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A ideia do livro não é apresentar um conceito fechado sobre o que seria a memória social; “Pensamos ao contrário, que se trata de um conceito complexo, inacabado, em permanente processo de construção. [...] A memória, aqui (no livro), está inserida em um campo de lutas e de relações de poder, configurando um contínuo embate entre lembrança e esquecimento.” (GONDAR, DODEBEI, 2005, p. 7)





Relações com o pensamento de Benjamin (memória, experiência), Foucault (relações de poder), Bakhtin (arena de disputa, linguagem, discurso);

Halbwachs: memória social como coesão social. No entanto, na pós-modernidade a própria concepção de coesão social pode ser questionada. As posições sociais e as relações entre os grupos parecem mais movediças.





Pierre Nora (memória como ancoragem das identidades nacionais). A crítica feita é a de que o autor francês lamenta a perda dessas memórias que ancoravam as identidades nacionais, usando, portanto, um tom essencialista.

Organização do livro: 8 artigos resultados de pesquisas do PPG em Memória Social (UNIRIO) e 2 artigos de professores convidados, Eduardo Viveiro de Castro e Mauricio Lissovsky.

CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL

Regina Abreu – Antropóloga . Doutora em Antropologia Social ( Museu Nacional). Professora do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO.

CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL

Walter Benjamin e sua tese “ O Drama Barroco Alemão”, rejeitada na Universidade de Frankfurt. Fragmentária e sem rigor científico.

CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL Questões que instigaram Benjamin - É possível misturar tradições teóricas diferentes quando nos dedicamos a um determinado tema? - Como trabalhar com os autores que os antecederam ? - De que modo estabelecer interlocuções com pensadores que muitas vezes são divulgados precariamente? - Como citar autores com os quais dialogamos? - É possível avaliar se nossas interpretações e tradições correspondem ao que os autores quiseram dizer?

CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL

Primeiro Parâmetro: O diálogo permanente entre teoria e pesquisa TEORIA + PESQUISA = CONTRIBUIÇÃO PARA UMA TRADIÇÃO DE PENSAMENTO

Segundo Parâmetro: O autor e seu quadro de referência teórica AUTOR: Coerência teórica; Situar no tempo e no espaço

CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL

Terceiro Parâmetro: autores não são argumentos de autoridade Situá-los fazer referências a suas obras, nomes completos, mencionar as diferenças entre os autores e mencionar com quais teses irá dialogar

CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL

Quarto Parâmetro: Autores clássicos e autores com contribuições pontuais Não se pode por exemplo, comparar ou colocar na mesma linha autores como Maurice Halbwachs, Pierre Bourdieu, Pierre Nora e Michel Pollack. (p.32)

CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL Quinto Parâmetro: A diferença entre autores e conceitos Os conceitos são fundamentais para as pesquisas, pois as conduzem à reflexão; são gerados em determinados quadros teóricos. (p.32)

2 - CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL Sexto Parâmetro: Os conceitos também são polissêmicos O Conceito de cultura é um bom exemplo de polissemia, com enormes diferenças entre dois ou mais de seus usos. (p. 33) Ocorre o mesmo com os conceitos de memória e, em particular, memória social. Este conceito foi criado em uma vertente sociológica de pensamento, com o intuito de qualificar a diferença entre estudos biológicos, psicológicos ou filosóficos da memória, e um estudo da memória como fenômeno social. (p. 34)

CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL

Sétimo Parâmetro: Os autores são homens de sua temporalidade Textos clássicos memória, de Maurice atualidade e, por isso, tornarem obsoletos (...) marcados por indagações viveram. (p.36)

como Os quadros sociais da Halbwachs, guardam sempre podem ser revisitados sem se são homens de seu tempo, gestadas nas sociedades em que

CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL Oitavo Parâmetro: As teorias e os conceitos são postos à prova nas pesquisas As teorias e conceitos podem ser adequados ou inadequados para uma pesquisa. Tudo depende do tipo de sociedade que estudo, das questões que formulo, dos meus objetivos de pesquisa. (p.37)

CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM MEMÓRIA SOCIAL Nono Parâmetro: As pesquisas em memória social são tão variáveis quanto as sociedade analisadas por elas. As diferentes concepções de memória nos levam a diferentes direções. Ex: Nietzche, Benjamin, Bourdieu, Bakhtin, etc..

NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA MEMÓRIA SOCIAL MIGUEL ANGEL DE BARRENECHEA - Doutor em Filosofia (UFRJ). Professor do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO

NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA MEMÓRIA SOCIAL

CONCEPÇÃO MÍTICA ARCAICA DE MEMÓRIA E ESQUECIMENTO - Mnemosine e os Poetas

- Platão: Livro X da República e Fédon

NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA MEMÓRIA SOCIAL

Os Primórdios da Memória Social: Nietzsche e a genealogia da memória

Nascimento da Memória: Em Genealogia da Mora (1887)l, Nietzsche analisou como a memória teve seu aparecimento devido a condicionamentos sociais: Dificuldades coletivas, graves ameaças, grupos rivais, animais agressivos, catástrofes naturais.

NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA MEMÓRIA SOCIAL

OS PRIMÓRDIOS DA MEMÓRIA SOCIAL: NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA MEMÓRIA

LINGUAGEM – MEMÓRIA - CONSCIÊNCIA -> Criações Contemporâneas - são frutos tardios, não fazem parte das

condições iniciais do homem. O homem era esquecido, instintivo e espontâneo.(p.63)

“ O nascimento da memória é um momento extraordinário” (p.64)

NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA MEMÓRIA SOCIAL OS PRIMÓRDIOS DA MEMÓRIA SOCIAL: NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA MEMÓRIA A Importância da comunicação: Signos - Sons - Palavras Relações contratuais de Devedor-Credor “ Nietzsche apresenta a tese de que há um deslocamento da noção econômica de dívida para a interpretação moral de culpa. O indivíduo culpado é aquele que deve algo; a noção de má consciência nasce do conceito material de dívida.” (p. 65)

NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA MEMÓRIA SOCIAL MEMÓRIA E RESSENTIMENTO Origem: Pecado Original → Culpa judaico-cristã Nietzsche: Aristocracia guerreira e Aristocracia sacerdotal O ESQUECIMENTO E A CRIAÇÃO Memória, Culpa, má consciência, ressentimento → Homem é um bicho q relembra seus atos; memorizar continuamente é um peso, uma doença. Daí então, a necessidade do esquecimento, condição para o desenvolvimento harmônico de um organismo sadio. (p.69) Em Assim falou Zaratustra → 3 transformações do espírito ( Camelo – Leão - Criança)

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR CARMEN IRENE CORREA DE OLIVEIRA - Mestre em Memória Social e Documento pela (UNIRIO) e Doutoranda em Ciência da Informação (IBCT/UFF) EVELYN GOYANNES DILL ORICO - Linguísta. Doutora em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ). Professora do Programa de Pós-Graduação em Memória Social.

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR



Revisão teórica sobre as relações entre memória e linguagem.

““O instante não permanece, daí o papel da sensação e da marca que nos ficam na instância memorial” (OLIVEIRA; ORRICO, 2005, p. 73)

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR

- A linguagem teria importante papel na manutenção de conceitos, de pontos de referência, ela ajudaria a formar o ‘cimento social’, mas também nos impondo regras e ordens de funcionamento.

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR DISCURSO: MOVIMENTO EM CURSO - O discurso como elemento que constitui a memória e a identidade. - Etimologia da palavra discurso para enfatizar a ideia de ação presente no sufixo (discursos – us = ação). - Contribuição da Análise do Discurso “[o discurso] como caminho

fundamental para análise da subjetividade e da

expressividade do indivíduo e dos grupos.” (OLIVEIRA; ORRICO, 2005, p. 75).

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR Um pouco de história





A aproximação entre as áreas de humanidades por meio do estudo do discurso como língua em movimento (ação). Crescimento das correntes pragmáticas impulsionam os estudos do discurso para além de sua estrutura.

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR A NOVIDADE INTRODUZIDA POR BAKHTIN



O uso concreto da língua, a língua usada socialmente. O discurso como acontecimento.

“[...] O pensador russo concebe a língua como algo que se oferece aos locutores em momentos de enunciação – concretização do sistema em situações de fala – que implicam ‘sempre um contexto ideológico preciso’. (OLIVEIRA; ORRICO, 2005, p. 76)

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR ● Polifonia e dialogia;

● Mesmo quando uma pessoa apenas fala, o discurso não deixa de ser dialógico, pois o que essa pessoa diz está em constante diálogo, tensão, acordo, com os demais discursos, com as demais vozes



Não nos colocamos como inaugurais na linguagem, ela nos precede. Mesmo que possamos utilizar a língua de um modo “nosso”, a base comum está cercada de regras que temos de obedecer. A arena de disputa ideológica nos coloca diante de palavras que carregam uma carga semântica, uma história que nos precede.

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR ●

O DISCURSO: LINGUAGEM, LÍNGUA, CONTEXTO HISTÓRICO, AÇÃO… ●





O discurso como estudo do sujeito, as questões ideológicas e as condições de produção dos discursos; Formações discursivas;

Para Pêcheux, a formação discursiva é tudo que pode ser dito ou deve ser dito (sob qualquer forma) em determinada formação ideológica, ou seja, a partir de uma posição dada em uma determinada conjuntura” (OLIVEIRA; ORRICO, 2005, p. 80) “

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR O DISCURSO COMO EVENTO OU ACONTECIMENTO ●

Discurso:

sujeitos, contextos, sentidos

[O sujeito] está necessariamente enredado nas teias das formações ideológicas e discursivas que determinam seu discurso em suas diferentes manifestações: o que é dito, como é dito e quando é dito. O contexto em que o sujeito se expressa é determinante, pois é nele que podemos detectar, em ação, os elementos de tais formações.” (OLIVEIRA; ORRICO, 2005, p. 80) “

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR A MEMÓRIA E SUA EXTERIORIDADE ●

Exteriorização; transmissão cultural, representação



Henri





Bergson:

Percepção: estímulos que tenho, mas que não exteriorizo em forma de ação no mundo. Lembrança: algo que estava submerso e surge através de uma percepção que se dá no presente.

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR A MEMÓRIA E SUA EXTERIORIDADE







O passado pode ser reinterpretado, repercebido por meio da linguagem, pois é sempre no presente que o passado acontece. Memória-hábito: esquemas necessários e memorizados mecanicamente (escovar os dentes, ir para o trabalho por tal caminho, etc.) Lembrança pura: memória de um acontecimento único.

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR A MEMÓRIA E SUA EXTERIORIDADE









Maurice

Halbwachs:

Memória individual e memória coletiva: ambas dependem do outro, o outro como sujeito, o outro como discurso. Gérard Namer: Memória diálogo: a) necessidade de lembrar (provocado por nós mesmos ou por terceiros); b) exterioridade do objeto lembrado (ou seja, eu reconstruo aquele objeto/situação/pessoa a que não tenho acesso físico por meio da linguagem)

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR A MEMÓRIA E SUA EXTERIORIDADE





Portanto, toda a memória seria social na medida em que depende de fatores não apenas individuais, embora estes componham o quadro da memória por meio das percepções internas. Os autores citam Todorov para enfatizar a disputa pelo passado e o risco de seu apagamento.

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR O DISCURSO E OS INDÍCIOS DA MEMÓRIA COMO PROJETO







Como se dão a construção e a exteriorização da memória;

O estudo de Jean-Jacques Courtine sobre discursos do Partido Comunista Francês aos cristãos de 1936 a 1976; Memória discursiva.

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR O DISCURSO E OS INDÍCIOS DA MEMÓRIA COMO PROJETO Courtine, então, define memória discursiva como ‘a existência histórica do enunciado no seio de práticas discursivas reguladas por aparelhos ideológicos’” - (OLIVEIRA; ORRICO, 2005, p. 86) Repetição: o interdiscurso, aquilo que remete a outros discursos.

Comemoração: discurso que está ligado diretamente à sua referência no passado.

MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO PROMISSOR O DISCURSO E OS INDÍCIOS DA MEMÓRIA COMO PROJETO No fim os autores enfatizam a importância dos estudos sobre linguagem e memória nas construções identitárias e culturais.

MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS

NILSON ALVES DE MORAES – Sociólogo. Doutor em Ciências Sociais (UFRJ). Professor do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO

MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS

Objetivos deste artigo: Refletir sobre a possibilidade de produção, recuperação e veiculação da Memória Social como parte do processo de constituição política e como objeto de intervenção intelectual.

MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS SOLIDARIEDADE MECÂNICA E A SOLIDARIEDADE ORGÂNICA

“ A resistência e a reinvenção cultural passaram a compor faces ‘naturais’ do social. Um movimento criativo da desordem se instalou e ocupou o cotidiano, e a voz única e unificada se tornou polifônica” (p.90)

MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS

- Memória Social passa a ser considerada como uma possibilidade de multiplicação dos significados dos processos em curso, segundo tendências geradas pela tecnologia e pelos meios de comunicação; estratégia para consolidar identidades e expectativas sociorrelacionais. (p.91)

MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS

ESPAÇO – TEMPO – DISCURSO

Le Goff(1994) - “Tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominam as sociedades históricas” (p.94)

Berger

e

Luckmann

(1985)

-Tempo

vivido

-

Ressignificação de conteúdos a partir de processos de socialização, correspondendo às experiências do sujeito no curso da história pessoal e da vida social. (p.94)

MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS

Pierre Nora (p.94, 95): “Nas sociedades tradicionais a memória regulava o futuro e estava incorporada ao cotidiano dos indivíduos e grupos sociais pelas vivências da tradição e dos costumes, regulando o futuro. No mundo mundo moderno ela é incorporada a outros espaços e processos sociais” Huyssen (p.95): “Nas últimas décadas, o mundo ocidental presencia e favorece constituição de um “boom da memória”. A emergência das tecnologias, os espaços urbanos e os meios de comunicação promovem a aceleração do tempo e esgotam os padrões tradicionais q imperavam”

MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO DA MEMÓRIA SOCIAL “ Toda memória é produzida na perspectiva de uma disputa em que algumas ideias, estratégias e sentidos são permitidos, enquanto outros são omitidos, silenciados, ocultos ou manipulados.” (p.96)

Para Melo Santos, “ a memória se constitui, em um conjunto de percepções e representações que iluminam a compreensão da espacialidade da vida social, como um elemento fundamental para conhecer a estruturação desses espaços e sua valorização diferencial.” (p.96)

MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS Outras perspectivas de memória:

- Sentido bakhtinano - Memória ofical -

Memórias sociais subterrâneas -

MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS “Bourdieu é fundamental para a de processos e estratégias sociais em que a imposição de um projeto se faz por uma resistência organizada, uma luta, exigindo uma negociação de sentidos em que a memória social constitui fator de mobilização e de produção de significados e sentidos” (p.92) “ A memória social também é resistência, reinventa a identidade e a cidadania de grupos sociais” (p.102)

CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO Eduardo Viveiros de Castro – Antropólogo. Doutor em Antropologia Social (Museu Nacional). Professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Rio de Janeiro.

CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO AS PORTAS DO DOMINIO MUSEAL E PATRIMONIAL “ O domínio patrimonial, ao invés de restringir-se dilatou-se a ponto de se transformar em um terreno de fronteiras imprecisas, terreno brumoso e com um nível de opacidade peculiar.” (p.115) A palavra 'patrimônio' e suas qualidades semânticas Patrimônio e Museu (p.116)A noção de posse (p.117)-

CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO PATRIMÔNIOS & MUSEUS: PERIGOS, VALORES E PORTAS Perigo e Valor – Palavras-chave para a ação preservacionista: a) Perigo - A tentativa de preservação da ordem e da paz a todo custo tende a pôr em perigo a paz e a própria ordenação social; a tentativa de preservar a vida por meio de ritos políticos de limpeza tende a deixar a própria vida em perigo. Ex: Walter Benjamin durante a ascenção do nazismo. (p.118)

CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO PATRIMÔNIOS & MUSEUS: PERIGOS, VALORES E PORTAS Perigo e Valor – Palavras-chave para a ação preservacionista: b) Valor - Para haver preservação, deve haver a identificação de um valor qualquer, seja este mágico, econômico, simbólico, artístico, histórico, científico, afetivo ou cognitivo. “Um povo só preserva aquilo que ama. um povo só ama aquilo que conhece”(p.119)

CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO Hierarquia de Valores: Mobilizada politicamente para justificar a preservação ou a destruição dois chamados bens culturais. - Museus Nacional do Iraque (saques: a Cabeça de nobre de Níneve e a Harpa da rainha de Ur) - Destruição ou morte social (p.121) - Retrato do Dr. Gachet por Vincent Van Gogh (p.122)

CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO Hierarquia de Valores Domínio Patrimonial (p.122):

- O Catador de pregos, Manoel de Barros; “ O minúsculo, porta estreita por excelência abre um mundo. O pormenor de uma coisa pode ser o signo de um mundo novo, de um mundo que, como todos os mundos, contém os atributos da grandeza” ( Bachelard, p. 123)

CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO Hierarquia de Valores

As portas ligam e desligam mundos distintos, preparam o terreno para duas referências históricas distantes no tempo e no espaço (...) uma porta francesa e uma brasileira. Uma no fim do século XVIII e a outra na primeira metade do século XX, transformadas em emblemas de disputas do imaginário, em corpos mediadores do combate pela construção simbólica da memória e do patrimônio. (p.124)

CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO

PRIMEIRA REFERÊNCIA: A PORTA DE SAINT-DENIS (FRANÇA)

“A capacidade de os corpos patrimoniais encarnarem múltiplos sentidos contribui para a ampliação de tensões e conflitos” (p.124)

CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO SEGUNDA REFERÊNCIA: A PORTA DA VELHA IGREJA DE SÃO MIGUEL, SP (BRASIL) “ Desta colunas quero denunciar o atentado! Quero denunciá-lo, com as reservas necessárias, pois é inacreditável a revelação! Ao que parece o golpe partiu de um padre da paróquia de S.Miguel[...]. A porta da sacristia, uma pesada porta de cobre, toda ela trabalhada a mão, documento da tosca, ingênua, suave, deliciosa escultura antiga; uma grande cômoda[...]e, mais ainda, um precioso sacrário da igreja acabam de ser vendidos” (p.126) ( publicado por Paulo Duarte, 1937)

CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO PATRIMÔNIO A CIDADELA PATRIMONIAL E O BASTIÃO MUSEAL

“ O que está em jogo nos museus, e também no domínio do patrimônio cultural, é memória, esquecimento, resistência e poder, perigo e valor, múltiplos significados e funções, silêncio e fala, destruição e preservação. Por tudo isso, interessa compreendê-los em sua dinâmica social e interessa compreender o que se pode fazer com eles, contra eles, apesar deles e a partir deles.” (p.132)

A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES POÉTICAS DO ACONTECIMENTO





Walter Benjamin e a fragmentação, o acontecimento: pensamento é iluminação; conceito é imagem cintilante, dissertação é prosa interrompida. O autor irá abordar dois textos de Benjamin: “Sobre alguns tema em Baudelaire” (1939) e “Sobre o conceito de história” (1940).

A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES POÉTICAS DO ACONTECIMENTO A uma passante (Charles Baudelaire 1821-1867) A rua em torno era um frenético alarido. Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa, Uma mulher passou, com sua mão suntuosa Erguendo e sacudindo a barra do vestido.

Pernas de estátua, era-lhe a imagem nobre e fina. Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia No olhar, céu lívido onde aflora a ventania, A doçura que envolve e o prazer que assassina.

A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES POÉTICAS DO ACONTECIMENTO Que luz... e a noite após! – Efêmera beldade Cujos olhos me fazem nascer outra vez, Não mais hei de te ver senão na eternidade? Longe daqui! tarde demais! "nunca" talvez! Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste, Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!

A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES POÉTICAS DO ACONTECIMENTO





A história processual x a história como poética do acontecimento (narração). A primeira substitui a memória, a segunda depende dela.

“Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo ‘como ele de fato foi’. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo.” (citando Benjamin).

A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES POÉTICAS DO ACONTECIMENTO É, portanto, a linguagem que pode nos permitir esse relampejo e eco. Cada acontecimento abriga uma semente de eternidade que é como uma ‘reserva do porvir’ infiltrada nele pelo passado” (LISSOVSKY, 2005, p. 137) “

- Olhamos para o passado, mas o passado também olha para o futuro.

A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES POÉTICAS DO ACONTECIMENTO “A forma dos acontecimentos poeticamente transfigurados pela memória, aprendidos, como imagem, no instante em que são ‘reconhecidos’, isto é, no agora que esse reconhecimento inaugura. As imagens da história que Benjamin oferece não resultam da descoberta ou da rememoração, mas desse reencontro.” (LISSOVSKY, 2005, p. 141)



O papel da memória, portanto, seria o de forjar desse reencontro entre o que já estava presente em nós e sua exteriorização no agora que o reinaugura.

A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES POÉTICAS DO ACONTECIMENTO ●



O choque oferece à memória uma lembrança da qual busca-se a exclusão da experiência. (pessoas que voltavam da guerra, silêncio, trauma, lembrança consciente esterilizada). A interrupção seria o contrário disso, um momento que acontece, que surge e para o qual não estamos preparados.

"A ‘memória coletiva’ de que fala Benjamin não é aquela que informa o que foi, mas aquela que transmite o legado do que ‘poderia ter sido’. Essa memória abriga, sobretudo, como cada época sonhou o seu futuro irrealizado.” (LISSOVSKY, 2005, p. 143)

EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE O que é antropologia?







O antropólogo compara antropologias, ou seja, sistemas culturais, sociais de povos. O problema da tradução cultural. A antropologia realiza comparações para traduzir e não para explicar. O perspectivismo ameríndio que entende a tradução como um processo de equivocação controlada.

EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE Perspectivismo - O povos da América indígena não se vêm, como nós, diferentes dos outros animais, dotados de uma inteligência superior. Para eles todos os seres são dotados de alma, de alguma humanidade, eles se veem e se percebem como humanos. A alma é o fundo comum do ser.

EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE - Quando o jaguar diz “cerveja de mandioca”, embora ele esteja falando de um outro referente para nós (o sangue) a ideia, a representação é a mesma: uma bebida nutritiva e embriagadora. Ou seja, os sentidos são os mesmos, mas as referências são diferentes. Assim, o que o antropólogo faria ao traduzir seria explicitar o equívoco entre as duas proposições, embora ambas sejam dotadas do mesmo sentido e queiram se referir (tanto para o jaguar como para o homem) a uma bebida. [...] o perspectivismo supõe uma epistemologia constante e ontologias variáveis; mesmas representações, outros objetos, sentido único, referências múltiplas.” (VIVEIROS, 2005, p. 149)

EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE O equívoco e a perspectiva - O equívoco não é algo a ser evitado, como uma ameaça à comunicação do antropólogo com o nativo, ele é, antes, um constitutivo do seu trabalho. O equívoco é a condição e possibilidade do discurso antropológico. “Traduzir é presumir que há desde sempre e para sempre um equívoco; é comunicar pela diferença, em vez de silenciar o Outro, ao presumir uma univocalidade originária e uma redundância última – uma semelhança essencial – entre o que ele e nós ‘estávamos dizendo’”. (p. 153)

EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE Duas imagens da relação

- O caso de Milton Nascimento e a palavra “txai”. “O modelo amazônico da Relação não poderia ser mais diferente disso. ‘Diferente’ é a palavra certa, pois as ontologias amazônicas postulam a diferença entre eles. [...]Em suma, ‘primo-cunhado’ é o termo que cria uma relação onde antes não havia nenhuma; ele é a forma pela qual o ‘desconhecido’ se dá a conhecer.” (p. 158)

EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE “Aqui, traduzir é encontrar o que os discursos têm em comum, e que só está ‘dentro deles’ porque está (e já estava antes deles) ‘lá fora’; as diferenças entre os discursos não são mais que o resíduo que impede uma ‘tradução perfeita’, isto é, uma superposição identitária absoluta entre eles.” (p. 159) “[...] só pode haver relação entre o que difere, e porque difere. Nesse caso, a tradução passa a ser uma operação de diferenciação – de produção da diferença que liga os dois discursos na exata medida em que eles não estão dizendo a mesma coisa, em que eles visam exterioridades discordantes, para além das homonímias equívocas entre eles.” (p. 159)

EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE

“A identidade entre a ‘cerveja’ do jaguar e a ‘cerveja’ dos humanos só é posta para que melhor se veja a diferença entre os jaguares e os humanos. [...] Traduzir, nesse caso, é presumir a diferença. A diferença, por exemplo, entre os dois modos de tradução que lhes apresentei aqui.” (p. 160)

EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE

A memória é uma espécie de tradução nos termos de Viveiros, ou seja, ao rememorarmos algo, ao utilizarmos a linguagem para expressar a memória de um fato passado, estamos realizando uma tradução. Há, portanto, o que ocorreu, momento irrecuperável, há o que lembramos e expressamos sobre o que ocorreu, e o resultado é uma terceira coisa que surge da diferença entre esses dois movimentos e que surge sem que ambos se apaguem.

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