Temp

  • October 2019
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  • Words: 2,295
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Cérebro e Sociedade: Duas forças fragilizadas com a infelicidade A base de uma sociedade saudável, requer que seu produto principal, a mente humana, seja saudável. Cérebro e ambiente interagem promovendo o equlíbrio de ambos. Quando um está em harmonia com o outro, há beleza, tranquilidade, produtividade, segurança no semblante da sociedade e das pessoas. Mas quando há um desequlíbrio de um ou de outro, uma névoa negra começa a cuspir faíscas sobre ambos causando tristeza, preocupação e dor, ou mesmo desespero, destruição e desintegração. No meu doutorado e pós-doutorado em Neurociências no Brasil e no exterior, eu tive a oportunidade de pesquisar cérebros interagindo com dois tipos de ambientes, um ameaçador, e outro tranqüilo, alegre e inofensivo. Fiquei impressionada com a força que um exerce sobre o outro. Eu estudei a emoções negativas como medo, estresse e ira, e tive como sujeitos experimentais, ratos criados em laboratório. Para provocar medo nesses animais, nós precisávamos criar situações estressantes, como colocá-lo sozinho em um cilindro de acrilico grande, transparente, aberto e iluminado. Em outras situações, colocávamos um gato neste cilindro para lhe fazer companhia. Em outras ainda, colocávamos o rato em uma colônia já formada por outros ratos, e aquele intruso era impiedosamente rejeitado e muitas vezes atacado.

Fig. Rato colocado em um campo aberto feito em acrílico para estimulação elétrica em regiões do medo. No destaque, algumas reaçõs típicas do medo: corpo encurvado, eriçamento dos pelos, olhos saltados (exoftalmia). Foto por Silvia H. Cardoso. Quando se fazia medidas, por exemplo, de cortisol, o hormônio do estresse, no sangue deste animal, verificava-se o “estrago” feito naquele organismo. Os níveis de cortisol eram tão altos, que alguns deles nunca mais voltariam ao seu estado normal. Seu comportamento era ora agressivo, ora tão indiferente, que parecia ter perdido o interesse pela vida. Ele optara por ficar isolado dos outros companheiros, e até ficavam mais feios, com pelos mais espessos e amarelados, patas ressecadas e manchas pretas ao redor dos olhos que já não eram mais vivos e brilhantes como antes. Para contrastar com essas situações estressantes a que eles eram submetidos, eu certa vez, quis observar como se comportavam os ratinhos que não experimentavam estresse e emoções negativas, uma questão completamente oposta à da minha linha de pesquisa, Para tanto, eu peguei uma caixa de plástico e coloquei nela serragem, brinquedos e vários ratinhos, e os coloquei em um ambiente escuro, para simular o período em que eles são mais ativos. O local era iluminado apenas com uma lâmpada infra-vermelho para que eu pudesse observar o comportamento.

O resultado foi surpreendente. Eu fiquei encantada em observar a alegria deles, e o que eles faziam nessa situação. Um brincava de rolar no chão com o outro (pensei: é igualzinho a dois meninos brincando, mas ao lembrar instantaneamente de nossas raízes evolutivas, inverti meu pensamento refleindo: ou são os meninos que fazem igualzinho aos ratos?). Outro ratinho dava pulinhos parecendo estar brincando com ele mesmo. Um outro curioso tentava descobrir a função dos brinquedos. Outro, desconfiado, farejava tudo o que via pela frente. Um outro parecia se pentear, ao fazer a auto-limpeza umidecendo a sua patinha superior com a língua e passando sobre os pelos da cabeça. Outro, tranquilo, repousava em uma tenda de serragem improvisada por ele mesmo, deixando apenas com o nariz de fora.

Fig. Ratos brincando em uma simulação de ambiente natural. Foto por Silvia H. Cardoso. Aquele contraste de emoções – positivas e negativas – geradas de acordo com o ambiente e situação que cada animal experimentou, colocaram-me diante de um palco da sociedade humana simulada em laboratório, no qual atuam personagens com histórias opostas de vida, e me davam indícios de como cada história humana influencia e é influenciada pelo grande teatro da vida. Enquanto alguns enriquecem a alma da sociedade com feitos que denotam uma mente tranqüila e feliz, outros despejam nela um amontoado apodrecido de ações inúteis e repudiantes, frutos de suas emoções descontroladas, governadas por uma mente atormentada com angústias, frustrações, fúria, maldade, egoísmo, doenças. Essa desintegração da civilidade e da segurança nos chega por meio de notícias diárias, mas elas se aproximam cada vez mais de nós e de nossos filhos, seja na intimidade da violência conjugal, na solidão das crianças que têm como brinquedos e amizades nada mais que bits da Internet, nas torpes brigas de trânsito, nas ondas de agressões de adolescentes com armas nas escolas. Pode-se assistir a doença emocional alastrando-se no tecido social já esgarçado pelo número crescente de depressão, violência, mesquinhez de espírito.

The walls we build around us to keep sadness out also keeps out the joy. ~Jim Rohn A praga do desequilíbrio mental mostra que precisamos urgentemente de uma sociedade feliz. A falta de felicidade pode matar, e os assassinos estão à solta pelas ruas das cidades e do cérebro. Os fluidos tóxicos do estresse, angústia e depressão trafegam por avenidas cerebrais que chegam ao coração, pulmão, células imunes, células corticais e emocionais, ameaçandoos ou destruindo-os. Os sentimentos positivos neutralizam essa ameaça; aumentam produtividade mental, amenizam os sentimentos, colorem a vida. Para preservar a saúde mental, é preciso prestar atenção nas nossas emoções e sentimentos. As emoções negativas carregam o corpo com substâncias tóxicas, expressões tensas e reações rudes, minando nossas forças para qualquer ação benéfica e produtiva. As emoções positivas por sua vez, atuam como um bálsamo para o corpo e para a alma, acariciando suavemente cada pedacinho de nós e nos motivando a repetir aquilo que nos fez bem. E se estamos motivados desta maneira, somos impulsionados a fazer as coisas boas e necessárias na vida, como relacionar-se bem com as pessoas, preocupar-se com elas, deixar descendentes, proteger nosso ambiente, produzir, construir coisas nele. Portanto, a mente humana não abriga a felicidade dentro de um cérebro protegido por uma carcaça intransponível, a caixa craniana.

Ser feliz não é fechar-se dentro de si mesmo e desfrutar dos prazeres deliciosos que uma química cerebral especial da felicidade proporciona. Não é isolar-se num canto gastando horas, dias e anos a fio tendo pensamentos positivos que nunca chegam ao campo de ação, não é ficar imaginando conquistas, sonhando com a felicidade. Ser feliz é assumir um compromisso com a sociedade e consigo mesmo de que condutas próprias serão tomadas para o bem estar de ambos. Se possuímos sistemas cerebrais de felicidade, há uma função para isso. Precisamos dar uma função, um rumo para a felicidade. Estudos mostram que pessoas felizes são mais habilidosas e virtuosas. Seres humanos não são meras máquinas que agregam impulsos e necessidades, são também criaturas com capacidades e talentos, e portanto, com oportunidades ilimitadas de crescimento pessoal e social. Wallace D. Wattles (1860 - 1911), autor de “The Science of Being Great” (A Ciência de ser Grande”) diz “Quanto maior e mais harmonioso seu crescimento, mais feliz o homem será”. Uma mente feliz interage harmoniosamente com o seu ambiente, oferecendo-lhe a sua essência notável e atraente: alegria, inteligência, bondade, cooperação, produtividade e tantas outras. A sociedade agradece, devolvendo-lhe beleza, riqueza e paz. “A felicidade é consequência de nossas ações”. Aristóteles Retrato das pessoas felizes e realizadas Conforme exposto anteriormente, dividir com o mundo as suas riquezas mentais, é deixar nele marcas especiais que vão influenciar positivamente a sociedade e a si próprio. Como se deixa marcas positivas na sociedade? Dados apontam para uma personalidade estável, feliz e realizadora. Abraham Maslow....., pesquisou a personalidade de pessoas felizes e realizadas, entre elas, as de grande sucesso e destaque na humanidade como Thomas Jefferson, Albert Einstein, Albert Schweitzer, Abraham Lincoln, Jane Addams, William James, Eleanor Roosevelt, Aldus Huxley e Spinoza. Ele lista algumas características dessas pessoas (Motivation and Personality, 1970): 1. Vêem a vida com mais clareza 2. São dedicadas a uma vocação ou causa 3. São mais corajosas / Têm mais autonomia / São menos prováveis de permitir que medos ou defesas do ego distorçam suas observações / Trabalham pesado 4. São menos emocionais e mais objetivas / Têm humor não hostil 5. São mais discretas e cuidadosas 6. São mais centradas a problemas gerais do que os de si mesmo / São democráticas e neutras / Discriminam entre meios e fins, entre o bom e o mau. 7. Têm uma percepção mais eficiente da realidade 8. Resistem a incorporar outras culturas; e à transcendência de qualquer cultura em particular. 9. Necessidade de maior de privacidade 10. São mais criativas Note que estas características referem-se a um conjunto de virtudes humanas (associe-as na ordem que aparecem acima):

1. Sabedoria e Conhecimento (ex. Curiosidade/ Interesse pelo mundo/ Amor pela aprendizagem) 2. Humanismo (ex: gentileza, generosidade, cooperação, altruísmo, amar e ser amado) 3. Força e Coragem (ex.: bravura, perseverança, presteza) 4. Temperança / Senso de humor e brincadeira (ex: Prudência/Discreção/Cuidado/ Autocontrole, Modéstia, Bom Humor 5. Prudência (ex., discreção, cuidado) - Moderação – Discernimento 6. Justiça (ex: Deveres/Lealdade/Cidadania/ Imparcialidade e Igualdade 7. Otimismo 8. Autênticidade

9. Transcendência / Introspeção (ex.: Apreciação da beleza e excelência, Gratidão, Esperança/Otimismo, Perdão e Compaixão, Deleite/Paixão/Entusiasmo 10. Mente criativa Virtudes levam à excelência. Por exemplo, Madre Teresa e Oprah Winfrey são pessoas estimadas por milhões. Madre Teresa foi uma mulher que demosntrou grandes atos de gratidão em seu trabalho e exibiu uma tremenda modéstia e auto-controle na vida. Ela é um exemplo brilhante da virtude da Temperança. Oprah Winfrey, através de seu programa de televisão, no qual demosntra inteligência social e gentileza com os convidados, exerce a virtude do Humanismo. As grandes personalidades históricas aplicaram na vida talentos e virtudes dotados por qualquer ser humano. Infelizmente, nem todos percebem o seu potencial mental para ser feliz e consequentemente tornar-se um ser realizado e realizador – e passam toda a vida submersos em pensamentos e sentimentos destruidores da auto-estima e da estima alta pela vida, então suas condutas o tornam um ser incompleto e mediano, impossibilitado-o de ir além do que ele pensa de si, do que ele planeja para si e do que ele faz de si. Maslow notou: “O homem mediano é um homem completo com capacidades e poderes inibidos e abafados”. Os talentos e virtudes têm sido apontados como grandes fatores de felicidade desde os tempos de Aristóteles. O sábio filósofo já apregoava: “Felicidade não consiste de passatempos e diversões, mas de atividades virtuosas”. Virtude é um termo derivado do latim virtus, que significa coragem. Virtude é a qualidade de caráter pela qual o indivíduo reconhece e faz as coisas certas; muitas vezes o indivíduo aplica com vigor e coragem suas qualidades morais para produzir determinados resultados que são cruciais para a evolução social humana. Praticar o bem por exemplo, e ajudar os outros das mais diversas formas e não somente com caridade, é uma virtude, uma atitude cooperativa que permite ao homem viver em grupos amplos pela habilidade que um tem de cooperar com o outro. De uma forma geral, as virtudes estabelecidas desde a grécia antiga compreendem formas justas e decentes de viver. Para os pensadores e filófofos antigos, o cultivo da virtude faz o indivíduo sábio, corajoso, competente. O resultado é uma pessoa feliz, responsável, confiável. Sem pessoas virtuosas, de acordo com esta tradição, a sociedade não pode funcionar bem e o indivíduo em si não pode fazer coisas boas em comum e para ele próprio. O Psicólogo americano Martin Seligman há pouco mais de dez anos resgatou a visão milenar da relação entre virtudes e felicidade e criou um movimento científico que enfatiza as virtudes humanas como um fator de felicidade e satisfação com a vida. A este movimento chamou Psicologia Positiva, termo também nada original, desde que foi usado pela primeira vez por Abraham Maslow no capítulo Em direção à Psicologia Positiva de seu livro Motivação e Personalidade (1954). Toda a psicologia antes dele era relacionada à doença. Maslow queria saber o que constituia a saúde mental positiva. A proposta de Seligman tem muito em comum com a de Maslow, ela foca no estudo das emoções positivas, nas virtudes humanas e instituições saudáveis, ou seja, instituições que orientam o indivíduo a ser mais responsável como cidadão e membro familiar, ao altruímso, civilidade, moderação, tolerância e trabalho ético.. Em seu livro Authentic Happines, Seligman mostra evidências de que é possível estudar cientificamente estes constructos. Seligman demonstrou através de revisões cuidadosas da literatura que virtudes como gratidão e perdão são peças-chave para saúde mental e felicidade pessoal (Authetic happiness). Ele notou, por exemplo, que fazer o bem para os outros traz mais felicidade (xxxx) Ele mediu em laboratório os efeitos do altruísmo e percebeu que um único ato de bondade pode melhorar efetivamente os níveis de felicidade de uma pessoa por até dois meses. Virtude é a excelência moral do indivíduo, um traço de personalidade que permite ser bom e fazer coisas boas. Possuir virtudes confere a habilidade de agir com ética e moral; permite

cooperar e ajudar os outros; sentir-se bem estar e transferir bem estar ao outro. Os filósofos antigos já declaravam que virtudes não se referem somente a significado moral, mas também a habilidade de agir e de sentir-se bem com isso. Peterson e colaboradores publicaram um manual que representa a primeira tentativa da comunidade científica identificar e classificar os traços psicológicos dos seres humanos (Peterson, Christopher; Seligman, Martin E. P. (2004). Character strengths and virtues: A handbook and classification. Oxford: Oxford University Press). Peterson acredita que as forças de caráter são como músculos. A capacidade de usar qualquer uma delas está lá, algumas usadas mais frequentemente e naturalmente, outras necessitam de intenção e exercício para serem construídas. Então que forças você precisa para ser feliz? Pesquisas que comparavam as principais forças naturais das pessoas com seu senso de felicidade identificaram cinco delas que tendiam a ser mais correlacionada com altos níveis de emoção positiva e satisfação com a vida. São elas: Curiosidade, Gratidão, Entusiasmo, Otimismo, e a Capacidade de Amar e Ser Amado (Ref.)

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