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1. INTRODUÇÃO
A Ordem Chiroptera constitui a segunda maior ordem de mamíferos, incluindo aproximadamente mil espécies, sendo Phyllostomidae, Vespertilionidae, Molossidae e Noctilionidae, as famílias descritas para o Estado do Rio Grande do Sul (FUNDAÇÃO RIOZOO & STUTZ, 2003; RACEY, 1982; SILVA, 1994). Os morcegos podem habitar os mais diversos locais, como construções humanas (casas, porões, sótãos, pontes, igrejas, estábulos, caixas de janelas persianas, chaminés, elementos arquitetônicos decorativos, minas), cavernas, fendas em rochas, copas e ocos de árvores, e até mesmo folhagens de algumas espécies de plantas (INSTITUTO PASTEUR DE SÃO PAULO, 2000; RUI, 2003; SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE SANTA CATARINA, 2003). A dieta alimentar das várias espécies de quirópteros é muito diversificada; podem alimentar-se de pólen, néctar, folhas, frutos, insetos, crustáceos, escorpiões, peixes, sangue e de pequenos vertebrados (MELLO, 1999). Para a captura de suas presas e orientação muitas espécies utilizam a ecolocalização, processo no qual a laringe produz sons, caracterizados pela freqüência, duração e intensidade; os sons emitidos encontram um obstáculo qualquer, e assim como o eco, retornam até as orelhas do animal, auxiliando na manutenção do equilíbrio, detecção de sons audíveis e objetos, captura de presas potenciais, e em um contexto social, na resposta a outros morcegos (MARTINS & COVRE, 2003). O pico de reprodução de morcegos insetívoros transcorre no período mais quente do ano (primavera e verão), quando os insetos são mais abundantes, enquanto que em morcegos frugívoros ocorre em diferentes épocas do ano, estando relacionado à época de frutificação
2 das plantas que lhes servem de alimento. Conforme a espécie, a gestação varia de dois a sete meses, nascendo apenas um filhote (salvo exceções), que logo nos primeiros meses é alimentado com leite materno, e gradualmente passa a ingerir o mesmo alimento dos adultos. Após o nascimento, algumas mães carregam seus filhotes em vôos de atividade noturna. A expectativa de vida dos morcegos pode variar de dez até trinta anos em algumas espécies insetívoras (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2004). Os quirópteros destacam-se por desempenhar importante papel ecológico nos ecossistemas naturais, pois são responsáveis pela dispersão de sementes de uma centena de espécies de plantas, polinização, regulação das populações de insetos noturnos e pragas agrícolas (PEDRO, 2003). Conforme Gregorin & Taddei (2002), certas espécies de morcegos insetívoros agrupam-se sob os telhados de habitações humanas (entre outros abrigos), de modo a formar colônias de centenas de indivíduos; em virtude da adoção destes hábitos, a família os Molossidae constitui um importante segmento da fauna de quirópteros brasileiros, com implicações ecológicas, sociais, econômicas e sanitárias.
1.1 A família Molossidae A família Molossidae é formada por pequenos morcegos insetívoros de pelagem densa. Distribuídos pelo corpo, encontram-se pêlos diminutos, rígidos e curvos, e na região dos artelhos, pêlos sensitivos longos. As orelhas são bem desenvolvidas, espessas e providas de uma quilha interna (trago), proeminente na maioria das espécies. A presença de “cauda livre”, ou seja, presença de cauda que se estende em um terço ou mais de seu comprimento total além da borda distal da membrana interfemural, constitui um caráter típico da família. Diferente de outras famílias, Molossidae apresenta um uropatágio espesso (GREGORIN & TADDEI, 2002; SILVA, 1994) (fig. 1). Vizotto & Taddei (1973), salientam ainda que as espécies podem ser diferenciadas segundo o odor característico.
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Fig. 1. Uropatágio apresentando “cauda livre”, típica de molossídeos, destacado em vermelho. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Os molossídeos procuram preferencialmente abrigos de temperatura interna mais elevada que as encontradas no meio externo, e onde exista abundância de alimentos nas proximidades, preferencialmente besouros, mariposas, pernilongos e percevejos (SILVA, 1994; UIEDA, 2000). Em cativeiro, Fry [s.d.] alimentou morcegos insetívoros a partir de grilos, gafanhotos, mariposas, moscas, mosquitos e larvas. Caçam à noite, e possuem dois períodos de alimentação, um mais intenso à tardinha (80% da alimentação), e outro mais curto antes do amanhecer (Racey, 1982). Geralmente, os abrigos possuem temperatura em torno de 20 ºC a 50 ºC durante o dia, e nunca inferiores a 8 ºC no inverno; a quase ausência de luz (entre 0 e 4 lux); além possuírem a entrada de predadores dificultada por frestas que variam de 2,0 a 3,0 cm de espessura (PACHECO, 2003). Algumas espécies de molossídeos brasileiros, como Molossus molossus, Molossus rufus, Tadarida brasiliensis e Nyctinomops laticaudatus reúnem-se sob os telhados de habitações humanas, formando colônias que podem chegar a alguns milhares de indivíduos (fig. 02) (PACHECO, 2003; UIEDA, 2000). Não apenas nos telhados, mas também em vãos de prédios, caixas de persianas, condicionadores de ar, pontes e pedreiras, podem igualmente ser ocupados por molossídeos (PACHECO, 2003).
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Fig. 2. Colônia de molossídeos abrigada sob telhado de zinco (Vale do Sol - RS). Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
A família Molossidae distribui-se em grande extensão, sendo que 70% de suas espécies são encontradas nas regiões tropicais e subtropicais de todos os continentes, à exceção de regiões polares e algumas ilhas oceânicas (UIEDA, 2000). Koopman e Cockrum (1967), apud Gregorin & Taddei (2002), mapearam-na desde o sul da Europa e Ásia, África, Malásia, até Austrália e Ilhas Fiji; nas Américas, do sudoeste do Canadá, Antilhas, Américas Central e do Sul. Conforme os arranjos taxonômicos mais recentes, Molossidae compreende cerca de 12 a 16 gêneros e 86 espécies, das quais 31 ocorrem nas Américas e 21 em território brasileiro, considerando-se Molossus pretiosus e Promops centralis registros recentes (GREGORIN & TADDEI, 2002).
O Rio Grande do Sul abriga oito das oitenta espécies de morcegos
insetívoros conhecidos mundialmente (SILVA, 1994). Neste estudo, o enfoque é direcionado às espécies Tadarida brasiliensis e Nyctinomops laticaudatus.
1.1.1 Tadarida brasiliensis
Tadarida
brasiliensis
(GEOFFROY,
1824),
popularmente
conhecido
como
“morceguinho-das-casas”, apresenta como principais características a presença de pelagem curta, densa e de tom marrom escuro, orelhas curtas, pouco separadas na base e voltadas para frente, e olhos diminutos e lábios grossos com pregas superiores (PACHECO, 1994; SILVA, 1994) (fig. 3). O comprimento total médio da espécie é de 95 mm, e o peso pode variar de 11 a 1 4 g. (SCHMIDLY & DAVIS, 1994).
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Fig. 3. “Morceguinho-das-casas” (Tadarida brasiliensis). Fonte: Silva, 1994.
T. brasiliensis, vive em colônias com que podem alcançar milhares de indivíduos que apresentam hábitos crepusculares e noturnos, e durante o dia permanecem em repouso ou com discreta atividade em locais com baixa luminosidade (SILVA, 1994) (fig. 4). Mello (1999) e Silva (1994) asseguram que as colônias formadas por esta espécie são altamente eficientes na caça de insetos, e por isso, são de extrema importância no controle destas populações, preferencialmente coleópteros, hemípteros e lepidópteros. Schmidly & Davis (1994) verificaram o conteúdo estomacal de alguns indivíduos da espécie, onde encontraram mariposas (90%), formigas aladas (26,2%), besouros (16,8%), cigarras (15%) e outros insetos, como baratas d’água e moscas-varejeiras (6,4%); além disso, afirmam que é comum T. brasiliensis alimentar-se de enxames de insetos (fig. 5).
Fig. 4. Colônia de Tadarida brasiliensis abrigada sob telhado de cerâmica (Porto Alegre - RS). Fonte: Pacheco, 1994.
Fig. 5. Tadarida brasiliensis, importante no controle das populações de insetos. Fonte: Bat Conservation International, 2002.
Comumente, as colônias de T. brasiliensis realizam deslocamentos sazonais à procura de sótãos de temperaturas mais quentes e umidade adequada, ou outros abrigos em condições semelhantes (SILVA, 1994). Conforme Glass (1959) e Villa-R (1956), apud Fabián &
6 Marques (1996), a espécie é migratória e apresenta marcada flutuação sazonal do número de indivíduos nas colônias. Segundo Braun et al (1996), podem ser encontradas nos telhados, durante os meses de setembro a janeiro, quando ocorre o pico de reprodução da espécie. O ciclo reprodutivo ocorre uma vez ao ano (monoestria), sendo que cada fêmea dá luz a apenas um filhote (monótocas) (FABIÁN & MARQUES, 1996; RACEY, 1982). Na América, pode a espécie ser encontrada desde o sul dos Estados Unidos a San Matias (Argentina), e Valdívia (Chile) no extremo sul (PACHECO, 1994) (fig. 6).
Fig. 6. Distribuição biogeográfica de Tadarida brasiliensis. Fonte: Savela, 2003.
1.1.2 Nyctinomops laticaudatus A pelagem de Nyctinomops laticaudatus (GEOFFROY, 1805), também denominado N. espiritosantensis ou N. gracilis, varia dos tons castanhos ao ruivo, dorsalmente, e tons pálidos, ventralmente (FLORES-MARTÝNEZ et al, 2002; NOWAK, 1997). As narinas se sobressaltam; a parte superior dos lábios é acentuadamente enrugada, contendo dobras verticais que alcançam os lábios inferiores. (FLORES-MARTÝNEZ et al, 2002). Conforme Freeman (1981), apud Flores-Martínez et al (2002), a mandíbula de N. laticaudatus é prolongada e delicada quando comparada a de outros molossídeos (fig. 7). O comprimento total médio da espécie é de 102 mm, e o peso, 11,3 g (FLORES-MARTÝNEZ et al, 2002).
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Fig. 7. “Morcegos de lábios enrugados” (Nyctinomops laticaudatus). Fonte: registro fotográfico da autora, 2002.
De acordo com Barquez et al (1993), N. laticaudatus e T. brasiliensis assemelham-se muito em aparência, podendo facilmente causar confusão. Pequenos detalhes diferenciam seguramente as espécies entre si: N. laticaudatus possui a segunda falange do quarto metacarpo menor que 5 mm, T. brasiliensis, maior que 7 mm; N. laticaudatus possui um incisivo inferior a menos, com fórmula dentária I 1/2, ao passo que T. brasiliensis apresenta I 1/3; enquanto N. laticaudatus apresenta pêlos não-espiniformes maleáveis e delgados na face, T. brasiliensis possui pêlos espiniformes rígidos (BARQUEZ et al, 1993; GREGORIN & TADDEI, 2002). Nowak (1997), destaca ainda, que Nyctinomops pode ser distinto de T. brasiliensis, por possuir o rostro do crânio mais estreito e as orelhas unidas na base. Segundo Goodwin & Greenhall (1961), a região pré-maxilar de N. laticaudatus é tipicamente separada por um estreito espaço, de onde nascem os incisivos, muito paralelos entre si (FLORESMARTÝNEZ et al, 2002). É provável que N. laticaudatus faça controle das populações de coleópteros e lepidópteros, pois Silva-Taboada (1979) verificou a presença desses insetos no trato digestório deste molossídeo (FLORES-MARTÝNEZ et al, 2002). N. laticaudatus forma colônias que podem se abrigar em regiões tropicais ou subtropicais, ocupando fendas em rochas, cavernas, construções ou florestas (fig. 8) (FLORES-MARTÝNEZ et al, 2002; NOWAK, 1997). A expansão territorial de N. laticaudatus não pode ser considerada abrangente, porém, em certas áreas é relativamente comum (FLORES-MARTÝNEZ et al, 2002). A espécie tem sua principal faixa de distribuição incluindo os países do México, Cuba, Belize, Honduras, Guatemala, El Salvador,
8 Panamá, Colômbia, Venezuela, Trinidad-Tobago, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Brasil, noroeste do Peru, Bolívia, Paraguai, e norte da Argentina (INFONATURA, 2004; SAVELA, 2003). No sul do Brasil, com relação ao gênero Nyctinomops, apenas N. laticaudatus e N. macrotis podem ser encontrados (fig. 9) (NOWAK, 1997).
Fig. 8. Colônia de Nyctinomops laticaudatus abrigada sob telhado de “folhas de zinco” (Vale do Sol - RS). Fonte: registro fotográfico da autora, 2002.
Fig. 9. Distribuição biogeográfica de Nyctinomops laticaudatus. Fonte: Savela, 2003.
1.2 O problema do convívio entre humanos e molossídeos Entre os molossídeos, é usual a formação de colônias de milhares de indivíduos (RACEY, 1982). Do mesmo modo, Silva et al (1995) especificam que em regiões temperadas, os molossídeos podem formar colônias de milhões de indivíduos, ao passo que em regiões tropicais,
suas colônias
apresentam-se
menores,
contendo
dezenas,
centenas ou
ocasionalmente milhares de morcegos. A presença de grande quantidade de indivíduos produz um forte odor, devido ao enorme acúmulo de fezes, excreção de urina e odor exalado pela própria espécie. De quase 150 espécies de morcegos conhecidas no Brasil, 29 já foram registradas explorando refúgios em habitações humanas ou em suas proximidades, e dessas, 44,8% pertencem à família Molossidae (GREGORIN & TADDEI, 2002). Quando a colônia abriga-se sob telhados de habitações humanas é indesejada pela população quase que na totalidade dos casos; mais freqüentemente pelo medo de transmissão de doenças e ataques por parte dos morcegos, pela sujeira dos seus excrementos e ruídos que produzem nos locais nos quais se abrigam (CHAVES & UIEDA, 2003; PEDRO, 2003). Nestes casos, as pessoas costumam realizar verdadeiros combates com fogo, veneno, e ataques mecânicos - é válido destacar que métodos como estes não garantem a solução definitiva para o problema, pois dentro de pouco tempo nova colônia se instalará no mesmo ambiente (SILVA, 1994).
9 Segundo Leite et al (1999) a presença destes molossídeos em ambientes urbanos tornase um sério risco à saúde pública, a partir do momento em que a população entra em contato fezes de morcegos, nas quais alguns agentes patogênicos são veiculados, ou são agredidas por morcegos raivosos.
1.3 Situação atual da raiva em morcegos
A raiva é uma doença infecciosa que ataca o sistema nervoso central, sendo provocada por um vírus de ocorrência mundial, da família Rhabdoviridae, que pode afetar todos os animais de sangue quente, inclusive os seres humanos (DEBERALDINI & UIEDA, 2003; INSTITUTO BIOLÓGICO SABIO, 2004; PESAGRO-RIO - Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro, 200-). Atuam como reservatórios e transmissores do vírus rábico os morcegos hematófagos, morcegos não-hematófagos, e outros animais silvestres (ex. raposas), que podem ou não desenvolver a doença (MERIAL BRASIL, 2001). Cockrum, (1997), citado por Deberaldini & Uieda (2003), afirma que a raiva pode ser transmitida para uma pessoa ou outro animal através da mordida de um animal infectado portador do vírus rábico em sua saliva. A transmissão se dá pelo contato com a saliva de um animal infectado, não existindo evidências de que a transmissão ocorra devido ao contato com urina ou fezes contaminadas (INSTITUTO BIOLÓGICO SABIO, 2004). A infecção depende da capacidade que o vírus possui de interagir de forma direta com os tecidos internos, a mucosa do nariz, os olhos, a boca ou ferimentos, mas uma vez que os sintomas típicos da doença são manifestados, é quase sempre fatal (DEBERALDINI & UIEDA, 2003; UNIUBE, 200-).
Em bovinos, eqüinos, caprinos e ovinos a enfermidade acarreta em graves prejuízos econômicos ao produtor, entre eles, altas taxas de morbidade e mortalidade, redução na produtividade dos rebanhos, rejeição de carcaças de animais abatidos e gastos com medicamentos, além de influenciar diretamente na economia agropecuária dos Estado da Federação. Em geral, a transmissão do vírus rábico a esses animais ocorre devido à mordedura dos morcegos hematófagos Diphylla ecaudata e Diaemus youngii que atacam aves, e Desmodus rotundus em aves e mamíferos (FUNDAÇÃO RIOZOO & STUTZ, 2003; INSTITUTO PASTEUR DE SÃO PAULO, 2000; PESAGRO-RIO, 200-). Inicialmente, a
10 natureza encontrou nos morcegos hematófagos uma forma importante de controlar a densidade populacional das espécies silvestres, entretanto, com o acelerado crescimento do setor agropecuário, parecem constituir-se o mais eficiente meio de propagação da raiva, pois além do hábito de lamberem-se uns aos outros e agredirem outros animais, podem infectar espécies não-hematófagas, que ficam debilitadas, caem ao solo, e caso manuseadas podem desferir mordidas, de modo a propagar o vírus rábico (INSTITUTO PASTEUR DE SÃO PAULO, 2000; LEITE et al, 1999).
Dados recentes do Ministério da Saúde indicam que os morcegos hematófagos, juntamente dos não-hematófagos, constituem a segunda colocação no que diz respeito à transmissão da raiva aos humanos no Brasil (GONÇALVES et al, 1996). Em razão do aumento do número de relatos de morcegos urbanos servindo como reservatório natural para o vírus rábico, tem havido uma crescente preocupação no que diz respeito à saúde pública (PEDRO, 2003). Em São Paulo, o número de casos de raiva em morcegos já superou o número o de casos em cães e gatos, sendo em 90% dos casos provenientes de morcegos nãohematófagos (KOTAIT, 2003). Dentre os não-hematófagos, estão inseridos os molossídeos brasileiros, nos quais o vírus da raiva já foi isolado em quase 50% das espécies que desenvolveram hábitos sinantrópicos (GREGORIN & TADDEI, 2002). No Estado de São Paulo o vírus da raiva foi isolado em Tadarida brasiliensis, Histiotus velatus, Nyctinomops laticaudatus e Nyctinomops macrotis, Molossus rufus, Molossus molossus, entre outros (KOTAIT, 2003; SILVA et al, 1995). Os morcegos raivosos encontrados ainda estavam vivos, em locais (fora do abrigo) e horários não habituais para suas atividades (SILVA et al, 1995). Constantine (1979), apud Silva et al (1995), verificou que em 63% dos casos, os morcegos raivosos mostravam-se nitidamente paralíticos e doentes.
1.4 Molossídeos como vetores de outras doenças
O acúmulo de fezes em forros, além de causar cheiro desagradável, provoca o apodrecimento da madeira e o derramamento das fezes para o interior dos cômodos, oferecendo riscos de saúde a seus moradores (BREDT, 2003). Conforme Acha & Szyfres (1986) e Dourado (1988), citados por Bredt (2003), certas espécies de morcegos, sobretudo aquelas que vivem em colônias, criam ambientes adequados à proliferação de fungos, se infectam e eliminam fungos pelas fezes, contribuindo na disseminação de doenças. As
11 chances de transmissão de algumas doenças como histoplasmose, criptococose e salmonelose, encontram-se aumentadas quando se considera o fato de que os molossídeos procuram abrigos em ambientes domiciliares (BREDT, 2003; INSTITUTO BIOLÓGICO SABIO (2004). Bredt (2003), ressalta que muitos destes casos não foram oficialmente registrados ou reconhecidos, devido a diagnósticos errôneos, e quando reconhecidos, não foram adequadamente investigados.
1.4.1 Histoplamose Histoplasma capsulatum, um fungo dimórfico (fase micelial e levedura), é o agente etiológico da histoplasmose. Ambientes ricos em nitrogênio, de temperaturas entre 22 e 29 ºC e umidade 67 a 87%, favorecem seu desenvolvimento. Normalmente, é associado com fezes de morcegos e pombos. A infecção se dá por inalação das formas miceliais e apresenta-se na forma de levedura nos pulmões dos hospedeiros (animais e humanos). H. capsulatum é uma doença infecciosa do sistema respiratório que pode levar ao comprometimento pulmonar, até mesmo a morte do hospedeiro (BREDT, 2003). Nos EUA, H. capsulatum foi isolado em T. brasiliensis (BREDT, 2003). Segundo Hill & Smith (1988), citados por Bredt (2003), infecções por H. capsulatum em humanos acontecem mais freqüentemente em cavernas que em telhados quentes. Porém, Fava Netto et al (1967), também mencionados por Bredt (2003), afirmam que em São Paulo, o vazamento da caixa da água ocasionou o desabamento de grande quantidade de fezes do telhado, contaminando 8 pessoas que retiraram as fezes de dentro de casa.
1.4.2 Criptococose O agente etiológico desencadeador da criptococose trata-se de uma levedura encapsulada, de natureza oportunista, o Cryptococcus neoformans. Seu desenvolvimento é favorecido em solo e material fecal de morcegos e pombos. A infecção ocorre quando o fungo penetra no organismo através das vias respiratórias, dissemina-se pelos pulmões e vias extrapulmonares. C. neoformans tem predileção pelo cérebro, situação que pode acarretar em meningoencefalite, e conseqüentemente, em morte (BREDT, 2003). A criptococose causa infecção nos pulmões, rins, próstata, ossos ou fígado e lesões dérmicas. O contágio não ocorre de pessoa à pessoa. (UNIUBE, 200-). A criptococose é a quarta infecção mais freqüente entre
12 os HIV positivos. Em Ouro Preto, uma investigação comprovou que uma vítima de criptococose foi infectada pelo contato com fezes de morcegos (provavelmente molossídeos), que caiam do forro para o interior de seu quarto (BREDT, 2003).
1.4.3 Salmonelose
Salmonelose trata-se de uma doença de origem bacteriana, em que os agentes etiológicos são microorganismos entéricos humanos e animais do gênero Salmonella (BERNARDINO, 2002; INSTITUTO BIOLÓGICO SABIO, 2004). A transmissão pode ser feita de um animal infectado para outro; através de fezes secas e objetos em contato; pela ingestão de alimentos contaminados por fezes e secreções; ingestão de rações de origem animal contaminada; por meio de insetos, roedores e moscas; e até mesmo da mãe aos filhotes (BERNARDINO, 2002). Em relação aos morcegos, conforme relato do INSTITUTO BIOLÓGICO SABIO (2004), as fezes podem constituir um fator real de contaminação. Na fase crônica da doença, ocorrem artrites generalizadas (BERNARDINO, 2002). Na fase aguda, diarréias (tons marrom-avermelhado a branco), febre, perda de peso, perda de apetite, sede constante, manchas roxas na pele do abdômen e orelhas, hemorragias subcutâneas, comprometimento do fígado e rins, aborto, podendo ainda ser observados sinais nervosos, como tremor, fraqueza, paralisia e convulsões, culminando em morte (BERNARDINO, 2002; PESAGRO-RIO, 200-).
1.4.4 Parasitoses Pulgas, ácaros e moscas encontram-se tão estreitamente associados a morcegos de forma a não conseguirem sobreviver como ectoparasitas de outros animais. Quando permanecem em um local abandonado por seus hospedeiros, logo morrem em decorrência de sua ausência. Raramente perturbam seres humanos ou animais domésticos, não havendo sido registrado qualquer caso de transmissão de doença causada por ectoparasitas de morcegos (CHENGER, 2003; INSTITUTO BIOLÓGICO SABIO, 2004).
13 1.5 Migrações ou deslocamentos sazonais Quando uma porção significativa dos membros de uma população ou o conjunto das populações de animais silvestres previsivelmente atravessa os limites nacionais ou jurisdicinais, temos o que podemos chamar de espécie migratória (MARQUES, 2003). De acordo com Fenton (1992), citado por Marques (2003), muitas espécies de morcegos realizam migrações regularmente ou deslocamentos sazonais envolvendo locais específicos (fig. 10).
Fig. 10. Colônia de Tadarida brasiliensis realizando deslocamento ao entardecer. Fonte: Virobik-Adams, 2001.
Comparativamente ao esforço empreendido para estudos de migração de aves através do anilhamento, pouco se sabe sobre os movimentos migratórios de morcegos (MARQUES, 2003). A migração representa um processo relevante na estruturação das comunidades de morcegos do Brasil, o qual carece de estudos e acúmulo de dados para avaliar seu impacto real. O estudo dos deslocamentos sazonais dos abrigos tem sido pouco explorado no país. Esses estudos poderiam fornecer informações sobre os mecanismos de escolha e partilha de abrigos, inúmeros aspectos de biologia das espécies de morcegos, além de informações importantes para o delineamento de programas conservacionistas e de manejo das espécies, principalmente as sinantrópicas (ENCONTRO BRASILEIRO PARA O ESTUDO DE QUIRÓPTEROS, Mesa redonda: métodos em ecologia, 2003).
Os morcegos destacam-se como agentes de reflorestamento de áreas desmatadas e como controladores de pragas agrícolas e vetores de doenças. Muito embora o valor econômico dessas ações não tenha sido mensurado, evidentemente, o homem sai beneficiado com as atividades dos quirópteros (PEDRO, 2003). Estudos relacionados ao comportamento de
14 morcegos são escassos em nosso país, os livros que tratam sobre a mastofauna brasileira, que deixam a desejar nos aspectos de descrições e mapas de distribuição, são provas disso (GREGORIN, 2003). Mesmo em regiões onde os dados sobre quirópteros possuem dados mais significativos, são poucos os trabalhos que enfocam as populações de quirópteros (RUI, 2003). Faltam informações consistentes à respeito de dados fundamentais, tais como, migração, deslocamento, dinâmica de populações e estudos de comunidades. Dados como estes, nos permitiriam avaliar o real impacto da espécie sobre ecossistema, e assim orientar o manejo mais adequado aos mesmos. Neste contexto, o trabalho apresentado tem por objetivo verificar os aspectos de ecologia e etologia das colônias de Tadarida brasiliensis (GEOFFROY, 1824) e Nyctinomops laticaudatus (GEOFFROY, 1805), (Chiroptera: Molossidae), respectivamente, presentes nos telhados de duas igrejas dos municípios de Vera Cruz e Vale do Sol, Rio Grande do Sul, Brasil. Desse modo, este estudo tende a incrementar o quadro de informações à cerca da ecologia e comportamento dos quirópteros encontrados na região, a partir da compreensão da dinâmica destas duas colônias de molossídeos. Além disso, o trabalho propõe atividades de conscientização junto à comunidade, orientando a correta exclusão dos morcegos, desmistificando falsos conceitos, alertando possíveis riscos, e esclarecendo os benefícios oferecidos pela presença dos mesmos para o equilíbrio da biodiversidade.
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2. OBJETIVOS
2.1 Objetivos Gerais Verificar os aspectos de ecologia e etologia das colônias de Tadarida brasiliensis (GEOFFROY, 1824) (Chiroptera: Molossidae) e Nyctinomops laticaudatus (GEOFFROY, 1805) (Chiroptera: Molossidae), presentes em telhados de duas igrejas dos municípios de Vera Cruz e Vale do Sol, Rio Grande do Sul, Brasil.
2.2 Objetivos Específicos Registrar aspectos de etologia individual e identificar as características sexuais secundárias e reprodutivas externas, que possibilitam inferir sobre as atividades comportamentais diárias das colônias de T. brasiliensis e N. laticaudatus; Verificar o período de atividades das colônias de T. brasiliensis e N. laticaudatus, conforme a sazonalidade; Analisar as variáveis físicas no interior dos abrigos; Observar as relações interespecíficas apresentadas por T. brasiliensis e N. laticaudatus; Orientar o manejo adequado das colônias de T. brasiliensis e N. laticaudatus, após o período de estudo.
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3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Áreas de estudo Foram vistoriados diversos locais para o estudo de quirópteros em Vera Cruz, Estado do Rio Grande do Sul (RS): dentre os quais: um moinho abandonado (zona rural), duas escolas (zona urbana) e duas igrejas (zonas rural e urbana) (fig. 11). Nos municípios vizinhos de Santa Cruz do Sul (RS) e Vale do Sol (RS) foram investigadas algumas residências (zona urbana) e uma igreja (zona rural), respectivamente. Após o estudo de viabilidade do projeto nestes locais e obtenção da autorização para a pesquisa nos estabelecimentos, foram selecionadas as duas áreas mais significativas em termos do número de indivíduos para o estudo. O primeiro ponto situa-se na zona urbana do município de Vera Cruz, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil (29o 42’ 54,4’’ S e 52º 30’ 17,7’’ W) (figs. 11 e 12). Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) (2000), apud PROBRASIL (2000), a altitude média registrada para o município é de 68 m. Durante a primeira vistoria (janeiro/2003), o telhado da igreja, que possui 181,28 m2, telhas de cerâmica e forro de madeira, abrigava uma colônia de Tadarida brasiliensis (fig. 13). Trata-se como um dos pontos mais elevados nas proximidades, estando cercado por vários outros telhados maiores, igualmente constituídos por telhas de cerâmica. A paisagem dominante na área encontra-se bastante urbanizada, podendo ser considerado um dos pontos mais movimentados da cidade. O segundo ponto, o telhado de outra igreja, localizada na zona rural do município de Vale do Sol (Alto Formosa), Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, está situado a 29 o 33’ 33,1’’ S e 052o 38’ 16,2’’ W (figs. 11 e 14). De acordo com o IBGE (2000), apud
17 PROBRASIL (2000), a altitude média registrada para o município é de 500 m. O telhado, cuja primeira vistoria foi realizada em dezembro de 2002, possui área de 408,02 m2, telhas do tipo folhas de zinco, paredes de alvenaria e forro de madeira, e abrigava para uma colônia de Nyctinomops laticaudatus (fig. 15). A paisagem nas proximidades do telhado consiste, principalmente, de vegetação de mata secundária, fragmentos de mata primária, lavouras, campos de topografia irregular, estradas e algumas moradias (figs. 16 e 17).
Fig. 11. Em vermelho (09), rosa (13) e amarelo (15), estão localizados, respectivamente, os municípios de Santa Cruz do Sul, Vale do Sol e Vera Cruz, no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Fonte: Conselho de Pró-Turismo do Cone Leste Paulista, 2000.
18
Fig. 12. Município de Vera Cruz. Em rosa, na região central, está localizado o telhado (ponto 1), situado na zona urbana do município. Fonte: Rauber, 2003.
Fig. 13. Ponto de coleta de dados 1: o telhado de uma igreja do município de Vera Cruz (ponto 1) foi previamente delimitado em setores. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
19
Fig. 14. Município de Vale do Sol. Em verde, canto superior dir., está localizado o telhado (ponto 2), situado na zona rural do município. Fonte: Rauber, 2003.
Fig. 15. Ponto de coleta de dados 2: o telhado de uma igreja do município de Vale do Sol (ponto 2) foi previamente delimitado em setores. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
20
Fig. 16. Paisagem leste ao telhado da Igreja de Vale do Sol (ponto 2). Zona rural: as lavouras estão situadas próximo à mata. Fonte: registro fotográfico da autora, 2004.
Fig. 17. Paisagem oeste ao telhado da Igreja de Vale do Sol (ponto 2). Estradas e moradias em meio à topografia irregular da região. Fonte: registro fotográfico da autora, 2004.
3.2 Metodologia Simultaneamente, utilizaram-se 3 recursos para que possíveis deficiências de uma fonte pudessem ser suplantadas por informações adicionais: de pesquisa de campo, pesquisa de laboratório, e interação com a comunidade.
3.2.1 Atividades de campo Período, freqüência e horários de pesquisa: o estudo das colônias abrigadas sob os telhados das igrejas de Vale do Sol e Vera Cruz foi desenvolvido no intervalo que compreende os meses de novembro de 2002 a junho de 2004. Para a observação das colônias de T. brasiliensis e N. laticaudatus nos referidos estabelecimentos, as vistorias foram pouco (1 vistoria/mês) durante os meses em que as atividades das colônias de molossídeos costumam apresentar-se menos intensas: nos meses de abril e maio, quando se dá o início da dispersão sazonal; junho, julho e agosto, época em que restam poucos indivíduos residentes nos abrigos; e setembro e outubro, momento em que aos poucos os indivíduos retornam da dispersão sazonal. As vistorias foram intensificadas (2 vistorias/mês) nos meses de novembro a fevereiro, visto que as atividades das colônias de molossídeos mostram-se mais intensas, ocorrendo a presença de fêmeas grávidas e lactantes, neonatos e jovens (PACHECO, 1994). Em sua maioria, as visitas aos abrigos ocorreram no intervalo das 9h às 17h 30min, e eventualmente, ao entardecer e à noite nos pontos 1 e 2. Em 18 vistorias realizadas à igreja de
21 Vera Cruz, registrou-se um total de 42 horas trabalhadas no interior do abrigo. No município de Vale do Sol, 13 vistorias realizadas sob o telhado da igreja resultaram em 52 horas de pesquisa. Em outros telhados, os trabalhos contabilizam 7 horas. O tempo consumido em atividades desenvolvidas junto à comunidade foi de aproximadamente 10 horas. Delimitação de setores nos telhados: os telhados foram demarcados por números arábicos, contando-se das tesouras situadas junto à entrada de acesso ao telhado àquelas localizadas ao fundo das igrejas; e por letras alfabéticas, da cumeeira principal às laterais. Houve mensuração interna com o auxílio de uma trena de 25 m, e delimitação de setores marcando-se as vigas, tesouras e paredes com tinta tipo aquarela (figs. 13 e 15). Cada setor foi delimitado no cruzamento dos números arábicos com as letras alfabéticas, a fim de facilitar o acompanhamento individual e gregário dos morcegos, e também, situar as demais observações realizadas. Dessa forma, foi elaborado um croqui para cada telhado em estudo, possibilitando mapear todas as observações registradas (figs. 18 e 19).
22
Fig. 18. Croqui do telhado da igreja de Vera Cruz. Houve delimitação do telhado em setores por números arábicos e letras alfabéticas. Fonte: croqui da autora, 2003.
23
Fig. 19. Croqui do telhado da igreja de Vale do Sol. Houve delimitação do telhado em setores por números arábicos e letras alfabéticas. Fonte: croqui da autora, 2003.
24 Morfologia externa e biometria individual dos morcegos: para a captura dos morcegos abrigados sob os telhados das igrejas, empregaram-se as lanternas cefálica e manual, luvas de couro, pinça de 30 cm e rede de neblina (posteriormente). Mais de 40 crânios foram analisados, a fim de verificar os táxons existentes nos telhados. Os quirópteros que apresentavam particularidades em relação aos demais, como tamanho, estado reprodutivo ativo e pelagem, foram capturados e tiveram sua massa corporal avaliada, utilizando-se para estas atividades um dinamômetro de 0-100 g e um paquímetro de 0,05 mm precisão. Dados biométricos dos morcegos foram registrados, incluindo machos, fêmeas, adultos e jovens, de modo a auxiliar na identificação e fornecer as medidas máximas e mínimas verificadas para cada espécie. Foram extraídas apenas as mensurações corporais e cranianas mais significativas em relação à ecologia e etologia da espécie, tais como: comprimento total (CT), comprimento do corpo (CC), comprimento da cauda (CA), comprimento do antebraço (AN), comprimento dos metacarpos (ME) e suas falanges (f), comprimento da tíbia (TB), comprimento total longitudinal do crânio (CCT), e comprimento da largura do zigomático (LZ) (figs. 20 e 21).
Fig. 20. Em vista ventral, a morfologia da asa de um molossídeo. Ant = antebraço; Me = metacarpo; Fa = falanges. Fonte: Gregorin & Taddei, 2002.
Fig. 21. Vista craniana inferior de um molossídeo. Ccr = comprimento total do crânio; C-M = comprimento da série de dentes superiores; Lmt = largura mastóidea; Lz = largura zigomática. Fonte: Gregorin & Taddei, 2002.
25 Baseando-se nas observações de Fabián & Marques (1996) e Pacheco (1994), foi realizada a sexagem de indivíduos, examinando-se o estado reprodutivo: nos machos, verificaram-se testículos abdominais ou inguinais; nas fêmeas, se havia a presença de mamas aparentes ou “plug vaginal”, e pelo toque, a constatação gravidez ou não. Registram-se ainda observações peculiares de cada indivíduo, que talvez pudessem elucidar alguns aspectos sobre a ecologia ou a etologia dos grupos de quirópteros, como por exemplo: pelagem diferenciada, comportamento estranho e presença de parasitas. Não sendo possível a identificação imediata, os morcegos foram capturados e transportados em sacos de tecido, sendo liberados após as devidas anotações. Foram encaminhados para pesquisa de laboratório apenas morcegos que tiveram morte recente detectada. Observação de dados de comportamentais das colônias: registraram-se as atividades das colônias de T. brasiliensis e N. laticaudatus no interior do abrigo durante as diversas horas do dia; a intensidade das vocalizações; a distribuição preferencial dos quirópteros nos setores conforme sexo, idade (jovem e adulto) e estado reprodutivo; sendo realizado o mapeamento de indivíduos que apresentaram particularidades. Foram considerados jovens, morcegos com pelagem em fase de crescimento, dentição decídua ou em fase de erupção e tamanho cabeça-corpo inferior a 55mm; adultos, animais de pelagem acinzenta ou marrom, dentição permanente (com ou sem desgaste) e tamanho cabeça-corpo superior a 55 mm (PACHECO, 1994). Para identificar o período de deslocamento sazonal das colônias, o número de morcegos por setor no interior do abrigo quantificado de forma aproximada. Empregou-se o uso uma de uma câmera digital para conferir maior precisão na contagem dos quirópteros. Para intensificar o controle dos indivíduos houve marcação de indivíduos por corte de pelagem; variou-se o local para o corte da pelagem (cabeça e dorso) para diferentes situações, como padrão de pelagem diferenciado, por exemplo. Registro de dados interespecíficos: para o esclarecimento das possíveis interações ocorrendo sob o mesmo telhado, os indivíduos que compartilhavam abrigo com as colônias de molossídeos foram investigados, tendo sido registradas suas fotografias, anotadas as suas particularidades e possíveis interferências. Coleta de vestígios: pelotas de coruja, esqueletos e carcaças de diversos animais encontrados sob o telhado foram recolhidas e dispostos em sacos plásticos para análise posterior em laboratório, principalmente, para identificação taxonômica.
26 Acompanhamento das condições ambientais dos abrigos: as variações ambientais influem diretamente no ritmo reprodutivo dos quirópteros, variando-se, por exemplo, a latitude, estações do ano ou temperatura (RACEY, 1982). Tornou-se indispensável o acompanhamento das variações das condições ambientais internas e externas do abrigo, utilizando-se para isso termômetros (álcool e mercúrio), e ainda um termo-higrômetro. Foi anotado o maior número de informações possíveis, como datas, horários de observação, tipos de flora e fauna dos arredores, abundância e interações entre as espécies. Seguindo-se esse raciocínio, outras condições oferecidas pelos telhados foram também averiguadas, como a estrutura do forro, se constituída por estuque, madeira ou cimento, e das telhas, se de barro, cimento amianto ou zinco.
3.2.2 Atividades de laboratório Para análise de morcegos, quando detectada morte recente e havendo a necessidade de conservação do indivíduo, o espécime foi fixado em formol 10%. Após cinco dias, o mesmo foi repassado para um frasco contendo álcool 70% para conservação definitiva, anexando-se uma etiqueta de identificação da coleta. Para análise dos vestígios coletados, desmancharamse pelotas de possíveis predadores para esclarecer o consumo alimentar da espécie na região, e assim verificar se os morcegos pesquisados constituíram-se de parte de sua dieta. Prepararamse os vestígios (carcaças com pêlos, crânios e esqueletos) em solução de NaOH 40% (VIZOTTO & TADDEI, 1973). Posteriormente, com auxílio de pinças, placas de Petri e microscópio estereoscópico, os vestígios foram analisados em sua biometria, estrutura e função, a fim de se estabelecer os táxons e elucidar possíveis inter-relações.
3.2.3 Atividades desenvolvidas junto à comunidade Foram atendidas as solicitações de vistoria em telhados, sempre requisitadas através de chamadas telefônicas ou contatos pessoais. No caso da constatação de quirópteros, os mesmos foram identificados, havendo ainda o repasse de informações de auxílio à comunidade interessada. Os moradores dessas localidades foram atentamente ouvidos, obtendo as respostas para suas inquietações, e questionados, visto que suas observações poderiam colaborar de alguma maneira para o desenvolvimento deste trabalho, ou até mesmo corroborar
27 com outros. Em virtude da desinformação com relação aos hábitos dos morcegos em geral, um folder foi elaborado para ser distribuído às comunidades (anexo 1). A Inspetoria de Saúde Municipal de Vale do Sol e Vera Cruz foram contatadas a fim de que futuras chamadas para avaliação e acompanhamento de morcegos fossem efetivamente consideradas, pois, atualmente, as atividades destes órgãos encontram-se limitadas ao manejo de morcegos hematófagos por determinação do IBAMA (informação verbal)1. Por fim, aos responsáveis pelas igrejas inclusas neste estudo, foram repassadas informações relativas às tendências comportamentais e demais orientações para o manejo das colônias de molossídeos.
1
Informação fornecida em fevereiro de 2003 pelo veterinário Jorge L. Wild, responsável pela Inspetoria de Saúde Municipal de Vera Cruz e Vale do Sol.
28
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Vera Cruz (ponto 1) Além da observação dos aspectos ecológicos e etológicos da colônia de Tadarida brasiliensis (Molossidae), houve ainda o acompanhamento das atividades de uma colônia de Histiotus velatus (Verpertilionidae), que compartilhava o mesmo abrigo, e cuja presença havia passado despercebida até ocorrer a coleta do primeiro exemplar, no princípio de março de 2003 (fig. 22). As espécies da família Verpertilionidae são distintas das demais por apresentarem membrana interfemural bem desenvolvida, na qual a cauda está completamente contida, ou excedendo-a em uma ou duas vértebras; ausência de folha nasal ou estruturas faciais complexas; e estrutura cartilaginosa associada ao calcâneo bem desenvolvida (FUNDAÇÃO RIOZOO & STUTZ, 2003; MELLO, 1999). Histiotus velatus (GEOFROY, 1824) é um vespertilionídeo insetívoro, comumente encontrado em sótãos e igrejas, cujo tamanho acentuado das orelhas facilita a identificação (MELLO, 1999; SILVA, 1994). De acordo com Peracchi (1968), a espécie ocorre no Brasil (desde de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul), Paraguai, e provavelmente na Argentina e Uruguai.
Fig. 22. “Morcego orelhudo”. Histiotus velatus encontrado junto à colônia de Tadarida brasiliensis em telhado de Igreja em Vera Cruz. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
29 4.1.1.1 Dispersão sazonal de Tadarida brasiliensis O número de indivíduos da espécie T. brasiliensis presentes no telhado da igreja de Vera Cruz variou ao longo do ano (fig. 23). Em 26 de janeiro de 2003, quando houve a seleção do local para pesquisa, a colônia de T. brasiliensis contava com cerca de 100 indivíduos, tendo sido este o registro do maior número de indivíduos abrigados no telhado durante todo o período de pesquisa. Em 15 de março de 2003, a colônia de T. brasiliensis já havia efetuado a dispersão sazonal, não sendo observada a presença de qualquer indivíduo, nem mesmo de vocalizações. Na semana seguinte, foi capturado um indivíduo da espécie T. brasiliensis, o único quiróptero observado no telhado. No dia 28 de outubro de 2003, o retorno da colônia de T. brasiliensis já havia ocorrido, tendo sido registrada a presença de 10 indivíduos. No dia 15 de novembro de 2003, o número manteve-se estável; porém, já no dia 8 de dezembro de 2003, foi observado um acréscimo no número de indivíduos, totalizando 35 morcegos da espécie T. brasiliensis abrigados sob o telhado da igreja. No dia 7 de janeiro de 2004, a colônia de T. brasiliensis já havia realizado nova dispersão. Em 17 de fevereiro de 2004, novamente, nenhum espécime foi encontrado. Quanto ao período de dispersão sazonal verificada no ponto 1, logo após o primeiro pico de atividades 26 de janeiro de 2003, a colônia de T. brasiliensis manteve-se ausente no intervalo mínimo de 4 de março a 20 de setembro de 2003. Entretanto, no município de Santa Cruz Sul (distante 8 km), a espécie ainda podia ser encontrada em 16 de março de 2004, pois funcionários de uma empresa capturaram um jovem macho.O início do período de dispersão sazonal verificado no ponto 1 coincide com àqueles referidos em outros estudos. Em Rosário (Argentina), Pire et al (1999) observaram que em uma colônia com cerca de 64.000 T. brasiliensis, os morcegos iniciaram o período de dispersão sazonal em março. No Estado do Rio Grande do Sul, Fabián & Marques (1996) relatam que nos abrigos urbanos de Porto Alegre, o número de T. brasiliensis começa a diminuir gradualmente a partir março e abril, o que resulta em poucos morcegos habitando o interior do abrigo durante o inverno (maio a agosto). Em junho, Fabián & Marques (1996), registraram o período de limite mínimo de quirópteros no interior de um abrigo, onde 50 dos 1.150 quirópteros originais permaneciam residentes. Contudo, o mesmo não pode ser aplicado no que se refere ao período de retorno dos indivíduos ao abrigo, pois de modo diverso ao indicado por alguns autores, em 20 de setembro de 2003 a colônia de T. brasiliensis ainda não havia retornado ao ponto 1. Existe a possibilidade da colônia haver se mantido ausente, ou não, nas primeiras 3 semanas de outubro de 2003; porém, é certo que em 28 de outubro o retorno já havia sido efetuado.
30 Constatou-se ainda, que no dia 2 de novembro de 2003, em um telhado localizado no centro do município de Santa Cruz do Sul, dez indivíduos da espécie T. brasiliensis já haviam retornado ao abrigo. Em seus estudos na Argentina, Pire et al (1999) observaram que T. brasiliensis começa a retornar aos abrigos a partir de meados de setembro. No Rio Grande do Sul, Fabián & Marques (1996), da mesma forma, observaram que estes quirópteros retornam aos abrigos em setembro. O número de indivíduos da colônia de T. brasiliensis abrigada no ponto 1 manteve-se estável a partir de 28 de outubro até 15 novembro de 2003. No intervalo que compreende os últimos dias de novembro aos primeiros de dezembro (2003), foi observado um acréscimo no número de indivíduos. Essas declarações ajustam-se ao que foi exposto por Fabián & Marques (1996), quando destacam que após o retorno da colônia ao abrigo, o número de T. brasiliensis volta a aumentar até novembro ou dezembro, momento em que a colônia alcança o número máximo de adultos, se estabilizando. No dia 25 de novembro de 2003, um morador residente em Santa Cruz do Sul (centro), capturou uma fêmea grávida da espécie T. brasiliensis dentro de seu quarto. No dia 8 de dezembro de 2003, houve coleta de outra fêmea grávida no ponto 1. Os achados conferem àqueles de Fabián & Marques (1996), que encontraram fêmeas grávidas desde o final de setembro ao início de dezembro. O período de gestação é de 85 a 90 dias (FAZZOLARICORRÊA, 1995; PACHECO; 2001). Apesar de haver encontrado fêmeas grávidas nesta época, não foi possível visualizar qualquer filhote da espécie no ponto 1. No Rio Grande do Sul, Fabián & Marques (1996) e Pire et al (1999), na Argentina, verificaram os nascimentos dos filhotes de T. brasiliensis ocorrendo entre meados de novembro e início de dezembro. No dia 26 de dezembro de 2002, o grupo de T. brasiliensis já havia dispersado do telhado de uma escola vizinha do ponto 1; em 29 de janeiro de 2003, havia deixado o telhado de outra igreja, na localidade de Henrique d’Ávila. No ponto 1, nova dispersão sazonal teve início antes mesmo da primeira semana de janeiro de 2004. Neste caso, ainda que fosse verificada a presença de filhotes no ponto 1, estes ainda não estariam aptos para vôo, logo não poderiam deixar o abrigo. Pire et al (1999) observaram o deslocamento ocorrer no mês de fevereiro. De acordo com Fabián & Marques (1996), de janeiro a fevereiro acontece o recrutamento dos jovens à população, momento no qual estes possuem dois meses de idade.
31
NÚMERO DE Tadarida brasiliensis ABRIGADOS NO TELHADO DA IGREJA DE VERA CRUZ (PONTO 1)
qtde. de quirópteros
120
100
100 80 60 35
40 20
0
1
10 0
0
0
0
0
0
10 0
0
0 jan/03 fev/03 mar/03 abr/03 mai/03 jun/03 jul/03 ago/03 set/03 out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mês/ano
Fig. 23. Número de indivíduos da espécie Tadarida brasiliensis presentes no abrigo no período de janeiro de 2003 a fevereiro 2004. Fonte: dados da autora, 2004.
32 Durante as vistorias realizadas, a temperatura mínima registrada dentro do abrigo foi de o
15 C, em 25 de agosto de 2003, e a máxima de 30 oC, no dia 22 de janeiro de 2004. Nestas duas ocasiões, as atividades da colônia de T. brasiliensis no abrigo já haviam encerrado. A diferença entre as temperaturas interna e externa do abrigo variou de 1 a 2 oC. No final de outubro de 2003, quando a colônia de T. brasiliensis se restabeleceu integralmente após o deslocamento sazonal, a temperatura média foi de 24,5 oC e a umidade relativa do ar de 63%. Quando o número máximo de morcegos foi atingido, 100 indivíduos, a temperatura no interior do abrigo foi de 28 °C, em janeiro de 2003. Considerado o sucesso reprodutivo e tamanho populacional da colônia de 64.000 morcegos T. brasiliensis pesquisada por Pire et al (1999), observa-se que a mesma atingiu seu ponto ótimo de desenvolvimento em clima temperado-subtropical de temperatura média anual de 16,7 ºC, com mínima de - 8,8 ºC, e máxima de 41,9 ºC. De acordo com Collischonn, a região carece de centros meteorológicos efetivamente atuantes (o Vale do Rio Pardo, principalmente), os quais poderiam fornecer dados mais consistentes sobre as alterações climáticas. Acrescenta ainda, que a estação operada pela Universidade de Santa Cruz do Sul trata-se, atualmente, da única fonte de obtenção periódica desses dados, porém, as informações disponíveis são relativas a segunda metade do ano de 2003 (informação verbal)2. Dentre todas as colocações, é imprescindível destacar: a) o retorno tardio da colônia ao abrigo: Pire et al (1999) e Fabián & Marques (1996) observaram o retorno de T. brasiliensis ocorrendo em setembro, porém, em 20 de setembro os indivíduos ainda não haviam retornado; b) a redução do número de indivíduos da colônia: durante o primeiro pico de atividades, a colônia de T. brasiliensis contava com um número máximo de 100 indivíduos, no segundo, o número máximo registrado foi de 35 indivíduos; c) a dispersão sazonal antecipada: em 26 de janeiro de 2003 a colônia T. brasiliensis encontrava-se no auge de suas atividades, porém, em 7 de janeiro de 2004 já havia realizado dispersão sazonal;
2
Informação fornecida em junho de 2004, pela climatologista Érika Colloschonn, Professora de Climatologia e Biogeografia do Departamento de Geografia da Universidade de Santa Cruz do Sul (RS).
33 d) a não-verificação de colônia maternidade: apesar do registro de uma fêmea grávida, filhotes não foram encontrados, apenas adultos machos e fêmeas não-segregados. De acordo com Fabián & Marques (1996), de janeiro a fevereiro deveria ocorrer o recrutamento dos jovens à população, entretanto, em 7 de janeiro de 2004 a colônia já havia se dispersado. Nestes itens, a colônia de T. brasiliensis observada não se enquadrou nos padrões observados por Fabián & Marques (1996) e Pire et al (1999). Por isso, os motivos pelos quais o ciclo reprodutivo e deslocamento sazonal da colônia T. brasiliensis foram ditados no ponto 1, podem divergir em relação ao que foi proposto por estes pesquisadores. Desconhecem-se dados que justifiquem o motivo pelo qual determinada colônia pode chegar ou a partir de seu abrigo tardia ou antecipadamente. No ponto 1, houve aplicação de inseticidas pela comunidade poucos dias antes que a pesquisa tivesse início, em janeiro de 2003. Entretanto, nessa época a colônia de T. brasiliensis contava com mais indivíduos (100 morcegos), que o pico de atividades mais distante da desinsetização (35 morcegos), quando o uso do inseticida havia sido interrompido. Apesar do uso suspenso, é possível que o comportamento da colônia T. brasiliensis tenha sido condicionado pela desinsetização. Existem outras possibilidades que explicariam o comportamento atípico da colônia. Predadores poderiam alterar o ritmo das atividades, embora nenhuma relação direta tenha sido confirmada. A colônia poderia estar utilizando o telhado apenas como abrigo transitório, uma vez que não houve padrão de segregação entre machos e fêmeas e nem visualização de filhotes no ponto 1; além disso, molossídeos foram observados em vários pontos da cidade. Estes dados reforçam a hipótese de que a colônia de T. brasiliensis do ponto 1, utilizava-se do telhado apenas como abrigo transitório, não podendo ser considerada uma colônia maternidade. Segundo Masson & McCarthy (2001), além dos perigos óbvios como predadores, os animais podem se alarmar com alterações em seu ambiente, como movimentos, sons e cheiros não familiares; da mesma forma, posteriormente, são capazes de ativar a memória de associação às situações de stress anteriormente vivenciadas, evitando-as. Cockrum (1969), apud Fabián & Marques (1996), identificou diferentes tipos de colônias de T. brasiliensis: colônias maternidade (com fêmeas adultas e filhotes); abrigos transitórios (utilizados no período de migração, antes e após a reprodução); e abrigos de inverno (contendo machos reprodutivamente ativos e fêmeas recémcopuladas). Em Porto Alegre, Rosane V. Marques e Susi M. Pacheco anilharam cerca de 1.500 indivíduos de uma colônia de T. brasiliensis encontrada no centro da cidade. Após a dissolução da colônia, houve a observação de alguns morcegos dispersos em pequenos
34 grupos, porém, em telhados do mesmo bairro de Porto Alegre. O fato observado reforça a idéia de que a colônia de T. brasiliensis divida-se em uma série de grupos menores, utilizando-se de vários abrigos transitórios à medida que realiza o deslocamento sazonal (informação verbal)3. Fabián & Marques (1996), e Racey (1982), afirmam que as variações ambientais influem diretamente no ritmo reprodutivo dos quirópteros. Oxbery (1979) e Taylor (1963), apud Racey (1982), destacam que as várias latitudes conferem diferentes temperaturas e fotoperíodos, que conseqüentemente, influem na disponibilidade de alimentos, economia térmica, espermatogênese, ovogênese e crescimento fetal; e ainda, que durante o verão ou quando as chuvas são mais intensas, aumentam as populações de insetos, por conseguinte, aumentam as taxas de natalidade de morcegos insetívoros. De acordo com Fabián & Marques (1996) índices de correlação significativos entre as variações sazonais e de temperatura, sugerem possível correlação com período luminoso diário. Por exemplo, no outono e inverno (maio a agosto), em razão das temperaturas mais baixas e período luminoso diário mais curto, T. brasiliensis inicia o período de dispersão sazonal, e na primavera (setembro), quando as temperaturas voltam a se elevar juntamente com o período luminoso diário, T. brasiliensis retorna às suas atividades. Considerando-se que a colônia de T. brasiliensis observada difere em alguns aspectos das colônias estudadas por Fabián & Marques (1996) e Pire et al (1999), ao invés de supor que o ciclo reprodutivo e deslocamento sazonal da colônia T. brasiliensis no ponto 1 tenham sido ditados por variáveis como temperatura, fotoperíodo, pluviosidade e disponibilidade de alimentos, optou-se por afirmar que possíveis predadores, venenos ou a utilização do telhado apenas como abrigo transitório tenham sido os responsáveis pelos padrões de comportamento verificados. À exceção dos estudos realizados por Fabián & Marques (1996), não existem referências bibliográficas a respeito de migração ou deslocamentos de T. brasiliensis no Brasil. No entanto, se as proporções de distâncias percorridas forem as mesmas observadas em T. brasiliensis mexicana nos Estados Unidos, é possível que essas populações de quirópteros estejam atingindo o sudoeste e centro-oeste do Brasil, Paraguai e norte da Argentina (FABIÁN & MARQUES, 1996). 3
Informação fornecida em julho de 2003, pela Drª. Susi M. Pacheco, especialista em quirópteros.
35 4.1.1.2 Dispersão sazonal de Histiotus velatus O número de indivíduos pertencentes à espécie H. velatus presentes no telhado da igreja de Vera Cruz variou durante o período em que foi observada (fig. 24). Em 15 de março de 2003, a colônia de H. velatus possuía 6 indivíduos, no entanto, nos meses de abril, maio, junho e julho do mesmo ano nenhum morcego foi encontrado. No início de agosto de 2003, a colônia começa se reestabelecer: 5 indivíduos foram encontrados em agosto, 8 indivíduos no meses de setembro, outubro e novembro, e 10 indivíduos em dezembro. No dia 7 de janeiro de 2004, a colônia possuía 15 H. velatus, alcançando o número máximo de indivíduos. Na última vistoria realizada, dia 17 de fevereiro de 2004, 8 morcegos ainda permaneciam no abrigo. Ainda que em número reduzido e abrigado sob telhado de cerâmica, H. velatus manteve-se presente a maior parte do ano. Conforme Silva (1994), algumas espécies de morcegos pertencentes à família Verpertilionidae são migratórios. Em seus estudos, Peracchi (1968) dá ênfase à grande adaptação de H. velatus aos telhados, uma vez que a espécie pode permanecer em alguns abrigos o ano todo, mesmo em situações onde o clima se faz mais rigoroso. Silva (1994) ratifica esta última afirmação ao esclarecer que os telhados de zinco parecem ser os mais procurados pela espécie por oferecerem mais calor. No dia 8 de dezembro, foi observada a presença de um filhote de H. velatus, deslocar-se entre as cumeeiras laterais do telhado, sempre acompanhado de adultos. A pelagem do filhote apresentava-se rala, com tons acinzentados no ventre e escuros no dorso; as orelhas possuíam largura proporcional ao comprimento, tamanho muito reduzido quando comparado às orelhas dos adultos, além de prostrarem-se de modo a cobrir a parte anterior da cabeça. Essas observações ajustam-se àquelas feitas por Peracchi (1968), sugerindo ainda, que o filhote observado teria idade mínima de 25 a 30 dias. Em seus estudos, Peracchi (1968) verificou que os filhotes mais novos (aproximadamente 10 dias) possuem tom de pele róseo, poucos pêlos, asas escuras, orelhas pequenas, e permanecem agarrados às mamas das mães; os filhotes mais velhos (aproximadamente 25 - 30 dias), apresentam ventre acinzentado e dorso enegrecido, pelagem curta e densa, orelhas um pouco mais desenvolvidas, e se mantêm junto aos adultos. Contudo, Peracchi (1968) encontrou filhotes de estágios variados em 18 de outubro, no Rio de Janeiro, ao passo que no ponto 1, os nascimentos ocorreram mais tarde, possivelmente, no início de novembro de 2003.
36
qtde. de quirópteros
NÚMERO DE Histiotus velatus ABRIGADOS NO TELHADO DA IGREJA DE VERA CRUZ (PONTO 1) 20
15
15 10
8
6
8
8
10
8
5
5 0
0
0
0
0 mar/03 abr/03 mai/03 jun/03 jul/03 ago/03 set/03 out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mês/ano
Fig. 24. Número de indivíduos da espécie Histiotus velatus presentes no abrigo no período de março de 2003 a fevereiro de 2004. Fonte: dados da autora, 2004.
37 4.1.2 Compartilhamento de abrigo entre Tadarida brasiliensis e Histiotus velatus A colônia de H. velatus encontrava-se posicionada da forma mais afastada possível da principal porta de acesso ao telhado (setores 6 e 7), estabelecendo-se ao lado oposto ao ocupado pela colônia de T. brasiliensis (setor 1) (fig. 25). Verificou-se que T. brasiliensis e H. velatus compartilharam o abrigo em 22 de março de 2003 (período anterior à dispersão sazonal das duas espécies), e voltaram a co-habitar o mesmo telhado na última semana de outubro ao final de dezembro de 2003 (após retorno da dispersão sazonal) (fig. 26). H. velatus residiu no ponto 1 por um período mais prolongado que T. brasiliensis. Em 4 de agosto de 2003, já havia retornado da dispersão sazonal, portanto, no mínimo 47 dias mais cedo que T. brasiliensis. Além disso, até a última vistoria ser realizada, em 17 de fevereiro de 2004, a espécie ainda permanecia residente, ao passo que T. brasiliensis havia partido há quase dois meses. Não pôde ser observada qualquer interação direta entre T. brasiliensis e H. velatus. Conforme Fazzolari-Corrêa (1995), a competição pode não existir quando há a ingestão de boa variedade de alimentos, pois ainda que os mesmos itens sejam consumidos, haverá pressão sobre poucos; devido às preferências por hábitats; ou ainda, pela utilização diferenciada do espaço em períodos alternados. Além do compartilhamento de abrigo observado no telhado da igreja de Vera Cruz, duas vistorias realizadas na zona rural da cidade ratificaram a posição de compartilhamento de abrigo entre as duas espécies. Em 26 de janeiro de 2003 houve visualização de H. velatus em um moinho desativado, na localidade de Dona Josefa, onde os moradores das proximidades confirmaram a presença dos molossídeos. Ainda no mesmo mês, foram encontrados crânios de T. brasiliensis e H. velatus no telhado de outra igreja, na localidade de Henrique d’Àvila. As três localidades do município de Vera Cruz são distantes entre si em pelo menos 5 km. O compartilhamento de abrigos entre T. brasiliensis e o gênero Histiotus vem sendo registrado já a algum tempo. Na Argentina, Braun et al (1996), relatam que alguns exemplares Histiotus macrotus foram capturados no mesmo local que T. brasiliensis. No Brasil, Peracchi (1968), já havia observado a presença de H. velatus co-habitando telhados com T. brasiliensis. Recentemente, em um estudo realizado no Vale do Taquari (RS), Marder et al (2003) observaram que em 4% dos abrigos vistoriados havia o compartilhamento entre as duas espécies.
38
Fig. 25. Croqui do telhado da igreja do município de Vera Cruz (ponto 1). Em vermelho, a distribuição adotada pela colônia de T. brasiliensis, e em azul, a distribuição de H. velatus. Linhas mais espessas correspondem a maior ocupação pelos quirópteros, linhas duplas, ocupação intermediária, e linhas delgadas, ocupação eventual. Fonte: croqui da autora, 2004.
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qtde. de quirópteros
NÚMERO DE Tadarida brasiliensis E Histiotus velatus ABRIGADOS NO TELHADO DA IGREJA DE VERA CRUZ (PONTO 1) 40 35
30 20 10 0
6 1 mar/03
0 abr/03
0 mai/03
0 jun/03
0 jul/03
5 0 ago/03
8 0 set/03
10 8 out/03
10 8 nov/03
15 10
dez/03
8 0 jan/04
0 fev/04
mês/ano
Fig. 26. Compartilhamento de abrigo. Número de indivíduos das espécies Tadarida brasiliensis (em vermelho) e Histiotus velatus (em azul) presentes no período de março de 2003 a fevereiro de 2004. Fonte: dados da autora, 2004.
40 4.1.3.1 Padrões de distribuição de Tadarida brasiliensis no interior do telhado
Em 26 janeiro de 2003, os 100 indivíduos da espécie T. brasiliensis ocupavam parte do setor 1. Assim como foi referido por Vizotto & Taddei (1973), os indivíduos permaneceram com a região ventral em contato direto com o substrato, tanto de encontro à parede como junto ao madeiramento. Após retornar da dispersão sazonal, a colônia passou a ocupar o mesmo local. Todos os indivíduos mantinham-se na porção de encontro das tesouras de madeira deste setor, porém, quando atingiu os níveis máximos, como em 26 de janeiro de 2003 (100 indivíduos) e 8 de dezembro de 2003 (35 indivíduos), alguns passavam a ocupar o setor 1B, e mais raramente o setor 1A (fig. 25). Machos e fêmeas mantinham-se juntos, não houve segregação entre os sexos. Padrões de segregação entre adultos e filhotes não foram avaliados, visto que filhotes não foram encontrados. Fabián & Marques (1996), Pacheco (1994), McCracken & Gustin (1991) apud Pacheco (1994), e Pire et al (1999) verificaram a organização espacial de colônias maternidade de T. brasiliensis, e concluíram: a) existe uma área preferencial da colônia, a área principal, que se mantêm sempre ocupada; b) após ocorrerem os partos, há segregação entre adultos e filhotes: os recém-nascidos reúnem-se em grupos compactos na área maternidade (creche), ocupada de meados de novembro ao final de janeiro/fevereiro, até que os morcegos adquiram a capacidade de vôo e incrementem o número populacional (recrutamento), já os adultos, ocupam salas principais e maternidade (creches). De acordo com Fabián & Marques (1996), machos adultos não são encontrados em meio à colônia maternidade, entre as fêmeas e os jovens, muito embora tenham observado que a separação entre machos e fêmeas não é total. Pacheco (1994), supõe que esse padrão de segregação é rompido no final do verão. Pacheco (1994), que realizou um estudo sobre estimativa de idade de T. brasiliensis, denominou de “jovens”, T. brasiliensis com até 56 dias de vida, os quais possuem tipicamente pelagem cinza; “subadultos”, os que possuíam de 56 a 365 dias; e “adultos”, aqueles com mais de 365 dias, que apresentam pelagem marrom e nos quais pode ser encontrado desgaste dentário, que só ocorre a partir dos 3 anos de idade (PACHECO, 1994). Todos os indivíduos, bem como crânios e esqueletos pertencentes à espécie T. brasiliensis, foram encontrados dentro dos limites do setor 1. A exceção foi um único espécime, coletado em 22 de março de 2003, às 9h 30min, período no qual colônia já havia se
41 deslocado. Solitário, o morcego permanecia escondido na porção mais elevada do setor 4A, entre sarrafos e telhas, setor onde anteriormente não havia sido registrada a presença de qualquer quiróptero. Sua análise não foi possível, pois o mesmo apresentava-se extremamente agitado, e terminou por escapar. É possível que a presença do quiróptero tenha sido eventual, pois não foi mais visto. Nas paredes e tesouras de madeira do setor 1, T. brasiliensis mantinham-se compactamente agrupados, apenas poucos permaneciam afastados dos demais. Cruz-Neto (2003), especifica que os padrões de distribuição dos morcegos estão relacionados à maneira pela qual lidam com fatores abióticos, notadamente a temperatura do meio. Conforme Pire et al (1999), na Argentina, T. brasiliensis ajusta seu comportamento de acordo com as condições do tempo; nos dias mais frios, com temperaturas menores que 23 ºC, os morcegos são menos ativos e tendem a agruparem-se juntos, enquanto em dias quentes, com temperaturas maiores que 27 ºC, eles são encontrados mais separados uns dos outros. No Rio Grande do Sul, Fabián & Marques (1996) observaram que em dias de temperatura ambiente inferior a 40 oC, T. brasiliensis costuma reduzir suas atividades e formar aglomerados, porém, se ao contrário, a temperatura ultrapassa os 40 oC, tendem a manterem-se longe das telhas (onde a temperatura é mais elevada), e afastados uns dos outros. O padrão observado no ponto 1 é idêntico ao exposto por Fabián & Marques (1996), pois a 30 ºC (janeiro de 2004) e 28 ºC (fevereiro de 2004) T. brasiliensis ainda mantinha o padrão aglomerado, contrapondo as assertivas de Pire et al (1999).
4.1.3.2 Padrões de distribuição de Histiotus velatus no interior do telhado A distribuição adotada por H. velatus dentro do abrigo estava organizada em 3 subgrupos. Nos meses em que poucos indivíduos se faziam presentes (início de abril ao início de agosto de 2003), preferencialmente, os indivíduos adultos penduravam-se lado-a-lado, mantendo o ventre voltado para a porção de encontro das tesouras de madeira do setor 6. Quando o período das atividades da colônia se intensificava, como em 15 de março de 2003 e de 20 de setembro de 2003 a 17 de fevereiro de 2004, a cumeeira do setor 7A passava a ser ocupada, às vezes, por um subgrupo de até cinco indivíduos (dezembro de 2003 e janeiro de 2004), sendo que os jovens foram observados somente neste setor, onde adultos podiam ser encontrados também. Apenas eventualmente, como em janeiro de 2004, a cumeeira do setor 7B foi ocupada por um subgrupo de até 3 indivíduos adultos (fig. 25). De modo similar,
42 Martins & Covre (2003) encontraram um grupo distribuído em subgrupos de dois a quatro indivíduos nos cantos mais distantes da porta do quarto utilizado como abrigo. Padrões de aglomeração e afastamento relacionados à temperatura, como Pire et al (1999) e Fabián & Marques (1996) haviam observado para T. brasiliensis, não se aplicaram à H. velatus ponto 1.
4.1.4 Biometria e morfologia externa de Tadarida brasiliensis e Histiotus velatus Segundo Cagle (1950), Stegeman (1954), Hall et al (1957), Kunz (1973), Baagфe (1977a), Baagфe (1977b), Kunz & Anthony (1982), Burnett & Kunz (1982), Anthony (1988), citados por Pacheco (2001), é possível estimar a idade em morcegos: 1) marcação dos morcegos ao nascer e posterior desenvolvimento até atingir a fase adulta. 2) através do processo de ossificação e fusionamento dos ossos longos (metacarpos e falanges); 3) por meio da verificação do desgaste dentário combinado ao comprimento de algumas medidas de morfologia externa, como comprimento cabeça-corpo, cauda, antebraço, metacarpo III, metacarpo V, comprimento total e envergadura. Anthony (1988), apud Pacheco (2001), afirma ainda, que os critérios de idade são confiáveis apenas quando baseados em indivíduos que foram marcados e acompanhados durante o período de desenvolvimento. Desta forma, obtendo-se os padrões biométricos das colônias, é possível acompanhar o padrão de segregação conforme as idades dentro do telhado. Porém, o período de vistorias destinado a pesquisa no ponto 1 (janeiro de 2003 a fevereiro de 2004), não seria suficiente para que um recém-nascido marcado alcançasse a fase adulta. Ademais, apesar do registro biométrico dos morcegos capturados, o padrão de segregação por idades e as médias biométricas das espécies não foram estabelecidas (apenas os intervalos), uma vez que poucos espécimes puderam ser avaliados, principalmente, em função da ausência completa da colônia durante boa parte do ano e da estrutura do telhado que favorecia o refúgio. No entanto, são dadas algumas das mensurações obtidas para T. brasiliensis (n = 5): CT = 80-105 mm; CC = 47-70 mm; CA = 20-37 mm; AN = 42-44 mm; ME III = 41,50-43 mm; f I = 16-18,10 mm; f II = 15-15,70 mm; f III = 7,50-10,80 mm; ME IV = 39,65-41mm; f I = 13,80-14,40 mm; f II = 8,45-9,20 mm; f III = 2,90-3,20 mm; ME V = 24-24,90 mm; f I = 13,35-13,50 mm; TB = 12-15,15 mm. Mensurações cranianas (n = 2): CCT = 17,10-17,75 mm; LZ = 9,85-10,05 mm. Fórmula dentária (n = 2): I = 1/3; C = 1/1; P = 2/2; M = 3/3.
43
As mensurações extraídas de H. velatus (n = 5) foram: CT = 98,20-105,85 mm; CC = 48,5-55,85 mm; CA = 45-53,15 mm; AN = 45,70-48,3 mm; ME III = 35,50-41,60 mm; f I = 12,10-14,65 mm; f II = 10,70-13,70 mm; f III = 6,60-9,10 mm; ME IV = 34,40-40 mm; f I = 8,90-12,05 mm; f II = 7-11,20 mm; ME V = 34,65-37,80 mm; f I = 9,80-11,80 mm; f II = 5,37,35 mm; TB = 17-20,25 mm; Mensurações cranianas (n = 2): CCT = 17,15-17,95 mm; LZ = 9,75-10,05 mm. Fórmula dentária (n = 2): I = 2/3; C = 1/1; P = 1/2; M = 3/3. As fêmeas grávidas de T. brasiliensis coletadas apresentavam mamas aparentes em 25 de novembro e 8 de dezembro (2003). Nenhuma fêmea de H. velatus grávida foi capturada, no entanto, mamas aparentes foram observadas nas fêmeas de 7 a 22 de janeiro de 2004. Conforme Fabián & Marques (1994), Fabián & Marques (1996) e Fazzolari-Corrêa (1995), em T. brasiliensis, as mamas permanecem mais desenvolvidas de outubro a janeiro, sendo que o período de lactação (amamentação) é de 40 a 50 dias, estendendo-se até janeiro ou início de fevereiro. Nenhum dos morcegos machos coletados no ponto 1 apresentava testículos inguinais. O mesmo ocorreu nas pesquisas de Fabián & Marques (1996), com T. brasiliensis, e de Pacheco (2001), com H. velatus. Cabe salientar, que mamas aparentes o ano todo, pelagem avermelhada em fêmeas ou testículos inguinais são caracteres que separam subadultos de adultos, mas não são precisos para determinar a maturidade sexual das espécies (PACHECO, 2001). Nas fêmeas de T. brasiliensis e de H. velatus coletadas, não houve registro de plug vaginal (secreção, normalmente esbranquiçada, amarelada ou levemente avermelhada que indica que a fêmea foi copulada - Fazzolari-Corrêa, 1995). Não foi observada qualquer alteração em relação à pelagem dos quirópteros abrigados sob este telhado, nem mesmo a presença de tufos de pêlos brancos; já no município de Santa Cruz do Sul, capturou-se uma fêmea de T. brasiliensis grávida, cuja pelagem na região do ventral e próxima ao antebraço possuía, nitidamente, a presença de tufos de pêlos brancos. Pacheco (1994) já havia observado a presença de tufos de pêlos brancos em T. brasiliensis, às vezes, encontrando vários tufos em um mesmo animal, geralmente, em indivíduos mais velhos.
44 4.1.5.1 Etologia de Tadarida brasiliensis Fabián & Marques (1996), destacam que T. brasiliensis é relativamente bem estudada no hemisfério norte, porém, pouco se sabe sobre os aspectos de seu comportamento nas populações ocorrentes no sul do Brasil. O comportamento de T. brasiliensis observado no ponto 1, consistiu basicamente na interação com os indivíduos mais próximos (se sobrepondo ou “cutucando”), vocalizações e bocejos. Assim como já havia sido observado por Vizotto & Taddei (1973), os indivíduos permaneceram a maior parte do tempo repousando. Os vôos no interior do abrigo ocorreram apenas para escapar à coleta. Poucos morcegos mostraram-se assustados, ou muito agitados na presença de humanos, exceto quando a distância se fazia inferior a dois metros ou ameaçava-se nova coleta. Durante os dias de temperatura mais elevada os movimentos e as vocalizações tornaram-se mais freqüêntes. Como sustenta Constantine (1952), citado por Fabián & Marques (1996), altas temperaturas mantêm esses quirópteros ativos. Segundo Fabián & Marques (1996), o calor faz com que os morcegos emitam sons mais agudos, e nos dias mais frios (temperatura inferior aos 15 oC), encontram-se tão vagarosos que apenas sons inaudíveis são emitidos. Temperatura, umidade relativa do ar, velocidade do vento, luminosidade (ex. variação sazonal do comprimento do dia e da noite e variação semanal das fases da lua), e outros fatores físicos influenciam o comportamento e atividade dos morcegos, e são importantes na estruturação de comunidades (ENCONTRO BRASILEIRO PARA O ESTUDO DE QUIRÓPTEROS, Mesa redonda: métodos em ecologia, 2003). Durante o período em que T. brasiliensis se manteve residente, não houve vistoria realizada à tardinha, de modo que vocalizações executadas próximo aos intervalos dos horários de entrada e saída do telhado não foram avaliadas. Verificou-se que as fêmeas grávidas permaneceram junto às outras fêmeas da colônia, como já havia sido apontado por Fabián & Marques (1996). Como filhotes de T. brasiliensis não foram encontrados, as relações de cuidados parentais não puderam ser avaliadas. Foi possível observar que os indivíduos soltos a alguns metros da igreja, retornaram ao telhado da mesma; um deles dirigiu-se diretamente ao abrigo, o outro se afastou
45 aproximadamente 50 m antes de retornar. Tibbetts (1956) comprovou a fidelidade de T. brasiliensis ao abrigo, após soltar um indivíduo anilhado a 97 km de seu abrigo e o haver recapturado duas semanas depois no mesmo local da captura. (FABIÁN & MARQUES, 1996). De acordo com Rydel (1989), apud Fabián & Marques (1996), é sabido que Eptesicus nilssoni retorna ao mesmo abrigo de anos anteriores, devido ao melhor conhecimento dos recursos alimentares e manutenção do status de dominância já estabelecido. É possível que o mesmo aconteça com T. brasiliensis.
4.1.5.2 Etologia de Histiotus velatus Quanto ao comportamento de H. velatus verificado no ponto 1, os indivíduos permaneciam aglomeradamente estáticos, mantendo o contato corpóreo, no entanto, sem interagirem entre si. Normalmente, H. velatus ocupava o setor 6, porém, na presença de humanos, H. velatus, instantaneamente, adotava um posicionamento diferente do original, refugiando-se nos espaços existentes entre o cimento e as telhas da cumeeira nos setores 6, 7A e 7B. Esse tipo de reação impediu a execução de um acompanhamento mais preciso. O comportamento de ocupação do espaço e fuga no telhado é idêntico ao que foi verificado por Peracchi (1968). Contudo, Martins & Covre (2003) afirmam em seus estudos, que a presença humana não causou qualquer interferência no padrão de comportamento de H. velatus. Ao contrário do que foi observado em T. brasiliensis, os vôos de H. velatus no interior do abrigo ocorreram com freqüência, principalmente no verão, independente da proximidade de humanos ou não. As vocalizações tornavam-se menos freqüentes em dias frios. Cada subgrupo vocalizava entre si, parecendo não haver relação com os demais. Em meados de março de 2003, às 18h 06min, alguns indivíduos da colônia de H. velatus iniciaram as vocalizações de forma mais freqüente. No intervalo entre 18h 30min e 18h 40min as vocalizações tornaram-se mais curtas e rápidas, intercaladas por outras mais longas e constantes, resultando na saída de um indivíduo, e poucos minutos mais tarde, na saída de mais dois. Às 19h 15min, alguns morcegos ainda vocalizavam agitadamente dentro do abrigo. Por duas ocasiões (10h 28min e 19h 15min), pôde ser encontrado isolado um dos indivíduos que haviam deixado a colônia para ocupar a torre da igreja. Em seus estudos, Martins & Covre (2003) iniciaram a
46 observação de uma colônia de H. velatus a partir das 16h, e verificaram que às 18h 30min todos os já haviam saído para forragear. Com relação aos cuidados parentais para com os filhotes, observou-se tão somente que estes permanecem junto aos adultos.
4.1.6 Relações interespecíficas Junto ao setor 6, o mesmo ocupado por H. velatus, foi encontrado um crânio de Molossus molossus, ou seja, é possível que a espécie tenha habitado o telhado da igreja. O crânio apresentava o CCT = 17,65 mm; LZ = 10,35 mm, C-M = 6,20 mm; I = 1/1; C = 1/1; P = 1/2; M = 3/3, que permitiram o identificar. De acordo com Silva (1994), Molossus molossus (PALLAS, 1766) habitualmente ocupa sótãos e ocos de árvores, é comum no Estado, larga-se em vôos rápidos, e pode ser encontrado formando pequenas colônias. Porém, Pacheco (2003) sustenta que M. molossus pode formar colônias de alguns milhares de indivíduos. Brent & Uieda (1996), afirmam que M. molossus é mais freqüentemente encontrado nas cidades que em áreas rurais e naturais. Em 9 de março de 2003, moradores de um bairro a cerca de 500m do ponto 1, capturaram Molossus rufus, um macho solitário que explorava uma residência. Dentre outros caracteres os dados biométricos extraídos foram utilizados na identificação: CT = 112,70 mm; CC = 70,20 mm; CA = 42,50 mm; AN = 50,80 mm; ME III = 48,95 mm; f I = 22,10 mm; f II = 22,75 mm; ME IV = 44,45 mm; f I = 19,75 mm; f II = 2,50 mm; f III = 1,75 mm; ME V = 27,55 mm; f I = 13,20 mm; f II = 6,90 mm; TB = 21,15 mm; Segundo Ferrari et al (1999), Molossus rufus (GEOFFROY, 1805) é uma espécie de morcego insetívoro amplamente distribuído no Brasil, tanto em ambientes rurais como em ambientes urbanos, comumente, pode ser encontrado junto aos telhados com forros de madeira. M. rufus pode formar colônias de centenas de indivíduos (PACHECO, 2003). A cerca de 200 m do ponto 1, foi considerada usual a presença do “gavião-carrapateiro”, porém, nenhuma relação direta com as colônias foi constatada. Popularmente conhecido como “gavião-carrapateiro”, Milvago chimachima é comumente encontrado às margens das rodovias, em campos com árvores esparsas, pastagens e arredores das cidades, que pousa em bovinos e de eqüinos para alimentar carrapatos e bernes, capaz de incluir em sua dieta
47 alimentar frutos, cadáveres, ninhegos e pequenos vertebrados vulneráveis (fig. 27), (HÖFLING et al, 1993; NAROSKY & YZURIETA, 2003). Segundo Fundação Riozoo & Stutz (2003) e Pacheco (2003), gaviões podem predar morcegos. Há aproximadamente 50 m do ponto 1, visualizaram-se “anus brancos’, sem que se obtivesse alguma ocorrência que indicasse a predação de T. brasiliensis e H. velatus pelos bandos. O “anu branco” ou “rabo de palha” (Guira guira), é um Cuculidae habituado a viver em bandos de 8 à 16 indivíduos, largamente difundido no Estado do Rio Grande do Sul, predador de artrópodes e pequenos vertebrados (fig. 28) (GARCIA, 1999; HÖFLING et al, 1993; NAROSKY & YZURIETA, 2003). Pacheco (2003) supõe que o “anu branco” seja, eventualmente, predador de filhotes de morcegos. Macedo (2003)4, que pesquisa grupamentos de Guira guira há mais de quinze anos, considera que seria possível, teoricamente, que predasse morcegos, pois é bastante carnívoro e se alimenta de pequenos roedores, calangos, insetos variados e até mesmo ninhegos de outras aves. No entanto, em todos os seus anos de observação de anus forrageando ou alimentando filhotes, estes nunca foram vistos predando morcegos. Macedo (2003) acredita que os “anus” capturem presas indefesas, mas duvida que morcegos façam parte da dieta regular de “anus”, mesmo que por ventura algum houvesse sido capturado. Houve ainda, o registro de vocalização de uma coruja (22h 50min) a cerca de 80 m do ponto 1. Apesar do registro, pelotas de corujas não foram encontradas no telhado para que se indicasse a predação de morcegos por corujas. Em 26 de janeiro de 2003, em vistoria realizada no telhado de uma igreja na localidade de Henrique d’Àvila (Vera Cruz), onde a presença recente de colônias de T. brasiliensis e H. velatus havia sido confirmada, pelotas de coruja foram coletadas. Da mesma forma, nenhuma relação direta pôde ser inferida, uma vez que as mesmas continham apenas ossos de duas espécies de roedores e uma de ave. A Fundação Riozoo & Stutz (2003) e Pacheco (2003) referem-se às corujas como sendo predadores naturais de morcegos. Pire et al (1999), observaram as investidas de Tyto alba contra T. brasiliensis no momento em que estes saíam de seus abrigos (fig. 29). Uma pesquisa encomendada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Fundo Mundial para a Natureza (WWF/Brasil), mostrou que 0,2% da dieta de T. alba pode ser constituída de morcegos; além disso, outras corujas, como Asio stygius, Rhinoptynx
4
Informação fornecida por Regina Macedo, especialista em comportamento animal da Universidade Federal de Brasília (UnB), durante o XXV Congresso Nacional de Zoologia (2004), em Brasília, e melhor esclarecida via email recebido em 17 fevereiro de 2004.
48 clamator e Athene cunicularia, respectivamente, podem incluir 4,4%, 0,7% e 0,1% de morcegos em suas dietas (CIÊNCIA HOJE, 1998). O “gambá-de-orellha-branca” (Didelphis albiventris) e gatos domésticos foram encontrados a menos de 50 m do ponto 1, no entanto, assim como nos casos anteriores, nenhuma relação direta pôde ser comprovada. No sótão de uma escola, localizada a 200 m do ponto 1, no mesmo telhado onde uma colônia de molossídeos havia dispersado em 26 de janeiro de 2003, fezes de gambá foram coletadas. Segundo Silva (1994), o “gambá-de-orellhabranca” é onívoro, comum em áreas urbanas e rurais, e pode habitar capoeiras, matas primárias e secundárias, lavouras, sótãos, chaminés abandonadas, entre outros. De acordo com a Fundação Riozoo & Stutz (2003) e Pacheco (2003), asseguram que gambás são capazes de predar morcegos (fig. 30). Pire et al (1999), observaram as investidas de gatos domésticos contra T. brasiliensis.
Fig. 27. “Gavião-carrapateiro” chimachima). Fonte: Narosky, 2003.
(Milvago
Fig. 29. “Coruja-das-torres” ou “coruja-de-igreja” (Tyto alba). Fonte: http://www.sokoliari.nitra.szm.sk/tytoalba.htm, 2003.
Fig. 28. “Anu branco” (Guira guira). Fonte: SOS Manancial Rio Cotia, 2001.
Fig. 30. “Gambá-deorelha-branca” (Didelphis albiventris). Fonte: Silva, 1994.
49 Além dos animais anteriormente citados, Pacheco (2003) acrescenta que serpentes e outros mamíferos de pequeno porte (graxaim e zorrilho) podem constituir-se em potenciais predadores de morcegos. A FUNDAÇÃO RIOZOO & STUTZ (2003), indicam que serpentes, ratos e sapos (de forma incomum, como Rana catesbeiana) podem ocupar a função de predadores naturais de morcegos, no entanto, destacam que o homem constitui a maior das ameaças. Considerou-se usual a presença de ácaros nos morcegos coletados neste telhado, tanto em T. brasiliensis quanto em H. velatus. Como destaca Silva (1994), T. brasiliensis possui ectoparasitas, em geral ácaros, que não se adaptam ao corpo humano ou de animais domésticos. Passos et al (2002), encontraram larvas de dípteros em H. velatus. Observou-se a presença de outros animais ocupando o telhado, como andorinhas e pombas-rola, e eventualmente, lagartixas, baratas, moscas, besouros, aranhas e centopéias, sem nenhum tipo interferência ter sido constatado. Chenger (2003), afirma que o acúmulo de fezes e o odor da urina dos morcegos atraem artrópodes, como baratas e ácaros.
4.1.7 As colônias de morcegos e repercussão junto à comunidade Durante o período em que as vistorias foram realizadas, a quantidade de quirópteros encontrados nunca ultrapassou muito mais que uma centena de indivíduos, mesmo se considerando os picos máximos de atividades das colônias. Os prejuízos causados pela presença de morcegos para a comunidade resumem-se, basicamente, no desconforto sentido pelos freqüentadores da igreja, devido ao odor exalado pelos excrementos dos quirópteros. O acúmulo de fezes cobrindo outras regiões que não os setores de repouso dos quirópteros, como o chão ou móveis, foi considerado pouco significativo, estando confinado a uma pequena sala próxima à escadaria que dá acesso à torre. Nas paredes internas e externas não foram registrados quaisquer danos causados pelos excrementos de quirópteros. A comunidade não estava habituada ao trabalho de remoção das fezes do telhado, apesar do cheiro produzido pelos produtos do estabelecimento da colônia de T. brasiliensis representar um fator de incômodo para a comunidade (zona urbana). Como cita Silva (1994), o desejo de dar fim ao incômodo causado pela urina e o acúmulo de fezes, que trazem consigo forte cheiro desagradável, força muitos a buscar métodos agressivos, assim como o inseticida utilizado no telhado da igreja de Vera Cruz para
50 exterminar com os morcegos. A aplicação de agentes químicos sobre colônia de morcegos pode ter como resultado sérias implicações. Silva et al (1995), destacam que alguns pesquisadores receberam cinco exemplares infectados com o vírus rábico, provenientes de um mesmo local, um indicativo de que estava ocorrendo um surto de raiva em uma dada colônia. Esse surto foi conseqüência de um programa intensivo de aplicação de DDT, iniciado duas semanas antes do aparecimento do primeiro caso. De acordo com os autores, é provável que o inseticida tenha provocado estresse na colônia, diminuindo conseqüentemente a resistência dos morcegos. Em termos de controle, isto sugere que deve ser evitado o uso de produtos químicos tóxicos junto às populações de morcegos insetívoros. De acordo com Schmidly & Davis (1994), a utilização de tratamento químico ou a morte dos morcegos são escolhas que não solucionam o problema de forma permanente, melhor seria que se fechassem as aberturas que servem de entrada para os indivíduos no abrigo. Chenger (2003) sustenta a mesma idéia ao afirmar que além dos agentes tóxicos serem apenas temporariamente efetivos, seu uso no combate aos morcegos é ilegal e possibilita a criação de problemas ainda maiores, como intoxicação de seres humanos. O autor acrescenta ainda, que a solução efetiva é o reparo do telhado ou da estrutura que lhes serve de abrigo. Após a comunidade local confirmar por experiência própria que a aplicação de venenos não passa de uma medida paliativa, a mesma mostrou-se mais disposta desenvolver um trabalho de exclusão dos espécimes à médio prazo. À exemplo do método referido por Silva (1994), é importante salientar, que toda orientação prestada às comunidades visou a redução das condições ambientais favoráveis fornecidas pelo abrigo às colônias de morcegos, aguardando que condições ambientais adversas os expulsassem. Para tanto, identificaram-se as vias de acesso para entrada e saída de quirópteros de morcegos do abrigo. O telhado de cerâmica da igreja de Vera Cruz possui várias fendas, existindo consideráveis espaçamentos entre uma telha e outra por quase toda sua extensão (fig. 31). Da mesma maneira, funcionam ainda como vias de acesso uma porta principal de entrada (0,50 m diâmetro), e as frestas de dilatação (3 cm) das diminutas janelas laterais, apesar do uso correto de telas (figs.32 e 33).
Fig. 31. Freqüentes espaçamentos entre telhas (detalhe) por quase toda extensão do telhado de cerâmica, igreja de Vera Cruz. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
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Fig. 32. Entrada principal. A arquitetura da igreja favorece o livre acesso de morcegos pela entrada principal. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 33. Janelas laterais. Apesar de corretamente protegidas por telas, as mesmas sofreram um acentuado processo de dilatação (detalhe), resultando nas frestas que permitem a passagem de indivíduos. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
As orientações repassadas à comunidade de Vera Cruz constam no folder elaborado (anexo 1). Outra alternativa seria o uso de abrigos artificiais. O assunto ainda é bastante polêmico, mas talvez seja a solução para espécies insetívoras. Estudos realizados por Tuttle & Hensley (2000) indicam que morcegos dos gêneros Tadarida e Myotis aceitam bem as “casas de morcegos”, podendo abrigar cerca de 200 indivíduos (fig. 34).
Fig. 34. Abrigo artificial utilizado no manejo das espécies de morcegos. No detalhe (abaixo), uma visão mais aproximada dos compartimentos que abrigam os morcegos. Fonte: Chenger, 2003.
De acordo com Pacheco (2003), no país ainda não existem trabalhos relacionados ao uso de abrigos artificiais, mas alguns estudos já estão sendo iniciados. A autora destaca ainda, que no caso dos abrigos artificiais (telhados, vãos em prédios, caixas de persianas, condicionadores de ar, pontes) deve-se orientar a maneira correta pra realizar o manejo desses
52 animais, e quando possível, orientar a permanência dessas colônias. Chenger (2003), garante que técnicas apropriadas, associadas à utilização de abrigos artificiais para morcegos, resolvem com eficiência os problemas com morcegos que se instalam em residências e outros estabelecimentos. A diretoria da igreja não demonstrou resistência à sugestão de acolher os abrigos artificiais, em virtude de haverem fracassado todas tentativas anteriores de eliminação dos morcegos do telhado. A preocupação mais imediata da direção, secretaria e outros integrantes de convívio mais próximo à igreja, esteve relacionada à sujeira e cheiro desagradável produzido pela presença das colônias de morcegos, devido à má impressão causada junto aos freqüentadores do estabelecimento. Em seguida, ocorreram as inquietações comumente observadas na maioria população: aversão e transmissão de doenças. Durante as vistorias realizadas na região, a partir do momento em que a população foi consultada, pôde ser observado um certo nível de desinformação com relação aos quirópteros, e necessidade de esclarecimento – motivo pelo qual foi elaborado um folder. Santos et al (2003) destacam que os resultados de suas pesquisas demonstram a persistência de formas errôneas de encarar os morcegos, motivo pelo qual sugerem a elaboração de estratégias educativas como a distribuição de folhetos explicativos e palestras. Lima et al (2003), mostraram a importância de trabalhos de orientação para a conservação de espécies em suas pesquisas, onde respectivamente, apontam os temas presentes nas redações de crianças do ensino fundamental, antes e depois das palestras: mitos e/ou aversão (57%, 2%), alimentação (35%, 67%), importância das espécies (4,65%, 27%) e hábito de vida (15%, 27%). Leite et al (1999) demonstraram que o controle preventivo é uma prática viável e digna de investimento: de 75 queixas recebidas, 86% dos reclamantes livraram-se dos morcegos vedando os acessos aos respectivos abrigos e implementando outras recomendações sugeridas; os demais, ou não tiveram condições econômicas para fazê-los ou não acataram suas orientações. A divulgação de informações na forma de artigos didáticos, folders e outros tipos de exposições auxilia na desmistificação e expõem para a população a importância que os morcegos possuem, não apenas ecológica, mas também econômica. É fato que o homem entende a linguagem monetária; dessa forma é necessário demonstrar-se o valor do guano como adubo, do papel desempenhado pelos morcegos no controle de pragas agrícolas, da dispersão de sementes, da polinização e suas utilidades de pesquisas médicas e farmacêuticas (ENCONTRO BRASILEIRO PARA O ESTUDO DE QUIRÓPTEROS, Mesa redonda: conservação e educação ambiental, 2003). Silva (1994) orienta que se tome conhecimento
53 sobre a opinião formada pela comunidade com relação aos morcegos, uma vez que disso depende o extermínio ou preservação das colônias. Conforme Esbérard (1999), são várias as causas que dificultam a conservação dos quirópteros. Os morcegos são um dos grupos mais cercados de mitos, como a lenda do vampiro; neste caso, o conhecimento do morcegohematófago vinculado à raiva suplanta a imagem de espécies insetívoras, polinizadoras e dispersoras de sementes. Soma-se isso, o fato de que a destruição da cobertura vegetal para agricultura e ocupação urbana restringe a diversidade de espécies de morcegos. Pire et al (1999), em seus estudos, estimaram um controle biológico exercido pelas colônias de T. brasiliensis na ordem de 209-385 kg de insetos por noite entre os meses de setembro e fevereiro. É preciso que a população humana tenha acesso a esse tipo de informação, tornando dessa forma possível a conscientização, ao invés da simples eliminação da espécie. Nos arredores da igreja pesquisada em Vera Cruz, a paisagem encontra-se urbanizada, sendo considerado um dos pontos mais movimentados da cidade. A iluminação pública é efetiva, contribuindo diretamente para a atração de insetos noturnos. Informações disponibilizadas pelo INSTITUTO PASTEUR DE SÃO PAULO (2000), indicam que o aumento de morcegos insetívoros ocorre devido à proliferação de mosquitos, pernilongos, mariposas e outros insetos atraídos pela iluminação pública, e que se os morcegos não atuassem no referido controle, seria desconfortável e insalubre conviver com a quantidade de insetos nos centros urbanos. Chaves & Uieda (2003) e Silva et al (1995), lembram que a iluminação noturna das cidades constitui-se em um atrativo para insetos voadores, e conseqüentemente, para os morcegos insetívoros; assinalam ainda, que os morcegos insetívoros são certamente aqueles que mais têm se beneficiado. De outra forma, Hermanson & Wilkins (1986), apud Fabián & Marques (1996), sustentam que a adaptação dos morcegos ao ambiente urbano reduz a mortalidade infantil, pois dessa forma, evitam-se os predadores e a queda dos filhotes. Zortéa (2003), justifica que o desequilíbrio é resultado do ritmo acelerado crescimento da população humana, que gerou uma grande demanda por novas áreas de ocupação geográfica. Essa pressão resultou na destruição de hábitats anteriormente reservados para espécies como essa, que se vêem obrigadas a buscar abrigo e alimento nas cidades. Ainda existe muita polêmica em torno da situação da boa convivência entre seres humanos e colônias de morcegos. Silva (1994), declara que das espécies de morcegos reconhecidas para o Rio Grande do Sul, apenas uma causaria prejuízos aos homens (Desmodus rotundus), sendo que as demais, além de eliminarem insetos e outros animais
54 daninhos, polinizam e dispersam sementes. Já FUNDAÇÃO RIOZOO & STUTZ (2003), mesmo reconhecendo o papel crucial dos molossídeos no controle de insetos, considera a produção de fezes e sujeira em habitações humanas como danosa ao homem. Outros autores preferem afirmar que mais de uma espécie de morcego poderia causar prejuízos ao homem, pois vários deles podem constituir potenciais reservatórios de raiva, tendo sido confirmado diversos casos de molossídeos infectados pelo vírus da raiva (GREGORIN, 2003; KOTAIT, 2003; SILVA et al, 1995). Quanto à raiva, em termos de importância epidemiológica, a organização em grupamentos e o comportamento social são aspectos interessantes da vida dos mamíferos. Quando a hierarquia exercida pelo grupo é forte, essa estrutura social favorece habitualmente a transmissão intrapopulacional da raiva; o animal morde outros da mesma espécie para defender seu território, suas fontes de alimento, seu harém, sua prole, em autodefesa ou sua posição social. Nas espécies de morcegos insetívoros o hábito solitário quando raivosos, atenua a importância como transmissoras da raiva. Dessa maneira, as chances de ocorrer transmissão da raiva por morcegos não hematófagos para os seres humanos e outros animais são pequenas, ou seja, ocorreriam acidental ou ocasionalmente (DEBERALDINI & UIEDA, 2003). Conforme Silva et al (1995), em situações normais, cerca de 0,5% dos molossídeos submetidos a exames de raiva estão infectados. À medida que o controle da raiva canina e felina é alcançado, tal controle deve-se voltar também aos morcegos, pois os índices com relação à raiva em morcegos em São Paulo não representam uma situação isolada, e sim resultados de uma maior vigilância que deveria estender-se a outros estados do país. (KOTAIT, 2003). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) instituiu há quase 30 anos atrás um programa específico para o controle de raiva em herbívoros. Em várias Unidades da Federação existe um programa organizado, com ações definidas quanto ao controle das populações de morcegos hematófagos, incentivo à vacinação anti-rábica, atividades educativas e apoio laboratorial (MARQUES, 2003). Como modelo, o programa poderia ser aplicado de forma similar para morcegos não-hematófagos. Com relação a outras doenças, como afirma o INSTITUTO BIOLÓGICO SABIO (2004), embora os morcegos sejam transmissores de vários tipos de doenças, não é recomendável o extermínio, pois a transmissão de doenças a seres humanos pode ser evitada; além disso, o aniquilamento das colônias resultaria no desequilíbrio dos ecossistemas, uma vez que se impede as diferentes espécies de morcegos de desempenharem os papéis ecológicos que lhe competem.
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Para obter-se uma convivência mais pacífica com os morcegos em meio urbano também é necessário que cidadãos, arquitetos e urbanistas estejam atentos ao planejamento de cidades, parques e demais construções, evitando o plantio de árvores atrativas para morcegos e estruturando estabelecimentos que impeçam a invasão por morcegos e outros animais que podem vir a constituírem-se em pragas urbanas. Órgãos estatais devem apoiar e priorizar pesquisas que garantam técnicas capazes de manter a fauna indesejada distante de residências ou outros estabelecimentos, e aquelas que trabalham com o uso de refúgios artificiais. Paralelamente a essa idéia, e para suporte da mesma, unidades de conservação, reservas e parques devem ter manutenção garantida, além de haver a regulamentação no controle de morcegos urbanos e rurais (ESBÉRARD, 1999; PEDRO, 2003).
4.2 Vale do Sol (ponto 2)
4.2.1 Dispersão sazonal de Nyctinomops laticaudatus O número de indivíduos da espécie N. laticaudatus abrigados sob o telhado da igreja de Vale do Sol flutuou ao longo do ano (fig. 35). Em 18 de março de 2003, a colônia de N. laticaudatus continuava dando seqüência ao período de deslocamento sazonal, quando foram encontrados 27 indivíduos ainda residentes. Em abril, maio, junho e julho de 2003 pouco mais de uma dezena de indivíduos permaneceram no abrigo. No dia 03 de agosto de 2003, esse número voltou a aumentar, tendo sido contados 24 morcegos, um indicativo que o período de retorno do restante da colônia estava próximo. A partir de então, acréscimos sucessivos foram registrados, em 7 de setembro e 12 de outubro de 2003, contaram-se 270 e 1.200 morcegos, respectivamente. O auge (2.329 morcegos) foi alcançado em vistoria realizada no dia 22 de novembro de 2003. Nova contagem foi executada em 14 de dezembro de 2003, quando 2.181 indivíduos estavam presentes. Essa redução na quantidade de quirópteros abrigados teve seqüência; em 17 de janeiro e 21 de fevereiro de 2004, registraram-se 1.831 e 620 quirópteros presentes, sucessivamente. Com relação ao intervalo de dispersão sazonal verificado no ponto 2, a colônia de N. laticaudatus esteve em número muito reduzido de 18 de março a 03 de agosto de 2003. O período de dispersão verificado para N. laticaudatus no ponto 2, é idêntico ao observado para
56 N. laticaudatus, por Flores-Martýnez et al (2002), e para T. brasiliensis, por Fabián & Marques (1996) e Pire et al (1999). Se se considerasse o pico de atividades da colônia, nem mesmo 1% dos indivíduos permaneceu abrigado durante o período de dispersão dos demais. No México, FloresMartýnez et al (2002) encontraram cerca de 3% da colônia de N. laticaudatus ainda residente. Apesar de observar-se flutuações com relação ao número populacional de N. laticaudatus abrigados no ponto 2, Flores-Martýnez et al (2002) afirmam que em alguns casos isso não ocorre, ou seja, a espécie é capaz de conservar um número estável de indivíduos, podendo residir no abrigo por todo ano. Em 7 de setembro de 2003 os indivíduos já retornavam do deslocamento. O período de retorno de N. laticaudatus ao ponto 2, é semelhante ao que foi verificado para T. brasiliensis, por Fabián & Marques (1996) e Pire et al (1999). Após o retorno da colônia ao abrigo, o número de N. laticaudatus voltou a aumentar até 22 de novembro de 2003 (podendo haver se prolongado à primeira semana de dezembro), quando alcançou o número máximo de adultos. Da mesma forma, Fabián & Marques (1996), averiguou que T. brasiliensis incrementa seu número populacional até novembro ou dezembro, também atingindo o número máximo de adultos. Em Vale do Sol, fêmeas grávidas de N. laticaudatus foram encontradas em 13 de dezembro de 13 de dezembro de 2002 e de 22 de novembro a 27 de dezembro de 2003, diferindo, em muito, à cerca dos achados de Jones et al, segundo Nowak (1997), e diversos outros autores, citados por Flores-Martýnez et al (2002). No México, os pesquisadores verificaram a presença de fêmeas da espécie N. laticaudatus grávidas e lactantes de abril a agosto. Entretanto, na Bolívia, Anderson (1997), apud Flores-Martýnez et al (2002), coletou uma fêmea de N. laticaudatus que carregava um embrião no mês de setembro.
57
NÚMERO DE Nyctinomops laticaudatus ABRIGADOS NO TELHADO DA IGREJA DE VALE DO SOL (PONTO 2) 2.329
qtde. de quirópteros
2500
1.831
2000 1500
1.200
1000 500
2.181
620 270 27
15
15
12
15
24
0 mar/03 abr/03 mai/03 jun/03 jul/03 ago/03 set/03 out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mês/ano
Fig. 35. Número de indivíduos da espécie Nyctinomops laticaudatus presentes no abrigo no período de março de 2003 a fevereiro de 2004. Fonte: dados da autora, 2004.
58
No ponto 2, os nascimentos registrados ocorreram no início de dezembro de 2003 e aos primeiros dias de janeiro de 2004. No dia 14 de dezembro de 2003, foi encontrado um filhote de até uma semana de idade. Assim como foi verificado por Fabián & Marques (1996) em T. brasiliensis, o filhote nasce com a pele rosada e sem pêlos (fig 36). Em 27 de dezembro de 2003 e 17 de janeiro de 2004, observaram-se filhotes com duas semanas de vida (fig. 37). Esses fatos indicam que se os partos de N. laticaudatus, se sincronizados, ocorrem pelo menos 2 vezes. Flores-Martýnez et al (2002) verificou filhotes de N. laticaudatus em novembro.
Fig. 36. Filhote de Nyctinomops laticaudatus de até 7 dias idade, junto à mãe e outros adultos. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 37. Vista dorsal de um filhote de Nyctinomops laticaudatus de 8 a 15 dias de idade. Fonte: registro fotográfico da autora, 2004.
Como os períodos de dispersão sazonal, retorno ao abrigo e dos nascimentos de N. laticaudatus são semelhantes aos intervalos de tempo verificados por Fabián & Marques (1996) para T. brasiliensis, é possível que os fatores que regem o ciclo reprodutivo da colônia de N. laticaudatus sejam os mesmos que àqueles propostos pelas autoras (vide p. 34). A temperatura mínima registrada dentro do abrigo foi de 28,5 oC, em 3 de agosto de 2003, e a máxima de 39 oC, em 22 de novembro de 2003. Na ocasião em que a temperatura mínima foi registrada poucos indivíduos permaneciam residentes. Quando a temperatura máxima foi obtida, as atividades da colônia de N. laticaudatus encontravam-se no auge. A diferença entre as temperaturas interna e externa do abrigo variou de 1,7 a 5,7 oC. Durante o verão, houve variação de até 10 ºC entre temperatura interna e externa, e interna (de um setor a outro), devido à incidência direta da insolação sobre o telhado de zinco. Nestes casos, a temperatura interna manteve-se superior a externa, sendo os setores de 5 a 9 os mais quentes. Dentro do abrigo, a umidade relativa do ar obteve mínima de 44%, registrada em 21 de
59 fevereiro de 2004, quando a maioria da colônia já havia partido para dispersão sazonal, e máxima de 92%, em 3 de agosto de 2003, momento em que se observaram poucos morcegos abrigados. A colônia mantinha-se numerosa em umidade relativa do ar variando de 58 a 70%. É importante considerar que dados de temperatura e umidade relativa do ar somente foram averiguados no intervalo que compreende os meses de agosto de 2003 a fevereiro de 2004. São particularmente interessantes, dois aspectos relacionados à colônia observada. Um deles trata-se da quantidade de indivíduos encontrada. A colônia de N. laticaudatus do ponto 2, mostrou-se a mais numerosa (2.329 morcegos) dentre todos os locais vistoriados. Nowak (1997), considera o gênero Nyctinomops menos gregário que Tadarida; visto que, Tadarida sp. não raro forma colônias de alguns milhares de indivíduos, ao passo que Nyctinomops sp. costuma reunir-se em grupos com cerca de 100 indivíduos. Bowles et al (1990), Jones (1966), Malaga & Villa-R. (1956), Murie (1935), Ryan (1960), Silva-Taboada & Koopman (1964), todos citados por Flores-Martýnez et al (2002) sustentam que as colônias de N. laticaudatus podem acolher de 150 a 1.000 indivíduos. Porém, Villa-R. (1960), também citado por FloresMartýnez et al (2002), afirma ter observado milhares de N. laticaudatus em uma caverna. O outro aspecto, diz respeito à localização na qual foi encontrada tamanha quantidade de indivíduos. Segundo a Fundação Riozoo & Stutz (2003) N. laticaudatus é espécie que vive no perímetro urbano, comum no cerrado, no entanto, o ponto 2 situa-se na zona rural do município. Do mesmo modo, Brent & Uieda (1996) expõem que raramente N. laticaudatus, pode ser encontrado em áreas rurais e naturais. Segundo Flores-Martýnez et al (2002), é difícil a compreensão deste tipo de relação, pois a dinâmica das populações de N. laticaudatus é complexa.
4.2.2 Padrões de distribuição de Nyctinomops laticaudatus no interior do telhado N. laticaudatus agrupavam-se de ventre voltado para o substrato (horizontal ou verticalmente), preferencialmente, ocupando paredes, e em segundo plano, o madeiramento. Em abril, maio, junho e julho de 2003, período no qual a presença de morcegos tornou-se mais rara, apenas os setores 1F I, 1F II, 2D e 2E mantinham-se ocupados, com distribuição semelhante do número de indivíduos (fig. 38). Em 18 março de 2003 (fase final do intervalo de dispersão), e nos dias 3 de agosto, 7 de setembro e 12 de outubro de 2003 (fase de retorno da colônia ao abrigo), além da ocupação das paredes dos setores 1F I, 1F II, 2D e 2E, também as paredes ao fundo do telhado, nos setores 9A, 9B, 9C, 9D e 9E (paredes do setor 8)
60 passaram a ser ocupadas. Intensificadas as atividades da colônia no telhado, como verificado em 22 de novembro e 14 de dezembro de 2003, e em 17 de janeiro e 21 fevereiro de 2004, as porções laterais situadas do lado norte do telhado foram ocupadas. No mês de novembro e dezembro de 2003 (auge), até mesmo as tesouras de madeira pertencentes aos setores 1 FII e 4A, 5A, 6A, 7A e 8A foram ocupadas, e não apenas as paredes. Foram os últimos locais a serem ocupados, e ao mesmo tempo, os primeiros a serem abandonados, em janeiro e fevereiro de 2004.
Fig. 38. Croqui do telhado da igreja do município de Vale do Sol (ponto 2). Em verde, a distribuição adotada pela colônia de N. laticaudatus. Linhas mais espessas correspondem a maior ocupação pelos quirópteros, linhas duplas, ocupação intermediária, e linhas delgadas, ocupação eventual. Fonte: croqui da autora, 2004. Fonte: croqui da autora, 2004.
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Nos setores mais ocupados, 1 (F I e II) e 2 (D e E), e 9 (A, B, C, D e E), um máximo de até 1.180 indivíduos foram observados; nos setores de ocupação intermediária, 6A, 7A e 8A, até 270 indivíduos foram contados por setor; e nos setores menos ocupados, 3A, 4A e 5A, houve contagem máxima de 120 indivíduos por setor. Nos setores 2B, 2C e 3F a 9F, quando existiam morcegos, o número se fazia inferior a uma dezena de indivíduos. De 22 de novembro de 2003 a 17 de janeiro de 2004, foram registradas seis visualizações de indivíduos em situação de isolamento. De forma não usual, estes morcegos permaneciam deitados no forro do abrigo, na maioria das vezes sobre os excrementos da colônia, ocupando os setores 6D, 8C ou 8D, distantes à cerca de 3 a 12 m dos grupamentos de N. laticaudatus nas paredes. As razões pelas quais os indivíduos adotavam tal comportamento não foram investigadas. Verificou-se ainda, que N. laticaudatus não ocupava a cumeeira ou qualquer setor da porção central do abrigo, apenas as extremidades do telhado. Em 22 de novembro de 2003, todas as fêmeas coletadas no setor 1F encontravam-se grávidas (n = 7). Preferencialmente, as fêmeas grávidas reuniram-se nesse setor, todavia, fêmeas grávidas foram observadas nos setores 2C e 6A. De todas as fêmeas grávidas que tiveram tonsura do pêlo, nenhuma foi recapturada. Os filhotes de N. laticaudatus foram encontrados nas porções mais elevadas dos setores 1F (filhote de 2 semanas) e 2D (filhote de 1 semana), sempre em meio aos adultos. Fabián & Marques (1996), asseguram que as de fêmeas de T. brasiliensis, parem os filhotes em qualquer ponto do telhado, e depois, os deixam nas “creches”, localizadas nos pontos mais aquecidos e altos dos telhados. Nos setores A, fêmeas e machos foram coletados em proporções semelhantes durante o ano todo. Embora as fêmeas tenham constituído a maioria dos morcegos coletados nos setores 1 e 2, e os machos, maioria no setor 9, o sexo oposto pôde também ser encontrado nos setores, porém, em menor quantidade, o que denota um tipo de segregação parcial. Este padrão de segregação entre os sexos foi rompido à medida que a colônia afastava-se do pico de atividades. Essas duas últimas observações, também foram feitas por Fabián & Marques (1996), no entanto, com relação às colônias de T. brasiliensis. Um modelo semelhante de organização das colônias de N. laticaudatus foi assinalado por Nowak (1997), no qual fêmeas adultas e seus filhotes agrupavam-se separadas dos machos, e por Fabián & Marques (1996), onde, ao final da gestação, as fêmeas de T. brasiliensis ocupavam locais separados dos machos para dar luz e criar os filhotes.
62 Em dia de chuva muito forte, em 14 de dezembro de 2003, os morcegos reuniam-se em aglomerados e passaram a ocupar os degraus de tijolos, existentes somente nos setores 1 e 9 (fig. 39). Quando a temperatura aproximava-se dos 37 oC, os morcegos evitavam a formação dos aglomerados. Adotavam um posicionamento, no qual uns mantinham-se afastados dos outros, ocupando preferencialmente as paredes de tijolos, em suas partes mais baixas ou não tão próximas às telhas de zinco, cuja temperatura elevada podia ocasionar queimaduras (figs. 40 e 41). Essas observações ajustam-se às de Cruz-Neto (2003), que especifica que os padrões de distribuição dos morcegos relacionam-se à maneira pela qual lidam com fatores abióticos, notadamente a temperatura do meio, e de Fabián & Marques (1996), que verificaram o padrão “agrupamento” e “afastamento” em T. brasiliensis. Em 17 de janeiro de 2004, quando a sensação térmica no interior do abrigo ultrapassou os 43 oC, grupos contendo de 6 a 50 indivíduos foram observados dentro de reentrâncias nas paredes de tijolos dentro do abrigo (15 x 15 x 15cm).
Fig. 39. Agrupamento de Nyctinomops laticaudatus ocupando degraus de tijolos em dia de chuva intensa. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 40. Nyctinomops laticaudatus formando aglomerados nas paredes do abrigo em dias de temperatura mais amena. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 41. Nyctinomops laticaudatus distribuídos em padrão de afastamento em dias de temperaturas mais altas. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
63 4.2.3 Biometria e morfologia externa de Nyctinomops laticaudatus As observações relativas à investigação adequada dos padrões biométricos, verificados em T. brasiliensis e H. velatus, são igualmente aplicáveis para N. laticaudatus. Procedeu-se de forma semelhante ao trabalho realizado no ponto1, no qual, o padrão de segregação por idades e as médias biométricas das espécies não foram estabelecidas (apenas os intervalos). Tendo em vista o tamanho da colônia de N. laticaudatus, poucos espécimes puderam ser avaliados, principalmente, em decorrência da ausência de muitos deles durante boa parte do ano e freqüência insuficiente das vistorias para tal. Destacam-se algumas das mensurações extraídas de N. laticaudatus (n = 54): CT = 80,80-111,30 mm; CC = 49,80-70 mm; CA = 3143,20 mm; AN = 35,30-49,65 mm; ME III = 25,60-47 mm; f I = 9,85-20,65 mm; f II = 7,2018 mm; f III = 6-7,70 mm; ME IV = 24,05-43,75 mm; f I = 7,95-18,20 mm; f II = 1,55-3,5 mm; ME V = 20,10-28 mm,15 mm; f I = 12,80-17,85 mm; f II = 3,15-9,90 mm; TB = 13,5017,35 mm. Mensurações cranianas (n = 35): CCT = 18-19,95 mm; LZ = 9,20-11,35 mm. Fórmula dentária (n = 35): I = 1/2; C = 1/1; P = 2/2; M = 3/3. Mamas aparentes foram observadas em N. laticaudatus em 13 de dezembro de 2002, 26 de janeiro, 18 de março, 22 de novembro e 27 de dezembro de 2003, 17 de janeiro e 21 de fevereiro de 2004. De 29 fêmeas coletadas, 20 apresentavam mamas aparentes. Entre 10 fêmeas grávidas capturadas, apenas uma exibia mamas não-aparentes. Nas fêmeas de N. laticaudatus coletadas, não houve registro de plug vaginal. Nenhum dos machos coletados apresentava testículos inguinais. Observaram-se algumas alterações com relação à pelagem dos quirópteros abrigados sob o ponto 2, dentre as quais, destacou-se a ocorrência de indivíduos que expressavam algumas das características típicas de albinismo. O albinismo é um raro evento entre populações de pequenos mamíferos silvestres, no entanto, existem registros de albinismo em espécies de peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos (CADEMARTORI & PACHECO, 1999; UIEDA, 2000). Em morcegos, o albinismo foi registrado em, no mínimo, 64 indivíduos de 38 espécies (UIEDA, 2000). Griffiths et al (1996) e Walter (1938), citados por Cademartori & Pacheco (1999), afirmam que um em cada mil indivíduos pode apresentar algum tipo de albinismo, sendo que este decorre da presença de uma série de alelos recessivos de ação epistática que impedem a produção de melanina pelas células epiteliais e determinam a intensidade de pigmentação dos pêlos, olhos e pele. De 12 de outubro de 2003 a 17 de janeiro de 2004 foi possível a observação de dois morcegos parcialmente albinos, encontrados
64 sempre dentro dos limites do setor 1. Indivíduos com albinismo completo possuem tegumento sem pigmentação (claro ou branco) e olhos vermelhos, enquanto que espécimes com albinismo parcial apresentam manchas na pele ou tufos de pêlos brancos, em função da distribuição irregular de melanina (UIEDA, 2000). De forma distinta com relação aos demais, os morcegos parcialmente albinos apresentavam face, orelhas, patágio, uropatágio e pés escuros, pelagem clara na região dorsal e ventral, e pele rosada (figs. 42 e 43). Os olhos desses indivíduos eram semelhantes ao restante da colônia, não sendo detectada a presença de olhos vermelhos.
Fig. 42. O primeiro caso de albinismo parcial detectado em Nyctinomops laticaudatus no ponto 2 foi o mais acentuado. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 43. Nyctinomops laticaudatus, em vista dorsal e facial (detalhe), mostrando um caso de albinismo parcial mais discreto. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Ambos os morcegos eram machos. De acordo com os casos de albinismo já conhecidos, o número de machos albinos (52,6%) e fêmeas albinas (47,4%) em fêmeas alcançam proporções semelhantes (n = 38). Parsons & Bondrup-Nielsen (1995), também citados por Cademartori & Pacheco (1999), destacam que em condições normais, mamíferos albinos são selecionados negativamente em função de sua suscetibilidade. Uieda (2000), sugere que o refúgio de morcegos em abrigos favorece a sobrevivência dos indivíduos albinos, por oferecer proteção contra a luz solar e predadores. Ainda outras observações foram registradas com relação à morfologia dos quirópteros no ponto 2. Em uma fêmea adulta, que assim como os morcegos parcialmente albinos também foi capturada no setor 1, encontraram-se manchas despigmentadas no dactilopatágio e
65 ausência de pêlos em algumas regiões (fig. 44). Dois outros indivíduos, apresentavam uma das metades do corpo coberta por pelagem normal, e a outra, por pelagem branca (setor 1FII) ou grafite (setor 8E) (figs. 45 e 46). Foram encontrados ainda, 4 machos da espécie com tufos de pêlos brancos na região ventral ou dorsal do corpo (setores 1F, 2E e 8B), e 4 fêmeas com pelagem grisalha no dorso (1F, 7A, 8D e 8E) (fig. 47). Como já referido anteriormente, Pacheco (1994) observou a presença de tufos de pêlos brancos em T. brasiliensis, geralmente, em indivíduos mais velhos. No entanto, como lembra Uieda (2000), manchas na pele ou tufos de pêlos brancos podem vir a caracterizar morcegos portadores de albinismo parcial.
Fig. 44. Manchas despigmentadas no dactilopatágio e ausência de pêlos em algumas regiões do corpo (detalhe) encontradas em uma fêmea de Nyctinomops laticaudatus. Fonte: registro fotográfico da autora, 2004.
Fig. 45. Nyctinomops laticaudatus apresentando uma das metades do corpo coberta por pelagem normal, e outra, pelagem branca. Fonte: registro fotográfico da autora, 2004.
Fig. 46. Nyctinomops laticaudatus apresentando uma das metades do corpo coberta por pelagem normal, e outra, pelagem grafite. Fonte: registro fotográfico da autora, 2004.
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Fig. 47. Tufos de pêlos brancos na região dorsal de Nyctinomops laticaudatus. Fonte: registro fotográfico da autora, 2004.
4.2.4 Etologia de Nyctinomops laticaudatus N. laticaudatus comportou-se de forma semelhante ao que se propõe para T. brasiliensis. Os indivíduos permaneceram a maior parte do tempo repousando, preferencialmente em aglomerados, interagindo com os morcegos mais próximos (se sobrepondo ou “cutucando”), cuidando de limpeza individual, livrando-se de ácaros, vocalizando ou bocejando. Do mesmo modo, Ryan (1960) e Silva-Taboada (1979), citados por Flores-Martýnez et al (2002), observaram a preferência de N. laticaudatus por grupos densamente reunidos para o repouso. Inclusive, com relação à integração social dos dois indivíduos N. laticaudatus parcialmente albinos com o restante da colônia, nenhuma anormalidade ou qualquer tipo de exclusão foi verificado, sendo que os mesmos foram sempre vistos acompanhados pelos demais. De acordo com Uieda (2000), um exemplar de Desmodus rotundus albino pôde ser encontrado junto de outros 11 normais. As observações com relação à não demonstração de muitas atividades durante o dia, limpeza individual e incômodo causado pela presença de ácaros em N. laticaudatus, também foram apontadas por Fabián & Marques (1996), no entanto, relativas à espécie T. brasiliensis. As autoras esclarecem ainda, que ao cuidarem do próprio pêlo e asas com a boca, estas atitudes não são estendidas aos outros membros do grupo, concordando com Herreid II (1963), o qual sugeriu que a proximidade entre os corpos vise a conservação do calor, e não a manutenção de relações mútuas de limpeza, uma vez que cada um realiza a própria.
67 Assim como observado em T. brasiliensis no ponto 1, vôos de N. laticaudatus no interior do abrigo foram pouco freqüentes. Os morcegos não se demonstravam amedrontados com a presença de humanos, a menos que se ameaçasse nova coleta. Creches, como aquelas formadas por T. brasiliensis, não foram encontradas. Somente foram observados filhotes de N. laticaudatus permanecendo junto aos adultos, e ainda, o fato de que a mãe não se arrisca para recuperar o filhote em caso de perigo (fig. 48). Fabián & Marques, (1996), afirmam que os filhotes de T. brasiliensis que despencam das creches, não são recuperados, nem amamentados.
Fig. 48. Nyctinomops laticaudatus não se arrisca para defender filhote, deixando-o para trás a fim de escapar à coleta. Fonte: registro fotográfico da autora, 2004.
Vistorias à tardinha não foram realizadas, não sendo possível estabelecer os horários de entrada e saída da espécie no abrigo. No entanto, verificou-se que indivíduos soltos do lado de fora do abrigo, retornaram ao telhado sempre pelo setor 1F II.
4.2.5 Relações interespecíficas Além de N. laticaudatus, detectou-se a presença de outra espécie de molossídeo habitando o telhado da igreja de Vale do Sol. Trata-se da mesma espécie coletada por moradores da cidade de Vera Cruz, Molossus rufus (fig. 49).
Fig. 49. Molossus rufus habitando mesmo telhado que Nyctinomops laticaudatus. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
68 Um único exemplar da espécie foi visualizado, um macho, tendo sido encontrado no dia 27 de dezembro de 2003, com o ventre voltado para as paredes de tijolos do setor 2D (mesmo que abrigava fêmeas grávidas e filhotes de N. laticaudatus). Pacheco (2003) recorda que M. rufus chega a formar colônias de centenas de indivíduos, porém, este não foi o caso observado no ponto 2. No momento da coleta, o indivíduo estava em meio a outros morcegos da espécie N. laticaudatus, onde todos assumiam posição de afastamento em dia quente de verão. Nenhuma outra interação entre N. laticaudatus e M. rufus foi observada. Alvarez (1963), Dalquest & Roth (1970), Reddell & Mitchell (1971), Silva-Taboada (1979) e Villa-R (1960), apud Flores-Martýnez et al (2002), destacam que N. laticaudadtus foi encontrado compartilhando telhados com Artibeus jamaicensis, Artibeus lituratus, Desmodus rotundus, Eumops glaucinus,
Mormopterus
minutus, Myotis
nigricans,
Natalus
stramineus,
Nyctinomops aurispinosus, Nyctinomops femorosaccus, Pteronotus parnelli, e Tadarida brasiliensis, porém, nenhuma referência a M. rufus foi mencionada. O fato de haver encontrado o espécime no telhado da igreja de Vale do Sol, corrobora com as concepções de Ferrari et al (1999), os quais afirmam que M. rufus é facilmente encontrado em telhados com forro de madeira e em ambientes rurais. As seguintes mensurações foram extraídas do indivíduo: CT = 119,70 mm; CC = 77,70 mm; CA = 42 mm; AN = 50,50 m; ME III = 46 mm; f I = 23,55 mm; f II = 20,50 mm; f III = 4,65 mm; TB = 20 mm. Demais mensurações não foram possíveis, pois o mesmo mostrava-se muito agressivo. Observou-se ainda, a presença de indivíduos do gênero Pyrrhura, conhecidos popularmente como “tiribas”, compartilhando o telhado com N. laticaudatus. No dia 2 de novembro de 2003 a primeira ave foi observada, até então, os bandos haviam sido vistos apenas sobrevoando a região (figs. 50 e 51). No mesmo dia, foram encontrados 6 ovos de Pyrrhura sp. no setor 6F (depositados em contato direto com a madeira do forro), e 7 ovos no setor 8 C e D (sobre os excrementos da colônia de N. laticaudatus) (fig. 52). Nesses setores, em 22 de novembro de 2003, foram vistos filhotes de menos de 10 cm, apresentando pele rósea. Neste estágio, 3 filhotes foram vistos mortos nos setores 6 e 8. Em 14 de dezembro de 2003, existiam filhotes de 2 estágios, os quais eram alimentados por adultos (figs. 53 e 54). Uma vez que os jovens alcançaram os estágios observados nas figs. 53 e 54, filhotes mortos não foram mais observados. Em 27 de dezembro de 2003, verificou-se grande quantidade de ovos de Pyrrhura sp. quebrados, sem no entanto, qualquer filhote ser visualizado. Apesar disso, quando alguns N. laticaudatus foram soltos do lado de fora da igreja, após efetuarem-se as mensurações de praxe, houve ataque de um psitacídeo adulto a um morcego, à cerca de 6 m do solo. O ataque a N. laticaudatus consistiu apenas em um tipo um de silvo seguido de uma
69 “bicada”, sendo que o morcego seguiu seu curso normal após o evento. A hostilidade de Pyrrhura sp. já havia sido verificada em outra ocasião, na qual um indivíduos adulto da espécie emitiu o mesmo tipo de vocalização e “arrancou” um morcego que repousava em meio à colônia. Ainda que comportamentos como os relatados tenham sido observados, muitas vezes, ambas as espécies pareciam não se perturbar na presença da outra dentro do abrigo. A última visualização de Pyrrhura sp. dentro do abrigo ocorreu em 17 de janeiro de 2004, após esta data, os indivíduos foram vistos somente ao sobrevoarem os arredores da igreja. As aves permaneciam no abrigo somente durante o período de reprodução, ocupando os setores 6F e 8A-F, e utilizavam as aberturas situadas nos cantos dos setores 8A e 8F como acesso de entrada e saída no telhado. No setor 4A, foram encontrados 2 ovos de outra ave, os quais mostravam-se duas vezes maior e de forma mais arredondada. Não foi possível esclarecer a origem.
Fig. 50. “Tiribas”, aves do gênero Pyrrhura (enquadrado em vermelho), compartilhavam mesmo telhado que Nyctinomops laticaudatus (acima). Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 52. Ovos de Pyrrhura sp. (aprox. 3 cm), encontrados no setor 6F em 2 de novembro de 2003. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 51. Primeira visualização de Pyrrhura sp. dentro do abrigo. Anteriormente, os bandos haviam sido vistos apenas sobrevoando os arredores da igreja. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
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Fig. 53. Filhote de Pyrrhura sp., encontrado no setor 8D em 14 de dezembro de 2003. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 54. Filhote de Pyrrhura sp., encontrado no setor 8C em 14 de dezembro de 2003, em estágio um pouco mais avançado que o anterior. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Durante todo ano, praticamente, verificou-se grande quantidade de coleópteros pertencentes à família Carabidae sobre os excrementos da colônia de N. laticaudatus (fig. 55). A relação entre N. laticaudatus e Carabidae não foram investigadas detalhadamente. Welbourn (1999), que pesquisou invertebrados em uma caverna que servia de abrigo para uma colônia de 1.000 Myotis velifer, salienta que muitos destes invertebrados dependem do acúmulo de excrementos fornecido pelos morcegos como fonte primária de nutrição, havendo no mínimo 14 espécies exclusivas deste ambiente. Por isso, movimentos migratórios das colônias de morcegos influenciam significativamente o número de invertebrados vivendo nos abrigos. Segundo o autor, quando os morcegos migram, os invertebrados abandonam o local também. Sobre o guano, Welbourn (1999) encontrou, ácaros (principalmente), aranhas, isópodes, grilos, nematóides, bactérias e fungos, sendo os artrópodes o grupo mais representativo. Em seus estudos com colônias de N. laticaudatus, Silva-Taboada (1979), apud Flores-Martýnez et al (2002), também referem-se aos ácaros e nematóides.
Fig. 55. Coleóptero, pertencente à família Carabidae. Indivíduos desta família foram encontrados vivendo por quase todo o ano sobre os excrementos da colônia de Nyctinomops laticaudatus. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
71 Quanto aos possíveis predadores de N. laticaudatus, verificou-se a presença de G. guira e de T. alba a poucos metros do ponto 2 (figs. 28 e 29). Com relação à G. guira nada pôde ser constado. Contudo, T. alba foi confirmado como predador de N. laticaudatus, através da análise de pelotas encontradas sob o telhado. As pelotas foram coletadas em 18 de março, 20 de abril e 12 de outubro de 2003. Em 27 de dezembro de 2003, penas de T. alba foram coletadas junto ao setor 8, confirmando as suspeitas. Conforme Flores-Martýnez et al (2002), Alvarez (1963), Arroyo-Cabrales & Alvarez (1990), Dalquest & Roth (1970), e Massoia et al (1989) observaram N. laticaudatus sendo capturado por T. alba; Motta Junior & Taddei (1992) encontraram restos de ossos de N. laticaudatus em pelotas de “mocho-diabo”(Asio stygius); em Cuba, Silva-Taboada (1979) asseguram que serpentes, do gênero Epicrates, são predadoras de N. laticaudatus em hábitats naturais.
4.2.6 A colônia de morcegos e repercussão junto à comunidade A quantidade de quirópteros encontrados no ponto 2, esteve próxima de alcançar os 3.000 indivíduos durante o período máximo de atividades das colônias. Os prejuízos causados pela presença de morcegos para esta comunidade, consistem no desconforto provocado pelo odor exalado dos excrementos dos quirópteros, acúmulo de fezes cobrindo chão e móveis, além de manchas no forro e paredes (internas e externas) (figs. 56, 57 e 58).
Fig. 56. Acúmulo de fezes produzido pela colônia de Nyctinimops laticaudatus no solo da igreja de Vale do Sol. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 57. A comunidade protege-se do acúmulo de fezes produzido pela colônia de Nyctinimops laticaudatus cobrindo móveis com lonas e sacolas plásticas. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
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Fig. 58 (a, b). Forro e paredes da igreja de Vale do Sol danificados pela urina e fezes excretados pela da colônia de Nyctinimops laticaudatus. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Apesar do forte cheiro produzido pelos produtos do estabelecimento da colônia de N. laticaudatus, a comunidade não estava habituada ao trabalho de remoção das fezes do telhado. É interessante observar que, embora, o problema causado pelo acúmulo de fezes tenha alcançado proporções bem maiores no ponto 2, a comunidade nem mesmo fez menção à utilização de produtos químicos para exterminar a colônia e nem ao receio de transmissão de doenças. A justificativa mais plausível reside no fato de que os integrantes da diretoria e freqüentadores da igreja de Vale do Sol, por residirem na zona rural e pelo trato diário com animais, aceitam as colônias de morcegos com maior facilidade que a comunidade de Vera Cruz (zona urbana). Assim como verificado no ponto1, os maiores incomodados ainda são os integrantes das diretorias e encarregados pela limpeza das igrejas, pois se sentem constrangidos com a impressão que o cheiro desagradável poderia causar nos seus freqüentadores. De imediato, a comunidade mostrou-se disposta a desenvolver um trabalho de exclusão dos espécimes assistido, inclusive com uso de abrigos artificiais, ao invés do extermínio. Em Uberlândia (MG), por exemplo, no ano de 2003, pesquisadores, estudantes e a população empenharam-se no desenvolvimento de um projeto, um viveiro com capacidade para abrigar uma colônia de cinco mil N. laticaudatus, com a finalidade de demonstrar à população o papel fundamental exercido pela espécie (FUNDAÇÃO RIOZOO & STUTZ, 2003). O mesmo programa poderia ser aplicado à comunidade estudada, uma vez que a mesma encontra-se disposta a colaborar. Quanto aos as vias de acesso para entrada e saída de quirópteros de morcegos do abrigo, o telhado de zinco não apresentou grande número de aberturas, o oposto do que foi verificado no telhado de cerâmica do ponto1. No entanto, os espaçamentos existentes no encaixe entre telhas e paredes, e entre tesouras de madeira e paredes, ofereceram uma série de portas de entrada e saída aos indivíduos (figs. 59, 60 e 61).
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Fig. 59. Espaçamentos existentes no encaixe entre telhas de zinco e paredes forneceram aberturas de livre acesso aos indivíduos. Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 60. Espaçamentos existentes no encaixe das tesouras de madeira e paredes do abrigo, ofereceram aberturas de livre acesso aos indivíduos (visão externa). Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Fig. 61. Espaçamentos existentes no encaixe das tesouras de madeira e paredes do abrigo, ofereceram aberturas de livre acesso aos indivíduos (visão interna). Fonte: registro fotográfico da autora, 2003.
Também nesta comunidade, pôde ser observado um certo nível de desinformação com relação aos quirópteros, e necessidade de esclarecimentos. As orientações repassadas à comunidade de Vale do Sol constam no folder elaborado (anexo 1). Grande parte das observações feitas com relação às colônias versus comunidade do ponto 1 são, igualmente, válidas para estes molossídeos.
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5. CONCLUSÕES
5.1. Vera Cruz (ponto 1) Verificou-se o compartilhamento de telhado entre Tadarida brasiliensis e Histiotus velatus, em 22 de março de 2003 (período anterior à dispersão sazonal), e entre a última semana de outubro e final de dezembro de 2003 (após retorno da dispersão sazonal). H. velatus residiu no ponto 1 por um período mais prolongado que T. brasiliensis. T. brasiliensis se estabeleceu na extremidade oposta àquela ocupada por H. velatus (fig. 25). Vistorias realizadas em duas áreas da zona rural da cidade, ratificaram a posição de compartilhamento de abrigo entre as espécies, sendo essas três localidades distantes entre si em pelo menos 5 km. O número de indivíduos pertencentes à espécie T. brasiliensis presentes no ponto 1, variou durante o período de pesquisa. Em 26 de janeiro de 2003, a colônia contava com cerca de 100 indivíduos, o número máximo de morcegos registrados. Em 15 de março de 2003, a colônia de T. brasiliensis já havia efetuado a dispersão sazonal. Em 20 de setembro de 2003, T. brasiliensis ainda não havia retornado ao abrigo, fazendo-se presente em parcela reduzida em 28 de outubro de 2003, o que caracterizou o retorno tardio. No dia 8 de dezembro de 2003 observou-se o segundo pico de atividades de T. brasiliensis, no qual foi constatada a redução a menos da metade do número de indivíduos integrantes da colônia comparando-se ao pico de atividades do ano anterior. Apesar da captura de fêmeas grávidas nesta época, filhotes da espécie não foram encontrados no telhado, apenas adultos machos e fêmeas não-segregados. Em 7 de janeiro de 2004, a colônia já havia realizado a dispersão sazonal antecipadamente, uma vez que, em 26 de janeiro do ano anterior encontrava-se no auge de suas atividades. Em razão de não serem observadas “sala maternidade”, “creches” ou qualquer filhote de T.
75 brasiliensis, e ainda, considerando-se o comportamento da colônia, é bem provável que a mesma tenha utilizado o abrigo apenas temporariamente. Ao invés de supor que o ciclo reprodutivo e deslocamento sazonal da colônia tenham sido ditados por variáveis como temperatura, fotoperíodo, pluviosidade e disponibilidade de alimentos, optou-se por afirmar que possíveis predadores, venenos ou a utilização do telhado apenas como abrigo transitório tenham sido os responsáveis pelos padrões de comportamento verificados. O comportamento de T. brasiliensis consistiu, basicamente, na interação com os indivíduos mais próximos, vocalizações e bocejos. Vôos no interior do abrigo ocorreram apenas para escapar à coleta, pois poucos morcegos mostraram-se agitados na presença de humanos. Morcegos soltos a alguns metros da igreja, retornaram sempre ao telhado. O número de indivíduos pertencentes à espécie H. velatus presentes no ponto 1, variou durante o período de pesquisa. Ainda que em número reduzido, formando colônia bem menor que T. brasiliensis, H. velatus manteve-se presente a maior parte do ano. De abril à julho de 2003, nenhum morcego foi encontrado no ponto 1. No início de agosto de 2003, a colônia começou a se restabelecer, até ocorrerem os nascimentos. Em 8 de dezembro de 2003, um filhote de H. velatus com idade mínima de 25 a 30 dias foi observado ao se deslocar entre as cumeeiras laterais do telhado, sempre acompanhado por adultos. Em 7 de janeiro de 2004, a colônia possuía 15 H. velatus, alcançando o número máximo de indivíduos, e em 17 de fevereiro de 2004, 8 morcegos ainda permaneciam residentes. Quanto ao comportamento de H. velatus, os indivíduos permaneciam sem interagirem muito entre si, organizados em subgrupos de 3. Ao contrário do que foi observado em T. brasiliensis, H. velatus assustava-se na presença de humanos, além de voar com maior freqüência que T. brasiliensis no interior do abrigo, principalmente no verão, independente da presença de humanos ou não. As vocalizações tornavam-se menos freqüentes em dias frios. Na pelagem de T. brasiliensis e H. velatus, ácaros estivem sempre presentes. Tufos de pêlos brancos não foram encontrados nos quirópteros abrigados sob este telhado, somente em T. brasiliensis do município de Santa Cruz do Sul. Anexo ao setor ocupado por H. velatus, foi encontrado um crânio de Molossus molossus, ou seja, é possível que a espécie tenha habitado o telhado da igreja. Outro molossídeo, também encontrado em Vera Cruz, foi Molossus rufus. Em 9 de março de 2003, moradores de um bairro a cerca de 500m do ponto 1, capturaram um macho solitário que explorava uma residência.
76 Para os quirópteros, funcionam como vias de acesso ao abrigo, uma porta principal de entrada (50cm), frestas de dilatação de janelas laterais (3 cm), e espaçamentos entre uma telha e outra por quase toda extensão do telhado de cerâmica. O acúmulo de fezes cobrindo o solo ou móveis foi considerado pouco significativo. Os prejuízos causados pela presença de morcegos para a comunidade resumem-se, basicamente, no desconforto sentido pelos freqüentadores da igreja, em razão do odor exalado pelos excrementos dos quirópteros. A diretoria da igreja não demonstrou resistência à sugestão de acolher os abrigos artificiais, em virtude de haverem fracassado todas tentativas anteriores de eliminação dos morcegos do telhado. A preocupação mais imediata da direção, secretaria e outros integrantes de convívio mais próximo à igreja, esteve relacionada à sujeira e cheiro desagradável produzido pela presença das colônias de morcegos, em seguida, ocorreram as inquietações comuns à maioria população: aversão e transmissão de doenças. Durante as vistorias realizadas na região, pôde ser observado um certo nível de desinformação da população com relação aos quirópteros.
5.2 Vale do Sol (ponto 2) O número de indivíduos da espécie N. laticaudatus, abrigados sob o telhado do ponto 2, flutuou ao longo do ano. Com relação ao intervalo de dispersão sazonal, a colônia de N. laticaudatus esteve em número muito reduzido de 18 de março a 03 de agosto de 2003. Após 7 de setembro de 2003, gradualmente, os indivíduos retornaram do deslocamento, até alcançar o número máximo de adultos (2.329 morcegos) em 22 de novembro de 2003 (podendo haver se prolongado à primeira semana de dezembro). Fêmeas de N. laticaudatus grávidas foram encontradas em 13 de dezembro de 2002 e de 22 de novembro a 27 de dezembro de 2003. Os nascimentos registrados ocorreram no início de dezembro de 2003 aos primeiros dias de janeiro de 2004. A partir da segunda semana de dezembro de 2003, houve redução gradual na quantidade de quirópteros abrigados. É possível que o ciclo reprodutivo da colônia de N. laticaudatus tenha sido ditado por variáveis como temperatura, fotoperíodo, pluviosidade e disponibilidade de alimentos. N. laticaudatus agrupavam-se, preferencialmente, ocupando paredes, e em segundo plano, o madeiramento. A formação de aglomerados por N. laticaudatus reduzia-se à temperaturas próximas dos 37 oC, momento no qual os procuravam se afastarem uns dos dos outros. Em geral, N. laticaudatus portava-se de forma muito semelhante à T. brasiliensis. Houve setores de maior ocupação: 1 e 2D-E e 9A-E (máx. 1.180 indivíduos); ocupação
77 intermediária: 6A, 7A e 8A (máx. 270 indivíduos); menor ocupação: 3A, 4A e 5A (max. 120), além da ocorrência de presença eventual em outros setores. A cumeeira e os setores da porção central do abrigo não foram ocupados (fig. 38). Fêmeas grávidas encontravam-se, preferencialmente, no setor 1F (também em 2C e 6A). Os filhotes foram encontrados nas porções mais elevadas dos setores 1F (filhote de 2 semanas) e 2D (filhote de 1 semana), sempre em meio aos adultos, não havendo observação da formação de “creches”. Fêmeas constituíram a maioria dos morcegos coletados nos setores 1 e 2, e os machos, maioria no setor 9, embora tenha sido registrado um padrão de segregação parcial, rompido à medida que a colônia afastava-se do pico de atividades. Alterações com relação à pelagem de alguns exemplares de N. laticaudatus expressavam características típicas de albinismo parcial (pelagem clara na região dorsal e ventral, manchas na pele, tufos de pêlos brancos). Com relação à integração social de indivíduos parcialmente albinos, nenhuma anormalidade ou qualquer tipo de exclusão foi verificado. Ainda, são particularmente interessantes dois aspectos relacionados à colônia observada. Um deles trata-se da quantidade de indivíduos pertencentes à espécie N. laticaudatus encontrados para o Estado (2.329 N. laticaudatus), o outro aspecto, diz respeito à localização na qual foram encontrados, em área rural. Molossus rufus (1 macho) foi encontrado sob o mesmo telhado que N. laticaudatus. Observou-se ainda, a presença de indivíduos do gênero Pyrrhura, “tiribas”, compartilhando o telhado com N. laticaudatus. As aves foram vistas dentro do telhado de 2 de novembro a 17 de janeiro de 2004, durante o período de reprodução da espécie. Em duas ocasiões, foram verificadas atitudes hostis de Pyrrhura sp. com relação à N. laticaudatus. Verificou-se grande quantidade de coleópteros pertencentes à família Carabidae vivendo sobre os excrementos da colônia de N. laticaudatus. Através da identificação de penas e conteúdo de pelotas, T. alba foi confirmado como predador de N. laticaudatus para o abrigo. N. laticaudatus utilizava como vias de livre acesso ao abrigo, os espaçamentos existentes no encaixe entre telhas e paredes, e entre tesouras de madeira e paredes. Os prejuízos causados pela presença de morcegos para esta comunidade, consistem no desconforto provocado pelo odor exalado dos excrementos dos quirópteros, acúmulo de fezes cobrindo chão e móveis, além de manchas no forro e paredes (internas e externas). É interessante observar que, embora, o problema causado pelo acúmulo de fezes tenha alcançado proporções bem maiores no ponto 2, a comunidade nem mesmo fez menção à
78 utilização de produtos químicos para exterminar a colônia e nem ao receio de transmissão de doenças. A justificativa mais plausível reside no fato de que os integrantes da diretoria e freqüentadores da igreja de Vale do Sol, por residirem na zona rural e pelo trato diário com animais, aceitam as colônias de morcegos com maior facilidade que a comunidade de Vera Cruz (zona urbana). Assim como verificado no ponto1, os maiores incomodados ainda são os integrantes das diretorias e encarregados pela limpeza das igrejas, pois se sentem constrangidos com a impressão que o cheiro desagradável poderia causar nos seus freqüentadores. De imediato, a comunidade mostrou-se disposta a desenvolver um trabalho de exclusão dos espécimes assistido, inclusive com uso de abrigos artificiais, ao invés do extermínio. Também nesta comunidade, pôde ser observado um certo nível de desinformação com relação aos quirópteros.
Verificou-se a necessidade de desenvolverem-se programas de educação ambiental, para esclarecimento da importância ecológica dos morcegos e relevância da transmissão de doenças. Não é recomendado o extermínio das colônias, pois a transmissão de doenças a seres humanos pode ser evitada; além disso, o aniquilamento das colônias resultaria no desequilíbrio dos ecossistemas, uma vez que se impede as diferentes espécies de morcegos de desempenharem os papéis ecológicos que lhe competem. Sugere-se a permanência das colônias de morcegos, quando possível, se não, que se analisem as possibilidades de implantação de abrigos artificiais, ou ainda, que se adotem métodos de exclusão menos agressivos que àqueles que tem sido empregados. Recomenda-se ainda, maior produção de pesquisas relacionadas à ecologia e etologia de molossídeos, no sentido de desenvolver planos de manejo mais efetivos no controle da fauna de quirópteros. A efetiva participação de órgãos públicos e privados em parceria com a comunidade possibilitará a coexistência mais harmoniosa entre seres humanos e morcegos.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destacam-se alguns itens, sendo sugerido-se as seguintes alterações e uso de novos recursos para trabalhos afins:
6.1 Número de vistorias O acompanhamento da colônia de N. laticaudatus, encontrada no município de Vale do Sol, só não foi mais efetivo por dois motivos. Um deles esteve relacionado às más condições das vias de acesso à igreja, que se encontram permanentemente em obras. O outro, se deu em função da distância do ponto de coleta de dados; deslocamentos mais freqüentes implicariam em gastos superiores ao valor da verba fornecida pelo estágio. Vistorias mais freqüentes permitiriam aumentar o volume de informações, que somadas àquelas já existentes poderiam conferir maior precisão aos resultados, além de possibilitar acesso à novas informações. Por isso, seria interessante que tal acompanhamento se estendesse por um espaço de tempo mais prolongado. Para as colônias estudadas no município de Vera Cruz, as visitas foram suficientemente freqüentes, sendo considerados outros os elementos-empecilho ao desenvolvimento da pesquisa.
6.2 Horários das vistorias Para uma análise comportamental mais detalhada, seria adequado o registro dos horários de saída e retorno de indivíduos do abrigo em um intervalo de 4 horas de observação (desde o entardecer até às 24h) à longo prazo. Ainda, o comportamento das espécies poderia ser
80 observado no período da madrugada. Este estudo não envolveu estes horários de observação, pois as diretorias das comunidades demonstraram um certo desconforto pelo adiantado da hora.
6.3 Aplicação de venenos em telhados No período anterior ao desenvolvimento deste estudo, houve a aplicação de veneno no interior do telhado por uma das comunidades. Para o bom andamento da pesquisa, o ideal é que a comunidade suspenda o uso de artifícios como estes. Nessa comunidade, foi necessário intervir junto à diretoria e aguardar o prazo de retorno da colônia para que o estudo tivesse início. O uso de venenos nos telhados contra morcegos silvestres é ilegal. A Lei Federal nº 9.605, artigo 32, de 12 de fevereiro de 1998, define como crime o ato de praticar abuso, maustratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel com animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. A pena pode ser detenção de 3 a 6 meses e além de multa; se ocorrer a morte do animal, a pena é aumentada de um sexto a um terço (ARAÚJO et al, 2003).
6.4 Dificuldades na captura de morcegos No telhado do município de Vera Cruz, o tipo de proteção oferecida pelas telhas e a cimentação irregular das mesmas dificultaram o acesso à observação colônia. Este tipo de dificuldade na captura de morcegos já havia sido observado por Rui (2003): “Há espécies que utilizam abrigos crípticos, de difícil localização e acesso e cujas chances de serem amostrados é muito pequena”, e também por Esbérard (2003) “Morcegos são difíceis de observar por serem noturnos, por escolherem refúgios estreitos e de difícil acesso e deslocarem-se através do vôo”. Como alternativa, além da coleta manual e com pinças, ao final do período de execução deste trabalho houveram tentativas, bem sucedidas, de captura de morcegos em rede. Como relatado na Mesa Redonda de Métodos em Ecologia do IV Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros (2003), é necessária a combinação de diferentes métodos de captura ou de
81 detecção da presença de morcegos. Porém, os espécimes capturados não correspondiam às espécie desejadas (T. brasiliensis e N. laticaudatus), e sim à família Vespertilionidae. De forma mais abrangente, Kunz & Kurta, apud Rui (2003), apontam que exercem influência direta na captura de exemplares para o estudo: o tipo de abrigo, o número de morcegos presentes, a dispersão dos morcegos dos abrigos, o estado fisiológico dos mesmos (ativo x torpor), a idade, a condição reprodutiva, o estado de alerta para estímulos visuais, auditivos e olfativos e as condições de acesso que o investigador possui.
6.5 Equipamentos para trabalhos de campo À exemplo do que foi comentado em Mesa Redonda de Morcegos e Saúde Humana e Animal, no IV Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros (2003), é imprescindível o uso de equipamentos de segurança, como máscaras com filtro adequado, para estudos de morcegos de cavernas, forros de casas e ocos de árvores, como medida de proteção contra doenças. É mister que se definam EPIs para profissionais que freqüentam ou atuam em ambiente que contam com fezes de aves e morcegos (BREDT, 2003). Essa mesma necessidade apontada por Bredt (2003) e durante o IV Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros (2003), foi vivenciada em trabalho de campo. Para uma análise comportamental mais adequada das colônias pesquisadas, seria recomendável o uso permanente de equipamentos como dinamômetro, termômetro, higrômetro, luxímetro e anemômetro; além do uso de novas tecnologias, tais como o Anabat, câmaras de visão noturna e de infravermelho. Esses recursos permitiriam a captura imagens importantes para a compreensão dos estudos etológicos do grupo. Possibilitariam também, uma observação mais apropriada das condições dos meios interno e externo dos abrigos, verificando assim possíveis influências do meio físico sobre o comportamento das colônias de quirópteros. Há dificuldades no que se refere ao uso equipamentos para pesquisa de morcegos no Brasil, a armadilha tipo harpa (harp trap) e o detector ultra-sônico foram utilizados uma única vez, no trabalho de Portfors et al (2000), a radiotelemetria e monitoramento acústico são ainda praticamente inexplorados, os microships possuem custo inviável para a maior parte dos pesquisadores (RUI, 2003; ZORTÉA, 2003; ÉSBERARD, 2003).
82 6.6 Desenvolvimento de atividades junto à comunidade Percebeu-se a necessidade de manejo das colônias dos quirópteros pesquisados, através do uso de abrigos artificiais para morcegos, além da produção de folders explicativos, contendo as características das espécies ocorrentes no Rio Grande do Sul, seus hábitos alimentares e as maneiras adequadas de exclusão de morcegos dos telhados. Seria necessário obter uma fonte de apoio à pesquisa para a concretização efetiva de ambas as atividades.
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7. ANEXOS
Anexo 01. Em virtude da desinformação com relação aos hábitos dos morcegos em geral, foi elaborado um folder
para ser distribuído entre a comunidade em geral, e interessados, contendo as principais características das espécies, prejuízos e benefícios oferecidos pela presença de morcegos, além dos métodos mais apropriados de exclusão dos indivíduos dos telhados.