Modelo de Cagan, Modelo de Gray-Fisher: Indexação econômica Cagan e Gray-Fisher apesar da sua idade, são modelos que se ajustam a realidade brasileira, no sentido de alertar para os perigos de uma política econômica sem rigor técnico. O primeiro versa sobre o que acontece quando o governo financia sistematicamente o seu déficit via expansão da base monetária, o modelo de Cagan em 1956 já se preocupava sobre essa questão. Se você está notando alguma semelhança com o Brasil de 2013, pois é, não é mera coincidência.... acho que o Mantega não leu o Capítulo 10 do livro do Simonsen...(se você é estudante de economia, leia!!).
A conclusão de Cagan (para um determinado comportamento dos parâmetros do seu modelo) é que corte no déficit público via expansão monetária implica em um aumento na taxa de inflação. Cagan levou em conta o efeito Oliveira-Tanzi que predica que o imposto inflacionário pode ser decrescente (sob certas condições dos parâmetros do seu modelo).
Já o modelo de Gray-Fisher (cap 12 do Simonsen) aponta para a fragilidade de uma política monetária expansionista, a partir de uma economia indexada, mostrando que uma política monetária esperada não afeta o produto real, apenas os preços (inflação crescente).
Ou seja, a expansão monetária é vista com muita desconfiança, se seu objetivo é elevar a taxa de crescimento da economia. Então porque será que nada dizemos das políticas monetárias expansionistas provocada pelo BNDES?! Que na prática retiram o pouco de austeridade produzida pelo aumento da SELIC... O BNDES via crédito subsidiado incute um custo social de financiar investimentos privados...
Existe até justificativa teórica para isso, pois mercados incipientes teriam muita dificuldade de captar crédito devido ao seu alto risco moral. Mas em se tratando de bancos privados de grande porte, grandes empresas, grandes montadoras, o alto risco moral tem um enorme fundamento, pois o mercado mais do que ninguém conhece a reputação dessas empresas. E se o BNDES empresta, joga para a sociedade esse risco.
Com isso, estamos observando um aumento paulatino da indexação econômica, que é a forma pela qual a economia se protege da inflação (corrigindo preços via os resultados da inflação passada, e.g. Aluguéis), porém, os efeitos são de aumentar o componente inercial, o que torna mais difícil o custo do combate à inflação. Como Cagan mostra, o maior problema da inflação é a expansão monetária, e essa só é controlada via política fiscal responsável... e convenhamos, austeridade tem sido uma palavra abolida do dicionário do atual governo. Basta chorar um pouquinho que se tem aumento salarial, auxílio alimentação retroativo, entre outras benesses descabidas para um momento de crise.
Como combater a inflação inercial (indexação)
O indexação é uma forma de proteger sua reserva de valor. Um jeito de poder manter constante o rendimento de uma operação. Principalmente quando esta envolve troca de valores futuros, que, por conta da inflação, correm o risco de se deteriorarem rapidamente, conforme os meses e os anos passarem.
A compra de bens de consumo duráveis e imóveis envolve, entre outras coisas, acordos de antecipação de receita para o lado do comprador, e postergação para o lado do vendedor. Para se protegerem da desvalorização da moeda (inflação) os agentes do lado da venda necessitam de instrumentos que lhe permitam atualizar o valor monetário dos fluxos de caixa futuros. Com isso a indexação se faz extremamente útil, pois sem ela, ninguém iria querer vender à prestação.
Porém, uma compra indexada gera, também, incertezas para o lado do comprador, uma vez que, ele não tem condições de, a priori, conhecer qual será a taxa que irá vigorar para a correção de suas prestações. Gerando com isso um desconforto aliado à incerteza de que, poderá estar entrando em um negócio que lhe promova prejuízos futuros.
Logo, mais uma vez, a indexação deve ser vista como um acordo entre agentes - assim como o preço - de forma a poder garantir a execução da troca de um bem ou serviço.
Contudo, se a inflação for previsível, como assim o seria em um sistema de metas inflacionárias críveis. Os agentes terão condições suficientes para pré-estabelecer uma taxa de correção monetária hoje que irá vigorar durante o período estipulado para o pagamento. Para isso, os agentes devem ancorar suas expectativas na taxa anunciada pela autoridade monetária. Esse tipo de modalidade de contrato, com juros pré-fixados atrai a preferência do consumidor, pois nele está incutido menos riscos para si. Do outro lado, o risco vai para a ponta vendedora do contrato. Mas se os ofertantes possuem crença na capacidade da política inflacionária fazer valer sua palavra, a indexação deixa de ser necessária.
No nosso contexto, perdeu-se completamente a verossimilhança no anúncio das metas inflacionárias. Portanto, os agentes que estão atuando com contratos pré-fixados na ponta vendedora estão, sem sombra de dúvidas, perdendo dinheiro, e muito! A diferença da inflação anunciada para a real está na casa dos 6 pontos percentuais. É mais do que o dobro da meta. Ou seja, o vendedor perde ao fazer um contrato, ancorando suas expectativas à meta, mais de 50% dos rendimentos providos pela atualização monetária. É muita coisa. E gera desincentivos para ele.
No equilíbrio, então, uma autoridade monetária que não possui a capacidade de controlar a inflação, promove uma indexação da economia. O que pode, no futuro, prejudicar e tornar ainda mais caro o combate à inflação. Uma vez que, via inflação inercial, se, digamos, um total
de 25% dos preços na economia sejam indexados, os mesmos 25% da inflação passada será repassada para os preços no futuro e portanto, mesmo sem pressão inflacionária alguma (meios de pagamentos constantes), haverá inflação em T+1 pois, houve inflação em T.
Um mundo perfeitamente indexado gera, entre outras coisas, perda da capacidade de se controlar o recrudescimento inflacionário, pois a alta dos preços amanhã será a mesma de hoje, e com algum outro instrumento de pressão para a desvalorização da moeda, será ainda maior. O que promove uma espiral inflacionária, tornando a hiperinflação não mais uma questão política econômica, mas meramente uma questão de tempo.