CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS / ECOLOGIA BACHARELADO
Daiane Bernardete Geiger
ASPECTOS DE ECOLOGIA E ETOLOGIA DE Tadarida brasiliensis (GEOFFROY, 1824) E Nyctinomops laticaudatus (GEOFFROY, 1805) (Chiroptera: Molossidae) NOS MUNICÍPIOS DE VERA CRUZ E VALE DO SOL, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL.
Santa Cruz do Sul, agosto de 2004.
Daiane Bernardete Geiger
ASPECTOS DE ECOLOGIA E ETOLOGIA DE Tadarida brasiliensis (GEOFFROY, 1824) E Nyctinomops laticaudatus (GEOFFROY, 1805) (Chiroptera: Molossidae) NOS MUNICÍPIOS DE VERA CRUZ E VALE DO SOL, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL.
Relatório de Estágio Supervisionado II, apresentado ao Curso de Ciências Biológicas da Universidade de Santa Cruz do Sul, para obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas/ Ecologia.
Orientadora: Profª. Drª. Susi Missel Pacheco
Santa Cruz do Sul, agosto de 2004.
AGRADECIMENTOS
À diretoria das duas igrejas vistorias, pela autorização concedida à pesquisa. À família Rachor, sem a qual seria impossível o acesso à área de estudo, à Anelise Back e Marlene Schlittler, que tão amigavelmente me acolheram. Às comunidade residentes nas proximidades das igrejas, pelo interesse e demais colaborações.
Às diretorias das escolas visitadas, àquelas pessoas que solicitaram vistorias em suas residências, e aos integrantes das comunidades de Vale do Sol, Vera Cruz e Santa Cruz do Sul que colaboraram de alguma forma para que os estudos prosseguissem.
À Luciane Gobbi, responsável pelos Laboratórios de Ensino de Biologia, pela compreensão nas alterações de rotina de meu trabalho e pelo empréstimo de equipamentos de materiais nas horas mais incertas, ou às vezes por períodos prolongados.
À Drª. Susi M. Pacheco, minha orientadora, por impedir que me desviasse da área de meus verdadeiros interesses. À profª Tania Bernhard, por responder atenciosamente minhas “intermináveis listinhas” de questionamentos. À Rosane V. Marques e Renato Gregorin, pela gentileza de haverem remetido as informações obtidas em suas pesquisas.
Pela parceria nas atividades de campo, ao meu pai, Dair A. Geiger, que inicialmente me acompanhou. Pelas palavras de incentivo e momentos de descontração durante as horas mais estressantes, a minha mãe, Celi T. Geiger, a minha irmã, Kárin T. Geiger, às amigas e colegas de curso e trabalho, Márcia Goetze e Joceli A. Rech.
Ao meu namorado, Marcus I. Gomes, as palavras se fazem insuficientes para expressar a gratidão por haver enxugado minhas lágrimas tantas vezes. Em especial, ao meu “guia espiritual”, por firmar meus passos e iluminar meu caminho.
Contato Daiane B. Geiger
[email protected]
“Ninguém consegue escapar de seu coração, por isso é melhor escutá-lo a fim de que não venhas a receber um golpe inesperado. Jamais um coração sofreu ao ir em busca de seus sonhos, porque o momento de busca é o encontro”. (COELHO, P. O Alquimista).
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1 - Uropatágio e “cauda livre” dos molossídeos ..................................................................... 03 2 - Colônia de molossídeos ..................................................................................................... 04 3 - “Morceguinho-das-casas” (Tadarida brasiliensis) ............................................................ 05 4 - Colônia de Tadarida brasiliensis ....................................................................................... 05 5 - Tadarida brasiliensis no controle das populações de insetos ............................................ 05 6 - Distribuição biogeográfica de Tadarida brasiliensis ........................................................ 06 7 - “Morcego-de-lábios-enrugados” (Nyctinomops laticaudatus) .......................................... 07 8 - Colônia de Nyctinomops laticaudatus................................................................................. 08 9 - Distribuição biogeográfica de Nyctinomops laticaudatus ................................................. 08 10 - Colônia de Tadarida brasiliensis realizando deslocamento ............................................ 13 11 - Localização geográfica dos municípios de Santa Cruz do Sul, Vale do Sol e Vera Cruz, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil ...................................................................................... 17 12 - Município de Vera Cruz e localização geográfica do ponto de coleta de dados 1 .......... 18
13 - Ponto de coleta de dados 1: telhado da igreja de Vera Cruz ............................................ 18 14 - Município de Vale do Sol e localização geográfica do ponto de coleta de dados 2 ........ 19 15 - Ponto de coleta de dados 2: telhado da igreja de Vale do Sol ......................................... 19 16 - Paisagem leste ao telhado da igreja de Vale do Sol ......................................................... 20 17 - Paisagem oeste ao telhado da igreja de Vale do Sol ........................................................ 20 18 - Croqui do telhado da igreja de Vera Cruz (ponto 1) ........................................................ 22 19 - Croqui do telhado da igreja de Vale do Sol (ponto 2) ..................................................... 23 20 - Em vista ventral, a morfologia da asa de um molossídeo ................................................ 24 21 - Vista craniana inferior de um molossídeo ....................................................................... 24 22 - “Morcego-orelhudo”: Histiotus velatus encontrado junto à colônia de Tadarida brasiliensis (ponto 1) .............................................................................................................. 28 23 - Número de indivíduos da espécie Tadarida brasiliensis abrigados no telhado (ponto 1) .................................................................................................................................................. 31 24 - Número de indivíduos da espécie Histiotus velatus abrigados no telhado (ponto 1) ...... 36 25 - Croqui de distribuição de Tadarida brasiliensis e Histiotus velatus no telhado (ponto 1) .................................................................................................................................................. 38 26 - Compartilhamento de abrigo: número de indivíduos das espécies Tadarida brasiliensis e Histiotus velatus abrigados no telhado (ponto 1) .................................................................... 39 27 - "Gavião-carrapateiro" (Milvago chimachima) ................................................................. 48
28 - "Anu branco" (Guira guira) ............................................................................................ 48 29 - "Coruja-das-torres" ou "coruja-de-igreja" (Tyto alba) .................................................... 48 30 - “Gambá-de-orelha-branca" (Didelphis albiventris) ......................................................... 48 31 - Freqüentes espaçamentos entre as telhas do telhado de cerâmica (ponto 1) ................... 50 32 - Principal porta de entrada dos morcegos no telhado (ponto 1) ........................................ 51 33 - Frestas de dilatação nas janelas laterais (ponto 1) ........................................................... 51 34 - Abrigo artificial utilizado no manejo das espécies de morcegos ..................................... 51 35 - Número de indivíduos da espécie Nyctinomops laticaudatus abrigados no telhado (ponto 2) ............................................................................................................................................. 57 36 - Filhote de Nyctinomops laticaudatus com até 7 dias de idade (ponto 2) ........................ 58 37 - Vista dorsal de um filhote Nyctinomops laticaudatus com 8 a 15 dias de idade (ponto 2) .................................................................................................................................................. 58 38 - Croqui de distribuição de Nyctinomops laticaudatus no telhado (ponto 2) ..................... 60 39 - Agrupamento de Nyctinomops laticaudaus ocupando degraus de tijolos (ponto 2) ........ 62 40 - Disposição de Nyctinomops laticaudaus em padrão aglomerado (ponto 2) .................... 62 41 - Disposição de Nyctinomops laticaudaus em padrão de afastamento (ponto 2) ............... 62 42 - Primeiro Nyctinomops laticaudaus albino parcial (ponto 2) ........................................... 64 43 - Vista dorsal e facial de Nyctinomops laticaudaus albino parcial (ponto 2) ..................... 64
44 - Manchas despigmentadas no dactilopatágio e ausência de pêlos em fêmea de Nyctinomops laticaudaus (ponto 2) ........................................................................................ 65 45 - Dorso de Nyctinomops laticaudatus apresentando metade da pelagem normal e metade branca (ponto 2) ...................................................................................................................... 65 46 - Dorso de Nyctinomops laticaudatus apresentando metade da pelagem normal e metade grafite (ponto 2) ...................................................................................................................... 65 47 - Tufos de pêlos brancos na região dorsal de Nyctinomops laticaudatus (ponto 2) ........... 66 48 - Nyctinomops laticaudatus deixando filhote para trás (ponto 2) ...................................... 67 49 - “Morcego-cauda-de-rato” (Molossus rufus) encontrado no mesmo abrigo que Nyctinomops laticaudatus (ponto 2) ....................................................................................... 67 50 - “Tiribas” (Pyrrhura sp.) compartilhando telhado com Nyctinomops laticaudatus (ponto 2) ............................................................................................................................................. 69 51 - Primeira visualização de Pyrrhura sp. dentro do abrigo (ponto 2) ................................. 69 52 - Ovos de Pyrrhura sp. (ponto 2) ....................................................................................... 69 53 - Filhote de Pyrrhura sp. (ponto 2) .................................................................................... 70 54 - Filhote de Pyrrhura sp. em estágio mais avançado (ponto 2) ......................................... 70 55 - Coleóptero (Carabidae) vivendo sobre os excrementos de N. laticaudatus (ponto 2) .... 70 56 - Acúmulo de fezes produzido pela colônia de Nyctinimops laticaudatus (ponto 2) ......... 71 57 - O uso de lonas e sacolas plásticas cobrindo móveis como proteção contra o acúmulo de fezes produzido pela colônia de Nyctinimops laticaudatus (ponto 2) ..................................... 71
58 - Forro e paredes da igreja de Vale do Sol danificados pelas excretas da colônia de Nyctinimops laticaudatus (ponto 2) ........................................................................................ 72 59 - Espaçamentos existentes no encaixe entre telhas de zinco e paredes (ponto 2) .............. 73 60 - Espaçamentos existentes no encaixe das tesouras de madeira e paredes do abrigo (visão externa) (ponto 2) .................................................................................................................... 73 61 - Espaçamentos existentes no encaixe das tesouras de madeira e paredes do abrigo (visão interna) (ponto 2) .................................................................................................................... 73
LISTA DE ABREVIATURAS
Biometria AN = comprimento do antebraço CA = comprimento caudal CC = comprimento cabeça-corpo CCT = comprimento craniano total CT = comprimento total (distância entre a extremidade anterior do rostro até a última vértebra caudal) f = falange LZ = largura do zigomático ME = metacarpo TB = tibia
Arcada dentária C-M = comprimento da série de dentes superiores C = caninos I = incisivos M = molares P = pré-molares
RESUMO
Tadarida brasiliensis (GEOFFROY, 1824), o “morceguinho-dos-telhados”, e Nyctinomops laticaudatus (GEOFFROY, 1805), o “morcego-dos-lábios-enrugados”, habitam os telhados do Rio Grande do Sul (Brasil), tendo sido relacionadas vantagens e desvantagens em razão da presença de suas colônias junto de habitações humanas. Em muitos casos, para o bom convívio entre humanos e morcegos, o manejo das espécies torna-se a única alternativa. Porém, o desenvolvimento de técnicas de manejo eficientes esbarra na escassez de dados ecológicos e etológicos relativos às espécies. Na tentativa esclarecê-los, foi elaborado um estudo desenvolvido no período de novembro de 2002 a junho de 2004, a partir das colônias de T. brasiliensis e N. laticaudatus de duas igrejas, localizadas nos municípios de Vera Cruz e Vale do Sol, respectivamente. Foram pesquisadas as implicações de natureza intraespecífica das colônias (caracteres morfológicos externos, padrões de dispersão sazonal, distribuição interna no abrigo e comportamento); interespecífica (observação de outros morcegos e taxa); e ambiental (temperatura e umidade). Como resultado, além do monitoramento das atividades dos quirópteros, em Vera Cruz, confirmou-se a co-habitação de abrigos por T. brasiliensis e Histiotus velatus em três diferentes localidades, e a presença de Molossus molossus e Molossus rufus; em Vale do Sol, a predação de morcegos por T. alba, e existência de N. laticaudatus parcialmente albino, Molossus rufus e Pyrrhura sp. Sugere-se a permanência das colônias, trabalhos de manejo e educação ambiental com as comunidades, além do incremento do número de pesquisas à cerca de ecologia e etologia de molossídeos.
Palavras-chave: laticaudatus.
ecologia;
etologia;
manejo;
Tadarida
brasiliensis;
Nyctinomops
ABSTRACT Tadarida brasiliensis (GEOFFROY, 1824), the “Brazilian free-tailed bat”, and Nyctinomops laticaudatus (GEOFFROY, 1805), the “broad-eared bat”, roosting roofs in Rio Grande do Sul (Brazil), it has been related advantages and disadvantages due the presence of them colonies closed to human habitations. In many cases, to well conviviality between humans and bats, the species management remains as the last alternative. However, the development of efficient management techniques clash on the scarcity of the ecology and etology data related to the species. Trying to clearify them, a study was elaborated and carried out since November (2002) to June (2004), from two churches colonies of T. brasiliensis e N. laticaudatus, located at Vera Cruz and Vale do Sol cities, respectively. There were researched the colonies intraespecific nature implications (external morphologics characters, standards of sazonal dispersion, internal distribution in the shelter and behavior); interespecific (other bats and taxa observation); and environmental (temperature and humidity). As result, besides the bats activities monitorament, at Vera Cruz, was confirmed the shelter co-habitation by T. brasiliensis and Histiotus velatus in three different localities, and the presence of Molossus molossus and Molossus rufus; at Vale do Sol, the bats predation by T. alba and existence of N. laticaudatus partially albino, Molossus rufus and Pyrrhura sp. Are suggested the remain of the colonies, management and environmental education works with the communities, besides the increase the number of researches about molossids ecology and etology. Key-words: ecology; etology; management; Tadarida brasiliensis; Nyctinomops laticaudatus.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 01 1.1 A família Molossidae ........................................................................................................ 02 1.1.1 Tadarida brasiliensis ..................................................................................................... 04 1.1.2 Nyctinomops laticaudatus .............................................................................................. 06 1.2 O problema do convívio entre humanos e molossídeos .................................................... 08 1.3 Situação atual da raiva em morcegos ................................................................................ 09 1.4 Molossídeos como vetores de outras doenças ................................................................... 10 1.4.1 Histoplamose .................................................................................................................. 11 1.4.2 Criptococose ................................................................................................................... 11 1.4.3 Salmonelose ................................................................................................................... 12 1.4.4 Parasitoses ...................................................................................................................... 12 1.5 Migrações ou deslocamentos sazonais .............................................................................. 13 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 15 2.1 Objetivo geral .................................................................................................................... 15 2.2 Objetivos específicos ........................................................................................................ 15 3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 16 3.1 Áreas de estudo ................................................................................................................. 16 3.2 Metodologia ...................................................................................................................... 20 3.2.1 Atividades de campo ...................................................................................................... 20 3.2.2 Atividades de laboratório ............................................................................................... 26 3.2.3 Atividades desenvolvidas junto à comunidade .............................................................. 26
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................................... 28 4.1 Vera Cruz (ponto 1) .......................................................................................................... 28 4.1.1.1 Dispersão sazonal de Tadarida brasiliensis ................................................................ 29 4.1.1.2 Dispersão sazonal de Histiotus velatus ....................................................................... 35 4.1.2 Compartilhamento de abrigo entre Tadarida brasiliensis e Histiotus velatus ............... 37 4.1.3.1 Padrões de distribuição de Tadarida brasiliensis no interior do telhado .................... 40 4.1.3.2 Padrões de distribuição de Histiotus velatus no interior do telhado ........................... 41 4.1.4 Biometria e morfologia externa de Tadarida brasiliensis e Histiotus velatus ............... 42 4.1.5.1 Etologia de Tadarida brasiliensis ............................................................................... 44 4.1.5.2 Etologia de Histiotus velatus ....................................................................................... 45 4.1.6 Relações interespecíficas ............................................................................................... 46 4.1.7 As colônias de morcegos e repercussão junto à comunidade ........................................ 49 4.2 Vale do Sol (ponto 2) ........................................................................................................ 55 4.2.1 Dispersão sazonal de Nyctinomops laticaudatus ........................................................... 55 4.2.2 Padrões de distribuição de Nyctinomops laticaudatus no interior do telhado ............... 59 4.2.3 Biometria e morfologia externa de Nyctinomops laticaudatus ...................................... 63 4.2.4 Etologia de Nyctinomops laticaudatus ........................................................................... 66 4.2.5 Relações interespecíficas ............................................................................................... 67 4.2.6 A colônia de morcegos e repercussão junto à comunidade ............................................ 71 5 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 74 5. 1 Vera Cruz (ponto 1) ......................................................................................................... 74 5.2 Vale do Sol (ponto 2) ........................................................................................................ 76 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 79 6.1 Número de vistorias .......................................................................................................... 79 6.2 Horários das vistorias ........................................................................................................ 79 6.3 Aplicação de venenos em telhados ................................................................................... 80 6.4 Dificuldades na captura de morcegos ............................................................................... 80 6.5 Equipamentos para trabalhos de campo ............................................................................ 82 6.6 Desenvolvimento de atividades junto à comunidade ........................................................ 82 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 83 8. ANEXO ............................................................................................................................... 91