl. 2.18 - "Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de humildade e culto dos anjos" - falso culto que seria natural se os anjos estivessem presentes para cuidar das reuniões dos santos. 1 Tm. 5.21 "Conjuro-te, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que guardes estas coisas" - os deveres públicos do ministro cristão. Alford considera "os anjos das sete igrejas" (Ap. 1.20) como seres sobre-humanos indicados para representar e guardar as igrejas e isso nas seguintes bases: 1) que a palavra é empregada em outro lugar no livro de Apocalipse só neste sentido; e 2) que nada no livro se dirige a um mestre individualmente, mas a alguém que reflete o aspecto e a sorte da igreja como nenhuma pessoa o poderia. Contudo, preferimos considerar "os anjos das sete igrejas" como significando apenas os pastores das sete igrejas. A palavra "anjo" significa tão somente "mensageiro", e pode ser usada para indicar seres humanos assim como sobre-humanos - ver Ag. 1.13- "Ageu, o embaixador do Senhor" - literalmente "o anjo do Senhor". O emprego da palavra neste sentido figurado não seria incôngruo com relação ao caráter místico do livro de Apocalipse (ver Bíblia Sacra, 12.339). John Lightfoot, Heb. And Talmund. Exerc., 2.90, diz que "anjo" era um termo designativo de oficial ou ancião de uma sinagoga. Segundo a igreja de Irving, os "anjos" constituem uma classe de oficiais.
f) Assistindo e protegendo cada um dos crentes individualmente. 1 Re. 19.5 - "um anjo o tocou e lhe disse [a Elias]: Levanta-te e come"; SI. 91.11,12 - "Aos seus anjos dará ordem a teu respeito para te guardarem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos para que não tropeces com teu pé em pedra"; Dn. 6.22 - Ό meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões para que não me fizessem dano"; Mt. 4.11 "chegaram os anjos e o serviram" - Jesus foi o tipo de todos os crentes; 18.10- "Não desprezeis algum destes pequeninos porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai"; compare v. 6 - "um destes pequeninos que crêem em mim"; ver Meyer, Comen. in loco, que considera estas passagens como prova da doutrina dos anjos da guarda. Lc. 16.22 - "o mendigo morreu e ... foi levado pelos anjos para o seio de
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Abraão"; Hb. 1.14 -"Não são todos eles espíritos ministradores enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?" Compare At. 12.15 - "E diziam: é o seu anjo" - de Pedro que estava batendo à porta; ver Hackett, Com. in loco: a afirmação "expressa uma crença popular prevalecente entre os judeus de que nem se afirma nem se nega". Shakespeare, Henrique IV, 2- parte, 2.2 -"Para o moço - há um anjo bom em volta dele". Per contra ver Broadus, Com. de Mat. 18.10 - "simplesmente se diz em relação aos crentes como uma classe, que há anjos, que são 'seus anjos'; mas não há nada aqui, ou em outro lugar que mostre que um anjo tenha o encargo pessoal de um crente".
g) Punindo os inimigos de Deus. 2 Re. 19.35 - "Sucedeu, pois, que, naquela mesma noite, saiu o anjo do Senhor e feriu no arraial dos assírios cento e oitenta e cinco mil deles"; At. 12.23 - "e, no mesmo instante, feriu-o o anjo do Senhor porque não deu glória a Deus e, comido pelos bichos, expirou".
Uma pesquisa do testemunho geral da Escritura quanto às funções dos anjos bons conduz-nos às seguintes conclusões: Primeira, – que os anjos bons não devem ser considerados como agentes mediadores da providência regular e comum, mas como ministros da sua providência especial nos assuntos da sua igreja. Ele 'faz dos seus anjos vento' e 'chama de fogo', não em seu processo ordinário, mas em conexão com a ostentação especial do seu poder e para os fins morais (Dt. 33.2; At. 7.53; Gl. 3.19; Hb. 2.2). A intervenção deles é aparentemente ocasional e excepcional - não por opção deles, mas só no que lhes é permitido ou ordenado por Deus. Por isso não devemos conceber os anjos como intermediando entre nós e Deus, nem devemos, sem a revelação especial do fato, atribuir-lhes em qualquer caso particular os efeitos que as Escrituras geralmente atribuem à providência divina. Como os milagres, portanto, as aparições angélicas geralmente marcam a entrada de Deus em novas épocas nos desdobramentos dos planos dele. Por isso lemos sobre os anjos na conclusão da criação (Jó
Teologia Sistemática (Strong) 895 38.7); na doação da lei (Gl. 3.19); no nascimento de Cristo (Lc. 2.13); nas duas tentações no deserto e no Getsêmani (Mt. 4.11, Lc. 22.43); na ressurreição (Mt. 28.2); na ascensão (At. 1.10); no juízo final (Mt. 25.31). A substância destas notas pode encontrar-se em Hodge, Systematic Theology, 1.637-645. Milton conta-nos que "Milhões de criaturas espirituais andam pela terra invisível, tanto quando acordamos como quando dormimos". Se isto é verdade ou não é questão de interesse por que tais seres angélicos que se relacionam com assuntos humanos no presente não são vistos pelos homens. A admoestação de Paulo contra o "culto dos anjos" (Cl. 2.18) parece sugerir a razão. Se os homens não se abstêm de cultuar os seus semelhantes, quando estes têm sido sacerdotes ou mediadores das comunicações divinas, o perigo da idolatria seria muito maior se entrássemos em contato mais estreito e constante com os anjos; ver Ap. 22.8,9 - "prostrei-me aos pés do anjo que mas mostrava para o adorar. Ε disse-me: Olha, não faças tal". O fato de que não vemos anjos nos nossos dias não nos torna mais céticos quanto à sua existência como o fato de que nos nossos dias não vemos milagres o que nos faria duvidarmos da sua realidade no Novo Testamento. Como se permitia que os espíritos maus trabalhassem mais ativamente quando a cristandade começou a apelar para os homens, assim os anjos bons também com freqüência foram reconhecidos como executando os propósitos divinos. Nevius, Demon-Possession, 278, entende que os espíritos maus ainda estão trabalhando onde a cristandade entra em conflito com o paganismo e que eles se afastam para o cenário à medida que o cristianismo triunfa. Isto pode ser verdade a respeito dos anjos bons. Caso contrário poderíamos correr o perigo de superestimar sua grandeza e autoridade. O Padre Taylor estava certo quando disse: "As pessoas são melhores do que os anjos". Não adianta cantar: "Eu quero ser um anjo". Nós nunca o seremos. Vítor Hugo estava errado quando dizia: "Eu sou o girino de um arcanjo". John Smith não é um anjo e nunca o será. Mas ele pode ser bem maior do que um anjo porque Cristo não tomou a natureza dos anjos, mas a do homem (Hb. 2.16).
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Como ficou indicado acima, não há razão alguma para crer que mesmo a presença invisível dos anjos é uma constante. O sonho de Doddridge de que os antigos eram impedidos pela interposição angélica parece incorporar uma verdade essencial. Nós acrescentamos as passagens mencionadas no texto: Jó 38.7 - "Quando as estrelas da alva juntas cantavam alegremente e todos os filhos de Deus rejubilavam? Dt. 33.2 - Ό Senhor veio de Sinai ... ele veio com dez mil santos: à sua direita havia para eles o fogo da lei"; Gl. 3.19 -"[A lei] foi ordenada ... por meio dos anjos, pela mão de um mediador"; Hb. 2.2 - "a palavra falada por meio de anjos"; At. 7.53 - "vós recebestes a lei por ordenação dos anjos"; Lc. 2.13 -"e, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais"; Mt. 4.11 - "então o diabo o deixou; e eis que chegaram os anjos e o serviam"; Lc. 22.43 - "E apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava; Mt. 28.2 - "um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra, e sentou-se sobre ela"; At. 1.10 - "E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois varões vestidos de branco"; Mt. 25.31 - "E, quando o Filho do Homem vier na sua glória, e todos os santos anjos, com ele, então se assentará no trono da sua glória".
Segunda, – que o poder deles, por natureza dependentes e derivados, é exercido segundo as leis do mundo espiritual e natural. Eles não podem, como Deus, criar, operar milagres, agir sem meios, sondar os corações. Diferentemente do Espírito Santo, que pode diretamente influir a mente humana, eles podem influir os homens só em meios análogos àqueles pelos quais os homens influenciam-se uns aos outros. Como os anjos maus podem tentar os homens para o pecado, assim também é provável que os anjos bons possam atrair para a santidade. Recentes pesquisas psíquicas desvendam quase ilimitadas possibilidades de influir outras mentes por sugestão. Fracos fenômenos físicos, como o odor da violeta ou a vista de uma pétala de rosa em um livro, pode desencadear o pensamento que muda todo o curso da vida. Uma palavra ou um olhar têm grande poder sobre nós. Fisher, Nature and Method of Revelation, 276 – Os fatos do hipnotismo ilustram a possibilidade de uma mente cair em estranha servidão a um outro". Se um outro homem é capaz de influir-nos
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poderosamente, é perfeitamente possível que os espíritos não sujeitos às limitações da carne possam influir-nos ainda mais. Binet, em suas Alterações da Personalidade, diz que experimentos sobre pacientes histéricas produziram em sua mente a convicção de que, nelas ao menos, "existe uma pluralidade de pessoas ... Quase com certeza estabelecemos que em tais pacientes, ao lado da personalidade principal, há uma secundária, desconhecida pela primeira, que vê, ouve, reflete, raciocina e age"; ver Andover Review, abril, 1800.422. Hudson, Law Psychic Phenomena, 81-143, defende que temos duas mentes: a objetiva e consciente e a subjetiva e inconsciente. Esta opera automaticamente sobre a sugestão da objetiva ou de outras. Em vista dos fatos mencionados por Binet e Hudson, defendemos que a influência dos espíritos angélicos não é mais incrível que a da sugestão dos homens vivos. Não há necessidade alguma de atribuir os fenômenos do hipnotismo a espíritos dos mortos. Nossa natureza humana é maior e mais suscetível à influência espiritual do que comumente cremos. Na verdade, estes fenômenos psíquicos provêemnos da corroboração do nosso Monismo Ético, pois, se em um ser humano pode haver duas ou mais consciências, então no Deus uno não pode haver só três pessoalidades infinitas, mas também muitas finitas.
B) Funções dos anjos maus. a) Eles se opõem a Deus e lutam para derrotar a vontade dele. Isto se acha implícito nos nomes aplicados ao chefe deles. A palavra "Satã" significa "adversário" – primeiro de Deus e em segundo lugar dos homens; o termo "diabo" significa "caluniador" – de Deus para os homens e dos homens para Deus. Indica também a descrição do "homem do pecado" como "aquele que se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus". Jó 1.6 - Satanás aparece entre "os filhos de Deus"; Zc. 3.1 - "o sumo sacerdote Josué ... e Satanás estava à sua direita para se lhe opor"; Mt. 13.39 – "O inimigo que o semeou é o diabo"; 1 Pe. 5.8 – "o diabo, vosso adversário". Satanás calunia Deus para os homens em Gn. 3.1,4 - "É assim
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que Deus disse? ... "certamente não morrereis"; calunia o homem para Deus em Jó 1.9,11 – "Jó teme a Deus debalde? ... Estende a tua mão e toca-lhe em tudo quanto tem e verás se não blasfema de ti na tua face!"; 2.4,5 – "pele por pele e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida. Estende, porém, a tua mão e toca-lhe nos ossos e na carne e verás se não blasfema de ti na tua face!" Ap. 12.10 – "o acusador de nossos irmãos é derribado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite". Note como em oposição ao espírito mau que acusa Deus ao homem e o homem a Deus, está o Espírito Santo, o Advogado, que pleiteia a causa de Deus com o homem e a do homem com Deus: Jo. 16.8 - "quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo"; Rm. 8.26 - "e da mesma maneira o Espírito ajuda as nossas fraquezas porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis ". É por isso que Balaão diz: Nm. 23.21: "Não viu iniqüidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó"; e o Senhor diz a Satanás quando resiste a Josué: Ό Senhor te repreende, ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende" (Zc. 3.2). "Assim ele se põe entre o seu povo e toda a língua que os acusa" (C.H.M.). Para a descrição do "homem do pecado" ver 2 Ts. 2.3,4 - "o qual se opõe"; cf. v. 9 "cuja vinda é sob a eficácia de Satanás". Sobre o "homem do pecado", ver Wm. Arnold Stevens, in Baptist Quarterly Review, julho, 1889: 328-360. Como em Dn. 11.36, o grande inimigo da fé, "se levantará e se engrandecerá sobre todo deus" é o rei sírio Antíoco Epifanes, que é assim descrito por Paulo como o ímpio em 2 Ts. 2.3,4 "o corrupto e ímpio judaísmo da era apostólica". Este só teve sua sede no templo de Deus. Seria sentenciado à destruição quando viria o Senhor na queda de Jerusalém. Mas este cumprimento não exclui um futuro e final cumprimento da profecia. Contrastes entre o Espírito Santo e o espírito do mal: 1. A pomba e a serpente; 2. o pai da mentira e o Espírito da verdade; 3. homens possuídos pelos espíritos mudos e homens que proferem maravilhas em diversas línguas; 4. homicida desde o princípio e o Espírito doador da vida, que regenera a alma e desperta os nossos corpos mortais; 5. o adversário e o Ajudador; 6. o acusador e o Advogado; 7. a ciranda de Satanás e o seleção
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da parte do Senhor; 8. a inteligência organizadora e a maldade do ímpio e a combinação do Espírito Santo entre as forças da matéria e a mente edificadora do reino de Deus; 9. o homem forte totalmente armado e um mais forte do que ele; 10. o maligno que só faz o mal e o Santo que é o autor da santidade no coração do homem. A oposição dos anjos maus no começo e daí em diante desde a queda pode ser a razão por que eles são capazes de se redimir.
b) Eles estorvam o bem-estar temporal e eterno do homem, - por vezes exercendo o controle sobre os fenômenos naturais, porém mais comumente sujeitando a alma humana à tentação. As Escrituras também reconhecem a posse do homem, quer física, quer espiritual, pelos demônios. O controle dos fenômenos naturais é atribuído aos espíritos maus em Jó 1.12,16,19 e 2.7 - "tudo está em tuas mãos" - e Satanás emprega o relâmpago, o redemoinho, a doença, para os seus propósitos; Lc. 13.11,16"uma mulher que tinha um espírito de enfermidade ... a qual há dezoito anos Satanás mantinha presa"; 2 Co. 12.7 - "um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás (άγγελος Σατανα)', para me esbofetear"; 1 Ts. 2.18 "nós bem quisemos, uma outra vez, ir ter convosco, mas Satanás no-Ιο impediu"; Hb. 2.14 - "o que tinha o império da morte, isto é, o diabo". A tentação é atribuída aos espíritos maus em Gn. 3.1 e sgs. - "Ora, a serpente era a mais astuta"; cf. Αρ. 20.2 - "a antiga serpente, que é o diabo e Satanás"; Mt. 4.3 -"chegando-se a ele o tentador"; Jo. 13.27 - "após o bocado, entrou nele Satanás"; At. 5.3 - "por que encheu Satanás o teu coração para que mentisses ao Espírito Santo?" Ef. 2.2 - "espírito que agora opera nos filhos da desobediência"; 1 Ts. 3.5 - "temendo que o tentador vos tentasse"; 1 Pe. 5.8 - "o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar". Nos tempos de Cristo, uma crença popular sem dúvida exagerava a influência dos espíritos maus. Savage, Life after Death, 113 - "Enquanto Deus estava a certa distância, os demônios estavam bem próximos. O ar em torno da terra ficava cheio destes espíritos maus tentadores. Eles causavam o naufrágio dos navios e a repentina morte na terra; causavam ferrugem no
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cereal; feriam e sopravam nas tempestades; tomavam posse dos corpos e das almas dos homens. Faziam aliança e hipotecavam as almas dos homens". Se algum bom término se conseguiu a despeito deles, sentiam que o seu trabalho deve perverter-se no fim e no fim encontrar meios para o mal". No Fausto de Goethe, Margaret detecta o mal em Mefistófeles: "Vós vedes que ele não tem simpatia por nenhuma alma. Está escrito no seu rosto - ele nunca amou ... Sempre que ele se aproxima, eu não posso orar". Mefistófeles se descreve como "Ein Theil von jener Kraft Die stäts das Böse will und stäts das Guteschafft" - "Parte desse poder não entendido que sempre quer o mal e sempre opera o bem" - através da reinante providência de Deus. "O diabo profere suas orações negativas". "Ele tenta aprender a língua basca, mas tem de parar depois de aprender três palavras em dois anos". Walter Scott conta que um aparecimento de enxofre na Escócia foi considerado como devido a uma imersão compulsória de Satanás nesse lugar.
As tentações de Satanás são representadas tanto negativas como positivas, – ele retira a semente lançada e semeia o joio. Ele controla muitos dos espíritos subordinados; há só um diabo, mas muitos anjos e demônios e através da atuação deles Satanás pode cumprir seus propósitos. A atuação negativa de Satanás apresenta-se em Mc. 4.15 - "tendo eles ouvido, vem logo Satanás e tira a palavra que foi semeada no coração deles"; a atuação positiva dele em Mt. 13.38,39 "o joio são os filhos do maligno; e o inimigo que o semeou é o diabo". Um diabo, mas muitos anjos; ver Mt. 25.41 - "o diabo e os seus anjos"; Mc. 5.9 - "respondeu-lhe, dizendo: o meu nome é Legião porque somos muitos"; Ef. 2.2 - "o príncipe das potestades do ar"; 6.12 - "principados ... potestades ...príncipe das trevas deste século ... hostes espirituais da maldade". Não sabemos qual é o modo de acesso de Satanás à mente humana. Talvez movendo o nosso organismo físico, ele produz sutis sinais de pensamento e desejos. Certamente ele tem o poder de apresentar de modo cativante os objetos do apetite e ambição egoística como ele fez com Cristo no deserto (Mt. 4.3,6,9), e apelar para o nosso amor à independência, dizendo-nos, como aos nossos primeiros pais – "sereis como Deus" (Gn. 3.5).
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C. C. Everett, Essays Theol. and Lit., 186-218, sobre o Diabo: "Se os poderes sobrenaturais só se mantivessem distantes e não interferissem nos processos naturais do mundo, não haveria nenhuma doença, nem morte, nem tristeza ... Isto mostra uma fé real, apesar de que talvez inconsciente da bondade e fidedignidade da natureza. Eis aqui o germe de uma religião positiva, apesar de que, quando esta aparece, pode adotar a forma de supernaturalismo". Se Satanás não existisse, então as tentações de Cristo viriam de dentro e mostrariam uma predisposição para o mal da parte dele mesmo. A possessão se distingue da doença corporal ou da mental apesar de que tal doença freqüentemente acompanha a possessão ou resulta dela. – Os demônios falam nas pessoas possessas com conhecimento sobrenatural e Cristo os domina. Jesus reconhece a atuação satânica em tais casos de possessão e regozija-se de expelir os demônios como sinal da queda de Satanás. Estes fatos tornam impossível interpretar as narrativas da possessão demoníaca como descrições populares de condições físicas ou mentais. Parece que a possessão ou é física, como no caso dos endemoninhados gerasenos (Mc. 5.2-4), ou espiritual, como no caso da "jovem que tinha o espírito de adivinhação" (At. 16.16), cujo corpo não parece ter sido afetado. Distingue-se da enfermidade física: ver Mt. 17.15,18-"lunático ... o demônio saiu dele; e, desde aquela hora, o menino sarou"; Mc. 9.25 - "espírito mudo e surdo"; 3.11,12 - "os espíritos imundos ... clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus. Ε ele os ameaçava muito, para que não o manifestassem"; Lc. 8.30,31 - "E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? Ε ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios. Ε rogavam-lhe que não os mandasse para o abismo"; 10.17,18 – "E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome até os demônios se nos sujeitam. Ε disse-lhes: Eu via Satanás, como um raio, cair do céu". Estas descrições de intercâmbio pessoal entre Cristo e os demônios não podem ser interpretadas como metáfora. "Na tentação de Cristo e na possessão dos porcos, não podia haver lugar para a imaginação. Cristo está acima das suas alucinações. Os brutos abaixo delas". Farrar (Life of Christ, 1.337-341 e 2 excurso vii), conquanto admita que a existência e atuação dos
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anjos bons, dá, de modo bem inconsistente, uma interpretação metafórica dos relatos escriturísticos sobre os anjos maus. Encontramos evidência corroborativa da doutrina bíblica no domínio que um homem iníquo freqüentemente exerce sobre os outros; na opinião de alguns médicos modernos que tratam dos insanos, alguns fenômenos, na experiência dos seus pacientes, são melhor explicados supondo uma sujeição da vontade a uma força estranha; finalmente, na influência do Espírito Santo sobre o coração humano. Ver Trench, Miracles, 125-136; Dicionário Bíblico de Smith, 1.586 - "A possessão se distingue da simples tentação pela completa ou incompleta perda da razão ou poder da vontade do sofredor; suas ações, palavras e quase seus pensamentos são governados pelo espírito mau, até que a sua personalidade pareça destruída, ou ao menos reprimida na produção da consciência de uma dupla vontade dentro dele como em um sonho. Nas comuns investidas e nas tentações de Satanás, a própria vontade realiza-se conscientemente e, em conseqüência, assume gradualmente, sem a aparente perda da ação, as características da natureza satânica. Solicita-se, argumenta-se e persuade-se contra o empenho da graça, mas não se rende". T. H. Wright, The Finger of God, argumenta que Jesus, em sua menção aos demoníacos, acomodou-se às crenças da sua época. Fisher, Nature and Method of Revelation, 274, na referência de Weiss a Meyer sobre Mt. 4.24, apresenta o argumento de Meyer contra a possessão demoníaca, da seguinte maneira: 1. a ausência de referências à possessão demoníaca no Velho Testamento e o fato de que os assim chamados endemoninhados eram curados pelos exorcistas; 2. que nenhum caso claro de possessão ocorre atualmente; 3. que não há nenhuma notícia de possessão demoníaca no Evangelho de João, apesar de que a vitória contra Satanás faz parte da obra do Messias e se diz que Satanás entra na mente humana e assume o seu controle (Jo. 13.27); 4. e que os assim chamados endemoninhados não são, como seria de esperar, de temperamento diabólico e cheios de sentimentos malignos para com Cristo. Harnack, Wesen des Christenthums, 38 - "A crença popular na possessão demoníaca deu forma às concepções dos que tinham enfermidades nervosas, de modo que eles se expressavam em linguagem própria só daqueles que realmente eram possessos. Jesus não é um adepto da Ciência Cristã; ele chama doença de doença e saúde de saúde; mas considera toda a doença como prova e efeito da operação do
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maligno". Sobre Mc. 1.21-34, ver Maclaren, em Sunday School Times, 23 de jan de 1904 - "Alguns dizem que esse endemoninhado era epilético. É possível; mas se a epilepsia não é o resultado da possessão, como se justifica a forma da violenta aversão contra Jesus? Ε o que há na epilepsia que dá o discernimento do caráter dele e o propósito da sua missão?" A expulsão que Jesus faz dos demônios, expelindo-os através de uma palavra, é a característica maravilhosa do nosso Senhor. Nevius, Demon-Possession, 240 – "Pode a possessão demoníaca ser apenas uma forma diferente de hipnotismo mais avançada? ... É possível que estes espíritos maus estejam familiarizados com o nosso sistema nervoso e capazes de atuar sobre eles e influenciar a humanidade segundo as leis físicas e psicológicas.... O transe hipnótico pode ocorrer através da energia da força de vontade, atuação do espírito sobre o espírito, sem o emprego de órgãos físicos". Nevius cita F. W. A. Myers, Fortnightly Rev., nov., 1885 – "Segundo o meu ponto de vista, tem-se conseguido tal descoberta como a telepatia, ou a transferência do pensamento e sensações de mente para mente sem a atuação de órgãos do sentido".
c) Contudo, a despeito deles mesmos, executam os planos de Deus punindo os ímpios, flagelando os bons e ilustrando a natureza e destino do mal moral. Castigo do ímpio: SI. 78.49 - "Lançou contra eles o furor da sua ira: cólera, indignação e calamidade, legião de anjos portadores de males"; 1 Re. 22.23 - "Eis que o Senhor pôs o espírito da mentira na boca de todos estes teus profetas e o Senhor falou mal contra ti". Em Lc. 22.31, a ciranda de Satanás realiza a intenção oposta à do joeireiro e a mesma coisa que a triagem do Mestre (Maclaren). Castigar os bons: Jó caps. 1 e 2; 1 Co. 5.5 - "seja entregue a Satanás para a destruição da carne para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus"; cf. 1 Tm. 1.20 - "Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar". Tal entrega a Satanás para a destruição da carne parece envolver quatro coisas: 1) exclusão da igreja; 2) a autoridade de infligir a doença ou morte do corpo; 3) a perda de toda a proteção da parte dos anjos bons, que ministram só aos santos; 4) a
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sujeição às bofetadas e tormentos do grande acusador. Gould, no Am. Com. on 1 Co. 5.5, considera "a entrega a Satanás" simplesmente pôr o homem fora da igreja através da exclusão. Só isto equivale a bani-lo para "o mundo" do qual Satanás é o governante. Os espíritos maus ilustram a natureza e o destino do mal moral: ver Mt. 8.29 - "vieste atormentar-nos antes do tempo?" 25.41 - "fogo eterno preparado para o diabo e os seus anjos"; 2 Ts. 2.8 - "então será revelado o iníquo"; Tg. 2.19 - "os demônios também crêem e estremecem"; Ap. 12.9,12 - "o diabo e Satanás, que engana todo o mundo ... o diabo desceu a vós e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo"; 20.10 - "lançado no lago de fogo ... e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre". Interessante é a questão se a Escritura reconhece qualquer conexão especial dos espíritos maus com os sistemas de idolatria, feitiçaria e espiritismo que sobrecarregam o mundo. 1 Co. 10.20 - "as coisas que os gentios sacrificam, sacrificam-nas aos demônios e não a Deus"; 2 Ts. 2.9 - "a eficácia de Satanás com todo o poder, e sinais, e prodígios de mentira" - parecem favorecer a resposta afirmativa. Mas 1 Co. 8.4 - "quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo não é nada no mundo" parece favorecer a resposta negativa. Esta última pode, contudo, significar que "os seres que os ídolos são destinados a representar não têm existência alguma embora demonstra-se depois (10.20) que há outros seres em conexão com o falso culto" (Ann. Par. Bible, in loco). "O paganismo é o reino do diabo" (Meyer), e enquanto os pagãos pensam sacrificar a Júpiter ou a Vênus, na verdade estão "sacrificando aos demônios", e assim estão promovendo os planos de um espírito maligno que usa estas formas de falsa religião como meio de escravizar as almas deles. De igual modo, a rede de influências que apóiam o papado, o espiritismo, a descrença moderna, é de difícil explicação a não ser que creiamos em uma inteligência sobre-humana que organiza estas forças contra Deus. Nestas, assim como nas religiões pagas, há fatos inexplicáveis apoiados em princípios simplesmente naturais de doença e alucinação. Nevius, Demon-Possession, 294 - "Paulo ensina que os deuses mencionados sob diferentes nomes são imaginários e inexistentes; mas atrás deles e em conexão com eles, há demônios que se valem da idolatria
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para afastar o homem de Deus; e é a estes que os pagãos inconscientemente prestam obediência e serviço. ... É mais razoável crer que os sofrimentos do povo iludido foram causados pelo diabo, não pelas assim chamadas feiticeiras. Substituamos "artifícios diabólicos" por "feitiçaria" ... Se as cortes em Salém procedessem na conjectura bíblica de que o testemunho dos que estão sob o controle dos espíritos maus, neste caso, seriam falsas, uma coisa como a tragédia de Salém nunca teria sido conhecida".
Uma pesquisa do testemunho da Escritura com respeito às funções dos espíritos maus conduz-nos às seguintes conclusões gerais: Primeira, – o poder dos espíritos maus sobre os homens não independe da vontade humana. Não se pode exercer este poder sem pelo menos o consentimento da vontade humana e pode-se enfrentá-lo e livrar-se dele através da oração e fé em Deus. Lc. 22.31,40 - "Satanás vos pediu para cirandar como trigo ... orai para que não entreis em tentação"; Ef. 6.11 - "Revesti-vos de toda a armadura de Deus para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo"; 16 "o escudo da fé com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno"; Tg. 4.7 - "resisti ao diabo e ele fugirá de vós"; 1 Pe. 5.9 - "ao qual resisti firmes na fé". O carvão já está no coração humano em forma de inclinação corrompida; Satanás só ateia o fogo. A dupla fonte do pecado é ilustrada em Atos 5.3,4 - "Por que encheu Satanás o teu coração? ... Por que formas-te este desígnio no teu coração?" Ter-se-ia resistido o impulso satânico e "depois de vendido" sugere que ainda estava "no poder dele mesmo" como estava a terra que ele tinha vendido (Maclaren). A alma é um castelo em que o rei dos espíritos maus não pode entrar sem permissão. Bispo Wordsworth: "O diabo pode tentar-nos a cair, mas não pode fazer-nos cair; ele pode persuadir-nos a lançarmo-nos abaixo, mas ele não pode lançar-nos". E. G. Robinson: "Cabe a nós deixar que o diabo tenha o controle sobre nós. Despachamos sobre os ombros do diabo muitos dos erros que cometemos assim como Adão teve a petulância de dizer a Deus que a mulher é que cometeu o erro". Tanto Deus como Satanás estão à porta e batem, mas nem o céu nem o inferno podem entrar a não ser que
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queiramos. "Não podemos impedir que os pássaros sobrevoem nossas cabeças, mas podemos impedi-los de fazer ninhos nos nossos cabelos". Mt. 12.43-45 – "quando o espírito imundo tem saído do homem" – sugere que o homem que se livra de um vício, mas não ocupa sua mente com coisas melhores está em condições de ser nova vítima de possessão, "sete outros espíritos piores do que ele" implica que alguns demônios são mais ímpios que outros e assim mais duros de serem expelidos (Mc. 9.29). Os judeus tinham expelido a idolatria, mas outros piores pecados tinham se apossado deles. Hudson, Law of Psychic Phenomena, 129-Os que se submetem à hipnose não podem ser controlados de modo a fazer o que ele sabe que está errado a não ser que ele voluntariamente consinta". A. S. Hart: "A não ser que alguém queira ser hipnotizado ninguém pode exercer-lhe sua influência. Quanto mais inteligente se é, mais suscetível. O hipnotismo requer do sujeito dois terços da obra, enquanto o instrutor exerce só um terço - ao contar o que o sujeito faz. Não é uma influência inerente, nem um dom; mas pode ser aprendido por qualquer que lê. É impossível compelir uma pessoa a praticar o erro conquanto sob influência, pois o paciente retém uma consciência da diferença entre o certo e o errado". Hoffding, Outlines Psychology, 330-335 - "Algumas pessoas tem o poder de, intencionalmente, invocar alucinações; mas freqüentemente ocorre-lhes como ao Zauberlehrling (O Aprendiz de Magia, ou Aprendiz de Feiticeiro), em que os fantasmas ganham poder sobre eles e não serão novamente dispersos. O Pescador de Goethe - 'Ela quase o derrubou e quase o afundou' – repete a dualidade no segundo termo; pois afundar é deixar que alguém se afunde". Manton, The Puritan: "Um estranho não pode afastar um cão do rebanho, mas o Pastor pode fazê-lo com uma palavra; assim o Senhor pode facilmente repreender Satanás quando o acha mais violento". Spurgeon, o moderno puritano, assinala o que se disse acima: "Ó senhor, quando sou afligido pelo meu grande inimigo, afasta-o, rogo-te! Deixa-me ouvir uma voz dizendo: Ό Senhor te repreende, ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende!' (Zc. 3.2). Porque tu me elegeste, repreende-o, rogo-te, e livra-me da 'força do cão'! (SI. 22.20)".
Teologia Sistemática (Strong) 907 Segunda, - o poder deles é limitado pela vontade de Deus, tanto no tempo como no espaço. Os espíritos maus nem são onipotentes, nem oniscientes, nem onipresentes. Devemos atribuir a doença e a calamidade natural à atuação deles só quando isto for matéria de revelação especial. Como os espíritos maus se opõem a Deus, este os compele a servir aos propósitos dele. O poder de fazerem o mal dura apenas um lapso e o juízo final e o castigo vindicarão a permissão que Deus lhes concedeu de praticarem o mal. 1 Co. 10.13 - "fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes com a tentação dará o escape, para que a possais suportar"; Jd. 6 - Os anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até o juízo daquele grande Dia". Lutero viu Satanás mais perto do homem do que o seu paletó, ou sua camisa, ou até mesmo a sua pele. Em todos os infortúnios ele via a obra do diabo. Havia uma conflagração na cidade? Olhando mais de perto, você pode ver um demônio soprando a chama. Ele atribuía a peste e a tempestade a Satanás. Tudo isto eram resquícios dos exageros medievais do poder de Satanás. Naquela época, supunha-se que os homens pudessem fazer pactos com o maligno, através dos quais o poder sobrenatural se adquiria com o preço da perdição final (ver Fausto de Goethe). A Escritura não fornece garantia para tais representações. Parece que se permitiu uma atividade especial de Satanás na tentação e na possessão durante o ministério do nosso Salvador, para que o poder de Cristo viesse a ser demonstrado. Através da sua morte Jesus "aniquilou o que detinha o império da morte, isto é, o diabo" (Hb. 2.14) Έ, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo (Rev. e At. do Brasil) na cruz" (Cl. 2.15). 1 Jo. 3.8 - "Para isto, o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo". Os espíritos maus agora existem e agem só sob sofrimento. McLeod, Temptation of our Lord, 24 - "A força de Satanás é limitada: 1) pelo fato de que ele é uma criatura; 2) por causa da providência de Deus; 3) por causa da sua própria iniqüidade".
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Genung, Epic of the inner Life, 136 - "Não tendo nem princípio fixo em si mesmo, nem conexão com a fonte da ordem exterior, Satanás não tem capacidade profética. Ele pode apelar para o acaso, mas não pode prever. Assim Mefistófeles insolentemente gaba-se de que ele pode desviar Fausto: 'Quanto você quer apostar? Há ainda uma oportunidade de ganhá-lo, Desde que você se entregue ao meu caminho para instruí-lo!' Ε em Jó 1.11 ; 2.5, Satanás desafia: Verás se ele não blasfema de ti na tua face'". William Ashmore: "É Satanás onipresente? Não, mas é muito sagaz. É ele limitado? Sim, mas com corda muito frouxa". Na história persa, Deus espalhou a semente. O diabo enterrou-a e mandou a chuva apodrecê-la. Mas logo ela surgiu e o deserto floriu como a rosa.
II. OBJEÇÕES À DOUTRINA DOS ANJOS 1. À doutrina dos anjos em geral Objeta-se: a) Que se opõe ao ponto de vista científico moderno do mundo como sistema de forças e leis definidas. - Respondemos que, qualquer que seja a verdade que possa haver neste ponto de vista moderno não exclui o papel da atuação livre divina ou humana. Portanto, não exclui a possibilidade da atuação angélica. Ladd, Philosophy of Knowledge, 332 - "É mais fácil crer nos anjos do que no éter; em Deus do que nos átomos; e na história do seu reino como uma auto-revelação divina do que no processo de evolução puramente mecânica dos físicos e biólogos".
b) Que se opõe a doutrina moderna do espaço infinito acima e abaixo de nós – espaço povoado de mundos. Com a aceitação da velha concepção do firmamento, como um limite separando este mundo das regiões além, sustenta-se que devemos abandonar toda a crença em um céu dos anjos. – Respondemos que as noções do universo infinito, do céu como um lugar definido e dos espíritos como confinados a um lugar fixo
Teologia Sistemática (Strong) 909 não têm garantia certa quer na razão, quer na Escritura. Nada conhecemos dos modos de existência de espíritos puros. O que conhecemos do universo é certamente finito. Parece que os anjos são seres incorpóreos e, como tais, livres de todas as leis da matéria e do espaço. O céu e o inferno são essencialmente condições correspondentes ao caráter - em que o corpo e as circunstâncias da alma expressam e refletem seu estado interior. A coisa principal em que se deve insistir é, portanto, o estado; o lugar é somente incidental. A declaração de Cristo a respeito daquele que "pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo (Mt. 10.28) fornece alguma razão para crer que o inferno é também um lugar. Não nos é revelado onde estão o céu e o inferno. Mas não é necessário supor que estão em alguma parte remota do universo; por nada sabermos, eles podem estar pouco atrás de nós, de modo que, se os nossos olhos estivessem abertos, como os do servo do profeta (2 Re. 6.17), nós mesmos os veríamos. Baseados em Ef. 2.2 - "príncipe das potestades do ar" e 3.10 – "principados e potestades nos céus" - alguns têm atribuído à atmosfera da terra a habitação dos espíritos angélicos, tanto bons como maus. Mas as expressões "ar" e "lugares celestiais" podem simplesmente ser designações metafóricas do seu método espiritual de existência. A filosofia idealista, que considera o tempo e o espaço não como condicionantes do pensamento de Deus, mas tão somente como formas subjetivas do nosso pensar humano, possivelmente pode fornecer algum subsídio na consideração deste problema. Se a preocupação é apenas a expressão da mente e da vontade de Deus, sem existência independente da sua inteligência e vontade, a questão de lugar deixa de ter significação. Nesse caso o céu é tão somente o estado em que Deus se manifesta na sua graça e o inferno é o estado em que um ser moral se encontra em oposição a Deus e Deus em oposição a ele. Cristo pode manifestar-se aos seus seguidores em toda a parte da terra e a todos habitantes do céu ao mesmo tempo (Jo. 14.21 ; Mt. 28.20; Ap. 1.7). De igual modo, os anjos, seres puramente espirituais, podem independer das leis de espaço e de tempo sem se limitar a qualquer local fixo.
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Preferimos, portanto, deixar sem decisão o assunto lugar e aceitar a existência e operação tanto dos anjos bons como dos maus como matéria de fé, sem professar o entendimento das suas relações com o espaço.
2. À doutrina dos anjos maus em particular Objeta-se que: a) A idéia da queda dos anjos é auto contraditória porque uma queda determinada pelo orgulho pressupõe orgulho - isto é, uma queda antes da queda. -Respondemos que a objeção confunde a ocasião do pecado com o pecado em si. O motivo externo da desobediência não é a desobediência. A queda ocorreu só quando a livre vontade escolheu o motivo exterior. Só quando egoisticamente se adotou o motivo da independência, o inocente desejo do conhecimento e do poder se tornaram orgulho e pecado. Como uma vontade má poderia originar-se nos espíritos criados é um problema insolúvel. Nossa fé na santidade de Deus, contudo, compele-nos a atribuir a origem desta vontade má, não ao Criador, mas à criatura. Não pode haver nenhuma propensão pecaminosa antes que haja pecado. A razão do primeiro pecado não pode ser o próprio pecado. Isto seria torná-lo um desenvolvimento necessário; negar a santidade de Deus. o Criador; deixar a base do teísmo em favor do panteísmo.
b) É irracional supor que Satanás teria sido capaz de mudar sua natureza toda através de um simples ato, de modo que, desde então, só desejasse o mal. - Respondemos, porém, que as circunstâncias de tal decisão nos são desconhecidas; conquanto o poder dos atos simples de mudar permanentemente o caráter é matéria de observação entre os homens. Um exemplo do efeito sobre o caráter e a vida do simples ato de falsidade ou sonegação. O primeiro frasco de bebida intoxicante e a primeira
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operação sugestiva de impureza estabelece freqüentemente traços nervosos no cérebro e associações mentais irreversíveis dominantes em toda a vida. "Semeia um ato e colherá um hábito; semeia um hábito e colherá um caráter; semeia um caráter e colherá um destino". O que é verdade a respeito do homem também pode sê-lo a respeito dos anjos.
c) É impossível que tão sábio ser entre na desesperançada rebelião. - Respondemos que nenhuma soma do simples conhecimento garante a ação moral correta. Se os homens gratificam a presente paixão, apesar de seu conhecimento de que o pecado envolve a miséria presente e a perdição futura, não é impossível que Satanás possa ter feito o mesmo. Scherer, Essays on English Literature, 139, apresenta a seguinte objeção: "A idéia de Satanás é contraditória; porque se opõe ao conhecimento de Deus e ainda tenta rivalizar contra ele". Entretanto, devemos lembrar que o entendimento é servo da vontade e é por ela obscurecido. Muitos homens inteligentes deixam de ver de que depende a sua paz. É a própria loucura do pecado que persiste na iniqüidade mesmo quando vê e teme a aproximação do juízo de Deus. Jonathan Edwards: "Embora o diabo seja muito sagaz e sutil, ainda ele é um dos maiores tolos e cabeças duras do mundo como são os mais sutis iníquos. O pecado é de tal natureza que, estranhamente, envaidece e torna estulta a mente". Uma das peças de Ben Johnson tem este título: "O Diabo é um Asno". Schleiermacher, Die Christliche Glaube, 1.210, argumenta que a iniqüidade contínua deve ter enfraquecido o entendimento de Satanás de sorte que ele não pode mais ser temido. Ε acrescenta: "Nada mais fácil do que contender contra o maligno emotivo". Por outro lado, parece que, na Escritura, há evidência de uma ira progressiva e uma atividade devastadora no caso do maligno, a começar em Gênesis, culminando no Apocalipse. Com esta crescente maldade há também abundante evidência da sua ignorância. Podemos exemplificar os equívocos do diabo ao representar erroneamente 1. Deus ao homem (Gn. 3.1 - "É assim que Deus disse?"). 2. O homem ao próprio homem (3.4 - "Certamente não morrereis"). 3. O homem a Deus (Jó 1.9 -"Porventura Jó teme a Deus em vão?"). 4. Deus a ele mesmo (Mt. 4.3 - "Se tu és Filho de Deus"). 5. Ele mesmo ao homem (2
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Co. 11.14 - "Satanás se transfigura em anjo de luz"). 6. Ele mesmo a si mesmo (Ap. 12.12 - "o diabo desceu a vós e tem grande ira" - pensando que podia opor-se a Deus com sucesso ou destruir o homem).
d) Criar e manter espíritos que sabemos virão a ser maus e farão o mal é inconsistente com a benevolência de Deus. - Respondemos que não é mais inconsistente com a benevolência de Deus do que a criação e preservação dos homens cuja ação Deus dirige para o avanço dos seus propósitos e cuja iniqüidade finalmente ele traz à luz e pune. A sedução do puro pelo impuro, a chantagem, a escravização e a guerra, tudo isso tem sido permitido entre os homens. Não é mais inconsistente com a benevolência de Deus permiti-los entre os espíritos angélicos. Caroline Fox conta de Emerson e Carlyle que este certa feita conduziu seu amigo, sereno filósofo, pelas abominações das ruas de Londres à meia-noite, perguntando-lhe com humor terrível, freqüentemente, em cada um dos poucos passos: "E agora? Você crê no diabo?" Emerson respondeu que, quanto mais ele via o povo inglês, mais e melhor pensava neles. Talvez porque, com tais abismos abaixo deles, podiam, não obstante, alcançar tais altitudes da civilização. Até mesmo o vício e a miséria, canalizados para o bem, e o destino dos anjos maus podem tornar-se uma advertência para o universo.
e) A noção de organização dos espíritos maus é autocontraditória porque a natureza do mal é separar e dividir. - Respondemos que tal organização dos espíritos maus não é mais impossível do que a organização dos homens ímpios com o propósito de ampliar os seus fins egoísticos. A aversão comum a Deus pode constituir um princípio de união entre eles como entre os homens. Os ímpios são bem sucedidos em seus planos só quando de alguma forma aderem ao bem. Mesmo uma súcia de roubadores deve ter leis e há um tipo de "honra entre os ladrões". De outra forma o mundo seria um pandemônio e a sociedade seria o que Hobbes chamava: "bellum omnium contra omnes (guerra de todos contra todos)". Ver Whitehouse, art. sobre
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Satanás, no Hastings' Bible Diet: "Algumas personalidades são centros ganglionados de um sistema nervoso, encarnação da má influência. A Bíblia ensina que Satanás é o seu centro". Entretanto, o poder organizador de Satanás tem suas limitações. Nevius, Demon-Possession, 270 - "Satanás não é onisciente e não é certo que todos os demônios estão sob o seu inteiro controle. A falta de vigilância da parte do diabo e a ambição dos seus anjos podem obstruir e adiar a execução dos seus planos do mesmo modo que entre os homens". Um parlamentar inglês consolava-se, dizendo: "Se as pulgas tivessem todas a mesma mente, elas nos poriam fora da cama". Platão, Lisis, 214 - "Os bons são iguais uns aos outros, e amigos uns dos outros, e os maus nunca formam unidade uns com os outros ou consigo mesmos; porque eles são apaixonados e incansáveis, e qualquer variação e inimizade provavelmente formam união ou harmonia com outra coisa qualquer".
f) A doutrina é moralmente perniciosa porque transfere a culpa do pecado humano ao ser ou seres que tentam os homens a isso. Respondemos que nem a consciência, nem a Escritura permitem que a tentação seja uma desculpa para o pecado ou considera Satanás como tendo poder para coagir a vontade humana. A objeção, contudo, contradiz nossa observação, - pois só onde se reconhece a existência pessoal de Satanás reconhece-se o pecado em sua verdadeira natureza. O caráter diabólico do pecado torna-se mais culposo e detestável. A imoralidade está, não na perseverança, mas na negação da doutrina. O abandono da doutrina de Satanás está em conexão com a frouxidão na administração da justiça criminal. A pena vem a ser considerada somente como dissuasiva e reformatória.
g) A doutrina degrada o homem, representando-o como instrumento e escravo de Satanás. - Respondemos que, na verdade, ela mostra que seu verdadeiro estado acha-se degradado, mas apenas como resultado da exaltação da nossa idéia de sua dignidade e de sua possível glória em Cristo. O fato de que se sugeriu o pecado do homem vir de fora e não de
Teologia Sistemática (Strong) 914 dentro pode ser uma circunstância mitigadora que torna possível sua redenção. Ao invés disso ela põe um estigma sobre a natureza humana, dizendo que ela não é decaída – que sua condição presente é o seu estado original e normal. Nem se deve atribuir ao homem uma dignidade que ele não possui se em conseqüência disso privamo-lo da dignidade que ele pode possuir. O pecado de Satanás é, em essência, o pecado contra o Espírito Santo para o qual não pode haver o "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc. 23.34), porque ele escolheu o mal com a mala gaudia mentis (maus prazeres da mente), ou a mais nítida intuição de que isto é mau. Se o diabo não existe, então o próprio homem é o diabo. Tem-se dito que Voltaire, sem crer em um diabo, o via em toda a parte – até mesmo onde ele não estava. O cristão do Peregrino de Bunyan, recebe o consolo quando acha que as sugestões blasfemas que lhe vieram no vale escuro eram o inimigo que o perseguia. Se toda a tentação viesse de dentro, o nosso caso pareceria desesperador. Mas, se "um inimigo é quem fez isso" (Mt. 13.28), então há esperança. E, então, podemos aceitar a máxima: "Nullus diabolus, nullus Redemptor (Se não há diabo, não há Redentor)". Os unitários não têm nenhum Capitão da Salvação e não têm nenhum Adversário contra quem contenderiam.
III. EMPREGOS PRÁTICOS DA DOUTRINA DOS ANJOS 1. Emprego da doutrina dos anjos bons a) Ela nos dá um novo senso da grandeza dos recursos divinos e da graça de Deus na nossa criação ao pensar na multidão das inteligências não decaídas que executaram os propósitos divinos antes que o homem aparecesse. b) Fortalece nossa fé no cuidado providencial de Deus ao saber que se delega aos espíritos de tão alto nível ministrar às criaturas que estão envolvidas com as tentações e conscientes do pecado.
Teologia Sistemática (Strong) 915 c) Ensina-nos a humildade, porque seres de tanto maior conhecimento e poder que os nossos alegremente executam, anônimos, estes trabalhos em favor daqueles cuja única reivindicação é a de serem filhos do mesmo Pai. d) Ajuda-nos na luta contra o pecado a aprender que estes mensageiros de Deus estão perto para assinalar o nosso erro se caímos e sustentar-nos se resistimos à tentação. e) Amplia nossas concepções da dignidade do nosso ser e das ilimitadas possibilidades da nossa futura existência para lembrar estas formas de típica inocência e amor que louvam e servem a Deus incessantemente no céu. Exemplo de aparição de anjos na vida de Jacó em Betel (Gn. 28.12 – Conversão de Jacó?) e em Maanaim (Gn. 32.1,2 - dois acampamentos, de anjos, à direita e à esquerda; cf. SI. 34.7 - "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra"); assim também, o Anjo que, em Peniel, lutou com Jacó ao entrar na terra prometida (Gn. 32.24; cf. Os. 12.3,4 - "no vigor da sua idade, lutou com Deus; lutou com o anjo e prevaleceu"), e "o anjo me livrou de todo o mal" (Gn. 48.16) ao qual Jacó se refere no leito da morte. Edmund Spenser, The Faerie Queen (A Rainha das Fadas): "E há preocupação no céu? e há amor nos espíritos celestiais para com as criaturas abaixo para que possa compadecer-se delas no seu mau comportamento? Há; caso contrário haveria muito mais homens desvalidos do que animais. Mas ah! quanta graça do altíssimo Deus que ama de tal modo as suas criaturas e abrange todas as suas obras com misericórdia, que benditos anjos ele manda para um lado e para outro para servir ao ímpio, para servir o seu inimigo ímpio! Quão freqüentemente as suas salvas de prata partem e vêm socorrer-nos, socorrer o necessitado! Com que freqüência as suas asas douradas cortam os imensos céus como arautos voadores enfrentando sórdidos inimigos a fim de, militantes, auxiliar-nos! Lutam por nós; estão em vigília, na devida guarda e os brilhantes esquadrões rodeiam os nossos pés; e tudo por amor, nada por recompensa. Por que o Deus celeste teria tanta consideração para com os homens?"
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Isto nos mostra que o pecado não é mera limitação, a fim de ver inteligências que mantiveram sua integridade. Shakespeare, Henrique VIII, 2.2 - "Ele aconselha o divórcio - uma perda daquela que pendurou vinte anos em torno do seu pescoço e mesmo assim não perdeu o seu brilho; daquela que o ama com a excelência com que os anjos amam os homens; daquela que ao desabar o maior golpe da fortuna, bendirá o rei". Medida por Medida, 2.2 -"Ó homem, ó homem orgulhoso, apresenta fantásticos artifícios perante os altos céus, e faz chorar os anjos".
2. Empregos da doutrina dos anjos maus a) Ela ilustra a real natureza do pecado e a profundidade da ruína a que ele pode levar a alma a refletir a condição moral presente e eterna miserabilidade a que estes espíritos, tão altamente dotados, chegaram por sua rebelião contra Deus. b) Inspira um temor salutar e aversão das primeiras abordagens do mal vindas de dentro ou de fora para lembrar que estes podem ser os avanços cobertos de um ser pessoal e maligno que procura derrotar nossa virtude e envolver-nos em nossa própria apostasia e destruição. c) Envolve-nos em Cristo como o único Ser que é capaz de livrarnos e a outros do inimigo de todos os bons. d) Ela nos ensina que a nossa salvação é inteiramente de graça porque não se providenciou nenhuma expiação e nenhuma renovação para tão grande multidão de espíritos rebeldes - a simples justiça teve seu curso e nenhum merecimento se interpôs ou salvou. Philippi em sua Glaubenslehre (Doutrina), 3.151-284, sugere as seguintes relações da doutrina de Satanás com a do pecado: 1. Porque Satanás é um anjo decaído, que outrora foi puro, o mal não é auto-existente ou necessário. O pecado não pertence à substância que Deus criou, mas é um acréscimo posterior. 2. Porque Satanás é uma criatura essencialmente espiritual, não pode ter sua origem na natureza simplesmente sensorial, ou simplesmente uma natureza física. 3. Porque Satanás não é uma criatura fraca e de pobres dotes, o pecado não é um resultado necessário da
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fraqueza ou limitação. 4. Porque Satanás está confirmado no mal, o pecado não é necessariamente transitório ou ato remediável da vontade. 5. Porque em Satanás o pecado não termina, não se trata de um passo desenvolvido pela criatura, ou um estágio do progresso para algo mais elevado e melhor. "Eles nunca submergem tão fundo, Eles nunca sobem tão alto; eles nunca conhecem tais profundezas do sofrimento, Tais alturas da majestade. O Salvador não une a sua natureza à deles; Porque eles não derramam o sangue divino, nem soltam um só gemido". Se não lhes foi provida redenção alguma, pode ser porque: 1. o pecado teve origem com eles; 2. o pecado que eles cometeram é "pecado eterno" (cf. Mc. 3.29); 3. eles pecaram com nítida inteligência e mais completo conhecimento do que nós (cf. Le. 23.34); 4. seu ser incorpóreo agravou o seu pecado e assimilou-o ao nosso pecado contra o Espírito Santo (cf. Mt. 12.31,32); 5. este ser incorpóreo não deu nenhuma oportunidade para Cristo objetivar sua graça e visivelmente juntarse a ele (cf. Hb. 2.16); 6. a persistência deles no mal apesar do crescente conhecimento do caráter de Deus apresentado na história humana, resultou em endurecimento do coração que não é suscetível de salvação. Contudo, os anjos foram criados em Cristo (Cl. 1.16); consistem nele (v. 17); Cristo deve sofrer por causa dos pecados deles; Deus os salvaria, se consistentemente ele pudesse. O Dr. G. W. Samson sustentava que o Logos tornou-se um anjo antes de tornar-se homem e isto explica suas aparições como "o anjo do Senhor" no Velho Testamento (Gn. 22.11). Não se afirma que todos anjos decaídos serão eternamente atormentados (Ap. 14.10). Em termos igualmente fortes (Mt. 25.41; Ap. 20.10) declara-se a existência de um lugar de castigo eterno para os maus, mas não cremos que todos homens irão para lá apesar de que todos homens são maus. O silêncio da Escritura sobre uma provisão de salvação para os anjos decaídos não é prova de que não haverá tal provisão. 2 Pe. 2.4 mostra que os anjos maus não receberam o juízo final, mas estão em estado temporário de existência e tal estado final ainda está por ser revelado. Se Deus ainda não proveu, pode ele não prover-lhes a redenção e os "anjos eleitos" (1 Tm. 5.21) talvez sejam os que Deus predestinou para estarem na futura provação e serem salvos, enquanto os que persistem em sua rebeldia serão consignados ao lago de fogo e enxofre (Ap. 20.10)?
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O guardador de uma jovem tigre deu uns tapinhas de carinho na cabeça dela e ela lambeu as mãos dele. Mas quando ela se tornou mais velha agarrou a sua mão com os dentes e começou a morder. Ele puxou a mão em cortes. Aprendeu a não acariciar um tigre. Aprendamos a não acariciar Satanás. Não "ignoremos os seus ardis" (2 Co. 2.11). Não é bom pesadas armas de fogo no canto da chaminé. Os que têm medo da ader (tipo de víbora) não se aproximarão do seu sibilado". Talmage: "Ó Senhor, ajuda-nos a ouvir o chocalho da cascavel antes de sentirmos os seus ferrões", Ian Maclaren, Cure of Souls, 215 - O pastor treme por causa de uma alma, "quando vê o destruidor rondando como um predador venenoso no ar e quer que ela esteja sob as asas de Cristo". Thomas Κ. Beecher: "Suponha que eu more na Broadway, onde o povo se levanta sempre em diferentes direções. Deixaria eu portas e janelas abertas, e diria à multidão de estranhos: Entrem pelas minhas portas, atravessem o meu salão, penetrem a sala de visitas, sintam-se em casa na minha sala de jantar, subam aos meus aposentos? Não! Fecharia as janelas, trancaria as portas, passaria a chave contra os intrusos e as abriria só para mim e para os meus e para aqueles que tenho por companheiros. Contudo, aqui vemos tolos e tolas estendendo seus braços e dizendo aos espíritos do vasto abismo: 'Entrem e tomem posse de mim. Escrevam com as minhas mãos, pensem com o meu cérebro, falem com os meus lábios, andem com os meus pés, usem-me como um meio para o que quiserem'. Deus respeita a santidade do espírito do homem. Até mesmo Cristo se põe à porta e bate. Espírito Santo, enche-me de modo que não haja lugar para nenhum outro". (Ap. 3.20; Ef. 5.18).
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PARTE V - ANTROPOLOGIA, OU DOUTRINA DO HOMEM Capítulo I I. PRELIMINARES I. O HOMEM, UMA CRIAÇÃO DE DEUS Ε UM FILHO DE DEUS
Declara-se o fato da criação do homem em Gn. 1.27 - "Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou"; 2.7 - Έ formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vi vente". a) As Escrituras, por um lado, negam a idéia de que o homem é um simples produto das forças naturais irracionais. Elas ligam a sua existência a uma causa diferente da simples natureza, a saber, é um ato criativo de Deus. Compare Hb. 12.9 - "o Pai dos espíritos"; Nm. 16.22 - "Deus dos espíritos de toda carne"; 27.16 - "Senhor, Deus dos espíritos de toda carne"; Ap. 22.6 – "O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas". Bruce, The Providential Order, 25 - "A fé em Deus pode permanecer intacta, apesar de que nós admitimos que, em todas as características, físicas e psíquicas, o homem não é exceção à lei universal do crescimento, não é um hiato na continuidade do processo evolutivo". A expressão "simples natureza" não quer dizer separação de Deus. Ao tratarmos anteriormente da doutrina da criação de um modo geral mostramos que as leis da natureza são apenas os métodos reguläres de Deus, e que a concepção da natureza independente de Deus é irracional. Se a evolução da criação inferior não pode ser explicada sem levar em conta a atuação original de Deus, muito menos o surgimento do homem, coroa de todas as coisas criadas. Hudson, Divine Pedigree of Man: "O espírito se liga ao homem porque todas as coisas derivam de Deus, que é espírito".
Teologia Sistemática (Strong) 920 b) Mas, por outro lado, as Escrituras não revelam o método da criação do homem. O registro da criação não nos informa se o sistema físico do homem é ou não derivado, por descendência natural, dos animais inferiores. Como a determinação "Produza a terra seres viventes" (Gn. 1.24) não exclui a idéia de criação mediata, através da geração natural, assim a formação do homem "do pó da terra" (Gn. 2.7) não determina se a criação do corpo do homem foi mediata ou imediata. Podemos crer que o homem mantinha com o mais elevado bruto que o antecedeu a mesma relação que o pão e o peixe com os cinco pães e dois peixes (Mt. 14.19), ou que o vinho mantinha com a água que foi transformada em Caná (Jo. 2.7-10), ou que o óleo aumentado manteve o original no milagre do VT (2 Re. 4.1-7). O "pó" antes de receber o sopro do espírito, pode ter sido um pó animado. Podem ter sido empregados os meios naturais, até onde possível. Sterrett, Reason and Authority in Religion, 39 "Nossa hereditariedade procede de Deus, embora provindo de formas inferiores de vida, e o im também é Deus, apesar de que através da humanidade imperfeita". A Evolução não torna supérflua a idéia do Criador, porque ela é apenas um método de Deus. É perfeitamente consistente com a doutrina escriturística da criação que o homem apareça a seu tempo, governado por leis diferentes das da criação do bruto, embora desenvolvendo-se a partir do bruto, do mesmo modo que o alicerce de uma casa de pedra é perfeitamente consistente com a estrutura de madeira edificada sobre ela. Tudo depende do plano. Uma evolução ateísta e sem desígnio não pode incluir o homem sem excluir o que o cristianismo considera essencial ao homem; ver GriffithJones, Ascent Through Christ, 43-73. Mas a evolução teísta pode reconhecer o processo todo da criação do homem como obra da natureza assim como de Deus. Schurman, Agnosticism and Religion, 42 - "Você não é o que era na sua origem, mas aquilo em que você se tornou". Huxley disse a respeito dos brutos: "Quer provindo deles, quer não, sem dúvida o homem não é um deles". Pfleiderer, Philos. Religion, 1.289 - "A dignidade religiosa do homem apóia-se totalmente naquilo que ele é, não no modo ou maneira como ele se
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tornou o que é". Porque ele veio do animal irracional, não se segue que é um animal irracional. Nem o fato de que a existência do homem pode remontar a um ancestral bruto fornece razão suficiente por que o bruto deva tornar-se um homem. Eis aqui uma teleologia que requer um ato criativo divino. J. M. Bronson: "O teísta deve aceitar a evolução se ele conservar o seu argumento da existência de Deus a partir da unidade do desígnio na natureza. Se o homem não for um fim, ele é uma anomalia. O maior argumento em favor de Deus é o fato de que toda a natureza animada é uma vasta e harmoniosa unidade. O homem se desenvolveu não a partir do macaco, mas independente do macaco. Ele nunca foi algo que não fosse um homem em potencial. Como homem, ele não veio a ser até que se tornou um agente moral consciente". Tal natureza moral consciente, que chamamos personalidade, requer um Autor divino, porque ela vai além de todas as forças encontradas na criatura animal. Romanes, Mental Evolution in Animals, diz-nos que: 1. Os moluscos aprendem pela experiência; 2. os insetos e as aranhas reconhecem a sua descendência; 3. os peixes fazem associação mental dos objetos por sua semelhança; 4. os répteis reconhecem as pessoas; 5. os himenópteros, como as abelhas e as formigas, comunicam idéias; 6. os pássaros reconhecem as representações e entendem palavras; 7. Os roedores; como os ratos e as raposas, entendem mecanismos; 8. Os micos e os elefantes aprendem a usar ferramentas; 9. Os macacos antropóides e os cães têm moral indefinida. Porém não ó a moral definida, mas a indefinida que estabelece diferença entre o homem e o bruto. Drummond, Ascent of Man, admite que o homem tenha passado por um período quando se assemelhava a um macaco em lugar de qualquer animal conhecido, mas ao mesmo tempo declara que o macaco antropóide podia desenvolver-se em homem. O bruto pode ser definido em termos de homem, mas o homem não pode ser definido em termos de bruto. É significativo que, na insanidade, os dotes mais elevados do homem desaparecem em uma ordem precisamente reversa daquela em que, segundo a teoria desenvolvimentista tinham sido adquiridos. A mais elevada parte do homem vacila primeiro. A última acrescida é a primeira que sofre. Entretanto, o homem pode transmitir as suas próprias aquisições à sua posteridade, o que não ocorre com o bruto.
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Weismann, Heredity, 2.69 - "A evolução da música independe de qualquer progresso na faculdade musical ou de qualquer alteração na natureza física inerente ao homem, mas somente do poder de transmitir as conquistas intelectuais de cada geração às que se seguem. Esta, acima de tudo, é a causa da superioridade do homem sobre o animal – esta não é simplesmente a faculdade humana, apesar de que se pode admitir que a mais tardia é a mais elevada nos animais". A este pronunciamento de Weismann acrescentaríamos que o progresso humano depende muitíssimo do poder de aquisição do homem assim como do poder de transmissão. A interpretação deve ser igual à expressão; e, nesta interpretação do passado, o homem tem uma garantia do futuro que o bruto não possui.
c) A psicologia, contudo, vem ao nosso auxílio com vistas à interpretação da Escritura. As diferenças radicais entre a alma do homem e o princípio de inteligência dos animais inferiores, especialmente a posse da autoconsciência do homem, as idéias gerais, o senso moral e o poder de autodeterminação mostram que aquilo que principalmente constitui o homem não poderia ter sido derivado pelo processo natural de desenvolvimento a partir das criaturas inferiores. Somos compelidos, então, a crer que o "soprar nas narinas do homem o fôlego da vida" (Gn. 2.7) da parte de Deus, apesar de ser uma criação mediata, pressupondo matéria existente na configuração das formas animais, contudo, foi uma criação imediata no sentido de que só um reforço divino do processo de vida tornou o animal em homem. Em outras palavras, o homem não veio a partir do bruto, mas através do bruto e o mesmo Deus imanente, que criara o bruto, criou também o homem. Tennyson, In Memoriam, XLV – "O bebê novo para a terra e para o céu, Quando a sua tenra palma é pressionada Contra o círculo do peito, Nunca pensou: 'este sou eu': Mas, à medida que ele cresce, tira muitas inferências e aprende a usar o 'eu' e o 'mim' (ou 'me'), e conclui, 'eu não sou o que eu vejo, mas outro além das coisas que eu toco'. Deste modo procura separar a mente do lugar de onde a memória pode ter se originado, Como através da estrutura que o liga em seu isolamento, ele se torna cada vez mais definido". Fichte passou a chamar o nascimento de seu filho, aquele
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em que despertou para a autoconsciência e disse: "eu". A memória não recua além da linguagem. Antes de ter subjetivo, o conhecimento do ego ó objetivo. A criança, a princípio, fala de si mesma na terceira pessoa: "Henrique faz isto e aquilo". Por isso, os homens, em sua maioria, não lembram o que deve ter acontecido antes dos três anos de idade, apesar de que Samuel Miles Hopkins, Memoir, 20, lembrava-se do que aconteceu quando tinha 23 meses. Só uma pessoa consciente se lembra e lembra-se só quando sua vontade se exercita em tenção. Jean Paul Richter, citado em Ladd, Philosophy of Mind, 110 - "Nunca esquecerei o fenômeno até agora relatado, quando cheguei ao nascimento a minha autoconsciência do lugar e tempo distintos em minha memória. Certa manhã, ainda bem criança, estava junto à porta de casa observando uma ilha de madeira quando, num instante, como um relâmpago do céu, clara e brilhantemente presente diante de mim, aparece a revelação 'eu sou eu'; nesse momento eu me vi, como eu sou, pela primeira vez e para sempre". Höffding, Outlines of Psychology, 3 – "O começo da vida consciente deve er colocado provavelmente antes do nascimento.... As sensações só fraca e obscuramente distinguem-se do sentimento geral de conforto e desconforto vegetative As experiências ainda subjazem talvez antes do nascimento para formar o alicerce do conhecimento de um mundo exterior". Hill, Genetic Philosophy, 282, sugere que este estado primitivo em que a criança fala de si na terceira pessoa e que é desprovida do autoconhecimento, corresponde à condição irracional da raça, antes de ter chegado ao conhecimento de si próprio, de ter alcançado a linguagem, de se ter tornado homem. Contudo, na raça não há hereditariedade que predetermine o conhecimento de si mesmo – trata-se de uma nova aquisição, que marca uma passagem para uma ordem superior do ser. Estabelecendo conexão destas notas com o nosso presente assunto, afirmamos que nenhum irracional jamais disse ou pensou no "eu". Então, diante disto, podemos dar início a uma série de distinções simples entre o homem e o irracional, até onde o princípio imaterial se refere a cada um deles. Estes oram compilados a partir de escritores doravante mencionados.
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1. O bruto é consciente, mas o homem é consciente de si mesmo. O bruto não objetiva o eu. "Se alguma vez o porco pudesse dizer 'eu sou um porco', de uma vez por todas e, daí em diante, deixaria de ser um porco". O bruto não se distingue a partir de suas sensações. O bruto tem percepção, mas só o homem tem a percepção, i.e., percepção acompanhada por sua referência ao eu a que ela pertence. 2. O bruto só tem objetos de percepção; o homem tem também conceitos. O bruto conhece coisas brancas, mas não a brancura. Lembra coisas, mas não pensamentos. Só o homem tem poder de abstração, i.e., o poder de derivar idéias abstratas de coisas particulares ou experiências. 3. Por isso o bruto não tem linguagem. "Linguagem é a expressão de noções gerais através de símbolos" (Harris). As palavras são símbolos de conceitos. Onde não há conceito não pode haver palavras. O papagaio profere gritos; mas "nenhum papagaio jamais pronunciou uma palavra". Visto que a linguagem é um sinal, pressupõe a existência de um intelecto capaz de entender o sinal; em suma, a linguagem é o efeito da mente, não a causa desta. Ver Minart, British Quarterly, outubro, 1881.154-17?. "A língua do macaco é eloqüente em sua própria censura". James, Psychology, 2.356 - "A noção de um sinal propriamente dito e o propósito geral de aplicá-lo a tudo é caráter distintivo do homem". Por que os animais não falam? Porque eles não têm nada para dizer, i.e., não têm nenhuma idéia geral que possam expressar. 4. O bruto não forma nenhum juízo, i.e., que isto é como aquilo, acompanhado da crença. Por isso não há nenhum sentido do ridículo, e nem risada. James, Psychology, 2.360 – "O bruto não associa idéias por semelhança. ... O gênio no homem é a posse deste poder de associação em um grau extremo". 5. O bruto não tem nenhum raciocínio - não tem nenhum senso de que isto se segue a partir daquilo, acompanhado de um sentimento cuja seqüência é necessária. A associação de idéias sem o juízo é o típico processo da mente bruta, mas não da mente do homem. Ver Mente, 5.402-409, 575-581 Ávida de sonhos do homem é a melhor analogia da vida mental do bruto. 6. O bruto não tem nenhuma idéia geral ou intuição de espaço, tempo, substância, causa, direito. Por isso não há nenhuma generalização e nenhuma experiência própria ou progresso. Não há capacidade alguma de progresso nos animais. O bruto não pode ser ensinado exceto em determinados assuntos de associação inferiores nos quais não se exige um
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juízo independente. Nenhum animal faz instrumentais, ou usa roupas, cozinha alimentos, cria outros animais para alimentação. Nenhum cão caçador, por maior que seja a observação do seu senhor, jamais aprendeu a pôr lenha na fogueira para aquecer-se. Mesmo os mais rudes utensílios de pedra mostram uma quebra na continuidade e marcam a introdução do homem; ver J. P. Cook, Credentials of Science, 14. "Como o homem, o cão pode ver a página impressa, porém nenhum cão jamais aprendeu a ler um livro. O animal não pode criar em sua mente os pensamentos do escritor. O elemento físico no homem, ao contrário, é apenas um auxílio ao espiritual. A educação é uma capacidade treinada para discernir o sentido interior e as relações mais profundas das coisas. Assim o universo é apenas um símbolo e expressão do espírito, uma roupagem na qual um Poder invisível vestiu a sua majestade e glória"; ver Sunday School Times, 7 de abril de 1900. No homem, a mente primeiro tornou-se suprema. 7. O bruto tem determinação, mas não autodeterminação. Não há liberdade alguma de escolha, nenhuma formação consciente de propósito e nenhum movimento autodeterminado para um fim previsto. O asno é determinado, mas não autodeterminado; ele é vítima da hereditariedade e do meio; ele só age quando alguém age em relação a ele. Harris, Philos. Basis of Theism, 537-554 – "Embora implicado na natureza através da organização corpórea, o homem é, em sua personalidade, sobrenatural; o bruto está inteiramente submerso na natureza. ... O homem é como um navio no mar – dentro dele, embora acima dele – guiando o seu curso pela observação do céu, ou contra o vento e a correnteza. De modo nenhum o bruto tem tal poder; por sua natureza ele ó como um balão, inteiramente imerso no ar e conduzido pelas correntes sem nenhum poder de direção". Calderwood, Philosophy of Evolution, capitulo sobre o Certo e o Errado: "A grande distinção da vida humana é o autocontrole no campo da ação – controle sobre todos os impulsos animais, de sorte que não determinam espontaneamente e de si mesmos a atividade [como ocorre no bruto]. Pelo que Mivart chama processo de "antropomorfismo inverso", vestimos o bruto com os atributos de liberdade; mas verdadeiramente ele não os possui. Como não transferimos para Deus todas as nossas imperfeições, assim não devemos transferir nossas perfeições humanas ao bruto, "lendo nossos eus na vida das formas inferiores". O bruto não tem nenhum poder de escolha entre motivos; simplesmente ele obedece um motivo. Portanto, a filosofia da necessidade é correta e excelente para o bruto. Porém o poder de iniciativa
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do homem – em suma, a sua livre vontade – torna possível explicar sua mais elevada natureza como um simples desenvolvido natural a partir de criaturas inferiores. Até mesmo Huxley diz que, levando em conta a mente, há entre o homem e as mais elevadas bestas um enorme abismo", uma "imensurável divergência" e "praticamente infinita". 8. O bruto, de modo algum tem consciência e natureza religiosa. Nenhum cão jamais devolveu ao açougueiro a carne que ele roubou. "O choupo treme sem medo e os cães escondem-se sem culpa". O cão mencionado por Darwin, cujo comportamento em presença de um jornal movido pelo vento parece testificar "um senso do sobrenatural", está somente apresentando a irritação devida ao pressentimento de um futuro desconhecido; ver James, Will to Believe, 79. O procedimento dos vira-latas espancados não lançam luz sobre a natureza da consciência. Se a ética não é hedonismo, se a obrigação moral não é utilitarismo refinado, se o direito é algo distinto do bem que dele auferimos, então deve haver uma falha na teoria de que a consciência do homem é simplesmente um desenvolvimento dos instintos do bruto; e deve-se postular reforço da vida do bruto a partir da fonte divina com vistas ao aparecimento homem. Upton, Hibbert Lectures, 165-167 - "Será que o espírito do homem deriva da alma do animal? Não, pois nenhum destes tem existência própria. Ambos são diferenciações próprias de Deus. Este é tão somente uma preparação de Deus para a formação daquele". Calderwood, Evolution and Man's Place in Nature, 337, fala da "impossibilidade de remontar a origem da vida racional do homem à evolução a partir de uma vida inferior. ... A natureza não descobriu forças físicas suficientes para contar com o aparecimento de tal vida". Shaler, Interpretation of Nature, 186 - "O lugar do homem tem sido conquistado por uma mudança integral nas limitações do seu desenvolvimento psíquico. ... Varreu-se a velha limitação da mente ao corpo. ... Nesta nova liberdade encontramos a única característica dominante do homem que nos dá o direito de enquadrá-lo numa classe animal inteiramente nova". John Burroughs, Ways of Nature: "A vida animal tem seu paralelo com a vida humana em muitos pontos, mas em outro plano. Algo dirige os animais inferiores, mas isto não é pensamento; algo os reprime, mas isto não é juízo; eles são providentes sem prudência; eles são ativos sem diligência; eles são hábeis sem prática; eles são sábios sem conhecimento; eles são racionais sem razão; eles são enganosos sem perfídia. ... Quando
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estão alegres, cantam ou brincam; quando estão angustiados lamentam ou choram; ... e ainda não suponho que eles experimentam a emoção de tristeza ou de alegria, de ira ou de amor, como acontece conosco, porque tais sentimentos neles não envolvem reflexão, memória e o que chamamos natureza elevada, como ocorre conosco". O instinto deles é inteligência exteriorizada, nunca interiorizada, como no homem. Eles compartilham com o homem as emoções da natureza do animal, mas não da sua natureza moral ou estética; eles não conhecem altruísmo nem código moral. O Sr. Burroughs sustenta que não temos nenhuma prova de que os animais, por sua natureza, podem refletir, formar idéias abstratas, associar causa e efeito. Por exemplo, os animais que armazenam alimento para o inverno tão somente seguem um instinto providente, mas não formam um pensamento para o futuro, do mesmo modo que a árvore que forma os seus rebentos para a estação vindoura. Ele resume a sua posição da seguinte maneira: "Atribuir motivos humanos e faculdades aos animais é fazer uma caricatura deles; mas pôr-nos em tal relacionamento com eles que sintamos o seu reinado, que vejamos a sua vida inserida na mesma necessidade férrea como é a nossa, que vejamos na sua mente a mais humilde manifestação da mesma força psicológica e inteligência que culmina com o homem e é consciente de si mesma no homem – essa suponho ser a verdadeira humanização". Admitimos tudo isso, exceto atribuir à vida humana, tal necessidade férrea que rege a criação animal. O homem é o homem porque a sua livre vontade transcende às limitações do bruto. Conquanto admitamos, então, que o homem é o último estágio no desenvolvimento da vida e que ele tem um ancestral bruto, consideramo-lo também uma geração de Deus. O mesmo Deus, que foi o autor do bruto, no devido tempo criou o homem. Apesar de que o homem veio através do bruto, ele não veio a partir deste, mas de Deus, o Pai dos espíritos e o autor de toda a vida. Terrífico oráculo de Édipo: "Nunca saibas tu a verdade do que tu és!" bem pode ser pronunciado aos que só crêem no bruto como originador do homem. Pascal diz que é perigoso deixar o homem ver claramente que ele está no mesmo nível que os animais a não ser que ao mesmo tempo mostremos a grandeza dele. A doutrina de que o bruto é um homem imperfeito está em lógica conexão com a doutrina de que o homem é um bruto perfeito. Thomas Carlyle: "Se esta filosofia do bruto é verdadeira, o homem deve andar de quatro, e não deixar de reivindicar a dignidade de
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ser moral". F. G. Wright, Ant. Origin of Human Race, preleção IX - "Um ou outro animal inferior pode apresentar todas faculdades utilizadas por uma criança de quinze meses. A diferença pode parecer bem pequena, mas o que há é muito importante. É como a diferença na direção dos antigos estágios de duas curvas separadas, que vão sempre se separando.... A probabilidade é de que, tanto em seu desenvolvimento corporal como mental, o homem aparece como um joguete na natureza e passa de uma vez para um par, do plano do ser irracional para a posse das forças mais elevadas que jamais o caracterizaram e domina tanto o seu desenvolvimento como a sua história". A Escritura parece ensinar-nos a doutrina de que a natureza do homem é criação de Deus. Gn. 2.7 - "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou nas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente" – parece, diz Hovey, (State of the imin. Dead, 14), "distinguir o princípio vital componente da natureza humana a partir do seu elemento material, declarando que aquela é mais diretamente oriunda de Deus, e mais antiga com relação a ele, do que esta". Assim em Zc. 12.1 – "O Senhor, que estende o céu, e que funda a terra e que forma o espírito do homem dentro dele" – reconhece-se que a alma é, quanto à natureza, distinta do corpo e possui uma dignidade e um valor bem além dos de qualquer organismo material. Jó 32.8 – "Há um espírito no homem, e a inspiração do Todopoderoso os faz entendidos"; Ec. 12.7 – "o pó volte à terra como era, e o espírito volte a Deus, que o deu".
d) A psicologia comparativa, contudo, nada tem feito, até o presente, para proibir a extensão desta doutrina ao corpo do homem. Nem um só exemplo da transformação de uma espécie de animal em outra foi acrescentado quer por seleção natural ou artificial; muito menos demonstrou-se que o corpo do bruto se desenvolveu no do homem. Toda a evolução implica progresso e reforço da vida e é ininteligível a não ser quando o Deus imanente dá novos impulsos ao processo. Independentemente da atuação direta de Deus o ponto de vista de que o sistema físico do homem descende por geração natural de alguma forma ancestral símia só pode ser considerado como hipótese irracional. Porque
Teologia Sistemática (Strong) 929 a alma, então, é uma criação imediata de Deus e o escritor da Bíblia menciona formação do homem em conexão direta com a criação do espírito, o corpo do é neste sentido também uma criação imediata. Para a teoria da seleção natural, ver Darwin, Origin of Species, 398424 e A Descendent of Man, 2.368-387; Huxley, Critiques and Addresses, 241-269, Man's Place in Nature, 71-138, Lay Sermons, 323 e o artigo: Biologia, na Enciclopédia Britânica, 9ª ed.; Romanes, Scientific Evidences of Organic Evolution Lay Science and Religion. A teoria sustenta que, na luta pela existência, as variedades melhor adaptadas às suas circunstâncias são bem sucedidas em manter-se e reproduzir-se enquanto as demais perecem. Assim, o homem evoluiu através da mudança gradual e desenvolvimento das formas de vida inferiores as superiores. Admitimos que Darwin revelou uma das importantes características do método de Deus. Aceitamos a verdade parcial desta teoria. Acha-se apoiada pela estrutura vertebrada e organização nervosa que o homem tem em comum com os animais inferiores; pelos fatos do desenvolvimento embrionário; dos órgãos rudimentares; das doenças e remédios comuns; e da reversão àqueles tipos. Mas recusamo-nos a considerar a seleção natural como uma explicação completa da história da vida, e isto pelas seguintes razões: 1. De modo algum ela dá conta da origem da substância, nem da origem variações. O darwinismo simplesmente diz que "as pedras redondas rolarão montanha abaixo mais longe que as chatas" (Gray, Natural Science and Religion). Ela explica a seleção das formas, e deixa de explicar a sua criação. "A seleção natural não origina coisa alguma. É um princípio destrutivo, não criativo. Se temos de idealizá-la como força positiva, temos de pensar nela, como preservadora do mais adequado, mas como destruidora, que se segue sempre no despertar da criação e devora as deficiências; o abutre da criação, que tira do caminho formas inaptas para viver e reproduzir-se" (Johnson, sobre a Theistic Evolution, Revista de Andôver, abril, 1884.363-381). A seleção natural é tão somente uma repressão inteligente. A Origem das Espécies de Darwin é, na realidade, "não o Gênesis, mas o Êxodo das formas;". Schurman: "A sobrevivência dos mais aptos nada faz para explicar a chegada deles"; ver também De Vries, Species and Varieties, ad finem. O próprio Darwin reconhece que "é profunda a nossa ignorância relativa às leis de variação. ... A causa de cada
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leve variação e de cada monstruosidade está muito mais na natureza ou constituição do organismo do que na natureza das condições ambientais" (citado por Mivart, Lessons From Nature, 280-301). Com isso, Weismann modificou a teoria darwiniana afirmando que não haveria nenhum desenvolvimento se não houvesse uma tendência espontânea e inata para a variação. Vemos nesta tendência inata não simplesmente a natureza, mas a obra de um Deus originador e supervisor. E. M. Caillard, Cont. Review, dez. 1893.873-881 - "O espírito é, desde o início, a força moldadora das formas inferiores que, por fim, resultaram no homem. Ao invés da derivação física da alma, propomos a derivação espiritual do corpo". 2. Algumas das mais importantes formas aparecem repentinamente no registro geológico sem elos conectivos que os unam ao passado. Os primeiros peixes são os ganóides de tamanho grande e tipo avançado. Não há gradações intermediárias entre o macaco e o homem. Huxley, Man's Place in Nature, 94, conta-nos que o menor gorila tem uma capacidade craniana de 24 polegadas cúbicas, enquanto o maior tem 34,5. Ao contrário disto, o homem menor tem uma capacidade craniana de 62; apesar de que os homens com menos de 65 são invariavelmente idiotas; o maior tem 114. Prof. Burt G. Wilder, da Universidade de Cornell: "O maior cérebro símio tem apenas a metade do tamanho do menor humano normal". Wallace, Darwinism, 458 - "Em média, o cérebro humano pesa 48 ou 49 onças; em média, o cérebro do macaco é de apenas 18 onças". O cérebro de Daniel Webster pesava 53 onças; mas o Dr. Bastian fala-nos de um imbecil cuja deficiência intelectual era congênita, entretanto, cujo cérebro pesava 55 onças. As cabeças grandes nem sempre indicam grande intelecto. O Prof. Virchow assinala que os gregos, uma das nações mais intelectuais, são também as menores de todas as cabeças. Bain: "Enquanto aumenta o tamanho do cérebro em proporção aritmética, a média intelectual o faz em proporção geométrica". A respeito dos crânios do enguis e do neanderthal, Huxley diz: Os restos de fóssil de homem até agora descobertos não me parecem aproximar-nos daquela forma pitecóide inferior por cuja modificação ele provavelmente tornou-se o que é. ... Em vão têm-se buscado os elos entre o homem e o macaco: não existe um só que se possa mostrar. Não se encontrou o assim chamado Protanthropos que apresentaria este elo.... Não se tem encontrado nenhum que se aproximasse do macaco do que o
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homem dos nossos dias". Huxley argumenta que a diferença entre o homem e o gorila é menor do que entre o gorila e alguns macacos; se o gorila e os macacos formam uma família e têm origem comum, não podem o homem e o gorila ter também um ancestral comum? Respondemos que o espaço entre o macaco inferior e o mais elevado gorila é preenchido por inúmeras gradações intermediárias. O espaço entre o homem inferior e o superior é também preenchido com muitos tipos que se distinguem um do outro. Mas o espaço entre o mais elevado gorila e o homem inferior é ainda vacante; não há tipos intermediários; não foram ainda encontrados elos conectivos entre o macaco e o homem. O Prof. Virchow, bem recentemente, também expressou a sua crença de que não se descobriu nenhum remanescente antecessor do homem. Diz ele: "A meu juízo, até agora nenhum crânio descoberto pode ser considerado como predecessor do homem. No curso dos últimos quinze anos tivemos a oportunidade de examinar crânios de todas as variadas raças da humanidade até mesmo das tribos mais selvagens; e entre elas não se observou um grupo que diferisse do tipo humano em seus caracteres essenciais, todos os crânios encontrados nas habitações lacustres não há um que fique fora dos limites da nossa população presente". O Dr. Eugene Dubois descobriu nos depósitos pós-pliocênicos da Ilha de Java os restos de um antropóide hominídeo a que ele chama de Pithecanthropus erectus. Sua capacidade craniana aproxima-se do mínimo fisiológico do homem e é o dobro do gorila. Na forma e na dimensão, o osso da coxa é o análogo absoluto do homem e evidencia ter apoiado o corpo ereto. Sem hesitar, o Dr. Dubois coloca esse extinto macaco javanês como a forma intermediária entre o homem e os verdadeiros macacos antropóides. Haeckel (The Nation, 15 de setembro de 1898) e Keane (Man Past and Present, 3), consideram o Pithecanthropus um "elo perdido". Mas a "Natureza" considera-o como o remanescente de um idiota humano microcéfalo. Em acréscimo a tudo isso, é digno de nota homem não se degenera quando volta no tempo. "O crânio do enghis, contemporâneo do mamute e do urso da caverna, têm o mesmo tamanho que em média os de hoje e pode ter pertencido a um filósofo". Na forma física, o mais próximo do homem não é mais inteligente que o elefante ou a abelha. 3. Há alguns fatos que a simples hereditariedade não pode explicar, tais como a origem da abelha operária vindo da rainha e o zangão ambos os
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não produzem mel. Contudo, a abelha operária não transmite o instinto de fabricar o mel à sua posteridade; pois ela é estéril e, conseqüentemente, não possuí filhos. Se o homem tivesse descendido do inconsciente bruto, poderíamos esperar que ele, quando degradado, revertesse ao seu tipo primitivo. Ao contrário, ele não reverte ao bruto, mas, ao invés disso, desaparece. A teoria não pode dar nenhuma explicação sobre a beleza nas formas de vida inferiores, tais como os moluscos e os diátomos. Darwin admite que essa beleza deve ser utilizada pelo seu possuidor para consistir com a sua origem através da seleção natural. Porém ainda não se demonstrou tal emprego; pois as criaturas que possuem a beleza vivem freqüentemente no escuro ou não têm olhos para vê-la. Assim, também, o cérebro grande do selvagem está além das suas necessidades e é inconsistente com o princípio da seleção natural que ensina que nenhum órgão pode atingir permanentemente o tamanho não requerido pelas necessidades ou pelo meio ambiente. Ver Wallace, Natural Selection, 338360. G. F. Wright, Man and the Glacial Epoch, 242-301 – "Dificilmente podese duvidar de que a organização corporal do homem é de certa forma um desenvolvimento de algum membro extinto do reino animal aos macacos antropóides. ... Mas sem dúvida ele não descende de qualquer espécie existente de macacos antropóides.... Quando em certa ocasião a mente tornou-se suprema, a adequação física deve ter sido rápida, se, na verdade, não há necessidade de supor que a preparação física para as elevadas faculdades mentais foi instantânea, ou por aquilo que na natureza se chama lazer (em Inglês sport)". Concordamos substancialmente com esta afirmação do Dr. Wright e, portanto, diferimos de Shedd quando diz que há razão suficiente para supor que os símios são homens degenerados, do mesmo modo que os homens são símios aperfeiçoados. Shakespeare, Timon of Athens, 1.1.249, parece que subentendeu o ponto de vista do Dr. Shedd: "A tendência do homem retratou-se no babuíno e no símio". O Bispo Wilberforce perguntou a Huxley se ele se relacionava com o macaco da parte do seu avô ou da sua avó. Huxley respondeu que ele preferia que tal relacionamento tivesse como ancestral um homem que utiliza a posição dele como um ministro religioso que ridiculariza uma verdade que ele não compreende. "Mãe, sou eu descendente de um macaco?" "Não sei, Guilherme, nunca encontrei qualquer ancestral do seu pai".
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4. Ainda não se conhece nenhuma espécie que tenha sido produzida por seleção artificial ou natural. Huxley, Lay Sermons, 323 – "Absolutamente não está provado que um grupo de animais que têm todos caracteres apresentados pelas espécies da natureza tenha sido originado por seleção, quer artificial, quer natural"; Man's Place in Nature, 107 – "Nossa aceitação da hipótese de Darwin deve ser provisória enquanto faltar um elo na cadeia; e enquanto todos os animais e plantas certamente produzidos pela geração seletiva de uma linhagem comum fertilizarem-se reciprocamente, e faltar o referido elo". Huxley mais recentemente declarou que se encontrou a prova que faltava no descendente do moderno cavalo com um artelho, do Hipário com dois artelhos, do Anchiterium com três e do Orohippus com quatro. Ainda que isto fosse demonstrado, sustentaríamos que a única analogia apropriada deve encontrar-se na seleção artificial através da qual o homem produz novas variedades e a seleção natural não pode produzir nenhum resultado útil e nem apresentar progresso algum a não ser que o método e a revelação partam de uma mente sábia e planejada. Em outras palavras, a seleção implica inteligência e vontade e, por isso, não pode ser exclusivamente natural. Mivart, Man and Apes, 192 – "Se é inconcebível e impossível ao corpo do homem desenvolver-se ou existir sem a sua alma informativa, concluímos que, como nenhum processo natural conta com os diferentes tipos de alma – uma capaz de articular expressando concepções gerais – assim nenhum processo meramente natural pode explicar a origem do corpo formado por ele – com o que tal faculdade intelectual se relaciona tanto essencial como intimamente". Desse modo, Mivart, que uma vez considerou que a evolução podia explicar o corpo do homem, agora sustenta que, ao invés disso, ela nem pode explicar o corpo do homem, nem a sua alma e chama a seleção natural de "hipótese pueril" (Lessons From Nature 300; Essays and Criticisms, 2.289-314).
e) Embora admitamos, então, que o homem tem um ancestral bruto, fazemos duas reivindicações à guisa de qualificação ou explicação: primeira, que as leis do desenvolvimento orgânico que têm sido seguidas na origem do homem são apenas métodos de Deus e provas da sua atuação criadora; segunda, que o homem, quando apareceu em cena, não mais era bruto, mas um ser autoconsciente e autodeterminante, feito à
Teologia Sistemática (Strong) 934 imagem de seu Criador e capaz de decisão moral livre entre o bem e o mal. Tanto a criação original do homem como a nova, na regeneração formam-se a partir de dentro ao invés de a partir de fora. Em ambos os casos, Deus constrói um novo com base no velho. O homem não é um produto de forças cegas, mas, ao contrário, é uma emanação daquela mesma vida divina da qual o bruto é manifestação inferior. O fato de que Deus empregou matéria preexistente não impede sua autoria no resultado. No milagre, o vinho não era água porque a água tinha sido empregada na sua feitura, nem o homem é um bruto porque este prestou algumas contribuições à criação daquele. f. John H. Strong: "Algumas pessoas que admitem a presença e o poder Deus no longo processo, contudo, não parecem ver que, no resultado último do homem completo, Deus se revelou com sucesso. A obra de Deus nunca foi real e plenamente feita; o homem é um composto de bruto e de homem; e não se pode dizer que a composição desses dois elementos possua as qualidades de qualquer um deles. Na realidade Deus não foi bem sucedido trazendo a personalidade moral ao nascimento. A evolução é incompleta; o homem ainda anda de quatro; ele não peca porque foi gerado do bruto; não se concebe nenhuma queda, nenhuma regeneração. Ao contrário, afirmamos que, embora o homem tenha vindo através do bruto, ele não veio a partir do bruto. Veio de Deus, cuja vida imanente ele revela, cuja imagem ele reflete em uma personalidade moral completa. Porque Deus foi bem sucedido, foi possível a queda. Podemos crer na duradoura criação da evolução, preparada só para que esta se completasse. Com este ajuste permanecem o pecado e a queda". Uma evolução ateísta e antiteleológica é uma reversão ao ponto de vista selvagem dos animais como irmãos e à idéia paga de um homem esfinge desenvolvendo-se a partir do bruto. O próprio Darwin não nega a autoria de Deus. Ele encerra o seu primeiro grande livro com a declaração de que a vida, com todas as suas potencialidades, originariamente é conseqüência do sopro "do Criador nas primeiras formas do ser orgânico". Em suas cartas refere-se com evidente satisfação ao fato de Charles Kingsley nada achar na teoria que seja inconsistente com a primitiva fé cristã. Não é Darwin, mas discípulos como Haeckel, que desenvolveram a
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teoria tornando supérflua a hipótese do Criador. Admitimos o princípio da evolução, mas consideramo-lo apenas o método da inteligência divina, e consideramo-lo precedido de ato criativo original, introduzindo a vida vegetal e a animal e, suplementada por outros atos criativos, na introdução do homem e na encarnação de Cristo. Chadwick, Old and New Unitarianism, 33 – "O que parece derrotar nossa fé na natureza humana [sua origem a partir do bruto] na verdade tem sido a sua maior confirmação. Pois nada contraria a dignidade essencial do homem mais claramente do que o seu triunfo sobre as limitações da sua herança a partir do bruto, enquanto o longo caminho que aquele trilha é a profecia das não sonhadas altitudes morais que aguardam os incansáveis pés". Tudo isto é verdade se considerarmos a natureza humana, não como um resultado sem planejamento da evolução ateísta, mas como um efluxo e reflexo da personalidade divina. R. E. Thompson, S. S. Times, 29 de dezembro de 1906 – "O maior fato na hereditariedade é a nossa descendência de Deus e o maior fato ambiente é a presença dele na vida humana em cada instante". A concepção ateísta é bem satirizada no verso: "Havia um macaco nos dias que eram primitivos; Passaram os séculos e o seu cabelo se tornou mais encarapinhado. Mais séculos passaram e o seu polegar se duplicou e ele virou homem e Positivista". A partir das declarações de Darwin, da teoria da seleção natural, torna-se claro que esta concepção não é uma conclusão necessária da ciência moderna. Wallace crê que o corpo do homem se desenvolveu a partir do bruto, mas pensa ter havido intervalos na continuidade: 1. o aparecimento da vida; 2. o aparecimento dos sentidos e da consciência; e 3. a vida humana. Estes parecem corresponder a 1. Vegetal; 2. Animal; 3. Vida humana. Pensa ainda que a seleção natural pode explicar o lugar do homem na natureza, mas não o seu referido lugar acima da natureza, como um ser espiritual. Ver Wallace, Darwinism, 445-478 – "Aceito plenamente a conclusão do Sr. Darwin quanto à identidade essencial da estrutura física do homem como a dos mamíferos superiores e os descendentes a partir de alguma forma ancestral até o homem e o macacos antropóides". Mas a conclusão de que as mais elevadas faculdades do homem também derivaram dos animais inferiores "não me parece apoiada pela evidência adequada e opõe-se a muitos bem confirmados fatos" (461). ... As faculdades matemáticas, artísticas e musicais, não são causas, mas resultados do progresso; elas não auxiliam na luta pela existência e não
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podem ter sido desenvolvidas pela seleção natural. A introdução du vida (vegetal), do conhecimento (animal), da mais elevada faculdade (humana), apontam claramente para o mundo do espírito, ao qual o mundo da matéria se subordina (474-476). ... As faculdades intelectuais e morais do homem não podem ter-se desenvolvido a partir do animal, mas devem ter tido outra origem; e para tal origem podemos achar uma causa adequada só no mundo do espírito". Wallace, Natural Selection, 338 – "A capacidade média craniana do homem selvagem provavelmente não é menos que cinco sextos da das mais elevadas raças civilizadas, enquanto o cérebro dos macacos antropóides dificilmente chega a um terço da do homem, em média, em ambos os casos; ou a proporção pode ser representada através das seguintes figuras: os macacos antropóides, 10; os selvagens, 26; o homem civilizado, 32". Ibid. 360 – "A inferência que eu tiraria a partir desta classe de fenômenos é que uma inteligência superior tem guiado o desenvolvimento do homem em uma direção definida e com um propósito especial, do mesmo modo que o homem conduz o desenvolvimento de muitas formas animais e vegetais. ... A ação controladora de uma inteligência mais elevada é uma parte necessária das leis da natureza, do mesmo modo que a ação de todos os organismos circundantes é um dos agentes no desenvolvimento orgânico; de outra forma, as leis que governam o universo material são insuficientes para a produção do homem". Sir Wm. Thompson: "O mais selvagem dos sonhos do materialismo é o de que o homem poderia ter evoluído a partir dos animais inferiores, pura suposição que me ofende tanto pela tolice como pela arrogância". Hartmann, Anthropoid Apes, 302-306, conquanto não desiste da "possibilidade de descobrir o verdadeiro elo entre o mundo do homem e o dos mamíferos", declara que "esse ser puramente hipotético, ancestral comum do homem e dos macacos, ainda está por ser encontrado", e que "o homem não pode ter descendido de qualquer das espécies fósseis de que temos notícia, nem ainda das espécies de macacos ora existentes".
f) A verdade que o homem é produto de Deus implica a verdade correlata de uma eternidade comum. Deus é Pai de todos os homens no sentido de que ele origina e sustenta como seres pessoais semelhantes em natureza a ele mesmo. Mesmo para com os pecadores Deus mantém esta
Teologia Sistemática (Strong) 937 relação de Pai. É o seu amor paterno, na verdade, que provê a expiação. Assim se vai ao encontro das exigências de santidade e o pródigo é restaurado aos privilégios de filiação perdidos na transgressão. Esta paternidade natural, portanto, não exclui, mas prepara o caminho para a paternidade especial de Deus para com aqueles que foram regenerados pelo seu Espírito e que creram em seu Filho; na verdade, porque todas as criaturas de Deus vieram a ser em Cristo e através dele a uma filiação natural e física de todos os homens em virtude da sua relação com Cristo, o Filho eterno, que antedata e prepara o caminho para a filiação dos que se ligam a ele pela fé. A filiação natural do homem é subjacente à história da queda e qualifica a doutrina do pecado. Os textos que se referem à Paternidade natural e comum de Deus são: Ml. 2.10 – "Não temos nós todos um mesmo Pai [Abraão]? Não nos criou um mesmo Deus?" Lc. 3.38 - "Adão, filho de Deus"; 15.11-32 - a parábola do filho pródigo na qual o pai é pai mesmo antes que o pródigo retorne; Jo. 3.16 – "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito"; Jo. 15.6 - "Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará e os colhem e os lançam no fogo e ardem"; – estas palavras implicam uma união natural de todos em Cristo; de outra forma, elas ensinariam que os que estão espiritualmente unidos a ele podem perecer para sempre. At. 1728 – "Porque somos também sua geração – palavras dirigidas por Paulo ao auditório pagão; Cl. 1.16,17 – "porque neles foram criadas todas as coisas. ... e por ele subsistem todas as coisas"; Hb. 12.9 – "o Pai dos espíritos". Paternidade, neste mais amplo sentido, implica: 1. Origem; 2. Comunicação da vida; 3. Sustento; 4. Semelhança nas faculdades e poderes; 5. Governo 6. Cuidado; 7. Amor. Em tudo isto Deus é Pai de todos homens e seu amor paterno é tanto preservador como reparador. A paternidade natural de Deus é mediada por Cristo, através de quem foram feitas todas as coisas, e em quem as coisas, até a humanidade, consistem. Somos naturalmente filhos de Deus, porque somos criados em Cristo; somos espiritualmente filhos de Deus, porque fomos criados de novo em Cristo Jesus. G. W. Northrop: Deus nunca se torna Pai de qualquer homem ou classe de homens; ele só se torna um Pai reconciliado e complacente dos que se tornam eticamente semelhantes a ele. Os homens
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só são filhos no pleno sentido ideal a partir do instante em que se comportam como filhos de Deus". Chapman, Jesus Christ and the Present Age, 39 – "Enquanto Deus é pai de todos os homens, nem todos os homens são filhos de Deus; em outras palavras, Deus sempre realiza completamente a idéia de Pai de cada homem; mas os homens em sua maioria só realizam parcialmente a idéia de filiação". Textos que se referem à Paternidade da graça são: Jo. 1.12,13 – "a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, mas de Deus"; Rm. 8.14 – "Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus"; 15 – "recebestes o espírito de adoção de filhos pelo qual clamamos: Abba, Pai"; 2 Co. 6.17. – "Saí do meio deles e apartai-vos, diz o Senhor, e não toqueis nada imundo e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso"; Ef. 1.5,6 – "e nos predestinou para filhos de adoção por Cristo Jesus para si mesmo"; 3.14,15 – "Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda família [rodapé 'paternidade'] nos céus e na terra toma o nome" (= toda raça entre anjos e homens – conforme Meyer, Romans, 158,159); Gl. 3.26 – "porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus"; 4.6 – "E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai"; 1 Jo. 3.1,2 – "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: Que fôssemos chamados filhos de Deus. ... Amados, agora somos filhos de Deus". A filiação da raça é apenas rudimentar. A verdadeira realização da filiação só é possível através de Cristo. Gl. 4.1-7 dá a entender uma filiação universal, mas a filiação em que o menino "em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo" e ainda tem necessidade de receber "a adoção de filhos". Simon, Reconciliation, 81 – "Uma coisa é ser pai; a outra é executar todas as funções paternas. Os pais humanos às vezes deixam de portar-se como tais por razões que são exclusivas deles; às vezes tornam-se embaraços na conduta ou caráter dos filhos. Nenhum pai pode normalmente executar suas funções paternas para com os filhos que não se portam como tais. Mesmo o filho rebelde é filho, mas não age como tal". Porque todos os homens são naturalmente filhos de Deus não se segue que todos os homens sejam salvos. Muitos que, por natureza, são filhos de Deus não são seus filhos espirituais; são apenas
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"servos" que não "ficam para sempre em casa" (Jo. 8.35). Deus é o Pai deles, mas eles ainda não "foram feitos" filhos dele (Mt. 5.45). A controvérsia entre os que sustentam e os que negam a Paternidade de Deus relativa a todos os homens é pura logomaquia. Deus é física e materialmente o Pai de todos os homens; moral e espiritualmente ele é o Pai somente dos que foram renovados pelo seu Espírito. Todos os homens são filhos de Deus em um sentido inferior, em virtude de sua união natural com Cristo; só são filhos de Deus no sentido elevado os que a Cristo se juntaram pela fé em uma união espiritual. Então podemos admitir em boa parte o que dizem os que negam a Paternidade universal divina, dentre eles C. M. Mead, Am. Jor. Theology, julho, 1897.577-600, que sustenta que a filiação consiste em reinar espiritualmente com Deus e cita, em apoio ao seu ponto de vista, Jo. 8.41-44 – "Se Deus fosse vosso Pai, vós me amaríeis. ... Vós tendes por Pai o diabo" = a Paternidade de Deus não é universal; Mt. 5.44,45 – "Amai a vossos inimigos. ... para que sejais filhos do Pai que está nos céus"; Jo. 1.12 – "a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome". Gordon, Ministry of Spirit, 103 – "O fato de que Deus criou todos os homens não os constitui seus filhos no sentido evangélico da palavra. A filiação em que o N.T. tão constantemente reside baseia-se unicamente na experiência do novo nascimento, enquanto a doutrina da filiação universal repousa ou numa ousada negação, ou numa ousada presunção – a negação da queda universal do homem por causa do pecado, ou a suposição da regeneração universal do homem através do Espírito Santo. Em qualquer um dos casos o ensino pertence a 'um outro evangelho' (Gl. 1.7), recompensa de cuja pregação não é uma bemaventurança, mas um 'anátema'(Gl. 1.8)". Mas também podemos concordar com boa parte do que o bloco oposto argumenta, por exemplo, Wendt, Teaching of Jesus, 1.193 - "Deus não se torna o Pai, mas é o Pai Celeste, daqueles que se tornam seus filhos. ... Em vez do reinado de Deus, que é a idéia dominante entre os judeus, Jesus deu primazia ao ensino da paternidade divina. O relacionamento é ético. Não se trata de paternidade simplesmente de origem e, portanto, só os que andam corretamente são os verdadeiros filhos de Deus. ... 209 – O simples reinado, ou exaltação acima do mundo, conduz à servidão farisaica legalista e à exterioridade cerimonial e à especulação filosófica alexandrina. A
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paternidade apreendida e anunciada por Jesus é essencialmente um relacionamento de amor e santidade". A. H. Bradford, Age of Faith, 116-120 – "Há algo de sagrado na humanidade. Mas os sistemas de Teologia começaram com a indignidade essencial e natural do homem. ... Se não há paternidade, então o egoísmo é lógico. Mas a paternidade traz consigo a identidade da natureza entre pai e filho. Por isso cada trabalhador possui a natureza de Deus e aquele que tem a natureza de Deus não pode ser tratado do mesmo modo que os produtos da indústria ou do campo. ... Todos os filhos de Deus são por natureza participantes da vida de Deus. Eles são chamados 'filhos da ira' (Ef. 2.3), ou 'da perdição' (Jo. 17.12), só para indicar que o seu relacionamento próprio e deveres foram violados. ... O amor para com o homem depende de algo que é digno do amor e isto se encontra na divindade do homem quanto à essência". A esta última afirmação objetamos, como atribuindo ao homem no começo o que pode ter vindo a ele só através da graça. Na verdade, o homem foi criado em Cristo (Cl. 1.16) e é filho de Deus em virtude de sua união com Cristo (Lc. 3.38; Jo. 15.6). Mas porque o homem pecou e renunciou a sua filiação, esta pode ser restaurada e realizada no sentido moral e espiritual só através da obra expiatória de Cristo e regeneradora do Espírito Santo (Ef. 2.10 – "criados em Cristo para as boas obras"; 2 Pe. 1.4 – "suas preciosas e grandíssimas promessas; para que através destas vos torneis participantes da natureza divina"). Muitos dos que negam a paternidade universal de Deus recusam levar sua doutrina ao extremo lógico. Para serem coerentes deveriam proibir que os não convertidos proferissem a Oração Dominical ou até mesmo orassem. Uma mãe que não cria na paternidade de Deus dizia: "Meus filhos não são convertidos e, se eu fosse ensinar-lhes a Oração Dominical, deveria fazê-lo da seguinte forma: 'Nosso pai, que estás no inferno'; porque eles são só filhos do diabo". Encontram-se nos anais do Congresso Batista, 1896.106136 jornais com a pergunta: É Deus pai de todos os homens? Entre estes o ensaio de F. H. Rowley afirma a paternidade universal de Deus baseada no seguinte: 1. O homem criado à imagem de Deus; 2. O tratamento paterno de Deus para com o homem, especialmente na vida de Cristo entre os homens; 3. A reivindicação de Deus por seu amor filial e confiança; 4. Só a paternidade de Deus torna possível a encarnação, pois isto implica unidade da natureza entre Deus e o homem. A isto acrescentamos: 5. A morte
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expiatória de Cristo só poderia ser eficaz baseada numa natureza comum em Cristo e na humanidade; e 6. A obra regeneradora do Espírito Santo só é inteligível como a restauração de um relacionamento filial que é nativo ao homem, mas que o pecado adiou.
II. UNIDADE DA RAÇA HUMANA a) As Escrituras ensinam que a raça humana toda descende de um só casal. Gn. 1.27,28 – "E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. Ε Deus lhes abençoou e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra e sujeitai-a"; 2.7 – "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou nos seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente"; 22 - "E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe-a a Adão"; 3.20 - "E chamou Adão o nome de sua mulher Eva, porquanto ela era mãe de todos os viventes" = mesmo Eva remonta a Adão; 9.19 - "Estes três foram os filhos de Noé: e destes se povoou toda a terra". Mason, Faith of the Gospel, 110 – "Logicamente parece mais fácil explicar a divergência daquilo que era a princípio do que a união do que era heterogêneo".
b) Esta verdade se encontra no fundamento da doutrina de Paulo sobre a unidade orgânica da humanidade na primeira transgressão e da provisão da salvação para a raça em Cristo. Rm. 5.12 – "Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram"; 19 – "Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos"; 1 Co. 15.21,22 – "Porque, assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo"; Hb. 2.16 - "Porque, na verdade,
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ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão". O Prof. D. G. Brinton, um dos mais eminentes etnólogos e antropólogos, não muito antes da sua morte, disse que toda a pesquisa científica e ensino tendem para a convicção de que a humanidade descende de um casal.
c) Esta descendência da humanidade de um só casal também constitui a base da fraternidade natural com cada membro da raça. At. 17.26 – "E de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra" - aqui a Versão Rev. e Corrigida omite a palavra "sangue" ("fez de um sangue" - Versão Autorizada). É possível que a palavra compreendida seja "pai", mas não a palavra "corpo"; cf. Hb. 2.11 - "Porque assim o que santifica como os que são santificados, são todos de um (pai ou corpo); por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, cantar-te-ei louvores no meio da congregação". Winchell, Preadamites, reviveu recentemente a teoria de Peyrerius, surgida em 1655, de que havia homens antes de Adão: "Adão descendia de uma raça negra e não as raças negras de Adão". Adão é tão somente "o mais remoto ancestral de quem os judeus poderiam herdar a linhagem.... A derivação adâmica de um grupo humano mais antigo é essencialmente a criação de Adão". Winchell não nega a unidade da raça, nem o efeito retroativo da expiação sobre os que viveram antes de Adão; ele somente nega que Adão foi o primeiro homem. 297 – Ele "considera o grupo adâmico derivado de um tipo humano mais antigo e mais humilde", originariamente mais baixo em escala do que os selvagens australianos. Embora a teoria forneça plausível explicação de certos fatos bíblicos, tais como o casamento de Caim (Gn. 4.17), o medo que Caim sentia de que os homens o matariam (Gn. 4.14), a distinção entre "os filhos de Deus" e "as "filhas dos homens" (Gn. 6.1,2), trata a narrativa mosaica mais como legendária do que como histórica. Indica-se que Sem, Cão e Jafé podem ter vivido centenas de anos separados um do outro. Com base neste ponto de vista, Eva não podia ser a "mãe de todos os vivos" (Gn. 3.20), nem a transgressão de Adão podia ser a causa e começo da condenação de toda a raça (Rm. 5.12,19). Quanto ao medo que Caim sentia de que as outras
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famílias poderiam vingar-se dele, convém lembrar que não sabemos entre Caim e Abel quantos filhos nasceram de Adão, nem se Caim ficou com medo só daqueles que estavam vivos naquela ocasião. Quanto ao casamento de Caim, devemos lembrar que, ainda que Caim tivesse casado com uma outra família, sua esposa, com base em qualquer hipótese da unidade da raça, deve ter descendido de outro Caim original, que casou com sua própria irmã. Ver Keil e Delitzsch, Com. on Pentateuch, 1.116 – "O casamento entre irmãos e irmãs era inevitável no caso dos filhos do primeiro homem, visto que a raça humana descendia de um só casal e, por isso, pode-se justificar, em face da proibição mosaica de tais casamentos baseados no fato de que os filhos e filhas de Adão não representavam simplesmente a família, mas a espécie e que isto se deu enquanto não surgiram diversas famílias com laços fraternos e o amor conjugal tornou-se distinto de qualquer outro e assumiu formas fixas e mutuamente exclusivas, cuja violação é pecado". Prof. W. H. Green: "Gn. 20.12 mostra que Sara era meio-irmã de Abraão;... as subseqüentes regulamentações ordenadas na lei mosaica ainda não tinham vigência". G. H. Darwin, filho de Charles Darwin, mostrou que o casamento entre primos é inofensivo onde há diferença constitucional entre as partes. A paleontologia moderna aceita como provável que, no começo da raça, havia maior diferença entre irmãos e irmãs da mesma família do que ultimamente.
Considerações tiradas da história e da ciência corroboram as declarações da Escritura. Podem-se mencionar brevemente quatro argumentos: 1. A partir da história Até onde se pode delinear a história das nações e tribos em ambos os hemisférios, a evidência aponta para uma única origem e um só ancestral na Ásia Central.
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Reconhece-se que as nações européias vieram da Ásia em sucessivas ondas migratórias. Os etnólogos modernos geralmente concordam em que as raças de índios da América derivaram de fontes mongólicas da Ásia Oriental, ou através da Polinésia ou pelas Ilhas Aleutes. Bunsen, Philos. of Universal History, 2.112 – a origem asiática de todos os índios norteamericanos "é uma prova completa da unidade da família entre eles". Mason, Origins of Invention, 361 - "Antes da época de Colombo, os polinésios faziam viagens de canoa do Taiti ao Havaí a uma distância de 2300 milhas (3701,5 km). Keane, Man Past and Present, 1-15, 349-440, trata dos aborígines americanos sob dois tipos primitivos: Os de cabeça longa vindos da Europa e os de cabeça redonda vindos da Ásia. A raça humana, defende ele, teve origem na Indomalásia e, daí, por migração se espalhou por toda a terra. O mundo foi povoado a partir de um centro pelo homem pleistocênico. Cada um dos grupos primários evoluiu em seu próprio habitat, mas todos surgiram de um precursor pleistocênico há 100 000 anos. W. T. Lopp, missionário entre os esquimós, em Porto Clarence, Alasca, na parte americana do Estreito de Bering, escreve aos 31 de agosto de 1892: "Nenhum degelo no inverno, e o gelo bloqueia o Estreito. Isto sempre trouxe dúvidas aos baleeiros. Os esquimós contaram-lhes que às vezes atravessavam o Estreito sobre o gelo, mas nunca se acreditou neles. No último bimestre março/abril nossos esquimós tinham necessidade premente de tabaco. Dois grupos (de cinco homens) foram com cães que tracionam trenós para o Cabo Oriental, na costa siberiana, e negociavam um pouco de peles de castor, de lontra, de marta em troca de tabaco russo e voltavam felizes. Só durante um inverno ocasional é que eles faziam isso. Porém durante o verão eles faziam várias viagens em seus botes de pele de lobo com quarenta pés (± 13 m) de comprimento. Tais observações podem lançar luz sobre a origem das raças pré-históricas da América". Tylor, Primitive Culture, 1.48 - "As nações semicivilizadas de Java e de Sumatra possuem uma civilização que, à primeira vista, mostra-se ter sido tomada de empréstimo a fontes hindus e maometanas". Per contra, contudo, ver Prof. A. H. Sayce: "A evidência agora tende a mostrar que os distritos na vizinhança do Báltico eram aqueles onde as línguas arianas irradiaram e onde habitaram a raça ou raças que originariamente as falavam. Os invasores arianos do noroeste da índia só podiam ter sido um produto distante do grupo primitivo rapidamente absorvido na população mais antiga
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à medida que avançavam para o sul; e falar dos 'nossos irmãos índios' é tão absurdo e falso como reivindicar um relacionamento com os negros dos Estados Unidos porque eles agora empregam uma língua ariana". Scribner, Where Did Life Begin? mais tarde adicionou argumentos que provam que a vida na terra teve sua origem no Pólo Norte e o Prof. Asa Gray favorece este ponto de vista. O Dr. J. L Wortman, no Yale Alumni Weekly, 14 de janeiro de 1903.129 – "O aparecimento de todos os primatas da América do Norte foi muito abrupta no começo do segundo estágio do eocênico. Ε é uma coincidência marcante que quase as mesmas formas aparecem nos leitos da era exatamente correspondente na Europa. Nem este sincronismo termina nos macacos. Ele se aplica a quase todos os outros tipos de mamíferos eocênicos do Hemisfério Norte e assim também à flora contemporânea. Estes fatos podem ser explicados somente com base na hipótese de que havia um centro comum do qual estas plantas e animais foram distribuídos. Considerando mais tarde que as atuais massas eram essencialmente as mesmas no período eocênico como o são agora e que a região do Pólo Norte então gozava de um clima subtropical como as plantas fósseis o provam, somos forçados a concluir que este centro comum de dispersão fica aproximadamente dentro do Círculo Ártico. ... A origem da espécie humana não ocorre no Hemisfério Ocidental".
2. A partir da língua A filologia comparativa aponta para uma origem comum de todas as mais importantes línguas e não fornece nenhuma evidência de que as menos importantes também não sejam derivadas. Sobre o sânscrito como elo de conexão entre as línguas indogermânicas, ver Max Müller, Science of Language, 1.146-165, 326-342, que defende que todas as línguas passam por três estágios: monossilábico, aglutinante, inflexivo; e que nada necessita a admissão de diferentes começos independentes tanto para os elementos materiais como para os formais dos ramos da fala: turaniano, semítico e ariano. As mudanças da linguagem freqüentemente são rápidas. O Latim converteu-se nas línguas romances e o saxão e o normando se unificaram no Inglês em três séculos.
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O Chinês pode ter-se separado do seu primitivo local de moradia enquanto a sua língua se conservava monossilábica. J. G. Romanes, Life and Letters, 195 - "As crianças são as construtoras de todas as línguas, distintas da língua". O exemplo da súbita aquisição da linguagem é de Helen Keller, proferindo publicamente uma longa peça só três semanas depois que pela primeira vez começou a imitar os movimentos dos lábios. G. F. Wright, Man and the Glacial Period, 242-301 - "Recentes investigações mostram que as crianças, quando por qualquer causa isoladas em uma época bem inicial produzirão freqüentemente uma linguagem de novo. Assim de modo algum pareceria improvável que várias línguas na América e talvez as mais antigas do mundo possam ter surgido em um curto tempo onde as condições eram tais que uma família de crianças pequenas poderia ter mantido a existência quando por qualquer causa elas fossem privadas dos cuidados paternos ou de qualquer tutor. ... Dois ou três mil anos de pré-história é talvez o exigível para produzir a diversificação das línguas que aparecem no decorrer da história. ... O estágio pré-histórico da Europa terminou menos do que mil anos antes da Era Cristã". Em um povo cuja fala não se tem fixado por ter sido incumbido de escrever, a fala de uma criança é uma grande fonte de corrupção lingüística e as mudanças são muito rápidas. Humboldt recolheu o vocabulário de uma tribo da América do Sul e, depois de quinze anos de ausência achou a sua linguagem tão mudada que parecia uma língua diferente. Zöckler, Jahrbuch für deutsche Theologie, 8.68 ss., nega o progresso a partir dos métodos inferiores da fala para os mais elevados e declara que as línguas inflexivas mais altamente desenvolvidas sejam as mais antigas e as mais disseminadas. As línguas inferiores são uma degenerescência de um mais elevado estágio de cultura. No desenvolvimento das línguas indogermânicas (tais como o francês e o inglês), temos exemplos de mudança da mais plena e rica expressão para a monossilábica e aglutinante. Pott também se opõe à teoria de Max Müller, Die Verschiendenheit der menschlichen Rassen, 202, 242. Pott chama a atenção para o fato de que as línguas australianas mostram inequívoca semelhança com as da Ásia Oriental e do Sul, apesar de que as características físicas são bem diferentes das asiáticas.
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Como o antigo egípcio, o berbère e o tuaregue são línguas semíticas no que tange ao vocabulário, apesar de serem arianas quanto à gramática. Assim o tibetano e o bernês estão, por um lado, entre as línguas indoeuropéias e, por outro, as monossilábicas, como o chinês. Um filólogo francês afirma ter interpretado o Yh King, o mais antigo e mais ininteligível escrito monumental do chinês, considerando-o uma deformação do assírio antigo ou caracteres cunéiformes acádicos e semelhante aos silabários, aos vocabulários e tábuas bilíngües contidas nas ruínas das bibliotecas da Assíria e da Babilônia; ver Terrien de Lacouperie, The Oldest Book of the Chinese and its Authors e seus The Language of China before the Chinese, 11, nota; ele defende σ "elemento não indígena da civilização chinesa e sua derivação do foco cultural caldaico-babilônico através da Susiana". A evidência mostrará que o chinês (língua) veio para a China originado da Susiana no século XXIII A.C.. O G inicial se emprega na época com o som de Y. Muitas palavras que em chinês começam com Y encontram-se no acádico com G, como o chinês Ye, 'noite', corresponde ao acádico Ge, com o mesmo sentido. Parece que a ordem de desenvolvimento é a seguinte: 1. a escrita pictórica; 2. a escrita silábica; 3. a escrita alfabética. Semelhantemente, há evidência de que os egípcios do tempo dos faraós eram imigrantes de outra terra, a saber, da Babilônia. Hommel deriva os hieróglifos egípcios das figuras de que se desenvolveram os caracteres cunéiformes e mostra que os elementos da própria língua egípcia estão contidos nessa fala mesclada da Babilônia que se originou da fusão de sumerianos e semitas. O Osíris do Egito é o Asari dos sumerianos. O sepultamento em túmulos de tijolos nas duas primeiras dinastias egípcias é uma sobrevivência da Babilônia, como o são os selos cilíndricos impressos na argila. Sobre as relações entre as línguas ariana e semítica, ver Whitney, Comp. Philology, Enciclopédia Britânica; Vida e Desenvolvimento da Linguagem, 269 e Estudo da Linguagem, 307,308 – "A língua fornece algumas indicações de valor duvidoso, que, tomadas com algumas outras considerações etnológicas, também de questionável pertinência, fornecem base para suspeitar de um relacionamento último.... Talvez se possa contar com a esperança de que a mais completa compreensão da história da fala semítica nos capacitará a determinar tal relação última, embora não se espere com confiança".
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Consideramos os fatos como, na sua totalidade, favorecendo uma conclusão oposta à do Dicionário Bíblico de Hastings, Dilúvio: "A diversidade da raça humana bem como da língua torna improvável que a humanidade derive de um só casal". E. G. Robinson: Ό único argumento fidedigno em favor da unidade da raça deriva da filologia comparativa. Se se estabelecer que uma das três famílias lingüísticas é mais antiga que as outras e a fonte destas o argumento é irretorquível. A coloração da pele parece jazer nas influências climáticas. Cremos na unidade da raça porque isto apresenta as menores dificuldades. Caso contrário, não saberíamos como interpretar Paulo em Rm. 5". Max Müller diz que a fonte da filologia moderna como da moderna liberdade e da legislação internacional é a mudança que o cristianismo operou, substituindo a estreita concepção nacional de patriotismo pelo reconhecimento de todas as nações e raças como membros de uma grande família humana.
3. A partir da psicologia A existência de características mentais e morais comuns entre as famílias da humanidade evidenciadas em máximas comuns, tendências e capacidades na predominância de tradições semelhantes e na aplicabilidade universal de uma filosofia e religião explica-se mais facilmente com apoio na teoria de uma origem comum. Entre as tradições amplamente prevalecentes pode ser mencionada a de moldar o mundo e o homem, de um primitivo jardim, de uma inocência e felicidade originais, de uma árvore do conhecimento, de uma serpente, de uma tentação e queda, de uma divisão do tempo em semanas, de um dilúvio, de sacrifício. É possível, senão provável, que alguns mitos, comuns a muitas nações, podem ter sido transmitidos a partir de um tempo quando as famílias da raça ainda não estivessem separadas.
4. A partir da fisiologia A) É juízo comum dos fisiólogos que o homem é uma só espécie. As diferenças que existem entre as variadas famílias da humanidade
Teologia Sistemática (Strong) 949 devem ser consideradas como variedades desta espécie. Como prova destas afirmações argumentamos: a) As inumeráveis gradações intermediárias que estabelecem conexão entre as assim chamadas raças umas com as outras. b) A identidade essencial de todas as raças nas características cranianas, osteológicas e dentais. c) A fertilidade de uniões entre indivíduos dos mais diversos tipos e a continuada fertilidade do produto destas uniões. Huxley, Critiques and Addresses, 163 – "Pode-se afirmar com segurança, mesmo que as diferenças entre os homens sejam específicas, que estas são de tal modo pequenas que a suposição de mais de uma estirpe primitiva é inteiramente supérflua. Podemos admitir que negros e australianos são espécies distintas e ser os mais estritos monogenistas e até mesmo crer que Adão e Eva sejam os primitivos pais da humanidade, i.e., na Hipótese de Darwin"; Origins of Species, 113 - "Sou um dos que crêem que atualmente não há nenhuma evidência para dizer que a humanidade surgiu originariamente de mais de que um só casal; devo dizer que não posso ver uma boa base, seja qual for, ou qualquer evidência sustentável para crer que há mais de uma espécie de ser humano". Owen, citado por Burgess, Ant. and Unity of Race, 185 - "O homem forma apenas uma espécie. As diferenças são apenas indicações de variedade. Tais variações aparecem de umas para com as outras através de gradações fáceis". Alexandre von Humboldt: "As diferentes raças de homens são formas de uma única espécie; não são diferentes espécies de um gênero". Quatrefages, Review D. deux Mondes, dezembro de 1860.814 – "Se alguém se coloca exclusivamente no plano das ciências naturais, é impossível não concluir em favor da doutrina monogenista". Wagner, citado em Bíblia Sacra, 19.607 - "Espécie = a coleção total de indivíduos capazes de produzir em conjunto uma progênie ininterruptamente fértil". Pickering, Races of Man, 316 - "Não há base intermediária entre a admissão de onze espécies distintas na família humana e sua redução a uma. Esta última opinião implica num ponto central de origem". É impossível decidir quantas raças há, se permitimos haver mais do que uma. Enquanto Pickering diria onze, Agassiz diz oito, Morton vinte e
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duas e Burke sessenta e cinco. Toda a ciência moderna tende para a derivação de cada família de um só germe. Outras características comuns a todas as raças humanas, além das mencionadas no texto, são a duração da gravidez, a temperatura normal do corpo, a freqüência média da pulsação, a tendência às mesmas doenças. Meehan, botânico do Estado da Pensilvânia, defende que os vegetais híbridos não são mais estéreis que as plantas comuns (The Independent, 21 de agosto de 1884). E. B. Tylor, art.: Anthropology Enc. Brit: "Ao todo pode-se afirmar que a doutrina da unidade da raça humana agora se assenta em uma base mais firme do que em épocas anteriores". Darwin, Animals and Plants under Domestication, 1.39 - "Desde a semelhança em vários setores dos cães meio domesticados até as espécies selvagens ainda vivas, pela a facilidade com que eles podem ser cruzados, desde os meio domesticados considerados de muito valor pelos selvagens e a partir de outras circunstâncias anteriormente assinaladas nas quais há possibilidade de domesticação, é altamente provável que os cães domésticos tenham descendido de duas espécies de lobos (por exemplo, os canis lupus e os canis latrans), e a partir de duas ou três duvidosas espécies de lobos (a saber, as formas européias, as índias e as norte-americanas); desde pelo menos uma ou duas espécies caninas sul-americanas; desde várias raças ou espécies de chacais; e talvez a partir de uma ou mais espécies extintas". O Dr. E. M. Moore tentou, sem sucesso, reproduzir através de um cão "Newfoundland" e um cão mestiço lobo do Canadá. Ele só provou mais uma vez a repugnância das espécies diferentes uma da outra.
B) A unidade da espécie é evidência pressuposta da unidade da origem. A unidade da origem fornece a mais simples explicação da uniformidade específica se, na verdade, a própria concepção de espécie não implica a repetição e a reprodução de uma idéia tipo primordial impressa na sua criação sobre o indivíduo com poder de transmitir tal idéia tipo aos seus sucessores. Dana, citado em Burgess, Antig. and Unity of Race, 185, 186 - "Na escala ascendente dos animais, o número de espécies em qualquer gênero diminui à medida aumentamos e, por analogia, deve diminuir na cabeça da
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série. Entre os mamíferos, os mais elevados gêneros têm poucas espécies e o mais elevado grupo, depois do homem, o orangotango, tem só oito, e estes constituem apenas dois gêneros. A analogia requer que o homem tenha proeminência e se constitua um só". 194 - "Uma espécie corresponde à soma definida ou condição de força concentrada na arte ou lei da criação.... Em qualquer caso particular a espécie começou a existir quando se criou a primeira célula germe ou indivíduo. Quando os indivíduos se multiplicam de geração a geração, há apenas uma repetição da idéia tipo primordial. ... A unidade específica baseia-se na unidade numérica. A espécie nada mais é que uma ampliação do indivíduo".
a) A este ponto de vista opõe-se a teoria, proposta por Agassiz, de centros diferentes de criação e de diferentes tipos de humanidade correspondentes à variante fauna e flora de cada um. Mas esta teoria faz a origem múltipla do homem uma exceção na criação. A ciência aponta mais para a origem única de cada espécie, quer vegetal quer animal. Se o homem for, como admite esta teoria, uma espécie única, pela mesma regra ele deve restringir-se em sua origem a um único continente. Esta teoria, contudo, aplica uma hipótese não aprovada relativa à não distribuição dos seres organizados em geral com o próprio ser de que a natureza e a história mostram conclusivamente que ele é uma exceção a cada regra geral, se é que existe. Porque o homem pode adaptar-se a todos os climas e condições a teoria dos centros separados da criação é, neste caso, gratuita e desnecessária. O ponto de vista de Agassiz foi a princípio publicado num ensaio sobre as Províncias do Mundo Animal, e nos tipos da humanidade de Nott e de Gliddon, livro produzido no interesse da escravidão. Agassiz sustentava oito centros distintos de criação e oito tipos correspondentes de humanidade – o ártico, o mongólico, o europeu, o americano, o negro, o hotentote, o malaio, o australiano. Agassiz considerava Adão ancestral só da raça branca, enquanto Peyrerius e Winchell sustentavam que o homem nas várias raças constitui apenas uma espécie.
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A tendência toda da recente ciência, contudo, tem sido contrária à doutrina de centros de criação separados, mesmo no caso da vida animal e vegetal. Na zona temperada da América do Norte há duzentas e sete espécies de quadrúpedes, dos quais só oito são encontrados na Europa e na Ásia e estes, animais polares. Se a América do Norte for um exemplo de centro de criação separado de suas espécies peculiares, por que Deus criaria as mesmas espécies de seres humanos em oito diferentes localidades? Isto faria o homem uma exceção na criação. Além disso, não há necessidade de criar o homem em muitas localidades separadas; pois, diferentemente do urso polar e do abeto norueguês, que não podem viver no equador, o homem pode adaptar-se aos mais variados climas e condições.
b) Objeta-se, contudo, que as diversidades de tamanho, cor e conformação física entre as variadas famílias da humanidade são inconsistentes com a teoria de uma origem comum. Mas respondemos que tais diversidades são de caráter superficial e podem ser explicadas pelas correspondentes à condição e ao ambiente. As mudanças observadas e registradas nos tempos históricos mostram que as diferenças citadas podem ser o resultado de lentas diferenças acumuladas a partir de um mesmo tipo original e ancestral. Além disso, a dificuldade neste caso é grandemente aliviada quando nós lembramos (1) que o período durante o qual estas divergências surgiram não é limitada de nenhum modo por seis mil anos; e (2) visto que as espécies em geral exibem sua maior força de divergência em variedades imediatamente após sua primeira introdução, todas as variedades das espécies humanas podem ter apresentado a si mesmas na história mais recente do homem. Exemplos de mudança fisiológica como resultado de novas condições: A Irlanda dirigida há dois séculos pelos ingleses de Armagh e o sul de Down, tornaram-se prógnatos como os australianos. Os habitantes da Nova Inglaterra descenderam dos ingleses, apesar de que agora têm um tipo físico que lhes é característico. Os índios da América do Norte, ou pelo menos algumas tribos deles, têm alterado permanentemente a forma do crânio usando faixas na infância. Os siques da índia, desde o estabelecimento da religião Baba Nanaque (1500 A.D.) e seu conseqüente avanço na civilização
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transformaram sua cabeça para mais longa e características mais reguläres de sorte que agora eles se distinguem mais dos seus vizinhos afegãos, tibetanos, hindus. Os selvagens ostiacos transformaram-se na nobreza magiar da Hungria. Os turcos da Europa estão, na conformação craniana, em grande avanço na direção dos turcos da Ásia de quem descendem. Os judeus provêm incontestavelmente de um mesmo ancestral; apesar de que temos entre eles os judeus poloneses de cabelos loiros, os judeus morenos da Espanha e os judeus etíopes do Vale do Nilo. Os portugueses que se estabeleceram nas índias Orientais no século XVI têm a compleição tão escura como os próprios hindus. Os africanos tornam-se de compleição mais clara quando vêm das bancas aluviais ribeirinhas para as terras mais altas, ou da costa; e, ao contrário, as tribos da costa que tiraram os negros do interior e tomaram os limites do seu território, tornando-se eles mesmos também negros. A lei da plasticidade originariamente maior, mencionada no texto, foi primeiro sugerida por Hall, o paleontólogo de Nova Iorque. Dawson aceita-o e o define em Story of the Earth and Man, 360 - "Está chegando uma nova lei: que as espécies, quando a princípio introduzidas, tem o poder inato de expansão que as capacita a rapidamente estender-se aos limites do seu âmbito geográfico e até chegar ao limite da sua diversificação em raças. Uma vez este alcançado, tais raças correm em linhas paralelas até que uma a uma se esgotem e desapareçam. De acordo com esta lei as mais aberrantes raças podiam desenvolver-se em poucos séculos, após o que cessaria a diferença e as diversas linhas de variação permaneceriam ao menos até fixarem as condições que elas originaram". Joseph Cook: A variabilidade é uma quantidade em diminuição; a tendência de mudança é maior no começo, mas, como a média do movimento de uma pedra lançada para o alto, diminui com o passar do tempo. Ruskin, Seven Lamps, 125 - "A vida de uma nação, via de regra, é como o fluxo de uma correnteza de lava, a princípio brilhante e feroz, e depois lânguida e coberta, avançando, por fim, só caindo aos poucos de seus blocos fundidos". Renouf, Hibbert Lectures, 54 – "Quanto mais recuamos rumo à antigüidade, mais aproxima o tipo egípcio do Europeu". Rawlinson diz que os negros não são representados nos monumentos egípcios antes de 1500 a.C. A influência do clima é muito grande, especialmente no estado selvagem.
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Em maio de 1891, morreu em São Francisco o filho de um intérprete na Casa de Câmbio dos Mercadores. Ele tinha 21 anos de idade. Três anos antes de sua morte sua pele clara era a sua primeira demonstração da beleza masculina. Foi atacado pelo "mal de Addison", escurecendo gradualmente a cor da superfície do seu corpo. Na ocasião da sua morte a sua pele era tão escura como a de um negro legítimo. Chamava-se George L. Sturtevant.
III. ELEMENTOS ESSENCIAIS DA NATUREZA HUMANA 1. Teoria Dicotomista O homem possui uma dupla natureza: por um lado material, por outro lado imaterial. Ele é corpo e espírito, ou alma. A consciência testifica que há dois e só dois elementos no homem. A Escritura confirma este testemunho no qual a representação prevalecente da constituição humana é a dicotomia. Dicotomista, de δίχα, 'em dois' e τέμνω, 'cortar', = formado de duas partes. O homem é tão consciente de que a sua parte imaterial é uma unidade como o seu corpo também o é. Ele conhece duas, e só duas, partes do seu ser -corpo e alma. Assim o homem é o verdadeiro Janus (Martensen), o Sr. que vê em duas direções (Bunyan). Ficará claro que as Escrituras favorecem a dicotomia, considerando
a) O registro da criação do homem (Gn. 2.7), no qual, como resultado do sopro do Espírito divino, o corpo torna-se possuído e vitalizado por um só princípio: a alma vivente. Gn. 2.7 – "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou nos seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente" - aqui não se diz que o homem era primeiro alma vivente e depois Deus soprou nele um , espírito; mas que Deus soprou o espírito e o homem tornou-se alma vivente = a vida de Deus apossou-se do barro e, como resultado, o homem teve uma alma. Cf. Jó 27.3 - "Enquanto em mim houver alento e o
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sopro de Deus em meu nariz"; 32.8 - "Há um espírito no homem e a inspiração do Todo-poderoso os faz entendidos"; 33.4 - Ό espírito de Deus me fez e a inspiração do Todo-poderoso me deu vida".
b) Passagens em que a alma humana, ou espírito, se distingue tanto do Espírito divino de que procede como do corpo em que habita. Nm. 16.22 - "Ó Deus, Deus dos espíritos de toda a carne"; Zc. 12.1 "Senhor... que forma o espírito do homem dentro dele"; 1 Co. 2.11 - "o espírito do homem que nele está ... o Espírito de Deus"; Hb. 12.9 - "ao Pai dos espíritos". As passagens já mencionadas distinguem o espírito do homem do Espírito de Deus. As passagens seguintes distinguem a alma, ou espírito humano do corpo em que habita: Gn. 35.18-"E aconteceu que, saindo-lhe a alma (porque morreu)"; 1 Re. 17.21 - "Ó Senhor, meu Deus, rogo-te que torne a alma deste menino a entrar nele"; Ec. 12.7 - "o pó volte à terra como era, e o espírito volte a Deus, que o deu"; Tg. 2.26 - "O corpo sem o espírito está morto". O primeiro grupo de passagens refuta o panteísmo; o segundo refuta o materialismo.
c) O uso intercambiável dos termos 'alma' e 'espírito'. Gn. 41.8 - Ό seu espírito perturbou-se"; cf. SI. 42.6 - "dentro de mim a minha alma está abatida". Jo. 12.27 - "Agora a minha alma está perturbada"; cf. 13.21 "turbou-se o seu espírito". Mt. 20.28 - "dar a sua vida (ψυχήν) em resgate de muitos"; cf. 27.50-"entregou o seu espírito (πνεύμα)". Hb. 12.23"aos espíritos dos justos aperfeiçoados"; cf. Αρ. 6.9 - "vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus". Nestas passagens, parece que "espírito" e "alma" são empregados em intercâmbio uma com a outra.
d) A menção de corpo e alma (ou espírito) constituindo juntos o homem como um todo. Mt. 10.28 - "perecer no inferno tanto a alma como o corpo"; 1 Co. 5.3 "ausente no corpo, mas presente no espírito"; 3 Jo. 2 - "desejo que te vá
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bem e que tenhas saúde assim como vai bem a tua alma". Estes textos implicam que o corpo e a alma (ou espírito) constituem o homem todo.
2. Teoria Tricotomista Ao lado desta representação comum da natureza humana consistindo em duas partes, acham-se passagens que, à primeira vista, parecem favorecer a tricotomia. Deve-se reconhecer que πνεύμα (espírito) e ψυχή (alma), apesar de usados com freqüência de modo intercambiável e sempre designando a mesma substância indivisível são às vezes empregados como termos contrastantes. Neste emprego mais preciso, ψυχή denota a parte imaterial do homem em seus poderes e atividades inferiores; como ψυχή ο homem é um indivíduo consciente e em comum com o bruto tem uma vida animal, com apetite, imaginação, memória, entendimento. Πνεύμα, por outro lado, denota a parte imaterial do homem em sua mais elevada capacidade e faculdade; - como πνεύμα o homem se relaciona com Deus e possui os poderes da razão, consciência e livre vontade que o diferencia do bruto e o constitui responsável e imortal. Nos textos que se seguem, espírito e alma distinguem-se um do outro: 1 Ts. 5.23 - "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo"; Hb. 4.12 - "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração". Compare 1 Co. 2.14 - Ora, o homem natural (gr. 'psíquico') não compreende as coisas do Espírito de Deus"; 15.44 - "Semeia-se o corpo animal (gr. psíquico), ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal (gr. psíquico), há também corpo espiritual"; Ef. 4.23 - "e vos renoveis no espírito do vosso sentido"; Jd. 19 - "sensuais [gr., psíquico], que não têm o Espírito".
Teologia Sistemática (Strong) 957 O elemento de verdade na tricotomia é simplesmente que o homem tem uma triplicidade de dons, em virtude dos quais a alma se relaciona com a matéria, consigo e com Deus. A teoria tricotomista, contudo, do modo em que é comumente definida, põe em perigo a unidade e imaterialidade da nossa mais elevada natureza sustentando que o homem consiste em três substâncias, ou três partes componentes - corpo, alma e espírito - e que alma e espírito são distintos um do outro do mesmo modo que a alma e o corpo. Os que defendem este ponto de vista divergem entre si quanto à natureza da ψυχή e sua relação com os outros elementos do nosso ser; alguns (como Delitzsch) sustentam que a ψυχή é um efluxo do πνεύμα, distinto em substância, mas não em essência, como o Verbo divino se distingue de Deus, mesmo sendo ainda Deus; outros (como Göschel) considerando a ψυχή, não como substância distinta, mas como resultado da união do πνεύμα com o σώμα. Outros ainda (como Cremer) sustentam que a ψυχή se sujeita à vida pessoal cujo princípio é o πνεύμα. Heard, Tripartite Nature of Man, 103 - "Deus é o Criador ex traduce do elemento animal e intelectual de cada homem. ... Não é assim com o espírito. ... Este procede de Deus, não por criação, mas por emanação".
Consideramos a teoria tricotomista insustentável, não só pelas razões já apresentadas como prova da teoria dicotomista, mas a partir das considerações adicionais: a) Emprega-se πνεύμα, assim como ψυχή, para designar o bruto. Ec. 3.21 - "Quem adverte que o fôlego dos filhos dos homens sobe (rodapé Vai') para cima e que o fôlego dos animais desce (rodapé Vai') para baixo da terra?" Ap. 16.3 - "E o segundo derramou sua taça no mar; e ele se tornou sangue; e toda alma vivente morreu" = o peixe.
b) Atribui-se ψυχή a Jeová.
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Am. 6.8 - "Jurou o Senhor Jeová pela sua alma" (LXX εαυτόν); Is. 42.1 – "o meu Eleito, em quem se compraz a minha alma"; Hb. 10.38 - "Mas o justo viverá pela fé; e, se ele recuar a minha alma não tem prazer nele".
c) Os mortos desencarnados são chamados ψυχαί. Αρ. 6.9 "Vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus"- cf. 20.4 "almas dos que foram degolados".
d) Atribuem-se os mais elevados exercícios da religião à ψυχή. Mc. 12.30 - "Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus ... de toda a tua alma"; Hb. 6.18,19 - "a esperança proposta; a qual temos como âncora da alma"; Tg. 1.21 - "a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar a vossa alma".
e) Perder a ψυχή é perder tudo. Mc. 8.36,37 - "Pois que aproveitaria ao homem ganhar o mundo todo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?"
f) As passagens nas quais se confia para apoiar a tricotomia podem ser melhor explicadas com base no ponto de vista já indicado de que alma e espírito não são duas substâncias ou partes distintas, mas designam o princípio imaterial de diferentes pontos de vista. 1 Ts. 5.23 - "vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados" = não uma enumeração científica das partes constituintes da natureza humana, mas um apanhado da sua natureza nas principais relações; compare Mc. 12.30 – "amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças" – onde ninguém pensaria ser uma prova para encontrar uma quádrupla divisão da natureza humana. Sobre 1 Ts. 5.23 ver Riggenbach (Lange's Com.). Hb. 4.12 - "e penetra a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas" = não a divisão entre a alma e o espírito, ou entre as juntas e medulas; mas penetra mais ainda na alma e no espírito até nas
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juntas e medulas destes; i.e. até as profundezas da natureza espiritual. Jd. 19 "sensuais, que não têm Espírito" (ψυχικοί, πνεύμα μη έχοντες) – embora πνεύμα = ο espírito humano, não significa necessariamente que não exista o espírito, mas que o espírito está entorpecido e é inoperante – como dizemos do homem fraco: 'ele não tem cabeça', ou de um homem sem princípios: 'ele não tem consciência'. "A distinção entre ψυχή e πνεύμα é funcional não substancial'. Moule, Outlines of Christian Doctrine, 161,163-2 - "Alma = espírito organizado inseparavelmente ligado ao corpo; espírito = o ser interior do homem considerado como dom de Deus. Não são elementos separados". Martineau, Seat of Authority, 39 -"A diferença entre o homem e as demais criaturas na terra não é que a vida instintiva do homem seja menor do que a dos animais porque, na verdade, ela vai além daquelas; mas é que, no homem, ela age em presença de outras forças que a transformam e sob a vista delas e, ao dar-lhe visão e luz, retira-lhe a cegueira. Deixa-se ao homem os seus próprios segredos".
Concluímos que a parte imaterial do homem, vista como uma vida individual e consciente, capaz de possuir e animar um organismo físico, chama-se ψυχή; vista como um agente racional e moral suscetível de influência e habitação divina chama-se πνεύμα. Πνεύμα, então, é a natureza do homem com os olhos voltados para Deus e capaz de receber e manifestar o Πνεύμα αγιον; ψυχή é a natureza do homem com os olhos voltados para a terra e tocando o mundo dos sentidos. Πνεύμα é a parte mais elevada do homem relacionada com as realidades espirituais ou capaz de tais relações; a ψυχή é a parte mais elevada do homem, relacionada com o corpo ou capaz de tal relação. Portanto, o homem não é tricotômico, mas dicotômico, e sua parte imaterial, conquanto possua dualidade de poderes, tem unidade de substância. A natureza do homem não é uma casa de três andares, mas de dois, com janelas no superior, apontando para duas direções - a terra e o céu. O andar inferior é a nossa parte física – o corpo. Mas "o andar superior" do homem tem dois aspectos; há um panorama das coisas inferiores e uma clarabóia através da qual se vêem as estrelas. "A alma", diz Hovey, "é o espírito modificado pela união com o corpo". É o homem a mesma coisa que
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o bruto, em gênero, embora diferente em grau? Não. O homem é diferente em gênero, embora possua certos poderes iguais ao do bruto. O sapo não é uma sensitiva em tamanho aumentado, apesar de que os seus nervos respondem automaticamente à irritação. O animal é de gênero diferente do vegetal apesar de ter os mesmos poderes que este. Os poderes de Deus incluem os do homem; mas a substância do homem não é a mesma de Deus nem aquele pode ser aumentado e desenvolvido até chegar a ser Deus. As forças do homem incluem as do bruto, mas este não é a mesma substância que aquele, nem poderia desenvolver-se até chegar a ser homem. Porter, Human Intellect, 39 - "O espírito do homem, além dos seus mais elevados dotes, pode também possuir os poderes inferiores que dão vida à matéria morta em um corpo humano". Não se segue que a alma do animal ou da planta seja capaz de exercer as funções ou desenvolvimentos mais elevados do homem, ou que a sujeição do espírito ao corpo do homem, na vida presente, desaprove a sua imoralidade. Continua Porter: Ό fato de que a alma começa a existir como força vital, não requer que sempre exista como força ou em conexão com um corpo material. Deveria requerer outro corpo, que tenha o poder para criá-lo para si mesmo, como formou aquele em que anteriormente o habitara; ou já pode tê-lo formado e mantê-lo pronto para a ocupação e uso tão logo retire aquele que o mantinha em conexão com a terra". Harris, Philos. Basis of Theism, 547 - "Os brutos podem ter vida orgânica e sensibilidade, e ainda continuam submersos na natureza. Não é a vida nem a sensibilidade que elevam o homem acima da natureza, mas a característica distintiva da personalidade". Parkhurst, The Pattern in the Mount, 17-30 sobre Pv. 20.27 - Ό espírito do homem é a lâmpada do Senhor" - não necessariamente iluminado, mas capaz de sê-lo, pelo toque da chama divina. Cf. Mt. 6.22,23 - "A candeia do corpo ... Se a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas." Schleiermacher, Christliche Glaube, 2.487 - "Só pensamos no espírito como alma, quando esta se encontra no corpo, de sorte que não podemos falar em imortalidade da alma, no sentido próprio, sem vida biológica". A doutrina do corpo espiritual é, portanto, o complemento da doutrina da
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imortalidade da alma. A. A. Hodge, Pop. Lectures, 221 - "Para nós, alma é apenas uma coisa, i.e., um espírito encarnado, um espírito com um corpo. Por isso nunca falamos em alma dos anjos. São elas espíritos puros, sem corpos". Lisle, Evolution of Spiritual Man, 72 - "O animal é o alicerce do espiritual; é o que a despensa significa para a casa; é a base do mantimento". Ladd, Philos, of Mind, 371-378 - "A tricotomia é absolutamente indefensável baseada na ciência psicológica. A razão do homem ou o espírito que está no homem, não deve ser considerado como um tipo de teto de mansarda construída em um prédio de um bloco em que todos os habitantes são substancialmente semelhantes ... Ao contrário, em cada conjunto de características, desde aquelas chamadas inferiores até as pronunciadamente superiores, a alma humana é diferente da alma de qualquer espécie de animais. ... A mais elevada também contém a inferior. Todos devem estar ligados a um súdito".
Este ponto de vista de alma e espírito como aspectos diferentes do mesmo princípio espiritual fornece refutação a seis importantes erros: a) Dos gnósticos, que sustentavam que o πνεύμα é a parte da essência divina e, portanto, incapaz de pecar. b) Dos apolinaristas, que ensinavam que a humanidade cristã abrangia apenas σώμα e ψυχή, enquanto a sua natureza divina fornecia o πνεύμα. c) Dos semipelagianos, que isentavam o πνεύμα humano do domínio do pecado original. d) De Pláceo, que sustentava que Deus criou só o πνεύμα (ver nossa seção sobre Teorias da Imputação). e) De Julius Müller, que sustentava que a ψυχή nos vem de Adão, mas que o nosso πνεύμα se corrompeu num estado anterior ao ser. f) Dos aniquilacionistas, que sustentam que se soprou no homem, em sua criação, um elemento divino que se perdeu por causa do pecado, e que se recupera só na regeneração; de modo que só com a restauração do seu πνεύμα em virtude da união com Cristo o homem se torna imortal e a morte é para o pecador uma completa extinção do ser.
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Quase podia entender-se que Tácito é um tricotomista quando escreve: "Si ut sapientibus placuit, non extinguuntur cum corpore magnae animae" A tricotomia concorda prontamente com o materialismo. Muitos tricotomistas sustentam que o homem pode existir sem um πνεύμα, mas que o σώμα e a ψυχή por si mesmos são somente matéria e incapazes de existência eterna. A tricotomia, contudo, quando fala do homem, parece ter um sabor de emanação ou de panteísmo. Um poeta moderno inglês descreve a alegre e cativante criança como "Uma correnteza prateada rompendo em gargalhada desde o lago divino, De onde fluem todas as coisas". Outro poeta, Robert Browning, em sua Death in the Desert, 107, descreve o corpo, a alma e o espírito como "O que faz, o que conhece, o que é - três almas, um homem". A Igreja do Oriente de um modo geral defendia a tricotomia. Seu melhor representante é João Damasceno (ii. 12), que fala da alma como o princípio sensitivo de vida que eleva o espírito - o espírito é um efluxo de Deus. Por outro lado, a Igreja do Ocidente, via de regra, defende a dicotomia e tem como representante máximo Anselmo: "Constat homo ex duabus naturis, ex natura, animae et natura carnis". Na controvérsia, Lutero tem sido citado de ambos os lados: Delitzsch, Bib. Psych, 460-462, como tricotomista e, fazendo o tabernáculo mosaico com suas três divisões uma imagem do homem tripartite. "A primeira divisão", diz ele, "chama-se o santo dos santos, porque lá Deus habitava e ali não há luz alguma. A seguir vem o lugar santo, pois dentro dele fica o candelabro com os sete braços e lâmpadas. O terceiro chama-se o átrio, ou corte; está sob o amplo céu e aberto à luz solar. Encontra-se a pintura de um regenerado. O seu espírito é o santo dos santos, a habitação de Deus, nas trevas da fé, sem luz, porque ele crê no que ele não vê, nem sente, nem compreende. A psique daquele homem é o lugar santo, cujas sete luzes representam as várias forças do entendimento: a percepção, o conhecimento das coisas materiais e as coisas visíveis. O seu corpo é o átrio que está aberto a todos, de modo que todos podem ver como ele age e vive". Contudo, Tomasius, Christi Person und Werk, 1.164-168, cita de Lutero a seguinte afirmação, claramente dicotomista: "A primeira parte, o espírito, é a mais elevada, a mais profunda, a mais nobre parte do homem. Através
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dela o homem se habilita a compreender as coisas eternas, em resumo, a casa em que habita a fé e a palavra de Deus. A outra, a alma, neste mesmo espírito, conforme a natureza, mas ainda em outro tipo de atividade, a saber, neste, que anima o corpo e opera através dele; e o seu método não é apegar-se às coisas incompreensíveis, mas apenas ao que a razão pode pesquisar, conhecer, e mensurar". O próprio Tomasius diz: "Defendo, com Meyer, que a tricotomia não é sustentada pela Escritura". Neander, às vezes citado como tricotomista, diz que o espírito é a alma em sua relação elevada e normal com Deus e com as coisas divinas; a ψυχή é a mesma alma em sua relação com as coisas sensíveis e talvez pecaminosas deste mundo. Godet, Bib. Studies of O.T., 32 – "O espírito = o sopro de Deus, considerado independente do corpo; a alma = o mesmo sopro, até onde vivifica o corpo". A doutrina que temos defendido, contudo, em contraste com o ponto de vista pagão, honorífica o corpo do homem, procedente das mãos de Deus e, portanto, organicamente puro (Gn. 1.31 - "E viu Deus tudo quanto tinha feito e eis que era muito bom"); pretendeu ser o lugar de habitação do Espírito divino (1 Co. 6.19 - Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que está em vós, proveniente de Deus?"); e contém o germe do corpo celestial (1 Co. 15.44 - "Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual"; Rm. 8.11 - "também vivificará o vosso corpo mortal pelo Espírito que em vós habita" - aqui muitas antigas autoridades redigem "por causa do Espírito que habita em vós"— διά το ένοικοΰν αυτού πνεύμα). Birks, Dificuldades da Fé, sugere que o homem, diferentemente dos anjos, pode ter sido provido de um corpo carnal, 1) para objetivar o pecado e 2) capacitar Cristo a unir-se à raça a fim de salvá-la.
IV. ORIGEM DA ALMA Três teorias relativas a este assunto têm dividido as opiniões: 1. Teoria da Preexistência Platão, Filo e Orígenes sustentaram este ponto de vista; o primeiro para explicar que a alma possui idéias não derivadas dos sentidos; o segundo para dar conta de seu aprisionamento no corpo; o terceiro para
Teologia Sistemática (Strong) 964 justificar a disparidade de condições nas quais os homens entram no mundo. Preocupam-nos, contudo, só as formas que os pontos de vista assumiram nos tempos modernos. Kant e Julius Müller, na Alemanha, e Edward Beecher, na América, defenderam-no apoiados em que a depravação inata da vontade humana só pode ser explicada supondo um ato pessoal de autodeterminação em um estado prévio, ou atemporal do ser. A verdade baseada na teoria da preexistência é simplesmente a existência ideal da alma, antes do nascimento, na mente de Deus - isto é a presciência de Deus a respeito da alma. As idéias intuitivas que a alma possui, tais como espaço, tempo, causa, substância, direito, Deus, evoluem a partir dela; em outras palavras, o homem é constituído de tal modo que percebe estas verdades sobre as ocasiões e condições próprias. A aparente lembrança de que temos visto em certa época do passado uma paisagem que sabemos estar agora pela primeira vez diante de nós é uma reunião ilusória de conceitos fragmentários ou a confusão de uma parte com o todo; já vimos algo como uma parte da paisagem, e na nossa fantasia vimos esta paisagem em seu todo. Nossa recordação de um evento ou cena é um todo, mas esta idéia pode ter um número indefinido de idéias subordinadas contidas nela. A vista de algo que é semelhante a uma dessas partes sugere o passado todo. Coleridge: "É a grande lei da imaginação que a semelhança em parte tende a tornar a semelhança do todo". Agostinho sugere que esta ilusão da memória pode exercer um papel importante no desenvolvimento da crença na metempsicose. William James dá outras explicações em sua Psicologia: Os traços do cérebro estimulados pelo evento próprio, e esses estimulados em sua lembrança, são diferentes; Baldwin, Psychology, 263,264: Não podemos lembrar o que vimos em um sonho ou pode haver um reflorescimento das experiências dos ancestrais ou da raça. Outros ainda sugerem que os dois hemisférios do cérebro agem assincronicamente; a autoconsciência ou a percepção distingue-se da percepção; o desacordo, a partir da fadiga, dos processos de sensação e percepção causa a paramnésia. Sully, Illusions, 280, fala de uma memória orgânica ou atávica: "Pode não acontecer que, pela transmissão da lei da hereditariedade ... antigas experiências
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ocasionalmente se reflitam em nossa vida mental, e desse modo façam surgir lembranças aparentemente pessoais?" Letson, The Crowd, crê que a turba é atávica e que baseia a sua ação em impulsos herdados: "Os reflexos herdados são memórias atávicas" (citação de Colegrove, Memory, 204). Platão sustenta que as idéias intuitivas são reminiscências de coisas aprendidas em um estado prévio do ser; ele considera o corpo como o túmulo da alma; e defende que a alma tem conhecimento anterior à sua entrada no corpo como prova que a alma tem conhecimento depois de deixar o corpo, isto é que ela é imortal. Ver Platão, Mênon, 82-85, Fedro, 7275, Fedro, 245-250, República, 5.460 e 10.614. Alexander, Theories of the Will, 36,37 – "Platão representa as almas preexistentes como se tivessem posto diante de si a escolha da virtude. A escolha é livre, mas é ela que determina o destino da alma. Deus não é o responsável pela escolha, mas o responsável é aquele que escolhe. Feita a escolha, as almas seguem o seu destino, que é irreversível. Como a teologia cristã ensina que o homem é livre, mas perdeu a sua liberdade com a queda de Adão, do mesmo modo Platão afirma que a alma preexistente é livre até que tenha escolhido a sua sorte na vida". Ver as Introduções às obras supramencionadas de Platão, nas traduções de Jovett. Filo sustenta que todas as almas são emanações de Deus e que, diferentemente dos anjos, as que se permitiram ser atraídas pela matéria são, por causa da sua queda, condenadas ao aprisionamento no corpo, o qual as corrompe e do qual elas devem libertar-se. Ver Filo, De Gigantibus, ed. de Pfeiffer, 2.360-364. Orígenes explica a disparidade das condições no nascimento pelas diferenças na conduta destas mesmas almas em um estado anterior. A justiça de Deus a princípio fez todas almas iguais; a condição aqui corresponde ao grau anterior de culpa; Mt. 20.3 "outros que estavam ociosos na praça" = almas ainda não trazidas ao mundo. Os talmudistas consideravam todas as almas criadas de uma só vez no princípio e guardadas como o grão de cereal no celeiro de Deus até que chegasse o tempo de juntar-se a cada corpo indicado. Ver Orígenes, De Anima, 7; περί άρχων, ii. 9.6; cf. i.1.2,4,18; 4.36. O ponto de vista de Orígenes foi condenado pelo Sínodo de Constantinopla, 538. Muitos dos fatos e referências anteriores são tomados de Bruch, Lehre der Präexistenz, traduzido na Bíblia Sacra, 20.681-733.
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Briggs, School, College and Character, 95 - "Entre nós, alguns se lembram de quando estávamos na terra pela primeira vez"; - isto nos lembra o menino que, sentado num canto antes de nascer, chorava de medo de ser uma menina. A ilustração mais interessante é aquela encontrada na Vida de Sir Walter Scott, de Lockhart, seu genro, 8.274 - Ontem, na hora do jantar, eu estava estranhamente assombrado com aquilo que poderia chamar de 4 preexistência - a saber, uma idéia confusa absolutamente inédita - que os mesmos tópicos tinham sido discutidos e as mesmas pessoas tinham produzido as mesmas opiniões sobre os referidos tópicos. É verdade que pode ter havido alguma base para as lembranças, considerando que ao menos três do grupo eram velhos amigos e há muito viviam em companhia uns dos outros ... Mas a sensação era tão forte que parecia o que se chama uma miragem no deserto, ou uma calentura aos navegantes, quando são vistos lagos no deserto e paisagens silvestres no mar. Ontem isso era muito angustiante e trouxe à memória as fantasias do Bispo Berkeley sobre o mundo ideal. Havia um senso vil de ausência de realidade em tudo o que eu fiz e disse ... Bebi vários copos de vinho, mas estes só agravaram a desordem. Não achei a in vino ventas dos filósofos.
À teoria da preexistência apresentamos as seguintes objeções: a) Não é totalmente desapoiada pela Escritura, mas contradiz diretamente o relato mosaico da criação do homem à imagem de Deus e a descrição de Paulo sobre o mal e a morte na raça humana como resultado do pecado de Adão. Gn. 1.27 – "E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou"; 31 – "E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom"; Rm. 5.12 - "Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado a morte, assim também, a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram". A teoria da preexistência ainda deixa a dúvida se todos os homens são pecadores ou se Deus arrola só os pecadores sobre a terra.
b) Se a alma, em seu estado preexistente, era consciente e pessoal é inexplicável que não tivéssemos nenhuma lembrança de tal preexistência
Teologia Sistemática (Strong) 967 e de decisão tão importante naquela condição anterior do ser; se a alma era inconsciente e impessoal, a teoria deixa de mostrar como, envolvendo tão vastas conseqüências, o ato moral poderia ter sido praticado. Cristo lembrou seu estado preexistente; e por que não faríamos o mesmo? Há toda a razão para crer que, no estado futuro, lembraremos da nossa existência presente; por que não lembraríamos o estado passado de onde viemos? Pode-se objetar que os agostinianos sustentam existir o pecado da raça em Adão - do qual nenhum dos descendentes se lembra. Porém respondemos que nenhum agostiniano defende a existência pessoal de cada membro da raça em Adão e, portanto, nenhum agostiniano necessita explicar a falta de lembrança do pecado de Adão. O defensor da preexistência, contudo, sustenta uma existência pessoal de cada alma em um estado anterior e, portanto, precisa explicar a nossa falta de memória da alma preexistente.
c) O ponto de vista não derrama nenhuma luz quer sobre a origem do pecado, quer sobre a justiça de Deus no seu trato porque recua a primeira transgressão a um estado de ser em que não havia nenhuma carne para tentar e, então, representa Deus como pondo a queda em condições sensitivas no mais elevado grau desfavorável à restauração deles. Esta teoria só aumenta a dificuldade de explicar a origem do pecado, recuando o seu início a um estado que conhecemos menos do que no presente. Dizer que a alma naquele estado anterior era só potencialmente consciente e pessoal é negar a verdadeira prova e lançar a culpa do pecado no Criador. Pfleiderer, Philos of Religion, 1.228 - "Em tempos modernos, os filósofos Kant, Schelling e Schopenhauer têm explicado o mal a partir de um ato inteligível de liberdade, que (segundo Schelling e Schopenhauer) ao mesmo tempo também efetua a existência temporal e a condição da alma de cada indivíduo. Mas o que devemos pensar de tais ações e feitos místicos através dos quais o sujeito vem primeiro a existir? Não é isto, que talvez sob tal disfarce singular está escondido o simples pensamento de que a origem
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do mal não está tanto em fazer a liberdade individual como no seu surgimento; o que vale dizer, no processo de desenvolvimento através do qual o homem natural se torna moral e o homem só potencialmente racional se torna realmente racional?"
d) Conquanto esta teoria dá conta do pecado espiritual inato, como orgulho e inimizade contra Deus, não dá nenhuma explicação do pecado sensitivo herdado, que sustenta ter vindo de Adão e cuja culpa deve logicamente ser negada. Conquanto algumas formas da teoria da preexistência estão expostas à última objeção indicada no texto, Julius Müller reivindica que o seu ponto de vista escapa a isso. A teoria dele, diz, "contradiria a Escritura Sagrada se derivasse a pecaminosidade inata somente deste ato extratemporal do indivíduo, sem reconhecer no referido estado pecaminoso o elemento de deprava-ção hereditária da vida natural e sua conexão com o pecado de nossos primeiros pais". Müller, cuja tricotomia aqui determina seu subseqüente esquema total, sustenta que só o πνεύμα decaiu no estado preexistente. Com o corpo a ψυχή vem de Adão. O tentador só trouxe a perversidade latente da vontade do homem a uma transgressão aberta. A pecaminosidade hereditária não envolve culpa, mas o princípio hereditário é o "meio através do qual a autoperversão transcendente da natureza espiritual do homem ao seu inteiro modo pessoal do ser". Conquanto nasce culpado no seu πνεύμα, em razão de que este πνεύμα pecou em um estado preexistente, ele também nasceu culpado quanto à sua ψυχή, porque esta forma uma unidade com o primeiro homem na sua transgressão. Mesmo baseado na mais favorável afirmação do ponto de vista de Müller deixamos de ver como pode consistir com a unidade orgânica da raça; pois naquilo que nos constitui seres humanos - o πνεύμα - somos criaturas distintas e separadas como os anjos. Também deixamos de ver como, baseados neste ponto de vista, pode-se dizer que Cristo tomou a nossa natureza; ou, se ele a tomou, como pode ele não ter cometido pecado. Kahnis, Dogmatik, 3.250 — "Esta doutrina é inconsistente com o indiscutível fato de que as almas das crianças são semelhantes à dos pais; e ignora a conexão do indivíduo com a raça".
Teologia Sistemática (Strong) 2. Teoria Criacionista
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Aristóteles, Jerônimo e Pelágio sustentaram este ponto de vista e modernamente defenderam-no os católicos romanos e os teólogos reformados. Considera que Deus criou imediatamente a alma de cada ser humano e uniu-a ao corpo ou na concepção, ou no nascimento, ou num período entre ambos. Os defensores desta teoria apresentam em seu favor certos trechos da Escritura, referindo-se a Deus como o Criador do espírito humano, juntamente com o fato de que há marcante individualidade na criança, que não pode ser explicada como simples reprodução das qualidades existentes nos pais. O criacionismo, como normalmente é defendido, considera que apenas o corpo se propaga a partir das gerações passadas. Os criacionistas que defendem a tricotomia dizem, contudo, que a alma animal, a ψυχή, se propaga com o corpo, enquanto a parte mais elevada do homem, o πνεύμα, em cada caso é uma criação direta de Deus; o πνεύμα não é criado bem antes do corpo, como crêem os defensores da preexistência, mas no tempo em que o corpo assume sua individualidade distinta. Aristóteles (De Anima) é o primeiro a dar expressão a este ponto de vista. Jerônimo diz que Deus "faz almas diariamente". Os escolásticos seguiram Aristóteles e, através da influência da Igreja Reformada, o criacionismo tornou-se a opinião prevalecente pelos dois últimos séculos. Entre seus melhores representantes estão Turretin, Institutes, 5.13 (vol. 1.425); Hodge, Syst. Theol., 2.65-76; Martensen, Dogmatics, 141-148; Liddon, Elements of Religion, 99-106. Alguns teólogos reformados definiram com muita exatidão o método da criação de Deus. Polano (5.31.1) diz que Deus sopra a alma nos meninos quarenta dias após a concepção, e nas meninas oitenta. Göschel [Herzog, Enciclopédia, art.: Seele] defende que, enquanto a dicotomia conduz ao traducianismo, os tricotomistas se aliam ao criacionismo que considera o πνεύμα uma criação direta de Deus, mas que a ψυχή se propaga com o corpo. Esta corresponde ao nome da família; aquela ao nome cristão. Incluiríamos George Macdonald como um dos que crêem na doutrina da Preexistência ou no Criacionismo, ao escrever no seu
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Catecismo dos Bebês: "De onde você veio, querido bebê? De um lugar qualquer para cá. De onde você obteve os seus olhos tão azuis? Do céu, quando o atravessei. De onde você recebeu essa lagrimazinha? Achei-a aguardando a minha vinda até este lugar. De onde você auferiu este ouvido de pérola? Deus falou e ele saiu para ouvir. Como tudo veio a ser o que você é? Deus pensou em mim e dessa forma eu cresci".
O criacionismo é insustentável pelas seguintes razões: a) As passagens aduzidas em seu apoio podem, com igual propriedade, ser consideradas como expressão da atuação mediata de Deus na origem das almas humanas; entretanto o teor geral da Escritura bem como as suas representações de Deus como o autor do corpo do homem favorecem esta interpretação. As passagens freqüentemente apoiadas pelos criacionistas são: Ec. 12.7 - "o espírito volta a Deus que o deu"; Is. 57.16 - "as almas que eu fiz"; Zc. 12.1 - "o Senhor que forma o espírito do homem dentro dele"; Hb. 12.9 "Pai dos espíritos". Mas com igual clareza afirma-se que Deus forma o corpo do homem: SI. 139.13,14 - "Tu formaste o meu interior; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Graças dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são maravilhosas"; Jr. 1.5 - "Antes que eu te formasse no ventre materno". Contudo, não hesitamos em interpretar estas passagens não como expressão imediata da criação, mas mediata; Deus opera através das leis naturais da geração e desenvolvimento naquilo que se refere à produção do corpo do homem. Nenhuma das passagens citadas no começo proíbe-nos de supor que ele opera através destas mesmas leis naturais na produção da alma. No criacionismo a verdade se encontra na presença e operação de Deus em todos os processos naturais. Um Deus transcendente manifesta-se em toda a geração física. Shakespeare: "Há uma divindade que molda os nossos fins, que os lavra como nós queremos". Pfleiderer, Grundriss, 112 - Ό criacionismo, que dá ênfase à origem divina do homem, é inteiramente compatível com o traducianismo, que dá ênfase à mediação dos agentes naturais. Assim, para a raça como um todo, sua origem na atividade criadora de Deus é perfeitamente consistente com a produção da evolução natural".
Teologia Sistemática (Strong) 971 b) O criacionismo considera o pai terreno gerando apenas o corpo de seu filho - certamente não como o pai da parte mais elevada dele. Isto faz o animal ter mais nobres poderes de propagação do que o homem; pois o animal se multiplica segundo a sua própria imagem. A nova fisiologia apropriadamente encara a alma, não como algo exteriormente acrescido, mas como um princípio animador do corpo desde o começo e que tem uma influência determinante no desenvolvimento integral. A teoria criacionista não dá explicação adequada por que os filhos são semelhantes aos seus pais no que se refere ao intelecto e ao espírito do mesmo modo que ao elemento físico. Mason, Faith of the Gospel, 115 - Ό amor dos pais pelos filhos e dos filhos pelos pais protesta contra a doutrina de que só se transmite o corpo". Aubrey Moore, Science and the Faith, 207, citada na Revista Contemporânea, dez 1893.876 - "Ao invés da derivação física da alma, defendemos a derivação espiritual do corpo". Devemos corrigir esta afirmação dizendo que defendemos a derivação espiritual tanto da alma quanto do corpo e que a lei natural é tão somente a operação do espírito humano e do divino.
c) A individualidade do filho, mesmo nos casos mais extremos, como no súbito surgimento de famílias obscuras e circunstâncias de homens marcantes como Lutero, podem ser melhor explicadas supondo uma lei de variação imprimida na espécie em seu começo - lei cuja operação Deus prevê e supervisiona. Freqüentemente exageram-se as diferenças dos filhos com relação aos pais; geralmente os homens são produto dos seus ancestrais e do seu tempo mais do que costumamos pensar. Dickens faz nascer filhos angélicos de pais depravados e os faz nascer em favelas. Mas ele pertence a uma geração passada, quando os fatos da hereditariedade eram desconhecidos. A escola de George Eliot está mais próxima da verdade; apesar de exagerar a doutrina, toda a idéia da vontade livre e toda a esperança de livrar-se do destino se desvanecem. Shaler, Interpretation of Nature, 78,90-"Motivos distintos, transmitidos de geração a geração, às vezes permanecem latentes durante grandes períodos para, subitamente, manifestarem-se sob
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condições cuja natureza não se discerne ... O conflito de herança [a partir de diferentes ancestrais] pode levar à intuição da variedade". Apesar do ponto de vista de George Eliot, como explicar, às vezes, um lírio que se desenvolve em uma lagoa estagnada? Podemos lembrar que os elementos paterno e materno são diferentes; a união dos dois bem pode produzir um terceiro em alguns sentidos diferentes; do mesmo modo que, quando dois elementos químicos se unem o produto difere de ambos os constituintes. Convém lembrar também que a natureza é um fator; a alimentação é outro; e este, com freqüência, é mais poderoso que o primeiro (ver Galton, Inquires into Human Faculty, 77-81). O ambiente determina em grande parte o desenvolvimento e o seu grau. A palavra gênio é outro nome para Providência. Antes e além de tudo devemos reconhecer a múltipla sabedoria de Deus que, na própria organização da espécie, imprime sobre esta uma lei de variação, de sorte que, no tempo próprio e sob condições adequadas, a antiga se modifica na direção do progresso e avanço para algo mais elevado. George A. Gordon, Christ of today, 123-126 - "É ridículo explicar Abraão Lincoln, e Robert Burns, e Shakespeare baseados nos áridos princípios de hereditariedade e meio ... Toda a inteligência e caráter elevado são transcendentes e têm sua fonte e mente no coração de Deus. É na transcendência de Cristo a respeito das suas condições terrenas que notamos a unicidade completa de sua pessoa".
d) Esta teoria, se permite que a alma seja originariamente possuída de tendências depravadas, faz Deus o autor direto do mal moral; se sustenta que a alma foi criada pura, faz Deus indiretamente o autor do mal moral, ensinando que ele põe a alma pura em um corpo que inevitavelmente se corromperá. O argumento decisivo contra o criacionismo é o que faz Deus o autor do mal moral. Kahnis, Dogmatik, 3.250 - "O criacionismo se apóia justamente num antiquado dualismo entre alma e corpo. É irreconciliável com a condição pecaminosa da alma humana. A verdade da doutrina é somente esta, que a geração pode produzir uma vida humana imortal conforme o poder que a Palavra de Deus concede e em cooperação especial com o próprio Deus". A dificuldade de supor que Deus cria uma
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alma pura só para inseri-la no corpo que infalivelmente a corromperá – "sicut vinum in vase acetoso" – levou muitos dos maiores sábios teólogos reformados a modificar a doutrina criacionista combinando-a com o traducianismo. Rothe, Dogmatik, 1.249-251, defende o criacionismo em um sentido mais amplo - a união dos elementos paterno e materno sob a expressa e determinante eficácia de Deus. Ebrard, 1.327-332 considera a alma como recriada embora por processo mediato segundo a lei, que ele chama de 'geração metafísica'. Dorner, System of Doctrine, 3.56, diz que o indivíduo não é somente uma manifestação da espécie; Deus aplica à origem de cada homem um pensamento criativo especial e ato da vontade; contudo ele o faz através da espécie, de modo que se trata da criação por lei; outro filho seria, não a continuação da espécie, mas o estabelecimento de uma nova. Falando da alma humana de Cristo, Dorner diz (3.340-349) que ela não deve sua origem a Maria, nem à espécie, mas ao ato criador de Deus. A alma apropria para si mesma, do corpo de Maria, os elementos de uma forma humana, purificando-os no processo consistente com o começo de uma vida ainda sujeita ao desenvolvimento e fraqueza humanos. Bowne, Metaphysics, 500 - "As leis da hereditariedade nunca devem ser vistas como explicação de um fato, mas somente como descrições dele. Não como se os ancestrais passassem algo à posteridade, mas tão somente por causa da consistência interior da ação divina" é que são filhos semelhantes a seus pais. Não podemos considerar qualquer destes pontos de vista intermediários como autoconsistentes ou inteligíveis. Passamos a considerar a teoria traducianista que cremos mais plenamente ir ao encontro dos requisitos da Escritura e da razão.
3. Traducianista Este ponto de vista foi proposto por Tertuliano e sustentado implicitamente por Agostinho. Nos tempos modernos tem sido a opinião prevalecente da Igreja Luterana. Sustenta que a raça humana foi criada imediatamente em Adão e, com relação tanto ao corpo como à alma, propagou-se a partir dele por geração natural - e todas as almas desde
Teologia Sistemática (Strong) 974 Adão são apenas mediatamente criadas por Deus, o sustentador das leis de propagação que foram originaria-mente estabelecidas por ele. Tertuliano, De Anima: "Tradux peccati, tradux animae". Gregório de Nissa: "Embora seja um, formado de alma e corpo, supõe-se que o princípio da sua constituição também seja um; de sorte que não pode ser mais velho nem mais novo do que ele mesmo - aquilo que nele que está fisicamente é o que vem primeiro; a outra parte vem depois" (citado de Crippen, Hist., of Christian Doctrine, 80). Agostinho, De Pec. Mer. et Rem., 3.7 - "Em Adão todos pecaram quando na sua natureza estavam num homem"; De Civitate Dei, 13.14 – "Pois todos nós estávamos num homem, quando todos éramos aquele homem ... A forma em que cada um de nós deveria viver não era como ainda individualmente criada e distribuída para nós, mas já existia a natureza seminal de cuja propagação nós somos o resultado". Na verdade, Agostinho hesitou em suas afirmações sobre a origem da alma; parecia temer que um traducianismo explícito e pronunciado pudesse envolver conseqüências materialísticas; contudo, logicamente apoiado na sua doutrina do pecado original, o traducianismo vem a ser o ponto de vista diretivo dos reformados luteranos. Em sua Conversa de Mesa, Lutero diz: "A reprodução da humanidade é uma grande maravilha e um grande mistério. Se Deus me tivesse consultado sobre o assunto eu lhe teria sugerido que continuasse a geração das espécies moldando-as a partir da argila, do mesmo modo que Adão o foi; também o teria aconselhado a deixar que o sol permanecesse suspenso sobre a terra como uma grande lâmpada, mantendo perpétua luz e calor". O traducianismo defende que o homem, como espécie, foi criado em Adão. Em Adão a substância da humanidade ainda não estava distribuída. De Adão derivamos nosso ser imaterial assim como o material, por leis naturais de propagação – cada homem individualmente, depois de Adão, possui uma parte da substância que se originou nele. A reprodução sexual tem como propósito a conservação das variações dentro do limite. Cada casamento tende a trazer de volta o tipo individual da espécie. A descendência não representa um dos pais, mas ambos. Ε como cada um destes representa os avós, os filhos representam a raça toda. Sem esta conjugação, as peculiaridades individuais se reproduziriam em linhas
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divergentes como um tiro de uma arma de fogo. A fissão necessita de ser suplementada pela conjugação. O emprego da reprodução sexual deve preservar o indivíduo médio em face da tendência progressiva de variação. Na reprodução assexuada a descendência parte para as linhas de desvio e nunca mesclam as suas qualidades com as dos seus êmulos. A reprodução sexual faz do indivíduo o tipo de espécie e dá solidariedade à raça. John Milton, em sua Christian Doctrine, é traducianista. Ele não crê na noção de uma alma separada do corpo e habitando nele. Ele crê em uma certa corporificação da alma. A mente e o pensamento estão arraigados num organismo corpóreo. A alma não recebeu o sopro depois que o corpo foi formado. O sopro de Deus nas narinas do homem foi somente o impulso vivificante ao que já tinha vida. Deus não cria almas a cada dia. O homem é um corpo e alma, ou alma-corpo e transmite a si mesmo como tal. Harris, Moral Evolution, 171 – O homem, como indivíduo, tem grande número de ancestrais assim como grande número de descendentes. Ele é o ponto central de uma ampulheta, ou uma reta entre dois mares que se estendem adiante e atrás. Como, então, escaparemos à conclusão de que a raça humana foi tão numerosa no começo? Devemos lembrar que outros filhos têm os mesmos avós que nós; que tem havido casamentos entre si; e que, além do mais, as gerações correm em linhas paralelas, que as linhas se expandem um pouco em alguns campos e períodos e se estreitam em outros. É como uma parede coberta de papel em padrão diamante. As linhas divergem e convergem, mas as figuras são paralelas.
Com relação a este ponto de vista assinalamos: a) Parece o melhor segundo a Escritura, que representa Deus criando a espécie em Adão (Gn. 1.27) e desenvolvendo-a e perpetuandoa através de agentes secundários (1.28 cf. 22). Só uma vez soprou-se nas narinas o fôlego da vida (2.7 cf. 22; 1 Co. 11.8. Gn. 4.1; 5.3; 46.26; cf At. 17.21-26; Hb. 7.10) e depois da formação do homem Deus cessa sua obra da criação (Gn. 2.2). Gn. 1.27 - "E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea o criou"; 28 - Έ Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra"; cf. 22 - da criação do bruto: Έ
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Deus os abençoou, dizendo: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei as águas dos mares; e as aves se multipliquem na terra". Gn. 2.7 - Έ formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida e o homem foi feito alma vivente"; cf. 22 - "Ε da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe-a a Adão"; 1 Co. 11.8 - "Porque o varão não provém da mulher, mas a mulher, do varão" (έξ ανδρός). Gn. 4.1 - "Eva ... gerou Caim"; 5.3 - "Adão ... gerou um filho ... Sete"; 46.26 "Todas as almas que vieram com José ao Egito, que descenderam dele"; At. 17.26 - "e de um só fez ['pai' ou 'corpo'] toda a geração dos homens"; Hb. 7.10 - Levi "ainda estava nos lombos de seu pai quando Melquisedeque lhe saiu ao encontro"; Gn. 2.2 Έ havendo Deus acabado no dia sétimo a sua obra, que tinha feito, descansou no sétimo dia de toda a sua obra que tinha feito". Shedd, Dogm. Theol., 2.19-29, acrescenta também Jo. 1.13; 3.6; Rm. 1.13; 5.12; 1 Co. 5.22; Ef. 2.3; Hb. 12.9; SI. 139.15,16. Só Adão teve o direito de ser criacionista. Westcott, Com. on Hebrews, 178 - "Os descendentes de Abraão estavam incluídos nele não só como progenitor, no sentido físico, mas também porque ele foi o recebedor das promessas em que a plenitude da raça em seus múltiplos desenvolvimentos se incluía. Ε Levi inclui seus descendentes em sua própria pessoa assim como ele estava incluído em Abraão"; "Levi, pagando os dízimos em Abraão, implica que seus descendentes estão incluídos no ancestral visto que os seus atos têm validade para eles. Fisicamente, ao menos os mortos governam os viventes. O indivíduo não é um ser completamente autocentrado. Ele é membro de um conjunto. Portanto, o traducianismo é uma verdade. Mas, se isto fosse tudo, o homem seria um mero resultado do passado e não teria responsabilidade individual. Há um elemento não derivado do nascimento, embora possa seguir sobre ele. O reconhecimento da individualidade é a verdade do criacionismo. A força da visão segue sobre o órgão da visão, modificado por esta, mas não criado por ela. Portanto, temos a unidade social da raça, mais a responsabilidade pessoal do indivíduo, a influência comum dos pensamentos mais a força dos grandes homens, o fundamento da esperança mais a condição do juízo".
b) A analogia da vida vegetal e animal o favorece; nela garante-se o crescimento do número, não por multiplicidade de criação imediata, mas pela derivação natural de novos indivíduos a partir de um pai. Uma
Teologia Sistemática (Strong) 977 derivação da alma humana a partir de seus pais não implica um ponto de vista materialista da alma e sua infinda divisão e subdivisão, mais do que semelhante derivação do bruto, prova que o princípio de inteligência nos animais inferiores é totalmente material. O método de Deus não é o do milagre sem fim. Deus opera na natureza através de causas secundárias. Deus não cria um novo princípio vital no começo da existência de cada maçã em separado, e de cada cão em separado. Cada um destes é resultado de uma força que por si se multiplica, implantada de uma vez por todas no primeiro elemento da sua raça. Dizer, com Moxon (Baptist Review, 1881.278), que Deus é o autor imediato de cada novo indivíduo é negar as causas secundárias e fundir a natureza em Deus. Toda a tendência da ciência moderna acha-se em direção oposta. Ε não há boa razão para tornar a origem da alma humana individual uma exceção à regra. Agostinho vacilou em seu traducianismo porque temeu a inferência de que a alma é dividida e subdividida, isto é, que se compõe de partes e, portanto, de natureza material. Mas não se segue que toda separação é material. Nós, na verdade, não sabemos como a alma se propaga. Mas sabemos que a vida animal se propaga e que ela não é matéria, nem formada de partes. O fato de que a alma não é matéria, não é composta de partes, não é razão suficiente por que não possa também propagar-se. É bom lembrar que substância não implica necessariamente em extensão ou figura. Substância é somente aquilo que está debaixo, que é subjacente, que sustenta, ou, em outras palavras, aquilo que é a base dos fenômenos. A propagação da mente, portanto, não envolve qualquer divisão, ou rompimento, como se a mente fosse uma massa de matéria. A chama se propaga, mas não por divisão e subdivisão. O Professor Ladd é criacionista, juntamente com Lotze, que ele cita, mas repudia a idéia de que a mente é suscetível a divisão; ver Ladd, Philos, of Mind, 206, 359-366 - "A mente não vem de lugar nenhum, pois ela nunca esteve, como mente, no espaço, e agora não está mais no espaço e não pode ser concebida como vindo e indo pelo espaço ... A mente é um crescimento ... Os pais não transmitem as suas mentes à sua descendência. A mente do filho não existe antes que ele aja. Suas atividades são a sua existência". Assim podemos dizer que a
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chama não tem existência antes que ela aja. Ainda ela pode dever a sua existência a uma chama anterior. Há um provérbio indiano que diz: "Não há loto sem caule". Hall Came, em sua novela The Manxman, conta-nos que o Juiz (Deemster) da Ilha do Homem tinha dois filhos. Eram diferentes um do outro quando dentro e fora de uma bola. Mas a bola era o próprio Juiz (Deemster). Hartley Coleridge herdou o imperioso desejo de seu pai por estimulantes e com isso a sua capacidade de resistir à tentação deles.
c) A observada transmissão não simplesmente de características físicas, mas mentais e espirituais nas famílias e raças e especialmente as tendências morais uniformemente más e disposições que todos os homens possuem desde o seu nascimento são prova de que na alma assim como no corpo derivamos o nosso ser de um ancestral humano. Galton, em seu Gênio Hereditário e Pesquisa sobre a Faculdade Humana fornece abundante prova da transmissão de características mentais e espirituais de pai para filho. Ilustrações no caso de famílias são os americanos Adams, os ingleses George, os franceses Bourbon, e os alemães Bach. No caso de raças, são os índios, os negros, os chineses, os judeus. Hawthorne representa a introspecção e a consciência da Nova Inglaterra Puritana. Emerson teve um ministro entre os seus ascendentes do lado paterno ou do materno no decorrer de cada uma das oito gerações anteriores. Todo ser humano é "um pedacinho do seu antigo grupo familiar". "O homem é um ônibus no qual os ancestrais estão assentados" (O. W. Holmes). A variação é uma das propriedades das coisas vivas; a outra é a transmissão. "Numa mesa de dissecação, nas membranas do corpo de uma criança recém-nascida, podem ser vistos 'os sinais de um beberrão'. As manchinhas nas faces do seu neto fornecem um espelho do velho libertino. A hereditariedade é a forma de Deus visitar o pecado até a terceira e quarta gerações". Sobre a hereditariedade e depravação ver Phelps, Biblia Sacra, abril 1884.254 - "Quando cada molécula no cérebro paterno tem a forma de um ponto de interrogação, chega quase a ser miraculoso se acharmos o sinal de exclamação da fé nas células cerebrais do filho". Robert G. Ingersoll diz que a maioria dos grandes homens tem grandes mulheres e que a maioria das grandes mulheres tem grandes pais. A maioria
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dos grandes é como montanhas com o vale dos ancestrais de um lado e a depressão da posteridade do outro. House of the Seven Gables de Hawthorne ilustra o princípio da hereditariedade. Mas em seu Fauno de mármore e na Transformação, Hawthorne, não com sabedoria, sugere que o pecado é uma necessidade para a virtude, um cenário ou condição para o bem. Dryden, Absalom and Ahitophel, 1.156 – "Homens de grande inteligência estão certos de que a loucura quase aliada e a fina participação divide os seus territórios". Lombroso, O Homem Gênio, sustenta que gênio é uma doença mental aliada à mania epileptiforme ou à demência de excêntrico. Se fosse assim, inferir-se-ia que a civilização é o resultado da insanidade e que, tão logo os napoleões, os dantes, e os newtons se manifestassem, seriam confinados em asilos de gênios.
d) A doutrina traducianista abrange e reconhece o elemento de verdade que dá plausibilidade ao ponto de vista criacionista. O traducianismo apropriadamente definido admite uma concorrência divina em todo o desenvolvimento da espécie humana e permite, sob a orientação de uma Providência superintendente, progressos especiais em tipo no nascimento de homens marcados semelhantes aos que podemos supor terem ocorrido na introdução de novas variedades na criação animal. Page-Roberts, Sermões na Universidade de Oxford: "Nada mais injusto que o homem herde tendências más do que herde boas. Tornar impossíveis aquelas é tornar impossíveis estas. Objetar a lei da hereditariedade é objetar a ordem divina de viver em sociedade e dizer que Deus deveria ter feito o homem, como os anjos, um grupo, não uma raça". Só se pode explicar as características morais comuns à raça com base no ponto de vista da Escritura: "o que é nascido da carne é carne" (Jo. 3.6). Porque a propagação é tanto da alma como do corpo, vemos que gerar filhos sob condições impróprias é crime e que o feticida é homicida. Haeckel, Evolution of Man, 2.3 – "O embrião humano passa por todo o curso de seu desenvolvimento em quarenta semanas. Todo homem é realmente mais velho do que o período que normalmente se admite. Quando, por exemplo, se diz que um filho tem nove anos e um quarto, na realidade ele tem dez anos". Não será por esta razão que os hebreus chamam uma criança, no seu nascimento, de
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criança de um ano? O Presidente Edwards orava por seus filhos e pelos filhos dos seus filhos no fim do seu período e o Presidente Woolsey congratulava-se pelo fato de ser um dos herdeiros de tais orações. R. W. Emerson: "Como pode o homem desligar-se de seus ancestrais?" O gênio deveria selecionar seus ancestrais com muito cuidado. Quando começamos a educação de um filho? Cem anos antes dele nascer. Uma senhora cujos filhos eram barulhentos e traquinas disse a um parente quacre que ela gostaria de poder ter para eles uma boa governanta quacre que lhes ensinasse os meios tranqüilos da Sociedade dos Amigos. "Ela não faria isso", foi a resposta; "eles deveriam ter sido embalados em um berço quacre, para aprender os modos quacres". Galton, Natural Inheritance, 104 - "O filho herda em parte de seus pais, em parte de seu ancestral. Em cada povoação em que há liberdade de casamento, a genealogia de qualquer pessoa recua o máximo possível e se verá que o seu ancestral consiste em variados elementos indistintos do tipo tomado, ao acaso, da população em geral". Galton fala da tendência que as peculiaridades têm de reverter ao tipo geral e diz que o irmão de um ser humano se relaciona duas vezes mais com este como o seu pai e nove vezes mais com o seu primo. A estatura pequena de qualquer classe de homem em particular será a mesma da raça: em outras palavras, será medíocre. Isto pesa muito contra a plena transmissão hereditária de qualquer dom raro ou valioso, assim como poucos dos muitos filhos assemelhar-se-ão aos seus pais". Podemos acrescentar a estes pensamentos de Galton que o próprio Cristo, a respeito do seu ancestral humano, não era tanto filho de Maria como filho do homem. Brooks, Foundations of Zoology, 144-167 – num caso investigado, "em sete gerações e meia a ancestralidade máxima de uma pessoa tem 382, ou de três pessoas 1.146. Os nomes de 452 delas ou aproximadamente metade, são relacionados, e estes 452 ancestrais nomeados não são 452 pessoas distintas, mas apenas 149, muitas delas em gerações remotas sendo ancestrais comuns de todas as três linhas. Se as linhas da descendência dos ancestrais não relacionados fosse inter-relacionadas do mesmo modo, caso fossem de uma comunidade antiga e estável a ancestralidade destas três pessoas para sete e meia gerações seria 378 pessoas ao invés de 1.146. Todas os membros de uma espécie descendem de poucos ancestrais numa geração remota e estes poucos são ancestrais comuns de todos.
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Weisman, Heredity, 270, 272, 380, 384, nega a teoria de Brooks de que o elemento masculino representa o princípio de variação. Ele acha a causa da variação na união dos elementos de ambos os pais. Cada filho une as tendências hereditárias de ambos os pais e assim devem ser diferentes um do outro. A terceira geração é uma combinação de quatro diferentes tendências hereditárias. Brooks acha a causa da variação na reprodução sexual, mas baseia sua teoria na transmissão dos caracteres adquiridos. Esta transmissão é negada por Weisman, que diz que a célula germe masculina não exerce papel diferente da feminina na formação do embrião. Os filhos herdam exatamente tanto do pai como da mãe. Os gêmeos idênticos derivam da mesma célula-ovo. Duas células germes não contém exatamente a mesma combinação de tendências hereditárias. Mudanças no ambiente e no organismo afetam a posteridade não diretamente, mas através de outras mudanças produzidas em sua matéria germinal. Por isso os esforços para alcançar o alimento em lugares altos não pode diretamente produzir a girafa.
V. NATUREZA MORAL DO HOMEM São os poderes adequados à ação certa ou errada. Estes poderes são o intelecto, o sentimento e a vontade juntamente com o poder peculiar de discriminação e impulso, que chamamos consciência. Para a ação moral, o homem tem o intelecto e a razão, para discernir entre o certo e o errado; o sentimento para mover-se a cada um deles; vontade livre para fazer um ou outro. Intelecto, sentimento e vontade são as três faculdades do homem. Mas em conexão com estas faculdades há um tipo de atividade que a todos envolve e sem o que não pode haver nenhuma ação moral, a saber, a atividade da consciência. A consciência aplica a lei moral aos casos particulares em nossa experiência pessoal e proclama essa lei impondo-a a nós. Só um ser racional e que sente pode ser verdadeiramente moral; contudo não cabe aqui tratar do intelecto ou do sentimento em geral. Falamos aqui só da Consciência e da Vontade.
Teologia Sistemática (Strong) 1. Consciência
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A) A consciência como um conhecimento acompanhante. – Como já se sugeriu, a consciência não é uma faculdade separada, como o intelecto, o sentimento e a vontade, mas um modo em que estas faculdades agem. Como o escrúpulo, a consciência é um conhecimento acompanhante. A consciência é um conhecimento do eu (inclusive nossos atos e estados) em conexão com um padrão moral, ou lei. Acrescentando agora o elemento do sentimento podemos dizer que a consciência é o escrúpulo do homem em suas relações morais juntamente com um sentimento peculiar em vista deles. Assim envolve a ação combinada do intelecto com o sentimento em vista de certos tipos de objetos, por exemplo, o certo e o errado. Não existe faculdade ética separada como também não há faculdade estética separada. A consciência é como o gosto; tem que ver com o ser moral e suas relações, como o gosto tem que ver com o ser estético e suas relações. Mas o juízo e o impulso éticos são, como o juízo e o impulso estéticos, o modo através do qual o intelecto, a sensibilidade e a vontade agem com referência a uma certa classe de objetos. A consciência trata do direito como o gosto trata do belo. Como a consciência (con e seio) é um saber com, um saber dos nossos pensamentos, desejos e volições em conexão com um saber do nosso eu que tem estes pensamentos, desejos e volições; assim a consciência é um saber com, um saber dos nossos atos morais e estados em conexão com um saber de algum padrão moral ou lei que é concebida como nosso verdadeiro eu e, por isso, tendo autoridade sobre nós. Ladd, Philos, of Mind, 183.185 -"A condenação do eu envolve auto-anulação, dupla consciência. Sem ela é impossível o imperativo categórico de Kant. O eu está debaixo da lei de um outro eu, julga-o, ameaça-o. Este é o significado do apóstolo, quando diz: "Já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim" (Rm. 7.17).
B) Consciência discriminativa e impulsiva. - Porém necessitamos de definir mais estreitamente tanto os elementos intelectuais como os
Teologia Sistemática (Strong) 983 emocionais na consciência. A respeito do elemento intelectual, podemos dizer que a consciência é um poder de julgamento; declara que os atos e estados que se conformam são obrigatórios; os que não se conformam, são proibidos. Em outras palavras, a consciência julga: 1) Isto é certo (ou errado); 2) Tenho o dever (ou não). Em conexão com este último juízo, vem o elemento emocional da consciência; sentimos a reivindicação do dever; há um senso interior de que não se deve praticar o erro. Assim a consciência é 1) discriminativa e 2) impulsiva. Robinson, Principles and Practice of Morality, 173 - "A única função distintiva da consciência é a dos autojulgamentos com autoridade na consciente presença de uma Personalidade suprema diante de quem nós, como pessoas, nos sentimos responsáveis. É este duplo elemento pessoal em cada juízo da consciência, a saber, o autojulgamento consciente na presença do Deus que tudo julga, que levou escritores tais como Bain, Spencer e Stephen a tentar uma explicação da origem e autoridade da consciência como produto do ensino paterno e do ambiente social ... A consciência não segue os ditames da prudência, nem é conselheira, nem executiva, mas somente judicial. A consciência é a razão moral, que se pronuncia sobre atos morais. A mente consciente fornece a lei; a consciência pronuncia o julgamento; ela diz: Farás, ou Não farás. Todo homem deve obedecer à sua consciência; se ela não for iluminada, é preciso tomar cuidado. O calejamento da consciência na vida é uma infração penal". Sunday School Times, 5 de abr. de 1902.185 - "Não basta fazer o melhor que sabemos a não ser que saibamos exatamente o que é correto e o façamos. Deus nunca nos manda fazer somente o melhor, ou conforme o nosso conhecimento. É nosso dever conhecer o que é certo, e então praticálo. Ignorantia legis neminem excusat. Temos a responsabilidade de conhecer antes de praticar".
C) Consciência distinta de outros processos mentais. – A natureza e o ofício da consciência ainda serão percebidos mais claramente se a distinguirmos dos outros processos e operações com que freqüentemente se confundem. O termo consciência tem sido empregado por vários escritores para designar qualquer um dos seguintes:
Teologia Sistemática (Strong) 984 1. Intuição moral – a percepção intuitiva entre o certo e o errado como categorias morais opostas. 2. Lei aceita – a aplicação da idéia intuitiva a classes gerais de ações certas ou erradas independentemente das nossas relações individuais com elas. Esta lei aceita é o produto complexo a) da idéia intuitiva, b) da inteligência lógica, c) das experiências da utilidade, d) das influências da sociedade, e) da revelação divina positiva. 3. Juízo – aplicando esta lei aceita aos casos individuais e concretos em nossa própria experiência e pronunciando como certos ou errados nossos atos ou estados quer passados, presentes ou prospectivos. 4. Determinação – declaração com autoridade da obrigação de fazer o que é certo ou impedir o errado juntamente com um impulso da sensibilidade afastada de um e na direção de outro. 5. Remorso ou aprovação – sentimentos morais ou de aprovação ou de desaprovação em vista dos atos ou estados passados considerados errados ou certos. 6. Temor ou esperança – disposição instintiva da desobediência a esperar o castigo e obediência a esperar galardão. Ladd, Philos, of Conduct, 70 - "O sentimento do dever é primário, essencial e único; os julgamentos quanto ao que se deve fazer são os resultados do ambiente, da educação e da reflexão". O sentimento de justiça não é uma herança exclusiva do homem civilizado. Nenhum índio jamais roubou de suas terras ou teve permissão de seu governo para furtar aquele que não é tão intensamente consciente do erro como em semelhantes circunstâncias poderíamos conceber que um filósofo o fosse. O dever do dever certamente é intuitivo; o porquê do dever (conformidade com Deus) possivelmente também é intuitivo; o quê do dever é certamente o menos intuitivo. Cutler, Beginnings of Ethics, 163,164 - "A intuição nos diz o que somos obrigados; por que somos obrigados e o que somos obrigados, passamos a aprender em outro lugar". Obrigação = aquilo que se impõe ao homem; dever = algo que cabe ao homem; débito = aquilo que se tem o direito de receber de nós. A noção intuitiva de débito (intelecto) é lançada pelo senso de obrigação (sentimento).
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Bixby, Crisis in Morals, 203,270 - "Todos homens têm o senso do direito; do direito à vida e, contemporaneamente, talvez, mas certamente mais tarde, do direito à propriedade pessoal. Ε o meu direito implica dever para com o meu próximo. Então o sentido de direito torna-se objetivo e impessoal. O dever do meu próximo para comigo implica dever da minha parte para com ele. Eu me ponho em lugar dele". Bowne, Principles of Ethics, 156,188 - Em primeiro, lugar o sentimento de obrigação, a idéia de certo e errado com seus correspondentes deveres, é universal ... Em segundo lugar, há um acordo bem generalizado nos princípios formais de ação e, em grande parte, também nas virtudes tais como, benevolência, justiça, gratidão ... Nunca foi um problema real devermos algo ao nosso próximo. A dificuldade prática sempre tem lançado outra pergunta: Quem é o meu próximo? Em terceiro lugar, o conteúdo específico da moral ideal não é fixo, mas geralmente discernem-se em que direção ele se encontra ... Na ética temos sempre o mesmo fato que no intelecto - um padrão potencialmente infalível, com múltiplos erros em sua apreensão e aplicação. Lucrécio sustentava que a degradação e a paralisia da natureza moral são resultantes da religião. Por outro lado muitos defendem que sem a religião a moral desaparece da terra". Robinson, Princ. and Prac. of Morality, 173 - "O temor a uma vontade onipotente difere muito do remorso na presença da natureza do supremo Ser cuja lei temos violado". Estabelece-se o dever de acordo com o padrão da justiça absoluta, não como o sentimento público determinaria. O homem deve sempre estar pronto a fazer o que é correto independentemente do que todos pensam. Como as decisões de um juiz são na época determinantes a todos cidadãos, assim as decisões da consciência, como determinações relativas, devem sempre ser obedecidas. Presume-se que elas são corretas e são um guia presente de atuação. O atual estado de pecado do homem torna possível que as decisões relativamente corretas podem ser absolutamente erradas. Não basta tomar o tempo cronológico de alguém; o relógio pode estar errado; há um dever anterior de acertar o relógio conforme os padrões astronômicos. Bispo Gore: "O primeiro dever do homem não é seguir a sua consciência, mas iluminá-la”. Lowell diz que os citas costumavam comer os seus avós por dever humanitário. Paine, Ethnic Trinities, 300 - "Nada é tão obstinado ou tão fanático que uma consciência erroneamente instruída, como Paulo mostra em seu caso segundo a sua
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própria confissão" (At. 26.9 - "Bem eu tinha imaginado contra o nome de Jesus, o Nazareno").
D) Consciência, a moral judiciária da alma. - A partir do que já se disse anteriormente, é evidente que só o 3 e o 4 são apropriados ao termo consciência. Consciência é a moral judiciária da alma - a força dentro do juízo e da determinação. A consciência deve julgar segundo a lei que lhe é dada e, portanto, porque o padrão moral aceito pela razão pode ser imperfeito, suas decisões, conquanto relativamente justas, podem ser absolutamente injustas, – 1 e 2 pertencem à razão moral, mas não propriamente à consciência. Daí o dever de esclarecer e cultivar a razão moral de modo que a consciência possa ter um padrão apropriado de julgamento. 5 e 6 pertencem à esfera do sentimento moral e não propriamente à consciência. O ofício da consciência é "testificar" (Rm.2.15). Em Rm. 2.15 - "os quais mostram a lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os" - temos, por um lado, a consciência claramente distinta tanto da lei como da percepção desta e, por outro, dos sentimentos morais de aprovação, ou desaprovação. A consciência não fornece a lei, mas juntamente com a lei dá testemunho da lei que é fornecida por outras fontes. Não se trata de "que o poder da mente pela qual é descoberta a cada indivíduo" (Calderwood, Moral Philos., 77), nem podemos chamar à "Consciência, Lei" (como Whewell o faz nos Elements of Morality, 1.259-266). A consciência não é o livro de leis, na sala de julgamento, mas é o juiz, cuja função não é fazer a lei, mas decidir os casos segundo a lei que lhe é entregue. A consciência não é legislativa e, portanto, não é retribuível; como não é livro de lei, assim não é o xerife. Na verdade, dizemos na linguagem popular, que a consciência açoita ou castiga, no mesmo sentido em que dizemos que o juiz pune, i.e., através do xerife. Os sentimentos morais são o xerife; eles tomam as decisões da consciência, como o juiz; mas eles não são a consciência e nem o xerife é juiz.
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Só esta doutrina, de que a consciência não descobre a lei, pode explicar, por um lado, o fato de que o homem é obrigado a seguir a sua consciência e, por outro lado, o fato de que a sua consciência difere tão grandemente quanto ao que é certo ou errado em casos particulares. A verdade é que a consciência é uniforme e infalível no sentido de que sempre decide corretamente segundo a lei que lhe é dada. A decisão do homem varia só porque a razão moral apresentou à consciência padrões diferentes de julgamento. Pode-se educar a consciência no sentido de apenas adquirir maior facilidade e vivacidade em tomar decisões. A educação não tem seu principal efeito na consciência, mas na razão moral, refletindo seus padrões errôneos e imperfeitos de julgamento. Dê à consciência uma lei correta para o julgamento, e suas decisões serão uniformes e absolutamente assim como relativamente justas. Não somos somente obrigados a "seguir a nossa consciência", mas a ter uma justa consciência para seguir - e não segui-la como um irracional que o homem dirige, mas como o soldado que segue o seu comandante. Robert J. Burdette: "Seguir a consciência como um guia é como seguir o próprio nariz. É importante ter o nariz na direção correta antes de estar certo de segui-lo. Alguém pode manter a aprovação da sua própria consciência exatamente do mesmo modo que manter-se atrás do seu nariz e errar o tempo todo". A consciência é o conhecimento conjunto de um ato particular ou estado, vindo sob a lei aceita pela razão quanto ao certo ou errado; e o julgamento da consciência justifica este ato ou estado com base no padrão geral. A consciência não pode incluirá lei - ela mesma não pode ser a lei porque a razão só sabe, mas nunca sabe com (conjuntamente). A razão diz scio (sei); só o julgamento diz conscio (sei com). Este ponto de vista capacita-nos a harmonizar as teorias intuicionistas e empíricas sobre a moral. Cada uma tem seu elemento de verdade. O sentido original de certo e errado é intuitivo - nenhuma educação pode jamais conceder a idéia de diferença entre o certo e o errado a alguém que não a tinha. Mas quais classes de coisas são certas ou erradas, é o que aprendemos pelo exercício da nossa inteligência lógica, em conexão com as experiências de utilidade, influências da sociedade e da tradição, e da
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positiva revelação divina. Por conseguinte, a nossa razão moral, através de uma combinação da intuição com a educação, da informação interna com a externa quanto aos princípios gerais sobre o certo e o errado, fornece o padrão segundo o qual a consciência pode julgar os casos particulares que lhe vêm. Esta razão moral pode tornar-se depravada através do pecado de modo que a luz se transforme em trevas (Mt. 6.22,23) e a consciência só tem um padrão perverso através do qual ela julga. A consciência "fraca" (1 Co. 8.12) é aquela cujo padrão de julgamento é ainda imperfeito; a consciência "cauterizada" ou "em brasa" (Versão Americana) "como o ferro aquecido" (1 Tm. 4.2) é aquela cujo padrão se perverteu inteiramente através da prática da desobediência. A palavra e o Espírito de Deus são os principais agentes para a retificação dos nossos padrões de julgamento e, portanto, de capacitação da consciência para a prática das decisões corretas. Em vista disto, Deus pode unir a alma a Cristo, para que ela se torne participante, por um lado, da sua satisfação da justiça e por isso é "purificada da má consciência" (Hb. 10.22) e, por outro lado, do seu poder santificador e é, por conseguinte, capacitada em certo sentido a obedecer ao mando de Deus e falar de uma "boa consciência" (1 Pe. 3.16 - de um só ato; 3.21 - do estado) em lugar de uma "consciência má" (Hb. 10.22) ou uma consciência "contaminada" (Tt. 1.15) pelo pecado. Aqui a "boa consciência" é a que obedeceu através da vontade e a "má consciência" a que desobedeceu; no primeiro caso, o resultado é a aprovação dos sentimentos morais e, no segundo caso, a desaprovação.
E) Consciência em sua relação com Deus como legislador. - Porque a consciência, no seu sentido próprio, dá um juízo uniforme e infalível de que o correto é supremamente obrigatório, e que o errado deve ser rejeitado a todo o custo, pode chamar-se um eco da voz de Deus e uma indicação daquilo que seu próprio ser requer. Às vezes a consciência tem sido descrita como a voz de Deus na alma, ou como a presença e influência pessoais do próprio Deus. Mas não devemos identificar a consciência com Deus. D. W. Faunce: "Consciência não é Deus – é apenas uma parte do nosso eu. Construir uma religião em
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torno da nossa consciência, como se ela fosse um Deus, é um refinado egoísmo - uma adoração do eu por outra parte do próprio eu". Em A Excursão, Wordsworth fala da consciência como "A mais íntima presença de Deus na alma e a mais perfeita imagem no mundo". Os judeus dizem que o Espírito Santo falava durante o tabernáculo através de Urim e Tumim, sob o primeiro Templo através dos Profetas e sob o segundo templo através do Bath Kol – uma indicação divina inferior à voz oracular vinda do propiciatório como se supõe que a filha seja inferior à sua mãe. Usa-se também no sentido de uma consciência aprovadora. Neste caso é o eco da voz de Deus naqueles que, obedecendo, ouvem" (Hershon's Talmudic Miscellany, 2, nota). A expressão "eco da voz de Deus" é a correta descrição da consciência e é provável que Wordsworth a tivesse em mente quando fala do dever como a "filha da voz de Deus". Robert Browning descreve a consciência como "o grande farol que Deus põe em todos ... O pior homem sobre a terra ... sabe em sua consciência mais a respeito do que é justo do que quando chega, por ocasião do nascimento, nas ações, o melhor homem diante do qual nos curvávamos". Jackson, James Martineau, 154 - O senso da obrigação é "um raio penetrante do grande Orbe das almas". Visto que a atividade do Deus imanente se revela nas operações normais das nossas faculdades, a consciência poderia também ser considerada como o verdadeiro eu do homem em oposição ao falso eu que temos contra ela. Theodore Parker define a consciência como o nosso conhecimento da consciência de Deus". Em seu quarto ano, diz Chadwick, seu biógrafo (pp. 12, 13, 185), o jovem Theodore viu uma tartarugazinha malhada e levantou a sua mão para bater. Alguma coisa reprimiu a sua mão e uma voz dentro dele disse claro e alto: "Está errado". Ele perguntou à sua mãe o que se disse a ele que estava errado. Ela limpou uma lágrima dos seus olhos com o avental e, tomando-o em seus braços, disse: "Houve um homem que chamou isto de consciência, mas eu prefiro chamá-la voz de Deus na alma do homem. Se você a ouve e lhe obedece, então ela falará cada vez mais claro e sempre o guiará pelo caminho reto; mas se você se fizer surdo e desobedecer, então pouco a pouco ela desvanecerá e o deixará às escuras e sem um guia. A sua vida depende de você ouvir esta pequena voz". R. T. Smith, O Man's Knowledge of Man and of God, 87,171 Ό homem tanto tem consciência como talentos. Não mais do que o talento, a consciência o torna bom. Ele só é bom quando segue a consciência e
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emprega o talento ... Experimenta-se a relação entre os termos consciência e conhecimento de si mesmo". A consciência do regenerado pode ter padrões tão corretos e suas decisões podem ser seguidas através de tal ação uniformemente correta, que a sua voz, apesar de não ser a própria voz de Deus, é o seu próprio eco. A consciência renovada levanta-se para si mesma, e pode expressar o testemunho do Espírito Santo (Rm. 9.1 - "Em Cristo digo a verdade, não minto [dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo]"; cf. 8.16 -Ό mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus"). Mas mesmo quando a consciência julga conforme os padrões imperfeitos, e a vontade lhe obedece imperfeitamente, há uma espontaneidade em suas ordens. Ela declara que se deve fazer aquilo que for correto. O imperativo da consciência é um "imperativo categórico" (Kant). Independe da vontade do homem. Mesmo quando se lhe desobedece, ainda assim afirma a sua autoridade. Cada um dos outros impulsos e afeições da natureza do homem é chamado a curvar-se diante da consciência.
F) Consciência em sua relação com Deus como santo. – A consciência não é uma autoridade original. Ela aponta para algo mais elevado que ela mesma. A "autoridade da consciência" é simplesmente a autoridade da lei moral, ou melhor, a autoridade do Deus pessoal de cuja natureza a lei é apenas uma transcrição. Por isso a consciência, com sua determinação contínua e suprema de que o que é certo deve ser praticado, fornece a melhor testemunha ao homem sobre a existência de um Deus pessoal e da supremacia da santidade naquele a cuja imagem somos feitos. Ao conhecer-se em conexão com a lei moral, o homem, não só obtém o seu melhor conhecimento de si mesmo, mas o seu melhor conhecimento do outro eu, que se opõe a ele, a saber, Deus. Gordon, Christ of Today, 236 -"A consciência é a verdadeira escada de Jacó, posta no coração do indivíduo e tocando o céu; sobre ela os anjos da auto-reprovação ou da auto-aprovação sobem e descem". Naturalmente que isso é verdade se confinarmos nossos pensamentos ao elemento determinativo na revelação.
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Há um mais elevado conhecimento de Deus que só ocorre na graça. A escada de Jacó simboliza o Cristo que torna público não só o evangelho, mas a lei e, não só a lei, mas o evangelho. Dewey, Psychology, 344 - "A consciência é intuitiva, não no sentido de que enuncia leis e princípios universais, pois ela não estabelece leis. Consciência é um nome para a experiência da personalidade de que qualquer ato dado está em harmonia ou desacordo com uma personalidade verdadeiramente realizada". Porque a obediência aos ditames da consciência é sempre relativamente justa, Kant podia dizer que "uma consciência errônea é uma quimera". Mas porque a lei aceita pela consciência pode estar absolutamente errada, a consciência, em suas decisões, pode afastar-se em muito da verdade. Sunday School Times: "Saulo, antes da conversão era um consciente praticante do erro. Seu espírito e caráter eram recomendáveis, conquanto a sua conduta fosse repreensível". Preferimos dizer que o zelo de Saulo pela lei destinava-se a tornar a lei subserviente ao seu orgulho e honra. Horace Bushnell diz que o primeiro requisito de um grande ministro é uma grande consciência. Ele não quis significar uma consciência punitiva, meramente inibidora, mas descobridora, despertadora, inspiradora, que, ao mesmo tempo, vê as grandes coisas a serem feitas e se dirige para elas bradando e cantando. Esta consciência pura e não influenciada é inseparável do senso de sua relação com Deus e sua santidade. Huxley, em sua preleção em Oxford em 1893, admite e até mesmo insiste em que a prática ética convém e deve estar em oposição à evolução; porque os métodos da evolução não explicam o homem ético e o seu progresso ético. A moralidade não é um produto dos mesmos métodos pelos quais as ordens menores têm progredido na perfeição da organização, a saber, através da luta pela existência e sobrevivência do mais apto. O progresso humano é moral, dirige-se à liberdade, está sob a lei do amor, em gênero é diferente da evolução física. James Russell Lowell: "Em vão chamamos de embuste as velhas noções Ε pendemos nossa consciência para os nossos procedimentos: Os dez mandamentos não se mudarão Ε o furto continuará a ser furto". R. T. Smith, Man's Knowledge of Man and of God, 161 - "A consciência vive na natureza humana como um rei justo, cuja reivindicação o povo nunca pode esquecer mesmo que o destrone e maltrate e cuja presença no
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assento de julgamento causa a paz da nação para consigo mesma". Seth, Ethical Principles, 424 - "A teoria kantiana da autonomia não conta a história toda da vida moral. Seu obstinado Dever, seu Imperativo categórico, provém não somente das profundezas da nossa própria natureza, mas do centro do próprio universo. Nós somos os nossos próprios legisladores; mas reproduzimos a lei produzida por Deus; reconhecemos, mais do que constituímos, a lei do nosso próprio ser. Dentro de nossas almas, a lei moral é um eco da voz do Eterno, 'somos sua geração1 (At. 17.28)". Schenkel, Christliche Dogmatik 1.135-155 - "A consciência é o órgão pelo qual o espírito humano acha Deus em si mesma e, desse modo, de si mesma torna-se nele conhecedora. Só através da consciência o homem se sente eterno, distinto de Deus, embora tão normalmente comprometido em estar inteiramente determinado por Deus. Quando nos sujeitamos totalmente a ele, a consciência nos dá paz. Quando rendemos ao mundo a aliança devida apenas a Deus, a consciência produz em nós o remorso. Neste caso tornamo-nos cientes de que, conquanto Deus esteja em nós, nós não mais estamos nele. A religião é trocada pela ética, a relação da comunhão é trocada pela separação. Na consciência só o homem, de um modo absoluto, distingue-se do bruto. Ele não faz a consciência, mas a consciência o faz. A consciência sente cada separação de Deus como um ferimento do eu. A fé é a relação do autoconhecimento com o conhecimento de Deus, a segurança da nossa personalidade na personalidade absoluta de Deus. Só a fé faz a consciência voltar-se para si mesma. Mas através do pecado este conhecimento da fé pode tornar-se o da lei. A fé afirma Deus em nós; a lei afirma Deus fora de nós". Schenkel difere de Schleiermacher ao sustentar que a religião não é sentimento, mas consciência e que não é um senso de dependência do mundo, mas de Deus. A consciência reconhece um Deus distinto do universo, moral e, desse modo, torna impossível a religião amoral. Hopkins, Outline, 283-285, Moral Science, 49, Law of Love, 41- "A consciência é o conhecimento moral do homem em vista das suas próprias ações relacionadas com a lei moral. É o duplo conhecimento do eu e da lei. A consciência não é o todo da natureza moral. Ela pressupõe a razão moral, que reconhece-a e afirma sua obrigação universal de todos os seres morais. É função da consciência pôr o homem em relação pessoal com esta lei. Ela
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estabelece um tribunal dentro do homem através do qual julgam-se suas ações. Não é a consciência, mas a moral. Esta última é ciência, mas não consciência". Peabody, Moral Philos., 41-60 - Consciência não é uma fonte, mas um meio de conhecimento. É análoga ao conhecimento. É uma faculdade judicial. Julga segundo a lei que tem diante de si. Veredicto (verum dictum = dito verdadeiro) sempre relativamente justo, embora através do padrão absoluto de justo, pode-se estar errado. Como todas as faculdades da percepção, é instruído pelo uso (não só pelo crescimento do saber, pode fazer o que é pior, com o conhecimento que tem). Só para as decisões absolutamente corretas a consciência depende do conhecimento. Reconhecer a consciência como um legislador (tanto como um juiz), é deixar de reconhecer qualquer padrão objetivo de justiça". The Two Consciences, 46, 47 - "A consciência é a lei e a consciência é a testemunha. Esta é a verdadeira e própria consciência". H. Β. Smith, System of Christ. Theology, 178-191 - "A unidade da consciência não está em ser uma faculdade ou em exercer uma função, mas em ter um objetivo, sua relação com uma idéia, a saber, o certo... O termo 'consciência' não designa mais uma faculdade especial do que o termo 'religião' (ou do que 'senso estético') ... A existência da consciência prova uma lei moral acima de nós; ela se dirige localmente a um Governador moral; implica uma distinção essencial entre o certo e o errado, uma moralidade imutável;... o homem pode estar consciente da iniqüidade ... consciência não é justiça; esta pode apenas mostrar o tamanho da depravação, tendo consciência e mesmo assim desobedecendo".
2. Vontade A) Definição – É o poder que a alma tem de escolher entre motivos e dirigir sua subseqüente atividade para o motivo assim escolhido; em outras palavras, o poder que a alma tem de escolher tanto um fim como os meios para atingi-lo. A escolha de um fim último chamamos preferência imanente; a escolha dos meios chamamos vontade executiva.
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Nesta definição partilhamos com Jonathan Edwards, Elements of Morality, vol. 2. Ele considera a vontade como o poder de a alma agir conforme o motivo, i.e., agir segundo a sua natureza, mas nega o poder de a alma escolher entre motivos, i.e., iniciar um curso de ação contrária ao motivo que já foi dominante. Por isso ele é incapaz de explicar como, tendo sido santos, Satanás ou Adão, poderiam ter caído. Se o homem não tem poder para mudar os motivos, romper com o passado, começar um novo curso de ação, ele não tem mais liberdade que o bruto. O filho de Edwards (Works, 1.483) mostra o que a doutrina do seu pai a respeito da vontade implica, quando diz: Os irracionais, portanto, segundo a medida da sua inteligência, são tão livres como o homem. A única coisa que falta para constituí-los agentes morais não é a liberdade; é a inteligência". Contudo, Jonathan Edwards, determinista como era, em seu sermão sobre A Premência do Reino de Deus {Works 4.381), incentiva o emprego de meios, e apela para o pecador como se tivesse o poder de escolher entre os motivos do eu e os de Deus. Ele fazia inconsciente um forte apelo à vontade e a vontade humana atende a prolongados e poderosos esforços. Para referências e afirmações adicionais relativas à vontade e sua liberdade, ver capítulo sobre os Decretos pp. 361,362. Nas notas sobre os decretos notificamos nossa rejeição à liberdade arminiana de indiferença, ou a doutrina de que a vontade pode agir sem motivo. Mas rejeitamos a teoria do determinismo proposta por Jonathan Edwards (Freedom of the Will, Works, vol. 2), que, como já assinalamos, identifica a sensibilidade com a vontade, considera os sentimentos como causa eficiente das volições e fala da conexão necessária entre o motivo e a ação. Hazard, Man a Creative First Cause, 407 - "Edwards dá o nome de motivo à causa controladora da volição no passado. Trata a inclinação como motivo, mas também chama-a sinônimo de escolha e vontade, que poderia fazer esta apenas um desejo da alma - e em vista disso, a causa do seu próprio ato". James, Psychology, 1.139 - Ό conhecimento é, em primeiro lugar, uma atuação seletiva". 2.393 - Ό homem possui todos os instintos dos animais e muitos outros mais. A razão perse, não pode inibir nenhum impulso; a única coisa que pode neutralizar um impulso é um outro em direção diversa. A razão pode fazer uma inferência que estimulará a imaginação a liberar o impulso em direção diversa". 549 - "A ação ideal ou moral é aquela que se
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acha na direção da resistência maior". 562 - "O esforço da atenção é fenômeno essencial à vontade". 567 - Ό limite do processo psicológico é a volição; o ponto para o qual a vontade se aplica diretamente é sempre uma idéia". 568 -"Embora a atenção seja a primeira coisa na volição, expressa o consentimento à realidade do que se atende num fenômeno adicional e distinto. Não somente dizemos: Isto é uma realidade; mas dizemos também: 'Seja isto uma realidade' ". 571 - "A duração e intensidade deste esforço são funções fixas do objeto, ou não o são? Respondemos. Não, e assim mantemos a liberdade da vontade". 584 - "A alma não apresenta nada; não cria nada; está à mercê das forças materiais em todas possibilidades e, reforçando um e checando outros, não figura como um epifenômeno, mas como algo de que a ação obtém suporte moral".
B) Vontade e outras faculdades, – a) Aceitamos a tríplice divisão das faculdades humanas em intelecto, sentimento e vontade. b) O intelecto é a alma cognoscente; o sentimento é a alma que sente (desejos e afeições); a vontade é a alma que quer (fim ou meio). c) Em cada ato da alma todas as faculdades agem. Conhecer envolve sentir e querer; sentir envolve conhecer e querer; querer envolve conhecer e sentir. d) Logicamente cada uma destas faculdades envolve a ação anterior àquela; a alma deve conhecer antes de sentir; deve conhecer e sentir antes de querer., e) Contudo, porque conhecer e sentir são atividades, nenhuma destas é possível sem querer. Sócrates a Teeto: "Seria uma coisa singular, se cada um de nós fosse, meu jovem, como um cavalo de pau dentro do qual se abrigassem muitos sentidos. Manifestamente, pois, estes, unidos em uma natureza, chamar-seiam alma ou coisa que o valha. Ε é com esta forma central, através dos órgãos do sentido, que percebemos os objetos sensíveis". Lewey, Psychology, 21 - "O conhecimento e o sentimento são aspectos parciais do eu e, por isso mais ou menos abstratos, enquanto a vontade é completa, compreendendo ambos aspectos ... Enquanto o elemento universal é o conhecimento, o individual é o sentimento e a vontade é a relação que os une em um conteúdo concreto". 364 - "Há conflito de desejos ou motivos. A deliberação é a comparação dos desejos; a escolha é a decisão em favor de
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um deles. Esta, então, é a mais forte porque toda a força do eu se concentra nela". 411 – "O homem se determina a si mesmo estabelecendo para si um bom ou um mau motivo. Não existe pensamento algum sem vontade, porque o pensamento implica em inibição". Ribot, Diseases of the Will, 73, cita o caso de Coleridge e sua falta de força inibidora das idéias dispersas ou inúteis; 114 - "A volição infiltra suas raízes nas maiores profundezas do indivíduo e além dele na espécie e em todas espécies". Como Deus não é mera natureza, mas a força originadora, assim o homem é principalmente vontade. Todos atos da alma têm como elemento a vontade. Wundt: "Jedes Denken ist ein Wollen" (Cada pensamento é uma vontade). Não existe percepção e nem pensamento sem a atenção. A atenção é um ato da vontade. Os hegelianos e os adeptos do idealismo absoluto, como Bradley, negam que a atenção seja uma função ativa do eu. Eles consideram-na como conseqüência necessária do mais interessante caráter das idéias precedentes. Por isso nega-se toda força que altera o caráter do agente. Esta é uma exata reversão dos fatos do conhecimento que não permite vontade alguma em Deus ou no homem. T. H. Green diz que o eu faz os motivos identificarem-se com uma solicitação de um desejo mais do que outro, mas que o eu não tem nenhum poder de escolha alternativa ao identificar-se com uma solicitação de um desejo mais do que de outro. James Seth, Freedom of Ethical Postulate: "A única esperança de achar um lugar para a verdadeira vontade livre encontra-se em outro ponto que não seja o de Hume, relato empírico ou psicológico da pessoa moral ou do eu. Desaprova-se totalmente a uniformidade absoluta. Defendemos a força de uma livre e incalculável iniciativa do eu e isto é necessário para manter os interesses da moralidade". Sem uma vontade que atente para o material pertinente e rejeite o impertinente, não podemos ter nenhuma ciência; sem a vontade de selecionar e combinar os elementos da imaginação, não podemos ter nenhuma arte] sem a vontade de escolher entre o mal e o bem não podemos ter moral. Elfric, 900 A.D.: O verbo 'querer' não tem imperativo, pois que a vontade sempre deve ser livre".
C) Vontade e Estados Permanentes. – a) Apesar de que cada ato da alma envolve a ação de todas as faculdades, em qualquer ação particular uma faculdade pode ser mais proeminente que as outras. Assim falamos
Teologia Sistemática (Strong) 997 de atos do intelecto, do sentimento e da vontade. b) Tal ação predominante de qualquer uma das faculdades produz efeitos sobre as outras associadas com ela. A ação da vontade dá uma direção ao intelecto e ao sentimento bem como uma inclinação permanente para a própria vontade. c) Cada faculdade, portanto, tem seus estados permanentes assim como seus atos transitórios e a vontade pode originar estes estados. Por isso falamos de sentimentos voluntários e com igual propriedade podemos falar de opiniões voluntárias. Estes estados voluntários denominamos caráter. Eu faço a "maquilagem" da minha mente. Ladd, Philosophy of Conduct, 152 - "Aspiro às idéias influentes, sentimentos e desejos, ao invés de permitir que estas idéias, sentimentos e desejos me influam, para não dizer me determinem". Todos podem dizer como o Paracelso de Robert Browning: "Eu sujeitei a minha vida a um propósito para o qual eu a ordenei". "Semeia um ato e colherás um hábito; semeia um hábito e colherás um caráter; semeia um caráter e colherás um destino". Tito, em Romola de George Eliot e Markheim na história do mesmo nome, de R. L. Stevenson são exemplos de gradual e quase imperceptível fixação nos maus caminhos que resultam de aparentemente leves decisões originais da vontade; ver art. sobre Tito Melema, de Júlia H. Gulliver, em New World, dezembro 1895.688 – "O pecado jaz na escolha das idéias que freqüentarão a vida moral em lugar das ações que formarão o elemento exterior da vida ... O pivô da vida moral é o intento que a atenção envolve ... O pecado não consiste só no motivo, mas na feitura do motivo". Através de cada decisão da vontade em que voltamos o nosso pensamento quer na direção quer em oposição a um objeto do desejo, estabelecemos traços nervosos de operação sobre os quais o pensamento pode, daí em diante, viajar mais ou menos com facilidade. "Nada opera uma incursão sem construir uma estrada". Através de ligeiros esforços de atenção rumo à verdade, que sabidamente nos influenciam, podemos "endireitar no ermo vereda a nosso Deus" (Is. 40.3), ou tornar a alma um mais duro chão pisado impenetrável à "palavra do Reino" (Mt. 13.19). A palavra "caráter" originariamente significava a marca deixada pela ferramenta do entalhador sobre o metal ou sobre a pedra. Passou a significar o resultado coletivo da obra do entalhador. O emprego moral da
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palavra implica que cada pensamento e cada ato se está cinzelando na imperecível substância da alma. J. S. Mill: Ό caráter é uma vontade completamente moldada". Podemos falar, portanto de uma "volição genérica" (Dewey). Há uma permanente inclinação da vontade para o bem ou para o mal. A reputação é a sombra do homem, às vezes mais longa, às vezes mais curta, do que ele mesmo. Por outro lado, o caráter é o verdadeiro eu do homem - "o que o homem é nas trevas" (Dwight L. Moody). Neste sentido, "o propósito é o autógrafo da mente". Duque de Wellington: "É o hábito uma segunda natureza? O hábito é dez vezes a natureza!" Quando Macbeth diz: "Se fosse feito quando se fez, então seria feito rapidamente"; a dificuldade é que quando se faz só se está no começo. Robert Dale Owen dá-nos um princípio fundamental do socialismo na seguinte máxima: Ό caráter do homem só se faz para ele, não através dele". Daí ele mudaria a dieta do homem ou o seu ambiente, como um meio de formar o caráter do homem. Mas Jesus ensina que o que contamina não vem de fora, mas de dentro (Mt. 15.18). Porque o caráter é o resultado da vontade, é verdadeira a máxima de Heráclito: ήθος άνθρώπω δαίμων = o caráter do homem é o seu destino.
D) Vontade e Motivos. – a) Os já mencionados estados permanentes, uma vez determinados, também influem a vontade. Os pontos de vista e disposições internos e não simplesmente as apresentações externas constituem a força dos motivos. b) Estes motivos freqüentemente conflitam e, apesar de que a alma nunca age sem motivo, não obstante, faz escolha entre motivos e dessa forma determina o fim para o qual a vontade dirige suas atividades. c) Motivos não são causas que compelem a vontade, mas influências que a persuadem. A força destes motivos, contudo, é proporcional à força da vontade que entrou neles e os fez o que eles são. "O incentivo vem do eu da alma: o resto não tem valor". O mesmo vento pode dirigir dois navios em direções opostas conforme a posição das velas. A mesma apresentação exterior pode resultar na recusa de George Washington e na aceitação de Benedito Arnoldo sobre o suborno visando à traição do seu país. Richard Lovelace de Cantuária: "As paredes de pedra
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não fazem uma prisão, nem as barras de ferro uma cela carcerária; as mentes inocentes e tranqüilas tomam isso como um eremitério". Jonathan Edwards fez os motivos serem causa eficiente quando eles só eram causa final. Não devemos interpretar o motivo como se fosse uma locomotiva. É sempre uma falha do homem quando ele se torna um ébrio: A bebida nunca toma o homem; o homem é que toma a bebida. Os homens que negam o demérito estão prontos para reivindicar o mérito. Eles apresentam os outros como responsáveis, senão eles mesmos. Bowne: "A pura arbitrariedade e a pura necessidade são igualmente incompatíveis com a razão. Deve haver uma lei da razão na mente na qual a volição não pode interferir e deve também haver o poder de nós mesmos determinarmos concordemente". Bowne, Principles of Ethics, 135 -"Se a necessidade é algo universal, então a crença na liberdade também é necessária. Todos admitem a liberdade de pensamento, de modo que só se nega a liberdade executiva". Bowne, Theory of Thought and Knowledge, 239-244 – "Todo sistema de filosofia deve invocar a liberdade de solucionar o problema do erro ou causar o naufrágio da própria razão ... Nossas faculdades são para a verdade, mas podem ser empregadas descuidadamente, ou voluntariamente mal empregadas e daí nasce o erro ... Não necessitamos de leis do pensamento, mas do autocontrôlé segundo elas". Na escolha entre os motivos, a vontade decide por um deles, a saber, o da escolha. Fairbairn, Philos, of Christian Religion, 76 - "Conquanto os motivos podem ser necessários, eles não precisam necessariamente sê-lo. A vontade seleciona os motivos; não são os motivos que a selecionam. A hereditariedade e o meio não cancelam a liberdade; elas só condicionam-na. O pensamento é transcendência relativa aos fenômenos do espaço; a vontade é transcendência relativa aos fenômenos do tempo; esta dupla transcendência envolve o completo caráter sobrenatural do homem". New World, 1892.152 - "Não é o caráter, mas o eu que tem o caráter, a que se deve a última decisão moral". William Ernest Henly, Poems, 119 - "Não importa quão estreito é o portão, quão carregado de castigos o papel, eu sou o senhor do meu destino, eu sou o capitão da minha alma". Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.54 - "Um ser é livre até onde o centro interior da sua vida, a partir da qual ele age, é condicionado pela autodeterminação. Não basta que o agente decisivo no ato seja o próprio
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homem, sua própria natureza, seu caráter distintivo. Para a consideração, devemos ter mais do que isto; devemos provar que isto, natureza distintiva e caráter, brota de sua própria volição e que esta é o produto da liberdade de desenvolvimento moral. Mt. 12.33 - "fazei a árvore boa e o seu fruto bom" combina ambos. Os atos dependem da natureza; mas a natureza ainda depende das decisões primárias da vontade ("fazei a árvore boa"). Nega-se algum determinismo; mas este é em parte limitado [pelo remanescente poder de escolha da vontade] e, em parte remonta a um anterior autodeterminante". Ibid. 67 – "Se a liberdade for o elemento autodeterminante da vontade a partir do que é determinado, o determinismo está em falta, porque em grande parte da sua forma espiritual, embora admita uma autodeterminação da vontade, ela tão somente surge da determinação já presente; e o indiferentismo também está em falta porque, conquanto sustente a indeterminação como pressuposta em cada ato da vontade, não reconhece uma autodeterminação da parte da vontade, que, embora autodeterminante, ainda gera determinação do caráter... Devemos, portanto, defender a doutrina da liberdade condicionai e /imitada".
E) Vontade e Escolha Contrária. – a) Apesar de que nenhum ato de vontade pura é possível, a alma pode exercitar as simples vontades em direção oposta ao seu anterior propósito diretivo e assim o homem tem o poder de escolher o contrário (Rm. 7.18 – "o querer está em mim). b) Mas até onde entrou a vontade e revelou-se em estados permanentes de intelecto e sensibilidade e em fixa inclinação da vontade para si mesma o homem não pode por um simples ato reverter seu estado moral e a este respeito não tem o poder de escolha contrária, c) Neste caso ele só pode mudar o seu caráter indiretamente voltando sua atenção para considerações adequadas ao despertar de disposições opostas reunindo motivos para um curso oposto. Não existe algo como um ato puro da vontade. Peters, Willenswelt, 126 – "Jedes Wollen ist ein Etwas wollen" - "toda vontade é vontade de alguma coisa"; ela tem um objetivo que a mente concebe, que desperta a sensibilidade e que a vontade luta para realizar. Causa sem alternativa não é verdadeira causa. J. F. Watts: "Conhecemos a casualidade só quando
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conhecemos a vontade, i.e., onde de duas possibilidades ela faz uma real. Portanto, uma causa pode ter mais de um efeito certo. No mundo material externo não podemos encontrar causa, mas só antecedente. Construir uma teoria da vontade a partir de um estudo do universo material é buscar o vivo entre os mortos. Vontade é o poder de fazer uma decisão, não ser feita por decisões, decidir entre motivos e não ser determinado por motivos. Quem pode conduzir a prova entre os motivos? Só o eu". Conquanto concordemos com o que fica dito acima em sua afirmação da certeza das seqüências da natureza, fazemos objeção quanto a atribuir-lhe mesmo à natureza de qualquer coisa como a da necessidade. Porque as leis da natureza são simplesmente os hábitos de Deus, a casualidade de Deus na natureza é a regularidade não da necessidade, mas da liberdade. Também somos livres nos pontos estratégicos. Como grande parte das nossas ações é automática, há ocasiões quando sabemos que nós mesmos podemos ter o poder de iniciativa; quando pomos sob nossos pés os motivos que nos têm dominado no passado; quando assinalamos nossos cursos de ação. Nestes tempos críticos afirmamos nossa humanidade; mas para eles não seríamos mais do que irracionais que perecem." A não ser que ele possa erigir-se acima de si mesmo, a coisa que tem sentido é o homem". A vontade, sem nenhum poder remanescente de escolha contrária, pode ser a vontade do bruto, não a vontade livre. Por isso negamos a relevância do argumento de Herbert Spencer em sua obra Data of Ethics, e em sua Psychology, 2.503 - "As mudanças psíquicas, ou conformam-se com a lei, ou não se conformam. Se elas não se conformam com a lei, não pode haver vontade livre". Spinoza também, em sua Ética, sustenta que a pedra, quando cai, se fosse consciente, pensaria livremente e com tanta justiça como o homem; porque está fazendo aquilo a que a sua constituição conduz; mas não se pode dizer mais em favor dele. Fisher, Nature and Method of Revelation, xiii – "Tentar colher 'dados de ética' quando não há reconhecimento do homem como agente pessoal capaz de originar livremente a conduta e estado da vontade de que ele é moralmente responsável, é trabalho perdido". Fisher, cap. sobre a Personality of God, Baseada na Crença Teísta e Cristã - "A autodeterminação como o próprio termo significa, atende com irresistível convicção de que a direção da vontade é autocomunicada ... Que a vontade é livre, isto é, sem coação de causas exteriores, o que é fatalismo – e não simples espontaneidade
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confinada a um caminho por uma força atuante vinda de dentro, o que é determinismo – é imediatamente evidente a qualquer mente não sofisticada. Podemos começar a ação através de uma eficiência que não é irresistivelmente controlada pelos motivos, nem determinada sem qualquer capacidade de ação alternativa, através de uma inclinação inerente à sua natureza ... Os motivos têm uma influência, que não deve ser confundida com a eficiência causar. Talbot, Will and Free Will, Baptist Review, julho, 1882 - "A vontade nem é um poder de autodeterminação incondicionada – que não é liberdade, mas uma força sem objetivo, irracional, fatalista; nem espontaneidade pura – que exclui da vontade toda lei que não seja propriamente sua; porém é mais uma força de ação originadora - que é limitada pelas disposições inatas, por hábitos e convicções adquiridos, por sentimentos e relações sociais". Ernest Naville, Revue Chrétienne, janeiro 1878.7 - "Nossa liberdade não consiste em produzir uma ação da qual é a única fonte. Consiste na escolha entre dois impulsos preexistentes. É a escolha e não a criação que é o nosso destino -uma gota de água que pode escolher se irá para o Reno, ou para o Ródano. A gravidade a leva, e só ela escolhe a sua direção. Os impulsos não vêm da vontade, mas da sensibilidade; porém a livre vontade escolhe entre estes impulsos". Bowne, Metaphysics, 169 - "Liberdade não é o poder exterior de agir, ou independente dos motivos, mas somente um poder de escolher um fim ou uma lei e concordemente do governo do eu". Porter, Moral Science, 77-111 - Vontade não é "poder de escolher sem motivo". "Ela não exclui os motivos contrários". A volição "supõe dois ou mais objetivos entre os quais se faz a eleição. "É um ato de preferência e preferir implica que se escolheu um motivo com a exclusão de outro(s) ... Para a concepção e ato requerem-se pelo menos dois motivos". Lyall, Intellect, Emotions and Moral Nature, 581, 592 - "A vontade segue razões, induções - mas não é causada. Obedece ou age sob indução, mas age assim soberanamente. Apresenta os fenômenos da atividade relativos ao próprio motivo a que ela obedece. Obedece-lhe, e não a outro. Determina com referência a ele que este é o motivo próprio a que ela obedecerá. Indubitavelmente apresenta-se este fenômeno: a vontade obediente - porém eletiva, ativa em sua obediência. Se se perguntar como isto é possível - como a vontade pode sofrer a influência do motivo e ainda possuir uma atividade intelectual -
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respondemos que este é um daqueles últimos fenômenos a serem admitidos, embora não possam ser explicados".
F) Vontade e responsabilidade. – a) Através de atos repetidos a vontade se exerce em dada direção moral, os sentimentos podem tornarse tão confirmados no mal ou no bem a ponto de tornar previamente certa, apesar de não necessária, a futura ação boa ou má do homem. Assim, enquanto a vontade é livre, o homem pode ser um "escravo do pecado" (João 8.31-36) ou "servo da justiça" (Rm. 6.15-23 cf. Hb. 12.23 – "espíritos dos justos aperfeiçoados"). b) O homem é responsável por todos os efeitos da vontade assim como pela própria vontade; pelos sentimentos voluntários assim como pelos atos voluntários; pelos pontos de vista intelectuais em que entrou a vontade assim como pelos atos da vontade pelos quais estes pontos de vista se formaram no passado ou são mantidos no presente (2 Pe. 3.5 - "voluntariamente ignoram"). Ladd, Philos. of Knowledge, 415 - Ό eu fica entre as duas leis: a da Natureza e a da Consciência; sob as perpétuas limitações de ambas exercita a sua escolha. Assim torna-se cada vez mais escravizado por uma ou cada vez mais livre escolhendo habitualmente seguir a outra. Nossa concepção sobre causalidade segundo as leis da natureza e a nossa concepção sobre a outra causalidade da liberdade derivam de uma mesma experiência do eu. Surge uma aparente antinomia só quando estabelecemos a hipótese de que cada uma está separada e independe da outra". R. T. Smith, Man's Knowledge of Man and of God, 69 - "Construir uma vontade é significativo. Aqui a ação da vontade é limitada por condições: a soma da propriedade do testador, a quantidade dos seus parentes, a natureza dos objetivos da generosidade dentro do conhecimento dele". Harris, Philos. Basis of Theism., 349-407 - "Ação sem motivos, ou contrária a todos motivos seria irracional. Ao invés de ser livre, seria semelhante às convulsões de epilepsia. Motivos = sensibilidades. Motivo não é causa; não determina; é apenas uma influência. Contudo, a determinação está sempre sob a influência dos motivos. A uniformidade da ação não deve ser explicada por qualquer lei de influência uniforme dos
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motivos, mas pelo caráter da vontade. Por sua escolha, a vontade forma em si mesma um caráter; através da ação segundo esta escolha ela confirma e desenvolve o caráter. A escolha modifica as sensibilidades e conseqüentemente altera os motivos. A ação volitiva expressa o caráter, mas também forma-o e modifica-o. O homem pode mudar a sua escolha; contudo, permanecem o intelecto, a sensibilidade, o motivo, o hábito. A má escolha, tendo formado o intelecto e a sensibilidade de acordo consigo mesma, deve ser um poderoso embaraço à mudança fundamental através de uma escolha nova e contrária; e dá uma pequena base para esperar que se permita fazer sempre a mudança. Depois que a vontade assumiu o caráter através de escolhas, suas determinações não são transições de completa indeterminação ou indiferença, porém mais ou menos expressões do caráter já formado. A teoria de que a indiferença é essencial à liberdade implica que a vontade nunca adquire caráter; tal ação voluntária é atomística; que cada ato se desintegra a partir de um outro; que, adquirido o caráter, torna-se incompatível com a liberdade. Caráter é uma escolha que, embora persista, modifica a sensibilidade e o intelecto e influi as subseqüentes determinações". Minha liberdade, então, tem limitações. A hereditariedade e o meio e sobretudo as disposições estabelecidas, produto de atos passados da vontade, tornam praticamente automáticas muitas das ações. A teoria determinista é válida talvez para nove décimos da atividade humana. Mason, Faith of the Gospel, 118, 119 - "Naturalmente tendemos para o mal. Agir de acordo com a perfeição da natureza seria a verdadeira liberdade. Ε esta o homem perdeu. Ele reconhece que, na verdade, não é o seu eu. Só com dificuldade é que ele opera novamente o seu verdadeiro eu. Pela queda de Adão, a vontade, que antes era condicionada, mas livre, agora não só é condicionada, mas escravizada. Nada a não ser a ação da graça pode libertá-la". Tennyson, In Memoriam, Introdução: "A nossa vontade é nossa, não sabemos como; a nossa vontade é nossa para fazê-la tua". Estudando só a ação da vontade pecaminosa, pode-se concluir que há essa coisa que se chama liberdade. A ética cristã, distinta da ética naturalista, revela mais claramente a degradação da nossa natureza ao mesmo tempo que desvenda o remédio em Cristo: "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo. 8.36).
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The Mind, out. 1882.567 - "Kant parece estar em averiguação da liberdade fantasmagórica que se supõe consistir na ausência da determinação através de motivos. O erro dos deterministas do qual esta idéia é um recuo envolve uma igual abstração do homem a partir dos seus pensamentos e interpreta a relação entre os dois como um exemplo da causalidade mecânica que existe entre duas coisas na natureza. O ponto a que se deve apegar na controvérsia é que o homem e os seus motivos são uma só coisa e que, conseqüentemente ele é, em qualquer caso, autodeterminado ... Só se pode defender o indeterminismo se se encontrar um ego que não seja determinado; porém tal ego, embora possa ser logicamente distinto e verbalmente expresso, não é um fator na psicologia". Morell, Mental Philosophy, 390 - "Os motivos determinam a vontade e, até onde ela não é livre; mas o homem governa os motivos permitindo-lhes menor ou maior poder de influir a sua vida até onde o homem é um agente livre". Santayana: "Um homem livre, porque é livre, pode tornar-se escravo; mas, uma vez escravo, porque é escravo, não pode tornar a si mesmo livre". Sidgwick, Method of Ethics, 51,65 - "Esta prova preponderante [da necessidade] quase cumulativa parece, contudo, mais do que balanceada por um simples argumento do outro lado: a afirmação imediata do conhecimento no momento da volição deliberada. Para mim é impossível pensar a cada momento que a minha volição é completamente determinada pelo meu caráter formado e pelos motivos que agem baseados nele. A convicção oposta é tão forte a ponto de ser inabalável pela evidência apresentada contra ele. Não posso crer que seja ilusório".
G) Inferências deste ponto de vista da vontade. – a) Podemos ser responsáveis pelos maus sentimentos voluntários com os quais nascemos e pela herdada preferência da vontade egoísta apenas sob a hipótese de que nós originamos estes estados de sentimento e vontade ou tivemos parte na sua origem. A Escritura fornece esta explicação na sua doutrina do pecado original ou na doutrina de uma apostasia comum à raça em seu primeiro pai e nossa derivação de uma natureza corrompida pela geração natural vinda dele. b) Enquanto permanece para o homem mesmo na condição atual uma força natural da vontade pela qual ele pode exercer vontade transitória exteriormente em conformidade com a
Teologia Sistemática (Strong) 1006 lei divina assim pode em limitada extensão modificar seu caráter e ainda continua a ser verdade que a inclinação pecaminosa dos seus sentimentos não está diretamente sob o seu controle; e esta inclinação constitui um motivo para o mal tão constante, inveterado e poderoso que na verdade influi cada membro da raça no sentido de reafirmar sua má escolha e tornar necessária uma obra especial do Espírito de Deus sobre o seu coração para garantir-lhe a salvação. Daí a doutrina escriturística da Regeneração. Existe algo que se chama "automatismo psíquico" (Ladd, Philos. Mind, 169). Mãe: "Oscar, por que você não pode ser bom?" "Mamãe, isto me deixa tão cansado!" O teimoso de quatro anos é o tipo da humanidade universal. Os homens nascem moralmente cansados apesar de que têm energia bastante para outras coisas. O homem que peca pode perder toda a liberdade de sorte que a sua alma se torna massa fervente de um mal éructante. T. C. Chamberlain: "As condições podem fazer com que as escolhas corram rigidamente numa direção e apresentem tão fixa uniformidade como nos fenômenos físicos. Ponha-se diante de um milhão de americanos a escolha entre um quarto de dólar e dez centavos de dólar e poder-se-á, com segurança, predizer uma rígida uniformidade de resultados". Contudo, o Dr. Chamberlain não só admite, mas defende a liberdade de escolha. Romanes, Mind and Motion, 155-160 - "Apesar de que as volições são grandemente determinadas por outras causas externas, não se segue que são necessariamente determinadas e isto faz toda a diferença entre as teorias da vontade cerceada ou livre. O seu caráter intrínseco como causas primeiras protege-as de serem coagidas por estas causas e conseqüentemente de tornar-se apenas seus meros efeitos. A condição da operação eficaz de um motivo – diferente de um motor – é a aquiescência da primeira causa sobre aquele em quem o motivo opera". Fichte: "Se alguém, adotando o dogma da necessidade, devo permanecer virtuoso, devemos buscar a causa da sua bondade em outra parte que não seja o elemento inócuo de sua doutrina. Com base na suposição da livre vontade somente o dever, a virtude e a moralidade podem ter existência". Lessing: "Kein Mensch muss müssen (Sem a humanidade não há dever)". Delitzsch: "Der Mensch, wie er jetzt ist, ist wahlfrei, aber nicht machfrei (O homem, como atualmente é, é livre para escolher, mas não livre para agir)".
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Kant considera a liberdade como exceção à lei da causalidade. Porém esta liberdade não é fenomenal, mas numenal, pois personalidade é liberdade ou a alma toda a partir do mecanismo da natureza. Kant tratava com zombaria o determinismo de Leibnitz. Ele dizia que o determinismo é a liberdade de uma ressalivação, que se volta aos seus próprios movimentos, vale dizer, é simplesmente automático. Compare com o ponto de vista de Baldwin, Psychology, Feeling and Will , 373 – "A escolha livre é uma síntese, cujo resultado em cada caso se condiciona aos seus elementos, mas em nenhuma circunstância eles são a causa. Suas premissas condicionam uma inferência lógica, mas esta não as causa. Tanto a inferência como a escolha expressam a natureza do princípio consciente e o método da sua vida ... Os motivos não se desenvolvem em volições, nem a volição existe separada dos motivos. Estes são expressões parciais e a volição é uma expressão total da mesma existência ... A liberdade é a expressão do eu condicionada pelas escolhas passadas e pelo ambiente presente". Shakespeare, Hamlet, 3.4 – "Refreai-vos hoje à noite; isso tornará bem mais fácil a próxima abstinência e ainda mais fácil a seguinte posto que o costume pode quase mudar o impulso da natureza e é capaz de dominar o diabo ou arrojá-lo com força prodigiosa". 3.2 - "O propósito é apenas o escravo da memória; Do violento nascimento apenas um valido". 4.7 - "O que fizermos devemos fazer quando quisermos; porque este querer muda e se enfraquece e adia tanto quanto as línguas, e mãos, e acidentes". Escoto Novântico (Profa. Laurie de Edimburgo), Ética, 287 – "O principal bem é a plenitude da vida alcançada através da lei com a ação da vontade assim como a razão da sensibilidade ... Imoralidade é a soltura do sentimento oposto à idéia e a lei contida nele; trata-se da individualidade em oposição à personalidade ... Na imoralidade a vontade se enfraquece, a personalidade é dominada e a volição do sujeito é como a do cão. O sujeito se apossa da personalidade e emprega-a com vistas aos desejos naturais". Maudsley, Psychology of Mind, 456, cita Ribot, Diseases of the Will, 133 – "A vontade não é a causa de coisa alguma. É como o veredicto de um júri, um efeito, sem ser uma causa. É a mais elevada força que a natureza desenvolveu – a última florada de todas as suas maravilhosas obras". Maudsley ainda argumenta que a própria mente tem força para evitar a insanidade. Isto implica que há alguém que possui o instrumento dotado de
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poder e responsabilidade de conservá-la em ordem. O homem pode fazer muito, porém Deus pode fazer mais.
H) Objeções especiais à teoria determinista da vontade. – O determinismo sustenta que as ações do homem são determinadas por motivos que agem sobre o seu caráter e que ele não tem poder para mudar tais motivos ou agir contrariamente a eles. Esta negação de que a vontade é livre tem sérias e perniciosas conseqüências na teologia. Por um lado enfraquece, ainda que não destrua a convicção do homem com relação à responsabilidade, o pecado, a culpa e a retribuição e assim obscurece a necessidade de expiação; por outro lado, enfraquece, ainda que não destrua a fé do homem na sua própria força assim como no poder da ação iniciadora de Deus e assim obscurece a possibilidade de expiação. Exemplifica-se o determinismo no Rubáiyat de Omar Khayyám: "Com a primeira argila da terra fizeram o último homem de massa, Ε da última ceifa eis lançada a semente: Ε a primeira manhã da criação escreveu O que o último raiar da série lera". William James, Will to Believe, 145-183, mostra que a determinação envolve pessimismo ou subjetivismo - o bem e o mal são apenas meios de ampliar o conhecimento. O resultado do subjetivismo é na teologia o antinomismo; na literatura, o romantismo; na vida prática, sensualidade, ou sensualismo, como em Rousseau, Renan e Zola. Hutton, Cont. Thoughts and Thinkers, 1.254 – "O determinista diz que não há qualidade moral nas ações que anteriormente não expressam tendência, i.e., o homem é responsável só por aquilo que ele não pode ajudar a fazer. Nenhum contrapelo fará aquele que crê que o seu mecanismo interior determina em seu favor quer ele o faça quer não". Royce, World and Individual, 2.342 - "As vossas únicas vozes na sinfonia divina não são mais as dos agentes morais do que as peças de um mosaico". O monarca francês anunciou que todos os seus súditos seriam livres para escolher a sua própria religião, mas acrescentou que ninguém deveria escolher uma religião diferente da do rei. "Joãozinho, você permitiu que sua irmãzinha escolhesse entre as duas maçãs?" "Sim, Mamãe; eu lhe disse que poderia pegar a menor ou não pegaria nenhuma e ela escolheu a menor". Hobson escolheu
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sempre o último cavalo na raia. O responsável pelo bar, com um revólver em punho foi ao encontro das críticas sobre a qualidade das bebidas com a seguinte nota: "Beba este uísque e gostará muito!" Balfour, Foundations of Belief, 22 - "Deve estar implicitamente presente no homem primitivo o senso de liberdade porque o seu fetichismo em grande parte consiste em atribuir aos objetos inanimados a espontaneidade que se encontra nele". A liberdade não contradiz a conservação da energia. Prof. Lodge, Nature, 26 de março de 1891 - "Embora seja necessário gastar energia no aumento da velocidade da matéria, ela não é necessária para a mudança de direção ... Os trilhos que dirigem o trem não o impelem nem o retardam: eles não têm nenhum efeito essencial na sua energia, mas efeito diretivo". J. J. Murphy, Nat. Selection and Spiritual Freedom, 170-203 - "A vontade não cria força, mas dirige-a. Uma força mínima é capaz de guiar a ação de uma grande, como o leme de um moderno navio a vapor". James Seth, Philos. Ver, 3.285,286 - "Como a vida não é energia, mas determinante das veredas da energia, assim a vontade é uma causa, no sentido de que ela controla e dirige os canais que a atividade tomará". Ver também James Seth, Ethical Principles, 345-388 e Freedom as Ethical Postulate, 9 - "A prova filosófica da liberdade deve ser a demonstração da inadequação das categorias da ciência: sua refutação filosófica deve ser a demonstração da adequação de tais categorias científicas". Shadworth Hodgson: Ou a liberdade é verdadeira e conseqüentemente as categorias são insuficientes, ou as categorias são suficientes e, por isso, a liberdade é uma ilusão". Wagner é o compositor do determinismo; de modo algum há liberdade ou culpa; a ação é o resultado da influência e do ambiente; um misterioso destino dirige tudo. Nós remontamos o querer em Deus, não aos motivos e aos antecedentes, mas à sua personalidade infinita. Se o homem é feito à imagem de Deus, por que não podemos remontar também o querer ao homem, não aos motivos e antecedentes, mas à sua personalidade finita? Falamos do plano de Deus, mas podemos também falar do plano do homem. Napoleão: "Não haverá Alpes!" O Holandês Guilherme III: "Eu posso cair, mas atacarei cada dique e morrerei no último!" Quando Deus enche de energia a vontade, ela se torna indômita. Fp. 4.13- "Posso todas as coisas naquele que me fortalece". Dr. R. G Robinson teoricamente era determinista e erroneamente sustentava que a mais elevada liberdade concebível é a atuação a partir da
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sua própria natureza. Ele considerava a vontade somente como a natureza em movimento. A vontade é autodeterminante, não no sentido de que ela determina o eu, mas no sentido de que o eu a determina. Não se pode coagir a vontade, pois, se não for autodeterminada não será mais vontade. O seu pensamento é que a observação, a história e a lógica conduzem à filosofia necessitaria. Mas o conhecimento, admite ele, testifica da liberdade. Devemos confiar no conhecimento, embora não possamos conciliar os dois. A vontade é um mistério tão grande como a doutrina da Trindade. As volições simples, diz, são freqüentemente diretas em face do curso da vida do homem. Ele ainda sustenta que não temos nenhum conhecimento do poder de uma escolha contrária. A consciência pode testificar só daquilo que brota da natureza moral, não da natureza moral em si. Lotze, Religionsphilosophie, seção 61 - "Uma escolha, é claro, incompreensível e inexplicável, porque se fosse compreensível e explicável pelo intelecto humano, se, isto é, pudesse ser vista seguindo-se necessariamente de condições pré-existentes, da natureza do caso não poderia ser uma escolha moralmente livre,...Contudo, nós não sabemos como a mente pode mover os músculos etc. ..." Martineau, Study, 2.227 - "Não há um Eu Causai, acima do Eu Causado, ou mais do que isso o Estado Causado e o conteúdo do eu deixado como depósito a partir de um comportamento anterior? O idealismo absoluto, como o de Green, não reconhece a existência deste Eu Causal"; Study of Religion, 2.195-324 e especialmente 240 - "Onde dois ou mais conceitos formados entram em campo juntos, não podem comparar-se inter se; eles precisam um superior e vão ao seu encontro; cabe à mente decidir. A decisão não será imotivada, pois terá suas razões. Não será inconforme com as características da mente, pois expressará suas preferências. Mas ninguém produz uma causa livre que elege entre as condições e elas não a elegem". 241 - "Até agora admitimos que diferentes efeitos não podem advir da mesma causa. Eu mesmo arrisco um paradoxo de que não há uma causa própria que se limite a um efeito". 309 - "A liberdade, no sentido de opção, e a vontade, como poder de decidir por uma alternativa, não encontra lugar nas doutrinas das escolas alemãs". 311 - "Toda a ilusão da Necessidade surge de uma tentativa de lançar fora por contemplação no campo da Natureza, os novos princípios criativos centrados nos novos assuntos pessoais que lhe transcendem".
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Capítulo II O ESTADO ORIGINAL DO HOMEM Para determinar o estado original do homem, dependemos inteiramente da Escritura. Esta representa a natureza do homem vindo da mão de Deus e, portanto i4muito bom" (Gn. 1.31). Contudo, ela traça um paralelo entre o primeiro estado do homem e o da sua restauração (Cl. 3.10; Ef. 4.24). Para interpretar estas passagens, contudo, devemos lembrar o duplo perigo de, por um lado, pô-lo em posição tão elevada que não se pudesse conceber nenhum progresso e, por outro lado, pô-lo em condição tão baixa que não pudesse cair. Evitaremos o mais facilmente possível estes perigos, distinguindo a essência do incidente do estado original do homem. Gn. 1.31 - "E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom"; Cl. 3.10 - "e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento segundo a imagem daquele que o criou"; Ef. 4.24 - "e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade". Phillipppi, Glaubenslehre, 2.337-399-Ό estado original deve (1) contrastar-se com o pecado; (2) ser um paralelo com o estado de restauração. Dificuldades para entendê-lo: (1) O que vive em regeneração é algo estranho à nossa natureza presente ("e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim") Gl. 2.20); mas o estado original é apenas algo inato. (2) É um estado de infância. Não podemos entrar plenamente na infância, embora a vejamos em torno de nós e nós através dela. O estado original é ainda mais difícil de ser reproduzido para a razão. (3) As circunstâncias exteriores ao homem e a sua organização têm sofrido grandes mudanças de sorte que o presente de modo nenhum representa o passado. Por isso devemos recorrer às Escrituras como o nosso guia bem próximo". John Caird, Fund Ideas of Christianity, 1.164-195, assinala que a perfeição ideal deve ser perseguida não no início, mas no estágio final da
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vida espiritual. Se o homem fosse inteiramente finito, ele não conheceria a sua finitude. Lord Bacon: "A centelha da pureza do homem é o primeiro estágio". Calvino: "É uma monstruosa impiedade que um filho da terra não se satisfaça em ser feito à semelhança de Deus, mas queira ser igual a ele". Prof. Hastings: Ό que é verdadeiramente natural não é o real, mas o ideal. Feito à imagem de Deus – entre esse começo e o fim acha-se Deus feito à imagem do homem".
I. ESSÊNCIA DO ESTADO ORIGINAL DO HOMEM Pode ser resumida na expressão "imagem de Deus". Diz-se que o homem foi criado à imagem de Deus (Gn. 1 26,27). Em que consiste esta imagem de Deus? Respondemos que 1. Na semelhança natural a Deus, ou pessoalidade; 2. Na semelhança moral com Deus ou santidade. Gn. 1.26,27 – "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança ... Ε criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou". É importante distinguir claramente entre os dois elementos compreendidos na imagem de Deus: o natural e o moral. Em virtude do primeiro o homem possui certas faculdades (intelecto, sentimento, vontade); em virtude do segundo, ele tem inclinações corretas (tendência, propensão, disposição). Em virtude do primeiro, ele investe em certas forças; em virtude do segundo, imprime-se uma direção a tais forças. Criado à imagem natural de Deus, o homem tem uma natureza moral; criado à imagem moral de Deus, o homem tem um caráter santo. O primeiro lhe dá capacidade natural; o segundo, uma capacidade moral. Os Pais gregos davam ênfase ao primeiro elemento, a personalidade; os Pais latinos davam ênfase ao segundo elemento, a santidade. Como o Logos, ou Razão divina, Jesus Cristo, habita na humanidade e constitui o princípio do seu ser, a humanidade compartilha com Cristo na imagem de Deus. Essa imagem nunca se perdeu. Ela se restaura completamente nos pecadores quando o Espírito de Cristo controla a vontade deles e eles ligam a sua vida à de Cristo. Aos que acusaram Jesus
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de blasfêmia, ele respondeu citando o Salmo 82.6 - "Eu disse, vós sois deuses" - palavras proferidas a respeito das imperfeitas regras terrenas. Assim, em João 10.34-36, Jesus, que constitui a essência da humanidade, justifica sua própria reivindicação da divindade mostrando que mesmo os homens que representam Deus são também, em sentido menor, "participantes da natureza divina" (2 Pe. 1.4). Daí as muitas lendas, nas religiões pagas, sobre a descendência divina do homem. 1 Co. 11.3 - "Cristo é a cabeça de todo varão". Em cada homem, até o mais degradado, há uma imagem de Deus a ser revelada, como Miguel Ângelo viu o anjo no rude bloco de mármore. Este valor natural não implica em dignidade] apenas na capacidade para a redenção. "As abissais profundezas da personalidade", de que Tennyson fala, soam, à medida que o homem mergulha sucessivamente no pensamento a partir dos pecados individuais ao pecado do coração e ao da raça. Mas, "a maior profundidade está fora do alcance de todos, menos de ti, ó Deus". Desta maior profundidade, na qual o homem está arraigado e apoiado em Deus, surgem as aspirações de uma vida melhor. Isto não se deve ao próprio homem, mas a Cristo, o Deus imanente, que sempre opera no homem. Fanny J. Crosby: "Resgata o que perece, Cuida do moribundo ... No fundo do coração humano, esmagados pela irritação, jazem sepultados os sentimentos que a graça pode restaurar; Tocadas por um amoroso coração, abrandadas pela bondade, novamente vibrarão as cordas que se romperam".
1. Semelhança natural com Deus, ou pessoalidade O homem foi criado um ser pessoal e é esta pessoalidade que o distingue do irracional. Pessoalidade é o duplo poder de conhecer a si mesmo relacionado com o mundo e com Deus e determinar o eu com vista aos fins morais. Em virtude desta pessoalidade o homem pôde, na criação escolher qual dos objetos de seu conhecimento – o eu, o mundo, ou Deus – deve ser a norma e o centro de seu desenvolvimento. Esta semelhança natural com Deus é inalienável e, constituindo uma
Teologia Sistemática (Strong) 1014 capacidade para a redenção, valoriza a vida até mesmo dos não regenerados (Gn. 9.6; 1 Co. 11.7; Tg. 3.9). Para as definições de personalidade, ver notas sobre o Argumento Antropológico, p. 82; sobre o Panteísmo, pp. 104,105; sobre a pessoa de Cristo, Parte VI. Aqui podemos nos contentar com a seguinte fórmula: Personalidade = autoconhecimento + autodeterminação. Autoconhecimento e autodeterminação, distintas do conhecimento e da determinação do bruto, envolvem todas as mais elevadas forças mentais e morais que nos constituem seres humanos. A consciência é tão somente um modo da atividade deles. Note que o termo 'imagem' não implica, no homem, uma representação perfeita. Só Cristo é a "imagem exata" de Deus (Hb. 1.3), a "imagem do Deus invisível" (Cl. 1.15 - ver Lightfoot). Cristo é, de uma forma absoluta e como arquétipo, a imagem de Deus; o homem só o é de um modo relativo e derivado. Mas note também que, porque Deus é Espírito, o homem, feito à imagem de Deus, não pode ser uma coisa material. Porque possui este primeiro elemento da imagem de Deus, a saber, pessoalidade, exclui-se o materialismo. Este primeiro elemento da imagem divina o homem nunca pode perder enquanto não deixar de ser homem. Mesmo a insanidade só pode obscurecer esta imagem natural; não pode destruí-la. São Bernardo disse com precisão que ela não podia ser queimada nem no inferno. A dracma perdida (Lc. 15.8) ainda conserva a imagem e a inscrição real, ainda que ela mesma o desconhecesse e ainda que não se tivesse perdido. Por isso a natureza humana deve ser reverenciada, e quem destrói a vida humana deve ser morto: Gn. 9.6 - "porque Deus fez o homem à sua imagem"; 1 Co. 11.7- "O varão não deve cobrir a sua cabeça, porque é a imagem e glória de Deus"; Tg. 3.9 - até mesmo os homens que amaldiçoamos são "feitos à semelhança de Deus"; cf. SI. 8.5 "pouco menor do que Deus o fizeste"; 1 Pe. 2.17 - "honrai a todos". No ser de cada homem estão os continentes que nenhum Colombo jamais descobriu e as profundezas da possível alegria ou tristeza que nenhum prumozinho jamais sondou. O céu inteiro, o inferno inteiro podem estar dentro do perímetro da simples alma dele. Se pudéssemos ver como será o menor cristão real no grande dia, curvar-nosíamos diante dele como João diante do anjo no Apocalipse, porque não seríamos capazes de distingui-lo de Deus (Ap. 22.8,9).
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Sir William Hamilton: "Nada de grande existe na terra a não ser o homem; nada há de grande no homem a não ser a mente". Só aceitamos este dito se entendermos que a palavra "mente" inclui os poderes morais do homem juntamente com a justa direção de tais forças. Shakespeare, Hamlet, 2.2 - "Que obra-prima é o homem! Como é nobre pela razão! Como a sua faculdade é infinita! Em forma e movimentos, como é expressivo e maravilhoso! Nas ações, como se parece com um anjo! Na inteligência, como se parece com um deus!" Pascal: "O homem é maior que o universo; o universo pode esmagá-lo, mas não sabe que está esmagando um ser humano". Whiton, Gloria Patri, 94 – "Deus não é apenas o doador, mas o participante da minha vida. Os meus poderes naturais são a parte do poder de Deus que dentro de mim se aloja na certeza de guardar-me e usar-me". O homem pode ser um instrumento de Deus sem ser um agente seu. "Todo homem tem seu lugar e valor como reflexo de Deus e de Cristo. Como uma letra em uma palavra, ou como uma palavra em uma sentença, ele tem o seu sentido conforme o contexto; mas a sentença não tem sentido sem o homem; os raios do universo inteiro convergem para ele". Living Temple de John Howe mostra a grandeza da natureza humana em sua primeira construção e até mesmo em sua ruína. Só uma nobre embarcação podia causar tão grande estrago. Aristóteles, Problem, sec. 30 - "Nem uma excelente alma está isenta de um misto de loucura". Sêneca, De Tranquillitate Animi, 15 - "Não existe grande gênio sem uma tinta de loucura". Kant: "Age assim quanto ao trato da humanidade, quer em tua própria pessoa, quer no de qualquer outra, em cada caso como um fim, nunca apenas como um meio". Se existe um elemento divino em cada homem, então não há direito algum de usar o ser humano simplesmente ao nosso belprazer ou proveito. Ao recebê-lo, recebemos Cristo e, recebendo Cristo, recebemos aquele que o enviou (Mt. 10.40). Cristo é a videira e os homens são os ramos, cortando-os só quando se recusam a produzir frutos e condenando-os à queima só porque eles destroem e, até podem destruir a imagem de Deus neles, a qual os faz dignos de serem preservados" (Jo. 15.1-6). Cícero: "Homo mortalis deus". A posse da semelhança natural com Deus, ou a personalidade, envolve ilimitadas possibilidades do bem ou do mal e constitui o fundamento natural do amor ao homem que nos é requerido
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pela lei. Na verdade ela constitui a razão por que Cristo morreu. O homem era digno da redenção. A mulher cujo anel deslizou do dedo e caiu no lodaçal da sarjeta, desvestiu seu alvo braço e meteu a mão na massa até que encontrou o anel; mas ela não o teria feito se aquela jóia não contivesse um valioso diamante. A moeda perdida, a ovelha perdida, o filho perdido, mereciam o esforço de buscá-los e salvá-los (Lc. 15). Mas, por outro lado, é tolice quando o homem, feito à imagem de Deus, "se cega com o barro". O homem a bordo do navio, que, brincando, atirava ao alto um anel de diamante que representava sua total fortuna, para sua angústia, lançou-a ao mar. Há uma "mercadoria de almas" (Ap. 18.13) e não devemos fazer malabarismo com elas. A morte de Cristo pelo homem, mostrando o valor da humanidade, recriou a ética. "Platão defendia o infanticídio sob certas circunstâncias. Aristóteles via a escravidão fundamentada na natureza das coisas. Atribui-se a razão à inferioridade da natureza do escravizado". Porém a imagem divina no ser humano comete tais barbaridades não mais possíveis entre nós. Às vezes Cristo encarava os homens com ira, mas nunca com desdém. Ele ensinava a mulher, abençoava a criança, purificava o leproso, ressuscitava o morto. Sua própria morte revelou o infinito mérito da menor alma humana e nos ensinou a considerar todos como irmãos por cuja salvação bem podemos entregar nossas vidas. George Washington respondia à saudação do seu escravo. Abraão Lincoln tirava o chapéu para um negro que lhe dava a sua bênção quando ele entrava em Richmond; mas uma senhora que tinha crescido sob o antigo regime via a cena com indizível horror. Robert Burns, andando com um nobre em Edimburgo, encontrou um velho conterrâneo de Ayr e parou para conversar com ele. O nobre ficou esperando com crescente importunação e, depois, repreendeu Burns por conversar com um homem de péssimo paletó. Burns respondeu: "Eu não estava conversando com o paletó; eu estava conversando com o homem". Jean Ingelow: "A rua e o mercado tornam-se lugar santo - rostos pálidos marcados pela preocupação, Escuros, frontes fatigadas - cada vez mais belos. Filhos do Rei são todos estes, embora as necessidades e o pecado Desfiguraram a sua beleza, internamente gloriosa. Não podemos passar por elas senão com olhos reverentes".
Teologia Sistemática (Strong) 2. Semelhança moral com Deus, ou santidade
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Em adição às forças de escrúpulo próprio e autodeterminação já mencionadas, o homem foi criado com tal direção de sentimento e vontade que constitui Deus o supremo fim do ser humano e constitui o homem um reflexo finito dos atributos morais de Deus. Porque a santidade é o atributo fundamental de Deus por necessidade este deve ser o principal atributo da sua imagem nos seres morais que ele criou. A Escritura também ensina claramente que a justiça é essencial à sua imagem (Ec. 7.29; Ef. 4.24; Cl. 3.10). Além de possuir os poderes naturais, a imagem de Deus envolve a posse das tendências para a moral correta. Não basta dizer que o homem foi criado em estado de inocência. A Escritura afirma que o homem tem o direito de ser semelhante a Deus: Ec. 7.29 - "Deus fez o homem reto"; Ef. 4.24 - "o novo homem que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade" – aqui Meyer diz: "κατά Θεόν, 'segundo Deus', i.e. ad exemplum Dei conforme os padrões de Deus (Gl. 4.28 - κατά 'Ισαάκ, 'como Isaque' = como era Isaque). Esta expressão faz a criação do novo homem um paralelo com a dos nossos primeiros pais, que foram criados segundo a imagem de Deus; antes que o pecado viesse a existir através de Adão, eles não tinham pecado – 'em verdadeira justiça e santidade'". Como passagem paralela, Meyer faz referência também a Cl. 3.10, - "o novo (homem), que se renova para o conhecimento segundo a imagem daquele que o criou". Aqui a palavra "conhecimento" refere-se ao conhecimento de Deus, o qual é a fonte de toda a virtude e que é inseparável da santidade do coração. "A santidade tem dois lados ou fases: 1) é percepção e conhecimento; 2) é inclinação e sentimento" (Shedd, Dogm. Theol., 2.97). Sobre Ef. 4.24 e Cl. 3.10, as passagens clássicas com relação ao estado original do homem, ver também os Comentários de De Wette, Rückert, Ellicott e compare Gn. 5.3 - "E Adão viveu cento e trinta anos e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem", i.e., à sua própria semelhança pecaminosa que, evidentemente, se contrasta com a "semelhança de Deus" (v. 1) na qual aquele tinha sido criado. 2 Co. 4.4 -
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"Cristo, que é a imagem de Deus" - onde a expressão "imagem de Deus" não é simplesmente natural, mas também moral. Porque Cristo é a imagem de Deus, primordialmente em sua santidade, a criação do homem à imagem de Deus deve ter envolvido uma santidade como a de Cristo, a ponto de a santidade pertencer a alguém que ainda não foi tentado, isto é, no que respeita aos gostos e disposições que precedem à ação moral. "Se tu pudesses, em visão, contemplar o homem a quem Deus se referia, nunca mais poderias ser o homem que tu és - contente". O homem recém-criado tinha tendências morais justas assim como podia ser livre da verdadeira falta. De outra forma, a comunhão com Deus, descrita em Gênesis, não teria sido possível. Goethe: "A não ser que o olho se assemelhasse ao sol, como poderia vê-lo? "Porque uma disposição acompanhava a inocência do homem, ele era capaz de obedecer, culpado quando pecou. A perda desta semelhança moral com Deus foi a principal calamidade da Queda. O homem agora é "a glória e o escândalo do universo". Ele desfigurou a imagem de Deus em sua natureza, embora tal imagem, em seu aspecto natural, seja impossível de se apagar (E. H. Johnson). A dignidade da natureza humana consiste, não tanto naquilo que o homem é, mas naquilo que Deus pretende que ele ainda venha a se tornar, quando a perdida imagem de Deus for restaurada pela união da alma do homem com Cristo. Por causa das suas possibilidades futuras, o mais humilde entre os homens é sagrado. O grande pecado da segunda tábua do Decálogo é o de desprezar o nosso próximo. Ressaltar o desprezo pelos outros pode ter suas raízes só na egolatria e na rebelião contra Deus. Abraão Lincoln dizia corretamente que "Deus deve ter gostado das pessoas simples; se não ele não teria feito tantas". A consideração para com a imagem de Deus no homem leva também ao generoso e reverente tratamento mesmo dos animais inferiores nos quais tantas características humanas estão prefiguradas. Bradford, Heredity and Christian Problems, 166 - "A filosofia corrente diz: O mais adequado sobreviverá; que morra o restante. A religião de Cristo diz: Tal máxima aplicada aos homens é justa, só consideradas as características destes, dentre os quais só os mais capazes sobreviveriam. Isto não se aplica, e nem
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o pode, aos próprios homens, visto que todos, sendo filhos de Deus, são sumamente capazes. O próprio fato de que um ser humano é doente, fraco, pobre, desprezado e vagabundo, é o mais forte apelo possível em favor da sua salvação. Que os indivíduos encarem a humanidade do ponto de vista de Cristo, e não mais estarão achando caminhos em que o meio ambiente possa clamar por justiça".
Esta justiça original na qual consiste principalmente a imagem de Deus deve ser vista: a) Não na substância ou essência da natureza humana, pois, nesse caso, a natureza humana teria deixado de existir logo que o homem pecou. A cada dia os homens mudam os seus gostos, o seu amor, sem mudar a essência ou substância do seu ser. Ao se chamar o pecado de "natureza", portanto (como o faz Shedd, em seu Essays on Sin a Nature and that Nature Guilt, uma Natureza, e esta Natureza uma Culpa"), indica tão somente o seu sentido de ser algo inato (natura, de nascor). Os gostos hereditários podem com propriedade ser chamados de "natureza" como a substância do ser de alguém. Moehler, Católico Romano moderno, o maior crítico da doutrina protestante, em seu Simbolism, 58,59, absurdamente sustenta que Lutero ensinava que, na Queda, o homem perdeu a sua natureza essencial e esta foi substituída por outra. Na verdade, Lutero é tão somente retórico, quando diz: "É da natureza do homem pecar; o pecado constitui a essência do homem; desde a Queda, a natureza do homem tornou-se completamente mudada; o pecado original é exatamente aquilo que vem do pai e da mãe; a argila de que somos formados é danosa; o feto no ventre materno é pecado; nascido do pai e da mãe, o homem com toda a sua essência e natureza não é apenas pecador, mas é em si mesmo pecado".
b) Nem como um dom vindo de fora, estranha à natureza humana e acrescentada a ela depois da criação do homem, pois se diz que o homem possui a imagem divina em virtude da criação e não por concessão posterior.
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Como os homens, desde Adão, nascem com a natureza pecaminosa, isto é, com tendências afastadas de Deus, assim Adão foi criado com uma natureza santa, isto é, com tendências para Deus. Moehler diz: "Deus não pode dar ações ao homem". Respondemos: "Não, mas Deus pode dar ao homem disposições; e faz isso no início da criação, assim como na nova criatura (regeneração)".
c) Porém como uma direção original ou tendência do sentimento e vontade do homem, acompanhada pela força da escolha má e assim diferindo da santidade aperfeiçoada dos santos como o sentimento instintivo e a inocência infantil diferem da santidade que se desenvolveu e se confirmou através da experiência da tentação. A justiça original do homem não era imutável ou indefectível; havia ainda a possibilidade de pecar. Apesar de que o primeiro homem era fundamentalmente bom, ele ainda tinha o poder de escolher o mal. Havia uma inclinação para os sentimentos e para a vontade de Deus, mas o homem ainda não estava confirmado na sua santidade. O amor do homem para com Deus era o germe da afeição filial na criatura, não desenvolvida, embora sincera – "caritas puerilis, non virilis".
d) Como uma disposição moral, contudo, que seria transmissível aos descendentes de Adão se continuasse e que apesar de perdida por ele e seus descendentes, se Adão pecasse ainda deixaria o homem possuído de uma semelhança natural com Deus a qual o fez suscetível à graça redentora de Deus. Hooker (Works, ed. Keble, 2.683) distingue entre aptidão e capacidade. Esta o homem perdeu; aquela ele reteve; doutra forma a graça não podia operar em nós, mais do que nos brutos. Hase: "Só a suficiente semelhança com Deus permaneceu para lembrar ao homem o que ele perdeu e capacitálo a sentir o inferno do abandono de Deus". A semelhança moral a Deus não pode ser restaurada, a não ser pelo próprio Deus. Isto Deus garante ao homem, fazendo "resplandecer a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" (2 Co. 4.4). Pusey fez SI. 72.6 - "Ele descerá como a
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chuva sobre a erva ceifada" - a imagem de um mundo desesperadamente morto, mas como uma recôndita capacidade de receber a vida. D. Daggett: Ό homem é um 'filho da manhã' (Is. 14.12), caído, embora retido no meio do caminho entre o céu e o inferno, premiado entre as forças da luz e das trevas".
À luz da investigação anterior, podemos apropriadamente valorizar duas teorias sobre o estado original do homem que reivindicam ser mais escriturísticas e racionais: A) A imagem de Deus inclui só a personalidade. Esta teoria nega que qualquer determinação positiva para a virtude foi herdada originariamente na natureza do homem e considera o homem no princípio possuído somente de forças espirituais perfeitamente interajustadas. Este é o ponto de vista de Schleiermacher seguido por Nitzsch, Julius Müller e Hoffmann. A teoria de Julius Müller sobre a Queda em um estado preexistente impossibilita-o de sustentar que Adão possuía semelhança moral com Deus. A origem deste ponto de vista sobre a imagem de Deus se torna suscetível de suspeita. Pfleiderer, Grundriss, 113 – "O estado original do homem é o da inocência infantil, ou naturalidade moralmente indiferente que, na verdade, tinha em si a possibilidade (Anlage) do desenvolvimento ideal, mas de tal modo que sua realização só pode ser encontrada na luta contra o seu oposto natural. A imagem de Deus já estava presente no estado original, mas só como possibilidade (Anlage) da semelhança real com Deus - o dote da razão que pertence à personalidade humana. A realidade de um espírito semelhante ao de Deus apareceu primeiramente no segundo Adão e tornouse o princípio do reino de Deus". Raymond (Theology, 2.43,132) é um americano que representa o ponto de vista de que a imagem de Deus consiste na simples personalidade: "A imagem de Deus à qual o homem foi criado não consiste numa inclinação e determinação da vontade para com a santidade". Sustenta-se isto baseado em que tal semelhança moral com Deus tornaria impossível que o homem
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caísse; a isto respondemos que a justiça de Adão não é imutável e a propensão da sua vontade para com Deus não inviabiliza a possibilidade de pecar. Os motivos não coagem a vontade. Adão tinha, pelo menos, um certo poder de escolha contrária. E. G. Robinson. Christ. Theology. 119-122, também sustenta que a imagem de Deus significa apenas a personalidade que distingue o homem do bruto. Cristo, diz ele, leva a natureza humana a um ponto mais elevado ao invés de simplesmente restaurar o que está perdido. "Muito bom" (Gn. 1.31) não implica em perfeição moral; isto não pode ser o resultado dá criação, mas somente de disciplina e vontade. O estado original do homem é só o de uma inocência não testada. O Dr. Robinson combate o ponto de vista de que o primeiro homem, na sua criação, possuía um caráter desenvolvido. Ele estabelece a distinção entre caráter e os germes do caráter. Admite que estes o homem possuía. Ε assim ele define a imagem de Deus como uma predisposição constitucional dirigida a um curso correto. Isto tudo é a perfeição que reivindicamos para o primeiro homem. Sustentamos que esta predisposição para o bem pode, com propriedade, ser chamada caráter, visto que é o germe do qual brota toda a ação santa.
Em acréscimo ao que já se disse em apoio ao ponto de vista oposto, podemos apresentar contra esta teoria as seguintes objeções: a) Contraria a analogia, fazendo o homem autor da sua própria santidade; nossa condição pecaminosa não é produto de nossa vontade individual, nem a condição subseqüente de santidade é o produto de qualquer coisa a não ser o poder regenerador de Deus. Sustentar que Adão foi criado indeciso, tornaria o homem, como diz Philippi, no sentido mais restrito, o seu próprio criador. Mas tanto moral como quanto fisicamente, o homem é criatura de Deus. Na regeneração não basta que Deus dê força para decidir em favor do bem; Deus deve também dar um novo amor. Se este existe na nova criação, Deus também poderia dar amor na primeira. Por isso é possível a santidade ser criada. "A santidade não derivada só é possível em Deus; ela, em sua origem, é dada tanto aos anjos quanto aos homens". É por esta razão que oramos: "Cria em
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mim um coração puro" (SI. 51.10); "Inclina o meu coração a teus testemunhos" (SI. 119.36). Ver Edwards, Eff. Grace, sec. 43-51 ; Kaftan, Dogmatik, 290 - "Se a perfeição de Adão não fosse moral, então o seu pecado não seria uma verdadeira corrupção moral". O animus da teoria que estamos combatendo parece ser indesejável para admitir que o homem, quer na primeira criação, quer na nova, deve sua santidade a Deus.
b) O conhecimento de Deus no qual o homem foi originariamente criado logicamente pressupõe uma direção do sentimento e vontade para Deus porque só o coração santo pode ter qualquer apropriado entendimento do Deus de santidade. (520) "Ubi Caritas ibi claritas". Originariamente o coração do homem estava cheio do amor divino e ausente do conhecimento de Deus. Só conhecemos Deus quando o amamos e tal amor não vem de nossa simples vontade. Ninguém ama porque recebe ordens para amar, porque ninguém pode dar por si mesmo amor. Em Adão o amor era um impulso inato, que ele podia confirmar ou negar. Compare 1 Co. 8.3 - "Se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele"; 1 Jo. 4.8 - "Quem não ama não conhece a Deus".
c) A semelhança a Deus só na personalidade, como Satanás também possui basta para responder as demandas da Escritura, na qual a concepção ética da natureza divina obscurece a simplesmente natural. A imagem de Deus deve ser, não simplesmente capacidade de ser semelhante a Deus, mas ser a verdadeira semelhança. Deus nunca podia criar um ser inteligente ainda que equilibrado entre o bem e o mal - "ao fio da navalha"- "numa cerca". O pregador que tomou o texto "Adão, onde estás?" teve seu primeiro tópico: "A preocupação de cada homem é estar em algum lugar"; segundo: "Alguém dentre vós está em lugar onde não deveria"; e terceiro: "Estai onde vós deveis estar, tão logo seja possível". Uma simples capacidade para o bem ou para o mal já é, no dizer de Agostinho, pecaminosa. O homem que assume uma atitude neutra entre o bem e o mal já é um transgressor da lei, que requer semelhança a Deus na tendência da sua natureza. Delitzsch, Bib. Psychology, 45-84 - "A
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personalidade é apenas a base da imagem divina; não é a imagem em si". Bledsoe diz que não pode haver nenhuma virtude ou vício criados. Whedon (On the Will, 388) faz objeção a isto e, contrariamente, diz: Não pode haver nenhum merecimento moral criado, quer bom, quer mau. A natureza de Adão, quando criado, era pura e excelente, mas nada havia de meritório até que ele tivesse livre e corretamente exercido sua vontade com pleno poder de praticar o contrário". Acrescentamos: Até então nada havia de meritório. Para a substância destas objeções, ver Philippi, Glaubenslehre, 2.343. Lessing dizia que o caráter dos alemães não devia ter nenhum caráter. Goethe partilhava desta descaracterização cosmopolita (Prof. Seely). Tennyson tinha Goethe em vista quando escreveu no Palácio da Arte: "Sento-me separado, não sustentando forma alguma de credo, mas contemplando todas". É provável que haja ainda uma alusão a Goethe nas palavras: "Um glorioso diabo, de coração e cérebro grandes, Que amou só o belo, Ou, se o bem, o bem somente por sua beleza"; ver A. H. Strong, The Great Poets and their Theology, 331; Robert Browning, Christmas Eve: "No peito de Deus a verdade Jaz ponto a ponto impressa sobre o nosso: Embora ele seja tão brilhante e nós tão obscuros, Somos sua imagem para testemunharmos dele".
B) A imagem de Deus consistindo somente na capacidade natural do homem para a religião. Este ponto de vista, a princípio elaborado pelos escolásticos, é a doutrina da Igreja Católica Romana. Estabelece distinção entre imagem e semelhança de Deus. Aquela ( צלם- Gn. 1.26) só pertence à natureza do homem na sua criação. Esta ( )דּמוּתé o produto dos seus próprios atos de obediência. Para que esta obediência possa tornar-se mais fácil e a conseqüente semelhança a Deus mais segura, acrescenta-se um terceiro elemento - não pertencente à natureza do homem - a saber, um dom sobrenatural da graça especial que age como um freio sobre os impulsos sensitivos e os submete ao controle da razão. A justiça original, portanto, não é um dote natural, mas um produto conjunto da obediência do homem e da graça sobrenatural de Deus.
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O Catolicismo Romano sustenta que o papel branco da alma do homem recebeu duas impressões ao invés de uma. O Protestantismo não vê razão alguma por que ambas impressões não seriam apostas no princípio. Kaftan, Am. Jour. Theology, 4.708, apresenta uma boa afirmação a respeito do ponto de vista Católico Romano. Sustenta que o supremo bem transcende a mente finita e seus poderes de compreensão. Mesmo no princípio achava-se além da natureza humana criada. O donum superadditum não pertencia interior e pessoalmente ao homem. Agora que ele o perdeu, depende totalmente da igreja no que se refere à verdade e à graça. Ele não recebe a verdade por ser esta ou aquela, mas porque a igreja lhe diz que esta é a verdade. A doutrina católica romana pode ser de uma forma rude e ilustrativa estabelecida da seguinte maneira: Como um ser criado, o homem é moralmente nu, ou desprovido de justiça positiva (pura naturalia, ou in puris naturalibus). Pela obediência ele obteve, como recompensa da parte de Deus, (donum super-naturale, ou superadditum) um vestuário ou roupagem de justiça para protegê-lo, de modo que ele foi coberto de roupas (vestitus). Este vestuário, contudo, era um tipo de mágica da qual ele podia ser desvestido. O adversário o atacou e o desnudou. Depois do seu pecado ele foi despojado (spoliatus) Mas a sua condição diferiu da anterior a este ataque, como um despojado difere de um desnudo (spoliatus a nudo). Ele apenas estava no mesmo estado em que fora criado, com a única exceção da fraqueza que ele pôde sentir como resultado da perda da sua veste costumeira. Ele pôde receber outra vestidura; de fato, ele pôde adquirir duas ou mais, por assim dizer, ou desprezar o que não precisava para si mesmo. A expressão in puris naturalibus descreve o estado original, assim como a spoliatus a nudo descreve a diferença resultante do pecado do homem.
Muitas das considerações já acrescentadas aplicam-se igualmente como argumento contra este ponto de vista. Podemos dizer, contudo, com referência a certas características peculiares à teoria: a) De modo nenhum se pode traçar tal distinção entre as palavras דּמוּתe dmuth. O acréscimo do sinônimo apenas reforça a expressão e ambas significam "a própria imagem".
Teologia Sistemática (Strong) 1026 b) O que quer que se denota em uma ou ambas palavras concedeuse ao homem no fato da criação e através dela e a hipótese adicional de um dom sobrenatural originariamente não pertencente à natureza do homem, mas conferido subseqüentemente, não tem nenhum fundamento aqui ou em outro lugar na Escritura. O que se diz é que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e não recebeu qualquer uma delas posteriormente. c) A oposição criada entre o sentido e a razão que esta teoria supõe é inconsistente com a declaração da Escritura de que a obra das mãos de Deus "é muito boa" (Gn. 1.31) e transfere a acusação da tentação e pecado do homem para Deus. Sustentar uma inocência simplesmente negativa em que o desejo mau é apenas dormência é fazer Deus o autor do pecado fazendo-o o autor da constituição que torna o pecado inevitável. d) Esta teoria contradiz diretamente a Escritura fazendo o efeito do primeiro pecado ter sido o enfraquecimento, mas não a perversão da natureza humana e a obra da regeneração não ser uma renovação dos sentimentos, mas simplesmente um fortalecimento dos poderes naturais. A teoria considera o primeiro pecado somente como espoliação do dom da graça especial do homem e como pondo-o onde ele estava quando foi criado – ainda capaz de obedecer a Deus e cooperar com Deus na sua própria salvação, enquanto a Escritura representa o homem desde a queda "morto nos delitos e pecados" (Ef. 2.1), incapaz da verdadeira obediência (Rm. 8.7 - "não sujeito à lei de Deus nem, na verdade, o pode ser") e necessitando de ser "criado em Cristo para as boas obras" (Ef. 2.10) Em poucos pontos na doutrina cristã vemos mais claramente do que aqui os grandes resultados do erro que pode finalmente brotar do que à primeira vista é apenas uma leve divergência da verdade. Agostinho corretamente ensinou que, em Adão, o posse non pecare se fez acompanhar do posse pecare e que, por esta razão, a disposição santa do homem teve necessidade do auxílio da graça divina para a preservação da
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sua integridade. Mas erroneamente os escolásticos acrescentaram que esta disposição original para a retidão não foi o manancial ou a natureza do homem originariamente criada, mas foi a dádiva da graça. Como este ensino, mais tarde, contudo, foi controvertido, o Concilio de Trento (sessão 5, cap. 1) deixou a matéria mais indefinida somente declarando sobre o homem: "Sanctitatem et justitiam in qua constitutus fuerat amisisse". O Catecismo Romano, contudo (1.2.19), explicava a expressão "constitutus fuerat" com as palavras: "Cum originalis justitiae admirabile donum addidif. Ε Belarmino (De Gratia, 2) diz claramente: "Imago, quae est ipsa natura mentis et voluntatis, a solo Deo fieri potuit; similitudo autem, quae in virtute et probitate consistit, a nobis quoque Deo adjuvante perficitur". ... (5) "Integritas illa ... non fuit naturalis ejus conditio sed supernaturalis evectio. ... Addidisse homini donum quodam insigne, justitiam videlicet originalem, qua veluti áureo quodam fraeno pars inferior parti superiori subjecta contineretur". Moehler (Simbolism, 21-35) sustenta que a faculdade religiosa = "imagem de Deus"; o piedoso exercício desta faculdade = "semelhança de Deus". Ele parece favorecer o ponto de vista de que Adão recebeu "este dom sobrenatural de uma santa e bendita comunhão com Deus em um período mais tardio que a sua criação, i.e., só quando ele estava preparado para recebê-la e, por seus próprios esforços, tornara-se digno dela". Ele foi criado "justo" e aceitável a Deus mesmo sem a comunhão com ele ou sem seu auxílio. Tornou-se "santo" e usufruiu a comunhão com Deus só quando este recompensou a sua obediência e concedeu-lhe o supernaturale donum. Embora Moehler favoreça este ponto de vista e defenda sua permissão conforme os padrões, não diz que isto não se ensina de uma forma definida. As citações de Belarmino e do Catecismo Romano feitas acima esclarecem que esta é a doutrina prevalecente na Igreja Católica Romana. Assim, para citar as palavras de Shedd, "a teologia tridentina começa com o pelagianismo e termina com o agostinianismo. Tendo criado o homem sem caráter, Deus subseqüentemente o dota deste elemento que lhe faltava. ... A idéia papal da criação difere da agostiniana por envolver a imperfeição. Há uma doença e um langor que requerem um ato subseqüente e sobrenatural para remediá-lo". A concepção agostiniana e protestante do estado original do homem é muito mais nobre que isto. O elemento ético não é um acréscimo admitido mais tarde, mas é a verdadeira natureza do
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homem – essencial à idéia que Deus tem dele. A condição normal e original do homem (pura naturalia) é a da graça e da habitação do Espírito – e, portanto da direção para Deus. Desta diferença original entre a doutrina católica romana e a protestante sobre o estado original do homem resultam pontos de vista divergentes quanto ao pecado e quanto à regeneração. O protestante sustenta que, do mesmo modo que o homem possui a semelhança moral com Deus, ou santidade, assim o pecado roubou a integridade da sua natureza, privou-o das vantagens e poderes essenciais criados com ele e os substituiu por uma corrupção positiva e tendência para o mal. O mau desejo não premeditado, que é a concupiscência, é o pecado original, do mesmo modo em que o amor a Deus, criado com o homem, constitui a justiça original. Desde a queda ninguém tem a justiça original e é por causa do pecado que não a tem. Visto que sem o amor a Deus nenhum ato, nenhuma emoção ou pensamento do homem pode atender às demandas da lei de Deus, a Escritura nega ao homem decaído todo o poder de conhecer, pensar, sentir, ou praticar o que certo. Por isso a sua natureza necessita de uma nova criação, de uma ressurreição dentre os mortos, que só Deus, por seu poderoso Espírito, pode operar; e o homem em nada pode contribuir com Deus em tal obra, a não ser que o próprio Deus lhe dê a força. Segundo o ponto de vista católico romano, contudo, porque a imagem de Deus a que o homem foi criado incluía só a faculdade religiosa do homem, o seu pecado só pode roubar-lhe o que se tornou subseqüente e adventiciamente dele. O homem decaído difere do não decaído apenas como um spoliatus a nudo. Ele só perde um tipo de sortilégio mágico que o deixa ainda na posse de todos os seus poderes essenciais. O desejo mau não premeditado, ou concupiscência, não é pecado; pois isso pertenceu à sua natureza mesmo antes que ele caísse. Por isso seu pecado o retornou ao estado natural de conflito e concupiscência, ordenados por Deus na oposição entre o sentido e a razão. A única qualificação é que, tendo feito uma decisão má, a sua vontade enfraquece. "O homem não necessita da ressurreição dentre os mortos, mas, ao invés disso, de uma muleta que o ajude em sua coxeadura, um tônico para reforçar sua fraqueza, um remédio para curar sua enfermidade". Ele ainda é capaz de voltar-se para Deus; e, na regeneração, o Espírito simplesmente desperta e reforça a capacidade
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natural dormente no homem natural. Mas mesmo assim, o homem pode ceder à influência do Espírito Santo; e a regeneração se efetua unindo o seu poder ao divino. No batismo a culpa do pecado original é perdoada e tudo o que se chama pecado é retirado. Nenhuma pessoa batizada precisa submeter-se ao processo de regeneração. O homem não só tem força para cooperar com Deus no processo de sua salvação, mas pode também ir além das demandas da lei e realizar as obras supererrogatórias. Ε todo o sistema sacramentai da Igreja Católica Romana, com sua salvação pelas obras, o seu fogo purificador e a invocação dos santos, tem conexão lógica com esta teoria errônea do estado original do homem.
II. INCIDENTES DO ESTADO ORIGINAL DO HOMEM 1. Resultados da posse da imagem divina da parte do homem a) Reflexo desta imagem divina na forma física do homem. – Até mesmo no corpo do ser humano acham-se tipificados os mais elevados atributos que constituem principalmente sua semelhança com Deus. Uma grosseira perversão desta verdade, contudo, é o ponto de vista que sustenta, com base em Gn. 2.7 e 3.8, que a imagem de Deus consiste na semelhança física com o Criador. Na primeira destas passagens, não é a imagem divina, mas o corpo, que é formado do pó e neste corpo foi soprada a alma que possui a imagem divina. A segunda passagem deve ser interpretada por outras porções do Pentateuco, no qual Deus é representado como livre de todas as limitações da matéria (Gn. 11.5; 18.15). O espírito apresenta a imagem divina de forma imediata: o corpo, mediata. Os escolásticos chamavam a alma de imagem de Deus proprie; o corpo era chamado significative. A alma é o reflexo direto de Deus; o corpo, o reflexo desse reflexo. O os sublime manifesta a dignidade dos dotes interiores. Daí a palavra 'ereto' aplicada à condição moral; um dos primeiros impulsos do homem renovado é a pureza física. Compare Ovídio, Metamorfose, livro 1, trad, de Dryden: Então, enquanto a muda criatura
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inclina-se para baixo a Sua vista, e a sua mãe terrena apascenta, o homem olha para o alto e com seus olhos eretos Contempla os seus próprios céus hereditários (άνθρωπος de άνά, άνω, sufixo tra, e ώψ, que se refere à postura ereta.) Milton fala da "humana face divina". Sunday School Times, 28 de julho de 1900 - "O homem é o único ser ereto entre as criaturas vivas. Só ele olha para cima com naturalidade e sem esforço. Ele renuncia seu direito de primogenitura quando apenas olha para o que está no nível dos seus olhos e se ocupa tão somente com o que está no plano da sua própria existência". Bretschneider (Dogmatik 1.682) considera que a Escritura ensina que a imagem de Deus consiste na semelhança corporal com o Criador, mas apenas como o método imperfeito da representação pertencente a uma era antiga. É o pensamento de Strauss, Glaubenslehre, 1.687. Eles mencionam Gn. 2.7 - "E o Senhor formou o homem do pó da terra"; 3.8 - Ό Senhor que passeava no jardim". Mas veja Gn. 11.5 - "Então o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificaram"; Is. 66.1 – "O céu é o meu trono, e a terra, o escabelo dos meus pés"; 1 Re. 8.27 - "Os céus dos céus te não poderia conter".
b) Sujeição dos impulsos sensitivos ao controle do espírito. Devemos aqui manter um apoio médio entre dois extremos. Por um lado, o primeiro homem possuía um corpo e um espírito tão adequados um ao outro que não se sentia nenhum conflito entre as suas diversas reivindicações. Por outro lado, esta perfeição física não era final e absoluta, mas relativa e provisória. Há ainda lugar para o progresso rumo a um mais elevado estágio do ser (Gn. 3.22). Sir Henry Watton, Happy Life: "Aquele homem era livre das peias servis Da esperança de levantar-se ou medo de cair, Senhor de si mesmo senão das terras, Ε nada tendo, apesar de que tinha tudo". Defendemos aqui o aequale temperamentum. Não havia doença, mas a alegria de saúde abundante. O labor era apenas uma atividade feliz. A divina criação infinita e a fonte do ser eram tipificadas nos poderes de geração do homem. Mas não havia oposição concreta entre o sentido e a razão, nem uma natureza física imperfeita contra cujos impulsos a razão guerreava. Com esta moderada
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doutrina escriturística contrastam-se os exageros dos Pais e dos escolásticos. Agostinho diz que a razão adâmica está para a nossa assim como o pássaro está para a tartaruga; a propagação no estado dos não decaídos teria sido sem concupiscência e o filho recém-nascido teria atingido a perfeição no nascimento. O pensamento de Alberto Magno é de que o primeiro homem não teria sentido dor, ainda que fosse atingido com pesadas pedras. Escoto Erígena sustentava que os elementos masculino e feminino ainda não eram distintos. Outros diziam que o sexo foi o primeiro pecado. Jacob Boehme considerava o intestino e tudo o que se relacionasse com ele como conseqüência da Queda; ele fantasiava a terra a princípio como transparente e não produzia trevas; o pecado, pensava ele, a tornara opaca e escura; a redenção a restauraria ao seu primeiro estado e tornaria a noite coisa do passado. South, Sermons, 1.24,25 - Ό homem veio ao mundo como um filósofo.... Aristóteles era apenas o refugo de um Adão". Lyman Abbott conta-nos que um ministro garantiu à sua congregação que Adão conhecia o telefone. Mas Deus educa os seus filhos como o químico educa os seus alunos, pondo-os no laboratório e fazendo-os trabalhar. A Escritura não representa Adão como enciclopédia ambulante, mas como inexperiente; ver Gn. 3.22 - "Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal"; 1 Co. 15.46 - "Mas não é primeiro o espiritual, senão o animal; depois o espiritual". Sobre este texto, ver Expositor's Greek Testament.
c) Domínio sobre a criação inferior. – Adão possuía um discernimento para a natureza análogo ao da infância suscetível e, portanto, era capaz de dar nome aos animais e dirigi-los (Gn. 2.19). Contudo, este discernimento nativo era capaz de desenvolver-se rumo a um conhecimento mais elevado da cultura e da ciência. De Gn. 1.26 (cf. Sl. 8.5-8) tem-se inferido erroneamente que a imagem de Deus no homem consiste no domínio sobre os animais e sobre o mundo natural. Mas neste verso "domine sobre" não define a imagem de Deus, mas indica o resultado da posse dessa imagem. Fazer a imagem de Deus consistir neste domínio implicaria que só a onipotência divina se projetava no homem.
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Gn. 2.19 - "Havendo, pois, o Senhor formado da terra todo animal do campo e toda ave dos céus, trouxe a Adão para ver como este lhes chamaria"; 20 - "E Adão pôs o nome a todo o gado"; Gn. 1.26 - "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado"; cf. SI. 8.5-8 - "Pouco menor o fizeste do que Deus e de glória e honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: todas as ovelhas e bois, assim como todos os animais do campo". O fato de Adão nomear os animais implicava discernimento na sua natureza. A coragem e a boa consciência têm um poder sobre a criação bruta e bem pode supor-se que o homem não decaído tenha dominado as criaturas que não têm experiência da crueldade humana. Rarey domesticou cavalos selvagens com seus olhos firmes e destemidos. Em Paris uma jovem foi hipnotizada e posta numa cova de leões. Ela não teve medo das feras e as feras não lhe deram a mínima atenção. A filhinha de um oficial inglês na África do Sul saiu do acampamento e passou a noite entre leões. "Katrina", disse seu pai quando a achou, "você não ficou com medo de estar sozinha aqui? "Não, papai", respondeu ela, "os canzarrões brincavam comigo e um deles deitou-se aqui e me conservou quentinha". MacLaren, Sunday School Times, 23 de dezembro de 1893 - Ό domínio sobre as criaturas resulta da semelhança a Deus. Por isso não é simplesmente um direito de usá-las com vantagem material própria, mas é uma autoridade de vice-rei, que se tem de empregar em honra ao verdadeiro Rei". Este princípio dá a garantia e o limite para a vivis-secção e para a morte dos animais inferiores para a alimentação (Gn. 9.2,3). Os escritores socinianos geralmente sustentam o ponto de vista de que a imagem de Deus consiste simplesmente neste domínio. Defendendo um ponto de vista inferior da natureza do pecado, eles naturalmente não estão inclinados a crer que a queda operou qualquer mudança profunda na natureza humana. O arminiano Limborch, Theol. Christ, ii, 24.2,3,11, também defende-o. Os encratitas sustentavam, com Pedro Mártir, que as mulheres não possuem a imagem divina.
d) Comunhão com Deus. Nossos primeiros pais gozavam da presença e ensino divinos (Gn. 2.16). Parece que Deus se manifestou a
Teologia Sistemática (Strong) 1033 eles de forma visível (Gn. 3.8). Este companheirismo era tanto em gênero como em grau adequado à capacidade espiritual deles e de modo nenhum envolve a visão perfeita de Deus que é possível aos seres de confirmada e imutável santidade (Mt. 5.8; 1 Jo. 3.2). Gn. 2.16 – "E ordenou o Senhor Deus ao homem"; 3.8 - "E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia"; Mt. 5.8 "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus"; 1 Jo. 3.2 -"Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos"; Ap. 22.4 - Έ verão o seu rosto".
2. Concomitância da posse da imagem divina pelo homem a) As circunstâncias e a sociedade adequaram-se para produzir a felicidade e assistir um santo desenvolvimento da natureza humana (Éden e Eva). Acrescentamos algumas teorias recentes relativas à criação de Eva e à natureza do Éden. Éden = prazer, deleite. Stevens, Pauline Theology, 329 - "Nas relações naturais entre os sexos há uma certa dependência recíproca porque não é verdade apenas que a mulher foi feita a partir do homem, mas também que o homem é nascido de mulher (1 Co. 11.11,12)". A respeito dos mármores de Elgin Boswell perguntava: "Você não os acha indecentes?" O Dr. Johnson respondeu: "Não, senhor; a sua pergunta é que é". O homem, que na idade adulta possui doze pares de costelas, no seu estado embrionário tem treze ou quatorze. Dawson, Modern Ideas of Evolution, 148 - "Porque não falta ao elemento masculino uma costela? Porque só o esqueleto de Adão foi afetado pela sua retirada. ... Os intérminos arcos vertebrais das poedeiras de pele fibrosa podem ter produzido um só pelo processo de enxerto ou gemação". H. H. Bawden sugere que o relato da criação de Eva pode ser um "resumo pictórico" de um verdadeiro processo evolutivo filogenético pelo qual os sexos se separaram ou se isolaram a partir de um ancestral ou de ancestrais hermafroditas. A porção mesodérmica do organismo em que o
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sistema urogenital tem sua origem desenvolve-se mais tarde do que a porção ectodérmica e a endodérmica. A palavra costela pode designar esta porção mesodérmica. Bayard Taylor, John Godfrey Fortunes, 392, sugere que o gênio é hermafrodita, acrescentando um elemento masculino à mulher e um feminino ao homem. O Prof. Loeb, Am. Jour. Phisiology, vol. Ill, η9 3, tem achado que em certas soluções químicas preparadas no laboratório, próximas à concentração da água do mar, os ovos não fertilizados do porco espinho amadurecerão sem a intervenção do espermatozóide. Os embriões perfeitos e os indivíduos normais produzem-se sob tais condições. No pensamento dele é provável que semelhante partenogênese pode ser produzida em tipos mais elevados do ser. Em 1900 ele atingiu bem sucedidos resultados com os anelídeos, embora haja dúvida se ele produziu algo mais do que larvas normais. Estes resultados foram criticados por um investigador europeu, que também é sacerdote romano. O Prof. Loeb escreveu uma réplica em que expressa surpresa de que um representante da igreja romana não tenha endossado suas conclusões, visto que elas fornecem uma vindicação da imaculada conceição. H. H. Bawden examinou a obra do Prof. Loeb na Psychology Review, janeiro, 1900. Janósik achou segmentação nos ovos não fertilizados de mamíferos. O Prof. Loeb considera possível que só os ions do sangue impedem a origem partenogenética dos embriões nos mamíferos e acha que não é improvável que, por uma mudança transitória nestes íons será possível produzir a partenogênese completa nestes tipos mais elevados. A seguir, o Dr. Bawden diz que "tanto os pais como os filhos dependem de uma fonte comum de energia. O universo é um grande organismo e não há matéria inorgânica ou não orgânica, mas somente diferenças de grau de organização. O sexo é designado só secundariamente para a perpetuação da espécie; em primeiro lugar é a ligação ou meio de conexão ou interação das várias partes deste grande organismo a fim de manter esse grau de heterogeneidade que é o pré-requisito de um alto grau de organização. Por meio do desenvolvimento de uma vida inteira tornei-me parte essencial de um grande sistema orgânico. O que eu chamo minha personalidade representa somente o foco, o florescimento do universo em um finito ponto concreto ou centro. Então, minha personalidade não pode continuar durante o tempo em que continua o sistema universal? Ε é concebível a imortalidade se a alma é alguma coisa trancada dentro de si mesma, estanque e única?
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Os múltiplos focos não são mutuamente interdependentes, ao invés de mutuamente exclusivos? Portanto não podemos conceber uma imortalidade que signifique existência de um indivíduo excluído do contexto social que é realmente a essência da sua própria natureza". J. H. Richardson sugere no Standard, 10 de set. de 1901, que o primeiro capítulo de Gênesis descreve a criação só na parte espiritual do homem -feita à imagem de Deus - enquanto o segundo capítulo descreve a criação do corpo do homem, a parte animal que pode ter-se originado por processo de evolução. S. W. Howland, Bíblia Sacra, janeiro de 1903; 121128, supõe que Adão e Eva eram dois gêmeos unidos por uma cartilagem ensiforme ou osso torácico como as siamesas Chang e Eng. Por causa de uma violência, ou acidente, a cartilagem se rompeu antes de se solidificar, transformando-se em osso. Viveram separados até a puberdade. Então Adão viu Eva vindo a ele com um osso que se projetava do lado dela, correspondendo ao furo do lado dele e disse: "Esta é osso do meu osso; ela deve ter sido tomada do meu lado quando eu dormia". Esta tradição foi transmitida à sua posteridade. Os judeus têm uma tradição de que Adão foi criado com duplo sexo e que ambos posteriormente se separaram. Os hindus dizem que o homem foi o primeiro com dois sexos que se dividiram para povoar a terra. No Zodíaco de Dendera, Castor e Pólux aparecem como homem e uma mulher gêmeos; alguns dizem que se chamavam Adão e Eva. O nome copta para este signo é Pi Mahi, "os Unidos". Darwin no pósescrito a uma carta endereçada a Lyell, em julho de 1850, conta ao seu amigo que ele tem "uma agradável genealogia para o gênero humano" e descreve o nosso mais remoto ancestral como um animal que respirava água, tinha uma bexiga para nadar, para isso, uma grande cauda, crânio imperfeito e, sem dúvida, era hermafrodita". Mathew Arnold fala do "vigor do mundo primitivo". Novalis diz que 'toda filosofia começa com a nostalgia". Shelley, Cotovia: Fazemos um retrospecto e um prospecto, Ε desfalecemos ante o que não é; Nosso mais sincero gargalhar Carrega-se de certa dor; nossas doces melodias são as Que falam do mais triste pensamento". - "A áurea concepção de um Paraíso é a idéia mestra do poeta". Há um sentimento universal de que agora não estamos em nosso estado natural; de que estamos bem longe da nossa casa; de que somos exilados da nossa verdadeira habitação. Keble, Groans of Nature:
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Tais pensamentos, a derrocada do Paraíso, através de muitas eras lugubres, sublevaram tudo o que há de bom ou sábio Ainda vivo no poeta ou no sábio". A poesia e a música ecoam o anseio pela posse de algo perdido. Jessica no Mercador de Veneza de Shakespeare: "Eu nunca sou feliz quando ouço uma doce música". Toda a verdadeira poesia encara adiante ou posterior uma profecia do porvir ou duma visão pretérita, do mesmo modo que a escultura põe diante de nós o corpo original ou o da ressurreição. Wellhausen, sobre a lenda da era do ouro, diz: "É o cântico ardente que vai além de todos os povos: tendo alcançado a civilização histórica, eles sentem o quanto valem os bens pelos quais se sacrificaram". Ele considera a era do ouro apenas como uma imagem ideal, como o reino milenário nos fins dos tempos. O homem difere do irracional no poder de formar ideais. Sua direção rumo a Deus mostra a sua descendência deste. De igual modo, Hegel defende a condição paradisíaca tão somente como o desenvolvimento humano de uma concepção ideal. Mas as tradições dos jardins de Brama e das Hespéri-des incorporam a reminiscência de um fato histórico em que o homem era livre do mal exterior e possuía tudo o que pode ministrar o regozijo ao inocente? A "era de ouro" dos pagãos ligava-se à esperança da restauração. Portanto, o emprego da doutrina do estado original do homem deve convencer os homens do elevado ideal uma vez realizado, que pertence apropriadamente ao homem, agora perdido, e recuperável, não pelas próprias forças do homem, mas só através da provisão de Deus em Cristo.
b) Provisões para testar a virtude do homem. – Porque o homem ainda não estava em um estado de santidade confirmada, mas de uma simples inocência infantil, ele podia tornar-se perfeito só através da tentação. Daí a "árvore do conhecimento do bem e do mal" (Gn. 2.9). A única ordem suave testava o espírito de obediência. A tentação não necessitava uma queda. Se vencida, fortaleceria a virtude. Nesse caso, o posse non pecare tornar-se-ia em non posse pecare. Thomasius: "A doutrina de que o mal é um ponto de transição necessário para o bem é doutrina e filosofia satânicas". A árvore é principalmente a da provação. É certo que um pai faça a posse do título da
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fazenda depender do cumprimento de algum dever filial, como fez Thaddeus Stevens com seu filho, estabelecendo a abstinência alcoólica como condição para a posse da propriedade. Não sabemos se, além disso, a árvore do conhecimento era prejudicial ou venenosa.
c) Oportunidade de assegurar a imortalidade física. - O corpo do primeiro homem era em si mesmo mortal (1 Co. 15.45). A ciência mostra que a vida física envolve queda e perda. Mas parece que se providenciou um meio para deter esta queda e preservar a juventude do corpo. Este meio é a "árvore da vida" (Gn. 2.9). Se Adão tivesse mantido sua integridade, o corpo podia desenvolver-se e transfigurar-se sem a intervenção da morte. Em outras palavras, o posse non mon podia tornarse non posse movi. A árvore era o símbolo da comunhão com Deus e da dependência do homem para com ele. Mas isto só porque tinha uma eficácia física. Era sacramentai e memorial para a alma porque sustentava a vida do corpo. O pecador estava separado da árvore da vida, até que estivesse preparado pela justiça de Deus para ela. A redenção e a ressurreição não só restauram o que se perdeu, mas dão aquilo para cuja consecução o homem foi criado: 1 Co. 15.45 - "O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão, em espírito vivificante"; Ap. 22.14 - "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida".
Combatem-se as conclusões a que temos chegado relativas aos incidentes do estado original do homem com apoio em duas bases distintas: 1a) Os fatos baseados nas condições do homem pré-histórico apontam para um desenvolvimento da selvageria para a civilização. Entre estes fatos pode mencionar-se a sucessão de implementos e armas desde a pedra até o bronze e o ferro; a poliandria e os sistemas de
Teologia Sistemática (Strong) 1038 casamento comunal nas tribos inferiores; as reminiscencias dos costumes bárbaros ainda prevalecentes entre os mais civilizados. Para a teoria de uma condição selvagem do homem, ver John Lubbock, Prehistoric Times and Origin of Civilization: "A condição primitiva da humanidade era de total barbarismo"; mas especialmente L. H. Morgan, Ancient Society, que divide o progresso humano em três grandes períodos: o selvagem, o bárbaro e o civilizado. Cada um dos dois primeiros tem três estágios, que são os seguintes: I. Selvagem: 1. Estágio inferior marcado pela realização da fala e subsistência através das raízes. 2. O estágio médio marcado pela alimentação da pesca e pelo fogo. 3. O estágio superior, marcado pelo emprego do arco e pela caça. II. Bárbaro: 1. Estágio inferior, marcado pela invenção e emprego da cerâmica. 2. Estágio médio, marcado pelo emprego de animais domésticos, milho e edifícios de pedra. 3. O estágio superior, marcado pela invenção e emprego de instrumentos de ferro. III. A seguir aparece o homem civilizado, com a introdução do alfabeto fonético e a escrita. J. S. Stuart-Glennie, Contemp. Review, dezembro de 1892.844, define a civilização como "organização social obrigada, com registros escritos, e daí o desenvolvimento intelectual e o progresso social".
Sobre este ponto de vista assinalamos: a) Baseia-se em uma indução insuficiente dos fatos. – A história mostra uma lei de degeneração suplementando e freqüentemente frustrando a tendência para o desenvolvimento. Nos tempos mais antigos de que temos qualquer registro achamos nações no mais alto estágio de civilização; mas no caso de cada nação cuja história antecede a era cristã - como por exemplo, os romanos, os gregos, os egípcios - o subseqüente progresso tem sido decadente e não se conhece nenhuma nação que se tenha recuperado do barbarismo a não ser como resultado de influência vinda de fora. Lubbock parece admitir que o canibalismo não é primitivo; contudo ele mostra uma tendência geral de tomar o costume brutal como exemplo do
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primeiro estado do homem. Ε isto, apesar de que muitos dos costumes têm sido o resultado da corrupção. A caça à noiva, por exemplo, possivelmente não pode ter sido primitiva, no estrito sentido do termo. Tylor, Primitive Culture, 1.48, apresenta um ponto de vista muito mais moderado. Ele favorece a teoria do desenvolvimento, mas com a degeneração "como ação secundária afetando ampla e profundamente o desenvolvimento da civilização. Vejamos também o Duque de Argyll, Unity of Nature: "A civilização e a selvageria são ambas resultado do desenvolvimento evolutivo; porém aquela apresenta o desenvolvimento para cima enquanto esta para baixo; por esta razão, nem a civilização, nem a selvageria podem racionalmente ser vistas como condição primitiva do homem". Shedd, Theol. Dogm., 1.467 - "Como argumento plausível poder-se-ia construir com base na deterioração e degradação de algumas das famílias humanas para provar que o homem pode ter evoluído em um macaco antropóide como o que se construiu para provar que ele evoluiu para cima a partir do homem". As nações modernas não correspondem em muito à percepção grega antiga e à expressão do belo. Os egípcios modernos, os matutos australianos, os australianos são inquestionavelmente raças degeneradas. Ver Lankester, Degeneration. O mesmo é verdade a respeito dos italianos e espanhóis assim como dos turcos. Os abissínios atualmente são polígamos embora seus ancestrais fossem cristãos e monógamos. A degeneração física das porções da população da Irlanda é bem conhecida. Ver Mivart, Lessons of Nature, 146-160 que aplica à teoria sobre os selvagens os testes de língua, moral e religião e que cita Herbert Spencer dizendo: "É provável que a maior parte, senão a totalidade deles [selvagens] tinha ancestrais nos estágios mais elevados e entre eles permanecem suas crenças, algumas das quais evoluíram durante os mais elevados. ... É bem possível, e creio altamente provável, que tenha sido tão freqüente o retrocesso como o progresso". Spencer, contudo, nega que a selvageria seja sempre causada pelo lapso da civilização. Biblia Sacra, 6.715; 29.282 - "Como ser moral, o homem não tende a levantar-se, mas a cair e em progressão geométrica a não ser que uma força superior e exterior o eleve e sustente. Conquanto o homem, uma vez civilizado, progrida, as idéias morais ainda não se apresentam desenvolvidas a partir do seu interior". Se a condição primitiva do homem tivesse sido a selvageria, ele nunca poderia ter emergido dela. Ver Whaterly, Origin of Civilization, que sustenta que o homem não
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necessitava apenas de um Criador divino, mas de um divino Instrutor. Seelie, Introduction to a Century of Dishonor, 3 – "Os primeiros missionários entre os índios do Canadá levaram consigo trabalhadores capacitados para ensinar os selvagens a lavrar os campos e provê-los de confortáveis casas, vestes e alimentos. Mas os índios preferiram seus wigwams (moradias em forma de iglus), peles, carne crua e sujeira. Só na medida em que as influências cristãs ensinaram ao índio suas necessidades interiores e quando estas deviam ser supridas, ele foi levado a desejar trabalhar para a melhoria das suas condições exteriores e hábitos. A civilização não se reproduz por si mesma. Primeiro é preciso haver um esclarecimento e depois disso é que se pode conservá-la viva através de uma força genuinamente cristã". Griffith-Jones, Ascent Through Christ, 149-168, mostra que a evolução não envolve necessariamente o desenvolvimento relativo às raças em particular. Há uma degeneração em todas as ordens orgânicas. Com relação ao homem, pode estar evoluindo em algumas direções, enquanto em outras se tem degenerado. Lidgett, Spiritual Principles Atonement, 245, apresenta o "Prof. Clifford apontando para a história do progresso humano e declarando que a humanidade não é uma raça decaída, mas elevada. Não há nenhuma contradição real entre estes dois pontos de vista. Deus não deixou que o homem se afastasse por ter-se rebelado contra ele. Onde o pecado abundou, superabundou a graça". A humanidade criada em Cristo e sustentada pelo seu poder sempre recebeu reforços da sua vida física e mental, apesar da sua deterioração moral e espiritual. "Alguns camarões, pelo ajustamento físico, avançam para estruturas mais elevadas do que as lagostas e os caranguejos; enquanto outros, suspendendo o hábito de viver nas guelras dos peixes, mergulham em um estado de íntima semelhança com os vermes". Drummond, Ascensão do Homem: "Quando a pipa de um menino desce no nosso jardim não dizemos que ela veio das nuvens. Assim as nações se elevam antes de caírem. Há uma gravitação nacional. A idade do dardo precedeu à da pedra, mas perdeu-se". Tennyson: "A evolução sempre ascendente após um bem ideal, Ε a reversão sempre arrasta a Evolução para o lodo". Freqüentemente torna-se degeneração, ou até diabração (O autor cria a palavra "devilution", que não existe em Inglês e o tradutor faz o mesmo, criando uma correspondente em Português). A. J. Gordon, Ministry of the Spirit, 104 – "O Jordão é o símbolo adequado da
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nossa vida natural, surgindo em uma grande elevação e de puros mananciais, mas mergulhando firmemente até desaguar no Mar Morto, sem saída".
b) Mais tardias investigações têm tornado provável que a idade da pedra de algumas localidades foi contemporânea à do bronze e, em outras, à do ferro, enquanto certas tribos e nações, ao invés de fazerem progresso de um para o outro até onde podemos remontar, nunca estiveram sem o conhecimento e uso dos metais. Convém observar, contudo, que mesmo sem tal conhecimento e uso, não é necessariamente um bárbaro apesar de que pode ser infantil. Sobre a dúvida se as artes da civilização podem perder-se, ver Arthur Mitchell, Past in the Present, 219: A rude arte quase sempre é um rebaixamento de uma que é mais elevada, ao invés de ser a primitiva; a mais rude arte de uma nação pode coexistir com a mais elevada; a vida na caverna pode acompanhar a mais alta civilização. As ilustrações da Escócia moderna, onde o sepultamento de um galo por epilepsia e o sacrifício de um touro, existiam até épocas recentes. Algumas artes inquestionavelmente se perderam, tais como a feitura do vidro e a obra sobre o ferro na Assíria (ver Mivart, supramencionado). Os mais antigos homens não parecem ter sido inferiores aos mais tardios, quer física quer intelectualmente. Rawlinson: Os exploradores que cavaram fundo nos montes da Mesopotamia e rebuscaram as tumbas do Egito chegaram a certos traços do homem selvagem naquelas regiões onde a tradição disseminada forma o berço da raça humana". Os camponeses tiroleses mostram que um povo rude pode ser moral e que um povo bem simples pode ser altamente inteligente. Mason, Origins of invention, 110, 124, 128 - "Não há nenhuma evidência de que tenha havido em algumas regiões uma idade da pedra. Na África, no Canadá e talvez no Michigan, a idade do metal era tão antiga como a da pedra". O Rev. A. E. Hunt dá uma ilustração da capacidade matemático do selvagem em um relato da aritmética nativa das Ilhas de Murray, Estreito de Torres. "Netat" (um) e "neis" (dois) são apenas numerais e números mais elevados são descritos por combinações destes, como "neis-netat" indicando três, "neis-ineis", quatro etc., ou através da referência
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aos dedos, cotovelos ou outras partes do corpo. Pode-se contar um total de trinta e um com um método mais tardio. Além de todos estes números havia "muitos", como se fosse este o limite encontrado nas contas antes da introdução dos numerais em Inglês, agora em emprego geral nas ilhas. Shaler, Interpretation of Nature, 171 - "Geralmente supõe-se que a direção do movimento [na variação das espécies] é sempre ascendente. Ao contrário, em boa parte dos casos, talvez no conjunto em mais da metade, a mudança ocorre numa forma que, de acordo com os cânones segundo os quais determinamos a classificação, deve ser considerada como regressiva ou degradante. ... A espécie, os gêneros, as famílias e as ordens têm todos, como os indivíduos dos quais eles se compõem, um período de decadência em que o ganho auferido pelo trabalho e faina perde-se na antiga era do grupo". Shaler prossegue, dizendo que, quanto à variação, os sucessos estão para as falhas na proporção de 1 para 100.000 e, se os sucessos distintos levarem em conta o homem, então a proporção será de 1 para 100.000 000. Nenhuma espécie que se foi jamais se restabelece. Se agora o homem desaparecesse, não há razão para crer que, por qualquer processo de mudança, evoluiria semelhante criatura embora o reino animal continue a existir. O emprego destas sucessivas mudanças a fim de produzir o homem é inexplicável a não ser com base na hipótese de uma infinita Sabedoria designadora.
c) Os costumes bárbaros que este ponto de vista pretende sustentar podem ser explicados como marcas de uma civilização falida e não como reminiscências de uma selvageria primitiva e universal. Mesmo que elas indicassem aquele estado de barbarismo, tal estado podia ser precedido de uma condição de relativa cultura. Mark Hopkins, Princeton Rev., setembro de 1882, 194 - "Não há nenhum tratamento cruel dos elementos femininos entre os animais. Se o homem veio de animais inferiores, então ele não pode ter sido originariamente selvagem; pois você acha este o mais cruel tratamento entre os selvagens". Tylor exemplifica com os "árabes de rua". Ele compara os árabes de rua a uma casa arruinada, mas as tribos selvagens a um canteiro de construção. Ver Duque de Argyll, Primeval Man, 129,133; Bushnell,
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Nature and the Supernatural, 223; McLennan, Studies in Ancient History. Gulick, Biblia Sacra, julho de 1892:517 - "O canibalismo e o infanticídio são desconhecidos entre os macacos antropóides. Estes devem resultar da degradação. Piratas e traficantes de escravos não são homens de baixa e abortiva inteligência, mas de educação que deliberadamente lançam fora todo o constrangimento e empregam as suas forças para a destruição da sociedade". Keane, Man Past and Present, 40, cita Sir H. H. Johnston, administrador que tivera mais ampla experiência com os nativos da África do que qualquer ser vivo, e dizia que "por vários séculos a tendência do negro tem sido de um verdadeiro retrógrado - retorna à condição de selvagem e até mesmo de bruto. Se ele tivesse sido cortado da imigração dos árabes e dos europeus, as raças puramente negroides, abandonadas à sua sorte, desde o progresso rumo a um mais elevado tipo de humanidade, sem dúvida poderiam ter revertido gradualmente para um tipo não mais humano". Ratzel, History of Mankind "Não atribuímos grande antigüidade à civilização polinésia. Na Nova Zelândia é matéria que remonta apenas alguns séculos. Nos territórios recém-ocupados, o desenvolvimento da população começou em um mais alto nível e daí em diante decaiu. A decadência dos maoris resultou no rápido empobrecimento da cultura e o caráter do povo tornou-se selvagem e cruel. O Capitão Cook encontrou objetos de arte adorados pelos descendentes dos que os produziram". Recentes pesquisas têm desacreditado inteiramente a teoria de L. H. Morgan sobre uma original promiscuidade brutal da raça humana. Ritchie, Darwin and Hegel, 6, nota - "A teoria de uma promiscuidade original torna-se extremamente duvidosa por causa dos hábitos dos mais elevados animais". Westmarck, History of Human Marriage: "O casamento e a família estão em íntima conexão mútua; em benefício do jovem é que o masculino e o feminino continuam a viver juntos. Por isso o casamento está arraigado na família, mais do que a família no casamento.... Não existe a mínima evidência genuína da noção de que a promiscuidade formasse um estágio geral na história social da humanidade. A hipótese da promiscuidade, ao invés de pertencer ao tipo de hipótese cientificamente permissível, não tem nenhum fundamento real e é essencialmente anticientífico". Howard, History Matrimonial Inst: "O casamento ou junção entre homem e mulher, embora
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seja com freqüência uma união transitória e a regra muitas vezes violada, é a forma típica de união sexual desde os primórdios da raça humana".
d) A bem próxima tradição universal da idade do ouro, da virtude e da felicidade pode ser mais facilmente explicada com base no ponto de vista da Escritura que defende a criação da raça em santidade e subseqüente apostasia. Para referências aos escritores clássicos de um período áureo, ver Luthardt, Compendium der Dogmatik, 115; Pfleiderer, Philo. of Religion, 1.205 - "Em Hesíodo temos a legenda de um período áureo sob o domínio de Cronos, quando o homem era livre dos cuidados e trabalhos árduos, na imperturbável juventude e boa disposição, com superabundância de dotes que por si mesma a terra fornecia; na verdade a raça não era imortal, mas experimentava a morte como um brando sono". Podemos acrescentar que a capacidade para a verdade religiosa depende das condições morais. Por isso, bem primitivamente as raças eram dotadas de uma fé mais pura do que as mais tardias. O aumento da depravação tornou mais duro o exercício da fé às mais tardias gerações. A literatura da sabedoria pode ter sido bem antiga, assim como as idéias monoteísticas são mais claras à medida que retrocedemos. Bixby, Crisis in Morals, 171 - "Precisamente porque tais tribos [selvagens australianos e africanos] têm sido deficientes na qualidade moral média, elas deixaram de marchar de forma ascendente na estrada da civilização com relação ao resto da humanidade, e caíram no lodaçal da degradação selvagem". Sobre as civilizações petrificadas, ver Henry George, Progress and Poverty, 433-439 -"A lei do progresso humano, o que é senão a lei moral?" Sobre o desenvolvimento retrocessivo na natureza, ver Weismann, Heredity, 2.1-30. Porém ver também Mary E. Case, "Degeneraram-se os romanos?" no Jornal Internacional de Ética, jan. de 1893: no qual sustenta-se que os romanos fizeram constantes avanços. Henry Summer Maine chama a Bíblia de o mais importante documento da história da sociologia, porque apresenta de modo autêntico o antigo desenvolvimento da sociedade a partir da família, através da tribo, até a nação, progresso aprendido só de relance, em intervalos e sobrevivência dos velhos usos na literatura de outras nações.
Teologia Sistemática (Strong) 1045 a 2 ) Que a história religiosa da humanidade garante-nos por inferência uma lei de progresso necessário e universal segundo o qual o homem passa do fetichismo para o politeísmo e monoteísmo, este primeiro estágio teológico do qual o fetichismo, politeísmo e monoteísmo são partes sucedidas por estágio metafísico e por seu turno pelo positivo. Comte propõe esta teoria em sua Positive Philosophy, versão inglesa, 25,26,515-636. "Cada ramo do nosso conhecimento passa sucessivamente por três diferentes condições teóricas: Teológica, ou fictícia; Metafísica, ou abstrata; e Científica, ou positiva.... A primeira é o ponto de partida necessário ao entendimento humano; e a terceira é o seu estágio fixo e definido. A segunda é simplesmente o estágio de transição. No estágio teológico, a mente humana, buscando a natureza essencial dos seres, a primeira causa e a final, a origem e o propósito de todos os efeitos - em resumo, o conhecimento absoluto - supõe que a ação imediata dos seres sobrenaturais produzam todos os fenômenos. No estágio metafísico, que é apenas uma modificação do primeiro, a mente supõe, em vez dos seres sobrenaturais, forças abstratas, verdadeiras entidades, isto é, abstrações personificadas, inerentes a todos seres e capazes de produzir todos fenômenos. O que se chama explicação dos fenômenos é, neste estágio, uma simples referência de cada uma à sua própria entidade. Afinal, o estágio positivo, abandonou a vã pesquisa após noções absolutas, a origem e destino do universo e as causas dos fenômenos e aplica-se ao estudo das suas leis - isto é, suas invariáveis relações de sucessão e semelhança. ... O sistema teológico chegou à sua mais elevada perfeição quando substituiu as variadas operações de numerosas divindades pela a ação providencial de um só Ser. No último estágio do sistema metafísico, o homem substituiu a multidão de entidades supostas a princípio, pela grande entidade, a Natureza, como causa de todos fenômenos. Do mesmo modo, a última perfeição do sistema positivo deveria representar todos fenômenos como aspectos particulares somente de um fato geral -como, por exemplo, a Gravitação".
Esta suposta lei do progresso, contudo, é contraditada pelos seguintes fatos:
Teologia Sistemática (Strong) 1046 a) O monoteísmo dos hebreus não só precede os grandes sistemas politeístas da antigüidade, mas estas religiões pagas até são mais puras desde os elementos politeístas à medida que recuamos no tempo; de modo que os fatos apontam uma base monoteísta para todas elas. A gradual deterioração de todas as religiões, independentemente da revelação especial e da influência de Deus, é a prova de que a pura teoria da evolução é defeituosa. A suposição mais natural é a de que uma revelação primitiva, aos poucos, retrocedeu na memória humana. No Japão, o Shinto originariamente era a adoração do Céu. O culto aos mortos, a deificação do Micado, etc., eram uma corrupção e conseqüente desenvolvimento. Os ancestrais de Micado, ao invés de virem do céu, vieram da Coréia. O Shinto era originariamente um tipo de monoteísmo. Nenhum dos primeiros imperadores era deificado após a morte. A Apoteose dos Micados data da corrupção do Shinto, através da importação do Budismo. Andrew Lang, em sua Making of Religion, defende o monoteísmo primitivo. T. G. Pinches, do Museu Britânico, 1894, declara que, tanto nos mais antigos registros egípcios, como nos antigos babilônicos, há evidência de um primitivo monoteísmo. Nevins, Demon-Possession, 170-173, cita W. A. P. Martin, presidente da Universidade de Pequim, o que se segue: "A China, a índia, o Egito e a Grécia, todos concordam num tipo monoteístico de sua antiga religião. Os Hinos órficos, muito antes do advento das divindades populares, celebravam o Pantheos, Deus universal. As odes compiladas por Confúcio testificam o antigo culto do Shangte, Governante Supremo. Os Vedas falam do Verdadeiro Ser desconhecido, onipresente, onipotente, Criador, Preservador e Destruidor do Universo'. Ε no Egito, já nos tempos de Plutarco, ainda havia vestígios de um culto monoteístico".
b) "Não há nenhuma prova de que os grupos indo-germânicos praticaram o culto fetichista ou se escravizaram aos mais baixos tipos de religião mitológica ou ascenderam delas para algo mais elevado" (Fischer). Ver Fisher, Essays on Sup. Origin of Christianity, 545; Bartlett, Sources of Hist. of Pentateuch, 36-115; Herbert Spencer outrora sustentava que o
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fetichismo era primordial. Porém, mais tarde, mudou de pensamento e dizia que os fatos provavam ser exatamente o contrário, ao conhecer melhor as idéias dos selvagens; ver Principles of Sociology, 1.343. O Sr. Spencer, finalmente, ligou o começo da religião ao culto aos ancestrais. Porém, na China, nenhum ancestral jamais tornou-se um deus; ver Genetic Philosophy, 304-313. Ε, a não ser que o homem tivesse um senso inato da divindade, não poderia dei-ficar os ancestrais, nem os espíritos. O Prof. Hilprecht, da Filadélfia, diz: "Como recentemente se fez a tentativa de ligar o monoteísmo puro de Israel às fontes babilônicas, sou forçado a declarar esta uma impossibilidade absoluta baseado nos meus catorze anos de pesquisa nas inscrições cunéiformes da Babilônia. A fé do povo escolhido de Israel é: Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor'. Ε esta fé nunca poderia proceder da montanha de deuses babilônicos, casa de putrefação, cheia de corrupção e ossos de homens mortos".
c) Algumas das mais antigas reminiscências do homem encontradas através de armas e alimentos enterrados com os mortos mostram que já existia a idéia de seres espirituais e de um estado futuro e, portanto, uma religião de tipo mais elevado que o fetichismo. O próprio idolatra considera o ídolo como símbolo e representação de um ser espiritual que existe independentemente do objeto material, apesar de manifestar-se através dele. O Fetichismo, contudo, identifica a divindade com a coisa material e adora a madeira ou a pedra; não se concebe a existência do espírito separado do corpo. A crença nos seres espirituais e em um estado futuro é. portanto, a prova de uma religião mais elevada no gênero do que o fetichismo. Ver Lyell, Antiquity of Man, citada em Dawson, Story of Earth and Man, 384; ver também 368,372,386 - "A capacidade de degradação do homem é medida de acordo com sua capacidade de desenvolvimento" (Dawson). Lyell, em sua última edição, contudo, admite como duvidosa a evidência da caverna de Aurignac.
d) A teoria em questão, fazendo do pensamento teológico um estágio de evolução simplesmente transitório, ignora o fato de que a
Teologia Sistemática (Strong) 1048 religião tem sua raiz nas instituições e anseios da alma humana e que, portanto, nenhum progresso filosófico ou científico jamais o pode abolir. Conquanto os termos teológico, metafísico e positivo podem com propriedade assinalar a ordem em que as idéias do indivíduo e da raça são adquiridas, o positivismo erra ao sustentar que estas três fases do pensamento são mutuamente exclusivas e que no surgimento do mais tardio o mais antigo, por necessidade, deve extinguir-se. John Stuart Mill sugere que "personificação" seria um termo muito melhor do que "teológico" para designar os esforços para explicar os fenômenos físicos . Sobre os princípios fundamentais do Positivismo, ver New Englander, 1873.323-386; Diaman, Theistic Argument, 338 - "Três estados coexistentes aqui confundem-se com três sucessivos estágios do pensamento humano; três aspectos das coisas com três períodos de tempo. A teologia, a metafísica e a ciência devem sempre coexistir lado a lado, pois toda a ciência positiva apóia-se em princípios metafísicos e a teologia jaz atrás de ambos. Todas são tão permanentes como a própria razão humana". Martineau, Types, 1.487 -"Comte fixa o cristianismo medieval como o exemplo típico do monoteísmo evoluído e desenvolve-o a partir do politeísmo que ele derribou e dissipou. Mas a religião da Europa moderna notoriamente não descende da mesma fonte que a sua civilização e não é continuação da cultura antiga"; ao contrário disso, ela vem de fontes hebraicas; Ensaios, Essays, Philos., and Theol., 1.24,62 - "Os judeus foram sempre um povo descortês; o que tinham eles para estar por cima tão cedo, perturbando sempre a casa até mesmo antes de Comte soar o sino para as orações?"
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Capítulo III PECADO, OU ESTADO DE APOSTASIA DO HOMEM SEÇÃO I - A LEI DE DEUS Preliminarmente ao tratamento do estado de apostasia do homem, torna-se necessário considerar a natureza da lei de Deus, cuja transgressão é pecado. Podemos abordar melhor o assunto interrogando qual é a verdadeira concepção de: I. LEI EM GERAL 1. A lei é uma expressão da vontade A idéia essencial da lei é a de uma expressão geral da vontade reforçada pelo poder. Implica a) Um legislador, ou vontade com autoridade. b) Súditos, ou seres sobre os quais esta vontade impõe limites. c) Uma determinação geral, ou expressão dessa vontade. d) Um poder, forçando a determinação. Estes elementos acham-se até mesmo no que chamamos lei natural. A expressão 'lei da natureza' envolve uma autocontradição quando usada para denotar um modo de ação ou uma ordem de seqüência atrás da qual não se concebe nenhuma vontade inteligente e ordenadora. Os físicos derivam o termo 'lei' da jurisprudência ao invés de derivarem a jurisprudência da física. Usa-se primeiro para referir-se às relações de agentes voluntários. A causa em nossas próprias vontades capacita-nos a ver algo além da simples antecedência e conseqüência no mundo que nos cerca. A ciência física, ao usar a palavra 'lei', implicitamente confessa que uma Vontade suprema estabeleceu regras gerais que controlam o processo do universo.
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Wayland, Moral Science, 1, de modo não sábio define a lei como "um modo de existência ou ordem de seqüência", deixando, portanto, fora da sua definição toda referência a uma vontade ordenadora. Subseqüentemente ele diz que a lei pressupõe um estabelecimento, mas em sua definição nada há que o indique. De outro lado, insistimos que o próprio termo lei' inclui a idéia de força e causa. A palavra 'lei' (law) provém do Inglês 'lay' (deitar) (Alemão legen), = pôr abaixo, deitar; o Alemão Gesetz, de setzen, = fixar, ou estabelecer; o Grego νόμος, de νέμω, = algo atribuído ou repartido; em Latim lex, de lego, = algo dito ou falado. Todas estas derivações mostram que a concepção original que o homem tinha sobre a lei é a de algo que procede da volição. Lewes, Problem of Lier and Mind diz que o termo 'lei' é tão sugestivo a quem a outorga e imprime que ela deve ser suprimida e ser substituída pela palavra 'método'. O mérito de Austin ao tratar do assunto é que ele "limita rigorosamente o termo 'lei' às ordens de um superior"; ver John Austin, Province of Jurisprudence, 1.88-93, 220-223. Os defeitos de seu tratamento notaremos mais adiante. J. S. Mill: "É costume, onde quer que eles [cientistas] possam encontrar regularidade de qualquer tipo, chamar de lei a proposição geral que expressa a natureza de tal regularidade; do mesmo modo como quando em matemática falamos de lei de termos sucessivos de uma série convergente. Mas a expressão 'lei da natureza' é empregada geralmente por cientistas num tipo de referência tácita ao sentido original da palavra lei', a saber, a expressão da vontade de um superior - neste caso o Rei do universo". Paley, Nat. Theology, cap. 1 - "É uma deturpação da linguagem atribuir qualquer lei à causa eficiente operadora de qualquer coisa. A lei pressupõe um agente; este é apenas o modo como o agente procede; implica um poder, pois é a ordem segundo a qual tal poder atua. Sem esse agente, sem esse poder, os quais se distinguem entre si, a lei não faz nada". "Quis custodiet ipsos custodes (Quem protegerá a própria custódia)?" "As regras não se cumprem por si mesmas, do mesmo modo que um livro de estatutos não reprime um motim" (Martineau, Types, 1.367). Charles Darwin recebeu a sugestão da seleção natural não a partir do estudo das plantas e animais inferiores, mas de Maltus sobre a População;
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ver sua Life and Letters, Vol. I, capítulo autobiográfico. Ward, Naturalism and Agnosticism, 2.248-252 - "A concepção de lei natural repousa na analogia com a lei civil". Ladd, Philosophy of Knowledge, 333 - "As leis são apenas modos mais ou menos repetidos e uniformes do comportamento das coisas"; Philosophy of Mind, 122 - "Ser, estar em relação, ser por si mesmo ativo, agir sobre outro ser, obedecer lei, ser uma causa, ser um sujeito permanente dos estados, ser o mesmo hoje como ontem, ser idêntico, ser um, todas estas concepções e similares, juntamente com as provas que lhes dão valor de seres reais, afirma-se serem realidades físicas, ou projetadas nelas apenas baseados no autoconhecimento, confrontando e afirmando a realidade da mente. Sem o discernimento psicológico e o treinamento filosófico, tais termos ou seus equivalentes não têm sentido na física. Ε porque os escritores que se dedicam à física via de regra não têm esse discernimento e treinamento, apesar dos seus ingentes esforços para tratar da física como ciência empírica sem metafísica, eles se debatem e tropeçam e desesperadamente se contradizem sempre que tocam em assuntos fundamentais". Ver Presidente McGarvey, Crítica ao Reino da Lei de James Lane Allen: "Não é da natureza da lei reinar. Reinar é um ato que só se pode afirmar literalmente a respeito de pessoas. Um ser humano pode reinar; Deus pode reinar; o Diabo pode reinar; mas uma lei não pode. Se uma lei pudesse, de modo algum haveria jogos em Nova Iorque e nenhum botequim aberto aos domingos. Não haveria nenhum juramento falso nos tribunais de justiça, nem desonestidade nos políticos. Os homens é que reinam em tais assuntos - os juizes, o grande júri, o xerife e a polícia. Eles podem reinar nem mesmo segundo a lei. A lei não pode reinar sobre os que são indicados para executá-la".
2. A lei é uma expressão geral da vontade A característica da lei é a generalidade. Ela se dirige a substâncias ou pessoas em classes. A legislação especial é contrária à verdadeira teoria da lei.
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Quando o sultão de Zanzibar ordena que o seu barbeiro seja decapitado porque este cortou o seu senhor, tal ordem não é propriamente uma lei. Para que o fosse deveria rezar: "Todo barbeiro que corta sua majestade será, em razão disso, decapitado". Einmal ist keinmal = "Uma vez não é costume". Dr. Schurman sugere que a palavra meal (Mahl) significa originariamente vez (mal em einmal). A medida de tempo entre nós é astronômica; entre os nossos primitivos ancestrais era gastronômica, e o redobro mealtime = o din-don do sino do jantar. O Xá da Pérsia pediu certa vez ao Príncipe de Gales que conduzisse um homem à morte para que ele pudesse ver o método inglês de execução. Quando o Príncipe lhe disse que isso estava além da sua autoridade, o Xá quis saber qual era o valor de ser um rei se não podia matar pessoas a seu bel-prazer. Pedro, o Grande, sugeriu uma saída para a dificuldade. Ele desejava ver alguém ser punido pelo processo de arrastamento na quilha de uma embarcação. Quando informado de que não havia marinheiro merecedor dessa pena, ele respondeu: "Isso não tem importância; tome um do meu séquito". Amos, Science of Law, 33,34 - "A lei trata de regras eminentemente gerais". Ela não conhece pessoas ou personalidade. Deve aplicar-se a mais de um caso. "A característica da lei é a generalidade, como a característica da moral é a aplicação individual". A legislação especial é a ruína de um bom governo; não é da sua competência a promulgação da lei à força; é do sabor do capricho do despotismo, que dá ordens a cada súdito à sua vontade. Por isso, as nossas mais avançadas constituições políticas reprimem a influência do lobby e do suborno, proibindo legislação especial em casos nos quais já existem leis gerais.
3. A lei implica poder de impor É essencial à existência da lei que haja poder de imposição. Caso contrário a lei se tornaria a expressão de simples vontade ou conselho. Porque as substâncias e forças físicas não têm de modo algum inteligência e nem poder para resistir, os quatro elementos já mencionados esgotam as implicações do termo 'lei' aplicadas à natureza. No caso dos agentes racionais e livres, contudo, a lei implica em
Teologia Sistemática (Strong) 1053 acréscimo: e) Dever ou obrigação de obedecer; f) sanções, ou sofrimento e penalidade por causa da desobediência. "A lei que não tem penalidade não é lei, mas advertência e o governo em que a inflição não se segue à transgressão é o reino dos velhacos ou demônios". Sobre a questão se em qualquer dos castigos da lei civil se trata de sanções legais, exceto a pena de morte, ver N. W. Taylor, Moral Govt, 2.367-387. As recompensas são motivos, mas não sanções. Visto que se pode conceber a opinião pública como penas infligidoras por violação da sua vontade, falamos figuradamente das leis da sociedade, da conduta, da etiqueta, da honra. Só quando pode agir ou age através de sanções a comunidade das nações compele à obediência, podemos com propriedade afirmar a existência da lei internacional. Mesmo entre as nações, contudo, pode haver sanções tanto morais como físicas. A decisão de um tribunal internacional tem a mesma sanção que um tratado e, se aquele não tem poderes, este também os tem. As multas e o aprisionamento não isentam o povo decente das violações parciais da lei de um modo tão eficaz como as penalidades sociais do ostracismo e da desgraça e o mesmo ocorrerá com as decisões do tribunal internacional. Tem-se dito que a diplomacia sem exército e sem marinha é a lei sem penalidade. Mas a exclusão da sociedade civilizada é uma penalidade. "Na inquestionável obediência aos decretos elaborados, a que todos silenciosamente nos submetemos, simplesmente estamos exercendo a pressão às pessoas que nos cercam. Ninguém adota um estilo de roupa porque é razoável, pois os estilos não são freqüentemente os mais razoáveis; porém mansamente nos rendemos aos mais absurdos deles ao invés de resistirmos a tal força para não sermos chamados de excêntricos. Por isso, o que chamamos de opinião pública é a mais poderosa força atualmente conhecida quer na sociedade, quer na política".
4. A lei expressa e determina a natureza A vontade que prende seus súditos através de ordens e penalidades é a expressão da natureza do poder governante e revela as relações normais dos súditos com aquele poder. Finalmente, portanto, a lei g) é
Teologia Sistemática (Strong) 1054 uma expressão da natureza do legislador; e h) estabelece nos súditos a condição ou conduta que é o requisito para a harmonia com a referida natureza. Qualquer assim chamada lei que deixa de representar a natureza do poder governante logo se torna obsoleta. Toda a lei permanente é uma transcrição dos fatos do ser, uma descoberta do que é e deve ser para harmonizar governante e governado; em resumo, a lei positiva é justa e dura somente quando expressa e reproduz a lei da natureza. Diman, Theistic Argument, 106,107: John Austin, embora "rigorosamente limitasse o termo lei às ordens de um superior", contudo, "rejeitava a explicação de Ulpiano sobre a lei da natureza e ridicularizava como pretensiosa a celebre descrição de Hooker". Entendemos que isto é um defeito radical da concepção de Austin. Concebe-se a Vontade da qual procede a lei natural como um modelo deístico, em vez de imanente no universo. Lightwood, em sua Natural of Positive Law, critica a definição de lei que Austin faz como ordem e substitui-a pela idéia de costume. Sir Henry Maine, Lei Antiga, mostra-nos que as primitivas comunidades aldeãs tinham costumes que só gradualmente tomaram a forma de leis definidas. Porém retrucamos que o costume não é a fonte última de qualquer coisa. É necessário que haja repetidos atos para constituir-se um costume. Os primeiros costumes se devem à vontade dominadora do pai, na família patriarcal. Assim se justifica a definição de Austin. A moral coletiva {mores) vem do dever (debitum) individual; a lei tem origem na vontade; Martineau, Types, 2.18,19. Contudo, atrás desta vontade encontra-se algo que Austin não leva em conta, a saber, a natureza das coisas constituída por Deus, revelando a Razão universal e fornecendo o padrão com que toda a lei positiva, se permanente, deve conformar-se. Montesquieu, Spirit of Laws, livro 1, seção 14 - "As leis são as relações necessárias que surgem da natureza das coisas.... Há uma Razão primitiva e as leis são as relações subsistentes entre a Razão e os diferentes seres e as relações destes entre si. Estas regras são fixas e invariáveis. ... Os seres inteligentes em particular podem ter leis de sua própria lavra, mas eles têm algo em comum que nunca fizeram.... Dizer que nada há de justo ou injusto
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a não ser o que as leis positivas ordenam ou proíbem equivale a dizer que antes de descrever um círculo todos os raios não são iguais. Por isso devemos reconhecer as relações que antecedem à lei positiva através das quais elas se estabeleceram". Kant, Metaphysic of Ethics, 169-172 - "A ciência da lei é o conhecimento sistemático dos princípios da lei da natureza - de que surge a lei positiva - que é perenemente a mesma e leva consigo obrigações certas e imutáveis sobre todas as nações e épocas". O mesmo é verdade sobre a lei de um déspota, que revela a natureza dele e mostra qual é o requisito quando se trata de constituí-lo em harmonia com a natureza. A lei que não representa a natureza das coisas ou as verdadeiras relações entre governante e governado tem só existência nominal e não pode ser permanente. Sobre a definição e natureza da lei ver Loriner, Institutes of Law, 256, que cita de Burke: "Todas leis humanas, para falar com propriedade, são apenas declaratórias. Elas podem alterar o modo e a aplicação, mas não têm poder algum sobre a substância da justiça original"; Lord Bacon: "Regula enim legem (ut açus náutica polos) indicat, non statuit". Fairbairn, Contemp. Review, abr. de 1895.473 - Os juristas romanos traçam uma distinção entre jus naturale e jus civile e empregam aquela para afetar esta. A jus civile é estatutária, estabelece e fixa a lei, como é, o verdadeiro ambiente legal; a jus naturale é o princípio de justiça e equidade ideal imanente no homem embora com o progresso de sua cultura ética em desenvolvimento sempre mais articulado". Acrescentamos o fato de que jus em Latim e Recht em Alemão deixaram de significar simplesmente a justiça abstrata e passaram a denotar o sistema legal em que tal justiça abstrata está incorporada e expressa. Temos aqui uma prova de que Cristo gradualmente está moralizando o mundo e transportando a lei para a vida. E. G. Robinson: "Nunca um governo na terra fez suas próprias leis. Até mesmo as constituições declaram as leis atuais e na realmente existentes. Onde a sociedade cai em anarquia, a lex talioni toma-se o princípio prevalecente".
Teologia Sistemática (Strong) II. A LEI DE DEUS EM PARTICULAR
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A lei de Deus é uma expressão geral da vontade divina imposta pelo poder. Ela tem duas formas: Lei Elementar e Determinação Positiva. 1. Lei Elementar ou lei gravada nos elementos, substâncias e forças da criação racional e irracional. Esta é dúplice: A) A expressão da vontade divina na constituição do universo material; a isto chamamos lei física ou natural. A lei física não é necessária. Concebe-se uma outra ordem de coisas. A ordem física não é um fim em si mesma; ela existe por causa da ordem moral. A ordem física tem, portanto, somente uma constância relativa e Deus a suplementa às vezes com o milagre. Bowne, Theory of Thought and Knowledge, 210 - "As leis da natureza não representam nenhuma necessidade, mas são apenas formas ordenadas do processo de algum Ser que lhes faz retaguarda. ... As uniformidades cósmicas são métodos da liberdade de Deus". Filosofia do Teísmo, 73 "Quaisquer das leis cósmicas, desde a gravitação, podem ser concebidas como tendo sido deficientes e diferentes.... Não se pode encontrar nenhum traço de necessidade no Cosmos ou em suas leis". Seth, Hegelianism and Personality. "A Natureza não é necessária. Por que fixar uma ilha onde esta se encontra, e não a uma milha ao oriente ou ao ocidente? Por que estabelecer conexão entre o cheiro e a forma da rosa, ou o sabor e a cor da laranja? Por que o H2O forma a água? Ninguém sabe". William James: "As partes parecem disparadas de um revólver". Com mais razão diríamos de uma arma de fogo. Martineau, Seat of Authority, 33 - "Por que as vibrações numa circunstância produzem som e noutra luz; a razão de alguma necessidade não explica por que uma velocidade da vibração produz a cor vermelha e a outra a azul. Eis aqui a vontade seletiva". Brooks, Foundations of Zoology, 126 - "Até onde a filosofia da evolução envolve a crença de que a natureza é determinada ou devida a uma lei necessária de progresso universal ou evolução, parece-me ser completamente insustentável pela evidência e totalmente anticientífico". Nada se pode deduzir a partir da homogeneidade. Aperta-se o botão e a lei
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faz o resto? Sim, mas quem aperta o botão? A solução se cristaliza quando agitada? Sim, mas o que a agita? Ladd, Philos. of Knowledge, 310 - "A direção e a velocidade das estrelas não incidem em nenhum princípio que a astronomia possa descobrir. Uma das estrelas - 'Groombridge 1830' - está voando pelo espaço numa média muitas vezes tão grande como poderia atingir se tivesse caído através do espaço infinito durante toda a eternidade por todo o universo físico. ... Os fluidos se contraem quando resfriados e se expandem quando aquecidos, embora haja a bem conhecida exceção da água no grau de congelamento". 263 – As coisas não parecem ser sempre matemáticas. O sistema das coisas pode ser uma Vida, alterando os seus modos de manifestação segundo as idéias imanentes, em lugar de uma coleção de entidades rígidas, cegamente sujeitas a um processo mecânico de leis imutáveis". Agostinho: "Dei voluntas rerum natura est" (A natureza das coisas é a vontade de Deus). Joseph Cook: "As leis da natureza são os hábitos de Deus". Mas Campbell, Atonement, Introduction, xxvi, diz que há esta diferença entre as leis do universo moral e as do físico, a saber, que não ligamos a existência daquele a um ato da vontade como fazemos com este. "Dizer que Deus deu existência à bondade, como às leis da natureza, equivaleria a dizer que deu existência a si mesmo". Pepper, Outlines of Systematic. Theology, 91 - "A lei moral, diferente da lei natural, é padrão de ação a ser adotado ou rejeitado no exercício da liberdade racional, i.e., da atuação moral". Mark Hopkins, Princeton Review, setembro de 1882.190 - "Na lei moral existe a força somente através da punição - nunca através do poder, pois isto confundiria a lei moral com a física, e nunca se pode produzir ou garantir obediência através da força. Na lei física, ao contrário, a coação vem somente através do poder e a punição é coisa impossível. Quando o homem é livre, de modo nenhum está sujeito à lei, no sentido físico. Nossas vontades são (ivres da lei, por coação do poder, mas são livres sob a lei, quando compelida pela punição. Onde prevalece a lei no mesmo sentido em que no mundo material, não há nenhum tipo de liberdade. A lei não prevalece quando atingimos a região da escolha. Sustentamos que a força na mente do homem origina a livre escolha. Pressupõem-se dois objetivos da ação entre os quais a escolha deve ser feita: 1) A uniformidade ou conjunto de
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uniformidades implicando uma força pela qual se produz [a lei física ou a natural]; 2) Uma ordem dirigida a seres livres e inteligentes, que possa ser obedecida ou desobedecida e que tem tido conexão com as recompensas ou punições" [lei moral].
B) A expressão da vontade divina na constituição dos agentes racionais e livres; a isto chamamos de lei moral. Esta lei elementar da nossa natureza moral com a qual estamos agora somente preocupados tem todas as características mencionadas pertencentes à lei em geral. Ela implica: a) um Legislador divino, ou vontade ordenadora. b) Súditos, ou seres morais aos quais a lei se destina. c) A ordem geral, ou expressão desta vontade na constituição moral dos súditos. d) Força, impondo a ordem. e) Dever ou obrigação de obedecer. f) Sanções, ou dores e penalidades por causa da desobediência. Todos estes são de um tipo mais elevado do que os encontrados na lei humana. Mas temos necessidade especialmente de dar ênfase ao fato de que esta lei g) é uma expressão da natureza de Deus e, portanto, da sua santidade, atributo fundamental dessa natureza; e que ela h) estabelece absoluta conformidade com tal santidade como condição normal do homem. Esta lei se destina ao ser racional e moral do homem. O homem a cumpre só quando o seu ser moral bem como o racional são a imagem de Deus. Apesar de que a vontade da qual surge a lei moral é uma expressão da natureza de Deus, necessária em vista da existência de seres morais, ela não é nem um pouco uma vontade pessoal. Devemos ter cuidado para não atribuir à lei uma pessoalidade própria. Quando Plutarco diz: "A lei é um rei tanto dos seres mortais quanto dos imortais" e quando dizemos: "A lei cuidará de você", "O criminoso está sob o perigo da lei", estamos simplesmente substituindo o nome do principal pelo do agente. Deus não está sujeito à lei; Deus é a fonte dela; podemos dizer: "Se o Senhor é Deus, adoremo-lo; mas se é a lei adoremo-la".
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Visto que a lei moral simplesmente reflete Deus, ela não é coisa fabricada. Os homens descobrem leis, mas não as fabricam, assim como o químico não fabrica as leis pelas quais se combinam os elementos. É o exemplo de solidificação do hidrogênio em Genebra. A utilidade não constitui a lei, apesar de que testamos a lei através da sua utilidade; ver Murphy, Scientific Bases of Faith, 53-71. A verdadeira natureza da lei moral se estabelece na descrição nobre, embora retórica de Hooker (Eccl. Pol., 1.194) - "Não pode haver nada menos reconhecido da lei que a sua sede no coração de Deus; a sua voz é a harmonia do mundo; todas as coisas no céu e na terra tributam-lhe homenagens desde as menores como o sentimento do seu cuidado e até as maiores como a não isenção do seu poder; tanto os anjos como os homens e as criaturas por maior que seja a sua condição, embora cada um de um tipo e hábito diferentes, contudo, todos num consenso uniforme admiram-na como a mãe da sua paz e regozijo". Curtis, Primitive Semitic Religions, 66,101 - "O oriental crê que Deus faz a justiça por edito. Saladino demonstrou a Henrique de Champanha a lealdade dos seus Assassinos mandando dois deles lançarem-se de uma elevada torre para baixo com morte certa e violenta". H. B. Smith, System, 192 - "Vontade implica personalidade e personalidade acrescenta à verdade e ao dever abstratos o elemento autoridade. Por isso a lei tem a mesma força que uma pessoa e bem acima de uma idéia". A lei humana somente proíbe as ofensas que constituem uma lacuna na ordem pública ou no direito privado. A lei de Deus proíbe tudo que é ofensa contra a ordem divina, isto é, tudo o que contraria a Deus. A lei toda deve ser resumida nas palavras: "Sê semelhante a Deus". Salter, First Step in Philosophy, 101-126 - "A realização da natureza de cada ser é o fim pelo qual se deve empenhar. A auto-realização é um fim ideal, não de um ser, mas de todo ser, com a devida consideração ao valor de cada um na sua própria escala de merecimento. O irracional pode ser sacrificado em benefício do homem. Todos os homens são sagrados como capazes de progresso ilimitado. Temos o dever de realizar as coisas de que a nossa natureza é capaz até onde elas são mutuamente consistentes e encaminham-se para formar um todo". Isto significa que o homem cumpre a lei somente quando realiza a idéia divina em seu caráter e vida; em outras palavras, quando se torna uma imagem finita das perfeições infinitas de Deus.
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Bixby, Crisis in Morals, 191, 201, 285, 286 - "Α moralidade está arraigada na natureza das coisas. Existe um universo. Todos somos parte de um organismo infinito. O homem está inseparavelmente ligado ao homem [e a Deus]. Todos os direitos e deveres surgem desta vida comum. Na solidariedade da vida social encontra-se a base da lei de Kant: Portanto, a vontade que é a máxima da tua conduta pode aplicar-se a todos. O planeta não pode voar com segurança independente do sol e a mão não pode com segurança separar-se do coração. É da fundamental unidade da vida que fluem os nossos deveres. ... O infinito organismo do mundo é o corpo e a manifestação de Deus. Quando reconhecemos a solidariedade do nosso ser vital com a vida e concretização divinas, começamos a ver no cerne do mistério a inquestionável autoridade e suprema sanção do dever. Nossas intuições morais são apenas as leis imutáveis do universo que emergiram para o consciente no coração humano. ... Os princípios inerentes da Razão universal refletem-se no espelho da natureza moral. A consciência iluminada é a expressão na alma humana da Consciência divina ... A moralidade é a vitória da vida divina dentro de nós. ... A solidariedade da nossa vida para com a Vida universal proporciona um incondicional elemento sagrado e uma autoridade transcendental. ... O microcosmo deve pôr-se em relação com o Macrocosmo. O homem deve assemelhar o seu espírito à Essência do mundo e unir-se a ela".
A lei de Deus, então, é simplesmente uma expressão da natureza dele na forma de requisito moral e expressão necessária de tal natureza em vista da existência de seres morais (Sl. 19.7; cf. 1). Todos os homens dão testemunho da existência desta lei. Até mesmo a consciência do pagão dá testemunho dela (Rm. 2.14,15). Os que têm a lei escrita reconhecem esta lei elementar como de grande âmbito e penetração (Rm. 7.14; 8.4). A perfeita concretização e cumprimento da lei só se vê em Cristo (Rm. 10.4; Fp. 3.8,9). Sl. 19.7 - "A lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma"; cf. ν. 1 - Os céus declaram a glória de Deus" = duas revelações de Deus - uma na natureza, outra na lei moral. Rm. 2.14,15-"Porque, quando os gentios, que não têm lei fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu
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coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os" - aqui a "obra da lei" = não aos dez mandamentos, pois isso os gentios ignoravam, mas a obra correspondente a eles, i.e. a substância deles. Rm. 7.14-"porque bem sabemos que a lei é espiritual"- Meyer diz que isto equivale a dizer: "sua essência divina é de natureza semelhante ao Espírito Santo, que a deu, auto-revelação santa de Deus". Rm. 8.4 - "Para que a justiça da lei se cumprisse em nós que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito"; 10.4 - "Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê"; Fp. 3.8,9 - "Para que eu possa ganhar a Cristo e seja achado nele, não tenho a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus, pela fé"; Hb. 10.9 - "Eis que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade". Em Cristo "a lei aparece traçada em caracteres vivos". Tal como ele foi e é, sentimos que devemos ser. Por isso o caráter de Cristo nos convence do pecado, como em nenhuma manifestação de Deus. Fleming, Vocab. Philos., 286 - "As leis morais derivaram da natureza e da vontade de Deus e do caráter e condição do homem". A natureza de Deus se reflete nas leis da nossa natureza. Porque a lei está inserida na natureza do homem, este é uma lei em si mesmo. Para conformar-se com a sua própria natureza, em que a consciência tem supremacia, deve conformar-se com a natureza de Deus. A lei é apenas a revelação dos princípios constitutivos do ser, a declaração do que deve ser, até onde o homem é homem e Deus é Deus. Ela diz com efeito: "Seja semelhante a Deus, ou você não pode ser verdadeiramente um homem". Assim a lei moral não é simplesmente um teste de obediência, mas é também uma revelação da realidade eterna. O homem não pode perder-se para Deus, sem se perder para si mesmo. "A expressão 'mãos do Deus vivo' (Hb. 10.31) na qual nós caímos, são as leis da natureza". No mundo espiritual que "as mesmas rodas revolvem, não há somente ferro" (Drummond, Nat. Law in the Esp. World, 27), Wuttke, Christian Ethics, 2.82-92 - "A totalidade dos seres criados deve estar em harmonia com Deus e consigo mesma. A idéia desta harmonia ativa em Deus sob a forma de vontade, é a lei de Deus". Um manuscrito da constituição dos Estados Unidos foi escrito de tal modo que, quando se mantinha a uma pequena distância, a sombra das letras e a sua posição mostrava o rosto de George Washinton. Assim a lei de Deus é apenas o rosto de Deus descoberto à vista humana.
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R. W. Emerson, Woodnotes, 57 - "A lei consciente é o Rei dos reis". Há dois séculos John Norton escreveu um livro intitulado O Evangelista Ortodoxo, "destinado à geração e ao estabelecimento da fé que há em Cristo Jesus", na qual encontramos o seguinte: "Deus não quer as coisas porque são justas, mas as coisas são justas porque Deus as quer. Que homem em sua razão apenas admitirá que a lei moral não tem nenhuma conexão com Deus? Que as ações do homem que não se conformam com esta lei seriam pecado, que a morte seria o castigo do pecado, estas são as constituições de Deus, procedentes dele não por via da necessidade da natureza, mas de um modo livre, como efeito e produto do seu eterno belprazer". Isto faz de Deus um déspota arbitrário. Não devemos dizer que Deus fabrica a lei, nem, por outro lado, que está sujeito à lei, mas que Deus é lei e a fonte da lei. Bowne, Philos. of Theism, 161 - "A lei de Deus é orgânica - embutida na constituição dos homens e das coisas. A Carta Magna, contudo, não fabrica o canal.... Uma lei da natureza nunca é o antecedente, mas a conseqüência da realidade. Que direito tem esta conseqüência da realidade de ser personalizada e tornar-se a regra e fonte da realidade? A lei é tão somente o modo fixo em que a realidade opera. Por isso a lei nada pode explicar. Só Deus, de quem emana a realidade, pode explicá-la". Em outras palavras, a lei nunca é um agente, mas sempre um método - o método de Deus, ou melhor, o de Cristo o único Revelador de Deus. A vida de Cristo na carne é a mais clara manifestação daquele que é o princípio da lei no universo físico e moral. Cristo é a expressão da razão de Deus. Foi ele que deu a lei no Monte Sinai do mesmo modo que no Sermão do Monte.
Cada uma das duas características da lei de Cristo mencionadas é importante em suas implicações. Trataremos delas em sua ordem. Em primeiro lugar, a lei de Deus como transcrição da natureza divina. – Se esta for a natureza da lei, então, excluem-se dela algumas falsas concepções. A lei de Deus não é
Teologia Sistemática (Strong) 1063 a) Arbitrária, ou produto de vontade arbitrária. Porque a vontade da qual a lei brota é uma revelação da natureza de Deus, não pode haver nenhuma temeridade ou falta de sabedoria na lei em si. E. G. Robinson, Christian Theol., 193 - "Nenhuma lei de Deus jamais parece ter sido estabelecida arbitrariamente ou simplesmente com vistas a certos fins a serem cumpridos; ela sempre representa alguma realidade da vida inexoravelmente necessária para que os governados a observem cuidadosamente". A teoria de que a lei tem origem na vontade arbitrária resulta em um tipo efeminado de piedade, exatamente como a teoria de que a legislação tem como único fim a maior felicidade resulta em todo o tipo de compromisso de justiça. Jones, Robert Browning, 43 - "Aquele que ilude o seu próximo crê na tortuosidade e, como diz Carlyle, tem como bem supremo a charlatanice".
b) Temporária ou ordenada simplesmente para ir ao encontro de uma exigência. A lei é uma manifestação não de modos ou desejos temporários, mas da natureza essencial de Deus. A grande fala da Antígone de Sófocles dá-nos esta concepção de lei: "As ordens dos deuses não são escritas, mas garantidas. Nenhuma delas é de hoje ou de ontem, mas viverão para sempre". Moisés pôde quebrar as duas tábuas de pedra nas quais estava gravada a lei e Jeoaquim pôde cortar o rolo e lançá-lo ao fogo (Ex. 32.19; Jr. 36.23), mas a lei permaneceu eterna como antes na natureza de Deus e na constituição do homem. Prof. Walter Rauschenbusch: “As leis morais são tão estáveis como a lei da gravitação. Todo o frangote humano empenado, que vem de quebrar a casca neste mundo tenta zombar dessas leis. Nesse processo alguns se tornam mais sábios e alguns não. Falamos sobre a quebra das leis de Deus. Mas depois que se quebraram essas leis muitos bilhões de vezes desde que Adão, pela primeira vez tentou brincar com elas, estão ainda intactas e nenhuma cicatriz ou fratura se viu nelas, nem mesmo uma arranhadura no esmalte. Mas quanto aos que quebram a lei – a história é outra. Se você quiser encontrar os seus fragmentos vá às ruínas do Egito, da Babilônia, de Jerusalém; estude as estatísticas; leia os rostos; conserve abertos os olhos;
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visite a Ilha de Blackwell; ande pelos necrotérios e leia as invisíveis inscrições deixadas pelo Anjo do Juízo, por exemplo: ‘Aqui jazem os fragmentos de John Smith, que contradisse o Criador, fez dos Dez Mandamentos uma partida de futebol e partiu desta vida aos trinta e cinco. Sua mãe e esposa choraram por ele. Ninguém mais. Que ele repouse em paz!’ ”
c) Simplesmente negativa, ou simples lei de proibição, porque a conformidade positiva com Deus é o mais íntimo requisito da lei. A forma negativa dos mandamentos no Decálogo dá como certa a inclinação má no coração do homem e praticamente opõe-se à sua gratificação. No caso de cada mandamento leva-se em conta um domínio total da vida moral, embora o ato expressamente proibido seja o ápice do mal num desses campos. Assim se faz inteligível o Decálogo; atravessa a vereda do homem exatamente no lugar onde ele se sente mais propenso a vagar. Porém atrás da expressão negativa e específica em cada caso encontra-se a massa toda dos requisitos morais; o fino vértice da cunha tem atrás de si a demanda positiva da santidade, sem cuja obediência não se pode obedecer até a proibição. Assim "a lei é espiritual" (Rm. 7.14) e requer semelhança com o Deus espiritual no caráter e na vida; Jo. 4.24 - "Deus é espírito e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade".
d) Parcial, ou dirigida somente a uma parte do ser humano, porque a semelhança com Deus requer pureza de substância na alma e no corpo do homem assim como a pureza em todos os pensamentos e atos que procedem dela. Como a lei procede da natureza de Deus, assim requer conformidade com tal natureza na do homem. O que quer que Deus tenha dado ao homem no princípio, ele requer com interesse; cf. Mt. 25.27 - "Devias, então, ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o que é meu com juros". O que quer que seja insuficiente na perfeita pureza da alma, ou perfeita saúde física é uma inconformidade com Deus e contradiz a sua lei. Entende-se que só se exige a perfeição correspondente ao estágio de crescimento e
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progresso da criatura, de sorte que se requer da criança só a perfeição de criança, do jovem só a perfeição de jovem, do homem a perfeição de homem.
e) Exteriormente disseminada, porque toda a determinação é apenas a imperfeita expressão desta lei do ser, a qual é subjacente e não escrita. Boa parte do falso entendimento da lei de Deus resulta do fato de confundi-la com a determinação publicada. Paulo amplia o ponto de vista declarando que a lei independe de tal expressão; ver Rm. 2.14,15 - "Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os"; ver Expositor's Greek Testament, in loco: "'escrita no coração', em contraste com a lei escrita nas tábuas de pedra, équivale a 'não escrita'; o apóstolo se refere ao que os gregos chamavam άγραφος νόμος".
f) Interiormente consciente, ou limitada em seu escopo pela consciência dela. Como as leis do nosso ser físico, a lei moral existe quer reconheçamos, quer não. A gula tem como punição da dispepsia, quer estejamos conscientes da nossa falta, quer não. Não podemos por ignorância ou decididamente repelir as leis do nosso sistema físico. A vontade própria não garante a independência assim como as estrelas, por combinação não podem abolir a gravitação. O homem não pode abrir mão do domínio de Deus, negando a sua existência, ou recusando submeter-se a ele. SI. 2.1-4-"Por que se amotinam as nações ... contra o Senhor... dizendo: Rompamos as suas ataduras ... Aquele que habita nos céus se rirá". Salter, First Step in Philosophy, 94 – "O fato de que alguém não está consciente da obrigação não afeta a sua realidade mais do que a ignorância do que está no centro da terra afeta a natureza do que realmente se descobre lá. Descobrimos a obrigação e não a criamos pensando nela, do mesmo modo que também não criamos o mundo sensível pensando nele".
Teologia Sistemática (Strong) 1066 g) Local ou confinado a um lugar, porque nenhuma criatura moral pode escapar de Deus, do seu próprio ser, ou da necessidade natural de que a semelhança de Deus envolva miséria e ruína. "O leilão holandês" era a oferta pública da propriedade a um preço superior ao seu valor seguido da sua diminuição até que alguém o aceitasse como sua. Não existe essa exceção local à plena validade das exigências de Deus. A lei moral tem oscilação ainda mais necessária e universal do que a da gravitação no universo físico. Está inserida na constituição do homem e de todo ser moral. Aquele que ofendesse o imperador romano achava que o império todo era uma prisão.
h) Mutável, ou capaz de modificação. Porque a lei representa a natureza imutável de Deus, não é uma escala vacilante de requisitos que se adaptam à capacidade dos súditos. O próprio Deus não pode mudá-la sem deixar de ser Deus. A lei, então, tem um fundamento ainda mais profundo do que o simples "assim diz o Senhor". A palavra de Deus e a sua vontade são revelações do seu mais íntimo ser; cada transgressão da lei é uma punhalada no coração de Deus. Simon, Reconciliation, 141,142 – "Deus continua a demandar lealdade até mesmo quando o homem se mostrou desleal. O pecado muda o homem e a mudança deste envolve também uma mudança em Deus. O homem agora considera Deus como um governante e exator e este considera o homem um delinqüente e rebelde". A exigência de Deus não diminui porque o homem é incapaz de ir ao encontro dela. A própria incapacidade é a inconformidade com a lei e não é desculpa para o pecado; ver o sermão do Dr. Bushnell sobre o "Imenso Dever da Capacidade". O homem que tinha a mão ressequida não teria sido justificado se se recusasse a estendê-la ao mando de Jesus (Mt. 12.10-13). A obrigação de obedecer a esta lei e estar de conformidade com o perfeito caráter moral de Deus baseia-se na capacidade original do homem e nos dons que Deus lhe concedeu no princípio. Criado à imagem de Deus, é dever do homem tributar-lhe o que primeiro ele lhe deu, aumentado e melhorado pelo desenvolvimento e pela cultura (Lc. 19.23 - "Porque não
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puseste, pois, o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os juros"?). Esta obrigação não diminui com o pecado e com o abatimento das forças do homem. Rebaixar o padrão seria interpretar falsamente a pessoa de Deus. Adolphe Monod não se salvaria da vergonha e do remorso diminuindo as reivindicações da lei: "Salve em primeiro lugar a santa lei de Deus, diz ele, "depois você me salvará!" Mesmo a salvação não ocorre através da violação da lei. A lei moral é imutável por ser uma transcrição da natureza do Deus imutável. É a natureza que se conformará comigo, ou eu me conformarei com ela? Se eu tentar resistir mesmo às leis físicas, serei esmagado. Posso valer-me da natureza obedecendo às suas leis. Lord Bacon: "Natura non nisi parendo vincitur" (Não se vence a natureza a não ser pela sujeição). O mesmo ocorre no reino moral. É impossível subornar Deus, ou escapar à sua lei. Deus não mudará um fio de cabelo a sua lei, e nem pode, mesmo para salvar um universo de pecadores. Omar Khayyám, Rubáiyat, pede ao seu deus que "oculte a lei dos meus desejos". Marie Corelli diz com propriedade: "É como se um mosquito procurasse edificar uma catedral e alterar as leis da arquitetura a fim de adequá-las à sua capacidade de mosquito".
Em segundo lugar, a lei de Deus como um ideal da natureza humana. – Uma lei assim idêntica às relações eternas e necessárias da criatura com o Criador e demandando da criatura nada menos que a santidade perfeita como condição para a harmonia com a santidade infinita de Deus adapta-se à natureza finita do homem como lei necessária; e à natureza progressiva do homem como lei ideal necessária. Porque é finito o homem necessita de leis, exatamente como o comboio ferroviário necessita de trilhos para guiá-lo - saltá-los não é encontrar liberdade, mas ruína. Presidente de Estrada de Ferro: "Nossas regras são escritas com sangue". Goethe: "Em vão os espíritos totalmente livres aspirarão aos píncaros da perfeição; dentro dos limites o Mestre brilha Ε só a lei nos dá liberdade". - Como ser livre, o homem tem necessidade de lei moral. Ele não é autômato, criatura em função da necessidade, governada só por influências físicas. Consciente de comandar o que é justo e a vontade de escolhê-lo ou rejeitá-lo, sua verdadeira dignidade e vocação
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consistem em realizar o que é correto. - O homem, como um ser progressista, necessita nada menos que um ideal e um padrão infinito de realização e um alvo que ele nunca pode ultrapassar, um fim que sempre atrai o estimula a avançar. Isto ele encontra na santidade de Deus. A lei é uma cerca, não só para se possuir, mas para cuidar-se. Deus não só exige, mas protege. A lei é uma transcrição do amor bem como da santidade. Podemos inverter o bem conhecido dístico e dizer: "Dormi e sonhei que a vida é um Dever; acordei e acho a vida uma Beleza". "Cui servire regnare est" (Deve-se servir a quem reina). Butcher, Aspects of Greek Genius, 56 - "No Crito, Platão, as leis são feitas para apresentarem-se pessoalmente ao prisioneiro Sócrates, não só como guardiãs da liberdade, mas como amigos para a vida toda, os seus queridos, seus semelhantes, com quem a sua livre vontade entra em contato". Não é prejudicial ao erudito ter diante de si o ideal de erudição perfeita; nem ao mestre ter a escola perfeita; nem ao legislador ter o ideal de lei perfeita. Gordon, Christ Today, 134 – "O alvo moral deve ser o de um vôo; deve sempre aparecer o padrão segundo o qual devemos crescer; o tipo com o qual devemos nos conformar deve ter em si a plenitude inexaurível". John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 2.119 - "Justamente as melhores, as mais puras, as mais nobres almas humanas é que estão menos satisfeitas consigo mesmas e com as suas realizações espirituais; e a razão é que a natureza humana não é essencialmente diferente da divina, mas é uma natureza que, exatamente por ter afinidade essencial com Deus não se satisfaz com nada menos que a perfeição divina". J. M. Whiton, Divine Satisfaction: "A lei requer o ser, o caráter, a semelhança com Deus. É automática e auto-operante. A penalidade é intransferível. Ela não pode admitir outra satisfação que não seja o restabelecimento da relação normal requerida. A punição proclama que a lei não foi satisfeita. Não há nenhum cancelamento da maldição a não ser através do desenvolvimento da relação normal. A bênção e a maldição são conseqüências do que nós somos, não do que éramos. A reparação está dentro do próprio espírito. A expiação é educativa, não governamental". Retrucamos que a expiação é tanto governamental como educativa e que se deve fazer a reparação relativa à santidade de Deus antes que a consciência, espelho da santidade de Deus, reflita a mencionada reparação e haja paz.
Teologia Sistemática (Strong) Portanto, a lei de Deus caracteriza-se por:
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a) Abrangência total – Ela está acima de nós em todos os tempos; diz respeito ao nosso passado, ao nosso presente e ao nosso futuro. Proíbe qualquer concepção de pecado; requer qualquer concepção de virtude; ela condena as omissões e as comissões. Sl. 119.96 - "A toda perfeição vi limite ... o teu mandamento é amplíssimo"; Rm. 3.23 – "todos pecaram e carecem da glória de Deus"; Tg. 4.17 -"Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz comete pecado". A gravitação sustenta, a menor partícula assim como o mundo. A lei de Deus detecta e denuncia o menor pecado de sorte que sem a expiação não pode ser perdoado. Pode-se suspender ou ab-rogar a lei da gravitação, pois não tem base necessária no ser divino; mas não se pode suspender ou ab-rogar a lei moral divina, pois isso contraditaria a santidade de Deus. "Acerca do direito" não é "todo o direito". "As gigantescas colunas hexagonais de basalto na Estafa Escocesa identificam-se na forma com os microscópicos cristais do mesmo mineral". Do mesmo modo Deus é o nosso padrão, e a bondade é o elemento de semelhança a ele.
b) Espiritualidade – Demanda não somente palavras e atos justos, mas disposições e estados também justos. A obediência perfeita requer não só o intenso e incansável reino do amor para com Deus e o homem, mas a conformidade de toda a natureza interna e externa do homem com a santidade de Deus. Mt. 5.22,28 - a palavra de ira é homicídio; o olhar pecaminoso é adultério. Mc. 12.30,31 - "amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. ... Amarás o teu próximo como a ti mesmo"; 2 Co. 10.5 - "levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo"; Ef. 5.1 - "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados"; 1 Pe. 1.16 - "Sede santos porque eu sou santo". Como a mais brilhante luz elétrica, vista através de um vidro enfumaçado contra o sol, aparece como mancha preta, assim o mais brilhante caráter não regenerado é tenebroso, comparado com a santidade de Deus.
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Matheson, Moments on the Mount, 235 assinala sobre Gl. 6.4 - "cada um prove a sua própria obra e terá glória em si mesmo e não noutro" - Tenho uma velazinha e comparo-a com o pavio de meu irmão e saio feliz. Por que não compará-la com o sol? Aí é que acaba o meu orgulho e falta de caridade". A distância para com o sol a partir do topo de um torrão levado por uma formiga e a do Monte Everest é quase a mesma. A princesa africana louvada pela sua beleza não tinha meios de verificar as saudações tributadas a ela a não ser olhando na superfície vítrea da lagoa. Mas o comerciante veio e vendeu-lhe um espelho. Então ela ficou tão chocada com a sua própria feiúra que quebrou o espelho em pedaços. Assim olhamos para o espelho da lei de Deus, comparamo-nos com Cristo, que se reflete nela e odiamos o espelho que nos revela a nós mesmos (Tg. 1.23,24).
c) Solidariedade – Apresenta em todas as suas partes a natureza do único Legislador, e expressa, na mínima determinação, o único requisito da harmonia com ele. Mt. 5.48 - "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai, que está nos céus"; Mc. 12.29,30 - Ό Senhor, nosso Deus, é o único Senhor; amarás o Senhor, teu Deus"; Tg. 2.10 - "Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos"; 4.12 - "Há um só legislador e juiz". Até mesmo as pequenas cascavéis são serpentes. Basta que um elo da corrente se quebre para que o balde caia no poço. O pecado, por menor que seja, nos separa de Deus. O pecado, por menor que seja, nos torna culpados de toda a lei porque nos mostra a falta do amor que os mandamentos requerem. Aqueles que nos remetem ao Sermão do Monte para a salvação mandam-nos para um tribunal que nos condena. O Sermão do Monte é apenas uma reedição da lei entregue no Monte Sinai, mas, desta vez, mais espiritual e penetrante. Os trovões e relâmpagos procedem do Novo Testamento, do mesmo modo que o monte no Velho Testamento. O Sermão do Monte é apenas o discurso introdutório do curso teológico de Jesus, do mesmo modo que João 14-17 é o seu fecho. Nele se anuncia a lei, que prepara o caminho para o evangelho. Os que degradam a doutrina exaltando o preceito acharão que eles deixaram os homens sem o motivo ou a força para guardar o preceito.
Teologia Sistemática (Strong) 1071 Só para o primeiro homem, então, a lei foi proposta como um método de salvação. Com o primeiro pecado, toda a esperança de obter o favor divino através da obediência se perdeu. Para os pecadores a lei continua como um meio de descobrir e desenvolver o pecado em sua verdadeira natureza e de compelir a que se recorra à misericórdia providenciada em Jesus Cristo. 2 Cr. 34.19 – "sucedeu, pois, que, ouvindo o rei as palavras da Lei, rasgou as suas vestes"; Jó 42.5,6 - "Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos; Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza". A revelação de Deus em Is. 6.3,5 - "Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos" faz o profeta clamar como o leproso: "Ai de mim que vou perecendo! Porque sou um homem de lábios impuros". Rm. 3.20 "nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado"; 5.20 - "Veio, porém a lei para que a ofensa abundasse"; 7.7,8 - "Eu não conheci o pecado senão pela lei, porque eu não conheceria a concupiscência se a lei não dissesse: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda a concupiscência: porquanto, sem a lei, estava morto o pecado"; Gl. 3.24 "De maneira que a lei nos serviu de aio", ou escravo-assistente, "para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé fôssemos justificados" = a lei treina a nossa obstinada infância e nos conduz a Cristo, o Mestre, como nos antigos tempos o escravo acompanhava as crianças para a escola. Stevens, Pauline Theology, 177,178 - "A lei aumenta o pecado aumentando o conhecimento deste e a sua atividade. A lei não acrescenta à energia inerente do princípio pecaminoso que permeia a natureza humana, mas faz este princípio revelarse mais energicamente no ato pecaminoso". A lei inspira temor, mas não conduz ao amor. Os rabinos diziam que, se Israel se arrependesse ainda que por um dia, o Messias apareceria. Nenhum ser humano jamais traçou uma linha reta ou uma curva perfeita; contudo, seria um pobre arquiteto quem se contentasse com menos que isso. Visto que os homens nunca sobem até os seus ideais, aquele que tem por alvo viver apenas uma vida moral média inevitavelmente cairá para baixo da média. Então a lei conduz a Cristo. Aquele que é o ideal é também o meio para atingir esse ideal. Aquele que é o Verbo e a Lei é também o
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Espírito de vida que nos torna possível a obediência (Jo. 14.6 - "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida"; Rm. 8.2 - "Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte"). Mrs. Browning, Aurora Leigh: "O próprio Cristo não teria sido Legislador, se, juntamente com a Lei não tivesse dado a Vida". Cristo por nós na Cruz e Cristo em nós através do seu Espírito é o único livramento da maldição da lei; Gl. 3.13 "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós". Devemos ver satisfeitas as reivindicações da lei escrita em nossos corações. Somos "reconciliados com Deus pela morte de seu Filho", mas também somos "salvos pela sua vida" (Rm. 5.10). Robert Browning, The Ring and Book, representa Caponsacchi comparando-se na melhor das hipóteses com o novo ideal de "perfeito como perfeito é o Pai celestial", o que é sugerido pela pureza de Pompília e irrompendo com o clamor: "Ó grande, justo, bondoso Deus! Tem misericórdia de mim"! Na Casa do Intérprete do Peregrino, no sujo compartimento, a Lei só agita o pó; o evangelho teve de espargir água no solo antes de limpá-lo. E. G. Robinson: "É necessário desenfumaçar o homem antes de fazer com que ele tenha um motivo mais elevado ". Barnabe dizia que Cristo é a resposta para o enigma da lei. Rm. 10.4 – "Porque o fim da lei é Cristo para a justiça de todo aquele que crê". O caminho da estrada de ferro oposto a Detroit sobre o Rio Santa Clara corre ao lado da doca e causa a impressão de querer mergulhar o trem no abismo. Mas quando o ferry-boat chega, os carris parecem estar sobre o seu convés e o barco é o fim da trajetória que leva os passageiros a Detroit. Assim a lei, que por si mesma só traria destruição, encontra seu fim em Cristo, que garante a nossa passagem para a cidade celestial. A lei, portanto, com seu quadro de imaculada inocência, simplesmente lembra ao homem as alturas de onde ele caiu. "É o espelho que revela a desordem, mas não cria nem a remove". Com sua demanda de absoluta perfeição até à medida dos dotes e possibilidades do homem original, conduz, no nosso próprio desespero, a Cristo como a única justiça e como o nosso Salvador (Rm. 8.3,4 - "Porquanto, o que era impossível à lei, visto que estava enferma pela carne, Deus, enviando seu Filho em semelhança da carne do pecado, condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o
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Espírito"; Fp. 3.8,9 - "para que eu possa ganhar a Cristo e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus, pela fé"). Portanto, a lei deve preparar o caminho para a graça e João Batista deve preceder a Cristo. Quando se pediu a Sarah Bernhardt que acrescentasse um décimo primeiro mandamento, ela declinou baseada em que dez já eram demais. Era uma expressão de desprezo pagão pela lei. No paganismo, o pecado e a insensibilidade pelo mesmo pecado crescem juntos. No judaísmo e no cristianismo, ao contrário, há um crescente senso de culpa e condenação pelo pecado. McLaren, S. S. Times, 23 de setembro de 1893.600 - "Entre os judeus há um mais profundo senso de pecado que em qualquer outra nação antiga. A lei escrita no coração do homem evoca uma consciência inferior do pecado e, nas tábuas assírias e babilônicas, há orações que podem quase pôr-se ao lado do Salmo 51. Mas, em seu todo, o profundo senso de pecado é produto da lei revelada".
2. Determinação positiva, ou a expressão da vontade de Deus nas ordenanças publicadas. Esta é dúplice: A) Preceitos morais gerais. - Estes são sumários escritos da lei elementar (Mt. 5.48; 22.37-40), ou suas aplicações autorizadas às condições humanas especiais (Ex. 20.1-17; Mt. caps. 5-8). Mt. 5.48 - "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai, que está nos céus"; 22.37-40 - "Amarás o Senhor teu Deus ... Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem a lei e os profetas"; Ex. 20.1-17 - os Dez Mandamentos; Mt. 5-8 - Sermão do Monte. Cf. Agostinho, sobre o SI. 57.1. Solly, On the Will, 162, apresenta duas ilustrações sobre o fato de que os preceitos positivos são meras aplicações da lei elementar ou da lei da natureza: " 'Não furtarás', é uma lei moral que pode ser estatuída assim: Não tomes para tua propriedade aquilo que é propriedade de um outro. O oposto desta proposição seria: Tu podes tomar para tua propriedade o que é propriedade de um outro. Mas isto é uma contradição de termos; porque é a
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própria concepção de propriedade, que o possuidor está numa relação peculiar com a sua matéria; e o que é a propriedade de cada pessoa, não é propriedade de ninguém. Por isso o elemento contraditório do mandamento contém um elemento negativo que o torna uma regra universal; e estabelece-se o mandamento em si como um dos princípios da harmonia das vontades individuais. " 'Não mentiras', como regra de moral, pode expressar-se genericamente: com os teus atos exteriores não farás os outros crerem que o teu pensamento é diferente do que ele é. A contradição universal é: cada um pode por seus atos externos fazer os outros crerem que o seu pensamento não é esse. Ora, essa máxima também contém uma contradição, e é autodestrutiva. Contém uma permissão de fazer aquilo que se torna impossível pela própria permissão. A indiferença absoluta e universal à verdade, ou a total independência mútua do pensamento e do símbolo faz o símbolo deixar de ser um símbolo e o conteúdo do pensamento por esse processo, uma impossibilidade". Kant, Metaphysics of Ethics, 48,90 - "Lei fundamental da razão: Age de tal modo que as tuas máximas sobre a vontade se tornem leis num sistema de legislação moral universal". Isto é um imperativo categórico de Kant. Contudo, ele o expressa de outra forma: Age a partir de máximas próprias que sejam consideradas como leis universais da natureza".
B) Ordens cerimoniais ou especiais. – São ilustrações da lei elementar, ou suas revelações aproximadas adequadas aos graus inferiores de capacidade e aos antigos estágios de treinamento espiritual (Ez. 20.25; Mt. 19.8; Mc. 10.5). Apesar de temporárias só Deus pode dizer quando deixam de comprometer-nos em sua forma exterior. Todas as determinações positivas, portanto, quer morais, quer cerimoniais, são republicações da lei elementar. Suas formas podem mudar, mas a substância é eterna. Alguns modos de expressão, como o sistema mosaico, podem ser abolidos, mas as exigências essenciais são imutáveis (Mt. 5.17,18; cf. Ef. 2.15). Da imperfeição da linguagem humana, nenhuma determinação é capaz de expressar em si todo o conteúdo e sentido da lei elementar. "O propósito da revelação não é revelar todos os nossos deveres". A Escritura não é um código completo
Teologia Sistemática (Strong) 1075 de regras para a ação prática, mas um enunciado de princípios, com preceitos ocasionais que servem de ilustração. Por isso devemos suplementar a determinação positiva pela lei do ser - a moral ideal encontrada na natureza de Deus. Ez. 20.25 - "Pelo que também lhes dei estatutos que não eram bons e juízos pelos quais não haviam de viver"; Mt. 19.8 – "Moisés, por causa da dureza do vosso coração, vos permitiu repudiar vossa mulher"; Mc. 10.5 "Pela dureza do vosso coração vos deixou ele escrito este mandamento"; Mt. 5.17,18 - "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim abrogar, mas cumprir. Porque na verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido"; cf. Ef. 2.15 - "na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças"; Hb. 8.7 - "se aquele primeiro mandamento fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo". Fisher, Nature and Method of Revelation, 90 - "Depois do surgimento do novo pacto, o tratamento do velho seria como um fardo desnecessário como as roupas de inverno na brisa suave do verão, ou como a tentativa de um adulto vestir roupas infantis". Wendt, Teaching of Jesus, 2.5-35 – "Jesus repudia para si e para os discípulos a sujeição absoluta à lei veterotestamentária do sábado (Mc. 2.27 sg); à lei veterotestamentária da contaminação exterior (Mc. 7.15); à lei do divórcio (Mc. 10.2 ss.). Ele 'cumpriria' a lei e os profetas através de uma apresentação prática completa da vontade revelada de Deus. Revelaria o seu sentido interior, não através de uma obediência literal e escravizante a cada exigência por menor que seja da lei mosaica, mas revelando em si mesmo a perfeita vida e obra para a qual elas tendem. Aperfeiçoaria as concepções do Velho Testamento a respeito de Deus – não as conservando intactas em sua forma literal, mas em seu espírito essencial. Cumpriria a lei e os profetas não por extensão quantitativa, mas por renovação qualitativa. Transformaria a expressão imperfeita do Velho Testamento em perfeição, não por adoração literal servil ou alegorizante, mas apegando-se à idéia divina".
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A Escritura não é uma série de pormenorizadas injunções e proibições tais como os fariseus e os jesuítas estabeleciam. O Corão mostra sua imensurável inferioridade relativa à Bíblia, não se fixando no espírito, mas na letra, dando regras de conduta permanentes, definidas, e específicas em vez de deixar lugar para o crescimento do espírito livre para a educação da consciência. Isto não é verdade, quer na lei do Velho Testamento, quer na do Novo. Na novela The Famingdons, escrita por Miss Fowler, o senhor Herbert quer "que a Bíblia tenha sido escrita com base no princípio do temível livrinho chamado 'Não', que dá uma lista dos solecismos que devem ser evitados; ela entende que este é muito melhor do que o sistema presente". As palavras do Salvador a respeito de dar a quem pede e apresentar a outra face a quem bater em uma delas (Mt. 5.39-42) devem ser interpretadas através do princípio de amor que é a base da lei. Dar esmola a cada mendigo e ceder ao saqueador não significa agradar o próximo "no que é bom para a edificação" (Rm. 15.2). Confundir a lei divina com a proibição da Escritura pode levar alguém a escrever como o que se acha na N. Amer Rev., fevereiro, 1890.275 - "Pecado é a transgressão da lei divina: mas não há lei divina contra o suicídio; por isso o suicídio não é pecado". A lei escrita era imperfeita porque, na época, Deus não podia dar outra superior destinada a um povo não esclarecido. "Mas dizer que o escopo e desígnio são moralmente imperfeitos contradiz o curso da história como um todo. Podemos perguntar qual é o padrão moral em que se desenrola este curso de educação". Ε encontraremos a resposta na vida e preceitos de Cristo. Mesmo a lei do arrependimento e fé não toma o lugar da velha lei do ser, mas aplica-se às condições do pecado. Sob a lei levítica, a proibição de tocar no osso seco (Nm. 19.16), do mesmo modo que as purificações e sacrifícios, as separações e penas do código mosaico, expressavam a santidade de Deus e a sua repulsa a tudo o que tivesse sabor de pecado ou de morte. As leis a respeito da lepra eram tanto simbólicas como sanitárias. Tal prudência e ordenanças da igreja não são exigências arbitrárias, mas explicitam às consciências embotadas influenciadas pelo senso comum, melhor do que as proposições abstratas poderiam ter feito, as verdades fundamentais do esquema cristão. Daí não serem elas ab-rogadas "até que ele venha" (1 Co. 11.26).
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Os puritanos, contudo, reativando o código mosaico, cometeram o equívoco de confundir a lei eterna de Deus com a sua expressão parcial, temporária e obsoleta. Assim não devemos descansar nos preceitos exteriores sobre o cabelo das mulheres, os vestidos e a fala, mas encontrar o princípio subjacente da modéstia e da subordinação que tem validade universal e eterna. A injunção de Paulo para que as mulheres estejam quietas na igreja (1 Co. 14.35; 1 Tm. 11,12) deve ser interpretada pela lei maior da igualdade e privilégio do evangelho (Cl. 3.11). A modéstia e a subordinação exigia uma separação do sexo feminino que não é mais obrigatória. O Cristianismo emancipou a mulher e restaurou-lhe a dignidade que lhe pertencia no princípio. "Na velha dispensação Miriã e Débora e Hulda eram reconhecidas como líderes do povo de Deus e Ana era notável profetisa nas cortes do templo na época da vinda de Cristo. Isabel e Maria proferiram cânticos de louvor para todas as gerações. Uma profecia de Jl 2.28 dizia que, na nova dispensação, as filhas do povo de Deus profetizariam, sob a direção do Espírito. O evangelista Filipe 'tinha quatro filhas donzelas, que profetizavam' (At. 21.9), e Paulo exortou às mulheres cristãs que cobrissem as suas cabeças quando oravam ou profetizavam em público (1 Co. 11.5), mas não tinha palavras contra a obra de tais mulheres. Ele trouxe Priscila consigo para Éfeso, onde ela ajudou a instruir Apoio no melhor poder de pregação (At. 18.26). Ele deu bom acolhimento e foi grato à obra das mulheres que trabalharam com ele no evangelho em Filipos (Fp. 4.3). Certamente é uma inferência do espírito e dos ensinos de Paulo que nos regozijemos com o eficiente trabalho e sadias palavras das mulheres cristãs hoje na Escola Dominical e campo missionário". A ordem "E aquele que ouve diga: Vem" (Ap. 22.17) destina-se também às mulheres.
III. RELAÇÃO DA LEI COM A GRAÇA DE DEUS No governo humano, enquanto a lei é uma expressão da vontade do poder governante e assim, da natureza contida atrás da vontade, de modo nenhum é uma expressão exaustiva daquela vontade e natureza porque consiste apenas nas ordenanças gerais e deixa lugar para os atos particulares de ordem através do executivo assim como para "a
Teologia Sistemática (Strong) 1078 instituição da eqüidade, faculdade de castigo discricionário e prerrogativa de perdão". Amos, Science of Law, 29-46, mostra como "a instituição da eqüidade, faculdade do castigo discricionário, e a prerrogativa do perdão" envolvem expressões da vontade acima e além do que um mero estatuto contém. Dicionário Century, sobre Eqüidade: "A lei inglesa relacionava-se apenas com a propriedade de bens, casas e terras. O homem que não tinha nenhum deles podia se interessar por um salário, por uma patente, por um contrato, por uma lei de imprensa, por uma aposentadoria, mas um credor, não podia, na lei comum, apor embargos sobre isso. Quando o credor apelava para a coroa por indenização indicava-se um chanceler ou curador dos assuntos reais que determinava o que e como o devedor deveria pagar. Freqüentemente requeria-se que o devedor tornasse a sua propriedade indisponível nas mãos de um recebedor e pudesse reaver a sua posse só quando se satisfizesse a demanda. As cortes de chanceleres recebiam o nome de cortes de eqüidade e indenizavam os erros que a lei comum não podiam decidir. Em tempos mais tarde a lei e a eqüidade eram administradas na maioria da vezes pelas mesmas cortes. A mesma corte funcionava como tribunal de lei e por vezes como tribunal de eqüidade". A máxima "Summa lex, summa injuria" é, por vezes, verdadeira.
Aplicando agora à lei divina esta ilustração tirada da lei humana, assinalamos: a) A lei de Deus é uma expressão geral da vontade de Deus, aplicável a todos os seres morais. Não exclui, portanto, a possibilidade de ordens especiais aos indivíduos e atos especiais de sabedoria e poder na criação e providência. A própria especialidade destas expressões da vontade impede-nos de classificá-los sob a categoria de lei. Lord Bacon, Confession of Faith: Ό céu ou a terra não produziram a alma do homem, mas Deus a soprou imediatamente; assim os caminhos e procedimentos de Deus para com os espíritos não estão incluídos na
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natureza, isto é, nas leis do céu e da terra, mas estão reservados à lei da sua vontade e da sua graça secretas".
b) Concordemente, a lei de Deus é uma expressão parcial, não exaustiva, da natureza de Deus. Na verdade, constitui uma manifestação desse atributo da santidade que é fundamental em Deus e que o homem deve possuir para estar em harmonia com Deus. Mas não expressa plenamente a natureza de Deus em seus aspectos de personalidade, soberania, auxílio, misericórdia. O principal erro de toda a teologia panteísta é a suposição de que a lei é uma expressão exaustiva de Deus: Strauss, Glaubenslehre, 1.31 -"Se a natureza, como auto-realização da essência divina, é igual à referida essência, é infinita e nada pode haver acima ou além dela". Isto é uma negação da transcendência de Deus (ver notas sobre o Panteísmo). A lei é ilustrada pelo provérbio budista: "Como a roda da carreta segue as pisadas do boi, assim o castigo se segue ao pecado". Denovan: "Separados de Cristo, ainda que nunca tenhamos quebrado a lei, só pela firmeza e perfeita obediência durante todo o futuro é que podemos permanecer justificados". Se temos cometido pecado, não podemos ser justificados [sem Cristo] apenas pelo sofrimento e esgotamento de toda a pena da lei".
c) A simples lei, portanto, deixa a natureza de Deus nestes aspectos de personalidade, soberania, auxílio, misericórdia expressar-se através dos pecadores de outro modo, a saber, através da expiação, regeneração, perdão, obra santificadora do evangelho de Cristo. Como a criação não exclui os milagres, assim a lei não exclui a graça (Rm. 8.3 - "o que a lei não pôde fazer ... Deus" fez). Murphy, Scientific Bases, 303-327, esp. 315 - "À lei, que é impessoal, não importa se os que lhe estão sujeitos lhe obedecem ou não. Porém Deus deseja não a punição do pecado, mas a sua destruição". Campbell, Atonement, Introduction, 28 - "Há duas regiões da divina satisfação própria: o reino da lei e o reino de Deus". C. H. M.: "A lei é a transcrição da mente de Deus quanto ao que o homem deve ser. Entretanto, Deus não é
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simplesmente lei, mas amor. Existe mais em seu coração do que poderia estar envolto nas 'toneladas de palavras'. A imagem perfeita de Deus não é a lei, mas somente a pessoa de Cristo" (Jo. 1.17 - "Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo"). Por isso, existe muito mais no coração do homem para com Deus do que o perfeito cumprimento das suas exigências. A mãe que se sacrifica pelo filho doente o faz, não por um dever, mas porque ama. Dizer que nós somos salvos pela graça, equivale a dizer que somos salvos tanto sem o mérito da nossa parte, como sem a necessidade da parte de Deus. A graça se faz conhecida na proclamação, oferecimento, determinação; mas em tudo isso está o evangelho, ou as alegres novas.
d) Contudo, não se deve considerar que a graça ab-roga a lei, mas renova-a e compele-a (Rm. 3.31 – "estabelecemos a lei"). Removendo os obstáculos do perdão na mente divina e capacitando o homem a obedecer, a graça garante o perfeito cumprimento da lei (Rm. 8.4 - "para que ajusta exigência da lei se cumprisse em nós"). Mesmo a graça tem a sua lei (Rm. 8.2 - "a lei do Espírito da vida"); outra lei mais elevada da graça, a operação da individualizante misericórdia, subjuga a "lei do pecado e da morte"; esta transcende-a, como no caso do milagre, não se suspendendo, anulando ou violando, mas absorvendo no exercício da divina vontade pessoal. Hooker, EccI. Polity, 1.155, 185,194-"Tendo o homem incapacitado totalmente a sua natureza nestes meios [naturais], recebeu outra revelada por Deus, vinda do céu, a lei que ensina como o que se deseja naturalmente deve-se alcançar sobrenaturalmente. Por fim, vemos que, porque estes excluem não aqueles como desnecessários, a lei da graça ensina e exclui também os deveres naturais, por serem difíceis de averiguar através da lei da natureza". A verdade é o meio caminho entre o ponto de vista pelagiano, de que não há nenhum obstáculo para o perdão dos pecados, e o ponto de vista racionalista moderno, de que de modo algum pode haver perdão de pecados visto que a lei expressa plenamente a pessoa de Deus. Greg, Creed of Christendom, 2.217-228 - "Deus é o único ser que não pode perdoar pecados ... A punição não é a execução de uma sentença, mas a
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ocorrência de um efeito". Robertson, Lect. on Genesis, 100 - "As obras são irrevogáveis; as conseqüências prendem-se a elas de modo irrevogável". Baden Powell, Law and Gospel, nos Ensaios Teológicos de Noyés, 27. Tudo isto é verdade se considerarmos Deus tão somente como a fonte da lei. Na natureza não há perdão, mas a graça está acima e além da natureza. Bradford, Heredity, 283, cita de Huxley a terrível declaração: "A natureza sempre dá um cheque mate, sem pressa e sem remorso e nunca supervaloriza um equívoco, ou faz a mais leve concessão à ignorância". Bradford, então assinala: "Este é um tipo de calvinismo que deixa Deus do lado de fora. O cristianismo não nega ou minimiza a lei da retribuição, mas revela uma Pessoa capaz de libertar a despeito da referida lei. Existe a graça, mas a graça traz a salvação aos que aceitam os seus termos estritamente de acordo com as leis reveladas pela ciência". Acrescentamos que Deus se revelou não apenas nas leis, mas na vida; ver Dt. 1.6,7 "Tempo bastante haveis estado neste monte" - o monte da lei; "voltai-vos e parti" - i.e. vede como a lei de Deus deve ser aplicada à vida.
e) Assim, a revelação da graça, enquanto suspende e inclui em si a revelação da lei, acrescenta algo diferente em gênero, a saber, a manifestação do amor pessoal do Legislador. Sem a graça, a lei tem somente um aspecto de exigência. Só em conexão com a graça ela se torna "a lei perfeita, a da liberdade" (Tg. 1.25). Por fim, a graça é a maior e mais completa manifestação da natureza divina, de que a lei constitui o estágio necessário, mas preparatório. A lei revela o amor e a misericórdia de Deus, porém apenas no aspecto imperativo; requer da parte do homem a conformidade com o amor e com a misericórdia de Deus; como o amor e a misericórdia de Deus condicionamse à santidade, assim a lei requer que eles se condicionem à santidade do homem. Por isso a lei é principalmente uma revelação da santidade; é na graça que encontramos a principal revelação do amor; embora o amor não salve ignorando a santidade, mas pela satisfação viçaria das suas demandas. Robert Browning, Saulo: "Falo como vejo. Como homem relato a obra de Deus - Tudo é Amor, ainda que tudo seja Lei".
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Dorner, Person of Christ, 1.64,78 - "A lei era uma palavra (λόγος), mas não uma λόγος τέλειος, palavra plástica, como as palavras de Deus que produziram o mundo, pois ela (a palavra plástica) era tão somente um imperativo e não havia nenhuma realidade ou vontade que correspondesse ao mando (dem Sollen fehlte das Seyn, das Wollen). Ο λόγος cristão é λόγος αληθείας - νόμος τέλειος της έλευθηρίας - palavra opérante e eficaz, como a da criação". Chaucer, The Persons Tale: "Para um tipo de africanos a lei de Deus é o seu amor". Sunday School Times, 14 de setembro de 1901.595 "Enquanto o homem não deixar de ser um estranho ao reino e conhecer a liberdade dos filhos de Deus, pensará em Deus como o grande Exator, o grande Proibidor, que ceifa onde não semeia ajunta onde não espalha".
SEÇÃO II - NATUREZA DO PECADO I. DEFINIÇÃO Pecado é a falta de conformidade com a lei moral de Deus quer em ato, disposição ou estado. Como explicação assinalamos que: a) Esta definição considera o pecado atribuído somente aos agentes racionais e voluntários. b) Admite, contudo, que o homem tem uma natureza racional submissa à consciência e uma natureza voluntária independente da verdadeira vontade. c) Sustenta que a lei divina requer semelhança moral com Deus nos sentimentos e tendências da natureza bem como nas atividades exteriores. d) Por isso considera falta de conformidade com a santidade divina em disposição ou estado como uma violação da lei do mesmo modo que o ato de transgressão. Em nossa discussão sobre a vontade (pp. 504-13), notamos que há estados permanentes da vontade bem como do intelecto e da sensibilidade. É evidente, contudo, que tais estados permanentes, diferentemente dos atos deliberados do homem, são sempre imperfeitamente conscientes e, em muitos casos, nem o são. Contudo, é nestes mesmos estados que o homem é
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mais dissimilar a Deus e, portanto, como a lei só reflete Deus (ver pp. 537544), está na maior falta de conformidade com a lei divina. A principal diferença dos pontos de vista entre a Velha e a Nova Escolas a respeito do pecado é que esta constantemente tende a limitá-lo a um simples ato, enquanto aquela encontra o pecado no estado da alma. Propomos o que pensamos ser um compromisso válido e sério entre os dois. Não fazemos o pecado ter a mesma extensão do ato, mas da atividade. A Velha e a Nova Escolas não estão separadas desde que lembremos que a "escolha" da Nova Escola é uma preferência eletiva, exercida tão logo a criança nasce (Park) e se reafirma em todas escolhas subordinadas da vida; enquanto o "estado" da Velha Escola não é uma coisa morta, passiva, mecânica, mas um estado de movimento ativo, ou de tendência a mover-se para o mal. Como a santidade de Deus não é pureza passiva, mas a vontade da pureza (pp. 268-275), assim o seu oposto não é a impureza passiva, mas a vontade de impureza. Nem sempre a alma pode estar consciente, mas sempre ativa. Porque, na sua criação, o homem "tornou-se alma vivente" (Gn. 2.7) e há que duvidar se o espírito humano cessa a sua atividade ao invés do Espírito divino a cuja imagem ele é feito. Há alguma razão para crer que, mesmo no mais profundo sono, o corpo repousa mais do que a mente. Quando consideramos a dimensão de nossa atividade automática e contínua, vemos a impossibilidade de limitar o termo 'pecado' à esfera do ato momentâneo, quer consciente, quer inconsciente. E. G. Robinson: Ό pecado não é um simples ato - algo estranho ao ser. É uma qualidade do ser. Não existe essa coisa de pecado separado do pecador, ou de um ato separado do agente. Deus pune pecadores, não pecados. Pecado é um modo de ser; ele não existe como entidade em si mesma. Deus pune o pecado como um estado, não como um ato. O homem não é responsável pelas conseqüências dos seus crimes, nem pelos atos em si, a não ser que eles sejam sintomas dos seus estados pessoais". Dorner, Hist, of Doctrine, Pessoa de Cristo, 5.162 - "O conhecimento do pecado tem sido apropriadamente chamado o β e o ψ da filosofia".
Teologia Sistemática (Strong) 1084 O nosso tratamento sobre a santidade como pertencente à natureza de Deus (pp. 268-275); da vontade, não só como a faculdade das volições, mas também como um estado permanente da alma ( pp. 504513); e da lei, que requer a conformidade da natureza da santidade de Deus; prepararam-nos para a definição do pecado como um estado. O principal defeito psicológico da teologia da Nova Escola, depois de fazer da santidade uma simples forma de amor, é ignorar os elementos inconscientes e subconscientes do caráter humano. A fim de ajudar-nos a entender o pecado como um estado subjacente e permanente da alma, adicionamos referências a escritores notáveis no campo da psicologia e de suas relações com a teologia. Podemos prefaciar nossas citações assinalando que a mente é sempre maior que suas operações conscientes. O homem é mais do que os seus atos. Só a menor parte do eu se manifesta nos nossos pensamentos, sentimentos e vontade. Levando em conta o meu sono, acho, quando minha atenção distraiu-se para outros pensamentos, que, em resumo, a contagem continuou a mesma. Ladd, Philos. of Mind, 176, fala da "dramática separação do ego". Há conversas no sonho. O Dr. Johnson uma vez ficou irritado ao ser derrotado pelo seu opositor em um argumento sobre o sonho. M. Maury em um sonho corrigiu o mau inglês do seu verdadeiro eu pelo bom inglês do seu outro eu irreal. Spurgeon pregou um sermão em seu sono após baldado esforço de tentar planejá-lo quando acordado. Sua esposa deu-lhe o seu resumo depois que ele acordou. Hegel dizia que "A vida se divide em dois reinos – um, do gênio da noite e outro, da consciência do dia". Du Prel, Philosophy of Mysticism, propõe a seguinte tese: Ό eu não abrange totalmente a autoconsciência", e defende que só há muita atividade psíquica dentro de nós que a nossa despertada concepção comum a respeito de nós mesmos não leva em conta. Aí é quando o 'sonho dramatiza' – quando nos empenhamos numa conversa do sonho em que a resposta do nosso interlocutor nos vem com um choque de surpresa – se se admite que a nossa mente forneceu tal resposta, fê-lo por um processo de atividade inconsciente. Dwinell, Bíblia Sacra, julho de 1890.369-389 – "A alma é tão
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somente uma posse imperfeita de seus órgãos e só é capaz de relatar uma pequena parte de suas atividades no consciente". Os pensamentos nos vêm como uma criança abandonada à porta da nossa casa. Escorregamos em uma questão bibliotecária: a Memória. Depois de deixá-la por um pouco de tempo, vem a resposta no quadro mural. Delboeuf, Le Sommeil e les Rêves (O Sono e os Sonhos), 91 - Ό sonhador é um despreocupado momentâneo e involuntário da nossa imaginação como o poeta é o despreocupado momentâneo e voluntário, e o insano é o despreocupado e permanente involuntário". Se somos os órgãos não só do nosso pensamento passado, mas, como sugere Herbert Spencer, também os órgãos do pensamento passado da raça, sua doutrina pode fornecer uma confirmação adicional, embora sem intenção, do ponto de vista escriturístico do pecado. William James, Will to Believe, 316, cita de F. W. H. Myers, Jornal de Pesquisa Psicológica, que assemelha o nosso conhecimento comum à parte visível do espectro solar; o conhecimento total é como aquele espectro prolongado com a inclusão dos raios ultravermelhos e dos ultravioletas = 1 para 12 e 96. "Cada um de nós", diz ele, "é uma entidade psíquica permanente bem mais extensa do que conhece - uma individualidade que nunca se pode expressar completamente através de qualquer manifestação corpórea. O eu manifesta-se completamente através do organismo; mas há sempre alguma parte do eu não manifesta e sempre, como parece, alguma força de expressão orgânica em expectativa ou reserva". O próprio William James no Scribner's Monthly, março de 1890.367-373, esboça as investigações hipnóticas de Janet e de Binet. Há um eu secundário e subconsciente. A histeria é a falta de poder sintetizador e a conseqüente desintegração do campo do conhecimento nas partes mutuamente exclusivas. Segundo Janet, o conhecimento secundário e o primário adicionados nunca podem exceder ao conhecimento normalmente total do indivíduo. Mas o Prof. James diz: "Há transes que obedecem outro tipo. Conheço uma mulher não histérica que, em seus transes, conhece fatos que transcendem a sua consciência normal, a respeito da vida de pessoas que ela nunca viu e de quem nunca ouvira antes". Nossos sentimentos são mais profundos e mais fortes do que conhecemos. Aprendemos como são profundas e fortes, quando a aflição resiste à sua corrente ou quando a morte a reprime. Conhecemos como são
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poderosas as más paixões, só quando tentamos subjugá-las. Nossos sonhos desnudam o nosso eu. Sobre a moralidade dos sonhos, a London Spectator assinala: "Nossa consciência e poder de autocontrôlé agem como um tipo de cão de guarda sobre o nosso péssimo eu durante o dia, mas, quando o cão de guarda está ausente do seu dever, o velho homem ou o natural está livre para agir como lhe apraz; nossa 'alma' deixou-nos à mercê da nossa natureza má e, em nossos sonhos, tomamo-nos aquilo que, a não ser pela graça de Deus, sempre seríamos". Tanto na consciência como na vontade há uma "self-disruption" (anulação de si mesmo). O imperativo categórico de Kant é apenas o lançamento da lei a um outro eu. Todo o sistema kantiano de ética baseia-se nesta doutrina da dupla consciência. Ladd, Philosophy of Mind, 169 seg., fala do "automatismo psíquico". Contudo, este automatismo é possível só às mentes autoconscientes e de memória cognitiva. É sempre o "eu" que se põe em lugar de "aquele outro". Não poderíamos conceber outra personalidade a não ser sob a figura do "eu". Todas as nossas operações mentais são nossas e somos responsáveis por elas, porque o eu subconsciente e mesmo inconsciente é produto dos pensamentos e volições autoconscientes passados. O estado presente fixo das nossas vontades é o resultado daquelas decisões. A vontade é uma bateria carregada de ações passadas, cheia de poder latente pronta para manifestar sua energia tão logo a força que a confina seja afastada. Sobre a ação mental inconsciente, ver Carpenter, Mental Philos., 139, 515-543 e a crítica de Carpenter, em Irlanda, Blotonthe Brain, 226-238; Bramwell, Hypnotism, sua History, Practice and Theory, 358-398; Porter, Human Intellect, 333, 334; versus Sir Wm. Hamilton, que adota a máxima: "Non sentimus, nisi sentiamus nos sentire (Não sentimos, se não sentirmos que nos sentimos)" (Philosophy, Ed. Wight, 171). Observamos que o pecado também pode infectar o corpo, como também a alma, e pode pô-lo num estado de inconformidade com a lei de Deus (ver H. B. Smith, Syst. TheoL, 267).
Ao acrescentar a nossa prova escriturística e racional sobre a definição do pecado como um estado, desejamos tornar óbvia a objeção de que este ponto de vista deixa a alma inteiramente entregue às forças do mal. Conquanto sustentemos que isto é verdade a respeito do homem
Teologia Sistemática (Strong) 1087 separado de Deus, insistimos também que, ao lado da inclinação da vontade humana há sempre uma força divina imanente que se contrapõe às forças do mal e, se não resiste, pelo menos dirige a alma do indivíduo - mesmo quando resiste, conduz a raça, em geral - à verdade e à salvação. Esta força divina imanente outra não é senão Cristo, o Verbo eterno, a luz que ilumina a todo o homem; ver Jo. 1.4,9. Jo. 1.4,9 - "Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens ... Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem". Ver mais uma afirmação em A. H. Strong, Cleveland Sermon, maio de 1904, a respeito do antigo e do novo pontos de vista quanto ao pecado: - "Nossos pais criam na depravação total e com eles concordamos que o homem é por natureza desprovido de amor a Deus e que a tendência egoística da sua vontade enfraqueceu, desordenou e corrompeu cada faculdade. Eles defendiam a existência do pecado original. A tendência egoística da vontade do homem pode ligar-se à apostasia dos nossos primeiros pais; e, porque a raça se separou de Deus, todos os homens são, por natureza, filhos da ira. Ε tudo isto é verdade se se considerar como afirmação dos fatos, independentemente da sua relação com Cristo. Mas nossos pais não viram, como nós, que a relação do homem com Cristo antedatou a queda e constituiu-se condição subjacente e modificadora da vida do homem. A humanidade estava naturalmente em Cristo, em quem todas as coisas foram criadas e em quem todas elas consistem. Cada pecado do homem não impede que Cristo opere nele a fim de neutralizar o mal e sugerir o bem. Há uma preparação tanto interna como externa da redenção do homem. Neste sentido de um princípio divino na luta do homem contra a vontade egoística e ímpia, houve uma redenção total, contra a depravação total do homem; e uma graça original, mais poderosa que o pecado original. "Temo-nos tornado conscientes de que só a depravação total não é uma expressão suficiente ou própria da verdade; e a frase vai além. Tem-se sentido que o velho ponto de vista do pecado não levou em conta as generosas e nobres aspirações, os esforços contrários ao egoísmo, os empenhos dos homens não regenerados em favor de Deus. Por esta razão tem havido menos pregação sobre o pecado e menos convicção quanto à culpa e à condenação. Os bons impulsos dos homens do grupo cristão
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freqüentemente têm sido creditados à habitação do Espírito de Cristo. Não tenho dúvida de que a nossa fraqueza radical atualmente acha-se no nosso mais superficial ponto de vista sobre o pecado. Sem sentido algum da culpa e da condenação do pecado, não podemos sentir a necessidade da redenção. João Batista deve preceder Cristo; a lei deve preparar o caminho para o evangelho. "Minha crença é que a nova apreensão da relação de Cristo com a raça capacitar-nos-á a declarar, como nunca antes, a condição de perdido em que se encontra o pecador; enquanto ao mesmo tempo mostramos-lhe que Cristo está com ele e nele para salvá-lo. Esta presença de um poder em cada homem não vindo das suas obras de justiça é uma doutrina bem diferente da que freqüentemente prega a 'divindade do homem'. A divindade não é do homem, mas de Cristo. Ε o poder que opera para a justiça não é humano, mas de Cristo. É um poder cuja influência exortativa, convidativa, persuasiva só torna mais marcante e temível a vontade má que a dificulta e lhe resiste. O pior de tudo é a depravação, quando nela reconhecemos o constante antagonismo de um Redentor sempre presente, totalmente santo e todo amoroso".
1. Prova Como se admite que o ato exterior de transgressão é prontamente denominado pecado, tentamos aqui mostrar só que a falta de conformidade com a lei de Deus em disposição ou estado também, de igual modo, deve ser assim denominada. A) Da Escritura. a) As palavras comumente traduzidas como 'pecado', ou empregadas como seus sinônimos, tanto são aplicáveis a disposições e estados como a atos (xaex) e αμαρτία = erro ao alvo, falha, insuficiência [da vontade para Deus]). Ver Nm. 15.28 - "pecar por ignorância"; SI. 51.2 - "purifica-me do meu pecado"; 5 - "em iniqüidade fui formado e em pecado me concebeu minha
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mãe"; Rm. 7.17 - "o pecado que habita em mim"; compare Jz. 20.16, onde aparece o sentido literal da palavra: "atiravam com a funda uma pedra a um cabelo e não erravam" (ajx). De igual modo, evp [LXX ασέβεια] = separação de, rebelião contra [Deus]; ver Lv. 16.16,21; cf. Deutsch sobre o SI. 32.1 [ עוןLXX αδικία] = inclinação, perversão [do que é direito], iniqüidade, ver Lv. 5.17; cf. Jo. 7.18. Ver também o hebraico er, evr, [=ruína, confusão], e o grego αποστασία, επιθυμία, έχθρα, κακία, πονηρία, σαρξ. Nenhuma destas designações de pecado limita-o a um simples ato, - a maioria sugere mais naturalmente disposição ou estado. Αμαρτία implica que o homem no pecado não atinge o que ele busca; pecado é um estado de ilusão e engano (Julius Müller).
b) As descrições do Novo Testamento sobre o pecado apresentam os estados e disposições de um modo mais distinto que os atos exteriores da alma (1 Jo. 3.4 – ή αμαρτία εστίν ή ανομία, onde ανομία = não "transgressão da lei", mas tanto o contexto como a etimologia mostram "falta de conformidade com a lei" ou "ausência de lei"). Ver 1 Jo. 5.17 - "toda iniqüidade é pecado"; Rm. 14.23 - "o que não é de fé é pecado"; Tg. 4.17 - "Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado". Onde o pecado é o não praticar, não se pode dizer que consiste em ato. Deve ser, então, ao menos um estado.
c) Atribui-se o mal moral não só aos pensamentos e sentimentos, mas, também ao coração de onde eles brotam (lemos sobre os "maus pensamentos" e sobre o "mau coração" - Mt. 15.19 e Hb. 3.12). Ver também Mt. 5.22 - ira no coração é homicídio; 28 - o desejo impuro é adultério. Lc. 6.45 - "o homem mau, do mau tesouro do seu coração, tira o mal". Hb. 3.12 - "coração mau e infiel"; cf. Is. 1.5 - "toda a cabeça está enferma e todo o coração está fraco"; Jr. 17.9 - "Enganoso é o coração mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" - aqui o pecado que não se pode conhecer não é o da prática, mas o do coração. "Sob a superfície da correnteza rasa, e leve daquilo que dizemos sentir; sob a correnteza tão leve do que pensamos sentir flui com a tranqüila corrente,
Teologia Sistemática (Strong) forte, desconhecida, e verdadeiramente sentimos
profunda
1090 o
caudal
central
daquilo
que
d) O estado ou condição da alma que faz surgir os desejos e atos errôneos chama-se expressamente pecado (Rm. 7.8 – "Mas o pecado ... despertou em mim ... toda a concupiscência"). Jo. 8.34 - "todo aquele que comete pecado é servo do pecado"; Rm. 7.11,13,14,17,20-"o pecado ... me enganou ... operou a morte em mim ... sou carnal, vendido sob o pecado ... o pecado que habita em mim". Tais representações do pecado como um princípio ou estado da alma são incompatíveis com a sua definição como um simples ato. John Byron, 16911783: "Pensa e tem cuidado do que tu és, Pois no desejo de pecar há pecado. Pensa e sê grato em um caso diferente, Pois há graça no desejo de ter graça". Alexander, Theories of the Will, 85 - "Na pessoa de Paulo acha-se representado o homem que já foi justificado pela fé e que está em paz com Deus. Em Rm. 6 discute-se a questão se o homem é obrigado a guardar a lei moral. No cap. 7- a questão não é se o homem deve guardá-la, mas por que ele é incapaz de guardá-la. A luta, portanto, não está na alma do impénitente, que está morto no pecado, mas na do regenerado, que foi perdoado e está empenhado em guardar a lei. ... No estado pecaminoso a vontade é determinada para o mal; no estado gracioso a vontade é determinada para a justiça; mas não inteiramente, pois a carne não está totalmente vencida e há uma luta entre o princípio de ação do bem e o do mal na alma do que foi perdoado".
e) Representa-se o pecado existindo na alma, antes que se tenha consciência dele, e só descoberto e despertado pela lei (Rm. 7.9,10 "vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri" - se "reviveu" o pecado, ele deve ter tido uma existência e uma vida anterior, muito embora de que não se manifestasse em atos de transgressão consciente). Rm. 7.8 - "sem a lei, estava morto o pecado" - eis aqui pecado que não é, contudo, o ato. O fogo em uma caverna descobre répteis e os excita, mas
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eles já existiam anteriormente; a luz e o calor não os criam. Deixe um foco de luz, diz Jean Paul Richter, através da fresta da janela de um quarto escuro, e você revelará, voando no ar, mil partículas de cuja existência nem se suspeitava. Assim a lei de Deus revela os "erros ocultos" (Sl. 19.12) enfermidades, imperfeições, tendências e desejos maus - que não se podem classificar como atos de transgressão.
f) As alusões ao pecado como uma força permanente ou princípio reinante não só no indivíduo como na humanidade em geral, proíbemnos de defini-lo como um ato momentâneo e compelem-nos a considerálo principalmente uma depravação da natureza cujos pecados individuais ou atos de transgressão são obra e fruto (Rm. 5.21 - "o pecado reinou na morte"; 6.12 - "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal"). Em Rm. 5.21 o reino do pecado é comparado ao da graça. Como a graça não é um ato, mas um princípio, assim também o pecado não é um ato, mas um princípio. As emanações tóxicas de um poço indicam que há corrupção e morte no fundo, do mesmo modo que os pensamentos e atos de pecados sempre recorrentes evidenciam a existência de um princípio de pecado no coração; em outras palavras, que o pecado existe como disposição ou estado permanente. Um ato momentâneo não pode "reinar" ou "habitar"; mas uma disposição ou estado sim. Maudsley, Sleep, Sua Psychology, faz a nociva confissão: "Se formos responsabilizados pelos nossos sonhos, não haverá um só homem que não mereça ser enforcado".
g) Os sacrifícios mosaicos pelos pecados de ignorância e de omissão e, especialmente pela pecaminosidade em geral, são evidência de que o pecado não se limita simplesmente ao ato, mas inclui algo mais profundo e permanente no coração e na vida (Lv. 1.3; 5.11; 12.8; cf. Le. 2.24 A propiciação pelos pecados de ignorância (Lv. 4.14,20,31), a expiação pelos pecados de omissão (Lv. 5.5,6) e o holocausto para expiar a pecaminosidade geral (Lv. 1.3 cf. Le. 2.22-24), tudo testemunha que o
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pecado não se limita ao ato. Jo. 1.29 - "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado", não os pecados, "do mundo".
B) Do juízo comum da humanidade. a) Universalmente a humanidade atribui o vício assim como a virtude não só aos atos conscientes e deliberados, mas também às disposições e estados. A crença em algo mais permanentemente que os atos de transgressão aparece nas expressões comuns como "mau gênio", "orgulho ímpio", "mau caráter". Como as bem-aventuranças (Mt. 5.1-12) não são pronunciadas sobre os atos, mas sobre as disposições da alma, assim as maldições da lei não são proferidas tanto contra os simples atos de transgressão como contra os maus sentimentos de que eles brotam. Compare as "obras da carne" (Gl. 5.19) com os "frutos do Espírito" (5.22). Em ambos predominam as disposições e estados.
b) Na verdade, os atos exteriores apenas são condenados quando considerados como tendo origem nas más disposições e como sintomas delas. A lei civil procede baseada neste princípio ao sustentar que o crime não só consiste no ato eterno, mas também no motivo ou mau intento com que foi praticado. A mens rea (mente ré = fem. de réu) é essencial à idéia de crime. A "palavra ociosa" (Mt. 12.36) será trazida a juízo, não pela sua importância em si, mas porque é a cana agitada pelo vento, que indica a direção de toda a corrente do coração e da vida. O assassinato difere do homicídio, não em qualquer aspecto exterior, mas tão somente por causa do motivo que o sugere – e sempre, em última análise, uma disposição má ou estado.
c) Quanto mais forte é a disposição má ou, em outras palavras, quanto mais se liga a ela, ou nela se resolve o estado ou condição da alma, mais se sente digna de culpa. Observa-se isto nos crimes passionais e nos de deliberação.
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Edwards: "A culpa consiste em um coração errado, e na prática do erro provir do coração". Existe culpa nos desejos maus, mesmo quando a vontade os combate. Porém maior é a culpa quando a vontade consente. O ato exterior pode ser em cada caso o mesmo, mas a culpa é proporcional à extensão a que a disposição má se estabelece e se fortalece.
d) Esta sentença condenatória permanece a mesma muito embora a origem da disposição má ou estado não possam remontar a qualquer ato consciente do indivíduo. Nem o senso geral da humanidade, nem a lei civil na qual este senso geral se expressa, recua ao fato de uma vontade má existente. Quer esta vontade má seja o resultado de uma transgressão pessoal, quer seja uma tendência hereditária derivada de gerações passadas, esta vontade má é o próprio homem, e nisto consiste a culpa. Os traços familiares não são desculpa para a arrogância ou sensualidade. Em Boston, o jovem assassino não se desculpou com base em uma congênita disposição cruel. Anos mais tarde, arrependemo-nos dos pecados da mocidade. os quais só agora vemos como pecados; os canibais convertidos, após tornarem-se cristãos, arrependem-se dos pecados do paganismo, cometidos sem pensarem na sua iniqüidade. O pavão não pode livrar-se dos seus pés enquanto voa, nem nos absolvemos de um mau estado de vontade ligando a sua origem à nossa remota ascendência genética. Somos responsáveis pelo que somos. Como pode ser isso, quando pessoal e conscientemente não o originamos, é um problema do pecado original, assunto que ainda vamos discutir
e) Quando qualquer disposição má tem tal força em si, ou em combinação com outras, indicando uma corrupção na qual não sobra nenhuma força para o bem, considera-se este estado com a mais profunda desaprovação. O pecado abate a força do homem para a obediência, mas não poder significa não querer e por isso é condenável. O princípio oposto levaria concluir que, quanto mais o homem abate as suas forças através da transgressão, menos culpado ele seria, até que a depravação absoluta se transformasse em inocência absoluta.
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O menino que odeia seu pai não pode transformar o seu ódio em amor por um simples ato de vontade; mas nem por isso ele é inocente. A profanação espontânea e incontrolável é a pior de todas. É um sinal de que toda a vontade, como um rio subterrâneo de Kentucky, afasta-se de Deus, e que não resta na alma qualquer poder recuperador que possa alcançar as profundezas a ponto de reverter o seu curso.
C) Da experiência do cristão. A experiência cristã é o melhor teste para a verdade bíblica e, por isso, não é uma fonte independente do conhecimento. Contudo, pode corroborar as conclusões tiradas da palavra de Deus. Visto que o julgamento do cristão é formado sob a influência do Espírito Santo podemos confiar nisto mais implicitamente do que o senso geral do mundo. Daí, afirmamos que, na proporção exata com a sua iluminação espiritual e com o seu próprio conhecimento, o cristão a) Considera os seus desvios da lei de Deus e suas inclinações e desejos maus como desenvolvimentos e revelações de uma depravação da natureza que jaz sob a sua consciência; e b) Arrepende-se mais profundamente da sua natureza depravada que constitui o seu mais íntimo caráter, e é inseparável dele mais do que ele sente ou do que faz. Como prova destas afirmações apelamos para as biografias e escritos daqueles que, em todas as épocas, pelo consenso geral, tem sido considerados como os mais avançados na cultura e discernimento espirituais. "Intelligentia prima est, ut te noris peccatorem. Compare a experiência de Davi, SI. 51.6 - "Eis que amas a verdade no íntimo e no oculto me fazes conhecer a sabedoria" - com a experiência de Paulo em Rm. 7.24 - "Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" com a experiência de Isaías (6.5), quando, na presença da glória de Deus, emprega as palavras do leproso (Lv. 13.45) e a si mesmo se chama
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"impuro", e com a experiência de Pedro (Lc. 5.8) quando na manifestação do poder miraculoso de Cristo "prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador". Do mesmo modo clama o publicano: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador" (Lc. 18.13) e Paulo chama-se a si mesmo o "principal" dos pecadores (1 Tm. 1.15). É evidente que nenhum desses casos tinha em vista simples atos de transgressão; a humildade e auto-abominação visavam a um estado permanente de depravação. Van Oosterzee: Ό que fazemos exteriormente é apenas a revelação da nossa natureza interior". A rocha visível que surge da terra é pequena em extensão comparada com a que é subjacente é invisível. O iceberg tern 8/9 da sua massa abaixo da superfície do mar embora tenham sido vistos próximos ao Cabo Horn de 700 a 800 pés (233 a 266 m) acima da água. Pode-se duvidar que qualquer arrependimento seja genuíno se não o for para o pecado, não para os pecados] Compare Jo. 16.8 - o Espírito Santo "convencerá o mundo do pecado". Sobre a diferença entre convencer dos pecados e do pecado ver Hare, Mission of the Conforter. O Dr. A. J. Gordon, pouco antes da morte, desejou que o deixassem a sós. Ouviram-no confessando seus pecados em termos aparentemente tão extravagantes que despertaram o temor de que estivesse delirando. Martensen, Dogmatics, 389 Lutero. durante as suas primeiras experiências "freqüentemente escrevia a Staupitz: Oh, meus pecados, meus pecados!' embora no confessionário não mencionasse nenhum em particular que devesse confessar; de modo que é claro que se trata da depravação geral da sua natureza que enchia a sua alma de profunda tristeza e dor". A consciência de Lutero não aceitaria o consolo que ele desejava de estar sem pecado, e que na realidade não o tinha. Quando ele pensava de si mesmo como um pecador demasiadamente grande para ser salvo, Staupitz respondeu: "Teria você a semelhança de um pecador e a de um Salvador?" Após vinte anos de experiência religiosa, Jonathan Edwards escreveu (Works, 1.22,23 e 3.16-18): "Desde que eu moro nesta cidade, freqüentemente tenho tido muitos pontos de vista afetando minha própria pecaminosidade e vileza e com muita freqüência a tal ponto de manter-me em um tipo de choro em voz alta, às vezes por considerável tempo, de modo que constantemente tenho sido obrigado a fechar-me em mim mesmo.
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Tenho tido um senso de iniqüidade e maldade muitíssimo maior em meu coração como nunca desde a minha conversão. Freqüentemente tem me parecido que, se Deus marcasse a iniqüidade contra mim, eu seria apresentado como o pior de toda a humanidade, de todos os que já existiram desde o começo do mundo até hoje; e que de longe eu teria o mais baixo lugar no inferno. Quando os outros que vieram conversar comigo sobre as suas almas expressaram o senso que eles tiveram de sua própria impiedade, dizendo que parecia que eram tão maus como o próprio diabo; eu pensava que a expressão deles parecia muito debilitada e vaga para representar a minha iniqüidade". Edwards continua: "Minha iniqüidade, em meu estado atual, há muito me tem parecido perfeitamente inefável e devoradora de todo o pensamento e imaginação - como um dilúvio infinito, ou como montanhas sobre a minha cabeça. Nem sei como expressar o que os meus pecados me parecem ser de melhor forma que o amontoar infinito sobre infinito e multiplicar infinito por infinito. Por muitos anos, com muita freqüência, encontram-se em minha mente e em minha boca estas expressões: 'Infinito sobre infinito - infinito sobre infinito!' "Quando volto meus olhos para dentro do meu coração e visualizo minha iniqüidade, parece um abismo infinitamente mais profundo que o inferno. Causa-me a impressão de que não é pela livre graça exaltada e elevada à infinita altura de toda a plenitude e glória do grande Jeová e o braço do seu poder e graça estendido na majestade do seu poder e em toda a glória de sua soberania, parece que eu estaria afundado nos meus pecados abaixo da profundidade até mesmo do inferno, muito além da vista total, mas os olhos da graça soberana podem penetrar tal profundidade. Parece ainda que a minha convicção do pecado é muitíssimo pequena e débil; basta espantar-me de que não tenho mais o senso do meu pecado. Sem dúvida sei que tenho bem pouco senso da minha pecaminosidade. Quando tive ocasião de chorar por meus pecados, pensei que eu soubesse naquela época que o meu arrependimento nada valeu para o meu pecado. ... Comove-me pensar quão ignorante eu era, quando cristão novo, sobre iniqüidade insondável, e profunda, orgulho, hipocrisia, e falsidade no meu coração".
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Jonathan Edwards não era um ímpio, porém o mais santo da sua época. Não era um entusiasta, mas um homem de aguda mente filosófica. Não indulgente em afirmações exageradas ou impensadas, pois com o seu poder de introspecção e análise combinava a faculdade e o hábito da exata expressão insuperável entre os filhos dos homens. Se é válida a máxima "cuique in arte sua credendum est (àquele em cuja arte há crédito)", as afirmações de Edwards em matéria de experiência religiosa devem ser tomadas como interpretações dos fatos. H. B. Smith (Syst. Theol., 275) cita Tomásio dizendo: "É fato marcante na Escritura que as afirmações da profundidade e força do pecado vem principalmente do regenerado". Outro disse que "nunca se vê uma serpente em toda a sua extensão, a não ser depois de morta" Thomas à Kempis (ed. Gold and Lincoln, 142) - "Não penses que tu fizeste qualquer progresso rumo à perfeição até sentires que tu és menor do que o menor de todos os seres humanos". Séria Vocação da Lei a uma Vida Devota e Santa: "Você pode com justiça condenar-se como o maior pecador que você conhece: 1. Porque você sabe mais da tolice do seu próprio coração do que da de outras pessoas e pode acusar-se de vários pecados que só você conhece de si mesmo e não pode estar certo de que os outros têm a mesma culpa. 2. A grandeza da sua culpa surge da grandeza da bondade de Deus para conosco. Você conhece mais estas gravidades dos seus pecados do que você as conhece dos das outras pessoas. Por isso os maiores santos em todas as épocas têm condenado a si mesmos como os maiores pecadores". Podemos acrescentar: 3. Que, visto que cada homem é um ser peculiar, cada homem é culpado dos seus pecados peculiares e em certas peculiaridades e em certas particularidades e aspectos pode constituir-se em exemplo da magnitude e odiosidade do pecado, que nem a terra nem o inferno podem mostrar. De Cromwell, representante dos puritanos, Green, Short History of the English People, 454) diz o seguinte: "Ó vivido senso da pureza divina ligado a certos homens, faz a vida dos homens comuns parecer pecado". Dr. Arnold of Rugby (Life and Corresp., Ap. D.): "No profundo sentido do mal moral, talvez mais do que qualquer outra coisa, encontra-se o divino conhecimento salvador".
Teologia Sistemática (Strong) 2. Inferências
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À luz da discussão anterior, podemos, com propriedade, valorizar os elementos de verdade e de erro na definição comum de pecado como ‘a transgressão voluntária da lei conhecida’. a) Nem todo o pecado é voluntário por ser uma volição distinta e consciente; porque a disposição e estado maus freqüentemente precedem e ocasionam a vontade má e a disposição e estado maus são em si mesmos pecado. Entretanto, todo pecado é voluntário porque surge, ou diretamente da vontade, ou indiretamente a partir dos sentimentos e desejos perversos que por si mesmos originaram a vontade. A palavra 'voluntário' é um termo mais amplo do que 'volitivo', e inclui todos os estados permanentes do intelecto e do sentimento que a vontade os fez o que são. Contudo, a vontade não deve ser considerada como a faculdade volitiva, mas principalmente como a determinação subjacente do ser para um supremo fim. Já vimos que a vontade inclui preferência (θέλημα, voluntas, Wille) bem como a volição (βουλή, arbitrium, Wilkür). Não consideramos, com Edwards e Hodge as sensibilidades como estados da vontade. Contudo, em seu caráter e objetivos, são determinadas pela vontade e, portanto, podem ser chamadas voluntárias. O estado permanente da vontade (Nova Escola "preferência eletiva") deve distinguir-se do estado permanente das sensibilidades (disposições ou desejos). Porém ambos são voluntários porque ambos são devidos a decisões passadas da vontade e, "quaisquer que sejam as suas fontes, somos responsáveis por elas (Shedd, Discourses and Essays, 243). Julius Müller, 2.51 - "Falamos de autoconhecimento e razão como alguma coisa que o ego tem, mas identificamos a vontade com o ego. Ninguém diria, 'minha vontade decidiu isto ou aquilo'. A vontade é o próprio homem, como diz Agostinho: ‘Voluntas est in omnibus; imo omnes nihil aliudquam voluntas sunt’ Há vontade em todos; mas todos não são outra coisa a não ser a vontade".
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Para outras afirmações sobre a relação da disposição com a vontade, ver Alexander, Moral Science, 251 - "A respeito das disposições, dizemos que são voluntárias. Pertencem propriamente à vontade, se tomarmos a palavra no sentido amplo. Quando se julga a moralidade dos atos, o princípio de que eles se originam sempre está incluído no nosso ponto de vista e entram numa grande parte da censura"; Edwards sobre as Afeições, 3.1-22; sobre a Vontade, 3.4 - "As afeições são apenas alguns modos do exercício da vontade". A. A. Hodge, Outlines of Theology, 234 - "Todo pecado é voluntário no sentido de que todo pecado tem sua raiz nas disposições pervertidas, desejos e afeições que constituem o estado depravado da vontade". Mas a Alexander, Edwards e Hodge respondemos que o primeiro pecado não foi voluntário neste sentido, pois não havia um estado depravado da vontade de que ele pudesse brotar. Somos responsáveis pelas disposições, não baseados em que elas são parte da vontade, mas com base em que são efeitos dela, em outras palavras, que as decisões passadas da vontade fizeram delas o que são (Apost. páginas 20 e21; Aptesist 137-146).
b) A intenção deliberada de pecar é um agravamento da transgressão, mas não é essencial à constituição de qualquer dado ato ou sentimento de pecado. As más inclinações e impulsos que aparecem soltos e dirigem a alma antes de estar bem cônscia da sua natureza, são por si mesmas violações da lei divina e indicações de uma depravação interior que, no caso de cada descendente de Adão é a transgressão principal e original. Joseph Cook: "Só a superfície da água do mar é penetrada pela luz. Abaixo encontra-se a região da penumbra. Mais abaixo ainda fica a região das trevas absolutas. Temos maior grandeza do que sabemos". Weismann, Heredity, 2.8 - "Na profundidade de 170 metros, ou 552 pés, há aproximadamente tanta luz como a de uma estrela à noite quando não há lua. A luz penetra até uma distância máxima de 400 metros, ou 1300 pés, mas existe vida animal a uma profundidade de 4000 metros, ou 13000 pés. Abaixo de 1300 pés todos animais são cegos". Cf. SI. 51.6;19.12 - "no íntimo ... no oculto ... erros que me são ocultos" - ocultos não só aos outros, mas a
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nós mesmos. A luz do conhecimento tange apenas a superfície das águas da alma humana.
c) O conhecimento da pecaminosidade de um ato ou sentimento é também uma agravante da transgressão, mas não é essencial para constituir-se pecado. A cegueira moral é o efeito da transgressão e, por ser inseparável dos sentimentos e desejos corruptos, é em si mesmo condenado pela lei divina. É nosso dever agir melhor de acordo com o que conhecemos. Nosso dever de conhecer é tão real como o nosso dever de agir. O pecado é um opiato (medicação contendo ópio). Algumas das doenças mais letais não se revelam no rosto do paciente e nem o paciente tem qualquer entendimento adequado de sua enfermidade. Há uma ignorância indolente. Há também uma ignorância intencional. Exemplo disso é a ignorância do estudante sobre as leis do colégio. Não podemos nos desculpar, dizendo: "Esqueci-me". O mandamento de Deus é "Lembra-te" - como em Ex. 20.8; cf. 2 Pe. 3.5 - "Eles voluntariamente ignoraram isto". "Ignorantia legis neminem excusât (O desconhecimento da lei a ninguém justifica)". Rm. 2.12 - "Todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão"; Lc. 12.48 - "O que não soube e fez coisas dignas de açoite com poucos açoites será castigado". A finalidade da revelação e da pregação é fazer o homem "cair em si" (cf. Le. 15.17) - para mostrar-lhe o que ele fez e o que ele é. Goethe: "Nós nunca somos enganados: nós é que nos enganamos a nós mesmos". Royce, World and Individual, 2.359 - "A única ação moral possível é a liberdade que relaciona a presente fixação da atenção sobre as idéias do Dever que já está presente. Pecar é escolher conscientemente esquecer, através do estreitamento da atenção, um Dever que já se reconhece".
d) A capacidade de cumprir a lei não é essencial para fazer do seu não cumprimento um pecado. A incapacidade de cumprir a lei é um resultado da transgressão e, porque não consiste numa deficiência original da faculdade, mas num estado determinado de sentimentos e
Teologia Sistemática (Strong) 1101 vontade, é em si mesmo condenável. Visto que a lei apresenta a santidade de Deus como o único padrão para a criatura, a capacidade de obedecer nunca pode ser a medida da obrigação ou o teste do pecado. Nenhuma força contrária, no sentido da capacidade de mudar todos os nossos estados permanentes por simples vontade, serve de base para a obrigação e a responsabilidade; pois a responsabilidade de Satanás não depende do seu poder de voltar-se para Deus e ser santo. Definições de pecado - Melanchton: Defectus vel inclinatio vel actio pugnans cum lege Dei (Falta ou inclinação, ou ação de lutar contra a lei de Deus). Calvino: Illegalitas, seu disformitas a lege (Ilegalidade ou desacordo com a lei). Hollaz: Aberratio a lege divina. Hollaz acrescenta: "A voluntariedade não entra na definição do pecado, considerado em um sentido genérico. O pecado pode ser chamado voluntário, quer em relação à sua causa, como inerente à vontade, quer relativo ao ato, quando procede da vontade deliberada. Eis aqui a antítese aos católicos romanos e aos socinianos, estes definindo-o como transgressão voluntária da lei" - ponto de vista, diz Hase (Huterus Redivivos, 11ª ed., 162-164), "que deriva dos métodos necessários dos tribunais civis e que é incompatível com a doutrina ortodoxa do pecado original".
II. O PRINCÍPIO ESSENCIAL DO PECADO A definição de pecado como falta de conformidade com a lei divina não exclui, mas necessita um exame sobre o motivo caracterizado ou força impulsora que explica sua existência e constitui sua culpa. Só três pontos de vista requerem extenso exame. Os dois primeiros destes constituem as mais comuns desculpas para o pecado, apesar de que tais propostas não são feitas por seus autores: O pecado se deve 1) ao corpo humano, ou 2) à fraqueza finita. O terceiro, que consideramos como o ponto de vista escriturístico, considera o pecado como 3) a suprema escolha do eu, ou egoísmo.
Teologia Sistemática (Strong) 1102 Na seção anterior sobre a definição, mostramos que pecado é um estado, estado da vontade. Agora perguntamos: Qual é a natureza deste estado? Esperamos mostrar que é essencialmente um estado egoísta da vontade. 1. Pecado como Sensitividade Este ponto de vista considera o pecado como o produto necessário da natureza sensitiva do homem - resultado da conexão do homem com o organismo físico. Este é o ponto de vista de Schleiermacher e de Rothe. Escritores mais recentes, como John Fiske, consideram o mal moral como herança humana do ancestral bruto. Para a afirmação do ponto de vista aqui exposto, ver Schleiermacher, Der Christliche Glaube, 1.361-364 - "Pecado é o impedimento da força determinadora do espírito, causada pela independência (Selbständigkeit) das funções sensitivas". Na primeira fase a criança vive de sentidos nos quais os apetites físicos tem importância suprema. Eles são as avenidas de toda a tentação, os dominadores físicos sobre os espirituais e a alma nunca se separa do corpo. Por isso o pecado é uma doentia exaltação das bases da natureza humana, ou, usando as palavras de Schleiermacher, "uma oposição positiva da carne para com o espírito". Pfleiderer, Prot. Theol. seit Kant, 113, diz que aqui Schleiermacher reproduz a incapacidade de espírito de Espinosa de controlar as afeições sensitivas". Pfleiderer, Philos. of Religion, 1.230 – "No desenvolvimento da naturalidade do homem, os impulsos inferiores já ganharam um poder de auto-afirmação e resistência, antes que a razão chegue à sua posição e autoridade válidas. Quando esta propensão da vontade própria se baseia na natureza específica do homem, pode ser designada como inata, hereditária, ou pecaminosidade originai". O ponto de vista de Rothe sobre o pecado fundamenta-se em sua Dogmatik, 1.300-302; note a conexão do ponto de vista de Rothe sobre o pecado com a sua doutrina da criação contínua (p. 416 deste compêndio). Encyclopaedia Britannica, 21.2 - "Rothe era um avançado evolucionista que considerava o homem natural como a consumação do desenvolvimento da
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natureza física e o espírito, com o auxílio divino, a realização pessoal destes seres nos quais o processo criativo do desenvolvimento se realizou. Tal processo necessariamente assume uma forma anormal e passa pela fase do pecado. Esta condição anormal necessita um vigoroso ato criativo, o da salvação, que, desde o início fazia parte do plano de desenvolvimento divino. Não obstante a sua doutrina da evolução, Rothe cria no nascimento sobrenatural de Cristo". John Fiske, Destiny of Man, 103 - Ό pecado original não é mais nem menos que a herança bruta que cada um traz consigo e o processo de evolução é um avanço para a verdadeira salvação". Assim o homem é uma esfinge em quem o humano fugiu do animal. Bowne, Atonement, 69, declara que o Ί pecado é "uma reminiscência do animal ainda não desenvolvido, resultante do mecanismo do apetite e do impulso e ação reflexos pelos quais as inibições próprias ainda não se desenvolveram. Só aos poucos desenvolve-se uma consciência de si mesmo como mau ... É uma histeria considerar a vida comum dos homens arraigada em uma escolha cônscia da injustiça".
Em refutação a este ponto de vista, basta argumentarmos com as seguintes considerações: a) Ele envolve a suposição de um mal imanente à matéria, ao menos no que se refere à substância do corpo humano. Mas isto é uma forma de dualismo e pode enfrentar as objeções já apresentadas contra esse sistema, ou implica que Deus, sendo o autor do organismo físico do homem, é também o origina-dor responsável do pecado humano. Isto tem sido chamado de "teoria da águia engaiolada" sobre a existência do homem; ela sustenta que o corpo é tão somente uma prisão, ou, como se expressa Platão, "o túmulo da alma", de sorte que esta só pode ser pura quando se livra do corpo. Mas a matéria não é eterna. Deus a fez e a fez pura. O corpo foi feito para ser o servo do espírito. Não devemos acusar de pecado os sentidos, mas o espírito que os usa tão impiamente. Atribuir pecado ao corpo é fazer Deus, autor deste, ser, por conseqüência o autor do pecado, – o que é a maior das blasfêmias. O homem não pode,
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"com justiça, acusar o seu Criador, ou a sua obra, ou o seu destino" (Milton, Paradise Lost, 3.112). O pecado é uma contradição dentro do próprio espírito e não entre o espírito e a carne. As atividades sensoriais não são em si pecaminosas – isto é a essência do maniqueísmo. Robert Burns estava errado ao acusar de delinqüência "as paixões selvagens e fortes". Também errado estava Samuel Johnson quando dizia que "Todo homem é um velhaco logo que fica doente". A alma normal tem o poder de elevar-se tanto acima da paixão como da doença e fazê-las servir o seu desenvolvimento moral. Sobre o desenvolvimento do corpo, como órgão do pecado, ver Straffen, Preleções Hulseanas sobre o Pecado, 33-50. O erro essencial deste ponto de vista é a sua identificação do elemento moral com o físico. Se isto fosse verdade, então Jesus, que se encarnou, necessariamente é um pecador.
b) Ao explicar o pecado como herança do bruto, esta teoria ignora o fato de que o homem, ainda que derivado de um ancestral bruto, não é mais um bruto, mas um ser humano, com capacidade para reconhecer e realizar os ideais morais e não tem necessidade nenhuma de violar a lei do seu ser. Ver A. H. Strong, Christin Creation, 163-180, sobre a queda e a redenção do homem à luz da Evolução: "Tem-se pensado que a Evolução é incompatível com qualquer doutrina sobre a queda. Muitos têm admitido que o curso imoral e a conduta do homem são simplesmente sobrevivência da sua herança bruta, remanescente inevitável de suas antigas propensões animais, sujeições da fraca vontade aos apetites carnais e paixões. Isto significa negar que o pecado é verdadeiramente pecado, mas também negar que o homem é verdadeiramente homem. ... O pecado se relaciona com a liberdade, ou então não é pecado. Explicá-lo como resultado natural da vontade fraca dominada pelos impulsos inferiores é fazer não a vontade, mas a natureza animal, a causa da transgressão. Ε isto significa dizer que o homem, no princípio não era homem, mas bruto". Ver também D. W. Simon, Biblia Sacra, janeiro de 1897.1-20 – "A chave para o estranho e obscuro contraste entre o homem e o seu ancestral animal deve achar-se na Queda. As outras espécies vivem normalmente. Nenhum remanescente dos répteis obsta a ave. A ave é uma ave de verdade. Só o homem deixa de viver
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normalmente e é verdadeiramente homem após tempos de pecado e miséria". Marlowe com muita propriedade leva o seu Fausto a ser tentado pela sedução só após ter-se vendido a Satanás em troca de poder. Considerar a vaidade, o engano, a malícia e a vingança como legado de ancestrais brutos é negar a inocência original e a criação de Deus. B. W. Lockhart: "A mente animal não conhece Deus, não está sujeita à sua lei, nem, na verdade, pode estar, pelo exato motivo de que se trata de um animal, e em virtude disso incapaz de acertar ou errar.... Se o homem nada mais fosse que um animal, ele não poderia pecar. Em virtude de ser algo mais é que ele se torna capaz disso. Pecado é submissão do conhecido mais elevado ao conhecido inferior. É a abdicação do ser da sua alma em favor do ser bruto.... Daí a necessidade das forças espirituais vindas do mundo espiritual da revelação divina, de curar e edificar e disciplinar a alma dentro de si mesma, dando-lhe a vitória sobre as paixões animais que constituem o corpo e sobre o reino do desejo cego que constitui o mundo. O propósito final do homem é o crescimento da alma rumo à liberdade, à verdade, ao amor, à semelhança com Deus. A educação é a palavra que cobre o movimento e a provação é o incidente da educação". Acrescentamos que a reparação do pecado passado e o poder renovador de cima devem seguir-se à provação a fim de tornar possível a educação. Alguns dos escritores recentes defendem uma queda real do homem e ainda consideram-na necessária ao seu desenvolvimento moral. Emma Marie Caillard, Contemp. Review, dezembro de 1893.879 - Ό homem passou de um estado de inocência - inconsciente de sua própria imperfeição - para um estado de consciência. A vontade tornou-se escrava ao invés de senhora. O resultado teria sido a completa parada de sua evolução apenas para a redenção que a restaurou e tornou possível a continuação da sua evolução. A encarnação foi o método da redenção. Mas mesmo independente da queda, a encarnação seria necessária para revelar ao homem a finalidade da evolução e garantir-lhe a cooperação através dela". Lisle, Evolution of Spiritual Man, 39 e Biblia Sacra, julho de 1892. 431-452 "A Evolução através da catástrofe no mundo natural tem marcante analogia no mundo espiritual. ... Em primeiro lugar, o pecado não é tanto uma queda do mais elevado ao inferior do mesmo modo que, deixar de elevar-se do inferior para o superior; não é tanto o comer da árvore proibida, como deixar
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de participar da árvore da vida. Esta representava a comunhão e correspondência para com Deus e, se o homem inocente continuasse apegar-se a ela, não teria caído. O fato do homem recusar-se a escolher o mais elevado antecedeu e condicionou a sua queda ao inferior e, por isso, a essência do pecado é esta recusa qualquer que possa ter sido a causa da vontade de praticá-lo. O homem escolhe o inferior por sua própria vontade livre. Então esta força centrípeta se vai. Seu desenvolvimento fluente e de modo intérmino está separado de Deus. Ele voltou ao seu tipo original de animal selvagem; e ainda como autoconsciente e agindo livremente, reteve um senso de responsabilidade que o enche de temor e sofrimento".
c) Ele se apóia numa indução incompleta dos fatos, levando em conta somente os pecados em seu aspecto de autodegradação, e ignorando o pior, que a exaltação de si mesmo. A avareza, a inveja, o orgulho, a ambição, a malícia, a crueldade, a vingança, a justificação de si mesmo, a descrença, a inimizade para com Deus, nenhum desses são pecados físicos e, apoiados nesse princípio, impossíveis de explicação. Dois exemplos históricos podem ser suficientes para mostrar a insuficiência da teoria sensitiva do pecado. Goethe não era notadamente sensitivo; apesar da vivissecção espiritual que praticou em Friederike Brion, sua pérfida falsa interpretação do relacionamento dele com a esposa de Koestner em "Tristezas de Werther" e sua adulação de Napoleão, quando o patriota teria escarnecido dos progressos do invasor do seu país, mostram que Goethe era a própria encarnação do egoísmo e da falta de coração. O patriota Boerne dizia-lhe: "Nenhuma só vez ele acrescentou uma pobre palavra infeliz na causa da sua terra - aquele que alcançou a elevada altura podia dizer o que ninguém senão ele mesmo ousaria pronunciar". Tem-se dito que o primeiro mandamento de Goethe ao gênio era: "Amarás o teu próximo e a sua esposa". Os biógrafos dele contavam sessenta mulheres a quem ele amou e que corresponderam ao seu afeto, embora haja dúvida de que ele se contentava com a doutrina de 16 para 1. Como Sainte-Beuve dizia dos relacionamentos de Chateaubriand: "Eles são como as estrelas do céu, – quanto mais distantes parecem, mais você as descobre". Cristiane Vulpius, após sete anos como sua preceptora, tornou-se, por fim, sua esposa. Mas como esposa era tão indiferente que se tornou intempérante e
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o único filho de Goethe herdou sua paixão e morreu de tanto beber. Goethe foi o grande pagão do cristianismo moderno, exaltando sua autoconfiança, sua atenção ao presente, a busca da satisfação e a submissão do eu aos decretos do destino. Hutton chama Goethe de "um Narciso quanto ao amor a si mesmo". Como a "Diná" de George Eliot, na obra Adam Bede, as "Confissões de uma Bela Alma" de Goethe", em Wilhelm Meister, são o delinear de um caráter com o qual ele não tinha a mínima simpatia. Principal Shairp, Culture and Religion, 16 - "Goethe, o sumo sacerdote da cultura, detesta Lutero, o pregador da justiça". Napoleão não era um homem notadamente sensual, mas a "sua autosuficiência ultrapassava à dos homens comuns assim como o Saara ultrapassa uma nesga de areia". Imoderadamente ele divulgava seus amores por Josefina, com todos os pormenores de sua má conduta e, quando ela se revoltava por causa disso, ele só respondia: "Tenho o direito de encarar as suas queixas com um eterno eu". Quando as suas guerras deixaram todos os homens da França com o corpo inutilizado, ele chamou os moços e disse: "um moço pode parar uma bala do mesmo modo que um homem" e, assim, a nação francesa perde duas polegadas da sua estatura. Antes da batalha de Leipzig, quando havia perspectiva de carnificina sem precedentes, ele exclamou: "O que é a vida de um milhão de homens, desde que se cumpra a vontade de um homem como eu?" Seu mais verdadeiro epitáfio foi: "Dos pequenos açougueiros de Ghent homenagem a Napoleão, o Grande" [açougueiro]. Heine representa Napoleão dizendo ao mundo: "Não terás outros deuses diante de mim". Memórias de Madame Rémusat 1.225 - "Em uma festa oferecida pela cidade de Paris ao Imperador, esgotado o repertório de inscrições, recorreu-se a um brilhante artifício. Sobre o trono que ele deveria ocupar, colocaram-se, com letras de ouro, as seguintes palavras das Escrituras Sagradas: 'Eu sou o que sou'. Ε ninguém parecia escandalizar-se", lago, no Otelo de Shakespeare é o grande vilão de toda a literatura; mas Coleridge, Works, 4.180, chama a atenção para o seu caráter desapaixonado. O pecado dele é, como o de Goethe e o de Napoleão, não o da carne, mas o do intelecto e da vontade.
d) Conduz a conclusões absurdas; como, por exemplo, que o ascetismo, ao diminuir o poder dos sentidos, deve diminuir o poder do pecado; que o homem se torna menos pecador quando os seus sentidos
Teologia Sistemática (Strong) 1108 se enfraquecem com a idade; que os espíritos desencarnados são necessariamente santos; que o único redentor é a morte. O ascetismo só muda a corrente do pecado para outras direções. O orgulho espiritual e a tirania tomam o lugar dos desejos carnais. O avaro agarra o seu ouro com mais firmeza à medida em que mais se aproxima da morte. Satanás não tem organismo físico, contudo é o príncipe do mal. Não é a nossa morte que nos salva, mas a de Cristo. Quando Emile de Rousseau se aproxima da morte, serenamente declara: "Estou livre dos embaraços do corpo e sem qualquer contradição". Aos setenta e cinco, Goethe escreveu a Eckermann: "Tenho estado sempre avaliando uma das minhas preferidas fortunas e não posso queixar-me da diretriz que a minha vida tomou. Na verdade os cuidados e fadigas não tem sido nada e posso dizer que nunca tive quatro semanas de genuíno prazer". Shedd, Syst. Theol., 2.743 "Quando a David Hume, ou a David Strauss, ou a John Stuart Mill, nenhum dos quais era sensual Jesus Cristo faz, com autoridade, a exigência de confessar os pecados e pedir remissão através do sangue expiatório, isto desperta intensa hostilidade mental".
e) Interpreta a Escritura de uma forma errônea. Em passagens como Rm. 7.18 - ουκ οικεί έν έμοί, τοΰτ' έστιν έν τη σαρκί μου, αγαθόν σαρξ, ou carne não significa o corpo humano, mas todo o seu ser quando destituído do Espírito de Deus. As Escrituras não reconhecem a sede do pecado no organismo físico, mas claramente na própria alma. Deus não tenta o homem, nem tem a natureza para tentá-lo (Tg. 1.13,14). No emprego do termo "carne", a Escritura põe um estigma sobre o pecado e sugere que a natureza humana sem Deus é tão corruptível e perecível como o corpo sem que a alma o habite. A "mente carnal", (Rm. 8.7), concordemente significa, não a mente sensual, mas a que não está sob o controle do Espírito Santo, que é a verdadeira vida dela. Ver Meyer, sobre 1 Co. 1.26 - σαρξ = "elemento puramente humano, oposto ao princípio divino"; Pope, Teologia, 2.65 - σαρξ = "o ser inteiro do homem, corpo, alma e espírito, separados de Deus e sujeitos à criatura; Julius Müller, Textos Prova, 19 - σαρξ = "natureza humana viva em si mesma e para si mesma
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separada de Deus e oposta a ele". A mais antiga e melhor afirmação deste ponto de vista do termo σαρξ é a de Julius Müller, Doctrine of Sin, 1.295333, especialmente 321. Ver também Dickson, Paul's Use of the Terms Flesh and Spirit, 270-271 - σαρξ = "a natureza humana sem πνεύμα ... ο homem apoiando-se em si, ou deixado ao léu da sua sorte, contra Deus ... o homem natural concebido não como tendo recebido graça ou sob a sua total influência". Tg. 1.14,15- "havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado" = desejo inocente - porque ela entra antes do pecado - propensão constitucional inocente, ainda não depravada, é tão somente ocasião do pecado. O amor à liberdade é parte da nossa natureza; o pecado surge só quando a vontade determina indultar este impulso sem levar em conta as limitações da lei divina. Lutero, Prefácio à Epístola aos Romanos: "Tu não entendes 'carne' apenas em conexão com a falta de castidade. São Paulo emprega 'carne' como o homem em seu todo, corpo e alma, razão e todas as suas faculdades porque tudo o que está nele anseia e luta contra a 'carne'". Melanchton: "Note que 'carne' significa a natureza total do homem, senso e razão, sem o Espírito Santo". Gould, Bib. Theol. N.T., 76 - "A σαρξ de Paulo corresponde ao κόσμος de João. Paulo vê a economia divina; João, a natureza de Deus. Na doutrina da ressurreição do corpo (1 Co. 15.38-49) percebe-se que Paulo não sustenta que o pecado consiste no fato de se possuir um corpo. A ressurreição do corpo é parte integrante da imortalidade".
f) Ao invés de explicar o pecado, esta teoria virtualmente nega a sua existência; porque se o pecado surge da constituição original do nosso ser, a razão pode reconhecê-la como uma desgraça, mas a consciência pode atribuir-lhe a culpa. O pecado que em sua origem última é algo necessário não deixa de ser pecado. Sobre a toda a teoria da origem sensual do pecado, ver Neander, Planting and Training, 386,428; Tulloch, Doctrine of Sin, 144 – Aquilo que é uma força inerente e necessária na criação não pode contrariar a sua mais elevada lei". Esta teoria confunde pecado com mera consciência dele
Teologia Sistemática (Strong) 2. Pecado como adaptação
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Este ponto de vista explica o pecado com um resultado necessário da limitação do ser finito do homem. Como um incidente do desenvolvimento imperfeito fruto da ignorância e falta de poder, o pecado não é um mal absoluto, mas relativo – elemento da educação humana e um meio para o progresso. Este é o ponto de vista de Leibnitz e de Espinosa. Escritores modernos como Schurman e Royce têm sustentado que o mal moral é o cenário necessário e a condição para a boa moral. A teoria de Leibnitz pode ser encontrada em sua Theodicée, parte 1, seções 20 e 31 ; a de Espinosa em sua Ética, parte 4, proposição 20. Baseado neste ponto de vista o pecado é o erro da inexperiência e a ausência do pensamento que toma o mal pelo bem, a ignorância que põe os seus dedos no fogo, o tropeço sem o qual não se aprende a andar. É um fruto azedo e amargo somente por ser imaturo. É um recurso da disciplina e do treinamento para algo melhor; é santidade em germe, o bem atuante "Erhebung des Menschen zur freien Vernunft". É uma queda para cima, não para baixo. John Fiske, como acréscimo à sua teoria do sentido sobre o pecado já mencionada, parece sustentar também esta teoria. Em sua obra Mistério do Mal, diz ele: "Sua impressão sobre a alma humana é o cenário indispensável contra o qual estabelecer-se-ão daqui em diante os gozos eternos do céu"; em outras palavras, o pecado é necessário à santidade, como a escuridão é o contraste indispensável e cenário da luz; sem o preto nunca seríamos capazes de conhecer o branco. Schurman, Belief in God, 251 ss. - "A possibilidade do pecado correlaciona-se com a livre iniciativa que Deus abriu em favor do homem.... A essência do pecado é a entronização do eu. ... Contudo, sem tal auto-absorção, não pode haver nenhum senso de união com Deus. O conhecimento só é possível através da oposição. Para conhecer A devemos conhecê-lo através do não A. A alienação de Deus é a condição necessária à comunhão com Deus. Ε este é o sentido da Escritura quando diz que 'onde o pecado abundou, superabundou a graça'. ... A
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moderna cultura protesta contra a entronização da bondade acima da verdade. ... Substituímos o decálogo pelo mais amplo mandamento de Goethe: 'Viva resolutamente a Integralidade, o Bem, o Belo'. A mais elevada religião não pode contentar-se com coisa alguma resumida na síntese de Goethe. ... Deus é a vida universal em quem se incluem as atividades individuais como movimentos de um só organismo". Royce, World and Individual, 2.364-384 - Ό mal é um desacordo necessário à perfeita harmonia. Em si mesmo é o mal, mas relacionado com o todo é válido para mostrar-nos sua finidade e imperfeição. É uma tristeza para com Deus assim como para conosco; na verdade, toda a nossa tristeza é a tristeza dele. O mal só serve ao bem quando derrotado, contraposto, dominado. O próprio agente deve expiar toda má obra em algum lugar e em algum tempo. ... Toda a vida finita é uma luta contra o mal. Contudo a partir do ponto de vista final a integridade é o bem. A ordem temporal não contém em momento algum algo que possa satisfazer. Mas a ordem eterna é perfeita. Todos pecamos e temos falta da glória de Deus. Ainda na nossa própria vida, vista em sua inteireza, de modo completo manifesta-se a glória de Deus. As duras palavras são as mais profundas expressões da essência da verdadeira religião. São os mais inevitáveis resultados da filosofia. ... Se não houvesse dilação no tempo, não haveria paz^ na eternidade. A oração para que se faça a vontade de Deus na terra como é no céu é idêntica ao que a filosofia considera como um fato simples".
Objetamos a esta teoria: a) Ela se apóia em base panteísta, do mesmo modo que a teoria dos sentidos se apóia no dualismo. O elemento moral se confunde com o físico; pode confundir-se com o justo. Visto que o pecado é um incidente necessário da finitude, e que as criaturas nunca são infinitas, segue-se que o pecado deve ser perene, não só no universo, mas em cada alma em particular. Goethe, Carlyle e Emerson representam este ponto de vista na literatura. Goethe fala da "ociosidade da vontade de pular para fora da sombra de alguém". Ele era discípulo de Espinosa, que cria em uma substância com atributos contraditórios de pensamento e extensão. Goethe
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reuniu o pensamento panteístico de Deus ao ponto de vista pessoal do homem. Ignorava o fato do pecado. Hutton o chama "o homem mais sábio que o mundo viu sem a humildade e fé e sem a sabedoria de uma criança". Falando do Fausto de Goethe, Hutton diz: Ό grande drama é radicalmente falso na sua filosofia fundamental. Sua primordial noção é que mesmo o espírito do mal puro é um ser grandemente útil, porque instiga à atividade os que ele induz ao pecado e os impede de tirar a ferrugem na pura indolência. Há outros meios melhores de estimular os sentimentos positivos do homem que induzi-los à tentação do pecado". Carlyle era um presbiteriano escocês subtraído do cristianismo. Aos vinte e cinco anos rejeitou a miraculosa e histórica religião e, a partir daí, não tinha Deus, mas a Lei natural. A sua adoração da verdade objetiva tornou-se uma adoração da sinceridade subjetiva e a sua adoração da vontade pessoal tornou-se a de uma força impessoal. Pregava a verdade, o serviço, o sacrifício, mas de uma forma imperativa e pessimista. Via na Inglaterra e em Gales "vinte e nove milhões – dos mais tolos". Não tinha amor, remédio, esperança. Na nossa guerra civil, assumiu o lado dos escravistas. Reivindicava que a sua filosofia tornava justo o que podia, mas na prática ele operava o poder de ser justo. Confundindo todas distinções morais, como o fazia nos últimos escritos, ele achava normal usar o título que inventou para os outros: "Presidente da Sociedade da União do Céu ao Inferno". Froude o chama de "Calvinista sem teologia" - crente na predestinação sem a graça. Emerson é também o adorador de uma força bem sucedida. Seu panteísmo manifesta-se mais em seus poemas "Cupido" e "Brama", e em seus ensaios sobre o "Espírito" e sobre a "Super-Alma". Cupido: "O sólido, o sólido universo é permeável ao amor; Com os olhos vendados nunca erra, ao redor, abaixo, ou acima. Sua luz branca ofuscante à visão Sobre os filhos de Deus e os de Satanás, Ε com a sua vontade mística harmoniza o mal e o bem". Brama: "Se o rubro assassino pensa que ele mata, Ou se o morto pensa que ele está morto, eles não conhecem bem os sutis caminhos que eu mantenho, e passo, e retorno. Longe ou esquecido de mim está próximo; A sombra e a luz do sol são a mesma coisa; Os desvanecidos deuses aparecem-me; Ε para mim são ao mesmo tempo vergonha e fama. Eles avaliam o mal que me exclui; Quando eles me fazem voar, sou eu as asas; Eu sou o que duvida e sou a dúvida, Ε o hino que o brâmine canta. Os
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deuses fortes são o pinho da minha habitação, Ε em vão o pinho é o sagrado número Sete"; Mas tu, manso amante do bem, Acha-me e leva-me de volta ao céu". Emerson ensinava que a imperfeição do homem não é pecado e que a cura deste acha-se na educação. "Ele permite que Deus évapore na Idealidade abstrata. Não é uma Divindade no concreto, nem uma Pessoa sobre-humana, mas a divindade imanente nas coisas, a estrutura essencialmente espiritual do universo, o objeto do culto transcendental". Seu ponto de vista a respeito de Jesus encontra-se em seus Ensaios, 2.263 "Jesus absorveria a raça; mas Tom Paine, o mais grosseiro blasfemo, ajuda a humanidade a resistir esta exuberância de poder". Em seu Discurso na Escola de Divindades, ele baniu da religião genuína a pessoa de Jesus. Segundo o seu pensamento "não se pode ser um homem se não se subordinar a própria natureza à de Cristo". Ele não vê que Jesus não só absorve, mas transforma e, se crescemos, é apenas pelo impacto das mais nobres almas, do que de nós mesmos. O estilo do ensaio de Emerson é desprovido da exposição teológica clara e precisa e é neste elemento vago que está o prejuízo. Fisher, Nature and Method of Revelation, xii - "O panteísmo de Emerson não está radicado num credo consistente, pois, ao fim, ele pende para a crença numa imortalidade pessoal e pronuncia a aceitação desta crença Ό teste de sanidade mental'". Podemos chamar esta teoria de "maçã verde" do pecado. O pecado é a maçã verde que apenas necessita de tempo e sol e crescimento para a colheita, beleza e utilidade. Porém respondemos que o pecado não é uma maçã verde, com um verme em seu bojo. O seu mal pode nunca ser curado através do crescimento. A queda pode nunca ser algo mais que uma derrocada. Sobre esta teoria, o pecado é um fator inseparável na natureza das coisas finitas. O mais alto arcanjo não pode dispensá-la. O homem em seu caráter moral é "a assíntota de Deus". – sempre aprendendo, mas nunca capaz de chegar ao conhecimento da verdade. O trono da iniqüidade está fixado para sempre no universo. Se esta teoria fosse verdadeira, Jesus, em virtude de sua participação na nossa humanidade finita, necessitaria ser pecador. O perfeito desenvolvimento dele, sem pecado, mostra que isto não é uma necessidade no progresso finito. Matthews, Christianism and Evolution, 137 -"Ao filho pródigo não foi necessário entrar na terra distante e tornar-se um porqueiro para encontrar o amor paterno". Ε. Η. Johnson, Syst. Theol., 141 -
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"Ser bom não é privilégio exclusivo do Infinito". Dorner, System, 1.119, fala da carreira moral que esta teoria descreve, como um "progressus in infinitum (avanço rumo ao infinito), onde a abordagem constante para a meta tem como reverso uma separação eterna desta. Em sua "Transformação", Hawthorne sugere, embora de forma um tanto hesitante, que, sem o pecado, o mais elevado elemento humano da criatura não poderia erguer-se e o pecado pode ser essencial ao primeiro despertar consciente da liberdade moral e da possibilidade de progresso
b) Porque esta teoria considera o mal moral como um pressuposto necessário e condição do bem moral, ela comete o grave erro de confundir o possível com o real. Não é a realidade do mal que é necessária para o bem, mas apenas a possibilidade do mal. Porque não podemos conhecer o branco a não ser em contraste com o preto, reivindica-se que, sem conhecer o verdadeiro mal, nunca poderíamos conhecer o bem. George A. Gordon, New Epoch for Faith, 49,50, mostra com precisão que, nesse caso, a eliminação do mal implicaria a eliminação do bem. Seria necessário que o pecado tivesse lugar no coração de Deus para que ele pudesse ser santo e, desta forma, ele seria a divindade e o diabo em uma só pessoa. Jesus também teria necessidade de ser mau e bom. Isto não só seria verdade, como se deu a entender acima que Cristo, porque a sua humanidade é finita, deve ser um pecador, mas também que nós mesmos, que somos sempre finitos, devemos ser sempre pecadores. Admitimos que a santidade, tanto em Deus como no homem, deve envolver a possibilidade abstrata do seu oposto. Mas defendemos que, como esta possibilidade em Deus é apenas abstrata e nunca realizada, também no homem só seria abstrata e nunca realizada. O homem tem poder de rejeitar este mal possível. Por meio da decisão da sua vontade, o pecado é uma volta do simples mal possível a um verdadeiro mal. Esta teoria do pecado remonta aos tempos de Hegel. Para ele não existe nenhum pecado real e nem pode haver. Existe a imperfeição e sempre deve existir, porque o relativo nunca se torna absoluto. A redenção só é um processo evolutivo, indefinidamente prolongado e o mal deve continuar sendo uma condição eterna. Todo o pensamento finito é um
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elemento no pensamento infinito e toda a vontade finita um elemento na vontade infinita. Como o bem não pode existir sem o mal como antítese, a justiça infinita deve ter como contrapartida uma iniqüidade infinita. A linha mestra de Hegel é que Ό racional é real e o que é real é racional". Seth, Hegelianism and Personality, assinala que este princípio ignora "o enigma da terra sofredora". O pensamento dos discípulos de Hegel é que nada na história fica incompleto, agora que o Espírito terreno tornou-se conhecido na filosofia de Hegel. A Dogmática de Biedermann baseia-se na filosofia hegeliana. Na página 649 lemos: Ό mal é a finidade do ser cósmico que supera toda existência individual em virtude de pertencer à ordem cósmica imanente. Por isso o mal é um elemento necessário pelo fato de a vontade divina ser a do mundo". Bradley segue Hegel fazendo o pecado não ser uma realidade, mas um aparecimento relativo. Não existe vontade relativa nem antagonismo entre a vontade de Deus e a do homem. As trevas são um mal, um agente destruidor. Mas não se trata de uma força positiva como é o caso da luz. Elas não podem ser combatidas ou dominadas como uma entidade. Traga a luz e as trevas desaparecem. Do mesmo modo o mal não é uma força positiva, como o bem. Traga o bem e o mal desaparece. A Ética Evolutiva de Spencer apresenta-se como um sistema, pois ele diz: "É impossível um homem perfeito numa raça imperfeita".
c) É inconsistente com os fatos; por exemplo: Nem todos pecados são os negativos pecados de ignorância e de fraqueza; há atos de malignidade positiva, de transgressões conscientes, de escolhas do mal voluntárias e presunçosas. O conhecimento aumentado da natureza do pecado não fortalece a capacidade de vencê-lo; mas, ao contrário, os atos repetidos de transgressão consciente endurecem o coração na direção do mal. Os homens de maior capacidade mental não são necessariamente os mais santos, e nem os maiores pecadores que têm menos força de vontade e entendimento são os maiores pecadores. Os maiores pecadores não são os fracos, mas os fortes. Não nos compadecemos de Nero e de César Bórgia pela sua fraqueza; detestamo-
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los pelos seus crimes. Judas era um homem capaz e um administrador prático; Satanás é um ser de grandes dotes naturais. O pecado não é simplesmente uma fraqueza; é uma força. A filosofia panteísta adoraria Satanás acima de todos; porque ele é o mais verdadeiro tipo de intelecto ímpio e poder egoístico. Jo. 12.6 – Judas, "tinha a bolsa e tirava o que se lançava nela". Ele foi posto por Jesus para fazer a obra para a qual era o mais adequado e o mais adequado a interessar-se e a economizar. Alguns homens podem ser postos no ministério porque essa é a única obra que evitará a destruição deles. Os pastores devem encontrar nas suas ovelhas a tarefa adequada à aptidão de cada uma delas. Judas foi tentado, ou traído, de acordo com a sua propensão natural. Conquanto o seu motivo ao fazer objeção à generosidade de Maria fosse realmente a avareza, o seu pretexto era a caridade, ou a consideração em favor dos pobres. Cada um dos apóstolos tinha o seu dom peculiar e foi por isso escolhido. O pecado de Judas não foi o da fraqueza, ou da ignorância, ou da falta de firmeza. Foi o da malograda ambição, da malícia, da aversão à altruísta pureza auto-sacrificial. E. H. Johnson: "O pecado não é a limitação do homem, mas a expressão ativa da natureza perversa". M. F. H. Round, Secretaria da Associação Nacional de Presídios, examinando o registro de mil criminosos, achou que um quarto deles tinha base de vida física e força excepcionalmente excelentes, enquanto os outros três quartos se enquadravam numa média só um pouco abaixo da humanidade em geral. A teoria de que o pecado é apenas a santidade faz-nos lembrar o ponto de vista de que a recusa mais objetável pode converter-se, através do mais engenhoso processo, em manteiga ou margarina. Não é verdade que "tout comprendre est tout pardoner (compreender tudo é perdoar tudo". Tal doutrina oblitéra todas distinções morais. Gilbert, Baladas Infantis, "Meu Sonho": "Eu sonho como se estivesse vindo Habitar em um lugar ao revés, Onde o vício é virtude e a virtude vício; Onde o honesto é desonesto e o desonesto é honesto; Onde o certo é o errado e o errado é o certo; Onde o branco é preto e o preto é branco
d) Como a teoria do sentido a respeito do pecado, tanto contradiz a consciência como a Escritura, negando a responsabilidade humana e
Teologia Sistemática (Strong) 1117 transferindo a culpa do pecado da criatura para o Criador. Isto significa explicar o pecado, novamente, negando-lhe a existência. Édipo diz que tinha sido vítima das suas más obras, não que as tinha praticado. Agamenon, na Ilíada, diz que a culpa não é dele, mas de Júpiter e do destino. Assim o pecado culpa tudo e todos menos o eu. Gn. 3.12 -"A mulher que me deste por companheira me deu da árvore, e comi". Mas vindicar-se a si mesmo é a acusar Deus. Imperfeito no começo, o homem não pode remediar o seu pecado. Exatamente em virtude da sua criação ele cortou as amarras que o ligavam a Deus. Não pode ser pecado aquilo que é uma conseqüência necessária da natureza humana, que não é um ato nosso, mas do nosso destino. Para tudo isto há uma resposta na Consciência. A consciência testifica que o pecado não é "das Gewordene", mas "das Gemachte" e que é por sua própria ação que o homem cai na transgressão. As Escrituras relacionam o pecado do homem não com as limitações do seu ser, mas com a livre vontade do próprio homem.
3. O pecado como Egoísmo Sustentamos que o princípio essencial do pecado é o egoísmo. Egoísmo é não apenas o amor próprio exagerado que constitui a antítese da benevolência, mas a escolha do eu como o supremo fim que constitui a antítese do supremo amor a Deus. Pode-se mostrar que o egoísmo é a essência do pecado da seguinte maneira: A) O amor a Deus é a essência de toda virtude. O oposto, a escolha do eu como supremo fim, portanto, deve ser a essência do pecado. Devemos lembrar, contudo, que o amor a Deus, no qual consiste a virtude, é o amor ao que é mais característico e fundamental em Deus, a saber, a sua santidade. Não deve ser confundido com a suprema consideração pelos interesses de Deus ou pelo que é bom aos seres em geral. O amor a Deus como santo, não a simples beneficência, é o princípio e fonte da santidade do homem. Porque o amor a Deus requerido pela lei é deste tipo, não só implica que o amor, no sentido de
Teologia Sistemática (Strong) 1118 beneficência, é a essência da santidade em Deus; implica mais que santidade, ou amor próprio e pureza auto-afirmativa, é fundamental na natureza divina. Bossuet, descrevendo o paganismo, diz: "Cada coisa é Deus; nada mais que o próprio Deus. O pecado vai além disso, e diz: "Eu mesmo sou todas coisas"; não somente como Luís XVI: "O estado sou eu", mas: "Eu sou o mundo, o universo, Deus". Um francês, crítico da filosofia de Fichte dizia que era uma fuga para o infinito que começou com o ego e nunca foi além disso. Kidd, Social Evolution, 75 - "No trágico conto de Calderon, a desconhecida figura, que através da vida inteira em toda a parte é um conflito com o indivíduo que persegue, levanta a máscara para finalmente revelar aos opositores as características dele mesmo". Caird, Evolution of Religion, 1.78 - "Todo eu, uma vez desperto, é naturalmente um déspota e, como o turco, não tem irmão próximo ao trono". Como diz Hobbes, cada um tem "um infinito desejo de lucro ou de glória" e não pode satisfazer-se com nada a não ser o universo inteiro para si. Egoísmo = "homo homini lupus (o homem é o lobo do homem)". James Martineau: "Pedimos a Comte que levantasse o véu do santo dos santos e nos mostrasse o objeto todo perfeito da adoração; ele apresenta um espelho e mostra as nossas imagens". A religião de Comte é "uma idealização sintética da nossa existência" - não uma adoração a Deus, mas à humanidade; e "o festival da humanidade" entre os Positivistas = "Eu me celebro a mim mesmo" de Walt Whitman. A mais completa discussão do princípio essencial do pecado é o de Julius Müller, Doct. Sin, 1.147-182. Ele define o pecado como "um desprezo ao amor de Deus e a busca do eu". N. W. Taylor sustenta que o amor próprio é a causa primordial de toda a ação moral; que o egoísmo é uma coisa diferente e consiste não em fazer da nossa própria felicidade o último fim, o que devemos fazer se somos seres morais, mas no amor do mundo e na preferência do mundo a Deus como o nosso quinhão ou o nosso principal bem. Ao contrário, defendemos que fazer da nossa felicidade a aspiração última é em si mesmo um pecado e a sua essência. Como Deus faz da sua santidade o centro, do mesmo modo devemos viver por ela, amando-a só em Deus e por amor a ele. Este amor ao Deus santo é a essência da virtude. Em oposição a isso, o pecado é o amor supremo do eu. Assim escreve Richard Lovelace: "Eu não poderia
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amar-te tanto, querida, se eu não amasse mais a honra"; do mesmo modo os amigos cristãos podem dizer: "Nossos atos de amor resistem no mais elevado amor". O pecador apresenta um objetivo inferior do instinto, o desejo de supremacia, desconsideração a Deus e à sua lei e a única razão porque ele o faz é gratificar a si mesmo. O amor a Deus é a essência de toda a virtude. Devemos amar a Deus de todo o coração. Mas que Deus? Sem dúvida não o falso Deus, o Deus indiferente às distinções morais e que trata o ímpio do mesmo modo que o justo. O amor que a lei requer é o amor ao verdadeiro Deus, o Deus da santidade. Tal amor tem como alvo a reprodução da santidade de Deus em nós mesmos e nos outros. Devemos amar a nós mesmos só por amor a Deus e por amor à realização do ideal divino em nós. Devemos amar os outros só por amor a Deus e por amor à realização do ideal divino neles. Em nosso progresso moral, em primeiro lugar nós nos amamos, por amor a nós mesmos; em segundo lugar, a Deus por causa de nós mesmos; em terceiro lugar, a Deus por causa dele mesmo; em quarto lugar, a nós mesmos por causa de Deus. No primeiro caso temos o nosso estado por natureza; o segundo requer a graça antecipadora; o terceiro, a graça regeneradora; o quarto, a graça santificadora. Só o último é o amor racional. Balfour, Foundations of Faith, 27 – "O amor racional é uma virtude totalmente incompatível com aquilo que comumente se chama egoísmo. A sociedade sofre, não por ter muito disso, mas por ter excessivamente pouco". Altruísmo não é a totalidade do dever. A auto-realização é igualmente importante. Mas cuidar só do eu, como ensina Goethe, é omitir a verdadeira auto-realização, que garante o amor a Deus. O amor deseja só o melhor para o seu objeto, e o melhor é Deus. A regra áurea determina que demos, não o que os outros desejam, mas o de que eles necessitam. Rm. 15.2 - "Cada um de nós agrade o seu próximo no que é bom para a edificação". Mrs. Humphrey Ward, David Grieve, 403 "Como ousa o homem arrancar da mão do Senhor, para o seu uso selvagem e atrevido, uma alma e um corpo pelos quais ele morreu? Como ousa, ele, o fiador do Senhor, roubar a sua alegria, retirar para a selva, como o predador faz com a presa, ao invés de pedi-la das mãos do Senhor e sob a sua bênção? Como ousa ele, membro do corpo do Senhor, na ambição de um esquecer o todo – a eternidade em sua sede pelo presente?"
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Aristóteles diz que os ímpios não têm o direito de amar a si mesmos, mas os bons podem. Assim, do ponto de vista cristão, podemos dizer: Nenhum impénitente pode com propriedade respeitar a si mesmo. O respeito próprio só pertence ao homem que vive em Deus e por isso tem restaurada a imagem deste. O verdadeiro amor próprio não é o amor à felicidade do eu, mas o merecimento do eu aos olhos de Deus e este amor próprio é a condição para todo o genuíno e digno amor aos outros. Mas o verdadeiro amor próprio por sua vez é condicionado ao amor ao Deus santo e busca primordialmente, não a felicidade, mas a santidade dos outros. Asquith. Christian Conception of Holiness, 98,145,154,207 - "A benevolência ou amor não é a mesma coisa que altruísmo. O altruísmo é instintivo e não tem a sua origem na razão moral. Tem utilidade e até mesmo pode fornecer material para reflexão da parte da razão moral. Porém, desde que não seja deliberada, não condescende com o fim a que se destina, mas tão somente com a gratificação do instinto do momento, não é moral. ... Santidade é dedicação a Deus, o Bem, não como um Governador exterior, mas como um controlador interior e transformador do caráter. ... Deus é um ser cujo pensamento todo é amor, e nenhum dos seus pensamentos se volta para si mesmo, exceto quando o seu eu não é ele mesmo, isto é, quando há uma distinção nas pessoas da Divindade. A criação é o grande pensamento antiegoísta – a aproximação do ser das criaturas que conhecem a felicidade que Deus conhece. ... Para o homem espiritual santidade e amor são a mesma coisa. Salvação é libertação do egoísmo". Kaftan, Dogmatik, 319,320, considera a essência do pecado consistente não com o egoísmo, mas com o dar as costas para Deus e para o amor que faria o homem crescer no conhecimento e semelhança com Deus. Mas isto parece ser nada mais do que escolher o eu em detrimento de Deus como o nosso objetivo e fim.
B) Pode-se mostrar que todas diferentes formas de pecado têm sua raiz no egoísmo, enquanto o egoísmo, considerando a escolha do eu como o supremo fim, não pode ser resolvido em quaisquer elementos mais simples. a) O egoísmo se revela na elevação ao supremo domínio de quaisquer apetites, desejos, ou sentimentos do homem natural. A sensualidade é o egoísmo na forma do apetite desordenado. O desejo
Teologia Sistemática (Strong) 1121 egoísta toma, respectivamente, as formas de avareza, ambição, vaidade, orgulho, conforme se estabelece sobre a prosperidade, poder, valorização, independência. O sentimento egoísta é a falsidade ou malícia à medida em que espera fazer dos outros seus servos voluntários ou os considera desta forma; é descrença ou inimizade contra Deus, à medida em que simplesmente despreza a verdade e amor de Deus ou concebe a santidade de Deus como resistindo positivamente e punindo-o. Agostinho e Tomás de Aquino sustentam que a essência do pecado é o orgulho; Lutero e Calvino consideram que a sua essência é a incredulidade. Kreibks (Versöhnuniehre) considera-o como "amor terreno"; outros ainda consideram-no como inimizade contra Deus. Ao expor o ponto de vista de que a sensualidade é a essência do pecado, Julius Müller diz: Onde quer que encontramos a sensualidade encontramos o egoísmo, mas não achamos que, onde há egoísmo, há sensualidade. O egoísmo pode incorporar a carnalidade ou o desejo desordenado para a criatura, mas este não pode produzir pecados espirituais que não tenham em si nenhum elemento de sensualidade". A cobiça ou a avareza, não torna sensual a própria gratificação, mas as coisas que podem contribuir para isso, o objetivo a ser perseguido e, nesta última busca, freqüentemente perde de vista o seu alvo original. A ambição é o amor egoístico pelo poder; a vaidade é o amor egoístico pela estima. O orgulho é apenas a autocomplacência, a auto-suficiência e o autoisolamento de um espírito egoísta que não deseja nada mais do que a irrestrita independência. A malícia, perversão do ressentimento natural (juntamente com o ódio e a vingança), é a reação do egoísmo contra os que estão, ou imagina-se estar, a caminho dele. A incredulidade e a inimizade contra Deus são efeitos do pecado, e não a sua essência; o egoísmo nos conduz primeiro à dúvida e, daí, ao detestar o Legislador e Juiz. Tácito: "Humani generis pro-prium est odisse quem laeseris" (É próprio do gênero humano odiar aquele que fere). No pecado, a auto-afirmação e autorendição não são elementos coordenados, como sustenta Dorner, mas aquela é condição desta.
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Como o amor a Deus é o amor à sua santidade, assim o amor ao homem é o amor à santidade nele e o desejo de comungar com ela. Em outras palavras, o verdadeiro amor pelo homem é o anseio por assemelhá-lo a Deus. Contra esse desejo normal que deve encher o coração e inspirar a vida, há uma hierarquia de desejos inferiores que podem ser utilizados e santificados pelo mais elevado amor, mas que podem afirmar a sua independência e ocasionar o pecado. Gratificação física, dinheiro, estima, poder, conhecimento, família, virtude são objetos próprios a serem considerados desde que procurados, visando às coisas de Deus e dentro das limitações da vontade dele. O pecado consiste em virar as costas para Deus e buscar qualquer dos objetivos acima por causa de si mesmos; ou, o que dá na mesma, para nós. O apetite gratificado sem levar em consideração a lei de Deus é cobiça; o amor ao dinheiro se torna avareza; o desejo de auto-estima torna-se vaidade; o anseio pelo poder torna-se ambição; o amor ao conhecimento torna-se sede egoística pela satisfação intelectual; a afeição paterna degenera em indulgência ou nepotismo; a busca da virtude torna-se autojustificação e auto-suficiência. Kaftan, Dogmatik, 323 – "Jesus admite que mesmo os gentios e pecadores amam os que os amam. Mas o amor pela família torna-se orgulho pela família; o patriotismo pode ter um sentido correto ou errôneo; a felicidade na vocação de alguém leva a estabelecer distinção de classes". Dante, na Divina Comédia, divide o inferno em três grandes seções: a daqueles que são punidos, respectivamente pela incontinência, pela bestialidade, e pela malícia. Incontinência = pecado do coração, das emoções, das afeições. Mas abaixo encontra-se a bestialidade = pecado da cabeça, dos pensamentos, da mente, tais como a infidelidade e a heresia. O mais baixo de todos é a malícia = pecado da vontade, da rebelião deliberada, da fraude e da traição. Assim aprendemos que o coração tem em si a inteligência e que o pecado da descrença gradualmente se aprofunda na intensidade da malícia. Ver A. H. Strong, Great Poets and Their Theology, 133 - "Dante nos ensina que o pecado é a autopreservação da vontade. Se há algum pensamento fundamental neste sistema, é o da liberdade. O homem não é um ser abandonado irresistivelmente arrastado correnteza abaixo; ele é um ser dotado de poder para resistir e, por isso, culpado por aquilo que ele faz. O pecado não é um infortúnio, uma doença ou uma necessidade natural; é uma voluntariedade, e um crime, e uma
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autodestruição. A Divina Comédia, mais do que todos os outros, é o poema da consciência; e não o poderia ser, se não reconhecesse o homem como um agente livre, causa responsável por seus próprios atos maus e por seu mau estado. Na tragédia grega, diz o Prof. Wm. Arnold Stevens, o único pecado que os deuses detestam e que não tem perdão é a ΰβρις - a obstinada autoafirmação da mente ou da vontade, ausência da reverência e da humildade ilustrada em Ájax. George MacDonald: "O homem pode ser possuído de si mesmo, como de um diabo". Shakespeare pinta esta insolência da enfatuação em Shylock, Macbeth e Ricardo III. Troilus e Crescida, 4.4 "Poder-se-á fazer alguma coisa que nós não queremos; Ε às vezes somos diabólicos para nós mesmos, Quando queremos tentar a fragilidade das nossas forças. Conjeturando sobre a mutável potência delas". Contudo, Robert G. Ingersoll diz que Shakespeare sustenta que o crime é um equívoco da ignorância! N. P. Willis, Parrhasius: "Quão semelhante a um diabo cavalgando o coração Governa a ambição irrefreável!"
b) Mesmo nas mais nobres formas da vida do não regenerado, o princípio do egoísmo deve ser considerado manifestando-se na preferência dos baixos fins em relação aos propostos por Deus. Outros são amados com sentimento idolatra porque tais são considerados como parte do eu. É evidente que o elemento egoísta se acha presente aqui ao considerar que tal sentimento não busca o mais alto interesse do seu objeto, que freqüentemente cessa quando não obtém retorno e sacrifica à sua própria as reivindicações de Deus e de sua lei. Até mesmo na idolatria da mãe pelo seu filho, na devoção do explorador no campo da ciência, no risco da vida do marinheiro para salvar a vida de um outro, na gratificação perseguida talvez de um instinto ou desejo inferior e em qualquer substituição do mais elevado pelo inferior objetivo está a inconformidade com a lei e, conseqüentemente, com o pecado. H. B. Smith, System of Theology, 277 – "Alguma afeição inferior é suprema". Ε ο motivo subjacente que conduz a esta substituição é a autogratificação. Não existe essa coisa que chamam de pecado diferenciado, pois "qualquer que ama é nascido de Deus" (1 Jo. 4.7). Thomas Hughes, O Lado Humano de
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Cristo: Muito do heroísmo da batalha é tão somente "resolução da parte dos atores de ter o seu caminho, desprezo pela tranqüilidade, coragem animal que compartilhamos com o buldogue e com a doninha, intensa afirmação da vontade e da força, declaração do homem de mão musculosa que ele tem em si e o capacita a desafiar a dor e o perigo e a morte. Mosley sobre Bianco White, Essays, 2.143: Pode-se buscar a verdade visando à absorção da verdade em si não para absorver-se na verdade. Assim Bianco White apesar da dor da separação dos velhos pontos de vista e dos amigos, vivia para o prazer egoístico da nova descoberta, até que toda a sua fé primitiva se desvaneceu e até mesmo a imortalidade parecia um sonho. Pensava falsamente que a dor que sofria ao deixar as velhas crenças era evidência do auto-sacrifício de que Deus deve agradar-se, conquanto seja inevitável a dor que atenta da vitória do egoísmo. Roberto Browning, Paracelsu, 81 - "Ainda devo entesourar, acumular, classificar todas as verdades Com ulterior propósito: Eu devo conhecer! Transportar-me-ia Deus para o seu trono, creria que eu só haveria de ouvir as suas palavras até que mais tarde as minhas findassem". F. H. Robertson, sobre Gênesis, 57 "Aquele que sacrifica o seu senso de justiça, sua consciência, em benefício de um outro, sacrifica Deus dentro de si; não está se sacrificando. Aquele que prefere o mais querido amigo, ou seu dileto filho, à chamada do dever logo mostrará que a si mesmo se prefere ao mais caro amigo e não se sacrificaria pelo seu filho". Ib. 91 - "Nos que amam pouco, o amor [pelos seres finitos] é uma afeição primordial; em segundo lugar, naqueles que amam muito. ... A única afeição verdadeira é a que se subordina a uma mais elevada". O verdadeiro amor ocorre em favor da alma, seus mais elevados e eternos interesses; o amor que procura fazer isto é santo; o amor que aponta para Deus e para a sua idéia na sua criação. Apesar de não podermos, com Agostinho, chamar as virtudes dos pagãos de "esplêndidos vícios" - pois elas são boas e úteis; exceto em possíveis exemplos em cujo coração opera Espírito de Deus, elas ainda são ilustrações de uma moralidade divorciada do amor de Deus, não existem no elemento essencial exigido pela lei, portanto, infectadas pelo pecado. Porque a lei julga tudo a partir do coração de onde brota, nenhuma ação do impénitente pode ser outra coisa senão pecado. O ébano é branco nos anéis exteriores da fibra da madeira; no cerne é branco como a tinta. Não há
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nenhuma falta de egoísmo no coração do impénitente, independentemente da iluminação e da energia divina. O sacrifício próprio em favor do eu é, acima de tudo, pecado. Os arrombadores e os assaltantes de bancos com freqüência são abstinentes em seus hábitos pessoais e negam-se a usar bebida alcoólica e fumo enquanto estão na prática ativa de seu negócio. Herron, The Langer Christ, 47 - "Sem dúvida é imoral buscar verdade fora do simples amor ao seu conhecimento, do mesmo modo que buscar dinheiro fora do amor pelo seu ganho. A verdade procurada por causa da verdade é um vício intelectual; é cobiça espiritual. É idolatria, ao adorar abstrações e generalidades em lugar do Deus vivo".
c) Convém lembrar, contudo, que ao lado da vontade egoísta e da luta contra ela está o poder de Cristo, o Deus imanente, concedendo aspirações e impulsos estranhos ao homem não regenerado e preparando o caminho para a rendição da alma à verdade e retidão. Rm. 8.7 - "a inclinação da carne é inimizade contra Deus"; At. 17.27,28 -"que não está longe de nós; porque nele vivemos nos movemos e existimos"; Rm. 2.4 - "a benignidade de Deus te leva ao arrependimento"; Jo. 1.9 - "a luz que alumia todo o homem". Muitos traços generosos e atos do sacrifício próprio do impénitente devem ser atribuídos à precedente graça de Deus e à influência iluminadora do Espírito de Cristo. Certa mãe, durante a fome na Rússia, deu aos seus filhos tudo do pouco mantimento que recebeu, e morreu para que eles pudessem viver. Na sua decisão de sacrificar-se em benefício dos seus filhos ela pode ter encontrado a prova e ter-se rendido a Deus. O impulso de sacrificar-se pode dever-se ao Espírito Santo e o seu procedimento pode ter sido essencialmente um ato de fé salvadora. Em Mc. 10.21,22 - "E Jesus, olhando para ele, o amou ... retirouse triste" - parece que o nosso Senhor amou o moço, não por seus dons, por seus esforços e por suas possibilidades, mas pela manifesta operação do Espírito divino nele, conquanto em seu caráter natural ele estivesse sem Deus e sem amor, e tivesse ignorância própria, justiça própria e a busca do eu. De igual modo, Paulo, antes da conversão, amava e desejava a justiça, porém talvez essa justiça fosse o produto e realização da sua própria
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vontade sobre outra que lhe era detestável. Ε ainda esse mesmo impulso para a justiça pode ser devido ao Espírito divino dentro dele. Pedro fez objeção a que Cristo lhe lavasse os pés (Jo. 13.8), não porque isto humilhasse o Mestre diante do discípulo, mas porque humilhava o discípulo aos seus próprios olhos. Pfleiderer, Philos. of Religion, 1.218 - "Pecado é a violação da ordem moral desejada por Deus realizada pela vontade própria do indivíduo". Tophel sobre o Espírito Santo, 17 - "Você o feriria profundamente [de um modo geral o pecador] se lhe dissesse que o coração dele, cheio de pecado, é objeto de horror à santidade de Deus". O impulso para o arrependimento, assim como o impulso para a justiça, é produto, não da natureza própria do homem, mas de Cristo naquele que o move a buscar a salvação. Elizabeth Barrett escreveu a Robert Bowning depois de aceitar a sua proposta de casamento: "Doravante sou sua para tudo o que não representar dano para você". George Harris, Moral Evolution, 138 - "O amor busca o verdadeiro bem da pessoa amada. Não ministrarei de modo indigno para obter prazer temporário. Não aprovarei ou tolerarei o que está errado. Não encorajarei o que é grosseiro, paixões baixas da pessoa amada. Isto é condenável por ser impureza, falsidade, egoísmo. Na verdade o pai não ama o filho se tolera a indulgência própria e não corrige ou pune as suas faltas". Hutton: "Você bem poderia dizer que convém à arte a êxtase mórbida dos canibais nas suas horrorosas festas, assim como pintar a cobiça sem o amor. Se você vai delinear o homem como um todo, deve fazê-lo com a sua natureza humana e, conseqüentemente, nunca omitir a qualquer quadro a consciência como sua coroa". Tennyson, In Memoriam, fala da "Fantástica beleza que se oculta Em algum poeta selvagem quando trabalha Sem consciência ou sem um propósito". Tal obra pode dever-se à mera natureza humana. Mas a elevada obra do verdadeiro gênio criativo e os atos ainda que mais elevados dos homens ainda impénitentes, mas conscientes e que a si mesmos se sacrificam, deve ter sua explicação na obra do Cristo imanente, na vida e luz dos homens. James Martineau, Study, 1.20 - "A consciência pode agir humanamente antes de descobrir que é divina". Vero. D. Stoops, Jour. Philos., Psych, and Sei. Meth., 2.512 - "Se há uma vida divina bem acima das correntes das vidas individuais, o jorro desta vida na experiência do
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indivíduo é precisamente o ponto de contato entre a pessoa e Deus". Caird, Fund. Ideas of Christianity, 2.122 – "É este elemento divino no homem, este relacionamento com Deus, que dá ao pecado seu aspecto mais tenebroso e sinistro. Pois essa vida representa a mudança de uma luz mais brilhante que o sol comparado com as trevas, o desperdício ou troca de uma ilimitada riqueza, pela suicida humilhação das coisas que perecem, de uma natureza destinada por sua própria constituição e estrutura à participação do próprio ser e bênção de Deus
C) Este ponto de vista é o que mais concorda com a Escritura. a) A lei requer o amor a Deus como uma exigência toda abrangente. b) A santidade de Cristo consiste nisto, que ele buscou não a sua própria vontade ou glória, mas fez Deus o seu supremo fim. c) O cristão é alguém que deixou de viver para si. d) A promessa do tentador é de independência egoística. e) O pródigo se separa de seu pai e busca seu próprio interesse e prazer. f) O "homem do pecado" ilustra a natureza do pecado, "opondo-se e exaltando-se contra tudo o que se chama Deus". Mt. 22.37-39 - o mandamento de amar a Deus e ao homem; Rm. 13.810 - "de sorte que o cumprimento da lei é o amor"; Gl. 5.14 - "Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o teu próximo como a ti mesmo"; Tg. 2.8 - "a lei real". b) João 5.30 - "o meu juízo é justo porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai, que me enviou"; 7.18 "Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória, mas aquele que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça"; Rm. 15.3 - "Porque Cristo não agradou a si mesmo". c) Rm. 14.7 - "Porque nenhum de nós vive para si e nenhum morre para si"; 2 Co. 5.15-"Ele morreu portodos para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou"; Gl. 2.20 - "Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim". Contrastar com 2 Tm. 3.2 - "amantes de si mesmos". d) Gn. 3.5 - "sereis como Deus, sabendo o bem e o mal", é) Le. 15.12,13 - "Dá-me a parte da fazenda ... ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua", f) 2 Ts. 2.3,4 - "homem do pecado, filho da perdição, que se opõe e se levanta contra tudo o que se chama
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Deus ou se adora; de sorte que se assentará como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus". Contrastar "homem do pecado" que "se levanta" (2 Ts. 2.3,4) o Filho de Deus, que "esvaziou-se a si mesmo" (Fp. 2.7). Ritchie, Darwin and Hegel, 24 - "Estamos cônscios do pecado porque sabemos que o nosso verdadeiro eu é Deus, de quem estamos separados. Nenhuma ética é possível a não ser que reconheçamos um ideal para todo o esforço humano na presença do Eu eterno que qualquer relato da conduta pressupõe". John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 2.53-73 - "Aqui, como em toda a vida orgânica, o membro ou órgão individual não têm nenhuma vida independente ou exclusiva e a tentativa de alcançá-la é por si mesma fatal". Milton descreve o homem como "afetando Deus e, dessa forma, perdendo tudo". A respeito do pecador, podemos dizer com Shakespeare, Coriolanus, 5.4 - "Ele não quer nada de um deus, a não ser a eternidade e um céu no qual quer entronizar-se ... Não há mais nenhuma misericórdia do que leite num tigre macho". Então, nenhum de nós pode tão apressadamente abonar "a declaração de dependência". Tanto a Velha Escola de Teólogos como a Nova concorda em que o pecado é egoísmo.
O pecado, portanto, não é somente algo negativo ou ausência de amor a Deus. É uma escolha fundamental e positiva ou preferência do eu em detrimento de Deus como objeto do sentimento e fim supremo do ser. Ao invés de fazer Deus o centro de sua vida, rendendo-se incondicionalmente a ele e pôr-se em inteira subordinação à vontade de Deus, o pecador se faz o centro de sua vida, põe-se diretamente contra Deus e constitui seu próprio interesse o supremo motivo e a sua vontade a regra suprema. Podemos seguir o Dr. Ε. G. Robinson dizendo que, enquanto o pecado como estado é dessemelhança em relação a Deus, como princípio é oposição a Deus e como ato é transgressão à lei de Deus, a essência dele é sempre e em toda a parte egoísmo. Não é, portanto, algo externo, ou o resultado de coação vinda de fora; é uma depravação dos
Teologia Sistemática (Strong) 1129 sentimentos e uma perversão da vontade, que constitui o mais íntimo caráter do homem. Ver Harris, Bíblia Sacra, 18.148 – "O pecado é essencialmente egoísmo ou euísmo, que põe o eu no lugar de Deus. Ele apresenta quatro principais características ou manifestações: 1) auto-suficiência, em lugar da fé; 2) a vontade própria, em lugar da submissão; 3) a busca de si mesmo, em vez da benevolência; 4) a justiça própria em lugar da humildade e reverência". Implícita ou explicitamente todo pecado é "inimizade contra Deus" (Rm. 8.7). Todas verdadeiras confissões são como as de Davi (SI. 51.4) - "Contra ti, contra ti somente pequei e fiz o que a teus olhos é mal". De todos pecadores pode-se dizer: "Não pelejareis contra pequeno nem contra grande, mas só contra o rei de Israel" (1 Re. 22.31). Nem todo pecador está consciente desta inimizade. O pecado é um princípio no curso do desenvolvimento. Contudo, não é "consumado" (Tg. 1.15 – "o pecado, sendo consumado, gera a morte"). Mesmo agora, como diz Martineau: "Se se pudesse saber que Deus está morto, as notícias causariam tão somente uma pequena emoção nas ruas de Londres ou de Paris". Mas tal indiferença facilmente cresce em presença da ameaça e da pena, tornando-se violenta ira contra Deus e desafio positivo da sua lei. Se apenas se permitisse que o pecado que ora se esconde no coração do pecador se desenvolvesse segundo a sua própria natureza, arrojaria o Onipotente do seu trono e estabeleceria o seu próprio reino sobre as ruínas do universo moral.
SEÇÃO III – UNIVERSALIDADE DO PECADO Já vimos que o pecado é um estado da vontade, egoísta. Continuamos agora mostrando que tal estado egoísta da vontade é universal. Dividimos nossa prova em duas partes. Na primeira, consideramos o pecado em seu aspecto de violação da lei; na segunda, em seu aspecto de tendência da natureza para o mal, ante a consciência ou subjacente a ela.
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I. TODO SER HUMANO QUE CHEGOU À CONSCIÊNCIA MORAL COMETEU ATOS, OU ACALENTOU DISPOSIÇÕES CONTRÁRIAS À LEI DIVINA
1. Prova da Escritura A universalidade da transgressão é: a) Estabelecida em declarações diretas da Escritura. 1 Re. 8.46 - "não há homem que não peque"; SI. 143.2 - "não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente"; Pv. 20.9 - "Quem poderá dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado?"; Ec. 7.20 - "Na verdade, não há homem justo sobre a terra, que faça o bem e nunca peque"; Lc. 11.13-"se vós, sendo maus"; Rm. 3.10,12 - "Não há nenhum justo, nenhum sequer... Não há quem faça o bem; não há nenhum só"; 19,20 - "que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.... por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado"; 23 - "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus"; Gl. 3.22 -"mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado"; Tg. 3.2 - "Porque todos tropeçamos em muitas coisas"; 1 Jo. 1.8 "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e não há verdade em nós". Compare Mt. 6.12 - "perdoa as nossas dívidas" - é uma oração para todos os homens; 14 - "se perdoarmos aos homens as suas ofensas" - condição do nosso perdão.
b) Implícita nas declarações da necessidade universal de expiação, de regeneração e de arrependimento. Necessidade universal da expiação: Mc. 16.16 - "Quem crer e for batizado será salvo" (Embora Mc. 16.9-20 provavelmente não tenha sido escrito por Marcos, é, contudo, de autoridade canônica); Jo. 3.16 - "De tal maneira Deus amou o mundo que deu seu Filho unigênito para que todo o que nele crê não pereça"; 6.50 - "Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra"; 12.47 - "eu não vim para julgar o mundo, mas
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para salvar o mundo"; At. 4.12 - "E em nenhum outro há salvação porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". Necessidade universal de regeneração: Jo. 3.3,5 "aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus. ... aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus". Necessidade universal de arrependimento: At. 17.30 - "anuncia a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam". Contudo a Sra. Mary Baker G. Eddy, "Unidade de Deus", fala da "ilusão que chama o pecado real e o homem um pecador que necessita de um salvador".
c) Apresentada na condenação que incide em todos os que não aceitam a Cristo. Jo. 3.18-"quem não crê já está condenado porque não creu no nome do unigênito Filho de Deus"; 36 - "aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece"; Compare 1 Jo. 5.19 - "o mundo todo jaz no maligno"; Kaftan, Dogmatik, 318 - "A lei requer o amor de Deus. Este implica amor ao nosso próximo, não apenas abstendo de toda injúria a ele, mas praticando a justiça em todas nossas relações, perdoando ao invés de vingar, auxiliando os inimigos do mesmo modo que aos amigos de todo modo salutar, praticando a autodisciplina, evitando toda a falta de moderação sensual, e sujeitando todas atividades sensuais visando a fins espirituais no reino de Deus e tudo isso, não atendendo a uma conduta meramente exterior, mas de coração, satisfazendo à vontade e desejo próprios. Esta é a vontade de Deus a nosso respeito, a qual Jesus revelou e de que, na sua vida ele é o exemplo. Ao invés disto, o homem, universalmente, busca promover a sua própria vida, o seu prazer e a sua honra".
d) Consistente com as passagens que à primeira vista parecem atribuir a alguns homens uma bondade que os torna aceitáveis a Deus, nas quais um exame mais apurado mostrará que em cada caso a suposta bondade é simplesmente imperfeita e fantasiada de mera aspiração e impulso devidos às obras preliminares do Espírito de Deus ou resultantes
Teologia Sistemática (Strong) 1132 da confiança de um pecador consciente no método de salvação da parte de Deus. Em Mt. 9.12 - "Não necessitam de médicos os sãos, mas sim, os doentes" - Jesus significa os que se julgam sãos; cf. 13 - "eu não vim chamar os justos, mas os pecadores" = "se, na verdade, alguém fosse justo, não necessitaria de salvação; quem pensa desse modo, não se preocupa em buscá-la" (Bíblia Americana Parafraseada). Em Lc. 10.30-37 - Parábola do Bom Samaritano - Jesus não dá a entender que o samaritano não fosse um pecador, mas que havia pecadores salvos fora dos limites de Israel. Em At. 10.35 -"que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação o teme e faz o que é justo" - Pedro não declara que Cornélio não era pecador, mas que Deus o aceitou através de Cristo; Cornélio já estava justificado, mas necessitava de saber 1) que ele era um salvo, e 2) como foi salvo; Pedro foi enviado para contar-lhe o fato e o método da salvação em Cristo. Em Rm. 2.14 - "porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, são para si mesmos lei" - só se diz que, em certos aspectos, a obediência destes gentios mostra que eles têm uma lei que, sem letras está escrita no seu coração; não se diz que obedeciam perfeitamente a lei e, por isso, não tinham pecado - pois Paulo diz logo depois (Rm. 3.9) - "pois dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado". Deste modo, as palavras "perfeito" e "justo" aplicam-se aos bons. Quando considerarmos a doutrina da Santificação, veremos que a palavra "perfeito", aplicada às condições espirituais atingidas, significa tão somente uma perfeição relativa, equivalente à piedade sincera ou maturidade do juízo cristão, dito de outra forma, à perfeição de um pecador que há muito confia em Cristo e em Cristo venceu seus principais defeitos de caráter. Ver 1 Co. 2.6 - "falamos sabedoria entre os perfeitos" (Am. Rev.: "entre os plenamente crescidos"); Fp. 3.15-"Pelo que, quantos somos perfeitos, sintamos isto mesmo" -i.e., expressar a meta - que os apóstolos diziam não ter sido ainda alcançada (vv. 12-14). "Est deus in nobis; agitante calescimos illo". Deus é a "chama que acende o nosso barro". S. S. Times, 21 de setembro de 1901.609-"A humanidade é melhor ou pior do que a pintam. Tem havido um tipo de
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pessimismo ao indicar a pecaminosidade humana que cega até o abundante amor, e a paciência, e a coragem, e a fidelidade ao dever entre os homens". A. H. Strong, Christ in Creation, 287-290 - "Há uma vida natural de Cristo e pulsa uma vida, e palpita nos homens em toda a parte. Todos os homens são criados em Cristo, antes de terem sido recriados nele. Toda a raça vive, move-se e existe nele porque ele é a alma da sua alma e a vida da sua vida". Então, não atribuímos os nobres impulsos dos impénitentes à desauxiliada natureza humana, mas a Cristo. Eles são esboços do seu Espírito, que move o homem ao arrependimento. Mas são influências da sua graça que, se sofrer resistência, deixam a alma em trevas maiores que na sua origem.
2. Prova da história, da observação e do juízo comum da humanidade a) A história testemunha a universalidade do pecado nos seus relatos sobre a predominância do sacerdócio e do sacrifício. Ver referências em Luthardt, Fund. Truths, 161-172, 335-339 "Plutarco fala dos olhos manchados pela lágrima, rostos pálidos e lamentosos que ele vê junto aos altares públicos, rolando na lama e confessando os seus pecados. Entre o povo comum o bronco sentimento de culpa era tão real que foi abalado ou tornou-se vítima de zombaria".
b) Todo homem sabe que tem falta de perfeição moral e, na proporção de sua experiência no mundo, reconhece que todos têm essa falta. Provérbio chinês: "Há apenas dois homens bons: um está morto; o outro ainda não nasceu". Provérbio de Idaho: "O único índio bom é o morto". Porém o provérbio também se aplica ao branco. O missionário, Dr. Jacob Chamberlain, dizia: "Nenhuma só vez ouvi na índia um homem negar que era pecador. Mas uma vez um brâmane interrompeu-me e disse: 'Nego as vossas premissas. Eu não sou pecador. Não tenho necessidade de agir de melhor forma1. Por um momento senti-me em dificuldade. Foi quando eu lhe
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disse: 'Mas qual a opinião dos seus vizinhos a esse respeito?' Imediatamente alguém gritou: 'Ele me trapaceou em uma transação com cavalos' e um outro: 'Ele enganou uma viúva a respeito da herança dela'. O brâmane saiu da casa e nunca mais o vi". Quando criança, Joseph Sheridan Le Fanu, sobrinho neto de Richard Brinsley Sheridan, escreveu umas poucas linhas no "Ensaio sobre a Vida do Homem", que discorre o seguinte: "A vida do homem divide-se naturalmente em três partes distintas: a primeira, em que inventa e planeja toda sorte de vilania e velhacaria, - é o período da juventude e inocência. No segundo, ele põe em prática toda a vilania e velhacaria que ele maquinou, - é a flor do gênero humano e a primavera da vida. O terceiro e último período é aquele em que está formando a sua alma e preparando-se para o outro mundo, - o período do desvario".
c) O juízo comum da humanidade declara que há um elemento de egoísmo em cada coração humano e que todo homem propende a alguma forma de pecado. Este juízo comum se expressa nas máximas: "Ninguém é perfeito"; "Todo homem tem seu ponto fraco" ou "seu preço"; e todos grandes nomes da literatura têm atestado esta verdade. Sêneca, De Ira, 3.26 - "Todos nós somos ímpios. O que um censura no outro achará em seu próprio seio. Vivemos no meio de ímpios e nós também o somos"; Epístolas Morais, 22 - "Ninguém tem poder de si mesmo para emergir [da sua impiedade]; alguns sentem necessidade de estender a mão; alguns, de afastá-la". Ovídio, Metamorphosis, 7.19 - "Vejo as coisas melhores e as aprovo, contudo, sigo as piores. ... Empenhamo-nos mesmo naquilo que é proibido e desejamos as coisas que nos são negadas". Cícero: "A natureza nos deu fracas centelhas de conhecimento; apagamo-las com a nossa imoralidade". Shakespeare, Otelo, 3.3 - Qual é o palácio em que não se introduzem, vez por outra, coisas vis? Quem tem coração tão puro onde suspeitas odiosas não tenham suas audiências e tomem assento em sessão Com meditações mais eqüitativas?" Henrique VI, II. 3.3 - "Evita o juiz, pois todos somos pecadores". Hamlet, 2.2, compara a influência de Deus com o sol que "produz larvas em um cão morto, Beijando a carniça", - isto é, Deus não é
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responsável pela corrupção no coração do homem e pelo mal que dele advém, assim como o sol não é responsável pelas larvas que, com o seu calor, se produzem num cão morto; 3.1 - "Todos nós somos verdadeiros velhacos". Timão de Atenas, 1.2 - "Quem há, entre os vivos, que não seja corrompido ou não corrompa?" Goethe: "Não vejo falta alguma cometida que eu também não a tivesse cometido". Dr. Johnson: "Todo ser humano sabe de si mesmo coisas que ele não tem coragem de contar ao seu amigo mais íntimo". Thackeray mostravase mestre em ficção ao apresentar-nos personagens nada perfeitos; todos agem por motivos mistos. Conta-se que Carlyle, herói adorador como tendia a ser, desgostava-se de cada um de seus heróis antes de terminar a sua biografia. Emerson diz que, para entender qualquer crime, bastava-lhe olhar para o seu próprio coração. Robert Burns: "Deus bem sabe que eu não sou aquilo quer deveria ser Ε nem o que eu poderia ser". Huxley: Os melhores homens das melhores épocas são simplesmente aqueles que cometem os menores disparates e os menores pecados". Ε ele faz referência à "iniqüidade infinita" que assistia ao curso da história. Matthew Arnold: "Que mortal, quando viu, Finda a viagem da vida, Seu amigo celestial, Poderia ter a coragem de dizer-lhe destemidamente: - Conservei impoluta a lei da minha natureza: A carta escrita interiormente, para guiar-me, tu me deste, guardei-a até o fim?" Walter Besant, Filhos de Gibeon: Os homens hábeis não desejam um sistema em que não seja capaz de fazer o bem aos outros em primeiro lugar". 'Prontos para louvar e orar no domingo, se na segunda-feira podem ir ao mercado tirar a pele aos seus companheiros e vendê-la". Confúcio ainda declara que "o homem nasceu bom". Ele confunde a consciência com a vontade - o senso de justiça com o amor à justiça. Merecidamente o Deão Swift buscou por muitos anos um método de extrair raios solares das abóboras. A própria natureza humana é muito pouco capaz de produzir os frutos de Deus. Todo homem admitirá 1) que não é perfeito no caráter moral; 2) que o amor a Deus não tem sido o motivo constante de suas ações, i.e., que ele tem sido até certo ponto egoísta; 3) que ele cometeu ao menos uma conhecida violação da consciência. Shedd, Sermons to the Natural Man, 86,87 "Os teoristas que rejeitam a religião revelada e voltam aos primeiros princípios da ética e da moralidade que só a religião necessita enviam-no a um
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tribunal que o condena"; pois é óbvio que "nenhuma criatura humana em qualquer país ou grau de civilização jamais tem glorificado a Deus na medida do seu conhecimento relativo ao mesmo Deus".
3. Prova a partir da experiência cristã a) Na proporção com o seu progresso espiritual, o cristão reconhece dentro de si disposições más que, se não fosse a graça divina, poderiam germinar e produzir as mais variadas formas de transgressão externa. Ver a experiência de Goodwin, em Baird, Elohim Revealed, 409; Goodwin, membro da Assembléia de Doutores em Divindades de Westminster, falando de sua conversão diz: "Fez-se uma farta descoberta da minha lascívia e concupiscência e fiquei estarrecido ao ver com que voracidade eu buscara a gratificação de cada pecado". A experiência de Tollner, na Dogmática de Martensen: Tollner, embora inclinado para o pelagianismo, diz: "Olho para o meu próprio coração e vejo com penitente tristeza que, à vista de Deus, devo acusar-me de todas ofensas que enumerei", - e enumerara somente as transgressões deliberadas; - "aquele que não permite ser semelhantemente culpado, que não veja o fundo do seu coração". John Newton vê o assassino levado à execução e diz: "Lá estaria indo John Newton se não fosse pela graça de Deus". Conde de Maistre: "Não sei o que pode ser o coração de um vilão - só conheço o de um virtuoso e que é medonho". Tholuck, no qüinquagésimo aniversário de magistério em Halle, disse aos seus alunos: "Ao rever as múltiplas bênçãos de Deus, a coisa que mais me parece grata é a convicção do meu pecado". Roger Ascham: "Através da experiência descobrimos um caminho curto, através de uma longa peregrinação". Por vezes faz-se referência a Lc. 15.25-32 como indicativo de que há alguns dos filhos de Deus que nunca se desviam da casa do Pai. Mas naquela família existem dois pródigos. O mais velho era um servo em espírito assim como o mais novo. J. J. Murphy, Nat. Selection and Spiritual Freedom, 41,42 - "No desejo do filho mais velho de que pudesse às vezes festejar com os seus amigos independentemente do seu pai, estava contido o germe do desejo de escapar da sadia submissão do lar que, em seu pleno desenvolvimento, primeiro trouxera o seu irmão a
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uma vida turbulenta e, depois, à servidão a um estranho e ao apascentamento de porcos. Esta raiz do pecado, encontra-se em nós todos, mas nele de uma forma tão plena que produz a morte. Ainda ele diz: 'Eis que te sirvo (δουλεύω - como escravo) há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento'. São os mandamentos do pai tão penosos? É verdadeiro e sincero o serviço sem o amor do coração? O mais velho estava sendo calculista para com o seu pai e antipático para com o seu irmão". Sir S.R. Seelye, Ecce Homo: "Não há virtude segura a não ser que seja entusiástica". Wordsworth: Ό céu rejeita o amor das belas mentes mais ou menos calculistas".
b) Porque os mais iluminados pelo Espírito Santo reconhecem-se como culpados de inúmeras violações da lei divina, a ausência de qualquer consciência de pecado da parte do não regenerado deve ser considerada como prova de que ele pende para a transgressão contínua. É notável que, enquanto os que são iluminados pelo Espírito Santo e verdadeiramente estão vencendo os seus pecados vêem mais e mais o mal dos seus corações e vidas, os escravos do pecado vêem cada vez menos esse mal e freqüentemente negam que são pecadores. Rousseau, Confesions, confessa o pecado no espírito que por si mesmo necessita de confissão. Ele passa um verniz sobre os seus vícios e magnífica as suas virtudes. "Ninguém", diz ele, "pode chegar ao trono de Deus e dizer: 'Eu sou melhor que Rousseau'... Soe a trombeta do juízo quando ela quiser: Apresentar-me-ei ante o Soberano Juiz com este livro na minha mão e direi alto e bom som: 'Aqui está o que eu fiz e o que eu pensei e o que fui'". "Ah", disse ele antes de expirar, quão feliz é morrer quando não há razão para remorso ou para auto-reprovação!" Ε então, dirigindo-se ao Onipotente, diz ele: "Eterno Ser, a alma que vou devolver-te neste momento é pura do mesmo modo em que procedeu de ti; torna-a participante da tua felicidade!" Ainda em sua infância era um ladrãozinho. Em seus escritos, ele defendia o adultério e o suicídio. Viveu por mais de vinte anos na prática da licenciosidade. A maior parte de seus filhos, senão todos, ilegítimos, ele os mandava para o hospital dos enjeitados tão logo nasciam, deixando-os assim à dependência da caridade de estranhos, embora inflamasse as mães da França com eloqüentes apelos para que elas acalentassem seus próprios
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bebês. Era mesquinho, vacilante, traidor, hipócrita, e blasfemo. Em suas Confissões ele ensaia estimulantes cenas da sua vida com o espírito de grande aventureiro. Edwin Forrest, quando acusado de converter-se num avivamento religioso, escreveu uma indigna negação na imprensa pública dizendo que ele não tinha nenhuma razão para sentir remorso; os seus pecados eram mais de omissão do que de comissão; ele sempre tinha agido de acordo com o princípio do amor aos amigos e detestava os inimigos; e confiando na justiça do mesmo modo que na misericórdia de Deus, esperava, quando deixasse a esfera terrena, 'enrolar os cortinados da sua carruagem em torno de si e deitar-se para os mais prazenteiros sonhos'. Contudo, ninguém da sua época era mais arrogante, auto-suficiente, licencioso, vingativo. John Y. McCane, quando sentenciou Sing Sing à prisão de seis anos por violar as leis do código eleitoral com os maiores subornos e aumento do número de cédulas, declarou que nunca havia feito qualquer coisa errada na vida. Ε ainda era Diretor da Escola Dominical. Uma senhora que viveu até a idade de 92 anos, protestou que, se tivesse que viver sua vida inteira outra vez não alteraria uma só coisa. Lord Nelson, após ter recebido ferida mortal em Trafalgar, disse: "Nunca fui um grande pecador". Contudo, naquela mesma hora ele estava vivendo em aberto adultério. Tennyson, Sea Dreams: "Com toda a consciência e um olho estrábico, Tão falso, ele pessoalmente se dava por verdadeiro". Estabeleça um contraste com a declaração do apóstolo Paulo: 1 Tm. 1.15 – "Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores dos quais eu sou o principal". Com propriedade se tem dito que "o maior dos pecados é não estar cônscio de nada". Podem-se sugerir as seguintes razões para a inconsciência dos homens sobre os seus pecados: 1. Nunca conhecemos a força de qualquer paixão ou princípio dentro de nós até que comecemos a resisti-la. 2. As repressões providenciais de Deus sobre o pecado daí em diante têm impedido seu pleno desenvolvimento. 3. Os juízos de Deus contra o pecado ainda não foram manifestos. 4. O próprio pecado tem uma influência sobre a mente que cega. 5. Somente aquele que foi salvo da pena do pecado quer olhar para o abismo de onde foi resgatado. - Que um homem é inconsciente de qualquer pecado apenas prova que ele é um grande transgressor empedernido. Além do mais esta é a mais desesperançada característica da
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sua situação visto que não há salvação para alguém que nunca entende o seu pecado . À luz desta verdade, vemos a mais impressionante graça de Deus, não na entrega de Cristo para morrer pelos pecadores, mas no dom do Espírito Santo para convencer os homens dos seus pecados e levá-los a aceitar o Salvador. Sl. 90.8 - "Diante de ti puseste ... os nossos pecados ocultos à luz do teu rosto" = a pecaminosidade interior do homem está oculta a ele mesmo, até que entre em contraste com a santidade de Deus. Luz = uma luminária ou sol, que brilha até as profundezas do coração e revela a iniqüidade oculta no doloroso consolo.
II. TODO MEMBRO DA RAÇA HUMANA, SEM EXCEÇÃO, POSSUI UMA NATUREZA CORROMPIDA, QUE É Α FONTE DO VERDADEIRO PECADO, Ε POR SI MESMA É PECADO
1. Prova da Escritura A) Os atos pecaminosos e disposições dos homens são mencionados e explicados por uma natureza corrompida. ‘Natureza’ é aquilo que é inato no homem, que ele tem desde o seu nascimento. Lc. 6.43-45 evidencia que há um estado corrupto inato, de que fluem as disposições e atos pecaminosos - "não há árvore boa que dê mau fruto ... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal"; Mt. 12.34 - "Raça de víboras, como podeis dizer boas coisas, sendo maus?" Sl. 58.3 "Alienam-se os ímpios desde a sua madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras".
Esta natureza corrompida a) pertence ao homem desde o primeiro momento do seu ser; b) é subjacente à consciência do homem; c) não pode mudar pela força do próprio homem; d) constitui-o um pecador diante de Deus; e) é a herança comum da raça. a) Sl. 51.5 - "Eis que em iniqüidade fui formado e em pecado concebeu-me minha mãe" - aqui Davi está confessando, não o pecado de sua mãe, mas o seu próprio pecado; e ele declara que tal pecado remonta
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ao momento de sua concepção. Tholuck, citado por H. B. Smith, System. 281 - "Davi confessa que o pecado inicia com a vida do ser humano; que ele é culpado diante de Deus, não só pelas suas obras, mas pelo seu próprio ser". Shedd, Dogm. Theol., 2.94 - "Davi menciona o fato de que ele nasceu pecaminoso, com a agravante do seu adultério e não como desculpa para este". b) SI. 19.12 -"Quem pode entender os próprios erros? Expurga-me dos que me são ocultos"; 51.6,7 - "Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissope, e ficarei mais puro; lava-me e ficarei mais alvo do que a neve". c) Jr. 13.23 - "Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso vós podereis também fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal"; Rm. 7.24 – "Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" d) SI. 51.6 - "Eis que amas a verdade no íntimo"; Jr. 17.9,10 - "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração" = só Deus pode conhecer plenamente a depravação nativa e incurável do coração humano; ver a Bíblia por Parágrafo Anotada, in loco. e) Jó 14.4 -"Quem do imundo tirará o puro? Ninguém!"; Jo. 3.6 – "O que é nascido da carne é carne", i.e., a natureza humana separada de Deus. Pope, Theology, 2.53 - "Cristo, que conhece o que está no homem, diz: 'Se vós, sendo maus' (Mt. 7.11) e, Ό que é nascido da carne é came' (Jo. 3.6), isto é, -juntando os dois - 'os homens são maus, porque nasceram maus'". O conto O Véu Negro do Ministro de Nathaniel Hawthorne retrata o isolamento da mais profunda vida do homem e o temor que inspira qualquer afirmação visível de tal isolamento. C. P. Cranch: "Somos espíritos cobertos de véus; O homem nunca foi visto pelo homem; Toda a nossa profunda comunhão não consegue remover o sombrio anteparo". No coração de cada um de nós encontra-se aquela temível "gota negra", que o Corão diz ser o anjo apresentado a Maomé. O pecado é como a nódoa da escrófula no sangue, que aparece nos tumores, na destruição, no câncer, em múltiplas formas, mas que em toda a parte é o mesmo mal orgânico. É veraz a palavra de Byron sobre "A inerradicável nódoa do pecado, a ilimitada Upas (= antiar), a árvore que tudo arrasa". E. G. Robinson, Christian Theology, 161,162 - "Não tem fundamento a objeção de que a consciência não traz acusação de culpa contra a
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depravação inata; embora vista como verdadeira, pode ser natural em seu estado passivo quando sob a ação da natureza. Tal faculdade, ao contrário, empresta apoio à doutrina que ela supõe destruir. Quando a consciência sustenta a investigação inteligente sobre simples atos, logo descobre que estes são meros acessórios do crime, enquanto o elemento principal ocultase além do alcance do conhecimento. Acompanhando esta investigação, no seu devido tempo explode a exclamação de Davi: SI. 51.5 - 'Eis que em iniqüidade fui formado e em pecado me concebeu minha mãe'. A consciência liga a culpa à sua sede no pecado hereditário".
B) Declara-se que todo homem, por natureza é filho da ira (Ef. 2.3). Aqui 'natureza' significa algo inato e original distinto daquilo que se adquire posteriormente. O texto implica que: a) O pecado é uma natureza no sentido de depravação congênita da vontade. b) Esta natureza é culpada e condenável; porque a ira de Deus repousa só sobre os que a merecem. c) Todo homem participa desta natureza e desta conseqüente culpa e condenação. Ef. 2.3 - "e éramos, por natureza, filhos da ira, como os outros também". Shedd: "Natureza aqui não é a substância criada por Deus, mas a sua corrupção criada pelo homem". 'Natureza' [de nascor (nascer)] pode denotar algo inato e o termo, com propriedade, pode designar tendências ou estados maus inatos, assim como as faculdades ou a substância. "Por natureza" portanto = "por nascimento"; compare Gl. 2.15 - "judeus por natureza". E. G. Robinson: "Natureza = não ουσία, ou essência, mas tão somente a qualificação da essência, como algo nascido em nós. Há tanta diferença nos bebês, desde o começo da sua existência, como há nos adultos. Se se define o pecado como 'transgressão voluntária da lei conhecida', naturalmente tal definição não considera o pecado original". Mas se o pecado é um estado egoístico da vontade, esse estado é claramente inato. Aristóteles fala de alguns homens nascidos para serem selvagens (φύσει βάρβαροι), e outros, por natureza, destinados a serem escravos (φύσει δούλοι). Aqui evidentemente acham-se a aptidão e disposição congênitas. De igual modo podemos interpretar as palavras de Paulo, que declara exatamente que, ao nascerem, os homens têm a aptidão e disposição que se constituem em objeto do desagrado de Deus.
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O ponto de vista oposto pode ser encontrado em Stevens, Pauline Theology, 152-157. O Reitor Fairbairn também diz que a pecaminosidade herdada "não é transgressão e não inclui culpa". Ritchl, Just. And Reconc. 344 – "O predicativo 'filhos da ira' refere-se à verdadeira transgressão antiga daqueles que agora, como cristãos, têm o direto de aplicar a si o propósito divino da graça, que é a antítese da ira". Meyer interpreta o verso: "Tornamo-nos filhos da ira seguindo uma tendência natural". Ele reivindica que a doutrina apostólica ensina que o homem sofre a ira divina por causa do seu verdadeiro pecado, quando submete a sua vontade ao princípio inato do pecado. Do mesmo modo N. W. Taylor, citado em H. B. Smith: "Somos por natureza, tais como nos tornamos por nossos atos, filhos da ira". "Mas", diz Smith, "se o apóstolo quisesse dizer isto, poderia ter se expressado assim; há uma palavra grega própria para 'tornar-se'; tal palavra só pode ser traduzida por 'éramos'". Assim em 1 Co. 7.14 - "Doutra sorte, os vossos filhos seriam imundos" - implica que, independentemente da operação da graça, todos os homens estão contaminados em virtude do seu nascimento de um tronco corrupto. A roupa morreu na lã e em seguida novamente na costura. O homem é um "vilão duplamente morto". Ele é corrupto por natureza e posteriormente pela prática.
C) Visita-se a morte, penalidade do pecado, sobre os que nunca exerceram escolha pessoal e consciente (Rm. 5.12-14). Este texto implica que α) Ο pecado existe no caso das crianças antes da consciência moral e, portanto, na natureza, independente da atividade pessoal, b) Porque as crianças morrem, esta visitação da penalidade do pecado sobre elas assinala o mal dessa natureza que contêm em si, apesar de não desenvolvidos os germes da verdadeira transgressão, c) Portanto, é certo que a natureza pecaminosa, culpada e condenável abrange toda a humanidade. Rm. 5.12-14 – "Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram. Porque até à lei estava o pecado no
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mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre os que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão" - Isto é, sobre aqueles que, à semelhança das crianças, nunca pecaram pessoal e conscientemente. N. W. Taylor sustenta que as crianças, antes da atuação moral, não estão sujeitas ao governo moral de Deus, do mesmo modo que os animais. Nisto ele discorda de Edwards, Bellamy, Hopkins, Dwight, Smalley, Griffin. Ver Tyler, Letters on N. E. Theol., 8.132-142 - "Dizer que os animais morrem e, por isso a morte não pode ser prova do pecado nas crianças, é empregar uma base incrédula. O incrédulo tem o mesmo direito de dizer: Porque os animais morrem mesmo não sendo pecadores, o mesmo pode acontecer com os adultos. Se a morte pode reinar em tão alarmante extensão sobre a raça humana e ainda não ser prova do pecado, então adota-se o princípio de que a morte pode reinar em qualquer extensão sobre o universo, embora nunca pode tornar-se uma prova do pecado em qualquer caso". Reservamos nossa prova completa de que a morte física é a pena do pecado para a seção Pena, como uma das conseqüências do pecado.
2. Prova da Razão Três fatos demandam explicação: a) A existência universal das disposições pecaminosas em cada mente e dos atos em cada vida. b) As tendências preponderantes para o mal, que necessitam a constante educação para os bons impulsos enquanto os maus se desenvolvem por si mesmos. c) A inclinação da vontade para a tentação e a verdadeira violação da lei divina, no caso de cada ser humano tão logo ele atinge a consciência moral. Vê-se o egoísmo fundamental do homem na infância, quando a natureza humana age espontaneamente. É difícil desenvolver cortesia na criança. Não pode haver nenhuma cortesia sem considerar o homem como homem e a voluntariedade de cada um, seu lugar, o seu direito como filho de Deus igual a nós. Mas as crianças querem agradar a si mesmas sem ter consideração pelos outros. A mãe pergunta ao filho: "Por que você não faz o
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que é certo em vez de fazer o que é errado?" e o filho responde: "Porque isso me cansa", ou "Porque faço o que está errado sem tentar". Nada corre por si a não ser morro abaixo. "Nenhum outro animal faz coisas que o ferem ou destroem e as faz por amor a si. Mas o homem as faz e nasce para fazêlas desde o nascimento. As tenras pereirazinhas são todas pereiras, não são macieiras, e os espinheiros são todos espinheiros, não parreiras e todos os descendentes do homem nascem com o mal na sua natureza". Na novela da Sra. Humphrey Ward, Robert Elsmere, representa a insossa escola dos filantropos. "Dê uma oportunidade ao homem", dizem eles, "dê um bom exemplo e um ambiente favorável e ele voltará a ser bom. A presença exterior do mal é que leva o homem ao mau caminho". Mas a acusação divina encontra-se em Rm. 8.7 - "a inclinação da carne é inimizade contra Deus". G. P. Fisher: "Sobre as idéias da religião natural, Platão, Plutarco e Cícero concordam no fato de que elas fazem parte da razão do homem, mas não obedecem à vontade dele, o que evidencia de modo mais convincente que a humanidade está em cisma consigo mesma e, por isso, vive depravada, decaída e incapaz de libertar-se a si mesma. A razão por que muitos moralistas falham e se amarguram e se irritam cada vez mais é que não levam em conta o seu estado de pecaminosidade".
A razão busca um princípio subjacente que reduzirá estes múltiplos fenômenos à unidade. Como somos compelidos a fazer referência aos comuns fenômenos físicos e intelectuais, também somos compelidos a referir estes fenômenos morais a uma natureza moral comum e achar nela a causa de sua oposição universal, espontânea e autocontroladora a Deus e sua lei. A única solução possível do problema é que a natureza comum da humanidade é corrupta ou, em outras palavras, que a vontade humana, antes da sua vontade individual, dá as costas para Deus e estabelece a sua autogratificação. Esta direção inconsciente e fundamental da vontade, fonte do verdadeiro pecado, deve também ser pecado; e deste pecado todos são participantes. Os maiores pensadores do mundo têm certificado a correção desta conclusão. Ver a doutrina de Aristóteles sobre a "derrocada" descrita na
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Introdução de Chase à Ética de Aristóteles xxxv e 32 - "A respeito da virtude moral, o homem está numa ribanceira. Seus apetites e paixões gravitam para baixo; a razão o atrai para cima. Ocorre o conflito. Um passo acima e a razão ganha o que a paixão perde; mas, se caminha para baixo, ocorre o inverso. A tendência, naquele caso destina-se à inteira sujeição da paixão; neste último caso, destina-se à inteira supressão da razão. A inclinação terminará em direção ao alto num nível superior em que os passos do homem serão seguros ou para baixo em irreversível mergulho no precipício. O autocontrôlé contínuo conduz ao autodomínio absoluto; o insucesso contínuo conduz à total ausência de autocontrôlé. Mas tudo o que podemos ver é o declínio. Ninguém vive sempre na ηρεμία do clímax, nem podemos dizer que alguém caiu no abismo de modo irrecuperável. Como é que os homens constantemente agem contra as suas próprias convicções a respeito do que é correto e suas determinações anteriores de seguir o que é certo é um mistério que Aristóteles discute, mas deixa sem explicação. "Compare a passagem na Ética, 1.11 - 'Neles [nos homens] está claro, além da Razão, algum outro princípio inato (πεφυκός) que luta e torce contra a Razão. ... Há na alma também algo além da Razão que se opõe e vai contra ela'. - Compare esta passagem com Paulo, em Rm. 7.23 - 'Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros'. Mas, como Aristóteles não explica a causa, do mesmo modo não sugere nenhuma cura. Só a revelação pode dar conta da doença, ou assinalar o remédio". Wuttke, Christian Ethics, 1.102 - "Aristóteles faz a significativa e quase surpreendente observação, que o caráter que se tornou mau através da culpa bem pouco se pode expelir por simples vontade, do mesmo modo que a pessoa que adoeceu por sua própria culpa pode sarar somente por sua vontade; desde que se tornou mau ou doente, não comporta mais à discrição deixar de ser assim; uma vez lançada, não se pode recapturá-la da sua fuga; e assim é com o caráter que se tornou mau". Ele não revela "como se pode reformar o caráter; embora não admita que o mal tenha outro efeito além do individual, não conhece nada da solidariedade do referido mal na sua autopropagação, em raças moralmente degeneradas" (Ética de Nicéia, 3.6,7; 5.12; 7.2,3; 10.10). A boa natureza, diz ele, "evidentemente não está
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na nossa força, mas, em certo sentido, na causalidade divina conferida ao verdadeiramente feliz". Platão fala daquele "animal selvagem cego, policéfalo, de tudo que é mau e que existe dentro de ti". Repudia a idéia de que os homens são naturalmente bons e diz que, se isto fosse verdade, para torná-los santos bastaria apenas isolá-los desde os primeiros anos, para que não houvesse possibilidade de sofrerem a corrupção causada pelos outros. República, 4 (Tradução de Jowett, 11.276) - "Há uma parte da alma que se levanta contra a alma inteira". Mênon, 89 - "A causa da corrupção procede de nossos pais de modo que nunca abandonamos o seu mau procedimento, ou livramo-nos do estigma dos seus maus hábitos". Horácio, Epístolas, 1.10 - "Naturam expellas furca, tamem usque recurret (Com a forca tu expeles a natureza, entretanto a qualquer momento ela volta rapidamente)". Provérbio latino: "Nemo repente fuit turpissimus" (Ninguém num piscar de olhos se torna ignóbil)". Pascal: Nascemos injustos; porque cada um tende para si mesmo, e a inclinação para si é o princípio de toda a desordem". Em seus Princípios Metafísicos da Moral Humana, Kant fala que "há um princípio mau lado a lado com o bom, ou o mal radical da natureza humana", e a "disputa entre os princípios do bem e do mal pelo controle do homem". "Panteísta como era, Hegel declarava que o pecado original é a natureza de todo ser humano, todo ser humano começa com ela" (H. B. Smith). Shakespeare, Timon of Athens, 4.3 - "Tudo é oblíquo: Não há nada plano na nossa maldita natureza, A não ser vilania direta". Tudo está Bem, 4.3 -"Quão fracos somos em nós mesmos! Somos simplesmente traidores de nós mesmos". Medida por Medida, 1.2 - "Como os ratos que comem vorazmente o próprio veneno, nossas inclinações correm atrás de um mal de que estão sedentas e, quando bebem, morremos" (Ed. da Abril Cultural 1978, vol. 2, p. 122). Hamlet, 3.1 - "A virtude não pode inocular nossa antiga origem genética, mas iremos saboreá-la". Labor Perdido do Amor, 1.1 - "Todo homem nasce com seu afeto, Não por uma força controlada, mas pela graça especial". Conto do Inverno, 1.2 - "Se não tivéssemos respondido ao alto Céu, não teríamos culpa; a imposição torna clara nossa Herança" - isto é, se estivéssemos prevenidos de nossa conexão hereditária com Adão não nos
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teríamos tornado culpados. Sobre a teologia de Shakespeare, ver A. H. Strong, Great Poets, 195-211 - "Se alguém pensa que é irracional crer na depravação, na culpa e na necessidade da redenção sobrenatural do homem, deve também estar preparado para dizer que Shakespeare não compreendia a natureza humana". T. S. Coleridge, Omniana, no final: É um artigo fundamental do cristianismo que eu sou uma criatura ... que em minha vontade existe má base que precede qualquer ato assinalável ou momento da minha consciência; Nasci uma criança irada. Este temível mistério eu simulo não entender. Nem mesmo posso conceber tal possibilidade; mas sei que ela é real... e o que é real é possível". Um cético que não transmitiu aos filhos nenhuma educação religiosa com vistas a deixar cada um, na maturidade, escolher uma crença por si mesmo, reprovava Coleridge, por deixar que em seu jardim crescessem ervas daninhas; Coleridge retrucou que ele não pensava estar certo prejudicar o solo em favor de rosas e morangos. Van Osterzee: A chuva e o sol fazem crescer mais rapidamente as ervas daninhas, mas não as tiraria do solo se as sementes não estivessem ali. Tennyson, Two Voices: "Ele acha uma baixeza no seu sangue não poder fazer o que deveria Em tão estranha batalha contra o que é bom". Robert Browning, Gold Hair, uma Lenda de Pórnico: "A fé que lançou categoricamente o seu dardo Na cabeça de alguém que jazia tombado ensinou o Pecado Original, corrupção do coração do ser humano". Taine, O Antigo Regime: "Cada um de nós abriga em repouso ou algemado, mas sempre vivo, no recesso no nosso coração, o selvagem, o bandoleiro, o maluco". Alexander Maclaren: "Uma grande massa de ervas daninhas numa lagoa de águas estagnadas arrasta-se para você quando você draga um filamento". Retire um pecado e ele trará consigo toda a emaranhada natureza do referido pecado. Thompson, Chief Justice, de Pensilvânia: "Se os pregadores tivessem sido juristas antes de entrarem para o ministério, conheceriam e diriam muito mais a respeito do estado de depravação do coração humano do que o fazem. A velha doutrina da depravação total é a única coisa que pode explicar a falsidade, a desonestidade, a licenciosidade e os assassinatos tão freqüentes no mundo. A educação, o refinamento e até mesmo o elevado talento não podem sobrepor a inclinação para o mal existente no coração e que se apossou até das fibras da nossa natureza".
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SEÇÃO IV - ORIGEM DO PECADO NO ATO PESSOAL DE ADÃO
A razão não lança luz sobre a origem desta natureza pecaminosa comum à raça e que ocasiona todas as verdadeiras transgressões. As Escrituras, contudo, referem-se à origem desta natureza como um ato livre dos nossos primeiros pais através do qual eles viraram as costas para Deus, corromperam-se e trouxeram para si as penalidades da lei. Chandler, Spirit of Man, 76 - "É inútil tentar separar a vida moral da cristandade do fato histórico no qual ela está arraigada. Por cordialidade podemos assentir com esta afirmação de que o valor todo dos eventos históricos encontra-se na sua significação histórica ideal. Em muitos casos, porém, parte do significado daquela idéia acha-se no fato de que ela tem sido apresentada na história. O valor e interesse da conquista da Grécia sobre a Pérsia está na significativa idéia da liberdade e da inteligência que triunfa sobre o poder despótico; porém, sem dúvida, uma parte, aliás muito importante, da idéia, encontra-se no fato de que se obteve tal triunfo num passado histórico, e no estímulo do presente com apoio no referido fato. Do mesmo modo, o valor da ressurreição de Cristo encontra-se na sua imensa significação moral, princípio basilar da vida; mas uma parte essencial da mesma significação é o fato de que alguém em quem a humanidade se resume e se expressa realmente opera o princípio e por isso, através dele confere-se o poder de realizá-lo a todo aquele que o recebe". Como para nós é importante saber que a redenção não é apenas ideal, mas real, assim também nos é importante saber que o pecado não é um acessório indispensável da natureza humana, mas teve um início histórico. Entretanto, nenhuma teoria a priori deve antecipar o nosso exame dos fatos. Em vista disso, vamos prefaciar nossa consideração do relato escriturístico, estabelecendo que o nosso ponto de vista sobre a inspiração permite-nos considerar inspirado o relato, mesmo quando mitológico ou alegórico. Como Deus pode empregar todos métodos de composição literária, assim também pode empregar todos métodos consistentes com a verdade para instruir a humanidade. George Adam Smith observa que os mitos e lendas do folclore primitivo são mais tarde os equivalentes intelectuais das filosofias e teorias do universo e que "em tempo algum a revelação se recusou a valer-se de
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tais concepções humanas para o investimento e transmissão das mais elevadas verdades espirituais". Sylvester Burnham: "Para o mestre de religião e moral a ficção e o mito ainda não perderam o seu valor. O que um conhecimento da sua própria natureza tem-se mostrado bom para o uso do homem, sem dúvida Deus também pode tê-lo achado. Não seria necessário afetar o valor da Bíblia se o escritor, ao empregar o mito ou a ficção para o seu propósito, supusesse que estava empregando a história. Só quando o valor da verdade do ensino depende da historicidade do fato citado torna-se impossível o emprego da ficção visando ao ensino". Ver vol. 1, p. 214 desta obra, que as citações de Denney, Studies in Theology, 218 e Gore em Lux Mundi, 356. Euripides: "Ó Deus de todas as coisas! infunde luz nas almas dos homens e, através dela, sejam eles capazes de saber qual é a raiz de que brotam todos os males, e quais os meios para evitá-los!"
I. O RELATO ESCRITURÍSTICO DA TENTAÇÃO Ε QUEDA EM GN. 3.1-7 1. Seu caráter geral não mítico ou alegórico, mas histórico Adotamos este ponto de vista pelas seguintes razões: - a) Não há nenhuma indicação no relato em si que não seja histórica. b) Como parte de um livro histórico, é de se supor que este também o seja. c) As Escrituras se referem mais tarde a ele como história verdadeira até mesmo nos pormenores. d) Características particulares da narrativa, tais como o lugar dos nossos pais no jardim e a fala do tentador na forma de uma serpente, são incidentes adequados à condição de infantilidade inocente e não tentada. e) Este ponto de vista de que a narrativa é histórica não impede de admitir que a árvore da vida e a do conhecimento fossem símbolos de verdades espirituais, conquanto ao mesmo tempo fossem realidades exteriores. Ver Jo. 8.44 - "Vós tendes por pai o diabo e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade. Quando profere mentira, fala do que lhe é próprio porque é
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mentiroso e pai da mentira"; 2 Co. 11.3 - "A serpente enganou Eva com a sua astúcia"; Ap. 20.2 – "o dragão, a antiga serpente, que é o diabo e Satanás". H. B. Smith, System, 261 - "Se a tentação e a vitória de Cristo sobre Satanás foram eventos históricos, não há nenhuma base para supor que a primeira tentação não o foi também". Cremos na unidade e suficiência da Escritura. Contudo, consideramos o testemunho de Cristo e dos apóstolos conclusivo a respeito da historicidade do relato em Gênesis. Admitimos uma superintendência na escolha do material pelo seu autor e o cumprimento da promessa de Cristo aos apóstolos de que eles seriam guiados na verdade. A doutrina do pecado apresentada por Paulo baseia-se tão manifestamente no caráter histórico da narrativa de Gênesis, que a negação de uma conduz naturalmente à do outro. John Milton escreve em sua Areopagita: "É da casca de uma maçã saboreada que o conhecimento do bem e do mal, como dois gêmeos ligados, saltou para o mundo. Ε talvez seja isso que tenha causado a queda de Adão, a saber, o conhecimento do bem e do mal". Ele deve ter aprendido a conhecer o mal como Deus o conhece - como algo possível, odioso e sempre rejeitado. Na verdade ele aprendeu a conhecer o mal como Satanás - tornando-o real e assunto de amarga experiência. O infantil e inocente homem encontrou o seu lugar adequado e a sua obra num jardim. Sem dúvida emprega-se a língua das aparências. Satanás pôde assumir a forma de um bruto e aparecer para falar através dele. Em todas as línguas, as histórias dos brutos falantes mostram que tal tentação é côngrua com a condição do homem primitivo. Os mitos asiáticos concordam em representar a serpente como emblema do espírito do mal. A árvore do conhecimento do bem e do mal é o símbolo do domínio justo de Deus e indica que tudo pertence a ele. Não é necessário supor que isto era conhecido antes da queda. Através dela o homem veio a conhecer o bem, com a sua perda; conhecer o mal com a amarga experiência; C.H.M.: "Conhecer o bem, sem o poder de praticá-lo; conhecer o mal, sem o poder de evitá-lo". Comentário Bíblico, 1.40 - A árvore da vida, é o símbolo do fato de que "se deve buscar a vida, não a partir de dentro, de si mesmo, com as próprias forças ou faculdades; mas a partir de fora, daquele que tem a vida em si mesmo".
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Como a água do batismo e o pão da Ceia do Senhor, apesar de não serem coisas comuns, são símbolos das maiores verdades, assim a árvore do conhecimento e a da vida são sacramentais. McIvaine, Wisdom of Holy Scripture, 99-141 — "As duas árvores representam o bem e o mal. A proibição é a declaração de que o homem por si mesmo não pode fazer distinção entre o bem e o mal e deve confiar na direção divina. Satanás estimulou o homem a discernir entre o bem e o mal através da sabedoria de si mesmo e, desta forma tornar-se independente de Deus. O pecado é a tentativa da criatura exercer o atributo divino do discernimento e escolha entre o bem e o mal por sua própria sabedoria. Em vista disso é o conceito próprio, a autoconfiança, a auto-afirmação, a preferência da sua própria sabedoria e vontade à sabedoria e vontade de Deus". Griffith-Jones, Ascent Through Christ, 142, sobre a árvore do conhecimento do bem e do mal - "Quando, pela primeira vez, o homem se viu frente a frente com a tentação consciente de fazer aquilo que estava errado, apoiava, por um lado, o fruto daquela árvore e o seu destino como ser moral, pendendo e tremendo na balança. Quando, pela primeira vez sucumbiu à tentação, desmaiou ante o remorso que lhe visitou o coração, naquele mesmo instante ele foi banido do Éden da inocência em que a sua natureza tinha estado, e fugiu da presença do Senhor". Com o primeiro pecado, ele partiu para o outro e descambou no curso do seu desenvolvimento.
2. O curso da tentação e a resultante queda Os estágios da tentação parecem ter sido os seguintes: a) Apelo da parte de Satanás aos inocentes apetites juntamente com um; sugestão que implicava a arbitrariedade de Deus limitando os meios de gratificação do primeiro casal (Gn. 3.1). O primeiro pecado consistia em Eva isolar-se e optar pela busca do seu próprio prazer sem considerar a vontade de Deus. Este egoísmo inicial consistiu no fato de que ela deu ouvidos ao tenta dor em vez de repreendê-lo ou fugir dele e exagerar a ordem divina em su; resposta (Gn. 3.3).
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Gn. 3.1 - "É assim que Deus disse: Não corneras de toda árvore do jardim?" Satanás dá ênfase à limitação, mas silencia a respeito da generosa permissão - "De toda árvore do jardim [menos uma] corneras livremente" (2.16). C.H.M. in loco: Admitir a pergunta 'Deus disse?'já é infidelidade positiva. Acrescentar à palavra de Deus é tão mau como retirar dela. À expressão 'Deus disse' segue-se imediatamente 'Certamente não morrereis'. Por em dúvida se Deus falou resulta em aberta contradição sobre o que Deus disse. Eva deixou a palavra de Deus ser contraditada só porque tinha abjurado a autoridade da referida palavra com prejuízo da sua consciência e do seu coração". A ordem era unicamente: "dela não corneras" (Gn. 2.17). Ao apresentar a diferença de autoridade que havia renunciado, Eva exagera a ordem dizendo: "Não come-reis dele, nem nele tocareis" (Gn. 3.3). Eis aqui um auto-isolamento, em lugar do amor. Matheson, Messages of the Old Religions, 318 - "Antes que a alma humana desobedecesse, sempre aprendeu a desconfiar. ... Antes de violar a lei existente, devia ter pensado que o Legislador tem ciúme das suas criaturas". Dr. C. H. Parkhurst: "A primeira pergunta na história humana foi feita pelo diabo e o ponto de interrogação ainda tem em si o rasto da serpente".
b) A negação da veracidade de Deus da parte do tentador acusandoo de ciúme e fraude do Onipotente, conservando suas criaturas em posição de ignorância e dependência (Gn. 3.4,5). Da parte da mulher seguiu-se uma positiva descrença e consciente e presunçoso acalento do desejo do fruto proibido como recurso para sua independência e conhecimento. Assim a descrença, ( orgulho, a cobiça surgiram de um espírito de auto-isolamento e busca de s mesmo e fixou-se nos meios de sua gratificação (Gn. 3.6). Gn. 3.4,5 – "Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal"; 3.6 - E, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela" - "aceitando assim a palavra de um Mestre em Mentiras em vez de receber a daquele que não mente" (John Henry Newman). Hooker, EccI. Polity, livro I - "Viver
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segundo a vontade de um homem tornou-se a causa da miséria de todos os homens". Godet, 1 Jo. 1.4 -"Nas palavras 'vida' e luz' é natural ver uma alusão à árvore da vida e à do conhecimento. Após ter comido daquela, o homem teria sido chamado a alimentar-se da segunda. João nos introduz à essência real destes fatos primordiais e misteriosos e dá-nos, neste verso, a filosofia do Paraíso". A obediência é o meio para conhecer e o pecado do Paraíso foi a busca da luz sem a vida; cf. Jo. 7.17 - "Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus, ou se falo de mim mesmo".
c) O tentador não mais necessitava de estimular o prosseguimento. Tendo envenenado a fonte, a correnteza naturalmente seria má. Porque o coração e os seus desejos tinham-se tornado corrompidos a disposição interior manifestou-se em atos (Gn. 3.6 – ‘comeu-o; e deu-o ao seu marido’ = que tinha estado com ela e compartilhado da sua escolha e anseio). Assim o homem caiu interiormente antes do ato exterior de comer o fruto proibido, - caiu em uma fundamental determinação pela qual ele fez a suprema escolha do eu em lugar de Deus. O pecado de natureza interior deu surgimento aos pecados dos desejos e os pecados dos desejos conduziram ao ato de transgressão (Tg. 1.15). Tg. 1.15 - "Depois, havendo concebido, dá à luz o pecado". Baird, Elohim Revealed, 388 - "A lei de Deus já havia sido violada; o homem caiu antes que o fruto tivesse sido arrancado, ou a rebelião tivesse sido assinalada. A lei requeria não só a obediência exterior, mas a fidelidade do coração e este se achava afastado antes que qualquer sinal indicasse a mudança". Partilharia ele da companhia de Deus, ou da esposa? Quando o índio perguntou ao missionário onde estavam seus ancestrais e este lhe disse que estavam no inferno, ele respondeu que queria ir ter com eles. Preferia o inferno com a sua tribo a ir ter com Deus no céu. De igual modo Safira teve oportunidade de romper com o seu marido, mas preferiu-o a Deus; At. 5.7-11. Philippi, Glaubenslehre: "Desse modo o homem tornou-se, semelhante a Deus, um estabelecedor de leis para si mesmo. A sua queda consistiu na
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sua auto-elevação a um nível de divinização de si mesmo. A humildade própria de Deus para com a humanidade foi a restauração e a elevação. ... Gn. 3.22 Ό homem tornou-se como um de nós' na sua condição de atividade centrada em si mesmo; livrando-se, desta forma, da real semelhança com Deus, a qual consiste em ter o mesmo alvo que o próprio Deus. De te fabula narratur (a narrativa se refere a ti); esta é a condição não apenas de um ser, mas de toda a raça". Uma vez cometido, o pecado se propaga; sua semente está nele mesmo; os séculos de miséria e crime que se seguiram só têm mostrado que as infindas possibilidades do mal estão compreendidas naquele único pecado. Keeble: "Apenas uma gota do pecado vimos entrar nesta manhã e eis que, ao anoitecer, o mundo se afogou!" Farrar, Fall of Man: "O culposo desejo da mulher inflamou-se na irremediável corrupção do mundo".
II. DIFICULDADES EM CONEXÃO COM A QUEDA CONSIDERADAS COMO O ATO PESSOAL DE ADÃO
1. Como poderia cair um ser santo? Temos de reconhecer aqui a nossa impossibilidade de entender como a primeira emoção não santa podia ter achado lugar em uma mente estabelecida em condição privilegiada por Deus, nem como a tentação podia ter vencido uma alma em que não havia nenhuma propensão não santa a que pudesse apelar. O simples poder de escolha não explica o fato da escolha não santa O fato do desejo natural de uma gratificação sensitiva e intelectual não explica como este desejo veio a ser desordenado. Nem lança luz sobre a matéria para resolver a queda em um engano dos nossos primeiros pais da parte de Satanás. A inclinação deles para tal engano pressupõe a falta de confiança em Deus e alienação em relação a ele. Porque a queda da parte de Satanás deve ter sido não causada pela tentação externa é mais difícil explicar a queda de Adãc Podemos distinguir seis explicações incorretas sobre a origem do pecado: 1. Emmons: O pecado se deve ao efeito de Deus. - Deus operou o
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pecado no coração do homem. É o "sistema do exercício", essencialmente panteísta. 2. Edwards: O pecado se deve à providência de Deus. - Deus indiretamente causou o pecado ao apresentar os motivos. Tal explicação tem todos os defeitos do determinismo. 3. Agostinho: O pecado resulta do afastamento divino da alma do homem. Porém o pecado inevitável não é pecado e a acusação apóia-se em Deus, que retirou a graça necessária à obediência. 4. Pfleiderer: A queda resulta da pecaminosidade já existente no homem. Neste caso, a falta não se deve ao homem, mas a Deus, que fez o homem pecaminoso. 5. Hadley: O pecado se deve à insanidade moral do homem. Porém tal falha ética criada com o homem tornaria o pecado impossível. A insanidade é efeito do pecado, e não a causa. 6. Newman: O pecado se deve à fraqueza do homem. Não é algo negativo, mas positivo, incidente da finitude. Mas a consciência e a Escritura testificam que ele tanto é positivo quanto negativo; tanto oposição a Deus como inconformidade para com Deus. Emmons é realmente um panteísta: Diz ele: "Visto que Deus opera em todos os homens tanto o querer como o efetuar a seu bel-prazer, é tão fácil explicar a primeira ofensa de Adão como a de qualquer outro pecado. ... Não há nenhuma dificuldade sobre a queda de Adão do seu estado original de perfeição e pureza para um estado de pecado e culpa que, de qualquer maneira é peculiar. ... É consistente com a retidão moral de Deus produzir tanto exercícios pecaminosos como santos nas mentes humanas. Ele exerce uma influência positiva a fim de fazer os agentes morais atuarem, em cada caso da sua conduta, como lhes apraz. ... Há tão somente uma resposta satisfatória para a pergunta: De onde veio o mal? Ei-la: Veio da grande primeira causa de todas as coisas". Jonathan Edwards negava o poder de opor-se até mesmo ao primeiro pecado de Adão. Deus não foi a causa imediata daquele pecado, mas foi atuante na região dos motivos, embora não se percebesse tal ação. Freedom of the Will, 161 - "Era natural que a transação ocorresse para não parecer que Deus foi a sua fonte. Contudo, Deus pode, na verdade, em sua providência, dispor e permitir as coisas através das quais o evento, certa e infalivelmente, pode estar ligado a tal disposição e permissão"; Encyclopaedia Britannica, 7.690 - "Para Edwards, Adão tinha dois princípios: o natural e o sobrenatural. Quando Adão pecou, o princípio sobrenatural, ou
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divino, afastou-se dele e, assim, a sua natureza tornou-se corrupta, sem que Deus infundisse qualquer coisa má nela. Sua posteridade veio a estar totalmente sob o governo dos princípios naturais e inferiores. Mas isto resolve a dificuldade de tornar Deus o autor do pecado só através da negação deste, além do que destrói a distinção essencial de Edwards entre a capacidade natural e a moral". Edwards, sobre a on Trinity, ed. de Fisher, 44 - "O sol não causa trevas ou frio quando estes infalivelmente se seguem ao afastamento dos seus raios. O resultado do dispositivo de Deus não é um exercício positivo da sua parte". Shedd, Dogm. Theol., 2.50 - "Deus não retirou de Adão a sustentadora graça comum do Espírito ainda mesmo depois da transgressão". Para nós, o ato de Adão foi irracional, mas não impossível; para um determinista como Edwards, que sustentava que os homens apenas agiam conforme o seu caráter, o ato de Adão deve ter sido não só irracional, mas impossível. Em lugar nenhum Edwards mostra como, segundo os seus princípios, seria possível a queda de um santo. Pleiderer, Grundriss, 123 - "O relato da queda é a primeira aparição de uma pecaminosidade já existente e um exemplo típico do meio em que cada indivíduo se torna pecador. O pecado original é apenas a universalidade e origem do pecado. Não existe essa coisa de indeterminismo. A vontade pode surgir da falta de liberdade, e esta dos impulsos naturais, para a verdadeira liberdade espiritual, distinguindo-se apenas da lei que põe diante de si a real finalidade do ser. A oposição da natureza para com a lei revela uma força da natureza original que antecede a toda a autodeterminação. O pecado é a má inclinação do egoísmo por si mesmo voluntário, ausente da lei". Pfleiderer parece tornar esta pecaminosidade criada simultaneamente e sem a culpa porque procede de Deus. Hill, Genetic Philosophy, 288 – "A ampla discrepância entre o preceito e a prática produz o surgimento da concepção teológica de pecado, que, nas religiões inferiores é tão freqüente como a violação de alguma prescrição trivial de um princípio de ética. A presença do pecado, em contraste com o estado de inocência, ocasionou a idéia de uma queda ou lapso de uma condição de ausência de pecado. Isto não é incompatível com a derivação do homem a partir de um animal, que, antes de ter autoconsciência, pode ser considerado em estado de inocência. O senso e realidade do pecado são impossíveis aos animais. ... A existência do pecado, tanto na disposição inerente, como na forma pervertida da ação, pode ser explicada como sobrevivência da tendência animal na vida
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humana.... Pecado é distúrbio da vida em seu plano mais elevado com a introdução do inferior". Prof. James Hadley: "Todo homem é, em maior ou menor escala, um insano". Porém não devemos considerar o pecado como resultado da insanidade. Esta é que resulta do pecado. Contudo, ela uma enfermidade física - o pecado é uma perversão da vontade. John Henry Newman, Idea of University, 60 – "O mal não tem nenhuma substância própria. É apenas um defeito, o excesso, a perversão ou corrupção daquilo que tem substância". Agostinho parece às vezes favorecer este ponto de vista. Ele sustenta que o mal não tem nenhuma origem porque ele é não é positivo; é negativo. É tão somente um defeito, uma falha. Ilustra com o estado danoso de uma harpa desafinada. A. A. Hodge, Popular Lectures, 190, diz-nos que a vontade de Adão assemelhava-se a um violino afinado que, à mínima desatenção e negligência desafinou-se. Mas aqui devemos dizer com E. G. Robinson, Christian Theology, 124 - "O pecado explicado é o pecado defendido". Nada disso explica, antes lança sobre Deus a sua culpa, de ser direta ou indiretamente o seu causador.
Mas o pecado é um fato. Deus não pode ser o seu autor, quer por ter criado a natureza do homem de modo que o pecado fosse um incidente necessário do seu desenvolvimento, quer por afastar uma graça sobrenatural necessária para conservar o homem santo. A razão, portanto, não tem nenhum recurso além de aceitar a doutrina da Escritura de que o pecado originado na vontade livre do homem de revoltar-se contra Deus – ato de uma vontade que, apesar de inclinada para Deus, ainda não estava confirmada na virtude e estava sujeita a uma escolha contrária. Aposse original de tal força ao contrário parece ser a condição necessária da provação e desenvolvimento moral. Contudo, o exercício de tal força nunca pode ser explicado com base na razão, visto que o pecado é essencialmente a não razão. É um ato de arbitrariedade iníqua, cujo único motivo é o desejo de separar-se de Deus e considerar o eu supremo.
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O pecado é um "mistério da injustiça (2 Ts. 2.7), tanto no começo como no fim. Neander, Planting and Training, 388 - "Qualquer que explica o pecado anula-o". O poder que o homem tem de escolher o mal no princípio não prova que ele, tendo caído, tem por si mesmo igual poder de escolher permanentemente o bem. Porque o homem tem poder para lançar-se do alto de um precipício para baixo não se segue que tenha igual poder para transportar-se em sentido oposto. O homem caiu por voluntária resistência à operação de Deus. Cristo é em todos o que ele foi em Adão e todos os bons impulsos devem-se a ele. Visto que o Espírito Santo é a interiorização de Cristo, todos os homens estão sujeitos à sua atuação. Cristo não se afasta dos homens a não ser que estes se afastem dele e, como conseqüência, da atuação deles. John Milton faz o Onipotente proferir a resposta do pecado de Adão: "De quem é a falta? De quem, senão dele mesmo? Ingrato, teve de mim tudo o que podia ter; Eu o fiz justo e reto, suficiente para ficar em pé, embora livre para cair. Criei todas as Forças Etéreas, Todos Espíritos, tanto os que o sustentaram em pé, como os que o derrubaram; Livremente eles sustiveram os que ficaram em pé; e derrotaram os que caíram". A palavra "cussedness" (perversidade ou maldição) encaixa-se bem neste caso. O Standard Dictionary define-a como "1. Praga, miserabilidade, perversidade; 2. coragem resoluta, persistência: Ouviu-se a voz de Jim Bludsoe, e todos confiaram na 'cussedness' dele Ε sabiam que cumpriria a sua palavra'" (John Hae, Jim Bludsoe, estrofe 6). Não é a primeira, mas a última das definições a que melhor descreve o primeiro pecado. O mais completo e satisfatório modo de tratar a queda do homem em conexão com a doutrina da evolução encontrase em Griffith-Jones, Ascent Through Christ, 73, 240. Hodge, Essays and Reviews, 30 - "Há uma grande diferença entre o começo da santidade e o começo do pecado e há mais necessidade daquele do que deste. Um ato de obediência, se praticado por mero impulso de amor próprio, não é virtualmente um ato de obediência. Não é praticado com qualquer intenção de obedecer, pois o que é santo e não o pode, segundo a teoria, precede o ato. Mas o ato de desobediência, feito a partir do desejo da felicidade, é rebelião. Os casos são seguramente diferentes. Se, para agradar a mim mesmo, faço o que Deus manda, isto não é santidade; mas se, para agradar a mim mesmo, faço o que ele proíbe, isto é pecado. Além
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disso, nenhuma criatura é imutável. Embora criado santo, o gosto pelos prazeres santos pode ser vencido por uma tentação suficientemente insidiosa e poderosa e por um motivo egoístico ou sentimento estimulado na minha mente. Nem o caráter pecaminoso é imutável. Pelo poder do Espírito Santo, a verdade pode ser claramente apresentada e aplicada com eficácia na produção da mudança chamada regeneração; isto é, chamar à existência o gosto pela santidade de modo que a escolha se faz pela escolha em si e não como um recurso para a felicidade". H. B. Smith, System, 262 - "Ao entrarmos na experiência de Adão, o estado do caso em foco é o seguinte: Antes de ser dada a ordem, o estado era de amor sem se pensar no oposto: só havia o conhecimento do bem, embocar inconsciente: sabia-se que comer o fruto contrariava a ordem divina. A tentação suscitou o orgulho; o pecado consistia na sua realização. Não havia mudança. Não se tratava de uma escolha como um ato executivo, nem no seu resultado: o comer; mas na suprema escolha do amor ao mundo e ao eu, em lugar da devoção suprema a Deus. Foi a preferência imanente ao mundo; não o amor ao mundo seguindo a escolha, mas o amor ao mundo que é a própria escolha". 263 – Não podemos explicar a queda de Adão psicologicamente. Quando dizemos isto, queremos significar: Isto só se explica por si mesmo. Devemos aceitar o fato como o último e apoiarmo-nos nisto. É claro que não queremos dizer que isto não concorda com as leis da atuação moral - que isto é uma violação de tais leis; mas tão somente que não vemos o modo, que não podemos construí-lo por nós mesmos de uma forma racional. Difere de todos os outros similares da preferência última que conhecemos] a saber, a preferência imanente do pecador pelo mundo, no qual, sabemos que tem uma base antecedente tendendo para o pecado, e a regeneração do cristão, ou a preferência imanente de Deus, onde há uma influência externa, a ação operadora do Espírito Santo". 264 -"Devemos deixar a questão toda com a imanente preferência tendo como último fato o caso que não deve ser construído filosoficamente sobre a alma de Adão: devemos considerar aquela preferência uma escolha e um sentimento, não o sentimento como resultado de uma escolha, não uma escolha que é conseqüência de um sentimento, mas ambos juntos".
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Contudo, num aspecto particular, devemos discordar de H. B. Smith: Visto que o poder do movimento voluntário interior é o da vontade, devemos considerar a mudança do bem para o mal como uma escolha e só secundariamente um estado de afeição causado por ela. Só postulando um ato livre e consciente de transgressão da parte de Adão como um ato que tem para com o sentimento mau não a relação de efeito, mas de causa, atingimos, no começo do desenvolvimento humano, a base adequada à responsabilidade e culpa de Adão e da raça.
2. Como poderia Deus, com justiça, permitir a tentação satânica?
Nesta permissão vemos não a justiça, mas a beneficência. a) Porque Satanás caiu sem tentação exterior é provável que a provação do homem tenha sido substancialmente a mesma coisa, ainda que não tivesse havido um Satanás para tentá-lo. Os anjos não têm natureza animal que obscureça a visão; eles não podem sofrer a influência dos sentidos; mas foram tentados e caíram. Como Satanás e Adão pecaram sob a melhor das circunstâncias possíveis, podemos concluir que a raça humana teria cometido pecado com a mesma certeza. A única pergunta na época da criação deles, portanto, é como se modificam as condições de modo a preparar o caminho para o arrependimento e o perdão. Eis as condições: 1. um corpo material - o que significa restrição, limitação, necessidade de autocontrôlé; 2. infância - o que significa desenvolvimento, deliberação sem nenhuma memória do primeiro pecado; 3. relação paterna - reprimindo a vontade da criança e ensinando a submissão à autoridade.
b) Neste caso, contudo, a queda do homem talvez tenha sido exterior o que ora constitui sua simples circunstância mitigadora. O pecado originado por si mesmo teria feito o próprio homem um Satanás. Mt. 13.28 - "Um inimigo é quem fez isso". "Deus permitiu que Satanás dividisse a culpa com o homem, de modo que este pudesse ser salvo do desespero". Ver Trench, Studies in the Gospels, 16-29. Mason, Faith of the
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Gospel, 103 - "Por que não se fez a árvore exteriormente repulsiva? Porque só o abuso daquilo que é positivamente bom e desejável poderia atrair Adão ou constituir-se verdadeira tentação".
c) Como, em conflito com a tentação, é vantajoso objetivar o mal sob a imagem da carne corruptível, assim é vantajoso enfrentá-lo como incorporado em um espírito pessoal e sedutor. O corpo humano, corruptível e perecível como é, fornece-lhe a ilustração e lembrança da condição da alma a que o pecado o reduziu. A carne, com os seus fardos e dores é, portanto, sob Deus, um auxílio para o nítido entendimento e vitória sobre o pecado. Por isso foi vantajoso para o homem ter a tentação limitada somente a uma voz exterior. Podemos falar da influência do tentador, como Birks, Difficulties of Belief, 101, fala da árvore do conhecimento do bem e do mal: "A tentação não depende da árvore. De qualquer modo ela ocorreria. A árvore foi um tipo no qual Deus resumiu as possibilidades do mal, de modo a destacá-las da vastidão ilusória e estabelecer conexão entre elas e a advertência definida e palpável, a fim de mostrar ao homem que apenas uma das múltiplas atividades do espírito foi proibida; que Deus tem direito a tudo e pode proibir tudo". A originalidade do pecado consiste no seu mais fascinante elemento. Fornece uma ilimitada ordem à imaginação. Bem fez Lutero em lançar o tinteiro contra o diabo. Eis a vantagem de localizá-lo. A concentração dos poderes humanos sobre uma oferta definida do mal ajuda-nos a entendê-lo e aumenta a nossa disposição para resistir-lhe.
d) Tal tentação não tem em si nenhuma tendência para desgarrar a alma. Se a alma for santa, a tentação só pode confirmá-la na virtude. Só a vontade má, por si mesma determinada contra Deus, pode tornar a tentação em ocasião para a ruína. Como o calor do sol não tem nenhuma tendência para secar a planta arraigada no fundo e úmido solo, antes causa o aprofundamento maior das raízes e fixa-as ainda mais, também a tentação não tem em si a tendência de perverter a alma. Apenas a semente que "caiu sobre os pedregais, onde
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não havia terra" (Mt. 13.5,6) "vindo o sol, queimou-se"; e o nosso Senhor atribui esta falha, não ao sol, mas à falta de raiz e terra; "porque não tinha raízes", "porque não tinha terra funda". A mesma tentação que ocasiona a ruína do falso discípulo estimula o crescimento vigoroso da virtude do verdadeiro cristão. Estabeleça-se um contraste entre a tentação de Adão e a de Cristo. Adão tinha tudo o que pleiteava de Deus; o jardim e seus deleites, enquanto Cristo tinha tudo contra si; o deserto e as privações. Mas Adão confiou em Satanás e Cristo em Deus; o resultado é que aquele caiu e este venceu. C. H. Spurgeon: Ό mar todo fora do navio não causa dano enquanto a água não penetra nele e enche-lhe o porão. Portanto, é claro que o maior perigo é o interno. Todos os demônios do inferno e todos os tentadores da terra não nos podem ferir se não houver corrupção dentro da nossa natureza. A faísca voará sem dano se não houver estopim. O nosso coração é o nosso maior inimigo; eis o ladrãozinho nascido em casa. Senhor, salvame do homem mau; salva-me de mim mesmo". Lyman Abbott: "A zombaria do bonzinho se justifica; para ele trata-se de inocência, não de virtude; o menino nunca faz algo errado porque nunca faz o que é inútil no mundo.... O pecado não ajuda o desenvolvimento; é um embaraço. O auxílio está na redenção; esta é um recurso indispensável". E. G. Robinson, Christ. Theology, 123 - "No mau sentido, a tentação e a queda da inocência não são mais necessárias à perfeição do primeiro homem que o casamento do caráter o é para a sua plenitude". John Milton, Areopagitica: "Muitos há que se queixam da providência divina quanto ao sofrimento por causa da transgressão de Adão. Ó línguas tolas! Quando Deus deu o raciocínio a Adão, deu-lhe a liberdade de escolher, pois razão é tão somente escolha; se ele tivesse sido apenas um Adão artificial, tal o seria em seus movimentos (marionete)". Robert Browning, The Ring and Book, 204 (Pope, 1183) - "Tentação aguda? Graças a Deus pela segunda vez! Por que vem a tentação apenas para o homem encontrar Ε domar e fazer curvar sob os seus pés, e ser posto no pedestal do triunfo? Orar 'Não nos induzas à tentação, Senhor'? Sim, mas tu, cujos servos são intrépidos, conduze tais tentações pela cabeça e pelos cabelos, Dragões relutantes, até ao que ousa lutar, e ter louvor".
Teologia Sistemática (Strong) 1163 3. Como poderia, com justiça, uma pena tão grande estar em conexão com uma ordem tão insignificante? A esta pergunta podemos responder: a) Tão leve ordem apresentava o melhor teste do espírito de obediência. Cícero: "Parva res est, at magna culpa (o motivo é ínfimo, mas a culpa é grande)". A persistente desobediência do filho em um só respeito à ordem da mãe mostra que em todos os outros seus atos de aparente obediência nada há que demonstre o amor pela mãe, mas por si mesmo; em outras palavras, mostra que ele não possui o espírito de obediência em um só ato. S.S. Times: "Trivialidades só o são para os triviais. Desperte para a significação do insignificante! porque você está num mundo que pertence não só ao Deus do infinito, mas também ao do infinitesimal".
b) A ordem exterior não foi arbitrária nem insignificante em sua substância. Foi uma concreta apresentação à vontade humana da reivindicação de Deus ao eminente domínio ou senhorio absoluto. John Hall, Lectures on the Religious Use of Property, 10 - "Às vezes, acontece que os latifundiários querem legar o seu uso a outros, sem alienar a terra, impor renda nominal - um rendimento integral, cuja passagem reconhece o recebedor, ou o ocupante como locatário. Isto se entende em todas as terras. Em muitas negociações inglesas, três medidas de cevada, um capado gordo, ou um xelim é a avaliação que reconhece permanentemente os direitos do senhorio. Deus ensinou aos homens, por meio da árvore proibida, que ele é o senhor e o homem o ocupante. Selecionou a matéria da propriedade a fim de servir de teste da obediência do homem, sinal exterior e sensível da retidão do coração para com Deus; quando o homem estendeu a sua mão e comeu, negou o senhorio divino e afirmou o seu próprio senhorio. Nada restava senão lançá-lo fora".
c) A sanção ligada à ordem mostra que o homem não ignora seu significado e importância.
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Gn. 2.17 - "no dia em que dela comeres, certamente morrerás". Cf. Gn. 3.3 - "árvore que está no meio do jardim"; ver também Dodge, Christian Theology, 206, 207 - "A árvore ocupava o centro; o mandamento era centro. A escolha estava entre a árvore da vida e a árvore da morte; entre o eu e Deus, tomando uma e rejeitando a outra".
d) O ato da desobediência, portanto, foi a revelação de uma vontade totalmente corrompida e alienada de Deus - entregue à ingratidão, à descrença, à ambição e à rebelião. O motivo da desobediência não foi o apetite, mas a ambição de ser como Deus. O ato exterior de comer o fruto proibido foi apenas o vértice da cunha, atrás do qual se encontra a massa toda – a determinação fundamental de isolar-se e buscar o prazer pessoal sem considerar Deus e a sua lei. O homem, sem a convicção do pecado, agarra-se a uma paixão ou simples plano, apenas semiconsciente do fato de que a oposição a Deus em uma coisa é oposição total.
III. CONSEQÜÊNCIAS DA QUEDA NO QUE RESPEITA A ADÃO 1. Morte – Esta morte era dupla. Ela era parcialmente A) Física, ou separação da alma em relação ao corpo. – As sementes da morte, naturalmente implantadas na constituição do homem, começaram a desenvolver-se no momento em que o acesso à árvore da vida lhe foi negado. A partir daquele momento o homem tornou-se uma criatura mortal. Num verdadeiro sentido, a morte começou de uma vez. A ela pertencem as dores que o homem e a mulher sofreriam. O fato de que a existência terrena do homem não terminou de uma vez deveu-se à deliberação da redenção de Deus. "A lei do espírito de vida "(Rm. 8.2) começou a operar desde aquele instante e a graça começou a contrapor-se
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aos efeitos da Queda. Cristo "aboliu a morte" (2 Tm. 1.10), afastando o seu terror e tornando-a o portal do céu. Ele a destruirá totalmente quando, na ressurreição dos mortos, os corpos dos santos se tornarem imortais. William A. Hammond, seguindo um cientista francês, declara que não há nenhuma razão em um sistema físico normal, para o homem viver para sempre. Se nos lembrarmos de que a vida não é combustível, mas fogo, tornase evidente que a morte não é uma necessidade física. Weismann, Heredity, 8, 24, 72, 159 - "O organismo não deve ser considerado como um amontoado de matéria combustível, que se reduz totalmente a cinzas em certo tempo, cuja distância é determinada pelo seu tamanho e pela proporção em que ela queima; mas deve ser comparada ao fogo, que o vigoroso combustível pode aumentar continuamente e que queima rápida ou vagarosamente, pode continuar queimando na medida da necessidade. ... A morte não é uma necessidade primordial, mas tem sido aceita em segundo plano, como uma adaptação. ... Os organismos unicelulares, desenvolvendose através da fissão, em certo sentido possuem imortalidade. Nenhuma ameba jamais perdeu a sua ascendência biológica com a morte. ... Cada indivíduo vivo é muito mais velho que a humanidade e é quase tão velho quanto a própria vida.... A morte não é um atributo essencial à matéria viva". Se considerarmos primordialmente o homem como um espírito, a possibilidade da ausência da morte é total. Deus vive desde a eternidade e o futuro organismo físico do justo não terá em si nenhuma semente da morte. O homem pode ter sido criado sem ser mortal. Tornou-se mortal devido ao pecado previsto. Consideremos o corpo simplesmente como a energia constante de Deus e veremos que não há nenhuma necessidade inerente da morte. Denney, Studies in Theology, 98 - "Há quem diga que o homem deve morrer porque ele é um ser natural e o que pertence à natureza pertence a ele. Porém afirmamos o contrário; que ele foi criado um ser sobrenatural, com preponderância sobre a natureza, de tal modo relacionado com Deus a ponto de ser imortal. A morte é uma intromissão que, ao fim, será abolida". Chandler, Spirit of Man, 45-47 - "O primeiro estágio da queda foi a desintegração do espírito relativa ao corpo e à mente; o segundo foi a escravização da mente ao corpo".
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Alguns escritores recentes, contudo, têm negado que a morte seja uma conseqüência da queda não no sentido de que o medo da morte no homem resulta do seu pecado. Newman Smith, Place of Death in Evolution, 19-22, na verdade, afirma o valor e propriedade da morte como elemento normal do universo. Ele opõe às doutrinas de Weismann as conclusões de Maupas, biólogo francês, que seguiu os infusórios através de seiscentas gerações, mas, por fim, o germe unicelular se enfraquece e morre. A reprodução assexuada deve ser complementada pela conjugação mais elevada, o encontro e a tendência do conteúdo das duas células. Isto é apenas ocasional, mas necessário à permanência da espécie. O isolamento é a morte final. Newman Smith acrescenta que a morte e o sexo aparecem juntos. Quando o sexo entra para enriquecer e diversificar a vida, tudo o que não apresenta vantagem morre. A sobrevivência do mais capaz se faz acompanhar da morte daquele que não se desenvolve. A morte é algo secundário – conseqüência da vida. Uma forma viva adquire força dando a sua vida em favor de outrem. Morre para que a sua descendência possa sobreviver em mais elevada forma. A morte faz com que a vida continue e se desenvolva. Ela não dá um basta à vida. Torna-se uma vantagem para a vida como um todo a fim de que algumas formas primitivas sejam deixadas à beira do caminho e pereçam. Devemos o nosso nascimento humano à morte na natureza. A terra que está diante de nós morre para que vivamos. Somos os filhos vivos de um mundo que morre por nós. A morte é o meio de vida, da crescente especialização da função. Algumas células nascem para darem a sua vida como sacrifício em favor do organismo a que pertencem. Conquanto consideremos o ponto de vista de Newman Smith uma explicação engenhosa e de valor sobre os resultados incidentais da morte, não vemos nele uma explicação da origem da morte. Deus conduziu a morte para o bem e não podemos concordar muito com a exposição de Smith. Mas parece-nos totalmente impossível e sem provas que esse bem poderia ser obtido só através da morte. A biologia nos mostra a impossibilidade de outros métodos de reprodução e que a morte é um incidente e não um requisito primordial ao desenvolvimento. Consideramos a teoria do Dr. Smith tão incompatível com as representações escriturísticas sobre a morte como conseqüência do pecado, sinal de desagrado de Deus, meio de disciplina da queda, destinada a completar a abolição quando o próprio pecado se exterminar. Contudo, reservamos a prova completa de que a morte física é
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parte da pena do pecado ao discutirmos as Conseqüências do Pecado de Adão à Posteridade.
Mas a morte foi também, e principalmente, B) Espiritual, ou separação da alma em relação a Deus. - Isto inclui: a) Negativamente, a perda da semelhança moral com Deus, ou a subjacente tendência de toda a sua natureza em relação a Deus o que constitui a sua retidão original. b) Positivamente, a depravação de todas as forças que, em sua ação unida com relação à verdade, chamamos natureza moral e religiosa do homem; ou, em outras palavras, o declínio do seu intelecto, a corrupção dos seus sentimentos e a escravização da sua vontade. Procurando ser um deus, o homem tornou-se escravo; procurando independência, deixou de ser dono de si mesmo. Outrora o seu intelecto era puro; ele tinha suprema consciência de Deus e via tudo sob a luz de Deus. Agora tem suprema consciência de si e vê tudo afetado pelo eu. Esta autoconsciência – quão diferente é da vida objetiva dos primeiros apóstolos, de Cristo e de cada alma amorosa! Outrora os sentimentos eram puros; o seu amor supremo concentrava-se em Deus e o mais subordinava à vontade dele. Agora ele ama supremamente o eu e é dirigido pelos sentimentos desordenados para com as criaturas que ministram a gratificação egoística. O homem nada faz para agradar a Deus porque não tem o amor necessário a toda a verdadeira obediência. G. F. Wilkin, Control in Evolution, mostra que a vontade pode iniciar uma involução que reverte o curso normal do desenvolvimento do homem. Primeiro vem o ato e depois o hábito de render-se ao animalismo; depois a subversão da fé na verdade e no bem; depois a vitória do mal; depois a transição da má disposição e tendências à posteridade. Tal subversão da vontade racional através da má escolha ocorre bem cedo; na verdade, com o primeiro homem. Toda a história humana tem sido um conflito entre estas duas evoluções antagônicas, ascendentes e descendentes. Acima dos fenômenos morais, predominam os biológicos. Nenhum ser humano escapa à transgressão da lei da natureza evolutiva. Há um amortecimento moral e um resultante torpor. A vontade racional deve ser restaurada antes que o
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homem ande retamente outra vez. O homem deve estar comprometido com uma verdadeira vida; a partir daí, com a restauração dos outros com vistas à mesma vida; a seguir, deve haver cooperação com a sociedade; esta obra deve estender-se aos limites da espécie humana. Mas isto só é praticável e racional quando se mostra que o desdobrável plano do universo destinou a justiça a um futuro incomparavelmente mais desejável que o dos ímpios; em outras palavras, a imortalidade é necessária à evolução. "Se a imortalidade é necessária à evolução, então ela se torna científica. Jesus tem autoridade e poder onipresente bem antes da evolução. Ele impõe aos seus seguidores a mesma missão evolutiva normal que o enviou ao mundo. Organiza-os em igrejas. Ensina uma evolução moral da sociedade através dos esforços voluntários dos seus seguidores unidos. Eles são a 'boa semente ... os filhos do reino' (Mt. 13.38). O teísmo faz uma tentativa definida de opor-se ao mal da involução, tentativa esta que se justifica pelos resultados. O Cristianismo é científico 1) ao satisfazer as condições do conhecimento: a persistente e abrangente harmonia dos fenômenos e a interpretação de todos os fatos; 2) tem como alvo a regeneração do mundo; 3) em seus métodos, adaptando-se ao homem como um ser ético capaz de ilimitado progresso; 4) em sua concepção de sociedade normal como os pecadores que se unem para auxiliarem-se mutuamente na dependência de Deus e conquistar para si o reconhecido laço ético essencialíssimo. Esta doutrina harmoniza ciência e religião, revelando nova espécie de controle que marca o mais elevado estágio da evolução; mostra que a religião do Novo Testamento é essencialmente científica e as suas verdades resistem à verificação prática; o cristianismo não é uma qualquer igreja em particular, mas consiste nos ensinos bíblicos; é o verdadeiro sistema de ética e deve ser ensinado em instituições públicas; que, finalmente, a evolução cósmica depende da sabedoria e vontade do homem, do Deus imanente que opera na humanidade finita e redimida".
Por fim, o homem não mais fez Deus o fim da sua vida; ao invés disso, escolheu a si mesmo. Conquanto ele tenha retido o poder de autodeterminação nas coisas subordinadas, perdeu aquela liberdade que consistia no poder de escolher Deus como alvo final e tornou-se agrilhoado por uma inclinação fundamental de sua vontade para o mal.
Teologia Sistemática (Strong) 1169 As intuições da razão anormalmente se obscureceram porque tais instituições, até onde se ligam à moral e à verdade religiosa, condicionam ao estado justo dos sentimentos; e – como resultado necessário do obscurecimento da razão – a consciência, que, como o judiciário normal da alma, decide com base na lei dada pela razão, tornou-se perversa em suas deliberações. Contudo, a incapacidade de julgar, de agir corretamente, visto que era uma incapacidade moral brotada da vontade, era em si mesma odiosa e condenável. Ver Philippi, Glaubenslehre, 3.61-73; Shedd, Sermons to the Natural Man, 202-230, esp. 205 - "Somos responsáveis por qualquer coisa que brota da vontade. A incapacidade do homem amar a Deus supremamente resulta da sua intensa vontade própria e do seu amor próprio e por isso a impotência é uma parte e um elemento do seu pecado e não uma desculpa". Ε ainda vem a pergunta: "Adão, onde estás?" (Gn. 3.9) diz Baldwin "1) não se refere à localização física, mas à sua condição moral; 2) não de ameaça de justiça, mas de amoroso convite para a volta e para o arrependimento; 3) não apenas a Adão como indivíduo, mas à humanidade toda, que ele representa". Dale, Ephesians, 40 - "Cristo é o eterno Filho de Deus; e o primeiro e principal propósito da graça divina é que a humanidade toda deve compartilhar da sua vida e filiação; através de Cristo todos os homens erguem-se a um mais elevado nível do que o herdado na criação; devem ser participantes da natureza divina" (2 Pe. 1.4) e compartilhar da justiça e gozo divinos. Ou melhor, a raça, na verdade, foi criada em Cristo; para que pudesse em Cristo herdar a vida e a glória de Deus. O propósito divino foi contrariado e obstruído e parcialmente derrotado pelo pecado humano. Porém cumpriu-se em todos os que estão 'em Cristo' (Ef. 1.3)".
2. Exclusão positiva e formal da presença de Deus Isto incluía: a) A cessação daquele relacionamento familiar do homem com Deus e a colocação de barreiras entre o homem e o seu Criador (querubim e sacrifício).
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Embora Deus tenha punido Adão e Eva, ele não os amaldiçoou como fez com a serpente. A expulsão deles para que não comessem da árvore da vida tanto é matéria de benevolência como de justiça a fim de impedir a imortalidade do pecado.
b) Banimento do jardim, onde Deus tinha especialmente manifestado a sua presença. – O Éden era uma clareira reservada, como tinha sido o corpo de Adão, para mostrar o que seria o mundo sem pecado. Esta exclusão positiva da presença de Deus, com a tristeza e a dor que envolvia, pode ter pretendido ilustrar ao homem a natureza da morte eterna de que ele agora necessitava buscar livramento. Nos portais do Éden parece ter havido uma manifestação da presença de Deus através do querubim, o que faz daquele lugar um santuário. Cairn e Abel trouxeram oferta "ao Senhor" (Gn. 4.3,4) e se diz que, quando Caim fugiu, "saiu da presença do Deus" (Gn. 4.16).
SEÇÃO V – ATRIBUIÇÃO DO PECADO DE ADÃO À SUA POSTERIDADE Já vimos que todos seres humanos são pecadores; que todos são por natureza depravados, culpados e condenáveis; e que a transgressão dos nossos primeiros pais, com relação à raça humana, foi o primeiro pecado. Temos ainda a considerar a conexão entre o pecado de Adão e a depravação, culpa e condenação da raça. a) As Escrituras ensinam que a transgressão dos nossos primeiros pais constituiu pecadora a sua posteridade (Rm. 5.19 – "pela desobediência de um homem muitos foram constituídos pecadores"), de modo que o pecado de Adão é imputado, considerado, ou aplicado a cada membro da raça de que ele é o germe e cabeça (Rm. 5.16 - "o juízo veio de uma só ofensa para condenação"). É por causa do pecado de Adão que nascemos depravados e sujeitos às penas (Rm. 5.12 - "por um homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte"; Ef. 2.3 - "por
Teologia Sistemática (Strong) 1171 natureza filhos da ira"). Duas questões demandam resposta, - primeira, como podemos ser responsáveis por uma natureza depravada que pessoal e conscientemente não originamos; e, em segundo lugar, como Deus pode, com justiça, acusar-nos do pecado do primeiro pai da raça. Tais perguntas são substancialmente as mesmas e as Escrituras dão a verdadeira resposta ao problema quando declaram que "em Adão todos morrem" (1 Co. 15.22) e "a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram" quando "por um homem o pecado entrou no mundo" (Rm. 5.12). Em outras palavras, o pecado de Adão é a causa e base da depravação, culpa e condenação de toda a sua posteridade, simplesmente porque Adão e sua posteridade são um e, em virtude de sua unidade orgânica, o pecado de Adão é o pecado da raça. Amiel diz que "a concepção de pecado e da sua cura fornece a melhor medida da profundidade de qualquer doutrina religiosa". Já vimos que pecado é um estado; é um estado da vontade; um estado egoístico da vontade; um estado egoístico da vontade inata e universal; um estado egoístico da vontade inata e universal em razão do livre ato do homem. Ligando esta discussão às doutrinas teológicas anteriores, passamos aos seguintes procedimentos: 1. A santidade de Deus é a pureza da natureza. 2. A lei de Deus demanda a pureza da natureza. 3. O pecado é a natureza impura. 4. Todo homem tem esta natureza impura. 5. Adão originou esta natureza impura. Nesta seção queremos acrescentar: 6. Adão e nós somos um; e na seção seguinte complementaremos a doutrina com 7. A culpa e a pena de Adão são nossas.
b) Conforme consideramos este duplo problema do ponto de vista da condição anormal do homem, ou do seu tratamento divino, podemos chamá-lo problema do pecado original, ou problema da imputação. Nenhum destes termos é objetável quando o seu sentido é definido. Imputação do pecado é, não a arbitrária acusação a alguém daquilo por que ele não é naturalmente responsável, mas que a culpa de alguém é dele mesmo, quer em virtude dos seus atos individuais, quer em virtude da conexão com a raça. Pecado original significa a participação no
Teologia Sistemática (Strong) 1172 pecado comum da raça do qual Deus nos acusa em virtude da nossa descendência de Adão, o primeiro pai e cabeça. Não devemos permitir que o nosso emprego do termo ‘atribuição’ tenha um sentido arbitrário ou preconceituoso pelo fato de algumas escolas de teologia, principalmente a Federal, terem dado a tal termo um sentido arbitrário, exterior e mecânico – sustentando que Deus atribui pecado aos homens, não porque são pecadores, mas baseado numa ficção pela qual Adão, sem o consentimento deles, tornou-se seu representante. Ao contrário, veremos que 1) no caso do pecado de Adão atribuído a nós, 2) no caso dos nossos pecados atribuídos a Cristo e 3) no caso da justiça de Cristo atribuída ao crente há sempre uma base realista para a atribuição, a saber, uma união real 1) entre Adão e os seus descendentes, 2) entre Cristo e a raça e 3) entre os crentes e Cristo, que dá, em cada caso, comunhão vital e capacitanos a dizer que Deus não atribui a nenhum homem o que não lhe cabe. O Dr. Ε. G. Robinson costumava dizer que "a justiça atribuída e o pecado atribuído são de tal modo absurdos como qualquer noção que se apossou da natureza humana". Contudo, ele tinha em mente apenas a culpa construtiva e o mérito que os teólogos de Princeton defendiam. Ele não quer dizer que nega aos homens a atribuição do que lhes é próprio. Reconhece o fato de que todos os homens são pecadores tanto por herança como por ato voluntário e isto se encontra tanto no Velho Testamento como no Novo; p. ex., Ne. 1.6 - "faço confissão pelos pecados de Israel, que pecamos contra ti. Também eu e a casa de meu pai pecamos"; Jr. 3.25 - "Jazemos na nossa vergonha e estamos cobertos da nossa confusão, porque pecamos contra o Senhor nosso Deus, nós e nossos pais"; 14.20 - "Conhecemos a nossa impiedade e a maldade dos nossos pais; porque pecamos contra ti". A palavra "imputado" encontra-se no Novo Testamento; p. ex., 2 Tm. 4.16 "Ninguém me assistiu na minha defesa; antes, todos me desampararam. Que isto não lhes seja imputado" ou "imputado a eles" - μη αύτοίς λογίσθείη; Rm. 5.13 - "mas o pecado não é imputado (Rev. e Atualizada: "não é levado em conta") não havendo lei", ουκ έλλογαται. Não só os santos do período das Escrituras, mas também os dos nossos dias têm atribuído a si os pecados dos outros, do seu povo, da sua época, do mundo todo. Jonathan Edwards, Resolutions, citado por Allen, 28
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- "Tenho por certo que ninguém é tão indigno quanto eu; identifico-me a todos os homens e ajo como se os pecados deles fossem meus, como se eu os tivesse cometido, como se tivesse as mesmas enfermidades de modo que o conhecimento das suas quedas só promove em mim um senso de vergonha". Frederick Denison Maurice: "Desejo confessar os pecados da época como sendo meus". Moberly, Atonement and Personality, 87 - "A expressão solidariedade humana a cada dia mais se aprofunda e ganha maior significação. Seja o que for fazemos para nós mesmos. Não só como indivíduo posso ser medido e julgado". Royce, World and Individual, 2.404 "O problema do mal, na verdade, demanda a presença da livre vontade no mundo; enquanto, por um lado, é igualmente verdade que nenhum mundo moral, qualquer que seja, pode tornar-se consistente com a tese realista segundo a qual os agentes da vontade livre, na fortuna ou na desventura, independem dos atos dos agentes morais. Segue-se que, no nosso mundo moral, o justo pode sofrer sem merecer pessoalmente, sem dúvida porque a sua vida não é independente, mas está ligada à de todos - o próprio Deus compartilha o seu sofrimento". As citações acima ilustram a crença na responsabilidade humana, que vai além dos limites dos pecados pessoais. Não podemos definir que responsabilidade é esta e quais os seus limites. A. H. Bradford, Heredity, 198 e The Age of Faith, 235, propõe o problema, porém não o resolve Estêvão ora: 'Senhor, não lhes imputes este pecado' (At. 7.60). De quem? Todos temos uma participação nos pecados dos outros. Estamos presentes e, como Paulo, consentimos neles. 'Meus pecados afiaram os cravos e fincaram cada espinho' que feriu a cabeça de Jesus.... Ainda na Inglaterra e no País de Gales as mais severas formas deste ensino [sobre o pecado] quase desapareceram; não por causa do estudo mais completo da Escritura, mas porque o terrível congestionamento da população com suas misérias convence a maioria dos pensadores cristãos de que as antigas interpretações eram muito pequenas para os fatos próximos e terríveis da vida humana, tais como as mulheres com bebês nos braços nas casas de bebidas de Londres, dando às crianças um gole dos seus próprios copos e um taberneiro pondo o filho de quatro ou cinco anos para cuidar da bebida e lutar para imitar os mais velhos".
Teologia Sistemática (Strong) 1174 c) Há dois princípios fundamentais citados pela Escritura que parecem claramente substanciar e que outras Escrituras corroboram. O primeiro é que as relações do homem com a lei moral vão além da esfera da transgressão consciente e real e abrangem as tendências e qualidades morais do seu ser que ele tem em comum com cada um dos outros membros da raça. O segundo é que o governo moral de Deus não só leva em conta as pessoas e os atos pessoais, mas também reconhece as responsabilidades da raça e lhe inflige penalidades; ou, em outras palavras, julga a humanidade, não simplesmente como uma coleção de indivíduos separados, mas também como um todo orgânico, que pode coletivamente revoltar-se contra Deus e incorrer na maldição da lei violada. Sobre a responsabilidade racial ver H. B. Smith, System of Theology, 288-302 - "ninguém que insiste em que todo o governo moral de Deus tem respeito só pelo indivíduo, que não permite que o governo moral de Deus, que tem um mais amplo e maior relacionamento de modo que Deus possa proporcionar sofrimento e felicidade (em sua total sabedoria e inescrutável providência) em outras bases além do mérito e do demérito pessoais pode aprender a doutrina do pecado original, ou a da redenção. O dilema é: os fatos ligados à depravaçao e à redenção através de Cristo pertencem ou não ao governo de Deus. Se pertencem, então este governo tem que ver com outras considerações além do mérito e demérito pessoais (visto que a nossa incapacidade em conseqüência do pecado e a graça oferecida em Cristo não são, em nenhum sentido, o resultado da nossa escolha pessoal apesar de que escolhemos nas nossas relações com ambos). Se não pertencem ao governo moral de Deus, onde os enquadraremos? No físico? Certamente que não. Na soberania divina? Mas essa não evita qualquer dificuldade; pois permanece ainda a pergunta: A soberania assim exercida é justa, ou injusta? Devemos assumir uma ou outra. A totalidade (do pecado e da graça) ou é um mistério da soberania - da simples onipotência - ou um procedimento do governo moral. Surge a pergunta relativa à graça e ao pecado: Como pode a teoria de que todo governo moral se refere apenas ao mérito ou demérito dos atos pessoais aplicar-se à nossa justificação? Se todo pecado é o ato de pecar, com o afastamento da morte eterna, por igual raciocínio toda
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santidade deve consistir em uma escolha santa com o mérito pessoal da vida eterna. De um modo geral dizemos, então, que todas definições que significam um pecado, são aqui irrelevantes". O Dr. Smith cita Edwards, 2.309 – "O nosso pecado original, depravaçao inata do coração, não inclui apenas a depravaçao da natureza, mas a imputação do primeiro pecado de Adão, ou, em outras palavras, a tendência, ou exposição, no juízo divino, de participar da punição de tal pecado". O lema de grande parte dos teólogos - popularmente chamados Nova Escola - é que "todo pecado consiste no ato de pecar", isto é, todo pecado é um ato. Porém, já vimos que as disposições e estados em que o homem difere de Deus e de sua pureza também são pecados conforme o sentido da lei. Cumpre agora acrescentar que cada homem é também responsável por aquele pecado do nosso primeiro pai em que a raça humana apostatou de Deus. Em outras palavras, reconhecemos a culpa pecado racial assim como o pecado pessoal. Queremos inicialmente dizer, contudo, que o nosso ponto de vista e, assim cremos, o escriturístico, requer que destaquemos algumas qualificações da doutrina que, em certa extensão, amenizam a sua dureza e fornecem a explicação adequada. Passamos a mencioná-las a seguir.
d) Ao reconhecer o pecado da raça, precisamos ter em mente: 1) que o pecado real, em que o agente pessoal reafirma a subjacente determinação da sua vontade, é mais culpado que o pecado original sozinho; 2) que nenhum ser humano é condenado somente por causa do pecado original; mas que todos os que, como as crianças, não cometem transgressões pessoais, são salvos através da aplicação da expiação de Cristo; 3) que a nossa responsabilidade pelas más disposições inatas, ou depravaçao comum à raça, só pode ser sustentada com base em que a depravaçao foi causada por um ato original e consciente da vontade livre, quando a raça se rebelou contra Deus em Adão; 4) que a doutrina do pecado original é só a interpretação ética de fatos biológicos – de hereditariedade e de males congênitos universais, que demandam base e explicação éticas; e 5) que a idéia de pecado original tem correlação com a idéia da graça original ou a constante presença e operação de Cristo, o Deus imanente, em cada membro da raça, apesar do seu pecado, que se
Teologia Sistemática (Strong) 1176 contrapõe ao mal e prepara o caminho, até onde o homem permite, para a salvação individual e coletiva. Em oposição à máxima "todo pecado consiste em ato pecaminoso", apomos a seguinte afirmação: O pecado pessoal consiste no ato pecaminoso, mas, no primeiro ato pecaminoso de Adão, a raça também pecou, de sorte que "todos morrem em Adão" (1 Co. 15.22). Denney, Studies in Theology, 86 -"O pecado não é apenas pessoal, mas também social; não apenas social, mas orgânico; o caráter e tudo que ele abrange podem-se atribuir não só a indivíduos, mas à sociedade e, eventualmente, à própria raça humana; em suma, não há apenas pecados isolados e indivíduos pecadores, mas o que tem sido chamado o reino do pecado sobre a terra". Leslie Stephen: A frase, o homem não dependente de uma raça, não tem sentido, do mesmo modo que, uma maçã que não nasce na árvore". "Contudo, Aaron Burr e Abraão Lincoln mostram como o homem pode ultrapassar qualquer vantagem da hereditariedade e do meio enquanto outro pode triunfar sobre os piores eventos. O homem não deve extrair o seu caráter de causas exteriores, mas formá-lo através da voluntária submissão a influências, quer inferiores, quer superiores". Wm Adams Brown: "A idéia da culpa hereditária só pode ser aceita se acompanhada da idéia do bem hereditário. As conseqüências do pecado têm sido freqüentemente consideradas como sociais; as conseqüências do bem como individuais. A hereditariedade transmite tanto o bem como o mal". Sra. Lydia Avery Coonley Ward: "Por que te curvas, ó minha alma, esmagada pelo pecado ancestral? Tu tens uma herança nobre Que te impulsiona a ganhar a vitória. O passado maculado pode produzir flores, Como a florescente vara de Arão: Nenhum legado de pecado cancela a herança vinda de Deus".
e) Há o pecado racial, portanto, assim como o pecado pessoal; e o pecado racial foi cometido pelo primeiro pai da raça, compreendendo toda a raça em si. A partir de então, toda a humanidade nasce no mesmo estado em que ele caiu – de depravação, culpa e condenação. Na vindicação da justiça de Deus ao atribuir a nós o pecado do nosso pai, têm surgido muitas teorias, parte das quais deve ser considerada como
Teologia Sistemática (Strong) 1177 apenas tentativas de evasão do problema negando os fatos que as Escrituras põem diante de nós. Entre as tentativas de explicar as afirmações da Escritura, passamos a analisar seis teorias que mais parecem merecer atenção. As três primeiras que discutimos podem ser consideradas como evasivas do problema do pecado original; de uma forma ou de outra, todas negam que Deus atribui a todos os homens o pecado de Adão de tal modo que todos são culpados por ele. São elas: a pelagiana, a arminiana e a da Nova Escola. As três últimas de que iremos nos ocupar, a saber, a Federal, a da Atribuição Imediata e a do Encabeçamento Natural de Adão são as da Velha Escola e têm por característica comum afirmar a culpa da depravação inata. Contudo, todas as três sustentam que, de qualquer forma somos responsáveis pelo pecado de Adão, embora difiram quanto ao modo preciso pelo qual nos relacionamos com ele. É preciso admitir que nenhuma, mesmo destas teorias, satisfaz integralmente. Contudo, esperamos demonstrar que a última – a agostiniana, do encabeçamento adâmico, sustentando que Adão e seus descendentes são natural e organicamente um – explica o maior número de fatos, está aberta a objeção e está mais de acordo com a Escritura.
I. TEORIAS DA ATRIBUIÇÃO 1. Teoria Pelagiana, ou da Inocência Natural do Homem Pelágio, monge britânico, propôs as suas doutrinas em 409, em Roma. Em 418 foi condenado pelo Concilio de Cartago. Contudo, o pelagianismo, oposto ao agostinianismo, designa um completo esquema de doutrina relativo ao pecado, da qual Pelágio foi o mais legítimo representante embora cada uma das suas características não possa ser atribuída à autoria dele. Os socinianos e os unitários são os mais modernos defensores deste esquema geral.
Teologia Sistemática (Strong) 1178 Segundo esta teoria, toda alma humana é criada imediatamente por Deus, e inocente, livre das tendências depravadas, e perfeitamente capaz de obedecer a Deus, como Adão o foi na sua criação. O único efeito do pecado adâmico sobre a sua posteridade é o mau exemplo; de modo algum corrompeu a natureza humana; a única corrupção da natureza humana é o hábito de pecar que cada indivíduo contrai através da persistente transgressão da lei conhecida. Por isso, o pecado de Adão somente feriu a sua pessoa; foi atribuído apenas a Adão; de modo algum o foi aos seus descendentes; Deus atribui a cada descendente de Adão apenas os atos de pecado que ele pessoal e conscientemente cometeu. Os homens tanto podem ser salvos pela lei como pelo evangelho; e, na verdade, alguns obedeceram a Deus de um modo perfeito e assim foram salvos. Por isso, a morte física é apenas uma lei original da natureza; Adão teria morrido, tivesse ou não pecado; em Rm. 5.12, "a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram", significa: "todos incorreram na morte eterna porque pecaram seguindo o exemplo de Adão". Wiggers, Augustinism and Pelagianism, 59, indica os sete pontos da doutrina pelagiana, como seguem: 1) Adão foi criado mortal, de sorte que teria morrido mesmo que não tivesse cometido pecado; 2) o pecado adâmico feriu não a raça humana, mas somente Adão; 3) as crianças recém-nascidas estão na mesma condição de Adão antes da queda; 4) toda a raça humana não morre por causa do pecado de Adão, nem ressurge por causa da ressurreição de Cristo; 5) as crianças, ainda que não batizadas, alcançam a vida eterna; 6) a lei é um meio de salvação tão bom como o evangelho; 7) mesmo antes de Cristo houve homens que não cometeram pecado. Nos comentários de Pelágio sobre Rm. 5.12, publicados nas obras de Jerônimo, vol. XI, aprendemos que os homens sem pecado eram, por exemplo, Abel, Enoque, José, Jó e, entre os pagãos, Sócrates, Aristides, Numa. As virtudes dos pagãos dão-lhes o direito ao galardão. Na verdade, os seus méritos não são a ausência dos maus pensamentos e inclinações, mas, no ponto de vista de Pelágio de que todo pecado consiste no ato, estes maus
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pensamentos e inclinações não são pecado. "Non pleni nascimur": Nascemos, não completos, mas vazios de caráter. A santidade, é pensamento de Pelágio, não pode ser criada simultaneamente. Os descendentes de Adão não são mais fracos, ao contrário, mais fortes do que ele; visto que cumpriam muitos mandamentos enquanto ele não cumpriu nem um. Em cada homem há uma consciência natural; ele tem um ideal de vida; forma soluções corretas; reconhece as exigências da lei; acusa-se quando peca tudo isto Pelágio considera indicações de uma certa santidade no homem e a falsa interpretação destes fatos dá surgimento ao seu sistema; ele devia ter visto no homem evidências de uma influência divina aposta à sua inclinação para o mal conduzindo-o ao arrependimento. Na teoria pelagiana a graça é tão somente a da criação - originalmente o fato de Deus dotar o homem de altos poderes de razão e vontade. Enquanto o agostinianismo considera a natureza humana morta e o semi-pelagianismo doente, o pelagianismo declara-a boa. Dorner, Glaubenslehre, 2.43 (Doutrina Sistemática, 2.338) - "Nem o corpo, que envolve o homem, nem a operação interior de Deus tem qualquer influência determinante sobre a vontade. Deus se chega ao homem só através de recursos exteriores, tais como a doutrina, o exemplo e a promessa de Cristo. Isto isenta Deus de toda culpa do mal, mas também toma dele a autoria do bem. É o deísmo aplicado à natureza do homem. Deus não poderia entrar no ser humano sem a vontade dele e não quereria, se ele não pudesse. Tudo é questão de livre vontade". Ib., 1.623 (Sistema de Doutrina 2.188,189" – "O pelagianismo conta, ao mesmo tempo, com a grande honra de que o homem é diretamente movido por Deus e com a grande desonra de que não é capaz de agir sem Deus. Neste arrazoado inconsistente mostra o seu desejo de se afastar de Deus o tanto quanto possível. A verdadeira concepção de Deus requer uma satisfação viva dos anseios e poder de receber os impulsos e a força de Deus. O pelagianismo, buscando um desenvolvimento para o homem só semelhante ao da natureza, mostra que a elevada estima do homem é apenas ilusória; na verdade, degrada-o ao ignorar sua verdadeira dignidade e destino".
Sobre a teoria pelagiana do pecado, podemos dizer: A) Nunca foi reconhecida como escriturística, nem qualquer ramo da igreja cristã formulou-a nas confissões. Sustentada só por indivíduos,
Teologia Sistemática (Strong) 1180 esporadicamente, ela foi considerada pela igreja em geral como uma heresia. Isto constitui ao menos uma presunção contra a sua verdade. Como a escravidão é a "soma de toda a vilania", assim a doutrina pelagiana pode ser chamada a soma de toda a falsa doutrina. O pelagianismo é a sobrevivência do paganismo em seu majestoso egoísmo e autocomplacência. "Cícero, em sua Natura Deorum, diz que o homem agradece aos deuses as extraordinárias vantagens, mas ninguém jamais lhes agradece as virtudes - porque ele é honesto, ou puro, ou misericordioso. Pelágio foi o primeiro que se levantou em oposição ao ouvir um bispo nos ofícios públicos da igreja citar a oração de Agostinho: 'Da quod jubes, et jube quod vis' - 'Dá o que mandas e manda o que tu queres'. A partir daí ele foi levado a formular o evangelho segundo Cícero tal é a perfeição com que a doutrina pelagiana reproduz o ensino pagão". Por outro lado, o impulso cristão deve relacionar todas as dádivas e graças com uma fonte divina em Cristo e no Espírito Santo. Ef. 2.10 – "Porque somos feitura sua criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas"; Jo. 15.16 - "Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós"; 1.13 - Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus". H. Auber: Έ cada virtude que possuímos, Ε cada vitória que alcançamos, Ε cada pensamento de santidade São só dele". Agostinho disse que o homem é mais livre quando é só controlado por Deus" - [Deo] solo dominante, liberrimus (De Mor. Eccl. XXI). Gore, Lux Mundi, 320 - "Em Cristo a humanidade é perfeita porque nele a referida humanidade não retém parte nenhuma da falsa independência que, em todas as suas múltiplas formas, é o segredo do pecado". O pelagianismo, ao contrário, é a declaração de independência do homem. Harnack, Hist. Dogma, 5.200 -"A essência do pelagianismo, chave de todo o modo de pensamento, encontra-se na proposição de Juliano: 'Homo libero arbítrio emancipatus a Deo' – o homem, criado livre em seu ser inteiro é independente de Deus. Ele não tem nada a ver com Deus, mas consigo mesmo. Deus entra na vida do homem só no fim, - no juízo, - doutrina do orfanato da humanidade.
Teologia Sistemática (Strong) 1181 B) Contradiz a Escritura ao negar: a) que a disposição e estado maus, do mesmo modo que os maus atos, são pecados; b) que disposição e estado maus são inatos em toda a humanidade; c) que os homens universalmente são culpados pela transgressão aberta tão logo cheguem à consciência moral; d) que ninguém é capaz de cumprir a lei sem o auxílio divino; e) que todos homens, sem exceção, dependem da expiação, da regeneração, da santificação, da graça de Deus para a salvação; f) que o presente estado de corrupção, condenação e morte do homem é o efeito direto da transgressão de Adão. A Confissão de Westminster, cap. vi, par. 4, declara que "somos totalmente desqualificados, incapazes e opostos a todo o bem e totalmente inclinados para o mal". Para Pelágio, ao contrário, o pecado é um mero incidente. Ele só tem conhecimento de pecados, não de pecado. Sustenta a teoria atômica, ou atomista do pecado, que o considera consistente com as volições isoladas. O pelagianismo, sustentando, como faz, que a virtude e o vício consistem apenas em simples decisões não leva em conta o caráter. Não existe esta coisa de estado de pecado, ou sua força de si mesma propagadora. As Escrituras dão maior ênfase a estes do que aos simples atos de transgressão. Jo. 3.6 - Ό que é nascido da carne é carne" = o que vem de ascendência pecadora e culpada, desde o começo é, por si mesmo, pecaminoso e culpado" (Dorner). A tendência para a degradação dá testemunho em famílias e nações. Amiel diz que o grande defeito do cristianismo liberal é a sua concepção liberal de pecado. A tendência é muito antiga: Tertuliano falava da alma como naturalmente cristã – "anima naturaliter Christiana". A tendência chegou aos tempos modernos: Crane, The Religion of Tomorrow, 246 – "Só quando a criança cresce e começa a absorver o meio ambiente é que perde a amabilidade sem arte". Um pregador unitário de Roxeaste declarou publicamente sentir muita dúvida para crer na pureza natural do homem, assim como para crer na pureza natural de Deus . Dr. Lyman Abbott fala da sombra que a teologia maniqueísta de Agostinho, que Calvino tomou por empréstimo, lança sobre todos os filhos, declarando-os nascidos herdeiros da ira, como raça de víbora". O Dr. Abbott esquece-se de que Agostinho foi o maior opositor do maniqueísmo e que a sua doutrina da
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herança da culpa pode ser suplementada pela doutrina das influências herdadas tendentes à salvação. O prof. G. A. Coe diz-nos que "todas crianças estão dentro da família de Deus"; que "já são membros do seu reino"; que "a mudança do adolescente" não é "um passo para a vida cristã, mas dentro dela". Aprendemos que a salvação vem através da educação. Porém a educação é tão somente um meio para apresentar a verdade. O pelagianismo ignora ou nega em toda criança a presença de um egoísmo congênito que dificulta a aceitação da verdade e que, sem a obra do Espírito divino, contrapõe-se à influência da verdade. A transgressão ensinou a Agostinho a culpa e a desesperança, enquanto Pelágio continuou a ignorar o mal do seu próprio coração. Pelágio podia ter dito com Wordsworth, Prelude, 534 - "Como outros jovens eu tinha abordado o escudo Da natureza humana sob o aspecto áureo; Ε teria lutado até à morte para testar a qualidade do metal que eu via". Schaff, sobre a controvérsia pelagiana, In Bíblia Sacra, 5.205-243 -A controvérsia "resolve-se na questão se a redenção e a santificação consistem na obra do homem ou na de Deus. O pelagianismo, em todo o seu modo de pensar, parte do homem e procura operar gradualmente para cima, através de uma boa vontade imaginária até a santidade e comunhão com Deus. O agostinianismo persegue o caminho contrário, derivando da graça incondicional e operadora uma nova vida e a força total para a operação do bem. Aquela conduz da liberdade a uma piedade legalista e de justiça própria; esta surge da escravidão do pecado para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Para aquela, a revelação é apenas um acessório exterior, ou força de um exemplo elevado; para esta é o recôndito da vida, a própria medula e o sangue do novo homem. Aquela envolve um ponto de vista ebionita de Cristo, como homem nobre, não como sumo sacerdote ou rei; esta vê nele alguém que habita a plenitude real de Deus. Aquela faz da conversão um processo de purificação moral gradual apoiada na natureza original; com esta, há uma mudança total em que as coisas velhas passam e tudo se faz novo. ... O racionalismo é apenas a forma em que o pelagianismo teoricamente se completa. A elevada opinião que o pelagiano sustenta a respeito da vontade natural, com igual direito, o racionalismo transfere para a razão natural. Um faz sem a graça o que o outro o faz sem
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a revelação. A divindade pelagiana é racionalista. A moralidade racionalista é pelagiana". Allen, Religious Progress, 98-100 – "O equívoco da controvérsia religiosa, em sua maior parte brota do desejo e da determinação de atribuir às posições contrárias de alguém o que este não sustenta, ou tirar inferências a partir dos seus princípios, insistindo em que ele é responsável pelos referidos embora declare que não os ensina. Dizemos que ele deve aceitá-los; que logicamente deve agir assim; que são deduções necessárias a partir do seu sistema; que a tendência do seu ensino está nesta direção; e conseqüentemente denunciá-lo e condená-lo por aquilo que ele nega. É deste modo que Agostinho preenche as lacunas de seu sistema, que ele ensinava ser necessário para tornar consistente e completo o ensino de Pelágio; da sua parte, Pelágio tirava inferências da teologia agostiniana sobre o que Agostinho teria preferido manter um discreto silêncio. Nem Agostinho, nem Calvino, estavam ansiosos por tornar proeminente a doutrina da reprovação do ímpio para a condenação, mas preferiam ficar no princípio mais atraente e mais racional da eleição para a salvação como matéria de escolha e aprovação divinas; substituindo a desagradável palavra reprovação pela mais branda e eufemística palavra preterição. Os seus opositores é que tenderam a forçá-los a sair da sua discrição, impulsionando-os àquilo parece uma consistente seqüência da atitude deles e, com isso, sustentá-lo diante do mundo até à execração. A mesma nota se aplicaria a quase toda a polêmica teológica que amargou a experiência da igreja".
C) Apóia-se em falsos princípios filosóficos; por exemplo: a) que a vontade humana consiste unicamente na faculdade das volições; enquanto é também e, principalmente, a faculdade da autodeterminação com vistas a um fim último; b) que o poder de escolha contrária é essencial à existência da vontade; enquanto a vontade fundamentalmente determinada para a gratificação de si mesma tem o seu poder só relativo às coisas subordinadas e não pode, por simples volição reverter o seu estado moral; c) que a capacidade é a medida da obrigação; princípio que atenuaria a responsabilidade do pecador na exata proporção com o
Teologia Sistemática (Strong) 1184 progresso do seu pecado; d) que a lei consiste apenas no decreto positivo; enquanto é a demanda da harmonia perfeita com Deus operada na natureza moral do homem; e) que cada alma humana é imediatamente criada por Deus e não tem nenhuma outra relação com a lei moral além daquelas que são individuais; enquanto todas as almas humanas estão organicamente em conexão umas com as outras e, juntas, têm um relacionamento corporativo em virtude da sua derivação de uma origem racial comum. a) Neander, Church History, 2.564-625, sustenta que um dos princípios fundamentais do pelagianismo é "a capacidade de escolha de igual modo e a qualquer momento entre o bem e o mal". Não há nenhum reconhecimento da lei pelo qual os atos produzem estados; a força que os repetidos atos do mal possuem para dar um caráter definido e a tendência para a própria vontade. "A volição é um duradouro 'tique-taque', e a oscilação do pêndulo, mas sem mover para frente os ponteiros do relógio". Não há nenhuma continuidade na vida moral - nenhum caráter no homem, anjo, diabo, Deus". b) Ver o artigo sobre o Poder da Escolha Contrária, em Ensaios de Princeton, 1.212-233: O pelagianismo sustenta que não é possível nenhuma confirmação na santidade. Thornwell, Teologia: Ό pecador é tão livre como o santo; o diabo é tão livre como o anjo". Harris, Philos. Basis of Theism, 399 – A teoria de que a indiferença é essencial à liberdade implica que a vontade nunca adquire caráter; que a ação voluntária é atomista; cada ato está desintegrado do outro; que o caráter, se adquirido, seria incompatível com a liberdade". "Através da simples volição a alma agora em plenum pode tornar-se vacuum, ou a que era vacuum pode tornar-se plenum". c) Sl. 79. 8 - "Não evoques contra nós as iniqüidades dos nossos pais"; 106.6 - "Pecamos como os nossos pais". Observe a analogia dos indivíduos que sofrem os efeitos dos erros dos pais ou da transgressão nacional. Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.316,317 - "Nem o ponto de vista atomista, nem o orgânico sobre a natureza humana é a verdade completa". Um deve ser complementado pelo outro. Sobre a afirmação da responsabilidade racial, ver Dorner, Glaubenslehre, 2.30-39, 51-64,161,162 (Sistema de Doutrina, 2.324, 334; 3.50-54) - "Entre as provas escriturísticas sobre a conexão moral
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do indivíduo com a raça, acham-se a visitação dos pecados dos pais nos filhos; a obrigação que o povo tem de punir o pecado do indivíduo, em cuja culpa a terra toda não pode incorrer; a oferta de sacrifício pelo homicídio, cujo perpetrador é desconhecido. O crime de Adão pesa sobre o povo todo. A raça judaica é a melhor para os ascendentes e as outras nações são piores para eles. O povo hébreu tornou-se pessoa legal. "Costuma-se dizer que ninguém é punido pelos pecados dos pais, a menos que sejam semelhantes a eles. Porém, ser diferente dos pais requer um novo coração. Os que sustentam não levar em conta os pecados dos pais são os que têm reconhecido a sua responsabilidade por eles e têm-se arrependido à semelhança dos ancestrais. Só o espírito que a si mesmo se isola diz: "Sou eu guardador do meu irmão?" (Gn. 4.9) e pensa em montar uma equação consistente entre o infortúnio individual e o pecado individual. As calamidades do justo conduzem a uma concepção ética da religião do indivíduo para com a comunidade. Tais sofrimentos mostram que o homem pode amar desinteressadamente a Deus, que o bom tem amigos não egoístas. Eles são substitutivos, quando não estranhos ao sofredor, mas pertencentes a ele; a culpa dos outros atribuídas a ele em virtude da sua relação nacional ou racial com eles. Moisés em Ex. 34.9, Davi em SI. 51.6, Isaías e Is. 59.1-16, reconhecem a conexão entre o pecado pessoal e o racial. "Cristo restaura o laço entre o homem e os seus companheiros, muda o coração dos pais para com os filhos. Ele é o criador de uma nova consciência racial. Nele, que é o cabeça, vemo-nos ligados e respondemos pelos outros. Moralmente é impossível ao amor isolar-se. Ele restaura a consciência de unidade e o reconhecimento da culpa comum. Ocupa cada ser humano o seu devido lugar no Novo Testamento? Isto só ocorreria se cada um se tornasse isoladamente um pecador por livre e consciente decisão pessoal, quer no presente, quer no passado da existência. Entretanto, isto não é bíblico. Algo aparece antes da transgressão pessoal. Ό que é nascido da carne é carne' (Jo. 3.6). A personalidade é mais forte ao reconhecer o pecado racial. Sentimos um regozijo nas vitórias do bem; assim também sentimo-nos tristes nos lapsos vergonhosos. Estes não são os piores momentos, mas os melhores, -há algo de gratificante neles. O pecado original deve desagradar a Deus; porque perverte a razão, destrói a
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semelhança a Deus, exclui da comunhão com ele, torna necessária a redenção, conduz ao verdadeiro pecado, influi nas futuras gerações. Mas queixar-se por Deus permitir a sua propagação é queixar-se de não ter destruído a raça, - isto é, queixar-se da sua própria existência".
2. Teoria Arminiana, ou Teoria da Depravação voluntariamente apropriada Armínio ( 1560-1609), professor da Universidade de Leyden, sul da Holanda, conquanto originariamente aceitasse a doutrina da unidade adâmica da raça, proposta tanto por Lutero como por Calvino, deu-lhe uma interpretação bem diferente – que se dirigia para o semipelagianismo e para a antropologia da igreja grega. O grupo metodista representa este ponto de vista. Segundo esta teoria, todos os homens, como uma seqüência divinamente indicada da transgressão de Adão, acham-se naturalmente destituídos da retidão original e estão expostos à miséria e à morte. Por causa da fraqueza propagada de Adão a toda a sua descendência, a humanidade é totalmente incapaz, sem o auxílio divino, de obedecer perfeitamente a Deus ou alcançar a vida eterna. Contudo, esta incapacidade é física e intelectual, mas não voluntária. Por isso, em se tratando de justiça, Deus confere a cada indivíduo, desde o raiar da sua consciência, uma influência especial do Espírito Santo, suficiente para neutralizar o efeito da depravação herdada e tornar possível a obediência, provendo a vontade humana de cooperação, que ainda pode praticá-la. A tendência e estado maus podem ser chamados de pecado; mas eles mesmos não envolvem culpa ou castigo; menos que isso, a humanidade não é considerada culpada do pecado de Adão. Deus atribui a cada homem as suas tendências inatas para o mal só quando consciente e voluntariamente se apropria e ratifica-as apesar da força contrária que, na justiça para com o homem, Deus comunicou de um modo especial. Em Rm. 5.12, "a morte passou a todos os homens, porque todos
Teologia Sistemática (Strong) 1187 pecaram", significa que a morte física e espiritual incidiu sobre todos os homens não como castigo de um pecado comum em Adão, mas porque, pelo decreto divino, todos sofrem as conseqüências daquele pecado e porque todos pessoalmente consentem na sua pecaminosidade através dos atos de transgressão. A descrição dada acima é própria do arminianismo. As expressões do próprio Armínio são de tal modo seguras que Moisés Stuart (Repositório Bíblico) considerou possível construir um argumento para provar que Armínio não era arminiano. É claro, porém, que Armínio entende por pecado herdado só o mal recebido por herança e isto não é forma de justificar a condenação divina. Ele nega qualquer existência inerente em Adão que nos fizesse, com justiça, responsáveis pelo pecado de Adão a não ser no sentido de que somos obrigados a sofrer algumas das suas conseqüências. Shedd mostrou isto na História da Doutrina, 2.178-196. O sistema de Armínio é mais completamente exposto em Limborch e Episcópio. Ver Limborch, Theol. Christ, 3.4.6 (p. 189). O pecado com o qual nascemos "não é inerente à alma, pois esta [a alma] é criada imediatamente por Deus e, portanto, se infectada pelo pecado, este seria de Deus". Muitos assim chamados arminianos, tais como Whitby e John Taylor, eram pelagianos. João Wesley, contudo, modificou e aprimorou grandemente a doutrina arminiana. Hodge, Syst. Theol., 2.329,330 – "O wesleyanismo 1) admite a total depravação moral; 2) nega que os homens em tal estado têm qualquer poder para cooperar com a graça de Deus; 3) afirma que a culpa de todos através de Adão foi removida pela justificação de todos através de Cristo; 4) a capacidade de cooperar é do Espírito Santo através da influência universal da redenção da parte de Cristo. A ordem dos decretos é 1) permitir a queda do homem; 2) enviar o Filho para ser a satisfação completa pelos pecados do mundo inteiro; 3) baseado nisto, remir todo o pecado original e conceder tal graça que capacite todos a alcançar a vida eterna; 4) os que aprimoram essa graça e perseveram até o fim estão ordenados a serem salvos". Podemos acrescentar que Wesley fez uma concessão sobre a nossa natureza depravada de que a capacidade de cooperar com Deus é matéria de graça, enquanto Armínio considerava-a como matéria de justiça. O homem, sem ela, não é responsável por seus atos.
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O wesleyanismo é sistematizado por Watson, que, em Institutes, 2.5355, 59, 77, apesar de negar a atribuição do pecado de Adão em qualquer sentido próprio, declara que "Limborch e outros materialmente se afastaram das opiniões de Armínio ao negar que a ambição interior e as tendências pecaminosas concordam com a vontade e aumentam com ela. Mas universalmente os homens escolhem ratificar tais tendências; por isso elas se corromperam no coração. Se há depravação universal da vontade antes da verdadeira escolha, segue-se, então, inevitavelmente que, embora as crianças não cometam pecado por atos, contudo, tem-no em sua natureza.... Quanto às crianças, na verdade, não nasceram justificadas e regeneradas; de modo que não é correto dizer que Cristo retirou o pecado original delas pelas razões já apresentadas; mas todas elas nasceram sob Ό livre dom', sob os efeitos da 'justiça' de alguém, que se estende a todos os homens; e este livre dom lhes é concedido para justificação da vida, o ajuizamento do condenado para que viva. ... Nos adultos a justificação depende do arrependimento e da fé; nas crianças não sabemos como. O Espírito Santo pode ser dado às crianças. A influência divina e eficaz pode exercer-se sobre elas, na cura da morte espiritual e na tendência corrompida da sua natureza". Convém observar que o wesleyanismo de Watson aproxima-se muito mais da Escritura do que o que já descrevemos e, com propriedade, do que o próprio arminianismo. Pope, em sua Theology, segue Wesley e Watson e, (2.70-86) dá uma valiosa sinopse das diferenças entre Armínio e Wesley. Whedon e Raymond, na América, representam melhor o arminianismo. Eles sustentam que Deus tinha a obrigação de restaurar a capacidade humana, embora inconsistentemente falam da sua capacidade como graciosa. Duas passagens da Teologia de Raymond mostram a inconsistência da vocação que a "graça" para cuja concessão Deus liga à justiça, com vistas à responsabilidade do homem: 2.84-86 - "A raça veio a existir sob a graça. Garantem-se esta e a justificação unicamente através de Cristo; porque, sem ele, seguir-se-iam o castigo e a destruição imediatamente após o primeiro pecado. Deste modo, todos os dons do Espírito necessários ao exercício da livre escolha moral são garantidos através de Cristo. O Espírito de Deus não é um mero espectador, mas um poder vivificante. Assim, o homem é, não por sua natureza decaída, mas pela graça, um ser moral capaz de conhecer, amar, obedecer, agradar a Deus. Ele será sempre
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assim, se não frustrar a graça de Deus. Enquanto o Espírito não o leva ao vôo final, ele está na condição de depravação total". Compare a esta a seguinte passagem da mesma obra na qual esta "graça" é chamada dívida: 2.317 - "As relações da posteridade de Adão com Deus são substancialmente os seres recriados. Cada pessoa individualmente tem obrigações para com Deus e vice-versa, como se Deus a tivesse criado tal como ele é. A capacidade deve ser igual à obrigação. Deus não foi obrigado a prover um Redentor para os primeiros transgressores, mas, tendo-lhes provido uma redenção e, tendo-lhes permitido, através dela, que se propagasse uma raça degenerada, deve-se a elas uma compensação. As graciosas influências do Espírito são o débito ao homem - em compensação pela incapacidade humana causada pela depravação herdada".
Com relação à teoria arminiana assinalamos: A) Admitimos que há um dom universal do Espírito Santo, se Espírito Santo significa a luz natural da razão e da consciência e os múltiplos impulsos para o bem que lutam contra o mal da natureza humana. Mas consideramos como totalmente antibíblicas as seguintes suposições: a) que este dom do Espírito Santo por si mesmo remove a depravação ou a condenação derivada da queda de Adão; b) que sem este dom o homem não seria responsável pela sua imperfeição moral; e c) que, o começo da vida moral, o homem conscientemente se apropria das suas tendência inatas para o mal. Como prova da graça universal João Wesley aduziu o texto de Jo. 1.9 "a luz que ilumina a todo homem" - referindo-se à luz natural da razão e da consciência que o Logos preencarnado concedeu a todos homens, embora em diferentes graus antes da encarnação. Esta luz pode ser chamada de Espírito Santo, porque é "o Espírito de Cristo" (1 Pe. 1.11). O ponto de vista arminiano tem um grande elemento de verdade ao reconhecer a influência de Cristo, o Deus imanente, que mitiga os efeitos da queda e se empenha em preparar o homem para a salvação. Mas o arminianismo não reconhece plenamente o mal a ser removido e, por isso, exagera o efeito de tal obra
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divina. A graça universal não remove a depravação ou a condenação do homem; como é evidente de uma interpretação própria de Rm. 5.12-19 e Ef. 2.3; só equipara essas influências e impulsos da depravação e condenação que contrapõem o mal e estimulam o pecador ao arrependimento: Jo. 1.5 "a luz resplandece nas trevas e as trevas não a compreenderam". João Wesley se refere a Rm. 5.18 - "por um ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida" - mas aqui a expressão "todos os homens" é contígua a "muitos" que serão "feitos justos" no verso 19 e a "todos" que "serão vivificados" em 1 Co. 15.22; ou seja, a palavra "todos" refere-se a todos os que crêem; também a passagem ensina não o dom universal do Espírito Santo, mas a salvação universal. O arminianismo defende a teoria da herança do pecado no sentido de enfermidade ou tendência má, mas não a herança da culpa. João Wesley, contudo, sustentando também que a capacidade não é matéria de justiça, mas de graça, parece implicar que há uma culpa comum assim como um pecado comum antes do conhecimento. Os arminianos americanos são mais lógicos, porém menos escriturísticos. Sheldon, Syst. Christian Doctrine, 321, diz-nos que "talvez a culpa possa não ser matéria de herança e, conseqüentemente, pode-se afirmar o pecado original da posteridade de Adão só no sentido de corrupção hereditária que, a princípio, torna-se ocasião da culpa quando envolto pela vontade do indivíduo". O pouco significado que o criminoso dá ao "pecado" pode-se inferir das palavras do Bispo Simpson de que Cristo herdou o pecado". É claro que ele o entendia apenas como enfermidade física ou intelectual, sem um toque de culpa. Ό filho herda a natureza dos pais", costuma-se dizer, "não como um castigo, mas por uma lei natural". Entretanto, respondemos que a lei natural é em si uma expressão da lei moral de Deus e a herança do mal só pode justificarse baseada na inconformidade comum com Deus tanto da parte do pai como na do filho, ou uma participação de cada membro na culpa comum da raça. À luz do processo de tratamento anterior, podemos avaliar o elemento bom e o mau em Pfleiderer, Philos. Religion, 1.232 - Έ um exagero considerar pecado original como culpa pessoalmente imputável; e vai-se muito longe quando se sustenta que é o estado natural do homem em seu todo e ainda o bem verdadeiramente presente que 'a graça original' releva. ... Podemos dizer com Schleiermacher que o pecado original é a ação comum e a culpa
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comum da raça humana. Mas o indivíduo sempre participa da culpa coletiva na medida em que toma parte na sua ação pessoal no ato coletivo que se dirige ao apoio do mal". Dabney, Theology, 315, 316 - "O arminianismo é ortodoxo quanto às conseqüências legais do pecado de Adão à sua posteridade; mas o que dá com uma mão tira com a outra, ao atribuir à graça a restauração desta capacidade natural perdida com a queda. Se os efeitos da queda de Adão para com a sua posteridade são tais que teriam sido impostos se não reparados por um plano que deveria seguir-se, o ato de Deus prover um Redentor não o seria unicamente de graça. Ele teria a obrigação de praticar algo como, - salvação não pela graça, mas por dever". A. J. Gordon, Ministry of the Spirit, 187 ss., nega o dom universal do Espírito, citando Jo. 14.7 - "se eu for, enviar-vo-lo-ei"; i.e. os discípulos de Cristo deveriam receber o Espírito Santo e distribuí-lo e a sua igreja seria mediadora entre o Espírito e o mundo. Por isso, Mc. 16.15 - "Ide por todo o mundo e pregai", implica que o Espírito irá somente com eles. O convencimento do Espírito não vai além da evangelização da igreja. Porém respondemos que Gn. 6.3 implica num empecilho mais amplo do Espírito Santo.
B) Contradiz a Escritura ao sustentar: a) que o mal moral herdado não envolve culpa; b) que o dom do Espírito e a regeneração das crianças são matéria de justiça; c) que o efeito da graça é somente restaurar a capacidade natural do homem, ao invés de dispô-lo para o emprego correto dessa capacidade; d) que a eleição é a escolha que Deus faz de certos homens para serem salvos com base na previsão da sua fé, ao invés de ser uma escolha de Deus para que alguns se tornem crentes; e) que a morte física não é o castigo do pecado, mas é assunto de um decreto arbitrário a) Ver Dorner, Glaubenslehre, 258 (Sistema de Doutrina, 2.352-359) *Com Armínio, o pecado original é apenas um mal original, não uma culpa. Ele explica o problema do pecado original negando o fato, e tornando a pecaminosidade algo moralmente indiferente. Nenhum pecado sem consentimento; nenhum consentimento do desenvolvimento humano; por isso, nenhuma culpa no desejo mau. É a mesma coisa que a doutrina
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romanista sobre a concupiscência e semelhante ao que leva a acusar Deus de constituir má a nossa natureza. ... O pecado original é apenas a indução ao mal dirigida à livre vontade. Toda a desordem interna e vício é moralmente indiferente e torna-se pecado tão somente pela apropriação através da livre vontade. Mas os pensamentos involuntários, desamorosos, orgulhosos são reconhecidos na Escritura como pecado; contudo, brotam do coração sem o nosso consentimento consciente. Os pecados, deliberados ou não, transmitem-se de um para o outro de modo que é impossível traçar uma linha entre ambos. A doutrina de que não há pecado sem o consentimento implica em força para conter o consentimento. Mas isto contradiz a necessidade universal da redenção e a nossa observação de que ninguém jamais conteve totalmente o consentimento originário do pecado". b) H. B. Smith, Revista de Whedon sobre a vontade na Faith and Philosophy, 2.353-359 - "Uma criança, no ponto de vista antigo, só necessita de crescer para que seja culpada dos seus pecados praticados; ao passo que, neste ponto de vista ela também necessita de crescimento e de graça ". Ver Biblia Sacra, 20.327,328. Segundo Whedon, Com. on Rm. 5.12, "a condição de um infante sem Cristo é a de um pecador, alguém certo de pecar, embora, na verdade, nunca condenado antes da apostasia pessoal. Esta seria a sua condição, pois em Cristo o infante é regenerado e justificado e dotado do Espírito Santo. Por isso todos os que praticam pecados são apóstatas do estado de graça". Entretanto, perguntamos: 1. Por que, então, os infantes morrem antes de terem cometido o pecado? Sem dúvida, não por conta do pecado de Adão, pois eles estão livres de todos os males desse tipo, por meio de Cristo. Deve ser porque ainda são de certa forma pecadores. 2. Como podemos explicar o pecado de todos infantes tão logo começam a agir moralmente se, antes de pecarem, estão em estado de graça e santificação? Deve ser porque eram de certa forma pecadores. Ou seja, a regeneração universal e a justificação dos infantes contrariam a Escritura e a observação. c) Note que esta "graciosa" capacidade não envolve a graça salvadora daquele que a recebe porque é dada igualmente a todos os homens. Ε não é mais do que uma restauração da capacidade natural do homem perdida com o pecado adâmico. Não basta explicar por que o homem que tem a
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capacidade graciosa escolhe Deus enquanto outro que tem a mesma capacidade escolhe o eu. 1 Co. 4.7 - "quem te fez igualmente?" Não foi Deus, mas tu mesmo. Em oposição à doutrina arminiana, que defende a graça universal, resistível, a capacidade restauradora natural, os calvinistes e os agostinianos defendem em particular a graça irresistível dando a capacidade moral, ou seja, concedendo a disposição para usar corretamente a capacidade natural. A palavra "graça" é muito empregada pelos arminianos. A Doutrina Metodista e a Disciplina, Artigos sobre a Religião, viii - "A condição do homem após a queda de Adão é tal que ele não pode por si mesmo voltar-se e preparar-se por suas forças e obras, agradáveis e aceitáveis a Deus sem a sua graça, impedindo de ter boa vontade e operando em nós quando temos a mencionada boa vontade". Ε importante entender que, no emprego arminiano, graça é simplesmente a restauração da capacidade natural do homem de agir por si mesmo; na verdade ela nunca o salva, mas tão somente capacita a salvar, se ele o quer. A graça arminiana é igualmente a concessão do dom espiritual, como a pelagiana é igualmente a graça concedida na criação. Não considera a redenção como uma compensação da depravação inata e, conseqüentemente, irresponsável. d) No sistema arminiano, a ordem da salvação é: 1) fé – através de um homem não renovado, mas convicto; 2) justificação; 3) regeneração, ou um coração santo. Deus não decreta, originar fé, mas recompensá-la. Por isso os wesleyanos consideram a fé uma obra e a eleição como uma ordem de Deus para os homens que, conforme a providência dele, desejam segundo a fé. A ordem agostiniana, ao contrário, é: 1) regeneração; 2) fé; 3) justificação. Adolfo Safir, Memoir, 255 - "Minha objeção aos arminianos ou semi-arminianos não é que eles abrem demais a entrada; mas é que eles não dão a você algo definido, seguro e real, depois que você foi introduzido. ... Não creia no evangelho do diabo, que é uma oportunidade de salvação: a oportunidade de salvação é a oportunidade de perdição". A graça não é uma recompensa pela prática das obras, mas o poder de praticá-las. Francisco Rous de Truro, no Parlamento de 1629, falava como um homem mais ou menos franco com horror diante do aumento do "erro do arminianismo, que faz da graça de Deus um lacaio da vontade do homem"; O convertido arminiano diz: "Dou o meu coração ao Senhor"; o convertido agostiniano diz: "O Espírito Santo me convenceu do pecado e renovou o meu coração". O
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arminianismo tende para a auto-suficiência; o agostinianismo promove a dependência de Deus.
C) Apóia-se em falsos princípios filosóficos, como por exemplo: a) que a vontade é somente a faculdade das volições. b) Que o poder da escolha contrária, no sentido de uma força através de um simples ato de reverter o estado moral, é essencial à vontade. c) Que a certeza anterior de qualquer dado ato moral é incompatível com a sua liberdade. d) Que a capacidade é a medida da obrigação. e) Que a lei só condena a transgressão volitiva. f) Que o homem não tem nenhuma conexão moral com a raça. b) Raymond diz: "O homem é responsável pelo caráter, mas somente até onde é imposto por si mesmo. Nós somos responsáveis pelo caráter sem levar em consideração a sua origem. A liberdade de um ato é tão essencial à responsabilidade como esta àquela. Se a força para o contrário é impossível, então não existe liberdade em Deus ou no homem. O pecado é uma necessidade e Deus é o seu autor". Mas aqui está uma negação de que existe essa coisa que se chama caráter; que a vontade pode dar-se a uma inclinação que uma simples volição não pode mudar; que o ímpio pode tornar-se escravo do pecado; que Satanás, apesar de atualmente não ter forças para voltar-se para Deus, é responsável pelo seu pecado. O poder que Adão tinha de escolher o contrário não mais existe totalmente; limita-se a uma força contrária nas escolhas temporárias e subordinadas; deixa de ser igual à obra da mudança a determinação fundamental do ser para o egoísmo como um fim último. Contudo, o homem é responsável pela própria incapacidade porque esta se origina da vontade. Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.28 - "A liberdade formal conduz à liberdade real. O ponto de partida é a liberdade que, entretanto, não envolve uma necessidade interior, porém a possibilidade de algo mais; o alvo é a liberdade, que se identifica com a necessidade. Aquela é o meio para esta. Quando se escolhe plena e verdadeiramente a vontade, pode-se dizer que ainda existe, num sentido metafísico o poder de agir de outra forma; mas moralmente, isto é, com relação ao controle do bem e do mal, ela se acha totalmente abolida. A liberdade formal é a da escolha, no sentido da volição com o conhecimento expresso de outras possibilidades". A verdadeira
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liberdade é a de se escolher somente o bem, sem nenhuma possibilidade remanescente de que a vontade má exerça atração contrária. Porém, como a vontade pode atingir uma "necessidade moral" do bem, assim também pode, através do pecado atingir a "necessidade moral" do mal. c) Park: "A grande objeção filosófica ao arminianismo é a sua negação da certeza da ação humana - a idéia de que o homem pode agir de qualquer modo sem a certeza de que ele agirá - o poder de uma escolha contrária no sentido da indiferença moral que pode escolher sem motivo, ou opor-se ao mais forte motivo. O ponto de vista da Nova Escola é melhor do que este porque defende a certeza da escolha errada, conquanto a alma ainda tem o poder de fazer o que é certo. ... Os arminianos crêem que é objetivamente incerto se o homem vai agir desta ou daquela forma, correta ou erroneamente. Nada há, antes da escolha, para decidi-la. É o alvo integral de Edwards refutar a idéia de que o homem sem dúvida não pecará. O antigo calvinismo crê que, antes da queda, Adão se achava neste estado de incerteza objetiva, mas que, depois da queda, não havia mais dúvida de que ele iria pecar e esta provação, por isso, estava encerrada. Edwards afirma que a tal incerteza objetiva, ou poder no sentido contrário, sempre existiu e que o homem agora tem toda a liberdade que sempre teve ou pôde ter. A verdade na 'força em sentido contrário' é tão somente a força que a vontade tem de agir contrariamente do modo em que quer agir. O presidente Edwards crê nisto, embora normalmente se entende que ele raciocina ao contrário. A falsa 'força para o contrário' é a incerteza de como alguém agirá, ou uma vontade de agir de forma diferente daquela como ele age. Esta é a força arminiana no sentido contrário e é a isto que Edwards se opõe". e) Whedon, On the Will, 338-360,388-395 - "Antes da volição livre o homem pode estar em inconformidade com a lei, embora não sujeito à retribuição. A lei tem dois ofícios: judiciário e crítico, retributivo e final. O mal hereditário não pode ser visitado com a retribuição do mesmo modo que a pureza de Adão não foi meritória. A santidade passiva, pré-volitiva é a justiça moral, mas não mérito moral. A impureza passiva pré-volitiva necessita do concurso da vontade ativa para torná-la condenável".
D) Torna incerta a universalidade do pecado ou a responsabilidade do homem pelo referido pecado. Se o homem tem pleno poder para
Teologia Sistemática (Strong) 1196 recusar-se a admitir a depravação inata, então a universalidade do pecado e a necessidade universal de um Salvador são apenas hipotéticas. Contudo, se o pecado é universal, deve ter havido uma ausência do livre consentimento; e a certeza objetiva de o homem pecar, segundo a teoria, destrói a sua responsabilidade. Raymond, Syst. Theol., 2.86-89, sustenta ser teoricamente possível que uma criança seja ensinada e educada na admoestação e aconselhamento do Senhor e que ela nunca por conhecimento e vontade transgredirá a lei de Deus; neste caso, sem dúvida, crescerá na regeneração e, por fim, na salvação. Mas é a graça que o preserva do pecado - [a graça comum?]. Nós sabemos, quer por experiência, quer pela Escritura, que ninguém está livre das transgressões conhecidas e desejadas". J. J. Murphy, Nat. Selection and Spiritual Freedom, 26-33 - "É possível caminhar do berço à cova, não sem pecar, mas sem qualquer período de alienação de Deus, e com a vida espiritual desenvolvendo-se simultaneamente com a terrena, como aconteceu com Cristo, desde o começo". Mas, visto que a graça tão somente restaura a capacidade sem dar a disposição de empregá-la corretamente, o arminianismo, logicamente não prove a salvação de qualquer criança. O calvinismo pode providenciar a salvação de todos os que morrem na infância, pois conhece o poder divino de renovar a vontade, mas o arminianismo desconhece tal poder e, assim, está mais distante da solução do problema da salvação da criança.
3. Teoria da Nova Escola, ou Teoria da Viciosidade não Condenável
Esta é chamada de teoria da Nova Escola por causa da sua volta da velha antropologia de que Edwards (1703-1758) e Bellamy (1719-1790) foram expoentes. A teoria da Nova Escola é um esquema geral construído através de sucessivos labores de Hopkins, Emmons, Dwight, Taylor e Finney. Defendem-na atualmente os Presbiterianos da Nova Escola e a maior parte do grupo congregacional. Segundo esta teoria, todos homens nascem com uma constituição física e moral que os predispõe para o pecado e todos homens, na
Teologia Sistemática (Strong) 1197 verdade, pecam tão logo chegam a uma consciência moral. Esta viciosidade da natureza pode ser chamada pecaminosa, porque uniformemente conduz ao pecado; mas em si mesma ela não o é, visto que nada deve ser apropriadamente chamado de pecado a não ser o ato voluntário de transgressão de uma lei conhecida. Deus atribui ao homem só os atos de transgressão pessoal; ele não os atribui ao pecado de Adão; nem a viciosidade original, nem a morte física são condenações penais; são somente conseqüências com que Deus, em sua soberania, ordenou marcar o seu desagrado à transgressão de Adão e esses males sujeitam cada alma que Deus cria imediatamente. Em Rm. 5.12, "a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram", significa: "a morte espiritual passou a todos os homens, porque todos os homens real e pessoalmente pecaram". Edwards sustenta que Deus atribui o pecado de Adão à sua posteridade, identificando-a arbitrariamente com aquele. A identidade, na teoria da criação contínua (ver pp. 415-418), é apenas o que Deus designa. Porque isto não fornece base suficiente para a atribuição, Edwards liga a doutrina de Placeus a uma outra e mostra a justiça da condenação pelo fato de que o homem é depravado. Acrescenta, contudo, a consideração de que o homem ratifica a sua depravação através dos seus próprios atos. Assim Edwards tenta combinar três pontos de vista. Mas todos eles são viciados pela sua doutrina da criação contínua que, logicamente faz Deus a única causa no universo e não deixa nenhuma liberdade, culpa ou responsabilidade para o homem. Sustenta que a preservação é uma série contínua de novas volições divinas. A identidade pessoal consiste no conhecimento, ou melhor, na memória sem necessidade alguma de identidade da substância. Afirma que Deus pode dar a uma criação absolutamente nova o conhecimento de alguém já aniquilado e conseqüentemente ambos são idênticos. Afirma-o não só como possibilidade, mas como fato real. A filosofia idealista de Edwards capacita-nos a entender a sua concepção do relacionamento da raça com Adão. Ele crê em "uma união real entre a raiz e os ramos do mundo da humanidade estabelecida pelo
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autor do sistema todo do universo ... o pleno consentimento dos corações da posteridade até a primeira apostasia ... e, por isso, o pecado da apostasia não é deles somente porque Deus lhos atribuiu, mas é verdadeira e apropriadamente deles e, com base nisso, é que Deus lhos atribuiu". Hagenbach, Hist. Doct., 2.435-448, esp. 436, cita de Edwards: "A culpa que um homem leva sobre a sua alma no começo da sua existência é tão somente uma, a saber: a culpa da apostasia original, a do pecado pelo qual a espécie, no começo, rebelou-se contra Deus". Interprete isso com outras palavras de Edwards: "A criança e o fruto do carvalho, que vêm à existência no curso da natureza são, na verdade, criados por Deus" - i.e. criados continuamente (citação de Dodge, Christian Theology, 188). Allen, Jonathan Edwards, 310 - "Isto exige apenas um passo do princípio de que cada indivíduo tem uma identidade de conhecimento com Adão, até chegar à conclusão de que todo indivíduo é Adão e repete a experiência dele. Podese dizer que cada homem, como Adão, vem ao mundo assistido pela natureza divina e, como ele, peca e cai. Neste sentido, o pecado de cada homem torna-se o pecado original". Adão torna-se, não o cabeça da humanidade, mas o seu tipo genérico. Daí surge a doutrina da Escola Nova a respeito do pecado e culpa exclusivamente individuais. Shedd, Hist. Doctrine, 2.25, apresenta Edwards como traducianista. Mas Fisher, Discussions, 240, mostra que ele não o era. Como já vimos (Prolegômenos, pp. 48,49), pensava muito pouco na natureza. Ele tendia para o berkelianismo aplicado à mente. Portanto, o principal bem encontrase na felicidade - uma forma de sensibilidade. A virtude é uma escolha voluntária deste bem. Portanto, basta a união de atos e exercícios com Adão. Esta vontade de Deus pode identificar o ser com ele. Baird, Elohim Revelado, 250 sg., diz com precisão que a "idéia de Edwards de que se deve buscar o caráter de um ato em algum outro lugar que em sua causa envolve a suposição falaz de que os atos subsistem e tem atuação moral independentemente do seu autor". Esta divergência da verdade conduz ao sistema de exercício de Hopkins e Emmons, que, não só negam o caráter moral antes das escolhas individuais (i.e. negam o pecado da natureza), mas atribuem todos atos humanos e exercícios à eficácia direta de Deus. Hopkins declara que o ato de Adão, ao comer o fruto, não é o da posteridade; por isso a posteridade não peca ao mesmo tempo que Adão. A pecaminosidade daquele ato não pode transferir-se de uma pessoa para a
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outra mais do que um ato em si. Por isso, embora os homens se tenham tornado pecadores através de Adão, segundo a constituição divina, contudo eles não têm pecados a não ser pessoais e prestam contas por eles. Ver Woods, History of Andover Theological Seminary, 33. Assim a doutrina da criação contínua conduz ao sistema de exercício e o sistema de exercício conduz à teologia dos atos. N. W. Taylor, de New Haven, concorda com Hopkins e Emmons em que não há nenhuma atribuição do pecado de Adão ou da depravação inata. Ele não chama tal depravação de moral, mas física. Repudia, entretanto, a doutrina da eficácia divina na produção dos atos e exercícios humanos e faz todo pecado ser pessoal. Defende o poder de escolha contrária. Adão a teve e, ao contrário da crença dos agostinianos, nunca a perdeu. O homem "não somente pode se quer, mas pode mesmo que não queira". Ele pode, mas, sem o Espírito, não quer. Diz ele: Ό homem pode, o que quer que o Espírito faça ou não"; mas também: "O homem não pode, a não ser que o Espírito Santo auxilie"; "Se eu fosse tão eloqüente como o Espírito Santo, converteria os pecadores tão rapidamente quanto ele". Contudo ele não sustenta a liberdade arminiana de indiferença ou contingência. Crê na certeza da ação errônea, embora no poder de agir ao contrário. Ver Moral Govt.. 2.132 - Ό erro de Pelágio não está em afirmar que o homem pode obedecer a Deus sem a graça, em dizer que, na verdade, obedece a Deus sem a graça". Há uma parte da natureza dos pecadores para a qual os motivos do evangelho podem apelar - parte da sua natureza que nem é santa, nem impura, a saber, o amor próprio, ou o desejo inocente da felicidade. A maior felicidade é a base da obrigação. Sob a influência dos motivos que apelam para a felicidade, o pecador pode suspender sua escolha do mundo o bem principal e entregar o seu coração a Deus. Pode agir desta maneira, quer o Espírito Santo o faça, quer não; mas a incapacidade moral só pode ser vencida pelo Espírito Santo, que move a alma, sem coagi-la, mas através da verdade. Esta forma da doutrina da Nova Escola sugere as seguintes perguntas: 1. pode o pecador suspender o seu egoísmo antes de ser dominado pela graça divina? 2. Pode a escolha que ele faz de Deus ser santa tão somente a partir do amor próprio? 3. Visto que Deus exige amor em cada escolha, não deve esta ser positivamente impura? 4. Se não é uma escolha santa, como pode ser o começo da santidade? 5. Se o pecador pode tornar-se
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regenerado, preferindo Deus na base de um interesse próprio, onde está a necessidade do Espírito Santo renovar o coração? 6. Esta dita capacidade que o pecador tem de voltar-se para Deus contradiz o conhecimento e a Escritura? Nem, por um lado Hopkins e Emmons, nem Taylor, por outro, representam mais completamente o curso geral da Teologia da Nova Inglaterra. Smalley, Dwight, Woods, todos defendem os mais conservadores pontos de vista do que Taylor, e do que Finney, cujo sistema tem muito a ver com o de Taylor. Todos três negam a força contrária de escolha que o Dr. Taylor firmemente sustenta embora todos concordem com ele em negar a atribuição do pecado de Adão ou a sua depravação hereditária. Estas não são pecaminosas a não ser no sentido de ocasionar o verdadeiro pecado. Entendeu-se que o Dr. Park, de Andover, ensina que o estado desordenado das sensibilidades e faculdades com que nascemos é a ocasião imediata do pecado, enquanto a transgressão de Adão é a sua ocasião remota. A vontade, apesar de influenciada pela tendência má, em si não é livre e, por isso, não é pecado. A afirmação da doutrina da Nova Escola, dada nos textos, pretende representar a doutrina comum da Nova Inglaterra ensinada por Smalley, Dwight, Woods e Park; apesar de que a tendência histórica, mesmo entre os teólogos, tem sido a de dar ênfase cada vez menor às tendências depravadas antes do pecado ativo e de sustentar que o caráter moral só começa com a escolha individual, na sua maioria, contudo, sustentam que tal escolha individual começa no nascimento. Tanto Ritschl como Pfleiderer inclinam-se para a interpretação da Nova Escola a respeito do pecado. Ritschl, Unterricht, 25 - "A morte universal é conseqüência do pecado do primeiro homem e a morte de sua posteridade prova que ela também pecou". Deste modo, a morte é universal, não por causa da geração natural de Adão, mas por causa dos pecados da sua posteridade. Pfleiderer, Grundriss, 122 - "Pecado é uma direção da vontade que contraria a idéia moral. Como os anteriores atos pessoais da vontade, ela não é uma culpa pessoal, mas uma imperfeição e um mal. Quando persiste não obstante o despertado conhecimento moral e através da indulgência tornar-se um hábito, a culpa cabe à anormalidade".
À teoria da Nova Escola objetamos:
Teologia Sistemática (Strong) 1201 A) Ela contradiz a Escritura ao sustentar ou implicar: a) Que o pecado consiste apenas em atos e em disposições causadas em cada circunstância pelos atos dos homens individualmente e que o estado que predispõe para os atos pecaminosos não é em si pecado. b) Que a viciosidade que predispõe ao pecado é uma parte da natureza de cada homem porque procede da mão criadora de Deus. c) Que, na raça humana, a morte física não é conseqüência penal da transgressão de Adão. d) Que as crianças, antes da consciência moral, não necessitam do sacrifício de Cristo para a sua salvação. Visto que elas são inocentes, nenhum castigo repousa sobre elas, e nada precisa ser removido. e) Que não somos condenados com base na verdadeira essência de Adão, nem justificados na verdadeira essência de Cristo. Se é impossível que uma criança seja impura antes de transgredir voluntariamente, então, por igual raciocínio, Adão não podia ter sido santo antes de obedecer à lei, nem uma mudança no coração pode anteceder a ação cristã. Os princípios da Nova Escola devem compelir-nos a afirmar que a ação correta antecede à mudança do coração e que em Adão a obediência deve ter antecedido à santidade. Emmons sustenta que, se as crianças morrem antes de tornar-se agentes morais, é mais racional concluir que elas são aniquiladas. São meros animais. A doutrina comum da Nova Escola deve considerá-las salvas, ou por causa da sua inocência, ou porque a expiação de Cristo é valiosa para remover as conseqüências do pecado, assim como a sua pena. Mas dizer que os infantes são puros contradiz Rm. 5.12 - "todos pecaram"; 1 Co. 7.14 - "vossos filhos seriam imundos"; Ef. 2.3 - "por natureza filhos da ira". Em nenhum lugar a Escritura afirma ou implica que a expiação de Cristo remove as conseqüências naturais do pecado. Ver, per contra, H. B. Smith, System, 271, onde, contudo, só se afirma que Cristo salva de todas conseqüências justas do pecado. Mas todas conseqüências justas são penas e devem ser chamadas assim. As exigências da doutrina da Nova Escola compelem a pôr o começo do pecado no infante precisamente no primeiro momento da sua existência separada; para não contradizer as Escrituras, que falam do pecado como universal e da
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expiação como necessária a todos. O Dr. Park sustenta que as crianças pecam tão logo nascem. Ele foi obrigado a sustentar isso ou, doutra forma, dizer que há alguns membros da raça humana que não são pecadores. Mas ao fazer esta colocação do pecado, no início da experiência humana, retirase todo o sentido da definição da Nova Escola a respeito do pecado como "transgressão voluntária da lei conhecida". Apoiado nessa teoria, é difícil dizer que tipo de escolha do pecado o infante faz, ou que tipo de lei conhecida ele transgride. A primeira necessidade da teoria do pecado é a de satisfazer as afirmações da Escritura. A segunda é que deve assimilar o ato do homem que justifique a aplicação da aflição, do sofrimento e da morte à raça humana toda. Nosso senso moral recusa-se a aceitar a conclusão de que tudo isto é matéria da soberania arbitrária. Não podemos encontrar o ato na transgressão consciente de cada homem, nem no pecado cometido no nascimento. Tal transgressão voluntária da lei conhecida encontramos em Adão; e reivindicamos que a definição da Nova Escola sobre o pecado é muito mais consistente com esta última explicação da origem do pecado do que a teoria de uma multidão de transgressões individuais. O teste final de cada teoria, contudo, é a sua conformidade com a Escritura. Reivindicamos que uma falsa filosofia impede os que advogam a doutrina da Nova Escola de entenderem as declarações de Paulo. A filosofia deles é uma sobrevivência modificada do pelagianismo atomista. Ignoram tanto a natureza de Deus como a do homem e vêem a solução do caráter nos atos transitórios. Levam pouco ou nada em conta o estado inconsciente ou subconsciente da vontade, e a possibilidade de outra vida mais elevada, interpenetrando e transformando a nossa, raramente apresenta-se ao intelecto deles. Estes não têm nenhuma idéia apropriada da união do crente com Cristo e, por isso, não a têm da união da raça com Adão. Precisam aprender que, como toda a vida espiritual da raça está em Cristo, o segundo Adão, assim toda a vida natural dela está em Adão; como daquela derivamos a justiça, desta derivamos a corrupção. Porque a vida de Cristo está neles, Paulo pode dizer que todos os crentes se levantam na ressurreição de Cristo; porque a vida de Adão está neles, Paulo pode dizer que em Adão todos morrem. É preferível dizer com Pfleiderer que Paulo ensina esta doutrina, mas que, para nós, Paulo não é autoridade nenhuma
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se, ao aceitarmos o seu ensino, evadimos à força do seu argumento. Concordamos com Stevens, Pauline Theol., 135,136, que todos homens "pecaram no mesmo sentido em que os crentes foram crucificados para o mundo e morreram para o pecado quando Cristo morreu na cruz". Mas protestamos que fazer a morte de Cristo mera ocasião da morte do crente e o pecado de Adão a mera ocasião dos pecados dos homens é ignorar as verdades centrais do ensino de Paulo — a união vital do crente com Cristo e a união vital da raça com Adão.
B) Apóia-se em falsos princípios filosóficos, tais como: a) Que a alma é imediatamente criada por Deus. b) Que a lei de Deus consiste totalmente em ordem exterior. c) Que a capacidade natural atual de obedecer à lei é a medida da obrigação. d) Que o relacionamento do homem com a lei moral é exclusivamente individual. e) Que a vontade é tão somente a faculdade de escolha individual e pessoal. f) Que, no nascimento, não apresenta nenhum estado ou caráter moral. Ver Baird, Elohim Revealed, 250 ss. - "A personalidade é inseparável da natureza. O único dever é o amor. A menos que algum dado dever seja apresentado através da atividade de um princípio de amor que brota na natureza, na verdade, ele não se realiza. A lei dirige a natureza. A causa eficiente da ação moral é a própria matéria da lei moral. Só na perversidade da teologia não escriturística é que achamos o absurdo da separação do caráter moral da substância da alma, atando-o aos atos desvanecedores da vida. A idéia de que a responsabilidade e o pecado são predicativos de meras ações é apenas consistente com uma total negação de que a natureza do homem, como tal, deve algo a Deus, ou tem um ofício a realizar na manifestação da sua glória. Ignora o fato de que as ações são fenômenos vazios que, em si, não têm nenhum valor possível. É o coração, a alma, a mente, a força com que temos de amar. Cristo se conforma com a lei, sendo ‘O santo’ (Lc. 1.35). Princípios filosóficos errôneos formam a base das interpretações da Nova Escola sobre a Escritura. Ignora-se a solidariedade da raça e sustentase que a ação moral seja individual. Em nossa discussão sobre a teoria agostiniana do pecado, esperamos mostrar que a doutrina subjacente de
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Paulo é uma filosofia completamente diferente. Tal filosofia, somada a uma experiência cristã mais profunda, corrigiu a seguinte afirmação do ponto de vista de Paulo sobre o pecado em Orello Cone, Am. Jour. TheoL, abril, 1898, 241-267. Sobre a expressão de Rm. 5.12 - "porque todos pecaram" assinala: "Se, sob a nova ordem, os homens não se tornam justos simplesmente por causa da justiça de Cristo e, sem a escolha deles, nem sob a velha ordem, é pensamento de Paulo que eles estão sujeitos à morte sem os seus atos de pecado. Concebe-se que cada cabeça representante somente como ocasionador dos resultados, a sua obra, por um lado, na trágica ordem da morte, por outro lado a bendita ordem da vida - ocasião indispensável para tudo o que segue em qualquer das ordens. ... Pode-se questionar se Pfleiderer não estatui o caso muito fortemente quando diz que o pecado da posteridade de Adão é considerado uma conseqüência necessária do pecado de Adão. Não se segue deste emprego do aoristo ήμαρτον que a ação de todos pecarem está contida na de Adão, embora este sentido deve ser considerado gramaticalmente possível. Contudo, este não é o único sentido gramaticalmente defensável. Em Rm. 3.23 certamente ήμαρτον não denota o ato pretérito definido preenchendo apenas um ponto de tempo". Respondemos, porém, que o contexto determina que em Rm. 5.12, ήμαρτον denota tal pretérito definido; ver nossa interpretação da passagem toda sob a teoria agostiniana, págs. 625-627.
C) Impugna a justiça de Deus. a) Considerando-o o criador direto de uma natureza viciosa que conduz cada ser humano infalivelmente à real transgressão. Sustentar que, em conseqüência do ato de Adão, Deus faz com que todos homens se tornem pecadores, e isto, não em virtude das leis inerentes da propagação, mas da criação direta em cada caso de uma natureza viciosa, e fazer Deus indiretamente o autor do pecado. b) Representando-o como o condenador ao sofrimento e morte de milhões de seres humanos que, nesta vida presente, não chegam à consciência moral e que, por isso, segundo a teoria, perfeitamente inocentes. Isto é fazê-lo visitar o pecado de Adão na sua posteridade enquanto, ao mesmo tempo, nega que a conexão moral entre Adão e a sua posteridade só poderiam justificar tal visitação.
Teologia Sistemática (Strong) 1205 c) Sustentando que a prova que Deus indica para o homem é individual para cada alma, quando vem primeiro chega à consciência moral e é menos qualificado para fazer uma decisão correta. Isto concorda muito mais com as nossas idéias da justiça divina que a decisão seja tomada por toda a raça, em alguém cuja natureza era pura e que entendia perfeitamente a lei de Deus, do que o céu e o inferno estejam determinados para cada um de nós através de uma decisão tomada na nossa inexperiente infância sob a influência de uma natureza viciada. Nesta teoria Deus determina, em sua soberania, que, em vista de um homem ter cometido pecado, todos os homens portam a existência depravada, sob uma constituição que garante a certeza do pecado deles. Mas defendemos que é injusto alguém sofrer o mal sem merecê-lo. Dizer que Deus marca o seu senso de culpa do pecado de Adão é contrariar o papel principal da teoria, a saber, que os homens são apenas responsáveis por seus próprios pecados. Preferimos justificar Deus, sustentando que há uma razão para tal aplicação, isto é, a conexão do infante com Adão. Se a simples tendência para o pecado é inocente, então Cristo podia tê-la tomado, quando tomou a nossa natureza. Mas, se o tivesse feito, não se explicaria o fato da expiação, pois, com base nesta teoria ela não seria necessária. Dizer que a criação herda uma natureza pecaminosa, não como pena, mas pela lei natural, é ignorar o fato de que tal lei natural simplesmente é a ação regular de Deus, a expressão da sua natureza moral e, por conseqüência, é a própria pena. "O homem mata uma cobra", diz Raymond, "porque ela é uma cobra e não porque ela é culpada de ser cobra", - o que nos parece uma nova prova de que os que defendem a depravação inocente dos infantes, não como seres morais, mas somente como animais. "Devemos distinguir excelência automática maldade", diz Raymond, "do mérito moral quer seja bom quer mau". Isto nos parece uma punição sem culpa. Princeton, Essays, 1.138, cita Coleridge: "É um ultraje ao senso comum afirmar que não é nenhum mal o homem ser posto a prova sob tais circunstâncias que nem um dentre dez mil milhões jamais escapa ao pecado e à condenação eterna. Inflige-se o mal sobre nós como conseqüência do pecado de Adão antes das nossas transgressões pessoais. O importante não é o que esse mal significa, quer
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seja morte temporal, corrupção da natureza, certeza do pecado, quer tenha a morte um sentido mais extenso; se a base da vinda do mal sobre nós é o pecado de Adão, o princípio é o mesmo". Baird, Elohim Revealed, 488 - A impressão que se tem é: "se uma criatura é punida, isto implica que alguém pecou, mas não se sugere necessariamente que o sofredor seja o pecador! Bem ao contrário é o argumento do apóstolo em Rm. 5.12-19, que se baseia na doutrina oposta e também contraria a prática de Deus, que pune apenas os que merecem".
D) Sua limitação da responsabilidade nas escolhas más do indivíduo e nas disposições causadas por elas é inconsistente com os seguintes fatos: a) A primeira escolha moral de cada indivíduo é de tal modo involuntária a ponto de não ser lembrada. A ação de uma criança, como sustentam os principais defensores da teoria da Nova Escola, não responde à definição de pecado como transgressão voluntária de uma lei conhecida. A responsabilidade de tal escolha não difere da do mau estado inato da vontade que se manifesta em tal escolha. b) A uniformidade da ação pecaminosa entre os homens não pode ser explicada pela existência de uma simples faculdade de escolha. O fato de que os homens deveriam escolher uniformemente pode ser explicado deste modo; mas que os homens deveriam escolher o mal requer que postulemos uma tendência ou estado mau da própria vontade antes da escolha destes atos separados. Esta tendência má ou determinação inata para o mal, visto que é a causa real dos verdadeiros pecados, deve por si mesma ser pecado e, como tal culpável e condenável. c) A força de vontade para evitar a viciosidade inata do próprio desenvolvimento nesta teoria é uma condição necessária para a responsabilidade pelos verdadeiros pecados. Mas a uniformidade absoluta da real transgressão evidencia que a vontade não tem poder para isso. Se a responsabilidade diminui quando aumentam as dificuldades para a livre decisão, o fato de que elas são insuperáveis mostra que não
Teologia Sistemática (Strong) 1207 pode haver responsabilidade alguma. Por isso, negar a culpa do pecado inato é virtualmente negar a culpa do verdadeiro pecado que se origina dela. O objetivo de todas as teorias é encontrar uma decisão da vontade que justificará o fato de Deus condenar o homem. Em que idade localizamos tal decisão? Aos quinze anos, aos dez, aos cinco? Então, todos os que morrem antes dessa idade não são pecadores, não podem, com justiça, ser punidos com a morte e nem necessitam de um Salvador. Ε no nascimento? Mas nesse instante a decisão não é tão consciente contra Deus como, segundo esta teoria, torná-la-ia determinante do nosso destino futuro. Reivindicamos que a teoria de Agostinho - do pecado da raça em Adão - é a única que mostra uma transgressão consciente adequada a ser a causa e base da culpa e condenação do homem. Wm. Adams Brown: "Quem pode dizer até onde os seus atos são causados pela sua própria vontade e até onde, pela natureza que ele herdou? Os homens se sentem culpados pelos atos que, em grande parte, se devem à natureza herdada, que esta é culpada, merece o castigo e está certa de recebê-lo". H. B. Smith, System, 350, nota - "Tem-se dito, com sarcasmo, contra a velha teologia que os homens desejam muito especular sobre o pecado de Adão de modo a ter a sua atenção desviada do sentido da culpa pessoal. Mas a história toda dá testemunho de que aqueles que creram mais plenamente na nossa corrupção ativa e estritamente moral como Agostinho, Calvino é Edwards - sempre tiveram o mais profundo senso do demérito pessoal. Conhecemos perfeitamente o mal do pecado somente quando conhecemos as raízes e os frutos". "Causa causae est causa causati". A depravação inata é a causa do primeiro pecado atual. A causa da depravação inata é o pecado de Adão. Se não há culpa no pecado original, então o pecado atual, que brota dele, não pode ser objeto de culpa. Há subseqüentes pecados de presunção em que o elemento pessoal supera o racial e a hereditariedade. Mas não se pode dizer isto dos primeiros atos que tornam o homem pecador. Estas são o resultado tão natural e uniforme da determinação inata da vontade, que não podem ser culpadas, a menos que a determinação inata também o seja. Em resumo, nem todo pecado é pessoal. Deve haver um pecado da natureza -
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pecado racial - o início do pecado atual não pode ser explicado ou considerado como objeto da condenação da parte de Deus. Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.320-328, 341 - "Se a depravação profundamente arraigada que nos põe em contato com o mundo não é o nosso pecado, torna-se uma desculpa para os pecados atuais". Ensaios de Princeton, 1.138,139 Alternativa: 1. Pode o homem por sua própria força evitar o desenvolvimento da depravação hereditária? Então nós não sabemos que todos os homens são pecadores, ou que a salvação de Cristo é necessária a todos. 2. É o pecado atual uma conseqüência necessária da depravação hereditária? Então ela é, segundo esta teoria, não mais um ato livre, e não é culpada, visto que a culpa é um predicativo só da transgressão voluntária da lei conhecida.
4. Teoria Federal, ou Teoria da Condenação por Pacto A Teoria Federal ou dos Pactos, originou-se com Cocceius (16031669), professor em Leyden, porém foi mais completamente elaborada por Turrettin (1623-1687). Tornou-se uma doutrina dos reformados distinta da igreja luterana e nos Estados Unidos tem seus principais defensores na escola de teólogos de Princeton, de que o Dr. Charles Hodge foi seu representante. Segundo este ponto de vista, Adão foi constituído, por indicação soberana de Deus, o representante de toda a raça humana. Tendo Adão como seu representante, Deus entrou no pacto, concordando em dar-lhes a vida eterna sob a condição de render-lhe obediência, mas fazendo o castigo da desobediência ser a corrupção e a morte de toda a sua posteridade. Segundo os termos deste pacto, visto que Adão pecou, Deus considera todos os seus descendentes como pecadores ρ os condena por causa da transgressão de Adão. Na execução desta sentença de condenação, Deus cria imediatamente cada alma da posteridade de Adão com uma natureza corrompida e depravada, que infalivelmente conduz ao pecado, e ela mesma é pecado. Por isso, é a teoria da atribuição imediata do pecado de Adão à posteridade; a corrupção da sua natureza não é a causa dessa
Teologia Sistemática (Strong) 1209 atribuição, mas o seu efeito. Em Rm. 5.12, "a morte passou a todos os homens porque todos pecaram", significa: "a morte física, espiritual e eterna veio para todos porque todos foram considerados e tratados como pecadores". Fisher, Discussions, 355-409, estabelece comparação entre as teorias agostiniana e federal sobre o pecado original. Seu desenvolvimento da teoria federal é, substancialmente, o seguinte: A teoria federal é a dos pactos (foedus, pacto, aliança). 1. O pacto é uma constituição soberana imposta por Deus. 2. A união federal é a base legal da atribuição, apesar de que o reino adâmico é a razão pela qual o nosso primeiro pai, e não outro, ter sido escolhido como nosso representante. 3. A nossa culpa pelo pecado de Adão é simplesmente uma responsabilidade legal. 4. O pecado atribuído é punido pela depravação inata e esta com a morte eterna. Agostinho não consegue reconciliar a depravação inerente com a justiça de Deus; por isso ele defende a idéia de que pecamos em Adão. Anselmo diz: "Porque a natureza humana toda estava neles (Adão e Eva), e fora deles nada havia da referida natureza, o todo se enfraqueceu e se corrompeu". Todo pecado depende da vontade; mas esta é uma parte da nossa herança. Os descendentes de Adão não se acham nele como indivíduos; todavia, o que ele fez como pessoa não o fez sine natura, e esta natureza é tanto nossa como dele. Este é o ponto de vista de Pedro Lombardo. Os pecados dos nossos ancestrais imediatos, porque são qualidades puramente pessoais, não são propagados. Após o primeiro pecado de Adão, as reais qualidades do nosso primeiro pai ou dos pósteros não corromperam a natureza no que tange às qualidades dela, mas só no que tange às da pessoa. Calvino sustentava duas proposições: 1. Não somos condenados pelo pecado de Adão independente da nossa depravação inerente que deriva dele. O pecado por que somos condenados é o nosso próprio pecado. 2. Este não é nosso em razão de que a nossa natureza é viciada em Adão e recebemo-la na condição em que ela foi posta na primeira transgressão. Melanchton também defende uma atribuição do primeiro pecado condicionado à primeira depravação inata. O impulso ao federalismo se deu
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pela dificuldade de explicar, na teoria agostiniana pura, a não atribuição dos pecados adâmicos subseqüentes e os da sua posteridade. Cocceius (holandês, Coch; inglês, Cook), autor da teoria pactuai, supôs ter resolvido a dificuldade, fazendo o pecado de Adão ser-nos atribuído na base de um pacto entre Deus e Adão, segundo o qual Adão representaria a posteridade. Contudo, para Cocceius, no emprego deste termo, a única diferença entre o pacto e a ordem encontra-se na promessa ligada à sua guarda. Sobre o equívoco, nos modernos defensores da atribuição, Fisher assinala ignorar o fato capital de uma verdadeira e real participação no pecado de Adão. O grande grupo de teólogos calvinistas do século XVII é formado de agostinianos e federalistas. Assim são Owen e a Confissão de Westminster. Turrettin, contudo, quase fundiu a relação natural com Adão à federal. Edwards recuou à velha doutrina de Aquino e Agostinho. Tentou formular a participação real no primeiro pecado. Esta participação é o primeiro surgimento da inclinação pecaminosa através de uma identidade divinamente constituída. Mas Hopkins e Emmons consideram a inclinação pecaminosa, não uma participação real, mas tão somente um consentimento com o pecado de Adão. Daí a teologia da Nova Escola, na qual abandonouse a atribuição do pecado. Contrariamente, os calvinistas da Escola de Princeton plantaram-se na teoria federal e, tomando Turrettin como seu livro de texto, encetaram uma guerra sobre os pontos de vista da Nova Inglaterra, não dispensando totalmente o próprio Edwards. Após esta revisão da origem da teoria, creditada principalmente a Fisher, pode-se ver facilmente quão pouca verdade há na suposição dos teólogos de Princeton de que a teoria federal é "a imemorável doutrina da igreja de Deus". Afirmações da teoria encontram-se em Cocceius, Summa Doctrinae de Foedere, caps 1, 5. Turrettin, Institutes, loc. 9, quaes. 9; Princeton Essays, 98-185, esp. 120 - "Na atribuição há, primeiro, uma atribuição de alguma coisa àquela matéria; segundo, uma determinação de tratá-la concordemente". A base desta atribuição é a união tanto entre pais e filhos como a união da representação, que é a idéia mestra na qual se insiste aqui". 123 - "Como em Cristo somos constituídos justos para a atribuição da justiça, assim também em Adão somos feitos pecadores pela atribuição do
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seu pecado. ... A culpa é o risco ou exposição ao castigo; no emprego teológico, não implica torpeza moral, ou criminalidade". 162 - Cita-se Turrettin: "Por isso, o fundamento da atribuição não é simplesmente a conexão natural existente entre nós e Adão - pois, se fosse o caso, todos os pecados dele seriam atribuídos a nós, mas, principalmente, os morais e os federais com base no fato de que Deus entrou no pacto com Adão como o cabeça. Por isso, nesse pecado, Adão não agiu como uma pessoa particular, mas pública e como procurador". A unidade resulta do contrato: freqüentemente não se menciona a união natural. Marck: Todos pecaram em Adão, "nosso representante". Os atos de Adão e os de Cristo são nosso "jure representation". G. W. Northrup ordena a teoria federal do seguinte modo: "1) a atribuição da culpa de Adão; 2) a condenação baseada nessa culpa; 3) a corrupção da natureza em conseqüência do tratamento como condenado. Assim, a imputação judicial do pecado de Adão é a causa e a base da corrupção inata. ... Todos os atos, com exceção única do pecado de Adão, são atos divinos: a indicação de Adão, a criação dos seus descendentes, a atribuição da sua culpa, a condenação da posteridade, e a conseqüente corrupção desta. Aqui temos a culpa sem o pecado, a exposição à ira divina sem o merecimento do mal. Deus considera os homens como o são, punindo-os na base do pecado cometido antes que eles existissem, e visitando-os com a condenação e reprovação gratuita. Eis aqui a representação arbitrária, a atribuição fictícia, a culpa construtiva, a expiação limitada". Revista Presbiteriana, jan., 1882, 30 defende que Kloppenburg (1642) precedeu Cocceius (1648) ao sustentar a teoria das alianças, como o fizeram os Cânones de Dort.
Objeções: A) Não pertence às Escrituras; não existe nenhuma menção de tal pacto com Adão no relato da provação adâmica. A suposta alusão à apostasia adâmica em Os. 6.7, onde se emprega a palavra "pacto", é também precária e mui obviamente metafórica para fornecer a base de um esquema de atribuição (ver Henderson, Com. On Minor Prophets in loco). Hb. 8.8 "novo pacto" – sugere um contraste não com um pacto adâmico, mas mosaico (cf. v. 9).
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Em Os. 6.7 - "Eles traspassaram o concerto, como Adão" - a versão corrigida de Henderson, Profetas Menores: "Mas eles, como homens que quebraram o concerto, provaram-se falsos para comigo". LXX: αυτοί δε εισιν ώς άνθρωπος παραβαίνων διαθήκην. De Wette: "Aber sie übertreterden Bund nach Menschenart; daselbst sind sie mir treulos". Aqui a palavra Adão, traduzida por "homem", significa um homem, ou, genericamente, "homem". Israel deu tão pouca consideração aos pactos para com Deus como fazem os homens sem princípio em seus contratos comuns". "Como um homem" = como fazem os homens. Compare SI. 82.7 - "Traspassaram o meu concerto" - alusão ao pacto abraâmico, ou mosaico. Hb. 8.8,9 - "Eis que virão dias, diz o Senhor, em que, com a casa de Israel e com a casa de Judá, estabelecerei um novo concerto, não segundo o concerto que fiz com os seus pais no dia em que os tomei pela mão para os tirar do Egito".
B) Contradita a Escritura, fazendo o primeiro resultado do pecado de Adão dever-se a Deus considerar e tratar a raça como formada de pecadores. Ao contrário, a Escritura declara que a ofensa de Adão nos constituiu pecadores (Rm. 5.19). Nós não somos pecadores somente porque Deus nos considera e trata como tais, mas Deus nos considera pecadores porque nós o somos. O que se diz é que a morte "passou a todos os homens", não porque todos eram considerados e tratados como pecadores, mas "porque todos pecaram" (Rm. 5.12 Para a exegese completa de Rm. 5.12-19 ver nota na discussão sobre a teoria que apresenta Adão como o Cabeça Natural (625/7). O Dr. Paulo Park causa grande ofensa ao dizer que os assim chamados "pactos" da lei e da graça, mencionados na Confissão de Westminster, feitos por Deus com Abraão e Cristo, respectivamente, na verdade, foram feitos na Holanda". A palavra foedus, em tal conexão pode, com propriedade, significar nada mais que "ordenança"; ver Virgílio, Georgics, 1.60-63 - "eterna foedera". E. G. Robinson, Christian Theol., 185 - "O 'pacto' de Deus com os homens é simplesmente o seu método de tratá-los segundo o conhecimento e oportunidade deles".
Teologia Sistemática (Strong) C) Impugna a justiça de Deus, implicando:
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a) Que Deus sustenta que os homens são responsáveis pela violação de um pacto de cujo estabelecimento eles não participaram. O pacto assumido é somente um decreto soberano; a justiça assumida, uma vontade arbitrária. Não só nós nunca autorizamos Adão a fazer tal concerto, com não há nenhuma evidência de que ele jamais o tenha feito. Nem também é certo que Adão sabia que ele teria posteridade. No caso da atribuição dos nossos pecados a Cristo, este concertou voluntariamente levá-los e juntou-se à nossa natureza para que pudesse levá-los. No caso da atribuição da justiça de Cristo, primeiro nos tornamos um com ele e, baseados nessa nossa união, somos justificados. Mas na teoria federal, somos condenados com base num pacto que nem instituímos, nem dele participamos, nem com ele assentimos.
b) Que, baseado neste pacto, considera os homens como pecadores ainda que não o sejam. Mas Deus julga segundo a verdade. A sua condenação não se processa baseada na ficção legal. Ele não pode considerar responsável pela transgressão de Adão apenas os que, em certo sentido real, relacionaram-se e tiveram parte naquela transgressão. Ver Baird, Elohim Revealed, 544 - "Eis aqui um pecado, que não é nenhum crime, mas uma simples condição de sermos considerados e tratados como pecadores; e uma culpa devida à pecaminosidade que não implica demérito moral ou torpeza, isto é, pecado que, de modo nenhum é culpa. Por que Deus não pode, com tanta justiça atribuir o pecado de Adão aos anjos decaídos e puni-los por isso? Dorner, System Doct., 2.351; 3.53,54 "Hollaz sustenta que Deus trata os homens segundo o que ele prevê que farão, se eles estão em lugar de Adão" (scientia media e imputatio metaphysica). Birks, Difficulties of Beliel, 141 -A atribuição imediata é tão importante com a imputatio metaphysica, isto é, o ato de Deus condenar-nos por aquilo que ele sabe que nós teríamos feito em lugar de Adão. Nessa teoria não há necessidade alguma de provação. Deus pode condenar
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metade da raça de uma vez ao inferno sem haver provação com base no fato de que, afinal de contas, todos pecarão e, de qualquer modo, irão para lá". A justificação pode ser gratuita, mas a condenação não. "Como a teoria do pacto social de governo, a teoria do pacto do pecado é mera ficção legal. Explica só em parte. A teoria dos teólogos da Nova Inglaterra, que atribui somente à soberania a atitude de Deus tornar-nos pecadores em conseqüência do pecado de Adão é mais razoável que a teoria federal" (Fisher). O Professor Mose Stuart caracteriza esta teoria como a de "culpa fictícia, mas de condenação veraz". A economia divina não admite nenhuma substituição fictícia, nem evasivas forenses. Nenhum sofisma legal pode modificar a justiça eterna. O federalismo reverte a ordem própria e coloca o efeito antes da causa como no caso da teoria compacta social de governo. Ritchie, Darwin and Hegel, 27 - "É ilógico dizer que a sociedade se originou de um contrato; porque este pressupõe aquela". Unus homo, nullus homo = sem sociedade não há pessoas. T. H. Green, Prolegomena to Ethics, 351 "Nenhum indivíduo pode fazer por si uma consciência. Ele sempre necessita de uma sociedade para fazê-la para si. ... 200 - Só através da sociedade a personalidade se realiza". Royce, Spirit of Modem Philosophy 209, nota – A inter-relação dos indivíduos é condição para a centralidade de si mesmo. "Somos membros uns dos outros" Rm. 12.15). Schurman, Agnosticism, 176 – "O indivíduo nunca pode desenvolver uma personalidade a não ser treinando através de uma sociedade e sob uma lei". Imagine uma teoria em que uma família se originasse em uma convenção! Não podemos ver o estado por suas origens rudes do mesmo modo que não podemos definir o carvalho pelo seu fruto.
c) Que, depois de considerar pecadores os que não o são, Deus os faz tais, criando cada alma humana com a natureza corrupta para que correspondam ao seu decreto. Isto não só deve admitir um ponto de vista falso a respeito da origem da alma, mas também faz Deus diretamente o autor do pecado. A atribuição do pecado não pode preceder e explicar a atribuição.
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Por um ato de Deus tornamo-nos depravados como conseqüência penal do ato de Adão imputado a nós somente como pecatum alienum. Dabney, Theology, 342, diz que a teoria considera a alma originariamente pura até a atribuição. Hodge, System. Theol., 2.203, 210 (sobre Rm. 5.13); Thornwell, Theology, 1.346-349; Chalmers, Institutes, 1.485, 487. A teoria federal faz o nosso pecado ser uma punição do pecado alheio, como no esquema agostiniano, que considera a nossa depravação a punição do pecado adâmico. ... sustenta que o pecado não traz castigo eterno, mas somos tão responsáveis por ele como Adão". Só resta dizer que o Dr. Hodge sempre se recusou persistentemente a admitir um elemento a mais que pudesse ter feito o seu ponto de vista menos arbitrário e mecânico, a saber, a teoria traducianista da alma. Ele é criacionista e, até o fim sustenta que Deus criou imediatamente a alma e criou-a depravada. A aceitação do traducianismo compeliu-o a trocar o seu federalismo pelo agostinianismo. O criacionismo é o elemento remanescente do atomismo pelagiano em outra forma da teoria escriturística. Contudo, o Dr. Hodge considera esta parte essencial ao ensino bíblico. Sua indelével confiança é como a de Fichte, que Carolina Schelling representa nas seguintes palavras: "Zweifle an der Sonne Klarheit, Zweifle an der Sonne Licht, Leser, nur an meiner Warheit Und Deiner Dummheit, nicht". Como um corretivo ao espírito atomista do pelagianismo podemos citar um ponto de vista que nos parece muito mais defensável embora talvez caminhe em sentido oposto. O Dr. H. H. Bawden escreve: "O eu é o produto de um ambiente social. O eu ascético não chega a ser um eu. A pessoalidade e a consciência são essencialmente sociais. Somos membros uns dos outros. O ponto de vista biológico da pessoalidade considera-o como uma função, atividade, processo inseparável da matriz social de que surgiu. A consciência é tão somente o nome do funcionamento do organismo. Não significa que a alma seja uma secreção do cérebro como a bílis é uma secreção do fígado; não significa que a mente seja uma função do corpo em qualquer sentido materialista. Mas a mente e a consciência são apenas o desenvolvimento de um organismo, enquanto, por outro lado, o organismo é o que desenvolve. O psíquico não é uma forma secundária, sutil e paralela à energia casualmente interativa junto ao psíquico; muito menos uma série concomitante como sustentam os paralelistas. A consciência não é uma ordem de existência ou coisa, mas uma função. É a
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organização da realidade, o universo que vem a um foco, florido, por assim dizer, em um centro finito. A sociedade é um organismo no mesmo sentido que o corpo humano. A separação das unidades não é maior que a separação dos fatores unidos do corpo; no microscópio as moléculas estão separadas. A sociedade é uma grande esfera contendo muitas esferas menores. "Cada eu não é impenetrável a outros eus. Os eus não são compartimentos estanques. Cada um pode permanecer completo em si mesmo, ainda que todos os outros sejam destruídos. Há canais abertos entre todos compartimentos. A sociedade é uma vasta rede de personalidades entrelaçadas. Somos membros uns dos outros. O que afeta o meu vizinho afeta-me e o que me afeta, por fim, afeta o meu vizinho. O indivíduo não é uma unidade atômica impenetrável. ... O eu é tão somente o todo social que vem ao consciente em um ponto particular. Cada eu está arraigado no organismo social do qual é apenas uma expressão local e individual. O eu é uma simples cifra fora das suas relações sociais. Diz o velho adágio grego: 'Aquele que vive bem sozinho ou é uma besta ou um deus'". Conquanto consideramos esta exposição do Dr. Bawden esclarecedora da origem da consciência e assim auxiliadora da nossa contenção contra a teoria federal, não a consideramos como prova de que, uma vez desenvolvida, a consciência não pode tornar-se relativamente independente e imortal. Atrás da sociedade, assim como atrás do indivíduo, estão a vontade e a consciência de Deus, em quem está a exclusiva garantia da persistência.
5. Teoria da Atribuição Mediata ou da Condenação pela Depravação
Esta teoria foi sustentada pela primeira vez por Placeus, professor de Teologia em Saummur, na França. Originariamente ele negava que o pecado de Adão fosse, em qualquer sentido, atribuído à sua posteridade, mas, depois que a sua doutrina foi condenada pelo Sínodo da Igreja Reformada da França em Clarenton, em 1644, ele publicou o ponto de vista que ora leva o seu nome.
Teologia Sistemática (Strong) 1217 Segundo este ponto de vista, todos os homens nascem física e moralmente depravados; esta depravação nativa é a fonte de todo o verdadeiro pecado e ela em si mesma é pecado; no sentido estrito, é esta depravação nativa, e só esta, que Deus atribui aos homens. No que tange à natureza física do homem, esta pecaminosidade inata descendeu, pelas leis naturais, da propagação de Adão a toda a sua posteridade. A alma é imediatamente criada por Deus, mas torna-se imediatamente corrupta tão logo se une ao corpo. A pecaminosidade inata é a conseqüência da transgressão de Adão, embora não seja a sua pena. Por isso, há um sentido em que se pode dizer que o pecado de Adão é atribuído aos seus descendentes; ele é atribuído não imediatamente, como se eles estivessem em Adão, ou estivessem representados naquele que podia ser acusado diretamente por eles de corrupção não por interferência; mas o pecado é atribuído mediatamente e através da corrupção interventora que adveio do pecado de Adão. Como na teoria federal a atribuição é a causa da depravação, do mesmo modo nesta teoria a depravação é a causa da atribuição. Em Rm. 5.12, "a morte passou a todos os homens porque todos pecaram", significa: "a morte física, espiritual e eterna passou a todos os homens porque todos pecaram em vista de possuírem uma natureza depravada". Ver Placeus, De Imputatione Primi Pecati Adami, in Opera, 1.709 - "A alma sensível é produzida a partir do genitor; a alma intelectual ou racional é criada diretamente. Ao entrar na natureza física corrompida, não se corrompe passivamente, mas torna-se ativamente corrupta, acomodando-se à outra parte da natureza humana no caráter". 710 - "Do vício das disposições do corpo ela contrai um vício correspondente não tanto pela ação do corpo sobre a alma como pelo apetite essencial da alma pelo que se une ao corpo de forma acomodada às posições do corpo como o líquido depositado numa vasilha - sicut vinum in vase acetoso. Por isso Deus não é o autor da queda de Adão nem da propagação do pecado". Herzog, Encyclopaedie, art.: Placeus - "No título das suas obras lemos 'Placeus'; até ele mesmo escreveu 'Placeus' que é em Latim a forma mais corrente [do francês 'de La Place']. No primeiro pecado de Adão, Placeus
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distingue o verdadeiro ato de pecar do pecado habitual (disposição corrompida). Aquela é transitória; esta prende-se à sua pessoa e se propaga a todos. Na verdade é pecado e é atribuído a todos visto que torna todos condenáveis. Placeus crê na atribuição desta disposição corrompida, mas não na atribuição do primeiro ato de Adão, a não ser mediatamente, através da atribuição da depravação herdada". Fisher, Discussions, 389 - "A simples corrupção nativa é o pecado original todo. Placeus justifica o emprego do termo atribuição em Rm. 2.26 - 'Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, a incircuncisão não será reputada [imputada] como circuncisão?' A nossa própria provisão é condição necessária da atribuição da justiça de Cristo". São defensores da atribuição mediata, na Grã Bretanha, G. Payne, em seu livro Pecado Original; John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 1.196-232; e James S. Candlish, Biblical Doctrine of Sin, 111-122; nos Estados Unidos, Η. Β. Smith, System of Christian Doctrine, 169, 284, 285, 314-323; e E. G. Robinson, Christian Theol.. Ο editor da obra do Dr. Smith diz: "No todo, ele favorece a teoria da atribuição mediata. Uma nota reza o seguinte: 'Nem a atribuição mediata, nem a imediata é totalmente satisfatória'. Entenda-se por atribuição mediata a afirmação plena dos fatos no caso com a aceitação do autor; entenda-se uma teoria que professa dar explicação final dos fatos e esta não é totalmente satisfatória'". O próprio Dr. Smith diz, 316 - "O pecado original é uma doutrina que diz respeito às condições morais da natureza humana a partir de Adão - genéricas: e não é uma doutrina que diz respeito às tendências e méritos pessoais. Para estes precisamos mais outras circunstâncias. Não é o pecado estritamente que é mau, mas o pecador. Eis a distinção última. Há uma bem fundamentada diferença a ser feita entre o merecimento pessoal, o caráter e tendências estritamente pessoais (de cada indivíduo sob a lei divina aplicada especificamente, por exemplo, a adjudicação) e uma condição moral genérica - base antecedente desse caráter pessoal. "Contudo, não se trata da distinção entre o que é e o que não é uma qualidade moral, mas entre o estado moral de cada membro da raça, suas tendências e méritos como indivíduo. Este pecado original só nos vestiria o caráter do mal, não da pecaminosidade, não fosse o fato de sentirmos a culpa em vista da corrupção quando ele se nos torna conhecido em nossos próprios atos. Então está envolvido nele não apenas o sentimento do mal e da
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miséria, mas também o de culpa; contudo, é necessária a redenção a fim de removê-lo, e esta mostra também que ele é um estado moral. Temos aqui o ponto de união entre as duas posições extremas: em Adão pecamos e todo pecado consiste no ato. A culpa do pecado adâmico é - esta exposição, esta tendência devida a tal corrupção, o fato de termos a mesma natureza na mesma tendência moral. A culpa do pecado adâmico não deve estar separada da existência da disposição má. Ε esta é a culpa que nos é imputada. Ver art. sobre H. B. Smith, Presb. Review, 1881: "Ele não concordava com o ponto de vista de Placeus, que faz a natureza corrompida por descendência a única base da atribuição".
Objeções: A) Esta teoria não dá nenhuma explicação para a responsabilidade do homem relativa à sua depravação inata. Não é possível nenhuma explicação que não considera a depravação humana como tendo tido a sua origem em um ato pessoal livre quer da natureza humana individual, quer coletiva em seu primeiro pai e cabeça. Mas a teoria nega expressamente tal participação de todos os homens no pecado de Adão A teoria sustenta que nós somos responsáveis pelo efeito, mas não pela causa - "post Adamus, non propter Adamum". Mas Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.209, 331 - "Se a tendência pecaminosa não estiver em nós através das nossas ações, mas somente através da dos outros, eles é que são responsáveis por isso, e não nós, - a culpa não é nossa, mas do nosso infortúnio. Mesmo quanto aos pecados atuais, que brotam desta tendência pecaminosa inerente, estas não são estritamente nossas, mas dos nossos primeiros pais através de nós. Por que atribuí-los a nós como pecados atuais e pelos quais somos condenados? Por isso, se negamos a existência da culpa, destruímos a realidade do pecado e vice-versa". Thornwell, Theology, 1.348,349 - Esta teoria "não explica o senso de culpa em conexão com a depravação da natureza -como o sentimento do mau merecimento pode surgir em relação a um estado da mente do qual somos portadores passivos. A criança não censura a si mesma pelas aflições que as loucuras do pai lhe causaram. Mas sentimos ser nossa própria a culpa da corrupção interior; o crime e a vergonha são nossos".
Teologia Sistemática (Strong) 1220 B) Visto que a origem desta natureza corrupta não pode ser computada ao homem, a sua herança deve ser considerada à luz de uma aplicação arbitrária da parte de Deus – conclusão que reflete na justiça de Deus. O homem não só é condenado por uma pecaminosidade da qual Deus é o autor, mas o é sem uma prova real, quer individual quer coletiva. Dr. Hovey, Outlines of Theology, faz objeção à teoria da atribuição imediata, porque: "1. Lança uma luz muito fraca sobre a justiça de Deus na atribuição do pecado de Adão aos adultos que agem como ele agiu. 2. Não lança nenhuma luz sobre a justiça do Deus que traz à existência uma raça inclinada ao pecado através de Adão. A tendência herdada ainda não encontra explicação e a sua atribuição ainda é um enigma, ou um erro para o entendimento natural". É injusto sustentar que nós somos culpados pelo efeito se não somos primeiro culpados pela causa.
C) Contradiz as passagens da Escritura que relacionam a origem da condenação humana, bem como a sua depravação com o pecado dos nossos primeiros pais e que representam a morte universal não como matéria da soberania divina, mas como aplicação judicial da pena sobre todos os homens por causa do pecado da raça em Adão (Rm. 5.16,18). Faz ainda violência à Escritura nesta interpretação fora do natural da expressão "todos pecaram", em Rm. 5.12 - que implicam a unidade da raça em Adão e a relação causai do pecado de Adão com a nossa culpa. Algumas passagens que o Dr. H. B. Smith, System, 317, cita de Edwards, como que em favor da teoria da atribuição mediata, parecem-nos favorecer o ponto de vista completamente diferente. Ver Edwards, 2.482, ss. - "A primeira existência de uma disposição corrupta no coração deles não deve ser considerada como pecado pertencente a eles distinta da sua participação da árvore toda em virtude da união dos ramos com a raiz. ... Humildemente sustento a opinião de que, se eu tenho suposto que os filhos de Adão vieram ao mundo com uma dupla culpa, a do pecado de Adão e a outra surgida do fato de terem o coração corrompido, elas não devem ser consideradas um problema". Ε ainda mais: "A derivação da disposição má (ou coexistência) é conseqüência da união", mas "não da atribuição do seu
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pecado; ou melhor, antecedendo-a, o pecado estava no próprio Adão. A primeira depravação do coração e a atribuição desse pecado são as duas conseqüências da união estabelecida; mas mesmo em tal ordem, a disposição do mal aparece primeiro e, a seguir, atribuição da culpa, como ocorreu no caso do próprio Adão". Edwards cita Stapfer: Os Reformados doutores em divindades não defendem a atribuição mediata e imediata separadamente, mas sempre juntas". Ε ainda mais adiante, 2.493 - Έ, por isso, o pecado da apostasia não é deles tão somente porque Deus lhos atribui; mas, na verdade e com propriedade; é deles e com base nisso, Deus lhos atribui". Parece-nos que o Dr. Smith equivoca o sentido destas passagens de Edwards e que, ao fazer a identificação com Adão em primeiro lugar e a atribuição em segundo, elas parecem favorecer a teoria do encabeçamento natural de Adão mais do que a teoria da atribuição mediata. Edwards considera a seguinte ordem: 1) apostasia; 2) depravação; 3) culpa; mas, em todas três, Adão e nós somos, por constituição divina, um. Para sermos culpados da depravação, portanto, primeiro é necessário sermos culpados da apostasia. Pelas razões acima consideramos a teoria da atribuição mediata uma casa a meio caminho, onde não há nenhum abrigo permanente. A mente lógica não pode achar nenhuma satisfação nela, mas, ou leva a outra doutrina, a agostiniana, que, a seguir passamos a considerar, ou voltamos à doutrina da Nova Escola, com sua concepção atomística do homem e sua soberania arbitrária de Deus.
6. Teoria Agostiniana, do Encabeçamento natural de Adão O primeiro a elaborar esta teoria foi Agostinho (354-430), grande opositor de Pelágio; embora a sua característica central apareça nos escritos de Tertuliano (que morreu por volta de 220), Hilário (350), e Ambrósio (374). Este ponto de vista sobre o pecado freqüentemente é designado como agostiniano. Foi defendido pelos reformadores, exceto por Zwínglio. Nos Estados Unidos os seus principais defensores são Dr. Shedd e Dr. Baird.
Teologia Sistemática (Strong) 1222 Sustenta que Deus atribui o pecado de Adão imediatamente a toda a posteridade em virtude da unidade orgânica da humanidade através da qual toda a raça existiu no tempo da transgressão de Adão, não individual, mas conforme a semente daquele que é o cabeça. A vida toda da humanidade já estava em Adão; a raça apenas existia nela. A sua essência ainda não estava individualizada; suas forças ainda não estavam distribuídas; as que não existiam em homens separados foram então unificadas e localizadas em Adão; a vontade de Adão ainda era a da espécie. No ato livre de Adão a vontade da raça revoltou-se contra Deus e a natureza da raça corrompeu-se. A que agora possuímos é a mesma que se corrompeu em Adão – "não somente a mesma em gênero, mas a mesma que, continuamente flui dele para nós. Por isso o pecado de Adão nos é atribuído imediatamente não como algo que nos é estranho, mas, porque é nosso - nós e os outros homens que existiram como uma pessoa moral ou como um todo moral nele e, como resultado dessa transgressão, possuindo uma natureza destituída de amor a Deus e propensa ao mal. Em Rm. 5.12 - "a morte passou a todos os homens porque todos pecaram" significa: "a morte física, espiritual e eterna passaram a todos os homens porque todos pecaram em Adão, o seu cabeça natural". Agostinho, De Pec. Mer. et Rem., 3.7 — "In Adamo omnes tunc peccaverunt, quando in eius natura adhuc omnes ille unos fuerunt"; De Civ. Dei, 13.14 — "Omnes enim fuimus in illo uno, quando omnes fuimus ille unus... Nondum erat nobis singillatim creata et distributa forma in qua singuli viveremus, sed iam natura erat seminalis ere qua propagaremur." Sobre o ponto de vista de Agostinho, ver Dorner, Glaubenslehre, 2.43-45 (Sistema Doutrinário, 2.338, 339) - Em oposição a Pelágio que faz o pecado consistir em simples atos, "Agostinho dava ênfase ao estado pecaminoso. Trata-se de uma privação da justiça original + o amor desordenado. Tertuliano, Cipriano, Hilário, Ambrósio defenderam o traducianismo, segundo o qual, sem a participação deles, a pecaminosidade de todos baseia-se no ato livre de Adão. Eles atraem sobre si as conseqüências do pecado, como um mal que é, ao mesmo tempo, castigo pela falta herdada. Mas Irineu, Atanásio,
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Gregório de Nissa dizem que Adão não era somente um simples indivíduo, mas um homem universal. Nós estamos compreendidos nele, de modo que nele pecamos. No primeiro a posteridade era passiva; no segundo ela era ativa, no pecado de Adão. Agostinho representa ambos os pontos de vista, desejando unir a pecaminosidade universal envolvida no traducianismo à vontade e culpa envolvidas na cooperação com o pecado de Adão. Por isso, Adão é uma dupla concepção, e = indivíduo + raça". Mozley, Predestination, 402 – "Em Agostinho, algumas passagens relacionam toda a iniqüidade com o pecado original; algumas explicam diferentes graus do mal através de diferentes graus de pecado original (Op. imp. cont. Julianum, 4.128 – 'Malitia naturalis ... in allis minor, in allis major est' [A maldade natural em alguns é menor, em outros, maior]), em alguns, o indivíduo parece acrescentar ao pecado original (De Correp. et Gratia, c. 13 'Per liberum arbitrium alia insuper addiderunt, alii majus, alii minus, sed omnes mali'. De Grat, et Lib. Arbit., 2.1 - 'Acrescentaram-se ao pecado do seu nascimento os pecados de comissão'; 2.4 - 'Nem nega a liberdade da nossa vontade, quer opte por uma vida má, quer por uma boa, nem atribui a isto tanto poder que avalie qualquer coisa sem a graça de Deus ou possa mudar do mal para o bem')". Estas passagens parecem mostrar que, ao lado do pecado racial e seu desenvolvimento, Agostinho reconhece o domínio da decisão pessoal livre, através da qual, até certo ponto, modifique o seu caráter e se torne em maior ou menor escala depravado. A teoria de Agostinho não resulta simplesmente do seu temperamento ou dos seus pecados. Muitos têm cometido pecados como ele, mas o intelecto deles só foi entorpecido e levado a toda sorte de descrença. O Espírito Santo é que se apossou do temperamento e assim dominou o pecado, tornando-o um vidro através do qual Agostinho vê as profundezas da sua natureza. A sua doutrina não pertence à exclusiva transcendência divina, que deixa o homem um desesperançado verme em inimizade com a justiça infinita. Ele também é um apaixonado crente na imanência de Deus. Assim escreve ele: "Não pos so ser, ó Deus, não posso ser, afinal de contas, se tu não estiveres em mim; mais do que isso, se eu não estivesse em ti, a quem pertencem todas as coisas, em quem estão todas as coisas ... Ό Deus, tu nos fizeste para ti, e o nosso coração não encontra repouso enquanto não descansarmos em ti ... A vontade de Deus é a própria natureza das coisas - Dei voluntas rerum natura est".
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Allen, Continuity of Christian Thought, Introdução, mui erroneamente declara que "a teologia agostiniana se apóia na transcendência divina como o seu princípio controlador e a cada ponto aparece como uma demonstração da mais antiga interpretação da fé cristã". Por outro lado, L. L. Paine, Trinitarianism, 69, 368-397, mostra que, enquanto Atanásio defende uma transcendência dualista, Agostinho defende uma imanência teísta: "Portanto, a imanência estóica, neoplatônica com Agostinho, suplanta a transcendência platônico-aristotélica e de Atanásio". Alexander, Theories of the Will, 90 -"As teorias dos antigos pais são indeterministas e o pronunciado agostinianismo de Agostinho resulta na proeminência da doutrina do pecado original. ... Os primitivos pais pensam que a origem do pecado nos anjos e em Adão se deve à vontade livre. O pensamento de Agostinho sobre a origem do pecado na posteridade de Adão se deve à vontade má herdada. Harnack, Wesen des Christentums, 161 - "Até hoje, no catolicismo, a piedade interior e viva e a sua expressão, é, na essência, totalmente agostiniana". Calvino é essencialmente agostiniano e realista; ver Institutes, livro 2, caps 1-3; Hagenbach, Hist. Doctrine, 1.505,506, com citações e referências. Zwínglio não é agostiniano. Ele sustenta a viciosidade nativa, embora ela ocasione o pecado, não é o pecado em si. Ela não é crime, mas uma condição e uma doença". Zwínglio ensinava que a criança recém-nascida - a vivificação de Cristo a todos que morreram em Adão - está livre de qualquer nódoa do pecado com Adão antes da queda. Contudo, os reformadores, exceto Zwínglio, eram agostinianos e explicavam a culpa hereditária da humanidade não pelo fato de que todos homens estão representados em Adão, mas participam no pecado dele. Esta é ainda a doutrina da Igreja Luterana. A teoria do encabeçamento natural de Adão considera a humanidade um desenvolvimento do germe. Conquanto as folhas de uma árvore aparecem como unidades desconexas, quando as vemos cair, uma observação embaixo discernirá a conexão com os rebentos, com os ramos, com o tronco e, finalmente, remontará a sua vida à raiz e à semente de onde originariamente provém. A raça humana é una porque surgiu de um cabeça. Seus membros não devem ser considerados atomisticamente como indivíduos segregados; a mais profunda verdade é a da unidade orgânica. Contudo, não somos filosoficamente realistas; não cremos na existência
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separada dos universais. Não defendemos a universalia ante re, que é o extremo realismo; nem a universa-lia post rem, que é o nominalismo; mas a universalia in re, que é o realismo moderado. O extremo realismo não pode ver as árvores pela madeira; o nominalismo não pode ver a madeira pela árvore; o moderado vê a madeira nas árvores. Sustentamos "a universalia in re, mas insistimos que os universais devem ser reconhecidos como realidades de modo tão verdadeiro como o são" (H. B. Smith, System, 319, nota). Três sementes de carvalho têm uma vida comum do mesmo modo que três bobinas não a têm. O realismo moderado é verdadeiro sobre as coisas orgânicas; o nominalismo só é verdadeiro a respeito dos nomes próprios. Deus não criou qualquer árvore nova desde que criou a primeira; nem criou qualquer ser humano desde o filho do primeiro homem. Eu sou apenas um galho e uma conseqüência da árvore da humanidade. Então, o nosso realismo só afirma a verdadeira conexão histórica de cada membro da raça com seu primeiro pai e cabeça e tal derivação de cada um a partir dele faz de nós participantes do seu caráter. Adão era uma raça; e com a sua queda a raça também caiu. Shedd: "Todos nós existimos em Adão na nossa substância elementar invisível. O Seyn de todos está nele, embora não o Daseyn; o noumenon existia, embora não o fenomenori". As novas concepções do reino da lei e do princípio da hereditariedade que prevalecem na ciência moderna operam para vantagem da teologia cristã. A doutrina do encabeçamento natural de Adão é tão somente a transmissão hereditária do caráter desde o primeiro pai da raça até os seus descendentes. Por isso empregamos a palavra "imputação" (atribuição) em sentido próprio - o de computar a nós ou atribuir a nós o que na realidade é propriamente nosso. Ver Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.259-357 esp. 328 -Ό problema é o seguinte: Devemos admitir que a depravação herdada de Adão por geração natural envolve culpa pessoal; embora essa depravação, tanto quanto natural, não tem as condições próprias de que a culpa depende. A única explicação satisfatória para esta dificuldade é a doutrina cristã do pecado original. Se só aqui se pode sustentar a possibilidade, pode-se harmonizar os princípios aparentemente contraditórios, a saber, a depravação da natureza humana universal e firmemente assentada, como fonte do pecado atual e a responsabilidade e culpa individuais". Estas palavras, embora
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escritas por alguém que defende uma teoria diferente, são, entretanto, um poderoso argumento em favor da teoria do encabeçamento natural de Adão. Thornwell, Theology, 1.343 - "Devemos contradizer cada trecho da Escritura e cada uma das suas doutrinas que tornam a impureza odiosa a Deus e digna de castigo aos seus olhos, ou devemos sustentar que pecamos em Adão quando de sua primeira transgressão". Secretan, em sua Work on Liberty, defende uma vida coletiva da raça em Adão. Naville, Problem of Evil, retruca: "Nós existimos em Adão, não individualmente, mas por sua semente. Cada um de nós, como indivíduo, responde somente pelos atos pessoais, ou , mais exatamente, pelo elemento pessoal dos atos dele. Porém, como ele é um ser humano, cada um de nós responde junta e separadamente (solidairement) pela queda da raça humana". Bersier, Unidade da Raça, em sua Queda e Futuro: "Se recebemos a ordem de amar o próximo como a nós mesmos, é porque nós somos esse próximo".
Consideramos esta teoria do Encabeçamento Natural de Adão como a mais satisfatória das teorias mencionadas e que fornece o mais importante auxílio para o entendimento do grande problema do pecado original. Em seu favor podemos apresentar as seguintes considerações: A) Ele estabelece a mais natural interpretação sobre Rm. 5.12-21. No verso 12 desta passagem – "a morte passou a todos os homens porque todos pecaram" – a grande maioria dos comentadores considera a palavra "pecaram" uma descrição de uma transgressão da raça em Adão. A morte de que se fala, como mostra o contexto todo, principalmente, embora não exclusivamente, é física. Passou a todos – até mesmo aos que não cometeram nenhuma transgressão consciente e pessoal que justificaria sua aplicação (v. 14). A fraseologia legal da passagem mostra que esta aplicação não é matéria de decreto soberano mas de pena judicial (vs. 13,14,15,16,18 – "lei", "transgressão", "ofensa", "juízo. ... um ato de justiça para a condenação", "ato de justiça", "justificação"). Como a explicação desta universal sujeição à pena, vem a referência ao pecado de Adão. Por esse único ato ("assim também", v. 12) - a "ofensa
Teologia Sistemática (Strong) 1227 de um" (vv. 15,17), "uma ofensa" (v. 18) – a morte veio a todos os homens porque todos [não 'cometeram pecado', mas] pecaram (πάντες ήμαρτον – aoristo de ação passada instantânea) – isto é, todos pecaram "naquela ofensa" de "um" homem. Compare 1 Co. 15.22 – "como todos morrem em Adão" – onde significa o contraste com a ressurreição física; 2 Co. 5.14 – "um morreu por todos, logo todos morreram". Beyschlag, N.T. Theology, 2.58-60 - "Para entender o ponto de vista do apóstolo, devemos seguir a exposição de Bengel (que Meyer e Pfleiderer também favorecem): 'Porque todos – a saber, em Adão – pecaram'; todos, isto é, os que estavam incluídos em Adão, segundo o ponto de vista do Velho Testamento, que vê toda a raça no seu fundador, praticar o ato dele". Ritschl: "Sem dúvida, Paulo tratou o destino universal da morte como devido ao pecado de Adão. Contudo, isto não se presta a uma regra teológica porque o apóstolo formou esta idéia"; ou seja, o ensino de Paulo não o torna ligado à fé. Philippi, Com. On Rm, 168 - interpreta Rm. 5.12 "um pecou por todos, logo todos pecaram" com 2 Co. 5.15 - "um morreu por todos, pelo que todos morreram". Evans, Presb. Review, 1883, 234 - Rm. 5.15 - "pela ofensa de um morreram muitos", v. 17 - "pela ofensa de um e por meio de um só reinou a morte", v. 19 - "pela desobediência de um homem" – todas estas expressões e as relativas à salvação correspondentes a elas, indicam que a raça decaída e a raça redimida são consideradas uma multidão, uma totalidade. Assim oi πάντες em 1 Co. 5.14 indica uma concepção correspondente à unidade orgânica da raça. O Prof. George Β. Stevens, Pauline Theology, 32-40, 129-139 nega que Paulo ensina que todos homens pecam em Adão: "Eles pecam no mesmo sentido em que os crentes foram crucificados para o mundo e morreram para o pecado quando Cristo morreu na cruz. Concebe-se que a renovação do crente se operou através dos atos e experiências de Cristo, nas quais ela se baseia. Como as conseqüências dos seus sofrimentos vicários remontam à sua causa, assim são as conseqüências que fluem do começo de Adão as quais remontam à fonte original do mal e se identificam com este; mas não se deve tratar esta afirmação como uma fórmula lógica mais rígida do que aquela que é sua contrapartida. ... Há uma identificação mística da causa com o efeito, – tanto no caso de Adão como no de Cristo".
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Quando tratamos da teoria da Nova Escola sobre o pecado, assinalamos que a incapacidade de entender a união vital do crente com Cristo impossibilita ao teólogo da Nova Escola de entender a união orgânica da raça com Adão. A expressão de Paulo "em Cristo" significa mais do que Cristo ser o tipo e iniciador da salvação e o pecar em Adão significa mais para Paulo do que seguir o exemplo ou a atuação do espírito do nosso primeiro pai. Em 2 Co. 5.14 o argumento é: porque Cristo morreu, todos morreram para o pecado e morreram em Cristo. A ressurreição vida é a mesma coisa que a vida que morreu e ressuscitou na morte e ressurreição de Cristo. Assim, o pecado de Adão é nosso porque a mesma vida que transgrediu e tornou-se corrompida nele desceu até nós e é nossa posse. Em Rm. 5.14 excluem-se expressamente os pecados individuais e conscientes a que a teoria da Nova Escola atribui sentença condenatória e nos vv. 15-19 declara-se que o juízo é "uma ofensa". O Prof. Wm. Arnold Stevens, de Rochester, diz com muita propriedade: "Paulo ensina que o pecado de Adão é nosso, não potencialmente, mas por obras". A respeito de ήμαρτον diz ele: "Pode-se conceber: 1 ) aoristo histórico, empregado no sentido momentâneo; 2) o aoristo compreensivo ou coletivo, como em διήλθεν no mesmo verso; 3) o aoristo empregado no sentido de pretérito perfeito como em Rm. 3.23 - πάντες γαρ ήμαρτον και ύστεροϋνται. Em 5.12 ο contexto determina com grande probabilidade que o aoristo é empregado no primeiro destes sentidos". Podemos acrescentar que os intérpretes não estão procurando quem entende ήμαρτον assim em 3.23; ver também o rodapé da Versão Revisada. Mas porque a passagem de Rm. 5.12-19 é tão importante, reservamos nesta seção um tratamento mais pormenorizado.
B) Ela permite qualquer que seja a verdade que pode haver na teoria federal e na da atribuição mediata combinada com ela, conquanto nenhuma destas teorias possam ser justificadas como racionais a não ser como corolários ou acessórios da verdade do encabeçamento natural de Adão. Só com base nesta suposição do encabeçamento natural poderia Deus, com justiça, constituir Adão como nosso representante, ou manternos responsáveis pela natureza depravada que recebemos dele. Contudo, ela justifica os processos de Deus postulando uma real e honesta provação da nossa natureza comum preliminarmente à atribuição do
Teologia Sistemática (Strong) 1229 pecado – verdade que as teorias já mencionadas, em comum com a da Nova Escola, negam; enquanto se apóia em princípios filosóficos corretos a respeito da vontade, da capacidade, da lei, e aceita as representações escriturísticas da natureza do pecado, o caráter penal da morte, a origem da alma e a unidade da raça na transgressão. John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 1.196-232, favorece o ponto de vista de que o pecado consiste tão somente numa tendência hereditária da nossa natureza para o mal e que somos culpados desde o nascimento porque desde então temos o pecado. Mas reconhece no agostinianismo a veraz unidade orgânica da raça e a implicação de cada membro na história. Diznos que devemos considerar o homem simplesmente como um indivíduo abstrato e isolado. A teoria atomista considera que a sociedade não tem outra existência a não ser a dos indivíduos que a compõem. Porém aproxima-se da verdade ao dizer que a sociedade é que cria o indivíduo e não o indivíduo que a cria. O homem não passa a existir como tabula rasa na qual os agentes externos podem escrever qualquer coisa que a vontade registre. O indivíduo está embebido de influências devidas ao passado da sua espécie. A teoria individualista corre em direção oposta aos mais óbvios fatos da observação e experiência. Como filosofia da vida, o agostinianismo tem uma profundidade e significação que a teoria individualista não defende". Alvah Hovey, Manual of Christian Theology, 175 (2§ ed.) - "Todo filho de Adão conta com um grau de simpatia que tem por todo sistema do mal no mundo e com o principal ato de desobediência entre os homens. Se tal simpatia é completa, se se expressa por atos e pensamentos, se a força total do seu ser se forma contra o céu e a favor do inferno, é difícil limitar a responsabilidade". Schleiermacher sustenta que a culpa do pecado original atribuída, não ao indivíduo como tal, mas como membro da raça, assim a consciência da união racial traz consigo a consciência da culpa racial. Defende ainda que todos homens são igualmente pecadores e só diferem na forma de receber a graça ou na atitude para com ela; o pecado é o malum metaphysicum de Espinosa.
Teologia Sistemática (Strong) 1230 C) Conquanto a sua pressuposição fundamental - determinação da vontade de cada membro da raça antes da sua consciência individual seja uma hipótese difícil em si mesma, fornece a chave para muito mais dificuldades do que ela sugere. Uma vez admitido que a raça era uma no seu primeiro ancestral e nele caiu, e lançou-se luz sobre um problema de outra forma insolúvel -relativo à nossa responsabilidade pela natureza pecaminosa que pessoal e conscientemente não originamos. Visto que, com as outras teorias supramencionadas, não podemos negar quaisquer termos deste problema - depravação inata ou responsabilidade por ela aceitamos esta solução como a mais plausível. Sterret, Reason and Authority in Religion, 20 - "A oscilação completa do pêndulo do pensamento de hoje afasta-se do ponto de vista individual e dirige-se para o social. As teorias da sociedade estão suplantando as do indivíduo. O pensamento reinante tanto no estudo científico como no histórico é a solidariedade do homem. Chega até ao extremo de um determinismo que aniquila o indivíduo". Chapman, Jesus Christ and the Phesent Age, 43 "Nunca foi menos possível negar a verdade de que a teologia dá expressão à sua doutrina do pecado original do que na era atual. É só uma forma do fato da hereditariedade universalmente reconhecida. Há um mal coletivo, pois que a responsabilidade repousa sobre toda a raça humana. Todo homem participa deste mal comum; organiza-se isto em sua natureza; estabelece-se em seu ambiente". E. G. Robinson: "A tendência da teologia moderna [nesta última geração] é a individualização, que faz de cada homem um Onipotentezinho;. Mas a raça humana é una em espécie e, em certo sentido, numericamente uma. A raça potencialmente jaz em Adão. Toda força desenvolvida na raça está nele. Não existe um aprimoramento da raça, a não ser do ponto de partida de uma humanidade decaída e culpada". Goethe diz que, conquanto a humanidade sempre avança, o indivíduo permanece o mesmo. O verdadeiro teste de uma teoria é que não seja explicada, mas que seja capaz disso. Na química, a teoria atômica, a teoria do éter na física, a teoria da gravitação, a teoria da evolução, são hipóteses em si não demonstráveis, aceitas provisoriamente só porque, se admitidas, unificam grandes conjuntos de fatos. Coleridge diz que o pecado original é o mistério
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que esclarece todas as coisas. Contudo, neste mistério nada há de contraditório ou arbitrário. Gladden, What is Left?, 131 – "A hereditariedade é obra de Deus em nós e o ambiente é Deus operando em torno de nós". Quer adotemos a teoria de Agostinho, quer não, os fatos da obliqüidade moral e o sofrimento humano universal estão diante de nós. Somos compelidos a reconhecer estes fatos com a nossa fé na justiça e bondade de Deus. Agostinho dá-nos um princípio unificador que, melhor do que qualquer outro, explica estes fatos e os justifica.
D) Esta teoria encontra seu apoio nas conclusões da moderna ciência; sobre a lei moral, que requer o estado de direito assim como atos de justiça; sobre a vontade humana, incluindo as tendências e determinações subconscientes e inconscientes; sobre a hereditariedade e a transmissão do mau caráter; sobre a unidade e solidariedade da raça humana. Por isso, a teoria agostiniana pode ser chamada de interpretação ética ou teológica de certos fatos biológicos incontestáveis e reconhecidos. Ribot, Heredity, 1 - "Hereditariedade é a lei biológica pela qual todos seres dotados de vida tendem a repetir-se em seus descendentes; ela é para as espécies o que a identidade pessoal é para o indivíduo. Através dela permanece uma base imutável em meio a incessantes variedades. Pelo mesmo processo a natureza copia e imita a si mesma". Griffith-Jones, Ascent Thorough Christ, 202-218 - "À condição moral do homem prende-se o desenvolvimento; a reversão ao tipo selvagem; um arremedo hipócrita e protetor de si mesmo quanto à virtude; o parasitismo; a anomalia física e moral; a profunda perversão da faculdade". Simon, Reconciliation, 154 ss. "Antes dos indivíduos, que são sucessivas diferenciações, afetaram-se o organismo e os produtos. ... Como um organismo, a humanidade sofreu o prejuízo conseqüente do pecado. Recebeu-o logo no começo. No início da germinação da semente entrou a doença e a humanidade foi açoitada com a morte conseqüente do pecado. Bowne, Theory of Thought and Knowledge, 134 - "A noção geral não tem nenhuma existência real ou possível. Toda existência real é necessariamente singular e individual. O único meio de dar à noção qualquer
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significação metafísica é o encaminhamento a uma lei inerente à realidade e esta tentativa fracassará se, ao fim, não concebermos tal lei como regra segundo a qual uma inteligência básica prossiga posicionando o indivíduo". Sheldon, Methodist Review, março, 1901, 214-227, atribui esta explicação à doutrina do pecado original. Os seres humanos têm uma natureza comum, diz ele, só no sentido de que eles são personalidades semelhantes. Se literalmente morrêssemos em Adão, literalmente morreríamos em Cristo. Cristo não é um ser que abrange o todo do mesmo modo que Adão também não o é. Consideramos este argumento como uma perfeita prova em oposição à conclusão que se pretende. Existe um Cristo que abrange o todo. O erro fundamental da maior parte dos que se opõem ao agostinianismo é que eles concebem erroneamente a união com Cristo. Neste sentido, "uma inteligência básica situa indivíduos". O mesmo ocorre na relação dos homens para com Adão. Também aqui há "uma lei inerente à realidade" – obra regular da vontade divina segundo a qual os semelhantes produzem semelhantes e um germe pecaminoso se reproduz.
E) Contudo, é bom lembrarmos que, conquanto esta teoria do método da nossa união com Adão seja meramente uma valiosa hipótese, o problema que ela procura explicar, em ambos os seus termos, nos é apresentado tanto pela consciência como pela Escritura. Em conexão com este problema anuncia-se na Escritura um fato central, a ponto de nos sentirmos compelidos a crer no testemunho divino, embora cada tentativa de explicação se prove insatisfatória. Tal fato central que constitui a substância da doutrina da Escritura sobre o pecado original é este: que o pecado de Adão é a causa imediata e a base da depravação inata, da culpa e da condenação de toda a raça humana. Três coisas devem ser recebidas no testemunho da Escritura: 1) depravação inata; 2) conseqüente culpa e condenação; 3) o pecado de Adão é a causa e base de ambos. Destes três pontos da Escritura não somente parece natural, mas inevitável tirar a inferência de que "todos pecaram" em Adão. A teoria agostiniana estabelece um elo de ligação entre dois segmentos de fatos que, caso contrário, dificilmente se reconciliariam. Mas, colocando neste elo de ligação, esclarece-se perfeitamente uma subjacente,
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mas implícita suposição do arrazoado de Paulo e busca-se provar isto, mostrando que, em nenhuma outra suposição, pode, afinal de contas, entender-se o raciocínio de Paulo. Visto que a passagem de Rm. 5.12-19 é tão importante, examiná-la-emos, a seguir, com mais pormenores. Trataremos principalmente de reproduzir em substância o Comentário de Shedd, embora o tenhamos combinado com notas de Meyer, Schaff, Moule e outros. EXPOSIÇÃO DE ROMANOS 5.12-19 – Paralelos entre a salvação em Cristo e a ruína que veio através de Adão, em cada caso, sem a intervenção de nenhum ato pessoal da nossa parte, nem na obtenção da nossa salvação por mérito nosso, no caso da vida recebida de Cristo, nem do nosso pecado individual, no caso da morte recebida através de Adão. A proposição do paralelo começa com o V. 12: "pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram", assim, (podemos completar a sentença interrompida) por um homem a justiça entrou no mundo e a vida pela justiça e assim, a vida passou a todos os homens porque todos tornaram-se participantes de tal justiça. Isto significa tanto a vida física como a espiritual. A física é apresentada 1) com origem no v. 14; 2) na alusão a Gn. 3.19; 3) da suposição universal judaica e cristã de que a morte física resulta do pecado de Adão. Ver Sb. 2.23,24 - "Deus criou o homem para a incorruptibilidade e o fez imagem da sua própria natureza; é por inveja do diabo que a morte entrou no mundo: prová-la-ão quantos são de seu partido"; Eclesiástico [Sabedoria de Jesus, Filho de Sirac (Ben Sirac)] 25.24 – "Foi pela mulher que começou o pecado, por sua culpa todos morremos"; 2 Ed. 3.7,21; 7.11,46, 118; 9.19 (estes não constam na LXX); as citações dos apócrifos acima foram extraídas da B.J. (Bíblia de Jerusalém); 1 Co. 15.21 - "Porque, assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem". De Rm. 5.18,21, onde ζωή se opõe a θάνατος e de 2 Tm. 1.10, onde ocorre o mesmo contraste, fica evidente que a morte é espiritual. O ούτως no ν. 12 apresenta o modo em que historicamente a morte veio a todos; a saber, a morte é o efeito cuja causa é o pecado. Pelo ato de Adão a morte física e a espiritual passaram a todos os homens, porque todos pecaram, έφ' ω = pois, com base no fato de que, em razão de que, todos pecaram, πάντες = todos, sem exceção, inclusive as crianças, como ensina o v. 14.
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"Ήμαρτον menciona a razão particular por que todos morreram, a saber, porque todos pecaram. É o aoristo de uma ação momentânea passada -pecaram quando, através de um, o pecado entrou no mundo. Ε como se se dissesse: "porque, quando Adão pecou, todos pecaram nele e com ele". Encontra-se a prova disso no contexto explicativo que se segue (15-19), no qual, por mais de cinco vezes sucessivamente reitera-se que um, apenas um pecado causou a morte que incidiu sobre todos. Compare 1 Co. 15.22 - "Porque, assim como todos morrem em Adão, assim todos serão vivificados em Cristo". O sentido de "todos são pecadores", "todos tornaramse pecaminosos", é admissível, pois άμαρτάνειν não é άμαρτωλον γίνεσθαι ou είναι. Ο sentido de "a morte passou a todos os homens porque todos, consciente ou pessoalmente, pecaram", contrapõe-se 1) ao v. 14, em que se afirma que certas pessoas que fazem parte dos πάντες, sujeito de ήμαρτον, e que sofrem a morte, que é o castigo do pecado, não o cometeram à semelhança do primeiro Adão, isto é, na transgressão individual e consciente; e 2) os vv. 15-19 em que repetidamente se afirma que, não milhões de transgressões, mas só um pecado causou a morte de todos. Este parece o sentido sugerido por έφ' ω πάντες άμαρτάνουσιν. Além disso, ήμαρτον não tem o sentido de "foram considerados e tratados como pecadores"; porque 1) não há nenhum outro exemplo na Escritura onde este verbo, na voz ativa, tem sentido passivo; e 2) a voz passiva não faz ήμαρτον denotar ação humana, mas divina. Isto não justificaria a aplicação da morte, em que Paulo está pensando. O v. 13 começa demonstrando a proposição, no v. 12, de que a morte vem a todos, porque todos cometeram o pecado do mesmo homem. O argumento é o seguinte: O pecado existiu antes da lei; pois havia morte, que é o castigo do pecado. Mas não se cometeu este pecado contra a lei mosaica porque essa lei ainda não existia. A morte no mundo, antes da lei, prova que deve ter havido alguma outra lei contra a qual se cometeu o pecado. V. 14. Nem podia ter sido uma violação pessoal e consciente de uma lei não escrita, em cuja base se aplicou a morte; porque a morte passou sobre multidões, do mesmo modo que os infantes e os idiotas, que não cometeram pecado em suas próprias pessoas, como foi o caso de Adão, violando algum mandamento conhecido. Aqui não se mencionam os
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infantes, porque a intenção é incluir outros que, embora em idade madura, não atingiram a consciência moral. Mas, porque a morte em todo lugar e em todo tempo é o castigo do pecado, a de todos deve ter sido o castigo do pecado comum na raça, quando πάντες ήμαρτον em Adão. A lei que eles violaram foi o estatuto edênico de Gn. 2.17. A relação entre o pecado deles e o de Adão não é a de semelhança, mas de identidade. Se o pecado pelo qual veio a morte sobre eles tivesse sido como o de Adão, teria havido tantos pecados causadores de morte, que a justificam, quantos indivíduos. A morte não teria vindo ao mundo "através de um só homem" (v. 12), mas de milhões de seres humanos e o juízo teria vindo sobre todos para condenação através dos milhões de ofensas e não através de um (v. 18). O objetivo da digressão parentética nos versos 13 e 14 é impedir o leitor de supor, a partir da afirmação de que "todos pecaram", que as transgressões individuais de todos homens significam e tornam claro que só se referem ao primeiro pecado do primeiro homem. Os que morreram antes de Moisés devem ter violado alguma lei. A lei mosaica e a lei da consciência não têm sido incluídas no caso. Por isso, tais pessoas talvez tenham cometido o pecado contra o mandamento edênico, o estatuto da prova; o pecado de tais pessoas não foi semelhante (ομοίως) ao de Adão, mas idêntico a ele; em quantidade, exatamente o mesmo pecado "daquele homem". Eles não praticaram pessoal e conscientemente o pecado da mesma forma que Adão o praticou; contudo, em Adão e na natureza comum entre ele e os seus descendentes, eles praticaram (versus Discussões Teológicas em Voga, 5.277,278). Não pecaram à semelhança de Adão, mas em Adão e caíram com Adão na primeira desobediência (Catecismo Maior de Westminster). Os versos 15-17 mostram como a obra da graça difere da obra do pecado e a ultrapassa. Em contraposição à exata justiça de Deus, punindo todos pelo primeiro pecado que todos cometeram em Adão, coloca-se a justificação gratuita de todos os que estão em Cristo. O pecado de Adão é o seu ato e o da posteridade também; por isso, a atribuição à posteridade é justa e merecida. A obediência de Cristo é obra exclusiva dele; por esse motivo, a atribuição dela aos eleitos é graciosa, imérita. Aqui τους πολλούς não tem extensão igual a oí πολλοί da primeira oração porque outras passagens ensinam que "os muitos" que morrem em Adão não se ligam aos que estão em Cristo; ver 1 Co. 15.22; Mt. 25.46; ver também a nota sobre o verso 18 abaixo. Τους πολλούς aqui se refere às mesmas pessoas a
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respeito das quais se diz, no verso 17, que "recebem a abundância da graça e o dom da justiça". O verso 16 acentua uma diferença entre a condenação e a justificação. A condenação resulta de uma ofensa; a justificação liberta o homem de muitas ofensas. O verso 17 reforça e explica o 16. Se a união em Adão, com seu pecado, por justiça, traz a destruição, a união com Cristo, na sua retidão, é ainda mais justa ao trazer a salvação. O verso 18 resume o paralelo entre Adão e Cristo iniciado no verso 12, mas interrompido pelos parênteses compreendidos entre os versos 13-17. "Pois assim como por uma ofensa ... sobre todos os homens para a condenação; assim também, por um ato de justiça ... sobre todos os homens para justificação da [necessária à] vida" = τους πολλούς do verso 15. Em cada caso há uma totalidade; mas daquela expressão "todos os homens" é que deriva a vida física de Adão; desta expressão "todos os homens" deriva sua vida espiritual de Cristo (Compare 1 Co. 15.22 - "Porque, assim como todos morrem em Adão, assim todos serão vivificados em Cristo" - nesta última oração Paulo fala, como mostra o contexto, não da ressurreição de todos os homens, quer santos quer pecadores, mas somente da ressurreição bendita dos justos; a saber, da dos que são um com Cristo). Verso 19. "Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos". Os muitos constituem-se pecadores porque, conforme o verso 12, pecaram em Adão e com ele, em sua queda. O verbo pressupõe o fato da união natural entre aqueles com quem se relaciona. Declaram-se todos pecadores com base em "uma ofensa", porque, quando se cometeu uma ofensa, todos eram um – isto é, eram uma natureza comum no primeiro casal. Atribuiu-se o pecado porque este foi cometido. Todos são castigados com a morte porque, literalmente, pecaram em Adão; não porque se considera terem metafisicamente cometido o pecado, e não o cometeram de fato. Oi πολλοί é empregado em contraste entre um ancestral, e designa-se a expiação de Cristo como υπακοή, a fim de contrastá-la com o παρακοή de Adão. Κατασταθήσονται tem a mesma significação que na primeira parte do verso. Δίκαιοι κατασταθήσονται significa tão somente "serão justificados", e é empregada em lugar de δικαιωθήσονται, a fim de tornar mais perfeita a antítese de αμαρτωλοί κατεσταθήσαν. Esta expressão "serão feitos justos" pressupõe o fato de uma união entre ό εις e οί πολλοί, isto é, entre Cristo e
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os crentes, do mesmo modo que "foram feitos pecadores" pressupõe o fato de uma união entre ό εις e οί πολλοί, i.e., entre os homens e Adão. O futuro κατασταθήσονται refere-se à sucessão de crentes; a justificação de todos já está idealmente completa, mas, na verdade, aguarda os tempos da crença de cada um. Os muitos" que "serão feitos justos" não correspondem à humanidade toda, mas apenas a "os muitos" a quem, no verso 15, a graça foi abundante e que são descritos, no verso 17, como "os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça". "Mas esta união difere em muitas particularidades importantes da que há entre Adão e a posteridade. Não é natural e substancial, mas moral e espiritual; não é genérica e universal, mas individual e eletiva; não é causada pela ação criadora de Deus, mas por seu ato regenerador. Sem exceção, todos são um em Adão; são um em Cristo somente pela fé. A atribuição do pecado de Adão não é um ato arbitrário no sentido de que, se Deus quis assim, ele podia computar isto na conta de quaisquer seres do universo, apenas por uma vontade. O pecado de Adão não podia ser atribuído aos anjos decaídos, por exemplo, bem como o castigo neles, porque eles nunca foram um com Adão por unidade substancial e natural. O fato de que eles cometeram transgressão por atos de sua própria vontade não justifica a atribuição do pecado adâmico a eles, assim como o fato de que a posteridade de Adão cometeu transgressão por atos praticados por eles mesmos não é razão suficiente para atribuir-lhes o pecado de Adão. A não ser a união real entre a natureza e o ser, nada pode justificar a atribuição do pecado de Adão; e semelhantemente, a obediência de Cristo não pode ser atribuída a um incrédulo, mais do que a um anjo perdido, porque nenhum deles é moral e espiritualmente um com Cristo" (Shedd).
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II. OBJEÇÕES À DOUTRINA AGOSTINIANA DA ATRIBUIÇÃO
A doutrina da atribuição, à qual chegamos é atacada pelos seus opositores, que apresentam as objeções a seguir. Ao discuti-las, devemos lembrar que uma verdade revelada na Escritura pode apresentar reivindicações à nossa crença, a despeito das dificuldades que nos são insolúveis. Contudo, espera-se que um exame mostre as objeções em questão que se apóiam ou em falsos princípios filosóficos, ou em falsos conceitos da doutrina combatida. A) Que não pode haver pecado sem que haja disposições e atos maus antes de haver consciência.
Teologia Sistemática (Strong) 1239 Negamos tal afirmação. A maior parte das disposições e atos maus são imperfeitamente conscientes e não se pode discerni-los. A objeção se apóia na suposição de que a lei se limita a estatutos publicados ou a padrões anteriormente reconhecidos pelos seus cumpridores. Um ponto de vista mais profundo da lei idêntica aos princípios constituintes do ser dispondo a natureza à conformidade com a natureza de Deus, demandando volições justas apenas porque estas são manifestações de um estado de direito, tendo reivindicações sobre os homens em sua capacidade corporativa, tira toda a força desta objeção. Se o nosso alvo é achar um ato consciente da transgressão na qual se baseia a acusação de culpa e condenação do homem, podemos achar isto mais facilmente no pecado de Adão do que no começo da história pessoal de cada homem; porque nenhum ser humano pode lembrar-se do primeiro pecado. A principal questão é: Todo pecado é pessoal? Reivindicamos que tanto a Escritura como a razão respondem esta pergunta pela negativa. Existe uma coisa que se chama pecado racial e responsabilidade racial.
B) Que o homem não pode ser responsável por uma natureza pecaminosa que ele pessoalmente não originou. Replicamos que a objeção ignora o testemunho da consciência e da Escritura. Estas afirmam que somos responsáveis por aquilo que somos. A natureza pecaminosa não é alguma coisa exterior a nós, mas é o íntimo do nosso ser. Se a justiça original do homem e o novo sentimento implantado na regeneração têm caráter moral, então a tendência inata para o mal tem caráter moral; como aqueles são recomendáveis, do mesmo modo também esta o é. Se se disser que o pecado não é o ato da natureza, mas de uma pessoa, respondemos que, em Adão, toda a natureza humana subsistiu uma vez na forma de pessoalidade simples e o ato da pessoa pode ser ao mesmo tempo o ato da natureza. O que não pode ser em qualquer ponto subseqüente no tempo, pode ser ou é, naquele tempo. A natureza humana pode cair em Adão, embora tal queda não possa repetir-se no caso de
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qualquer um dos seus descendentes. Hovey, Outlines, 129 – Diremos que a vontade é a causa do pecado nos seres santos enquanto o desejo errôneo é a causa do pecado nos seres ímpios? É o que Agostinho sustenta". Pepper, Outlines, 112 – "Nenhum de nós cai por si mesmo. Somos assim na provação em Adão, de modo que a sua queda é a nossa".
C) O pecado de Adão não nos pode ser atribuído visto que não podemos nos arrepender dele. A objeção só é plausível quando deixamos de distinguir o pecado de Adão como uma interior apostasia da natureza de Deus e o referido pecado como o ato exterior de transgressão que se seguiu e manifestou essa apostasia. Na verdade, não podemos nos arrepender do pecado de Adão como nosso ato pessoal ou como ato pessoal de Adão, mas considerá-lo como apostasia da nossa natureza comum – apostasia essa que se manifesta nas nossas transgressões pessoais como ocorreu com ele, podemos arrepender-nos dela e, na verdade, arrependemo-nos. Na verdade esta natureza é corrupta em si mesma e avessa a Deus, pela qual o cristão se arrepende. O Deus que conhecemos não fez a nossa natureza como a encontramos. Estamos cônscios da nossa depravação e apostasia de Deus. Sabemos que Deus não pode ser o responsável por isso; que a responsabilidade é da nossa natureza. Mas ela não pode ser, a menos que a corrupção seja a de si mesmo. Por esta natureza corrompida por si mesma devemos arrepender-nos e, na verdade, arrependemo-nos. Anselmo, De Conceptu Virginali, 23 – "Adão pecou num ponto de vista como uma pessoa; em outro como homem (i.e., como natureza humana que, naquele tempo, existia só nele). Mas, visto que Adão e a humanidade são inseparáveis, o pecado de uma pessoa necessariamente afeta a natureza. É esta que Adão transmitiu à posteridade e transmitiu-a como o pecado o fez, levando o fardo da dívida que não pôde ser paga, roubada da justiça de que Deus originariamente o investiu; e em cada um dos seus descendentes esta natureza prejudicada faz pecadoras as pessoas. Contudo, não no mesmo grau em que Adão se encontrava, pois este pecou tanto na natureza humana como em pessoa, enquanto a criança recém-nascida peca só por
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possuir a natureza", - mais resumidamente, em Adão, uma pessoa fez a natureza pecaminosa; na sua posteridade a natureza torna as pessoas pecadoras.
D) Que, se somos responsáveis pelo primeiro pecado de Adão, também devemos sê-lo não só pelo de Adão, mas pelos dos nossos ancestrais imediatos. Respondemos que a apostasia da natureza humana pode ocorrer apenas uma vez. Ela ocorreu em Adão antes que ele comesse o fruto proibido e a revelasse ao comê-lo. Os subseqüentes pecados de Adão e dos nossos ancestrais imediatos não mais são atos que determinam ou mudam a natureza; eles só mostram o que a natureza é. Eis aqui a verdade e a limitação da Escritura que declara que "o filho não levará a maldade do pai" (Ez. 18.20; cf. Le. 13.2,3; Jo. 9.2,3). O homem não responde pelas tendências especificamente más que lhe foram comunicadas pelos seus ascendentes imediatos originadas de tais tendências, mas pela apostasia original que constituiu a única e final revolta da raça para com Deus e pela depravação e desobediência pessoais que, no seu próprio caso advieram dela. Agostinho, Encheiridion, 46,47, tende para uma atribuição dos pecados dos ancestrais imediatos, mas sugere que, em se tratando da graça, isto pode limitar-se "à terceira e quarta geração" (Ex. 20.5). O pensamento de Tomás de Aquino é que Deus diz isto porque os pais vivem até a terceira e quarta geração da sua descendência e influem neles, pelo exemplo, a voluntariamente tornarem-se como eles. Burgesse, Original Sin, 397, acrescenta a idéia pactuai à da geração natural a fim de evitar a atribuição dos pecados dos ancestrais imediatos do mesmo modo que os de Adão. Shedd também. Mas Baird, Elohim Revealed, 508, dá uma explicação melhor quando estabelece uma distinção entre o primeiro pecado da natureza, que se apostatou e as subseqüentes ações pessoais que manifestam somente a natureza, mas não a mudam. Imagine que Adão permanecesse inocente, mas alguém da sua posteridade caísse. Então os seus descendentes teriam sido culpados pela mudança da sua natureza,
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mas não pelos pecados que ocorreram nas pessoas que viveram no período entre ele e a posteridade. Acrescentamos que o homem pode dirigir o curso de uma corrente de lava que flui vulcão abaixo em um canal particular e pode cavar um novo canal montanha abaixo. Mas a correnteza é constante em sua quantidade e qualidade e sofre a mesma influência de gravitação em todos estágios de seu progresso. Sou responsável pela tendência déclinante que a minha natureza proporciona ao início; mas não o sou pelas tendências herdadas e as especificamente más como algo separado da natureza, - pois elas não se separam desta - são formas e manifestações dela. Elas terminam após um certo tempo; não com o pecado da natureza. A declaração de Ez. 18.20, "o filho não levará a iniqüidade do pai" como a negação que Cristo fez de que a cegueira se devia aos pecados individuais ou aos dos pais (Jo. 9.2,3) simplesmente mostra que Deus não atribui a nós os pecados dos nossos ancestrais imediatos; o que não é inconsistente com a doutrina de que o mal físico e moral do mundo resulta do pecado de Adão, cujo peso a raça suporta. As tendências peculiares à avareza ou à sensualidade herdadas de um ancestral imediato são simplesmente rugas na depravação nativa que nada acrescentam à sua soma ou culpa. Shedd, Dogm. Theol., 2.88,94 - "Herdar um temperamento é herdar um traço secundário". H. B. Smith, System, 296 "Ez. 18 não nega que os descendentes estejam envolvidos em resultados maus dos pecados ancestrais sob o governo moral de Deus, mas simplesmente mostra que há oportunidade para o deslinde no arrependimento e obediência". Mosley, Predestination, 179 - "Agostinho diz que as declarações de Ezequiel de que o filho não levará a iniqüidade do pai não são lei universal do procedimento divino, mas somente uma profecia especial alusiva à misericórdia divina sob a dispensação do evangelho e o pacto da graça, sob o qual o efeito do pecado original e o castigo da humanidade por causa do primeiro pai foi removido". Provérbio alemão: "A maçã não cai longe da árvore".
E) Que, se o pecado e condenação de Adão podem ser nossos por propagação, a justiça e a fé também deveriam sê-lo pelo mesmo processo.
Teologia Sistemática (Strong) 1243 Respondemos que nenhuma qualidade simplesmente pessoal, quer de pecado quer de justiça, comunicam-se por propagação. A geração comum não transmite a culpa pessoal, mas apenas aquela que pertence à espécie toda. Do mesmo modo a fé e a justiça pessoais não se propagam. O pecado original é a conseqüência da natureza do homem, enquanto a graça dos pais é uma excelência pessoal e intransmissível" (Burgesse). Thornwell, Selected Writings, 1.543, diz que a doutrina agostiniana implica que Adão, penitente e crente, deve ter gerado filhos penitentes e crentes, vendo que a natureza como se encontra nos pais flui sempre de pai para filho. Porém, ver Fisher, Discussões, 370, onde Tomás de Aquino sustenta que a mesma qualidade ou culpa pessoal se propaga (Tomás de Aquino, 2.629). Anselmo, (De Conceptu Virginali et Originali Pecato, 98), não decidirá a questão. "A natureza original da árvore se propaga - não na natureza do enxerto" - quando se planta a semente vinda do enxerto. Burgesse: Os pais estudados não transmitem geneticamente o ensino aos filhos, mas estes nascem na mesma ignorância que os outros". Agostinho: "Um judeu circuncidado não gera filhos circuncidados, mas incircuncisos; e a semente que foi semeada sem casca ainda produz cereal com casca". A recente modificação do darwinismo por Weismann confirma a doutrina do texto. O ponto de vista de Lamarck é que o desenvolvimento de cada raça ocorre através do esforço dos indivíduos; a girafa tem o pescoço longo porque sucessivas girafas buscavam alimento em árvores altas. Darwin sustenta que o desenvolvimento ocorreu não por causa do esforço, mas por causa do ambiente, que mata o inadequado e permite a sobrevivência do adequado; a girafa tem o pescoço longo porque, entre os filhos das girafas, só os de pescoço longo viveram para propagar-se. Weismann, porém, conta-nos agora que, mesmo naquela época, não haveria desenvolvimento, a menos que houvesse uma tendência inata espontânea nas girafas de tornar-se de pescoço longo; nada de valioso depois que a girafa nascia; todos dependem dos genes dos pais. Darwin defende a transmissão dos caracteres adquiridos, de modo que os indivíduos são afluentes da correnteza da humanidade; Weismann, ao contrário, sustenta que os caracteres adquiridos não se transmitem e que os indivíduos são apenas efluentes da humanidade; a correnteza dá suas características aos indivíduos, mas os indivíduos não as dão à correnteza.
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Weismann, Heredity, 2.14, 266-270, 482 - "Os caracteres só adquiridos pela operação de circunstâncias externas, agindo durante a vida do indivíduo, não podem ser transmitidos. ... A perda de um dedo não é herdada; o aumento de um órgão através do exercício é uma opção puramente pessoal e não transmitido; nenhuma criança com pais que sabem ler jamais lêem sem serem ensinadas; os filhos nem mesmo aprendem a falar se não forem ensinados". Os cavalos com a cauda cortada, as chinesas com os pés apertados, não transmitem suas peculiaridades. A ruptura do hímen não se transmite. Weismann cortou a cauda de 66 camundongos em 5 sucessivas gerações, mas, dos 901 descendentes, nenhum nasceu sem cauda. C. J. Romanes, Life and Letters, 300 - "Três casos adicionais de gatos que perderam as caudas tendo após gatinhos pitocos". Em seu weismanismo, Romanes escreve: "A verdadeira atitude científica da mente relacionada ao problema da hereditariedade é dizer com Galton: 'Devemos quase reservar a nossa crença em que as células estruturais, afinal de contas, podem reagir em elementos sexuais e podemos estar confiantes em que, na maioria dos casos, elas agem assim em pequeno grau; ou seja, tais modificações adquiridas são aridamente, se é que o são, herdadas, no sentido correto da palavra'". Isto parece classificar Romanes e Galton do lado de Weismann na controvérsia. Contudo, Burbank diz que "os caracteres adquiridos são transmitidos ou nada conheço da vida planejada". A. H. Bradford, Heredity, 19,20, ilustra os pontos de vista opostos: "Ávida humana não é uma correnteza clara que flui das montanhas e recebe em seu variado curso algo em torno de milhões de regatos e riachos na superfície do solo de sorte que não é mais puro que na origem. A este ponto de vista Darwin e Spencer, Weismann e Haeckel opõem o ponto de vista de que a vida humana é mais uma corrente que, vinda das montanhas, flui sob a terra, para o mar e ressurge aqui e ali nas fontes. Algumas são salinas, outras sulfúricas e algumas manchadas de ferro; as diferenças se devem totalmente ao solo rompendo à superfície. A correnteza-mãe e o sal, o enxofre e o ferro abaixo fluem para o mar, substancialmente inalterado. Se Darwin está certo, então devemos mudar os indivíduos para mudar a sua posteridade. Se o correto é Weismann, então devemos mudar o ambiente para que nasçam indivíduos melhores. Porque aquele que é nascido do Espírito é espírito; mas o que é nascido do espírito manchado pelas corrupções da carne ainda está manchado".
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A melhor conclusão garantida pela ciência parece ser a de Wallace, Forum, agosto, 1890, isto é, que sempre há uma tendência de transmitir os caracteres adquiridos, mas apenas os que afetam o sangue e o sistema nervoso, como a bebida e a sífilis vencem o hábito do organismo e tornamse permanentes. Aplicando agora este princípio à conexão entre Adão e a raça, consideramos radical o pecado de Adão, comparado só ao ato de fé que imerge a alma em Cristo. É um afastamento total da luz e amor de Deus e a fixação dos demais nas trevas e morte. Cada ato subseqüente encaminha-se na mesma direção, mas o ato que se manifesta, não altera a natureza. O primeiro ato do pecado priva a natureza de todo apoio e crescimento moral a não ser que o Deus imanente contraponha as tendências inerentes do mal. A posteridade de Adão herda sua natureza corrompida, mas não quaisquer característica subseqüentes adquiridas, quer as do primeiro pai, quer as dos ancestrais imediatos. Bascom, Comp. Psychology, cap VIII - "As modificações, embora grandes, como a discordância artificial, que não se opera na estrutura fisiológica, não se transmitem. Quanto mais conscientes e voluntárias forem as nossas aquisições, menos se transmitem por hereditariedade". Schaler, Interpretation of Nature, 88 - "A hereditariedade e a ação individual podem combinar as suas forças e assim intensificar um ou mais motivos herdados que afetam a forma, e o efeito pode ser transmitido aos descendentes. Deste modo o conflito das heranças pode levar à instituição da variedade. A acumulação dos impulsos pode levar a uma súbita revolução e a espécie pode mudar, não através do ambiente, mas por competição entre a multidão de heranças". Supõe-se que a visitação dos pais nos filhos seja uma doutrina ultrajante até quando ensinada na Escritura. Agora ela é aplaudida vigorosamente, desde que tome o nome de hereditariedade. Dale, Ephesians, 189 – "Quando jovens, lutávamos contra certos pecados e os matávamos; eles não nos perturbam mais; mas seus fantasmas parecem surgir dos sepulcros nos distantes anos e revestir-se na carne e sangue dos nossos filhos".
F) Que, se as conseqüências morais são propriamente uma pena, o pecado, considerado como natureza pecaminosa, deve ser a punição do pecado, considerado como o ato dos nossos primeiros pais.
Teologia Sistemática (Strong) 1246 Porém replicamos que a impropriedade de punir o pecado desaparece quando consideramos que o pecado punido é o nosso, juntamente com aquele pelos quais nós somos punidos. A objeção é válida contra a teoria federal, ou contra a da atribuição Mediata, mas não contra a do encabeçamento natural de Adão. Negar que Deus, através da operação de causas secundárias, pode punir o ato de transgressão com o hábito e tendência que dele resultam é ignorar os fatos da vida diária assim como as afirmações da Escritura em que o pecado é representado como sempre se reproduzindo e, com cada crescente reprodução, sua culpa e castigo (Rm. 6.19; Tg. 1.15). Rm. 6.19 - "assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia e à maldade para a maldade, assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para santificação"; Ef. 4.22 "que se corrompem pelas concupiscências do engano"; Tg. 1.15 - "Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte"; 2 Tm. 3.13 - "homens maus e enganadores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados". Ver Meyer sobre Rm. 1.24 "Pelo que também Deus os entregou às concupiscências do seu coração é à imundícia". Todos efeitos voltam às causas. Schiller: "Esta é a própria maldição dos maus atos, Que do novo mal torna-se a semente". Whiton, Is Eternal Punishment Endless, 52 – "O castigo do pecado consiste essencialmente na expansão mais ampla e mais forte da doença da alma. Rm. 5.22 - 'Quanto ao ímpio, as suas iniqüidades o prenderão'. O hábito de pecar prende o ímpio 'com as cordas do pecado'. O pecado é por si mesmo perpetuador. O pecador gravita em torno de um mal cada vez maior, numa queda cada vez mais profunda". O menor dos nossos pecados tem em si o poder de expansão infinita; deixado ao léu da sua sorte alagaria o mundo com a miséria e destruição. Sabedoria 11.16 – "para que compreendessem que no pecado está o castigo". Shakespeare, Ricardo II, 5.5 "Gastei o tempo e agora o tempo me gasta"; Péricles, 1.1 - "Eu sei que um pecado provoca outro; o assassino está pronto a cobiçar como a chama a fumegar"; Rei Lear, 5.3 - Os deuses são justos e, do nosso prazer os vícios fazem instrumentos para torturar-
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nos". "O Fausto de Marlowe tipifica a contínua degradação de uma alma que renunciou o seu ideal e atração de um vício pelo outro, pois vão de mão em mão como as Horas" (James Russel Lowell). Sra. Humphrey Ward, David Grieve, 410 - Além de tudo, não há muita esperança quando a voracidade se volta para um homem idoso especialmente após o intervalo de alguns anos".
G) Que a doutrina exclui toda a provação de indivíduos separados desde Adão, fazendo da sua vida moral uma simples manifestação de tendência recebidas dele. Respondemos que a objeção leva em conta apenas a nossa conexão com a raça e ignora o complementar e importante fato da vontade pessoal de cada ser humano. Que a vontade pessoal faz mais do que simplesmente expressar a natureza; ela pode, até certo ponto, reprimir a natureza, ou pode, por outro lado, acrescentar o caráter pecaminoso e a influência de si mesma. A saber, há um resquício de liberdade, que abre espaço para a provação pessoal além do pecado da raça em Adão. Kreibig, Versohnungslehre, objeta ao ponto de vista de Agostinho que, se o pecado pessoal procede do original, a única coisa de que os homens são culpados é o pecado de Adão; todo pecado subseqüente é um desenvolvimento espontâneo; a vontade individual só pode manifestar seu caráter inato. Mas retrucamos que esta é uma representação de Agostinho. Ele não perde de vista as lembranças da liberdade do homem (ver na página 620 a afirmação do ponto de vista de Agostinho e, na seção seguinte, sobre a Capacidade 640-644). Ele diz que a árvore corrompida pode produzir os maus frutos da moralidade, embora não o fruto da graça divina. Não é verdade que a vontade, de um modo absoluto, é como o caráter. Embora este seja o mais seguro indicador do que podem ser as decisões da vontade, ele não é infalível. O primeiro pecado de Adão e os pecados do homem após a regeneração, provam isto. Embora estas decisões sejam excepcionais, irregulares e espontâneas, não deixam de ser atos da vontade e mostram que o agente não se prende aos motivos, nem ao caráter. Eis aqui a nossa resposta à questão se não é pecado propagar a raça e produzir filhos. Cada filho tem uma vontade pessoal que pode ter a sua própria provação e oportunidade de libertação. Denney, Studies in Theology,
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87-99 - "Pode-se dizer que aquilo que herdamos fixa nossas provações, mas não o nosso destino. Pertencemos a Deus do mesmo modo que ao passado". "Todas as almas são minhas" (Ez. 18.4). "todo aquele que é da verdade ouve a minha voz" (Jo. 18.37) Thomas Fuller: "1. Roboão gerou a Abias, isto é, um mau pai gerou um mau filho; 2. Abias gerou Asa, isto é, um mau pai gerou um bom filho; 3. Asa gerou a Josafá, isto é, um bom pai gerou um bom filho; 4. Josafá gerou a Jorão, isto é, um bom pai gerou um mau filho. Com isso vejo que os pais piedosos não podem ser copiados; eis uma péssima notícia para mim. Vejo, porém, que a verdadeira impiedade nem sempre é hereditária; eis uma boa notícia para o meu filho". Butcher, Aspects of Greek Genius, 121 - Entre os gregos "o ponto de vista popular é que se herda a culpa; isto é, que os filhos são punidos pelos pecados dos pais. O ponto de vista de Esquilo bem como o de Sófocles é que a tendência para a culpa é sempre herdada, o que não anula a liberdade do homem. Por isso, se os filhos são castigados, isto ocorre por causa dos seus próprios pecados. Mas Sófocles encara a verdade de que o filho inocente pode sofrer pelos pecados dos pais". Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.316 - "A teoria orgânica do pecado simplesmente conduz ao naturalismo, que põe em risco não só a doutrina do juízo final, mas, de um modo geral, a da imortalidade pessoal". Por isso, devemos começar a pregação com o conhecido e reconhecido pecado do homem. Devemos dar a mesma ênfase escriturística na conexão entre nós e Adão, a fim de explicar o problema das tendências pecaminosas universais e inveteradas, visando a reforçar a nossa necessidade de salvação da ruína comum e ilustrar a nossa conexão com Cristo. A Escritura não faz, e não necessitamos fazer nossa a responsabilidade pelo pecado de Adão, o grande tema da nossa prédica.
H) Que a unidade orgânica da raça na transgressão é coisa tão distante da experiência comum que a sua pregação neutraliza todos apelos da consciência. Qualquer que seja a verdade existente nesta objeção, deve-se à natureza por si mesma isolante do pecado. Os homens sentem a unidade da família, da profissão, da nação a que pertencem, e, na mesma
Teologia Sistemática (Strong) 1249 proporção o sopro da sua simpatia e da experiência da graça divina, fazêlos entrar no sentimento de Cristo sobre a unidade da raça (cf. Is. 6.5; Lm 3.39-45; Ed. 9.6; Ne. 1.6). O fato de que a auto-restrição e busca de si mesmo são reconhecidas como responsáveis só pelos seus atos pessoais não deve impedir a nossa pressão sobre a atenção dos homens mais do que a busca de padrões das Escrituras. Só assim pode o cristão encontrar uma solução para o tenebroso problema da corrupção inata ainda que condenável; só assim o irregenerado será levado ao pleno conhecimento da profundidade da sua ruína e da sua dependência absoluta de Deus para a salvação. Identificação do indivíduo com a nação ou com a raça: Is. 6.5 - "Ai de mim, que vou perecendo; porque sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios"; Lm 3.42 - "Nós prevaricamos e fomos rebeldes"; Ed. 9.6 - "Estou confuso e envergonhado para levantar a ti a minha face, meu Deus, porque as minhas iniqüidades se multiplicam sobre a minha cabeça"; Ne. 1.6 - "faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel ... também eu e a casa de meu pai pecamos". Do mesmo modo Deus castiga Israel pelo pecado do orgulho de Davi; assim também os pecados de Rubem, Acã, Geazi são visitados nos seus filhos e descendentes. H. B. Smith, System, 296, 297 - "Sob o governo moral de Deus o homem pode, com justiça, sofrer por causa dos pecados de outro. Uma relação orgânica dos homens é considerada no grande juízo de Deus na história.... Existe o mal que vem sobre os indivíduos, não como castigos pelos seus próprios pecados, mas como sofrimento que vem sobre o governo moral. ... Jr. 32.18 reforça a declaração do segundo mandamento, de que Deus visita a iniqüidade dos pais nos filhos. Pode-se dizer que tudo isto são simples 'conseqüências' das relações familiares, ou tribais, ou nacionais, ou raciais - Ό mal se torna cósmico em razão do estreitamento das relações que originariamente se adaptaram para fazer o bem cósmico; mas, então, o plano de Deus deve encontrar-se nas conseqüências - plano este administrado por um ser moral, sobre seres morais, conforme as considerações e fins morais; e, se isto for levado plenamente em conta, a disputa quanto as 'conseqüências' e 'castigo' torna-se simplesmente verbal.
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Há uma consciência comum bem acima da particular. Ela controla os indivíduos quando aparecem as grandes crises como no caso da queda de Fort Sumter convocando o povo para a defesa da União e Proclamação da Emancipação ao repicar dos sinos pela morte da escravidão. Coleridge dizia que o pecado original é um mistério que esclarece as coisas. Bradford, Heredity, 34, cita Elam, Physician's Problems, 5 - "Um vício adquirido e habitual não deixará seu traço sobre um ou mais descendentes, quer em sua forma original, quer estritamente aliada. O hábito do pai se torna o impulso total, mas irresistível do filho; a tendência orgânica é estimulada ao máximo e a força da vontade e da consciência proporcionalmente se enfraquece. ... Assim visitam-se os pecados dos pais nos filhos". Pascal: "É surpreendente que o mistério mais distante do nosso conhecimento - quero dizer, a transmissão do pecado original - seja aquele sem o qual não temos o verdadeiro conhecimento de nós mesmos. Neste abismo é que gira e vacila a chave da nossa condição a ponto de o homem tornar-se mais incompreensível sem mais mistério do que o próprio mistério seja incompreensível ao homem". Contudo, a perplexidade de Pascal se deve em grande parte à defesa da posição agostiniana de que o pecado herdado é danoso e produz a morte eterna, apesar de que não sustenta a posição coordenada agostiniana de uma existência primária e um ato da espécie em Adão. O atomismo é egoísta. Os mais puros e mais nobres sentem mais fortemente que a humanidade não se assemelha a um amontoado de grãos de areia ou a uma fileira de tijolos postos numa extremidade, mas é uma unidade orgânica. É isto que o cristão sente pela família e pela igreja. É isso que Cristo, no Getsêmani, sentiu pela raça. Se se disser que a tendência do ponto de vista agostiniano é diminuir o senso de culpa dos pecados pessoais, respondemos que somente aqueles que reconhecem os pecados arraigados em um pecado podem reconhecer, com propriedade, o mal deles mesmos. Para tais pessoas eles são apenas sintomas de tão profunda e universal apostasia de Deus que nada, a não ser a graça infinita, pode livrar-nos dela.
I) Que uma constituição através da qual o pecado de um indivíduo envolve na culpa e condenação a natureza de todos os homens que dele descendem contraria a justiça de Deus.
Teologia Sistemática (Strong) 1251 Reconhecemos que nenhuma teoria humana pode esclarecer plenamente o mistério da atribuição. Mas preferimos deixar a justiça mais do que a soberania na decisão de Deus. As considerações a seguir, embora parcialmente hipotéticas, podem lançar luz sobre a matéria: α) Α provação da nossa natureza comum em Adão, como era sem pecado e com pleno conhecimento da lei de Deus, é mais consistente com a justiça divina do que uma provação separada de cada indivíduo, com inexperiência, depravação inata, mau exemplo, tudo favorecendo uma decisão contra Deus. b) Uma constituição que possibilitou uma queda pode ter sido indispensável a qualquer provisão de uma salvação. c) A nossa oportunidade de salvação pela graça é melhor do que teria sido a ausência de pecado dos Adãos sem lei. d) A constituição que permitiu a unidade com o primeiro Adão na transgressão não pode ser injusta, visto que um mesmo princípio da unidade com Cristo, o segundo Adão, nos assegura a salvação. e) Há também uma união física e natural com Cristo que antedata a queda e que é incidente à criação do homem. A imanência de Cristo na humanidade garante um contínuo esforço divino para remediar o desastre causado pela livre vontade do homem e restaurar a união moral com Deus que a raça perdeu com a queda. Deste modo, a nossa a ruína e nossa redenção igualmente se operaram sem os nossos atos pessoais. Como toda a vida natural da humanidade estava em Adão, do mesmo modo toda a vida espiritual da humanidade estava em Cristo. Como a nossa velha natureza estava corrompida em Adão e se propagou a nós através da geração física, assim a nossa nova natureza foi restaurada em Cristo e comunicou-se a nós através da obra regeneradora do Espírito Santo. Se, então somos justificados por estarmos em Cristo, de igual modo podemos ser condenados por estarmos em Adão. Stearns, N. Eng., janeiro, 1882.95 - Ό silêncio da Escritura sobre a conexão exata entre o primeiro e grande pecado e os pecados dos milhões de indivíduos que têm vivido desde aquela época, nem a ciência, nem a
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filosofia têm sido capazes de dar uma explicação satisfatória. Separe a dupla natureza do homem em sociedade ou individualmente. A lei científica da hereditariedade produziu uma nova ocorrência da doutrina que os antigos teólogos procuravam expressar sob o nome de pecado original, - termo que tinha um sentido como o utilizado inicialmente por Agostinho, mas impropriamente aplicado, se aceitarmos qualquer outra teoria que não seja esta". O Dr. Hovey reivindica que o ponto de vista agostiniano desmorona quando aplicado à conexão entre a justificação dos crentes e a justiça de Cristo; porque os crentes não estavam em Cristo, na substância das suas almas, ao operar a redenção deles. Entretanto, respondemos que a vida de Cristo, que nos torna cristãos, é a mesma que fez a expiação na cruz e ressuscitou da sepultura para a nossa justificação. O paralelo entre Adão e Cristo tem analogia com a natureza, não com a identidade. Há uma conexão da vida física com Adão; uma espiritual com Cristo. Stahl, Philosophie des Rechts, citada no Comentário de Olshausen sobre Rm. 5.12-21 - "Adão é a matéria original da humanidade; Cristo é a sua idéia original em Deus; ambos pessoalmente vivos. O homem é um neles. Por isso, o pecado de Adão tornou-se o pecado de todos. Cada folha de uma árvore pode estar verde ou seca; mas cada uma sofre pela doença da raiz e só se recupera através da sua cura. Quanto menor é o homem muito mais isolada lhe aparecerá cada coisa; pois, na superfície, tudo está separado. Ele verá na humanidade, na nação, e não só, mas na família, meros indivíduos onde o ato de um não tem conexão com o do outro. Quanto mais profundo o homem, mais estas relações interiores da unidade procedentes do próprio centro operam-se violentamente sobre ele. Sim, o amor ao nosso próximo nada é a não ser um profundo sentimento de unidade; porque nós só amamos aquele por quem sentimos e reconhecemos ser um conosco. O que o amor cristão ao nosso próximo é para o coração a unidade da raça é para o entendimento. Se não é possível o pecado através de um e a redenção através de um, então a ordem de amar o nosso próximo é também incompreensível. A ética cristã e a fé cristã são, por isso, na verdade, indissoluvelmente unidas. O cristianismo efetua na história um avanço semelhante ao do reino animal, revelando a unidade essencial do homem cujo conhecimento no mundo antigo se desvanecera quando as nações se separaram".
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Se os pecados dos pais não foram visitados nos filhos, nem as virtudes o poderiam ser; a possibilidade de uns envolve a das outras. Se a culpa do nosso primeiro pai não pode ser transmitida a todos que dele derivaram a sua vida, a justificação da parte de Cristo não poderia ser transmitida a todos que dele também derivaram sua vida. Contudo, não vemos qualquer trecho bíblico garantir a teoria de que todos homens são justificados do pecado original em virtude da sua conexão com Cristo. Aquele que é a vida de todos os homens concede as múltiplas bênçãos temporais com base na sua expiação. Mas a justificação do pecado condiciona-se à consciente rendição da vontade humana e confiança na misericórdia divina. O Cristo imanente está sempre estimulando o indivíduo e a coletividade a tal decisão. Mas a aceitação ou rejeição da graça oferecida cabe à livre vontade do homem. Este princípio capacita-nos a avaliar com propriedade o ponto de vista do Dr. Henry E. Robins a seguir. Η. Ε. Robins, Harmony of Ethics With Theol., 51 - "Todos os nascidos de Adão acham-se em tal relação com Cristo que a salvação é direito inato sob promessa – direito esse que só se perde por ato inteligente pessoal e moral, como foi o caso de Esaú". O Dr. Robins defende a justificação incompleta de todos – que se realiza e se completa só quando a alma se inclui no oferecimento de Cristo ao pecador. Preferimos dizer que, a humanidade, em Cristo, é idealmente justificada porque o próprio Cristo se justifica, mas o homem individualmente só é justificado quando conscientemente se apropria da graça oferecida ou se entrega ao Espírito renovador. Allen, Jonathan Edwards, 312 - "A graça de Deus é tão orgânica em sua relação com o homem como o mal com a natureza. A graça também reina onde quer que reine a justiça". William Ashmore, New Trial of the Sinner, Revista Cristã, 26.245-264 - "Há um evangelho na natureza comensurado com a lei da natureza; Rm. 3.22 - 'para todos e sobre todos os que crêem'; o primeiro 'todos' é ilimitado; o segundo limita-se aos que crêem". R. W. Dale, Ephesians, 180 - "As nossas fortunas identificam-se com as de Cristo; no pensamento e propósito divinos somos inseparáveis dele. Se tivéssemos sido verazes e leais à idéia divina, a energia da justiça de Cristo ter-nos-ia elevado às sucessivas alturas da bondade e alegria até que ascendêssemos desta vida terrena às maiores forças e mais elevados servi-
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ços e mais ricos prazeres de outros mundos mais divinais; e ainda por um período áureo de desenvolvimento intelectual, ético e espiritual após outro devemos continuar a subir rumo à perfeição infinita e transcendente de Cristo. Entretanto, pecamos; e como a união entre Cristo e nós não poderia ser rompida sem a derrota final e irrevogável do propósito divino, Cristo seria trazido dos serenos céus abaixo, à confusa e perturbadora vida da nossa raça, à dor, à tentação, à cruz, à sepultura e, deste modo, o ministério da sua expiação por nossos pecados estaria consumado".
SEÇÃO VI - CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO DE ADÃO À POSTERIDADE
Como resultado da transgressão de Adão, toda a posteridade nasceu no mesmo estado em que ele estava quando caiu. Porém, como a lei é uma exigência integral de harmonia com Deus, todas conseqüências morais provindas da transgressão devem ser consideradas como sanções da lei ou expressões do desagrado divino através das coisas que ele estabeleceu. Algumas dessas conseqüências, contudo, são reconhecidas antes que outras e são de menor escopo; é bom considerar como sanções da lei três aspectos: depravação, culpa e pena. I. DEPRAVAÇÃO É a falta de retidão original, por um lado, ou santo sentimento para com Deus e, por outro lado, a corrupção moral, ou inclinação para o mal. Tem-se demonstrado fartamente, em nossa consideração sobre o pecado, tanto a partir das Escrituras como da razão que tal depravação existe. A salvação é dupla: libertação do mal - a pena e o poder do pecado; e o cumprimento do bem - semelhança com Deus e realização da verdadeira idéia da humanidade. Tudo isso ela inclui tanto em favor da raça como do indivíduo: remoção das barreiras que separam os homens uns dos outros; e o aperfeiçoamento da sociedade na comunhão com Deus; ou seja, o reino de Deus na terra. Essa era a natureza do homem quando, a princípio, veio
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das mãos de Deus, para temer, amar e confiar em Deus acima de todas as coisas. Perdeu-se esta inclinação para Deus; o pecado alterou e corrompeu a mais íntima natureza do homem. Em lugar da inclinação para Deus há uma temerosa inclinação para o mal. A depravação tanto é negativa ausência do amor e da semelhança moral com Deus - como positiva - a presença das múltiplas tendências para o mal. Duas perguntas chamam a nossa atenção:
1. A depravação é total ou parcial? As Escrituras representam a natureza humana como totalmente depravada. A expressão "depravação total", contudo, é passível de falsa interpretação, e não deve ser usada sem qualquer explicação. A depravação total da humanidade universal: A) Negativamente, - não significa que cada pecador é: a) destituído de consciência; pois a existência de fortes impulsos para o certo, e o remorso pelo erro mostram que a consciência está freqüentemente aguçada; b) desprovido de todas qualidades agradáveis ao homem e úteis quando julgadas segundo os padrões humanos; pois a existência de tais qualidades é reconhecida por Cristo; c) inclinação para toda sorte de pecado; pois certas formas de pecado excluem outras; d) o seu mais intenso egoísmo e oposição a Deus; porque ele se torna pior a cada dia. a) Jo. 8.9 - "Quando ouviram isso, saíram um a um a começar pelos mais velhos até os últimos (embora Jo. 7.53-8.11 não seja escrito por João é uma narrativa perfeitamente verdadeira que vem da era apostólica). Os músculos das pernas de uma rã morta contraem-se quando uma corrente elétrica passa por eles. Assim a alma morta sentirá o toque da mão divina. A consciência natural, combinada com o princípio do amor próprio, pode ajudar a escolher o bem, embora não tenha o amor a Deus como escolha. Bengel: "Perdemos a semelhança a Deus ; mas, apesar de tudo, permanece uma indelével nobreza que devemos venerar tanto em nós como nos outros. Continuamos a ser humanos de conformidade com aquela semelhança,
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através da bênção divina com que a vontade do homem está comprometida. Esquecem-se disso os que falam mal da natureza humana. Absalão absteve-se da graça do seu pai; mas o povo, com tudo isso, reconheceu nele o filho do rei". b) Mc. 10.21 - "E Jesus, olhando para ele, o amou". Estas mesmas qualidades, contudo, podem mostrar que os que as possuem estão pecando contra a grande luz e são mais culpados; cf. Ml. 1.6 - "O filho honrará o pai e o servo a seu senhor; e, se eu sou Pai, onde está a minha honra? e, se eu sou senhor, onde está o meu temor?" John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 2.75 – "Aquele que afirma a depravação total da natureza humana, da cegueira e incapacidade absolutas pressupõe em si e nos outros a presença de um critério ou princípio de bem, em virtude do qual discerne em si o que é totalmente mau; contudo, a própria proposição de que a natureza humana é totalmente má seria ininteligível senão falsa. ... A consciência do pecado é um sinal negativo de que a possibilidade se tornará real". Um templo em ruínas pode ter belos fragmentos de colunas flauteadas, mas não é uma habitação apropriada ao deus para cujo louvor foi construído. c) Mt. 23.23 - "dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas e não omitir aquelas"; Rm. 2.14,15 - "quando os Gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei escrita nos corações, testificando juntamente a sua consciência". O pecado da avareza pode excluir o da luxúria; o pecado do orgulho pode excluir o da sensualidade. Shakespeare, Otelo, 2.3 - "Aprouve ao diabo que a bebedeira abrisse espaço à ira diabólica". Franklin Carter, Life of Mark Hopkins, 321323 - O Dr. Hopkins não pensava que os filhos de Deus eram descritos simultaneamente como vermes, porcos, ou víboras. Contudo, digo que o homem pode imergir numa degradação inferior à do bruto: "Nenhum bruto é mais capaz de se rebelar contra Deus do que de servi-lo; é mais capaz de afundar abaixo do nível da sua própria natureza do que surgir ao nível do homem. Nenhum bruto pode ser um tolo ou um demônio. ... Do mesmo modo em que o pecado e a corrupção entram no reino espiritual, encontramos uma das analogias ocorrentes nas formas inferiores do ser, as
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quais mostram a unidade de todo o sistema. Toda desintegração e corrupção da matéria acham-se sob domínio de uma lei inferior sobre a mais elevada. O corpo começa a voltar aos seus elementos naturais e as forças físicas começam a ganhar ascendência sobre a força mais elevada da vida. Do mesmo modo, todo pecado e corrupção do homem vem da submissão a uma lei inferior ou princípio de ação oposto às demandas de um ser mais elevado". d) Gn. 15.16 - "a medida da injustiça dos amorreus ainda não está cheia"; 2 Tm. 3.13 - "mas os homens maus e enganadores irão de mal a pior". Depravação não significa simplesmente privação do bem. Depravação (de + pravus, torto, perverso) é mais do que privação. O homem, deixado ao seu destino, tende a decair e o seu pecado aumenta dia a dia. Porém há uma influência divina que desperta a consciência e acende a aspiração às coisas melhores. O Cristo imanente é "a luz que alumia a todo homem" (Jo. 1.9). Prof. Wm. Adams Brown: "Até onde o Espírito de Deus opera entre os homens e eles recebem 'a luz que alumia a todo homem' devemos qualificar nossa afirmação da depravação total. A depravação não é tanto um estado como uma tendência. Com a crescente complexidade da vida, o pecado se torna mais complexo. O pecado de Adão não é o pior. 'Haverá menos rigor para os de Sodoma no Dia do Juízo do que para ti' (Mt. 11.24)". Contudo, os homens não estão na condição dos demônios. Só aqui e ali eles atingiram "um desinteressado amor pelo mal". Tais homens são poucos e não nasceram assim. Há graus de depravação. E. G. Robinson: "Ainda há uma boa faixa deixada com o diabo". Satanás mesmo se tornará pior do que é agora. A expressão "depravação total" só se refere às relações com Deus e significa incapacidade de fazer qualquer que seja, à vista de Deus, um ato de bondade. Nenhum ato que não provenha de um verdadeiro coração e constitua uma expressão deste é totalmente bom. Contudo, não temos o direito de dizer que todos atos do irregenerado desagradam a Deus. Os atos corretos de motivos corretos são bons, quer praticados por um cristão, quer por alguém que não tem o coração regenerado. Tais atos, contudo, são sempre assistidos por Deus e, graças a eles, são devidos a Deus e não àquele que os praticou.
Teologia Sistemática (Strong) 1258 B) Positivamente: - cada pecador é: a) totalmente destituído daquele amor a Deus que constitui a exigência fundamental e toda abrangente da lei; b) carregado de sentimento inferior ou um desejo que ultrapasse a consideração por Deus e sua lei; c) supremamente determinado em sua preferência do eu em relação a Deus, quer na vida interior, quer na exterior; d) possuído de uma aversão para com Deus a qual, apesar de às vezes latente, torna-se inimizade ativa, tão logo a vontade de Deus entra em conflito com a do próprio pecador; e) desordenada e corrompida em cada faculdade, através desta substituição do egoísmo pela afeição suprema para com Deus; f) não credor de nenhum pensamento, emoção ou ato que a santidade divina pode aprovar; g) sujeito a uma lei de progresso constante na depravação e não tem nenhuma energia recuperadora que o capacite a ser bem sucedido em resistir. a) Jo. 5.42 -"mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus". b) 2 Tm. 3.4 - "mais amigos dos deleites do que amigos de Deus"; cf. Ml. 3.4 – "O filho honrará o pai e o servo a seu senhor; e, se eu sou Pai, onde está a minha honra? E, se eu sou Senhor, onde está o meu temor?" c) 2 Tm. 3.2 - "amantes de si mesmos". d) Rm. 8.7 - "a inclinação da carne é inimizade contra Deus". e) Ef. 4.18 - "entenebrecidos no entendimento ... pela dureza do seu coração"; Tt. 1.15 - "o seu entendimento e consciência estão contaminados"; 2 Co. 7.1 - "imundícia da carne e do espírito"; Hb. 3.12 - "um coração mau e infiel". f) Rm. 3.9 - "estão debaixo do pecado"; 7.18 "em mim, isto é, em minha carne não habita bem algum". g) Rm. 7.18 - "o querer está em mim; mas não consigo realizar o bem"; 23 - "vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está em meus membros". Cada pecador preferiria uma lei mais branda e uma administração diferente. Mas qualquer que não ama a lei de Deus, na verdade, não ama a Deus. O pecador procura garantir seus próprios interesses mais do que os de Deus. Mesmo os assim chamados atos religiosos ele pratica, preferindo o seu próprio bem à glória de Deus. Ele desobedece e sempre desobedeceu à fundamental lei do amor. É como um comboio ferroviário na descida, cujos freios Deus deve aplicar, ou ocorrerá a destruição certa. Há paixões latentes
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em cada coração, as quais, se deixadas soltas, acarretarão a maldição sobre o mundo. Muitos homens que escaparam do incêndio do Teatro Iraquois em Chicago, provaram-se brutos ou demônios pisoteando os fugazes que clamavam por misericórdia. Denney, Studies in Theol., 83 – "A depravação que o pecado produziu na natureza humana estende-se a toda ela. Não há nenhuma parte da natureza humana que não seja afetada por ela. A natureza do homem é uma peça inteira e aquilo que a afeta, afinal de contas, afeta o todo. Quando a desobediência à vontade de Deus viola a consciência, o entendimento moral é obscurecido e a vontade enfraquecida. Não somos construídos em compartimentos estanques, dos quais, um pode ser arruinado enquanto os outros permanecem intactos". Contudo, contra a depravação total devemos opor a redenção total; contra o pecado original, a graça original. Cristo está em cada coração humano mitigando os efeitos do pecado, estimulando o arrependimento, e "pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus" (Hb. 7.25). Até mesmo o pagão, não regenerado, pode "despojar-se ... do velho homem" (Ef. 4.22,24), sendo liberto "do corpo desta morte ... por Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rm. 7.24,25). H. B. Smith, System, 277 - "Depravação total nunca significa que os homens são tão maus quanto possam ser; nem que, em condições naturais, eles não tenham qualidades cordiais; nem que não tenham virtudes num sentido limitado (justitia civilis). Mas que 1) a depravação, ou condição pecaminosa do homem, infecta-o todo: intelecto, sentimento, coração e vontade; 2) em cada pessoa não renovada ressalta algum sentimento inferior; e 3) cada um é destituído do amor a Deus. Sobre estas posições: quanto 1) à força da depravação sobre o homem todo, já demos a prova da Escritura; quanto 2) ao fato de que em cada homem não renovado ressalta algum sentimento inferior e pode-se apelar para a experiência; os homens sabem que o principal sentimento se fixa em algum bem inferior - intelecto, coração e vontade caminham juntos; ou que predomina alguma forma de egoísmo emprega-se este em sentido genérico - o eu busca sua felicidade em algum objeto inferior, atribuindo-lhe um supremo sentimento; quanto ao 3) toda pessoa não renovada é desprovida do supremo amor a Deus, é o ponto da maior força e deve ser estimulado com o mais poderoso efeito ressaltando a profundidade e a 'totalidade' do pecado do homem: os não renovados não têm o supremo amor de Deus, que é a substância do primeiro mandamento.
Teologia Sistemática (Strong) 2. Capacidade, ou incapacidade?
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Em oposição à plena capacidade ensinada pelos pelagianos, à graciosa capacidade dos arminianos e à capacidade natural dos teólogos da Nova Escola, as Escrituras declaram a total incapacidade de o pecador voltar-se para Deus ou fazer o que é verdadeiramente bom aos olhos de Deus (ver abaixo a prova da Escritura). Também uma concepção própria da lei leva-nos à conclusão de que nenhum homem cujas forças estão diminuídas, ou pelo pecado original, ou pela ação pecaminosa pode elevar-se àquele padrão perfeito. O pecador pode a) evitar o pecado contra o Espírito Santo; b) optar pelo pecado menor em vez do maior; c) recusar-se à submissão a certas tentações; d) praticar certos atos externos, embora por motivos imperfeitos; e) buscar a Deus por interesses próprios. Mas, por outro lado, o pecador não pode a) por sua simples vontade conformar o seu caráter e vida com a lei de Deus; b) mudar a sua preferência fundamental para com o eu e para com o pecado pelo supremo amor a Deus; nem c) praticar qualquer ato, embora insignificante, que encontre a plena aprovação ou resposta às exigências da lei. Até onde há estágios do intelecto, sentimento e vontade que o homem não pode por qualquer força da vontade, ou da escolha contrária que há nele, sujeitar-se a Deus, não se pode dizer que ele possui o mínimo de capacidade suficiente por si para a vontade de Deus; e, se se buscar uma base para a responsabilidade e culpa do homem, encontrar-se-á, mas na sua capacidade original, em Adão, vinda das mãos do seu Criador. A atual capacidade do homem é natural, o que significa inata; não adquirida pela nossa ação pessoal, mas congênita. Contudo, não é natural, como resultante das limitações originais da natureza humana, ou da subseqüente perda de qualquer faculdade essencial a essa natureza. A natureza humana, no princípio, na criação, era dotada da capacidade de guardar perfeitamente a lei de Deus. Mesmo depois do pecado, o homem
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não perdeu suas faculdades essenciais do intelecto, sentimento ou vontade. Tais faculdades se enfraqueceram, embora sejam atualmente incapazes de agir na medida normal de suas forças. Porém, mais especificamente, o homem tornou cada faculdade uma inclinação ausente de Deus, a qual o torna moralmente incapaz de tributar obediência espiritual. A incapacidade para o bem, que agora caracteriza a natureza humana, resulta do pecado e ela mesma é pecado. Por isso, entendemos tratar-se de uma incapacidade natural e moral; moral porque tem sua fonte na própria corrupção da natureza moral do homem e na fundamental aversão à vontade de Deus; - natural, inata, causadora da paralisia parcial de todas as forças naturais do intelecto, do sentimento, da consciência e da vontade. O homem é responsável pela incapacidade nestes dois aspectos. O pecador não pode fazer uma coisa importante, a saber: atender à vontade divina. SI. 119.59 - "Considerei os meus caminhos e voltei os meus pés para os teus testemunhos". W. Northrup: Ό pecador pode buscar a Deus: a) por amor próprio, considerando os seus próprios interesses; b) por sentimento de dever, senso de obrigação, do despertar da consciência; c) por gratidão pelas bênçãos já recebidas; d) pela aspiração ao infinito e satisfatório". Denney, Studies of Theology, 85 - "Um espirituoso moralista francês disse que Deus não precisa ter inveja dos seus inimigos mesmo naquilo que eles chamam de virtude; nem os ministros de Deus.... Mas há uma coisa que o homem não pode fazer sozinho: harmonizar o seu estado com a sua natureza. Quando se tiver descoberto que o homem, sem Cristo, tem sido capaz de reconciliar-se com Deus e dominar o mundo e o pecado, então a doutrina da incapacidade, ou da escravidão devida ao pecado pode ser negada; então, mas só então". A Igreja Escocesa Livre, no ato declaratório de 1892, diz "que, sustentando e ensinando, conforme a Confissão de Fé, a corrupção da natureza toda decaída, esta igreja ainda sustenta que permanecem sinais da sua grandeza criada à semelhança de Deus; que possui um conhecimento de Deus e do dever; que é responsável pela concordância com a moral e com o evangelho; e que, embora incapaz, sem o auxílio do Espírito Santo, de voltar-se para Deus, é capaz de sentimentos e ações que, por si mesmos, são virtuosos e dignos de louvor".
Teologia Sistemática (Strong) 1262 Quanto ao uso da expressão "capacidade natural" para designar mera posse de todas faculdades constituintes da natureza humana do pecador, objetamos com base nos seguintes pontos: A) Falta quantitativa. – A expressão "capacidade natural" é falsa porque parece implicar que a existência de meros poderes do intelecto, do sentimento e da vontade é qualificação quantitativa suficiente para a obediência à lei de Deus enquanto tais forças têm sido diminuídas pelo pecado e são naturalmente incapazes ao invés de naturalmente capazes de tributar a Deus o talento a princípio outorgado. Mesmo que a direção moral das faculdades do homem fossem normais, o efeito do pecado hereditário e do pessoal tornariam naturalmente impossível aquela grande semelhança para com Deus que a lei da perfeição absoluta demanda. Portanto, o homem não tem a capacidade perfeitamente natural de obedecer a Deus. Ele a teve em certa ocasião, mas perdeu-a com o primeiro pecado. Quando Jean Paul Richter diz de si mesmo: "Tenho feito de mim mesmo tudo que se pode fazer de pouca valia", evidencia uma complacência de si mesmo que se deve à sua própria ignorância e falta de discernimento moral. Quando o homem realiza a extensão das demandas da lei, vê que, sem o auxílio divino, é impossível a obediência. John B. Gough representa os confirmados esforços do ébrio na reforma de um homem que escala o Monte Etna em incandescente lava ou como o remador nas Cataratas do Niagara.
Β) Falta qualitativa. – Visto que a lei de Deus requer do homem não tanto simples volições retas como a conformidade para com Deus no seu total estado interior dos sentimentos e vontade, o poder da escolha contrária nas simples volições não constitui uma capacidade natural de obedecer a Deus, a menos que o homem possa, por aquelas simples volições, mudar o subjacente estado dos sentimentos e da vontade. Mas o homem não possui tal poder. Visto que Deus julga todos atos morais em
Teologia Sistemática (Strong) 1263 conexão com o estado geral do coração e da vida, a capacidade natural para o bem envolve não só o pleno complemento das faculdades, mas também uma tendência dos sentimentos e da vontade para com Deus. Sem esta tendência não há, de modo algum, a possibilidade da prática de ação moral correta e, onde não há tal possibilidade, não pode haver tal capacidade quer natural, quer moral. Wilkinson, Epic of Paul, 21 –"O ódio assemelha-se ao amor, Em que, só por ser o que é, desenvolve-se, Usurpando, por fim, totalmente o homem, e vertiginosamente desenvolve-se como um pólipo. John Caird, Fund. Ideas, 1.53 - "O ideal é a revelação de uma força em mim mais poderosa que a minha. O mandamento supremo 'faze' e o pronunciamento diferente apenas na forma da mesma voz do espírito que diz 'podes'; e as minhas mais elevadas realizações alcançam-se, não por auto-afirmação, mas por autorenúncia e auto-rendição à infinita vida da verdade e da justiça que há em mim e reina em mim". A consciente incapacidade de alguém, juntamente com o recebimento do "poder que Deus dá" (1 Pe. 4.11) é o segredo da coragem de Paulo; 2 Co. 12.10 - "quando estou fraco, então sou forte"; Fp. 2.12,13 - "operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade".
C) Não se conhece tal capacidade. – Em adição ao argumento psicológico já mencionado, podemos apresentar outro a partir da experiência e da observação. Estes testificam que o homem reconhece a inexistência de tal capacidade. Visto que ninguém, pelo exercício das forças naturais, jamais se voltou para Deus ou praticou ato verdadeiramente bom aos olhos de Deus, a existência de uma capacidade natural de fazer o bem é pura suposição. Não há nenhuma garantia científica para inferir a existência de uma capacidade que nunca se manifestou em um só exemplo desde o início da história. "Salomão não podia conservar na memória os Provérbios; por isso os escreveu". O livro de Provérbios necessita da explicação complementar do Novo Testamento sobre a ausência do auxílio e do oferecimento deste; Jo.
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15.15-"sem mim nada podeis fazer"; 6.37-"o que vem a mim de maneira nenhuma lançarei fora". A incapacidade do paralítico andar é bem diferente da sua indisposição de aceitar um remédio. Ele não pode escalar o penhasco, mas, se se descer uma corda, pode ser içado desde que consinta que o amarrem. Darling, Presb. Review, julho, 1901. 505 - "Se recebemos ordens, podemos estender o braço ressequido; mas Deus não requer isto a alguém que não o tenha. Podemos Ouvir a voz do Filho de Deus' e Viver' (Jo. 5.25), mas não podemos tirar da sepultura faculdades que não possuímos antes da morte".
D) O mal prático da crença. – O mal prático, assistindo à pregação da capacidade natural, fornece um forte argumento contra ela. As Escrituras, em suas declarações sobre a incapacidade e desesperança do pecador, apontam para a dependência exclusiva de Deus para a salvação. A doutrina da capacidade natural, assegurando-lhe que ele é capaz de arrepender-se imediatamente e voltar-se para Deus, estimula o adiamento, colocando a salvação sempre ao seu alcance. Se uma simples vontade garante-a, ele poderá ser salvo tão facilmente amanhã como pode hoje. A doutrina da incapacidade pressiona o homem à imediata aceitação das ofertas de Deus, para que não perca o dia da graça. Os que se preocupam mais com o eu são aqueles em quem o eu se torna inteiramente submisso e escravizado às influências exteriores. Mt. 16.25 -"aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la-á". O egoísta é uma palha na superfície de um riacho corrente/Cada vez mais torna-se vítima das circunstâncias até que, por fim, não tem mais liberdade que o bruto. SI. 49.20 – "O homem que está em honra e não tem entendimento é semelhante aos animais, que perecem".
Repitamos, contudo, que a negação de toda incapacidade humana, quer natural, quer moral, de voltar-se para Deus ou de fazer o que é verdadeiramente bom aos olhos de Deus, não implica em negar o poder humano de ordenar a sua vida externa em muitos particulares de conformidade com as regras morais, ou mesmo alcançar o louvor dos
Teologia Sistemática (Strong) 1265 homens pela sua virtude. O homem tem ainda uma grande liberdade de, em certa extensão limitada, agir, sobre a sua própria natureza, e modificá-la por vontade isolada exteriormente conformada com a lei de Deus. Ele pode escolher formas mais ou menos elevadas de ações egoísticas e perseguir estes cursos escolhidos com variados graus de energia. A liberdade de escolha, dentro destes limites, de modo algum é incompatível com a servidão completa da vontade às coisas espirituais. Jo. 1.13 - "não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus"; 6.44 - "ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer"; 3.5 - "aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus"; 8.34 - "todo aquele que comete pecado é servo do pecado"; 15.4,5 - "a vara, de si mesma, não pode dar fruto ... sem mim nada podeis fazer"; Rm. 7.18 - "em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem"; 24 - "miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" 8.7,8 - "a inclinação da carne é inimizade contra Deus; pois não é sujeita à lei de Deus"; 1 Co. 2.14 - "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura e ele não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente"; 2 Co. 3.5 - "não que sejamos capazes por nós de pensar alguma coisa como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus"; Ef. 2.1 - "mortos em ofensas e pecados"; 8-10 - "pela graça sois salvos por meio da fé e isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo para as boas obras"; Hb. 11.6 "sem fé é impossível agradar-lhe". O imperativo categórico do dever de Kant, expresso nos termos: "Devo, por isso posso", é reminiscência do conhecimento da liberdade do homem original - da qual ele é dotado, e que agora se acha destruída pelo pecado. Ou pode ser a coragem da alma em que Deus opera novamente por seu Espírito. Ao "Ich soll, also ich kann" (Devo, por isso posso) de Kant, Julius Müller substituiria: "Ich sollte freilich können, aber ich kann nicht" - "Na verdade, devo ser capaz, mas não o sou". Verdadeiramente o homem se arrepende quando aprende que o seu pecado o fez incapaz de arrepender-se sem a graça de Deus. Emerson, em seu poema intitulado "Voluntariedade"
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diz: "Tão perto está a magnitude do nosso pó, tão perto está Deus do homem, quando o dever lhe murmura grandiosamente aos ouvidos Tu deves, A juventude responde, Eu posso". Mas sem a graça especial, toda a capacidade que o homem possui é inteiramente insuficiente para cumprir as demandas da lei de Deus. A lei paterna e a civil implicam certo tipo de poder. A teologia puritana denominava o homem de "livre entre os mortos" (SI. 88.5, V.A.). Há uma enorme liberdade dentro da escravidão; a vontade é "uma gota de água presa dentro de um cristal sólido" (Oliver Wendell Holmes). O homem que a si mesmo se mata é tão morto como se o tivesse sido por outrem (Shedd, Dogmatic Theology, 2.106). Confissão de Westminster, 9.3 - "Por causa da sua queda em um estado de pecado, o homem perdeu totalmente a sua capacidade de querer qualquer bem espiritual que acompanha a salvação; assim também, como natural, avesso ao bem e morto no pecado, ele é incapaz, por sua própria força, de converter-se ou preparar-se para isso". Hopkins, Works, 1.233-235 - "Enquanto dura a oposição do coração do pecador e a sua vontade, ele não pode chegar-se a Cristo. É impossível, e o continuará sendo, até que uma mudança e renovação do coração através da graça divina removem a falta de vontade e oposição e ele passe a desejá-la no dia do poder de Deus'. Hopkins fala da total incapacidade de obedecer a lei de Deus, isto é, impossibilidade total". Hodge, System of Theology, 2.257-277 - "A incapacidade não consiste na perda de qualquer faculdade da alma, nem na perda da livre atuação, porque o pecador determina os seus próprios atos, nem na simples distinção do que é bom. Isto surge da falta de discernimento e, conseqüentemente, da falta dos sentimentos próprios. A incapacidade pertence só às coisas do Espírito. O que o homem não pode fazer é arrepender-se, crer e regenerarse a si mesmo. Ele não pode praticar qualquer ato que mereça a aprovação de Deus. O pecado anula tudo o que o homem faz e este não pode livrar-se dele. A distinção entre a capacidade natural e moral não tem sentido. Podemos dizer que o inculto entende e aprecia a Ilíada porque tem todas faculdades que tem um erudito? Podemos dizer que o homem pode amar a Deus se quiser? Isto é falso se vontade significa erudição. É um truísmo se significar apenas afeição. As Escrituras nunca tratam o homem desta forma e dizem que ele tem poder para fazer o que Deus requer. É perigoso ensinar
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isto porque enquanto o homem não sentir sua impossibilidade de fazer o que quer que seja, Deus nunca salva. A incapacidade envolve a doutrina do pecado original; envolve a necessidade da influência do Espírito na regeneração. A incapacidade é inconsistente com a obrigação quando ela surge do pecado e é removida pela remoção deste. Shedd, Dogm. Theol., 2.213-257, Sermons in South Church, 33-39 – "A origem desta desesperança não está na criação, mas no pecado. Deus pode confiar-nos os dez talentos, ou os cinco que originariamente nos confiou, juntamente com um diligente e fiel desenvolvimento deles. Porque o servo perdeu os talentos, está livre da obrigação de devolvê-los com interesse? O pecado contém em si o elemento de servidão. No próprio ato de transgredir a lei de Deus, há uma ação reflexa da vontade humana sobre si mesma e, em vista disso, menos capaz de guardar a lei do que anteriormente. O pecado é um ato suicida da vontade humana. Cometer o erro destrói a força de praticar o que é correto. A depravação total traz consigo a fraqueza total. A faculdade do querer arruinou-se interiormente; talvez torne incapaz para a santidade por sua própria ação; pode entregar-se ao apetite e ao egoísmo com tal intensidade e avidez que se torna incapaz de converter-se e dominar a sua inclinação para o erro". Ver Stevenson, Dr. Jekyll e Dr. Hyde, Andover Review, junho, 1886.664. Podemos nos associar à vida de um outro - quer mau, quer bom; podemos quase transformar-nos em Satã ou em Cristo, como diz Paulo em Gl. 2.20 - "vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim"; ou ser um valido do "espírito que opera nos filhos da desobediência" (Ef. 2.2). Mas se nos entregamos à influência de Satã, a recuperação da nossa verdadeira personalidade torna-se mais difícil e, por fim, impossível.
II. CULPA 1. Natureza da culpa Culpa é o merecimento de punição, ou obrigação de tributar satisfação à justiça de Deus pela deliberada violação da lei. Há uma reação da santidade contra o pecado que a Escritura denomina "a ira de Deus" (Rm. 1.18). Pecado é, em nós, ato ou estado; a justiça punitiva de Deus é sobre todo pecador como algo a ser temido; a culpa é uma
Teologia Sistemática (Strong) 1268 relação do pecador com tal justiça, a saber, o merecimento de punição do pecador. A culpa se relaciona com o pecado como o ponto incandescente com a fogueira. Schiller, Die Braut von Messina (A noiva de Messina): Das Leben ist der Güter höchstes nicht; Der Uebel grösstes aber ist die Schuld" -"A vida não é a mais elevada posse; mas o maior dos males é a culpa". Delitzsch: "Die Schamröthe ist die Abendröthe der unter gegangenen Sonne der ursprünglichen Gerechtigkeit" — "O rubor da vergonha é o rubor do cair da tarde depois que o sol da retidão original desceu". E. G. Robinson: "As angústias da consciência não surgem do medo do castigo; elas é que são o castigo".
As seguintes notas servem tanto para prova como para explicação: A) A culpa incorre só através da transgressão, ou por parte da natureza do homem, ou da pessoa. Só somos culpados do pecado que temos originado ou de cuja origem temos participado. Culpa não é, portanto, mera propensão ao castigo, sem participar na transgressão do castigo que se inflige; em outras palavras, no governo divino não há algo como a culpa construtiva. Somos culpados só por aquilo que fizemos, ou em nossos primeiros pais e pelo que somos em conseqüência de tais feitos. Ez. 18.20 - "o filho não levará a maldade do pai" =, como diz Calvino (Com. in loco): "O filho não levará a iniqüidade do pai, porque ele receberá a sua devida recompensa e levará o seu próprio fardo. ... Todos são culpados de suas próprias faltas. ... Cada um perece por sua própria iniqüidade". A saber, toda a raça caiu em Adão e todos são punidos por seus próprios pecados, não pelos dos ancestrais imediatos, nem pelo pecado de Adão como pessoa estranha a nós. Jo. 9.3 - "Nem ele pecou, nem seus pais" (para que ele nascesse cego) = Não atribua a qualquer pecado especial mais tardio o que é conseqüência do pecado da raça - este "trouxe ao mundo a morte e o nosso sofrimento". Shedd, Dogm. Theol., 2.195-213.
Teologia Sistemática (Strong) 1269 B) A culpa é o resultado objetivo do pecado e não deve ser confundida com a poluição subjetiva, ou depravação. Todo pecado, quer natural, quer pessoal, é ofensa contra Deus (SI. 51.4-6), ato ou estado de oposição à vontade dele, tem seu efeito na ira pessoal de Deus (SI. 7.11; João 3.18,36) e deve ser expiado, ou pela punição ou pela expiação (Hb. 9.22). Diferentemente da pureza divina, o pecado não só envolve poluição, mas também, em antagonismo com a santa vontade de Deus, envolve culpa. Esta culpa, ou obrigação de satisfazer a ultrajada santidade de Deus, se explica no N.T. com os termos "devedor' e "dívida" (Mt. 6.12; Lc. 13.4; Mt. 5.21; Rm. 3.19; 6.23; Ef. 2.3). Visto que a culpa, resultado objetivo do pecado, é inteiramente distinta da depravação, resultado subjetivo, a natureza humana pode, como em Cristo, ter culpa sem depravação (2 Co. 5.21), ou pode, como no crente, ter a depravação sem a culpa (1 João 1.7,8). Sl. 51.4-6 - "Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que a teus olhos é mal para que sejas justificado quando falares e puro quando julgares"; 7.11 – "Deus é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias"; Jo. 3.18 "quem não crê já está condenado"; 36 - "aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece"; Hb. 9.22 - "sem derramamento de sangue não há remissão"; Mt. 6.12 - "dívidas"; Lc. 13.4 "devedores"; Mt. 5.21 - "será réu de juízo'; Rm. 3.19 - "todo o mundo seja condenável diante de Deus"; 6.23 - "o salário do pecado é a morte" = a morte é o merecimento do pecado; Ef. 2.3 - "por natureza filhos da ira"; 2 Co. 5.21 - "Àquele que não conheceu pecado o fez pecado por nós"; 1 Jo. 1.7,8 Ό sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e não há verdade em nós". O pecado traz em seu rasto não só a depravação, mas a culpa, não só a macula, mas reatus. A Escritura apresenta a poluição do pecado através dos similes de "uma gaiola de pássaros impuros" e das "feridas, escoriações e chagas putrefatas"; através da lepra e da impureza levítica, sob a velha dispensação; através da morte e corrupção da sepultura sob os velhos e os novos. Mas a Escritura apresenta a culpa do pecado, com igual vivacidade,
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no temor de Caim e no remorso de Judas. A reação de Deus relativa ao pecado e a sua demanda pela satisfação refletem-se na vergonha e no remorso de cada consciência despertada. Há um sentimento instintivo no coração do pecador de que o pecado será punido e deve sê-lo. Mas o Espírito Santo torna a necessidade de reparação tão profundamente sentida que a alma não se tranqüiliza enquanto a sua dívida não for paga. O membro que ofende a igreja e que é verdadeiramente penitente ama a lei e a igreja que o exclui e não pensa que é fiel se, na verdade não é. Assim Jesus, quando carregado com a culpa da raça, foi pressionado para a cruz, dizendo: "Importa que eu seja batizado com um certo batismo e como me angustio até que venha a cumprir-se!" (Mc. 10.32; Lc. 12.50). Todo pecado envolve culpa e a alma pecadora por si demanda castigo, de sorte que todos, finalmente, irão para o lugar onde desejam estar. Todos os grandes mestres da literatura têm reconhecido isto. Esta inesgotável sede por reparação constitui a própria essência da tragédia. Os trágicos gregos estão plenos disso e Shakespeare é o seu mais impressionante mestre: Medida por Medida, 5.1 - "Lamento causar-vos tanta pena. Meu coração está tão cheio de remorsos que bem mais desejo a morte do que o perdão. Eu a mereço e a imploro". Outros escritores mais tarde seguiram Shakespeare. Tais cenas não se limitam às páginas do romance. Num recente julgamento em Siracusa, o conde, assassino da esposa, agradeceu ao júri porque convenceu-o; declarou justo o veredicto; pediu que ninguém interviesse para obstar a decisão da justiça; declarou que a maior bênção que lhe podia ser conferida é deixá-lo sofrer a punição do crime. Em Platsburgo, no fim de outro julgamento em que o acusado era um vivo convicto que golpeou com um machado um convicto colega, o júri, após uma ausência de duas horas, veio pedir ao juiz que explicasse a diferença entre homicídio de primeiro e segundo grau. De súbito o prisioneiro levantou-se e disse: "Este não é um homicídio de segundo grau. Foi deliberado e premeditado. Eu sei que errei, que devo confessar a verdade, e que devo ser enforcado". Isto não deixou ao júri outra senão decisão votar o veredicto e o juiz sentenciou a forca conforme ele confessou que merecia. Em 1891, Lars Ostendahl, o mais famoso pregador da Noruega, surpreendeu os seus ouvintes ao confessar de público que tinha sido culpado de imoralidade e
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que não poderia mais continuar no pastorado. Pediu ao povo, pelo amor de Cristo, que lhe perdoasse e não abandonasse aquele pobre em seu asilo. Ele não só era pregador, mas também o chefe de uma grande obra filantrópica. Tal é o movimento e tal é a demanda da consciência iluminada. A falta de convicção de que o crime deve ser punido é um dos sinais mais certos da decadência moral quer no indivíduo, quer na nação (SI. 97.10 - "Vós, que amais ao Senhor, aborrecei o mal"; 149.6 - "Estejam na vossa garganta os altos louvores de Deus e espada de dois fios nas suas mãos" - para executar o juízo de Deus sobre a iniqüidade). Tal relação do pecado para com Deus mostra-nos como Cristo "foi feito pecado por nós" (2 Co. 5.21). Porque Cristo é Deus imanente, ele é, também, em essência, a humanidade, o homem universal, a vida da raça. Todos os nervos e sensibilidades da humanidade encontram-se nele. Ele é o cérebro central para o qual e pelo qual devem passar todas idéias. Ele é o centro cardíaco para o qual e pelo qual devem comunicar-se todas as dores. Você não pode telefonar ao seu amigo sem antes entrar em contato com a central telefônica (O autor escreveu esta nota quando os telefones dependiam da telefonista [nota do tradutor]). Você não pode ofender o seu próximo sem primeiro ofender a Cristo. Cada um de nós pode dizer-lhe: "Contra ti, contra ti somente pequei" (SI. 51.4). Por causa da sua humanidade central e auto-inclusiva Cristo pode sentir todas angústias da vergonha e o sofrimento que, com justiça, pertencem aos pecadores, os quais, entretanto, não podem sentir, porque o seu pecado embruteceu-os e os mortificou. Se, na verdade, o Messias é um ser humano, deve ser um Messias que sofre. Em razão da sua própria humanidade ele deve ter em sua própria pessoa toda a culpa da humanidade e ser o "Cordeiro de Deus que" toma e assim "tira o pecado do mundo" (Jo. 1.29). A culpa e a depravação não se distinguem apenas no pensamento; elas também são discerníveis nos fatos. O assassino convicto pode arrepender-se e tornar-se puro, embora possa ainda estar sob a obrigação de sofrer a punição do seu crime. O crente está livre da culpa (Rm. 8.1), mas não está livre da sua depravação (Rm. 7.23). Por outro lado, Cristo estava sob a obrigação de sofrer (Lc. 24.26; At. 3.18; 26.23), conquanto está sem
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pecado (Hb. 7.26). No livro intitulado Pensamentos Religiosos Modernos, 329, R. J. Campbell apresenta um ensaio sobre A Expiação, com o qual, independentemente do ponto de vista quanto à origem do mal moral em Deus, em substância concordamos. Ele sustenta que "para livrar o homem do seu senso de culpa, é necessária a expiação objetiva"; diríamos nós: para livrar o homem da culpa em si - obrigação de sofrer. "Se Cristo é o Filho eterno de Deus, esse lado da natureza divina que continuou na criação, se ele contém a humanidade e está presente em cada item e ato da experiência humana, então está associado à existência do mal primordial. ... Ele, e só ele pode separar o vínculo entre o homem e sua responsabilidade pelo pecado pessoal. Cristo não pecou no homem, mas tomou a responsabilidade da experiência do mal em que a humanidade nasceu, e aquilo que constitui pecado. Por isso, o Filho eterno em quem a humanidade está contida sofre desde que a criação começou. Esta misteriosa paixão de Deus deve continuar até que se consuma a redenção e a humanidade seja restaurada para Deus. Assim, sente-se cada conseqüência do mal humano na experiência de Cristo. Ele não só assume a culpa, mas leva o castigo de cada alma humana". Contudo, reivindicamos que a necessidade deste sofrimento acha-se, não nas necessidades do homem, mas na santidade de Deus.
C) Contudo, a culpa como resultado objetivo, não deve confundirse com a consciência subjetiva da culpa (Lv. 5.17). Na condenação da consciência, a condenação de Deus se manifesta parcialmente e de modo profético (1 João 3.20). Porém a culpa é primeiramente uma relação com Deus e, em segundo lugar, uma relação com a consciência. O progresso no pecado é marcado pela diminuição da sensibilidade do "insight" moral e do sentimento. Como "o maior dos pecados é não estar consciente de nada", assim a culpa pode ser grande na proporção da ausência da sua consciência (SI. 19.12; 51.6; Ef. 4.18,19 - άπηλγηκότες). Não há nenhuma evidência, contudo, de que a voz da consciência pode ser completa ou finalmente silenciada. O tempo para o arrependimento pode passar, mas o tempo para o remorso não. O progresso na santidade, por outro lado, é marcado por crescente apreensão da profundeza e extensão da nossa pecaminosidade, conquanto esteja combinada, em
Teologia Sistemática (Strong) 1273 uma experiência cristã normal, com a certeza de que a culpa dos nossos pecados foi tirada por Cristo (João 1.29). Lv. 5.17 - "E, se alguma pessoa pecar, e fizer contra algum de todos os mandamentos do Senhor o que se não deve fazer, ainda que o não soubesse, contudo, ela será culpada e levará a sua iniqüidade"; 1 Jo. 3.20 "se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração e conhece todas as coisas"; SI. 19.12 - "Quem pode entender os seus próprios erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos"; 51.6 - "Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto fazes conhecer a sabedoria"; Ef. 4.18,19 "entenebrecidos no entendimento ... havendo perdido todo o sentimento"; Jo. 1.29 - "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". Platão, Republic, 1.330 - Quando a morte se aproxima, despertam-se os cuidados e apreensões, especialmente o temor do inferno e seus castigos". Cícero, De Divinitate, 1.30 - "Daí vem o remorso pelas más ações". Pérsio, Sátira 3 - "Seu vício o entorpece; sua fibra se torna gorda; ele não tem consciência de falta alguma; não sabe que perda ele sofre; está de tal forma mergulhado que não há nem mesmo uma bolha na superfície". Shakespeare, Hamlet, 3.1 - "Assim a consciência faz-nos a nós todos covardes"; 4.5 - "Para a minha alma doentia, como é a verdadeira natureza do pecado, cada brinquedo parece o prólogo de algum grande mal; A culpa é tão cheia de ciúme sem arte, que se derrama no medo do derramamento; Ricardo III, 5.3 -"Ó consciência covarde, como tu me afliges! ... Minha consciência tem mil diversificadas línguas e cada uma traz consigo um diversificado conto, Ε cada conto me condena por uma vilania"; Tempestade, 3.3 - "Todos os três estão desesperados; a grande culpa deles, Como veneno dado para fazer efeito muito tempo depois, Faz agora morder os espíritos"; Antônio e Cleópatra, 3.9 - "Quando nós, em nosso vício (ó miséria), nos tornamos mais duros, os sábios deuses vendem os nossos olhos; Em nossa imundícia destilam nossos claros julgamentos; fazem-nos Adorar os nossos erros; riem-se de nós, enquanto nos envaidecemos da nossa confusão". Dr. Shedd disse uma vez a uma classe de jovens graduandos em teologia: "Queria que sobre o coração nu, palpitante de cada um de vocês pudesse haver um rubro carvão incandescente da ira do Deus Onipotente"! Sim, acrescentamos, desde que tal rubro carvão incandescente pudesse ser
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apagado por uma rubra gota do expiatório sangue de Cristo. O Dr. H. E. Robins: "Para o pecador convicto um inferno simplesmente exterior seria uma chama refrescante, comparada com a agonia do seu remorso". John Milton representa Satanás dizendo: "Qualquer lugar para onde vôo é inferno; eu mesmo sou um inferno". James Martineau, Jackson's Life, 190 - "Faz parte da essência do culpado o declínio que aplica o seu próprio anestésico". Mas esta mortificação da consciência não pode durar para sempre. A consciência é um espelho da santidade de Deus. Podemos cobrir o espelho com o véu das diversões e enganos deste mundo. Removido o véu e refletida a consciência novamente como a solar pureza das demandas de Deus, somos visitados pela auto-relutância e pelo queixume de nós mesmos. John Caird, Fund. Ideas, 2.25 - "Embora possa lançar fora todos vestígios da sua origem divina, nossa natureza retém ao menos uma terrível prerrogativa, fazer-se presa de si mesma". Littleton, Lux Mundi, 277 - "A falácia comum de que um pecador auto-indulgente não é inimigo de outrem, mas de si mesmo, na verdade, envolveria mais uma inferência de que tal pecador não se sentiria culpado". Se alguém não gosta da doutrina da culpa, lembre-se de que sem a ira de modo nenhum há perdão, sem culpa não há perdão.
2. Graus de culpa As Escrituras reconhecem diferentes graus de culpa atribuídos a diferentes tipos de pecados. A variedade de sacrifícios sob a lei mosaica e a variedade de adjudicações no juízo explicam-se com base nesse princípio. Lc. 12.47,48 - "será castigado com muitos açoites ... com poucos açoites será castigado"; Rm. 2.6 - "o qual recompensará a cada um segundo as suas obras". Ver também Jo. 19.11 - "aquele que me entregou a ti maior pecado tem"; Hb. 2.2,3 - "se toda transgressão recebe a justa retribuição, como escaparemos nós, se não atentarmos para tão grande salvação?" 10.28,29 - "Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus?"
Teologia Sistemática (Strong) 1275 A casuística, contudo, tem traçado muitas distinções que não têm fundamento escriturístico. Tal é a distinção entre pecado venal e pecado mortal na Igreja Católica Romana: mortais, os pecados não perdoados. Também a distinção entre os pecados de omissão e os de comissão não procede visto que toda omissão é ato de comissão. Mt. 25.45 - "quando não o fizeste a um destes pequeninos"; Tg. 4.17 "Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz comete pecado". John Ruskin: "A condenação dada no Trono do Juízo - descrita mais solenemente - refere-se a tudo o que não é feito e não ao que é feito. Há pessoas que têm medo de praticar o que é errado; mas se, energicamente estão fazendo o contrário, eles o fazem todo dia, não importa em que grau". A Igreja Católica Romana age na suposição de que ela pode determinar a malignidade de cada ofensa e atribuir, no confessionário, a penitência adequada. Thornwell, Theology, 1.424-441, diz que "todos pecados são veniais, exceto um porque há um pecado contra o Espírito Santo", embora "nenhum seja em si mesmo venial porque, por menor que seja, procede de um estado e de uma natureza de apostasia". Veremos, contudo, que o obstáculo para o perdão, no caso do pecado contra o Espírito Santo, é mais subjetivo que objetivo. J. Spencer Kennard: Ό Catolicismo Romano na Itália apresenta o espetáculo dos representantes autoritários e os próprios mestres de moral e religião que vivem em toda forma de engano, corrupção e tirania; e, por outro lado, discriminam os pecados veniais dos pecados mortais, classificando como veniais a mentira, a fraude, a fornicação, a infidelidade conjugal e até mesmo o homicídio; tudo isso pode ser expiado e perdoado ou mesmo permitido mediante um simples pagamento financeiro; ao mesmo tempo classifica como mortais o desrespeito e a desobediência à igreja".
As Escrituras indicam as seguintes distinções envolvendo diferentes graus de culpa: A) Pecado de natureza e transgressão pessoal. O pecado de natureza envolve culpa, embora seja maior a culpa quando este pecado da natureza se reafirma na transgressão pessoal;
Teologia Sistemática (Strong) 1276 pois, conquanto esta inclua em si aquela, também acrescenta àquela um novo elemento, a saber, o exercício consciente da vontade individual e pessoal em virtude do qual se faz uma nova decisão contra Deus, induzse um mau hábito especial e a condição total da alma se torna mais depravada. Apesar de termos dado ênfase à culpa do pecado congênito, porque esta verdade é mais contestada, convém lembrar que o homem chega a uma convicção de sua depravação nativa só através de uma convicção de suas transgressões pessoais. Por esta razão, a maior parte da nossa pregação sobre o pecado deve consistir em aplicações da lei de Deus aos atos e disposições da vida do homem. Mt. 18-9.14 - "dos tais é o reino dos céus" - com relação à inocência das crianças; 23.32 - "encheis a medida dos vossos pais" = transgressão pessoal acrescida da depravação herdada. Quando pregamos, devemos primeiro tratar das transgressões individuais, e depois, do pecado do coração e do racial. O homem não é um desenvolvimento espontâneo total de tendências inatas, que são a manifestação do pecado original. Os motivos não determinam, mas persuadem a vontade. Todo homem é culpado das transgressões pessoais conscientes que, com o auxílio do Espírito Santo, podem ser levados ao juízo condenatório da consciência. Birks, Difficulties of Belief, 169-174 – "O pecado original não afasta o significado da transgressão pessoal. Adão foi perdoado; mas alguns dos seus descendentes não o são. Na Escritura, a segunda morte refere-se à nossa própria culpa pessoal". Isto não significa que o pecado original não envolve tão grande pecado como o de Adão ao transgredir pela primeira vez, pois o pecado original é o da primeira transgressão; significa apenas que a transgressão pessoal é pecado original acrescido da ratificação consciente do ato de Adão pelo indivíduo. "Somos culpados por aquilo que somos, tanto quanto por aquilo que fazemos. Nosso pecado não é apenas a soma de todos os nossos pecados. Há uma pecaminosidade que é o denominador comum de todos os nossos pecados". É costume falar brandamente do pecado original, como se apenas os pecados pessoais devessem ser levados em conta. Mas só à luz do pecado original é que se pode explicar os pessoais. Pv. 14.9 - "Os loucos
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zombam do pecado". Simon, Reconciliation, 122 - "A pecaminosidade do homem varia de indivíduo para indivíduo; a pecaminosidade da humanidade é uma constante". Robert Browning, Ferishtah's Fancies: "O Homem avoluma o seu tipo nas massas. Deus as simplifica unidade a unidade. Tu e Deus existis - assim penso eu! certamente: Penso nas massas - humanidade - Disparatadas, dispersas, deixam-te sozinho! Perguntam à tua alma solitária que leis são claras para ti; Tu e nenhum outro estás em pé ou cais ao lado delas! Eis o que te resta".
B) Pecados de ignorância e pecados de conhecimento. Aqui a culpa é medida pela posse do grau de luz ou, em outras palavras, pelas oportunidades de conhecimento que o homem tenha tido e pelas forças de que ele tenha sido dotado. A genialidade e o privilégio aumentam a responsabilidade. Os pagãos são culpados, mas aqueles para quem os oráculos de Deus foram confiados são mais culpados que eles. Mt. 10.15 - "haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade"; Lc. 12.47.48 - "e o servo que soube a vontade de seu senhor... será castigado com muitos açoites; mas aquele que não soube ... com poucos açoites será castigado"; 23.34 - Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem = o conhecimento completo os põe além do alcance do perdão. Jo. 19.11 -"aquele que me entregou a ti maior pecado tem"; At. 17.30 - "Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância"; Rm. 1.32 -"conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem"; 2.12 - "Mas todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos o que sob a lei pecaram pela a lei serão julgados"; 1 Tm. 1.13,15,16 - "mas alcancei misericórdia porque o fiz ignorantemente, na incredulidade". Is. 42.19 - "Quem é cego ... como o servo do Senhor"? Jesus advertiu os fariseus sobre o pecado contra o Espírito Santo. A culpa da crucificação repousou sobre os judeus mais do que sobre os gentios. O Israel apóstata era mais culpado que os pagãos. Os maiores pecadores do presente podem estar entre os cristãos, não entre os gentios. Satanés era um arcanjo; Judas
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era um apóstolo; Alexandre Bórgia era um papa. Jackson, James Martineau, 365 - "Corruptio optimi péssima est (há mais corrupção entre os melhores do que entre os piores), como se vê no ébrio Webster, no traidor Bacon, no licencioso Goethe". Sir Roger de Coverley observa que ninguém a não ser os homens de escol merecem a forca. Kaftan, Dogmatik, 317 - "Com freqüência, o maior pecado envolve a menor culpa; o menor pecado, a maior culpa". Robert Browning, The Ring and Book (Papa, 1975) - "Há um novo tribunal mais elevado que o de Deus, - o dos homens cultos! O fino senso de honra no peito humano Transcende aqui o velho e rude oráculo!" O Doutor H. E. Robins sustenta que "é impossível o paliativo da culpa à luz sob o sistema da pura lei e só é possível porque a provação do pecador é a da graça".
C) Pecados de fraqueza e pecados de presunção. Aqui a culpa é medida pela energia da vontade má. O pecado pode ser reconhecido como pecado, contudo, pode ser cometido na precipitação ou fraqueza. Apesar de que a precipitação e a fraqueza sejam uma atenuante da ofensa que brota disso, elas se constituem pecado, revelando um coração descrente e desordenado. Porém de muito maior culpa são as escolhas presunçosas do mal em que se manifesta não a fraqueza, mas a força de vontade. Sl. 19.12,13 - "Expurga-me tu dos que me são ocultos. Também da soberba guarda o teu servo"; Is. 5.11 - "Ai dos que puxam pela iniqüidade com cordas de vaidade e pelo pecado, como se fosse com cordas de carro" = não afastes com o pecado a insensibilidade, mas com avidez, persistentemente e de boa vontade afasta-a. Gl. 5.1 - "surpreendido nalguma ofensa"; 1 Tm. 5.24 - "Os pecados de alguns homens são manifestos, precedendo o juízo; e em alguns manifestam-se depois" = os pecados de alguns são de tal modo claros que eles agem como oficiais de justiça daqueles que os cometem; enquanto outros requerem uma prova. Lutero representa um da primeira classe dizendo de si mesmo: "Esto peccator et pecca fortiter" (Sê pecador e peca mais intensamente).
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Mq. 7.3 - "As sua mãos fazem diligente o mal". Do mesmo modo devemos fazer o bem. "A minha arte é a minha vida", diz Grisi, a prima-dona da ópera, "Eu me poupo todo dia para aquele em que estou no palco". H. Bonar: "O pecado trabalha; deixe-me também trabalhar. Ativo como o pecado, o meu trabalho realizo, até que eu repouse o descanso da eternidade". A lei criminal alemã faz distinção entre homicídio intencional não deliberado e o homicídio intencional deliberado. Há três graus de pecado: 1. De ignorância, como a perseguição da parte de Paulo; 2. De fraqueza, como a negação de Pedro; 3. De presunção, como o homicídio de Urias. O pecado de presunção é imperdoável sob a lei judaica; não é imperdoável sob Cristo.
D) Pecado da obstinação incompleta e o da final. Aqui a culpa é medida, não pela suficiência ou insuficiência objetiva da graça divina, mas pelo grau de falta de receptividade a que o pecado conduziu a alma. Como o único pecado para a morte descrito na Escritura é o pecado contra o Espírito Santo, aqui consideramos a natureza desse pecado. Mt. 12.31 - "Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens"; 32 – "E qualquer que disser alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem neste século nem no futuro"; Mc. 3.29 - "Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo"; 1 Jo. 5.16,17 - "Se alguém vir a seu irmão cometer pecado que não é para morte, orará, e Deus dará vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte e por esse não digo que ore. Toda iniqüidade é pecado e há pecado que não é para a morte"; Hb. 10.26,27 – "se pecamos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma expectação horrível de juízo e ardor de fogo, que há de devorar os adversários". Ritschl sustenta que todo pecado insuficiente para a rejeição definitiva de Cristo ocorre mais por ignorância do que por pecado e de modo nenhum
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é objeto de sentença condenatória. Isto faz o pecado contra o Espírito Santo ser o único real. A consciência e a Escritura contradizem igualmente este ponto de vista. Há um endurecimento muito incipiente do coração que precede a obstinação final. Ver Denney, Studies in Theology, 80. A compostura do criminoso nem sempre é sinal de inocência. S. S. Times, 12 de abril de 1.902.200 - A sensibilidade da consciência e do sentimento e o correspondente semblante, e o comportamento devem ser retidos pela pureza de vida e a liberdade da transgressão. Por outro lado a compostura do semblante e a serenidade sob a suspeita e acusação devem ser resultantes da continuação da prática do erro, com o conseqüente endurecimento de toda a natureza moral". Weismann, Heredity, 2.8 - "Tão logo qualquer órgão cai em desuso, degenera e, finalmente, se perde ... Nos parasitos os órgãos do sentido se degeneram". O telégrafo sem fio de Marconi requer um "receptor" sintonizado. O "transmissor" envia inúmeros raios para o espaço. Só o receptor com a capacidade de vibrações correspondentes pode entendê-los. Deste modo o pecador pode destruir sua receptividade, que o universo inteiro profere da verdade de Deus, embora seja incapaz de ouvir uma só palavra dela. O Panorama: "Se o homem retirasse os seus olhos, não poderia ver - nada poderia fazê-lo ver. Assim se o homem, por obstinada iniqüidade destruísse o seu poder de crer no perdão de Deus, estaria num estado de desesperança. Embora Deus ainda seja gracioso, o homem não pode reconhecer a sua graça e nem receber para si o perdão de Deus".
O pecado contra o Espírito Santo não deve ser considerado como um simples ato isolado, mas também como o sintoma exterior de um coração tão radical e finalmente estabelecido contra Deus que nenhuma força que Deus possa consistentemente usar o poupará. Tal pecado, portanto, só pode ser o clímax de um longo curso de endurecimento de si mesmo e depravação de si mesmo. Aquele que o cometeu ou deve ser profundamente indiferente à sua condição, ou ativa e amargamente hostil a Deus; de modo que a ansiedade ou o medo da condição de alguém é evidência de que ele não o cometeu. O pecado contra o Espírito Santo não pode ser perdoado simplesmente porque a alma que o cometeu não é
Teologia Sistemática (Strong) 1281 receptiva às influências divinas, ainda quando tais influências se exercem com a maior força adequada a empregar sua administração espiritual. A prática do pecado contra o Espírito Santo é marcada pela perda da visão espiritual; o peixe cego da Caverna de Mamote substituiu a luz pela escuridão e, com o tempo, perdeu os seus olhos. Ele é marcado por uma perda de sensibilidade religiosa; a sensitiva perde a sua sensibilidade na proporção em que se toca nela. É marcado pela perda da força de vontade de praticar o bem; "a lava endurece depois de sair da cratera e nesse estado não pode voltar à fonte" (Van Oosterzee). O mesmo escritor também assinala (Dogmática, 2.428): "Herodes Antipas, após a sua antiga dúvida e escravização chegou à mortificação tal a ponto de zombar do Salvador, à menção de cujo nome nunca antes tremia". Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.425 - "Não que se recuse a graça divina a qualquer que, em verdadeiro arrependimento peça o perdão dos seus pecados; mas aquele que os comete nunca preenche as condições subjetivas em cujas bases é possível o pecado porque o agravamento deste, por fim, destrói toda a susceptibilidade de arrependimento. O caminho para Deus não está fechado para os que não o fecham para si mesmos". Drummond, Natural Law in the Spiritual World, 97-120, ilustra o processo decadente do pecador através da lei da degeneração no mundo vegetal e no animal: pombos, rosas, morangos, todos tendem a reverter ao tipo primitivo e selvagem. "Como escaparemos nós se não atentarmos para tão grande salvação"? (Hb. 2.3). Shakespeare, Macbeth, 3.5 - "Todos vós sabeis que a segurança é o principal inimigo dos mortais". Moulton, Shakespeare como Artista Dramático, 90-124 - "Ricardo III é o protótipo do vilão. A vilania tornou-se um fim em si mesma. Ricardo é um artista em vilania. Na prática do crime ele não tem emoções naturais. Considera a vilania com o entusiasmo intelectual de um artista. O ideal do seu sucesso é a vilania. Há uma fascinação de irresistibilidade nele. Em seu crime é imperturbável. Não há esforço, mas humor, no crime; uma despreocupação sugere recursos ilimitados; uma incalculável inspiração. Shakespeare livra a representação da acusação de monstruosidade tornando toda esta história vilã em desenvolvimento nemésico". Ver A. H. Strong, Great Poets, 188-193. Guido de Robert Browning, Ring and Book é um exemplo de pura aversão ao bem. Guido tem
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aversão pela bondade de Pompília e declara que, se a apanhar no mundo vindouro, a assassinará ali como a mataria aqui. Alexandre VI, pai de César e Lucrécia Bórgia, papa da crueldade e lascívia, ostentou até o dia da morte a aparência de infalível zelo e genialidade e até mesmo de sensibilidade e modéstia. Nenhum temor ou reprovação da consciência parecia lançar melancolia sobre a sua vida, como acontecia com Tibério e Luís XI. Ele cria viver sob a proteção especial da Virgem, embora a tivesse pintado nas características da sua amante Júlia Farnese. Nunca teve o escrúpulo da falsa testemunha, do adultério, ou do homicídio. Ver Gregorovius, Lucrezia Borgia, 294, 295. Jeremy Taylor descreve o progresso do pecado no pecador da seguinte forma: Primeiro ele o assusta, depois o torna um prazer, depois uma alegria, depois freqüente, depois habitual, depois confirmado; daí o homem se torna impénitente, obstinado, resolve nunca arrepender-se e perde-se". Há um estado de total insensibilidade a emoções de amor ou temor e, através do seu pecado, pode chegar a um estado como esse. A prática da blasfêmia é tão somente a expressão de um coração endurecido e odioso. Blasfêmia é apenas a expressão de um coração endurecido e irado. B. H. Payne: "A chama do cálcio queimará o fio de aço de modo que não seja mais afetado pelo magneto. ... Como as cinzas incandescentes e a fumaça espiral que o vulcão lança da sua garganta roncadora é o acúmulo dos meses e anos, assim o pecado contra o Espírito Santo não é uma expressão impensada em um momento de paixão ou raiva, mas a entrega de uma abertura a um estado do coração e da mente abundante no acúmulo de semanas e meses de oposição ao evangelho". Dr. J. P. Thompson: Pecado imperdoável é o conhecimento desejoso, persistente, desprezível, repulsa maldosa à verdade e à graça divina manifesta na alma através da força convincente e iluminadora do Espírito Santo. Dorner diz que "por isso este pecado não pertence aos tempos do Velho Testamento ou à simples revelação da lei. Implica a plena revelação da graça em Cristo e a sua consciente rejeição da parte da alma à qual o Espírito a manifestou (At. 17.30 - "não tendo em conta os tempos da ignorância"; Rm. 3.25 - "remissão dos pecados dantes cometidos"). Mas, será que não constava no Velho Testamento que Deus disse: "Não
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contenderá o meu Espírito para sempre com o homem" (Gn. 6.3), e "Efraim está entregue aos ídolos; deixa-o" (Os 4.17)? O pecado contra o Espírito Santo é pecado contra a graça, mas não parece limitar-se aos tempos do Novo Testamento. É verdade ainda que o pecado imperdoável é cometido contra o Espírito Santo ao invés de contra Cristo: Mt. 12.32 - "se qualquer falar palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro". Jesus adverte os judeus contra isso; ele não diz que os judeus já o cometeram. Eles pareciam tê-lo cometido quando, depois do Pentecostes, acrescentaram à rejeição de Cristo a rejeição do testemunho do Espírito Santo sobre a ressurreição de Cristo.
III. PENA 1. Idéia da Pena Pena é a dor ou perda que direta ou indiretamente o Legislador inflige, na vindicação da sua justiça ultrajada pela violação da lei. Turrettin, 1.213 - "A justiça necessariamente demanda que todo pecado seja punido, mas do mesmo modo não demanda que seja punido na mesma pessoa que o praticou ou exatamente no mesmo tempo e grau". Até onde esta afirmação do grande teólogo federalista pretende explicar nossa culpa em Adão e a nossa justificação em Cristo não podemos concordar com as suas palavras; mas devemos acrescentar que a razão, em cada caso, pela qual nós sofremos a pena do pecado de Adão e Cristo sofre a pena dos nossos pecados não se encontra em qualquer relação pactuai, mas no fato de que o pecador é um com Adão e Cristo é um com o crente, - ou seja, não unidade pactuai, mas vital. A palavra 'pena' como a palavra 'dor', deriva de poena, ποινή, e implica noção correlata de merecimento. Sob o governo divino não pode haver nenhuma culpa construtiva, de modo que nenhuma pena pode ser infligida por ficção legal. Os sofrimentos de Cristo não foram uma pena infligida arbitrariamente nem ocorreu para expiar a culpa pessoal, mas devida à natureza humana à qual ele se uniu e da qual ele fazia parte.
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Prof. Wm. Adams Brown: "Perda, não sofrimento; é a pena suprema para o cristão. A verdadeira pena é a separação de Deus. Se tal separação envolve sofrimento, é sinal da misericórdia de Deus, pois onde há vida há esperança. O sofrimento sempre deve ser interpretado como um apelo especial de Deus para o homem.
A definição implica que: A) As conseqüências naturais da transgressão, apesar de constituírem parte da pena do pecado, não a esgotam. Em toda pena há um elemento pessoal, a ira santa do Legislador, que expressa as conseqüências naturais embora parcialmente. Não negamos, ao contrário, afirmamos que as conseqüências naturais da transgressão consistem numa parte da pena do pecado. Condena-se o pecado da lascívia com a deterioração e corrupção do corpo; o da mente, com a deterioração e corrupção da alma. Pv. 5.22 - "Quanto ao ímpio, as suas iniqüidades o prenderão e com cordas do pecado, será detido" - como o caçador é apanhado no laço que preparou para o animal selvagem. O pecado é auto-revelador e auto-atormentador. Mas isto é apenas a meia verdade. Os que limitam todo o castigo à reação das leis naturais correm o risco de esquecer que Deus não é só imanente no universo, mas também transcendente e que "cair nas mãos do Deus vivo" (Hb. 10.31) é cair nas mãos não só da lei, mas também do Legislador. A lei natural não é só a expressão normal da mente e da vontade de Deus. Detestamos uma pessoa indecente física e oralmente. Não há castigo do pecado mais terrível que ser objeto da aversão de Deus. Jr. 44.4 - "Ora, não façais esta coisa abominável que aborreço!" Acrescente-se a esta lei da continuidade que causa a reprodução do pecado, e a lei da consciência que faz do pecado o seu revelador, juiz e atormentador e ter-se-á evidência suficiente da ira de Deus contra o mesmo pecado independente de quaisquer castigos exteriores. Vêse o sentimento divino para com o pecado ao Jesus açoitar os vendilhões do templo, denunciar os fariseus, chorar sobre Jerusalém, agonizar no Getsêmani. Imagine o sentimento de um pai para com o traidor da sua filha e entender-se-á palidamente o sentimento de Deus para com o pecado.
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Os fatos voltam ao seu autor e o caráter determina o destino; esta lei revela a justiça de Deus. A pena vindicará o caráter divino na longa corrida embora nem sempre no tempo. Todas religiões reconhecem isto. Diz o sacerdote budista no Japão: "O malfeitor tece o pano em torno de si mesmo como o bicho da seda forma o seu casulo". Sócrates faz a volta de Circe de homem a porco uma simples parábola de uma influência por si mesma brutalizadora do pecado. No Inferno de Dante os castigos são todos dos próprios pecados; por isso os homens estão no inferno antes de morrerem. Hegel: "A pena é a outra metade do crime". Sagebeer, The Bible in Court, 59 - "Corrupção é destruição e o pecador é um suicida; a pena corresponde à transgressão e é o resultado dela; o pecado é a morte em execução; a morte é o pecado no castigo final". J. B. Thomas, Baptist Congress, 1901.110 "Que importa se, como caçador furtivo espero a noite e deliberadamente atiro nele ou se armo o revolver de modo que alguém atire nele quando comete a depredação"? Tennyson, Sonhos Marinhos: "Seu lucro é perda; porque aquele que engana o amigo, Engana-se mais a si mesmo, e sempre leva em torno de si um silencioso tribunal de justiça em seu seio, Sendo ele próprio o juiz e o júri e ele mesmo o prisioneiro no tribunal e sempre condenado: Ε isso leva a sua vida à derrocada; depois vem o que se sucede".
B) O objetivo da pena não é a reforma do ofensor, a garantia da segurança social ou governamental. Tais fins podem incidentemente ser assegurados pela sua aplicação, mas o grande fim da pena é a vindicação do caráter do Legislador. A pena é essencialmente uma reação necessária da santidade divina contra o pecado. Contudo, visto que pontos de vista errôneos sobre o objetivo da pena têm tão importante significação sobre nossos futuros estudos da doutrina, mencionamos de modo mais completo as duas teorias errôneas que têm maior curso. a) A pena não é essencialmente reformatória. Isto quer dizer que a reforma do ofensor não é o desígnio primário, como a pena não pretende reformar. A pena em si procede não do amor do Legislador, mas da sua justiça. Quaisquer que sejam as influências reformadoras que podem em qualquer exemplo estar em conexão com ela não são partes da pena, mas
Teologia Sistemática (Strong) 1286 mitigações dela e acrescentam-se não à justiça, mas à graça. Se a reforma se segue à aplicação da pena, não é o efeito desta, mas o de certos atos benevolentes que têm sido providos para tornar em bem o que naturalmente seria para o ofensor uma fonte de dano. A partir das Escrituras, onde a freqüente referência à punição como justiça de Deus, mas nunca ao amor de Deus; do intrínseco merecimento do pecado, a que a pena é correlata; do fato de que a punição deve ser vindicativa para que seja disciplinar, justa e, conseqüentemente, reformatória; do fato de que, com apoio nesta teoria, a punição não seria justa quando o pecador já estivesse reformado, ou não o pudesse ser, de modo que, quanto maior fosse o pecado, menor seria a punição, nota-se que o objetivo da pena não é a reforma. A punição é essencialmente diferente do castigo. Este procede do amor (Jr. 10.24 - "Castiga-me, ó Senhor, mas com medida; não na tua ira"; Hb. 12.6 - o Senhor corrige o que ama"). A punição procede não do amor, mas da justiça - ver Ez. 28.22 - "quando nela executar juízos, e nela me santificar"; 36.21,22 - em juízo, "Não é por vosso respeito que eu faço isto, mas pelo meu santo nome"; Hb. 12.29 - "Porque o nosso Deus é um fogo consumidor"; Ap. 15.1,4 - "a ira de Deus ... só tu és santo ... os teus juízos são manifestos"; 16.5 - "Justo és tu ... porque julgaste estas coisas"; 19.2 "Verdadeiros e justos são os seus juízos; pois julgou a grande prostituta". Portanto, não é verdade a palavra da Utopia de Sir Thomas More: Ό fim de todo o castigo é a destruição do vício e a salvação dos homens". Lutero: "Deus tem duas varas: uma, a da misericórdia e bondade; outra, a da ira e da fúria". A primeira é castigo; a segunda é a pena. Se for correta a teoria de que a finalidade da pena é a reforma, então, punir o crime sem exigir reforma faz do estado um transgressor; as suas punições devem ser proporcionais, não ao tamanho do crime, mas ao estado do pecador; a pena de morte deve ser abolida apoiada no fato de que ela exclui toda esperança de reforma. Mas a mesma teoria aboliria qualquer juízo final, ou castigo eterno; pois, quando a alma se torna tão ímpia que não há mais esperança de reforma, não há mais justiça alguma em puni-la.
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Quanto maior o pecado, menor seria o castigo; e, afinal de contas, Satanás, o maior pecador, não deveria ser castigado. Denúncias modernas da pena capital baseiam-se freqüentemente em concepções errôneas sobre o objetivo da pena. Se os opositores entendessem qual pena se deve garantir, desapareceria a oposição à doutrina da futura punição. Harris, God the Creator, 2.447,451 – "O castigo não é primordialmente reformatório; ele educa a consciência e vindica a autoridade da lei". R. W. Dale: "Não é necessário provar que a forca é benéfica para o enforcado. A teoria de que a sociedade não tem direito de mandar para a cadeia alguém, para alimentá-lo a pão e água, a cortar o cânhamo ou trabalhar num moinho a pedal, a não ser para reformá-lo, é inteiramente errada. Ele deve merecer a punição, ou, caso contrário, a lei não tem direito de puni-lo". Uma Casa de Refúgio ou uma Escola Industrial Rural é primordialmente uma instituição penal, pois priva da liberdade e coage ao trabalho contra a vontade do penitenciário. Esta perda e privação não se justifica a não ser baseada no merecimento do seu ato errôneo. Quaisquer que sejam as influências graciosas e filantrópicas que possam advir deste aprisionamento e coação, não podem explicar o elemento penal da instituição. Se se pudesse, apelar-se-ia para um decreto de habeas corpus da parte de qualquer tribunal competente, obteria o ganho da causa. O tratamento que Deus deu ao homem neste mundo também combina os elementos pena e castigo. Em primeiro lugar, o sofrimento é merecido e isto justifica a sua aplicação. Mas no começo se faz acompanhar de toda a sorte de influências amenizadoras que tendem a afastar o homem de Deus. Como se resiste a estas influências graciosas, o elemento punitivo torna-se preponderante e a pena reflete a santidade de Deus em lugar do seu amor. Moberly, Atonement and Personality, 1-25 – "O objetivo imediato da punição não é a dor. Ela deve ser um meio com vistas a um fim moral, a saber, o arrependimento. Mas onde o depravado se torna um tigre humano, a punição deve chegar ao clímax. Há uma punição que não é restauradora. Conforme o espírito como se recebe a punição, ela pode ser interior ou exterior. Toda punição começa como disciplina. Tende para o arrependimento. Seu triunfo seria interior. Torna-se punitivo só quando o pecador se recusa a arrepender-se. A punição é apenas a conseqüência do pecado. O penitente ideal condena-se a si mesmo, identifica-se com a
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justiça aceitando a pena. Na medida em que a pena falha em seu propósito de produzir o arrependimento, adquire cada vez mais o caráter punitivo, cujo clímax não é o Calvário, mas o Inferno". Alexander, Moral Order and Progress, 327-333 (citado em Ritchie, Darwin, and Hegel, 67) - "A punição caracteriza-se por três elementos: É punitiva, quando ela cai na lei geral de que a resistência ao tipo dominante recua na criatura culpada e resistente; é preventiva quando, sendo uma determinação estatutária, tem como alvo a manutenção da lei independente do caráter do indivíduo. Mas esta característica é secundária, e aquela está compreendida numa terceira idéia, a da reforma, que é o modo superior em que aparece a punição quando se trata de um tipo mental ideal e é afetado por pessoas conscientes". Hyslop, Freedom, Responsibility and Punishment in Mind, abril 1894.167-189 - "No Reformatório de Elmira, de 2295 pessoas com liberdade condicional entre os anos de 1876 e 1889, 1907 pessoas, ou 83% representam provavelmente uma reforma completa. Os deterministas dizem que esta classe de pessoas não pode agir de outra forma. Alguma coisa está errada nesta teoria. Concluímos que 1. A responsabilidade causai justifica a punição preventiva; 2. A responsabilidade moral potencial justifica a punição corretiva; 3. A verdadeira responsabilidade moral justifica a punição retributiva". É preciso assinalar aqui o emprego incorreto da palavra "punição", que só pertence à ultima classe. Nos dois primeiros casos devese empregar a palavra "castigo".
b) A pena não é essencialmente dissuasiva e preventiva. – Isto significa que seu primeiro desígnio não é proteger a sociedade dissuadindo o homem de cometer tais ofensas. Admitimos que este fim é freqüentemente assegurado em conexão com a punição, tanto na família como no governo civil e sob o governo de Deus. Mas defendemos que este é um resultado meramente incidental, que a sabedoria e a bondade de Deus têm posto em conexão com a aplicação da pena; não pode ser a razão e base para a pena em si. Algumas das objeções à teoria anterior aplicam-se também a esta. Mas em adição ao que já se disse, argumentamos:
Teologia Sistemática (Strong) 1289 O desígnio da pena não pode ser principalmente garantir a segurança social e governamental, porque nunca é justo punir o indivíduo para o bem da sociedade. Nenhuma punição, contudo, fará ou poderá fazer bem se não for justa e \ reta em si mesma. A punição faz o bem só quando a pessoa punida a merece; e tal merecimento de punição e não os bons efeitos que se seguem deve ser a base e a razão por que ela é aplicada. A teoria contrária implicaria que o criminoso poderia continuar livre, mas por causa do efeito da sua punição sobre os outros, e porque aquele homem poderia cometer crime se só estivesse querendo cumprir a pena. Kant, Praktische Vernunft, 151 (ed. Rosenkranz) - "A noção do merecimento do mal e a punição implicam necessariamente a idéia da transgressão voluntária; e a idéia da punição exclui a felicidade em todas as formas. Embora aquele que aplica a punição, na verdade, ao punir o criminoso, também pode ter o propósito benevolente, contudo a punição deve justificar-se, antes de nada, como pura e simples compensação e retribuição. ... Em cada punição como tal, o elemento primordial é a justiça e esta constitui-se a essência. Verdade é que, um propósito benevolente pode somar-se à punição; mas o criminoso não pode reivindicar isto como seu direito e não pode contar com isso". Estes pronunciamentos de Kant aplicam-se à teoria dissuasora bem como à teoria reformadora da pena. O elemento de mérito ou retribuição é a base dos outros na punição. Certo juiz inglês, ao sentenciar um criminoso, disse que ele o puniu não por roubar ovelha, mas porque a ovelha não podia ser roubada. Mas a maior injustiça é punir um homem simplesmente para servir de exemplo. A sociedade não pode ser beneficiada por esse tipo de injustiça. A teoria pode não dar nenhuma razão por que alguém deva ser punido mais do que um outro nem por que uma segunda ofensa deva ser punida mais do que a primeira. Nesta teoria, contudo, se houvesse apenas uma criatura no universo e nenhuma além dela que fosse afetada pelo seu sofrimento, não poderia com justiça, ser punida por maior que fosse o seu pecado. O único princípio que pode explicar a punição é o do merecimento.
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Evita-se o crime mais pela convicção de que ele merece punição; o maior agente dissuasivo é a consciência". Por isso, no governo de Deus "não há nenhuma indicação de que a futura punição opera o bem para os perdidos ou para o universo. A integridade do redimido não deve ser mantida sujeitando os perdidos a uma punição que não merecem. O erro merece punição e Deus precisa puni-lo, quer advenha disso o bem quer não. O pecado intrinsecamente é merecedor do mal. A impureza deve ser banida da parte de Deus. Deus deve vindicar a si mesmo, ou deixar de ser santo. Bowne, Principles of Ethics, 186, 274 - Os que sustentam que a punição é essencialmente dissuasiva e preventiva "ignoram a metafísica da responsabilidade e tratam o problema 'positiva e objetivamente' com base na fisiologia, na sociologia, etc., e nos interesses da segurança pública. A questão da culpa ou inocência é tão irrelevante como a que se refere à culpa ou inocência das vespas e dos vespões. Um antigo defensor deste ponto de vista manifestou a opinião de que "convinha que um homem morresse pelo povo" (Jo. 18.14) e por isso Jesus foi levado à morte. ... Uma multidão na Europa oriental podia ser persuadida de que um judeu tinha trucidado uma criança cristã em sacrifício. As autoridades podiam estar perfeitamente certas da inocência do homem e, ainda proceder a punição dele por causa do clamor da multidão e do perigo de um motim". Os homens do primeiro escalão no governo francês pensaram que seria melhor que Dreyfus sofresse por causa da França do que tornar público um escândalo afetando a honra do exército francês. Em perfeita consistência com este princípio, McKin, Heredity and Human Progress, 192, advoga a aplicação de uma morte indolor aos idiotas, imbecis, epiléticos, ébrios contumazes, criminosos insanos, assassinos, destruidores de casas noturnas e todos os perigosos e incorrigíveis. Ele mudaria o lugar da matança das nossas ruas e casas para instituições penais; a saber, abandonaria a punição, mas protegeria a sociedade. Deixar de reconhecer a santidade como o atributo fundamental de Deus e a afirmação de que a santidade, como condição do exercício do amor, viciam a discussão da pena em A. H. Bradford, Age of Faith, 243-250 "Qual é a finalidade do sofrimento penal? Manifestar a santidade de Deus? Expressar a santidade da lei moral? Ε simplesmente uma conseqüência natural? Manifesta a paternidade de Deus? Deus não inflige a pena somente
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para satisfazer a si mesmo, ou manifestar a sua santidade, como um pai terreno inflige sofrimento em seu filho para mostrar a sua ira contra o que pratica o mal ou manifestar a sua própria bondade. A idéia de punição é essencialmente bárbara e estranha a tudo o que se conhece da divindade. A pena que não é reformatória ou protetora é barbarismo. Em casa, a punição é sempre disciplinar. Seu objetivo é o bem estar do filho e da família. A punição que expressa ira ou inimizade sem nenhum propósito de remediar é reminiscência do barbarismo. Traz consigo o conteúdo da vingança. É a expressão da raiva, da paixão ou, na melhor das hipóteses, da justiça fria. O sofrimento penal é, sem dúvida, a santidade divina expressando a aversão ao pecado. Mas, se pára em tal expressão, não é santidade, mas egoísmo. Por outro lado, se se empregar ou permitir a expressão da santidade para que o pecador possa detestar o seu pecado, então deixa de ser punição e passa a ser castigo. Em qualquer outra hipótese, o sofrimento penal não tem nenhuma justificativa a não ser a vontade arbitrária do Onipotente e tal hipótese é uma contestação tanto da sua justiça como do seu amor". Este ponto de vista nos parece ignorar a reação necessária da santidade divina contra o pecado; tornar a santidade apenas uma forma de amor; um meio visando a um fim e tal fim utilitário; e desta forma negar à santidade qualquer existência independente ou mesmo real na natureza divina. A ira de Deus é calma e judicial, desprovida de toda paixão ou capricho, mas é a expressão da justiça eterna e imutável. É vindicativa, mas não vingativa. Sem ela não haveria governo e Deus não seria Deus. F. W. Robertson: Não existe em toda a punição o elemento de vingança e não é também pecaminoso o sentimento, mas parte essencial à natureza humana? Se assim for não deve haver a ira de Deus". Lord Bacon: "A vingança é um tipo selvagem de justiça". Stephen: A lei criminal prove a satisfação legítima das paixões da vingança".
2. A verdadeira pena do pecado A única palavra na Escritura que designa a pena total do pecado é "morte". A morte, contudo, é dúplice:
Teologia Sistemática (Strong) 1292 A) Morte física – ou separação da alma em relação ao corpo, incluindo todos aqueles males temporais e sofrimentos que resultam da perturbação da harmonia original entre o corpo e a alma e que são a obra da morte em nós. Que a morte física é parte da pena do pecado, aparece: a) Da Escritura. Esta é a mais óbvia importância da ameaça em Gn. 2.17 - "certamente morrerás"; cf. 3.19 - "ao pó voltarás". Alusões a tal ameaça no V.T. confirmam esta interpretação; Nm. 16.29 - "visitados como se visitam todos os homens", onde dqp = visitação judicial, ou punição; 27.3 (LXX δι' άμαρτίαν αύτοΰ). A oração de Moisés em SI. 90.7-9,11, e a oração de Ezequias em Is. 38.17,18, reconhecem plenamente a natureza penal da morte. O Ν. Τ. ensina a mesma doutrina, por exemplo em João 8.44; Rm. 5.14,16,17, onde deve notar-se a fraseologia judicial (cf. 1.32); ver também 6.23. Em 1 Pe. 4.6 fala-se da morte física como o juízo de Deus contra o pecado. Em 1 Co. 15.21,22 a ressurreição física de todos crentes, em Cristo, se contrasta com a morte corporal de todos homens, em Adão. Rm. 4.14,15; 6.9,10; 8.3,10,11; Gl. 3.13 mostram que Cristo submeteu-se à morte física como pena do pecado e pela sua ressurreição do túmulo deu prova de que a pena do pecado se esgotou e que nele a humanidade estava justificada. "Como a ressurreição do corpo é parte da redenção, assim também a morte do corpo é parte da pena". Sl. 90.7,9 - "somos consumidos pela tua ira ... todos os dias vão passando na tua indignação"; Is. 38.17,18 - "tão amorosamente abraçaste a minha alma que não caiu na cova da corrupção porque lançaste para trás das tuas costas todos os meus pecados porque não pode louvar-te a sepultura"; Jo. 8.44 - "ele [Satanás] foi homicida desde o princípio"; 11.33 Jesus "moveu-se muito em espírito" = moveu-se com indignação pelo que o pecado tinha operado; Rm. 5.12,14,16,17 - "pelo pecado, a morte ... a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram ... a morte reinou ... até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão ... o juízo veio sobre uma só ofensa para condenação ... pela ofensa de um
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só a morte reinou por esse"; cf. a fraseologia legal em 1.32 - "os quais conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam)". Rm. 6.23 - "o salário do pecado é a morte" = a morte é a dívida justa do pecado. 1 Pe. 4.6 - "para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens, na carne" = para que pudessem sofrer a morte física, a qual é a pena do pecado para os homens em geral. 1 Co. 15.21,22 - "assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo"; Rm. 4.24,25 - "dos mortos ressuscitou a Jesus, nosso Senhor, o qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação"; 6.9,10 -"Havendo Cristo ressuscitado dos mortos, não morre mais; a morte não terá mais domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus"; 8.3,10,11 "Deus, enviando seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne ... o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado" (= um cadáver, por causa do pecado) ... "aquele que ressuscitou a Jesus também vivificará o vosso corpo mortal"; Gl. 3.13 - "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro". Sobre a relação entre a morte e o pecado, ver Griffith-Jones, Ascent Through Christ, 169-185 - "Não são antagônicos, mas complementares um do outro -um espiritual, o outro biológico. O fato natural é adequado ao emprego moral". Savage, Life Alter Death, 33 - "A princípio os homens não criam na morte natural. Se um homem morresse, é porque alguém o tinha matado. Não se esperava ou necessitava nenhuma razão ética. Contudo, finalmente buscavam alguma explicação moral e apontavam a morte como castigo pelo pecado humano". Se este é o curso da evolução humana, devemos concluir que, mais tarde, a crença representa a verdade mais do que antigamente. A Escritura com verdade afirma a doutrina de que a morte em si, e não os seus simples acessórios, é a conseqüência e pena do pecado. Por esta razão não podemos aceitar a teoria muito atraente e plausível que passamos a mencionar: Newman Smyth, The Place of Death in Evolution, sustenta que, como o arco-íris na nuvem aponta para um emprego moral, assim a morte, que antes tinha sido tão somente a lei natural da criação, por ocasião do pecado do homem foi indicada como um emprego moral. É com este caráter moral
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da morte adquirido que Gênesis se relaciona. A morte torna-se uma maldição por ser um temor e um tormento. Os animais não têm esse medo. Mas no homem a morte abala a consciência. A redenção retira o temor e a morte recua ao seu aspecto natural ou até mesmo torna-se o portal de entrada para a vida. Para nenhum animal a morte é uma maldição a não ser para o homem. O elemento retribuidor na morte é o efeito do pecado. Quando o homem se tornar perfeito, a morte não terá mais sentido e, como último inimigo, será destruída. A morte aqui é o método pelo qual a Natureza garante uma vida sempre vigorosa, jovem, próspera e a mais exuberante e alegre possível. É a maneira como Deus garante o maior número e variedade possíveis de seres imortais. Há muitas salas de aula pela eternidade no universo divino e uma ilimitada sucessão de estudiosos passando por elas. Há muitos redis, mas um só rebanho. A ceifadeira Morte continua tendo o seu lugar. Quatro ou cinco gerações são as que podemos amar e delas obtemos estímulo moral. Os muitos Matusaléns nos levariam a novas gerações. Bagehot diz que a civilização primeiro precisa formar um bolo de costume e, a seguir destruí-lo. A morte, diz Martineau, Study, 1.372374, é a provisão para levar-nos longe antes de ficarmos muito tempo em casa a perder nossa receptividade. A morte é a libertadora de almas. A morte de sucessivas gerações concede variedade ao céu. Ela aperfeiçoa o amor, revela-se a si mesma, une de modo tal como a vida não o conseguiria. Como para Cristo, assim também para nós, ela é o expediente que nos permite irmos embora.
b) Da razão. O predomínio do sofrimento e morte entre as criaturas racionais não pode reconciliar-se com a justiça divina a não ser apoiada na suposição de que é uma aplicação da pena judicial por causa de uma pecaminosidade da natureza pertencente até mesmo àqueles que não atingiram a consciência moral. A objeção de que a morte existia na criação animal antes da queda do homem pode ser respondida dizendo que, apenas pelo fato do pecado do homem, ela não teria existido. Podemos crer que Deus dispôs mesmo a história geológica para corresponder ao fato previsto da apostasia
Teologia Sistemática (Strong) 1295 humana (cf. Rm. 8.20-23 – onde se diz que a criação se sujeitou à vaidade por causa do pecado do homem). Sobre Rm. 8.20-23 - "a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade" - ver Com. de Meyer, e Baptist Quarterly, 1.143; também Gn. 3.1719 -"maldita é a terra por causa de ti". Como a estrutura vertebral do primeiro peixe era uma "conseqüência antecipadora" do homem, assim o sofrimento e morte do peixe perseguido e devorado por outros peixes eram a "conseqüência antecipadora" da guerra prevista entre o homem e Deus.
A trasladação de Enoque e de Elias e dos santos que permanecerem na segunda vinda de Cristo parece pretender ensinar-nos que a morte não é uma lei necessária do ser organizado e mostrar o que teria acontecido a Adão se tivesse obedecido. Ele foi criado corpo "natural", "terreno", mas podia ter atingido um mais elevado ser, o corpo "espiritual", o "celeste", sem a intervenção da morte. O pecado, contudo, tomou a condição normal das coisas em rara exceção (cf. 1 Co. 15.42-50). Visto que Cristo suportou a morte como a pena do pecado, a morte, para o cristão, tomase o portal através do qual ele entra em plena comunhão com o Senhor. Exceto Enoque e Elias, que foram trasladados, e os muitos que estiverem vivos na segunda vinda de Cristo, todos cristãos passarão pela morte física. Enoque e Elias possivelmente são tipos dos santos sobreviventes. Sobre 1 Co. 15.51 - "nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados". O livro apócrifo Assunção de Moisés, v. 9 diz-nos que Josué, sendo levado em visão para uma clareira no momento da morte de Moisés, contemplou um duplo Moisés: um lançado na sepultura, pertencendo à terra, o outro misturando-se com os anjos. A crença na imortalidade de Moisés não faz parte de qualquer ressurreição de cadáver terreno. Quando Paulo foi arrebatado ao terceiro céu, pode ter-se dado um translado temporário do espírito desencarnado. Livre por um breve espaço da casa de prisão a que estava confinado, pode ter passado pelo véu e ter visto e ouvido o que a língua mortal não pode descrever. Também, provavelmente, Lázaro não contou o que viu: "Ele não contou; ou algo selou Os lábios daquele evangelista"; Tennyson, In Memoriam, xxxi.
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Nicoll, Life of Christ: "Cada um de nós tem de encarar o último inimigo, a morte. Desde que o mundo começou, todos que nele entraram, mais cedo ou mais tarde têm tido esta luta e a batalha sempre termina do mesmo modo. Na verdade dois escaparam, enfrentando e vencendo seu inimigo; escaparam sendo retirados da batalha". Mas esta morte física, para o cristão, tem sido transformada por Cristo em bênção. Um prisioneiro perdoado pode ainda ser guardado na prisão com o melhor benefício possível para um corpo exausto; deste modo o fato exterior da morte física pode continuar, apesar de ter cessado a pena. Macaulay: As cadeias de um prisioneiro idoso são necessárias para sustentá-lo; a escuridão que enfraqueceu a sua vista é necessária para pervertê-la". Portanto, a morte espiritual não foi totalmente removida do cristão; uma parte dela, a saber, a depravação, ainda permanece; embora tenha cessado a punição, ela é apenas um castigo. Quando o dedo desata a ligadura que o prende, o corpo que antes só castigara começa a curar a perturbação. Ainda existe a dor, mas esta não é mais punitiva; agora é um remédio. No meio do açoite, quando o menino se arrepende, a sua punição se transforma em castigo. Jo. 14.3 - Έ, se eu for e vos preparar lugar, voltarei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também"; 1 Co. 15.54-57 - "Tragada foi a morte na vitória ... Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a lei" - i.e. a condenação da lei, sua aplicação penal; 2 Co. 5.1-9 - "porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício ... mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor"; Fp. 1.21,23 -"morrer é ganho ... tendo o desejo de partir e estar com Cristo; porque isto é ainda muito melhor". Em Cristo e no seu sofrimento da pena do pecado, o cristão rompeu o círculo da conexão racial natural e é salvo do mal até mesmo que seja uma punição. O cristão pode ser castigado, mas nunca é punido: Rm. 8.1 - "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". Na casa de Jairo Jesus disse: "Por que vos alvoroçais e chorais"? e tendo repreendido os que choravam e pranteavam, "os pôs todos para fora" (Mc. 5.39,40). Os velórios e réquiens e missas e vigílias das igrejas de Roma e da Rússia são reminiscências do paganismo totalmente estranhas ao cristianismo.
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Palmer, Theological Definition, 57 - "A morte temida e combatida é terrível; mas um augúrio à morte é a morte da morte e o caminho para a vida". A idéia de que a punição ainda permanece para o cristão é "a noiva da doutrina papal do fogo do purgatório". Palavras de Browning, Ring and Book, 2.60 -"Na sua face há luz, mas em sua sombra também há cura", aplicam-se aos paternais castigos de Deus, mas não às suas retribuições penais. Em At. 7.60 - "adormeceu" - Arnot assinala: "Quando a morte se torna a propriedade do crente, recebe um novo nome: chama-se sono". Houve um outro que disse: "Cristo não enviou, mas ele mesmo veio salvar; Ele não emprestou o preço do resgate, mas deu; Cristo, o pastor, morreu pela ovelha; Nós só dormimos.
B) Morte espiritual, ou separação da alma em relação a Deus, incluindo toda a dor da consciência, perda da paz, e tristeza do espírito, que resultam da perturbação da relação normal entre a alma e Deus. a) Apesar de que a morte física é parte da pena do pecado, de modo nenhum é a principal. O termo 'morte' é freqüentemente usado na Escritura no sentido moral e espiritual, denotando a ausência daquilo que constitui a verdadeira vida da alma, a saber, a presença e favor de Deus. "Segue-me, e deixa os mortos [espiritualmente] sepultar os seus [fisicamente] mortos" (Mt. 8.22). Mt. 8.22 - "Segue-me e deixa aos mortos [espiritualmente] sepultar [fisicamente] os seus mortos"; Lc. 15.32 - "este teu irmão estava morto e reviveu"; Jo. 5.24 - "quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida"; 8.51 - "se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte; Rm. 8.13 -"se viverdes segundo a carne, morrereis; mas se, pelo espírito, mortificardes as obras do corpo, vivereis"; Ef. 2.1 - "estando vós mortos em ofensas e pecados"; 5.14 - "Desperta, ó tu que dormes, levantate dentre os mortos"; 1 Tm. 5.6 - "mas a que vive em deleites, vivendo, está morta"; Tg. 5.20 -"aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma"; 1 Jo. 3.14 - "quem não ama a seu
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irmão permanece na morte"; Ap. 3.1 - "tens nome de que vives e estás morto".
b) Não se pode duvidar de que a pena denunciada no jardim e imposta sobre a raça é, em primeiro lugar e principalmente, a morte da alma, que consiste na sua separação de Deus. Só neste sentido, a morte foi plenamente visitada em Adão no dia em que comeu o fruto proibido (Gn. 2.17). Só neste sentido o cristão escapa da morte {João 11.26}. Por esta razão, no paralelo entre Adão e Cristo (Rm. 5.12-21), o apóstolo passa do pensamento da simples morte física na primeira parte da passagem para a morte tanto física como espiritual no seu encerramento (v. 21 - "assim como o pecado reinou na morte, assim a graça reinou através da justiça para a vida eterna por Jesus Cristo, Nosso Senhor" onde "vida eterna" é mais que existência física sem fim e "morte" é mais que a morte do corpo). Gn. 2.17 - "no dia em que dela comeres, certamente morrerás"; Jo. 11.26 - "e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá"; Rm. 5.14,18,21 -"justificação de vida ... vida eterna"; contrastar com "a morte reinou ... o pecado reinou na morte".
c) A morte eterna pode ser considerada a culminância e complementação da morte espiritual e consiste essencialmente na correspondência da condição exterior ao estado interior da alma ímpia (At. 1.25). Parece que alguma peculiar energia repulsiva da santidade divina se inaugura (Mt. 25.41; 2 Ts. 1.9) e envolve retribuição positiva visitada por um Deus pessoal tanto sobre o corpo como sobre a alma do malfeitor (Mt. 10.28; Hb. 10.31; Ap. 14.11). At. 1.25 - "Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar"; Mt. 25.41 - "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e os seus anjos"; 2 Ts. 1.9 - "os quais, por castigo, padecerão a eterna perdição ante a face do Senhor e a glória do seu poder"; Mt. 10.28 -
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"temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo"; Hb. 10.31 - "Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo"; Ap. 14.11 - Έ a fumaça do seu tormento sobe para todo sempre". Kurtz, Religionslehre, 67 - "Porque Deus é santo deve manter a ordem do mundo e, onde esta é destruída, restaurá-la. Contudo, isto não pode acontecer de outra forma senão esta: a ofensa pela qual o pecador destruiu a ordem do mundo recai sobre ele mesmo; e esta é a pena. O pecado é a negação da lei. A pena é a negação desta negação, isto é, o restabelecimento da lei. O pecado é a confiança do pecador contra a lei. A pena, ao contrário, é a confiança na lei elástica porque é viva e vai de encontro ao pecador". Platão, Górgias, 472 E; 509 B; 511 A; 515 Β - "A impunidade é uma maldição mais terrível que qualquer punição e nada pode acontecer de tão bom ao criminoso do que a sua retribuição, cuja omissão faria uma dupla desordem no universo. O próprio ofensor pode gastar suas artes em artifícios de escape e pensar que é feliz se não os encontrar. Mas todo o seu enredamento é apenas uma parte da ilusão do seu pecado; e, quando ele cai em si e vê qual é, na realidade, a sua transgressão, ele se torna prisioneiro da justiça eterna e sabe que é bom para ele ser afligido e, pela primeira vez, emparelhar-se com a verdade".
SEÇÃO VII – A SALVAÇÃO DAS CRIANÇAS Os pontos de vista que têm sido apresentados a respeito da depravação inata e a reação da santidade divina contra ela sugerem a pergunta se as crianças que morrem antes de alcançar a consciência moral são salvas e, se são, de que modo. A esta pergunta respondemos: a) As crianças estão em estado de pecado, necessitam de regeneração e só podem salvar-se através de Jesus Cristo. Jó 14.4 - "(Quem do imundo tirará o puro? Ninguém"); SI. 51.5 - "Eis que em iniqüidade fui formado; e em pecado me concebeu minha mãe"; Jo. 3.6 -"O que é nascido da carne é carne"; Rm. 5.14 - "No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à
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semelhança da transgressão de Adão"; Ef. 2.3 - "Por natureza filhos da ira"; 1 Co. 7.14 "Doutra sorte, vossos filhos seriam imundos" - indica claramente o estado impuro das crianças, por natureza; e Mt. 19.14 - "Deixai os pequeninos e não os estorveis de vir a mim" - não só é consistente com esta doutrina, mas confirma-a fortemente; porque o sentido é: "não os estorveis de vir a mim" -de quem eles necessitam como salvador. "A vinda a Cristo" é sempre a vinda de um pecador àquele que é o sacrifício pelo pecado; cf. Mt. 11.28 - "Vinde a mim todos os que estais cansados".
b) Contudo, comparadas com os que transgrediram pessoalmente, são consideradas possuídas de relativa inocência e de submissão e confiança, que podem servir para ilustrar as graças do caráter cristão. Dt. 1.39 - "Ε vossos meninos ... e vossos filhos que nem bem nem mal sabem"; Jn. 4.11 - "cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda"; Rm. 9.11 - "porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal"; Mt. 18.3,4 - "se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus. Portanto, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é maior no Reino dos céus". Ver Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.265. Wendt, Teaching of Jesus, 2.50 - "Receptividade despretensiosa, ... não o recebimento do reino de Deus numa idade infantil, mas num cará ter infantil ... é a condição de entrada; ... não inocência, mas a receptividade em si, da parte dos que não se consideram muito bons ou muito maus para a oferta apresentada, mas o recebimento com desejo de coração. As crianças têm esta despretensiosa receptividade do reino de Deus a qual, via de regra, é a sua característica, visto que ainda não possuem outras coisas das quais se orgulhariam".
c) Por esta razão, elas são objeto de especial compaixão e cuidado divinos e pela graça de Cristo é certa a sua salvação. Mt. 18.5,6,10,14 - "Qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta a mim em recebe. Mas qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha e se submergisse na profundeza do mar....
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Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai, que está nos céus. ... Também não é da vontade do Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca"; 19.14 - "Deixai os pequeninos e não os estorveis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus" - não o reino da natureza, mas o reino da sua graça, o reino dos pecadores salvos. A palavra "tais" não significa crianças, mas crentes semelhantes às crianças. Meyer, sobre Mt. 19.14, relaciona a passagem só com os infantes espirituais: "Não as criancinhas", diz ele, "mas homens com disposição infantil". Geikie: "Venham as crianças a mim e não as proíbam, porque o reino do céu é conferido apenas a tais como os que têm um espírito de criança e a natureza dela". As palavras do Salvador não indicam que as criancinhas são 1) sem pecado, ou 2) dignas do batismo; mas, que a sua receptividade para o ensino, 2) intensa avidez, e 3) a confiança sincera, ilustram os traços necessários à admissão no reino divino. Por isso, substancialmente concordamos com o Dr. A. C. Kendrick em seu artigo na Sunday School Times: "A linguagem não se aplica aos infantes e às crianças como tais. Deve ser tomada figuradamente, e referir-se às qualidades na infância, à sua dependência, à sua confiança, à sua terna afeição, à sua amorosa obediência, que são típicas das graças cristãs essenciais. ... Se se perguntar da lógica das palavras do nosso Salvadorcomo ele poderia atribuir, como uma razão para permitir que as criancinhas literalmente devem ser trazidas a ele que as criancinhas espiritualmente têm uma reivindicação do reino do céu - respondo: As pessoas que como uma classe estão capacitadas para o reino espiritual de Deus não podem ser objeto de indiferença dele, ou igualmente ser consideradas com intenso interesse. ... A classe que em sua própria natureza reproduz as mais brilhantes características da excelência cristã devem ser objeto do cuidado e preocupação especiais de Deus". A estas notas do Dr. Kendrick acrescentamos que as palavras de Jesus parecem-nos indicar mais do que uma preocupação e cuidado especial. Conquanto elas parecem pretender proibir toda idéia de que as crianças são salvas pela sua santidade natural, ou sem a aplicação das bênçãos da expiação a elas, para nós parecem incluir os infantes no número daqueles que têm o direito a estas bênçãos; a saber, a preocupação e o cuidado de Cristo chegam a escolher os infantes para a vida eterna e capacitá-los ao reino do céu. Cf. Mt. 18.14 - "não é da
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vontade do vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca" = os que Cristo recebeu aqui não rejeitará no além. É claro que isto se refere aos infantes, como infantes. As palavras de Cristo garantem a salvação àqueles que morrem antes da consciência moral. A transgressão pessoal, contudo, envolve a necessidade de um arrependimento pessoal e fé para a salvação antes da morte.
d) As descrições da misericordiosa provisão de Deus que se estendem à ruína da queda também nos levam a crer que os que morrem na infância recebem a salvação através de Cristo com a mesma certeza de que herdam o pecado de Adão. João 3.16 – "Porque Deus amou o mundo" – inclui os infantes. Rm. 5.14 – "a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir" = Há uma aplicação da vida de Cristo às crianças, como há uma aplicação da morte de Adão a elas. 19-21 - "Porque, como pela desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores, assim, pela desobediência de um, muitos serão feitos justos. Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor". = como sem o seu ato pessoal os infantes herdaram a corrupção da parte de Adão, assim, sem o seu ato pessoal foi-lhes provida a salvação em Cristo. Hovey, Bib. Eschatology, 170,171 - Embora os escritores sagrados nada falem sobre condição futura dos que morrem na infância, dificilmente podemos errar ao derivarmos do silêncio uma conclusão favorável. Que nenhum profeta ou apóstolo, que nenhum pai ou mãe devotos, devem ter expressado qualquer solicitude quanto aos que morrem antes de serem capazes de discernir entre o bem e o mal é surpreendente, a menos que tal solicitude fosse impedida pelo Espírito de Deus. Não há exemplo de oração pelas as crianças tiradas na infância. Em lugar nenhum o Salvador ensina que elas estão em perigo de estarem perdidas. Por isso nós cremos de coração e de modo confiante que elas são redimidas pelo sangue de Cristo e santificadas pelo seu Espírito de modo que, quando entram para o mundo
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invisível, elas se acham entre os santos". Davi deixou de jejuar e chorar quando sua filha morreu e disse: "Porém agora é morta, por que jejuaria eu? Eu irei para ela, porém ela não retornará para mim" (2 Sm. 12.23).
e) A condição da salvação dos adultos é a fé pessoal. As crianças são incapazes de preencherem esse requisito. Visto que Cristo morreu por todos, temos razão para crer que é feita a provisão para a sua aceitação de Cristo de outro modo. 2 Co. 5.15 - "ele morreu por todos"; Mc. 16.16 - "Aquele que crer e for batizado será salvo; mas o que não crer será condenado" (os versos 9-20 são de autoridade canônica, apesar de não escritos por Marcos). O Dr. G. W. Northrop sustenta que, como, para o cristão, a morte deixou de ser uma pena, Cristo, tendo expiado e removido a culpa do pecado original a todos os homens, incluiu os infantes. Mas retrucamos que não há nenhuma evidência de que qualquer culpa haja sido retirada exceto para os que participam da união vital com Cristo. E. G. Robinson, Christian Theol., 166 "A maldição recai sobre cada um com o nascimento, mas cada um dos que chegam à idade da responsabilidade pode abrandá-la ou intensificá-la, na medida em que a sua natureza, que traz a maldição, dirige ou sofre a direção da sua razão ou da sua consciência. Assim todos alcançam igualmente as bênçãos da salvação, mas podem perdê-las ou assegurá-las, conforme a atitude de cada um para com Cristo, que é o único que pode garanti-las. Para as crianças, como a maldição vem sem a sua eleição, de igual modo vem a sua remoção".
f) No juízo final, a conduta pessoal se torna o teste do caráter. Porém as crianças são incapazes de transgressão pessoal. Temos razão, portanto, para crer que elas estarão entre os salvos, visto que esta regra da decisão não se aplica a elas. Mt. 25.45,46 - "quando a um destes pequeninos não o fizestes, não o fizestes a mim. Ε estes irão para o tormento eterno"; Rm. 2.5,6 - "no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus, o qual recompensará a cada um segundo as suas obras". Norman Fox, The Unfolding of Baptist Doctrine, 24
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- "Não são apenas os Católicos Romanos que crêem na perdição dos infantes. Os luteranos, na Confissão de Augsburgo, condenam os batistas, que afirmam que as crianças são salvas sem o batismo - 'damnant Anabaptistas qui... affirmant qui pueros sine baptismo salvos fieri' (condenam os Anabatistas, que afirmam que as crianças sem o batismo estão salvas). Ao declarar que os 'infantes eleitos que morrem na infância' são salvos, a Confissão de Westminster implica que os não eleitos que morrem na infância estão perdidos. Sem dúvida, alguns do que elaboraram aquele credo ensinavam isso". Contudo, João Calvino não cria na perdição dos infantes, de cuja crença ele tem sido acusado. Na edição de suas obras em Amsterdã, 8.522, lemos: "Não duvido de que as crianças que o Senhor reúne desde quando começaram a viver são regeneradas por uma operação oculta do Espírito Santo". Em suas Instituições, livro 4, cap. 16, p. 335, ele fala da isenção da graça da salvação "como uma idéia não livre da execrável blasfêmia". A Revista Presbiteriana e Referências, out. 1890: 634-651, cita Calvino como segue: "Em todo lugar eu ensino que ninguém pode, com justiça, ser condenado e perecer senão por pecado atual; dizer que inúmeros mortais, levados da vida quando ainda crianças, são precipitados dos braços de suas mães para a morte eterna é uma blasfêmia universalmente detestável". Assim também John Owen, Works, 8.522 - "Há dois meios de Deus salvar os infantes. Primeiro, interessando-os no pacto, se os seus pais imediatos ou remotos foram crentes; ... Segundo, pela graça da eleição, mais livre e não presa a quaisquer condições".
g) Visto que não há nenhuma evidência de que as crianças que morrem na infância são regeneradas antes da morte, com ou sem o uso de meios externos, parece mais provável que a obra da regeneração pode ser executada pelo Espírito em conexão com o primeiro encontro com Cristo no outro mundo. Como o remanescente da depravação natural do cristão foi erradicado, não pela morte, mas na morte, pela vista de Cristo e da união com ele, assim o primeiro momento de consciência da criança pode coincidir com o ver Cristo, o Salvador, que cumpre a santificação inteira de sua natureza.
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2 Co. 3.18 - "Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor"; 1 Jo. 3.2 - "sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos". Se perguntássemos por que não mais se diz isto sobre a Escritura, responderíamos: Isto concorda com a analogia do método geral de Deus de ocultar o que não é de valor prático imediato. Há algum tempo, contudo, o conhecimento do fato de que todas crianças que morrem na infância são salvas podia causar a impressão de que o infanticídio é uma virtude. Embora concordemos com os escritores citados a seguir, quanto à salvação dos infantes que morrem antes da idade da consciência e transgressão voluntária, discordamos da tendência aparentemente arminiana da explicação que eles sugerem. H. E. Robins, Harmony of Ethics With Theology. "A declaração judicial da absolvição baseada na morte de Cristo, que veio para todos os homens, em cujo benefício eles são introduzidos pela morte natural, é uma justificação incipiente e se aperfeiçoará através do novo nascimento no Espírito Santo a menos que a ação moral pessoal dos que estão perdidos ofereça resistência à obra divina". F. O. Dickey: Porque os infantes são membros da raça e justificados da pena do pecado herdado pela obra meritória de Cristo, pela mesma razão a raça é justificada da mesma pena e na mesma extensão que aqueles e os membros da raça que morrem na infância serão salvos". Temos a impressão de que o elemento de verdade nos pronunciamentos acima parece-nos consistir no fato de que a união de Cristo com a raça garante a reconciliação objetiva dela em Deus. Mas a reconciliação objetiva e pessoal depende da união moral com Cristo e pode realizar-se no infante só por meio da apropriação da morte de Cristo.
Enquanto, na natureza das coisas e pelas expressas declarações da Escritura, estamos impedidos de estender esta doutrina da regeneração na morte a qualquer que comete pecados pessoais, contudo, temos a
Teologia Sistemática (Strong) 1306 garantia da conclusão de que, certa e grande como é a culpa do pecado original, nenhuma alma humana é condenada somente por este pecado da natureza, mas de que, por outro lado, todos aqueles que não transgrediram consciente e voluntariamente são participantes da salvação de Cristo. Por outro lado, os que defendem uma segunda provação, logicamente, devem sustentar que, no outro mundo, os infantes vivem em estado de pecado e que, ao morrerem, eles só passam por um período de provação em que podem ou não aceitar a Cristo; doutrina muito menos consoladora que a proposta acima. Ver Prentiss, Presb. Review, julho de 1.883:548-580 Lyman Beecher e Charles Hodge a princípio tornaram corrente em seu país a doutrina da salvação de todos os que morrem na infância. A aceitar-se esta doutrina, seguir-se-á: 1) que estes participantes do pecado original devem ser totalmente salvos através da graça e poder divinos; 2) que na criança não nascida existe a promessa e potencialmente toda espiritualidade humana; 3) que a salvação é totalmente possível independentemente da igreja visível e dos recursos da graça; 4) que para metade de toda a raça esta vida não é, de modo algum, um período de provação; 5) que os pagãos que nunca ouviram falar do evangelho podem ser salvos; 6) que a providência de Deus inclui em seu escopo tanto infantes como pagãos". "As crianças exercem sobre nós uma influência redentora e retificadora e os seus atos e palavras casuais e a simples confiança chamam o nosso mundo empedernido e os corações obstinados de volta aos pés de Deus. Silas Marner, o velho urdidor do Raveloe, tão pateticamente e de modo vivido descrita no romance de George Eliot, era duro, desolado, ímpio velho mísero, mas depois que o pequeno Epie fugiu para a sua miserável cabana naquela memorável noite de inverno, voltou novamente a crer. 'Agora eu', disse finalmente, 'posso confiar em Deus até o fim da minha vida'. Um incidente no hospital do Sul ilustra o poder que as crianças têm de levar os homens ao arrependimento. Uma menininha estava para submeter-se a uma operação perigosa. Quando subiu na mesa de cirurgia, o doutor que foi anestesiá-la disse: 'Antes de eu fazer você ficar boa vou fazer você dormir'. 'Então', disse ela docemente, 'se o senhor me vai fazer dormir, eu quero orar antes'. Descendo sobre os joelhos, e cruzando as mãos, repetiu a amável
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oração que aprendeu aos pés da mãe: 'Agora que vou deitar-me para ninar, oro ao Senhor para minha alma guardar'. Por um momento, os olhos daquele grupo marejaram em lágrimas, pelas cordas dedilhadas, enquanto o cirurgião disse: 'Em trinta anos, esta noite é a primeira vez que eu oro'". A criança que já tem idade bastante para pecar contra Deus tem idade bastante para confiar em Cristo como Salvador dos pecadores.
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PARTE VI – SOTERIOLOGIA, OU DOUTRINA DA SALVAÇÃO ATRAVÉS DA OBRA DE CRISTO E DO ESPÍRITO SANTO Capítulo I CRISTOLOGIA, OU A REDENÇÃO OPERADA POR CRISTO SEÇÃO I - PREPARAÇÃO HISTÓRICA PARA A REDENÇÃO Visto que Deus, desde a eternidade determinara a redenção da humanidade, a história da raça, desde o tempo da queda até a vinda de Cristo, foi providencialmente arranjada no sentido de preparar o caminho da referida redenção. Tal preparação foi dupla: I. PREPARAÇÃO NEGATIVA - na história do mundo pagão. Isto mostrou 1) a verdadeira natureza do pecado e a profundidade da ignorância espiritual e a natureza da depravação a que a raça, deixada ao léu do seu destino, deve cair; e 2) a falta de poder da raça humana para preservar ou readquirir um adequado conhecimento de Deus ou livrar-se do pecado valendo-se da filosofia ou da arte. Por que não podia Eva ter sido a mãe da semente escolhida como a princípio se supôs que fosse? (Gn. 4.1 - "e ela concebeu e teve Caim [i.e. Obtido', 'adquirido'], e disse: alcancei do Senhor um varão"). Por que não se fixou a cruz junto aos portais do Éden? A Escritura sugere que havia necessidade de uma preparação (Gl. 4.4 - "mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho"). Dos dois agentes de que se valeu, chamamos de paganismo a preparação negativa. Mas ela não foi inteiramente negativa; foi também em parte positiva. Justino Mártir fala de um Λόγος σπερματικός entre os pagãos. Clemente de Alexandria chama
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Platão um Μωυσής άττικίζων, um Moisés de fala grega. Observe a atitude sacerdotal de Pitágoras, Sócrates, Platão, Píndaro, Sófocles. A Bíblia reconhece Jó, Balaão, Melquisedeque como exemplos de sacerdócio, ou de comunicação divina, fora dos limites do povo escolhido. Ou Deus compartilhava nas religiões pagas, ou não eram religiões. Confúcio, Buda, Zoroastro eram, quando nada, reformadores, que Deus, na sua providência, levantou. Gl. 4.3 classifica o judaísmo como "rudimentos do mundo", e Rm. 5.20 diz-nos que "a lei entrou" como uma força em cooperação com outros fatores humanos, com a revelação primitiva, com o pecado, etc.". A preparação positiva do paganismo recebe maior atenção quando concebemos Cristo como o Deus imanente, revelando-se na consciência e na história. Este é o verdadeiro sentido de Justino Mártir, Apology, 1.46; 2.10,13 - "Toda a raça humana participou do Logos e os que viveram segundo a razão (λόγου), eram cristãos, embora fossem contados como ateus. Entre eles estão os gregos Sócrates e Heráclito e os que se assemelhavam a eles. ... Cristo era conhecido em parte até mesmo por Sócrates. ... Os ensinos de Platão não eram tão diferentes dos de Cristo, embora não fossem semelhantes em todos aspectos. Porque todos escritores da antigüidade eram capazes de ter uma visão obscura das realidades por meio da semente que neles habitava sobre o Verbo (λόγου) implantado". Justino Mártir reivindicava a inspiração de Sócrates. Tertuliano falava de Sócrates como "paene noster" - "quase um dos nossos". Paulo fala dos cretenses como tendo "seu próprio profeta" (Tt. 1.12-provavelmente Epimênides (596 a.C), aquém Platão chama de θείος άνήρ - "homem de Deus" que Cícero copia ao lado de Bacis e Sibilo, oeritreu. Clemente de Alexandria, Stromata, 1.19; 6.5-Ό mesmo Deus que forneceu os dois concertos foi o que deu a filosofia aos gregos, pela qual o Onipotente é glorificado entre os gregos". Agostinho: "Platão deu-me a conhecer o verdadeiro Deus; Jesus Cristo mostrou-se o caminho para ele". Bruce, Apologetics, 207 - "Deus deu aos gentios pelo menos a luz estelar do conhecimento religioso. Os judeus foram eleitos por causa do gentios. Havia uma certa luz mesmo para os pagãos, embora o paganismo como um todo era um fracasso. Porém até o seu próprio fracasso era uma preparação para o recebimento da verdadeira religião". Hatch, Hibbert Lectures, 133,238 - "O neoplatonismo, esplêndida visão do incomparável e
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irrecuperável mundo nefelibático em que o sol da filosofia grega se pôs.... No seu lado ético, o cristianismo tem grandes elementos em comum com o estoicismo reformado; do seu lado teológico movia-se em harmonia com os novos movimentos do platonismo". E. G. Robinson: "A idéia de que todas as religiões, a não ser a cristã, são obra direta do diabo, é judaica, e agora se acha abandonada. Ao contrário, Deus se revelou à raça até onde esta tem sido capaz de conhecê-lo. ... Qualquer religião é melhor do que nenhuma, pois todas religiões implicam moderação". Jo. 1.9 - "Ali estava a luz verdadeira que alumia a todo homem que vem ao mundo" -tem sua equivalência no Velho Testamento no SI. 94.10 "Aquele que argúi as nações não castigará? Ε ο que dá ao homem conhecimento não saberá?" Cristo é o grande educador da raça. O Verbo preencarnado exerceu influência sobre a consciência dos gentios. Só ele dá veracidade ao "anima naturaliter Cristiana est" (a alma é cristã por natureza). Sabbatier, Philos. Religion, 138-140 - "Religião é a união entre Deus e a alma. Porque a experiência primeiro se realizou perfeitamente em Cristo. Eis aqui o fato ideal e o histórico unidos de um modo harmônico. O racionalismo e a ortodoxia de Orígenes e de Tertuliano tem, cada um, a sua verdade. A consciência religiosa de Cristo é a fonte da qual flui o cristianismo. Ele é o começo da vida do homem. Tem o espírito da filiação - Deus no homem e o homem em Deus. 'Quid interius Deo?' Ele nos apresenta a insistência da moral ideal, e ainda a pregação da misericórdia ao pecador. O evangelho é a semente do carvalho e o cristianismo é o carvalho que brota dele. Na semente do carvalho, assim como na árvore, estão os elementos hebraicos temporários. O paganismo é a materialização da religião; o judaísmo é a sua legalização. 'Em mim', diz Charles Secretan, vive alguém maior do que eu'". Mas o elemento positivo no paganismo é fraco. Os seus altares e sacrifícios, sua filosofia e arte, despertaram anseios que ele não pode satisfazer. Seus sistemas religiosos tornaram-se fonte de corrupção mais profunda. Não há esperança e nem progresso. A inerte calma da Esfinge simboliza a monotonia da civilização egípcia". As nações clássicas tornaramse mais desesperadas quando se tornaram mais cultas. Para as melhores mentes a verdade parecia impossível de ser alcançada e toda esperança do bem-estar parecia um sonho. Os judeus eram o único povo de boas perspectivas; e toda a nossa moderna confiança no destino e
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desenvolvimento vem deles. Eles, por sua vez, extraem toda sua esperança da profecia. Não foi o seu "gênio pela religião" que os fez o que são, mas a revelação especial de Deus. Embora Deus estivesse na história dos pagãos, ainda assim, tão excepcionais eram as vantagens dos judeus, que quase não podemos concordar com a doutrina do New Englander, set. 1883. 576 - "A Bíblia não reconhece outras revelações. Fala da 'máscara do rosto com que todos os povos andam cobertos e o véu com que todas as nações se escondem' (Is. 25.7); At. 14.16,17 -Ό qual, nos tempos passados, deixou andar todos os povos em seus próprios caminhos; contudo, não se deixou a si mesmo sem testemunho'; não uma revelação interna nos corações dos sábios, mas uma revelação externa na natureza, 'beneficiando lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e alegria o vosso coração'. As convicções dos reformadores pagãos relativas à inspiração divina eram obscuras e intangíveis, comparadas com o conhecimento dos profetas e dos apóstolos através dos quais Deus falava ao seu povo".
II. PREPARAÇÃO POSITIVA - na história de Israel. Um simples povo foi separado dos outros desde os tempos de Abraão e educado em três grandes verdades: 1) a majestade de Deus em sua unidade, onipotência e santidade; 2) a pecaminosidade do homem e sua desesperança moral; 3) a certeza de uma salvação vindoura. Tal educação a partir da época de Moisés foi conduzida pelo uso de três principais agentes: A) A Lei. – A legislação mosaica, a) através das suas teofanias e milagres; cultivava a fé num Deus pessoal e onipotente e Juiz; b) através das suas determinações e ameaças despertava o senso do pecado; c) através do seu sistema sacerdotal e sacrificial inspirava a esperança de algum processo de salvação e acesso a Deus. A educação dos judeus, antes de tudo, se opera através da lei. Na história universal, como na individual, a lei deve preceder o evangelho; João Batista deve vir antes de Cristo; o conhecimento do pecado deve preparar
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uma auspiciosa entrada para o conhecimento de um Salvador. Enquanto o pagão estava estudando as obras de Deus, o povo escolhido estava estudando o próprio Deus. Os homens ensinam por palavras e por obras; do mesmo modo Deus. Ε as palavras revelam coração a coração, o que as obras nunca podem fazer. "Fazia-se os judeus conhecer, em benefício da humanidade, a culpa e a vergonha do pecado. Contudo, precisamente quando a doença estava no clímax, os médicos estavam sob o desprezo". Wrightnour: "Como a ensinar todas as eras subseqüentes que nenhuma purificação exterior forneceria um remédio, o grande dilúvio que lavou todo o mundo antediluviano, com exceção de um única família relativamente pura, não purificou o mundo do pecado". Com este crescimento gradual no sentido do pecado há também uma fé ampliada e aprofundada. Kuyper, Work of the Holy Spirit, 67 - "Abel, Abraão, Moisés = o indivíduo, a família, a nação. Pela fé Abel obteve testemunha; pela fé Abraão recebeu o filho da promessa; pela fé Moisés conduziu Israel através do Mar Vermelho". Kurtz, Religionslehre, fala da relação entre a lei e o evangelho como "Ein fliessender Gegensatz" - "uma antítese fluente" - como a que há entre a flor e o fruto. A. B. Davidson, Expositor, 6.163 - Ό curso da revelação é como um rio que não pode ser dividido em seções". E. G. Robinson: As duas idéias fundamentais do judaísmo são: 1. a teológica - a unidade com Deus; 2. filosófica - a distinção entre Deus e o mundo material. O judaísmo vai à semente. Jesus, com o malho de ferreiro da verdade, destruiu as formas mortas e os judeus pensavam que ele estivesse destruindo a Lei".
B) Profecia. – Esta era de duas espécies: a) verbal, – começando com o proto-evangelho no jardim e estendendo-se pelos quatrocentos anos que precedem a vinda de Cristo; b) típica, - em pessoas como Adão, Melquisedeque, José, Moisés, Josué, Davi, Salomão, Jonas; e na prática de atos tais como o sacrifício de Isaque o levantamento da serpente no deserto feito por Moisés. A relação da lei com o evangelho é como a de um esboço de um quadro completo ou do plano de Davi para a execução do templo de Salomão. Quando todas outras nações estavam afundadas no pessimismo e desespero, a luz da esperança irrompeu com brilho entre os hebreus. A
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nação ampliou seus limites. A fé era a sua própria vida. Os santos do Velho Testamento viram todas as perturbações da presente "sub specie eternitatis", e creram que "a luz semeia-se para o justo, e a alegria, para os retos de coração" (SI. 97.11). A esperança de Jó era a do povo escolhido: "Eu sei que o meu Redentor vive, e que, por fim, se levantará sobre a terra" (Jó 19.25). Hutton, Essays, 2.237 -Ό supernaturalismo hebreu transmudou para sempre o naturalismo puro da poesia grega. Ε agora nenhum poeta moderno que não sinta e reproduza em seus escritos a diferença entre o natural e o sobrenatural pode tornar-se realmente grande". Cristo é a realidade para a qual apontam os tipos e cerimônias indicados pelo judaísmo; e estes desapareceram com o advento do cristianismo assim como as pétalas de uma flor caem com o aparecimento dos frutos. Muitas promessas feitas aos santos do Velho Testamento, que lhes pareciam bênçãos temporais, cumpriram-se de melhor forma por serem mais espirituais do que eles esperavam. Deste modo Deus cultivou neles uma ilimitada confiança - na essência a mesma que a fé da nova dispensação porque era a confiança absoluta de um pecador conscientemente desesperançado no método salvador de Deus e que era implicitamente, embora não explicitamente, uma fé em Cristo. O proto-evangelho (Gn. 3.15) diz: "esta (a semente prometida) te ferirá a cabeça". A palavra "esta" vem traduzida em alguns manuscritos em latim pela palavras "ipsa". Por isso os doutores em divindades na Igreja Católica Romana atribuem a vitória à virgem. Note que Satanás foi amaldiçoado, mas Adão e Eva não o foram; porque estes eram candidatos à restauração. A promessa do Messias reduziu-se na medida em que a raça se tornou mais velha desde Abraão até Judá, Davi, Belém e a virgem. A profecia falava do "cetro" e das "setenta semanas". Ageu e Malaquias predisseram que o Senhor viria subitamente ao segundo templo. Cristo deveria ser verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus; profeta sacerdote e rei; humilhado e exaltado. Quando a profecia se tornasse completa, passaria o breve intervalo e, a seguir, ele, de quem Moisés na lei, e os profetas escreveram, verdadeiramente viria. Contudo, esta preparação toda para a vinda de Cristo, por causa da perversidade do homem, transformou-se nos mais formidáveis obstáculos ao
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progresso do evangelho. O Império Romano levou Cristo à morte. A filosofia rejeitou Cristo como loucura. O ritualismo judaico, o mais sombrio, usurpou o lugar da adoração e da fé, substância da religião. O último método divino da preparação no caso de Israel foi o do
C) Juízo. – Os repetidos castigos divinos por causa da idolatria culminaram com a ruína do reino e cativeiro dos judeus. O exílio teve dois principais efeitos: a) religioso, - dando ao monoteísmo firme raiz no coração do povo e levando ao estabelecimento do sistema de sinagogas pelo qual o monoteísmo daí em diante se preservou e se propagou; b) civil, - convertendo os judeus de um povo agrícola em comerciantes, espalhando-os entre todas nações e, finalmente, imbuindo-os do espírito da lei e organização romanas. Assim o povo se tornou pronto para receber o evangelho e propagálo pelo mundo inteiro na época em que se tornara consciente de suas necessidades e, através de seus maiores filósofos e poetas, expressava seus anseios pela libertação. Com a união da Europa, da Ásia e da África há uma pequena terra pela qual passaram caravanas desde o Oriente até o Ocidente. A Palestina tornou-se "o olho do mundo". Os hebreus, através de todo o mundo romano eram a grande Palestina da dispersão". A dispersão dos judeus por todas as terras tinha preparado um ponto de partida monoteísta para o evangelho em cada cidade paga. As sinagogas judaicas prepararam lugar para as assembléias onde ouviriam o evangelho. O Grego, língua literária universal, tinha providenciado um meio através do qual aquele evangelho seria pregado. "César unificou o Latim no Ocidente, como Alexandre o fez com o fez com o Grego no Oriente"; e a paz universal juntamente com as estradas romanas e as leis romanas tornaram possível àquele evangelho, quando tivesse obtido apoio, expandir-se até aos confins da terra. A primeira aurora do empreendimento missionário surge entre os judeus prosélitos antes da era cristã. O cristianismo lançou a base deste espírito proselitista e santificou-o até conquistar o mundo à fé cristã.
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Beyschlag, N.T. Theology, 2.9,10 - "Em sua expedição geral através do Helesponto, Paulo reverteu o curso que Alexandre empreendeu e levou o evangelho à Europa aos centros da cultura grega". Vemos nestas preparações muitas linhas convergentes a um resultado, de forma inexplicável, a não ser que as tomemos como provas da sabedoria de Deus preparando o caminho para o reino de seu filho; e tudo isto a despeito do fato de que "o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado" (Rm. 11.25). James Robertson, Early Religion of Israel, 15 "Israel agora instrui o mundo no louvor a Mamom, após ter outrora ensinado o conhecimento de Deus".
SEÇÃO II – A PESSOA DE CRISTO A redenção do pecado da humanidade devia ser efetuada através de um Mediador que une em si tanto a natureza humana como a divina para que possa reconciliar Deus com o homem e o homem com Deus. Para facilitar o entendimento da doutrina escriturística sob consideração, convém, de início, apresentar um breve exame histórico dos pontos de vista relativos à pessoa de Cristo. Como já vimos, na história da doutrina, as crenças defendidas para a solução no início são apenas gradualmente precipitadas e cristalizadas em fórmulas definidas. A primeira pergunta que os cristãos naturalmente faziam a si mesmos era: "que pensais vós do Cristo?" (Mt. 22.42); daí a sua relação com o Pai; a seguir, na devida sucessão, a natureza do pecado, da expiação, da justificação, da regeneração. Estabelecendo conexão destas perguntas com os nomes dos grandes líderes que procuravam respectivamente responder-lhes, temos: 1. a Pessoa de Cristo tratada por Gregório Nazianzeno (328); 2. a Trindade por Atanásio (325-373); 3. o pecado por Agostinho (353-430); 4. Expiação por Anselmo 1033-1109); 5. Justificação pela fé por Lutero (1485-1560); 6. Regeneração por João Wesley (1703-1791); - seis dias de teologia, deixando só o sétimo, para a doutrina do Espírito Santo, que pode ser obra dos nossos dias. Jo. 10.36 "aquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo" - indica um certo processo misterioso através do qual o Filho foi preparado para a sua missão. Atanásio: "Se o Verbo de Deus está no mundo, em corpo, como estranho é
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afirmar que ele também entrou na humanidade. Este é o fim natural da evolução do inferior para o superior.
I. LEVANTAMENTO HISTÓRICO DOS PONTOS DE VISTA RELATIVOS À PESSOA DE CRISTO 1. Os Ebionitas (wwyba = 'pobre'; 107 A.D. ?) negavam a natureza divina de Cristo, e sustentavam que ele era apenas homem, quer concebido natural, quer sobrenaturalmente. Contudo, tal homem tinha uma relação peculiar com Deus, na qual, desde a época do batismo, uma plenitude desmedida do Espírito Divino repousava sobre ele. O ebionismo era simplesmente um judaísmo sob o disfarce da igreja cristã e a negação da divindade de Cristo ocasionada pela aparente incompatibilidade com o monoteísmo. Fürst (Léxico Hebraico) deriva o nome ebionita da palavra que significa 'pobre'; ver Is. 25.4 - "porque foste fortaleza do pobre"; Mt. 5.3 - "Bem-aventurados os pobres de espírito". Significa "almas opressas, piedosas". Epifânio as faz remontar aos cristãos que se refugiaram, 66 A.D., em Pela pouco antes da destruição de Jerusalém. Eles duraram até o quarto século. Dorner não atribui nenhuma época para a formulação da seita, nem atribui historicamente a liderança a qualquer pessoa. Não se tratava de um cristianismo judaico, mas uma divisão dele. Havia dois grupos de ebionitas: a) Os nazarenos, que defendiam o nascimento sobrenatural de Cristo, não iam além de admitir a hipóstase do Filho. Menciona-se que eles tinham o Evangelho segundo Mateus em Hebraico. b) Os de Cerinto, que punham o batismo de Cristo em lugar do seu nascimento sobrenatural, e faziam a filiação ética a causa da física. Segundo eles parece uma fábula que o Filho de Deus tivesse nascido de uma virgem. Não há nenhuma união pessoal entre o elemento divino e o humano em Cristo. Cristo, distinto de Jesus, não era somente uma força impessoal que desceu sobre Jesus, mas uma hipóstase preexistente acima das forças terrenas criadas. Os Ebionitas de Cerinto que, no todo, representam melhor
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o espírito do ebionismo, aproximavam-se do farisaísmo judaico e eram hostis aos escritos de Paulo. A Epístola aos Hebreus, de fato, pretende atacar uma tendência ebionita de valorizar excessivamente a lei e subestimar Cristo. Contudo, Em um ponto de vista completo, contudo, convém mencionar que: c) O Ebionismo Gnóstico dos pseudo-clementinos, que, com o fim de destruir a divindade de Cristo e salvar o assim chamado monoteísmo puro, da religião primitiva, abandonou até a melhor parte do Velho Testamento. Em todas as suas formas, o Ebionismo concebe Deus e o homem exteriores um ao outro. Deus não podia originar-se do homem. Cristo não passava de um profeta ou mestre, que, em recompensa da sua virtude, desde o tempo do batismo, era dotado do Espírito. Após a sua morte, foi elevado a condição de rei. Mas isto não justifica a adoração que a igreja lhe tributa. Um simples mediador nos separaria de Deus, ao invés de unir-nos a ele.
2. Docetistas (δοκέω - 'parecer', 'aparentar'; 70-170 A.D.) como a maioria dos gnósticos no século II e os maniqueístas no século III, negavam a realidade do corpo de Cristo. Este ponto de vista era a seqüência lógica da suposição de que o mal é inerente à matéria. Se a matéria é má e Cristo era puro, então o corpo humano de Cristo deve ter sido meramente fantástico. O docetismo era simplesmente uma filosofia paga introduzida na igreja. O gnóstico Basílides defendia um Cristo realmente humano, a quem o νους divino se uniu através do batismo; mas os seguidores de Basílides se tornaram docetistas. Para eles o corpo de Cristo era só aparente. Na verdade não tinha vida nem morte. Valentino tornou o Eon, Cristo, um corpo puramente pneumático e digno dele, passar pelo corpo da Virgem, como a água através do caniço, sem tomar para si nada da natureza humana através da qual ele passou; ou como o raio de luz através do vidro colorido que só dá à luz uma parte da sua sombra. A vida de Cristo é somente uma teofania. Os patripassianos e os sabelianos, que eram somente seitas do docetismo, negavam toda a humanidade real de Cristo. Mason, Faith of the Gospel, 141 - "Ele tece os espinhos da morte e da vergonha 'como uma vereda triunfal', cuja aspe-reza nunca sentiu. O seu desenvolvimento é
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apenas exterior e aparente. Não se lhe pode atribuir ignorância alguma em meio à onisciência de Deus". Shelley: "A sua forma mortal É como o vapor nebuloso Que o planeta do Oriente anima com a luz". O forte argumento contra o docetismo encontra-se em Hb. 2.14 - "Visto que os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas". O fato de que o docetismo apareceu bem cedo mostra a impressão que Cristo causou de ser um sobre-humano. Entre muitos dos gnósticos, a filosofia que fornece a base do seu docetismo é a apoteose do mundo. Deus não precisa tornar-se homem para ser essencialmente divino. Este ponto de vista e o erro oposto do já mencionado judaísmo mostram a sua insuficiência nas tentativas de combinar um com o outro, como na filosofia alexandrina.
3. Os Arianos (Ário, condenado em Nice, 325) negavam a integridade da natureza divina em Cristo. Eles consideravam o Logos que se uniu à humanidade em Cristo, não como possuído de divindade absoluta, mas como o primeiro e mais elevado dos seres criados. Este ponto de vista originou-se numa falsa interpretação dos relatos escriturísticos do estado de humilhação de Cristo e no equívoco da subordinação temporária com a desigualdade original e permanente. Dorner chama o arianismo uma reação contra o sabelianismo. Sabélio reduziu a encarnação de Cristo a um fenômeno temporário. Ário pensava acentuar a hipóstase do Filho e atribuir-lhe fixidez e substância. Mas, na sua mente, a realidade da filiação parecia requerer subordinação ao Pai. Orígenes pensava na subordinação do Filho ao Pai em conexão com a doutrina da geração eterna. Ário sustentava a subordinação e também a geração, mas esta, ele declarava que não podia ser eterna, mas limitada ao tempo.
4. Os Apolinaristas (Apolinário, condenado em Constantinopla, 381) negavam a integridade da natureza humana de Cristo. Segundo este ponto de vista, Cristo, de modo nenhum, tinha νους ou πνεύμα humanos além daquele concedido pela natureza divina. Cristo tinha só o σώμα e ψυχή humanos; o lugar do νους e do πνεύμα humanos foi preenchido
Teologia Sistemática (Strong) 1319 pelo Logos divino. O apolinarismo é uma tentativa de construir a doutrina da pessoa de Cristo nas formas da tricotomia platônica. Para que a divindade não parecesse um elemento estranho, quando acrescido a esta humanidade reduzida, Apolinário dizia que havia uma tendência eterna para o elemento humano no próprio Logos; que em Deus estava a verdadeira humanidade; que o Logos é o homem eterno, arquétipo. Mas não existe esta coisa de tornar-se homem - só há uma manifestação da carne da qual o Logos já era. Deste modo temos um Cristo de cabeça grande, mas com corpo de anão. Justino Mártir precedeu Apolinário neste ponto de vista. Ao opor-se a isto, os Pais da igreja diziam que, o que "o Filho de Deus não tomou para si, não o santificou" - το άπρόσληπτον και άΦεράπευτον. Dorner, Jahrbuch f. d. Theol., 1.397-408 - Na teoria ariana, a impossibilidade de unificar duas almas finitas conduziu finalmente à negação [apolinarista] da alma humana de Cristo. O pensamento de Apolinário é que o Verbo eterno uniu em si, não uma natureza completa, mas uma natureza animal irracional humana. Simon, Reconciliation, 329 - é quase apolinarista quando sustenta que o Logos encarnado era humano, mas não um homem. Ele constitui o homem, autolimitado, de modo a poder salvar aquele a quem deu a vida. Gore, Incarnation, 93 - "Apolinário sugere que o arquétipo da humanidade existe em Deus, que fez o homem à sua imagem, de modo que a natureza deste, em certo sentido, preexistia em Deus. O Filho de Deus é eternamente humano e pode preencher o lugar da mente humana em Cristo sem deixar de ser, em certo sentido, divino. ... A isto a igreja se opunha; o homem não é Deus e nem Deus um homem. O primeiro princípio do teísmo é de que a humanidade, no fundo, não é a mesma coisa que Deus. Este é um princípio intimamente ligado à responsabilidade do homem e à sua realidade. Estavam em jogo os interesses do teísmo".
5. Os Nestorianos (Nestório, exonerado do patriarcado de Constantinopla, 431) negavam a união real entre as naturezas divina e humana em Cristo, tornando-a mais uma unidade moral do que orgânica. Recusavam-se, portanto, a atribuir à unidade resultante os atributos de cada natureza e consideravam Cristo como um homem numa relação
Teologia Sistemática (Strong) 1320 bem próxima com Deus. Assim eles sustentavam virtualmente duas naturezas e duas pessoas ao invés de duas naturezas em uma pessoa. Nestório não gostava da expressão: "Maria, mãe de Deus". A declaração de Calcedônia declarava sua verdade, com o significativo acréscimo: "quanto à sua humanidade". Nestório fazia Cristo um templo de Deus. Ele cria na συνάφεια, mas não na ενωσις, - junção e moradia, mas não união absoluta. Ele se excedeu na analogia da união do crente com Cristo e separou tanto quanto pôde o elemento divino do humano. Neste ponto de vista as duas naturezas eram, άλλος και άλλος, em lugar de άλλο και άλλο que o constitui εις - uma pessoalidade. A união que ele aceitava é moral, e considera Cristo simplesmente Deus e homem, em vez de Deushomem. João Damasceno comparou a paixão de Cristo ao sentimento de uma árvore sobre a qual brilha o sol. O machado derruba a árvore, mas não danifica os raios solares. Assim os golpes desferidos contra a humanidade de Cristo não ferem a sua deidade; conquanto a carne sofra, a deidade permanece impassível. Contudo, esta não deixa nenhuma eficácia divina nos sofrimentos humanos e nenhuma união pessoal do elemento humano com o divino. O erro de Nestório surge de um nominalismo filosófico que se recusa a conceber a natureza sem a pessoalidade. Ele tão somente cria mais numa união local ou moral, como é a união matrimonial, em que os dois se tornam um; ou como o estado, que às vezes é chamado de uma pessoa moral, porque sua unidade se compõe de pessoas. "Não há necessidade alguma de um nascimento virginal, - para assegurar um pai sem pecado do mesmo modo que uma mãe também pura. O nestorianismo sustenta que não há encarnação real - só uma aliança entre Deus e o homem. Deus e o homem unem-se do mesmo modo que a formação das siamesas, Chang e Eng. Mas a encarnação não é apenas um grau mais elevado da união mística". Gore, Incarnation, 94 - Nestório adotou e popularizou a doutrina do famoso comentador Teodoro de Mopsuéstia. Mas o Cristo de Nestório era tão somente um homem deificado, não um Deus encarnado; ele era debaixo, não de cima. Se ele fosse exaltado até unir-se à essência divina, sua exaltação seria apenas a de um indivíduo".
Teologia Sistemática (Strong) 1321 6. Os Eutiquianos (Eutiques, condenado em Calcedônia, 451) negavam a distinção e coexistência das duas naturezas e defendiam uma mistura de ambas o que constituía um tertium quid, uma terceira natureza. Visto que neste caso o divino deve sobrepor o humano, seguese que o humano foi realmente absorvido ou transmudado no divino, apesar de que o divino não ficou sendo em todos respeitos o mesmo, após a união, que se deu anteriormente. Os eutiquianos foram chamados de monofisitas porque virtualmente reduziam as duas naturezas a uma. Eles eram uma escola alexandrina que incluía monges de Constantinopla e do Egito. Empregavam as palavras σύγχυσις, μεταβολή mescla, transformação - para descrever a união das duas naturezas de Cristo. A humanidade ligada à divindade era uma gota de mel mesclada ao oceano. Houve uma mudança em qualquer dos elementos, mas do mesmo modo que uma pedra atrai a terra, ou um meteorito, o sol ou, quando um barquinho empurra um navio, todo o movimento era virtualmente na parte do objeto menor. Deste modo a humanidade foi absorvida pela divindade, para desaparecer. Ilustrou-se a união com o elétron, um metal formado de prata e de ouro. Uma ilustração mais moderna seria a da união química de um ácido e um alcalino, para formar um sal diferente dos seus constituintes. Com efeito, esta teoria nega o elemento humano e, com isso, a possibilidade da expiação, da parte da natureza humana, assim como da união real do homem com Deus. Tal união mágica das duas naturezas, como Eutiques descreve, é inconsistente com qualquer homem digno da parte do Logos; a humanidade está bem próxima tanto do elemento ilusório como na teoria do docetismo. Mason, Faith of the Gospel, 140 - "Isto não só faz Deus, mas também a humanidade algo um tanto estranho - alguma natureza inominável, em posição intermédia - a fabulosa natureza de um semideus semi-humano", como o Centauro. O autor de "A Teologia Alemã" diz que "a natureza de Cristo era totalmente despojada se si mesma e não era nada mais que uma casa e habitação de Deus". Os místicos teriam personalidade humana de tal modo completa com o órgão da personalidade divina que podemos ser para Deus o que a mão é para o homem" e que "eu" e "meu" podem deixar de ter
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qualquer sentido. Ambos pontos de vista têm um sabor de eutiquianismo. Por outro lado, o unitário diz que Cristo é "simplesmente um homem". Mas não pode haver essa coisa de simples homem sem algo acima e além dele, autocentrado e automovimentado. O trinitário às vezes se declara crer que Cristo é Deus e homem, implicando dessa forma duas substâncias. O melhor é dizer que o Deus-homem manifesta todos os poderes divinos e qualidades de que todos os homens e toda a natureza são corpos parciais.
A futura pesquisa parece mostrar que a história esgotou as possibilidades de heresia e que as negações futuras da doutrina da pessoa de Cristo devem ser, na essência, formas dos pontos de vista já mencionados. Todas controvérsias com relação à pessoa de Cristo devem, necessariamente, girar em torno de três pontos: 1) a realidade das duas naturezas; 2) a integridade das duas naturezas; 3) a união das duas naturezas em uma só pessoa. O ebionismo e o docetismo negam a realidade das naturezas; o arianismo e o apolinarismo negam a sua integridade; o nestorianismo e o eutiquianismo negam a propriedade de sua união. Em oposição a todos esses erros, a doutrina ortodoxa tem a sua base e sustenta-a até hoje. Podemos aplicar a esta matéria o que o Dr. A. P. Peabody disse numa conexão diferente: "O cânon da infidelidade estava encerrado quase tão logo foi o das Escrituras" - os modernos descrentes têm, na maioria, repetido as objeções dos seus antigos predecessores. Brooks, Foundations of Zoology, 126 - "Como uma granada que deixou de explodir é recolhida em algum campo de batalha, por alguém sem experiência e que a faz explodir no seio de sua própria família, com resultados desastrosos, assim uma destas crenças abandonadas pode danificar a cabeça de alguma família intelectual para confusão daqueles que o seguem como líder".
7. A Doutrina Ortodoxa (promulgada em Calcedônia, 451) sustenta que na pessoa de Cristo há duas naturezas, uma humana e uma divina, cada uma em sua plenitude e integridade e que estas duas naturezas estão orgânica e indissoluvelmente unidas sem, contudo, resultarem daí uma
Teologia Sistemática (Strong) 1323 terceira natureza. Em resumo, para usar o dito antigo, a doutrina ortodoxa proíbe-nos tanto de dividir a pessoa como confundir as naturezas. Contudo, temos que demonstrar que esta doutrina é escriturística e racional. Podemos com mais facilidade por em ordem nossas provas reduzindo os três pontos mencionados a dois, a saber: 1) realidade e integridade das duas naturezas; 2) união das duas naturezas em uma só pessoa. A fórmula de Calcedônia é negativa, com exceção da sua declaração de um ενωσις υποστατική. Ela procede das naturezas e considera que o resultado da união é a pessoa. Considera-se cada uma das duas naturezas em movimento recíproco. O símbolo nada diz de uma άνυποστασία da natureza humana, nem diz que o Logos fornece o ego na personalidade. Contudo, João Damasceno adiantou-se a estas conclusões e Pedro Lombardo usou a sua obra, traduzida para o Latim, e estabeleceu os pontos de vista da igreja do Ocidente na Idade Média. Dorner considera que isto causou o surgimento da mariolatria, da invocação dos santos e da transubstanciação na Teologia da Igreja Católica Romana. Ver Philippi, Glaubenslehre, 4.189 ss.; Dorner, Penson Christ, 1.93-119 e Glaubenslehre, 2.320,328 (Syst. Doctrine, 3.216-223), em cuja última passagem pode-se encontrar valiosa matéria relativa aos mutantes empregos das palavras πρόσωπον, ύπόστασις, ουσία, etc. Gore, Incarnation, 96,101 -"Estas decisões tão somente expressam, numa nova forma, sem qualquer acréscimo substancial, o ensino apostólico apresentado no Novo Testamento. Expressam-no numa nova forma, tendo em vista a proteção dos propósitos do mesmo modo que a promulgação legal protege um princípio moral. São desenvolvimentos apenas no sentido de que representam o ensino apostólico elaborado em fórmulas com o auxílio de uma terminologia alimentada pela dialética grega. ... O que a igreja tomou emprestado ao pensamento grego é a sua terminologia, não a substância do seu credo. Mesmo com relação à sua terminologia devemos fazer uma importante ressalva; porque o cristianismo deu ênfase à pessoalidade de Deus e do homem com que o helenismo pouco se preocupou".
Teologia Sistemática (Strong) 1324 II. AS DUAS NATUREZAS DE CRISTO - SUA REALIDADE Ε INTEGRIDADE 1. A Humanidade de Cristo A) Sua Realidade. – Esta pode ser demonstrada da seguinte maneira: a) Ele expressamente chama-se a si mesmo e é chamado, "homem". Jo. 8.40 - "procurais matar-me a mim, homem que vos tem dito a verdade"; At. 2.22 - "Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós"; Rm. 5.15 - "de um só homem, Jesus Cristo"; 1 Co. 15.21 - "como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem"; 1 Tm. 2.5 - "um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem". Compare as genealogias em Mt. 1.1-17 e Le. 3.23-38; aquela prova que Jesus é de linhagem real e esta que pertence à linhagem natural de sucessão de Davi; aquela remonta sua linhagem a Abraão e esta a Adão. Cristo é, portanto, filho de Davi e tronco de Israel. Compare a expressão "Filho do homem", p. ex. em Mt. 20.28, a que, embora se acrescentem outros sentidos, sem dúvida indica a verdadeira humanidade de Jesus. Compare, finalmente, o termo "carne" (= natureza humana), aplicada a ele em João 1.14 - "e o Verbo se fez carne", e em 1 Jo. 4.2 - "todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus". "Jesus é o verdadeiro Filho do homem como proclamou ser. Isto implica que ele é o representante de toda a humanidade. Considere por um momento o que está implicado no fato de você ser homem. Quantos pais (pai e mãe) você teve? Você responde: Dois. Quantos avós? Quatro. Quantos bisavós? Oito. Quantos trisavôs? Dezesseis. O número de ancestrais aumenta à medida em que se recua e, se você tomar somente vinte gerações, vai contar mais de um milhão de progenitores. O nome Smith ou Jones, que você tem representa só uma linha de todos esses milhões; você pode ter qualquer outro nome; a sua existência é mais uma expressão da raça do que de qualquer família ou linhagem particular. O que é verdade com relação a você, também o é com relação ao Senhor Jesus, do lado humano. Todas as linhagens da nossa humanidade comum convergem para
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ele. Ele é o Filho do homem, muito mais do que o filho de Maria"; ver sermão de A. H. Strong no Congresso Batista em Londres.
b) Ele possuía os elementos essenciais da natureza humana de que se constituem atualmente - um corpo material e uma alma racional. Mt. 26.38 - "A minha alma está cheia de tristeza"; Jo. 11.33 - "moveuse muito em espírito"; Mt. 26.26 - "isto é o meu corpo"; Lc. 24.39 - "espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho"; Hb. 2.14 - "Visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas"; 1 Jo. 1.1 - "O que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida"; 4.2 - "todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus". Contudo, Cristo não era todos homens em um e não ilustrou o desenvolvimento de todas as forças humanas. O riso, a pintura, a literatura, o casamento - estes aspectos ele não invadiu. Não consideramos isto como ausência do homem ideal. A perfeição de Jesus é a do amor auto-limitado. Por nossa causa ele se santificou (Jo. 17.19), ou separou-se de muitas coisas que no homem comum teriam sido excelência e prazer. Tornou-se um exemplo para nós fazendo a vontade de Deus e refletindo o caráter de Deus em seu ambiente particular e em sua missão particular - a de Redentor do mundo. Moberly, Atonement and Personality, 86 - 105 - "Cristo não era apenas um homem entre os homens. Sua relação com a raça humana não é diferente por ser outro, mas idêntica às nossas. Sua relação com a raça não era uma relação diferenciadora mas consumadora. Ele não era homem de modo genérico mas inclusivo ... A única relação que poderia ser comparada a sua é a de Adão que era a humanidade em um sentido real ... O Espírito de Deus se torna, pela encarnação, o espírito do homem ... Se a humanidade de Cristo não fosse a humanidade do Divino, não seria uma relação inclusiva e consumidora, na qual ela se torna, de fato, para a humanidade de todos os outros homens ... O centro do ser de Cristo com o homem não era em si mesmo mas em Deus. ele era a expressão, pela reflexão da vontade, do Outro."
Teologia Sistemática (Strong) 1326 c) Ele era movido por princípios instintivos e exercia as forças ativas que pertencem a uma humanidade normal e desenvolvida (fome, sede, cansaço, sono, amor, compaixão, ira, ansiedade, temor, lamento, choro, oração). Mt. 4.2 - "depois teve fome"; Jo. 19.28 - "tenho sede"; 4.6 - "Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se junto da fonte"; Mt. 8.24 - "o barco era coberto pelas ondas; ele, porém, estava dormindo"; Mc. 10.21 - Έ Jesus, olhando para ele, o amou"; Mt. 9.36 - "E, vendo a multidão, teve grande compaixão deles"; Mc. 3.5 - "E olhando para eles, em redor, com indignação, condoendo-se da dureza do seu coração": Hb. 5.7 - "oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que podia livrar da morte"; Jo. 12.27 - "Agora, a minha alma está perturbada e, que direi eu? Pai, salvame desta hora"; 11.33 - "moveu-se muito em espírito"; 35 - "Jesus chorou"; Mt. 14.23 -"subiu ao monte para orar à parte"; Hb. 2.16 - "Porque, na verdade, não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão". O Prof. J. P. Silvernail, The Elocution of Jesus, encontra as seguintes indicações quanto à sua libertação. Caracterizava-se 1. Pela naturalidade (sentado, como em Cafarnaum); 2. Pela deliberação (cultiva a reação positiva da parte dos seus ouvintes); 3. Pela circunspecção (olhou para Pedro); 4. Pela ação dramática (a mulher apanhada em adultério); 5. Pelo autocontrôlé (autoridade, equilíbrio, sem gritaria, denúncia contra os escribas e fariseus). Tudo isto são manifestações de qualidades e virtudes verdadeiramente humanas. A Epístola de Tiago, irmão do nosso Senhor, com sua exaltação de uma vida mansa, tranqüila e santa pode ser um reflexo constante do caráter de Jesus, como tinha aparecido a Tiago durante os primeiros dias em Nazaré. Assim, a exclamação de João Batista, "Eu careço de ser batizado por ti" (Mt. 3.14) pode ser uma inferência do seu relacionamento com Jesus durante a infância e juventude.
d) Estava sujeito às leis ordinárias do desenvolvimento humano tanto no corpo como na alma (crescia e se fortalecia em espírito; interrogava; crescia em sabedoria e em estatura; aprendeu a obediência; sofreu sendo tentado; aperfeiçoou-se através do sofrimento).
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Lc. 2.40 - Ε o menino, crescia e se fortalecia, em espírito, cheio de sabedoria"; 46 - "assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os" (aqui, aos doze anos, aparece pela primeira vez tornandose plenamente consciente de que é o Enviado de Deus, o Filho de Deus; 49 - "Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?") 52 "crescia em sabedoria e em estatura"; Hb. 5.8 - 'aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu"; 2.18 -"naquilo que ele mesmo, sendo tentado, sofreu, pode socorrer aos que são tentados"; 10 — convinha que aquele ... consagrasse, pelas aflições, o Príncipe da salvação deles. Keble: "Não foi o nosso Senhor uma criancinha, ensinada aos poucos a orar pelo pai querido e pela compassiva mãe instruído dia a dia"? Adamson, The Mind in Christ - "Para Henry Drummond a cristandade foi a coroa da evolução do universo inteiro. O crescimento de Jesus em estatura e em graça diante de Deus e dos homens é uma miniatura do processo evolutivo de longa duração". Forrest, Christ of History and of Experience, 185 - "A encarnação do Filho não é a sua única revelação de Deus, mas a interpretação de todas as suas outras revelações de Deus à humanidade pecadora na natureza e história e experiência moral que tinham sido entenebrecidas pelo pecado. ... O Logos, encarnado ou não, é o τέλος assim como o αρχή da criação". Andrew Murray, Spirit of Christ, 26,27 - "Conquanto agora ele mesmo batizado, contudo, não pode batizar outros. Em primeiro lugar, ele deve, na força do seu batismo, enfrentar a tentação e vencê-la; deve aprender a obediência e suportá-la; através do Espírito eterno, oferecer-se como sacrifício a Deus e sua vontade; então só ele pode outra vez receber o Espírito Santo como recompensa da obediência, com o poder de batizar todos os que pertencem a ele"; ver At. 2.33 - "De sorte que, exaltado à direita de Deus e, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que agora vedes e ouvis".
e) Ele sofreu e morreu (transpirou sangue; rendeu o espírito; seu flanco foi cravado e dele saíram sangue e água). Lc. 22.44 - Έ, posto em agonia, orava mais intensamente. Ε ο seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue que corriam até ao chão"; Jo. 19.30-
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"E, inclinando a cabeça, entregou o espírito"; 34 - "um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água"; Stroud sustentava que a causa física da morte do nosso Senhor foi a prova de que Jesus morreu com o coração partido. Anselmo, Cur Deus homo, 1.9-19 - "Já se disse que o Senhor crescia em sabedoria e em graça para com Deus, não porque isto era assim, mas porque ele agia como se assim fosse. Assim foi exaltado depois da morte, como se esta exaltação fosse por causa da morte". Podemos, entretanto, replicar: Resolva todos os sinais da humanidade pela simples aparência, e você perde a natureza divina assim como a humana; porque Deus é verdade e não pode produzir a mentira. O bebê, a criança e até mesmo o homem, em certos respeitos, é ignorante. O menino Jesus não estava fazendo cruzes, como no quadro de Overbeck, mas jugos e arados, como relata Justino Mártir - trabalhando como verdadeiro aprendiz na profissão de José: Mc. 6.3 - "Não é este o carpinteiro, o filho de Maria"? Ver o quadro de Holman Hunt, The Shadow of the Cross - no qual, não Jesus, mas só Maria vê a sombra da cruz na parede. Ele viveu uma vida de fé, assim como de oração (Hb. 12.2 - "Jesus, autor (capitão, príncipe) e aperfeiçoador da nossa fé"), dependente da Escritura, o que era muito, como o SI. 16 e o 118 e Is. 49, 50, 61 escritos para ele e a respeito dele. Ver Parks, Discourses, 297-327; Deutsch, Remains, 131-0 mais transcendental vôo do Talmude é este dito: Deus ora' ". Na humanidade de Cristo, unida como está à divindade, temos a verdadeira resposta a esta peça poética do Talmude.
B) Sua Integridade. Empregamos aqui o termo 'integridade' para significar, não a mera plenitude, mas a perfeição. O que é perfeito é, α fortiori, completo em todas as suas partes. A natureza humana de Cristo era: a) Sobrenaturalmente concebida; visto que a negação de sua concepção sobrenatural envolve, ou uma negação da pureza de Maria, sua mãe, ou a negação da veracidade das narrativas de Mateus e de Lucas.
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Lc. 1.34,35 - "E Maria disse ao anjo: Como se fará isso, visto que não conheço varão? E, respondendo, o anjo disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra". A semente da mulher (Gn. 3.15) não tinha pai terreno. "Eva" = vida, não só por ser a fonte da vida física da raça, mas também por trazer ao mundo aquele que devia ser a sua vida espiritual. Julius Müller, Proof-Texts, 29 - Jesus Cristo "não tinha de modo nenhum um pai terreno; seu nascimento foi um ato criativo de Deus, rompendo as cadeias da geração humana". Dorner, Glaubenslere, 2.447 (Doutrina Sistemática, 3.345) - "A nova ciência reconhece os múltiplos métodos de programa e em uma mesma espécie". O Prof. Loeb achava que o ovo não fertilizado do ouriço do mar pode ser feito por tratamento químico a fim de produzir um novo mais econômico e acha provável que se pode obter o mesmo efeito entre os mamíferos. Deste modo, coloca-se entre as possibilidades científicas a partenogênese na mais elevada ordem da vida. Romanes, mesmo quando agnóstico, afirmava que o nascimento virginal até na raça humana, de modo nenhum devia estar no nível das possibilidades; ver sua obra Darwin depois de Darwin, 119, no rodapé - "Mesmo que uma virgem tivesse concebido e dado à luz um filho, mesmo que tal fato na espécie humana tivesse sido único, provocaria um precedente na continuidade psicológica". Só um novo impulso da parte do Criador poderia salvar o Redentor das longas fatalidades ocorrentes na geração humana. Mas a nova criação da humanidade em Cristo é cientificamente tão possível como a primeira criação em Adão; e em ambos os casos não pode ter havido nenhuma violação da lei natural, mas apenas a única revelação das suas possibilidades. Ό nascimento a partir de uma virgem pode tornar claro que algo novo estava ocorrendo na terra e que se tratava de alguém que não era um simples homem vindo ao mundo". A.B. Bruce: Ό naturalismo integral exclui a vida virginal bem como o nascimento virginal". Paul Lobstein, Incarnation of our Lord, 217 - Aquilo que é desconhecido aos ensinos de S. Pedro e S. Paulo, S. João e S. Tiago, e do próprio nosso Senhor e está ausente dos mais antigos e dos mais tardios evangelhos, não pode ser tão essencial como tantas pessoas têm suposto". Este argumento do silêncio é suficientemente encarado pelas considerações de que Marcos passou mais de trinta anos da vida de nosso Senhor em silêncio; que João
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pressupõe as narrativas de Mateus e de Lucas; que Paulo não trata da história da vida de Jesus. Os fatos eram conhecidos a princípio só por Maria e José; a própria natureza deles envolve reticência até que Jesus foi demonstrado ser "Filho de Deus em poder, pela ressurreição dos mortos" (Rm. 1.4); nesse tempo o desenvolvimento natural de Jesus e sua recusa de estabelecer um reino terreno pode ter feito os eventos miraculosos de trinta anos atrás parecerem a Maria um sonho maravilhoso; por esse motivo, só gradualmente o conto maravilhoso da mãe do Senhor achou seu destino na tradição do evangelho e dos credos da igreja e no íntimo do coração dos cristãos do mundo todo. Cooke, sobre The Virgin Birth of our Lord, Revista Metodista, nov. 1904.849-857 - "Se há uma nódoa moral na raça humana, se no próprio sangue e constituição da humanidade há uma inerradicável tendência para o pecado, então é totalmente inconcebível que alguém que nasceu na raça por processo natural escape à nódoa da raça. E, por fim, se o nascimento virginal não é histórico, então uma dificuldade maior que qualquer crítica destrutiva, resultante da evolução de documentos, interpolações, improbabilidades psicológicas e contradições inconscientes depara com a razão e transtorna todos os longos resultados da observação científica; que um pecaminoso e que peca deliberadamente e o casal descasado teriam dado a vida para o mais puro ser humano que jamais viveu ou com quem jamais a raça humana sonhou, e que, conhecendo e perdoando os pecados dos outros, nunca conheceu a vergonha da sua própria origem".
b) Livre tanto da depravação hereditária como do verdadeiro pecado; como se demonstra do fato de nunca ter oferecido sacrifício, ou nunca orar pelo perdão, ensinando que todos, a não ser ele, necessitavam do novo nascimento, desafiava todos a argüi-lo de um só pecado. Freqüentemente Jesus subia ao templo, mas nunca ofereceu sacrifício. Ele orava: "Pai, perdoa-lhes" (Lc. 23.34); mas nunca orou: "Pai, perdoa-me". Ele dizia: "Necessário vos é nascer de novo" (Jo. 3.7); mas tais palavras indicam que ele não tinha tal necessidade. "Em nenhum momento em toda aquela vida nem um só pormenor foi alterado, a não ser para pior". Ele não só rendeu-se à vontade de Deus quando passou a conhecê-la, mas buscou-
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a: "não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai, que me enviou" (Jo. 5.30). A ira que ele mostrou não era apaixonada, ou egoística, ou vindicativa, mas a indignação da justiça contra a hipocrisia e crueldade indignação acompanhada de mágoa: "olhando para eles com indignação, condoeu-se da dureza do seu coração (Mc. 3.5). F. W. H. Myers, St. Paul, 19,53 - "Tu, com oração forte e com muitíssima insistência Serás interrogado, e responderás, Mostra o coração oculto pulsando sob a criação, Sorri com teus olhos bondosos e sê humano para com os homens. ... Sim, durante a vida inteira, nos momentos de tristeza e no pecar, ele me bastará, ele me bastou: Cristo é o fim, pois Cristo foi o começo, Cristo o começo, porque o fim é Cristo". Nenhuma experiência pessoal de pecado, mas resistência a este, capacita-nos a libertar-nos. Lc. 1.35 - "pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus"; Jo. 8.46 - "Quem de vós me convence de pecado?" 14.30 - "aproxima-se o príncipe deste mundo e nada tem em mim" = a mais insignificante inclinação má na qual a sua tentação pode apoiar-se; Rm. 8.3 - "à semelhança da carne do pecado" = na carne, mas sem o pecado que nos outros homens se apega à carne; 2 Co. 5.21 - "Àquele que não conheceu pecado"; Hb. 4.15 - "em tudo foi tentado, mas sem pecado"; 7.26 - "santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores" - pelo fato de sua concepção imaculada; 9.14 - "pelo Espírito eterno, ofereceu a si mesmo imaculado a Deus"; 1 Pe. 1.19 - "com o precioso sangue de Cristo, como cordeiro imaculado incontaminado" 2.22 - "o qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano"; 1 Jo. 3.5,7 - "nele não há pecado ... ele é justo". Julius Müller, Proof-Texts, 29 - "Se Cristo só tivesse natureza humana, não poderia ter sido sem pecado. Mas a vida tira da parte putrefata matéria para o seu próprio viver. A vida divina apropria a humana". Dorner, Glaubenslehre, 2.446 (Syst. Doctrine, 3.344) - "O que a regeneração é para nós, para Deus é a encarnação". Nesta origem da impecaminosidade de Jesus por causa da sua união com Deus, vemos o absurdo tanto doutrinário com prático de falar em uma concepção imaculada da Virgem e de fazer a sua impecaminosidade preceder à do seu filho. Sobre a doutrina Católica Romana, ver H. B. Smith, System, 389-392; Mason, Faith of the Gospel, 129-131 - "Ela faz a regeneração da humanidade começar, não com Cristo,
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mas com a Virgem. Ela quebra a conexão com a raça. Em vez de a pecaminosidade brotar da raça pecaminosa, deriva sua humanidade de algo não semelhante ao resto da humanidade". Tomás Aquino e Liguori, ambos chamam Maria rainha da misericórdia e seu filho Jesus, o Rei da Justiça. Bradford, Heredity, 289 - "A Igreja Romana fez quase uma apoteose de Maria; mas não é bom esquecer que o processo começou com Jesus. Do que ele era tirou-se uma inferência sobre o que sua mãe deve ter sido". "Cristo assumiu a natureza humana de tal modo que esta, sem pecado, arcou com as conseqüências do pecado". Essa parte da natureza humana que o Logos assumiu na união com ele mesmo é instantânea e, pelo fato de assumi-la, purificou-a de toda a depravação inerente. Mas, se em Cristo não há nenhum pecado, ou tendência para pecar, como poderia ele ser tentado? Do mesmo modo respondemos que Adão foi tentado. Cristo não era onisciente: Mc. 13.32 - "daquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai". Só no fim da primeira tentação Jesus reconhece Satanás como o adversário das almas: Mt. 4.10 - "vai-te, Satanás". Jesus pôde ser tentado não só porque não era onisciente, mas porque também tinha a mais aguda suscetibilidade às formas do desejo inocente. Para tais desejos a tentação pode apelar. O pecado não consiste nestes desejos, mas na gratificação deles sem a ordem de Deus e contrárias à sua vontade. Meyer: "A cobiça é um apetite descontrolado. Não há prejuízo nenhum em qualquer apetite natural, considerado em si. Mas o apetite foi prejudicado pela queda". Foi assim que Satanás apelou (Mt. 4.1-11) para o desejo do nosso Senhor alimentar-se, obter aplauso, ou auferir poder: Ueberglaube, Aberglaube, Unglaube" (Kurtz); cf. Mt. 26.39; 27.42; 26.53. Toda tentação deve dirigir-se ou ao desejo, ou ao medo; desse modo é que Cristo "em tudo foi tentado, mas sem pecado" (Hb. 4.15). A primeira tentação no deserto apelou para o desejo; a segunda, no horto, para o medo. Após a primeira tentação, Satanás "ausentou-se dele por algum tempo" (Lc. 4.13); porém voltou, no Getsêmani - "porque se aproxima o príncipe deste mundo e nada tem em mim" (Jo. 14.30) - se fosse possível para destruir a obra de Jesus, levantando dentro dele grandes e agonizantes temores do sofrimento e morte que se deparavam à sua frente. Contudo, tanto do desejo como do medo de que a sua alma estava movida, ele era "sem pecado" (Hb. 4.15). A
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árvore à beira do precipício ferozmente é açoitada pelos ventos; tremenda é a pressão sobre as suas raízes, mas estas se mantêm firmes. Mesmo no Getsêmani e no Calvário nunca Cristo orou pedindo perdão para si, mas para os outros.
c) Natureza humana ideal, - fornecendo o padrão moral que o homem progressivamente deve alcançar, apesar de que dentro dos limites do conhecimento e da atividade requerida por sua vocação como Redentor do mundo. Sl. 8.4-8 - "Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória de honra o coroaste". 1 Co. 15.45 - Ό primeiro ... Adão ... o último Adão" - implica que o segundo Adão realizou o pleno conceito da humanidade que deixou de ser realizado no primeiro Adão; é o que aparece no v. 49 "assim, como trouxemos a imagem do [homem] terreno". 2 Co. 3.18 - "a glória do Senhor" é o padrão em cuja semelhança fomos transformados. Fp. 3.21 - "que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso"; Cl. 1.18 - "para que em tudo tenha a preeminência"; 1 Pe. 2.21 - "sofreu em vosso lugar, deixando-vos o exemplo, para seguirdes os seus passos"; 1 Jo. 3.3 - "Qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro". A expressão "filho do homem" (Jo. 5.27), cf. Dn. 7.13, Com. de Pusey, in loco, e Westcott, Bibl. Com. sobre João 32-35 parece sugerir que Cristo responde à idéia perfeita da humanidade, como existia no princípio na mente divina. Não que ele fosse infinitamente belo na forma física; porque o único meio de conciliar as aparentes indicações conflitantes é supor que a respeito de todas exterioridades ele assumiu a média da humanidade aparentando ao mesmo tempo sem forma ou graça (Is. 52.2), com idade anterior ao seu tempo (Jo. 8.57 - "Ainda não tens cinqüenta anos"), em outra ocasião revelando tanto da sua graça interior e glória que os seres humanos foram atraídos e sentiram pavor (SI. 45.2 - "Tu és mais formoso do que os filhos dos homens"; Lc. 4.22 - "as palavras de graça que saíam da sua boca"; Mc. 10.32 - "Jesus ia adiante deles. Ε eles maravilhavam-se e seguiam-no atemorizados"; Mt. 17.1-8 narrativa da transfiguração). Compare os quadros bizantinos de Cristo com os dos pintores italianos, - aqueles ascéticos e
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macilentos; estes de boa aparência física. Os quadros modernos fazem Jesus excessivamente judeu. Contudo, há um certo elemento de verdade nas palavras de Mozoom-dar: "Jesus era oriental e nós, ocidentais o entendemos. Ele falava através de linguagem figurada. Nós o entendemos. Ele era místico. Você o toma literalmente; você faz dele um inglês". Do mesmo modo os cristãos japoneses não engolem o sistema ocidental de teologia porque dizem que isto seria deprimente para o mundo segundo o ponto de vista que o japonês tem a respeito de Cristo. Mas com referência a todo elemento espiritual Cristo era perfeito. Nele se unem todas as excelências de ambos os sexos, de todos os temperamentos e nacionalidades e caracteres. Ele não só possui a inocência passiva, mas também a santidade positiva e absoluta, que triunfa na tentação. Em si ele engloba todos os objetivos e razões para o sentimento e adoração; de sorte que, ao amá-lo, "o amor nunca é demasiado". Portanto, não é a nossa natureza humana, mas a natureza humana de Cristo que é a verdadeira base da ética e da teologia. Esta ausência de estreita individualidade, este ideal, a humanidade universal, não podem ter sido garantidas simplesmente pelas leis da propagação; ela é garantida pela milagrosa concepção. Seth, Ethical Principles, 420 - "O segredo da força do ideal moral é a convicção de que ele leva consigo não um simples ideal, mas a expressão da suprema Realidade". Bowne, Theory of Thought and Knowledge, 364 – "O a priori só esboça um possível, e não determina o que será real dentro dos limites do possível. Se a experiência é possível, deve assumir certas formas, mas estas são compatíveis com uma variedade infinita de experiência". Nem uma verdade ou ideal a priori pode garantir o cristianismo. Queremos uma base histórica, um Cristo real, uma realização do ideal divino. "Os grandes homens", diz Amiel, "são os verdadeiros homens". Sim, acrescentamos, mas não somente Cristo, o maior homem, mostra o que é o verdadeiro homem. A perfeição celestial de Jesus revela-nos a grandeza do nosso possível ser, enquanto revela ao mesmo tempo deficiência infinita e a fonte donde deve vir toda a restauração. Gore, Incarnation, 168 - Jesus Cristo é o homem católico. Em certo sentido, os maiores homens têm transcendido os limites do seu tempo. Os
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verdadeiramente grandes têm todos uma idade, e a partir de um espaço visível derramam a sua influência. Tanto no poder como nos atos são permanentes, e o tempo não está com eles, mas trabalha para eles e eles no tempo'. Mas em um único sentido a humanidade de Jesus é católica; porque é isenta, não das limitações que tornam estreita e isolada a nossa humanidade simplesmente local e nacional". Dale, Ephesians, 42 - Cristo é um servo e algo mais. Há uma tranqüilidade, uma liberdade, uma graça, sobre a sua prática da vontade de Deus, que pertence apenas a um Filho. ... Nada há de constrangimento. ... Para isso ele nasceu.... Ele faz a vontade de Deus como um filho faz a vontade de seu pai, naturalmente, quase sem pensar. ... Nenhuma irreverente familiaridade sobre a comunhão com o Pai, mas nenhum traço de medo, ou mesmo de estranheza. ... Os profetas caíram por terra quando a glória divina lhes foi revelada, mas Cristo permanece calmo e firme. Um sujeito pode perder a posse de si mesmo na presença do seu príncipe, mas um filho não". Mason, Faith of the Gospel, 148 - Ό que em certa ocasião ele havia percebido, daí em diante conheceu. Ele não tinha nenhuma opinião, nenhuma conjectura; nunca ouvimos dizer que ele esqueceu, nem mesmo que ele lembrou, o que implicaria um grau de esquecimento; nunca ouvimos dizer que ele chegou a verdades pelo processo de raciocínio; mas ele raciocina a partir de outras. Não se registra que ele tomou conselho ou formou planos; mas ele quis, propôs e fez uma coisa com vistas a outra".
d) Natureza humana que encontrou sua pessoalidade só na união com a natureza divina, - em outras palavras, uma natureza humana impessoal, no sentido de que ele não tinha nenhuma pessoalidade separada da natureza divina e anterior à sua união com ela. Impessoalidade da natureza humana de Cristo é somente aquilo que não tem pessoalidade antes que ele a assumisse, nem antes da sua união com a divina. É a natureza humana cujo conhecimento e cuja vontade só se desenvolveram na união com a pessoalidade do Logos. É por isso que os Pais rejeitaram a palavra ήνυποστασία, e substituíram-na por ένυποστασία, eles não favoreciam a não pessoalidade, mas a intro-pessoalidade. Em termos ainda mais claros, o Logos não assumiu a união consigo mesmo de
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uma pessoa humana já desenvolvida, como Tiago, Pedro, ou João, mas a natureza humana antes que ela se tivesse tornado pessoal ou capaz de receber um nome. Ela alcançou a sua pessoalidade só na união com a natureza divina. Pelo que vemos em Cristo não duas pessoas - uma humana e outra divina -mas uma pessoa, e que possui uma natureza humana assim como divina. Mason, Faith of the Gospel, 136 - "Não contamos nenhum defeito em nosso corpo que não tenha nenhuma subsistência pessoal separada de nós mesmos e que, se separada de nós, não é nada. Ela participa de uma vida verdadeiramente pessoal porque nós, cujos corpos elas possuem, somos pessoas. O que lhes acontece a nós". Do mesmo modo, a pessoalidade do Logos fornece o princípio organizador da dupla natureza de Jesus. Quando ele faz uma retrospectiva, vê a si mesmo habitando na eternidade com Deus no que se refere à natureza divina. Porém com respeito à sua humanidade nunca foi eterno; teve o seu começo no tempo. Contudo, a sua humanidade nunca teve uma existência pessoal separada; sua pessoalidade só se desenvolveu em conexão com a natureza divina. Göschel, citado em Dorner, Person Christ, 5.170 - "Cristo é humanidade; nós a temos; ele a é inteiramente; nós participamos dela. Sua pessoalidade precede e se encontra na base da pessoalidade da raça e de seus indivíduos. Como idéia, ele se encontra implantado na humanidade toda; ele se encontra na base de cada consciência humana, sem, contudo, atingir a realização em um indivíduo; porque isto só é possível em toda a raça nos fins dos tempos". Emma Marie Caillard, Man in the Light of Evolution, Revista Contemporânea, dez. 1893. 873-881 - "Cristo não é apenas o objetivo com o qual a raça que deve conformar-se, mas é também o princípio vital que molda cada indivíduo à similitude da própria raça. Potencialmente existe o tipo perfeito através de todos os estágios intermediários pelos quais progressivamente se aproxima e, se não existe, nenhum deles também pode existir. Não pode haver desenvolvimento se não houver vida. Cristo, o tipo perfeito da humanidade é o objetivo da evolução do homem. Ele existe e potencialmente sempre existiu na raça e no indivíduo tanto antes como depois da encarnação visível, de igual modo em milhões daqueles que não levam o seu nome, assim como daqueles que o levam. No sentido mais estrito das palavras, ele é a vida do homem e este é o sentido muito mais
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profundo e mais significativo que se pode dizer da vida do universo". Dale, Christian Fellowship, 159 - "A encarnação de Cristo não é uma maravilha isolada e anormal. É a testemunha divina da relação verdadeira e ideal de todos os homens com Deus". A encarnação não é um evento separado do Verbo "cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade" (Mq. 5.2).
e) Natureza humana germinal e capaz de autocomunicação, constituindo-o assim o cabeça espiritual e começo de uma nova raça de que o homem decaído individual e coletivamente deriva a vida nova e santa. Em Is. 9.6, Cristo é chamado Pai da eternidade". Em Is. 53.10, se diz que "ele verá a sua posteridade". Em Ap. 22.16 ele chama a si mesmo "a raiz" assim como "geração de Davi". Ver também Jo. 5.21 - "assim também o Filho vivifica aqueles que quer"; 15.1 - "eu sou a videira verdadeira" - cujas raízes não estão plantadas na terra, mas no céu; o vinhateiro de cujo tronco deve proceder a nova vida da humanidade e a quem os ramos meio secos da velha humanidade devem ser enxertados para que tenham a vida divina. Ver Trench, Sermão sobre Cristo a Videira Verdadeira, Hulsean Lectures. Jo. 17.2 - "deste-lhe poder sobre toda carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste"; 1 Co. 15.45 - "o último (foi feito) espírito vivificante" - não se trata aqui do Espírito Santo, nem da natureza divina de Cristo, mas do "ego da sua total pessoalidade divino-humana". Ef. 5.23 - "como também Cristo é a cabeça da igreja" = cabeça à qual estão unidos todos os membros e da qual a vida e o poder derivam. Cristo chama os discípulos "filhinhos" (Jo. 13.33); quando os deixa chama-os "órfãos" (14.18). "Ele a si mesmo apresenta-se como pai e não menos que irmão" (20.17 - "meus irmãos"; cf. Hb. 2.11 - "irmãos", e 13 - "Eis-me aqui a mim e aos filhos que Deus me deu"). A nova raça se propaga conforme a analogia antiga; o primeiro Adão é a fonte da vida física; o segundo Adão, da espiritual; o primeiro Adão é a fonte da corrupção; o segundo, da santidade. Daí Jo. 12.24 - "se morrer, dá muito fruto"; Mt. 10.37 e Lc. 14.26 - "Quem ama o pai, ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim" = ninguém, que prefere seus velhos ascendentes à sua nova descendência e
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parentesco espiritual, é digno de mim. Por isso Jesus não é somente a mais nobre encarnação da velha humanidade, mas também a fonte e início de uma nova, a nova fonte da vida da raça. Cf. 1 Tm. 2.15 - "salvar-se-á, porém dando à luz filhos" - o que trouxe Cristo ao mundo. Lightfoot, Cl. 1.18 - "que é o princípio e o primogênito dentre os mortos" - "Aqui αρχή = 1. prioridade no tempo. Cristo foi feito primícias dentre os mortos (1 Co. 15.20,23); 2. a força originadora, não somente o principium principatum, mas também o principium principians. Como ele é o primeiro com relação ao universo, assim torna-se o primeiro com relação à igreja; cf. Hb. 7.15,16 - "outro sacerdote que não foi feito segundo a lei do mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível". Paulo ensina que "Cristo é a cabeça de cada homem" (1 Co. 11.3), e que "nele habita corporal-mente toda a plenitude da divindade" (Cl. 2.9). Whiton, Gloria Patri, 88-92, assinala sobre Ef. 1.10, que o propósito de Deus é "congregar em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus, como as que estão na terra" - para trazer todas as coisas a um cabeça (άνακεφαλαιώσασθαι). A história é a perpetuamente crescente encarnação da vida, cujo clímax e coroa é a plenitude divina da vida de Cristo. Nele a filiação do mundo outrora inconsciente desperta para a consciência do Pai. É ele o mais digno de ostentar o nome de Filho de Deus, com prééminente, mas não exclusivo direito. Concordamos com estas palavras de Whiton, desde que signifiquem que Cristo é o único doador da vida ao homem e o único doador da vida ao universo. Por isso Cristo é a única autoridade máxima na religião. Ele se revela na natureza, no homem, na história, na Escritura, mas cada um deles é um espelho que o reflete em nós. Em cada caso o espelho é ou mais ou menos borrado e a imagem obscurecida, embora apareça, não obstante, no espelho. O espelho é inútil se não houver um olho para contemplá-lo e um objeto para ser visto nele. O Espírito Santo dá a visão enquanto o próprio Cristo, vivo e presente, fornece o objetivo (Tg. 1.23-25; 2 Co. 3. 18; 1 Co. 13.12). Do outro lado da humanidade está a cristandade; do outro lado da raça decaída e pecaminosa está a nova raça criada pela introdução e morada de Cristo. Por isso, só quando ele ascendeu com a perfeita humanidade pôde
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enviar o Espírito Santo porque este, que torna o homem filho de Deus, é o Espírito de Cristo. Agora a humanidade de Cristo, em virtude da sua união com a divindade, tornou-se universalmente comunicável. É tão consoante com a evolução derivar os dons espirituais do segundo Adão, fonte solitária, como derivar o homem natural do primeiro Adão, também fonte solitária. Simon, Reconciliation, 308 - "Todo homem, no sentido, tem a natureza divina-como ensina Paulo, -θείον γένος (At. 17.29). ... É como se, no centro, estivesse enfaixado com várias voltas, e depois na forma de um bulbo, discerníssemos a viva chama divina, imprimindo em nós, qualitativa, para não dizer quantitativamente, da mesma forma absoluta que o grande sol ao qual ela pertence". A idéia de verdade, beleza, justiça tem em si uma qualidade absoluta e divina. Ela vem de Deus, embora das profundezas da nossa própria natureza. É a evidência de que Cristo, "a luz que alumia a todo homem" (Jo. 1.9), está presente e opera em nós. Pfleiderer, Philos. Religion, 1..272 - "Que a idéia divina do homem como ‘O filho do seu amor’ (Cl. 1.13) e da humanidade como o Reino deste Filho de Deus, é a causa final imanente de toda existência e desenvolvimento mesmo antes do mundo da natureza, este têm sido o pensamento fundamental da gnose cristã desde a era apostólica e penso que nenhuma filosofia ainda foi capaz de abalar ou ultrapassar tal pensamento - a pedra angular do ponto de vista idealista do mundo". Porém Mead, O Lugar de Ritschl na História da Doutrina, 10, diz a respeito de Pfleiderer e de Ritschl: "Ambos reconhecem Cristo moralmente perfeito e o cabeça da Igreja Cristã. Ambos negam a sua preexistência e essência divina. Ambos rejeitam a concepção tradicional de Cristo como o Redentor. Ritschl chama Cristo de Deus, embora inconsistentemente; Pfleiderer abre mão de dizer uma coisa quando parece significar outra".
As passagens aqui mencionadas refutam abundantemente a negação docetista do verdadeiro corpo humano de Cristo e a negação apolinarista da verdadeira alma humana de Cristo. Mais do que isto, estabelecem a realidade e a integridade da natureza humana de Cristo, possuída de todos elementos, faculdades e forças essenciais à humanidade.
Teologia Sistemática (Strong) 2. A Divindade de Cristo
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A realidade e integridade da natureza divina de Cristo foi suficientemente provada em um capítulo anterior. Precisamos apenas fazer referência à evidência dada de que, durante o ministério terreno, Cristo: a) Possuía conhecimento de sua divindade. Jo. 3.13 - "o Filho do Homem, que está no céu" - passagem que indica claramente a consciência de Cristo, pelo menos em certas épocas da sua vida terrena, de que ele não estava confinado à terra, mas também estava no céu [apesar de que aqui, Westcott e Hort, juntamente com κ e B, omitem ό ών έν τω ούρανω; na defesa da leitura comum ver Broadus, Hovey's Com. On Jo. 3.13]; 8.58 - "antes que Abraão existisse eu sou" - aqui Jesus declara que há um sentido em que a idéia de nascimento e de começo não se aplicam a ele, mas na qual ele pode aplicar a si o nome "eu sou" do Deus eterno: 14.9,10 - "Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?" Adamson, The Mind of Christ, 24-49, dá os seguintes exemplos do conhecimento sobrenatural de Jesus: 1. O conhecimento que Jesus tinha de Pedro (Jo. 1.42); 2. a sua descoberta de Filipe (1.43); 3. seu reconhecimento de Natanael (1.47-50); 4. a mulher samaritana (4.17-19,39); 5. as pescas maravilhosas (Lc. 5.6-9; Jo. 21.6); 6. a morte de Lázaro (Jo. 11.14) 7. o jumentinho; 8. o cenáculo (Mc. 14.15); 9. a negação de Pedro (Mt. 26.34); 10. a forma como ele morreria (Jo. 12.33; 18.32); 11. a forma como Pedro morreria (Jo. 21.19); 12. a queda de Jerusalém (Mt. 24.2). Jesus não diz "nosso Pai", mas "meu Pai" (Jo. 20.17). A rejeição dele é pecado maior que a rejeição dos profetas porque ele é o "filho amado" de Deus (Lc. 20.13). Ele conhece, melhor do que os anjos, os propósitos de Deus, porque ele é o seu Filho (Mc. 13.32). Como Filho de Deus, só ele conhece, e só ele pode revelar o Pai (Mt. 11.27). Há algo mais claro na sua filiação do que na dos seus discípulos (Jo. 1.14 - "unigênito"; Hb. 1.6 "primogênito").
Teologia Sistemática (Strong) b) Exercia poderes e prerrogativas divinos.
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Jo. 2.24,25 - "Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem"; 18.4 - "Sabendo Jesus todas as coisas, que sobre ele haviam de vir, adiantou-se"; Mc. 4.39 - Έ ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Cala-te. Ε o vento se aquietou e houve grande bonança"; Mt. 9.6 - "Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados - disse ao paralítico: Levanta-te, toma a tua cama e vai para a tua casa"; Mc. 2.7 - "Porque diz este blasfêmias? Quem pode perdoar pecados senão Deus?" Não basta, como Alexandre Severo, guardar o busto de Cristo, numa capela particular, do mesmo modo que um Virgílio, um Orfeu, um Apolônio e outras pessoas da mesma valia; ver Gibbon, Decline and Fall, cap. XVI. "Cristo é tudo em todos. Na história árabe, o príncipe tomou de uma casca de noz a miniatura de uma tenda que se ampliou a ponto primeiro de cobri-lo e, depois o seu palácio e, depois o seu exercito e, por fim, todo o seu reino. Do mesmo modo o ser de Cristo e sua autoridade ampliam-se quando os refletimos até que eles sejam levados, não só para dentro de nós, dos nossos lares e do nosso país, mas do mundo todo formado de homens pecadores e sofredores e de todo o universo de Deus". Matheson, Voices of the Spirit, 39 - "Que lei é essa que eu chamo de gravitação, mas o sinal do Filho do homem no céu? É o evangelho da autorendição na natureza. É a incapacidade de qualquer mundo ser o seu próprio centro, a necessidade de cada mundo centrar-se em algo mais. ... No firma-mento, assim como na terra, os muitos tornam-se um ao darem-se como exemplo de muitos". O mais sutil pensamento falhará e faltará o aprendizado; as igrejas mudam, as formas deixam de existir, os sistemas passam; Mas as nossas necessidades humanas, não se alterarão, Cristo jamais se modificará. Sim, amém, Ó imutável, só tu és o guia da vida e a meta espiritual; Tu, que és a luz no vale escuro, Tu que és o ancoradouro da alma".
Teologia Sistemática (Strong) 1342 Mas isto significa, em outras palavras, que havia, em Cristo, um conhecimento e uma força tais que pertencem só a Deus. As passagens citadas fornecem uma refutação tanto para a negação ebionita da realidade como para a negação da integridade por parte dos arianos sobre a natureza divina de Cristo. Napoleão ao Conde Montholon (Memórias de Bertrand): "Penso que entendo um pouco da natureza humana, e digo que tudo isto [heróis da antigüidade] eram seres humanos e eu também o sou; mas não há ninguém como ele: Jesus Cristo era mais do que um homem". Mesmo Espinosa, Trac. Theol.-Pol., cap 1 (vol. 1.383), diz que "Cristo comungava com Deus, mente a mente ... tal intimidade espiritual é ímpar" (Martineau, Types, 1.254) e Channing fala de Cristo como sendo mais do que um ser humano; tendo apresentado uma imaculada pureza que é a mais elevada distinção do céu. F. W. Robertson chamou a atenção para o fato de que a expressão "Filho do homem" (Jo. 5.27; cf. Dn. 7.13) implica em si que Cristo é mais do que um homem; teria sido impertinência dele ter-se proclamado Filho do homem, se não tivesse reivindicado ser algo mais; cada homem não podia chamar-se a mesma coisa? Quando alguém toma para si esta designação característica, como aconteceu com Jesus, implica que há algo estranho em ser Filho do homem; esta não é a condição e dignidade originais; a saber, ele é também Filho de Deus. Corrobora o argumento da Escritura achar que a experiência cristã sem distinção reconhece a divindade de Cristo e que a história cristã mostra uma nova concepção da dignidade da infância e da feminilidade, do elemento sagrado da vida humana, e do valor da alma humana; surgindo da crença de que, em Cristo, a divindade honrou a natureza humana fazendo-se uma união perpétua com ela, levando a culpa e castigo e elevando-a da desonra do túmulo para a glória do céu. Tanto a humanidade como a divindade de Cristo são necessárias; a humanidade, - porque, como testemunha O Juízo Final de Miguel Ângelo, as eras que negligenciaram a humanidade de Cristo sem dúvida têm algum defensor e Salvador humano, e encontram um pobre substituto para o Cristo sempre presente na mariolatria, na invocação dos santos, e na 'presença real' da hóstia ou na missa; porque, se Cristo não é Deus, ele não pode oferecer uma infinita expiação por nós, nem realizar uma
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verdadeira união entre as nossas almas e o Pai. Dorner, Glaubenslehre, 2.325-327 (Doutrina Sistemática, 3.221-223) - Maria e os santos ocuparam o lugar de intercessores no céu; a transubstanciação forneceu um Cristo presente na terra". Quase que se pode dizer que Maria se fez a quarta pessoa da divindade. Harnack, Das Wesen des Christendums: Não é paradoxo nem racionalismo, mas tão somente expressa a verdadeira posição apresentada diante de nós nos evangelhos; só o Pai, não o Filho, tem um lugar no evangelho como Jesus o proclamou"; i.e., Jesus não tem lugar nenhum, nem autoridade, nem supremacia, no evangelho; o evangelho é um cristianismo sem Cristo; ver Nicoll, The Church's One Foundation, 48. Ε isto em face das próprias palavras de Jesus: "Vinde a mim" (Mt. 11.28): Ό Filho do Homem ... se assentará no trono da sua glória e todas as nações serão reunidas diante dele" (Mt. 25.31,32); "quem me vê a mim vê o Pai" (Jo. 14.9) "quem não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece" (Jo. 3.36). Loisy, The Gospel and the Church, defende a teoria da semente diferentemente da teoria da cebola. O quarto evangelho parece uma produção do segundo século? Ε então? Há uma evolução da doutrina quanto a Cristo. "Harnack não concebe o cristianismo como uma semente, a princípio potencialmente uma planta, depois uma planta real, desde o começo da sua evolução idêntica ao limite final e desde a raiz até o alto do caule. Ele a concebe mais como um fruto amadurecido, ou muito amadurecido, que deve ser descascado para descobrir-se o cerne incorruptível, e ele descasca o fruto de tal modo que pouco sobra até o fim". R. W. Gilder: "Se Jesus é apenas um homem, e tão somente um homem, Digo que Toda a humanidade se apega a ele, e sempre se apegará. Se Jesus é só um Deus, eu juro que o seguirei por todo o céu e por todo o inferno, terra e mar, e ar". Sobre Cristo manifesto na natureza, ver Jonathan Edwards, Observations on Trinity, ed. Smith, 92-97 - "Aquele que, por sua influência imediata, produz, a cada momento, o ser e atua por seu Espírito no mundo, porque se inclina a comunicar-se, indubitavelmente comunica a sua excelência aos corpos, até onde de qualquer forma há consentimento ou analogia. Ε a beleza do rosto e o suave ar no ser humano nem sempre são o efeito da excelência da mente; contudo, a beleza da natureza na verdade é
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emanação ou sombra da excelência do Filho de Deus. De tal modo que, quando nos deleitamos com as campinas floridas e a suave brisa do vento, podemos considerar que só vemos as emanações da doce benevolência de Jesus Cristo. Quando observamos a fragrante rosa ou o lírio, vemos seu amor e sua pureza. Assim as verdes árvores, e os verdes campos, e o canto das aves são emanações do seu infinito regozijo e benignidade. A tranqüilidade e a naturalidade das árvores e vinhas são sombras da sua beleza e benignidade. Os cristalinos rios e as murmurantes correntezas são os vestígios do seu favor, da sua graça e beleza. Quando contemplamos o brilho do sol, as bordas das nuvens vespertinas ou o belo arco-íris, vemos os delineamentos da sua glória e bondade e, da sua mansidão e docilidade no céu azul. Há também muitas coisas através das quais podemos contemplar a sua tremenda majestade: no poder do sol, nos cometas, no trovão, nas trovejantes nuvens a tremular, nas ásperas rochas e cimo dos montes. A bela luz pela qual o mundo se enche de um claro dia é clara representação de sua imaculada santidade, felicidade e deleite a comunicar-se. Sem dúvida esta é uma razão pela qual Cristo é comparado com tanta freqüência a estas coisas e chamado pelos seus nomes, tais como, Sol da Justiça, Estrela Matutina, Rosa de Sarom, o Lírio do Vale, a macieira entre as árvores do bosque, um molho de mirra. Através disto podemos descobrir a beleza de muitas metáforas e similes que a uma pessoa sem filosofia parecem tão inadequadas. Por semelhante modo, quando contemplamos a beleza da perfeição do corpo humano, ainda vemos como que emanações das perfeições divinas de Cristo, embora nem sempre fluam das excelências mentais da pessoa que as possui. Vemos, porém, a mais adequada imagem da beleza de Cristo quando a vemos na alma humana".
III. A UNIÃO DAS DUAS NATUREZAS EM UMA SÓ PESSOA
As Escrituras representam claramente Jesus Cristo tendo sido possuído de uma natureza divina e de uma natureza humana, cada qual inalterada em essência e não desvestida de seus atributos e poderes normais do mesmo modo em que elas com igual distinção representam Jesus Cristo como uma única pessoalidade indivisível em quem as duas
Teologia Sistemática (Strong) 1345 naturezas estão vital e inseparavelmente unidas de modo que ele, com propriedade, é não Deus e homem, mas Deus-homem. As duas naturezas estão ligadas não por laço moral de amizade, nem por laço espiritual que liga o crente ao Senhor, mas um laço único e inescrutável que os constitui uma pessoa com uma só vontade e consciência, -vontade e consciência que incluem em seu estado tanto a natureza humana como a divina. Whiton, Gloria Patri, 79-81, deixa de falar na união de Deus e homem; por isso, diz ele, envolve a falácia das duas naturezas. Ele fala mais na manifestação de Deus no homem". Como se pudesse haver algo como um mero homem excluindo algo acima dele e além dele e movido por si mesmo. Podemos ver com simpatia a objeção de Whiton sobre a expressão "Deus e homem", por causa da sua implicação de uma união imperfeita. Porém preferimos o termo "Deus-homem" em lugar de "Deus no homem", porque esta última pode igualmente descrever a união de Cristo com cada crente. Cristo é "o unigênito", no sentido em que cada crente não é. Podemos ainda também simpatizar com Dean Stanley, Life and Letters, 1.115- "Ai da igreja que tem um culto tão divino que conserva uma lista de Artigos! Mais do que nunca me fortaleço na opinião de que só há uma necessidade, e esta deve ser: ‘Eu creio que Cristo é tanto Deus como homem’.”
1. Prova desta União a) Cristo fala uniformemente si mesmo e fala-se dele como uma só pessoa. Não há nenhum intercâmbio de "eu" e "tu" entre as naturezas divina e humana como as achamos entre as pessoas da Trindade (João 17.23). Cristo nunca usa o plural em referência a si mesmo, a não ser em João 3.11 - "nós falamos do que sabemos" - e mesmo aqui o "nós" é mais provavelmente usado como incluindo os discípulos. I João 4.2 – "veio em carne" – é suplementado por João 1.14 – "fez-se carne"; e estes textos juntos asseguram-nos que Cristo veio assim em natureza humana para tornar essa natureza um elemento em sua pessoalidade única.
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Jo. 17.23 - "Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade; e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que tens amado a eles como me tens amado a mim"; 3.11 - "Nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos, e não aceitais o nosso testemunho"; 1 Jo. 4.2 - "todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus"; Jo. 1.14 - "E o verbo se fez carne e habitou entre nós" = ele entrou na natureza humana para que a natureza humana e ele formassem, não duas pessoas, mas uma. Na Trindade, o Pai é objetivo para o Filho, o Filho para o Pai e ambos para o Espírito Santo. Porém a divindade de Cristo nunca é objetiva para a humanidade, nem a sua humanidade para a sua divindade. Moberly, Atonement and Personality, 97 - "Ele não é tanto Deus como homem, mas Deus no homem e através do homem e como homem. Ele é uma pessoalidade totalmente indivisível.... Devemos estudar o elemento divino no humano e através deste. Esperando o elemento divino lado a lado com o humano, ao invés de discernir o divino dentro do humano perdemos a significação de ambos". Erramos quando dizemos que algumas palavras de Jesus relativas à sua ignorância sobre o dia final (Mc. 13.33) se referem à natureza humana, enquanto outras palavras relativas ao seu ser no céu ao mesmo tempo em que ele estava na terra (Jo. 3.13) se referem à natureza divina. Nunca há separação da natureza humana para com a divina, ou da divina para com a humana; todas palavras de Cristo foram proferidas e todas as obras de Cristo foram feitas por uma pessoa: o Deus-homem.
b) Os atributos e poderes de ambas as naturezas são aplicáveis a Cristo e reciprocamente as obras e dignidades de Cristo são aplicáveis a quaisquer das naturezas, de modo inexplicável, a não ser com base no princípio de que estas duas naturezas são orgânica e indissoluvelmente unidas em uma só pessoa (exemplos daquele uso estão em Rm. 1.3 e 1 Pe. 3.18; e deste 1 Tm. 2.5 e Hb. 1.2,3). Por isso podemos dizer, por um lado, que o Deus-homem existiu antes de Abraão, contudo, nasceu no reino de César Augusto e que Jesus Cristo chorou, cansou-se, sofreu, morreu, contudo, é o mesmo ontem, hoje e eternamente; por outro lado, podemos dizer que um Salvador divino nos redimiu em uma cruz e que o
Teologia Sistemática (Strong) 1347 Cristo humano está presente com o seu povo até o fim do mundo (Ef. 1.23; 4.10; Mt. 28.20). Rm. 1.3 - "seu Filho, que nasceu da descendência de Davi, segundo a carne"; 1 Pe. 3.18 - "Cristo também padeceu uma vez pelos pecados ... mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito (Rev. e Atualizada do Brasil ‘no espírito’)"; 1 Tm. 2.5 - "um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem"; Hb. 1.2,3 - "pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo ... O qual, sendo o resplendor da sua glória, ... havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da Majestade, nas alturas"; Ef. 1.22,23 - "Sujeitou todas coisas a seus pés e, sobre todas as coisas, o constituiu cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos"; 4.10 - "aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas"; Mt. 28.20 - "Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos". Mason, Faith of the Gospel, 142-145 - "Maria era Theotokos, porém não a mãe da divindade de Cristo, mas da sua humanidade. Falamos do sangue de Deus, o Filho, mas não é como Deus porque ele tem sangue. As mãos do menino Jesus fizeram os mundos, somente significando aquele cujas mãos foram agentes da criação. ... O espírito e o corpo em nós não são somente postos lado a lado e isolados um do outro. O espírito não tem reumatismo e o reverente corpo não comunga com Deus. A razão por que um afeta o outro é que eles são o nosso ser. ... Evitemos o modo de tratar Cristo de uma forma sensitiva, carinhosa - modo que o desonra e debilita a alma do adorador. ... Evitemos, por outro lado, expressões tais como 'O Deus que morre', que perde a humanidade na divindade". Charles H. Spurgeon assinala que todo "caro" lembra a mulher que dizia que estava lendo em um "caro Hebreus".
c) As constantes representações escriturísticas sobre o infinito valor da expiação de Cristo e da união da raça humana com Deus que têm sido asseguradas nele só são inteligíveis quando Cristo é considerado, não como um homem de Deus, mas como um Deus-
Teologia Sistemática (Strong) 1348 homem, em quem as duas naturezas são de tal modo unidas que o que cada uma faz tem o valor de ambas. 1 Jo. 2.2 - "Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo"; como prova João em seu evangelho que Jesus é o Filho de Deus, o Verbo, Deus; assim, em sua primeira epístola prova que o Filho de Deus, o Verbo, Deus se fez homem; Ef. 2.16-18 - "reconciliar ambos [judeus e gentios] com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. E, vindo, ele evangelizou a paz a vós que estáveis longe e aos que estavam perto; porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito"; 21,22 - "no qual, todo edifício bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para moradia de Deus no Espírito"; 2 Pe. 1.4 pelas quais ele nos tem dado grandíssimas promessas da natureza divina". John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 2.107 - "Não podemos separar os atos divinos de Cristo dos humanos sem duplicar a unidade da sua pessoa e vida".
d) Corrobora este ponto de vista lembrar que a consciência cristã universal reconhece em Cristo uma pessoalidade simples e indivisível e expressa esse reconhecimento em seus trabalhos de cântico e louvor. A prova anteriormente mencionada sobre a união de uma natureza humana perfeita com uma natureza divina perfeita em uma só pessoa de Jesus Cristo basta para refutar tanto a separação nestoriana das naturezas como a confusão eutiquiana delas. Contudo, algumas formas modernas de estabelecer a doutrina desta união - formas de declaração em que entram algumas falsas concepções já notadas - necessitam de um breve exame antes de continuarmos a proceder nossa tentativa de elucidação. Dorner, Glaubenslehre, 2.403-411 (Doutrina Sistemática, 3.300-308) Na encarnação incluem-se três idéias: 1) a aceitação da natureza divina pelo Logos (Hb. 2.14 - 'participou ... da carne e do sangue'; 2 Co. 5.19 - 'Deus estava em Cristo'; Cl. 2.9 - 'nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade'); 2) nova criatura do segundo Adão através do Espírito Santo e do poder do Altíssimo (Rm. 5.14 - 'transgressão de Adão, o qual é a figura
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daquele que havia de vir'; 1 Co. 15.22 - 'assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo' 15.45 - Ό primeiro Adão foi feito alma vivente; o último Adão em espírito vivificante'; Lc. 1.35 - 'descerá sobre ti o Espírito Santo e a virtude do Altíssimo te cobrirá'; Mt. 1.20 - Ό que nela está gerado é do Espírito Santo'); 3) fazendo-se carne sem diminuir a divindade ou a humanidade (1 Tm. 3.16 -que se manifestou na carne'; 1 Jo. 4.2 - 'Jesus Cristo veio em carne'; Jo. 6.414,51 - 'Eu sou o pão que desceu dos céus .... eu sou o pão vivo'; 2 Jo. 7 - 'Jesus Cristo veio em carne'; Jo. 1.14 - Ό Verbo se fez carne'). Este último texto não pode significar: O Logos deixou de ser o que era e começou a ser apenas homem. Não pode ser uma simples teofania, na forma humana. Entende-se o elemento real na humanidade bem como a realidade do Logos". Os luteranos sustentam uma comunhão das naturezas, assim como uma comunicabilidade das propriedades delas: 1) genus idiomaticum = comunicabilidade dos atributos de ambas naturezas com uma pessoa; 2) genus apotelesmaticum (de αποτέλεσμα, 'aquilo que se finda ou se completa', i.e., a obra de Jesus) = atributos da pessoa comunicados a cada uma das naturezas constituintes. Por isso, Maria pode ser chamada "a mãe de Deus", como o símbolo de Calcedônia declara, "quanto à sua humanidade", e o que cada natureza fez tem o valor de ambas; 3) genus majestaticum = atributos de uma natureza comunicada a outra de sorte que a natureza divina comunica à humana, não a humana à divina. Os luteranos não crêem em um genus tapeinoticon, i.e., elementos humanos comunicados aos divinos. A única comunicação do humano é à pessoa, não à natureza divina, do Deus-homem. Exemplos deste terceiro genus majestaticum encontram-se em Jo. 3.13 - "ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu" [aqui, contudo, Westcott e Hort, juntamente com Κ e B, omitem ό ων εν τω ούρανω]; 5.27 "deu-lhe pode de exercer juízo, porque é o Filho do Homem". Da explicação que esta figura de linguagem chama "aleose", Lutero diz: "Alloeosis est larva quaedam diaboli, secundum cujus rationes ego certe nolim esse Christianus". A Igreja Reformada nega o genus majestaticum, baseada no fato de que ela não permite uma distinção clara das naturezas. Ε esta é uma grande diferença entre ela e a Igreja Luterana. Assim Hooker, comentando sobre a
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subida do Filho do homem ao lugar onde ele estava antes, diz: "Pela expressão 'Filho do homem' deve-se entender toda a pessoa de Cristo, que, sendo homem na terra, encheu o céu com a sua gloriosa presença; mas não segundo a natureza para a qual o título homem lhe foi dado".
2. Falsas Interpretações Modernas desta União A) Teoria da humanidade incompleta. – Gess e Beecher sustentam que a parte imaterial em Cristo é apenas uma divindade contraída e metamorfoseada. Os que advogam este ponto de vista sustentam que o Logos divino reduziu-se à condição e limite da natureza humana e assim literalmente tornou-se uma alma humana. A teoria difere do apolinarismo por não propor necessariamente um ponto de vista tricotomista da natureza do homem. Contudo, enquanto o apolinarismo negava a origem humana só do πνεύμα, esta teoria estende a negação a todo o seu ser imaterial, - e só o seu corpo derivou da Virgem. Ela é sustentada, com ligeiras formas variantes, pelos alemães Hofmann e Ebrard assim como por Gess; e Henry Ward Beecher foi o seu principal representante na América. Gess sustenta que Cristo abriu mão da sua eterna santidade e autoconsciência divina, para tornar-se homem, de sorte que, durante a sua vida terrena, ele nunca pensou, falou, ou operou como Deus, mas sempre destituído dos atributos divinos.
Contra esta teoria apresentamos as seguintes objeções: a) Baseia-se numa falsa interpretação da passagem de João 1.14 - ό λόγος σαρξ έγένετο. Α palavra σαρξ aqui tem seu sentido neotestamentário comum. Nem designa só a alma nem só o corpo, mas a natureza humana em sua totalidade (cf. João 3.6 - το γεγεννημένον έκ της σαρκός σαρξ έστιν; Rm. 7.18 - ουκ οικεί έν έμοί, τοΰτ' εστίν έν τη σαρκί μου, άγαϋόν). Que έγένετο não implica uma transmutação do λόγος em natureza humana, ou em alma humana é evidente de
Teologia Sistemática (Strong) 1351 έσκήνωσεν, que se segue - uma alusão ao Shequiná do tabernáculo mosaico; e da passagem paralela de 1 João 4.2 - έν σαρκι έληλυΦότα onde não só nos é ensinada a unidade da pessoa de Cristo, mas a distinção das naturezas constituintes. Jo. 1.14 - "o Verbo se fez carne e habitou [tabernaculou] entre nós, e vimos a sua glória"; 3.6 - "o que é nascido da carne é carne"; Rm. 7.18 - "em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum"; 1 Jo. 4.2 - "Jesus Cristo veio em carne". Visto que a palavra "carne", no emprego escriturístico, denota a natureza humana em sua inteireza, há tão pouca razão para inferir destas passagens uma mudança do Logos para um corpo humano como a do Logos para uma alma humana. Não há nenhuma humanidade reduzida em Cristo. A vantagem da doutrina monística é que ela evita este erro. Onipresença é a presença da totalidade de Deus em todo lugar. SI. 85.9 "Certamente que a salvação está perto daqueles que o temem, para que a glória habite em nossa terra" - cumpriu-se quando Cristo, a verdadeira Shekinah, tabernaculou na carne humana e os homens "viram a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade" (Jo. 1.14). Ε Paulo diz em 2 Co. 12.9 - "de boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite [tabernacule] o poder de Cristo".
b) Contradiz as duas grandes classes de passagens da Escritura já referidas, que afirmam, por um lado, a plenitude da sua natureza humana e a sua derivação do tronco de Israel e da semente de Abraão (Mt. 1.116; Hb. 2.16). Assim nega tanto a verdadeira humanidade como a verdadeira divindade de Cristo. Ver as passagens da Escritura citadas como prova da divindade de Cristo nas pp. 305-315 (46-48 da Apostila). O próprio Gess reconhece que, se as passagens em que Jesus afirma seu conhecimento divino e poder e sua consciência da unidade com o Pai referem-se à sua vida terrena, sua teoria cai por terra. "O apolinarismo tinha um certo tipo de magnificência grotesca, ao dar ao corpo humano e à alma de Cristo um πνεύμα infinito e divino. Sustenta ao menos o lado divino da pessoa de Cristo. Mas a teoria que se nos apresenta nega ambos os lados". Enquanto limita a divindade,
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que, na verdade, não é divindade, afasta da humanidade tudo o que nela há de valioso; porque uma humanidade que consiste apenas em um corpo não é humanidade. Tal humanidade é como o retrato a "meia distância" que pintou apenas o lado interior do homem. Mt. 1.1-16, genealogia de Jesus, e Hb. 2.16 - "tomou a descendência de Abraão" - indica que Cristo tomou tudo o que pertence à natureza humana.
c) É inconsistente com as representações escriturísticas da imutabilidade de Deus, sustentando que o Logos abandona os atributos da divindade e seu lugar e ofício como segunda pessoa da Trindade a fim de enquadrar-se dentro dos limites da humanidade. Visto que atributos e substância são termos correlatos, é impossível sustentar que a substância de Deus está em Cristo, se ele não possui os atributos divinos. Contudo, como veremos daqui em diante, a posse dos atributos divinos por parte de Cristo não implica necessariamente seu constante exercício deles. Na verdade sua humilhação consistiu em abrir mão do seu exercício independente. Ver Dorner, Unveränderlichkeit Gottes (A Imutabilidade de Deus), Jahrbuch für Deutsche Theologie (Anuário de Teologia Alemã), 1.361; 2.440; 3.579; esp. 1.390-412 - Gess sustenta que, durante os trinta e três anos da vida terrena de Jesus, alterou-se a Trindade; o Pai não mais derramou a sua plenitude no Filho; o Filho não mandou mais com o Pai o Espírito Santo; o mundo foi sustentado e governado só pelo Pai e pelo Espírito, sem a mediação do Filho, o Pai deixou de gerar o Filho. Ele diz que só o Pai tem asseidade; ele é o único Monas. A Trindade é uma família, cujo cabeça é o Pai, mas cujo membro e cuja condição é variável. Para Gess não importa se a Trindade consiste em Pai, Filho e Espírito Santo ou (como durante a vida de Jesus) em só um. Mas é uma Trindade em que dois membros são acidentais. Uma Trindade que pode ser bem sucedida sem um de seus membros não é uma Trindade nos moldes da Escritura. O Pai depende do Filho e o Espírito depende do Filho tanto quanto o Filho depende do Pai. Afastar o Filho é afastar o Pai e o Espírito. Este abandono da realidade dos atributos, ou da sua santidade, da parte do Logos, é o mesmo que tornar possível Cristo pecar. Podemos, porém, atribuir a possibilidade de pecar a
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um ser que realmente é Deus? A realidade da tentação requer que postulemos uma alma verdadeiramente humana".
d) Destrói todo o esquema escriturístico da salvação, porque torna impossível qualquer experiência de natureza humana por parte da divina, - pois quando Deus se torna homem deixa de ser Deus; porque torna impossível qualquer expiação por parte da natureza humana, - pois a mera humanidade, apesar da sua essência ser uma divindade limitada e dormente, não é capaz de um sofrimento que tenha valor infinito; torna impossível qualquer união apropriada da raça humana para com Deus na pessoa de Jesus Cristo, - pois onde a verdadeira divindade e verdadeira humanidade estão ausentes não pode haver nenhuma união das duas. Ver Dorner, Jahrbuch für Deutsche Theologie, 1.390 - "Sobre esta teoria só se pode sustentar uma teoria de expiação exibicionista. Não há nenhuma humanidade real que, na força da divindade, possa apresentar um sacrifício a Deus. Por isso, não a substituição, mas a obediência, neste ponto de vista nos reconcilia com Deus. Ainda que se diga que o Espírito de Deus é a verdadeira alma em todos os homens, isto em nada ajuda a resolver o problema; porque é necessário estabelecer uma distinção essencial entre a morada do Espírito no ímpio, no regenerado e em Cristo respectivamente. Porém, nesse caso, perdemos a semelhança entre a natureza de Cristo e a nossa; a de Cristo, preexistente, e a nossa não. Sem esta doutrina panteísta, a diferença entre Cristo e nós é ainda maior; porque, na verdade, ele é um Deus peregrino, vestido de um corpo humano e não pode, com propriedade, ser chamado de alma humana. Não temos uma média entre o corpo e a divindade; e no estado de exaltação, não temos, na verdade, uma natureza humana; só o Logos infinito, num corpo glorificado, que o reveste". A teoria de Isaac Watt sobre a humanidade preexistente também implica que a humanidade originalmente encontra-se na divindade; não procede de um choque humano, mas divino; entre o humano e o divino não há nenhuma apropriada distinção; por essa razão não pode haver apropriada redenção da humanidade; ver Biblia Sacra, 1975.421. A. H,
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Hodge, Pop. Lectures, 226 -"Se Cristo não assume um πνεύμα humano, ele não pode ser um sumo sacerdote que, conosco, sente todas as nossas enfermidades, tendo sido tentado como nós". Mason, Faith of the Gospel, 138 - "A conversão da divindade em carne só teria acrescentado mais um homem ao número já existente - sem pecado, talvez, entre pecadores - mas não teria efetuado nenhuma união entre Deus e o homem".
B) Teoria da encarnação gradual. - Dorner e Rothe sustentam que o ato da encarnação não completa a união entre as naturezas divina e humana. Os que advogam este ponto de vista sustentam que a união entre as duas naturezas se completou por uma comunicação da plenitude do Logos divino com o homem Cristo Jesus. Esta comunicação é mediada pela consciência humana de Jesus. Antes que a consciência humana começasse, a pessoalidade do Logos ainda não era divino-humana. A união pessoal se completou só gradualmente, à medida em que a consciência humana se desenvolveu a ponto de apropriar-se da divina. Dorner, Glaubenslehre, 2.600 (Doutrina Sistemática, 4.125) - "Para que Cristo pudesse apresentar o seu amor sumo sacerdotal através do sofrimento e morte, os lados diferentes da sua pessoalidade ainda permanecem em recíproca separação. Concordemente a sua união divinohumana ainda não se havia realizado completamente, embora tal finalização estivesse divinamente garantida desde o começo". 2.431 (Doutrina Sistemática, 3.328) - Apesar da sua transformação, dentro da união, o Logos, desde o começo acha-se unido com Jesus no mais profundo alicerce do seu ser, e a vida de Jesus sempre tem sido divino-humana no sentido de que uma receptividade presente para com a divindade nunca deixou de ser satisfeita. ... Mesmo a humanidade inconsciente do bebê é receptiva ao Logos, como a planta com relação à luz. A união inicial já faz Cristo o Deushomem, mas este processo não impede uma subseqüente transformação', porque, sem dúvida, ele se tornou onisciente e incapaz de morrer, do mesmo modo que no princípio". 2.464 sq. (Doutrina Sistemática, 3.363 sq.) - "A vida real de Deus, como Logos, vai além do seu princípio como vida humana. Porque se a Unio
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deve completar-se através do desenvolvimento, a relação da comunicação e recepção deve continuar. Em sua consciência pessoal há uma distinção entre o dever e o ser. A vontade precisa ser atuante e converter-se em ação, qualquer que seja a revelação ou percepção da vontade de Deus procedente do intelecto ou da consciência. Foi preciso que, com a sua vontade, ele sustentasse cada revelação da natureza e da vontade. Aos doze anos diz ele: Έ necessário cuidar dos negócios de meu Pai'. E à resposta de Satanás, na tentação: 'És tu Filho de Deus?' ele deve responder com a afirmação que exclui toda dúvida, embora ele pudesse provar através de um milagre. Tal desenvolvimento moral era sua tarefa como foi da vontade do Pai. Ele ouve o Pai e obedece. Nele o conhecimento imperfeito nunca foi o mesmo que o falso conceito. Em nós, a ignorância tem o erro como contrapartida. Mas para ele, este nunca foi o caso apesar de que ele crescia no conhecimento até o fim". Há um resumo dos seus pontos de vista na Revista de Princeton, 1873.71-87 - Dorner ilustra a relação entre a humanidade e a divindade de Cristo com a relação entre Deus e o homem, na consciência e no testemunho do Espírito. Até aqui o elemento humano é imaturo e incompleto, enquanto o Logos não está presente. O conhecimento avança para a unidade com o Logos e o conhecimento humano terá maior e mais elevada confirmação. Uma resignação tanto do Logos como da natureza humana com a união envolve a encarnação. O desenvolvimento continua até que a idéia e a realidade da humanidade divina coincidam perfeitamente. A aceitação da unidade foi gradual, na vida de Cristo. Sua exaltação começou com a perfeição do seu desenvolvimento".
É objetável pelas seguintes razões: a) A Escritura claramente ensina que aquele que nasceu de Maria era totalmente o Filho de Deus assim como o Filho do homem (Lc. 1.35); e que, no ato da encarnação, Jesus se tornou Deus-homem e não na sua ressurreição (Fp. 2.7). Mas esta teoria virtualmente ensina o nascimento de um homem que subseqüente e gradualmente tornou-se Deus-homem ao conscientemente apropriar-se do Logos com quem ele mantinha relacionamento ético - relacionamento sobre o qual a Escritura
Teologia Sistemática (Strong) 1356 silencia. Seu erro radical é que equivoca uma consciência incompleta da união com uma união incompleta. Em Lc. 1.35 - "o santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus"; - e Fp. 2.7 - "esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens" - temos a evidência de que Cristo foi tanto Filho de Deus como Filho do homem desde o começo da vida terrena. Mas segundo Dorner, antes de haver qualquer consciência humana, a pessoalidade de Jesus Cristo não era divino-humana.
b) Visto que a consciência e a vontade pertencem à personalidade distinta da natureza, a hipótese de uma apropriação mútua, consciente e voluntária da divindade pela humanidade e da humanidade pela divindade durante a vida terrena de Cristo é tão somente uma forma da doutrina nestoriana de uma dupla pessoalidade. Segue-se, contudo, que como estas duas pessoalidades não se tornam absolutamente uma até a ressurreição, a morte do homem Jesus Cristo, a quem o Logos ainda não se uniu plenamente, não pode possuir uma eficácia expiatória. Tomásio, Christi Person und Werk, 2.68-70, objeta ao ponto de vista de Dorner que "nos conduz a um homem que está em íntima comunhão com Deus". Contra Dorner, ele sustenta que "a união entre o elemento divino e o humano em Cristo existe antes que se tenha consciência dele". 193-195 - O ponto de vista de Dorner "faz cada um dos elementos, o divino e o humano, aspirar a um pelo outro, e atingir a sua verdade e realidade somente na outra parte. Até onde se concebe o elemento divino, isto se aproxima muito do panteísmo. Pressupõem-se duas pessoalidades voluntárias, com mútua relação ética; ao menos em princípio, duas pessoas. Dorner diz o seguinte: "Até onde a humanidade ainda é inconsciente, a pessoa do Logos ainda não é o ego central do seu elemento humano. A princípio, o Logos não se comunica conquanto seja uma pessoa ou seja autoconsciente. Ele se conserva isolado por si mesmo, na proporção exata quando a humanidade deixa de ter o poder de percepção'. No começo, então, este homem ainda não é Deus-homem; apenas o Logos opera dentro dele e sobre ele. "A unio personalis desenvolve-se e se completa; torna-se mais abrangente e plena.
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Até o momento da ressurreição ainda há uma separação relativa'. Assim pensa Dorner. Mas a Escritura nada informa sobre uma relação ética do elemento divino para com o humano na pessoa de Cristo. Ela só informa o sujeito divino-humano".
c) Conquanto a teoria declara uma união final completa entre Deus e o homem em Jesus Cristo, torna essa união muito mais difícil para a razão porque envolve a fusão de duas pessoas em uma, mais do que a união de duas naturezas em uma pessoa. Contudo, vimos que a Escritura não dá nenhum apoio à doutrina de uma dupla pessoalidade durante a vida terrena de Cristo. O Deus-homem nunca diz: "Eu e o Logos somos um"; "aquele que me vê vê o Logos"; "o Logos é maior que eu"; "eu vou para o Logos". Na ausência de toda a evidência escriturística em favor desta teoria, devemos considerar os argumentos racionais e dogmáticos contra ela como conclusivos. Liebner, Jahrbuch für die Theologie, 3.349-366, alega, contra Dorner, que na Escritura não há nenhum sinal da comunhão entre as duas naturezas de Cristo, como há entre as três pessoas da Trindade. Philippi também faz objeções ao ponto de vista de Dorner: 1) que implica uma identidade de essência panteística tanto em Deus como no homem; 2) que não faz do nascimento, mas da ressurreição a época em que o Verbo se fez carne; 3) que não explica como duas pessoalidades podem tornar-se uma. Cita Dorner dizendo: "A unidade de essência Deus e homem é a grande descoberta deste século". Mas das citações seguintes da sua História da Doutrina da Pessoa de Cristo, II, 3.5,23,69,115, parece que Dorner não é panteísta - "A filosofia protestante produziu o reconhecimento da conexão essencial e unidade dos elementos humano e divino. ... Para a teologia dos nossos dias os elementos divino e humano não são mutuamente exclusivos, mas grandezas conexas relacionando-se interiormente um com o outro e confirmando-se um com o outro e através de tal ponto de vista omitem-se tanto a separação como a identificação. ... Ε agora a tarefa comum de produzir a união das faculdades e qualidades a uma união essencial transferiram-se mutuamente em ambos elementos. A diferença entre elas é que só Deus tem asseidade. ... Se nós contrariássemos cada ponto de vista
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que representa o elemento divino e o humano num relacionamento estreito e essencial, voluntariamente abriríamos mão das conquistas dos séculos e voltaríamos à base onde a cristologia é uma impossibilidade absoluta". Ver Dorner, System, 1.123 - "A fé postula uma diferença entre o mundo e Deus, que a religião procura unir. A fé não quer ser uma simples relação consigo mesma, ou com as suas representações e pensamentos. Isso seria um monólogo; a fé quer diálogo. Por isso não consente com um monismo que reconhece só Deus, ou só o mundo (com o ego). A dualidade (não o dualismo, que se opõe a tal monismo, mas não quer opor-se à demanda racional da unidade) sem dúvida é uma condição da verdadeira e vital unidade". A unidade é o fundamento da religião; a diferença é o fundamento da moralidade. Moralidade e religião são apenas manifestações do mesmo princípio. O empenho moral do homem é a operação de Deus dentro dele. Deus pode revelar-se só no perfeito caráter e vida de Jesus Cristo. Stalker, Imago Christi (Imagem de Cristo): "Cristo não é metade Deus e metade homem, mas perfeitamente Deus e perfeitamente homem". Moberly, Atonement and Personality, 95 - "O encarnado não oscilou entre ser Deus e ser homem. Na verdade ele foi sempre Deus e nunca um outro Deus além do expresso dentro das possibilidades da consciência e do caráter humano". Ele sabe que é algo mais do que é como encarnado. Seus milagres mostram em que a humanidade pode tornar-se. John Caird, Found. Ideas of Christianity, 14. - "A divindade de Cristo não é a da natureza divina em justaposição mecânica à humana, mas a de uma natureza divina que se difundiu, mesclou, identificou-se com os pensamentos, sentimentos, volições de uma individualidade humana. Qualquer que seja o elemento divino, que não pode organicamente unir-se com o espírito humano ou respirar através dele, não é e nem pode estar presente em alguém que, seja quem for é real e verdadeiramente humano".
3. A Natureza Real desta União a) Sua grande importância. – Conquanto as Escrituras representam a pessoa de Cristo como o mistério coroa do esquema cristão (Mt. 11.27; Cl. 1.27;2.2; 1 Tm. 3.16), elas também nos estimulam ao seu estudo
Teologia Sistemática (Strong) 1359 (João 17.3; 20.27; Lc. 24.39; Fl. 3.8,10). Isto é mais necessário, visto que Cristo não é só o ponto central do Cristianismo, mas o próprio cristianismo - a incorporação da reconciliação e a união entre o homem e Deus. As notas que se seguem oferecem-se, não como explicação plena, mas somente como alguns aspectos relevantes das dificuldades sobre o assunto. Mt. 11.27 – "Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem ele quiser revelar". Aqui parece estar indicado que o mistério da natureza do Filho é ainda maior que a do Pai. Shedd, History of Doctrine, 1.408 – A pessoa de Cristo é em certo sentido mais frustrante à razão do que a Trindade. Embora haja uma negligência profana, há também, uma curiosidade profana: Cl. 1.27 - "as riquezas da glória deste mistério ... que é Cristo em vós, esperança da glória"; 2.2,3 - "o mistério de Deus - Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência"; 1 Tm. 3.16 - "grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne" - neste texto a Vulgata, os Pais latinos e Buttmann fazem a palavra μυστήριον ser o antecedente de ος, e o relativo toma o gênero natural do seu antecedente, enquanto μυστήριον se refere a Cristo; Hb. 2.11 -"o que santifica como os que são santificados, são todos de um [não o pai, mas a raça, ou substância]" (cf. At. 17.26 - "e de um só fez toda a geração de homens") - alusão à solidariedade da raça e a participação de Cristo em tudo que nos pertence. Jo. 17.3 - "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste"; 20.27 - "Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente"; Lc. 24.39 - "Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; tocai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho"; Fp. 3.8,10 - "tenho também por perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; ... para conhecê-lo"; 1 Jo. 1.1 - "o que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida".
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Nash, Ethics and Revelation, 254,255 - "Ranke diz que Alexandre era um dos poucos homens em quem a biografia é idêntica à história universal. Tais palavras se aplicam mais precisamente a Cristo". Crane, Religion of Tomorrow, 267 - "Sendo a religião simplesmente a pessoalidade de Deus, o cristianismo é a pessoalidade de Cristo". Pascal: "Jesus Cristo é o centro e o objetivo de tudo, e quem não o conhece nada conhece da ordem da natureza nem de si mesmo". Goethe nos últimos anos de vida escreveu: "A humanidade não pode retroceder um passo e não podemos dizer que a religião cristã, como se apresenta agora, nunca desaparecerá; agora que incorporou o elemento divino, não pode jamais ser dissolvido". H. B. Smith, homem de pensamento esclarecido e devoto, propôs na íntegra a sua doutrina em uma sentença: "Acheguemo-nos a Jesus, - a pessoa de Cristo é o centro da teologia". Dean Stanley nunca se cansava de citar como sua Confissão de Fé as palavras de John Bunyan: "Bendita Cruz - bendito sepulcro – bendito mais do que ele – Aquele que foi levado à vergonha por mim!" Ε Charles Wesley escreveu no Amor Católico: "Exaustiva toda peleja terreal, destes movimentos, formas e modos e nomes, A ti, Caminho, Verdade e Vida, cujo amor meu simples coração inflama - Divinamente ensinado a viver e a morrer, até que voe, Para junto de ti e dos teus". "Temos dois grandes lagos chamados Erie e Ontario; estes são ligados pelo Rio Niagara através do qual o Erie derrama as suas águas no Ontario. A igreja cristã toda, por todos os séculos, tem sido chamada a transbordar de Jesus Cristo, que é infinitamente maior do que ela. Seja o Lago de Erie símbolo de Cristo, o Logos preexistente, o Verbo eterno, o Deus revelado no universo. Que o Niagara nos seja a tela do mesmo Cristo ora limitado ao estreito canal da sua manifestação em carne, mas mostre dentro de tais limites a mesma correnteza para o oriente e a gravitação descendente que os homens de modo tão imperfeito outrora perceberam. A tremenda catarata, espargindo suas águas no abismo e abalando a própria terra, é o sofrimento e a morte do Filho de Deus, que, pela primeira vez, torna palpáveis aos corações humanos as forças da justiça e do amor opérantes na natureza divina desde o princípio. Manifesta-se a lei da vida universal; agora se vê que a justiça e o juízo são os fundamentos do trono de Deus; que a justiça de Deus em todo lugar e em todo tempo fazem o castigo seguir-se ao pecado; que o amor que cria e sustenta os pecadores deve ser contado com os transgressores e levar as iniqüidades deles. O Niagara apresentou a
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gravitação do Lago Erie. Ε não foi sem razão. Porque do Niagara se expande outro lago pacífico. O Ontario é o resultado e a semelhança do Erie. Desse modo a humanidade redimida é o transbordamento de Jesus Cristo, mas só de Jesus Cristo após ter passado pelo imensurável autoabandono na sua vida terrena e na sua trágica morte no Calvário. Como as águas do Lago Ontario sempre se alimentam do Niagara, assim a igreja extrai a sua vida da cruz. Ε ο propósito de Cristo não é que repitamos o Calvário, o que nunca poderemos fazer, mas que reflitamos em nós mesmos semelhante movimento para frente e de gravitação para o auto-sacrifício que ele revelou caracterizando a própria vida de Deus" (A. H. Strong, Sermon before the Baptist Congress, Londres, 12 de julho de 1905).
b) Os principais problemas. – São os seguintes: 1. uma pessoalidade e duas naturezas; 2. natureza humana sem pessoalidade; 3. relação do Logos com a humanidade durante a vida terrena de Cristo; 4. relação da humanidade com o Logos durante a vida celestial de Cristo. Podemos lançar luz sobre o n° 1 usando a figura de dois círculos concêntricos; sobre o n° 2 lembrando pai e mãe se unem na produção de um só filho; sobre o n° 3 com a ilustração da memória latente que contém tanto mais que a lembrança presente; sobre o n° 4. ao pensar que o corpo é a manifestação do espírito e que Cristo, em seu estado celestial, não está limitado a lugar. Lutero dizia que seria necessário que tivéssemos "novas línguas" antes que pudéssemos, com propriedade, estabelecer esta doutrina; particularmente uma nova língua sobre a natureza do homem. Mais tarde a elucidação dos problemas mencionados acima ocuparão imediatamente a nossa atenção. Nossa investigação não deve ser prejudicada pelo fato de que o elemento divino em Jesus Cristo se manifeste dentro das limitações humanas. Eis a condição de toda revelação. Jo. 14.9 - "quem me vê a mim vê o Pai"; Cl. 2.9 - "nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade" = até a medida da capacidade humana de receber e expressar a divina. Hb. 2.11 e At. 17.26 atribuem ao homem uma consubstancialidade com Cristo e Cristo é o Deus manifesto. É lei da hidrostática que a coluna menor de água se nivele à maior. O Lago Erie não será mais elevado que a água do tubo ao
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qual está ligado. Assim a pessoa de Cristo alcança o nível de Deus, apesar de limitado em extensão e ambiente. Ele é Deus manifesto na carne. Robert Browning, Death in the Desert. "Todo reconhecimento de Deus em Cristo, digo eu, Aceito pela razão, soluciona para ti Todas questões na terra e fora dela e permitem que sejas mais sábio"; Epílogo ao Drama da Pessoa: "Um rosto, longe de se desvanecer, manifesta-se, Ou desfaz-se para se recompor, Torna-se o meu Universo que sente e conhece". "Tal rosto", dizia Browning à senhora Orr, ao encerrar o seu poema, "é o rosto de Cristo. Eis como o sinto". Esta é a resposta dele às vítimas do ceticismo do século dezenove para o qual o Amor encarnado desapareceu do universo, levando consigo a crença em Deus. Deste modo ele atesta a contínua presença de Deus em Cristo, tanto na natureza como na humanidade.
c) Razão para o mistério. – A união das duas naturezas na pessoa de Cristo é necessariamente inescrutável porque não há nenhuma analogia com ela em nossa experiência. Tentativas de ilustrá-la com a distinção de corpo e alma por um lado, e a distinção entre Cristo e o crente por outro, do Filho divino com o Pai são unilaterais e tornam-se inteiramente equívocas se consideradas como fornecedoras de um elemento racional da união e não simplesmente um meio de repelir a objeção. As duas primeiras ilustrações ressentem-se da falta do elemento essencial das duas naturezas para torná-las completas: alma e corpo não são duas naturezas, mas uma assim como o ferro e o calor não são duas substâncias. As duas últimas ilustrações ressentem-se da falta do elemento da pessoalidade simples: Cristo e o crente são duas pessoas, não uma, assim como o Filho e o Pai não são uma pessoa, mas duas. As duas ilustrações mais freqüentemente empregadas são a alma e o corpo e a união do crente com Cristo. Cada uma delas ilustra um lado da grande doutrina, mas cada uma suplementa a outra. Aquela, tomada separadamente, representa a teoria eutiquiana; esta a nestoriana. Como a doutrina da Trindade, a pessoa de Cristo é um fato absolutamente único, no qual não encontramos analogia. Mas não sabemos como corpo e alma estão unidos.
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A. A. Hodge, Popular Lectures, 218,230 - "Muitas pessoas são unitárias, não por causa das dificuldades da Trindade, mas por causa das dificuldades da Pessoa de Cristo. ... A união das duas naturezas não é mecânica, como é entre o oxigênio e o nitrogênio no nosso ar; nem é orgânica, como o coração e os pulmões; mas é pessoal. A melhor ilustração é a união do corpo com a alma na nossa pessoa; como estão perfeitamente juntas no mesmo orador! Contudo, não são duas naturezas humanas, mas uma só. Por isso necessário se faz acrescentar a ilustração da união entre o crente e Cristo". Ε aqui também devemos confessar a imperfeição da analogia, porque Cristo e o crente são duas pessoas, não uma. A pessoa do Deus-homem é única e sem um adequado paralelo. Mas isto constitui sua dignidade e glória.
d) A Base da Possibilidade. - A possibilidade da união divindade e humanidade em uma pessoa baseia-se na criação original do homem à imagem divina. O parentesco do homem com Deus, em outras palavras, a posse de uma natureza racional e espiritual é a condição da encarnação. A vida do irracional é incapaz de união com Deus. Mas a natureza humana é capaz da divina não só no sentido de que ela vive, move-se e tem o seu ser em Deus, mas porque Deus pode unir-se indissoluvelmente a ela e dotá-la de poderes divinos conquanto ainda permaneça verdadeiramente humana. Visto que a imagem moral de Deus na natureza humana perdeu-se com o pecado, Cristo, a imagem perfeita de Deus segundo a qual o homem foi feito, restaura aquela imagem perdida, unindo-se à humanidade e enchendo-a de vida e amor divinos. 2 Pe. 1.4 - "participantes da natureza divina". A criação e a providência não fornecem o último limite da habitação de Deus. Além destas, existe a união espiritual entre o crente e Cristo, e mesmo além disto, existe a unidade entre Deus e o homem na pessoa de Jesus Cristo. Dorner, Glaubenslehre, 2.283 (Doutrina Sistemática, 3.180) - "A humanidade em Cristo relaciona-se com a divindade, como marido e mulher no casamento. Ela é receptiva mas exaltada pelo recebimento. Cristo é o produto da aliança [casamento] entre Deus e Israel".
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Dorner, Glaubenslehre, 2.403-411 (Doutrina Sistemática 3.301-308) "A questão é a seguinte: Como pode Cristo ser Criador e criatura? O Logos, como tal, acha-se em pólo bem oposto como um objetivo distinto. Como pode ele tornar-se, e ser, aquilo que existe como objeto de sua atividade e operação? Pode a causa tornar-se o próprio efeito? Resolve-se o problema lembrando apenas que o elemento divino e humano, embora distintos um do outro, devem ser tratados como estranhos um ao outro e mutuamente exclusivos. A própria coisa que os distingue os liga entre si. Sua distinção essencial é que Deus tem asseidade, enquanto o homem tem somente dependência, 'um abismo chama outro abismo' (SI. 42.7) - o abismo da riqueza divina e o abismo da pobreza humana, chamam-se reciprocamente. Oa minha parte o clamor - da parte dele a resposta'. Os recursos infinitos de Deus e a necessidade infinita do homem, o imensurável suprimento de Deus e a ilimitada receptividade do homem, atraem-se mutuamente, até que se unam naquele em quem habita corporalmente a plenitude divina. A mútua atração é de tal modo ética, que o amor divino 'nos amou primeiro' (1 Jo. 4.19). "Por isso a segunda nova criação não é, como a primeira, distinta de Deus; ela está unida a ele. A natureza se distingue de Deus, embora este se mova e opere nela. A natureza humana encontra muito mais a sua verdadeira realidade, ou realização, na união com Deus. O ato unificador de Deus não a infringe ou desfaz, mas ao contrário, a primeira faz, o que, na idéia de Deus; deve ser". Por isso a encarnação é o próprio cumprimento da idéia da humanidade. Admitir a humanidade sobrenatural é a mais natural de todas as coisas. O homem não é apenas uma tangente de Deus, mas um vaso oco a completar-se na fonte infinita. Natura humana in Christo capax divinae (Em Cristo, a natureza do homem tern a capacidade da divina). Deus não podia ter-se tornado um anjo, ou uma árvore, ou uma pedra. Mas podia tornar-se homem, porque este foi feito à sua imagem. Deus no homem, como sustenta Phillips Brooks, é o ser absolutamente natural. Channing diz que "todas as mentes pertencem a uma família" E. B. Andrews: "A divindade e a humanidade não são predicativos contraditórios. Se, com propriedade, se entendesse isto, não teria havido nenhum movimento unitário. Num verdadeiro sentido, o homem é divino. Isto também é verdade com relação a Cristo. Porém ele é infinitamente mais divino na
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natureza do que nós. Se dissermos que a sua divindade é uma nova espécie, então esta surge de um novo grau". "Se o olho não fosse um sol, Nenhuma luz poderia brilhar para ele: A alma não poderia obter a semelhança divina- Se ela também não fosse divina". John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 1.165 - "um circulo menor pode representar um maior dentro da sua forma circular mas um círculo maior ou menor não pode ser a imagem de um quadrado". ... 2.101 - "Deus não seria Deus sem a união com o homem e o homem não seria homem sem a união com Deus. Ele se fez imanente nos espíritos, compartilha das dores e tristezas. ... Mostrando o elemento infinito no homem, Cristo nos atrai para a sua própria excelência moral". Lyman Abbott, Theology of and Evolutionist, 190 "Encarnação é a morada de Deus nos seus filhos, cujo tipo e padrão é visto naquele que é ao mesmo tempo a manifestação de Deus no homem e a revelação dessa humanidade aos homens deve ocorrer quando se cumpre a obra de Deus no mundo - Deus perfeito, o homem perfeito porque Deus habita perfeitamente no homem perfeito". Citamos estes pronunciamentos, não porque os consideramos admissíveis à verdade completa sobre a união do Cristo divino e humano; mas porque reconhecem a semelhança essencial do elemento humano ao divino e, deste modo, auxiliam o entendimento da união entre os dois. Vamos além dos escritores citados ao sustentar não somente a morada de Deus em Cristo, mas uma união orgânica e essencial. Contudo, Cristo não é o Deushomem em virtude de possuir maior medida do elemento divino do que nós, mas por ser a fonte original de toda a vida tanto humana como divina. Sustentamos a sua deidade assim como a sua divindade como alguns destes escritores parecem não fazer. Ver Hb. 7.15,16 - "outro sacerdote que foi feito ... segundo a virtude da vida incorruptível"; Jo. 1.4 - "nele estava a vida e a vida era a luz dos homens".
e) Dupla pessoalidade. – Esta posse de duas naturezas não envolve uma dupla pessoalidade no Deus-homem em razão de que o Logos se une consigo mesmo não como um homem individual com a pessoalidade já desenvolvida, mas com a natureza humana que não tem nenhuma existência separada antes de sua união com a divina. A natureza humana
Teologia Sistemática (Strong) 1366 de Cristo é impessoal no sentido de que alcança autoconsciência e autodeterminação só na pessoalidade do Deus-homem. É importante aqui assinalar a distinção entre natureza e pessoa. Natureza é substância possuída em comum; as pessoas da Trindade têm uma natureza; há uma natureza comum da humanidade. Pessoa é natureza subsistindo separadamente, com poderes de consciência e vontade. Visto que a natureza de Cristo não tem e nunca teve uma subsistência separada, é impessoal e no Deus-homem o Logos fornece o princípio de pessoalidade. É igualmente importante observar que a autoconsciência e a autodeterminação não pertencem à natureza como tal, mas só à pessoalidade. Por esta razão, Cristo não tem duas consciências e duas vontades, mas uma só consciência e uma só vontade. Esta consciência e vontade, contudo, nunca é simplesmente humana, mas é sempre teantrópica - atividade de uma pessoalidade que une em si a humana e a divina (Mc. 13.32; Lc. 22.42). O pai e a mãe humanos são pessoas distintas e cada um dá aos seus filhos algo da sua própria natureza peculiar; contudo, o resultado não é duas pessoas no filho, mas uma pessoa com uma consciência e uma vontade. Assim a Paternidade de Deus e a maternidade de Maria não produziram uma dupla pessoalidade em Cristo, mas só uma. Dorner ilustra a união do elemento humano e divino em Jesus através do Espírito Santo no crente; nada estranho, nada distinguível da vida humana na qual ele entrou; e através do senso moral, que é a própria presença de Deus na alma humana, embora a consciência não interrompa a unidade da vida. Estas ilustrações auxiliam-nos a entender a interpretação do elemento humano através do divino em Jesus; mas apresentam o defeito de sugerir que a relação dele com Deus é diferente da nossa não no gênero, mas no grau. Só Jesus pode dizer: "Antes de Abraão nascer eu sou" (Jo. 8.58); "Eu e o meu Pai somos um" (Jo. 10.30). A teoria das duas consciências e das duas vontades, elaborada por João Damasceno foi um acréscimo não garantido à doutrina ortodoxa proposta em Calcedônia. Embora o ponto de vista de João Damasceno tivesse sido sancionado pelo Concilio de Constantinopla (681), "este nunca
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foi considerado ecumênico pela Igreja Grega e sua composição e espírito privam suas decisões de todo valor indicativo do verdadeiro sentido da Escritura". A natureza tem sua consciência e vontade, só quando se manifesta na pessoa. Uma pessoa tem uma só consciência, a qual abrange em seu escopo, em todos os tempos, uma natureza humana e, às vezes, divina. Observe que não dizemos que a natureza humana de Cristo não possuía vontade, mas apenas que não a tinha antes da união com a natureza divina e não a tinha separada da vontade que foi formada do elemento humano e do divino unidos. Sartório emprega a ilustração dos dois círculos concêntricos: um, o ego da pessoalidade em Cristo, é ao mesmo tempo o centro de ambos os círculos, a natureza humana e a divina. Ou melhor, ilustrado por um vaso de ar invertido e imerso, às vezes abaixo do seu centro, às vezes acima, dentro de outro vaso bem maior cheio de água. Ver Mc. 13.32 - "daquele Dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho"; Lc. 22.42 - "Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua". Dizer que, embora em sua capacidade humana fosse ignorante, ao mesmo tempo em sua capacidade divina ele era onisciente, é acusar Cristo de inveracidade. Sempre que Cristo falava, não eram duas pessoas que falavam, mas a pessoa em quem ambas as naturezas estavam unidas. Ao que ficou dito adicionamos várias definições de pessoalidade: Boëthius, citado em Dorner, Glaubenslehre, 2.415 (Doutrina Sistemática 3.313) - "Persona est animae rationalis individua substantia" (Pessoa é a substância racional indivisível da alma); F. H. Robertson, Lect. On Gen., p. 3 - "Pessoalidade = autoconsciência, vontade, caráter"; Porter, Human Intellect, 626 - "Pessoalidade = subsistência distinta, quer patente, quer latente, autoconsciente e autodeterminante"; Harris, Philos. Basis of Theism, 408 - "Pessoa = ser, consciência do eu, subsistente na individualidade e identidade e dotada de razão intuitiva, sensibilidade racional e livre vontade". Dr. E. G. Robinson define "natureza" como "o substrato ou condição do ser que determina o gênero e atributos da pessoa, mas que é claramente distinta da própria pessoa". Lotze, Metaphysics, 244 - "A identidade do sujeito da experiência interna é tudo o que requeremos. Sempre que e sempre quando a alma
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conhece a si mesma como o sujeito idêntico, ela é e assim é chamada, tão somente por essa razão, substância". Illingworth, Personality, Human and Divine, 32 -"Nossa concepção de substância não deriva do mundo físico, mas do mental. Substância é, antes de tudo, aquilo que suporta os nossos sentimentos mentais e manifestações. Kant declara que a idéia de liberdade é a fonte da nossa idéia de pessoalidade. "A pessoalidade consiste na liberdade total da alma sobre o mecanismo da natureza".
j) Efeito sobre o humano. – A união das naturezas divina e humana torna esta possuída dos poderes pertencentes àquela; em outras palavras, os atributos da natureza divina são outorgados à humana sem passar por sobre sua essência, - de modo que o Cristo humano, mesmo na terra, tinha poder para ser, conhecer e agir como Deus. Que este poder era latente, ou raramente manifesto, era o resultado do estado da autoescolha da humilhação na qual o Deus-homem entrou. Neste estado de humilhação, a comunicação do conteúdo da sua natureza divina com a humana foi mediada pelo Espírito Santo. O Deus-homem, em sua forma de servo, conhecia, ensinava e fazia só o que o Espírito Santo permitia e dirigia (Mt. 3.16; João 3.34; At. 1.2; 10.38; Hb. 9.14). Mas quando havia permissão, ele conhecia, ensinava e fazia, não como os profetas, pelo poder comunicado de fora, mas em virtude de sua própria energia (Mt. 17.2; Mc. 5.41; Lc. 5.20,21; 6.19; João 2.11,24,25; 3.13; 20.19). Kahnis, Dogmatik, 2ª ed. 2.77- "A natureza humana não se torna divina, mas (como diz Chemnitz) só o meio-termo do divino; do mesmo modo que a lua não tem luz própria, mas só reproduz a do sol. Assim também a natureza humana pode, por derivação, exercer os atributos divinos, porque ela está unida ao elemento divino em uma só pessoa". Mason, Faith of the Gospel, 151 - "A nossa alma espiritualiza o nosso corpo e um dia nos dará força para a humanidade em Cristo, conquanto esta ainda não deixa de ser humanidade". Phillippi, Glaubenslehre, 4.131 - "A união exalta o elemento humano do mesmo modo que a luz ilumina o ar, o calor dá brilho ao ferro, o espírito exalta o corpo, o Espírito Santo santifica o crente através da união com a
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sua alma. O fogo transmite ao ferro as suas propriedades de iluminação e queima; apesar de que o ferro não se torna fogo. O Espírito Santo santifica o crente, mas o crente não se torna divino; porque o determinante é o princípio divino. Não falamos da luz aérea, do calor do ferro, ou de uma alma corporal. Assim a natureza humana possui o elemento divino só por derivação. Neste sentido é nosso destino tornarmo-nos 'participantes da natureza divina' (2 Pe. 1.4)". Mesmo na sua vida terrena, quando ele queria ser ou, mais precisamente, quando o Espírito permitia, ele era onipotente, onisciente, onipresente, podia andar sobre o mar, ou entrar a portas fechadas. Mas, no seu estado de humilhação, ele estava sujeito ao Espírito Santo. Em Mt. 3.16, a unção do Espírito Santo no seu batismo não foi a descida material da pomba ("como uma pomba"). O aparecimento como uma pomba só foi um sinal exterior da vinda do Espírito Santo das profundezas do seu ser, derramando-se como um dilúvio na sua consciência divino-humana. Jo. 3.34 - "pois não lhe dá Deus o Espírito por medida"; At. 1.2 - "depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos"; 10.38 - "como Deus ungiu a Jesus de Nazaré, com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele"; Hb. 9.14 - "o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus". Quando o Espírito Santo permitia, ele sabia, ensinava e operava como Deus; Mt. 17.2 - "transfigurou-se diante deles"; Mc. 5.41 - "Menina, a ti te digo: levanta-te"; Lc. 5.20,21 - "Homem, os teus pecados te são perdoados. ... Quem pode perdoar pecados senão Deus?" - Le. 6.19 - "saía dele virtude que curava todos"; Jo. 2.11 -"Jesus principiou assim os seus sinais em Cana da Galiléia e manifestou a sua glória"; 24,25 - "porque a todos conhecia. ... ele bem sabia o que havia no homem"; 3.13 - "o Filho do Homem, que está no céu" [contudo, aqui Westcott e Hort, juntamente com Κ e B, omitem ό ων έν τω ούρανω, - em defesa da leitura comum, ver Broadus, Hovey's Com., sobre Jo. 3.13]; 20.19 - cerradas as portas ... chegou Jesus, e pôs-se no meio". Cristo é o "servo do Senhor" (Is. 42.1-7; 49.1-12; 52.13; 53.11) o sentido de παις (At. 3.13,26; 4.27,30) não é "criança" ou "Filho"; é "servo" como aparece na Versão Revista e Atualizada do Brasil (SBB). Porém no
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estado de exaltação Cristo é o doador do Espírito (Jo. 16.7 - "enviar-vo-loei"), presente no Espírito (Jo. 14.18 - "voltarei para vós"; Mt. 28.20 - "Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos") e operando através do Espírito (1 Co. 15.45 - "o último Adão, em espírito vivificante"; 2 Co. 3.17 -"Ora, o Senhor é Espírito"). Delitzsch: "A concepção do servo do Senhor é, como se fosse, de uma pirâmide, cuja base é o povo de Israel como um todo; a parte central, Israel, segundo o Espírito; o cume, o Mediador da Salvação, que surge de Israel". Cheyne, sobre Isaías, 2.253, concorda com este ponto de vista de Delitzsch, que é também o de Oeler. O V. T. é a vida de uma nação; o N.T., a vida de um homem. O principal fim de uma nação é produzir o homem; o principal fim do homem é salvar o mundo. Sabatier, Philos. Religion, 59 - Se potencialmente e em certo grau a humanidade não fosse um Emanuel, Deus conosco, nunca teria produzido de seu seio aquele que teve e revelou tal bendito nome". Queremos ampliar e corrigir esta ilustração da pirâmide, fazendo com que a base seja o Logos, como o Criador e sustentador de todas as coisas (Ef, 1.23; Cl. 1.16); o estrato que se apóia a seguir no Logos é a humanidade universal (SI. 8.5,6); a seguir vem Israel como um todo (Mt. 2.15); o Israel espiritual se apoia sobre o Israel segundo a carne (Is. 42.1-7); como ápice e pedra superior, vem, a coroar a pirâmide, Cristo, o verdadeiro servo do Senhor e Filho do homem (Is. 53.11; Mt. 20.28). Podemos avançar com a humanidade sempre desenvolvendo-se e subindo ao céu (Is. 9.6-"Pai eterno"; Is. 53.10-"verá a sua posteridade"; Ap. 22.16 - "Raiz e Geração de Davi"; Hb. 2.13 - "eu e os filhos que Deus me deu".
g) Efeito sobre o divino. – Esta comunhão das naturezas era tal que, apesar de que a natureza divina em si é incapaz de ignorância, de fraqueza, de tentação, de sofrimento, ou morte, a pessoa de Jesus Cristo era capaz destas coisas em virtude da união da natureza divina com a humana. Como o Salvador humano pode exercer atributos divinos, não só em virtude de sua humanidade, mas derivada, em virtude de possuir a natureza divina, assim o Salvador pode sofrer e ignorar como homem, não em sua natureza divina, mas derivada em virtude de possuir a natureza humana. Podemos ilustrar isto com a conexão entre o corpo e a
Teologia Sistemática (Strong) 1371 alma. A alma sofre dor por causa da sua união com o corpo, o que separada do corpo seria impossível. Assim o Deus-homem apesar da natureza divina impassível, era capaz por causa da união com o elemento humano, de um sofrimento absolutamente infinito. Como a minha alma nunca poderia sofrer as dores do fogo se apenas fosse alma, mas pode sofrê-las na união com o corpo, assim o Deus, doutra forma impassível pode sofrer as agonias mortais através da união com a humanidade, o que ele nunca poderia se não se ligasse à minha natureza. A união entre a humanidade e a divindade é tão estreita que a própria divindade se submeteu à maldição e pena da lei. Por que Cristo é Deus passou ele pelas chamas do Getsêmani e do Calvário sem chamuscar-se? Ao invés disso, digamos, porque Cristo é Deus, suportou o sofrimento absolutamente infinito. A. J. F. Behrends, Examiner, 21 de abril de 1898 - "Jesus Cristo é Deus na forma de homem; tão integralmente Deus como se não fosse homem; tão integralmente homem como se não fosse Deus. Ele é sempre divino e sempre humano. ... As enfermidades e dores do seu corpo traspassaram a natureza divina. ... A demanda da lei lançada sobre Cristo não veio de fora, mas de dentro. É a justiça dentro dele que tornou necessária a sua morte".
h) Necessidade da união. – A união das duas naturezas em uma pessoa é necessária para constituir Jesus Cristo um apropriado mediador entre o homem e Deus. Esta dupla natureza dá-lhe comunhão com as duas partes visto que envolve uma dignidade igual à de Deus e ao mesmo tempo perfeita simpatia para com o homem (Hb. 2.17, 18; 4.15,16). Esta dupla natureza, contudo, capacita-o a apresentar tanto a Deus como ao homem os termos apropriados da reconciliação: sendo homem, pode fazer expiação pelo homem; sendo Deus, sua expiação tem valor infinito; enquanto tanto a sua divindade como a sua humanidade combinam-se para mudar os corações dos ofensores e constrangê-los à submissão e amor(l Tm. 2.5; Hb. 7.25).
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Hb. 2.17,18 - "Porque convinha que, em tudo, fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque, naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer os que são tentados"; 4.15,16 "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno"; 1 Tm. 2.5 - "um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem"; Hb. 7.25 - "Portanto, pode salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre a interceder por eles". Porque Cristo é homem, pode fazer expiação pelo homem e simpatizar com o homem. Porque Cristo é Deus, sua expiação é de valor infinito e a união que ele efetua com Deus é completa. Um salvador somente humano nunca nos poderia reconciliar e nos unir novamente a Deus. Mas o salvador divino-humano vem ao encontro das nossas necessidades. Ver Wilberforce, Incarnation, 170-208. Como o sumo sacerdote no passado levava em sua mitra o nome IHVH, e em seu peitoral os nomes das tribos de Israel, assim Cristo Jesus é Deus conosco e, ao mesmo tempo, nosso representante propiciatório diante de Deus. Na Eneida de Virgílio, Dido diz com precisão: "Haud ignara mali, miseris succurrere disco" - "Eu mesmo não ignoro o sofrimento, aprendo a mostrar compaixão". Terêncio profere uma palavra quase cristã quando escreve: "Homo sum, et humani nihil a me alienum puto". - "Sou homem e, em mim, nada de humano julgo que seja estranho em mim". A experiência e divindade de Cristo tornam estas palavras muito mais verdadeiras nele do que em qualquer outro ser humano.
i) A união eterna. – A união da humanidade com a divindade na pessoa de Cristo é indissolúvel e eterna. Diferentemente dos avatares do Oriente, a encarnação foi a admissão da natureza humana pela segunda pessoa da Trindade. Na ascensão de Cristo, a humanidade glorificada atingiu o trono do universo. Por seu espírito, este mesmo Salvador divino-humano é onipresente para assegurar o progresso do seu reino. A sujeição final do Filho ao Pai, mencionada em 1 Co. 15.28, não pode ser
Teologia Sistemática (Strong) 1373 outra senão o completo retorno do Filho à sua relação original com o Pai; visto que, segundo João 17.5, Cristo deve novamente possuir a glória que tinha com o Pai antes que o mundo existisse (cf. Hb. 1.8; 7.24,25). 1 Co. 15.28 - "E quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos"; Jo. 17.5 - "Glorifica-me tu, ó Pai, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse"; Hb. 1.8 - "Mas, do Filho, diz: ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos"; 7.24 - "mas este, porque permanece para sempre, tem o seu sacerdócio perpétuo". Dorner, Glaubenslehre, 2.281-283 (Doutrina Sistemática 3.177-179), sustenta que há uma distinção presente e relativa entre a vontade do Filho, como Mediador, e a do Pai (Mt. 26.39 - "não como eu quero, mas como tu queres") - a qual cessa quando Cristo se torna Juiz (Jo. 16.26 - "Naquele dia, pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai"). Se o reino de Cristo cessasse, ele seria inferior aos santos, que devem reinar. Mas eles devem reinar só em Cristo e com ele, que é o cabeça. A melhor ilustração do sentido possível do abandono do reino por Cristo encontra-se no Governador da Companhia das índias Orientais, abrindo mão da sua autoridade em favor da rainha e incorporando-a à do governo da sua terra, embora ele, ao mesmo tempo se tornasse Secretário de Estado da Índia. Assim Cristo abrirá mão do seu ofício, mas nunca da sua mediação. Naquele tempo ele reinava por autoridade delegada; agora em união com o Pai. Wrightnour: "Quando o grande remédio operou a perfeita cura, o médico não será mais tratado como médico. Quando a obra da redenção já estiver completa, cessará o ofício mediador do Filho". Podemos acrescentar que começarão outros ofícios como o da amizade e instrução. Melanchton: "Cristo findará sua obra como Mediador e, a partir de então, reinará com Deus, revelando-nos imediatamente a sua divindade". Quenstedt, citado por Schmid, Dogmatik, 293, é da opinião que o abrir mão do reino será apenas uma mudança da administração externa em favor de uma interna, - não uma rendição de todo o poder e autoridade, mas só de um modo de exercício. Hanna, Resurrection, preleção 4 - "não se trata de abrir mão de sua autoridade mediadora; o seu trono é eterno, - mas trata-se de um reconhecimento público do fato de que Deus é tudo em todos, de que
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Cristo é o meio de que Deus se vale para cumprir tudo". Análise Paralela da Bíblia, 1 Co. 15.28 - "Não é a sua relação mediadora com o seu próprio povo que será interrompida; muito menos a sua relação pessoal com a Divindade, como Verbo divino; mas somente a relação mediadora com o mundo genericamente". Ver também Edwards, Observations on the Trinity, 8 e ss. Expositor's Greek Testament, sobre 1 Co. 15.28, não afirma nenhuma outra sujeição além da envolvida na Filiação. ... Isto não implica inferioridade da natureza, nem exclusão do poder, mas a livre submissão do amor. ... que é a essência do espírito filial que dominou Cristo do começo ao fim. ... Qualquer que seja a sua glória dedica-se à glória e ao poder do Pai, que, por sua vez, o glorifica". Dorner, Glaubenslehre, 2.402 (Doutrina Sistemática, 3.297-299) - "Não devemos imaginar a encarnação de Cristo no mundo angelical, ou em outras esferas. Isto tornaria a encarnação apenas a mudança de roupagem, uma teofania passageira; e a relação de Cristo com a humanidade seria tão somente exterior". Bispo de Salisbury, citado por Swayne, O Conhecimento do nosso Senhor como Homem, XX - "É-nos permitido crer que há algo paralelo ao progresso da humanidade do nosso Senhor no estado de humilhação, vindo até os nossos dias, no estado de exaltação? isto é, de fato, tornando-se cada vez mais adequado à natureza divina? Ver Cl. 1.24 'cumpro o resto'; Hb. 10.12,13 - 'esperando até que os seus inimigos'; 1 Co. 15.28 - 'quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas'". A nosso juízo, tal conclusão não oferece garantia, pelo fato de que o Deus-homem, em sua exaltação, tem a glória do estado preexistente (Jo. 17.5); que todos os poderes celestes já estão sujeitos a ele (Ef. 1.21,22); e que ele agora é onipresente (Mt. 28.20).
j) O infinito e o finito em Cristo. – Nossa investigação da Escritura, ensinando a respeito da pessoa de Cristo leva-nos a três importantes conclusões: 1. que a divindade e a humanidade, o infinito e o finito, nele não são mutuamente exclusivos; 2. que a humanidade em Cristo difere da sua divindade não meramente em grau, mas em gênero; e que 3. esta diferença em gênero é diferença entre o infinito original e o finito derivativo, de modo que Cristo é a fonte da vida, tanto física como espiritual, para todos homens.
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Nossa doutrina exclui o ponto de vista de que Cristo é apenas quantitativamente diferente dos outros homens nos quais habita o Espírito de Deus. Qualitativamente, ele difere por ser a fonte da vida e os homens os seus receptores. É verdade não só que a plenitude de Deus está só nele; é verdade que também ele é Deus, revelando-se e comunicando-se, o que não acontece com os homens. Contudo, não podemos sustentar com Ε. Η. Johnson, Outline of Syst. Theol., 176-178, que a humanidade de Cristo foi da mesma espécie que a deidade, mas não da mesma substância. Não conhecemos nenhuma substância subjacente e base do ser. Tal substância a si mesmo se limita e se manifesta em Jesus Cristo. O elemento determinante não é o humano, mas o divino. A fonte infinita tem uma manifestação finita; mas no finito vemos o Infinito; 2 Co. 5.19 - "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo"; Jo. 14.9 - "Quem me vê a mim vê o Pai". Por isso podemos concordar com os seguintes escritores que consideram todos homens participantes da vida de Deus, embora neguemos que Cristo seja apenas homem, distinto dos seus semelhantes por ter, mais do que nós, participação naquela vida. J. M. Whiton: "Como deve o espírito divino que se manifesta na vida do Jesus Cristo homem distinguir-se qua divino, do mesmo espírito divino manifesto na vida da humanidade? Respondo que, nele, a pessoa de Cristo habita corporalmente a plenitude de Deus. Dou ênfase à plenitude e digo: Deus é semelhante à raça e à direção espiritual, mas a plenitude está apenas nele -plenitude naturalmente não absoluta, visto que circunscrita a um organismo humano, mas dentro dos limites de tal organismo. A divindade essencial não pode ser atribuída ao Cristo humano a não ser em comum com a raça, criada à imagem de Deus. Ávida é uma só e é divina". ... Gloria Patri, 88.23 - "Toda encarnação da vida é pro tanto e em tal medida uma encarnação de Deus.... e o processo de Deus é a perpetuamente crescente encarnação da vida cujo clímax e coroa é a divina plenitude da vida em Cristo. ... O Homoousios do Credo Niceno foi uma grande vitória da verdade. Porém os Pais nicenos edificaram de uma forma melhor do que conheciam. O unitário Dr. Hedge os louvava porque eles captaram a verdade, a conclusão lógica daquilo que deveria vir mais tarde; que Deus e o homem são a mesma substância". Assim Momerie, Inspiração, sustenta que a natureza do homem é em gênero, a mesma que a de Deus. Ver a crítica deste ponto de vista em Watts, New Apologetic, 133,134. Ele considera que
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o homoiousios envolve homoousios; a natureza divina capaz de fissão ou segmentação, quebrada em parte e distribuída entre agentes morais finitos; a natureza divina submetendo-se a perenes limitações; por isso todo homem, até certo ponto inspirado, e o mal é tão verdadeiramente uma inspiração de Deus como o bem. Parece-nos que Watts não tem a concepção própria do infinito como base do finito, e por isso não o exclui. Lyman Abbott afirma que Cristo é "não Deus e homem, mas Deus no homem". Cristo difere dos outros homens só como a flor difere do bulbo. Como verdadeiro homem, ele é genuinamente divino. Deidade e humanidade não são duas naturezas distintas, mas só uma. A natureza ético-espiritual que é finita no homem é idêntica à natureza que é infinita em Deus. A distinção entre Cristo e os outros homens acha-se, portanto, no grau em que compartilha esta natureza e possui uma única plenitude de vida - "ungiu ... com o Espírito Santo e com poder" (At. 10.38). Phillips Brooks: "A esta humanidade do homem como parte de Deus - com isto concordo; porque a isto amo e nada mais quero conhecer. ... O homem é, em virtude de sua humanidade essencial, participante da vida do Verbo essencial. ... Para cada alma, até onde possível recebê-la, Deus fere a sua vida e lhe dá o seu socorro". Phillips Brooks crê que Deus habita como redentor no homem, de sorte que a salvação é do homem, para o homem, pelo homem. Ele não sente escrúpulo em dizer a cada um: "Você é uma parte de Deus". Conquanto nos esquivemos de expressões que parecem implicar uma divisão da natureza divina, somos compelidos a reconhecer a verdade em que estes escritores estão empenhados em expressar a unidade essencial de toda a vida, e de Deus em Cristo, como a sua fonte e o seu doador. "É com aprovação que Cristo cita as palavras do SI. 82.6 - 'Eu disse: Vós sois deuses'. Microscópicos, na verdade, somos divinos - centelhas da chama da divindade. Deus é o Criador, mas é através de Cristo como o mediador e como a Causa final. Έ nós por ele' (1 Co. 8.6) = existimos para ele, para realização de uma humanidade divina em solidariedade com ele. Cristo é ao mesmo tempo o fim e a causa instrumental do processo inteiro. Samuel Harris, Deus, o Criador e Senhor de Tudo, fala do "elemento essencialmente divino no homem". O Filho, ou Verbo de Deus, "quando manifesto nas formas de uma personalidade finita, é o Cristo essencial revelando isso em Deus, que é essencial e eternamente humano".
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Pfleiderer, Philos. Religion, 1.196 - "A humanidade inteira é o objeto do amor divino; é um Emanuel e filho de Deus; sua história inteira é uma encarnação contínua de Deus; na verdade a Escritura diz que nós somos uma geração divina e que em Deus vivemos e nos movemos e existimos. Mas o que está potencialmente na consciência humana de Deus não é por causa do que também se manifesta a ela desde o princípio". Hatch, Hibbert Lect. 175-180, sobre o monismo estóico e o dualismo platônico, diz-nos que os estóicos criam num λόγος pessoal e num ΰλη impessoal, ambos modos de uma só substância. Alguns consideram Deus como um modo da matéria, natura naturata: "Jupiter est quodcumque vides, quodcumque moveris" (Lucan, Phars., 9.579); outros concebiam-no como a natura naturans, – esta se tornou a concepção dominante. ... Os produtos são todos divinos, mas não igualmente divinos.... Mais próxima da essência pura de Deus está a alma humana; ela é uma emanação ou uma fluência dele, um renovo que está separado da vida de uma árvore paterna embora continue a viver com ela, uma colônia na qual alguns membros do grupo paterno se estabeleceram. Platão seguiu Anaxágoras ao sustentar que a mente está separada da matéria e age sobre ela. Deus está fora do mundo. Ele lhe dá forma do mesmo modo que o carpinteiro à madeira.
SEÇÃO III - OS DOIS ESTADOS DE CRISTO I. ESTADO DE HUMILHAÇÃO 1. Natureza desta humilhação Podemos apresentar, como nota indigna de seriedade, os pontos de vista de que ela consistiu essencialmente ou na união do Logos com a natureza humana, pois esta união com a natureza humana continua no estado de exaltação; ou nas provações exteriores e privações da vida humana de Cristo, pois este ponto de vista lança reprovação sobre a pobreza e ignora o poder da alma de subir a uma área superior às suas circunstâncias exteriores.
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E. G Robinson, Christian Theology, 224 - Ό erro de supor que é por demais humilhante obedecer a uma lei derivou do tesouro romano do mérito e obras de supererrogação [obras que excedem ao exigido por lei]. Melhor é o sentimento de Frederico, o Grande, quando o seu resoluto súdito vizinho, cujo moinho de vento ele tentou retirar, tendo-o derrotado num processo judicial, o frustrado monarca exclamou: 'Graças a Deus que na Prússia há lei'!" Palmer, Theological Definition, 79 - "Deus se revela na rocha, nos vetais, nos animais, no homem. Não pode o processo continuar? Não pode aparecer na plenitude dos tempos um homem que revele Deus tão perfeitamente quanto é possível nas condições humanas - um homem que é Deus dentro das limitações da humanidade? Tal encarnação é humilhação apenas aos olhos do homem. Para Cristo, trata-se de exaltação, de glória; Jo. 12.32 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim' ". George Harris, Moral Evolution, 409 - "A divindade de Cristo não é obscurecida, mas, ao contrário, é vista claramente, brilhando através da sua humanidade".
Podemos dedicar mais atenção A) À teoria de Thomasius, Delitzsch e Crosby, de que a humilhação consistiu na renúncia dos seus atributos divinos. Esta teoria sustenta que o Logos, apesar de reter a sua divina consciência de si mesmo e seus atributos imanentes de santidade, amor e verdade, renunciou seus atributos relativos de onisciência, onipotência, onipresença a fim de tomar para si a verdadeira natureza humana. Segundo este ponto de vista, há, na verdade, duas naturezas em Cristo, mas nenhuma delas é infinita. Thomasius e Delitzsch são os principais defensores desta teoria na Alemanha. Howard Crosby tem sustentado semelhante ponto de vista na América. A teoria de Thomasius, Delitzsch, e Crosby, embora inadequadamente, tem sido chamada de quenótica (de έκένωσεν - "a si mesmo se esvaziou" – em Fp. 2.7), e seus defensores são chamados de teólogos quenóticos. Há uma quênose do Logos, mas de um tipo diferente do que esta teoria supõe. Crosby dá ênfase à locução "se fez", em Jo. 1.14 - "e o Logos de fez carne" e dá à palavra carne o sentido de "homem", ou de "humano".
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Conseqüentemente, Crosby deve, por efeito lógico, negar, embora não o faça, que o corpo de Cristo derivou da Virgem.
A este ponto de vista objetamos que: a) Contradiz as Escrituras já referidas nas quais Cristo afirma seu conhecimento e poder divinos. Tem-se dito que a divindade pode interromper suas funções terrenas, pois ela existia sem estas antes da criação. Mas interromper os atributos divinos é interromper a substância de Deus. Nem é resposta suficiente dizer que só os atributos relativos são interrompidos enquanto os atributos imanentes, que caracterizam principalmente a divindade, são retidos; pois os imanentes envolvem necessariamente os relativos, do mesmo modo que o maior envolve o menor. Leibner, Jahrbuch für d. Theol., 3.349-356 - "Está o Logos aqui? Mas em que ele mostra a sua presença, para que possa ser conhecida"? Hase, Huterus Redivivus, 11ª ed., 217, nota. John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 2.125-146, critica a teoria quenótica, mas admite que com todas as suas contradições, como ele as considera, é uma tentativa de tornar concebível a profunda verdade de um Deus simpático e que a si mesmo se sacrifica.
b) Visto que o Logos, unindo-se a uma alma humana, reduz-se à condição e limitações dela, a teoria é virtualmente da coexistência de duas almas em Cristo. Mas a união de duas almas finitas é mais difícil de explicar do que a união de uma finita com uma infinita, visto que não pode haver naquele caso nenhuma direção inteligente e controle do elemento humano pelo divino. Dorner, Jahrbuch für d. Theol., 1.397-408 - "A impossibilidade de tornar duas almas finitas em uma levou, por fim, o arianismo à negação de qualquer alma humana em Cristo" (apolinarismo). Esta afirmação de Dorner, que já citamos ao tratar do apolinarismo, ilustra a igual impossibilidade,
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apoiada na teoria de Thomasius de edificar, a partir de duas almas iguais, a pessoa de Cristo.
c) Esta teoria deixa de garantir seu fim, que é o de tornar compreensível o desenvolvimento humano de Jesus, pois, apesar de despido dos atributos relativos da Divindade, o Logos ainda retém sua divina consciência de si mesmo juntamente com seus atributos imanentes de santidade, amor e verdade. É difícil reconciliar isto com um desenvolvimento humano puramente natural como a posse dos atributos relativos de Deus seriam. A teoria logicamente leva a uma negação da posse de quaisquer atributos divinos ou de qualquer consciência divina da parte de Cristo e apresenta-se no ponto de vista de Gess e Beecher de que a divindade do Logos transforma-se verdadeiramente em uma alma humana. Kahnis, Dogmatik, 3.343 - "A teologia antiga concebia Cristo no seu uso pleno e inquebrantável da consciência de si mesmo, dos atributos divinos, e das funções terrenas, desde a sua concepção até à sua morte. Embora Jesus, como feto, criança, menino, não fosse onipotente e onipresente em sua natureza humana, contudo ele o era quanto à natureza divina, que constituía um ego com a humana. Entretanto, Thomasius declarava que o Logos abriu mão dos seus atributos relativos, durante a sua peregrinação em carne. A objeção de Dorner a isto, baseado na imutabilidade divina, transpõe a marca porque torna toda a transposição impossível. "Porém algumas coisas da doutrina de Thomasius ainda são difíceis: 1ª, a divindade pode sem dúvida interromper suas funções terrenas porque ela existe sem estas antes que o mundo existisse. Contudo, na natureza de uma pessoalidade absoluta há um conhecimento, uma vontade, um sentimento absolutos de que ela não pode abrir mão. Por isso, Fp. 2.6-11 fala de um abrir mão da glória divina, mas não abrir mão dos atributos ou da natureza. 2ª, pouco se ganha com a suposição de que se abriu mão dos atributos ou natureza divinos, visto que o Logos, mesmo quando desvestido de uma parte dos seus atributos, ainda possui plenamente a sua própria
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consciência divina que deve tornar menos difícil o desenvolvimento humano. 3ª, as expressões da própria consciência, as obras poderosas, as palavras da sabedoria, todas divinas, provam que Jesus estava de posse da sua consciência própria e atributos divinos. "O elemento essencial que os quenóticos têm em vista são firmes; a saber, que a pessoalidade divina do Logos desvestiu-se da sua glória (Jo. 17.5), das riquezas (2 Co. 8.6), da forma divina (Fp. 2.6). Este desvestir-se é o tornar-se homem. Daí, a humilhação não é abandonar a posse da natureza e atributos, mas o seu emprego. Que o homem pode deste modo abrir mão da sua própria consciência e dos seus poderes, vemos diariamente no sono. Mas nem por isso o homem deixa de ser homem. Sustentamos que, quando o Logos se tornou homem não se desvestiu da pessoa e natureza divinas, o que é impossível; mas apenas do emprego e exercício delas - que lhe são latentes - para desdobrá-las ao seu emprego, na medida que a natureza humana se desenvolvia - emprego que se completou na condição de exaltação". Esta afirmação de Kahnis, embora próxima do elemento correto, ainda nem é perfeitamente correta, nem perfeitamente completa.
B) Teoria de que a humilhação consistiu na renúncia do exercício independente dos atributos divinos. Esta teoria, que consideramos como a mais satisfatória de todas, pode ser mais plenamente estabelecida como segue. A humilhação, como a Escritura parece mostrar, consistiu: a) No ato do Logos preexistente segundo o qual ele interrompeu sua glória divina com o Pai para tomar a forma de servo. Neste ato, ele resignou, não a posse, nem o uso total, mas o exercício independente dos atributos divinos. Jo. 17.5 - "glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com a glória que tinha contigo antes que o mundo existisse"; Fp. 2.6,7 - "subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo; e reconhecido em forma humana"; 2 Co. 8.9 - "pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo,
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que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos". Pompília, em Ring and Book de Robert Browning: "Agora vejo como Deus é mais semelhante ao Deus nascido". A onisciência abre mão de todo o conhecimento, porém a de criança, de menino, do embrião, o germe da infinitesimal humanidade. A onipotência abre mão de todo o poder, mas da origem impregnada no ventre da Virgem. A divindade se estreita num ponto que se segue à extinção absoluta. O ato de Jesus lavar os pés aos discípulos (Jo. 13.1-20) simboliza a descida do seu trono de glória, tomando a forma de servo, para nos purificar, pela regeneração e santificação, para as bodas do Cordeiro.
b) Na submissão do Logos ao controle do Espírito Santo e as limitações da sua missão messiânica em sua comunicação da plenitude divina da natureza humana que ele recebera na união consigo mesmo. At. 1.2 - Jesus, "depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera"; 10.38 - "ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude"; Hb. 9.14 - "o sangue de Jesus Cristo, que, pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus". Um menor pode ter grandes bens que lhe foram deixados, apesar de que pode tê-lo empregado como o seu guardião lhe permite. Na Ilíada de Homero, quando Andrômaco traz o seu filho para partir com Heitor, o menino fica apavorado com as plumas de guerra do capacete do seu pai, e Heitor as tira para abraçá-lo. Do mesmo modo Deus põe de lado "aquela forma gloriosa, aquela luz insofrível e aquele brilho metálico da majestade". Arthur H. Hallam, em Rab and his Friend, 282,283 - "Revelação é a aproximação voluntária do Ser infinito aos caminhos e pensamentos da humanidade finita".
c) Na contínua renúncia do Deus-homem até no que se refere à sua natureza humana do exercício dos poderes divinos de que ele foi dotado em virtude de sua união com o divino e sua aceitação voluntária, da tentação, sofrimento, e morte que se seguiram a isso.
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Mt. 26.53 - "ou pensas tu que eu não poderia, agora, orar a meu Pai e que ele não me mandaria mais de doze legiões de anjos"? Jo. 10.17,18 "Por isso, o Pai me ama, porque dou a vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar e poder para tomá-la"; Fp. 2.8 - "e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo sendo obediente até à morte e morte de cruz". Cf. Shakespeare, Mercador de Veneza: "Tal música existe nas almas imortais, que, embora suas vestes lamacentas se lhe colem, não podemos vê-la (a música)".
Cada um destes elementos da doutrina tem seu próprio apoio nas Escrituras. Portanto, devemos considerar a humilhação de Cristo, não consistentes com um simples ato, mas envolvendo uma contínua autorenúncia, que começou com a Kenosis do Logos em se tornando homem e que culminou na auto-sujeição do Deus-homem à morte de cruz. Entender-se-á melhor a nossa doutrina sobre a humilhação de Cristo se a situarmos no meio do caminho entre dois pares de pontos de vista errôneos, criando um terceiro no total de cinco. A lista é a seguinte: 1) Gess: O Logos abriu mão de todos atributos divinos; 2) Thomasius: O Logos abriu mão só dos atributos relativos; 3) O Verdadeiro Ponto de Vista: O Logos abriu mão do exercício independente dos atributos divinos; 4) Velha Ortodoxia: Cristo abriu mão dos atributos divinos; 5) Anselmo: Cristo agiu como se não possuísse atributos divinos. Apresentamos abaixo a exposição completa da passagem clássica relativa à humilhação, a saber, Fp. 2.5-8, no parágrafo seguinte, páginas 705, 706. Brentius ilustra a humilhação de Cristo com um rei que viaja incógnito. Mas Mason, Faith of Gospel, 158, diz, com precisão, que "partir só em aparência com o gozo dos atributos divinos seria impor-nos um pretenso sacrifício de si mesmo; mas partir verdadeiramente com ele é manifestar de modo mais perfeito a verdadeira natureza de Deus".
2. Estágios da humilhação de Cristo Podemos distinguir: a) O ato do Logos pré-encarnado pelo qual, tornando-se homem, ele interrompeu o exercício independente dos atributos divinos. b) Sua submissão às leis comuns que regulam a origem
Teologia Sistemática (Strong) 1384 das almas de um tronco pecaminoso preexistente, recebendo sua natureza humana da Virgem, natureza que só a concepção miraculosa tornaria pura. c) Sua sujeição às limitações que o crescimento e desenvolvimento humano envolviam, atingindo a consciência de sua filiação aos seus doze anos, não operando milagres senão depois do batismo. d) A subordinação de si mesmo, em estado, conhecimento, ensino e atos ao controle do Espírito Santo, vivendo, assim, não independente, mas como um servo. e) Sua sujeição à tentação e ao sofrimento, em conexão com uma raça pecaminosa e, finalmente, à morte que se constituiu na pena da lei. Pedro Lombardo perguntava se Deus podia saber mais do que ele estava consciente. Trata-se apenas de um outro modo de colocar a questão se, durante a vida terrena de Cristo, o Logos existia fora da carne de Jesus. Devemos responder com a afirmativa. Doutra sorte, o número de pessoas na Trindade seria variável e o universo poderia agir sem aquele que está sempre "sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder" (Hb. 1.3) e em quem "todas as coisas subsistem" (Cl. 1.17). Convém lembrar a natureza da onipresença de Deus (ver pp. 279-282). A onipresença não é nada menos que a presença integral de Deus em todo lugar. A partir daí, segue-se que o Cristo integral pode estar presente em cada crente de um modo tão pleno como se esse crente fosse o único a receber a sua plenitude e que o Logos inteiro pode estar unido e presente no homem Jesus Cristo, enquanto, ao mesmo tempo, ele enche e governa o universo. Por isso, em virtude da sua onipresença, o Logos todo pode sofrer na terra enquanto o Logos todo reina no céu. O Logos fora de Cristo tem a consciência perpétua da sua divindade, enquanto o Logos, unido à humanidade em Cristo, está sujeito ao desconhecimento, à fraqueza e à morte. Shedd, Dogm. Theol., 1.153 - "Jeová, embora presente na forma da sarça ardente, era ao mesmo tempo onipresente"; 1.265-284, esp. 282 "Porque o sol brilha na nuvem e através dela, não se segue que não possa ao mesmo tempo estar brilhando através dos outros espaços do universo, desobstruído por qualquer vapor em qualquer parte". Gordon, Ministry of the Spirit, 21 - "Diferentemente do homem, em Deus a chegada a um lugar não
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necessita o afastamento de outro". João Calvino: "Lá está o Cristo todo; mas nem tudo o que estava em Cristo estava lá". Não se concebe como se pode dispor do exercício dos atributos da onipotência, da onisciência e da onipresença, mesmo que seja por algum tempo quando se considera o Logos como é em si mesmo, sentado no trono do universo. A matéria é um tanto mais fácil quando lembramos que não o Logos perse, mas ao invés disso, o Deus-homem, Jesus Cristo, em quem o Logos submeteu a esta humilhação. South, Sermons, 2.9 - "Nunca a fonte está tão cheia, se ela se comunica através de um tubo de pequena dimensão; a correnteza pode ser pequena e considerável e igual à medida da sua condução". Sartório, Person and Work of Christ, 39 - "Quando o olho humano abre, vê céu e terra; mas quando fecha pouco ou nada vê. Contudo, a sua capacidade inerente não muda. Do mesmo modo a divindade não muda a sua natureza quando desce a cortina da humanidade diante dos olhos do Deus-homem". O elemento divino em Cristo, durante a maior parte da sua vida terrena, é latente, ou só esporadicamente presente à sua consciência ou manifesto aos outros. Ilustremos a partir da segunda infância, na qual a própria mente existe, mas não é capaz de uso; ou da primeira infância, em que nem mesmo um Newton, ou um Humboldt, se retrocedessem à terra e ocupassem um cérebro infantil, com poderes infantis. Há mais na memória do que podemos lembrar neste momento; a memória é maior do que a lembrança. Há mais de nós em todos os tempos do que podemos saber; só uma súbita emergência revela a grandeza dos recursos da nossa mente e do coração e da vontade. No regenerado, a nova natureza é maior do que aparenta: "Amados, agora somos filhos de Deus e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele" (1 Jo. 3.2). Deste modo há uma plenitude oceânica de recursos de cuja consciência e cujo exercício só agora e daí em diante o Espírito permite. Sem negar (como Dorner) a plenitude, mesmo a partir do momento da sua concepção, da união entre a deidade e a humanidade, podemos ainda dizer com Kahnis: "A natureza humana de Cristo, segundo a medida do seu desenvolvimento, se apropria cada vez mais do seu emprego consciente da
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plenitude latente da natureza divina ". Assim tiramos a média entre os dois extremos opostos. Por um lado, a quênosis não é a extinção do Logos. Nem, por outro, sentiu fome ou sono por milagre; isto é docetismo. Não devemos minimizar a humilhação de Cristo, porque esta é a sua glória. Não há limite para a sua descida a não ser a que surge da sua impecaminosidade. Sua humilhação não é simplesmente o abrir mão da aparência de Deus. Beard, Elohim Revealed, 585 - "Seria fraco e absurdo que alguém, baseado no fato de que o Imperador Carlos Quinto abriu mão dos seus trajes da realeza e assumiu o estilo de um súdito e ignorou o mais importante fato que realmente se tornou uma pessoa reservada e tivesse sido alvo da celebração da sua condescendência". Cf. 2 Co. 8.9 - "sendo rico, se fez pobre por amor de vós" = tornou-se um pedinte. Mt. 27.46 - "Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste"? = o não exercício da onisciência divina. Contudo, visto que a passagem de Fp. 2.6-8 é a principal base e apoio da doutrina da humilhação de Cristo, anexamos aqui um exame mais pormenorizado a seu respeito. EXPOSIÇÃO DE FILIPENSES, 2.6-8. A passagem reza: "pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em forma humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz". O sujeito da sentença é, no início, (v. 6,7) Cristo Jesus, considerado o Logos preexistente; a seguir, (v. 8), este mesmo Cristo Jesus é considerado o encarnado. O contraste entre μορφή θεού e μορφήν δούλου assim como os particípios λαβών e γενόμενος (ν. 7) e ευρεθείς (ν. 8) indicam a mudança do sujeito. Afirma-se, então, que, o Logos preexistente, "apesar de subsistir na forma de Deus, não considerou sua igualdade com Deus algo que deve ser retido à força, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, (isto é) fazendo-se semelhança dos homens. E, na condição de homem, ele (o filho encarnado de Deus) humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz" (v. 8). É bom notar aqui que o Logos se desvestiu, ao tornar-se homem, não da sua substância de Deus, mas da "forma de Deus" na qual a substância se manifestou. Tal "forma de Deus" só pode ser o exercício independente das
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forças e prerrogativas da divindade que constitui sua "igualdade com Deus". Disto ele abriu mão, "tomando a forma de servo" - ou, tornando-se subordinado, como homem. (Aqui outros textos completam o ponto de vista através das suas representações da influência controladora do Espírito Santo na vida terrena de Cristo. Ás expressões "tornando-se em semelhança de homens" e, "reconhecido em figura humana" são empregadas não para indicar que Jesus Cristo não era realmente humano, mas que ele era tanto Deus quanto homem e, portanto, livre do pecado que se prende ao homem (cf. Rm. 8.3 – έν όμοιώματι σαρκός αμαρτίας - Meyer). Finalmente, esta pessoa, agora união de Deus e homem, submete-se, consciente e voluntariamente, à humilhação de uma ignominiosa morte de cruz. Ver Lightfoot, em Fp. 2.8 - "Cristo desvestiu-se, não da sua natureza divina, porque isto era impossível, mas das glórias e prerrogativas da divindade. Isto ele fez tomando a forma de servo". Evans, em Presb. Review, 1.883.287 - "Dois estágios da humilhação de Cristo, cada um representado por um verbo finito, definindo o ato central do estágio particular, acompanhado de dois particípios modais. O 19 estágio acha-se indicado no v. 7. Seu ato central é; 'esvaziou-se a si mesmo'. Suas duas modalidades são: 1) 'tomando a forma de servo'; 2) 'tornando-se em semelhança de homens'. Temos aqui a humilhação da quenosis; pela qual Cristo tornou-se homem. 2- estágio, indicado no v. 8. Seu ato central é: 'humilhou-se a si mesmo'. Suas duas modalidades são: 1) reconhecido em forma humana'; 2) 'tornando-se obediente até à morte e morte de cruz'. Temos aqui a humilhação da sua obediência e morte; pela qual, na humanidade, ele se tornou sacrifício pelos nossos pecados". Meyer relaciona Ef. 5.31 exclusivamente com Cristo e a igreja, fazendo a futura união completa, contudo, i.e., no tempo da Parousia. "Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe" = "na encarnação, Cristo deixou pai e mãe (seu assento à direita de Deus), e se uniu à sua esposa (a igreja) e os dois (descendentes de Cristo e da igreja) tornaram-se uma só carne (eticamente uma pessoa do mesmo modo que o casal torna-se um através da união física). Contudo, os Pais (Jerônimo, Teodoreto, Crisóstomo), relacionaram isto com a encarnação". Sobre Fp. 2.6-8, ver também Comentário das Escrituras Sagradas de Lange; Robert R. Wicks e Ernest Scott em The Interpreter's Bible.
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Sobre a questão se Cristo se tornaria homem caso não tivesse ocorrido o pecado, os teólogos estão divididos. Dorner, Martensen e Westcott respondem pela afirmativa; Robinson Watts e Denney pela negativa. Westcott, Com. On Hebrews, p. 8 - "Na sua essência, a encarnação independe da Queda, embora condicionada por ela, quanto às suas circunstâncias". Per contra, ver Robinson, Christian Theology, 219, nota - "Seria difícil mostrar que um método semelhante de argumento a partir de premissas a priori não teria igual valor para provar que o pecado foi necessário ao esquema da criação". Denney, Studies in Theology, 101, opõe-se à doutrina da encarnação necessária independentemente do pecado, que tende a obliterar a distinção entre a natureza e a graça a fim de apagar os traços definidos da redenção operada por Cristo, como a revelação suprema de Deus e de seu amor.
II. O ESTADO DE EXALTAÇÃO 1. A natureza da exaltação Consistiu essencialmente em: a) Um reassumir, da parte do Logos, de seu independente exercício dos atributos divinos. b) O afastamento, da parte do Logos, de todas limitações em sua comunicação da plenitude divina à natureza humana de Cristo. c) O correspondente exercício, da parte da natureza humana, daqueles poderes que pertenciam a ela em virtude da sua união com a divina. O Salmo oitavo, com a sua dissertação sobre a glória da natureza humana, cumpre-se aqui apenas em Cristo (ver Hb. 2.9 - "vemos ... Jesus"). Hb. 2.7 - ήλάττωσας αύτον βραχύ τι παρ' αγγέλους - pode ser traduzido, como na Versão Revista [RSV]: "Tu o fizeste por um pouco de tempo menor do que os anjos". O corpo de Cristo não estava necessariamente sujeito à morte; só por compulsão exterior, ou rendição voluntária poderia ele morrer. Por isso a ressurreição era uma necessidade natural (At. 2.24 - "ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que ele fosse retido por ela"; 31 - "a sua alma não foi deixada no Hades, nem a sua carne viu a corrupção"). Esta exaltação, que afetou a humanidade apenas
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na sua cabeça, deve ser a experiência de todos os seus membros. Os nossos corpos também estão livres dos laços da corrupção e devemos sentar com Cristo no seu trono.
2. Os estágios da exaltação de Cristo a) O despertar e a ressurreição. Tanto os luteranos como os romanistas estabelecem distinção entre estes dois, fazendo aquele preceder e este suceder à pregação de Cristo "aos espíritos em prisão". Estes pontos de vista repousam numa falsa interpretação de 1 Pe. 3.18-20. Os luteranos ensinam que Cristo desceu ao inferno para proclamar seu triunfo aos espíritos maus. Mas isto dá à palavra έκήρυξεν ο sentido incomum de proclamar seu triunfo ao invés de seu evangelho. Os romanistas ensinam que Cristo entrou no mundo inferior para pregar aos santos do V.T. a fim de que eles pudessem ser salvos. Mas a passagem fala só dos desobedientes; não pode imprimir apoio a uma teoria sacramental da salvação dos crentes do V.T. A passagem não afirma a descida de Cristo ao mundo dos espíritos, mas só uma obra do Logos preencarnado oferecendo salvação, através de Noé, ao mundo então prestes a perecer. Agostinho, Ad Euodian, p. 99 - "Os espíritos encerrados em prisão são os incrédulos que viveram no tempo de Noé, cujos espíritos ou almas estavam encerrados nas trevas da ignorância como numa prisão; Cristo pregou a eles, não em carne, porque ele ainda não era encarnado, mas em espírito, isto é, na natureza divina". Calvino ensinava que Cristo desceu ao mundo inferior e sofreu as dores dos perdidos. Mas nem todos calvinistas pensam assim; ver Princeton Essays, 1.153. Meyer em Rm. 10.7, considera a pergunta - "Quem descerá ao abismo (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo)"? - como uma alusão e, assim, indiretamente um texto prova da descida de Cristo ao mundo inferior. Mason, Faith of Gospel, 211, favorece uma pregação aos mortos: "Durante esse tempo [os três dias] ele não retornou ao céu e ao seu Pai". Mas embora Jo. 20.17 seja mencionado como prova, esta afirmativa não será verdadeira apenas a respeito do seu
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corpo? No que se refere à sua alma, Cristo pode dizer: "Pai, nas tuas mão entrego o meu espírito", e "Hoje estarás comigo no Paraíso" (Lc. 23.43, 46). Zahn e Dorner representavam melhor o ponto de vista luterano. Zahn, em Expositor, mar., 1898.216-223 - "Se Jesus era verdadeiramente humano, então a sua alma, depois de deixar o corpo, entrou em comunhão com os espíritos que partiram. ... Se Jesus é aquele que vive para sempre, e age mesmo depois de morto, não se pode pensar que a sua permanência no reino dos mortos fosse uma condição puramente passiva, mas de conhecimento daqueles que habitavam lá. ... Se Jesus é o Redentor da humanidade, as gerações daqueles que passaram devem ter entrado em contato pessoal com ele, com a sua obra e o seu reino, sem aguardar o dia final". Dorner, Glaubenslehre, 2.662, defende o pensamento de que "a descida de Cristo ao Hades marca uma nova era da sua vida pneumática, em que ele se mostra livre das limitações de tempo e espaço". Ele rejeita "a noção de Lutero sobre um progresso simplesmente triunfal e uma proclamação de Cristo. Antes de Cristo", diz ele, "não havia lugar povoado de perdidos. A descida foi uma aplicação do benefício da expiação (implicada em κηρύσσειν). Α obra é profética, não sumo sacerdotal, nem real. Fala-se que ir aos espíritos em prisão é um ato espontâneo, não uma necessidade física. Nenhuma força do Hades o levou ao Hades. A liberdade das limitações de um corpo mortal indica um estágio da existência mais elevado. A alma de Cristo por algum tempo é incorpórea - só πνεύμα - como a dos que partiram. "Não se encontra registrada, nem a razão supõe a cessação desta pregação; na verdade a igreja antiga supunha que ela tivesse continuado através dos apóstolos. Ela expressa a significação universal de Cristo para as primitivas gerações e para todo o reino dos mortos. Não há força física que seja um limite para ele. As portas do inferno, ou Hades, não prevalecerão sobre ou contra ele. O estado intermediário é de bênção para ele e ele pode admitir o ladrão penitente. Até mesmo aqueles que não se sujeitaram à manifestação histórica de Cristo na vida terrena ainda devem e podem entrar em relação com ele a fim de serem capazes de aceitá-lo ou rejeitá-lo. Deste modo confirmam-se a relação universal de Cristo com a
Teologia Sistemática (Strong) humanidade e o elemento absoluto da substancialmente, o pensamento de Dorner.
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cristã".
Este
é,
Tudo isso versus Strauss, cujo pensamento é de que a morte de grande massa de homens, antes e depois de Cristo, prova que a religião cristã não é necessária à salvação, porque não é universal. Quanto aos pontos de vista opostos, ver E. D. Morris, Is There Salvation after Death? e Wright, Relation of Death to Probation, 22.28 - "Se Cristo pregou aos espíritos no Hades, pode ter sido com a finalidade de demonstrar a desesperança de acrescentar no outro mundo os privilégios gozados neste. Não lemos que tivesse qualquer efeito nos ouvintes. Se os homens não ouviram Moisés nem os profetas, também não ouvirão ainda que um dos mortos ressuscite. 'Hoje estarás comigo no Paraíso' (Lc. 23.43) não seria um consolo se Cristo naquele dia estivesse indo ao reino dos espíritos perdidos. Contudo, os antediluvianos foram especialmente favorecidos com a pregação de Noé e especialmente os ímpios". Para a afirmação completa do ponto de vista apresentado no texto, de que a citada pregação se referia à de Cristo como o Logos preexistente aos espíritos, agora em prisão, quando outrora desobedeceram nos dias de Noé, ver Barlett, em New Englander, out. 1872.601 sq., e Bíblia Sacra, abr. 1883.333-373. Antes de dar a substância da exposição de Barlett, transcrevemos por completo a passagem em foco, de 1 Pe. 3.18-20 "Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais em outro tempo, foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé". Segue-se a exposição de Barlett: "'no qual' [πνεύματι, a natureza divina] 'foi e pregou aos espíritos em prisão, que noutro tempo foram rebeldes', άπενοήσασιν é um aoristo circunstancial, que indica o tempo da pregação como um passado definido. É um dativo anartro (relativo ao que sofre de anartria = impossibilidade de articular palavras por efeito da paralisia de certos músculos), como em Lc. 8.27; Mt. 8.23; At. 15.25; 22.17. Trata-se de um particípio aposto, ou predicativo. [Pelo seu emprego no verso
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18 (θανατωθείς), em 1 Ts. 1.6 (δεξάμενοι) e em Cl. 2.11,13, parece que o particípio aoristo não descreve necessariamente uma ação preliminar à do verbo principal]. A conexão do pensamento é: Pedro exorta os seus leitores a serem firmes, sofrendo com bravura, porque o mesmo ocorreu com Cristo; em sua natureza inferior foi entregue à morte, em sua natureza mais elevada suportou a oposição dos pecadores antes do dilúvio. Os pecadores daquele tempo apenas são mencionados porque isto permite uma introdução à referência ao batismo feita a seguir. Cf., Gn. 6.3; 1 Pe. 1.10,11; 2 Pe. 2.4,5".
b) A ascensão e assento à direita do Deus. Como a ressurreição proclamou Cristo aos homens como homem perfeito e glorificado, vencedor do pecado e da morte, proclamou-o ao universo como Deus restabelecido, possuidor do domínio universal, o objeto onipresente de culto e que ouve a oração. Destra Dei ubique est. Mt. 28.18,20 - "Toda a autoridade me é dada no céu e na terra. ... Ε eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século"; Mc. 16.19 Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e se assentou à direita de Deus"; At. 7.55 - "Mas ele, estando cheio do Espírito Santo e, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus"; 2 Co. 13.4 - "ainda que tenha sido crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus"; Ef. 1.22,23 - "E sujeitou todas as coisas a seus pés e o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos"; 4.10 - "Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas". Philippi, Glaubenslehre, 4.184-189 - "Antes da ressurreição, Cristo era o Deus-homem, desde a ressurreição, ele é o Deus-homem. ... Ele come com os seus discípulos, não para apresentar a qualidade, mas a realidade, do seu corpo humano". Nicoll, Life of Christ - "Foi coisa dura para Elias a ascensão" - foram necessários carruagem e cavalos de fogo - "porém, foi mais fácil para Cristo ascender do que descer", havia uma gravitação para cima. Maclaren: "Ele não deixou o mundo, apesar de ter ascendido para o Pai, diferentemente de quando veio ao mundo"; Jo. 1.18 - "o Filho unigênito, que está no seio do Pai"; 3.13 - "o Filho do homem, que está no céu".
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Somos compelidos a considerar o problema da relação da humanidade com o Logos no estado de exaltação. Os luteranos defendem a ubiqüidade do corpo humano de Cristo, e fazem dela a base para a sua doutrina dos sacramentos. Dorner, Glaubenslehre, 2.674-676, sustenta uma "presença não somente do Logos, mas do Deus-homem como um todo, com todo o seu povo, mas não necessariamente como uma presença de igual modo semelhante no mundo; a saber, sua presença condiciona-se moralmente à receptividade do homem". Os antigos teólogos diziam que Cristo não está no céu, quasi cárcere (como se estivesse num cárcere). Calvino, Institutes, 2.15 -"ele é encarnado, mas não encarcerado". Ele foi para o céu, lugar dos espíritos e lá ele se manifesta; mas ele também foi mais distante acima de todos os céus, para preencher todas as coisas. Está com o seu povo todos os dias. Todo o poder foi entregue nas suas mãos. A igreja é a plenitude daquele que cumpre tudo em todos. Do mesmo modo os Atos dos Apóstolos falam constantemente do Filho do homem, do Jesus homem como Deus, sempre presente, objeto de adoração, sentado à direita de Deus, tendo todo o poder e prerrogativas da divindade. Ver Westcott, Bib. Com., em Jo. 20.22 - "assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo" - "O efeito característico da oferta pascal mostra-se na nova fé pela qual os discípulos reuniram-se em sociedade viva; o efeito característico da dádiva do Pentecostes mostrou o exercício da supremacia potencialmente universal". Quem e o que é esse Cristo que está presente com o seu povo que ora? Não basta dizer que é simplesmente o Espírito Santo; porque o Espírito Santo é o "Espírito de Cristo" (Rm. 8.9) e, tendo o Espírito Santo, temos o próprio Cristo (Jo. 16.7 - "[enviarei a vós o Espírito Santo]"; 14.18 - "Voltarei para vós"). O Cristo, que, deste modo está presente conosco quando oramos, não é simplesmente o Logos, ou a natureza divina de Cristo; sua humanidade separada da divindade e localizada no céu. Isto seria inconsistente com a sua promessa, "eis que eu estou convosco", em que o "eu" que fala não é somente a divindade, mas a divindade e humanidade inseparavelmente unidas; e isto significaria negar a união real e indissolúvel das duas naturezas. O salvador, irmão mais velho e simpatizante que está conosco quando oramos, é tanto homem como Deus. Por isso esta humanidade é ubíqua através da virtude de sua união com o Ser divino. Mas isto não significa que o corpo humano de Cristo esteja presente em toda a parte. Causaria a impressão de que o corpo deve existir em
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relações espaciais, e limitar-se a lugares. Não sabemos se isto é assim a respeito da alma. Tudo indica que o céu é um lugar, porque o corpo de Cristo encontra-se lá; corpo espiritual não é corpo que é espírito, mas que está adequado aos usos do espírito. Apesar de que Cristo pode manifestarse no corpo humano glorificado só no céu, sua alma humana, em virtude da união com a natureza divina, pode no mesmo momento estar com o seu povo espalhado por toda a terra. Como, nos dias da sua vida em carne, sua humanidade estava confinada ao lugar, sua alma humana é ubíqua. A humanidade pode existir sem o corpo; porque, durante os três dias no sepulcro, o corpo de Cristo estava na terra, mas a sua alma estava no mundo; do mesmo modo há, durante o estado intermediário, uma separação entre alma e corpo dos crentes. Mas a humanidade não pode existir sem alma; e, se o Salvador humano está conosco, então essa humanidade, ao menos no que diz respeito à sua parte imaterial, deve estar presente em toda a parte. Per contra, ver Shedd, Dogm. Theology, 2.326, 327. Porque a natureza humana de Cristo por derivação tornou-se possuída dos atributos divinos, não há validade alguma na noção da progressividade dessa natureza, agora que ascendeu à direita de Deus. Shedd, Dogm. Theology, 2.327 - "Suponha a presença da natureza divina de Cristo na alma de um crente em Londres. Esta natureza divina está ao no mesmo momento junto com a natureza divina de Cristo, presente e modificada por ela, estando no céu, não em Londres. Do mesmo modo Hooker, Eccl. Polity, 54,55 e E. G. Robinson: "Cristo está no céu à direita do Pai, intercedendo por nós, enquanto está presente na igreja através do seu Espírito. Oramos ao Jesus teantrópico. A posse de um corpo humano não constitui limitação. Pouco sabemos da natureza do corpo atual". Acrescentamos a esta última nota excelente a expressão da nossa convicção de que o conceito moderno da natureza simplesmente relativa do espaço e o ponto de vista idealista de que a matéria, apenas como a expressão da mente e da vontade, tem aliviado este assunto de muitas dificuldades. Se Cristo é onipresente e o seu corpo é a manifestação da sua alma, então cada alma pode sentir a presença da sua humanidade mesmo agora e "todo olho" pode vê-lo na sua segunda vinda, embora os crentes estejam separados de Boston a Pequim. O corpo do qual sua glória rebrilha pode ser visto em dez mil lugares simultaneamente; (Mt. 28.20; Ap. 1.7).
Teologia Sistemática (Strong) SEÇÃO IV - OS OFÍCIOS DE CRISTO
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As Escrituras representam os ofícios de Cristo em número de três: profético, sacerdotal e real. Apesar de que estes termos derivam de relações humanas concretas, expressam idéias perfeitamente distintas. O profeta, o sacerdote e o rei do V.T., diferençavam-se, mas designavam prefigurações daquele que devia combinar todas estas variadas atividades em si mesmo, e forneceria a realidade ideal, da qual eram símbolos imperfeitos. 1 Co. 1.30 - "vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". Aqui a palavra "sabedoria" parece indicar a obra "profética", a palavra "justiça" a sacerdotal e "santificação" e "redenção" a obra real de Cristo. Denovan: "Os três ofícios são necessários. Cristo deve ser profeta, a fim de salvar-nos da ignorância do pecado; sacerdote para salvar-nos da culpa do pecado; rei, para salvarnos do domínio do pecado na nossa carne. A nossa fé não pode ter base firme em qualquer um dos três isoladamente, do mesmo modo que um banquinho não se afirma sobre menos que três pés". A. A. Hodge, Popular Lectures, 235 - "Há em latim duas palavras para designar Ofício'; munus = posição (de mediador), e officia = funções (de profeta, sacerdote e rei). Não são ofícios separados como os de Presidente da República, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, e Senador. Não são funções separadas passíveis de sucessiva e isolada execução. Ao invés disso são como as várias funções de um corpo humano vivo - pulmões, coração, cérebro - funcionalmente distintos, embora interdependentes, e constituindo uma vida. Do mesmo modo as funções de Profeta, Sacerdote e Rei, implicam reciprocidade mútua de um para com o outro: Cristo é sempre um profeta sacerdotal; é sempre um sacerdote real, e um rei sacerdotal; e juntos cumprem a redenção, para a qual todos são essenciais. Cristo é tanto μεσίτης como παράκλητος".
Teologia Sistemática (Strong) I. O OFÍCIO PROFÉTICO DE CRISTO
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1. Natureza da obra profética de Cristo a) Devemos aqui evitar a estreita interpretação que tornaria o profeta um preditor dos eventos futuros. Ao invés disto ele era um intérprete inspirado ou revelador da vontade divina, um meio de comunicação entre Deus e o homem (προφήτης = não preditor, mas porta-voz. Cf. Gn. 20.7, Abraão; SI. 105.15, patriarcas; Mt. 11.19, João Batista; 1 Co. 12.28, Ef. 2.20 e 3.5, no N.T. expositores da Escritura). Gn. 20.7 - "restituí a mulher ao seu marido, porque profeta é" referindo-se a Abraão; SI. 105.15 - "Não toqueis nos meus ungidos e não maltrateis os meus profetas" - falando dos patriarcas; Mt. 11.9 - "Mas, então, que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta" falando de João Batista, de quem não temos predições registradas e cuja indicação a Jesus como o "Cordeiro de Deus" (Jo. 1.29) parece ter sido apenas um eco de Is. 53. 1 Co. 12.28 - "primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas"; Ef. 2.20 - "edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas"; 3.5 - "tendo sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas" -todos estes textos falando dos expositores da Escritura do Novo Testamento. Qualquer órgão da revelação ou meio de comunicação divina é um profeta. "Por isso", diz Philippi, "os livros de Josué, Juizes, Samuel e Reis são chamados de ‘profetae priores’, ou 'profetas primitivos' ". O Respice, Aspice, Prospice (Retrovisão, Visão atual, Previsão) de Bernardo descreve a obra do profeta; porque o profeta podia ver e desvendar coisas do passado, do presente, ou do futuro. Daniel foi um profeta, ao contar a Nabucodonosor o que tinham sido os seus sonhos, assim como dar-lhe a sua interpretação (Dn. 2.28,36). A mulher samaritana com precisão chamou Cristo de profeta, quando ele lhe disse tudo o que ela havia feito (Jo. 4.29)".
b) O profeta comumente unia três métodos para cumprir o seu ofício: ensino, predição e operação de milagres. Em todos estes respeitos
Teologia Sistemática (Strong) 1397 Jesus realizou a sua obra profética (Dt. 18.15 cf. At. 3.22; Mt. 13.57; Lc. 13.33; João 6.14). Ele ensinava (Mt. 5-7), operava milagres (Mt. 8,9), proferia predições (Mt. 24,25), enquanto em sua pessoa, vida, obra, morte revelava o Pai (João 8.26; 14.9; 17.8). Dt. 18.15 – "O Senhor, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis"; cf. onde se diz que esta profecia se cumpriu em Cristo. Jesus chama-se a si mesmo profeta em Mt. 13.57 "Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa"; Lc. 13.33 -"Importa, porém, caminhar hoje, amanhã e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém". Ele foi chamado profeta: Jo. 6.14 - "Vendo, pois aqueles homens o milagre que Jesus tinha feito, diziam: Este é, verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo". Jo. 8.26 -"e o que dele [o Pai] tenho ouvido, isso falo ao mundo". 14.9 - "quem me vê a mim vê o Pai"; 17.8 - "porque lhes dei as palavras que me deste". Denovan: "Cristo nos ensina através da sua palavra, seu Espírito e seu exemplo". Os milagres de Cristo são principalmente os de cura. "Só o pecado é contagioso. Mas Cristo é o exemplo de cura perfeita, e a sua cura é contagiosa. Através do seu transbordamento ele cura outros. Basta um 'toque' " (Mt. 9.21). Edwin P. Parker, em Horace Bushnell: Os dois elementos fundamentais da profecia são o discernimento e a expressão. A profecia cristã implica 'insight' ou discernimento das coisas espirituais através da iluminação divina e a sua expressão através da inspiração em termos de verdade cristã ou em tons e cadências do testemunho cristão. Podemos defini-la, então, como a publicação das verdades percebidas pela iluminação divina, apreendidas pela fé, e assimiladas pela experiência, sob o impulso da inspiração, e para a edificação. ... Requer uma base natural e preparação racional da mente humana, um conjunto adequado de dons naturais em que se apega o dom espiritual para o apoio e nutrição. Os dons têm tido um cultivo devoto. Eles foram coroados pela iluminação e pela inspiração. Porque o discernimento dá uma previsão, o profeta é alguém que vê as coisas como se desdobram e em que se tornam; discernirá as sinalizações a longa distância e as indicações da Providência; anunciaremos aos homens que preparem o caminho para elas e elas para o caminho da vinda do reino de Deus".
Teologia Sistemática (Strong) 2. Estágios da obra profética de Cristo
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São quatro, a saber: a) A obra preparatória do Logos, iluminando a humanidade antes do advento de Cristo em carne. Todo conhecimento religioso preliminar, quer dentro, quer fora dos limites do povo escolhido, é de Cristo, o revelador de Deus. A obra profética de Cristo começou antes que ele aparecesse em carne. Jo. 1.9 - "Ali estava a verdadeira luz, que alumia a todo homem que vem ao mundo" = toda a luz natural da consciência, da ciência, da filosofia, da arte, da civilização é a luz de Cristo. Tennyson: "Os novos pequenos sistemas têm o seu dia, Eles têm o seu dia e deixam de ser; São apenas luzes quebradas de ti, Ε tu, ó Senhor, és mais do que eles". Hb. 12.25,26 "Vede que não rejeiteis ao que vos fala.... a voz do qual moveu então [no Sinai] a terra, mas agora anunciou, dizendo: Ainda uma vez comoverei, não só a terra, senão também o céu"; Lc. 11.49 - "Por isso, diz também a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei"; cf. Mt. 23.34 "Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; a alguns deles matareis e crucificareis" - o que mostra que Jesus se referia aos seus próprios ensinos, assim como aos dos primitivos profetas.
b) O ministério terreno do Cristo encarnado. - No ministério terreno, Cristo mostrou-se um profeta por excelência. Enquanto, como os profetas do V.T., ele se submetia à direção do Espírito Santo, diferentemente deles, ele achava a fonte de todo o conhecimento e poder em si mesmo. A palavra de Deus não vinha a ele; ele mesmo era a Palavra (o Verbo). Lc. 6.19 - Έ toda a multidão procurava tocar-lhe, porque saía dele virtude que curava todos"; Jo. 2.11 - "Jesus principiou assim os sinais em Cana da Galiléia e manifestou a sua glória"] 8.38.58 - "Eu falo do que vi junto de meu Pai.... antes que Abraão existisse, eu sou"; cf. Jr. 2.1 - "Ε veio a mim a palavra do Senhor"; Jo. 1.1 - "No princípio era o Verbo (a Palavra)". Mt. 26.53 -"doze legiões de anjos"; Jo. 10.18 - da sua vida: "tenho poder para a
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dar e poder para tornar a tomá-la"; 34 - "Não está escrito na vossa lei: Vós sois deuses? Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida. ... àquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, vos dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus"? Martensen, Dogmatics, 295-301, diz do ensino de Jesus que "a sua fonte não foi a inspiração, mas a encarnação". Jesus não foi inspirado; ele foi o inspirador. Por isso ele é o verdadeiro "Mestre daqueles que sabem". Os seus discípulos agem em seu nome.
c) A direção e o ensino da sua igreja na terra, desde a sua ascensão. -A atividade profética de Cristo continua através dos seus apóstolos e ministros e das influências iluminadoras do Espírito Santo (Jo. 16.12-14; At. 1.1). Os apóstolos desenvolveram os germes da doutrina que Cristo pôs em suas mãos. A igreja é, em sentido derivado, uma instituição profética estabelecida para ensinar o mundo através da pregação e ordenanças. Mas os crentes são profetas só no sentido de serem proclamadores do ensino de Cristo (Nm. 11.29; Jl. 2.28). Jo. 16.12-14 - "Ainda tenho muita coisa que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade. ... Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar"; At. 1.1 - "Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar" = a obra profética de Cristo estava apenas iniciada, durante o seu ministério terreno; continuou desde a sua ascensão. A inspiração dos apóstolos, a iluminação de todos os pregadores e cristãos a fim de entenderem e desenvolverem o sentido da palavra que eles escreveram, a convicção dos pecadores; tudo isto faz parte da obra profética de Cristo executada através do Espírito Santo. Em virtude da união deles com Cristo e da participação do Espírito de Cristo, todos os cristãos se tornam num sentido secundário profetas, bem como sacerdotes e reis. Nm. 11.29 - "Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito"! Jl 2.28 - "derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; e vossos filhos e filhas profetizarão". Toda a verdadeira profecia moderna, contudo, é apenas uma nova publica-
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ção da mensagem de Cristo - a proclamação e exposição da verdade já revelada na Escritura. "Toda a assim chamada profecia, de Montano a Swedenborg, prova sua falsidade por não atestar milagres". A. A. Hodge, Pop. Lectures, 242 - "Todo profeta humano pressupõe um eterno profeta divino e infinito de quem recebe o conhecimento, do mesmo modo em que cada correnteza pressupõe uma fonte de onde flui. ... Como o telescópio da mais elevada potência traz para o seu campo o mais estreito segmento do céu, do mesmo modo Cristo, o profeta, às vezes apresenta o mais intenso discernimento ao brilhante centro do mundo celestial aos que este mundo considera iletrados e tolos e a igreja reconhece apenas como bebês em Cristo".
d) Cristo, revelando o Pai aos seus santos em glória (João 16.15; 17.24,26; cf. Is. 64.4; 1 Cor. 13.12). - Assim a obra profética de Cristo será sem fim como o Pai, que ele revela, é infinito. Jo. 16.25 - "chega, porém, a hora em que vos não falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei do Pai"; 17.24 - "aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo para que vejam a minha glória que me deste"; 26 - "Eu lhes fiz conhecer o teu nome e lho farei conhecer mais". A revelação da sua glória será a revelação do Pai, em seu Filho. Is. 64.4 - "Porque, desde a antigüidade, não se ouviu, nem com os ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalhe por aquele que nele espera"; 1 Co. 13.12 - "Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido". Ap. 21.23 - "E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada" - não a luz, mas a lâmpada. Luz é algo geralmente difuso; vê-se através dela, mas não se pode vê-la. A lâmpada é o estreitamento para baixo, a concentração, a focalização da luz, de modo que se torne definida e visível. Deste modo, no céu, Cristo será o Deus visível. Nunca veremos o Pai separado de Cristo. Nenhum homem ou anjo em tempo algum viu Deus, "a quem nenhum homem viu nem pode ver". "O unigênito Filho ... o fez conhecer", e ele o fará conhecer eternamente (Jo. 1.18; 1 Tm. 6.16).
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Os ministros do evangelho nos tempos modernos, quando se juntam a Cristo e são tomados pelo seu espírito, tem direito de chamar-se profetas. O profeta é alguém -1. enviado por Deus e consciente da sua missão; 2. com uma mensagem da parte de Deus que ele é compelido a proferir; 3. mensagem baseada no passado, posicionando-a em novas luzes para o presente e fazendo novas aplicações dela para o futuro. A palavra do Senhor deve vir a ele; deve ser o evangelho dele; deve haver tanto coisas novas como velhas. Toda a matemática está no mais simples axioma; mas necessita da iluminação divina para descobri-la. Toda a verdade está nas palavras de Jesus, não somente, na primeira profecia pronunciada após a queda, mas só os apóstolos a revelaram. A mensagem do profeta deve ser 4. para o lugar e tempo em primeiro lugar para os contemporâneos e para as necessidades presentes; 5. uma mensagem de significação eterna e influência mundial. Como a palavra do profeta destinava-se ao mundo todo, assim também a nossa palavra pode destinar-se a outros mundos "para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus" (Ef. 3.10). Deve ser também 6. uma mensagem do reino e triunfo de Cristo, que opõe os desvios e calamidades do presente o brilho ideal e a consumação perfeita a que Deus está conduzindo o seu povo: "Bendita seja a glória do Senhor, desde o seu lugar"; "o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra" (Ez. 3.12; He. 2.20).
II. O OFÍCIO SACERDOTAL DE CRISTO O sacerdote era uma pessoa divinamente indicada para interceder a Deus em nosso favor. Cumpria esse ofício, primeiro oferecendo o sacrifício e, em segundo lugar, fazendo a intercessão. Em ambos estes respeitos Cristo é sacerdote. Hb. 7.24-28 - "este, porque permanece eternamente, tem seu sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que se chegam a Deus, vivendo sempre a interceder por eles. Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus, que não necessitasse, como os sumos sacerdotes de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados e, depois pelos do povo; porque isso fez ele, uma vez, oferecendo-
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se a si mesmo. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre". A raça toda foi separada de Deus por seu pecado. Mas Deus escolheu os israelitas como nação sacerdotal, Levi como tribo sacerdotal, Arão como família sacerdotal, o sumo sacerdote desta família como o tipo do grande sumo sacerdote, Jesus Cristo. J. S. Candlish, em Bib. World, fevereiro, 1897.87-97, cita os seguintes fatos relativos aos sofrimentos do nosso Senhor como prova da doutrina da expiação: 1. Cristo deu a sua vida através de um ato perfeitamente livre; 2. por considerar Deus o seu Pai e a obediência à sua vontade; 3. o mais amargo elemento do seu sofrimento é que ele o suportou junto a Deus; 4. esta indicação divina e aplicação do sofrimento é inexplicável, a não ser como Cristo suportou o juízo divino contra o pecado da raça.
1. A Obra Sacrificial de Cristo, ou Doutrina da Expiação As Escrituras ensinam que Cristo obedeceu e sofreu em nosso lugar para satisfazer uma demanda imanente da santidade divina e assim remover um obstáculo na mente divina para o perdão e restauração da culpa. Esta afirmação pode ser ampliada e explicada preliminarmente da seguinte maneira: a) O atributo fundamental de Deus é a santidade e santidade não é o amor comunicante de si mesmo, mas a retidão auto-afirmativa. A santidade limita e condiciona o amor, pois o amor pode querer a felicidade só na medida em que esta resulta da retidão ou consiste nela, isto é, na conformidade com Deus. Já vimos na nossa discussão sobre os atributos divinos (vol. 1, pp. 458469); que santidade não é amor próprio, nem amor, mas a pureza e a justiça auto-afirmantes. Aqueles que sustentam que o amor é auto-afirmativo assim como auto-comunicante e, por isso, essa santidade é o amor de Deus por si mesmo, devem admitir que este amor auto-afirmativo, que é a santidade, condiciona e fornece o padrão para o amor auto-comunicante que é a benevolência. Mas sustentamos que a santidade não é idêntica ao amor, nem uma manifestação dele. Porque a conservação própria deve preceder a
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entrega de si mesmo; e porque a benevolência encontra o seu objeto, motivo, padrão e limite na justiça, na santidade, a comunicação de si mesmo. Deus deve, em primeiro lugar, sustentar o seu próprio ser antes que possa dar dele a outrem; e esta sustentação própria deve ter seu próprio motivo no mérito do que se sustenta. Santidade não pode ser amor, porque o amor é irracional e caprichoso a não ser que tenha o seu padrão pelo qual ele é regulado; este padrão não pode ser o amor em si mesmo, mas deve ser a santidade. Fazer da santidade uma forma de amor é, na verdade, negar a sua existência e, com isto, negar que qualquer expiação é necessária para a salvação do homem.
b) O universo é um reflexo de Deus e Cristo, o Logos, é a sua vida. Deus constituiu o universo e a humanidade como uma parte dele de modo a expressar a sua santidade positivamente estabelecendo conexão da felicidade com a retidão, atribuindo a infelicidade ou sofrimento ao pecado. Já vimos no vol. 1, pp. 580-596 que, porque Cristo é o Logos, o Deus imanente, o Deus revelado na natureza, na humanidade e na redenção, o universo deve ser reconhecido como criado, sustentado e governado pelo mesmo Ser que, no curso da história, se manifestou em forma humana e fez a expiação do pecado pela morte no Calvário. Como toda a atividade criadora de Deus foi exercida através de Cristo (vol. 1, p. 310), do mesmo modo acontece com Cristo em quem consistem e são sustentadas todas as coisas. A providência, assim como a preservação, é sua obra. Ele faz o universo refletir Deus e especialmente a natureza ética de Deus. Que a dor ou perda seguem universal e inevitavelmente é uma prova de que Deus, de modo inalterável se opõe ao mal moral; e as demandas e reprovações da consciência testemunham que a santidade é atributo fundamental do ser divino.
c) Cristo, o Logos, como revelador de Deus no universo e na humanidade, deve condenar o pecado visitando-o no sofrimento que é sua pena; enquanto, ao mesmo tempo, como a Vida da humanidade, ele
Teologia Sistemática (Strong) 1404 deve suportar a reação da santidade de Deus contra o pecado que constitui a pena. Há aqui uma dupla obra de Cristo que Paulo declara em Rm. 8.3 - "Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando seu Filho à semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne". O sentido é que Deus, através de Cristo, fez o que a lei não podia fazer, isto é, cumprir o livramento para a humanidade; e isto, enviando seu Filho numa natureza que em nós se identifica com o pecado. Em conexão com o pecado (περί αμαρτίας) e, como oferta pelo pecado, Deus condenou o pecado, condenando Cristo. Expositor's Greek Testament, in loco: "Quando se faz a pergunta: Em que sentido Deus enviou seu Filho 'em conexão com o pecado', só há uma resposta possível. Ele enviou seu Filho para expiar o pecado através da sua morte sacrificial. Este é o centro e o fundamento do evangelho de Paulo; ver Rm. 3.25 sq.". Mas o que quer que Deus tenha feito para condenar o pecado ele o fez através de Cristo; "Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo" (2 Co. 5.19); Cristo foi o condenador, assim como o condenado; em nós, a consciência, que une o acusador e o acusado mostra-nos como Cristo podia ser tanto o Juiz como o que suporta o pecado.
d) Nossa pessoalidade não é contida em si mesmo. Vivemos, movemo-nos e existimos naturalmente em Cristo, o Logos. Nossa razão, sentimento, consciência, completam-se só nele. Ele é a humanidade genérica de que somos os frutos. Quando a sua retidão condena o pecado, e o seu amor voluntário suporta o sofrimento que é a pena do pecado, a humanidade ratifica o juízo de Deus, torna plena a propiciação pelo pecado e satisfaz as demandas da santidade. Minha existência pessoal fundamenta-se em Deus. Não posso perceber o mundo fora de mim nem reconhecer a existência do meu companheiro, a não ser quando ele estabelece uma ponte sobre o abismo entre mim e o universo. Seria impossível a consciência própria completa se não participássemos da razão universal. A menor criança faz suposições e emprega processos lógicos que são totalmente instintivos, mas que indicam
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nele a operação de uma inteligência infinita e absoluta. O verdadeiro amor só é possível quando o amor de Deus flui em nós e de nós se apossa; de sorte que o poeta pode de um modo verdadeiro dizer: Ό nosso amor resiste em um amor mais elevado". Nenhuma vontade humana é verdadeiramente livre, a não ser que Deus a emancipe; só aquele que o Filho de Deus liberta é verdadeiramente livre; "operai a vossa salvação com temor e tremor; porque é Deus quern opera em vós tanto o querer como o efetuar" (Fp. 2.12,13). A nossa natureza moral testemunha que nós não somos autosuficientes, completos naquele em quem vivemos, nos movemos e existimos (Cl. 2.10; At. 17.28). Ninguém pode fazer a consciência por si mesmo. Há uma consciência comum muito acima da finita e individual. Há uma consciência comum em todos os seres morais. John Watson: "Não há nenhuma consciência do eu independente da dos outros eus e coisas e nenhuma consciência do mundo daquela simples realidade proposta em ambas". Esta simples realidade é Jesus Cristo, o Deus manifesto, a luz que ilumina todo o homem e a vida de tudo o que vive (Jo. 1.4,9). Ele pode representar a humanidade diante de Deus porque a sua divindade imanente constitui a própria essência da humanidade.
e) Enquanto o amor de Cristo explica sua voluntariedade de suportar o sofrimento por nós, só a sua santidade fornece a razão para a constituição do universo e da natureza humana que torna o sofrimento necessário. Com respeito a nós, o seu sofrimento é substitutivo, visto que a sua divindade e a sua impecaminosidade o capacitam a fazer por nós o que nunca poderíamos fazer por nós mesmos. Contudo, essa substituição está participando - não da obra de alguém estranho a nós, mas de alguém que é a vida da humanidade, a alma da nossa alma e a vida da nossa vida e assim conosco responsável pelos pecados da raça. Os recentes tratados sobre a expiação, em sua maioria, têm sido descrições dos seus efeitos sobre a vida e o caráter, mas não têm lançado luz alguma sobre a referida expiação se é que, na verdade, não negaram a sua existência. Não devemos dar ênfase aos efeitos ignorando a causa. A Escritura declara que o único objetivo da expiação é que Deus "seja justo" (Rm. 3.26); nenhuma teoria da expiação atenderá às demandas da razão ou
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da consciência que não baseia a sua necessidade na justiça de Deus, ao invés de baseá-la no seu amor. Reconhecemos que as nossas concepções sobre a expiação sofreram alguma mudança. Para os nossos pais foi um simples fato histórico, um sacrifício oferecido em poucas breves horas sobre a cruz. Foi uma substituição literal do sofrimento de Cristo em nosso favor, o pagamento da nossa dívida por outro e, com base nesse pagamento, nos foi permitido andar livres. Tais sofrimentos logo acabaram e o hino, "Cumpriuse a redentora obra do amor", expressa a alegria do crente numa redenção terminada. Tudo isso é verdade. Mas é apenas uma parte dela. A expiação, como cada uma das outras doutrinas do cristianismo, é um fato da vida; tais fatos não podem ser multiplicados nas nossas definições, porque eles são maiores do que qualquer uma destas que podemos estruturar. À idéia de substituição acrescentamos a de participação. As obras e o sofrimento de Cristo não são exteriores ou estranhas a nós. Ele é osso dos nossos ossos e carne da nossa carne; o sustentador da nossa humanidade; sim ele é a própria vida da raça.
f) A obra histórica do Cristo encarnado não é em si a expiação; ao invés disso é a revelação da expiação. O sofrimento do Cristo encarnado é a manifestação do sofrimento eterno de Deus no tempo e no espaço por causa do pecado humano. Contudo, sem a obra histórica que findou no Calvário, o duradouro sofrimento de Deus nunca podia tornar-se compreensível ao homem. A vida de Cristo na Palestina e a morte no Calvário revelaram a união com a humanidade a qual antedatou a queda. Deste modo, ligado a nós desde o começo, ele sofreu em todo o pecado humano; "Em toda a angústia dele foi ele angustiado" (Is. 63.9); deste modo o salmista diz: "Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos cumula de benefícios; o Deus, que é a nossa salvação" (SI. 68.19). O sacrifício histórico foi um vidro incandescente que focalizou os raios difusos do sol da justiça e os tornou eficazes na fusão dos corações humanos. Os sofrimentos de Cristo só se apoderam de nós quando vemos neles as duas verdades contrastadas, mas complementares; a santidade deve fazer a pena seguir-se ao pecado e o amor deve compartilhar a pena com o transgressor. A cruz foi a apresentação completa da santidade que requereu e do amor que proveu a redenção do homem.
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Aquelas seis horas de dor nunca podiam ter conseguido a nossa salvação se não tivessem sido uma revelação dos fatos eternos do ser divino. O coração de Deus e o sentido de toda a história anterior foram então desvendados. A evolução total da humanidade pintou, nos seus elementos essenciais, de um lado o pecado e a condenação da raça e, do outro, a graça e o sofrimento daquele que era a sua vida e salvação. Como aquele que foi levantado na cruz era Deus, manifestado na carne, do mesmo modo o sofrimento na cruz era o sofrimento de Deus pelo pecado, manifesto na carne. A atribuição dos nossos pecados a ele é o resultado da sua união conosco. Ele foi o nosso substituto desde o princípio. Não podemos brigar com a doutrina da substituição quando vemos que esta é apenas a participação das nossas mágoas e tristezas através daquele cuja vida pulsa em nossas veias.
g) O sacrifício histórico de Nosso Senhor não é só a revelação final do coração de Deus, mas também a manifestação da lei da vida universal – a lei de que o pecado traz sofrimento a todos em conexão com ela e que nós só podemos vencer o pecado em nós mesmos e no mundo entrando em comunhão com os sofrimentos de Cristo e com a vitória de Cristo, ou, em outras palavras, pela união com ele através da fé. Nós também estamos sujeitos à mesma lei da vida. Nós, que entramos na mesma comunhão com o nosso Senhor, "cumprimos ... o resto das aflições de Cristo ... pelo seu corpo, que é a igreja" (Cl. 1.24). A igreja cristã pode reinar com Cristo só quando participa do seu sofrimento. A expiação se torna um modelo e um estímulo para o sacrifício de si mesmo e um teste do caráter cristão. Mas é fácil ver como o efeito subjetivo do sacrifício de Cristo pode absorver a atenção a fim de excluir a sua base e causa. A influência moral da expiação aprofundou-se mais nas nossas mentes e corremos o perigo de esquecer que não é a salvação dos homens, mas a santidade de Deus que a requer. Quando o compartilhamento exclui a substituição; quando a reconciliação do homem com Deus exclui a reconciliação de Deus com o homem; quando apenas a paz segura é a paz no coração do pecador e não se dá nenhum pensamento à paz com Deus que é o primeiro objetivo que a expiação deve assegurar; então o sistema evangélico todo se enfraquece, ignora-se a justiça de Deus e o homem praticamente se põe em
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lugar de Deus. Não devemos voltar às velhas concepções mecânicas e arbitrárias da expiação; devemos avançar para uma captação da relação da raça com Cristo. Um conhecimento maior de Cristo, a vida da humanidade, nos capacitarão a apegarmo-nos firmemente à natureza objetiva da expiação e à sua necessidade baseada na santidade de Deus; enquanto, ao mesmo tempo, apropriamo-nos de tudo o que é bom no moderno ponto de vista da expiação, como demonstração final do amor constrangedor de Deus que move o homem ao arrependimento e à submissão.
A) Métodos para a Escritura Representar a Expiação. Podemos classificar as representações da Escritura de conformidade com as analogias moral, comercial legal ou sacrificial. a) MORAL – A expiação é descrita como Uma provisão originada no amor de Deus, manifestando-o ao universo; mas também como um exemplo de amor desinteresseiro de assegurar nossa libertação do egoísmo. - Nestas passagens há referência à morte de Cristo como a fonte de estímulo moral para o homem. Uma provisão: Jo. 3.16 - "Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu Filho unigênito"; Rm. 5.8 - "Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores"; 1 Jo. 4.9 – "Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos"; Hb. 2.9 – "vemos, porém, coroado de glória e honra aquele Jesus, que, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte portodos" = redenção originada no amor do Pai, assim como no do Filho. Um exemplo: Lc. 9.22-24 – "É necessário que o Filho do Homem padeça ... e seja morto.... Se alguém quer vir após mim ... tome cada dia a sua cruz, e siga-me ... mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a salvará"; 2 Co. 5.15 – "E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si"; Gl. 1.4 - "o que se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau"; Ef. 5.25-27 - "também Cristo amou a igreja e a si mesmo se deu por ela, para a santificar"; Cl. 1.21.22 - "vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para vos apresentar santos"; Tt. 2.14 – deu-
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se a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade e purificar"; 1 Pe. 2.21-24 – "também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas, o qual não cometeu pecado ... levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro para que, mortos para o pecado, pudéssemos viver para a justiça". Mason, Faith of Gospel, 181 - "Um piedoso aldeão, ouvindo o texto, Oeus amou o mundo', exclamou: 'Ah! isso é que é amor! Eu poderia ter-me entregado a mim mesmo, mas nunca teria dado o meu filho' ". Foi uma ferida no Pai através do coração do Filho: Olharão para mim, a quem traspassaram; e o prantearão como quem pranteia por um unigênito" (Zc. 12.10).
b) COMERCIAL – A expiação descrita como Um resgate pago para libertar-nos da escravidão do pecado (note nestas passagens o uso de αντί, preposição de preço, barganha, câmbio). Nestas passagens a morte de Cristo é representada como o preço de nossa libertação do pecado e da morte. Mt. 20.28 e Mc. 10.45 - "dar a sua vida em resgate de muitos" - λύτρον αντί πολλών. 1 Tm. 2.6 - "que deu-se a si mesmo em resgate por todos" άντίλυτρον. 'Αντί ("por" ou "de" no sentido de "em lugar de") nunca deve ser confundido com υπέρ ("por" no sentido de "em favor de", "em benefício de"). 'Αντί é uma preposição que indica preço, barganha, câmbio; e esta significação se aplica a cada passagem do N.T. Ver Mt. 2.22 - "Arquelau reinava na Judéia em lugar de [αντί] Herodes, seu pai"; Lc. 11.11 -"se o filho lhe pedir... peixe, lhe dará por [αντί] peixe uma serpente"? Hb. 12.2 - "autor e consumador da nossa fé, o qual, pelo [αντί = como preço do] gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz"; 16 - "Esaú, que, por [αντί = em troca de] um manjar, vendeu o seu direito de primogenitura". Ver também Mt. 16.26 - Ou que dará o homem em recompensa da (αντάλλαγμα) sua alma"? = como a comprará de volta, quando uma vez ele a perdeu? Άντίλυτρον = resgate substitutivo. A conexão em 1 Tm. 2.6 requer que υπέρ signifique "em vez de". Devemos interpretar esse υπέρ como o αντί de Mt. 20.28. "Alguma coisa sucede a Cristo e, em razão disso, é preciso que aconteça a mesma coisa aos pecadores" (E.Y. Mullins).
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Meyer, em Mt. 20.28 - "dar a sua vida em resgate de muitos" "Concebe-se a ψυχή como λύτρον, o resgate pelo, ou através do, derramamento do sangue, e se torna o τιμή (preço) da redenção". Ver também 1 Co. 6.20; 7.23 - "fostes comprados por preço"; e 2 Pe. 2.1 "negarão o Senhor que os resgatou". A palavra "redenção", na verdade, significa simplesmente "comprar outra vez", ou "o estado de ser comprado outra vez"- i.e., liberado pelo pagamento de um preço. Ap. 5.9 - "foste morto e com teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo". Winer, N.T. Grammar, 258 - "Em grego, αντί é a preposição de preço". Buttmann, N.T. Grammar, 321 - "Na significação da preposição αντί (em lugar de, por), não ocorre nenhum desvio do emprego comum". Ver de Grimm Wilke, Lexicon Greek-Latin: "αντί, in vicem, anstatt') Thayer, Lexicon of Ν. T. - αντί, sobre o que é dado, recebido, ou suportado em benefício de alguma coisa;... sobre o preço da venda (ou aquisição) Mt. 20.28. Pfleiderer, em New World, setembro 1899, tem dúvidas sobre se Jesus em algum tempo proferiu as palavras "dar a sua vida em resgate de muitos" (Mt. 20.28). Ele as considera essencialmente paulinas, e resultantes de reflexão dogmática sobre a morte de Jesus como um meio de redenção. Mas estas palavras ocorrem não em Lucas, o evangelho paulino, mas em Mateus, que foi escrito muito antes. De qualquer modo elas representam a concepção apostólica do ensino de Jesus, a qual ele mesmo prometeu ser formada sob a orientação do Espírito Santo, que traria todas as coisas à memória dos apóstolos e os guiaria em toda a verdade (Jo. 14.26; 16.13). Como veremos abaixo, Pfleiderer declara que a doutrina de Paulo é a do sofrimento substitutivo.
c) LEGAL – A expiação é descrita como Um ato de obediência à lei que os pecadores violaram; uma pena para livrar da culpa; e uma apresentação da justiça de Deus necessária à vindicação do seu processo de perdão e restauração do pecador. - Nestas passagens, a morte de Cristo é representada como uma exigência da lei e governo de Deus. Obediência: Gl. 4.4,5 - "nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei"; Mt. 3.15 - "assim nos convém cumprir toda a justiça" - O batismo de Cristo préfigura a sua morte e é uma
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consagração a ela; cf. Mc. 10.38 - "Podeis vós beber o cálice que eu bebo e ser batizados com o batismo com que sou batizado"? Lc. 12.50 - "Importa, porém, que eu seja batizado com um certo batismo e como me angustio até que venha a cumprir-se"! Mt. 26.39 - "Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres"; 5.17 "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir"; Fp. 2.8 - "tornando-se obediente até à morte"; Rm. 5.19 - "pela obediência de um, muitos serão feitos justos"; 10.4 - "Porque o fim da lei é Cristo para a justiça de todo aquele que crê". - Pena: Rm. 4.25 - "por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para a nossa justificação"; 8.3 - "Deus, enviando seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne"; 2 Co. 5.21 - Àquele que não conheceu pecado o fez pecado por nós" - aqui a palavra "pecado" = um pecador, sob a maldição (Meyer); Gl. 1.4 - "o qual se deu a si mesmo por nossos pecados"; 3.13 - "Cristo nos resgatou da maldição da lei fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro"; cf. Dt. 21.23 - "porquanto o pendurado é maldito de Deus". Hb. 9.28 "Cristo, oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos"; cf. Lv. 5.17 - "se alguma pessoa pecar ... será culpada e levará a sua iniqüidade"; Nm. 14.34 "cada dia, representando um ano, levareis as vossas iniqüidades quarenta anos"; Lm 5.7 - "Nossos pais pecaram e já não existem; nós levamos as suas maldades". Apresentação: Rm. 3.25,26 - "ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos sob a paciência de Deus"; cf. Hb. 9.15 - "intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento". Nestas passagens vemos uma excelente seção em Pfleiderer, Die Ritschl'sche Theologie (A Teologia Ritschliana), 38-53. Pfleiderer critica severamente a fuga de Ritschl da força natural delas e declara que o ensino de Paulo é que Cristo nos redimiu da maldição da lei pelo sofrimento como substituição da morte imposta pela lei contra os pecadores. Por outro lado, L. L. Paine, Evolution of Trinitarianism, 288-307, cap. sobre a Expiação do Novo Cristão, sustenta que Cristo apenas ensina a reconciliação condicionada ao arrependimento. Paulo acrescenta a idéia da mediação extraída do dualismo platônico de Filo. A Epístola aos Hebreus faz de Cristo uma vítima sacrificial em propiciação a Deus, de sorte que a reconciliação se torna a
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Deus ao invés de ser ao homem. Mas o ponto de vista do Professor Paine de que Paulo ensina uma mediação ariana é incorreto. "Deus estava em Cristo" (2 Co. 5.19) e Deus "se manifestou em carne" (1 Tm. 3.16) constituem-se a chave do ensino de Paulo o que é idêntico à doutrina de João sobre o Logos: "o Verbo era Deus", e "o Verbo se fez carne" (Jo. 1.1, 14). The Outlook, 15 de dez de 1900, em crítica ao Prof. Paine, estabelece três postulados do Novo Trinitarismo: 1. O reinado essencial de Deus e do homem; no homem há uma divindade essencial e em Deus, uma humanidade essencial. 2. A imanência divina; esta presença universal dá à natureza a sua unidade física e à humanidade a sua unidade moral. Isto não é panteísmo nem ainda a soma das suas experiências. 3. Deus transcende a todos os fenômenos; apesar de que em todos ele é maior do que todos. Ele penetra perfeitamente no ser humano e, através desta habitação num ser humano, gradualmente entra em todos os seres humanos em sua plenitude, de sorte que Cristo é o primogênito entre muitos irmãos. Os defeitos deste ponto de vista, que contém muitos elementos de verdade, são: 1. Considera Cristo como produto ao invés de produtor e o homem formado divinamente ao invés de sua humanidade agir como Deus, o cabeça entre os homens ao invés de o Criador e a Vida da humanidade; 2. Por isso, torna impossível a Jesus Cristo suportar os pecados de todos os homens e substitui em favor disto tal apresentação histriônica do sentimento de Deus e de tal beleza de exemplo, possíveis dentro dos limites da natureza humana; a saber, não existe nenhuma divindade de Cristo e nenhuma expiação objetiva.
d) SACRIFICIAL – A expiação é descrita como Uma obra de mediação sacerdotal, que reconcilia Deus com o homem; note aqui que o termo 'reconciliação' tem seu sentido usual de remover a inimizade não do ofensor, mas da parte ofendida; uma oferta pelo pecado apresentada em favor dos transgressores; uma propiciação que satisfaz as demandas da santidade violada; e uma substituição da obediência de Cristo e sofrimento por nós. Tomadas juntas, estas passagens mostram que a morte de Cristo é exigida pelo atributo da justiça de Deus ou santidade para que os pecadores sejam salvos.
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Mediação sacerdotal: Hb. 9.11,12 - "vindo Cristo, o sumo sacerdote, ... nem por sangue de bodes e de bezerros, mas, por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado a eterna redenção"; Rm. 5.10 - "Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho"; 2 Co. 5.18,19 - "E tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo. ... Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados"; Ef. 2.16 - "e, pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um só corpo, matando com ela as inimizades"; cf. 12,13,19-"estranhos aos concertos da promessa ... vós que estáveis longe ... não mais sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e da família de Deus"; Cl. 1.20 - "havendo feito por ele a paz pelo sangue da cruz, por meio dele reconciliasse o mundo consigo mesmo". A respeito destas passagens, ver Meyer, que mostra em que sentido para o apóstolo "nós éramos 'inimigos', não de forma ativa, hostis a Deus, mas de modo passivo como aqueles contra os quais Deus se irou". A Epístola aos Romanos começa com a revelação da ira contra gentios e judeus (Rm. 1.18). "Porque, se nós, sendo inimigos" (Rm. 5.10) = "quando Deus foi hostil a nós". "Reconciliação" é, portanto, a remoção da ira de Deus para com o homem. Meyer, nesta passagem, diz que a morte de Cristo não remove a ira do homem para com Deus [isto não é obra de Cristo, mas do Espírito Santo]. O ofensor não reconcilia a pessoa ofendida, nem ele mesmo. Cf. Nm. 25.13, onde se diz que Finéias, matando Zinri, "fez propiciação pelos filhos de Israel". Sem dúvida "propiciação" aqui não pode ser uma reconciliação de Israel. A ação não termina no sujeito, mas no objeto - Deus. Do mesmo modo, 1 Sm. 29.4 - "com que aplacaria este a seu senhor? Porventura, não seria com as cabeças destes homens"? Mt. 5.23.24 - "Se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te com o teu irmão [i.e., remove a inimizade dele, não a tua], e depois vem, e apresenta a tua oferta". Pfleiderer, Die Ritschlische Theologie, 42 - " 'Εχθροί οντες (Rm. 5.10) = não a disposição ativa da inimizade da nossa parte para com Deus, mas a nossa condição passiva sob a inimizade ou ira de Deus". Paulo náo é o
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autor desta doutrina; ele reivindica que recebeu do próprio Cristo (Gl. 1.12). Simon, Reconciliation, 167 - "A idéia de que só o homem necessita de reconciliar-se vem de uma falsa concepção da imutabilidade de Deus. Porém Deus não seria injusto, se a sua relação com o homem fosse a mesma depois do pecado deste como era antes". O velho hino expressa a verdade: 'Meu Deus se reconcilia; ouço a sua voz perdoando; ele me toma por seu filho; não mais posso ter medo; Com confiança filial aproximo-me e clamo: 'Pai, Aba, Pai'". Oferta pelo pecado: Jo. 1.29 - "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" - aqui αϊρων afastar tomando ou levando; tomar e afastar. Trata-se de uma alusão à oferta pelo pecado em Is. 53.6-12 "quando a sua alma se puser por expiação do pecado ... como um cordeiro foi levado ao matadouro ... mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos". Mt. 26.29-8 -"isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para a remissão dos pecados"; cf. SI. 50.5 - "fizeram comigo um concerto com sacrifícios". 1 Jo. 1.7 - "o sangue de Jesus Cristo, seu Filho nos purifica de todo pecado" = não santificação, mas justificação; 1 Co. 5.7 - "Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós"; cf. Dt. 16.2-6 - "sacrificarás como oferta de páscoa ao Senhor, teu Deus". Ef. 5.2 - "entregou-se a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave"; Hb. 9.14 - "o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus"; 22,26 - "sem derramamento de sangue não há remissão,... agora, na consumação dos séculos, uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo"; 1 Pe. 1.18,19 - "fostes resgatados ... com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado". Lowrie, Doctrine of St. John, 35, assinala que Jo. 6.52-59 - "comerdes a minha carne e beberdes o meu sangue" - é uma referência que Cristo faz à sua morte em termos de sacrifício. Assim, como veremos abaixo, é uma propiciação (1 Jo. 2.2). Por isso, objetamos firmemente a afirmação de Wilson, Gospel of Atonement, 64 - "A morte de Cristo é um sacrifício, se sacrifício significa o exemplo culminante do sofrimento do inocente em favor do culpado o que surge da solidariedade do ser humano; mas não se pense que há substituição ou expiação". Wilson se esquece de que a necessidade do sofrimento surge da justiça de Deus; que, sem esse sofrimento, o homem
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não pode ser salvo; que Cristo suportou o que nós, por causa da insensibilidade do pecado, não podemos sentir ou suportar; que este sofrimento substitui o nosso, de sorte que somos salvos em conseqüência disso. Wilson sustenta que a Encarnação substitui a Expiação, que todo o pensamento a respeito da expiação pode ser eliminado. Henry Β. Smith resume bem melhor o evangelho com as palavras: "Encarnação para a Expiação". Consideramos melhores ainda as palavras: "Encarnação para revelar a Expiação". Propiciação: Rm. 3.25,26 - "o qual Deus propôs para propiciação, ... no seu sangue ... para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus". Uma exposição completa e crítica desta passagem encontra-se na Teoria Ética da Expiação, pp. 750-760. Por ora, basta dizer que ela mostra: 1) que a morte de Cristo é um sacrifício propiciatório; 2) que o seu primeiro e principal efeito é sobre Deus; 3) que o atributo particular que em Deus demanda a expiação é a justiça, ou santidade; 4) que a satisfação de tal santidade é condição necessária da justificação da parte de Deus para com o crente. Compare Lc. 18.13 - "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador"! Literalmente: "Ό Deus, sê propício a mim, pecador" - pelo sacrifício cuja fumaça sobe diante do publicano enquanto ele ora. Hb. 2.17 - "misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo"; 1 Jo. 2.2 - Έ ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas pelos de todo o mundo"; 4.10 - "Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados"; cf. Gn. 32.20, LXX. - Eu o aplacarei [έξιλάσομαι, 'propiciarei'] com o presente que vai adiante de mim"; Pv. 16.14 LXX. - "O furor do rei é como o mensageiro da morte; mas o homem sábio o apaziguará" [έξιλάσεται, 'propiciará']. Sobre a propiciação, ver Foster, Christian Life and Theology, 216 - "Em conseqüência, algo se fez para que Deus se inclinasse a perdoar o pecador. Deus se inclinou a perdoar os pecadores através do sacrifício, porque a sua justiça foi demonstrada pela aplicação da pena do pecado; mas não porque ele necessitasse de inclinar-se de coração a amar o pecador ou exercer a sua misericórdia. Na verdade, foi ele mesmo que 'propôs' Jesus como
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'propiciação' (Rm. 3.25,26)". Paulo nunca une a expiação objetiva aos seus efeitos subjetivos, embora nenhum escritor do Novo Testamento tenha reconhecido mais plenamente estes efeitos subjetivos. Com ele Cristo por nós sobre a cruz é a preparação necessária para Cristo em nós através do seu Espírito. Gould, Bib. Theol. N.T., 74, 75, 89, 172, sem garantia contrasta a representação de Paulo a respeito de Cristo como sacerdote o que ele chama de representação de Cristo como profeta na Epístola aos Hebreus: "O sacerdote diz: Não basta a volta do homem para Deus; deve haver uma expiação do pecado do homem. É a doutrina de Paulo. O profeta diz: Nunca houve uma provisão divina para o sacrifício. O que se busca é a volta do homem para Deus. Mas esta volta deve ser completa. Jesus é o perfeito profeta que nos dá o exemplo da obediência restabelecida e que entra na obra imperfeita do homem. É a doutrina da Epístola aos Hebreus". O reconhecimento da explicação no ensino de Paulo, juntamente com a negação da sua validade e interpretação da Epístola aos Hebreus como profética ao invés de sacerdotal, é uma curiosidade da exegese moderna. Lyman Abbott, Theology of an Evolutionist, 107-127, vai mais adiante quando afirma: "No N. T. Deus nunca diz que ele recebe a propiciação, nem que Jesus Cristo propicia, ou satisfaz a ira de Deus". Contudo, o Dr. Abbott acrescenta que, no N. T. Deus é representado como a si mesmo propiciado: A diferença entre o cristianismo e o paganismo está na representação como Deus aplaca a sua própria ira e satisfaz a sua própria justiça externando o seu próprio amor". Contudo, não se deve pensar que propiciar de si mesmo é suportar a pena: "Em nenhum lugar do V. T. a idéia do sacrifício está ligada à da pena; sempre está ligada à purificação: 'pelas suas pisaduras fomos sarados' (Is. 53.5). E no N. T., 'O Cordeiro de Deus ... tira o pecado do mundo' (Jo. 1.29); 'O sangue de Jesus ... purifica' (1 Jo. 1.7).... O de que a humanidade necessita não é a remoção da pena, mas a remoção do pecado". Isto nos parece uma contradição distinta tanto de Paulo como de João, para quem a propiciação é essencial à doutrina cristã (ver Rm. 3.25; 1 Jo. 2.2), conquanto admitamos que a propiciação é feita, não por um pecador, mas pelo próprio Deus, na pessoa de seu Filho. Substituição: Lc. 22.37 - "E com os malfeitores foi contado"; cf. Lv. 16.21,22 - "E Arão porá ambas as mãos sobre a cabeça do bode vivo e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel ... e os porá
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sobre a cabeça do bode... aquele bode levará sobre si todas iniqüidades deles à terra solitária"; Is. 53.5,6 - "ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos". Jo. 10.11 - "o bom pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas"; Rm. 5.6-8 - "Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores". A estes textos devemos acrescentar os mencionados sob a letra b acima, nos quais a morte de Cristo é descrita como um resgate. Além do comentário de Meyer, já citado, sobre Mt. 20.28 - "dar a sua vida em resgate de muitos", λύτρον αντί πολλών - Meyer também diz: "αντί também denota substituição. Aquilo que é dado como resgate toma o lugar dos que devem ser libertos, é dado em vez deles, a eles. 'Αντί só pode ser entendido no sentido de substituição no entendimento de que o resgate está presente como um equivalente, para garantir o livramento daqueles em favor de quem foi pago o resgate; ponto de vista que é só confirmado pelo fato de que, em outras partes do N.T., fala-se deste resgate, via de regra, como sacrifício expiatório. Que aquilo que [aqueles por quem o resgate é pago] é redimido é a eterna απώλεια em que, tendo a ira de Deus permanecido sobre eles, continuam aprisionados como em estado de desesperançado cativeiro, a não ser que a sua culpa seja expiada". Cremer, N.T. Lex., diz que "em ambos os textos do N.T., Mt. 16.26 e Mc. 8.37, a palavra αντάλλαγμα, como λύτρον está aquém da concepção de expiação; cf. Is. 43.3,4; 51.11; Am. 5.12. Isto se confirma pelo fato de que a satisfação e a substituição pertencem essencialmente à idéia de expiação". Dorner, Glaubenslehre, 2.515 (Doutrina Sistemática, 3.414) - "Mt. 20.28 contém o pensamento de substituição. Conquanto o mundo todo não tenha igual mérito quanto à sua alma, e não possa possuí-lo, a morte e obra de Cristo são de tal modo valiosas que podem servir como um resgate".
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O judaísmo rabínico reconhece os sofrimentos dos justos como tendo um sentido substitutivo para o pecado dos outros. Mas Wendt, Teaching of Jesus, 2.225-262, diz que esta idéia de satisfação viçaria foi um acréscimo de Paulo ao ensino de Jesus. Wendt admite que tanto Paulo como João ensinavam a substituição, mas nega que Jesus o fizesse. Ele defende que αντί em Mt. 20.28 significa somente que Jesus deu a sua vida como um meio através do qual ele obtém a libertação de muitos. Mas esta interpretação não é natural e viola o emprego lingüístico. Sustenta que Paulo e João entenderam erroneamente e erroneamente interpretaram as palavras do nosso Senhor. Preferimos o franco reconhecimento da parte de Pfleiderer de que, como Paulo e João, Jesus ensinava a substituição, mas nenhum deles estava correto. Colestock, sobre a Substituição com um Estágio no Pensamento Teológico, do mesmo modo sustenta que se deve desprezar a idéia de substituição. Admitimos que a idéia de substituição necessita de ser suplementada pela idéia de participação e deste modo isenta das implicações exteriores e mecânicas, mas que, abandonar a concepção em si, é abandonar a fé nos evangelistas e no próprio Jesus. O Dr. W. N. Clarke, em sua Christian Theology, rejeita a doutrina da retribuição pelo pecado e nega a possibilidade do sofrimento penal em favor de outro. Um ponto de vista apropriado a respeito da pena e a conexão vital de Cristo com a humanidade tornaria estas idéias rejeitadas não só dignas de crédito, mas inevitáveis. O Dr. Alvah Hovey revê a Teologia do Dr. Clarke, Am. Journal of Theology, janeiro 1899.205 - "Se não dermos importância ao fato de se suportar a pena por algum grau de sentimento ou volição pecaminosos, não há base para negar que um ser santo possa suportá-la em lugar de um pecador. Porque nada, a não ser a prática do erro, é impossível a um santo. Na verdade, suportar em lugar de outro a pena justa do seu pecado, faz com que o outro possa, desta forma, ser salvo dela e tornar-se amigo de Deus, e talvez seja esta a mais elevada função de amor ou de boa vontade concebível". Denney, Studies, 126,127, mostra que "substituição significa somente que, para a sua aceitação da parte de Deus, o homem depende de algo que Cristo fez por ele e que ele nunca poderia ter feito e nunca precisará fazer em favor de si mesmo.... A perda da nossa vida livre livrou-nos da vida perdida. Pode-se pregar esta substituição e isto liga os homens a Cristo fazendo-se sempre dependentes dele. A condenação dos nossos pecados em Cristo sobre a cruz é a farpa no anzol; sem ela,
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tomará a isca que você tem, mas não pescará os homens; você não aniquilará o orgulho, nem tornará Cristo, o Alfa e o Ômega, a redenção do homem".
Um exame das passagens mencionadas mostra que, enquanto as formas em que a obra expiatória de Cristo é descrita em parte derivada das relações moral, comercial e legal, a linguagem prevalecente é a do sacrifício. O ponto de vista correto da expiação deve, portanto, basear-se na interpretação adequada da instituição do sacrifício especialmente achado no sistema mosaico. Às vezes se faz a pergunta: Por que há tão pouca coisa nas palavras de Jesus a respeito da expiação? O Dr. R. W. Dale responde: Porque Cristo não veio pregar o evangelho; ele veio para que o evangelho pudesse ser pregado. Ele teve de suportar a cruz antes que se pudesse explicá-la. Jesus veio para ser o sacrifício, não para falar a respeito deste. Porém a sua reticência é exatamente o que nos fala que devemos encontrar nas suas palavras. Ele as proclamou incompletas e falou-nos de um subseqüente Mestre - o Espírito Santo. O testemunho do Espírito Santo temos nas palavras dos apóstolos. Devemos ter em mente que os evangelhos suplementaram as epístolas, e não o contrário. Os evangelhos simplesmente completam o nosso conhecimento de Cristo. Não cabe ao Redentor magnificar o custo da salvação, mas cabe-o ao redimido. Aquele que praticou o grande feito tem o mínimo a dizer a esse respeito. Harnack: "Há uma lei interna que compele o pecador a olhar para Deus como um juiz iroso. Apesar de que nenhum outro sentimento é possível". Consideramos esta confissão como uma demonstração da exatidão psicológica da doutrina de Paulo sobre a expiação viçaria. Deste modo a natureza humana tem sido constituída por Deus para que reflita a demanda da sua santidade. Que a consciência necessita de ser aplacada é prova de que Deus precisa ser aplacado. Quando Whiton declara que a propiciação é oferecida apenas à nossa consciência, que é a ira daquilo que é de Deus dentro de nós e que Cristo levou os nossos pecados, não em substituição por nós, mas em comunhão conosco, a fim de despertar a nossa consciência sobre a aversão a eles, ele se esquece de que Deus não é
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apenas imanente na consciência, mas também transcendente e que os veredictos da consciência são apenas indicações dos mais elevados veredictos de Deus: 1 Jo. 3.20 - "se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração e conhece todas as coisas". Lyman Abbott, Theology of an Evolutionist, 57 - "Um povo meio emancipado do paganismo que imagina que Deus deve ser aplacado pelo sacrifício antes de poder perdoar os pecados deu ao sistema sacrificial que Israel tomou de empréstimo do paganismo a mesma autoridade divina que aos elementos revolucionários no sistema que se destinou eventualmente a varrê-lo totalmente da existência". Do mesmo modo Bowne, Atonement, 74 "Na sua essência, o fato moral é que, se Deus deve perdoar o injusto, devese descobrir um meio de torná-lo justo. A dificuldade não é de ordem forense, mas moral". Tanto Abbott como Bowne consideram a justiça como simples forma de benevolência e a expiação como meio com vistas a um fim utilitário, a saber, restauração e felicidade da criatura. Um ponto de vista mais correto da justiça de Deus como atributo fundamental do seu ser, operado na constituição do universo, como infalivelmente estabelecendo conexão entre o sofrimento e o pecado, teria levado estes escritores a sentirem uma visão e inspiração na instituição do sacrifício e uma necessidade divina de que Deus sofreria se o homem não fosse liberto.
B) Instituição do Sacrifício, mais especialmente encontrada no sistema mosaico. a) Podemos apresentar como insustentável, por um lado, a teoria de que o sacrifício é essencialmente a apresentação de uma oferta (Hofmann, Baring-Gould) ou uma festa (Spencer) à divindade; por outro lado a teoria de que o sacrifício é o símbolo de uma comunhão renovada (Keil) ou a oferta de gratidão ao Deus de toda a vida e ser do adorador (Bahr). Nenhuma destas teorias pode explicar o fato de que o sacrifício de uma oferta de sangue envolve o sofrimento e morte da vítima não trazida pela alma simplesmente grata, mas pela alma de uma consciência abalada.
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Lange, Introd. to Com. on Exodus, 38 - Os pagãos mudam os símbolos de Deus em mitos (racionalismo), do mesmo modo em que os judeus mudam os sacrifícios de Deus em ofício meritório (ritualismo)". Westcott, Hebrews, 281-294, parece sustentar com Spencer que o sacrifício é essencialmente uma testa feita como oferta a Deus. Do mesmo modo Filo: "Deus recebe o ofertante fiel à sua mesa dando-lhe em troca uma parte do sacrifício". Com isto compare os espíritos na Odisséia de Homero, que recebem força ao beberem o sangue do sacrifício. O ponto de vista de Bahr está a meio caminho da verdade. Renovação da união pressupõe Expiação. Lyttleton, em Lux Mundi, 281 - "O pecador deve, em primeiro lugar, expiar o seu pecado do sofrimento; só então ele pode entregar sua vida a Deus purificada pela morte expiatória". Jahn, Bib. Archaeology, 373, 378 - "É da própria idéia de sacrifício que se apresenta a vítima diretamente a Deus e, na apresentação é destruída". Bowne, Philos. of Theism, 253, fala do sentimento delicado do crítico bíblico que com a sua boca cheia de carne de boi ou de ovelha, professa estar chocado com a crueldade para com os animais que os sacrifícios no templo envolviam. Lord Bacon: Os hieróglifos vieram antes das letras e as parábolas antes dos argumentos". A velha dispensação foi a grande parábola de Deus ao homem. A teocracia foi sepultada com todos os hieróglifos divinos. Existe a pedra Roseta através da qual podemos 1er estes hieróglifos? As sombras que se foram abreviando na limitação do esboço passam e desvanecem totalmente sob o pleno esplendor meridiano do Sol da Justiça".
b) A verdadeira importância do sacrifício, como fartamente se evidencia, tanto nas fontes gentílicas como judaicas, abrangia três elementos: primeiro, da satisfação da divindade ofendida ou propiciação oferecida à santidade violada; segundo, da substituição do sofrimento e morte da parte do inocente para a merecida punição do culpado, e terceiro a comunhão da vida entre o ofertante e a vítima. Combinando estas três idéias temos a importância do sacrifício: A satisfação pela substituição e a substituição pela incorporação. O sacrifício de sangue entre os pagãos expressava a consciência de que o pecado envolve culpa;
Teologia Sistemática (Strong) 1422 que a culpa expõe o homem ajusta ira de Deus; que sem a expiação daquela culpa não há perdão; e que, através do sofrimento de um outro que compartilha a sua vida, o pecador pode expiar seu pecado. Luthardt, Compendium der Dogmatik, 170, cita de Nägelsbach, Nachhomerische Teologie (Teologia Pós-homérica), 338 sq. - "A essência da punição é a retribuição (Vergeltung) e a retribuição é uma lei fundamental da ordem terrena. A retribuição inclui a força expiatória da punição. Esta consciência de que a pena do pecado demanda retribuição, a saber, esta certeza de que há na divindade uma justiça que pune o pecado, em conexão com a consciência da transgressão pessoal, desperta o anseio pela expiação"; que se expressa no sacrifício de um animal que é morto. Os gregos reconheciam a expiação não só no sacrifício de animais, mas nos humanos. Stahl, Christliche Philosophie (Filosofia Cristã), 146 "Toda consciência não pervertida declara a lei eterna de justiça que inevitavelmente a punição se seguirá ao pecado. No reino moral há outro meio de satisfazer a justiça o da expiação. Isto difere da punição em seu efeito, isto é, na reconciliação; a autoridade moral, afirmando-se, não através da destruição do ofensor, mas elevando-o a ela e unindo-a a ele. Mas o ofensor não pode oferecer o seu próprio sacrifício; isto só pode ser feito pelo sacerdote". No Prometeu Acorrentado, de Esquilo, Hermes diz a Prometeu: "Desse tremendo suplício não esperes ver o fim, salvo se algum deus quiser ficar em teu lugar, a descer aos antros do invisível Plutão, nos redutos sombrios do Tártaro". Ε isto é feito por Quiron o mais sábio e mais justo dos Centauros, filho de Cronos, sacrificando-se em lugar de Prometeu, enquanto Hércules mata a águia em seu peito e assim livra-o do tormento. A lenda de Esquilo é quase uma predição do verdadeiro Redentor. Westcott, Hebrews, 282, sustenta que a idéia das ofertas expiatórias, correspondendo à consciência do pecado, não pertencem à religião primitiva da Grécia. Respondemos que a Ilíada de Homero, no primeiro livro, descreve exatamente uma oferta expiatória a Febo Apolo, afastando a sua ira e fazendo cessar a praga e as devastações. E. G. Robinson sustenta que não há "nenhuma evidência de que os judeus tivessem qualquer idéia da eficácia do sacrifício para a expiação da culpa moral". Mas, ao aproximar-se
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do tabernáculo ou do templo, o altar sempre se apresentava diante do lavatório. H. Clay Trumbull, S. S. Times, 30 de novembro, 1901.801 - "A páscoa não era uma passagem pelas casas dos israelitas, mas uma passagem ou travessia junto ao Senhor para entrar nas casas daqueles que o recebiam de bom grado e que tinham entrado no pacto com ele através do sacrifício. O soberano oriental era acompanhado pelo executor, que entrava para matar o primogênito da casa só quando não houvesse nenhum sinal de pacto na porta". Consideramos esta explicação como um substituto de um resultado e efeito incidental do sacrifício pelo sacrifício em si. Isto sempre teve consigo a idéia de reparação de um erro pelo sofrimento substitutivo. Curtis, A Religião Semítica Primitiva nos Nossos Dias, na Significance of Sacrifice, 218-237, conta-nos que foi à Palestina sob a explicação de Robert Smith de que o sacrifício é uma festa simbolizando comunhão amistosa entre o homem e Deus. Ele chegou à conclusão de que a ceia sacrificial não é um elemento primário, mas há um valor substitutivo na oferta. Não estão excluídas a oferta e a festa; mas há um valor substitutivo na oferta. Não se excluem a oferta e a comemoração; mas estas são seqüências e incidentes. O infortúnio é evidência de pecado; é preciso que o pecado seja expiado; a ira de Deus precisa ser removida. O sacrifício consiste principalmente no derramamento do sangue da vítima. A "explosão do sangue" satisfaz e paga a divindade. George Adam Smith em Is. 53 (2.364) - "Por ser inocente, ele dá a sua vida como satisfação da lei divina pela culpa do seu povo. Sua morte não é simplesmente um martírio ou desvio da justiça humana; na intenção e propósito de Deus, mas também através da sua oferta voluntária, é um sacrifício expiatório. Não há nenhum exegeta que não concorde com isto. 353 – "A substituição do servo do Senhor em favor do povo culpado e o poder redentor dessa substituição não são doutrina arbitrária". Satisfação significa simplesmente que há um princípio no ser divino que não rejeita somente o pecado passivamente, mas também, ativamente, se opõe a ele. O juiz, se for correto, deve repelir o suborno com indignação e a mulher pura deve arder em ira contra uma proposta infame. R. W. Emerson: *A vossa bondade deve ter um limite no despenhadeiro - caso contrário, não ó bondade". Porém o juiz e a mulher não se sentem bem na repulsa; ao invés eles sofrem. Deste modo Deus não se regozija com a dor
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ou com a ponta a cuja inflição ele é compelido. Deus tem uma ira que é calma, judicial, inevitável - reação natural da santidade contra a falta desta. Cristo sofre tanto por ser aquele que aplica a punição como aquele sobre quem ela é aplicada: "Porque Cristo não se agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam" (Rm. 15.3; cf. SI. 69.9).
c) Considerando o propósito exato e eficácia dos sacrifícios mosaicos, de vemos distinguir entre seus ofícios teocráticos e os espirituais. Eles são, por um lado, os meios indicados pelos quais o ofensor podia ser restaurado ao lugar e privilégios exteriores, como membro da teocracia, que ele tinha perdido por causa da negligência e da transgressão; e cumpriram este propósito mesmo sem o gênio e o espírito que apresentavam. Por outro lado eram símbolo do sofrimento vicário e morte de Cristo e obtinham perdão e aceitação da parte de Deus só quando eram oferecidos com a verdadeira contrição e com fé no método de salvação de Deus. Hb. 9.13,14 - "Porque, se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha, esparzida sobre os imundos, os santificam, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo"? 10.3,4 "Nesses sacrifícios, porém, cada ano, se faz comemoração dos pecados, porque é impossível que o sangue dos touros e bodes tire pecados". A morte de Cristo também, como os sacrifícios do V.T., opera um benefício temporal mesmo sobre aqueles que não têm fé; ver pp. 771,772. Robertson, Early Religion of Israel, 441,448, rebate ao ataque da alta crítica de que, nos dias de Isaías, Miquéias, Oséias, Jeremias, não existia código levítico; que estes profetas expressavam a sua desaprovação do sistema sacrificial todo como mero artifício humano destituído de sanção divina. Mas o Livro do Concerto, sem dúvida, existia na sua época, com esta ordem: "Um altar na terra me farás e sobre ele sacrificarás holocaustos (Ex. 20.24). Ou, caso se sustente que Isaías condena até mesmo um trecho da
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legislação, isto bem prova, porque faria também o profeta condenar o sábado como uma parte da adoração voluntária e até mesmo rejeitaria a oração como desagradável a Deus, visto que, na mesma conexão ele diz: "as festas da Lua Nova, e os sábados ... não posso suportar ... quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos" (Is. 1.13-15). Isaías somente estava condenando o sacrifício sem a piedade; caso contrário nós o faríamos condenar tudo o que ocorria no templo. Mq. 6.8 - "o que é que o Senhor requer de ti, senão que pratiques a justiça"? Isto não exclui a oferta de sacrifício, pois Miquéias antecipa o tempo quando "o monte da Casa do Senhor será estabelecido no cume dos montes, ... e irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor" (Mq. 4.1,2). Os 6.6 "eu quero misericórdia e não sacrifício", interpreta-se com que segue: "o conhecimento de Deus mais do que os holocaustos". Compare com Pv. 8.10; 17.12; e as palavras de Samuel: "o obedecer é melhor do que o sacrificar" (1 Sm. 15.22). O que é o altar de onde se extraiu a sua descrição da teofania de Deus e do qual se tomou a brasa viva que tocou os seus lábios e preparou o profeta? (Is. 6.1-8) Jr. 7.22 — "Porque nunca falei ... acerca de holocaustos ou sacrifícios ... mas isto ... Dai ouvidos à minha voz". Jeremias insiste apenas na indignidade do sacrifício onde não há coração.
d) Desse modo os sacrifícios do Antigo Testamento, quando oferecidos corretamente, envolto em uma consciência de pecado da parte do adorador, daquele que trazia a vítima para a expiação do pecado, fazia repousar as mãos do ofertante sobre a cabeça da vítima, fazendo confessar os pecados através da oferta, o derramar do sangue sobre o altar, e o conseqüente perdão dos pecados e a aceitação da oferta do adorador. A oferta pelo pecado e o bode expiatório do grande dia da expiação simbolizaram as duas idéias elementares de sacrifício, a saber, satisfação e substituição juntamente com a conseqüente remoção da culpa daqueles que ofertam e fizeram o sacrifício. Lv. 1.4 - Έ porá a sua mão sobre a cabeça do holocausto, para que seja aceito por ele, para expiação"; 4.20 - "e fará a este novilho como o fez ao novilho da expiação; assim lhe fará, e o sacerdote por eles fará propiciação e lhes será perdoado o pecado"; do mesmo modo 31 e 35 - "e o
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sacerdote fará propiciação por ela e lhe será perdoado o pecado"; assim também 5.10,16; 6.7. Lv. 17.11 - "Porque a alma (vida) da carne está no sangue, pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma (vida), porquanto é o sangue que fará expiação pela alma (vida)". Os sacrifícios patriarcais eram expiação como sacrifício de Jó pelo testemunho de seus amigos: Jó 42.7-9 - "A minha ira se acendeu contra ti [Elifaz] ... Tomai, pois, sete bezerros ... oferecei holocaustos por vós"; cf. 33.24 -"então, Deus terá misericórdia dele e lhe dirá: Livra-o, que não desça à cova; já achei resgate"; 1.5 - Jó oferecia holocaustos por seus filhos, porque ele dizia: "Porventura pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração"; Gn. 8.20 - Noé "ofereceu holocaustos sobre o altar"; 21 - "e o Senhor cheirou o suave cheiro e disse o Senhor em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem". O sofrimento vicário que se pretende em todos estes sacrifícios, está claro em Lv. 16.1-34 - relato da expiação e o bode expiatório do grande dia da expiação cujo sentido completo apresentamos abaixo; também Gn. 22.13 -"e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar do seu filho"; Ex. 32.30-32 - onde Moisés diz: "Vós pecastes grande pecado; agora, porém, subirei ao Senhor; porventura farei propiciação por vosso pecado. Assim, tornou Moisés ao Senhor e disse: Ora, este povo pecou pecado grande, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito". Ver também Dt. 21.1-9 - a expiação de um homicida incerto, com o sacrifício de uma bezerra; onde Oehler, O. T. Theology, 1.39,9 diz: "Evidentemente a pena de morte para um homicida involuntário é simbolicamente executada sobre a bezerra". Ε Is. 53.1-12 - Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos ... pisaduras ... expiação do pecado" - as idéias tanto de satisfação como de substituição tornam-se ainda mais claras. Wallace, Representative Responsibility: "Os animais oferecidos em sacrifício devem estar relacionados com o homem, sujeitos a ele, ser de sua propriedade. Não devem ser resultado de caça. Devem trazer a marca e impressão da humanidade. Deve-se impor as mãos humanas sobre o sacrifí-
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cio: as mãos do ofertante e as do sacerdote. A oferta substitui o ofertante. O sacerdote substitui o ofertante. O sacerdote e o sacrifício são um único símbolo. [Por isso, na nova dispensação, o sacerdote e o sacrifício são um: ambos acham-se em Cristo]. O sumo sacerdote deve entrar no santo dos santos com o seu próprio dedo mergulhado no sangue: o sangue deve estar em contato com a sua própria pessoa; é outra indicação da identificação dos dois. Alimenta-se e sustenta-se a vida com a vida. Toda vida inferior ao homem pode ser sacrificada para o bem do homem. Deve-se derramar o sangue no chão. Ά vida está no sangue'. Deus reserva a vida. Ela é dada em benefício do homem não para ele. A vida em favor da vida é a lei da criação. Do mesmo modo, a vida de Cristo, também, em benefício da nossa vida. Originariamente Adão era um sacerdote da família e da raça. Mas perdeu esse caráter representativo por causa da desobediência e a sua redenção é a do indivíduo, não da raça. A raça deixou de ter um representante. Os súditos do reino divino deviam ser, em vista disso, não descendência natural de Adão, mas os redimidos. O fato de que se requer o corpo e o sangue indica a demanda de que a morte seja uma violência que derrama sangue. Os sacrifícios apresentam, não o próprio Cristo [seu caráter, sua vida], mas a sua morte". Segue-se uma tentativa de esquematizar os SACRIFÍCIOS JUDAICOS. A razão geral para o sacrifício acha-se expressa em Lv. 17.11 (citado acima). I. Para o indivíduo: 1. A expiação = sacrifício com vistas à expiação dos pecados de ignorância (o elemento impensado e a tentação plausível): Lv. 4.14, 20,31. 2. Oferta pela culpa = sacrifício com vistas à expiação dos pecados de omissão: Lv. 5.5,6. 3. O holocausto = sacrifício com vistas à expiação dos pecados em geral: Lv. 1.3 (a oferta de Maria, Lc. 2.24). II. Para a família: A Páscoa: Ex. 12.27. III. Para o povo: 1. O sacrifício diário matutino e vespertino: Ex. 29.38-46. 2. Oferta do grande dia da expiação: Lv. 16.6-10. Neste último, empregavam-se as duas vítimas: uma para representar o significado: morte e a outra para representar o resultado: perdão. Uma única vítima não podia representar tanto a expiação, através do derramamento de sangue, como a justificação, através da retirada do pecado. Jesus morreu pelos nossos pecados na festa da Páscoa, na hora do sacrifício diário. Mclaren, em S. S. Times, 30 de nov. 1901.801 - "O derramamento de sangue e a conseqüente segurança eram somente uma
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parte do ensino da Páscoa. Há uma dupla identificação do ofertante com o sacrifício; primeiro, ele a oferece como seu representante, impondo as mãos sobre a sua cabeça, ou transferindo a sua pessoalidade, como se fosse para a vítima; em segundo lugar, recebendo-a de volta, da parte de Deus, a quem ele a ofereceu, ele se alimenta da vítima, fazendo-a parte da sua vida e nutrindo-se dela: 'Minha carne ... que eu darei pela vida do mundo ... quem de mim se alimenta também viverá por mim' (Jo. 6.51,57)". Chambers, em Presb. And Ref. Review, janeiro, 1892.22-34 - Sobre o grande dia da expiação "a dupla oferta - uma para o Senhor e a outra para Azazel -tipifica não só a remoção da culpa do povo, mas a sua transferência para o odioso e detestável ser que é a causa primeira da sua existência", i.e., Satanás. Lidgett, Spir. Principle of the Atonement, 112,113 - "Não foi a punição que o bode levou para o deserto, porque a idéia de punição não está diretamente associada ao bode expiatório. Ele leva o pecado - toda a infidelidade da comunidade que contaminou os lugares santos - deles, de modo que, por isso, eles podem ser purificados ... A oferta pelo pecado representando o pecador ao levar o fardo do seu pecado - faz a expiação ao recuar e elevar a sua vida para Deus sob condições que representam ao mesmo tempo a ira e o ato de aplacar Deus".
e) Não é essencial a este ponto de vista sustentar que uma instituição formal divina do rito do sacrifício, na expulsão do homem do Éden, pode ser provada com a Escritura. Como a família e o estado, o sacrifício pode, sem tal constrangimento formal, ter a sanção divina e ser ordenado por Deus. Contudo, a prevalência quase universal do sacrifício, juntamente com o fato de que sua natureza, como uma oferta de sangue, parece excluir a própria invenção do homem, combina com algumas indicações da Escritura em favor do ponto de vista de que era uma determinação divina. Desde os tempos de Moisés, não pode haver dúvida quanto à sua autoridade divina. Compare a origem da oração e da adoração, para o que não achamos nenhuma injunção formal divina no início da história. Hb. 11.4 - "Pela fé, Abel ofereceu maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho
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de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons" - aqui se pode argumentar que a fé de Abel não era presunção; ela deve ter tido alguma injunção e promessa de Deus em que se baseava. Gn. 4.3-5 - "Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou". Tem-se argumentado, em corroboração a este ponto de vista, que a existência do sacrifício anteriormente vem sugerida em Gn. 3.21 - "E fez o Senhor Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu". Visto que não se permitia até muito depois a matança de animais para a alimentação (Gn. 9.3 – Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento"). tirou-se a inferência de que as peles com que Deus vestiu nossos primeiros pais eram de animais mortos para o sacrifício; esta vestimenta fornecia um tipo de justiça de Cristo que garante a nossa restauração ao favor de Deus, como a morte das vítimas fornecia o tipo do sofrimento de Cristo, que nos garante a remissão do castigo. Contudo, devemos considerar esta hipótese tão agradável e possivelmente correta, mais do que uma verdade demonstrada pela Escritura. Visto que os instintos não pervertidos da natureza humana são expressão da vontade de Deus, a fé que Abel possuía pode ter consistido em confiar nestes ao invés de insinuações de egoísmo e de justiça própria. O sacrifício de animais, como a morte de Cristo que o sacrifício significava, apenas acelerou o que lhes pertencia por causa da conexão com o pecado do homem. A fé reconheceu tal conexão. Westcott, Hebrews, 281 - "Não há nenhuma razão para pensar que o sacrifício foi instituído em obediência a uma revelação direta. ... No começo menciona-se na Escritura como uma coisa natural e conhecida. Era praticamente universal nos tempos pré-cristãos.... No devido tempo a prática popular do sacrifício foi regulamentada pela revelação como disciplinar e empregada como veículo do ensino típico". Preferimos dizer que o sacrifício provavelmente teve origem num instinto fundamental da humanidade e, por isso, tornou-se uma ordenança divina do mesmo modo que o casamento e o governo civil. Sobre Gn. 4.3,4, ver C. H. M. - "A total diferença entre Cairn e Abel está, não na natureza deles, mas nos seus respectivos sacrifícios. Caim trouxe a Deus o fruto manchado de pecado de uma terra amaldiçoada. Não
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há aqui o reconhecimento do fato de que ele era um pecador, condenado à morte. Todo o seu esforço não podia satisfazer a santidade de Deus, ou remover a sua pena. Mas Abel reconheceu o seu pecado, a condenação, a desesperança, a morte, e trouxe o sacrifício de sangue - sacrifício de um outro ser - provido pelo próprio Deus, que satisfizesse as exigências de Deus. Ele achou um substituto e apresentou-o com fé - fé que olha de si para Cristo, ou o caminho indicado por Deus para a salvação. A diferença não estava nas pessoas, mas nas ofertas. A respeito de Abel se diz que Deus 'deu testemunho dos seus dons' (Hb. 11.4). De Caim se diz: 'se fizeres bem (LXX.: ορθώς προσενέγκης – se ofereceres corretamente) não haverá aceitação para ti"? Mas Caim desejou afastar-se de Deus e do caminho de Deus, e perder-se no mundo. Este é o 'caminho de Caim' (Jd. 11)". Num ponto de vista contrário, ver Crawford, Atonement, 259 - "Tanto nos tempos levíticos como nos patriarcais, não temos nenhuma instituição do sacrifício, mas a sua regulamentação já existente. Porém a fé em Abel pode ter sido aceita, não como uma revelação relativa ao culto sacrificial, mas ao Redentor prometido; o seu sacrifício pode ter expressado aquela fé. Se é assim, a sua aceitação da parte de Deus deu sustentação divina aos sacrifícios futuros. Não se tratava de uma adoração voluntária porque não substituía outro culto que Deus já havia instituído. Não é preciso supor que Deus tivesse dado uma ordem expressa. Abel pode ter sido movido por algum estímulo divino interior. Assim disse Adão a Eva: 'esta agora é osso dos meus ossos....' (Gn. 2.23), antes da ordem divina para que se casassem. Não foi apresentado nenhum fruto durante a dispensação patriarcal. Os sacrifícios pagãos representam uma corrupção do sacrifício primitivo". Von Lasaulx, Die Sühnopfer der Griechen und Römer, und ihr Verhältniss zu dem einen auf Golgotha (O Holocausto dos Gregos e Romanos, e a sua relação com o do Gólgota), 1 - "A primeira palavra do homem original provavelmente foi uma oração e a primeira ação do homem decaído foi um sacrifício"; ver tradução em Bíblia Sacra, 1.368-408. Bispo Butler: "Pela prevalência geral dos sacrifícios propiciatórios sobre o mundo pagão, em que a noção de arrependimento é suficiente para expiar a culpa parece contrariar o sentido geral da humanidade".
f) O N. T. admite e pressupõe a doutrina veterotestamentária do sacrifício. A linguagem sacrificial de que as descrições da obra de Cristo se revestem pode ser explicada como uma acomodação aos métodos
Teologia Sistemática (Strong) 1431 judaicos de pensamento, visto que esta terminologia em grande parte estava em uso comum entre os pagãos e Paulo a usava mais do que quaisquer outros apóstolos tratando dos gen tios. Negar o seu sentido veterotestamentário, quando usado pelos escritores do Novo Testamento para descrever a obra de Cristo é negar qualquer apropriada inspiração tanto na indicação mosaica dos sacrifícios como nas interpretações apostólicas. Portanto, devemos sustentar, como resultado de uma simples indução dos fatos escriturísticos, que a morte de Cristo é uma oferta viçaria, provida pelo amor de Deus com o propósito de satisfazer uma demanda interior da santidade divina e remover um obstáculo na mente divina para a renovação e perdão dos pecadores. A epístola de Tiago não faz alusão ao sacrifício. Mas ele não teria deixado de fazê-lo se tivesse sustentado o ponto de vista moral da expiação; porque, neste caso teria sido um óbvio auxílio ao seu argumento contra o ofício meramente formal. Cristo protestou contra a lavagem das mãos e a guarda dos dias de sábado. Se o sacrifício tivesse sido uma parte da formalidade humana, como, com indignação teria investido contra ele! Mas, ao invés disto, ele recebeu de João Batista, sem censura, as palavras: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo' (Jo. 1.29)". A. A. Hodge, Popular Lectures, 247 - Os sacrifícios de touros e de bodes eram como um símbolo de dinheiro, como as nossas promissórias, aceitas no valor do seu anverso até o dia do vencimento. Mas o sacrifício de Cristo é o ouro que, de um modo absoluto cancelou toda a dívida através do seu valor intrínseco. Por isso, quando Cristo morreu, mãos sobrenaturais rasgaram de alto a baixo o véu que fazia separação entre o homem e Deus. Quando terminou a verdadeira expiação, o sistema simbólico todo que o representava tornou-se functum officio (completo pelo ofício), e foi abolido. Logo depois disto, o templo caiu por terra e o ritual tornou-se impossível". Sobre a negação de que a morte de Cristo deve ser interpretada pelos sacrifícios pagãos e judaicos, ver Maurice em Sac, 154 - "A significação paga das palavras, quando aplicadas a um uso cristão, não devem simplesmente ser modificadas, mas invertidas"; Jowett, Epistles of St. Paul,
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2.479 – "Os sacrifícios pagãos e judaicos, mostram mais o que não era o sacrifício de Cristo, do que o que ele era". Bushnell e Young não duvidam da natureza expiatória dos sacrifícios pagãos. Mas os principais termos que o N. T. emprega para descrever o sacrifício de Cristo são tomados de empréstimo do ritual sacrificial grego, p. ex., θυσία, προσφορά, ίλασμός, αγιάζω, καΦαίρω, ίλάσκομαι. Negar que estes termos, quando aplicados a Cristo, implicam expiação e substituição, é negar a inspiração dos que os empregaram. Com todas estas indicações da nossa discordância da moderna negação do sacrifício expiatório, julgamos de bom alvitre, em contraste, apresentar a mais clara afirmação possível do ponto de vista de que discordamos. Isto pode ser encontrado em Pfleiderer, Philos. Religion, 1.238,260,261 -"A distinção gradual da moral sobre a cerimonial, a repressão e final substituição da expiação cerimonial pela purificação moral do sentido e da vida e, conseqüentemente a transformação da concepção mística da redenção na correspondente concepção ética da educação, pode ser designada como o cerne do princípio teológico do desenvolvimento da história da religião.... Mas, para Paulo, o problema sobre em que sentido a morte da cruz pode ser o meio da redenção messiânica encontrou a sua resposta tão somente nos pressupostos da teologia farisaica, que se apoiava no sofrimento inocente e especialmente no martírio, ou da justiça, um meio expiatório de compensar os pecados do povo todo. O que seria mais natural do que Paulo contemplar a morte na cruz do mesmo modo, como um recurso expiatório de salvação com vistas à redenção do mundo pecador?
"Somos induzidos a ver nesta teoria o pressentimento simbólico da verdade de que o novo homem sofre, como se fosse de um modo vicário, em favor do velho homem; porque ele toma sobre si as dores diárias da subjugação de si mesmo e inculpavelmente com paciência os males que o velho homem não pôde, a não ser por necessidade, atribuir a si mesmo como punição. Por isso, como Cristo é a exemplificação da idéia moral do homem, do mesmo modo a sua morte é o símbolo do processo moral da dolorida subjugação própria na obediência e paciência em que consiste a verdadeira redenção interior do homem. ... De igual modo
Teologia Sistemática (Strong) 1433 Fichte diz que o único meio apropriado para a salvação é a morte do eu, morte com Jesus, a regeneração. "O defeito da doutrina de Kant e Fichte sobre a redenção consiste nisto, que ela limita o processo da transformação ética para o indivíduo e se empenha em explicá-la somente a partir da sua razão e liberdade. Como pode o indivíduo libertar-se da sua falta de potencialidade e tornar-se livre? Esta pergunta não tem solução. A doutrina cristã da redenção é a de que a libertação moral do indivíduo não é o efeito do seu próprio poder natural, mas o efeito do Espírito divino, que, desde o começo da história humana exerce a sua atividade como o poder educativo para o bem, e particularmente criou para si, na comunidade cristã, um órgão permanente para a educação do povo e dos indivíduos. É o individualismo moral de Kant que o impediu de achar no espírito comum historicamente realizado do bem a verdadeira força valiosa para o indivíduo tornar-se bom". C) Teorias sobre a Expiação. 1ª) Sociniana, ou Teoria do Exemplo. Esta teoria sustenta que a pecaminosidade subjetiva é a única barreira entre o homem e Deus. Só o homem e não Deus necessita de reconciliar-se. O único método de reconciliação é a melhoria da condição moral do homem. Esta pode efetuar-se através da vontade do próprio homem pelo arrependimento e reforma. A morte de Cristo é apenas a morte de um mártir nobre. Ele nos redime só com o seu exemplo humano de fidelidade à verdade e o dever tem poderosa influência sobre o progresso moral. Este fato os apóstolos, consciente ou inconscientemente, revestiram da linguagem dos sacrifícios gregos e judaicos. Esta teoria foi plenamente elaborada por Lélio Socínio e Fausto Socínio da Polônia, no século XVI. Seus defensores modernos acham-se no grupo unitário.
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O texto que à primeira vista parece favorecer esta opinião encontra-se em 1 Pe. 2.21 - "Cristo também padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas". Mas veja letra (e) abaixo. Quando Correggio viu o quadro de Santa Cecília de Rafael, exclamou: "Eu também sou pintor". Deste modo Socínio sustentava que o exemplo de Cristo despertou a nossa humanidade para a imitação. Ele considera a expiação como paga e impossível; cada um deve receber segundo as suas obras; Deus está pronto a admitir o perdão baseado no simples arrependimento. E. G. Robinson, Christian Theology, 277 - "Esta teoria primeiro insiste na inviolabilidade das seqüências morais na conduta de cada agente moral; a seguir insiste em que, em dada condição, o fiat onipotente pode cativar as conseqüências da transgressão. ... O unitarismo erra ao dar uma força transformadora àquele que opera a beneficência só depois de se operar a transformação". Ao atribuir à natureza humana uma força transformadora por si mesma, ignora a sua necessidade da regeneração através do Espírito Santo. Mas mesmo esta obra regeneradora do Espírito Santo pressupõe a obra expiatória de Cristo. "Necessário vos é nascer de novo" (Jo. 3.7) necessita a expressão "Importa que o Filho do Homem seja levantado" (Jo. 3.14). Só a cruz é que satisfaz o instinto de reparação do homem. Harnack, Das Wesen des Christentums, 99 - "Aqueles que consideravam a morte de Cristo logo deixaram de trazer oferta de sangue a Deus. Isto é verdade tanto no judaísmo como no paganismo. A morte de Cristo põe um fim às ofertas de sangue na história religiosa. O impulso para o sacrifício encontrou satisfação na cruz de disto". Consideramos isto como prova de que a cruz é essencialmente uma satisfação à justiça divina e não um mero exemplo de fidelidade ao dever. A teoria sociniana é a primeira das seis sobre a expiação, as quais, a grosso D, correspondem às seis teorias do pecado tratadas anteriormente, e é a que inclui a mais falsa doutrina que aparece nas mitigadas formas das que se seguem.
A esta teoria fazemos as seguintes objeções: a) Baseia-se em falsos princípios filosóficos, como, por exemplo, de que a vontade é meramente a faculdade das volições; que o fundamento da virtude está na utilidade; que a lei é uma expressão da
Teologia Sistemática (Strong) 1435 vontade arbitrária; que a pena é um seio de reformar o ofensor; que a retidão, quer em Deus, quer no homem, é apenas manifestação da benevolência. Se a vontade é simplesmente a faculdade das volições, sem ser também a determinação fundamental do ser para um fim último, então o homem pode, por uma amplas volição, efetuar a sua própria reforma e reconciliação com Deus. Se o fundamento da virtude se encontra na utilidade, então nada há no ser divino que impede o perdão, o bem da criatura, e não demanda a santidade de Deus e é a razão do sofrimento de Cristo. Se a lei é uma expressão da vontade arbitrária, ao invés de uma transcrição da natureza divina, em qualquer tempo pode ser dispensada, e o pecador pode ser perdoado por um simples arrependimento. Se a pena é só um meio de reformar o ofensor, então o pecado não envolve a culpa objetiva, ou a obrigação de sofrer e o pecado pode ser perdoado a qualquer momento, a todos os que o abandonam; na verdade, deve ser perdoado, visto que a punição está fora de lugar, quando o pecador já está reformado. Se a justiça é apenas uma forma ou manifestação de benevolência, então Deus pode mostrar a sua benevolência com tanta facilidade através do perdão como através da pena, e a morte de Cristo tão somente tem a intenção de atrair-nos para o bem pela força de um nobre exemplo. Wendt, Teaching of Jesus, 2.218-264, é essencialmente sociniano neste ponto de vista da morte de Jesus. Contudo, ele atribui a Jesus a idéia de que o sofrimento é necessário, mesmo para alguém que está em perfeito amor e bendita comunhão com Deus, visto que a bênção terrena não é a verdadeira bem-aventurança e que uma verdadeira piedade é impossível sem a renúncia e a inclinação para servir aos outros. A vida sacrificial terrena do Messias é o seu maior ato necessário e o ponto culminante do seu ensino. O sofrimento fez dele um exemplo perfeito e, deste modo, garantiu o sucesso da sua obra. Mas, Wendt não explica por que Deus teria tornado necessário que o santíssimo sofresse. Podemos entender esta constituição das coisas só como uma revelação da santidade de Deus, e da sua relação punitiva com o pecado do homem. Simon, Reconciliation, 357, bem mostra como o exemplo poderia ter sido suficiente para uma raça que somente necessitava de liderança. Porém a raça necessitava mais é de energia, cumprimento das condições, restauração na direção de Deus em
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favor dos homens da parte de um dentre eles, aquele de cuja essência participavam, o qual os criou, em quem eles consistiam e cuja obra era a obra deles. Cristo aplicou a condenação divina dos pecados e impulsos que surgiram da vida subconsciente. Antes que o pecado, que no momento parecia ser dele, pudesse passar a pertencer-lhe, ele o condenou. Ele simpatizou, revelou a própria justiça e tristeza de Deus. Hb. 2.16-18 - "na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. Pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus para expiar os pecados do povo, porque, naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados".
b) É um desenvolvimento natural do ponto de vista pelagiano sobre o pecado e logicamente necessita de um corte ou renúncia de cada uma das outras doutrinas características do cristianismo - inspiração, pecado, divindade de Cristo, justificação, regeneração e recompensa eterna. A teoria sociniana requer uma renúncia da doutrina da inspiração; porque a idéia de sacrifício vicário e expiatório está entrelaçada no tear do Velho e do Novo Testamentos. Requer um desprezo da doutrina bíblica do pecado; porque nela toda idéia do pecado como perversão da natureza que torna o pecador incapaz de salvar-se e, como a culpa objetiva que demanda a satisfação da santidade divina, ela é negada. Requer de nós que desprezemos a divindade de Cristo; porque, se o pecado é um mal leve, e o homem pode salvar-se do seu castigo e do seu poder, então não há mais necessidade ou de um sofrimento infinito, ou de um Salvador também infinito, e o Cristo humano é tão bom como um divino. Requer que nós abandonemos a doutrina da justificação como um ato de Deus declarando justo o pecador aos olhos da lei somente por causa da justiça e morte de Cristo a quem ele está unido pela fé; porque a teoria sociniana não pode permitir que homem seja beneficiado por uma outra justiça que não seja a sua própria. Ela requer uma negação da doutrina da regeneração; porque esta não é mais a obra de Deus, mas do pecador; não é mais uma mudança dos sentimentos abaixo da consciência, mas uma volição do pecador que a si mesmo se reforma. Requer uma negação da retribuição eterna; porque
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esta não é mais adequada à transgressão finita da lei arbitrária e do pecar superficial que não envolve a natureza.
c) Contradiz os ensinos da Escritura de que o pecado envolve a culpa objetiva assim como a contaminação subjetiva; que a santidade de Deus deve punir o pecado; que a expiação era um processo de punição do pecado do homem: e que este processo vicário de punição era necessário, da parte de Deus, para tornar possível a apresentação da graça para com o culpado. As Escrituras não fazem o principal objetivo da expiação ser o aprimoramento moral subjetivo do homem. É para Deus que se oferece o sacrifício, e o teu objetivo é satisfazer a vontade divina e remover da sua mente o obstáculo da apresentação da graça ao culpado. É algo exterior ao homem e à sua felicidade ou virtude, que exige que Cristo sofra. O que Emerson disse do mártir é ainda mais verdadeiro a respeito de Cristo: "embora o amor lamente, a razão irrite, surge uma voz sem resposta: é a perdição do homem a ser salvo, quando deve morrer em favor da verdade". A verdade pela qual Cristo morreu é a que se encontra dentro da natureza de Deus; não somente exteriorizada e publicada entre os homens. O que a verdade de Deus requeria e executou – a plena satisfação de uma justiça violada. "Jesus pagou-a e nenhuma obediência ou justiça da nossa parte pode acrescentar-se à sua obra como base da nossa salvação. E. G. Robinson, Christian Theology, 276 - "Esta teoria deixa de apresentar o dever do reconhecimento profundo, senso universal e inato de merecer o mal, que em todos os tempos e lugares tem ajudado os homens a buscar a expiação da sua culpa. A teoria da influência moral não faz provisão adequada deste senso de culpa e seus requisitos, quer em Cristo, quer naqueles que Cristo salva. Supondo que a obra redentora de Cristo consiste simplesmente em ganhar os homens para a prática da justiça, ela não leva em conta a pena, quer como sanção da lei, quer como reação da santidade divina contra o pecado, ou como reprimenda da consciência individual. ... A teoria sociniana releva o fato de que deve haver alguma manifestação objetiva da ira de Deus e o desprazer contra o pecado".
Teologia Sistemática (Strong) 1438 d) Não fornece nenhuma explicação adequada sobre os sofrimentos e morte de Cristo. A angústia daquele que não se assemelha ao mártir não pode ter valor e o desprezo da parte do Pai não pode ser justificado, com base na hipótese de que Cristo morreu como simples testemunha da verdade. Se os sofrimentos de Cristo não fossem propiciatórios, não nos forneceriam um exemplo perfeito, nem se constituiriam uma manifestação do amor de Deus. Compare o sentimento de Jesus, no ponto de vista da morte, com o de Paulo: "tendo o desejo de partir" (Fp. 1.23). Jesus, cheio de angústia: "Agora a minha alma está perturbada: e que direi eu? Pai, salva-me desta hora" (Jo. 12.27). Se Cristo é somente um mártir, então não é um exemplo perfeito; porque muitos mártires têm sentido maior coragem na aproximação da morte e na agonia final têm sido capazes de dizer que o fogo que os consumia era "um leito de rosas". O Getsêmani, com a sua angústia mental, parece ter sido registrado para indicar que os sofrimentos de Cristo na cruz não eram principalmente físicos. A Igreja Católica Romana indevidamente dá ênfase ao lado físico da paixão do nosso Senhor, mas perde de vista o elemento espiritual. O Cristo de Roma, na verdade, ou é um bebê ou é um morto e o crucifixo apresenta-nos não um Redentor ressurreto e vivo, mas um corpo dilacerado e inerte. Stroud, em sua Physical Cause of our Lord's Death, considera provável que Cristo tenha morrido por seu coração partido e que só isto explica Jo. 19.34 - "um dos soldados lhe furou o lado com um lança e logo saiu sangue e água" - i.e., o coração já estava danificado pela angústia. Esta se devia ao abandono do Pai (Mt. 27.46 - "Meu Deus, meu Deus, porque me desamparaste"?), e o resultado da morte mostra que esse abandono não foi imaginário. Será que Deus fez o mais santo de todos os homens tornar-se o maior sofredor de todos os tempos? Esse coração danificado pelo abandono do Pai significa mais que martírio. Se a morte de Cristo não é propiciatória, ela me enche de terror e desespero; porque ela não só me apresenta um exemplo imperfeito em Cristo, mas uma prova de justiça imensurável da parte de Deus. Lc. 23.28 - "não choreis por mim; chorai, antes, por vós e por vossos filhos" = Jesus rejeita toda a compaixão que esquece o seu sofrimento pelos outros.
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Quanto ao ponto de vista de Stroud, Westcott objeta que o sangue não fluiu prontamente de um cadáver comum. A separação dos corpúsculos sangüíneos vermelhos da linfa, ou água, seria o começo da decomposição, inconsistente com a afirmação em At. 2.31 - "nem a sua carne viu a corrupção". Porém o Dr. W. W. Keen, de Filadélfia, em seu artigo sobre O Sangüíneo Doce do nosso Senhor (Bíblia Sacra, jul., 1897. 469-484) endossa o ponto de vista de Stroud quanto à causa física da morte do nosso Senhor. O fato de Cristo ser abandonado pelo Pai foi apenas o ápice do afastamento relativo que constituiu a fonte da solidão de Cristo através da vida. Através dela ele foi o servo do Espírito. Na cruz o Espírito o deixou por conta da fraqueza da natureza humana sem assistência, destituída dos recursos da consciência divina. Compare o curioso texto de Hb. 2.9 - "para que ele, separado de Deus (χωρι θεού) provasse a morte por todos". Se Cristo simplesmente supusesse ser desamparado por Deus, não só se tornaria um homem errado e, como o predicado da divindade se aplica a ele, um Deus errado; mas se ele se agradava da falta de confiança da parte de Deus, como é possível ainda sustentar que a sua vontade estava em permanente e perfeito acordo e identidade com a vontade de Deus"? Charles C. Everett, Evangelho de Paulo, diz que Jesus não foi crucificado porque ele foi amaldiçoado, mas foi amaldiçoado porque foi crucificado, de modo que, numa destrutiva vingança contra ele, ab-rogou-se a si mesma. Esta interpretação, porém contradiz 2 Co. 5.21 - "Àquele que não conheceu pecado o fez pecado por nós" - onde a identificação divina de Cristo com a raça dos pecadores antedata e explica os seus sofrimentos. Jo. 1.29 - "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" - não se refere a Jesus como um cordeiro por causa da sua bondade, mas como um sacrifício. Maclaren: "como a morte de Cristo prova o amor de Deus? Só com base numa suposição, a saber, que Cristo é o Filho encarnado de Deus, enviado pelo amor e imagem expressa do Pai"; e, podemos acrescentar, sofrendo de modo vicário por nós e removendo o obstáculo na mente de Deus para o nosso perdão.
e) A Escritura não declara a influência do exemplo de Cristo, nem a experiência cristã a endossa como o principal resultado garantido pela morte. O mero exemplo é apenas uma nova pregação da lei, que repele e
Teologia Sistemática (Strong) 1440 condena. A cruz tem força para levar o homem à santidade só quando ela, a princípio, mostra uma satisfação que aponta para os seus pecados. Concordemente a maioria das passagens que representam Cristo como um exemplo também contém referências à sua obra propiciatória. Não há virtude alguma em simplesmente estabelecer o exemplo. Cristo nada fez simplesmente por causa do exemplo. Até mesmo o seu batismo foi o símbolo da sua morte propiciatória; ver pp. 761,762. A exortação do apóstolo não é "abstende-vos de toda a aparência do mal" (1 Ts. 5.22), mas abstende-vos de toda a forma de mal". A morte de Cristo é o pagamento de uma dívida real para com Deus; e o convicto pecador primeiro necessita de ver a dívida que ele tem para com a justiça divina paga por Cristo, antes que ele pense na esperança de reformar a sua vida. Os hinos da igreja "Em Cristo deponho os meus pecados", e "Nem todo o sangue dos animais", representam o ponto de vista dos sofrimentos de Cristo que os cristão derivaram das Escrituras. Quando o pecador vê que a hipoteca está cancelada, que alguém carregou sobre si a pena, pode dedicar-se livremente ao serviço do seu Redentor. Ap. 12.11 -"Eles o venceram (venceram Satanás) pelo sangue do Cordeiro" = como Cristo venceu Satanás pelo seu sacrifício propiciatório, do mesmo modo nós vencemos através da apropriação da expiação de Cristo e do seu Espírito; et 1 Jo. 5.4 "Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé". O próprio texto no qual os socinianos se apóiam, quando tomado em conexão com o contexto, prova que esta teoria é uma falsa interpretação da Escritura. 1 Pe. 2.21 - "Cristo também padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais as suas pisadas" - é seguido pelo verso 24 - "levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas sua feridas fomos sarados" - estas últimas palavras representam uma citação da descrição de Isaías sobre os sofrimentos substitutivos do Messias (Is. 53.5). Quando disseram ao pecador convicto que Deus pode limpar o coração e renová-lo, ele respondeu com justa impaciência: "Não é isto que eu quero; primeiro preciso pagar a minha dívida"! A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 28,89 - "Em lugar nenhum no tabernáculo ou no templo encontraremos um lavatório assentado diante do altar. O altar é o Calvário e o lavatório é o
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Pentecostes; um representa o sangue sacrificial e o outro o Espírito santificador. ... O óleo que simboliza o Espírito santificador sempre foi posto Ό sangue da oferta pela expiação da culpa' (Lv. 14.17)". A extremidade do sacrifício de Cristo na cruz coincidiu com a extrema manifestação da culpa da raça. A grandeza disto ele conhecia teoricamente desde o começo do seu ministério. O seu batismo não pretendia simplesmente estabelecer um exemplo. Foi um reconhecimento de que o pecado merece a morte; de que ele foi contado com os transgressores; de que ele foi enviado para morrer pelo pecado do mundo. Ele não foi tanto um mestre como o sujeito de todo o ensino. Nele o grande sofrimento do santo Deus por causa do pecado apresenta-se ao universo. A dor de umas poucas breves horas salva o mundo, só porque ele estabelece um fato eterno no ser divino e abre-nos o seu próprio coração. Shakespeare, Henrique V, 4.1 "Há uma alma da bondade nas coisas más e os homens que as observam destilam-na". É bom pregar Cristo como exemplo. Lyman Abbott diz que o sangue de Jesus compra o nosso perdão e nos redime para Deus, do mesmo modo em que o patriota redime o seu país da servidão e adquire a sua liberdade. Mas até mesmo Ritschl, Justice and Reconciliation, 2, vai além, quando diz: Os que defendem a teoria do exemplo devem lembrar que Jesus se afastou da imitação quando se pôs bem além dos seus discípulos como autor do perdão. Ε eles perceberam que em primeiro lugar se deve apropriar desse perdão antes que lhe seja possível imitar a sua piedade e a realização moral". Este é um reconhecimento parcial da verdade de que a remoção da culpa objetiva pela expiação de Cristo deve preceder a remoção da contaminação subjetiva pela regeneração da parte de Cristo e pelo Espírito santificador. Lidgett, Spir. Princ. of Atonement, 265-280, mostra que há uma demanda paterna da satisfação que se deve buscar através da resposta filial. Thomas Chalmers, no começo do ministério estimulava o seu povo para reformar a sua vida. Porém ele confessa: "Nunca ouvi dizer que houvesse tal reforma entre eles". Só quando pregou a separação do homem com relação a Deus e o perdão através do sangue de Jesus Cristo é que ele ouviu falar dessa melhora. Gordon, Christ of Today, 129 - "A consciência do pecado é em grande parte a criação de Cristo". Homens como Paulo, Lutero, Edwards mostram isto de uma forma impressionante. Foster, Christian Life and Theology, 198-
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201 - "Naturalmente há um sentido em que o cristão deve imitar a morte de Cristo, porque deve 'tomar a cada dia a sua cruz' (Lc. 9.23) e seguir o seu Mestre; porém neste mais elevado sentido e mais completo escopo da sua morte não se trata mais de um objeto estabelecido para nossa imitação do que é a criação do mundo. No seu sacrifício, Cristo faz pelo homem o que o homem não poderia fazer por si mesmo. Vemos na cruz: 1. a magnitude da culpa do pecado; 2. a nossa própria condenação; 3. o remédio adequado; porque o objeto da lei se obtém na execução da justiça; 4. a base objetiva do perdão". Maclaren: "O cristianismo sem um Cristo morto é um cristianismo moribundo".
f) Esta teoria contradiz todo o teor do N. T., fazendo a vida de Cristo, e não a sua morte, a característica mais significativa e importante da sua obra. As constantes alusões à morte de Cristo como fonte da nossa salvação bem como o simbolismo das ordenanças não podem ser explicados com base em uma teoria que considera Cristo como mero exemplo e trata os seus sofrimentos como incidentes, ao invés de essência da sua obra. O Dr. Η. Β. Hackett freqüentemente chama a atenção para o fato de que o registro nos evangelhos de só três anos de vida de Jesus e a proeminência dada ao registro das cenas finais dessa vida, não são evidência dela, mas de que a sua morte foi a grande obra do Senhor. A verdade central do cristianismo não é a vida de Cristo, mas a sua morte. A cruz é o símbolo cristão por excelência. Em ambas ordenanças - batismo e ceia - é realçada a morte de Cristo. Nem o exemplo de Cristo, nem o seu ensino revelam Deus como a sua morte. É a morte de Cristo que estabelece um elo entre todas doutrinas cristãs. O marco do sangue de Cristo encontrase sobre todos eles do mesmo modo que o fio de escarlata que percorre todo o cordão e corda da marinha britânica é um sinal de que ela é propriedade da coroa. Será que a morte de Jesus não teve outra relação com a nossa morte além da que teve a morte de Paulo? Paulo foi um mártir, mas não se registrou a sua morte. Gould, Bib. Theol. N.T., 92 - "De modo nenhum Paulo reside na vida e obra do nosso Senhor a não ser quando elas se envolvem
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na morte e ressurreição deste". O que significam as palavras de Jesus: "Está consumado" (Jo. 19.30)? Na teoria sociniana o que se consumou? A salvação socinia-na ainda não tinha começado. Por que Jesus não fez o batismo e a ceia serem memoriais do seu nascimento, em vez de o serem da sua morte? Por que o véu do templo não se rasgou no batismo, ou no Sermão do Monte? Tão somente porque a sua morte abriu caminho para Deus. Na conversa com Nicodemos, Jesus desprezou as formalidades: "sabemos que és mestre vindo da parte de Deus" (Jo. 3.2). Não basta reconhecer Jesus como mestre. É preciso haver renovação através do Espírito de Deus de modo que se reconheça também a elevação do Filho do homem como o Salvador que realiza a expiação (Jo. 3.14,15). Ε a Pedro Jesus diz: "Se eu não te lavar os pés, não tens parte comigo" (Jo. 13.8). Não se pode ter parte com Cristo como Mestre enquanto não ele é rejeitado como Redentor do pecado.
2a) Teoria Bushneliana, ou Teoria da Expiação de Influência Moral. Sustenta como a Sociniana que não há nenhum princípio da natureza divina que seja propiciado pela morte de Cristo; mas que tal morte é manifestação do amor de Deus sofrendo com o pecado da criatura. A expiação de Cristo, portanto, é a mera conseqüência do fato de tomar sobre si a natureza humana; e é um sofrimento, não da pena em lugar do homem, mas dos ais e pesares que o viver de um ser humano envolve. Esta expiação tem o efeito, não de satisfazer a justiça divina, mas de revelar o amor divino a fim de abrandar o coração para o arrependimento; em outras palavras, os sofrimentos de Cristo foram necessários, não para remover um obstáculo que existe na mente de Deus para o perdão do pecador, mas para convencer o pecador de que de modo algum existe tal obstáculo. Esta teoria, na substância, tem sido defendida por Bushnell, na América; por Robertson, Maurice, Campbell e Young na Grã-Bretanha; por Schleiermacher e Ritschl, na Alemanha. Orígenes e Abelardo são os antigos representantes deste ponto de vista. Ela pode ser encontrada no Sacrifício Vicário de Bushnell. Mais tarde a obra de Bushnell, chamada Perdão e Lei, contém uma modificação da sua
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mais antiga doutrina a que ele foi levado pelas críticas ao seu Sacrifício Vicário. Na obra mais tardia ele reconhece o que antes negava tão firmemente, a saber, que a morte de Cristo tem efeito sobre Deus do mesmo modo que sobre o homem e que Deus não pode perdoar sem "custo para si mesmo". Ele confessa abertamente a fraqueza do seu ensino anterior para com os pecadores convertidos e, como a única homilética eficaz ele recomenda a pregação da própria doutrina do sacrifício propiciatório que substituía o livro que ele tinha escrito. Contudo, mesmo em Perdão e Lei não há nenhum reconhecimento do verdadeiro princípio e base da expiação na santidade punitiva de Deus. Visto que a forma da doutrina original de Bushnell é a única que atende à mais ampla aceitação, é principalmente a esta que dirigimos as nossas objeções. F. W. Robertson, Sermons, 1.163-178, sustenta que os sacrifícios de Cristo são o resultado necessário da posição de conflito em que ele se colocou ou colisão com o mal que está no mundo. Ele entrou em contato com a roda viva e foi por ela esmagado; bateu o seu tacão sobre o covil da serpente e foi ferido por suas presas. Maurice, on Sacrifice, 209, e Essays of Theology, 141,228, considera os sofrimentos de Cristo como uma ilustração, dada por um homem ideal, do sacrifício de si mesmo devido a Deus a partir da humanidade de que ele é a raiz e a cabeça e todos os homens são redimidos nele, independentemente da sua fé e só precisam que se tragam a ele as novas da sua redenção. Young, Life and Light of Men, sustenta um ponto de vista semelhante ao de Robertson. A morte de Cristo é o resultado necessário da sua colisão com o mal e os sofrimentos extirpam o pecado somente através da manifestação do amor auto-sacrificial de Deus. Campbell, Atonement, 129-191, cita Edwards para mostrar que se pode satisfazer a justiça infinita em qualquer uma das duas formas: 1) por uma punição infinita; 2) por um adequado arrependimento. Esta última, que Edwards despreza como impraticável, Campbell declara ter sido a verdadeira expiação oferecida por Cristo, que se apresenta como o grande penitente, confessando o pecado do mundo. Mason, Faith of Gospel, 160210, toma substancialmente o ponto de vista de Campbell, negando a substituição e dando ênfase à unidade de Cristo com a raça e a sua confissão do pecado humano. Na verdade ele admite que o nosso Senhor
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assumiu a pena, mas só no sentido de que ele entendeu quão grande é a condenação e a pena da raça. Schleiermacher nega que haja satisfação a Deus através da substituição. Ele a substitui pela influência da personalidade de Cristo sobre os homens de modo que eles se sentem reconciliados e redimidos. A expiação é somente subjetiva. Contudo é a obra de Cristo na qual só a unidade do mesmo Cristo com Deus ensina aos homens que eles podem ser um com Deus. A consciência de Cristo de estar em Deus e conhecê-lo e o seu poder de transmitir esta consciência aos outros fazem dele o Mediador e Salvador. A idéia da reparação, da compensação, da satisfação, da substituição é inteiramente judaica. Ele a considera possível só nas pessoas de mente estreita. Ele diz que detesta esse tipo de relação histórica. Ele não tem este sentido da santidade de Deus, ou da culpa do homem, que tornaria necessário qualquer sofrimento de punição ou oferta a Deus pelo pecado humano. Deseja substituir o cristianismo exterior e histórico pelo interior e subjetivo. Contudo, Ritschl é o mais recente e influente representante da teoria da Influência Moral na Alemanha. Encontra-se o seu ponto de vista em seu Rechtfertigung und Versöhnung, ou na versão inglesa, Justificação e Reconciliação. Ritschl é o mais anti-hegeliano e libertário, mas, como Schleiermacher, ele não trata o pecado com seriedade; considera o sentimento de culpa como uma ilusão que é a parte de Cristo que deve ser descartada; há um conceito inadequado da pessoa de Cristo, uma negação prática da sua preexistência e da obra da expiação objetiva; na verdade, a obra de Cristo dificilmente é posta em qualquer relação precisa com o pecado. E. H. Johnson: Muitos ritschilianos negam tanto a concepção miraculosa como a ressurreição física de Jesus. O pecado não preocupa particularmente a Deus; Cristo é o Salvador só no mesmo sentido que Buda, exercendo o senhorio sobre o mundo indiferente a ele; ele é o Verbo de Deus apenas no sentido de que ele revela esta indiferença divina às coisas. Tudo isto não concorda com o ensino do N. T. de que Cristo é o unigênito de Deus, que estava com o Pai antes que o mundo existisse, que ele fez para Deus a expiação dos pecados e que o pecado é essa coisa abominável que Deus detesta".
Teologia Sistemática (Strong) 1446 A esta teoria objetamos da seguinte forma: a) Conquanto ela abranja um valioso elemento de verdade, a saber, a influência moral dos sofrimentos do Deus-homem sobre o homem, ela falha ao substituir um efeito subordinado da expiação sobre o seu principal alvo e ainda se apropria injustamente do nome 'vicário', que só se aplica ao referido alvo. Sofrer com o pecador de modo algum é sofrer em seu lugar. Dale, Atonement, 137, ilustra o ponto de vista de Bushnell através da esposa leal, que sofre o exílio ou o aprisionamento do marido; através do filantropo, que sofre as privações e durezas de um povo selvagem, que ele civiliza só suportando as misérias das quais ele deveria livrá-los; através do missionário morávio que entra na vida da cela do leproso para converter os seus internos. Também Potwin diz que o sofrimento e a morte são o preço da expiação, não a expiação em si mesma. Respondemos que sofrimentos tais como estes não tornam vicário o sacrifício de Cristo. A palavra Vicário' (de vicis) implica substituição, que esta teoria nega. O vigário de uma paróquia não é necessariamente alguém que realiza o ofício com o reitor, ou na simpatia com ele; é alguém que fica no lugar o reitor. O vice-presidente é alguém que atua em lugar do presidente; Ά. B. nomeado cônsul, vice C. D., demitido', implica que A. B, agora deve servir em lugar de C. D. Se Cristo é um 'sacrifício vicário', então ele faz a expiação para Deus em lugar de e em favor dos pecadores. O sofrimento de Cristo nos pecadores e com eles, embora seja o mais importante e influente fato, não é o sofrimento em lugar daqueles em quem consiste a expiação. Apesar de que sofrimento nos pecadores e com eles pode ser em parte o meio através do qual Cristo foi capaz de suportar a ira de Deus contra o pecado, não deve ser confundido com a razão pela qual Deus põe o seu sofrimento sobre ele; nem deve cegar-nos quanto ao fato de que esta razão é a sua posição no lugar do pecador a fim de responder pelo pecado à santidade retributiva de Deus.
b) Apóia-se em falsos princípios filosóficos, tais como, que a justiça é idêntica à benevolência, ao invés de condicioná-la; que Deus está
Teologia Sistemática (Strong) 1447 sujeito a uma eterna lei do amor, em vez de ser ele mesmo a fonte de toda a lei; que o fim da pena é a reforma do ofensor. Hovey, God with Us, 181 -281, dá uma das melhores respostas a Bushnell. Ele mostra que, se Deus está sujeito à lei eterna do amor, então, necessariamente ele é o Salvador; ele deve ter criado o homem logo que ele pôde; ele torna os homens santos logo que possível; ele faz todo o bem que pode; ele não é melhor do que seria. Mas isto implica em negar a transcendência de Deus e reduzir a onipotência a uma simples força natural. A concepção de Deus como sujeito à lei põe em risco a auto-suficiência e liberdade de Deus. Watts, New Apologetic, 277-280, assinala que, sobre os princípios de Bushnell, deve haver uma expiação destinada aos anjos decaídos. Deus se compromete a assumir a natureza angélica e fazer pelos anjos tudo o que ele faz por nós. Também não há nenhuma razão para restringir a expiação ou oferecer a salvação à vida presente. B. B. Warfield, na Princeton Review, 1903.81-92, bem mostra que todas as formas da teoria da Influência Moral apóiam-se na suposição de que Deus é apenas amor e que tudo quanto se requer baseado no perdão ao pecador é a penitência, ou de Cristo ou dele mesmo, ou dos dois. Ignorando a santidade divina e minimizando a culpa do pecado, muitos escritores modernos fazem da expiação um mero incidente da encarnação de Cristo. Phillips Brooks, Life, 2.350,351 - "A expiação pelo sofrimento é o resultado da encarnação; aquela é necessária e este é o elemento essencial desse resultado. Porém o sacrifício é um elemento essencial porque, na verdade, ele significa aqui a consagração da natureza humana ao seu emprego e pronunciamento mais elevados e não exige necessariamente que se pense na dor. Não é a destruição, mas o cumprimento da vida humana. Na medida em que a vida humana assim consagrada e completa é em nós a mesma que é em Jesus e na medida em que a sua consagração e cumprimento se nos tornam moralmente possíveis, a mesma consagração e cumprimento que ele realiza por sua expiação e sacrifício e, incidentemente, seu sacrifício tornam-se vicários. Não que eles sejam desnecessários, mas que eles possibilitam e se fazem bem sucedidos em nós os mesmos processos que eram perfeitos nele".
Teologia Sistemática (Strong) 1448 c) A teoria não fornece nenhuma razão apropriada para o sofrimento de Cristo. Enquanto mostra que o Salvador necessariamente sofre por seu contato com o pecado humano e a com tristeza, não dá nenhuma explicação de tal constituição do universo que torna o sofrimento uma conseqüência do pecado, não só para o pecador, mas também para o ser inocente que entra em conexão com o pecado. Ignora a santidade de Deus, que se manifesta na constituição das coisas e que requer a expiação. B. W. Lockhart, em recente afirmação da doutrina da expiação, mostra este defeito de apreensão: "Deus, em Cristo, reconciliou o mundo consigo mesmo; Cristo não reconcilia Deus com o homem, mas o homem com Deus. Cristo não capacita Deus a salvar os homens; Deus capacita Cristo a salválos. Os sofrimentos de Cristo são vicários como a mais alta ilustração da lei espiritual através da qual a boa alma é impelida a sofrer para que os outros não sofram, a morrer para que os outros não morram. Os sofrimentos vicários de Jesus são também a grande revelação da natureza viçaria de Deus ao homem; a revelação da cruz eterna na sua natureza; está no coração de Deus suportar o pecado e a tristeza das criaturas no seu eterno amor e compaixão; contudo, uma revelação de que a lei que salva o perdido através do trabalho vicário das almas divinizadas sempre que o divinizado e o perdido possam influir um no outro". Conquanto haja muito na afirmação acima com o que nós concordamos, nós lhe atribuímos falsa apreensão da razão do sofrimento de Cristo. Tal razão só deve ser encontrada na santidade de Deus que se expressa na própria constituição do universo. Não foi o amor, mas foi a santidade que fez invariavelmente o sofrimento se seguir ao pecado de sorte que a pena recai não só sobre o transgressor mas sobre aquele que é a vida e o fiador do transgressor. A santidade de Deus causa sofrimento não só para Deus, mas para Cristo que é a manifestação de Deus. O amor suporta o sofrimento, mas é a santidade que o necessita. A afirmação de Lockhart acima mostra o efeito, que é a reconciliação; mas deixa de reconhecer a causa, que é a propiciação. As palavras de E. G. Robinson fornecem o complemento necessário: "A obra de Cristo tem dois lados: propiciatório e reconciliador. Cristo sentiu a dor de associar-se à culpa da raça. O
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desagrado divino caiu sobre ele como possuindo a natureza culposa. Na sua própria pessoa ele redime esta natureza suportando a sua pena. A propiciação deve preceder a reconciliação. A teoria da Influência Moral reconhece a necessidade de uma mudança subjetiva no homem, mas não faz nenhuma provisão de uma atuação objetiva para assegurá-la".
d) Contradiz os claros ensinos da Escritura, que necessita a expiação, não simplesmente para revelar o amor de Deus, mas para satisfazer a sua justiça; que os sofrimentos de Cristo são propiciatórios e penais; e que a consciência humana necessita de ser propiciada pelo sacrifício de Cristo, antes que possa sentir a influência moral de seus sofrimentos. Em Ef. 5.2 fica evidente que a expiação não é principalmente uma oferta ao homem, mas a Deus - "e se entregou a si mesmo por nós em oferta e sacrifício a Deus"; Hb. 9.14 - "ofereceu-se a si mesmo imaculado a Deus". A consciência, reflexo da santidade de Deus, só pode ser propiciada quando se propicia a própria santidade. O simples amor e simpatia são sentimentalismos, e incapazes de se mover, a não ser que haja um cenário para a justiça. Spear: "O apelo para o homem sem uma retaguarda para dar ênfase e força ao apelo, nunca tocará o coração. A simples aparência de expiação não tem influência moral". Crawford, Atonement, 358-367 - "Ao invés de livrar-nos da pena, a fim de livrar-nos do pecado, esta teoria faz Cristo livrar-nos do pecado para que ele nos livre da pena. Mas isto reverte a ordem da Escritura. Ε o Dr. Bushnell admite, no fim, que o ponto de vista moral da expiação é moralmente fraco; e que o ponto de vista objetivo que ele condena é, além do mais, indispensável para a salvação dos pecadores". Alguns homens estão bem prontos a perdoar aqueles que lhes ofenderam. A escola ritschliana não vê culpa a ser expiada e nem a necessidade de propiciação. Só o homem precisa ser reconciliado. Os ritschlianos estão prontos para perdoar Deus. A única expiação, feita através do arrependimento, dirige-se à consciência humana. Shedd diz com propriedade: "Tudo que se requer para a satisfação e paz na consciência da alma pecadora também se requer para a satisfação do próprio Deus". Walter Besan: "Não basta ser perdoado; é necessário perdoar-se a si mesmo". As
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proposições inversas são ainda mais verdadeiras: Não basta perdoar-se a si mesmo; é necessário também ser perdoado; na verdade, não se pode com justiça perdoar-se a si mesmo se não se for primeiro perdoado; 1 Jo. 3.20 "se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração e conhece todas as coisas". A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 201 - "Como o sumo sacerdote levava o sangue ao santo dos santos na velha dispensação, assim o Espírito leva o sangue de Cristo ao mais íntimo santuário do nosso espírito na nova dispensação para que ele purifique "a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo" (Hb. 9.14).
e) Contradiz os claros ensinos da Escritura, que necessita a expiação, não simplesmente para revelar o amor de Deus, mas para satisfazer a sua justiça; que os sofrimentos de Cristo são propiciatórios e penais; e que a consciência humana necessita de ser propiciada pelo sacrifício de Cristo, antes que possa sentir a influência moral de seus sofrimentos. Já vimos que as formas em que as Escrituras descrevem a morte de Cristo são principalmente tiradas do sacrifício. Note o reconhecimento de Bushnell de que estas "formas de altar" são os métodos mais vividos e eficientes de apresentar a obra de Cristo e que o pregador não pode dispensá-las. Não está clara a razão por que não as dispensaria se o sentido proveio delas. Em sua obra mais tardia, intitulada Perdão e Lei, Bushnell parece reconhecer esta inconsistência e representa Deus afetado pela expiação; em outras palavras, a expiação tem uma influência tanto objetiva como subjetiva. Deus pode perdoar apenas "a custo de si mesmo". Ele "mostra o seu ressentimento através do sofrimento por nós". Isto norteia o verdadeiro ponto de vista, mas não reconhece a demanda da santidade divina pela santificação; e atribui paixão, fraqueza e imperfeição a Deus. Dorner, Glaubenslehre, 2.591 (Doutrina Sistemática, 4.59,69), objeta a esta teoria da Influência Moral modificada, que o amor que faz o bem a um inimigo já é um amor que perdoa; de sorte que o benefício a um inimigo não pode ser, como supõe Bushnell, uma condição para o perdão.
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Para o ponto de vista de Campbell, de que Cristo é o grande Penitente, e de que a sua expiação consiste essencialmente na sua confissão dos pecados do mundo, respondemos que não é possível nenhuma confissão ou penitência sem responsabilidade. Se Cristo não exerceu o ofício substitutivo, a ordem dos seus sofrimentos dada por Deus foi uma manifesta injustiça. Tais sofrimentos, contudo, são impossíveis com base na mera simpatia. A Escritura os explica declarando que ele suportou a nossa maldição e tornouse resgate em nosso lugar. Por isso há mais nos sofrimentos de Cristo do que "um perfeito Amém na humanidade quanto ao juízo de Deus sobre o pecado do homem". Não foi o zelo de Finéias para com Deus que fez uma expiação, mas a sua execução do juízo (SI. 106.30 - "executou o juízo" LXX: έξιλάσατο, fez propiciação") e desviou a ira de Deus. Observe aqui o contraste entre a expiação sacerdotal de Arão, que ficava entre os vivos e os mortos e a judicial de Finéias, que executou o justo juízo e, deste modo, desviou a ira de Deus. Em nenhum dos dois casos a mera confissão foi suficiente para tirar o pecado. Sobre o ponto de vista de Campbell ver adiante, p. 760. Moberly, Atonement and Personality, 98, tem o grande mérito de assinalar que Cristo compartilha os nossos sofrimentos em virtude do fato de que a nossa personalidade tem sua base nele; mas ele deixa de indicar que esta participação na nossa pena tornou-se necessária através da justiça de Deus. Ele nos diz que Cristo santificou o presente e cancela o passado. Oferece a Deus uma santidade viva nas condições e caráter humanos; torna o terrível sacrifício em humanidade de perfeita contrição. Por um lado é uma oferta de obediência, por outro, de expiação; por um lado, oferta de vida, por outro, oferta de morte". Esta modificação do ponto de vista de Campbell pode ser racionalmente sustentado só através da conexão com uma declaração anterior de que o atributo fundamental de Deus é a santidade; que a santidade é a justiça de si mesma afirmante; que esta justiça necessariamente se expressa na punição do pecado; que a relação de Cristo com a raça, na qualidade de seu sustentador e a sua vida o fez aquele que suporta a sua culpa e com justiça é responsável pelo pecado da referida raça. A Escritura declara que o alvo último da expiação é que Deus "seja justo" (Rm. 3.26), e nenhuma teoria da expiação vai ao encontro das demandas quer da razão quer da consciência que não baseia a sua necessidade na justiça de Deus, ao invés de basear-se no seu amor.
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E. Y. Mullins: "Se a união de Cristo com a humanidade possibilitou-o de ser Ό representante Penitente', e o Amém da humanidade para que Deus executasse a justa condenação do pecado, sua união com Deus possibilitouo a ser o representante do Juiz, e o Amém da natureza divina para sofrer, como expressão da condenação". Denney, Studies in Theology, 102,103 -"O sério elemento no pecado não é o desgosto do homem, a suspeita, a alienação de Deus, nem a debilitação, os efeitos corrosivos do vício na natureza humana, mas, ao invés disso, a condenação de Deus relativa ao homem. Este Cristo sofreu e morreu para remover a condenação. 'Suportando a vergonha e a cruel zombaria, Ei-Ιο condenado em meu lugar; Selou o meu perdão com o seu sangue; Aleluia!' ". Bushnell considera Mt. 8.17 - "Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou sobre si as nossas doenças" - como indicador da natureza da obra expiatória de Cristo. O sentido então deveria ser que ele simpatizou tão plenamente com todos os males humanos que os tornou seus próprios. Contudo, Hovey deu uma explicação mais completa e correta. As palavras significam: "Sua profunda simpatia com estes efeitos do pecado moveramno de tal maneira que tipificou o seu sofrimento final dos próprios pecados, ou agüentou o sofrimento preliminar e parcial do sofrimento que devia expiar os pecados dos homens". O seu suspiro final quando ele curou o surdo (Mc. 7.34) e o seu choro junto à sepultura de Lázaro (Jo. 11.35) foram causados pela compreensão antecipada de que ele era um com a humanidade que estava sob a maldição e que ele também se "tornou maldição por nós" (Gl. 3.13). O grande erro de Bushnell é a negação da necessidade objetiva e efeito da morte de Jesus e toda a Escritura que aponta para uma influência da expiação fora de nós como uma refutação da sua teoria.
f) Esta teoria confunde o método de Deus salvar o homem com a experiência de salvação sentida pelo homem. Faz a própria expiação consistir em efeitos na união do crente com Cristo e a influência purificadora desta união sobre o caráter e a vida. Stevens, em sua Doctrine of Salvation comete este equívoco. Diz ele: "As velhas formas da doutrina da expiação - de que o sofrimento de Cristo é necessário para aplacar a ira de Deus e induzi-lo a perdoar; ou a satisfazer à
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lei de Deus e capacitá-lo a perdoar; ou dirigir-se ao coração do homem para induzi-lo a aceitar o perdão; tudo isto se tem provado inadequado. Ainda rejeitar a paixão de Cristo é rejeitar o principal elemento de poder do cristianismo. ... Para mim, as palavras 'expiação eterna' denotam paixão sem data da parte de Deus por causa do pecado; significam que Deus é, por sua própria natureza, alguém que suporta o pecado - que o pecado magoa e fere o seu coração e que ele se entristece e sofre em conseqüência disso. Resulta do amor divino - como da sua santidade e da sua simpatia - que na nossa aflição ele se aflige'. Expiação da 'parte de Deus' é o nome da mágoa e da dor imposta pelo pecado sobre o coração paterno de Deus. As aflições de Cristo revelam esta tristeza divina pelo pecado. Na amarga mágoa e na angústia que ele experimentou por causa do pecado vemos refletida a dor e a tristeza que o pecado traz ao amor divino". Tudo isso se tem dito com propriedade exceto que a santidade é considerada como uma forma de amor e a principal ofensa do pecado é considerada como a mágoa do coração do Pai. O Dr. Stevens deixa de considerar que, se o amor fosse supremo, nada haveria que evitasse a ímpia tolerância do pecado. Porque a santidade é suprema, o amor se condiciona a ela. Não é o amor que liga o sofrimento ao pecado e requer que o Redentor sofra, mas é a santidade. O Dr. Stevens afirma que as teorias até agora correntes nas igrejas protestantes e a teoria que ele defende são "sempre irreconciliáveis"; elas "se baseiam em diferentes concepções a respeito de Deus". Revista Semanal Britânica, 16 de nov. de 1905 - "A doutrina da expiação não é a de que a salvação é o livramento do pecado e que tal livramento é obra de Deus, que motiva o amor dele pelos homens; estas são verdades que cada um que escreve sobre a expiação admite. A doutrina da expiação tem por tarefa explicar como é feita essa obra.... Dr. Stevens não apresenta nenhuma contribuição para o seu cumprimento. Ele admite que temos em Paulo 'uma teoria de expiação substitutiva'. Mas vê algo em Paulo que ele pensa mais adequado à experiência cristã do apóstolo – por exemplo, a idéia de morrer com Cristo e ressuscitar com ele; e, sobre o poder de aceitar esta última, ele sente a liberdade de deixar a expiação transbordar como algo a ser explicado a partir da posição controversa de Paulo ou da sua herança farisaica, de qualquer modo que não tem valor permanente para a mente cristã. ... A experiência depende do método. Paulo não morreu com Cristo como alternativa para Cristo ter
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morrido com ele; morreu com Cristo totalmente e apenas porque Cristo morreu por ele. É o sentido que estas duas últimas palavras têm - não desenvolvido na teoria da expiação substitutiva – que tem em si o motivo moral de levar Paulo à união com o seu Senhor na vida e na morte. ... Na própria exposição do Dr. Stevens, Paulo sustentava as duas idéias lado a lado; para ele a união mística com Cristo só foi possível através da aceitação das verdades das quais o Dr. Stevens não sabia o que fazer".
g) Esta teoria confina a influência da expiação aos que ouviram falar dela, - excluindo, assim os patriarcas e os pagãos. Mas as Escrituras representam Cristo como o Salvador de todos homens no sentido de assegurar-lhes a graça que, só por sua obra expiatória, nunca poderia ter sido outorgada consistente-mente com a santidade divina. Hovey: "A influência da expiação para o homem é muito mais extensiva do que a sua influência moral". Cristo é Advogado, não com o pecador, mas com o Pai. Conquanto a obra do Espírito tem influência moral sobre o coração do homem, o Filho garante, pela apresentação do seu sangue, no céu, o perdão que só pode vir de Deus (1 Jo. 2.1,2 - "temos um advogado com o Pai, Jesus Cristo, o justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados"). Conseqüentemente 1.9 - "Se confessarmos os nossos pecados, ele [Deus] é fiel e justo [fiel à sua promessa e justo para com Cristo] para perdoar os nossos pecados". Por isso o publicano não orou pela mudança do seu coração, mas por misericórdia baseada no sacrifício [Lc. 18.13 - "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador"!, literalmente: "Ó Deus, sê propício para comigo, (que sou um) pecador"! Rev. e Atualizada do Br.]. A gravitação conservou o universo estável muito antes de ser ele descoberto pelo homem. Do mesmo modo a expiação de Cristo se aplica à salvação do homem muito antes de que este suspeitasse da existência daquela. A "luz do mundo" (Jo. 8.12) passa por muitos "raios X", além do espectro visível, mas é capaz de imprimir a imagem de Cristo sobre os patriarcas ou sobre os pagãos. Esta luz tem estado brilhando através dos séculos, mas "as trevas não a compreenderam" (Jo. 1.5). Seus raios registram-se só onde há coração sensível ao recebimento deles. Brilham eles através do homem e eles revelam quão desconhecido é o pecado e
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desconhecidas as possibilidades do bem. A teoria da Influência Moral não leva em conta o Cristo preexistente e a obra expiatória antes da sua manifestação em carne. Por isso conduz logicamente à crença numa segunda provação para muitos imbecis, excluídos e pagãos que neste mundo não ouvem falar da expiação de Cristo. Deste modo, a doutrina de Bushnell destrói a doutrina da retribuição futura. Para Lyman Abbott a expiação é a propiciação de si mesmo da parte do amor de Deus e a sua influência é exercida através da educação. Na sua Theology of an Evolutionist, 118,190, ele sustenta que a expiação é "a verdadeira reconciliação entre Deus e o homem fazendo-o ao mesmo tempo através da encarnação e paixão de Jesus Cristo, que viveu e sofreu, não para redimir o homem do tormento futuro, para purificá-lo e aperfeiçoá-lo à semelhança de Deus.... O sacrifício não é a pena que o sofredor inocente suporta por causa da culpa do homem; é uma doutrina para a qual não há autoridade alguma, quer na Escritura, quer na vida (1 Pe. 3.18?) - mas o descanso de uns no amor, para que os outros recebam a vida. ... Redenção não é restauração a um estado de inocência que se perdeu, impossível de se restaurar, mas o ápice de um longo processo no qual o homem será apresentado diante do Pai 'sem mancha, nem ruga, ou qualquer coisa' (Ef. 5.27). ... Nós cremos não na propiciação de um Deus irado através de um outro que sofre para apaziguar a ira do Pai, mas na perpétua propiciação do próprio Pai, cuja misericórdia, apontando para a remissão do pecado, satisfaz como coisa alguma a indignação divina contra o pecado, pela abolição deste. ... Misericórdia é detestar a lástima; é a lástima da ira. A piedade vence a ira, levantando o pecador da sua degradação e restaurando-o à sua pureza". Ε em tudo isto não há menção da justiça divina como fonte da indignação e objeto da propiciação! É interessante notar que alguns dos maiores defensores da teoria da Influência Moral mudaram para outra crença quando se aproximaram da morte. L. W. Munhall conta-nos que, nesses momentos, Horace Bushnell disse: "Temo que aquilo que eu possa ter escrito e dito sobre a idéia da expiação engane e cause grande prejuízo"; e quando pensava nisto mais tarde, clamou: "Ó Senhor Jesus, pela tua misericórdia, confio só no sangue derramado que tu ofereceste no Calvário"! Schleiermacher, no leito da morte, reuniu a sua família e uns poucos amigos e ele mesmo ministrou a
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Ceia do Senhor. Depois de orar e abençoar o pão e depois de pronunciar as palavras "Isto é o meu corpo, partido por vós", acrescentou: "Este é o nosso fundamento"! Quando ele começou a abençoar o cálice, clamou: "Depressa, depressa, tragam o cálice! Estou tão feliz"! Então inclinou-se tranqüilamente para trás e expirou. Ritschl, na sua History of Pietism, 2.65, criticou duramente o hino de Paul Gerhardt: Ό Haupt voll Blut und Wunden" (Ó cabeça cheia de sangue e de feridas), descrevendo o sofrimento físico; mas pediu ao seu filho que repetisse os dois últimos versos desse hino: "Ó cabeça sagrada agora ferida"! quando estava para morrer (Há em português uma versão que começa dizendo: "Ó fronte ensangüentada"). E, em geral, o pecador convicto encontra paz mais rapidamente e com mais segurança quando aponta para o Redentor que morreu na cruz e suportou a pena do pecado em seu lugar.
3a) Teoria Grociana, ou Teoria Governamental da Expiação. Sustenta que a expiação é uma satisfação, não a qualquer princípio interior da natureza divina, mas às necessidades de governo. Da parte de Deus, o governo do universo não pode sustentar-se, nem a lei divina pode preservar sua autoridade sobre os seus súditos, a não ser que o perdão dos ofensores seja acompanhado por uma apresentação do alto valor que Deus estabelece para a sua lei e a nefanda culpa de violá-la. Tal apresentação da consideração divina para com a lei é fornecida no sofrimento e morte de Cristo. Cristo não sofre exatamente a pena da lei, mas Deus graciosamente aceita o seu sofrimento como substituto para a pena. Este procedimento do sofrimento substitutivo da parte de Cristo apóia a lei divina de tal modo nas consciências e corações dos homens que Deus pode perdoar o culpado no seu arrependimento sem detrimento dos interesses do seu governo. O autor desta teoria era Hugo Grócio, jurista e teólogo holandês (1583-1645). A teoria caracteriza a teologia da Nova Inglaterra e é geralmente sustentada pelos que aceitam o ponto de vista do pecado defendido pela Nova Escola.
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Grócio era um gênio precoce. Escreveu bons versos em latim aos nove anos de idade; estava preparado para a universidade aos doze; editou a obra enciclopédica de Marciano Capella aos quinze. Ainda cedo foi com a embaixada para a corte da França onde passou um ano. De volta para a sua terra, graduou-se doutor em leis. Quanto à literatura, editou as reminiscências de Arato e escreveu três dramas em latim. Aos vinte foi nomeado historiógrafo das Províncias Unidas; a seguir, advogado geral do fisco para a Holanda e Zelândia. Escreveu sobre lei internacional; foi nomeado deputado para a Inglaterra; aprisionado por causa das suas opiniões teológicas; fugiu para Paris; tornou-se embaixador da Suécia na França. Escreveu comentários sobre a Escritura, história, teologia e poesia. Foi indiferente ao dogma, amante da paz, árbitro, crente desapaixonado, tratando a doutrina mais como um estadista do que como um teólogo. E. G. Robinson costumava dizer a respeito de Grócio: "O onipotente Deus ordena que o homem que se aprofunda em tudo não chegue ao fundo de nada". Grócio, o jurista, concebia a lei com uma mera questão de expediente um aparelho para procurar resultados governamentais práticos. O texto mais freqüentemente citado em apoio à sua teoria é 15, 42-21 "Foi do agrado do Senhor, por amor de sua retidão, tornar grande e glorioso a sua lei." Estranhamente acrescenta-se uma explicação: "mesmo quando suas ordens não são cumpridas." Park:" Cristo satisfez a lei. Cristo sofre um castigo divino por nossos pecados - Cristo foi amaldiçoado pelo pecado de Adão assim como os céus e a terra o foram pelo pecado de Adão, - Isto é, ele sofreu dores e sofrimentos por causa deste pecado." Grócio empregava a palavra acceptilatio, com a qual ele significava a soberana provisão de Deus sobre o sofrimento que não é a pena em si, mas que determinou aceitar como substituto. Temos aqui uma virtual negação de que existe algo na natureza de Deus, que requer o sofrimento de Cristo; porque, se a pena pode ser abrandada em parte, pode ser abrandada no todo e a razão por que Cristo sofre, afinal de contas, deve ser encontrada, não em qualquer demanda da santidade de Deus, mas somente na influência benéfica de tais sofrimentos sobre o homem; de sorte que, em princípio, esta teoria alia-se à do Exemplo e à da Influência Moral, já mencionadas. Note a diferença entre defender a tese de um substituto para a pena, como Grócio o faz, e a de uma equivalente pena substitutiva, como fazem as
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Escrituras. A própria afirmação deste ponto de vista da parte de Grócio pode encontrar-se na sua Defensio Fidei Catolicae de Satisfactione [Defesa da Crença Católica sobre a Satisfação] (Works, 4.297-338). Presidente Woolsey: "O sofrimento de Cristo se deve a um profundo e terrível senso de responsabilidade, conceito de suma importância para o homem sobre os firmes padrões nesta crise. Ele assume, não a ira de Deus, mas o sofrimento como o único meio de redenção no que respeita ao sentimento do pecado do homem e, deste modo, preocupa-se com o governo de Deus". Isto reúne as teorias Governamental e da Influência Moral. Foster, Christian Life and Theology, 226,227 - "Grócio dá ênfase à idéia da lei em lugar da de justiça, e faz dos sofrimentos de Cristo um exemplo legal e oportunidade de relaxamento da lei; não a estrita pena exigida pela justiça. Mas este ponto de vista, embora possa ser considerado e ter servido para esclarecer o pensamento da época, não encontra aceitação geral e deixa pouco sinal de si mesma entre os teólogos que sustentam a linha da descendência teológica evangélica".
A esta teoria apresentamos as seguintes objeções: a) Conquanto contenha um valioso elemento de verdade, a saber, que o sofrimento e morte de Cristo asseguram os interesses do governo de Deus, é errônea ao substituir o principal alvo da expiação por aquilo que é apenas subordinado e incidental. Em nossa discussão sobre a pena (pp. 655,656) vemos que o objetivo da punição não é primordialmente a segurança do governo. Não é o direito de punir o homem em benefício da sociedade. O castigo do mal deve anteceder à punição ou esta não terá nenhum efeito sobre a sociedade. Nenhuma punição que não seja justa e reta em si mesma pode operar o bem na sociedade.
b) Apóia-se em falsos princípios filosóficos, tais como, que a utilidade é a base da obrigação moral; que a lei é uma expressão da vontade de Deus e não da sua natureza; que o fim da pena é impedir a comissão de ofensas; e que a retidão se resolve com a benevolência.
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Hodge, Systematic Theology, 2.573-581; 3.188, 189 - "Porque Deus receber como satisfação aquilo que na realidade não é, é o mesmo que dizer que não há realidade em coisa alguma. Deus pode tomar a parte pelo todo, o erro por verdade, o errado por certo. Na verdade, a teoria nega a necessidade da obra de Cristo. Se cada coisa criada oferecida a Deus é tão digna da aceitação de Deus, então, o sangue dos touros e bodes pode tirar pecados e Cristo morreu em vão". Dorner, Glaubenslehere, 2.570,571 (Doutrina Sistemática, 4.38-40) – "Acceptilatio implica que nada é bom e correto em si. Deus é indiferente ao bem e ao mal. O homem só pode estar comprometido com a autoridade e com a força. Não há necessidade de punição ou de expiação. Seguem-se a doutrina das indulgências e a das obras supererrogatórias".
c) Ignora e virtualmente nega que a santidade imanente de Deus de que a lei com suas penas ameaçadoras e a consciência humana com a sua demanda de punição são apenas reflexos finitos. Há algo atrás do governo; se a expiação satisfaz o governo, deve ser porque satisfaz a justiça de Deus da qual o governo é uma expressão. Nenhum pecador profundamente convicto sente que a sua controvérsia se dá com o governo. Arruinado e poluído, ele se sente em antagonismo com a pureza de um Deus pessoal. O governo não é maior nem menor do que Deus. O que lhe satisfaz deve satisfazer ao governo. É por isso que o pecador ora: "Contra ti, contra ti, somente pequei" (SI. 51.4); "Deus, sê propício a mim, pecador" (tradução literal de Lc. 18.13); propiciado através do sacrifício indicado por Deus, cuja fumaça sobe em seu favor enquanto ele ora". No governo divino esta teoria não reconhece nenhuma constituição, mas só a determinação legislativa; mesmo esta não se fundamenta em nenhuma necessidade da natureza de Deus, mas só no seu expediente ou na sua vontade arbitrária; a lei pode ser ab-rogada simplesmente por razões econômicas, se disso advier algum bem incidental. J. M. Campbell, Atonement, 81,144 – "Nenhum pecador consciente, em cujo espírito entraram os terrores da lei, jamais pensou numa justiça de um reitor, mas na justiça absoluta, e só nela. ... Deste modo, a justiça de reitor pressupõe a
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absoluta e assim faz a mente retroceder; a idéia de uma expiação que satisfaz, embora não possa agir de outra forma, é uma ilusão". A Teologia de N. W. Taylor se intitula "Governo Moral", e a Teologia Sistemática de C. G. Finney é um tratado do Governo Moral apesar que ela o chama por um outro nome. Mas porque as idéias de governo na Nova Inglaterra não se baseavam suficientemente na santidade de Deus, porém na utilidade, no expediente, ou na felicidade, a própria idéia de governo desapareceu da teologia da Nova Escola e os seus defensores quase de comum acordo partiram para a teoria da Influência Moral da expiação que é apenas um socianismo modificado. Tanto a expiação de Andover como a de Oberlin tornaram-se puramente subjetivas. Por esta razão a teoria grociana ou Governamental perdeu seu apoio no mundo teológico e não precisa de muito espaço.
d) Faz ser uma apresentação da justiça o que não é um exercício dela; a expiação não é, segundo esta teoria, uma execução, mas uma apresentação da lei que assegurará o perdão aos que a violam. Tal representação meramente cênica pode inspirar respeito pela lei só na medida em que a irrealidade essencial dela for insuspeita. Para ensinar que o pecado será punido, é preciso que haja punição. Potwin: "É difícil perceber como a apresentação daquilo que o pecado merece, mas não recebe, pode satisfazer a justiça". O ponto de vista sociniano sobre Cristo como um exemplo de virtude é mais inteligível do que o grociano como exemplo de castigo. Lyman Abbott: "Se eu pudesse pensar que Jesus sofreu e morreu para causar uma impressão moral sobre mim, isto não produziria em mim tal impressão moral ". William Ashmore: "Uma situação de tragédia determina um homicídio que faz a platéia chorar. Se Cristo não é em sentido algum substituto ou, se ele, com o pecador, que ele representa, não é co-responsável, então Deus e Cristo são participantes da tragédia real mais terrível que entenebreceu a história humana, somente causando sobre os homens calorosa sensibilidade - um artifício de palco com o mesmo efeito".
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A mãe finge chorar para induzir o filho a obedecer. Mas ele só o fará enquanto ele pensa que ela está magoada de verdade e o último estágio da criança é pior do que o primeiro. A expiação de Cristo não é uma encenação de paixão. O inferno não pode ser curado com homeopatia. O sacrifício no Calvário não é uma encenação dramática do sofrimento com vistas à produção de uma impressão moral sobre espectadores tocados pelo terror. É uma lição objetiva, somente por se tratar de uma realidade. Toda a justiça de Deus e todo o seu amor focalizam a cruz, de modo que ela ensina de Deus e a sua verdade mais do que todo o espaço e todo o tempo. John Milton, Paradise Lost, livro 5, fala da "névoa, a glosa comum dos teólogos". Tal névoa é a ficção legal pela qual o sofrimento de Cristo ocupa o lugar da pena ditada pela lei, embora não a seja. E. G. Robinson: A expiação não é um artifício, de sorte que, se alguém suporta uma certa cota de sofrimento, um certo número de outras situações pode estar quite relativamente a todas". A misericórdia nunca frauda a justiça. Contudo, a teoria da Nova Escola sobre a expiação admite que Cristo fraudou a justiça por um ardil. Ela substitui a pena de Cristo a respeito do redimido e, a seguir, substitui algo pela pena de Cristo.
e) A intensidade dos sofrimentos de Cristo no horto e na cruz é inexplicável com base na teoria de que a expiação foi uma apresentação histriônica da forma como Deus considera o seu governo e só pode explicar-se com base no ponto de vista de que Cristo, na verdade, suportou a ira de Deus contra o pecado humano. Cristo recusou o "vinho com mirra" (Mc. 15.23), para que pudesse até o fim ter plena posse das suas forças e não proferir nenhuma palavra a não ser as da verdade e sobriedade. O seu clamor de agonia, "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt. 27.46), não foi a produção de um impensado e delirante sofrimento. Expressa o mais profundo sentido da crucificação. O entenebrecimento dos céus foi tão somente o símbolo exterior do oculto semblante de Deus para com aquele que "se fez pecado por nós" (2 Co. 5.21 ). No caso de Cristo, muito mais do que todos os outros, finis coronat, e as palavras da morte são imortais. "As línguas dos moribundos produzem a atenção como uma profunda harmonia; Quando as
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palavras minguam, raramente são gastas em vão porque elas expressam a verdade, sopram palavras de dor". A mulher pura enfrenta as palavras infames com muito mais que uma leve recusa. Ela se inflama e se ira. SI. 97.10 - "Vós que amais o Senhor, aborrecei o mal"; Ef. 4.26 - "Irai-vos e não pequeis". Assim cabe à santidade de Deus não deixar o pecado sem castigo. Deus não apenas mostra ira, mas ele fica irado. É próprio da ira de Deus que enfrente o pecado e Cristo o faz quando ele é contado com os transgressores. A morte é o cálice que ele teve de beber (Mt. 20.22; Jo. 18.11) e que ele esgotou até o fim. Mason, Faith of Gospel, 196 - "De todos homens só Jesus verdadeiramente 'provou a morte' (Hb. 2.9). Alguns homens são muitíssimo estólidos e sem imaginação para prová-lo. Para os cristãos a amarga morte terminou porque Cristo morreu e ressuscitou. Mas para Jesus o seu terror ainda não diminuiu. Ele ainda conserva resolutamente as suas faculdades sãs até à profunda e terrível morte". Por isso não podemos concordar com Wendt ou com Johnson nas citações seguintes. Wendt, Teaching of Jesus, 2.249,250 – "O abandono do Pai não foi absoluto, visto que Jesus ainda o chamou Deus meu' (Mt. 27.46). Jesus sentiu a falta daquela energia do espírito que o sustentava e simplesmente expressa o seu ardente desejo e oração para que Deus mais uma vez conceda o seu poder e assistência". Ν. Η. Johnson, The Holy Spirit, 143,144 - "Não é necessário crer que Deus escondeu a sua face de Cristo no momento final. A única coisa necessária é admitir que Cristo não via mais o rosto do Pai. ... Ele sentia que era assim, mas não o era". Tais explicações tornam irreais os sofrimentos e palavras de Cristo e para a nossa mente são inconsistentes tanto com a sua divindade como com a sua expiação.
f) O verdadeiro poder da expiação sobre a consciência humana e sobre o coração deve-se, não à sua apresentação com respeito à lei de Deus, mas à sua apresentação de uma verdadeira execução da lei e uma verdadeira satisfação da santidade violada, satisfação esta cumprida por Cristo em lugar do pecador.
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Whiton, Gloria Patri, 143,144, reivindica que Cristo é a propiciação pelos nossos pecados apenas por trazer a paz à consciência e satisfazer à demanda divina sentida por isso. Whiton considera a expiação não como uma obra governamental exterior a nós, mas educacional dentro de nós. Ao lado da objeção que este ponto de vista levanta sobre a transcendência de Deus e a sua imanência, argumentamos com as palavras de Matthew Henry: "Nada pode satisfazer uma consciência ofendida a não ser aquela que satisfaz um Deus ofendido". C. J. Baldwin: "A parte do lago que se expande não tem poder para movimentar-se; ela movimenta o moinho só quando contida na estreita corrente e se derrama sobre a queda. Do mesmo modo o amor de Deus move o homem só quando se concentra no sacrifício da cruz".
g) A teoria contradiz todas passagens da Escritura que representam a expiação como necessária; como propiciando o próprio Deus; como sendo a revelação da justiça de Deus; como sendo uma execução da pena da lei; como tornando a salvação matéria de dívida do crente com base no que Cristo fez; como purificando verdadeiramente ao invés de tornar possível a purificação; como não simplesmente assegurando ao pecador que Deus pode agora perdoar-lhe por aquilo que Cristo fez, mas que Cristo na verdade operou uma salvação completa e a fornece a todos que se chegam a ele. John Bunyan, O Peregrino, cap. vi - "Sobre esse lugar erguia-se uma cruz e, pouco abaixo, um sepulcro. Assim eu vi, no meu sonho, quando o Cristão subiu com a cruz, seu fardo rolou dos seus ombros e caiu das suas costas, e começou a desabar, e continuou até que atingiu a boca do sepulcro, dentro do qual entrou e não vi mais nada. Então o Cristão se alegrou, e se iluminou, e disse com o coração festivo: Através da sua tristeza ele me deu descanso, e com a sua morte deu-me vida. Então, por um pouco de tempo, olhou e extasiou-se; porque lhe era bem surpreendente que o olhar para a cruz aliviou-lhe o fardo". A narrativa de John Bunyan é mais verdadeira para a experiência do Cristão que a teoria Governamental. O pecador encontra paz, não vindo a Deus com um distante respeito a Cristo, mas com a vinda direta ao
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"Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo. 1.29). As palavras de Cristo a cada pecador consciente são simplesmente estas: "Vinde a mim" (Mt. 11.28). Com base no que Cristo fez, a salvação é assunto de dívida para o crente. 1 Jo. 1.9 - "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados" - fiel à sua promessa, e justo para com Cristo. Por outro lado, a teoria Governamental, tende a dissuadir o acesso direto do pecador a Cristo, e tornar o caminho para a aceitação consciente de Deus mais curta e mais certa. Quando O Panorama diz: "Nem mesmo para o Filho de Deus devemos vir em lugar de virmos para Deus", apenas vemos a clara negação da validade das demandas e promessas de Cristo, porque ele exige imediata submissão quando determina ao pecador que o siga, e promete salvação imediata quando garante a todos os que vêm a ele que não os lançará fora. A teoria de Grócio é legal e especulativa, mas não tem base na Escritura, nem atende às necessidades da natureza humana.
4a) Teoria de Irving, ou da Depravação Gradualmente Extirpada. Sustenta que, na encarnação, Cristo tomou a natureza humana como se estivesse em Adão, não antes da queda, mas depois, natureza humana, portanto, com sua corrupção inata e predisposição para a moral má; que, não obstante a posse dessa maculada e depravada natureza, Cristo, através do poder do Espírito Santo, ou de sua natureza divina, não só evitou que a sua natureza humana se manifestasse em qualquer pecado real e pessoal, mas gradualmente purificou-a, através da luta e do sofrimento, até que, na sua morte, extirpou completamente sua depravação original e tornou a unir-se com Deus. Esta purificação subjetiva da natureza humana na pessoa de Jesus Cristo constitui a sua expiação, e os homens são salvos não por qualquer propiciação objetiva, mas somente por tornar-se participantes da nova humanidade de Cristo através da fé. Esta teoria foi elaborada por Edward Irving, de Londres (1792-1834) e tem sido sustentada, em substância, por Menken e Dippel na Alemanha.
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Nisto Irving foi precedido de Felix de Urgela, Espanha (+818), a quem Alcuíno se opôs. Felix diz que o Logos se uniu à natureza humana sem anteriormente santificá-la. Edward Irving, no início da sua vida colega do Dr. Chalmers, em Glasgow, nos seus últimos anos foi pregador da Igreja Nacional da Escócia, em Londres. Os seguidores de Irving diferem na sua representação dos pontos de vista. Diz Miller, Hist. And Doct. of Irvingism, 1.85 - "Se, na verdade, fizemos Cristo pecador, então, na verdade, todos os credos estão no fim e não merecemos sofrer a morte dos blasfemos. ... A concepção milagrosa privou-o da pessoalidade humana, e privou-o também do pecado original da culpa que precisa ser expiada por uma outra pessoa, mas não o privou da substância da carne e sangue pecaminosos; isto é, carne e sangue iguais aos de seus irmãos". 2.14 - Freer diz: "De sorte que, apesar de decaída a carne, o sangue que ele assumiu, através do Espírito Eterno, nasceu no mundo "o Santo". 11-15, 282-305 - "A humanidade não decaída não necessitava de redenção; por isso, Jesus não a recebeu. A natureza de que ele tomou parte era pecaminosa como um todo, mas santíssima na sua pessoa". Deste modo, diz um tratado irvingiano, "sendo parte da própria natureza que tinha incorrido na pena do pecado, embora em sua pessoa nunca o tivesse cometido, ou mesmo pensado nisso, parte da humanidade comum podia sofrer essa pena e, na verdade sofreu, para expiar essa natureza apesar de que aquele que a tomou não conheceu pecado". Dr. Curry, citado por McLintock e Strong, Encyclopaedia, 4.663, 664 - "Deus entrou em união vital com a humanidade decaída sob a lei. O último pensamento levou, no modo realístico de Irving, a noção da participação no caráter decaído da humanidade, que ele designou através dos termos que implicavam pecaminosidade real em Cristo. Ele tentou desembaraçar-se da odiosidade dessa idéia, dizendo que esta foi subjugada e há muito expulsa pelo Deus que nela habitava". Devemos considerar os mais tardios expositores da doutrina de Irving, como tendo abrandado, senão expurgado, sua principal característica como mostra a citação das próprias palavras de Irving (Works, 5.115) - "Torna-se manifesto que Cristo assumiu a nossa natureza decaída porque não há nenhuma outra a ser recebida como existente. 123 - "A natureza humana é
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totalmente decaída; a sua simples aceitação pelo Filho não a torna santa". 128 - "A sua alma pranteou, e magoou-se, e orou a Deus continuamente pela sua libertação da morte, da corrupção, e da tentação que ele sentiu no taber-náculo da sua carne". 152 - "Estes sofrimentos vieram, não simplesmente por atribuição, mas por real participação do elemento pecaminoso e amaldiçoado". Irving freqüentemente citava Hb. 2.10 "aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles". Os seguidores de Irving negam a pecaminosidade de Cristo, admitindo que apenas a enfermidade inata e as tendências congênitas não são pecado; a saber, que nenhuma depravação inata deve ser chamada de pecado, mas só a transgressão real. A nosso juízo, Irving com justiça foi acusado de afirmar a pecaminosidade da natureza humana de Cristo e com base nessa acusação foi deposto pelo presbitério da Escócia. Irving possuía uma estatura imponente, uma voz poderosa, e uma oratória natural e elegante. Era amante do estilo antigo e grandioso. Em Londres, durante algum tempo ele foi a grande sensação popular. Porém, pouco depois do começo da sua nova igreja em Regent's Square em 1827, ele achou que a moda desapareceu e a sua igreja não mais ficava cheia. Concluiu que o mundo estava sob o reinado de Satanás; tornou-se um milenista fanático; entregou-se inteiramente ao estudo da profecia. Em 1830 ele pensava que os dons apostólicos reviveram; sustentava a esperança de uma restauração da igreja primitiva embora ele mesmo estivesse relegado a uma posição subordinada. Esgotou as suas energias e morreu aos quarenta e dois anos. "Se eu tivesse me casado com Irving", disse a Sra. Thomas Carlyle, "não teria havido mais línguas". Irving era homem de comando, de voz poderosa e de oratória natural e graciosa. Ele amava a antigüidade e a grandeza. Mas logo após a abertura de sua nova igreja na Rejeut's Square em 1827, ele descobriu que a moda havia passado e que sua igreja não mais lotava. Ele concluiu que o mundo estava sob o reino de Satanás; e tornou-se um milenarista fanático; e entregou-se completamente ao estudo da profecia. Em 1830 ele achou que os dons dos apóstolos haviam se reavivado e manteve a esperança da restauração da igreja primitiva.
A esta teoria apresentamos as seguintes objeções:
Teologia Sistemática (Strong) 1467 a) Apesar de abranger um importante elemento de verdade, a saber, o fato da nova humanidade em Cristo, da qual todos que crêem se tornam participantes, é acusável de sério erro negando a expiação objetiva que torna possível a aplicação subjetiva. Bruce, em sua Humiliation of Christ, chama esta teoria de "redenção por amostragem". É uma expiação que Irving tern em sua mente puramente subjetiva. O livramento do pecado, a fim de libertar da pena, é o reverso exato da ordem da Escritura. Contudo, este livramento do pecado, no ponto de vista de Irving, deve estar assegurado de um modo exterior e mecânico. Ele sustenta que é a economia do Velho Testamento que deve permanecer enquanto a do Novo deve passar. Isto é um sacramentalismo, ou dependência de um rito exterior, ao invés de uma graça interior, essencial à salvação. Os seguidores de Irving são sacramentalistas. Eles consideram o crucifixo e as velas, o incenso e as vestes magníficas, o ritual altamente complicado e simbólico, como acessórios necessários à religião. Sentem a necessidade de uma autoridade exterior, visível e permanente, mas que se apoia na inspiração e contínuo auxílio sobrenatural. Eles não acham, como os católicos, a sua autoridade no papa; acham-na nos novos apóstolos e profetas. A igreja nunca pode ser renovada, como pensam eles, a não ser pela restauração de todas as ordens ministrantes mencionadas em Ef. 4.11 "apóstolos ... profetas ... evangelistas ... pastores ... ensinadores". Porém a marca do apóstolo do N. T. é o aparecimento de Cristo para ele. Os apóstolos de Irving não resistem a este teste.
b) Baseia-se em falsos princípios fundamentais, como, de que a lei é idêntica à ordem natural do universo e, como tal, é uma exaustiva expressão da vontade e da natureza de Deus; que o pecado é apenas uma força do mal moral dentro da alma ao invés de também envolver uma culpa objetiva e desertar da punição; que a pena é mera reação da lei contra o transgressor ao invés de ser também a revelação de uma ira pessoal contra o pecado; que a mancha do mal da natureza humana pode ser extirpada pelo sofrimento das suas conseqüências naturais, pena que deste modo reforma o transgressor.
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Dorner, Glaubenslehre, 2.463 (Doutrina Sistemática, 3.361,362) - "Na teoria de Irving, as inclinações más não são pecaminosas. A pecaminosidade só tem a ver com os atos maus. As conexões soltas entre o Logos e a humanidade tem um sabor de nestorianismo. É obra da pessoa desembaraçar-se de algo na humanidade que não a torna pecaminosa. Se a pecaminosidade da natureza de Jesus não tornou a sua pessoa pecadora, o mesmo ocorre conosco; o que é um elemento pelagiano, revelado também na negação de que, para a nossa redenção, precisamos de Cristo como um sacrifício expiatório. Para que a encarnação de Cristo seja completa, não é necessário que ele assuma a natureza pecaminosa, a não ser que o pecado seja essencial à natureza humana. No ponto de vista de Irving, a morte do corpo de Cristo opera a regeneração da sua natureza pecaminosa. Mas isto significa fazer do pecado uma coisa simplesmente física e o corpo a única parte do homem que necessita da redenção". Deste modo, a pena se tornaria reformadora e a morte salvadora. Irving sustenta que há dois tipos de pecado: 1. o pecado sem culpa; 2. o pecado culposo. A depravação passiva não é culposa; é parte da natureza sensível do homem; sem ela não seríamos humanos. Mas a partir do momento em que esta natureza decaída se expressa em atos, torna-se culposa. Irving, quase no fim da sua vida, defende um tipo de perfeição sem pecado; porque desde que ele conserva esta natureza pecaminosa inativa, e seja guiado pelo Espírito Santo, ele está livre do pecado e da culpa. Cristo tomou o seu pecado passivo, para ser semelhante aos seus irmãos e capaz de sofrer.
c) Contradiz as representações expressas e implícitas da Escritura com relação ao fato de Cristo estar livre de toda mancha da depravação hereditária; falsa representação da sua vida como uma crescente consciência da subjacente corrupção de sua natureza humana, que culminou com o Getsêmani e com o Calvário; e nega a verdade de suas próprias afirmações quando declara que ele deve ter morrido por causa da sua própria depravação apesar de que ninguém seria salvo por ela. "Sustentarei até à morte", dizia Irving, "que a carne de Cristo era tão rebelde como a nossa, tão decaída como a nossa. ... A natureza humana era corrupta até o cerne e tenebrosa como o inferno, e esta é a natureza
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humana que o Filho de Deus tomou sobre si e de que se revestiu". O libertador deve estar tão fundo no lodaçal como aquele que ele liberta. Não há nenhuma substituição. Cristo empreendeu uma guerra contra o pecado da sua própria carne e o expeliu. A sua glória não está em salvar os outros, mas em salvar-se a si mesmo e deste modo demonstrar o poder do homem através do Espírito Santo para expulsar o pecado do seu coração e da sua vida. Irving sustenta que a sua teoria é a única ensinada na Escritura e sustentada desde o princípio pela igreja. Nicoll, Life of Christ, 183 - "Todos os outros, quando crescem em santidade, crescem no seu senso de pecado. Mas quando Cristo é desamparado pelo Pai, pergunta: 'Por que?' bem sabendo que a razão não está no seu pecado. Ele nunca faz confissão de pecado. O prefácio da sua mais longa oração é uma afirmativa de justiça; 'Eu te glorifiquei' (Jo. 17.4). O seu último pronunciamento na cruz é uma citação de SI. 31.5 - "Pai, nas tuas mão entrego o meu espírito' (Lc. 23.46), mas ele não acrescenta, como o salmo, 'tu me redimiste, ó Deus da verdade', porque ele não necessitava de redenção, mas ele mesmo é o Redentor".
d) Faz a obediência ativa de Cristo e a purificação subjetiva de sua natureza humana ser a principal característica da sua obra enquanto as Escrituras fazem a sua morte e procedimento passivo da pena o centro de tudo e sempre o consideram como alguém que é pessoalmente puro e que, vicário, suporta a punição da culpa. Na teoria de Irving não existe atribuição, representação, ou substituição. A sua única idéia de sacrifício é que o próprio pecado será sacrificado, ou aniquilado. As muitas teorias subjetivas sobre a expiação mostram que a ofensa da cruz não cessou (Gl. 5.11 - "Logo, o escândalo da cruz está aniquilado"). O Cristo crucificado é ainda um escândalo para a especulação moderna. Contudo, é, como nos tempos antigos, "poder de Deus para a salvação" (Rm. 1.16; cf. 1 Co. 1.23,24 – "pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus").
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Como o oceano recebe as impurezas dos rios e as purifica, do mesmo modo Irving representa Cristo como recebendo para si as impurezas da humanidade e purificando dos pecados a raça. Aqui está o sentido da contaminação, mas não o sentido da culpa; a poluição subjetiva, mas não a condenação objetiva. Assumimos precisamente a base oposta à de Irving, a saber, de que Cristo tem a depravação hereditária, mas a culpa hereditária; que ele tinha a obrigação de sofrer pelos pecados da raça à qual ele historicamente se uniu e da qual ele foi o criador, o sustentador e a vida. Ele "se fez pecado por nós" (2 Co. 5.21), não no sentido de um contaminado, como pensava Irving, mas no sentido de alguém condenado a levar as nossas iniqüidades e sofrer as conseqüências penais. O teste de uma teoria de expiação, como o teste de uma religião, é o seu poder de "limpar a mão vermelha direita" da Lady Macbeth; a saber, o seu poder de satisfazer a justiça divina da qual a nossa consciência condenadora é apenas um reflexo. A teoria de Irving não tem tal poder. O Dr. Ε. G. Robinson inclinou-se para o ponto de vista de Irving, quando este defendeu que "Cristo assumiu a natureza humana quando a encontrou".
e) Ela necessita a rendição da doutrina da justificação simplesmente como um ato declaratório de Deus; e requer tal ponto de vista da santidade divina expresso só através da ordem da natureza como só pode ser sustentado com base nos princípios do panteísmo. Tomás de Aquino inquiriu se Cristo foi morto por si mesmo, ou por um outro. A pergunta sugere uma outra maior - se Deus constituiu outras forças além das suas próprias, pessoais ou impessoais, no universo, além das que ele tem na sua transcendência; ou se toda a sua atividade surge da atividade da criatura e se identifica com ela. A teoria de uma expiação simplesmente subjetiva é mais consistente com este último ponto de vista do que com aquele.
5a) A Teoria Anselmiana da Expiação ou Comercial. Esta teoria sustenta que o pecado é uma violação da honra ou majestade divina e, cometido contra um ser infinito, merece uma punição infinita; que a majestade de Deus requer que ele execute a punição
Teologia Sistemática (Strong) 1471 enquanto o amor de Deus pleiteia a dispensa da culpa; que este conflito dos atributos divinos é reconciliado eternamente pelo sacrifício voluntário do Deus-homem, que em virtude da dignidade da sua pessoa, suporta a punição infinita do pecado, que de outra forma os pecadores sofreriam extensa e eternamente; que este sofrimento do Deus-homem apresenta à majestade um equivalente exato dos merecidos sofrimentos dos eleitos; e que, como resultado desta satisfação das reivindicações divinas, os eleitos pecadores são perdoados e regenerados. Este ponto de vista foi a princípio abordado por Anselmo de Cantuária (1033-1109) como substituto para o mais antigo ponto de vista patrístico de que a morte de Cristo foi um resgate pago a Satanás para libertar os pecadores do seu poder. É sustentado por muitos teólogos escoceses e nos Estados Unidos pela Escola de Princeton. A velha teoria patrística, que a anselmiana suplantou, foi chamada de teoria militar da Expiação. Satanás, do mesmo modo que o aprisionador na guerra, tem direito sobre os seus cativos, que podiam ser vendidos só mediante o pagamento de resgate. É Justino, o Mártir, quem primeiro propõe este ponto de vista do pagamento de resgate a Satanás. Gregório de Nissa acrescenta que a humanidade de Cristo é a isca com que Satanás foi atraído para esconder o anzol da divindade de Cristo e, deste modo, ser apanhado pelo artífice. Pedro Lombardo, Quatro Livros de Sentenças, 3.19 - Ό que fez o nosso aprisionador? Sustentou para ele a sua cruz como uma ratoeira; nela pôs como isca o seu sangue". Até mesmo Lutero compara Satanás com o crocodilo que engole o icnêumon só por achar que o animalejo devora o que está dentro dele. Estas metáforas mostram isto, ao menos, que, em nenhuma época, a igreja creu numa expiação meramente subjetiva. Nem esta relação com Satanás foi o único aspecto em que a expiação foi considerada mesmo pela igreja primitiva. Num período tão antigo como o quarto século, encontramos um grande Pai da igreja que sustentava que a verdade e a bondade de Deus requereram a morte de Cristo. Ver Crippen, History of Christian Doctrine, 129 - "Atanásio (325-373) sustenta que a morte de Cristo é o pagamento de uma dívida para com Deus. Em resumo, o seu argumento é: Deus, tendo
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ameaçado de morte como punição do pecado, não seria verdadeiro se não cumprisse a sua ameaça. Mas seria igualmente indigno a bondade divina permitir que seres racionais, aos quais ele deu o seu próprio Espírito, incorressem nesta morte como conseqüência de uma imposição praticada sobre eles pelo diabo. Vendo, então, que nada, a não ser a morte, poderia resolver este dilema, o Verbo, que não podia morrer, assumiu o corpo mortal e, oferecendo a sua natureza humana em sacrifício por todos, cumpriu a lei através da sua morte". Gregório Nazianzeno (390) "reteve a figura de um resgate, mas, percebendo claramente que a analogia é incompleta, explica a morte de Cristo como um expediente para harmonizar os atributos divinos". Porém, embora muitos teólogos tenham reconhecido uma relação da expiação com Deus, nenhum antes de Anselmo deu qualquer explicação clara da natureza de tal relação. O agudo, breve e belo tratado intitulado "Cur Deus Homo" (Por que Deus Homem?) constitui a maior contribuição para a discussão desta doutrina. Ele mostra que "o que quer que o homem deva, deve-o a Deus, não ao diabo. ... Aquele que não presta a devida honra a Deus retira dele o que lhe pertence e o desonra; e isto é pecado. ... é necessário que ou a honra roubada lhe seja restaurada, ou que se siga o castigo". Em virtude do seu pecado original, o homem não pode prestar satisfação à desonra cometida contra Deus; "pecador não pode justificar pecador". Nem um anjo pode prestar esta satisfação. Ninguém pode fazê-lo a não ser Deus. "Se, pois, ninguém pode fazê-lo senão Deus, e ninguém deve fazê-lo senão o homem, deve ser operado da parte de Deus e feito através do homem". O Deus-homem, para efetuar a satisfação dos pecados de toda a humanidade, deve "dar de si mesmo a Deus algo mais valioso do que tudo o que está abaixo de Deus". Essa dádiva de valor infinito é a sua morte. A recompensa do seu sacrifício torna-se em vantagem para o homem e, deste modo, harmonizam-se a justiça e o amor de Deus.
A esta teoria fazemos a seguintes objeções: a) Conquanto contenha um valioso elemento de verdade, em sua representação da expiação, satisfazendo um princípio da natureza divina, concebe este princípio de maneira muito formal e externa, fazendo a idéia da honra divina e majestade mais proeminente que a da santidade divina na qual a honra e majestade divinas se baseiam.
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Esta tem sido chamada de "Teoria Criminal" de Expiação, como a antiga teoria patrística do resgate pago a Satanás tem sido chamada de "Teoria Militar". Tem sua origem num tempo quando prevaleciam idéias exageradas sobre a autoridade dos papas e dos imperadores e a desonra da majestade deles (crimen lesae majestatis) era a maior ofensa conhecida na lei. Allen, Jonathan Edwards, 88,89 - "Do ponto de vista da soberania, não há necessidade de expiação. No maometanismo, onde a soberania é o supremo e único princípio teológico, não se sente necessidade alguma de satisfazer a justiça divina. Deus pode perdoar quem ele quiser; a soberana vontade pode ditar em quaisquer bases. Por isso ela constitui um grande avanço na teologia latina assim como uma evidência da sua imensurável superioridade com relação ao maometanismo quando, pela primeira vez, Anselmo, de modo claro e enfático afirmou uma necessidade interior no ser divino de que a justiça seja satisfeita pela afronta da pecaminosidade humana contra ela". Henry George, Progress and Poverty, 481 - "Nos dias do feudalismo, pensava-se que o céu era organizado em base feudal e que a primeira e segunda pessoas da Trindade eram suseranas como comandantes em chefe". William James, Varieties of Religious Experience, 329,830 - "O tipo monárquico de soberania era, por exemplo, tão firmemente plantado na mente dos nossos pais que a sua imaginação requereu uma dose de crueldade e arbitrariedade no seu Deus. Chamavam a crueldade de 'justiça retributiva' e, sem ela, indubitavelmente Deus não as teria abatido. Hoje, porém, detestamos a própria noção de sofrimento eterno; e este tratamento arbitrário da salvação e da perdição seletiva de indivíduos, de que Jonathan Edwards poderia persuadir-se não só da sua própria convicção, mas uma 'convicção prazerosa', como a doutrina 'do grande prazer, do brilho e da doçura' parece-nos, senão algo soberana, irracional e fraca".
b) Em sua ânsia de manter a eficácia da expiação de Cristo uma obediência passiva, a obediência ativa, perfeitamente expressa na Escritura, tem insuficiente ênfase e quase se perde de vista.
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Sozinhas, nem a obediência ativa de Cristo, nem a sua paixão obediente podem salvar-nos. Como veremos mais adiante em nosso exame da doutrina da justificação, esta era necessária como base sobre a qual a nossa pena pode ser remida; aquela como base sobre a qual podemos ser admitidos ao favor divino. Calvino refletia o elemento passivo no ponto de vista de Anselmo nas seguintes passagens da Instituição Cristã; II, 17.3 "Deus, para quem nós éramos detestáveis por causa do pecado, foi aplacado pela morte do seu Filho e se fez propício a nós".... II, 16.7 - "É necessário considerar como ele mesmo substituiu a fim de pagar o preço da redenção. A morte nos pôs sob o seu jugo, mas ele, em nosso lugar, libertou a si mesmo em seu poder para isentar-nos daquele jugo". ... II, 16.2 - "Cristo interpôs e levou o que, pelo justo juízo de Deus, ameaçava os pecadores; com o seu próprio sangue expiou o pecado que os tornava detestáveis a Deus; através desta expiação satisfez e propiciou devidamente o Pai; por esta intercessão aplacou a sua ira; baseado nisto, estabeleceu a paz entre Deus e os homens; e por este laço garantiu-lhes a benevolência divina". Tem-se dito que Anselmo considera a morte de Cristo não como uma punição viçaria, mas como um sacrifício voluntário por cuja compensação a culpa foi retirada e justificada. Deste modo Neander, Hist Christ. Dogmas (Bohn), 2.517, entende que Anselmo ensina "a necessidade de uma satisfactio viçaria activa", e diz: "Não encontramos nos seus escritos a doutrina de uma satisfactio passiva; em lugar nenhum ele diz que Cristo suportou a punição dos homens". Shedd, História da Doutrina Cristã, 2.282, julga que isto é um falso entendimento de Anselmo. A Encyclopaedia Britannica segue o ponto de vista de Shedd quando fala dos sofrimentos de Cristo como uma pena: "A justiça do homem demanda satisfação; e, como um insulto à honra infinita, a satisfação deve ser infinita, i.e., deve descarregar tudo o que não é de Deus. Tal pena só pode ser paga pelo próprio Deus e, como no caso do homem, a pena deve ser paga na forma de homem. A satisfação só é possível através do Deus-homem. Ora, este Deus-homem, sem pecado, é isento da punição do pecado; por isso a sua paixão é voluntária, não dada por obrigação. Por isso, o mérito dela é infinito; deste modo aplaca-se a justiça de Deus e a sua misericórdia se estende ao homem". Para Anselmo a verdade parece que a obediência de Cristo é passiva ao satisfazer a justiça de Deus suportando o castigo que o pecador merece; mas ao mesmo tempo ele sustenta que a obediência de
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Cristo é ativa, pelo fato de que ele suportou a pena voluntariamente quando não tinha obrigação alguma de fazer isto. Shedd, Dogm. Theology, 2.431, 461, 462 - "Cristo não só sofreu a pena, mas obedeceu o preceito da lei. Neste caso, a lei e a justiça cumprem tudo o que lhes é devido. Mas, quando o perdido sofre sozinho a pena, mas não obedece o preceito, defrauda-se a lei numa parte dos seus deveres. Não há obediência completa da lei, se somente se suporta a pena. ... Conseqüentemente o pecador nunca pode satisfazer completa e exaustivamente a lei divina, por mais que ele sofra, porque ele não pode de uma vez e simultaneamente suportar a pena e obedecer o preceito. Ele deve 'dez mil talentos' e não tem 'com que pagar' (Mt. 18.24,25). Mas Cristo o fez e por isso ele 'engrandeceu-o pela lei e o fez grandioso' (Is. 42.21, num grau infinitamente mais elevado do que toda a família humana poderia ter feito se todos sofressem pelos seus pecados".
c) Permite um peso desproporcional às passagens da Escritura que representam a expiação sob analogias comerciais, como o pagamento de dívida ou resgate, para a exclusão daqueles que a descrevem como um fato ético, cujo valor deve ser estimado não quantitativamente, mas qualitativamente. Milton, Paradise Lost, 3.209-213 - "Morra ele, ou a justiça, a não ser que por ele morra um outro, capaz e de livre vontade, e pague a rígida satisfação: morte por morte". O principal texto sobre o qual se apóiam os defensores da teoria Comercial é Mt. 20.28 - "dar a sua vida em resgate de muitos". Pfleiderer, Philos. Religion, 1.257 - "A obra de Cristo, do modo em que Anselmo a construiu, não é nada mais que o protótipo da execução e satisfação meritórias da parte dos santos da igreja e, por isso, do ponto de vista da igreja medieval, é um pensamento logicamente perfeito. O mais notável é que as igrejas da Reforma podiam estar satisfeitas com esta teoria não obstante a completa contradição com a sua mais profunda consciência moral. Se, segundo os princípios protestantes gerais, não há obras meritórias supererrogatórias, então é de se supor que elas não sejam aceitas nem no caso de Jesus".
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E. G. Robinson, Christian Theology, 258 - "Abelardo rejeitou a teoria anselmiana por basear a expiação na justiça em vez de baseá-la na benevolência e por considerar insuficiente o poder dos sofrimentos e morte de Cristo na busca de uma mudança subjetiva no homem". Enciclopédia Britânica, 2.93 (art. Anselmo) - "Esta teoria exerceu enorme influência na forma da doutrina da igreja. É sem dúvida um avanço na teoria da antiga patrística até onde ela substitui por uma competição entre Deus e Satanás, competição entre a bondade e a justiça de Deus; mas coloca a relação toda em base simplesmente legal, não dá nenhuma direção ética nem reconhece que a consciência do indivíduo deve ser redimida. A respeito disto contrasta desfavoravelmente mais tarde com a teoria de Abelardo".
d) Representa a expiação como tendo referência só com o eleito e ignora as declarações da Escritura de que Cristo morreu por todos. Como Agostinho, Anselmo limita a expiação aos eleitos. Contudo, Leão, o Grande, em 461, afirmou que "Tão precioso é o derramamento do sangue de Cristo pelo injusto, que, se todo o universo de cativos cresse no Redentor, não haveria cadeia do diabo que pudesse contê-lo" (Crippen, 132). O Bispo Gailor, da Igreja Episcopal, ouviu o general Booth em Memphis dizerem 1903: "Amigos, Jesus derramou o seu sangue para pagar o preço, e comprou da parte de Deus a salvação suficiente para rodear o mundo". O Bispo diz: "Senti que este ponto de vista da salvação é diferente do meu. Contudo, tal ensino, parcial como é, eleva os homens aos milhares, do lodo e do vício do pecado para o poder e pureza da nova vida em Jesus Cristo". Foster, Christian Life and Theology, 221 - "Anselmo não estabelece uma clara conexão entre a morte de Cristo e a punição do pecado, visto que ele faz a obra superrrogatória voluntária e, conseqüentemente 'é natural' que o perdão seja dado aos pecadores. Contudo a sua teoria serve para transmitir aos teólogos posteriores a grande idéia da expiação objetiva".
e) Tem o defeito de sustentar uma transferência meramente externa da obra de Cristo enquanto não estabelece claramente a base interna de tal transferência na união do crente com Cristo.
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Tomás de Aquino forneceu este suplemento necessário, a saber, a doutrina da União do Crente com Cristo, Summa, pars 3, quaes. 8. A teoria anselmiana é de tendência romanista, como a teoria a ser mencionada a seguir é de tendência protestante. P. S. Moxom afirma que a salvação não é por substituição, mas que a substituição é por incorporação. Preferimos dizer que a salvação é por substituição, mas esta é por incorporação. Incorporação envolve substituição e a dor de um outro aplica-se a mim. Sendo incorporado à humanidade, tudo a que a humanidade está exposta e todas as suas tendências recaem sobre Cristo. Simon, Reconciliação através da Encarnação, tenta unir os dois elementos da doutrina. Lidgett, Spir. Prin. of Atonement, 132-189 - "Anselmo representa a morte de Cristo não como nossa em qualquer sentido em que podemos entrar. Bushnell, com precisão afirma que ela não tem nenhuma dinâmica moral na Cruz".
6a)Teoria Ética da Expiação. Ao propor o que podemos conceber como sendo a verdadeira teoria da expiação, parece desejável dividir nosso enfoque em duas partes. Nenhuma teoria pode ser satisfatória se não fornecer uma solução para os dois problemas: 1. O que a expiação cumpriu? ou, em outras palavras, qual foi o objetivo da morte de Cristo? A resposta a esta pergunta deve ser uma descrição da expiação na sua relação com a santidade de Deus. 2. Qual o meio utilizado? ou, em outras palavras, como poderia, com justiça, Cristo morrer? A resposta a esta pergunta deve ser uma descrição da expiação surgindo da relação de Cristo com a humanidade. Ocupar-nos-emos destas duas partes do assunto seguindo uma ordem. Edwards, Works, 1.609, diz que duas coisas fizeram dos sofrimentos de Cristo uma satisfação pela culpa humana: 1) sua igualdade e equivalência à punição do merecimento do pecador; 2) a união entre Cristo e o merecimento e a propriedade do seu ser aceito, no sofrimento, como representante do pecador. Cristo suportou a ira de Deus: 1) à vista do pecado e do castigo; 2) suportando os efeitos da ira ordenada por Deus.
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Estas afirmativas de Edwards sugerem dois pontos de vista a partir dos quais consideramos a expiação; mas eles resumem declarações da Escritura que não afirmam distintamente a resistência ao sofrimento da pena propriamente dita. Deste modo eles abrem caminho para as teorias da Nova Escola sobre a expiação, propostas pelos sucessores de Edwards. Adolphe Monod, com propriedade, diz: "Salve primeiro a lei santa de Deus; depois disto salve-me". Edwards sentiu a primeira destas necessidades, pois ele diz em seus Mistérios da Escritura, Works, 3.542 - "A necessidade da satisfação de Cristo a respeito da justiça divina é como se fosse o centro e elo de todas as doutrinas da revelação pura. As outras doutrinas são relativamente de pouca importância a não ser que se relacionem com esta". Ε em sua Obra da Redenção, 1.412 - "Cristo nasceu com a finalidade para a qual morreu; por isso ele começou a morrer logo que nasceu". Ver Jo. 12.32,33 -"E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Mas ele dizia isso significando com que morte havia de morrer". Cristo "foi levantado"; 1. como propiciação à santidade de Deus, que faz o sofrimento seguir-se ao pecado, fornecendo, deste modo, a única base para o perdão exterior e a paz interior; 2. como um poder de purificar os corações e vidas dos homens, Jesus é "a serpente levantada no deserto" (Jo. 3.14), e nós vencemos "por causa do sangue do Cordeiro" (Ap. 12.11).
Primeiro: A Expiação relacionada com a santidade em Deus. A teoria Ética sustenta que a necessidade da expiação se baseia na santidade de Deus, da qual a consciência do homem é reflexo finito. Há um princípio ético na natureza divina, que exige que o pecado seja punido. Afora os seus resultados, o pecado presta essencialmente um desserviço. Como nós, que fomos feitos à imagem de Deus, marcamos nosso crescimento na pureza através da crescente presteza com que detectamos a impureza e a crescente aversão para com ela, assim a infinita pureza é um fogo consumidor de toda a iniqüidade. Como há uma exigência ética em nossa natureza de que não só a iniqüidade dos outros, mas também a nossa, seja visitada com a punição e uma consciência aguçada não pode descansar até que tenha satisfeito a justiça para com os seus maus atos,
Teologia Sistemática (Strong) 1479 assim há uma exigência ética da natureza de Deus de que a pena se siga ao pecado. A santidade de Deus tem como suas correlatas e conseqüências a consciência e a pena. Gordon, Christ of Today, 216 - "Na antiga Atenas, a rocha sobre cujo topo sentava-se o Tribunal do Areópago, representando a mais elevada razão e o melhor caráter do Estado Ateniense, tinha sob si a Caverna das Fúrias". Shakespeare conhecia a natureza humana e testemunhava da necessidade da expiação. Em sua última Vontade e Testamento escreve: "Em primeiro lugar encomendo a minha alma às mãos de Deus, meu Criador, esperando e crendo firmemente, nos méritos de Cristo Jesus meu Salvador, para tornar-me participante da vida eterna". Ricardo III, 1.4 - "Determino-vos, na esperança de ter a redenção pelo sangue precioso de Cristo derramado por nossos pecados, que vos retireis e não ponhais a mão em mim". Ricardo II, 4.1 - Ό Resgate do mundo, bendito Filho de Maria". Henrique IV, 2- parte, 3.2 - "Aquele terrível Rei tomou sobre si o nosso estado para livrar-nos da maldição da ira do Pai. Henrique VI, λparte 1.1 "Aqueles campos santos sobre cujos solos andaram os benditos pés que, há catorze séculos em nosso benefício foram cravados na amarga Cruz". Medida sobre Medida, 2.2 -"Por que todas as almas que há foram esquecidas de uma vez; e ele podia com grande vantagem ter rejeitado o remédio". Henrique VI, 2a parte, 1.1 -"Ora, por que a morte daquele que morreu por todos"! Vai Bem Tudo que Termina Bem, 3.4 - "Que anjo abençoará aquele indigno esposo? Ele não pode prosperar a não ser que as orações daquela de quem os céus se deleitam em ouvir e que gosta de admitir, o afaste da ira da maior justiça".
A punição é a reação constitucional do ser de Deus contra o mal moral – a auto-afirmação da santidade infinita contra seu antagonista que seria seu destruidor. Em Deus esta demanda é desprovida de toda paixão e é consistente com a infinita benevolência. É uma demanda de que não se pode escapar, visto que a santidade de que brota é imutável. Portanto, a expiação é uma satisfação da exigência ética da natureza divina pela substituição dos sofrimentos penais de Cristo para a punição da culpa.
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John Wessel, reformador antes da Reforma (1419-1489): "Ipso deus, ipse sacerdos, ipse hóstia, pro se, de se, sibi satisfecit" = "Ele mesmo, ao mesmo tempo Deus, sacerdote e vítima sacrificial, satisfez-se a si mesmo, em favor de si mesmo [i.e. pelos pecados dos homens aos quais se uniu] e através de si mesmo [pelos seus próprios sofrimentos, não tendo pecado". Os Emblemas de Quarles (Francisco Quarles): "Ó profundidades sem fim! Ó ilimitado amor! Morre o que sofre as ofensas, para libertar os ofensores"! Spurgeon, Autobiography, 1.98 - "Quando nas mãos do Espírito Santo, sob a convicção do pecado, tive claro e agudo senso da justiça de Deus. O que quer que seja para as outras pessoas, o pecado tornou-se para mim um fardo intolerável. Não é que eu sentisse tanto o inferno, como sentia o pecado e sempre tive em mente a preocupação de honrar o nome de Deus e a integridade moral do seu governo. Senti que ela não satisfaz a minha consciência se, injustamente, eu vier a cair no esquecimento. Veio, então, a pergunta: 'Como pode Deus ser justo e ainda justificar-me a mim que tenho sido tão culpado'? ... A doutrina da expiação é, na minha mente, uma das mais seguras provas da inspiração da Escritura Sagrada. Quem pensaria ou poderia pensar no justo Governante"?
Esta substituição é desconhecida da mera lei e está acima e além dos poderes da lei. É uma operação da graça. Contudo, a graça não viola ou suspende a lei, mas vale-se dela e cumpre-a. A retidão da lei é mantida no sentido de que a fonte de toda a lei, o juiz e o punidor voluntariamente se submetem para manter a pena e mantê-la na natureza humana que cometeu pecado. Matheson, Moments on the Mount, 221 - "Na consciência, o homem condena e é condenado. Cristo é Deus em carne, tanto é sacerdote com vítima sacrificial (Hb. 9.12). Ele é 'cheio de graça' - graça perdoadora - mas 'também é 'cheio de verdade e, deste modo, Ό unigênito do Pai' (Jo. 1.14). "não é um perdão que ignora o pecado, não uma justiça sem misericórdia. Ele perdoa o pecador porque leva o seu pecado". Kaftan, referindo-se a alguns teólogos modernos, que voltaram à velha doutrina, mas que disseram que a base da expiação não é a idéia jurídica da punição, mas a da propiciação, afirma: "Ao contrário da mais elevada idéia ética da propiciação
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é exatamente a da punição. Afaste esta idéia, e a propiciação se torna nada que não seja a idéia de aplacar a ira de uma divindade enfurecida. Exatamente a idéia do sofrimento vicário no castigo de alguma forma deve apontar para a plena expressão da consciência ética. "A consciência despertada por Deus não pode aceitar perdão algum sem que ao mesmo tempo experimente a condenação do pecado.... Embora sem pecado e sem merecer castigo, Jesus tomou sobre si o mal que veio ao mundo como conseqüência e castigo do pecado na vergonhosa morte na cruz pela mão dos pecadores.... Conseqüentemente, em benefício do homem, ele suportou tudo o que este merecia e que, em decorrência, escapou ao castigo final eterno e tornou-se filho de Deus. ... Esta não é simplesmente uma conclusão subjetiva de fatos correlatos, mas algo objetivo e real que a fé conhece e reconhece".
Assim, a expiação responde à demanda ética da natureza divina de punir o pecado e o ofensor ficar livre. Ficam os interesses do governo divino garantidos como o primeiro resultado desta satisfação do próprio Deus de cuja natureza o governo é expressão; como segundo resultado faz-se a provisão às necessidades da natureza humana: por um lado, a necessidade de uma satisfação objetiva da demanda ética de uma punição do pecado e, por outro, a necessidade de uma manifestação do amor divino e misericórdia que afetará o coração e moverá para o arrependimento. A grande passagem clássica sobre a expiação é Rm. 3.25,26 - "ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para a demonstração da justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus". Ou, em tradução um tanto mais livre, ler-se-ia a passagem da seguinte maneira: - "a quem Deus propôs em seu sacrifício propiciatório, através da fé, mostrar a sua justiça por conta da pretermissão das ofensas passadas na paciência de Deus; a fim de declarar a sua justiça no tempo presente de sorte que ele seja justo e justifique aquele que crê em Jesus".
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EXPOSIÇÃO DE RM 3.25,26. – Estes versos são o desenvolvimento de uma afirmação do assunto da epístola – a revelação da "justiça de Deus" (a justiça que Deus prove e aceita) - mencionada em 1.17, mas agora com nova luz e demonstração em 1.18-3.20, que tanto gentios como judeus estão sob condenação e igualmente estão impedidos da salvação por outro método além das suas obras. Resumimos aqui a substância do comentário de Meyer sobre esta passagem. "V. 25. 'Deus propôs Cristo como oferta propiciatória, através da fé, por meio do seu sangue, έν τω αύτοϋ αϊματι não pertence a πίστεως, mas a προέϋετο. O propósito desta colocação em seu sangue é εις ενδειξιν της δικαιοσύνης αύτοϋ, 'para a declaração pública da sua justiça [judicial e punitiva]', que recebeu a sua satisfação na morte de Cristo como oferta propiciatória e, por isso, demonstrada e apresentada de um modo prático. 'Por conta da supressão dos nossos pecados que anteriormente ocorreram', i.e., porque ele permitiu que os pecados anteriores a Cristo não tivessem punição, pelo que se perdeu de vista a sua justiça e se obscureceu e passou a necessitar de uma ενδειξις, ou declaração pública aos homens. Omissão não é absolvição, πάρεσις, a supressão, é o elemento intermediário entre o perdão e o castigo. A expressão 'em virtude da paciência de Deus' expressa o motivo da πάρεσις. Antes do sacrifício de Cristo, a administração de Deus era um escândalo; era necessária a vindicação. A expiação é a resposta de Deus para a mudança da libertação do culpado. V. 26. εις το είναι não é o epexegético de εις ενδειξιν, mas apresenta a teleologia do ίλαστήριον, que é o alvo final de toda a afirmação οv προέϋετο para καιρώ - a saber, em primeiro lugar, Deus ser justo e, em segundo lugar, aparecer justo em conseqüência disto. Justus et justificans, em vez de justus et condenans, é o summum paradoxon evangelicum. A graça é a base determinante desta revelação da justiça, não através da condenação, mas da expiação". Repetimos o que se disse nas págs. 719 e 720 (43 de Ofícios) a respeito do ensino da passagem, a saber, que ela mostra: 1) que a morte de Cristo é um sacrifício propiciatório; 2) que o seu primeiro e principal efeito recai sobre Deus; 3) que o atributo particular em Deus demanda a expiação na sua justiça, ou santidade; 4) que a satisfação da sua santidade é condição necessária para que Deus justifique o crente. Só de um modo incidental e subordinado é que a expiação é uma necessidade para o
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homem; Paulo disto fala principalmente como uma necessidade para Deus. Na verdade Cristo sofre para que Deus apareça justo; mas atrás desta aparição está a realidade; o principal objetivo do sofrimento de Cristo é que Deus seja justo enquanto perdoa o pecador crente, a saber, a base da expiação é às vezes interior ao próprio Deus. Ver Hb. 2.10 - "convinha" que Deus = é moralmente próprio de Deus, fazer Cristo sofrer; cf. Zc. 6.8 "aqueles que saíram para a terra do Norte fizeram repousar o meu Espírito na terra do Norte" = os juízos aplicados à Babilônia satisfizeram a minha justiça. Charnock: "Aquele que uma vez 'apagou a violência do fogo' para os filhos dos hebreus também apagará, da ira de Deus contra o pecador, o fogo mais quente que a fornalha mais aquecida o sétuplo". O mesmo Deus, que é um Deus de santidade e que, em virtude disso deve punir o pecado humano, é também um Deus de misericórdia e, em virtude desta, ele mesmo suporta a punição do pecado humano. Dorner, Geschichte prot. Theologie (História da Teologia Protestante, 93 - "Cristo não só é o mediador entre Deus e o homem, mas entre o Deus justo e o Deus misericordioso" - cf. SI. 85.10 -"A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram". "A consciência demanda a ação viçaria porque a consciência declara que o perdão gratuito não seria justo". Lidgett, Spir. Principle of the Atonement, 219, 304 - "A expiação 1. tem sua significação na direção de Deus; 2. consiste em que Senhor suporta a morte em nosso favor; 3. o espírito em que ele suportou a morte é de vital importância na eficácia do seu sacrifício, a saber, a obediência. Deus dá o arrependimento, contudo, o requer; dá a expiação, contudo, a requer. 'Graças a Deus, pois, pelo seu dom inefável' (2 Co. 9.15)". Simon, em Expositor, 6.321-334 (em substância) - "Como na oração pedimos a Deus que nos dê energia e nos capacite a obedecer a sua lei e ele responde entrando no nosso coração e obedecendo em nós e por nós; como oramos pedindo força na aflição e achamo-lo ajudando-nos ao introduzir o seu Espírito em nós e sofrendo em nós e por nós; do mesmo modo, na expiação, Cristo, o Deus manifesto obedece e sofre em nosso lugar. Até mesmo a teoria moral implica também a substituição. Deus, em nós, obedece a sua própria lei e suporta as tristezas que o pecado causou. Por que não pode ele, na natureza humana, suportar também a pena do pecado? Tal
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possibilidade não pode ser consistente-mente negada por qualquer pessoa que crê no socorro divino concedido em resposta à oração. A doutrina da expiação e a da oração estão juntas e abrangem-se".
Segundo: A expiação relacionada com a Humanidade em Cristo. A teoria ética da expiação sustenta que se põe em tal relação com a humanidade que o que a santidade de Deus demanda que Cristo tem a obrigação de pagar e paga plenamente em virtude de sua dupla natureza para que a reivindicação da justiça seja satisfeita e o pecador que aceita o que Cristo fez em seu favor seja salvo. O Dr. R. W. Dale, em sua obra sobre a Expiação, propõe-nos a seguinte pergunta: "Qual deve ser a relação de Cristo com os homens, a fim de possibilitar que ele morra por eles"? Mudamos a forma da pergunta de modo que se leia: "Qual deve ser a relação de Cristo com os homens a fim de, não só possibilitar, mas tornar justo e necessário que ele morra em favor deles"? Em síntese, Dale responde que Cristo deve ter tido uma relação original e central com a raça humana e com cada um dos seus membros. Quando tratamos do Monismo Ético, da Trindade e da pessoa de Cristo, mostramos que Cristo, como Logos, como Deus imanente, é a vida da humanidade, carregado da responsabilidade pelo pecado humano, conquanto não conheça pessoalmente nenhum pecado. Desta responsabilidade e culpa raciais que Cristo assumiu e pelas quais ele sofreu logo que o homem pecou, a obediência e o sofrimento de Cristo na carne foram o reflexo e revelação visíveis. Só na união orgânica de Cristo com a raça podemos encontrar a relação vital que fará o seu sofrimento vicário ou possível, ou justo. Só quando consideramos o Calvário revelador dos princípios eternos da natureza divina, podemos ver como os sofrimentos das poucas horas sobre a cruz seriam suficientes para salvar os milhões de seres humanos. O Dr. E. Y. Mullins propõe a doutrina da Expiação em cinco proposições: "1. Para a expiação, Cristo se uniu vitalmente à raça humana. Só mesmo assumindo a natureza daqueles é que ele iria redimir para quebrar o poder do seu captor.... A raça humana pode assemelhar-se a muitos pardais que foram capturados numa armadilha do caçador e
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desesperadamente lutam contra o seu destino. Uma grande águia vertiginosamente desce do céu, embaraça-se com os pardais na rede e, abrindo as suas poderosas asas sobe levando a armadilha e os cativos e, rompendo as malhas liberta-se e liberta-os. ... Cristo, a fonte da vida, dando de si mesmo a vitalidade aos redimidos e, fazendo-os participar das experiências do Getsêmani e do Calvário, rompendo-lhes deste modo o poder do pecado e da morte - eis aí a expiação em virtude da qual retira-se o pecado, e o homem se une a Deus". O Dr. Mullins, com propriedade, considera este ponto de vista da expiação por demais estreito visto que ele desconsidera as diferenças entre Cristo e os homens que surgem da sua impecaminosidade e da sua divindade. Por isso acrescenta que 2. "Cristo tornou-se o substituto dos pecadores; 3. tornou-se o representante dos homens diante de Deus; 4. ganhou força sobre os corações humanos para tirá-los do pecado e reconciliá-los com Deus; e 5. tornou-se propiciação e satisfação, fazendo a remissão dos pecados consistente com a santidade divina". Se a união de Cristo com a raça começa com a criação e antedata a queda, mais tarde todos os pontos do esquema acima são apenas correlatos naturais e conseqüências do primeiro; substituição, representação reconciliação, propiciação, satisfação, tornam-se apenas aspectos da obra que Cristo fez por nós em virtude do fato de que ele é Deus imanente, a vida da humanidade, sacerdote e vítima, condenador e condenado, expiador e expiado.
Vimos como Deus pode, com justiça, exigir satisfação; agora mostramos que Cristo pode, com justiça realizá-la; ou, em outras palavras, como o inocente pode, com justiça sofrer pelo culpado. A solução do problema está na união de Cristo com a humanidade. O primeiro resultado dessa união é a obrigação de sofrer pelo homem; visto que, sendo um com a raça, Cristo teve uma participação na responsabilidade da raça com a lei e a justiça de Deus. Nele a humanidade foi criada; em cada estágio da existência a humanidade foi sustentada pelo seu poder; como Deus imanente, ele era a vida da raça e de cada membro dela. A participação de Cristo na vida do homem, com
Teologia Sistemática (Strong) 1486 justiça e inevitavelmente, sujeitou-o à exposição do homem e suscetibilidade e especialmente à condenação de Deus por causa do pecado. No sétimo capítulo de Elsie Venner, Oliver Wendell Holmes faz o Rev. Sr. Honeywood pôr de lado um velho sermão sobre a natureza humana e escreve um sobre as Obrigações de um Criador infinito para com uma Criatura finita. A. F. J. Behrends baseava a relação representativa do nosso Senhor não na natureza humana, mas na divina. "Ele é nosso representante não porque estava nos lombos de Adão, mas porque nós, incluindo Adão, estamos nos lombos dele. A existência pessoal criada baseia-se no Logos, de modo que Deus deve tratá-lo do mesmo modo que cada pecador individualmente e o pecado e a culpa e a punição devem afligir o Logos e o pecador, e isto, quer o pecador seja salvo, quer não. Não se trata, como freqüentemente se diz, de uma negação da graça ou da liberdade na graça, porque ela não é uma negação da liberdade ou da graça a fim de mostrar que são eternamente racionais e estão em conformidade com a lei eterna. Na esfera ideal, a necessidade e a liberdade, a lei e a graça fundem-se". J. C. C. Clarke, O Man and this Divine Father, 337 - "A expiação viçaria não consiste em qualquer ato simples. ... Nenhum ato a abrange totalmente e nenhuma definição pode envolvê-la". Neste sentido podemos adotar as palavras de Forsyth: "Na expiação, o Pai Santo trata o pecado do mundo sobre (não dentro de) uma alma cósmica". G. B. Foster, sobre Mt. 26.53,54 - "Ou pensas tu que eu não poderia, agora, orar a meu Pai e que ele me daria mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça". "A Escritura se baseia nesta expressão 'que aconteça', e não o contrário. A expressão 'que aconteça' é a demanda ética da sua conexão com a raça. Ter-lhe-ia sido imoral safar-se do organismo. A lei do organismo é: cada um segundo a sua capacidade; a cada um segundo a necessidade. Davi nas canções, Aristóteles na lógica, Darwin na ciência, têm a obrigação de contribuir para o organismo com os seus talentos. Será que eles têm a obrigação e Jesus está livre dela? Mas Jesus pode contribuir e, porque pode, deve. Contudo, ele é membro não só do todo, mas de cada parte; Rm. 12.5 - 'membros uns dos outros'. Como a membresia do todo pende para o
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pecado do todo, assim o fato de que ele é membro da parte o faz responsável pelo pecado daquela parte". Fairbairn, Place of Christ in Modern Theology, 483,484 - "Há um sentido em que a teoria patripassiana está certa; o Pai sofreu; apesar de que não sofreu como o Filho, mas de modo distinto e diferente. ... Através da sua piedade o homem tornou-se a sua tristeza.... Há uma revelação do seu sofrimento na rendição do Filho. Esta rendição representa o sacrifício e a paixão de toda a Divindade. Neste ponto não se aplicam o grau e proporção; se não fosse assim, poderíamos dizer que o Pai sofreu mais por dar o Filho do que este ao ser entregue. Aquele que dá por dever não tem a recompensa daquele que se regozija em fazê-lo. ... Um membro da Trindade não pode sofrer sem que os demais sofram.... O sacrifício visível é o do Filho; o invisível é do Pai". A Teoria de Andover, representada em Ortodoxia Progressiva, 43-53, afirma não só a Influência Moral da Expiação, mas também que a raça toda está naturalmente em Cristo e, por isso foi punida no seu sofrimento e morte e através destes.
A participação de Cristo na responsabilidade da raça para com a lei e justiça de Deus não foi destruída pela encarnação, nem pela sua purificação no ventre da Virgem. Em virtude da unidade orgânica da raça, cada membro da raça, desde Adão, nasceu no mesmo estado em que Adão caiu. As conseqüências do pecado de Adão, tanto para si como para sua posteridade, são: 1) depravação, ou corrupção da natureza humana; 2) culpa, ou obrigação de prestar satisfação pelo pecado à santidade divina; 3) pena, ou verdadeira perda ou sofrimento visitado por aquela santidade sobre a culpa. Moberly, Atonement and Personality, 117 - "Cristo tomou sobre si, como expressão viva de si mesmo, uma natureza que pesava, não só pela incapacidade presente, mas por esta como parte do resultado judicial necessário da pecaminosidade aceita e inerente. A natureza humana não é apenas incapaz, mas culpada e é, por si, conseqüência e aspecto da culpa". Lidgett, Espiritual Principles of Atonement, 166-168, critica o Dr. Dale por negligenciar o propósito paterno da expiação com o fim de servir à educação
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moral da criança - o castigo marcante causado pelo merecimento do mal, trazendo-o à consciência do ofensor; e também negligenciando a declaração positiva contida na expiação cuja lei é santa, justa e boa - algo mais que a expressão negativa do castigo pelo mal do pecado. Bowne, Atonement, 101 - "Algo como esta obra da graça é a necessidade moral para com Deus. É uma terrível responsabilidade assumida quando a nossa raça humana foi apresentada com a sua terrível possibilidade da prática do bem e do mal. Por isso Deus se sente na obrigação de cuidar da sua família humana; reflexões sobre a sua posição como criador e governador, em vez de remover só tornam mais manifesta tal obrigação. Até onde podemos conceber Deus como sentado numa condição suprema e de satisfação de si mesmo, ele não é, afinal de contas, amor, mas apenas reflexo do nosso egoísmo e vulgaridade. Até onde podemos concebê-lo dando-nos da sua plenitude infinita, mas sem custo real para si, ele se iguala aos heróis da raça. Sempre é possível um pensamento mais elevado, até vermos Deus recebendo o mundo no seu coração, comungando com a nossa tristeza, carregando o nosso fardo e comandando todo o sacrifício de si mesmo. Só então ocorre a possibilidade da graça, do amor, do heroísmo moral e da condescendência, de sorte que nada sobra de mais elevado. Ε a obra do próprio Cristo, tornada um evento histórico, deve ser vista, não somente como uma parte da história, mas também como manifestação da cruz que estava oculta no amor divino desde a fundação do mundo, e que, afinal de contas, envolve a existência do mundo humano". John Caird, Fund. Ideas of Christianity, 2.90,91 - "Conceber o ideal de perfeição moral encarnada numa pessoalidade humana e ao mesmo tempo alguém que nos ama com amor tão absoluto que se identifica conosco e faz seu o nosso bem e o mal - reúne estes elementos num espírito humano vivo e consciente, e você tem nele a capacidade da vergonha e angústia, a possibilidade de carregar o fardo da culpa humana e derrota, que a humanidade perdida e culpada nunca poderia levar por si mesma".
Se Cristo tivesse nascido por geração comum, ele também teria tido depravação, culpa e pena. Mas ele não nasceu assim. No ventre da Virgem, a natureza humana que ele assumiu estava expurgada da
Teologia Sistemática (Strong) 1489 depravação. Mas este expurgo da depravação não tirou a culpa ou a pena. Ainda foi deixada a justa exposição à pena da lei violada. Apesar de que a natureza de Cristo foi purificada, sua obrigação de sofrer ainda foi conservada. Ele podia ter deixado de se unir à humanidade e não necessitaria de ter sofrido. Podia ter separado esta conexão com a raça e não precisaria ter sofrido. Mas, uma vez nascido da Virgem, uma vez possuído da natureza humana que estava sob a maldição, ele tinha o compromisso de sofrer. Toda a massa e peso do desagrado de Deus contra a raça caíram sobre ele, uma vez que se tornou membro da raça. Porque Cristo é em essência a humanidade, o homem universal, a vida da raça, ele é o cérebro central para o qual e através do qual devem passar todas idéias. Ele é o coração central ao qual e através do qual devem comunicar-se todas as dores. Você não pode telefonar para um amigo do outro lado da cidade sem primeiro chamar a central telefônica. Você não pode ferir o seu próximo sem primeiro ferir Cristo. Cada um de nós pode dizer com ele: "Contra ti, contra ti somente pequei" (SI. 51.4). Por causa da sua humanidade central e de total alcance, ele deve levar em sua própria pessoa o fardo de toda a humanidade e ser o "Cordeiro de Deus, que" toma e, deste modo, "tira o pecado do mundo" (Jo. 1.29). Simms Reeves, grande tenor inglês, diz que a música da paixão era muita coisa para ele; ele foi encontrado vencido depois de cantar as palavras do profeta em Lm 1.12 "Não vos comove isto, todos vós que passais pelo caminho? Atendei e vede se há dor como a minha dor, que veio sobre mim, com que me entristeceu o Senhor, no dia do furor da sua ira". O padre Damien dedicou a sua vida ao ministério na colônia de leprosos das Ilhas Havaianas. Embora, tendo entrado, estivesse livre da doença, foi acometido da lepra e então escreveu: "Devo ficar com o meu povo". Uma vez leproso, não havia livramento. Uma vez ligado à humanidade, Cristo se expôs e estava sujeito a tudo que ocorria com a humanidade. Apesar de que ele pessoalmente não tem pecado, fez-se pecado por nós. Cristo herdou a culpa e a pena. Hb. 2.14,15 - "visto que os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que, aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo,
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e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão". Só Deus pode perdoar o pecado porque só ele pode senti-lo na verdadeira odiosidade e pô-lo no verdadeiro merecimento. Cristo pode perdoar o pecado porque ele acrescenta ao sentimento divino sobre o pecado a angústia de uma humanidade pura relativa a isso. S. W. Culver: "Não podemos ser salvos, assim como não podemos aprender geometria através da leitura ou do diagrama. Ninguém jamais salva um outro do afogamento permanecendo friamente ou dizendo-lhe da importância de aparecer na superfície e da necessidade da respiração. É preciso afundar-se no elemento destrutivo e assumir a condição da própria pessoa que está se afogando e, no exercício da sua própria força, no vigor da sua própria vida, salvá-lo da morte iminente. Quando o seu filho está envolto nas chamas que estão consumindo a sua casa, você não vai chamá-lo do lado de fora. Você atravessa o fogo devora-dor até que você esteja nas mesmas condições de perigo em que ele está e, daí, voltar trazendo-o à liberdade e segurança".
Contudo, note que esta culpa que Cristo tomou sobre si por sua união com a humanidade 1) não era a culpa do pecado pessoal - como pertence a todo membro adulto da raça; 2) nem mesmo a culpa da depravação herdada; tal culpa pertence às crianças e aos que não chegaram à consciência moral; mas 3) a culpa do pecado de Adão, que pertence antes à transgressão pessoal e independentemente da depravação herdada a cada membro da raça cuja vida derivou de Adão. Este pecado original e a culpa herdada, mas sem a depravação que ordinariamente os acompanha, Cristo a toma e tira-a. Ele pode com justiça suportar a pena porque ele herda a culpa. Ε visto que esta culpa não é pessoal, mas daquele pecado em quem "todos pecaram" – a da transgressão comum da raça em Adão, a do pecado, raiz de que todos os outros pecados surgiram – aquele que é pessoalmente puro pode de um modo vicário suportar a pena devida ao pecado de todos. Cristo estava consciente da inocência nas suas relações pessoais, mas não de suas relações raciais. Ele reunia em si todas as penas da humanidade como Wilkelried reunia em seu seio em Sempach os picos
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austríacos e, deste modo, traçava o caminho para o vitorioso suíço. Cristo tomou sobre si a vergonha da humanidade como a mãe toma para si a vergonha da sua filha, arrependendo-se disso e sofrendo por isso. Mas este não pode ser o caso de Cristo a não ser que tenha havido um laço de união entre ele e os homens bem mais vital, orgânico e profundo do que o que une mãe e filha. Cristo é, por natureza, a vida de todos os homens antes de tornar-se espiritualmente a vida dos crentes verdadeiros. Matheson, Spir. Devel. of St. Paul, 197-215,244, fala do sacerdócio secular de Cristo, da membresia externa e interna do corpo de Cristo. Ele é o cabeça sacrificial do mundo assim como o da igreja. Nas suas últimas cartas, Paulo declara que Cristo é "o salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis" (1 Tm. 4.10). Há uma graça "trazendo salvação a todos os homens" (Tt. 2.11). Ele "deu dons a todos os homens" (Ef. 4.8), "entre os rebeldes, para que o Senhor habitasse entre eles" (SI. 68.18). "Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar" (1 Tm. 4.4). Royce, World and Individual, 2.408 - "Nossas tristezas são idênticas às do próprio Deus. ... Pode ocorrer o cumprimento divino só através das tristezas do tempo. ... Se Deus não conhece a tristeza, ele não conhece o supremo bem, que consiste em vencê-la ". Godet, em The Atonement, 331351 -"Jesus condena o pecado da mesma forma que Deus o condena. Quando ele se sentiu abandonado na cruz, executou aquele ato pelo qual o próprio ofen-sor condena o seu pecado e, através dessa condenação, no que depende dele mesmo, o faz desaparecer. Há apenas uma consciência em todos os seres morais. Este eco em Cristo sobre o juízo de Deus contra o pecado é uma repetição do eco em toda a consciência do ser humano. Isto tem transformado o amor compassivo de Deus em amor que executa a satisfação da parte dele. A santidade une o sofrimento ao pecado. Porém o elemento de reparação na cruz não está no sofrimento, mas na submissão. A criança que se revolta contra a sua punição afinal não fez a reparação. Apropriamo-nos da obra de Cristo quando, pela fé, condenamos o pecado e aceitamos o Salvador".
Se se perguntar se este não é simplesmente um sofrimento por seu próprio pecado, ou, ao invés disso, por participar do pecado da raça, respondemos que tal participação no pecado da raça não é a única razão
Teologia Sistemática (Strong) 1492 por que ele sofre; só fornece a razão subjetiva e base para levar sobre si o pecado de todos. A união de Cristo com a raça na sua encarnação é somente a expressão exterior e visível da união anterior com a raça que começou quando ele a criou. Como "nele foram criadas todas as coisas" e "nele subsistem todas as coisas", ou mantém-nas juntas (Cl. 1.16,17), segue-se que aquele que é a vida da humanidade deve, apesar de sua pessoalidade pura, estar envolvido na responsabilidade por todo o pecado humano e "era necessário que Cristo padecesse" At. 17.3). Era o padecimento da reação da santidade divina contra o pecado e era assim o procedimento da pena (Is. 53.6; Gl. 3.13), mas era também a execução voluntária de um plano que antedatava a criação (Fl. 2.6,7) e o sacrifício de Cristo no tempo mostrou que ele tinha estado no coração de Deus desde a eternidade (Hb. 9.14; Ap. 13.8). Ao tratarmos deste assunto, pretendemos enfrentar a principal objeção feita à expiação. Greg, Creed of Christendom, 2.222, fala da "doutrina estranhamente consistente de que Deus é tão justo que não pode deixar o pecado sem punição, embora tão injusto que possa puni-lo na pessoa do inocente.... É próprio da dialética ortodoxa explicar como a justiça divina pode ser impugnada perdoando o culpado e, vindicada punindo o inocente". A fim de enfrentar esta dificuldade, apresentam-se os seguintes relatos da identificação de Cristo com a humanidade: 1. O de Isaac Watts (ver Biblia Sacra, 1875,421). Sustenta que a humanidade de Cristo tanto no corpo como na alma preexistiu à encarnação e se manifestou aos patriarcas. Respondemos que se declara que a natureza humana de Cristo deriva da Virgem. 2. O de R. W. Dale (Atonement, 265-440). Sustenta que Cristo é responsável pelo pecado porque, como sustentador e como a vida de todos ele é naturalmente um com todos os homens e espiritualmente um com todos os crentes (At. 17.28 - "nele vivemos, nos movemos e existimos"; Cl. 1.17 - "todas as coisas subsistem por ele"; Jo. 14.20 - "estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós"). Contudo, se o sofrimento de Cristo pelos nossos pecados deve ser explicado pela união do crente com Cristo, o efeito existe para explicar a causa e ele pode ter morrido só em favor dos eleitos. A
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sua união com a raça através da criação - que reconhece a pureza de Cristo e o pecado do homem - continuam sendo o mais valioso elemento da verdade na teoria do Dr. Dale. 3. O de Edward Irving. Cristo tem uma natureza corrompida, enfermidade inata e uma depravação que ele gradualmente vence. Mas, ao contrário disso, as Escrituras afirmam a sua santidade e separação dos pecadores. (Ver referências nas páginas 744-747 - Teoria irviniana da Depravação Gradualmente Extirpada). 4. O de John Miller, Theology, 114-128; também neste capítulo: Estava Cristo em Adão? em Questões levantadas pela Bíblia. Quanto à natureza humana, embora criada pura, contudo, como a da posteridade de Adão, foi concebida pecadora em Adão. Para ele atribuída "a culpa do ato no qual todos os homens uniam-se numa relação federal. ... Foi decretado que ele seria culpado pelos pecados da humanidade toda". Necessitamos de uma real união de Cristo com a humanidade e tal derivação da substância do seu ser pela geração natural de Adão, como o tornará não somente o herdeiro construtivo, mas o herdeiro natural da culpa da raça. Por isso chegamos ao que consideramos o verdadeiro ponto de vista, a saber: 5. O de que a humanidade de Cristo não é uma nova criação, mas derivou de Adão através de Maria, sua mãe; de modo que Cristo, no que tange à sua humanidade, estava em Adão como nós, e tem a mesma responsabilidade racial que nós temos. Como descendente de Adão ele é responsável pelo pecado deste, como qualquer outro membro da raça; a principal diferença é que, enquanto herdamos de Adão tanto a culpa como a depravação, aquele que o Espírito Santo purificou, herdou não a depravação, mas a culpa. Cristo tomou sobre si, não o pecado (depravação), mas as suas conseqüências. Nele foi abolido o pecado, sem abolir o sofrimento que ele causa; enquanto no crente existe a abolição da obrigação de sofrer, sem abolir o pecado propriamente dito. A justiça dos sofrimentos de Cristo tem sido imperfeitamente ilustrada pela obrigação do silencioso sócio de uma firma de pagar as dívidas que ele pessoalmente não contraiu; ou a obrigação do marido de pagar as dívidas da esposa; o do comprador de uma terra de assumir as dívidas da província a que ela pertence (Wm. Ashmore). Tem havido homens que gastam a energia da vida toda quitando as dívidas de um pai insolvente, enfermo há muito tempo. Eles reconhecem uma unidade orgânica da família que, moral
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ou legalmente tornam suas as responsabilidades do seu pai. Deste modo, se diz que Cristo reconheceu a unidade orgânica da raça e viu que, tendo-se tornado um com a raça pecadora, ele se envolveu nessas responsabilidades até no que se refere ao sofrimento da morte que é a grande pena do pecado. O defeito de todas as analogias mencionadas é que elas são puramente comerciais. A transferência de uma obrigação financeira é mais fácil de entender do que uma responsabilidade criminal. Não posso, com justiça, suportar o castigo de um outro a não ser que de alguma forma eu compartilhe a sua culpa. A teoria que defendemos mostra que é possível a participação de Cristo na nossa culpa. Na substituição, todos os crentes sustentam que Cristo levou a nossa culpa: "A minha alma olha para traz e vê os fardos que levas-te quando suspenso no maldito madeiro e nele as esperanças da culpa a respeito do que ela cometeu". Mas reivindicamos que, em virtude da união de Cristo com a humanidade, a culpa não só foi imputada, mas também transferida. Estavam em conexão com a obrigação de Cristo sofrer, apesar de que em menor escala, os resultados causados pelo fato de Cristo assumir a humanidade: em primeiro lugar as ânsias do sofrimento; em segundo, a inevitabilidade do sofrimento. Ele sentiu o anseio de sofrer o que o perfeito amor a Deus deve sentir em vista das demandas da raça, de que a santidade do Deus que ele ama mais do que o amor que ele tem pela própria raça; o que o perfeito amor ao homem deve sentir pelo fato de suportar a pena do pecado que o homem comete é apenas um recurso para salvá-lo. Por isso vemos Cristo levando a cruz com tão majestosa determinação que os discípulos se admiraram e se amedrontaram (Mc. 10.32). Pelo mesmo motivo ouvimo-lo dizer: "Desejei muito comer convosco esta Páscoa" (Lc. 22.15); "Importa que eu seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se"! (Lc. 12.50). Aqui está a verdade na teoria de Campbell sobre a expiação. Cristo é o grande Penitente diante de Deus; faz a confissão do pecado da raça, o que os outros da mesma raça nunca poderiam ver ou sentir. Porém o ponto de vista que apresentamos é maior e mais completo que o de Campbell, no sentido de que torna a confissão e reparação obrigatória em Cristo, o que o ponto de vista de Campbell não faz, e reconhece a natureza penal dos
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sofrimentos de Cristo, o que Campbell nega. Lias, Atonement, 79 - "Cabeça de um clã, leal ao seu rei, vê que o seu clã esteve envolvido em rebeldia. Quanto mais intensa e perfeita a sua lealdade, mais integral a sua nobreza de coração e sentimento pelo seu povo, mais inescusável e flagrante a rebeldia daqueles por quem ele pleiteia; mais aguda a sua agonia como representante e cabeça da raça. Nada mais verdadeiro à natureza humana, no melhor sentido da palavra, do que o conflito da lealdade ao seu rei e o sentimento pelos seus vassalos o induziria a oferecer a sua vida em favor deles, a pedir que a punição que eles merecem lhes seja infligida". A segunda menor conseqüência de Cristo ter assumido a humanidade é que, sendo o que ele é, não poderia socorrer sofrendo; em outras palavras, o elemento obrigatório e esperado também é o inevitável. Visto que ele é um ser de perfeita pureza, o contato com o pecado da raça, da qual ele é membro, na verdade, envolve necessariamente o sofrimento do tipo mais intenso que podemos conceber. O pecado é por si mesmo isolante, mas o amor e a justiça têm em si o instinto da unidade humana. Em Cristo encontram-se todos os nervos e sensibilidade do ser humano. Ele é o único membro sadio da raça. Quando a vida volta à sua parte gélida, é nela que encontra a dor. Deste modo, Cristo, o único membro sensível da humanidade entorpecida e estupefata, sente todas as dores da vergonha e sofrimento que, com justiça, pertencem aos pecadores; mas estes não as sentem simplesmente por causa da intensidade da sua depravação. Porque Cristo é puro, embora unido a uma raça pecaminosa e culpada, portanto "convinha que Cristo padecesse" (At. 17.3); ver também Jo. 3.14-"assim importa que o Filho do Homem seja levantado" = A encarnação sob as verdadeiras circunstâncias da humanidade, traz consigo a necessidade da Paixão" (Westcott, Com. Bibl. in loco). Compare o Jornal de John Woolman, 4.5 - "Ó Senhor, meu Deus, assombrosos horrores das trevas reúnem-se em torno de mim, e me cobrem integralmente, e não vejo saída alguma; sinto o abismo e a extensão da miséria dos meus semelhantes, separados da harmonia divina, o que é mais do que eu possa suportar; sob ela sou esmagado; levanto a minha cabeça, estendo o braço, e não encontro coisa alguma que me socorra; olho em volta e fico assombrado. No abismo da miséria, lembro que tu és onipotente e que te tenho chamado Pai". Ele teve uma visão de uma "massa obtusa,
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melancólica", entenebrecendo a metade dos céus e disseram-lhe que isto era o "conjunto de seres humanos, na grande miséria em que se encontram e vivem; e mesclou-se entre eles e não pôde considerar-se distinto e separado deles". Este sofrimento nos pecados dos homens e juntamente com estes, a que Bushnell deu tão forte ênfase, embora não seja, como ele pensava, o elemento principal, é, contudo, indispensável à expiação de Cristo. O sofrimento no pecador e com ele é um meio, embora não seja o único, que possibilita Cristo a suportar a ira de Deus, o que constitui a verdadeira pena do pecado. EXPOSIÇÃO DE 2 Co. 5.21. – Falta-nos acrescentar à prova escriturística desta suposição natural da culpa humana de Cristo. Encontramo-la em 2 Co. 5.21 – "Àquele que não conheceu pecado o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus". A palavra "justiça" aqui não pode significar pureza subjetiva, porque, nesse caso, a expressão "o fez pecado" significaria que Deus fez Cristo ser subjetivamente depravado. Como Cristo não se tornou sem santidade não pode ter o sentido de que nele nós nos tornamos pessoas santas. Meyer chama a atenção para este paralelo entre "justiça" e "pecado": - "Para que nele nos tornássemos a justiça de Deus" = que nos tornássemos pessoas justificadas. Por correspondência, "o fez pecado por nós" deve ser = o fez pessoa condenada. "Àquele que não conheceu pecado" = Cristo não teve experiência nenhuma do pecado - é o postulado necessário da sua obra da expiação. Por isso "fez pecado por nós", é o abstrato correspondente ao concreto e = fez um pecador no sentido de que a pena do pecado recaiu sobre ele. Esta é a substância do comentário de Meyer. Contudo, devemos considerar esta interpretação da parte de Meyer um tanto desprovida do sentido pleno do apóstolo. Como a justificação não é somente remissão da verdadeira punição, mas também livramento da obrigação de sofrer a punição, - a saber, como "justiça" no texto = pessoas libertas da culpa assim como da pena do pecado, - assim o termo "pecado" contrastado no texto, = uma pessoa não só verdadeiramente punida, mas também sob a obrigação de sofrer a punição; - a saber, Cristo se "fez
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pecado", não só no sentido de ser posto sob a pena, mas também no de ser posto sob a culpa. Numa nota à última edição de Meyer, admite-se substancialmente isto. "Deve-se notar", diz ele, que άμαρτίαν, como κατάρα em Gl. 3.13, inclui em si necessariamente a noção de culpa". Contudo, Meyer acrescenta: "A culpa que Cristo parece levar não é apenas dele (μή γνόντα άμαρτίαν); é por isso que a culpa dos homens lhe foi transferida; conseqüentemente a justificação dos homens é atributiva". Aqui a implicação da culpa que Cristo suporta por atribuição parece-nos contrária à analogia da fé. Como o pecado de Adão é nosso porque, na verdade nós somos um com Adão e, como a justiça de Cristo nos é atribuída só porque nós somos, na verdade, unidos a ele, assim os nossos pecados lhe são atribuídos só porque, na verdade, ele é um com a raça. Ele se "fez pecado" fazendo-se um com os pecadores; tomou a nossa culpa, tomando a nossa natureza. Aquele que "não conheceu pecado" veio a ser "pecado por nós" nascendo de uma linhagem pecadora; por herança a culpa comum da raça tornou-se dele. A culpa não só foi atribuída a Cristo; também foi transmitida. Esta exposição pode tornar-se mais clara pondo-se os dois pensamentos contrastados nas seguintes colunas paralelas: Justiça feita nele pessoas justas; pessoas justificadas; Iivres de culpa ou obrigação de sofrer; pela união espiritual com Cristo.
Se fez pecado por nós uma pessoa pecadora; uma pessoa condenada; sob culpa ou obrigação de sofrer; pela união natural com a raça.
A expiação, então, da parte de Deus, tem sua base 1) na santidade de Deus, que deve visitar com a condenação o pecado, apesar de que esta condenação traz a morte a seu Filho; e 2) no amor de Deus que providencia o sacrifício, sofrendo no seu Filho e com ele pelos pecados dos homens, mas através desse sofrimento, abrindo o caminho e os meios de salvação. A expiação, por parte do homem, se cumpre através 1) da solidariedade da raça; da qual 2) Cristo é a vida e seu representante e
Teologia Sistemática (Strong) 1498 segurança; 3) com justiça, levando voluntariamente sua culpa e vergonha e condenação como se fossem suas. Melanchton: "Cristo se fez pecado por nós, não só com respeito à punição, mas primordialmente por ser responsável também pela culpa (culpae et reatusy – citado por Tomásio, Christi Person und Werk, 3.95,102,103,107; e também 1.307,314 sq. Tomásio diz que Cristo levou a culpa da raça pela atribuição; porém, como no caso da atribuição do pecado de Adão a nós, a atribuição dos nossos pecados a Cristo pressupõe relacionamento real. Cristo se apropriou do nosso pecado. Ele mergulhou na nossa culpa". Dorner, Glaubenslehre, 2.442 (Doutrina Sistemática, 3.350,351), concorda com Tomásio no sentido de que "Cristo entrou na nossa mortalidade natural que, para nós é uma condição penal, e no estado de culpa coletiva, porque é um mal, um fardo a ser suportado; não que ele tivesse culpa pessoal, mas entrou na nossa culpa pela vida comum, não como coisa estranha, mas que a ela pertencia - colocada sob a sua lei, segundo a vontade do Pai e do seu próprio amor". Quando e como Cristo assumiu sobre si a culpa e a pena? Com relação à pena, não sentimos dificuldade em responder que, como toda a sua vida de sofrimento é propiciatória, do mesmo modo a pena se apoia nele desde o começo da sua vida. Tal pena é herdada e é conseqüência do fato de Cristo tomar a forma humana (Gl. 4.4,5 - "nascido de mulher, nascido sob a lei"). Mas a pena e a culpa são correlatas; se Cristo herdou a pena, deve ter sido porque ele herdou a culpa. Tal sujeição à culpa comum da raça é sugerida na circuncisão de Jesus (Lc. 2.21); na sua purificação ritual (Lc. 2.22 - "sua purificação" - i.e., a purificação de Maria e do bebê; na sua redenção legal (Lc. 2.23,24; cf. Ex. 13.2,13); e no seu batismo (Mt. 3.15"assim nos convém cumprir toda a justiça"). A pessoa batizada descia à água como se estivesse carregada de pecado e de culpa, para que tal pecado e culpa fossem sepultados para sempre e a referida pessoa se levantasse da simbólica sepultura para uma vida nova e santa. (Ebrard: Batismo = morte".) Deste modo a submissão ao batismo de arrependimento ministrado por João não é apenas uma consagração à morte, mas também um reconhecimento e confissão da sua implicação na culpa da raça pela qual a morte foi indicada e a pena inevitável (cf. Mt. 10.38; Lc. 12.50; Mt.
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26.39); e, como o batismo é uma prefiguração da sua morte, do seu batismo podemos aprender alguma coisa sobre o sentido da sua morte.
Como alguém que teve culpa Cristo foi "justificado no espírito" ( 1 Tm. 3.16); e a sua justificação parece ter ocorrido depois que ele se manifestou em carne (1 Tm. 3.16) e quando ele "ressuscitou para nossa justificação" (Rm. 4.25). Compare Rm. 1.4 - "declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos"; 6.7-10 - "aquele que está morto está justificado do pecado. Ora, seja morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos ; sabendo que, havendo Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus" concebe-se aqui que estão incluídos todos os cristãos justificados idealmente na justificação de Cristo, quando ele morreu pelos nossos pecados e ressuscitou. 3.3 - "Deus, enviando seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne" - sobre este trecho diz Meyer: "O envio não precede a condenação; mas a condenação se efetua no envio e com ele". Jo. 16.10 - "da justiça, porque eu vou para o Pai"; 19.30 - "Está consumado". Se se pergunta se Jesus, então, antes da morte, não era justificado, respondemos que, conquanto puro e agradável a Deus (Mt. 3.17), ele estava consciente da responsabilidade da raça e da culpa da raça que deve ser expiada (Jo. 12.27 - "Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isso vim a essa hora"); e que nele a natureza humana culpada suportou até o fim a separação de Deus, o que constitui a essência da morte, a pena do pecado (Mt. 27.46 - "Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste"?) É bom lembrar que até mesmo o crente deve "ser julgado conforme os homens, na carne" (1 Pe. 4.6), isto é, devem sofrer a morte que é, para os incrédulos, a pena do pecado, embora ele "vivam conforme Deus em Espírito", do mesmo modo Cristo, para que pudéssemos estar livres tanto da culpa como da
Teologia Sistemática (Strong) 1500 pena, foi "mortificado na carne, mas vivificado pelo Espírito"(3.18) ; - a saber, como Cristo era homem, cabe a ele suportar a pena devida à culpa humana; mas, como ele é Deus pode exaurir essa pena e ser o verdadeiro substituto dos outros. Se se pergunta se ele que, a partir do momento da concepção "santificou-se a si mesmo" (Jo. 17.19), a partir daquele momento não justificou-se a si mesmo, respondemos que, embora, através da eficácia retroativa da sua expiação e, com base nela, a sua natureza humana foi purificada da sua depravação a partir do momento em que ele tomou essa natureza; e apesar de, baseado nessa expiação, os crentes que viveram antes da sua vinda eram santificados e justificados; embora a sua justificação não pudesse ter procedido na base da sua expiação e a sua expiação também tivesse procedido com base na sua justificação. Isto seria um círculo vicioso; devemos ter começo em algum lugar. Tal começo está na cruz, onde a culpa foi, pela primeira vez expurgada (Hb. 1.3 - "havendo feito por si mesmo a purificação dos pecados, assentou-se à destra da Majestade, nas alturas"; Mt. 27.42 - "Salvou os outros e a si mesmo não pode salvar"; cf. Αρ. 13.8 - "O Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo"). Já se disse que a culpa e a depravação são praticamente inseparáveis, e que, se Cristo teve culpa, ele deve também ter tido a depravação, respondemos que, na lei civil, fazemos distinção entre ambas; a conversão de um homicida não remove a sua obrigação de sofrer a forca; e respondemos ainda mais, que, na justificação, fazemos distinção entre elas; a depravação ainda continua, embora haja a remoção da culpa. Deste modo podemos dizer que Cristo assumiu a culpa sem a depravação para que tivéssemos a depravação sem a culpa.
Portanto, Cristo, enquanto estava encarnado, revelou a expiação mais do que a fez. Sua obra histórica da expiação terminou na Cruz, mas sua obra histórica revelou apenas aos homens a expiação feita tanto antes quanto antes pelo logos extra-mundano. O amos eterno de Deus que sofre a necessária reação de sua própria Santidade contra o pecado de
Teologia Sistemática (Strong) 1501 suas criaturas e com vistas à salvação delas - esta é a essência da expiação. Nash, Ethics and Revelation, 252, 253 - "Cristo, a expiação de Deus, é a revelação e a descoberta do fato de que o sacrifício é tão profundo em Deus como o seu ser. Ele é o santo Criador.... Toma sobre si a vergonha e a dor do pecado". O tabernáculo terrestre e os seus sacrifícios são apenas a sombra dos que estão nos céus e Moisés tem a incumbência de fazer o que é terreno o padrão do que ele viu no monte. Assim, a expiação histórica é apenas a sombra das mentes obscuras e finitas de uma demanda da santidade divina e de uma satisfação prestada pelo amor divino. Godet, S. S. Times (Tempos na Escola Dominical), 16 de outubro, 1886 - "Cristo assim identificado com a raça veio para salvar, compartilhando a vida ou o seu próprio sangue, para que, quando a própria raça fosse redimida da maldição do pecado, a sua ressurreição viesse como as primícias daquela redenção"; Rm. 4.25 - "o qual foi entregue pelos nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação". Simon, Redemption of Man, 322 - "Se o Logos é, de um modo geral, o Mediador da imanência na criação, especialmente no homem; se os homens são diferenciações do efluxo da energia divina; se o Logos é o princípio controlador imanente de toda diferenciação, i.e., o princípio de toda forma - as perversões próprias destas diferenciações necessárias não devem reagir naquele que é o seu princípio constituinte? 339 - Lembre-se de que não foram os homens que se apegaram firmemente a Cristo o todo vivo. ... eles subsistem naturalmente em Cristo, e têm que se separar, desligar-se dele, se é que eles devem separar-se. Este é um equívoco cometido na teoria de Ά Vida de Cristo'. Os homens são tratados em certo sentido como independentes de Cristo e tendo de ligar-se a ele. ... Não é que temos de criar o relacionamento; temos simplesmente de aceitá-lo, reconhecê-lo e ratificá-lo. A rejeição a Cristo não é tanto uma recusa de tornar-se um com ele, como a de permanecer unido a ele, de deixar que ele seja a nossa própria vida". A. H. Strong, Christ in Creation, 33,172 - "Quando Deus soprou nas narinas do homem o fôlego da vida, comunicou-lhe a liberdade e tornou possível a escolha própria da alienação da criatura dele mesmo, o doador da vida. Conquanto o homem nunca tenha podido romper os laços que o uniam
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a Deus, ele podia fazê-lo no sentido espiritual e introduzir até mesmo na vida de Deus um princípio de discórdia e de mal. Amarre firme um cordão no dedo; em parte você isola o dedo diminui a sua nutrição, provoca atrofia e doença. Contudo, a vida de todo o sistema se insurge para expelir o mal, desatar o cordão para livrar o membro da doença e do sofrimento. A ilustração está longe de ser adequada; mas auxilia num só ponto. Tem sido dadas a cada agente inteligente e moral a força, a espiritualidade para isolarse de Deus, enquanto ainda ele naturalmente está junto a Deus de quem depende totalmente para a remoção do pecado que o separou do seu Criador. O pecado é o ato da criatura, mas a salvação é o ato do Criador. "Se você pode imaginar um dedo dotado de uma vontade livre tentando separar sua conexão com o corpo atando-lhe em torno um barbante, você tem o quadro de um homem tentando desfazer a sua conexão com Cristo. Qual o resultado de tal tentativa? Por que, dor, queda; possível morte incipiente do dedo. Por qual lei? Pela do organismo que é de tal modo constituída que se mantém contra sua própria ruptura causada pela revolta dos seus membros. A dor e a morte do dedo é a reação do todo contra a traição da parte. O dedo sofre a dor. Porém não há resultados da dor para o corpo? Este não sente também a dor? Como fica claro que essa dor não se limita a uma única parte! O coração sente, sim, o organismo todo sente, porque todos são membros uns dos outros. Não é só ele que sofre, mas o sofrimento tende a remediar o mal e remover a sua causa. O corpo reúne as suas forças, conduz as novas tendências da vida ao membro que está morrendo, luta para desembaraçar o dedo da ligadura que o prende. Assim, por todo o curso da história, Cristo, a vida natural da raça, foi afligido com a aflição do humanidade e sofreu pelo pecado do homem. Esse sofrimento é expiatório visto que se deveu à justiça. Se Deus não tivesse sido santo, se Deus não tivesse feito toda a natureza expressar a santidade do seu ser, se Deus não fizesse a dor e a perda serem conseqüências necessárias do pecado, Cristo não teria sofrido. Mas porque todas essas coisas são a pena do pecado e Cristo é a vida da raça pecaminosa, havia necessidade de que Cristo sofresse. Não há nada de arbitrário no fato de impor a ele a iniqüidade de todos. A graça original, como o pecado original é apenas uma interpretação dos fatos biológicos".
Considerações a favor do ponto de vista Substitutivo, ou Ético:
Teologia Sistemática (Strong) 1503 Em favor do ponto de vista Substitutivo ou Ético da expiação apresentamos as seguintes considerações: a) Apóia-se em princípios filosóficos corretos com relação à natureza da vontade, da lei, do pecado, da pena, da justiça. Esta teoria sustenta que há estados permanentes assim como atos transitórios da vontade; e que a vontade não é somente a faculdade das volições, mas também a determinação fundamental do ser para um fim último. Considera que a lei tem sua base não na vontade arbitrária ou no expediente governamental, mas, ao invés disso, na natureza de Deus e como uma transcrição necessária da santidade de Deus. Considera que o pecado consiste não somente em atos, mas nos estados maus permanentes dos sentimentos e da vontade. Faz o objeto da pena ser, não a reforma do ofensor, ou o impedimento de fazer o mal, mas a vindicação da justiça ultrajada pela violação da lei. Ensina que justiça não é benevolência, mas um atributo distinto e separado da natureza divina que demanda que o pecado seja visitado com a punição independente de qualquer coisa a considerar dos resultados úteis que advirão dela.
b) Combina em si todos elementos valiosos das teorias anteriormente mencionadas, conquanto evite suas inconsistências, mostrando um princípio mais profundo no qual se baseia cada um desses elementos. A teoria ética admite a indispensabilidade do exemplo de Cristo defendido pela sociniana; a influência moral do sofrimento dele, defendida pela teoria de Bushnell; a garantia da segurança do governante insiste na teoria de Grócio; a participação do crente na nova humanidade de Cristo ensinada na teoria de Irving; a satisfação à majestade de Deus para com os eleitos fez tanto pela teoria de Anselmo. Mas a teoria ética afirma que todas as outras requerem como pressuposto da sua obra eficaz a satisfação ética à santidade de Deus, apresentada na natureza humana culpada pelo seu Filho que a tomou para redimi-la.
Teologia Sistemática (Strong) 1504 c) Vai, mais plenamente, ao encontro das exigências da Escritura, sustentando que a necessidade da expiação é absoluta, visto que se apoia nas demandas da santidade imanente, atributo fundamental de Deus. At. 17.3 - "convinha que Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos" – literalmente: "era necessário que Cristo padecesse"; Lc. 24.26 – "Porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória"? Literalmente: "Acaso não era necessário que Cristo padecesse estas coisas"? Não basta dizer que Cristo deve padecer para que se cumpram as profecias. Por que se profetizou que ele havia de padecer? Por que Deus propôs que ele deveria padecer? A necessidade última está na natureza de Deus. Platão, Republic, 2.361 - Ό homem justo de quem se pensa ser injusto será açoitado, torturado e amarrado; terá os olhos arrancados; e, por fim, tendo suportado todo o tipo de mal, será empalado". Isto significa que, do modo como a sociedade humana está constituída, até mesmo uma pessoa justa deve sofrer pelos pecados do mundo. "Mors mortis Morti mortem nisi morte dedisset, Aeternae vitae janua clausa foret" - "Não tivesse a Morte da morte dado a destruição da morte, Teria sido fechado o portal, o portal da vida e do céu".
d) Mostra-se mais satisfatória indo ao encontro das demandas da santidade; a saber, pela oferta propiciatória de alguém que é pessoalmente puro, mas que, pela união com a raça humana herdou a sua culpa e pena. "Quo non ascendam"? - "Para onde não subirei"? exclamou o maior ministro dos reis modernos, num momento de intoxicação. "Para onde não me inclinarei?" diz o Senhor Jesus. O Rei Humberto, durante o ataque de cólera, na Itália: "Em Castellamare eles se casam; em Nápoles morrem; eu vou para Nápoles". Wrightnour: "Não é uma boa ilustração a de Powhatan, erguendo a sua clava para matar John Smith, enquanto Pocahontas foge entre a clava e a vítima. Deus não é um ser irado, determinado a abater alguma coisa, não
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importa qual. Seria melhor que Powhatan tivesse recebido ele mesmo o golpe, sem o desejo de poupar a vítima. O Pai e o Filho são um. Quando era necessário punir em sua escola em Concórdia, Bronson Alcott às vezes punha uma vara nas mão do ofensor e mandava bater na dele (Alcott), para não quebrar a lei deixando de punir. O resultado é que poucas regras eram quebradas. Do mesmo modo Deus em Cristo levou o pecado do mundo e suportou a pena para que a sua lei não fosse violada".
e) Fornece a única explicação apropriada da linguagem sacrificial do N.T. e dos ritos sacrificiais do V.T., considerados proféticos da obra expiatória de Cristo. Foster, Christian Life and Religion, 207-211 - "A imposição de mãos sobre a cabeça da vítima não é totalmente explicada a não ser por conta do grande dia da expiação, quando através do mesmo gesto e da distinta confissão dos pecados do povo seria 'posta sobre a cabeça do bode' (Lv. 16.21) para ser levado para o deserto. O sangue era sagrado e devia ser derramado diante do Senhor evidentemente em lugar da vida do pecador infrator que devia ter sido entregue". Watts, New Apologetics, 205 - " Ό Senhor provera', eis a verdade ensinada quando Abraão valeu-se de um carneiro providenciado por Deus que ele Ofereceu em holocausto, em lugar do seu filho' (Gn. 22.13,14). Como o cordeiro não era de Abraão, o seu sacrifício não podia ensinar que tudo o que ele tinha pertencia a Deus e, com inteira fé na sua bondade, deveria ser dedicado a ele; mas, na verdade ensina que 'sem derramamento de sangue não há remissão' Hb. 9.22)". 2 Cr. 29.27 - "ao tempo em que começou o holocausto, começou também o canto do Senhor".
f) Só ela dá o adequado lugar à morte de Cristo como a característica central de sua obra – estabelecida nas ordenanças, e no principal poder da experiência cristã. Quando Martinho Lutero compreendeu a verdade sobre a expiação começou a soluçar e a lamentar diante de um crucifixo: "Für mich, für mich"! - "Por mim, por mim"! Elisha Kane, o explorador do Círculo Polar Ártico, enquanto procurava sinais de Sir John Flanklin e dos seus companheiros,
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enviou oito ou dez homens para explorar a região vizinha. Depois de vários dias, três deles voltaram quase doidos de frio - o termômetro marcava cinqüenta graus abaixo de zero - e relataram que estavam morrendo a milhas de distância. O Dr. Kane organizou um grupo de dez e, embora ele mesmo estivesse sofrendo de um velho problema do coração, dirigiu-os para o resgate. Por três vezes ele desmaiou durante doze horas de marcha e sofrimento; mas achou os homens. "Nós tínhamos certeza de que você viria! nós tínhamos certeza de que você viria, irmão"! cochichou um deles, com dificuldade para falar. Por que ele tinha certeza de que o Dr. Kane viria? Porque sabia da estrutura de que ele era feito e sabia que ele arriscaria a sua própria vida por qualquer um deles. É uma parábola da relação de Cristo com a nossa salvação. Ele é o nosso irmão mais velho, osso dos nossos ossos e carne da nossa carne e não só arrisca a morte, mas suporta-a, para salvar-nos.
g) Dá-nos o único meio de entender os sofrimentos de Cristo no horto e na cruz, ou de reconciliá-los com a justiça divina. Kreibig, Versöhnungslehre (Doutrina da Reconciliação): Ό homem tem uma culpa que demanda os sofrimentos punitivos de um mediador. Cristo mostra um sofrimento que não pode ser justificado a não ser pela referência de uma outra culpa que não é a sua. Estes dois fatos combinam e resolvem o problema da expiação". J. G. Whittier: "Através de todas as profundezas do pecado e perdição cai o peso da cruz; embora o abismo nunca se acha mais profundo do que a cruz possa sondar". Alceste adquiriu a vida do seu marido Admeto morrendo em lugar dele; Marco Cúrcio salvou Roma saltando na abertura do abismo; o servo russo lançou-se aos lobos para resgatar o seu senhor. Berdoe, Robert Browning, 47 - "Conhecer Deus como o teísta pode ser o bastante para os espíritos puros, para quem nunca pecou, sofreu, nem sentiu a necessidade de um Salvador; mas para os homens decaídos e pecadores o Cristo do cristianismo é uma necessidade imperativa; e os que nunca se renderam a ele nunca souberam o que é experimentar o descanso que ele dá à alma carregada do fardo do pecado".
h) Como nenhuma outra teoria, este ponto de vista satisfaz a demanda ética da natureza humana; pacifica a consciência convicta;
Teologia Sistemática (Strong) 1507 garante ao pecador que ele pode achar a instantânea salvação em Cristo; e assim torna possível uma nova vida de santidade enquanto, ao mesmo tempo, fornece os mais altos incentivos para essa vida. Shedd: "A parte ofendida 1) permite uma substituição; 2) prove um substituto; 3) este mesmo substitui". George Eliot: "A justiça é como o reino de Deus; não existe sem nós, como um fato; está 'dentro de nós' como um grande anseio". Mas é tanto externo como interno e a sua introversão é apenas um reflexo da extroversão; as demandas subjetivas da consciência só refletem as objetivas da santidade. Ε ainda, enquanto este ponto de vista exalta a santidade de Deus, ultrapassa qualquer outro ponto de vista em sua apresentação móvel do amor de Deus - que não se satisfaz com o sofrimento no pecador e com ele, ou não se satisfaz em fazer deste sofrimento da consideração que Deus faz da lei; mas do amor que mergulha na culpa do pecador e suporta a pena; desce tanto que se faz um com ele em tudo exceto na sua depravação - faz todo o sacrifício menos o da santidade de Deus - o qual Deus não poderia fazer sem deixar de ser Deus; ver 1 Jo. 4.10 - "Nisto está o amor: não em que tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados". O soldado que pensara ter sido reprovado foi transferido para a reforma uma vez perdoado. William Huntington, em sua Autobiografia, diz que uma das sensações de dor mais agudas depois que foi despertado pela graça divina é que ele sentiu a compaixão da parte de Deus. Nunca se abusou tanto do homem como de Deus. Rm. 2.4 - "a bondade de Deus te leva ao arrependimento"; 12.1 - "pelas misericórdias de Deus" leva a "apresentardes os vossos corpos em sacrifício vivo"; 2 Co. 14.15 - "o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu portodos, logo, todos morreram; e ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou". O efeito da expiação de Cristo sobre o caráter e vida do cristão pode ser ilustrado com a proclamação de Garibaldi: "Aquele que ama a Itália, sigame! Prometo-lhe dureza, prometo-lhe sofrimento, prometo-lhe morte. Mas quem ama a Itália siga-me"!
Teologia Sistemática (Strong) D) Objeções à Teoria Ética da Expiação.
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Sobre o assunto geral destas objeções, Philippi, Glaubenslehre, VI, 2.156-180, assinala: 1) que ela se apóia em Deus só para dizer se ele perdoa o pecado e de que modo o faz; 2) que os instintos humanos são um padrão bem inseguro pelo qual se julga o procedimento do governador do universo; e 3) uma nítida declaração de Deus a respeito do plano da salvação prova a falácia e o erro de todos os raciocínios contra ela. Devemos corrigir os nossos relógios móveis e fixos conforme os padrões astronômicos.
a) Que um Deus que não perdoa o pecado sem expiação não é onipotente ou amoroso. – Respondemos, por um lado, que a onipotência de Deus sempre se exerce em consistência com o seu atributo fundamental da santidade de modo que, enquanto a santidade demanda o sacrifício, o amor o prove. Mostra-se a misericórdia, não pisando sobre as reivindicações da justiça, mas satisfazendo-as de um modo vicário. Porque o homem não necessita de vingar os erros pessoais, não se segue que Deus não o deve. De fato, tal vingança é proibida com base no fato de que ela pertence a Deus; Rm. 12.19 - "Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, diz o Senhor". Porém há limites até mesmo para a nossa preterição sobre as ofensas. Às vezes o pai deve castigar; e, embora tal castigo não seja propriamente uma punição, torna-se tal, quando o pai se torna um senhor ou governante. É quando entram outros interesses além dos pessoais. "Porque um pai pode perdoar sem a expiação não se segue que o estado possa fazer o mesmo" (Shedd). Porém Deus é mais do que pai, mais do que Senhor, mais do que governador. Nele a pessoa e a justiça são idênticas. Para ele, permitir que o pecado não seja punido é aprová-lo; o que é a mesma coisa que negar a sua santidade. Qualquer que seja o perdão admitido, então, deve sê-lo através da punição. O simples arrependimento nunca expia o crime, mesmo no governo civil. O verdadeiro penitente nunca sente que o seu arrependimento se constitui a base da aceitação; quanto mais ele se arrepende, mais reconhece a sua necessidade de reparação e expiação. Por isso Deus vai
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ao encontro da demanda da consciência do homem, assim como da sua santidade, quando ele prove uma punição substitutiva. Deus mostra o seu amor, indo ao encontro das demandas da santidade e com o sacrifício de si mesmo. Ο publicano não orou para que Deus fosse misericordioso sem sacrifício, mas do seguinte modo: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador"! (Lc. 18.13); em outras palavras, ele pediu misericórdia através do sacrifício e apoiada nele. Não podemos fazer expiação aos outros pelo erro que cometemos contra eles, nem mesmo podemos fazer expiação às nossas almas. Uma terceira parte, um ser infinito, deve expiar, de uma forma que nós não podemos. Só apoiados no fato de que o próprio Deus fez a provisão para a satisfação da reivindicação da justiça é que podemos cumprir a ordem de perdoar os outros. Então Otelo perdoaria lago? Sim, desde que este se arrependesse; Lc. 17.3 - "Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe". Mas, e se ele não se arrepender? Sim, aí vai depender da disposição de Otelo. Ele não deve detestar lago, mas querer-lhe bem; Lc. 6.27 - "Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, fazei bem aos que vos aborrecem, bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam". Mas ele não pode receber lago na sua comunhão enquanto este não se arrepender.
b) Que a satisfação e o perdão excluem-se mutuamente. Respondemos que, visto que não é uma terceira parte, mas o Juiz em si mesmo que satisfaz a sua própria santidade violada, o perdão ainda é opcional e pode ser oferecido nos termos do acordo com ele mesmo. O sacrifício de Cristo não é uma satisfação pecuniária, mas penal. A objeção é válida contra o ponto de vista meramente comercial da expiação, não contra o ponto de vista ético. O perdão é algo além da simples retirada da pena. Quando um homem suporta a pena do seu crime, a comunidade não tem nenhum direito de se indignar contra ele? Há uma discussão entre a satisfação pecuniária e a penal. A pecuniária diz respeito apenas à dívida; a penal se refere também à pessoa do ofensor. Se o perdão é matéria de justiça no governo de Deus, também o é a respeito de Cristo. Para o recebedor é apenas misericórdia.
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"Fiel e justo para perdoar os nossos pecados" (1 Jo. 1.9) = fiel à sua promessa e justo para Cristo. Nem a expiação, nem a promessa, atende qualquer reivindicação pessoal do ofensor. Filemom deve perdoar a dívida pecuniária a Onésimo, quando Paulo fizer o seu pagamento; o mesmo não ocorre com a ofensa pessoal que Onésimo praticou contra Filemom; não há perdão desta enquanto Onésimo não se arrepender e pedir-lho. Pode-se oferecer uma anistia a todos, mas sob condições. O Exemplo do oferecimento do perdão de Amos Lawrence ao que falsificou o papel que ele tinha comprado com a condição de que ele confessasse a sua falência e pusesse todos os seus negócios nas mãos do seu benfeitor. Do mesmo modo o fato de que Cristo pagou as nossas dívidas não o impede de oferecer-nos o benefício daquilo que ele fez, apoiado na condição do nosso arrependimento e fé. O homem não fornece o equivalente, mas Deus o faz. Por isso Deus pode oferecer os resultados com apoio nos seus próprios termos. A raça toda pagou a pena quando um sofreu, do mesmo modo que todos incorreram na pena quando um pecou? Sim; todos que receberam a sua vida, cada um da sua parte - de um lado Adão, do outro lado, Cristo. Hovey chama a relação de Cristo com o pecado humano de substituição penal. Do mesmo modo em que a posição do vice-rei assume toda a responsabilidade, cuidado, e anseios da autoridade real, assim a relação do substituto penal para com o pecado leva em si o sofrimento e a perda do castigo original. A pessoa sobre quem recai a ação é diferente, mas a sua punição é a mesma, ao menos quanto ao valor penal. Como autoridade vice-real pode ser inferior à real, de modo que o sofrimento vicepenal, se desprezado, pode ser superado pela pena original. Há um desgaste no sofrimento vice-penal quando algo se perde em favor de quem a suportou? Sobre o mesmo princípio poderíamos objetar qualquer sofrimento da parte de Cristo para os que recusam ser salvos por ele. Tal sofrimento pode beneficiar outros ou até aqueles para quem ele o suportou. Há quem diga que, se se faz a compensação, nada há a perdoar; se se admite o perdão, não se requer nenhuma compensação. Isto nos faz lembrar Narvaez, que não via razão para perdoar os seus inimigos enquanto não tivesse atirado em todos eles. Quando a parte ofendida fornece a compensa-
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ção, pode oferecer os seus benefícios nos seus próprios termos. Dr. Pentecost: "Na Escócia, trouxeram um prisioneiro perante o juiz. Quando o réu entrou, encarou o rosto do juiz para ver se podia descobrir misericórdia nele. Juiz e prisioneiro trocaram olhares, dos quais veio o reconhecimento mútuo. O prisioneiro disse para si mesmo: 'Agora tudo certo'; o juiz tinha sido colega de classe na Universidade de Edimburgo havia vinte anos. Proferida a sentença, o pagamento de cinco libras esterlinas, o limite da lei para um delito leve, e o réu ficou muito desapontado, quando foi levado à prisão. Porém o juiz pagou a multa determinando ao escrivão que lavrasse a abolição da culpa do homem. O juiz fez isto como pessoa, explicando que as exigências da lei devem ser cumpridas e tendo feito isso liberou o homem".
c) Que não pode haver nenhuma verdadeira propiciação, visto que o juiz e o sacrifício são o mesmo. - Respondemos que esta objeção ignora a existência das relações pessoais dentro da natureza divina e o fato de que o Deus-homem se distingue de Deus. A satisfação se baseia na distinção das pessoas da divindade; enquanto o amor em que se origina pertence à unidade da essência divina. A satisfação não se entrega a uma parte de Deus, porque toda a divindade, de certo modo, está no Pai; como na onipresença = totus in omni parte. Deste modo a oferta é perfeita porque a divindade toda está em Cristo (2 Co. 5.19- "Deus estava em Cristo reconciliando o mundo"). Lyman Abbott diz que a palavra "propiciar é empregada no Novo Testamento só na voz média, para mostrar que Deus propicia a si mesmo. Lyttelton, em Lux Mundi, 302 -"A expiação é, sem dúvida, um mistério, mas, na verdade todo perdão o é. É bom avaliar o peso da culpa que recai sobre o ofensor. Uma mudança omite aquele que só pode ser descrito como regenerador, doador da vida; e, deste modo, a garantia do perdão, embora se possa dizer que oblitéra a dádiva, realiza-se; e, deste modo, a garantia do perdão, apesar de transmitida, pode-se dizer que oblitéra, em certo sentido, as conseqüências do passado. 310 – "Cristo não suportou os sofrimentos para ficarmos livres deles, pois merecemo-los, mas para que sejamos capazes de suportá-los, como ele, de um modo vitorioso e numa inquebrantável união com Deus".
Teologia Sistemática (Strong) 1512 d) Que o sofrimento do inocente pelo culpado não é uma execução da justiça, mas da manifesta injustiça. - Respondemos que isto é verdade só com base na suposição de que o Filho suporta a pena dos nossos pecados, não voluntariamente, mas compulsoriamente; ou com base na suposição de que aquele que é pessoalmente inocente de modo nenhum pode envolver-se na culpa e pena dos outros ambas hipóteses contrariam a Escritura e os fatos. O mistério da expiação encontra-se nos sofrimentos imerecidos da parte de Cristo. Muito ao contrário, isto fixa o mistério correspondente ao imerecido perdão merecido dos crentes. Já tentamos mostrar que, conquanto Cristo é pessoalmente inocente, ele estava envolvido com os outros nas conseqüências da queda, porque cabe a ele suportar a culpa e a pena da raça. Ao discutirmos a doutrina da Justificação, veremos que, pela semelhante união do crente com Cristo, tal justificação deste se torna nossa. Para aquele que crê em Cristo como o Deus imanente, a vida da humanidade, o Criador e sustentador da raça, parece inevitável que Cristo suporte o castigo do pecado humano. As próprias leis da natureza são a manifestação da sua santidade e aquele que revela Deus também está sujeito à sua lei. O processo histórico que culminou com o Calvário foi a manifestação de um longo sofrimento que Cristo suportou por causa da sua conexão com a raça a partir do primeiro momento em que ela pecou. A. H. Strong, Christin Creation, 80-83 - "O Deus de amor e santidade é o Deus d o sofrimento tão certo como o pecado existe. Paulo declara que completa "o resto das aflições de Cristo pelo seu corpo que é a igreja" (Cl. 1.24); em outras palavras, Cristo ainda sofre nos crentes que são o seu corpo. O sofrimento histórico realmente terminou; a agonia do Gólgota findou; os dias em que a tristeza devorou a alegria passaram; a morte não tem mais domínio sobre o nosso Senhor. Mas a tristeza pelo pecado não terminou; ainda continua e continuará enquanto o pecado existir. Mas agora não militará contra a bem-aventurança de Cristo porque a tristeza é contrabalançada e vencida pelo conhecimento infinito e glória da sua natureza divina. Bushnell e Beecher estão certos quando sustentam que o sofrimento por causa do pecado e a conseqüência natural da relação de Cristo com a criação pecadora. Estão errados ao confundir a natureza desse
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sofrimento e não verem que a constituição das coisas que o tornam necessário, porque é a expressão da santidade de Deus, dá ao sofrimento um caráter penal e faz de Cristo a oferta substitutiva do pecado do mundo".
e) Que não pode haver nenhuma transferência de punição e mérito, visto que estes são pessoais. - Respondemos que a idéia de representação e fiança é comum na sociedade humana e no governo; e que tal representação e fiança são inevitáveis sempre que o inocente e o culpado comunguem na vida. Quando Cristo tomou a nossa natureza, não podia agir de outra forma a não ser tomando as nossas responsabilidades também. Cristo tornou-se responsável pela humanidade à qual ele se uniu. Tanto os poetas como os historiadores têm reconhecido a propriedade do membro de uma casa ou de uma raça, respondendo um pelo outro. Antigone expia o crime da sua casa. Marcos Cúrcio sustenta que está pronto a morrer pela sua nação. Luís XVI tem sido chamado de "cordeiro sacrificial:, oferecido pelos crimes da sua raça. Do mesmo modo o sacrifício de Cristo para com toda a família humana, porque ele é um com a referida família. Mas aqui encontramos também uma limitação. Não se estende aos anjos porque ele não tomou sobre si a natureza deles (Hb. 2.16 - "Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão"). "Recentemente aconteceu uma coisa estranha em uma das nossas cortes de justiça. Perguntou-se a um jovem por que não se aplicaria a pena extrema a ele. Naquele momento, um homem de cabelos grisalhos, rosto sulcado de tristeza, dirigiu-se ao prisioneiro, pôs a mão sobre o seu ombro e disse: Oa sua honra não tenho nada a dizer. O veredicto que se encontrou contra nós é justo. Só temos de clamar por misericórdia'. 'Nós'! Nada há contra este velho pai. Contudo, neste momento ele se perdeu. Identificou o seu próprio ser com o do seu moço desordenado. Não tendes vós compaixão do filho criminoso por causa da sua compaixão pelo seu idoso e triste pai? Porque ele tem sofrido tanto, não deve a vossa demanda de que o seu filho sofra ser mitigada? Não será isso motivo para que o juiz modifique a sua sentença? A natureza não conhece perdão algum; mas a natureza humana
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sim; não é a natureza, mas a natureza humana que é feita à imagem de Deus".
f) Que Cristo não podia ter sofrido o remorso, como parte da pena do pecado. – Respondemos, por um lado, que não pode ser essencial à idéia de pena que Cristo tenha suportado idênticas angústias que o incrédulo teria passado; e, por outro lado, não sabemos o quanto um ser perfeitamente santo, possuído de conhecimento sobre-humano e o amor podia ter sentido as mesmas angústias do remorso pela condição da humanidade de que ele era a consciência e o coração centrais. Tome-se por exemplo o advogado lamentando a queda de uma estrela da sua profissão; a mulher envergonhada porque alguém degradou o seu sexo; o pai angustiado pela desobediência da sua filha; o cristão esmagado pelos pecados da igreja e do mundo. O espírito que a si mesmo se isola não pode entender quão perfeitamente o amor e a santidade podem tornar seus os pecados da raça da qual ele faz parte. Simon, Reconciliation, 366 - "Na medida em que o pecado da raça humana culminou com a crucificação que coroou os sofrimentos de Cristo, de um modo claro a vida da humanidade que o introduziu de forma subconsciente deve ter sido mais completamente carregada de pecado e do temor da morte que é o seu fruto no exato momento quando ele mesmo estava suportando a morte na sua mais terrível forma. Por isso, era necessário que ele sentisse como se ele fosse o pecador dos pecadores e, na agonia, clamasse: 'Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste'? (Mt. 27.46)". Cristo pode entender a nossa condição penal. Os seres que têm semelhante natureza espiritual podem entender e suportar os sofrimentos espirituais uns dos outros. Não foi injusta a tristeza de Davi, quando clamou: "Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morresse por ti"! (2 Sm. 18.33). Moberly, Atonement and Personality, 117 - "É possível a penitência na impecaminosidade pessoal? Respondemos que só aquele que é pessoalmente sem pecado pode perfeitamente arrepender, e esta identificação do sem pecado com o pecador é vital ao evangelho". Lucy
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Larcom: "Haja mulheres tristes, enfermas e pobres, e as que andam em andrajos; A sua vergonha e a sua tristeza eu as suporto; Minha esperança se frustra com a sua derrota; Suportam o desprezo por causa do meu nome; Há quem peca e eu não me acuse disso"?
g) Que os sofrimentos de Cristo, tão finitos no tempo, não se constituem uma satisfação às infinitas demandas da lei. – Respondemos que a dignidade infinita do sofredor constitui um pleno equivalente aos olhos da justiça infinita. A substituição exclui identidade de sofrimento; não a exclui de equivalência. Visto que a justiça tem como alvo as suas penas não tanto à pessoa como ao pecado, pode admitir sofrimento equivalente quando aquele que pecou suporta-o na própria natureza. Os sofrimentos de um cão e os de um homem têm diferentes valores. O salário do pecado é a morte; e Cristo, sofrendo a morte, sofreu a nossa pena. A eternidade do sofrimento não é essencial à idéia de pena. O ser finito não pode esgotar uma maldição infinita; mas um ser infinito o pode em umas poucas horas. Shedd, Discourses and Essays, 307 - "Uma águia de ouro vale mil centavos de cobre. A pena paga por Cristo é estrita e literalmente equivalente embora não idêntica àquela que o pecador teria suportado. A sua obra viçaria exclui esta". A opinião de Andrew Fuller é que Cristo teria de sofrer o mesmo tanto se só um pecador fosse salvo por isso. A expiação é um fato único, ilustrado só em parte através da dívida e da pena. Contudo os termos 'compra' e 'resgate' sejam escriturísticos e simplesmente significam que a justiça de Deus pune o pecado o quanto ele merece; e isso, tendo determinado o que merece, Deus não muda. \/er Owen, citado em Campbell, Atonement, 58,59. Porque o sacrifício de Cristo é absolutamente infinito, nada se lhe pode acrescentar. Se o sacrifício de Cristo satisfaz o Juiz de todos, bem pode satisfazer-nos.
h) Que, se a obediência passiva de Cristo satisfez a justiça divina, então a sua obediência ativa foi supérflua. – Respondemos que as obediências ativa e passiva são inseparáveis. Esta é essencial àquela; e ambas são necessárias para assegurar ao pecador, por um lado, o perdão
Teologia Sistemática (Strong) 1516 e, por outro, o que está além do perdão, a saber, a restauração do favor divino. A objeção se sustenta apenas contra um ponto de vista da expiação superficial e externa. Para uma exposição mais completa deste ponto ver o nosso estudo sobre a Justificação; ver também, Owen, em Works, 5.175-204. Paulo insiste tanto na obediência ativa de Cristo quanto na passiva. Opor-se à teologia paulina é opor-se ao evangelho de Cristo. Charles Cuthberth Hall, Universal Elements of the Christian Religion, 140 - Os efeitos disto já aparecem nos empobrecidos valores religiosos dos sermões produzidos pela geração mais jovem de pregadores e pelo deplorável declínio da vida espiritual e do conhecimento em muitas igrejas. Resultados abertos à observação mostram que o movimento para a simplificação da essência cristã descartando a teologia de São Paulo facilmente conduz o ensino do púlpito cristão a uma posição onde as experiências características da vida cristã tornaram-se praticamente impossíveis aos que se submetem a tal ensino. O senso cristão do pecado; a penitência cristã ao pé da cruz; a fé cristã num Salvador que realiza a obra da expiação; a paz cristã com Deus pela mediação de Jesus Cristo - estas e outras experiências que eram a própria vida dos apóstolos e das almas apostólicas desvanecem do ponto de vista do ministro e não têm nenhum significado para a geração mais jovem".
i) Que a doutrina é imoral em suas tendências práticas visto que a obediência de Cristo toma o lugar da nossa e torna a nossa desnecessária. - Respondemos que a objeção ignora não só o método pelo qual se apropriam os benefícios da expiação, a saber, o arrependimento e a fé, mas também o poder regenerador e santificador concedido a todo o que crê. A fé na expiação não induz à licenciosidade, mas às "obras de amor" (Gl. 5.6) e à "purificação de corações" (At. 15.9). A água tem pouco valor para o sedento se ele não a beber. A fé que aceita Cristo ratifica tudo o que Cristo tem feito e aceita Cristo como um novo princípio de vida. Paulo determina a Filemom que aceite Onésimo como se aceitasse o próprio apóstolo; não o velho Onésimo, mas o novo, em quem entrou o espírito de Paulo (Fm. 17). É deste modo que Deus nos
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recebe como novas criaturas em Cristo. Embora não possamos ganhar a salvação por merecimento, recebemo-la; e isto envolve uma rendição do coração e da vida que garante a união com Cristo e do progresso moral. O que se fará ao assassino convicto que destrói o perdão que as orações e lágrimas da sua esposa garantiram da parte do governo? Não resta nada a não ser executar a sentença da lei. O honorável George F. Danforth, do Tribunal de Apelação do Estado de Nova Iorque, numa carta particular diz: Apesar de que se acha estabelecido de um modo geral que o perdão atinge tanto a punição prescrita para a ofensa e a culpa do ofensor de modo que aos olhos da lei ele é tão inocente como se nunca tivesse cometido a ofensa, e o perdão faz dele como se fosse um novo homem com um novo crédito e uma nova capacidade, contudo o oferecimento do perdão é essencial à sua validade e não se completa sem a sua aceitação. Não se pode forçá-lo. A este respeito é como se o tivesse feito. O oferecimento pode ser pessoal ao ofensor ou ao seu agente e as circunstâncias assim como outros fatos podem provar a sua aceitação".
j) Que se, como complemento, a expiação requer fé, então não fornece em si uma completa satisfação à justiça de Deus. - Respondemos que a fé não é, como a expiação, a base para a nossa aceitação para com Deus e, deste modo, não é uma obra; a fé é apenas o meio de apropriação. Somos salvos não pela fé, ou por causa da fé, mas só através da fé. Não é a fé, mas a expiação que a fé aceita, que satisfaz a justiça de Deus. Ilustre-se com a anistia dada a uma cidade, sob as condições de que cada habitante a aceite. A aceitação não é base para que se admita a anistia; é o meio através do qual se usufruem os benefícios de tal anistia. Com relação às dificuldades ligadas à expiação, podemos dizer, concluindo, com o Bispo Butler: "Se a Escritura tem, como é certo que tenha, deixado misterioso este assunto da satisfação de Cristo, não revelado, todas as conjecturas a respeito devem ser, senão evidentemente absurdas, ao menos incertas. Nem há qualquer razão para queixas de falta de maiores informações a não ser que possamos mostrar as suas reivindicações".
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Conquanto não possamos dizer com o Presidente Stearns: "A obra de Cristo remove os embaraços na justiça especial do universo quanto ao perdão do pecador, mas não podemos dizer como"- não se pode dizer isto porque cremos nos principais delineamentos do plano da salvação a serem revelados na Escritura - contudo admitimos que muitos problemas continuam insolúveis. Mas, como o pão nutre até mesmo aqueles que nada entendem dos seus constituintes químicos ou do método da sua digestão ou assimilação, do mesmo modo a expiação de Cristo salva aqueles que a aceitam mesmo que não saibam como ela os salva. Balfour, Fund, of Belief, 264-267 - "Pensava-se que o calor é uma forma da matéria; agora considera-se como um modo de movimento. Podemos tirar proveito dele, qualquer que seja a teoria adotada, ou mesmo que não tenhamos teoria nenhuma. Assim podemos tirar proveito da reconciliação com Deus, embora difiramos quanto à teoria da Expiação". - "Um dos imperadores romanos comandou a sua fuga para trazer areia de Alexandria à arena apesar de que o seu povo em Roma estava passando fome. Mas um certo capitão de navio declarou que, qualquer que fosse a ordem do imperador, o seu navio traria trigo. Deste modo, qualquer areia que os outros pudessem trazer para saciar a fome das almas, vamos trazer o trigo do evangelho - a expiação substitutiva de Jesus Cristo".
Ε) Extensão da Expiação. As Escrituras representam a expiação como tendo sido feita para todos homens e como suficiente para a salvação de todos. Portanto, o que é limitado não é a expiação, mas a sua aplicação através da obra do Espírito Santo. Apoiados neste princípio de uma expiação universal, porém com sua aplicação aos eleitos, devemos interpretar passagens como Ef. 4.7; 2 Tm. 1.9,10; Jo. 17.9,20,24, declarando uma eficácia especial à expiação no caso dos eleitos; também passagens tais como 2 Pe. 2.1; 1 Jo. 2.2; 1 Tm. 2.6; 4.10; Tt. 2.11 declarando que a morte de Cristo é para todos. As passagens que afirmam a eficácia especial da expiação, no caso dos eleitos, são as seguintes: Ef. 1.4 - "como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante
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dele em amor"; 7 - "em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das nossas ofensas, segundo as riquezas da sua graça"; 2 Tm. 1.9,10 - Deus, "que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos, e que é manifesta, agora, pelo aparecimento do nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho"; Jo. 17.9 - "Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste"; 20 - "Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim"; 24 - "Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste". Passagens que afirmam que a morte de Cristo destina-se a todos: 2 Pe. 2.1 - "falsos mestres, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou"; 1 Jo. 2.2 - "e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo"; 1 Tm. 2.6 - Jesus Cristo, "o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos"; 4.10 - "Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis"; Tt. 2.11 -"Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens". Rm. 3.22 - "sobre todos os que crêem" - às vezes tem sido interpretado como significando "a todos os homens, e sobre todos os que crêem" (εις = destinação; έπί = extensão). Mas a Versão Revista omite as palavras "e sobre todos", e Meyer, que conserva as palavras, assinala que τους πιστεύοντας se refere a πάντας em ambos os exemplos. A participação inconsciente na expiação de Cristo, em virtude da nossa humanidade comum com ele, em muito nos faz herdeiros da bênção temporal. A participação consciente na expiação de Cristo, em virtude da nossa fé nele e na sua obra para conosco, concede-nos justificação e vida eterna. Matthew Henry diz que a expiação é "suficiente para todos; eficaz para muitos". J. M. Whiton, em The Outlook, 25 de set. de 1897 - "Samuel Hopkins de Rhode Island (1721-1803) foi quem primeiro declarou que Cristo fez a expiação por todos os homens, não só pelos eleitos, como afirmam os calvinistas". Devemos dizer "como alguns calvinistas afirmam"; pois, como veremos, o próprio João Calvino declara que "Cristo sofreu pelos pecados
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do mundo todo". Alfred Tennyson, certa feita perguntou a uma velha metodista quais eram as novas. "Por que, Sr. Tennyson?, há só uma parte das novas que eu conheço; que Cristo morreu pelos homens todos". Ao que ele lhe disse: "Essa é uma velha notícia, aliás, boa nova".
Se se perguntar em que sentido Cristo é o Salvador dos homens, respondemos: a) Que a expiação de Cristo assegura a todos os homens um adiamento na execução da sentença contra o pecado e um espaço para o arrependimento juntamente com a continuação das bênçãos comuns da vida que se perderam na transgressão. Se fosse executada a justiça estrita, a raça teria sido cortada já no primeiro pecado. O fato de que o homem vive mesmo depois de pecar, deve-se totalmente à cruz. Há uma pretermissão, ou "remissão dos pecados antes cometidos, sob a paciência de Deus" (Rm. 3.25), cuja justificação só se encontra no sacrifício do Calvário. Esta "remissão", contudo, é limitada na sua duração: ver At. 17.30,31 - "não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam, porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo por meio do varão que destinou". Podemos obter o benefício da lei da gravitação sem entender muito a respeito da sua natureza e os patriarcas e pagãos sem dúvida foram salvos através da expiação, embora eles nunca tinham ouvido falar do seu nome, mas, como desesperançados pecadores, lançaram-se na misericórdia de Deus. Cristo é a misericórdia de Deus e eles não o sabiam. Nossos piedosos judeus modernos experimentarão uma estranha surpresa quando souberem que não só o perdão dos pecados, mas cada uma das outras bênçãos da vida lhes vieram através do Jesus crucificado. Mt. 8.11 - "Mas eu vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e assentar-se-ão com Abraão, e Isaque e Jacó, no Reino dos céus". O Dr. G. W. Northrup sustenta que a obra de Cristo é universal em três pontos: 1. reconcilia Deus com a raça toda, independentemente da transgressão pessoal; 2. garante a doação em toda a graça comum e os recursos desta; 3. torna certa a doação da vida eterna a todo aquele que se
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vale da graça comum e dos seus meios para possibilitar a Deus como sábio e santo Governador a dar sua graça especial e renovadora.
b) Que a expiação de Cristo tornou objetiva a provisão da salvação de todos, removendo da mente divina todo o obstáculo ao perdão e à restauração dos pecadores exceto a sua voluntária oposição a Deus e a recusa de voltar-se para ele. Van Oosterzee, Dogmatics, 604 - "Da parte de Deus, foi removido tudo o que causava separação; a não ser que prefiram continuar separados dele". A mensagem do evangelho não é: Deus perdoará se retomardes; mas, ao invés disso: Deus tem mostrado misericórdia; basta crerdes e tereis a vossa porção em Cristo. Ashmore, The New Trial of the Sinner em Revista Cristã, 26.245-264 "A expiação veio a todos os homens e sobre todos os homens. Vê-se a sua coexistência com os efeitos do pecado de Adão em todas as criaturas de modo que os infantes e os débeis mentais, incapazes de recusá-la, são salvos sem o seu consentimento, mesmo porque estão envolvidos no pecado de Adão sem o seu consentimento. A razão por que os outros não são salvos é que, quando a expiação vem a eles e sobre eles, ao invés de consentirem em ser incluídos nela, rejeitam-na. Se eles nasceram sob a maldição do mesmo modo nasceram sob a expiação, cuja finalidade é remover a maldição; permanecem sob o seu escudo até que tenham a idade suficiente para repudiá-la; eles desprezam as suas influências como o homem fecha a janela para os raios do sol; eles desviam-na em direção oposta do mesmo modo que o homem constrói diques em volta do seu campo para impedir que a água corra e não fertilize o solo".
c) Que a expiação de Cristo procurou para todos homens os poderosos incentivos para o arrependimento apresentados na cruz e a atuação combinada da igreja cristã e do Espírito Santo pelos quais estes incentivos foram levados à eficácia sobre eles. Do mesmo modo o sol e a chuva são necessários para que o agricultor seja beneficiado com a terra. Não mais seria preciso que Cristo sofresse, se
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todos fossem salvos. Como já vimos, os seus sofrimentos não são o pagamento de uma dívida pecuniária. Tendo suportado a pena do pecado, a justiça permite a sua absolvição, mas não a requer, a não ser como cumprimento de uma promessa ao seu substituto, e a única condição exigida é o conjunto arrependimento e fé. A expiação é ilimitada; toda a raça humana pode ser salva através dela; a aplicação da expiação é limitada; só os que se arrependem e crêem são verdadeiramente salvos por ela. Robert G. Farley: "A futura mãe prepara o enxoval completo e bonito para o filho que ela espera. O filho, porém, ainda não é nascido. Entretanto, o enxoval está preparado como se o nascimento já fosse uma realidade. A obra de Cristo está completa tanto para um homem como para o outro; tanto para o incrédulo como para o crente".
Cristo é especialmente o Salvador dos que crêem naquele que exerce um poder do seu Espírito para que seja o procurador da aceitação da sua salvação. Entretanto, isto não é parte da sua obra expiatória; é a aplicação desta e, como tal, será considerada a partir de agora. Entre os que sustentam uma expiação limitada temos Owen. Campbell cita-o dizendo: "Cristo não morreu por todos os pecados de todos os homens; se assim fosse, por que não estão livres da punição de todos os seus pecados? Você pode responder: 'Por causa da sua incredulidade'. Mas esta incredulidade é um pecado e por ela Cristo foi punido. Por que, mais do que os outros pecados, este os impede de participar dos frutos da sua morte"?
2. A Obra Intercessora de Cristo O sacerdócio de Cristo não cessa com a sua obra de expiação, mas continua para sempre. Na presença de Deus ele cumpre o segundo ofício de sacerdote, o da intercessão. Hb. 7.23-25 - "sacerdotes em grande número, porque, pela morte, foram impedidos de permanecer; mas este, porque permanece eternamente,
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tem um sacerdócio perpétuo. Portanto, ele pode salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre a interceder por eles". C. H. M. sobre Ex. 17.12 - "As mãos do nosso grande intercessor nunca arreiam, como acontecia com Moisés, nem ele necessita de alguém que as sustente. A vara do poder de Deus que foi usada por Moisés para bater na rocha (expiação) estava nas mãos de Moisés enquanto se achava no monte (intercessão)". Denney, Studies in Theology, 166 - "Se não vemos nada de sobrenatural no fato de que Cristo orou por Pedro aqui na terra, não vemos dificuldade alguma no fato de que ele ore por nós no céu. A relação é a mesma; a única diferença é que agora ele está exaltado e ora, não com clamores e lágrimas, mas com o poder soberano e prevalecente de alguém que alcançou a redenção eterna para o seu povo".
A) Natureza da Intercessão de Cristo. - Esta não deve ser concebida como um requisito exterior e vocal, nem como mera figura de linguagem da influência natural e contínua do sacrifício; porém, mais como uma atividade de Cristo, garantindo, com base em tal sacrifício, qualquer que seja a bênção que venha ao homem, quer temporal quer espiritual. 1 Jo. 2.1 - "se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo"; Rm. 8.34 - "É Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós" - neste texto parece que Meyer favorece o sentido de uma petição exterior e oral como a do Deus-homem glorificado; Hb. 7.25 "vivendo sempre para interceder por eles". Apoiado nessa intercessão eficaz, ele pode proferir a verdadeira bênção sacerdotal; e todas as bênçãos dos seus ministros e apóstolos são apenas frutos e emblemas desta (ver a bênção araônica em Nm. 6.24-46 e as apostólicas em 1 Co. 1.3 e 2 Co. 13.13).
B) Objetivos da Intercessão de Cristo. – Podemos distinguir a) a intercessão geral que garante a todos homens alguns benefícios temporais da obra expiatória e b) a intercessão especial que assegura a
Teologia Sistemática (Strong) 1524 aceitação divina das pessoas dos que crêem e a concessão divina de todas dádivas necessárias à sua salvação. a) Intercessão geral em favor dos homens: Is. 53.12 - "mas ele levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu"; Lc. 23.34 "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" - o começo da sua intercessão sacerdotal, mesmo enquanto estava sendo pregado na cruz. b) Intercessão especial pelos seus santos: Mt. 18.19,20 - "se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome aí estou eu no meio deles"; Lc. 22.31,32 "Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como o trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça"; Jo. 14.16 - Έ eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Controlador"; 17.9 - "Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste"; At. 2.33 - "De sorte que, exaltado pela destra de Deus e, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que agora vedes e ouvis"; Ef. 1.6 - 'a glória da sua graça, pela qual vos fez agradáveis a si no Amado"; 2.18- "por ele, ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito"; 3.12 - "no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele"; Hb. 2.17,18 - "Pelo que convinha que, em tudo, fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque, naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados. 4.15,16 - "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno"; 1 Pe. 2.5 "sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo"; Ap. 5.6 -"E olhei, e eis que estava no meio do trono ... um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete pontas, e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados a toda a terra"; 7.16,17 - "Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma cairá sobre eles, porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda lágrima".
Teologia Sistemática (Strong) 1525 C) Relação da Intercessão de Cristo com a do Espírito Santo. – O Espírito Santo é um advogado em nós, ensinando-nos como devemos orar; Cristo é um advogado no céu, assegurando uma resposta da parte do Pai para as nossas orações. Assim a obra de Cristo e a do Espírito Santo são complementos uma da outra e partes de um todo. Jo. 14.26 - "Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito"; Rm. 8.26 - "Ε da mesma maneira o Espírito ajuda as nossas fraquezas porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis"; 27 – "E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos". A intercessão do Espírito Santo pode ser ilustrada pela palavra da mãe, que ensina o seu filho a orar pondo as palavras na sua boca ou sugerindo os assuntos da oração. "A Trindade toda está presente no compartimento do cristão; o Pai ouve; o Filho advoga a sua causa à destra do Pai; o Espírito Santo intercede no coração do crente". Por isso "Quando Deus inclina o coração para a oração, ele tem ouvidos para ouvir". O impulso para orar, dentro dos nossos corações, é evidência de que Cristo está estimulando as nossas reivindicações no céu.
D) Relação da Intercessão de Cristo com a dos santos. - Toda a verdadeira intercessão é direta ou indiretamente a intercessão de Cristo. Os crentes são órgãos do Espírito de Cristo. Supor Cristo em nós para oferecer oração a um dos seus santos ao invés de diretamente ao Pai é blasfemar de Cristo e conceber erroneamente a natureza da oração. Na terra, os santos, através da sua união com Cristo, o sumo sacerdote, constituem-se intercessores; e como o sumo sacerdote no passado levava em seu seio o peitoral gravado com os nomes das tribos de Israel (Ex. 28.9-12; 39.8), do mesmo modo o cristão deve levar no seu coração os interesses da sua família, da igreja e do mundo, em oração na presença de Deus (1 Tm. 2.1 - "Admoesto-vos, pois, antes de tudo, que se
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façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens"). Luckock, After Death, encontra evidência da fé na intercessão dos santos no céu logo no segundo século. Ele considera que invocação dos santos não é anterior ao século quarto. Aprova a doutrina de que os santos oram em nosso favor, mas rejeita a doutrina de que devemos dirigir nossas orações a eles. Ele defende firmemente as orações em favor dos mortos. Bramhall, Works, 1.57 -A invocação dos santos "não é necessária, por duas razões: primeira: nenhum santo nos ama tanto como Cristo; nenhum santo nos deu a garantia do seu amor, fez tanto por nós como Cristo; nenhum santo quer ajudar-nos tanto como Cristo; e segunda: não temos nenhum mandamento de Deus para invocá-los". A.B. Cave: Ό sistema de mediação humana desaparece com o advento do Cristo vivo nas nossas almas. Quem quer as estrela, ou mesmo a lua, depois que o sol vai alto"?
III. OFÍCIO REAL DE CRISTO Este deve ser distinto da soberania que Cristo possuía em virtude da sua natureza divina. O reinado de Cristo é soberania do Redentor divinohumano que lhe pertencia por direito desde o momento do seu nascimento, mas que foi exercido plenamente a partir da sua entrada para o estado de exaltação. Em virtude deste ofício real, Cristo dirige todas coisas no céu e na terra para a glória e execução do propósito salvador de Deus. a) Com relação ao universo em toda sua extensão, o reino de Cristo é um reino de poder; ele sustenta, governa e julga o mundo. Sl. 2.6-8 – "Ungi o meu Rei... tu és meu Filho ... os confins da terra por tua possessão"; 8.6 - "Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo dos teus pés"; cf. Hb. 2.8,9 "ainda não vemos que todas as coisas lhe estão sujeitas; vemos, porém ... Jesus ... coroado de glória e de honra"; Mt. 25.31,32 - "quando o Filho do Homem vier na sua glória ... então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele"; 28.18 - "Toda a autoridade me é dada
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no céu e na terra"; Hb. 1.3 - "sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder"; Ap. 19.15,16 - "ferir todas as nações ... regerá com vara de ferro ... Rei dos Reis e Senhor dos Senhores". Julius Müller, Proof-Texts, 34, diz incorretamente, segundo o nosso pensamento, que o regnum naturae da teologia antiga é indefensável; há apenas o regnum gratiae e o regnum gloriae". A. J. Gordon: "Cristo agora mantém o cetro como uma vez suportou o fardo da criação".
b) Com relação à sua igreja militante, é o reino da graça; ele funda, legisla, administra, defende e amplia sua igreja na terra. Lc. 2.11 - "... vos nasceu um Salvador, que é Cristo, o Senhor"; 19.38 "Bendito o Rei que vem em nome do Senhor"; Jo. 18.36,37 - Ό meu Reino não é deste mundo ... Tu dizes que eu sou rei... Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz"; Ef. 1.22,23 - "sujeitou todas as coisas a seus pés e, sobre todas as coisas, o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos"; Hb. 1.8 - "do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos". Dorner, Glaubenslehre, 2.677 (Doutrina Sistemática 4.142,143) "Pode-se dizer que todos os grandes homens têm uma pós-influência (Nachwirkung) após a morte, mas só se pode dizer que Cristo tem uma pósatividade (Fortwikung). O envio do Espírito é parte da obra de Cristo como Rei". P. S. Moxom, Bap. Quart. Review, janeiro, 1886.25-36 - "A proeminência de Cristo como a fonte do ser da igreja; a base da unidade desta; a fonte da sua lei; o modelo da sua vida". A. J. Gordon: "Como a igreja suporta a dureza e a humilhação unida àquele que estava na cruz, assim ela deve mostrar algo da energia sobrenatural em união àquele que está no trono". Lutero: "Dizemos ao Senhor Deus que, se ele quer ter a sua igreja, ele mesmo deve cuidar dela. Nós não podemos sustentá-la e, se pudéssemos, nós nos tornaríamos os mais orgulhosos asnos sob o céu ... Se o papa, o sacerdote ou o ministro pudessem destruir a igreja de Jesus Cristo, tê-lo-iam há muito tempo". Ao observar os processos da Dieta de Augsburgo, Lutero fez uma notável descoberta. Viu que as estrelas formavam o palio do céu e, embora não houvesse colunas para sustentá-las, continuavam nos seus respectivos lugares e o céu não caía. A questão de
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sustentar o céu e as suas estrelas tem estado nas mentes dos homens em todos os tempos. Porém não precisamos providenciar esteios para sustentar o céu. Deus cuida da igreja e da doutrina cristã. Porque a respeito de Cristo está registrado em 1 Co. 15.25 - "Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés". "Três vezes abençoado seja aquele a quem é dado o instinto de contar que Deus está no campo conquanto ele seja absolutamente invisível". Porque Cristo é o Rei, convém nunca perder a esperança na igreja e no mundo. Dr. Ε. G. Robinson declara que o caráter cristão nunca esteve mais completo do que agora, nem mais próximo do homem ideal. Podemos acrescentar que a educação, o comércio a invenção, a civilização modernos devem ser considerados como revelações de Cristo, a Luz do mundo e o Governante das nações. Todo o progresso do conhecimento, do governo, da sociedade, é o progresso da sua verdade e uma profecia do estabelecimento do seu reino.
c) Com relação à igreja triunfante, é um reino de glória; ele recompensa o seu povo redimido com a sua plena revelação da complementação do seu reino na ressurreição e no juízo. Jo. 17.24 - "Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória"; 1 Pe. 3.21,22 -"Jesus Cristo; o qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendose-lhes sujeitado os anjos, e as autoridades e as potências"; 2 Pe. 1.11 "Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo". Ver Andrew Murrey, With Christ in the School of Prayer, prefácio, vi - "Αρ. 1.6 – "E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai'. Tanto no rei como no sacerdote os principais elementos são: poder, influência, bênção. No rei está o poder de descer; no sacerdote o poder de subir, prevalecendo com Deus. Como em Cristo, assim também em nós, o poder real encontra-se no sacerdotal; Hb. 7.25 - "pode também salvar os que se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles'. " Watts, New Apologetics, prefácio, ix - "Não podemos ter Cristo como Rei sem tê-lo como sacerdote. É como Cordeiro que ele se senta sobre o
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trono no Apocalipse; é como Cordeiro que ele conduz o seu conflito com os reis da terra; e é do trono de Deus em que o Cordeiro aparece que flui a água da vida, que refresca através de todo o Paraíso de Deus". Lutero: "Agora Cristo reina, não de uma forma visível, pública, mas através da palavra do mesmo modo em que vemos o sol através de uma nuvem. Vemos a luz, mas não o sol. Porém, quando as nuvens se vão, vemos tanto a luz como o sol". Podemos encerrar as nossas considerações sobre o Reinado de Cristo com duas notas práticas: 1. Nunca será demais pensarmos na cruz, mas podemos pensar muito pouco no trono. 2. Não temos Cristo como Profeta ou Sacerdote se não o aceitarmos como Rei.
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Capítulo II RECONCILIAÇÃO DO HOMEM COM DEUS, OU APLICAÇÃO DA REDENÇÃO ATRAVÉS DA OBRA DO ESPÍRITO SANTO SEÇÃO I - APLICAÇÃO DA REDENÇÃO DE CRISTO NA SUA PREPARAÇÃO a) Nesta seção trataremos da Eleição e da Vocação; a Seção II será dedicada à Aplicação da Redenção de Cristo logo no Início, a saber, na União com Cristo, na Regeneração, na Conversão e na Justificação; enquanto a Seção III tem como assunto a Aplicação da Redenção de Cristo na sua Continuação, a saber, na Santificação e Perseverança. O arranjo dos tópicos, ao tratar da reconciliação do homem com Deus, é tirado de Julius Müller, Proof-Texts, 35. "A revelação para nós tem como finalidade efetuar a revelação em nós. Em qualquer ser absolutamente perfeito o intercâmbio de Deus para conosco através da faculdade, e do ensino direto, fundir-se-ia e aquela seria a voz de Deus tanto quanto este" (Hutton, Essays).
b) Ao tratar da Eleição e Vocação como aplicações da redenção de Cristo, implicamos que, no decreto de Deus, são ambas logicamente subseqüentes à redenção. Nisto sustentamos o sublapsarianismo distinto do supralapsarianismo de Beza e outros hipercalvinistas que consideram, na ordem do pensamento, que o decreto da salvação individual precede o decreto que permite a queda. Neste último esquema, a sua ordem é: 1. o decreto de salvar alguns, e recusar outros; 2. o decreto de criar tanto os que devem ser salvos como os que devem ser recusados; 3. o decreto de permitir que tanto aqueles como estes caiam; 4. o decreto de providenciar salvação só àqueles, i.e., os eleitos.
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Richards, Theology, 302-307, mostra que Calvino, conquanto na primeira obra, Instituição Cristã, evita informações definidas sobre a sua posição a respeito da extensão da obra expiatória, contudo nas suas últimas, os Comentários, admite a teoria da expiação universal. Por isso o supralapsarianismo não é calvinista, nas hipercalvinista. O sublapsarianismo foi adotado pelo Sínodo de Dort (1618, 1619). Supralapsarianismo é a forma de doutrina que sustenta o decreto da salvação individual antes do decreto de permitir a Queda; o sublapsário designa a forma de doutrina que sustenta que o decreto da salvação individual é subseqüente ao de permitir a Queda. Pode-se ver o progresso no pensamento de Calvino comparando alguns dos seus antigos pronunciamentos com os seus últimos. Institutes, 2.23.5 -"Com Agostinho, digo que o Senhor criou aqueles que, como, sem dúvida, conhecia antecipadamente, deviam ir para a destruição e isto fez porque assim quis". Mas ainda na Instituição, 3.23.8, ele afirma que "a perdição dos ímpios depende da predestinação divina de tal modo que a sua causa e matéria encontram-se neles mesmos. O homem cai pela indicação da providência divina, mas por sua própria culpa". Ele descreve o ato de cegar, o endurecimento, a volta do pecador provocados por Deus, como conseqüência do abandono divino, não da causa divina. A relação de Deus com a origem do pecado não é eficiente, mas permissiva. No fim da vida, Calvino escreveu em seu Comentário sobre 1 Jo. 2.2 - "ele é a propiciação pelos nossos pecados; e não somente pelos nossos, mas também pelos do mundo todo" - o seguinte: "Cristo sofreu pelos pecados do mundo todo; não apenas por uma parte do mundo, mas por toda a raça humana; porque, embora no mundo todo não se ache nada merecedor do favor de Deus, contudo, ele sustenta a propiciação para o mundo todo porque, sem exceção, ele convoca todos à fé em Cristo que nada mais é do que a porta da esperança". Apesar de outras passagens, tais como Instituição 3.21.5 e 3.23.1, afirmarem um ponto de vista mais duro, devemos dar a Calvino o crédito de modificar a sua doutrina com uma reflexão mais amadurecida na idade mais avançada. Muito do que é chamado de calvinismo teria sido repudiado pelo próprio Calvino até mesmo no começo da sua carreira e é, na verdade um exagero do seu ensino pelos seus sucessores mais escolásticos e menos religiosos. Renan chama Calvino de "o mais cristão da sua geração". Dorner o descreve como "igualmente grande no intelecto e no caráter, amável na
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vida social, cheio de terna simpatia e fidelidade aos seus amigos, cedendo e perdoando as ofensas pessoais". O artifício do seu selo é o flamejante coração que estende a mão auxiliadora. A participação de Calvino na queima de Serveto deve ser explicada pelo seu equivocado zelo para com a verdade de Deus e pela crença universal daquela época de que tal verdade deve ser defendida pelo poder civil. Segue-se a inscrição sobre o monumento expiatório que os calvinistas ergueram a Serveto: "Aos 27 de outubro de 1553, morreu num poste em Campbell, Miguel Serveto, de Villeneuve d'Aragon, nascido em 29 de setembro 1511. Reverentes e gratos filhos de Calvino, nosso grande Reformador, mas condenando um erro daquela época, e aderindo firmemente à liberdade de consciência segundo os verdadeiros princípios da Reforma e do evangelho, erigimos este monumento expiatório, aos 27 de outubro de 1903". John De Witt, Princeton Theol. Review, janeiro, 1904.95 - "Tomemos João Calvino. Essa frutífera concepção - mais frutífera na igreja e no estado do que qualquer outra concepção que o mundo de fala inglesa sustentou sobre a soberania absoluta e universal do Deus santo, como a revolução da concepção prevalecente na época sobre a soberania do homem numa igreja terrena, foi historicamente a mediação e instauração da sua carreira espiritual".
c) Mas as Escrituras ensinam que os homens, como pecadores, independentemente dos seus pecados, são objeto da graça salvadora de Deus em Cristo (João 15.19; Rm. 11.5,7; Ef. 1.4-6; 1 Pe. 1.2). Contudo, a condenação é um ato, não de soberania, mas de justiça e baseia-se na culpa do condenado (Rm. 2.6-11; 2 Ts. 1.5-10). A verdadeira ordem dos decretos é, portanto, a seguinte: 1. o decreto de criar; 2. o decreto de permitir a queda; 3. o decreto de prover em Cristo uma salvação suficiente para as necessidades de todos; 4. o decreto de assegurar a verdadeira aceitação de tal salvação para alguns, ou, em outras palavras, o decreto da Eleição.
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Que a graça salvadora pressupõe a queda e que os homens como pecadores são seus objetos é evidente em Jo. 15.19 - "Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque vós não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece"; Rm. 11.5-7 – "Assim, pois, também agora neste tempo ficou um resto, segundo a eleição da graça. Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Pois que? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram e os outros foram endurecidos". Ef. 1.4-6 - "como também nos elegeu desde a fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor, e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado"; 1 Pe. 1.2 - "eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: graça e paz vos sejam multiplicadas". Que a condenação não é um ato da soberania, mas da justiça é evidente em Rm. 2.6-9 - "o qual recompensará cada um segundo as suas obras, ... indignação e ira ... sobre toda alma do homem que faz o mal"; 2 Ts. 1.6-9 -"que dê em paga a tribulação aos que vos atribulam ... tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho do nosso Senhor Jesus, os quais por castigo sofrerão punição". Pessoas em particular são eleitas, não porque Cristo morreu por elas, mas porque têm influências especiais do Espírito, que lhes foi dado.
d) Os sublapsários que sustentam o ponto de vista ansélmico de uma expiação limitada, fazem os decretos 3 e 4, já mencionados, mudarem de posição; por isso o decreto da eleição precede o de prover a redenção. Já foram apresentadas as razões bíblicas para preferir a ordem aqui apresentada ao tratarmos da Expiação. Quando '3' e '4' mudam de lugar, o '3' deve ser lido: "O decreto de prover em Cristo uma salvação suficiente para os eleitos"; e '4' deve ser lido: "O decreto de que um certo número de pessoas deve ser salvo; ou, em outras palavras, o decreto da Eleição". O sublapsarianismo do primeiro tipo pode ser encontrado em Turrettin, Ioc. 4, quaes. 9; Cunning, Hist. of Theology, 416-439. Α. F. J. Behrends: Ό decreto divino é a nossa última
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palavra em teologia, não a primeira. Representa o terminus ad quem não o terminus a quo. O que quer que aconteça no exercício da liberdade humana e da graça divina - isso Deus decretou". Contudo, devemos admitir que o calvinismo necessita de ser suplementado por uma afirmação mais expressa do amor de Deus para com o mundo. Herrick Johnson: "Através da Confissão de Westminster pode-se com justiça escrever: Ό evangelho só para os eleitos'. Essa confissão foi escrita sob o domínio absoluto de uma idéia: a doutrina da predestinação. Ela não contém uma das três verdades: O amor de Deus em favor de um mundo perdido; a compaixão de Cristo em favor de um mundo perdido, e o evangelho universal para um mundo perdido".
I. ELEIÇÃO Eleição é o ato eterno de Deus pelo qual, em seu soberano agrado e não por mérito algum previsto nos homens ele escolhe alguns dos numerosos pecadores para serem os receptores da graça especial do seu Espírito e assim serem participantes voluntários da salvação de Cristo. 1. Prova da Doutrina da Eleição A) A Partir da Escritura. Aqui adotamos as palavras do Dr. Hovey: "As Escrituras proíbemnos de achar as razões para a eleição na ação moral do homem antes do novo nascimento e fazem referência meramente à soberana vontade e misericórdia de Deus; isto é, elas ensinam a doutrina da eleição pessoal". Antes de avançar para a prova da doutrina em si podemos reivindicar a garantia bíblica para as três afirmativas preliminares (que citamos do Dr. Hovey), a saber: Primeira: "Deus tem o direito soberano de conceder mais graça a um do que a outro; graça é favor não merecido dado aos pecadores". Mt. 20.12-15 - "Estes derradeiros trabalharam só uma hora e tu os igualaste conosco ... Amigo, não te faço injustiça ... Não me é lícito fazer o
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que quiser com o que é meu"? Rm. 9.20,21 - "A coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para, da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra"?
Segunda: "Aprouve a Deus exercer este direito ao tratar os homens". Sl. 147.20 - "Não fez assim a nenhuma outra nação; e, quanto aos seus juízos, nenhuma os conhece". Rm. 3.1,2 - "Qual é, logo, a vantagem do judeu? ou a utilidade da circuncisão? Muita, em toda maneira, porque primeiramente as palavras de Deus lhe foram confiadas"; Jo. 15.16 - "Não me escoIhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, para que vades e deis fruto"; At. 9.15 - "este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel".
Terceira: "Deus tem alguma outra razão além da de salvar tantos quantos possíveis da maneira em que ele distribui a sua graça". Mt. 21.21 - Tiro e Sidom "ter-se-iam arrependido" se tivessem tido a graça que foi dada a Corazim e a Betsaida; Rm. 9.22,23 - "Que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição, para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia que, para a glória, já dantes preparou"?
As passagens da Escritura que direta ou indiretamente apoiam a doutrina de uma eleição particular do homem para a salvação podem ser arranjadas da seguinte maneira: a) Afirmativas diretas do propósito de Deus de salvar alguns indivíduos. Jesus fala dos eleitos de Deus, como por exemplo em Mc. 13.27 - "E ele enviará os seus anjos e reunirá os seus escolhidos (eleitos)"; Lc. 18.7 -Έ Deus não fará justiça aos seus escolhidos (eleitos), que clamam a ele de dia e de noite"?
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At. 13.48 - "e creram todos quantos estavam ordenados (τεταγμένοι) para a vida eterna" – aqui Whedon traduz: "dispostos para a vida eterna" referindo-se a καταρτισμένα em Rm. 9.22, onde "preparados" = "preparados eles mesmos". Contudo, o único exemplo onde τάσσω é empregado no sentido médio está em 1 Co. 16.15 "a si mesmos se dedicaram"; mas o objeto, εαυτούς acha-se expresso. Devemos aqui comparar Rm. 13.1 "as autoridades que há foram ordenadas (τεταγμέναι) por Deus; ver também At. 10.42 - "ele é o que por Deus foi constituído (ώρισμένος) por Deus juiz dos vivos e dos mortos". Rm. 9.11-16 - "porque eles (os filhos), não tendo ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)... Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia ... Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece"; Ef. 1.4,5,9,11 - "como nos elegeu desde a fundação do mundo, [não porque fôssemos, ou devêssemos ser, santos, mas] para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor, e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito da sua vontade ... o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito ... em quem também fomos feitos herança havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade"; Cl. 3.12 - "eleitos de Deus" 2 Ts. 2.13 - "por ter Deus elegido desde o princípio para a salvação do Espírito e fé da verdade".
b) Em conexão com a declaração da presciência de Deus relativa a estas pessoas, ou escolha para torná-las objeto de sua atenção e cuidado. Rm. 8.27-30 - "chamados por seu decreto. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho"; 1 Pe. 1.1,2 - "eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito para obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo". Sobre a passagem em Romanos, Shedd, em seu Comentário, assinala que "dantes conheceu", no emprego hebraico é mais do que uma simples presciência e algo mais que o simples 'fixar os olhos sobre', ou
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'selecionar'. É este último, mas com a noção adicional de um sentimento benigno e generoso para com o objeto". Em Rm. 8.27-30, Paulo está dando ênfase à soberania divina. A vida cristã é considerada a partir do lado do cuidado e ordenação divinos e não da escolha e volição humanas. Alexander, Theories of the Will, 87,88 -"Se Paulo aqui está defendendo o indeterminismo, é estranho que no capítulo 9 ele se sinta em dificuldade para responder as objeções do determinismo. O protesto do apóstolo no cap. 9 não é contra a predestinação, mas contra o homem que considera tal teoria como impugnadora da justiça de Deus". Que, na Escritura, a palavra "conhecer", com freqüência, não significa simplesmente "apreender intelectualmente", mas "considerar com favor", para que seja "um objeto de cuidado", é evidente no texto de Gn. 18.19 "Porque eu o tenho conhecido que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que eles guardem o caminho do Senhor para agirem com justiça e juízo"; Ex. 2.25 - "e atentou Deus para os filhos de Israel e conheceu-os Deus"; cf. ν. 24 - "Ε ouviu Deus o seu gemido e lembrou-se Deus do seu concerto com Abraão, com Isaque e com Jacó"; Sl. 1.6 "Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; mas o caminho dos ímpios perecerá"; 101.4 - "não conhecerei o homem mau"; Os. 13.5,6 - "Eu te conheci no deserto, em terra muito seca. Depois eles se fartaram em proporção do seu pasto"; Na 1.7 -"conhece os que confiam nele"; Am. 3.2 "De todas famílias da terra a vós somente conheci"; Mt. 7.23 - "Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci"; Rm. 7.15 - "Porque nem mesmo compreendo o meu modo de agir" (Rev. e Atual, do Br.); 1 Co. 8.3 - "Se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele"; Gl. 4.9 - "agora, conhecendo a Deus ou, antes, sendo conhecidos de Deus"; 1 Ts. 5.12,13 - "rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós, e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra". Do mesmo modo a expressão "conhecer dantes"; Rm. 11.2 - "Deus não rejeitou o seu povo que antes conheceu"; 1 Pe. 1.20 - Cristo, "o qual foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo". Broadus sobre Mt. 7.23 - "Nunca vos conheci" - diz: "E, nas passagens mencionadas acima, como em nenhuma outra, há base para a arbitrária idéia dos Pais, aceita por muitos, de que a palavra "conhecer" envolve também a de aprovar ou considerar. A Bíblia está simplesmente falando de Deus na linguagem dos homens, e usando o termo que significa
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conhecimento, com todas as suas vantagens e regalias; 'conheci', i.e., como meus, como meu povo" (Citado da edição em Português; Casa Publicadora Batista, 1949). Mas a aceitação desta última parte parece admitir o que Broadus anteriormente negara. Ver THAYER, Lex. of N.T., sobre γινώσκω: "Com o acusativo de pessoa, reconhecer como digno de intimidade e amor; assim se diz dos que Deus julgou dignos das bênçãos do evangelho: υπό του θεοΰ γινώσκεσθαι (1 Co. 8.3; Gl. 4.9); negativamente, na sentença de Cristo: ουδέποτε εγνων υμάς, "nunca vos conheci", "nunca tive qualquer conhecimento de vós". Sobre προγινώσκω, Rm. 8.29 - ους προέγνω "os que dantes conheceu", ver Denney, em Expositor's Greek Testament, in ioco: "Aqueles que ele dantes conheceu - em que sentido? como pessoas que responderam o seu amor com amor? No mínimo isto é irrelevante e estranho ao método geral do pensamento de Paulo. Que a salvação começa com Deus, e ocorre na eternidade são suas idéias fundamentais, que ele aplica aos cristãos sem levantar quaisquer dos problemas na relação da vontade humana com a divina. Contudo, podemos estar certos de que προέγνω tem o gestante sentido que γινώσκω freqüentemente apresenta na Escritura, p. ex., em SI. 1.6; Am. 3.2; por isso podemos ler: 'aqueles de quem Deus tomou conhecimento desde a eternidade' (Ef. 1.4)". Em Rm. 8.28-30, citado acima, "dantes conheceu" = eleitos - isto é, fez certos indivíduos, no futuro, o objeto do seu amor e cuidado; "predestinou" descreve a designação divina destes mesmos indivíduos para receberem o dom especial da salvação. Em outras palavras, a "presciência" é de pessoas: a "predestinação" é das bênçãos a serem concedidas a eles. Hooker, Eccl. Polity, apêndice ao livro v, (vol. 2.751) – " 'os que dantes conheceu' (conheceu antes como dele mesmo, com a determinação de ser para sempre misericordioso para com eles) 'também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho' – predestinou não para a oportunidade da conformação, mas para a própria conformação". A interpretação arminiana de "os que dantes conheceu" (Rm. 8.29) requereria que a expressão "conformes à imagem de seu Filho" fosse conjugada com ela. Contudo, Paulo faz da conformidade de Cristo o resultado, não a condição prevista, da predestinação de Deus.
c) Em declarações de que esta escolha é matéria da graça, ou favor imerecido, concedido na eternidade passada.
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Ef. 1.5-8 - "predestinou ... segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado. ... segundo as riquezas da sua graça"; 2.8 – "Pela graça sois salvos por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus" - aqui a expressão "e isso" (neutro τούτο, ν. 8) refere-se não à "fé", mas à "salvação". Mas a fé em outro contexto é representada como tendo a sua fonte em Deus; ver p. 782, (k). 2 Tm. 1.9 -"seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos". A eleição não é devida ao nosso merecimento. McLaren: "A misericórdia própria de Deus, espontânea, imerecida, condescendente, moveu-o. Deus é o seu próprio motivo. O seu amor não vem através da nossa amabilidade, mas brota, como uma fonte artesiana das profundezas da sua natureza".
d) Que o Pai deu algumas pessoas ao Filho, para ser sua possessão peculiar. Jo. 6.37 - "Tudo o que meu Pai me dá virá a mim"; 17.2 - "que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste"; 6 - "Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste"; 9 - "não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste"; Ef. 1.14 - "para a redenção da possessão de Deus"; 1 Pe. 2.9 - "povo adquirido (por Deus)".
e) Que o fato de os que crêem estarem unidos assim a Cristo se deve totalmente a Deus. Jo. 6.44 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não trouxer"; 1 Co. 1.30 - "Mas vós sois dele (Deus) em Jesus Cristo" = a vossa existência, como cristãos, em união com Cristo, se deve inteiramente a Deus.
f) Que aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida e só eles serão salvos. Fp. 4.3 - "os outros cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida"; Ap. 20.15 - "Aquele que não foi achado no livro da vida foi lançado no lago
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do fogo"; 21.27 - "não entrará nela coisa alguma que contamine ... mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro" = decretos de Deus sobre a graça da eleição em Cristo.
g) Que estes são destinados como discípulos para alguns servos de Deus. At. 17.4 - (literalmente) "Alguns deles foram persuadidos e unidos [por Deus] a Paulo e Silas" - como discípulos (Meyer e Grimm); 18.9,10 - "Não temas, mas fala e não te cales; porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade".
h) São portadores de uma vocação especial de Deus. Rm. 8.28,30 - "chamados por seu decreto. ... e aos que predestinou, a esses também chamou"; 9.23,24 - "vasos de misericórdia, que, para glória, já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios"; 11.29 - "Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento"; 1 Co. 1.24-29 - "para os que são chamados ... Cristo poder de Deus e sabedoria de Deus ... porque vede, irmãos, a vossa vocação ... Deus escolheu as coisas desprezíveis e as que não são para aniquilar as que são, para que nenhuma carne se glorie perante ele"; Gl. 1.15,16 - "quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim"; cf. Tg. 2.23 - "e [Abraão] chamado filho de Deus".
i) Nasceram para o reino de Deus, não em virtude da vontade do homem, mas da de Deus. Jo. 1.13 - "não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus"; Tg. 1.18 - "Segundo a sua vontade ele nos gerou pela palavra da verdade"; 1 Jo. 4.10 - "Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou"; S.S. Times, 14 de out. de 1899 - "A lei do amor é a expressão da natureza amorosa de Deus e não é só pela participação da natureza divina que somos levados a
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prestar-lhe obediência. 'Deus amoroso', diz Bushnell, 'é apenas um Deus que nos ama'. Deste modo, as grandes palavras de João podem ser traduzidas no tempo verbal presente: 'não que nós amamos a Deus, mas que ele nos ama'. Ou como Madame Guyon canta: "Amo a meu Deus, mas sem que haja amor algum em mim, porque não tenho nada para dar; Amote, Senhor, mas todo o amor é teu, porque por tua vida é que eu vivo'."
j) Recebem o arrependimento como dom de Deus. At. 5.31 - "Deus, com sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados"; 11.18 - "Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida"; 2 Tm. 2.25 "Instruindo com mansidão os que resistem; para ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade". Sem dúvida é verdade que Deus dá arrependimento induzindo o homem a arrepender-se pela atuação da sua palavra, da sua providência e do seu Espírito. Porém, parece mais do que isto, significar o salmista quando diz: "Cria em mim um coração puro e renova em mim um espírito reto" (SI. 51.10).
k) A fé, um dom de Deus. Jo. 6.65 - "ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não for concedido"; At. 15.8,9 - "Deus ... dando-lhes o Espírito ... purificando o seu coração pela fé"; 1 Co. 12.9 - "a outro, pelo mesmo Espírito a fé"; Gl. 5.22 - Ό fruto do Espírito é ... fé"; Fp. 2.13 - Em toda a fé "é Deus quem opera em vós tanto o querer como o efetuar segundo a sua boa vontade"; Ef. 6.23 - "Paz seja com os irmãos e amor com fé, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo"; João 3.8 - "O vento [Espírito] sopra onde quer e (conseqüentemente] ouves a sua voz"; 1 Co. 12.3 - "Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo" - mas chamar Jesus de "Senhor" faz parte essencial da fé; por isso a fé é obra do Espírito Santo; Tt. 1.1 - "fé dos eleitos de Deus" = a eleição não vem em conseqüência da fé, mas esta em conseqüência da eleição (Ellicott). Se eles recebem a fé de si mesmos, então a salvação não se deve à graça. Se Deus deu a fé, ela estava no seu propósito, e isto é eleição.
Teologia Sistemática (Strong) l) Santidade e boas obras são dom de Deus.
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Ef. 1.4 - "nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos"; 2.9,10 - "Não das obras para que ninguém se glorie. Porque nós somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas"; 1 Pe. 1.2 - "eleitos ... para a obediência".
Estas passagens fornecem abundante e conclusiva refutação, por um lado, do ponto de vista luterano de que a eleição é simplesmente determinação de Deus desde a eternidade para prover uma salvação objetiva para a humanidade universal; e, por outro lado, do ponto de vista arminiano de que a eleição é determinação de Deus desde a eternidade de salvar alguns indivíduos com base na fé prevista. A grosso modo se afirma podermos dizer que Schleiermacher elege todos os homens subjetivamente; para os arminianos os crentes; os agostinianos defendem toda a presciência do próprio Deus. Schleiermacher sustenta que logicamente o decreto precede a presciência e a eleição é individual, não nacional. Mas ele faz a eleição incluir todos os homens; a única diferença está entre a conversão dos mais antigos e a dos mais tardios. Por isso, em seu sistema, o Calvinismo e o restauracionismo caminham lado a lado. O luteranismo afirma que a graça original precede o pecado original e que o Quia Voluit de Tertuliano e de Calvino baseia-se na sabedoria, em Cristo. O luterano sustenta que o crente é apenas um indivíduo não resistente à graça comum; enquanto o arminiano sustenta que o crente é um indivíduo coopérante com a graça comum. O luteranismo entra mais plenamente que o calvinismo na natureza da fé. O seu pensamento se volta mais para a atuação humana, enquanto o calvinismo mais para o propósito divino. O luteranismo pensa mais na igreja, enquanto o calvinismo mais na Escritura. A concepção arminiana é que Deus indicou os homens para a salvação do mesmo modo que para a condenação, tendo em vista as suas disposições e atos. Como a justificação tem em vista a presente fé, o arminiano considera que a eleição ocorre em vista da fé futura. O
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arminianismo deve rejeitar a doutrina da regeneração do mesmo modo que a da eleição e, em ambos os casos, faz o ato do homem preceder o ato de Deus. Todas as variedades de pontos de vista sobre este assunto podem ser encontradas entre os teólogos. John Milton, em sua Christian Doctrine, sustenta que não existe a predestinação particular ou a eleição, mas só a geral. ... Não pode haver nenhuma reprovação de indivíduos desde toda a eternidade". Arcebispo Sumner: "Eleição é predestinação de comunidades e nações para o conhecimento exterior e os privilégios do evangelho". Arcebispo Whately: "Eleição é a escolha de indivíduos para a membresia na igreja exterior e os meios da graça". Gore, Lux Mundi, 320 - Os eleitos representam não o propósito especial de Deus dirigido a uns poucos, mas o propósito universal que, sob as circunstâncias pode ser realizado apenas nuns poucos". R. V. Foster, presbiteriano de Cumberland, opõe-se à predestinação absoluta e diz em sua Teologia Sistemática que o decreto divino é incondicional em sua origem e condicional em sua aplicação".
B) Da Razão. a) Eternamente Deus propôs-se a fazer o que ele faz. Visto que ele concede graça regeneradora especial a alguns, deve eternamente ter proposto concedê-la; em outras palavras, deve tê-los escolhido para a vida eterna. Assim a doutrina da eleição é só uma aplicação especial da doutrina dos decretos. Os pontos de vista de New Haven são essencialmente arminianos. Ver Fitch, sobre Predestinação e Eleição, em Christian Spectator, 3.622-"A presciência de Deus de quais seriam os resultados das suas atuais obras da graça precedem, na ordem da natureza, o propósito de persegui-las e apresentar as bases de tal propósito. Os que ele antes conheceu - como povo a ser guiado para o seu reino através das atuais obras da graça, em cujo resultado está todo o motivo objetivo para o seu empreendimento – ele o fez também, resolvendo, nestas obras, predestinar". Aqui se diz erroneamente que Deus conhecia antecipadamente o que ainda está incluído num plano simplesmente possível. Como já vimos ao tratar dos decretos, não existe presciência, a não ser que haja alguma coisa fixada, no futuro, a ser
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conhecida antecipadamente; esta fixidez só pode dever-se à predestinação de Deus. Deste modo, no caso em foco, a eleição deve preceder a presciência. Se Deus desejasse a salvação de Judas, tanto como a de Pedro, como foi Pedro eleito diferentemente de Judas? Para a pergunta "Quem te fez diferente"? a resposta deve ser: "Não Deus, mas a minha própria vontade". Ver Finney, em Bíblia Sacra, 1877.711 - "Deus deve ter conhecido antecipadamente quem ele podia sabiamente salvar, na ordem da natureza antes a fim de determinar salvá-los. Mas o conhecimento de quais iriam ser salvos, deve ter sido, na ordem da natureza, subseqüente à sua eleição ou determinação de salvá-los e depender dessa determinação". Foster, Christian Life and Theology, 70 - "A doutrina da eleição é a formulação consistente, sub specie eternitatis, da graça preventiva. ... 86 - Com a doutrina da graça preventiva, concorda ou coincide a doutrina evangélica".
b) Este propósito não pode condicionar-se a qualquer mérito ou fé nos escolhidos, visto que de modo nenhum existe tal mérito, - a própria fé é dom de Deus e é predestinada por ele. Porque se prevê que a fé no homem resulta apenas da obra da graça de Deus, a eleição procede mais precisamente da descrença prevista. A fé, como o efeito da eleição, não pode ao mesmo tempo ser a sua causa. Por um lado há uma analogia entre a oração e a sua resposta e, por outro, entre a fé e a salvação. Deus decretou a resposta em conexão com a oração, e a salvação em conexão com a fé. Mas ele não muda a sua mente quando os homens oram, ou quando eles crêem. Como ele cumpre o seu propósito inspirando a verdadeira oração, do mesmo modo cumpre-o dando fé. Agostinho: "Ele nos escolhe, não porque nós cremos, mas para que creiamos; para que não digamos que nós o escolhemos primeiro". (Jo. 15.16 - "Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós"; Rm. 9.21 - "da mesma massa"; 16 - "não depende de quem quer"). Veja aqui a valiosa discussão de Wardlaw, Syst. Theology, 2.485-549 "Eleição e salvação baseadas nas obras previstas não diferem em princípio da eleição e salvação baseadas nas obras executadas", cf. Pv. 21.1 - "Como
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ribeiros de águas, o coração do rei está na mão do Senhor; a tudo quanto ele quer o inclina" - tão fácil como os riachos dos campos orientais movemse ao mais leve movimento da mão ou do pé do roceiro; SI. 110.3 - Ό teu povo se apresentará voluntariamente no dia do teu poder".
c) A depravação da vontade humana é tal que, sem este decreto de conceder influências divinas especiais a alguns, todos, sem exceção, teriam rejeitado a salvação de Cristo depois de ter-lhes sido oferecida; e assim todos, sem exceção, deviam ter perecido. A eleição, portanto, pode ser vista como uma conseqüência necessária do decreto de Deus para prover uma redenção objetiva, se tal redenção tiver qualquer resultado objetivo na salvação humana. Antes que o filho pródigo buscasse o pai, este deveria buscá-lo; uma verdade revela nas parábolas apresentadas anteriormente sobre a dracma e a ovelha perdidas (Lc. 15). Sem a eleição todos estão perdidos. Newman Smyth, Orthodox Theology of Today, 56 - "Hoje, a pior doutrina da eleição é ensinada pela ciência natural. A doutrina científica da seleção natural é a da eleição despojada da esperança e sem ter em si um único toque de piedade". Hodge, Systematic Theology, 2.335 - "Suponhamos que o ponto de vista deísta fosse verdadeiro: Deus criou o homem e o deixou; seguramente ninguém poderia queixar-se dos resultados. Mas, suponhamos agora Deus, prevendo estes mesmos resultados que a criação causaria. Faria isto alguma diferença, se o propósito de Deus quanto ao futuro desse mundo, o precedesse? Agostinho supõe que Deus propôs tal mundo como supõe o deísta, com duas exceções: 1) ele interfere para limitar o mal; 2) ele intervém, através da providência, através de Cristo e através do Espírito Santo para salvar alguém da destruição". A eleição é apenas a determinação de Deus para que os sofrimentos de Cristo não sejam baldados; que todos os homens não se percam; que alguns sejam levados a aceitar a Cristo; que para este fim especial ocorram influências do Espírito Santo.
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À primeira vista pode parecer que a indicação de homens para a salvação da parte de Deus é simplesmente permissiva, do mesmo modo que a sua indicação para a condenação (1 Pe. 2.8), e que esta indicação é simplesmente indireta, criando-os na previsão da sua fé ou desobediência. Porém o decreto da salvação não é simplesmente permissivo; é também eficiente. É o decreto de empregar os meios especiais para a salvação de alguns. A. A. Hodge, Popular Lectures, 143 - "O morto não pode espontaneamente originar o seu próprio despertar, nem a criatura a sua criação, nem o infante a sua própria geração. Faça o homem o que fizer após a sua regeneração, em primeiro lugar, o despertar da morte deve ter sua origem em Deus". Hovey, Manual of Theology, 287 - "Reduzido a seus mais simples termos, o calvinismo é a eleição dos crentes não por qualquer que^íosse a sua conduta prevista, quer antes, quer durante o ato da conversão, que espiritualmente seria melhor do que a dos outros influenciados pela mesma graça, mas por causa da sua maior utilidade prevista na manutenção da glória de Deus para com os seres morais e por estar prevista que não cometeria o pecado contra o Espírito Santo". Porém mesmo aqui devemos atribuir a maior utilidade e a abstenção do pecado fatal, não às forças desauxiliadas do homem, mas ao decreto divino: ver Ef. 2.10 - "Porque nós somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas".
d) A doutrina da eleição torna-se mais aceitável à razão quando lembramos: primeiro, que o decreto de Deus é eterno e, em certo sentido, contemporâneo à crença do homem em Cristo; segundo, que o decreto de Deus envolve o de tudo o que se seguirá no exercício da liberdade do homem; terceiro, que o decreto de Deus é o daquele que está em tudo de modo que o nosso querer e o nosso agir é ao mesmo tempo a obra daquele que decreta o nosso querer e o nosso agir. Toda a questão gira em torno da iniciativa da salvação humana: se esta pertence a Deus, então, a despeito das dificuldades, devemos aceitar a doutrina da eleição.
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A ilimitada existência de Deus pode ser a fonte de muitas das nossas dificuldades relativas à eleição e, com apoio no ponto de vista apropriado da eternidade de Deus, tais dificuldades podem ser removidas. Mason, Faith of the Gospel, 249-351 - "Em geral pensa-se na eternidade como se fosse um estado ou série anterior de tempo e desta forma resume-se quando o tempo chega ao fim. Contudo, isto só reduz a eternidade a um tempo e põe a lida de Deus no mesmo plano da nossa, apenas com a idéia de anterioridade. ... Atualmente não vemos como tempo e eternidade se encontram. Royce, World and Individual, 2.374 - "Em termos de tempo, Deus não conhece anteriormente coisa alguma a não ser o que ele expressa em nós, seres finitos. O conhecimento que existe no tempo é o que os seres finitos possuem, porque eles são finitos. Tal conhecimento não pode predizer as características especiais dos atos individuais exatamente por serem únicos. A presciência no tempo só é possível no geral e na causalidade predeterminada; não na única e livre. Por isso nem Deus, nem o homem podem conhecer antecipadamente de um modo perfeito, em qualquer momento temporal, o que um agente de vontade livre ainda fará. Por outro lado, o Absoluto possui, de relance, um conhecimento perfeito de toda a ordem temporal: passada, presente e futura. Tal conhecimento é inadequadamente chamado de presciência. É conhecimento eterno. E, como há conhecimento eterno de toda a individualidade e de toda a liberdade, os atos livres são conhecidos como ocorrendo, como as cordas numa sucessão musical, precisamente quando e como na verdade eles ocorrem". Conquanto vemos muita verdade na afirmação anterior, não encontramos nela nenhuma barreira para crermos que Deus pode trasladar o seu conhecimento eterno em conhecimento finito e deste modo colocá-lo em propósitos especiais em posse das suas criaturas. E. H. Johnson, Theology, 2- ed., 230 - "Antevendo o que as suas criaturas fariam, Deus decretou o destino delas quando decretou a sua criação; e ainda este seria o caso, apesar de que cada homem tinha o controle parcial sobre o seu destino, que os arminianos afirmam, ou mesmo o controle completo que os pelagianos defendem. O decreto é tão absoluto como se não houvesse liberdade, mas deixa tão livres como se não houvesse decreto".
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A. H. Strong, Christ in Creation, 40,42 - "Como o Logos ou a razão divina, Cristo habita na humanidade em toda a parte e constitui-se o princípio do seu ser. A humanidade compartilha com Cristo na imagem de Deus. Tal imagem nunca está totalmente perdida. Está completamente restaurada nos pecadores quando o Espírito de Cristo assegura-lhes o controle da vontade e os leva a incorporar sua vida à dele. ... Se Cristo é o princípio e a vida de todas as coisas, então a soberania divina e a liberdade humana, se não reconciliadas de modo absoluto, ao menos perdem o seu velho antagonismo, e racionalmente podemos Operar a nossa salvação', pela mesma razão que 'é Deus quem opera em nós, tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade'(Fp. 2.12,13).
2. Objeções à Doutrina da Eleição a) É injusta para com aqueles que não estão incluídos neste propósito da salvação. – Resposta: A eleição trata, não somente de criaturas, mas de pecadores culpados e condenados. Que qualquer um deve ser salvo é matéria de pura graça e aqueles que não estão incluídos neste propósito da salvação sofrem apenas a recompensa devida aos seus atos. Não há, portanto, nenhuma injustiça na eleição de Deus. Podemos melhor louvar o Deus que salva alguns do que acusá-lo de injustiça porque ele salva tão poucos. A todos os homens, salvos ou não, Deus pode dizer: "Amigo, não te faço injustiça ... ou não me é lícito fazer o que eu quero com o que é meu"? (Mt. 20.13,15). A pergunta não é se um pai trata os seus filhos igualmente, mas se um soberano deve tratar os condenados rebeldes da mesma forma. Não é verdade que, porque o governador perdoa da penitenciária a um convicto, ele deve perdoar a todos. Quando ele perdoa um, não se faz injustiça aos que são deixados. Mas, no governo de Deus, há ainda menos razão para objeção; porque Deus oferece perdão a todos. Nada impede os homens de serem perdoados a não ser a falta de vontade de aceitar o perdão. A eleição é somente a determinação que Deus tem de levar algumas pessoas a aceitá-lo. Porque a justiça não pode salvar todos, não deve salvar ninguém?
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Agostinho, De Predestinatione Sanctorum., 8 - "Por que Deus não ensina todos? Porque é em misericórdia que ele ensina todos quantos na verdade ele ensina, enquanto é em juízo que ele não ensina os que na verdade não ensina". Em seu Manual of Theology and Ethics, 260, Hovey assinala que Rm. 9.20 - "ó homem, quem és tu, que a Deus replicas"? ensina, não que o poder faz o certo, mas que Deus moralmente tem direito à glorificação tanto da sua justiça como da sua misericórdia no trato de uma raça culpada. Não é que ele escolhe salvar uns poucos náufragos e que estão se afogando, mas escolhe só uma parte de um grande grupo que se inclina ao suicídio. Pv. 8.36 – "Mas aquele que pecar contra mim violentará a sua própria alma; todos os que me aborrecem amam a morte". Em geral é melhor para o universo que se permita a alguns ter o seu próprio caminho e mostrar quão terrível é a oposição a Deus.
b) Representa Deus como parcial no trato e respeitador das pessoas. - Resposta: Visto que nada há nos homens que determine que Deus escolha um ao invés de outro, a objeção é inválida. Aplicar-se-ia igualmente à seleção que Deus faz de certas nações, como Israel, e certos indivíduos, como Ciro, para serem os receptores dos dons temporais especiais. Se Deus não deve ser considerado como parcial em não prover salvação aos anjos decaídos, não pode ser considerado como parcial por não prover as influências regeneradoras do seu Espírito para toda a raça dos homens caídos. Sl. 44.3 - "Pois não conquistaram a terra pela espada, nem o seu braço os salvou, e sim a tua destra, e o teu braço, e a luz da tua face, porquanto te agradaste deles"; Is. 45.1,4,5 - "Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela sua mão direita, para abater as nações diante da tua face.... Por amor de meu servo Jacó, e de Israel, meu eleito, eu a ti te chamarei pelo teu nome; pus-te o teu sobrenome, ainda que não me conheces"; Lc. 4.2527 – "muitas viúvas existiam em Israel ... e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão à de Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva. Ε muitos leprosos havia em Israel... e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro"; 1 Co. 4.7 -"Porque quem te diferença? e que tens tu que não tenhas recebido? e, se tu o recebeste, por que te glorias como se não o houveras recebido"? 2
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Pe. 2.4 - "Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno..."; Hb. 2.16 - "Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas a descendência de Abraão". É Deus parcial ao escolher Israel, Ciro, Naamã? É Deus parcial, ao dotar alguns de seus servos de dons ministeriais especiais? É Deus parcial, ao deixar de prover salvação aos anjos decaídos? Na providência de Deus, um homem nasce numa terra cristã, o filho de uma família nobre, é bem apessoado, talentoso, tem grandes oportunidades, e riqueza farta. Outro nasce em Cinco Pontas, ou no meio dos hotentotes, em meio à degradação e depravação do paganismo real ou prático. Sentimos que é falta de reverência queixar-se do trato da providência de Deus. Que direito têm os pecadores de queixar-se da forma como Deus trata a distribuição da sua graça? Hovey: "Não temos o direito de pensar que Deus trata todos os seres morais da mesma forma. Devemos nos sentir felizes por ouvir dizer que outras raças são "melhor tratadas do que nós". A eleição divina é apenas o lado ético e a interpretação da seleção natural. Nesta última Deus escolhe algumas formas do reino vegetal e do animal sem qualquer mérito da parte deles. Uns são preservados enquanto outros morrem. Em matéria de saúde individual, talento, propriedade, um é tomado, outro é deixado. Se chamarmos a isso de resultado do sistema, a resposta é que Deus escolhe o sistema, sabendo precisamente o que dele advirá. Bruce, Apologetics, 201 – "A eleição não é incompreensível na distinção entre filosofia e arte, pois isto não é matéria de preocupação vital; mas a eleição para a santidade da parte de uns e a falta de santidade da parte de outros, seria inconsistente com a própria santidade de Deus". Porém não existe uma eleição para a falta de santidade a não ser da parte do próprio homem. A eleição garante só o bem. Ver c) abaixo. J. J. Murphy, Natural Selection and Spiritual Freedom, 73 - "O mundo está ordenado numa base de desigualdade; o mundo orgânico, como o apresentado por Darwin, baseia-se na desigualdade - de raças favorecidas da qual vem todo o progresso; a história mostra que o mesmo é verdade a respeito do mundo humano e do espiritual. Todo o progresso humano se deve a indivíduos humanos eleitos, não só com vistas a serem uma bênção para si mesmos, porém, ainda mais para serem-na a multidões de outras
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pessoas. Qualquer superioridade, quer no mundo natural, quer no mental ou espiritual, torna-se a vantagem básica para a obtenção de uma superioridade maior.... Este é o método do governo divino, que age tanto na província da natureza como na da graça, para que o benefício todo advenha a muitos através dos eleitos".
c) Representa Deus como arbitrário. - Resposta: Representa Deus não como arbitrário, mas exercendo a livre escolha de uma sábia e soberana vontade por meio e por razões que nos são inescrutáveis. Negar a possibilidade de tal escolha é negar a personalidade de Deus. Negar que Deus tem razões para a sua escolha é negar a sua sabedoria. A doutrina da eleição não encontra tais razões no homem, mas em Deus. Quando um regimento é dizimado por insubordinação, o fato de que cada décimo homem é escolhido para a morte obedece a critérios; mas tais critérios não estão nos homens. Em um caso, o critério para a escolha de Deus para revelar-se: 1 Tm. 1.16 - "por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse a sua longanimidade para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna" - aqui Paulo indica que a razão pela qual Deus o escolheu é que ele (Paulo) é um grande pecador: v. 15 - "Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal". Hovey assinala que "o emprego para o qual Deus pode pôr os homens como vasos de honra pode determinar a sua seleção". Mas visto que os fracos por natureza são salvos, assim como os fortes por natureza, não podemos tirar qualquer conclusão geral, ou discernir qualquer regra, no trato de Deus, a não ser este, que, na eleição, Deus procura ilustrar a grandeza e a variedade da sua graça; por isso, os critérios não estão no homem, mas em Deus. É bom lembrar que a soberania divina é a de Deus - o infinitamente sábio, santo e amável Deus em cujas mãos os destinos dos homens podem tornar-se mais seguros do que nas mãos das mais sábias, das mais justas, das mais bondosas de todas as criaturas. Devemos crer na graça da soberania assim como na soberania da graça. A eleição e a reprovação não são matéria de vontade arbitrária. Deus salva todos os que sabiamente pode salvar. Ele mostrará benevolência na salvação da humanidade do mesmo modo em que o pode sem prejuízo da
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santidade. Ninguém pode ser salvo sem Deus, mas também é verdade que não há homem que Deus não queira salvar. H. B. Smith, System, 511 "Pode ser que no fim muitos impénitentes ofereçam menos resistência dos que muitos dos salvos". Harris, Moral Evolution, 401 (substancialmente) "Não se perde a soberania na Paternidade, mas recupera-se como a lei divina do amor justo. Sem dúvida tu és nosso Pai, apesar de que Agostinho nos ignore, e Calvino não nos reconheça". Hooker, EccI. Polity, 1.2 - "Erram os que pensam que na vontade de Deus não há razão, mas apenas a sua vontade". T. Erskine, The Brazen Serpent, 259 - Soberania é "apenas um nome para o elemento não revelado de Deus". Não conhecemos todas razões que Deus tem para salvar os homens em particular, mas algumas delas nos foram reveladas. Já mencionamos a primeira delas: 1) O maior pecado e a maior necessidade do homem; 1 Tm. 1.16 - "que eu sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade". A esta acrescentamos: 2) O fato de que os homens não pecaram contra o Espírito Santo e não foram receptivos à salvação que vem de Cristo; 1 Tm. 1.13 - "alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade" = o fato de que Paulo não pecou com pleno conhecimento do que ele fez é a razão por que Deus o escolheu. 3) A capacidade do homem através do auxílio de Cristo para ser testemunha e mártir do seu Senhor; At. 9.15,16 - "Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. Ε eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome". Como a missão de Paulo aos gentios pode ter determinado a escolha de Deus, assim a missão de Agostinho para com os sensuais e abandonados pode ter tido a mesma influência. Mas, se os previstos pecados de Paulo constituíram uma razão por que Deus escolheu salvá-lo, por que a sua capacidade de servir ao reino não podia ter-se constituído outra razão? Por isso acrescentamos: 4) A prevista capacidade de os homens servirem ao reino de Cristo trazendo outros ao conhecimento da verdade; Jo. 15.16 - "eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto". Contudo, note que esta é uma escolha para servir, e não simplesmente uma escolha por causa do serviço. Em todos estes casos as razões não se assentam nos próprios homens, pois aquilo que eles são e o que eles possuem se deve à providência e graça de Deus.
Teologia Sistemática (Strong) 1553 d) Tende para a imoralidade, representando a salvação do homem como independente da nossa obediência. – Resposta: A objeção ignora o fato de que a salvação dos que crêem é ordenada só em conexão com a regeneração e santificação deles como meios; e que a certeza do triunfo final é o mais forte incentivo para o árduo conflito com o pecado. Plutarco: "Deus é a brava esperança do homem e não a escusa do covarde". Os propósitos de Deus são uma âncora para o espírito abalado pela tempestade. Mas o navio necessita de uma máquina, assim como de uma âncora. Deus não elege ninguém para salvar sem arrependimento e fé. Há quem sustente a doutrina da eleição, mas esta não os sustenta. Tais pessoas deveriam ponderar 1 Pe. 1.2 em que se diz que os cristãos são eleitos "em santificação do Espírito para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo". Agostinho: "Ele a amou [a igreja] hedionda, para que ela se tornasse bela". Dr. John Watson (Ian McLaren): "O maior reforço que a religião poderia ter nos nossos dias seria a volta à crença antiga na soberania de Deus". Isto porque há falta de uma forte convicção do pecado, da culpa, e da desesperança e ainda permanecem o orgulho e a falta de vontade de submeter-se a Deus, uma fé imperfeita na fidedignidade e bondade dele. Não devemos excluir os arminianos da nossa comunhão - porque há muitos bons metodistas. Porém podemos sustentar que eles defendem apenas metade da verdade e a ausência da doutrina da eleição do seu credo torna menos séria a pregação e o caráter menos seguro.
e) Inspira orgulho naqueles que pensam que são eleitos. - Resposta: Isto é possível só no caso daqueles que pervertem a doutrina. Ao contrário, sua influência apropriada é tornar humildes os homens. Aqueles que se exaltam acima dos outros, supondo que são os favoritos especiais de Deus, têm razão para questionar sua eleição. No romance, havia uma grande eficácia na demanda do amor para com o objeto do seu afeto, porque ele tinha amado desde que pôs nela os seus olhos quando ela ainda era criança. Porém o amor de Deus por nós é
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de muito mais tempo que aquele. Data do tempo anterior ao nosso nascimento; na eternidade passada. É um amor que se prendeu a nós embora Deus conhecesse o pior de nós. É um amor imutável, porque se fundamenta no infinito amor de Deus a Cristo. Jr. 31.3 - "Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Com amor eterno te amei, também com amável benignidade te atraí"; Rm. 8.31-39 - "Se Deus é por nós, quem será contra nós ... Quem nos separará do amor de Cristo"? A resposta é que nada "nos separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor". Este amor se submete e se humilha: Sl. 115.1 - "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória por amor da tua benignidade e da tua verdade". Do efeito da doutrina da eleição, Calvino, na sua Institutes, 3.22.1, assinala que "quando a mente humana ouve falar nela, sua irritação quebra todo o constrangimento e ela descobre tanto a séria e violenta agitação como se estivesse alarmada pelo som de uma trombeta marcial". A causa de tal agitação reside na apreensão do fato de que se trata de inimigo de Deus e ainda absolutamente dependente da sua misericórdia. Este tipo de apreensão leva normalmente à submissão. Mas o rebelde conquistado não pode dar graças a si mesmo; toda a gratidão é devida a Deus, que o escolheu e o renovou. Os sentimentos obtidos não são de orgulho ou complacência de si mesmo, mas de gratidão e amor. A hinologia cristã dá testemunho destes efeitos. Isaac Watts (+1748): "Por que fui feito a fim de ouvir a tua voz e entrar embora não haja lugar, quando milhares fizeram uma escolha miserável e passar fome ao invés de vir. O mesmo amor que ampliou a festa à qual me forçou a entrar; eu mesmo recusei prová-la e perecia no meu pecado. Tem compaixão das nações, ó Deus! Envia o teu Verbo vitorioso por todo o mundo e traze de volta os peregrinos". Josiah Conder (+1855): "Não fui eu que te escolhi, pois, Senhor, não tenho condições de fazê-lo; este coração ainda te recusaria; mas tu me escolheste a mim; Lavaste-me do pecado que me manchou e tomaste-me livre e para isto me ordenaste que eu viva para ti. Foi a tua soberana misericórdia que me chamou e me ensinou a abrir a mente; eu tinha sido um cativo de um outro mundo; cego a respeito das glórias celestes. Nada há no meu coração que esteja acima de ti; da tua graça sinto sede; Sabendo isto: se eu te amo, tu me amaste primeiro"
Teologia Sistemática (Strong) 1555 f) Dissuade o esforço para a salvação do impénitente quer da parte dele mesmo, quer da parte dos outros. - Resposta: Visto que é um decreto contido nos seus arcanos, não pode embaraçar ou dissuadir tal esforço. Por outro lado, é base de encorajamento e assim um estímulo para o esforço; pois, sem a eleição, é certo que todos estariam perdidos (At. 18.10). Enquanto torna humilde o pecador, de modo que ele queira clamar por misericórdia, estimula-o também a mostrar-lhe que alguns serão salvos e (visto que a eleição e a fé estão em inseparável conexão) que ele estará salvo, só se crer. Enquanto faz o crente sentir-se dependente do poder de Deus, em seus esforços pelo impénitente, leva-o a dizer com Paulo que ele "sofre por amor dos escolhidos para que também alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna" (2 Tm. 2.10). O decreto da parte de Deus de que o grupo que estava no mesmo navio em que Paulo se encontrava seria salvo (At. 27.24) não torna óbvia a necessidade de que eles continuariam no navio (v. 31). No casamento, a eleição do homem não exclui a da mulher; do mesmo modo a eleição da parte de Deus não exclui a do homem. Há necessidade tanto do esforço como se a eleição não existisse. Por isso a pergunta para o pecador não é: "Sou eu um dos eleitos"?, mas, ao invés disso: Ό que farei para ser salvo"? Milton representa os espíritos do inferno como que debatendo a presciência e a livre vontade, peregrinando perdidos nos labirintos. Ninguém é salvo enquanto não pára de se debater e começa a agir. E, ainda ninguém começará a agir, se o Espírito de Deus não o mover. O Senhor estimulou Paulo, dizendo-lhe: "Tenho muito povo nesta cidade" (At. 18.10) – povo que eu trarei pela tua palavra. "O velho Adão é muito forte para o jovem Melanchton". Se Deus não regenerar, não haverá nenhuma esperança de sucesso na pregação: "Deus permanece impotente diante da majestade da vontade senhoril do homem. Os pecadores têm a glória da sua própria salvação. Orar para que Deus converta o homem é um absurdo. Deus elege o homem porque prevê que o homem se elegerá a si mesmo" (ver S. R. Mason, Truth Unfolded, 298-307). Na verdade, a doutrina da eleição não prescinde das esperanças daqueles que põem a sua confiança
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em si mesmos; mas seria melhor que tais esperanças fossem destruídas e que, em seu lugar, a puséssemos na graça soberana de Deus. A doutrina da eleição, na verdade, ensina a dependência total que o homem tem de Deus e a impossibilidade de qualquer frustração e desordem nos planos divinos por causa da desobediência do pecador e abate o orgulho humano até que ele decida tomar o lugar de alguém que suplica misericórdia. Criticaram Roland Hill por pregar a eleição e ainda exortar os pecadores ao arrependimento; disseram-lhe que ele só deveria pregar aos eleitos. Ele respondeu que, se o crítico pusesse uma marca de giz em todos os eleitos, ele só pregaria a estes. Mas esta não é a verdade toda. Não só nós desconhecemos quem são os eleitos de Deus, mas precisamos pregar tanto aos eleitos como aos que não o são (Ez. 2.7 - "tu lhes diras as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir"), na certeza de que a nossa pregação tornará o céu mais elevado para aqueles e o inferno mais profundo para estes (2 Co. 2.15,16-"Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes, certamente, cheiro de morte para morte; mas para aqueles, cheiro de vida para vida"; cf. Le. 2.34 "Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel" = para queda de alguns e para levantamento de outros). A própria ação de graças de Jesus em Mt. 11.25,26 - "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve". – é imediatamente seguido pelo convite contido no v. 28 - "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei". Na sua mente não há contradição alguma entre a graça soberana e os livres convites do evangelho. G. W. Northrup, em The Standard, 19 de setembro de 1889 - " 1. Deus quer salvar cada um da raça humana que ele pode salvar e continua sendo Deus; 2. Cada membro da raça tem uma provação completa e justa, de sorte que todos possam ser salvos e o sejam e valerem-se corretamente da luz que já têm". ... (Carta particular: "As limitações de Deus na concessão da salvação: 1. No poder de Deus relativo à livre vontade; 2. Na benevolência de Deus, que requer o maior bem da criação ou o maior bem agregado do maior número; 3. No propósito que Deus tem de fazer a mais perfeita
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limitação de si mesmo; 4. Na soberania de Deus como prerrogativa absolutamente opcional no seu exercício; 5. Na santidade de Deus que envolve limitações da parte dele ao tratar dos agentes morais. Nada a não ser uma impossibilidade absoluta, metafísica ou moral, poderia ter impedido a ele, 'cuja natureza e cujo nome é amor' de decretar e garantir a confirmação de todos os agentes morais na santidade e bem-aventurança para sempre".
g) O decreto da eleição implica um decreto de reprovação. Resposta: O decreto de reprovação não é um decreto positivo como o da eleição, mas permissivo que permite ao pecador a rebelião por livre escolha e as conseqüências naturais da punição. A eleição e a soberania são apenas fontes do bem. A eleição não é um decreto destrutivo; é um decreto apenas para salvar. Quando elegemos um presidente não precisamos de uma segunda eleição para determinar que os outros milhões restantes não serão presidentes. Não é necessário aplicar qualquer artifício ou força. Como a água, os pecadores, se simplesmente forem deixados, correrão morro abaixo para a ruína. O decreto da reprovação é simplesmente um decreto de não agir - deixar o pecador por sua própria conta. O resultado natural deste abandono judicial, da parte de Deus, é o endurecimento e destruição do pecador. Porém convém não esquecer que tal endurecimento e destruição não se devem a qualquer causa eficiente da parte de Deus; são o endurecimento e destruição próprios; o abandono judicial de Deus é tão somente a justa punição da culposa rejeição da parte do pecador relativa à misericórdia oferecida. Ver Os. 11.8 - "Como te deixaria, ó Efraim? ... Está mudado em mim o meu coração, todos os meus pesares juntamente estão acesos"; 4.17 "Efraim está entregue aos ídolos; deixa-o"; Rm. 9.22,23 - "E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição, para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia que para glória já dantes preparou" - note que a expressão "dantes preparou" declara uma causa eficiente divina positiva, no caso dos vasos de misericórdia, enquanto "preparados para a perdição" não sugere
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tal atuação positiva de Deus; os vasos da ira preparados eles mesmos para a perdição; 2 Tm. 2.20 - "vasos ... uns para honra, outros, porém, para desonra"; Jd. 4 - "antes estavam escritos para este mesmo juízo"; Mt. 25.34,41 - "o reino que vos está preparado ... preparado [não para vós, não para os homens, mas] para o diabo e seus anjos" = há uma eleição para a vida, mas não uma reprovação para a morte; um livro da vida (Ap. 21.27), mas não um livro da morte. E. G. Robinson, Christian Theology, 313 - "Reprovação, no sentido de predestinação absoluta para o pecado e perdição eterna nem é uma seqüência da doutrina da eleição, nem do ensino das Escrituras". Os homens não são "indicados" para a desobediência e engano do mesmo modo que não são "indicados" para a salvação. Deus emprega os meios positivos para salvar, não para destruir. Henry Ward Beecher: Os eleitos são quaisquer que querem; os não eleitos são quaisquer que não querem". George A. Gordon, New Epoch for Faith, 44 - "A eleição bem entendida teria sido a força salvadora de Israel; mal entendida, a sua ruína. A nação entendia que a sua eleição significava a rejeição das outras nações. ... A igreja cristã repetiu o erro de Israel". A Confissão de Westminster reza: "Pelo decreto de Deus, para a manifestação da sua glória, alguns homens e anjos são predestinados para a vida eterna e outros para a morte eterna. Anjos e homens, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; e o seu número é tão certo e definido que nem pode ser aumentado nem diminuído. Deus se agradou do resto da humanidade conforme o insondável conselho da sua própria vontade pelo qual ele estende ou restringe a misericórdia como lhe apraz para a glória do seu poder soberano sobre as suas criaturas a fim de perdoar e ordená-los para a desonra e ira por causa do seu pecado para o louvor da sua gloriosa justiça". Isto reza como se tanto os salvos como os perdidos fossem originariamente feitos com vistas aos seus estados finais independentemente do seu caráter. Isto é um supralapsarismo. É certo que os supralapsários estavam em maioria na Assembléia de Westminster e determinaram a forma da declaração apesar de haver também sublapsários, que objetaram ser apenas por causa da sua iniqüidade prevista que eles foram reprovados. Mais tarde, em sua declaração da doutrina, os presbiterianos na América esclareceram que o
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decreto de reprovação da parte de Deus é permissivo, e que não coloca nenhuma barreira no caminho da salvação de qualquer ser humano.
II. VOCAÇÃO Vocação é o ato de Deus pelo qual os homens são convidados a aceitar, pela fé, a salvação providenciada por Cristo. - As Escrituras distinguem entre: a) A vocação geral, ou exterior, a todos homens através da providência de Deus, da palavra e do Espírito. Is. 45.22 - Olhai para mim e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus e não há outro"; 55.6 - "Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto"; 65.12 - "chamei, e não respondestes; falei, e não ouvistes, mas vós fizestes o que é mal aos meus olhos e escolhestes aquilo em que eu não tinha prazer"; Ez. 33.11 "Vivo eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva; convertei-vos, converteivos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis, ó casa de Israel"? Mt. 11.28 -"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei"; 22.3 - "Enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas; e estes não quiseram vir"; Mc. 16.15 - "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura"; Jo. 12.32 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim" - atrair, não arrastar; Ap. 3.20 - "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei e ele comigo".
b) Vocação especial, eficaz, do Espírito Santo aos eleitos. Lc. 14.23 - "Saí pelos caminhos e atalhos e forçai-os a entrar, para que a minha casa se encha"; Rm. 1.7 - "A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo"; 8.30 - "E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou"; 11.29 - "Porque os dons e a
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vocação de Deus são sem arrependimento"; 1 Co. 1.23,24 - "mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus"; 26 - "Porque vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados"; Fp. 3.14 - "prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus"; Ef. 1.18 - "para que saibais qual seja a esperança da sua vocação e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos"; 1 Ts. 2.12 - "para que vos conduzísseis dignamente para com Deus que vos chama para o seu reino e glória"; 2 Ts. 2.14 - "para o que, pelo nosso evangelho, vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo"; 2 Tm. 1.9 - "que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos"; Hb. 3.1 - "irmãos santos, participantes da vocação celestial"; 2 Pe. 1.10 - "Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição".
Só duas perguntas necessitam de especial consideração: A) É sincera a vocação geral de Deus? Nega-se isto com base em que tal sinceridade é incompatível, primeiro, com a incapacidade de o pecador obedecer; e segundo, com o desígnio de Deus conceder só aos eleitos a graça especial se eles não vão obedecer. a) À primeira objeção respondemos que, porque esta incapacidade não é física, mas moral, consistindo na perversidade de uma estabelecida vontade má, não pode haver nada de insinceridade em oferecer salvação a todos, especialmente quando a oferta é em si um apropriado motivo para a obediência. A chamada de Deus para o arrependimento e para fé no evangelho não é mais desprovida de sinceridade do que o imperativo a todos os homens para que o amem de todo o coração. Não há nenhum obstáculo no caminho da obediência do homem à lei. Se é natural publicar os
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mandamentos da lei, também o é sobre os convites do evangelho. O homem pode ser perfeitamente sincero fazendo um convite que ele sabe que será rejeitado. Ele pode desejar que o seu convite seja aceito, conquanto ele ainda possa, por certas razões de justiça ou por dignidade pessoal, não desejar fazer esforços especiais, além do próprio convite, para garantir a sua aceitação da parte daquele a quem o convite é feito. O desejo de Deus de que alguns homens sejam salvos pode não ser acompanhado da sua vontade de exercer influências especiais para salvá-los. Tais desejos estão representados pelos antigos teólogos na expressão "vontade revelada"; o seu propósito é conceder uma graça especial através da expressão "vontade secreta". É daquela que Paulo fala em 1 Tm. 2.4 "que quer que todos os homens sejam salvos". Não temos aqui a voz ativa σώσαι, mas a passiva σωθήναι. O sentido não é o dos propósitos de Deus de salvar todos os homens, mas de que ele deseja que todos os homens sejam salvos através do arrependimento e fé no evangelho. Por isso, a vontade revelada ou o desejo de Deus no sentido de que todos sejam salvos é perfeitamente consistente com a sua vontade e propósito de conceder graça especial só a um certo número de pessoas. A sinceridade da vocação de Deus é apresentada não só no fato de que o único obstáculo à concordância, da parte do pecador, é a própria má vontade deste, mas também o fato de que Deus, a custo infinito, fez uma provisão externa apoiada no fato de que "quem quiser venha e beba de graça da água da vida" (Ap. 22.17); de sorte que Deus pode dizer com verdade: "que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito"? (Is. 5.4). Broadus, Com. on Mt. 6.10 - "Seja feita a tua vontade" distingue entre a vontade do propósito de Deus, do desejo e do mandamento. H. B. Smith, Syst. Theology, 521 – "A graça comum passa por uma outra que é eficaz na medida em que o pecador se entrega à influência divina. A graça eficaz é aquela que efetua o que a graça comum tende a fazer".
b) Quanto à segunda, respondemos que a objeção, se verdadeira, igualmente manter-se-ia contra a presciência de Deus. A sinceridade da vocação geral de Deus não é mais inconsistente com a sua determinação
Teologia Sistemática (Strong) 1562 que permite a alguns recusá-la do que com a presciência de que alguns a rejeitarão. Hodge, Systematic Theology, 2.643 - "A predestinação trata apenas do propósito de Deus de tornar eficaz, em casos particulares, uma vocação dirigida a todos. Uma anistia geral, em certas condições, pode ser oferecida por um soberano a um rebelde, embora ele saiba que, por causa do orgulho e da maldade, muitos se recusarão a aceitá-la; mesmo assim, por sábias razões, ele deve determinar não constranger o seu assentimento, supondo que tal influência sobre as mentes deles estariam dentro das suas forças. "É evidente, pela natureza da vocação, que nada tem a ver com o propósito secreto de Deus de admitir a sua graça eficaz a uns e não a outros. ... Conforme o esquema agostiniano, os não eleitos têm todas as vantagens e oportunidade de garantir a sua salvação, que, de acordo com qualquer outro esquema, são admitidos à humanidade indistintamente. ... Deus designou em sua adoção, salvar o seu próprio povo, mas oferece consistentemente os seus benefícios a todos os que querem recebê-los".
Β) É a vocação especial de Deus irresistível? Preferimos dizer que esta vocação especial é eficaz; isto é, que infalivelmente cumpre seu propósito de levar o pecador à aceitação da salvação. Isto implica em duas coisas: a) Que a operação de Deus não é um constrangimento externo sobre a vontade humana, mas que concorda com as leis da nossa constituição mental. Rejeitamos o termo 'irresistível', como implicando uma coerção ou compulsão estranha à natureza da obra de Deus na alma. Sl. 110.3 - Ό teu povo se apresentará voluntariamente no dia do teu poder, com santos ornamentos; como vindo do próprio seio da alva, será o orvalho da tua mocidade" - i.e., o recrutamento dos jovens para o teu padrão, tão inumerável e brilhante como o orvalho da manhã; Fp. 2.12,13 "operai a vossa salvação com temor e tremor; por que é Deus quem opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" i.e., o
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resultado da obra de Deus é a nossa própria obra. A Fórmula Luterana da Concórdia com propriedade condena o ponto de vista de que, antes, durante e depois da conversão, a vontade só resiste ao Espírito Santo; por isso, ela declara que é a própria natureza da conversão, que, na falta de vontade, Deus faz com que as pessoas a tenham. Os. 4.16 - "como uma vaca rebelde se rebelou Israel", ou "como uma vaca esgueirou-se para trás" = quando se apresenta a oferta sacrificial para ser morta, ela recua, desvia as ancas de modo a ser impelida e forçada antes de ser trazida ao altar. Estes não são "os sacrifícios de Deus" os quais são "um espírito quebrantado e um coração contrito" (SI. 51.17). Ε. Η. Johnson, Theology, 2ª ed., 250 - "Em lugar algum o N.T. declara, ou mesmo sugere, que a chamada geral do Espírito Santo é insuficiente. Ε além disso, nunca afirma que a chamada eficiente é irresistível. Psicologicamente, falar da influência irresistível sobre a faculdade da autodeterminação no homem é uma contradição expressa em termos. Nenhum dano pode advir do reconhecimento de que nós não conhecemos as razões não reveladas por que um indivíduo é eleito para a vida eterna ao invés de outro". Dr. Johnson vai além, argumentando que, caso não haja o desprezo da graça, a fé pode ser uma condição da justificação; ela pode ser uma condição para a eleição e, visto que a salvação é recebida como um dom apenas sob a condição do exercício da fé, ela tem como propósito um dom, mesmo que apenas sob a condição da fé prevista. Isto nos parece ignorar o farto testemunho da Escritura de que até mesmo a fé é um dom de Deus e, por isso, a iniciativa deve estar totalmente com Deus.
b) Que a operação de Deus é a causa originadora da nova disposição dos sentimentos e da nova atividade da vontade pela qual o pecador aceita a Cristo. A causa não está na resposta da vontade à apresentação dos motivos da parte de Deus, nem na mera cooperação da vontade do homem com a vontade de Deus, mas é um ato onipotente de Deus na vontade do homem, pelo qual sua liberdade de escolher Deus como seu fim é restaurada e corretamente exercida (Jo. 1.12,13). Para maior discussão do assunto, ver, na seção seguinte, as notas sobre a Regeneração com as quais esta chamada eficaz se identifica.
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Jo. 1.12,13 - "Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem em seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus". A graça salvadora de Deus e a vocação eficaz são irresistíveis, não no sentido de que não haverá resistência, mas no sentido de que esta não será bem sucedida. Matheson, Moments on the Mount, 128,129 - Ό teu amor por ele é para o seu amor por ti o que a luz do sol sobre o mar é para a luz do sol no firmamento: um reflexo, um espelho, uma difusão; tu devolves a glória que foi lançada sobre as águas. Na atração da tua vida para com ele, no apego do teu coração ao dele, se diz que ele está perto de ti, tu ouves a pulsação dele por ti". Upton, Hibbert Lectures, 302 - "A respeito da nossa razão e da essência dos nossos ideais, não há nenhum dualismo real entre o homem e Deus; mas no caso da vontade que constitui a essência de cada individualidade do homem, há um dualismo real e, conseqüentemente um possível antagonismo entre a vontade e o espírito dependente, o homem, a vontade do espírito absoluto e universal que é Deus. Essa dualidade real da vontade, e não a aparência da dualidade, como F. H. Bradley propõe, é condição essencial da ética e da religião".
SEÇÃO II - A APLICAÇÃO DA REDENÇÃO DE CRISTO PRECISAMENTE NO COMEÇO Sob este tópico tratamos da União com Cristo, Regeneração, Conversão (abrangendo Arrependimento e Fé) e Justificação. Tem surgido muita confusão e erro ao concebê-las como ocorrendo em ordem cronológica. Sua ordem não é cronológica, mas lógica. Como é só "em Cristo" que o homem é uma "nova criatura" (2 Co. 5.17) ou é justificado (At. 13.39), a união com Cristo logicamente precede tanto a regeneração como a justificação; contudo, cronologicamente, o momento da nossa união com Cristo é também o momento quando somos regenerados e justificados. Assim, também, a regeneração e a conversão são apenas os lados divino e humano ou aspectos do mesmo fato, apesar de que a
Teologia Sistemática (Strong) 1565 regeneração tem precedência lógica e o homem se volta para Deus só quando Deus se volta para ele. Dorner, Glaubenslehre, 3.694, neste ponto apresenta um relato da obra do Espírito Santo em geral. A obra do Espírito Santo, diz ele, pressupõe a de Cristo e prepara o caminho para a volta deste. "Como o Espírito Santo é o princípio da união entre o Pai e o Filho, do mesmo modo ele é o princípio da união entre Deus e o homem. Só através do Espírito Santo Cristo garante para si aqueles que hão de amá-lo como pessoas distintas e livres". A regeneração e a conversão não são cronologicamente separadas. Quem de uma roda começa a falar primeiro? O raio de luz e o raio de calor entram no mesmo momento. A sensação e a percepção não estão separadas no tempo, embora aquela seja a causa desta. Suponha um tubo não elástico estendido através do Atlântico. Ε que este tubo esteja completamente cheio de um fluido incompressível. Neste caso não há nenhum intervalo de tempo entre o impulso dado ao fluido nesta extremidade do tubo e o seu efeito na outra extremidade". Ver Hazard, Causation and Freedom in Willing, 33-38, que argumenta que a causa e o efeito são sempre simultâneos; também no tempo que medeia, há uma causa sem efeito; isto é, uma causa que não efetua nada; isto é, uma causa que não é causa. "Pode existir uma causa potencial de um período ilimitado sem que produza qualquer efeito e, naturalmente, pode preceder o seu efeito a qualquer distância relativa ao tempo. Mas se a causa verdadeira, eficaz, fosse o exercício de uma força suficiente, o seu efeito não pode ser adiado; pois, nesse caso, haveria o exercício de uma força suficiente para produzir o efeito, sem produzi-lo; envolveria o absurdo de ser, ao mesmo tempo, tanto suficiente como insuficiente. "Pode-se sugerir aqui uma dificuldade com relação ao fluxo ou ao progresso dos eventos no tempo, se eles são simultâneos às suas causas. Esta dificuldade não pode aparecer quanto ao esforço inteligente; porque, a respeito dele, períodos de inação podem interferir continuamente; mas se há série de eventos e de fenômenos materiais cada um dos quais é por sua vez efeito e causa, pode ser difícil ver como em qualquer tempo poderia decorrer entre o primeiro e o último da série. Se, contudo, como suponho, a série de eventos ou alterações materiais, sempre se efetuam por meio do movimento,
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não é preciso perturbar-nos, pois há exatamente a mesma dificuldade a respeito do nosso conceito do movimento da matéria de um ponto ao outro; não há espaço ou distância entre dois pontos consecutivos e o corpo em movimento vai de um terminal de uma longa linha ao outro e, neste caso, esta dificuldade neutraliza a outra.... Deste modo, mesmo que não possamos conceber como o movimento envolve a idéia de tempo, podemos perceber que, se isto ocorre deste modo, pode ser um meio de transferir os eventos, que dependem dela, também através do tempo". Martineau, Study, 1.148-150 - "Simultaneidade não exclui duração" visto que cada causa tem duração e cada efeito também a tem. Bowne, Metaphysics, 106 - "No sistema, a base completa de um evento nunca se encontra numa coisa qualquer, mas num complexo de coisas. Se uma só coisa fosse a base suficiente de um efeito, este coexistiria com a coisa, e todos efeitos ocorreriam instantaneamente. Por isso todos eventos do sistema devem ser vistos como o resultado da interação de duas ou mais coisas". A primeira manifestação de vida de um infante pode ocorrer nos pulmões, ou no coração ou no cérebro, mas o que torna qualquer e todas essas manifestações possíveis é a vida antecedente. Podemos não ser capazes de dizer o que vem em primeiro lugar, mas ter a vida que temos em todo o seu restante. Quando a roda gira, todos os raios também giram. A alma que renasce mostrará isso na fé, e na esperança, e no amor, e no espírito vivo. A regeneração envolverá arrependimento, e fé, e justificação e santificação. Mas a única vida que torna possível a regeneração e todas estas conseqüentes bênçãos é a vida de Cristo que se liga a nós para que nos liguemos a ele. Anne Reeve Aldrich, O Sentido: "Perdi a minha vida ao perder o amor. Isto manchou a minha primavera e matou a sua pomba. Durante a minha caminhada, as moribundas rosas caíam, e descerravam os seus espinhos. Achei a minha vida no encontro com Deus. No êxtase beijei o látego; pois quem atinge a meta, muito de leve pensa nos espinhos que pisa"? Ver A. A. Hodge, sobre a Ordo Salutis, na Princeton Review, março de 1888.304-321. A união com Cristo, diz Hodge, "efetua-se através do Espírito Santo numa vocação eficiente. As partes desta chamada são duas: a) a
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oferta de Cristo em favor do pecador, exteriormente, através do evangelho e interiormente através da iluminação do Espírito Santo; b) o recebimento de Cristo, que, da nossa parte, tanto é passivo como ativo. O recebimento passivo é aquele através do qual se engendra um princípio espiritual na vontade humana, enquanto produz o recebimento ativo, que é um ato de fé ao qual o arrependimento sempre se liga. A comunhão dos benefícios que resulta desta união envolve: a) uma mudança de estado ou relação, que se chama justificação; e b) uma mudança do caráter moral subjetivo, iniciada na regeneração e completada através da santificação". H. B. Smith, contudo, em seu System of Christian Theology é mais claro sobre a colocação da União com Cristo antes da Regeneração. Na p. 502, começa a tratar da Aplicação da Redenção com o título: "União entre Cristo e o crente como indivíduo efetuada pelo Espírito Santo. Isto abrange a Justificação, a Regeneração e a Santificação e o tópico subjacente a ser considerado: Eleição". Por isso ele trata da União com Cristo (531-539) antes de tratar da Regeneração (553-569). Diz ele que Calvino define a regeneração como vindo a nós pela participação em Cristo e parece concordar com este ponto de vista (559). "A união [com Cristo] baseia-se na regeneração e na justificação" (534). "A grande diferença dos sistemas teológicos parte daqui. Porque o cristianismo é redenção através de Cristo, a forma como concebemos isto determinará o caráter do nosso sistema teológico" (536). "A união com Cristo é mediada pelo seu Espírito pelo que somos renovados e justificados. O grande fato do cristianismo objetivo é a encarnação com vistas à expiação; o grande fato do cristianismo subjetivo é a união com Cristo através da qual recebemos a expiação" (537). Podemos acrescentar que esta união com Cristo, em vista da qual Deus elege e para a qual Deus chama o pecador começa na regeneração, completa-se na conversão, declara-se na justificação, e prova-se na santificação e perseverança".
I. UNIÃO COM CRISTO As Escrituras declaram que, através da operação de Deus, constituise a união da alma com Cristo diferente em gênero do concurso natural e providencial de Deus com todos espíritos assim como de todas uniões da
Teologia Sistemática (Strong) 1568 simples associação ou simpatia, semelhança moral, ou influência moral; união da vida, na qual o espírito humano, enquanto ainda possui de modo mais verdadeiro a sua própria individualidade e identidade pessoal, e é interpenetrado e revigorado pelo espírito de Cristo, inescrutável, mas indissoluvelmente unido a ele e assim torna-se membro e participante da humanidade crente e justificada da qual ele é o cabeça. União com Cristo não é união com um sistema de doutrina, nem com influências religiosas exteriores, nem com uma organização eclesiológica, nem com um ser humano ideal; mas com um Senhor pessoal ressurreto, vivo, onipresente (J. W. A. Stewart). O Dr. J. W. Alexander bem chama esta doutrina da união do crente com Cristo de "a verdade central de toda a teologia e de toda a religião". Contudo, ela recebe pouco reconhecimento formal tanto nos tratados dogmáticos como na experiência religiosa. Quenstedt, 886-912, dedicou-lhe uma seção; A. A. Hodge dedica-lhe um capítulo em seus Outlines of Theology, 369 sq., no qual reconhecemos valiosas sugestões; H. B. Smith trata disso, embora não em tópico separado, mas sob o título de Justificação (Sistema, 531-539). Contudo, os sistemas impressos de doutrina, em sua maioria, não contêm nenhum capítulo ou seção sobre a união com Cristo e os cristãos, em grande parte, freqüentemente pensam em Cristo como Salvador fora deles do que um Salvador que habita neles. Esta relativa negligência da doutrina, sem dúvida é uma reação originada do exagero de um falso misticismo. Há, entretanto, uma grande necessidade de resgatar a doutrina de tal negligência. É por isso que nós confiamos integralmente na Escritura. As doutrinas que a razão nunca pode descobrir nem provar necessitam de grande suporte da Bíblia. É uma marca da sabedoria divina que a doutrina da Trindade, por exemplo, está de tal modo entrelaçada com a produção do Novo Testamento, que a rejeição daquela implica na virtual rejeição desta. De igual modo, ensina-se a doutrina da união com Cristo de forma tão variada e abundante que, negá-la implica negar a própria inspiração.
1. Representações Escriturísticas desta União A) Ensino figurativo. É ilustrado:
Teologia Sistemática (Strong) a) Pela união de um edifício com seu alicerce.
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Ef. 2.20-22 - "edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo do Senhor, no qual vós também juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito"; Cl. 2.7 - "edificados nele" - baseados em Cristo como fundamento; 1 Pe. 2.4,5 "chegando-vos a ele, a pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas sois edificados casa espiritual" - cada pedra viva no templo cristão conserva-se na relação apropriada mútua para fazer a sua parte na adequação à habitação de Deus, só edificados em Cristo e em conexão permanente com ele que é a principal pedra de esquina. Cf. SI. 118.22 - "A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se cabeça de esquina"; Is. 28.16 - "Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse".
b) Pela união entre marido e esposa. Rm. 7.4 - "também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus" - aqui a união com Cristo é ilustrada pelo indissolúvel laço que liga marido e mulher e os faz legal e organicamente um; 2 Co. 11.2 – "estou zeloso com o zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura para um marido, a saber, a Cristo"; Ef. 5.31,32 - "Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão os dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja" - Meyer faz referência ao v. 31 como sendo totalmente a Cristo, e diz que Cristo deixa pai e mãe (o lado direito de Deus) e se une à igreja como sua esposa constituindo-se ambos uma pessoa moral. Contudo, ele torna futura a união - "Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe" - A consumação ocorre na segunda vinda de Cristo. Mas os Pais, como Crisóstomo, Teodoreto e Jerônimo relacionam isto com a encarnação.
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Ap. 19.7 - "vindas são as bodas do Cordeiro e já a sua esposa se aprontou"; 22.17 - "E o Espírito e a esposa dizem: Vem!"; cf. Is. 54.5 - Ό teu criador é o teu marido"; Jr. 3.20 - "Deveras, como a mulher se aparta aleivosamente do seu companheiro, assim aleivosamente te houveste comigo, ó casa de Israel, diz o Senhor"; Os. 2.2-5 - "Porque a sua mãe se prostituiu" -o afastamento de Deus é adultério; os Cânticos dos Cânticos, como os intérpretes judeus sempre sustentaram é um poema alegórico que descreve, sob a figura do casamento a união entre o Senhor e o seu povo; Paulo só adota a figura do Velho Testamento e aplica-a mais precisamente à união de Deus com a igreja em Jesus Cristo.
c) Pela videira e seus ramos. Jo. 15.1-10 - "Eu sou a videira, vós, os ramos; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer" - como a vida natural de Deus está na vinha, para que dê vida aos seus ramos, do mesmo modo a vida espiritual de Deus está na vinha, Cristo, para que dê vida aos seus ramos espirituais. As raízes desta nova vinha não estão plantadas na terra, mas no céu; e nela as varas meio secas do velho homem devem ser enxertadas para que possam ter vida divina. Contudo, o nosso Senhor não diz: "Eu sou a raiz". O ramo não é alguma coisa fora, que recebe nutrição de fora da raiz; ao invés disso ela é parte da vinha. Rm. 6.5 - "se fomos plantados juntamente com ele [σύμφυτοι - 'plantados juntos, crescidos juntos' empregado para indicar homem e cavalo no Centauro, Xenofonte, Ciropedia, 4.3.18], na semelhança da sua morte, também o seremos na da ressurreição"; 11.24 - "tu foste cortado do natural zambujeiro [oliveira selvagem], enxertado na boa oliveira"; Cl. 2.6,7 - "Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nele, arraigados e edificados nele" - não solidificados em Cristo como nosso fundamento, mas fincando raízes nele como num solo profundo, rico e nutritivo. Esta união com Cristo é consistente com a individualidade; porque o enxerto produz o fruto segundo a sua espécie, apesar de modificado pela árvore na qual está enxertado. Bispo H. W. Warren, em S. S. Times, 17 de out. de 1891 - "As lições da videira são de intimidade, semelhança de natureza, doação contínua da vida, frutos. Entre os amigos, esta intimidade pela média, tais como alimento, presentes, cuidado, palavras, almas que se olham a partir dos
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olhos. A mãe dá do seu liquido fresco ao bebê, mas essa intimidade logo cessa. A mãe não é tão rica na vida para alimentar continuamente a natureza do seu crescente homenzinho. O mesmo não se dá com a videira. Ela alimenta sempre. Seus rios enchem todas as barrancas. Elas explodem em folhas, flores, rebentos que descem e frutos em toda a parte. Na natureza um espinheiro enxertado em uma pereira só produz espinhos. Não há vida da pêra o suficiente para compelir a mudança da sua natureza. Mas o zambujeiro, ao contrário da sua natureza tipicamente depravada, enxertado numa oliveira boa, contraria a natureza, com a força suficiente no tronco crescente a ponto de mudar a natureza do renovo selvagem".
d) Pela união entre os membros do corpo e a sua cabeça. 1 Co. 6.15,19 - "Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? ... ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus? " 12.12 - "Porque, como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também" - aqui Cristo é identificado com a igreja da qual ele é o cabeça; Ef. 1.22,23 - "sujeitou todas as coisas a seus pés e, sobre todas as coisas, o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos" - como os membros do corpo humano estão unidos à cabeça, a fonte da sua atividade e a força que controla os seus movimentos, do mesmo modo todos os crentes são membros de um corpo invisível cuja cabeça é Cristo. Amarraremos um barbante em volta do dedo para conservar o seu próprio sangue? Não, pois todo o sangue é necessário para nutrir o dedo. Assim Cristo é "cabeça de todas as coisas para [em benefício de] a igreja" Tyler, Theol. Greek Poets, prefácio, ii). "A igreja é a plenitude (πλήρωμα) de Cristo; como para o primeiro homem, Adão, não era bom estar só, também não é bom para o segundo homem, Cristo" (C. Η. Μ.). Ef. 4.15,16 - "Cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo... faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor" 5.29.30 - "Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; porque somos membros do seu corpo".
e) Pela união da raça com a fonte da vida em Adão.
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Rm. 5.12,21 - "como por um homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte ... para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor"; 1 Co. 15.22,45,49 - "assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo ... o primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente; o último Adão, em espírito vivificante ... como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial" - como a raça toda é uma no primeiro homem Adão, em quem ela caiu e de quem derivou a natureza corrupta e culpada, do mesmo modo toda a raça de crentes constitui-se uma nova e restaurada humanidade, cuja natureza justificada e purificada deriva de Cristo, o segundo Adão. Cf. Gn. 2.23 - "Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada" - aqui C. H. M. assinala que, como o homem foi criado antes da mulher, esta é vista e formada dele, do mesmo modo acontece com Cristo e a igreja. "Somos membros do corpo de Cristo porque nele temos o princípio da nossa origem; dele surgiu a nossa vida, do mesmo modo que a vida de Eva derivou de Adão ... A igreja é uma adjutora de Cristo (Gn. 2.18) formada a partir de Cristo em seu profundo sono da morte, como Eva se originou de Adão ... A igreja estará mais próxima de Cristo como Eva mais próxima de Adão". Porque Cristo é a fonte de toda a vida espiritual do seu povo, ele é chamado, em Is. 9.6, "Pai Eterno", e em Is. 53.10 se diz que ele "verá a sua posteridade" (ver p. 680)
B) Afirmações diretas. a) Menciona-se que aquele que crê está em Cristo. A fim de não considerarmos as figuras acima mencionadas como simples metáforas orientais, afirma-se o fato da união do crente com Cristo na maneira mais direta e prosaica. Jo. 14.20 - "estais em mim"; Rm. 6.11 "vivos para Deus, em Cristo Jesus"; 8.1 - "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus"; 2 Co. 5.17 - "se alguém está em Cristo, nova criatura é"; Ef. 1.4 - "nos elegeu nele antes da fundação do mundo"; 2.13 "agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto". Deste modo se diz que o crente está "em Cristo", como o elemento ou a atmosfera que o envolve em sua presença perpétua e
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que constitui o seu sopro vital; de fato, essa expressão, "em Cristo", sempre significa "em união com Cristo", e é a própria chave das epístolas de Paulo e de todo o Novo Testamento. O fato de que o crente está em Cristo vem simbolizado no batismo: somos "batizados em Cristo" (Gl. 3.27).
b) Cristo está naquele que crê. Jo. 14.20 - "Eu em vós"; Rm. 8.9 - "vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele" - que este Espírito é o próprio Cristo aparece demonstrado no verso 10 - Έ, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o Espírito vive por causa da justiça"; Gl. 2.20 - "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim"; - aqui se diz que Cristo está no crente e, assim, viver a sua vida no crente para que ele possa apontar para isto como o fato dominante da sua experiência; não é tanto ele que vive, mas é Cristo que vive nele. O fato de que Cristo vive no crente está simbolizado na ceia do Senhor: Ό pão que partimos, não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo"? (1 Co. 10.16).
c) O Pai e o Filho habitam naquele que crê. Jo. 14.23 - "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viveremos para ele e faremos nele morada"; cf. 10 - "Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é o que faz as obras" — o Pai e o Filho habitam no crente; porque onde está o Filho também, sempre está o Pai. Se a união entre o crente e Cristo em Jo. 14.23 for interpretada como simples influência moral, então a união de Cristo com o Pai em Jo. 14.10 também deve ser interpretada como simples influência moral. Ef. 3.17 - "para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração"; 1 Jo. 4.16 -"quem está em amor está em Deus, e Deus, nele".
d) Aquele que crê tem vida participando de Cristo, como Cristo tem vida participando do Pai.
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Jo. 6.53,56,57 - "se não comerdes a carne do Filho e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos ... Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim, e eu, nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim quem de mim se alimenta também viverá por mim" - o crente tem a vida através da participação de Cristo de modo que ele não seja inadequadamente comparado com o fato de Cristo ter a vida participando do Pai. 1 Co. 10.16,17 - "Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo"? - sugerese aqui o estabelecimento da Ceia do Senhor, na linguagem simbólica, a verdadeira participação da vida de Cristo; e na margem traduz-se apropriadamente a palavra κοινωνία não por "comunhão", mas por "participação". Cf. 1 Jo. 1.3 -,"a nossa comunhão (κοινωνία) é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo". Vida Christian Life and Theology, 216 - "Em Jo. 6, as expressões trazem à mente a antiga forma de sacrifício e a conseqüente participação do ofertante durante a refeição sacrificial; como na Páscoa".
e) Todos que crêem são um em Cristo. Jo. 17.21-23 - "para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que eles também sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Ε dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade" - todos os crentes são um em Cristo a quem eles separada ou coletivamente estão unidos, como o próprio Cristo é um com Deus.
j) Aquele que crê se faz participante da natureza divina. 2 Pe. 1.4 - "para que por elas [promessas] fiqueis participantes da natureza divina" - não tendo a essência divina, mas tendo dentro de si Cristo, o Salvador divino, e indissoluvelmente ligado às vossas almas humanas.
g) Aquele que crê se faz um espírito com o Senhor.
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1 Co. 6.17 - "o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito" - a natureza humana é de tal modo interpenetrada e recebe a energia divina que ambos se movem e agem como um; cf. 19 - "ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus"? Rm. 8.26 - "o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis" - o Espírito está tão perto de nós que a nossa oração é a sua, ou melhor, a sua oração torna-se a nossa. Weiss, em a Vida de Jesus, diz que, no ponto de vista da Escritura, a grandeza humana não consiste em o homem produzir tudo por si mesmo de um modo natural, mas em possuir perfeita receptividade do maior dom de Deus. Por isso o Filho de Deus recebe o Espírito sem medida; e nós acrescentamos que o crente igualmente recebe Cristo.
2. Natureza desta união Mencionamos aqui não só um fato da vida, mas uma relação única entre o finito e o infinito. Nossas descrições devem, portanto, ser inadequadas. Contudo, em muitos respeitos sabemos o que esta união não é; em certos respeitos podemos caracterizá-la positivamente. Não devemos nos surpreender se acharmos muito mais difícil dar uma definição científica desta união do que determinar o fato da sua existência. É um fato da vida de que todos temos de tratar; e o segredo da vida, até mesmo nas formas inferiores, nenhum filósofo jamais descobriu. A mais fina flor testemunha dois fatos: primeiro, o da sua independência relativa como organismo individual; segundo, o da sua dependência última de uma vida e força que não lhe são próprias. Deste modo toda alma humana tem suas próprias forças de intelecto, sentimento e vontade; contudo, ela vive, movese e existe em Deus (At. 17.28). Partindo da verdade da onipresença de Deus, pode-se ver como se a habitabilidade de Deus no bloco de granito fosse o limite último da sua união com o finito. Porém vemos a inteligência e a bondade divinas aproximandose de nós, através de sucessivos estágios na vida vegetal, na criação animal e na natureza moral do homem. Há ainda dois estágios além destes; primeiro: na união de Cristo com o crente; segundo, na união de Deus com Cristo.
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Se esta união de Deus com o crente for apenas uma das várias aproximações de Deus na criação finita, o fato de que ela não é, igualmente aos outros, totalmente compreensível à razão, não nos deve cegar ou a respeito da sua verdade ou à sua importância. Hoje em dia é mais fácil do que em qualquer período da história crer na união do crente com Cristo. É um fato familiar à nossa geração que Deus é imanente no universo e que há um elemento divino no homem. Todo ser humano é naturalmente um com Cristo, o Deus imanente. Isto prepara o caminho para a união espiritual na qual Cristo se liga à nossa fé. Campbell, The Indwelling Christ, 131 - "Na imanência de Cristo na natureza encontramos a base para a imanência na natureza humana. ... O homem pode estar fora de Cristo, mas Cristo nunca está fora do homem. Ele não abandona os que o desprezam". John Caird, Fund Ideas of Christianity, 2.233-256 - "Deus está ligado à natureza, nos átomos, nas árvores, nos planetas. A ciência vê a natureza plena da vida de Deus. Deus está ligado ao homem em corpo e alma. A batida do seu coração e a voz da consciência testemunham da presença interior de Deus. Deus repousa na pedra, sonha no animal, desperta no homem".
A) Negativamente. – Ela não é: a) Uma união simplesmente natural, como a de Deus com todos espíritos humanos, como sustentam os racionalistas. Na nossa vida física estamos conscientes de outra vida dentro de nós, a qual não está sujeita à nossa vontade: o coração bate independente da nossa vontade, quer durmamos quer estejamos acordados. Entretanto, na nossa vida espiritual, ainda estamos mais conscientes de uma vida interior à nossa. Até os pagãos dizem: "Est Deus in nobis; agitante calescimus illo [Deus está em nós (ou, Há um Deus em nós); aquecemo-nos enquanto ele age]", e os egípcios defendiam a identificação dos que partiram com Osíris. Porém Paulo nos estimula a operarmos a nossa salvação baseados no fato de que "é Deus quem opera" em nós "tanto o querer como o efetuar segundo a sua boa vontade" (Fp. 2.12,13). Ávida de Deus na alma é a vida de Cristo.
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O movimento do carro elétrico não se explica somente pela operação do seu próprio aparelho motor. A corrente elétrica vibrando através do fio e o dínamo do qual procede a energia são necessários para explicar o resultado. Do mesmo modo necessitamos de um Cristo espiritual a fim de explicar a atividade espiritual do cristão. A. H. Strong, Sermon bef-the Batist World Congress in London, 1905 - "Há alguns anos tínhamos na América uma locomotiva a vapor cujas peças opérantes eram feitas de vidro. O vapor vinha de fora, mas, como o calor era suficiente para movimentar a máquina, o vapor tornava-se invisível e apresentava-se o curioso espetáculo de uma máquina transparente, movendo-se e realizando uma importante obra, embora não se percebesse nenhuma causa para essa atividade. Do mesmo modo, a igreja, a humanidade, o universo estão em constante e progressivo movimento, mas o Cristo que os move é invisível. A fé nos leva a crer naquilo que não podemos ver. Esta se junta ao Cristo invisível e o conhece como a própria vida.
b) Uma união simplesmente moral, ou união de amor e simpatia, como a que existe entre o mestre e o aluno, amigo e amigo, como sustentam os socinia-nos e os arminianos. Há uma união moral entre as diferentes almas: 1 Sm. 18.1 - "a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi e Jônatas o amou como à sua própria alma" - aqui a Vulgata traduz: "Anima Jonatae agglutinata Davidi". Aristóteles chama os amigos de "uma alma". Do mesmo modo, no mais elevado sentido, em At. 4.32, se diz que os crentes primitivos eram "um coração e uma alma". Mas em Jo. 17.21,26 a união de Cristo com o seu povo é diferente de uma simples união de amor e simpatia: "para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós; ... para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja". O objetivo de Jesus, em todo o seu discurso final, é mostrar que não bastará uma simples união de amor e simpatia: "sem mim", diz ele, "nada podeis fazer" Jo. 15.5) O objetivo da sua última oração é que os seus discípulos se unam vitalmente a ele. Dorner diz com precisão que o arminianismo (e juntamente com esta doutrina os católicos romanos e os que defendem os pontos de vista da
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Nova Escola concordam substancialmente) faz do homem uma simples tangente do círculo da natureza divina. Não tem nenhuma idéia da interpenetração de um pelo outro. Ritschl apresenta-nos um Cristo histórico e Pfleiderer um Cristo ideal, mas nenhum deles nos dá o Cristo vivo que é a presente vida espiritual do crente. Wendt, em seu Teaching Jesus, 2.310, igualmente está bem distante de uma interpretação séria da promessa do nosso Senhor, quando diz: "Esta união com a sua pessoa, quanto ao conteúdo, nada mais é que a concordância com a mensagem do reino de Deus, que ele trouxe".
c) Uma união de essência, a personalidade distinta e subsistência quer de Cristo, quer do espírito humano; como sustentam muitos místicos. Muitos dos místicos, tais como Schwenkfeld, Weigel, Sebastian Frank, defendiam uma união essencial entre Cristo e o crente. Por isso, um dos seguidores de Weigel dizia ao outro: "Eu sou Cristo Jesus, o Verbo vivo de Deus; eu te redimi com os meus impecáveis sofrimentos". Devemos sempre ter em mente que a habitação de Cristo em nós só põe o crente de um modo mais completo na posse de si mesmo e o torna mais cônscio da sua própria personalidade e poder. A união com Cristo deve ser considerada em conexão com a outra verdade da pessoa e atividade do cristão; doutra forma tende para o panteísmo. Martineau, Study, 2.190 - "Na natureza é a vida imanente de Deus; na moral é a sua vida transcendente com a qual nós comungamos". Ângelo Silésio, filósofo e poeta alemão (1624-1677), audaciosamente escreveu: "Eu sei que Deus não pode viver um instante sem mim; ele deixará o espírito se eu deixar de existir". Lowde, discípulo de Malebranche empregava a expressão "Deificado com Deus, e cristificado com Cristo", e Jonathan Edwards, em Sentimentos Religiosos cita-o com desaprovação, dizendo que "os santos, na verdade, não se tornam participantes da essência divina, como se pode inferir desta abominável e blasfema linguagem dos hereges". Ό eu não é um modo do divino; é um princípio de isolamento. Para a religião devo sentir uma vontade de rendição ... 'As
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nossas vontades são nossas para que as tornemos tuas'... Apesar de que o eu é, no conhecimento, um princípio de unificação; na existência, ou de um modo metafísico é um princípio de isolamento" (Seth). Inge, Christian Mysticism, 30 - "Alguns místicos afastaram-se para o ensino da substituição real da natureza divina pela humana, personalizando assim o homem - equívoco fatal porque, sem a personalidade humana, não podemos conceber a divina". Lyman Abbott: "Em Cristo, estão unidos Deus e o homem, não como o rio se une ao mar, perdendo a sua personalidade, mas como um filho se une ao pai, ou a mulher ao marido, cuja personalidade e individualidade se fortalecem e crescem através da união". Aqui o ponto de vista de Abbott se resume tanto que os místicos avançam além da verdade. Como veremos adiante, entre o crente e Cristo há uma união vital, que, na sua intimidade, ultrapassa qualquer união das almas que podemos conhecer. A união do filho com o pai, ou da esposa com o esposo, é apenas uma indicação que sugere de modo muito imperfeito a interpenetração e a concessão da energia do espírito humano através do divino.
d) Uma união mediada e condicionada pela participação dos sacramentos da igreja, como sustentam os romanistas, os luteranos e os episcopais da High-Church. Talvez a mais perniciosa falsa interpretação da natureza desta união é a que a concebe como sendo física e material, que assenta nesta base a feitura de um cristianismo sacramentai e externo. Por ora basta dizer que esta união não pode ser mediada por sacramentos, visto que estes a pressupõem como já existente; tanto o batismo como a Ceia do Senhor destinam-se apenas aos crentes. Só a fé recebe e retém Cristo; e a fé é o ato de a alma empunhar o que é totalmente invisível e supersensível; submeter-se ao batismo e participar da ceia não é um ato do corpo. William Lincoln: Ό único meio do crente que quer andar em retidão é lembrar que a verdade é sempre de mão dupla. Se é verdade que o Espírito Santo pressiona o seu coração, se você não quer levá-lo ao extremo, pergunte qual é a contrapartida da verdade, e incline-se um pouco sobre isso; se você estiver demasiadamente inclinado para um lado há o perigo de
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impulsioná-lo para a heresia. Heresia significa verdade selecionada; não significa erro; heresia e erro são coisas bem diferentes. Heresia é uma verdade, mas impulsionada para a importância indevida, para a depreciação da verdade do outro lado". Heresia (αϊρεσις) = um ato de escolha, colhendo e escolhendo uma parte, ao invés de dominar de um modo abrangente a verdade toda. Os sacramentalistas valorizam a coisa simbolizada com prejuízo do símbolo.
B) Positivamente. – Ela é: a) Uma união orgânica, em que nos tomamos membros de Cristo e participantes de sua humanidade. Kant define o organismo como aquilo cujas partes são reciprocamente meio e fim. O corpo é um organismo; visto que os pulmões existem para o coração e este para aqueles. Do mesmo modo cada membro do corpo de Cristo vive para aquele que é o cabeça; e Cristo, o cabeça igualmente vive para os seus membros: Ef. 5.29,30 - "Nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; porque somos membros do seu corpo". O despachante do trem é o símbolo da concentração de energia; o cabineiro da linha férrea e os condutores que recebem as suas ordens são símbolos da localização da força; mas tudo isso é um sistema orgânico.
b) Uma união vital, em que a vida de Cristo se toma o princípio dominante em nós. Esta união é vital, diferentemente de qualquer outra de simples justaposição ou de influência externa. Cristo não opera em nós a partir de fora, como alguém separado de nós, mas a partir de dentro como o próprio coração de que o sangue vivo do nosso espírito flui. Ver Gl. 2.20 - "vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim"; CL 3.3,4 - "porque já estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, também vós vos manifestareis com ele em glória". A vida de Cristo não se corrompe pela corrupção dos seus membros como o raio de luz não se contamina na imundície com a qual ele entra em contato. Podemos estar inconscientes
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desta união com Cristo do mesmo modo que da circulação do sangue, apesar de que ela pode ser a própria fonte e condição da vida.
c) Uma união espiritual, isto é, uma união cuja fonte e autor é o Espírito Santo. União espiritual não é a do corpo, mas a do espírito; conseqüentemente aquela que o Espírito origina e sustenta. Rm. 8.9,10 "Vós, porém não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça". A morada de Cristo envolve um contínuo exercício de poder eficiente. Em Ef. 3.16,17, "corroborados com poder pelo Espírito no homem interior" é imediatamente seguido de "para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração".
d) Uma união indissolúvel, isto é, uma união em que, consistentemente com a promessa e graça de Cristo, nunca pode dissolver-se. Mt. 28.20 - "eis que estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos"; Rm. 8.35,39 - "Quem nos separará do amor de Cristo? ... nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor" 1 Ts. 4.14,17 – "assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele. ... depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor". A onipresença de Cristo torna-lhe possível unir-se a cada crente, e estar presente com ele, de um modo tão perfeito e pleno como se cada um fosse o único a receber a plenitude de Cristo. Como a onipresença de Cristo permite que ele esteja em todo o lugar, cada crente tem a plenitude de Cristo consigo, como fonte de poder, pureza, vida; de sorte que cada um pode dizer: Cristo me dá todo o tempo e sabedoria e cuidado. Uma união como esta anula todo o elemento de instabilidade. Uma vez formada, a união é indissolúvel. Muitos dos laços da terra são rudemente quebrados; não é o que se dá na nossa união com Cristo, que permanece para sempre.
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Visto que agora há um elemento imutável e divino em nós, a nossa salvação não depende da nossa instável vontade, mas do propósito e poder de Cristo. Pela declinação temporária do dever, ou pela nossa descrença sem causa, podemos banir Cristo do mais vago e remoto compartimento da casa da alma; mas ele não nos deixa excluí-lo totalmente; quando queremos destrancar as portas, ele ainda está ali, pronto a ocupar a mansão com a sua luz e o seu amor.
e) Uma união inescrutável, contudo, mística só no sentido de superar em sua intimidade e valor qualquer outra união da alma que conhecemos. Na verdade, esta união é inescrutável; mas não é mística no sentido de ser ininteligível ao cristão ou além do alcance da sua experiência. Se a chamarmos mística, afinal de contas, deve ser apenas porque, na intimidade da sua comunhão e no poder transformador da sua influência, ela ultrapassa qualquer outra união de almas que conhecemos e, deste modo não pode ser plenamente descrita ou entendida através de analogias terrenas. Ef. 5.32 – "Grande é este mistério, digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja"; Cl. 1.27 – "as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória". Ver Diman, Theistic Argument, 380 - "Como a ciência física nos trouxe à conclusão de que atrás de todos os fenômenos do universo material encontra-se um universo invisível de forças e que estas podem ao fim ser reduzidas a uma força penetrante em que consiste a unidade do universo físico; e como a filosofia tem progredido na conjectura racional de que esta força última penetrante é simplesmente a da vontade; do mesmo modo o grande Mestre nos apresenta um universo permeado por uma vida onipotente, que nele se revelou como a sua mais elevada manifestação de que compartilham todos aqueles que, pela fé, tornaram-se participantes da sua natureza. Ele é o Filho de Deus; os homens também têm o poder de se tornarem filhos de Deus. A encarnação está inteiramente dentro do curso natural e tendências das coisas. Ela veio a ser preparada na plenitude dos tempos. A vida de Cristo não é algo esporádico e individual, que tem seu
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curso na convicção pessoal de cada discípulo; implica uma conexão real com Cristo, o cabeça. Atrás de toda a natureza há uma força; atrás de toda a variedade de vida e caráter cristãos há um poder espiritual. A natureza toda não é matéria inerte; ela é permeada de uma presença viva. Deste modo o conjunto todo de crentes vive em virtude do Espírito de Cristo inteiramente opérante, o Espírito Santo". Um epitáfio em Silton, Dorsetshire, contém: "Aqui jaz uma parte de Cristo, uma estrela no pó, uma veia de ouro, um prato da China, que deve ser usado no céu quando Deus alimentar o justo". A. H. Strong, em Examiner, 1880: "Eis a natureza da união com Cristo; para mim, é a natureza da união de cada crente com Cristo. Porque, quer ela saiba, quer não, entrou exatamente para uma co-participação como esta. É esta e só ela que o constitui um cristão e que possibilita uma igreja cristã. Na verdade, podemos estar de tal modo unidos a Cristo, sem ter a plena consciência da natureza real da nossa relação com ele. Podemos realmente possuir o cerne, embora enquanto isso consideremos só quanto à concha; para nós mesmos, podemos parecer unidos a Cristo só por um laço exterior enquanto, afinal de contas, um laço interior e espiritual é que nos faz dele. Freqüentemente Deus revela ao cristão o mistério do evangelho, que é Cristo nele a esperança da glória exatamente quando ele busca algum acesso a um Redentor fora dele. Tentando encontrar uma união de cooperação ou de simpatia, ele se encanta ao aprender que se estabelece uma união com Cristo, mais gloriosa e mais abençoada, a saber, a união vital; e, deste modo, como os mineiros fazem nas Montanhas Rochosas, enquanto ele procura prata, encontra apenas ouro. Cristo e o crente tem a mesma vida. Não são pessoas separadas ligadas por um laço temporário de amizade; um estreito e indissolúvel laço os une como se o mesmo sangue corresse nas veias de ambos. Apesar disso o cristão nunca pode ter imaginado quão estreita é a união que ele tem com o Salvador; a primeira compreensão desta verdade pode ser o portal por onde ele passa para um mais santo e mais feliz estágio da vida cristã". Deste modo, o Caminho conduz à verdade, à Vida (Jo. 14.6). A aceitação de um Salvador externo prepara para o recebimento de um Salvador interno. Primeiro Cristo é a Porta das ovelhas, mas, depois que as ovelhas entram encontram pastagem nele (Jo. 10.7-9).
Teologia Sistemática (Strong) 3. Conseqüências desta União relativa ao que crê
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Já vimos que a união de Cristo com a humanidade, na encarnação, envolveu-o em toda a responsabilidade legal da raça com a qual ele se uniu e, assim, capacitou-o a assumir a pena do seu pecado, fazendo por todos os homens uma plena satisfação à justiça divina, removendo todos obstáculos exteriores em torno do homem para com Deus. Contudo, um obstáculo interior ainda permanece - os maus sentimentos e vontade e a conseqüente culpa da alma em particular. Cristo também remove este último obstáculo, no caso de todo o seu povo, unindo-se a ele na mais íntima e perfeita forma do que aquela em que ele se uniu à humanidade em geral. Como a união de Cristo com a raça garante a reconciliação da raça com Deus, assim a união de Cristo com os que crêem garante a subjetiva reconciliação destes com Deus. Em Baird, Elohim Revealed, 607-610, em Owen, sobre a justificação, cap. 8, em Boston, Pacto da Graça, cap. 2, e em Dale, Atonement, 265-440, a união do crente com Cristo se faz para explicar Cristo suportando os nossos pecados. Contudo, como já vimos ao tratarmos da Expiação, isto explica a causa pelo efeito e implica que Cristo morreu só pelos eleitos. Não é a união de Cristo com o crente que explica por que ele assumiu a culpa e a pena humanas, mas a união de Cristo com a humanidade em geral. A anistia oferecida à cidade rebelde pode ser completa, embora só possa ser valiosa para aqueles que se rendem. O perdão garantido pelo governador baseado nos préstimos de um advogado só pode ser eficaz quando o convicto o aceita; não lhe resta nenhuma esperança quando ele despreza o perdão. Dr. H. E. Robins: "A declaração judicial de absolvição baseada na morte de Cristo, a qual vem a todos os homens (Rm. 5.18) e nos benefícios a que eles são introduzidos pelo nascimento natural é a justificação iniciada e se tornará perfeita através do novo nascimento no Espírito Santo, a não ser que a ação moral pessoal dos que estão perdidos resista à obra deste agente divino". O que o Dr. Robinson chama de "justificação iniciada" preferimos chamar de "justificação ideal", ou "justificação atingível". A humanidade em Cristo é justificada e cada membro da raça que se une a Cristo pela fé participa da justificação de Cristo. H. E.
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Dudley: Ό pecado de Adão nos rebaixa do mesmo modo que a gravidade nos sustenta todos,* enquanto a retidão de Cristo garantida a todos e acessível a todos envolve um esforço da vontade de subir e apegar-se o que nem todos farão". A justificação em Cristo é o direito inato da humanidade; mas, para possuí-lo e usufruí-lo, cada um de nós deve reivindicá-lo e apropriar-se dele pela fé. R. W. Dale, Fellowship with Christ, 7 - "Ao sermos criados em Cristo, o destino da raça humana para o bem ou para o mal tornaram-se dele. A encarnação revelou e cumpriu as relações que já existiam entre o Filho de Deus e a humanidade. Desde o princípio Cristo entrara em comunhão conosco. Quando pecamos ele ainda permaneceu em comunhão conosco. As nossas misérias" [poderíamos acrescentar: a nossa culpa] "eram dele, por sua própria escolha.... A sua comunhão conosco é a fonte da nossa comunhão com ele. ... Quando descobri que, pela própria constituição da minha natureza, devo alcançar a perfeição na força da vida de um Outro apesar de que não é um Outro, mas a própria base do meu ser - deixou de ser incrível para mim que aquele Outro que, na verdade, não é um Outro, deve ser a expiação pelo meu pecado e que a sua relação com Deus deve determinar a minha". Um tratado intitulado Os Sete Juntos" resume o testemunho da Escritura sobre as Conseqüências da União do crente com Cristo: 1. Crucificados juntamente com Cristo - Gl. 2.20 - συνεσταύρωμαι. 2. Mortos com Cristo -Cl. 2.20 - άπεθάνετε. 3. Sepultados com Cristo - Rm. 6.4 συνετάφημεν. 4. Vivificados com Cristo - Ef. 2.5 - συνεζωοποίησεν. 5. Ressuscitados com Cristo - Cl. 3.1 - συνηγέρθητε. 6. Sofredores com Cristo Rm. 8.17 – συμπάσχομεν. 7. Glorificados com Cristo - Rm. 8.17 συνδοξάσθομεν. Α união com Cristo resulta na filiação comum, relação com Deus, caráter, influência e destino. A apreensão imperfeita da união do crente com Cristo produz o grande prejuízo na doutrina cristã. Uma experiência da união com Cristo capacitanos a entender a morte do pecado e separação de Deus que recaíram sobre a raça que surgiu do primeiro Adão. A vida e liberdade dos filhos de Deus em Cristo Jesus mostram-nos, por contraste, o quanto nos distanciamos. A unidade vital e orgânica da nova raça surgida do segundo Adão revela a
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depravação e desintegração que herdáramos do nosso primeiro pai. Vemos que, como há uma fonte de vida espiritual em Cristo, do mesmo modo somos condenados em razão da nossa união com o condenado Adão. A. H. Strong, Christ in Creation, 175 -"Se é consistente com a evolução que a vida física e natural da raça derive de uma só fonte, então é, ipso facto, consistente com a evolução que a vida moral e espiritual da raça também derive de uma só fonte. A Escritura só está afirmando o fato científico quando se refere ao segundo Adão, cabeça da humanidade redimida, contrariamente ao primeiro Adão, cabeça da humanidade decaída. Dizem-nos que a evolução deve dar-nos muitos cristos. Respondemos que não nos deu muitos adãos. A evolução, quando atribui ao cabeça natural da raça uma posição suprema e única, deve ser consistente consigo mesma e deve atribuir uma suprema e única posição a Jesus Cristo, cabeça espiritual da raça. Como há apenas um Adão de quem toda a vida natural da raça derivou, do mesmo modo só pode haver um Cristo de quem deriva toda a vida espiritual da raça".
As conseqüências da união com Cristo podem ser resumidas da seguinte maneira: a) A união com Cristo envolve uma mudança de sentimento dominante da alma. A entrada de Cristo na alma faz dela uma nova criatura no sentido de que a disposição dominante, que anteriormente era pecaminosa, agora se torne santa. A esta mudança dá-se o nome de Regeneração. Rm. 8.2 – "Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus me livrou da lei do pecado e da morte"; 2 Co. 5.17 – "se alguém está em Cristo, nova criatura é"; Gl. 1.15,16 - "aprouve a Deus ... revelar seu Filho em mim"; Ef. 2.10 - "Porque somos feitura sua, criados em Cristo para as boas obras". Como derivamos nossa antiga natureza do primeiro homem, Adão, por nascimento, assim também a nova natureza do segundo homem, Cristo, pelo novo nascimento. A união com Cristo é a verdadeira "transfusão do sangue". "O pecador atacado de morte, como o pálido, anêmico, inválido moribundo, é salvo por ter derramado em suas veias o mais sadio sangue, o
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de Cristo" (Drummond, Nat. Law in the Spiritual World). Deus regenera a alma unindo-a a Jesus Cristo. Em Johnston Harvester na Batávia, quando pintam sua maquinaria, fazem-no uma parte após outra num grande tanque de pintura; deste modo a pintura é instantânea e completa. Nosso batismo em Cristo é a pintura exterior de uma imersão interior da alma não só no seu amor e comunhão, mas na sua própria vida, de modo que nele nos tornamos novas criaturas (2 Co. 5.17). Como a senhorita Sullivan cercou Helen Keller com a influência da sua forte personalidade, através da inteligência e simpatia e determinação, lutando para despertar a alma cega e surda e dar-lhe luz e amor, do mesmo modo Jesus nos envolve. Mas o Espírito de Cristo é mais envolvente e mais penetrante do que qualquer influência humana embora poderosa, porque a sua vida é a própria base e princípio do nosso ser. Tennyson: "Ó porque ergue-se em mim um homem, Para que o homem que eu sou deixe de ser!" Emerson: "mesmo sendo de Deus ele não seria livre; Ele construiu mais do que sabemos." A religião não é um novo acréscimo de um novo departamento de atividade como um acessório à nossa vida ou o enxerto de um novo método de manifestação sobre o passado. Ao invés disso é o enxerto das nossas almas em Cristo, de modo que a vida domina e manifesta-se em todas as nossas atividades. O magneto que, deixado por sua própria conta, pode levantar apenas um peso de três libras, levantará trezentas quando ligado a um dínamo. Expositor's Greek Testament sobre 1 Co. 15. 45,46 - "A ação de Jesus "soprando" sobre os seus discípulos enquanto dizia: 'Recebei o Espírito Santo' (Jo. 20.22 sq.) simboliza o relacionamento vitalizador que na ocasião ele assumiu para com a humanidade; esse ato elevou a uma potência maior o 'sopro' original de Deus através do qual o 'homem se tornou alma vivente' (Gn. 2.7)".
b) A união com Cristo envolve um novo exercício dos poderes da alma no arrependimento e fé; a fé, na verdade, é o ato da alma pelo qual, sob a operação de Deus, se recebe Cristo. A este novo exercício dos poderes da alma dá-se o nome de Conversão (Arrependimento e Fé). É o an verso ou o lado humano da Regeneração.
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Ef. 3.17 - "para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração"; 2 Tm. 3.15 - "as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus". Fé é descansar a alma em Cristo como sua única fonte de vida, perdão e salvação. Ε deste modo vemos o que na verdade é a religião. Não é vida moral; não é uma determinação de ser religioso; não é fé, se por fé entendemos uma confiança exterior de que Cristo de qualquer forma vai salvar-nos; não é nada menos que a vida da alma em Deus, através de seu Filho, Cristo. Em Cristo, então, devemos confiar a origem, a continuação e o aumento da nossa fé (Lc. 17.5 - "Acrescenta-nos a fé"). Nossa fé é apenas uma parte da "sua plenitude" da qual "todos nós recebemos graça sobre graça" (Jo. 1.16). A. H. Strong, Sermon before the Baptist World Congress, Londres, 1905 – "O cristianismo se resume em dois fatos: Cristo por nós, e Cristo em nós – Cristo por nós na cruz, revelando a eterna oposição da santidade ao pecado, e ainda, através do eterno sofrimento de Deus pelo pecado fazendo a expiação objetiva por nós; e Cristo em nós através do seu Espírito, renovando em nós a perdida imagem de Deus e permanecendo em nós como a fonte inteiramente suficiente de pureza e poder. Eis aqui os dois focos da elipse cristã: Cristo por nós, o qual nos redimiu da maldição da lei fazendo-se maldição por nós, e Cristo em nós, a esperança da glória que o apóstolo chama o mistério do evangelho. "Necessitamos de Cristo em nós do mesmo modo que Cristo por nós. Como eu e a sociedade, acharemos cura e purificação interior? Seja-me permitido responder lembrando-vos o que se fez em Chicago. No mundo inteiro não havia rio mais estagnado e fétido do que o de Chicago. Sua vagarosa corrente recebia lixo dos regatos e os monturos da cidade e não havia correnteza suficiente para levar embora os detritos. Estabelecia e alimentava miasma e febre. Por fim sugeriu-se que se fizesse uma retificação entre a cidade e o Rio Desplaines e a corrente pôde fluir na direção oposta e pôde-se garantir a drenagem para o Rio de Illinois e para o grande Mississipi. A um custo de milhões de dólares se fez a retificação e agora toda a água do Lago de Michigan pode contar com a limpeza daquela corrente turva. O que o Rio de Chicago nunca pôde fazer por si mesmo o Grande Lago faz por ele. Assim a alma pode purificar-se dos seus pecados;
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e o que o indivíduo não pode fazer a humanidade é impotente para cumprir. O pecado tem domínio sobre nós e vivemos na imundície das profundezas do nosso ser até que o auxílio de Deus rompa as barreiras da nossa vontade pessoal e deixe os dilúvios da vida purificadora de Cristo fluir em nós. Depois, numa hora, mais se faz para renovar, do que todos os nossos esforços durante anos teriam realizado. Deste modo foi salva a humanidade, indivíduo por indivíduo, não através da filosofia, ou da filantropia, ou do autodesenvolvimento, ou da auto-reforma, mas simplesmente unindo-se a Cristo e nele com toda a plenitude de Deus".
c) A união com Cristo dá àquele que crê a posição legal e os direitos de Cristo. Como a união de Cristo com a raça envolve expiação, assim a união com Cristo da parte daquele que crê envolve a Justificação. Aquele que crê está habilitado a tomar para si tudo aquilo que Cristo é e tudo o que Cristo fez; e isto porque ele tem em si a nova vida da humanidade que sofreu na morte de Cristo e ressuscitou na ressurreição de Cristo; em outras palavras, porque virtualmente ele é uma pessoa com o Redentor. Em Cristo, aquele que crê é profeta, sacerdote e rei. At. 13.39 - "por ele [lit. 'nele' = na união com ele] é justificado todo aquele que nele crê"; Rm. 6.7,8 - "Aquele que está morto está justificado do pecado ... morremos com Cristo"; 7.4 - "vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo"; 8.1 – "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus"; 17 - "herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo"; 1 Co. 1.30 "Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça [justificação]"; 3.21,23 - "porque tudo é vosso ... e vós de Cristo"; 6.11 -"haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus"; 2 Co. 5.14 - "julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo, todos morreram"; 21 - "Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que, nele, fôssemos feitos justiça [justificação] de Deus" = As pessoas de Deus, justificadas na união com Cristo (760, 761; Ofícios 59,60).
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Gl. 2.20 - "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim"; Ef. 1.4,6 - "também nos elegeu nele ... para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado"; 2.5,6 "estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo ... e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus"; Fp. 3.8,9 - "para que possa ganhar a Cristo e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus, pela fé"; 2 Tm. 2.11 - "Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos". Profeta: Lc. 12.12 "Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar"; 1 Jo. 2.20 - "E vós tendes a unção do Santo e sabeis tudo". Sacerdote: 1 Pe. 2.5 - "sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo"; Ap. 20.6 - "mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo"; 1 Pe. 2.9 -"sacerdócio real", Rei: Ap. 3.21 "Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono"; 5.10 "e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes". A conexão da justificação e união com Cristo libera aquele da acusação de ser um procedimento mecânico e arbitrário. É como disse Jonathan Edwards: "A justificação dos crentes não é outra senão a de ser admitido à comunhão e participação do seu cabeça e à confiança dos crentes".
d) A união com Cristo garante àquele que crê a transformação contínua, assimilando o poder da vida de Cristo, primeiro, pela alma; segundo, pelo corpo, - consagrando-o no presente e, no futuro, ressuscitando-o à semelhança do corpo glorificado de Cristo. A esta contínua influência, exercida na vida presente, chamamos de Santificação cujo lado humano ou aspecto é a Perseverança. Para a alma: Jo. 1.16 – "E todos nós recebemos também da sua plenitude, com graça sobre graça" - sucessivas e crescentes medidas da graça correspondentes às sucessivas e crescentes necessidades; Rm. 8.10 -Έ, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça"; 1 Co. 15.45 - "o ultimo Adão [foi feito] em espírito vivificante"; Fp. 2.5 - "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus"; 1 Jo. 3.2 - "quando ele se
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manifestar, seremos semelhantes a ele". "Pode Cristo deixar o crente cair das suas mãos? Não, porque o crente é as suas mãos". Para o corpo: 1 Co. 6.17-20-"o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito ... não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós ... glorificai pois a Deus no vosso corpo"; 1 Ts. 5.23 - Έ o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo"; Rm. 8.11 - "também vivificará o vosso corpo mortal, pelo seu Espírito que em vós habita"; 1 Co. 15.49 - "E assim como trouxemos a imagem do [homem] terreno, assim também traremos a imagem do [homem] celestial"; Fp. 3.20,21 - "Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso segundo o seu poder eficaz de sujeitar a si todas as coisas". Será que existe um milagre físico operado pelo bêbado em sua regeneração? O Sr. Moody diz, Sim; O Sr. Gough diz, Não. Preferimos dizer que a mudança é espiritual; mas que o "poder explosivo de um novo sentimento" indiretamente afeta o corpo de modo que os velhos apetites às vezes desaparecem num instante; e que, freqüentemente, com o passar dos anos, ocorrem grandes mudanças até mesmo no corpo dos crentes. "Na alma, Cristo molda o homem germinal à sua própria semelhança; esta é a embriologia da nova vida. O principal erro na vida religiosa é tentar viver sem o ambiente apropriado". A vida humana a partir de Adão não resiste ao teste; só a vida divino-humana em Cristo pode poupar-nos da queda. Esta é a obra de Cristo, agora que ele subiu e assumiu o poder, a saber, de dar a sua vida à igreja cada vez mais plenamente até que, em tudo, ela se desenvolva naquele que é o cabeça e adequadamente expresse a sua glória ao mundo. Como o organista formado descobre inimagináveis recursos do seu instrumento, do mesmo modo Cristo põe em atividade todas as forças latentes da alma humana. "Eu tinha cinco anos de ministério", dizia um pregador norte-americano, "antes que eu compreendesse que o meu Salvador é vivo". Dr. R. W. Dale deixou registrado os quase inefáveis sentimentos que tumultuavam a sua alma quando entendeu esta verdade; ver Walker, The Spirit
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and the Incarnation, prefácio, ν. Muitos lutaram em vão contra o pecado até que aceitaram Cristo em seus corações; depois disso puderam dizer: "esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé" (1 Jo. 5.4). "Sai, e Deus entrará; Morre, e viva ele; Não sejas, e ele será; Espera, e ele dará todas as coisas". A melhor forma de retirar o ar de um vaso é enchê-lo de água. Só em Cristo podemos encontrar perdão, paz, pureza, e poder. Ele "para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" (1 Co. 1.30). Um médico diz: "O único remédio radical para a dipsomania [impulsão mórbida, que faz que o indivíduo tenha avidez pelas bebidas alcoólicas] é a religiomania" (citado em William James, Varieties of Religious Experience, 268). É fácil irromper numa casa vazia; o espírito expulso volta, acha a casa vazia traz outros sete "e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros" (Mt. 12.45). Não há nenhuma segurança em simplesmente expelir o pecado; precisamos também introduzir Cristo; de fato só ele pode capacitar-nos a expulsar não só o pecado propriamente dito, mas o amor ao pecado. Alexander McLaren: "Se estamos 'em Cristo', somos semelhantes a um mergulhador em seu sino de cristal, e temos em torno de nós uma parede sólida embora invisível, que nos protege de todos os monstros marinhos, e se comunica com o ar acima; através dela extraímos o sopro da vida calma e podemos agir com segurança apesar das oceânicas profundezas". John Caird, Fund. Ideas, 2.98 - "Por que sabemos que a vida de Deus não se separa da natureza? Por causa de cada primavera em que testemunhamos o milagre anual do avivamento da natureza, em cada verão e em cada outono a seara ondulante. Como sabemos que Cristo não se separou do mundo? Porque à alma que nele confia transmite um poder, uma pureza, uma paz, que excedem a tudo quanto a natureza pode dar".
e) A união com Cristo ocasiona a sua comunhão com aquele que crê, na qual Cristo participa de todas lides, tentações e sofrimentos de seu povo; uma comunhão daquele que crê com Cristo, de modo que a experiência toda de Cristo na terra, em certo sentido, se reproduz nele; uma comunhão recíproca dos que crêem, fornecendo base da unidade espiritual do povo de Cristo na terra e da eterna comunhão no céu. Por isso a doutrina da união com Cristo é indispensável à preparação para a Eclesiologia e para a Escatologia.
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Comunhão de Cristo com o crente: Fp. 4.13 - "Posso todas as coisas naquele que me fortalece"; Hb. 4.15 - "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas"; cf. Is. 63.9 - "Em toda angústia deles foi angustiado", "naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados" = estão sendo tentados, ou estão sob tentação. Bispo Wordsworth: "Por sua paixão ele adquiriu compaixão. 2 Co. 2.14 - "graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo" = Cristo nos faz triunfar, mas o seu triunfo é nosso, mesmo que o triunfo seja sobre nós. Unidos a ele, participamos do seu regozijo e da sua soberania. Ap. 3.21 - "Ao que vencer, lhe concederei que se assente sobre o meu trono". W. F. Taylor, sobre Rm. 8.9 - "o Espírito de Deus habita em vós ... se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele" - "Cristo habita em nós, diz o apóstolo. Mas será que o aceitamos como um residente, ou como um governante? No começo, a Inglaterra era representada na corte do Rei Tebau por um residente. Esse oficial podia repreender, e até mesmo ameaçar, porém, nada mais que isso; Tebau era o soberano. Burma não sabia o que era paz até que a Inglaterra passou a reinar. Do mesmo modo Cristo não consente ser representado por um simples residente. Ele mesmo deve habitar na alma e deve reinar". Cristina Rossetti, Só a Ti: "Senhor, nós somos rios fluindo para o teu mar, Nossas ondas e vagas dependem todas de ti; Nada teríamos, nada seríamos, A não ser por ti. Doces são as águas do teu mar sem praia; Faze doces as nossas águas para que corramos para ti; Torna doces as nossas águas para que possamos ser a doçura para ti"! Do crente para com Cristo: Fp. 3.10 - "para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e a comunicação das suas aflições, sendo feito conforme a sua morte"; Cl. 1.24 - "cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja"; 1 Pe. 4.13 - "participantes das aflições de Cristo". O Cristão reproduz em miniatura a vida de Cristo e, no verdadeiro sentido, revive-a. Só apoiados no princípio da união com Cristo podemos explicar como o cristão instintivamente aplica a si mesmo as profecias e promessas que na origem e primordialmente foram pronunciadas a Cristo: "não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção" (SI. 16.10). Esta comunhão é a base das promessas feitas à oração de quem crê: Jo. 14.13 — "tudo o que pedirdes em meu nome, eu o farei"; Westcott, Bib. Com., in loco: "O sentido da expressão ['em meu nome'] é alguém comigo do mesmo
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modo como eu me revelo a vós'. Seus dois correlatos são 'em mim' e a expressão paulina 'em Cristo'". "Tudo é vosso" (1 Co. 3.21), porque Cristo é Rei universal e todos os crentes são elevados à comunhão com ele. Após a batalha de Sedan, o Rei Guilherme perguntou a um oficial prusso se ele estava bem. "Onde Vossa Majestade assume a direção tudo está bem"! foi a resposta. Fp. 1.21 - "Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é ganho". Na verdade, Paulo emprega as palavras Cristo' e 'igreja' como termos intercambiáveis: 1 Co. 12.12 - "Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, ... assim é Cristo também". Denney, Studies in Theology, 171 - "Do começo ao fim do N.T. não há no registro da vida cristã original e genuína, uma única palavra de desalento e melancolia. É o livro mais flutuante, alegre, e feliz do mundo". Isto se deve ao fato de que os escritores crêem num Cristo vivo e exaltado e não têm dúvida de estarem unidos a ele. Eles desciam coroados para a arena. No Sudão, em cada manhã, durante meia hora, diante da tenda do General Gordon, acenava-se com um lenço branco. A mais impressionante mensagem, mesmo em matéria de vida e morte, aguardava até que o lenço se afastasse. É sinal de que Cristo e Gordon estavam em comunhão um com o outro. De todos os crentes reciprocamente: Jo. 17.21 - "para que todos sejam um"; 1 Co. 10.17 – "nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo; porque todos participamos do mesmo pão"; Ef. 2.15 - "criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz"; 1 Jo. 1.3 – "que tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo" – emprega-se aqui a palavra κοινωνία. Comunhão recíproca é o efeito e o resultado da comunhão recíproca com Deus em Cristo. Compare Jo. 10.16 – "haverá um rebanho e um pastor"; Westcott, Bib. Com., in loco: "Mostra-se que o vínculo da comunhão encontra-se no relacionamento comum com um Senhor. ... Nada se diz de um 'curral' sob uma nova dispensação". Eis aqui uma unidade, não de uma organização exterior, mas de uma vida comum. A igreja visível é conseqüência e expressão disto. Mas esta comunhão não se limita à terra; perpetua-se além da morte: 1 Ts. 4.17 "e assim estaremos sempre com o Senhor"; Hb. 12.23 - "à assembléia geral e igreja dos primogênitos que estão inscritos nos céus, e a Deus, o Juiz do todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados"; Ap. 21 e 22 – a cidade de Deus, a Nova Jerusalém é a imagem da sociedade perfeita, assim como da intensidade e plenitude da vida em Cristo. As ordenanças expressam a
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essência da Eclesiologia - união com Cristo - porque o batismo simboliza a incorporação de Cristo no crente. Cristianismo é assunto social e o verdadeiro cristão sente a necessidade de estar com os irmãos e entre eles. Os romanos não podiam entender por que "esta nova seita" deve estar sempre mantendo reuniões - até diárias. Por que não podiam ir sozinhos, ou em família, aos templos, e fazer oferta ao seu Deus e, depois, voltar, como faziam os pagãos? Essas reuniões conjuntas é que os expunham à perseguição e martírio. É a expressão natural e inevitável da sua união com Cristo e deste modo da sua união mútua uns com os outros. A consciência da união com Cristo dá-lhes a garantia da salvação. É um grande estímulo à oração da fé e ao trabalho paciente. É um dever "saber qual seja a esperança da sua vocação e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos" Ef. 1.18,19). A ordem de Cristo "estai em mim e eu em vós" (Jo. 15.4), implica que nós não só devemos realizar, mas, também confirmar esta união através de um exercício ativo da nossa vontade. Devemos permanecer nele através de uma consagração e permitir que ele esteja em nós através de uma fé apropriadora. É preciso que nos entreguemos a Cristo e nos voltemos a ele, que a si mesmo se entrega a nós; em outras palavras, devemos crer nas promessas de Cristo e agir baseados nelas. Todo pecado consiste em separar de Deus a vida do homem; a maior parte da falsidade na religião são as tentativas de salvar o homem sem ligá-lo a Deus. A única religião que pode salvar a humanidade é aquela que enche o coração inteiro e a vida toda de Deus e que tem como objetivo interpretar a humanidade universal com o mesmo Cristo vivo que já se fez um com o crente. Esta consciência da união com Cristo dá "ousadia" (παρρησία -At. 4.13; 1 Jo. 5.14) para os homens e para Deus. Demóstenes se orgulha de sua franqueza. Cristo nos livra do espírito obstinado, introspectivo, auto-consciente. Nele nos tornamos livres, demonstrativos, sinceros. Deste modo, as epístolas de João falam na ousadia da oração como uma virtude; o autor da Epístola aos Hebreus nos estimula a "chegarmo-nos com ousadia ao trono da graça" (Hb. 4.16). O compromisso do casamento não é a mesma coisa que o casamento. As partes podem estar distantes uma da outra. Muitos cristãos se aproximam de Cristo o suficiente para estarem comprometidos com ele. Esta parece ser a experiência do Cristão no Peregrino de Bunyan. Mas o nosso privilégio é ter
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um Cristo presente e fazer a nossa obra não só para ele, mas nele. "Porque Cristo e nós somos um, Por que duvidar, ou temer"? "Nós dois estamos assim unidos, Ele não está no céu, Deixando-me para trás". Apresentamos um apêndice com umas poucas afirmações sobre a união e suas conseqüências, a partir de nomes notáveis na teologia e na igreja. Lutero: "Pela fé tu estás tão colado a Cristo que tu e ele vos tornais como se fosseis uma pessoa, de sorte que, com confiança podes dizer: 'Eu sou Cristo; isto é, a justiça, a vitória de Cristo são minhas'; e Cristo, por seu turno, pode dizer: 'Eu sou esse pecador; os seus pecados, a sua morte, etc., são meus, porque ele se apega a mim e eu a ele, porque nós, através da fé, temos estado juntos em carne e osso'". Calvino: "Atribuo a mais elevada importância à conexão entre a cabeça e os membros; à moradia de Cristo em nossos corações; resumindo, à união mística pela qual nos unimos a ele de sorte que, fazendo-se nosso, ele nos faz participantes das bênçãos de que ele nos guarnece". John Bunyan: Ό Senhor me levou ao conhecimento do mistério da união com Cristo, para que eu me ligue a ele de sorte que eu seja osso dos seus ossos e carne da sua carne. Através disso, também a minha fé nele bem como a minha justiça é mais reforçada; pois, se ele e eu somos um, então a justiça dele é minha, os seus méritos meus, e a sua vitória também é minha. Agora me vejo no céu e na terra ao mesmo tempo no céu, através do meu Cristo, cabeça ressurreta, minha justiça e vida, embora na terra, através do meu corpo e da minha pessoa". Edwards: "Fé é a união ativa da alma com Cristo. Deus considera próprio que, a fim de haver o estabelecimento da união entre dois seres ativos inteligentes, deve haver concordância mútua entre ambos, para que recebam reciprocamente um do outro, inteiramente unidos entre si". Andrew Fuller: "Não tenho dúvida de que a imputação da justiça de Cristo pressupõe uma união com ele; porque não há adequação alguma possível de conceder benefícios a alguém por amor a outro, onde não há união ou relação entre eles".
II. REGENERAÇÃO A regeneração é o ato de Deus pelo qual a disposição governante da alma se torna santa e pela qual, através da verdade, assegura-se o primeiro exercício dessa disposição santa.
Teologia Sistemática (Strong) 1597 A regeneração, ou o novo nascimento, é o lado divino da mudança do coração que, vista do lado humano, chamamos conversão. É Deus voltando a alma para ele mesmo; enquanto a conversão é a volta da alma para Deus, a qual é tanto a conseqüência como a causa. Da definição acima observam-se dois aspectos da regeneração: no primeiro a alma é passiva; no segundo é ativa. Deus muda a disposição governante; nesta mudança a alma simplesmente sofre a ação. Deus garante o exercício inicial desta disposição em vista da verdade; nesta mudança é a própria alma que age. Contudo, estas duas partes da operação de Deus são simultâneas. No mesmo momento em que torna a alma sensível, ele derrama a luz da sua verdade e induz ao exercício da santa disposição que ele concedeu. Como veremos, o duplo método de representar a mudança na Escritura necessita esta distinção entre os aspectos ativo e passivo da regeneração. Em muitas passagens a mudança é atribuída totalmente ao poder de Deus; trata-se de uma mudança na disposição fundamental da alma; não se empregam meios. Em outras, encontramos referência à verdade como um agente utilizado pelo Espírito Santo e a mente age em função desta verdade. Em Ef. 2.5,6 sugere-se a distinção entre estes dois aspectos da regeneração - "nos vivificou juntamente com Cristo", e "nos ressuscitou juntamente com ele". Lázaro deve ter sido ressuscitado, e ele não pôde cooperar neste sentido; mas ele também saiu da tumba e, neste sentido ele pôde ser ativo. Na velha fotografia, a chapa primeiro se tornou sensível, e nesta última chapa tornou-se passiva; depois foi exposta ao objeto, e agora ela ativamente capta os raios de luz que o objeto emitiu. Valendo-nos da ilustração da fotografia, podemos comparar a obra inicial de Deus na alma à sensibilização da chapa; a seguir vem a tarefa de projetar a luz e a de produzir o retrato. Primeiro a alma se torna receptiva à verdade; depois ela está realmente habilitada a recebê-la. Mas a ilustração falha num ponto; representa os dois aspectos da regeneração como sucessivos. Na regeneração não há sucessão cronológica. No mesmo instante em que Deus faz a alma sensível, ele também prolonga sua nova sensibilidade em vista da verdade. Notemos também que, como na
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fotografia, a imagem, embora perfeita, necessita de ser desenvolvida, e este desenvolvimento demanda tempo, de modo que a regeneração é apenas o começo da obra de Deus; nem todas as disposições, mas apenas a governante se torna santa; ainda é necessário que a santificação venha logo após a regeneração; e a santificação é uma obra de Deus que se prolonga pela vida toda. Podemos acrescentar que "a hereditariedade afeta a regeneração como a qualidade do filme afeta a fotografia e o ambiente afeta a regeneração como o foco afeta a fotografia" (W. Thayer). O sacramentalismo obscureceu tanto a doutrina bíblica que muitas pessoas que não apresentavam nenhuma evidência de regeneração estão convencidas de que são cristãs. Por isso o Tio John Vassar nunca perguntava: "Você é cristão?" mas sempre: "Você nasceu de novo"? E. G. Robinson: "Recebemos a doutrina da regeneração principalmente do apóstolo João, assim como a da justificação, do apóstolo Paulo. Stevens, Teologia Joanina, 366 -"As grandes palavras de Paulo são: justificação e justiça; as de João, nascimento da parte de Deus, e vida. Mas tanto para Paulo como para João fé é união vital com Cristo". Stearns, Evidence of Christian Experience, 134 - "A natureza pecaminosa não se foi, mas a sua força está anulada; o pecado não mais domina a vida; ele foi afastado do centro da circunferência; traz consigo a sentença de morte; o homem é livre, ao menos em potência e na promessa. 218 - Uma atividade pode ser imediata embora não intermediada. A ação de Deus na alma pode ser em todo o sentido, embora ainda imediata, do mesmo modo em que quando os espíritos se comunicam entre si". Dubois, em Century Magazine, dezembro, 1894.233 - "O homem caminhou a partir das condições físicas para a consciência das necessidades espirituais. A hereditariedade e o meio o agrilhoam. Ele necessita de auxílio espiritual. Deus prove um ambiente espiritual na regeneração. Como a ciência é a verificação do ideal na natureza, do mesmo modo a religião é a verificação do espiritual na vida humana". O último sermão de Seth K. Mitchell sobre Ap. 21.5 - "Eis que faço novas todas as coisas" - "Primeiro Deus torna o homem novo, depois dá-lhe um coração novo, e depois um novo mandamento. Dá também, um novo corpo, um novo nome, novas vestes, novo cântico e um lar novo".
Teologia Sistemática (Strong) 1. Representações Bíblicas
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a) A regeneração é uma mudança indispensável à salvação do pecador. Jo. 3.7 - "Necessário vos é nascer de novo"; Gl. 6.15 - "nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas o ser uma nova criatura"; cf. Hb. 12.14 - "a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" - por isso a regeneração é ainda mais necessária à salvação; Ef. 2.3 - "por natureza filhos da ira, como os outros também"; Rm. 3.11 - "Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus"; Jo. 6.44,65 - "Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer. ... ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não for concedido"; Jr. 13.23 - "Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podeis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal".
b) É uma mudança no princípio mais íntimo da vida. Jo. 3.3 - "aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus"; 5.21 - "como o Pai ressuscita os mortos e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer"; Rm. 6.13 - "apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos"; Ef. 2.1 - "E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados"; 5.14 - "Desperta, ó tu, que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá". Em Jo. 3.3 - "nascer de novo" = não, "alterado", "influenciado", "revigorado", "reformado"; mas um novo iniciante, um novo selo ou caráter, uma nova semelhança familiar com Deus e com os seus filhos. "Assim é todo aquele que é nascido do Espírito" (Jo. 3.8) = 1. segredo do processo; 2. independência da vontade do homem; 3. evidência nos resultados da conduta e da vida. É bom remover o meio de gratificar um apetite mau; mas quão melhor é remover o próprio apetite! É bom salvar os homens de freqüentar lugares perigosos substituindo-os por recreação e entretenimento; mas é muito melhor implantar dentro do homem esse amor por tudo o que é puro e bom, para que ele instintivamente se abstenha do impuro e mau. O objetivo do cristianismo é purificar as fontes da ação.
c) É uma mudança no coração, ou disposição direcional.
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Mt. 12.33,35 - "Ou dizeis que a árvore é boa e o seu fruto, bom, ou dizeis que a árvore é má e o seu fruto, mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. ... O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do seu mau tesouro tira coisas más"; 15.19 - "Porque do coração procedem maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias"; At. 16.14 - "E uma certa mulher, chamada Lídia, ... nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia"; Rm. 6.17 - "Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues"; 10.10 -"com o coração se crê para a justiça"; cf. SI. 51.10-"cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto"; Jr. 31.33 - "porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração"; Ez. 11.19 - Έ lhe darei um mesmo coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei um coração de carne". Horace Mann: "Um formador vale mais do que cem reformadores". Freqüentemente se diz que a redenção da sociedade é tão importante como a regeneração do indivíduo. Sim, replicamos; mas a regeneração da sociedade nunca pode ocorrer senão através da do indivíduo. Em vão os reformadores tentam construir uma comunidade estável e feliz a partir de pessoas egoístas, fracas e miseráveis. O primeiro clamor dos reformadores é: "Mudem as suas circunstâncias"! A primeira chamada de Cristo é: "Mudem-se a si mesmos e, a partir daí, as circunstâncias se mudarão". Muitas instituições de faculdades, e sociedades de temperança, e de reformas próprias começam com o fim errado. Elas se parecem com atear fogo ao carvão começando de cima. O fogo logo apaga. Necessitamos da obra de Deus exatamente na base do caráter e não no ângulo exterior, bem no começo, não somente no fim. Mt. 6.33 - "buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas".
d) É uma mudança no relacionamento da alma. Ef. 2.5 - "estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo"; 4.23,24 - "e vos renoveis no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em
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verdadeira justiça e santidade"; Cl. 1.13 - "Ele vos tirou da potestade das trevas e vos transportou para o Reino do Filho do seu amor". William James, Varieties of Religions Experience, 508 - descobre as seguintes características comuns a todas religiões: 1. Dificuldade; e 2. solução. 1. A dificuldade reduzida aos mais simples termos é o sentido de que há algo errado em torno de nós, quando nos comportamos naturalmente. 2. A solução é o senso de que somos salvos do erro estabelecendo a conexão própria com as mais elevadas forças.
e) É uma mudança que se opera em conexão com o uso da verdade como um meio. Tg. 1.18 – "Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade" – em conexão com a atuação de Deus (não simplesmente da lei natural) fala-se da verdade como um meio; 1 Pe. 1.23 - "sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre"; 2 Pe. 1.4 - "grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina"; cf. Jr. 23.29 - "Não é a minha palavra como fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a penha"? Jo. 15.3 - "Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado"; Ef. 6.17 - "a espada do Espírito, que é a palavra de Deus"; Hb. 4.12 - "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e que penetra até a divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração"; 1 Pe. 2.9 - "vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz". Um sinal de advertência reza: "Porque os espaços e as idéias aplicam-se a Johnson e a Smith" [ditado inglês que significa: as advertências se aplicam a qualquer pessoa]. Na regeneração, não necessitamos tanto de uma mente aberta e da verdade que a instrui, como podemos aplicá-la a Deus em lugar de ambos.
f) É uma mudança instantânea operada secretamente e só se conhece em seus resultados. Jo. 5.24 - "quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida"; cf. Mt. 6.24 - "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de
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odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro". Jo. 3.8 "O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito"; cf. Fp. 2.12,13 - "operai a vossa salvação com temor e tremor; porque é Deus quem opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade"; 2 Pe. 1.10 - "Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição".
g) É uma mudança instantânea operada secretamente e só se conhece em seus resultados. Jo. 1.13 - "os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus"; 3.5 - "aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus"; 3.8 - "O vento [Espírito] sopra onde quer"; Ef. 1.19,20 - "a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e pondo-o à direita nos céus"; 2.10 - "Porque nós somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas"; 1 Pe. 1.3 -"Bendito o Senhor e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia nos gerou de novo para uma viva esperança pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos"; cf. 1 Co. 3.6,7 - "Eu plantei, Apoio regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento". Já vimos que nós somos "de novo gerados ... pela palavra" (1 Pe. 1.23). Na verdade revelada a respeito das pessoas e da obra de Cristo há uma adaptação divina à obra de renovar os nossos corações. Mas a verdade em si é impotente para regenerar e santificar, a não ser que o Espírito Santo a use - "a espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Ef. 6.17). Por isso a regeneração é atribuída proeminentemente ao Espírito Santo, e se diz que os homens são "nascidos do Espírito" (Jo. 3.8). Quando Robert Morrison partiu para a China, um incrédulo americano disse-lhe: "Sr. Morrison: O Sr. pensa que pode causar qualquer impressão sobre os chineses"? "Não", respondeu ele; "mas eu penso que o Senhor pode".
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h) É uma mudança completada através da união da alma com Cristo. Rm. 8.2 - "Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte"; 2 Co. 5.17 - "se alguém está em Cristo nova criatura é"; Gl. 1.15,16 - "quando aprouve a Deus ... revelar seu Filho em mim"; Ef. 2.10 - "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus, para as boas obras". H. B. Smith, System of Theology, 553-569 - "A regeneração envolve união com Cristo, e não mudança do coração desvinculado do relacionamento com ele". Ef. 3.14,15 - "Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda família nos céus e na terra toma o seu nome". Porém, mesmo aqui Deus opera através de Cristo, e o próprio Cristo é chamado "Pai eterno" (Is. 9.6). A base real da nossa filiação está em Cristo, nosso Criador e sustentador. O pecado é o repúdio deste relacionamento filial. A regeneração pelo Espírito restaura a nossa filiação unindo-nos mais uma vez ética e espiritualmente, a Cristo, o Filho e, deste modo, adotando-nos outra vez à família de Deus. Por isso o Espírito Santo não se revela, mas Cristo, sim. O Espírito é luz e a luz não revela a si mesma, mas revela outras coisas. Posso saber que o Espírito Santo está operando dentro de mim sempre que percebo mais claramente a pessoa de Cristo. A filiação em Cristo nos faz, não só individualmente filhos de Deus, mas todos os membros da comunidade. Sl. 87.5 - "De Sião se dirá: este e aquele nasceram ali" = "a coisa mais gloriosa que se pode dizer a respeito deles não é algo pertencente à sua história, em separado, mas que eles, por adoção, se tornaram membros da cidade de Deus" (Perowne). O Salmo fala da adoção das nações, mas de igual modo dos indivíduos.
2. Necessidade da Regeneração É manifesto, não só nas passagens da Escritura já citadas, mas do conhecimento das seguintes considerações racionais que todos os homens, sem exceção, necessitam de mudança no caráter moral:
Teologia Sistemática (Strong) 1604 a) A santidade, ou conformidade com o atributo moral fundamental de Deus, é condição indispensável para garantir o favor divino, para alcançar a paz na consciência e preparar a alma para as associações e aplicações da bênção. Phillips Brooks parece ter ensinado que a regeneração é simplesmente um passo à frente no processo natural do desenvolvimento do homem. Ver sua Life, 2.353 - "A entrada nesta consciência mais profunda da filiação a Deus e na força motivadora que ela exerce é a regeneração, o novo nascimento não somente relativo ao tempo, mas também à profundidade. O homem tem algo pecaminoso para lançar fora a fim de entrar na vida mais elevada; portanto, a regeneração deve começar com o arrependimento. Mas isto é um incidente. Não é essencial à idéia. O homem somente imperfeito e não pecaminoso ainda teria de nascer de novo. A apresentação do pecado como culpa, da libertação como perdão, da conseqüência como punição, tem seu verdadeiro sentido na expressão mais pessoal da condição moral do homem, sempre medidas por Deus, e mudanças morais do homem sempre dependentes dele". Aqui a imperfeição parece significar condição depravada distinta da transgressão consciente; ela não é considerada como pecaminosa; não precisa de arrependimento. Não requer regeneração. No credo de Phillips Brooks não há nenhum artigo dedicado ao pecado. Ele chama o batismo de "a declaração do fato universal da filiação do homem a Deus. A Ceia do Senhor é a declaração do fato universal da dependência que o homem tem de Deus para o suprimento da vida. Ela está associada à morte de Jesus, porque nela a verdade de Deus entregar-se a si mesmo ao homem encontrou a mais completa manifestação". Outros parecem ensinar a regeneração através da educação. Aqui também não há nenhum reconhecimento do pecado ou culpa inatos. O homem é inocente quanto à imperfeição por natureza. Ele precisa aprender a fim de adequar-se à associação com inteligências mais elevadas e com Deus. Na evolução das suas forças vem uma crise natural, como a da graduação do estudante; esta crise pode ser chamada de conversão. Representam esta teoria educacional da regeneração Starbuck, Psychology of Religion e Coe, The Spiritual Life. Entretanto, a natureza humana não precisa de evolução, mas de involução e revolução; involução é a comunicação de uma nova
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vida, e revolução, a mudança de direção resultante dessa nova vida. Já vimos, quando tratamos a respeito do pecado, que a natureza humana não é como uma maçã verde, que se aperfeiçoa através do simples crescimento, mas como uma maçã que tem um verme no cerne, e que, deixada à sua sorte, fatalmente perecerá. O Presidente G. Stanley Hall, em seu ensaio sobre The Religions Affirmations of Psychology, diz que a depravação total do homem é um fato constatado independente dos ensinos da Bíblia. Tinham chegado às suas mãos para exame vários milhares de cartas escritas a um médico que lhe sugeriu dar conselhos confidenciais e a todos um tratamento secreto. De posse dessas cartas, Dr. Hall estava preparado para dizer que João Calvino não disse nem a metade da verdade. Ele declarou que a necessidade da regeneração para o desenvolvimento do caráter claramente se estabelecia na investigação psicológica. A. H. Strong, Cleveland Sermon, 1904 - "Aqui está o perigo de algumas das teorias modernas da educação cristã. Elas nos apresentam estatísticas, mostram que o período da puberdade é a época das mais fortes impressões religiosas; tira-se a inferência de que a conversão nada mais é do que um fenômeno natural, um estágio regular do desenvolvimento. Esquecem-se a livre vontade e a sua inclinação para o mal e a dependência absoluta da perversa natureza humana sobre o espírito regenerador de Deus. É o período da puberdade o das mais fortes impressões religiosas? Sim, mas é também o das mais fortes impressões artísticas e sociais e só um novo nascimento vindo de cima pode levar a alma a buscar primeiro o Reino de Deus".
b) A condição da humanidade universal tanto por sua natureza depravada e, chegada à consciência moral, como a culpa da verdadeira transgressão é precisamente o oposto da santidade sem a qual a alma não pode existir na relação normal com Deus, consigo mesma, ou com os seres santos. Plutarco apresenta uma parábola de um homem que tentou fazer um corpo morto ficar em pé, mas, ao fim da sua tentativa, disse: "Deest aliquid
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intus" - "Falta algo interiormente". Ribot, Diseases of the Will, 53 - "No viciado, faltam os elementos morais. Se aparece a idéia de correção, é involuntária.... Mas se a natureza não lhe dá o primeiro elemento e, com ele, o potencial, não acontece nada. Por isso, o dogma teológico da graça como um dom livre parece-nos fundamentado numa psicologia muito mais exata do que a opinião contrária". "Tu estás acorrentado à roda do inimigo por elos que o mundo não pode separar: Tu irás com o teu tirano através da tempestade e através da calma e a tua sentença é o cativeiro perpétuo". Martensen, Christian Ethics: "Quando Kant trata do mal radical da natureza humana, faz a notável afirmação que, se em nós aparece uma boa vontade, isto não acontece através da ação de um progresso parcial, nem de qualquer reforma, mas tão somente de uma revolução, uma reviravolta total dentro de nós comparada a uma nova criação". Os que sustentam que o homem pode alcançar a perfeição através do crescimento natural negam o mal radical da natureza humana e admitem que a nossa natureza é uma boa semente que necessita apenas das influências exteriores da umidade e do sol para produzir o bom fruto. Porém a natureza humana é uma semente danificada e o que vem dela abortará e não crescerá. A doutrina do mero desenvolvimento nega a santidade de Deus, o pecado do homem, a necessidade de Cristo, a necessidade da expiação, a obra do Espírito Santo, a justiça da pena. A doutrina kantiana do mal radical da natureza humana, como a aristotélica de que o homem nasceu num plano inclinado e sujeito à gravitação para baixo não condizem com uma correspondente da regeneração. Só o apóstolo Paulo pode dizer-nos como viemos a ser nesta terrível qualificação e onde está o poder que nos liberta. O digno Deão Swift pesquisou por muitos anos um método para extrair raios solares das abóboras. Não podemos curar a árvore estéril dando-lhe novas cascas ou novos ramos - ela deve ter nova seiva. A cura da picada de cobra não é matá-la. A poesia e a música, a força elevadora da cultura, a nobreza inerente ao homem, a misericórdia genérica de Deus - nada disso salvará a alma. Horace Bushnell: "A alma de todo o aprimoramento é o aprimoramento da alma". Não se pode remover a geada do vidro simplesmente raspando-o; é preciso elevar a temperatura local. É tão impossível obter a regeneração através da reforma como fazer a colheita no campo somente arando-o. Reformar é arrancar as maçãs amargas com um cordel (Dr.
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Pentecost). Isto é a regeneração ou a degradação - o começo do movimento para cima com as forças do próprio homem, ou a continuação do desenvolvimento de um movimento para baixo que só pode terminar em ruína. Kidd, Social Evolution, mostra que, na própria humanidade não há poder algum para o progresso. O oceânico navio que queimou a sua última libra de carvão pode continuar o seu curso em virtude do seu momento, mas é só uma questão de hora e logo vai parar de mover-se, a não ser que o vento e as ondas o impulsionem. Não só falta a força para o bem, mas, sem a graça de Deus, as más tendências se tornam mais graves. Os estados existentes de sentimento e vontade praticamente dominam a vida. Charles H. Spurgeon: "Se o ladrão entrasse no céu sem a transformação, começaria a bater as carteiras dos anjos". A terra está cheia de exemplos de homens decentes, não a partir do bruto, mas na direção do bruto. O joio não é uma degenerescência do trigo que, pelo cultivo, se tornará o bom trigo; eles não são apenas inúteis, mas daninhos, e devem ser arrancados e queimados. "A sociedade nunca será melhor do que os indivíduos que a formam. Nunca se faz um navio em boas condições com madeira podre. A reforma individual deve preceder a reconstrução social". O socialismo sempre será uma derrota enquanto não se tornar cristão. Devemos nascer de cima de um modo tão verdadeiro como precisamos ser gerados por nossos pais terrenos, ou não poderemos ver o Reino de Deus.
c) Por isso, requer-se a toda alma humana uma mudança radical interna que constitui seu caráter. A santidade não pode ser alcançada, como defendem os panteístas, por um simples crescimento ou desenvolvimento natural, porque as tendências naturais do homem estão totalmente na direção do egoísmo. Deve haver uma reversão nas mais íntimas disposições e princípios de ação, se ele quer ver o reino de Deus. As boas obras e a reforma dos homens podem ser ilustradas pelos redemoinhos no riacho cuja corrente desce; andando para o ocidente num vagão enquanto o trem vai para o oriente; pela viagem ao norte de Capitão Parry enquanto a massa de gelo em que ele andava se movimenta para o sul muito mais rápida do que a sua caminhada. É possível ser alguém
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"sempre aprendendo e nunca chegar ao conhecimento da verdade" (2 Tm. 3.7). Nunca houve melhor nascimento do que o nascer de novo. Mas a necessidade da regeneração implica a sua possibilidade: Jo. 3.7 "Necessário vos é nascer de novo" = vós podeis nascer de novo; o texto não só adverte e manda; ele é também uma promessa. Cada pecador tem a oportunidade de começar de novo e de iniciar uma nova vida. J. D. Robertson, The Holy Spirit and Christian Service, 57 – "Emerson diz que o portal dos dons se encerra no nascimento. Depois que o homem emerge do ventre de sua mãe, ele não mais pode ter novos dotes, nem vigorosos aumentos de força e sabedoria, alegria e graça dentro de si. A graça única é a da criação. Porém este não é um ponto de vista cristão, mas deísta". As palavras de Emerson são verdadeiras quanto aos dons naturais, mas não quanto aos espirituais. Ele esqueceu o Pentecostes. Ele esqueceu a total atmosfera da personalidade e do amor, e a sua prontidão para entrar em cada fenda e em cada greta do nosso ser voluntário. Os homens que anseiam tem de virar uma nova folha no livro da vida, romper com o passado, afirmar o que há de melhor de si, impulso preliminar do Espírito de Deus e uma evidência da graça preveniente [C. Aulete, auxílio ou proteção divina que nos induz a praticar o bem] preparando o caminho da regeneração. Assim interpretados e admitidos, estes impulsos garantem ilimitada esperança do futuro. "Nenhuma estrela jamais está perdida uma vez que a vimos; Sempre podemos ser o que poderíamos ter sido; As esperanças perdidas que parecem estar a longa distância Podem ser a mais verdadeira vida e é aí que está o sonho". As maiores mentes sentem, ao menos algumas vezes, a necessidade do auxílio do alto. Apesar de que Cícero emprega o termo 'regeneração' para significar o que deve ser chamado de naturalização, contudo, ele reconhece a dependência que o homem tem de Deus: "Nemo vir magnus, sine aliquo divino afflatu, unquam fuit". Sêneca: "Bonus vir sine illo nemo est". Aristóteles: "A iniqüidade perverte o juízo e faz os homens errarem no que se refere aos princípios práticos, de modo que aquele que não é bom não pode ser sábio e judicioso". Goethe: "Aquele que nunca comeu o seu pão de amargura, e nunca sentou-se para chorar nas lamentações à meianoite junto à sua cama, não vos conhece, ó Poderes celestiais". Shakespeare, King Lear. "Acaso há uma razão na natureza para corações
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tão endurecidos"? Robert Browning, em Haibert and Hob, replica: "Ó Lear, parece estar claro que uma razão vinda da natureza deve abrandá-los". John Stuart Mill (ver Autobiography, 132-142) sabia que o sentimento de interesse no bem-estar dos outros o faria feliz; mas o conhecimento deste fato não lhe outorga o sentimento. É fácil falar acerca do "entusiasmo da humanidade" - amor não egoísta, de que lemos em "Ecce Homo"; mas como produzi-lo, eis a questão. Drummond, Natural Law in the Spiritual World, 6194 - "Não existe nenhuma abiogênese no mundo espiritual, mais do que no natural. Pode a pedra crescer cada vez mais vivendo até entrar no mundo orgânico? Não, o cristianismo é nova vida; é Cristo em você". Como a vida natural nos vem de um modo mediato, através de Adão, assim a espiritual nos vem mediatamente através de Cristo.
3. Causa eficiente da Regeneração Só três pontos de vista necessitam de ser considerados: todos os outros são modificações destes. O primeiro ponto de vista põe a causa eficiente da regeneração na vontade humana; o segundo, na verdade, considera como um sistema de motivos; o terceiro, na atuação imediata do Espírito Santo. John Stuart Mill considera que a causa abrange todos os antecedentes de um evento. Hazard, Man a Creative First Cause, 12-15, mostra que, em qualquer dado instante, todo o passado é em todo o lugar o mesmo; os efeitos devem, sobre este ponto de vista, ser em cada instante, os únicos e os mesmos em todo lugar. "A teoria de que, de todo o evento sucessivo, a causa real é o conjunto total dos antecedentes, não distingue entre a mudança e atuação sobre as condições passivas e as causas ativas que operam sobre elas e as modificam; ela não distingue o que produz daquilo que simplesmente precede a mudança". Preferimos a definição dada por Porter, Human Intellect, 592 - Causa é "o mais conspícuo e proeminente dos agentes, ou condições que produzem o resultado"; ou a do Dr. Mark Hopkins: "Qualquer exercício ou manifestação de energia que produz mudança é uma causa e nada mais. Devemos
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estabelecer uma distinção entre causa e ocasião, ou matéria. A causa não pode ser definida como 'tudo sem o que não poderia ocorrer o efeito'". Talvez melhor ainda possamos dizer que a causa eficiente é o elemento idôneo que produz a força pela qual está garantido o efeito. James Martineau, Types, 1. prefácio, XIII - "Causa é aquilo que determina o indeterminado". A causa da fotografia não é a luz, mas o fotógrafo; a luz é apenas serva do fotógrafo. Deste modo, a "palavra de Deus" é a "espada do espírito" (Ef. 6.17); o Espírito emprega a palavra como seu instrumento; mas o próprio Espírito é a causa da regeneração.
A) A vontade humana como causa eficiente da regeneração. Este ponto de vista toma duas formas, seja a vontade considerada um ato independente das influências especiais da verdade, seja em conjunção com elas ao serem aplicadas por Deus. Os pelagianos sustentam a primeira; os arminianos, a segunda. a) Ao ponto de vista pelagiano de que a regeneração é um ato exclusivo do homem e é idêntico à auto-reforma objetamos que, visto que a depravação do pecador consiste em um estado fixo dos sentimentos, determinante do caráter da vontade, soma-se a uma incapacidade moral. Sem renovação dos sentimentos de que surge toda ação moral, o homem nem escolheria a santidade, nem aceitaria a salvação. A vontade do ser humano praticamente é a sombra dos seus sentimentos. É inútil pensar na vontade do ser humano separada dos seus sentimentos e trazê-lo para Deus, do mesmo modo que pensar na sombra do homem separada dele e conduzi-lo em direção oposta àquela em que ele está caminhando. Os sentimentos humanos, para empregar as palavras de Calvino, são como os cavalos que lançam para fora o cocheiro e correm como selvagens; eles necessitam de um novo pulso para dirigi-los. Na doença, devemos ser socorridos por um médico. Não paramos uma locomotiva aplicando força nas rodas, mas revertendo a alavanca. Do mesmo modo, a mudança do homem não deve estar na vontade transitória, mas nas profundas fontes da ação – inclinação fundamental dos sentimentos e da vontade. Shakespeare, All's Well that Ends Well, 2.1.149 – "Isso não acontece com
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aquele que sabe de todas as coisas, como ocorre a nós, que esquadrinhamos as nossas suposições com exibições; porém, na maioria das vezes, é presunção da nossa parte esperar do céu o auxílio com que podemos contar da parte dos homens". Henry Clay diz que não sabe por si mesmo qual o sentido da mudança do coração de que os homens falam; mas ele viu os feudos da família Kentucky por muitas vezes curados por avivamentos religiosos e qualquer coisa que pudesse curar um feudo da família Kentucky era muito mais do que humano. Durante a vida toda o Sr. Peter Harvey foi amigo de Daniel Webster. Ele escreveu o mais interessante volume sobre as reminiscências do grande homem. Conta como John Colby casou-se com a irmã mais velha do Sr. Webster. Dizia o Sr. Webster a respeito de John Colby: "Por fim, ele subiu para Andover, New Hampshire, comprou uma fazenda, e a única lembrança que tenho dele é que chamou os homens mais ímpios da sua redondeza, até onde a blasfêmia e impiedade podiam chegar. Eu estranhei como minha irmã pôde casar-se com um homem tão profano como John Colby". Anos mais tarde vem a notícia ao Sr. Webster de que uma maravilhosa mudança ocorreu com John Colby. O Sr. Harvey e o Sr. Webster viajam juntos para uma visita a John Colby. Quando o Sr. Webster entra na casa de John Colby, o vê lendo uma Bíblia com letras graúdas aberta diante dele. Houve a troca de cumprimentos e, a seguir a primeira pergunta de Webster: "Você é crente"? Então, por sugestão de John Colby os dois se ajoelham e juntos oram. Terminada a visita, eis o que o Sr. Webster diz ao Sr. Harvey enquanto cavalgam de volta: "Eu gostaria de saber o que os inimigos da religião diriam da conversão de John Colby. Humanamente falando, era um homem tão improvável de tornar-se um cristão como nunca vi. Ele era atrevido, indiferente, ímpio, nunca ia à igreja, nunca experimentou uma boa influência de associação com pessoas religiosas. Ε aqui ele tem estado vivendo nessa atitude atrevida até tornar-se um velho num período de vida quando naturalmente ninguém esperava que os seus hábitos mudassem. Entretanto, foi levado à condição a que hoje acabamos de ver; um crente penitente, confiante e humilde". "O que quer que as pessoas possam dizer", acrescentou o Sr. Webster, "nada pode convencer-me de que alguma coisa,
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por pequena que seja, da graça do Deus Onipotente operou tal mudança como eu, com os meus olhos, testemunhei na vida de John Colby". Quando voltaram para Franklin, New Hampshire, à noitinha, encontraram John Taylor, outro velho amigo de Webster, em pé junto à porta. O Sr. Webster o chamou: "Bem, John Taylor, os milagres acontecem ainda hoje como nos tempos antigos". "O que aconteceu, Cavalheiro"? perguntou John Taylor. "Por que"? retrucou o Sr. Webster, "John Colby tornou-se um cristão. Se isto não é um milagre, o que é, então"?
b) Ao ponto de vista arminiano, de que é um ato do homem em cooperação com as influências divinas aplicadas através da verdade (teoria da sinergia), objetamos que, por este meio não se concebe nenhum início de santidade. Pois, desde que o egoísmo do homem e os sentimentos perversos são imutáveis, não é possível nenhuma escolha de Deus, a não ser a que procede do desejo supremo do interesse de si mesmo e felicidade. Mas o homem extremamente inclinado para a gratificação própria não pode ver em Deus, ou no seu serviço, o que quer que seja que produza sua felicidade; ou se ele pudesse ver nisso alguma vantagem, sua escolha de Deus ou de seu serviço, a partir de tal motivo, não seria uma escolha santa e, portanto, não poderia ser um começo de santidade. Apesar de Melanchthon (1497-1560) ter precedido Armínio (15601609), substancialmente o seu ponto de vista é o mesmo do teólogo holandês. Melanchton nunca experimentou as angústias e fadigas de uma nova vida espiritual, como aconteceu com Lutero. Seu desenvolvimento exterior e interior era peculiarmente plácido e sereno. Este Praeceptor Germaniae tinha a modéstia de um genuíno erudito. Não era dogmático e nunca entrou nas fileiras do ministério. Nunca foi persuadido a aceitar o grau de Doutor em Teologia, embora prelecionasse sobre assuntos teológicos a auditórios de milhares de pessoas. Dorner diz a respeito de Melanchton: "A princípio ele sustentava que o Espírito de Deus é o elemento principal e a palavra de Deus vem em segundo lugar, ou é um instrumento, um agente na conversão, enquanto a vontade humana permite a ação deles e livremente
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se renda a ela". Mais tarde ele sustentava que "a conversão é o resultado da ação combinada (copulatio) de três causas: a verdade de Deus, o Espírito Santo, e a vontade do homem". O ponto de vista sinérgico nos seus últimos anos envolveu o teólogo da reforma alemã em séria dificuldade. Luthardt: "De uma simples capacitas ele fez uma facultas". Dorner ainda diz: "A causalidade do homem não deve ser coordenada à de Deus, ainda que lhe seja atribuída uma pequena influência. Ela não é um agente produtivo, mas puramente receptivo. O oposto é o erro fundamentalmente romanista". O amor próprio nunca induzirá o homem a abrir mão do seu amor próprio. O egoísmo não sufocará e lançará fora o egoísmo. "Tal escolha de um motivo egoísta não será santa, julgada segundo o padrão divino. É um absurdo fazer a salvação depender do exercício do poder inteiramente não espiritual. Shedd, Dogm. Theology, 2.505 - "O pecado não pára em primeiro lugar e, depois, entra a santidade em seu lugar; porém esta positivamente o expele. A escuridão não cessa primeiro e depois entra a luz; mas a luz a afasta". A teologia de João Wesley é um arminianismo modificado, embora tenha sido ele quem mais fez para o estabelecimento da doutrina da regeneração. Ele afirma que o Espírito Santo age através da verdade, diferentemente da doutrina de que o Espírito Santo opera somente através dos ministros e dos sacramentos da igreja. Mas, ao afirmar a obra do Espírito Santo na alma do indivíduo, ele foi longe demais ao extremo oposto, atribuindo ao homem a capacidade de escolher a obra de Deus, quando sem o seu amor nada atrai na sua obra. A. H. Bradford, The Age of Faith: "É como se Jesus tivesse dito: Se um marinheiro usar apropriadamente o leme o vento encherá as suas velas. A vontade é o leme do caráter; se ele se volta para a direção correta, todos os ventos do céu favorecerão; se girar para uma direção errada, eles se oporão". Volta a pergunta: O que leva o homem a girar o leme de forma correta se ele não deseja alcançar o poder do céu? Eis aqui jaz a necessidade do poder divino, não só para cooperar com o homem, depois que a sua vontade está na direção certa, mas em primeiro lugar. Fp. 2.13 - "é Deus quem opera em vós tanto o querer como o efetuar segundo a sua boa vontade". Ainda outra modificação na doutrina arminiana se encontra na Teologia Revelada de N. W. Taylor de New Haven, o qual sustenta que, antes da regeneração, suspende-se o princípio egoísta no coração do pecador e que,
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depois disso, apoiado pelo amor próprio, ele emprega os recursos da regeneração a partir dos motivos que nem são pecaminosos, nem puros. Ele sustenta que todos os homens, quer santos, quer pecadores têm por fim último a sua própria felicidade. A regeneração não envolve nenhuma mudança no propósito diretivo de buscar tal felicidade em Deus ao invés de buscá-la no mundo. O Dr. Taylor diz que o homem não pode voltar-se para Deus qualquer que seja a atuação do Espírito, positiva ou negativa. Ele pode voltar-se para Deus se quiser; mas também pode voltar-se para Deus se não quiser. Em outras palavras, ele defende o poder da escolha contrária conquanto ainda afirme a certeza de que, sem a influência do Espírito Santo, o homem sempre fará a escolha errada. Tais doutrinas causaram uma divisão no grupo Congregacional. Os que se opõem a Taylor retiram o seu apoio a New Haven e fundam o Seminário Oriental de Windsor em 1834. O principal oponente a Taylor é o Dr. Bennet Tyler. Ele replicou ao Dr. Taylor que o caráter moral não tem a sua sede no propósito, mas nos sentimentos que o antecedem. De outro modo, cada cristão deve encontrar-se num estado de perfeição não pecaminosa porque o seu propósito diretivo é servir a Deus. Mas sabemos que há sentimentos e desejos que não estão sob o controle deste propósito - disposições que não se conformam com a disposição predominante. Como pode o pecador totalmente egoísta, a partir de um motivo egoísta, resolver tornar-se não egoísta e, deste modo, suspender o seu egoísmo, pergunta o Dr. Tyler? "Antes da regeneração não pode haver suspensão do princípio egoísta. Dizem que, suspendendo-o, o amor próprio atua sobre o pecador. Porém é possível que o pecador, conquanto destituído do amor a Deus e cada partícula da genuína benevolência, afinal de contas, ame a si mesmo e não o faça de modo supremo? Ele não ama nada mais do que a si mesmo. Não considera Deus ou o universo a não ser quando eles tendem a promover o seu fim último que é a sua felicidade. Nenhum pecador jamais abandona o seu egoísmo enquanto a graça divina não o subjuga. Não nos tornamos regenerados preferindo Deus ao mundo somente considerando o nosso interesse. Não há necessidade alguma de que o Espírito Santo renove o coração se o amor próprio leva o homem a voltar-se do mundo para Deus. Com base no ponto de vista assim combatido a depravação consiste na ignorância. Todos os homens necessitam desta iluminação como o melhor meio de garantir a sua própria felicidade. Martineau, Study, 2.9 - "Fazendo o interesse do homem
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tornar-se desinteressado, será que você o faz esquecer-se de si mesmo e pôr um certo amor no seu coração? ou você o quebranta e o faz mudar a direção pondo-lhe um freio e usando um chicote para orientar a sua necessidade"? Sem a graça de Deus, o pecador não tem condições de ver a verdade. Wilberforce fez Pitt ouvir a pregação de Cecil, mas Pitt não entendeu uma palavra do que Cecil disse. Sem a graça de Deus, o pecador, quando induzido a ver a verdade, resiste-a cada vez mais quanto mais claramente ele a vê. Depois o Espírito Santo vence esta oposição e o torna desejoso do dia do Senhor (Sl. 110.3).
Β) Α verdade como causa eficiente da regeneração. Segundo este ponto de vista, a verdade como sistema de motivos é a causa direta e imediata da falta de santidade para a santidade. Este ponto de vista é passível de objeção por duas razões: a) Erroneamente considera os motivos como totalmente exteriores à mente que é influenciada por eles. Isto é concebê-los como constrangendo a vontade e não distintos da teoria necessitaria. Ao contrário, os motivos se compõem de apresentações exteriores e disposições interiores. Os sentimentos da alma é que nos tornam certas sugestões atraentes e outras repugnantes. Em resumo, o coração faz o motivo. b) Só quando se ama a verdade, portanto, pode ela tornar-se motivo de santidade. Porém já vimos que a aversão do pecador para com Deus é tal que se detesta a verdade em vez de amá-la e detesta-se mais intensamente quanto mais se vê distintamente. Por isso o simples poder da verdade não deve ser considerado como causa eficiente da regeneração. O ponto de vista contrário implica que não é a verdade que o pecador detesta, mas algum elemento de erro que se mistura a ela. Lyman Beecher e Charles G. Finney sustentam este ponto de vista. A influência do Espírito Santo difere da do pregador somente em grau; ambas empregam apenas a persuasão moral; ambas nada mais fazem do que
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apresentar a verdade; ambas trabalham na alma a partir de fora. "Se eu fosse tão eloqüente como o Espírito Santo poderia converter os pecadores como ele o faz", disse um pregador popular desta escola. De acordo com este ponto de vista, seria absurdo orar a Deus pedindo para regenerar, porque isso é mais do que ele pode fazer; regeneração é somente o efeito da verdade. Miley, em Meth. Quarterly, julho, 1881, 434-462, sustenta que a vontade não pode agir racionalmente sem motivo, mas tem sempre poder para suspender a ação, ou deferi-la, por causa do propósito do exame racional do motivo ou do fim e considerar o motivo ou fim oposto. Retirando o fim ou o motivo velho do ponto de vista, romperá temporariamente o seu poder e a verdade considerada nova fornecerá motivo para a ação correta. Por isso, empregando a nossa faculdade da escolha suspensiva e a atenção fixadora, podemos entender a elegibilidade do bem e escolhê-la contra o mal. Contudo, esta não é a compreensão de uma nova vida espiritual na regeneração, mas a escolha do seu alcance. A força suspensiva pertence à graça [contudo, graça dada igualmente a todos]. Sem esta força, a vida seria um desenvolvimento espontâneo e irresponsável do mal". Substancialmente, o ponto de vista de Miley parece com o do Dr. Taylor, já comentado; entretanto, diferentemente dele, separadamente dos sentimentos, faz da própria liberdade um agente determinante na mudança do pecado para a santidade. Nossa única resposta é que, sem uma mudança nos sentimentos, nunca se pode conhecer nem obedecer a verdade. Ver não pode ser recurso para nascer de novo, porque primeiro é necessário nascer de novo para ver o reino de Deus (Jo. 3.3). A mente não escolherá Deus enquanto Deus não pareça ser o supremo bem. Edwards, citado por Griffin, Divine Efficiency, 64 - "Aplique o pecador as suas forças racionais à contemplação das coisas divinas e seja a sua crença especulativamente correta; ainda ele se encontra num estado tal que aqueles objetos da contemplação não despertam nele nenhum sentimento santo". As Escrituras declaram (Rm. 8.7) que "a inclinação da carne é inimizade" – não contra o erro ou noção de engano a respeito de Deus - mas "contra Deus". O que se detesta é a santidade de Deus, determinativa e punitiva. O ponto de vista mais claro dessa santidade só aumentará o grau de aversão. A aversão de uma mulher pelas aranhas nunca se transformará
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em amor pondo-as mais perto dela. Ampliá-las com uma composição de microscópio de oxiúro não resolverá a questão. Tyler: "Toda luz do dia final não abrandará o coração do pecador". A simples presença de Deus, e o simples ver Deus face a face, serão inferno para ele, se a sua aversão primeiro não se transformar em amor. Bradford, Heredity and Christian Problems, 239 - "O cristianismo propõe ao homem três motivos: amor, amor próprio e medo". Na verdade, apenas os dois últimos são motivos preliminares, não essencialmente cristãos. A alma movida apenas pelo amor próprio ou pelo medo não entrou na vida cristã. Ε qualquer atenção à verdade de Deus que tem origem nestes motivos não tem nenhum valor moral absoluto e nem mesmo pode ser considerado um começo da salvação. Nada a não ser a santidade e o amor deve chamar-se cristianismo e a verdade por si mesma não pode despertá-los. O Espírito de Deus pode com a verdade transmitir os desejos corretos e tornar a verdade eficaz. E. G. Robinson: "A glória da nossa salvação não pode mais ser atribuída apenas à palavra de Deus mais do que a glória de Praxiteles ou de Canova o pode ao cinzel ou ao malhete com que ele operou as suas criaturas imortais".
C) A atuação imediata do Espírito Santo, como causa eficiente da regeneração. Atribuindo ao Espírito Santo a autoria da regeneração, não afirmamos que o Espírito divino cumpre a sua obra sem qualquer instrumentação. Afirmamos simplesmente que o poder regenerador é o de Deus e que, apesar do uso de recursos, há uma operação direta de tal força sobre o coração do pecador que muda o seu caráter moral. Acrescentamos duas notas à guisa de mais explicações. a) As declarações escriturísticas da habitação do Espírito Santo e sua força intensa na alma proíbem-nos de considerar o Espírito divino na regeneração como entrando em contato, não com a alma, mas só com a verdade. As expressões, "fortalecer a verdade", "intensificar a verdade", "esclarecer a verdade", não têm nenhum sentido próprio; visto que
Teologia Sistemática (Strong) 1618 mesmo Deus não pode tornar a verdade mais verdadeira. Se se opera qualquer mudança, deve ser, não na verdade, mas na alma. A máxima, "a verdade é poderosa e prevalecerá", é muito inverídica se Deus não for levado em conta. Verdade sem Deus não é uma força; é uma abstração. É um simples instrumento, inútil sem um agente. "A espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Ef. 6.17), deve ser manejada pelo próprio Espírito Santo. Ε o Espírito Santo entra em contato não somente com o instrumento, mas com a alma. Para toda a verdade moral e, especialmente religiosa, há uma insensibilidade interior que surge da perversidade dos sentimentos e da vontade. Deve-se remover a cegueira e a dureza de coração antes que a alma possa perceber e mover-se para a verdade. Por isso o Espírito deve tratar diretamente da alma. Denovan: "O nosso coração natural é de pedra. A palavra de Deus é a boa semente lançada na estrada dura, pisada, macadamizada, que os cavalos da paixão, os asnos da vontade própria, as carruagens do tesouro imaginário tornaram impenetrável. Só o Espírito Santo pode amolecer e pulverizar esse tipo de solo". O Salmista ora: "Inclina o meu coração a teus testemunhos" (SI. 119.36), enquanto a respeito de Lídia se diz: "o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia" (At. 16.14). A respeito do Espírito Santo podemos dizer: "Ele congela e depois derrete o solo, ele quebranta o que é duro, a gélida pedra; mata a raiz das ervas daninhas; tudo isto ele faz sozinho; e toda a virtude é nossa. Cada vitória que nós conseguimos e cada pensamento de santidade são dele e somente dele". Por isso, em SI. 90.16,17, o salmista diz: "Apareça a tua obra aos teus servos"; e depois, "confirma sobre nós a obra das tuas mãos" - a obra de Deus é que primeiro deve aparecer; depois a do homem; que é a obra de Deus executada por instrumentos humanos. Em Jerico, não se aplicou a força aos chifres de carneiro, mas às muralhas. Quando Jesus curou o cego, não se aplicou o poder dele na saliva, mas nos olhos. Não se prepara a impressão aquecendo o sinete, mas amolecendo a cera. Do mesmo modo age o poder de Deus, não sobre a verdade, mas sobre o pecador. Sl. 59.10 – "O Deus da minha misericórdia virá ao meu encontro". V. A. "O Deus da minha misericórdia me protegerá", i.e., irá diante de mim. Agostinho argumenta com este texto para provar que a graça de Deus precede a todo o mérito humano: Ό que achaste em mim a não ser pecado? Antes que
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eu faça qualquer coisa boa, a misericórdia dele vai adiante de mim. Que resposta o infeliz Pelágio me dará aqui"? Entretanto, Calvino diz que pode ser piedoso, mas não é razoável o emprego desta passagem. Na verdade ela nos ensina a dependência de Deus; mas a antecipação de Deus relativa à nossa ação, ou, doutra forma, a doutrina da graça preveniente, deve derivar de outros trechos da Escritura tais como Jo. 1.13 e Ef. 2.10. Ό entusiasmo da humanidade" para o qual S. R. Seeley, autor de Ecce Homo, nos exorta, é sem dúvida o segredo da felicidade e da utilidade; lamentavelmente ele não nos diz de onde ele nos vem. John Stuart Mill sente a sua necessidade, mas não o tem. Arthur Hugh Clough, Clergyman's First Tale: "Poderia eu desejar que toda a minha vontade repousasse e saber desejar qual é a melhor vontade". Bradford, Heredity, 228 - "Deus é o ambiente da alma, apesar de que tem livre vontade. A luz enche o espaço, apesar de que o homem, na sua ignorância, pode permanecer na cova, ou escolher morar nas trevas". Por isso ele necessita de uma influência divina que gere nele uma disposição de empregar corretamente as suas oportunidades. Podemos ilustrar a filosofia dos avivamentos através do barco do canal que se encontra diante do portal de uma eclusa. Não há força na terra que possa abri-la. Mas logo que a eclusa começa a encher e a água chega ao nível adequado, pode-se abrir a eclusa quase com um toque. Ou, o navio corre para um banco de areia. Os rebocadores não conseguem retirar o navio. As suas próprias máquinas não conseguem fazê-lo. Mas quando vem a maré, ele corre livre, sem esforço. Do mesmo modo o que nós precisamos na religião é o influxo espiritual que facilitará o que antes era impossível. O superintendente de uma prisão do Estado de Nova Iorque conta-nos que as escolas comuns fornecem 83% e as faculdades e academias mais de 4% dos internos de Auburn e Sing Sing. A verdade sem a aplicação do Espírito Santo é como o brilho solar sem o raio actínico que é o único elemento que pode dar-lhe energia vitalizadora.
b) Mesmo que a verdade fosse fortalecida, esclarecida, intensificada ainda haveria necessidade de mudança na disposição moral antes que a alma pudesse reconhecer sua bem-aventurança e ser afetada por ela. Nenhum simples aumento de luz pode capacitar o cego a ver; a doença do olho primeiro precisa ser curada antes que os objetos sejam visíveis.
Teologia Sistemática (Strong) 1620 Assim a obra de Deus na regeneração deve ser feita dentro da alma. Bem acima de toda a influência da verdade deve haver uma influência direta do Espírito Santo no coração. Apesar de operada em conjunção com a apresentação da verdade ao intelecto, a regeneração difere da persuasão por ser uma atuação imediata de Deus. Antes da regeneração, o conhecimento que o homem tem de Deus é cego. As Escrituras o chamam de "ignorância" (Ef. 4.18). O coração não aprecia a misericórdia de Deus. A regeneração traz um conhecimento experimental ou de coração; ver Shedd, Theol. Dogm., 2.495. Is. 50.4 - Deus "desperta-me o ouvido para que ouça". É falso dizer que a alma pode entrar em contato com a alma só através da influência da verdade. No interrelacionamento entre amigos ou no discurso do orador, há uma influência pessoal, distinta da palavra falada, que persuade o coração e conquista a vontade. Às vezes chamamo-la "magnetismo"; é a alma que alcança a alma em caminhos que independem do emprego de interferência física. Compare os fatos, embora conhecidos imperfeitamente, à segunda vista, lidos na mente, à clarividência. Mas quer sejam aceitos, quer não é verdade que Deus não fez a alma humana a tal ponto que é inacessível a ele mesmo. O Espírito onipresente penetra e permeia todos espíritos que foram feitos por ele. Na primeira mudança de disposição, que é a característica essencial da regeneração, o Espírito de Deus age diretamente sobre o espírito do homem. Para a segurança do exercício inicial desta nova disposição, - que constitui a característica secundária da obra de Deus da regeneração - a verdade é usada como um meio. Daí, talvez, em Tg. 1.18 nós temos: "por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade" no lugar de "ele rogounos pela palavra da verdade," - a referência sendo a característica secundária e não a primária da regeneração. Os defensores do pondo de vista oposto - o ponto de vista de que Deus opera somente através da verdade como um meio, e que sua única influência sobre a alma é uma influência moral - muito naturalmente estes negam a união mística da alma com Cristo. Cristo, abrindo os olhos ao cego, e desimpedindo os ouvidos ao surdo, ilustra a natureza da operação de Deus na regeneração; no caso do cego há
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fartura de luz; o que ele queria era ver. O negro disse que a sua conversão se deveu a ele mesmo e a Deus; ele lutou contra Deus com toda a sua força, e Deus lhe deu o descanso. Do mesmo modo os nossos sucessos morais se devem a nós mesmos e a Deus; a única coisa que fizemos foi lutar contra Deus, e Deus nos deu o descanso. A areia do Saara não produziria flores e frutos, mesmo que você derramasse nela uma centena de rios como o Nilo. O homem pode ouvir sermões a vida toda e ainda estar estéril a todo o desenvolvimento espiritual. O solo do coração necessita de mudança e a boa semente do reino necessita de ser plantada nele.
4. Recursos empregados na Regeneração A) As igrejas Romana, Inglesa e Luterana sustentam que a regeneração se cumpre por intermédio do batismo. Os Discípulos, seguidores de Alexander Campbell, fazem a regeneração incluir o batismo, juntamente com o arrependimento e a fé. Ao ponto de vista de que o batismo é meio de regeneração apresentamos as seguintes objeções: a) As Escrituras apresentam o batismo como sendo não um meio, mas só um sinal da regeneração e, portanto, pressupõe e segue a regeneração. Por esta razão, só os crentes – isto é, pessoas com evidência de serem regeneradas – eram batizadas (At. 8.12). O batismo exterior não salva; o que salva é a mudança consciente da alma na direção de Deus, simbolizada pelo batismo (1 Pe. 3.21 - συνειδήσεως αγαθής έπερώτημα). Textos como Jo. 3.5, At. 2.38, Cl. 2.12, Tt. 3.5 explicam-se com base no princípio de que a regeneração, mudança interior, e o batismo, sinal exterior dessa mudança, eram considerados somente como diferentes lados ou aspectos do mesmo fato e qualquer dos lados ou aspectos, portanto, podia ser descrito em termos derivados um do outro. b) Com base neste ponto de vista, há marcante incongruência entre a natureza da mudança a ser operada e os meios empregados para
Teologia Sistemática (Strong) 1622 produzi-la. Trata-se de uma mudança espiritual, porém os recursos são físicos. É muito mais racional supor que, mudando o caráter de seres inteligentes, Deus usa meios que se relacionam com a inteligência deles. O ponto de vista que estamos considerando é parte e parcela de um esquema geral da salvação mecânica mais do que moral e é mais consistente com a filosofia materialista do que com a espiritual. At. 8.12 - "como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, se batizavam"; 1 Pe. 3.21 - "que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação [inquirição, apelo] de uma boa consciência para com Deus" = inquérito da alma segundo Deus, a volta da alma para Deus. Contudo, Plumptre considera έπερώτημα um termo forense que equivale a "exame", e que inclui tanto pergunta como resposta. Então significa a resposta aberta da aliança com Cristo, dada pelo novo convertido aos oficiais da igreja constituídos. "Aquilo que é da essência do poder salvador do batismo é a confissão e a profissão que a precede. Se isto procede de uma consciência que, na verdade renuncia o pecado e crê em Cristo, então o batismo, como canal através do qual a graça do novo nascimento é transmitida e admite-se o convertido na igreja de Cristo, 'nos salva', mas não o contrário". Podemos adotar esta afirmação do Comentário de Plumptre, com alteração da palavra "transmitida" para "simbolizada" ou "manifestada". A interpretação de Plumptre é, como ele parece admitir, em seu óbvio sentido, inconsistente com o batismo de crianças; parece-nos igualmente inconsistente com qualquer doutrina que defende a regeneração batismal. A regeneração bíblica de Deus é 1) a mudança da disposição do homem e 2) a garantia do seu primeiro exercício. Segundo os discípulos, a regeneração é da parte do homem 1) arrependimento e fé e 2) submissão ao batismo. Alexander Campbell, Christianism Restored: "Defendemos que todo o poder que o Espírito Santo tem de converter é apresentado no Registro divino". Discurso dos Discípulos na Convenção Batista de Ohio, 1871: "Para nós, a regeneração inclui tudo o que está compreendido na fé,
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arrependimento e batismo, como é a expressão do nascimento, pertence mais apropriadamente ao último destes do que a qualquer um dos anteriores". Mas se o batismo é um instrumento da regeneração, é difícil ver como os patriarcas, ou o ladrão penitente puderam ter sido regenerados. Lc. 23.43 - "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso". Bossuet: "'Hoje mesmo' que prontidão! 'comigo' - que companhia! 'no Paraíso' - que descanso!" Bersier: " 'Hoje mesmo' e depois? não nas chamas do purgatório? não num longo período de lamentosa expiação? 'Hoje mesmo' - perdão e céu!" Batismo é uma condição de estar exteriormente no reino; não é condição para estar interiormente nele. A confusão destes dois levou muitos da igreja primitiva ao medo de morrer sem ter o batismo, ao invés de ter medo de morrer sem salvação. Mesmo Pascal, no fim da vida, sustentava que a participação nas cerimônias exteriores podiam levar a uma conversão real. É provável que com isso ele quisesse significar que um ato inicial da santa vontade tenderia a levar outros a este artifício. Semelhantemente estimulamos as pessoas não convertidas a darem um passo que manifesta interesse religioso. Esperamos que, ao dar este passo, uma nova decisão da vontade, operada pelo Espírito de Deus, possa revelá-la. Mas uma religião que apenas consiste em tais apresentações exteriores é chamada de religião cutânea, porque apenas atinge a pele. Em Jo. 3.5 - "Aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus"; At. 2.38 "Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado para a remissão dos vossos pecados"; Cl. 2.12 - sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé"; Tt. 3.5 – "nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo" - ver adiante discussão e exposição em nosso capítulo sobre as ordenanças. Adkins, Discípulos e Batistas, um livreto publicado pela Sociedade Publicadora Batista Americana, é a melhor afirmação da posição batista diferente da dos Discípulos. Ela reivindica que os discípulos subestimam a obra do Espírito Santo.
B) O ponto de vista escriturístico é que a regeneração, até onde garante a atividade do homem, se cumpre através da verdade. Apesar de que o Espírito Santo não esclarece de qualquer modo a verdade, ele esclarece a mente de modo que ela perceba a verdade. Em conjunção com a mudança da disposição interior do homem, há um apelo para a
Teologia Sistemática (Strong) 1624 natureza racional do homem através da verdade. Podem-se tirar duas inferências: a) O homem não é totalmente passivo na época da sua regeneração. Ele só é passivo com relação à mudança de sua disposição diretiva. Com relação a esta disposição ele é ativo. Apesar de que a força eficiente que garante esse exercício da nova disposição é o poder de Deus, o homem ainda não é inconsciente, nem é uma simples máquina acionada por Deus. Por outro lado, sua natureza moral inteira sob a operação de Deus está viva e opérante. Rejeitamos o "sistema-exercício", que considera Deus como o autor direto de todo o pensamento, sentimento e vontade do homem, não só em seu teor geral, mas em sua aplicação especial relativa à regeneração. Shedd, Theol. Dogmat., 2.503 – "O morto não pode operar na sua ressurreição". Isto também é verdade no que tange à doação da vida. Mas uma vez vivo, o homem pode, como no caso de Lázaro, obedecer ao mando de Cristo: "sai" (Jo. 11.43). De fato, se ele não obedecer, não há evidência de vida espiritual. "Em nós está Deus; nós queimamos enquanto ele se move" - "Est deus in nobis; agitante calescimus illo". O telégrafo sem fio precisa de um receptor sintonizado; a regeneração sintoniza a alma de sorte que ela vibra em resposta a Deus e recebe a comunicação da sua verdade. Quando uma pessoa convertida veio a Rowland Hill e disse que tinha se convertido num sonho, ele respondeu: "Vejamos como você anda e o que você é depois de ter acordado". Lorde Bacon disse que abriria cada um dos cem olhos de Argos antes que ele abrisse uma das cem mãos de Briareu. Se Deus não renovar o coração do homem em conexão com a nossa pregação da verdade, podemos abandonar o nosso ministério. E. G. Robinson: "A conversão de uma alma está em perfeito acordo com a lei como o nascer de um pé de nabo". Simon, Reconciliation, 377 - "Apesar de que a simples pregação do evangelho é a causa da conversão e da revivificação do ser humano, uma condição é necessária - tão necessária como a ação da luz e do fogo, ou de
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outros agentes físicos, encontram-se em germe, se se pretende que desenvolvam, cresçam e produzam o fruto próprio".
b) A atividade da mente do homem na regeneração relaciona-se com a verdade. Deus assegura o exercício inicial da nova disposição que operou no coração do homem em conexão com o uso da verdade como meio. Podemos perceber aqui a ligação entre a eficiência de Deus e a atividade do homem. Deus só completa sua obra regeneradora quando a mente do pecador entra em contato com a verdade. Ε como a sua mudança da disposição interior e o exercício inicial, até onde sabemos, nunca estão separados por qualquer intervalo de tempo, podemos dizer, genericamente: a obra cristã só é bem sucedida quando encomenda a verdade a cada consciência humana diante de Deus (2 Co. 4.2). Em Ef. 1.17,18 reconhece-se a iluminação divina da mente para que veja a verdade - "vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação, tendo iluminados os olhos do vosso entendimento para que saibais qual seja a esperança da sua vocação". Sobre a verdade como meio de regeneração, ver Hovey, Outlines, 192, que cita Cunningham, Historical Theology, 1.617 - "Regeneração pode ser tomada num sentido limitado incluindo apenas a primeira transmissão da vida original ... ou, num sentido mais amplo, compreendendo o processo todo através do qual ele se renova e reforma no homem como um todo segundo a imagem de Deus; i.e., incluindo a realização da fé salvadora e a união com Cristo. Só no primeiro sentido é que os reformadores sustentam que o homem no processo não era ativo, mas totalmente passivo; porque eles não discutiam que, antes que o processo no segundo e mais amplo sentido estivesse completo, o homem já estava espiritualmente vivo e ativo e assim continuou para sempre durante todo o processo de santificação". O Dr. Hovey sugere uma ilustração própria destas duas partes da obra do Espírito Santo e a união delas na regeneração: Ao mesmo tempo que Deus faz a chapa fotográfica sensível, derrama a luz da verdade através da qual se forma a imagem de Deus na alma. No processo de "sensibilização", a chapa é passiva; sob a influência da luz, ela é ativa. Tanto na "sensibilização" como ao tirar a fotografia, o agente real não é a chapa nem
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a luz, mas o fotógrafo. O fotógrafo não pode executar ambas operações ao mesmo tempo. Deus pode. Ele dá o novo sentimento e, no mesmo instante, garante o seu exercício face à verdade. H. B. Smith diz: "Nos adultos, ela [a regeneração] opera-se mais freqüentemente por intermédio da palavra de Deus. Ao crer que as crianças podem ser regeneradas, não podemos afirmar que isto esteja ligado de modo absoluto à palavra de Deus". Preferimos dizer que, se os infantes são regenerados, também o são juntamente sob alguma influência da verdade sobre a mente, ainda que o reconhecimento possa ser de forma obscura. Doutra forma rompemos a conexão bíblica entre a regeneração e a conversão e, abrimos o caminho para a fé na salvação física, mágica e sacramental. Squier, Autobiography, 368, apropriadamente diz, a respeito da teoria da regeneração que faz o homem totalmente passivo, que ela tem um efeito entorpecente sobre a pregação: "A falta de expectação debilita os esforços do pregador; uma impressão da presença fortuita neutraliza o empenho. A dependência antinomista do Espírito retira toda a vitalidade do púlpito e o senso de responsabilidade do ouvinte e faz da pregação um opus operatum, do mesmo modo que a regeneração batismal do formalismo". As palavras de Shedd são verdadeiras apenas do primeiro elemento na regeneração: "Um morto não pode assistir em sua própria ressurreição" (Dog. Theol., 2.503). Squier vai ao extremo oposto de considerar a verdade apenas como a causa da regeneração. Suas palavras não são nada menos que um valioso protesto contra o ponto de vista de que a regeneração é inteiramente devida a Deus e que em parte alguma dela o homem é ativo. Melhor é o ponto de vista que Lutero proclama: "Ah! se pudéssemos multiplicar os livros vivos, isto é, os pregadores"! O pregador só é bem sucedido quando possui e desenvolve a verdade. João tomou o livrinho da mão do anjo do concerto e comeu-o (Ap. 10.8-11). Assim aquele que deve pregar a palavra de Deus deve alimentar-se dela, até assimilá-la.
5. Natureza da Mudança Operada na Regeneração A) Implica numa mudança em que a disposição governante se torna santa. Isto implica que:
Teologia Sistemática (Strong) 1627 a) Não é mudança na substância do corpo ou da alma. A regeneração não é mudança física. Não há nenhuma semente ou germe implantado na natureza humana. A regeneração não acrescenta ou subtrai o número de faculdades intelectivas, emotivas ou volitivas. Porém regenerar é dar uma nova direção ou tendência às forças do sentimento que o homem possuía anteriormente. O homem tinha anteriormente a faculdade de amar, mas o seu amor centrava-se supremamente no eu. Na regeneração, tal faculdade mudou de direção e o amor do homem agora se volta supremamente para Deus. Ef. 2.10 - "criados em Cristo para as boas obras" - não implica que a velha alma seja aniquilada e, em seu lugar, seja criada uma nova. O "velho homem", que é "crucificado" - (Rm. 6.6) e a palavra "despojeis" (Ef. 4.4) significam apenas a inclinação pecaminosa dos sentimentos e da vontade. Quando se muda esta direção das disposições, tornando-se santa, podemos chamar essa mudança de novo nascimento da natureza, porque as mesmas faculdades que agiram antes continuam agindo agora e a única diferença é que agora tais faculdades apontam para Deus e para a pureza. Ou, considerando a mudança de outro ponto de vista, podemos dizer que o homem tem uma "nova natureza", como "recriado" e, tendo uma "nova natureza", porque tal direção do sentimento e vontade, que garante uma vida diferente da anterior, é por vezes totalmente nova e se deve totalmente ao ato regenerador de Deus. Em 1 Pe. 1.23 - "regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível" - todas inferências materialistas da palavra "semente", como se implicasse a implantação de um germe físico devem ser evitadas pelas seguintes palavras explicativas: "mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente". Deste modo, também, quando descrevemos a regeneração significando a comunhão de uma nova vida com a alma, não devemos conceber tal nova vida como uma substância transmitida ou implantada em nós. Ao invés disso, a nova vida é nova direção e atividade do nosso sentimento e vontade. Na verdade, há uma união da alma com Cristo; Cristo habita no coração renovado; a entrada de Cristo na alma é a causa e o acessório desta regeneração. Devemos distinguir o efeito da causa; doutra forma incorreremos no perigo de um panteísmo que confunde a nossa
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própria personalidade e vida com a personalidade e vida de Cristo. Na verdade Cristo é a nossa vida no sentido de ser a causa e o seu sustento, mas não o é no sentido de que, após a nossa união com ele, acaba a nossa individualidade. O efeito da nossa união com Cristo é que a nossa individualidade é ampliada e exaltada (Jo. 10.10 -"Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância"). Por isso devemos tomar com certa concessão as palavras genericamente excelentes de A. J. Gordon, Twofold Life, 22 - "Regeneração é a comunhão da natureza divina com o homem pela operação do Espírito Santo por meio da palavra (2 Pe. 1.4).... Como Cristo se fez participante da natureza humana através da encarnação para deste modo entrar na mais verdadeira comunhão conosco, assim somos feitos participantes da natureza divina, através da regeneração, para que pudéssemos entrar na mais verdadeira comunhão com Deus. A regeneração não é uma mudança da natureza, i.e., um coração natural melhorado. A vida eterna não é uma vida de duração infinitamente prolongada. É a vida divina que nos é transmitida, a própria vida de Deus comunicada à alma humana, produzindo o seu próprio fruto". O ponto de vista do Dr. Gordon de que a regeneração acrescenta nova substância ou faculdade à alma é o resultado do literalismo das metáforas bíblicas sobre a criação e a vida. A alteração do símbolo em fatos por causa da sua tendência na direção da doutrina da aniquilação no caso do não regenerado, da cura pela fé e a crença de que os males físicos todos podem ser removidos pela oração. E. H. Johnson, Holy Spirit: "Regeneração é uma mudança, não na quantidade, mas na qualidade da alma". E. G. Robinson, Christian Theology, 320 – "A regeneração consiste numa mudança operada por Deus nos sentimentos morais". Também do mesmo modo devemos criticar a doutrina de Drummond, Nat Law in the Spirit World: "Há pessoas que esquecem a persistência da força. Em vez de transformar a energia, tentam criá-la. Devemos, ou depender do ambiente, ou ser auto-suficientes. A expressão 'de si mesma não pode dar fruto' (Jo. 15.4) o 'não pode' é a lei natural. O fruto natural floresce com o ar e com o sol. A diferença entre o cristão e o não cristão é a mesma que entre o orgânico e o inorgânico. O cristão tem todas características da vida: assimilação, desgaste, reprodução, ação espontânea". Ver a crítica que Murphy faz a Drummond em Revista
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Trimestral Britânica, 1884.118-125 - "como na ressurreição há uma conexão física com o velho corpo, do mesmo modo também na regeneração há uma conexão natural com a velha alma". Também na mesma revista, jul. 1880, art. Evolução Vista em Relação com a Teologia - "O agente regenerador do Espírito de Deus é simbolizado, não pela vitalização da matéria morta, mas pela atuação da inteligência organizadora que conduz a evolução dos seres vivos". A resposta de Murphy a Drummond é uma nova publicação. Natural Selection and Spiritual Freedom de Murphy, 1-33 - "A vontade não pode criar mais força, muscular ou mental do que criar a matéria. É igualmente verdade que, para a nossa nutrição e força espirituais, dependemos do nosso ambiente espiritual, que é Deus". Na "matéria morta" não há pecado. Drummond implica que, como a matéria não tem promessa ou potência de vida e não é responsável por não ter vida (ou "morte", para empregar uma palavra equivocada), e se deve sempre viver deve esperar que a influência doadora da vida venha sem se esperar, do mesmo modo a alma humana não é responsável por estar espiritualmente morta, não pode buscar a vida, deve aguardar passivamente a ação do Espírito. Os Irmãos Plymouth geralmente sustentam o mesmo ponto de vista de Drummond de que a regeneração acrescenta algo - como a vitalidade - à substância da alma. Cristo é transubstanciado na substância da alma; ou acrescenta-se o πνεύμα. Mas deixamos de falar da vitalidade, como se fosse uma substância ou faculdade. Consideramo-la somente como um modo de ação. Contudo, a evolução emprega o que já existe até onde ela pode chegar, ao invés de criar algo novo; como no milagre dos pães e na criação original do homem, do mesmo modo ocorre na recriação e na regeneração. O Dr. Charles Hodge também comete o mesmo equívoco chamando a regeneração de uma "origem do princípio do espírito da vida, criação tão literal e real como a origem do princípio da vida natural". Isto também torna literal a metáfora da Escritura e ignora que o fato de que a mudança cumprida na regeneração é exclusivamente moral. Na verdade, há uma entrada de Cristo na alma, ou um novo exercício do seu poder espiritual para com a alma. Mas o efeito da operação de Cristo não acrescenta qualquer nova faculdade ou substância, mas apenas dá nova direção às forças já existentes.
b) A regeneração envolve uma iluminação do entendimento e retificação da vontade. Mas parece estar mais em consonância com a
Teologia Sistemática (Strong) 1630 Escritura e com a correta psicologia tratar estas mudanças como conseqüências imediatas e necessárias da mudança na disposição já mencionada mais do que como fatos primários e centrais na regeneração. O gosto pela verdade logicamente precede a percepção da verdade e o amor a Deus logicamente precede a obediência a Deus; na verdade, sem amor não é possível obediência. Reverta a alavanca do sentimento e a locomotiva moral sem mais mudança se afastará do pecado e se dirigirá para a verdade e para Deus. Textos que parecem implicar que um gosto, uma disposição, um sentimento correto logicamente precedem tanto o conhecimento de Deus como a obediência a ele; são os seguintes: SI. 34.8 - "Provai e vede que o Senhor é bom; 119.36 - "Inclina o meu coração a teus testemunhos"; Jr. 24.7 - "E darlhes-ei um coração para que me conheçam"; Mt. 5.8 - "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus"; Jo. 7.17 - "Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus"; At. 16.14 - a respeito de Lídia se diz: "o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia"; Ef. 1.18 - "tendo iluminados os olhos do vosso entendimento (coração)". Mude o centro de um círculo e mudará o lugar e a direção de todos os seus raios". O texto de Jo. 1.12,13 - "Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus" - parece à primeira vista implicar que a fé é a condição da regeneração e por isso anterior a ela. "Mas se έξουσίαν aqui significa 'direito' ou 'privilégio' da filiação, é um direito que pode pressupor a fé como obra do Espírito Santo na regeneração - independente de que nenhuma fé genuína existe na alma. Mas é possível que João queira dizer que, no caso de todos que receberam Cristo, o seu poder de crer foi-lhes dado por ele. Na língua original a ênfase está em 'deu' e isto se observa pela ordem das palavras". Hovey, Manual of Theology, 345 e Comentário sobre João 1.12,13 - "O sentido seria este: 'Muitos não o receberam; mas alguns o fizeram; mas a todos os que o receberam, ele lhes deu graça pela qual eles se habilitaram a fazer isto e deste modo tornar-se filhos de Deus'". Ruskin: "A primeira e última pergunta do teste para qualquer criatura viva é, 'Você gosta de quê'? Saia pela rua e pergunte à primeira pessoa que
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encontrar de que ela gosta e, se ela responde candidamente, você a conhece de corpo e alma. Aquilo de que nós gostamos determina o que nós somos e é o sinal daquilo que nós somos; ensinar a gostar inevitavelmente é formar caráter". Se o gosto de que se fala aqui é moral e espiritual as palavras de Ruskin são uma verdade sóbria. A regeneração é essencialmente uma mudança do gosto fundamental da alma. Mas gosto pode ser a direção do amor do ser humano, a inclinação dos seus sentimentos, a tendência da sua vontade. Alterar esse gosto não é transmitir nova faculdade, ou criar nova substância, mas somente destinar a Deus os sentimentos que até agora foram destinados ao ego e ao pecado. Podemos ilustrar com o engenheiro que sobe na cabina numa locomotiva em disparada e muda o seu curso, não acrescentando qualquer nova biela ou dente na engrenagem, mas apenas revertendo a alavanca. A máquina diminui a velocidade e logo se move em direção oposta àquela em que se dirigia. O homem não precisa de nova faculdade de amor; ele só precisa ter o amor fixado numa nova e santa direção; virtualmente isto deve dar-lhe um novo nascimento, fazer dele uma nova criatura, transmitir-lhe uma nova vida. Mas, ser nascido de novo, criado de novo, vivificado dentre os mortos, são metáforas físicas, a serem interpretadas não literalmente, mas espiritualmente.
c) Na verdade, objeta-se que só conhecemos a substância mental e os atos mentais e que a nova disposição ou o estado já mencionado, visto não ser um ato, devem ser considerados como uma nova substância e, por isso, não possui toda a qualidade moral. Mas replicamos que, além da substância e dos atos, há hábitos, tendências e inclinações, algumas inatas, e outras adquiridas. São voluntárias e têm caráter moral. Se, através de atos repetidos, podemos originar tendências pecaminosas, sem dúvida, Deus pode originar em nós tendências santas. Estas faziam parte da natureza de Adão quando saiu das mãos de Deus. Como resultado da queda, podemos nascer com tendências para o mal pelo que somos responsáveis. A regeneração é uma restauração das tendências originais na direção de Deus as quais se perderam com a queda. Tais tendências santas (gostos, disposições, sentimentos) não são imorais - apenas são
Teologia Sistemática (Strong) 1632 possíveis fontes de ação moral correta. Só na restauração delas é que o homem se torna verdadeiramente livre. Mt. 12.33 - "Ou fazei boa a árvore e o seu fruto bom"; Ef. 2.10 "criados em Cristo para as boas obras". Primeiro se faz boa a árvore - o caráter renovado em seu princípio fundamental, amor a Deus - na certeza de que, quando se faz isto, o fruto também será bom. As boas obras são o resultado infalível da regeneração através da união com Cristo. A regeneração introduz na humanidade uma nova força, a do novo amor. A obra do pregador é a da cooperação com Deus na transmissão da nova vida - obra bem mais radical e mais nobre do que a da reforma moral, tanto quanto através da organização de uma nova força, é mais radical e mais nobre do que a direção daquela força depois de ter sido originada. Será que a regeneração cura a doença e remove os males físicos? A princípio não. Mt. 1.21 - "chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o povo dos pecados". A salvação do pecado é uma obra em primeiro lugar e principalmente de Cristo. Ele praticava a cura física só para ilustrar e depois da cura da alma. Por isso, no caso do paralítico, quando se esperava que ele curasse o corpo, ele disse: "perdoados estão os teus pecados" (Mt. 9.2); mas para que aqueles que estavam ali não duvidassem do seu poder de perdoar, acrescentou a cura física. E, por fim, em cada redimido, o coração santo introduzirá na sua seqüência o aperfeiçoamento do corpo: Rm. 8.23 "gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo". Sobre o sentimento santo como a fonte da ação santa, ver Edwards, Religious Affections, em Works, 3.1-21. Este tratado pertence às Confissões de Jonathan Edwards, como se eles se destinassem à Divindade. Allen, seu biógrafo, chama isto de "obra que não sofrerá com a comparação com a obra de grandes mestres em teologia, tanto antigos como modernos". O Presidente Timothy Dwight considerava-o como o mais digno de preservação depois da Bíblia.
B) É uma mudança instantânea na região da alma subconsciente e, portanto, conhecida só em seus resultados. a) É uma mudança instantânea. - A regeneração não é uma obra gradual. Apesar de que pode haver uma obra gradual da providência de
Teologia Sistemática (Strong) 1633 Deus e do Espírito preparando a mudança e seu gradual reconhecimento depois de sua ocorrência, deve haver um ponto no tempo quando, sob a influência do Espírito de Deus, a disposição da alma anteriormente hostil a Deus se muda para o amor. Qualquer outro ponto de vista admite um estado intermediário de indecisão que não tem nenhum caráter moral e confunde regeneração com convicção ou santificação. A convicção do pecado é um antecedente comum, senão invariável, da regeneração. Resulta da contemplação da verdade. Freqüentemente se faz acompanhar do medo, do remorso, e clama por misericórdia. Porém estes desejos e temores não são sinais de regeneração. São egoísmo. São perfeitamente consistentes com a manifesta e terrível inimizade contra Deus. Têm um aspecto esperançoso somente por serem a evidência de que o Espírito Santo está lutando com a alma. Mas esta obra do Espírito Santo ainda não é regeneração. Quanto ao pecador, ele não é mais pecador do que antes; porque debaixo de mais luz do que antes lhe foi dada, continua rejeitando Cristo e resistindo ao Espírito. A Palavra de Deus e o Espírito Santo apelam tanto para motivos inferiores como para superiores; a maior preocupação dos homens está determinada, no começo, pela esperança e pelo temor. Todos estes motivos, embora não sejam os mais elevados, são próprios para influenciar a alma; é certo buscar a Deus a partir de motivos de interesse próprio e porque desejamos o céu. Mas a busca que não só começa, mas termina baseada neste plano inferior nunca é bem sucedida. Enquanto a alma não se entrega a Deus, motivada pelo amor, não ocorre a regeneração. A leitura da Bíblia, as orações e a freqüência à igreja e as reformas parciais são melhores do que a apatia ou o surto de pecado. São sinais de que Deus está operando na alma. Mas sem a completa rendição a Deus elas podem fazer-se acompanhar da maior culpa e do maior perigo; somente porque, sob tais influências, recusar a submissão implica a mais ativa aversão a Deus e oposição à sua vontade. Exemplo de casos de reforma exterior que precederam a regeneração; como o de John Bunyan, que deixou de blasfemar antes da conversão. Park: "A alma é uma mônada, e deve voltar-se de uma vez por todas. Se estamos na linha, ainda não estamos regenerados. Só somos regenerados quando a atravessamos". Há
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uma graça preveniente bem como uma graça regeneradora. Wendelius distinguia cinco tipos de graça: preveniente, preparatória, opérante, coopérante, e aperfeiçoadora. Enquanto em alguns casos a obra preparatória de Deus demanda muito tempo, há muitos casos em que abrevia a sua obra na justiça (Rm. 9.28). Algumas pessoas são regeneradas na infância, ou na meninice e não podem lembrar-se do tempo quando não amavam a Cristo, e ainda demandou tempo para aprenderem que são regenerados. Outros estão convictos e convertidos subitamente na maturidade. A melhor prova da regeneração não é a memória de uma experiência passada, embora vivida e espantosa, mas um presente amor interno a Cristo, sua santidade, seus servos, sua obra e a sua palavra. É preciso que haja muita simpatia para com aqueles que se converteram em tempos remotos, mas que, por timidez, falta de confiança própria ou inconsistência dos membros da igreja têm sido dissuadidos de unirem-se ao povo cristão e, deste modo, perdem toda a esperança e gozo na sua vida religiosa. Um exemplo disso é o homem que, embora convertido num avivamento da religião, foi ofendido por um cristão professo e tornou-se um recluso, mas acalenta a memória da esposa falecida e do filho lembrando os tempos alegres de um e os trajes de outro e deixando orientação para que eles estejam sepultados com Cristo. Como há o perigo de confundir a regeneração com as influências preparatórias do Espírito de Deus, do mesmo modo há também o perigo de confundir a regeneração com a santificação. Esta, como o desenvolvimento de um mesmo sentimento, é gradual e progressiva. Porém nenhum começo é progressivo ou gradual; e a regeneração é o começo de um novo sentimento. Podemos gradualmente chegar ao conhecimento de que o novo sentimento existe, mas uma coisa é o conhecimento de um começo; outra coisa é o começo em si. Lutero tinha experimentado uma mudança no coração, bem antes de conhecer o seu significado ou de poder expressar seus novos sentimentos de uma forma científica. Não é no sentido de uma regeneração gradual, mas de um reconhecimento gradual do fato da regeneração, e uma progressiva posse dos seus resultados, de que se diz que "o caminho dos justos" é "como a luz da aurora" - o raiar da manhã começa de um modo brando, mas - "que vai brilhando mais e mais até ser o dia perfeito" (Pv 4.18). cf. 2 Co. 4.4 - "o deus deste século cegou os
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entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus". Aqui o reconhecimento da obra de Deus é descrito como gradual; constata-se no v. 6, que a obra em si é instantânea - "Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para a iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo". Isto é ilustrado pelo fato de o inconsciente atravessar a linha que separa um Estado da União do outro. Desta doutrina da regeneração instantânea podemos inferir o dever tanto de semear como colher: Jo. 4.38 "eu vos enviei para colher". "Há uma noção errônea de que Deus passa um longo tempo para fazer crescer a semente plantada no coração do pecador. Isto desenvolve a idéia de que a regeneração é matéria de ensino] que uma alma deve ser instruída a partir de um estado de perdição para um de salvação. É bom lembrar que três mil que, na manhã em que Pedro os chamou de assassinos de Cristo, tornaram-se, à noite, membros da sua igreja regenerados e batizados". Drummond, em sua Natural Law in the Spir. World, assinala a humanidade da repentina conversão. Como a limitação e a mortificação de si mesmas, o suicídio da velha natureza, é bom que a tenhamos de uma vez e que não morramos degrau após degrau.
b) Esta mudança ocorre na região subconsciente da alma. - De modo algum é verdade que o sujeito reconhece a obra de Deus na regeneração. Por outro lado, nunca se percebe diretamente. Porque não contraria nenhuma lei do ser humano, mas o põe em plena e normal posse dos seus poderes, a obra de Deus na alma é um segredo inescrutável. Apesar de consciente, o homem não tem consciência da atuação regeneradora de Deus. Conhecemos a nossa existência natural só através dos fenômenos do pensamento e dos sentidos. Do mesmo modo conhecemos a nossa existência espiritual, como novas criaturas em Cristo, só através dos novos sentimentos e experiências da alma. A vontade não tem necessidade de agir solitariamente, para agir de maneira livre". Deus age sobre a vontade e a santidade resultante é a verdadeira liberdade. Jo. 8.36 - "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres". Temos a consciência da
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liberdade; mas o fato de que Deus, ao dar-nos esta liberdade, está além ou ao pé da nossa consciência. Tanto Lutero como Calvino empregaram a palavra regeneração de um modo solto, confundindo-a com a santificação. Depois que os federalistas criaram uma doutrina distinta, os calvinistas vieram a tratá-la separadamente. João Wesley resgatou-a da identificação com os sacramentos, mostrando sua conexão com a verdade. E. G. Robinson: "A regeneração é, num sentido, instantânea, noutro não o é. Há necessidade de um tipo de conhecimento na regeneração. A doutrina do Cristo crucificado é o instrumento adequado. O objetivo da religião é produzir uma experiência sadia ao invés de emocional. Os avivamentos religiosos têm o seu valor na justa proporção em que eles produzem a convicção racional e a ação permanentemente justa". Mas nada deixa de ser afetado por elas. "A ponta de uma agulha magnética deve ser atraída pelo pólo magnético da terra, ou ser repelida; não existe esta coisa de indiferença. O moderno materialismo, recusando-se a dizer que o temor de Deus é o princípio da sabedoria, é levado a declarar que a aversão a Deus é que é o tal princípio" (Diesselhoff, Die klassische Poesie, 8).
c) Tal mudança, contudo, é reconhecida indiretamente em seus resultados. – No momento da regeneração a alma é consciente só da verdade e dos próprios exercícios dela. Infere-se que Deus é o autor do novo sentimento a partir do novo caráter dos exercícios que traz à mente. O lado humano ou aspecto da regeneração é a conversão. Esta e a santificação que se segue (inclusive os dons especiais do Espírito Santo) são as únicas evidências em qualquer caso particular de que a regeneração é fato consumado. Embora a regeneração seja o nascimento de um filho perfeito, é o nascimento de um filho. O filho deve crescer, e crescimento é santificação; em outras palavras, como veremos, santificação é simplesmente o fortalecimento e desenvolvimento da afeição santa cuja existência tem início na regeneração. Por isso, o assunto da Epístola aos Romanos - salvação pela fé – inclui, não só a justificação pela fé (caps. 1-7), mas a santificação pela fé (caps. 8.16). A transição da justificação pela fé para a santificação
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pela fé acha-se no cap. 8 da referida epístola. Ele começa declarando que nenhuma condenação há para os que estão em Cristo e termina declarando que nada nos separará de Cristo. A obra do Espírito Santo segue a obra de Cristo. A doutrina de Alexander Campbell era um protesto contra o lançamento de uma ênfase não antibíblica em estados emocionais como evidência de regeneração - protesto que certos exageros místicos e antinomistas do ensino evangélico com muita justiça provocaram. Mas Campbell dirigiu-se ao extremo oposto da emoção praticamente exclusiva da religião, e da limitação da obra do Espírito Santo na influência consciente da verdade. Os discípulos precisam reconhecer o poder do Espírito Santo exercido na consciência a fim de explicar a aceitação consciente de Cristo e sua salvação. William James, Varieties of Religious Experience, 271 – "Se concebêssemos que a mente humana, com as suas diferentes possibilidades de equilíbrio, pudesse ser semelhante a um sólido de muitas faces com diferentes superfícies sobre as quais estivesse uma plana, poderíamos assemelhar as revoluções mentais às espaciais de cada corpo. Porque ela é movida, por assim dizer com uma alavanca de uma posição em que está na superfície A, por exemplo, leva algum tempo em meio ao caminho para o alto e se a alavanca deixa de impulsioná-la, ela cairá para trás ou diminui o movimento ao impulso contínuo da gravidade. Mas se, por fim, ela gira para o seu centro de gravidade a fim de ultrapassar a superfície A o corpo cairá na superfície Β onde ficará para sempre. O impulso de gravidade para A diminuiu e pode ser desprezado. O poliedro tornou-se imune contra uma futura atração nesta direção.
III. CONVERSÃO Conversão é a mudança voluntária na mente do pecador, na qual, por um lado, ele dá as costas para o pecado, por outro, se volta para Cristo. Aquele elemento negativo na conversão, a saber, voltar as costas para o pecado, denomina-se arrependimento. Este elemento positivo na conversão, isto é, o encaminhamento para Cristo chamamos fé.
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Os dois elementos da conversão parecem estar na mente de Paulo quando ele escreve em Rm. 6.11 - "considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus"; Cl. 3.3 - "estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus". Cf. αποστρέφω, em At. 3.26 - "e vos desviasse cada um, das vossas iniqüidades", com επιστρέφω em At. 11.21 - "creu e se converteu ao Senhor".
a) A conversão é o lado humano ou aspecto da mudança fundamental que, vista do lado divino, chamamos regeneração. É simplesmente a volta do homem. As Escrituras reconhecem a atividade voluntária da alma humana nesta mudança tão distintamente como reconhecem a atuação causativa de Deus. Enquanto Deus torna os homens para si mesmo (Sl. 85.4; Ct 1.4; Jr. 31.18; Lm 5.21), estes são exortados a que se voltem para Deus (Pv 1.23; Is. 31.6; 59.20; Ez. 14.6; 18.32; 33.9, 11; Jl. 2.12-14). Enquanto Deus é representado como o autor do novo coração e do novo espírito (Sl. 51.10; Ez. 11.19; 36.26), mandase aos homens que façam para si um novo coração e um novo espírito (Ez. 18.31; 2 Co. 7.1; cf. Fp. 2.12,13; Ef. 5.14). Sl. 85.4 - Torna-nos a trazer, ó Deus da nossa salvação"; Ct 1.4 "Leva-me tu, correremos após ti"; Jr. 31.18 - "converte-me e converter-meei"; Lm. 5.21 - "Converte-nos, Senhor a ti, e nós nos converteremos". Pv. 1.23 - "Convertei-vos pela minha repreensão: eis que abundantemente derramarei sobre vós o meu espírito"; Is. 31.6 - "Converteivos, pois, àquele contra quem os filhos de Israel se rebelaram"; 59.20 - "E virá um Redentor a Sião e aos que se desviarem da transgressão em Jacó"; Ez. 14.6 - "Convertei-vos e deixai os vossos ídolos"; 18.32 - "convertei-vos, pois, e vivei"; 33.9 -"quando tiveres falado para desviar o ímpio do seu caminho, e ele não se converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade"; 11- "convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morre-reis, ó casa de Israel"? Jl 2.12-14 - "Convertei-vos a mim de todo o vosso coração".
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Sl. 51.10 – "Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto"; Ez. 11.19 - "E lhe darei um mesmo coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei um coração de carne"; 36.26 – "E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo". Ez. 18.31 - "Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes e criai em vós um coração novo e um espírito novo; pois por que razão morreríeis ó casa de Israel?" 2 Co. 7.1 - "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus"; cf. Fp. 2.12,13 "operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade"; Ef. 5.14 – "Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá". Quando interrogado sobre o caminho para o céu, o Bispo Wilberforce respondeu: "Entre na primeira à direita e siga em frente reto". A conversão de Phillips Brooks é descrita pelo Prof. Allen, Life, 1.266, como consistindo em resolver "ser verdadeiro para consigo mesmo, não renunciar coisa alguma que ele sabia ser boa e ainda sujeitar todas as coisas à obediência a Deus segundo o exemplo de Cristo: 'Eis que venho ... para fazer, ó Deus, a tua vontade' (Hb. 10.7)".
b) O duplo método de representação só pode ser explicado quando lembramos que as forças do homem podem ser impetradas e despertadas pelas forças divinas, não só sem destruir a liberdade do homem, mas resultando, pela primeira vez a verdadeira liberdade. Porque a relação entre a atividade divina e humana não é de sucessão cronológica, o homem nunca espera a operação de Deus. Se ele nunca for um regenerado deve sê-lo em um movimento de sua própria vontade e através da vontade em que ele se volta para Deus sem constrangimento e com tão pouca consciência da operação de Deus nele como se nenhuma operação de Deus estivesse envolvida na mudança. Enquanto pregamos, estamos imprimindo no homem as reivindicações de Deus e os deveres
Teologia Sistemática (Strong) 1640 de imediata submissão a Cristo, na certeza de que os que agem assim reconhecerão subseqüentemente a nova e santa atividade da sua própria vontade devida a uma operação da força divina neles. Sl. 110.3 - "O teu povo se apresentará voluntariamente no dia do teu poder". O ato de Deus é acompanhado por uma atividade do homem. Dorner: "O ato de Deus inicia a ação". Na verdade, há uma mudança original dos gostos e dos sentimentos do homem e neste homem ela é passiva. Mas este é apenas o primeiro aspecto da regeneração. No segundo – o aparecimento das forças do homem - a ação de Deus se faz acompanhar da atividade do homem e a regeneração é apenas o outro lado da moeda da conversão. Palavra de Lutero: "Na conversão, o homem é puramente passivo", o que é verdade sobre a primeira parte da mudança; e aqui, para Lutero, "conversão" significa "regeneração". Melanchton se expressa melhor: "Non est enim coactio, ut voluntas non possit repugnare: trahit Deus, sed volentem trahit". Ver Meyer sobre Rm. 8.14 - "guiados pelo Espírito de Deus": Diz Meyer: "A expressão é passiva, apesar de que sem preconceito para com a vontade humana, como prova o verso 13: 'se pelo espírito mortificardes as obras do corpo'." Como por um princípio bem conhecido da hidrostática, a água contida num tubo pequeno pode balançar a de um oceano inteiro, do mesmo modo a vontade do homem pode balançar a graça de Deus. Como a luz solar sobre a areia nada produz a não ser que o homem lance a semente e como uma brisa não propulsiona uma embarcação se o homem não abrir as velas, do mesmo modo as influências do Espírito de Deus requerem a atuação humana que opera através delas. O Espírito Santo é soberano; ele sopra onde ouve. Apesar de haver condições humanas uniformes, não haverá resultados espirituais uniformes. Freqüentemente os resultados independem das condições humanas como tais. Esta é a verdade a que Andrew Fuller deu ênfase. Mas isto não nos impede de dizer que, sempre que o Espírito de Deus opera na regeneração segue-se uma mudança voluntária no homem a qual chamamos conversão e que tal mudança é livre e é de tal modo a real operação do homem como se não houvesse influência divina sobre ele. Jesus disse ao homem que tinha a mão ressequida que a estendesse; cabia ao homem estendê-la e não aguardar que Deus o fizesse. Jesus disse ao paralítico que tomasse a sua cama e andasse. Cabia ao homem
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obedecer a ordem, não orar pedindo a Deus poder para obedecer. Depender totalmente de Deus? Sim, como se depende totalmente do vento quando se veleja, mas é preciso adequar as velas. Operai a vossa salvação" é a primeira exortação dos apóstolos; a seguir vem: "porque é Deus quem opera em vós" (Fp. 2.12,13); isto significa que a nossa primeira preocupação é empregar a nossa vontade em obediência; depois descobriremos que Deus nos antecedeu, preparando-nos para obedecermos. Mt. 11.12 - "faz-se violência ao Reino dos céus, e pela força se apoderam dele". A conversão é como a invasão de um reino. Os homens não devem aguardar o tempo de Deus, mas agir de uma vez. Não se requer que se façam exercícios físicos, mas veemente fervor da alma. Wendt, Teaching of Jesus, 2.49-56 - "Não a injustiça e a violência, mas a enérgica defesa do bem aos que não podem reivindicar. Não adianta esperar ociosamente ou buscar laboriosamente apossar-se dele; mas é bom sujeitarse e retê-lo. É uma dádiva de Deus aos homens, mas os homens dirigem os seus desejos e vontades para o Reino.... O homem que veste as roupagens nupciais não aufere a sua parte na festa, contudo, mostra sua disposição sem que lhe seja permitido participar dela". James, Varieties of Religious Experience, 12 - Os dois principais fenômenos da religião, dirão eles, são essencialmente os da adolescência e, por isso sincrônicos ao desenvolvimento da vida sexual. A resposta a isto é fácil: mesmo que se afirmasse uma sincronia verdadeiramente irrestrita como um fato (o que não ocorre), o que desperta com a adolescência não é apenas a vida sexual, mas a mental mais elevada. Então, pode-se estabelecer muito bem a tese de que o interesse pela mecânica, pela física, pela química, pela lógica, pela fisiologia e pela sociologia, que brota durante os anos da adolescência juntamente com a poesia e a religião, é também uma perversão do instinto sexual, o que seria um absurdo. Contudo, se o argumento da sincronia for decisivo, o que fazer com o fato de que a idade religiosa por excelência parece ser a avançada quando a maior intensidade da vida sexual já passou?"
c) Porque a palavra Conversão' significa simplesmente 'volta', cada vez que o cristão se volta do pecado, após a primeira vez, pode, em sentido subordinado, denominar-se conversão (Lc. 22.32). Porque a regeneração não é completa santificação e a mudança de disposição
Teologia Sistemática (Strong) 1642 diretiva não é idêntica à purificação completa da natureza, tais voltas subseqüentes do pecado são conseqüências necessárias e evidências da primeira (cf. Jo. 13.10). Mas elas não implicam, como a primeira, uma mudança na disposição diretiva; ao invés disso são manifestações de uma disposição já mudada. Como conseqüência, a conversão propriamente dita, como a regeneração, que é o outro lado da moeda, pode ocorrer apenas uma vez. A expressão 'segunda conversão', mesmo que não implique falso conceito radical da natureza da conversão, é enganosa. Preferimos, portanto, descrever estas experiências subseqüentes, não com o termo 'conversão', mas com expressões tais como 'afastamento, abandono, volta, desprezo, ou transgressão' e 'volta para Cristo, renovação da confiança nele'. É com arrependimento e fé, como elementos da primeira e radical mudança pela qual a alma entra num estado de salvação, que agimos assim. Lc. 22.31,32 - "Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para cirandar como trigo. Mas eu roguei por ti para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos"; Jo. 13.10 - "Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo". Note que Jesus anuncia aqui a necessidade de uma única regeneração; o que se segue não é a conversão, mas a santificação. Spurgeon dizia que cria na regeneração, mas não na nova regeneração. Segunda bênção? Sim, e uma quadragésima segunda. Os estágios da vida cristã são como o gelo, a água no estado líquido, o invisível vapor, sucessivos e naturais resultados do crescimento da temperatura, aparentemente diferentes um do outro, apesar de que todos formam um mesmo elemento. Na relação entre os agentes divino e humano, citamos um ponto de vista diferente da parte de um outro escritor: "Deus decreta empregar os meios que, em cada caso, são suficientes e que, em certos casos, se prevê serem eficazes. A ação humana converte um meio suficiente em eficaz. O resultado nem sempre concorda com os variados empregos dos meios. A força é toda de Deus. O homem só tem o poder de resistir. Há uma influência universal do Espírito, mas as influências do Espírito variam nos diferentes casos, quanto às oportunidades exteriores. O amor à santidade
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está entorpecido, mas ainda hesita. O Espírito Santo o desperta. Quando este amor está totalmente perdido, vem o pecado contra o Espírito Santo. Antes da regeneração aparece o desejo da santidade, apreensão da sua beleza, mas este é subjugado por um maior amor pelo pecado. Se o homem não se torna rapidamente pior, não é por causa da sua própria ação positiva, mas só porque ele não resiste como poderia. 'Eis que estou à porta e bato'. A princípio Deus conduz através de uma influência resistível. Quando o homem se sujeita, Deus dirige através de uma influência irresistível. A segunda influência do Espírito Santo confirma a escolha do cristão. Esta segunda influência se chama 'selo'. Não é necessário um intervalo de tempo entre os dois. A graça preveniente vem em primeiro lugar; a conversão vem depois". A este ponto de vista, respondemos que um amor parcial em favor da santidade e a capacidade de escolhê-lo antes das obras de Deus de um modo eficaz sobre o coração, parece contradizer os textos bíblicos que afirmam que "a inclinação da carne é inimizade contra Deus" (Rm. 8.7) e que todas as boas obras resultam da nova criação de Deus (Ef. 2.10). A conversão não precede a regeneração; cronologicamente acompanha-a apesar de que logicamente segue-a.
1. Arrependimento É a mudança voluntária da mente do pecador na qual ele rejeita o pecado. Por ser, em essência, uma mudança da mente, envolve a do ponto de vista, de sentimento e de propósito. Podemos, portanto, analisar o arrependimento sob três elementos constituintes, cada um dos quais sucessivos, incluindo e implicando o anterior: A) Elemento intelectual: mudança de ponto de vista – reconhecimento do pecado como envolvendo culpa pessoal, contaminação e desesperança (SI. 51. 3,7,11). Se não acompanhado dos elementos seguintes, este reconhecimento pode manifestar-se no temor do castigo, apesar de que não há nenhuma aversão pelo pecado. Tal elemento é indicado na expressão da Escritura έπιγνωσις αμαρτίας (Rm. 3.20 cf. 1.32).
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Sl. 51.3,11 -"Porque eu conheço as minhas transgressões e o meu pecado está sempre diante de mim. ... Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo"; Rm. 3.20 - "pela lei vem o conhecimento do pecado"; cf. 1.32 - "os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente fazem, mas também consentem aos que as fazem". É bom lembrar que Deus requer de nós que não acalentemos nenhum ponto de vista ou emoções que contradizem a verdade. Ele não quer que nós tenhamos uma falsa humildade. Humildade (humus) = próprio da terra descida ao reconhecimento duro dos fatos - o enfrentamento da verdade. Por isso, o arrepender-se não é chamarmo-nos por nomes duros. Não é bajulação ou exagerada queixa de nós mesmos. É simplesmente o reconhecimento daquilo que nós somos. O "humilde" Urias Heep o hipócrita consumado. Se nós nos virmos do modo como Deus nos vê, diremos com Jó 42.5,6 -"Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza". Sem a obra de Deus no coração não há nenhum reconhecimento apropriado sobre o pecado nas pessoas quer de alto, quer de baixo nível. A Lady Huntington convidou a duquesa de Buckingham para ouvir Whitefield, ao que a duquesa respondeu: "É monstruoso ouvir dizer que eu tenho um coração tão pecaminoso como os ordinários miseráveis que se arrastam pela terra; é altamente ofensivo e é um insulto". O Sr. Moody, após pregar aos prisioneiros na cadeia de Chicago, visitou-os em suas celas. Na primeira ele encontrou dois, que jogavam cartas. Eles apresentaram falsos testemunhos que haviam sido proferidos contra eles. Na segunda cela, o convicto disse que o culpado tinha fugido e ele, que era um mero cúmplice, tinha sido capturado. Só na última cela o Sr. Moody encontrou um homem chorando por causa dos seus pecados. Henry Drummond, depois de ouvir as confissões dos inquisidores, disse: "Sinto-me doente por causa dos pecados destes homens; como será que Deus está se sentindo"? A experiência do pecado não nos ensina a reconhecê-lo. Não aprendemos a reconhecer o clorofórmio pela freqüência com que o inalamos. O ébrio não entende os efeitos degradantes da bebida tão bem como a sua miserável esposa e os seus filhos. Até mesmo a consciência natural não nos
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fornece o necessário reconhecimento do pecado para o arrependimento. Faraó, de coração endurecido fez a confissão "pequei" (Ex. 9.27), Balaão, com a mente dividida (Nm. 22.34), o remorso de Acã (Js 7.20), o hipócrita rei Saul (1 Sm. 15.24) o desesperado Judas (Mt. 27.4); mas em nenhum destes casos houve um arrependimento verdadeiro. Este toma o partido de Deus contra nós mesmos, tem a simpatia de Deus, sente quão indignamente o Rei, Pai, Amigo dos homens tem sido tratado. Não existe a pergunta: "Qual a recompensa do pecado para mim?", mas o que significa o meu pecado para Deus"? Como simples reconhecimento do pecado isto envolve:
B) Elemento emotivo: mudança de sentimento – tristeza pelo pecado cometido contra a bondade e a justiça e, portanto, detestável para com Deus (SI. 51.1,2,10,14). Este elemento do arrependimento é indicado na palavra da Escritura μεταμέλομαι. Se acompanhada do elemento seguinte, é uma λύπη κατά θεόν. Se não acompanhada, é uma λύπη του κόσμου remorso e desespero (Mt. 27.3; Le. 18.23; 2 Co. 7.9,10). Sl. 51.1,2,10,14 - "Tem misericórdia de mim ... apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado. ... Cria em mim, ó Deus, um coração puro; Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus"; Mt. 27.3,4 - "Então Judas, que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente"; Lc. 18.23 - Mas, ouvindo ele isso, ficou muito triste, porque era muito rico"; 2 Co. 7.9.10 - "agora, folgo, não porque fostes contristados, mas porque fos-tes contristados para o arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus ... Porque a tristeza segundo Deus gera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza segundo o mundo opera a morte". Devemos distinguir a tristeza pelo pecado da vergonha por causa dele e o medo das suas conseqüências. Estas são o egoísmo, enquanto a tristeza segundo Deus é desinteressada. Ό homem pode irar-se consigo mesmo e pode desprezar-se sem qualquer prostração humilde diante de Deus ou confissão da sua culpa" (Shedd, Dogm. Theol., 2.535, nota).
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O verdadeiro arrependimento ilustrado no SI. 51 não tem em mente 1. as conseqüências, 2. os outros, 3. a desculpa da hereditariedade; mas vê o pecado como 1. transgressão contra Deus, 2. culpa pessoal, 3. contaminação do mais íntimo do ser. Perowne sobre o Sl. 51.1 - "Em toda a tristeza segundo Deus há esperança. A tristeza sem esperança pode ser remorso ou desespero, mas não arrependimento". Muita coisa do assim chamado arrependimento é ilustrada na oração da menininha: "Ó Deus, faze-me boazinha; não realmente boa, mas o suficiente para que eu não tenha de ser castigada"! Shakespeare, Measure for Measure, 2.3 - "É justo, minha filha, porém, como tenho medo de que só vos arrependestes do pecado por causa da vergonha que vos trouxe, gênero de arrependimento que se dirige sempre a nós mesmos e não ao céu, mostrando que não nos abstemos de ofender a Deus por amor a ele, mas pelo amor que nos inspira ... Eu me arrependo do meu pecado como de um mal e aceito o opróbrio com alegria". Simon, Reconciliation, 195.379 - "Deus nos busca para sermos tanto doadores quando recebedores, doadores até mesmo para ele. Nós tiramos de sua imagem que podemos ser criadores e doadores, não da compulsão, mas do amor." Só o Espírito Santo produz tal arrependimento. Na verdade, a consciência está presente em todo o coração humano, mas só o Espírito Santo convence do pecado. Por que há necessidade do Espírito Santo? A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 189-201 - "A consciência dá testemunho da lei; o Espírito dá testemunho da graça. A consciência apresenta a convicção legal; o Espírito, a convicção evangélica. Um gera a convicção do desespero; o outro a da esperança. A consciência convence do pecado cometido, da retidão impossível, do juízo iminente; o Consolador convence do pecado cometido, da justiça imputada, do juízo cumprido - em Cristo. Só Deus pode revelar o ponto de vista divino do pecado e capacita o homem a entendê-lo". Mas, apesar de agonizante de tristeza, não constituirá o verdadeiro arrependimento, a não ser que se encaminhe para ... ou seja acompanhado de ...
C) Elemento vontade: mudança de propósito – a volta interior do pecado e disposição para buscar o perdão e purificação (Sl. 51.5,7,10; Jr. 25.5). Isto inclui e implica os dois elementos anteriores e é, portanto, o
Teologia Sistemática (Strong) 1647 mais importante aspecto do arrependimento. A Escritura o indica com a palavra μετάνοια (At. 2.38; Rm. 2.4). SI. 51.5,7,10 - "Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.... Purifica-me com hissopo, e ficarei mais puro; lavame e ficarei mais alvo do que a neve". ... Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto"; Jr. 25.5 - "Convertei-vos, agora, cada um do seu mau caminho e da maldade das suas ações"; At. 2.38 - "E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo"; Rm. 2.4 - "Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência, e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento"? Walden, O Grande Sentido da Metánoia, bem apresenta o fato de que "arrependimento" não é a verdadeira tradução da palavra, mas "mudança da mente"; na verdade, ele deveria abandonar a palavra "arrependimento" juntamente com todas do N.T., exceto como tradução de μεταμέλεια. Α idéia de μετάνοια é abandono do pecado ao invés de tristeza pelo pecado; um ato de vontade ao invés de um ato de sensibilidade. Arrependimento é participação na reação de Cristo quanto ao pecado e sofrimento por causa dele. No arrependimento a partir do pecado, não arrependimento do pecado, nem pelo pecado - sempre από e έκ, nunca περί ou έπί. As verdadeiras ilustrações do arrependimento encontram-se em Jó (42.6 - "Abomino-me e me arrependo no pó e na cinza"); em Davi (SI. 51.10 - Cria em mim um coração puro, e renova em mim um espírito reto"); em Pedro (Jo. 21.17-"Tu sabes que eu te amo"); no ladrão penitente (Lc. 23.42 - "Lembra-te de mim quando entrares no teu reino"); no filho pródigo (Lc. 15.18 - "Levantar-me-ei, irei ter com meu pai"). O arrependimento implica livre vontade. Por isso, Espinosa, que não entende nada de livre vontade, não entende nada de arrependimento. No livro 4 de sua Ética, diz: "Arrependimento não é virtude, isto é, não brota da razão; ao contrário, o homem que se arrepende daquilo que fez é duvidosamente desprezível ou impotente". Argumenta ainda que para o bem da sociedade não é interessante que as mentes vulgares sejam iluminadas quanto a este assunto. O determinismo também considera irracional sentir indignação justa ou conduta falsa a respeito de outras pessoas ou de nós
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mesmos. A admiração moral é semelhantemente irracional para o determinista.
Na ampla distinção da doutrina escriturística, achamos o ponto de vista católico romano, que considera os três elementos do arrependimento como os seguintes: 1) contrição; 2) confissão; 3) satisfação. É claro que o único elemento pertencente ao arrependimento é a contrição; contudo, desta contrição o católico romano exclui toda tristeza pelo pecado da natureza. Confissão é a que é feita ao sacerdote; e satisfação é a própria atuação do pecador da pena como uma submissão temporal e simbólica e reparação à lei violada. Este ponto de vista é falso e pernicioso porque confunde o arrependimento com os frutos exteriores, concebe-o mais como exercido à igreja do que a Deus e considera-o base meritória ao invés de mera condição do perdão. Sobre a doutrina católica romana da pena, Thornwell (Collected Writings, 1.423) assinala: "A culpa pode ser remida, dizem eles, enquanto a pena é até certo ponto retida". O sacerdote absolve, não de uma forma declarativa, mas judicial. Negar a grandeza do pecado, faz o homem capaz de tornar-se o seu próprio salvador. A satisfação de Cristo relativa aos pecados após o batismo não é suficiente; a nossa satisfação o é. Mas objetamos que o cumprimento do dever não pode promover a satisfação pela violação de uma outra pessoa. Requer-se de nós que nos confessemos uns aos outros, especialmente aos que nos ofenderam: Tg. 5.16 - "Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros para que sareis". Isto estabelece a mais dura ênfase no nosso orgulho natural. Há uma centena de pessoas que confessam a um sacerdote ou a Deus, onde há um que fará uma confissão franca e plena à parte ofendida. A confissão a um superior religioso oficial não é uma penitência nem uma prova dela. No confessionário as mulheres expõem os seus desejos mais íntimos aos sacerdotes, que são proibidos de casar-se. Estes sacerdotes são, às vezes, apesar de que gradualmente, corrompidos até o âmago e, ao mesmo tempo são ensinados no confessionário precisamente a que mulheres devem aplicar-se. Na França
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muitas famílias nobres não permitem que os seus filhos se confessem e não se permite às sua mulheres que incorram no perigo. O Lorde Salisbury disse na Casa dos Lordes sobre a confissão auricular: "Tem sido nocivo à independência moral e à virilidade da nação até certo ponto a que a probabilidade não foi dada a nenhuma outra instituição afetar o caráter da humanidade". A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 111. "O ascetismo é uma inversão absoluta da ordem divina visto que ele busca a vida através da morte, ao invés de achar a morte através da vida. Nenhum grau de mortificação pode jamais conduzir-nos à santificação. A penitência nunca pode efetuar o verdadeiro arrependimento e nem ser outra coisa senão um embaraço para que a alma abandone o pecado. A penitência às vezes é algo exterior e desvia a atenção da verdadeira necessidade interior da alma. O monge pratica a penitência dormindo sobre uma cama de ferro e vestindo uma túnica de pêlos. Quando Anselmo de Cantuária morreu, encontraram nas suas roupas internas vermes vivos que o santo cultivara para mortificar a sua carne. O Dr. Pusey sempre sentava-se numa cadeira dura, viajava tão desconfortavelmente quanto possível, andando cabisbaixo e, sempre que via uma fogueira, pensava no inferno. Os ladrões fazem penitência dando como caridade parte da riqueza obtida com o roubo. Em todas estas coisas não há transformação alguma na vida interior.
Para maior assinalamos:
explicação
das
representações
escriturísticas,
a) Que o arrependimento, em cada um de todos os aspectos, é um ato totalmente interior e não se confunde com a mudança de vida que procede dele. O verdadeiro arrependimento se manifesta e se evidencia na confissão do pecado diante de Deus (Lc. 18.13) e pela reparação dos erros cometidos aos homens (Lc. 19.8). Mas estes não constituem arrependimento; ao invés disto, eles são frutos do arrependimento. Entre 'arrependimento' e 'fruto digno de arrependimento', a Escritura estabelece clara distinção (Mt. 3.8).
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Lc. 18.13 - "O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador ['sê propício a mim, o pecador']"; 19-8 -"E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado"; Mt. 3.8 - "Produzi frutos dignos de arrependimento". Frutos dignos de arrependimento, ou frutos que demonstrem arrependimento, são: 1. Confissão do pecado; 2. rendição a Cristo; 3. dar as costas para o pecado; 4. reparação do erro cometido; 5. conduta moral reta; 6. profissão de fé cristã. Sobre Lc. 17.3 - "se teu irmão pecar contra ti repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe" - B. H. Carroll assinala que a lei que faz o arrependimento indispensável ao perdão é uniforme. Aplica-se ao perdão do homem para o homem e o de Deus também para o homem, mas devo estar certo de que eu acalento para o que ofende o espírito de amor, quer ele se arrependa, quer não. Contudo o livramento de toda a maldade para com ele e até mesmo o amoroso trabalho cheio de oração que o leva ao arrependimento não é o perdão. Isto eu só posso admitir quando na verdade ele se arrepende. Se eu não lhe perdôo sem arrependimento, então eu imponho a minha regra a Deus quando oro: "Perdoa as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores" (Mt. 6.12) Sobre a questão se o requisito de nós perdoarmos sem a expiação implica que Deus o faz, ver Brit, and For. Evang. Review, out. 1881.678-691 - "Resposta: 1. A presente constituição das coisas baseia-se na expiação. Requer-se o perdão da nossa parte com base na cruz sem a qual o mundo seria um inferno. 2. Deus é o Juiz. Nós perdoamos como irmãos. Quando ele perdoa, ele é como o Juiz de toda a terra e todos os juizes terrenos são representantes dele. Se os juizes terrenos podem exercer justiça, muito mais Deus. O argumento que aboliria a expiação aboliria também todo o governo civil. 3. Devo perdoar ao meu irmão com base no amor de Deus e no fato de que Cristo leva os nossos pecados. 4. O Deus que requer a expiação é o mesmo ser que a providencia. Isto é belo e generoso. Mas eu nunca posso prover a expiação para o meu irmão. Por isso devo dá-lo gratuitamente só baseado naquilo que Cristo fez por ele".
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b) Que o arrependimento é só uma condição negativa e não um recurso positivo para a salvação. Isto se evidencia do fato de que o arrependimento não é mais que o dever presente do pecador e não pode fornecer equivalência às reivindicações da lei relativas à transgressão passada. O verdadeiro penitente sente que o seu arrependimento não é meritório. Independente do elemento positivo da conversão, a saber, fé em Cristo, seria apenas tristeza pela culpa não removida. Tal tristeza, contudo, não é mero produto da vontade humana, mas um dom de Deus. At. 5.31 - "Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados"; 11.18 - "Até aos gentios deu Deus arrependimento para a vida"; 2 Tm. 2.25 - "se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade". O verdadeiro penitente reconhece que o seu pecado merece punição. Ele nunca considera a sua penitência como equivalente às demandas da lei, ou como tornando a punição injusta. Whitefield: "Há necessidade de arrependimento e o sangue de Cristo lavará até mesmo as nossas lágrimas". Shakespeare, Henrique V, 4.1 - "E farei mais: Apesar de que, de tudo o que eu posso fazer, nada é digno, visto que a minha penitência vem depois de tudo implorar perdão; implorar perdão tanto pelo crime como pelo arrependimento imperfeito.
c) Que o verdadeiro arrependimento, contudo, nunca existe a não ser em conjunção com a fé. Tristeza pelo pecado, não simplesmente por causa das más conseqüências para o transgressor, mas por causa da sua intrínseca aversão oposta à santidade divina e amor, é praticamente impossível sem alguma confiança na misericórdia de Deus. É a cruz que primeiro nos faz verdadeiros penitentes (cf. Jo. 12.32,33). Por isso toda verdadeira pregação de arrependimento é implicitamente uma pregação de fé (Mt. 3.1-12; cf. At. 19.4), e o arrependimento para Deus envolve fé no Senhor Jesus Cristo (At. 20.21; Lc. 15.10,24; 19.8,9; cf. G1. 3.7).
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Jo. 12.32,33 - "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Ε dizia isso significando de que morte havia de morrer". Mt. 3.1-12-A pregação de João Batista sobre o arrependimento é também uma pregação sobre a fé; o que aparece em At. 19.4 - "Certamente João batizou com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, Jesus Cristo". Arrependimento envolve fé; At. 20.21 "testificando, tanto a judeus como gregos a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo"; Lc. 15.10,24 - "há mais alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.... este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi achado"; 19.8,9 - "dou a metade dos meus bens e se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. Ε disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão" - o pai dos crentes; cf. Gl. 3.6,7 - "É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isto lhe foi imputado como justiça. Sabei, pois que, os que são da fé são filhos de Abraão". Lc. 3.18 diz a respeito de João Batista: "anunciava o evangelho ao povo", e a mensagem do evangelho, a alegre nova, é mais do que uma ordem para o arrependimento; é também um oferecimento da salvação por meio de Cristo. 2 Cr. 34.19 - "Sucedeu, pois, que, ouvindo o rei das Palavras da Lei, rasgou as suas vestes". Moberly, Atonement and Personality, 44-46 "Na proporção exata em que alguém peca, ele torna impossível arrependerse. O arrependimento deve ser a obra de um outro ser nele. Acaso não é o Espírito do crucificado a realidade da penitência no verdadeiro penitente?" Se isto for verdade, então é claro que não existe de modo algum verdadeiro arrependimento que não seja acompanhado pela fé que nos une a Cristo.
d) Que, contrariamente, sempre que há verdadeira fé, há também verdadeiro arrependimento. Porque arrependimento e fé são apenas lados diferentes ou aspectos do mesmo ato de volta, a fé é inseparável do arrependimento como o arrependimento é da fé. Deve ser uma fé irreal onde não há arrependimento assim como deve haver arrependimento irreal onde não há fé. Contudo, porque um aspecto de sua mudança é mais proeminente no pensamento do convertido do que o outro não podemos concluir que
Teologia Sistemática (Strong) 1653 este não exista. Só esse grau de convicção do pecado é essencial para a salvação, o que leva a um afastamento do pecado e confiante rendição a Cristo. Bispo Hall: "Nunca Cristo entrará na alma em que o arauto do arrependimento não tiver estado antes". 2 Co. 7.10 - "arrependimento para a salvação". Na consciência, a sensação e a percepção ocupam uma razão inversamente recíproca. A visão clara dificilmente é a consciência da sensação, mas os olhos inflamados dificilmente estão conscientes de qualquer coisa além da sensação. Assim o arrependimento e a fé raramente ocupam lugar igualmente proeminente na consciência do convertido; mas é importante saber que nenhum deles pode existir sem o outro. Mais cedo ou mais tarde, o verdadeiramente penitente mostrará que ele tem fé; e aquele que verdadeiramente crê, no devido tempo, mostrará que detesta e renuncia o pecado. A questão sobre intensidade ou volume de convicção que o homem necessita para garantir a sua salvação pode ser respondida perguntando que estímulo é necessário na caldeira da locomotiva em chamas. Do mesmo modo que neste caso, o suficiente para promover o esforço para o movimento; assim também, no primeiro caso, é necessário o suficiente sentimento de remorso para induzir o pecador a entregar-se confiadamente a Cristo.
2. Fé É a mudança voluntária na mente do pecador pela qual ele se volta para Cristo. Por ser uma mudança na mente implica o mesmo no ponto de vista, no sentimento e no propósito. Podemos portanto, analisar a fé em três elementos constituintes, cada um, em sucessão, incluindo o anterior: A) Intelectual (notitia, credere Deum): reconhecimento da verdade da revelação de Deus, ou realidade objetiva da salvação providenciada por Cristo. Este elemento inclui, não só uma crença histórica nos fatos da
Teologia Sistemática (Strong) 1654 Escritura, mas uma crença intelectual na doutrina ensinada relativa à pecaminosidade e relativa à dependência de Cristo. Jo. 2.23,24 - "E, estando ele em Jerusalém pela Páscoa, durante a festa, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles porque a todos conhecia"; cf. 3.2 - Nicodemos tinha esta fé exterior; "ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes se Deus não for com ele". Tg. 2.19 - "Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios crêem e estremecem". Mesmo esta fé histórica não deixa de produzir os seus frutos. É o brotar de uma obra bem filantrópica. Na antiga Roma não havia hospitais. Boa parte do progresso moderno se deve à influencia do cristianismo, mesmo no caso daqueles que pessoalmente não aceitaram a Cristo. McLaren, S. S. Times, 22 de fevereiro de 1902.107 – "Lucas não hesita em dizer, em At. 8.13, que 'até o próprio Simão [Mago] creu'. Mas ele espera de nós que entendamos que a crença de Simão não é a fé que salva, mas somente na veracidade da narrativa do evangelho. Não tem nenhum valor ético ou espiritual. Ele ficou 'atônito', como os samaritanos com as suas mágicas. Isto não conduziu ao arrependimento, ou à confissão, ou à verdadeira confiança. Ele só ficou 'atônito' com os milagres de Filipe, e nisto não havia salvação alguma". A fé simplesmente histórica como a seita dos Discípulos e como os seguidores de Ritchl sustentam, padece da falta do sentimento e, além disto, da realidade presente do próprio Cristo. A fé que se apóia num Cristo presente não é fé salvadora.
B) Emotivo (assensus, credere Deo), - assentimento à revelação do poder de Deus e graça em Cristo Jesus, aplicável às necessidades da alma. Aqueles em quem este despertar da sensibilidade se faz acompanhar da fundamental decisão da vontade, que constitui o elemento conseqüente da fé, pode parecer a eles mesmos e, por algum tempo, aos outros, ter aceitado a Cristo. Mt. 13.20,21 - "o que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra e logo a recebe com alegria; mas não tem raiz em si mesmo; antes é de
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pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se ofende"; cf. SI. 106.12,13 - "Então, creram nas suas palavras e cantaram os seus louvores. Cedo, porém, se esqueceram das suas obras; não esperaram o seu conselho"; Ez. 33.31,32 - "E eles vêm a ti como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza. Ε eis que tu és para eles como uma canção de amores, canção de que tem voz suave e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra"; Jo. 5.35 - De João Batista: "Ele era a candeia que ardia e alumiava e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz"; 8.30,31 - "Dizendo ele estas coisas, muitos criam nele (ειςς αυςτόν). Jesus, pois, dizia aos judeus que criam nele (αυςτώ'): Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos". Eles o criam, mas não criam nele, isto é, faziam o fundamento da sua fé e da sua vida. Contudo, Jesus, graciosamente reconhece um fraco prenuncio da fé. Pode conduzir à fé plena e salvadora. Os prosélitos da porta" eram assim chamados porque eles se contentavam em sentar-se como se fosse à porta, sem entrar na cidade santa. "Prosélitos da justiça" eram os que cumpriam todos os deveres juntando-se plenamente ao povo de Deus. O importante não é a emoção, mas a devoção. A fé temporária é tão irracional e sem valor como o arrependimento temporário. Talvez recebesse uma bênção temporária no caminho da cura nos tempos de Cristo, mas, se não fosse seguido da rendição da vontade, poderia até mesmo agravar o pecado de alguém; ver Jo. 5.14 - "Eis que tu estás são; não peques mais, para que não te suceda coisa pior". A fé especial dos milagres não é uma forma sua elevada, mas baixa e deve atualmente ser buscada nos nossos dias como indispensável ao progresso do reino. Os milagres cessaram não por causa do declínio na fé, mas porque o Espírito Santo mudou o método das suas manifestações e levou a igreja a ver mais dons espirituais.
A fé salvadora, contudo, inclui também:
Teologia Sistemática (Strong) 1656 C) Um elemento voluntário (fiducia, credere in Deum): confiança em Cristo como Senhor e Salvador; ou, em outras palavras - para distinguir seus dois aspectos: a) Rendição da alma, culpada e contaminada, ao governo de Cristo. Mt. 11.28,29 - "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim"; Jo. 8.12 -"Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas"; 14.1 "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim"; At. 16.31 - "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo". Exemplos do emprego de πιστεύω, no sentido de confiante cumprimento ou rendição: Jo. 2.24 - "Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia"; Rm. 3.2 - "as palavras de Deus lhe foram confiadas"; Gl. 2.7 - "quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado", πίστις = "confiante rendição própria a Deus" (Meyer). Nesta rendição da alma ao governo de Cristo temos a garantia de que a salvação pelo evangelho não é uma confiança imoral que permite a confiança no pecado. Além do fato de que a fé salvadora é apenas o reverso do verdadeiro arrependimento, a própria natureza da fé como submissão a Cristo, a incorporada lei de Deus e a fonte da vida espiritual, faz da vida obediente e da virtude o seu resultado natural e necessário. Fé não é apenas uma declaração de dependência; é também um voto de aliança. A fé que o doente tem no médico se mostra não apenas em confiar nele, mas em obedecer-lhe. Fazer o que determina o doutor é a prova da confiança. Nenhum médico continuará a cuidar de um paciente que se recusa a obedecer às suas ordens. Fé é rendição própria ao Grande Médico e a entrega do nosso caso nas suas mãos. Mas é também aceitar as suas prescrições e seguir as suas orientações de forma ativa. Precisamos dar ênfase a este elemento ativo na fé salvadora para que os homens não adquiram a noção de que a simples aquiescência indolente no plano de Cristo os salvará. Fé não é simples receptividade. Ela se dá a si mesma assim como recebe Cristo. Não é mera passividade; é também um compromisso próprio. Como toda a aquisição do conhecimento é ativa, e é preciso haver atenção se quisermos aprender, assim também toda a aquisi-
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ção vinda de Cristo é ativa e é preciso haver uma doação inteligente bem como aceitação. A Atalaia, 30 de abr. de 1896 - "Fé é mais do que crença ou confiança. É a ação da alma saindo em direção do seu objetivo. É o exercício de uma faculdade aquém da nossa vista; ela estabelece uma relação pessoal entre aquele que exercita a fé e aquele que é o seu objeto. Quando predomina a característica intelectual, chamamo-la crença; quando o elemento emocional, chamamo-la confiança. Esta fé é ao mesmo tempo 'Uma afirmação e um ato determina que a verdade eterna seja um fato presente'". Há grandes coisas que são adquiridas na fé, mas o homem nada recebe sem primeiro entregar-se a Cristo. Um general vencido veio à presença do vencedor e estendeu-lhe a mão: "Primeiro a sua espada, senhor!" foi a resposta. Mas, quando o General Lee ofereceu a sua espada ao General Grant em Apomatox, este a devolveu, dizendo: "Não, guarde a sua espada, e vá para casa". Jacobi diz que "Fé é o reflexo do conhecimento e vontade divinos no espírito finito do homem". G. B. Foster, em Indiana Baptist Outlook, 19 de jun. de 1902 - "A ortodoxia católica erra ao sustentar que a autoridade da fé está na igreja; porque isso seria uma autoridade exterior. A ortodoxia protestante está errada ao sustentar que a autoridade da fé está no livro; porque isso seria uma autoridade externa. O liberalismo está errado ao sustentar que a razão é a autoridade da fé. A autoridade da fé é a revelação de Deus". Fé na revelação é fé em Cristo como Revelador. Ele estabelece uma conexão entre a fonte de todo o conhecimento e o poder. Como a conexão de um cabo com o reservatório de energia elétrica se torna o canal de uma vastidão de energias, do mesmo modo a menor medida de fé, qualquer que seja a conexão real da alma com Cristo torna-a recebedora das fontes divinas. Enquanto a fé é o ato do homem todo e o intelecto, o sentimento e a vontade estão envolvidos nela, a vontade é abrangente e é o mais importante dos elementos. Nem um outro exercício da vontade é igual a uma revelação do nosso ser e tão decisiva do nosso destino. O elemento voluntário da fé é ilustrado no casamento. Aqui uma das partes garante o futuro na rendição própria, compromete-se com a outra pessoa na confiança de que este futuro, com suas novas revelações do caráter só justificará a decisão assumida. Pôr a mão de alguém no ferro em ponto de fusão, mesmo
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que se saiba do "estado esferoidal" que imuniza, requer um exercício da vontade; nem todos os que trabalham com metal tem a coragem suficiente para se arriscar. A criança que pulou numa adega escura, confiante de que os braços do seu pai estariam abertos para recebê-la, não agiu irracionalmente, por ouvir a ordem do seu pai e confiou na sua promessa. Embora a fé em Cristo seja um pulo no escuro e requeira um poderoso exercício da vontade, é a mais elevada sabedoria, porque a palavra de Cristo é um penhor de que "aquele que vem a mim, de maneira nenhuma, lançarei fora" (Jo. 6.37). J. W. A. Stewart: "A fé é 1. um laço de união entre pessoas, crédito, confiança; 2. ela assume os riscos, e garante o sucesso; 3. sua segurança é o caráter e o poder daquele em quem cremos; a garantia de que a nossa fé é racional não é a nossa fé, mas a fidelidade dele. Kant diz que no mundo nada é bom a não ser a boa vontade que obedece livremente a lei do bem. Pfleiderer define a fé como a livre rendição do coração à graciosa vontade de Deus. Kaftan, Dogmatik, 21, declara que a religião cristã é essencialmente fé e que esta se apresenta como 1. doutrina; 2. adoração; 3. moralidade.
b) Recebimento e apropriação de Cristo como fonte de perdão e vida espiritual. Jo. 1.12- "a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome"; ΑΛΑ-"mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna"; 6.53 - "se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos"; 20.31 - "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e para que, crendo tenhais vida em seu nome"; Ef. 3.17-"para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração"; Hb. 11.1 - "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das que se não vêem"; Ap. 3.20 - "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo".
Teologia Sistemática (Strong) 1659 Os três elementos constituintes da fé podem ser ilustrados a partir do pensamento, sentido e ação de alguém que está junto a um barco numa ilhazinha que a correnteza ameaça submergir. Primeiro ele considera o barco a partir de um ponto de vista puramente intelectual; ele é apenas um barco que, na realidade, existe. Quando a correnteza aumenta, ele o vê, em segundo lugar, com um certo acesso de emoção; a sua previsão de perigo desperta nele a convicção de que ele é um barco bom para uma circunstância de necessidade, embora ele ainda não esteja pronto para usá-lo. Mas, em terceiro lugar, quando ele sente que a correnteza que se avoluma pode doutra forma arrastá-lo, acrescenta-se o elemento vontade; entra no barco, entrega a sua confiança nele, aceita-o como o seu presente e único meio de salvação. Só este último passo de fé no barco é o que salva embora inclua os dois anteriores. Também é claro que a entrada no barco nunca o conduzirá à praia. Estes temores podem ser removidos pela palavra do barqueiro. Deste modo, a fé que salva não é necessariamente a garantia da fé; mas passa a sê-lo quando o Espírito Santo "testifica corn o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm. 8.16). Sobre a natureza desta garantia e da distinção entre ela e a fé, ver, mais adiante (c). "Vir a Cristo", "olhar para Cristo", "receber Cristo", são descrições da fé, assim como as expressões: "rendição a Cristo", "submissão a Cristo", "estar junto com Cristo". Paulo se refere a uma confissão de fé em Rm. 10.9 -"Se com a tua boca confessares Jesus como Senhor". Então fé é a aceitação de Cristo como Salvador e Senhor; e inclui tanto a sua apropriação como a consagração a ele. Contudo, na fé, o elemento vontade é tanto dar como receber. Ilustra-se a doação ou rendição na submersão batismal; a aceitação, ou recebimento, através da emersão. Onde há ênfase ao elemento da rendição e não se entende o recebimento, o resultado é uma experiência legalizadora com pouca esperança ou regozijo. Só quando nos apropriamos de Cristo, em conexão com a nossa consagração, entendemos a bênção completa do evangelho. A luz requer duas coisas: o sol para brilhar e os olhos para usufruírem desse
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brilho. Do mesmo modo não podemos ser salvos sem Cristo para salvar e a fé para receber o Salvador em nosso benefício. Fé é o ato pelo qual recebemos Cristo. A mulher que tocou a orla da veste de Cristo recebeu o poder curativo dele. É melhor ainda estar com Cristo de modo a receber continuamente a sua graça e a vida. Porém o melhor de tudo é recebê-lo no mais íntimo do nosso ser para que ele seja a alma da nossa alma e a vida da nossa vida. Eis a essência da fé embora muitos dos cristãos não a entendam. Bem disse o Dr. Cury que a fé nunca pode ser definida porque ela é um fato da vida. É a fusão da nossa vida à de Cristo e o recebimento da vida de Cristo a fim de interpretar e dar energia à nossa. Na fé devemos receber Cristo e entregarmo-nos a ele. Sem dúvida, é verdade que a rendição sem confiança não nos fará possuidores da paz de Deus. F. L. Anderson: "Fé é a submissa confiança em Jesus Cristo para a salvação: 1. Confiança em Jesus Cristo - não simples crença intelectual; 2. Confiança nele com vistas à salvação - nunca podemos anular o passado ou expiar os nossos pecados; 3. Confiança submissa em Cristo. A confiança sem rendição nunca salvará".
As passagens já mencionadas refutam o ponto de vista católico romano, de que a fé salvadora simplesmente é um assentimento implícito às doutrinas da igreja, e o ponto de vista dos Discípulos ou campbelistas, de que a fé é simplesmente crença intelectual na verdade, na apresentação da evidência. O católico diz que a fé pode coexistir com o pecado mortal. Os Discípulos sustentam que a fé pode e deve existir antes da regeneração; esta se completa no batismo. Com estes pontos de vista errôneos, compare o nobre pronunciamento de Lutero, Com. on Galatians, 1.191,247, citado em Thomasius, III, 2.185 - "A verdadeira fé", diz Lutero, "é a confiança garantida e o firme assentimento do coração através do qual Cristo está firmado; de sorte que ele é o objetivo da fé; porém, na própria fé, por assim dizer, Cristo está presente. A fé está firmada em Cristo e se prende a ele como uma possessão presente do mesmo modo que a jóia está incrustada no anel". Edwards, Works, 4.71-73; 2.601-641 - "A fé", diz Edwards, "inclui o ato todo de unificação com Cristo como Salvador. A unificação total da alma, ou tudo
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o que é chamado vir a Cristo, e a nossa aceitação dele, a Escritura chama de fé". Hatch, Hibbert Lectures, 530 - "A fé começa sendo 1. uma simples confiança em Deus; depois segue-se 2. uma simples expansão dessa proposta num assentimento à proposição de que Deus é bom, e, 3. uma simples aceitação de que Cristo é o seu Filho; a seguir, 4. vem a definição dos termos e cada definição deles envolve uma nova teoria; finalmente, 5. as teorias se unem em sistemas e os mártires e testemunhas de Cristo morrem por sua fé não exterior, mas interior à esfera cristã; e em vez de um mundo de crença religiosa que aparenta o mundo de fatos reais na sublime assimetria de sua folhagem e profunda harmonia de suas discordâncias prevalece a suposição mais fatal de todas, que a simetria de um sistema é o teste de sua verdade e a prova oriunda dele". Consideramos esta afirmação de Hatch tão errônea ao atribuir aos antigos discípulos uma fé não maior que a dos seus irmãos judeus. Reivindicamos que a antiga fé envolvia um implícito reconhecimento de Jesus como Salvador e Senhor e que esta fé é simples obediência e a confiança se converteu em reconhecimento explícito da divindade do Senhor e a expiação tão rapidamente como a perseguição e o Espírito Santo lhes revelou o verdadeiro conteúdo da sua própria consciência. Uma ilustração da simplicidade e poder salvador da fé é fornecida pelo Principal J. R. Andrews, de New London, Conn., Principal da Escola de Gramática de Bartlett. Quando naufragou o Atlântico distante da Ilha do Pescador, apesar de que o Sr. Andrews não podia nadar, tomou a determinação de fazer um esforço desesperado para salvar a sua vida. Preso a um salva-vidas, ficou na quina do convés aguardando a sua oportunidade e, quando viu uma onda que se movia em direção à praia saltou nas rudes ondas quebradas e foi sustentado salvo até a terra. Foi salvo pela fé. Aceitou as condições da salvação. Quarenta pereceram no mesmo local em que ele foi salvo. Em certo sentido ele salvou-se a si mesmo; noutro sentido ele dependeu de Deus. Foi uma combinação de uma atividade pessoal e dependência de Deus que resultou na sua salvação. Se ele não tivesse utilizado o salva-vidas, ele teria perecido; se não se lançasse ao mar teria perecido. Deste modo a fé em Cristo é uma confiança para a salvação; também cabe a nós assumir uma nova atitude na vida e mostrar a
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nossa confiança através da ação. Tratado, 357; Sociedade do Tratado Americano - "O que é crer em Cristo? É: sentir a necessidade dele; crer que ele é capaz e quer salvar, e salvar agora; e lançar-se sem reservas sobre a sua misericórdia e confiar só nele para a sua salvação".
Para mais explicações das representações escriturísticas, assinalamos: a) Que a fé é um ato de sentimento e vontade, do mesmo modo em que na verdade é um ato do intelecto. Tem-se defendido que fé e descrença são estados puramente intelectuais, necessariamente determinados pelos fatos em qualquer tempo apresentados à mente; e que são, em razão disso, tão destituídos de qualidade moral e matéria de obrigação como são nossos sentimentos instintivos de prazer e de dor. Mas este ponto de vista desapoiado isola o intelecto e ignora o fato de que, em todas questões morais, o estado do sentimento e da vontade afeta o juízo da mente com relação à verdade. Toda natureza moral se expressa no ato intelectual. Porque os gostos determinam as opiniões, a fé é um ato moral e os homens são responsáveis por não crerem. Jo. 3.18-20 - "Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. Ε a condenação é esta: que a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas"; 5.40 - "E não quereis vir a mim para terdes vida"; 16.8,9 – "E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado ... do pecado porque não crêem em mim"; Ap. 2.21 - "e não se arrependeu". Os selvagens não sabem que eles são responsáveis pelos seus apetites físicos, ou que há algo certo e errado em matéria de sentido, até que venham a ser influenciados pelo cristianismo. De igual modo, mesmo os cientistas podem declarar que a esfera intelectual não tem parte na provação humana, e que não somos mais responsáveis por nossas opiniões e crenças do que pela cor da nossa pele. Mas a fé não é um ato simplesmente
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intelectual; os sentimentos e a vontade lhe dão qualidade. Não há nenhuma qualidade moral na crença de que 2+2=4, porque não podemos esperar tal crença. Porém, no crer em Cristo há qualidade moral porque há o elemento escolha. Na verdade pode-se questionar se em cada julgamento de coisas morais não há um ato de vontade. Por isso em Jo. 7.17- "Se alguém quer fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se falo de mim mesmo" – F. L. Patton chama a atenção para dois erros comuns: 1) que a obediência certificará a doutrina; que é falsa porque a obediência resulta da fé e não o contrário; 2) que a experiência pessoal não é o teste final da fé; que é falso porque a Bíblia é a única regra de fé e uma coisa é receber através dos sentimentos e outra é testar a verdade através deles. O texto, na verdade, significa que, se alguém deseja fazer a vontade de Deus, saberá se ela é de Deus; duas lições devem ser tiradas: 1) o evangelho não necessita de nenhuma evidência adicional; 2) o Espírito Santo é a esperança do mundo. Pascal: "Fé é um ato da vontade". Emerson, Ensaio sobre a Adoração: Ό homem produz crenças como a árvore produz maçãs. A fé do homem religioso é a expressão daquilo que ele é". Bain: "Em seu caráter essencial a crença é uma fase da nossa natureza ativa, de outra forma chamada vontade". Nash, Ethics and Revelation, 257 - "Fé é a resposta humana criativa à oferta criativa divina. Não é a aceitação passiva de um favor divino.... Pela fé, o homem, defendendo a pessoalidade de Deus em Cristo, torna-se uma verdadeira pessoa. Ε pela mesma fé ele se torna sob Deus um criador e fundador da verdadeira sociedade". Inge, Christian Misticism, 52 - "A fé começa com a experimentação e termina com a experiência. Mas mesmo o poder de fazer a experimentação vem de cima. A vida eterna não é γνώσις, mas o estado de aquisição do conhecimento - ϊνα γιγνώσκοσιν. É significativo que João, que gosta tanto do verbo 'conhecer', nunca emprega o substantivo γνώσις. Crane, Religion of Tomorrow, 148 – “ ‘Não obedecerei, porque não conheço?’ Mas isto é fazer do lado intelectual a única face da fé enquanto o mais importante é a vontade. Siga o homem aquilo que ele crê e será conduzido a uma fé maior. Fé é o recebimento da influência pessoal de um Senhor vivo e uma ação correspondente". William James, Will to Belief, 61 - "Esta vida é digna de viver, porque é o que nós fazemos dela, a partir do ponto de vista moral. ... Freqüentemente
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a nossa fé antecipadamente num resultado não garantido é a única coisa que faz o resultado tornar-se verdadeiro. ... Se o seu coração não carece de um mundo de realidade moral, a sua cabeça seguramente nunca o fará crer em alguém.... A liberdade de crer abrange apenas as opções vivas que o intelecto não pode por si mesmo resolver. ... Não devemos pôr um paradeiro no nosso coração e, enquanto isso, agir como se a religião não fosse verdadeira"; Psychology, 2.282,321 – "A crença é um consentimento, uma voluntariedade, desviando da nossa disposição. É o estado mental ou função da realidade cognitiva. Nunca descremos de coisa alguma a não ser em razão de crermos em algo que contradiga a primeira coisa. Atribuímos uma realidade mais elevada a quaisquer que sejam as coisas que selecionamos e a que damos ênfase e às quais nos dedicamos com vontade. ... A única coisa de que necessitamos é agir com sangue frio como se o assunto em questão fosse real e continuar a agir como se fosse real e terminar infalivelmente desenvolvendo-se em tal conexão com a nossa vida que se tornará real. Aqueles a quem Deus e o dever são apenas nomes, podem torná-los muito mais do que isso, se lhes fizerem diariamente um pequeno sacrifício". E. G. Robinson: "O campbelismo faz a crença intelectual ser fé salvadora. Mas esta é tanto um consentimento do coração como um assentimento do intelecto. Por um lado há o elemento intelectual; a fé é uma crença baseada na evidência; fé sem evidência é credulidade. Mas, por outro lado, a fé tem um elemento afetivo; o elemento amor está sempre envolto naquele. Deste modo a fé que Abraão praticava assemelhava-o a Deus; porque sempre nos assemelhamos àquele em quem confiamos". Por isso a fé não é cronologicamente subseqüente à regeneração, mas um acessório. Como a apropriação que a alma faz de Cristo e da sua salvação ela não é o resultado de uma renovação completa, mas um meio através do qual tal renovação ocorre. Doutra forma seguir-se-ia que aquele que ainda não creu (i.e., recebeu Cristo) poderia ainda regenerar-se, enquanto a Escritura representa o privilégio da filiação concedido apenas aos que crêem. Ver Jo. 1.12,13 - "Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus".
Teologia Sistemática (Strong) 1665 b) O objeto da fé salvadora é, genericamente, toda a verdade de Deus, até onde se revela objetivamente ou se torna conhecida à alma; mas, em particular, a pessoa e obra de Jesus Cristo é que constituem o centro e substância da revelação de Deus (At. 17.18; 1 Co. 1.23; Cl. 1.27; Ap. 19.10). Os patriarcas, apesar de que não tiveram nenhum conhecimento de um Cristo pessoal, foram salvos por crerem em um Deus como se havia revelado a eles; e quaisquer que entre os gentios forem salvos, de igual modo devem sê-lo lançando-se como pecadores desesperançados no plano misericordioso de Deus, obscuramente projetado na natureza e na providência. Porém tal fé, mesmo entre os patriarcas e gentios, aponta implicitamente para Cristo e tornar-se-ia explícita e consciente confiança e submissão, desde que Cristo se fizesse conhecido a eles (Mt. 8.11,12; Jo. 10.16; At. 4.12; 10.31,34,35, 44; 16.31). At. 17.18 – "anunciava a Jesus e a ressurreição"; 1 Co. 1.23 - "nós pregamos Cristo crucificado"; Cl. 1.27 - "deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; que nós proclamamos"; Ap. 19.10 - "o testemunho de Jesus é o espírito de profecia". A fé salvadora não é a crença em um dogma, mas a confiança em um Cristo pessoal. Pelo que é possível até a uma criança. Dorner: "O objeto da fé é a revelação cristã - Deus em Cristo . ... Fé é união com o cristianismo objetivo - apropriação do conteúdo real do cristianismo". O Dr. Samuel Hopkins, meu tio-avô, define fé como "um entendimento, recebimento cordial do testemunho divino a respeito de Jesus Cristo e o caminho da salvação através dele, no qual o coração está de acordo e se conforma com o evangelho". O Dr. Mark Hopkins, o sobrinhoneto definia-a como "confiança em um ser pessoal". Horace Bushnell: "A fé apóia-se numa pessoa. É o ato pelo qual uma pessoa, um pecador, se compromete com uma outra pessoa, um Salvador". Em Jo. 11.25 - "Eu sou a ressurreição e a vida" Marta é levada a aceitar a crença numa pessoa em lugar da crença numa doutrina abstrata. Jesus é "a ressurreição" porque ele é "a vida". Toda a doutrina e todo o milagre tem significação e importância só porque é a expressão do Cristo vivo, e Revelador de Deus.
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O objeto da fé é às vezes representado no N.T., como Deus, Pai. Jo. 5.24 - "quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna"; Rm. 4.5 - "àquele que não pratica, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça". Só podemos justificar estas passagens quando nos lembramos de que Cristo é Deus "manifesto em carne" e "quem me vê a mim vê o Pai" (Jo. 14.9). O homem pode receber um presente sem saber de quem ele vem ou quanto custou. Deste modo, o pagão, que se lança como um pecador na misericórdia de Deus pode receber a salvação do Cristo crucificado sem saber quem é o doador, ou sem saber que o presente foi comprado pela agonia e pelo sangue. Denney, Studies in Theol., 154 - "No N.T. o escritor sempre lembra Cristo. Ele nunca pensa em Cristo como pertencente ao passado. Não preguemos um Cristo histórico, mas, ao invés disso, um Cristo vivo; não, preguemos o Cristo presente e onipotente. Jesus pode dizer: 'Mesmo vós sabeis para onde eu vou e conheceis o caminho' (Jo. 14.4); porque eles o conheciam e ele era tanto o fim como o caminho". O Dr. Charles Hodge indevidamente restringe as operações da graça à pregação do Cristo encarnado: Syst. Theology, 2.648 - "Não há fé onde não se ouve o evangelho; e, onde não há fé, não há salvação. Na verdade, esta é uma terrível doutrina". Ε ainda, em 2.668, ele diz mais de modo inconsistente: "Como Deus está presente em toda a parte no mundo material, guiando suas operações segundo as leis da natureza; assim ele está em toda a parte presente na mente dos seres humanos, como o Espírito da verdade e bondade, operando neles segundo as leis da sua livre atuação moral, inclinando-os para o bem e desviando-os do mal". Sustentamos que esta presença e revelação de Deus vem através de Cristo, o Verbo eterno, e é assim que interpretamos a profecia de Caifás sobre a obra pessoal de Cristo; Jo. 11.51,52 -"profetizou que Jesus devia morrer pela nação. Ε não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos". Porque Cristo é o Verbo e a Verdade de Deus, ele pode ser recebido até mesmo por aqueles que não ouviram falar da sua manifestação em carne. Uma moral orgulhosa e de justiça própria é inconsistente com a fé salvadora; mas uma humilde e penitente confiança em Deus, como salvador do pecado e guia de conduta, encontra-se na implícita fé em Cristo; nessa
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confiança lança-se em Deus, de sorte que Deus se revela; e o único revelador de Deus é Cristo. Por isso, temos a esperança de que, mesmo entre os pagãos, há alguns, como Sócrates, que, sob a direção do Espírito Santo, operando através da natureza e da consciência, encontraram o caminho da vida e da salvação. O número destes é tão pequeno que de modo algum enfraquecem as reivindicações da nossa responsabilidade na realização missionária. Mas as Escrituras parecem sugerir que elas existem: Mt. 8.11,12 - "muitos virão do Oriente e do Ocidente e assentar-se-ão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó, no Reino dos céus; e os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores"; Jo. 10.16 - "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar a estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor"; At. 4.12 - "E em nenhum outro há salvação, porque, também, debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos"; 10.31,34,35,44 – "Cornélio, a tua oração foi ouvida e as tuas esmolas estão em memória diante de Deus. ... Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável, em qualquer nação, o que teme e faz o que é justo.... E, dizendo Pedro estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra"; 16.31 -"Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa". Há exemplos de pagãos visivelmente regenerados; ver Godet em Jo. 7.17, nota (vol. 2.277), o relato do assim chamado "eremita chinês", que aceitou a Cristo: "Este é o único Buda que os homens devem adorar"! Edwards, Life of Brainard, 173-175, apresenta um relato "de um devoto e zeloso reformador, ou melhor, restaurador, do que ele supunha ser a antiga religião dos índios". Após um período de angústia, diz que Deus "consolou o seu coração e mostrou-lhe o que ele devia fazer e, desde então, conheceu a Deus e tentou servi-lo; amou a todos os homens, qualquer que fosse a condição deles, como nunca havia feito antes". Um chefe dos camarões no sudoeste da África, pescando com muitos da sua tribo muito antes da vinda dos missionários, foi apanhado por uma tempestade e, enquanto quase todos os outros se afogavam, ele e uns poucos escaparam. Mais tarde reuniu o seu povo e contou a história do desastre. Disse ele: "Quando as canoas emborcaram achei-me lutando
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contra as ondas e pensei: A quem clamarei pedindo socorro? Eu sabia que o deus das montanhas não me socorreria; sabia que o espírito do mal também não me socorreria. Então clamei ao Grande Pai: Senhor, salva-me! Naquele mesmo instante os meus pés tocaram a areia da praia e fui salvo. Agora quero que todo o meu povo honre o Grande Pai e ninguém fale uma palavra contra ele, porque ele nos socorre". Mais tarde esse chefe empregou todo o esforço no sentido evitar lutas e derramamento de sangue; os que lhe sucederam lembravam-no aquele que veio como um pacificador. Seu filho contou essa história ao missionário Alfred Saker, dizendo: "Por que o senhor não veio mais cedo? Meu pai ansiava por conhecer o que o senhor nos conta; ele tinha sede do conhecimento de Deus". O Sr. Saker contou isto na Inglaterra em 1879. John Fiske com o apêndice ao seu livro The Idea of God, 168,169, apresenta as seguintes palavras patéticas de um cáfir, chamado Sequese, em conversa com um viajante francês, M. Arbrouseille, sobre a religião cristã: "As suas notícias", disse o inculto bárbaro, "são as que eu desejo, e procuro-as antes que as conhecesse como o senhor as ouvirá e julgará por si mesmo. Há doze anos fui alimentar os meus rebanhos; nevava. Sentei-me numa rocha e, com tristeza fiz a mim mesmo algumas perguntas; com tristeza sim, porque eu era incapaz de respondê-las. Quem, com as suas mãos tocou as estrelas - sobre que esteios elas se apóiam? Perguntei-me. As águas nunca se cansam; não conhecem nenhuma outra lei que não seja fluir sem cessar de manhã à noite, de noite à manhã; mas onde param elas e quem as faz fluir assim? Também as nuvens vêm e vão e explodem em água sobre a terra. De onde vêm - quem as manda? Certamente os adivinhadores não nos mandam chuva; pois como poderiam fazê-lo? Ε por que não as vejo com os meus olhos quando sobem ao céu para trazê-la? Não me é possível ver o vento; porém, o que é ele? Quem o traz o faz soprar e rugir e aterrorizar-nos? Sei eu como brota o cereal? Ontem não havia uma folha no meu campo; hoje retorno e vejo algumas; quem pode ter dado à terra a sabedoria e o poder para produzi-la? Foi então que enterrei a minha cabeça em ambas as mãos". A Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira publica uma afirmação feita com base na autoridade de Sir Bartle Frere, de que ele encontrou "um exemplo, que foi cuidadosamente investigado, no qual todos habitantes de um
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vilarejo remoto no Deccan tinham abjurado a idolatria e as castas, removido dos seus templos os ídolos que tinham sido adorados lá em épocas imemoráveis e concordaram em professar uma forma de cristianismo que tinham deduzido a partir do cuidadoso exame de um único exemplar do evangelho e uns poucos tratados". Max Müller, Chips, 4.177-189, visivelmente prova que Buda é o original de S. Josafá, e que teve um dia atribuído no calendário tanto das igrejas gregas como no das romanas. "Sancte Socrates, ora pro nobis". A Missionary Review of the World, julho, 1896.519-523, conta a história de Adiri, depois chamado João, o Rei, de Maripastoon, na Guiana Holandesa. O Espírito Santo operou nele poderosamente anos antes que ele ouvisse os missionários. Ele era um negro da cor do carvão, pagão e adorador de fetiches. Convenceu-se do pecado e visivelmente converteu-se através de sonhos e visões. Revelaram-se a ele o céu e o inferno. Teve uma doença mortal e alguém lhe apareceu declarando-se o Mediador entre Deus e o homem e dizendo-lhe que fosse aos missionários para receber instrução. Foi perseguido, mas ganhou a sua tribo do paganismo e transformou-a numa comunidade cristã. S. W. Hamblen, missionário na China, conta uma história de um fervoroso e consistente cristão que morava numa cidade um tanto obscura com cerca de 2 800 habitantes. O evangelista foi visitá-lo e achou-o um exemplo digno daqueles que o cercavam. Ele tinha se tornado um cristão antes de tornar-se um crente, lendo um Novo Testamento em chinês. Embora até que o evangelista ia para a sua casa ele nunca tivesse encontrado um batista e não sabia da existência de qualquer igreja batista, pela leitura do Novo Testamento tornou-se não um cristão, mas um batista forte na crença, tão forte a ponto de poder argumentar com o missionário sobre o batismo. O Rev. Κ. Ε. Malm, pregador pioneiro batista na Suécia, numa viagem ao distrito tão longe como Gestrickland, encontrou uma mulher da Lapônia, que ia para Upsala a fim de visitar o Dr. Fjellstedt e conversou com ele sobre como poderia ter paz com Deus e desembaraçar-se da ansiedade por causa dos seus pecados. Ela disse que viajou 60 milhas (= 240 inglesas), e iria ainda mais longe. Malm aproveitou a oportunidade de falar-lhe a respeito do
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Cristo crucificado e ela encontrou paz ao crer na sua expiação. Ficou tão feliz que batia palmas e de tão alegre nem dormiu naquela noite. Mais tarde ela disse: "Agora volto para casa e digo ao povo o que eu encontrei". Isto fez e não se preocupou em continuar a sua viagem para Upsala para receber o consolo da parte do Dr. Fjellstedt.
c) Que a base da fé é a palavra exterior da promessa. A base da segurança, por outro lado, é o testemunho interior do Espírito para que cumpramos as condições da promessa (Rm. 4.20,21; 8.16; Ef. 1.13; 1 Jo. 4.13; 5.10). O testemunho do Espírito não é uma nova revelação de Deus, mas o fortalecimento da fé para que se torne consciente e indubitável. A verdadeira fé é possível sem a segurança da salvação. Porém se o ponto de vista de Alexander fosse correto no sentido de que o objeto da fé salvadora é a proposição: "Deus, por causa de Cristo, agora olha com olhos reconciliadores, para mim, que sou pecador", ninguém poderia crer sem estar ao mesmo tempo seguro de que se trata de uma pessoa salva. Com base no verdadeiro ponto de vista de que o objeto da fé salvadora não é uma proposição, mas uma pessoa, podemos perceber não só a simplicidade da fé mesmo onde a alma é destituída de segurança ou de gozo. Por isso os que já crêem são incentivados a buscar segurança (Hb. 6.11; 2 Pe. 1.10). Rm. 4.20,21 – "E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus; e estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer"; 8.16 - "O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus"; Ef. 1.13 — em quem ... tendo também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa"; 1 Jo. 4.13 - "Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu Espírito"; 5.10 - "Quem crê no Filho de Deus em si mesmo tem o testemunho". Esta segurança não é a essência da fé, porque aqueles que crêem são exortados a alcançá-la. Hb. 6.11 - "Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança"; 2 Pe. 1.10 - "Portanto, irmãos, procurai
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fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição"; Cf. Pv. 14.14 - "o homem bom se fartará de si mesmo". Há necessidade de resguardar a doutrina da segurança contra o misticismo. O testemunho do Espírito não é uma nova e direta revelação da parte de Deus. É um fortalecimento da fé já existente até que aquele que a possui não mais duvide da sua posse. A regra geral é que todas as nossas emoções, quando se tornam por demais fortes, também se tornam conscientes. Exemplo disso é a afeição entre um homem e a sua mulher. Edwards, Sentimentos Religiosos, em Works, 3.83-91, diz que o testemunho do Espírito não é uma nova palavra ou sugestão da parte de Deus, mas uma influência iluminadora e santificadora, de sorte que o coração é induzido a abraçar a verdade já revelada que ela o envolve. "Dar testemunho" neste caso não é declarar ou afirmar que uma coisa é verdadeira, mas é sustentar a evidência a partir da qual uma coisa pode ser provada que é verdadeira: Deus, "testificando ... por sinais e milagres" (Hb. 2.4). Assim o "selo do Espírito" não é uma voz ou sugestão, mas uma obra ou efeito do Espírito, deixado como marca divina na alma, a fim de ser evidência através da qual se pode conhecer os filhos de Deus. Os selos cunharam sobre eles a imagem ou o nome das pessoas a quem eles pertenciam. O "selo do Espírito", o "penhor do Espírito", o "testemunho do Espírito", tudo isto é a mesma coisa. O espírito como um filho, dado pelo Espírito Santo, é o testemunho ou evidência deste em nós. A fé deve distinguir-se não só da segurança, mas também do sentimento ou do regozijo. O exemplo da fé que Abraão tinha quando levou Isaque ao sacrifício; a fé da Madame Guyon quando o rosto de Deus lhe parecia oculto. É importante distinguir a fé salvadora da segurança da fé, porque a razão que falta à segurança é tomada por tantos verdadeiros cristãos como evidência de que eles não entendem nada da graça de Deus. Valhamo-nos da tão surrada ilustração: Entra-se no barco que nos salva e não no seu conforto. O que nos salva é a fé em Cristo, não a fé na nossa fé, ou fé na fé. O astrônomo não muda o seu telescópio para o reflexo do sol ou da lua na água quando ele o aponta para o sol ou para a própria lua. Por que obscurece a nossa fé quando podemos olhar para Cristo?
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A fé num Redentor distante é a fé do Cristão, em O Peregrino de Bunyan. Só no fim da sua jornada o Cristão tem a presença de Cristo. Esta representação se apóia numa errônea concepção da fé que se sustenta numa promessa ou doutrina, ao invés de sustentar-se no Cristo vivo e presente. A direção de uma velha escocesa ao inquisidor a fim de "agarrarse à promessa" não é tão boa como "agarrar-se a Cristo". O grande marinheiro inglês Sir Francis Drake tinha como sua marca uma âncora com um fio que corria rumo ao céu. Quando perguntaram a um menino pobre, que estudava numa escola da missão na Irlanda, o que é fé salvadora, respondeu: "É agarrar-se de coração a Deus". O ponto de vista de Charles Hodge, como o de Alexander, dá prioridade à doutrina em vez de Cristo e faz do princípio formal a supremacia da Escritura, acima do princípio material, a justificação pela fé. Melhor é o Breve Catecismo: "A fé em Cristo é graça salvadora, através da qual recebemos e descansamos apenas nele para a salvação e ele se nos oferece no evangelho". Se se tiver em mente esta relação da fé com o Cristo pessoal, muita desesperança poderia ser evitada. Murphy, Nat. Selection and Spiritual Freedom, 30,31, conta-nos que Frances Ridley Havergal nunca fixou a data da sua conversão. Desde os seis anos até os catorze ela sofria de temores religiosos e não se arriscava a chamar-se cristã. É o resultado de confundir estar em paz com Deus com estar consciente dessa paz. Do mesmo modo a mãe de Frederick Denison Maurice, mulher admirável e profundamente religiosa, suportou longo e profundo sofrimento com as dúvidas sobre a sua eleição pessoal. Há um testemunho do Espírito, com alguns pecadores, de que eles não são filhos de Deus e tal testemunho é totalmente verdadeiro, embora o pecador não saiba que é o Espírito quem revela isto a ele. A isto chamamos de convencimento do Espírito a respeito do pecado. O testemunho do Espírito de que nós somos filhos de Deus e a segurança da fé a respeito da qual fala a Escritura, são a mesma coisa; aquela designação só dá ênfase à fonte donde brota a segurança. A falsa segurança é destituída de humildade, enquanto a verdadeira está de tal modo absorta em Cristo que se esquece até de si mesma. A consciência própria e o desejo de expor a fé, não são marcas da verdadeira segurança. Quando dizemos: "Este homem tem uma grande segurança", temos em mente a falsa segurança centrada em si mesma do hipócrita ou daquele que a si mesmo se engana.
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Allen, Jonathan Edwards, 231 - "Já se tem dito que qualquer que leia Sentimentos Religiosos de Edwards e ainda crê na sua própria conversão, bem pode ter a mais alta segurança da sua realidade. Mas, como poucos da época de Edwards obtiveram a segurança, pode-se inferir da circunstância de que o Dr. Hopkins e o Dr. Emmons, discípulos de Edwards e líderes religiosos na Nova Inglaterra, continuaram até o fim na incerteza da conversão deles". Ele só pode atribuir isto ao espírito semideístico da época, como o conceito de um Deus distante e imperfeita apreensão da onipresença e onipotência de Cristo. Nada marca tão claramente o progresso prático do cristianismo do que a crescente fé em Jesus, único revelador de Deus na natureza e na história assim como no coração daquele que crê. Como nunca antes, a fé vem diretamente a Cristo, permanece nele e encontra a sua verdadeira promessa: "Eis que estou convosco até a consumação dos séculos" (Mt. 28.20). "Nada antes, nada atrás; os passos da fé caem num aparente vazio e encontram a Rocha".
d) Que a fé necessariamente conduz às boas obras, visto que ela abrange toda a verdade de Deus até onde é conhecida e se apropria de Cristo não só como um Salvador externo, mas como um poder santificador interno (Hb. 7.15,16; Gl. 5.6) As obras de Deus são a própria evidência da fé. A fé que não leva o homem a agir apoiado nos mandamentos e promessas de Cristo, ou, em outras palavras, não leva à obediência, é chamada na Escritura de "morta", isto é, fé irreal. Tal fé não é salvadora porque não tem o elemento voluntário - a verdadeira apropriação de Cristo (Tg. 2.14-26). Hb. 7.15,16 - "outro sacerdote, que não foi feito segundo o mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível"; Gl. 5.6 "Porque, em Jesus Cristo, nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas, sim, a fé que opera em caridade"; Tg. 2.14,26 - "que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Pode a fé salválo?"... Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta". A melhor evidência de que eu creio na palavra de um homem é que eu ajo apoiado nela. Para mim um exemplo da segurança do caixa de banco é
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que a soma de dinheiro está depositada por ele na minha conta. Se eu sou um milionário, não pode causar-me nenhum regozijo especial. Minha fé na palavra do caixa se testa na minha ida ou não em busca do dinheiro. Do mesmo modo a minha fé em Cristo é evidenciada pela minha ação na sua ordem e nas suas promessas. Podemos também ilustrar com a subida do trole ao fio e a resultante luz e o calor e o movimento do carro que antes estava escuro, frio e parado no trilho. A salvação pelas obras assemelha-se à direção de alguém impulsionando o carro. A verdadeira fé depende de Deus para receber energia, mas resulta em atividade em todas as nossas forças. Rm. 3.28 - "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei". Somos salvos unicamente pela fé, embora esta fé certamente produzirá boas obras; ver Gl. 5.6 - "fé que opera por amor". A fé morta pode ser ilustrada pelo barco a vapor de Abraão Lincoln no Mississipi, cujo apito era tão forte que, quando soava, o navio parava. A confissão esgota a energia de sorte que ninguém é desprezado por causa da ação. A. J. Gordon, The First Thing in the World, ou Primacy of Faith: "David Brainard fala com uma espécie de surpreendente espanto do que ele observou entre os degradados índios norte-americanos; como, pregando-lhes as boas novas de salvação pela expiação de Cristo e persuadindo-os a aceitála pela fé, e depois, em rápidas viagens missionárias, ele encontrou, voltando após um ou dois anos, que os frutos de retidão, e sobriedade, e virtude, e amor fraternal eram visíveis em toda a parte, embora tivesse sido possível transmitir-lhes apenas o leve ensino moral e ético".
e) Que a fé, caracteristicamente o ato interior da aceitação, não deve ser confundida com o amor ou a obediência, que são os seus frutos. A fé é, nas Escrituras, chamada obra, só no sentido de que os poderes ativos do homem estão empenhados nela. É uma obra que Deus requer, apesar de que Deus capacita o homem a realizá-la (Jo. 6.29 έργον του Θεοΰ. Cf. Rm. 1.17 - δικαιωσύνη Θεοΰ). Como o dom de Deus e o simples recebimento da imerecida misericórdia, exclui-se expressamente da categoria das obras em cujas bases o homem pode reivindicar a salvação (Rm. 3.28; 4.4,5,16). Não é o ato da alma plenamente dotada, mas o ato de uma alma vazia receptiva. Apesar de
Teologia Sistemática (Strong) 1675 que este recebimento é auxiliado pela condução do coração para Deus operada pelo Espírito Santo, tal condução do coração não é amor consciente e desenvolvido: tal amor é resultado da fé (Gl. 5.6). O que precede a fé é uma tendência ou disposição inconsciente e não desenvolvida para Deus. O sentimento consciente e desenvolvido para Deus ou o verdadeiro amor deve sempre acompanhar a fé e ser o produto dela. Assim, também, a obediência pode ser considerada só depois que a fé tem o apoio de Cristo e com ele obteve o espírito de obediência (Rm. 1.5- ύπακοήν πίστεως - "obediência resultante da fé"). Por isso a fé não é a causa procuradora da salvação, mas só a causa instrumental. A causa procuradora é Cristo, que a fé abarca. Jo. 6.29 - "A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou"; cf. Rm. 1.17- "Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé"; Rm. 3.28 - Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei"; 4.4,5,16 - Ora, àquele que faz a obra, não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida". Mas, àquele que não pratica, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça. ... Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça"; Gl. 5.6 - "Porque, em Jesus Cristo, nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas, sim, a fé que opera por amor"; Rm. 1.5 - "pelo qual recebemos a graça do apostolado para a obediência da fé entre todas as gentes". A fé é um fator intermediário entre a tendência inconsciente e não desenvolvida ou disposição para com Deus operada na alma através do seu ato regenerador, por um lado e, por outro, o sentimento consciente e desenvolvido que é um dos frutos e evidências da conversão. Isto se ilustra com o instinto maternal apresentado no cuidado que uma menina tem para com a sua boneca; o qual se desenvolve no amor de mãe, somente quando ela tiver o seu próprio filho. Este novo amor do cristão é uma atividade da sua própria alma e é ainda um "fruto do Espírito" (Gl. 5.22). Atribuí-lo a ele mesmo seria como chamar o fato de o coxo andar e saltar (At. 3.8) apenas uma atividade curativa dele mesmo. Por isso, a ordem lógica é: 1. O amor inconsciente e não desenvolvido; 2. A fé em Cristo e na sua verdade; 3. O amor consciente e desenvolvido; 4.
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A garantia da fé. A fé e o amor agem e reagem reciprocamente. Cada progresso que um alcança conduz a um correspondente progresso no outro. Porém a fonte de tudo está em Deus. Deus ama e, por isso, ele nos dá do seu amor e recebe também o amor da nossa parte. O amor inconsciente e não desenvolvido que ele transmite é a raiz de toda a fé cristã. O católico romano está certo ao afirmar a prioridade do amor com relação à fé se ele considera o amor só este sentimento inconsciente e não desenvolvido. Mas o protestante também está certo em afirmar a prioridade da fé em relação ao amor se considerar que este é um sentimento consciente e desenvolvido. Stevens, Johannine Theol., 368 - "A fé não é uma simples receptividade passiva. Como a aceitação de uma vida divina, ele envolve a posse de uma nova energia moral. A fé opera através do amor. Na fé recebe-se uma nova força da vida, e novos poderes da vida despertam dentro do cristão. Não devemos confundir arrependimento nem a fé com os seus frutos. A. J. Gordon, The First Thing in the World: "O amor é a maior coisa do mundo, mas a fé é a primeira. A árvore é maior do que a raiz, mas ela que não se orgulhe: 'se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti' (Rm. 11.18). O amor não tem o poder de ramificar e produzir fruto, a não ser que, através da fé, esteja arraigado em Cristo e dele traga a nutrição. 1 Pe. 1.5 - 'que, mediante a fé estais guardados na virtude de Deus, para a salvação já prestes para se revelar no último tempo'; 1 Co. 13.13 - 'Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade'; Hb. 10.1925 - 'cheguemo-nos ... em inteira certeza de fé ... retenhamos firmes a confissão da nossa esperança ... para nos estimularmos à caridade e às boas obras'; Rm. 5.1-5-'justificados pela fé ... regozijai-vos na esperança ... o amor de Deus está derramado em nosso coração'; 1 Ts. 1.3 - 'a obra da vossa fé, do trabalho da caridade e da paciência da esperança'. A fé é o raio actínico, a esperança o luminífero, o amor o calorífico. Mas a fé contém o princípio da semelhança com o pai e garantirá a semelhança moral e física no devido tempo". A. J. Gordon, Ministry of the Spirit, 112- “ ‘O amor do Espírito’ (Rm. 15.30) é o amor do Espírito de Cristo e nos é dado para vencer o mundo. A vida divina é a fonte do amor divino. Por isso o amor de Deus 'é derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos é dado' (Rm. 5.5). Porque por natureza estamos inteiramente sem o sentimento celestial, Deus, através do Espírito que habita em nós, dá-nos o seu próprio amor com que o amamos". A. H. Strong, Christ in Creation, 286, 287, assinala que, em 2 Co.
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5.14 - "o amor de Cristo nos constrange" - o amor de Cristo é "não o nosso amor a Cristo, porque isso é uma coisa muito fraca e incerta; nem mesmo o amor de Cristo para conosco, porque isso ainda é algo exterior a nós. Cada um destes deixa uma separação entre Cristo e nós e não age como uma força que movimenta o poder interior. ... Nem simplesmente o nosso amor a Cristo, nem o amor de Cristo para conosco é o amor que constrange. Este é o pensamento do apóstolo". O primeiro fruto deste amor em seu estado inconsciente e não desenvolvido é a fé.
f) Que a fé é suscetível de aumento. Isto é evidente, se a considerarmos a partir do lado humano ou do divino. Como um ato do homem, tem um elemento intelectivo, um emotivo e um volitivo. Como obra de Deus na alma do homem, ela pode receber, através da apresentação da verdade e da vivificante atuação do Espírito Santo, continuamente novos acessos de conhecimento, sensibilidade e energia ativa. Tal crescimento da fé, portanto, devemos buscar, tanto por exercício resoluto das nossas forças como, sobretudo, pela aplicação direta à fonte da fé em Deus. (Lc. 17.5). Lc. 17.5 - "Disseram, então, os apóstolos ao Senhor: Acrescenta-nos a fé". O cristão adulto tem mais fé que quando criança; é evidente que tem havido crescimento. 1 Co. 12.8,9 - "Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra de sabedoria ... e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé". Esta passagem parece sugerir que, por exigências especiais, o Espírito Santo dá aos seus servos fé especial, de modo a serem capacitados a manter a promessa de Deus e fazer a sua aplicação especial. Rm. 8.26,27 - "o Espírito ajuda as nossas fraquezas ... intercede por nós ... segundo a vontade de Deus, intercede pelos santos"; 1 Jo. 5.14,15 - Έ esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos". Só quando começamos a crer, apreciamos a nossa falta de fé e a grande necessidade do seu crescimento. O pequeno crescimento da luz torna conhecida a grandeza das trevas que nos cercam. Mc. 9.24 - "Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade" - é o pronunciamento de alguém que
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reconhece tanto a necessidade da fé como a verdadeira fonte do suprimento.
IV. JUSTIFICAÇÃO 1. Definição de Justificação É o ato judicial pelo qual, por causa de Cristo, a quem o pecador está unido pela fé, Deus declara que o pecador não mais está exposto à pena da lei, mas restaurado ao seu favor. Ou, dando uma definição alternativa, de que se exclui toda a metáfora: Justificação é o reverso da atitude de Deus para com o pecador, por causa da nova relação deste com Cristo. Deus condenou; ele agora absolve. Ele repeliu; agora admite favorecê-lo. A justificação, assim definida, é, portanto, um ato declarativo distinto do ato eficiente; ato exterior de Deus para o pecador, distinto do ato interior na natureza do pecador e que muda-a; um ato judicial distinto do ato soberano; um ato baseado na união do pecador com Cristo e logicamente pressupondo-a, distinto do ato que causa a referida união e é seguido por ela. A palavra 'declarativa' não implica em uma palavra 'falada' da parte de Deus; muito menos que o pecador ouve Deus falar. Os arminianos e os que defendem uma teoria governamental de expiação sustentam que a justificação é soberana. Em qualquer teoria a justificação deve ser soberana; visto que Cristo suportou, não a pena da lei, mas o sofrimento substitutivo que Deus graciosa e soberanamente aceita em lugar do nosso sofrimento e obediência. Anselmo, Arcebispo de Cantuária, 1100, escreveu um tratado para a consolação do moribundo, que estava alarmado por causa do seu pecado. Eis aqui o seguinte resumo: Pergunta: Crês tu que Cristo morreu por ti? Resposta: Creio. Pergunta: Dás graças a ele por sua paixão e morte? Resposta: Dou-lhe graças. Pergunta: Crês tu que não podes ser salvo a não
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ser pela sua morte? Resposta: Creio". Depois, Anselmo dirige-se ao moribundo: "Vem, então, enquanto a vida permanece em ti; põe a tua confiança inteiramente na sua morte; não ponhas a tua confiança em mais coisa alguma; confia totalmente na morte dele; só isto te cobre totalmente; e se o Senhor, teu Deus te julgar, dize: 'Senhor, entre o teu julgamento e a minha pessoa apresento a morte do nosso Senhor Jesus Cristo; nenhuma outra coisa pode contender contigo'. E, se ele disser que tu és um pecador, dize tu: 'Senhor, interponho a morte do nosso Senhor Jesus Cristo entre ti e os meus pecados'. Se ele disser que tens merecido a condenação, dize: 'Senhor, eu pus a morte do nosso Senhor Jesus Cristo entre ti e os meus deméritos e os méritos dele ofereço em lugar dos que eu deveria ter e não tenho'. Se ele disser que está irado contigo, dize: 'Senhor, eu oponho a morte do Senhor Jesus Cristo entre mim e a tua ira'. E, ao completar isto, dize ainda: 'Eu ponho a morte do Senhor Jesus Cristo entre mim e ti'". A citação acima dá-nos razão para crer que a doutrina neotestamentária da justificação pela fé implícita ou explicitamente foi defendida por muitas piedosas almas através das épocas do obscurantismo papal.
2. Prova da Doutrina da Justificação A) As provas escriturísticas da doutrina como um todo são as seguintes: Rm. 1.17 - "a justiça de Deus de fé em fé"; 3.24-30 - "sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ... justificador daquele que tem fé em Jesus. ... Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.... justifica, pela fé, a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão"; Gl. 3.11 - "É evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus porque o justo viverá da fé. Ora, a lei não é da fé, mas o homem que fizer estas coisas por elas viverá"; Ef. 1.7 - "Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça"; Hb. 11.4,7 - "Pela fé Abel ofereceu maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo ... Pela fé, Noé, divinamente avisado, temeu ... preparou a arca ... e foi feito
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herdeiro da justiça que é segundo a fé"; cf. Gn. 15.6 - "E creu ele no Senhor, e foi-lhe isto imputado por justiça"; Is. 7.9 - "se o não crerdes, certamente não ficareis firmes"; 28.16 - "aquele que crê não se apresse"; Hb. 2.4 - "mas o justo, pela sua fé, viverá". Sl. 85.8 - "falará de paz ao seu povo". A grande palavra de perdão da parte de Deus inclui tudo o mais. Paz com ele implica todos os privilégios pactuais resultantes disso. 1 Co. 3.21-23 - "tudo é vosso", porque "vós sois de Cristo; e Cristo, de Deus". Isto não é salvação pela lei, nem pelos ideais, nem pelo esforço, nem pelo caráter; apesar de que a obediência à lei e um mais elevado ideal, e um esforço ilimitado, e um caráter puro, sejam conseqüências da justificação. Justificação é a mudança na atitude de Deus para com o pecador a qual torna possíveis todas estas conseqüências. A única condição da justificação é a fé do pecador em Jesus, a qual une a vida do pecador à de Cristo. Paulo expressa a referida verdade em Gl. 2.16,20 "Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei... já estou crucificado com Cristo, e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e a si mesmo se entregou por mim". Com estas observações e qualificações podemos, em muito, concordar com o que diz Whitton, Divine Satisfaction, 64, que estabelece distinção entre perdão e remissão: Perdão é a correção das relações pessoais. Remissão é a remoção das conseqüências que, na ordem natural das coisas, resultaram da nossa falta. Deus perdoa tudo o que é estritamente pessoal, não abranda nada do que é estritamente natural no pecado. Ele transmite ao pecador o poder de suportar o fardo e excluir a sua dívida relativa às conseqüências. Perdão não é remissão. Ele introduz a remissão, do mesmo modo que a conversão não é salvação, mas introdução a ela. O filho pródigo foi recebido pelo pai, mas não pôde recuperar o seu patrimônio perdido. Contudo foi conduzido pelo arrependimento a trabalhar tão intensamente aquilo que de mais importante ele havia perdido. "Eis aqui um elemento na justificação que o protestantismo tem ignorado e que o romanismo tem tentado conservar. O perdão converte a
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persistente energia do pecado passado a partir de uma força destrutiva para uma construtiva. Há uma transformação da energia em nova forma. O genuíno arrependimento estimula a fazer o que não podemos na recuperação por causa do tempo perdido e dos erros cometidos. O pecador é revestido de força moral. Todos nós devemos ser julgados pelas nossas palavras. O fato de que Paulo tinha sido um blasfemo sempre o estimulava ao empenho cristão. A fé que recebe Cristo é um espírito peculiar, uma certa atividade moral de amor e de obediência. Não é apenas confiança naquilo que Cristo foi e fez, mas o empenho ativo de tornar-se como ele e fazer o que ele fez. A justiça humana apega-se aos atos; a divina trata do caráter. A justificação pela fé é a justificação pelo espírito e o princípio interior, independentemente do mérito das obras ou execuções, mas nunca sem elas. A caridade de Deus toma a vontade para com as obras. Isto não significa justificação através da conduta externa, como pensam os judaizantes, mas através do bom espírito. Se este for o Espírito de Cristo com o qual a fé se uniu a alma, temos que aceitar essa afirmação. Há, contudo, o perigo de concebê-lo como apenas do próprio homem, e a justificação como não sendo exterior ao pecador nem como obra de Deus, mas somente como um nome de um processo subjetivo através do qual o homem se justifica.
B) A Bíblia emprega palavras especiais para traduzir "justificar" e "justificação" tanto na Septuaginta como no Novo Testamento. α) δικαιόω – uniformemente ou apenas com uma exceção, não significa, tornar justo, mas declarar justo, ou livre da culpa e exposição ao castigo. A única passagem do Velho Testamento onde tal significado é questionável é Daniel 12.3. Mas, mesmo aí, a tradução adequada é, com toda a probabilidade, não 'os que dirigem muitos para a justiça', mas 'os que justificam muitos' i.e., levam muitos a serem justificados. Textos do V. T.: Ex. 23.7 - "não justificarei o ímpio"; Dt. 25.1 - "[os juízes] ao justo justificarão e ao injusto condenarão"; Jó 27.5 - "Longe de mim que eu vos justifique"; SI. 143.2 - "à tua vista não se achará justo nenhum vivente"; Pv. 17.15 - Ό que justifica o ímpio e o que condena o justo abomináveis são para o Senhor, tanto um como o outro"; Is. 5.23 - "que justificam o ímpio por presentes e ao justo negam a justiça"; 50.8 - "Perto
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está o que me justifica"; 53.11 - "com o seu conhecimento, o meu servo, o justo, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si"; Dn. 12.3 - "e aqueles que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas, sempre e eternamente" ('os que justificam a muitos', i.e., fazem muitos ser justificados); cf. Tg. 5.19,20 - "Irmãos, se algum dentre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que converter do erro do seu caminho um pecador salvará uma alma e cobrirá uma multidão de pecados". O ministro cristão absolve do pecado, só no mesmo sentido em que ele casa alguém; ele não os une; ele só os declara unidos. Do mesmo modo ele declara perdoados os homens se eles preencherem as condições divinas. O casamento pode ser invalidado nos casos em que não são preenchidos os devidos requisitos, mas a absolvição do ministro não ocorre onde não há arrependimento do pecado e a fé em Cristo. É bom ter sempre em mente que justificação é um termo forense que mostra a mudança da atitude de Deus para com o pecador de um modo figurado derivado dos tribunais terrenos. O fato é maior e mais vital do que a figura empregada para descrevê-lo. McConnell, Evolution of Immortality, 134,135 – "Os termos de Cristo são biológicos; os de muitos teólogos são legais. Deve ter vindo de épocas anteriores recorrermos ao infortúnio de ter tido a verdade de Cristo interpretada e fixada pelos juristas e pelos lógicos em vez de sê-lo pelos naturalistas e cientistas. Cristo está íntima e vitalmente preocupado com a vida eterna dos homens, mas a questão que envolve o seu viver ou perecer não um sistema judicial de galardão e pena". Contudo, é bom lembrar que até mesmo a biologia nos dá apenas um lado da verdade. A concepção forense da justificação fornece o seu complemento e tem também o seu direito. A Bíblia representa ambos os lados da verdade. Paulo nos dá o aspecto judicial da justificação, João nos dá o aspecto vital.
Em Rm. 6.7 - ό γαρ αποθανών δεδικαίωται από της αμαρτίας = 'aquele que uma vez morreu com Cristo foi absolvido da servidão do pecado considerado como uma penalidade'. Em 1 Co. 4.4 - ουδέν γαρ έμαυτω σύνοιδα, αλλ' ουκ εν τούτω δεδικαίωμαι = 'não tenho
Teologia Sistemática (Strong) 1683 consciência de nenhuma falta, mas isso não certifica por si mesmo a absolvição de Deus a respeito desta acusação em particular'. O uso da Epístola de Tiago não contradita isto; a doutrina de Tiago é que somos justificados só por uma fé que nos faz fiéis e produz boas obras. "Ele emprega a palavra exclusivamente no sentido judicial; combate um ponto de vista equivocado de πίστις, mas não o ponto de vista equivocado de δικαιόω". Textos do N. T.: Mt. 12.37 - "Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado"; Lc. 7.29 - Έ todo o povo que o ouviu e os publicanos, tendo sido batizados, com o batismo de João, justificaram a Deus"; 10.29 - "Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: Ε quem é o meu próximo?" 16.15- "Sois vós que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração"; 18.14 "Este desceu justificado para a sua casa, e não aquele"; cf. 13 (lit.) "Ó Deus, sê propício a mim, pecador"; Rm. 4.6-8 - "Assim também Davi declara bemaventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado"; cf. SI. 31.1,2 - "Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano". Rm. 5.18,19- "Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo a todos os homens para condenação, assim também, por um ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos"; 8.33,34 - "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará?" 2 Co. 5.19,21 - "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados. ... Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que, nele fôssemos feitos justiça de Deus" [pessoas justificadas de Deus]; Rm. 6.7 - "porque aquele que está morto está justificado do pecado"; 1 Co. 4.4 - "Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor".
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Tg. 2.21,23,24 - "Porventura, Abraão, nosso pai, não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? ... Ε creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça ... Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé". Tiago não está denunciando uma fé morta, enquanto Paulo fala da necessidade de uma fé viva; ou, mais ainda, Tiago está descrevendo a natureza da fé, enquanto Paulo, o instrumento da justificação. Eles são como duas pessoas cercadas por um par de ladrões. Cada um ataca o ladrão que se opõe a ele; cada um tem em vista um inimigo diferente" (Wm. M. Taylor). Neander em Tg. 2.14-26 - "Tiago está somente denunciando a adesão a uma lei exterior, confiança na posse intelectual dela. Para ele, a lei significa um princípio interior da vida. Paulo, contrastando a lei como o faz com a fé normalmente significa que a lei é um mero requisito divino ... Tiago não nega a salvação àquele que tem fé, mas àquele que professa falsamente tê-la. Quando ele diz que Ό homem é justificado pelas obras', leva em conta apenas a manifestação exterior, fala do ponto de vista da consciência humana. Nas obras só a fé se mostra como genuína e completa". Ap. 22.11 - "quem é justo faça a justiça ainda". Cristo é um grande médico. O médico diz: "Se você quer ser curado, deve confiar em mim". O paciente responde: "Eu confio plenamente no senhor". Porém o médico continua: "Se você quer ser curado, você tem de tomar os remédios e seguir a minha orientação". O paciente retruca: "Mas eu pensei que seria curado, através da confiança no senhor. Por que dar tanta ênfase naquilo que eu faço?" O médico responde: "Você deve mostrar a sua confiança em mim através da sua ação. Confiar em mim, sem a ação em prova de tal confiança, não tem valor algum" (S. S. Times). Ação sem um médico é morte; por isso Paulo diz que as obras não podem salvar. Confiança no médico implica obediência; por isso Tiago diz que a fé sem obras é morta. Crane, Religion of Tomorrow, 152-155 - "Paulo insiste na justiça da macieira e adverte contra a justiça da árvore de natal". Sagebeer, The Bible in Court, 77,78 - "Para Paulo, as obras são as da lei; para Tiago, as da fé". Hovey, em The Watchman, 27 de agosto de 1891 - "Uma diferença de ênfase, ocasionada principalmente pelos diferentes perigos religiosos a que os leitores da época estavam expostos".
Teologia Sistemática (Strong) 1685 b) δικαίωσις – é o ato, em processo, de declarar o homem justo, – isto é, absolvido da culpa e restaurado ao favor divino (Rm. 4.25; 5.18). Rm. 4.25 - "o qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação"; 5.18 - "sobre todos os homens para justificação de vida". Griffith-Jones, Ascent Through Christ, 367,368 - "Ressuscitado para nossa justificação" - A morte de Cristo tornou possível a nossa justificação, mas não a consumou. Pela sua ressurreição dentre os mortos ele foi pôde entrar neste relacionamento com o crente, o que restaura a filiação interrompida e perdida. Na igreja o fato da ressurreição se perpetua e a idéia da ressurreição se realiza.
c) δικαίωμα – é o ato, já completado, de declarar o homem justo, – isto é, não mais exposto à penalidade, mas restaurado ao favor de Deus (Rm. 5.16,18; cf. 1 Tm. 3.16). Por isso, em outras conexões, δικαίωμα tem o sentido de estatuto, decisão legal, ato de justiça (Lc. 1.6; Rm. 2.26; Hb. 9.1). Rm. 5.16,18 – "de muitas ofensas para justificação. ... por um ato de justiça"; cf. 1 Tm. 3.16 - "justificado em espírito". A distinção entre δικαίωσις e δικαίωμα pode ser ilustrada com a distinção entre poesia e poema; aquela denota alguma coisa em processo, um espírito sempre operante; esta denota algo plenamente cumprido, uma obra completada. Por isso, emprega-se δικαίωμα em Lc. 1.6 – "preceitos do Senhor"; Rm. 2.26 – "preceitos da lei"; Hb. 9.1 - "ordenanças do culto divino".
d) δικαιωσύνη – é o estado do justificado, ou declarado justo (Rm. 8.10; 1 Co. 1.30). Em Rm. 10.3, Paulo investe contra την ιδίαν δικαιοσύνην, como insuficiente e falsa e em seu lugar põe την του θεοΰ δικαιοσύνην, - isto é, uma δικαιοσύνη que Deus não só requer, mas providencia; a qual não só é aceitável a Deus, mas procede de Deus e é adequada pela fé, – por isso chamada δικαιοσύνη πίστεως ou έκ πίστεως. "Α primeira significação da palavra, nos escritos de Paulo, é, portanto, o estado do crente que é chamado pelo ato de absolvição de Deus, - o
Teologia Sistemática (Strong) 1686 estado do crente como justificado", isto é, libertado da punição e restaurado ao favor divino. Rm. 8.10 - "o espírito que vive por causa da justiça"; 1 Co. 1.30 "Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus ... justiça"; Rm. 10.3 - "não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus". Shedd, Dogm. Theol., 2.542 "A 'justiça de Deus' é a obediência ativa e passiva do encarnado de Deus". E. G. Robinson, Christian Theol., 304 - "Quando Paulo se dirigiu aos que confiavam em sua própria justiça, apresentava a salvação como acessível só através da fé em um outro; quando se dirigia aos gentios que estavam conscientes de que necessitavam de um ajudador, não emprega a figura forense. Raramente aparece em seus discursos registrados em Atos e notadamente falta em todas epístolas exceto aos Romanos e aos Gaiatas".
Porque este estado de absolvição se faz acompanhar de mudanças no caráter e conduta, δικαιοσύνη vem a significar, em segundo lugar, a condição moral do crente como resultado de tal absolvição e em inseparável conexão com ela (Rm. 14.17; 2 Co. 5.21). Esta retidão que surge da justificação torna-se um princípio de ação (Mt. 3.15; At. 10.35; Rm. 6.13,18). O termo, contudo, nunca perde sua implicação de ato justificador no qual se baseia este princípio de ação. Rm. 14.17 - Ό Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo"; 2 Co. 5.21 - "para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus"; Mt. 3.15-"Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça"; At. 10.35 - "lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o que teme e faz o que é justo"; Rm. 6.13 - "Apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça". Meyer sobre Rm. 3.23 - "Cada modo de concepção que se refere à redenção e ao perdão dos pecados, não a uma expiação real através da morte de Cristo, mas, viver e morrer com ele subjetivamente guardada e produzida pela referida morte, opõe-se ao N.T.; confundindo justificação com santificação".
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Versus Moehler, Symbolism, 102 – "O perdão dos pecados ... sem dúvida é a remissão da culpa e o castigo que Cristo sofreu e levou sobre si; mas é, de igual modo, a transfusão do Espírito em nós". Um grande equívoco no método é derivar o sentido de δίκαιος de δικαιω-σύνη, e não o oposto. Wm. Arnold Stevens, em Am. Jour. Theol., abril, 1897 -"δικαιωσύνη, justiça, em todos os seus sentidos, quer éticos quer forenses, tem como retaguarda a idéia de lei; também a idéia de lei violada] deriva o seu sentido forense do verbo δικαιόω e de seu substantivo cognato δικαίωσις; por isso δικαιωσύνη é de aceitabilidade legal, a situação de um pecador perdoado diante da lei". Denney, in Expo. Gk. Test. 2.565 - "Na verdade 'pecado,' 'lei,' 'O curso da lei,' 'morte,' são nomes para algo que pertencem não aos judeus mas à consciência; e é somente por causa disto que o evangelho de Paulo é também um evangelho para nós. Antes de Cristo vir e redimir o mundo, todos os homens estavam no mesmo plano: Farisaísmo, legalismo, moralismo ou seja lá o que for, estão longe de ter um bom contato com Deus, e reconhecer a sua justiça."
Merece especial observação que, nas passagens acima, os termos "justificar" e "justificação" contrastam-se não com o processo de depravação ou corrupção, mas com o ato exterior de condenar; merece ainda especial observação que as expressões empregadas para explicá-las e ilustrá-las derivam não da operação interior de purificar a alma ou infundir nela a retidão, mas do processo dos tribunais em seus julgamentos, ou de pessoas ofendidas no perdão dos ofensores. Concluímos que estes termos, enquanto se referem à relação dos pecadores com Deus, significam um ato declarativo e judicial de Deus, exterior ao pecador e não um ato eficiente e soberano de Deus mudando a natureza do pecador e fazendo-o subjetivamente reto. Nos Cânones e Decretos do Concilio de Trento, a sessão 6, cap. 9 é dedicada à refutação do "inanis hereticorum fiducia" [a infundada confiança
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dos hereges]; e Cânon 12 da sessão anatematiza os que dizem: "fidem justifican-tem nihil aliud esse quam fiduciam divinae misericordiae, pecata remitentis propter Christum"; ou seja "a fé que justifica nada é senão a confiança na misericórdia divina que perdoa o pecado por amor de Cristo". A doutrina católica romana, ao contrário, sustenta que a base da justificação não é simplesmente a fé através da qual o pecador se apropria de Cristo e da sua obra expiatória, mas é também o novo amor e as boas obras operadas nele pelo Espírito de Cristo. Isto introduz um elemento subjetivo estranho à doutrina bíblica da justificação. O Dr. Ε. G. Robinson ensina que a justificação consiste em três elementos: 1. absolvição; 2. Restauração ao favor; 3. Infusão da justiça. Com isto ele aceita um erro fundamental do romanismo. Diz ele: "Não se deve distinguir a justificação e a santificação como cronológica e estaticamente diferentes. Justificação e retidão são a mesma coisa partindo de pontos de vista diferentes. O perdão não é uma simples declaração de cancelamento da culpa (forgiveness) – o que é simplesmente arbitrário. A salvação introduz uma nova lei na nossa natureza pecaminosa que anula a lei do pecado e anula as suas conseqüências penais e destrutivas. O perdão dos pecados deve ser em si um processo gradual. As conseqüências finais dos pecados de um homem estão indelevelmente escritas na sua natureza e permanecem para sempre. A declaração de Cristo, Os teus pecados estão perdoados', é uma afirmação objetiva de um fato subjetivo. A pessoa já está num estado de viva relação com Cristo. O evangelho é a condenação para o condenável, e o convite, o amor e a misericórdia para aqueles que sentem a necessidade dele. Somos salvos através da força da lei sobre cada um de nós. O perdão consiste na remoção da consciência de um senso de merecimento do mal. A justificação, afora o seu emprego forense, é uma transformação e uma promoção. O senso de perdão é de livramento do odioso hábito da mente". Isto nos parece perigosamente próximo da negação de que a justificação é um ato de Deus, e de uma afirmação de que é tão somente uma mudança subjetiva na condição do homem. E. H. Johnson: "Se o Dr. Robinson se contentasse em dizer que o fiat divino da justificação tem um efeito regenerador direto para o homem, ele estaria certo; porque o veredicto não conteria a eficácia direta para o homem. Mas, infelizmente, ele faz do efeito uma parte da causa,
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identificando a justiça divina com o seu proveito, a purificação do passado com provisão para o futuro". Podemos admitir que as palavras inferiore exterior são equivocadas porque Deus não está sujeito à lei de espaço e a própria alma também não está no espaço. A justificação e a regeneração ocorrem no mesmo instante, mas logicamente o ato da aprovação de Deus é o efeito. Ou podemos dizer que a regeneração e a justificação são efeitos da nossa união com Cristo. Lc. 1.37 – "Porque para Deus não há nada impossível". A regeneração e a justificação podem ser aspectos diferentes da ação de Deus – o fato da nossa mudança operada por ele. Mas continua sendo verdade que a justificação não é uma mudança na criatura, mas em Deus.
3. Elementos da Justificação São dois: A) Remissão do castigo. a) Deus absolve o ímpio que crê em Cristo e declara-o justo. Isto não é declará-lo inocente; o que seria um juízo contrário à verdade. Declara que as exigências da lei foram satisfeitas com respeito a ele e que ele agora está livre da sua condenação. Rm. 4.5 - "Mas, àquele que não pratica, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça"; cf. Jo. 3.16 – "deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça"; ver B. Restauração ao favor a). Rm. 5.1 – "Sendo, pois justificados pela fé temos paz com Deus" – não paz subjetiva ou tranqüilidade na mente, mas paz objetiva, ou reconciliação, em oposição ao estado de guerra, na qual estamos sujeitos à ira divina. Dale, Efésios, 67 – "O perdão pode ser definido: 1. em termos pessoais, como a cessação da ira ou ressentimento moral de Deus contra o pecado; em termos éticos, como o livramento da culpa do pecado que oprime a consciência; 3. em termos legais, como uma remissão do castigo do pecado, que é a morte eterna".
b) Esta absolvição, enquanto um ato de Deus como juiz ou exécutante, administrando a lei, pode ser chamado perdão. Sendo um ato
Teologia Sistemática (Strong) 1690 de Deus como pai pessoalmente ferido e magoado com o pecado, mostrando, contudo, a graça ao pecador, chama-se absolvição. Mq. 7.18 - "Quern, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade e que te esqueces da rebelião do restante da tua herança"? SI. 130.4 - "Mas contigo está o perdão, para que sejas temido". Para nós, é difícil entender o sentimento de Deus para com o pecado. O perdão nos parece fácil, em grande parte porque somos indiferentes ao pecado. Mas para aquele que é santo, para quem o pecado é a coisa abominável que ele odeia, o perdão envolve uma mudança fundamental de relacionamento, e nada a não ser o fato de Cristo tomar sobre si a pena do pecado pode possibilitar isso. B. Fay Mills: "Alguém de espírito terno, seguidor de Jesus Cristo, me disse há não muito tempo, que levou dois anos para perdoar uma ofensa que tinha sido cometida contra ele". Quão mais difícil é para Deus perdoar, visto que ele nunca pode tornar-se indiferente à natureza da transgressão!
c) Em um tribunal terreno, não há nenhuma absolvição para os que se provam transgressores; para eles só há convicção e punição. Mas no governo de Deus há remissão da punição para os que crêem apesar de confessadamente transgressores; e, na justificação, Deus declara tal remissão. Na natureza não existe perdão. F. W. Robertson pregava isso. Mas ele ignorava a vis medicatrix do evangelho, em que o perdão é oferecido a todos. A consciência natural diz: "Eu devo pagar as minhas dívidas". Mas aquele que crê acha que "Jesus pagou-as todas". Existe a ilustração do homem pobre que, vindo pagar a sua hipoteca acha que o proprietário, quando morreu, tinha dado ordens para que ela fosse queimada de sorte que agora nada há que pagar. SI. 34.22 - Ό Senhor resgata a alma dos seus servos, e nenhum dos que nele confia será condenado". O filho desobedece o seu pai e quebra o braço. O seu pecado envolve dois castigos: a alienação do seu pai e o braço quebrado. Com o arrependimento, o pai pode perdoar ao filho. A relação pessoal é restabelecida, mas nem por isso reata-se o osso quebrado. Contudo, o perdão do pai garantirá o seu socorro para a cura completa. Do mesmo
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modo a justificação não garante a imediata remoção de todas as conseqüências naturais dos nossos pecados. Na verdade, garante a presente reconciliação e a perfeição futura. Clarke, Christian Theology, 364 – "Justificação não equivale à absolvição, porque esta declara que o homem não cometeu erro. Ao invés disso, a justificação é a aceitação de um ser humano, em bases suficientes, embora ele tenha cometido o erro". Os Irmãos Plymouth dizem: "A questão não é o pecado, mas o Filho (trocadilho = em inglês 'sin', 'Son', são, respectivamente, 'pecado', 'Filho')". "E jamais me lembrarei dos seus pecados e de suas iniqüidades" Hb. 10.17). O pai não permitiu que o filho pródigo completasse a confissão que ele planejou fazer, mas interrompeu-o e fixou-se apenas no seu retorno para casa (Lc. 15.22).
d) A declaração de que o pecador não está mais exposto à pena da lei tem sua base não em qualquer satisfação da demanda da lei por parte do próprio pecador, mas só no fato de que Cristo sofreu a pena e o pecador se une a ele pela fé. Por isso, justificação é o ato pelo qual Deus, por causa de Cristo, absolve o transgressor e consente que ele seja livre. At. 13.38,39 - "Seja-vos, pois, notório, varões irmãos, que por este vos anuncia a remissão dos pecados. Ε de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo aquele que crê"; Rm. 3.24,26 - "Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus ... para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus"; 1 Co. 6.11 - "mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus"; Ef. 1.7 - "Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça". Não se deve conceber esta absolvição como o ato soberano de um Governador, mas como um processo judicial. Cristo garante um novo juízo para aqueles já condenados - um julgamento em que ele aparece como o culpado e opõe a sua retidão ao pecado deles, ou melhor, apresenta-os para serem justos nele. C. H. M. : "Quando Balaque procura amaldiçoar a semente de Abraão, se diz do Senhor: 'Não viu iniqüidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó' (Nm. 23.21). Quando Satanás se levantou para repreender Josué, veio a palavra: Ό Senhor te repreenda, ó Satanás ...
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não é este um tição tirado do fogo'? (Zc. 3.2). Assim, ele sempre se põe entre o seu povo e toda a língua que o acusa. 'Não toqueis nos meus ungidos e não maltrateis os meus profetas' (SI. 105.15). Έ Deus quem os justifica. Quem os condenará'? (Rm. 8.33,34)". Então não é o pecado que condena; é o não pedir perdão pelo pecado, por Cristo. Vem a propósito a ilustração do anel presenteado pela rainha Isabel ao Conde de Essex. A rainha não perdoou a penitente Condessa de Nottingham por recusar o anel de Essex que teria comprado o seu perdão. Ela causou um choque mortal à mulher e amaldiçoou-a, mesmo quando ele lhe implorou o perdão. Não existe essa falta de misericórdia na administração de Deus. Kaftan, em Am. Jour. Theol., 4.698 - "A característica peculiar da experiência cristã é o perdão dos pecados, ou reconciliação - perdão que se concebe como um imerecido dom de Deus, que é concedido ao homem independentemente da sua dignidade moral. Outras religiões têm uma certa medida de revelação, mas só o cristianismo tem a clara revelação deste perdão, o que é aceito pela fé. Ε o perdão nos leva a uma ética melhor do que qualquer religião de obras pode apresentar".
B) Restauração ao favor. a) Justificação é mais do que remissão ou absolvição. Deixa o pecador na posição de um criminoso isento; a lei requer uma justiça positiva também. Além do livramento da punição, a justificação implica o tratamento que Deus dá ao pecador como se ele fosse e tivesse sido pessoalmente justo. A pessoa justificada recebe não só a remissão da pena, mas a recompensa prometida da obediência. Lc. 15.22-24 - "Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e pondelhe um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e mataio; e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado"; Jo. 3.16 - "deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê ... tenha a vida eterna"; Rm. 5.1,2 "Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual temos também a entrada pela fé a esta graça, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus" - "esta graça" é um estado permanente do favor divino; 1 Co. 1.30,31 - "Mas vós sois dele em Jesus
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Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor"; 2 Co. 5.21 - "para que nele fôssemos feitos justiça de Deus". Gl. 3.6 - "É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça"; Ef. 2.7 - "as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Jesus Cristo"; 3.12 - "no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele"; Fp. 3.8,9 - "tenho também por perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor... a justiça que vem de Deus, pela fé"; Cl. 1.22"reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para, perante ele, vos apresentar santos, irrepreensíveis e inculpáveis"; Tt. 3.4,7 - "caridade de Deus, nosso Salvador... para que, sendo justificados pela sua graça, pudéssemos ser feitos herdeiros, segundo a esperança da vida eterna"; Ap. 19.8 - "E foi-lhe dado que vestisse linho fino puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos". Estabelece-se a justificação como um direito diante da lei. Mas a lei não só requer, negativamente, a libertação da ofensa, mas, positivamente, todo o tipo de obediência e semelhança para com Deus. Porque a justificação está em Cristo e em virtude da união dos que crêem com Cristo, põe o crente no mesmo pé de igualdade diante da lei em que Cristo está, a saber, não só a absolvição, mas o favor. 1 Tm. 3.16 – O próprio Cristo está "justificado no espírito", e o crente participa da justificação dele e de tudo o que a abrange, i.e., não só da absolvição, mas do favor. At. 13.39 - "por ele é justificado todo aquele que crê" i.e., em Cristo; 1 Co. 6.11 - "justificados em nome do Senhor Jesus"; Gl. 4.5 - "a fim de recebermos a adoção de filhos" uma parte da justificação; Rm. 5.11 - "pelo qual agora alcançamos a reconciliação" - na justificação; 2 Co. 5.21 - "para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus"; Fp. 3.9 - "justiça que vem de Deus, pela fé"; Jo. 1.12 "deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" - ênfase em "deu" - sugere que "serem feitos filhos" não é subseqüente à justificação, mas é parte dela. Ellicott em Tt. 3.7 - "δικαιοθέντες", 'justificados', no sentido teológico comum e mais estrito; contudo, não implica apenas uma simples não atribuição do pecado, mas envolve uma 'mutationem status', aceitação de novos privilégios e o gozo dos benefícios advindos (Waterland, Justification, vol. vi, p. 5); nas palavras do mesmo escritor: 'Não se pode conceber justificação
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sem um certo trabalho do Espírito ao conferir o direito à salvação'". O prisioneiro que apenas passou o seu período escapa sem qualquer punição e nada mais. Mas o homem perdoado recebe o seu perdão e os direitos plenos de cidadania, pode votar, serve como jurado, presta testemunho no fórum, tem toda a liberdade individual que o absolvido convicto não tem. A Sociedade de Amigos é assim chamada não porque eles são amigos uns dos outros, mas porque eles se consideram amigos de Deus. Assim também, na Idade Média, Master Eckart, John Tauler, Henry Suso, a si mesmos se denominavam os amigos de Deus, conforme o padrão de Abraão; 2 Cr. 20.7 - "Abraão, teu amigo"; Tg. 2.23 - Έ creu Abraão em Deus e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus", i.e., não apenas absolvido da culpa do pecado, mas também admitido no favor e intimidade com Deus.
b) Esta restauração ao favor, vista em seu aspecto como a renovação de uma amizade quebrada, chama-se reconciliação; vista em seu aspecto como renovação da verdadeira relação da alma com Deus como pai, chama-se adoção. Jo. 1.12 - "Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crerem no seu nome"; Rm. 5.11 - "E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação"; Gl. 4.4,5 "nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos"; Ef. 1.5 - "e nos predestinou para filhos de adoção, por Jesus Cristo, para si mesmo"; cf. Rm. 8.23 - "também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo" - isto é, que esta adoção se complete, no que se refere ao corpo, na ressurreição. Lutero chamava os Salmos 32,51,130,143 de "Salmos Paulinos", porque eles declaram que o perdão pode ser admitido para o crente sem a lei e sem as obras. SI. 130.3,4 - "Se tu, Senhor, observares as iniqüidades, Senhor, quem subsistirá? Mas contigo está o perdão, para que sejas temido", seguido dos vs. 7,8 - "Espere Israel no Senhor, porque no Senhor há misericórdia, e nele há abundante redenção, e ele remirá a Israel de todas as suas iniqüidades". Whitefield foi repreendido por declarar em um
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discurso que Cristo receberia até mesmo os náufragos do diabo; mas naquele mesmo dia enquanto num jantar na casa de Lady Huntington, ele foi chamado a encontrar-se com duas senhoras que eram pecadoras, e a cujos corações quebrantados e vidas destruídas que denotavam esperança e cura.
c) Em um perdão terreno não há nenhum auxílio especial concedido ao perdoado. Não há nenhuma pena, mas também não há recompensa; a lei não pode reivindicar coisa alguma do que é isento da culpa, mas também ele não pode reivindicar nada da lei. Porém, apesar de grandemente necessitado, o que o governo humano deixa sem providência, Deus providencia. Na justificação não há apenas absolvição, mas aprovação; não só perdão, mas promoção. A remissão nunca está separada da restauração. Depois de servir durante um período na penitenciária, o convicto sai estigmatizado e sem amigos. A sua convicção passada e sua desgraça o seguem. Não pode conseguir um emprego. Não pode votar. Freqüentemente a necessidade o induz a cometer o crime novamente; e, a seguir, vem como prova do mau caráter, e aumenta a sua punição. Há necessidade de amigáveis abrigos e refúgios para os criminosos libertados. Mas o pecador justificado é tratado de uma forma diferente. Não só ele se livra da ira de Deus, mas é admitido ao favor de Deus e à vida eterna. Esta descoberta, em parte, é a causa da alegria do convertido. Esperando o perdão, no máximo, ele receberá um favor imensurável. O filho pródigo encontra a casa e o coração do pai abertos para ele e por ele far-se-ia mais se ele nunca tivesse estado peregrinando. Isto o oprime e subjuga. A absolvição e a restauração compreendem os dois elementos favoráveis e nunca estão separados. Como a expulsão das trevas e a restauração da luz, elas sempre caminham juntas. Nenhuma delas pode, ainda que ele queira, ter uma justificação completa. A justificação de Cristo é a nossa; e, como a própria túnica inconsútil de Jesus não pôde ser repartida, assim as vestes do justo que ele prove não podem ser partidas em duas. Deixar de assimilar este aspecto positivo da justificação como uma restauração ao favor é a causa de muitos cristãos terem pouco regozijo e pouco
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1696
entusiasmo na vida religiosa. A pregação da magnanimidade e generosidade de Deus faz do evangelho "o poder de Deus para a salvação" (Rm. 1.16). Edwin M. Stanton procedera rudemente para com Abraão Lincoln ao conduzir um caso na lei em que ambos tinham estado em conselho juntos. Stanton fez-se vingativo e até mesmo violento quando Lincoln se tornou presidente. Lincoln, entretanto, convidou Stanton para ser o Secretário da Guerra (ministro da guerra), e enviou o convite através de Harding que conhecia aquela situação perturbadora. Quando Stanton soube disso, disse com os olhos em torrentes de lágrimas: "Você me diz, Harding, que o Sr. Lincoln mandou esta mensagem para mim? Diga-lhe que tanta magnanimidade me fará tratá-lo como nunca o fiz anteriormente"!
d) A declaração de que o pecador está restaurado ao favor de Deus tem sua base, não no caráter pessoal ou na conduta do pecador, mas unicamente na obediência e retidão de Cristo, a quem o pecador está unido pela fé. Assim a obra de Cristo é a causa procuradora da nossa justificação em ambos elementos. Como somos absolvidos da pena da lei por causa do sofrimento de Cristo, assim, por causa da obediência de Cristo recebemos as recompensas da lei. Todas estas coisas nos vêm em Cristo. Participamos do galardão pela sua obediência; Jo. 20.31 - "crendo, tenhais vida no seu nome"; 1 Co. 3.2123 -"tudo é vosso ... tudo é vosso ... e Cristo, de Deus". Denovan, O Batista de Toronto, dez., 1883, sustenta que "a graça opera de dois modos: 1) para o rebelde prove um esquema de justificação] isto é judicial, matéria de dívida; 2) para o filho ele prove o perdão; de um modo paternal baseado no arrependimento". Hb. 7.19 - "lei nenhuma aperfeiçoou ... introduzida numa melhor esperança, pela qual chegamos a Deus". Essa "melhor esperança" nos é oferecida na morte e ressurreição de Cristo. O véu é o símbolo da separação da parte de Deus. O rasgar desse véu é, por um lado, o símbolo do pecado que foi expiado e, por outro lado, o irrestrito acesso a Deus, que nos é permitido em Cristo, o grande precursor. O hino de Bonar, "Jesus, que as milícias de anjos adoram", apresenta em sua última estrofe: "Tudo consumado está: rasgado o véu está, certo o bem-vindo, livre o acesso ; Agora, enfim, livramo-nos do banimento, ó Pai, para voltarmo-nos para ti".
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1697
James Russell Lowell: "Na barraca do diabo vende-se de tudo; cada onça de impureza custa a sua onça de ouro; por uma tampinha de garrafa e o soar dos sinos pagamos com a nossa vida; bolhas de sabão nós compramos por uma empreitada da nossa vida; é do céu que se está abrindo a mão". John G. Whittier: "Aproxima-se a hora, embora adiada e tardia, Quando, junto aos Portais Eternos, Deixamos as palavras e obras que dizemos nossas Ε erguemos nossas mãos vazias só pretendendo enchê-las. A nudez da nossa alma não apresenta nem um pedágio junto ao portal; Sem dádivas chegamo-nos àquele que nos dá todas as coisas, Ε vivemos porque ele vive". H. B. Smith, System of Christian Doctrine, 523, 524 - "Na Bíblia, justificação e perdão não são a mesma coisa. Opomo-nos ao ponto de vista de Emmons (Works, vol. 5), de que 'justificação não é mais nem menos que perdão', e que Deus galardoa os homens pela obediência deles mesmos e não pela de Cristo em razão de que as palavras como são empregadas na vida comum se relacionam inteiramente com coisas diferentes. Se um tribunal humano declara justo um homem, este não é perdoado, mas absolvido; reconhece-se e declara-se a sua justiça inerente, sobre a acusação contra ele. O evangelho proclama tanto o perdão como a justificação. Não há nenhuma significação no emprego da palavra 'justificar', se tudo o que se pretende é apenas o perdão. ... "Justificação envolve o que o perdão não consegue: uma justiça que é a base da absolvição e do favor; a base não é o mero favor do soberano, mas o mérito de Cristo – justiça que é de Deus. O que Cristo fez satisfaz de tal modo os fins da lei, que o pecador é perdoado. A lei não é simplesmente posta de lado, mas o que Cristo fez em nosso favor responde pelos seus grandes fins. Deus poderia perdoar como um soberano, somente a partir da benevolência (relativa à felicidade); porém no evangelho ele faz mais; em consistência com a sua santidade ele perdoa; sustentando isso como o principal fim de todos os seus negócios e obras. A justificação envolve absolvição de toda a pena da lei e a herança de todas as bênçãos advindas do estado de redimido. A pena da lei – espiritual, temporal, a morte eterna – tudo foi banido; contrariamente, conferem-se as bênçãos em Cristo e através dele – a ressurreição para a bem-aventurança, o dom do Espírito e a vida eterna.....
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"Se a justificação é somente o perdão, aplica-se apenas ao passado. Se é também um direito à vida, inclui a condição futura da alma. Esta é apenas consistente com o plano e os decretos de Deus relativos à redenção – à sua visão final desde o começo. A razão por que a justificação tem sido tomada como perdão é dúplice: primeiro, na verdade, ele envolve perdão; é o lado negativo, conquanto tenha também o positivo – o direito à vida eterna; segundo, a tendência de reduzir o evangelho a um sistema ético. Somente os nossos atos da escolha meritória podem obter o direito em seu favor, recompensa positiva. Cristo pôde remover o obstáculo, mas o direito ao céu deriva apenas daquilo que nós fazemos. "Por isso, a justificação não é simplesmente uma provisão governamental, como deve ser em qualquer esquema que nega que a obra de Cristo relaciona-se diretamente com os fins da lei: Os pontos de vista sobre a expiação determinam os da justificação, se se observa a seqüência lógica. Não temos que ver aqui com os pontos de vista da justiça natural, mas com os métodos divinos. Se considerarmos que a expiação responde aos fins de um esquema governamental, o nosso ponto de vista deve ser o de que a justificação somente remove um obstáculo e o fim dela não é a vida eterna, mas apenas o perdão".
4. Relação da justificação com a Lei e santidade de Deus A) Já se mostrou que a justificação é um termo forense. Pode-se conceber o homem como justo em dois sentidos: a) no caráter moral, isto é, absolutamente santo na natureza, disposição e conduta; b) em relação à lei, ou livre de toda a obrigação de sofrer a pena e ter direito às recompensas da obediência. Assim, também o homem pode ser concebido como justificado em qualquer dos dois sentidos: a) tomado justo no caráter moral; ou, b) tomado justo em relação à lei. Porém as Escrituras declaram que não há na terra um justo no primeiro destes sentidos (Ec. 7.20). Mesmo naqueles que são renovados no caráter moral e estão unidos a Cristo, há um resquício de depravação moral.
Teologia Sistemática (Strong) 1699 Se, portanto, houver um justo, ele deve sê-lo, não no sentido de possuir uma imaculada santidade, mas no de estar liberto da pena da lei e de ser feito participante das suas recompensas. Se existe justificação, deve ser não um ato que torna o pecador absolutamente santo, mas um ato de Deus que declara o pecador livre das penas legais e habilitado às recompensas legais. A palavra justus deriva de jus, e sugere a idéia de tribunais e de processos legais. O fato de que 'justificar' deriva de justus e facio, e por isso pode parecer implicar o sentido de tornar um homem subjetivamente justo, não nos deve cegar quanto ao emprego forense. As expressões "santificarão o Santo de Jacó" (Is. 29.23; cf. 1 Pe. 3.15 - "santificai a Cristo, como Senhor") e "glorificai a Deus" (1 Co. 6.20) não significa tornar Deus subjetivamente santo ou glorioso, porque isto ele é, qualquer que seja a nossa atitude; ao invés disso significa declarar, ou mostrar que ele é santo ou glorioso. Portanto, justificar não é fazer o homem justo, ou ainda declarálo justo, porque ninguém é subjetivamente justo. Ao invés disso é considerálo justo no que diz respeito às suas relações com a lei, tratá-lo como justo ou declarar que Deus, por determinadas razões, o tratará dessa forma (Payne). Até onde existe qualquer reminiscência de pecado, nenhuma justificação, no sentido de tornar santo, pode ser atribuída ao homem; Ec. 7.20 - "Na verdade não há homem justo sobre a terra, que faça o bem e nunca peque". Por isso a justificação deve significar um livramento das penas legais e uma atribuição das recompensas legais. O. P. Gifford: Não existe essa coisa de salvação através do caráter"; o de que necessitamos é a salvação a partir do caráter. O único sentido em que a salvação através do caráter é racional ou bíblica é a sugerida por George Harris, Moral Evolution, 409 - "Salvação através do caráter não é a justiça própria, mas é Cristo em nós". Mas mesmo aqui convém lembrar que Cristo em nós pressupõe Cristo em nosso favor. A expiação objetiva pelo nosso pecado deve vir antes da purificação subjetiva da nossa natureza. A justificação não se baseia na purificação subjetiva, mas na expiação objetiva. Os judeus tinham um provérbio que dizia que, se apenas um ser humano guardasse perfeitamente toda a lei por um único dia que fosse, o reino do Messias viria instantaneamente sobre a terra. Isto pode ser
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apresentado de outra forma na doutrina de Paulo em Rm. 7.9 - "vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri". Reconhecer a impossibilidade de ser justificado por obras farisaicas era uma preparação para o evangelho. Berridge: "O homem pode roubar algumas jóias da cruz de Jesus e ser culpado somente por um furtozinho; mas o homem que a si mesmo se justifica através das suas próprias obras rouba a coroa, põe-na sobre a sua cabeça, e proclama-se por suas próprias conquistas o rei de Sião".
B) A difícil característica da justificação é a declaração, da parte de Deus, de que o pecador cuja pecaminosidade remanescente parece necessitar a vindicativa reação da santidade de Deus contra ele, é ainda livre de tal reação da santidade expressa nas penas da lei. O fato deve ser aceito com base no testemunho da Escritura. Se tal testemunho não for aceito, não há nenhuma libertação da condenação da lei. Mas a dificuldade de conceber a declaração de Deus de que o pecador não mais está exposto à pena legal é amenizada, se não removida, pela tríplice consideração: a) De que Cristo suportou a pena da lei em lugar do pecador. Gl. 3.13 - "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós". Denovan: "Somos instrumentalmente justificados pela fé, no mesmo sentido em que uma dívida é paga por um dinheiro bom ou por um cheque de uma conta substancial em um banco distante. Só a aceitação honesta e inteligente já foi providenciada". Rm. 8.3 - "Deus, enviando seu Filho, ... condenou o pecado na carne" = os pecados daquele que crê foram julgados e condenados no Calvário. O caminho do perdão através de Cristo honra a justiça de Deus bem como a sua misericórdia; cf. Rm. 3.26 - "para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus".
b) De que o pecador está de tal modo ligado a Cristo que a vida de Cristo já constitui o princípio dominante dentro dele.
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Gl. 2.20 - "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim". Deus não justifica homem nenhum que ele não possa santificar. Algumas profecias produzem o seu próprio cumprimento. Diga a alguém que ele é valente e você o ajudará a sê-lo. Tão declaratória justificação, quando o Espírito Santo a publica no coração, ajuda a tornar o homem justo. Harris, God the Creator, 2.332 - "A objeção à doutrina da justificação pela fé insiste em que esta deve condicionar-se, não à fé, mas ao caráter reto. Mas a justificação pela fé é por si mesma uma doutrina condicionada à retidão de caráter porque a fé em Deus é o único início possível do caráter reto, quer nos homens, quer nos anjos". Gould, Bib. Theol. N.T., 67-79, de semelhante maneira argumenta que a ênfase de Paulo está no efeito espiritual da morte do nosso Senhor, mais do que no seu efeito expiatório. O curso do pensamento na Epístola aos Romanos parece-nos contradizer este ponto de vista. O pecado e a expiação objetiva são focalizados em primeiro plano; a santificação do crente vem só após a justificação. Também é verdade que a justificação nunca é a única obra de Deus na alma. O próprio Cristo por cuja união somos justificados no mesmo instante faz a obra da regeneração seguida da santificação.
c) De que tal vida de Cristo é um poder da alma que, de modo gradual, embora não infalível, extirpará toda depravação remanescente até que toda a natureza física e moral esteja perfeitamente conformada com a santidade divina. Fp. 3.21 - "que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas"; Cl. 3.1-4 - "Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra; porque estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em glória". A verdade do fato, e a verdade ideal, não se opõem entre si. F. W. Robertson, Lectures and Addresses, 256 - "Quando o agricultor vê uma coisa pequena, branca, com forma de almôndega surgindo da terra, ele a
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chama de carvalho; mas isto não é uma verdade de fato, é uma verdade ideal. O carvalho é uma árvore grande, com ramos grandes e folhas e brotos; mas isto é uma coisa de apenas uma polegada e imperceptível em todo o seu desenvolvimento; contudo, o agricultor vê nela a idéia daquilo que será e, se eu tomar emprestada a expressão bíblica, o agricultor lhe atribui a majestade, e excelência, e glória que deve existir daqui em diante". Este método de representação é eficaz e passível de objeção quando nos lembramos de que a força que deve ocasionar este desenvolvimento futuro e perfeição não é uma força humana desassistida, mas, ao invés disso, a força de Cristo e o seu Espírito que no homem habita. Gore, incarnation, 224 - "George Eliot escreveu a respeito da Sra. Garb no Moinho sobre a Seda: Olhe para a mãe, e pode esperar que a filha se tornará semelhante a ela – talvez esteja em vantagem semelhante a um dote – a mãe em desvantagem para com a filha, como uma profecia maldosa: Em breve ela será como eu sou'. George Eliot atribui por antecipação à filha os méritos da mãe, porque a vida dela é, por assim dizer, do mesmo estofo. Ora, com o novo nascimento e com a união espiritual, a nossa vida é do mesmo estofo que a de Jesus. Do mesmo modo, ele, nosso irmão mais velho, fica atrás de nós, que somos seu povo, como uma profecia de todo o bem. Deste modo, Deus nos aceita, trata-nos, 'no Amado' nivelando-nos a alguma coisa de valor, atribuindo-nos os seus méritos porque, na verdade, a não ser que sejamos reprovados, ele é a força mais poderosa e real que opera em nós".
5. Relação da Justificação com a União com Cristo e com a Obra do Espírito A) Porque o pecador, no momento da justificação, ainda não está completamente transformado no caráter, vimos que Deus pode declará-lo justo, não pelo que ele é em si mesmo, mas só pelo que Cristo é. Portanto, a base da justificação não é: a) uma nova retidão e amor infundidos em nós e constituindo agora o nosso caráter moral, como sustentam os católicos romanos; nem b) como ensinava Osiander, a retidão essencial da natureza divina de Cristo que se torna nossa através
Teologia Sistemática (Strong) 1703 da fé; mas c) a satisfação e obediência de Cristo, como o cabeça da nova humanidade, e abarcando em si mesmo todos os crentes como seus membros. Ritchl considera a justificação primeiro como uma dádiva da igreja da qual o indivíduo participa na medida em que pertence a ela. Ele comete o mesmo erro que o católico; a igreja é a porta de Cristo, ao invés de ser este a porta daquela. A justificação pertence em primeiro lugar a Cristo e, depois, a todos os que se unem a ele pela fé, e a igreja é a agregação natural e voluntária daqueles que são justificados em Cristo. Daí a necessidade da ressurreição e ascensão do Senhor Jesus. "Porque, como o ministério de Enoque foi selado pelo seu recebimento no céu e o ministério de Elias foi também demonstrado pela trasladação, do mesmo modo o foi a justiça e a inocência de Cristo. Mas era necessário que a ascensão de Cristo fosse mais completamente atestada, porque, com base da sua justiça, tão plenamente demonstrada pela sua ascensão, devemos depender a nossa. Porque, se Deus não o tivesse aprovado após a ressurreição de Cristo e este não tivesse tomado assento à sua direita, de modo algum seríamos aceitos por Deus" (Cartwright). A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 46, 193, 195, 206 - "Cristo é justificado no espírito e recebido na glória antes de ser feito justiça por nós e nos tornarmos justiça de Deus nele. A coroação de Cristo é condição indispensável da nossa justificação. ... Cristo, o Sumo Sacerdote, entrou no Santo dos Santos, no céu, em nosso favor. Enquanto não ocorrer a sua segunda vinda, como podemos estar certos de que o seu sacrifício por nós é aceito? Respondemos: Pelo dom do Espírito Santo. A presença do Espírito na igreja é a prova da presença de Cristo diante do trono. ... O Espírito Santo convence da justiça, 'porque eu vou para o Pai, e não me vereis mais'(Jo. 16.10). Nós só podemos saber que 'temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo' (1 Jo. 2.1), através do qual mandou 'outro Consolador' da parte do Pai, o Espírito (Jo. 14.25,26; 15.26). Tendo o Espírito, a igreja reflete Cristo ao mundo. Como Cristo manifesta o Pai, assim a igreja, através do Espírito, manifesta Cristo. É assim que Cristo nos dá o seu nome de 'cristãos' como o marido dá o nome à esposa".
Teologia Sistemática (Strong) 1704 Como o pecado de Adão nos é imputado, não porque Adão está em nós, mas porque nós estávamos em Adão; assim a retidão de Cristo nos é imputada não porque Cristo está em nós, mas porque estamos em Cristo, isto é, ligados pela fé a alguém cuja retidão e vida são infinitamente maiores que o nosso poder de apropriá-la ou contê-la. Neste sentido podemos dizer que somos justificados através de um Cristo exterior a nós, assim como somos santificados através de um Cristo que está dentro de nós. Edwards: "A justificação do crente não é outra senão o seu ser admitido à comunhão ou participação do cabeça e segurança de todos os crentes". 1 Tm. 1.14 - "a fé e o amor que há em Jesus Cristo"; 3.16- "Aquele que se manifestou em carne foi justificado em Espírito"; At. 13.39 - "E, de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele [literalmente 'nele'] é justificado todo aquele que crê"; Rm. 4.25 - "o qual por nossos pecados foi entregue para nossa justificação"; Ef. 1.6 - "nos fez agradáveis a si no Amado"; 1 Co. 6.11 - "justificados em nome do Senhor Jesus". A fórmula da nossa justificação é "nós em Cristo"; a da nossa santificação é "Cristo em nós". Como a água contida na concha é pouca comparada com o grande oceano que contém a concha, do mesmo modo, a verdadeira mudança que a graça santificadora de Deus opera em nós é frágil comparada com o ilimitado livramento da condenação e o estado de graça para com Deus em que somos introduzidos pela justificação; Rm. 5.1,2 "Sendo, pois, justificados pela fé temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus". Aqui temos o terceiro exemplo de atribuição. O primeiro é o do pecado de Adão a nós; o segundo é o dos nossos a Cristo. O terceiro é agora a atribuição da justiça de Cristo a nós. Em cada um dos dois primeiros casos, procuramos mostrar que a relação legal propõem uma natural. O pecado de Adão nos é atribuído porque somos um em Adão; os nossos pecados são atribuídos a Cristo, porque ele é um com a humanidade. Deste modo, aqui podemos sustentar que a justiça de Cristo nos é atribuída porque somos um com ele. A justificação não é uma transferência arbitrária dos méritos de
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uma outra pessoa com quem não temos nenhuma real conexão. Isto a tornaria uma simples ficção legal; não há ficções legais no governo divino. Ao invés deste método de concepção exterior e mecânico, devemos primeiro nos fixar no fato da justificação de Cristo, após ter ele suportado os nossos pecados e ressuscitado dentre os mortos. Nele, a humanidade, pela primeira vez, é absolvida da punição e restaurada à graça divina. Mas a nova natureza humana de Cristo é a fonte germinal da vida espiritual de toda a raça. Ele foi justificado, não somente como uma pessoa em particular, mas como nosso representante e cabeça. Tornando-nos participantes da sua nova vida, compartilhamos tudo o que ele é e tudo o que ele fez; e, antes de tudo, a sua justificação. Deste modo, Lutero nos dá, em suma, a fórmula: "Nós em Cristo = justificação; Cristo em nós = santificação". Ver também H. B. Smith, Presb. Review, julho, 1881 - "A união com Adão e a união com Cristo formam a base da atribuição. Mas o paralelismo está incompleto. Enquanto o pecado de Adão nos é atribuído porque ele é nosso, a justiça de Cristo o é somente por causa da nossa união com ele, e não por causa da justiça pessoal. Num dos casos, leva-se em conta o caráter; no outro, não. No pecado incluem-se os nossos deméritos; na justificação, excluem-se os nossos méritos". C. H. M. em Gênesis, p. 78 - "A pergunta para cada crente não é: 'Que sou eu?', mas ‘O que é Cristo?’ A respeito de Abel se diz: ‘Deus testificou quanto às suas ofertas’ (Hb. 11.4, Versão Americana). Assim Deus não dá testemunho daquele que crê, mas da sua oferta; e a oferta dele é Cristo. Contudo, Caim irou-se porque não foi recebido nos seus pecados, enquanto Abel foi aceito em sua oferta. Isto seria justo se Abel fosse justificado em si mesmo; estava errado, porque Abel só foi justificado em Cristo".
B) A relação da justificação com a regeneração e a santificação, contudo, livra de uma das acusações de exterioridade e imoralidade. Deus não justifica impiamente os homens em sua impiedade. Ele os pronuncia justos só quando estão ligados a Cristo, que é absolutamente justo e que, por seu Espírito, pode torná-los justos não só aos olhos da lei, mas no caráter moral. Apropria fé pela qual o pecador recebe Cristo é
Teologia Sistemática (Strong) 1706 um ato em que ele ratifica tudo o que Cristo fez e aceita o juízo de Deus contra o pecado como se fosse dele mesmo (Jo. 16.11). Jo. 16.11 - "do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado" - o Espírito Santo leva o crente a ratificar o juízo de Deus contra o pecado e contra Satanás. Aceitando Cristo, o crente aceita a morte para o pecado e a ressurreição para a vida em benefício dele mesmo. Se não fosse assim, o primeiro ato do crente, após a sua absolvição, seria uma repetição das suas ofensas. Tal justificação ofenderia os princípios fundamentais da justiça e a segurança do governo. Deixaria também de satisfazer a consciência. Isto clama não só por perdão, mas também por renovação. A união com Cristo tem um fruto legal - a justificação; mas tem também um fruto moral - a santificação. O homem verdadeiramente culpado, quando absolvido pelo juiz e pelo júri, não deixa de ser vítima do remorso e do temor. O perdão do pecado não é em si um livramento dele. A absolvição exterior precisa fazer-se acompanhar de uma mudança interior para ser verdadeiramente eficaz. Perdão sem o poder de vencer o pecado seria uma zombaria do criminoso. Por isso, a justificação por causa de Cristo se efetua através da regeneração operada pelo Espírito Santo. O sacerdote budista que tinha estudado alguns anos na Inglaterra imprimiu, não há muito tempo, em Xangai, um folheto intitulado "Justificação pela Fé, a única base da Moral". Ele argumenta que qualquer outro fundamento é apenas puro egoísmo; mas a moral, para ter qualquer mérito, deve ser isenta de egoísmo. A justificação pela fé supre o motivo não egoísta porque aceitamos a obra de uma outra pessoa feita em nosso benefício, e nós mesmos operamos a partir da gratidão, que não é egoísta. Após lançar este fundamento cristão, o escritor erige a estrutura de fé na Amida, encarnação de Buda. O budismo, em lugar da doutrina cristã de uma pessoa criadora, defende apenas um processo criador; o pecado só se relaciona com o homem que peca e não com Amida Buda ou com a lei eterna da causa; a salvação pela fé em Amida Buda é uma fé em alguém que é produto de um processo e o produto está fadado a perecer. Tennyson: "Eles são apenas luzes quebradas de ti, e tu, ó Cristo, és mais do que eles".
Teologia Sistemática (Strong) 1707 A justificação é possível, portanto, porque sempre vem acompanhada da regeneração e da união com Cristo e é seguida da santificação. Mas isto é uma coisa bem diferente do católico que confunde justificação e santificação, como estágios diferentes do mesmo processo de tornar o pecador verdadeiramente santo. Mantém firme a distinção da Escritura entre justificação como um ato declarativo de Deus e regeneração e santificação como os atos eficientes de Deus pelos quais a justificação se faz acompanhar e de que é seguida. Tanto a história como a nossa observação pessoal mostram que nada pode mudar a vida e tornar o homem moral, como o evangelho do livre perdão em Cristo. A simples pregação da moral não trará nada em conseqüência. Nunca houve maior insistência em moral do que nos tempos mais imorais, como nos de Sêneca, e no dos deístas ingleses. Quanto aos seus frutos morais, podemos, com segurança, comparar os sistemas, e líderes, e países protestantes com os católicos romanos. Não nos tornamos justos por praticarmos a justiça, pois só pode praticar a justiça aquele que se tornou justo. O filho pródigo foi perdoado antes de se confessar e corrigir-se (Lc. 15.20,21 ). A justificação vem sempre acompanhada da regeneração e é seguida da santificação; e todos os três resultam da morte de Cristo. Mas a oferta pelo pecado deve preceder a oferta de gratidão. Primeiro devemos ser aceitos antes de podermos apresentar as ofertas; Hb. 11.4 – "Pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às ofertas". Por isso lemos em Ef. 5.25,26 – "também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado [=depois de tê-la purificado] por meio da lavagem da água pela palavra" [= regeneração]; 1 Pe. 1.1,2 - "eleitos ... segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito [regeneração], para a obediência [conversão] e a aspersão do sangue de Jesus Cristo [justificação]"; 1 Jo. 1.7 - "se andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" - aqui 'purificar' refere-se, em primeiro lugar e principalmente à justificação; porque o próprio apóstolo declara no v. 8 - "se dissermos que não temos pecado, enganamonos a nós mesmos e não há verdade em nós".
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Quenstedt diz, com precisão, que "a justificação, porque é um ato, em Deus, não pode produzir mudança intrínseca em nós". Ε ainda diz ele: "apesar de que só a fé justifica, ela não existe só". Melanchton: "Sola fides justificat; sed fides non est sola". Acompanha a fé todo o tipo de dons do Espírito e graça interior do caráter. Mas devemos abandonar todo o proveito doutrinário da Reforma se não insistirmos em que tais dons e graça são acessórios e conseqüência da justificação em vez de ser uma parte ou base dela. Girdlestone, O. T. Synonyms, 104, nota - "Justificação é a declaração de Deus de que o pecador, por causa da fé que o une a Cristo, eleva-se ao relacionamento que Cristo mantém com o Pai e aplica a ele pessoalmente a obra objetiva cumprida pela humanidade através de Cristo".
6. Relação da Justificação com a Fé A) Somos justificados pela fé ao invés de sê-lo pelo amor ou por qualquer outra graça: a) não porque a fé é em si mesma uma obra de obediência pela qual merecemos a justificação, pois esta seria uma doutrina de justificação pelas obras; b) nem porque se aceita a fé como equivalente à obediência, pois não há equivalência a não ser a perfeita obediência de Cristo; c) nem porque a fé é o germe de que a obediência pode surgir, pois não é a fé que aceita, mas Cristo que é aceito, e torna tal obediência possível; d) mas porque a fé e não o arrependimento, ou o amor, ou a esperança é o meio ou instrumento pelo qual recebemos Cristo e nos unimos a ele. Por isso nunca devemos dizer que somos justificados δια πίστιν, = por causa da fé, mas só δια πίστεως, = através da fé, ou έκ πίστεως, = pela fé. Ou, para expressar a mesma verdade em outras palavras, enquanto a graça de Deus é a causa eficiente da justificação e a obediência e os sofrimentos de Cristo são a causa meritória ou procuradora, a fé é a causa mediata ou instrumental. Edwards, Works, 4.69-73 – "A fé justifica porque inclui todo o ato da união a Cristo como Salvador. Não é a natureza de quaisquer outro tipo de graça ou virtude que une diretamente a Cristo como mediador, nem entra na constituição da fé justificadora e pertence à sua natureza"; Observações
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sobre a Trindade, 64-67 – "A salvação não nos é oferecida mediante qualquer condição, mas gratuitamente e sem exigir nada. Não temos de fazer nada para obtê-la; apenas recebê-la. Este apossar-se e receber faz parte da fé". H. B. Smith, Sistema, 524 – "A mudança interna é a condição sine qua non da justificação, mas não a sua base meritória". Dê ao homem uma mina de ouro. Pertence a ele. Ele não tem de trabalhar para possuí-la. Ele só tem de trabalhá-la. Trabalhar pela vida é uma coisa; trabalhar a partir da vida é bem diferente. O casamento de uma jovem pobre com um proprietário rico torna-a possuidora das riquezas dele apesar de que ela antes era pobre. Antes da sua aceitação ela não era possuidora da riqueza. Pertence-lhe não por causa do que ela é ou fez, mas por aquilo que o marido é e fez. Do mesmo modo a fé é a condição da justificação só porque através de Cristo ela se tornou nossa e, com ele, tornou-se a sua expiação e justiça. A salvação não vem porque a nossa fé nos salva, mas porque nos une ao Cristo que salva; crer é apenas a ligação. Não há mais mérito nisso do que o pedinte estender a mão para receber a esmola oferecida, ou o que está se afogando agarrar-se à corda que lhe lançam. O esquema wesleyano tende a tornar a fé uma obra. Isto é tornar a fé a causa e base, ou, ao menos, acrescentá-la à obra de Cristo como causa e base adicionais à justificação; como se esta fosse δια πίστιν, ao invés de ser δια πίστεως ou έκ πίστεως. Visto que a fé nunca é perfeita, isto conduziria à incerteza da salvação defendida pelos católicos romanos. C. H. M. a respeito de Gn. 3.7 - "Eles fizeram para si aventais de folhas de figueira antes que Deus lhes fizesse túnicas de pele. O homem sempre tenta cobrir-se com as vestes da sua própria justiça, antes de receber as vestimentas de Cristo. Mas Adão sentiu-se nu quando Deus o visitou, apesar de que ele tinha as folhas de figueira sobre si". Somos eficientemente justificados pela graça de Deus, meritoriamente por Cristo, instrumentalmente pela fé, evidencialmente pelas obras. A fé justifica, como as raízes unem a planta ao solo. A fé liga o homem à fonte da vida em Cristo. Quando o barqueiro agarra a rocha, ele não puxa a praia para o barco, mas, ao contrário, o barco para a praia; do mesmo modo, quando nos apoiamos em Cristo, não atraímos Cristo para nós, mas nós para ele". A fé é um engate; o trem é tracionado, não pelo engate, mas pela locomotiva; porém, sem engatá-lo, não será tracionado. A fé é como o bonde que chega ao cabo elétrico; quando se desfaz a conexão não só o carro
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pára de mover-se, mas o calor desaparece e as luzes se apagam. Dr. John Duncan: "Casei-me com o Mercador e toda a sua riqueza é minha"! H. C. Trumbull: "Se o homem quer cruzar o oceano, ou pode tentar fazê-lo a nado, ou pode confiar no capitão para transportá-lo em seu navio. Pela fé, ou através da fé no capitão, o homem é levado com segurança até a praia; contudo, é o capitão do navio, e não a fé do passageiro, que deve ser elogiada pelo transporte". Assim o doente confia o seu caso nas mãos do seu médico e a sua vida é poupada por ele; contudo, pela fé do paciente ou através dela. Na verdade a fé é um ato interior de fidelidade e não um simples desempenho exterior. Whiton, Divine Satisfaction, 92 – "Os Reformadores Protestantes viram que não é por penitência ou por sacramentos que o homem é justificado, mas um ato interior. Mas pararam na rude noção de uma câmara de processos legais, procedimento governamental exterior a nós, enquanto se trata de processo interior, que é o despertar do espírito filial em nós através de Cristo, o que, em meio às imperfeições luta cada vez mais pela semelhança com o Filho de Deus. Por princípio, a justificação independente do desempenho, faz do cristianismo a religião do espírito". Acrescentaríamos que tal justificação exclui a educação e é mais um ato do que um processo, exterior ao pecador ao invés de interior, um ato de Deus, ao invés de um ato do homem. A pessoa justificada pode dizer a Cristo, como Rute a Boaz: "Por que achei graça em teus olhos para que faças caso de mim, sendo eu uma estrangeira"? (Rt 2.10).
B) Visto que a base da justificação é só Cristo, a quem nos unimos pela fé, o justificado tem paz. Se fosse algo em nós mesmos, necessitaria de ser proporcional à nossa santidade. O efeito prático da mistura de obras e fé, como uma base conjunta da justificação, é tornar toda a certeza da salvação impossível. (Concilio de Trento, cap. 9: "Todo homem em razão de sua fraqueza e defeitos deve estar em temor e ansiedade sobre o seu estado de graça. Ninguém pode saber com a infalível certeza da fé, que recebeu o perdão de Deus"). Porém porque a justificação é um ato instantâneo de Deus completo no primeiro momento em que o pecador crê, ela não tem graus. A fé fraca justifica
Teologia Sistemática (Strong) 1711 tão perfeitamente como a forte; porque a justificação é um ato secreto de Deus, a fé fraca não dá tão forte segurança da salvação. Foundations of our Faith, 216 – "A doutrina católica declara que a justificação não depende da fé e da justiça de Cristo atribuída e admitida, mas da verdadeira condição do próprio homem. Entretanto, fica no homem uma inegável soma de luxúria carnal ou inclinação para o pecado, apesar de o homem ser regenerado. Por isso, a doutrina católica é constrangida a afirmar que essa luxúria não é em si pecaminosa, ou objeto do desagrado divino. Permite-se que ela permaneça no homem, a fim de poder combatêla; e, como dizem, Paulo designa-a como pecaminosa porque deriva do pecado, e o estimula; mas só se torna pecado através da concorrência positiva da vontade humana. Mas será que a luxúria não desagrada a Deus? Pode Deus traçar uma linha divisória entre a luxúria e a vontade? Aqui o próprio católico favorece, e considera concupiscência muita coisa que, realmente é vontade. O protestante é necessariamente zeloso na obra da salvação quando reconhece o desejo mau como pecado, segundo o preceito de Cristo". Todos os sistemas de religião de origem meramente humana tendem, em menor ou maior grau, a fazer da salvação, o efeito de obras humanas, mas apenas resultando no desespero do homem. Ver, em Eclesiástico 3.30, uma declaração apócrifa de que as esmolas promovem a expiação do pecado. Deste modo o catolicismo lança em mim a dúvida da graça de Deus e do perdão dos pecados. Ver Dorner, Geschichte prot. Theologie [História da Teologia Protestante], 228,229, e suas citações de Lutero. "Mas, se for verdadeira a doutrina católica, de que o homem é justificado só na medida em que ele é santificado, então: 1. A justificação deve ser matéria gradual e, deste modo, o Concilio de Trento declara que é. Por isso os sacramentos que santificam são essenciais para que alguém se torne cada vez mais justificado. 2. Visto que a santificação é um processo contínuo, a morte redentora de Cristo, de que ela depende, deve também ser um processo contínuo; daí a sua prolongada reiteração do sacrifício através da missa. 3. Visto que a santificação obviamente nunca se completa nesta vida, ninguém jamais morre justificado; donde a doutrina do purgatório". Melhor é a doutrina do teólogo puritano: "Não é a quantidade da tua fé que te salvará. Uma gota é tão verdadeiramente água como o oceano
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inteiro. Deste modo, uma fé menor é tão verdadeira como a maior. Não é a medida da tua fé que te salva; o sangue que ela contém é que te salva. A fraca mão da criança, que leva a colher à boca, alimentará tanto quanto o braço de um homem forte; pois o que alimenta não é a mão, mas a comida. Assim, se tu podes agarrar-te a Cristo ainda que de um modo tão fraco, ele não te fará perecer". Fico perturbado com o dinheiro que devo em Nova Iorque enquanto não encontro um amigo que resgate a minha dívida ali. Quando eu acho que o meu débito da conta objetiva está cancelado, então, e só então, eu sinto paz dentro de mim. Um filho pode herdar uma grande fazenda mesmo que ele não a conheça; e o filho de Deus pode ser um herdeiro da glória, até mesmo quando, na fraqueza da sua fé, ele se sente oprimido com as dolorosas dúvidas e temores. Ninguém se perde simplesmente por causa da grandeza dos seus pecados; por mais que o homem mereça o mal, a fé em Cristo o salvará. A subida de Lutero pelos degraus da Catedral de São João de Latrão e a voz do trovão: "O justo viverá pela fé", não são corretos como fatos históricos; mas expressam substancialmente a experiência de Lutero. Não obedecer, mas receber, é a substância do evangelho. O homem não pode merecer a salvação; não pode comprá-la; mas deve fazer uma coisa: deve recebê-la. Ε a mínima fé faz com que a salvação seja nossa, porque ela faz Cristo nosso. Agostinho concebia a justificação como um processo contínuo, que prossegue até que o amor e todas virtudes cristãs preencham o coração. É a principal diferença de Paulo. Agostinho crê no pecado e na graça, mas ele não tem a liberdade dos filhos de Deus, como Paulo a tem. A influência de Agostinho sobre a teologia católico-romana não foi totalmente salutar. O católico romano, mesclando a condição subjetiva do homem com a graça de Deus como base da justificação, continuamente oscila entre a justiça própria e a incerteza da aceitação para com Deus, cada um destes fatal para a boa saúde e vida religiosa estável. Os episcopais da igreja alta (high-church) e os sacramentalistas em geral afligem-se com a perturbação dos católicos. O Dr. R. W. Dale assinala sobre o Dr. Pusey: "A ausência de alegria na sua vida religiosa é apenas o efeito inevitável da sua concepção do método de Deus salvar o homem; partilhando com a verdade luterana sobre a justificação, ele partilha também das fontes de alegria". Spurgeon diz que
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um homem pode ir de Londres a Nova Iorque desde que tome um navio; mas há muita diferença no conforto se ele compra passagem de primeira ou de segunda classe. Uma nova compreensão do sentido da justificação nas nossas igrejas mudaria muito o cântico de um registro menor para um maior; levar-nos-ia a orar não pela presença de Cristo, mas a partir da referida presença; aboliria as crescentes inflexões lamentosas ao fim das sentenças que dão tal irrealidade à nossa pregação; e substituiria o elemento pessimista na nossa obra moderna e na adoração com notas de louvor e triunfo. No Peregrino, a justificação do crente é simbolizada pela hospedagem do Cristão no Palácio da beleza cuja janela se abre para o sol nascente. Até mesmo Lutero não captou nem aplicou a sua doutrina preferida da justificação pela fé. Harnack, Wesen des Christenthums, 168 sq., estabelece os princípios fundamentais do protestantismo como: "1. A religião cristã é inteiramente dada na palavra de Deus e na experiência interior que corresponde a essa palavra. 2. A crença assegurada de que o cristão tem um Deus gracioso. 3. A restauração da adoração simples e de fé, tanto pública como particular. Mas Lutero exagerou o dogma no cristianismo; insistiu muito na autoridade da palavra escrita; preocupou-se muito com os meios da graça tais como a Ceia do Senhor; identificou a igreja com o corpo organizado". Lutero ainda falava em bater nas cabeças dos de Wittenberg com a Bíblia de sorte que tivesse uma grande doutrina da justificação pela fé nos cérebros deles. "Por que vós ensinais o vosso filho vinte vezes a mesma coisa"? dizia ele. "Porque eu acho que não bastam dezenove vezes".
C) A justificação é instantânea, completa e final: instantânea porque, caso contrário, haveria um intervalo durante o qual nem seria aprovada nem condenada por Deus (Mt. 6.24); completa, porque a alma, ligada a Cristo pela fé, torna-se participante de sua completa satisfação às demandas da lei (Cl. 2.9,10); e final porque a união com Cristo é indissolúvel (Jo. 10.28,29). Como há muitos atos de pecado na vida do cristão, assim muitos atos de perdão se seguem. Mas todos esses atos de perdão estão virtualmente implicados no primeiro ato final e eternamente justificado; como também sucessivos atos de arrependimento e fé, após
Teologia Sistemática (Strong) 1714 tais pecados, estão virtualmente implicados no primeiro arrependimento e fé que logicamente precederam a justificação. Mt. 6.24 - "Ninguém pode servir a dois senhores"; Cl. 2.9,10 - "nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Ε estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo principado e potestade"; Jo. 10.28,29 - "nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai". Os Irmãos Plymouth, com verdade, dizem que o cristão tem pecado dentro si, mas não sobre si porque Cristo teve o pecado sobre si, mas não dentro de si. O cristão tem pecado, mas não culpa, porque Cristo tem culpa,· mas não pecado. Todos os nossos pecados estão sepultados na cova com Cristo e a ressurreição de Cristo é a nossa. Toplady: "Donde vem este temor e incredulidade? Tens tu, ó Pai, magoado teu imaculado Filho por mim? Ε ο justo Juiz dos homens me condenará por causa da dívida do pecado, que, ó Senhor, te foi imposta? Se tu tens sido o procurador da minha absolvição e, gratuitamente, em meu lugar, suportaste toda a ira divina, o pagamento de Deus não pode ser exigido duas vezes: primeiro nas minhas sangradas mãos de segurança e, depois, outra vez nas minhas. A expiação completa tu fizeste e pagaste o último centavo de qualquer que fosse a dívida do teu povo; como, então, pode incidir sobre mim a ira se, escudado na tua justiça, e aspergido com o teu sangue? Volta, então, ó minha alma ao teu repouso; os méritos do teu grande Sumo Sacerdote falam de paz e liberdade; confiança em seu sangue eficaz; nenhum temor do teu banimento da parte de Deus porque Jesus morreu por ti"! Contudo, a justificação não é eterna no passado. Devemos nos arrepender para a remissão dos nossos pecados (At. 2.38). A remissão vem depois do arrependimento. O pecado não é perdoado antes que seja cometido. Na justificação Deus nos concede o verdadeiro perdão do pecado passado, mas o perdão virtual para o futuro. Edwards, Works, 4.104 – Os pecados futuros são respeitados, na primeira justificação, de outra forma, não mais que uma fé e arrependimento futuros são respeitados nela; e a fé e o arrependimento futuros são encarados por aquele que justifica como virtualmente implicados no primeiro arrependimento e fé do mesmo modo que a justificação dos pecados futuros está implicada na primeira justificação".
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O homem não é justificado dos pecados antes de os ter cometido, nem é salvo antes de nascer. Uma notável ilustração do extremo a que o hipercalvinismo pode chegar encontra-se em Tobias Crisp, Sermons, 1.358 - Ό Senhor não tem mais que impor a culpa a uma pessoa eleita, ainda que esteja na maior iniqüidade e no extremo da rebeldia, e contendo toda a sorte de abominação. ... ele tem o lastro do santo triunfante em glória". Uma afirmação bem melhor encontra-se em Moberly, Atonement and Personality, 61 – "Como não há sobre a terra nenhuma penitência consumada, também não há nenhum perdão consumado. ... O perdão é o reconhecimento, por antecipação, de algo por acontecer, algo para o que é em si um poderoso despertar de possibilidades, mas que não é, ou pelo menos por enquanto de um modo imperfeito. ... O presente perdão é inicial, é educativo. ... Chega ao seu ponto final e consumação perfeita só quando o penitente perdoado se tornou, final e completamente justo. Se não se alcançou a consumação, então, perde-se o perdão (Mt. 18.32-35)". Contudo, esta última exceção como veremos ao discutirmos a perseverança, é apenas hipotética. O verdadeiro perdão não desaparece.
7. Conselho aos Inquiridores exigido pelo Ponto de vista da Escritura sobre a Justificação a) Onde ainda falta a convicção do pecado, nosso alvo deve ser o de mostrar ao pecador que ele está sob a condenação de Deus pelos seus pecados passados e que nenhuma obediência futura pode jamais garantir sua justificação, visto que tal obediência, mesmo que perfeita, não poderia expiar o passado e mesmo que pudesse, ele seria incapaz de realizá-lo sem o auxílio de Deus. Com o auxílio do Espírito Santo, o convencimento do pecado pode surgir da apresentação das reivindicações da lei perfeita de Deus e ao atrair a atenção para as transgressões abertas particulares e, a seguir, para as múltiplas omissões do dever, da falta geral do amor supremo e todo abrangente a Deus, e a rejeição culposa dos oferecimentos e mandamentos de Cristo. Ainda que a página seguinte do caderno de apontamentos não contivesse borrões e rasuras, sua limpeza não alteraria as manchas e letras
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inadequadas nas páginas anteriores". Deus não toma nenhuma nota da promessa "Sê generoso comigo, e tudo te pagarei" (Mt. 18.29), porque ele sabe que isso nunca pode ser cumprido.
b) Onde ainda falta a convicção do pecado, nosso alvo deve ser o de mostrar ao pecador que ele está sob a condenação de Deus pelos seus pecados passados e que nenhuma obediência futura pode jamais garantir sua justificação, visto que tal obediência, mesmo que perfeita, não poderia expiar o passado e mesmo que pudesse, ele seria incapaz de realizá-lo sem o auxílio de Deus. Um pecador convicto deve ser exortado, primeiro à fé e, depois, a expressar de imediato a fé na oração e na atividade cristã. Ele deve orar não pedindo fé, mas com fé. Convém não esquecer que o pecador nunca peca contra o excesso de luz, e nunca está em tão grande perigo, como quando ele se convenceu, mas não se converteu, quando foi levado a converter-se, antes recusou-se a isso. A nenhum pecador desse comportamento será permitido pensar que tem o direito a fazer qualquer outra coisa antes de aceitar a Cristo. Esta aceitação não é um ato exterior da mente, do coração e da vontade, mas interior, apesar de que a crença é naturalmente evidenciada pela imediata atitude exterior. Ensinar o pecador sobre como crer em Cristo, embora pareça bem disposto, está além das forças humanas. Deus é o único doador da fé. Mas, na Bíblia, os exemplos de fé e as ilustrações tiradas do filho que ouve o pai e age com base nisso, freqüentemente têm sido empregadas por ela como recurso para conduzir o homem à fé em Cristo. Bengel: "Àqueles que estão seguros Jesus faz referência à lei; aos contritos consola com o evangelho". Um homem saiu do serviço e foi para casa. Sua esposa perguntou-lhe por quê. "Porque eu sou pecador". Eu estou muito longe do que ensinam os pregadores. Se o Senhor Jesus Cristo não me salva estou perdido". A única coisa que aquele homem precisava é que lhe apontassem para a Cruz. Nela encontraria a razão da salvação para si. Rendendo-se a Cristo ele foi justificado.
Teologia Sistemática (Strong) 1717 SEÇÃO III - CONTINUAÇÃO DA APLICAÇÃO DA REDENÇÃO DE CRISTO Sob este título tratamos da Santificação e da Perseverança. Estas duas são apenas lados divino e humano do mesmo fato e têm semelhante relação com o que existe entre Regeneração e Conversão. I. SANTIFICAÇÃO 1. Definição É a operação contínua do Espírito Santo, pela qual a santa disposição concedida na regeneração mantém-se e se fortalece. Godet: "A obra de Jesus no mundo é dupla. Ela é feita em nosso benefício, destinada a estabelecer a reconciliação entre Deus e o homem; é realizada em nós, com o objetivo de efetuar a nossa santificação. Através de uma, estabelece-se um justo relacionamento entre Deus e nós; através da outra, garante-se o fruto da ordem restabelecida. Através daquela, recebe-se rio estado de graça o pecador condenado; através desta o pecador perdoado se associa com a vida de Deus. - Quantos há que se expressam como se, quando o perdão com a paz que ele consegue já tenha sido recebida; tudo termina e a obra da salvação se completa! Nem parecem suspeitar que a salvação consiste na saúde da alma e que esta consiste na santidade. O perdão não é o restabelecimento da saúde; é a crise da convalescença. Se o pensamento de Deus se presta a declarar o pecador justo, é para que ele possa através disso restaurá-lo à santidade". O. P. Gifford: "Pode-se trazer ao porto e atar ao cais o navio cuja maquinaria entrou em pane. Ele está salvo, mas não está sadio. O conserto demanda muito tempo. Cristo se propõe a tornar-nos sãos e salvos. A justificação concede esta - a salvação; a santificação, aquela - a saúde". Bradford, Heredity and Christian Problems, 220 - "Estar alguém cônscio de que recebeu o perdão e de que, ao mesmo tempo, está de tal modo poluído que não pode gerar sem transmitir àquela criança uma natureza que
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será tão má como se o pai nunca tivesse sido perdoado, não é salvação no sentido real". Poderíamos dizer: No sentido completo não é salvação. A justificação precisa ser seguida da santificação. O homem necessita de Deus para continuar e preservar a sua vida espiritual do mesmo modo que precisou de Deus para começá-la. No mundo espiritual, assim como no natural, precisa ser suplementada pela preservação. A regeneração é instantânea, mas a santificação demanda tempo. O "desenvolvimento" do retrato de um fotógrafo pode ilustrar o processo de santificação da alma regenerada. Mas é o desenvolvimento do novo acesso à verdade ou à luz enquanto o retrato do fotógrafo via de regra se desenvolve num ambiente escuro. Tal desenvolvimento não pode completarse num instante. "Em nossa vida religiosa tentamos praticar a fotografia instantânea. Um minuto para a oração nos dará uma visão de Deus; acho que isso é o suficiente. As nossas fotos são pobres porque os nossos negativos são fracos. Não tributamos a Deus um espaço suficientemente grande para uma boa semelhança". A salvação é algo que pertence ao passado, ao presente, ao futuro; fato passado, justificação; processo presente, santificação; consumação futura, redenção e glória. Davi, no SI. 51.1,2, ora, não só para que Deus apague as suas transgressões (justificação), mas que o lave completamente da sua iniqüidade (santificação). E. G. Robinson: "Negativamente, a santificação consiste na remoção das conseqüências penais do pecado a partir da natureza moral; positivamente, na implantação e desenvolvimento de um novo princípio de vida. ... A igreja cristã é uma sucessão de cópias do caráter de Cristo. Paulo nunca diz: 'sede meus imitadores' (1 Co. 4.16), exceto quando escreve aos que não tinham cópias do Novo Testamento ou dos Evangelhos". Clarke, Christian Theology, 366 - "Santificação não significa perfeição alcançada, mas o progresso da vida divina rumo à perfeição. Santificação é cristianização do cristão". Não é apenas a libertação da pena do pecado, mas o desenvolvimento de uma vida divina que o vence. A. A. Hodge, Popular Lectures, 343 - "Qualquer que pensa ser cristão e que aceitou a Cristo para justificação, quando ao mesmo tempo não o aceitou para santificação, está miseravelmente iludido naquela mesma experiência".
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Tal definição implica: a) Que, apesar de na regeneração a disposição governante da alma se tornar santa, há ainda tendências para o mal que não estão dominadas. Jo. 13.10 - "Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois, no mais, todo está limpo [i.e., como um todo]"; Rm. 6.12 - "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências" - o pecado habita num crente, mas reina num descrente (C. H. M.). As volições subordinadas no cristão nem sempre são determinadas no caráter pela escolha fundamental; os redemoinhos na correnteza às vezes correm contra o curso geral da água. Esta doutrina opõe-se ao que se acha exposto na expressão: "a divindade essencial do ser humano". O que o Espírito Santo prescreve para o homem natural não é a cultura, mas a crucificação. Em Rm. 7 Paulo mostra que há no cristão duas naturezas: Uma floresce à custa da outra. O vinhateiro tem de cortar os rebentos do eu, para que a nossa força toda se concentre no fruto que vem crescendo. A madeira morta deve ser cortada; a viva deve ser cortada depois (Jo. 15.2). É natural que a santificação não é matéria que se processará quer queiramos, quer não. Ela requer, por um lado, uma superintendência direta e uma cirurgia e, por outro, da nossa parte, uma aversão completa ao mal, o que coopera com a direção da parte de Deus.
b) Que a existência destes dois princípios opostos no crente faz surgir um conflito que dura a vida inteira. Gl. 5.17 - "Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito cobiça contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis" - o Espírito que habita nos crentes é representado como possibilitando, com sucesso, resistir às tendências para o mal que existem naturalmente dentro deles; Tg. 4.5 – "O Espírito que em nós habita tem ciúmes" - i.e., o amor de Deus, como todo verdadeiro amor, anseia por ter seu objetivo em sua total posse. O cristão é dois homens em um; ele deve "despojar-se do homem velho" e "revestir-se do homem novo" (Ef. 4.22,24)
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Compare Eclesiástico 2.1 -"Filho, se te dedicares a servir ao Senhor, prepara a tua alma para a prova". 1 Tm. 6.12 - "Milita a boa milícia da fé" - άγωνίζου τον καλόν αγώνα της πίστεως = a bela, honrosa, gloriosa luta; visto que tem um nobre ajudador, incentivo e galardão. Um índio recebeu de presente um pouco de tabaco no qual estava escondido meio dólar. Ele o devolveu no dia seguinte dizendo que o bom índio tinha lutado a noite inteira contra um índio mau, dizendo-lhe que o guardasse e o outro dizendo que devolvesse.
c) Que neste conflito o Espírito Santo capacita o cristão, através da fé crescente, mais plena e conscientemente a apropriar-se de Cristo e, assim, progressivamente vencer a pecaminosidade de sua natureza. Rm. 8.13,14 - "se viverdes segundo a carne, morrereis; mas se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus"; 1 Co. 6.11 - "mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito de nosso Deus"; Tg. 1.26 "Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã" - ver Com. de Neander, in loco"Essa religião é meramente imaginária, aparente, irreal, que permite continuar com os defeitos morais originariamente predominantes no caráter". O cristão está "crucificado com Cristo" (Gl. 2.20); mas o homem crucificado não morre instantaneamente. Contudo ele é tão bom como o morto. Mesmo depois que o velho homem se encontra crucificado, devemos ainda mortificá-lo, ou levá-lo à morte (Rm. 8.13; Cl. 3.5). Devemos cortar o velho arbusto e cultivar apenas o novo rebento que surge nele. Eis aqui a nossa provação como cristãos. Assim "die Scene wird zum Tribunal" - entra no julgamento de Deus a peça da vida. Dr. Hastings: "Quando Bourdaloue estava sondando a consciência de Luís XIV, aplicando-lhe as palavras de S. Paulo e, pretendendo parafraseálas: 'Porque o bem que quero não faço, mas o mal que não quero, esse pratico', 'acho dois homens em mim' - o rei interrompeu o grande pregador
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com a memorável exclamação: 'Ah! estes dois homens, eu os conheço bem'! Respondeu Bourdaloue e: 'Conhecê-los já é alguma coisa, Sire; mas isso não basta; um dos dois deve perecer'". E, no crente genuíno o velho pouco a pouco vai morrendo, e o novo vai ocupando o lugar daquele, e novas tarefas substituem as velhas, como "Davi ia se fortalecendo, mas os da casa de Saul se iam enfraquecendo" (2 Sm. 3.1). Como o ministro galés viu-se pensando e sonhando em inglês, assim a língua de Canaã torna-se para o cristão a sua fala nativa e única.
2. Explicações e Provas Bíblicas a) Santificação é obra de Deus. 1 Ts. 5.23 - "Ε ο Deus de paz vos santifique em tudo". Boa parte da nossa literatura moderna ignora a dependência do homem com relação a Deus e há quem pareça ensinar distintamente a doutrina oposta. A obra "Nas Alturas" de Auerbach, por exemplo, ensina que o homem pode operar a sua própria expiação; e "A Vila sobre o Reno", do mesmo autor, ensina que o homem pode santificar-se a si mesmo. Apropria inscrição de muitos romances franceses é: "Divertimento para o homem e para o animal". A Tendenznovelle (Novela de Tendência) da Alemanha tem seus imitadores nos romances céticos da Inglaterra. Ε nestes romances nenhuma doutrina é tão comum como a de que o homem não necessita de Salvador, mas de si mesmo.
b) É processo contínuo. Fp. 1.6 - "Tendo por certo isto mesmo: que aquele que começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo"; 3.15 - "Pelo que todos quantos já somos perfeitos sintamos isto mesmo; e se sentis alguma coisa doutra maneira, também Deus vo-lo revelará"; Cl. 3.9,10 - "Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com seus feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou"; cf. At. 2.47 - "os que iam sendo salvos"; 1 Co. 1.18 "para nós, que somos salvos"; 2 Co. 2.15 - "nos que se salvam"; 1 Ts. 2.12 "Deus, que vos chama para o seu reino e glória".
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C. H. Parkhurst: Ό fermento não entra em choque através de toda a massa de uma só vez. Continuamos encontrando insuspeita parte da massa do alimento a que o fermento não atingiu. Entregamo-nos a Deus em etapas. Não queremos entender que nós agimos assim, mas agimos. A conversão veio a ocorrer numa data". Um estudante perguntou ao Presidente do Oberlin College se ele podia fazer um curso mais breve do que o prescrito. "Oh sim", replicou o Presidente, "mas depende do que você quer fazer de você mesmo. Quando Deus fez um carvalho, levou cem anos, mas quando fez uma abóbora, levou seis meses".
c) É distinto da regeneração como o desenvolvimento desde o nascimento, ou como o fortalecimento de uma santa disposição a partir da sua concessão original. Ef. 4.15 - "seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo"; 1 Ts. 3.12 - "o Senhor vos aumente e faça crescer em amor uns para com os outros e para com todos"; 2 Pe. 3.18 - "crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo"; 1 Pe. 1.23 - "sendo gerados de novo, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre"; 1 Jo. 3.9 - "Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar porque é nascido de Deus". Não só o pecado, mas também a santidade é um germe que se desenvolve por natureza. O novo amor no coração do crente segue a lei da vida inteira desenvolvendo-se e expandindo-se sob a direção de Deus. George Eliot: Ό galardão da prática de um dever é o poder da prática de um outro". J. W. Α. Stewart: "Quando chega o 21 de março eu digo que 'as costas do inverno quebraram-se'. Continuará a haver alternâncias de frio, mas progressivamente o tempo esquentará. A vinda do verão é certa; em germe temos o verão". A regeneração é a crise de uma doença; a santificação é o progresso da convalescença. Contudo, o crescimento não é uma coisa uniforme nas árvores e no cristão. Apenas em alguns meses há um crescimento maior do que em outros anos. Durante o resto do ano, contudo, há uma solidificação, sem que a tonalidade verde seja inútil. O período de crescimento rápido, quando a
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fibra da madeira é depositada entre a casca e o tronco, leva apenas de quatro a seis semanas em maio, junho e julho. 2 Pe. 1.5 - "acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência" = acrescentando à graça central tudo o que é complementar e subordinado, até alcançar a harmonia de um coro (εςπιχορηγήσατε).
d) A operação de Deus se revela na atividade inteligente e voluntária do crente e é acompanhada por ela na descoberta e mortificação dos desejos pecaminosos e na condução do ser inteiro à obediência a Cristo e conformidade com os padrões da sua palavra. Jo. 17.17 - "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade"; 2 Co. 10.5 - "destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo"; Fp. 2.12,13 - "operai a vossa salvação com temor e tremor; porque é Deus quem opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade"; 1 Pe. 2.2 - "desejai afetuosamente, como meninos recémnascidos, o leite racional, não falsificado, para que, por ele, vades crescendo para a salvação". Jo. 15.3 - "Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado". A regeneração através da palavra é seguida da santificação através da palavra. Ef. 5.1 -"Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados". No começo a imitação é um doloroso esforço da vontade, como, por exemplo, aprender piano; depois torna-se agradável e mesmo inconsciente. Inconscientemente o filho imita o manuscrito dos pais. Quando se barbeia, Charles Lamb vê no espelho o seu falecido pai. Do mesmo modo, a nossa semelhança para com Deus aparece com o passar dos anos. Cl. 3.4 "Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, vós vos manifestareis com ele em glória". Horace Bushnell dizia que, se as estrelas não se movessem, apodreceriam no céu. O homem que pedala a bicicleta deve ir adiante, ou, então, perderá o rumo. Boa parte da santificação consiste em formar bons hábitos de leitura da Bíblia, do segredo da oração, da freqüência à igreja, dos esforços na conversão de outros e na beneficência. Baxter: "Todo homem deve crescer como a árvore: para baixo e para cima ao mesmo tempo. O desenvolvimento externo visível deve ser acompanhado por um
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desenvolvimento interior invisível". Drummond: "Enquanto o homem espiritual passou da morte para a vida, o natural passou da vida para a morte". Deve haver um crescente senso do pecado: "Os meus pecados afiaram cada cravo e cada espinho". Deve ocorrer a chegada de novas e ainda mais novas regiões do pensamento, do sentimento e da ação, sob a influência de Cristo e de sua verdade. Há um grão de verdade mesmo no humor de Macaulay a respeito da "culinária essencialmente cristã". A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 63, 109-111 - "A igreja não é mais cristã do que órgão da contínua paixão de Cristo. Devemos sofrer com a humanidade pecadora e perdida e, deste modo 'cumprir... o resto das aflições de Cristo' (Cl. 1.24). A crucificação de Cristo deve prolongar-se juntamente com a sua ressurreição. Há três mortes: 1. morte no pecado, nossa condição natural; 2. morte por causa do pecado, nossa condição judicial; 3. morte para o pecado, nossa condição santificada. ... Quando a seiva, subindo pela árvore, exclui as folhas mortas que, a despeito das tempestades e da geada agarram-se aos galhos durante todo o inverno, do mesmo modo, o Espírito Santo dentro de nós quando se permite a plena direção, submissão, e expulsão dos restos da nossa natureza pecaminosa".
e) A atuação através da qual Deus efetua a santificação no crente é a habitação do Espírito de Cristo. Jo. 14.17,18 - "o Espírito de verdade ... habita convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós"; 15.3-5 - "Vós já estais limpos ... estai em mim ... sem mim nada podeis fazer"; Rm. 8.9,10 - "o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas vive por causa da justiça"; 1 Co. 1.2,30 - "santificados em Cristo Jesus ... o qual para nós foi feito santificação"; 6.19 - "não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus"? Gl. 5.16 - "Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne"; Ef. 5.18 - "E não vos embriagueis com o vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito"; Cl. 1.27-29 - "as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; a quem nós anunciamos, admoestando a todo homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo homem
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perfeito em Jesus Cristo; e para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente"; 2 Tm. 1.14 - "Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em vós". O cristianismo substitui as velhas fontes de estímulo pelo poder do Espírito Santo. Eis aqui uma fonte de conforto, energia e regozijo, infinitamente superior a qualquer que o pecador conhece. Deus não deixa a alma cair sobre si mesma. Quanto mais alto subirmos na escalada do ser, mais a nova vida necessita do trato e do sustento e do cuidado; compare o renovo e o bebê. Por isso Deus dá ao cristão uma presença constante e a obra do Espírito Santo; não só a regeneração, mas a santificação. C. E. Smith, Baptism of Fire: A alma necessita desta chuva assim como daquela, do selo como da renovação do Espírito, do batismo de fogo, do mesmo modo que do batismo da água. O selo adiciona algo ao documento, evidência mais clara do que aquilo que está escrito nele tanto para a própria pessoa como para os outros" "Poucas flores produzem mais mel do que a abelha se serve na sua alimentação diária". Assim devemos primeiro viver da nossa dieta espiritual; só o que restou pode ser dado para nutrir os outros. Tomás de Kempis, Imitação de Cristo: "Tem paz no teu próprio coração; doutra forma nunca serás capaz de comunicá-la aos outros". Godet: "O homem é um recipiente destinado a receber Deus; um recipiente que pode ser aumentado na medida em que ele se enche e encher-se na medida em que ele aumenta".
f) A causa mediata ou instrumental da santificação, como da justificação, é a fé. At. 15.9 - "purificando o seu coração pela fé"; Rm. 1.17 - "Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé". A justiça inclui tanto a santificação como a justificação; e o assunto da epístola aos Romanos não é somente justificação pela fé, mas também justiça pela fé. Justificação pela fé é assunto dos capítulos 1-7; santificação pela fé abrange 8-16. Não somos santificados, e nem justificados, pelos nossos próprios esforços.
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Deus não compartilha conosco da glória da santificação, e nem da justificação. Ou ele faz tudo, ou nada. William Law: "Uma raiz assentada no mais refinado solo, no melhor clima, e abençoada com tudo o que o sol e o ar e a chuva fazem em seu favor, não é um meio tão seguro de crescimento rumo à perfeição, como pode ser cada pessoa cujo espírito aspira a tudo que Deus está pronto e infinitamente desejoso de dar-lhe. Porque o sol vai ao encontro não do broto que surge o qual se estende para ele com metade da certeza de Deus, fonte de todo o bem, comunica-se com a alma que anela por compartilhar com ele".
g) O objeto desta fé é o próprio Cristo, como o cabeça dessa nova humanidade e a fonte da verdade e da vida para os que se uniram a ele. 2 Co. 3.18 - "todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor"; Ef. 4.13- "até que cheguemos todos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo". Naturalmente que fé neste contexto é mais do que intelectual; é o recebimento do próprio Cristo. Como o cristianismo fornece uma nova fonte de vida e de energia no Espírito Santo: do mesmo modo dá um novo objeto de atenção e de consideração - o Senhor Jesus Cristo. Como retiramos o ar de um vaso despejando nele água, do mesmo modo podemos retirar o pecado introduzindo Cristo. Drummond, Nat. Law in the Spir. World, 123-140 - Ό ser humano não cresce pelo esforço para crescer, mas adequando-se às condições de crescimento através da vida em Cristo". 1 Jo. 3.3 - "qualquer que nele (έπ' αύτω) tem esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro". A santificação não começa a partir de dentro. Em primeiro lugar deve vir o Salvador objetivo. A esperança baseada nele deve motivar e ser o padrão da purificação própria. A semelhança vem do ato de gostar (O autor emprega o jogo de palavras em Inglês, língua na qual "like" significa tanto "ser semelhante" como "gostar"). É por isso que usamos a expressão "eu gosto" (I like), como um sinônimo de "eu amo". Não podemos remover a geada da janela esfregando o vidro; precisamos acender o fogo. O crescimento não é produto do esforço, mas da vida. "Todos os cuidados" ou "todas as suas ansiedades" (Mt. 6.27), não é o
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caminho para o crescimento. Basta apenas retirar os embaraços do caminho, e cresceremos sem preocupações, como ocorre com a árvore. A lua não faz esforço algum para brilhar, nem tem força de si mesma para isso. É apenas como se fosse uma cinza no céu. Ela apenas brilha porque reflete a luz do sol. Do mesmo modo podemos brilhar "como astros no mundo" (Fp. 2.15), só quando refletimos Cristo, que é o "Sol da Justiça" (Ml 4.2) e a "luz do mundo" (Jo. 8.12).
h) Apesar de que a mais fraca fé justifica, o grau de santificação é medido pela força da fé cristã e pela persistência com que apreende a Cristo nas várias relações pelas quais, segundo as Escrituras, ele nos sustenta. Mt. 9.29 - "Seja-vos feito segundo a vossa fé"; Lc. 17.5 - "Acrescentanos a fé"; Rm. 12.2 - "não vos conformeis com este mundo, mas transformaivos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e prefeita vontade de Deus"; 13.14 - "Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências"; Ef. 4.24 - "e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade"; 1 Tm. 4.7 - "exercita-te a ti mesmo em piedade". Leighton: "Nenhum dos filhos de Deus nasce surdo". Milton: "Quanto mais se comunica o bem, mais abundante se torna". A fé não pode ser estacionária, nem completa (Westcott, Bib. Com. em Jo. 15.8"e assim sereis meus discípulos"). Lutero: "Aquele que é um cristão não é nenhum cristão"; "Christianus non in esse, sed in fieri" (Cristão não em ser, mas em ser criado [ou tornar-se]). Numa Bíblia que pertenceu a Oliver Cromwell há esta inscrição: "O. C. 1644. Qui cessât esse melior cessât esse bonus" [Quem deixa de ser melhor deixa de ser bom]. Existe a história do escultor a quem perguntaram a que obra ele dava maior valor, e respondeu: "A minha seguinte". A maior obra do Espírito Santo é o aperfeiçoamento do caráter cristão. Cl. 1.10 - "Crescendo no conhecimento de Deus" - aqui o dativo instrumental representa o conhecimento de Deus como o orvalho ou a chuva que alimenta o desenvolvimento da planta (Lightfoot). O Sr. Gladstone tinha o hábito de ler a Bíblia em cada domingo à tarde às senhoras idosas do seu
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sítio. Tholuck: "Tenho apenas uma paixão e esta é Cristo". Isto é um eco das palavras de Paulo "para mim o viver é Cristo" (Fp. 1.21 ). Mas Paulo está longe de pensar que já chegou a esse ponto, ou que já seja perfeito. Ele ora "para que eu possa ganhar a Cristo ... e conhecê-lo" (Fp. 3.8,10).
i) Da falta de persistência no uso dos meios indicados para o desenvolvimento cristão – tais como a Palavra de Deus, a oração, a união com outros crentes e o esforço pessoal para a conversão dos ímpios – a santificação nem sempre prossegue em curso regular e ininterrupto e nunca se completa nesta vida. Fp. 3.12 - "Não que eu já a tenha alcançado ou que seja perfeito, mas prossigo para alcançar aquilo que para o que fui também preso por Jesus Cristo"; 1 Jo. 1.8 - "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós". Carlyle, em Life of John Sterling, cap. 8, diz a respeito de Coleridge: "sempre que uma obrigação natural ou empreendimento voluntário se tornasse o seu dever de fazer alguma coisa, o fato parecia razão suficiente para ele não fazê-lo". Por outro lado, uma progressiva santificação regular é marcada pelo crescente hábito de imediata e alegre obediência. A fonte intermitente depende do reservatório na gruta da montanha; só quando a chuva a enche a fonte, começa a fluir. Do mesmo modo, para garantir a atividade cristã ininterrupta, é preciso haver constante receptividade do mundo e do Espírito de Deus. Galen: "Se as doenças tomarem conta do corpo, nada há de mais certo do que um exercício diligente para retirá-las". Williams: Princípios de Medicina: "A falta de exercício e os hábitos sedentários não só predispõem para a doença, mas, na verdade, causam-na. Perguntaram a uma criança que caiu da cama à noite como isso aconteceu. Ela respondeu que foi dormir bem perto do lugar onde ela caiu. Alguns crentes perdem a alegria da sua religião por deixar suas atividades cristãs logo depois da conversão. Contudo, outros cultivam a sua vida espiritual por simples egoísmo. O egoísmo segue a linha do menor esforço. É mais fácil orar em público e assistir às reuniões de oração do que sair para um mundo antipático e empenhar-se na obra de ganhar almas. Aí está o defeito do monasticismo. Cresce o número daqueles que se esquecem da obra em favor dos outros. A
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disciplina da vida é ordenada na providência de Deus com a finalidade de corrigir a tendência para a indolência. Mesmo esta disciplina é freqüentemente recebida no espírito rebelde. Como resultado ocorre o adiamento do processo de santificação. Bengel: "Deus habet horas et moras" - Deus tem as suas horas e os seus adiamentos". Provérbio alemão: "Gut Ding will Weile haben" - "Uma coisa boa demanda tempo".
j) A santificação tanto da alma como do corpo do crente completase na vida futura; a daquela na morte e a deste, na ressurreição. Fp. 3.21 - "que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar a si todas as coisas"; Cl. 3.4 - "Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em glória"; Hb. 12.14,23 - "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. ... espíritos dos justos aperfeiçoados"; 1 Jo. 3.2 - "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos"; Jd. 24 - "poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentarvos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória"; Ap. 14.5 - "E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis". A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 121, não põe a conclusão da nossa santificação na morte, mas na vinda do Senhor que "aparecerá segunda vez, sem pecado, ... para a salvação" (Hb. 9.28; 1 Ts. 3.13; 5.23). Quando o virmos como ele é, a foto instantânea da sua imagem em nossas almas ocorrerá no vagaroso progresso de glória em glória (2 Co. 3.18; 1 Jo. 3.2). Se a santificação não significa livrar-se da remanescente depravação, mas uma pureza e uma perfeição cada vez mais crescentes, então podemos sustentar que o processo de santificação é perene. Nossa relação com Cristo deve sempre ser do imperfeito para o perfeito, ou do finito para o infinito; e para os espíritos finitos, o progresso deve sempre ser possível. Clarke, Christian Theology, 373 - "A santificação não termina nem mesmo na morte. ... O objetivo está muito além da libertação do pecado. ... Não existe esta coisa de levar a vida divina a uma conclusão de que não lhe é possível nenhum progresso. ... Na verdade, o progresso desembaraçado dificilmente
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pode começar enquanto atrás há o pecado". "Ó neves tão puras, Ó picos tão elevados! Eu só vos alcançarei após a morte"! Como a santidade da vida preparou a ressurreição de Jesus, do mesmo modo a santificação preparou a do crente. Quando as nossas almas estiverem libertas dos últimos restos do pecado, então não será possível sermos dominados pela morte (cf. At. 2.24).
3. Pontos de vista errôneos refutados por estas passagens da Escritura A) O antinomista – que sustenta que, visto que a obediência e os sofrimentos de Cristo satisfizeram as exigências da lei, o crente está dispensado de observá-la. O antinomismo se apóia numa falsa interpretação de Rm. 6.14 - "não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça". Agrícola e Amsdorf (1559) reapresentam esse ponto de vista. Amsdorf diz que "as boas obras são ofensivas à salvação". Porém, as palavras de Melanchton fornecem a resposta: "Sola fides justificat, sed fides non est sola". F. W. Robertson afirma o seguinte: "Só a fé justifica, mas não a fé que é sozinha". Ε ilustra: "O relâmpago sozinho fere, mas não o relâmpago sem o trovão; porque esse é o relâmpago de verão e inofensivo". Agrícola diz que Moisés deveria ser enforcado. Isto é santificação sem perseverança. Sandeman, fundador da seita chamada sandemanismo, afirmava como princípio fundamental a morte de todas as ações, a necessidade da inércia a fim de deixar Deus fazer a sua obra na alma. Os puritanos de Massachusetts excomungaram e baniram Anne Hutchinson em 1637 por defender "dois perigosos erros: 1. Que o Espírito Santo habita pessoalmente numa pessoa justificada; 2. Que nenhuma santificação pode evidenciar-nos a nossa santificação". Este erro quase destruiu a influência daquela verdade. Há um pouco de antinomismo no hino popular: "Lançai para baixo as vossas obras mortas, aos pés de Jesus; Obra é coisa morta; Termina em morte". Na Inglaterra, Andrew Fuller prestou excelente serviço derrotando o popular antinomismo.
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A este ponto de vista apresentamos as seguintes objeções: a) Porque a lei é uma transcrição da santidade de Deus, as suas exigências, como regra moral, são imutáveis. Somente como sistema de pena e como método de salvação a lei foi abolida na morte de Cristo. Mt. 5.17-19 - "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: Eu não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus"; 48 - "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus"; 1 Pe. 1 16 - "Sede santos, porque eu sou santo"; Rm. 10.4 "Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê"; Gl. 2.20 "Estou crucificado com Cristo"; 3.13 - "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós"; Cl. 2.14 - "Tendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz"; Hb. 2.15 - "livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão".
b) Que a união entre Cristo e o crente não só garante que o mesmo Cristo suporte a pena da lei, mas também comunique o seu espírito de obediência ao crente; a saber, estabeleça a comunhão com a obra de Cristo e o leve a ratificá-la na sua própria experiência. Rm. 8.9,10,15 - "vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o Espírito vive por causa da justiça. ... Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estar em temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai"; Gl. 5.22-25 - "Mas o fruto do espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. Ε os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões
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e concupiscências"; 1 Jo. 1.6 - "Se dissermos que temos comunhão com ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade"; 3.6 "Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu".
c) Que a liberdade da lei, de que as Escrituras falam, é, por isso, simplesmente a do constrangimento e servidão da lei, o que caracteriza aqueles que se fizeram um em Cristo pela fé. Sl. 119.97 - Oh! quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia"; Rm. 3.8,31 - "E porque não dizemos (como somos blasfemados, e como alguns dizem que dizemos): Façamos males, para que nos venham bens? A condenação desses é justa. ... Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes estabelecemos a lei"; 6.14,15,22 - "Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. Pois que? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum! . ... Mas agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna"; 7.6 - "Mas agora estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra"; 8.4 - "para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito"; 1 Co. 7.22 - "o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor"; Gl. 5.1 - "Estai, pois, na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão"; 1 Tm. 1.9 - "a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados"; Tg. 1.25 - "a lei perfeita da liberdade".
Resumindo da doutrina da liberdade cristã em oposição ao antinomismo, podemos dizer que Cristo não nos liberta da lei como regra de vida, como crê o antinomista. Mas ele nos liberta 1) da lei como um sistema de maldição e da pena; ele o faz suportando a maldição e a pena. Cristo nos liberta 2) da lei com as suas reivindicações como método de salvação; isto ele realiza fazendo a sua obediência e os seus méritos serem nossos. Cristo nos liberta 3) da lei como coação exterior e
Teologia Sistemática (Strong) 1733 estranha; isto ele faz dando-nos o espírito de obediência e filiação, pelo que a lei se realiza progressivamente no interior. Cristo, então, não nos livra, como crêem os antinomistas da lei como regra de vida. Mas livra-nos 1) da lei como sistema de maldição e pena. Isto ele faz suportando a maldição e a pena sobre si. Como a lei não pode fazer nada com o homem depois de ter executado sobre ele a pena de morte, assim também não pode fazer nada conosco, agora que a sua pena de morte foi executada em Cristo. Há alguns insetos que expiram quando fincam o ferrão; do mesmo modo, quando a lei se compactou e fincou o seu ferrão em Cristo, esgotou toda a sua força como juiz e vingador de nós os que cremos. Na cruz, a lei, como sistema de maldição e pena esgotou-se; deste modo estamos livres. Cristo nos livra 2) da lei com suas reivindicações como método de salvação; a saber, ele nos livra da necessidade de confiar a nossa salvação a uma impossível obediência futura. Como os sofrimentos de Cristo, sem qualquer sofrimento da nossa parte, nos livra da morte eterna, assim os méritos de Cristo, sem quaisquer méritos nossos, nos dão uma garantia da vida eterna. Pela fé naquilo que Cristo fez e pela simples aceitação da sua obra por nós, garantimos o direito ao céu. A nossa obediência não mais se torna dolorosa, como se a nossa salvação dependesse dela, mas gratuita e alegremente, em gratidão por aquilo que Cristo nos fez. O convite do nobre inglês ao seu parque e os regulamentos que ele fixa servem de ilustração. Cristo nos livra 3) da lei como uma coação exterior e estranha. Pondo um fim ao legalismo ele toma providências contra a licenciosidade. Isto ele faz dando o espírito de obediência e filiação. Põe o amor em lugar do medo; e garante uma obediência mais inteligente, mais completa, mais cordial do que a lei poderia ter garantido. Deste modo ele nos livra do fardo e da coação da lei, realizando a lei dentro de nós através do seu Espírito. O cristão tem a sua liberdade na lei do mesmo modo que as experiências do músico quando as escalas e exercícios se tornaram fáceis e operaram a execução. Gould, Bib Theol. do N. T., 195 - "A supremacia dos livros que contêm as palavras do próprio Jesus [i.e., os Evangelhos Sinóticos] é que eles incorporam, com os outros elementos da vida religiosa, a vontade reguladora. Aqui, por exemplo, [em João] está o evangelho da vida
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contemplativa, que "refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor" (2 Co. 3.18). Existe a crença de que, com esta contemplação, a vida cuidará de si mesma. Ela nunca cuidará de si mesma. Entre outras coisas, segundo a mais perfeita visão, ela precisa inquirir quais aspirações, princípios, sentimentos, pertencem à vida e daí cultivar a vontade de incorporar estas coisas. Eis aqui o defeito comum a todas religiões. Deixam de conjugar a religião com a vida comum. Cristo não se detém nesta palavra final; mas, se o deixarmos junto ao maior dos discípulos, corremos o perigo de omiti-lo". Esta afirmação de Gould surpreende em vários pontos. Atribui só a João a atitude contemplativa da mente, de que a citação feita pertence também a Paulo. Ignora os constantes apelos de João à vontade: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama" (Jo. 14.21). Esquece também que a palavra "vida" em João é o ser inteiro, incluindo o intelecto e a vontade e que ter Cristo para a sua vida é excluir de modo absoluto o antinomismo.
B) O perfeccionista – que sustenta que o cristão pode, nesta vida, tornar-se perfeitamente livre do pecado. Sustentam este ponto de vista João Wesley, na Inglaterra, e Mahan e Finney, na América. Finney, Systematic Theol., 500, declara que a regeneração é "uma mudança instantânea da inteira pecaminosidade para a inteira santidade". Contudo, ele reivindica que os perfeccionistas modificaram-se da 'libertação de todo pecado", para a libertação de todo pecado conhecido", e, daí, para a inteira consagração" e, finalmente, para a "segurança cristã". H. W. WebbPeploe, S. S. Times, 25 de junho de 1898 – "O ensino de Keswick é que nenhum cristão verdadeiro precisa pecar voluntária ou conscientemente. Embora isto não seja perfeição sem pecado. Somente está de acordo com a fé que recebemos e a fé só vem de Deus segundo as nossas possibilidades presentes. Estas são limitadas pela presença da corrupção que habita em nós; conquanto nunca precisamos pecar dentro da esfera da luz que possuímos, até a última hora da nossa vida terrena há forças corruptas dentro do homem que contaminam as suas melhores obras e até mesmo aos mais santos dão forças para que 'a natureza do pecado' de que o artigo 9º do Livro de Oração da Igreja da Inglaterra fala com tanta firmeza".
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Contudo, é evidente que a corrupção não é considerada como um verdadeiro pecado e é chamada "natureza do pecado' só em certo sentido. O Dr. George Peck diz: "Na vida do mais perfeito cristão diariamente há uma renovada ocasião para detestar-se a si mesmo, para o arrependimento, para a renovada aplicação do sangue de Cristo, para a aplicação do reacender o Espírito Santo". Mas, por que chamarmos isto de estado de perfeição? F. B. Meyer: "Nunca dizemos que o eu está morto; se nós o estivéssemos, o eu estaria rindo de nós a cada canto. O ensino de Rm. 6 não é que o eu está morto, mas que a vontade renovada está morta para o eu, que a vontade do homem diz 'sim' para Cristo, e 'não' para o eu; através da graça do Espírito constantemente repudia e mortifica as forças da carne".
Em resposta bastará observar: a) Que a teoria se apóia em falsas concepções: em primeiro lugar, sobre a lei; como escala variável de exigência relativa à condição moral das criaturas, ao invés de ser um reflexo imutável da santidade de Deus; em segundo lugar, sobre o pecado; consistindo apenas em atos voluntários ao invés de abranger também as disposições e estados da alma que não estão em conformidade com a santidade divina; em terceiro lugar, capaz de escolher Deus de modo supremo e persistente em cada momento da vida e cumprir a cada momento as obrigações que lhe são impostas ao invés de se deixar corromper e escravizar pela queda. Este ponto de vista reduz a dívida à capacidade que o devedor tem de pagar; método breve e fácil e de desincumbir-se das obrigações. Posso saltar acima da torre da igreja, se me for permitido apenas fazer com que a referida torre seja suficientemente baixa; posso tocar as estrelas se elas descerem até às minhas mãos. Os filisteus são perfeitamente iguais a Sansão se podem cortar os seus cabelos. Do mesmo modo posso obedecer à lei de Deus se eu fizer da lei de Deus o que eu quero que ela seja. O erro fundamental do perfeccionismo é o seu baixo ponto de vista da lei de Deus; o segundo é a sua estreita concepção do pecado. João Wesley: "Creio que uma pessoa cheia do amor de Deus ainda tende para transgressões involuntárias. A tais transgressões você pode chamar de pecado, se quiser;
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eu não o faço". O terceiro erro do perfeccionismo é a sua exagerada avaliação do poder que o homem tem de escolher o contrário. Dizer que, sejam quais forem os hábitos do passado e sejam quais forem os maus sentimentos do presente, o homem é perfeitamente capaz de obedecer a toda a lei de Deus, é negar que haja tais coisas como caráter e depravação. Finney, Gospel Themes, 383, na verdade, nega "todas expectativas de atingirmos este estado e por nossos esforços independentes e desauxiliados". Agostinho: "Todo o menor bem tem um elemento essencial de pecado". Qualquer coisa menor que a perfeição que normalmente pertence ao meu estágio presente de desenvolvimento é uma insuficiência da demanda da lei. R. W. Dale, Comunhão com Cristo, 359 - "Para nós e neste mundo, o divino é sempre impossível. Dá-me uma lei para a conduta individual que requer perfeição que está dentro do meu alcance e estou certo de que a lei não representa o pensamento divino. 'Não que a tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para aquilo para o que fui também preso por Jesus Cristo' (Fp. 3.12) - esta, desde o começo, tem sido a confissão dos santos". O perfeccionista é capaz de dizer que devemos "tomar Cristo duas vezes: uma para a justificação, e uma para a santificação". Mas ninguém pode receber Cristo para justificação sem ao mesmo tempo recebê-lo para a santificação. Dr. A. A. Hodge chama esta doutrina de "neonomismo", porque não sustenta uma lei de Deus, imutável, ideal e perfeita, mas uma segunda lei dada à fraqueza humana quando a primeira deixou de garantir a obediência. 1) A lei de Deus demanda perfeição. É uma transcrição da natureza de Deus. Qualquer coisa que seja menor que a demanda da perfeição interpretaria falsamente a pessoa de Deus. Deus não poderia dar uma lei que o pecador pudesse obedecer. Na própria natureza do caso não pode haver ausência do pecado nesta vida para aqueles que uma vez pecaram. O pecado traz incapacidade e culpa. Todo ser humano desperdiçou uma parte do talento que lhe foi confiado por Deus e, por isso, ninguém pode atingir as demandas da lei que requer tudo o que Deus deu à humanidade na sua criação juntamente com o interesse no investimento. 2) Até mesmo o melhor cristão não consegue a perfeição. A regeneração só torna santa a disposição dominante. Muitos sentimentos ainda permanecem impuros e
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requerem a purificação. Só a diminuição das demandas da lei, o arrasamento das nossas concepções de pecado e o equivocado sentimento de permanente inclinação da vontade podem considerar-nos perfeitos. 3) Neste mundo não se alcança a perfeição absoluta, mas no vindouro. Os melhores cristãos consideram-se ainda pecadores, lutam firmemente pela santidade, têm a santificação atribuída, mas não inerente; são salvos pela esperança.
b) Que a teoria não acha nenhum apoio na Escritura, mas, ao contrário, ela a contradiz. Primeiro: As Escrituras nunca afirmam ou implicam que o cristão pode nesta vida agir sem pecado; passagens como 1 Jo. 3.6,9, se interpretadas consistentemente com o contexto, estabelecem o padrão ideal do viver cristão ou do verdadeiro estado do crente sobre a sua nova natureza. 1 Jo. 3.6 - "Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu"; 9 - "qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus". Ann. Par. Bible, in loco: "João está contrastando os estados em que o pecado e a graça separadamente predominam, sem referência aos graus de cada um, mostrando que todos homens estão num ou noutro". Neander: "João não reconhece nenhum estado intermediário, nenhuma gradação. Ele se apega a ponto de diferença radical. Contrasta os dois estados em sua natureza e princípio essenciais. É amor ou ódio, luz ou trevas, verdade ou mentira. A vida cristã, em sua natureza essencial, opõese a todo pecado. Se houver pecado, deve tratar-se de uma operação da velha natureza". Contudo, a Bíblia requer que todos cristãos progridam, confessem o pecado, peçam o perdão, mantenham bem-estar, admitam a atitude do mau mérito na oração, recebam o castigo para a remoção das imperfeições, considerem a plena salvação como matéria de esperança, não da experiência presente. João pinta o quadro apenas em preto e branco; não há tintas ou cores intermediárias. Tomando as palavras de 1 Jo. 3.6 literalmente, nunca houve
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nem pode haver uma pessoa regenerada. As palavras são hiperbólicas como as de Paulo aos Rm. 6.2 - "Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele"? - são metafóricas. O imperador Guilherme recusou o pedido de uma audiência preparada por um germano-americano, dizendo que os alemães nascidos na Alemanha e naturalizados na América tornaram-se americanos: "Ich kenne Amerikaner, ich kenne Deutsche, aber Deutsche-Amerikaner kenne ich nicht" - "Eu conheço americanos, conheço alemães, mas germano-americanos eu não conheço". Lowrie, Doctrine of St. John, 110 – "São João emprega o substantivo pecado e o verbo pecar em dois sentidos: de denotar a força ou o princípio do pecado, ou denotar atos concretos do pecado. Este sentido ele expressa geralmente com o plural pecados. ... O cristão é culpado pelos atos particulares de pecado pelos quais requer-se confissão e perdão, mas, como ele se livrou da escravidão do pecado, não pode habitualmente praticá-lo, nem permanecer nele, e ainda menos ser culpado do pecado em sua forma superlativa, negando a Cristo".
Segundo: As exortações apostólicas aos cristãos e aos hebreus mostram que os cristãos do primeiro século não tinham alcançado esse estado de completa santificação. Rm. 8.24 - "Porque, em esperança, somos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como esperará"? A parte do sentimento, do egoísmo e da imoralidade encontrada entre os membros da igreja de Corinto são evidências de que eles estão bem longe de um estado de inteira santificação.
Terceiro: Há um registro expresso de pecado cometido pelas mais perfeitas personagens da Escritura, tais como Noé, Abraão, Davi, Pedro. Somos estimulados pelos perfeccionistas "a conservar o padrão". Não fazemos isto, chamando os homens de perfeitos, mas chamando Cristo de perfeito. Em proporção com a nossa santificação, somos absorvidos em Cristo, não em nós mesmos. A consciência própria e a apresentação apresentam pouca evidência de santificação. Os melhores
Teologia Sistemática (Strong) 1739 personagens da Bíblia puseram a sua confiança num padrão mais elevado que eles jamais realizaram em suas próprias pessoas, mesmo na justiça de Deus. Quarto: A palavra τέλειος, aplicada às condições espirituais já alcançadas, podem honestamente significar uma perfeição relativa, equivalente à piedade sincera ou à maturidade do juízo cristão. 1 Co. 2.6 - "Todavia, falamos sabedoria entre os perfeitos"; Fp. 3.15 "Pelo que, todos quantos já somos perfeitos, sintamos isto mesmo". Freqüentemente os homens são chamados perfeitos, quando livres de qualquer falta que aparece aos olhos dos mundo. Ver Gn. 6.9 - "Noé era varão justo e reto"; Jó 1.1 - "este era sincero e reto". Os τέλειοι são descritos em Hb. 5.14 - "alimento sólido para os perfeitos, os quais, em razão do seu costume têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal". A mesma palavra "perfeito" é empregada a respeito de Jacó em Gn. 25.27 - "Jacó era varão simples, habitando em tendas" = homem não prejudicial, exemplar e equilibrado, como homem de negócios. Genung, Epic of the Inner Life, 132 - "Perfeito" em Jó = 'integer vitae' de Horácio; é o adjetivo que corresponde ao substantivo 'integridade'".
Quinto: As Escrituras negam distintamente que o homem, seja quem for, vive sem pecado. 1 Re. 8.46 - "não há homem que não peque"; Ec. 7.20 - "Na verdade, não há homem justo sobre a terra, que faça bem e nunca peque"; Tg. 3.2 "Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo"; 1 Jo. 1.8 - "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós". T. T. Eaton, Sanctification: "1. Alguns confundem regeneração com santificação. Eles foram membros de igreja não convertidos. Quando
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levados à fé em Cristo, e encontram paz e alegria, pensam que estão santificados, quando, na realidade, são somente convertidos. 2. Alguns confundem certeza da fé com santificação. Mas gozo não é santificação. 3. Alguns confundem batismo do Espírito Santo com santificação. Mas Pedro pecou penosamente em Antioquia após ter recebido tal batismo. 4. Alguns pensam que fazer o melhor que podem é santificação. Mas aquele que mede por polegadas, por pés pode medir muito melhor. 5. Alguns consideram o pecado apenas como um ato voluntário, enquanto a natureza pecaminosa é a fonte. Despir de folhas da uvas não é a resposta. 6. Alguns confundem o poder da vontade humana, e imaginam que o ato da vontade pode livrar do pecado. Ignoram que existe uma estabelecida inclinação da vontade que o seu ato não pode mudar".
Sexto: A declaração "haveis sido santificados" (1 Co. 6.11) e a designação "santos" (1 Co. 1.2) aplicadas aos crentes primitivos são, como mostra a epístola toda, a expressão da santidade existente em germe e por antecipação; as expressões derivam o seu sentido não tanto do que estes cristãos primitivos eram, como do que Cristo é, para aqueles que estavam unidos a ele pela fé. Quando se diz que os crentes do N.T. são "santificados", é bom lembrar que o V.T. emprega essa palavra. 'Santificar' tanto pode ter o sentido de "tornar exteriormente santo', ou 'tornar interiormente santo'. O povo de Israel e os vasos do tabernáculo eram santificados naquele primeiro sentido; sua santificação era a separação para o uso sagrado. Nm. 8.17 "Porque meu é todo primogênito entre os filhos de Israel... santifiquei-os para mim"; Dt. 33.3 - "Na verdade, amas os povos; todos os teus santos estão na tua mão"; 2 Cr. 29.19 - "todos os objetos ... já preparamos e santificamos". Os objetos mencionados foram primeiro imergidos e, depois, dia a dia aspergidos segundo a necessidade. Do mesmo modo, o cristão, através da regeneração, é separado para o serviço de Deus e, neste sentido, se diz "santo" e "santificado". Ao invés disso, ele tem em si o princípio da pureza; ele é "purificado como um todo", apesar de que ainda precisa de "lavar os pés" (Jo. 13.10) - isto é, precisa purificar-se da contaminação da vida diária. Shedd, Dogm. Theology, 2.551 – “O erro do perfeccionista é o de confundir a santificação atribuída com a santificação
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inerente. Esta última é mencionada em 1 Co. 1.30 – ‘Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus para santificação’.” A água do Jordão é turva, mas, posta numa garrafa, parece pura enquanto não for agitada. Alguns cristãos parecem livres do pecado, enquanto você não os abala; aí eles se "irritam". Clarke, Christian Theology, 371 - "Não existe uma vida cristã mais elevada? Sim: a vida mais elevada além dela, e a vida mais elevada mais além. A vida cristã é sempre mais e mais elevada. Ela deve passar por todos estágios entre o seu começo e a sua perfeição", C. D. Case: "A grande objeção à [a esta teoria da] santificação completa é que, se, afinal de contas, possuída, não é o desenvolvimento do nosso caráter".
c) Que o testemunho da experiência cristã desaprova essa teoria. Na exata proporção em que a alma progride em santidade ela deixa de reivindicá-la como já alcançada e se humilha diante de Deus por sua apatia, ingratidão e incredulidade. Fp. 3. 12-14 - "Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Jesus Cristo". Alguns dos grandes defensores do perfeccionismo foram além da reivindicação de tal perfeição; apesar de que muitos dos seus seguidores menos instruídos reivindicavam-na e professavam tê-la alcançado. Em Lc. 7.1 -10, o centurião não se acha digno de ir a Jesus, ou de tê-lo sob o seu teto, embora os anciãos dos judeus dissessem: "É digno de que lhe concedas isso"; e o próprio Jesus diz a respeito dele: "nem ainda em Israel tenho achado tanta fé". "Santidade ao Senhor" estava inscrito na mitra do sumo sacerdote (Ex. 28.36). Os outros a viam, mas ele não. Moisés não sabia que o seu rosto brilhava (Ex. 34.29). A mais verdadeira santidade é aquela de que o possuidor é o menos consciente; contudo é o seu real diadema e beleza (A. J. Gordon). "Quanto mais os homens estão sem pecado, menos falam disso" (Dwight L. Moody). "Lute sempre pela perfeição; nunca creia que você a alcançou" (Arnold of Rugby). Compare isto com a declaração de que, durante a sua vida, ele nunca se alterou. "Não pequei por algum tempo", disse uma senhora ao Sr. Spurgeon. "Então você deve sentir-se orgulhosa disso", replicou ele. "É verdade"! disse ela. Um pastor
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diz: "Ninguém pode atingir a 'mais elevada vida', e deixar de cometer erros". João Wesley lamentava que nem um trigésimo retinha a bênção.
O perfeccionismo é melhor entendido através das apropriadas afirmações da natureza da lei e do pecado (Sl. 119.96). Conquanto nós deste modo repreendemos o orgulho espiritual, contudo, devemos do mesmo modo assinalar a inseparável conexão entre a justificação e a santificação e a sua igual importância formando também a idéia bíblica de salvação. Conquanto não apresentamos favor aos que devem fazer da santificação um ato súbito e paroxísmico da vontade humana, devemos considerar a santidade de Deus como o padrão a ser atingido e a fé em Cristo de plenitude infinita como o meio através do qual o padrão deve ser gradual, mas certamente realizado em nós (2 Co. 3.18). Devemos imitar o método de Lyman Beecher opor-se ao perfeccionismo -sondar as exposições da lei de Deus. Quando o homem sabe o que é a lei dirá como o salmista: "A toda perfeição vi limite, mas o teu mandamento é amplíssimo" (SI. 119.96). Ε ainda devemos fervorosa e esperançosamente buscar em Cristo uma medida continuamente crescente de santificação; 1 Co. 1.30 - "Jesus Cristo, o qual para nós foi feito ... santificação"; 2 Co. 3.18 - "Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor". Arnold de Rugby: "Espere ser sempre bem sucedido e nunca pense que você o foi". Para o Sr. Finney a santificação completa é somente aquela que é possível ao cristão nesta vida através da graça de Deus de consagrar-se sem reservas tanto ao seu serviço quanto a viver sem consciente e voluntária desobediência aos mandamentos divinos. Ele não declarava ter chegado a este ponto; às vezes fazia impressionantes confissões sobre a sua pecaminosidade; não estimulava os outros a fazerem para si a declaração de terem vivido sem consciência de falta. Contudo, sustentava que tal estado é atingível e, por isso, persegui-lo é racional. Ele também admitia que tal estado não é de pureza absoluta, mas relativa. O seu erro está em chamá-lo de total santificação.
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A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 116 - "É possível que alguém possa experimentar uma grande crise na sua vida espiritual em que há uma rendição tão plena de si mesmo a Deus e tal plenitude do Espírito Santo, que se liberte da escravidão dos apetites pecaminosos e se capacite a ter constante vitória sobre si ao invés de sofrer constante derrota. ... Se a doutrina da perfeição sem pecado é uma heresia, contentar-se com a imperfeição pecaminosa é heresia ainda maior. ... Não é um espetáculo edificante ver um cristão atirando pedras num outro por ser perfeccionista". Caird, Evolution of Religion, 1.138 - "Se, segundo o provérbio alemão, está previsto que as árvores não crescerão até o céu, igualmente está previsto que elas crescerão na sua direção; e, o afundamento das raízes no solo inevitavelmente se faz acompanhar de uma expansão dos seus galhos".
II. PERSEVERANÇA As Escrituras declaram que, em virtude do propósito original e operação contínua de Deus, todos os que estão unidos a Cristo pela fé continuarão infalivelmente em um estado de graça e, finalmente, alcançarão a vida eterna. Esta continuação voluntária da parte do cristão na fé e nas boas obras chamamos de perseverança. Perseverança é, portanto, o lado humano ou aspecto do processo espiritual que, visto do lado divino, chamamos santificação. Não é mera conseqüência natural da conversão, mas envolve constante atividade da vontade humana a partir do momento da conversão até o fim da vida. A santidade de Adão era mutável; Deus não determinou resguardá-lo, diferentemente dos crentes em Cristo; a estes Deus determinou dar o seu reino (Lc. 12.32). Contudo, esta proteção da parte de Deus, que chamamos santificação, é acompanhada e seguida de uma proteção da parte do próprio crente e chamamo-la de perseverança. Aquela é mencionada em Jo. 17.11,12 - "guardava-os em teu nome. ... Tenho guardado aqueles que tu me deste ... e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição"; esta última é mencionada em 1 Jo. 5.18 - "o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo". As duas estão expressas em Jd. 21,24 - "Conservai a vós
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mesmos no amor de Deus ... Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar...". Um tratado alemão sobre Teologia Pastoral intitula-se: "Guarda o que tens" – uma alusão a 2 Tm. 1.14 – "Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós". Não só o pastor, mas cada crente tem a incumbência de guardar; e a guarda por nós mesmos é um ponto tão importante da doutrina cristã como é a guarda por Deus. Ambas se expressam no lema: Teneo, Teneor – na fachada do prédio da (YMCA) ACM (Associação Cristã de Moços) em Boston sob uma cruz de pedra, fixada firmemente por duas mãos. O pregador de cor dizia que "Perseverança significa: 1. Apoderar-se; 2. Persistir; 3. Nunca perder". Há necessidade de perseverarmos física, intelectual, moral, espiritualmente. Paulo, em 1 Co. 9.27, declara que ele subjuga o corpo e escraviza-o para, depois de ter pregado aos outros, não ser ele mesmo rejeitado; e em 2 Tm. 4.7, no fim da sua carreira, ele se regozija de que "guardou a fé". A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 115-0 cristão é como "a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria" (SI. 1.3), mas, para concluir o seu desenvolvimento, será tão irresistível como aquela árvore, vindo de um modo natural porque ele, pela regeneração foi plantado em Cristo é um grave engano. Requer-se do discípulo que seja consciente e inteligentemente ativo no seu desenvolvimento, do mesmo modo que a árvore não é, 'procurar fazer mais firme a vossa vocação e eleição' (2 Pe. 1.10), rendendo-se à ação divina". Clarke, Christian Theology, 379 – "O homem é capaz de cair e Deus é capaz de guardá-lo de cair; e por meio de várias experiências da vida Deus salvará o seu filho de todo mal para que ele moralmente seja incapaz de cair".
1. Prova da Doutrina da Perseverança A) Da Escritura. Jo. 10.28,29 - "nunca hão de perecer e ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém as arrebatará das minhas mãos"; Rm. 11.29 - "Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento"; 1 Co. 13.7 - "tudo suporta"; cf. 13 - "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor"; Fp. 1.6 - "Tendo por certo
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isto mesmo: que aquele que em vós começou a obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo"; 2 Ts. 3.3 - "mas fiel é o Senhor, que vos confortará e guardará do maligno"; 2 Tm. 1.12 - "Eu sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia"; 1 Pe. 1.5 - "que, mediante a fé, estais guardados na virtude de Deus para a salvação já prestes a se revelar no último tempo"; Ap. 3.10 - "Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra". 2 Tm. 1.12 - την παραθήκην μου - Ellicott traduz: "a confiança depositada em mim", ou "meu depósito" = o ofício de pregar o evangelho, a mordomia confiada ao apóstolo; cf. 1 Tm. 6.20 - "Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado" - τήν παραϋήκην; e 2 Tm. 1.14- "guarda o bom depósito" - onde o depósito parece ser a fé ou doutrina entregue a ele para que pregue. Nicoll, O Único Fundamento da Igreja, 211 - "Alguns cristãos despertados cada manhã com um credo de menos artigos e os que permanecem estão prontos a render-se a um processo de argumento que os convença. Mas é dever guardá-lo. 'Vós tendes a unção do Santo e sabeis tudo' (1 Jo. 2.20). ... Esdras deu aos seus homens um tesouro de ouro e prata e vasos de sacrifício e incumbiu-os: 'Vigiai, pois, e guardai-os até que os peseis ... nas câmaras da casa do Senhor' (Ed. 8.29)". Ver na Autobiography de C. H. Spurgeon, 1.225,256, o esboço do sermão sobre Jo. 6.37 - "Tudo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma lançarei fora". O Sr. Spurgeon assinala que este texto não nos pode dar conforto algum a não ser que vejamos: 1. que Deus nos deu o seu Espírito Santo; 2. que nos demos a ele. Cristo não pode lançar-nos fora por causa dos nossos grandes pecados, ou das nossas longas dilações, ou por tentarmos outros salvadores, ou dureza de coração, ou pequena fé, nossas obtusas orações, nossa descrença, nossas corrupções inveteradas, nossas reincidências no erro, nem, finalmente, ou por causa das nossas desculpas.
B) Da razão a) É necessário inferir de outras doutrinas, tais como eleição, união com Cristo, regeneração, justificação, santificação.
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A eleição de certos indivíduos para a salvação destina-se a impor sobre eles as influências do Espírito Santo que os conduzirão não só a aceitar a Cristo, mas a perseverar e serem salvos. A união com Cristo é indissolúvel; a regeneração é o começo da obra da nova criação, declarada na justificação e completada na santificação. Todas estas doutrinas fazem parte de um esquema geral que se reduziria a nada se a um único cristão que fosse se permitisse desertar.
b) Concorda com a analogia; o cuidado preservador necessita e garante sua criação espiritual e natural. Como a vida natural não pode sustentar-se a si mesma, mas em Deus "vivemos, nos movemos e existimos" (At. 17.28), do mesmo modo a vida espiritual não pode sustentar-se a si mesma, e Deus é quem mantém a fé, o amor e a santa atividade que ele originou. Se ele preserva a nossa vida natural, podemos muito mais esperar que preserve a espiritual. 1 Tm. 6.13 "Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica (Versão Revista Americana, marginal) - ζωογονοΰντος τα πάντα = o grande preservador de tudo capacita-nos a persistir na nossa carreira cristã.
c) Implica em toda a segurança da salvação; visto que tal segurança é dada pelo Espírito Santo e baseia-se não na força conhecida da resolução humana, mas no propósito e operação de Deus. S. R. Mason: "Se Satanás e Adão caíram da perfeita santidade, aposto um milhão contra um que, no mundo cheio de tentações e com todos apetites e hábitos contra mim, cairei da santidade imperfeita, a não ser que Deus pela sua onipotente força me guarde". É no poder e propósito de Deus, então, que o crente deposita a sua confiança. Entretanto, porque esta é despertada pelo Espírito Santo, pode ser que haja um fato divino correspondente a ela; a saber, o propósito que Deus tem de exercer o seu poder em cada caminho para que o cristão persevere. Jó 6.11 - "Qual é a minha força, para que eu espere? Ou qual é o meu fim, para que prolongue a minha vida"? "Temos aqui uma nota de falta de confiança própria, Jó não promete ser paciente sem qualquer uma perspectiva, agüentar sem o apoio divino - e tremer diante das perspectivas;
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mas nem ele se rende diante do trabalho árduo" (Genung). Perguntaram ao Dr. Lyman Beecher se ele cria na perseverança dos santos. Resposta: "Creio; a não ser que venha um vento oriental". Mas o valor da doutrina é que podemos crer nela mesmo quando o vento é oriental. É bom sustentarse na mão de Deus, mas melhor ainda é ter a mão de Deus a sustentar-nos. Quando estamos fracos, esquecidos e sonolentos, precisamos estar certos do cuidado de Deus. Como o filho que pensava estar dirigindo, mas achou, depois que acabou a perturbação, que o seu pai, depois de tudo, estava segurando as rédeas, nós, também, quando em perigo, achamos que as nossas mãos são as de Deus. A perseverança dos santos, vista do lado divino, é a preservação dos santos e o hino que expressa a fé é: "Em que firme fundamento, ó santos do Senhor, está firmada a vossa fé na sua excelente palavra"!
2. Objeções à Doutrina da Perseverança Estas são apresentadas pelos arminianos e pelos católicos. A) Que ela é inconsistente com a liberdade humana. Resposta: Não o é mais do que a doutrina da Eleição ou a dos Decretos. A doutrina é simplesmente esta: Que Deus levará todos os verdadeiros crentes a enfrentar tais influências, de modo a perseverarem livremente. Moule, Outlines of Christian Doctrine, 47 - "Em qualquer sentido da palavra, é a graça finalmente afastada? Sim, se a graça significa qualquer dom livre de Deus tendente à salvação; ou, mais especificamente, qualquer ação do Espírito Santo tendendo em sua natureza para isso. ... Mas se a graça é a morada e operação de Cristo no verdadeiro regenerado, não há nenhuma indicação da sua retirada na Escritura".
B) Que ela tende para a imoralidade. Resposta: Isto não ocorre, visto que ela declara que Deus salvará os homens garantindo-lhes a perseverança na santidade. 2 Tm. 2.19 - "Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus e, qualquer que profere o nome de
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Cristo aparte-se da iniqüidade"; isto é, o templo do caráter cristão tem sobre o seu fundamento duas inscrições significativas: uma declarando o.poder, a sabedoria e o propósito de Deus para a salvação; a outra, declarando a pureza e a atividade santa da parte do crente, através da qual o propósito de Deus deve cumprir-se; 1 Pe. 1.1,2 - "eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo"; 2 Pe. 1.10,11 - "Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo".
C) Que ela conduz à indolência. Resposta: Isto é uma perversão da doutrina, possível apenas para o irregenerado; visto que, para o regenerado, a certeza do sucesso é o mais forte incentivo para a atividade no conflito com o pecado. 1 Jo. 5.4 - "Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé". É uma inverdade digna de nota que a confiança no sucesso inspira a timidez e a indolência. Thomas Fuller: "A preocupação dele é a vossa salvação; a vossa preocupação é o serviço dele". As únicas orações que Deus responde são as que nós mesmos não podemos responder. Pela própria razão de que "é Deus quem opera em vós tanto o querer como o efetuar segundo a sua boa vontade", o apóstolo exorta: "operai a vossa salvação com temor e tremor" (Fp. 2.12.13).
D) Que a Escritura manda perseverar e as advertências contra a apostasia mostram que alguns, mesmo entre os regenerados, desertarão. Resposta: a) Elas mostram que alguns, aparentemente regenerados, desertarão. Mt. 18.7 - "Ai do mundo por causa dos escândalos. Porque é mister que venham os escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!"; 1 Co. 11.19 - "E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós"; 1 Jo. 2.19 - "Saíram de nós, mas
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não eram de nós; porque se fossem de nós ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós". É provável que Judas tenha experimentado fortes emoções, e que tenha recebido fortes impulsos para o bem, sob a influência de Cristo. A única queda da graça, das influências tendentes a levar a Cristo, reconhecida na Escritura não é a do regenerado, mas a do irregenerado. Os rabinos diziam que bastará uma gota de água para purificar o homem que acidentalmente tocasse alguma coisa rastejante, mas nem um oceano será suficiente para purificar aquele que propositadamente conserva-a em suas mãos.
b) Elas mostram que os verdadeiramente regenerados, e aqueles que só o são aparentemente, não se distinguem, com certeza, nesta vida. Ml 3.18 - "Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que não serve"; Mt. 13.25,47 - "mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo, e retirouse.... Igualmente, o Reino dos céus é semelhante a uma rede lançada no meio do mar e que apanha toda qualidade de peixes"; Rm. 9.6,7 - "porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos"; Ap. 3.1 - "Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto". O joio nunca foi trigo e o mau peixe nunca foi bom, apesar de que a sua verdadeira natureza ainda não é reconhecida.
c) Elas mostram as terríveis conseqüências da rejeição a Cristo, para os que gozam de influências divinas especiais, mas só aparentemente são regenerados. Hb. 10.26-29 - "Porque se pecarmos voluntariamente depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo, que há de devorar os adversários. Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?" Aqui "santificado" = santificação
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exterior como a dos antigos israelitas, pela conexão exterior com o povo de Deus; cf. 1 Co. 7.14 - "o marido descrente é santificado pela mulher". Considerar estas passagens e as seguintes dependerá muito do nosso ponto de vista da inspiração. Se sustentamos que a promessa de Cristo já se cumpriu e que os seus apóstolos foram conduzidos a toda a verdade, admitiremos que há unidade no seu ensino e reconheceremos em suas variações tão somente aspectos e aplicações do ensino do nosso Senhor; em outras palavras, a doutrina de Cristo em Jo. 10.28,29 será a norma para a interpretação aparentemente diversa e as passagens à primeira vista inconsistentes. Há uma "fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd. 3).
d) Elas mostram qual seria o destino dos verdadeiramente regenerados, se eles não perseverassem. Hb. 6.4-8 - "Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro, e recaíram sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus e o expõem ao vitupério". Isto deve ser entendido como um caso hipotético; como fica claro no verso 9, como segue: "Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos". Dr. A. C. Kendrick, Comentário in loco: "Nesta expressão 'uma vez iluminados' a locução 'uma vez' é άπαξ = de uma vez por todas. O texto descreve uma condição subjetivamente possível, enquanto objetivamente e, no propósito objetivo de Deus, nunca ocorre. ... Se passagens como esta ensinam a possibilidade da queda da graça, ensinam também a impossibilidade da sua restauração. O santo que uma vez apóstata apostatou para sempre". Assim Ez. 18.24 "Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniqüidade ... na sua transgressão com que transgrediu e no seu pecado com que pecou, neles morrerá"; 2 Pe. 2.20 - "Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o segundo estado pior do que o primeiro". Do mesmo modo em Mt. 5.13 - "se o sal for insípido, com que se há de salgar"? - se isto ensina que os regenerados podem perder a sua religião, também ensina que eles nunca a recuperam. Isto realmente mostra que os cristãos que não exercem as suas
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funções próprias como cristãos tornam-se perniciosos e desprezíveis (Broadus, in loco).
e) Elas mostram que a perseverança do verdadeiro regenerado pode ser garantida por estas próprias determinações e advertências. 1 Co. 9.27 - "Antes subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado" - ou, tornando o sentido mais claro: "Bato em meu corpo [ou, 'bato nele sob o meu olho'], e faço dele um escravo, para que eu não seja um arauto para os outros e eu mesmo seja rejeitado" ('desaprovado', 'tido como indigno de prêmio'); 10.12- "Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia". Quarles, Emblemas: "O caminho da firmeza nunca deve ser o de estar seguro" Wrightnour: "Advertir um viajante para que tome cuidado naquele caminho, e por esse meio protegê-lo não é evidência de que ele nunca irá cair num poço à margem só porque ele foi avisado".
f) Elas não mostram que é certo, ou possível, que a perseverança do verdadeiramente regenerado desaparecerá. O cristão é como o homem que sobe a montanha e, ocasionalmente, escorrega para trás embora olhe sempre para o alto. O irregenerado olha para baixo e escorrega em toda a sua caminhada. C. H. Spurgeon: "O crente, como o marujo, pode cair repetidas vezes no convés, mas nunca para fora do navio".
E) Que temos exemplos reais de tal apostasia. - Respondemos: a) Tal é o caso de homens exteriormente reformados, como Judas e Ananias, mas nunca renovados no coração; Mas, per contra, há o exemplo da experiência de um homem com febre tifóide, que parecia arrependido, mas que nunca se lembrava de quando restaurou a sua saúde. Nunca no leito de enfermidade e no leito de morte ocorre a melhor conversão. Havia um ladrão penitente a quem nada
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causaria desespero; houve apenas um ladrão penitente que ninguém podia imaginar. O hipócrita é como o cabo elétrico que recebe a corrente de segunda mão de um fio paralelo. A eletricidade de segunda mão só tem eficácia em curtos limites e esta logo termina. O cabo vivo tem ligação com a fonte de energia do dínamo.
b) Ou eles são regenerados, que, como Davi e Pedro, caíram num pecado temporário, do qual eles, antes da morte serão recuperados através da disciplina de Deus. Por exemplo, o jovem libertino, no momento em que parecia afogar-se, arrependeu-se, foi resgatado, e viveu muito tempo como cristão. Se ele não tivesse sido resgatado, nunca se teria conhecimento de que ele se havia arrependido, nem de que a oração de sua mãe havia sido respondida. Deste modo, no momento em que ocorrer uma mortal reincidência no erro, Deus pode renovar-lhe o arrependimento e a fé. Cromwell, no seu leito de morte, questionou o seu capelão quanto à doutrina da perseverança final e, estando certo da sua veracidade, disse: "Agora estou feliz porque estou certo do meu estado de graça". Mas confiar na experiência passada é como confiar no valor da apólice do seguro de vida para o qual não foram pagos os prêmios por vários anos. Se for paga a apólice é por extrema graça. A única evidência conclusiva da perseverança é a presente experiência e morada de Cristo, em corroboração com o serviço ativo e pureza de vida.
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PARTE VII – ECLESIOLOGIA, OU A DOUTRINA DA IGREJA Capítulo I CONSTITUIÇÃO DA IGREJA I. DEFINIÇÃO a) A igreja de Cristo, no seu sentido mais amplo é o conjunto de pessoas regeneradas em todos os tempos e épocas, no céu e na terra (Mt. 16.18; Ef. 1.22,23; 3.10; 5.24,25; Cl. 1.18; Hb. 12.23). Neste sentido, a igreja é idêntica ao reino espiritual de Deus; ambos significam a humanidade na qual Deus, em Cristo, exerce seu verdadeiro domínio espiritual (João 3.3,5). Mt. 16.18 - "tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela"; Ef. 1.22,23 - Έ sujeitou todas as coisas a seus pés e o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos"; 3.10 - "Para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus"; 5.24,25 - "De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós, maridos, amai a vossas mulheres como Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela"; Cl. 1.18 - "E ele é a cabeça do corpo da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência"; Hb. 12.23 - "à universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus"; Jo. 3.3,5 - "Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus. ... aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus". Aplicam-se aqui as palavras de Cícero: "Una navis est jam bonorum omnium" - todos homens bons estão em um só barco. Cícero fala do estado, mas há ainda mais verdade sobre a igreja invisível. Andrews, em Bíblia
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Sacra, janeiro, 1883.14, menciona as seguintes diferenças entre a igreja e o reino, ou, se preferirmos, entre a igreja visível e a invisível: 1) a igreja começou com Cristo; o reino, antes; 2) a igreja está limitada aos que crêem no Cristo histórico; o reino inclui todos os filhos de Deus; 3) a igreja pertence inteiramente a este mundo; o que não ocorre com o reino; 4) a igreja é visível; o reino não; 5) a igreja tem um caráter como que orgânico e dirige-se às igreja locais; isto não ocorre com o reino. H. C. Veder: "A igreja é um corpo espiritual, constituído apenas pelos regenerados pelo Espírito de Deus". Contudo a Confissão de Westminster afirma que a igreja "consiste em todos os que no mundo todo professam a verdadeira religião, juntamente com os seus filhos". Tal definição inclui na igreja uma multidão que não apresenta evidência alguma de regeneração, mas que se mostra claramente irregenerada. Em muitos lugares praticamente identifica-se a igreja com o mundo. O pensamento de Agostinho é o de que "o campo", em Mt. 13.38, é a igreja, enquanto Jesus diz com muita clareza que "o campo é o mundo". Agostinho sustenta que tanto aos bons como aos maus permitir-se-á conviver na igreja, sem que se tente separálos; ver Broadus Com. in loco. Mas a parábola apresenta uma razão, não pela qual não devemos pôr os ímpios para fora da igreja, mas pela qual Deus não os tira imediatamente, e separa o joio do trigo só no final do juízo da humanidade. Contudo, a igreja universal inclui todos os verdadeiramente crentes. Ela cumpre a promessa de Deus a Abraão em Gn. 15.5 - Olha, agora, para os céus e conta as estrelas, se as podes contar. Ε disse-lhe: Assim será a tua semente". A igreja será imortal porque tem a sua vida ligada a Cristo: Is. 65.22 - "os dias do meu povo serão como os dias da árvore"; Zc. 4.2,3 - "um castiçal de ouro e, por cima dele, duas oliveiras". Dean Stanley, Life and Words, 2.242,243 - "Ò espanhol, católico romano Cervantes diz: 'Muitas são as estradas pelas quais Deus leva o seu ao céu'. Döllinger: 'a teologia deve tornar-se uma ciência não, como tem sido até nos nossos dias, para guerrear, mas para pacificar e, deste modo, produzir a reconciliação das igrejas pela qual o mundo tanto anseia'. Em seus mais elevados modos de inspiração, o católico Tomás de Kempis, o puritano Milton, o anglicano Keble, subiram além dos seus dogmas e limites que dividem as denominações às mais elevadas regiões de um cristianismo comum. Foi o batista Bunyan que ensinou ao mundo que há ‘um terreno comum em que as diferenças de ritos externos se desfazem’. Foi o morávio
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Gambold quem escreveu: ‘O homem que podia cercar-se de muitíssimas coisas e sondar o coração de Deus e os segredos do seu império falaria apenas de amor. Com amor o resultado brilhante mudaria o matiz das coisas intermediárias e unificaria toda a teologia’.”
b) Neste sentido amplo, a igreja não é nada menos que o corpo de Cristo – organismo ao qual ele dá vida espiritual e através do qual ele manifesta a plenitude do seu poder e graça. A igreja, portanto, não pode ser definida em termos simplesmente humanos, mas como um agregado de indivíduos unidos com propósitos sociais, beneficentes ou ainda espirituais. Há um elemento transcendente na igreja. É o grande conjunto de pessoas que Cristo salvou, nas quais ele habita, às quais e através das quais ele revela Deus (Ef. 1.22.23). Ef. 1.22,23 - "a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos". Aquele que é a vida da natureza e da humanidade revela-se mais plenamente no grande grupo que se juntou a ele pela fé. A igreja pressupõe a união com Cristo. Só isto transforma o pecador em um cristão e só isto torna possível a comunhão vital e espiritual entre os indivíduos o que constitui o princípio organizador da igreja. A mesma vida divina que assegura o perdão e a perseverança do crente une-o aos demais crentes. O Cristo que habita na igreja a faz superior e mais permanente do que todas organizações humanitárias; estas morrem, mas, porque Cristo vive, a igreja também vive. Sem uma adequada concepção desta sublime relação da igreja de Cristo, não podemos, com propriedade, valorizar a nossa dignidade, como membros da igreja, ou a nossa elevada vocação como ovelhas do rebanho. O lema não deve ser "ubi ecclesia, ibi Christus". Porque Cristo é onipresente e onipotente, "o mesmo ontem, hoje, e eternamente" (Hb. 13.8), o que Burke diz a respeito da nação também é verdade a respeito da igreja: Na verdade, ela é "associação, mas não só entre os que estão vivos, porém entre os vivos, os mortos e os que ainda estão por nascer". McGiffert, Apostolic Church, 501 - "Inácio deu ênfase e desenvolveu a concepção de Paulo a respeito da igreja como o corpo de Cristo. Ele reproduz em seus escritos a substância de todo o paulinismo que a igreja
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em geral tornou permanentemente sua: a preexistência e a divindade de Cristo, a união do crente com Cristo sem a qual a vida cristã é impossível, a importância da morte de Cristo, a igreja como o corpo de Cristo. Roma nunca reconheceu plenamente os ensinos de Paulo, mas o seu sistema apóia-se na doutrina como o corpo de Cristo. Contudo, doutrina moderna faz o reino ser não espiritual ou futuro, mas uma realidade deste mundo". Na verdade, Cristo propõe a redenção do corpo, a redenção das instituições, a redenção das nações. Os cristãos não devem lutar pelo resgate de indivíduos do lodaçal do vício, mas planejar medidas para drenar o lodaçal e tornar o vício impossível; ou seja, devem trabalhar para a vinda do reino de Deus na sociedade. Mas isto não significa identificar a igreja com a política, com a proibição, com as bibliotecas, com o atletismo. A comunhão espiritual deve ser a fonte de que as atividades brotam, apesar de que, ao mesmo tempo, "o reino [de Cristo] não é deste mundo" (Jo. 18.36). A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 24,25,207 - "Como Cristo é o templo de Deus, assim a igreja é o templo do Espírito Santo. Como Deus só pode ser visto através de Cristo, assim o Espírito Santo só pode ser visto através da igreja. Como Cristo é a imagem do Deus invisível, assim a igreja é designada para ser a imagem do Cristo invisível e os membros de Cristo, quando forem glorificados com ele, serão a imagem expressa da sua pessoa. ... Igreja e reino não são termos idênticos se, por esta palavra significarmos o reino visível e o governo de Jesus Cristo na terra. Em outro sentido eles são idênticos. Tal qual é o rei, assim é o reino. O rei está presente agora no mundo só de uma forma invisível e através do Espírito Santo; assim o reino está agora presente invisível e espiritualmente no coração dos crentes. O rei deve voltar de um modo visível e glorioso. A saber, o reino já se encontra aqui em mistério; não deve estar aqui de um modo manifesto. Ora, o reino espiritual é administrado pelo Espírito Santo e estende-se desde o Pentecostes até a Parousia. Na Parousia - o aparecimento do Filho do homem em glória - quando ele tomar para si o seu grande poder e o reino (Ap. 11.17), quando aquele que já foi para um país distante for investido de um reinado voltar e assumir o seu governo (Lc. 19.15), então o invisível dará lugar ao visível, o reino em mistério emergirá no reino manifesto e a administração do Espírito Santo se renderá à de Cristo".
Teologia Sistemática (Strong) 1758 c) As Escrituras, contudo, estabelecem diferença entre esta igreja invisível ou universal e a individual em que a universal toma a forma local e temporal e nela a sua idéia como um todo se apresenta de modo concreto. Mt. 10.32 - "Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus"; 12.34,35 - "do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom tira coisas boas do seu bom tesouro"; Rm. 10.9,10 - "Se, com a tua boca, confessares a Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça e com a boca se faz confissão para a salvação"; Tg. 1.18- "Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas" - fomos salvos não por nós mesmos, mas como parte e início de um orgânico reino de Deus; os crentes são chamados "primícias", porque deles se dissemina a bênção até que o mundo todo seja permeado da nova vida; o Pentecostes, como festa das primícias, foi apenas o começo de uma correnteza que continuará a fluir até que a raça toda se reúna. R. S. Storrs: "Quando qualquer verdade se torna vital e central, vem o desejo de proferi-la"; e podemos acrescentar, não só em palavras, mas em organização. Deste modo, os benefícios cristalizam-se em instituições. Mas a fé cristã é algo mais vital que as crenças comuns do homem. Unindo a alma a Cristo, põe os cristãos em comunhão mútua antes que existam os laços da organização exterior; na verdade, a organização exterior só expressa e simboliza esta união interior do espírito de Cristo e de uns para com os outros. Horácio Bonar: "Tu mesmo deves ser verdadeiro, se queres ensinar; a tua alma deve transbordar o coração para que os lábios estejam cheios de palavras. Pensa em verdade e os teus pensamentos alimentarão a fé do mundo; fala a verdade e cada palavra que tu proferires será uma semente frutífera; vive em verdade e a tua vida será um grande e nobre credo". Contentio Veritatis, 128, 129 - "O reino de Deus é, em primeiro lugar, um estado da alma individual e, depois, em segundo lugar, uma sociedade feita daqueles que gozam tal estado". Dr. F. L. Patton: Ό melhor meio de o homem servir à igreja em geral é servir àquela a que ele pertence". Herbert
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Stead: "O reino não deve restringir-se à igreja, nem a igreja evaporar no reino". A primeira coisa a fazer é estabelecer um monstruoso eclesiasticismo; a segunda é destruir o organismo através do qual se manifesta e realiza a obra no mundo (W. R. Taylor). O Prof. Dalman, em sua obra sobre As Palavras de Jesus à Luz do Escrito Pós Bíblico e a Língua Aramaica, contende que a expressão grega traduzida por "reino de Deus" deve ser vertida por "soberania de Deus". Segundo o seu pensamento, ela aponta para o reino de Deus ao invés de o reino sobre os reinos. Esta versão, se aceita, retira inteiramente o apoio da concepção ritschiliana sobre o reino de Deus como uma organização terrena e exterior.
d) Pode-se definir a igreja individual como uma companhia menor de regenerados, que, em qualquer comunidade se reúnem voluntariamente, de acordo com as leis de Cristo, com o propósito de assegurar o completo estabelecimento do seu reino em si mesmo e no mundo. Mt. 18.17 - "E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como gentio e publicano"; At. 14.23 - "havendolhes por comum consentimento eleito anciãos em cada igreja"; Rm. 16.5 "Saudai a igreja que está em sua casa"; 1 Co. 1.2 - "à igreja de Deus que está em Corinto"; 4.17 - "como por toda parte te ensino em cada igreja"; 1 Ts. 2.14 -"as igreja de Deus que, na Judéia, estão em Jesus Cristo". Não definimos a igreja como um grupo de "crentes batizados", porque o batismo é apenas uma das "leis de Cristo", segundo as quais os crentes se unem. Visto que tais leis são as da igreja como organização contida no Novo Testamento, nenhuma Escola Dominical, Sociedade de Temperança, ou Associação Cristã de Moços, é apropriadamente uma igreja. Estas organizações 1. não têm o elemento transcendental - são instituídas e dirigidas só por seres humanos; 2. não se limitam aos regenerados, aos que apresentam evidências que demonstrem regeneração; 3. não pressupõem nem requerem nenhuma forma particular de doutrina; 4. não observam ordenanças; 5. na melhor das hipóteses, podem ser acessórios e instrumentos da igreja, mas não são igrejas; 6. por isso as suas decisões são desprovidas da autoridade divina e da obrigação que regem as decisões da igreja.
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As leis de Cristo, segundo as quais os crentes unem-se em igrejas, podem ser resumidas da seguinte maneira: 1) a suficiência e exclusividade da autoridade da Escritura como regra tanto de doutrina como de prática; 2) evidência confiável de regeneração e conversão como pré-requisitos para a membresia de uma igreja; 3) só imersão, como resposta à ordem de batismo dada por Cristo e ao sentido simbólico da ordenança; 4) a determinação das ordenanças, batismo e ceia, como indicação divina, assim como as próprias ordenanças; 5) o direito de cada membro da igreja à palavra em seu governo e disciplina; 6) cada igreja, conquanto mantenha comunhão com as demais, é a única responsável diante de Cristo; 7) a liberdade da consciência do indivíduo e a total independência entre a igreja e o estado. Hovey, em seu Restatement of Denom. Principles (Am. Bap. Pub. Society) apresenta os seguintes princípios: 1. suprema autoridade das Escrituras em matéria de religião; 2. atribuição pessoal a Deus em assunto religioso; 3. união com Cristo essencial à salvação; 4. nova vida, única evidência dessa união; 5. nova vida, uma obediência irrestrita a Cristo. A mais concisa declaração da doutrina batista e sua história é a de Veder, no Jackson's Dictionary of Religions Knowledge, 1.74-85. Sem os pontos de vista comprometidos da Escritura que estão se tornando comuns entre nós, há atualmente uma tendência de afrouxar a visão do elemento transcendente na igreja. É bom lembrar que a igreja não é uma organização humanitária apoiada na fraternidade humana comum, mas um grupo sobrenatural que tem a sua descendência não no primeiro Adão, mas no segundo, e que manifesta o poder do Cristo divino. Mazzini, na Itália, proclamava Jesus, mas repudiava a sua igreja. Do mesmo modo os modernos socialistas clamam: Liberdade, Igualdade, Fraternidade", e negam a necessidade de algo mais que a unidade humana, desenvolvimento e cultura. Mas Deus fez a igreja assentar-se com Cristo "nos lugares celestiais" (Ef. 2.6). É a regeneração que produz a união com Cristo o que constitui o elemento primordial e essencial na eclesiologia. "Em primeiro lugar, nós não permitimos a comunhão restrita, nem a imersão como a única forma válida de batismo, nem uma teoria particular da Escritura, mas, ao invés disso, uma igreja formada de membros regenerados. A essência do evangelho é a nova vida em Cristo, cuja experiência é a operação e a consciência cristã, a sua testemunha. A vida cristã é tão importante como a conversão. A fé deve mostrar-se através das obras. Devemos buscar a
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salvação quer temporal quer espiritual dos homens do mesmo modo que a salvação da sociedade" (Leighton Williams). E. G. Robinson: "Cristo só fundou a igreja de um modo proléptico. A igreja é o desenvolvimento da sinagoga judaica, embora o seu método e economia sejam diferentes. No começo havia pouca ou nenhuma organização. O próprio Cristo não organizou a igreja. Isto foi obra dos apóstolos após o Pentecostes. Contudo, antes já existia o germe. Três pessoas podem constituir uma igreja e administrar as ordenanças. Os concílios só têm autoridade para aconselhar. O episcopado diocesano é antibíblico e anticristão". Os princípios acima mencionados são essenciais às igrejas batistas, embora outros grupos de cristãos tenham reconhecido uma parcela deles. Grupos de cristãos que se recusam a aceitar estes princípios, podemos, com certa liberdade e sentido modificado, chamar de igrejas; mas não podemos considerá-las como organizadas em todos aspectos segundo as leis de Cristo, ou correspondendo completamente ao modelo neotestamentário de organização de igreja. Seguimos o emprego comum quando nos dirigimos ao tenente-coronel como coronel e ao vice-governador como governador. É apenas uma questão de cortesia falar de organizações pedobatistas como igrejas apesar de que não as consideramos como tais no seu sentido concorde com as leis de Cristo indicadas no Novo Testamento. Assim, recusar a reconhecê-las com tais seria uma descortesia do mesmo modo que tratar o comandante britânico se dirigia ao general Washington como Sr. Washington". Como Lutero, que fixou a doutrina da justificação pela fé, não podia reconhecer a justificação pelas obras, denunciou como o anticristo a igreja que defendera, dizendo: "Eu estou aqui; não posso agir de outra forma; Deus me ajude"; do mesmo modo, nós, em assunto não irrelevante, mas afetando de forma vital a existência da igreja, como a membresia formada por regenerados, devemos fixar-nos no Novo Testamento, e recusarmo-nos de chamar qualquer outro grupo de cristãos como uma igreja regular que não se organiza segundo as leis de Cristo. A palavra inglesa 'church' (igreja), como a escocesa 'kirk' e a alemã 'Kirche', deriva da palavra grega κυριακή, e
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significa 'pertencente ao Senhor'. Só o termo já nos ensina a considerar só as leis cristãs como nossa regra de organização.
e) Além destas duas significações do termo 'igreja', não há apropriadamente nenhuma outra no Novo Testamento. Na verdade, emprega-se palavra εκκλησία em At. 7.38; 19.32,39; Hb. 2.12 para designar uma assembléia popular; mas porque é um emprego secular do termo não nos preocupa aqui. Em certas passagens, por exemplo Atos 9.31 (εκκλησία, sing., Κ A Β C), 1 Co. 12.28, Fp. 3.6 e 1 Tm. 3.15, εκκλησία parece ser empregada ou como um termo genérico ou como um coletivo, para denotar somente o conjunto de igrejas locais existentes em uma dada região ou em dada época. Mas porque não há nenhuma evidência de que estas igrejas estavam presas a qualquer organização exterior, este emprego do termo εκκλησία não pode ser considerado como o acréscimo de qualquer novo sentido ao da 'igreja universal' e 'igreja local' já mencionados. At. 7.38 - "a congregação no deserto" = todo o conjunto do povo de Israel; 19.32 - "o ajuntamento era confuso" - o tumulto no teatro em Éfeso; 39 -"legítimo ajuntamento"; 9.31 - "Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia, e Samaria tinham paz e eram edificadas"; 1 Co. 12.28 - "E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores"; Fp. 3.6 - "segundo o zelo, perseguidor da igreja"; 1 Tm. 3.15 - "para que tu saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade". No emprego original da palavra εκκλησία, como assembléia popular, há, sem dúvida uma alusão à derivação de εκ e καλέω, chamar fora através de um arauto. Alguns têm sustentado que o termo no N.T. contém uma alusão ao fato de que os membros da igreja de Cristo são chamados, escolhidos, eleitos por Deus. Contudo, isto é mais do que duvidoso. No emprego comum o termo perdeu o seu sentido etimológico e passou a significar simplesmente uma assembléia reunida e convocada. A igreja nunca foi tão ampla que não pudesse reunir-se em assembléia. A igreja de Jerusalém reuniu-se para a escolha dos diáconos (Atos 6.2,5), e a de
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Antioquia para ouvir o relato de Paulo sobre a sua viagem missionária (At. 14.27). Trata-se apenas de uma figura comum de retórica em que se mencionam muitas igrejas no singular em passagens tais como At. 9.31. Empregamos geralmente a palavra 'homem' para designar a raça humana; a palavra 'cavalo' para designar todos os cavalos. Gibbon, falando de sucessivas tribos que varreram o Império Romano, emprega o substantivo no singular e descreve-as como "os vários destacamentos daquele imenso exército de bárbaros"; contudo ele não indica que tais tribos tinham um governo comum. Assim podemos falar do "colégio americano" ou do "seminário teológico americano", mas não significando que os colégios ou seminários estavam ligados por qualquer laço de organização externa. Do mesmo modo Paulo diz que Deus pôs na igreja apóstolos, profetas e doutores (1 Co. 12.28), mas a palavra 'igreja' não é um termo coletivo para as muitas igrejas locais. Neste mesmo sentido, podemos falar da igreja batista de Nova Iorque, ou dos Estados Unidos; mas é bom lembrar que empregamos o termo sem qualquer implicação de governo comum como envolvem as expressões 'igreja presbiteriana', ou 'igreja protestante episcopal', ou 'igreja católica romana'; para nós, nesta conexão, o termo igreja significa simplesmente 'igrejas'. Broadus, em seu Com. on Mt, p. 359 (edição em Português, 2º vol. p. 90b), sugere que a palavra εκκλησία em At. 9.31 denota a igreja original em Jerusalém, cujos membros, por causa da perseguição espalharam-se pela Judéia e Galiléia e Samaria e tinham as suas reuniões onde quer que eles estivessem, mas ainda pertenciam a uma organização original. ... Quando Paulo escreveu aos Gaiatas, quase vinte anos mais tarde, essas reuniões separadas originaram igrejas distintas e é deste modo que ele fala (Gl. 1.22) com referência no mesmo período sobre "as igrejas da Judéia, que estavam em Cristo".
O emprego prevalecente do Novo Testamento dá ao termo εκκλησία a segunda destas duas significações. É esta igreja local que tem somente existência definida e temporal e é dela que trataremos doravante. Nossa definição da igreja individual implica as duas seguintes particularidades:
Teologia Sistemática (Strong) 1764 A) A igreja, como a família e o estado, é uma instituição divina. Isto se torna claro: a) a partir da sua relação com a igreja universal, como seu corpo concreto; b) a partir do fato de que sua necessidade apóia-se na natureza social e religiosa do homem; c) a partir da Escritura: como, por exemplo, a ordem de Cristo em Mateus 18.17 e a designação de 'igreja de Deus', aplicada às igrejas individuais (1 Co. 1.2). Presidente Wayland: "A igreja universal precede a local. A sociedade que Cristo estabeleceu é a base de cada associação chamada igreja de Cristo". Andrews, em Bíblia Sacra, janeiro, 1883: 35-58, sobre o conceito de εκκλησία no N.T., diz que "a 'igreja' é a fonte de todas 'igrejas' locais, εκκλησία em At. 9.31 = a igreja representada naquelas províncias. Seu sentido é universal e local, como em 1 Co. 10.33. A igreja local é um microcosmo, uma localização especializada do grupo universal. lhq, no V.T. e nos Targuns significa a congregação toda de Israel e, em segundo lugar, os grupos locais que eram parte e representação do todo. Cristo, falando em aramaico, provavelmente empregou o lhq em Mt. 18.17. Foi daí que ele tomou a idéia da igreja; não do emprego pagão da palavra εκκλησία, que expressa a noção de lugar e estado muito mais do que lhq. O sentido mais amplo de εκκλησία é o primário. As igrejas locais são pontos da consciência e atividade da grande e inclusiva unidade e são elas as unidades de um agregado eclesiástico. São faces, não partes de uma igreja". Cristo, em Mt. 18.17, delega autoridade a toda a congregação de crentes e, ao mesmo tempo, limita a autoridade à igreja local. A unidade não deve ser a das igrejas locais, mas a do reino, e esse reino é interior, "não vem com aparência exterior" (Lc. 17.20), mas consiste em "justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo" (Rm. 14.17). A palavra "igreja", no sentido universal, não é empregada por outro escritor do N.T. antes de Paulo. Ele estava interessado, não somente na conversão de indivíduos, mas no crescimento da igreja de Deus, como o corpo de Cristo. Ele sustentava a unidade de todas igrejas locais com a igreja mãe em Jerusalém. A igreja numa cidade ou numa casa é simplesmente a manifestação local da igreja universal e dela deriva a sua dignidade. Ensino dos Doze Apóstolos: "Como este pão partido se espalhou por sobre os montes e, reunido, tornou-se um, assim a tua igreja reunida desde os confins da terra o é no teu reino".
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Sabatier, Philos. of Religion, 92 - "A ação social da religião brota da sua própria essência. Os homens da mesma religião não têm necessidade mais imperiosa do que a de orar e adorar juntos. A política do estado sempre tem deixado de limitar as crescentes seitas religiosas dentro do santuário ou nas casas.... Costuma-se dizer que Deus é o lugar onde os espíritos se mesclam. Erguendo-se para ele, necessariamente o homem vai além dos limites da sua própria individualidade. Instintivamente ele sente que o princípio do seu ser é também o princípio da vida dos seus irmãos, porque o que lhe dá segurança deve dá-la a todos". Rothe sustenta que, à medida que os homens chegam ao desenvolvimento da sua natureza e se apropriam da perfeição do Salvador, a separação entre a vida religiosa e a moral desaparecerá e o estado cristão, como a mais elevada esfera da vida humana representativa de todas funções humanas, suplantará a igreja. À medida que o Salvador cristianiza o estado através da igreja, a progressiva integração da estrutura dela deve provar a causa da sua abolição. Por isso, não se deve deplorar o declínio da igreja, mas reconhecer a conseqüência da independência e plenitude da sua vida religiosa" (Encyc. Brit., 21.2). Mas igualmente deve-se sustentar que o estado, do mesmo modo que a igreja, passará quando o reino de Deus vier em sua plenitude; ver Jo. 4.21 - "a hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai"; 1 Co. 15.24 - "Depois virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai e quando houver aniquilado todo império e toda potestade e força"; Ap. 21.22 "E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor, Deus Todopoderoso, e o Cordeiro".
B) A igreja, diferentemente da família e do estado, é uma sociedade voluntária. a) Isto resulta do fato de que a igreja local é a expressão exterior da vida racional e livre em Cristo que caracteriza a igreja como um todo. Nisto difere das outras organizações de indicação divina, cuja entrada não é opcional. A membresia na igreja não é hereditária ou compulsória. b) A doutrina da igreja assim definida, é um desenvolvimento necessário da doutrina da regeneração. Como esta mudança espiritual básica é mediada não por aplicações exteriores, mas por recebimento interior e consciente de Cristo e sua verdade, a união
Teologia Sistemática (Strong) 1766 com a igreja logicamente não precede, mas segue a união espiritual da alma com Cristo. Já vimos que a igreja é o corpo de Cristo. Percebemos agora que a igreja é, em vista de Cristo lhe ter transmitido a vida, um corpo vivo, com seus deveres e forças próprias. A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 53, dá ênfase à verdade preliminar. Ele mostra que a definição: A igreja, uma associação voluntária de crentes unidos com a finalidade de louvar e edificar, é a mais inadequada, para não dizer incorreta. Não é mais verdade que, voluntariamente, as mãos e os pés estão unidos ao corpo humano com a finalidade de locomover-se e trabalhar. A igreja é formada a partir de dentro. Cristo, presente através do Espírito Santo, regenerando os homens pela soberana ação do Espírito e organizando-os nele como centro, é o único princípio que pode explicar a existência da igreja. Por isso a Cabeça e o corpo são um - um de fato e um de nome. Aquele que Deus ungiu e encheu com o Espírito Santo chama-se "o Cristo" (1 Jo. 5.1 - "Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus"); e a igreja que é o seu corpo e plenitude também é chamada "o Cristo" (1 Co. 12.12 - "todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também"). Dorner inclui na sua doutrina da igreja: 1) a gênese da igreja, através do novo nascimento no Espírito, ou regeneração; 2) o desenvolvimento e permanência da igreja através da operação contínua do Espírito por meio da graça, ou eclesiologia propriamente dita, como os outros a chamam; 3) a conclusão da igreja, ou escatologia. Conquanto este esquema pareça destinar-se a favorecer a teoria da regeneração batismal, devemos recomendar o seu reconhecimento pelo fato de que a doutrina da igreja se desenvolve a partir da doutrina da regeneração e por ela determina-se a sua natureza. Se a regeneração tem sempre como contrapartida a conversão e se a conversão sempre implica a fé em Cristo, não se deve falar em regeneração sem fé. Ε se a união com a igreja é tão somente a expressão exterior da antecedente união com Cristo e envolve regeneração e conversão, segue-se que a involuntária membresia na igreja é um absurdo e uma falsa interpretação de todo o método de salvação. O valor da religião compulsória pode ser ilustrado com a experiência de David Hume. É corrente a história de uma bondosa matrona do Canongate
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que, quando Hume afundava na lama da sua vizinhança e, por causa da obesidade dele, compeliu o cético a recitar a Oração Dominical antes que ela o ajudasse. Amos Kendall, por outro lado, concluiu em sua idade avançada que ele não agira de acordo com os planos de Cristo de salvar o mundo e, assim, resolveu ligar-se à igreja. Martineau, Study, 1.319 "Enquanto não chegamos ao Estado e à Igreja, não chegamos ao mais elevado organismo da vida humana, à perfeita obra de que todos sentimentos desinteressados e entusiasmo moral e nobres ambições fluem". O socialismo anula a liberdade, o que a igreja cultiva e em que insiste como princípio da sua vida. Tertuliano: "Nec religionis est cogère religionem" - "Não cabe à religião coagir a religião". Vedder, History of the Baptists: "A comunhão dos bens na igreja de Jerusalém era totalmente voluntária; ver At. 5.4 - 'Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida não estava em teu poder?' A comunhão dos bens não parece ter continuado na igreja de Jerusalém depois que a dificuldade passou e não há razão alguma para crer que, no período apostólico, qualquer outra igreja praticasse algo desse tipo". Ao abolir a liberdade, o socialismo destrói toda a possibilidade de progresso econômico. O princípio econômico do socialismo é que, no uso da mercadoria, o indivíduo deve ter cuidado da comunidade, para que o efeito resulte no cuidado dele mesmo. O comunismo em Atos é: 1. não para a comunidade em geral, mas só para a própria igreja; 2. não obrigatória, mas a critério da discrição do indivíduo; 3. não permanente, mas determinado para uma crise temporária. Schurman, Agnosticism, 166 - "Poucas coisas apresentam mais conseqüências práticas para o futuro da religião na América do que o dever de todos os homens de bem identificarem-se com a igreja visível. Os pensadores liberais, via de regra, têm subestimado o valor da igreja. O seu ponto de vista é individualista, 'como se o homem fosse autor de si mesmo e não conhecesse outro parente'. 'As coisas velhas são para os escravos', declaram eles. Mas também é verdade que as coisas velhas servem para quem conhece a sua verdadeira utilidade. Foi a ruína da religião de dogma que levou muitas das mais refinadas almas para fora das igrejas. Na sua purificação do templo perdeu de vista o objetivo do referido templo. Como instituição, a igreja é um organismo e necessariamente a encarnação cria a religião do espírito. A religião espiritual não é inimiga da institucional, mas é a sua essência".
Teologia Sistemática (Strong) II. ORGANIZAÇÃO DA IGREJA
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1. O fato da organização A organização pode existir sem o conhecimento da escrita, sem os registros escritos, rol de membros, ou escolha formal de oficiais. Estes são provas, resquícios e acessórios para a organização; não lhe são essenciais. Contudo, não é simplesmente uma organização informal, mas formal da igreja, de que o Novo Testamento dá testemunho. Mostra-se que há tal organização em a) suas reuniões estabelecidas, b) eleições e c) oficiais; d) designação de seus ministros juntamente com e) a reconhecida autoridade do ministro e da igreja; f) sua disciplina, g) contribuições, h) cartas de recomendação, i) registros de viúvas, j) costumes uniformes e k) ordenanças; l) ordens dadas e observadas, m) qualificações da membresia e n) obra comum em todo o grupo. a) At. 20.7 - "No primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, ... Paulo falava com eles; ..." Hb. 10.25 - "não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, mas admoestando-vos uns aos outros". b) Eleições: At. 6.5,6 - eleição dos diáconos. c) Oficiais: Fp. 1.1 - "os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos". d) Designação dos seus ministros: At. 20.17,28 - "os presbíteros da igreja ... o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos para apascentardes". e) Reconhecimento da autoridade do ministro e da igreja: Mt. 18.17 "se não as escutar, dize-o à igreja" 1 Pe. 5.2 - "Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele". f) Disciplina: 1 Co. 5.4,5,13 - "em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus. Tirai dentre vós a esse iníquo". g) Contribuições: Rm. 15.26 - "Porque pareceu bem à Macedonia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em
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Jerusalém"; 1 Co. 16.1,2 - Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas quando eu chegar". h) Cartas de recomendação (cartas de transferência): At. 18.27 "Querendo ele passar à Acaia, o animaram os irmãos e escreveram aos discípulos que o recebessem"; 2 Co. 3.1 - Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós e de recomendação de vós"? i) Registros de beneficência: 1 Tm. 5.9 - "Nunca seja inscrita viúva nenhuma com menos de sessenta anos"; cf. At. 6.1 - "houve murmuração dos gregos contra os hebreus porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano". j) Costumes uniformes: 1 Co. 11.16- "Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus". k) Ordenanças: At. 2.41 - "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a palavra"; 1 Co. 11.23-26 - "Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei" - a instituição da Ceia do Senhor. l) Ordem dada e observada: 1 Co. 14.40 - "Mas faça-se tudo decentemente e com ordem"; Cl. 2.5 - "Porque, ainda que eu esteja ausente quanto ao corpo, contudo, em espírito, estou convosco, regozijando-me e vendo a vossa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo". m) Qualificações da membresia: Mt. 28.19 - "Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo". n) Obra comum do corpo todo. Fp. 2.30 - "Porque, pela obra de Cristo, chegou até bem próximo da morte, não fazendo caso da vida, para suprir para comigo a falta do vosso serviço".
Como indicação de uma organização desenvolvida na igreja do Novo Testamento, da qual só existia o germe antes da morte de Cristo, é importante notar o progresso nos nomes desde os Evangelhos até as Epístolas. Nos Evangelhos a palavra "discípulos" é a designação comum dos seguidores de Cristo, mas não se encontra uma só vez nas Epístolas. Nas Epístolas só há "santos", "irmãos", "igrejas". Basta uma consideração dos fatos aqui referidos para evidenciar a natureza não escriturística das duas teorias modernas da igreja:
Teologia Sistemática (Strong) 1770 A) A teoria de que a igreja é um corpo exclusivamente espiritual destituída de toda a organização formal e unida por relação mútua de cada crente com o Senhor que habita nele. Neste ponto de vista, a igreja, com relação às suas ligações exteriores, é apenas um agregado de unidades isoladas. Os crentes que têm a oportunidade de reunir-se em um lugar particular, ou viver em uma época particular, constituem a igreja daquele lugar ou época. Sustentam este ponto de vista os Amigos e os Irmãos de Plymouth. Ignora as tendências da organização inerentes à natureza humana; confunde a igreja visível com a invisível; e opõe-se diretamente às representações da Escritura sobre a igreja visível, compreendendo alguns dos que são verdadeiramente crentes. At. 5.1-11 - Ananias e Safira mostram que a igreja visível abrangia alguns que não eram verdadeiramente crentes; 1 Co. 14.23 - "Se, pois, a igreja toda se congregar num lugar, e todos falarem línguas estranhas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão, porventura que estais loucos?" aqui, se a igreja tivesse sido uma assembléia desorganizada, os visitantes indoutos que entrassem teriam feito parte dela; Fp. 3.18 - "Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo". Há alguns anos, foi posto no index, em Roma, um livro intitulado: "O Sacerdócio, uma Desordem Crônica da Raça Humana". Os Irmãos Plymouth discordam das organizações eclesiásticas porque temem que elas se tornem máquinas; eles discordam da ordenação de ministros, porque temem que eles se tornem bispos. Eles se opõem a orar pedindo Espírito Santo, porque ele foi dado no Pentecostes, ignorando o fato de que depois disso a igreja orava assim: ver At. 4.31 - "E, tendo eles orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo e anunciavam com ousadia a palavra de Deus". O que chamamos de dar ou descer o Espírito Santo é, visto que o Espírito é onipresente, apenas uma manifestação do poder do Espírito Santo, e é neste sentido que elevemos orar; ver Lc. 11.13 — "Se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos
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vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem"? Os irmãos Plymouth "uniriam a cristandade com o seu desmembramento, e se isolariam de todas as seitas através da criação de uma nova seita, mais bitolada e amarga em sua hostilidade às seitas existentes do que qualquer outra". Embora a tendência de organizar seja tão forte na natureza humana que, mesmo os Irmãos Plymouth, quando se reúnem regularmente, caem numa organização informal, ou até mesmo formal; alguns mestres e líderes são reconhecidos tacitamente como oficiais do grupo; inconscientemente empregam-se algumas comissões e regras a fim de facilitar os assuntos. Mesmo C. H. M., um dos seus escritores, fala da "tendência natural de associação com Deus; como na Associação Shinar, ou na Confederação Babel de Gn. 11, que tinham como alvo a fixação de um nome sobre a terra. A igreja cristã é a associação divina que se destina a ocupar o lugar de todas elas. Por isso Deus confunde as línguas em Gn. 11 (julgamento); fornece línguas em At. 2 (graça); mas só se fala uma língua em Ap. 7 (glória)". A Nação, 16 de outubro de 1890.303 - "Cada grupo deve ter um ou mais líderes. Se estes não forem suficientes, o grupo os tornará. Você não pode reunir cinqüenta pessoas, ao menos entre os saxões, sem que eles escolham um oficial presidente e atribuam-lhe poderes para impor regras e ordem". Mesmo os socialistas e os anarquistas têm seus líderes, que freqüentemente exercem poder arbitrário e oprimem os seus seguidores. Lyman Abbott com nobreza fala da comunidade dos verdadeiros crentes: "O maior rio do mundo não tem barrancas; surge no Golfo do México: atravessa o Oceano Atlântico ao longo da nossa costa; cruza o Atlântico na grande e larga forma de leque ao longo da costa da Europa; em qualquer que seja a terra beija flores e flores com o fruto do seu amor. O damasco e o figo testemunham a sua força fertilizadora. É limitado pelo calor das suas partículas, e nada mais". Esta é uma boa ilustração da igreja invisível e do seu curso através do mundo. Mas a igreja visível limita-se a distinguir-se da humanidade irregenerada e o seu mais íntimo princípio de associação inevitavelmente conduz à organização. O Dr. Wm. Reid, Plymouth Brethrenism Unveiled, 79-143, atribui à seita os seguintes princípios eclesiásticos: 1) a igreja não existiu antes do Pentecostes; 2) as igrejas
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visível e invisível idênticas; 3) a unidade da assembléia divina; 4) a presidência do Espírito Santo; 5) rejeição do ministério de um só homem e realizado por um só homem; 6) a igreja dispensa governo. Também apresenta as seguintes heresias: 1) humanidade de Cristo no céu; 2) negação da justiça de Cristo como uma obediência à lei; 3) negação da imputação da justiça de Cristo; 4) justificação no Cristo ressurreto; 5) sofrimento não expiatório de Cristo; 6) negação da lei moral como regra de vida; 7) o dia do Senhor não é o sábado; 8) o secreto arrebatamento dos santos deve operar-se com Cristo. A estes podemos acrescentar; 10) o advento premilenista de Cristo.
B) A teoria de que a forma de organização da igreja não é definidamente prescrita no Novo Testamento, mas matéria de expediente, permitindo-se que cada crente adote esse método de organização mais adequado às suas circunstâncias e condições. Neander parece, em certo sentido, favorecer o ponto de vista em consideração e freqüentemente considera-se como incidental à sua mais ampla concepção da história da igreja como um desenvolvimento progressivo. Porém uma teoria apropriada do desenvolvimento não exclui a idéia de uma organização eclesiástica já completa em todas as particularidades essenciais antes do encerramento do cânon inspirado, de modo que o seu registro pode constituir um exemplo providencial de imposição de autoridade sobre todas as épocas subseqüentes. O mencionado ponto de vista exagera as diferenças na prática entre as igrejas do Novo Testamento; subestima a necessidade da direção divina quanto aos métodos de união da igreja; e admite um princípio de 'poderes da igreja', que podem mostrar-se subversivos à própria existência da igreja como um corpo espiritual. O Dr. Galusha Anderson acha opcional a teoria do governo eclesiástico em Eccl. Polity de Hooker, e diz isto só depois de o Bispo Bancroft reivindicar o direito divino do episcopado. Hunt também, em seu Religions Thought in England, 1.57, diz que Hooker abandona a origem divina do
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episcopado. Do mesmo modo Jacob, Eccl. Polity do N.T., e Hatch, Organization of Early Christian Churches; tanto Jacob como Hatch pertencem à Igreja da Inglaterra. Hooker identificou a igreja com a nação; ele sustentava que o estado se comprometeu com a igreja e, por isso, a igreja não tem nenhum direito de comprometer-se com o estado. Contudo, a suposição de que o estado se comprometeu com a igreja não tem nenhuma garantia. Hooker declara que, mesmo que a ordem episcopal estivesse na Escritura, o que ele nega, ainda assim seria inalterável, visto que Deus não é o autor das leis do governo da igreja, nem o seu comprometimento com a Escritura é razão suficiente para que todas as igrejas estejam sempre obrigadas a guardá-las sem alteração". T. M. Lindsay, Cont. Review, outubro, 1895.548-563, afirma que há pelo menos cinco diferentes formas de governo da igreja nos tempos apostólicos: 1. derivada dos sete sábios da comunidade da aldeia dos hebreus, representando o lado político do sistema de sinagogas; 2. derivado de επίσκοπος, o diretor do grupo religioso ou social entre os gregos pagãos; 3. derivado do patronato (προστάτης, προϊστάμενος) conhecido entre os romanos, as igrejas de Roma, Corinto, Tessalônica, que eram desse tipo; 4. derivado da proeminência de um homem, mais próximo da família do nosso Senhor, Tiago, presidente da igreja em Jerusalém; 5. derivado de superintendentes interinos (ηγούμενοι), ou líderes da parte dos missionários, como em Creta ou Éfeso. Entre todas estas igrejas de constituição diferente, havia intercomunicação e comunhão. Lindsay sustenta que a unidade era totalmente espiritual. Parece-nos que ele foi feliz somente ao provar cinco variedades diferentes de um tipo genérico - o tipo genérico é apenas o democrático, com dois tipos de oficiais e duas ordenanças - a saber, em mostrar que o simples modelo do N.T. se adapta a muitas condições mutáveis, conquanto as linhas mestras não se alteram. Sobre qualquer outra teoria, a constituição da igreja é matéria de gosto individual ou de molde temporário. Será que os missionários adaptam a ordem da igreja às idéias degradadas das nações nas quais eles trabalham? O governo da igreja na Turquia será despótico, ou monarquia relativa na Inglaterra, ou democracia nos Estados Unidos, ou de dupla chefia como no Japão?
Teologia Sistemática (Strong) 2. Natureza desta Organização
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Pode-se determinar a natureza de qualquer organização perguntando-se, primeiro: de quem se constituem seus membros? segundo: com que objetivo ela é formada? terceiro: quais são as leis que regulam suas operações? A) Só podem ser apropriadamente membros da igreja local os que anteriormente se tornam membros da igreja universal; ou, em outras palavras, tornaram-se pessoas regeneradas. Só aqueles que anteriormente se uniram a Cristo, segundo o Novo Testamento, têm a permissão para se unirem à igreja dele. Ver At. 2.47 - "E todos os dias acrescentava o Senhor os que iam sendo salvos"; 5.14 - "e a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais"; 1 Co. 1.2 - "à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos com todos os que, em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso".
Desta limitação da membresia a pessoas regeneradas, seguem-se alguns resultados: a) Porque cada membro tem a suprema aliança com Cristo, a igreja como um corpo, deve reconhecer Cristo como o único legislador. A relação individual do crente com a igreja não substitui, mas promove e expressa sua relação com Cristo. 1 Jo. 2.20 - "E vós tendes a unção do Santo e sabeis tudo" - ver Neander, Com., in loco - "Nenhum crente tem a liberdade de antecipar a sua maturidade e independência pessoal, outorgada na unção [do Espírito Santo], ou ele mesmo estabelecer uma relação de dependência, inconsistente com o direito inato, a qualquer mestre, seja quem for, entre os homens. ... Esta unção interior fornece um elemento de resistência a essa autoridade arrogada". Reprovamos aqui a tendência de alguns ministros
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assumirem o lugar que cabe à igreja na obra cristã e na adoração, ao invés de dirigi-la na obra e adoração por si mesma. O missionário que conserva os convertidos numa tutela prolongada e desnecessária, não é fiel à organização da igreja do Novo Testamento e nem a Cristo cujo alvo no ensino da igreja é instruir os seus seguidores a assumir a responsabilidade e a utilização da liberdade. Macaulay: Ό único remédio para os males da liberdade é a liberdade". "Malo periculosam libertatem" - "Deve-se preferir a liberdade ainda que perigosa" - Edwin Burritt Smith: "Há uma coisa melhor do que um bom governo: é o governo por si mesmo". Com todos os seus equívocos, o governo por si mesmo e o governo da igreja por si mesma garantirão, por fim, um bom e seguro governo, enquanto o "bom governo" que se perpetua na tutela se tornará para sempre impossível. Sl. 144.12 - "nossos filhos sejam, como plantas, bem desenvolvidos na mocidade". Arcediago Hare: "Se um cavalheiro quer progredir, é preciso ser como a árvore: nada deve haver entre ele e o céu". O que é verdade a respeito do cavalheiro também o é a respeito do cristão. É necessário que ele receba estímulo e cultive em si uma independência de autoridade humana e dependência exclusiva de Cristo. O mais sagrado dever do ministro é fazer a sua igreja governar-se e sustentar-se por si; e o melhor teste do seu sucesso é a capacidade de a igreja viver e prosperar depois que ele deixá-la, ou depois da sua morte. Tal obra ministerial requer sacrifício e dedicação. A tendência natural de todo ministro é usurpar a autoridade e tornar-se um bispo. Ele carrega consigo um papa ainda que não desenvolvido. A dependência do seu povo relativa ao apoio refreia este espírito arrogante. A firmeza da igreja sustenta-o. O remédio tanto para a escravização como para a arrogância encontra-se no reconhecimento de Cristo como o único Senhor.
b) Porque cada regenerado reconhece em cada um dos outros um irmão em Cristo, os vários irmãos estão no mesmo pé de igualdade absoluta (Mt. 23.8-10). Mt. 23.8-10 - "Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre ... e todos vós sois irmãos. Ε a ninguém chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus". Jo. 15.5 - "Eu sou a
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videira, vós, as varas" - nenhuma vara da videira é mais valiosa que outra; uma pode estar numa posição de vantagem em relação a outra, ser maior, mais frutífera; mas todas pertencem ao mesmo gênero, originam a sua vitalidade da mesma fonte. Entre os planetas "uma estrela difere em glória de outra estrela" (1 Co. 15.41), embora todas brilhem no mesmo céu, originam a sua luz do mesmo sol. O serviçal pode saber mais da mente de Deus do que o erudito". Por isso, o cristianismo tem sido o êmulo das castas pagas. O nobre japonês objetou a isto, "porque a fraternidade dos homens é incompatível com a merecida reverência devida ao seu nível". Não pode haver nenhum justo senhorio humano na herança de Deus (1 Pe. 5.3 - "nem tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho"). Constantino pensava que tinha uma posição mais elevada como membro da igreja de Cristo do que a sua posição como chefe do Império Romano. Nem a igreja nem o seu pastor devem depender dos membros da sua congregação irregenerados. Muitos pastores se postam na posição de um domador de leões com a cabeça na boca da fera. Até onde ele bate certo na pelagem do animal vai tudo bem; mas, se, acidentalmente erra, perde a cabeça. A dependência do corpo espiritual relativa a quem o instrui é compatível com a dignidade do pastor e com a fidelidade. Mas a dependência daqueles que não são cristãos e que não procuram dirigir a igreja de acordo com os motivos terrenos e de um modo também terreno pode destruir totalmente o efeito espiritual do seu ministério. O pastor precisa ser um imparcial pregador da verdade e tratar cada membro da igreja com a mesma importância que os demais.
c) Porque cada igreja local está diretamente sujeita a Cristo, não há nenhuma jurisdição de uma igreja sobre outra, mas todas estão no mesmo pé de igualdade e todas independem de interferência e controle do poder civil. Mt. 22.21 - "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus"; At. 5.29 - "Importa mais obedecer a Deus do que aos homens". Como cada crente tem o seu relacionamento pessoal com Cristo, até o seu pastor, quando se posiciona como intermediário entre ele e o Senhor pratica uma
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traição contra Cristo, o que é prejudicial à sua alma, tanto mais o Novo Testamento condena qualquer tentativa de subjugar a igreja a uma outra ou a um conjunto de igrejas, ou tornar a igreja uma criatura do estado. A liberdade absoluta da consciência subjugada a Cristo tem sido sempre um princípio dos batistas e do Novo Testamento {cf. Rm. 14.4 - "Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar"). John Locke, 100 anos antes da independência dos Estados Unidos: Os batistas são os primeiros e os únicos a proporem a liberdade absoluta, a justa e verdadeira liberdade, a liberdade igualitária e imparcial". George Bancroft diz a respeito de Roger Williams: "Ele foi a primeira pessoa do cristianismo moderno a estabelecer a doutrina da liberdade da consciência na religião. ... Liberdade de consciência é desde o princípio um troféu dos batistas. ... A sua história acha-se escrita com sangue". Sobre Roger Williams, ver John Fiske, The Beginnings of New England: "Hoje em dia, tais pontos de vista são perfeitamente adotados de um modo geral por aquelas parcelas civilizadas do mundo protestante; mas é desnecessário dizer que não eram os seus pontos de vista no século dezesseis, em Massachusetts ou em outras partes". Cotton Mather diz que Roger Williams "levava um moinho de vento na sua cabeça", e até mesmo John Quincy Adams chamava-o de "conscientemente contencioso". O moinho de vento de Cotton Mather lembrava o que ele tinha ouvido falar da Holanda. Corria tão rápido ao vento como parava e incendiava uma cidade inteira. Leonard Bacon, Genesis of the New England Churches, vii, diz a respeito das igrejas batistas: "tem-se reivindicado em favor destas igrejas que, desde a época da Reforma em diante elas têm sido sempre importantes e sempre consistentes na manutenção da doutrina da liberdade religiosa. Espero não ser entendido como pondo em dúvida o seu direito a tão grande honra". Os batistas sustentam que a atuação do estado restringe-se a assuntos seculares e civis; os assuntos religiosos estão além da sua jurisdição. Embora por razões econômicas e a fim de garantir a sua própria preservação, ele pode garantir aos seus cidadãos os seus direitos religiosos e isentar todas igrejas, sem exceção, do ônus dos impostos do mesmo modo que isenta as escolas e hospitais. O estado tem feriados, mas não dias
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santos. Hall Caine, em The Christian, não chama o estado de pilar (coluna) da igreja, mas de caterpillar (=lagarta) que come a sua vitalidade. Isto acontece quando ele transcende a sua esfera e compele ou cerceia qualquer forma particular de ensino religioso. Tal restrição não se inclui na lei original, mas é uma adição feita pelos revisores, a fim de pôr a lei do estado em conformidade com a lei da mãe pátria. Ed. 8.22 - "eu me envergonhei de pedir ao rei exército e cavaleiros ... porquanto ... A mão do nosso Deus é sobre todos os que o buscam para o bem" - é um modelo para as igrejas de todos os tempos. A igreja como um grupo organizado deve sentir vergonha de depender do subsídio do estado, embora os seus membros, como cidadãos, façam jus à demanda de que o estado os proteja em seu direito à adoração. Sobre o Estado e a Igreja em 1492 e 1892, ver A. H. Strong, Christ in Creation, 209-246, especialmente 239-241. Sobre o imposto na propriedade da igreja e oposição ele, ver H. C. Veder, em Magazine of Christian Literature, fevereiro, 1890. 265-272.
Β) O único objetivo da igreja local é a glória de Deus no estabelecimento completo do seu reino tanto nos corações dos crentes como no mundo. Este objetivo deve ser promovido: a) Pelo culto em conjunto, incluindo oração e instrução religiosa; b) pela mútua edificação e exortação; c) pelo empenho comum na correção do mundo impenitente. a) Hb. 10.25 - "não abandonando a congregação como é costume de alguns, antes exortando-vos uns aos outros"; Um carvão em brasa por si mesmo vai tornar-se cada vez mais mortiço e apagará, mas cem carvões causarão intensidade de chama que se comunicará aos outros. Observe o valor que tem "a multidão" na política e na religião. Pode-se obter instrução sem ir à escola ou à faculdade, e pode-se cultivar a religião independentemente da igreja; mas o número das pessoas com quem isso ocorre será pequeno e elas não escolhem o melhor caminho para tornar-se inteligentes ou religiosas. b) 1 Ts. 5.11 - "Pelo que exortai-vos uns aos outros e edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis"; Hb. 3.13 - "Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado". As igrejas existem com a
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finalidade de 1. criar ideais; 2. alimentar motivos; 3. orientar energias. São o fermento introduzido nas três medidas de farinha. Mas não deve haver vida no fermento e dele não surge a boa vontade. Não há sentido em levar à China a lâmpada que não brilha na América. A luz que brilha mais longe também brilha mais perto. c) Mt. 28.19 - "Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações"; At. 8.4 - "Mas os que andavam dispersos iam por toda parte anunciando a palavra"; 2 Co. 8.5 - "E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor e depois a nós, pela vontade de Deus"; Jd. 23 - "E salvai alguns, arrebatando-os do fogo; e tende deles misericórdia com temor". No quadro mural de uma igreja cristã achavam-se escritas, em Aneytium, nos Mares do Sul, em memória do Dr. John Geddie, missionário pioneiro naquele campo, as seguintes palavras: "Quando ele veio para cá não havia cristãos; quando ele se foi, não havia pagãos". A inscrição sobre a lápide de Davi Livingstone na Abadia de Westminster: "Durante quarenta anos a sua vida foi gasta num esforço incansável a fim de evangelizar as raças nativas, explorar os segredos ocultos, abolir o desolador comércio de escravos da África Central, onde com as suas últimas palavras escreveu: ‘Tudo o que acrescento à minha solidão é: O meu desejo é que a mais rica bênção do céu desça sobre cada um: americano, inglês ou turco, que ajude a curar esta chaga aberta no mundo’.”
C) A lei da igreja é simplesmente a de Cristo expressa nas Escrituras e interpretada pelo Espírito Santo. Esta lei se refere: a) Às qualificações para a membresia. – São elas a regeneração e o batismo, i.e., o novo nascimento espiritual e o ritual do referido nascimento; a entrega da vida interna e externa a Cristo; a entrada espiritual na comunhão com a morte e ressurreição de Cristo e a sua formal profissão ao mundo pelo sepultamento com Cristo e ressurreição com ele no batismo. b) Os deveres impostos aos membros. - Descobrindo, nas Escrituras, a vontade de Cristo, cada membro tem o direito a um julgamento privado e é diretamente responsável diante de Cristo pelo emprego dos recursos do conhecimento e pela sua obediência às suas ordens, quando conhecidas.
Teologia Sistemática (Strong)
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Até onde chega a autoridade da igreja? É claro que ela não tem o direito de determinar o que os seus membros devem comer ou beber; a que sociedade devem pertencer; que alianças fazer no casamento ou que negócios realizar. Como um grupo organizado, ela não tem direito de suprimir o vício na comunidade, ou regenerar a sociedade tomando partido em campanha política. Como cidadãos, os membros da igreja têm deveres em todas essas linhas de atividade. A função da igreja é dar-lhes preparação religiosa e estímulo para a sua obra. Contudo, neste sentido, a igreja deve influenciar todas as relações humanas. Ela segue o modelo da comunidade judaica ao invés de seguir o estado grego. A πόλις grega era limitada porque ela era a afirmação apenas dos direitos individuais. A comunidade judaica era universal por ser a incorporação da vontade divina. O estado judaico era o mais abrangente do mundo antigo e admitia livremente a incorporação de novos membros e tinha a expectativa de uma comunhão religiosa de alcance mundial em uma fé. Assim os romanos deram às terras conquistadas a proteção e os direitos de Roma. Mas a igreja cristã é o melhor exemplo de incorporação na conquista. Abraão Lincoln: "Este país não pode ser meio escravo e meio livre" = uma parte superará a outra; há um conflito incontrolável entre eles. Isso ocorre com as forças de Cristo e do anticristo em todo o mundo. Alexander Duff: "A igreja que deixa de ser evangelizadora logo deixará de ser evangélica". Podemos acrescentar que a igreja que deixa de ser evangélica logo deixará de existir. Os Pais da Nova Inglaterra propuseram "levar avante o evangelho nestas remotas partes do mundo mesmo que elas sejam apenas meios para aqueles que devem alcançá-las". Eles pouco previram como a sua fé e aprendizado caracterizaria o Grande Oeste. A igreja e a escola caminham juntas. Cristo é o salvador do mundo, mas sozinho ele não pode salvá-lo. Zinzendorf chamava a sua sociedade de "Sociedade do Grão de Mostarda" porque ela deveria remover montanhas (Mt. 17.20). Hermann, Faith and Moral, 91,238 -"Não é através de coisas que simulamos serem imperecíveis que o cristianismo continua a viver; é pelo fato de que sempre há pessoas a serem encontradas as quais, por seu contato com as tradições bíblicas, tornam-se testemunhas da pessoalidade de Jesus e o seguem tendo-o como guia e, por isso, recebem a coragem suficiente para sacrificarse pelos outros".
Teologia Sistemática (Strong) 3. A Gênese da Organização
1781
a) A igreja existe em germe antes do Pentecostes; doutra forma nada teria havido que pudesse ter sido "acrescentado" àqueles convertidos (At. 2.47). Entre os apóstolos, regenerados como eram, unidos a Cristo pela fé e na qual foram batizados (At. 19.4), sob a instrução de Cristo e se empenharam na sua obra comum já havia o princípio da organização. Havia um tesoureiro do grupo (João 13.29) e como um grupo eles celebraram, pela primeira vez, a Ceia do Senhor (Mt. 26.26-29). Com todos os intentos e propósitos eles se constituíam uma igreja apesar de que esta não se achava inteiramente equipada para a sua obra através do derramamento do Espírito (At. 2) e pela nomeação de pastores e diáconos. A igreja existia sem oficiais, como nos primeiros dias após o Pentecostes. At. 2.47 - "Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos"; 19.4 - "Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo"; Jo. 13.29 - "Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa ou que desse alguma coisa aos pobres"; Mt. 26.26-29 -"Enquanto comiam, Jesus tomou o pão ... e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei... E, tomando o cálice e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos"; At. 2 - derrama-se o Espírito. É bom lembrar que o próprio Cristo é a união em corpo entre Deus e o homem, o verdadeiro templo da habitação de Deus. Logo que o primeiro crente ligou-se a Cristo, a igreja passou a existir em miniatura e em germe. A. J. Gordon, Ministry of the Spirit, 55, cita At. 2.41 - "acrescentava", não a eles, ou à igreja, mas, como em At. 5.14 e 11.24- "ao Senhor". Dr. Gordon declara que isto significa não uma união mútua dos crentes, mas a união divina deles com Cristo; não uma associação voluntária dos cristãos, mas a soberana incorporação destes ao Cabeça, e tal incorporação efetuada pelo Cabeça, através do Espírito Santo. O antigo provérbio "Tres faciunt ecclesiam", é sempre verdadeiro quando um dos três é Jesus (Dr. Deems).
Teologia Sistemática (Strong)
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Estava errado Cipriano quando dizia que "aquele que não tem a igreja como sua mãe, não tem Deus como seu Pai"; porque isto não pôde ser levado em conta para a conversão do primeiro cristão e faz a salvação depender da igreja ao invés de depender de Cristo. A Plataforma de Cambridge, 1648, cap. 6, faz com que os oficiais sejam essenciais, não ao ser, mas apenas para o bem-estar das igrejas e declara que os presbíteros e os diáconos são os únicos oficiais comuns. Fish, Ecclesiology, 11-14, através de uma marcante analogia, distingue três períodos na vida da igreja: 1) pré-natal, em que a igreja não está separada da presença corporal de Cristo; 2) infância, em que a igreja está sob tutela, preparando-se para uma vida independente; 3) maturidade, em que a igreja, guarnecida de doutrinas e oficiais, está pronta para o seu governo próprio. Os três períodos podem assemelhar-se ao botão, à flor, e ao fruto. Antes da morte de Cristo, a igreja só existia em botão.
b) Como tal provisão destes oficiais se fez gradualmente à medida que surgiam as exigências, é natural quando considerarmos que a igreja depois da ascensão de Cristo estivesse sob a tutela de apóstolos inspirados e estivesse, por um processo de educação, preparada para a independência e auto-governo. Como a doutrina se comunicou de modo gradual embora infalivelmente através do ensino escrito e oral dos apóstolos, assim temos a garantia de crer que a igreja de modo gradual, mas infalível, se dirigisse para a adoção do próprio plano de Cristo na sua organização e na obra cristã. A mesma promessa do Espírito que toma o Novo Testamento uma regra de fé inerrante e suficiente toma-o também uma regra de prática inerrante e suficiente para a igreja em todos os lugares e tempos. Deve-se interpretar Jo. 16.12-26 como uma promessa de direção gradual através do Espírito a toda a verdade; 1 Co. 14.37 - "as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor". Um exame das epístolas de Paulo em sua ordem cronológica mostra um progresso na definição do ensino a respeito do governo da igreja, assim como na doutrina em geral. Neste assunto, como em outros, veio a instrução apostólica como exigia a
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prudência. Nos primeiros dias da igreja, a atenção convergia mais para a pregação do que para a organização. Como Lutero, Paulo, nos seus últimos dias, pensava mais na ordem da igreja, do que no começo da sua obra. Contudo, mesmo na sua primeira epístola encontramos o germe que mais tarde se desenvolve de forma contínua. Ver: 1) 1 Ts. 5.12.13 (52 A.D.) - "E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós, e que presidem sobre vós (προϊσταμένους) no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra". 2) 1 Co. 12.28 (57 A.D.) - "E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro, doutores, depois, milagres, depois, dons de curar, socorros [αντιλήψεις = dons que demandavam diáconos], governos [κυβερνήσεις = dons que necessitavam de pastores], variedades de línguas". 3) Rm. 12.6-8 (58 A.D.) - "tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja segundo a medida da fé; se é ministério [διακονίαν], seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom de exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside [ό προϊστάμενος], com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria". 4) Fp. 1.1 (62 A.D.) - "Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos [έπισκόποις] e diáconos [διακόνοις]". 5) Ef. 4.11 (63 A.D.) – "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores [ποιμένας και διδασκάλους]". 6) 1 Tm. 3.1,2 (66 A.D.) "Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo [τον έπίσκοπον] seja irrepreensível". Sobre esta última passagem, Huther no Comentário de Meyer assinala: "No começo, Paulo via a igreja em sua unidade; só gradualmente ele deu proeminência aos seus líderes. Não devemos inferir que as igrejas, no início,
Teologia Sistemática (Strong)
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não tinham liderança, porém que, mais tarde, as circunstâncias eram tais que exigiam que ele desse ênfase ao ofício e à obra do pastor". McGiffert, em Apostolic Church, estabelece as datas das Epístolas de Paulo, considerando as mais antigas, como por exemplo: 1 Ts. ± 48; 1 Co. ± 51,52; Fp. 56-58; Ef. 52,53, ou 56-58; 1 Tm. 56-58. Mas mesmo antes das mais antigas Epístolas de Paulo vem Tiago 5.14 - "Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja" - escrita por volta de 48 A.D., e que mostra que vinte anos depois da morte do nosso Senhor desenvolveu-se uma forma bem definida de organização eclesiástica. A respeito da questão sobre até onde o nosso Senhor e os apóstolos, na organização da igreja, valeram-se da sinagoga como modelo, ver Neander, Plantando e Ensinando, 28-34. O ministério da igreja é, sem dúvida, um desenvolvimento e adaptação do presbiterado e da sinagoga. Na sinagoga havia presbíteros que se dedicavam ao estudo e exposição das Escrituras. As sinagogas mantinham reuniões de oração, e exerciam disciplina. Tinham um governo democrático e eram independentes umas das outras. Por vezes se tem dito que a eleição de oficiais pela membresia da igreja veio da palavra grega εκκλησία, ou assembléia popular. Mas, Edersheim, Life and Times of Jesus the Messiah, 1.438, diz a respeito dos anciãos (presbíteros) da sinagoga que "a eleição deles dependia da escolha da congregação". Talmude, Berachob, 55 a: "Não se indica nenhum dirigente da congregação, a não ser que esta seja consultada".
c) Qualquer número de crentes, portanto, pode constituir-se em igreja cristã adotando para regra de fé e prática a lei de Cristo estabelecida no Novo Testamento e associando-se, de acordo com ela para o seu louvor e trabalhos. É importante, onde praticável, que se convoque previamente o concilio de igrejas para aconselhar os irmãos a proporem essa união quanto a conveniência de constituir um novo e distinto grupo local; e se se achar conveniente, reconhecê-los, após sua formação, como sendo uma igreja de Cristo. Mas tal ação do concilio, embora valiosa para fornecer base da comunhão de outras igrejas, não é constitutiva, mas simplesmente declaratória; e sem tal ação o conjunto de
Teologia Sistemática (Strong) 1785 crentes a que se fez alusão, se formado segundo o exemplo dó Novo Testamento, pode, não obstante, ser uma verdadeira igreja de Cristo. Ainda mais, um grupo de convertidos entre os gentios e providencialmente excluídos do acesso das igrejas existentes, pode corretamente indicar um dos seus para batizar os demais e organizar, de novo, uma igreja neotestamentária. Parece que a Igreja de Antioquia foi criada por si mesma e dirigida por si mesma. Não há nenhuma evidência de que qualquer autoridade humana a não ser os convertidos de lá foi incumbida de constituir e ou organizá-la. Eis a opinião de John Spillsbury por volta de 1640: Onde há um começo alguém deve ter sido o primeiro". A iniciativa é do indivíduo convertido, assim como o dever de obedecer aos mandamentos de Cristo. Nenhum grupo de cristãos pode desculpar-se por não obedecer a pretexto de que ela não tem oficiais. Ele pode elegê-los. Os concílios não têm autoridade alguma para constituir igrejas. A sua tarefa é somente a de reconhecer a organização já existente e garantir a comunhão das igrejas representadas. Se Deus pode fazer das pedras surgir filhos de Abraão, ele pode fazer surgir pastores e mestres do meio do grupo de crentes que ele converteu e salvou. Hagenbach, Hist. Doct, 2.294, cita de Lutero o seguinte: "Se um grupo de cristãos leigos piedosos for preso e enviado para o deserto, e não tiver um sacerdote ordenado, e todos concordarem nisso, e elegerem um deles e o autorizarem a batizar, a ministrar a missa, absolver, e pregar, ele será um tão verdadeiro sacerdote como "se todos os bispos e papas o tivessem ordenado". Dexter, Congregationalism, 51 - "Lutero chegou bem perto de descobrir e reproduzir o Congregacionalismo. Três coisas o refrearam: 1. ele minimizou o valor do governo em comparação com a doutrina; 2. reagiu contra o fanatismo dos anabatistas; 3. para ele a Providência determinava que os príncipes deveriam dirigir e o povo deveria seguir. Deste modo, enquanto ele e Zwínglio sustentavam que a Bíblia ensina que todo o poder eclesiástico vem de Cristo na congregação dos crentes, a matéria termina numa organização de superintendentes e consistórios que gradualmente se mesclam com o estado".
Teologia Sistemática (Strong) III. GOVERNO DA IGREJA
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1. Natureza desse governo em geral É evidente da relação direta de cada membro da igreja e da igreja como um todo, com Cristo como soberano e legislador, que o governo da igreja, até onde considera a fonte de autoridade, é monarquia absoluta. Verificando a vontade de Cristo, contudo, e aplicando suas ordens às exigências providenciais, o Espírito Santo ilumina o membro através do conselho de um outro e, como resultado da deliberação combinada, guia todo o corpo a conclusões corretas. Esta obra do Espírito é o fundamento das determinações da Escritura quanto à unidade. Porque esta é a unidade do Espírito, não é imposta, mas inteligente e voluntária. Por isso, conquanto Cristo é o único rei, o governo da igreja no que considera a interpretação e execução da sua vontade pelo corpo, é uma democracia absoluta em que o conjunto todo dos membros é incumbido do dever e responsabilidade de executar as leis de Cristo expressas na sua palavra. Os que se separaram da igreja da Escócia, no memorável 18 de maio de 1843, incorporaram no seu protesto as seguintes palavras: "Nós saímos de uma igreja estabelecida que amamos e apreciamos, por causa de uma interferência sobre a nossa consciência, o que representa uma desonra praticada contra a coroa de Cristo e a rejeição da sua autoridade única e suprema como o Rei da Igreja". A igreja deve seguir uma ordem correta, porque ela é representante e guardiã da verdade de Deus - sua "coluna e firmeza" (1 Tm. 3.15) - e o Espírito Santo opera nela e através dela. Mas é esta mesma relação da igreja com Cristo e sua verdade que torna necessário insistir no direito de cada membro da igreja ao seu juízo individual quanto ao sentido da Escritura; em outras palavras, a monarquia absoluta, neste caso, requer como seu complemento uma democracia absoluta. Presidente Wayland: "Nenhum cristão, como indivíduo, ou numerosos indivíduos cristãos, nem numerosas igrejas em particular, têm
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autoridade original, ou poder sobre o todo. Nenhuma pode adicionar ou subtrair nada das leis de Cristo, ou interferir na sua soberania direta ou absoluta sobre os corações e vidas dos seus membros". Cada membro, igual ao outro, tem direito à voz nas decisões do grupo todo; e nenhuma ação da maioria pode constranger a sua convicção do dever para com Cristo. John Cotton da Baía de Massachusetts, 1643, Perguntas e Respostas: Ό governo da realeza das igrejas está em Cristo, na mordomia ou ministério nas próprias igrejas". Plataforma de Cambridge, 1648, 10Q capítulo - "No que se refere a Cristo, o governo da igreja é uma monarquia; quanto à fraternidade da igreja, ela representa uma democracia". Infelizmente a Plataforma vai mais além e declara que, com relação ao presbitério e ao poder dos presbíteros, é também uma aristocracia. Herbert Spencer e John Stuart Mill, que sustentam diferentes pontos de vista em filosofia, estão unidos na controvérsia. Enquanto a discussão corria pela imprensa, o Sr. Spencer, forçado pela falta de recursos, anunciou que seria obrigado a interromper a publicação dos seus prometidos livros sobre ciência e filosofia. O Sr. Mill escreveu-lhe prontamente, dizendo que, conquanto não pudesse concordar com ele sobre algumas coisas, ele entendia que as investigações do Sr. Spencer no seu todo produziram um avanço na verdade, e ele mesmo teria prazer em pagar as despesas dos remanescentes volumes. Aqui no mundo filosófico temos um exemplo que bem pode ser tomado no coração dos teólogos. Todos os cristãos, na verdade, estão comprometidos com o direito do juízo privado dos outros, conquanto estejam aderindo à verdade como Cristo lhes fez conhecida. Loyola, fundador da Sociedade de Jesus, abria para cada neófito uma cova e sepultava todo o seu corpo, menos a cabeça e perguntava-lhe: "Estás tu morto"? Quando ele dizia "sim", o seu superior acrescentava: "Levanta-te, então, e começa a servir, porque eu quero mortos para servirme". Contrariamente, Jesus quer vivos para servi-lo porque ele dá vida e vida em abundância (Jo. 10.10). De igual modo, o Exército de Salvação viola o princípio de aliança exclusiva com Cristo e, como os jesuítas, põe a consciência e a vontade individual ligada a um superior humano. As boas intenções podem, a princípio, evitar maus resultados; mas visto que não se pode confiar em quem quer que seja de um modo absoluto, a conseqüência
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última, como no caso dos jesuítas, será a escravização de membros subordinados. Tal autocracia não encontra solo compatível na América; daí a rebeldia do Sr. e Sra. Ballington Booth.
A) Prova de que o governo da igreja é democrático ou congregacional. a) Do dever que a igreja toda tem de preservar a unidade de ação. Rm. 12.16 — "Sede unânimes entre vós"; 1 Co. 1.10 - "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos em um mesmo sentido e em um mesmo parecer"; 2 Co. 13.11 - "sede do mesmo parecer"; Ef. 4.3 - "procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz"; Fp. 1.27 - "que estejais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho"; 1 Pe. 3.8 - "sede todos de um mesmo sentimento". Estas exortações para que haja união não são simples conselhos para submissão passiva, como ocorrem numa hierarquia, ou aos membros de uma sociedade de jesuítas; são conselhos para que haja cooperação e harmonioso juízo. Cada membro, conquanto forme suas próprias opiniões, sob a orientação do Espírito, deve lembrar que os outros também são guiados pelo Espírito, e que a conclusão final quanto à vontade de Deus deve ser encontrada só através da comparação dos pontos de vista. Por isso a exortação à unidade deve ser com a mente aberta, dócil, pronta para sujeitar nossas opiniões à discussão, a receber de bom grado novos esclarecimentos a respeito delas e abandonar qualquer opinião quando nos convencemos de que estamos errados. Via de regra a igreja deve garantir a unanimidade só através da persuasão moral; apesar de que, no caso de oposição voluntariosa e perversa em tais decisões, pode ser necessário assegurar a unidade excluindo um membro obstrutor, que deseja a divisão. Uma tranqüila e pacífica unidade é o resultado da obra do Espírito Santo no coração dos cristãos. O governo da igreja do Novo Testamento procede na suposição de que Cristo habita em todos os crentes. A constituição batista é a melhor possível para as boas pessoas. Cristo não fez
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nenhuma provisão para a membresia de uma igreja de irregenerados e para possessão demoníaca de cristãos. É melhor que uma igreja em que Cristo não habita se revele através da dissensão e da fraqueza e se despedace; e qualquer organização externa que oculta a desintegração interior e force uma união meramente formal depois que o Espírito Santo se apartou, é um embaraço ao invés de ser um auxílio à verdadeira religião. Não se vê no congregacionalismo um governo forte. Nem ainda o sistema solar. Os inimigos o chamam de uma corda de areia. Ao invés disso é uma corda de limalha de ferro ligada por uma corrente magnética. Wordsworth: "Mais poderoso do que a força do nervo ou do que um músculo, ou do que a preponderância do portento mágico sobre o sol e a estrela, é o amor". Presidente Wayland: "Não necessitamos de quaisquer arcos de ferro ou aço para unir-nos". Na maré alta todas as piscininhas fundem-se ao longo do mar. A unidade produzida pela influência do Espírito de Cristo é melhor do que qualquer unidade simplesmente exterior quer de organização, ou de credo, quer seja do romanismo quer do protestantismo. Os tempos da maior unidade exterior, como a que ocorreu sob Hildebrando, foram os da mais profunda corrupção moral. O avivamento da religião é a melhor cura para as desavenças da igreja do que qualquer mudança na organização eclesiástica poderia efetuar. Na igreja primitiva, embora não houvesse nenhum governo comum, o intercâmbio ativo promovia a unidade. A hospitalidade, as representações reguläres, apóstolos e profetas itinérantes, epístolas dos apóstolos e de outros cristãos, e ainda mais tarde os evangelhos, a perseguição, e até mesmo a heresia, promoveram a unidade - a heresia compeliu à exclusão dos elementos indignos e facciosos na comunidade cristã. Dr. F. J. A. Hort, The Christian Ecclesia: "Nenhuma palavra na Epístola aos Efésios apresenta uma ecclesia formada de muitas ecclesiae.... Os membros que formavam uma ecclesia não são comunidades, mas indivíduos. ... A unidade da ecclesia universal ... é uma verdade da teologia e da religião, não um fato do que nós chamamos de política eclesiástica. ... A ecclesia em si, i.e., a soma de todos os membros da ala masculina era o grupo primário, e parece que até mesmo da autoridade primária. ... Dos mais elevados oficiais que os presbíteros, nada encontramos que indique uma instituição ou sistema, como mais tarde o sistema episcopal. ... O princípio
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monárquico recebe um reconhecimento prático embora limitado na posição mais tarde sustentada por Tiago em Jerusalém e nas funções temporais confiadas por Paulo a Timóteo e a Tito". Sobre esta última afirmação, Barlett, Cont. Review, julho, 1897, diz que Tiago mantinha uma posição única como irmão do nosso Senhor, enquanto Paulo deixava as comunidades organizadas por Timóteo e por Tito para governarem-se a si mesmas. Não havia nenhum episcopado diocesano permanente, em que um homem presidia sobre muitas igrejas. As ecclesiae tinham como seus oficiais bispos e diáconos. Não deve a maioria governar numa igreja batista? Uma maioria simples não, quando há convicções opostas da parte de uma grande minoria. O que deve governar é a mente do Espírito. O que indica a sua mente é a unificação gradual da convicção e opinião da parte do grupo todo em apoio a um plano definido, de modo que a igreja toda se mova junta. A igreja grande tem vantagem sobre a pequena no sentido de que o aparte de um simples membro não causa dano. Um homem num barquinho pode facilmente virálo, o que não acontece com um grande navio. O paciente aguardo, a persuasão, a oração vencem normalmente o récalcitrante. Contudo, não se deve negar que a paciência pode ter seus limites e que a unidade pode às vezes necessitar uma divisão e formar uma nova igreja local cujos membros possam trabalhar juntos harmonicamente.
b) Da responsabilidade da igreja toda na manutenção da doutrina pura e prática. 1 Tm. 3.15 - "a igreja do Deus vivo, coluna e firmeza da verdade"; Jd. 3 - "exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos"; Ap. 2 e 3 - exortações às sete igrejas da Ásia para que mantenham puras a doutrina e a prática. Em todas estas passagens, não é um assim chamado bispo, mas um apóstolo que dá incumbências pastorais aos seus sacerdotes subordinados e a todos os seus membros. Em 1 Tm. 3.15, o Dr. Hort traduz "coluna e firmeza da verdade" - talvez referindo-se à igreja local como uma entre muitas. Ef. 3.18 - "poderdes compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade". Edith Wharton, Versalius in Zante, N. A. Review,
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nov 1892 - "A verdade é poliglota. O que um homem deixa de falar, um outro encontra uma outra palavra que substitua. Pode ser que nem todos convirjam num vasto pronunciamento de que você e eu, Falópio, somos apenas meias sílabas"? Bruce, Training of the Twelve, mostra que os apóstolos, provavelmente, conheciam o V.T. de cor. Pandita Ramabai, em Oxford, em visita a Max Müller, recitou do Rig Veda passim, e mostrou que ela conhecia mais de cor do que todo o conteúdo do V.T.
c) Da incumbência das ordenanças à observação e guarda da igreja toda. Como a igreja expressa a verdade no seu ensino, assim ela também deve expressá-la em símbolo através das ordenanças. Mt. 28.19,20 - "Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os ... ensinando-os"; cf. Le. 24.33 - Έ, na mesma hora, levantando-se ... acharam congregados os onze e os que estavam com eles"; At. 1.15 -"E, naqueles dias, levantando-se Pedro no meio dos discípulos (ora, a multidão junta era de quase cento e vinte pessoas)"; 1 Co. 15.6 - "Depois, foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos" - estas passagens mostram que não foi só para os onze apóstolos que Jesus confiou as ordenanças. 1 Co. 11.2 - "Louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim e retendes os preceitos como vo-los entreguei"; cf. 23,24 - "Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei; que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído tomou o pão; e, tendo dado graças, partiu-o e disse: isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim" - aqui Paulo confia a ceia do Senhor, não ao grupo de oficiais, mas a toda a igreja. Por isso, o batismo e a ceia do Senhor devem ser administrados com a discrição do ministro. Ele é somente o órgão da igreja.
d) Da eleição dos seus oficiais pela igreja toda. Não se deve forçar a interpretação literal de χειροτονήσαντες em At. 14.23. Em Tt. 1.5, "quando Paulo dá poderes para Tito estabelecer oficiais que presidissem sobre as comunidades, tal circunstância nada decide quanto ao modo de escolha, nem se exclui necessariamente a eventualidade da comunidade escolher por esse processo".
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At. 1.23,26 – "E apresentaram dois ... e lançando-lhes sortes, a sorte caiu sobre Matias; e, por voto comum, foi contado com os onze apóstolos": 6.3-5 -"Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação ... e este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão,... e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas, e Nicolau" - como diáconos; At. 13.2,3 - "E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabe e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, eles, jejuando, e orando, pondo sobre eles as mãos, os despediram". Sobre esta passagem, ver o comentário de Meyer: “ ‘Servindo’ aqui expressa o ato de celebrar o ofício divino da parte da igreja toda. Referir αυτών aos profetas e mestres contraria a palavra αφορίσατε - e o verso 3. Tal interpretação limitaria este importante ato missionário a cinco pessoas das quais duas foram enviadas como missionários e a igreja não teria tido participação alguma nem mesmo dos seus presbíteros. Isto nem concorda com a posse comum do Espírito na igreja apostólica, nem com os casos concretos da escolha de um apóstolo (capítulo 1) e dos diáconos (capítulo 6). Compare 14.27, onde os missionários que retornaram apresentam relatório à igreja. A imposição de mãos (v. 3) é feita pelos presbíteros, na qualidade de representantes da igreja toda. Nos versos 2 e 3 o sujeito é ‘a igreja’ - (neste caso representada pelos presbíteros). A igreja envia os missionários aos pagãos e os consagra através dos presbíteros". At. 15.2,4,22,30 - "resolveu-se que Paulo e Barnabe e alguns dentre eles subissem a Jerusalém ... Quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos ... Então, pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos, com toda a igreja eleger varões dentre eles e enviá-los com Paulo e Barnabe ... Então ... partiram para a Antioquia e, ajuntando a multidão, entregaram a carta"; 2 Co. 8.19 - "mas também foi escolhido pelas igrejas para companheiro da nossa viagem, nessa graça que por nós é ministrada"- a contribuição para os pobres de Jerusalém; At. 14.23 - "E havendo-lhes por comum consentimento (χειροτονήσαντες) eleito anciãos em cada igreja" - os apóstolos anunciaram a eleição da igreja como o Presidente de uma Faculdade confere o grau, i.e., anunciando o grau conferido pelo Board of Trustees. No mesmo sentido testemunha O Ensino dos Doze Apóstolos, recentemente descoberto, no capítulo 15: "Escolhei para vós mesmos bispos e diáconos".
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A derivação de χειροτονήσαντες, pelo levantar das mãos, como em voto por aclamação, não sob pressão, do mesmo modo que a derivação de εκκλησία de καλέω. Aquela viera a significar somente 'indicar', sem referência à chamada dos seus membros por Deus. Que a igreja em Antioquia "separou" Paulo e Barnabe e que isto não foi feito somente pelas cinco pessoas mencionadas, mostra-se pelo fato de que, quando Paulo e Barnabe voltaram da viagem missionária, relataram não aos cinco, mas à igreja toda. Assim, quando a igreja de Antioquia mandou representantes a Jerusalém, a carta da igreja dessa cidade contém: Os apóstolos e os anciãos, e os irmãos dentre os gentios que estão em Antioquia, Síria e Cilícia" (At. 15.23). Os doze tinham apenas autoridade espiritual. Eles podiam aconselhar, mas não mandar. Por isso eles não podiam transmitir o governo, visto que não o tinham. Eles podiam demandar obediência, só quando convenciam os seus ouvintes de que a palavra deles é verdade. Não são eles que mandam, mas o seu Mestre. Hackett, Comentário sobre Atos - "χειροτονήσαντες não deve representar uma coação, porque Paulo e Barnabe eram pessoas sob ordens. Pode ser que sugira uma indicação concorrente segundo a prática comum do sufrágio universal; mas o peso da prova encontra-se naqueles que modificariam o sentido do verbo. Emprega-se a palavra freqüentemente no sentido de escolha, indicação, com referência à formalidade do levantamento das mãos". Per contra, ver Meyer, in loco: "O Oficial da igreja era eleito. Observa-se isto na analogia com 6.2-6 (eleição dos diáconos); a palavra χειροτονήσαντες conserva o seu sentido etimológico de 'constituído' ou 'criado'. A escolha era um reconhecimento de um dom já outorgado; não a base do ofício ou fonte de autoridade, mas somente o meio pelo qual o dom se tornou [conhecido, reconhecido, e] um verdadeiro ofício na igreja". Baumgarten, Apostolic History, 1.456 - "Eles, os dois apóstolos, permitiram que os presbíteros fossem escolhidos para a comunidade por votação'. Alexander, Comentário sobre Atos - Aqui o método de eleição, como a expressão χειροτονήσαντες indica, é a mesma que em At. 6.5,6, onde o povo escolheu os sete, e os doze os ordenaram". Barnes, Comentário sobre Atos: "Os apóstolos presidiram a assembléia onde se fez a escolha; indicaram-nos pelo sufrágio do povo". Dexter, Congregationalism, 138 "Ordenados' significa aqui 'sugeridos e garantidos pela eleição' dos
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presbíteros em cada igreja". Assim em Tt. 1.5 - "de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros". Compare a expressão em latim: "dictator cônsules creavit" = sugeria e garantia a eleição de cônsules através do povo. The Watchman, novembro, 1901 - "A principal dificuldade para com muitos esquemas de habilidade política deve encontrar-se na profunda desconfiança da capacidade e possibilidade dos homens. Wendell Phillips certa vez disse que nada o impressionava tanto com a força do evangelho do que a solução dos nossos problemas quanto ao modo de ver um príncipe e um camponês ajoelhando-se lado a lado numa catedral européia". O Dr. W. R. Huntington faz serem os fortes pontos do congregacionalismo os seguintes: 1. uma elevada consideração do valor da inteligência orientada no ministério cristão; 2. um claro reconhecimento do dever de cada leigo de uma igreja de assumir interesse ativo nos seus negócios, tanto temporais como espirituais. Ele considera fraqueza no congregacionalismo: 1. uma certa capacidade de expansão além dos limites territoriais dentro dos quais encontra-se o nativo; 2. uma subestima do elemento místico ou sacramentai em contraste com o lado doutrinário e prático da religião. Ele argumenta com o simbolismo do objeto assim como com o simbolismo verbal da presença real e graça do nosso Senhor Jesus Cristo. O pavor da idolatria, pensa ele, não deve fazer-nos indiferentes ao valor dos sacramentos. Replicamos que os batistas podem muito bem reivindicar que eles estão imunes tanto a estas acusações como contra o congregacionalismo comum, no qual eles têm mostrado ilimitada capacidade de expansão e no qual acentuam muitíssimo o simbolismo das ordenanças.
e) Do poder que a igreja toda tem de exercer a disciplina. Passagens que mostram o direito do grupo todo excluir, mostram também o direito do grupo todo admitir membros. Mt. 18.17,18 - "E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu" - palavras inscritas freqüentemente nas confissões católicas romanas, mas inadequadamente, visto que elas não se referem somente às decisões de um sacerdote, mas de todo o conjunto de
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crentes guiados pelo Espírito Santo. Em Mt. 18.17, citado acima, vemos que a igreja tem autoridade, que a ela cabe o reconhecimento das ofensas e que a ação dela é final. Se estivesse na mente do nosso Senhor qualquer outra forma de governo que não fosse a democrática ele teria se referido à parte agravada ao pastor, ao sacerdote, ou ao presbítero e, no caso de uma decisão errada teria mencionado um sínodo ou assembléia para os quais a parte ofendida pudesse apelar. Mas ele lança toda a responsabilidade ao grupo de crentes, cf. Nm. 15.35 - "toda a congregação com pedras o apedrejará" - o homem que apanhasse lenha no dia de sábado. Cada israelita tinha parte na execução da pena. 1 Co. 5.4,5,13 – "juntos vós ... seja entregue a Satanás ... Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo"; 2 Co. 2.6,7 - "basta ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que, pelo contrário, deveis, antes, perdoar-lhe e consolá-lo"; 7.11 - "Porque quanto cuidado não produziu isso mesmo em vós, que fostes contristados ... em tudo mostrastes estar puros nesse negócio"; 2 Ts. 3.6,14,15 – "apartai-vos de todo irmão que andar desordenadamente ... se alguém não obedecer a nossa palavra por esta carta, notai o tal e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão". Os males na igreja de Corinto eram tais que só podiam existir num grupo democrático e Paulo não determina que a igreja mude de sistema de governo, mas que mude de coração. Não é ele que exclui o homem incestuoso mas estimula a igreja a que o faça. A influência da instrução na igreja inteira na eleição de pastores e diáconos, a escolha de representantes, o recebimento e exclusão de membros, a administração das finanças da igreja e a condução dos negócios, produzindo as operações missionárias e o levantamento de ofertas, juntamente com a responsabilidade para com a doutrina e prática corretas não podem ser valorizadas em excesso. O grupo todo pode conhecer aqueles que se dedicam ao recebimento melhor do que os pastores e diáconos. Pôr o governo todo da igreja nas mãos de uns poucos é privar a membresia de um dos grandes meios de treinamento cristão e progresso. Por isso, é dever do pastor desenvolver o governo da igreja por si mesma. O missionário não deve dar ordens, mas aconselhar. Obtém sucesso aquele ministro que faz o grupo mover-se e que faz a igreja ser
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independente. O teste da sua obra não se reflete enquanto está com ela, mas depois que a deixa. É aí que se pode ver se ele a ensinou a segui-lo, ou a seguir a Cristo; se ele a conduziu a formar hábitos de atividade cristã independente, ou se a fez depender dele passivamente. A ambição do pastor não deve ser a de "funcionar a igreja", mas de ensiná-la inteligente e biblicamente a administrar os seus negócios. A palavra "ministro" não significa senhor, mas servo. O verdadeiro pastor inspira, mas não pilota a igreja. Ele é como um confiável guia na montanha, que leva o fardo três vezes mais pesado que o dos homens que ele serve, que conduz em trilhas seguras e assinala os perigos, nem grita, nem coage à obediência. Deve-se ensinar o cristão: 1. a compreender o privilégio da membresia da igreja; 2. a adequar-se ao emprego do seu privilégio; 3. a exercer os seus direitos como membro de igreja; 4. a glorificar no sistema neotestamentário de governo de igreja, e defendê-la e propagá-la. O pastor cristão pode ou dirigir, ou ter a fama de dirigir; mas nunca ambos. O verdadeiro governo envolve um mergulho no eu, um trabalho através dos outros e não fazer algo que deve ser feito por uma outra pessoa. A fama de governar leva, mais cedo ou mais tarde, à perda da verdadeira influência e a declinar das atividades da própria igreja. Dexter, Congregationalism, 290, nota, cita Denominações Religiosas dos Estados Unidos, 184, de Belcher, o seguinte: "Jefferson dizia que considerava o governo da igreja batista a única forma de pura democracia que já existiu no mundo e incluíra que seria o melhor plano para as colônias americanas. Isto ocorreu oito ou dez anos antes da Revolução Americana". John Fiske, Beginnings of New England: "Em uma igreja baseada em tal teologia [a de Calvino], não há lugar para o prelado. Cada igreja tende a tornar-se uma congregação de adoradores independentes, constituindo-se uma das mais eficazes escolas jamais existentes para o ensino de um governo local". Schurman, Agnosticism, 160 - "Os batistas, que se dizem calvinistas, são agora, como eram no começo do século, os segundos em número [na América]; mas - a Bíblia e só a Bíblia - seu princípio fundamental, em conexão com a sua constituição, os tem capacitado silenciosamente a abandonar a velha teologia e inconscientemente ajustar-
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se ao novo ambiente espiritual". Preferimos dizer que os batistas não a abandonaram, mas deram-lhe uma nova interpretação e aplicação.
B) Pontos de vista errôneos quanto ao governo da igreja refutados pelas passagens anteriores. a) A teoria da igreja mundial, ou ponto de vista romanista. – Sustenta que todas igrejas locais estão sujeitas à autoridade suprema do bispo de Roma, que é o sucessor de Pedro e o infalível vigário de Cristo e, assim unida, constitui a igreja de Cristo unida e única na terra. Respondemos: Primeiro: De forma alguma Cristo deu suprema autoridade a Pedro. Mt. 16.18,19 refere-se tão somente à posição pessoal de Pedro como o primeiro a confessar Cristo, o primeiro pregador do seu nome aos judeus e gentios. Por isso outros apóstolos também constituem-se o fundamento (Ef. 2.20; Ap. 21.14). Em uma ocasião o conselho de Tiago foi considerado de igual peso ao de Pedro (At. 15.7-30) enquanto em outra ocasião Pedro foi repreendido por Paulo (Gl. 2.11) e Pedro chamase a si mesmo συμπρεσβύτερος (co-presbítero; 1 Pe. 5.1). Mt. 16.18,19 - "Pois também te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do Hades não prevalecerão contra ela. Ε eu te darei as chaves do Reino dos Céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus". Pedro exerceu este poder das chaves tanto para os judeus como para os gentios, primeiro através da pregação de Cristo a eles, e admitindo-os no reino do céu. A "rocha é o coração que confessa. A confissão de Cristo faz Pedro uma rocha sobre a qual constrói-se a igreja. Plumptre, sobre Epistles of Peter, Introdução, 14 - "Ele é uma pedra - unido à Rocha à qual ele está ligado numa união indissolúvel". Mas outros vêm associar-se com ele: Ef. 2.20 - "edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina"; Ap. 21.14 - "Ε ο muro da cidade tinha doze fundamentos e, neles, doze nomes dos doze apóstolos do
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Cordeiro". At. 15.17-30 - Concilio de Jerusalém. Gl. 2.11 – "E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível"; 1 Pe. 5.1 "Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que também sou presbítero com eles". Convém lembrar aqui três coisas necessárias à constituição de um apóstolo: 1 ) ele deve ter visto a ressurreição de Cristo de modo a ser uma testemunha do fato de que Cristo ressuscitou dentre os mortos; 2) deve ser operador de milagres, para certificar que ele é um mensageiro de Cristo; 3) deve ser um mestre inspirado da verdade de Cristo, de sorte que os seus pronunciamentos finais sejam a própria palavra de Deus. Em Rm. 16.7 "Saudai a Andrônico e a Júnia, meus parentes e companheiros e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos". Barnabe é chamado apóstolo no sentido etimológico de um mensageiro: At. 13.2,3 - "Apartai-me a Barnabe e a Saulo para a obra a que eu os tenho chamado. Então, jejuando, e orando e, pondo sobre eles as mãos, os despediram"; Hb. 3.1 - "considerai a Cristo Jesus, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão". Neste último sentido, o número dos apóstolos não se limitou aos doze. Os protestantes erram ao negar a referência em Mt. 16.18 a Pedro; Cristo reconhece a pessoalidade de Pedro na fundação do seu reino. Mas os romanistas também erram ao ignorar a confissão de Pedro constituindo-o a "rocha". Os credos e confissões por si mesmos nunca converterão o mundo; eles precisam incorporar-se às pessoalidades vivas a fim de salvá-las; esta é a semente da doutrina correta do romanismo. Por outro lado, os homens sem fé, que eles estão querendo confessar a todo custo, nunca converterão o mundo; deve haver uma substância de doutrina relativa ao pecado e relativa a Cristo quanto ao divino Salvador do pecado; é esta a justa controvérsia do protestantismo. A doutrina batista combina os méritos de ambos os sistemas. Tanto têm a pessoalidade como a confissão. Não se apoia na hierarquia, mas na experiência. Não insiste nas abstrações, mas na vida. A verdade sem um corpo é pior até mesmo que um exército sem bandeira. Phillips Brooks: "A verdade de Deus, operando através da pessoalidade do homem tem sido a salvação do mundo". Pascal: Ό catolicismo é uma igreja sem religião; o protestantismo é uma religião sem igreja". Respondemos que sim, desde que entendamos por igreja hierarquia.
Teologia Sistemática (Strong) 1799 Segundo: Se foi dada tal autoridade a Pedro, não há nenhuma evidência de que ele tivesse poder de transmiti-la a outros. Fisher, Hist Christian Church, 247 - "Guilherme de Occam (1280-1347) compôs um tratado sobre o poder do papa. Foi além dos seus predecessores argumentando que a igreja, visto que tem sua unidade em Cristo, não está sob a necessidade de se sujeitar a um simples primado. Ele põe o Imperador e o Concilio Geral acima do papa, como seus juizes. Em matéria de fé não se permite a infalibilidade nem mesmo nos Concílios Gerais. 'Só a Escritura Sagrada e as crenças da igreja universal tem validade absoluta'". W. Rauschenbusch, The Examiner, 28 de julho de 1892 - "A era de uma organização eclesiástica, ao invés de ser um argumento a seu favor, é uma suposta evidência contra ela, porque todos os grupos organizados com finalidade moral ou religiosa manifestam uma inclinação tão assustadora que a tornam corrupta. ... As marcas da verdadeira igreja são: o poder espiritual presente, lealdade a Jesus, moralidade não terrena, busca e salvação dos perdidos, sacrifício de si mesma e crucificação de si mesma". O romanismo defende a transmissão da infalibilidade. O papa é infalível: 1. quando ele fala como papa; 2. quando ele fala em nome de toda a igreja; 3. quando ele define doutrina, ou passa um juízo final; 4. quando a doutrina assim definida está dentro da esfera da fé e da moralidade. Schurman, Belief in God, 114- "Como o papa cristão, concebe-se que Zeus nos poemas homéricos é falível como indivíduo, mas infalível como cabeça de uma convocação sagrada. Os outros deuses são apenas seus representantes e executivos". Mas, mesmo que a primazia do pontífice fosse reconhecida, ainda haveria abundante prova de que ele não é infalível. A condenação das cartas do Papa Honório, reconhecendo o monotelismo e ordenando que ele fosse pregado, através do Papa Martinho I e do primeiro Concilio de Latrão em 649, mostra que ambos não podiam estar certos. Embora ambos fossem pronunciamentos ex cathedra, um nega o que o outro afirma. Perrone admite que um erro cometido por um papa em anúncio ex cathedra já seria fatal para a doutrina da infalibilidade papal. Martineau, Seat of Authority, 139,140, dá exemplos de inconsistências e contradições dos papas e mostra que o catolicismo Romano não responde
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a qualquer das suas quatro notas da verdadeira igreja, a saber: 1. unidade; 2. santidade; 3. universalidade; 4. apostolicidade. Dean Stanley teve uma entrevista com o Papa Pio IX e veio dizendo que o homem infalível cometera mais erros crassos numa conversa de vinte minutos do que qualquer pessoa jamais poderia ter cometido. O Dr. Fairbairn jovialmente define a infalibilidade como "incapacidade de detectar erros até mesmo onde eles são mais evidentes". Ele fala da "tolice dos homens que pensam que mantém Deus sob sua custódia e o distribuem a quem eles quiserem". O papa de Roma não pode mais proceder a sua descendência oficial de Pedro do que Alexandre o Grande descendê-la de Júpiter.
Terceiro: Não há nenhuma evidência de que Pedro jamais tivesse estado em Roma e muito menos de que tivesse sido bispo naquela cidade. Clemente de Roma faz referência a Pedro como mártir, mas não reivindica Roma como o lugar do seu martírio. A tradição de que Pedro pregou em Roma e fundou a igreja naquela cidade remonta à data de Dionísio de Corinto e Irineu de Lions que não escreveram antes da oitava década do segundo século, ou mais de cem anos após a morte de Pedro. O Professor Lepsius de Jena submeteu a tradição romana a uma pesquisa e chegou à conclusão de que Pedro nunca esteve na Itália. A. A. Hodge, Princetoniana, 129 -"Três suposições não provadas: 1. que Pedro era primaz; 2. que Pedro foi bispo de Roma; 3. que Pedro foi primaz e bispo em Roma. A última não tem importância; porque Clemente, por exemplo, podia ter sucedido no bispado de Roma sem ser primaz; como a Rainha Vitória chegou à coroa da Inglaterra, mas não a de Hanover. Ou, aproximando-nos mais, Ulisses S. Grant foi presidente dos Estados Unidos e esposo da Sra. Grant. O Sr. Hayes sucedeu-o, mas não em ambas atribuições"! Sobre a questão de Pedro ter fundado a igreja de Roma, ver Meyer, Comentário sobre Romanos, tradução, volume 1.23 - "Paulo seguiu o princípio de não interferir no campo de trabalho de um outro apóstolo. Por isso Pedro podia não ter estado trabalhando em Roma, na ocasião em que Paulo escreveu sua epístola aos Romanos da cidade de Éfeso; cf. At. 19.21;
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Rm. 15.20; 2 Co. 10.16". O pensamento de Meyer é de que Pedro foi martirizado em Roma, mas não fundou nela a igreja, cuja origem é desconhecida. "A Epístola aos Romanos", diz ele, "visto que Pedro não pode ter trabalhado em Roma antes que a carta tivesse sido escrita, é um fato que destrói a base histórica do papado" (p. 28).
Quarto: Não há nenhuma evidência de que ele indicasse bispos de Roma para seus sucessores. Denney, Studies in Theol., 191 - "A igreja foi a primeira companhia dos que se uniram a Cristo e que viveram em Cristo; depois tornou-se uma sociedade baseada no credo; finalmente uma sociedade baseada no clero. A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 130 - "O Espírito Santo é o verdadeiro 'Vigário de Cristo". Se alguém desejasse encontrar a chave da grande apostasia cujo negro eclipse agora cobre dois terços do cristianismo nominal, ei-la aqui: O governo e autoridade do Espírito Santo ignorados na igreja; os servos da casa assumindo o senhorio e usurpando cada vez mais as prerrogativas do Chefe, até que, por fim, um homem assenta-se como administrador da igreja e tem a ousadia de usurpar o nome de Vigário de Cristo". O segredo do sucesso e do progresso batista está em pôr a verdade antes da unidade. Tg. 3.17 - "Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente pura, depois, pacífica". A substituição da unidade exterior pela interior, de que a sucessão, assim chamada, apostólica, é sinal e símbolo, é uma parte do esquema sacramentai da salvação como um todo. Não se pode trazer os homens ao reino do céu, nem fazê-los bons ministros de Jesus Cristo, através de uma manipulação sacerdotal. A conversão do povo por atacado, a obediência jesuítica em vez da vida, a identificação da igreja com a nação são métodos falsos da difusão do cristianismo. As reivindicações de Roma necessitam de prova irrefutável para serem aceitas. Mas elas não apresentam garantia na Escritura ou na história. Revista Metodista: "Enquanto a Bíblia for reconhecida como autoridade, a igreja enfrentará com tão pouca preocupação como Leão X visitará a América para dar assistência a um campo de batalha metodista, ou Justino D. Fulton ser eleito como seu sucessor no papado."
Teologia Sistemática (Strong) 1802 Quinto: Se Pedro, na verdade, indicasse os bispos de Roma, não há desde aquele tempo evidência de sucessão contínua. Sobre a fraqueza do argumento relativo à sucessão apostólica, ver notas a respeito da teoria da igreja nacional, abaixo. Dexter, Congregationalism, 715 – "Espiritualizar e evangelizar o romanismo, ou o episcopalismo, equivalerá a congregacionalizá-lo". Se todos os católicos romanos que vieram para a América tivessem permanecido católicos romanos, haveria dezesseis milhões deles, enquanto há atualmente apenas oito milhões. Se se disser que os demais não têm religião, retrucamos que eles têm a mesma medida de religião que tinham antes de terem vindo. A democracia americana os tem liberado da denominação do sacerdote, mas não os privou de qualquer coisa a não ser a conexão exterior com uma igreja corrupta. Ela lhes deu a oportunidade de, em primeiro lugar entrar em contato com a igreja do Novo Testamento e de aceitar a oferta da salvação somente através da fé em Jesus Cristo. "O romanismo", diz Dorner, "identifica a igreja com o reino de Deus. A hierarquia que se professa perfeita é em si mesma a igreja, ou a sua essência". Contudo, Moehler, o maior dos modernos defensores do sistema romanista, reconhece que houve papas antes da Reforma "que o inferno engoliu". Se um romanista pergunta: Onde estava a vossa igreja antes de Lutero"? o protestante pode responder: Onde estava o vosso rosto esta manhã antes de você lavá-lo"? Os discípulos de Cristo têm beijado os pés do anticristo, o que lembra uma antiga história. Quando um nobre ateniense, daqueles dos velhos tempos humilhou-se diante do rei da Pérsia, os seus concidadãos em Atenas sentenciaram-no à morte.
Sexto: Há evidência abundante de que uma forma hierárquica do governo da igreja é corrupção dela e desonra a Cristo. A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 131-140-Os escritores católicos reivindicam que o papa, como vigário de Cristo, é o único porta-voz do Espírito Santo. Mas o Espírito foi dado à igreja como um todo, isto é, ao grupo de crentes regenerados e a cada membro do grupo segundo a sua medida. O pecado do sacerdotalismo é que ele arroga a uns poucos usurpadores aquilo que
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pertence a cada membro do corpo místico de Cristo. É sugestivo o fato de que o substantivo κλήρος , 'a incumbência que vos foi atribuída', que Pedro dá à igreja como Ό rebanho de Deus' (1 Pe. 5.2), quando adverte os presbíteros contra a atitude de serem senhores da herança de Deus, aparece agora no emprego eclesiástico como Ό clero', com as suas ordens de pontífice e de prelados e bispos, cuja função é exercer o senhorio sobre o rebanho de Cristo. ... Mas os curadores e os maiorais podem tomar o lugar do Espírito, tão precisamente como um papa ou um bispo. ... Eis a razão por que se tem apagado a luz de muitos castiçais. ... O corpo permanece, mas o espírito se vai. O Espírito Santo é o único administrador". Canon Melville: "Fazei paz se quiserdes com o papado recebê-la no Senado, guardai-a no relicário dos vossos aposentos, plantai-a no vosso coração. Mas estai certos, tão certos como há um céu lá acima de vós e um Deus mais acima, de que o papado, tão cheio de honrarias e tão abraçado é o papado que foi detestado e degradado pelos mais santos dos vossos pais; e o mesmo na soberba, e o mesmo na intolerância, que dominou sobre os reis, assumiu a prerrogativa da divindade, esmagou e matou os santos de Deus".
b) Teoria da igreja nacional ou teoria das igrejas provinciais ou nacionais. – Sustenta que todos membros da igreja em qualquer província ou nação se ligam a uma organização provincial ou nacional e que esta tem jurisdição sobre as igrejas locais. Respondemos: Primeiro: a teoria não tem apoio nas Escrituras. Não há nenhuma evidência de que a palavra εκκλησία no Novo Testamento em tempo algum significa uma organização eclesiástica nacional. 1 Co. 12.28, Fp. 3.6 e 1 Tm. 3.15 podem ser mais naturalmente interpretadas referindo-se à igreja de modo genérico. Em At. 9.31 εκκλησία é uma simples generalização das igrejas locais existentes aqui e ali e não implica nenhum tipo de organização entre elas. 1 Co. 12.28 - Έ a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, depois, dons de curar,
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socorros, governos, variedades de línguas"; Fp. 3.6 - "segundo o zelo, perseguidor da igreja"; 1 Tm. 3.15 - "para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade"; At. 9.31 -"Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia, e Samaria tinham paz e eram edificadas".
Segundo: O intercâmbio que as igrejas do Novo Testamento mantinham umas com as outras como grupos independentes, por exemplo o Concilio de Jerusalém (At. 15.1-35), contradita a referida teoria. At. 15.2,6,13,19,22 - "resolveu-se que Paulo, Barnabe e alguns dentre eles subissem a Jerusalém aos apóstolos e aos anciãos sobre aquela questão. ... Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto. ... Tomou Tiago a palavra, dizendo: ... Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. ... Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos, com toda a igreja eleger varões entre eles e enviá-los com Paulo e Barnabe a Antioquia". McGiffert, Apostolic Church, 645 - Os passos para o desenvolvimento da organização foram: 1. Reconhecimento do ensino dos apóstolos como padrão exclusivo e norma da verdade cristã; 2. Limitação a um ofício específico, o ofício católico do bispo, da autoridade para determinar qual é o ensino dos apóstolos; 3. Designação de uma instituição específica, a igreja católica, como único canal da graça divina. Os doze, na igreja de Jerusalém, tinham apenas autoridade puramente espiritual. Eles podiam exortar, mas não mandar. Por isso não lhes cabia transmitir autoridade a outros. Eles não tinham, de si mesmos, autoridade absoluta".
Terceiro: Nem tem vantagens práticas sobre o sistema congregacional, antes tende para a formalidade, para a divisão e extinção dos princípios de auto-governo e responsabilidade direta para com Cristo.
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E. G. Robinson: Ό cisma anglicano, é a mais sectária de todas as seitas". O Principal Rainey assim descreve a posição da igreja episcopal: "Eles não querem reconhecer os padrões da igreja daqueles que o reconhecem; e eles só reconhecem os padrões da igreja dos gregos e latinos que não os reconhecem. Não é isso um tipo de catolicidade"? "Cada sacerdote oculta em si um papismo". Um elefante que atravessava a floresta viu uma ninhada de perdizes que tinham perdido a sua mãe. Movido por simpatia, ele disse: "Eu posso ser a mãe de vocês" e sentou-se junto a elas como ele tinha visto a sua mãe fazer. Daí dizermos do "incumbido" de tal ou tal paróquia. Não havia concílios que reivindicassem a autoridade até o segundo século, e a independência das igrejas não tinha sido abandonada até o terceiro e quarto séculos. No ensaio do Bispo Lightfoot sobre o Ministério Cristão, no Apêndice ao seu Comentário aos Filipenses, descreve-se a evolução para o episcopado da seguinte maneira: "No tempo de Inácio, o bispo, na ocasião primus inter pares, era considerado somente como um centro de unidade; no tempo de Irineu, como um depositário da verdade primitiva; no tempo de Cipriano, um subgerente de Cristo em assuntos espirituais". Não há nada mais claro do que a pronta degeneração da constituição da igreja nas mãos dos Pais. Archibald Alexander: Ό melhor nome que os Pais da igreja têm seria bebês da igreja. A sua teologia é infantil". Lutero: "Não importa quem são os escribas; o que diz a Escritura"?
Quarto: É inconsistente consigo mesma, ligando uma igreja professada-mente espiritual a linhas formais e geográficas. Eis um exemplo dos males do presbiterianismo na prática. Dr. Park diz que "a fenda entre a Velha e a Nova Escolas deveu-se a uma tentativa da parte da maioria de impor a sua vontade à minoria. ... A deserção unitária na Nova Inglaterra teria arruinado as igrejas presbiterianas, mas não as igrejas congregacionais. Uma igreja presbiteriana pode, pelos votos das igrejas vizinhas, ser privada do ministro que ela escolheu, ou pelos líderes que as controlam, ou por um só voto numa competição fechada". Podemos ilustrar isto com a vantagem da lista ajustável sobre o velho método de guardar uma lista de livros de uma biblioteca.
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A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 137, nota - "Sendo sete os castiçais no Apocalipse, ao invés de um como é no tabernáculo, aprendemos que, enquanto na dispensação judaica o Deus visível é um, na dispensação gentílica há muitas igrejas visíveis e o próprio cristianismo as reconhece como semelhantes" (citado de Garra«, Comentário sobre Apocalipse. 32). Bispo Moule, Veni, Creator, 131, depois de falar da unidade do Espírito, prossegue dizendo: "Seria uma bênção para a igreja e para o mundo que estes princípios prevalecessem tão grandemente a ponto de encontrar expressão partindo de dentro em harmoniosa contrapartida à ordem; uma coisa bem diferente do que é, só posso pensar que seja um prospecto ilusório - o alcance de tal unidade interna através de uma exigência da uniformidade governamental exterior".
Quinto: Logicamente conduz à teoria do romanismo. Se duas igrejas necessitam de uma autoridade superior para controlá-las e estabelecer suas diferenças, então dois países e dois hemisférios necessitam de um governo eclesiástico comum; e uma igreja mundial sob um chefe visível, é romanismo. Hatch, Bampton Lectures sobre a Organização das Igrejas Primitivas, sem discutir a evidência do Novo Testamento, prossegue, tratando do desenvolvimento apostólico da organização, como se a existência do germe de um episcopado bem logo depois de os apóstolos provarem que tal sistema é legítimo ou obrigatório. Em resposta, perguntaríamos se temos a obrigação moral de nos conformarmos com qualquer coisa que aconteça no seu próprio desenvolvimento. Se é assim, então os sacerdotes de Baal, do mesmo modo que os de Roma, tinham razão para reivindicar a crença humana e obediência. Prof. Black: "Não temos nenhuma objeção à antigüidade se elas retrocedem em muito. Gostaríamos de ouvir não só os pais da igreja, mas também os seus avós". Phillips Brooks fala do "fantástico absurdo da sucessão apostólica". E, com razão, porque no sistema episcopal, os bispos qualificados para a ordenação devem ser: 1) pessoas batizadas; 2) não escandalosamente imorais; 3) não obterem o ofício através de suborno; 4) não podem ter sido depostas. Em vista de tais qualificações, o Arcebispo Whately profere a dou-
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trina da sucessão apostólica inatingível e declara que "não há nenhum ministro cristão atualmente, que possa fazer jus à completa certeza da sua ordenação, através dos passos perfeitamente reguläres, recuando até o tempo dos apóstolos". Há interrupções na linha e a cadeia é tão forte como a sua parte mais fraca. O Sr. Flanders chama Phillips Brooks de "episcopal com aprendizado através do cristianismo". O Bispo Brooks retrucou que ele não podia se irritar contra "um tão querido anjo de aparência decrépita". A sucessão apostólica tem sido chamada de concepção seqüencial de canais da graça divina. Mudando a figura, pode-se comparar com o monopólio da comunicação com a Europa por cabo submarino. Mas não estamos confinados aos canais seqüenciais ou aos cabos. Há poços de salvação nos nossos campos privados e telégrafos sem fio praticáveis em cada alma humana, sem qualquer controle de corporações. Percebemos o aprendizado na direção da idéia da igreja cósmica nos Concílios Pananglicanos e Panpresbiterianos. A natureza humana sempre tende para substituir a unidade da organização externa em favor da unidade espiritual que pertence a todos os crentes em Cristo. Não há nenhuma necessidade de um governo comum, quer presbiteriano, quer episcopal; porque a verdade de Cristo e o Espírito são competentes para governar todos da mesma forma que para governar um. É notável que a denominação batista, sem peias externas tem mantido maior unidade doutrinária e uma conformidade geral mais íntima com os padrões do Novo Testamento, do que as igrejas que adotam o princípio do episcopado, ou da organização provincial. Achamos, com o Arcebispo Whately, o verdadeiro símbolo da unidade cristã na "árvore da vida que produz doze frutos (Ap. 22.2). Cf. Jo. 10.16 - γενήσονται μία ποίμνη. εϊς ποιμήν - "haverá um rebanho e um pastor" = não redil, não unidade externa, mas um rebanho em muitos redis. Como testemunhas da adequada constituição batista de manter a sã doutrina, citamos do congregacional Dr. J. L. Withrow: "Não há uma denominação de cristãos evangélicos de um modo total teologicamente sã como os batistas. Não há denominação evangélica na América hoje em dia tão verdadeira quanto ao pleno evangelho de Deus, como se acha registrado na palavra como os batistas". Ε o presbiteriano Dr. W. G. T. Shedd, em correspondência particular datada de 1º de outubro de 1886, escreve: "Entre as denominações todos nós vemos os batistas firmes e sentimos um seguro
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apego à sã doutrina. Você nunca teve quaisquer conflitos e, de ano em ano, uma indivisível frente de batalha na defesa da fé calvinista. Não tendo nenhuma corte de justiça e considerando a igreja local uma unidade, é notável que você mantém tal unidade e solidariedade de crença. Se você pudesse transmitir o seu segredo aos irmãos congregacionais, tenho a impressão de que ao menos alguns deles lhe agradeceriam". A. H. Strong, Sermon in London before the Baptist World Congress, julho de 1905 - "Cooperação com Cristo envolve unidade espiritual não só de todos batistas entre si, mas de todos os batistas com todos os verdadeiramente crentes de cada denominação. Na verdade, não podemos, ser fiéis às nossas convicções sem nos organizarmos num grupo que concorde conosco na nossa interpretação das Escrituras. As nossas divisões denominacionais correspondem às necessidades da natureza. Lamentamos, entretanto, tais divisões e, à medida em que crescemos na graça e no conhecimento da verdade, lutamos, pelo menos em espírito, para superálas. As nossas fazendas estão separadas umas das outras por cercas e, na primavera, quando o trigo e a cevada surgem da terra divisam-se tais cercas desagradáveis características da paisagem. Porém, mais ao fim da estação, quando já é crescido o cereal e aproxima-se o tempo da ceifa, o grão já está tão alto que esconde totalmente as cercas e, por espaço de milhas, pode-se ver um só campo. Sem dúvida, é nosso dever confessar em todo o tempo e em todo o lugar que primordialmente somos cristãos e em segundo lugar batistas. O laço que nos une a Cristo é mais importante para os nossos olhos do que aquilo que nos liga aos que são da mesma fé e ordem. Vivemos na esperança de que o Espírito de Cristo em nós e em outros grupos cristãos pode induzir ao desenvolvimento da mente e do coração que o senso de unidade não pode dominar e ocultar as cercas divisórias, mas pode, ao fim afastar todas as cercas".
2. Oficiais da igreja A) É dois o número de oficiais na igreja de Cristo: primeiro o de bispo, presbítero, ou pastor; e segundo o de diácono. a) Os nomes 'bispo', 'presbítero' e 'pastor' designam o mesmo ofício e ordem de pessoas, o que se pode mostrar em At. 20.28 - επισκόπους ποιμαί -νειν (cf. 17 πρεσβυτέρους); Fp. 1.1; 1 Tm. 3.1,8; Tt. 1.5,7; 1 Pe.
Teologia Sistemática (Strong) 1809 5.1,2 -πρεσβυτέρους ... παρακαλώ ό συμπρεσβύτερος... ποιμάνατε ποίμνιο ν ... έπισκοποΰντες. Conybear e Howson: "Os termos 'bispo' e 'presbítero' são empregados no Novo Testamento como equivalentes; aquele denotando (como seu significado de supervisor indica) os deveres, este a posição do ofício". Ver as passagens citadas em Gieseler, Church History, 1.90, nota 1 - como, por exemplo, Jerônimo: "Apud veteres iidem episcopi et presbyteri, quia illud nomen dignitatis est, hoc aetatis. Idem est ergo presbyter qui episcopus". At. 20.28 - Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes (pastoreardes) a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue"; cf. 17 - "de Mileto, mandou a Éfeso chamar os anciãos (presbíteros) da igreja". Tais presbíteros são aqueles que Paulo trata com o nome de bispos ou supervisores a quem ele exorta a que sejam bons pastores. Fp. 1.1 - "bispos e diáconos"; 1 Tm. 3.1,8 - "Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra deseja. ... Da mesma sorte os diáconos sejam honestos"; Tt. 1.5,7 "estabelecesses presbíteros ... que o bispo seja irrepreensível"; 1 Pe. 5.1,2 "Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles [em grego a palavra corresponde a "co-presbítero" (συμπρεσβύτερος)] ... "Apascentai (pastoreai) o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente". Nesta passagem, Westcott e Hort, com Tischendorf, 8ª edição, seguem K, omitindo έπισκοποΰντες. Tregelles e a Versão Revista Americana seguem A e K, retendo-a. Pensamos ser isto correto; visto que é fácil ver como, num eclesiasticismo, teria sido omitido, a partir do sentimento de que seria muita coisa a ser atribuída ao presbítero. Lightfoot, Com. on Philippians, 95-99 - "Os teólogos de todos tipos de opinião reconhecem o fato pelo qual na língua do N.T. o mesmo oficial na igreja é chamado alternada e indiferentemente de 'bispo' (επίσκοπος) e 'ancião' ou 'presbítero' (πρεσβύτερος). ... Estes ofícios especiais e funções sacerdotais e privilégios do povo cristão são considerados como transferidos ou delegados. Eles são chamados mordomos ou mensageiros de Deus, servos ou ministros das igrejas, e coisas semelhantes, mas nunca se lhes confere a função sacerdotal. Os únicos sacerdotes no evangelho,
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designados como tais no N.T., são os santos, os membros da fraternidade cristã". Em Tt. 1.5,7 -"estabelecesses presbíteros ... porque convém que o bispo seja irrepreensível" - Gould, Bib. Theol. of N.T., 150, assinala: "Aqui a palavra 'porque' está inteiramente fora de lugar a não ser que bispos e presbíteros sejam idênticos. Todos estes oficiais, bispos assim como diáconos, estão confinados à igreja local na sua jurisdição. O encargo do bispo não é uma diocese, mas uma igreja. As funções são principalmente administrativas; o ofício do ensino está subordinado e faz-se uma distinção entre os presbíteros docentes e outros, implicando que a função do ensino não é comum a todos eles". Dexter, Congregationalism, 114, mostra que bispo, ancião, pastor são nomes para o mesmo ofício: 1) a partir do significado das palavras; 2) a partir do fato de que demandam-se a todos as mesmas qualificações; 3) a partir do fato de que atribuem-se os mesmos deveres a todos; 4) a partir dos fatos de que os textos provam um nível mais elevado não defendem essa reivindicação. Plumptre, Popular Com., Epístolas Paulinas, 555,556 - "Não pode haver sombra de dúvida de que os dois títulos de bispo e presbítero, na era apostólica eram intercambiáveis".
b) A única objeção plausível à identidade de presbítero com o bispo é a sugerida primeiro por Calvino, com base em 1 Tm. 5.17. Mas este texto só mostra que o ofício de presbítero ou de bispo envolviam dois tipos de trabalho e que alguns presbíteros ou bispos tinham mais sucesso em um do que em outro. Que os dons de ensinar e dirigir pertenciam ao mesmo indivíduo está claro em At. 20.28-31; Ef. 4.11; Hb. 13.7; 1 Tm. 3.2- επίσκοπο ν διδακτικόν. 1 Tm. 5.17 - Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina"; Wilson, Primitive Government of Christian Churches, admite que este último texto "expressa uma diversidade no exercício do presbiterado, mas não no ofício em si"; embora ele fosse presbiteriano, nunca se recusou consistentemente a ter quaisquer presbíteros na direção da igreja.
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At. 20.28,31 - "bispos, para apascentardes a igreja de Deus ... portanto, vigiai"; Ef. 4.11 - "e outros para pastores e doutores (ensinadores)" - aqui Meyer assinala que o artigo destina-se às duas palavras juntas, e impedenos de supor que se pretende tratar de dois ofícios separados. Jerônimo: "Nemo ... pastoris sibi nomen assumere débet, nisi possit docere quos passit". Hb. 13.7 - "Lembrai-vos dos vossos pastores (líderes), que vos falaram a palavra de Deus"; 1 Tm. 3.2 - "Convém que o bispo seja ... apto para ensinar". A grande tentação de ter ambição no ministério cristão consiste em não ter nenhuma graduação de níveis. O pastor é um sacerdote, no mesmo sentido em que qualquer crente o é. Dexter, Congregationalism, 52 - "Calvino era, por natureza, um aristocrata, não um homem do povo, como Lutero. Vindo da sua própria família para ser instruído na família da nobreza, herdou uma tendência para o exclusivismo. Ele cria na autoridade e no amor do seu exercício. Poderia facilmente ter sido um déspota. Ele admitia que todos cidadãos poderiam ser cristãos até que se prove o contrário. Resolveu a disciplina eclesiástica em controle nos moldes policiais. Confessava que o presbiterado é um expediente a que ele foi conduzido pelas circunstâncias, embora depois de criá-lo naturalmente empenhou-se em procurar base bíblica em seu favor".
c) Em algumas das igrejas do Novo Testamento parece ter havido uma pluralidade de presbíteros (At. 20.17; Fp. 1.1; Tt. 1.5). Contudo, não há nenhuma evidência de que o número de presbíteros era uniforme ou que a pluralidade que freqüentemente existia se devesse a qualquer outra causa que não seja o tamanho das igrejas de que eles cuidavam. O exemplo do Novo Testamento, conquanto permita a multiplicação de pastores assistentes segundo a necessidade, não requer uma pluralidade de presbíteros em todos os casos; nem esta pluralidade de presbíteros, onde existe, se torna autoridade coordenada a uma igreja. Há indicações, contudo, de que, ao menos em certas igrejas, o pastor era um, enquanto os diáconos eram mais de um. At. 20.17 - "De Mileto mandou a Éfeso a chamar os anciãos (presbíteros) da igreja"; Fp. 1.1 - "Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e
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diáconos"; Tt. 1.5 - "Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros como já te mandei". Contudo, ver At. 12.17 "Anunciai isto a Tiago e aos irmãos"; 15.13 - "E, havendo eles se calado, tomou Tiago a palavra, dizendo: Varões irmãos ouvi-me"; 21.18 - "No dia seguinte, Paulo entrou conosco na casa de Tiago e todos anciãos (presbíteros) vieram com ele"; Gl. 1.19-"E não vi a nenhum outro, senão a Tiago, irmão do Senhor"; 2.12-"chegado da parte de Tiago". Estas passagens parecem indicar que Tiago era o pastor ou presidente da igreja em Jerusalém, suposição que a tradição corrobora. 1 Tm. 3.2 - "Portanto o bispo seja irrepreensível"; Tt. 1.7 - "Porque convém que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus"; cf. 3.8,10,12 - "Da mesma sorte os diáconos sejam honestos ... também sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. ... Os diáconos sejam maridos de uma só mulher e governem bem os seus filhos e suas próprias casas" - em todas estas passagens fala-se do bispo no singular e dos diáconos no plural. Do mesmo modo também em Ap. 2.1,8,12,18 e 3.1,7,14, "o anjo da igreja" é melhor interpretado como significando o pastor da igreja; e, se isto for correto, é claro que cada igreja não tinha muitos pastores, mas apenas um. Contudo, por antecedência, parece improvável que cada igreja de Cristo, conquanto pequena, deveria requerer uma pluralidade de anciãos, visto que particularmente há igrejas que têm apenas um membro homem. Uma pluralidade de presbíteros é natural e vantajosa só onde a igreja é muito numerosa e o pastor necessita de assistentes na sua obra; só em tais casos podemos dizer que o exemplo do Novo Testamento favorece tal iniciativa.
B) Os deveres destes ofícios. a) O pastor, bispo, ou presbítero é: Primeiro: um mestre espiritual, público ou particular; At. 20.20,21,35 - "como nada que seja útil vos deixei de anunciar e ensinar publicamente e pelas casas, testificando tanto a judeus quanto a
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gregos a conversão a Deus e a fé no nosso Senhor Jesus Cristo. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber"; 1 Ts. 5.12 - "E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor e vos admoestam"; Hb. 13.7,17 - "Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver... Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque eles velam por vossa alma como aqueles que hão de dar conta delas". Convém lembrar que a obra particular da conversação religiosa do pastor e da oração é tão importante como a seu ministrar público; nisto ele deve ser um exemplo para o seu rebanho e este deve aprender dele a arte de ganhar os não convertidos e de cuidar daqueles que já são salvos. Um rabino judeu certa vez disse: "Deus não podia estar em toda a parte; por isso fez as mães". Podemos substituir a palavra 'mães' pela palavra 'pastores'. Conta-se que o bispo Ken fez um voto de a cada manhã, quando se levantasse não se casaria naquele dia. Suas próprias linhas expressam melhor o seu pensamento: "O altar atende melhor um sacerdote virgem; o nosso Senhor que não estabelece os mandamentos, mas manda".
Segundo: administrador das ordenanças; Mt. 28.19,20-"Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado"; 1 Co. 1.16,17 - "E batizei também a família de Estéfanas; além destes não sei se batizei algum outro. Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para evangelizar". Aqui é evidente que, embora o pastor administre as ordenanças, esta não é a sua principal tarefa, e nem a igreja depende dele nesse assunto. Ele não foi constituído, como o sacerdote do V.T., para ministrar ao altar, mas para pregar o evangelho. Numa emergência, qualquer membro indicado pela igreja pode administrá-las com igual propriedade desde que a igreja determine quem é adequado a fazê-lo, e o constitua para isso. Qualquer outro ponto de vista se baseia em noções sacramentais e nas idéias de sucessão apostólica. Todos os cristãos são "sacerdotes para Deus" (Ap.
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1.6). Este sacerdócio universal não é para expiação, mas de adoração, e não se liga a nenhum ritual ou ordem de tempos e lugares" (P. M. Moxom).
Terceiro: superintendente da disciplina, assim como presidente das reuniões da igreja. Superintendente de disciplina: 1 Tm. 5.17 - "Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina"; 3.5 - "(porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da casa de Deus?)" O ofício de presidir as reuniões da igreja: 1 Co. 12.28 - "governos" - aqui κυβερνήσεις, ou "governos", indicando os deveres do pastor, são a contrapartida de αντιλήψεις, ou "socorros", o que designa os deveres dos diáconos; 1 Pe. 5.2,3 - "Apascentai o rebanho de Deus que está no meio de vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo para o rebanho". Nas antigas igrejas congregacionais da Nova Inglaterra, a autoridade concordava com o pastor que excedia ao padrão do Novo Testamento. Dr. Bellamy podia interromper uma festa que ele julgava imprópria e mandar os membros da sua paróquia para casa". A congregação surgia quando o ministro entrava na igreja e se descobria quando cruzava o pórtico. Não devemos esperar ou desejar restaurar o regime da Nova Inglaterra. O pastor deve assumir a responsabilidade, pôr-se adiante quando necessário e levar a efeito as regras impostas por Cristo e as decisões da igreja segundo tais regras. Dexter, Congregationalism, 115,155,157 - "O governador de Nova Iorque sugere ao Legislativo tais e tais leis, e depois as executa quando lhe aprou-ver. Ele é o chefe do Estado enquanto o Legislativo aceita ou rejeita o que ele propõe". Do mesmo modo, as funções do pastor não são legislativas, mas executivas. Cristo é o único legislador. Ao cumprir o seu ofício a maneira e o espírito da obra do pastor são de tão grande importância como a correção do julgamento e fidelidade à lei de Cristo. "O jovem que não pode distinguir os lobos dos cães não pode tornar-se pastor". Gregório Nazianzeno: Ou não ensineis ninguém, ou deixai a vossa vida ensinar também".
Teologia Sistemática (Strong) 1815 b) O diácono é o auxiliar do pastor e da igreja, tanto nas coisas espirituais como nas temporais. Primeiro: aliviando o pastor das tarefas externas, informando-o das condições e necessidades da igreja e formando um laço de união entre o pastor e o rebanho. At. 6.1-6 - "Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, ouve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. Ε os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos as mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. Ε este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão e Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos"; cf. 8-20 onde Estêvão mostra poder na disputa; Rm. 12.7 - "se é ministério [διαχονίαν], seja em ministrar; 1 Co. 12.28-"socorros"-aqui αντιλήψεις, "socorros", indicando os deveres dos diáconos, são a contrapartida de κυβερνήσεις, "governantes", que designam os deveres do pastor; Fp. 1.1 - "bispos e diáconos". O Dr. Ε. G. Robinson não considerava a eleição dos sete, em At. 6.1-4, como um marco da origem do diaconato, apesar de que o pensamento dele é que o diaconato é um desenvolvimento desta eleição. A Autobiografia de C. H. Spurgeon, 3.22, apresenta um relato da eleição dos "anciãos" no Tabernáculo Metropolitano em Londres. Estes "anciãos" deveriam cuidar dos negócios espirituais da igreja, do mesmo modo que os diáconos deveriam cuidar dos temporais. Os "anciãos" eram escolhidos anualmente, enquanto o ofício do diácono era permanente.
Segundo: auxiliando a igreja, socorrendo o pobre e o enfermo e ministrando de modo informal as necessidades espirituais e realizando alguns deveres em conexão com o serviço do santuário.
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Não é porque os diáconos são ajudadores, que é necessário em todos os casos serem velhos e ricos; de fato é melhor que entre o grupo de diáconos estejam representadas várias diferenças de posição social, idade, condição financeira. As qualificações para o diaconato mencionadas em At. 6.1-4 e em 1 Tm. 3.8-13 são, substancialmente: sabedoria, simpatia e espiritualidade. Há vantagens em eleger diáconos não vitalícios, mas por um limite de anos. Conquanto não haja no Novo Testamento nenhuma prescrição sobre este assunto, e cada igreja pode fazer a sua opção, o serviço por um limitado número de anos, com possibilidade de reeleição quando o ofício é bem desempenhado, parece que 1 Tm. 3.10 favorece esta prática - Έ também sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis"; 13 - "Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus". Expositor's Greek Testament sobre At. 5.6, assinala que os que levaram e sepultaram Ananias são chamados οϊ νεώτεροι — "os jovens" — e, no caso de Safira eram οϊ νεανίσκοι - significando a mesma coisa. "Sobre a distinção natural entre πρεσβύτεροι e νεώτεροι - anciãos e jovens - bem pode ter ocorrido que os deveres oficiais na igreja se fixassem posteriormente". O pensamento do Dr. Leonard Bacon de que os apóstolos incluíram a membresia toda na palavra "nós", quando disseram: "Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos as mesas". Nesta interpretação, os diáconos foram escolhidos para socorrer a igreja toda nos assuntos temporais. Em Rm. 16.1,2, parece termos uma menção a uma diaconisa - "Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja em Cencréia, porque tem hospedado a muitos, como também a mim mesmo". Ver também 1 Tm. 3.11 - "Da mesma sorte as mulheres sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo" - aqui Ellicott e Alford reivindicam que a palavra "mulheres" não se refere às mulheres dos diáconos, como a Versão Autorizada (Norte-americana) apresenta, mas a diaconisas. Dexter, Congregationalism, 69,132, sustenta que embora o ofício de diaconisa já existia, já passou, e pertence a um tempo quando os homens não podiam, sem qualquer suspeita, ministrar às mulheres.
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Contudo, a nós recomenda-se por si mesmo este ponto de vista de que há oficiais temporários na igreja. É mais correto dizer que há dúvida sobre se havia o ofício de diaconisa, mesmo na igreja primitiva. Cada igreja tem por si mesma o direito de interpretar nesse particular a Escritura e de agir de acordo com a sua interpretação. Um artigo publicado na Revista Trimestral Batista 1869.40, nega qualquer classe ou ofício, para homens e para mulheres. Fish, em sua Eclesiologia, sustenta que Estêvão era diácono, mas também um presbítero e pregava na qualidade de presbítero, não como diácono; At. 6.1-4 chama a instituição, não de diaconato, mas de ministério cristão. O emprego da expressão διακονείν τραπέζαις, e a distinção entre diaconato e o pastorado feita subseqüentemente nas epístolas, parece refutar essa interpretação.
C) Ordenação de oficiais. α) Ο que é ordenação? É a separação de uma pessoa divinamente chamada para um ministério especial na igreja. Não envolve a comunicação de poder; é simplesmente o reconhecimento dos poderes anteriormente conferidos por Deus e uma conseqüente autorização formal, da parte da igreja para o exercício dos dons já concedidos. Este reconhecimento e autorização não só se expressam pelo voto no qual o candidato é aprovado pela igreja ou pelo concilio que a representa, mas deve ser acompanhado pelo serviço especial de aconselhamento, oração e imposição de mãos (At. 6.5,6; 13.2,3; 14.23; lTm4.14; 5.22). O concílio apenas recomenda um homem às igrejas como habilitado para pregar e administrar as ordenanças em alguma igreja particular ou em algum designado campo de trabalho, como representante da igreja. O próprio candidato deve estar persuadido da sua chamada para o ministério (1 Co. 9.16; 1 Tm. 1.12); mas, em segundo lugar, a igreja também deve estar persuadida antes que ele tenha autoridade para ministrar no meio dela (1 Tm. 3.2-7; 4.14; Tt. 1.6-9.
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A palavra "ordenar" veio a ter uma significação técnica não encontrada no Novo Testamento. Lá significa somente escolher, indicar, separar. Em 1 Tm. 2.7 - "Para o que fui constituído [εςτέθην] pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios na fé e na verdade" - parece denotar ordenação de Deus. Nas passagens seguintes lemos ordenação da parte da igreja: At. 6.5,6 - "E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro e Nicanor, e Timão e Pármenas, e Nicolau, prosélito de Antioquia; e os apresentaram aos apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos" - ordenação de diáconos; 13.2,3 - Έ, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabe e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando e, pondo sobre eles as mãos os despediram"; 14.23 - "É, havendolhes por comum consentimento eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido"; 1 Tm. 4.14 "Não desprezes o dom que há em ti, o qual por profecia, te foi dado com a imposição das mãos do presbitério"; 5.22 - "A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios". Plataforma de Cambridge, 1648, cap. 9 - "A ordenação não é outra coisa senão a solene colocação de um homem no seu lugar e ofício na igreja para a qual ele obtivera o direito anteriormente através da eleição; é como a instalação de um Magistrado na República". A ordenação não confere autoridade - ela só reconhece a autoridade já concedida por Deus. Visto que ela é apenas um reconhecimento, pode ser repetida com tanta freqüência quantas forem as vezes que o homem muda de relações denominacionais. Leonard Bacon: "A ação de um concilio não tem mais autoridade que a razão na qual ela se baseia. O concilio convocado pela igreja é uma competente corte de apelação, qualquer que seja a sua decisão". Visto que a ordenação é somente uma escolha, nomeação, designação, parece claro que, no caso dos diáconos, que mantêm um relacionamento oficial com a igreja que os constitui, a ordenação não requer consulta a outras igrejas. Porém, na ordenação de um pastor, há três estágios naturais: 1) convocação da igreja; 2) decisão de um concilio (o concilio é virtualmente a igreja informada por seus irmãos); 3) publicação desta decisão através de um culto público de oração e imposição de mãos. Pode-se dizer que o convite para ser pastor, no caso de um homem não
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ordenado, é feito condicionalmente pela igreja e precedido de uma ratificação da sua ação pelo subseqüente juízo do concilio. Em uma igreja bem instruída, a convocação de um concilio é o método regular de apelo da igreja não informada para a igreja informada pelos seus irmãos; e o voto do concilio aprovando o candidato é apenas o complemento essencial de uma ordenação, cujo voto da igreja que convida o candidato ao pastorado é um estágio preliminar. Esta separação feita pela igreja com a comunicação e assistência do concilio é tudo o que necessariamente está implicado nas palavras do Novo Testamento que estão traduzidas em "ordenar"; tal ordenação, pelo simples voto da igreja e do concilio, não poderia ser considerada invalida. Mas seria irregular. O precedente do Novo Testamento torna certas medidas não só apropriadas, mas obrigatórias. Uma publicação formal da sentença do concilio, pela imposição das mãos, em conexão com a oração, é o último dos deveres do grupo, que serve como instrumento e assistência à igreja. Indica-se a imposição de mãos para ser um acessório da ordenação, como o batismo para ser o acessório regular da regeneração; contudo, a imposição de mãos não é mais a substância da ordenação, do que o batismo o é da regeneração. A imposição de mãos é o símbolo natural da comunicação, não da graça, mas da autoridade. Não torna um homem ministro do evangelho, do mesmo modo que a coroação torna Vitória uma rainha. O que ela significa, na verdade, e publica, é o reconhecimento formal e autorização. À luz do que foi visto, não só não pode haver nenhuma objeção à imposição de mãos baseada em que ela favorece o sacramentalismo, mas na insistência do dever de cada concilio de ordenação. O Sr. Spurgeon nunca foi ordenado. Começou e terminou o seu notável ministério como um pregador leigo. Ele se revoltou contra o sacramentalismo da Igreja da Inglaterra, que parecia sustentar que, na imposição de mãos na ordenação, a graça divina destilava pelos dedos do bispo, e sentiu-se movido a protestar contra isso. A nosso juízo, teria sido melhor seguir o precedente do Novo Testamento e ao mesmo tempo instruir as igrejas quanto ao real sentido da imposição de mãos. A Ceia do Senhor semelhantemente havia sido interpretada como uma comunicação de graça,
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mas o Sr. Spurgeon ainda continua a observar a Ceia do Senhor. Os seus dons permitem-lhe atrair para si o seu povo, quando um homem mais fraco poderia através dos pontos de vista peculiares ter arruinado o seu ministério. Ele se sentia grato por ser um pastor de uma grande igreja, porque ele sentia que não tinha talento suficiente para pastorear uma igreja pequena. Ele dizia que, quando queria causar uma impressão peculiar sobre as pessoas, punha-se no seu canhão e disparava sobre elas. Recusou o grau de Doutor em Divindade e dizia que "D. D." significa freqüentemente "Duplamente Destituído". O Dr. P. S. Henson sugere que as letras significam apenas "Fiddle Dee Dee (Rabeca do D. D.)". Três testes de João Wesley sobre a vocação para a pregação: "Interrogatório dos candidatos", diz ele, "1. Conhecem a Deus como um Deus perdoador? Têm o constante amor de Deus dentro de si? Não desejam ou não vêem nada a não ser Deus? São santos em todo o tipo de conversação? 2. Têm dons da mesma forma que a graça, para com a obra? Têm um conceito justo nas coisas de Deus? Têm uma concepção justa da salvação pela fé? Deus lhes deu um certo grau de oratória? Falam correta, pronta, claramente? 3. Têm frutos? Há convencimento do pecado e conversão a Deus através da sua pregação?" A segunda destas qualificações parece ter estado na mente da menininha que disse ao bispo, quando impunha as mãos sobre o candidato, que estava sentindo que na cabeça dele via se tinha cérebro suficiente para pregar. Há uma certa necessidade de que o candidato pregue um "sermão de prova" para mostrar ao concilio que ele tem os dons requeridos para um ministério bem sucedido. A respeito disso os presbiterianos da Escócia estão em posição avantajada sobre nós.
b) Quem deve ordenar? A ordenação é o ato da igreja, não de uma classe privilegiada na igreja como erroneamente tem sido considerado o presbitério, nem ainda o ato de outras igrejas reunidas representadas em concilio. No Novo Testamento não se reconhece nenhuma autoridade eclesiástica maior do que a igreja local. Esta autoridade, contudo, tem seus limites; e, porque a igreja não tem nenhuma autoridade fora de seu grupo, o candidato à ordenação deve ser membro da igreja que ordena.
Teologia Sistemática (Strong) 1821 Porque cada igreja tem a obrigação de reconhecer a presença do Espírito nas outras igrejas corretamente constituídas e de reconhecer suas decisões e, de igual maneira os outros a reconhecem, convém, na ordenação, como em todos os passos importantes afetando outras igrejas, que se faça um comunicado antes de levar o candidato ao ofício e que as outras igrejas sejam convocadas a tomar assento com ela no concilio e, se se houver por bem, participem na separação do candidato para o ministério. Não foram superiores eclesiásticos de Paulo e Barnabé que lhes impuseram as suas mãos, como requer a doutrina da High Church (Igreja Anglicana). Quem o fez foram os seus iguais ou inferiores como simples representantes da igreja. A ordenação não é mais do que o reconhecimento de uma designação divina e a recomendação ao cuidado e bênção de Deus por aqueles que designam. O concílio de ordenação é apenas a igreja que os irmãos aconselharam, ou uma comissão com poderes para agir em nome da igreja após a deliberação desta. O concílio ordenador não deve ser formado apenas de ministros que já foram ordenados. Como a igreja toda deve preservar as ordenanças e manter a sã doutrina e, como o membro de igreja não ordenado freqüentemente é um mais sagaz juiz sobre a experiência cristã do candidato do que até o seu próprio pastor, parece não haver garantia quer na Bíblia quer na razão, para a não aceitação do leigo aos concílios que tratam da ordenação. Não somente os apóstolos e presbíteros, mas toda a igreja em Jerusalém, que enfrentou esse problema submeteu-o ao concílio e parece que outros além dos ministros participaram como representantes. A teoria de que só os ministros podem ordenar traz consigo o princípio da hierarquia. Fazer do ministério uma corporação fechada é reconhecer o princípio da sucessão apostólica, negar a validade de todas as nossas ordenações já ocorridas e vender a uma casta eclesiástica a liberdade que é própria da igreja de Deus. Atribui-se grande importância ao decoro e ao uso consagrado em matéria de ordenação. Com o fim de garantir isso, seguemse algumas sugestões sobre:
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I. ARRANJOS PRELIMINARES a serem atendidos pelo candidato: 1. Sua carta de transferência deve ser recebida e considerada pela igreja antes da reunião do Concílio. Visto que a igreja não tem jurisdição fora da sua própria membresia, o candidato deve ser membro da igreja que se propõe a ordená-lo. 2. A igreja deve votar a convocação do Concílio. 3. Deve convidar todas co-irmãs da sua Associação. 4. Deve expedir convites impressos, solicitando resposta por escrito. 5. Deve enviar uma cópia da Ordem do Dia, sujeita à aprovação do Concílio. 6. O candidato pode selecionar uma ou duas pessoas para oficiar o culto público, sujeito à aprovação do Concílio. 7. O secretário da igreja deve ser instruído a estar presente com os registros da igreja e minutas da Associação, de modo que possa ler a ordem e pedir as credenciais dos representantes. 8. Devem ser indicados introdutores para garantir assentos reservados ao Concílio. 9. Deve-se providenciar uma sala para uma reunião privativa do Concílio. 10. O coro deve ser orientado no sentido de que a apresentação musical, hino, e doxologia serão suficientes para o ofício público. 11. Deve providenciar recepção para os representantes. 12. Deve ser escolhido um membro da igreja para apresentar o candidato ao Concílio. 13. A igreja deve ser incentivada no domingo anterior a assistir ao exame do candidato bem como ao ofício público. II. PRESENÇA DO CANDIDATO NO CONCÍLIO. 1. O seu procedimento deve ser o de um pretendente. Visto que ele espera o julgamento favorável de seus irmãos, um comportamento modesto e muita paciência nas respostas, são próprios do seu comportamento. 2. Fique em pé durante a sua exposição e durante as perguntas a não ser que, por motivo de saúde ou fadiga ele esteja impedido. 3. Será muito bom dividir a sua exposição em 15 minutos para a experiência cristã, 10 para a chamada para o ministério e 35 para os seus pontos de vista doutrinários. 4. É preferível um pronunciamento à viva voz sobre os três aspectos a uma exposição por escrito. 5. Sobre os pontos de vista doutrinários: a) quanto mais claramente ele se pronunciar, menos necessidade haverá de perguntas; b) as suas declarações não devem ser negativas, mas positivas não deve declarar o que não crê, mas o que, na verdade, crê; c) não se requer que ele apresente as razões da sua crença, a não ser que ele mesmo seja questionado a esse respeito; d) ele deve elaborar as porções do seu sistema teológico mais recentes e práticas, em lugar das mais antigas e
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teóricas; e) ele bem pode concluir cada ponto de sua exposição com uma simples prova textual bíblica. III. DEVER DO CONCÍLIO: 1. Ele não deve proceder o exame do candidato enquanto não tiverem sido apresentadas as próprias credenciais. 2. Em cada caso deve-se permitir ao candidato que faça uma pesquisa, para que isto não pareça injusto em outros casos. 3. No seu voto de aprovação deve constar: "Nós agora separamos", e "apresentaremos um expressivo ofício público deste fato". 4. Deve-se observar um rigoroso decoro em cada estágio dos procedimentos, lembrando que o concilio está agindo em nome de Cristo, o grande cabeça da igreja, e é um assunto de projeção eterna. 5. O Concílio não deve tratar de nenhum outro assunto além daquele para o qual a igreja o convocou e, quando este for declarado findo, o Concílio será suspenso sine die.
Convém sempre lembrar, contudo, que a autoridade para ordenar repousa sobre a igreja e que ela pode proceder sem um Concílio ou contra a decisão dele. É claro que tal ordenação limitaria a autoridade só à igreja individual. Onde não há nenhuma exceção imediata quanto à decisão do Concílio, tal decisão deve ser considerada virtualmente a da igreja que o convocou. A mesma regra se aplica à decisão do Concílio de depor do ministério. Na ausência de protesto imediato da parte da igreja, toma-se corretamente a decisão do Concílio como virtualmente a decisão da igreja. A ordenação como um ato praticado pela igreja local com a comunicação e assistência de outras corretamente constituídas considerase com justiça como dando permissão formal para o exercício dos dons e administração das ordenanças dentro dos limites de tais igrejas. A ordenação, portanto, não deve ser repetida na mudança da relação pastoral de uma igreja para outra. Em cada caso, contudo, onde um ministro de um grupo cristão não constituído segundo as Escrituras assume a relação pastoral em uma igreja corretamente organizada, há uma propriedade peculiar, não só no exame realizado por um Concílio sobre a sua experiência cristã, chamada para o ministério e pontos de
Teologia Sistemática (Strong) 1824 vista doutrinários, mas também no ato de reconhecimento formal e autorização, que se chama ordenação. O concílio deve ser numeroso e constituído com imparcialidade. A igreja que convoca o Concílio deve constar de um bom número de representantes. Nem a igreja, nem o Concílio devem permitir a antecipação de um juízo com o anúncio prévio de uma solenidade de ordenação. Conquanto o exame do candidato seja público, todo o perigo de que o Concílio seja indevidamente influenciado pela pressão de fora seria facilitado pela forma como as suas deliberações forem conduzidas, e pelas suas decisões em sessão privativa. Sugerimos um modelo de carta de convocação de Concílio; ordem de procedimento depois que o Concílio se reúne e um programa para a sessão solene. CARTA DE CONVOCAÇÃO. - A Igreja de .... à Igreja de .... : Caros irmãos: Por voto desta igreja, solicita-se aos irmãos que enviem o seu pastor e dois representantes para reunirem-se conosco consoante as resoluções por nós tomadas no dia ..., de ... de 20... : Considerando que o irmão –, membro desta igreja, apresentou-se para a obra do ministério do evangelho e, sendo escolhido por nós para ser o nosso pastor, Resolvemos: 1. Que se requeira às igrejas circunvizinhas, em comunhão com a nossa, de acordo com o que for designado, que enviem o seu pastor e dois representantes para a reunião e conselho com esta igreja às .... horas do dia ... de ... 20.., e se, após o exame, for aprovado, esse irmão seja separado, por voto do Concílio, para o exercício do ministério do evangelho e que o ofício público seja a expressão desse fato. 2. Que se requeira ao Concílio, se for esta a decisão, indique dois dos seus membros para orientar o candidato, na elaboração do ofício público. 3. Que o convite feito através de cartas impressas, incluindo as resoluções, e assinadas pelo secretário desta igreja, sejam remetidas às igrejas: ....,.....,.....,.......Ε que se requeira às referidas igrejas o fornecimento de uma certidão de indicação aos representantes devidamente assinada, para a sua apresentação ao Concílio.
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4. Que o Rev. .... e os irmãos ...., .... sejam convidados pelo secretário da igreja a participarem como membros do Concílio. 5. Que os irmãos ....,...., e .... sejam indicados como nossos representantes nas deliberações do Concílio; e que se requeira ao irmão .... apresente o candidato ao Concílio, com uma expressão de elevado respeito e caloroso afeto para com os que vieram saudá-lo bem como os que trabalham entre nós. Pela Igreja.... Fulano de Tal. Secretário. Procedimento: 1. Leitura da carta enviada, pelo secretário, seguida da chamada das igrejas e indivíduos convidados, pela ordem, para que se apresentem e mencionem os seus nomes por escrito; ao apresentar as suas credenciais, cada representante toma assento num local da casa reservado para o Concílio. 2. Anúncio, pelo secretário, de que o Concílio se reuniu e constituiu um moderador; a moção proposta pelo secretário; após o que o moderador toma assento. 3. A organização se completa com a eleição de um secretário do Concílio, com a oração e um convite aos irmãos para que tomem assento com o Concílio, mas sem direito a voto. 4. Leitura das atas da igreja, pelo secretário, em nome da igreja, relativas ao convite dirigido ao candidato, sua aceitação, juntamente com a evidência da sua habilitação, da membresia desta igreja, e a sua posição a respeito de outros assuntos, se ele proveio de outra denominação. 5. Voto, da parte do Concílio, no sentido de que os procedimentos do Concílio e posição do candidato dão garantia à sua pretensão à ordenação. 6. Introdução do candidato ao Concílio, por um representante da igreja como uma expressão do sentimento da referida igreja a respeito dele e do seu trabalho. 7. Vota-se ouvir a sua experiência cristã. A exposição da parte do candidato seguida de perguntas quanto a quaisquer características daquilo que demanda elucidação. 8. Vota-se ouvir as razões por que o candidato crê que ele é chamado para o ministério. Exposição e perguntas. Vota-se ouvir os pontos de vista do candidato sobre a doutrina cristã. Exposição e perguntas. 10. Vota-se concluir o exame público e a retirada do candidato para uma sessão privativa. 11. Na sessão privativa, após oração, o Concílio determina, por três votos separados, a fim de garantir a consideração em separado de cada questão, se o Concílio está
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satisfeito com a experiência do candidato, chamada para o ministério, e manutenção do trabalho público que expresse este fato; para isso, deve-se indicar uma comissão de duas pessoas para trabalhar com o candidato na ordem do dia da ordenação e relatar antes da suspensão dos trabalhos. 13. O secretário do Concílio lê as minutas e as corrige, a fim de prepará-las para a apresentação da sessão solene de ordenação, e preservação nos arquivos da igreja. 14. Vota-se dar ao candidato um certificado de ordenação assinado pelo moderador e pelo secretário do Concílio, e a publicação de um relato dos procedimentos nos jornais da denominação. 15. Suspende-se a reunião até o exercício da ordenação. PROGRAMA DA SESSÃO SOLENE PÚBLICA (duas horas de duração). – 1. Livres (5'). 2. Apresentação especial de um hino (5'). 3. Leitura das minutas do Concílio pelo secretário (10'). 4. Oração invocatória (5'). 5. Leitura bíblica (5'). 6. Sermão (25'). 7. Oração de ordenação com a imposição de mãos (15'). 8. Hino (10'). 9. Cumprimentos ao candidato estendo-lhe a mão direita em sinal de solidariedade (10'). 10. Posse ao candidato (15'). 11. Incumbência à igreja (15'). 12. Doxologia (5'). 13. Bênção impetrada pelo novel pastor. O teor no N.T. parece indicar que os diáconos devem ser ordenados com oração e imposição de mãos apesar de que através de um concilio ou sessão solene pública. Evangelistas, missionários, ministros servindo como secretários de instituições beneficentes também devem ser ordenados visto que são instrumentos da igreja separados para uma tarefa religiosa especial em favor das igrejas. A mesma regra se aplica àqueles que são separados para serem mestres e professores de seminários teológicos. Filipe, ao batizar o eunuco deve ser considerado como um instrumento da igreja em Jerusalém. Tanto os missionários locais como os que atuam no exterior são evangelistas; e, como instrumentos de igrejas na sua própria terra à qual eles pertencem, têm a obrigação de transferirem-se por carta para a igreja à qual eles se agregam. George Adam Smith, Life of Henry Drummond, 265, diz que o seu biografado foi ordenado para ser professor, recebendo a imposição de mãos do presbitério: "O rito é o mesmo quer seja um ministro, quer seja um professor porque a igreja na Escócia não reconhece diferença alguma entre os seus professores e os seus pastores, mas submete-os aos
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mesmos votos, ordena-os como ministros do evangelho de Cristo e dos seus sacramentos". Roma ensina que a ordenação é um sacramento e, "uma vez sacerdote é sempre sacerdote", mas quando Roma confere a ordenação. Há muito tempo que Roma sustenta a indestrutibilidade de todas ordens - ainda que conferidas por uma igreja evangélica. Em Dover, na Inglaterra, um ilustre médico declinou de pagar a sua conta de médico pelo fato de que não era costume pagar a um outro para executar os seus serviços. Soube-se que ele era um profissional aposentado e por isso perdeu a causa. A ordenação, como a vacinação, pode ter um limite. A aposentadoria da função de professor público pode causar a perda do caráter oficial. A autorização dada pelo Concílio baseia-se num reconhecimento prévio de uma chamada divina. Quando, em razão do seu afastamento definitivo do ministério e dedicação total atividade secular, surgem sinais de que não se reconhece mais a chamada divina, toda a autoridade e posição como ministro cristão também terminam. Por isso repudiamos a doutrina da "indestrutibilidade das ordens sagradas", e a correspondente máxima: "Uma vez ordenado, é sempre ordenado"; apesar de que, como na Plataforma de Cambridge, não limitamos a função ministerial ao pastorado. Essa plataforma sustenta que "cessando a relação pastoral, cessa a função ministerial e o pastor volta outra vez a ser um leigo; para ser reconduzido ao ministério é necessário haver uma segunda ordenação, chamada instalação. Esta teoria do ministério se prova tão inadequada que não foi sustentada por mais de uma geração. Foi rejeitada pelas igrejas congregacionais da Inglaterra dez anos depois de ser formulada na Nova Inglaterra". O Concílio Nacional das Igrejas Congregacionais, em 1880, deliberou que qualquer pessoa que serve uma igreja como ministro pode ser tratada e disciplinada por qualquer igreja, não importa quais as suas relações na membresia da igreja, ou filiação eclesiástica. Se, ao escolhê-lo, a igreja não convocar um concílio, qualquer igreja pode fazê-lo com esse propósito". Contudo, este último recurso pressupõe que os passos de trabalho fraterno e aconselhamento, apresentados em nossa sessão que vem a seguir, sobre a Relação das Igrejas Locais entre si, tenham sido seguidos e não tenham sido suficientes para conduzir à apropriada ação da parte da igreja a que o ministro pertence.
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A autoridade de uma igreja presbiteriana limita-se à sua denominação. Ela não pode ordenar ministros para igrejas batistas nem ordená-los para igrejas metodistas ou episcopais. Quando um ministro presbiteriano vem para uma igreja batista, seus motivos para tal mudança precisam ser analisados pelos batistas antes de admiti-lo à comunhão e igreja cristãs; em outras palavras, ele precisa ser ordenado por uma igreja batista. A ordenação não é uma descortesia para com a outra denominação como também o batismo não o é. Aqueles que se opõem à reordenação em tais casos sustentam virtualmente o ponto de vista romano do caráter sagrado das ordens. The Watchman, 17 de abril de 1902 – "O ministério cristão não é uma classe sacerdotal que o laicado não pode suportar. Se o ministro não pode encontrar uma igreja pronta para sustentá-lo, nada há que impeça a sua entrada para uma outra vocação. Só 10% das pessoas que começam um negócio independente evitam o fracasso e em muito menor proporção chegam a um sucesso substancial. Não são fracassos porque fazem um trabalho útil e valioso. Mas não garantem os prêmios. Não é de admirar que a proporção dos ministros que garantem um púlpito proeminente seja pequena. Muitas pessoas fracassam no ministério. Não existe um elemento sagrado transmitido na ordenação. Tais pessoas devem procurar uma outra vocação. 'Uma vez ministro, sempre ministro' é uma peça do Papado que as igrejas protestantes devem evitar".
3. Disciplina na Igreja A) Tipos de disciplina. - Há dois tipos, de acordo com as ofensas particulares e públicas, a) Deve-se tratar a ofensa particular segundo a regra em Mt. 5.23,24; 18.15-17. Mt. 5.23,24 - "Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com o teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta" - aqui temos a provisão da autodisciplina da parte do ofensor; 18.15-17- "Ora, se o teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas, se não te ouvir, leva
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ainda contigo um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano" aqui temos primeiro uma disciplina em particular, de um para com o outro; e, depois, só como último recurso, a disciplina da igreja. Contudo, Westcott e Hort omitem είς σέ - "contra ti" - em Mt. 18.15 e, deste modo, fazem cada cristão responsável por levar ao arrependimento cada irmão de cujo pecado ele é conhecedor. Isto aboliria a distinção entre ofensas particulares e públicas. Quando um irmão me ofende, não devo falar da ofensa aos outros, nem escrever-lhe uma carta, mas ir a ele. Se ele já é um penitente, começará da sua casa a ver ao mesmo tempo o mesmo que eu da minha e nós nos encontraremos no meio do caminho. Pouco apelo há para a igreja, e pouca atenção a rusgas antigas, se os discípulos de Jesus observam as suas regras simples. Elas impõem o dever tanto sobre a parte ofensora como sobre a ofendida. Quando um irmão traz um assunto pessoal diante da igreja deve sempre perguntar se ele obedeceu à ordem de Cristo de resolver em particular com o ofensor. Se ele não o fez, deve guardar silêncio.
b) Deve-se tratar a ofensa pública de acordo com a regra em 1 Co. 5.3-5,13 e 2Ts. 3.6. 1 Co. 5.3-5,13 - "E, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus. ... Tirai, pois, dentre vós esse iníquo". Note que Paulo aqui não dá ao incestuoso oportunidade para arrepender-se, confessar, ou reverter a sentença. A igreja não pode validar a evidência do arrependimento imediato com base na descoberta e censura. Nessa ocasião a consciência natural sempre reage com remorso e autocrítica, mas se se detesta o pecado por conta da sua iniqüidade inerente, ou se só por causa das infelizes conseqüências, é o que não podemos saber imediatamente. Só os frutos que demonstram arrependimento provam se este é verdadeiro. Mas eles demandam tempo. Ε
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a igreja não tem tempo para esperar. A sua boa reputação na comunidade, e a sua influência sobre os seus membros, estão a prêmio. Por isso elas demandam instantânea exclusão do iníquo, como evidência de que a igreja se purifica de toda cumplicidade com a transgressão. No caso das grosseiras ofensas públicas, deve-se trabalhar com o ofensor, não antes, mas depois, da sua exclusão; cf. 2 Co. 2.6-8 - "basta ao tal esta repreensão feita por muitos;... perdoar-lhe e consolá-lo;... que confirmeis para com ele o vosso amor". A igreja não é uma Companhia de Seguros em Grupo, cujos objetivos são proteger e escudar os seus membros. É uma sociedade cujo fim é representar Cristo diante do mundo e estabelecer a sua verdade e justiça. Cristo empenha a sua honra à sua guarda. O ofensor que apenas anseia por esquivar-se do juízo, e que pleiteia ser perdoado sem demora, mostra freqüentemente que tem o coração cheio de próprio conforto e reputação egoísticos. O verdadeiro penitente pedirá à igreja que o exclua para que possa estar livre do peso da iniqüidade. Ele aceitará a exclusão com humildade, amará a igreja que o exclui, continuará a assistir ao culto e, no devido tempo, procurará e receberá a reintegração. Para aqueles que se arrependem há sempre um caminho de volta à igreja. Mas o método bíblico de garantir o arrependimento é a exclusão imediata. Em 2 Co. 2.6-8 - "repreensão feita por muitos" à primeira vista parece implicar que, embora o ofensor tenha sido excluído, isto ocorre não só por maioria de votos; alguns membros da igreja discordam. O pensamento de alguns intérpretes é que ele não foi totalmente excluído, mas só se interrompeu a associação comum com ele. Mas se a ordem de Paulo na primeira epístola "tirai, pois, dentre vós esse iníquo" (1 Co. 5.13) tivesse sido obedecida desta forma, certamente o apóstolo tê-lo-ia mencionado e repreendido a desobediência. Ao contrário, ele os elogia porque eles fizeram o que ele tinha aconselhado. A ação da igreja em Corinto foi abençoada por Deus com o despertar da consciência e purificação da vida. Em muitas igrejas modernas a exclusão dos membros indignos de igual modo tem causado a cristãos um novo senso de responsabilidade enquanto, ao mesmo tempo, tem convencido todos de que a igreja é totalmente fervorosa. Na verdade, as decisões da igreja, quando guiada pelo Espírito Santo, não são nada menos que uma antecipação do juízo final; ver Mt. 18.18 - "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo
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o que desligardes na terra será desligado no céu". Em Jo. 8.7, Jesus reconhece o pecado e estimula o arrependimento, enquanto desafia o direito de a multidão executar o juízo, e evita o tradicional apedrejamento. A graciosa forma de tratar a mulher pecadora não dá nenhuma indicação do tratamento comum do seu caso pelas autoridades da sinagoga. 2 Ts. 3.6 - "Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que andar desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebeu". O simples "cancelamento" dos nomes do rol de membros contraria o espírito da constituição do N.T.. Isso apenas reconhece três métodos de sair de uma igreja local: 1) exclusão; 2) carta de transferência; 3) morte. Para prover o caso de membros cuja residência é há muito tempo desconhecida, é bom que a igreja tenha como regra padrão que todo membro residente à distância anualmente apresente um relatório por carta ou por contribuição, e no caso de deixar de fazê-lo por dois anos consecutivos, seja sujeito à disciplina. A ação da igreja, em cada caso, deve assumir a forma de adoção de preâmbulo e resolução: "Considerando que A.B. esteve ausente por mais de dois anos e deixou de cumprir a regra padrão que requer um relatório anual ou contribuição, a igreja resolve afastar A.B. da sua comunhão". Em todos casos de exclusão, a resolução deve uniformemente constar o que se menciona acima; o preâmbulo pode variar indefinidamente e sempre citar a natureza da ofensa. Deste modo, a negligência da igreja ou brecha nas obrigações pactuais pode distinguir-se das ofensas contra os princípios morais comuns, de sorte que a exclusão sob aquela base não seja equivocada com a exclusão neste último caso. Como, via de regra, as pessoas excluídas não estão presentes à reunião em que a igreja tomou tal deliberação, deve-se mandar-lhes imediatamente uma cópia do preâmbulo e resolução, assinada pelo secretário da igreja.
B) Relação do pastor com a disciplina: a) Ele não tem autoridade de si mesmo; b) mas é o instrumento da igreja e c) é o superintendente dos seus trabalhos na purificação e na correção dos ofensores; e, portanto, d) pode ser realizada a disciplina da melhor maneira, não diretamente, constituindo-se ele mesmo um policial ou detetive, mas indiretamente garantindo um trabalho apropriado da parte dos diáconos ou irmãos da igreja.
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O pastor deve considerar-se como um juiz ao invés de um promotor do processo. Ele deve compelir os oficiais da sua igreja à investigação dos casos de imoralidade e tratar deles. Mas, se ele mesmo faz as acusações, perde a sua dignidade e abandona o seu poder de ajudar o ofensor. Não é bom que ele seja ou tenha a reputação de ser, o pesquisador de leves delitos entre os membros da sua igreja. O melhor é que ele seja apenas o presidente, e não partidário ou conselheiro na instauração do processo. Por esta razão o melhor é que ele garanta à igreja o direito de indicar uma comissão de prudência, ou comissão de disciplina, cujo dever consistirá em examinar, ao final de cada ano, uma lista dos membros, iniciar um trabalho no caso dos faltosos e, dados os passos necessários, apresentar os preâmbulos e resoluções nos casos em que a igreja necessita de tomar uma deliberação. Este processo anual regular facilita a disciplina, considerando que a negligência por vários anos sucessivos resulta na acumulação de casos em cada um dos quais a pessoa exposta à disciplina tem amigos e estes são tentados a obstruir a ação da igreja no trato de outros, por medo de que o levantamento de qualquer outro caso possa induzir ao levantamento daquele em que eles estão mais de perto interessados. A igreja que não dá atenção regular à sua disciplina é como o fazendeiro que ordenha a sua vaca apenas uma vez por ano para evitar de secar o leite; ou como o menininho que não vê como há pessoas que agüentam pentear o cabelo todo dia; ele o penteia só uma vez em cada seis semanas e isto quase o mata. Como a comissão de prudência ou de disciplina, somente a própria igreja prepara os seus próprios negócios. Ela deve requisitar todas as queixas a serem formuladas através da comissão. Deste modo, pode definir os passos preliminares a se adotarem e garantir a tranqüilidade da igreja, evitando acusações prematuras. Onde a comissão, feitas as representações apropriadas, deixa de cumprir o seu dever, o membro pode apelar diretamente para a igreja reunida em assembléia; e a diferença entre a ordem do Novo Testamento e a de uma hierarquia consiste nisto: segundo aquela, a igreja coletivamente toma toda a responsabilidade da ação final, enquanto nesta, o ministro, o conselho, ou o bispo, no que toca à igreja, determina o resultado.
Teologia Sistemática (Strong) 1833 VI. RELAÇÃO MÚTUA ENTRE AS IGREJAS LOCAIS 1. A Natureza geral desta relação é de comunhão entre si A esse respeito note: a) Absoluta igualdade das igrejas. – Nenhuma igreja ou concilio de igrejas, nenhuma associação ou convenção ou sociedade pode aliviar uma igreja da sua responsabilidade direta com Cristo ou assumir o controle de sua ação. b) Comunhão fraternal e cooperação das igrejas. – Nenhuma igreja pode ignorar ou desconsiderar a existência ou a obra das outras igrejas vizinhas. Presume-se que cada igreja possua o Espírito em igual medida. Portanto, deve haver simpatia e apoio mútuo no bem-estar de umas com as outras como entre os crentes individualmente. Baseiam-se neste princípio as cartas de transferência, reconhecimento de pastores de outras igrejas e as uniões das associações ou uniões para a obra cristã comum. H. O. Rowlands, Bat Quar. Review, outubro, 1891.669-677, estimula a desistência de Concílios especiais, e a volta de uma Associação a um Concílio Permanente para não tomar conhecimento de quais os casos de que ele se agrada, mas considerar e julgar questões tais que possam ser mencionadas por outras igrejas em particular. Depois, pode revisar e rescindir a sua ação, considerando que o presente concílio, uma vez suspenso, nunca pode ser convocado outra vez. Este método evitaria o cerceamento de um concílio, e este, uma vez constituído, exerceria maior influência. Sentimos o retardamento da sanção de tal plano, não só por parecer destituído da autoridade e exemplo do Novo Testamento, mas por tender a uma forma presbiteriana de governo. Todos os grupos permanentes deste tipo gradualmente arrogam para si o poder; indireta ou até diretamente de assumir uma jurisdição original; as suas decisões também exercem grande influência quando entram no campo da persuasão pessoal. A independência da igreja individualmente é um elemento primordial na constituição que não deve ser sacrificada ou posta em perigo somente por
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causa da harmonia inter-eclesiástica. Elas precisam conservar-se sob constante vigilância e crítica, para não solapar o nosso governo batista, princípio fundamental sem o qual não há autoridade na terra acima da igreja local.
2. Comunhão envolve o dever de consulta especial sobre assuntos que afetam o interesse comum a) O dever de buscar conselho. – Porque a ordem e a boa reputação de cada uma é valiosa para as demais, casos de grave importância e dificuldade na disciplina interna, assim como a ordenação de membros para o ministério, devem ser submetidos a um concilio de igrejas convocado para esse propósito. b) O dever de receber conselho. – Pela mesma razão, cada igreja deve prontamente receber admoestação das outras. Na natureza da advertência amigável de que a igreja é culpada das falhas nas doutrinas ou práticas ensinadas por Cristo, a aceitação mútua de cujos mandamentos é a base de toda a comunhão eclesiástica, nenhuma igreja pode, com justiça, recusar-se a ter assinaladas tais falhas, ou recusar-se a considerar a base escriturística de seu próprio procedimento. Tal admoestação ou conselho, contudo, quer vindo de uma simples igreja, quer de um concilio de igrejas não é autoridade impositiva. Tem simplesmente a natureza de persuasão moral. A igreja que a recebe precisa comparar com as leis de Cristo. A decisão última repousa inteiramente na igreja aconselhada ou que pediu conselho. As igrejas devem observar a cortesia e não tirar membros de outras igrejas. Os ministros devem aproximar as igrejas e ensinar aos seus membros a maior unidade da igreja de Deus como um todo. O pastor deve confinar o seu interesse à sua própria igreja ou até mesmo a sua Associação. A Convenção Estadual, a Sociedade de Educação, as Comemorações Nacionais devem reivindicar a sua atenção e a do seu povo. Deve acolher bem os obreiros e auxiliares ao invés de considerar o ministério como uma corporação fechada cujo número deve conservar-se
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sempre pequeno. E. G. Robinson: "O espírito de sectarismo é diabólico. Põe a igreja num plano superior ao de Cristo. Ele não disse: 'Bem-aventurado é o homem que aceita a Confissão de Westminster ou os Trinta e Nove Artigos'. Em Cristo não existe a mínima sombra de eclesialismo. O eclesialismo é um judaísmo readaptado e caiado. Ele conserva uma parede divisória que Cristo derrubou". O Dr. P. H. Mell, Manual de Práticas Parlamentares, chama os Concílios de Igrejas de "Comissões de Socorro". O Presidente James C. Welling sustentava que "Nós, batistas, somos verdadeiros no que se refere à constituição democrática na condução das nossas operações evangélicas coletivas. Neste assunto, nós somos somente uma burocracia temperada com a prodigalidade individual". A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 149,150, assinala em Mt. 18.19 - "se dois concordarem" - συμφωνήσωσιν de que vem a palavra 'sinfonia': "Se dois estiverem de 'acordo', ou 'sinfonizarem' naquilo que eles pedirem, eles têm a promessa de serem ouvidos. Mas, como no som do órgão, todas as possível a harmonia. O mesmo ocorre com a oração. Não basta que dois discípulos concordem entre si; eles devem concordar com um Terceiro - o Senhor justo e santo, antes de concordarem na intercessão. Pode haver acordo que esteja no mais pecaminoso conflito com a vontade divina; 'Porque é que vós vos concertastes' - συμφωνήθη - a mesma palavra - 'para tentar o Espírito do Senhor?' diz Pedro (At. 5.9). Aqui há o acordo mútuo, mas há também, uma culposa discordância com o Espírito Santo".
3. Esta comunhão pode ser quebrada pelos manifestos desvios da fé ou da prática da Escritura da parte de qualquer igreja Em tal caso, o dever para com Cristo requer das igrejas cujo empenho na recuperação do erro de uma igreja irmã se provem inúteis, que se afastem da comunhão das referidas igrejas até que a igreja errada retorne ao caminho do dever. Considerando isto, a lei que se aplica a indivíduos aplica-se a igrejas e a política do Novo Testamento é mais congregacional do que independente.
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A independência é qualificada pela interdependência. Conquanto cada igreja tenha, em última instância, a responsabilidade de averiguar a doutrina e o dever, precisa também reconhecer que o Espírito Santo habita nela da mesma forma que nas outras igrejas e o valor da opinião pública das igrejas como indicação da mente do Espírito. A igreja em Antioquia buscou o conselho da de Jerusalém apesar de que o próprio Paulo estava em Antioquia. Embora nenhuma igreja ou união de igrejas tem justa jurisdição sobre qualquer grupo local, ainda o conselho, quando corretamente convocado e constituído, tem o poder de influência moral. A sua decisão é um indicador da verdade, que só as razões mais graves justificarão a ignorância e recusa da igreja a segui-la. Dexter, Congregationalism, 695 - "Se o barrowismo entregasse todo o poder nas mãos dos presbíteros, ele não teria nenhum concilio. Congregacionalismo é brownismo. Ele apresenta dois focos: Independência e Interdependência". Charles S. Scott, Constituição Batista e o Pastorado, Baptist Quarterly Review, 1890.291,297 - "As diferenças entre a constituição das igrejas batistas e congregacionais encontram-se na autoridade relativa do Concilio Eclesiástico. Não só a ordenação e a primeira posse do ministro deve ocorrer com a informação e consentimento de um concilio, mas toda a subseqüente exoneração e posse". As igrejas batistas têm considerado tal dependência dos concílios depois da ordenação do ministro como uma atitude extrema e sem apoio. O fato de que a igreja tem sempre o direito, por justa causa, de seguir a decisão do concílio e de determinar por si mesma se quer ratificar ou rejeitar esta decisão, mostra de modo conclusivo que a igreja não tem participado em nenhuma partícula da sua independência original ou autoridade. Contudo, apesar de que o concilio é simplesmente um conselheiro - um instrumento e auxílio da igreja - desprezar o conselho pode implicar tal erro eclesiástico ou moral que justifica da parte das igrejas representadas, bem como de outras, o afastamento da confraternização denominational da que o convocou. A relação das igrejas entre si tem analogia com a relação mútua dos cristãos entre si. Não se permite nenhum espírito intrometido; mas, quando se trata de um momento grave, a igreja, assim como o indivíduo, pode justificar-se dando um conselho sem ser solicitado.
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Lightfoot, em sua nova edição de Clemens Romanus, mostra que a Epístola, em vez de emanar de Clemente, o bispo de Roma, é uma carta da igreja de Roma destinada aos coríntios, estimulando-os à paz. Não havia papa nem bispo, mas, congregacionalmente, toda igreja dirigia os seus conselhos à sua co-irmã de crentes em Corinto. O congregacionalismo, em 95 A.D., considerava um dever trabalhar com a co-irmã que, a seu juízo, tinha se desviado ou corria esse perigo. A única primazia era a da igreja, não do bispo; e essa primazia era a da bondade, resguardada pelas vantagens metropolitanas. Toda essa comunhão fraternal provinha da concepção básica da igreja local como a incorporação da igreja universal. Park: Ό congregacionalismo reconhece uma voluntária cooperação e comunhão das igrejas, o que a independência não faz. As igrejas independentes ordenam e depõem os pastores sem pedir conselho de outras igrejas". Segundo este princípio geral, no caso de sério desacordo entre diferentes partes da mesma igreja, o concilio convocado para aconselhar deve ser, se possível, mútuo, não ex parte. Trata-se de uma aplicação geral do mesmo princípio, dizer que o pastor não deve fechar-se em sua própria igreja, mas cultivar amigáveis relações com outros pastores e com outras igrejas, estar presente e ativo nas reuniões das Associações e Convenções Estaduais e nos aniversários das Sociedades Nacionais da denominação. Seu exemplo de amigável interesse no bem-estar dos outros afetará a sua igreja. O forte ensinará a ajudar o fraco, conforme o exemplo de Paulo no levantamento de ofertas para as igrejas da Judéia. O princípio da independência da igreja não só é consistente com todo o tipo de cooperação com as outras igrejas, mas é uma exigência absoluta sob a ordem de Cristo; e as Uniões Sociais e Missionárias a fim de unificar a obra da denominação, garantir o início de novos empreendimentos, evitar que uma igreja invada o território de outra, ou se aproprie dos seus membros, são apenas desdobramentos naturais desse princípio. A nota do Presidente Wayland: "Aquele que desagrada a todos e a tudo dá melhor evidência de que o seu próprio temperamento é fraco e que ele é um mau associado", aplica-se a igrejas e a indivíduos. Toda igreja deve lembrar-se de que, apesar de honrada pelo Senhor, que nela habita, constitui-se uma parte daquele grande corpo do qual Cristo é a cabeça.
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Ver Davidson, EccI. Polity of the N.T.; Ladd, Principles of Church Polity, e sobre o trato geral da igreja, Hodge, Essays, 201 ; Flint, Christ's Kingdom on Earth, 53-82; Hoker, EccI. Polity, A Igreja: uma coleção de ensaios de Luthar-dt, Kahnis, etc.; Hiscox, Diretoria da Igreja Batista; Ripley, Governo da Igreja; Harvey, A Igreja; Crowell, Church Member's Manual; R. W. Dale, Manual of Cong. Principles; Lightfoot, Com. on Philippians, extraído do Ministério Cristão; Ross, 777, The Church-Kingdom – Preleções sobre o Congregacionalismo; Dexter Congregationalism, 681-716, como vemos na sua Literatura; Alison, Baptist Councils in America. Para a negação de que há qualquer autoridade apostólica real no governo da igreja moderna, ver O. J. Thatcher, Sketch of the History of the Apostolic Church.
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Capítulo II ORDENANÇAS DA IGREJA São os ritos externos que Cristo indicou para serem administrados em sua igreja como sinais visíveis da verdade salvadora do evangelho. São sinais que expressam esta verdade e confirmam-na ao crente. Em contraste com este ponto de vista caracteristicamente protestante, o romanista considera as ordenanças como, na verdade, conferindo graça e produzindo santidade. Ao invés de ser uma manifestação externa de uma união anterior com Cristo, são meios físicos de constituir e manter esta união. Com o romanista neste particular concordam substancialmente os sacramentalistas de qualquer nome. A igreja papal tem sete sacramentos: ordenação, confirmação, matrimônio, extrema unção, penitência, batismo e eucaristia. As ordenanças prescritas no Novo Testamento, contudo, são duas, a saber: O Batismo e a Ceia do Senhor. Quero estabelecer bem uma distinção entre cada uma das três palavras: símbolo, rito e ordenança. Símbolo é o sinal, ou representação visível, de uma verdade ou idéia invisível; por exemplo, o leão é símbolo da força e da coragem; o cordeiro, da mansidão; o ramo de oliveira, da paz; o cetro, do domínio; a aliança, do casamento; e a bandeira, do país. Os símbolos podem ensinar grandes lições; quando Jesus amaldiçoou a figueira ensinava o destino do judaísmo infrutífero e a lavagem dos pés dos discípulos de Jesus ensinava a sua descida do céu para purificar e salvar, e o serviço humilde requerido dos seus seguidores. 2. Rito é o símbolo que se emprega com regularidade e intenção sagrada. Os símbolos tornam-se ritos quando empregados desta forma. A imposição de mãos na ordenação, e o cumprimento apertando a mão direita em sinal de companheirismo são exemplos de ritos autorizados na igreja cristã. 3. Ordenança é um rito simbólico que destaca as verdades centrais da fé cristã, e é de obrigação universal e perpétua. O batismo e a ceia do Senhor são ritos que se tornaram ordenanças através da determinação específica de Cristo e através
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do relacionamento delas com as verdades essenciais do reino de Cristo. Ordenança nenhuma é um sacramento no sentido católico romano; mas, como o sacramentum era o juramento que o soldado romano prestava de obedecer ao seu comandante ainda que a preço da morte; do mesmo modo, o batismo e a ceia do Senhor são sacramentos, no sentido de representarem os votos de aliança com Cristo, o nosso Senhor. O Presidente H. G. Weston registrou as suas objeções à observância do assim chamado 'Ano Cristão', nas palavras que vamos citar, mostrando o perigo de incorrer na multiplicação das ordenanças. "1. O chamado 'Ano Cristão' não é cristão. Ele comete todo o tipo de ações e nada de relações. Torna santo o dia que Deus não o constituiu como tal, e, com isso, torna todos os outros dias não santos. 2. Limita o ponto de vista do cristão a respeito de Cristo a cenas e eventos desta vida terrena. A salvação vem através do relacionamento espiritual com o Senhor vivo. O 'Ano Cristão' faz de Cristo tão somente uma memória e não uma força viva, presente e pessoal. Não é a morte, mas a vida a palavra característica do N.T. Paulo ansiava, não pelo conhecimento do fato da ressurreição, mas do seu poder. Os registros do Novo Testamento preocupam-se principalmente com tudo o que Cristo está fazendo agora. 3. As indicações do 'Ano Cristão' não estão de acordo com o N.T. Tais indicações não contêm a realidade da vida espiritual e contrariam o espírito do cristianismo". Podemos acrescentar que, nos lugares onde o "Ano Cristão" é mais geral e rigidamente observado, a religião popular é mais formal e destituída do poder espiritual.
I. BATISMO O batismo cristão é a imersão do crente na água como sinal de sua anterior entrada para a comunhão da morte e ressurreição de Cristo, ou, em outras palavras, em sinal de sua regeneração através de sua união com Cristo. 1. Batismo, uma Ordenança de Cristo A) Prova de que Cristo instituiu um rito exterior chamado batismo.
Teologia Sistemática (Strong) 1841 a) A partir das palavras da grande comissão; b) das injunções dos apóstolos; c) do fato de que os membros das igrejas do Novo Testamento eram crentes batizados; d) da prática universal desse rito nas igrejas cristãs em tempos subseqüentes. a) Mt. 28.19 - "Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Mc. 16.16-"Aquele que crer e for batizado será salvo" - sustentamos com Westcott e Hort, que Mc. 16. 9-20 é de autoridade canônica, embora provavelmente não tenha sido escrito pelo próprio Marcos. b) At. 2.38 - "Έ disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados"; c) Rm. 6.3-5 - "Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim nós também andemos em novidade de vida. Porque se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição"; Cl. 2.11,12 - "no qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo da carne: a circuncisão de Cristo. Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos". d) As únicas exceções ao requisito universal do batismo encontram-se na Sociedade dos Amigos e no Exército da Salvação. O Exército da Salvação não considera a ordenança uma obrigação de maior permanência do que a lavagem dos pés. General Booth: "Ensinamos os nossos soldados que, sempre que eles partirem o pão devem lembrar-se do corpo do Senhor, que foi partido, e sempre que lavarem o corpo devem lembrar-se do poder purificador do sangue de Cristo e do Espírito Santo, que habita em nós". A Sociedade dos Amigos considera as determinações de Cristo, não como qualquer batismo exterior de água, mas apenas o batismo interior do Espírito.
B) Cristo pretende que este rito externo seja obrigação universal e perpétua.
Teologia Sistemática (Strong) 1842 a) Cristo reconheceu em João Batista a comissão de batizar derivada imediatamente do céu. Mt. 21.25 - "O batismo de João de onde era? Do céu ou dos homens?" – aqui Jesus sugere claramente que a comissão que João tinha de batizar derivava de Deus; cf. Jo. 1.25 – os representantes mandados pelo Sinédrio a João Batista perguntaram-lhe: "Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta"? deste modo indica que o batismo de João, quer em sua forma, quer em sua aplicação, era uma nova ordenança que requeria autorização divina especial. Broadus, em seu American Com. on Mt 3.6, defende que o batismo de João não é uma modificação de um rito antigo. O batismo do prosélito não é mencionado na Mishna (200 A.D.); o seu primeiro relato distinto encontra-se no Talmude babilônico (Gemara) escrito no primeiro século; não foi adotado pelos cristãos, mas é uma das purificações judaicas que vieram a ser consideradas, após a destruição do Templo como um rito iniciatório peculiar. Não há menção alguma dele, como um rito judaico, no V.T., no N.T., nos Apócrifos, ou em Josefo (Ver Ed. da Casa Publicadora Batista, 1949, 1º vol. pág. 101a). Para o ponto de vista de que o batismo de prosélitos não existia entre os judeus antes do tempo de João, ver Schneckenburger, Ueber das Alter der jüdischen Prosellytentaufe; Stuart, Bib. Repôs., 1.833.338-355; Toy, Revista Trimestral Batista, 1872.301-332. Contudo, o Dr. Toy, em nota particular ao autor (1884), diz: "Agora estou disposto a reconsiderar o rito cristão como tomado de empréstimo dos judeus, contrariamente ao meu ponto de vista de 1882". Deste modo sustenta Edersheim, Life and Times of Jesus, 2.742-744 -"Temos testemunho positivo de que o batismo dos prosélitos existiu nos tempos de Hillel e Shammai. Porque, enquanto se diz que a escola de Shammai permitia que um prosélito circuncidado na véspera da Páscoa participasse dela, depois do batismo, a escola de Hillel o proibia. Esta controvérsia deve ser considerada como prova de que naquele tempo [antes de Cristo] o batismo de prosélitos era comum". Porter, Proselyte Baptism, Hasting's Bible Diet, 4.132 - "Se a circuncisão fosse um passo decisivo no caso de todos os convertidos do
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sexo masculino, parece não haver mais lugar para sérias discussões sobre o subseqüente banho de purificação, apesar de que não se encontra a antiga menção de tal batismo de prosélitos. A lei (Lv. 11-15; Nm. 19) prescreve tais banhos em todos casos de impureza da vida do gentio antes de entrar para a comunidade sem tal purificação". Plumer, Batismo, Hasting's Bible Diet, 1.239 - "O que se quer é evidência de que, antes de João fazer tão notável uso do rito fosse costume fazer todos os prosélitos submeterem-se ao batismo; e tal evidência não está tão disponível. Contudo, não é um fato tão duvidoso. Não se pode crer que o batismo de prosélitos fosse instituído e tornado essencial à admis- são ao judaísmo num período subseqüente à instituição do batismo cristão; e a suposição de que foi tomado de empréstimo e ordenado por Cristo é monstruosa". Apesar de que o V.T. e os Apócrifos, Josefo e Filo. silenciam a respeito do batismo de prosélitos, é certo que ele existiu entre os judeus nos primeiros séculos cristãos. Por isso, é provável que o batismo de João fosse uma aplicação aos judeus de uma imersão que, antes daquele período, era aplicado aos prosélitos dentre os gentios; e que isto era uma adaptação do rito a uma nova classe de pessoas e com um novo sentido, que estimulava a pesquisa e a crítica do sinédrio. Contudo, é bom lembrarmos que a Ceia do Senhor, igualmente foi uma adaptação de algumas porções do velho ofício da Páscoa a um novo emprego e um novo sentido.
b) Na sua própria submissão ao batismo de João Batista, Cristo deu testemunho da obrigação da ordenança (Mt. 3.13-17). O batismo de João era essencialmente cristão (At. 19.4), apesar de que só se entendeu a sua significação plena depois da morte e ressurreição de Jesus (Mt. 20.17-23; Lc. 12.50; Rm. 6.3-6). Mt. 3.13-17 - "Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça"; At. 19.4 - "João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, Jesus Cristo"; Mt. 20.18,19,22 - "o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, e condená-lo-ão à morte. Ε ο entregarão aos gentios para que dele escarneçam, e o açoitem, e crucifiquem. ... podeis vós beber o cálice que eu hei de beber?" Lc. 12.50 - "Importa, porém, que eu
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seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se"! Rm. 6.3,4 - "Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida". Robert Hall, Works, 1.367-399, nega que o batismo de João Batista tenha sido um batismo cristão e sustenta que não há evidência de que todos apóstolos tenham sido batizados. O fato de que o batismo de João apoiavase na fé no Messias vindouro, assim como o batismo do arrependimento pelos pecados passados e presentes, refuta esta teoria. A única diferença entre o batismo de João e o dos nossos dias é que João batizava baseado na profissão de fé num Salvador que ainda estava por vir e o batismo agora administrado baseia-se na profissão de fé num Salvador que, na verdade já veio.
c) Na continuação da prática do batismo através dos seus discípulos (João 4.1,2), e na sua ordem dada a eles como parte de uma obra que devia durar até o fim do mundo (Mt. 28.19-20), Cristo manifestamente adotou e indicou o batismo como a lei invariável da igreja. Jo. 4.1,2 - "Quando o Senhor veio a saber que os fariseus tinham ouvido que Jesus fazia e batizava mais discípulos do que João (ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos); Mt. 28.19,20 "Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos".
d) A analogia da ordenança da Ceia do Senhor também leva à conclusão de que se deve observar o batismo como um memorial de Cristo e sua verdade até a sua segunda vinda.
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1 Co. 11.26 - "Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes f· este cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha". O batismo, como a Ceia do Senhor, é uma ordenança de ensino e os dois juntos fornecem indispensável testemunho da morte e ressurreição de Cristo.
e) Não há nenhuma indicação de que a ordem do batismo é limitada em sua aplicação, ou que foi ou deve ser repelida; e enquanto não se produzir evidência de tal limitação ou repulsa, o estatuto deve ser considerado como uma determinação universal. 2. O Modo de Administrar o Batismo É a imersão e só a imersão. Isto se conclui a partir das considerações seguintes: A) A determinação de batizar é determinação de imergir. Mostramos isto: a) A partir do significado da palavra na língua original βαπτίζω. Mostra-se que é imergir: Primeiro: a partir do emprego dos escritores gregos, inclusive os Pais da Igreja, quando não falam do rito cristão e dos autores da versão grega do Velho Testamento. Liddell e Scott, Greek Lexicon: "βαπτίζω, afundar na água, ou sob a água; Latim immergere". Sófocles, Lexicon of Greek Usage in the Roman Byzantine, 140 a.C. até 1000 A.D. - "βαπτίζω, mergulhar, imergir, afundar. ... Não há nenhuma evidência de que Lucas e Paulo e os outros escritores do N.T. aplicassem os sentidos deste verbo não reconhecidos pelos gregos". Thayer, N.T. Lexicon: "βαπτίζω, literalmente mergulhar, mergulhar repetidamente, submergir, ... de forma metafórica oprimir. ... βάπτισμα, imersão, submersão. ... um rito de imersão sagrada ordenado por Cristo". O Prof. Goodwin, da Universidade de Harvard, 13 de fev. 1895, diz: Ό sentido clássico de βαπτίζω, que raras vezes ocorre, e o mais comum βάπτω, é mergulhar (literal ou metaforicamente), e eu nunca ouvi dizer que tenha
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outro sentido em qualquer outra parte. Sem dúvida, eu nunca vi um léxico que lhes dê o sentido de aspergir ou derramar. Permito-me querer saber porque freqüentemente me fazem esta pergunta, que me parece ter apenas uma resposta perfeitamente clara".
Segundo: cada passagem onde ocorre a palavra no Novo Testamento ou requer ou permite o sentido de 'imergir'. Mt. 3.6,11 - "E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento ... ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo"; cf. 2 Re. 5.14 "Então, [Naamã] desceu e mergulhou [έβαπτίσατο] no Jordão sete vezes"; Mc. 1.5,9 - "e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados... tendo ido de Nazaré, da Galiléia, foi batizado por João, no rio Jordão"; 7.4 - "e, quando voltam do mercado, se não se lavarem [literalmente, batizarem], não comem. Ε muitas outras coisas há que receberam para observar, como lavar [batizar] os copos, e os jarros, e os vasos de metal" -neste verso Westcott e Hort com Álefe e Beta, registram ραντίσωνται, em vez de βαπτίσωνται; mas é fácil ver como a subseqüente ignorância do escrúpulo farisaico podia ter mudado βαπτίσωνται para ραντίσωνται; mas não é fácil ver como ραντίσωνται teria sido mudado em βαπτίσωνται. Sobre Mt. 15.2 (e sobre a passagem paralela em Mc. 7.4) ver Broadus, Comentário sobre Mateus págs. 332,333 (em português 2- vol., pág. 61). Meyer Comentário in loco "έαν μή βαπτίσωνται não deve ser entendida como lavar as mãos (Lightfoot, Wetstein), mas como imersão que é o sentido da palavra no grego clássico e no N.T.; aqui, segundo o contexto, tomar um banho". A Versão Revista (norte-americana) omite as palavras "and couches", apesar de que Maimônides fala de uma imersão judaica de couches; ver a citação de Maimônides em Ingham, Manual de Batismo, 373 "Sempre que na lei se menciona a lavagem da carne ou das roupas, nada mais é do que o afundamento de todo o corpo num lavadouro; porque se alguém se mergulhar totalmente menos a pontinha do dedo mínimo, ele ainda está impuro. ... Se alguém afunda uma cama totalmente contaminada, de parte a parte, ela fica pura".
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Lc. 11.38 - Mas o fariseu admirou-se vendo que não se lavara antes do jantar"; cf. Eclo 31.25 - "Aquele que se lava depois de tocar num corpo morto" (βαπτιζόμενος άπό νεκρού); Jt 12.7 - "e (ela) se banhava [έβαπτίζετο] na fonte, no posto avançado"; Lv. 22.4-6 - "o que tocar alguma coisa imunda de cadáver ... pelo que se fez imundo ... banhará [λούσηται] a sua carne em água". At. 2. 41 - "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três mil almas". Apesar de que Jerusalém é pobre em suprimento de água, a provisão artificial de aquedutos, cisternas e tanques tornam a água abundante. Durante o cerco de Tito, apesar de que muitos morreram de fome, não lemos nada sobre a falta de água. Eis as dimensões das piscinas na moderna Jerusalém: Piscina do Rei, 15 pés x16x3; Siloé, 53x18x19; Ezequias, 240x140x10; Betesda (assim chamada), 360x130x75; Alto Gion, 316x218x19; Baixo Gion; 592x260x18. Não há dificuldade em batizar três mil pessoas num dia; porque na época de Crisóstomo, quando todos os candidatos do ano eram batizados num só dia, três mil foram batizados também num só dia; e em 3 de julho de 1878, 2222 cristãos telugu foram batizados por dois administradores em 9 horas. Estes batismos telugu ocorreram em Velumpili, a dez milhas ao norte de Ongole. Não foram batizados todos de uma só vez. Havia seis homens empenhados em batizar, mas nunca mais de dois ao mesmo tempo. At. 16.33 - "E, tornando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi batizado, ele e todos os seus" - a prisão sem dúvida era, como a maioria dos grandes edifícios orientais, quer públicos, quer privados, provida de tanque e fonte. Ver Cremer, Lexicon of N.T. Greek, sub voce - "βαπτίζω, imersão ou submersão com finalidade religiosa". Grimm, ed. de Wilke - "βαπτίζω 1. Imergir, submergir; 2. Lavar, banhar, imergindo ou submergindo (Mc. 7.4. Naamã e Judite); 3. Figuradamente, oprimir, como as dívidas, infortúnios, etc.". Ele diz que, no rito do Novo Testamento, denota "imersão em água, o que pretende ser um sinal de que os pecados foram lavados na água e recebido por aqueles que queriam ser admitidos nos benefícios do reino do Messias". Döllinger, Kirche und Kirchen, 337 - "Contudo, do ponto de vista dos protestantes, os batistas são imbatíveis, visto que a sua demanda do batismo através da submersão eles têm textos bíblicos claros; e a autoridade
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da igreja e do seu testemunho não é considerada por qualquer das partes" i.e., tanto pelos batistas como pelos protestantes em geral. Prof. Harnack, de Giessen, escreve no Independent, 19 de fevereiro de 1885 - "1. Baptizein, sem dúvida, significa imersão (eintaufen). 2. Não se pode achar nenhuma prova de que signifique qualquer outra coisa no N.T. e na maior parte da literatura cristã. A sugestão que considera um 'sentido sagrado' está fora de discussão. Não há nenhuma passagem no N.T. que sugira a suposição de que qualquer autor do Novo Testamento atribuía à palavra baptizein qualquer outro sentido além de eintaufen = untertaufen (imergir, submergir)".
Terceiro: a ausência de qualquer emprego da palavra na voz passiva com a palavra 'água' como seu sujeito confirma nossa conclusão de que seu significado é "imergir". Nunca se diz que foi batizada água sobre alguém. b) A partir do emprego do verbo βαπτίζω com preposições: Primeiro: com a preposição εις (Mc. 1.9 onde Ίορδάνην é o elemento no qual a pessoa passa na ação de ser batizada). Mc. 1.9 - "E aconteceu, naqueles dias, que Jesus, tendo ido de Nazaré, da Galiléia, foi batizado por João, no rio Jordão".
Segundo: com έν (Mc. 1.5,8; cf. Mt. 3.11. Jo. 1.26,31,33; cf. At. 2.2,4). Nestes textos, έν deve ser tomado, não como instrumental, mas indicativo do elemento em que ocorre a imersão. Mc. 1.5,8 - "e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.... Eu, em verdade, vos batizo em água; ele, porém vos batizará no Espírito Santo" - aqui ver o Comentário de Meyer, sobre Mt. 3.11 - "έν está de acordo com o sentido de βαπτίζω (imergir), não deve ser entendido como instrumental, porém, ao contrário, no sentido do elemento em que ocorre a imersão". Os que oram pedindo um 'batismo do Espírito Santo' oram pedindo um derramamento do Espírito que encherá o lugar e permitirá que eles sejam inundados ou imersos na sua presença e poder abundantes. Plumptre: Ό batismo com o Espírito Santo implicaria que as
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almas deste modo batizadas seriam como que mergulhadas, no Espírito criador e informador, que é a fonte de luz, e santidade e sabedoria".
c) Das circunstâncias que atendem à administração da ordenança (Mc. 1.10 — αναβαίνω έκ του ύδατος; Jo. 3.23 - ύδατα πολλά; At. 8.38,39 - κατέβησαν εις το ύδωρ ... άνέβησαν έκ του ύδατος). Mc. 1.10 - "saindo da água"; Jo. 3.23 - Ora, João também batizava em Enom, junto a Salim, porque havia ali muitas águas" - profundidade suficiente para o batismo. Stevens, sobre Enom, junto a Salim, At. 8.38,39 "e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. E, quando saíram da água,...". No caso de Filipe e o eunuco, o Presidente Timothy Dwight, S.S. Times, 27 de agosto de 1892, diz: "Aqui parece que o batismo é por imersão". O editor acrescenta que "praticamente os eruditos concordam em que o sentido primitivo da palavra 'batizar' é imergir".
d) Das alusões figurativas da ordenança. Mc. 10.38 - "podeis vós beber o cálice que eu bebo e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado"? - o texto se refere aqui ao cálice do sofrimento no Getsêmani; cf. Lc. 22.42 - "Pai, se queres, passa de mim este cálice; o batismo é o da morte no Calvário e na sepultura que se segue; cf. 12.50 - "Importa que eu seja batizado com um certo batismo e como me angustio até que venha a cumprir-se"! A morte apresenta-se à mente do Salvador como um batismo porque é uma imersão sob o dilúvio do sofrimento. Rm. 6.4 - "De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, assim nós também andemos em novidade de vida" - Conybeare e Howson, Life and Epistles of St. Paul, dizem, nesta passagem, que "isto não pode ser entendido a não ser que nos lembremos de que o método primitivo de batismo era a imersão". Sobre Lc. 12.49 - "Vim lançar fogo na terra e que mais quero, se já está aceso"? Ver Wendt, Teaching of Jesus, 2.225 - "Ele sabia que foi chamado para trazer uma nova energia e movimento ao mundo, que prende e atrai todas as coisas para si, como um tição arremessado, onde quer que caia acende a chama que expande num vasto mar de fogo" - o batismo de fogo, o batismo do Espírito Santo?
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1 Co. 10.1,2 - "nossos pais estiveram sob a nuvem; e todos passaram pelo mar, e todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar"; Cl. 2.12 -"sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes"; Hb. 10.22 "tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado [λελουμένοι] com água limpa"- aqui Trench, N.T. Synonyms, 216,217, diz que λούω implica sempre não um banho de uma parte do corpo, mas do todo". 1 Pe. 3.20,21 - "almas se salvaram pela água, que também como uma verdadeira figura, agora vos salva, batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da interrogação de uma boa consciência para com Deus pela ressurreição de Jesus Cristo"; - como a arca cujos lados ficaram imersos na água salvaram Noé, assim a imersão dos crentes tipifica a salvação deles; isto é a resposta de uma boa consciência, a volta da alma para Deus, simbolizada no batismo. "No ritual de Moisés e Arão empregaram-se três coisas: óleo, sangue e água. Derramava-se o óleo, empregava-se a água para a ablução antes de tudo; depois, para ablução parcial daqueles a quem a completa já havia sido administrada" (Wm. Ashmore).
e) Do testemunho da igreja quanto à prática da igreja primitiva. Tertuliano, De Baptismo, cap. 12 - Outros fazem a sugestão (é claro que forçada) de que os apóstolos, então, ministravam a volta do batismo quando em seu naviozinho sofriam a aspersão e eram cobertos pelas ondas; que o próprio Pedro também foi imerso quando ele estava andando sobre o mar. Penso eu que, uma coisa é ser aspergido ou interceptado pela violência do mar; outra coisa é ser batizado em obediência à disciplina da religião". Fisher, Beginnings of Christianity, 565 - "Alguns eruditos, em geral, concordam em que o batismo era administrado por imersão". Schaff, Hist. of the Apostolic Church, 570 - "A respeito da forma de batismo, o imparcial historiador é compelido pela exegese e pela história a, substancialmente, admitir o ponto de vista batista". Em outra parte o Dr. Schaff diz: "O batismo de Cristo no Jordão e as ilustrações do batismo empregadas no N.T. favorecem a imersão ao invés da aspersão, como admitem os melhores exegetas católicos e protestantes ingleses e alemães. Nada se ganha com uma exegese que não é natural. A persistência e agressividade dos batistas têm conduzido os pedobatistas a extremos opostos".
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Dean Stanley, em seu discurso no Eton College, em março de 1879, sobre os Aspectos Históricos das Igrejas Americanas, fala da imersão como o modo de batismo primitivo, apostólico, e, até o século 13, universal, e que ainda se mantém através da igrejas do Oriente e ainda se conserva na nossa igreja tanto prescrito em teoria como universalmente negligenciado na prática". O mesmo escritor, no século dezenove, outubro de 1879, diz que "a mudança de imersão para aspersão abandonou a maior parte da linguagem apostólica sobre o batismo, e alterou o próprio sentido da palavra". Neander, Church Hist, 1.310 - "A respeito da forma de batismo, ele era, de conformidade com a instituição original e com a importância do símbolo, realizado por imersão, como sinal de completo batismo no Espírito Santo, porque é inteiramente penetrado por ele. ... Só com os doentes, onde se exigia, é que se abriu a exceção. Neste caso aplicava-se a aspersão; mas muitas pessoas supersticiosas imaginavam que tal aspersão era plenamente válida e estigmatizaram os assim batizados como clínicos". Até recentemente, não tem havido nenhuma evidência de que o batismo clínico, i.e., o batismo dos doentes ou moribundos através do derramamento de água farta em volta deles fosse praticado antes de Novaciano, no terceiro século; e nesses casos há boa razão para crer que se atribuísse uma eficácia regeneradora à ordenança. Contudo, somos agora compelidos a reconhecer um afastamento do Novo Testamento um pouco antes dessa época. É importante o testemunho do Prof. Harnack, de Giessen, em Independent, 19 de fevereiro de 1885 - "Desde o segundo século até o presente, não temos uma prova certa, a favor do fato de que o batismo por aspersão fosse administrado ainda que de modo facultativo; para Tertuliano (De Poenitentia, 6, e De Baptismo, 12) é incerto; e a época daqueles quadros nos quais se representa o batismo por aspersão não é certa. Contudo, o 'Ensino dos Doze Apóstolos", nos dá a instrução de que, em tempos bem antigos, o povo da igreja não se ofendia quando se punha a aspersão em lugar da imersão, se por quaisquer circunstâncias fosse impossível ou impraticável a imersão. ... Mas mantinha-se também a regra de que a imersão era obrigatória, no caso de as condições exteriores de tal realização serem favoráveis". Isto parece mostrar que, quando a corrupção do rito do N.T. começou logo depois da morte dos apóstolos, o batismo por qualquer outra forma além da imersão era uma rara exceção, que aqueles
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que introduziram a mudança buscaram para justificar o pretexto da necessidade. O 'Ensino dos Doze Apóstolos' (Didachê), seção 7, reza o seguinte: "Batiza ... em água corrente. Se não tiveres água corrente, batiza em outra água; e na falta de água fria, na água quente. Se não tiveres nem uma, nem outra, derrama três vezes a água sobre a cabeça, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (citação de André Benoit, Le Baptême Chrétien au Second Siècle, Presses Universitaires de France, 1953). Aqui é evidente que 'batiza' significa apenas 'imerge', mas se a água for pouca o derramamento pode substituir o batismo. O Dr. A. H. Newman, Antipedobatism, 5, diz que é possível que o "Ensino dos Doze Apóstolos' pertença à segunda metade do segundo século, mas nesta presente forma, talvez mais tarde. Não ensina explicitamente a regeneração batismal, mas parece implicar este ponto de vista, no caso de uma absoluta insuficiência de água para qualquer tipo apropriado de batismo, que o derramamento de água três vezes sobre a cabeça seja empregado como recurso substitutivo. A instrução catequética, o arrependimento, o jejum, e a oração devem preceder o rito batismal. Dexter, A True Story of John Smyth and Sebaptism, sustenta que a imersão era uma novidade na Inglaterra em 1641. Mas, se for assim, o congregacionalismo também é novidade - prática e ordenança dos tempos dos apóstolos recentemente restauradas. Em resposta a Dexter, ver Baptism Review, janeiro, 1883.12,13, que nos fala sobre a autoridade do Anuário do Livro de Oração de Blunt, que, desde 1085 até 1549, o 'Uso de Salisbury' era o modo aceito e este indicava a imersão trina para as crianças. Ό Livro de Oração de Eduardo VI sucedeu o Uso de Salisbury em 1549; mas neste também a imersão tem o seu lugar de honra - a afusão só para os fracos. A Igreja da Inglaterra nunca sancionou a aspersão (Blunt, 226). Em 1664, a Assembléia de Westminster proferiu a 'aspersão ou o derramamento', anulando assim o que Cristo ordenara 1600 anos antes. A rainha Isabel foi imersa em 1533. Se em 1641 a imersão fosse tão generalizada e tão desusada que os homens a viram com estranheza e a consideraram uma novidade, então a obra mais distinta, enfática e peculiarmente característica deles era a dos batistas. Eles se apresentaram ao mundo sem coparticipantes, ou rivais, ou instigadores, ou simpatizantes, como os
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restauradores e preservadores do batismo cristão". (Ver também J. Reis Pereira, Breve História dos Batistas, cap. 7, John Smith, o "Se-Baptist").
f) A partir da doutrina e da prática da igreja grega. De Stourdza, o maior teólogo moderno da igreja grega, escreve: "βαπτίζω significa literalmente e sempre 'mergulhar'. Por isso batismo e imersão são idênticos e, dizer 'batismo por aspersão' é como se se dissesse 'imersão por aspersão', ou qualquer outro absurdo da mesma natureza. A igreja grega sustenta que a igreja latina, ao invés de praticar um, pratica somente um, ao invés de batismo, somente uma aspersão - citado por Conant sobre Mateus, apêndice, 99. Ver também Broadus sobre imersão (Edição em Português, pp. 97b-101a). O Dr. Marcus Dods sintetiza bem a evidência de que a imersão é o modo original do batismo, no artigo Cristo e os Apóstolos sobre o batismo no Dicionário de Hastings. Ele o define como um rito pelo qual, através da imersão na água, o participante simboliza e sinaliza sua transição de uma vida impura para uma vida pura, a sua morte para o passado que ele abandona, e o seu nascimento para o futuro que ele deseja". A respeito do modo do batismo, assinala: "Pode-se inferir que o modo normal era a imersão do corpo inteiro a) do sentido de baptizo, que é a forma intensiva ou freqüentativa de bapto, 'eu mergulho' e denota imergir ou submergir- o ponto principal é que 'mergulhar', ou 'imergir' é o sentido primário, 'lavar' é o secundário de bapto ou de baptizo. b) Pode-se tirar a mesma inferência da lei relativa ao batismo dos prosélitos: 'Tão logo ele se livra da cicatriz da circuncisão, levam-no ao batismo e, sendo posto na água, novamente o instruem sobre alguns mandamentos da Lei mais pesados, e ele, ouvindo-os imerge e emerge, e torna-se em tudo um israelita' (Lightfoot, Horae Hebraicae). Usando a linguagem paulina, morre e é sepultado o velho homem e ressuscita da purificadora sepultura o novo homem. O significado pleno do rito ter-se-ia perdido se não se praticasse a imersão. Além do que, requer-se no batismo do prosélito que "cada pessoa batizada tenha o seu corpo totalmente afundado, despido, desnudado ao mergulhar. Em qualquer lugar em que a Lei menciona a lavagem do corpo ou das vestes, nada mais significa do que a lavagem do corpo todo'. c) Que a imersão foi o modo de batismo adotado por João é a conclusão natural da escolha das cercanias
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do Jordão como cenário dos seus trabalhos; e da afirmação de Jo. 3.23 de que ele batizava em Enom "porque ali havia muitas águas', d) Que esta forma continuou na igreja cristã sugere a expressão Loutron palingenesías (lavagem da regeneração, Tt. 3.5), e do emprego do simbolismo de Paulo em Rm. 6. Isto foi bem colocado por Bingham no fato de que "a imersão total na água" era uma prática universal durante os primeiros séculos do cristianismo "exceto em alguns casos de exigências particulares, em que eles permitiam a aspersão, como no caso do batismo clínico ou onde a água era escassa". O Dr. Dods continua: "Esta afirmação reflete as idéias das epístolas paulinas e da Didachê'" (Ensino dos Doze Apóstolos).
O emprego prevalecente de qualquer palavra determina o sentido que ela tem quando achado em uma ordem de Cristo. Já vimos, não só que o emprego prevalecente da língua grega determina que o sentido da palavra 'batizar' é 'imergir', mas que este é seu fundamental, constante e único sentido. A ordem original de batizar é, portanto, uma ordem de imergir. Como evidência de que seções bem diversas do mundo cristão estão vindo a reconhecer a imersão como a forma original de batismo, podemos citar um memorial que o Arcebispo de Cantuária erigiu recentemente na paróquia de Lambeth, e está na forma de uma "gruta-fonte", na qual um crente foi sepultado com Cristo no batismo; e também que o Rev. G. Campbell Morgan construiu um batistério na recentemente reformada Igreja Congregacional de Westminster em Londres. Pfleiderer, Philos. Religion, 2.211 - "Como no caso da Ceia do Senhor, do mesmo modo o batismo também recebeu sua significação sacramentai através de Paulo. Como ele viu na imersão na água a repetição simbólica da morte e ressurreição de Cristo, o batismo representa para ele o ato da morte espiritual e renovação, ou regeneração, da incorporação do corpo místico de Cristo, a 'nova criação'. Como para Paulo só estava em questão o batismo de adultos, pressupunha-se a fé em Cristo, e o batismo é o ato no qual a fé realiza a resolução da entrega de si mesmo pertencendo verdadeiramente a Cristo e à sua comunidade. Embora o ato exterior neste caso não seja uma mera semelhança do que já está presente na fé, mas segundo o misticismo de Paulo comum a todo o mundo antigo, o ato simbólico efetua o que ele
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tipifica e, por isso, neste caso, a mortificação do homem carnal e a animação do homem espiritual".
B) Nenhuma igreja tem o direito de modificar ou dispensar esta ordem de Cristo. Isto é claro: a) A partir da natureza da igreja. Note: Primeiro: que, além da igreja local, não se conhece nenhuma outra igreja de Cristo no Novo Testamento. Segundo: que a igreja local não é um corpo legislativo, mas somente executivo. Só a autoridade que impôs as suas leis pode emendá-las ou ab-rogá-las. Terceiro: que a igreja local não pode delegar a qualquer organização ou concilio de igrejas qualquer poder que não possua por direito. Quarto: que o princípio oposto põe a igreja acima das Escrituras e acima de Cristo e sancionaria todas usurpações de Roma. Mt. 5.19 - "Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus"; cf. 2 Sm. 6.7 - "Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu por sua imprudência; e ele morreu junto à arca de Deus". Shakespeare, Henrique VI, Parte I, 2.4 - "Crede que eu tenho sido um truão quanto à lei e nunca pude estruturar a minha vontade a respeito dela e, portanto, estruturo a lei segundo a minha vontade". Como na Reforma os crentes se regozijaram em restaurar a comunhão em ambos os sentidos, do mesmo modo nós nos regozijamos em restaurar o batismo quanto ao seu teor e quanto ao seu significado. Administrá-lo a um infante chorão e resistente ou de qualquer outra forma que não seja a prescrita pelo mando e exemplo de Jesus é profanar e destruir a ordenança.
b) A partir da natureza da ordem de Deus: Primeiro: formando parte, não só da lei, mas da lei fundamental da igreja de Cristo. O poder de mudar, reivindicado para uma igreja, não é só legislativo, mas constitucional.
Teologia Sistemática (Strong) 1856 Segundo: expressando a sabedoria do Legislador. O poder de mudar uma ordem pode ser reivindicado para a igreja, somente com base no fato de que Cristo deixou de adaptar a ordenança às circunstâncias mutáveis e tornou a obediência a ela desnecessariamente difícil e humilhante. Terceiro: providenciando na imersão o único símbolo adequado das verdades salvadoras do evangelho que ambas ordenanças têm para seu ofício a fim de estabelecê-lo e sem o que elas se tornam cerimônias e formas vazias . Em outras palavras, de modo algum a igreja tem direito de mudar o método de administrar a ordenança, porque tal alteração tira desse rito seu significado essencial. Como este argumento, contudo, é de vital importância, apresentamo-lo mais completamente na discussão especial sobre o simbolismo do batismo. Abraão Lincoln, em seus debates com Douglas, ridicularizou a idéia de que poderia haver qualquer meio constitucional de violar a constituição. F. L. Anderson: "Nos governos humanos alteramos a constituição para que ela se conforme com a vontade do povo; no governo divino muda-se a vontade do povo para conformar-se com a constituição". Para a defesa da justiça da igreja a fim de modificar a forma de uma ordenança, ver Coleridge, Auxílio à Reflexão, Works, 1.333,348 - Onde uma cerimônia respondia e pretenderse-ia responder, vários propósitos que, na sua primeira instituição confundiam-se com respeito ao tempo, porém que, mais tarde, dada a mudança das circunstâncias, foram necessariamente desmembradas, então, ou a igreja não tem a força ou a autoridade que lhe foi delegada, ou deve ser autorizada a escolher e determinar a qual dos diversos propósitos a cerimônia deve estar ligada". O batismo, por exemplo, a princípio, simbolizava não só a entrada para a igreja de Cristo, mas a fé pessoal nele como salvador e Senhor. Admite-se que a entrada para a igreja e a fé pessoal estão agora dissociadas. Visto que o batismo é responsabilidade da igreja, ela pode ligar o batismo àquela e não a esta. É claro que negamos que a separação entre o batismo e a fé seja sempre necessária. Ao contrário, sustentamos que separar os dois é perverter a ordenança, e fazer com que ela ensine a doutrina da membresia
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eclesiástica hereditária e a salvação por manipulação exterior independente da fé. Com Dean Stanley (sobre o Batismo no Século Dezenove, outubro, 1879), dizemos que, embora não aprovemos, como ele faz, que a mudança no método de administrar a ordenança mostra "como o espírito que vive e se move na sociedade humana pode ultrapassar as mais sagradas ordenanças". Não podemos concordar com ele chamando este de "o espírito livre do cristianismo"; ao invés disto, consideramo-lo como o espírito mau de desobediência e incredulidade. Por isso os batistas estão empenhados em prosseguir na obra da reforma até que a igreja volte às formas simples que ela possuía sob os apóstolos" (G. M. Stone). Objeções: 1. Freqüentemente a imersão é impraticável. – Retrucamos que, quando for impraticável, não é mais um dever. Onde está presente a vontade de obedecer, mas as circunstâncias providenciais tornam impossível a obediência exterior, Cristo toma a vontade pela ação. 2. É freqüentemente perigoso à saúde e à vida. – Retrucamos que, quando for realmente perigoso, não será mais um dever. Mas, então, não temos nenhuma garantia para substituir o ato que Cristo tenha ordenado por qualquer outro. O dever demanda somente o adiamento até que possa ser administrado com segurança. Convém lembrar que o sentimento ardente estimula até mesmo o corpo. "Irmãos, se os vossos corações estão aquecidos, o gelo e a neve não podem causar dano algum". O clima gélido da Rússia não impede a prática universal da imersão pela igreja grega daquele país. 3. É indecente. – Retrucamos que há necessidade de cuidado para evitar a exposição, mas com este cuidado não há indecência alguma, mais do que o banho de mar. O argumento só é válido contra a descuidada administração da ordenança, não contra a ordenança em si. 4. É inconveniente. – Retrucamos que, em matéria de obediência a Cristo, não consultamos a conveniência. A ordenança que simboliza a sua morte sacrificial e a nossa morte espiritual com ele, pode naturalmente envolver algo de inconveniência, mas a alegria em submeter-se a tal inconveniência será um teste do espírito de obediência. A prática deste ato, deve ser executada como Cristo ordenou. 5. Outros métodos de administração têm sido abençoados para aqueles que se lhes submetem. – Retrucamos que Deus muitas vezes
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condescende com a ignorância humana e dá do seu espírito àqueles que honestamente procuram servi-lo, mesmo através de formas errôneas, tais como a missa. Contudo, isto não deve ser tomado como sanção divina ao erro, muito menos como garantia para a perpetuação de um falso sistema da parte daqueles que sabem que é uma violação das ordens de Cristo. É em grande parte a posição dos seus defensores como representantes de Cristo e da sua igreja, posição que dá a este falso sistema a sua força para o mal.
3. Simbolismo do Batismo O batismo simboliza entrada prévia do crente para a comunhão da morte e ressurreição de Cristo, ou, em outras palavras, a regeneração através da união com Cristo. A) Desenvolvimento desta declaração quanto ao simbolismo do batismo. Mais particularmente ele é símbolo: a) Da morte e ressurreição de Cristo. Rm. 6.3 - Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte"? cf. Mt. 3.13 - "Então, veio Jesus da Galiléia ter com João junto do Jordão, para ser batizado por ele"; Mc. 10.38 "podeis vós beber o cálice que eu bebo e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado"? Lc. 12.50 - "Importa, porém, que eu seja batizado com um certo batismo, e como me angustio até que venha a cumprir-se"! Cl. 2.12 - "Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos". Denney, Expositor's Greek Testament, sobre Rm. 6.3-5 - Os requisitos que argumentam sobre esta passagem ... demandam a idéia de uma verdadeira união a Cristo, ou incorporação nele. ... Fomos sepultados com ele [no ato da imersão] pelo batismo na sua morte.... Se o batismo, que é uma semelhança da morte de Cristo, teve uma realidade que atende à sua óbvia importância, de sorte que, na verdade, nele morremos em Cristo, então teremos uma correspondente experiência da ressurreição. Quando alguém emerge da água depois de ter sido imerso, o batismo é uma similitude da ressurreição do mesmo modo que o é da morte".
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b) Do propósito daquela morte e ressurreição, a saber, expiar o pecado e livrar os pecadores do seu castigo e poder. Rm. 6.4 - "De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos em novidade de vida" cf. 7,10,11 -"Porque aquele que morreu está justificado do pecado. ... Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas quanto a viver, vive para Deus. Assim vós também considerai-vos como mortos parra o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus nosso Senhor"; 2 Co. 5.14 - "julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo, todos morreram". Por isso o batismo é uma confissão da fé evangélica quanto ao pecado e quanto à divindade e expiação de Cristo. Ninguém que não reconhece estas verdades que o batismo significa é apropriadamente batista. T. W. Chambers, Presb. and Ref. Rev., janeiro 1890.113-118, faz a objeção de que este ponto de vista da simbologia do batismo baseia-se em dois textos, Rm. 6.4 e Cl. 3.12, que não são explicações, mas ilustrações, enquanto a grande maioria das passagens faz do batismo apenas um ato de purificação. Contudo, o Dr. Chambers reconhece: "Deve-se admitir que quase todos os expositores críticos modernos (Meyer, Godet, Alford, Conybeare, Lightfoot, Beet) consideram que há aqui uma referência [em Rm. 6.4] ao ato do batismo, que, como diz o Bispo de Durham, 'é a sepultura do velho homem e o nascimento do novo - imagem da participação do crente tanto na morte como na ressurreição de Cristo.... Quando o crente afunda sob as águas batismais, ele sepulta nelas todos os seus sentimentos corrompidos e os pecados passados; quando emerge delas, ele surge regenerado, despertado para novas experiências e para uma nova vida' ".
c) Do cumprimento de tal propósito no que é batizado, que assim professa sua morte para o pecado e ressurreição para uma vida espiritual. Gl. 3.27 - "Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo"; 1 Pe. 3.21 - "[água] que também, como verdadeira figura, agora vos salva, batismo, não do despojamento da imundícia da
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carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Cristo Jesus"; cf. Gl. 2.19,20 - "Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e a si mesmo se entregou por mim"; Cl. 3.3 -"porque já estais mortos e a vossa vida já está escondida com Cristo em Deus". C. H. M. "A pessoa verdadeiramente batizada é alguém que passou do velho mundo para o novo.... A água rola por sobre a sua pessoa, significando que se ignora o seu lugar na natureza, que a velha natureza foi totalmente abandonada; em resumo, que ele é um homem morto, que a carne e tudo que com ela se relaciona - seus pecados e inclinações - está sepultado no túmulo de Cristo e nunca mais pode voltar aos olhos de Deus. ... Quando o crente se levanta da água, ocorre a expressão da verdade de que ele surge como o possuidor de uma nova vida, a da ressurreição de Cristo à qual a justiça divina está inseparavelmente ligada".
d) Do método em que se cumpre tal propósito, pela união com Cristo, recebendo-o e dando-se a ele através da fé. Rm. 6.5 - "Porque, se fomos plantados [σύμφυτοι] juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição" σύμφυτοι, ou συμπεφυκώς, é empregado para designar o cavalo e o homem que cresceram juntos formando o Centauro, de Luciano, Dial. Mort. 16.4, e a Ciropedia, 4.3.18. Cl. 2.12 - "Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos". Dr. Ν.S. Burton: "A unidade entre o crente e Cristo se expressa no fato de que o ato da imersão realça a morte e ressurreição tanto de Cristo como do crente". Como o elemento voluntário na fé tem duas partes, doação e recebimento, assim também o batismo ilustra ambos. Submersão = rendição a Cristo; emersão = aceitação de Cristo. "Revestistes de Cristo" (Gl. 3.27) é o sepultamento da velha vida e a ressurreição para a nova. Cf. a obediência ativa e passiva de Cristo (pp.. 749,770), os dois elementos da justificação (pp. 854-859), os dois aspectos da adoração formal (pág. 23), as duas divisões da Oração Dominical.
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William Ashmore sustenta que a incorporação em Cristo é a idéia raiz do batismo; a união com a morte e ressurreição de Cristo é apenas uma parte dela. Nós somos "batizados em Cristo" (Rm. 6.3), como os israelitas foram "batizados em Moisés" (1 Co. 10.2). Como o batismo simboliza a incorporação do crente em Cristo, assim a Ceia do Senhor simboliza a incorporação de Cristo no crente. Descemos à água, mas o pão não desce a nós. Estamos "em Cristo", e Cristo está "em nós". O candidato não batiza a si mesmo, mas põe-se inteiramente nas mãos do ministrante. Isto parece simbolizar o seu inteiro compromisso com Cristo, que o ministrante representa. De igual modo, na Ceia do Senhor, Cristo, através do seu representante, distribui os emblemas da sua morte e vida. E. G. Robinson considera que o batismo implica: 1. morte para o pecado; 2. ressurreição para a nova vida em Cristo; 3. a rendição total de nós mesmos à autoridade do Deus trino. O batismo "em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt. 28.19) não pode implicar uma aliança suprema com o Pai e apenas uma aliança subordinada ao Filho. Por isso o batismo é o assumir a suprema aliança com Jesus Cristo. N.E. Wood, Watchman, 3 de dezembro de 1896.15 - "O calvinismo tem seus cinco pontos; mas os batistas têm os seus cinco pontos peculiares: Trindade, Expiação, Regeneração, Batismo e a Bíblia inspirada. Todas outras doutrinas decorrem destas".
e) Da conseqüente união de todos crentes em Cristo. Ef. 4.5 - "Um só Senhor, uma só fé, um só batismo"; 1 Co. 12.13"Porque todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um mesmo Espírito"; cf. 10.3,4 - "e todos comeram de um mesmo manjar espiritual, e beberam da mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra é Cristo". Em Ef. 4.5, nota-se que não é a Ceia do Senhor, mas o batismo que simboliza a unidade cristã. A. H. Strong, Cleveland Sermon, 1904 - "Nossos pais viveram num dia quando simplesmente a fé estava sujeita a sérios fracassos. Não é de estranhar que os que crêem na doutrina e constituição do Novo Testamento sentissem que deveriam sair do que consideravam uma igreja apóstata. Eles podiam não ter simpatia alguma para com os que
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tornavam a verdade em injustiça e perseguiam os santos de Deus. Mas a nossa doutrina fermentou toda a cristandade. A erudição é favorável à imersão. O batismo de crianças está em declínio. As igrejas que outrora se nos opunham agora nos cumprimentam pela nossa firmeza na fé e no zelo missionário. Há uma crescente espiritualidade nessas igrejas, que as levam a estender-nos as mãos em sinal de comunhão. Há entre nós um crescente senso de que o reino de Cristo é mais amplo do que a nossa própria membresia e que a lealdade ao nosso Senhor requer de nós que reconheçamos a sua presença e bênção mesmo nos grupos que não consideramos organizados em completo acordo com o modelo do Novo Testamento. A fé no grande Cristo está conduzindo-nos do nosso isolacionismo denominacional a um inspirador reconhecimento da nossa unidade com a universal igreja de Deus por todo o mundo".
f) Da morte e ressurreição do corpo, que completará em nós a obra de Cristo, e cuja morte e ressurreição de Cristo garantem-na a todos os crentes. 1 Co. 15.12,22 - "Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns entre vós que não há ressurreição dos mortos? ... Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo". Lutero, em seu Babylonish Captivity of the Church: "O batismo é sinal tanto da morte como da ressurreição. Movido por este raciocínio, eu acho que os que forem batizados devem ser imersos na água, que é o sentido da palavra e o significado do mistério".
B) Inferências das passagens mencionadas: a) A verdade central estabelecida pelo batismo é a morte e ressurreição de Cristo, e a nossa própria morte e ressurreição em conexão com as dele. O batismo de Jesus no Jordão, do mesmo modo que o subseqüente dos seus seguidores, é símbolo da morte dele. Ele tinha em mente a sua morte quando disse: "Podeis beber o cálice que eu bebo e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado"? "Importa, porém, que eu seja batizado com um certo batismo, e como me angustio até que venha a cumprir-se"! Ser imerso e oprimido nas águas é uma metáfora freqüente em
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todas as línguas para expressar o ímpeto das sucessivas perturbações; compare SI. 69.2 -"entrei na profundeza das águas, onde a corrente me leva"; 42.7 - "todas as tuas ondas e vagas têm passado sobre mim"; 124.4,5 - "as águas teriam trasbordado sobre nós e a corrente teria passado sobre a nossa alma; então, as águas altivas teriam passado sobre a nossa alma". Assim o sofrimento, a morte, o sepultamento, que estavam diante do nosso Senhor, apresentavam-se à sua mente como um batismo porque a idéia própria de batismo é a de uma submersão completa sob a inundação de águas. A morte não devia ser derramada sobre Cristo; não se tratava de uma simples aspersão do sofrimento que ele deveria suportar, mas o afundamento nas poderosas águas, e a opressão através delas. Foi a entrega de si mesmo para isto, que ele simbolizou com o seu batismo no Jordão. Isto não foi um ato arbitrário, ou formal, ou ritual. Foi uma consagração pública; uma consagração à morte pelos pecados do mundo. Expressou a natureza essencial e o sentido da sua obra terrena: o batismo da água, no começo do seu ministério, consciente e designadamente prefigurou o batismo da morte com o qual devia encerrar-se o ministério. "A submissão de Jesus ao batismo de arrependimento de João Batista, rito que só se aplicava aos pecadores, só pode ser explicado com base no fato de que Deus "o fez pecado por nós" (2 Co. 5.21). Ele tinha tomado a nossa natureza sobre si, sem que, na verdade, tivesse herdado corrupção, como herdou a culpa, para redimir a natureza e unir-nos outra vez a Deus. Como um com a humanidade, ele, em sua infância inconsciente, submeteuse aos ritos da circuncisão, da purificação e da redenção legal (Lc. 2.21-24; cf. Ex. 13.2,13; ver Lange, Alford, Webster e Wilkinson sobre Lc. 2.24) – todos os ritos apontam para os pecadores. "Fazendo-se semelhante aos homens" (Fp. 2.7), "em semelhança da carne do pecado" (Rm. 8.3), ele devia "aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo" (Hb. 9.26). Por isso, no seu batismo, ele podia dizer: "assim nos convém cumprir toda a justiça" (Mt. 3.15) porque só através do batismo final de sofrimento e morte, que este batismo nas águas prefigurava, ele podia "dar fim aos pecados" e "trazer a justiça eterna" (Dn. 9.24) ao mundo condenado e arruinado. Ele não podia ser o "Senhor, justiça nossa" (Jr. 23.6) a não ser que primeiro sofresse a morte devida à natureza que ele assumiu, livrando
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por meio dela a culpa e aperfeiçoando-a para sempre. Tudo isto foi indicado naquele ato pelo qual ele primeiro foi "manifestado a Israel" (Jo. 1.31). No seu batismo no Jordão, ele foi sepultado à semelhança da sua vindoura morte e ressuscitado à semelhança da sua futura ressurreição. 1 Jo. 5.6 "Este é o que veio por água e por sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue" = no batismo de água no começo do seu ministério e no batismo de sangue com o qual esse ministério devia encerrar. Como esse batismo apontava para a morte de Jesus, assim o nosso aponta para o mesmo como centro e substância da sua obra remidora, a morte pela qual temos a vida. Nós que somos "batizados em Cristo" somos batizados na sua morte" (Rm. 6.3), isto é, na comunhão espiritual e participação na morte que ele sofreu para a nossa salvação; em suma, no batismo declaramos simbolicamente que a sua morte tornou-se nossa.
b) A verdade correlata da morte e ressurreição do crente estabelecida no batismo implica, primeiro, confissão dos pecados e humilhação por causa dele, como merecimento da morte; segundo, a declaração da morte de Cristo pelo pecado e da aceitação da obra substitutiva da parte do crente; terceiro, o reconhecimento de que a alma se tornou participante da vida de Cristo e agora vive nele e para ele. Um falso modo de administrar a ordenança obscureceu tanto o sentido do batismo que, para multidões perdeu toda a referência à morte de Cristo e a Ceia do Senhor é apenas uma ordenança que pretende lembrar-nos do sacrifício expiatório ao qual devemos a nossa salvação. Para evidenciar isto, ver as notas do Presidente Woolsey em Sunday School Times: "Ela [a religião cristã] poderia compartilhar o batismo com a doutrina de João Batista e, se um rito semelhante tivesse existido na religião judaica, teria sido considerado tão apropriado à religião que inculcaria a renúncia ao pecado e a pureza do coração e da vida. Mas [na Ceia do Senhor] vamos além da província do batismo até a penetração do evangelho, até a eficácia e o sentido da morte de Cristo".
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O batismo deve ser um ato público. Não podemos relegá-lo a um canto, ou celebrá-lo em particular, como algumas igrejas que professam ser batistas na Inglaterra diziam fazer. Como o casamento, a essência da nossa união com uma outra pessoa apresenta-se diante do mundo. O maometano se põe em pé cinco vezes por dia e ora com o seu rosto voltado para a Meca, não se importando com quem o vê. Lc. 12.8 - "Todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos de Deus".
c) O batismo simboliza purificação, mas de um modo peculiar e divino, a saber, através da morte de Cristo e entrada da alma em comunhão com a morte dele. O defeito radical da aspersão ou derramamento como modo de administrar a ordenança é que não aponta para a morte de Cristo como a causa procuradora da nossa purificação. É uma coisa dolorosa dizer pelo símbolo, como fazem aqueles que dizem que a prática da aspersão no lugar da imersão, que o homem pode regenerar-se a si mesmo, ou, se não, que esta regeneração pode dar-se sem a conexão com a morte de Cristo. O principal argumento de Edward Beecher contra os pontos de vista batistas é tirado de Jo. 3.22-25 - "uma questão entre os discípulos de João e um judeu, acerca da purificação". A purificação se torna o sentido essencial do batismo e tira-se a conclusão de que qualquer forma expressiva de purificação responderá ao desígnio da ordenança. Mas se a morte de Cristo é a causa procuradora da nossa purificação, podemos esperar que ela seja simbolizada na ordenança que declara tal purificação; se a morte de Cristo é o fato central do cristianismo, podemos esperar que seja simbolizada no rito iniciatório do cristianismo.
d) No batismo apresentamos a morte do Senhor como a fonte original da santidade e vida das nossas almas, assim como na Ceia do Senhor apresentamos a morte do Senhor como a fonte da nossa alimentação e força depois que esta vida de santidade começou. Como a Ceia simboliza o poder santificador da morte de Jesus, assim o batismo simboliza seu poder regenerador.
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A verdade da morte e ressurreição de Cristo é uma jóia preciosa e nos foi dada nestas ordenanças como um porta-jóias. Cuidemos, pois do portajóias para não perdermos a gema. Um fio escarlate corre por toda a corda e cordel da Marinha Britânica, como testemunho de que ela pertence à Coroa do mesmo modo que por toda a doutrina e ordenança do cristianismo corre a linha vermelha do sangue de Jesus. É a sua referência comum à morte de Cristo que liga entre si as duas ordenanças.
e) Portanto, há duas razões por que só a imersão satisfaz o desígnio da ordenança: primeira, porque só ela pode simbolizar a natureza radical da mudança efetuada na regeneração - da morte espiritual para a vida espiritual; segunda, porque só a imersão pode estabelecer o fato de que esta mudança se deve à entrada da alma em comunhão com a morte e ressurreição de Cristo. A verdade cristã é um organismo. Uma parte se liga à outra e juntas constituem um todo. Interromper uma única porção dessa verdade é.o mesmo que mutilar o corpo humano. A vida pode permanecer, mas uma manifestação da vida cessou. O corpo todo da verdade cristã perdeu sua simetria e parte do seu poder de salvar. Pfleiderer, Phil. Religion, 2.212 - "Nos mistérios eleusinos, o ato do recebimento era representado como uma regeneração e o hierofante indicado para o ofício no templo precisava receber um banho sacramentai do qual ele voltava como um 'novo homem' com um novo nome, o que significa, como eles costumavam dizer, que Ό primeiro ficou esquecido'; isto é, o velho homem desaparecia com o velho nome. O paralelo do rito eulesino com os pensamentos que Paulo escreveu acerca do batismo na Epístola aos Romanos e, portanto, de Corinto, é tão marcante que se pode conjeturar a existência de uma conexão entre ambas; e, ainda mais, no caso da Ceia do Senhor, Paulo estabeleceu uma comparação com as festas pagas a fim de formar uma base para a sua teoria mística".
f) Substituir o batismo por qualquer coisa que exclui toda a referência simbólica com a morte de Cristo é destruir a ordenança, assim
Teologia Sistemática (Strong) 1867 como substituir o partir do pão e o vinho da comunhão por alguma forma de administração que exclui toda a referência à morte de Cristo destruiria a Ceia do Senhor e celebraria uma ordenança de invenção humana. O batismo, como o dia quatro de julho (data magna dos EUA, como o sete de setembro no Brasil), a páscoa, para os judeus, a Ceia do Senhor é um monumento histórico. Ele dá testemunho ao mundo de que Cristo morreu e ressuscitou. Ao celebrá-lo, apresentamos a morte do Senhor de um modo tão verdadeiro como na celebração da Ceia do Senhor. Porém ele é mais do que um monumento histórico. É também uma expressão figurada da doutrina. Nela estão entretecidas as verdades essenciais do esquema cristão. Ele fala da natureza e da pena do pecado, da natureza humana liberta do pecado na pessoa do Salvador crucificado e ressurreto, da salvação garantida a cada alma humana que se uniu a Cristo, da obediência a Cristo como o caminho para a vida e para a glória. Assim o batismo em todas as épocas se estabelece como testemunha de Deus - tanto dos fatos como da doutrina do cristianismo. Por isso, mudar a forma de administrar a ordenança é apagar o cristianismo e Cristo, e defraudar o mundo de uma parte do sentido divino da salvação. Ebrard: "Batismo = Morte". Sanday, Comentário sobre Rm. 6 - "Imersão = Morte; Submersão = sepultamento (ratificação da morte); Emergir = Ressuscitar (ratificação da vida)". William Ashmore: "O Templo de Salomão tinha duas colunas monumentais: Jachin, 'ele estabelecerá', e Boaz, 'nela está a força'. Na visão de Zacarias havia duas oliveiras em cada lado do castiçal. De igual modo, Cristo deixou dois monumentais baluartes para testificarem acerca dele mesmo: o Batismo e a Ceia do Senhor". A senhora que estava no bonde e que, sem querer, espetou a sombrinha no olho de um senhor, naturalmente pediu-lhe perdão. Mas ele respondeu: "Não há importância, minha senhora; ainda sobrou um outro olho". Os nossos amigos que aspergem ou derramam um olho do testemunho do evangelho quebram uma indicação do testemunho do monumento da verdade salvadora de Cristo; contentamo-nos em dizer que temos ainda uma outra ordenança? No Rappahannock (Estado da Virgínia), um dos regimentos federais, porque o seu estandarte foi baleado, foi confundido pelos nossos homens como um regimento de confederados submetido a uma rajada homicida que dizimou
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as suas fileiras. O batismo e a Ceia do Senhor são duas bandeiras do exército de Cristo; não podemos permitir a perda de uma delas.
4. A quem se destina o batismo? Com propriedade o batismo destina-se somente aos que evidenciam a regeneração pelo Espírito Santo, ou, em outras palavras, pela fé entraram para a comunhão da morte e ressurreição de Cristo. A) Prova de que o batismo destina-se só às pessoas que evidenciam regeneração: a) A partir da ordem e exemplo de Cristo e de seus apóstolos, que mostram: Primeiro: que somente devem ser batizados os que previamente se fizeram discípulos. Mt. 28.19 - "Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo"; At. 2.41 - "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a palavra".
Segundo: que somente devem ser batizados os que previamente se arrependeram e creram. Mt. 3.2,3,6 - "Arrependei-vos ... preparai o caminho do Senhor... e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados"; At. 2.37,38 – "Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos varões irmãos? Ε disse-lhes Pedro: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado"; 8.12 - "Mas como cressem em Filipe que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, se batizaram, tanto homens como mulheres"; 18.8 - "E Crispo, o principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados"; 19.4 - "João batizou com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é em Jesus Cristo".
Teologia Sistemática (Strong) 1869 b) A partir da natureza da igreja – como um grupo de pessoas regeneradas. Jo. 3.5 - "Aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus"; Rm. 6.13 - "nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos entre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça".
c) A partir do simbolismo da ordenança, que declara uma anterior mudança espiritual no que se submete a ele. At. 10.47 - "Pode alguém, porventura, recusar a água, para que não sejam batizados estes que também receberam, como nós, o Espírito Santo"? Rm. 6.2-5 - "Nós, que estávamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição"; Gl. 3.26,27 - "Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo". Um casamento nunca deve ser solenizado a não ser entre pessoas que já se uniram no coração e para as quais a cerimônia exterior é apenas o sinal de um amor já existente; do mesmo modo o batismo nunca deve ser administrado a não ser no caso daqueles que já se uniram a Cristo e que, na ordenança, significam a sua união como ele na sua morte e ressurreição. Ver Dean Stanley, on Baptism, 24 - "Na era apostólica e nos três séculos subseqüentes, é evidente que, via de regra, aqueles que se apresentavam para o batismo estavam na plenitude da sua idade, da sua escolha deliberada. O ofício litúrgico do batismo foi estruturado para os convertidos em seu pleno desenvolvimento e só através de considerável adaptação no caso das crianças".
Teologia Sistemática (Strong) 1870 B) Inferências do fato de que somente pessoas que evidenciam regeneração devem ser batizadas: a) Porque somente os que dão evidência da regeneração digna de crédito estão em condições de ser batizados, o batismo não pode ser um meio de regeneração. É um sinal, mas nunca a condição do perdão dos pecados. Passagens como Mt. 3.11; Mc. 1.4; 16.16; João 3.5; At. 2.38; 22.16; Ef. 5.26; Tt. 3.5 e Hb. 10.22 devem explicar-se como exemplos particulares "do fato geral de que, na linguagem da Escritura, só parte de uma ação complexa e até mesmo essa parte dela que é mais óbvia aos sentidos, freqüentemente é mencionada pelo seu todo e neste caso toda a solene transação é designada pelo símbolo exterior". Em outras palavras, há referência da mudança toda, interior e exterior, espiritual e ritual, na linguagem pertencente estritamente só ao aspecto exterior dela. Assim há referência à outra ordenança no elemento visível, "o partir do pão" e toda a transação da ordenação de ministros chamada "imposição de mãos" (cf. At. 2.42; 1 Tm. 4.14). Mt. 3.11 - "E eu, na verdade, vos batizo com água, para o arrependimento"; Mc. 1.4 - "o batismo de arrependimento, para a remissão de pecados"; 16.16 - "Quem crer e for batizado será salvo"; Jo. 3.5 - "aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus" aqui se diz a Nicodemos, que estava familiarizado com o batismo de João, e com a recusa do Sinédrio de reconhecer as suas reivindicações, que o batismo da água, que ele suspeita ser obrigatório, na verdade, é necessário para que a mudança completa através da qual, tanto exterior como interiormente, se entra no reino de Deus; mas ele aprende também que, "nascer da água" é indigno, a não ser que isto se faça acompanhar do novo nascimento "do Espírito"; por isso, as subseqüentes afirmações de Cristo, não fazem alusão ao batismo; ver v. 6,8 "o que é nascido do Espírito é espírito ... assim é aquele que é nascido do Espírito". At. 2.38 - "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado ... para perdão dos pecados" - sobre esta passagem ver Hackett: "Naturalmente,
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estabelecemos conexão da expressão 'para perdão dos pecados' com os verbos anteriores ('arrependei-vos' e 'seja batizado'). A cláusula estabelece o motivo ou o objetivo que os deve induzir a arrependerem-se e serem batizados. Isto compele à completa exortação, não a exclusão de uma parte pela outra" - i.e., eles deveriam arrepender-se para a remissão dos pecados, assim como deveriam ser batizados por causa da remissão dos pecados. At. 22.16 - "Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor"; Ef. 5.26 - "para a santificar, purificando-a [a igreja], com a lavagem da água, pela palavra"; Tt. 3.5 - "segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração [batismo] e da renovação do Espírito Santo [novo nascimento]"; Hb. 10.22 - "tendo o nosso coração purificado da má consciência [regeneração] e o corpo lavado com água limpa [batismo]"; cf. At. 2.42 - "partir do pão"; 1 Tm. 4.14 - "imposição de mãos do presbitério". Dr. A. C. Kendrick: "Considerando quão inseparáveis eram eles ao professarem-se cristãos - crerem e serem batizados, e quão imperativo e absoluto era o requisito de crer e testificar a sua aliança através do batismo podia parecer estranho que estivessem de tal modo unidos, como estavam, numa concepção completa. ... Nós não temos direito de admitir que o nascimento da água envolve o nascimento do Espírito, mais do que admitir que o nascimento do Espírito envolve o nascimento da água e não se pode afastar um do outro. Temos que levar em conta ambos, cada um distinto do outro, a fim de preencher as condições da membresia do Reino de Deus". Sem o batismo, a fé é como o trabalho de um relógio que não tem mostrador ou ponteiros de modo a identificar as horas; ou como a crença política de um homem que se recusa a ir à urna para votar. Sem o batismo, o discipulado é ineficaz e incompleto. A mudança interior - regeneração pelo Espírito - pode ter ocorrido, mas ainda está faltando a mudança exterior: a profissão de fé. Contudo, o campbelismo sustenta que, ao invés de a regeneração preceder o batismo e expressar-se nele, completa-se apenas nele, de sorte que ele é um meio para obter-se a regeneração. Alexander Campbell: "Eu ouso afirmar que qualquer um dos que, crendo nas palavras dos apóstolos, foram imersos, no mesmo instante em que entraram na água, receberam o perdão dos seus pecados e o dom do Espírito Santo". Mas Pedro determinou que os homens fossem batizados porque eles já tinham recebido o Espírito Santo: At. 10.47 - "Pode alguém, porventura, recusar a água, para
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que não sejam batizados estes que também já receberam, como nós, o Espírito Santo"? Os batistas batizam cristãos; os "discípulos" batizam pecadores e pensam que o batismo os torna cristãos. Por causa desta forma de sacramentalismo, os batistas necessariamente simpatizam menos com o pedobatismo ou com a aspersão. O ponto de vista dos "discípulos" limita a eficácia divina à palavra (ver citação de Campbell na p. 821). Antecedeu-o Claude Pajom, teólogo reformado em 1673. Percebe-se em Josefo, Antiquities, 15.5.2, que esta não era a doutrina de João Batista o qual, falando do batismo de João, diz: "O batismo é aceitável a Deus não para que os batizados se livrem de alguns pecados, mas para que o corpo possa santificar-se porque a alma já havia sido purificada através da retidão". Os "discípulos" não reconhecem nenhum credo formal e diferem tão grandemente entre si que acrescentamos as seguintes afirmações do seu fundador e dos seus representantes posteriores. Alexander Campbell, Christianity Restored, 138 (em O Cristão Batista, 5.100): "No ato da imersão e através dele, tão logo os nossos corpos entram na água, no mesmo instante os nossos pecados anteriores ou os antigos são lavados.... A imersão e a regeneração são substantivos bíblicos para o mesmo ato. ... Não é a nossa fé na promessa da remissão da parte de Deus, mas a nossa descida à água que nos propicia a remissão dos pecados". W. E. Garrison, Alexander Campbell's Theology, 247-299 - "O batismo, como a naturalização é o juramento formal da aliança pela qual um estranho se torna cidadão. Em nenhum caso a forma em si efetua qualquer mudança mágica na disposição do sujeito. Em ambos os casos, pressupõe-se uma mudança de opinião; a forma é o ápice de um processo. ... Para Deus é tão fácil perdoar os pecados no ato da imersão como de qualquer outra forma". Toda obra do Espírito ocorre através da palavra, só através de meios sensíveis; as emoções não são o critério. Deus é transcendente; toda autoridade é externa, imposta só através do apelo à felicidade - sistema inteiramente utilitário. Isaac Erret é talvez o mais capaz dos "discípulos". Em seu tratado, que recebeu o título de "Nossa Posição", publicado pela Companhia Publicadora Cristã, St. Louis, diz: "Quanto à finalidade do batismo, compartilhamos com os batistas, e sentimo-nos mais em casa do que fora dela; contudo, não podemos dizer que a nossa posição é exatamente a mesma que a de qual-
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quer um deles. Os batistas dizem que eles batizam os crentes porque eles já estão perdoados, e eles insistem em que têm a evidência do perdão antes de serem batizados. Mas a linguagem empregada nas Escrituras declarando para que serve o batismo, é tão clara e inequívoca que os protestantes bem como os católicos romanos, em sua grande maioria, admitem em seus credos, que ele se destina, em certo sentido, à remissão dos pecados. Contudo, estes e muitos daqueles atribuem a isto a idéia da regeneração e insistem em que no batismo verdadeiramente confere-se a regeneração pelo Espírito Santo. Até mesmo a Confissão de Westminster faz vistas grossas firmemente nesta direção, apesar de que os seus atuais agregados tentam explicar de outra forma o seu sentido. Estamos tão longe deste ritualismo extremista como do anti-ritualismo a que os batistas foram levados. Para nós, a regeneração até aqui estar concluída antes do batismo de sorte que o candidato esteja mudado no coração, e na fé e na penitência deve ter induzido o seu coração para Cristo - caso contrário o batismo não é nada mais que uma forma vazia. Mas o perdão é algo distinto da regeneração. O perdão é um ato do Soberano -não uma mudança do coração do pecador; e conquanto se estende à vista da fé e do arrependimento do pecador, precisa ser oferecido de uma forma sensível e tangível, de modo que o pecador possa agarrá-la e apropriar-se dela com inequívoca definição. No batismo ele se apropria da promessa do perdão de Deus, depositando a sua confiança nos testemunhos divinos: 'Aquele que crer e for batizado será salvo'; 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo'. Por isso ele se apóia na promessa de Cristo e se apossa dela como sua própria. Ele não a merece, nem a consegue, nem a ganha ao ser batizado; mas ele se apropria do que a misericórdia de Deus proveu e ofereceu no evangelho. Por isso ensinamos a todos os que se batizam que, se eles trazem para o batismo um coração que renuncia o pecado e implicitamente confiam no poder que Cristo tem para salvar, devem confiar na promessa do Salvador - 'Aquele que crer e for batizado será salvo'." Todos estes pronunciamentos concordam em fazer cronologicamente o perdão distinto da regeneração, como o ponto conclusivo se distingue do todo. A regeneração não é uma obra total de Deus; deve ser completada pelo homem. Não é inteiramente uma mudança do coração; é também uma mudança na ação exterior. Vemos neste sistema de pensamento o início do
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sacramentalismo e consideramo-lo contendo os mesmos germes de erros que se desenvolveram na doutrina pedobatista. Shakespeare representa este ponto de vista em Henrique V, 1.2 - "O que você fala está na sua consciência lavada tão pura como o pecado que foi lavado no batismo"; Otelo, 2.3 - "Desdêmona poderia vencer o mouro - se não tivesse que renunciar ao batismo -selo e símbolo da remissão do pecado". Dr. G. W. Lasher, Journal and Messenger, sustenta que Mt. 3.11 - "Eu, na verdade, vos batizo com água, para (εις) arrependimento" - não implica que o batismo efetua o arrependimento; o batismo vem por causa do arrependimento, pois João recusou-se a batizar os que não mostravam evidência de arrependimento antes do batismo. Mt. 10.42 - "Qualquer que der... ainda que seja um copo de água fria, em (εις) nome de discípulo" - o copo de água fria não põe ninguém na qualidade de discípulo nem o torna tal. Mt. 12.41 - Os ninivitas ... arrependeram-se com (εις) a pregação de Jonas" = por causa de. Dr. Lasher argumenta que, em todos estes casos, o sentido de (εις) é "a respeito de", "com referência a". Deste modo ele traduziria At. 2.38 - "Arrependei-vos e cada uma de vós seja batizado ... a respeito de, com referência à remissão dos pecados". Este também é o ponto de vista de Meyer. Ele sustenta que βαπτίζειν εις significa sempre "batizar com referência a" (cf. Mt. 28.29; 1 Co. 10.12; Gl. 3.27; At. 2.37-8; 8.16; 19.5). Nós somos trazidos através do batismo, diria ele, à comunhão com a sua morte, através da cessação da vida para o pecado. A nosso juízo, o melhor paralelo encontra-se em Rm. 10.10 - "com o coração se crê (εις) para a justiça, e com a boca se faz confissão (εις) para a salvação"; onde evidentemente a salvação é o fim para o qual se opera toda a mudança e todo o processo incluindo a fé e a confissão. É assim que Broadus faz "batismo de arrependimento" de João significar batismo para o arrependimento, incluindo tanto o propósito do coração como a sua expressão exterior, ou batismo para completo e inteiro arrependimento. Expositor's Greek Testament, sobre At. 2.38 - "para o perdão dos pecados"; "εις, para, significando o alvo".
b) Como uma profissão de uma mudança espiritual já operada, o batismo é, em primeiro lugar, o ato, não do administrador, mas da pessoa batizada.
Teologia Sistemática (Strong) 1875 Sobre a pessoa recém-regenerada a ordem de Cristo termina primeiro; só com base na evidência da mudança dentro dele é que é dever da igreja prover para que ele tenha a oportunidade de seguir Cristo no batismo. Porque o batismo é, em primeiro lugar, o ato do convertido, nenhuma falta de qualificação da parte do administrante o invalida, no que se refere ao ato praticado, com a intenção da parte da pessoa batizada de expressar o fato de uma renovação já ocorrida (At. 2.37,38). At. 2.37,38 - "Que faremos, varões irmãos? ... Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado". Se o batismo for principalmente um ato do administrador ou da igreja, então a invalidade do administrador ou da igreja torna a própria ordenança inválida. Mas se o batismo for primordialmente um ato da pessoa batizada - ato que é assunto cujo julgamento cabe à igreja averiguar e outras coisas mais, então nada a não ser a ausência da imersão ou uma intenção de professar a fé em Cristo pode invalidar a ordenança. É o ponto de vista errôneo de que o batismo é um ato do administrador que produz ansiedade dos Batistas da Alta Igreja deduzir que a sua linhagem batista a partir de ministros regularmente batizados remontam a João Batista e que leva muitos modernos pedobatistas a provar que os mais antigos batistas da Inglaterra e do Continente não imergiam. Todas essas solicitudes são desnecessárias. Não precisamos provar uma sucessão apostólica batista. Se derivamos a nossa doutrina e prática do Novo Testamento, é tudo o que precisamos. Certo estava o Concílio de Trento no seu Cânon: "Se alguém diz que o batismo que até os hereges praticam em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, com a intenção de fazer o que a igreja faz, não é um verdadeiro batismo; seja anátema". Dr. Norman Fox: "Não é mais importante quem batiza um homem do que quem o leva a Cristo". John Spilsbury, primeiro pastor da igreja dos Batistas Particulares, defendendo uma expiação limitada, em Londres, repetiu o batismo em 1633, baseado em que "o batismo não é essencial para o administrador", e repudiou a exigência da sucessão apostólica, que induz logicamente ao papado de Roma". Em 1641, seguiu-se a imersão apesar de que dois ou três anos antes, em março de 1639, Roger Williams foi batizado por Ezequiel Holliman em Rhode Island.
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Williams depois duvidou da sua validade, apegando-se à noção de sucessão apostólica.
c) Encarregada da administração das ordenanças, contudo, a igreja deve, da sua parte, requerer dos candidatos ao batismo evidência da regeneração digna de crédito. Isto se segue da natureza da igreja e do seu dever de manter sua própria existência como uma instituição de Cristo. A igreja que não pode restringir a admissão à sua membresia a tais pessoas que se assemelham a ela em caráter e intento devem logo deixar de ser uma igreja porque não se distinguem do mundo. O dever que a igreja tem de obter a evidência da regeneração digna de crédito no caso de cada pessoa admitida no grupo envolve seu direito de requerer dos candidatos, em adição a uma profissão de fé com os lábios alguma prova satisfatória de que esta profissão se faz acompanhar de uma mudança na conduta. O elemento qualitativo e quantitativo da evidência que teria justificado a recepção de um candidato em tempos de perseguição pode não constituir uma prova suficiente de mudança de coração. Se um Alojamento de Estranhos Companheiros, a fim de preservar a sua distinta existência, deve ter suas regras próprias para a admissão à membresia, muito mais se deve fazer sobre a igreja. Ela pode elaborar o seu regimento tendo em vista garantir a evidência da regeneração. Contudo, é preciso que se exija do candidato não mais do que prova razoável do seu arrependimento e fé. Visto que a igreja deve estar convicta da adequação do candidato antes de votar recebê-lo na sua membresia, é melhor que o candidato relate sua experiência perante a igreja. Contudo, em casos extremos, como enfermidade, a igreja pode ouvir tal experiência através de alguém que o represente. Às vezes descreve-se figuradamente o batismo como "a porta de entrada para a igreja". A expressão é infeliz porque, se igreja significa o reino divino espiritual, então Cristo é a única porta; se significa a igreja local, então a fé do candidato, a evidência da regeneração, o voto da própria igreja, tudo isso é, juntamente com o batismo, a porta pela qual ele entra.
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Neste sentido, temos uma dupla porta; numa das suas folhas temos a confissão, e na outra o batismo.
d) O batismo é a primeira expressão exterior da mudança interior de todos os deveres pela qual, no tempo, o crente entra no reino de Deus. A regeneração e o batismo, apesar de não apresentar uma relação de causa e efeito, no Novo Testamento são considerados essenciais à restauração das relações corretas com Deus e com o seu povo. Eles são partes integrantes de um todo e não devem ser necessariamente separados. O batismo deve seguir a regeneração com a mínima demora entre ambos depois que candidato e igreja evidenciaram que houve uma mudança espiritual dentro dele. Nenhum outro dever e nenhuma outra ordenança podem, com propriedade, precedê-lo. Nem o pastor nem a igreja devem estimular o convertido a aguardar um grupo de outros mais para batizarem-se juntos. Devemos ter como alvo contínuo o aprofundamento contínuo da responsabilidade individual para com Cristo e o dever de obedecer o mandamento do batismo tão logo haja uma oportunidade. A participação na Ceia do Senhor não pode apropriadamente preceder ao batismo; sempre virá depois dele.
e) O batismo que simboliza esta regeneração não deve ser repetido porque a regeneração é uma obra completada de uma vez por todas. Mesmo quando o candidato está persuadido de que, na época do batismo, ele estava equivocado pensando estar regenerado, a ordenança não deve ser administrada outra vez, porque ele já se submeteu uma vez a ela, com intenção honesta, como uma profissão de fé em Cristo. Argumentamos a partir da ausência de qualquer referência a segundos batismos no Novo Testamento e das graves dificuldades práticas atendendo o ponto de vista oposto. Em Atos 19.1-5, temos um exemplo não do rebatismo, mas do batismo de algumas pessoas pela primeira vez as quais tinham sido ensinadas erradamente com relação à doutrina de João Batista e assim submeteram-se ignorantemente a um rito exterior
Teologia Sistemática (Strong) 1878 que, em si, não tem nenhuma referência a Jesus Cristo e não expressava nenhuma fé nele como Salvador. Este não era o batismo de João e nem, em qualquer sentido, tratava-se de um batismo. Por esta razão, Paulo mandou que fossem "batizados em nome do Senhor Jesus". Sobre a não repetição, o batismo difere da ceia do Senhor, que simboliza a força sustentadora da morte de Cristo, enquanto o batismo simboliza o poder de iniciar uma nova vida dentro da alma. Em At. 19.1 -5, Paulo instrui os novos discípulos no sentido de que o verdadeiro batismo de João, a que eles erroneamente supunham ter-se submetido, não era o batismo de arrependimento, mas o da fé no Salvador que deveria vir. "E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus" - como eles não tinham visto antes. Aqui não há uma repetição do batismo, pois a simples imersão exterior na água a que anteriormente se submeteram sem pensarem na profissão de fé em Cristo, a final de contas, não era batismo quer joanino, quer cristão. Sempre que é claro, como em muitos casos da imersão campbelista, em que o candidato desceu à água, não com o intento de professar uma fé que já existia, mas para serem regenerados, o batismo ainda deve ser administrado se, depois disso, o candidato crer em Cristo. Entretanto, sempre que se torna claro que houve a intenção de professar uma fé e regeneração já existentes, não se deve repetir a imersão ainda que a ordenança tenha sido administrada por campbelistas. Rebatizar sempre que se reacende a fé e o regozijo cristãos porque ele começa a duvidar das suas primeiras experiências, no caso de muitos crentes volúveis, requer muitas repetições da ordenança. Presume-se que, quando se fez a profissão de fé através do batismo, havia uma verdadeira fé que precisava ser professada e, por isso, o batismo, embora seguido por muitos momentos de incredulidade e peregrinações, é válido. O rebatismo, no caso de cristãos instáveis, tende a trazer uma reprovação da ordenança em si.
f) Enquanto o modo e os candidatos são tais como Cristo determinou, os simples acessórios são matéria de juízo individual.
Teologia Sistemática (Strong) 1879 O emprego de batistérios naturais em lugar dos artificiais não deve ser considerado essencial. A fórmula de batismo prescrita por Cristo é "em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo". Mt. 28.19 - "batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo", cf. At. 8.16 - "somente eram batizados em nome do Senhor Jesus"; Rm. 6.3 - Ou não sabeis que todos quantos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?"; Gl. 3.27 - "porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo". O batismo é a imersão em Deus, na presença, na comunhão, na vida da Trindade; ver Com. de Lange, sobre Mt. 28.19. Presidente Wayland e a Versão Revista Americana contém a expressão "no nome". Per contra, ver Meyer, sobre Rm. 6.3; cf. Mt. 10.41; 18.20; em todas estas passagens, assim como em Mt. 28.19, ele reivindica que εις το όνομα significa "com referência ao nome". Em At. 2.38 e 10.48 temos "em nome".
C) O Batismo de Crianças. Rejeitamo-lo e repreendemo-lo pelas seguintes razões: a) O batismo de crianças não tem garantia, expressa ou implícita, na Escritura. Primeiro: não há nenhuma ordem expressa de que se deva batizar a criança. Segundo: Não há nenhum exemplo claro de batismo de crianças. Terceiro: as passagens que implicam o batismo de criança não contêm, quando bem interpretadas, nenhuma referência a tal prática. Em Mt. 19.14, nada seria 'impedido', se Jesus e seus discípulos tivessem tido o hábito de batizar criança. De Atos 16.15, cf. 40 e Atos 16.33 cf. 34, Neander diz que não podemos inferir o batismo de criança. 1 Co. 16.15 mostra que toda a família de Estéfanas, batizada por Paulo, era formada de adultos (1 Co. 1.16). É impossível supor uma casa inteira de gentios batizada com base na fé de seu cabeça. Quanto a 1 Co. 7.14, Jacobi chama este texto de "uma testemunha segura contra o batismo de crianças porque Paulo, sem dúvida, ter-lhe-ia feito referência como
Teologia Sistemática (Strong) 1880 prova da sua santidade se tal tivesse sido praticado". Esta passagem, ainda nesse caso, igualmente ensinaria o batismo do inconverso marido da crente. Isto prova claramente que os filhos de pais crentes não deviam ser batizados e não tinham nenhuma conexão mais íntima com a igreja cristã do que os descrentes companheiros dos cristãos. Mt. 19.14 - "Deixai os pequeninos e não os estorveis de vir a mim, porque dos tais é o Reino dos céus"; At. 16.15 - "Depois que foi batizada, ela [Lídia] e a sua casa"; cf. 40 "Ε, saindo da prisão, entraram em casa de Lídia, e, vendo os irmãos, os confortaram, e depois partiram". At. 16.33 - "naquela mesma hora da noite ... foi batizado, ele [carcereiro] e todos os seus"; cf. 34 -Έ, levando-os para casa, lhes pôs a mesa; e, na sua crença em Deus, alegrou-se com toda a sua casa"; 1 Co. 16.15 - "sabeis que a família de Estéfanas é as primícias da Acaia e que se tem dedicado ao ministério dos santos"; 1.16 - Έ batizei também a família de Estéfanas"; 7.14 - "porque o marido descrente é santificado pela mulher, e a mulher descrente é santificada pelo marido. Doutra sorte, os vossos filhos seriam imundos; mas, agora, são santos" - aqui a santificação ou a santidade atribuída aos membros descrentes da família, sem dúvida é a conexão e o privilégio exterior como o Israel do V.T. Broadus, Am. Com. (edição em Português, volume II, página 139 a), sobre Mt. 19.14 - "Nenhum comentador grego menciona o batismo de criança em conexão com esta passagem apesar de que todos eles praticavam tal rito". Schleiermacher, Glaubenslehre, 2.383 - "Todos os traços do batismo infantil que se quis encontrar no N.T. devem ser primeiro incluídos nele". Pfleiderer, Grundriss, 184-187 - "Não se pode provar o batismo de crianças a partir do N.T. e em 1 Co. 7.14 um antecedente improvável; embora seja a conseqüência lógica do mandamento, Mt. 28.19 sq., em que a consciência da igreja no segundo século profeticamente expressava a indicação de Cristo de que a igreja seria universal abrangendo todas as nações. ... O batismo de crianças representa um lado do batismo bíblico, o lado da graça divina; mas é preciso que exista o outro lado, o da apropriação da graça através da liberdade pessoal, acrescida na sua confirmação".
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Dr. A. S. Crapsey, outrora um reitor episcopal em Rochester fez a seguinte afirmação ao introduzir um sermão em defesa do batismo de crianças: Ora, em apoio a este costume da igreja, não podemos apresentar nenhuma ordem expressa na palavra de Deus, nenhuma garantia da Escritura Sagrada, nem podemos estar certos de que este era o emprego prevalecente durante o período apostólico. A partir de umas poucas sugestões podemos conjeturar que ele existia, mas, afinal de contas, tratase apenas de conjectura. É verdade que São Paulo batizou a família de Estéfanas, de Lídia e do carcereiro de Filipos e, nessas famílias pode ter havido crianças; mas não sabemos se as havia e tais inferências apenas formam um pobre fundamento que sirva de base para qualquer doutrina. Melhor é dizer de uma vez e ousadamente que a Escritura Sagrada expressamente não ensina o batismo de crianças. Não é só a Palavra de Deus que silencia a respeito deste assunto, mas aqueles que o estudaram dizem-nos que os escritores cristãos da primeira época nada mencionam sobre isso. De modo algum pode-se estar certo de que este costume existiu na igreja primitiva ou na metade do segundo século ou no começo do terceiro". Dr. C. M. Mead, em uma carta particular, datada de 27 de maio de 1895 - "Embora congregacionalista, não posso encontrar qualquer autorização bíblica para o pedobatismo, e admito também que a imersão parece ter sido a forma prevalecente, senão universal de batismo no primeiro século". Uma revisão das passagens que os pedobatistas sustentam em apoio aos seus pontos de vista levam-nos à conclusão expressa na Revista Britânica do Norte, agosto 1852.211, que o batismo de crianças é totalmente desconhecido na Bíblia. Jacob, EccI. Polity of N.T., 270-275 - "Não se menciona o batismo de crianças no N.T. Nele não se registra nenhum exemplo dessa prática; não se faz nenhuma alusão aos seus efeitos; não há orientação alguma para a sua administração. ... Não é uma ordenança apostólica".
b) O batismo de crianças é expressamente contraditado: Primeiro: pelos pré-requisitos escriturísticos de fé e arrependimento como sinais da regeneração. Na grande comissão, Mateus fala em batizar
Teologia Sistemática (Strong) 1882 discípulos e Marcos em batizar crentes; mas as crianças não são nenhum nem outro. Segundo: pelo simbolismo escriturístico da ordenança. Como não podemos sepultar uma pessoa antes da morte, assim não podemos sepultar simbolicamente uma pessoa pelo batismo até que em espírito ele tenha morrido para o pecado. Terceiro: pela constituição escriturística da igreja. A igreja é um grupo de pessoas cuja união mútua pressupõe e expressa uma prévia união consciente e voluntária de cada um com Cristo. Mas as crianças não são capazes desta união consciente e voluntária com Cristo. Quarto: pelos pré-requisitos escriturísticos para a participação da Ceia do Senhor. A participação na Ceia do Senhor é direito só dos que podem discernir o corpo do Senhor (1 Co. 11.29). Não haveria nenhuma razão para restringir aos comungantes inteligentes a ordenança da Ceia se não se restringisse igualmente não aos crentes inteligentes a ordenança do batismo. De acordo com essa prática, o batismo de crianças tem levado a igreja a ministrar a comunhão entre elas. Este procedimento parece consistentemente lógico. Se o batismo é ministrado a bebês inconscientes, estes também devem participar da Ceia do Senhor. Mas a se pensar que a confirmação ou qualquer profissão de fé inteligente é necessária antes da comunhão, e a confirmação ou a profissão por que não é necessária antes do batismo? Dexter, Congregationalism, 487, nota - "Freqüentemente se tem sugerido que o Presidente Edwards se opôs e destruiu o Concerto Intermediário. Ele se opôs ao Estodardismo, ou à doutrina de que é uma ordenança convertedora e que, por isso os não convertidos devem ser estimulados a participar dela". A tendência do seu sistema é contrária a isso; mas, por tudo o que aparece nos seus escritos publicados, é possível que ele tenha aprovado a forma do Concerto Intermediário existente na época entre as igrejas. A respeito de Jonathan Edwards, diz John Fiske: "A proeminência que ele deu à conversão espiritual ou ao que se chamava 'mudança de coração', ocasionou a destruição do Pacto Intermediário.
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Também enfraqueceu a base lógica do batismo de crianças e conduziu ao ganho de hostes de convertidos pelos batistas". Outros grupos pedobatistas além da igreja grega omitem parte da verdade, com prejuízo da consistência, ao negar a participação da Ceia do Senhor às crianças batizadas até que elas cheguem à idade de entender e façam a pública profissão de fé. Dr. Charles E. Jefferson, no Concilio Internacional dos Congregacionais de Boston, setembro de 1899, argumentou que os filhos dos crentes já são membros da igreja e que, como tais, eles não só têm o direito ao batismo, mas também à Ceia do Senhor "afirmação que dá muito que pensar"! Os batistas bem podem recomendar aos congregacionais o ensinamento dos seus próprios clérigos, A Ordem do Evangelho (1700), 11 - "A disciplina da igreja congregacional não se coaduna com o interesse mundial ou com a geração formal de professores. Ela permanecerá ou cairá na medida em que a bondade na sua força prevalecer ou não.... Se a apostasia que começou tivesse prosseguido tão rapidamente nos trinta anos seguintes como aconteceu nestes últimos sem dúvida aconteceria que na Nova Inglaterra (a não ser que o próprio evangelho mudasse a sua ordem) as pessoas mais conscientes pensariam em reunir igrejas a partir de igrejas". Até onde uma exterioridade judaica permanece entre cristãos nominais fica demonstrado pelo fato de que na igreja armênia sobreviviam os sacrifícios de animais, ou permitia-se a conversão de sacerdotes gentios, para que não perdessem o seu ganha-pão. Tais sacrifícios continuaram em outras regiões da cristandade, particularmente na igreja grega, e o papa Gregório, o Grande, os permitiu. Em A Chave da Verdade, Manual da Igreja Pauliciana da Armênia, cuja data em sua forma atual situa-se entre os séculos sétimo e nono, temos o ponto de vista adocianista da pessoa de Cristo e sobre os candidatos e modos de batismo: "Assim, também o Senhor, tendo aprendido do Pai, continuou a ensinar-nos a realizar o batismo e outros mandamentos na idade madura e não em outra idade. ... Porque alguns quebraram e destruíram os santos e preciosos cânones que foram entregues pelo Pai ao nosso Senhor Jesus Cristo e os pisaram com os diabólicos ensinos, ... batizando aqueles que são irracionais e ministrando a comunhão aos incrédulos".
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A menoridade está legalmente dividida em três setenatos: 1. A partir do primeiro ano ao sétimo, período da irresponsabilidade completa em que a criança não comete crime; 2. a partir do sétimo ano ao décimo quarto, período da responsabilidade parcial, em que não se admite existir a inteligente consciência das conseqüências das ações, mas prova-se nos exemplos individuais; 3. a partir do décimo quarto ano até o vigésimo primeiro, período da discrição, em que a pessoa é responsável pela ação criminal, pode escolher um guardião, pratica uma vontade, casa-se com o consentimento dos pais, assina contratos não totalmente inválidos, porém não lhe é permitido assumir a posição de homem livre, mas ainda não tem permissão para assumir a plena e livre posição de um homem no estado. Contudo, a igreja não está condicionada a estas duras e limitadas regras. Onde quer que ela tenha evidências de conversão e de caráter cristão, pode admitir para o batismo e para a membresia da igreja, até mesmo na tenra idade.
c) O surgimento do batismo de crianças na história da igreja se deve a concepções sacramentais do cristianismo, de modo que todos os argumentos em seu favor, desde os escritos dos três primeiros séculos, são igualmente os de regeneração batismal. O ponto de vista de Neander pode ser encontrado em Κιττο, Cyclopaedia, 1.287 - Ό batismo de crianças não foi estabelecido por Cristo e nem pelos apóstolos. Mesmo mais tarde, Tertuliano se lhe opôs e o Norte da África defendia a velha prática". O recém-descoberto Ensino dos Apóstolos, que Bryennios situa entre 140-160 AD, e Lightfoot, 80-110, parece ignorar totalmente tal batismo. Prof. A. H. Newman, Baptist Review, janeiro 1884 - Ό batismo de crianças sempre caminhou de mãos dadas com as igrejas do estado. É difícil conceber como um estabelecimento eclesiástico pôde manter-se sem o batismo de crianças ou seu equivalente. Podemos pensar, se os fatos não nos mostram claramente o contrário, que a doutrina da justificação exclusivamente pela fé desbancaria o batismo de crianças. Mas isso não aconteceu. O estabelecimento deve ser mantido. A rejeição do batismo de crianças implica na insistência do batismo de crentes. Só os batizados são,
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com propriedade, membros da igreja. Nem mesmo todos adultos recebem o batismo com a profissão de fé, se não forem compelidos a isso. Por isso o batismo de crianças deve ser retido como um concomitante necessário de uma igreja do estado. "Mas o que resulta da justificação pela fé? Se o batismo tem algum significado, simboliza a regeneração. Seria ridículo fazer o símbolo preceder o fato por vários anos. Lutero sentiu a dificuldade; mas aceitou como uma emergência. 'Sim', dizia ele, 'a justificação vem somente pela fé. Nenhum rito exterior, sem a fé, tem qualquer eficácia'. Por que ele era contra as opera operata que deitava fora toda a sua força? Embora o batismo seja símbolo da regeneração, ele deve ser administrado às crianças ou a igreja do estado desaparece. Com uma audácia verdadeiramente sublime, o grande reformador declara que as crianças são regeneradas em conexão com o batismo e que elas são simultaneamente justificadas pela fé pessoal. Uma criança com oito dias crê? 'Prove o contrário se puder!' triunfantemente se lança Lutero, e ponto ganho. | Se se diz que esse tipo de fé pessoal justifica as crianças, é maravilhoso que as de idade mais madura aprendam a receber um ponto de vista tão superficial daquela fé que justifica"? Entretanto, Lutero escreveu: "Qualquer coisa que exista sem a palavra de Deus é pelo mesmo fato contra Deus". Houve grande discordância entre o Lutero reformador e o Lutero conservador da igreja. O seu catolicismo, vencido só pela metade, quebrou todos os seus pontos de vista sobre a fé. Nos seus primeiros anos ele apelava para a razão e para a Bíblia; nos seus anos posteriores ele pôs em choque a razão contra a Bíblia no suposto interesse da igreja. Mt. 18.10 - "Vede, não desprezeis algum destes pequeninos" - que não se trata de criancinhas, mas daqueles que se assemelham a elas, Lutero acrescenta como prova do batismo de criança, sustentando que ela crê "um destes pequeninos que crêem" (v. 6) porque foram circuncidados e recebidos no número dos eleitos. "E assim, através do batismo, as crianças se tornam crentes. Como podiam também as crianças dos turcos e dos judeus distinguir-se dos cristãos?" Será que isto envolve a noção de que as crianças que morrem sem ser batizadas estão perdidas? Achar o próprio apóstolo da justificação pela fé dizendo que uma criança se torna crente
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através do batismo é humilhante e desalmado (Ver Broadus, Com. sobre Mateus). Pfleiderer, Philos. Religion, 2.342-345 cita de Lang: "Lutero fez o Protestantismo perder seu sal; ele infligiu feridas sobre o mesmo que ele ainda hoje ainda não se recobrou; e o esforço eclesiástico hoje é um esforço da liberdade espiritual contra o luteranismo". E. G Robinson: "O batismo de crianças é um farrapo do romanismo. Visto que a regeneração é sempre através da verdade, a regeneração batismal é um absurdo".
d) O arrazoado pelo qual se sustenta é antibíblico, insano e perigoso em sua tendência: Primeiro: ao admitir que a igreja tem poder para modificar ou abrogar uma ordem de Cristo. Isto já foi suficientemente respondido acima. Segundo: ao sustentar que o batismo de crianças toma o lugar da circuncisão sob o pacto de Abraão. A isto respondemos que o ponto de vista contradiz a idéia do Novo Testamento sobre a igreja, fazendo-a um corpo hereditário no qual o nascimento físico e não no novo nascimento qualifica a membresia. "Como o Israel nacional tipificava o Israel espiritual, assim a circuncisão que imediatamente não precedia, mas seguia o nascimento natural, determina que batizemos crianças, não antes, mas depois do nascimento espiritual". Terceiro: declarando que o filho tem direito ao batismo por causa de uma conexão orgânica do filho com o pai o que permite a este representar aquele e fazer a profissão de fé em seu lugar; fé já existente no filho em forma germinal em virtude desta união orgânica e, sem dúvida, pela mesma razão, se desenvolve quando o filho chega à maturidade. "A lei da conexão orgânica relativa ao caráter subsiste entre o pai e o filho; tal conexão como induz à convicção de que o caráter de um na verdade está incluído no do outro, do mesmo modo que a semente se forma na cápsula". A este ponto de vista objetamos que sem garantia confunde-se a personalidade do filho com a do pai; praticamente ignora a necessidade das influências regeneradoras do Espírito Santo no caso do
Teologia Sistemática (Strong) 1887 filho de pais cristãos; e presume em tais filhos um estado gracioso que os fatos mostram conclusiva-mente não existir. O que toma o lugar da circuncisão não é o batismo, mas a regeneração. Paulo destruiu a tentativa de firmar a circuncisão na igreja, quando impediu que esse rito fosse aplicado a Tito. Porém mais tarde os judaizantes foram bem sucedidos em perpetuá-lo sob a forma de um batismo de crianças e, depois, na aspersão delas. E. G. Robinson: "A circuncisão não é um tipo de batismo: 1. É uma suposição puramente gratuita que seja assim. Não há uma palavra na Bíblia que a autorize; 2. Não é um rito pessoal, ou religioso, mas nacional e teocrático; 3. Se a circuncisão for um tipo, por que Paulo circuncidou Timóteo? Por que ele não explicou, numa ocasião tão naturalmente adequada a isso, que a circuncisão foi substituída pelo batismo?" Sobre a teoria de que o batismo substitui a circuncisão, ver Pepper, Baptist Quar. Review, 1871.314. Ou a igreja cristã é um grupo natural, hereditário, ou meramente tipificado pelo povo judaico. No primeiro caso, o batismo pertence a todos os filhos de pais cristãos e a igreja não difere do mundo. Neste segundo caso, só pertence aos descendentes espirituais e, por isso, só aos verdadeiros crentes. "Que os judeus cristãos, que naturalmente haviam sido circuncidados, foram também batizados e que grande número deles insistiam em que os gentios também tinham de ser circuncidados, mostra que o batismo não ocupou o lugar da circuncisão. ... A noção de que a família é a unidade da sociedade é uma reminiscência do barbarismo. Não deixa nada a não ser uma situação servil para a esposa ou para o filho, degradando assim a sociedade à fonte da família. Para obter liberdade, a esposa romana tinha de aceitar uma forma de casamento que abria caminho para a ilimitada liberdade do divórcio". A membresia hereditária da igreja é do mesmo tipo que o sacerdócio hereditário e ambos são reminiscência do judaísmo. J. J. Murphy, Natural Selection and Spiritual Freedom, 81 - "A instituição da hereditariedade sacerdotal, tão profundamente arraigada nas religiões antigas e adotada pelo judaísmo, não achou lugar no cristianismo; não há, creio eu, igreja que se vale do nome de Cristo, que tenha um ministério hereditário". Contudo, há uma crescente disposição para encontrar no batismo infantil a garantia da
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1888
membresia eclesiástica hereditária". Washington Gladden, O Que se Deixou? 252-254 -"A solidariedade das gerações acha expressão no batismo infantil. Na Sociedade dos Amigos, cada criança que nasce na Sociedade é um membro nato. Os filhos de pais cristãos são herdeiros do reino. O Estado reconhece que os nossos filhos estão organicamente em conexão com ele. Quando os pais são membros do Estado, os filhos não são estrangeiros. Eles não chamados para cumprirem os seus deveres de cidadãos até uma certa idade, mas eles têm os direitos e privilégios da cidadania a partir do momento em que nascem. O Estado é a mãe dos seus filhos; será que a igreja é menos maternai que o Estado? ... O batismo não torna a criança um filho de Deus; simplesmente reconhece e declara o fato". Outra ilustração que consideramos tão radicalmente falsa encontra-se no sermão do Bispo Grafton de Fond du Lac, por ocasião da consagração do Bispo Nicholson em Filadélfia: "O batismo não é semelhante a uma função na ordem natural, como a coroação do rei, um reconhecimento do que a criança já é. A criança, um verdadeiro descendente amado de Deus por causa da criação, no batismo, é transportada para a nova criação e incorporada no Deus encarnado, e feita seu filho". Contudo, como a grande maioria dos internos das nossas prisões e os favelados receberam este 'batismo', parece que o 'descendente amado bem cedo perdeu a sua 'nova criação' e não foi 'transportado' para a direção errada. Consideramos o batismo de crianças como apenas um exemplo antigo do esforço para introduzir o reino de Deus através de recursos externos, cujo protesto levou Jesus à cruz. Os nossos métodos modernos de salvação através da sociologia e da educação e legislação encontram-se sob a mesma acusação de repetir a crucificação do Filho de Deus e expô-lo novamente ao vitupério.
O Prof. Moses Stuart argumentava que a forma de batismo era imaterial, mas que o temperamento do coração era coisa de momento. Quando ainda era seu aluno, Francis Wayland perguntou: "Se isto é assim, com que propriedade pode-se administrar o batismo aos que não se pode supor que exerçam tal disposição de coração, afinal de contas, e para quem a forma deve ser tudo?"
Teologia Sistemática (Strong) 1889 e) A falta de acordo entre os pedobatistas quanto à garantia do batismo de crianças e quanto à relação das crianças batizadas com a igreja juntamente com o manifesto declínio da própria prática são argumentos contra ele. Argumenta-se variadamente que a propriedade do batismo de crianças, diz Bushnell, com base na "inocência natural, na depravação herdada e na santidade federal; por causa do próprio caráter da criança, a piedade dos pais e a fé da igreja; em razão de que a criança já é herdeira da salvação e para fazê-la tal ... Tal opinião sobre o batismo de crianças e sobre a nutrição cristã nunca foi sustentável. Quot homines, tot sententiae (Quantos homens, tantas sentenças, ou cada cabeça, uma sentença). O retardatário viajante, numa trovejante tempestade, orou pedindo que houvesse mais luz e menos barulho. Bushnell, Christian Nurture, 9-89, nega a existência do pecado original e nega que a conexão hereditária possa fazer com que o filho seja culpado. Mas parece que ele ensina a transmissão da retidão, ou que a conexão hereditária possa tornar santa uma criança. Ele deprecia as "experiências sensíveis", e chama-as "conversões explosivas". Mas, porque não sabemos a que tempo se deu a conversão, diremos que nunca houve um tempo quando experimentou a graça de Deus? Ver Bíblia Sacra, 1872.665. Bushnell diz: "Não sei que direito temos de dizer que um filho pode nascer de novo antes da primeira vez". João não pregou Cristo antes que ele nascesse? (Lc. 1.15,41,44). A resposta a Bushnell é simplesmente esta: A regeneração vem através da verdade e um filho que não nasceu não pode conhecer a verdade. Separar a regeneração da verdade, é torná-la matéria de manipulação externa em que a alma é meramente passiva e o processo todo é irracional. Há uma obra secreta de Deus na alma, mas ela sempre se faz acompanhar do seu despertar para percepção da verdade e aceitar a Cristo. As crianças batizadas são membros de uma igreja presbiteriana? Respondemos citando os seguintes padrões: 1. Confissão de Fé, 25.2 - "A igreja visível ... consiste em todas as pessoas do mundo, que professam a verdadeira religião, juntamente com os seus filhos". 2. Catecismo Maior, 62 -
Teologia Sistemática (Strong)
1890
"A igreja visível é uma sociedade formada de todos os que em todas eras e lugares do mundo professam a verdadeira religião, assim como os seus filhos". 166 - Ό batismo não deve ser administrado a qualquer que não pertença à igreja visível... até que professem a sua fé em Cristo e obediência a ele; mas as crianças dos dois membros do casal, ou de um só que professem a fé e a obediência a ele estão, a esse respeito, incluídos no pacto e devem ser batizados". 3. Catecismo Menor, 96 - "O batismo não deve ser administrado a qualquer que esteja fora da igreja visível enquanto não professar a fé em Cristo e obediência a ele; mas os filhos dos membros da igreja visível devem ser batizados". 4. Forma de Governo, 3 - "A igreja particular consiste em um certo número de cristãos professos, juntamente com os seus descendentes". 5. Direção da Adoração, 1 - Os filhos nascidos dentro grupo da igreja visível e dedicados a Deus no batismo estão sob a inspeção e governo da igreja. ... Quando chegam os anos da discrição, se eles estão livres do escândalo, apresentam-se sóbrios e firmes, e têm conhecimento suficiente para discernir o corpo do Senhor, devem ser informados sobre o seu dever e privilégio de chegar-se à Ceia do Senhor. A Igreja Congregacional Maplewood de Maiden, Massachusetts, arrola como membros todas as crianças batizadas pela igreja. A relação continua até que eles mostrem o desejo de continuar ou de desligar-se. O rol de tais membros difere da dos adultos, mas eles são considerados membros sob a tutela da igreja. Dr. W. G. T. Shedd: "A criança de um crente nasce na igreja do mesmo modo que a criança de um cidadão nasce para o Estado. A criança batizada pode, na idade adulta, renunciar o referido batismo, tornarse infiel, e juntar-se à sinagoga de Satanás, mas, enquanto ela não fizer isso, deve ser considerada como membro da igreja de Cristo".
f) Os maus efeitos do batismo de crianças são um forte argumento contra Primeiro: antecipando o ato voluntário da criança batizada e, assim impedindo praticamente sua obediência pessoal às ordens de Cristo. A pessoa batizada na infância nunca praticou qualquer coisa com a intenção de obedecer a ordem de Cristo de ser batizada, nunca apresentou uma simples vontade de cumprir a obediência a essa vontade. Todo homem
Teologia Sistemática (Strong)
1891
tem o direito de escolher a sua própria esposa. Do mesmo modo, todo homem tem o direito de escolher o seu próprio Salvador.
Segundo: induzindo à confiança supersticiosa no rito exterior como possuído de eficácia regeneradora. Os casais franceses ainda consideram as crianças antes do batismo como animais (Stanley). A pressa com que o ministro é chamado para batizar a criança às portas da morte mostra que a superstição ainda persiste em muitas outras famílias evangélicas em nosso país. O Livro Inglês de Oração declara que, no batismo, a criança "se torna um filho de Deus e herdeiro do reino do céu". Mesmo o Catecismo da Assembléia de Westminster, 28.6, sustenta que a graça é verdadeiramente conferida no batismo, apesar de que a sua eficácia se prolonga até a idade madura. Revista de Mescersburg: "A causa objetiva média ou instrumental da regeneração é o batismo. Os homens não são regenerados fora da igreja e depois trazidos a ela para a sua preservação, mas são regenerados ao incorporarem-se ou enxertarem-se à igreja através do sacramento do batismo". Revista Católica: "Estes pequeninos que não são batizados vão para as trevas; mas os que são batizados regozijam-se na presença de Deus para sempre". O Dr. Beebe de Hamilton foi à procura de um ministro para que batizasse o seu filho que estava doente, mas, antes que voltasse, a criança morreu. A reflexão fez dele um batista e Editor do Examiner. Sem hesitar, os batistas permitem que os convertidos morram sem ser batizados, mostrando claramente que eles não consideram o batismo essencial à salvação. O batismo não torna alguém mais cristão, do que a coroação de alguém para ser um rei. Zwínglio defendia uma interpretação simbólica da Ceia do Senhor, mas apegava-se à concepção sacramentai do batismo. E. H. Johnson, Uses and Abuses of Ordinances, 33, reivindica que, embora o batismo não seja uma ordenança justificadora ou regeneradora, ela é santificadora; santifica, no sentido de que separa. Sim, respondemos, mas do mesmo modo que a ida à igreja e as orações também o fazem; a eficácia não está no ato exterior, mas no espírito que o acompanha. Fazê-lo significar mais é admitir o princípio sacramentai.
Teologia Sistemática (Strong)
1892
Na Igreja Católica Romana o batismo dos sinos e dos rosários mostra . como o batismo de crianças induziu o crente a pensar que crer que a graça pode ser comunicada aos irracionais e até mesmo às coisas materiais. No México o povo traz pássaros em gaiolas, gatos, coelhos, burros e porcos para o batismo. O sacerdote se ajoelha diante do altar, lê umas poucas palavras em latim e depois asperge a criatura com a água benta. Supõe-se que a aspersão retire qualquer espírito mau que possa ter atormentado o pássaro ou o animal. Em Key West, Flórida, cidade de 22 000 habitantes, o batismo de crianças tem mais forte apoio do que em qualquer outro lugar no sul. O casal batista às vezes procurava pregadores metodistas para batizarem seus filhos. A fim de evitar isso, os pastores batistas estabeleceram o costume de impor as mãos sobre a cabeça das crianças na congregação e, abençoando-as, i.e. pedindo a Deus que as bênçãos repousem sobre elas. Mas este costume veio a ser confundido com a cristianização, e assim foi chamado. Agora os pastores batistas estão enfrentando uma dura luta para explicar e limitar o costume que eles mesmos introduziram. A natureza humana perversa levará vantagem com as mais leves adições às prescrições do N.T., e colherá dos germes da falsa doutrina uma temerosa ceifa do mal. Obsta principiis -"Resiste aos princípios".
Terceiro: obscurecendo e corrompendo a verdade cristã relativa à suficiência da Escritura, condição das ordenanças e a inconsistência de uma vida impénitente com a membresia da igreja. O batismo de crianças na Inglaterra é seguido da confirmação quer tenha havido qualquer abandono consciente do pecado quer não. Na Alemanha, sempre se entende que um homem seja um cristão a não ser que ele expresse claramente o contrário - de fato ele considera um insulto que se questione a sua condição de cristão. Nos funerais até mesmo dos infiéis e libertinos a mortalha empregada pode ter inscritas as palavras: "Bemaventurados os mortos que morrem no Senhor". A confiança no cristianismo de alguém e as esperanças no céu baseadas apenas no fato do batismo na infância são um grande obstáculo à pregação evangélica e ao progresso da verdadeira religião.
Teologia Sistemática (Strong) Quarto: destruindo a igreja mergulhando-a na nação e no mundo.
como
um
corpo
1893 espiritual,
Ladd, Principles of Church Polity. "O unitarismo entrou nas igrejas congregacionais da Nova Inglaterra pela brecha de um dos seus dogmas mais defendidos e mais importantes, a saber, o da membresia do regenerado. O formalismo, o indiferentismo, a negligência das reformas morais e, tanto a causa como o resultado destes, uma fartura de mulheres e homens irregenerados foram a causa do seu desastre naquela triste época". Mas devemos acrescentar que o sério e alarmante declínio da religião que culminou com o movimento unitário na Nova Inglaterra teve a sua origem no batismo de crianças. Isto introduziu na igreja uma multidão de pessoas irregeneradas e permitiu-lhes que determinassem sua posição doutrinária. W. B. Matteson: "Nenhuma prática da igreja rebaixou tanto o tom da sua vida e degradou os seus padrões. As primeiras igrejas da Nova Inglaterra foram estabelecidas pelos piedosos e regenerados. Eles receberam nas suas igrejas através do batismo infantil, crianças presumível, mas não realmente regeneradas. O resultado é bem conhecido: rápido, surpreendente, aparentemente irresistível declínio. ‘O grupo da geração que estava surgindo', escreve Increase Mother, é um pobre perecível, inconverso e, se o Senhor não derramar o seu Espírito, será uma geração destruída’. O ‘Pacto pela Metade’ foi um sinal do declínio anterior e a causa do posterior. Se Deus não tivesse derramado o seu Espírito no grande avivamento sob Edwards, a Nova Inglaterra bem poderia, como alguns temiam, perder-se mesmo para a Nova Inglaterra e serem sepultados nas suas próprias ruínas'. Foi a nova ênfase na religião pessoal - ênfase para a qual os batistas daquela época contribuíram grandemente - que deu às igrejas da Nova Inglaterra uma vida maior e mais útil. O batismo de crianças nunca manteve o mesmo lugar na constituição daquelas igrejas. Via de regra ele tem declinado. Mas ainda está longe de extinguir-se mesmo entre os protestantes. A obra dos batistas ainda não se consumou. Os batistas sempre permaneceram, mas precisam permanecer, por causa da membresia crente e regenerada da igreja".
Teologia Sistemática (Strong) 1894 Quinto: pondo em lugar da ordem de Cristo uma ordem de homens e admitindo, assim o princípio essencial de toda a heresia, cisma e falsa religião. Por isso não há lógica para uma união entre as posições batistas e romanistas. O Arcebispo Católico Romano Hughes, de Nova Iorque, disse com precisão a um ministro presbiteriano: "Não temos nenhuma controvérsia com vocês. A nossa controvérsia é com os batistas". Lange de Jena: "Se a igreja protestante cumprisse e atingisse o seu destino final, o batismo de crianças necessariamente teria sido abolido". O juiz inglês perguntou à testemunha de que crença religiosa ele era. Resposta: "Nenhuma". "Onde fica a igreja que você freqüenta"? "Em lugar nenhum". "Escreva que ele pertence à igreja da Inglaterra". Perguntaram a uma criancinha onde estava a sua mãe. Resposta: "Ela foi a uma reunião cristã e do diabo". Ela quis significar uma reunião de esforço cristão (há um trocadilho com as palavras em inglês endeavor = esforço e devil = diabo). Contudo, alguns sistemas de doutrina e ritual respondem à descrição dela, porque misturam paganismo e cristianismo. A maior obra em favor da doutrina que condenamos é a História do Batismo de Crianças de Wall.
II. CEIA DO SENHOR É o rito exterior no qual, a igreja reunida, come o pão e bebe o vinho, como sinal de sua constante dependência daquele Salvador que uma vez foi crucificado e agora está ressuscitado, como fonte da vida espiritual; ou, em outras palavras, em sinal da permanente comunhão da morte e ressurreição de Cristo através da qual se sustenta e se aperfeiçoa a vida começada na regeneração. Norman Fox, Christ in the Daily Meal, 31,33, diz que em lugar algum a Escritura fala do vinho "derramado"; e, em 1 Co. 11.24 - "meu corpo que é partido por vós", a Versão Revista omite a palavra "partido"; enquanto, por outro lado, o evangelho segundo João (19.36) chama a atenção especial para o fato de que o corpo de Cristo não foi partido. Replicamos que Jesus, ao dar aos seus discípulos o cálice, não falou do seu sangue "derramado"
Teologia Sistemática (Strong)
1895
(Mc. 14.24); não o corpo, mas "nenhum dos ossos" será quebrado. Muitos dos antigos manuscritos acrescentam a palavra "partido" em 1 Co. 11.24.
1. A ceia do Senhor, uma ordenança instituída por Cristo a) Cristo indicou um rito exterior a ser observado pelos discípulos em memória da sua morte. Devia ser observado depois dela; só depois da sua morte podia completamente cumprir seu propósito como festa comemorativa. Lc. 22.19,20-"E, tomando o pão e, havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo que por vós é dado; fazei isso em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós"; 1 Co. 11.23-25 - "Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória da mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim". Observe que esta foi uma comunhão cristã anterior à morte de Cristo.
b) A partir da injunção apostólica relativa à sua celebração na igreja até a segunda vinda de Cristo, inferimos que essa foi a intenção original de nosso Senhor ao instituir um rito de obrigação perpétua e universal. 1 Co. 11.26 - "Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha" cf. Mt. 26.29 -Έ digo-vos que não beberei deste fruto da vide até àquele Dia em que o beba de novo no reino de meu Pai"; Mc. 14.25 - "Em verdade vos digo que não beberei do fruto da vide, até àquele Dia em que o beber novo, no Reino de Deus". Como a ceia pascal continuou até que Cristo veio em carne, assim a Ceia do Senhor deve continuar até que ele venha pela segunda vez com todo o poder e glória de Deus.
Teologia Sistemática (Strong) 1896 c) A prática uniforme das igrejas do Novo Testamento e a celebração de tal rito em épocas subseqüentes por quase todas igrejas que professam ser cristãs explica-se melhor com base na suposição de que a Ceia do Senhor é uma ordenança estabelecida pelo próprio Cristo. At. 2.42 - "E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações"; 46 - "E, perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração"- nas palavras aqui traduzidas "em casa" (κατ' οϊκον), mas significando, como sustenta Jacob "de uma sala de adoração para a outra". At. 20.7 - "No primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo ... falava com eles"; 1 Co. 10.16-"o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo; porque todos participamos do mesmo pão".
2. O modo de administrar a Ceia do Senhor a) Os elementos são o pão e o vinho. Apesar de que o pão que Jesus partiu na instituição da ordenança era sem dúvida o asmo da Páscoa, nada há no simbolismo da Ceia do Senhor que necessite o emprego da hóstia. Apesar de que o vinho que Jesus empregou era o suco de uva fermentado, nada há no sistema da ordenança que proíba o suco de uva não fermentado; a obediência à ordem, "fazei isto em memória de mim" (Lc. 22.19) só exige que empreguemos o "fruto da vide" (Mt. 26.29). Os huguenotes e os católicos romanos, entre os pioneiros de Parkman da França do Novo Mundo, discutiam se o pão sacramentai podia ser feito do cereal dos índios. Mas o pão apenas simboliza o alimento. Na Groenlândia usa-se o peixe seco. O pão simboliza apenas a vida de Cristo e o vinho, a sua morte. Qualquer alimento ou qualquer bebida pode ter o mesmo efeito. Portanto, parece um literalismo bem consciente embora desnecessário, quando Adonirão Judson (A Vida através do seu Filho, 352)
Teologia Sistemática (Strong)
1897
escreve de Burma: "Neste lugar não se procura nenhum vinho, porque não podemos encontrá-lo como em outras igrejas onde atualmente se participa da Ceia do Senhor".
b) A comunhão é de dois tipos, - isto é, os comungantes devem participar tanto do pão como do vinho. A Igreja Católica Romana não ministra o vinho aos leigos, apesar de que considera que Cristo está presente em ambas as formas. Contudo, Cristo diz: "Bebei dele todos" (Mt. 26.27). Não ministrar o vinho a qualquer crente é desobediência a Cristo, e entende-se mais facilmente que os leigos tem apenas uma cota dos benefícios da morte de Cristo. Calvino: "Quanto ao pão, ele disse: Tomai, comei'. Por que ele determina que todos bebam? Ε por que Marcos diz explicitamente que 'todos beberam dele' (Mc. 14.23)"? Bengel: Será que isto não sugere que, se a comunhão de "um só é suficiente, o cálice é que deve ser utilizado? A Escritura assim diz, prevendo o que Roma haveria de fazer". Ver Expositor's Greek Testament sobre 1 Co. 11.27. Na Igreja Grega o pão e o vinho são misturados e administrados aos comungantes, não só aos infantes, mas também aos adultos, com uma colher.
c) Tal participação é de natureza festiva. A Páscoa tinha uma natureza festiva. O abatimento e a tristeza são estranhos ao espírito da Ceia do Senhor. O vinho é símbolo da morte de Cristo, mas da morte através da qual nós vivemos. Ela nos lembra de que ele bebeu o cálice do sofrimento para que pudéssemos beber o vinho do regozijo. Como se come o pão para o sustento da nossa vida física, assim o corpo de Cristo foi partido pelos espinhos, e pelos cravos, e pela lança para nutrir a nossa vida espiritual. "Porque o que come e bebe indignamente come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor". Meyer: "Não se deve entender isto como uma referência à indignidade da própria pessoa participar, mas à indignidade da forma de participar... Deixar de reconhecer praticamente o simbolismo dos elementos, e conseqüentemente o
Teologia Sistemática (Strong)
1898
tratamento da Ceia do Senhor como uma ceia exatamente como o apóstolo assinalou a falta dos coríntios e é o que ele carateriza como comer e beber indignamente". Por isso o cristão não deve ser impedido de participar da Ceia do Senhor porque sente a sua indignidade pessoal, visto que ele confia em Cristo e tem como objetivo obedecer-lhe, porque "tudo o que ele requer é que sintamos a necessidade dele".
d) A comunhão é uma festa de comemoração, não somente trazendo Cristo à nossa memória, mas fazendo para o mundo a proclamação da sua morte. 1 Co. 11.24,26 - "Fazei isto em memória de mim. ... Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha". Como a Páscoa comemorava a libertação de Israel do Egito e, como o dia quatro de julho o nascimento dos Estados Unidos, do mesmo modo a Ceia do Senhor comemora o nascimento da igreja na morte e ressurreição de Cristo. Como uma mãe determina aos filhos que se reúnam junto à sua sepultura e comemorem a sua morte, do mesmo modo Cristo determina que o seu povo se reúna e se lembre dele. Porém o seu único objetivo não é a lembrança subjetiva. É também a proclamação pública. Quer ela nos traga uma bênção perceptível quer não, convém que ela seja observada como um meio de confessar Cristo, testificando a nossa fé, e tornando público aos outros o fato da sua morte.
e) Deve ser celebrada pela igreja reunida. Não é uma observância solitária da parte de indivíduos. A realização só é possível em companhia. At. 20.7 - "ajuntando-se os discípulos para partir o pão"; 1 Co. 11.18, 20,22,33,34 - "quando vos ajuntais na igreja ... quando vos ajuntais num lugar ... não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? ... quando vos ajuntais para comer... se algum tiver fome coma em casa, para que não vos ajunteis para condenação".
Teologia Sistemática (Strong)
1899
Jacobi, Eccl. Polity of N.T., 191-194, reivindica que, em At. 2.46, "partindo o pão em casa" - onde não temos οικία, mas οϊκος que não é uma casa particular, mas uma 'sala de cultos', e a expressão deve ser traduzida como "partindo o pão de casa de culto em casa de culto", ou "em várias casas de culto". Este sentido parece bem adequado ao texto de At. 5.42 - "E todos os dias no templo e nas casas [ou melhor, 'em várias casas de culto'], não cessavam de ensinar e de anunciar a Jesus, o Cristo"; 8.3 - Έ Saulo assolava a igreja, entrando em cada casa [ou melhor, 'cada casa de culto']; e arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão"; Rm. 16.5 - "Saudai a igreja que está em sua casa [ou melhor, em sua casa de culto']; Tt. 1.11 "homens que transtornam as casas inteiras [ou melhor, casas de culto inteiras], ensinando o que não convém, por torpe ganância". Per contra, contudo, ver 1 Co. 11.34 - "coma em casa", onde οϊκος se contrasta com o lugar de reunião; do mesmo modo, 1 Co. 14.35 e At. 20.20, onde οϊκος parece significar uma casa particular. Não se reconhece no Novo Testamento a celebração da Ceia do Senhor em cada família separadamente. Stanley, Século Dezenove, maio 1878, diz-nos que na Igreja Ocidental é proibida a comunhão às crianças, e a comunhão vespertina é proibida pela igreja romana (hoje não existe mais essa proibição), do mesmo modo a Igreja Inglesa a proíbe e a Igreja Escocesa faz o mesmo no leito de morte. E. G. Robinson: "Ninguém no Novo Testamento celebra a Ceia do Senhor por si mesmo". A Sra. Browning reconheceu a natureza essencialmente social da ordenança quando disse que a verdade é como o pão do sacramento - devia passar a cada um. Nisto a Ceia nos dá um tipo de tratamento próprio de todos os bens da vida tanto temporais como espirituais. Dr. Norman Fox, Christ in the Daily Meal, reivindica que a Ceia do Senhor não é mais uma ordenança exclusiva da igreja do mesmo modo que também o cântico dos hinos e a oração; que a ordem de observá-la dirigiuse não a uma igreja organizada, mas só a indivíduos; que cada refeição em casa deve ser a Ceia do Senhor porque nela há a lembrança de Cristo. Mas retrucamos que a carta de Paulo relativa aos abusos da Ceia do Senhor, foi dirigida não a indivíduos, mas "à igreja de Deus que está em Corinto" (1 Co. 1.2). Paulo reprova os coríntios porque, na Ceia do Senhor, cada um comia sem pensar nos outros: "Não tendes, porventura, casa para comer e beber?
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1900
Ou desprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm?" (11.22). Cada membro, tendo saciado a fome em casa se ajuntava "para comer" (11.30), como o corpo espiritual de Cristo. Tudo isto mostra que a Celebração da Ceia do Senhor não é um apêndice a cada refeição comum. Em At. 20.7 - "no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, ... falava com eles" - a inferência natural é de que a Ceia do Senhor é um rito sagrado, a ser observado independente de qualquer refeição comum e acompanhada de instrução religiosa. Dr. Fox deveria voltar-se para estas últimas observâncias à ordem do nosso Senhor. Com isto ele eliminaria tudo o que não se encontra em Marcos, o mais antigo evangelho. Mas isto nos privaria do Sermão do Monte, da Parábola do Filho Pródigo e dos discursos do quarto evangelho. McGiffert estabelece 52 A.D. como a data da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, o que antedata o Evangelho de Marcos em, pelo menos, treze anos. O relato da Ceia do Senhor dado por Paulo em Corinto é, portanto, uma autoridade mais antiga que Marcos.
f) É da igreja a responsabilidade de ver se a ordenança está sendo apropriadamente administrada; o pastor, nesta matéria, é o representante próprio e instrumento da igreja. Em casos de extrema exigência, contudo, quando a igreja não tem pastor e não pode ordenar ministro, é de competência da igreja indicar um de seus membros para administrar a ordenança. 1 Co. 11.2,23 – "E louvo-vos, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim e retendes os preceitos como vo-los entreguei. ... Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão". Aqui a responsabilidade de administrar a Ceia do Senhor recai sobre o grupo de crentes.
g) Nem o preceito do Novo Testamento nem o seu exemplo uniforme indicam a freqüência com que a Ceia do Senhor deve ser administrada. Temos exemplos de sua observância diária como semanal. Com respeito a isso, bem como com respeito aos acessórios da ordenança, a igreja deve exercer uma sadia discrição.
Teologia Sistemática (Strong)
1901
At. 2.46 - "E, perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa [ou talvez 'em várias salas de culto']"; 20.7 - "No primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão". Em 1878, trinta e nove igrejas do centro de Londres participavam da comunhão diária; em duas igrejas, duas vezes por dia. Poucas igrejas batistas na Inglaterra e na América do Norte celebram a Ceia do Senhor em todos os domingos. Carlstadt a celebraria apenas em grupos de doze e sustentava também que todo bispo devia ser casado. Não se ordenava que se reclinassem em divas e se reunissem à tardinha; e estas duas coisas por inconveniência podiam modernamente contrariar o desígnio da ordenança.
3. O simbolismo da Ceia do Senhor A Ceia do Senhor realça, em geral, a morte de Cristo como a força sustentadora da vida do crente. A) Expansão desta declaração. a) Simboliza a morte de Cristo pelos nossos pecados. 1 Co. 11.26 - "Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes deste cálice anunciais a morte do Senhor até que ele venha"; cf. Mc. 14.24 -"Isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que por muitos é derramado" - o sangue no qual se baseia o pacto entre Deus e Cristo, e entre Deus e nós, que somos um em Cristo desde a eternidade passada. A Ceia do Senhor lembra-nos o pacto que garante a nossa salvação e a expiação na qual este se baseia; cf. Hb. 13.20 - "sangue do concerto eterno". Alexander McLaren: "A sugestão de uma morte violenta implicada na duplicidade de símbolos através dos quais o corpo está separado do sangue e além do mais no partir do pão, torna-se proeminente nas palavras relativas ao cálice. Simboliza o sangue de Jesus que foi 'derramado'. O sangue derramado é o sangue do concerto. Através dele, o Novo Concerto, que Jeremias profetizou, continha o artigo, "perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei", é selado e ratificado, não só para Israel para um número indefinido que, na verdade, equivale a todos. Poderiam as palavras declarar mais nitidamente que a morte de Cristo foi um sacrifício?
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Podemos entendê-lo segundo a sua própria interpretação a não ser que vejamos aqui nas suas palavras uma referências às anteriores (Mt. 20.28) e reconheçamos que no derramamento do seu sangue 'por muitos', ele 'deu a sua própria vida em resgate de muitos'? A Ceia do Senhor é o testemunho padrão, pregado pelo próprio Jesus, que considerou a sua morte como o próprio centro da sua obra e considerou-a não somente como um martírio, mas como um sacrifício através do qual ele retirou para sempre os pecados. Os que rejeitam este ponto de vista daquela morte estão diante de um duro enigma sobre o que fazer com a Ceia do Senhor".
b) Simboliza nossa apropriação pessoal dos benefícios de tal morte. 1 Co. 11.24 - "Isto é o meu corpo que é partido por vós"; cf. 1 Co. 5.7 "Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós"; fica evidente aqui que apresentar a morte de Cristo é o sentido primordial da ordenança, mas que se ensina a nossa participação dos seus benefícios de um modo tão claro como a libertação dos israelitas está simbolizada na ceia pascal.
c) Simboliza o método desta apropriação pela união com o próprio Cristo. 1 Co. 10.16 - "O cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo"? Aqui a expressão "não é a comunhão" = 'não simboliza a comunhão?' Assim também Mt. 26.26 - "isto é o meu corpo" = 'isto simboliza o meu corpo'.
d) Simboliza a dependência contínua que toda a vida do crente sente daquele Salvador que foi crucificado e agora está vivo, ao qual o crente se uniu. Cf. Jo. 6.53 - "em verdade, em verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos" - aqui está uma afirmação, não relativa à Ceia do Senhor, mas à união espiritual com Cristo, que ela simboliza. Do mesmo modo que o
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1903
batismo, a Ceia do Senhor pressupõe e implica fé evangélica especialmente na divindade de Cristo; não que todos os que dela participam entendam o seu pleno sentido, mas que esta participação logicamente implica as cinco grandes verdades da preexistência de Cristo, seu nascimento sobrenatural, sua expiação viçaria, sua ressurreição literal e sua presença viva com o seus seguidores.
e) Simboliza a santificação do cristão através de uma reprodução da morte e ressurreição espiritual do Senhor nele. Rm. 8.10 - "E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça"; Fp. 3.10 "para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição e a comunicação das suas aflições, sendo feito conforme a sua morte". O pão da vida alimenta; mas é ele que me transforma, e não eu a ele.
f) Simboliza a conseqüente união dos cristãos em Cristo, a sua cabeça. 1 Co. 10.17 - "Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo; porque todos participamos do mesmo pão". O católico romano diz que o pão é a unidade de muitos cernes, a unidade de muitos grãos e todos somos transformados no corpo de Cristo. Podemos aceitar a primeira parte da declaração, sem aceitarmos a segunda. Unidos a Cristo, unimo-nos uns aos outros; e a Ceia do Senhor simboliza a nossa participação comum de Cristo; simboliza também a conseqüente unidade de todos em quem Cristo habita. O Ensino do Doze Apóstolos, IX - "Como este pão que foi partido está espalhado sobre as montanhas e, reunindo-se, fizeram-se um, assim une-se a tua igreja desde as extremidades da terra no teu reino".
g) Simboliza a vindoura alegria e perfeição do reino de Deus. Lc. 22.18 - "porque vos digo que não beberei do fruto da vide, até que venha o Reino de Deus"; Mc. 14.25 - "Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide até aquele dia em que o beber novo, no Reino de
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Deus"; Mt. 26.29 - "E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até àquele Dia em que o beba de novo convosco no Reino de meu Pai". Como o batismo, que aponta para a ressurreição, a Ceia do Senhor é também antecipadora. Ela põe diante de nós, não somente a morte, mas a vida; não somente o sacrifício passado, mas a glória futura. Aponta para a grande festa "a ceia das bodas do Cordeiro" (Ap. 19.9). Dorner: "Então Cristo participará outra vez conosco e as horas da mais elevada solenidade nesta vida são uma antecipação do gozo das forças deste mundo com relação ao vindouro".
B) Inferências desta declaração. a) A conexão entre a Ceia do Senhor e o Batismo consiste no fato de que ambos são igualmente símbolos da morte de Cristo. No batismo ressaltamos a morte de Cristo como a causa procuradora do nosso novo nascimento para o Reino de Deus. Na Ceia do Senhor ressaltamos a morte de Cristo como sustentadora da nossa vida espiritual uma vez começada. Em uma honramos a força santificadora da morte de Cristo enquanto na outra honramos o seu poder regenerador. Assim ambos são partes de um todo, pondo diante de nós a morte de Cristo pelos homens em seus dois grandes propósitos e resultados. Se o batismo simbolizasse apenas a purificação, não haveria nenhum ponto de conexão entre as duas ordenanças. A sua referência comum entre a morte de Cristo une ambas entre si.
b) A Ceia do Senhor deve ser repetida com freqüência, simbolizando o constante sustento com que Cristo nutre a alma cujo novo nascimento tem seu significado no batismo. Contudo a excessiva repetição pode induzir à confiança supersticiosa no valor da comunhão como simples forma exterior.
Teologia Sistemática (Strong) 1905 c) A Ceia do Senhor, como o Batismo, é o símbolo de um anterior estado de graça. Não tem em si nenhum poder regenerador nem santificador, mas é o símbolo pelo qual a relação do crente com Cristo, seu santificador, se expressa vividamente e se confirma fortemente. Derivamos o nosso auxílio mais da Ceia do Senhor do que da oração em particular somente porque ela é um rito exterior, impressionando os sentidos da mesma forma que o intelecto, celebrada na companhia com os outros crentes cuja fé e devoção auxiliam a nossa, e pondo diante de nós as mais profundas verdades do cristianismo - a morte de Cristo, e a nossa união com ele através da sua morte.
d) A bênção recebida da participação portanto, depende da fé do comungante e é proporcional a ela. Ao observar a Ceia do Senhor, podemos discernir o corpo do Senhor (1 Co. 11.29) - isto é, reconhecer o sentido espiritual da ordenança, e a presença de Cristo que, através dos seus representantes, apresenta-nos os emblemas e, deste modo, nos alimenta e aviva a nossa alma do mesmo modo que estas coisas materiais alimentam e avivam o corpo. A fé que discerne Cristo é dom do Espírito Santo.
e) A Ceia do Senhor expressa em primeiro lugar a comunhão do crente, não com os seus irmãos, mas com Cristo o seu Senhor. Como o batismo, a Ceia do Senhor simboliza a comunhão com os irmãos apenas como conseqüência sobre a comunhão com Cristo e incidental a ela. Assim como todos somos batizados "em um só corpo" (1 Co. 12.13) tão somente sendo "batizados em Cristo" (Rm. 6.3), assim na Ceia do Senhor comungamos com outros crentes, tão somente comungando com Cristo. As palavras de Cristo: "fazei isto em memória de mim" (1 Co. 11.24), obrigam-nos a pensar, não nos nossos irmãos, mas no Senhor. O batismo não é um teste de dignidade pessoal. Nem a Ceia do Senhor é um teste de dignidade pessoal, quer nossa quer dos outros. Não é primordialmente uma expressão da comunhão do companheirismo cristão.
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Em parte alguma do Novo Testamento ela é chamada comunhão dos cristãos entre si. Mas é chamada de comunhão do corpo e do sangue de Cristo (1 Co. 10.16) - ou, em outras palavras, uma participação nele. Por isso não há um só cálice, mas muitos: "reparti entre vós" (Lc. 22.17). Aqui temos a garantia do cálice da comunhão do indivíduo. A maioria das igrejas usa mais de um cálice; se mais de um, por que não muitos? 1 Co. 11.26 - "todas as vezes que comerdes ... anunciais a morte do Senhor" – a Ceia do Senhor é uma ordenança que ensina e deve ser observada para o bem que vem para o comungante e seu irmão para testemunho que ela dá ao mundo de que o Cristo que morreu pelos pecados da humanidade vive para a sua salvação. A. H. Ballard, The Standard, 18 de agosto de 1900, sobre 1 Co. 11.29 - "sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si" -"Aquele que come e bebe e não discerne que está redimido pela oferta do corpo de Jesus Cristo de uma vez por todas, come e bebe uma dupla condenação, porque não discerne a redenção que está simbolizada nas coisas que ele come e bebe. Voltar o seu pensamento desse corpo sacrificial para a companhia dos discípulos reunidos é um grave erro - o de todos aqueles que exaltam a idéia do companheirismo e da comunhão ao celebrar a ordenança". Por isso a ofensa de um irmão cristão, mesmo que cometida contra mim mesmo, não me impede de lembrar Cristo e comungar com o Salvador. Afinal de contas eu não poderia comungar se eu não tivesse de responder pelo caráter cristão de todos os que se assentam comigo. Isto não escusa a igreja do esforço para purificar sua membresia dos participantes indignos; ela simplesmente declara que o fato de a igreja deixar de fazer isto não exime um só membro da sua obrigação de observar a Ceia do Senhor.
4. Pontos de vista errôneos sobre a Ceia do Senhor A) Romanista: que o pão e o vinho se transformam, quando consagrados pelo sacerdote, no próprio corpo e sangue de Cristo; que esta consagração é uma nova oferta do sacrifício de Cristo; e que, por uma participação física dos elementos, o comungante recebe a graça salvadora de Deus. À doutrina da "transubstanciação" respondemos:
Teologia Sistemática (Strong) 1907 a) Apóia-se em uma falsa interpretação da Escritura. Em Mt. 26.26, "isto é o meu corpo" significa: "isto é um símbolo do meu corpo". Porque Cristo estava com os discípulos em forma visível na instituição da Ceia ele não podia ter pretendido reconhecer que o pão fosse literalmente o seu corpo. "O corpo de Cristo está presente no pão como estivera no cordeiro pascal de que o pão ocupou o lugar" (João 6.53 não contém nenhuma referência à Ceia do Senhor, apesar de que descreve essa união espiritual com Cristo simbolizada na Ceia; cf. 63. Em 1 Co. 10.16,17, κοινωνία του σώματος του Χρίστου é uma expressão figurada da participação espiritual de Cristo. Em Mc. 8.33, não devemos inferir que Pedro, na verdade, era "Satanás", nem 1 Co. 12.12 provar que todos nós somos Cristos. Cf. Gn. 41.26; 1 Co. 10.4). Mt. 26.28 - "Isto é o meu sangue ... que é derramado", não pode ser tomado literalmente, visto que o sangue de Cristo ainda não tinha sido derramado. Por isso a versão de Douway (Católica Romana), sem garantia, muda o tempo verbal e dá, "que será derramado". Na instituição da Ceia não se concebe que Cristo sustente o seu corpo nas suas mãos e o parta para os seus discípulos. Lá não havia dois corpos. Zwínglio: "As palavras da instituição não são imperativas 'tome-se'; elas são apenas explicativas do sinal". Quando aponto para um quadro e digo: "Este é George Washington", não quero dizer que o verdadeiro George Washington está em carne e osso na minha frente. Do mesmo modo, quando o professor aponta para o mapa e diz: "Isto é Nova Iorque", ou quando Jesus se refere a João Batista e diz: "este é o Elias que havia de vir" (Mt. 11.14). Jacob, A Ceia do Senhor, Considerada Historicamente - "Originariamente ela marca, não a presença real, mas a ausência real, de Cristo como o Filho de Deus, que se fez homem" - isto é, uma ausência real do seu corpo. Por isso, a Ceia, lembrando-nos do seu corpo, deve ser observada na igreja "até que ele venha" (1 Co. 11.26). Jo. 6.53 - "se não comerdes a beberdes o meu sangue, não tereis interpretado à luz do v. 63 - Ό espírito aproveita; as palavras que eu vos disse
carne do Filho do Homem e não vida em vós mesmos" deve ser é o que vivifica, a carne para nada são espírito e vida". 1 Co. 10.16 - "o
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cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo? - ver Expositor's Greek Testament, in loco; Mc. 8.23 - "Mas ele, virando-se e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás"; 1 Co. 12.12-"Porque assim como o corpo é um e tem muitos membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também", cf. Gn. 41.26 - "As sete vacas formosas são sete anos; e as sete espigas formosas também são sete anos; o sonho é um só"; 1 Co. 10.4 "bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo". Rainha Elizabeth: "Cristo é o Verbo que disse: Ele tomou o pão e partiu-o; e o que o Verbo fez nisso eu creio e recebo-o". Sim, dizemos nós; mas o que fez o Senhor? Não o seu corpo, mas um símbolo deste. Sir Thomas More voltou-se para a doutrina da transubstanciação que a sabedoria da sua época era quase unânime em rejeitar. Em sua Utopia, escrita nos primeiros anos, ele fez do deísmo a religião ideal. O extremo romanismo foi a sua reação daquele extremo. O pão e o vinho são simples lembranças como o eram o cordeiro e as ervas amargas na Páscoa. O participante é espiritualmente afetado pelo pão e pelo vinho, só como o piedoso israelita quando recebia os símbolos pascais. E. G Robinson: "A maior força do romanismo é o seu poder de representação visível. O ritualismo é apenas o simbolismo elaborado. É interessante lembrar que esta prostração do sacerdote diante da hóstia consagrada não faz parte nem mesmo do catolicismo original". Stanley, Life and Letters, 2.213 - "Quando o papa celebra a comunhão, sempre se põe em pé exatamente em direção oposta [à dos ritualistas modernos], não de costas, mas com o rosto voltado para a congregação seguindo, sem dúvida, o uso primitivo". Assim no quadro de Rafael sobre o Milagre de Bolsina, o sacerdote está no lado norte da mesa, na atitude do ministro protestante. Pfleiderer, Philos. Religion, 2.211 - "A unidade do pão de que cada um faz parte, representa a unidade do corpo de Cristo, que consiste na comunidade dos crentes. Se formos falar de uma presença do corpo de Cristo na Ceia do Senhor, só se pode pensar nisso, no sentido de Paulo, como pertencendo ao corpo místico, i.e., a comunidade cristã. Agostinho e Zwínglio captaram corretamente o sentido do Apóstolo".
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Norman Fox, Christ in the Daily Meal, 40-53 – "A expressão 'consagração dos elementos' não tem garantia. O fermento e a semente de mostarda de modo algum foram consagrados quando Jesus os pronunciou como símbolos das coisas divinas. O pão e o vinho não são arbitrariamente lembranças, mas eles o são por sua própria natureza. Não há mudança neles. Assim cada pão é um símbolo do mesmo modo que é o da Ceia do Senhor. Quando São Patrício declarou o trevo branco (símbolo da Irlanda) como símbolo da Trindade, ele quis dizer que cada broto também o era. Só o pão do alimento diário é o corpo de Cristo. Só a lavagem dos pés sujos é o cumprimento da ordem de Cristo. O pão que não se come para satisfazer a fome não é, afinal de contas, o corpo simbólico de Cristo. Nisto compartilhamos com o Dr. Fox. Admitimos a adequação natural dos elementos que ele contém. Mas sustentamos também uma indicação divina do pão e do vinho para um emprego especial e sagrado, como "o arco posto na nuvem" (Gn. 9.13), por ser o emblema natural consagrado ao emprego religioso especial.
b) Contradiz a evidência dos sentidos bem como dos testes científicos que se podem aplicar. Se não podemos confiar nos nossos sentidos quanto às qualidades materiais imutáveis do pão e do vinho, não podemos confiar neles quando nos relatam as palavras de Cristo. Gibbon ficou feliz ao descobrir que, conquanto se atesta a presença real apenas pelos sentidos – a nossa vista [empregada na leitura das palavras de Cristo] – a presença real é desaprovada por três dos nossos sentidos: visão, tato, e gosto. Não é bom apossar-se da fé neste dogma a preço de um ceticismo absoluto. Stanley, sobre o Batismo, em Instituições Cristãs, conta-nos que, no terceiro e quarto séculos, a crença de que a água do batismo se transformava em sangue de Cristo era quase tão firme e amplamente fixa que o pão e o vinho da comunhão transformavam-se em carne e sangue. Döllinger: "Quando me dizem que eu devo jurar sobre as verdades destas doutrinas [da infalibilidade papal e sucessão apostólica], meu sentimento é exatamente como se me pedissem que eu jurasse que dois mais dois não são quatro, mas cinco". Professor: "Por que Henrique VIII se desentendeu com o papa?" Aluno: "Porque o papa tinha mandado que ele mandasse embora a sua mulher; caso contrário ela sofreria a
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transubstanciação". A transubstanciação de Henrique VIII é tão racional como a do pão e do vinho na eucaristia.
c) Envolve a negação da plenitude do sacrifício passado de Cristo e a suposição de que um sacerdote humano pode repetir ou acrescentar à expiação que Cristo fez de uma vez por todas (Hb. 9.28 - άπαξ προσενεχθείς). Α Ceia do Senhor nunca é chamada sacrifício, nem há altares, sacerdotes, consagrações no Novo Testamento. Os sacerdotes da velha dispensação expressamente contrastam-se com os ministros da nova. Aqueles "ministravam o que é sagrado" i.e. praticavam ritos sagrados e serviam junto ao altar; mas estes "pregavam o evangelho" (1 Co. 9.13,14). Hb. 9.28 - "assim também Cristo, oferecendo-se uma vez" - aqui άπαξ significa 'de uma vez por todas', como em Jd. 3 - "fé que uma vez foi dada aos Santos"; 1 Co. 9.13,14-"Não sabeis que aqueles que administram o que é sagrado comem do que é do templo? Ε os que de contínuo estão junto ao altar participam do altar? Assim também ordenou o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho". Os Católicos introduzem um mediador entre a alma e Cristo, a saber, pão e vinho, - além do sacerdote. Dorner, Glaubenslehre, 2.680-687 (Doutrina Sistemática, 4.146-163) "Pensa-se em Cristo à distância, representado pelo sacerdote que oferece novamente o sacrifício. Mas a doutrina protestante ensina um Cristo perfeito e aplica os benefícios da obra que ele há muito tempo e, de uma vez por todas completou na cruz". Chillingworth: "Os romanistas sustentam que a validade de cada sacramento a não ser o batismo depende da sua administração pelo sacerdote; sem a absolvição sacerdotal não há garantia de perdão. Mas a intenção do sacerdote é essencial no pronunciamento de tal absolvição e a intenção do bispo é essencial na consagração do sacerdote. Como pode qualquer ser humano saber que estas condições foram cumpridas?" No Novo Testamento, por outro lado, Cristo aparece como o único sacerdote e cada alma humana tem acesso direto a ele.
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1911
Norman Fox, Christ in the Daily Meal, 22 - "A adesão dos primeiros cristãos à lei mosaica torna claro que eles não sustentavam a doutrina da moderna igreja de Roma de que o pão da Ceia é um sacrifício, a mesa é um altar, e o ministro é um sacerdote. Porque o velho altar, o velho sacrifício, e o velho sacerdócio ainda existem e, no seu ponto de vista, ainda são meios de expiação para com Deus. É claro que eles não têm crido em dois altares, dois sacerdócios e dois conjuntos contemporâneos de sacrifício". Cristo é o único sacerdote. A. A. Hodge, Popular Lectures, 257 - "Os três perigosos erros centrais do romanismo e do ritualismo são: 1. a perpetuidade do apostolado; 2. o caráter e os ofícios sacerdotais dos ministros cristãos; 3. o princípio sacramentai, ou a dependência dos sacramentos, como canais essenciais, iniciais e comuns da graça". "A hierarquia", diz um outro, "é uma quebra da ordem divina; ela impõe o peso de um simbolismo desgastado sobre a verdadeira vitalidade do evangelho; é um resquício de uma mortalha de um passado morto, que envolve os membros da vida presente".
d) Destrói o cristianismo exteriorizando-o. Os romanistas fazem de todo o ofício um simples apêndice da comunhão. A salvação física e mágica não é cristianismo, mas essência do paganismo. Concilio de Trento, Sessão vii, Sobre os Sacramentos em Geral, Cânon iv: "Muitos dizem que os sacramentos do Novo Testamento não são necessários para a salvação, mas supérfluos, e que, sem eles, e sem desejá-los, o homem se recebe de Deus, apenas através da fé, a graça da justificação, e que [os sacramentos] na verdade não são necessários para cada indivíduo; (quem pensa assim) seja anátema". Sobre o batismo, Cânon iv: "Se alguém diz que o batismo aplicado mesmo por hereges, em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, com a intenção de fazer o que a igreja faz, não é um batismo verdadeiro, seja anátema". O batismo, no sistema romanista, é necessário para a salvação; mesmo ministrado por hereges é uma administração para a igreja. Todas as pessoas batizadas que, não por suas próprias falhas, mas por falta de conhecimento ou oportunidade não estão em conexão com a verdadeira igreja, embora estejam aparentemente ligadas a alguma seita, na realidade pertencem à alma da verdadeira igreja. Muitos só pertencem ao corpo da igreja Católica, mas não pertencem à sua alma. Assim diz o Arcebispo Linch, de Toronto; e Pio IX ampliou a doutrina
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1912
da invencível ignorância de modo a cobrir o caso de cada dissidente da igreja cuja vida mostra a fé que opera através do amor. A adoração da hóstia (hóstia em latim = vítima) é uma parte regular do ofício da missa. Se fosse correto o ponto de vista romano de que o pão e o vinho na verdade transformam-se em corpo e sangue de Cristo, não chamaríamos esta adoração de idolatria. O corpo de Cristo no sepulcro não teria sido um objeto próprio de adoração, mas o seria depois da ressurreição, quando se tornou animado com a nova e divina vida. O erro romanista consiste em sustentar que o sacerdote tem poder para transformar os elementos; a adoração deles se segue como uma conseqüência natural e ninguém, por menos idolatra que seja, baseia-se na falsa suposição de que o pão e o vinho são realmente corpo e sangue de Cristo. O sistema Católico Romano envolve muitos absurdos, mas o central é o de fazer a religião matéria de mecanismo e manipulação externa. Dr. R. S. MacArthur chama o sacramentalismo de "concepção encanamento da graça". Não há nenhuma sondagem romanista patente. Dean Stanley dizia que John Henry Newman "faz a imortalidade ser a conseqüência da freqüente participação da Santa Comunhão". Mesmo Faber faz o jogo da noção, e declara que ela "defrauda as celebrações, transformando-as em frutaspães". É esta freqüente transformação da Ceia do Senhor em missa que faz da igreja um grupo de entoação". "O Cardeal Gibbons", disse alguém certa vez, "faz o seu próprio Deus - a hóstia". O seu erro está na raiz da santidade excessiva e no celibato do clero romano; o Presidente Garrett se esqueceu disso quando não permitiu que passasse em sua ferrovia o "Cardeal Gibbons e a esposa". O Dr. C. H. Parkhurst: "Não há mais lugar para o altar na igreja cristã do que o bezerro de ouro".
B) O ponto de vista da Igreja Luterana e da Anglicana; que o comungante, ao participar dos elementos consagrados, come o verdadeiro corpo e bebe o verdadeiro sangue de Cristo no pão e no vinho e com eles, apesar de que os próprios elementos não deixam de ser materiais. A esta doutrina da "consubstanciação" objetamos:
Teologia Sistemática (Strong) 1913 a) Que a Escritura não requer esse ponto de vista. Todas passagens citadas em seu apoio podem ser melhor interpretadas referindo-se a uma participação dos elementos como símbolos. Se o corpo de Cristo for ubíquo, como a teoria sustenta, participamos dele em cada refeição, como na Ceia do Senhor. b) Que o ponto de vista é inseparável do sistema sacramentai geral de que faz parte. Impondo condições físicas e materiais para receber Cristo, contradiz a doutrina da justificação só pela fé; muda a ordenança de um sinal, para um meio de salvação; envolve a necessidade de uma ordem sacerdotal por causa da consagração dos elementos; e logicamente tende para as conclusões romanistas de ritualismo e idolatria. c) Que sustenta que cada comungante é um participante do verdadeiro corpo e sangue de Cristo quer seja ele um crente ou não; o resultado na ausência da fé, é condenação em vez de salvação. Assim o caráter todo da ordenança muda de uma ocasião festiva para a de mistério e medo e obscurece-se todo o método do evangelho. Encyclopaedia Britannica, artigo: Lutero, 15.81 - "Antes da guerra dos camponeses, Lutero considerava os sacramentos como assunto secundário, comparado com o ponto de vista correto da fé. No alarme desta guerra e no misticismo de Carlstadt, ele determinou continuar com a tradição da igreja e alterar o mínimo possível. Não podia aceitar a transubstanciação e buscou uma fórmula intermediária. Occam a deu. Para Occam o assunto pode ser apresentado de dois modos: primeiro, quando ocupa por si mesmo um lugar distinto, cada um dos outros grupos, como duas pedras se excluem mutuamente; e, em segundo lugar, quando ocupa o mesmo espaço que outro ao mesmo tempo. Tudo o que é onipresente deve ocupar o mesmo espaço que as outras coisas; doutra forma não pode ser ubíquo. Por isso, a consubstanciação não envolve milagre. O Corpo de Cristo está naturalmente no pão e no vinho; não foi introduzido pelo sacerdote nos elementos. Ele traz uma bênção não por causa da presença de Cristo, mas por causa da promessa de Deus de que tal presença particular do corpo de Cristo deve trazer bênçãos ao fiel participante". Broadus, Am. Com. on Mat, 529 (edição em Português, 2º vol., p. 284) - "Lutero não diz como Cristo está no pão e no
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vinho, mas os seus seguidores compararam a sua presença com o calor e o magnetismo no ferro. Mas como podia tal presença estar no pão e no vinho separadamente?" Sobre este ponto de vista aqui combatido, ver Gerhard, x.352 - Ό pão sem o sacramento instituído por Cristo, não é o corpo de Cristo e, por isso, é άρτολατρία (adoração do pão) adorar o pão nestes processos solenes" (da igreja Católica Romana). 397 - "A fé não pertence à substância da eucaristia; por isso não é a fé do participante que faz do pão a comunhão do corpo de Cristo; nem por causa da incredulidade daquele que participa do pão deixa de ser comunhão do corpo de Cristo". Per contra, ver Calvino, Institutes, 2.525-584; G. P. Fisher, Independent, 1º de maio de 1884 – "Calvino difere de Lutero, ao sustentar que só se recebe Cristo pela fé. Difere de Zwínglio, ao sustentar que verdadeiramente se recebe Cristo, embora espiritualmente". A consubstanciação dá conta da doutrina da sucessão apostólica e do ritualismo universal na Igreja Luterana. Contudo, não se curvando ao nome de Jesus, como às vezes ocorria, resquício da adoração papal em consideração à Presença Real, mas, em lugar disso é uma reminiscência do quarto século, quando as controvérsias a respeito da pessoa de Cristo fizeram os cristãos ortodoxos ansiosos por reconhecer a divindade de Cristo. "Não há nenhuma 'quina' na graça de Deus" (C. H. Parkhurst). "Todas as noções de um 'sacerdócio' necessário, com a finalidade de pôr-nos em conexão com Cristo, devem mostrar a verdade de que ele está conosco" (E. G. Robinson). Ό sacerdote era conservador e o profeta progressista. Daí o conflito entre ambos. Os episcopais gostam da idéia do sacerdócio, mas não sabem o que fazer com a do profeta". Dr. A. J. Gordon: "O ritualismo, como o eczema no corpo humano, é geralmente um sintoma de baixo nível de sangue. Via de regra, quando a igreja se seculariza, quase sempre explodem as bandas e voltam-se para a liberdade do Espírito". O puseísmo, definido pelo próprio Pusey, significa: 1. elevados conceitos dos sacramentos; 2. alta consideração do episcopado como ordenação de Deus; 3. alta consideração da igreja visível como um grupo de que fazemos parte e continuamos a ser membros de Cristo; 4. a respeito das ordenanças dirigindo as nossas devoções e disciplinando-nos nos cultos públicos, nos jejuns e nas festas; 5. a respeito da parte visível da devoção,
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como a decoração da casa de Deus, que atua de modo insensível na mente; 6. reverência e deferência à igreja antiga, em lugar de aos reformadores, como o último elemento expositor da nossa igreja". Pusey declara que ele e Maurice adoravam Deuses diferentes.
5. Pré-requisitos para a participação da Ceia do Senhor A) Há pré-requisitos. Argumentamos isto do fato de: a) Que Cristo ordenou a celebração da Ceia, não para o mundo todo, mas só para os discípulos; b) que as ordens apostólicas para os cristãos de separarem-se de alguns deles, implica limitação da Ceia do Senhor a um grupo mais restrito, mesmo entre os crentes professos; c) que a analogia do batismo, pertencente apenas a uma classe específica, leva-nos a crer que o mesmo é verdade sobre a Ceia do Senhor. A analogia do batismo com a Ceia do Senhor sugere uma pesquisa geral das conexões entre as duas ordenanças: 1. ambas simbolizam, em primeiro lugar, a morte de Cristo; depois, em segundo lugar, a nossa morte espiritual para o pecado porque nós somos um com ele; onde não há tal união é um absurdo fazer o nosso batismo o símbolo da sua morte. 2. Nós estamos incorporados em Cristo primeiro no batismo; batismo = nós em Cristo; a Ceia = Cristo em nós. 3. Como a regeneração é instantânea e a santificação é contínua no tempo, assim o batismo deve realizar-se apenas uma vez, a Ceia do Senhor é freqüente; a primeira, única, a segunda freqüente. 4. Se uma ordenança, a Ceia, requer discernimento do corpo do Senhor, o mesmo ocorre com a outra, a ordenança do batismo; o candidato ao batismo deve conhecer o significado do seu ato. 5. A disposição das ordenanças ensina a doutrina cristã, como o fazem as ordenanças também; participar da Ceia do Senhor antes de ser batizado é dizer, em símbolo, que o indivíduo pode ser santificado sem ser regenerado. 6. Ambas ordenanças devem ser públicas porque ambas "apresentam" a morte do Senhor e ensinam as ordenanças; não se deve permitir que qualquer uma delas seja celebrada em particular. 7. Em ambas o ministrante não age por sua própria opção, mas é um instrumento da igreja; Filipe agiu como um instrumento da igreja quando batizou o eunuco. 8. As ordenanças não são apêndices de
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outras reuniões ou celebrações, mas mantêm-se por si mesmas; elas não se prendem a associações ou convenções, mas à igreja. 9. A Ceia do Senhor necessita do conhecimento das qualificações dos comungantes do mesmo modo que as do candidato ao batismo. 10. Podemos negar a Ceia do Senhor a alguém que sabemos ser um cristão, quando anda desordenadamente ou dissemina falsas doutrinas, do mesmo modo que podemos negar-lhe o batismo. 11. Cercear as mesas ou advertir os desqualificados a não participar da Ceia, pode, como a instrução relativa ao batismo, ser melhor antes da administração da ordenança; o pastor não é a melhor pessoa para agir como policial ou detetive para descobrir as ofensas.
B) Os pré-requisitos são os que Cristo e seus apóstolos explícita ou implicitamente estabeleceram. a) A igreja, possuindo um poder executivo, mas não legislativo, é incumbida do dever, não de estruturar regras para administrar e guardar a ordenança, mas de descobrir e aplicar as regras dadas no Novo Testamento. Nem uma igreja tem o direito de estabelecer quaisquer termos da comunhão; ela só é responsável por tornar conhecidos os termos que Cristo e seus apóstolos estabeleceram. b) Estes termos, contudo, devem ser firmados não só a partir de injunções, mas também de precedentes do Novo Testamento. Porque os apóstolos foram inspirados o precedente do Novo Testamento é a "lei canônica" da igreja. A lei inglesa consiste principalmente no precedente, isto é, nas decisões passadas das cortes. Os costumes imemoriais podem ser tão decisivos como as determinações de uma legislação. É o precedente do Novo Testamento que torna obrigatória a observância do primeiro dia da semana, ao invés do sétimo. Contudo, a lei comum da igreja consiste não em alguns ou todos os costumes, mas apenas nos costumes da igreja apostólica interpretada à luz dos seus princípios, ou nos costumes impostos universalmente porque sancionados pelos apóstolos inspirados. Tem o Novo Testamento precedência sobre a autoridade divina? Replicamos que só quando for uma adequada, completa e final expressão da vida divina de Cristo. Reivindicamos isto para as ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor, e para a ordem cronológica de tais ordenanças.
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Pensando em reproduzir até mesmo as fases incidentais da ação do N.T., os menonistas adotaram: 1. o lava-pés; 2. o casamento apenas de membros da mesma fé; 3. a não resistência à violência; 4. o emprego do interdito e a abstenção de pessoas expulsas; 5. a recusa de proferir juramentos; 6. o ósculo da paz; 7. o exame formal da condição espiritual de cada comungante antes da participação da Ceia do Senhor; 8. a escolha dos oficiais pelo lançamento de sorte. É óbvio que eles acabaram dividindo-se em doze seitas por causa dos pontos que apresentavam todas estas coisas; trajes simples: uma das seitas repudiava distintivos ou broches e usavam-se apenas colchetes sobre a roupa com o nome do usuário; os ofícios, só nas casas particulares; afirmavam o dom da profecia (A. S. Carman).
C) Ao examinar o Novo Testamento, achamos que os pré-requisitos para a participação da Ceia do Senhor são quatro, a saber: Primeiro: Regeneração. A Ceia do Senhor é uma expressão exterior de uma vida no crente, nutrida e sustentada pela vida de Cristo. Portanto, quem "está morto . . . nos delitos e pecados" não pode participar dela. Não damos alimento a um cadáver. Os apóstolos nunca ofereceram a Ceia do Senhor a não crentes. Ao contrário, a injunção de que cada comungante "examine-se a si mesmo" implica que a fé que capacitará o comungante a "discernir o corpo do Senhor" é um pré-requisito para participação. 1 Co. 11.27-29 - "Portanto, qualquer que comer este pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão, e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente como e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor". Schaff, História da Igreja, diz-nos que na Igreja Grega, nos séculos dezessete e dezoito o pão era ensopado no vinho e ambos elementos eram servidos com uma colher.
Teologia Sistemática (Strong) 1918 Segundo: Batismo. Como prova de que o batismo é um pré-requisito para a participação da Ceia do Senhor, apresentamos as seguintes considerações: a) A ordenança do batismo foi instituída e administrada muito antes da Ceia. Mt. 21.25 - "O batismo de João donde era? Do céu, ou dos homens"? Cristo aqui indica que o batismo de João tinha sido instituído por Deus antes do dele.
b) Os apóstolos, que inicialmente a celebraram, tinham, com toda a probabilidade, sido batizados. At. 1.21,22 - "dos varões que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando com o batismo de João ... um deles se faça conosco testemunha da sua ressurreição"; 19.4 "João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que havia de vir, isto é, em Jesus Cristo". Vários apóstolos certamente eram discípulos de João. Se Cristo foi batizado, muito mais os seus discípulos. Jesus reconheceu a obrigatoriedade do batismo de João e não é provável que ele tomasse os seus apóstolos dentre os que não se submeteram a ele. O mesmo João Batista, o primeiro a administrar o batismo não deve ter sido batizado. Mas os doze podiam adequadamente administrá-lo porque eles mesmos o tinham recebido das mãos de João.
c) A ordem de Cristo fixa o primeiro lugar do batismo na ordem depois do discipulado. Mt. 28.19,20 - "Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado" - aqui o primeiro dever é fazer discípulos, o segundo é batizar, o terceiro é instruir na vida cristã correta. Porventura se diz que não há nenhuma ordem formal para admitir
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na Ceia do Senhor apenas pessoas batizadas? Respondemos que não há nenhuma ordem formal para admitir apenas pessoas regeneradas ao batismo. Em ambos os casos, a prática dos apóstolos e as conexões gerais da doutrina cristã são suficientes para determinar o nosso dever.
d) Todos os casos registrados mostram que os primeiros cristãos observaram esta ordem que os apóstolos sancionaram. At. 2.41,46 - "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra ... E, perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração"; 8.12 - "Mas, como cressem em Filipe, ... se batizavam"; 10.47,48 "pode alguém, porventura, recusar a água, para que não sejam batizados estes que também receberam, como nós, o Espírito Santo? Ε mandou que fossem batizados em nome do Senhor"; 22.16 - Έ, agora, por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor".
e) O simbolismo das ordenanças requer que o batismo preceda a Ceia do Senhor. A ordem dos fatos deve ser expressa na ordem das ordenanças que eles significam; também se ensina ao mundo que a santificação pode ocorrer sem a regeneração. O nascimento vem antes do sustento – ‘nascimur, pascimur’. Para gozar de privilégios cerimoniais é necessário haver qualificações cerimoniais. Como ninguém, a não ser o circunciso, podia comer a páscoa, assim, antes de comer com a família cristã, deve haver a adoção na referida família. Como é necessário "nascer do Espírito" antes de experimentar a força sustentadora de Cristo, é também necessário "nascer da água" antes que se possa apropriadamente ser nutrido pela Ceia do Senhor. Nem aquele que não nasceu e nem o morto podem comer o pão ou beber o vinho. Só depois que Cristo havia ressuscitado a filha de Jairo, é que ele "mandou que lhe dessem de comer". A ordenança que simboliza a regeneração, ou a transmissão de uma nova vida, deve preceder a ordenança que simboliza o fortalecimento e aperfeiçoamento da vida que já começou. O Ensino dos
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Doze Apóstolos (Didachê), escrito antes da segunda metade do segundo século, declara (9.5,10) - "Que ninguém coma ou beba a vossa Eucaristia senão aqueles que foram batizados no nome do Senhor; porque, quanto a isto, também o Senhor disse: 'Não deis as coisas santas aos cães'. ... Só se dará a Eucaristia aos batizados".
f) Os padrões de todas as famílias evangélicas, com exceções não importantes, confirmam o ponto de vista de que esta é a interpretação natural dos requisitos da Escritura relativos à ordem das ordenanças. "O único protesto da nota parte de um grupo de batistas ingleses". A estes deve-se acrescentar o grupo relativamente pequeno dos Batistas da Livre Vontade nos Estados Unidos. As igrejas pedobatistas em geral recusam a membresia plena, o exercício do ofício, e o ministério às pessoas não batizadas. A igreja presbiteriana não admite a comunhão aos membros da Sociedade de Amigos. Nenhuma das grandes denominações evangélicas aceita a máxima de Robert Hall de que os únicos termos da comunhão são os termos da salvação. Se individualmente os ministros anunciam este princípio e conformam a sua prática com tal princípio, é tão somente porque eles transgridem os padrões das igrejas a que pertencem. Ver Tyerman, Oxford Methodists, prefácio, p. vi - "Mesmo na Geórgia, Wesley excluiu da comunhão os promotores de dissensão, com base no fato de que eles não foram apropriadamente batizados; e ele mesmo devia batizar por imersão, a não ser que a criança ou a pessoa estivesse com a saúde debilitada". O batista Noel apresentou como razão para que se submeta ao batismo, o argumento de que aproximar-se da Ceia do Senhor consciente de não estar batizado seria agir contrariamente a todos os precedentes da Escritura. A saída de Jonathan Edwards da sua igreja em Northampton deveu-se à sua oposição ao concerto do Meio Caminho, que admitia pessoas não regeneradas à Ceia do Senhor como um passo para a estrada da vida espiritual. Ele era contrário à doutrina de que a Ceia do Senhor é "uma ordenança convertedora". Mas mesmo estas pessoas não regeneradas tinham sido batizadas e ele mesmo tinha batizado muitas delas. Ele deve ter-se oposto ao batismo de crianças assim como à Ceia do Senhor, no caso dos não regenerados.
Teologia Sistemática (Strong) 1921 g) Os resultados práticos do ponto de vista oposto são prova convincente de que a ordem em que se insiste aqui é a da natureza e da Escritura. A admissão de pessoas não batizadas à comunhão tende sempre para a não realização do batismo e freqüentemente produz como resultado o desuso do próprio batismo, o obscurecimento da verdade que ela simboliza, a transformação das igrejas constituídas conforme a Escritura em grupos organizados segundo métodos de invenção humana e a completa destruição tanto das igrejas como das ordenanças como Cristo originariamente as constituiu. Arnold, Terms of Communion, 76 - Os passos para o abandono do precedente bíblico não raramente tem sido os seguintes: 1) administração do batismo numa noite de fim do dia, para evitar um mal-estar; 2) recebimento, sem batismo, de pessoas que renunciam a crença no batismo das suas crianças; 3) o desprezo da Ceia do Senhor como não essencial; ser observada ou não pelo indivíduo se a julga útil; 4) escolha de um pastor que não defenda os pontos de vista batistas; 5) adoção dos artigos de fé congregacionais; 6) disciplina e exclusão de membros que propaguem a doutrina batista. A igreja de John Bunyan, outrora de comunhão aberta mista, tanto formada de crentes batizados como não batizados, é atualmente um grupo congregacional normal. Armitage, History of the Baptists, 482 sq., reivindica que ela era originalmente uma igreja batista. Contudo, Vedder, Baptist Quarterly Review, 1.886.289, diz que "Está provado pela indiscutível evidência documentária que a igreja em Bedford nunca foi batista no sentido restrito". Os resultados dos princípios de comunhão aberta certamente são vistos na igreja de Regent's Park em Londres, onde alguns diáconos nunca foram batizados. A doutrina de que o batismo não é essencial à membresia da igreja é simplesmente o resultado lógico da prática anterior de admitir pessoas não batizadas à mesa da comunhão. Se elas são admitidas à Ceia do Senhor, então não há barreira nenhuma para a sua admissão à igreja.
Terceiro: Membresia da igreja. a) A Ceia do Senhor é uma ordenança da igreja, observada por igrejas de Cristo como tais. Por esta razão a membresia da igreja precede
Teologia Sistemática (Strong) 1922 naturalmente a comunhão. Porque a comunhão é um rito em família, o participante deve primeiro ser membro da família. At. 2.46,47 - "partindo o pão em casa"; 20.7 - "No primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão"; 1 Co. 11.18,22 "quando vos ajuntais na igreja ... não tendes, porventura, casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm"?
b) A Ceia do Senhor é um símbolo da comunhão da igreja. A exclusão nada implica se não implicar na exclusão da comunhão. Se a Ceia é simplesmente comunhão do indivíduo com Cristo, então a igreja não tem direito de excluir dela quem quer que seja. 1 Co. 10.17-"Porque nós, sendo muitos, somos um só pão, porque todos participamos do mesmo pão". Apesar de que a Ceia do Senhor primeiramente simboliza a comunhão com Cristo, em segundo lugar simboliza a comunhão com a igreja de Cristo. Nem todos os crentes em Cristo estavam presentes na primeira celebração da Ceia, mas só os que se constituíam num corpo - os apóstolos. Posso convidar as pessoas adequadas ao meu chá, mas isto não lhes dá o direito de vir sem ser convidadas. Por isso, cada igreja deve convidar os visitantes membros das igrejas co-irmãs para participarem com ela. A Ceia do Senhor é uma ordenança por si mesma, e não deve ser celebrada em convenções e associações, simplesmente para emprestar dignidade a alguma outra coisa. O Concílio Presbiteriano em Filadélfia, em 1880, recusou-se a observar a Ceia do Senhor em conjunto, baseado no argumento de que a Ceia é ordenança de uma igreja, a ser observada só por aqueles que são passíveis da disciplina do corpo e, por isso, não deve ser observada em separado por organizações da igreja que estão atuando em conjunto. Com base nisso, substancialmente, a Assembléia Geral da Velha Escola, bem antes, convidada a reunir-se junto à mesa do Senhor com o grupo da Nova Escola, com a qual havia cortado as relações eclesiásticas, declinou do convite.
Teologia Sistemática (Strong) 1923 Quarto: Andar ordenadamente. O andar desordenadamente designa um curso de vida em um membro da igreja contrário aos preceitos do evangelho. É uma barreira à participação na Ceia do Senhor, sinal da comunhão da igreja. Com Arnold podemos classificar o andar desordenado em quatro aspectos: a) Conduta imoral. 1 Co. 5.1-13 - Paulo manda a igreja de Corinto excluir o incestuoso: "já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem; ... mas, agora, escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idolatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. ... Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo". - Aqui fica evidente que as mais sérias formas de andar desordenadamente requerem exclusão não só da comunhão da igreja, mas também da comunhão cristã.
b) Desobediência às ordens de Cristo. 1 Co. 14.37 - "Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor"; 2 Ts. 3.6,11,14,15 - "Mandamo-vos, porém, irmãos,... que vos aparteis de todo irmão que andar desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebeu. ... Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. ... Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia, não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão". - Aqui se trata da sua exclusão da comunhão com a igreja e da Ceia do Senhor, seu sinal, conquanto o ofensor não esteja excluído da comunidade cristã, mas ainda é considerado "um irmão". Nestas passagens Paulo sugere que "não andar segundo a tradição recebida dele, não obedecer à palavra contida nas suas epístolas é a mesma coisa que a desobediência às ordens de Cristo e, conseqüentemente, envolve a perda da comunhão da igreja e dos seus
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privilegiados sinais" (Arnold, Pré-requisitos para a Comunhão, 68). Visto que o batismo é uma ordem de Cristo, segue-se que não podemos com propriedade comungar com os não batizados. Admitir tais pessoas à Ceia do Senhor é dar o símbolo da comunhão da igreja aos que, apesar do fato de serem irmãos cristãos, embora talvez inconscientemente, estão violando a lei fundamental da igreja. Deter o protesto contra a clara desobediência aos mandamentos de Cristo é em tal extensão dar apoio a essa desobediência. A mesma desobediência que no membro da igreja denominamos "andar desordenadamente" deve a fortiori destruir todo o direito daqueles que não são membros da igreja à participação da Ceia do Senhor.
c) Heresia, ou sustentar e ensinar falsa doutrina. Tt. 3.10 - "Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o". Cf. At. 20.30 - "dentre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si"; 1 Jo. 4.2,3 "Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo". B.B. Bosworth: "No Novo Testamento, heresia não quer significar necessariamente sustentar opiniões errôneas; pode também significar sustentar opiniões corretas com espírito não fraternal ou faccioso". Admitimos que a palavra 'herege' pode também significar 'faccioso'; mas reivindicamos que a falsa doutrina é a principal fonte da divisão e, por isso, é em si mesma uma desqualificação para a participação da Ceia do Senhor. O espírito faccioso é uma barreira e nós o trataremos adiante sob o título de cisma. O Concilio Pan-presbiteriano, mencionado acima recusou-se a admitir no seu grupo os presbiterianos de Cumberland porque, embora estes tenham aderido à forma de governo presbiteriano, os seus pontos de vista sobre a doutrina da graça são arminianos. Como já vimos nas páginas 940942, o batismo é uma confissão de fé evangélica e ninguém que nega as doutrinas do pecado, da divindade, da encarnação e da expiação de Cristo, e a justificação pela fé, que a Ceia do Senhor simboliza, pode apropriadamente participar dela. Tal negação excluiria também de toda a comunhão cristã.
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Há uma heresia que envolve a exclusão apenas da comunhão da igreja. Visto que os pedobatistas sustentam e propagam falsa doutrina relativa à igreja e suas ordenanças - as doutrinas que põem em perigo a espiritualidade da igreja, a suficiência das Escrituras e o senhorio de Cristo não podemos com propriedade admiti-los à Ceia do Senhor. Admiti-los ou participar com eles seria tratar a falsidade como se fosse verdade. Arnold, Prerequisites to Communion, 72 - "Os pedobatistas são culpados pelo ensino de que os batizados não são membros da igreja, ou que a membresia na igreja não é voluntária; que há dois tipos de batismo: um dos que professam a fé da pessoa batizada e o outro a profissão de fé de uma segunda pessoa; que a regeneração ocorre no batismo e através dele, ou que a igreja se compõe, em grande parte, de pessoas que não dão qualquer evidência de regeneração; que a igreja tem o direito de mudar essencialmente uma das instituições de Cristo, ou que não é essencial tanto observar-se o que ele ordenou ou de alguma outra forma, que o batismo pode ser corretamente administrado de um modo que faz boa parte da linguagem em que é descrita nas Escrituras totalmente inadequada e inaplicável e que, afinal de contas, não representa os fatos e doutrinas que as Escrituras declaram representar; que as Escrituras não são, em todos assuntos religiosos, a única regra suficiente de fé e prática".
d) Cisma, ou promoção de divisão e dissensão na igreja. Isto também requer exclusão da comunhão da igreja e da Ceia do Senhor que é seu sinal indicativo. Rm. 16.17 - "E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles". Visto que os pedobatistas, através do seu ensino e prática, afastaram muitas das igrejas biblicamente constituídas; estabelecendo divisões entre os crentes uns dos outros e enfraquecendo os grupos organizados segundo o modelo do Novo Testamento; é imperativo separarmo-nos deles no que se refere à comunhão na mesa do Senhor que é o sinal da comunhão da igreja. O Sr. Spurgeon admite que os pedobatistas comunguem com a sua igreja "por dois ou três meses". Depois se pede gentilmente que se conformem com a pregação, com a doutrina, com a forma de governo, etc. Se eles disserem que se conformam, pergunta-se a eles se não estão dispostos a se
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batizar e tornar-se membros da igreja. Se eles estiverem inclinados a isso muito bem; mas, se não, educadamente se diz a eles que não lhes é interessante continuar comungando. O batismo deve preceder à membresia da igreja e à comunhão permanente, embora se permita a comunhão temporária sem ele. Arnold, Prerequisites to Communion, 80 - "Talvez se possa objetar que as passagens citadas sob as quatro subdivisões anteriores referem-se à comunhão da igreja de um modo geral, sem qualquer referência específica à Ceia do Senhor. Em resposta a esta objeção, replicaríamos, em primeiro lugar, que, tendo-se empenhado anteriormente em estabelecer a posição de que a Ceia do Senhor é uma ordenança a ser celebrada na igreja e é a expressiva comunhão da referida igreja, eu me sinto livre para empregar passagens que ordenam o afastamento dessa comunhão, determinando de modo construtivo a exclusão da comunhão, que é o principal sinal. Em segundo lugar, respondo que o princípio aqui aceito parece-me permear os ensinos bíblicos tão integralmente que é impossível fixar quaisquer termos bíblicos da comunhão na mesa do Senhor, a não ser que se admita que a ordenança está em conexão inseparável com a comunhão da igreja. Tratar esta matéria de outra forma seria, ao que me parece, despedaçar o que o Senhor juntou. A objeção sugere um argumento adicional a favor da nossa posição de que a Ceia do Senhor é uma ordenança da igreja." "Quem o corpo de Cristo divide, Fere novamente o Crucificado; Quem confunde o povo de Cristo, Enfraquece a fé e fortalece as ruínas; Quem a ordem de Cristo não vê, em vão labora pela unidade; Quem a palavra de Cristo toma por guia, com o Noivo, ama a Noiva".
D) Cabe à igreja local julgar se estes pré-requisitos estão sendo cumprido no caso de pessoas que desejam participar da Ceia do Senhor. – Isto é evidente das seguintes considerações: a) A ordem de observar a ordenança foi dada, não a indivíduos, mas a grupo. b) A obediência a esta ordem não é ato individual, mas em companhia de muitos. c) A observância regular da Ceia do Senhor não pode ser assegurada, nem as qualificações das pessoas que desejam participar dela
Teologia Sistemática (Strong) 1927 ser decididas, a não ser que algum grupo organizado distinto se incumba desta responsabilidade d) O único grupo organizado conhecido no Novo Testamento é a igreja local e este é o único competente para se incumbir das ordenanças. A igreja invisível não tem oficiais. e) Os relatos do Novo Testamento indicam que a Ceia do Senhor era observada só em reuniões reguläres indicadas nas igrejas locais e era observada por estas igrejas como grupos organizados regularmente. f) Porque o dever de examinar as qualificações dos candidatos ao batismo e à membresia é de responsabilidade da igreja local e é essencial à existênc distinta, a analogia das ordenanças nos levaria a crer que o exame das qualificações para a participação da Ceia do Senhor apóia-se no mesmo grupo. g) Este cuidado para que só pessoas apropriadas sejam admitidas nas ordenanças deve mostrar-se não por uma barragem aberta ou forçada do indigno na hora da celebração, mas por instrução pública anterior à congregação e, se necessário, no caso de ofensores persistentes, por admoestação particular amigável. "O que é assunto de todos não é assunto de ninguém". Se há algum poder de escrutínio eficiente, deve encontrar-se na igreja local. O ministro não deve administrar a ordenança da Ceia do Senhor por sua própria opção do mesmo modo que a do batismo. Ele é somente o representante da igreja. Ele deve seguir as regras da igreja quanto aos convites e quanto ao modo de celebrar a ordenança, naturalmente instruindo a igreja sobre a ordem do Novo Testamento. No caso de membros enfermos que desejam comungar, podem ser designados irmãos para realizarem uma reunião especial da igreja na casa particular ou na casa de enfermos e, então só o pastor pode oficiar. Se se faz um convite para a comunhão bem pode sê-lo da seguinte forma: "Convidam-se a participar conosco membros bem relacionados com a sua igreja da mesma fé e prática". Porém, já que se reconhece universalmente a cortesia das igrejas batistas e que, em geral são entendidos os pontos de vista a respeito das ordenanças, deve-se ter como
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certo que todas as pessoas nas devidas condições serão bem-vindas se não houver nenhum convite. Como já vimos, o Sr. Spurgeon permitia que pessoas não batizadas participassem da Ceia do Senhor sem serem concitadas a isso, mas, se aparecesse uma disposição de participar habitualmente, um dos diáconos, em particular, explicaria a doutrina batista e mostraria o dever de batizar-se. Se não se atender a essa orientação, cessará naturalmente a participação da Ceia do Senhor. O Dr. P. S. Henson propõe um caminho intermediário entre a comunhão aberta e a fechada, da seguinte maneira: "Prega e estimula a fé em Jesus e a obediência a ele. Deixa a escolha com os participantes. Não é sábio estabelecer um tribunal sobre a mesa do Senhor. Prega sempre a seqüência bíblica - 1. Fé em Jesus; 2. Obediência sobre o batismo; 3. Observância da Ceia do Senhor". J. B. Thomas: "As objeções à ceia restrita vem com uma doentia graça dos pedobatistas que recusam a comunhão aos seus próprios batizados que foram forçados a se tornar quase membros apesar do protesto que eles podem oferecer e que eles contiveram como passíveis de disciplina sem o seu consentimento". A. H. Strong, Cleaveland Sermon, sobre o Nosso Panorama denominacional, 19 de maio de 1904 - "Se me perguntassem se os batistas ainda sustentam a comunhão restrita, respondo que o nosso princípio não mudou, mas muitos de nós o aplicam de um modo diferente do dos nossos pais. Cremos que o batismo, logicamente, precede a Ceia do Senhor, como o nascimento precede a alimentação e a regeneração precede a santificação. Cremos que a seqüência das ordenanças é um ponto importante da doutrina cristã, e ela mesma ensina a doutrina cristã. Por isso proclamamo-la, e há adesão a ela em nossa pregação e na nossa prática. Mas não trazemos a Ceia do Senhor ao tribunal ou transformamos os oficiais da igreja em detetives. Ensinamos a verdade e esperamos que ela ganhe o seu caminho. Somos corteses para com todos os que se encontram entre nós; e esperamos que eles, em compensação, considerem a cortesia com respeito às nossas convicções e ajam concordemente. Mas aqui aparece o perigo de romper as nossas amarras e partirmos para o indiferentismo a respeito das ordenanças. A recente defesa da membresia eclesiástica aberta é apenas a conseqüência lógica de uma concessão anterior da comunhão aberta. Estou persuadido de que esta nova doutrina está confinada a bem
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poucos entre nós. O remédio para este falso liberalismo deve ser encontrado no mesmo Cristo que resolve todos os outros problemas. É este Cristo que fixa os solitários em famílias e que faz de um todas as nações que habitam a face da terra. As denominações cristãs são, pelo menos temporariamente, a indicação dele. A lealdade ao corpo que melhor nos parece representar a sua verdade é também lealdade a ele. O amor a Cristo não envolve a quebra dos laços de família, ou nação, ou denominação, mas apenas consagra-os e os enobrece. "Ainda Cristo é Rei em Sião. Há apenas um exército do Deus vivo, muito embora haja muitas divisões. Podemos dar mais ênfase à nossa unidade com outros grupos cristãos do que às diferenças entre nós. Podemos considerá-los como igrejas do Senhor Jesus, apesar de irregularmente constituídas. Como uma cerimônia de casamento pode ser válida, muito embora feita sem a licença e por um ministrante não qualificado; como uma ordenação pode ser válida apesar de omitir-se a imposição de mãos; do mesmo modo a ordenança da Ceia do Senhor administrada nas igrejas pedobatistas pode ser válida apesar de irregular nos seus acessórios e antecedentes. Apesar ainda de protestarmos contra a moderna perversão da doutrina do Novo Testamento aos candidatos e ao modo de batismo sustentamos ainda sobre a Ceia do Senhor que a irregularidade não é invalidada e que podemos reconhecer como igrejas mesmo os grupos que celebram a Ceia do Senhor sem ter sido batizados. A nossa fé no Cristo maior retira-nos do isolamento denominacional para um inspirador reconhecimento da nossa unidade na universal igreja de Deus por todo o mundo".
E) Objeções especiais à comunhão aberta. Os que advogam este ponto de vista reivindicam que o batismo, como não é termo indispensável de salvação, não pode apropriadamente tornar-se termo indispensável à comunhão. Robert Hall, Works, 1.285, sustenta que não pode haver termos apropriados da comunhão que não os sejam também da salvação. Ele reivindica que "temos a ordem expressa de tolerar na igreja todas diversidades de opinião que não sejam inconsistentes com a salvação". Mas, como assinala
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Curtis, Progresso dos Princípios Batistas, 292, estes princípios frustram totalmente os próprios objetivos para os quais as igrejas visíveis foram fundadas – de serem "coluna e firmeza da verdade" (1 Tm. 3.15); porque a verdade se fixa tão firmemente nas ordenanças como na doutrina.
a) Este ponto de vista contraria a crença e prática de todo o fragmento embora insignificante da cristandade organizada. Uma boa parte dos batistas ingleses, e dos Batistas da Livre Vontade nos Estados Unidos, são os únicos grupos que, nos seus padrões de fé, aceitam e mantêm os princípios de comunhão aberta. Quanto à crença e prática da denominação Metodista Episcopal, a Defesa Cristã de Nova Iorque estabelece os seguintes termos da comunhão: 1. Disciplina; 2. Batismo; 3. Vida eclesiástica consistente, requerida na "Disciplina"; e F. G. Hibbard, Christian Baptism, 174, assinala que, num princípio, igrejas batistas e pedobatistas concordam: Em rejeitar a comunhão na mesa do Senhor e negar os direitos da comunhão eclesiástica a todos os não batizados. Eles consideram que o batismo válido é essencial para constituir a membresia da igreja visível. Isto todos nós [metodistas] sustentamos. ... A acusação da comunhão fechada não é mais aplicável aos batistas do que a nós". Nos estados do interior a posição presbiteriana é a seguinte: "A diferença entre nós e os nossos irmãos batistas é importante. Contudo, concordamos com eles em dizer que pessoas não batizadas não devem participar da Ceia do Senhor. A nosso juízo, a comunhão fechada é uma posição mais defensável do que a comunhão aberta". Dr. John Hall: "Se, com os batistas eu cresse que ninguém é batizado a não ser os que são imersos sob a profissão de fé, eu, com eles, recusaria comungar com qualquer um dos os outros". Quanto aos pontos de vista dos congregacionalistas, citamos de Dwight, Systematic Theology, sermão 160 - "É qualificação indispensável a esta ordenança que o candidato à comunhão seja membro da visível igreja de Cristo em sua plenitude. Com isto pretendo que ele seja um homem piedoso; que tenha feito pública profissão da religião; e que tenha sido batizado". O Independent: "Nunca tivemos a disposição de acusar a igreja batista de qualquer mesquinhez ou intolerância em sua regra de admissão à
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mesa do Senhor. Não vemos como difere da cerimônia admitida e estabelecida entre as igrejas presbiterianas". Os padrões e autoridades episcopais são igualmente claros. O Livro comum de Oração, Ordem e Confirmação declara: "Ninguém será admitido à santa comunhão, enquanto não for confirmado ou esteja pronto e desejoso de ser confirmado" - a confirmação vem sempre depois do batismo. Wall, História do Batismo de Crianças, parte 2, capítulo 9 - "Nenhuma igreja jamais deu a comunhão a qualquer pessoa antes que seja batizada. Entre os absurdos cometidos, nenhum sustenta que qualquer pessoa deva participar da comunhão antes de ser batizado".
b) Admite uma desigualdade antibíblica entre as duas ordenanças. A Ceia do Senhor não tem um nível mais elevado na Escritura do que o Batismo. A obrigação de comungar não é maior que a de professar a fé através do Batismo. A comunhão aberta, contudo, trata o batismo como se fosse opcional, enquanto insiste na comunhão como indispensável. Ao invés disso, Robert Hall diria: "Nenhuma igreja tem o direito de estabelecer os termos do batismo que não são também os da salvação, porque, na Bíblia, o batismo está em conexão com as coisas que acompanham a salvação. Cremos que a fé é um pré-requisito, mas não o único. Podemos sustentar que uma pessoa seja cristã sem pensar que ela tenha o direito de comungar, a não ser que também tenha sido batizada. A reforma de Esdras que aboliu o casamento misto com os pagãos adjacentes não era bitolada, ou intransigente, nem intolerante. A Sra. Willard dizia corretamente que, de Gerizim das santas beatitudes vem uma voz: "Bem-aventurados os inclusivos, porque eles serão incluídos", e, do Monte Ebal, outra voz dizendo: "Tristes são os exclusivos, porque eles serão excluídos". A verdadeira liberalidade é cristã e sábia. Devemos ser de tal modo liberais como o próprio Cristo, e não mais. Mesmo a Sra. Willard não incluiria os vendedores de rum na União Cristã de Temperança, nem pensaria que a cidade bendita diz aos guardadores dos salões: "Arrependeivos ou ide". O coro não é tão bitolado por não incluir os que só desafinam, nem o rebanho é intolerante por recusar-se a incluir lobos, nem a sociedade
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médica que exclui charlatães, nem a igreja que não convida o desobediente e faccioso para a sua comunhão.
c) Tende a extinguir o batismo. Se se goza o mais elevado privilégio da membresia da igreja sem o batismo, este perde o seu lugar e importância como ordenança iniciatória da igreja. Robert Hall admitiria à Ceia do Senhor os que negam que o batismo esteja perpetuamente ligado à igreja. Um estrangeiro pode amar este país, mas não pode votar nas nossas eleições a não ser que ele se naturalize. Os ritos cerimoniais implicam qualificações cerimoniais. O Dr. Meredith em Brooklyn disse à sua grande classe de Bíblia que um homem, embora não cristão, mas que se sente pecador e necessitado de Cristo, pode merecera participação da Ceia do Senhor. Esta é a lógica da comunhão aberta. A Ceia não se limita às pessoas batizadas, nem aos membros da igreja, nem mesmo às pessoas convertidas, mas também a todo o mundo não convertido. Isto não só aniquila o batismo, mas faz a Ceia do Senhor ser uma ordenança para a conversão.
d) Tende a extinguir toda a disciplina. Quando os cristãos ofendem, a igreja deve afastar a sua comunhão deles. Mas, com base no princípio da comunhão aberta, tal afastamento é impossível porque a Ceia do Senhor, a mais elevada expressão da comunhão da igreja, está aberta a qualquer pessoa que se considera um cristão. H. F. Colby: "Devemos nós reconhecer que os pedobatistas evangélicos têm qualificação para participar da Ceia do Senhor? Estamos prontos a admiti-los exatamente nos mesmos termos em que nos admitimos a nós mesmos. As nossas barreiras para a comunhão vêm a ser um protesto, mas não de um plano que parte de nós. Eles se tornam um protesto somente quando cada ato de lealdade à verdade se torna um protesto contra o erro". Constituições dos Santos Apóstolos, livro 2, seção 7 (± 250 A.D.) - "Porém, se eles [os que estavam convencidos da iniqüidade] depois se arrependerem e derem as costas para o seu erro, então os receberemos como recebemos os gentios, quando querem arrepender-se,
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para, na verdade, ouvirem a palavra, mas não os recebemos para a comunhão enquanto não tiverem o selo do batismo e tornarem-se cristãos completos".
e) Tende a extinguir a igreja visível também. Porque não é possível nenhuma igreja visível a não ser que se exija algum sinal de membresia em adição aos da membresia na igreja invisível. A comunhão aberta logicamente leva à membresia aberta da igreja e uma igreja de membresia aberta sem referência às qualificações requeridas na Escritura ou sem exame da parte da igreja quanto à existência destas qualificações nos que se unem a ela é virtualmente uma identificação da igreja com o mundo e, sem o protesto dos grupos constituídos segundo as Escrituras, resultaria finalmente na sua verdadeira extinção. Dr. Walcott Calkins, Andover Review. "Nunca se tem negado que o modo como os puritanos mantêm a pureza e saúde doutrinária das igrejas é a garantia de uma membresia convertida e com saúde. Há uma denominação de puritanos que nunca se desviou por um fio de cabelo deste caminho. Os batistas sempre insistiram no fato de que só as pessoas regeneradas devem receber os sacramentos da igreja. Ε elas tem dependido absolutamente desta provisão para a pureza e saúde doutrinária de suas igrejas". Na Convenção Batista da Livre Vontade em Providência, outubro de 1874, surgiu a questão de admitir os pedobatistas na sua membresia. Isto foi rejeitado ao entender que "o batismo cristão é um ato público de consagração pessoal a Cristo e que só o batismo de quem crê e a imersão como forma de batismo são princípios fundamentais da denominação". Em outras palavras, os crentes não imersos não seriam aceitos na membresia. Mas eles não são igreja do Senhor? Temos nós o direito de rejeitá-los? Não será isto intolerância? O Batista da Livre Vontade responde: Não, é tão somente lealdade à verdade". Reivindicamos que, com base no mesmo princípio, devemos ir além, e recusarmo-nos a admitir à comunhão aqueles que ele recusa admitir na
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membresia da igreja. As razões apresentadas para agir com base no princípio oposto são mais sentimentais que racionais. Ver a definição de sentimento de John Stuart Mill, citada nos Essays de Martineau, 1.94 - Ό sentimento consiste em fixar o aspecto simpático das coisas, ou a sua amabilidade, acima do estético, sua beleza; ou acima do seu aspecto moral, o certo ou o errado". OBJEÇÕES À COMUNHÃO RESTRITA, Ε RESPOSTAS A ELAS (condensadas de Arnold, Termos da Comunhão, 82): "1ª) As regras primitivas não se aplicam à atualidade. Respondemos: 1) As leis de Cristo são imutáveis. 2) A ordem primitiva deve ser restaurada. "2ª) Como um rito externo, o batismo é de menor importância que o amor. Respondemos: 1) Guardar os mandamentos de Cristo não é inconsistente com o amor, mas é a sua marca. 2) O amor aos nossos irmãos requer o protesto contra os seus erros. "3ª) Os pedobatistas se julgam batizados. Respondemos: 1) Esta é uma razão por que eles devem agir como se eles cressem nisso, não uma razão por que eles o fossem. 2) Não podemos submeter a nossa consciência aos pontos de vista da verdade sem pormos em risco a nós mesmos ou a eles. "4ª) A comunhão restrita é um embaraço à união entre os cristãos. Respondemos: 1) Cristo deseja a união só na verdade. 2) Os batistas não são responsáveis pela separação. 3) A comunhão mista não é a cura da desunião, mas a sua causa. "5ª) A regra exclui da comunhão os membros batizados nas igrejas pedobatistas. Respondemos: 1) Estas pessoas estão andando desordenadamente, ao promover o erro. 2) A Ceia do Senhor não é um símbolo da comunhão com indivíduos, independentemente das suas relações com a igreja, mas um símbolo da comunhão da igreja. "6ª) Há um pretexto para a dispensa da regra em casos extremos nos quais a pessoa deve, ou não, comungar conosco. Respondemos: 1) É difícil fixar limites para tais exceções: é possível que elas se excedam cada vez mais até que a regra se torne meramente nominal (ditado em português = "para o inglês ver"). 2) O privilégio e sentido da graça é maior, em tais circunstâncias, de abster-se de comungar, do que o princípio contrário, que é o de participar. 3) Não é certo participar com os outros, quando, como recíproca, não somos convidados.
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"7ª) A alegada inconsistência da nossa prática. – a) Visto que esperamos comungar no céu. Respondemos: Este argumento confunde comunhão com a comunhão eclesiástica. Aqui, e daqui em diante, não temos comunhão espiritual com os pedobatistas. Não esperamos participar da Ceia do Senhor com eles, ou com quem quer que seja, no céu. b) Visto que rejeitamos o melhor e recebemos o pior. Respondemos: Não temos a liberdade de recusar a aplicação de uma regra exterior da parte de Cristo, porque não podemos de igual modo aplicar a sua regra espiritual interior de caráter. Os pedobatistas recusam a comunhão àqueles que eles consideram não batizados, ainda que estes sejam mais espirituais que alguns da igreja, c) Visto que nós reconhecemos os pedobatistas como irmãos em reuniões conjuntas, fazemos intercâmbio de púlpitos, etc. Respondemos: Nenhum destes atos de comunhão fraternal implica na comunhão eclesiástica que a admissão à Ceia do Senhor implicaria. Esta última atitude os reconheceria como batizados; aquela não. "8ª) A alegada falta de diplomacia. Respondemos: 1) Esta consideração só seria pertinente se tivéssemos a liberdade de mudar a nossa prática quando fosse conveniente, ou pensar dessa forma. 2) Qualquer verdade particular inspirará respeito nos outros na medida que os seus defensores mostram que respeitam. Na Inglaterra o nosso número tem diminuído, comparado com a população numa média de 33%; aqui temos crescido 50% em proporção com a média da população. "Resumo. Deve-se justificar a comunhão aberta, se, afinal de contas, enquadradas numa das quatro bases: Primeira, que o batismo não é um prérequisito para a comunhão. Mas isto se opõe à crença e prática de todas igrejas. Segunda, que a imersão não é um batismo essencial. Mas isto significa renunciar os princípios batistas. Terceira, que o indivíduo e não a igreja deve ser o juiz das suas qualificações para ser admitido à comunhão. Mas isto contraria a sadia razão e é fatal às finalidades para as quais a igreja existe. Pois, se a consciência do indivíduo deve ser a regra de ação da igreja sobre a sua admissão à Ceia do Senhor, por que também não o é sobre a sua regeneração, a sua crença doutrinária e a sua obediência às ordens de Cristo em geral? Quarta, que a igreja não tem responsabilidade quanto às qualificações daqueles que vêm para a sua comunhão. Mas isto é que significa abandonar o princípio de independência das igrejas e as suas responsabilidades para com Cristo, e desfaz toda a disciplina da igreja".
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PARTE VIII ESCATOLOGIA, OU A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS ESCATOLOGIA Nem o caráter do cristão como indivíduo, nem a igreja cristã como um todo atinge a perfeição nesta vida (Rm. 8.24). Ela só será alcançada no mundo vindouro (1 Co. 13.10). Na preparação do caminho para o reino de Deus em sua plenitude, devem ocorrer alguns eventos tais como a morte, a segunda vinda de Cristo, a ressurreição do corpo, o juízo final. Como estágios na condição futura do homem deve haver um estado intermediário e um final, tanto para os justos como para os ímpios. Discutiremos tais eventos e estados à medida em que aparecerem a partir da Escritura na ordem da ocorrência deles. Rm. 8.24 - "em esperança somos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como esperará"? 1 Co. 13.10 "quando vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado". O pecado original não está completamente erradicado do cristão e o Espírito Santo ainda não é o único a governar. Do mesmo modo, também a igreja está ainda no estado de conflito e a vitória ainda é coisa do futuro. Mas, como a vida cristã atinge a sua plenitude só no futuro, a mesma coisa ocorre com a vida de pecado. A morte começa aqui, mas culmina no futuro. Tg. 1.15 - "o pecado, sendo consumado, gera a morte". Aqui o ímpio tem apenas antegozo da "ira futura" (Mt. 3.7). Podemos "ajuntar... tesouros no céu" (Mt. 6.20), mas também podemos "entesourar para nós mesmos a ira" (Rm. 2.5), i.e., ajuntar tesouros no inferno. Dorner: "À realidade da consumação pertence a cessação da reprodução através da qual o mundo que a igreja deve dominar renova-se constantemente. ... A existência exterior reciprocamente do espírito e da natureza deve propiciar uma existência interna perfeita. A exterioridade
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recíproca é a base da mortalidade do lado natural e do seu ser um meio de tentação do lado espiritual. Porque nesta exterioridade o lado natural tem ainda uma independência muito grande e exerce uma força determinante sobre a personalidade. ... A arte, o belo, recebe no estado futuro seu lugar especial; porque é o recurso pelo qual a arte agrada na apresentação visual, a fim de realizar o clássico e o perfeito com um jogo ilimitado de forças. Cada ser moralmente perfeito casará o bem com o belo. De resto, não haverá inércia alguma; e na atividade não haverá ausência de repouso". Schleiermacher: "A escatologia é essencialmente profética; e, por isso, vaga e indefinida, como uma profecia não cumprida". Frances Power Cobbe, Peak of Darien, 265 - "A natureza humana é um navio com a correnteza fora; quando a correnteza da eternidade entra, veremos o propósito do navio". A escatologia trata dos antecedentes da segunda vinda de Cristo, assim como da própria segunda vinda. Devemos nos empenhar pela vida do reino de Deus na sociedade assim como no indivíduo e na igreja, na vida presente assim como na futura. Kidd, em seus Principles of Western Civilization, diz que sobrevive o que auxilia o maior número. Porém, o maior número está sempre no futuro. O teatro se tornou demasiado amplo para o drama. Além do telhado aparecem as eternas estrelas. A imagem de Deus no homem implica na igualdade de todos o seres humanos. A igualdade política implica sufrágio universal; a igualdade econômica implica proveito universal. A sociedade já está primeiro além do isolamento da cidade e, a seguir do isolamento do estado. Deste modo os Estados Unidos apresentam a mais livre área comercial da história. O passo seguinte é a unidade dos povos de fala inglesa. Os dias das nacionalidades separadas estão contados. Laissez faire = sobrevivência do barbarismo. Há sinais de idéias mais amplas na arte, na ética, na literatura, na filosofia, na ciência, na política, na economia, na religião. A competição deve ser moralizada, e deve levar em conta tanto o futuro como o presente. George Β. Stevens, em Am. Jour, of Theology, out. 1902.666-684, pergunta: "Existe uma escatologia neotestamentária constituída por si mesma"? Em resumo, responde ele que só há três coisas certas: 1. O incontestável triunfo do reino – este é o cerne da verdade na doutrina da segunda vinda de Cristo; 2. a vitória da vida sobre a morte – a verdade na
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doutrina da ressurreição; 3. o princípio do juízo – a verdade baseada na crença do galardão e do castigo no mundo vindouro. Este magro e abstrato resíduo nega tanto a unidade como a suficiência da Escritura. O nosso ponto de vista sobre a inspiração, conquanto não nos garanta os mínimos detalhes, dá-nos, entretanto, uma grande visão geral da consumação futura e garante a sua fidedignidade através da palavra de Cristo e dos apóstolos. A fé na consumação é o principal estímulo ao pronunciamento poético e à elevada proeza. Shairp, Province of Poetry, 28 - "Se a poesia não for um rio alimentado a partir de fontes puras, que brotam do mais elevado cume da humanidade, mas tão somente um canal de drenagem de charco, pode ser muito útil como artifício sanitário, mas não como, na expressão de Bacon, 'participação da divindade'". Shakespeare emprega a prosa para as idéias distintas da emoção tais como a realização de um casamento de rústicos ou a lamentação de tolos. Porém, para ele, o pensamento elevado se veste, na poesia, de roupas cantantes. Savage, Life After Death, 1-5 - "Quando Henry D. Thoreau jazia à morte em Concórdia, seu amigo Parker Pillsbury sentou-se ao lado do leito. Inclinou-se, tomou-lhe a mão, e disse: 'Henry, agora que você está tão perto da borda, pode ver alguma coisa do outro lado'? Respondeu Thoreau: 'Um mundo de uma só vez, Parker'! Mas não posso ajudar a perguntar sobre esse outro mundo e, se pertenço a um mundo futuro do mesmo modo que a este, a minha vida será bem diferente". Jesus conhece a necessidade que temos de alguma informação a respeito do futuro e, por isso, diz: "Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos lugar" (Jo. 14.2). Hutton, Essays, 2.211 - "A imaginação pode ser poderosa sem ser fértil; pode invocar cenas do passado e viver nelas sem ser capaz de criar novas. A unidade nacional e a direção sobrenatural foram crenças que protegeram a poesia de serem férteis e originais no seu trato da história humana; porque o orgulho nacional não é inventivo, mas conservador e os que crêem na verdadeira providência não cuidam em viver num mundo de invenção. O judeu via na história apenas a ilustração destas duas verdades. Ele nunca se impressionava totalmente com a emoção individual. O poeta moderno é um estudioso de Deus. Para este, toda a criação é apenas uma
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sombra; a essência da sua beleza e o poder sustentador da sua vida encontram-se no mundo espiritual. Vá além da natureza espiritual do homem, e a simpatia do poeta hébreu se estiola totalmente. Sua poesia é verdadeira e divina, mas a custa da variação do discernimento e do bafejo da simpatia. É heliocêntrica, ao invés de geocêntrica. Apenas Jó, o mais tardio, apresenta um consciente esforço de imaginação". Por estas razões, a poesia apocalíptica é mais consentânea com a mente hebréia. Balfour, Found, of Faith, 66 - "Em algum lugar e para algum Ser, brilha um imutável esplendor da beleza que vemos, cada um de nós, na natureza e na arte, segundo o seu enfoque, apenas rápidos lampejos e errantes reflexões, cujos aspectos diferentes não podemos coordenar, e cuja importância não podemos abarcar, mas que, ao menos é algo estranho ao fortuito jogo de sensibilidade subjetiva ou é um distante eco das luxúrias ancestrais". Dewey, Psychology, 200 - "Todo o produto da imaginação criadora é um testemunho inconsciente da unidade do espírito que liga os seres humanos entre si e estes à natureza em um todo orgânico". Tennyson, Idylls of the King: "Como além dos confins do mundo, Como um grande eco surgido de um grande clamor, Soa como se uma cidade maravilhosa fosse uma voz em torno do rei que volta das suas pelejas".
I. MORTE FÍSICA A morte física é a separação da alma em relação ao corpo. Distinguimo-la da morte espiritual, ou separação da alma em relação a Deus; e da segunda morte, ou banimento em relação a Deus e miséria final e nova união da alma e corpo dos ímpios. Morte espiritual: Is. 59.2 - "mas as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça"; Rm. 7.24 - "Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte"? Ef. 2.1 - "mortos em ofensas e pecados". A segunda morte: Ap. 2.11 - Ό que vencer não receberá o dano da segunda morte"; 20.14 - "E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo"; 21.8 - "Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idolatras e a todos os
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mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte". Julius Müller, Doctrine of Sin, 2.303 - "Morte espiritual, discórdia interior e escravização da alma e a resultante miséria a que pertence a outra morte, chamada segunda morte, é a condição correspondente à escravidão interior". Trench, Epistles of Seven Churches, 151 - "Esta expressão ['segunda morte'] é em si mesma um protesto contra o saduceísmo e o epicurismo que querem fazer da morte natural a existência e fim de tudo. Como para o fiel há uma vida além da presente, do mesmo modo há para os ímpios uma morte além da que aparece aos nossos olhos". E. G. Robinson: "A segunda morte é a continuação da morte espiritual numa outra existência sem limite de tempo". Hudson, Scientific Dem. of a Future Life, 222 - "Se o homem tem um poder que transcende os sentidos, pressupõe-se ao menos que não pereça quando tais sentidos se extinguirem. ... A atividade da mente subjetiva está na razão inversa da do corpo apesar de que a mente objetiva enfraquece com o corpo e perece com o cérebro". Prof. H. H. Bawden: "A consciência é simplesmente o desenvolvimento de um organismo, conquanto este seja o desenvolvimento daquela. Consciência não é uma coisa, não é uma ordem de existência, afinal de contas, mas uma função. É o universo entrando em foco, florindo, por assim dizer, num centro finito. A sociedade é um organismo no mesmo sentido que o ser humano também o é. A separação espacial dos elementos do organismo social relativamente não é maior que a dos fatores da unidade do corpo. Como o neurônio não pode negar a consciência que é a função do corpo, do mesmo modo o membro da sociedade, em particular, não tem razão para negar a existência de uma vida cósmica do organismo que chamamos sociedade". Emma Caillard, Man in the Light of Evolution, Revista Contemporânea, dezembro de 1893.878 – "O homem é a natureza que surge na consciência do seu relacionamento com o divino. Não há nenhum retrocesso a partir deste ponto. Quando 'aquilo que vem da profundidade ilimitada volta ao lugar de origem', aparece a necessidade da persistência de cada vida pessoal. A vida humana, como se apresenta, embora transcenda as formas inferiores através das quais ela se desenvolve, a inclui. A vida humana, como há de
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apresentar-se, apesar de poder transcender a sua manifestação presente, a saber, a sua personalidade, deve incluí-la". Às vezes, quando se aprendem as lições da vida, e os sóis e as estrelas se põem definitivamente, todas as coisas que os nossos magros juízos agora rejeitam, as coisas que ferem com os pluviais látegos brilharão diante de nós por toda a tenebrosa noite da nossa vida como rebrilham os astros nas mais profundas cores de anil: É precisamente então que veremos quão justos são os divinos planos e aquilo que mais parecia reprovação mostra-se o mais veraz amor: Ε se, às vezes, mesclado ao vinho da vida encontrarmos o cupim e o rebelde e o fugaz esteja certo de que a mão mais sábia do que a sua ou do que a minha derrama a sua porção para que os nossos lábios bebam. E, se algum amigo que amamos se retarda, e os beijos não podem tocar o seu rosto, oh! não lance a culpa sobre o amoroso Pai, mas revista a sua tristeza da obediente graça; e breve você saberá que o longo bafejo não é a mais doce dádiva que Deus envia ao seu amigo, e que, às vezes, o atro palio funéreo esconde a mais bela dádiva que o seu amor pode enviar. Se pudermos entreabrir os portais da vida, e pusermo-nos do outro lado deles, e virmos as obras de Deus, teremos a nítida interpretação desta dúvida e deste conflito, e teremos a chave de cada mistério".
Apesar de que a morte física recai sobre o descrente como penalidade do pecado, para todos os que estão unidos em Cristo perde este caráter de penalidade e torna-se um meio de disciplina e entrada na vida eterna. Para o cristão, a morte física não é um castigo: ver SI. 116.15 "Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos"; Rm. 8.10 - "E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça"; 14.8 - "Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos, ou morramos, somos do Senhor"; 1 Co. 3.22 - "seja Paulo, seja Apoio, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro, tudo é vosso"; 15.55 - Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?"; 1 Pe. 4.6 - "porque, por isto, foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens, na carne, mas vivessem segundo Deus, em espírito";
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cf. Rm. 1.18 -"porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça"; 8.1,2 "Portanto, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte"; Hb. 12.6 -"Porque o Senhor corrige o que ama". Dr. Hovey diz que "os atuais sofrimentos dos crentes fazem parte da natureza da disciplina, com aspecto retribuidor; enquanto os dos incrédulos também o são, porém com vistas à reforma". Preferimos dizer que Cristo sofreu toda a pena, e que, para aquele que é justificado em Cristo, o sofrimento, seja qual for, de natureza de castigo paternal, nunca de retribuição judicial.
Nem para o santo, nem para o pecador a morte é cessação de existência. Sustentamos isto contra os que advogam a aniquilação: 1. Sobre bases racionais a) Argumento metafísico. – A alma é um elemento simples, não composto. A morte da matéria é a separação das partes. Mas na alma não há partes a serem separadas. A dissolução do corpo, portanto, não opera necessariamente uma dissolução da alma. Porém, porque há um princípio imaterial no bruto e este argumento tomado em si podia parecer uma prova da imortalidade da criação animal do mesmo modo que ocorre com o homem, passamos à consideração do próximo argumento. Os gnósticos e os maniqueus sustentavam que os animais tinham conhecimento e podiam orar. A imaterialidade da mente do bruto é provavelmente a consideração que levou Leibnitz, o Bispo Butler, Lorde Shaftesbury, Mary Sommerville, James Hog, Toplady, Lamartine e Louis Agassiz a estimular a crença na imortalidade do animal. Agassiz, Essay on Classification, 99 -"A maioria dos argumentos sobre a imortalidade do homem aplica-se igualmente à permanência deste princípio em outros seres vivos". Em outro lugar Agassiz diz a respeito dos animais: "Não posso duvidar da sua imortalidade do mesmo modo que não duvido da minha".
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Lorde Shaftesbury em 1881 assinala: "Eu sempre cri num futuro feliz para os animais; não posso dizer ou conjeturar como ou onde; mas estou certo de que o amor, tão manifesto especialmente pelos cães é uma emanação da essência divina e, como tal, nunca pode extinguir-se, ou melhor, nunca se extinguira". São Francisco de Assis pregava aos pássaros, e chamava o sol, a lua, a terra, a água, as pedras, as flores, os grilos e a morte seus irmãos e irmãs. "Ele não sabia se a irmandade tinha entendido a sua homília; a única coisa que ele sabia é que alguém ouviu claramente o sentido das palavras" (Longfellow, Sermão de S. Francisco de Assis - aos pássaros). "Se a morte dissipa a sagacidade do elefante, por que não a do seu caçador"? Mansel, Metaphysics, 371, sustenta que todo este argumento prova que o opositor não pode mostrar que a alma é composta e não pode mostrar que ela é destrutível. Calderwood, Moral Philosophy, 259 - Os fatos que apontam para o término do nosso estado de existência presente não estão em conexão como a nossa natureza mental, mas com a física". John Fiske, Destiny of the Creature, 110 - "Com a sua ilegítima hipótese da aniquilação o materialista transgride os limites da experiência de um modo tão perfeitamente amplo como o poeta que canta a Nova Jerusalém, com o seu rio da vida e as ruas de ouro. Cientificamente, não há uma partícula de evidência para qualquer um desses pontos de vista". John Fiske, Eternal Life, 80-85 - "Como poderia o homem imortal ter sido produzido através da hereditariedade por meio de um bruto, que é efêmero? Não sabemos. A natureza tem o hábito de dar saltos prodigiosos, mas somente após longa preparação. No tanque, a água sobe vagarosamente, polegada após polegada, por uma mui fastidiosa hora, até chegar ao ponto de transbordamento e, imediatamente, grandes sistemas mecânicos despertam para uma vida ribombante. Vagarosamente o eclipse se torna excêntrico até que, subitamente, o elipse finito torna-se um parabolóide infinito". Ladd, Philos. of Mind, 206 - "A idéia de divisão ou de cisão não se aplica à mente. O argumento da indestrutibilidade da mente que surge da sua inseparabilidade e o argumento pelo qual Kant refutou-a são igualmente absurdos no reino dos fenômenos mentais". Adeney, Christianism and Evolution, 127 -"Este argumento mostra que a natureza nada tem a dizer quanto à imortalidade daquilo que está acima do nível da estrutura física". Lotze: "Tudo aquilo que uma vez se originou durará para sempre visto que
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possui um inalterável valor do sistema coerente do mundo; mas é claro que, em compensação, deixará de ser, se este não for o caso". Bowne, Int. to Pysch. Theory, 315-318 - "Qual a utilidade dos brutos daqui em diante? Resposta: Qual a utilidade deles aqui? ... Aquelas coisas que têm sentido perene para o universo continuarão a existir". Bixby, Crisis in Morals, 203 "Nos seres vivos há sempre uma pressão para maior e mais elevada existência. ... A planta deve crescer, florir, semear as suas sementes, ou secará de uma vez. ... O alvo é produzir consciência e na maior plenitude. ... Os animais de caça e outros inimigos do caminho ascendente de vida devem ser varridos do caminho". Mas, será que o bruto não é uma parte da natureza que se sujeitou à vaidade, e que geme e está com dores de parto e aguarda o dia da sua redenção? A resposta parece ser a de que o bruto, apêndice do homem, não tem um valor independente na criação, não tem capacidade de vida ética ou de comunhão com Deus, que é a fonte da vida e, por isso, não tem garantia de sua continuação. Por outro lado, tem um valor independente. Mas isto é uma antecipação do argumento que vem a seguir. Por enquanto basta assinalar que não há prova de que a consciência depende da conexão da alma com um organismo psíquico. McLane, Evolution in Religion, 261 "Como o corpo pode preservar a sua forma e estar num grau de atuação depois que o elemento psíquico se perde com a remoção do cérebro, assim também o elemento psíquico pode existir e agir segundo a sua natureza depois que o elemento físico deixa de existir". Hovey, Bib. Eschatology, 19 "Se estou numa casa, posso olhar os elementos que estão ao seu redor só através das janelas; mas abra a porta e deixe-me sair de casa e não tenho mais necessidade das janelas". Shaler, Interpretação da Natureza, 295 "Perpetuar a mente após a morte é menos surpreendente do que perpetuar e transmitir a mente aqui por hereditariedade". William James, Essay on Human Immortality, argumenta que o pensamento não é necessariamente uma função produtiva do cérebro; ao invés disso ela pode ser uma função permissiva ou transmissiva. O Pensamento não é fabricado no cérebro, de sorte que, quando este perece, a alma morre. Não é só o órgão da transmissão do pensamento, como a lente o faz com a luz que não é produzida por ela. Atrás e acima do mundo material existe um espiritual. Os nossos cérebros são lugares finos e
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semitransparentes no véu através do qual entra o conhecimento. Savage, Life after Death, 289 - "Você pode, por um certo tempo, ligar um dínamo a uma determinada máquina. Quando você remover a máquina, não terá destruído o dínamo. Pode ligá-lo a uma outra máquina e ter a antiga energia. Do mesmo modo a alma pode não estar confinada ao corpo". Estas analogias parecem-nos insuficientes para provar a imortalidade pessoal. Elas pertencem à "psicologia sem alma" e, conquanto ilustram a persistência do mesmo tipo de vida, não tornam mais provável a continuação da minha consciência individual além dos limites da morte. São inteiramente consistentes com a teoria panteísta de uma reincorporação da existência pessoal no grande todo de que as formas são uma parte. Seth, Hegelianism: "Para Hegel, a imortalidade é tão somente a permanência do Absoluto, o processo abstrato. Isto não é mais consolador do que a existência contínua dos elementos químicos do nosso corpo em novas transformações. A consciência própria do homem é uma centelha no escuro para desaparecer nas trevas de onde surgiu". É a única imortalidade que George Eliot concebe em seu poema denominado, O Coro Imortal: "Oh! que eu possa juntar-me ao coro invisível dos mortos imortais que revivem nas aprimoradas mentes através da presença deles; a vida em impulsos de generosidade em efeitos de ousada retidão, zombando dos miseráveis alvos que terminam no eu, em pensamentos que perfuram a noite como as estrelas, e com a sua branda persistência estimulam a sondagem de realizações mais vastas". Aqueles que sustentam tal imortalidade inconsciente admitem que a morte não é uma separação de partes, mas, ao invés disso, uma cessação da consciência; e que, por isso, conquanto a substância da natureza humana possa resistir, a humanidade pode desenvolver-se em diferentes formas sem a imortalidade individual. Quanto a isto respondemos que a consciência própria do homem e a autodeterminação diferem em gênero da consciência e determinação do bruto. Como o homem pode dirigir a sua consciência própria e sua autodeterminação para os fins imortais, nós temos o direito de crer que tal consciência própria e autodeterminação são imortais. Isto nos leva ao argumento seguinte.
b) Argumento teleológico. – O homem, como um ser intelectual, moral e religioso, não atinge o fim da sua existência na terra. Seu
Teologia Sistemática (Strong) 1946 desenvolvimento aqui é imperfeito. A sabedoria divina não deixaria a sua obra incompleta. Deve haver um além para o pleno desenvolvimento dos poderes do homem e para a satisfação das suas aspirações. Criado diferente do irracional, com capacidade infinita para o progresso moral, deve haver uma existência imortal em que tal capacidade se exercerá. Apesar de que o ímpio não tem direito a este tipo de futuro, temos aqui o argumento a partir do amor de Deus e sabedoria para com a imortalidade do justo. Quanto a este argumento replicamos que muitas vontades corretas são vãs. Mill, Essays on Religion, 294 – "Será que desejo do alimento implica o suficiente para comer agora e para sempre? e daí um suprimento eterno de repolho"? Mas o nosso argumento continua em três pressuposições: 1) que existe um Deus santo e benévolo; 2) que fez o homem à sua imagem; 3) que o verdadeiro fim do homem é a santidade e a semelhança com Deus. Por isso, o que vai responder ao verdadeiro fim do homem será concedido; mas não se trata de repolho – trata-se da santidade e do amor, i.e., o próprio Deus. Contudo, o argumento é valioso apenas em sua aplicação ao justo. Deus não tratará o justo como o tirano de Florença tratou Miguel Ângelo, quando o obrigou a esculpir no gelo uma estátua, que derretia sob os raios do sol. No caso do ímpio, entra a outra lei da retribuição - a expropriação de "até o que ele tem" (Mt. 25.29). Visto que todos somos ímpios, o argumento não satisfaz, a não ser que levemos em conta os fatos da expiação e justificação – dos quais tomamos conhecimento só a partir da revelação. Mas enquanto, tomado em si mesmo, este argumento racional poderia ser chamado defeituoso, e nunca provaria que o homem pode alcançar o seu fim na continuada existência da raça, ao invés do indivíduo, o argumento parece mais valioso como suplemento racional dos fatos já mencionados, e parece certificar ao menos a imortalidade daqueles sobre os quais Deus dirigiu o seu amor e em quem operou os princípios da justiça. Lorde Erskine: Os animais inferiores não têm nenhum instinto ou faculdade que não sejam subservientes aos fins e propósitos do seu ser. A
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razão do homem e as faculdades dotadas do poder de alcançar os mais distantes mundos seriam inúteis se a sua existência terminasse na sepultura". Haveria um desperdício na extinção das grandes mentes. Como a água implica a organização do peixe e o ar a do pássaro, do mesmo modo "a existência do poder espiritual, dentro de nós, de igual modo pressupõe algum ambiente adequado a aguardar o espírito quando estiver livre e aperfeiçoado e, com isso, não houver necessidade do sexo e da morte" (Newman Smyth, Place of Death in Evolution, 106). O botânico alemão Nägeli, diz que a tendência da natureza destina-se à perfeição. No entanto, é difícil supor que a mente comece a despertar antes que as forças corporais declinem (George, Progress and Poverty, 505). O caráter se torna mais firme e mais sólido quando o corpo envelhece e se torna mais fraco. Será que o caráter pode vitalmente implicar o ato da dissolução física"? (Upton, Hibbert Lectures, 353). Se uma divindade racional e moral causou a evolução gradual das idéias da humanidade relativas ao certo e ao errado, e acrescentou-lhe a faculdade de criar ideais éticos não deve ter provido alguma satisfação das necessidades éticas que tal desenvolvimento tenha feito existir? (Balfour, Found, of Belief, 351). Royce, Concepção de Deus, 50 cita Le Conte como segue: "A natureza é o ventre dentro do qual são gerados os filhos de Deus e a evolução é o processo através do qual isto ocorre. Sem a imortalidade, este processo todo é obstado - o processo todo da evolução cósmica é fútil. Estará Deus tão ansioso e em que tão grandes dores atinjam um espírito, capaz de comungar consigo mesmo, e então permitir que caia outra vez na nulidade"? John Fiske, Destino do Homem, 116, aceita a imortalidade do homem através de "um ato supremo de fé na razoabilidade da obra de Deus". Se o homem é o fim do processo criativo e o objeto do cuidado de Deus, então a carreira da alma não pode completar-se nesta vida presente aqui na terra (Newman Smyth, Place of Death in Evolution, 92,93). Bowne, Philos, of Theism, 254 - "Nem Deus nem a vida futura são necessários para pagar-nos a virtude presente, mas tão somente é condição sem a qual a nossa natureza cai em irreconciliável discórdia consigo mesma, e passa para o pessimismo e para o desespero. É impossível um elevado e contínuo esforço sem as correspondentes elevadas e permanentes esperanças. ... Não é mais egoísmo desejar viver daqui para frente do que desejar viver até amanhã". O Dr. M. B. Anderson costumava dizer que deve existir um céu
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para os cavalos, para as lavadeiras, para os presidentes de faculdade porque eles não recebem os seus direitos nesta vida. A vida é uma série de começos em lugar de o término dos fins. Longfellow, sobre Charles Summer: "A morte nos toma de surpresa e detém os nossos velozes pés; o grande desígnio continua infindo, as nossas vidas são incompletas. Mas no tenebroso perfeito desconhecido os seus círculos parecem mesmo o pétreo arco de uma ponte que arqueja na correnteza". Robert Browning, Abt Vogler. "Nunca existirá um bem perdido"; Prospício: "Uma vez iniciada, nenhuma obra jamais cessará com a morte"; "Vem um prazer após outro e o prazer passado converte-se em dor; uma primeira vida requer uma segunda e não considero o seu bem um lucro"; Velhos Quadros em Florença: "Nós somos falhos - por que não? Temos tempo armazenado"; O Funeral do Gramático: "O que é o tempo? Deixe o agora para os cães e macacos; o homem tem o perene". Robert Browning escreveu no testamento de sua esposa o seguinte testemunho de Dante: "Assim creio, assim afirmo, assim estou certo de que, ao partir desta vida, passarei para outra melhor, onde vive aquela Senhora de quem minha alma se enamorou". Ε Browning diz numa carta: "Coisa grande é esta - a maior - que um ser humano deve ter passado a provação da vida e resumir a sua experiência no testemunho do poder e do amor de Deus. ... Vejo uma razão maior para apoiar-me na mesma esperança".
c) Argumento ético. – Neste mundo o homem não é adequadamente punido pelas suas más obras. Nosso senso de justiça nos leva a crer que a administração moral será vindicada na vida futura. A mera extinção do ser não seria a pena suficiente nem permitiria graus de culpa. Portanto, este é um argumento da justiça de Deus para a imortalidade do ímpio. A consciência culpada demanda um estado de punição após a morte. É um argumento a partir da justiça de Deus para a imortalidade dos ímpios como o anterior é um argumento a partir do amor de Deus para a imortalidade do justo. "A história desafia o nosso senso moral dando um fim tranqüilo a Sula" (Lucius Cornelius Sulla Felix). Luís XV e Madame Pompadour morreram nos seus leitos depois de uma vida de fausto extremo. Luís XVI e a sua rainha, apesar de mais justos e puros, pereceram numa
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espantosa tragédia. O destino destes quatro não pode ser explicado pela iniqüidade deste último casal e pela virtude daquele. Alexandre VI, o pior dos papas, aparentemente foi próspero e feliz nas suas iniqüidades. Apesar de culpado pelos mais vergonhosos crimes, ele foi serenamente impénitente e, nos seus últimos dias, desafiou tanto Deus como o homem. Visto que não há execução de justiça aqui, sentimos que deve haver um "juízo vindouro", como o do terrível Félix. Stopford A. Brooke, Justice: "Três homens saíram numa noite de verão, sem se preocupar consigo mesmos ou com o destino; comeram e beberam. 'Antes de irmos embora', disseram, vamos jogar uma partida'. Três moças começaram naquela noite de verão uma vida de infinita vergonha e entregaram-se totalmente à bebida, à doença e à morte tão rapidamente como a velocidade da chama. Iníquas e sem lar morreram as tolas; ricas, amavam e louvavam os homens; mas, quando todas se encontrarem com Deus e a justiça falar, - que será?" G. F. Wilkin, Control in Evolution: "A crença na imortalidade é uma necessidade prática da evolução. Se as decisões de hoje determinarem o nosso destino eterno, então é muito mais importante escolher e agir acertadamente do que preservar a nossa vida terrena. Certos estavam os mártires. A consciência é vindicada. Podemos viver pelo ideal da humanidade. A imortalidade é um instrumento reformador poderoso". Martineau, Study of Religion, 2.388 - "Se a Morte dá uma descarga final tanto no pecador como no santo, a consciência nos tem dito muito mais mentiras do que se pode levar em conta". Shakespeare, Henrique V, 4.2 - "Se [os transgressores] tivessem derrotado a lei e afastado o castigo, embora pudessem exceder aos homens, não teriam asas para voar fugindo de Deus"; Henrique VI, 2ª parte, 5.2 – "Podemos correr mais do que os céus?" Addison, Catão: "Pode ser que sim; Platão, tu raciocinas bem. - Doutra sorte, desde que esta esperança é prazerosa, é isto um desejo agradável, é um anseio pela imortalidade? Ou isto segreda um terrível e interno horror de cair na nulidade? Por que se esconde a alma em si mesma e parte para a destruição? Talvez seja a divindade que agita dentro de nós, é o céu que nos assinala um porvir, e sugere uma eternidade para o homem". Gildersleeve, em The independent, 30 de mar. de 1899 - "Em Fedo, Platão argumenta em favor da imortalidade a partir da alternância dos opostos; a vida deve seguir-se à morte do mesmo modo que a morte deve seguir-se à vida. Mas a alternância dos opostos não é a geração deles. Ele
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argumenta a partir da reminiscência. Mas isto envolve preexistência e um ciclo de encarnações, não a imortalidade que ansiamos. A alma perdura, assim como perdura a idéia, mas não há garantia de que permanece para sempre. Ele argumenta a partir da natureza da alma não composta. Mas não conhecemos a natureza da alma, e isto, quando muito é uma analogia; como a alma é semelhante a Deus, invisível, deve ser permanente como Deus. Mas isso é analogia e nada mais". William James, Will to Belief, 87 - "A analogia com a vida dos nossos animais domésticos nos sugere que a nossa vida física toda está embebida numa atmosfera espiritual, para cuja dimensão do ser atualmente não temos nenhum órgão de apreensão. Os nossos cães, por exemplo, estão em nossa vida humana, mas não fazem parte dela. Eles mordem, mas não sabem o que isso significa; eles se submetem à vivisseção e não sabem o que significa isso". George Eliot, andando com Frederic Myers no Jardim da Trindade dos Companheiros, em Cambridge, "agitou-se além do que desejaria e, tomando com seu texto as três palavras que tem sido empregadas com tanta freqüência como a inspiradora trombeta da chamada dos homens - as palavras Deus, Imortalidade, Dever – pronunciadas com tão terrível fervor quanto inconcebível era a primeira, incrível a segunda e, ainda, quão peremptória e absoluta a terceira". Mas esta idéia de natureza infinita do Dever é criação do cristianismo - a última infinita nunca teria atingido o nível e intensidade se nunca tivesse estado em tão indissolúvel conexão com as outras duas (Forrest, Christof History and Experience, 16). É provável que o argumento ético tenha mais força sobre as mentes do que qualquer outro. O homem crê em Minos e em Radamanto, ou ainda nos Campos Elíseos. Mas, mesmo aqui, pode-se responder que o juízo que a consciência ameaça pode não ser a imortalidade, mas a extinção do ser. Contudo, veremos em nossa discussão sobre a infinitude do castigo futuro, que a simples aniquilação não pode satisfazer o instinto moral que se encontra na base deste argumento. Isto demanda, em cada caso, um castigo proporcional à culpa pela transgressão. A extinção do ser seria o mesmo (castigo) para todos. Como ele não admite graus, do mesmo modo, em qualquer caso, não vindica suficientemente a justiça de Deus. F. W. Newman: "Se o homem não é imortal, Deus não é justo".
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Mas, conquanto este argumento prova a vida e o castigo para os ímpios após a morte, faz-nos depender da revelação para o nosso conhecimento enquanto a vida e o castigo existirem. O argumento de Kant é que o homem luta igualmente pela moralidade e pelo bem-estar; por isso deve haver uma reconciliação futura dos dois no bem-estar ou galardão da virtude. A todos se pode responder, primeiro, que não há virtude tão perfeita como a recompensa merecida; e, segundo, que a virtude é a sua própria recompensa e é o bem-estar.
d) Argumento histórico. – A crença popular de todas as nações e épocas mostra que a idéia da imortalidade é natural na mente humana. Não basta dizer que isto indica apenas o desejo de uma existência terrena contínua necessária à preservação se si mesmo; multidões esperam uma vida além da morte sem desejá-la e multidões desejam uma vida celeste sem cuidar da terrestre. Este testemunho da natureza do homem quanto à imortalidade pode ser considerado o do Deus que fez a natureza. Os testemunhos desta crença popular são apresentados em Bartlett, Life and Death Eternal, prefácio: As cabeças de setas e os vasos de terra postos ao lado do índio morto; o óbolo de prata posto na boca do defunto grego para pagar a passagem a Caronte; a provisão do Livro dos Mortos ao cadáver egípcio, o rolo de papiro contendo a oração que ele deve oferecer e o mapa da sua viagem pelo mundo invisível. Os gauleses não hesitavam em emprestar dinheiro com a condição única de que aquele a quem eles emprestavam o devolvessem na outra vida; tão certos estavam eles de que o receberiam de volta (Valério Máximo, citado em Boissier, La religion Romaine, 1.264). Os lapônios sepultam pedra de isqueiro e mecha com o morto para fornecer luz na viagem escura. Os escandinavos sepultavam o cavalo e a armadura para uma viagem triunfante. Os chineses espalham imagens de papel de carregadores de liteira sobre a sepultura para auxiliar durante a sombria peregrinação. Os groenlandeses sepultam com a criança um cão para guiá-la (George Dana Boardman, Sermon on Immortality). Savage, Life after Death, 1-18 – "Velas na cabeceira do ataúde são representações modernas do fogo do homem primitivo que devia iluminar o caminho da alma na sua escura jornada. ... Ulisses fala do mundo
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subterrâneo com a sombra de Hércules embora o verdadeiro semideus Hércules tivesse sido transferido para o Olimpo e lá vivia em companhia dos deuses. ... O brâmane desejava evitar de ser um renascido. Sócrates: Ό melhor para mim é morrer e ser liberto'. Estou aqui andando sobre uma prancha. Ela vai para o nevoeiro e eu continuo andando. Vejo apenas a uma distância de dez pés adiante de mim. Sei que bem logo devo chegar ao fim daquela prancha; não tenho a mínima idéia para o que e também não creio que alguém o saiba. Ε disto eu não gosto". Matthew Arnold: "Será que não existe outra vida? Atire-a para o alto". Mas sem uma revelação positiva a maioria dos homens dirá: "Comamos e bebamos porque amanhã morreremos" (1 Co. 15.32). "Através da vida apaixonadamente amável, nós tornamos a vida amável em vida desagradável, quando a estreitamos à morte". Theodore Parker: "A intuição da mortalidade está escrita no coração do homem através de uma mão que não escreve coisas falsas. ... Há evidência de um verão embora esteja nos rebentos envoltos através do nosso inverno do norte - florescência na natureza humana incontável se o fim do homem estiver na sepultura". Mas pode-se responder que muitas impressões populares universais provaram-se falsas, tais como a crença nos fantasmas e no movimento do sol em vez da terra. Enquanto a grande parte de homens tem crido na imortalidade, alguns dos mais sábios têm duvidado. Ciro dizia: "Não posso imaginar que a alma viva só enquanto permanece no corpo mortal". Mas as palavras morredouras de Sócrates eram: "Nós partimos; dentro em breve morrerei e você viverá; quem de nós está seguindo o melhor caminho só Deus sabe". Cícero declarava: "Sobre este assunto eu acolho não mais do que conjecturas"; e dizia que, quando lia o argumento de Platão em favor da imortalidade, ele parecia a si mesmo convencido, mas quando lia até ao fim do livro achava que todas as suas dúvidas voltavam. Farrar, Trevas e Aurora, 134 - "Embora Cícero tivesse escrito Controvérsias Tusculanas para provar a doutrina da imortalidade ele a proferia em suas cartas e discursos como simples especulações agradáveis que podiam ser discutidas com interesse, mas sem base prática". Aristóteles, Nic. Ethics, 3.9, chama a morte "a mais temida de todas as coisas ... porque ela parece ser o fim de tudo; e porque o falecido parece ser um bom ou um mau". Esquilo: "De alguém uma vez morto não há ressurrei-
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ção". Catulo: "Cessado o nosso breve dia, devemos dormir uma noite eterna". Tácito: "Se há um lugar para os espíritos dos piedosos; se, como supõem os sábios, as grandes almas não se extinguem com os seus corpos". "Neste se", diz Uhlhorn, "está toda a torturante incerteza do paganismo". Sêneca, Ep. viva - "A morte é não ser"; Troades, V, 393 – Post mortem nihil est, ipsaque mors nihil" - "Após a morte não há nada e a própria morte nada é". Marco Aurélio: Ό que surge da terra para a terra torna a voltar e as coisas nascidas no céu voam para a sua sede nativa". O imperador Adriano para a sua alma: "Animula, vagula, blandula, Hospes comesque corporis, Quae nunc abibis in loca? Pallidula, rígida, nudula". (Almazinha, errantezinha, lisonjeirazinha, Hóspede e companheira do corpo, porque sais agora para os lugares? Palidazinha, rígida, nuazinha". Os escritores clássicos podiam ter dito sobre a alma na morte: "Não sabemos onde está a tocha de Prometeu, que com seu brilho reluz". Chadwick, 184 - "Com o desenvolvimento de tudo o que há de melhor no homem no que diz respeito ao intelecto e ao sentimento desenvolve-se a esperança de uma vida imortal. Se a esperança deste modo desenvolvida não é válida, então temos uma contradição radical na nossa natureza. A sobrevivência do mais adequado aponta na mesma direção". Andrew Marvell (1621-1678) - "Sempre ouço atrás de mim a carruagem voadora que se aproxima vertiginosamente; e, além de tudo, diante de nós estão os desertos e a vasta eternidade". Goethe, nos seus últimos dias de vida, tornou-se um profundo crente na imortalidade. "Você me pergunta quais são as bases desta minha crença? A mais pesada é que não podemos agir sem ela". Huxley escreveu uma carta a Morley: "É curioso que eu me desgosto do pensamento da crescente extinção quanto mais velho e mais próximo do fim eu me encontro. Ele lampeja através de mim sempre que em 1900 provavelmente não conhecerei o que vai acontecer a mais do que aconteceu em 1800. Mais rapidamente eu tinha estado no inferno, em grande parte; de qualquer modo num dos círculos superiores onde o clima e a companhia não são tão tentadores". O livro de Jó mostra quão impossível é para o homem resolver o problema da imortalidade pessoal a partir do ponto de vista da religião simplesmente natural. Shakespeare, Medida por Medida, representa Cláudio dizendo a sua irmã Isabela: "Sim, não há dúvida, mas morrer e ir não se
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sabe para onde. ... Ficar deitado na imutabilidade fria, deixando-se apodrecer. ... Este calor, esta sensibilidade, este movimento, converterem-se num punhado de argila petrificada" (Citação da Ed. da Abril Cultural, 1978, p. 155). Strauss, Glaubenslehre, 2.739 - "O outro mundo é em todos os homens o único inimigo, em seu aspecto de um mundo futuro, contudo, o último inimigo, que a crítica especulativa tem para a luta e, se possível, para a vitória". Omar Khayyam, Rubaiyát, estrofes 28-35 - "Eu vim como a água e como o vento eu vou.... Do centro da terra através do sétimo portal surgi e sentei-me no trono de Saturno. Ε muitos laços desembaraçados pelo caminho. Mas não o nó mestre do destino humano. Lá estava a porta na qual não encontrei nenhuma chave; o véu através do qual eu nada via; havia algumas falas de mim e de ti) e, depois, nem de ti, nem mim. Aterra não respondia, nem os mares lamentavam, na fluente purpura, do seu senhor desnorteado; nem o rolante céu, com todos os sinais revelados e escondidos na manga da noite e da manhã. Então do ti em mim, que opera do outro lado do véu, ergui as mãos para encontrar uma lâmpada, em meio às trevas; e ouvi supostamente do lado de fora – 'O Mim com o Ti cegos'. Então, na borda desta pobre urna de terra inclinei-me e aprendi o segredo da minha vida; e de borda a borda ela murmurou - 'Enquanto você vive, bebe! porque, depois de morto você nunca mais voltará!' ". Assim, "a Caravana do Fantasma chegou e pôs-se do lado de fora". É uma demonstração de desesperança e cegueira e sensualidade do ser humano, quando não tem a revelação de Deus e da vida porvir. O máximo que pode ser reivindicado para este quarto argumento da crença popular é que ela indica um desejo geral de continuar a existir depois da morte e que a idéia é côngrua com a nossa natureza. W. E. Forster dizia a Harriet Martineau que ele preferia ir para o inferno a ser aniquilado. Mas pode-se responder que há razão suficiente para este desejo de viver no fato de que ele garante a existência terrena da raça, que poderia cometer o suicídio sem ele. Há razão suficiente para a existência nesta vida e não temos necessidade de inferir daí uma vida futura. Esta objeção não pode ser plenamente respondida somente a partir da razão. Mas se tomarmos o nosso argumento em conexão com a revelação bíblica sobre o fato de Deus fazer o homem à sua imagem, podemos considerar o testemunho da natureza deste como o testemunho do Deus que o fez.
Teologia Sistemática (Strong) 1955 Concluímos nossa declaração sobre estas provas racionais com o reconhecimento de que elas se apóiam na pressuposição de que existe um Deus da verdade, da sabedoria, da justiça e do amor que fez o homem à sua imagem e que deseja comungar com as suas criaturas. Reconhecemos, contudo, que estas provas nos dão, não uma demonstração absoluta, mas só um balanço da probabilidade em favor da imortalidade do homem. Voltamo-nos, pois, para a Escritura para a clara revelação de um fato de que a razão nos fornece pouco mais que uma pressuposição. Everett, Essays, 76,77 - "Em seu Träume eines Geistersehers [Sonhos de um visionário], Kant préfigura o método da sua Kritik. Ele nos dá um esquema dos espíritos desencarnados e o chama de um pedacinho de filosofia mística (geheimen); depois, o ponto de vista contrário, que ele chama de filosofia (gemeimen) vulgar. A seguir, ele diz que as escalas do entendimento não são totalmente imparciais e a única que tem a inscrição 'Esperança do Futuro' tem uma vantagem mecânica. Ele diz que não pode desvencilhar-se desta injustiça. Admite que o sentimento determina o resultado. Isto é o agnosticismo suplementado pela fé religiosa". As linhas seguintes foram gravadas na tumba o Prof. Huxley: "E se não houver nenhum encontro passado na cova, Se tudo são trevas, silêncio, contudo, ainda é repouso. Não vos amedronteis, Aguardam-vos corações que choram, Porque Deus ainda dá aos seus amados o sono E, se ele quer um intérmino sono, tanto melhor". Contraste esta consolação com: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também" (Jo. 14.1-3). Dorner: "Não há nenhuma evidência racional que force a crer na imortalidade. Esta tem o seu penhor no fato de que Deus fez o homem à sua imagem e no desejo que Deus sente de ter comunhão com o homem". Luthardt, Compendium, 289 - "A verdade nestas provas da razão está na idéia da pessoalidade humana e sua relação com Deus. A crença em Deus é a pressuposição universal e o fundamento da crença universal na
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imortalidade". Quando Strauss declara que a sua crença na imortalidade é o último inimigo a ser destruído, ele se esquece de que a crença em Deus é ainda mais inerradicável. Frances Power Cobbe, Life, 92 - "A doutrina da imortalidade é para mim o indispensável corolário da bondade de Deus". Hadley, Essays, Philolologichal and Critical, 362-379 – "A reivindicação da imortalidade pode basear-se numa ou noutra suposição: 1) O mesmo organismo se reproduzirá daqui em diante e as mesmas funções, ou parte delas, outra vez manifestadas em conexão com ele e em companhia da consciência da identidade contínua; ou 2) As mesmas funções podem ser exercidas e acompanhadas da consciência de identidade embora não em conexão com o mesmo organismo anterior; podemos, de fato, prosseguir sem interrupção sem mesmo haver o lapso da morte, apesar de não mais manifesto a nós". Temos a seguinte conclusão: "A luz da natureza, quando dirigida toda para esta questão, nos apresenta a pressuposição em favor da imortalidade, mas não uma pressuposição tão forte a ponto de excluir as grandes e razoáveis dúvidas sobre o assunto".
2. Em bases escriturísticas a) O relato da criação do homem e as subseqüentes alusões a ela na Escritura mostram que, conquanto o corpo foi feito corruptível e sujeito à morte, a alma foi feita à imagem de Deus, incorruptível e imortal. Gn. 1.26,27 - "Façamos o homem à nossa imagem"; 2.7 - "Ε ο Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou nas suas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente" - aqui, como já ficou demonstrado quando tratamos do Estado Original do Homem, p. 523, o que é formado do pó da terra não é a imagem divina, mas o corpo; e é neste corpo que foi soprada a alma que possui a imagem divina. Em toda a parte, nos registros hebraicos, a alma animada distingue-se do corpo terreno. Gn. 3.22,23 - "Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que não estenda a sua mão, e tome também a árvore da vida, e coma, e viva eternamente, o Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden" - o homem tinha a imortalidade da alma e, agora, para que não acrescentasse a imortalidade do corpo, ele foi tolhido da árvore da vida. Ec. 12.7 - Ό pó volte
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à terra como era, e o espírito volte a Deus que o deu"; Zc. 12.1 - Ό Senhor, que estende o céu, e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele". Mt. 10.28 - "E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo"; At. 7.59 - "E apedrejavam a Estêvão, que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito"; 2 Co. 12.2 - "Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos (se no corpo, não sei; se fora do corpo não sei; Deus o sabe), foi arrebatado até o terceiro céu"; 1 Co. 15.45,46 - "O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante. Mas não é o primeiro o espiritual senão o animal; depois o espiritual" = o primeiro Adão se fez um ser cujo corpo era psíquico e mortal um corpo de carne e sangue que não podia herdar o reino de Deus. Deste modo Paulo não diz que o espiritual é primeiro, mas sim o psíquico; mas não há nenhuma indicação de que a alma também foi criada mortal e necessitava de recursos exteriores, como a árvore da vida antes de tornarse imortal. Mas pode-se perguntar: Em 1 Co. 15 não se fala de tudo isto a respeito dos regenerados – a quem se comunicou um novo princípio de vida? Respondemos, sim; mas isto não nos impede de aprender na passagem a imortalidade natural da alma; porque na regeneração não há mudança da essência, não se transmite uma nova substância, não se acrescenta uma nova faculdade ou elemento constitutivo, e não se infunde um novo princípio de santidade. A verdade é tão somente que o espírito é moralmente reajustado. Savage, Life after Death, 46,53 - "A palavra traduzida por 'alma' em Gn. 2.7, é a mesma que em outras partes do V.T. se emprega para denotar o princípio vital dos animais. Não se segue que implica imortalidade, porque, neste caso todos os animais seriam imortais. ... O firmamento dos hebreus era uma cobertura de uma travessa de jantar sólida, mas com poucas janelas que permitisse a queda da chuva. Acima deste firmamento estava o céu onde Deus e os anjos ficavam, mas onde não entrava ö povo. Todos foram para baixo. Mas o senso moral em desenvolvimento sustentava que o bem não podia estar aprisionado no Hades. Foi assim que veio a idéia da
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ressurreição. ... Se uma força, um universo com Deus posto de lado, pode fazer tudo o que tem sido feito, não vejo por que não posso também continuar a minha existência através do que se chama morte". Dr. H. Heath Bawden: "Tão somente a criatura que nasceu morrerá. A Monera e a Ameba são imortais, como nos diz Weismann. Elas não morrem porque nunca nascem. A morte do indivíduo como um somático ocorre por causa do indivíduo na imortalidade germinal da maior vida futura. Deste modo nós mesmos tanto vivemos espiritualmente em nossos filhos como fisicamente. Um organismo nada é senão um centro ou foco através do qual surge o mundo. O que importa se a irrelevante porção somática se perde naquilo que chamamos morte! A única imortalidade possível é a de função. O meu corpo tem mudado completamente desde a minha infância, mas eu me tornei mais eu mesmo a partir de então. O nascimento e a morte marcam passos ou estágios no desenvolvimento de tal indivíduo que, em sua própria natureza não excluem, ao contrário incluem, dentro de si a vida de todos os outros indivíduos. O indivíduo é mais do que um membro passivo; ele é um órgão ativo do todo biológico. As leis da sua vida são o organismo social funcionando em um dos seus órgãos. Ele vive se move e existe no grande espírito do todo que entra em foco ou floresce na sua vida consciente".
b) O relato da maldição em Gênesis e as subseqüentes alusões a ela na Escritura mostram que, conquanto a morte inclui a dissolução do corpo, não inclui a cessação do ser no que se refere à alma, mas só designa aquele estado da alma que é o oposto da verdadeira vida, a saber, um estado de banimento relativo a Deus, de falta de santidade e de miséria. Gn. 2.17 - "no dia em que dela comeres, certamente morrerás"; cf. 3.8 "e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus"; 16-19 banimento do jardim do Éden e da árvore da vida. Mt. 8.22 - "Segue-me e deixa aos mortos sepultar os seus mortos"; 25.41,46 - "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno.... Ε irão estes para o tormento eterno"; Lc. 15.32 - "Este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado"; Jo. 5.24 - "Aquele que ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da
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morte para a vida"; 6.47,53,63 - "aquele que crê em mim tem a vida eterna. ... se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. ... as palavras que eu vos disse são espírito e vida"; 8.51 - "se alguém guardar a minha palavra nunca verá a morte". Rm. 5.21 - "para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna"; 8.13 - "se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vive-reis"; Ef. 2.1 - "estando vós mortos em ofensas e pecados" 5.14 "Desperta, ó tu que dormes, e levanta-se dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá"; Tg. 5.20 - "aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados"; 1 Jo. 3.14 -"Nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos"; Ap. 3.1 - "Eu sei as tuas obras, que tens o nome de que vives e estás morto". Devemos interpretar os termos do V.T. pelo sentido que o N.T. lhes dá. Devemos interpretar o hebraico pelo grego, não o grego pelo hebraico. Nunca se faz interpretar o emprego dos nossos missionários das palavras chinesas para "Deus", "espírito", "santidade" pelo emprego de tais palavras pelos chineses antes da chegada dos missionários. Pelo emprego mais tardio do N.T., o Espírito Santo nos mostra qual o sentido que ele dá ao V.T.
c) As expressões escriturísticas apresentadas pelos aniquilacionistas como implicando a cessação do ser ímpio são empregadas não só em conexões onde não podem ter este sentido (Et 4.16), mas em conexões onde implicam o oposto. Et 4.16 – "perecendo, pereço"; Gn. 6.11 - "A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus" - aqui, na LXX, a palavra έφθάρη, que se traduz por "estava corrompida", é a mesma palavra que em outros lugares é interpretada pelos aniquilacionistas como significando extinção do ser. Em SI. 119.176, "Desgarrei-me como a ovelha perdida" não pode significar "eu me desgarrei como uma ovelha aniquilada". Is. 49.17 - "os teus destruidores [aniquiladores?] e os teus assoladores sairão para fora de ti";
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57.1,2 - "Perece [é aniquilado?] o justo e não há quem considere isso no seu coração; e os homens compassivos são retirados, sem que alguém considere que o justo é levado antes do mal. Ele estará em paz; descansarão em suas camas os que houverem andado na sua retidão"; Dn. 9.26 - "E, depois de sessenta e duas semanas será tirado [aniquilado?] o Messias". Mt. 10.6,39,42 - "as ovelhas perdidas da casa de Israel. ... quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á. ... de modo algum perderá o seu galardão" - nestes versos não podemos empregar "aniquilar" em lugar de "perder"; At. 13.41 -"Vede, ó desprezadores, e espantai-vos e desaparecei"; cf. Mt. 6.16 - "porque desfiguram o rosto" - onde se emprega a mesma palavra αφανίζω. 1 Co. 3.17 - "Se alguém destruir [aniquilar?] o templo de Deus, Deus o destruirá"; 2 Co. 7.2 - "a ninguém corrompemos" - onde se emprega a mesma palavra φθείρω. 2 Ts. 1.9 - "os quais, por castigo, padecerão a eterna perdição ante a face do Senhor e a glória do seu poder" = o ímpio será tirado da presença de Cristo. Destruição não é aniquilação. "Destruição de" = separação. Ό navio encalhado num banco de areia está destruído; um templo demolido e desabitado está destruído"; ver Lillie, Com. in loco. 2 Pe. 3.7 - "Dia do Juízo e perdição dos homens ímpios" - aqui a palavra "destruição" (απώλειας) e a mesma que se emprega para o fim da ordem presente das coisas e se traduz como "perecer" no v. 6. "Não podemos, conseqüentemente inferir daí que os ímpios deixarão de existir, mas que haverá apenas uma grande mudança de caráter penal na condição deles" (Plumptre, Com. in loco.
d) As passagens apresentadas para provar a aniquilação do ímpio na sua morte não podem ter este sentido, visto que as Escrituras predizem uma ressurreição dos injustos assim como dos justos; e uma segunda morte ou miséria de alma e corpo novamente unidos, no caso do ímpio. At. 24.15 - "há de haver ressurreição de mortos, tanto dos justos quanto dos injustos"; Ap. 2.11 – "O que vencer não receberá o dano da segunda morte"; 20.14,15 - "E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. Ε aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo"; 21.8 - "a sua parte será no lago que
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arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte". A "segunda morte" é a primeira intensificada. Ter a sua "parte no lago de fogo" não é aniquilação. De igual modo a palavra "vida" não deve ser interpretada como significando a continuação do ser, mas a sua perfeição. Como a morte não é a perda da vida, mas de tudo o que torna a vida conveniente, do mesmo modo a vida é a posse do mais elevado bem. 1 Tm. 5.6 - "mas a que vive em deleites, vivendo, está morta" - aqui se trata da morte espiritual e está implícito que a verdadeira vida é a espiritual. Jo. 10.10-"Eu vim para que tenhais vida e a tenhais em abundância" - implica que essa "vida" não é: 1. mera existência, porque esta eles a tinham antes que Cristo viesse; nem 2. mero movimento, como os esquilos, que giram e giram, sem fazer progresso; nem 3. mera posse, "porque a vida do homem não consiste na abundância do que possui" (Lc. 12.15). Mas a vida é: 1. a relação justa das nossas forças, ou santidade; 2. o emprego justo das nossas forças, ou do amor; 3. o número justo das nossas forças ou plenitude; 4. a intensidade justa das nossas forças, ou energia da vontade; 5. o ambiente justo das nossas forças, ou sociedade; 6. a fonte justa das nossas forças, ou Deus.
e) As palavras empregadas na Escritura para denotar o lugar dos espíritos que partiram não têm em si nenhuma implicação de aniquilação e as alusões à condição dos que partiram mostram que a morte, para os escritores do V.T. e do N.T., apesar de indicarem o término da existência terrena do homem, não indicam a extinção do ser ou da consciência. Sobre lwav sheol, Gesenius, Lexicon, 10ª ed., diz que, embora normalmente se explique que lwav é o infinitivo de lav, demandar, sem dúvida aliado a lev (da raiz lv), afundar, e = a 'afundando', 'profundo', ou 'lugar coberto de água ou profundo'. "Αιδης, Hades, = não 'inferno', mas o 'mundo invisível', concebido pelos gregos como um estado do ser, sombrio mas não inconsciente. Genung, Epopéia da Vida Interior, sobre Jó 7.9 "sheol, palavra hebraica que designa a habitação invisível dos mortos; palavra neutra não pressupondo nem miséria nem felicidade e não raro empregada com a mesma freqüência com que empregamos 'sepultura', o lugar final de repouso indefinido de todos".
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Gn. 25.8,9 – Abraão "foi congregado ao seu povo. Ε sepultaram-no Isaque e Ismael, seus filhos, na cova de Macpela". "Contudo, o pai de Abraão foi sepultado em Harã e os seus mais remotos ancestrais em Ur dos caldeus. Do mesmo modo se diz que a geração de Josué 'se ajuntou a seus pais' apesar de que a geração que os precedeu pereceu no deserto e as gerações anteriores morreram no Egito" (W. H. Green, em S.S. Times). Assim também de Isaque em Gn. 35.29, e de Jacó em 19.29,33; dos quais todos reuniram-se a seus pais antes de serem sepultados. Nm. 20.24 - "Arão recolhido será a seu povo" - aqui está claro que "recolhido a seu povo" é algo diferente do sepultamento. Dt. 10.6 - "Ali faleceu Arão e ali foi sepultado". Jó 3.13,18 -"Porque já agora jazeria e repousaria; dormiria e, então haveria repouso para mim; Ali os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do exator"; 7.9 -"Tal como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir"; 14.22 - "Mas a sua carne, nele, tem dores; e a sua alma, nele, lamenta". Ez. 32.21 - Os mais poderosos dos valentes lhe falarão desde o meio do inferno"; Lc. 16.23 - "E, no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio"; 23.43 - "Hoje estarás comigo no Paraíso"; cf. 1 Sm. 28.19 - Samuel disse a Saul na sepultura de En Dor: "amanhã tu e teus filhos estareis comigo" evidentemente não em estado inconsciente. Muitas destas passagens sugerem uma continuidade de consciência após a morte. Apesar de que o Sheol é desconhecido do homem, é claro e aberto para Deus (Jó 26.6); ele pode encontrar lá homens para redimi-los de lá (SI. 49.15) - prova de que a morte não é aniquilação.
f) Os termos e expressões que têm sido sustentados para declarar a cessação absoluta da existência na morte são freqüentemente metafóricos e basta um exame deles em conexão com o contexto e com outras passagens para mostrar a insustentabilidade da interpretação literal proposta pelos aniquilacionistas e provar que se trata simplesmente de uma linguagem de aparência. Freqüentemente a morte é designada como um "sono" ou uma "sonolência"; ver Jo. 11.11,14 – "Lázaro, nosso amigo dorme, mas vou despertá-lo do sono. ... Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está
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morto". Aqui está sendo empregada a linguagem da aparência; apesar de que esta linguagem poderia não ter sido usada, se não se tivesse concebido a alma como viva, embora separada do corpo. Deste modo usa-se a linguagem da aparência em Ec. 9.10 - "no Sheol para onde vais não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma" - e em SI. 146.4 - "Sailhes o espírito, e eles tornam para sua terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos". Ver Mozley, Essays, 2.171 - "Estas passagens freqüentemente descrevem os fenômenos da morte como se apresentam aos nossos olhos e, deste modo, não entram na realidade que ocorre sob ela". Bartlett, Life and Death Eternal, 189-358 - "Porque a mesma palavra hebraica é empregada para 'espírito' e para 'fôlego', diríamos que o espírito é apenas o fôlego? 'Coração' em inglês pode igualmente significar apenas o órgão material; e o coração de Davi, ofegante, sedento, derretendo-se dentro dele teria de ser interpretado literalmente. Assim o homem pode ser 'devorado pela avareza', conquanto o seu ser ainda não está extinto, mas em estado de atividade terrível".
g) A crença judaica em uma existência consciente após a morte é prova de que a teoria da aniquilação se apóia numa falsa interpretação da Escritura. Que tal crença na imortalidade da alma existia entre os judeus é abundantemente evidente: do conhecimento em um estado futuro possuído pelos egípcios (At. 7.22); dos relatos da trasladação de Enoque e de Elias (Gn. 5.24; cf. Hb. 11.5; 2 Re. 2.11); da invocação dos mortos que era praticada, apesar de proibida pela lei (1 Sm. 28.7-14; cf. Lv. 20.27; Dt. 18.10,11); das alusões à ressurreição no V.T., da retribuição futura e vida além-túmulo (Jó 19.25-27; SI. 16.9-11; Is. 26.19; Ez. 37.114; Dn. 12.2,3,13); e das declarações distintas de tal fé por Filo e por Josefo assim como pelos escritores do N.T. (Mt. 22.31,32; At. 23.6; 26.6-8; Hb. 11.13-16). O caixão egípcio era chamado de "a caixa do vivente". Os egípcios chamavam as suas casas de "hospedarias", enquanto as suas tumbas eram chamadas de suas "casas eternas" (Butcher, Aspectos do Gênio Grego, 30).
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Ver o Livro dos mortos, traduzido por Birch, em Lugar do Egito de Bunsen, 123-333: As principais idéias da primeira parte do Livro dos Mortos são "vivendo outra vez após a morte e renascendo como o sol", que tipifica a ressurreição egípcia (138). O defunto revivia depois da morte (134). Osíris vive depois que morre, como acontece com o sol diariamente; porque, como o sol morreu e nasceu ontem, assim Osíris renasce" (164). Contudo, a parte imortal, em sua existência contínua, depende da bênção sobre a preservação do corpo; e por esta razão o corpo era embalsamado. A imortalidade do corpo é tão importante como a passagem da alma para as regiões superiores. O desenvolvimento ou reparação natural do corpo é inovada tão fervorosamente como a passagem da alma. Nele não há nenhum membro sem um deus; Tot está vivificando os seus membros" (197). Maspero, Recueil de Travaux, dá as seguintes leituras das paredes interiores das pirâmides a doze milhas ao sul de Cairo: "Ó Unas, tu afastaste a morte, mas vivendo"; "Téti é a morte vivente"; "Levanta-se, ó Téti, para não morreres mais"; "Ó Pépi, tu não morres mais"; estas inscrições mostram que, para os egípcios, há vida após a morte. "A vida de Unas é duração; o seu período é a eternidade"; "Eles te tornam feliz por toda a eternidade"; "Aquele que te deu a vida e a eternidade é Rá"; aqui vemos que a vida além morte é eterna. "Ressurgindo em sua força, reunindo os seus membros que estão na tumba, lá vai Unas"; "Unas tem seu coração, suas pernas, seus braços"; isto garante a nova união com o corpo. "Novamente unido à tua alma, tomas o teu lugar entre as estrelas do céu"; "a alma é tua dentro de ti"; há uma nova união com a alma. "Nasceu um deus; é Unas"; "Ó Rá o teu filho vem a ti; este Unas vem a ti"; "Ó Pai de Unas, permite que ele seja incluído no número dos deuses perfeitos e sábios"; aqui se ensina que a alma e o corpo novamente unidos se tornam um deus e habitam com os deuses. Howard, Osgood: Osíris, filho dos deuses, veio morar na terra. Sua vida foi um padrão para os outros. Ele foi morto pelo deus do mal, mas readquiriu o seu corpo, reviveu e tornou-se, no outro mundo, o juiz de todos homens". Tiele, Egyptian Religion, 280 - "Tornar-se como o deus Osíris, benfeitor, bom ser, perseguido, mas justificado, julgado, mas declarado inocente, visto como o ideal de cada homem piedoso, condição para se obter a vida eterna e um meio através do qual continuar a garanti-la". Ebers,
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Études Archéologiques, 21 – Os textos contidos nas pirâmides nos mostram que, nos tempos dos faraós da 5ª dinastia (antes de 2500 AC), a doutrina de que os mortos se tornavam deuses ainda não era corrente, porém desenvolveu-se mais completamente e com muito mais vôos de imaginação do que podemos esperar das simples afirmações a respeito do outro mundo que até agora nos é conhecido desde os tempos remotos". Revillout, sobre a Ética Egípcia, em Bíblia Sacra, julho, 1890.304 - "Uma impecaminosidade quase absoluta era para o egípcio a condição para tornar-se outro Osiris e gozar da felicidade eterna. Do lado penitencial, tão altamente desenvolvido entre os babilônios antigos e hebreus, que deram surgimento a tantos admiráveis salmos penitenciais, encontramos um traço entre os egípcios. Impecaminosidade é a regra; o morto se orgulha de ser um herói de virtude". Contudo, os egípcios em absoluto não reconheciam a transmigração das almas. É moralmente impossível que Moisés não tenha conhecido a doutrina egípcia da imortalidade: At. 7.22 – "E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios". Que Moisés não fez a doutrina mais proeminente em seus ensinos, pode dever-se ao fato de que ela está em conexão com as superstições egípcias a respeito de Osíris. Entretanto, os judeus criam na imortalidade: Gn. 5.24 - "E andou Enoque com Deus; e não se viu mais, porquanto Deus para si o tomou"; cf. Hb. 11.5- "Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte"; 2 Re. 2.11 - 'e Elias subiu ao céu num redemoinho"; 1 Sm. 28.7-14-a invocação de Samuel por uma mulher de En dor; cf. Lv. 20.27 - "Quando, pois, algum homem ou mulher tiver em si espírito adivinho ou for encantador, certamente morrerão"; Dt. 18.10,11 "Em ti não se achará quem ... consulte espírito adivinhante, nem mágico [feiticeiro], nem quem consulte os mortos [necromante]". Jó 19.25-27 - "Eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. Ε depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão; e, por isso, o meu coração se consome dentro de mim"; SI. 16.9-11 -"Portanto, está alegre o meu coração e se regozija a minha glória; também a minha carne repousará segura. Pois não deixarás a minha alma no inferno [sheol], nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há abundância de alegrias; à tua mão direita há delicias perpetuamente"; Is. 26.19 - Os teus mortos viverão, os
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teus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos"; Ez. 37.1-14-0 vale dos ossos secos - "abrirei as vossas sepulturas, e vos farei sair das vossas sepulturas, ó povo meu" profecia sobre a restauração baseada na idéia da imortalidade e da ressurreição; Dn. 12.2,3,13 -Έ muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. Os entendidos, pois, resplandecerão como o resplendor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas, sempre e eternamente. ... Tu, porém, vai até o fim; porque repousarás e estarás na tua sorte até o fim dos dias". Josefo, sobre a doutrina dos fariseus, em Antigüidades, xviii. 1.3, e Guerras dos Judeus, ii. 8.10-14 - "As almas têm um vigor imortal. Debaixo da terra há galardão e castigo. Os ímpios estão detidos na prisão perene. Os justos terão poder para reviver e viver outra vez. Na verdade os corpos são corruptíveis, mas as almas continuam isentas da morte eterna. Mas a doutrina dos saduceus é de que as almas morrem com os seus corpos". Mt. 22.31,32 -"Mas, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos". O argumento de Cristo, na passagem citada, apóia-se em duas suposições implícitas: primeira, o amor nunca deixará que o objeto da sua afeição morra; seres que sempre têm sido objeto do amor de Deus sê-lo-ão para sempre; em segundo lugar que corpo e alma se pertencem normalmente e estão juntos; se corpo e alma separam-se temporariamente, eles se unirão; Abraão, Isaque e Jacó estão vivos e, por isso, ressuscitarão. Trata-se apenas de uma aplicação do mesmo princípio, quando Robert Hall abandonou o seu primitivo materialismo ao olhar para o fundo da sepultura do seu pai; sentiu que isto não podia ser o fim; cf. SI. 22.26 - "o vosso coração viverá eternamente". At. 23.6 - "sou fariseu, filho de fariseu! No tocante à esperança e ressurreição dos mortos sou julgado"; 26.7,8 - "Por esta esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos judeus. Pois que? Julgase coisa incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos"? Hb. 11.13-16 esta vida presente foi contada como uma peregrinação; os patriarcas procuravam "uma pátria melhor, isto é, a celestial" cf. Gn. 47.9.
Teologia Sistemática (Strong)
1967
O argumento para a própria imortalidade pressupõe, não só a existência de um Deus, mas a de um Deus verdadeiro, sábio, e benévolo. Quase podemos dizer que se deve provar Deus e imortalidade ao mesmo tempo; como dois pedaços de uma cerâmica quebrada, quando reunidas são provas recíprocas entre si. E, ainda, logicamente só a existência de Deus é intuitivamente certa. A imortalidade é uma inferência disso. Henry More: "Mas as almas que participam da sua própria vida boa ele as ama como a si mesmo; são para ele caras como são para ele os seus próprios olhos; ele nunca as abandonará; quando morrerem, então o próprio Deus morrerá; elas vivem, elas vivem numa bendita eternidade". Deus não poderia deixar Cristo morrer e também não pode deixar que morramos. Southey: "Pecam aqueles que nos dizem que o amor pode morrer. Com a vida voam outras paixões; todas as outras são apenas vaidade. No céu não pode habitar ambição nem a avareza nas abóbadas do inferno; elas perecem onde nascem; mas o amor é indestrutível". Emerson, Trenodia sobre a morte do seu amado e dotado filho: "Que excelente é, como Deus vive e é permanente: os corações são pó, o amor permanece; o amor do coração te encontrará outra vez". Whittier, Snowbound, 200 sq. - "Ainda que o amor durma, e a fé confie (visto que aquele que conhece as nossas necessidades é justo), esse algo, em algum lugar, devemos encontrar. Ai daquele que nunca vê as estrelas brilharem através dos ciprestes! Quem desesperançado deixa-se fenecer, nem dirige os seus olhos para ver o romper do dia através das suas lamentadoras peças de mármore! Quem não aprendeu, nas horas de fé, a verdade a encarnar e o desconhecido senso, que a vida é sempre a senhora da morte e o amor desaparece". O Rio de São João em New Brunswick desce dezessete pés entre a cidade e o mar e os navios não podem vencer o obstáculo, mas quando a maré sobe, a corrente muda de direção e conduz as embarcações até à cidade. Deste modo, as leis da natureza trazem a morte, mas as marés de Cristo agem contra elas e trazem a vida e a imortalidade. (Dr. J. W. A. Stewart). Mozley, Lectures, 26-59, e Ensaios 2.169 - "Entre os judeus, a verdadeira religião tinha uma evidência de imortalidade na sua posse de Deus. Com a perda dos amigos, o paganismo não tinha esperança, porque o sentimento nunca avançava além dos seus objetivos terrenos e, por isso, ao
Teologia Sistemática (Strong)
1968
perdê-la, perdia tudo. Mas o amor religioso, que ama a criatura no Criador, tem aquilo a que recorre, quando se remove o seu objeto terreno".
h) A mais impressionante e conclusiva de todas as provas da imortalidade, contudo, é fornecida na ressurreição de Jesus Cristo, obra realizada pelo seu próprio poder demonstrando que o espírito vivia após a sua separação do corpo (Jo. 2.19,21; 10.17,18). A sua volta do túmulo prova que a morte não é aniquilação (2 Tm. 1.10). Jo. 2.19,21 - "Jesus respondeu e disse-lhes: Derribai este templo e em três dias o levantarei. ... Mas ele falava do templo do seu corpo"; 10.17,18 "Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. ... tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la"; 2 Tm. 1.10 - "nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho" - isto é, a imortalidade tinha sido uma verdade obscuramente reconhecida, suspeitada e aguardada com ansiedade antes da vinda de Cristo; mas foi ele quem primeiro tirou-a da obscuridade e incerteza para a clareza meridiana e o poder convincente. Contudo, a ressurreição de Cristo traz consigo a ressurreição do seu povo: "Nós dois estamos tão juntos, estando na glória, não me deixará para trás". Cristo ensinou a imortalidade: 1) Apresentando ele mesmo a perfeita concepção da vida humana. Quem poderia crer que Cristo se tornaria definitivamente extinto? 2) Pela sua verdadeira volta dalém da sepultura. Houve muitas especulações acerca do continente transatlântico antes de 1492, mas isto mereceu pouca atenção comparando com a verdadeira palavra que Colombo trouxe de um mundo novo do além mar. 3) Provendo um caminho através do qual a sua vida espiritual e vitória podem tornar-se nossas; de sorte que, embora passemos pelo vale da sombra da morte, não tenhamos medo de nenhum mal. 4) Ganhando, deste modo, autoridade para ensinar-nos a ressurreição dos justos e dos ímpios, como na verdade ele o faz. A ressurreição de Cristo não é só a melhor prova da imortalidade, como não temos nenhuma evidência exata da imortalidade sem ela. Hume sustenta que a mesma lógica que provou a imortalidade a partir só da razão também provaria a preexistência. Diz ele: "Na realidade, é o evangelho, e apenas o evangelho que traz à luz a imortalidade". Isto é verdade embora a possibilidade seja expressa em tom de zombaria.
Teologia Sistemática (Strong)
1969
Há necessidade desta revelação. O temor da morte, mesmo depois da vinda de Cristo, mostra quão desesperançada é a humanidade por natureza. Krupp, o grande alemão inventor do canhão, não mencionou a morte em seu estabelecimento. Ele fugia dos seus próprios parentes que morriam. Com tudo isso, ele morreu. Mas para o cristão, a morte é um êxodo, uma liberação das âncoras, a vinda à sua terra. Nós aqui somos como navios nos estaleiros; na morte somos lançados no nosso verdadeiro elemento. Antes da ressurreição de Cristo, havia o crepúsculo; agora a aurora. Balfour: "A morte é o descer da cortina, não ao fim da peça, mas ao fim do ato". George Dana Boardman: "Cristo é a ressurreição e a vida. Sendo ele mesmo o Filho do Homem - o arquétipo, representante da natureza humana, o cabeça e epítome da humanidade - esta ideal, potencial, virtualmente ressuscitada, quando o Filho do Homem ressuscitou. Ele é a ressurreição porque é a vida. O corpo não dá a vida a si mesmo, mas ela o sustenta e o utiliza". George Adam Smith, Yale Lectures: "Alguns dos salmistas têm somente a esperança da imortalidade do corpo. Mas isto não é tudo. Não satisfaz Israel. Não pode satisfazer o homem dos nossos dias. O V.T. costuma lembrar-nos que a esperança da imortalidade está em segundo plano, subordinada e é dispensável à experiência religiosa. Melhor seria que o homem começasse a operar por amor a Deus, não com vistas a um galardão futuro. A forma como V.T. desenvolve o tema da imortalidade devese, principalmente, ao fato de que, da parte de Deus, ele deduz toda a imortalidade". Atanásio: "Por natureza, O homem é mortal, feito de coisas perecíveis. Mas por sua semelhança com Deus ele pode pela piedade salvaguardar e escapar da sua mortalidade natural e permanecer indestrutível se conservar o conhecimento de Deus, ou perder a sua incorruptibilidade se perder a sua vida em Deus" (citado em McConnell, Evolution of Immortality, viii, 46-48). Justino Mártir, Apology, 17, aguarda a ressurreição tanto dos justos como dos injustos; mas em Dial. Tryph., 5, ele expressamente denuncia e descarta a doutrina platônica de que a alma é imortal. Atenágoras e Tertuliano sustentam uma imortalidade nativa e com ela defendem a ressurreição física. Mas Teófilo, Irineu, Clemente de Alexandria, juntamente com Atanásio, consideram isso um erro pagão.
Teologia Sistemática (Strong) II. ESTADO INTERMEDIÁRIO
1970
As Escrituram afirmam a existência consciente tanto dos justos quanto dos ímpios após a morte e antes da ressurreição. No estado intermediário a alma não tem corpo embora este estado seja de regozijo consciente dos justos e de sofrimento consciente dos ímpios. Que os justos não recebem o corpo espiritual na morte é claro em I Ts. 4.16, 17 e I Co. 15.52, onde se sugere um intervalo entre o tempo de Paulo e a ressurreição dos que dormiram. A ressurreição deve ocorrer no futuro, "ao soar da trombeta". Assim a ressurreição dos ímpios não tinha ocorrido em um só caso (2 Tm. 2.18 - é um erro dizer que a ressurreição já "ocorreu"); é ainda futura (Jo. 5.28-30 - "é chegada a hora" - έρχεται ώρα, não και νυν έστιν -"e é agora" como no ν. 25 ; At. 24.15 - "haverá uma ressurreição" - άνάστασιν μέλλειν εσεσθαι). Cristo é as primícias (I Co. 15.20.23). Se os santos tivessem recebido o corpo espiritual na morte, os patriarcas teriam ressuscitado antes de Cristo. 1. A respeito dos justos, declara-se a) Que a alma do crente, ao separar-se do corpo, entra na presença de Cristo. 2 Co. 5.1-8 - "se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna nos céus. E, por isso, gememos desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados, não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.... desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor" - Paulo espera esquivar-se da violenta separação da alma em relação ao corpo, como se fosse, acima do presente (έπενδύσασθαι); contudo, quer vivo até a vinda de Cristo, quer não, ele sabia que a alma, ao deixar o corpo, estaria com o Senhor.
Teologia Sistemática (Strong)
1971
Lc. 23.43 – "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso"; Jo. 14.3 - Έ, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também"; 2 Tm. 4.18- "O Senhor me livrará de toda a má obra e guardar-me-á para o seu Reino celestial" = me salvará e me porá no reino celestial (Ellicott), característica da presença visível do Reino com os seus súditos. É nosso privilégio estar com Cristo aqui e agora. Ε nada nos separará de Cristo e do seu amor, "nem a morte, nem a vida ... nem o presente nem o porvir" (Rm. 8.38); porque ele mesmo disse: "Eis que estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos" (Mt. 28.20).
b) Que os espíritos dos que partiram estão com Deus. Hb. 12.23 - Viestes "à universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o Juiz de todos"; cf. Ec. 12.7 - "o pó volte à terra, como era, e o espírito volte a Deus, que o deu"; Jo. 20.17-"Não me detenhas, porque ainda não subi para o meu Pai" - provavelmente o sentido é este: "o meu corpo ainda não ascendeu". A alma foi para Deus durante o intervalo entre a morte e a ressurreição, como está evidente em Lc. 23.43,46 – "comigo no Paraíso ... Pai, nas tuas mão entrego o meu espírito".
c) Que os crentes, quando morrem, entram no paraíso. Lc. 23.42,43 - "E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino. Ε disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso"; cf. 2 Co. 12.4 - "foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar"; Ap. 2.7 - "Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no paraíso de Deus"; Gn. 2.8 - "E plantou o Senhor um jardim no Eden, da banda do Oriente, e pôs ali o homem que tinha formado". O Paraíso outro não é senão a habitação do Deus bendito, que o Éden tipificava. Se o ladrão penitente fosse para o Purgatório, seria um Purgatório com Cristo, melhor do que um céu sem Cristo. O Paraíso é um lugar que Cristo foi preparar, levando os nossos amigos antes de nós.
Teologia Sistemática (Strong) 1972 d) Que o estado deles, imediatamente após a morte, é grandemente preferido ao dos fiéis e bem sucedidos trabalhadores por Cristo aqui. Fp. 1.23 - "Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor" – aqui Hackett diz: "άναλϋσαι = partir, cortar as amarras, liberando para o mar, seguido de συν Χριστώ είναι [estar com Cristo], como se Paulo considerasse como um evento imediatamente subseqüente ao outro". Paulo, com seu ardente desejo de pregar Cristo, certamente teria preferido viver e labutar, mesmo em meio a grande sofrimento, a morrer se a morte para ele tivesse sido um estado de inconsciência e inércia.
e) Que os santos que partiram estão verdadeiramente vivos e conscientes. Mt. 22.32 - "Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos"; Lc. 16.22 "levado pelos anjos para o seio de Abraão"; 23.43 - "hoje mesmo estarás comigo no Paraíso" - "comigo" = no mesmo estado, - a não ser que Cristo dormisse na inconsciência, não podemos pensar que o penitente o estivesse; Jo. 11.26 - "aquele que vive e crê em mim nunca morrerá"; 1 Ts. 5.10 - "que morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com ele"; Rm. 8.10 - "E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça". A vida e a consciência claramente pertencem às (Ap. 6.9,10) "almas debaixo do altar" mencionadas no texto, porque eles clamam: "Até quando"? Fp. 1.6 - "aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo" – parece implicar uma santificação progressiva, através do Estado Intermediário até à segunda vinda de Cristo. Este estado é: 1. consciente ("Deus dos vivos"); 2. fixo; 3. incompleto.
f) Que eles estão em repouso e bem-aventurança. Ap. 6.9-11 – "Vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. Ε clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a
Teologia Sistemática (Strong)
1973
terra? Ε foi-lhe dada uma comprida veste branca e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos que haviam de ser mortos como eles foram"; 14.13 - "Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam"; 20.14 - "E a morte e o inferno [Hades] foram lançados no lago de fogo" - ver Evans, em Presb. Review, 1883.303 - "A sombra da morte que jaz sobre o Hades é a penumbra do inferno. Por isso o Hades está associado com a morte no juízo final".
2. A respeito dos ímpios, declara-se a) Que eles estão em prisão, - i.e. sob coação e guarda (1 Pe. 3.19 φιλακή). 1 Pe. 3.19 - "no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão" não há necessidade alguma de pôr espíritos inconscientes sob guarda. Hovey: "Repressão implica poder de ação e sofrimento implica consciência".
b) Que eles estão em tormento, ou sofrimento consciente (Lc. 16.23,24 εν βασάνοις). Lc. 16.23,24 - "Ε, no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio. E, clamando, disse: tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama". Aqui muitas perguntas sem resposta podem ser feitas: Tinha o rico um corpo antes da ressurreição, ou esta representação é apenas uma figura? A alma ainda sentia o corpo de que estava temporariamente separada, ou as almas, no estado intermediário, têm corpos? Qualquer que possa ser a resposta a estas perguntas é certo que o rico sofre enquanto a provação ainda dura nos seus irmãos que estão na terra. Neste episódio, fogo é a fonte do sofrimento, mas não da aniquilação. Embora se trate de uma parábola, ela prova que a existência da consciência tem sido o ponto de vista comum entre os judeus, o qual foi sancionado por Cristo.
Teologia Sistemática (Strong) c) Que eles estão sob punição (2 Pe. 2.9 κολαζομένους).
1974
2 Pe. 2.9 - "sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos e reservar os injustos para o Dia do Juízo, para serem castigados" - aqui "os injustos" = não são apenas os anjos maus, mas os homens ímpios; cf. ν. 4 - "Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo". Na parábola do rico e Lázaro, o corpo está sepultado, embora ainda os tormentos da alma sejam descritos como físicos. Jesus acomoda aqui os seus ensinos às concepções do seu tempo, ou, melhor dizendo, emprega figuras materiais para expressar realidades espirituais. Sem dúvida ele não quer dizer que a noção rabínica do seio de Abraão é uma verdade última. As "parábolas", por esta, entre outras razões, "podem tornar-se, em primeiro lugar, fontes e base de doutrina". Luckock, Intermediate State, 20 - "Pode a parábola do rico e Lázaro ser uma figura antecipada do estado final? Mas o rico parece admitir que ainda não veio, porque ele fala dos seus irmãos como ainda sujeitos à provação terrena e passíveis de receber uma recompensa e evitar o mesmo destino semelhante ao dele".
As passagens citadas capacitam-nos a avaliar dois erros opostos. A) Refutam, por um lado, o ponto de vista de que as almas tanto dos justos como dos ímpios dormem entre a morte e a ressurreição. Este ponto de vista baseia-se na suposição de que a posse de um organismo físico é indispensável à atividade e à consciência - suposição de que a existência de um Deus que é puro espírito (Jo. 4.24), e a existência dos anjos que provavelmente são puros espíritos (Hb. 1.14), mostra-se errôneo. Apesar de que os que partiram caracterizam-se como "espíritos" (Ec. 12.7; At. 7.59; Hb. 12.23; 1 Pe. 3.19), nada há nesta 'ausência do corpo' (2 Co. 5.8) de inconsistente com a atividade e consciência atribuídas a eles nas Escrituras acima mencionadas. Quando se fala da morte como um "sono" (Dn. 12.2; Mt. 9.24; Jo. 11.11; 1 Co. 11.30; 15.51; 1 Ts. 4.14; 5.10), devemos considerar isto simplesmente como uma linguagem de aparência e aplicável literalmente só ao corpo.
Teologia Sistemática (Strong)
1975
Jo. 4.24 - "Deus é espírito"; Hb. 1.14 - "Não são, porventura, todos eles [os anjos] espíritos ministradores"? Ec. 12.7 - "o pó volte à terra como era e o espírito volte a Deus, que o deu"; At. 7.59 - "E apedrejavam a Estêvão, que, em invocação, dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito"; Hb. 12.23 "a Deus, o Juiz de todos e aos espíritos dos justos aperfeiçoados"; 1 Pe. 3.19 -"no qual foi e pregou aos espíritos em prisão"; 2 Co. 5.8 - "Mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor"; Dn. 12.2 - "E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão"; Mt. 9.24 - "a menina não está morta, mas dorme"; Jo. 11.11 - "Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono"; 1 Co. 11.30 - "Por causa disso, há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem"; 1 Ts. 4.14 - "Porque, se cremos que Cristo morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele"; 5.10 - "que morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com ele".
B) As passagens primeiro citadas refutam, por um lado, o ponto de vista de que o sofrimento do estado intermediário é purgatório. Segundo a doutrina da Igreja Católica Romana "todos que morrem em paz com a igreja, mas não são perfeitos, passam pelo purgatório". Aqui eles fazem a satisfação pelos pecados cometidos após o batismo através do sofrimento por um tempo maior ou menor segundo o grau de sua culpa. A igreja na terra, contudo, tem poder para abreviar os sofrimentos ou remi-los totalmente através das orações e do sacrifício da missa. Porém argumentamos, em resposta, que as passagens relativas ao sofrimento no estado intermediário não dão nenhuma indicação de que qualquer verdadeiro crente está sujeito a tal sofrimento ou que a igreja tem poder para livrar das conseqüências do pecado quer neste mundo, quer no vindouro. Só Deus pode perdoar e a igreja somente tem poder de declarar isto apoiada no cumprimento das condições indicadas de arrependimento e fé que ele verdadeiramente perdoa. Esta teoria ainda é inconsistente com qualquer ponto de vista apropriado da plenitude da satisfação de Cristo (Gl. 2.21; Hb. 9.28); da justificação somente pela fé (Rm. 3.28); e da condição, após a morte tanto do justo como do ímpio,
Teologia Sistemática (Strong) 1976 determinada nesta vida (Ec. 11.3; Mt. 25.10; Lc. 16.26; Hb. 9.27; Ap. 22.11). Contra esta doutrina citamos os seguintes textos: Gl. 2.21 - "Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça vem da lei, segue-se que Cristo morreu debalde"; Hb. 9.28 - "assim também Cristo, oferecendo-se uma vez [ou 'de uma vez por todas'], para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que esperam para salvação"; Rm. 3.28 - "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei"; Ec. 11.3 - "caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que a árvore cair, ali ficará"; Mt. 25.10 - "E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta"; Lc. 16.26 - "E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá"; Hb. 9.27 - "está ordenado aos homens morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo," Ap. 22.11 -"Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda". Roma ensina que as agonias do purgatório são intoleráveis. Elas diferem das dores do perdido só nisto, há um limite para um, não para o outro. Belarmino, De Purgatório, 2.14 - "as dores do purgatório são muito severas indo além de qualquer coisa suportável nesta vida". Visto que ninguém a não ser os verdadeiros santos escapam às dores do purgatório, esta doutrina dá à morte e ao funeral do católico romano um terrível e repulsivo aspecto. A morte não é a vinda de Cristo para levar os seus discípulos para si, mas ao invés disso, o recebimento da alma recuada para um lugar de sofrimento indizível. Tal sofrimento realiza a satisfação da culpa. Tendo feito o pagamento da pena que lhes cabia, as almas purificadas passam para o céu sem aguardar o dia do juízo. A doutrina do purgatório fornece a esperança de que o homem pode ser salvo após a morte; a oração pelos mortos tem influência; o sacerdote está autorizado a fazer esta oração; deste modo a igreja sela a salvação por dinheiro. Amory H. Bradford, Ascent of the Saul, 267-287, argumenta em favor das orações pelos mortos. Ele diz que tais orações nos ajudam a ter em mente o fato de que eles ainda estão vivos. Se os mortos são seres livres, eles ainda escolhem o bem e o mal e as nossas orações podem ajudá-los a escolher o bem. Ele crê que devemos ser gratos
Teologia Sistemática (Strong)
1977
à Igreja Católica Romana, por manter tais orações. Replicamos que nenhuma doutrina de Roma fez tanto para perverter o evangelho e escravizar o mundo. Agostinho, Encheiridion, 69, sugere a possibilidade do fogo purgativo para alguns crentes no futuro. Whiton, É o Castigo Eterno sem Fim?, p. 69, diz que Tertuliano sustenta um adiamento da ressurreição no caso dos cristãos faltosos; Cipriano primeiro estabeleceu a noção de um estado médio de purificação; Gregório, o Grande, chamava isto de "digno da crença"; agora é uma das mais poderosas doutrinas da Igreja Católica Romana; essa igreja tem sido, desde o século terceiro, para as almas que aceitam as suas últimas consolações, praticamente restauracionista. Gore, Encarnação, 18 "Na Igreja de Roma, o 'talvez' de Agostinho quanto ao purgatório para os imperfeitos após a morte - 'non redarguo', diz ele, quia 'forsitan verum est', tornou-se um ensino positivo a respeito do purgatório, cheio de informações precisas". Elliott, Horae Apocalypticae, 1.410, adota o simile de Hume, e diz que o purgatório deu à igreja de Roma o que Arquimedes queria: um outro mundo em que ele pudesse fixar a sua alavanca para que, assim fixa, a igreja pudesse mover este mundo. Contudo, convém lembrar que a igreja romana não ensina nenhuma mudança radical do caráter no purgatório; este é apenas um processo purificador dos crentes. O verdadeiro purgatório está apenas neste mundo; porque só aqui os pecados são expurgados pelo divino Espírito santificador; e neste processo de purificação, embora Deus castigue, não há nenhum elemento de pena. Luckock, After Death, é um argumento, baseado nos Pais, contra a doutrina romanista. Contudo, ele sustenta o progresso santificador no estado intermediário apesar de que a obra feita durante esse estado não afeta o juízo final que será baseado nas ações realizadas no corpo. Ele incentiva os justos que partiram a orar. Em seu livro intitulado O Estado Intermediário, Luckock defende o desenvolvimento espiritual durante esse estado, para ativar o ministério, o reconhecimento mútuo e o renovado companheirismo. Ele crê numa primeira provação para os que não tiveram oportunidade nesta vida, mas não numa segunda. Em sua reação contra o purgatório, os teólogos de Westminster obliteraram o Estado Intermediário. Neste há uma
Teologia Sistemática (Strong)
1978
purificação gradual, e deve haver, visto que nem toda a impureza e pecaminosidade se removem na morte. A purificação da vontade demanda tempo. As vestes brancas lhes foram dadas enquanto eles aguardavam (Ap. 6.11). Porém não há uma segunda provação para aqueles que lançaram fora as suas oportunidades nesta vida. Robert Browning, Ring and Book, 232 (Pope, 2.129), faz o papa falar o seguinte a Guido "Ao triste, obscuro, seqüestrado estado, onde Deus não faz outra coisa senão refazer a alma, ele faz a primeira coisa em vão; o que não deve ser". Mas a idéia do inferno que permite a mudança essencial do caráter é estranha à doutrina católica romana.
Encerramos nossa discussão sobre o assunto com uma simples, mas importante nota, a saber, que, conquanto as Escrituras representem o estado intermediário como sendo de regozijo consciente para o justo, e de dor consciente para o ímpio, também representam este estado como sendo incompleto. O perfeito regozijo dos santos e a total miséria dos ímpios começam só com a ressurreição e o juízo final. Fica claro que o estado intermediário é de situação incompleta, nas seguintes passagens: Mt. 8.29 - "O que temos nós contigo, Filho de Deus? Vieste atormentar-nos antes do tempo?" 2 Co. 5.3,4 - "se, todavia, estando vestidos, não fomos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados, não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida"; cf. Rm. 8.23 -"E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção o nosso corpo"; Fp. 3.11 - "para ver se, de alguma maneira eu possa chegar à ressurreição dos mortos"; 2 Pe. 2.9 - "Assim, o Senhor sabe livrar da tentação os piedosos e reservar os injustos para o Dia do Juízo"; Ap. 6.10 - "e [as almas debaixo do altar] clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra"? Em oposição a Locke, Human Understanding, 2.1.10, que disse que "a alma nem sempre pensa"; e a Turner, Desejo e Vontade, 48, que declara que "a alma nem sempre precisa pensar, do mesmo modo que o corpo nem
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sempre se move; a essência da alma é a potência da atividade"; Descartes, Kant, Jouffroy, Sir William Hamilton, todos sustentam que ela pertence continuamente à existência mental de pensar. Sobre este ponto de vista, o estado intermediário seria necessariamente o do pensamento. Quanto à natureza desse pensamento, Dorner assinala em sua Escatologia que "neste estado relativamente incorpóreo, ainda começa uma vida, o mergulho da alma em si mesma e na base do seu ser; o que Steffens chama de 'involução', e Martensen 'auto-incubação'. Neste estado, as coisas espirituais são as únicas realidades. Na descrença, a impureza delas, a discórdia, a alienação de Deus, são postas às claras. Se ainda preferem o pecado, a forma deste torna-se mais espiritual, mais demoníaca, e deste modo, amadurecida para o juízo". Mesmo aqui, labora em especulação e não na Escritura. Mas ele não avança e considera o estado intermediário como não só de progresso moral, mas de eliminação do mal; sustenta que ele é o fim da prova não na morte, mas no juízo, pelo menos no caso dos incrédulos que não são incorrigíveis. Devemos considerar isto como um destaque prático da teoria romanista sobre o purgatório, contraditada não só pelas considerações já apresentadas, mas também pelo teor geral da representação escriturística de que as decisões desta vida são finais e que aqui se fixa o caráter da eternidade. Eis a solenidade da pregação: que o evangelho é "cheiro para a vida", ou "cheiro para a morte" (2 Co. 2.16). Descartes: "Como a luz sempre brilha e o calor sempre aquece, do mesmo modo a alma sempre pensa". James, Psychology, 1.164-175, argumenta contra os estados mentais inconscientes. A seu tempo, já tivemos os estados conscientes; mas eles foram esquecidos. Na Revista Unitária, set 1884, o Prof. James nega que a eternidade tem um momento de onisciência. Lotze, em sua Metaphysics, 268, em oposição a Kant, contesta a validade transcendental do tempo. Ao contrário, Green, em Prolegomena to Ethics, livro 1, diz que cada ato do conhecimento, no caso do homem, é um ato que independe do tempo. Comparando os diferentes aspectos da corrente de sucessivos fenômenos, a mente deve, diz ele, estar fora do tempo. Upton, Preleções em Hibbert Lectures, 306, nega esta consciência independente do tempo mesmo relativa a Deus e parece
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concordar com Martineau, sustentando que Deus não prevê os atos livres do homem. De Quincey chama o cérebro humano de palimpsesto. Cada novo escrito parece apagar tudo o que havia antes. Contudo, nenhuma letra jamais foi destruída. Loeb, Physiology of the Brain, 213, diz-nos que a memória associativa é limitada pelas máquinas como o fonógrafo. Traços deixados pela fala podem ser reproduzidos nela. Loeb chama a memória matéria de química física. Stout, Manual of Psychology, 8 - "A consciência inclui não só o conhecimento dos nossos estados, mas estes mesmos estados quer estejamos cientes deles, quer não. Se o homem está irado, isto é um estado de consciência, muito embora ele não saiba que o está. Se ele não sabe que está irado, esta é outra modificação da consciência e não a mesma". Sobre o inconsciente mental ver Ladd, Philosophy of Mind, 78-382 - "A atuação do cérebro não pode ser identificada com os processos psíquicos. Se ela não pudesse ser, o materialismo triunfaria. Se o cérebro pode fazer estas coisas, por que não fazer todos os fenômenos da consciência? A consciência tornase um simples ep/fenômeno. Atuação inconsciente do cérebro = ferro de madeira, ou inconsciente consciente. O que acontece com a alma nos seus intervalos de inconsciência? Resposta: As mentes finitas inconscientes existem apenas na base do mundo em que todas as mentes e coisas têm sua existência".
III. A SEGUNDA VINDA DE CRISTO Enquanto as Escrituras representam grandes eventos da história do cristão como indivíduo, como a morte e os grandes eventos na história da igreja, como o derramamento do Espírito no Pentecostes e a destruição de Jerusalém, como vinda de Cristo para libertação e juízo, elas também declaram que estas vindas parciais e típicas concluir-se-ão com uma final e triunfante volta de Cristo para punir o iníquo e completar a salvação deste povo.
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As vindas temporais de Cristo estão indicadas em: Mt. 24.23,27,34 "Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui ou ali, não lhe deis crédito.... Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra no ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem. ... Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam"; 16.28 -"Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu Reino"; Jo. 14.3,18 – "E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também.... Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós"; Ap. 3.20 – "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo". Do mesmo modo a Reforma Protestante a empreitada do movimento moderno missionário, a batalha contra o papado na Europa e contra a escravidão neste país, os grandes avivamentos sob Whitefield na Inglaterra e sob Edwards nos Estados Unidos, foram preliminares e típicas vindas de Cristo. Foi um espírito cético que ditou as palavras: "O novo Messias de Deus, uma grande Causa"; contudo, é verdade que, em cada movimento da civilização, devemos reconhecer uma nova vinda daquele único Messias, "Jesus Cristo, o mesmo ontem, e hoje, e para sempre" (Hb. 13.8). Schaff, Hist. Christ. Church, 1.840 - "A vinda começou com a sua ascensão ao céu (cf. Mt. 26.64 - "em breve [άπ' άρτι, desde agora] vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu')"· Matheson, Desenvolvimento Espiritual de São Paulo, 286 – "Para Paulo, em suas últimas cartas, este mundo já é a cena da segunda vinda. O secular não deve desaparecer, mas ser permanente, transfigurado, permeado pela vida divina. Paulo começou com o Cristo da ressurreição; termina com o Cristo que já faz novas todas as coisas". Existe a referência à vinda final de Cristo em: Mt. 24.30,31 - "verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. Ε ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus"; 25.31 - "E, quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos anjos, com ele, então, se assentará no trono da sua glória"; At. 1.11 "Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Este Jesus, que dentre
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vós foi recebido em cima nos céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir"; 1 Ts. 4.16 - "Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus"; 2 Ts. 1.7,10 - "quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu, com os anjos do seu poder. ... quando ele vier para ser glorificado nos seus santos e para se fazer admirável, naquele Dia, em todos os que crêem"; Hb. 9.28 - "assim também Cristo, oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação"; Ap. 1.7 "Eis que vem sobre as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele". Dr. A. C. Kendrick, Comentário sobre Hb. 1.6 - "E quando outra vez introduz no mundo o Primogênito, diz, e todos os anjos o adorem" = na glória da segunda vinda da superioridade de Cristo aos anjos apresentar-se-á de modo notável - em contraste com a humilhação da primeira vinda. A tendência dos nossos dias é interpretar a segunda classe de passagens de um modo puramente metafórico e espiritual. Porém a profecia pode ter mais de um cumprimento. As palavras de Jesus são férteis. A presente vinda espiritual não esgota o sentido delas. A sua vinda nos grandes movimentos da história não excluem uma vinda final e literal, em que "todo olho o verá" (Ap. 1.7). Com esta cláusula podemos admitir em boa parte a citação de Gould, Bib. Theol. Ν. T., 44-56 – "As últimas coisas de que Jesus fala não são o fim do mundo, mas da era - o fim do período judaico em conexão com a destruição de Jerusalém.... Depois de toda a afirmação, incluindo tanto a destruição de Jerusalém como a vinda do Senhor que deve seguir-se, distintamente se diz que aquela geração não passaria até que todas aquelas coisas se cumprissem. Segundo isto, a vinda do Filho do Homem deve ser algo diferente de uma vinda visível. Na profecia do V.T. qualquer interferência divina nos assuntos humanos é representada sob a figura de Deus vindo nas nuvens do sobre as nuvens do céu'. A vinda e o juízo são ambos contínuos. O lento desenvolvimento das parábolas do fermento e da semente contradizem a idéia da primitiva vinda de Cristo. Έ, muito tempo depois, veio o senhor daqueles servos' (Mt. 25.19). Em certo sentido, Cristo veio na destruição de Jerusalém; noutro sentido todas as grandes crises na história do mundo são vindas do Filho do Homem. Estes julgamentos das nações são parte do processo do estabelecimento final do reino. Mas este ato final não será um processo de julgamento, mas a inteira
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submissão final da vontade do homem à de Deus. O fim não deve ser o juízo, mas a salvação". A esta afirmação acrescentamos a declaração de que o ato final de que aqui se fala não será puramente subjetivo e espiritual, mas constituirá uma manifestação exterior de Cristo comparável com a da sua primeira vinda em seu apelo aos sentidos, mas indizivelmente mais gloriosa do que foi na manjedoura e na cruz. Daremos, a prova disto a seguir.
1. A natureza desta vinda Apesar de sem dúvida acompanhado, no caso do regenerado, por influências interiores e invisíveis do Espírito Santo, o segundo advento deve ser exterior e visível. Argumentamos isto: a) Dos objetivos a serem assegurados pela volta de Cristo. Estes são em parte externos (Rm. 8.21,23). A natureza e o corpo devem ser ambos glorificados. Estas mudanças externas podem bem ser acompanhadas de uma visível manifestação daquele que 'faz novas todas as coisas' (Ap. 21.5). Rm. 8.10-23 - "na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus. ... esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo"; Ap. 21.5 - "Eis que faço novas todas as coisas". A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 49 – "Não devemos confundir o Parácleto e a Parousia. Tem-se argumentado que, porque Cristo veio na pessoa do Espírito, o advento do Redentor em glória já ocorreu. Mas, no Parácleto, Cristo vem espiritual e invisivelmente; na Parousia ele vem corporal e gloriosamente".
b) Da comparação escriturística do modo da volta de Cristo com o modo da sua partida (At. 1.11) – ver comentário de Hacckett, in loco: – "όν τρόπον = visivelmente no ar. A expressão nunca é empregada para afirmar simplesmente a certeza de um evento comparado com outro. A afirmação de que significa simplesmente que, como Cristo partiu, assim
Teologia Sistemática (Strong) 1984 também ele retornaria é contraditada por todas passagens em que a expressão ocorre". At. 1.11 - "Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir"; cf. 7.28 - "Queres tu matar-me como [όν τρόπον] ontem mataste o egípcio"? Mt. 23.37 - "Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como [ov τρόπον] a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas"; 2 Tm. 3.8 - Έ, como [ov τρόπον] Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade". Lyman Abbott faz referência a Mt. 23.37 e a Lc. 13.35, mostrando que, em At. 1.11, "assim como" significa apenas "de igual realidade". Deste modo, diz ele, os judeus esperavam que Elias voltasse em forma, segundo Ml. 4.5, mas ele voltou só em espírito. Do mesmo modo Jesus voltou no Pentecostes em espírito e, de lá para cá, tem sempre retornado. A nota do Dr. Hackett, citada no texto acima, é uma prova suficiente de que esta interpretação é totalmente desprovida de uma boa exegese.
c) Da analogia com a primeira vinda de Cristo. Se esta foi uma vinda literal e visível, podemos esperar que a segunda também o seja. 1 Ts. 4.16 - "Porque o mesmo Senhor [em sua própria pessoa] descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus" - ver o Comentário do Prof. W. A. Stevens: "Tão diferente de Lc. 17.20, onde "O reino de Deus não vem com aparência exterior'. O 'alarido' não é necessariamente a voz do próprio Cristo (literalmente 'num alarido', ou 'em alarido'). 'Voz de arcanjo' e 'trombeta de Deus' não são adições, mas apostos" Ap. 1.7 "todo olho o verá"; como todo ouvido o ouvirá: Jo. 5.28 "todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz"; 2 Ts. 2.2 - "não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis ... como se o Dia de Cristo já estivesse perto" - pode ser que eles tivessem "pensado que o primeiro ajuntamento dos santos com Cristo fosse tranqüilo, invisível - de modo furtivo, como um ladrão, de noite" (Lillie). 2 Jo. 7 – "Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne" - aqui se declara que a negação de uma futura segunda vinda de Cristo é marca do enganador.
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Alford e Alexander, em seus Com. on Act 1.11, concordam com o ponto de vista de Hackett citado acima. Warren, Parousia, 61-65, 106-114, opõe-se a este ponto de vista e diz que "um ser divino onipotente pode vir, só como uma manifestação". Ele considera a parousia, ou vinda de Cristo, apenas como a sua presença espiritual. Um escritor, na Revista Presbiteriana, 1883.221, replica que o ponto de vista de Warren é contraditado pelo fato de que os apóstolos freqüentemente falam da parousia como um evento ainda futuro, bem depois que a promessa da presença espiritual do Redentor com a sua igreja tivesse começado a cumprir-se e pelo fato de que Paulo adverte expressamente os tessalonicenses contra a crença de que a parousia estava próxima". Não sabemos como todos os homens ao mesmo tempo podem ver fisicamente a Cristo; mas também não sabemos qual é a natureza do corpo de Cristo. O dia não tem as mesmas divisões em muitos lugares ao mesmo tempo. O telefone possibilitou a muitos homens separados a grande distância ouvir a mesma voz; do mesmo modo é possível que todos os homens vejam o mesmo Cristo vindo sobre as nuvens.
2. O tempo da vinda de Cristo a) Apesar de que a profecia de Cristo sobre este evento, no capítulo vinte e quatro de Mateus, estabelece conexão com a destruição de Jerusalém cuja ocorrência os discípulos esperavam durante a sua vida, nem Cristo, nem os apóstolos de um modo definido ensinavam quando ocorreria o fim, porém declaravam que tal conhecimento estava reservado aos conselhos de Deus e os homens podiam reconhecer que a possibilidade estava próxima e assim viver na atitude de constante expectação. 1 Co. 15.51 - "nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados"; 1 Ts. 4.17 - "depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor"; 2 Tm. 4.8 - "Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda"; Tg. 5.7 - "Sede, pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor"; 1 Pe. 4.7 - "E já está próximo
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o fim de todas as coisas; portanto, sede sóbrios e vigiai em oração"; 1 Jo. 2.18 - "Filhinhos, é já a última hora; e como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos; por onde conhecemos que é já a última hora". Fp. 4.5,6 - "Perto (εγγύς) está o Senhor. Não estejais inquietos" - pode significar "o Senhor está perto (no espaço), sem qualquer referência à segunda vinda. As passagens citadas acima, expressando como fazem as cogitações dos apóstolos de que a vinda de Cristo estava próxima embora ainda se abstivessem de definir o tempo exato, são ao menos prova suficiente de que o advento de Cristo podia não estar próximo do nosso tempo. Não devemos ter mais garantia de que eles estavam inferindo destas passagens só a vinda imediata do Senhor. Wendt, Teaching Jesus, 2.349-350, sustenta que Jesus esperava que a sua segunda vinda e o fim do mundo ocorressem rapidamente. Não havia menção alguma da morte dos seus discípulos, ou da importância da sua prontidão. Nenhuma dura e rápida organização dos seus discípulos em uma igreja foi contemplada por ele; Mt. 16.18 e 18.17 não são autênticos. Não se pensava em nenhuma separação dos seus discípulos da comunhão da religião judaica. Ele pensava na destruição de Jerusalém como o juízo final. Contudo, a sua doutrina se espalharia por toda a terra como o fermento e a semente de mostarda, embora acompanhada do sofrimento dos discípulos. Este ponto de vista de Wendt só pode ser sustentado pelo lançamento arbitrário do testemunho do evangelista, baseado na menção de Jesus a respeito de uma igreja não adequada a um estágio tão primitivo na evolução do cristianismo. Todo o tratamento de Wendt é viciado pela pressuposição de que nada pode haver nas palavras de Cristo que se explique com base na teoria do desenvolvimento natural. Em Mt. 25.19 explica-se que Jesus não esperava tão rapidamente a sua volta à terra – "Depois de muito tempo veio o senhor daqueles servos"; e Paulo, em 2 Ts, corrigiu o equívoco dos que o interpretavam como tendo, na primeira epístola, declarado uma vinda imediata do Senhor. A. H. Strong, Cleveland Sermon, 1.904.27 – "A fé numa segunda vinda de Cristo perdeu o seu apoio em muitos cristãos em nossos dias. Mas serve para estimular e admoestar o grande corpo e nunca podemos dispensar a
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sua solene e poderosa influência. É verdade que Cristo vem nos avivamentos dos pentecostes e nas destruições de Jerusalém, nos movimentos da Reforma e nas revoltas políticas. Mas estas são apenas precursoras de uma outra volta de Cristo literal e final, para punir os ímpios e completar a salvação do seu povo. Esse dia para o qual todos os outros dias foram feitos será um de júbilo para aqueles que combateram o bom combate e guardaram a fé. Aguardemos e aceleremos o dia da vinda de Deus. Os jacobitas da Escócia nunca deixaram de trabalhar e sacrificar-se pela volta do rei. Nunca provaram vinho sem brindar o príncipe ausente; nunca se reuniram para cantar sem renovar os seus votos de fidelidade. Em muitas celas nos presídios e em muitos campos de batalha executavam a melodia: 'Seguir-te, seguir-te, por que não seguir-te? Por muito tempo amaste e em nós confiaste maravilhosamente: Carlos, Carlos, por que não seguir-te? Rei dos corações montanheses, bondoso príncipe Carlos!' Assim cantaram e assim convidaram-no até que ele veio. Porém o dia pelo qual tanto ansiavam quando Carlos deveria vir era fraco e debilitado comparado com o anseio dos verdadeiros corações cristãos pela vinda do seu Rei. Carlos veio, para apenas sofrer derrota e trazer vergonha ao país, mas Cristo virá para pôr fim ao triste anseio do mundo, fazer triunfar a causa da verdade, e transmitir o eterno galardão aos fiéis. 'Mesmo assim, Senhor Jesus, vêm! Com anseio, com quanto anseio a terra geme, sob a maldição da guerra, e das enchentes, e fome, suspiros pelo surgimento da redenção. Por isso, vêm, é a nossa constante súplica; Traze o dia da ressurreição; Destrói a maldição!'"
b) Por isso achamos na conexão imediata com muitas dessas predições do fim uma referência aos eventos intermediários e à eternidade de Deus que mostra que as próprias profecias são expressas em grande parte em benefício da grandeza do plano divino. Mt. 24.36 – "Porém daquele Dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas unicamente meu Pai"; Mc. 13.32,33 - "Mas, daquele Dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai. Olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo"; At. 1.7 – "E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as
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estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder"; 1 Co. 10.11 – "Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos"; 16.22 – "maranata [isto é, ó Senhor, vem]"; 2 Ts. 2.1-3 – "Ora, irmãos, rogamo-vos pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o Dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém, de maneira alguma, vos engane, porque não será assim sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição". Tg. 5.8,9 - "Sede vós também pacientes, fortalecei o vosso coração porque já a vinda do Senhor está próxima. Irmãos, não vos queixeis uns contra os outros, para que não sejais condenados. Eis que o juiz está à porta"; 2 Pe. 3.3-12 - "nos últimos dias virão escarnecedores ... dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque desde que os nossos pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. Eles voluntariamente ignoram isto: que desde a antigüidade existiram os céus e a terra. ... Mas, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos e mil anos como um dia. O Senhor não retarda a sua promessa ... Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão ... que pessoas vos convém ser em santo trato e piedade, aguardando e apressando-vos para a vinda do Dia de Deus" – aguardando-o e apressando a sua vinda com as vossas orações e labor. Ap. 1.3 – "Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo"; 22.12,20 – "Eis que cedo venho e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra. Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente, cedo venho. Amém! Ora, vem, Senhor Jesus"! Destas passagens fica evidente que os apóstolos não conheciam o tempo do fim e que estava oculto desde ao próprio Cristo enquanto aqui na terra em carne. Por isso, aquele que admite saber, admite saber mais do que Cristo ou do que os seus apóstolos - admite saber até aquilo que Cristo declarou-nos que não conhecia!
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Gould, Bib. Theol., 152 – "A expectação da vinda do nosso Senhor era um dos elementos e motivos daquela geração e a demora do evento causou uma certa dúvida. Mas não há indicação de que pode ser indefinidamente adiado. A igreja primitiva nunca teve de encarar a dificuldade que tem a igreja dos nossos dias, de crer na sua segunda vinda, baseada numa profecia da sua vinda quando uma geração há muito já estava morta. Ε até esta epístola [2 Pe], não encontramos traços deste estratagema exegético como tal situação exigiria. Mas aqui o temos plenamente; precisamente tal tipo de artifício como a interpretação ortodoxa com que estamos familiarizados. A afirmação definida de que o advento deve ocorrer nesta geração vai ao encontro do princípio geral de que 'um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia' (2 Pe. 3.8)". Não devemos considerar este comentário do Dr. Gould como um cumprimento inconsciente da predição de que "nos últimos dias virão escarnecedores" (2 Pe. 3.3). Melhor entendimento da profecia, como afirmação impregnada da divindade, teria possibilitado o crítico a crer que as palavras de Cristo podiam em parte ser cumpridas só no fim do mundo.
c) Com isto discernimos um marcante paralelo entre as predições do primeiro advento de Cristo e as do segundo. Em ambos casos o evento era mais distante e mais grandioso que os imaginados a quem a princípio as profecias vieram. Em ambas dispensações pretendia-se um paciente aguardo por Cristo a fim de disciplinar a f é e ampliar as concepções dos verdadeiros servos de Deus. O fato de que cada época desde a ascensão de Cristo tem tido seus quiliastas e devotos da segunda vinda é bom afastar nossos pensamentos para longe das pesquisas curiosas e infrutíferas sobre o tempo da vinda de Cristo e leva-nos ao empenho imediato e constante por estarmos prontos a qualquer hora em que ele aparecer. Gn. 4.1 - "E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu, e teve a Caim, e disse: Alcancei do Senhor um varão" - sugestão de que Eva fantasiou que o seu primogênito seria a semente prometida, o libertador que haveria de vir; ver MacWhorter, Jahveh Cristo. Dt. 18.15 - Ό Senhor, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele
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ouvireis" – aqui está uma profecia que Moisés pode ter esperado que se cumprisse em Josué, mas cujo cumprimento Deus designou somente em Cristo. Is. 7.14,16 – "Portanto, o mesmo Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel. ... antes que este menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra de que te enfadas será desamparada dos seus dois reis" - pode ser que o profeta esperasse o seu cumprimento no seu próprio tempo, e que se cumpriu em parte, mas que Deus pretendia que isso ocorresse bem mais tarde. Lc. 2.25 - "Simeão; este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolação de Israel" - Simeão era o tipo do homem santo que, em cada época da história judaica, aguardava o cumprimento da promessa de Deus, e a vinda do libertador. Portanto, sob a dispensação cristã. Agostinho sustentava que o reino milenar de Cristo, que ocupa a última época da história do mundo, não está no futuro, mas começou com a fundação da igreja. Lutero, perto da sua morte, disse: "Não permita Deus que o mundo dure mais cinqüenta anos! Que ele abrevie a vinda do seu juízo final!" Melanchton limita a duzentos anos a partir da sua época. O lema de Calvino era: "Domine, Quousque"? - "Até quando, ó Senhor"? Jonathan Edwards, antes e durante o grande Avivamento, admitiu elevadas expectações quanto à provável extensão do movimento até chegar ao mundo, ainda durante a sua vida, no amor e obediência a Cristo. Melhor do que qualquer um destes é o pronunciamento do Dr. Broadus: "Se eu sempre estou pronto, estarei pronto quando Cristo vier".
3. Precedentes da vinda de Cristo a) Através da pregação do evangelho em todo o mundo o reino de Cristo deve aumentar firmemente os seus limites até que tanto judeus como gentios se tornem possuídos de tais bênçãos e seja introduzido um período milenista em que o cristianismo prevaleça em toda a terra. Dn. 2.44,45 - "Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e esse reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos e será estabelecido para sempre. Da maneira como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem mãos, e
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1991
ela esmiuçou o ferro, o cobre, o barro, a prata e o ouro, o Deus grande fez saber ao rei o que há de ser depois disso; e é certo o sonho, e fiel a sua interpretação". Mt. 13.31,32 – "O reino de Deus é semelhante ao grão de mostarda ... o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se aninham em seus ramos" - a parábola do fermento, que vem a seguir, para ilustrar o intenso desenvolvimento do reino de Deus, como o grão de mostarda o extenso; e é tão impossível confinar a referência do fermento à disseminação do mal como a do grão de mostarda à expansão do bem. Mt. 24.14 – "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes e, então, virá o fim"; Rm. 11.25,26 – "o endurecimento veio da parte de Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E, assim, todo o Israel será salvo"; Ap. 20.4-6 – "E vi tronos; e assentaram-se sobre eles aqueles a quem foi dado o poder de julgar. Ε vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus e pela palavra de Deus e que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não receberam o sinal na testa nem na mão; e viveram e reinaram com Cristo mil anos". Cl. 1.23 – "evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu" - aqui a expressão de Paulo e a aparente referência em Mt. 24.14 ao ano 70 A.D. como o tempo do fim, deve impedir os teorizadores de insistir na defesa de que a segunda vinda de Cristo não pode ocorrer enquanto este texto não se cumprir com plenitude literal (Broadus).
b) Haverá um equivalente desenvolvimento extenso e intenso do mal cujo caráter se manifestará não em enganar muitos professos seguidores de Cristo e perseguir os verdadeiros crentes, mas em constituir um Anticristo pessoal como seu representante e objeto de culto. Este rápido desenvolvimento continuará até o milênio durante o qual a maldade, na pessoa de seu chefe, será delimitada.
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1992
Mt. 13.30,38 – "Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar, mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro. ... o campo é o mundo, a boa semente são os filhos do Reino, e o joio são os filhos do Maligno"; 24.5,11,12,24 – "porque muitos virão em meu nome, dizendo: eu sou o Cristo; e enganarão a muitos.... e surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará. ... Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e prodígios, que, se possível fora, enganariam até os escolhidos". Lc. 21.12 – "Mas, antes de todas estas coisas, lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões e conduzindovos à presença de reis e governadores, por amor do meu nome"; 2 Ts. 2.3,4,7,8 – "porque não será assim sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.... Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que, agora, resiste até que do meio seja tirado; e, então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo sopro da sua boca e aniquilará pelo esplendor da sua vinda". Elliott, Horae Apocalypticae, 1.65, sustenta que, "Anticristo quer dizer um outro Cristo, um pró-Cristo, um vice-Cristo, um pretendente ao nome de Cristo e, nesse caráter, um usurpador e adversário. O princípio do Anticristo já foi disseminado no tempo de Paulo. Porém um certo embaraço, i.e., o Império Romano então constituído, precisava ser afastado do caminho, antes que se fizesse lugar para o desenvolvimento do Anticristo". Segundo este ponto de vista, o Anticristo é o espírito hierárquico que tem a sua expressão final e mais completa no papado. Dante, Inferno, 19.106-117, fala a respeito do papado, ou melhor, do poder temporal dos papas, como Anticristos: "A vós S. João referiu-se, ó vis pastores, quando aquela que se assenta sobre muitas águas tinha sido vista com os reis que a sua pessoa contamina".
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1993
Tem-se objetado que é inconcebível um desenvolvimento simultâneo tanto do mal como do bem e que o progresso do reino divino implica em diminuição no poder do adversário. Basta uma ligeira reflexão para convencer-nos de que, como a população do mundo está em constante crescimento, pode também aumentar o número de homens maus do mesmo modo que o de bons. Devemos, porém, igualmente considerar que o mal cresce em intensidade na mesma proporção que se lhe lança luz. "Sempre quando Deus erige uma casa de oração o diabo também constrói no mesmo lugar uma capela". Cada avivamento religioso estimula as forças do mal em sua oposição. Como a primeira vinda de Cristo ocasionou uma extraordinária explosão de malignidade demoníaca, assim também a segunda vinda de Cristo sofrerá a resistência de um esforço final desesperado pretendendo vencer as forças do bem. O grande avivamento ocorrido na Nova Inglaterra sob Jonathan Edwards causou, por um lado, o mais notável aumento de crentes batistas, enquanto, por outro lado, o aparecimento do unitarismo. O otimista pastor presbiteriano de Auburn argumentou com o pessimista capelão do Presídio do Estado que o mundo sem dúvida seria melhor porque a sua congregação estava crescendo; ao que o capelão replicou que a sua própria congregação (o número de presidiários) também estava crescendo.
c) Ao fim deste período de mil anos, será novamente permitido o exercício do mal com sua maior força no conflito final com a justiça. Esta luta espiritual, contudo, será acompanhada e simbolizada por convulsões políticas e temíveis indicações de desolação no mundo natural. Mt. 24.29,30 – "E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências do céu serão abaladas. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem"; Lc. 21.8-28 – falsos profetas; guerras e rumores de guerra; terremotos; pestilências; perseguições; sinais no sol, na lua, nas estrelas; "E, então, verão vir o Filho do Homem numa nuvem, com poder e grande glória. Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai a vossa cabeça, porque a vossa redenção está próxima".
Teologia Sistemática (Strong) 1994 As interpretações do livro de Apocalipse dividem-se em três classes: 1) a Preterista (defendida por Grócio, Moses Stuart e Warren), que considera a profecia cumprida no período imediatamente posterior ao tempo dos apóstolos (666 = Neron Kaisar); 2) a Contínua (defendida por Isaac Newton, Vitringa, Bengel, Elliott, Kelly e Cumming), que considera o todo como uma história profética contínua, que se estende desde os primeiros tempos até o fim de todas as coisas (666 = Lateinos); Hengstenberg e Alford sustentam substancialmente este ponto de vista, embora considerem os sete selos, as sete trombetas e as sete taças sincrônicos, cada um sucedendo e indo além da mesma base e apresentando-a em algum aspecto especial; 3) a Futurista (sustentada por Maitland e Todd), que considera o livro como descrevendo os eventos ainda por acontecer, durante os tempos imediatamente anteriores e seguintes à vinda do Senhor. De todas estas interpretações, a mais aprendida e exaustiva é a de Elliott, em seus quatro volumes de Horae Apocalypticae. A base desta interpretação é o "tempo e tempos e meio tempo" de Dn. 7.25 que, segundo a teoria do dia-ano significa 1260 anos – segundo a contagem antiga, contava-se o ano em 360 dias, e o tempo de 360 anos [360+(2x360)+180=1260]. Esta expressão achamos recorrente em a mulher alimentada no deserto (Ap. 12.14). A blasfêmia da besta por quarenta e dois meses (Ap. 13.5) parece referir-se ao mesmo período (42x30=1260, como no anterior). A profecia das duas testemunhas (Ap. 11.3); e fica estabelecido o tempo da mulher no deserto (Ap. 12.6) como 1260 dias. Elliott considera este período de 1260 anos como o tempo de poder do papado. Há um duplo terminus a quo e, por correspondência, um duplo terminus ad quem. O primeiro começo é 531 A.D., quando, no edito de Justiniano o dragão do Império Romano entrega o seu poder à besta do papado e resigna o seu trono ao anticristo que está surgindo, dando oportunidade para o aparecimento dos dez chifres como reis europeus (Ap. 13.1-3). O segundo começo, acrescentando os setenta e cinco anos complementares de Dn. 12.12 [1335-1260 = 75], é 606 A.D., quando o imperador Focas reconhece a
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primazia de Roma, e os dez chifres, ou reis, cobertos agora de diademas, submetem-se ao papado (Ap. 17.12,13). O primeiro ponto final é 1791, quando eclodiu a Revolução Francesa, o primeiro golpe na independência do papa [531+1260 = 1791]. O segundo ponto final é 1866, quando o poder temporal do papa foi abolido com a unificação do reino da Itália [606+1260 = 1866]. Elliott considera a besta de dois chifres (Ap. 13.11) como representando o Clero Papal, e a imagem da besta (Ap. 13.14,15) representando os Concílios Papais. Diferentemente Hengstenberg e Alford, que consideram os selos, trombetas, e taças como símbolos cronológicos, Elliott considera as sete trombetas e as sete taças um desdobramento da sétima trombeta. Como outros defensores do advento premilenista, Elliott considera que os quatro principais sinais da chegada próxima de Cristo são: 1) a queda do Império Turco (a seca do rio Eufrates – Ap. 16.12); 2) a perda do poder temporal do papa (a destruição da Babilônia - Ap. 17.19); 3) a conversão dos judeus e a volta para a sua terra (Ez. 37; Rm. 11.12-15, 25-27 - mas sobre este último ver Meyer); 4) o derramamento do Espírito Santo e a conversão dos gentios (o caminho dos reis do Oriente -Ap. 16.12; a plenitude dos gentios - Rm. 11.25). Contudo, todo o esquema de Elliott é viciado pelo fato de que ele erroneamente admite que o livro de Apocalipse tenha sido escrito sob Domiciano (94 ou 96), ao invés de sob Nero (67 ou 68). Seu terminus a quo por isso é incorreto e a sua interpretação dos capítulos 5-9 se torna muito precária. Porém o ano de 1866 deve ter sido o do fim e assim o terminus ad quern parece ser mal entendido – a não ser que, na verdade, os setenta e cinco anos suplementares de Daniel sejam acrescentados a 1866. Consideramos o erro deste mais engenhoso esquema de interpretação apocalíptica uma demonstração prática de que um claro entendimento do sentido do profeta é, antes do evento, impossível e este ponto de vista nos é confirmado pela natureza totalmente inatingível da teoria do milênio que é defendida freqüentemente pelos assim chamados defensores da segunda vinda, teoria que ora passamos a examinar. Uma súbita consumação pode vir depois de uma longa preparação. Furar uma rocha para a explosão é um processo vagaroso; pôr fogo na
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carga demanda apenas um instante. A estrutura de madeira do Hotel Windsor em Nova Iorque estava chamuscada e superaquecida antes que os fios elétricos perdessem o seu isolamento; depois um leve aumento da voltagem transformou o calor em chamas. O Panorama, 30 de março de 1895 - "Uma concepção evolutiva da Segunda Vinda, como manifestação progressiva do poder espiritual e glória de Cristo pode produzir-se num desfecho tão singular como foi na primeira que encerrou as eras preparatórias". Joseph Cook, sobre A. J. Gordon: "Há uma grande distinção entre a teoria do holofote e do vidro incandescente sobre as missões. Este último era o ponto de vista de Gordon. Quando uma lente incandescente é mantida acima do material inflamável os raios do sol, concentrados, rapidamente produzem a descoloração, a fumaça e as faíscas. Num instante, depois que as faíscas se tornaram suficientemente difusas, todo o material explode em chamas. Depois disso, não há mais necessidade da lente incandescente porque o fogo que incidiu do alto é capaz de realizar a sua obra. Do mesmo modo o mundo deve ser considerado como o material inflamável a receber o fogo vindo do alto. A vida do nosso Senhor na terra é uma lente incandescente que concentra os raios de luz e calor sobre as almas dos homens. Quando o calor tiver atingido o ponto suficiente, e as faíscas da conflagração incipiente se tiverem difundido, subitamente a chama espiritual explodirá em toda a parte e encherá a terra. Esta é a segunda vinda daquele que incandesceu a humanidade para uma nova vida através do seu primeiro advento. Conforme eu entendo o ensino premilenista da história, não se sabe em que data as centelhas se acenderão em chamas, mas sabe-se que o dever da igreja é expandir as centelhas e esperar a qualquer instante, após a sua ampla difusão, a descida vitoriosa da chama milenar, isto é, o começo do reino pessoal e visível sobre toda a terra".
4. Relação da segunda vinda de Cristo com o milênio A Escritura prediz um período chamado na linguagem da profecia de "mil anos", quando Satanás será amarrado e os santos reinarão com Cristo na terra. Uma comparação das passagens que tratam deste assunto leva-nos à conclusão de que esta bênção e domínio por mil anos antecede à segunda vinda. Só uma passagem à primeira vista parece
Teologia Sistemática (Strong) 1997 ensinar o contrário: Ap. 20.4-10. Mas ela apóia a teoria de um advento premilenista só quando interpretada de um modo completamente literal. Melhor ponto de vista de seu significado será obtido se considerarmos: a) Que tal passagem é uma parte e há consenso em admitir-se que tal parte obscura pertence a um dos mais figurados livros da Escritura e, portanto deve ser interpretada pelas mais nítidas declarações de outras passagens. Citamos aqui a passagem a que se fez alusão: Ap. 20.4-10 – "E vi tronos; e assentaram-se sobre eles aqueles a quem foi dado o poder de julgar. Ε vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus e pela palavra de Deus e que não adoraram a besta nem a sua imagem e não receberam o sinal na testa e nem na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bemaventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele mil anos". Emerson e Parker encontraram um defensor da segunda vinda que os advertiu de que o fim do mundo estaria próximo. Parker replicou: "Meu amigo, isto não me preocupa; eu moro em Boston". Emerson disse: "Bem, eu acho que dou um jeito sem isso". Semelhante ponto de vista divertido assume Denney, Studies in Theol., 232 – "Sem dúvida Cristo vem antes do milênio, conforme o quadro de Apocalipse; mas a questão importante é se a concepção do milênio em si, como Ezequiel a relata, é essencial à fé. Eu não posso pensar que seja. O conteúdo religioso das passagens – o que elas oferecem para a segurança da fé – diríamos que é simplesmente este: o conflito entre o reino de Deus e o reino do mundo deve prosseguir até o fim; que, à medida que o fim se aproxima ele se torna cada vez mais intenso e a humanidade não progride só na bondade ou só na maldade, mas no antagonismo entre as duas; e que a necessidade do conflito emerge mesmo depois que o reino de Deus tiver obtido grandes triunfos. Francamente, confesso que buscar mais do que isto em tais indicações bíblicas parece-me frivolidade".
Teologia Sistemática (Strong) 1998 b) Que as outras passagens nada contêm a respeito de uma ressurreição dos justos separada no tempo da dos ímpios, mas, ao contrário, declaram distintamente que a segunda vinda de Cristo está em imediata conexão com a ressurreição dos justos e dos ímpios e com o juízo final. Mt. 16.27 – "Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai com os seus anjos; e, então, retribuirá a cada um segundo as suas obras"; 25.31-33 – "E, quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos, com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas"; Jo. 5.28,29 – "Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. Ε os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e o que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação"; 2 Co. 5.10 – "Porque todos devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que cada um tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal"; 2 Ts. 1.6-10 – "se, de fato, é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos que vos atribulam, e a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu, com os anjos do seu poder, como labareda de fogo, tomando a vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder, quando vier a ser glorificado nos seus santos e para se fazer admirável, naquele Dia, em todos os que crêem". 2 Pe. 3.7,10 – "o Dia do juízo e da perdição dos homens ímpios.... Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão e a terra e as obras que nela há se queimarão"; Ap. 20.11-15 – "E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Ε vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros. Ε abriu-se outro livro, que é o da vida, e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam nos livros, segundo as suas obras. Ε deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o Hades deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo
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as suas obras. Ε a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. Ε aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo". Aqui é abundante a evidência de que não há nenhum intervalo de mil anos entre a segunda vinda de Cristo e a ressurreição, o juízo final e o fim de todas as coisas. Todos eventos ocorrerão juntos. A única resposta dos premilenistas a esta objeção à teoria deles é, que o dia do juízo e o milênio podem ser contemporâneos; em outras palavras, o dia do juízo pode ter a duração de mil anos. Elliott sustenta uma conflagração, parcial no começo do período, completa no fim; a profecia de Pedro trata das duas conflagrações como sendo uma só, enquanto Apocalipse as separa; assim, um ponto de vista mais próximo soluciona as estrelas binárias em duas. Porém, replicamos que, se o juízo ocupa o período todo de mil anos, então a vinda de Cristo, a ressurreição e a conflagração final seriam todas de mil anos também. Na verdade, é possível que, neste caso, como diz Pedro em conexão com a sua profecia a respeito do juízo, "um dia para o Senhor é como mil anos e mil anos como um dia" (2 Pe. 3.8). Mas se tornarmos a palavra "dia" tão indefinida em conexão com o juízo, por que considerá-la tão definida ao interpretarmos os 1260?
c) Que a interpretação literal da passagem – sustentando, como faz, uma ressurreição de corpos de carne e sangue e um reino de santos ressuscitados na carne e no mundo como se acha constituído no presente – é inconsistente com outras declarações da Escritura com relação à natureza espiritual do corpo ressurreto e da vinda do reino de Cristo. 1 Co. 15.44,50 - "semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. ... E, agora, isto digo, irmãos: que carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herdar incorrupção". Estas passagens são inconsistentes com o ponto de vista de que a ressurreição é física no começo dos mil anos - ressurreição que deve ser seguida de uma segunda vida dos santos com corpo de carne e sangue. Contudo, estes não são inconsistentes com o ponto de vista verdadeiro, a ser mencionado mais tarde, de que "a primeira ressurreição é tão somente o surgimento de uma nova vida e zelo. Westcott, Bib. Com. on Jo. 14.18,19 – "Não vos deixarei
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órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais; mas vós me vereis": - "As palavras excluem o erro daqueles que supõem que Cristo Virá' sob as mesmas condições da existência terrena como aquelas a que ele se submeteu na primeira vinda".
d) Que a interpretação literal da passagem – sustentando, como faz, uma ressurreição de corpos de carne e sangue e um reino de santos ressuscitados na carne e no mundo como se acha constituído no presente – é inconsistente com outras declarações da Escritura com relação à natureza espiritual do corpo ressurreto e da vinda do reino de Cristo. Dn. 2.34,35 - "Estavas vendo isso, quando uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou. Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o cobre a prata e o ouro, os quais se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra que feriu a estátua se fez um grande monte e encheu toda a terra"; Mt. 13.31,32 - "O Reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem, pegando dele, semeou no seu campo; o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se aninham nos seus ramos". Em ambas estas figuras não há sinal algum de cessação de movimento retrocessivo, mas, ao invés disso, toda indicação de avanço contínuo com a finalidade de completar a vitória e o domínio. A teoria premilenista supõe que, para o princípio do desenvolvimento sob a dispensação do Espírito Santo, Deus substituirá um reino de mero poder e violência. J. B. Thomas: "O Reino do céu é como um grão de mostarda, não como um frasco de glicerina". Leighton Williams: Ό Reino de Deus deve ser realizado na terra, não através de um cataclismo, independentemente do esforço e da vontade, mas através da disseminação universal do evangelho a todo o mundo perdido". E. G. Robinson: "Os adventistas embrutecem o sistema e o esquema do cristianismo". O Dr. A. J. Gordon não pôde negar que os primitivos discípulos estavam equivocados quando esperavam o fim do mundo na sua época. Nós também podemos estar. A Escritura não declara que o fim deveria vir enquanto os apóstolos estivessem vivos e não se estabeleceu data alguma definida. "Depois de muito tempo" (Mt. 25.19) e "antes que venha a apostasia" (2 Ts. 2.3) são
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expressões que adiam indefinidamente. Contudo, um ponto de vista justo da vinda de Cristo como possível sempre num futuro imediato pode tornar-nos tão fiéis como os primitivos discípulos. A teoria também desveste Cristo de todo o poder real até o milênio, ou, ao invés disso, sustenta que o reino ainda não lhe foi entregue; ver Ellicott, Horae Apocalypticae, 1.94 - onde Lc. 19.12 – "Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois" - é interpretada da seguinte maneira: Os reis subordinados vinham a Roma para receber do imperador romano a investidura dos seus respectivos reinos e, a seguir, voltavam para tomar posse e reinar. Do mesmo modo Cristo recebeu do seu Pai, segundo essa afirmação, a investidura para o seu reino; mas com a intenção de tomar posse até a sua segunda vinda. Como sinal da sua investidura ele se assenta como o Cordeiro no trono divino" (Ap. 5.6-8). Mas tal interpretação contradiz Mt. 28.18,20 – "Toda a autoridade me é dada no céu e na terra. ... e eis que eu estou convosco todos os dias até o fim dos séculos".
e) Podemos interpretar melhor Ap. 20.4-10 como um ensino numa linguagem altamente figurativa não uma anterior ressurreição do corpo no caso dos santos que partiram, mas um período nos últimos dias da igreja militante quando, sob a influência especial do Espírito Santo, o espírito dos mártires aparecerá outra vez, a verdadeira religião será grandemente despertada e avivada e os membros das igrejas de Cristo se conscientizarão de sua força em Cristo e, em extensão nunca dantes conhecida triunfarão sobre as forças do mal interiores e exteriores. Assim o espírito de Elias aparecerá outra vez em João Batista (Ml 4.5; cf. Mt. 11.13,14). O fato de que só o espírito de sacrifício e fé deve ser revivido é figuradamente indicado na expressão: "os outros mortos não reviveram até que os mil anos se completassem" = haverá o espírito de perseguição e descrença como se dormisse. Porque a ressurreição, como a vinda de Cristo e o juízo, é dúplice: em primeiro lugar espiritual (a ressurreição da alma para uma vida espiritual), e em segundo lugar física (a ressurreição do corpo da sepultura), as palavras em Ap. 20.5 - "esta é
Teologia Sistemática (Strong) 2002 a primeira ressurreição" - parece pretender excluir distintamente a interpretação literal que estamos combatendo. Em resumo, sustentamos que Ap. 20.4-10 não descreve os eventos comumente chamados de segunda ressurreição, mas descreve grandes mudanças espirituais no fim da história da igreja, típicas do segundo advento e ressurreição e anteriores a ele e, portanto, segundo o método profético, são preditos em linguagem literalmente aplicável só mesmo àqueles eventos finais (cf. Ez. 37.1-14; Lc. 15.32). Ml. 4.5 - "Eis que eu vos envio o profeta Elias antes que venha o grande e terrível dia do Senhor"; cf. Mt. 11.13,14 - "Porque todos os profetas e a lei duraram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir"; Ez. 37.1-14 – a visão do vale dos ossos secos = ou a ressurreição política ou a religiosa dos judeus; Lc. 15.32 – "este teu irmão estava morto e reviveu" – o filho pródigo. Isto ajuda a nossa interpretação de Ap. 20.4-10 a fim de notar que morte, juízo, a vinda de Cristo e a ressurreição são de dois tipos: primeiro, espiritual; segundo, literal: 1) Primeiro, morte espiritual (Ef. 2.1 – "mortos nos vossos delitos e pecados"); e segundo física e literal, que culmina com a segunda morte (Ap. 20.14 – "E a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo"). 2) Primeiro, juízo espiritual (Is. 26.9 - "os teus juízos na terra"; Jo. 12.31 – "Agora, é o juízo deste mundo: agora, será expulso o príncipe deste mundo" 3.18 – "Quem crê nele não é condenado"); segundo, um juízo exterior e literal (At. 17.31 – "determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou"). 3) Vinda de Cristo, primeiro espiritual e invisível (Mt. 16.28 – "não provarão a morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu Reino" – na destruição de Jerusalém; Jo. 14.16,18 - "outro Consolador... voltarei para vós" – no Pentecostes; 14.3 - "E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim" – na morte) e segundo, uma vinda literal visível (Mt. 25.31 -"o Filho vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele"). 4) Primeiro, ressurreição espiritual (Jo. 5.25 – "vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que ouvirem viverão") e segundo, ressurreição física e literal (Jo. 5.28,29 – "vem a hora
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em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. Ε os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação"). A ressurreição espiritual préfigura a corporal. Esta duplicidade de cada um dos quatro termos – morte, juízo, vinda de Cristo e ressurreição – é um ensino da Escritura tão óbvio, que a nota do apóstolo em Ap. 20.5 – "esta é a primeira ressurreição" – parece pretender claramente a advertência ao leitor contra a inferência premilenista, e tornar claro o fato de que a ressurreição de que se fala é a primeira, isto é, a espiritual; explicação que se torna indubitável através do seu procedimento, mais adiante, ao descrever a ressurreição exterior e literal no v. 13 – "E deu o mar os mortos que nele havia e a morte e o Hades deram os mortos que neles havia". Esta ressurreição física se dá quando "os mil anos se acabaram (acabarem) (v. 5). Esta interpretação sugere um caminho possível de reconciliação entre as teorias premilenista e pós-milenista sem sacrifício da verdade de qualquer uma delas. Cristo pode voltar, no começo do milênio, de um modo espiritual, e os seus santos reinarem com ele espiritualmente, nos maravilhosos progressos do seu reino; enquanto a vinda visível e literal pode ocorrer no fim dos mil anos. O ponto de vista de Dorner é pós-milenista, neste sentido de que a vinda visível de Cristo ocorrerá depois dos mil anos. Hengstenberg curiosamente considera que o milênio começou na Idade Média (800-1800 A.D.). Este ponto de vista de um ilustre intérprete, bem como a diversidade extraordinária de explicações dadas por outros, convence-nos de que nenhum exegeta ainda achou a chave dos mistérios do Apocalipse. Enquanto não soubermos se pregar o evangelho em todo o mundo (Mt. 24.14) refere-se às nações como um todo, ou a cada indivíduo em cada nação, não podemos determinar se o milênio já começou, ou está num futuro distante. O milênio deve, então, ser o ápice da obra do Espírito Santo, um avivamento universal da religião, uma nação que nasce num dia, e os reis da terra trazem a honra e a glória à cidade de Deus. A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 211 – "Depois que a presente obra eletiva do Espírito estiver completa, virá um tempo de bênção universal, quando, literalmente derramar-se-á o Espírito sobre toda carne, quando vier o perfeito e o que é em parte for
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aniquilado. ... A antiga chuva do Espírito Santo ocorreu no Pentecostes; a última ocorrerá na Parousia". A. H. Strong, Sermon bef. the Baptist World Congress, Londres, 12 de julho de 1905 – "Esperemos a rápida vinda espiritual do Senhor. Eu creio numa última vinda literal e visível de Cristo nas nuvens do céu para ressuscitar os mortos, convocar todos os homens ao juízo e inaugurar uma nova dispensação. Mas creio que esta vinda visível e literal deve ser precedida e preparada pela vinda invisível e espiritual e pela ressurreição da fé e do amor no coração do seu povo. 'Esta é a primeira ressurreição' (Ap. 20.5). Na Escritura leio sobre uma segunda vinda espiritual que precede a literal, uma revelação interior de Cristo ao seu povo, uma repressão dos poderes das trevas, um poderoso aumento das forças da justiça, uma volta dos homens e nações para o Senhor como o mundo nunca viu. Eu creio num longo reinado de Cristo na terra, em que os santos serão arrebatados com ele em espírito e se assentarão sobre o seu trono, apesar de que esta veste enlameada da ruína os envolve e o tempo da sua completa glorificação ainda não chegou. Apressemos a vinda do Dia de Deus através da nossa fé e da oração. 'Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura achará fé na terra?' (Lc. 18.8). Queira Deus que ele ache fé, pelo menos em nós. Sem dúvida a nossa fé pode assegurar a vinda do Senhor nos nossos corações. Esperamos que Cristo se revele em nós como no passado ele se revelou ao Apóstolo Paulo".
IV. A RESSURREIÇÃO Conquanto as Escrituras descrevam a doação de uma nova vida à alma na regeneração como uma ressurreição espiritual, elas também declaram que, na segunda vinda de Cristo, haverá uma ressurreição do corpo e uma nova união do corpo com a alma de que, durante o estado intermediário esteve separado. Tanto os justos como os injustos terão parte na ressurreição. Os justos ressuscitarão para a vida; o corpo será semelhante ao de Cristo – adequado aos usos do espírito santificado. Os injustos ressuscitarão para a condenação; a analogia parece indicar que também aqui a forma exterior se adequará à representação de um estado
Teologia Sistemática (Strong) 2005 interior da alma - corruptos e deformados como a alma que neles habita. Os que estiverem vivos na vinda de Cristo receberão corpos espirituais sem passar pela morte. Como o corpo depois da corrupção e dissolução, assim o mundo exterior, após a destruição com fogo, será reabilitado e adequado à habitação dos santos. Passagens que descrevem uma ressurreição espiritual: Jo. 5.24-27, especialmente 25 – "vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que ouvirem viverão"; Rm. 6.4,5 – "como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição"; Ef. 2.1,5,6 - "E vos vivificou estando vós mortos em ofensas e pecados ... estando nós ainda mortos em nossas ofensas nos vivificou juntamente com Cristo ... e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus"; 5.14 - "Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá". Fp. 3.10 - "para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição"; Cl. 2.12,13 - "sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos. E, quando estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele"; cf. Is. 26.19 - "Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos"; Ez. 37.1-14 - o vale dos ossos secos: "Eis que eu abrirei as vossas sepulturas, e vos farei sair das vossas sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel". Passagens que descrevem uma ressurreição física e literal: Jó 14.1215 – "Assim o homem se deita e não se levanta; até que não haja mais céus, não acordará, nem se erguerá de seu sono. Bom seria que me escolhesses na sepultura, e me ocultasses até que a tua ira se desviasse, e me pusesses um limite, e te lembrasses de mim. Morrendo o homem, porventura tornará a viver? Todos os dias do meu combate esperaria, até que viesse a minha mudança. Chamar-me-ias, e eu te responderia; afeiçoa-te à obra de tuas mãos"; Jo. 5.28,29 - "vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. Ε os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação".
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At. 24.15 – "Tendo esperança em Deus ... que haverá ressurreição dos mortos tanto dos justos como dos injustos"; 1 Co. 15. 13,17,22,42,51,52 – "E, se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. ... E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. ... como todos morrem em Adão, assim todos serão vivificados em Cristo.... Semeia-se o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção. ... Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará e os mortos ressuscitarão incorruptíveis "; Fp. 3.21 – "transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas"; 1 Ts. 4.14-16 – "Porque se cremos que Cristo morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro". 2 Pe. 3.7,10,13 - "os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro e se guardam para o fogo, até o Dia do Juízo e da perdição dos homens ímpios. ... Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão e a terra e as obras que nela há se queimarão. ... Mas nós, segundo a promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça"; Ap. 20.13 - Έ deu o mar os mortos que nele havia e a morte e o Hades deram os mortos que neles havia"; 21.1,5 "E vi um novo céu e uma nova terra. Porque o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe. ... Ε o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas". Ε o rosto imberbe da morte com a perdida juventude restaurada, e o brando brilho da estátua marmórea com toda a paixão desaparecida só visível a elevada e heróica, são indicações do que está para ser. A arte em suas representações semelhantes às formas humanas, e de uma terra e sociedade ideais na paisagem e no poema, é uma profecia do futuro; sugere as gloriosas possibilidades da manhã da ressurreição. Nicoll, Christ's Life: Ό rio corre através do lago e persegue o seu caminho além. Do mesmo modo a vida de fé atravessa a morte e apenas é purificada por ela. Quanto ao corpo, tudo o que vale a pena poupar se poupará. Outras ressurreições [tais
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como a de Lázaro] foram para as velhas condições da vida terrena; a ressurreição de Cristo foi a revelação de uma nova vida". Stevens, Pauline Theol., 357, nota - "Se pudéssemos admitir com confiança que o relatório da fala de Paulo diante de Félix reproduzia com exatidão em pormenor a sua linguagem, a crença do apóstolo numa 'ressurreição tanto dos justos como dos injustos' (At. 24.15) seria estabelecida com segurança; mas, em vista do silêncio das suas epístolas, esta suposição torna-se precária. Paulo fala em chegar à ressurreição dos mortos' (Fp. 3.11), como se isto não fosse posse de todos". O ceticismo do Prof. Stevens parece-nos inteiramente desnecessário e injustificado. É a bendita ressurreição a que Paulo queria "chegar", e que ele tem em mente em Filipenses, como em 1 Co. 15 - um fato perfeitamente consistente com a ressurreição dos ímpios para "vergonha e desprezo eterno" (Dn. 12.2; Jo. 5.29). A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 205, 206 - "O arrebatamento dos santos (1 Ts. 4.17) é a ressurreição terrena de Cristo para encontrar o Cristo celestial; a igreja eleita, reunia-se no Espírito e invocava ό Χριστός (1 Co. 12.12), tomada para unir-se em glória com Cristo, o cabeça da igreja, 'ele mesmo o salvador do corpo' (Ef. 5.23). Não é agindo sobre o corpo de Cristo exteriormente, mas fortalecendo interiormente, que o Espírito Santo efetuará a sua glorificação. Resumindo, o Consolador, que no dia do Pentecostes desceu para formar um corpo de carne, na Parousia voltará ao céu naquele corpo formando-o no corpo de Cristo (Fp. 3.21).... É aqui que terminam as linhas do ministério de Cristo; na santificação, a perfeição da santidade do espírito; e na ressurreição, a perfeição da saída do corpo". Ε. G. Robinson: Ό princípio indestrutível é a personalidade – não a inteligência, doutro modo negamos que as crianças tenham alma. A personalidade toma para si uma organização material. Ela é uma segunda causa divinamente fortalecida. Isto refuta o materialismo e o aniquilacionismo. Ninguém tem a pretensão de que os elementos individuais do corpo se levantarão. Só a individualidade, a identidade pessoal, será preservada. A alma é a força organizadora. A prática médica ensina que a vida simplesmente animal é um processo mecânico, mas isto é empregado através de um poder pessoal. O materialismo, ao contrário considera a alma um produto do corpo. Ao tornar-se cristão, todo homem dá início ao
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processo da ressurreição. Nós não sabemos, mas a ressurreição começa no momento da dissolução, embora não saibamos o que ela faz. Porém se Cristo ressuscitou com o corpo idêntico, sem se modificar, como pode a sua ressurreição tipificar a nossa? Resposta: A natureza do corpo da ressurreição de Cristo é uma questão aberta".
Sobre o assunto da ressurreição, nossa informação positiva deriva totalmente da Palavra de Deus. Posterior discussão sobre isso pode ser naturalmente ordenada em uma série de respostas a objeções. As objeções comumente apostas contra a doutrina acima podem ser reduzidas a duas: 1. Objeção exegética: que se apóia no trato literal de uma linguagem metafórica e não tem apoio suficiente na Escritura. A isto respondemos: a) Que apesar da expressão "ressurreição do corpo" não ocorrer no N.T., as passagens que descrevem o evento indicam uma mudança física distinta da espiritual (Jo. 5.28,29; Fp. 3.21; 1 Ts. 4.13-17). A expressão "corpo espiritual" (1 Co. 15.44) é uma contradição de termos se entendida como significando "um corpo que é simplesmente um espírito". Só pode ser interpretada como significando um organismo material perfeitamente apto para ser a expressão exterior e veículo da alma purificada. A interpretação puramente espiritual é, contudo, expressamente excluída pela negação de que "a ressurreição já ocorreu" (2 Tm. 2.18), e pelo fato de que há uma ressurreição dos injustos assim como dos justos (At. 24.15). Jo. 5.28,29 - "todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão"; Fp. 3.21 - "transformará o vosso corpo abatido"; 1 Ts. 4.16,17 "Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro";
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1 Co. 15.44 – "semeia-se o corpo animal [margem 'psíquico']; 2Tm. 2.17,18 – "Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já era feita, e perverteram a fé de alguns"; At. 24.15 – "Tendo esperança em Deus ... que haverá ressurreição de mortos tanto dos justos como dos injustos". Em 1 Co. 15.44, a palavra ψυχικόν, traduzida como "natural" ou "animal", deriva da palavra grega ψυχή, alma, do mesmo modo que πνευματικόν, traduzida como "espiritual", deriva de πνεύμα, espírito. E, como Paulo não podia significar que este corpo terrestre se compõe de alma, também não diz que o corpo da ressurreição compõe-se de espírito. Em outras palavras, estes adjetivos "psíquico" e "espiritual" não definem a matéria dos respectivos corpos, mas descrevem-nos nas suas relações e adaptações, em seus poderes e empregos. O corpo atual adapta-se e se destina ao emprego da alma; o corpo da ressurreição se adaptará e se destinará ao emprego do espírito. 2 Tm. 2.18 – "dizendo que a ressurreição já era feita" = indevido desprezo porque o corpo veio a considerar a ressurreição uma coisa puramente espiritual (Ellicott). Dr. A. J. Gordon dizia que "corpo espiritual" significa "corpo espiritualizado". E. H. Johnson: "A expressão 'corpo espiritual' descreve não tanto a natureza do corpo em si, mas a sua relação com o espírito". Savage, Life After Death, 89 – "Ressurreição não significa a elevação da alma no momento da morte, mas a elevação do presídio da morte, depois de ter descido no momento da morte". D. R. Goodwin, Journal Soc. Bib. Exegesis, 1881.84 – "O corpo espiritual é corpo, não espírito e, por isso, entra na definição de corpo. Se fosse simplesmente espírito, então, cada homem, no estado futuro, teria dois espíritos – o que tem aqui e o que recebeu na ressurreição".
b) Que se declara que a redenção de Cristo inclui o corpo assim como a alma(Rm. 8.23; 1 Co. 6.13-20). A habitação do Espírito Santo deu tanta honra a tão frágil moradia mortal que fez dela o seu templo, que Deus não lhe permitiria que perecesse totalmente (Rm. 8.11 - δια το ένοικοΰν αύτοΰ πνεύμα εν ύμιν, i.e., por causa do seu Espírito que habita, Deus ressuscitará o corpo mortal). É esta crença que forma a base do cuidado cristão pelos mortos (Fp. 3.21; c/Mt. 22.32).
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Rm. 8.23 – "esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo"; 1 Co. 6.13-20 – "Os manjares são para o ventre, e o ventre para os manjares; Deus, porém aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo. Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará também a nós pelo seu poder.... Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito.....Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus? ... glorificai, pois, a Deus no vosso corpo"; Rm. 8.11 – "E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal, pelo seu Espírito que em vós habita" – aqui a Versão Revista (Revised Version) segue a 8ª ed. de Tischendorf e o texto de Westcott e Hort em δια του ένοικοΰντος αυτού πνεύματος. Tregelles, Tischendorf, 7ª ed., e Meyer têm δια το ένοικούν αυτού πνεύμα, e este texto consideramos, no seu todo, como o de maior apoio. Fp. 3.21 – "transformará o nosso corpo abatido". Dr. R. D. Hitchcock, em South Church Lectures, 228, diz que, não há nenhuma declaração bíblica sobre a ressurreição na carne, nem mesmo sobre a ressurreição do corpo". Conquanto isto seja literalmente verdadeiro, traz consigo uma idéia falsa. As passagens já citadas predizem o despertar do nosso corpo mortal, o levantamento dele, uma mudança dele na semelhança do corpo de Cristo. Dorner, Eschatology. O Novo Testamento não se contenta com a imortalidade corporal. Supõem-se um nítido espiritualismo, e concorda inteiramente com a mais profunda filosofia que discerne no corpo, não simplesmente uma orla ou vestimenta da alma, mas a parte da pessoa pertencente à idéia plena dele, o seu reflexo, a sua organização, da maior importância na sua atividade e na história". A prova da ressurreição de Cristo encontrada em Mt. 22.32 – "Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos" – tem como base esta mesma suposição de que a alma e o corpo pertencem-se reciprocamente, e que, porque estão temporariamente separados no caso dos santos que vivem com Deus – Abraão, Isaque, e Jacó – ressuscitarão. A filosofia idealista de trinta anos atrás conduziu a um menosprezo ao corpo; o recente materialismo prestou pelo menos este serviço: reafirmou as reivindicações de que o corpo é uma parte própria do homem.
Teologia Sistemática (Strong) 2011 c) Que a natureza da ressurreição de Cristo, tanto literal como física, determina a natureza da ressurreição dos crentes (Lc. 24.39; Jo. 20.27). Como no caso de Cristo, o mesmo corpo posto na sepultura ressuscitou apesar de possuir novas e surpreendentes forças, assim as Escrituras sugerem, não simplesmente que os santos terão corpos, mas que tais corpos serão num sentido próprio o desenvolvimento ou transformação dos próprios corpos que dormiram no pó (Dn. 12.2; 1 Co. 15.53,54). A negação da ressurreição dos corpos dos crentes leva naturalmente à negação da realidade da ressurreição de Cristo (1 Co. 15.13). Lc. 24.39 – "Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; tocai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho"; Jo. 20.27 – "Depois, disse a Tome: Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente"; Dn. 12.2 – "E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para vergonha e desprezo eterno"; 1 Co. 15.53,54 – "Porque convém que isto que é corruptível se revista de incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista de imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então, cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória"; 13 – "E, se não há ressurreição, também Cristo não ressuscitou". O materialismo dos saduceus e o dualismo dos gnósticos, que sustentavam que a matéria é má negavam a ressurreição. Paulo mostra que negá-la é negar que Cristo ressuscitou; visto que se fosse impossível no caso dos seus seguidores, deveria ter sido impossível no caso dele mesmo. Como crentes, estamos vitalmente ligados a ele e a sua ressurreição não poderia ter ocorrido sem ligar isto à ressurreição de todos nós. Tendo negado que Cristo ressuscitou, onde está a prova de que ele não está sob a servidão e maldição da morte? Sem dúvida nós estamos pregando em vão. A epístola de Paulo aos Coríntios foi escrita antes dos evangelhos; e é por isso, como diz Hanna, que os antigos falaram da ressurreição. A transfiguração de Cristo foi uma profecia da sua ressurreição.
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S. S. Times, 22 de março de 1902.161 – "A ressurreição de Jesus não foi um simples reaparecimento, como o de Lázaro e do filho da viúva de Naim. Ele saiu da tumba tão mudado que não foi pronta e facilmente reconhecido e possuído de tais novos e surpreendentes poderes que parecia ser um espírito, não mais sujeito às condições do seu corpo natural. Deste modo ele foi as "primícias" da colheita da ressurreição (1 Co. 15.20). De igual modo, a nossa ressurreição deve envolver uma mudança do corpo corruptível em corpo incorruptível, de psíquico para espiritual".
d) Que os eventos que acompanham tanto a segunda vinda como o juízo porque são literais implicam que a ressurreição também é. Rm. 8.19-23 – "Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. ... mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo" – aqui o corpo do ser humano é considerado como parte da natureza, ou da "criação", e participante em Cristo do seu livramento da maldição; Ap. 21.4,5 – "E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte.... Ε o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas" – declaração aplicável ao corpo, a sede da dor e a avenida da tentação assim como da natureza exterior.
2. Objeção científica: É tríplice: a) Que uma ressurreição das partículas que compõem o corpo na morte é impossível, visto que elas entram em novas combinações e freqüentemente tornam-se partes de outros corpos que a doutrina sustenta ressurgirem naquele mesmo tempo. Respondemos que a Escritura não nos compele a sustentar, mas nega distintamente que as partículas que existem no corpo na morte estão presentes no corpo da ressurreição (1 Co. 15.37 – ου το σώμα το γενησόμενον; 50). Α Escritura parece só indicar certa conexão física entre o novo e o velho apesar de a natureza desta conexão não ser
Teologia Sistemática (Strong) 2013 revelada. Desde que se mantém a conexão física, não há necessidade de supor que até um germe ou partícula que pertencia ao velho corpo pertence ao novo. 1 Co. 15.37,38 – "quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como de trigo ou de outra semente qualquer. Mas Deus dá-lhe o corpo como quer e a cada semente, o seu próprio corpo". Jerônimo nos diz que os santos ressurgidos "habent dentes, ventrem, genitalia, et tarnen nee cibis nee uxoribus indigent" (têm dentes, ventre, genitália, e ainda não lhes faltam alimentos nem mulheres". Este ponto de vista da ressurreição está exposto à objeção mencionada acima. O Curso do Tempo de Pollock representa o dia da ressurreição como um dia em que os membros que foram dilacerados na terra chocaram-se para ligarem-se uns aos outros. O braço amputado e sepultado na China deve atravessar milhares de milhas para encontrar o corpo do seu primeiro dono quando se levantar da sepultura na Inglaterra. Há sérias dificuldades para harmonizar este ponto de vista. Os corpos dos mortos fertilizaram o campo de Waterloo. O trigo que medrou ali tornouse terra e se fez pão, e muitos vivos o comeram. Partículas do corpo humano se incorporaram aos corpos de muitos outros. Através das nuvens e da chuva, as partículas do corpo de Wycliffe podem ter entrado na água que outros homens beberam dos poços e das fontes. Há uma propagação de doenças pelo contágio ou a transmissão de muitíssimos germes de um corpo para outro, às vezes por infecção de um ser vivo em contato com o corpo de um amigo morto. Nestes vários processos, a mesma partícula pode, no curso da história, entrar na constituição de uma centena de homens vivos. Como, na ressurreição, esta partícula pode estar em centenas de lugares simultaneamente? "Como a mulher que teve sete maridos, a mesma matéria pode pertencer em sucessão a tantos corpos, porque 'todos eles a possuíram'" (Smyth). O canibal e a sua vítima não podem possuir o mesmo corpo na ressurreição. O Jornal Providência apresentou um artigo intitulado: "Quem devorou Roger Williams"? Quando os seus restos foram exumados, encontrou-se uma raiz de macieira que seguiu a coluna vertebral, repartiu-se nas coxas, e voltou-se para os seus artelhos. Mais de uma pessoa comera as maçãs. Hoje se pode ver a sua raiz numa prateleira da Universidade de Brown.
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Estas considerações conduziram algumas pessoas, como Orígenes, a chamar a doutrina de ressurreição da carne uma "tolice de mentes pobres", e dizer que a ressurreição pode ser apenas a "reunião de nova matéria em torno do espírito", e a sua vitalização num novo corpo através do poder de Deus dado ao espírito". Mas este ponto de vista parece um extremo tão grande como aquele contra o qual ele reage. Despreza toda a idéia da unidade entre o novo e o velho. Se o meu corpo fosse neste instante aniquilado e se, a seguir, depois de uma hora, Deus criasse um segundo corpo precisamente igual ao primeiro, eu não poderia chamá-lo o mesmo corpo atual ainda que fosse animado pela mesma alma, e que a alma mantivesse uma existência ininterrupta entre o tempo da aniquilação do primeiro corpo e a criação do segundo. Assim, se o corpo que jazia na sepultura fosse totalmente dissipado entre os elementos, e Deus criasse no fim do mundo um totalmente novo seria impossível que Paulo dissesse: "o que é corruptível se revista da incorruptibilidade" (1 Co. 15.53), ou: "Semeiase em ignomínia, ressuscitará em glória" (v. 43). Em resumo, há uma conexão física entre o velho e o novo, que a Bíblia sugere, mas que esta teoria nega. O próprio Paulo nos dá uma ilustração que mostra que este ponto de vista está a meio caminho entre dois extremos: "Quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer" (1 Co. 15.37). Por um lado, o trigo que cresce não contém as partículas precisas que estariam na semente. Por outro lado, tem havido uma contínua conexão física entre a semente semeada e o grão colhido na ceifa. Se a semente tivesse sido aniquilada, e o grão sido criado, não poderíamos falar de identidade entre uma e o outro. Mas, porque houve um fluxo constante, as velhas partículas ligadas pelas novas e estas novas, por sua vez, sucedidas por outras, que as substituíram, poderíamos dizer: "surgiu o trigo". Enterramos o trigo para aumentá-lo. O corpo da ressurreição será o mesmo lançado na terra no mesmo sentido em que o talo do grão é idêntico à semente de que ele germinou. "O que é mortal se revestirá da imortalidade" = não o espírito imortal, mas o corpo mortal se revestirá da imortalidade, o corpo corruptível se revestirá da incorruptibilidade (1 Co. 15.53). "Porventura não errais em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus"? (Mc. 12.24), diz nosso Senhor; e Paulo pergunta: "Julga-se coisa incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos"? (At. 26.8).
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Ou, empregando outra ilustração mais próxima do que desejamos ilustrar: O meu corpo é como se tivesse dez anos menos apesar de que os psicólogos declaram que cada partícula do corpo muda, não só uma vez em sete anos, mas uma vez por ano. A vida só se preserva através da constante eliminação da matéria morta e introdução da nova. Sem dúvida há uma unidade de consciência e personalidade sem que eu seja capaz de dizer em intervalos de anos: "este corpo é o mesmo; este é o meu corpo". Mas a conexão psíquica entre o velho e o novo é uma adição necessária. Renovam-se as unhas das mãos em menos de quatro meses, ou cerca de vinte e uma vezes em sete anos. Elas crescem em média sete doze avôs de uma polegada em 121 a 138 dias. As dos jovens crescem mais rapidamente, enquanto as dos idosos mais de vagar. Num homem de vinte e um anos, levam 126 dias; num de sessenta e sete, 244; mas a média é de um terço de um ano. Um pastor batista tentou provar que ele era natural da Carolina do Sul apesar de ter nascido em outro estado, baseado no fato de que o corpo que ele trazia consigo de Tennessee mudara suas partículas físicas com matéria da Carolina do Sul. Entretanto, dois dentistas sustentavam que ele ainda tinha os mesmos dentes que possuía em Tennessee há sete anos e não havia circulação no seu esmalte. Podemos, então, dizer que todas partículas do corpo mudaram exceto o esmalte dos dentes? Martinus Scriblerus de Pope: "Sir John Cutler tinha um par de meias pretas macias que a sua criada cerzia tão freqüentemente com seda que elas pareciam tornar-se, finalmente um par de meias de seda". Adeney, em Christianism and Evolution, 122,123 – "O templo de Herodes era tido como idêntico ao que Ageu conhecia, porque a sua reconstrução foi gradual e acompanhada da demolição de várias partes da antiga estrutura". A onda do oceano viaja em volta do mundo e é a mesma onda; mas nunca é em dois minutos consecutivos formada das mesmas partículas de água. O Rio do Norte é o mesmo hoje que era quando Hendrick Hudson o descobriu; contudo, nenhuma partícula da sua corrente, nem a superfície das barrancas que a corrente ora banha, é a mesma que era naquela ocasião. Duas coisas fazem o atual rio idêntico ao do passado. A primeira é que o mesmo princípio formador ainda está em operação; a direção das
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barrancas é a mesma e há o mesmo efeito geral no fluxo e na direção das águas drenadas de uma grande área do país. A segunda é o fato de que, desde a época de Hendrick Hudson, tem havido uma conexão física, e velhas partículas em contínua sucessão foram substituídas por novas. Deste modo, requerem-se duas coisas que fazem o nosso futuro corpo o mesmo que este que nós agora habitamos: primeiro, que o mesmo princípio formador opera neles; e, segundo, que há o mesmo tipo de conexão física entre o atual corpo e o futuro. Debalde procuramos especular qual é a conexão física. Apenas ensinamos que o atual está no antigo, embora se possa dizer de tal conexão física: "O novo surgiu do antigo"; "aquilo que estava na sepultura saiu"; "o mortal se revestiu da imortalidade".
b) Que o corpo da ressurreição, tendo tão remota conexão física com o corpo presente, não pode ser reconhecido pela alma que nele habita ou por outros espíritos que testemunham como o mesmo que foi posto na sepultura. A isto respondemos que a identidade corporal não consiste em absoluto na semelhança de partículas durante toda a história do corpo, mas na força organizadora que, mesmo no fluxo e deslocamento das partículas, torna o velho a base do novo e prende ambos na unidade de uma simples consciência. Para o nosso reconhecimento dos amigos não dependemos totalmente, até mesmo neste mundo, da nossa percepção da forma física; e temos razão para crer que, no estado futuro, pode haver métodos de comunicação bem mais diretos do que os que nos são familiares aqui. Cf. Mt. 17.3,4 - Έ eis que lhes apareceram Moisés e Elias falando com ele. Ε Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés e um para Elias" - não há aqui nenhuma informação para Pedro quanto aos nomes dos visitantes celestiais; parece que, em seu estado de sensibilidade exaltada, ele já os conhecia. Recentes procedimentos da Sociedade Inglesa de Pesquisa Psicológica parecem indicar a possibilidade de comunicação entre duas mentes sem a mediação física (É o que desde alguns tempos vem sendo denominado de transmissão de pensamento). Hudson, Scientific
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2017
Demons, of a Future Life, 294,295, sustenta que a telepatia é o meio de comunicação no estado futuro. G. S. Fullerton, Sameness and Identity, 6,32,67 – "Heráclito de Éfeso declara que é impossível entrar duas vezes no mesmo rio. Crátilo replicou que não se pode entrar até mesmo uma vez.... Os tipos de semelhança são: 1. A semelhança consigo mesmo em qualquer instante; 2. Sentir hoje a mesma dor que senti ontem = dor semelhante; 3. Vejo a mesma árvore em diferentes épocas = duas ou mais percepções representam o mesmo objeto; 4. Duas plantas pertencentes à mesma classe são chamadas a mesma planta; 5. A memória nos dá o mesmo objeto que anteriormente percebemos; mas o objeto não é o do passado; é a memória-imagem que o representa; 6. Dois homens percebem o mesmo objeto = eles têm semelhantes percepções, conquanto ambas percepções apenas representam o mesmo objeto; 7. A coisa externa semelhante ao seu representante na consciência, ou à substância ou númeno que se supõe ser-lhe subjacente". Ladd, Philosophy of Mind, 153,255 – "O que se chama 'permanecer a mesma coisa', no caso dos seres orgânicos é precisamente isto; permanecer fiel a alguma idéia imanente, conquanto passe, como se fosse, por uma grande variedade de mudanças no percurso da idéia". ... A consciência própria e a memória são em si processos de adequação. A mente que não muda, rumo a um desenvolvimento, não tem o direito de se chamar mente. Não se pode estar consciente das mudanças sem também estar cônscio de que é o próprio ser que mudou. Quando ele perde essa consciência, dizemos que 'ele perdeu a sua mente'. Em meio às mudanças das suas idéias, o ego continua permanente porque é mantido dentro dos limites pelo poder de alguma idéia imanente. ... O nosso corpo, como tal, tem apenas uma existência formal. Ele é uma correnteza em fluxo constante e constante mutação. O meu corpo é apenas um empréstimo passageiro da natureza, a ser devolvido na morte". Com relação ao sentido do termo "identidade", aplicado às coisas materiais, ver Porter, Intelecto Humano, 631 – "Aqui se diz que a substância é a mesma, através de uma livre analogia tomada dos agentes livres e do seu crescimento e desenvolvimento gradual". O Eufrates é o mesmo rio que fluía, "Quando no Paraíso junto aos quatro rios arrastava as rosas", apesar
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2018
de que, depois disso, o fluxo, ou dilúvio, deixou de correr e obliterou todas as características naturais da paisagem. Do mesmo modo este organismo fluente que chamamos corpo pode ser o mesmo, depois que o dilúvio da morte passou. Um ponto de vista diferente e menos satisfatório é apresentado na Escatologia de Dorner: "Identidade envolve: 1. Forma plástica que, para o corpo terreno, tem o seu princípio moldador na alma. Tal princípio não pode efetuar nada que seja permanente no estado intermediário; mas na consumação espiritual da alma atinge a plena força de que pode apossar-se o corpo celestial, acompanhado de um processo cósmico, assemelhado ao de Cristo. 2. Apropriação, a partir do mundo de elementos, dos quais ele necessita. Os elementos nos quais tudo que fisicamente é terra se dissolve, são essencialmente uma massa uniforme, como um oceano; e não importa quais das suas partes são atribuídas a cada indivíduo. O mundo todo de substância, que torna possível a constante mudança da substância, é para a humanidade uma posse comum (At. 4.32 – 'ninguém deles dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns')".
c) Que um organismo material só pode ser considerado um embaraço para a livre atividade do espírito e que a suposição de tal organismo pela alma que, durante o estado intermediário, esteve separada do corpo, indicaria um declínio na dignidade e poder em vez de um progresso. Respondemos que não podemos avaliar as forças e capacidades da matéria quando Deus a sujeitou completamente ao espírito. Os corpos dos santos podem ser mais etéreos que o ar e capazes de mais rápido movimento que a luz e ainda ser substância material. Que a alma revestida do corpo espiritual terá mais exaltadas forças e gozará de mais completa felicidade que seria possível do que se mantivesse uma existência puramente espiritual é evidente do fato de que Paulo representa o clímax da bem-aventurança da alma ocorrendo, não na morte, mas na ressurreição do corpo.
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2019
Rm. 8.23 - "esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo"; 2 Co. 5.4 – "não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida"; Fp. 3.11 – "se, de alguma maneira, eu possa chegar à ressurreição dos mortos". Ainda SI. 86.11 – "une o meu coração ao temor do teu nome" - pode significar a reunião de todas as forças do corpo assim como da alma. A respeito disso, o corpo, como parte normal do ser humano, a Escritura se baseia na mais verdadeira filosofia. Plotino deu graças por não estar preso a um corpo imortal e recusava ser retratado porque o corpo é algo demasiado desprezível para ter a sua imagem perpetuada. Mas isto não é natural, nem é provavelmente algo mais do que capricho ou afetação. Ef. 5.29 – "nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta". O que nós desejamos não é a aniquilação do corpo, mas a sua perfeição. Renouf, Hibbert Lectures, 188 – "No Livro Egípcio dos Mortos, a alma volta a unir-se ao corpo, com a garantia de que eles nunca mais se separarão". McCosh, Intuitions, 213 - Ό essencial a respeito da ressurreição é o desenvolvimento, do corpo morto, de um órgão para a comunhão e atividade da vida espiritual". Ebrard, Dogmatik, 2.226-234, tem notas interessantes sobre a relação do corpo da ressurreição com o corpo atual. Ele considera que a diferença essencial é que, enquanto no corpo atual a matéria é senhora do espírito, no corpo da ressurreição o espírito é o senhor da matéria e não necessita de suprimento alimentar e tem o controle sobre as leis materiais. Ebrard acrescenta marcantes especulações sobre o corpo glorificado de Cristo. A. J. Gordon, Ministry of Spirit, 126 – "Agora o corpo tem o espírito, uma leve carruagem cujas rodas freqüentemente são incapazes e cujo movimento mais veloz é apenas trabalhoso e tardio. Mais tarde o espírito terá o corpo, levando-o como sobre as asas do pensamento como lhe apraz. O Espírito Santo, através da sua vontade que opera o interior, completou em nós a semelhança divina, e aperfeiçoou em nós o domínio divino. O corpo humano estará agora em soberana sujeição ao espírito humano e este ao divino e Deus será tudo em todos". Newman Smith, Place of Death in Evolution, 112 – "Weismann sustenta que o germe vivo não só persiste como é potencialmente imortal, mas também sob condições favoráveis parece capaz de envolver-se com um novo corpo. Se um germe vital pode
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2020
fazer isso, por que não o espiritual"? Dois mártires eram conduzidos ao pelourinho. Um era cego, o outro coxo. Quando se ateou o fogo, este exclamou: "Coragem, irmão! Este fogo nos curará a ambos"!
Podemos resumir nossas respostas às objeções e ao mesmo tempo lançar luz sobre a doutrina da ressurreição sugerindo quatro princípios que devem governar o nosso pensamento com relação ao assunto, a saber: 1. O corpo está em fluxo contínuo; 2. Porque a matéria é apenas a manifestação da mente e da vontade de Deus, o corpo é plasmado nas mãos de Deus; 3. A alma, em completa união com Deus, pode ser dotada do poder de Deus; 4. A alma determine o corpo e não o corpo a alma como imaginam os materialistas. O gelo, a fluente correnteza, a queda d'agua sobreposta pelo arco-íris, o vapor com sua força para impulsionar o trem ou explodir a caldeira da locomotiva, são todos eles os mesmos elementos em variadas formas e são todos materiais. Wundt considera o desenvolvimento físico, não a causa, mas o efeito, do desenvolvimento psíquico. Aristóteles define a alma como "a principal enteléquia do corpo vivo". Swedenborg considera cada alma aqui como formadora do seu corpo espiritual quer odioso, quer amável. Spencer, A Hymn to Beauty: "Porque da alma o corpo toma forma, Porque alma é forma, e o corpo a feitura".
V. JUÍZO FINAL Conquanto as Escrituras representem toda punição dos transgressores como indivíduos e todas manifestações da justiça vindicadora de Deus na história das nações como atos ou processos de juízo, elas também sugerem que estes juízos temporais são apenas parciais e imperfeitos e portanto, devem ser concluídos com uma vindicação final e completa da justiça de Deus. Isto se cumprirá tornando conhecido ao universo o caráter de todos os homens e conscientizandoos do correspondente destino.
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2021
Passagens que descrevem o juízo temporal ou espiritual: Sl. 9.7 – "Já preparou o seu tribunal para julgar"; Is. 26.9 – "havendo os teus juízos na terra, os moradores do mundo aprendem justiça"; Mt. 16.27,28 – "Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas obras. Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu Reino"; Jo. 3.18,19 – "quem não crê já está condenado porquanto não crê no Unigênito Filho de Deus. Ε a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más"; 9.39 – "Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam e. os que vêem sejam cegos"; 12.31 – "Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo". Passagens que descrevem o juízo final: Mt. 25.31-46 – "E, quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos anjos, com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta os bodes das ovelhas. ..." At. 17.31 – "tem determinado um dia em que, com justiça, há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dos mortos"; Rm. 2.16 – "no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo"; 2 Co. 5.10 – "Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal"; Hb. 9.27,28 – "E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação"; Ap. 20.12 – "E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros. Ε abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras". Delitsch: "A queda de Jerusalém foi o dia do Senhor, o sangüíneo e incandescente raiar do último grande dia – o dia dos dias, o dia final de todos os dias, o dia do ocaso de todos os dias, o dia da promoção do tempo para a eternidade, o dia que, para a igreja, rompe através da noite e além dela neste mundo atual". E. G. Robinson: "O Juízo começa aqui. O calejamento da consciência nesta vida é a aplicação da pena. A punição começa nesta vida e continua na futura. Não temos o direito de afirmar que
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2022
não há aplicação positiva da pena, mas, se não há, ainda cada palavra ameaçadora da Escritura deve persistir. Não há este dia do juízo ou da ressurreição tudo ao mesmo tempo. O juízo é um processo eterno. Os anjos em 2 Pe. 2.4 – 'lançados ... no inferno' – sofrem as perpétuas conseqüências da transgressão. ... O homem está sendo julgado a cada dia. Todo homem honesto para consigo mesmo está fazendo um truque e, se não tomar cuidado, o truque se voltará contra ele". (O brasileiro diz que "o feitiço se volta contra o feiticeiro").
1. Natureza do juízo final O juízo final não é um processo espiritual, invisível, infinito, idêntico à providência de Deus na história, mas um evento exterior e visível ocorrendo em um período definido no futuro. Argumentamos isto nas seguintes considerações: a) O juízo só é algo para o que o mal está "reservado" (2 Pe. 2.4,9); algo esperado para o futuro (At. 24.25; Hb. 10.27); algo após a morte (Hb. 9.27); algo para o que a ressurreição é uma preparação (Jo. 5.29). 2 Pe. 2.4,9 – "Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno ... reservar os injustos para o Dia do juízo"; At. 24.25 – "E, tratando ele da justiça, e da temperança, e do Juízo vindouro, Félix, espavorido, ..."; Hb. 10.27 – "uma certa expectação horrível de juízo"; 9.27 - "aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo"; Jo. 5.29 - "para a ressurreição da condenação".
b) O que acompanha o julgamento, como a segunda vinda de Cristo, a ressurreição, as mudanças exteriores da terra são eventos que têm um aspecto exterior e visível assim como interior e espiritual. Somos compelidos a interpretar as predições do juízo final com base no mesmo princípio.
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2023
Jo. 5.28,29 – "Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. Ε os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação"; 2 Pe. 3.7,10 – "o Dia do Juízo ... o Dia do Senhor... no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão e a terra e as obras que nela há se queimarão"; 2 Ts. 1.7,8, 2.10 – "quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, com labareda de fogo tomando vingança dos que não conhecem a Deus ... quando ele vier... naquele Dia".
c) A justiça de Deus na obra histórica e imperfeita do juízo necessita de um juízo exterior para sua vindicação. "Uma justiça perfeita deve julgar não só as unidades morais, mas os agregados morais; não só as particularidades da vida. mas a vida como um todo". O crime que se acha oculto e triunfante aqui e a bondade que aqui é retribuída com mal e oprimida, devem ser trazidos à luz e adequadamente recompensados. "Doutra forma o homem seria um Tântalo – ansiando, mas nunca se satisfazendo"; e a justiça de Deus cuja administração exterior é expressão só pode ser considerada de forma aproximada. Renouf, Hibbert Lectures, 194 – "O Livro Egípcio dos Mortos representa a pessoa falecida em pé na presença da deusa Maat, que se distingue por ter uma pena de avestruz em sua mão; ela segura o cetro numa das mãos e, na outra, o símbolo da vida. O coração do homem, que representa sua natureza moral completa, está sendo pesado na presença de Osíris, sentado no seu trono como juiz dos mortos". O racionalismo crê no juízo apenas presente e temporal; e isso ele considera a reação da lei natural: "Die Weltgeschichte ist das Weltgericht" [a história do mundo é a justiça do mundo] (Schiller, Resignação). Porém há uma conexão íntima entre os juízos presente, temporal, espiritual e o juízo final, exterior e completo da parte de Deus. O assassinato que Nero praticou da sua própria mãe não foi apenas a pena do seu assassinato de Germânico. Dorner: "Com o aparecimento de Cristo, a fé vê que chegou o começo e o fim do juízo. Os cristãos são uma raça de profetas. Sem o juízo, a
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2024
cristandade retrocederia para um tipo de dualismo: o mal e o bem seriam de igual poder e mérito. A cristandade nem sempre pode conservar um princípio histórico lado a lado com o princípio contrário que é o do mal. É a única realidade". Deus mostrará ou tornará conhecida a sua justiça quando se considera: 1) a disparidade de destino entre os homens; 2) a prosperidade dos ímpios; 3) a permissão dos maus costumes em geral; 4) a consistência da expiação com a justiça. "A συντέλεια του αιώνος (Ό fim do mundo', Mt. 13.39) = despojamento hostil das forças do seu poder usurpado, revelação da falsidade e impotência consignando-as ao passado. O mal será totalmente desarraigado, terminada a sua nulidade, ou se tornará um elemento subordinado". Um grande estadista dizia que ele temia para seu país fosse não o dia do juízo, mas o dia do não juízo. "Júpiter derrota os Titãs, não quando eles começam a amontoar os montes, mas quando outra rocha coroa a obra deles". R. W. Emerson: "Deus disse: Estou cansado de reis; não os suporto mais; Até aos meus ouvidos a manhã traz o ultraje do pobre". Royce, The World and Individual, 2.384 – "Se a vida de Deus é dada para libertar cada alma, então cada vida pode ser entregue também para libertar as nações e a raça humana. Pode haver a apostasia de uma família, de uma nação, de uma raça e o juízo de cada uma segundo as suas obras". The Expositor, mar. 1898 – "Reivindica-se que estamos sendo julgados agora, que as leis se executam a si mesmas, que o sistema do universo é automático, que não há necessidade de retribuição futura. Mas todas as eras têm concordado que não há em qualquer parte e lugar qualquer vindicação suficiente do princípio da justiça eterna. Os moinhos dos deuses moem de vagar. A imoralidade física não é punida proporcionalmente. A deterioração não é uma pena adequada. Contar uma segunda mentira não compensa a primeira. O castigo inclui dor, e aqui não há dor. Porque aqui não há punição devida, nem lei, mas graça". Denney, Studies in Theology, 240,241 – "A concepção dualística de um eterno suspenso em que o bem e o mal permanentemente contrabalançamse reciprocamente e reciprocamente competem o direito de herdar a terra, é virtualmente ateísta e a Bíblia toda protesta contra isso.... É impossível superestimar o poder do juízo final, como um motivo, na igreja primitiva. Em quase todas páginas de São Paulo, por exemplo, vemos que ele vive na
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2025
presença disso; ele permite que o seu pavor desça ao coração para manter a consciência despertada".
2. Objetivo do juízo final O objetivo do juízo final não é a certificação, mas a manifestação do caráter e a designação da condição exterior correspondente a ela. a) Para o juiz onisciente, a condição de todas criaturas morais já é plenamente conhecida. No último dia haverá apenas "a revelação do justo julgamento de Deus". Elas (criaturas) são julgadas interiormente quando morrem, e antes disso; são julgadas exteriormente no último dia: Rm. 2.5,6 – "entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus, o qual recompensará cada um segundo as suas obras" – ver Meyer sobre esta passagem; não "contra o dia da ira", mas "no dia da ira" = esta existente de antemão, mas irrompendo naquele dia. 1 Tm. 5.24,25 – "Os pecados de alguns homens são manifestos precedendo o juízo e em alguns manifestamse depois. Assim mesmo também as boas obras são manifestas, e as que são doutra maneira não podem ocultar-se"; Ap. 14.13 – para que descansem dos seus trabalhos e as sua obras os sigam" – como companheiros, na presença e juízo de Deus (Ann. Par. Bible). Epitáfio: "Hic jacet in expectatione diei supremi. ... Qualis erat, dies iste indicabit" – "Aqui jaz na expectação do último dia.... Qual era o tipo da expectação é o que será mostrado". Shakespeare, Hamlet, 3.3 – "Nas corruptas correntes deste mundo, a dourada mão do crime pode torcer a lei e, comumente, já se viu o próprio lucro infame subornar a justiça. Mas não acontece assim lá em cima. Lá não valem os subterfúgios; lá a ação se mostra tal e qual é e nós mesmos nos vemos obrigados a reconhecer sem rebuços nossas culpas, cara a cara com elas"; Rei João, 4.2 - "Oh! quando, enfim, for feito o final acerto de contas, então esta mão e selo [garantia para o assassino do Rei Artur] vai testemunhar contra nós a condenação"! "A vossa piedade toda não pode seduzi-la [a justiça] para cancelar ainda que seja metade de uma linha, nem as vossas lágrimas lavar uma das suas palavras".
Teologia Sistemática (Strong) 2026 b) Na natureza do homem há evidências e preparações para esse desfecho. Dentre estas podem ser mencionadas a lei da memória, pela qual a alma preserva os registros dos seus atos tanto bons como maus (Lc. 16.25); a lei da consciência, pela qual o homem involuntariamente antecipa a punição dos seus próprios pecados (Rm. 2.15,16; Hb. 10.27); a lei do caráter, pela qual cada pensamento e ação produz indelével impressão sobre toda a natureza moral (Hb. 3.8,15). Lei da memória. – Lc. 16.25 - "Filho, lembra-te"! Ver Maclaren, Sermons, 1.109-122 – Memória 1) abrangerá todos os eventos da vida passada 2) abrangerá todos eles de uma vez; 3) abrangerá continuada e continuamente. A memória é um processo de registro dos pecados feito pelo próprio indivíduo. A mente é um palimpsesto; apesar de o escrito original ter sido apagado, a tinta penetrou toda a espessura do pergaminho e a química de Deus é capaz de revivê-la. Hudson, Dem. of Future Life, 212,213 – "Memória subjetiva é a retenção de todas idéias, por mais superficiais que tenham sido impressas na mente objetiva; e não admite nenhuma variação em diferentes indivíduos. A lembrança é o poder de trazer as idéias de volta à mente. Isto varia grandemente. Sir William Hamilton chama-as de 'latência mental'". Lei da consciência. – Rm. 2.15,16 – "os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os, no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo"; Hb. 10.27 – "uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo, que há de devorar os adversários". Goethe dizia que os seus escritos, em seu conjunto, constituíam-se uma grande confissão. Wordsworth, Excursion, III. 579 – "Porque, como uma praga explodirá a memória, E, no vazio e solidão das coisas, Sobre o seu espírito, com uma força febril, a consciência afligirá". Certo homem que veio a tornar-se um pregador metodista converteu-se nos tempos de Whitefield com uma visão do juízo, na qual ele contemplou os homens reunidos diante do trono, e cada um aproximando-se do livro da lei de Deus, chorando em seu coração diante do referido livro "como alguém que o teria aberto ao peito da sua camisa", comparando o seu coração com as coisas escritas e, conforme concordavam ou discordavam daquele
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2027
padrão, ou passando triunfantes para a companhia dos benditos, ou indo, com gemidos, para a companhia dos condenados. Não se diz uma palavra; senta-se em silêncio o Juiz; o juízo é uma das auto-revelações e uma autocondenação. Lei do caráter. – Hb. 3.8,15 – "Não endureçais o vosso coração, como na provocação". O pecado deixa suas marcas na alma; os homens "perdem todo o sentimento" (Ef. 4.19). Na Inglaterra, os fiéis reconhecem um contraditor pelos seus passos – o que não é um mau índice para se reconhecer um homem. Deus só precisa apresentar o nosso caráter para mostrar como tem sido a nossa vida. O pecado deixa as suas cicatrizes na alma, de um modo tão certo como a concupiscência e a ira deixam as suas marcas no corpo. O mesmo acontece com a manifestação do bem – "o cavalheiro que age corretamente e desconsidera o sim e o não do mundo.... Tenha a expectação de não questionar nem responder àquilo que entendemos como o tribunal do juízo divino" (Robert Browning, Ring and Book, 178, 202). O Senhor Edison diz: "Dentro de poucos anos o mundo se assemelhará a um grande ouvido; estará inseguro de falar em casa e não ser espionado pelas paredes e móveis contendo fonógrafos (hoje, gravadores, ou micro cameras escondidos)". Mas hoje mesmo o mundo é "um grande ouvido", e nós mesmos, com o nosso caráter, escrevemos o livro do juízo. Brooks, Found, of Zoology, 134, 135 – "Cada parte do universo material contém um registro permanente de cada mudança que ocorre dentro dele e não há limite para o poder de mentes semelhantes às nossas de lê-lo e interpretá-lo". Draper, Conflict of Science and Religion: "Se num frio metal polido, como uma navalha nova, se puser qualquer objeto, como uma bolacha, e se soprar sobre o metal e, quando a umidade tiver tempo para desaparecer, a bolacha for jogada fora, apesar de que a mais crítica inspeção da superfície polida não pode identificar nenhum traço de qualquer forma, se soprarmos outra vez, uma imagem espectral da bolacha aparece nitidamente à vista; e pode-se repetir isso várias vezes. Ainda mais; se se puser cuidadosamente de lado o metal polido onde nada danifique a superfície, e se conservar assim por vários meses, soprando-o novamente, aparecerá a forma sombreada. Uma sombra nunca incide sobre um muro sem deixar em
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2028
conseqüência um traço permanente, que possa tornar-se visível através de recursos próprios. Nas paredes do nosso mais privativo apartamento, que pensamos estar fechado ao olho do intruso, e que a nossa privacidade nunca pode ser profanada existe o vestígio de todos os nossos atos". Babbage, Ninth Brigemater Treatise, 113-115 – "Se tivéssemos força para seguir e detectar os mínimos efeitos de qualquer perturbação, cada partícula da matéria existente forneceria um registro de tudo quanto aconteceu. O rastro de cada canoa, de cada navio que ainda perturbava a superfície do oceano, se impelido por uma força manual ou elementar, permanece sempre registrado no movimento futuro de todas as sucessivas partículas que ocupam o seu lugar. O sulco que deixou é, na verdade, completado pelas águas que se fecham, mas elas trazem após si outras porções maiores do elemento circundante e estas novamente, uma vez movimentadas, comunicam o impulso a outras numa infinda sucessão. O próprio ar é uma grande biblioteca em cujas páginas se encontra perenemente escrito tudo o que o homem disse ou, até mesmo, cochichou. Em seu caráter mutável, mas inerrante, misturado com o mais primitivo assim como o mais tardio suspiro de mortalidade, fica perenemente registrado o não redimido juramento, promessa não cumprida, perpetua-se nos movimentos unidos de cada partícula o testemunho da mutável vontade do homem.
c) Os simples atos e palavras, portanto, devem ser trazidos a juízo só come indicações da condição moral da alma. Esta manifestação de todos corações vindicará não só os procedimentos passados de Deus, mas a sua determinação dos destinos futuros. Mt. 12.36 – "Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo"; Lc. 12.2,8,9 – "Nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido.... todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus"; Jo. 3.18 – "Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado,
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2029
porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus"; 2 Co. 5.10 – "Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo". Até o juiz humano, ao lavrar a sentença, via de regra se esforça para realçar a culpa do criminoso para que ele veja que a sua sentença é justa. Deste modo Deus despertará a consciência do perdido e o levará ao julgamento por si mesmo. Cada alma perdida pode dizer como o Manfredo de Byron ao inimigo que torturou sua hora final: "Eu não fui teu ludibriado, nem sou tua presa, Mas fui meu próprio destruidor". Assim, o juízo final da parte de Deus será apenas o clímax de um processo de seleção natural através do qual os inadequados são eliminados e os adequados sobrevivem. O. J. Smith, The Essential Verity of Religion: "A crença na imortalidade da alma e a responsabilidade desta são crenças fundamentais em toda a religião. A origem da crença na imortalidade fundamenta-se no fato de que é possível estabelecer-se a justiça nos negócios humanos com base apenas na teoria de que a alma do homem é imortal e a crença de que o homem é eternamente responsável pelas suas ações baseia-se na convicção de que a justiça deve ser e será aplicada. Por isso, a verdade central da religião é a justiça eterna. É o senso de justiça que nos torna seres humanos. A religião não tem, de modo algum, origem miraculosa; ela nasce com o despertar do senso moral do homem. A amizade e o amor baseiam-se na reciprocidade, que é a justiça. "A justiça universal', diz Aristóteles, 'inclui todas virtudes'". Se a palavra justiça aqui significa justiça divina, implícita no despertar do senso moral do homem, concordamos com o que ficou dito. Como já sugerimos anteriormente, consideramos a crença na imortalidade uma inferência da intuição da existência de Deus, e cada prova nova de que Deus é justo fortalece a nossa convicção da imortalidade.
3. O Juiz no juízo final Deus, na pessoa de Jesus Cristo, deve ser o juiz. Apesar de que Deus é o juiz de todos (Hb. 12.23), tal atividade judicial é exercida através de Cristo no último dia assim como é no presente (Jo. 5.22,27). Hb. 12.23 - "o juiz de todos"; Jo. 5.22,27 – "E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo. ... Ε deu-lhe o poder de exercer todo o juízo, porque é o Filho do Homem". Stevens, Johanine Theol., 349 – "Jesus
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2030
diz que a ninguém julga (Jo. 8.15). Ele não julga pessoalmente os homens. Sua atitude para com eles é tão somente a de um Salvador. A sua obra, a sua palavra, a sua verdade, é que pronuncia a condenação contra eles tanto aqui como daqui em diante. O julgamento é que a luz já veio; a atitude dos homens para com a luz envolve o juízo deles; a luz os julga, ou, eles julgamse a si mesmos.... O Salvador não vem para julgá-los, mas para salvá-los; mas porque rejeitam a salvação, mudam a mensagem salvadora em juízo".
Isto por três razões: a) A natureza humana de Cristo capacita os homens a entender tanto a lei como o amor de Deus e assim tornar inteligíveis as bases sobre as quais se passa o julgamento. Quem quer que diga que Deus está muito distante e é grande demais para ser entendido pode indicar-se a Cristo em cuja vida humana a divina "lei aparece, extraída em caracteres vivos", e o amor divino se manifesta, no sofrimento na cruz para salvar os homens dos pecados que eles cometeram.
b) A perfeita natureza humana de Cristo unida à divina garante tudo o que é necessário no verdadeiro juízo, a saber, que é tanto misericordioso como justo. At. 17.31 - "com justiça há de julgar o mundo por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dos mortos". A. F. Robertson mostrou em seu sermão sobre "A Simpatia de Cristo" (vol. 1. sermão vii), que não é o pecado que simpatiza com o pecado. O pecado cega e petrifica. Só o puro pode compreender as necessidades dos impuros, e sentir por eles.
c) A natureza humana assentada no trono do juízo fornecerá prova convincente de que Cristo recebeu a recompensa dos seus sofrimentos e a humanidade foi perfeitamente redimida. Os santos "julgarão o mundo" só no sentido de que eles são um em Cristo.
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O humilde Filho do Homem sentar-se-á no trono do juízo. Ε juntará consigo mesmo todos os crentes. Mt. 19.28 – "vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos para julgar as doze tribos de Israel"; Lc. 22.28-30 – "E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações. Ε eu vos destino o Reino, comp meu Pai mo destinou, para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos assenteis sobre tronos, julgando as doze tribos de Israel"; 1 Co. 6.2,3 – "Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? ... Não sabeis que havemos de julgar os anjos"? Ap. 3.21 – "Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono".
4. Quem está sujeito ao juízo final? As pessoas sobre cujos caracteres e conduta ocorrerá este juízo são de duas classes: a) Todos homens – cada um possuidor de corpo e alma: os mortos que hão de estar ressurretos e os vivos que hão de ser transformados. 1 Co. 15.51,52 – "Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados"; 1 Ts. 4.16,17 – "Porque o Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor no ares, e assim estaremos sempre com o Senhor".
b) Todos os anjos maus – os anjos bons aparecerão apenas como assistentes e ministros do Juiz. Anjos maus: 2 Pe. 2.4 – "Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno os entregou às cadeias da
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escuridão, ficando reservados para o juízo"; Jd. 6 – "E os anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande Dia"; Anjos bons: Mt. 13.41,42 – "Mandará o Filho do Homem os seus anjos, e eles colherão do seu Reino tudo o que causa escândalo e os que cometem iniqüidade. Ε lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes"; 25.31,32 – "E, quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos anjos, com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele".
5. Bases do juízo final São duas: a) A lei de Deus, que se torna conhecida na consciência e na Escritura. Jo. 12.48 – "Quem me rejeitar a mim e não receber as minhas palavras já tem quem o julgue; a palavra que eu tenho pregado, essa o há de julgar no último dia"; Rm. 2.12 – "Porque todos os que sem lei pecaram sem lei perecerão; e todos os que sob a lei pecaram pela lei serão julgados". Dr. Noble cita Daniel Webster no caso Knapp em Salém: "Não há refúgio a partir da confissão, mas suicídio, e suicídio é confissão". Tomas Carlyle disse a Lorde Houghton: "Richard Milnes! no dia do juízo, quando o Senhor vos perguntar por que não destes pensão a Alfred Tennyson, não haverá censura aos vossos constituintes; vós é que estareis perdido".
b) A graça de Cristo (Ap. 20.12); aqueles cujos nomes "estão escritos no livro da vida" estão aprovados, simplesmente por causa da união com Cristo e participação na sua justiça. As suas obras serão trazidas a juízo só como provas de sua relação com o Redentor. Aqueles cujos nomes não "estão escritos no livro da vida" serão julgados pela lei de Deus como Deus a fez conhecer a cada indivíduo. Ap. 20.12 – "E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros. Ε abriu-se outro livro, que é o da vida; e os
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mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras". O livro da vida" = o livro da justificação, no qual estão os nomes dos que se uniram a Cristo pela fé; como o "livro da morte" seria = o livro da condenação, no qual estão escritos os nomes dos que permanecem em seus pecados como transgressores da lei de Deus não arrependidos e não perdoados. Ferries, em Hastings' Bible Dictionary, 2.821 – "Num aspecto ou estágio, o juízo é um ato presente. Porque o Cristo do juízo veio a este mundo (Jo. 9.39). Há uma verdadeira separação dos homens no progresso aqui e agora. ... Este juízo em progresso agora, destina-se a ser aperfeiçoado. ... No juízo final, Cristo, como antes, será o Juiz. ... Pode-se dizer que os próprios homens julgar-se-ão a si mesmos. Os que são dessemelhantes a Cristo achar-se-ão separados dele. As duas classes de pessoas serão apartadas por terem adquirido naturezas distintas como as ovelhas e os bodes.... O caráter de cada pessoa é um 'livro' ou registro que preserva, nos efeitos morais e espirituais, tudo o que ela foi, fez e amou e, no juízo, tais livros serão 'abertos', ou o caráter de cada homem se manifestará quando a luz do caráter de Cristo incidir sobre ele. ... O próprio povo de Cristo recebe diferentes recompensas, de acordo com o seu viver". Dr. H. E. Robins, em seu Restatement, sustenta que somente sob o sistema da graça podem as obras no corpo tornar-se a base do juízo. Não são elas obras de moral exterior, mas o arrependimento e a fé. São os frutos do Espírito, que surgem do coração quebrantado e contrito. Cristo, o cabeça do reino mediador, será o justo Juiz. Deste modo, o Juízo é, para o justo, uma bênção sem mescla. Para eles, as palavras "prepara-te para encontrares com teu Deus" (Am. 4.12) não devem aterrorizar; porque encontrar-se com Deus é encontrar o livramento e o galardão. "Ensina-me a viver para que eu tema tão pouco a cova como o meu leito; Ensina-me a morrer de tal forma que eu possa ressuscitar em glória no dia do juízo". Ver sobre o assunto completo Hodge, Outlines of Theology, 456,457; Martensen, Christian Dogmatics, 465,466; Neander, Planting and Training, 524-526; Jonathan Edwards, Works, 2:499,500; 4:202-225; Fox, in Lutheran Rev., 1887:206-226.
Teologia Sistemática (Strong) VI. ESTADO FINAL DO JUSTO Ε Ο DO ÍMPIO
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1. Do justo O estado final dos justos é descrito como vida eterna (Mt. 25.46), glorie (2 Co. 4.17), descanso (Hb. 4.9), conhecimento (1 Co. 13.8-10), santidade (Ap. 21.27), serviço (Ap. 22.3), adoração (Ap. 19.5), sociedade (Hb. 12.23). comunhão com Deus (Ap. 21.3). Mt. 25.46 – "E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna"; 2 Co. 4.17 – "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente"; Hb. 4.9 – "Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus"; 1 Co. 13.8-10 – "O amor nunca falha, mas, havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas cessarão; havendo ciência desaparecerá; porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado"; Ap. 21.27 – "E não entrará nela coisa alguma que contamine e cometa abominação e mentira, mas os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro"; 22.3 – "e os seus servos o servirão"; 19.1,2 – "Depois destas coisas, ouvi no céu como que uma grande voz de uma grande multidão, que dizia: Aleluia! Salvação, e glória, e honra, e poder pertencem ao Senhor, nosso Deus, porque verdadeiros e justos são os seus juízos"; Hb. 12.23 – "à universal igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus"; Ap. 21.3 – "E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus". Is. 35.7 – "Ε a terra seca se transformará em tanques" = a aspiração se tornará em realidade; Os. 2.15 – "E lhe darei... o vale de Açor [isto é, perturbação] por porta de esperança". Vitor Hugo: "Se você persuadir Lázaro de que o seio de Abraão não o aguarda, ele não ficará à porta de Dive [espírito mau no império de Arimã], a fim de ser alimentado com as migalhas; ele caminhará para casa e fará a Dive voar janela a fora". Foi o pregador dos metodistas que salvou a Inglaterra do desastre da Revolução Francesa. Fez o povo comum esperar a solução das desigualdades e injustiças desta vida numa vida futura – um mundo de menos atritos do que
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este (S.S. Times). Nos Alpes não se tem idéia alguma dos vales até que se entre neles. Podemos querer ascender, mas apenas a verdadeira ascensão pode mostrar a beleza deles. Ε depois, "do outro lado dos Alpes fica a Itália", e a revelação do céu será semelhante à explosão da paisagem solar depois de atravessar as trevas do túnel de São Gotardo. Robert Hall, que durante anos sofrerá de aguda dor física, disse a Wilberforce: "Minha principal concepção a respeito do céu é descanso". "A minha", respondeu Wilberforce, é amor – a Deus e a cada brilhante morador daquele glorioso lugar". Wilberforce gostava da sociedade. O céu não é totalmente um repouso. Na sua porta está escrito: "Só é permitida a entrada para atividade", "os seus servos o servirão" (Ap. 22.3). Butler, Things Old and New, 143 – "Nós não sabemos; mas se ali a vida for o resultado e a coroa disto: O que mais pode tornar perfeita a bênção do que a participação na obra do seu Senhor? Descanso, sim, mas não em sonolenta quietude, Trabalho, mas não em selvagem intranqüilidade, sempre bênçãos, sempre abençoados, eles nos vêem como o Pai nos vê". Mt. 6.20 – "ajuntai tesouros no céu" = não há nenhum investimento permanente a não ser no céu. Na morte, o homem só merece o que ele enviou. Cristo prepara um lugar para nós (Jo. 14.3) reunindo com ele os nossos amigos. Louise Chandler Moulton: "Um dia ou outro sem dúvida voltarei ao lugar onde os verdadeiros corações me aguardam; Então deixeme aprender a língua dali enquanto eu estiver aqui na terra; Para que os meus pobres lábios, por falta de palavras, não seja mudo, no meio daquele grupo elevado". Bronson Alcott: "O céu será para mim um lugar onde eu posso ter pouco que conversar". Alguns dos seus amigos pensavam que seria um lugar onde ele poderia ouvir a sua própria conversa. Quando perguntaram a um piedoso escocês se ele esperava chegar ao céu, ele respondeu: "Ora, eu vivo ali agora"!
Resumindo tudo isto, podemos dizer que é a plenitude e perfeição da vida santa em comunhão com Deus e com os espíritos santificados. Apesar de haver graus de bem-aventurança e honra proporcionais à capacidade e fidelidade de cada alma (Lc. 19.17,19; 1 Co. 3.14,15), cada um receberá tão grande medida de galardão conforme puder conter (1
Teologia Sistemática (Strong) 2036 Co. 2.9), e a partir do momento em que se entra nesse estado final, não haverá mudança no gênero e será infinito na duração. Lc. 19.17,19 – "Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás autoridade ... Sê tu também sobre cinco cidades"; 1 Co. 3.14,15 – "Se a obra que alguém edificou nesta parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo"; 2.9 – "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam"; Ap. 3.12 – "A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá"; 22.15 – "Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idolatras, e qualquer que ama e comete a mentira". Na parábola dos trabalhadores (Mt. 20.1 -16), cada um recebe um denário. A recompensa no céu será igual, no sentido de que cada alma salva se encherá de bens. Mas as recompensas variam no sentido de que a capacidade de cada um é maior do que a do outro; e tal capacidade é em parte o resultado do nosso aprimoramento dos dons de Deus na vida presente. O valor relativo de um denário pode, deste modo, variar de uma simples unidade a um número indefinidamente grande conforme a obra e o espírito de quem recebe. O denário é bom somente para o que ele pode comprar. Para o homem da décima primeira hora que realizou um pequeno trabalho, o denário não compra tão doce repouso como aquele que "suportou o cansaço e o calor do dia". Não compra o apetite nem a alegria da consciência. E. G. Robinson: "O céu não deve ser comparado com o gafanhoto que flutua correnteza abaixo. O céu é um lugar onde os homens são recebidos, ao deixarem este mundo e passarem adiante. Nenhum pecador entra lá embora possa haver quem esteja lá com o caráter incompleto. Na Escritura não há indicação de uma súbita transformação na hora da dissolução como freqüentemente se supõe". SI. 84.7 – "Vão indo de força em força; cada um deles em Sião aparece perante Deus" – não é possível que o progresso cesse com a nossa entrada no céu; ao invés disso, a verdade é que começa o progresso ininterrupto. 1 Co. 13.12 – "porque agora vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face". Lá o progresso não se dirige à
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esfera do infinito, mas para dentro dele. Neste mundo somos como os homens que vivem numa cova, e se orgulham das velas com pavio de junco com que eles a exploram, e não querem crer que haja uma região de luz solar onde tais velas são desnecessárias. O céu compreende libertação das organizações físicas defeituosas e circunstantes, assim como dos resquícios de mal nos nossos corações. No céu, o descanso é consistente com o serviço, atividade incansável, serviço que é perfeita liberdade. Quando entramos no céu, somos perfeitos, no sentido de estarmos livres do pecado; mas desenvolvemo-nos no sentido de uma maior perfeição daí para frente, visando a um ser maior e mais completo. A árvore frutífera mostra perfeição a cada estágio de seu desenvolvimento – o rebento perfeito, a flor perfeita e, finalmente o fruto perfeito; contudo o rebento e a flor são elementos preparatórios e proféticos; nenhum deles é a finalidade. Deste modo, "quando vier o que é perfeito, o que é em parte será aniquilado" (1 Co. 13.10). Um Homem de espádua larga, convertido na Missão de Resgate disse: "Sou o homem mais feliz desta sala na noite de hoje. Não poderia ser mais feliz a não ser que eu fosse maior". Uma pequena vasilha pode estar tão cheia de água como um grande tonel, mas o tonel comporta muito mais do que a vasilha. Estar "cheio da plenitude de Deus" (Ef. 3.19) significa muito mais no céu do que na terra, porque lá "podemos compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede a todo entendimento" (Ef. 3.18,19). O tempo pode vir na eternidade quando seremos iguais ao que agora concebemos que Deus seja (1 Co. 2.9). A República de Platão e a Utopia de More são apenas figuras terrenas da cidade de Deus na visão de João. A representação do céu como uma cidade parece que pretende sugerir a segurança contra cada inimigo, a provisão de cada necessidade, a intensidade da vida, a variedade de emprego e o relacionamento estreito com os outros; ou como o Hastings' Bib. Diet, 1.446, expõe: "Segurança, Confiança, Serviço" (Safety, Security, Service, SSS). Aqui, a maior degradação e pecado encontram-se nas grandes cidades. Ali, a vida da cidade ajudará a santidade, como a vida daqui ajuda a iniqüidade. O amor fraternal no mundo vindouro implica conhecer aqueles a quem nós amamos, e amar àqueles que conhecemos.
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Sem dúvida ali não conheceremos menos do que aqui. Se aqui conhecemos os nossos amigos, nós os conheceremos ali. E, como o amor a Cristo aqui nos aproxima uns dos outros, do mesmo modo ali amaremos mais os amigos, não menos, por causa da maior aproximação a Cristo. Zc. 8.5 - "E as ruas da cidade se encherão de meninos e meninas que nelas brincarão". Newman Smyth, Through Science to Faith, 125 – "Como dos mais elevados animais do mesmo modo com mais propriedade é verdade a respeito dos homens e mulheres, que aqueles que melhor brincam serão mais bem sucedidos e mais prósperos". Horace Bushnell, no seu ensaio, Trabalho e Diversão, sustenta que a obra ideal é a executada tanto de coração como com alegria e com tal superioridade de energia que se torna um lazer. Tal é a atividade no céu: Jo. 10.10 – "Eu vim para que tenhais vida e a tenhais em abundância". Entramos em contato com a vida de Deus: João 5.7 – "Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho". Uma enfermeira que tinha estado mal durante dezessete anos disse: "Se eu estivesse bem, estaria num hospital de varíola. Não estou indo para o céu para ficar sem fazer nada". Savage, Life After Death, 129, 292 – "No universo de Dante, a única razão para não ganhar o céu é o desejo de ganhar outro lugar qualquer. Não há nada no céu que tenha que ver com ele e nada de humano que o estimule a entrar nele.... Um bom diácono, em sua depressão, pensava que ele iria para o inferno; mas quando lhe perguntaram o que ele iria fazer lá ele respondeu que tentaria começar a fazer uma reunião de oração".
Com relação ao céu, apresentam-se duas perguntas, a saber: a) O céu é um lugar assim como um estado? Respondemos que isto é provável, em razão de que a presença do corpo humano de Cristo é essencial ao céu e que tal corpo deve confinarse a um lugar. Visto que divindade e humanidade são indissoluvelmente unidas na pessoa de Cristo, não podemos considerar a alma humana de Cristo limitada a lugar sem desprover da divindade a sua pessoa. Porém não podemos conceber seu corpo humano como onipresente. Como os novos corpos dos santos estão confinados a lugar, assim parece que deve
Teologia Sistemática (Strong) 2039 ser o corpo do seu Senhor. Mas embora o céu seja um lugar onde Cristo manifesta a sua glória através do corpo humano que assumiu na encarnação, nossa concepção mestra do céu deve ser algo mais elevada mesmo do que isto, a saber, de um estado de comunhão santa com Deus. Jo. 14.2,3 – "Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, voltarei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também"; Hb. 12.14 – "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor". Embora o céu seja provavelmente um lugar, de modo algum permitimos que esta concepção se torne preponderante em nossas mentes. Milton: "A mente é o seu próprio lugar e em si mesma Pode fazer do inferno um céu". Quando atravessa os portais da morte, cada cristão pode dizer, como César, ao atravessar o Rubicão: "Omnia mea mecum porto". [A citação confunde César com Bias, que, "durante as invasões persas aconselhou seus compatriotas a emigrarem para a Sardenha e lá fundarem uma cidade pan-jônica; mas somente foi atendido após a derrota de Creso diante das forças de Ciro. Como os habitantes de Priena se admirassem com o fato de o filósofo não efetuar preparativos para acompanhá-los, este lhes respondeu: Omnia mea mecum porto' = Levo comigo todas as minhas coisas, ou, Levo comigo tudo o que tenho". Quanto à travessia do Rubicão a cena é a seguinte: "Suetônio a atribui a César (Caesar, 32), antes de atravessar o Rubicão, rio que separava o território de Roma e a Gália, então província romana. A travessia, que era interditada a César, representava gesto de hostilidade, de uma guerra aberta à República. Há dúvidas sobre a autenticidade da exclamação". Alguns incluem a afirmação de que, antes do pronunciamento da referida frase, César determinara a queima das pontes e barcos para que nenhum de seus subordinados, covardemente, decidisse recuar ante o perigo da perda da vida na tão perigosa peleja. (NT) Ver Enciclopédia do Mérito, ALEA JACTA EST, loc. lat. Significa a sorte está lançada]. O hino "Oh! canta do céu para mim quando eu for convocado para a morte" não é uma verdadeira experiência cristã. Nessa hora a alma canta, não a respeito do céu, mas de Jesus e sua cruz. Como as casas nas planícies ribeirinhas, acessíveis aos barcos em tempos de alagamento, protege só os bens num compartimento superior, do mesmo modo, o tesouro
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ajuntado lá em cima escapa aos dilúvios do dia final. Dorner: "A alma terá verdadeira liberdade e nunca mais se tornará prisioneira; a indestrutível energia do amor surge da união com Deus". Milton: O que seria se a terra fosse apenas uma sombra do céu e, das coisas que ela contém, cada uma fosse igual a uma outra, mais do que se pensa ser aqui na terra? Omar Khayyam, Rubáiyát, estrofes 66,67 - "Mandei à minha alma através do Invisível, uma certa carta para soletrar depois da vida: e através da minha alma ela voltou para mim; então respondi: 'Eu mesmo é que sou o Céu e o Inferno'.... O Céu, apenas uma visão do desejo cumprido, e o Inferno a sombra de uma alma no fogo". A saber, não o tipo de lugar, mas o tipo de pessoas que há, é que faz o Céu e o Inferno. Crane, Religion of Tomorrow, 341 – "A terra é apenas a chocadeira com que Deus pretende povoar todo o universo. Após a morte, a alma se dirige ao lugar que Deus preparou para o lar dela. Na ressurreição 'nem se casam, nem se dão em casamento' (Mt. 22.30) = o nosso planeta é o único gerador. Não há nenhuma reprodução além dele. Para incorporar-se à raça, o Pai deve vir ao planeta reprodutivo". Dean Stanley: "Até que a morte nos separe! Assim fala o coração quando cada um repete as palavras do destino; Através da bênção ou da maldição, para melhor ou para pior, Seremos um até que venha a hora do terror. A vida, com as suas miríades de garras, As nossas almas cheias de preocupações abraçarão, com o incessante amor e expectante espanto, Em permanentes laços, indissoluvelmente seguros, Até que, na morte, Deus compartilhe todos nossos destinos. Até que a morte nos uma! Ó voz ainda mais divina, Que ao coração partido sopra a sublime esperança; Através das horas a sós e das forças pulverizadas, Ainda somos unidos apesar das mudanças ou do tempo. A morte, com a sua mão curativa, mais uma vez entrelaçará a faixa, Que apenas necessita de alguém que ligue para que ninguém separe; Ainda através do único Deus, que se ouve, se sente e se entende, a nossa vida em Deus nos fará um para todo o sempre".
b) Deve a terra ser o céu dos santos? Respondemos: Primeiro: que a terra deve ser purificada pelo fogo e talvez preparada para a habitação dos santos, apesar de que isto não é considerado certo pelas Escrituras.
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Rm. 8.19-23 – "Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está com dores de parto até agora. Ε não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo"; 2 Pe. 3.12,13 – "aguardando e apressando-vos para a vinda do Dia de Deus, em que os céus, em fogo, se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Ap. 21.1 – "E eu vi um novo céu e uma nova terra. Porque o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe". Dorner: "Sem a perda da substancialidade, a matéria terá mudado a sua escuridão, dureza, peso, inércia, e impenetrabilidade, por limpeza, brilho, elasticidade, e transparência. Começará um novo estágio - o divino progresso das novas criaturas, contando com a cooperação da humanidade perfeita". É a terra uma massa fundida com uma fina crosta sólida? Lorde Kelvin diz, não; ela é mais rígida e sólida do que o ácido. O seu interior pode ser intensamente quente embora a pressão possa torná-la sólida até mesmo no centro. O enrugamento da superfície pode dever-se à contração, ou ao "fluxo sólido", como o enrugamento da pele de uma maçã assada que resfria. Edward S. Holden, Diretor do Observatório de Lick, no Fórum, out. 1893.211-220, conta-nos que "a estrela Nova Auriga, que indubitavelmente assemelha-se ao nosso sol, dentro de dois dias multiplicou o seu brilho dezesseis vezes. Três meses mais tarde, a sua descoberta se tornou invisível. Quatro meses depois, reapareceu novamente e era relativamente brilhante. Porém não mais era uma estrela; era uma nebulosa. Em outras palavras, desenvolveu mudanças de luz e calor que, se se repetissem no nosso sol significariam um rápido fim da raça humana e a aniquilação completa de todo o vestígio de vida quer animal quer de outra forma na terra. ... Tal catástrofe ocorreu em dez. de 1891, ou nos foi anunciada pela luz que nos chegou naquela ocasião. Porém tal luz deve ter deixado aquela estrela há vinte, ou talvez cinqüenta anos antes.
Teologia Sistemática (Strong) 2042 Segundo: que esta adequação da terra à habitação do homem, mesmo que fosse declarada na Escritura, não tornaria certo que os santos devem estar confinados a tais estreitos limites (Jo. 14.2). Parece mais sugerir-se que o efeito da obra de Cristo será trazer o redimido à união e relacionamento com outras ordens de inteligência, de cuja comunhão estão impedidos por causa do pecado (Ef. 1.10; Cl. 1.20). Jo. 14.2 – "Na casa de meu Pai há muitas moradas"; Ef. 1.10 – "na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra"; Cl. 1.20 - "por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus". O pensamento do Dr. Kendrick é de que necessitamos de associações locais. Aterra pode ser o nosso lar, ainda que dele possamos fazer excursões por todo o universo e, depois de algum tempo voltar à nossa habitação terrena. É assim que pensa Chalmers, que interpreta literalmente 2 Pe. 3. Sem dúvida aqui estamos numa prisão e olhamos através das barreiras, como o prisioneiro de Chillon contemplava por sobre o lago a ilha verde e os pássaros canoros. Por que estamos impedidos do intercâmbio com outros mundos e outras ordens de inteligência? Talvez por efeito do pecado. É num estado anormal de encarceramento e provação. A terra está em desarmonia para com Deus. As cordas da grande harpa do universo estão desafinadas e uma só que esteja discordante causa um som áspero no todo. Todas as coisas no céu e na terra se reconciliarão quando aquela corda for afinada pela mão do amor e da misericórdia.
2. Dos ímpios O estado final dos ímpios é descrito sob as figuras de fogo eterno (Mt. 25.41); poço do abismo (Ap. 9.2,11); trevas exteriores (Mt. 8.12); tormento (Ap. 14.10,11); castigo eterno (Mt. 25.46); ira de Deus (Rm. 2.5); segunda morte (Ap. 21.8); destruição eterna de diante da face do Senhor (2 Ts. 1.9); pecado eterno (Mc. 3.29).
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Mt. 25.41 – "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos"; Ap. 9.2,11 – "E abriu o poço do abismo, e subiu do poço como a uma fumaça de uma grande fornalha e, com a fumaça do poço, escureceu-se o sol e o ar. Ε tinham sobre si rei, o anjo do abismo; em hebreu era o seu nome Abadom e, em grego, Apoliom". Mt. 8.12 – "E os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes"; Ap. 14.10,11 – "também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. Ε a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre"; Mt. 25.46 – "E irão estes para o tormento eterno". Rm. 2.5 – "segundo a tua dureza e o teu coração impénitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus"; Ap. 21.8 – "Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idolatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre o que é a segunda morte"; 2 Ts. 1.9 – "os quais, por castigo, padecerão eterna punição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder" - aqui άπό, de, = não de separação, mas de "procedência" e indica que a presença eterna de Cristo, uma vez realizada, garante a destruição eterna; Mc. 3.29 – "Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo" – texto que implica 1) alguém que nunca deixará de pecar; 2) este pecar eterno envolve miséria eterna; 3) esta miséria eterna, como a vindicação indicada na lei, será o castigo eterno. Como Azarias, quando acometido de lepra, não precisou ser lançado para fora do templo, mas "ele mesmo se deu pressa em sair" (2 Cr. 16.20), do mesmo modo que se diz que Judas foi "para o seu próprio lugar" (At. 1.25; cf. 4.23 – onde Pedro e João "foram para os seus"). Cf. Jo. 8.35 – "o servo não fica sempre em casa" = qualquer que seja a sua conexão externa com Deus, ela pode ser apenas temporária; 15.2 – "Toda vara em mim que não dá fruto, a tira" - na morte; a história de Abraão mostra que alguém pode ter conexão externa com Deus apenas temporária: Ismael foi expulso; a promessa pertencia apenas a Isaque. Wrightnour: "Geena é o lugar para onde todos os restos da cidade de Jerusalém eram varridos. Deste modo o inferno é a penitenciária do universo moral. O libertino não é feliz na reunião de oração, mas no salão de bebidas; o porco não se sente bem no parlatório, mas no chiqueiro. O inferno é o
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lugar próprio para o pecador; o lugar dele é lá e não no céu; ele não vai à casa de Deus, que é a coisa mais próxima do céu; por que seria de esperar que o pecador entrasse nele"?
Resumindo tudo, podemos dizer que ele, por si mesmo, perdeu de todos os bens, quer físicos, quer espirituais e está na miséria de uma consciência má, banida de Deus e da sociedade dos santos e habita sob a positiva maldição de Deus para sempre. Temos de lembrar aqui, como no caso do estado final dos justos, que o elemento decisivo e controlador não é o exterior mas o interior. Se o inferno for um lugar é apenas o exterior que pode corresponder ao interior. Se houver tormentos exteriores, é só porque se trata de elementos acompanhantes do estado interior da alma adequados, apesar de subordinados. Toda criatura viva terá o ambiente adequado ao seu caráter – "o seu lugar próprio". "Eu sei do juízo futuro, quão terrível deve ser, só o assentarme com a minha consciência é um juízo suficiente para mim". Calvino: "Os ímpios têm a semente do inferno no seu coração". Crisóstomo, comentando as palavras "apartai-vos, malditos", diz: "As suas próprias obras trouxeramlhes o castigo; o fogo não está preparado para eles, mas para Satanás; contudo, lançaram-se nele: 'entrai vós mesmos', diz ele, Vós que estais aí'". Milton, Paradise Lost, 4.75 – Satanás: "Qualquer caminho para onde eu voar é o inferno; eu mesmo sou inferno". Byron: "Não há poder nenhum no homem santo, nem encantamento na oração, ou forma purificadora de penitência, nem visão exterior, nem jejum, nem agonia, nem coisas maiores do que estas; a tortura inata daquele profundo desespero tornaria o céu um inferno, exorcizaria do espírito não escravizado o vivido senso dos seus próprios pecados". Phelps, English Style, 228, fala de "uma lei do governo divino, pela qual o corpo simboliza, em sua experiência, a condição moral do seu habitante espiritual. A inclinação do pecado é o sofrimento físico. A depravação moral tende sempre para um corpo corrupto e torturado. Algumas doenças vêm em conseqüência de certos crimes. A relação total das dores humanas, desde a dor de dentes até a angina pectoris, é apenas uma testemunha do estado de
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pecado expresso por uma experiência de sofrimento. Imagine esta lei canalizada para experiência do pecado eterno. O corpo do ímpio vive assim como o do justo. É por isso que se tem um corpo espiritual, habitado e dominado e, por isso, torturado por uma alma culpada; um corpo aperfeiçoado na sua sensibilidade, incluindo e expressando uma alma amadurecida na sua depravação". Agostinho, Confessions, 25 – "Todo o pecado do homem é instrumento do seu castigo, e a sua iniqüidade se torna, para ele, um tormento". Lorde Bacon: "Ser, sem bem-estar, é uma maldição e, quanto maior o ser, maior é a maldição".
Ao tratarmos do assunto do castigo eterno devemos lembrar que a falsa doutrina é freqüentemente uma reação a partir das superdeclarações antibíblicas e repulsivas dos apologistas cristãos. Livremente admitimos: 1. que o castigo futuro não consiste necessariamente em tormentos físicos; pode ser totalmente interior e espiritual; 2. que a dor e o sofrimento do futuro não se devem necessariamente aos castigos impostos por Deus; podem resultar inteiramente do senso de perdição da alma e das acusações da consciência; e 3. que o castigo eterno não envolve necessariamente sucessões infindas de sofrimento; como a eternidade de Deus não é simples ausência de fim. assim não podemos estar sempre sujeitos à lei de tempo. Uma interpretação ultraliteral dos símbolos da Escritura tem tido muito a ver com declarações tais como as de Savage, Life After Death, 101 – "Se se ensinasse de modo claro e inequívoco a doutrina do castigo eterno em cada folha da Bíblia e, em cada folha de todas as Bíblias do mundo todo, eu não creria em uma palavra dela. Apelaria para esses falsos conceitos que até mesmo dos videntes e dos grandes homens até o infinito e eterno Bem, que é o único Deus e que, só em tais termos, poderia ser adorado". A linguagem figurada dos símbolos da Escritura é uma representação miniatural daquilo que não pode ser plenamente descrito em palavras. Símbolo é símbolo; contudo, é menor ou maior do que a coisa simbolizada. Às vezes é uma fantasia que Jonathan Edwards, quando, em seu Sermão sobre "Pecadores nas mãos de um Deus Irado", representa o pecador como um
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verme murchando no fogo eterno, supondo-se que o inferno consiste principalmente em tormentos físicos. Mas esta é uma falsa interpretação de Edwards. Como ele não fantasia o céu como consistindo essencialmente em ruas de ouro ou portais de pérolas, mas em santidade e comunhão com Cristo, de que eles são símbolos, assim ele não considera o inferno como consistindo em fogo e enxofre, mas uma consciência culpada e acusada de falta de santidade e separação de Deus, as quais estão simbolizadas no fogo e no enxofre. Ele emprega uma imagem material porque pensa ser esta a melhor resposta aos métodos da Escritura. É provável que ele vá além da simplicidade das afirmações da Escritura e não explica suficientemente o sentido espiritual dos símbolos que ele emprega; mas estamos persuadidos de que nem ele mesmo os entendia literalmente, nem supunha que deveriam ser assim entendidos por outras pessoas. O pecado é auto-isolante, anti-social, egoísta. Em virtude das leis naturais, o pecador colhe o que semeou e, mais cedo ou mais tarde, é recompensado pela deserção ou pelo desprezo. Depois, o egoísmo de um pecador é punido pelo egoísmo de outro; a ambição de um, pela ambição de outro; a crueldade de um pela crueldade de outro. Daí em diante a miséria do ímpio indubitavelmente se deverá, em parte, ao espírito dos seus companheiros. Eles detestam o bem, cuja presença e exemplo é uma contínua reprovação e reminiscência da altura de onde caíram e de cuja companhia eles se isolam. O juízo deverá produzir uma cessação completa do intercâmbio entre o bem e o mal. Julius Müller, Doctrine of Sin, 1.239 – "Os seres cujas relações com Deus são diametralmente e, por conseqüência, persistentemente opostas, diferem tão grandemente entre si que outros laços de relacionamento tornam-se nulos em comparação mútua".
Contudo, a fim de encarar os pontos de vista opostos e prevenir as objeções comuns, em continuação, afirmamos a doutrina do castigo futuro com maiores detalhes: A) O castigo futuro dos ímpios não é aniquilação. – Em nossa discussão sobre a Morte Física, mostramos que, em virtude da criação original à imagem de Deus, a alma humana é por natureza, imortal; que nem para os justos, nem para os ímpios a morte é cessação de ser; que,
Teologia Sistemática (Strong) 2047 ao contrário, os ímpios entram para a morte em um estado de sofrimento consciente que a ressurreição e o juízo só aumentam e tornam permanente. Contudo, é claro que, se ocorresse a aniquilação na morte, não poderia haver nenhum grau de castigo futuro: conclusão própria na variação com as declarações expressas da Escritura. Hudson, Debt and Grace, e Cristo, a nossa Vida representa o velho aniquilacionismo; do mesmo modo, Cobney, Future Punishment. O aniquilacionismo sustenta que κόλασις, "castigo" (em Mt. 25.46 – "castigo eterno"), etimologicamente significa uma "eterna decapitação". Mas respondemos que a palavra perdeu muito do seu sentido etimológico, como é evidente em outras passagens onde ela ocorre no Novo Testamento, a saber, 1 Jo. 4.18 – "o temor tem consigo a pena ". Sobre a aniquilação, ver Morte Física. Dos textos a seguir, fica evidente que há graus na administração do castigo da parte de Deus. Lc. 12.47,48 – "E o servo que soube a vontade do seu senhor e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites. Mas o que não soube e fez coisas dignas de açoite com poucos açoites será castigado". Rm. 2.5,6 – "segundo a tua dureza e o teu coração impénitente entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus, que recompensará cada um segundo as suas obras"; 2 Co. 5.10 – "Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal"; 11.15 – "o fim dos quais será conforme as suas obras"; 2Tm. 4.14 – "Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras"; Ap. 2.23 – "E darei a cada um segundo as suas obras"; 18.5,6 - "os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniqüidades dela. Tornai-lhe a dar como ela vos tem dado e retribuí-lhe em dobro conforme as suas obras; no cálice em que vos deu de beber, dai-lhe a ela em dobro". Um cristão francês respondeu ao argumento do seu amigo deísta: "É provável que você esteja certo; é provável que você não seja imortal; mas eu sou". Esta é a doutrina da imortalidade condicional; a de que só os bons sobrevivem. Admitimos que a medida da nossa fé na imortalidade é a
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medida da nossa adequação às suas bênçãos; mas não é a medida da posse da imortalidade. Nós somos seres imortais, quer creiamos nela quer não. A semente do carvalho é potencialmente um carvalho, mas nunca pode vir ao pleno desenvolvimento. Há sal insosso, que, embora não deixe de existir, é lançado fora e pisado pelos homens. Denney, Studies in Theol., 256 – "A imortalidade condicional nega que o homem possa existir depois da morte sem estar unido a Cristo pela fé. Mas a imortalidade do homem não pode ser um apêndice da sua natureza, depois que ele crê em Cristo. Deve ser algo, no mínimo, para o que a natureza foi constituída; mesmo que separada de Cristo, ela nunca pode realizar-se como deveria". Broadus, Com. on Mt. 25.46 (p. 514 e volume 2, p. 266 b ed. brasileira) – "quem deu existência podia mantê-la existente". Mc. 9.49 - 'Porque cada um será salgado com fogo' - o fogo é naturalmente destrutivo, mas este fogo naturalmente inextinguível agirá como o sal preservando em vez de destruir". Assim também Keble, Ano Cristão, 5º sábado da Quaresma, fala dos judeus na sua presente condição: 'Salgados com fogo eles parecem mostrar como os espíritos perdidos num ai infinito podem viver sem decair. Oh, pensamento doentio! Ainda mantém vivo por muito tempo como este brilhante mundo que vai durar, ou o pecado sobreviverá no coração'".
A teoria da aniquilação apresenta duas formas que são mais plausíveis e que, em tempos recentes, acham maior número de defensores, a saber: a) Que as forças do ímpio gradualmente definham como resultado natural do pecado de modo que, por fim, deixam de existir. – Primeiro, respondemos que o mal moral nesta vida presente não parece ser incompatível com um constante desenvolvimento dos poderes intelectuais, ao menos em certas direções e não temos nenhuma razão para crer no fato de ser diferente no mundo futuro; segundo, que, se a teoria fosse verdadeira, quanto maior o pecado tanto mais veloz seria o livramento do castigo. Esta forma da teoria da aniquilação é sugerida por Bushnell, em seu Forgiveness and Law, 146,147, e por Martineau, Study, 2.107-8. Dorner também, em sua Escatologia, parece favorecê-la como um dos possíveis
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métodos do castigo futuro. Diz ele: "Também pertence à ética a significação ontológica. A 'segunda morte' pode ser a dissolução da alma tornando-a nada. O afastamento relativo a Deus, fonte da vida, termina na extinção desta. O ortodoxo fala a respeito dos dementes, enraivecendo-se em impotente fúria elevando para a mesma coisa - aniquilação do caráter humano. O mal nunca é a substância da alma; esta continua metafisicamente boa". Argumenta-se que mesmo para os pecadores salvos há uma perda. O filho pródigo reconquistou o favor do seu pai, mas nunca o patrimônio perdido. Não podemos reaver o tempo perdido, nem o desenvolvimento perdido. Muito mais, então, no caso do ímpio, haverá uma perda perpétua. Draper: "Em cada volta em torno do sol os cometas perdem uma porção do seu tamanho e do seu brilho estendendo-se até que o seu núcleo perca o controle, a massa entre em explosão e a maior porção navegue pelo céu em forma de meteoritos desconexos. A este argumento freqüentemente responde-se que algumas mentes desenvolvem as suas forças, ao menos em certas direções, apesar do seu pecado. O gênio militar de Napoleão, durante os seus primeiros anos, desenvolveu-se com a experiência. Contudo, Sloane, em sua obra Life of Napoleon, parece mostrar que o imperador perdia a sua firmeza à medida que prosseguia. O sucesso abalou o seu julgamento; ele deu caminho à indulgência física; o seu corpo não era igual à firmeza que ele tinha aplicado; em Waterloo perdeu preciosos momentos de oportunidade por causa da vacilação e incapacidade de conservar-se acordado. Houve uma deterioração física, mental e moral. Mas não se trata do resultado da conexão da alma com o corpo? A astúcia e ousadia de Satanás parecem estar em crescimento desde a sua primeira menção na Escritura até o fim. Não será, contudo, que a astúcia e ousadia, operam a sua ruína e levam Satanás à sua destruição completa e final? Será que o pecado não embota intelecto, desestruturando os sóbrios padrões da decisão, induzindo alguém a preferir uma ninharia de triunfo presente ou prazer de um duradouro bem? Gladden, What is Left? 104,105 – "O mal é entorpecedor e mortífero. O egoísmo enfraquece a garra mental do homem e estreita o seu ângulo de visão. O esquematizador torna-se menos astuto à medida que ele envelhece; ele é moralmente seguro, antes da morte, a fim de cometer alguns estupendos erros que até mesmo um novato evitaria.... O diabo, que
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pecou por mais tempo, deve ser o maior tolo do universo, e não precisamos ter medo dele". Ao ponto de vista de que este enfraquecimento das forças conduz o homem à extinção absoluta do ser, contrapomos a consideração de que o seu prêmio é notavelmente injusto ao tornar o maior pecador o menos sofredor; visto que para ele o socorro, através da aniquilação, tornase o mais rápido.
b) Que há para o ímpio, depois da morte certa e possivelmente entre a morte e o juízo um castigo proporcional às sua obras, mas que este castigo se produz na aniquilação e é seguido por ela. – Respondemos, primeiro, que, com base neste ponto de vista, como em qualquer teoria aniquilacionista, o castigo futuro é matéria de graça assim como de justiça – noção para a qual a Escritura não fornece nenhuma garantia; segundo, que a Escritura, não só não dá indicação da cessação deste castigo, mas declara nos mais fortes termos sua infinitude. A segunda forma da teoria da aniquilação parece ter sido sustentada por Justino Mártir (Trifo, Edimburgo, tradução) - "Alguns, que pareciam dignos de Deus, nunca morreram; mas outros são punidos até onde Deus quer que existam e sejam punidos". A alma existe porque Deus quer, e não mais do que Deus quer. "Enquanto é necessário que a alma deixe de existir, o espírito de vida é removido dela, e não há mais alma, mas ela volta ao lugar de onde foi tomada". Schaff, History of Christian Church, 2.608,609 – "Justino Mártir ensina que o ímpio ou desesperançado impenitente se levantará no juízo para receber o castigo eterno. Ele fala disso em doze passagens: Oremos que todos os que vivem de um modo ímpio e não se arrependem serão punidos no fogo eterno'. Tal linguagem é inconsistente com a teoria da aniquilação defendida por Justino Mártir. Na verdade ele rejeita a idéia da independente imortalidade da alma, e sugere a possível destruição final dos ímpios; mas coloca essa possibilidade tempos sem conta além do juízo final, de sorte que destrói a significação prática". Um moderno defensor deste ponto de vista é White, em sua Life in Christ. Ele favorece uma imortalidade condicional, pertencente só aos que
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se unem a Cristo pela fé; mas não faz o castigo retribuidor e o sofrimento recaírem sobre os injustos, antes da sua aniquilação. A raiz deste ponto de vista assenta-se numa falsa concepção de santidade como forma ou manifestação de benevolência e de castigo como elemento dissuasivo e preventivo em lugar de vindicativo da justiça. Na mente de tais defensores, a extinção do ser é uma bênção relativa; e, em razão disso, preferem-na ao ponto de vista comum. Um ponto de vista semelhante ao que estamos expondo acha-se em Henry Drummond, Natural Law in the Spiritual World. O mal é punido pelo seu próprio desenvolvimento. Contudo, Drummond não deixa lugar para a vida futura ou para o juízo futuro no caso dos não regenerados. Enquanto Drummond é aniquilacionista, Murphy é restauracionista. Mais racional e escriturístico do que qualquer um destes é o dito de Tower: "O pecado é inimigo de Deus. Ele não o aniquila, mas faz dele o meio de apresentar a sua santidade; do mesmo modo que os romanos não matavam os inimigos capturados, mas faziam deles seus servos". Os termos αιών e αιώνιος, que ainda vamos considerar, fornecem testemunho escriturístico contra a aniquilação.
Porque nenhuma destas duas formas da teoria da aniquilação é escriturística ou racional, valemo-nos da hipótese da evolução para lançar luz sobre o problema. A morte não é a degeneração terminando na extinção, nem castigo terminando em extinção; é atavismo que retoma, ou tende a retomar, ao tipo animal. Como o desenvolvimento moral é do irracional para o homem, assim o desenvolvimento anormal é do homem para o irracional. Lorde Byron: "Todo sofrimento destrói ou é destruído". Isto é verdade não a respeito do homem, mas do seu bem estar. Ribot, Diseases of Will, 115 – "A dissolução persegue um curso regressivo do mais voluntário e mais complexo para o menos voluntário e mais simples, isto é, para o automático. Um dos primeiros sinais do enfraquecimento é a incapacidade de manter a atenção. A unidade, a estabilidade, a força tem cessado, e o fim é a extinção da vontade". Preferimos dizer perda da liberdade da vontade. O princípio da evolução, o abuso da liberdade podem resultar na reversão do bruto, à
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aniquilação não da existência, mas das mais elevadas características de humanidade, castigo interior ao invés de exterior, castigo eterno na forma de perda eterna. Mt. 24.13 – "aquele que perseverar até o fim será salvo" – tem sua passagem paralela Lc. 21.19 – "Na vossa paciência, possuí a vossa alma", i.e, de livre vontade tomareis posse do vosso ser. A perda da alma é o exato oposto, a saber, a perda da livre vontade, por deixar a liberdade da renúncia, tornando-se vítima do hábito, da natureza, das circunstâncias, interrupção e aniquilação da natureza humana. "Estar no inferno é andar à deriva; estar no céu é navegar" (Bernard Shaw). Em Jo. 15.2 – Cristo fala a respeito de todos os homens – os ramos naturais da parreira – "Todo ramo em mim que não dá fruto, o tira"; SI. 49.20 – "O homem que está em honra, e não tem entendimento, é semelhante aos animais, que perecem"; Ap. 22.15 – "Ficarão de fora os cães". Na fábula pagã os seres humanos se fazem animais e até mesmo árvores. A história de Circe é uma parábola do destino humano; os homens podem tornar-se macacos, tigres ou porcos. Eles podem perder os seus mais elevados poderes da consciência e da vontade. Através da degradação perpétua eles podem sofrer o castigo eterno. A vida toda que merece este nome pode cessar, enquanto ainda a existência de um tipo de animal inferior se prolonga. Vemos precisamente estes resultados do pecado neste mundo. Temos razão para crer que as mesmas leis do desenvolvimento se operarão no mundo vindouro. McConnell, Evolution of Immortality, 85-95,99,124,180 – "Imortalidade ou sobrevivência após a morte depende da libertação do próprio homem da lei que arrebata muitos e, torna-se um indivíduo (indivisível) que é preparado para viver. O indivíduo deve tornar-se mais forte do que a espécie. Utilizando corretamente a vontade ele se apóia na Vida infinita, e torna-se alguém que, como Cristo, tem "vida em si mesmo" (Jo. 5.26). A gravitação e a afinidade química tem o seu caminho no universo até que elas sejam contidas e se voltem para o interesse da vida. A superprodução, a morte, e a sobrevivência do mais adequado tem a sua impiedosa preponderância até que o seu interesse seja revertido no interesse do sentimento. Podemos esperar que a supremacia da raça à custa do indivíduo continue até que alguma coisa no indivíduo venha a ser de maior importância do que aquela lei e não mais. ... A bondade pode conter e devolver às nações a primordial
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lei do crescimento, do vigor e do declínio. É demais crer que possa fazer o mesmo pelo homem individualmente? ... A vida é algo a ser realizado. A cada passo há mil candidatos que erram, para um que acerta. ... Enquanto a sensibilidade moral não se torna consciente de si mesma, todas as questões sobre a imortalidade pessoal tornam-se irrelevantes, porque não há, falando com precisão, nenhuma pessoa que seja imortal. Até esse ponto a criatura individualmente viva, quer em forma humana, quer não, não tem a personalidade essencial para a qual a vida eterna possa ter qualquer sentido". Mas o que dizer das crianças que nunca chegaram à consciência moral? McConnell apela para a hereditariedade. O filho de alguém que atingiu a imortalidade também pode provar que é imortal. Mas não há nenhuma chance para os filhos dos pecadores? A doutrina de McConnell tende para a verdadeira solução, mas é viciada pela crença de que a individualidade é um dom transitório que só a bondade pode tornar permanente. Por outro lado, sustentamos que o dom de Deus é "sem arrependimento" (Rm. 8.29), e que nenhum ser humano pode perder a vida, a não ser no sentido de perder tudo o que a vida tem de desejável.
B) O castigo após a morte exclui nova prova e a restauração última dos ímpios. – Alguns têm sustentado a restauração última de todos os seres humanos, apelando para as passagens seguintes: Mt. 19.28; At. 3.21; Ef. 1.9,10. Mt. 19. 28 – "na regeneração, quando o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória"; At. 3.21 – Jesus, "o qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo"; 1 Co. 15.26 – "O último inimigo que há de ser aniquilado é a morte"; Ef. 1.9,10 - "segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra"; Fp. 2.10,11 – "para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e que toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai"; 2 Pe. 3.9,13 – "não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a se arrepender.... Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça".
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Robert Browning: "Esse Deus, pelos seus próprios desígnios ocultos, pode – assim nós cremos – trazer de volta os peregrinos a uma única trilha". B. W. Lockhart: "Devo crer que o mal é essencialmente transitório e mortal, ou, doutra forma alteraria os predicados de Deus. Devo crer na extinção última da pessoalidade que o poder de Deus não pode ganhar para a bondade. A única alternativa é a exterminação de uma vida iníqua quer através da redenção quer através da extinção". Mulford, República de Deus, reivindica que o estado da alma não pode ser fixado por qualquer evento fora de si mesmo, como, por exemplo, a morte. Se pudesse, a alma existiria, não sob o governo moral, mas sob o fado, e o próprio Deus seria apenas um outro nome para o fado. A alma carrega o seu fado, sob Deus, em seu poder de escolha; e quem ousa dizer que este poder de escolher o bem cessa com a morte?
a) Estas passagens, obscuras como são, devem ser interpretadas à luz das mais claras que já citamos. Assim interpretadas, devem somente predizer o triunfo absoluto do reino divino e sujeição de todo o mal a Deus. A verdadeira interpretação das passagens acima mencionadas é indicada pela nota de Meyer sobre Ef. 1.9,10 – a saber, que "a alusão não se refere à restauração de indivíduos decaídos, mas à restauração da harmonia universal, implicando que os ímpios devem ser excluídos do reino de Deus". Que não há alusão alguma a uma provação depois desta vida, está claro em Lc. 16.19-31 – a parábola do rico e Lázaro. Aqui o castigo é infligido por causa dos pecados praticados "em tua vida" (v. 25); este castigo é imutável – "está posto um grande abismo" (v. 26); o rico pede favores para os seus irmãos que ainda vivem na terra, mas nada para si mesmo (v v. 27,28). Jo. 5.25-29 – "vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. Porque, como o Pai tem vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo. Ε deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do Homem. Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. Ε os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação" – aqui se declara que, enquanto para aqueles que fizeram o
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bem há uma ressurreição da vida, há para os que fizeram o mal uma ressurreição de juízo. Jo. 8.21,24 – "morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou não podeis vós ir. ... se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados" – ditos que indicam a finalidade das decisões nesta vida. Orr, Christian View of God and the World, 243 – "A Escritura invariavelmente representa o juízo como um processo baseado em dados desta vida, e contrasta cada raio do apelo no presente". Jo. 9.4 – "Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar" – sugere que não há oportunidade de salvação após a morte. O escritor do hino cristão captou o sentido da Escritura quando diz daqueles que passaram pelo portal da morte: "Eis fixado o estado eterno; Aqui embaixo fizeram tudo; Pouco mais aguardamos nós; Mas quão pouco se pode conhecer".
b) Não há necessidade de uma segunda prova para vindicar a justiça ou o amor de Deus porque Cristo, o Deus imanente, já está no mundo presente com toda a alma humana despertando a consciência, dando a cada homem a sua oportunidade e fazendo cada decisão entre o certo e o errado uma verdadeira prova. Ao escolher o mal contra o melhor juízo até mesmo os pagãos inconscientemente rejeitam a Cristo. As crianças e os idiotas, como não pecaram conscientemente, são, de acordo com a nossa crença, salvos na morte por terem Cristo revelado a eles e pela influência regeneradora de seu Espírito. Rm. 1.18-28 – há uma provação sob a luz da natureza assim como sob o evangelho, e sob a lei da natureza assim como sob o evangelho para que os homens se entreguem "a um sentimento perverso"; 2.6-16 – Os gentios não serão julgados pelo evangelho, mas pela lei da natureza, e "sem lei também perecerão. ... no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens". 2 Co. 5.10 – "Porque todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo; [não que cada um pode ter uma nova oportunidade de garantir a salvação, mas] para que cada um receba o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal"; Hb. 6.8"o seu fim é ser queimada"não ser vivificada outra vez; 9.27 – "E, como aos homens está ordenado morrerem
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um vez, vindo, depois disso, [não uma segunda provação, mas] o juízo". Luckock, Estado Intermediário, 22 – "Em Hb. 9.27, a palavra 'juízo' não tem artigo. O juízo mencionado não é o juízo final ou o geral, mas apenas aquele através do qual determina-se o lugar das almas no Estado Intermediário". Denney, Studies in Theol., 243 – "Em Mt. 25, nosso Senhor dá uma pintura representativa do juízo dos pagãos. Todas nações - todos gentios reúnem-se diante do Rei; e o seu destino está determinado, não pela sua consciente aceitação ou rejeição do Salvador histórico, mas pela sua inconsciente aceitação ou rejeição dele na pessoa daqueles que necessitam o serviço do amor. ... Isto não se enquadra na idéia de uma provação futura. Ao invés disso, diz-nos claramente que o homem pode fazer coisas de importância final e decisiva na sua vida, ainda que Jesus seja desconhecido deles. ... O verdadeiro argumento contra a provação futura é que ele deprecia a vida presente e nega a significação infinita de que, sob todas as condições, essencial e inevitavelmente pertence às ações de um ser moral consciente de si mesmo. Um tipo de vontade pode estar em processo de formulação, mesmo no homem pagão, de que dependem as realizações eternas. ... A segunda provação minimiza o tom moral do espírito. A vida presente adquire uma relativa falta de importância. Eu ouso dizer que, se eu perco a oportunidade que a vida presente me dá, sempre terei outra, e por isso não ouso dizer isso a uma outra pessoa".
c) Os defensores da restauração comumente são os mais firmes defensores da inalienável liberdade de a vontade humana fazer escolhas contrárias ao seu caráter passado e a todos os motivos que são ou podem ser levados a apoiá-lo. De fato, neste mundo achamos que os homens escolhem o pecado a despeito de infinitos motivos para o contrário. Com base na teoria da liberdade humana já mencionada, nem um motivo que Deus pode usar certamente cumprirá a salvação de todas as criaturas morais. A alma que resiste Cristo aqui pode resisti-lo sempre. Emerson, no livro já mencionado, diz: "A verdade que o pecado é na sua permanente essência uma livre escolha, embora por um certo tempo, pode ser sustentada em combinação mecânica com a noção de oportunidade moral arbitrariamente fechada, nunca pode mesclar com ela e
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deve, com resultado lógico, expulsá-la permanentemente. A Escritura defende e ensina a constante capacidade que as almas têm de serem obedientes ou desobedientes". Emerson está certo. Se a doutrina da capacidade ilimitada da vontade humana for verdadeiramente uma, então é possível a restauração no mundo futuro. Clemente e Orígenes baseavam nesta teoria a negação de um castigo futuro. Se a vontade for essencialmente o poder de escolha contrária e se pode agir independente de todo caráter e motivo, não pode haver nenhuma certeza objetiva de que o perdido continuará sendo um pecador. Em resumo, não pode haver finalidade alguma para a partilha divina, nem é possível o juízo final. Com base neste ponto de vista, é tão possível haver regeneração e conversão em qualquer tempo do mesmo modo que hoje. Mas aqueles que defendem esta defeituosa filosofia da vontade precisam lembrar que a verdade ilimitada é ilimitada para o pecado, do mesmo modo que o é para voltar-se para Deus. Se é possível a restauração, a infinda persistência no mal também é possível; e é isto que a Escritura prediz. Whittier: "O que acontece se o teu olho se recusar a ver, o teu ouvido deixar de receber o bem vindo do céu, e tu, um voluntário cativo, estiveres prisioneiro numa cela"? Swedenborg diz que o homem que obstinadamente recusa a herança dos filhos de Deus permite-se os prazeres do irracional, e goza em seu procedimento o inferno a que ele se confinou. Dante, Inferno iv - "Aqui todos juntos vêm de todos os climas Ε relutam a atravessar o rio porque a justiça do céu os impele de sorte que o medo se converte em desejo. O bom espírito nunca passa por isso". Os perdidos são Heautoutimoroumenoi, ou seus próprios atormentadores, adotando o título da peça de Terêncio. Denney, Studies in Theol., 255 – "A própria concepção da liberdade humana envolve a possibilidade do seu permanente mau uso, ou do que o próprio nosso Senhor chama 'pecado eterno' (Mc. 3.29). Shedd, Dogm. Theol., 2.699 – "O restauracionismo de Orígenes desenvolveu-se naturalmente a partir deste ponto de vista da liberdade humana" - a liberdade da indiferença – "infindas alterações de quedas e recuperações, dos infernos e dos céus; de sorte que praticamente ele nada ensinava a não ser o inferno". J. C. Adams, The Leisure of God: "É uma lógica claudicante manter a inviolável liberdade da vontade, e ao mesmo tempo insistir em que
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Deus pode, através do seu grande poder, através do prolongado castigo, pôr a alma numa disposição que ela não quer sentir. Não é possível haver santidade compulsória. Na nossa Guerra Civil falava-se em 'compelir homens a se tornarem voluntários', mas logo se viu que a idéia envolve em si uma contradição".
d) Com base no mais correto ponto de vista da vontade que temos defendido, o caso é ainda mais desesperador. Baseados neste ponto de vista, a alma do pecador, em seu próprio pecado, dá a si mesma uma inclinação pecaminosa do intelecto, do sentimento e da vontade; em outras palavras, faz para si um caráter que, apesar de não necessário, contudo torna certa, independente da graça divina, a continuação da ação pecaminosa. Acha em si um motivo auto-reformado para o mal suficientemente forte que prevalece sobre tudo o que induz à santidade que Deus, como sábio, vê para a prática. No mundo seguinte, na verdade, se submete ao sofrimento. Porém o sofrimento não tem poder para reformar. A não ser acompanhado por influências renovadoras especiais do Espírito Santo, só endurece e amarga a alma. Não temos nenhuma evidência escriturística de que se exerçam tais influências do Espírito após a morte sobre o ainda impénitente; mas, ao contrário, abundante evidência de que a condição moral em que o falecido se encontra é a sua condição perene. Ver Bushnell, "Melhor uma Provação do que Muitas", Sermons on Living Subjects; ver também Forgiveness and Law, 146,147. Bushnell argumenta que Deus nos daria cinqüenta provações, se isso nos fosse um bem. Mas não há possibilidade de tal resultado. A primeira decisão adversa a Deus dificulta mais tornar justa uma decisão na oportunidade seguinte. O caráter tende à fixidez e cada nova oportunidade pode endurecer o coração e aumentar a sua culpa e condenação. Não teríamos melhor oportunidade de salvação se a nossa vida fosse alongada até o limite dos pecadores antes do dilúvio. O simples sofrimento não converte a alma. Não foi uma vida de dor que fez de Blanco White um crente.
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Edward A. Lawrence, Does Everlasting Punishment Last Forever? – "Se as obras da lei não justificam aqui, como podem as penas da lei fazê-lo daqui em diante? A dor de um membro fraturado não cura a fratura e o sofrimento da doença nada faz para curá-la. O castigo não paga nenhuma dívida (os brasileiros dizem que tristezas não pagam dívidas); só mostra as contas de um modo claro e perturbador". Se a vontade não age sem um motivo, então é certo que, sem motivo o homem nunca se arrepende. Para o pecador impénitente e rebelde é necessário haver um motivo, não vindo de dentro, mas de fora. Deus apresenta tais motivos nesta vida através do seu Espírito; mas, finda esta vida, o Espírito de Deus se afasta e não se apresenta nenhum motivo para o arrependimento. O desprazer da alma para com Deus só resulta em queixa e resistência. Shakespeare, Hamlet, 3.4 – "Tentar fazer o que pode o arrependimento? o que ele não pode? Contudo, o que pode ele, quando alguém não se arrepende"? Marlowe, Fausto: "O inferno não tem limites, nem está circunscrito ao lugar de alguém; porque onde estamos está o inferno e, onde está o inferno, devemos estar sempre". A pressão atmosférica exterior sofre a ação da resistência da atmosfera interior do corpo. Do mesmo modo a vida interna de Deus é a única coisa que pode possibilitar-nos a suportar as dispensações aflitivas e exteriores de Deus. Se o Espírito de Deus não estimular o arrependimento, o ímpio, neste mundo, nunca sente tristeza por suas obras a não ser quando ele reconhece as danosas conseqüências do mal que elas causam. A angústia física e o castigo causam não a aversão ao pecado, mas aos seus efeitos. O remorso de Judas o induziu à confissão, mas não ao verdadeiro arrependimento. Deste modo, no outro mundo, o castigo garantirá ao transgressor o reconhecimento de Deus e da sua justiça, mas não o regenerará ou salvará. A penalidade da vida futura não mais terá eficácia na reforma do pecador do que o convite de Cristo e o empenho do Espírito Santo nesta vida presente. A transitoriedade das boas decisões a que somos forçados pelo sofrimento é ilustrada pelo velho dístico: "O diabo estava doente; o diabo seria um monge; O diabo está bem; é um monge". Charles G. Sewall: "O novelista Paul Lester Ford foi assassinado pelo seu irmão Malcolm porque o pai dos dois deserdara aquele que cometeu o crime. Será que Deus tem o direito de deserdar qualquer um de seus filhos? Deus não deserda ninguém. Cada um decide por si se aceita a herança. Não
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é matéria de caráter. Um pai não pode dar educação ao seu filho. O filho pode ser um truão e jogar fora a sua oportunidade. O filho pródigo deserdouse a si mesmo. O céu não é um lugar; é um procedimento de vida, uma condição de ser. Se você tem ouvido para música eu o admitirei para um agradável concerto. Se você não o tem, posso dar-lhe uma cadeira reservada e você não ouvirá a melodia. Algumas pessoas não têm a salvação porque não têm gosto por ela e não o terão". As leis do universo de Deus estão no pecador impenitente, como os muros férreos do presídio medieval encerravam à noite a sua vítima; a cada manhã havia uma janela a menos e o calabouço acabava se tornando um esquife. No poema de Jean Ingelow "Divididos", dois amigos partiram para um córrego através do qual eles podiam entrelaçar os dedos, prosseguir na direção em que a correnteza flui, até que o córrego se transforme num riacho e este em um rio e este num braço do mar através do qual não se ouve voz alguma e nem uma passada. Pela ausência constante do uso da oportunidade, perdemos o poder de atravessar do pecado para a justiça, até que entre a alma e Deus esteja "posto um grande abismo" (Lc. 16.26). John G. Whittier cerca de doze meses antes da morte: "Eu creio firmemente que levamos conosco para o outro mundo a mesma vontade livre que gozamos aqui, e que ali, como aqui, aquele que se volta para o Senhor encontrará misericórdia; que Deus nunca deixa de acompanhar as suas criaturas com amor, e sempre está pronto a ouvir com amor a oração do penitente. Mas também creio que agora é o tempo aceitável, e aquele que brinca com o pecado pode encontrar os elos do mal muitíssimo duros de quebrar neste mundo e no outro". Segue-se o verso do poeta quaere: "Conquanto Deus seja bom e o céu seja livre, a força divina não pode coagir o amor; e apesar de que o cântico dos pecados perdoados pode soar através do mais profundo inferno, a doce persuasão da sua voz respeita a santidade da vontade. Ele concede o dia; a ti pertence a escolha de andar ainda nas trevas". Longfellow, Masque of Pandora: "Nunca, por um lapso de tempo, a alma desfigurada pelo crime volta outra vez ao seu ser primitivo; porque toda obra culposa ostenta em si mesma a semente da retribuição e da dor imorredoura. Os perdidos nunca serão restaurados enquanto Hélios não os
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purificar com o fogo celestial; então o que estava perdido foi reconquistado e começou uma nova vida, acesa das mais nobres paixões e desejos". Seth, Freedom as Ethical Postulate, 42 – "A venda da alma de Fausto a Mefistófeles, e a assinatura do contrato com o sangue da sua vida, não é uma simples transação, feita deliberadamente, numa ocasião; ao invés disso, é um medonho sentido da vida que consiste em inumeráveis atos individuais; eis o sentido da vida do ímpio".
e) A declaração relativa a Judas, em Mt. 26.24, não poderia ser verdadeira com base na hipótese de uma restauração final. Se em qualquer tempo mesmo depois do lapso de séculos, Judas se redimisse, a duração infinita de sua bênção subseqüente deve preponderar sobre todo o sofrimento finito pelo qual ele passou. A declaração da Escritura de que "bom seria para tal homem se não tivesse nascido" deve ser considerada como uma refutação da teoria da restauração universal. Mt. 26.24 –"O Filho do Homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Bom seria para esse homem se não houvera nascido". G. F Wright, Relation of Death to Probation: "Como Cristo há muito curava só aqueles que vinham ou eram trazidos a ele, do mesmo modo agora ele espera a cooperação da atuação do homem. Deus se limitou a um método ordenado da salvação do homem. O consumado zelo missionário dos apóstolos e da igreja primitiva mostra que eles criam nas decisões desta vida para as decisões finais. A igreja primitiva não pensava que, sem o evangelho, o mundo pagão pereceria, mas encontrava uma consciência na resposta dos pagãos à sua crença. A solicitude extraída desta responsabilidade para com os seus companheiros pode ser um dos meios para garantir a futura estabilidade moral. Aquilo que for ligado na terra será ligado no céu; por que não orar também pelos ímpios mortos"? Sem dúvida é um fato notável, se esta teoria for verdadeira, que não temos na Escritura um só exemplo de oração pelos mortos. O livro apócrifo de 2 Macabeus 12.39 sq. dá um exemplo de oração judaica em favor dos mortos. " 39. No dia seguinte partiram os homens de Judas (num tempo em que a necessidade já se impunha) a recolher os corpos dos que haviam tombado, a fim de inumá-los junto com os seus parentes nos túmulos de seus pais. 42. puseram-se em oração para pedir
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que o pecado cometido fosse completamente cancelado". Alguns dos que foram mortos tinham escondido sob as suas túnicas coisas consagradas aos ídolos. Judas e o seu exército oraram para que esse pecado dos mortos fosse perdoado, e contribuíram com 2.000 dracmas de prata como oferta a ser enviada aos que estavam em Jerusalém. João Wesley, Works, 9.55, defende a legalidade da oração em favor dos mortos. É verdade que não temos nenhum exemplo desse tipo de oração nos livros canônicos. SI. 132.1 – "Lembra-te, Senhor, de Davi e de todas as suas aflições" – não é uma oração em favor dos mortos, mas significa: "Lembra-te de Davi", de modo a cumprir a tua promessa para com ele, "todas as suas ansiedades" – sobre a edificação do templo; com toda a probabilidade, este foi composto para a dedicação do templo. Paulo roga a Deus para que "conceda misericórdia à casa de Onesíforo que morreu na época do escrito do apóstolo; porém, mais adiante, a oração de Paulo, no v. 18 – "o Senhor lhe conceda naquele dia ache misericórdia diante do Senhor" – parece apontar para a morte de Onesíforo como algo ainda no futuro. Shedd, Dogm. Theol., 2.715 nota – "Muitos dos argumentos construídos contra a doutrina do castigo perene baseiam-se na suposição de que o pecado original, ou a inclinação do homem para o mal, é obra de Deus: isto porque o homem nasceu em pecado (SI. 51.5), e foi criado em pecado. Todo esforço e plausibilidade das célebres cartas de John Foster apóiam-se na suposição de que a corrupção moral e a impotência do pecador, que o tornam impossível salvar-se da morte eterna, não têm origem em si mesmos nem são determinados por si mesmos, mas pelo Criador. 'Se', diz ele, 'a própria natureza do homem criado pelo Poder Soberano, estiver em tão desesperada desordem que não haja possibilidade de conversão ou salvação a não ser nos exemplos em que o Poder interfere com uma eficácia especial e redentora, como podemos conceber que a principal porção da raça moralmente impotente (isto é, real e absolutamente impotente), será perenemente castigada pelo inevitável resultado da sua impotência moral'? Se for correta esta suposição da depravação e impotência simultaneamente criadas, a objeção de Foster à retribuição eterna é conclusiva e fatal. ... O castigo perene supõe a liberdade da vontade humana, e é impossível sem ela. A determinação própria corre lado a lado com o inferno".
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A teoria de uma segunda provação, recentemente defendida, é tão somente o resultado lógico do já mencionado ponto de vista defeituoso sobre a vontade, mas é também, em parte, uma conseqüência da negação da antiga doutrina ortodoxa e paulina a respeito da unidade orgânica da raça na transgressão de Adão. A Nova Escola de Teologia tendeu a desviar-se da noção de uma boa prova da humanidade no nosso primeiro pai e de um pecado e culpa comuns à raça humana nele. Não se pode ver como considera uma boa prova para cada indivíduo que, no princípio, pecou; e a conclusão é fácil: deve haver uma boa provação para cada indivíduo no mundo vindouro. Mas devemos aconselhar os que tomam este ponto de vista que voltem à teologia. Admitir uma boa provação para toda a raça que já passou e a condição da humanidade não mais é a dos simples desafortunados, mas, ao invés disso, dos seres culpados e condenados a quem a oportunidade presente e até mesmo a atual existência, é puramente matéria de graça; muito mais a provisão de uma salvação e a sua oferta a qualquer alma humana. O mundo já é um lugar de segunda provação; e visto que a segunda provação se deve à misericórdia de Deus, nenhuma provação depois da morte é necessária para vindicar quer a justiça quer a bondade de Deus.
C) A Escritura declara que este castigo futuro é eterno. Faz isto usando os termos αιών, αιώνιος. – Alguns, contudo, sustentam que estes termos não implicam necessariamente duração eterna. Respondemos: a) Pode-se aceitar que estas palavras não necessitam etimologicamente a idéia de eternidade; e que expressando a idéia de duração "por muito tempo", às vezes são usadas no sentido limitado ou retórico. 2 Tm. 1.9 – "o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos" – mas a duração passada do mundo é limitada; Hb. 9.26 – "mas, agora, na consumação dos séculos, uma vez se manifestou" – aqui αιώνες tem um fim; Tt. 1.2 – "vida eterna ... prometeu antes dos tempos dos séculos"; mas aqui pode ser uma referência à eterna aliança do Pai com o Filho; Jr. 31.3 – "Com amor eterno te amei" = amor que antedata o tempo; Rm. 16.25,26 – "mistério que, desde os tempos eternos
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esteve oculto. ... segundo o mandamento do Deus eterno" – aqui "eterno" é usado no mesmo verso em dois sentidos. Argumenta-se que em Mt. 25.46 "irão estes para o tormento eterno" – a palavra eterno pode ser empregada num sentido mais restrito. Arthur Chambers, Our Life After Death, 222-236 - "Em Mt. 13.39 - 'a ceifa é o fim do αιών', e em 2 Tm. 4.10 – "Demas me abandonou, amando o presente século αιών' – a palavra αιών claramente indica limitação de tempo. Por que não tomar a palavra αιών neste sentido em Mc. 3.29 'nunca terá perdão, mas será réu do juízo eterno'? Não devemos traduzir αιών por 'mundo', e, deste modo expressar limitação enquanto traduzimos αιώνιος por 'eterno', e assim expressamos infinitude que exclui limitação; cf. Gn. 13.15 – 'toda esta terra que vês te hei de dar a ti e à tua semente, para sempre'; Nm. 25.13 – 'ele [Finéias] e a sua semente depois dele terão o concerto do sacerdócio perpétuo'; Js 24.2 – 'Dalém do rio, antigamente [desde a eternidade], habitaram vossos pais'; Dt. 23.3 – 'Nenhum amonita ou moabita entrará na congregação do Senhor, eternamente'; SI. 24.7,8 – 'levantai-vos, ó portas eternas' ".
b) Na verdade, contudo, elas expressam a mais longa duração possível daquele sentido que se lhes atribui é capaz; de modo que, se a alma é imortal, seu castigo deve ser sem fim. Gn. 49.26 – "outeiros eternos"; 17.8,13 – "E te darei ... toda a terra de Canaã em perpétua possessão ... estará o meu concerto [da circuncisão] na vossa carne por concerto perpétuo"; Ex. 21.6 – "ele [o escravo] o servirá [o seu senhor] para sempre"; 2 Cr. 6.2 – "E eu te tenho edificado uma casa para morada e um lugar para a tua eterna habitação" – sobre o templo em Jerusalém; Jd. 6,7 – "anjos ... reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande Dia; assim como Sodoma e Gomorra ... foram postas por exemplo, sofrendo as penas do fogo eterno" – aqui em Jd. 6, prisões que suportam só até ao dia do juízo são chamados άιδίοις (a mesma palavra empregada em Rm. 1.20 – "tanto o seu eterno poder como a sua divindade"), e o fogo que dura só até que Sodoma e Gomorra sejam consumidas é chamado αιωνίου. Shedd, Dogm. Theol., 2.687 – "Sustentar a
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terra eterna é sustentar que ela dura enquanto a grama cresce e a água corre, i.e., até quando este mundo ou eon suporta". Em todas passagens citadas acima, a condição denotada por αιώνιος dura enquanto dura o objeto de que ela é um predicado. Porém já vimos que a morte física não é o fim da existência do homem e que a alma, feita à imagem de Deus, é imortal. Por isso, o castigo que dura tanto quanto a alma, deve ser eterno. Outra interpretação das passagens em Judas é, contudo, inteiramente possível. Muitos sustentam que as "prisões eternas" dos anjos decaídos não cessam no juízo, e que Sodoma e Gomorra sofrem a pena "do fogo eterno" no sentido de que a sua condenação no juízo será a continuação do que começou no tempo de Ló (ver Mt. 10.15 – "no juízo haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade").
c) Se, empregados para descrever o castigo futuro dos ímpios, eles não declaram a infinitude de tal castigo, não há palavra na língua grega que poderia expressar tal sentido. G. F. Wright, Relação da Morte com a Provação: "Os escritores da Bíblia falam na eternidade em termos de tempo, e causam a impressão mais vivida através do redobro das palavras indicativas de tempo mais longo que elas possuíam [e.g., εις τους αιώνας των αίςώνων = 'pelos séculos dos séculos']. Platão contrasta χρόνος com αιών, quando se referem a tempo e eternidade e Aristóteles diz que a eternidade [αιών] pertence a Deus.... As Escrituras têm ensinado a doutrina do castigo eterno tão claramente como lhe permite o estilo geral". O destino dos perdidos se prende ao dos anjos maus". Se aqueles estão desesperadamente perdidos, então estes também desesperadamente estão.
d) Na grande maioria das passagens da Escritura onde eles ocorrem, têm inequivocamente a significação de "perene". São usados para expressar a duração eterna de Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Rm. 16.26; 1 Tm. 1.17; Hb. 9.14; Ap. 1.18); e a infinitude da felicidade futura dos santos (Mt. 19.29; Jo. 6.54,58; 2 Co. 9.9).
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Rm. 16.26 – "o mandamento do Deus eterno"; 1 Tm. 1.17 – Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre"; Hb. 9.14 – "Espírito eterno"; Ap. 1.17,18 – "eu sou o primeiro e o último e o que vive; fui morto, mas eis que estou vivo para todo o sempre"; Jo. 14.16,17 – "Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o Espírito de verdade"; Mt. 19.29 – "E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs ... por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto e herdará a vida eterna"; Jo. 6.54,58 – "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna ... quem comer este pão viverá para sempre"; 2 Co. 9.9 – "a sua justiça permanece para sempre"; cf. Dn. 7.18 – "Mas os santos do Altíssimo receberão o reino e possuirão o reino para todo o sempre, e de eternidade em eternidade". Às vezes se diz que o castigo eterno é aquele que ocorre num αιών, e a ele pertence sem referência alguma de duração. Porém o Presidente Woolsey declara, por outro lado, que αιώνιος não pode denotar 'pertinência a um αιών, período terrestre'". O castigo dos ímpios não pode cessar, do mesmo modo que Cristo não pode deixar de viver, ou o Espírito Santo de permanecer com os crentes; porque todos estes são descritos em tais termos; emprega-se αιώνιος no N.T. 66 vezes: 51 a respeito da felicidade dos justos, 2 vezes da duração de Deus e sua glória, 6 vezes onde não há dúvida quanto ao seu sentido 'eterno', 7 vezes do castigo dos ímpios; αιών é empregado 95 vezes: 55 para a duração ilimitada, 31 de duração limitada, 9 para denotar a duração de castigo futuro".
e) O fato de que a mesma palavra é usada em Mt. 25.46 para descrever tanto o sofrimento dos ímpios como a felicidade dos justos mostra que a miséria do perdido é eterna, no mesmo sentido em que a vida de Deus ou a bem-aventurança dos salvos. Mt. 25.46 – "E irão estes para o tormento eterno; mas os justos para a vida eterna".Sobre esta passagem ver Meyer: "A idéia absoluta de eternidade, sobre o castigo do inferno, não deve ser desprezada, quer por um apelo ao emprego popular de αιώνιος, quer por um apelo ao sentido figurado de 'fogo'; quanto à incompatibilidade da idéia do mal eterno com o
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mal moral e seu castigo, ou a finalidade de advertência da representação; mas, exegeticamente, ela se prende, por contraste a ζωήν αιώνιον, que significa ilimitada vida messiânica".
f) Outras descrições da condenação e sofrimento dos perdidos, excluindo, como fazem, toda a esperança de arrependimento ou perdão tornam certo que αιών e αιώνιος, nas passagens referidas descrevem um castigo que é sem fim. Mt. 12.31.32 – "todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada aos homens. ... não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro"; 25.10 – "e fechou-se a porta"; Mc. 3.29 – "Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo"; 9.43,48 – "ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga ... onde o bicho não morre e o fogo nunca se apaga" – não o bicho que não morre, mas o bicho não mortal; não o fogo que não se apaga, mas o fogo inextinguível; Lc. 3.17 – "queimará a palha com fogo que nunca se apaga"; 10.26 – "está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá"; Jo. 3.36 – "aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece". Revista da Esperança Eterna de Farrar, em E/Ma Sacra, outubro, 1.878.782 – "O sentido original das palavras inglesas 'hell' [inferno] e 'damn' [condenação] é exatamente o das palavras gregas que elas representam. O seu sentido atual é bem diferente, mas de onde elas provieram? Surgiu da conotação imposta sobre estas palavras dada a impressão que as Escrituras causam na mente popular. O sentido atual destas palavras encontra-se na Escritura, e não pode ser removido por qualquer que seja o processo mecânico. Mude as palavras e, dentro de poucos anos, 'julgar' terá na Bíblia a mesma força que 'damn' (condenar, na grafia antiga condemnar) tem atualmente. De fato as palavras não são mal traduzidas, mas a conotação de que o Dr. Farrar se queixa tem ocorrido há muito tempo, através das Escrituras. Isto prova qual é a impressão geral da Escritura sobre a mente e mostra o quanto Dr. Farrar se desviou".
Teologia Sistemática (Strong) 2068 g) Portanto, embora admitamos que não conhecemos a natureza da eternidade, ou de sua relação com o tempo, sustentamos que as representações escriturísticas do castigo futuro proíbem tanto a hipótese da aniquilação como a de que o sofrimento terminará na restauração. Seja o que for a eternidade, a Escritura certifica que depois da morte não há nenhum perdão. Consideramos o argumento contra o castigo eterno tirado de αιών e de αιώνιος puramente verbal e que não toca o cerne da questão em foco. Acrescentamos, como apêndice, as afirmações dos seus defensores. União Cristã: "Castigo eterno não é o castigo através da eternidade, mas na eternidade; como o temporal não é o castigo através do tempo, mas no tempo". Westcott: "Vida eterna não é uma duração ilimitada do ser no tempo, mas o ser do qual o tempo não é uma medida. Na verdade não temos força para nos apegarmos à idéia a não ser através das formas e imagens dos sentidos. Estas devem ser utilizadas, mas não se deve transferi-las para realidades de outra ordem". Farrar sustenta que αίδιος, 'eterno', que apenas ocorre duas vezes no N.T. (Rm. 1.20 e Jd. 6), não é sinônimo de αιώνιος, 'eterno', mas a antítese direta dele; aquele é a concepção irrealizável do tempo ilimitado, e este refere-se a um estado de que se exclui a nossa concepção imperfeita de tempo. Whiton, Gloria Patri, 145, defende que a imanência perpétua de Deus na consciência possibilita a recuperação após a morte; contudo, ele fala da possibilidade de que, no pecador incorrigível, a consciência pode extinguir-se. Sobre todos esses pontos de vista podemos replicar, com Schaff, Ch. History, 2.66 – "De acordo com o juízo geral nada nos é revelado a não ser a expectativa tanto de uma vida eônica (de eon = αιών) como de uma morte eônica. ... Castigo eterno do ímpio sempre foi e sempre será a teoria ortodoxa".
D) Este castigo eterno dos ímpios não é inconsistente com a justiça de Deus, mas é a sua revelação. a) Vimos em nossa discussão sobre a Pena que seu objetivo nem é reformatório, nem dissuasivo, mas vindicador; em outras palavras, seu principal alvo não está no bem do ofensor, nem no bem-estar da
Teologia Sistemática (Strong) 2069 sociedade, mas na vindicação da lei. Vimos também que a justiça não é uma forma de benevolência, mas é a expressão e manifestação da santidade de Deus. O castigo, portanto, como a reação inevitável e constante daquela santidade contra seu oposto moral não pode chegar a um fim até que a culpa e o pecado se esgotem. O erro fundamental do universalismo é a negação de que a pena é vindicadora e a justiça é diferente da benevolência. Ver, na Enciclopédia de Johnson, artigo sobre o universalismo: "O castigo do ímpio, embora possa ser severo ou terrível é apenas um meio com vistas a um fim benéfico; não é vingativo, mas curativo; não tem o enfoque central em si mesmo, mas o bem de quem sofre a sua aplicação". Concorda com isso o Rev. H. H. Beecher: "Creio que o castigo existe, tanto aqui como no além; mas não continuará depois de ter deixado de fazer o bem. Com um Deus que poderia tornar o mal por mal este mundo sairia como uma vela". Entretanto, replicamos que o castigo eterno não é uma doutrina de "dor por causa da dor", mas dor por causa da santidade. O castigo não poderia ter efeito benéfico sobre o universo ou mesmo sobre o ofensor, se não fosse justo e reto em si mesmo. E, se justo e reto em si, então a razão para que ele continue não está em qualquer benefício advindo em favor do universo, ou do sofredor. F. L. Patton, Brit. and For. Ev. Review, janeiro, 1.878.126-139, sobre a Filosofia do Castigo – "Se a posição dos universalistas fosse verdadeira, seria de esperar que ocorressem algumas manifestações de amor e piedade e simpatia na aplicação dos terríveis castigos do futuro. Contudo, debalde é esperar que isso aconteça. Lemos a respeito da ira de Deus, do seu juízo, da sua fúria, da sua vingança; mas em passagem alguma temos indicação em que descrevem os sofrimentos do mundo futuro, que se destinem a operar a redenção e a recuperação da alma. Se a pena do ímpio fosse castigo, seria de esperar algum panorama brilhante no quadro bíblico em vez de ruína. Poder-se-ia pensar que o brilho da luz caminharia da cidade celestial para a escura habitação. Os sofredores tomariam um certo refrão doce da música celestial que fosse uma promessa e profecia de uma glória vindoura embora distante. Mas existe uma finalidade nas afirmações bíblicas quanto à condição dos perdidos, que é simplesmente terrível".
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A razão para o castigo não está na benevolência, mas na santidade de Deus. Tal santidade revela-se na constituição moral do universo. Ela se faz sentir na consciência – de modo imperfeito aqui, e pleno no além. O erro demanda castigo. Exige-se o direito, não porque seja conveniente, mas porque faz parte da natureza de Deus. "Porém não se conhecerá a grande significação ética da palavra direito", (novamente citamos Patton) "não se entenderão suas reivindicações imperativas, suas ordens soberanas, sua santa e imperiosa influência sobre a criação moral, enquanto não testemunharmos, durante o lapso de horas de juízo, a terrível retribuição que mede o merecimento do mal pelo erro praticado". Quando o Dr. Johnson parecia muitíssimo temeroso quanto ao futuro, Boswell lhe disse: "Pense na misericórdia do seu Salvador". "Senhor", replicou Johnson, "o meu Salvador disse que ele poria alguns à sua direita e alguns à sua esquerda". Durante a Guerra Civil um universalista anunciou a sua conversão ao calvinismo, baseado no fato de que o inferno é uma necessidade militar. "Em Rm. 12.19, Vingança', έκδίκησις, significa principalmente Vindicação'. Deus mostrará ao pecador e ao universo que a aparente prosperidade do mal é uma ilusão e uma armadilha" (Crane, Religion oi Tomorrow, 319, nota). O estranho livro Cartas do Inferno, mostra como a memória pode aumentar o nosso conhecimento dos atos maus do passado, mas pode destruir o conhecimento das promessas de Deus. Visto que retemos mais perfeitamente aquilo que foi matéria do pensamento mais constante, a retribuição nos pode vir através da operação das leis da própria natureza. Jackson, James Martineau, 193-195 – "Platão sustenta que o sábio transgressor buscará, não escapar da sua punição. James Martineau pintou um temível quadro dos possíveis açoites da consciência. Ele considerava o sofrimento pelo pecado, apesar de temível, contudo, desejável, não de se pedir o seu alívio, mas roga-se: 'Açoita-me, Senhor; por amor da tua misericórdia, não me poupes!' A alma que se nega a tais sofrimentos, não é favorecida, mas defraudada. Aprende a verdade da sua condição e vindicase a verdade e o direito do universo". O pregador de Connecticut dizia: "Meus amigos, alguns crêem que todos serão salvos; mas esperamos coisas melhores. A palha e o trigo não estarão sempre juntos. Um vai para o celeiro e a outra para a fornalha".
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Shedd, Dogm. Theol., 2.755 – "Luxuosas eras e luxuosos homens recalcitram contra o inferno e 'recalcitram contra o aguilhão' (At. 26.14). Nenhuma doutrina teológica é mais importante que a eterna retribuição àquelas modernas nações que, como a Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, crescem rapidamente em riquezas, luxo e poder terreno. Sem isto, elas descem infalivelmente o vórtice da sensualidade e iniqüidade que engoliram Babilônia e Roma. O bestial e vergonhoso vício da dissoluta riqueza que recentemente foi descoberta na metrópole comercial do mundo é um poderoso argumento para a necessidade e realidade do 'lago que arde com fogo e enxofre' (Ap. 21.8)". A convicção de que após a morte há castigo para o pecado tem modificado grandemente o velho universalismo. Há pouca conversa moderna de todos os homens, tanto justos como ímpios que entram para o céu no momento em que esta vida termina. Um estado purificador deve intervir. E. G. Robinson: Ό universalismo resulta de uma idéia exagerada da expiação. Atualmente não existe universalismo genuíno. O restauracionismo ocupa o seu lugar".
b) Mas a culpa, ou o demérito, não tem fim. Por mais que seja o tempo do seu castigo, ele nunca deixa de ser desmerecedor. A justiça, portanto, que retribui a todos segundo os seus merecimentos, não pode deixar de punir. Porque a razão para o castigo é infinita o próprio castigo deve ser infinito. Até mesmo os pecados passados envolvem uma culpa infinita, da qual o castigo infinito é simplesmente o correlato. Para a completa afirmação deste argumento de que, como a culpa nunca termina, exige um castigo sem fim, ver Shedd, Doctrine of Endless Punishment, 118-163 – "Sofrimento que é penal nunca pode chegar ao fim, porque a culpa é a razão da sua aplicação e, uma vez que se incorreu nela, nunca deixa de existir. ... O pecado causa a culpa e a culpa causa o inferno". O homem não pune perpetuamente porque ele não leva em conta a pessoa de Deus. "A punição humana não é absoluta e perfeita como a divina, mas apenas aproximada e imperfeita. Não se ajusta exata e precisamente a toda a culpa da ofensa, porém é mais ou menos modificada, primeiro, por não considerar sua relação com a honra e majestade de Deus; segundo, porque o homem ignora os motivos interiores; e, terceiro, pelo expediente social". Porém "o inferno não é uma penitenciária.... O Cordeiro de Deus é também
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o Leão da tribo de Judá.... O castigo humano que mais se aproxima do divino é a pena capital. Esta caracteriza-se pela duração sem fim. A morte é uma finalidade. Ela separa perpetuamente o assassino da sociedade terrena do mesmo modo que a punição futura o isola para sempre da sociedade com Deus e com o céu". O lapso de tempo não converte a culpa em inocência. O veredicto "Culpado por dez dias" é hiberniano (= o mesmo que hibérnico; da, ou relativo à Hibérnia, ou Irlanda; conjunto de qualidades étnicas e morais da Hibérnia). A culpa é indivisível (não se divide com ninguém), e intransferível. Ela pesa totalmente sobre o criminoso em todo o momento. Richelieu: "Todos os lugares são templos e todos os verões são para justiça". George Eliot: "A consciência é mais cruel que os nossos inimigos: conhece mais e acusa com mais precisão". Shedd: "O pecado é o único moto perpétuo que se descobriu. Um deslize na mocidade, cometido num instante, acarreta sofrimento para o resto da vida. A natureza da punição infligida é infinitamente maior do que o tempo consumido na violação da lei apesar de que é o legítimo desdobramento da ofensa".
c) Não só a culpa eterna, mas o pecado eterno exige castigo eterno. Desde que as criaturas morais se opõem a Deus, elas merecem castigo. Porque não podemos medir a força da vontade depravada para resistir a Deus não podemos negar a possibilidade de pecar sem fim. O pecado tende sempre a reproduzir-se. As Escrituras falam de um "pecado eterno" (Mc. 3.29). Porém é justo em Deus visitar o pecado sem fim com um castigo sem fim. O pecado, contudo, não é só um ato, mas também uma condição ou estado da alma; este estado é impuro e anormal, envolve miséria; esta miséria apontada por Deus para vindicar a lei e a santidade é o castigo; este castigo é a manifestação necessária da justiça de Deus. Não o castigo, mas a impunidade é que anularia a sua justiça; pois se é para punir o pecado é para punir até onde ele existe. Mc. 3.29 - "qualquer que blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão, mas será réu do pecado eterno"; Ap. 22.11 – "Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda". Calvino: "Deus tem a
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melhor razão para punir eternamente o pecado eterno". Presidente Dwight: "Todo pecador é condenado pelo seu primeiro pecado e por todos pecados que se seguem embora continuem para sempre". O que Martineau (Study, 2.106) diz a respeito desta vida, podemos aplicar ao que se segue: "Havendo pecado, seria simplesmente monstruoso que não houvesse nenhum sofrimento". Porém convém lembrar que os homens, por fim, são condenados, não somente por pecados, mas por pecado; eles são punidos não somente por atos de desobediência, mas por um mau caráter. O juízo é uma volta do homem ao "seu próprio lugar" (At. 1.25). A alma que é permanentemente diferente de Deus não pode habitar com ele. A consciência do ímpio justificará a sua condenação e ele preferirá o inferno ao céu. Quem não ama a Deus está em guerra consigo mesmo, assim como com Deus, e não pode estar em paz. Apesar de não haver aplicação da pena com a mão de Deus, a alma impura que baniu a si mesma da presença de Deus e da comunhão dos santos tem na sua má consciência a fonte do tormento. A consciência nos dá uma garantia da eternidade de tal sofrimento. O remorso não tende a se esgotar. A memória de uma obra má não se torna menos, porém mais aguçada com o tempo, e a reprovação de si mesmo não se torna menos, porém mais amarga. Sempre renovada, a afirmação da decisão para o mal apresenta à sua alma uma nova ocasião perene de convicção e vergonha. F. W. Robertson fala do "infinito enlouquecimento do remorso". O Dr. Shedd, no livro acima citado, assinala: "Embora a vontade de resistir ao pecado possa perecer no homem, a consciência de condenálo, nunca. Isto continua para sempre. Ε quando o processo se completa; quando a criatura responsável, no abuso da liberdade, aperfeiçoa a ruína; quando a sua boa vontade desaparece; permanecem estes dois no espírito imortal – o pecado e a consciência, 'fogo e enxofre' (Ap. 21.8)". E. G. Robinson: "O argumento fundamental para castigo eterno é a força reprodutiva do mal. Na lei divina, impõe-se a pena. Rm. 6.19'apresentastes os vossos membros para servirem ... à maldade para a maldade'. Sempre que ocorre o pecado é inevitável a pena. Ninguém de bom senso defenderia o castigo eterno como a aplicação judicial objetiva, e quanto mais rápido termina, melhor. Só se pode defender isso com base na
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força reacionária da preferência eletiva, a redobrada força do mal moral. Não temos o direito de dizer que não há nenhuma outra conseqüência do pecado a não ser a natural; mas, se fosse assim, cada palavra de ameaça da Escritura ainda permaneceria. Nunca seremos tão completos como se nunca tivéssemos pecado. Levaremos as suas marcas para sempre. A lei eterna das más obras é que o malfeitor é quem comete o erro e por é isso amaldiçoado, e as harpias e as fúrias o seguirão por toda a eternidade. Deus não precisa mandar um policial atrás do pecador; este carrega o policial dentro de si. Deus não precisa instalar um posto de açoites para punir o pecador; o pecador o encontra sempre onde quer que ele esteja, e a sua consciência lhe aplica os látegos".
d) Os fatos reais da vida humana e as tendências da ciência moderna mostram que este princípio de justiça retribuidora se opera nos elementos e forças do universo físico e moral. Por um lado, o hábito conduz à fixidez do caráter e, no mundo espiritual, os atos pecaminosos freqüentemente repetidos reproduzem um estado permanente de pecado que a alma, desauxiliada, não pode mudar. Por outro lado, o organismo e o ambiente correlacionam-se um com o outro; e no mundo espiritual o egoísta e o impuro acham circunstâncias correspondentes à natureza deles enquanto as circunstâncias reagem sobre eles e confirmam o seu mau caráter. Tais princípios, se na outra vida atuam como nesta, garantirão o crescente e infinito castigo. Gl. 6.7,8 – "Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção"; Ap. 22.11 – "Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem é sujo suje-se ainda". Dr. Heman Lincoln, em artigo sobre a Retribuição Futura (The Examiner, 2 de abr. de 1885) - fala de duas grandes leis da natureza que confirmam a doutrina bíblica da retribuição. A primeira é que "a tendência do hábito é a de um estado permanente. Aquele que bebe ocasionalmente torna-se um beberrão confirmado. Aquele que é indulgente nos juramentos passa a ser um temerário blasfemo. O jogador que gastou uma fortuna e arruinou a sua família é escravo da mesa de
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cartas. A doutrina bíblica da retribuição é apenas um prolongamento desta bem conhecida lei da vida futura". A segunda lei é que "o organismo e o ambiente devem estar em harmonia. Através de um vasto domínio da natureza, cada planta, árvore, réptil, pássaro, mamífero têm órgãos e funções adequados ao clima e atmosfera do seu habitat. Se ocorrer uma súbita mudança no clima, de tórrido para temperado, ou de temperado para ártico; se a atmosfera mudar de seca para úmida ou de vapores carbônicos para oxigênio puro, certamente ocorrerá morte súbita em toda a fauna e flora da região afetada a não ser que a plástica natureza mude o organismo a fim de conformar-se com o novo ambiente. Os intérpretes da Bíblia acham a mesma lei ordenada no mundo vindouro. As circunstâncias devem corresponder ao caráter. Uma alma que ama o pecado não pode encontrar espaço no céu que se caracteriza pela santidade. Se o ambiente é santo, o caráter dos seres destinados a ele também deve ser santo. A natureza e a revelação estão em perfeita sintonia". Ver Drummond, Nat Law in the Spiritual World, caps.: Ambiente, Persistência do Tipo, e Degradação. Os. 13.9 – "Para tua perda, ó Israel, te rebelaste contra mim, contra o teu ajudador" = se os homens são destruídos, é porque eles se destroem a si mesmos. Não é Deus, mas o próprio homem, que faz o inferno. Schurman: "Não se pensa no castigo externo dos pecados humanos". Jackson, James Martineau, 152 – "A nossa luz, como a temos, levamos conosco; e aquele que em sua alma não conhece a Deus ainda continua nas trevas embora, como o anjo de Apocalipse, estivesse no sol". Crane, Religion of Tomorrow, 313 – "Ter certeza de que a fome contínua priva o homem do alimento nutritivo e, enquanto vive ele vai sofrer; assim a dor permanece enquanto a alma é desprovida de Deus, depois que os estimulantes artificiais dos prazeres do pecado perderem o seu efeito. A morte nada tem a ver com isso; porque enquanto a alma vive separada de Deus, quer neste, quer noutro planeta, ela estará em situação deplorável. Se o pecador não arrependido é imortal, seus sofrimentos também o serão". "Magnas inter opes, inops" – abatido pela pobreza em meio às grandes riquezas - sua própria natureza o compele ao sofrimento. Ε ele não pode mudar a sua natureza; porque o caráter, uma vez fixado e sedimentado neste mundo, não pode ser lançado numa fundição e remendado no mundo
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futuro. O inferno de Robert G. Ingersoll é muito mais terrível do que o inferno ortodoxo. Ele declara que de modo algum há perdão nem renovação. A lei natural tem o seu procedimento. O homem é um Mazepa preso ao cavalo selvagem das sua paixões; um Prometeu em cujo remorso vital, que, como um abutre, sempre está roendo.
e) Como há graus de culpa humana, assim o castigo futuro pode admitir graus e em todos esses a duração é infinita. A doutrina da eterna punição não implica que, em cada instante da existência futura do perdido, há dor infinita. A linha é infinita no cumprimento, mas não em largura ou espessura. "Uma série infinita só pode fazer uma soma finita; uma série infinita pode diferir infinitamente em sua soma total". As Escrituras reconhecem tais graus no castigo futuro enquanto ao mesmo tempo declaram que ele é infinito (Lc. 12.47,48; Ap. 20.12,13). Lc. 12.47,48 – "E o servo que soube a vontade do seu senhor e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites. Mas o que não a soube e fez coisas dignas de açoites com poucos açoites será castigado"; Ap. 20.12,13 – "E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros. Ε abriu-se outro livro, que é o da vida, e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.... julgados cada um segundo as suas obras".
f) Conhecemos a enormidade do pecado só pelas declarações de Deus a seu respeito e pelo sacrifício que ele fez para redimir-nos dele. Cometido contra um Deus infinito e tendo em si possibilidades infinitas do mal, ele mesmo pode ser infinito e pode merecer castigo infinito. Cf. Ez. 14.23 – "sabereis que não fiz sem razão tudo quanto tenho feito nela, diz o Senhor Jeová". Precioso como o vinho é para o seu fruto, só se presta para combustível quando é estéril. Cada pecado, independente da ação da graça divina, é sinal da apostasia contagiante e permanente. Mas não se trata de um simples pecado. Este é um germe de infinita expansão. O simples pecado, em si mesmo, nunca cessaria os seus efeitos do mal; se
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fosse assim destronaria Deus. "A idéia de desproporção entre o pecado e o castigo desenvolve-se a partir de uma minimização do pecado e da culpa. Quem considera o assassinato uma ofensa leve pensará que a forca é uma ultrajante injustiça. Theodore Parker detesta a doutrina das penas eternas, porque considera o pecado apenas como uma provocação à virtude, um passo para o triunfo, mais uma queda resultante em ascensão, boa na prática". Mas isto apenas quando consideramos seu relacionamento com Deus o que podemos avaliar o mau mérito do pecado. Dr. Shedd sustenta que a culpa do pecado é infinita, porque é mensurável, não através das forças do ofensor, mas da majestade de Deus, contra quem ele foi cometido; ver Dogm. Theol., 2.740,749 – "O crime depende do objeto contra quem ele é cometido, bem como sobre o sujeito que o cometeu. ... Golpear é um ato voluntário, mas golpear um poste ou uma pedra não é um ato culpável. ... Matar um cão é tão mau como matar um homem se simplesmente se considera o sujeito que mata e não o objeto que é morto. ... Como Deus é infinito, também a ofensa contra ele é infinita na sua culpabilidade. ... Qualquer que, na sua fé penitente, se vale do método vicário de tornar-se a si mesmo juste com a Nêmesis eterna, perceberá que é bem sucedido; mas aquele que o rejeita deve, através de ciclos infinitos agarrar-se ao terrível problema da culpa humana na sua própria pessoa, sozinho". Bem diferentes são os pontos de vista de outros, como, por exemplo, E. G. Robinson, Dogm. Theol., 292 – "A noção de que as qualidades de um ato finito podem ser infinitas – que as suas qualidades podem derivar da pessoa a quem o ato se dirige, ao invés dos motivos que o estimulam, não precisa de refutação. A própria noção, um dos pensamentos mais bastardos da teologia metafísica medieval, tem sustentado sua posição em respeitável sociedade tão somente através dos serviços que ela tem considerado capazes de prestar". Simon, Christian Theology, 123 – "Representar os pecados como infinitos, porque Deus, contra quem eles foram cometidos, é infinito, requer logicamente que nós digamos que a confiança, ou a reverência, ou o amor a Deus, são infinitos, porque Deus é infinito". Por isso julgamos mais correto dizer que o pecado, como um ato finito, demanda um castigo finito, mas que persiste ilimitadamente nas demandas ilimitadas e, neste sentido, um castigo infinito.
Teologia Sistemática (Strong) 2078 E) Tal castigo eterno dos ímpios não é inconsistente com a benevolência de Deus. – Muitos sustentam, contudo, que o objeto da retribuição eterna, que é a benevolência, requer de Deus que não aplique castigo sobre as suas criaturas a não ser como meio de alcançar o sumo bem. Respondemos: a) Deus não só é benevolente, mas também santo e a santidade é seu principal atributo. A vindicação da santidade de Deus é o primeiro e suficiente objetivo do castigo. Isto constitui um bem que justifica plenamente sua aplicação. Até mesmo o amor tem dignidade e, rejeitado, pode converter a bênção em maldição. O amor à santidade envolve aversão à falta de santidade. O amor de Deus não é sem caráter. Dorner: "O amor não pode por si mesmo lançar-se fora.... Não temos o direito de dizer que o castigo só é justo quando ele é um meio de correção". É bom lembrar que a santidade condiciona o amor (ver págs. 296-298). Robert Buchanan esqueceu-se da santidade de Deus quando escreveu: "Se há condenação para alguém, ó Criador, tu estás em dificuldade!" Shakespeare, King John, 4.3 – "Além do alcance infinito e sem limites da misericórdia, se fizeste esta obra de morte, estás perdido, ó Hubert!" Tennyson: "Aquele que despreza o amor, como recompensa será desprezado pelo mesmo amor, e no limiar se vê quão insuportáveis são as trevas totais". Theodore Parker certa vez tentou fazer as pazes entre Wendell Phillips e Horace Mann, a quem Phillips tinha criticado com sua costumeira severidade. Mann escreveu a Parker: "Como você é bonzinho! Estou certo de que ninguém vai ser condenado se você estiver na direção do universo. Mas", continuou ele, "eu nunca vou querer tratar com respeito aquele a quem eu não respeitar, quaisquer que sejam as conseqüências a advir – por isso, ajude-me – Horace Mann!" O espírito que animava Horace Mann pode não ter sido o de amor, mas podemos imaginar um caso em que as suas palavras poderiam ser de amor integral assim como de justiça, e só o amor justo é amor verdadeiro.
b) Nesta vida, a justiça de Deus envolve algumas das suas criaturas nos sofrimentos que não são de nenhuma vantagem para os indivíduos que sofrem; como no caso das penas que não reformam e das aflições
Teologia Sistemática (Strong) 2079 que só endurecem e amargam. Se isto aqui é um fato, pode sê-lo no além. Há muitos sofredores na terra, nas prisões e nos leitos de dor cujo sofrimento resulta na dureza de coração e inimizade contra Deus. Não se trata de uma questão de quantidade, mas de qualidade. A questão é se algum castigo afinal de contas é consistente com a benevolência de Deus; qualquer castigo, isto é, que não resulta em bem para o castigado. Sustentamos isso; e defendemos que Deus deve punir a impureza moral, quer isso resulte em bem ou não. O Arcebispo Whately diz que é tão difícil mudar um átomo de chumbo em prata como mudar uma montanha toda. Se o castigo de muitas pessoas incorrigivelmente impenitentes é consistente com a benevolência de Deus, assim também é o castigo de uma pessoa incorrigivelmente impénitente; se o castigo das incorrigivelmente impénitentes durante a eternidade é inconsistente com a benevolência de Deus, do mesmo modo é o castigo de tais pessoas por um tempo limitado, ou por qualquer tempo afinal de contas. Em uma de suas primitivas histórias, Black representa um escocês de temperamento azedo protestando contra a idéia de que se deve permitir a um pecador que ele tem em mente de esquivar-se das conseqüências dos seus atos: Ό que existe de bom num ser bom", pergunta ele, "se as coisas assim se revelam?" O instinto de retribuição é o mais forte no coração humano. Ele faz parte da nossa própria intuição da existência de Deus, de modo que, negar a sua justiça é negar que Deus existe. Há "uma certa expectação horrível do juízo" (Hb. 10.27) para nós mesmos e para os outros, no caso de transgressão persistente, sem que o próprio amor de Deus deixe de inspirar respeito. Visto que nem a aniquilação nem a provação é bíblica, o nosso alívio ao contemplar a doutrina do castigo eterno deve vir: 1. do fato de que a eternidade não é um tempo sem fim, um estado que nos é inconcebível; e 2. do fato de que a evolução sugere a reversão ao bruto como conseqüência necessária do abuso da liberdade.
c) A benevolência de Deus concernente ao bem geral do universo requer a execução da pena completa da lei sobre todos os que rejeitam a salvação de Cristo. As Escrituras sugerem que o trato do pecado humano
Teologia Sistemática (Strong) 2080 por Deus é matéria de instrução para todos seres morais. A ruína por auto-escolha de poucos pode ser a salvação de muitos. O Dr. Joel Parker, Lectures on Universalism, fala da garantia das criaturas livres alcançadas por uma gratidão pelo livramento "que dá vida através de um exemplo constante de alguns que estão sofrendo a vingança do fogo eterno". Até mesmo a nossa raça pode ser a única (os anjos não são considerados "raça") que decaiu de Deus. Como através da igreja manifesta-se a multiforme sabedoria de Deus "aos principados e potestades nos lugares celestiais" (Ef. 3.10); do mesmo modo, através da punição do perdido, pode-se tornar conhecida a santidade de Deus a um universo que, sem ela, não poderia ter prova tão marcante, de que o pecado é suicídio moral e ruína, e que a santidade de Deus é o seu antagônico irreconciliável. A respeito da extensão e escopo do inferno, citamos as palavras do Dr. Shedd, no livro já mencionado: "O inferno é apenas um ponto no universo de Deus. Comparado com o céu, ele é estreito e limitado. O reino de Satanás é insignificante em contraste com o de Cristo. No imenso nível de domínio impera o bem, e o mal é uma exceção. O pecado é uma pinta sobre o infinito azul da eternidade; uma mancha no sol. O inferno é um cantinho do universo. O étimo gótico denota um orifício totalmente coberto. Na Escritura, inferno é um 'poço', um 'lago'; não um oceano. Ele é "sem fundo", não sem limite. As teorias gnóstica e dualista, que fazem Deus e Satanás ou o Demiurgo, quase iguais na força e domínio, não encontram base no Apocalipse. A Bíblia ensina que sempre há algum pecado e morte no universo. Alguns anjos e homens serão sempre inimigos de Deus. Porém o seu número, comparado com o dos anjos que não caíram, é pequeno. Eles não são descritos na linguagem brilhante e nas metáforas em que se delineia a imensidão dos santos e bem-aventurados. (SI. 68.17; Dt. 32.2; SI. 103.21; Mt. 6.13; 1 Co. 15.25; Ap. 14.1; 21.16,24,25). Nunca se amplia nem se dá ênfase ao número dos espíritos perdidos. A afirmação breve e firme é: 'aos tímidos e aos incrédulos ... a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre' (Ap. 21.8). Não se acrescenta nenhuma metáfora ou ampliação que cause a impressão de uma imensa 'multidão que ninguém pode contar'". Dr. Hodge: "Temos razão para crer que os perdidos não são proporcionalmente em número maior do que os internos de uma prisão no total da comunidade".
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A revista Norte Americana incumbiu o Dr. Shedd de escrever um artigo vindicando o castigo eterno, e também incumbiu Henry Ward Beecher para a réplica. Os originais do artigo do Dr. Shedd foram enviados ao Dr. Beecher à vista do que ele telegrafou de Denver para a Revista: "Cancelar incumbência, Shedd é demais para mim. Quase por mim mesmo creio no castigo eterno. Arrume um outro". O artigo em resposta nunca foi escrito, e o Dr. Shedd continuou sem resposta.
d) Admite-se comumente que a presente existência do pecado e do castigo seja, de certa forma, consistente com a benevolência de Deus na qual ela se torna o meio de Deus revelar sua justiça e misericórdia. Se a existência temporária do pecado e do castigo conduzem ao bem, é inteiramente possível que sua existência eterna conduza a um bem ainda maior. A priori, pensamos ser impossível que Deus permita o mal moral; o paganismo, a prostituição, venda de bebidas, o tráfico de escravos. Mas o pecado é um fato. Quem pode dizer até quando isso será um fato? Por que não seria para sempre? A benevolência que o permite agora pode permitir por toda a eternidade. E, se permitir pela eternidade, pode torná-lo sem dano, visitando-o com o castigo eterno. Lillie em Tessalonicenses, 457 – "Se a existência temporária do pecado e castigo conduzem ao bem, como podemos provar que a sua existência eterna pode não conduzir a um bem maior"? Não precisamos negar que banir os perdidos causa em Deus uma verdadeira tristeza. O choro de Cristo sobre Jerusalém expressa os sentimentos do coração divino: Mt. 23.37,38 – "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa ficará deserta"; cf. Os. 11.8 – "Como te deixaria, o Efraim? Como te entregaria, o Israel? Como te faria como Admá? Por-te-ia como Zeboim? Está mudado em mim meu coração, todos os meus pesares juntamente estão acesos". Dante, Inferno, III inscrição sobre o portal do Inferno: "A eterna justiça moveu Deus a criar-me; Obra da Divina Potestade, Da Suma Sapiência e do Primeiro Amor" (Citação de Edições de Ouro, p. 60).
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A. H. Bradford, The Age of Faith, 254,267 – "Se alguém pensa na Divindade como um austero Monarca, que cuida da sua própria honra, mas não daqueles a quem ele deu o ser, é impossível o otimismo. O que dizer, pois, dos nossos amados que cometeram pecados? Aquele esplêndido menino que tinha uma tendência herdada – o que aconteceu com ele? Os milhões que com a pequena luz e poderosas paixões cometeram o erro – que é feito deles? As miríades sem conta que povoaram a terra em épocas do passado e não tiveram nem um motivo claro para a justiça visto que a sua percepção de Deus era obscura – isto é tudo que se pode dizer deles: Em tormento eles estão ostentando a gloriosa santidade do Onipotente em seu ódio ao pecado? Alguns podem crer nisso, mas, graças a Deus, o número não é tão grande. ... Não; pena, remorso, desespero, são apenas sinais do profundo poder curativo da natureza das coisas, que sempre operaram e sempre operarão e que, a menos que haja uma reação, resultará, por vezes, em harmonia universal e imortal. ... A retribuição é uma lei natural; é de alcance universal; é ao mesmo tempo uma manifestação da beneficência que permeia o universo. Esta lei deve continuar a sua operação até onde o agente livre fere a ordem moral. Não se honraria a justiça nem o amor se se permitisse a uma alma esquivar da ação. Mas na retribuição ordena-se que o aguilhão seja mais curativo e restaurador do que punitivo e vingativo.... Será que tal disciplina resiste eternamente? Não sabemos; mas é difícil entender o quanto pode estar desejando que assim seja, quando for revelada a plenitude da glória divina".
e) Como a benevolência em Deus parece no princípio ter permitido o mal moral, não porque o pecado fosse desejável em si mesmo, mas só porque era incidente a um sistema que provia a mais alta liberdade possível e santidade na criatura; assim a benevolência em Deus pode, ao fim, permitir a existência do pecado e pode punir o pecador, indesejáveis como estas coisas são em si, porque são incidentes de um sistema que provê a mais alta liberdade possível e santidade na criatura através da eternidade. Mas a condição do perdido só se torna mais desesperançada dada a dificuldade com que Deus lhe apresenta a "obra estranha" do castigo (Is. 28.21). A sentença que o juiz, com lágrimas, profere indica o terno e sofredor
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coração, mas também irrevogável. Pela própria apresentação do "juízo eterno" (Hb. 6.2), não só pode um número maior ser considerado verdadeiro, mas um grau mais elevado de santidade entre os que estarão assegurados. O Intérmino Futuro, publicado pela Casa Publicadora Metodista do Sul, supõe que o universo, embora em sua infância seja uma eterna tendência à rebelião, e uma criação sempre crescente resguardada do pecado em vista do castigo exemplar. Mt. 7.13,14 – "poucos há que a encontrem" – parece que pretende descrever a conduta dos homens então vivos, ao invés de prefigurar as duas correntes opostas da vida humana até o fim dos tempos". A. H. Bradford, The Age of Faith, 239, menciona como causa da modificação do ponto de vista relativo ao castigo: 1. A crescente liberdade de expressão das convicções; 2. A interpretação da palavra "eterno"; 3. A doutrina da imanência de Deus; se Deus está em cada homem, ele não pode detestá-lo eternamente mesmo na sua própria manifestação na criatura humana; 4. A influência dos poetas: Burns, Browning, Tennyson, e Whittier. Whittier, Bondade eterna: Ό erro que maltrata a minha alma aqui embaixo, não enfrento no trono lá no alto: Não conheço a ira de Deus; conheço a sua bondade e o seu amor". Consideramos o Dr. Bradford como o mais plausível defensor da restauração. Porém o seu ponto de vista é viciado por algumas pressuposições teológicas insustentáveis: 1. que a justiça é apenas uma forma de amor; 2. que a justiça, sem amor, é apaixonada e vingativa; 3. que a liberdade do homem é incapaz de um abuso perene; 4. que nem todos homens têm uma provação razoável; 5. que a porção de luz contra a qual eles pecaram não é levada em consideração por Deus; 6. que a imanência de Deus não abre espaço para a ação livre do homem; 7. que o objetivo de Deus na sua administração não é revelar todo o seu caráter e, principalmente a sua santidade, mas revelar somente o seu amor; 8. que as declarações bíblicas relativas a "um pecado eterno" (Mc. 3.29), "castigo eterno" (Mt. 25.46), "destruição eterna" (2 Ts. 1.9) ainda nos permitem crer na restauração de todos os homens à santidade e semelhança a Deus. Consideramos mais bíblico e mais racional o ponto de vista de Max Müller, ilustre filólogo de Oxford: "Tenho sempre sustentado que este universo seria miserável sem o castigo eterno. Cada ato, bom ou mau, deve trazer suas conseqüências e, o fato de que o nosso castigo não se prolongará para sempre parece-me uma prova do amor eterno de Deus. Porque, uma obra má continuar sem punição, seria destrutivo à ordem moral
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do universo". Max Müller simplesmente expressa a inerradicável convicção da humanidade de que a retribuição deve seguir-se ao pecado; que Deus deve demonstrar sua desaprovação ao pecado através do castigo; que as próprias leis da natureza humana expressam deste modo a justiça de Deus; que a abolição desta ordem representaria o destronamento de Deus e a destruição do universo.
F) A adequada pregação da doutrina do castigo eterno não é um obstáculo para o sucesso do evangelho, mas um dos principais e indispensáveis acessórios. – Contudo, alguns sustentam que ela não pode ser parte da mensagem do pregador porque naturalmente repele os homens. Respondemos: a) Se a doutrina for verdadeira e claramente ensinada na Escritura, nenhum temor das conseqüências para nós mesmos ou para os outros pode absolver-nos do dever de pregá-la. O ministro de Cristo tem a obrigação de pregar toda a verdade de Deus; se ele fizer isto, Deus cuidará dos resultados. Ez. 2.7 – "Mas tu lhes diras as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são rebeldes"; 3.10,11,18,19 – "Disse-me mais: Filho do homem, coloca no coração todas as minhas palavras que te hei de dizer e ouve-as com os teus ouvidos. Eia, pois, vai aos do cativeiro, aos filhos do teu povo, e lhes falarás, e lhes dirás: Assim diz o Senhor Jeová, quer ouçam quer deixem de ouvir.... Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; não o avisando tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu caminho ímpio, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o requererei. Mas, se avisares o ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu caminho ímpio, ele morrerá na sua maldade, mas tu livraste a tua alma". A antiga Igreja Protestante Francesa tem como cota de armas uma bigorna em torno da qual há muitos martelos quebrados, e este lema: "Desprezai o martelo, vós grupos hostis; A bigorna de Deus resiste Vossos martelos quebrados". S. Jerônimo: "Se uma ofensa provém da verdade, é melhor que ela venha, do que esconder a verdade". Shedd, Dogm. Theol.,
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2.680 – "Jesus Cristo é a pessoa responsável pela doutrina da perdição eterna". Os mais temíveis pronunciamentos sobre o castigo futuro são os de Jesus; por exemplo, Mt. 23.33 – "Serpentes, raças de víboras! Como escapareis da condenação do Inferno"? Mc. 3.29 - "Qualquer que blasfemar contra o Espírito Santo nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo"; Mt. 10.28 – "E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo"; 25.46 – "estes irão para o tormento eterno".
b) Toda pregação que ignora a doutrina do castigo eterno minimiza a santidade de Deus, cuja expressão é o castigo eterno e degrada a obra de Cristo, necessária para salvar-nos dela. O sucesso de tal pregação pode ser apenas temporário e deve ser seguido de uma desastrosa reação na direção do racionalismo e da imoralidade. Grande parte da apostasia da fé começa com a recusa da aceitação da doutrina do castigo eterno. Theodore Parker, conquanto reconheça que o Novo Testamento ensina a doutrina, rejeita-a, chega até a dizer que a teologia, como um todo, inclui esta idéia do castigo perene, que ela "escarnece do senso comum, cospe na razão, e torna Deus um diabo". Mas, se não há castigo eterno, então o perigo do homem não é tão grande que requeira um sacrifício infinito; e somos compelidos a abandonar a doutrina da expiação. Se não há expiação, não é necessário que o Salvador do homem seja mais do que um homem; e somos compelidos a abandonar a doutrina da divindade de Cristo e, com esta, a da Trindade. Se o castigo não for eterno, então a santidade de Deus é apenas outro nome para benevolência; o alicerce próprio de toda a moralidade desaparece, e a lei de Deus deixa de inspirar reverência e temor. Se o castigo não for eterno, então os escritores da Bíblia que criam e ensinavam tal doutrina eram homens falíveis, não estavam acima dos preconceitos e erros da sua época; e perdemos a evidência da inspiração divina da Bíblia. Com isto desaparece a doutrina dos milagres; Deus se identifica com a natureza e se torna o Deus impessoal do panteísmo.
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Theodore Parker passou por esse processo, e assim também Francis W. Newman. Logicamente, todo aquele que nega o castigo eterno do ímpio deve chegar ao mesmo resultado; precisamos apenas de uma observação superficial de países como a índia, onde reina o panteísmo, para ver quão deplorável é o déclinante resultado da virtude pública e particular. Emory Storrs: "Quando o inferno se afasta da religião, a justiça se afasta da política". O pregador que fala do pecado e do castigo de uma forma branda faz notavelmente uma obra análoga à de Satanás, quando disse a Eva: "Certamente não morrereis" (Gn. 3.4). Tal pregador deixa que os homens façam o que Shakespeare chama "o caminho primaveril para a fogueira eterna" (Macbeth 2.3). Shedd Dogm. Theol., 2.671 – "A expiação vicária é incompatível com a salvação universal. Esta doutrina implica que o sofrimento por causa do pecado é apenas um remédio, enquanto aquela implica que é a sua retribuição. ... Se o próprio pecador não é obrigado pela justiça a sofrer para satisfazer a lei que ele violou, então, sem dúvida, ninguém necessita de sofrer por ele com este propósito".
c) O medo do castigo futuro, apesar de não ser o mais elevado motivo, é o mais próprio, para a renúncia ao pecado e a volta para Cristo. Deve-se, portanto, apelar na esperança de que a busca da salvação que começa no medo da ira de Deus pode terminar no serviço da fé e do amor. Lc. 12.4,5 - "E digo-vos, amigos meus: não temais os que matam o corpo e depois não têm mais o que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei"; Jd. 23 – "e salvai alguns, arrebatandoos do fogo". É notável que o Velho Testamento, que às vezes é considerado, embora incorretamente, como um mestre do medo, não tem tais revelações do inferno como se encontram no Novo. Só quando a misericórdia de Deus foi demonstrada na cruz abriram-se para os olhos dos homens as profundezas do abismo do qual a cruz deve salvá-los. E, como já vimos, não é Pedro nem é Paulo, mas o próprio Senhor quem dá as mais temíveis
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descrições do sofrimento do perdido, e as mais claras afirmações da sua duração eterna. É necessário o quadro de Miguel Ângelo sobre o juízo final para introduzir-nos no quadro da Transfiguração de Rafael. Shedd, Dogm. Theol., 2.752 – "O que a raça necessita é de ir para o Confessionário divino.... A confissão é o único caminho para a luz e necessita a paz.... A negação do mal moral é o segredo da murmuração e da melancolia de que tão grande quantidade das letras modernas está cheia". Matthew Arnold diz aos seus críticos: "Non me tua fervida terrent dicta; Dii me terrent et Jupiter hostis" – "Não tenho medo dos teus violentos juízos; só temo Deus e a sua ira". Hb. 10.31 – "Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo". Daniel Webster dizia: "Quero um ministro para dirigir o cantinho do banco da igreja e que me faça sentir que o diabo está depois de mim".
d) Na pregação desta doutrina, conquanto admitamos que as imagens materiais empregadas na Escritura para estabelecer os sofrimentos dos perdidos não devem ser interpretadas materialmente, mas espiritualmente, devemos insistir em que a miséria da alma que detesta eternamente a Deus é maior que as dores físicas que são empregadas para simbolizá-la. Apesar de que uma declaração dura e mecânica da verdade só pode despertar oposição, uma solene e sentimental apresentação dela em ocasiões próprias e em sua devida relação com a obra de Cristo e com os oferecimentos do evangelho não podem deixar de cumprir o propósito de Deus na pregação e tornar-se o meio de salvar alguns que ouvem. At. 20.31 – "Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós"; 2 Co. 2.14-17 – "E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo e, por meio de nós manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento. Porque para Deus nós somos o bom cheiro de Cristo nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes, certamente, cheiro de morte para morte; mas, para aqueles, cheiro de vida para vida. E, para estas coisas, quem é idôneo? Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus;
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antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus, na presença de Deus"; 5.11 – "Assim que, sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé, mas somos manifestos a Deus; e espero que, na vossa consciência, sejamos também manifestos"; 1 Tm. 4.16 - "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem". "Omne simile claudicat" assim como "volat" – "Tudo o que é semelhante claudica do mesmo modo que voa". Nenhum símbolo expressa toda a verdade. Contudo, precisamos empregar símbolos e o Espírito Santo honra o emprego que fazemos deles, "aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação" (1 Co. 1.21). Há um profundo senso de responsabilidade para a alma do homem que moveu Paulo a dizer: "ai de mim se não anunciar o evangelho!" Ε há um profundo senso do dever que possibilita George Fox, às portas da morte, dizer: "Eu estou límpido! Estou limpo!" Do mesmo modo, Baxter escreve: "Preguei como nunca estou seguro de pregar novamente, e como um moribundo a homens moribundos". Foi Robert Robert McCheyne que disse que o pregador nunca deve falar do castigo eterno a não ser com lágrimas. A pregação lacrimosa de Robert McCheyne sobre tal assunto levou muitos a quebrantarem-se diante dos seus pecados e aceitar o perdão e a renovação oferecidos em Cristo. Tal pregação sobre o juízo e castigo nunca foram mais necessárias do que agora, quando pontos de vista frouxos e antibíblicos a respeito da lei e do pecado romperam a força dos apelos dos pregadores. Haja tal pregação e então muitos ouvintes pronunciarão o pensamento, senão as palavras do Dies Irae, 8-10 - "Rex tremendae majestatis, Qui salvandos salvas gratis, salva me, fons pietatis. Recordare, Jesu pie, Quod sum causa tuae viae: Ne. me perdas ilia die. Quaerens me sedisti lassus, Redimisti crucem passus: Tantus labor non sit casus" (Dia da Ira, 8-10 - Ó Rei de tremenda majestade, que quando salvas faze-o de graça; salva-me, ó fonte de piedade. Lembrate, piedoso Jesus, de que eu sou a causa do teu destino; não me leves à perdição naquele dia. Por mim tu te abateste, poupaste-me o sofrimento crucial: Tanto sacrifício não é sem razão). Ver Edwards, Works, 4:226-321; Hodge, Outlines of Theology, 459-468; Murphy, Scientific Bases of Faith, 310,319,464; Dexter, Verdict of Reason; George, Universalismnot of the
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Bible; Angus, Future Punishment, Jackson, Bampton Lectures for 1875, on the Doctrine of Retribution; Shedd, Doctrine of Endless Punishment, preface, and Dogm. Theol., 2:667-754.
_______________________________________________ ΤΕΟLOGIA SISTEMÁTICA – vol 1 e 2 Augustus Hopkins Strong Tradução: Augusto Victorino Revisão : Cláudio J. A. Rodrigues Copyright © 2003 por Editora Hagnos 1a edição - março 2003 - 3000 exemplares EDITORA HAGNOS PREFÁCIO Foi uma grande surpresa saber que a Teologia Sistemática de Strong, aquela obra monumental de pensamento teológico da minha juventude na Escola Graduada de Wheaton, bem como no Seminário da Fé, estava sendo traduzida e editada em português. Confesso que não tenho lido muito desta teologia, tão conhecida no mundo evangélico durante mais de cem anos. Mas descobri que é uma vasta fonte de informação teológica e bíblica. Não é necessário concordar com tudo que Strong escreveu para aproveitar a impressionante coletânea de ensinamentos e textos que o incansável teólogo ajuntou. Augustus Strong foi eleito presidente e professor de Teologia Bíblica do Seminário Teológico de Rochester no estado de Nova Iorque em 1872. Ocupou estes dois cargos durante 40 anos, após pastorear a Primeira Igreja Batista de Cleveland, estado de Ohio, por sete anos. Não abandonou o espírito pastoral na "torre de marfim" do seminário.
Teologia Sistemática (Strong) 2090 A Teologia Sistemática de Strong (primeira edição, 1886) encontra o seu centro em Cristo. Em suas palavras, "A pessoa de Cristo foi o fio da meada que segui; sua divindade e sua expiação eram os dois focos da grande elipse" (citado por W. R. Estep Jr. na Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã, ed. W. A. Elwell, Ed.Vida Nova, 1990, Vol. Ill, p. 420).O leitor não precisa ler os dois volumes para perceber a riqueza de apoio bíblico e teologia histórica. Entre os teólogos mais destacados dos Batistas do Sul dos Estados Unidos, E. Y. Mullins e W. T. Conner receberam forte influência de Strong. Espero que o aparecimento desta Teologia Sistemática seja bem recebido no Brasil. Deve ser um referencial para os que procuram uma âncora para sua fé, mesmo que tenha sido escrita antes dos teólogos liberais tais como Paul Tillich e Rudolf Bultmann. A Deus toda a glória! PR. DR. RUSSELL SEDD