Tb_completo_eshc12_2019_1.pdf

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GRADUAÇÃO

ESTUDO DO SER HUMANO CONTEMPORÂNEO

GRADUAÇÃO

Camila de Oliveira Casara Douglas Ochiai Padilha Luiz Augusto de Mattos Osmar Ponchirolli Paulo Moacir Godoy Pozzebon

Camila de Oliveira Casara/Douglas Ochiai Padilha/ Luiz Augusto de Mattos/Osmar Ponchirolli/Paulo Moacir Godoy Pozzebon

ESTUDO DO SER HUMANO CONTEMPORÂNEO

2019/I

Desenhista Instrucional Katia Paulino

Revisores Carolina Bontorin Ceccon Cláudia Mara Ribas dos Santos Natasha Suelen Ramos de Saboredo

Diagramadores Ana Maria Oleniki (projeto gráfico) Débora Cristina Gipiela Kochani Evelyn Souza Alves Thais Suzue Ikuta Ticiane de Farias Pietro

OS AUTORES Camila de Oliveira Casara Mestre em Filosofia – Ética e Política, pela Universidade Federal do Paraná (2012). Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná (2008).

Douglas Ochiai Padilha Doutor em Sociologia, na modalidade sanduíche, pela Universidade Federal do Paraná e pela Université Paris Ouest Nanterre La Défense. Mestre em Sociologia pela UFPR (2008) na linha de pesquisa Ruralidades e Meio Ambiente. Graduado em Ciências Sociais pela UFPR (2005), atuando principalmente nas seguintes áreas: sociologia ambiental, sociologia rural, teoria ator-rede, nova sociologia econômica e redes de movimentos sociais. Atualmente, é professor na FAE Centro Universitário.

Luiz Augusto de Mattos Doutor em Teologia Moral pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (2000). Mestre em Teologia Dogmática pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (1984); e em Teologia pelo Centro Universitário Assunção (2009). Graduado em Estudos Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1976); em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1981); e em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1976). Atualmente, é professor do Instituto Teológico de São Paulo, da Universidade São Francisco e da UNISAL. Assessor da CRB Regional de São Paulo, membro e coordenador da equipe interdisciplinar CRB Nacional. Também é assessor de dioceses e congregações religiosas.

Osmar Ponchirolli Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco (1988); e em Teologia pela Studium Theologicum (1994). Atualmente, é professor da FAE Centro Universitário. Professor pesquisador do grupo Economia Política do Poder em Estudos Organizacionais e Observatório Interdisciplinar em Economia Política do Poder. Pesquisador na linha de epistemologia e teoria crítica; complexidade e redes em estudos organizacionais. Líder do grupo de pesquisa sobre Teoria do Reconhecimento e Organizações da FAE Centro Universitário.

Paulo Moacir Godoy Pozzebon Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência (Área de Concentração Filosofia Política) pela Universidade Estadual de Campinas (1995). Licenciatura Plena em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1985). Atualmente, é professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e da Universidade São Francisco. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Metodologia da Pesquisa Científica e do Trabalho Científico e Filosofia Política, atuando principalmente nos seguintes temas: metodologia científica, educação, filosofia política, ética e filosofia. Possui também experiência na área de gestão.

SUMÁRIO Tabela de Ícones

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Informações gerais sobre a disciplina

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Apresentação 10 A MODERNIDADE: SURGIMENTO E TRANSFORMAÇÕES 13 A QUESTÃO DA PÓS-MODERNIDADE: A SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL E A CULTURA PÓS-MODERNA 23 A GLOBALIZAÇÃO E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS 33

CRÍTICA DO CONHECIMENTO I 43

CRÍTICA DO CONHECIMENTO II 53

O HUMANO – QUEM É ELE? 63

O SER HUMANO RELACIONAL, SOCIAL E POLÍTICO 73

ECOLOGIA: DESAFIOS AMBIENTAIS 85

ECOLOGIA: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 93

ECOLOGIA: AMEAÇAS AMBIENTAIS 103

POLÍTICA, CIDADANIA E JUSTIÇA SOCIAL 111

O FENÔMENO RELIGIOSO 121

Indica as orientações da Atividade Avaliativa da Unidade de Estudo.

BIBLIOTECA DIGITAL

Indica que o material está disponível na Biblioteca Digital.

CALCULADORA Indica a utilização da calculadora HP 12C para resoluções mais precisas. FINANCEIRA

CHECKLIST

Indica um conjunto de ações para fins de verificação de uma rotina ou um procedimento (passo a passo) para a realização de uma tarefa.

EXEMPLO

Será utilizado sempre que houver necessidade de exemplificar um caso, uma situação ou conceito que está sendo descrito ou ensinado.

GLOSSÁRIO

Utilizado sempre que houver necessidade de entender o significado de uma palavra ou termo desconhecidos.

HIPERLINK

Indica um link (ligação), seja ele para outra página do módulo impresso ou endereço de Internet.

LEIS

Indica a necessidade de aprofundamento da lei ou artigo referidos no texto.

LEITURA OBRIGATÓRIA

Indica os livros e textos de leitura obrigatória.

PENSE

Indica que você deve refletir sobre o assunto abordado para responder a um questionamento.

PESQUISE

Indica a exigência de pesquisa a ser realizada na busca por mais informação.

PLANILHA

Indica a necessidade de se obter resolução utilizando a planilha Excel, tornando o trabalho mais rápido.

REALIZE

Determina a existência de atividade: um exercício, uma tarefa ou prática a ser realizada. Fique atento a ele.

REVEJA

Indica a necessidade de rever conceitos estudados anteriormente.

SAIBA MAIS

Apresenta informações adicionais sobre o tema abordado, de forma a possibilitar a obtenção de novas informações ao que já foi referenciado.

SUGESTÃO DE LEITURA

Indica textos de referência utilizados no curso e também faz sugestões para leitura complementar.

VÍDEOS

Indica vídeos que lhe ajudarão a aprofundar seus conhecimentos sobre o conteúdo estudado.

ÍCONES

ATIVIDADE OBRIGATÓRIA

Informações gerais sobre a disciplina EMENTA O ser humano e a formação cultural do ocidente: modernidade, pós-modernidade e globalização. Expressões e processos do conhecimento. O humano como ser multifacetário e relacional. Dimensões políticas, ambientais, sociais e religiosas da contemporaneidade. OBJETIVOS Por meio do diálogo com as questões centrais que caracterizam o humano e a sociedade contemporâneos, desenvolver uma reflexão que articule um discernimento criterioso das temáticas abordadas, contribuindo com uma formação integral, ética e humanizadora. CARGA HORÁRIA 72 horas

Estudo do Ser Humano Contemporâneo

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Apresentação Unidade 1: MODERNIDADE: SURGIMENTO E TRANSFORMAÇÕES Nesta Unidade, estudaremos a modernidade, com suas características marcantes, seus principais acontecimentos e suas peculiaridades. O objetivo é aguçar o olhar para as transformações sociais que nos envolve e circunda muitas vezes de maneira invisível e natural, mas, mesmo assim, irreversível. Unidade 2: A QUESTÃO DA PÓS-MODERNIDADE: A SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL E A CULTURA PÓS-MODERNA Na Unidade 2, abordaremos a pós-modernidade e as principais transformações que possibilitaram o desenvolvimento das tecnologias da informação e a consequente sociedade em rede. Veremos também a questão da desterritorialização como um dos grandes temas da pós-modernidade. Unidade 3: A GLOBALIZAÇÃO E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Esta Unidade trata de uma das questões mais comentadas e polêmicas da contemporaneidade: a globalização. Vamos estudar suas principais características: como surgiu, por que se intensifica, os elementos mais importantes responsáveis pela sua intensificação a partir dos anos 1980, e as consequências desse processo na definição de novas identidades. Unidade 4: CRÍTICA DO CONHECIMENTO I Nesta Unidade, vamos apresentar as principais modalidades de conhecimento atuantes em nossa sociedade: o senso comum, o mito e a ideologia. Buscaremos entender os diferentes modos como essas formas explicam o mundo em que vivemos, como se articulam entre si e quais são as suas limitações. Unidade 5: CRÍTICA DO CONHECIMENTO II Continuaremos o estudo sobre as principais modalidades de conhecimento atuantes em nossa sociedade. Nesta Unidade estudaremos: a ciência, a tecnologia e a filosofia. Conhecer as principais formas do conhecimento nos permite interpretar melhor o mundo em que vivemos e escolher com maior liberdade nossos caminhos. Unidade 6: O HUMANO – QUEM É ELE? Compreender o ser humano é uma tarefa infinita. Por isso, esta Unidade pretende traçar algumas linhas indicativas das múltiplas dimensões do ser humano. Apresentaremos, na forma de uma síntese de ideias provenientes de muitos pensadores, os seguintes aspectos: dimensão biológica e animal do ser humano, inteligência, linguagem e cultura.

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Unidade 7: O SER HUMANO RELACIONAL, SOCIAL E POLÍTICO Nesta Unidade daremos continuidade as múltiplas dimensões do ser humano, com o estudo do ser humano e o trabalho, como acontece a interação com outros seres humanos ao longo de sua história, a liberdade de escolha, a alienação e a busca do transcendente. Também abordaremos dois dos maiores desafios para o indivíduo humano: o autoconhecimento e a elaboração de um projeto de vida. Unidade 8: ECOLOGIA: DESAFIOS AMBIENTAIS Nesta Unidade, daremos início ao estudo da Ecologia e o Pensamento Ecológico. Apresentaremos conhecimentos básicos sobre a educação ambiental e seus desafios, e como cada um de nós pode enfrentar as questões ambientais e repensar o modo de vida em sociedade reconhecendo nossas responsabilidades para controlar os danos causados pela sociedade moderna e industrializada. Unidade 9: ECOLOGIA: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Daremos continuidade aos estudos sobre a Ecologia e o Pensamento Ecológico, com foco para o desenvolvimento sustentável. Veremos como atender as necessidades do mundo contemporâneo sem colocar em risco a capacidade das próximas gerações, que vai além do desempenho financeiro e do lucro pelo lucro. Unidade 10: ECOLOGIA: AMEAÇAS AMBIENTAIS Para concluir os estudos sobre a Ecologia e o Pensamento Ecológico veremos nesta Unidade as ameaças ambientais, buscando desenvolver sua capacidade de perceber os problemas ambientais como processos complexos que envolvem de forma interdependente elementos sociais, políticos, econômicos e ecológicos. Unidade 11: CIDADE, POLÍTICA E JUSTIÇA SOCIAL A presente Unidade de Estudo focará os temas sobre: política, cidadania e justiça social. A política surgirá sempre que uma pluralidade de indivíduos estiver presente, pois as deliberações e ações que daí surgirem caracterizarão o exercício mais nobre e complexo das atividades humanas. Também apresentaremos a relação da política com a cidadania e a justiça social. Unidade 12: FENÔMENO RELIGIOSO Para finalizar a disciplina abordaremos os traços mais determinantes do fenômeno religioso e os conceitos que permitem melhor compreendê-lo. As considerações apresentadas são válidas para quaisquer crenças religiosas. Não se pode compreender o ser humano – nem ontem, nem hoje, nem nas sociedades mais simples, nem nas mais complexas – sem refletir sobre o fenômeno religioso. Nem se pode viver plenamente a condição humana sem fazer, em algum grau, a experiência religiosa.

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UNIDADE DE ESTUDO 1 A MODERNIDADE: SURGIMENTO E TRANSFORMAÇÕES INTRODUÇÃO Nesta Unidade de Estudo, veremos que o surgimento e desenvolvimento de um período histórico específico e importantíssimo, chamado modernidade, atinge a todos nós de maneiras diversas, desde a organização de nossas instituições sociais mais básicas como família, religião etc. às nossas concepções políticas. A todos aqueles e aquelas que desejam formar consciência crítica e reflexiva sobre suas vidas e os contextos sociais, econômicos, culturais e políticos em que estamos submersos, recomendamos a leitura atenta desta Unidade de Estudo. Estudaremos a modernidade, com suas características marcantes, acontecimentos principais e, como sempre, suas idiossincrasias fundamentais. Assim, apresentaremos logo no início algumas das transformações históricas cabais para definir este período, como o Renascimento e a Revolução Industrial. Longe de serem apenas fatos históricos, esses dois eventos marcam o surgimento de uma nova mentalidade social: surge um novo modo de vida, de produção, de se relacionar e conhecer o mundo. A relevância do renascimento e da revolução industrial é inegável para entendermos as transformações pelas quais passou o mundo. De maneira definitiva, nada mais será como antes após estes acontecimentos. Em seguida, para nos aprofundarmos e entendermos ainda mais sobre os efeitos da modernidade, essa interessante época histórica, apresentaremos algumas ideias de um importante sociólogo inglês chamado Anthony Giddens. Este pensador é responsável por um dos mais relevantes estudos sobre o tema; suas ideias são apresentadas em seu livro As Consequências da modernidade, de 1991. Conhecer um pouco das ideias trabalhadas neste livro contribuirá, e muito, para ampliar as possibilidades de entendimento do período denominado modernidade.

FONTE: Banco de Imagens 123rf

O objetivo desta Unidade de Estudo é modesto: esperamos que você possa aguçar seu olhar para as transformações sociais que o envolve e circunda muitas vezes de maneira invisível e natural, mas, mesmo assim, irreversível. Esperamos, ainda, que a leitura aqui proposta aguce suas indagações e desperte seu olhar para as principais consequências da modernidade. Bons estudos!

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1 A MODERNIDADE: SURGIMENTO E TRANSFORMAÇÕES

IMPORTANTE

O período que se convencionou denominar como “modernidade” envolve uma série de acontecimentos no campo da política, da cultura, da religião etc. Entre os historiadores, não há consenso quanto a datas formais para o início deste período. O que se pode afirmar, portanto, é que o início da modernidade engloba uma série de transformações que modificam radicalmente a vida de uma parte do mundo, mais especificamente, a Europa.

A caracterização da história em períodos, como Antiguidade, Idade Média e Modernidade, sempre foi assinalada por determinados acontecimentos, que engendram certas rupturas com a ordem anterior, faz sentido quando se pensa em modificação da vida social, política, cultural, religiosa em uma parte do mundo, isto é, na Europa. Continentes como Ásia, Oceania e América foram posteriormente influenciados pelo modo de vida europeu; isto quer dizer que outras partes do mundo, embora já conhecidas, mantinham estruturas de pensamento, organização social, política e religiosa diversas.

Portanto, as transformações aqui narradas só farão sentido para o continente europeu, o que não invalida a curiosidade e a necessidade de conhecimento sobre este tema. Esta parte do globo foi e será continente de irradiação de um modo de organização social, política, econômica que arrebata todos os outros. Será em função da importância e da influência deste continente na constituição das outras partes do mundo que apresentaremos as características principais da chamada modernidade.

A despeito das diversas possibilidades de entendimento sobre o surgimento da modernidade pelos historiadores, o Renascimento e a Revolução Industrial representam marcos históricos importantes e contribuem para solapar um modo de vida e possibilitar a irrupção de outro.

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Camila de Oliveira Casara

1.1 RENASCIMENTO

FONTE: Banco de Imagens 123rf

Vista de Florença/Itália. Praça Piazzale Michelangelo.

O período que será agora tratado representou uma transformação importantíssima para a humanidade. O Renascimento irá inaugurar uma nova fase de conhecimento e descoberta que influenciará decisivamente o ocidente. Vamos entender por quê.

O Renascimento, mais do que a maioria dos diversos momentos históricos suscita grandes controvérsias. Há quem veja nesse movimento filosófico e artístico o momento de ruptura entre o mundo medieval – com suas características de sociedade agrária, estamental, teocrática e fundiária – e o mundo moderno urbano, burguês e comercial. (COSTA, 2005, p. 28)

Isso pode ser afirmado porque muitas mudanças importantes ocorreram na Europa a partir do século XV; e estas mudanças serão as bases para a estrutura das sociedades contemporâneas.

Estrutura feudal: A estrutura da sociedade feudal já não dava mais conta das transformações sociais, econômicas e políticas que assolavam a Europa. Esta estrutura, agrária em sua essência, mantinha nas mãos da nobreza e do clero o poder econômico e político.

Expansões marítimas: Foram as expansões marítimas (com a circumnavegação da África e o descobrimento da rota para as Índias e América), os excedentes de produção e o desenvolvimento de atividades comerciais, que contribuíram fortemente para que este sistema entrasse em colapso. Assim, tornou-se cada vez mais presente uma nova mentalidade: mais laica e mais centrada em preocupações materiais e, principalmente, no homem.

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Doutrinas religiosas: Novas doutrinas religiosas, que propuseram leituras interpretativas dos textos sagrados, surgiram como forte contribuição às mudanças e ao estabelecimento de outra mentalidade. A partir do século XVI o movimento denominado de Reforma Protestante questionava o poder clerical. Este movimento foi fundamental para que o “novo homem” redescobrisse a possibilidade do questionamento baseado na própria razão. “O conhecimento deixa de ser encarado como uma revelação, resultante da contemplação e da fé, para voltar a ser, como o fora para os gregos e romanos, o resultado de uma bem conduzida atividade do pensamento” (COSTA, 2005, p. 30).

Desenvolvimento da ciência: O desenvolvimento das ciências, portanto, pode ser entendido como resultado destas transformações em curso na Europa renascentista.

Crescimento das cidades: O crescimento das cidades, do comércio, e, sobretudo, das transações comerciais engendradas pelas terras recémdescobertas na América obrigaram o homem medieval a “abrir mão” de velhas estruturas explicativas e dar lugar ao novo e surpreendente mundo que agora se estabelecia. Foi neste cenário que a forma de produção e organização política se modificou para sempre.

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Camila de Oliveira Casara

1.2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO

O conhecimento científico aperfeiçoou as técnicas de produção: aumentando a produtividade das máquinas e os lucros, e diminuindo o uso da mão de obra. Este período ficou marcado pelo fenômeno da maquinofatura.

FONTE: Banco de Imagens 123rf

Os séculos subsequentes às mudanças iniciais não foram menos turbulentos. Uma nova maneira de se produzir, a partir do século XVII foi inaugurada: a riqueza passou a ser oriunda de indústrias e grandes máquinas, estas estavam geralmente alocadas em cidades grandes e superpopulosas; pertenciam a uma nova classe economicamente poderosa denominada burguesia industrial, ao passo que eram operadas por uma também recente classe social, denominada proletariado. Neste período, chamado de Revolução Industrial, o trabalho e a estrutura social ganharam contornos radicalmente novos.

O que era produzido manualmente pelos artesãos passou a ser feito por máquinas, aumentando muito o volume de produção de mercadorias.

Anthony Giddens, um importante pensador inglês sobre o tema da modernidade, pode nos ajudar a entender melhor esta fase histórica por meio da seguinte afirmação:

A Revolução Industrial do final do século XVIII e do XIX transformou radicalmente as condições materiais de vida e os modos de ganhar dinheiro para sempre, trazendo com isso, pelo menos inicialmente, muitos problemas sociais novos, como a superlotação urbana, a falta de saneamento e as doenças que a acompanham, e a poluição industrial em uma escala sem precedentes. (GIDDENS, 2012, p. 63)

Como podemos perceber, Giddens nos esclarece sobre a radicalidade da mudança trazida pela nova forma de viver e se organizar da Europa. Esta nova fase trouxe também consequências importantes para os séculos seguintes. Será com base nas principais ideias deste autor sobre as caracterizações e perigos trazidos pela modernidade, que iniciaremos o segundo tópico desta Unidade.

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OS EFEITOS DA MODERNIDADE

Em seu livro de 1991 chamado As Consequências da modernidade, Anthony Giddens caracteriza este período histórico e apresenta os principais efeitos da modernidade para o mundo ocidental. O autor a define da seguinte maneira:

“modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais na sua influência” (GIDDENS, 1991).

Isto é, um período em que a maneira de organização das instituições sociais, políticas e econômicas passam a operar diferentemente da anterior e paulatinamente vão sendo incorporadas por todo o mundo. As principais características das novas instituições da modernidade que se diferenciam do período anterior, segundo Giddens, serão: o ritmo de mudança, o escopo da mudança e a natureza intrínseca das instituições modernas. Vamos entender mais especificamente cada uma delas:

O ritmo de mudança A rapidez com que as mudanças acontecem na modernidade é extrema; isso pode ser entendido como resultado do desenvolvimento da tecnologia, porém esta movimentação também é observada em outras esferas.

Escopo da mudança Isto é, o alvo das mudanças trazidas pela modernidade. Por meio do uso da tecnologia mais incisivamente, partes do globo são colocadas em conexão e as transformações sociais acontecem em todo o planeta.

Natureza intrínseca das instituições modernas Segundo Giddens (1991), alguns tipos de organização social não se encontram em outras épocas históricas, apenas na modernidade. É o caso do estado-nação, a necessidade de grandes fontes produtoras de energia, o surgimento da mercadoria e do trabalho assalariado.

FONTE: Giddens (1991)

Prosseguindo em sua caracterização da modernidade, Anthony Giddens ressalta a importância que alguns debates adquirem neste período. As preocupações com o meio ambiente e a instrumentalização da natureza como fonte geradora de riqueza econômica são discussões que só farão sentido no contexto moderno. O autor entende que foi somente neste contexto histórico específico que as “forças de produção” adquiriram um potencial tão destrutivo em relação ao meio ambiente.

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Camila de Oliveira Casara

Outro tema de relevância para entender a modernidade será a ascensão de episódios de totalitarismo. “O governo totalitário combina poder político, militar e ideológico de forma mais concentrada do que jamais foi possível antes da emergência dos estados-nação modernos” (GIDDENS, 1991, p. 18).

Ainda no que diz respeito ao ineditismo do poderio e desenvolvimento das forças militares na modernidade, Anthony Giddens afirma que a junção entre inovação industrial e poder militar remete à própria origem da industrialização moderna. Isto é, tendo a indústria e as inovações tecnológicas neste período se desenvolvido de maneira tão eficiente e complementar, tais inovações não deixariam de se estender às forças militares da modernidade. Neste sentido, este autor sugere que as análises que se empreendam sobre a modernidade se esforcem para abarcar não somente as mudanças e avanços da modernidade, como também os perigos e riscos que este período carrega no seio de suas características mais essenciais.

CONCLUSÃO Nesta Unidade de Estudo, vimos que o período que chamamos de modernidade se refere a transformações importantes em todas as instituições sociais: desde as relações de trabalho, até a política e economia. O Renascimento, como fato importante e cabal traz uma nova maneira de o homem enxergar a si e o mundo em que vive, enquanto que a Revolução Industrial muda radicalmente a ordem produtiva da vida econômica e altera para sempre os modos de produção. Vimos ainda que autores importantes da sociologia, como Anthony Giddens e Cristina Costa, elaboram reflexões sobre este período histórico e o caracterizam a partir da rapidez das mudanças e o alvo destas. Também foi tópico importante abordado a natureza característica das instituições modernas. Para o inglês Anthony Giddens, é preciso estar atento para as consequências que a modernidade acarreta para vida do planeta como um todo, como o impacto das transformações no meio ambiente, o totalitarismo e a associação entre poder militar e industrial.

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REFERÊNCIAS COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012. ______. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.

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UNIDADE DE ESTUDO 2 A QUESTÃO DA PÓS-MODERNIDADE: A SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL E A CULTURA PÓS-MODERNA INTRODUÇÃO Nesta Unidade, abordaremos um dos temas mais fascinantes e envolventes da contemporaneidade: a pós-modernidade. Compreender o que a constitui e quais as suas consequências para o mundo de hoje é uma das tarefas que aqui nos propomos. Esta Unidade de Estudo requer de você capacidade reflexiva e leitura atenta, não só dos textos obrigatórios, mas do mundo que o cerca. No início dos nossos estudos, iremos caracterizar a pós-modernidade. De onde surgiu e qual o seu campo de estudos originário serão alguns dos dados importantes para entendê-la. Em seguida, apresentaremos as principais transformações que possibilitaram a pós-modernidade: o desenvolvimento das tecnologias da informação e a consequente sociedade em rede. Você poderá enxergar claramente que a realidade que o cerca está permeada pelos efeitos da pós-modernidade, pois as consequências da sociedade em rede nas relações de produção e nos movimentos sociais fazem parte, mesmo que de maneira indireta, da vida de qualquer cidadão do século XXI.

FONTE: Banco de Imagens 123rf

Não poderíamos deixar de apontar para a questão da desterritorialização como um dos grandes temas da pós-modernidade. Uma das suas principais transformações, a redefinição de fronteiras e territórios, será nesta Unidade esclarecida e debatida como manifestação das novas relações sociais, políticas e econômicas que a pós-modernidade trouxe para o mundo. Esperamos que ao finalizar esta Unidade de Estudo, você esteja ainda mais instigado a pensar e refletir sobre as transformações do mundo ao seu redor. Bons estudos!

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A PÓS-MODERNIDADE: CARACTERIZAÇÃO

Definir pós-modernidade exige um esforço bastante grande, pois este termo não se originou no campo das ciências humanas e filosofia; ele começa a ser empregado primeiramente no campo das artes visuais.

O conceito de pós-modernidade, para esta área do conhecimento, caracterizava uma nova forma de entendimento das produções artísticas pautada no rompimento de paradigmas da Modernidade.

A partir da perspectiva pós-moderna, já não se buscariam mais critérios universalmente válidos para a arte (como por exemplo, as formas, cores e texturas consideradas boas ou más, belo ou feio); regras ou normas não poderiam ser entendidas para toda a produção artística mundial. Esta proposta de entendimento dos fenômenos da realidade, nascida nas artes visuais, expande-se rapidamente para outras áreas do conhecimento como uma nova forma de compreensão do mundo e das relações sociais; um novo paradigma para caracterizar as sociabilidades contemporâneas e as modificações profundas trazidas pelas transformações do século XXI.

“A pós-modernidade passou a designar uma nova proposta de produção artística que, por sua ideologia contestadora, associou-se à quebra de valores e de normas de comportamento que caracterizou o homem contemporâneo, especialmente nos grandes centros urbanos.” (COSTA, 2005, p. 232).

A pós-modernidade passa a ser o termo usado, então, para denominar rupturas com modelos e padrões de entendimento que são postos em xeque no momento em que o mundo passa a conviver com intensas e profundas mudanças. Para Jurgen Habermas, havia um “projeto da modernidade” que consistia:

Exemplos são Robert Venturi, Aldo Rossi, James Corbett, entre outros.

a) na crença inquestionável à ciência; b) na libertação do homem por meio do domínio total da natureza; c) no desenvolvimento da racionalidade a ponto de superar mitos, religião e superstição. FONTE: Harvey (2007)

Sendo assim, a pós-modernidade, tendo nascido nas artes visuais, pode ser empregada para entendermos os novos hábitos, costumes, formas de vida e movimentos sociais impregnados pelas mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas do século XXI.

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Camila de Oliveira Casara

FONTE: Banco de Imagens 123rf

O período denominado pós-moderno, seria, portanto, o momento em que o “projeto da modernidade” passa a ser questionado e superado (HARVEY, 2007, p. 23).

Para muitos estudiosos da contemporaneidade, entre eles o sociólogo inglês Anthony Giddens (2012), estamos diante de uma nova sociedade: mais plural e diversificada. Isso se deve, em grande parte, ao poder dos meios de comunicação incidindo na vida dos seres humanos, trazendo-lhes informações, valores e ideias de várias partes do mundo muito rapidamente.

Em uma quantidade incontável de filmes, vídeos, programas de televisão e sítios da internet, as imagens circulam ao redor do mundo. Temos contato com muitas ideias e valores, mas eles têm pouca conexão com a história das áreas em que vivemos ou, de fato, com nossas próprias histórias pessoais. Tudo parece constantemente em fluxo. (GIDDENS, 2012, p. 81)

O pensador inglês chama a atenção para o fato de que na pós-modernidade os meios de comunicação permitem a troca de informações e imagens com rapidez e eficiência jamais experimentadas. Isso incide decisivamente em diversos aspectos das relações sociais, da economia e da política do século XXI. Para que essa transformação toda fosse possível, alguns acontecimentos foram cruciais no decorrer do século XX. Entenderemos melhor do que estamos falando nos tópicos seguintes, ao abordarmos as transformações fundamentais que possibilitaram o advento da pós-modernidade. 2

A SOCIEDADE EM REDE FONTE: Banco de Imagens 123rf

O desenvolvimento dos meios de comunicação, da informática e da automação impactou definitivamente a maneira tradicional de articulação e cooperação em todo o planeta. A rapidez na produção, nas trocas comerciais e nos fluxos financeiros, nos diz Cristina Costa (2005, p. 234), “deu à economia um ritmo impensável anteriormente”, transformando em mercadoria aquilo que passa a circular pelas redes de comunicação: a informação. Para o sociólogo espanhol Manuel Castells (2013), o desenvolvimento das tecnologias da informação e da internet fortaleceu as redes entre diferentes pessoas e organizações em lugares extremamente distantes no globo terrestre. Para ele, as redes são as formas de organização que definem nossa era; informações podem ser recebidas imediatamente em qualquer parte do mundo, não existindo necessidade da presença física dos envolvidos (GIDDENS, 2012, p. 579).

O impacto da tecnologia da informação e sua consequente transformação nas relações sociais pode ser sentido em diferentes espaços e maneiras. Desde as novas formas e processos de produção, isto é, na organização das estruturas de trabalho na contemporaneidade, chegando até aàs reivindicações sociais, ou seja, na maneira como os novos movimentos sociais se articulam e tomam corpo, a pós-modernidade exerce sua influência.

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A pós-modernidade permeia a maneira de se produzir: muito mais rápida e descartável; suscetível aos fluxos do mercado e das influências culturais distantes; desterritorializada e segmentada em diferentes espaços e países. Como também permeia as formas de reivindicação e afirmação de desejos e identidades, isto é, os movimentos sociais. Nos tópicos seguintes, abordaremos melhor esses dois impactos. 2.1 A INFLUÊNCIA DAS REDES NOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO

FONTE: Banco de Imagens 123rf

Uma das consequências de tal transformação pode ser sentida nos processos produtivos, isto é, na maneira de se produzir sob a influência da informática e da automação que passa a ser radicalmente diferente. O resultado disso aparece nas novas estruturas organizacionais, mais descentralizadas e flexíveis. Cada vez mais, empresas estão ligadas em redes e se relacionam com a economia global; esse processo torna mais difícil a sobrevivência de uma organização comercial – seja pequena ou grande – se não fizer parte de uma rede. O grande catalisador dessa transformação são os meios de comunicação, mais especificamente, a internet.

“A introdução da nova tecnologia permitiu que muitas empresas ‘reprojetassem’ sua estrutura organizacional, tornando-se mais descentralizadas, e reforçando a tendência para tipos menores e mais flexíveis de empresas, inclusive o trabalho em casa” (GIDDENS, 2012, p. 579).

David Harvey (2007), geógrafo britânico e um dos grandes estudiosos do impacto da tecnologia da informação nos processos produtivos, afirma que as transformações no processo produtivo sob a influência dos avanços tecnológicos caracteriza o período denominado de acumulação flexível. Esse novo modo de organizar a produção se caracteriza pela flexibilização dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos produzidos e dos padrões de consumo. Surgem nesse contexto muitos outros setores de produção, bem como novas maneiras de fornecimento dos serviços financeiros, novos tipos de mercados, e, principalmente, muita inovação comercial, tecnológica e organizacional, nos explica Harvey (2007, p. 140). A acumulação flexível traz como resultados imediatos o aumento dos empregos e oportunidades de empreendimentos no chamado “setor de serviços”, assim como parques industriais em países de industrialização tardia ou capitalismo periférico, como Brasil, Índia e África do Sul. Como consequência do aumento da produção pelas novas tecnologias, a maneira de explorar o mercado e oferecer mercadorias também se modifica. A acumulação flexível confere “uma atenção muito maior às modas fugazes” e mobiliza “todos os artifícios de indução de necessidades e de transformação cultural” para induzir o consumo a uma forma efêmera e descartável. Atrelado a esse processo, o relacionamento com os produtos (com significativa vida útil menor) produzidos passa a ser mais fugaz e caracteriza, portanto, uma “estética pós-moderna que celebra a diferença, a efemeridade, o espetáculo, a moda e a mercadificação de formas culturais” (HARVEY, 2007, p. 148). 28

Camila de Oliveira Casara

Cristina Costa (2005, p. 235) corrobora a visão de Harvey e salienta que “a informatização acabou gerando modificações radicais nos processos produtivos, levando a uma reengenharia industrial com a adoção crescente de sistemas automatizados”.

FONTE: Banco de Imagens 123rf

2.2 A INFLUÊNCIA DAS REDES NAS MOVIMENTAÇÕES SOCIAIS

Outra face da influência das redes no mundo contemporâneo pode ser sentida na maneira de organização das mais recentes movimentações sociais. Manuel Castells, em seu livro Redes de indignação e esperança – movimentos sociais na era da internet (2013) analisou o impacto das novas tecnologias da comunicação em protestos recentes da primeira década do século XXI, especialmente aqueles acontecidos no mundo árabe e alguns países da Europa. Para este autor, as redes sociais na contemporaneidade se constituíram como espaços de autonomia, capazes de levar os sujeitos além do controle de governos e empresas. Com a intensificação da comunicação em redes trazida pelas novas tecnologias da informação, há a consequente produção de novos entendimentos sobre fatos, eventos, políticas, relações sociais etc. Nesse sentido, Castells afirma que as redes de comunicação (as famosas redes sociais) são, em certa medida, temidas por governos e instituições de poder, pois são capazes de construir novas formas de pensamento, direcionar atitudes, construir significados e mobilizar agentes sociais, sejam eles individuais ou coletivos. Portanto, nos esclarece este autor, as modificações nas formas de comunicação afetaram definitivamente as relações de poder.

“As rede de poder o exercem sobretudo influenciando a mente humana (mas não apenas) mediante as redes multimídia de comunicação de massa. Assim, as redes de comunicação são fontes decisivas de construção do poder” (CASTELLS, 2013, p. 12).

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Capazes de operar novos significados sobre as mais diferentes relações e provocar reações inesperadas e irreversíveis, os movimentos sociais são definitivamente fomentados pelas informações mais imediatas e diversificadas possíveis, aptos a articular ações conjugadas nos mais distantes lugares do globo ao mesmo tempo.

Não se faz mais necessário que as novas movimentações sociais sejam alocadas em uma sede física, com uma escala hierárquica definida entre indivíduos e encontros periodizados entre seus membros. Basta que os manifestantes estejam organizados em rede e se identifiquem em suas dificuldades e reivindicações. “A autonomia da comunicação é a essência dos movimentos sociais, ao permitir que o movimento se forme e possibilitar que ele se relacione com a sociedade em geral, para além do controle dos detentores do poder sobre o poder da comunicação” (CASTELLS, 2013, p. 16).

Ainda nas considerações de Manuel Castells sobre a influência das redes nas novas movimentações sociais, o pensador espanhol afirma que o poder pode estar se deslocando dos Estados-Nações para novas alianças e coalizões não governamentais. Estas relações não pertencentes a nenhum território, mais fluidas e inconstantes, podem ser lidas como resultantes da sociabilidade típica da pós-modernidade. A influência da tecnologia nas relações sociais, econômicas e políticas dá origem a uma sociedade muito mais integrada e diversificada. Este fenômeno, aqui chamado de desterritorialização, será fundamental para entender o que é e quais as consequências da pós-modernidade nas relações sociais do século XXI, que abordaremos a seguir. 3

A DESTERRITORIALIZAÇÃO

Se uma das características marcantes da pós-modernidade se faz sentir nos novos movimentos sociais, os quais passam a não necessitar mais de encontro físico entre todos os seus participantes, então entendemos que a desterritorialização é uma das faces da pós-modernidade. Segundo Cristina Costa (2005, p. 237), a desterritorialização seria “a perda da importância do território nacional e a transnacionalização da economia”, bem como “as novas alianças que unem blocos regionais mais amplos, enfraquecendo as fronteiras nacionais e a circunscrição do Estado” (COSTA, 2005, p. 237). Nesta perspectiva, os territórios, as fronteiras e as vizinhanças necessitam de constante redefinição. São típicas desse processo, as constantes migrações humanas ao redor do globo terrestre, motivadas pelas mais diferentes causas: guerras, desastres naturais, alianças políticas, atividades econômicas etc. Anthony Giddens (2012, p. 467) rotula o século XXI como “a era da migração”, isto porque a intensificação da migração global após a Segunda Guerra Mundial, e especificamente em anos mais recentes, trouxe questões políticas e de governança muito sérias para todo o mundo. Inegável, portanto, é a multiplicidade de dados culturais e influências étnicas que permeiam as sociedades atingidas por este processo. 30

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Tanto os países alvos de imigrantes – geralmente pela prosperidade econômica (como Alemanha, França, Inglaterra) – quanto aqueles que “cedem” seus indivíduos a outros espaços (como Síria ou Haiti) – mais prósperos ou menos violentos e intolerantes – veem no fenômeno da desterritorialização uma mescla de culturas e tradições que atingem em cheio os sujeitos e definem novas identidades e relações sociais.

Constituem exemplos de alguns desses espaços de desterritorialização os campos de refugiados, as colônias de imigrantes, multinacionais e empresas de capital misto, nos esclarece Cristina Costa (2005, p. 237). FONTE: Banco de Imagens 123rf

FONTE: Banco de Imagens 123rf

Campo de refugiados em Domeez, Iraque.

Fronteira entre Grécia e a FYRON (antiga República Iugoslava da Macedônia).

A partir de agora, mais abstratos e difíceis de definir, os territórios nacionais, as fronteiras, os nacionalismos e as idiossincrasias culturais passam a ser constantemente reelaboradas sob uma perspectiva diversificada, múltipla e transnacional que traz a pós-modernidade. Entender esse fenômeno contemporâneo irreversível se faz uma das tarefas mais instigantes e complexas do pensamento social.

CONCLUSÃO Evidentemente todos nós já ouvimos o termo pós-modernidade, vida pós-moderna, amores pós-modernos em algum momento de nossas conversas mais banais. No entanto, a Unidade de Estudo apresentada forneceu aspectos e características desse fenômeno de modo mais complexo e aprofundado. Passamos pelas principais faces da pós-modernidade: suas características, a importância das tecnologias da informação e a consequente sociedade em rede, e a ideia de desterritorialização. Ao abordarmos a questão das redes, não pudemos nos furtar do impacto disso nas relações de produção e nas movimentações sociais. Todos esses aspectos se dispuseram a agregar dados e possibilidades de entendimento da realidade do século XXI a você que está disposto a captar de maneira crítica e reflexiva a realidade em que estamos todos inseridos.

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REFERÊNCIAS CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: Movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Editora Penso, 2012. HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 2007.

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UNIDADE DE ESTUDO 3 A GLOBALIZAÇÃO E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS INTRODUÇÃO Esta Unidade trata de uma das questões mais comentadas e polêmicas da contemporaneidade: a globalização. Tema profícuo entre filósofos, sociólogos, economistas entre outros profissionais interessados em entender os meandros que regem a vida social, política e cultural do século XXI, este assunto sempre traz posições contrárias e favoráveis capazes de despertar as discussões mais acaloradas. O intuito desta Unidade é apontar as principais características da globalização: como surge, por que se intensifica, os elementos mais importantes responsáveis pela sua intensificação a partir dos anos 1980, e as consequências desse processo na definição de novas identidades serão algumas das abordagens do primeiro tópico da Unidade. Em seguida, ainda no intuito de lhe fornecer maior subsídio para as discussões e problematizações acerca do tema, propomos uma investigação sobre a questão da ampliação das fronteiras, processo inevitável da globalização. Abordaremos a formação dos blocos econômicos e a consequente e dramática questão da imigração no século XXI. Finalizamos nosso debate apresentando a proposta de uma governança global como saída pensada por alguns estudiosos para os problemas gerados em função de uma internacionalização das fronteiras. Esperamos, com esta Unidade, contribuir para o despertar de uma consciência crítica e reflexiva acerca do tema e levantar ainda mais possibilidades de discussões que busquem a construção de um mundo mais justo e humano para todos.

FONTE: Banco de Imagens 123rf

Bons estudos!

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GLOBALIZAÇÃO: CARACTERIZAÇÕES

Nos noticiários, artigos de jornais, conversas informais e tantos outros espaços que permeiam nosso cotidiano ouvimos falar sobre a globalização. Esse termo se tornou palavra-chave para definir as novas relações no mundo contemporâneo, tanto para os debates sociológicos e filosóficos quanto para os econômicos e políticos. De uma maneira geral, o termo “global” se refere aos caminhos que as políticas econômicas e sociais do mundo capitalista vêm trilhando a partir da década de 1980.

“A globalização refere-se ao fato de que estamos cada vez mais vivendo em um mesmo mundo, de modo que os indivíduos, grupos e nações, se tornaram cada vez mais interdependentes”. (GIDDENS, 2012, p. 102).

Muitos estudiosos do assunto tratam da globalização como uma significativa perda de poder do Estado Nacional e do mercado interno, o que acarreta trocas comerciais e financeiras internacionais intensas e confere muito poder às instituições supranacionais, isto é, corporações, bancos e empresas multinacionais. No entanto, podemos afirmar que, relacionada às profundas transformações econômicas, acompanhamos uma reviravolta nas relações culturais, sociais e tecnológicas entre os países a partir dessa época. Giddens (2012) corrobora essa ideia ao afirmar que:

“Embora as forças econômicas sejam uma parte integral da globalização, seria errado sugerir que elas a produzem sozinhas. A união de fatores políticos, sociais, culturais e econômicos cria a globalização contemporânea” (GIDDENS, 2012, p. 102).

Assim, a globalização não se restringe às novas dinâmicas econômicas e políticas, ela envolve outros tantos aspectos sociais capazes de alterar profundamente sociedades inteiras. Somos levados a crer, portanto, que a globalização é processo multidimensional, ou seja, seus impactos e consequências podem ser sentidos em diversos âmbitos da vida dos indivíduos no século XXI.

Tendo em vista a possibilidade de entendermos melhor essas transformações, propomos uma reflexão sobre o funcionamento atual e as possibilidades futuras da globalização enquanto nova forma de ordenação das relações sociais, econômicas e políticas da atualidade.

Para isso, explicaremos a seguir alguns dos fatores que contribuíram para a globalização. 1.1 A TECNOLOGIA DAS COMUNICAÇÕES E DA INFORMAÇÃO O desenvolvimento das tecnologias da comunicação e da informação pode ser apontado como um dos aspectos fundamentais para a intensificação da globalização na contemporaneidade. Isto porque elas aumentaram, em muito, a velocidade e o alcance das trocas sociais entre os indivíduos por todo o mundo. Nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, esta disseminação da informação sofreu grande transformação. Ela foi facilitada por vários avanços na estrutura das telecomunicações do planeta como o desenvolvimento de um sistema de cabos mais eficiente e menos caro e o 36

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desenvolvimento tecnológico dos satélites de comunicações, que a partir da década de 1960 expandem as comunicações internacionais. A partir de então, grandes quantidades de informação podem ser comprimidas e transferidas por meio digital. Nos lares, empresas, escritórios de qualquer país com infraestrutura de comunicações mais desenvolvida, as pessoas estão interconectadas, recebendo e mandando informações em tempo real para qualquer indivíduo ao redor do globo terrestre. Isso acarreta uma transformação na concepção do tempo e do espaço substancial aos envolvidos nesses processos.

Um indivíduo em Tóquio recebe documentos, envia imagens e vídeos em tempo real a outro em São Paulo, graças ao desenvolvimento da tecnologia dos satélites.

1.2 OS FLUXOS INTERNACIONAIS E TRANSFORMAÇÕES DAS IDENTIDADES As trocas de informações possibilitadas pela tecnologia da comunicação permite a interconexão entre indivíduos no mundo todo. Esse fenômeno, para além das trocas já mencionadas, faz com que as pessoas estejam mais conscientes e se identifiquem mais umas com as outras em problemas globais do que no passado.

Um exemplo claro das possibilidades trazidas pela tecnologia da comunicação está na mobilização de milhares de pessoas em manifestações políticas e culturais. Movimentos como a chamada Primavera Árabe (grandes insurreições nos países árabes, a partir de 2009, quando milhares de pessoas saíram às ruas contra governos ditatoriais, inicia-se na Líbia e se expande para vários países vizinhos); ou o Greenpeace (importante Organização Não Governamental que luta pelas questões ambientais), entre outros, podem ser classificados como ações que buscam agir para além de seus territórios nacionais e são possíveis graças à internet.

Explicaremos o fato das trocas de informações facilitadas pela tecnologia a partir de duas dimensões. A primeira é que indivíduos no mundo todo passam a entender que suas responsabilidades vão além de suas fronteiras nacionais. Desastres naturais, guerras, fome e injustiças de toda ordem passam a ser vistas como problemas de alçada internacional, dignos de ação e intervenção.

A segunda diz que indivíduos no mundo todo buscam, cada vez mais, forjar sua identidade em fontes além de seu Estado-Nação. As identidades culturais locais passam por transformações profundas, e um habitante da Irlanda do Norte, por exemplo, pode se identificar culturalmente com um da França. A ideia da identificação patriótica dos indivíduos com seu Estados-Nação está em xeque à medida que as políticas em níveis globais e regionais se orientam para além das fronteiras geográficas.

Anthony Giddens (2012) afirma que, embora a globalização seja fomentada por grandes trocas econômicas e desenvolvimento tecnológico, ela pode ser sentida nas relações mais cotidianas. As transformações são vistas nas formas como as instituições sociais mais elementares, como família, papéis sociais, identidades pessoais, relações de trabalho, sexualidade etc., são afetadas e reconfiguradas. Neste sentido, para o autor, a globalização inaugura um período de ascensão do individualismo. Estudo do Ser Humano Contemporâneo

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“Em condições de globalização, enfrentamos uma tendência a um novo individualismo, no qual as pessoas devem agir ativamente para construir suas próprias identidades” (GIDDENS, 2012, p. 116).

À medida que nos deparamos com transformações profundas nos mais elementares pilares de sustentação da vida em sociedade, e tradições e costumes antigos já não fazem mais sentido, é preciso que sejamos capazes de alterar a maneira como pensamos a nós mesmos e surjam novos padrões identitários. 1.3 OS FATORES ECONÔMICOS Dada a importância que a tecnologia da informação confere às identidades individuais e a promoção de novas formas de comunicação, não podemos deixar de salientar que os processos econômicos são cruciais para que a globalização atinja os patamares do século XXI. Cada vez mais a economia global se orienta para as atividades ligadas à tecnologia da informação, isto é, softwares de computador, mídia, produtos do entretenimento e serviços baseados na internet. Segundo Anthony Giddens (2012, p. 106), a globalização é orientada “por atividades que não têm peso e são intangíveis”. A forma predominante da economia contemporânea passa a ser a rede entre diversas atividades que cruzam as fronteiras geográficas, tornando as empresas cada vez mais flexíveis e dispersas em suas hierarquias e atividades. É necessário fazer parcerias e participar de redes de distribuição mundial para estar presente nos negócios do mundo globalizado. 2

A AMPLIAÇÃO DAS FRONTEIRAS Os processos de integração regional que se delinearam em meados do século XX estão diretamente ligados ao desenvolvimento do capitalismo globalizado. Novos blocos econômicos surgiram e um novo patamar de integração entre os países foi possível. Nesse tópico, abordaremos as características principais da formação de blocos econômicos e suas principais consequências; assim como abordaremos a imigração.

2.1 OS BLOCOS ECONÔMICOS Dentro do sistema internacional de comércio na contemporaneidade, a formação de blocos econômicos passa a ser assunto de primeira ordem para os países que desejam estar inseridos na economia mundial. Esse fenômeno pode ser definido como um processo político entre dois ou mais países para limitar, total ou parcialmente, as barreiras comerciais entre eles. Esse fato contribui muito para a internacionalização das economias, e, consequentemente, para o processo globalizador.

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A constituição de um bloco econômico é a principal política de integração regional para criar e ampliar espaços inter ou supranacionais que permitam maior complementaridade, intercâmbio e incremento da capacidade competitiva dos países-membros em relação ao resto do mundo. (SILVA, 2013, p. 294)

No entanto, o processo integrador das economias globais assume também as diferenças econômicas e políticas entre os países. Serão justamente essas diferenças entre os envolvidos que representará um dos principais problemas enfrentados pela formação dos blocos econômicos (por exemplo: União Europeia, Mercosul, Nafta, entre outros), símbolos da globalização. 2.2 A IMIGRAÇÃO No contexto dos blocos econômicos, as fronteiras são bastante livres e sem impedimentos quando o que circula são as mercadorias. No entanto, quando se trata de pessoas, especialmente aquelas vindas dos países de economias periféricas, como África, América Latina e Ásia, as fronteiras já não são tão desimpedidas.

Restrições à entrada de imigrantes e políticas restritivas são formas contemporâneas de segregação espacial e consequente elemento fundamental de distinção social.

Idomeni, Grécia. Fronteira entre a Grécia e a FYROM.

“A possibilidade de se deslocar tornou-se um elemento fundamental para distinguir as classes sociais em nível global, não só pelos meios com os quais se movimentam, mas também, ou principalmente, pelas segregações e restrições espaciais que isso acarreta”. (BAUMAN apud SILVA et al., 2013, p. 295).

Atrelada à face positiva e transformadora das relações sociais que a globalização promete, está sua face perversa e excludente. Para que o ideal de integração da globalização se realize, é necessário abandonar antigas tradições e posições nacionalistas.

“O nacionalismo tranca as portas, arranca as aldravas e desliga as campainhas, declarando que apenas os que estão dentro têm direito de aí estar e acomodar-se de vez” (BAUMAN, 2001, p. 203).

Neste sentido, podemos afirmar que um dos grandes desafios que se impõem às novas relações entre os países é a questão da imigração e circulação de pessoas em busca das promessas e benefícios do capitalismo globalizado.

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UMA GOVERNANÇA GLOBAL É NECESSÁRIA

No processo da globalização, o avanço tecnológico serve para a promoção da circulação de capitais e mercadorias, no entanto, este processo não é homogêneo e igualitário. Àqueles países em que o capitalismo ainda é subdesenvolvido (por exemplo: Brasil, Índia, Chile), sobra apenas a transferência dos lucros aos países do capitalismo central (por exemplo: Estados Unidos, Inglaterra). Já a circulação humana é restrita e problemática, como visto no tópico anterior. É por isso que os efeitos negativos da globalização podem ser sentidos principalmente nas regiões de capitalismo periférico onde a instalação de grandes multinacionais explora a força de trabalho regional muitas vezes de maneira injusta, como por exemplo, pagando salários cada vez mais baixos, por muitas vezes mantendo os trabalhadores em condições análogas à escravidão, aproveitando-se da pouca organização sindical dos trabalhadores desses países, e ainda, valendo-se das isenções fiscais oferecidas por líderes desses países para que instalem suas fábricas nesses locais. Também é possível sentir os efeitos negativos da globalização nas consequências ao meio ambiente desses países, em que o processo de dilapidação dos recursos naturais se mostra insustentável. Por esses motivos, muitos estudiosos da globalização falam em estabelecer uma governança global. Esta proposta visa abordar de maneira global problemas que são criados e têm consequências num nível global.

Os efeitos do aquecimento do planeta, da disseminação de doenças, da regulamentação de mercados financeiros instáveis e dependentes internacionalmente, são exemplos de problemáticas que surgem em função de uma nova ordem econômica, política e social que é a globalização. FONTE: Banco de Imagens 123rf

Para a resolução destes entraves gerados pela internacionalização das relações, cada vez mais se propõe que as soluções para estes se dê num nível global. Segundo Giddens (2012, p. 117), o estabelecimento de uma governança global pode ajudar “a promover uma ordem mundial cosmopolita, na qual regras e padrões transparentes para o comportamento internacional, como a defesa dos direitos humanos, sejam estabelecidos e observados”.

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CONCLUSÃO

Ao longo desta Unidade, procuramos elucidar aspectos importantes acerca do tema da globalização. Passamos pelas suas características principais, pelos fatores cruciais para que alcançasse os níveis do século XXI, pela importância da tecnologia da informação e do desenvolvimento da internet nesse processo. Também salientamos o papel da economia e a formação dos blocos econômicos como grandes catalizadores da globalização tal como temos hoje. Tratamos do problema da imigração e de como a globalização pode ser perversa com aqueles países considerados como capitalismo periférico. Por fim, apontamos como saída para estes entraves o sonho da governança global, que, para muitos estudiosos, é a possibilidade mais plausível para os problemas criados pela internacionalização das fronteiras. Esperamos que os elementos aqui apresentados tenham fomentado uma nova e mais complexa maneira de enxergar o fenômeno que atinge a todos os cidadãos e todas as cidadãs do mundo contemporâneo, a globalização.

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REFERÊNCIAS BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Editora Penso, 2012. SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2013.

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UNIDADE DE ESTUDO 4 CRÍTICA DO CONHECIMENTO I INTRODUÇÃO Na época em que vivemos, diferentemente das anteriores, abundam informações. Chegam até nós turbilhões diários de informações. Nem todas são exatas, verdadeiras e relevantes. Muitas vezes temos a sensação de que recebemos informações em excesso, que mais nos confundem que esclarecem. Muitas delas truncadas, grosseiramente simplificadas, cuja fonte não é conhecida, que podem ter sido divulgadas com a intenção de iludir as pessoas, não com a intenção de lhes auxiliar a conhecer e compreender a realidade em que vivem. Outras tantas vezes as informações nos chegam apenas como entretenimento, modeladas (e distorcidas) para provocar emoções e divertimento, não para ajudar elaborar conhecimentos. Você já deve ter experimentado isso e provavelmente percebeu que a dificuldade é separar informações verdadeiras e não verdadeiras, informações relevantes e meros truísmos que nos ocupam a mente e o tempo. Cada vez mais, é necessário podermos discernir entre as informações que podem nos ser úteis e as que podem nos iludir. Nesta Unidade, queremos trabalhar alguns conceitos e distinções que podem nos ajudar na tarefa de filtrar informações e construir conhecimentos.

FONTE: Banco de Imagens 123rf

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INFORMAÇÕES E CONHECIMENTOS

Informações não são conhecimentos. Essa é a primeira distinção que devemos fazer. Informações são registros de algumas características de fatos, objetos ou processos que detectamos no mundo. Conhecimentos são conjuntos de informações organizadas, articuladas e interpretadas, que nos ajudam a compreender uma parte da realidade natural, social ou cultural do mundo em que vivemos.

Pense numa lista telefônica (daquelas antigas, enormes e impressas em papel fininho). Você tem nela uma grande quantidade de informações, mas, por si só, a lista não representa conhecimento. Para transformar aquelas informações em conhecimentos sobre a cidade a que se refere essa lista, você precisa analisar essas informações, estabelecer relações entre elas e interpretar seu significado. Só assim você saberá se a cidade é populosa ou não, se é rica ou pobre, antiga ou jovem, que tipos de empresas possui, se seus serviços de saúde e de educação estão bem distribuídos ou não. Todos os dias somos bombardeados por uma enorme quantidade de informações. Jornais, revistas, TV, Internet, rádio, redes sociais... Não nos faltam informações. Na verdade, as temos em excesso. Isso cria um dos grandes desafios de nosso tempo: filtrar essas informações, separando relevantes e irrelevantes, verdadeiras e falsas, úteis e inúteis. A análise das formas de conhecimento, que empreenderemos nesta Unidade, apresenta algumas ferramentas para ajudá-lo a enfrentar o desafio de fazer o exame crítico das informações que recebemos. 2

AS FORMAS DO CONHECIMENTO

Ao longo da História, os seres humanos criaram variadas formas de conhecer. São modos diferentes de usar sua capacidade intelectual, de articular ideias, imagens, raciocínios, sentimentos. Todas as formas de conhecimento – senso comum, mito, ideologia, ciência, tecnologia, filosofia, religião, arte, entre outras – atendem de maneiras diferentes à necessidade humana de conhecer e compreender o mundo e o próprio ser humano. Analisaremos nesta Unidade apenas algumas dessas formas. 2.1 SENSO COMUM O senso comum pode ser entendido de duas formas distintas, mas que são complementares:

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Como Fenômeno Social: Em todos os grupos sociais percebemos a existência de informações que circulam continuamente entre seus membros, formando um cabedal comum, isto é, conhecido por todos. Esse cabedal contém normas de comportamento social, fatos históricos, lendas, superstições, informações científicas popularizadas, valores morais, crenças religiosas, modos de fazer coisas e organizar a vida, mitos, ideologias políticas, representações do que seja o mundo e a sociedade etc. Tudo isso misturado, num conjunto pouco organizado e muitas vezes contraditório. Esse cabedal, entretanto, é da máxima importância, pois permite a comunicação entre os membros do grupo social e, consequentemente, facilita a interação e a cooperação entre eles. O senso comum forma uma visão de mundo, isto é, uma representação, uma imagem de como é o mundo, que é a primeira referência que temos do mundo que nos cerca e é a referência que as pessoas usam como orientação para a vida cotidiana.

Paulo Moacir Godoy Pozzebon

Como forma de organizar os conhecimentos: Numa outra abordagem, o senso comum é também uma maneira de conhecer, isto é, um modo de lidar com informações e elaborar conhecimentos. O senso comum elabora conhecimentos de modo assistemático, fragmentário e superficial. Isso porque o senso comum é muitas vezes portador de uma atitude crédula e acrítica, que se satisfaz com as aparências, que aceita opiniões somente porque foram emitidas por supostas autoridades do saber, que admira as opiniões mais chocantes. Podemos resumir afirmando que o senso comum não examina seus conhecimentos: não pergunta pela origem das informações, não pergunta por sua veracidade, ou pelos interesses que eventualmente podem promover a divulgação de fatos distorcidos.

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O que vou comer na lanchonete, se levarei ou não agasalho ao sair de casa, se é moralmente certo ou errado o gesto que pretendo realizar para uma pessoa, em que candidato pretendo votar, tudo isso é geralmente avaliado por meio de critérios extraídos do senso comum.

IMPORTANTE

Vale atentar para esta característica do senso comum: toda informação que se torna senso comum, isto é, que se dissemina na sociedade e é repetida em toda parte, começa a ser tomada como verdadeira. É como um boato maldoso: depois que se difunde, ninguém mais se lembra de onde veio, quem o proferiu e com que interesse. Tornou-se senso comum, todos o repetem como se fosse verdadeiro.

Podemos resumir afirmando que o senso comum não examina seus conhecimentos: não pergunta pela origem das informações, não pergunta por sua veracidade, ou pelos interesses que eventualmente podem promover a divulgação de fatos distorcidos.

O exame do conhecimento é tarefa constante para todos aqueles que não se satisfazem com aparências e buscam a verdade. Por isso, apesar de sua enorme importância na vida cotidiana de indivíduos e coletividades, não podemos nos limitar a aceitar e reproduzir os conteúdos superficiais do senso comum. 2.2 MITO Mitos são também uma maneira de conhecer, que a humanidade vem utilizando desde a mais remota antiguidade até hoje. Trata-se de uma forma de conhecimento baseada fundamentalmente na compreensão intuitiva dos fatos, que é apresentada, em geral, sob o formato de uma história. Essa narrativa apresenta, muitas vezes a saga de um herói, a origem do cosmos ou dos deuses, a origem do ser humano, das raças e dos povos, entre outros temas. Os mitos são criados, anônima e coletivamente, para explicar o mundo em que vivemos, especialmente os acontecimentos que nos amedrontam. Essa explicação não segue critérios racionais, muito menos científicos, mas ensinam, por meio do comportamento dos personagens da narrativa, a solução dos enigmas da vida, a identidade do grupo social e o modo correto de se conduzir. Estudo do Ser Humano Contemporâneo

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Todos os povos criam seus mitos e os utilizam para compreender os mistérios da vida e do mundo.

IMPORTANTE

No cinema americano encontramos, onipresente, o mito do herói. Na história política brasileira é recorrente o mito do salvador da pátria. Nas tradições religiosas de origem hebraico-cristã, em papel fundante o mito da origem do povo. Nas tradições indígenas muitas vezes encontramos mitos da origem dos alimentos e das ferramentas.

É importante observarmos que os mitos estão presentes em nossa vida, mesmo que não os percebamos. Nós os tomamos como explicações válidas, até o momento em que novas informações nos fazem adotar outras explicações, mais afeitas às ciências ou à racionalidade pragmática. Apenas quando as primeiras explicações são recusadas como inválidas, percebemos que são explicações míticas. O exemplo a seguir apresenta um caso assim.

UM MITO CONTEMPORÂNEO Alguém já lhe contou a história seguinte? Ela já foi muito difundida no Brasil há algumas décadas. Apesar de ser uma explicação mítica, foi aceita como válida por amplos setores da sociedade brasileira: “O Japão é um país muito pequeno, que fica do outro lado do mundo. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi inteiramente destruído. Mas os japoneses foram tão esforçados, disciplinados e trabalhadores, que rapidamente reconstruíram tudo e ainda se tornaram um dos países mais ricos do mundo”. Essa narrativa surgiu nos anos 1960, quando o Japão experimentou um crescimento econômico muito forte e impressionou o mundo todo com seus trens-bala, automóveis baratos e aparelhos eletrônicos. Visto a partir do Brasil, o “milagre econômico japonês” parecia incompreensível e, sobretudo, assustador. O Japão não tinha sido inteiramente destruído, inclusive por duas bombas atômicas? Como os japoneses conseguiram essa façanha? O que eles faziam de especial para chegar tão longe? Desconhecendo os fatores econômicos e geopolíticos que favoreceram a reconstrução do Japão, inclusive a enorme cooperação norte-americana, os brasileiros recorreram à consciência mítica, que forneceu uma explicação – intuitiva, mas fundamentada na realidade: a tradição japonesa de valorização do esforço, do trabalho e da disciplina. E o que os brasileiros têm a ver com esse mito? Como essa narrativa, criada por brasileiros, pode se referir à identidade dos brasileiros? A resposta parece estar em uma espécie de contraposição muda: ▪▪ o Japão é um país muito pequeno, o Brasil é um país com imenso território; ▪▪ o Japão foi inteiramente destruído durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil sempre se ufanou por não ter guerras em seu interior; ▪▪ o Japão foi reconstruído e se tornou rico por meio do trabalho e do esforço de seus cidadãos, o Brasil ainda não chegou lá.

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Paulo Moacir Godoy Pozzebon

2.3 IDEOLOGIA Desde Destutt de Tracy e Karl Marx, no século XIX, o fenômeno da ideologia tem despertado interesse e inúmeros teóricos já se manifestaram sobre o tema, formulando concepções das mais variadas. Com base nas ideias do filósofo polonês Adam Schaff (1913-2000), apresentamos uma concepção ampla de ideologia, que nos fornece uma interessante ferramenta para elaborar a crítica do conhecimento.

De acordo com esse pensador, podemos definir ideologia como um conjunto de opiniões, baseadas em um conjunto de valores admitidos, pelo qual um grupo organizado afirma sua identidade e seus interesses (SCHAFF, 1968).

A ideologia é concebida, então, como uma visão de mundo sistematizada (ao contrário do senso comum, que é uma visão de mundo desorganizada), modelada pelos interesses do grupo que a elaborou, que atua afirmando a identidade do grupo, controlando as divergências de seus membros e difundindo por toda a sociedade a visão de mundo desse grupo. A ideologia pode atuar como instrumento crítico de desvelamento da realidade, num contexto em que o grupo que a formula se encontra em situação de subordinação ou de oposição ao grupo dominante. Contudo, a ideologia se torna falsa consciência e obstáculo à compreensão da realidade sempre que está a serviço da dominação e, por conseguinte, dos interesses de ocultação do real. Os mecanismos utilizados pela ideologia para ocultar a realidade foram estudados por Marilena Chauí (2008. p. 113.). Os principais são:

Naturalização – faz com que os processos provocados pela intervenção humana sejam interpretados como resultantes de fenômenos naturais; Inversão de causa e efeito – em geral faz com que as vítimas de um processo social violento ou excludente apareçam como seus causadores;

Universalização de interesses – maneira pela qual os interesses do grupo dominante são apresentados como interesses de todos os membros da sociedade;

Ocultação de informações – informações que, se reveladas, destroem a coerência do discurso ideológico e evidenciam seu propósito ocultador. FONTE: Aranha e Martins (1993, p. 37)

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IMPORTANTE

Na vida cotidiana e na vida civil, em todos os debates de cunho político, econômico social ou cultural, estão presentes as ideologias, ora ocultando a realidade, ora forçando seu desvelamento. Não existe um “lugar” ou um tipo de discurso ideologicamente neutro. A ideologia só pode ser vencida pelo esforço crítico de perceber, em cada caso, em cada ponto de discussão, os interesses que estão moldando o discurso e deformando a percepção da realidade. É uma tarefa indispensável e permanente.

CONCLUSÃO Em nossa vida cotidiana, na interação social, no trabalho e mesmo nos estudos, recebemos uma enorme quantidade de informações, estruturadas sob diferentes formas de conhecimento, sem indicação de sua origem nem dos interesses de quem a veicula. É um desafio constante buscar distinguir informações verdadeiras e falsas, relevantes e irrelevantes, descritivas ou ideológicas, objetivas e subjetivas. Por isso, a crítica do conhecimento é uma tarefa permanente, que deve se tornar, para nós, um verdadeiro hábito. Reconhecer as diferentes formas do conhecimento com as quais convivemos – senso comum, mito, ciência, tecnologia, filosofia, ideologia e outras – e entender suas respectivas dinâmicas, constitui uma importante ferramenta de análise. A busca de informações complementares e de aprofundamento dos conhecimentos permitem avançar na tarefa crítica. A recompensa? Uma compreensão mais adequada da realidade em que vivemos. Quem conhece mais escolhe melhor e mais livremente.

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REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993. CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2008. p. 113. SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1983. SCHAFF, Adam. A definição funcional de ideologia e o problema do “fim do século da ideologia”. L’Homme et la societé: Revista Internacional de Pesquisas e Sínteses Sociológicas, Série Documentos, São Paulo, n. 2, Ed. Documentos, 1968.

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UNIDADE DE ESTUDO 5 CRÍTICA DO CONHECIMENTO II INTRODUÇÃO Nesta Unidade daremos continuidade ao estudo da Crítica do Conhecimento, com ênfase para uma das formas de conhecimento mais prestigiosa dos últimos séculos: a ciência. Dela se esperam conhecimentos verdadeiros e uma explicação científica tende a ser aceita como verdadeira e incontestável. Veremos como surgiu a tecnologia, seu papel na sociedade e como ela atua com a ciência para desenvolver o conhecimento. Estudaremos também o papel da Filosofia na construção do conhecimento e como se dá o diálogo entre ela e outras formas de saber. Bons estudos! 1 CIÊNCIA FONTE: Banco de Imagens 123rf

A ciência foi buscada, desde a antiguidade Clássica, como um ideal de conhecimento certo e seguro, que permitisse superar as limitações do senso comum e do mito. Contudo, somente a partir da Revolução Científica do Século XVII (protagonizada por Galileu Galilei, entre outros), estruturou-se o tipo de saber que hoje denominamos ciência. Sendo assim, na escala de tempo da história da humanidade, esse é um acontecimento recente. Seu enorme sucesso e suas conquistas se devem à adoção de um método baseado na experimentação. Com ele, a ciência moderna foi mais longe e mais fundo que a maior parte das formas de conhecimento. Atualmente, a ciência abrange os estudos da natureza, do ser humano, da sociedade e da cultura. A ciência tem limitações, contudo. Sua capacidade de conhecer vai somente até onde é possível fazer experimentações, ou constatações empíricas. Muitas coisas importantes ficam de fora do conhecimento científico: O campo dos valores éticos e estéticos: pois a ciência não discute valores (o cientista é quem deve ter valores éticos); A arte: que é também uma forma válida (e indispensável) de interpretar a realidade;

O campo da fé: que continua a mover a humanidade;

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As profundezas da alma humana: reveladas nos mitos e na arte; E os voos mais altos da razão: em que a filosofia ultrapassa a ciência e tematiza a própria razão. Dessa forma, o formidável poder explicativo da ciência nunca será capaz de esclarecer toda a realidade, nem de afirmar a existência ou inexistência de Deus, a justiça, a beleza e muitos outros temas. Não poderá substituir outras formas de conhecimento, como a filosofia, ou a experiência religiosa, mas poderá conviver com elas e mesmo cooperar, pesquisando em seu campo próprio e com seus métodos específicos os aspectos básicos dos fenômenos que interessam também a essas formas de saber. 1.1 COMO PODEMOS CARACTERIZAR O CONHECIMENTO CIENTÍFICO? O conhecimento produzido pela ciência pretende ser, acima de tudo, objetivo. Objetivo é o conhecimento que traduz as características do objeto (a coisa) que está sendo conhecido. É, portanto, um conhecimento fiel à realidade, evitando distorções introduzidas pela subjetividade do cientista. O conhecimento científico é também organizado e coerente, sem contradições nem lacunas que o invalidem. Nisto difere do senso comum, que é um conjunto desorganizado de opiniões. É também metódico, isto é, segue com rigor um método científico, evitando saltos, “chutes” e “achologia”. É racional, isto é, exprime-se em conceitos e relações lógicas e pode ser compreendido por meio da razão humana. É testável, isto é, pode ser submetido à experimentação e, por meio dela, corroborado ou refutado. O conhecimento científico pretende ser válido, isto é, capaz de descrever e explicar fenômenos com objetividade, sem pretender constituir verdade definitiva. De fato, os cientistas sabem que seu conhecimento é falível e, frequentemente, uma teoria deve ser abandonada em favor de outra porque aquela permite explicar fenômenos que a primeira não explica. O que são, então, as teorias científicas? São modelos que pretendem descrever o funcionamento dos fenômenos, isto é, são maquetes da realidade, que nos ajudam a compreendê-la. Nunca são, porém, representações completas e infalíveis da realidade. 2

TÉCNICAS E TECNOLOGIA

Técnicas são as formas que a humanidade foi criando, ao longo da história, para transformar materiais naturais nos bens de que tinha necessidade.

Foram assim inventados, por exemplo, a agricultura e a pecuária; alimentos como o pão, os queijos, o vinho e demais bebidas alcoólicas; a fundição de metais; a edificação com madeira e/ou pedra etc.

Por sua vez, a tecnologia surgiu com a ascensão da ciência moderna, no final do século XVIII. Os cientistas da época procuravam explicar com ajuda da ciência o funcionamento das

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técnicas tradicionais. Com isso, abriram caminho para o aperfeiçoamento dessas técnicas por meio do conhecimento científico e para sua utilização na indústria. Surgiu assim a eletrônica e a microeletrônica, a informática e todo o aparato que hoje utilizamos nas telecomunicações e no processamento de informações. Ciência e tecnologia atuam em mão dupla: o conhecimento científico abre caminho para o desenvolvimento de tecnologias e a tecnologia dá meios à ciência para o aprofundamento das pesquisas. Essa relação é tão profunda que atualmente alguns setores preferem usar o termo “tecnociência”, ao invés de “ciência e tecnologia”.

A tecnologia desempenha papéis fundamentais em nossa sociedade. O mais nobre é com certeza a criação de novos medicamentos e aparelhagens que facilitam o diagnóstico e o tratamento de doenças. Entretanto, os produtos de uso doméstico (eletroeletrônicos, químicos, alimentícios), do setor automobilístico ou de transportes, do setor agropecuário, entre outros, transformam incessantemente a economia, pois ora dão maior eficiência e produtividade aos métodos de produção, ora criam produtos que introduzem facilidades novas e disseminam novos comportamentos. Isso sem mencionar a área militar, onde novas tecnologias bélicas (armas, comunicação e transporte) tendem a ser decisivas na guerra. Por essa razão, o desenvolvimento de novas tecnologias é preocupação constante de muitos países. Dessa maneira, é fácil entender que o principal papel da tecnologia tem sido o de estimular a economia com novos e melhores produtos, cujo surgimento leva à substituição de produtos anteriores e força a realização de novos investimentos. A tecnologia se tornou um dos principais motores da economia capitalista. Contudo, seu uso deve ser dirigido e, quando necessário, limitado, pela atuação responsável de cientistas e de toda a sociedade. 3 FILOSOFIA Também a filosofia é um modo especial de elaborar conhecimentos. A própria palavra filosofia o denuncia: no grego antigo, filo + sofia equivale a amor pela sabedoria, isto é, uma busca contínua, amorosa e empenhada do conhecimento em direção à sabedoria. Mas esta explicação não nos basta atualmente. Como modo de conhecer, a filosofia pode ser compreendida como reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre problemas que a realidade em que vivemos nos apresenta (SAVIANI, 1983). Afirmar que a Filosofia é reflexão significa afirmar que a razão (nossa capacidade de raciocinar) é o instrumento mais importante para a compreensão da realidade. Mas não é qualquer tipo de reflexão que pode ser chamada de filosófica. ▪▪ deve ser radical, na medida em que desce às raízes dos problemas enfrentados; ▪▪ deve ser rigorosa, quando utiliza de procedimentos com lógica e metodologia, indispensáveis para o desenvolvimento reto e seguro da razão, bem como da percepção das racionalidades no real; ▪▪ deve, finalmente, ser abrangente, na medida em que procura focar seus objetos nos contextos que lhes dão sentidos e nas circunstâncias que interagem com os seres humanos.

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Os objetivos desta reflexão são variados e diversos, conforme os diferentes autores e correntes da filosofia. Observe a seguir: Filosofia a) um conjunto de conhecimentos que visa fornecer explicação fundamental de todas as coisas; b) a tentativa de encontrar sentidos que expliquem radicalmente a realidade humana, sua inserção no mundo e suas possibilidades existenciais; c) a busca pelos fundamentos concretos da realidade, bem como a busca pelas possibilidades de conhecê-la; d) a busca do direcionamento racional das ações humanas, na ação e na ética, e da construção racional do mundo humano.

Vale uma palavra sobre a necessidade e a importância da filosofia. O senso comum a considera inútil. Entretanto, apoiada na reflexão rigorosamente racional, a filosofia permite ao homem se distanciar do mundo cotidiano, do agir imediato, dos sentidos preconcebidos e impostos pelas ideologias. Este distanciamento permite: ▪▪ a retomada crítica dos fundamentos da ação individual e coletiva; ▪▪ a crítica do pensamento relativista ou mesmo dogmático, tão frequentes no senso comum; ▪▪ a crítica da especialização fragmentadora das ciências, da estreiteza da razão instrumental sacralizada pela tecnologia. Na filosofia reside a possibilidade de o homem transcender a situação dada e não escolhida, reside nela a possibilidade de o homem se tornar capaz de projetar o efetivamente novo e direcionar livremente seu destino. Pelo exercício do pensamento radicalmente crítico, a filosofia permite elaborar a reflexão sobre os fundamentos e limites da ciência, das tecnologias e das profissões e de todas as formas do conhecer. Observe o QUADRO 1 a seguir: QUADRO 1 – Diálogo entre a Filosofia e outras formas do conhecimento CIÊNCIAS

PROFISSÕES E TECNOLOGIAS

FÉ E A TEOLOGIA

De fato, no diálogo com a ciência, a filosofia se apropria de conhecimentos científicos que lhe permitem melhor aproximação do real, enquanto as ciências se enriquecem com a discussão dos fundamentos e do alcance dos conhecimentos construídos.

Às profissões e tecnologias, a filosofia traz a discussão ética e metodológica das finalidades e dos meios da ação, do trabalho e do próprio conhecimento científico.

Com a fé e a teologia, a filosofia pode empreender riquíssimo diálogo, no qual se alcança uma esfera mais ampla de significação da experiência humana e de sua relação com o ser e com o Criador. Com as artes, a filosofia dialoga em busca do belo, do ser e do fazer.

FONTE: O autor (2017)

A filosofia permite diálogo construtivo com todas as modalidades do conhecimento. Mas também se opõe, criticamente, à ciência que pretende explicar o real pela negação de tudo o que não recai sob seus instrumentos; contrapõe-se às ideologias que mascaram a realidade, às tecnologias que pretendem prescindir da finalidade humana, às abordagens ingênuas e redutoras, que entorpecem o senso comum. A filosofia pode cooperar construtivamente com todas as modalidades do conhecimento que exerçam suas funções sem ultrapassar o grau próprio de seu saber. 58

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EM BUSCA DE UMA COMPREENSÃO CRÍTICA Como nos situamos diante de todas essas formas de conhecimento? Qual delas tem mais razão no que afirma, no que nega ou no modo como procede?

Infelizmente não temos à nossa disposição a alternativa de adotar uma forma única e suficiente. Todas as formas de conhecimento nos são necessárias: A ciência é indispensável. Trata-se do mais bem-sucedido empreendimento humano na área do conhecimento e seu papel é insubstituível para a compreensão do mundo em que vivemos, de tudo o que envolve a vida humana e mesmo para a compreensão de nós mesmos. É a forma de conhecimento que permite a elaboração de tecnologias, que se tornaram indispensáveis à conservação da vida humana. Contudo, não nos basta a ciência. As demais formas do conhecimento são também necessárias para a vida humana atual. O senso comum tem papel importantíssimo nos grupos sociais, pois as opiniões e significados que faz circular permitem o entendimento mútuo entre indivíduos. Os mitos, já o vimos, são um esforço, permanente e nunca abandonado, para compreender os mistérios que nos cercam. As ideologias proporcionam unidade e mobilização de grupos sociais. A filosofia busca compreensão crítica e radical da realidade humana e das próprias formas de conhecimento. Todas essas formas de conhecimento têm sua importância e atendem à irrenunciável necessidade humana de conhecer. Na vida cotidiana, utilizamos todas essas formas, ora isoladamente, ora mesclando-as. Todas elas, cada uma a seu modo e para momentos distintos, podem nos ser úteis na busca da compreensão mais profunda da realidade humana e do mundo que nos cerca.

IMPORTANTE

Isso não significa aceitar, ingenuamente, qualquer opinião como válida, ou qualquer informação como verdadeira. Precisamos nos aproximar criticamente de toda informação e de todo conhecimento que nos é proposto.

Pensar criticamente o conhecimento é, em primeiro lugar, constatar que o conhecimento humano é sempre limitado e sujeito a falhas; por outro lado, a realidade é complexa e sua apreensão nunca é completa nem automática. A criticidade consiste em examinar todo discurso que se apresenta com portador de conhecimentos, seja ele científico, ético, político, religioso, artístico ou do senso comum. Isso inclui examinar nossa própria concepção de mundo, certezas arraigadas, pressupostos teóricos e hábitos intelectuais.

Diante de qualquer discurso, podemos sempre refletir: ▪▪ Quais são os fatos objetivos apontados e quais são as impressões subjetivas? Nesse discurso, o que é descrição da realidade e o que é juízo moral? ▪▪ Como podem ser verificadas as informações transmitidas? ▪▪ Esse discurso mostra a realidade como um conjunto complexo de elementos e suas relações ou como um esquema simplificado de oposição entre os bons e os maus?

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▪▪ Qual é a perspectiva a partir da qual pensa e fala o autor desse discurso? Quais são seus pressupostos sociais, políticos, éticos e antropológicos? Quais poderiam ser seus interesses? ▪▪ Qual é o objetivo desse discurso: descrever, discutir, persuadir, mobilizar, mostrar a realidade ou ocultá-la? Alimentada por uma atitude analítica, atenta, que não se satisfaz com as aparências, não aceita passivamente opiniões e valores que lhe são propostos, mas quer interrogar o real e compreendê-lo profundamente, a criticidade requer um esforço metódico e constante de exame dos conhecimentos e de busca de informações mais amplas e precisas. Desse esforço depende a esperança de compreendermos melhor o mundo em que vivemos. Em nossa vida cotidiana, na interação social, no trabalho e mesmo nos estudos, recebemos uma enorme quantidade de informações, estruturadas sob diferentes formas de conhecimento, sem indicação de sua origem nem dos interesses de quem a veicula. É um desafio constante buscar distinguir informações verdadeiras e falsas, relevantes e irrelevantes, descritivas ou ideológicas, objetivas e subjetivas. Por isso, a crítica do conhecimento é uma tarefa permanente, que deve se tornar, para nós, um verdadeiro hábito.

CONCLUSÃO

Reconhecer as diferentes formas do conhecimento com as quais convivemos – senso comum, mito, ciência, tecnologia, filosofia, ideologia e outras – e entender suas respectivas dinâmicas, constitui uma importante ferramenta de análise. A busca de informações complementares e de aprofundamento dos conhecimentos permitem avançar na tarefa crítica. A recompensa? Uma compreensão mais adequada da realidade em que vivemos. Quem conhece mais escolhe melhor e mais livremente.

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REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993. CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2008. p. 113. SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1983. SCHAFF, Adam. A definição funcional de ideologia e o problema do “fim do século da ideologia”. L’Homme et la societé: Revista Internacional de Pesquisas e Sínteses Sociológicas, Série Documentos, São Paulo, n. 2, Ed. Documentos, 1968.

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UNIDADE DE ESTUDO 6 O HUMANO – QUEM É ELE? INTRODUÇÃO Quem é o ser humano? Esta pergunta é constantemente repetida, em todos os tempos e lugares, mas as respostas nunca permitem compreender inteiramente o ser humano. A complexidade biológica, psíquica, sociocultural e espiritual do ser humano, associada à sua capacidade de se modificar e de se reinventar, faz dele um grande mistério para si mesmo. No entanto, não é possível vivermos como humanos sem nos colocarmos questões fundamentais:

▪▪ Quem somos nós? ▪▪ Qual é o propósito de nossa existência?

IMPORTANTE

Nesta Unidade, veremos algumas características que fazem do humano um ser tão especial. Essas características indicam dimensões que, profundamente integradas, constituem o ser humano. É fundamental entendê-las, pois, se as desconsiderarmos, correremos o risco de construir uma visão distorcida do que é o ser humano.

1

O ser humano pode ser pensado como sendo constituído por múltiplas dimensões profundamente integradas.

O SER HUMANO É FEITO DE TERRA E É PARTE DA TERRA

O ser humano, como todos os seres vivos do planeta Terra, tem seu corpo constituído pelos mesmos materiais biológicos presentes em todos os animais. Por sua vez, estes são compostos por elementos químicos extraídos do solo, da água, do ar e de outros seres vivos. Nesse sentido, nós compartilhamos a mesma “química da vida” com todos os seres vivos e obedecemos às mesmas leis naturais.

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Somos, assim, filhos da Terra, que nos dá a vida biológica e o alimento com que, diariamente, construímos nosso corpo e do qual retiramos a energia de que necessitamos, e a qual devolveremos tudo um dia, ao final da vida.

É para essa reflexão que nos convida a imagem utilizada pela Bíblia para descrever o surgimento do ser humano: um boneco modelado em barro, no qual Deus introduziu um espírito: “Então Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente” (BÍBLIA, Gn 2, 7). A reflexão de Leonardo Boff (2013) nos ajuda a compreender melhor essa realidade:

IMPORTANTE

Somos Terra que pensa, sente e ama. O ser humano, nas várias culturas e fases históricas, revelou essa intuição segura: pertencemos à Terra; somos filhos e filhas da Terra; somos Terra. Daí que [a palavra] “homem” vem de “húmus”. Viemos da Terra e voltaremos à Terra. A Terra não está à nossa frente como algo distinto de nós mesmos. Temos a Terra dentro de nós. Somos a própria Terra que na sua evolução chegou ao estágio de sentimento, de compreensão, de vontade, de responsabilidade e de veneração. Numa palavra: somos a Terra no seu momento de autorrealização e de autoconsciência.

2

O corpo humano é composto por elementos químicos extraídos do solo, da água, do ar e de outros seres vivos. Somos, portanto, feitos de terra e à terra devolveremos nosso corpo.

O SER HUMANO: UM ANIMAL EXTRAORDINÁRIO

Como animal, o ser humano compartilha características das espécies mais evoluídas, mas também possui traços que o diferenciam dos outros animais. De fato, somos bastante semelhantes aos grandes primatas, como orangotangos, gorilas e chimpanzés. Somos mamíferos, organizados em simetria bilateral, dotados de quatro membros divididos entre superiores e inferiores, possuímos polegares opositores que permitem à mão segurar um objeto, um cérebro desenvolvido e a capacidade de ficarmos eretos. Partilhamos com outros animais a capacidade de sentir dor e afeto, as diferentes formas e graus da inteligência e da memória, o impulso sexual e reprodutivo. Entretanto, alguns traços muito importantes nos diferenciam dos outros animais: a adoção da postura ereta e a liberação das mãos, o maior desenvolvimento do cérebro, que nos possibilita (como um sofisticado hardware biológico) uma complexa vida psíquica, um grau extraordinário de inteligência e a elaboração da linguagem. 66

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Uma característica merece menção especial: somos animais que, ao nascer, não são especializados. Compare o bebê humano com os filhotes dos outros animais. Grande parte dos animais, quando nasce, já tem grau elevado de amadurecimento e de especialização de suas funções orgânicas. Estão prontos para viver como indivíduos de sua espécie.

Observe, como exemplo: ▪▪ um bezerro é capaz de andar poucas horas depois de parido; ▪▪ um filhote de girafa reconhece sua mãe, entre as demais, pelas manchas de sua pelagem; ▪▪ um filhote de tartaruga marinha sai do ovo e corre imediatamente para o mar, sendo também capaz de gravar a localização da praia onde nasceu e para onde voltará para se reproduzir.

IMPORTANTE

Essas características os tornam menos dependentes das mães (às vezes inteiramente independentes), facilitando a sobrevivência em seu habitat natural e permitindo se desenvolver rapidamente, alcançando em pouco tempo a plenitude física e a capacidade reprodutiva.

Ao nascer, o ser humano é um animal não especializado. Suas funções orgânicas não estão prontas para assegurar a sobrevivência. Isso lhe permitirá adquirir características exclusivamente humanas por meio do aprendizado e da cultura.

Durante um longo período de dependência da mãe ou de outros adultos, irá se desenvolvendo aos poucos e adquirindo características que não são somente naturais, mas também culturais. Isto é, durante o desenvolvimento da criança, ela passará pelo processo de humanização, pelo qual adquirirá características e comportamentos humanos.

Humanização é o processo pelo qual uma criança adquire comportamentos humanos, características físicas, linguagem e conteúdos culturais, por meio da convivência e interação com outros seres humanos.

Esse processo é natural, sociocultural e psíquico, ao mesmo tempo. Se um bebê não passasse por esse processo desde seu nascimento, muitas das características que distinguem os seres humanos deixariam de ser aprendidas: ▪▪ andar sobre duas pernas; ▪▪ falar e se comunicar, relacionar-se com outros seres humanos; ▪▪ comportar-se como se comportam os adultos da sociedade em que nasceu.

Se o bebê humano nasce quase sem funções especializadas e necessita aprender o comportamento humano com outros humanos, como seria seu desenvolvimento se fosse privado dos estímulos recebidos na convivência com seres humanos?

Algumas outras diferenças entre o ser humano e o animal serão a seguir destacadas. Estudo do Ser Humano Contemporâneo

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2.1 O SER HUMANO POSSUI INTELIGÊNCIA ABSTRATA O comportamento dos animais situados nos níveis mais baixos da escala zoológica (insetos, por exemplo) é controlado por reflexos e instintos resultantes de sua constituição biológica. Isso faz com que respondam sempre da mesma forma a diferentes situações e suas ações não indicam qualquer finalidade consciente.

Por isso, aranhas executam suas teias sempre da mesma forma, peixes migram para se reproduzir (a piracema) quando recebem um certo estímulo químico das águas do rio e pássaros constroem seus ninhos da maneira típica de sua espécie.

Animais situados nos níveis mais elevados da escala zoológica possuem, além dos instintos, uma certa inteligência concreta, que lhes permite responder de forma nova e diferente a uma situação imprevista. Chamamos de concreta porque sua inteligência está limitada ao aqui e agora, isto é, a resposta do animal depende dos elementos presentes e não faz uso de elementos anteriores nem de possibilidades futuras.

Chimpanzés, golfinhos e elefantes estão entre os animais mais inteligentes. Mas, entre os animais domésticos, cães, gatos e porcos manifestam considerável inteligência concreta.

A inteligência humana é diferente. Além das características de flexibilidade e adaptação a situações novas, que observamos na inteligência concreta, temos a possibilidade de antecipar o ato, examiná-lo enquanto possibilidade futura e, valendo-nos das experiências pessoalmente aprendidas ou transmitidas por outros, escolher os meios necessários e ajustá-lo à finalidade desejada. A inteligência humana é, portanto, abstrata. Não se limita aos elementos presentes aqui e agora, mas incorpora elementos passados, distantes no espaço e até mesmo possibilidades futuras.

A inteligência humana é, portanto, abstrata. Não se limita aos elementos presentes aqui e agora, mas incorpora elementos passados, distantes no espaço e mesmo possibilidades futuras.

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Devido à inteligência, o comportamento humano é marcado pelo ato voluntário, isto é, o ato humano que é dirigido por uma finalidade consciente, livremente escolhida, que utiliza meios racionalmente coordenados para atingi-la.

Ato voluntário: o ato humano é dirigido por uma finalidade consciente e livremente escolhida. A inteligência permite ao ser humano escolher e coordenar os meios que permitirão atingir essa finalidade.

2.2 O SER HUMANO SE COMUNICA POR MEIO DE LINGUAGEM SIMBÓLICA Outra importante distinção entre o humano e o animal está na linguagem. Os animais são capazes de comunicação – abelhas indicam às outras por meio de movimentos do voo a localização das flores, cavalos são capazes de emitir cerca de 40 tipos distintos de sons. Contudo, a comunicação dos animais é limitada, pois utiliza tão somente sinais indicativos que se referem de modo fixo a um objeto ou situação, quase sempre por meio de um vínculo natural de causa e efeito.

Um cão comunica a outros a “posse” de um território por meio da urina que deposita em certos locais. O cheiro da urina indica o animal dominante naquele espaço.

Como sua comunicação se limita a sinais indicativos (índices), não podemos dizer que os animais possuem linguagem propriamente dita. Já o ser humano é capaz de elaborar linguagens. Uma linguagem é um sistema organizado de signos, isto é, sinais que se referem a objetos. O principal tipo de signo que compõe a linguagem humana é o símbolo. Símbolos são sinais que se referem ao objeto significado não por meio de um vínculo natural de causa e efeito, mas por meio de uma relação arbitrária e convencional, isto é, criada pelos homens.

Assim, a bandeira nacional é o símbolo convencionado pelos cidadãos para significar o país, o povo e o Estado nele instituído. Enquanto som, a palavra casa é o símbolo linguístico que utilizamos para indicar moradia, e, enquanto escrita, casa é o símbolo convencionado para representar graficamente a palavra sonora casa.

CASA

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O ser humano constantemente produz símbolos e cria linguagens para exprimir suas experiências (isso se dá sempre no contexto das relações sociais). Devido a sua característica de representar por meio de relações arbitrárias e convencionais, a linguagem permite ao ser humano se distanciar da experiência vivida aqui e agora e reorganizá-la num outro nível, dando-lhe um novo sentido. Dessa forma, a linguagem dota o ser humano de um pensamento abstrato, capaz de operar no contexto de uma inteligência abstrata. Por isso, podemos falar também que pensamento é linguagem.

O pensamento se articula sempre por meio de signos linguísticos, opera com eles e se transmite por meio deles. Uma linguagem rica em quantidade de vocábulos, formas de combinação e diferentes usos é o instrumento do pensamento para conhecer profunda e amplamente as realidades complexas. Linguagem pobre limita e empobrece o pensamento.

Pensamento e linguagem se implicam mutuamente. Ludwig Wittgenstein, filósofo austríaco do século XX, gravou essa importantíssima relação numa frase famosa: “Os limites da minha linguagem significam ‘os limites do meu mundo” (WITTGENSTEIN, 1987, p. 114).

2.3 O SER HUMANO PRODUZ CULTURA Diferentemente do animal, que vive dentro dos limites que a natureza lhe impõe, o ser humano é capaz de produzir meios para sua subsistência, criar vestimentas e utensílios para a própria proteção e modificar profundamente o ambiente em que vive. Cria também símbolos, significados, normas, instituições, costumes, valores e crenças.

IMPORTANTE

Tudo isso é cultura. Cultura é o que o ser humano cria para prover sua subsistência, proteger sua vida e dar-lhe significado. O termo “cultura” se refere, portanto, àquilo que é feito pelo ser humano, opondo-se nesse sentido ao termo “natureza”.

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FONTE: Banco de Imagens 123rf

Natural: tudo aquilo que é criado pela natureza. Cultural: o que é criado ou construído pelo ser humano.

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2.4 O SER HUMANO E O TRABALHO O ser humano produz sua sobrevivência, seu mundo e a si mesmo por meio do trabalho. O trabalho dos animais é apenas uma metáfora. Animais provêm sua subsistência coletando, caçando ou pescando os alimentos que o ambiente natural lhes oferece. Constroem ninhos e abrigos com os materiais que o ambiente lhes disponibiliza. Ao fazê-lo, agem segundo seus instintos ou segundo a inteligência concreta de que dispõem. Já o trabalho, propriamente dito, é a ação transformadora, dirigida por finalidades conscientes, pela qual o ser humano modifica o ambiente para obter meios de subsistência e proteção.

Exemplos de trabalho: ▪▪ a agricultura, pela qual o ser humano modifica o solo e a disseminação das sementes para obter alimento em quantidade e em local conveniente; ▪▪ a construção de moradias, pela qual o ser humano abandona a busca por abrigos naturais e produz abrigos destinados a satisfazer todas as suas necessidades, materiais e culturais.

IMPORTANTE

Ao mesmo tempo em que transforma o ambiente natural, o trabalho transforma o próprio ser humano, desenvolvendo suas habilidades físicas e mentais. Por isso, podemos dizer que, pelo trabalho, o ser humano produz sua subsistência e produz a si mesmo.

Trabalho é uma ação transformadora, dirigida por finalidades conscientes, pela qual o ser humano modifica o ambiente para obter meios de subsistência e proteção. O trabalho transforma também o próprio ser humano, desenvolvendo suas habilidades físicas e mentais.

CONCLUSÃO

Vimos nesta Unidade as características fundamentais do ser humano e como acontece o processo de humanização ao longa da vida. Estudamos também como é constituída a inteligência humana e o que a difere dos animais situados nos níveis mais baixos da escala zoológica. A comunicação por meio da linguagem simbólica também foi objeto de estudo desta Unidade.

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REFERÊNCIAS ÁVILA, Fernando Bastos de. Pequena enciclopédia de moral e civismo. 3. ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1982. BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1981. BOFF, Leonardo. Ecoespiritualidade: que significa ser e sentir-se terra? Disponível em: . Acesso em: 29 jun. 2013. WITTGENSTEIN, Ludwig. Tratado logico-filosófico: Investigações filosóficas. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1987.

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UNIDADE DE ESTUDO 7 O SER HUMANO RELACIONAL, SOCIAL E POLÍTICO

INTRODUÇÃO O ser humano não vive isolado. Ele se torna humano convivendo e se relacionando com outros seres humanos. Adquire os conteúdos de uma cultura determinada e se torna capaz de produzir cultura quando vive em sociedade. Atende a suas necessidades produzindo bens por meio do trabalho organizado em sociedade. Confere sentido à sua existência por meio de significados coletivamente elaborados. Cria laços políticos como forma de pertencimento a grupos e promoção de seus interesses. O ser humano necessita de interação com outros seres humanos para se humanizar e se desenvolver. Veremos nesta Unidade como acontece este processo.

Bons estudos!

FONTE: Banco de Imagens 123rf

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O SER HUMANO É HISTÓRICO

Isto quer dizer que, ao contrário de algumas crenças frequentes, o ser humano não permanece o mesmo ao longo da história da humanidade. Estamos mergulhados na História, mergulhados em circunstâncias sociais, econômicas, políticas e culturais que se modificam constantemente e com as quais interagimos. Respondendo a desafios sempre novos, colocados por cada época histórica, os seres humanos se reinventam constantemente,

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criando novos comportamentos e mentalidades, novas formas de vida social, econômica e política, novas concepções morais e religiosas e até mesmo novos conceitos para entender o ser humano.

IMPORTANTE

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O ser humano não permanece o mesmo ao longo de sua história. Respondendo aos desafios de cada época história, ele se reinventa constantemente.

O SER HUMANO É LIVRE Em geral se costuma dizer que a liberdade é ausência de coação. Conforme as causas, a

liberdade pode ser: ▪▪ Física: ausência de coação pela força; ▪▪ Moral: ausência de pressões de ordem moral, como prêmios, castigos e ameaças. ▪▪ Política: ausência de determinismos políticos e interesses comprometidos. ▪▪ Psicológica: ausência de impulsos de outras faculdades humanas sobre a vontade para induzi-la a agir de uma determinada maneira ou, mais exatamente, capacidade que o ser humano tem de escolher entre fazer, ou não, uma determinada coisa, de cumprir, ou não, uma determinada ação, quando já existem as condições requeridas, ou ainda, de querer ou não querer agir, de escolher entre coisas opostas, quando existem as condições para tal. Exteriores ou interiores, todas essas facetas da liberdade se enraízam numa mesma realidade fundante: o livre-arbítrio.

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Livre-arbítrio é a capacidade de decidir e de determinarse para um certo agir ou para sua omissão. Dizendo com outras palavras, é a capacidade de querer ou não querer, ou ainda a capacidade de escolher.

IMPORTANTE

A liberdade se apoia em duas faculdades humanas: a inteligência e a vontade. A inteligência nos permite conhecer o que é o objeto a ser escolhido e a vontade nos permite percebê-lo como um bem. Trabalhando juntas, inteligência e vontade nos permitem escolher conscientemente e nos determinarmos a agir ou a não agir.

O principal fundamento da liberdade é o livre-arbítrio.

Um exemplo extremo e caricato pode nos ajudar a entender o livre-arbítrio. Um prisioneiro, amarrado e amordaçado, confinado numa cela escura, é livre? Certamente não tem a liberdade física de ir e vir. Sua situação também o coloca sob coação moral e psicológica. Mas, enquanto tiver consciência, inteligência e vontade, o prisioneiro goza de livrearbítrio, ou seja, tem escolhas a fazer. Certamente desejaria poder escolher ser libertado imediatamente. Mas não tem essa alternativa. Que tipo de escolhas poderia fazer? Poderia escolher entre se resignar à sua condição ou se rebelar; poderia escolher entre colaborar com seus algozes ou tentar escapar; poderia escolher entre agir para conservar a própria vida ou para dar cabo dela.

Semelhante a nosso prisioneiro fictício, quase nunca temos, para escolher, as alternativas que desejaríamos. Mesmo assim, temos escolhas e podemos fazê-las com base em nosso livre-arbítrio.

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IMPORTANTE

Não existe liberdade total. A liberdade humana é sempre limitada. Podemos ampliá-la por meio do conhecimento e do discernimento, ou por meio de instrumentos que criamos para possibilitar certas ações que a condição humana nos impede (um balão para voar, por exemplo). Podemos restringi-la por meio da ignorância, das coações descritas, dos fortes sentimentos, ou de um sistema político opressor. Mas a liberdade é uma faculdade humana tão fundamental quanto viver, pensar e trabalhar. Está sujeita às mesmas limitações do viver, pensar e trabalhar, causadas pela nossa finitude. A liberdade humana é sempre limitada. Não existe liberdade total.

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O SER HUMANO NÃO APENAS VIVE, MAS EXISTE

Todas as coisas são, isto é, têm ser. O modo de ser de um utensílio, como uma faca ou uma caneta, nos é bem conhecido: possui 2 dimensões físicas limitadas, duração restrita e é compreendido pelo modo como o utilizamos. Vegetais e animais têm um modo de ser mais complexo: surgem do impulso de preservação e expansão da vida, crescem, amadurecem, reproduzem-se e perecem como parte da dinâmica da vida. Até onde podemos compreendê-los, sua razão de ser é o próprio viver. O ser humano, que é também ser vivo e obedece à dinâmica da vida, tem um modo de ser bem mais complexo e sem dúvida especial. Somos postos no mundo à revelia de nossa vontade. No mundo, não escolhemos nossa condição: vivemos por meio do corpo que possuímos, educamonos num determinado ambiente familiar e cultural e, em sociedade, convivemos com as limitações e possibilidades de um certo contexto histórico, político e econômico. Mergulhados no mundo, vivemos não apenas biologicamente, mas tomamos consciência de nossa condição e, diante dela, somos levados a realizar escolhas e a nos responsabilizar por elas. Convivemos com a incerteza e o risco que cada escolha pode nos trazer.

Em nossa liberdade de escolha reside o aspecto mais elevado da condição humana: a possibilidade. Nosso modo de ser é aberto e dinâmico, abrange o que presentemente somos e também as possibilidades que temos. Podemos projetar o que queremos ser, o tipo de vida que queremos levar, o que pretendemos fazer dos dias de nossa vida, o sentido que queremos dar à nossa presença no mundo.

Somos finitos e limitados, com certeza, e não dispomos de todas as alternativas de escolha que desejaríamos possuir. Porém, reconhecer e aceitar nossa finitude e as limitações colocadas pelas circunstâncias externas nos permite traçar com realismo os nossos projetos e utilizar toda nossa capacidade de trabalho, de pensamento e criatividade para concretizar nossos projetos. Por isso, dizemos que o ser humano não apenas vive, mas existe. Não está no mundo como os demais seres, mas projeta e modifica seu ser e o modo como está no mundo. Vive, mas também “pilota” sua existência. 78

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O SER HUMANO PODE SE ALIENAR

Nem tudo é sucesso na aventura da existência. O ser humano pode se tornar alienado. Alienação é um fenômeno social e político observado com frequência nas sociedades industriais e pós-industriais.

Alienar-se é se deixar controlar por uma pessoa, entidade ou organização, submetendo-se a seu domínio e renunciando consciente ou inconscientemente à liberdade de escolher os rumos da própria vida.

A alienação do trabalhador durante a Revolução Industrial foi profundamente analisada por Karl Marx. Além dessa, conhecemos atualmente formas mais amplas de alienação, atingindo o consumo, o lazer, a religião e a política. 5

O SER HUMANO É PESSOA

Ser pessoa é muito mais que ser indivíduo. Somos individuais porque nossa vida física é distinta e autônoma em relação aos demais seres humanos. Mas muitos outros animais também o são, sem serem pessoas. Uma pessoa é um indivíduo consciente, racional e livre, que se sustenta e se conduz pela inteligência e pela vontade. O indivíduo humano é pessoa porque é também uma unidade indissociável de matéria e espírito, uma totalidade em si, uma espécie de microcosmo independente, capaz de conhecer a si mesmo e a realidade que o cerca, capaz de dar um sentido à própria vida e à própria identidade, capaz de dispor de si e se doar por meio do amor.

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Por tudo isso, a pessoa humana é um fim em si mesma e nunca pode ser reduzida a mero instrumento. Possui uma dignidade inerente a seu ser, irrenunciável, que lhe confere um valor inestimável e idêntico para todos os seres humanos, independentemente de idade, etnia, cultura, crença ou condição socioeconômica. A pessoa humana é, portanto, a razão de ser todas as instituições sociais, políticas e econômicas (ÁVILA, 1982, p. 452). 6

O SER HUMANO É CAPAZ DE TRANSCENDER E DE BUSCAR O TRANSCENDENTE

Transcender é ultrapassar, superar. Como vimos, o ser humano é capaz de transcender suas limitações e as circunstâncias que o determinam, através do pensamento, da reflexão, da vontade livre e do trabalho. O gesto de transcender não elimina, entretanto, a percepção da finitude e da fragilidade humanas. Nem elimina as perguntas fundamentais, que afetam o sentido de nossas vidas: Estudo do Ser Humano Contemporâneo

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Por que a doença, o sofrimento, o mal e a morte? Por que estamos aqui? Há algo além desta vida? Há um sentido para a vida humana? Em busca do sentido da própria existência, o humano sente necessidade do além-humano, do além-limites, do transcendente. Busca-o, quer conhecê-lo e experimentá-lo. Sente que somente o transcendente, percebido como bem e como infinito, poderá satisfazer a inquietude humana e trazer sentido, esperança e força para os momentos em que o ser humano enfrenta a falta de sentido, o vazio e o desespero. O encontro com o transcendente também traz luz, isto é, uma nova perspectiva de compreensão da realidade, da vida humana e da história.

O ser humano se abre ao transcendente, dando-lhe os nomes de divino, sagrado, Deus, absoluto. Dessa abertura ao transcendente nascem a experiência religiosa e a espiritualidade, que encontramos em todos os povos da história.

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DESAFIOS PARA O INDIVÍDUO: CONHECER A SI MESMO E CRIAR SEU PROJETO DE VIDA

Compreender o ser humano e reconhecer suas dimensões biológica, cultural, social, política, econômica, histórica, existencial e espiritual – tudo isso é necessário para compreendermos a nós mesmos, enquanto indivíduos. Mas, como vimos, não nos basta compreender nossa condição. Queremos projetar nosso ser no mundo e dirigir, quando possível, nossa existência. Por isso, enquanto indivíduos, cada um de nós tem duas tarefas intransferíveis: conhecer a si mesmo e elaborar seu projeto de vida. Ninguém é óbvio para si mesmo. Conhecer a si mesmo começa pela observação de cada um dos traços da própria personalidade, inclusive aqueles difíceis de admitir; inclui reconhecer honestamente nossos sentimentos de afeto e desafeto, amor e ódio, medo e coragem, desejos e repulsas, impulsos e aspirações. Passa por captar os anseios mais recônditos da alma e a sede pelo transcendente, requer avaliar atitudes, valores e princípios éticos, bem como tentar entender como os outros me percebem. Tudo isso sou eu. Não devo ignorar essa realidade, mas aceitá-la. Aos poucos, irei reconhecendo o que posso modificar e em que direção fazê-lo.

Conhecer a si mesmo é tarefa para todas as etapas da vida. Requer disciplina e coragem. Os resultados são sempre positivos: o autoconhecimento amplia a liberdade, seja porque permite ao indivíduo avaliar mais objetivamente suas capacidades e limitações, seja porque permite entrar em harmonia consigo mesmo, reduzindo os conflitos interiores e permitindo identificar seus valores e anseios fundamentais.

Por essas razões, o autoconhecimento é um requisito indispensável do projeto de vida.

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IMPORTANTE

Autoconhecimento: conhecimento profundo e progressivo de si mesmo. Permite conhecer melhor suas capacidades e limitações e identificar seus valores e anseios fundamentais.

Um projeto de vida é um plano de desenvolvimento pessoal, uma rota que você escolhe para alcançar os objetivos mais importantes, isto é, aqueles que vão dar sentido à sua vida, porque respondem aos anseios mais profundos de seu ser. Elaborar seu projeto de vida supõe, além de estratégias e metas racionalmente elaboradas, responder, do fundo do coração, a perguntas vitais e muito pessoais, como: ▪▪ Que tipo de pessoa eu quero ser? ▪▪ Que propósito e que uso quero dar aos 25 mil dias que tenho pela frente? ▪▪ Que tipo de vida vai me fazer sentir feliz e realizado? ▪▪ O que estou disposto a fazer para alcançar os objetivos que me realizam? ▪▪ Qual é, para mim, a importância do amor, do sexo, da família, da fé religiosa, do dinheiro, do reconhecimento e da fama?

IMPORTANTE

Não confunda projeto de vida com projeto de carreira. Um plano para o desenvolvimento da formação e da carreira profissional, fixando estratégias, metas e prazos é muito importante para você se tornar um profissional bem-sucedido. No entanto, a carreira profissional é apenas parte de sua vida e não toda a vida.

Projeto de vida: um plano para alcançar os objetivos que dão sentido à sua vida. Requer autoconhecimento.

Um projeto de vida nunca é definitivo, pois a vida muda incessantemente e mudamos com ela. Escolher seus objetivos de vida e planejar a rota a percorrer para alcançá-los é um passo indispensável para chegar lá.

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CONCLUSÃO

Ao término desta reflexão, vale destacar algumas ideias principais. Embora seja parte da Terra e uma entre as muitas formas de vida, o ser humano é especial entre todos os seres vivos e não vivos. Especial pela sua complexidade biológica, psíquica, sociocultural e espiritual; especial pelas características que o distinguem dos demais animais; único pela sua capacidade transformadora, pela sua liberdade e historicidade; distinto dos demais seres pela possibilidade de transcendência. Mas sobretudo, o que faz o ser humano espetacular é o fato de ser pessoa, microcosmo, capaz de projetar sua existência e dar sentido à sua vida. Não é um todo acabado e é capaz de criar coisas novas e de reinventar a si mesmo. Todas essas dimensões estão essencialmente integradas no ser humano, que não é uma simples soma de partes. Do ser humano, em cada época, conhecemos apenas parte do que ele pode realizar, ser, fazer e sofrer. Conhecemos apenas parte do que significa ser um ser humano. Por isso, nunca é demais lembrar: o ser humano ainda é um mistério para si mesmo.

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REFERÊNCIAS ÁVILA, Fernando Bastos de. Pequena enciclopédia de moral e civismo. 3. ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1982. BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1981. BOFF, Leonardo. Ecoespiritualidade: que significa ser e sentir-se terra? Disponível em: . Acesso em: 29 jun. 2013. WITTGENSTEIN, Ludwig. Tratado logico-filosófico: Investigações filosóficas. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1987.

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UNIDADE DE ESTUDO 8 ECOLOGIA: DESAFIOS AMBIENTAIS INTRODUÇÃO No início do século XX pouco se conhecia sobre a ecologia e as questões ambientais; na época, um cidadão brasileiro poderia passar a vida toda sem se preocupar com o meio ambiente. Atualmente, você já deve ter percebido que o ambiente é um assunto incontornável. Assim como você, todos somos convocados a repensar nossas práticas cotidianas, nossas formas de produzir e consumir, visando formas mais ecológicas de viver e se desenvolver. Nesta Unidade de Estudo, você deverá desenvolver maior consciência sobre o ambiente e seus vários problemas. Apresentaremos conhecimentos básicos sobre o meio ambiente buscando desenvolver sua capacidade de perceber os problemas ambientais como processos complexos que envolvem de forma interdependentes elementos sociais, políticos, econômicos e ecológicos. Você perceberá que as questões ambientais são muito interessantes, profissionais do mundo todo trabalham intensamente sobre elas desenvolvendo ideias e soluções. Esta Unidade de Estudo é apenas um princípio ou incentivo para você estudar e conhecer, ela não aborda todos os temas e problemas ambientais.

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Esperamos que você desenvolva maior sentimento de responsabilidade em relação à sociedade e ao meio ambiente e que siga em sua educação ambiental indo além deste breve estudo.

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RECONHECENDO OS DESAFIOS AMBIENTAIS

Há milhares de anos, desde o início da agricultura, os seres humanos têm cortado árvores, limpado a terra e mantido distante da lavoura as plantas consideradas daninhas. Em comparação com as sociedades caçadoras e coletoras, as sociedades agrícolas dispõem de mais alimentos, porém há maior exigência de transformação do mundo natural. Para plantar, a comunidade agrícola precisa cortar as florestas naturais e abrir clareiras, e, quando um lote é cultivado até a exaustão, novos lotes Resiliência é a capacidade de um sistema de terra são limpos. O solo exposto ao vento e à chuva recuperar seu equilíbrio após este ter sido forte pode sofrer erosão e se degradar rapidamente, rompido por um distúrbio, a resiliência inviabilizando a agricultura e a resiliência florestal. também descreve a velocidade com Até mesmo sociedades agricultoras no passado distante desmataram e plantaram em seus solos até sofrerem erosão. O problema é que nós, modernos, temos degradado os solos rapidamente e em largas extensões.

Estátua Moai na Ilha de Páscoa, Chile.

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A Ilha de Páscoa, denominada pelos nativos como Rapa Nui, é um conhecido exemplo de degradação da terra causada por seu uso desequilibrado em um ecossistema sensível. A Ilha de Páscoa, tornada um local praticamente sem árvores, sofreu sérios prejuízos ambientais, principalmente perda do solo por erosão, o que ocasionou a decadência da população local.

que uma comunidade retorna ao seu estado anterior após ter sido perturbada e deslocada de tal estado (TOWNSEND et al., 2011, p. 357).

Ecossistemas complexos e cadeias alimentares no ambiente proporcionam serviços ilimitados para o sustento da vida. Na ausência de danos, o ambiente é resiliente e muito eficiente na autoestabilidade por meio da interação complexa de espécies vivas. Os seres humanos se beneficiam fazendo parte desse ecossistema. Qualquer alteração prejudicial aos componentes do ambiente traz impactos adversos para todas as espécies.

A destruição de árvores no planeta levaria à acumulação de gases tóxicos e à escassez de oxigênio no ar. Como resultado, a proteção contra os raios nocivos do sol deixaria de funcionar, causando temperaturas descontroladas e efeitos adversos para a saúde humana.

Se durante milhares de anos a vida humana esteve muito submetida à natureza, com o desenvolvimento das sociedades modernas industrializadas a transformação humana sobre o ambiente se tornou intensa, ao mesmo tempo em que se instaurou uma busca incessante por compreender a natureza para controlar e prever os processos naturais.

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O que é característico das sociedades modernas é que as ameaças ecológicas não são mais oriundas das contingências do ambiente natural, mas resultantes do conhecimento reflexivo socialmente organizado, isto é, das ameaças decorrentes do impacto da industrialização sobre o meio ambiente (BECK et al., 2012).

O próprio funcionamento das sociedades modernas impôs a apropriação e a transformação da natureza, de forma incontida e ilimitada. Sem dúvida, a industrialização traz benefícios como a maior produção de alimentos e bens de conforto, mas também proporciona desastres industriais frequentes.

No Brasil, o mais recente desastre industrial ocorreu em 2015, no município de Mariana (MG), quando se rompeu a barragem de Fundão, da mineradora Samarco, controlada pelas empresas Vale S/A e BHP Billiton. O rompimento da barragem causou uma grande enxurrada de lama e rejeitos industriais que matou 19 pessoas e devastou o distrito de Bento Rodrigues. Além das perdas humanas e materiais, a lama provocou graves impactos ambientais.

Estar atento à ecologia ambiental se tornou fundamental. Todos nós precisamos enfrentar as questões ambientais reconhecendo nossas responsabilidades, isso quer dizer que precisamos não apenas controlar os danos ambientais, mas também repensar o modo de vida das sociedades modernas industrializadas. A preocupação com o impacto nocivo dos humanos sobre o mundo natural levou à formação de movimentos sociais e políticos “verdes”, como o Greenpeace e o Partido Verde. Embora existam visões de mundo e estratégias muito diferentes entre os ambientalistas, é comum a preocupação e a ação em favor de preservar as espécies remanescentes e conservar os recursos do planeta no lugar de exauri-los. Porém, estes esforços não têm sido suficientes para evitar a poluição ambiental e um possível aquecimento global excessivo. Reconhecendo o problema, cientistas e líderes, como o Papa Francisco, afirmam que precisamos proteger nosso planeta unindo esforços para enfrentar simultaneamente os problemas ambientais e sociais. Neste sentido, o Papa Francisco, faz um apelo fundamental:

Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na consciencialização. Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal (FRANCISCO, 2015, p. 13).

Hoje a ecologia ambiental é tema fundamental nos debates políticos, planejamentos econômicos e na reflexão religiosa; não há como esquivar das questões ambientais e do reconhecimento de que todos são responsáveis pela preservação ambiental: governos, organizações e cada cidadão. Estudo do Ser Humano Contemporâneo

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O meio ambiente está sendo degradado em um ritmo muito mais rápido do que imaginávamos. A maior parte dessa “bagunça” é causada por atividades humanas. Os danos são tanto a nível global como regional. Portanto, qualquer erro ou dano que tenha sido causado por nós deve ser corrigido por nós. Nesse sentido, para proteger e gerir o meio ambiente, é fundamental que tenhamos uma boa Educação Ambiental (EA). É uma maneira de ensinar as pessoas e as sociedades sobre como usar os recursos presentes e futuros de forma melhor. Mediante a educação ambiental, as pessoas podem adquirir conhecimento para lidar com as questões fundamentais que levam à poluição e ao esgotamento dos recursos. Faz parte da EA a compreensão de como o ambiente natural funciona e como os seres humanos devem se comportar para gerenciar os ecossistemas de forma sustentável. Ela transmite as habilidades e conhecimentos necessários para enfrentar os desafios associados à questão ambiental.

O foco principal da Educação Ambiental é dar conhecimento, criar consciência, inculcar uma atitude de preocupação e fornecer a habilidade necessária para interagir melhor com o meio ambiente e enfrentar os desafios ambientais.

A EA ganhou importância a nível global após a Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano, organizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 1972. Logo após esta Conferência, a Unesco lançou o Programa Internacional de Educação Ambiental (BRASIL, 2014). Cada país está direcionando esforços para integrar as preocupações ambientais com a educação. Porém, a EA não deve apenas fazer parte do sistema educativo, mas também do sistema político onde as ações políticas e planos podem ser formulados e executados a nível nacional.

IMPORTANTE

No Brasil, a educação ambiental emerge em meados da década de 1980, com a ampliação de forças sociais envolvidas com a temática ambiental. Sua importância se explicita na obrigatoriedade constitucional, em 1988, no primeiro Programa Nacional de Educação Ambiental, nos Parâmetros Curriculares Nacionais, lançados oficialmente em 1997 (BRASIL, 2014), e na Lei Federal n. 9.795, que define a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999).

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A Educação Ambiental deve ser capaz de avaliar a situação ambiental e as condições que levam ao dano do meio ambiente, ela deve direcionar a rotina e apontar como as mudanças simples em uma vida diária podem fazer enorme diferença para o ambiente.

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Proteger o meio ambiente é responsabilidade de todos e, portanto, a educação ambiental não pode ser confinada a um grupo ou sociedade. Cada indivíduo deve estar preparado para salvar o meio ambiente. Deve ser um processo contínuo e permanente. Acima de tudo, a educação ambiental deve ser prática para que os ensinamentos possam ser implementados diretamente. Conservar a natureza e o ambiente será muito mais fácil se as crianças forem ensinadas sobre o esgotamento dos recursos, a poluição ambiental, o deslizamento da terra e a degradação e extinção de plantas e animais.

CONCLUSÃO

A ecologia nos fornece informação para compreender melhor o mundo em torno de nós, nossa vida cotidiana e profissional. Os conhecimentos e saberes ambientais também podem nos ajudar a melhorar o nosso ambiente, a gerir nossos recursos naturais e a proteger nossa saúde. A ecologia trata das interações e interdependências entre os organismos e de seus habitats (casas) na natureza. Todos somos parte do ecossistema, dependemos dele para a nossa sobrevivência, já que em muitos aspectos somos apenas mais uma espécie, mas também estamos na situação única de podermos mudar o ecossistema de muitas maneiras diferentes. E a compreensão dos efeitos da mudança de um ecossistema é importante para evitar que nossas ações tenham consequências não intencionais (como a fome em algumas regiões do continente africano, em grande parte devido às mudanças humanas no ecossistema).

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REFERÊNCIAS BECK, Ulrich; GIDDENS Anthony; LASH Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2012. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, regulamenta a Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Portal da Legislação, Brasília, jun. 2002. Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2016. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Educação. Educação Ambiental: Por um Brasil sustentável – ProNEA Marcos Legais & Normativos. Brasília, 2014. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2016. DIAS, Genebaldo Freire Os 15 anos da educação ambiental no Brasil: um depoimento. Revista Em Aberto, Brasília, v. 10, n. 49, p. 3-14, 1991. FRANCISCO. Carta encíclica Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum. Vaticano, 2015. Disponível em: . Acesso em: 16 dez. 2016. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. [CD-ROM]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 - Perfil das despesas no Brasil: Indicadores selecionados. Rio de janeiro: IBGE, 2007. LEFF, E. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. MEADOWS, D. L. et al. Limites do crescimento: um relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972. MIETH, Andreas; BORK, Hans-Rudolf. History, origin and extent of soil erosion on Easter Island (Rapa Nui). Catena, v. 63, n. 2-3, p. 244-260, oct. 2005. Disponível em: . Acesso em: 13 dez. 2016. NAÇÕES UNIDAS. Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common Future. Oxford; New York: Oxford University Press, 1987. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2016. NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. A ONU e o meio ambiente. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2016. PEREIRA, Adriana Camargo. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2008. SACHS, W. Dicionário do desenvolvimento: guia para o conhecimento como poder. Petrópolis: Vozes, 2000. TOWNSEND, Colin R.; BEGON, Michael; HARPER, L. Fundamentos em Ecologia. 3. ed. São Paulo: ArtMed, 2011. UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME – UNEP. Waste Crime – Waste Risks: Gaps in Meeting the Global Waste Challenge. Oslo: Birkeland Trykkeri AS, 2015. UNITED NATIONS WORLD WATER ASSESSMENT PROGRAMME – WWAP. The United Nations World Water Development Report 2015: Water for a sustainable world. Paris: Unesco, 2015. WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our Common Future. Oxford: Oxford University Press, 1987.

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UNIDADE DE ESTUDO 9 ECOLOGIA: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL INTRODUÇÃO Há uma ameaça significativa na degradação ambiental devido ao avanço da tecnologia e de outras atividades humanas. Esta destruição é evitável por meio de metas ambientalmente amigáveis, como a manutenção de excelente qualidade da água, ar saudável e preservação da biodiversidade. Cada indivíduo tem um papel na realização desses objetivos e, portanto, a proteção do meio ambiente. Veremos nesta Unidade os estudos e as ações em andamento para preservar o meio ambiente e as gerações futuras.

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O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Em meados da década de 1970, um relatório científico encomendado pelo Clube de Roma, intitulado Os Limites do Crescimento (MEADOWS, 1972), despertou o interesse público em relação aos problemas ambientais.

Grupo que se formou na capital italiana e reunia industrialistas, consultores empresariais e servidores públicos.

Os pesquisadores reunidos para este estudo apontaram que se os índices de crescimento econômico e populacional continuassem a crescer como no período entre 1900 e 1970, em 2100 teríamos certamente uma crise ambiental muito grave. A conclusão do relatório encomendado pelo Clube de Roma, é que os índices de crescimento industrial não são compatíveis com a natureza finita dos recursos da Terra e que o planeta não é capaz de suportar o crescimento populacional e se recuperar da poluição ambiental. A ideia que se lançou para o mundo na década de 1970 é de que os níveis de crescimento na população, industrialização, poluição, produção de alimentos e esgotamento dos recursos é insustentável. Embora amplamente criticados, os resultados do relatório do Clube de Roma foram utilizados por muitos grupos para impulsionar a ideia de que o desenvolvimento econômico deveria ser não apenas limitado, mas drasticamente reduzido a fim de conservar o meio ambiente. Estudo do Ser Humano Contemporâneo

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A ideia de reduzir severamente o crescimento econômico foi logo criticada por aqueles que a julgavam desnecessária; estes críticos afirmavam que o desenvolvimento econômico poderia e deveria ser incentivado, pois este seria o único meio de ampliar a riqueza mundial. E, se o desenvolvimento econômico fosse reduzido, os países menos desenvolvidos nunca poderiam se industrializar como os países mais ricos. É preciso lembrar que as questões ambientais ocorrem em um mundo fortemente desigual e com interesses conflituosos. Os diferentes graus de desenvolvimento econômico possibilitavam a suposição de que o crescimento econômico é possível a todos os países, bastaria trilhar o caminho certo.

O BRASIL SEM RESTRIÇÕES À POLUIÇÃO Na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, organizada em 1972 na capital da Suécia, Estocolmo, o governo brasileiro liderou um bloco de 77 países em desenvolvimento resistentes ao reconhecimento da importância da problemática ambiental e que se negavam a reconhecer o problema da explosão demográfica. Foi na Conferência de Estocolmo que o governo brasileiro estendeu uma faixa com o seguinte dizer: Bem-vindos à poluição, estamos abertos a ela. O Brasil é um país que não tem restrições, temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque nós queremos empregos, dólares para o nosso desenvolvimento. A faixa ficou famosa e resumia a posição do Brasil (sob ditadura militar) de que o principal problema era a miséria e que era preciso desenvolver a economia primeiro e pagar os custos da poluição ambiental mais tarde. Acreditava-se que o desenvolvimento econômico dos países mais pobres não poderia ser sacrificado por considerações ambientais. FONTE: Dias (1991)

Em meio ao acirrado debate sobre o meio ambiente, criou-se o conceito de “desenvolvimento sustentável” como uma forma de aliar ideias até então opostas: Conservação ambiental e desenvolvimento econômico. O termo foi utilizado pela primeira vez no relatório Nosso Futuro Comum (World Commission on Environment and Development, 1987), também conhecido como Relatório Brundtland, de 1987, encomendado pelas Nações Unidas. Neste relatório, o desenvolvimento sustentável foi definido como o uso dos recursos renováveis para promover o crescimento econômico, a proteção da biodiversidade e o compromisso com a manutenção da pureza do ar, da água e da terra. O desenvolvimento sustentável é, então, aquele que atende às necessidades de hoje, sem comprometer a capacidade de as próximas gerações atenderem às suas próprias necessidades. Com a difusão da noção de desenvolvimento sustentável, o chamado tripé da sustentabilidade se tornou amplamente conhecido no mundo empresarial e no mundo acadêmico como uma ferramenta útil para constituir uma visão de mundo (e da economia) mais ampla, que vai além do foco no desempenho financeiro e no lucro pelo lucro (ainda predominantes nas sociedades modernas). A noção de desenvolvimento sustentável convoca governos, empresas e cidadãos a rever suas ações considerando no mínimo as três dimensões a seguir.

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DE BI LI DA TA EN ST SU 1. Sustentabilidade Social

Compreende o respeito à diversidade, empoderamento de grupos excluídos socialmente, incentivo à resolução pacífica de conflitos e convivência saudável.

2. Sustentabilidade Econômica

Diz respeito à inserção dos limites ecológicos na produção de bens e serviços, visando a sustentabilidade econômica, a justiça no acesso ao sustento familiar e pessoal e economia solidária e responsável.

3. Sustentabilidade Ecológica

Analisa a relação do homem com a natureza, buscando formas de reduzir ou acabar com o impacto das ações humanas sobre a natureza e vice-versa e de repensar as estruturas e iniciativas que reforçam e representam a mútua dependência.

FONTE: Pereira (2008)

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Após a publicação do relatório Nosso Futuro Comum, a expressão desenvolvimento sustentável passou a ser amplamente utilizada tanto pelos ambientalistas quanto pelos governos. Apesar de muito utilizada, a noção de desenvolvimento sustentável (e o Relatório Brundtland) não permaneceu sem críticas. Os críticos, tais como Sachs (2000), consideram a noção de desenvolvimento sustentável muito vaga, dando margem para muitas distorções, e omissa em relação às necessidades específicas dos países mais pobres. Para eles, a ideia de desenvolvimento sustentável concentra atenção sobre as necessidades dos países mais ricos e ignora o fato de que os altos níveis de consumo nestes países se dão à custa de outros povos. Além disso, o termo sustentabilidade é ambíguo, ele integra ao menos dois significados:

um que implica a internalização das condições ecológicas pelo processo econômico;

outro que aponta a durabilidade do próprio processo econômico.

O sociólogo ambientalista Enrique Leff (2006) aponta que tem ocorrido uma adoção oportunista, por parte dos estados e das empresas, de novos valores trazidos pelo ambientalismo. Para esse tipo de soluções falsamente sustentáveis, bastaria agregar como valor a esses “produtos” o que, até então, era ignorado ou não contabilizado como custos de produção, ou seja, a noção de desenvolvimento sustentável algumas vezes tem sido utilizada para dar aparência ecológica a produtos e sistemas de produção que são poluidores ou geradores de resíduos. Consideradas as críticas à noção de sustentabilidade, cabe considerarmos que uma empresa ou governo está agindo com responsabilidade socioambiental quando de fato incorpora os princípios e práticas relacionados às três dimensões de sustentabilidade. Para saber se o modelo de negócio de uma organização não é sustentável, basta notar se ele contribui direta ou indiretamente para: ▪▪ o aumento sistemático nas concentrações de desperdícios de recursos naturais; ▪▪ o aumento sistemático nas concentrações de substâncias perigosas produzidas pela sociedade; ▪▪ a exploração sistemática e indiscriminada dos recursos naturais; ▪▪ o abuso de poder político e/ou econômico na sociedade, prejudicando a qualidade de vida dos seres humanos (PEREIRA, 2008). 2

CONSUMO, POBREZA E MEIO AMBIENTE

Grande parte do debate sobre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico está diretamente relacionado com o padrão de consumo. Ele possui dimensões positivas e negativas, detalhadas no QUADRO 1: QUADRO 1 – Aspectos positivos e negativos do aumento do consumo POSITIVO Um consumo maior, proporcionado pelo desenvolvimento econômico, significa que as pessoas vivem em melhores condições do que no passado. Ele significa o aumento do padrão de vida, ou seja, maior acesso à comida, roupas, itens pessoais, tempo de lazer, carros etc. FONTE: O autor (2017)

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NEGATIVO Os padrões de consumo podem causar impactos negativos aos recursos naturais e aumentar a desigualdade. Como por exemplo, a maior extração de minérios e queima de combustíveis fósseis.

Ao longo do século XX, o aumento do consumo mundial se tornou alarmante. Se no início do século XX os níveis de consumo mundial estavam próximos de 1,5 trilhão de dólares, no ano de 1998, os gastos com o consumo público e privado chegaram a 24 trilhões de dólares. Nos países industrializados, o consumo tem aumentado aproximadamente 2,3% ao ano, já nos países africanos, o consumo é 20% menor do que há 25 anos. As desigualdades de consumo entre ricos e pobres são alarmantes. Apesar de os mais ricos serem os maiores consumidores mundiais e responsáveis pelos maiores impactos sobre o meio ambiente, os impactos mais violentos dos danos ambientais recaem sobre os pobres. Os mais ricos estão em melhores condições para desfrutar do consumo sem sofrerem seus efeitos negativos, as pessoas com mais dinheiro podem abandonar ambientes degradados ou afetados por desastres naturais. Os países mais ricos podem enviar seus resíduos para países mais pobres.

Segundo dados das Nações Unidas (UNEP, 2015) até 90% do lixo eletrônico do mundo é despejado sem obedecer a nenhum critério ou respeito pelos humanos ou pela natureza. Para Gana, por exemplo, são enviados contêineres cheios de equipamentos eletrônicos obsoletos ou quebrados com a desculpa de que os países ricos estão doando equipamentos para diminuir o abismo digital entre ricos e pobres.

Por outro lado, a pobreza também intensifica as ameaças ambientais. A degradação do solo, o desmatamento, a falta de água, as emissões de chumbo e a poluição do ar são problemas que estão concentrados nos países e regiões mais pobres. As pessoas que possuem poucos recursos têm poucas escolhas senão maximizar os recursos disponíveis a elas.

IMPORTANTE

Podemos perceber, no exposto acima, que, ao falarmos de meio ambiente, Os países industrializados e a ONU exigem estamos também falando da relação entre que a Indonésia preserve suas florestas a natureza e a sociedade que a habita. Não tropicais, porém a Indonésia precisa muito podemos considerar a natureza como algo mais da receita proveniente das florestas do separado de nós, estamos incluídos nela, que os países industrializados. somos parte dela. Quando analisamos as razões pelas quais um ambiente se degrada ou se contamina, precisamos considerar o funcionamento da sociedade, da sua economia, das políticas públicas e das suas maneiras de entender a realidade. Tendo em vista a amplitude das mudanças, já não é possível encontrar uma resposta independente para cada parte do problema.

É preciso buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. Não podemos considerar as crises ambiental e social separadamente, mas uma única e complexa crise socioambiental. A solução para tal crise requer uma abordagem integral que acabe com a pobreza, devolvendo dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuide da natureza (FRANCISCO, 2015).

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CONCLUSÃO

Diante dos desafios ambientais que enfrentamos, seja na vida cotidiana ou globalmente, é fundamental aprimorarmos nossos conhecimentos e dialogarmos entre diversos saberes ambientais. A qualidade da vida humana na Terra depende do esforço conjunto de todos – empresas, escolas, igrejas, Estados e cada cidadão – no sentido criarmos solução para a atual crise socioambiental. A educação ambiental é uma das principais ferramentas nesse processo de desenvolvimento ecológico sustentável, por isso ela deve ser incentivada e praticada.

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REFERÊNCIAS BECK, Ulrich; GIDDENS Anthony; LASH Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2012. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, regulamenta a Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Portal da Legislação, Brasília, jun. 2002. Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2016. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Educação. Educação Ambiental: Por um Brasil sustentável – ProNEA Marcos Legais & Normativos. Brasília, 2014. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2016. DIAS, Genebaldo Freire Os 15 anos da educação ambiental no Brasil: um depoimento. Revista Em Aberto, Brasília, v. 10, n. 49, p. 3-14, 1991. FRANCISCO. Carta encíclica Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum. Vaticano, 2015. Disponível em: . Acesso em: 16 dez. 2016. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. [CD-ROM]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 - Perfil das despesas no Brasil: Indicadores selecionados. Rio de janeiro: IBGE, 2007. LEFF, E. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. MEADOWS, D. L. et al. Limites do crescimento: um relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972. MIETH, Andreas; BORK, Hans-Rudolf. History, origin and extent of soil erosion on Easter Island (Rapa Nui). Catena, v. 63, n. 2-3, p. 244-260, oct. 2005. Disponível em: . Acesso em: 13 dez. 2016. NAÇÕES UNIDAS. Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common Future. Oxford; New York: Oxford University Press, 1987. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2016. NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. A ONU e o meio ambiente. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2016. PEREIRA, Adriana Camargo. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2008. SACHS, W. Dicionário do desenvolvimento: guia para o conhecimento como poder. Petrópolis: Vozes, 2000. TOWNSEND, Colin R.; BEGON, Michael; HARPER, L. Fundamentos em Ecologia. 3. ed. São Paulo: ArtMed, 2011. UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME – UNEP. Waste Crime – Waste Risks: Gaps in Meeting the Global Waste Challenge. Oslo: Birkeland Trykkeri AS, 2015. UNITED NATIONS WORLD WATER ASSESSMENT PROGRAMME – WWAP. The United Nations World Water Development Report 2015: Water for a sustainable world. Paris: Unesco, 2015. WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our Common Future. Oxford: Oxford University Press, 1987.

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UNIDADE DE ESTUDO 10 ECOLOGIA: AMEAÇAS AMBIENTAIS INTRODUÇÃO Atualmente, o mundo enfrenta diversas ameaças e riscos ambientais. O aquecimento global e o consumo de alimentos transgênicos são considerados os mais sérios. As ameaças podem ser divididas, grosso modo, em dois tipos: a poluição e os resíduos lançados no meio ambiente; e o esgotamento dos recursos renováveis. Estes são os assuntos que estudaremos nesta Unidade. Bons estudos! 1

A POLUIÇÃO DO AR É causada pela emissão de substâncias tóxicas na atmosfera e pode ser a causa da morte de mais de 2,7 milhões de pessoas por ano. A poluição do ar não afeta apenas a saúde humana, seu impacto é também prejudicial para outros elementos do ecossistema, como no caso das chuvas ácidas.

A chuva ácida é um fenômeno que ocorre quando as emissões de enxofre e óxido de nitrogênio são precipitadas com a chuva. O impacto da chuva ácida é grave, pois prejudica florestas, plantações e a vida animal, além de acidificar lagos. Ela é de difícil controle porque as emissões podem ocorrer em um país e se precipitar em outro. No Canadá, por exemplo, grande parte da chuva ácida que ocorre no leste do país está relacionada com a produção industrial do estado de Nova York, do outro lado da fronteira entre os Estados Unidos da América e o Canadá. 2

A POLUIÇÃO DA ÁGUA

Pode ser entendida com a contaminação do fornecimento de água por substâncias tóxicas, minerais, pesticidas e esgoto sem tratamento. Águas contaminadas são a maior ameaça aos habitantes de países pobres ou em desenvolvimento onde quase um terço da população não tem acesso à água que possa ser consumida com segurança. Nos países industrializados, os casos de poluição da água ocorrem geralmente em função do uso excessivo de produtos agrícolas, tais como fertilizantes e pesticidas químicos. No Brasil, a principal causa de poluição da água é a falta de tratamento de esgoto; em segundo lugar, temos os lançamentos da indústria e da agricultura.

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RESÍDUOS SÓLIDOS O problema é que as sociedades industrializadas produzem um volume imenso de itens que são diariamente descartados. Hoje, são poucas as coisas que podemos comprar sem embalagens. Preste atenção quando for ao supermercado ou à lanchonete e você verá plásticos, latas, papéis, isopores, que são descartados nas ruas, nas lixeiras e nos rios.

Nos países e regiões onde ocorre a coleta de lixo, o problema ambiental é a dificuldade no processo de descarte dessa enorme quantidade de resíduos. Os aterros sanitários das grandes cidades estão se enchendo rapidamente e forçando a criação de novos aterros cada vez mais distantes dos grandes centros urbanos, o que leva a um maior custo, devido ao transporte dos resíduos até estes aterros. Nos países industrializados, a coleta de lixo é quase universal, mas nos países em desenvolvimento o principal problema enfrentado, relativo aos resíduos, ainda é a falta de coleta de lixo. No Brasil, a geração de lixo aumentou 29% entre 2003 e 2014, o equivalente a cinco vezes a taxa de crescimento populacional no período. No entanto, a quantidade de resíduos com destinação adequada não acompanhou o crescimento da geração de lixo. Em 2015, apenas 58,4% do total de lixo foi direcionado a aterros sanitários. 4

ESGOTAMENTO DOS RECURSOS RENOVÁVEIS

Além da poluição e dos resíduos sólidos, elementos como água, madeira, vegetais, animais terrestres e marinhos são muitas vezes denominados de recursos renováveis, porque em um ecossistema equilibrado eles se substituem automaticamente com o passar do tempo. Porém, se o consumo destes recursos for excessivo, desequilibra-se o sistema natural e se corre o risco de serem completamente esgotados. Inúmeros cientistas de diversos países apontam evidências disto estar ocorrendo. Em países como o Brasil, é provável que as pessoas não deem muita atenção para o abastecimento de água, exceto em situações de seca. Porém, a falta d’água já afeta o Oriente Médio, a China, a Índia e o norte da África. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que, até o ano 2050, 50 países enfrentarão crise no abastecimento de água. A Organização das Nações Unidas (WWAP, 2015) estima que um bilhão de pessoas carece de acesso a um abastecimento de água suficiente. A demanda por água doce está crescendo. A menos que o equilíbrio entre a demanda e os suprimentos finitos seja restaurado, o mundo enfrentará um déficit mundial de água cada vez mais severo. A demanda global de água é fortemente influenciada pelo crescimento populacional, urbanização, políticas de segurança alimentar e energética e processos macroeconômicos, como a globalização do comércio, a mudança das dietas e o aumento do consumo. Até 2050, prevê-se que a demanda global de água aumente em 55%, principalmente devido às crescentes demandas da produção, geração de eletricidade térmica e uso doméstico.

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Ao problema de esgotamento da água devemos somar a degradação do solo, o desmatamento e a desertificação. A degradação do solo é o processo onde a qualidade do solo é piorada pelo uso excessivo (como na agricultura e pecuária) ou pela seca. Já a desertificação ocorre quando a degradação do solo se estende em grandes áreas, produzindo uma paisagem que se assemelha a desertos. O desmatamento é o processo de destruição da terra arborizada, que geralmente ocorre por fins comerciais. O valor da biodiversidade que as florestas abrigam é incalculável, elas são indispensáveis para o equilíbrio dos sistemas que mantêm a vida no planeta e fornecem bens e serviços para os humanos. No Brasil, a problemática ambiental, e sobretudo a questão da biodiversidade, ganha força a partir de meados da década de 1980. A devastação da floresta amazônica trouxe visibilidade internacional a tal questão.

A floresta amazônica brasileira representa 40% de toda a área de florestas tropicais no mundo, cerca de 8,5 milhões de Km2.

A partir da eminência de desastres ambientais globais e a emergência de novos mercados, as atenções de ambientalistas e conglomerados da indústria se voltaram para o Brasil e sua riqueza em biodiversidade, deixando-o em uma situação complicada.

Como preservar a floresta e ao mesmo tempo como tirar proveito dessa posição estratégica? Muitos especialistas na área visaram preservar a natureza, conferindo-lhe um valor no mercado. Como se pudéssemos solucionar o problema demarcando um valor para as florestas tropicais e explicar para os exploradores que as florestas podem valer mais de pé do que deitadas. Ocorre que, diante do lema “salvar o planeta e ganhar dinheiro”, surge um certo círculo vicioso: para salvar a floresta, precisa-se conferir-lhe um valor econômico, ou seja, torná-la produtiva. Ao fazer isso, incentiva-se a criação de determinadas tecnologias que movimentariam a produção dentro da lógica do mercado. Porém, essas tecnologias se revelam como uma nova forma de depredação. Assim, a biodiversidade vem ainda sendo entendida pelo mercado como um grande reservatório de matéria-prima, onde se busca a variante mais rentável, perpetuando o projeto moderno de controle e manipulação sobre a natureza.

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RISCOS AMBIENTAIS

Os humanos sempre enfrentaram riscos externos, como secas, terremotos, escassez e tempestades provenientes do mundo natural, mas os riscos ambientais que nós vivemos atualmente são diferentes, pois são riscos produzidos pelo impacto de nosso próprio conhecimento e da tecnologia sobre o mundo natural. Existem diversos riscos produzidos, mas os riscos mais famosos envolvem aquecimento global e alimentos transgênicos. O aquecimento global é considerado por muitos como o desafio ambiental mais sério que precisamos enfrentar. Atualmente, a maioria dos cientistas reconhece que o aquecimento global é causado pelo efeito estufa e que este efeito é uma consequência da intervenção humana, ou seja, um risco produzido. Em função dos processos industriais, temos um contínuo aumento na emissão e acúmulo de gases que provocam o “efeito estufa”, ou seja, a ampliação de gases que armazenam o calor na atmosfera terrestre. O dióxido de carbono (proveniente da queima de combustíveis), os clorofluorcarbonetos (compostos artificiais utilizados em processos de refrigeração com efeito destruidor da camada de ozônio que protege a Terra de raios solares), o metano (com origem na intensificação das atividades pecuárias), o óxido nitroso (destruidor da camada de ozônio utilizado em fertilizantes agrícolas), entre outros elementos provenientes de emissões antrópicas, alteram a composição a atmosfera e causam um aquecimento global acelerado.

Se as previsões científicas estiverem corretas, o aumento da temperatura média da Terra tem o potencial de alterar irreversivelmente o funcionamento do clima na Terra.

Se as calotas polares continuarem a derreter, como muitos estudos têm apontado, o nível do mar aumentará ao ponto de ameaçar as populações litorâneas e terras que estão abaixo do nível do mar, como as do Reino dos Países Baixos. Nestas condições, somos forçados a refletir sobre os riscos ambientais.

Outro tipo de risco produzido pelos seres humanos pode ser observado na produção e consumo de alimentos transgênicos ou Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Os alimentos transgênicos têm sua composição genética manipulada para que sejam resistentes a agrotóxicos ou pragas e para que tenham maior produtividade. Eles são diferentes de todos os organismos que já existiram, pois envolvem o transplante de genes de um organismo para outro diferente.

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O milho Bt no qual foram introduzidos genes específicos da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) para que o milho seja tóxico a alguns tipos de insetos. FONTE: Banco de Imagens 123rf

Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor de OGMs do mundo, ficando atrás apenas dos EUA.

Provavelmente você consome OGMs diariamente ao se alimentar de pão, macarrão, arroz, feijão, milho, bolacha e frutas.

Mesmo sendo rapidamente adotada, tendo em vista que o primeiro cultivo comercial ocorreu em 1999, ainda há incerteza sobre a segurança dos alimentos transgênicos para o consumo humano e para os sistemas naturais. O risco está em não termos pleno conhecimento sobre as consequências da ingestão destes alimentos por longos períodos. Por isso, alguns países como França, Escócia, Japão, Nova Zelândia, Alemanha, Áustria, Hungria, Grécia, Bulgária, Luxemburgo, entre outros, proíbem ou restringem a produção de alimentos geneticamente modificados em seus territórios. Estes países estão adotando em suas políticas agrícolas e de saúde pública o princípio da precaução, ou seja, um princípio moral e político que determina que se, na ausência de consenso científico irrefutável, uma ação pode originar um dano irreversível público ou ambiental, quem deve provar que a ação é segura é aquele que pretende praticar a ação. Ao restringirem ou banirem os transgênicos de seus territórios, as populações e governos de muitos países dão um sinal de que não têm confiança nos relatórios de segurança sobre estes alimentos. Por isso, cientistas, como Ulrich Beck, afirmam que vivemos incertezas sobre os riscos a que estamos expostos cotidianamente, não temos certezas sobre as causas e as consequências de muitos riscos ambientais produzidos.

CONCLUSÃO

A fim de permitir que as pessoas gozem de boa saúde e de uma elevada qualidade de vida, é vital evitar efeitos nocivos para a saúde humana ou danos ao ambiente, causados pela poluição do ar, da água e do solo. Nesse processo, meu caro aluno, sua responsabilidade é mergulhar mais fundo na educação ambiental e aplicar seus conhecimentos nos espaços que você convive. Repense suas práticas em casa, na rua e no trabalho. Pense global e aja local contribuindo para as dimensões social, econômica e ambiental do desenvolvimento sustentável.

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REFERÊNCIAS BECK, Ulrich; GIDDENS Anthony; LASH Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2012. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, regulamenta a Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Portal da Legislação, Brasília, jun. 2002. Disponível em: . Acesso em: 07 nov. 2016. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Educação. Educação Ambiental: Por um Brasil sustentável – ProNEA Marcos Legais & Normativos. Brasília, 2014. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2016. DIAS, Genebaldo Freire Os 15 anos da educação ambiental no Brasil: um depoimento. Revista Em Aberto, Brasília, v. 10, n. 49, p. 3-14, 1991. FRANCISCO. Carta encíclica Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum. Vaticano, 2015. Disponível em: . Acesso em: 16 dez. 2016. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. [CD-ROM]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 - Perfil das despesas no Brasil: Indicadores selecionados. Rio de janeiro: IBGE, 2007. LEFF, E. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. MEADOWS, D. L. et al. Limites do crescimento: um relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972. MIETH, Andreas; BORK, Hans-Rudolf. History, origin and extent of soil erosion on Easter Island (Rapa Nui). Catena, v. 63, n. 2-3, p. 244-260, oct. 2005. Disponível em: . Acesso em: 13 dez. 2016. NAÇÕES UNIDAS. Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common Future. Oxford; New York: Oxford University Press, 1987. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2016. NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. A ONU e o meio ambiente. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2016. PEREIRA, Adriana Camargo. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2008. SACHS, W. Dicionário do desenvolvimento: guia para o conhecimento como poder. Petrópolis: Vozes, 2000. TOWNSEND, Colin R.; BEGON, Michael; HARPER, L. Fundamentos em Ecologia. 3. ed. São Paulo: ArtMed, 2011. UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME – UNEP. Waste Crime – Waste Risks: Gaps in Meeting the Global Waste Challenge. Oslo: Birkeland Trykkeri AS, 2015. UNITED NATIONS WORLD WATER ASSESSMENT PROGRAMME – WWAP. The United Nations World Water Development Report 2015: Water for a sustainable world. Paris: Unesco, 2015. WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our Common Future. Oxford: Oxford University Press, 1987.

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UNIDADE DE ESTUDO 11 POLÍTICA, CIDADANIA E JUSTIÇA SOCIAL INTRODUÇÃO A presente Unidade de Estudo focará o tema da política, da cidadania e da justiça social. A política surgirá sempre que uma pluralidade de indivíduos estiver presente, pois as deliberações e ações que daí surgirem caracterizarão o exercício mais nobre e complexo das atividades humanas. Para esta Unidade de Estudo, a leitura atenta deste material, bem como a atenção especial a todos os acontecimentos políticos a sua volta, é de extrema importância para uma base teórica e prática de nossas ações na sociedade. Toda e qualquer atividade que nasça da pluralidade, será atividade política. FONTE: Banco de Imagens 123rf

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A POLÍTICA: SEU NASCIMENTO E TRANSFORMAÇÕES

Para tratarmos da questão da política, é necessário termos claro que o sentido gregário dos seres humanos desencadeia uma série de formas organizacionais específicas. Temos, por exemplo, diversas organizações com objetivos definidos em todas as sociedades, são as chamadas instituições sociais. Uma instituição impõe padrões de conduta e maneiras de agir em sociedade originadas a partir da própria sociedade. Neste sentido, tomamos a política como uma dessas formas de organização, denominadas instituições sociais. Refletir sobre tal organização social nos leva a questionarmos seu histórico, seu sentido e sua significação para a O nome política vem sociedade em que estamos inseridos. Para entendermos a política como instituição social, temos como horizonte a cultura grega, de quem tal organização no ocidente é herdeira. É exatamente no período de 440 a 404 a.C., denominado de “século de Péricles”, que podemos observar a formação inicial desta instituição como uma organização.

da designação de pólis (“cidade” em grego), segundo Maria Lúcia de Arruda Aranha (1993), filósofa brasileira.

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FONTE: Domínio Público

Sólon (séculos VI a V a.C.): o estadista, legislador e poeta da Grécia Antiga era considerado um dos grandes sábios desse período, tendo composto inúmeros poemas importantes.

A reforma de Clístenes instituiu o espaço político ou a pólis propriamente dita. Assim, a partir destas reformas, surge um espaço próprio para que decisões e deliberações que envolviam a sociedade desta época fossem tomadas.

Clístenes (séculos V a IV a.C.): político da Grécia Antiga que leva adiante as obras de Sólon. Era de família abastada, porém liderou uma revolta popular e reformulou a antiga constituição ateniense.

A pólis não se referia à noção de cidade como a temos hoje, isto é, um conjunto de edifícios e ruas, comércio e outras organizações destinadas a atender as mais variadas demandas da comunidade. A pólis instituída neste período se caracterizou como um espaço destinado aos indivíduos deliberarem e se expressarem coletivamente acerca dos assuntos da cidade.

Segundo Marilena Chauí (2002, p. 134), neste período, tinha-se “uma democracia direta ou participativa e não uma democracia representativa, como as modernas”.

A modernidade foi uma série de acontecimentos nos campos da política, religião, Estado e cultura que inauguram uma nova forma de pensar e organizar a vida social após o feudalismo.

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Nas democracias representativas, mais comuns nas sociedades modernas, segundo Anthony Giddens (2012, p. 703), “as decisões que afetam a comunidade são tomadas não por seus membros como um todo, mas por pessoas que foram eleitas para essa finalidade”.

Diversas foram as transformações que esta instituição social sofreu ao longo do tempo. Identificamos na modernidade o fortalecimento e a concentração das atribuições políticas nas mãos do chamado Estado Moderno.

Camila de Oliveira Casara | Osmar Ponchirolli

FONTE: Domínio Público

No entanto, foi somente a partir de Clístenes (510 a.C.) que se delimitou a pólis como espaço político por excelência.

Sólon (594 a.C.), ao perceber que “a terra ateniense era pobre e a agricultura não seria suficiente para manter a cidade” (CHAUÍ, 2002, p. 132), incentivou as atividades do comércio e artesanato, empreendendo assim uma quebra do poder da aristocracia fundiária e atraindo estrangeiros. A ideia deste legislador era incentivar a participação no poder político a partir do critério da fortuna pessoal.

Esta organização passa a dispor de um aparato jurídico-administrativo para a distribuição dos recursos numa coletividade, bem como monopoliza o uso da violência e das forças armadas, segundo o sociólogo Anthony Giddens (2012). Percebemos, assim, que, tal como originalmente a pólis pensada pelos gregos, o Estado Moderno representa o lugar em que as decisões sobre a cidade, isto é, a política acontece em nossa sociedade. FONTE: Domínio Público

1.1 AS ANÁLISES MODERNAS DA POLÍTICA As análises da política moderna na filosofia e sociologia são muitas. Uma das mais importantes vem da Itália, mais especificamente no século XIV, a partir da figura de Nicolau Maquiavel (1469-1527). Para este pensador, a questão que se coloca é a da legitimidade do poder, isto é, qual a natureza do poder político.

Nicolau Maquiavel (1469-1521): pensador, político e historiador florentino da época do renascimento.

FONTE: Domínio Público

Em sua obra O Príncipe, de 1513, Maquiavel nos fala das ações mais importantes para que o governante tenha legitimidade sobre seus súditos. Nesta concepção, o poder político é originado das relações sociais estabelecidas entre governantes e governados, ou seja, a partir das relações sociais. Ao pensar a força do príncipe sobre seus súditos, a partir de suas ações, Maquiavel dará origem ao pensamento político moderno. O Príncipe foi geralmente entendido como um manual contendo ideologia da classe dominante. A política passa a ser entendida como um violento jogo de forças ao qual se submetem moral, religião ou o direito – pois só neste confronto, ou a partir dele, adquirem sentido.

Max Weber (1824-1920): sociólogo alemão, considerado um dos grandes nomes do início do pensamento sociológico.

Outro pensador que dedicou especial atenção à questão da política foi Max Weber (1864-1920) para quem, assim como Maquiavel, o poder político era fruto das relações sociais: “Todo poder é exercício e, quando exercitado, é política, pois poder é uma ação social” (ARAÚJO, 2013, p. 144). Para este autor, a questão da legitimidade do poder político também foi um tema bastante debatido.

Se nos aprofundarmos no pensamento de Weber, veremos que o pensador alemão nos esclarece que o poder político se apoia na crença de uma ordem legítima por parte daqueles que estão envolvidos numa relação de poder. Para uma melhor abordagem da realidade, Weber classifica a atribuição da legitimidade do poder por parte dos agentes em virtude da tradição, da crença afetiva e da crença na legalidade de um estatuto:

Tradição A legitimidade atribuída ao poder da rainha ou rei, por exemplo.

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Crença afetiva A legitimidade atribuída ao poder de líderes carismáticos, como o Papa João Paulo II e a Madre Tereza de Calcutá, por exemplo. Crença na legalidade de um estatuto A legitimidade atribuída a um presidente eleito democraticamente, por exemplo.

FONTE: Domínio Público

Dentre as análises sobre a natureza do poder político, Hannah Arendt (1906-1975), pensadora alemã,

Hannah Arendt (1906-1975): filósofa alemã de origem judaica, perseguida pelo regime hitlerista, foi responsável por grandes obras filosóficas do século XX, entre elas A origem do totalitarismo.

também fez grandes contribuições. Para ela, a política é um fenômeno intimamente relacionado ao poder e à pluralidade humana. Poder, para Arendt, é resultante da multiplicidade humana; da presença de certo número de indivíduos que o caracteriza como fenômeno que ocorre em meio à diferença e à multiplicidade de objetivos. Juntamente com Maquiavel e Weber, Arendt vê na política o exercício de poder em meio às relações sociais e, portanto, o fenômeno que surge quando homens e mulheres se encontram unidos. Sem uma pluralidade de indivíduos, não há poder, isto é, não poderá nascer daí nada de político.

“O poder corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas para agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e permanece em existência apenas na medida em que o grupo conserva-se unido” (ARENDT, 1994, p. 36).

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A CIDADANIA: SEU NASCIMENTO E TRANSFORMAÇÕES

A partir do momento em que a inscrição na pólis grega passou a ser definida pela noção de cidadão, ou seja, todos aqueles que fossem considerados cidadãos poderiam participar das decisões da pólis, iniciou-se uma forma de governo em que as decisões sobre a pólis passaram para as mãos desses indivíduos.

Importante frisar que mulheres, crianças, estrangeiros e escravos não estavam inclusos na cidadania.

Esta forma foi denominada democracia (démoi, os cidadãos; krátos, o poder, portanto, o poder dos cidadãos). Nesta organização da política, a função soberana estava no poder das leis, ou seja, as leis válidas a todos os cidadãos seriam a força maior neste tipo de organização. No entanto, diferentemente da forma original praticada pelos gregos, a maneira de participação dos cidadãos na política da modernidade está alicerçada no Estado-nação, isto é, instituições em que grande parte da população é composta por cidadãos que se consideram como parte de uma nação.

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Para Anthony Giddens (2012), a cidadania é uma das características essenciais dos Estadosnação e, na atualidade, o conceito de cidadania se estende a todas as pessoas pertencentes a um determinado Estado.

“Nas sociedades modernas, a maioria das pessoas que vivem dentro das fronteiras do sistema político é de cidadãos, tendo direitos e deveres comuns e se considerando parte de uma nação” (GIDDENS, 2012, p. 699).

No decorrer dos séculos, percebemos o reconhecimento e a expansão dos direitos por parte da população mais pobre. Esta ampliação veio como resultado de diversas lutas e reivindicações para que os direitos de cidadania fossem reconhecidos a todos os indivíduos de determinado Estado. Segundo Thomas Marshall (1893-1981), sociólogo britânico, em sua obra Cidadania e Classe Social (1949), existiram três ciclos de geração de direitos de cidadania:

Direitos civis: a conquista dos direitos mais básicos, como o direito de ir e vir, liberdade religiosa etc.

Direitos sociais: conquista dos direitos de bem-estar social, como saúde, educação

Direitos políticos: conquista dos direitos de eleger e ser eleito e participar ativamente no processo político.

etc.

O conceito inicial de cidadania surge juntamente com a pólis na Grécia Antiga, mas se amplia e sofre transformações ao longo dos séculos e das transformações que as instituições políticas passaram. Neste sentido, a justiça social se mostra como a ampla possibilidade de que indivíduos possam usufruir de seus direitos e deveres enquanto cidadãos de maneira igualitária e solidária em qualquer Estado-nação. Com a Revolução Francesa, a concepção de cidadania se expande para abranger os direitos fundamentais do homem, entendidos como direito da liberdade suscetível de concretização na cidade e no Estado, e os direitos vinculados à ideia de igualdade e justiça. Estudos do Ser Humano Contemporâneo

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Cidadania é o pertencer à comunidade, que assegura ao homem a sua constelação de diretos e o seu quadro de deveres. O exercício da cidadania está assegurado pelos direitos fundamentais presente na Constituição brasileira. O direito político, social e econômico se encontra em constante tensão com as ideias de liberdade, de justiça política, social e econômica.

A igualdade de oportunidades, de resultados e de solidariedade tem vínculos com a cidadania. A cidadania é analisada e estudada como cidadania local, nacional, mundial, comunitária, cosmopolita e virtual. 3

JUSTIÇA SOCIAL: DIVERSIDADE DE SIGNIFICADOS

É consenso na literatura que a justiça deve ser analisada como um conjunto de exigências relativas à estrutura da sociedade.

“A justiça apresenta-se como um conjunto de critérios ideais que devem presidir a boa conduta e o desenvolvimento ordenado da coisa pública” (LUMIA 2003, p. 493).

Na órbita dos procedimentos, alguns desses critérios apresentam objetividades indubitáveis: a exigência de imparcialidade, a proibição de alguém vir a ser juiz em causa própria ou a necessidade, no caso de um conflito, de que os dois lados litigantes sejam escutados. No âmbito do pensamento ocidental, a justiça foi concebida sob a forma de repartição. A justiça consistiria na disposição ou virtude permanente de dar a cada um o que lhe é devido. Percebe-se, nesta concepção, a necessidade de distinção entre duas dimensões da repartição: a formal e a material. A formal é de caráter procedimental e a material indica a necessidade de identificação dos princípios a serem utilizados na repartição. Observe na FIG. 1: FIGURA 1 – Distinção entre estado formal e material de direito

FORMAL

MATERIAL

Procedimental

Substancial

Parte de uma definição formal da igualdade, isto é, da suposição de que todas as pessoas em uma sociedade ou grupo devem ser tratadas de acordo com regras idênticas.

Enfrenta a tarefa de escolher entre os princípios de distribuição mais adequados e o desafio de justificar as desigualdades dele decorrentes.

FONTE: Os autores (2017)

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Segundo Silva (2007, p. 115), “o Estado de Direito deixou de ser formal para transformar-se em Estado Material de Direito”. Neste sentido, o Estado tende a realizar a justiça social. A partir da modernidade, a Justiça deixou de ser apenas uma virtude e passou a ser enfatizada como fundamento da sociedade. David Hume (1995), filósofo francês, definiu a justiça como virtude artificial fundada numa convenção social preexistente. O Utilitarismo pensou a justiça em termos teleológicos, isto é, como a maximização do bem-estar social. Kant (1994) conceituou a justiça como um dever absoluto que consistiria em tratar cada ser humano com respeito, isto é, como um fim em si mesmo e não como meio para obtenção de algo. No pensamento contemporâneo, o filósofo americano John Rawls marca o ressurgimento do debate sobre a justiça. Desde a publicação da obra Uma Teoria da Justiça (1993), as discussões teóricas deram ênfase à justiça como a promotora da maximização da liberdade e de distribuição do Capital Social. O tema da justiça e, consequentemente, da justiça social continua a suscitar importantes debates no âmbito do pensamento contemporâneo. Há uma discussão sobre a distribuição dos bens culturais, bem como as questões relacionadas aos grupos vulneráveis, sobretudo mulheres e homossexuais. No mundo atual, o homem enfrenta o problema de sobreviver e conviver de modo digno. Esta situação requer uma solução adequada para as relações econômicas e de poder. Há a necessidade de estabelecer os direitos e deveres das pessoas na sociedade. Se há direito à alimentação, à habitação, à educação e à saúde, será oportuno criar mecanismos que concretizem esses direitos. Se há direito à diversidade, às minorias e aos excluídos do sistema, será urgente criar mecanismos que concretizem esses direitos. Neste sentido, a justiça social apresenta uma dimensão política que reclama a participação de todos na solução das realidades concretas na sociedade. A justiça social evidencia, além da dimensão política, a dimensão social do ser humano. O ser humano é capaz de compreender a importância da alteridade (o outro). Necessitamos do outro, no plano político, econômico e afetivo. Sem a alteridade, não teríamos condições de saber quem somos e que rumo dar à nossa existência.

CONCLUSÃO Nesta Unidade de Estudo, buscamos compreender como aconteceu o nascimento da política, mais especificamente a política ocidental, na Grécia Antiga. Desde então, esta instituição eminentemente humana sofreu diversas transformações e passou a ser objeto de análise de diversos autores, desde Nicolau Maquiavel, passado por Max Weber, até Hannah Arendt. Também analisamos o conceito de política, que decorre do papel do indivíduo que vive e participa da pólis e as novas concepções na contemporaneidade. Seja na configuração da Grécia Antiga, seja no Estado-nação, o conceito de cidadania está presente como elemento fundamental da vida política. Percebemos que a cidadania e a justiça social sofrem alterações e ampliam-se, à medida que os séculos elaboram melhor a noção política. A existência humana é coexistência, é convivência com a alteridade. Toda a relação humana é também uma relação de poder. O ser humano é capaz de solucionar de forma responsável e comunitariamente as questões de convivência e de sobrevivência. Na vida em sociedade, todos querem liberdade, igualdade, participação, responsabilidade e autonomia, no entanto, ao mesmo tempo, o homem renuncia com facilidade estes valores. A tarefa política do homem no século XXI é recuperar o Estado como instituição máxima e administradora da vontade da maioria da população e de seus interesses comuns.

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REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993. ARAÚJO, Sílvia Maria (Org.). Sociologia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto, 2013. ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994. CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. v. 1. GIDDENS, Anthony. Sociologia. São Paulo: Penso, 2012. HÖFFE, Orfried. Justiça e política. Petrópolis: Vozes, 1991. HUME, David. Uma investigação sobre os princípios da moral. Campinas: Editora Unicamp, 1995. KANT, Immanuel. Métaphysique dês moeus. Paris: Flammarion, 1994. LUMIA, Giuseppe. Elementos de teoria e ideologia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2003. MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 2004. MARSHALL, Thomas. Cidadania e classe social. Rio de Janeiro: Zahar, 1949. RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Lisboa: Editorial Presença, 1993. SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 32. ed. rev. e atual. Emenda constitucional n. 56, de 20.12.2007. São Paulo: Malheiros, 2008. VECCA, Salvatore. La bellezza e gli oppressi: dieci lezioni sull’idea di giustizia. Feltrinelli, 2002. WALZER, Michael. As esperas da justiça: em defesa do pluralismo e da igualdade. Lisboa: Editorial Presença, 1999. WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos de sociologia compreensiva. Brasília: Editora UnB, 1999.

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UNIDADE DE ESTUDO 12 O FENÔMENO RELIGIOSO INTRODUÇÃO O fenômeno religioso é uma das manifestações mais profundas e significativas do ser humano. Sob variadas formas, está presente em toda a história humana e em todas as sociedades. Sua influência se estende sobre todo o campo da cultura, das instituições e das ações humanas. Por isso, não se pode compreender o ser humano – nem ontem, nem hoje, nem nas sociedades mais simples, nem nas mais complexas – sem refletir sobre o fenômeno religioso. Nem se pode viver plenamente a condição humana sem fazer, em algum grau, a experiência religiosa.

FONTE: Banco de Imagens 123rf

Esta Unidade pretende apresentar os traços mais determinantes desse fenômeno e os conceitos que permitem melhor compreendê-lo. As considerações aqui contidas são válidas para quaisquer crenças religiosas.

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RELIGIÃO HOJE: ABANDONO OU CRESCIMENTO?

Na atual sociedade, pode-se (ainda) deparar com a visão ou comentários de que o fenômeno religioso acabará se diluindo, ou melhor, perderá força na vida das pessoas, das famílias e da sociedade. Houve uma época em que se comentava sobre a possibilidade do desaparecimento da religião, mas, ao contrário do que se acreditava, a experiência religiosa está com muita vitalidade. O fenômeno religioso está “em alta”.

“O movimento que se iniciou no século XIII na direção da autonomia do homem... completou-se de certa forma em nossa época. O homem aprendeu a lidar com todas as questões de importância sem recorrer a Deus como uma hipótese explicativa... Cada vez se torna mais evidente que tudo funciona normalmente sem Deus. Já se admite que o conhecimento e a vida são perfeitamente possíveis sem Ele” (BONHOEFFER apud ALVES, 2006, p. 35).

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Podemos citar o crescimento do islamismo na Europa e o número crescente de evangélicos na América Latina, inclusive no Brasil.

A compreensão do fenômeno religioso geralmente é condicionada pela influência de uma concepção das ciências e do poder tecnológico sobre a vida em geral, como também pela influência de uma nova cultura moderna. Outra razão importante para compreender uma interpretação do fenômeno religioso tem a ver com a dinâmica da sociedade a partir da secularização, da pluralidade e da laicização. No aspecto da secularização, por exemplo, há que dizer que não ocorreu um secularismo, ou seja, uma total perda da dimensão transcendental e religiosa do ser humano. O que tem ocorrido é um surto do sagrado, que é conhecido até nos países mais desenvolvidos. No entanto, ocorre:

Uma real secularização no sentido da dificuldade de o homem e a mulher modernos integrarem as experiências religiosas no conjunto de sua vida profissional, familiar e social. Sofrem de verdadeira cisão interna. As experiências secularizadas e religiosas coexistem em suas pessoas de maneira paralela. O sagrado já não é instância normativa, de referência, que integra as outras experiências e lhes dá sentido. (LIBÂNIO, 2000, p. 45-46)

Tudo parece indicar que se pode viver uma vida social pós-religiosa, isto é, uma experiência pessoal e social desligada de uma confissão religiosa (cristã, budista, islâmica etc.). Contudo, apesar do aprofundamento da modernidade por influência do hipercapitalismo, é surpreendente a sede de Deus, sede da religião. De repente uma experiência não institucionalizada, mas desde a fé, a crença num Sagrado, o Transcendente é algo perceptível na vida das pessoas. E mais ainda:

A história [...] parece que se deleita em zombar de nossas previsões científicas. Quando tudo parecia anunciar os funerais de Deus e o fim da religião, o mundo foi invadido por uma infinidade de novos deuses e demônios, e um novo fervor religioso, que totalmente desconhecíamos, tanto pela sua intensidade quanto pela variedade de suas formas, encheu os espaços profanos do mundo que se proclamava secularizado. [...] O fascínio pelo misticismo oriental, a ioga, o zembudismo, a meditação transcendental... todos estes elementos fizeram cair por terra as previsões científicas acerca do fim da religião. Mudaram-se as vestes. Frequentemente deixam-se de lado os símbolos ostensivamente religiosos. Mas sempre, de uma forma ou de outra, é possível constatar no mundo humano e nos recônditos da personalidade a presença obsessiva e incômoda das questões religiosas. (ALVES, 2006, p. 36-37)

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Ademais, o fenômeno religioso na sociedade se destaca por uma experiência plural, o que significou mudar de lugar (não só nos templos) e foi vivido de várias formas (não apenas convencional). É vivida a experiência religiosa desde a esfera privada e a social. A religião se mantém ainda na atualidade, e não só como fenômeno, mas também como força social, só que agora sob uma forma fortemente subjetivada e, por conseguinte, muito diversificada. Trata-se de uma religião mais sutil, mais livre e mais emocional. E nem falemos das formas degradadas de religião (que vão desde o charlatanismo até o satanismo), nem das formas camufladas (sob o disfarce do culto do corpo, do esporte, dos ídolos da música e por aí vai). Sob todas essas formas, a religião se mostra presente e viva na sociedade por certo jogo de esconde-esconde muito mais esperto que a pretensa esperteza intelectual de seus especialistas. (BOFF, 2015, p. 428)

Enfim, dizer que a religião é uma ilusão ou que vai desaparecer significa não compreender a importância da experiência religiosa para o ser humano, preferencialmente para os mais vulneráveis e desprovidos de cuidados da sociedade.

E é quando a dor bate à porta e se esgotam os recursos da técnica que nas pessoas acordam os viventes, [...] surgem então as perguntas sobre o sentido da vida e o sentido da morte, perguntas das horas de insônia e diante do espelho... O que ocorre com frequência é que as mesmas perguntas religiosas do passado se articulam agora, travestidas, por meio de símbolos secularizados. Metamorfoseiam-se os nomes. Persiste a mesma função religiosa. Promessas terapêuticas de paz individual, de harmonia íntima, de liberação da angústia, esperanças de ordens sociais fraternas e justas, de resolução das lutas entre os homens e de harmonia com a natureza... serão sempre expressões dos problemas individuais e sociais em torno dos quais foram tecidas as teias religiosas. (ALVES, 1981, p. 11-12)

Há que se compreender que a essência da religião não se reduz a uma ideia, mas tem a ver com força. O crente que entra em comunhão com Deus se torna mais forte, para suportar o sofrimento e as lutas do cotidiano. Por isso, o sagrado não tem a ver com um saber, e sim com o poder. O que se constata é que a religião não terá fim, pelo menos enquanto na Terra existir o ser humano. Ou melhor, enquanto existir sociedade, a religião não desaparecerá. A religião é resposta diante do não sentido, ou alento para o “suspiro do oprimido”.

Por isto a religião permanecerá até o fim. Como esperança e como protesto, como símbolo que informa o homem da incompletude e definitiva de sua própria condição, como consciência de que tal sociedade ainda não chegou e nunca chegará. (ALVES, 1987, p. 100)

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A EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL E MÍSTICA

Todo ser humano, independente de religião e Igreja, deve cultivar a experiência do Espírito. E espiritualidade tem a ver com “espírito”. Viver espiritualmente implica viver no “espírito”, seja bom ou ruim. E o espírito não é alguma “coisa” que está fora do mundo, da matéria, do corpo. Ele permeia toda a realidade como vida, força, ação liberdade, construção... A experiência espiritual e mística dá ao ser humano vigor, entusiasmo, boa-vontade para amar. Ao mesmo tempo, o Espírito interpela, encoraja, provoca à novidade, lança ao crescimento e à criatividade. Por isso, o “espírito de uma pessoa é o profundo e dinâmico de seu próprio ser: suas motivações maiores e últimas, seu ideal, sua utopia, sua paixão, a mística pela qual se vive e luta e com a qual contagia” (CASALDÁLIGA, 1998, p. 8). Além disso, a espiritualidade de uma pessoa humana será o “feitio de sua própria humanidade”. A experiência no e segundo o Espírito se dá a partir de algumas características fundamentais, pelo fato de ela tocar a pessoa e a realidade na sua totalidade. Leonardo Boff (1993) destaca as seguintes características:

Globalidade: Uma primeira característica é a globalidade – a experiência do divino, do transcendente permeia toda a realidade. Tem a ver com tudo que existe, com o todo da vida e da história. Consegue vivenciar a presença de Deus no espaço do sagrado e no espaço secular;

Dinâmica Integradora: Uma segunda característica corresponde à dinâmica integradora de todas as dimensões da vida. Isso quer dizer que a experiência religiosa não é separada da razão, do corpo, do cotidiano, ou da história. No contexto da experiência religiosa, tudo tem a ver com o sagrado, pois tudo é permeado pela presença da divindade. (BOFF, 1993, p. 64).

Diafania: Uma terceira característica diz respeito à diafania, isto é, a transparência. Deus aparece através do homem e do mundo. A experiência do divino se dá na mediação de todas as experiências humanas. Tudo que existe possui uma realidade mistérica.

FONTE: Boff (1993, p. 64)

Esta experiência mística e religiosa é patrimônio de todos os seres humanos. 126

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Toda pessoa está animada por uma espiritualidade ou por outra, porque todo ser humano – cristão ou não, religioso ou não – é um ser também fundamentalmente espiritual. Toda mulher e todo homem são mais do que biologia pura. É esse algo mais, muito mais, que os distingue do simples animal. [...] Perder essa dimensão profunda é deixar de ser humano, é embrutecer-se. (CASALDÁLIGA, 1998, p. 9)

Enfim, quanto mais uma pessoa vive e age à luz da experiência espiritual, mais poderá cultivar opções profundas, grandes sonhos, valores éticos, responsabilidade com a humanidade. A espiritualidade, por ser o mais profundamente humano, seria o que mais a pessoa tem para ser à semelhança de Deus. E mais,

“Não é a religiosidade quem faz a verdade ou a mentira de uma vida humana, mas a autenticidade dessa mesma vida. ‘Em espírito e verdade quer ser adorado o Pai’, recordava Jesus à Samaritana, junto ao poço de Jacó (Jo 4, 23)” (CASALDÁLIGA, 1998, p. 10).

Para a pessoa humana mística, espiritual, o ordinário (o doméstico, o cotidiano, o dia a dia) é o lugar por excelência para um verdadeiro encontro com Deus. É numa experiência de abertura à presença do outro, sobretudo do outro necessitado (Mt 25), e com uma comunhão, uma solidariedade e uma sensibilidade profunda com toda a realidade, que se pode viver o Encontro com o Amor e a Vida humanizada. O Sagrado, o Transcendente, o Deus da Vida é revelação, manifestação na experiência da generosidade, da misericórdia, da justiça, da comensalidade.

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EXPERIÊNCIA RELIGIOSA OU VIVÊNCIA DO AMOR

Toda experiência do Divino, do Transcendente, ou melhor, do Deus que é vida para nossa vida, tem que colocar na prática a experiência do Amor, porque Deus é amor. “Quem não ama não conhece a Deus” (1Jo 4, 8). Nesse sentido, é possível dizer que:

“Diante de Deus, se não há a caridade, a religião é inútil”. A religião não é necessariamente prática de amor, e pode estar totalmente alheia ao amor, como Jesus bem explicou no capítulo 23 de Mateus. Aí fica muito claro que a religião pode ser obstáculo ao amor, fechamento da pessoa e das instituições ao amor. A religião precisa de conversão ao evangelho. Pessoas muito religiosas podem ser egoístas, cruéis, arrogantes, dominadoras, orgulhosas; e as próprias instituições religiosas podem ser de poder, de cobiça, de egoísmo e de autoritarismo. A religião torna-se um perigo quando esconde o vazio de amor, a carência de esperança e de fé verdadeira. (COMBLIN, 2004, p. 222-223)

O Evangelho convoca, interpela, provoca a uma vida de humildade, serviço-amor e justiça. O importante é que a experiência religiosa favoreça à humanidade uma experiência do Deus que é vida para todos os povos. Estudos do Ser Humano Contemporâneo

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Em Jesus se concretizou o grande acontecimento que marcou definitivamente a história das tradições religiosas da humanidade. No homem Jesus, o divino fundiu-se com o humano, de tal modo que, a partir de Cristo, ficou demonstrado que Deus é diferente do que se supõe. Porque o distintivo mais profundo de Deus não é sua divindade (que nem sabemos o que é, nem podemos sabê-lo), mas sim sua humanidade. Sem dúvida, nisso está radicado o mistério profundo de Deus que, sem deixar de ser o Transcendente, é a realização mais plena e mais profunda da humanidade. (CASTILHO, 2010, p. 30)

De acordo com a compreensão de Deus que se tem é que se vive; ou seja, se tenho uma representação de um Deus autoritário, juiz, castigador, patriarcal... Com certeza que minha vivência com o outro terá o reflexo dessa representação de Deus. Uma vida assumida a partir do Deus humanizado e vivida de acordo com esse Deus é a única vida que hoje pode ser sinal e compromisso de humanização para o mundo. O que importa é a experiência do amor. A experiência religiosa tem que estar a serviço do compromisso de amor; vale dizer, vivenciar o Evangelho.

A religião é boa se serve para manter a memória de Jesus, para preparar a acolhida do evangelho ou para estimular a fidelidade. Mas a religião pode também ocultar o evangelho, tornando-o a si própria a sua finalidade. Então ela transforma a sua doutrina numa mitologia, os ritos num formalismo e a instituição num instrumento de poder. A religião vale se está a serviço do evangelho, mas é nociva se ela se torna a si própria como o seu fim. [...] Só Deus salva e salva pela prática do evangelho. Toda religião deve estar subordinada a essa fé e não substituí-la por outra fé. Nenhuma religião salva porque somente Deus salva, e salva gratuitamente. (COMBLIN, 2012, p. 97)

Viver o Seguimento de Jesus é praticá-Lo na história. É adentrar no caminho Dele, atitude que significa viver o amor-misericórdia, a solidariedade-afetiva e efetiva, não como sentimento, mas como agir concreto. O que importa é praticar a verdadeira religião: “Se alguém pensa ser piedoso, mas não refreia a língua e engana o seu coração, então é vã a sua religião. A religião pura e sem mácula aos olhos de deus e nosso Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, e conservar-se puro da corrupção deste mundo” (BÍBLIA, Tg 1, 26-27).

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O DESAFIO DO FUNDAMENTALISMO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Atualmente, a civilização mundial é atravessada pelo fenômeno do fundamentalismo em duas características: a religiosa e a secularizada. O fenômeno do fundamentalismo é responsável por muitos tipos de violência, discriminação, falta de diálogo entre as religiões e os povos, xenofobia, guerras em vários países. O fenômeno do fundamentalismo é encontrado em vários cenários: nas religiões, nas Igrejas, na política, nas relações econômicas, nas ciências etc. Ocorre o fundamentalismo quando o ser humano, a instituição, o pensamento hegemônico, o poder técnico-científico, as ciências etc. se apresentam com postura absoluta, irreversível, impositiva, não cabendo o diálogo, a reciprocidade, a tolerância, a pluralidade. 128

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O fundamentalismo não é uma doutrina. Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. É assumir a letra das doutrinas e normas sem cuidar de seu espírito e de sua inserção no processo sempre cambiante da história, que obriga a contínuas interpretações e atualizações, exatamente para manter sua verdade essencial. Fundamentalismo representa a atitude daquele que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista. (BOFF, 2002, p. 25)

Trabalhar por uma civilização mais humanizada, onde todos os seres humanos e natureza serão respeitados, implica superar a realidade fundamentalista que é encontrada por toda a Terra. A atual globalização capitalista é força e “imperativo” imposto pelo primeiro-mundo a partir de um fundamentalismo que se assenta na política de um Mercado totalitário. O Mercado proclama: “fora de mim não há salvação” – se considera legítimo e todo-poderoso. A política imperialista, neo-colonialista que se impõe sobre os povos e os países mais pobres da Terra, tem a ver com um fundamentalismo guerreiro, conquistador que pratica uma geopolítica desumanizadora, desapiedada e cruel. 5

A EXPERIÊNCIA DE FÉ E AS IDOLATRIAS

A atual situação de insensibilidade e de exclusão em relação a dois terços da humanidade tem a ver com a experiência de fé.

O problema não é ter fé, mas, sim, em quem temos fé?

Quem é nosso Deus?

Em que ou em quem colocamos nossa Esperança?

O que significa vivenciar uma fé anti-idolátrica?

Como vivenciar a fé a partir do amor, preferencialmente dos que sofrem?

A sociedade contemporânea tem uma causa responsável pelo sofrimento dos seres humanos e pela destruição da natureza. Ou seja, a policrise (crise de múltiplas dimensões: ecológica, social, política, financeira, ética etc.) que atravessa a humanidade e que tem levado a situações assustadoras (terrorismo; migrações dos povos pobres; refugiados; fome; miséria; exaustão dos recursos naturais; guerras etc.) tem como um fator importante para o seu desencadeamento a crise antropológica.

Estudos do Ser Humano Contemporâneo

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“Há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32,1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano” (FRANCISCO, 2013).

A experiência de uma fé idolátrica é preocupante porque os ídolos exigem sacrifícios de vidas humanas e da natureza, em nome do progresso, do bom consumo ou do bem-estar. Inclusive, a idolatria leva a perder a esperança no Deus da vida, a legitimar a morte do próximo. A idolatria se dá pelo culto ao dinheiro, consumo, poder, ter etc. O ser humano endeusa essas realidades e se submete a elas. Pelos ídolos se faz qualquer coisa! Há um consenso em dizer que o problema no Continente latino-americano não é o ateísmo, mas, sim, a idolatria:

Na América Latina de hoje, o problema central não é a questão do ateísmo, o problema ontológico da existência ou não existência de Deus. [...] O problema central está na idolatria como culto aos falsos deuses do sistema de opressão. Mais trágico que o ateísmo é o problema da fé e da esperança nos falsos deuses do sistema. Todo sistema de opressão caracteriza-se precisamente por criar deuses e gerar ídolos sacralizadores da opressão e da antivida. [...] A busca do Deus verdadeiro nessa luta dos deuses leva-nos ao discernimento anti-idolátrico dos falsos deuses, dos fetiches que matam e de suas mortais armas religiosas. A fé no Deus libertador, no Deus que revela seu rosto e seu mistério na luta dos pobres contra a opressão, passa necessariamente pela negação e a apostasia dos falsos deuses. A fé torna-se anti-idolátrica. (DEI, 1982, p. 7)

IMPORTANTE

O problema é que os ídolos são deuses que sobrevivem às custas de sacrifícios de vidas humanas e da natureza.

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A grande questão é esta: como vivenciar uma Fé no Deus da vida diante de tantos deuses? Uma fé anti-idolátrica que se opõe a uma experiência que legitima o sofrimento, a exclusão e a morte dos pobres e vulneráveis. Estar na defesa e promoção dos “últimos” deve ser o critério para o discernimento de uma fé que não comunga da idolatria reinante, e nem legitima o genocídio e o ecocídio.

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O que importa é cultivar uma fé que seja: o grito fundo que me acorda do torpor egoísta e me faz perguntar pelo outro, por meu vizinho, por minha filha, pela criança caída na estrada... Outras vezes está na pura beleza da aurora de um novo dia, ou no entardecer luminoso de certos dias de outono ou num sorriso ou num olhar que desmancha nosso coração de prazer. Por isso espero... Que o coração não seja soberbo e ganancioso. Que nos eduquemos para desequilibrar a instável balança de nossa vida, para não destruir a beleza que nos rodeia, para não ficar indiferente à dor alheia, para não sermos os únicos a participar do banquete de maravilhas que a Terra azul nos oferece. Minha fé e minha esperança se encontram, se dão as mãos, se assemelham, se misturam, se atraem, se conflitam, vivem uma da outra. [...] Sim eu creio, tenho fé e espero... No pão partilhado de cada dia, na acolhida ao estrangeiro, no cuidado ao órfão e ao velho, ao drogado e ao alcoólatra, às vítimas de tantas guerras... Eu creio, apesar do real escurecido que meus olhos vêem hoje... [...] O provisório da vida é o chão que pisamos e, é nele, que a fé e a esperança crescem. Por isso, a fé e a esperança nas coisas pequenas e aparentemente insignificantes nutrem a... vida, fazem... vida, sustentam... vida. (GEBARA, 2015)

A experiência religiosa tem que ser vivenciada à luz de uma fé que ilumina, ampara, motiva, encoraja a seguir vivendo na esperança e no compromisso por um mundo onde todos serão acolhidos no banquete do amor, da justiça, da liberdade e da paz.

CONCLUSÃO Nesta Unidade, vimos alguns pontos importantes, como: a) O fenômeno religioso, que se manifesta de múltiplas maneiras e lugares, está presente em todas as sociedades, mesmo naquelas que pretendem se livrar dele. No último meio século, quando a religiosidade parecia se extinguir nos povos ocidentais, reapareceu sob a forma de novas crenças e manifestações, muitas vezes desligadas das religiões tradicionais e mesmo, algumas vezes, recusando o adjetivo “religioso”. b) A espiritualidade é a vida humana conduzida à luz da experiência espiritual da vida humana. Não se desliga das coisas e atividades comuns, mas procura nelas a possibilidade de se encontrar com o divino. Contudo, é numa experiência de abertura à presença do outro, sobretudo do outro necessitado, que se pode viver o encontro com o divino que humaniza a vida. c) Encontramos atualmente dois tipos de fundamentalismo: o religioso e o secularizado (na política e nas relações econômicas, por exemplo). Todas as formas de fundamentalismo adotam postura de absolutização de suas posições e de recusa do diálogo e da busca do entendimento. O resultado sempre é a violência. Trabalhar por uma civilização mais humanizada, onde todos os seres humanos e natureza serão respeitados, implica superar todas as formas de fundamentalismo. d) A experiência de uma fé idolátrica se encontra em toda parte sob a forma de culto ao dinheiro, ao poder etc. Isto preocupa, pois resulta em sacrifícios de vidas humanas e da natureza, em nome do progresso, do bom consumo ou do bem-estar. Todos esses pontos são chaves de leitura que podemos utilizar para interpretar as manifestações religiosas na sociedade em que vivemos e buscar experiências que permitam o encontro com o divino e com o outro e, por isso, sejam verdadeiramente humanizadoras.

Estudos do Ser Humano Contemporâneo

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Paulo Moacir Godoy Pozzebon | Luiz Augusto de Mattos

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