Sujeitos, Subjetividades Em Tempos De Cultura Digital.

  • April 2020
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Sujeitos, subjetividades em tempos de cultura digital.

Apresentado à Arte Institucional Autora:

Denise Espírito Santo Professora Adjunta de Ensino da Arte IART/UERJ

Sujeitos, subjetividades em tempos de cultura digital.

Acostumados que estamos à presença incondicional das novas tecnologias da informação e da comunicação em nosso dia-a-dia, que vão contribuir inexoravelmente para uma radical transformação da nossa relação espaço temporal, somos levados a especular sobre como isso afeta particularmente a nossa subjetividade e nossa capacidade de apreensão, percepção e cognição. Nos dias atuais, homens e mulheres, crianças e jovens, reinventam novos modos de ver, de conhecer, de sentir e de interagir através de uma sensibilidade que captura os fenômenos visíveis invisíveis presentes no mundo numa velocidade vertiginosa. Imaginário e memória, nossas paisagens mentais são diretamente atingidas pelo lusco-fusco das imagens e a presença incondicional das mídias e culturas digitais têm muito a dizer sobre a experiência do sujeito em tempos de predomínio de uma cultura visual. Novos saberes e paradigmas são constituídos numa sociedade em acelerado processo de inovação tecnológica. Não à toa, nos últimos anos, uma série de pesquisas no campo específico da educação tem procurado discutir as relações entre imagem e modos de percepção, apreensão e cognição. No entanto, foi a partir dos anos 50-60, que o campo da visualidade através da publicidade, do cinema, da TV, das transmissões via satélite e mais recentemente da Internet, contraiu novas possibilidades de mediação entre os indivíduos e seu ambiente social. O conhecimento expressa uma categoria cada vez mais influenciada pelo uso indiscriminado da tecnologia. Com isso, começamos a refletir sobre o que representa os saberes tradicionais num mundo embalado pelo ciberespaço. É certo que a produção em série das imagens e a institucionalização de uma cultura da visualidade nas sociedades modernas constituem mecanismos importantes para a compreensão dessa nova subjetividade. Ao mesmo tempo, essa cultura da visualidade torna-se o emblema de muitas atividades econômicas e de produção simbólica dos sujeitos contemporâneos. A arte apropria-se dessa imagética e ressignifica seus conteúdos; ora se declara contrariamente à avalanche das imagens que a sociedade de massa produz, ora incorpora essa produção imagética como parte de um acervo complexo que caracteriza o

mundo contemporâneo. Diante de tamanha sedução e profusão das imagens, como enfrentar o problema de sua assimilação ao campo específico da educação? Pode-se competir em condições de igualdade com os recursos disponibilizados pela indústria do entretenimento, que são cada vez mais cobiçados pelas crianças, jovens e adultos – independente de seu poder de compra? Esses objetos/mercadorias possuem o mérito de tornar o mundo cognoscível para nós e ao alcance imediato das nossas mãos, mas se afastam lenta e inexoravelmente das formas tradicionalmente aceitas de transmissão do conhecimento, quando ainda se falava nas grandes narrativas e os sujeitos aprendiam pelo esforço contínuo da repetição e da oralidade. Penso que as imagens ampliam nosso modo de ver, de sentir, de interagir e de conhecer o mundo. Isto parece irrefutável, sobretudo quando vemos na TV imagens transmitidas ao vivo de outras terras e de outros povos, aproximando-nos instantaneamente de tudo e de todos e nos levando a considerar o fato de que somos feitos do mesmo estofo do mundo e que a matéria que nos governa preside a todos independente de cor, etnia, credo, localização geográfica, condição social e experiência de vida. É por isso que no âmbito da educação a apropriação dessa cultura da visualidade constitui um passo importante para a inovação das práticas de ensino/aprendizagem. Ela oferece possibilidades inéditas quanto às relações entre os indivíduos e os modos de ver/interagir com o mundo, repotencializando as condições materiais para o aprendizado. Mas, a cultura da visualidade deve suscitar no indivíduo uma leitura crítica e ativa, preferencialmente que possibilite ao receptor um espaço de construção de suas próprias imagens. A tecnologia digital já vem permitindo isso quando aposta na “democratização” de seus novos meios interativos, quando disponibiliza em escala planetária os seus inúmeros “brinquedinhos” tais como: Ipods, celulares e câmeras digitais etc. No entanto, é preciso vislumbrar um pensamento e uma práxis pedagógica afinada com a dinâmica da vida moderna, sabendo acompanhar as demandas existenciais, emocionais, lúdicas de nossas crianças, jovens e adultos. Mas, evitando uma aproximação anêmica com esse universo um tanto quanto “perverso” da exploração da imagem. Incorporar os novos modos de produção material, virtual, simbólica e econômica disponíveis na nossa época equivale tornar público e acessível para todos os sujeitos contemporâneos esse imenso patrimônio cultural que o homem vem construindo através

das eras. Walter Benjamin escreveu certa vez num texto célebre sobre a baixa cotação da experiência da nossa época (Experiência e pobreza, 1933): “uma miséria totalmente nova se abateu sobre o homem com esse desenvolvimento monstruoso da técnica. E o reverso dessa miséria é a sufocante riqueza de idéias que se difundiu entre as pessoas, ou melhor, se abateu sobre elas...” palavras proféticas que já anunciavam uma espécie de esgotamento de cultura, uma determinada indisposição para se surpreender com o novo e uma opacidade no trato com as coisas do mundo, que vemos claramente estampada nos rostos dos consumidores ávidos e ao mesmo tempo apáticos que engrossam as estatísticas das grandes exposições universais. Portanto, façamos da descoberta de uma nova subjetividade aliada à cultura da visualidade uma experiência libertadora e difusora do equilíbrio entre os seres humanos e a natureza, a Terra a embalar os sonhos de uma vida melhor e espiritualmente mais enriquecida.

Denise Espírito Santo é professora adjunta de ensino da arte do Instituto de Artes da UERJ. Dramaturga, diretora e pesquisadora teatral há mais de 10 anos com várias montagens teatrais, sendo a mais recente o espetáculo “Um longo sonho do futuro”, baseado nos diários do hospício de Lima Barreto. Doutora em teoria literária pela Faculdade de Letras da UFRJ, publicou entre os anos de 2000 e 2004 dois livros contendo a obra inédita do escritor gaúcho Qorpo-Santo (1829-1883), os livros “Poemas” e “Miscelânia Quriosa”. Desenvolve pesquisa em arte e educação há mais de uma década e trabalha como consultora de projetos educacionais integrando a linguagem audiovisual na escola. Em 2000 recebeu prêmio viagem da UNESCO e participou de um programa de intercâmbio cultural na Academia Koothu Pattarai, na Índia. Em agosto de 2003 realizou o Seminário Teatro do Mundo, uma mostra teatral com artistas do Brasil, África e Índia. Atualmente, coordena o projeto de pesquisa “Dialética das trocas culturais. Saberes em rede”, que é financiado pela FAPERJ e possui convênio com escolas e ONGs do Rio de Janeiro e Petrópolis. Contato: [email protected]

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