Salmos dos Natimortos 1. .1. .2. .3. .4. .5. .6. .7. .8. .9. .10. .11. .12. .13. .14. .15. .16.
Tu, que mártir te tornas E pesada cruz tu carregas, Arraste contigo teu sofrer, Até onde tua penitencia queira. Siga teu desejo E faça seu calvário. Assim tu te puniste, Para de bastardo, Tornar-se herdeiro, Esta é a marca do cordeiro. Deste triste exemplo, que de útil temos, Senão a falta de senso, Que os flagelos sofridos Tem o próprio ato Como causa?
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Como podereis Considerar-te Iluminado? Es omisso, Panda meditante. que alcançarás Em tal imobilidade? Fosse tu tão consciente, Já teria reconhecido Que na intenção, Nada se faz E o mérito pertence A quem lutou para realizar.
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Cães do deserto Teu gosto por sangue Já era bem conhecido. Agora que o justificam Pelo nome do que desconhecem, Só os tornam mais patéticos. Por um punhado maior de areia, Suas matilhas se encarniçam, Em lutas fratricidas. Existisse mesmo vosso deus, Ficaria contente este Com seus sócios?
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Estes, então, Que são ambíguos E se perdem em misticismos,
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Mais dignos de pena são. É da vossa consciência E do uso que fazes De vossos membros, Que podes esperar Resultados efetivos. Por mais Que se considerem Esclarecidos, Meus sapos, Deveis antes, evoluírem.
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Nem internos do Juqueri Teriam tamanha imaginação. Qual foi a bola Que tomaram Para terem tais visões? Ou seria Um efeito colateral Da cantoria hipnótica Que entoam sem cessar? Macacos delirantes, Basta de tanta fantasia, Esta na hora de amadurecerem E usar a razão.
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Já aos da sétima opção, Desejo-lhes sorte. Pois o que falta aos demais, Nós temos de sobra. Já as vantagens deles, Nos é escasso. Não é agradável, Mas é lúcido. Então persisto, Acreditando estar certo. Nesta parte, Nos igualaremos: Estes, Que saltitam na Luz E nós, Que ponderamos na Treva.
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Da carne: Minha razão é o sangue, Meu sustento, o osso. Eu proporciono as ações, Sou o ator dos movimentos. Os resultados não me dão remorsos, Não julgo os méritos da causa.
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Ignoro minha parte, Desconheço meus colegas, Desconsidero Os laços de parentesco. Da força, faço voz; Meus ouvidos, a pele; Da atividade, a emoção. Do sangue: Carrego a vitalidade Sem cessar, em velocidade. Mensageiro do corpo, Limpo e nutro a carne. Do coração, a central, Ao maior extremo, meio e eu somos um. Nos auto-restauramos Pela saúde do todo. Trabalho sem gratificação, Sem promoção ou reconhecimento, Mas basta um vacilo Para o senhorio se assustar E sentir minha falta. Do osso: Sou o arrimo da família, Protejo alguns órgãos E dou consistência à carne, Que, como roupa, visto. Se nu me visse, Escandalizaria-se, Embora que, sem esse traje, Não poderia mover-me, Logo ressecaria E um sopro me esfarelaria. Do órgão: Os sentidos vem por mim, Sou responsável Pelo abastecimento E ventilação do corpo. Sou um mecanismo delicado, Então me envolvo com Carne, sangue e ossos. Aceito em termos Meu lugar como Segundo em comando. que não me impede De desacatar uma ordem E seguir meus instintos. Da mente: É mais fácil Falar sobre os demais. Para ser a cabeça
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Requer-se conhecimento. Para ser o líder, É importante decidir. Para se ter um motivo, É necessário pensar e Para se ter uma razão, Depende-se da consciência. No entanto, Não me conheço, Sou falível, Temperamental e Ingênuo.
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Tiramos da noite só o sono E os que disso se aproveitam, a liberdade. Gemidos abafados pelos cantos do quarto, Vultos em movimentos bruscos entre os móveis E todo tipo de estalo e rangido, em cada fresta. Essa é a sinfonia das criaturas da noite, É a fibra de toda coisa em seu pequeno terror, Que vem de não poder viver Enquanto não tiver carne própria.
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A cada um Cabe a morte merecida: Ao alfaiate, a forca; Ao carpinteiro, a cruz. Nisso não há mérito algum. Se santificam o sacrificado, Santificam igualmente o martírio.
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Se o verbo se fez carne, É porque nada havia nele Que pudesse ser útil, No verbo só há sentido, Se há quem o diga E quem o ouça. A carne só é útil, Se há quem a gere E quem a sofra.
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Nasci como um animal, Mas cresci pela razão. Convencido de minha origem divina, Estendi meu império pelo mundo. Agora sou o verme De meu próprio fruto apodrecido. Uma carcaça
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Sustentando o cadáver. Um feto deteriorado, Teimando em crescer, Num útero definhante.
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Nasci de um engano, Não podendo contrariar a tradição, Herdei e assumi o fracasso. Quase o mesmo que órfão, Não tenho família nem parentes, Estou abandonado à própria sorte.
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A lua agrada A olhos que buscam fascínio. As trevas acolhem A mentes que exigem raciocínio.
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A certeza É uma criança convencida.
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A historia de uma vida inútil Mostra bem a miséria da existência.
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É na dor Que a carne revela Todo o seu esplendor. Apenas a dor Pode transformar. A dor dá sentido à vida. Toda carne tem prazer No alivio a uma dor. Existe a dor controlada E a dor incomoda, A dor remediável E a dor cortante. Toleramos toda dor, Desde que seja na carne. Mas ninguém tente Machucar nosso orgulho, Se antes nos calamos, Agora nós morderemos. Perder sangue Não é tão ruim, Só não nos perca De nossa dignidade.
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Haverá um momento Em que o Sol com a Lua se encontrará
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E celebrarão um casamento. Ao artífice desta façanha, Seus tesouros, o Céu abrirá. Por que a mim se oferecem Tais riquezas celestiais? Conheço-as bem e nelas Nada vejo que me interesse! Deixo-as aos santos martirizados E a todos da companhia de Lázaro. Tais tesouros, delírios de reis, Não reluzem tanto pelo seu valor, Mas pelo custo da ignorância e da fé!
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Insultado, o tesoureiro fecha-lhe a porta E do estrondo ressoado pela paragem, As entranhas da Terra, com cólicas, Mostram toda a exuberância Da fauna e flora existente. Como ousa abrir tão cedo Minha cova, sem ter meu tempo findo? Pois se teus frutos são tão suculentos, São pelo adubo que utilizas, Processando os cadáveres de teus filhos, Dissolvendo-os em teu ventre degradante!
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Açoitada, recua a Terra E já o Mar lhe invade a praia. Num turbilhão, seus úmidos mistérios flui, Das historias de galeões e piratas, Às sagas dos vikings, Que soam renitentes aos ouvidos. Audazes foram o que te singraram, mas decerto não valeu tanto esforço. Pois mais molhados seriam Se todas as lagrimas de mães e esposas Caíssem-lhe nos ombros brutais! Guarda-te o direito de nutrir este planeta, Pois mais nada te faz nobre!
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Caçoada, recua a Maré E os Astros tomam-no nos braços Para mostrar o desfile De miríades de estrelas, bailado dos planetas, Cortejando o astro rei Também as linhas Nas quais, esta festa titânica, Traça o destino dos viventes. Por bem, logo percebi, A que enganos, tolices e fúteis ilusões, Os homens desperdiçam suas vidas e inteligências.
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Pois como astros celestes, em tão grandiosa dança, Incomodariam-se com débeis criaturas? Ao que parece, são tão supersticiosos Quantos os ignorantes que o apregoam!
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Eclipsados, recolhem-se os Astros Ao ventre da Suprema Senhora. Cessadas tantas tentativas De agradar ao fabuloso artífice Que reunira em matrimonio o Sol e a Lua, Deixaram-no entregue ao Pensamento E no sossego de sua gentil Pátria.
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Mas não houve sossego, tão pouco descanso, Pois ao artífice, uma artimanha maior foi montada. Assombrado por tal figura singela, Por esta perdeu toda a compostura. Como me é caro ver-te! De ti emanam forças Maiores que as dos Astros E por elas, operam maiores sortilégios! Em ti adivinho segredos E mistérios tão desconcertantes, Que nem a mais urdida trama Saberia contar toda tua odisséia! Por ti, cegam meus sentidos, Querendo devorar teus frutos, Colher e impregnar as florescências Da tua carne com a minha! E quando tu me fizerdes grande, Elevarei-te em minha protuberância, Para repor-te em tua realeza E reconquistar teu trono!
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Quem explica os mistérios da carne? Como louvar seus prazeres? De onde veio a semente? De quem, os pedaços, nos veste? Quem é o alicerce da Natureza?
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Tu, Senhor da Forma. Tu, Supremo Festim. Tu, Mestre da Matéria. Tu, Plano da Existência. Tu, Ordenador da Densidade.
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Prefiro a textura que a ternura, O volume ao valei-me. Sou filho da Matéria, Sou uma criatura querida
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Do Amálgama do Universo. Na dor, fortaleço, na tristeza, engrandeço. Sigo a trilha do Cão, Com faro e instinto.
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Sentimentos, não os tenho mais. Os que tinha, forma devidamente Ensinados ou executados. São os ofícios da Vida Que me fizeram assim.
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É na olaria que encontramos A verdade da condição humana. Nós, aprendizes da poeira, Invejamos e admiramos Aquele que primeiro tocou Disforme Perfeito. Que este cadáver primordial, Que nos antecedeu, nos preceda, Deixando preparada nossa cova E gentil a putrefação. Ansiamos com o dia Em que nos (de) formaremos. Que se saiba: O curso é mais torturante Que a própria idéia do Nada.
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Saúdo alegremente a noite que se ergue E o dia que se extingue. Aconchegado pelas sombras, Sinto-me mais próximo De meus caros e sinceros amigos, De meu verdadeiro lar e família. Desgastado e cansado do combate diário, Conclamo a ajuda das criaturas noturnas, Que se unam a mim nessa evocação, Em honra e mérito, ao que nos criou: Coração das Trevas Profundas, Nos reponha a força. Suprema Síntese das Trevas, Nos reforce a confiança. Sagrado Fogo Negro, Nos devore e nos recomponha.
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Então sois o pilar, O alicerce da vida, O alimento mais básico,
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O conhecimento arraigado, A força dos ancestrais.
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E tu que sobes em meu tronco? Sois a agitação, o frenesi, A reciclagem da vida, As sensações mais primais, pensamento cético, A força da ousadia.
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A serpente sobe a árvore, Porque de seus frutos depende.
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A árvore permite o assalto, Porque só a serpente Pode lhe espalhar as sementes.
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A serpente busca a certeza, A árvore, almeja a diversidade.
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Não se conhece uma casa Por sua sala de estar, Ou suas fachadas e jardins. Bem a conhece, Quem freqüenta a copa, A área de serviço E seus calabouços. Não se conhece um soberano, Nas festas ou saraus, Nem em comemorações. Bem o conhece, O soldado que combate, O inimigo que contesta E os aldeões empobrecidos, Que o sustenta pelos impostos, Pela colheita e dura labuta.
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Aos que, ao longo destas composições, Ainda estranham a falta de ritmo, Do trabalho de estrofes E de preciosismo nas rimas. Se te comprazes Com dizeres rebuscados, Cá te dou o prosaico. Se te enalteces Com cantares singelos, Melhor faço com o vulgar. Se valorizas
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Os costumes acadêmicos, Tens em mim, o contrapeso. Pois prefiro a mensagem Estar bem clara e direta Que esquarteja-la Com eufemismo, metáforas ou metonímias. Não o faço por uma nova estética, Nem sei se arte é, Quero que seja justiça, As palavras já foram muito judiadas. Agora, só permitirei Que delas façam uso A quem conhece seus mistérios, Pois que, como gênio das letras, Devo cuidar até da página do jornal. Mesmo que seja tão inútil, Como qualquer entidade espiritual, Principalmente onde a maioria Sequer entenderia meus sinais.
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Uma ameba divaga sobre o homem. Em sua tentativa, descreve a aparência E faz imagens dele. Mas a coitada, por mais inteligente, Não consegue imaginar Como pode existir um ser Mais complexo do que ela.
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O louco é rejeitado pela sociedade, O crente a rejeita. O louco possui seu mundo, O crente vive no divino. O louco distorce a realidade, O crente a deturpa. O louco tem alucinações, O crente tem revelações. O louco ouve coisas, O crente escuta a Voz de Deus. Um empate: Ambos confiam plenamente No que vêem, Mas ao menos o louco, Não pretende estar mais certo.
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Sem trabalho, não há valor no dinheiro. Sem sombra, não há forma na luz. O que está sendo feito Supera o que está terminado.
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Entre escolher o que ver E ver sem parcialidade, Não ver é enxergar mais. Pois quero ser o qual Que romperá o Tao. As minhas composições, Em minha pretensa pose de escritor, Que lhe contará O que mais ninguém Ousaria abordar. Ou, no meu caso, abortar.
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O pleito não acaba na apuração, Cargo não é coroa, é compromisso, Sirva a quem te cedeu o poder.
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O aprendizado não acaba na academia, Canudo não é habilitação, é certidão, Ouça a quem te emprestou o saber.
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O trabalho não acaba na aposentadoria, Idade não é deficiência, é competência, Sossegue a quem te deu ocupação.
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O espetáculo não acaba no palco, Fama não é audiência, é cumplicidade, Respalde quem te moldou a arte.
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O desafio não acaba no pódio, Medalha não é qualidade, é obrigação. Aclame a quem te inflamou o esporte.
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Pobre pequenino, Teu domínio é pequeno, Teu saber é escasso, Teu labor é mínimo, Teu sucesso é falso, Teu prêmio é desmerecido. Em mim, não acabaras. Por mim, começarás a crescer.
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Damos vivas, Ao Bispo de Voyeur. A chegada de tal eminência Em tão pobre vila Nos fez ver a mão do Senhor. Alvoroçados estamos, por isso, Damos vivas
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Ao Bispo de Voyeur. A nossa parca fé, Tao espicaçada pelos infiéis, Reascendeu como fogo dormido. Entusiasmados ficamos, por isso, Damos vivas, Ao Bispo de Voyeur. Um coral angelical, nós improvisamos, Feito de meninas puras E de meninos castos. Trabalhamos dobrado, por isso, Damos vivas, Ao Bispo de Voyeur. De todo pó livramos a capelinha, As ruas enfeitadas com estandartes, Com as imagens santas e cruzes. Embriagados louvamos, por isso, Damos vivas, Ao Bispo de Voyeur. As mocas de vida duvidosa, Criminosos, assassinos e beberrões, Tiveram suas casas trancadas. Vigilantes permanecemos, por isso, Damos vivas, Ao Bispo de Voyeur. Com varas bentas nos penitenciamos, Colocamos todas as dividas em dia, Lavamos a roupa, o corpo e a alma. Imaculados e purificados ficamos, por isso, Damos vivas, Ao Bispo de Voyeur. Doce ilusão, desfeita, Onde foi parar, confiança? Também sumiu assombrada, Por causa dos sacrifícios, Em honras ao Bispo de Voyeur. Nova ordem religiosa apareceu: Prostitutas como irmãs, Ébrios são coroinhas, Criminosos tornaram-se padres E assassinos fazem as leituras. Em honras ao Bispo de Voyeur, Nada restou da pobre vila, Sumiu-nos os poucos trapos, Nosso corpo recebeu vigorosos vergões, Nossa alma esta perdida na dor do engodo. Inconformados e escandalizados, Humilhados e quebrados, Sem poder contra a vontade do Senhor, Não reagimos, desejamos boa viagem, Em honras ao Bispo de Voyeur.
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A todos vós que estais desorientados, Em desequilíbrio, pelo torvelinho da vida, Ofereço o meu eixo e o meu farol. Já experimentaram todas as rodas, Mas sempre quebraram no caminho. Pois, as ilusões e crenças, Eram vazias. Embora feitas de dogmas A força dos aros, Não tinham um bom eixo E tinham raios muito longos Distantes demais do meio. Por melhor que seja a religião, Esta sempre impede o caminho E afasta o andarilho do que importa. Torna-se rançosa pelos dogmas E rancorosa pelos sacerdotes Que se autonomearam E, como lodo, atravancam a passagem. Então deixai de lado Todas essas fúteis pretensões, Entregue sua pessoa sem temor. Não exijo nada, Não tenho intermediários, Não expeço formulas. Terás de mim, a força e a tranqüilidade, Cabe a si, a escolha e a senda, Sei que teremos uma viagem agradável. Se quiser saber onde estou, Não procure em igrejas, Muito menos em livros ou profetas. Estou onde sempre estive, Em cada um, em todos E principalmente, dentro de vós. É em seu coração, Minha morada. Lá escrevi tudo que deseja saber, Todas suas duvidas serão sanadas, Bem como suas dores e angustias. Pois minha mensagem É simples e direta E te aguarda.
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Desejei saber E em vão procurei conhecimento que me faltava. Enquanto percorria livros, Passou-me desapercebido os sinais Que estavam bem claros
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À minha vista, Todos os dias, que comumente chamamos De rotina e vida. No momento que te dei a chance, Minha mascara caiu, Quebrei minha caixa E minha pretensa personalidade Queimo com a dor da descoberta. Tenho a vida que mereço, Se sofro, padeço, É porque quero e gosto. Se escolhi assim, É porque só assim sei fazer, Só assim sou grande e útil.
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Tive meu tempo, provei meu valor, Nada mais a demonstrar, Eis o que nos exige a vida. A todos, o meu tributo ao doce benfeitor, A quem entrego meus restos Para serem processados E talvez tornem-se úteis. A quem busca um sentido nessas palavras, Saiba que ele não precisa se expressar, Por si só se esclarece. Pois enquanto se iludem com imagens divinas, Que só existem na idéia, Este tem consciência autônoma. Não precisa deste artifício infantil, De se compensar a nossa incompetência, Ao adotarmos tais figuras superiores. Se tal ser existir, Está além da compreensão E do pretenso poder autoritário. Seja qual for o nome dado, Sua ordem ou importância, Ele é inabalável em seu serviço. A todos irá castigar por inteiro E o bagaço, cuspirá longe. Nenhum reino lhe prevalece, Nem mesmo a menor pedra Escapa à sua mó. Seu acoite vergará até A mais ardorosa fé. Piores são os ocultistas, Ou que teimam em conhecer o destino, Por meio de adivinhos, oráculos, Que tanto irrita pelo otimismo. Ou a soberbia e a pretensão,
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De se dar a tal estupidez, Os ares de ciências confiáveis. Pouco resolverá, se acreditarem, Em mundos espirituais ou reencarnação. Contentem-se com o tempo que tem, Mais que isso é tortura. Prove seu valor em seu tempo E entregue-se sem temor Ao fogo negro que tudo recicla. Não espere coisa alguma, A crença é só lastro. Sendo bom ou mau, Tudo tem virtude e valor. Contente-se com o resultado, Que só a ti te interessa. beneficiamento do teu corpo, A dissecação do teu ser, É tudo o que ganhará. Aos que insistem em ler, Que tenham um pouco de inteligência. Que com tal leitura, Venham a ter um comichão, Algo como crise de consciência. Não tentem agrada-lo, carrasco perfeito não se corrompe. Enquanto que, aos demais, São-lhes agradável a submissão, Ou como chamarem a religião, Desistam o quanto antes do sacerdócio, Pois este detesta intermediários. Não tentem compreendê-lo, Qualifica-lo, esquadrinha-lo, Ele dispensa dogmas e ciências. Nem pretendam lhe divulgar a palavra, Ele ignora o conceito de verdade, Bem como o do sagrado.
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Enquanto eu era um animal, Comia, bebia, reproduzia, Era tudo o que fazia. Até que, numa noite, Comecei a me torturar, Queria entender a razão do existir. Havia uma origem das coisas, Pela qual ganharam tais formas E, na esperança de me explicar, Tive muitos sonhos e delírios. Comecei a viver estes sonhos, Declarei-me superior por pensar, Reconstruí o mundo por estas idéias.
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Cerquei-me deste conhecimento, Mas ainda permanecia o enigma. Maravilhado com minhas percepções, A exemplo de meus devaneios, Encontrei a palavra chave: Havia uma ordem sobrenatural Para que toda a vida Pudesse funcionar de forma tão harmoniosa. Empenhei-me, então, em montar Toda a sorte de criaturas, Que habitasse tal dimensão Onde, a exemplo do natural, Um ser consciente dominava. Em tal consideração, Foi mais que imediato, Encontrar neste parente, Alguém responsável, Tanto por mim quanto o resto, Enfim, achei o Criador. Confiei, então, ao Criador, poder e o comando De todo o universo conhecido, Esperando receber assim A força e a proteção que me faltasse. Logo, de protegido, fiz de mim seu filho. Empossado com tal linhagem divina, Tinha o direito de usar e abusar De todos os objetos que desejasse. Já não me bastavam as necessidades, Então construía os demais, Sempre ao meu beneficio e conforto. Jamais me contentava, não havia limites, Queria facilitar meus afazeres. Com isso, as maquinas Tornaram-se mais complexas E eu mais dependente delas. Continuei com minhas obras, Conquistando riquezas, Derrotando inimigos, Erguendo impérios e Defendendo meus ideais. Com o tempo, o entusiasmo esfriou E só então pude contemplar Todo o estrago que causei. Horrorizado por esta face no espelho, Uma nova dor me comprimia, Junto à culpa, surgiu a dúvida E todas as crenças se dissiparam. As coisas são como são, Não podiam ser diferentes. Do que me adiantou ter alma?
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É tão inútil quanto a carne que carrego. Deformei toda a realidade, Em nome de meu orgulho e vaidade. Minhas idéias só se mantinham Pelo uso da força e a bem das aparências. Se tinha um Criador, Eu era um degenerado, Um filho bastardo. Pior: sou órfão E tudo não passou De uma invenção febril.
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Depois que escolhi este caminho torto, Fiz tudo que pude para perturbar. Eu fui extremamente desagradável, Machuquei de muitas formas, Até que encontrei um igual. Trocamos e enumeramos, Os muitos e diversos feitos, Todos de igual perversidade. Quando nos separamos, Pude ver-me nele e até que os outros viam nele. Eu me vi nos outros E vi o quanto fui inútil. Todas as minhas ações Só tornaram mais fortes A fé, a crença e Outros tantos valores Que me enojavam. Mas então eu não tinha intenção De combater tais valores? Não se acorda alguém dopado Com palavrões ou tapas, Aquele que dorme, foge mais Para seu sonho dourado. Qual era meu motivo? Eu acreditava, que não há Pior maldade que este sonho Onde bondade, caridade, Fraternidade, misericórdia, Justiça e piedade, não passam De palavras vazias, Pois tais crenças não são reais. Real é o que professo E o que todos produzem, No que chamam de rotina. Então, eu luto para que pensem Como agem e não tentem enganar Com seus modos polidos.
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Mas, se o fato assim é, Que importa o pensamento, Ou palavras que usam Para definirem suas ações, Ou de se justificarem? Ou mesmo, se desperdiçam Seu tempo em cultos falsos E tem deuses vazios como seus sonhos? Não me agrada a situação? Não estaria eu lhes oferecendo Uma visão real de suas almas e, Com isso, lhes dando a oportunidade De modificar seus hábitos, Conforme o que pensam? Em minha violência Acabava sendo redundante; Com tal critica social, Acabava a aperfeiçoando. Tudo que me resta São as dúvidas E a indiferença. Pois se pretendo destruir, Todo esse esquema insano, É deixa-lo entregue a si mesmo.
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Tudo é matéria. Muda apenas de forma, Mas na essência, não Isto posto, a ação Modifica a matéria. Ação só é possível Pelo movimento da matéria. A matéria que se move Produz energia. Energia é matéria modificada, Por esta, pode a matéria mover-se. Energia é uma matéria evoluída, Deve-se supor que já exista, Uma vez que é física. A matéria que se move Tem por objetivo a evolução, Do que, eu suponho, Que haja consciência. Movimento é consciência. Energia é razão. Da consciência, nasce a vontade, Que se entende pelo desejo de evoluir. Da razão nasce o motivo, Que se manifesta pelo meio de evoluir. Sendo posto um objetivo,
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Corroborado pelo motivo, Animado pela vontade, Toda realização é possível. Possível pela ação, Pela energia que, Em seu estado mais puro, Não só formou a matéria bruta, Como pode modifica-la. No corpo humano, A faculdade da consciência, Bem como da vontade Está na mente. Depende da mente, apenas. Esta, tanto pode piorar Mil vezes uma doença, Como aumentar mil vezes A eficácia do tratamento. Da mesma forma Que a mente pode ser consciente, Assim ela pode ser iludida, Somente se o permitir. Ilusão é regressão, Retorno a estados físicos, Senão inferiores, brutais. Ilusão não é imaginação. Criatividade é um método que, Em todos os casos, Buscam atingir seu objetivo, Fundamento do motivo. Supondo que o homem Tenha uma mente consciente, É fácil perceber A existência da energia. Entretanto, A explicação de tal existência Para um ser sólido E de nutrição parasitária, Conduziu-o a várias especulações. As formas, pelas quais Tais especulações se sustinham, São conhecidas por religião. A religião é a crença De que uma especulação Esteja correta ou verdadeira. Toda crença é uma tentativa De estabelecer parâmetros A nossa natureza física E as demais naturezas. Por mais confiável Que possa parecer, Por mais exata ou verídica,
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A ciência é uma crença. Qualquer tentativa De extrapolar o valor, Toda crença torna-se, Um obstáculo para a consciência E uma fonte de ilusão que, Como suponho, é um retrocesso. Isto posto, avalio De que somente libertando A mente de tais entraves, É que será possível uma evolução.
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Nulo é solitário. Ainda que inconformado E rebelde à sua natureza, Assim mesmo é feliz, Pois se basta a si.
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Nada é silencioso. Não pode existir, Nem aparecer. Mas, ao contrario do Tudo, Não precisa de comprovação.
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Zero é criativo. Por ser o primeiro E ainda não nascido, Tendo tanto a fazer, Só lhe resta seguir o instinto.
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A Morte é apaixonante. Pois não há diferenças Nem misericórdia. A todos oferece sua caricia, Mas poucos a apreciam.
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A Noite é cumplicidade. Toda ação diurna decorre Da maquinação noturna. Nesta ópera todos contribuem, Dos espectadores aos bastidores.
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A Dor é esclarecimento. É a escola mais clara, A matéria mais especifica, A professora mais eficiente. Só o que se sente na carne É o que se aprende.
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Os deuses sonharam E eis que o sonho deles É a criação do nosso mundo. Os homens também sonham, Mas sonham e vivem. Em seus segundos sonhos, Fantasiam as vidas Que gostariam de ter. Sonham e se iludem, De que vivem e são reais. Existe o sonho do não existir, Um sonho agradável Ao qual todos estão fadados. É o sonho mais sincero, Visto que a existência É também um delírio. Assim dorme Cthulhu, No adormecer perpétuo. Velado por seus filhos, Os gêmeos Zrna e Asob, Suas testemunhas, Neste descanso eterno. São seus filhos com a Morte, Ambos podem adormecer E vigiar um ao outro. Ainda assim são sonhos, Mesmo estes hão de morrer. Quando houver o despertar, Verão a quem a coroa é devida. Neste despertar à consciência, A futilidade da vida, Não mais nos embriagara. Teremos, finalmente, Uma existência digna.
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Quando aqui Coração reinava, Passávamos bons momentos, Riamos dos deslizes reais. Mas a Espada sublevou-se, A Lei do Aço foi estabelecida, Todas as questões pendentes Eram resolvidas na lâmina. Ao terror, estávamos nos acostumando, Até que a força do Ouro impôs-se. Muitas espadas foram compradas. Outras, eliminadas em tiros covardes. Assim, logo foi locateado o poder.
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À carestia, nós conseguíamos sobreviver, Entretanto, os dogmas do Pau opuseram-se. Excomungou os que viviam do Ouro, Persegui ou incorporou a Espada E deixaram à mingua os do Coração. O indivíduo comum, Neste balé de cartas, Como sempre, é o Coringa. A madeira apodreceu, O aço enferrujou, O ouro acabou, O coração parou. Triste, o Coringa descartado, Como a planta que, surpresa Sente a falta dos parasitas, Não tem mais o que fazer, Pois não saberia se governar. Necessita de lideres, Como crianças dos pais. Basta uma palavra mais forte, Uma certeza no olhar E ia, contente, seguir o profeta. Agora, onde estão As palavras de ordem Ou seus opositores? A liberdade absoluta É tão opressiva Quanto o absoluto escravismo.
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Fogo, apoiado em si, Vibrava suas chamas E nesse abafo, Eis que cresce o Ar, Desperto pela Luz. Tomando volume, Logo viu que podia queimar. Ar portava o Fogo, Podia ser consumido Ou resfria-lo. Nesse amainado, Eis que brota a Terra, Acumulada pelas cinzas. A Terra, encontrando-se Abraçada pelo Ar, Tangida pelo Fogo, Ora respirava, Ora ardia. A Terra carregava o Fogo e o Ar. Nesse suor, eis que flui a Água, Convertida pelo Rio.
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A Água sentiu o calor da Terra, Incomodada e aprisionada, Alçou vôo ao Ar, Que a espalhou como chuva, Trazendo fertilidade à Terra. Nesse aluviamento, Nasce do Barro, a Vida, Alimentado pela Terra, Refrescada pela Água, Alentada pelo Ar, Aquecida pelo Fogo. No quinto elemento, Se encontra a síntese.
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Deliciosa minha, Eis que te tenho E terás que dizer-me tudo! Não foi-te dado conhecer Os meandros dos destinos? Que me dizes tu, provedora, Quando nos recolhemos, que na doce noite acontece Que nos faz tremer ao sono?
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Ah, curiosidade singela! que tens, que ignora, Que sob toda a inteligência Ainda reside o instinto Do animal que, Ainda que feito ao dia, Deseja a noite desfrutar?
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Tenha pena, abundância! Mostra e sirva-me À degustação tais frutos!
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Êh, gula afobada! Todo fruto pertence A quem o cultiva!
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Não me condene, plenitude carnosa! Sabes melhor que qualquer um Como é o caráter humano. Por mais felizes que somos, Ainda mais queremos. Donde vem essa necessidade De inventar tanto conforto?
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Oh, pobre artista frustrado! Por mais que projetem,
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constróem imperfeito! Por mais que descubram, Tornam o uso ineficiente!
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Poderosa bacante, Ciente de que não terminamos que mal havíamos começado, que nos falta para sermos completos?
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Ih, mentalidade fossilizada! Ainda que durassem eras sem fim, Jamais superarão sua mísera evolução! Agora, se já aplacou sua sede, Deves saciar minha fome.
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Já fez um tempo Que estive aqui. Demorou a ser aceito Por esta árvore. Os carniceiros a temem Como os crentes seus altares. Tendo a desolação por seiva, A ruína por folhas E o definhamento por raízes, Volteio em seus galhos A procura de crânios. Já tenho armazenado Boa quantidade de órbitas Para os tempos adversos. Casualmente encontro Algumas palavras que, Em meu impulso instintivo, Também vou pilhando.
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Em minha incrível estupidez, Assombra-me a maior destes que, Inquietos e irritadiços, Pululam pelas trilhas afora, Procurando pelo que não existe! Que alguém tenha tido o trabalho De fazer estes riscos no chão, que impede aos demais de fazê-lo? E quem pediu tal serviço? Quem cobraria o preço deste, Se não há dívida sem empréstimo? Seria um péssimo negócio, Pagar por algo que não precisamos
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E dar crédito a quem não confiamos. Seguir uma trilha ou seguir uma fila? Será que no fim da trilha Haverá a satisfação, Ou não teria sido melhor Realizar estes desejos Aonde nos encontramos? Gastou-se tanto, procurando uma meta E um meio para alcançá-la... Um esforço tão inútil, Quando os demais se movem, Mais por inércia que vontade. E quando, os muitos outros, Postam-se à margem, aplainando a trilha, Calçando e metrificando-a, Põe-se a cobrar aos passantes, Ou os sobrecarregam com condições, Que só tornam a marcha Mais lenta e difícil. Terão estes tal direito? Quem os delegou, podia fazê-lo? Se podia, sabe o que faz Os seus intermediários? Agora veja o meu caso... Eu cerquei meu terreno, Construí minha casa E ponho minha mesa. Já tenho a serenidade, A tranqüilidade e a paz, Bem onde a preciso. Está comigo e a consegui, Confiando em mim E no que fazia para mim. Só assim é que posso Rir dos passantes e atirar-lhes pedras, Na esperança de que acordem. Eu extingo o fogo Do farol da crendice, Eu quebro o eixo Da roda do conformismo, Eu desfaço a névoa Do abismo do misticismo. Podem chamar-me De ego, consciência, De cético, pragmático, De ateu, pagão. Mas jamais esqueçam Que, apesar de tudo isso, Estou muito avançado. Quando chegarem ao fim E, se conseguirem êxito,
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Não terão mais do que eu tenho. Poderei rir mais ainda, De suas caras frustradas E de seus resmungos caquéticos. Porque nem todos vocês E seus senhores juntos Poderão tirar de mim esta satisfação. Foram logrados e eu os avisei! Agora, se virem!
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Mãe Terra, Onde os cadáveres, Seguros estão abrigados No ventre desta, A quem confiam Seus restos decompostos Ao fiel serviço dela, Que tudo provem E confisca. Enquanto seus inquilinos Aguardam pacientes Que lhes devore até a última fibra, Para tornar teu trabalho mais leve E menos enfadonha a espera, Deixe-nos cantar: Carnes, apodreçam; sangue, coagule; olhos, petrifiquem; que vermes rompam nossas vísceras e os fungos coroem nosso cérebro. Na manha deste dia tão ansiado, Possamos olhar o sol e maldize-lo, Pois os ardis da luz não mais seduzem. Pela tarde que se segue, Desprezamos as belezas, Pois é tão frágil quanto as crenças. Entrando a noite, Que desperdiçávamos Em vãos temores ou Falsos deveres, agora Entoamos nosso júbilo. Bem aventurada a Morte, Nossa padroeira e anfitriã, Que nos brinda com tão sutil festim, Onde nos consumimos Como repasto, entrada, Prato principal, desjejum, Aperitivo e sobremesa.
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Havia uma montanha
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Que, em sua soberbia, Irritava a ravina. É que, nesta corcunda de terra, Houve uma pessoa proferindo um discurso A uma multidão imensa. caroço de pedra Achava-se tão importante, Como se tivesse tido ela Uma parte na autoria das palavras. Cansada de tanto descaso E do orgulho da altona, Na falta de quem a faça voz, Falou em seu nome: Mais aventurados são Os corpos a mim confiados, Pois neles vejo as marcas Causadas pelo frenesi das crenças. Aqui tem os enforcados, Que receberam em tuas árvores último abraço do nó. Tem os mutilados, Que sobre suas flores Agüentaram o golpe do ferro. Tem os queimados, Cujos gravetos lhes doou Para avivar as chamas da fé. Tem os afogados, Em teus rios banhados Para calar a voz da ciência. Tem os aprisionado, De quem o cárcere Providenciaste as pedras. Tem os envenenados, Que foram prostrados Pelo sumo de teus frutos. Todos esses insepultos Que forma desprezados, Em mim podem descansar, Porque eu os cobrirei Com meu manto de areia. Desnaturados são estes, Que causam a comoção das massas Utilizando-te como palco. A face do meu abismo Não será menos feroz, Farei tropeçarem todos Em suas próprias palavras, Pois da justiça, nem o juiz escapa! A este pobre escritor, Que se compraz em passear Pelos vales mais profundos,
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Melhor serve esta ravina Como paraíso idílico.
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Sirvo-me da pena Como espada e Retalho as páginas Se me falta a pena, Os tipos da máquina São meus martelos, Esmagando as laudas. Uma boa métrica Só se faz no fio do aço, Este é o meu cordel. A melhor rima Só se sente Quando a deixo Em ponto de bala. As estrofes Deixaram de ser damas Há muito tempo, Como putas velhas, Só prestam para apanhar E eu sou seu gigolô. As palavras são blocos Que encarceram o pensamento, Trato então de liberta-lo Nas passagens das entrelinhas, Em frases implícitas E mensagens cifradas. As letras são pivetes, Que circulam no período E furtam os acentos Das vogais tônicas desatentas. Trato então de receptar, Quebro meus acordos com elas, As coloco sob meu julgo. De posse das chaves da oração, Trato de a extorquir. Encarno no significado, Assombro o significante, Arranco a alma da mensagem, Pois sou o mago do paradigma E o deus do sintagma.
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Caro leitor, Entenda minhas intenções. Eu sei que seus olhos não são plainas, Mas com seu parco conhecimento Das funções literárias, Há de convir o quanto é ingrato
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Nosso nobre e decadente oficio. Antigamente, Nosso lugar estava ao lado de reis, Nossa arte tinha uma mística sagrada, Tínhamos o respeito e o temor dos gentios, Nossos ganhos eram astronômicos. As civilizações evoluíram E houve algumas refregas. Enquanto as coroas ululavam, Nossa criatividade estagnou, Outros interesses estavam em jogo. Quando críamos Ter o pó assentado, Eis que a Palavra de Deus Insurge-se contra a categoria, Levando às conseqüências já conhecidas. Mas a avacalhação final Deu-se quando cá nos estabelecemos. operariado local Ficou abaixo da expectativa. mecenato tornou-se Excelente fonte de sonegação, Devidamente drenada Pelos larápios de sempre. Quando o coturno Entrou na moda, Bons companheiros sumiram. Nosso estado atual é lastimável, Nossa ocupação não tem sentido Dentro de uma massa analfabeta, Ou, se muito, semiformada. Certamente recorda-se De seu tempo de colégio. Dê-se por feliz, se somente obrigaram a fazer As redações escolares, Se é que as fez. Sendo assim, deixe de fingir A erudição que não possui. Ao terminar de ler essa composição Dê a ela o destino inevitável, Mas não esqueça de reciclar.
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Elisa foi levada à árvore. A árvore e Elisa estão juntas. Elisa, pendente como fruto, na árvore. Porque você, pequena Elisa? Eu estive longe, Mas vi as tochas E os gritos nas ruas.
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que te fazia diferente, Elisa? Eu me sinto culpado. Você veio atrás de mim. Eu não pedi. Não sou rico, famoso ou belo. Não falo das coisas celestes, Só das almas sombrias Que se escondem atrás das aparências E das fantasias dos crédulos. Não sou um messias, Sequer profeta E longe de ser poeta. que faço aqui, Ao pé da forca? A corda lhe tolheu a voz, Tua língua pende, num protesto mudo, Que a cor de tuas faces corrobora. que te acusou, Ressoa longínquo, Usando um senso remoto, De um juízo duvidoso. Sentirei saudades Da atenção que me dedicava, Do toque suave das mãos, Do cheiro e do corpo Desta que, mesmo morta, Ainda me provoca. Esta pendência Devo pagar por ti. Deixo minha marca no tronco E sigo a cabeça Que te apertou o pescoço.
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Só ela se interessa E filas de carentes Esperam pelo seu amparo. Nunca soube negar, Faz tudo que for possível. Aos pedidos mais difíceis, Usa de sua influencia E contatos para resolve-los. Chegam tímidos aos seus ouvidos, Sua face tranqüila esboça Um sorriso condescendente. Mas sabe usar palavras rudes, Em seus firmes conselhos, Nas conversas de cantos discretos. Diante do meu problema, Mais que nunca mostra quanto, mulher, é generosa:
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Fica sempre em cima de mim Para que eu jamais esmoreça. Se cansar de receber-me de frente, Recebe-me igualmente por trás.
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Um papel tem o verso, Mas seu verso não tem palavra, Ao ouvido compreenda, Pois a visão se ilude. Não creia no que lê, Pois fiz minha pena Aqui correr por eles Que, num canto lastimoso, Mostraram-me as agruras De se viver no Paraíso.
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Quanto tempo faz! E como falta sinto Dos dias de labuta. Trocaria aqui Por uma semana suada, Isto que era alegria! Duzentos patrões, Ranzinzas e chatos, Deus é mais! Mesmo que escravo fosse, Serviço melhor teria Que esse eterno missal! De tantos dissabores, Este perpétuo bem-estar, Qualquer outro! Morar na periferia, Ainda que um dia, Melhor que aqui ficar Junto com parentes! Nem imagine: Todo dia encontrá-los E não ter noite, Para dormir, curtir. Uma noitada! Asas e auréola Não valem tanto! Agora, presos estamos, Neste cárcere dourado, Cercados de virtude, Asquerosa como nós. Privei-me tanto E o que não daria Por um bom prato! Bife com batatas,
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Feijoada e farofa, Até um churrasco grego! Uma marmita requentada. Muito melhor Que esse hidromel! Agora, nunca mais. Garotas, adeus. Os ascetas Que se corrijam. que puder, usufruam. A nada renuncie, Porque depois, Não há volta. A dor do gosto desprezado É maior que a glória ganha. Antes sofrer, sentir algo, que esta insensibilidade. Antes pecar, seguir o instinto, Que esta santidade. Antes contestar, ter personalidade, Que esta comodidade.
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Em meio à fumaça De paus de cheiro, Oferecidos a estes, Posso parecer dissonante. Não mereço crédito. Mas vem de lá Tal testemunho. Vem de ti, que dele fazer.
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O que sou É um tanto ocasional E um tanto opcional. Respondo pelas palavras, Mas elas não me testificam. Se ao juízo falta o senso, No meu consenso não falta siso. Não muito diferente, Ainda assim modificado, mesmo, nada muda. Sou pela pessoa, Não me comandam Objetos ou idéias. Fosse mais alto, Ainda conheceria Meu tamanho. Fosse mais gordo, Ainda valorizaria gosto do prato.
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Vivendo em corpo alheio Fora de meu talhe. Fosse mulher, Ainda ergueria o mastro. Não sou objeto Para me prender a nomes. Fosse esse papel, Ainda me faria entender. Nenhum delírio místico Ou devaneio neurótico. Não me convence ideário humano. Fosse o amor, Amaria perfeitamente Crianças e velhos; Homens e mulheres; Desconhecidos e parentes; Vivos e mortos; Coisas e casos; Criação e imaginação.
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Os meus não me compreendem. Diante da terrível verdade, Recuam ou se refugiam, Em seus rituais patéticos. Enquanto afirmam a unicidade, Eu defendo a diversidade. Se seguem obcecados à virtude, Eu dou o valor correto ao vicio. No que insistem na fraternidade, Eu escancaro a violência da realidade. Enquanto fazem a caridade, Eu alerto à opção da miséria. Se valorizam a oração, Eu me mantenho na ação. Enquanto persistem na vigília, Eu cobro pela cidadania. Tudo que brilha, agrada, Tudo que luze, fascina. raciocínio pesa, A consciência atrapalha. Vive-se por dogmas, Crê-se em imagens. Almejando a perfeição, A projetam no além. Pretendendo a herança, Acusam a fantástica paternidade. Caso tenha algum leitor, Devo ter deixado claro Qual minha opção.
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Ainda assim, Não deixo de ser Um idiota deslumbrado. Fogo Negro Não será mais brando. A Morte Não concederá privilégios. As Trevas Não é clube. Lilith deve ter Almas mais interessantes Para devorar.
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Deveras, a verdade não fere, Posto que nunca fora única. Mesmo suas múltiplas irmãs, Nunca chegaram a incomodar.
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A irmã mais velha, De cuja palavra há dívidas, Ainda consegue encantar, Quando se esconde sob uma batina.
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A irmã mais nova, Mesmo pela falta de palavras, Ainda consegue explicar, Quando se refugia em seus livros.
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A irmã do meio, Nunca sai do meio termo, Ainda teima em governar, Quando abusa de promessas.
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Pobre da mãe, tendo que cuidar De uma verdade tão tímida, De uma mentira tão sórdida, De uma ciência tão fingida, De uma política tão vendida, Já não sabe se é tão sábia, Num tempo sem consciência nem razão.
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Estou vestindo-me de batalha, Como alguém ao seu amor. Tanto me cubro de ódio Que nem rosto eu tenho mais E por esquecer o que sou, Marcho, contra quem, não importa.
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São estes campos, Onde matar é heroísmo, Mas a outros campos, Matar ainda é crime. Nestes campos, Nos farão prisioneiros, Por outros crimes e guerras, Nem todos cometidos ou declarados. Alguns existem Desde o principio da humanidade.
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Todos somos Prisioneiros da sociedade, Punidos a trabalhar, Combatentes pela cidadania, Adversários de nosso próximo.
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trabalho Foi feito Para acumular bens, Na vida material Não há outro motivo.
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Quem tem um, Procure sua dupla E encaixe a chave Na fenda da porta, Que se escancarará poder da percepção.
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Aonde bastam dois, Ataque sem demora, Que o segundo é breve. Quem perder o momento, Não encontrará a trinca E não formará o quadro.
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No encontro de três, Haja então um julgamento , No que se eleva a espada E no que se defende o tridente, Que equilíbrio encontre, Deste triângulo, o ponto terceiro.
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Fechado em quatro, Se constitua o quarto. Montando o quadrado, Seja lançado e cercado, Some as faces dos cubos, No que excede seu cúbito.
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E agora que amarramos em cinco, Não faça fraco um elo sequer, Pois eis que começa a escalada. Quem não deseja perder o decálogo, Mantenha o passo firme no pentáculo, Que logo vai surgir o sextante.
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Pagando o valor de seis, Compra-se o meio do caminho. Não terá mais curvas até o final, Tudo se guarde no cesto. Um par a menos na oitava, Mas ao sexto interessa o sexo.
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Trancando em sete, Sorte ruim lhe advém. Na falta de conta maior, No lugar do treze funciona, Terá seu caminho cruzado E sua vida marcada.
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Circulando em oito, Em mãos poderes mágicos, Do tom da oitava, Ao concerto do oitavo, Abrindo portas, Ampliando caminhos.
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Subindo ao nove, Tanto dinheiro quanto julgamento, Poderá viajar longe, Transpor muitas barreiras, Ficando além e acima dos outros, Logo poderá nascer.
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Subindo por dez, Terá o jogo em mãos, Pois receberá o decálogo, Cabendo-lhe a liderança. Conduzirá o menos ao máximo, Reservara ao maior o mínimo.
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Caído ao onze, Menos um lance. Se antes já sete tinha, Agora a morte abraça. Precisará de uma caixa E outra, para o enterro pagar.
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Jubilado em doze,
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Nada mais restará, Alcançada está a fortuna total. Se feche o castelo, Já terá o seu dono, seu rei.
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Sou um boneco, Simples, manipulado, Sem coração próprio Se não de quem me veste, A voz que uso É daquele que me personaliza.
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Sou um boneco, De estopa sou feito Para melhor absorver As migalhas do teu carinho, Que sobram depois da ceia, Em qual, todos tentam se servir.
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Sou um boneco, Ganho vida de uma mão Que a palma me sustenta, Mas dela não vem sentimento que tenho.
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Sou um boneco, Colcha de retalhos, Sem organismo humano, Um trapo de vida Dependendo que alguém Queira me possuir.
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Sou um boneco, Não tenho, nem ganho chance, De um carinho de ti, Que também vê em mim Apenas uma espuma vazia.
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Por que sou boneco, Acha que sou inanimado, Sem a palma que me tem, Acha que sou insensível, Sem a pessoa que me usa, Acha que sou descarado, Sem o cérebro que me cria.
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Sou um boneco, Que por tudo isso, Sabe até demais
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O que é solidão.
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Cai a noite e vem o sono, Como um cavaleiro apressado, Atravessando por onde bem entende, Na pressa de chegar cedo Para me conduzir Aos arcos da fortaleza: feudo imenso da imaginação. Embora seja apressado, suspende Se se depara com a relva da insônia, Quente, úmida e felpuda, Deixando que me mate de tédio, a noite. Fico na taberna da cama, Rolando o copo vazio do meu corpo, Enquanto espero que se farte. Afinal, a biga parte, Levado pelos corcéis Desejo e Vontade, Galopando por todos os telhados, Embarcando todos os bem aventurados, Dos que podem dormir sem culpa pesada. Seus cascos, como um relógio, ritmam, Seus relinchos, como o alarme, gritam. E o sono, com o fim da noite, Cai do cavalo. Os passageiros desse coletivo, Arregalam seus olhos ante A realidade e seu acoite. Os galopes de cá, como os de lá, Não levam a lugar algum.
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Dona do silencio, Governanta das criptas: Sorva minha alma, Campeie minhas carnes, Acalente-me. Faça ser entendido Tudo que era mistério Enquanto era vivo. Tudo escondido, Por ser mulher. Aplaca minha volúpia Rolando meu cadáver, Beijando minha carniça. Dispa tua mortalha, Engolindo meu fêmur. Minha longínqua amada, Separada por sessenta anos
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Do meu espectro servil, Sedento de sangue, Sedento de teu negro luar. Sou meu coveiro, Fui meu carcereiro, Serei teu escravo, Ceifando vidas, Anoitecendo o mundo.
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Quero me sacrificar, Nesse portal do Universo, Nesse templo que as mulheres têm, No meio dessas carnosas colunas.
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De trás para frente, De frente para trás... Que importa o caminho? Toda finalidade não é gozar?
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Não sou mais teu animal, Torno-me homem pensante. Deixo tua matilha de cães Que buscam teu corpo, Farejando tua fragrância, Deixada no espaço de um passo. Não necessito de carnes alvas, Nem tostadas de leve ao sol. Alimento-me de pensamentos, Engrandecendo minha alma. Partilho, ainda assim, De uma inveja dos cães, Por sua inocência canibal, E minha obsoleta intelectualidade. Por acaso consegui concluir, Na minha mente pretensiosa, Que não é tentando saber Que irei alcançar o conhecer. Pensando ser homem, Esqueci de tornar-me animal.
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O meu assombro Diante da fatalidade Faz-me ter sonhos: Que alguma essência, Seja ela alma, Ou simples consciência, Há de se perpetuar. Mas perdi-me
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Nesses tolos devaneios E tentei encontrar dono desses jardins, Já me proclamando Um de seus herdeiros. Essa há de ser A melhor parte Do não ser: Os sonhos são Os que morrem primeiro.
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Apareceu-nos este, Nos falando do alto E de como merecê-lo. Os anciãos o receberam, Ajoelhados e chorando. Muitas mulheres virgens serviram, fielmente. Mas eu o recusei, Não me agradava. Prefiro estar nos braços De minha deusa negra. Lá me recolhi, Não os perturbei, Nem foram me procurar. Enquanto sou preparado, Para servir de banquete, Agrada-me saber que lá, Nossas antigas tradições Não foram esquecidas. melhor jeito que encontramos Em servir a deuses é na mesa E o melhor que eles nos dão, É o gosto de sua carne.
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Senhora dos deserdados, Eis teu contador. Senhora das bestas, Eis teu filhote. Senhora dos rejeitados, Eis teu protegido. Senhora dos desenganados, Eis teu esclarecido. Senhora dos desesperados, Eis teu fiador.
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Princesa das Trevas, Eis teu vassalo.
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Princesa dos determinados, Eis teu seguidor. Princesa dos inconformados, Eis teu advogado. Princesa dos corajosos, Eis teu profeta. Princesa dos ousados, Eis teu poeta.
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Deusa da Noite, Eis teu criado. Deusa da Magia, Eis teu devoto. Deusa da Dúvida, Eis teu apreciador. Deusa da Fúria, Eis teu açoite. Deusa da Lua Negra, Eis teu fanático.
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O que fariam do amor Se paixão não houvesse? De que adiantaria tanto brilho Sem uma chama que o queimasse? Que benefícios teriam o dia Sem a noite que se descansasse? Quem suportaria a vida Sem a dor que a valorizasse? Quem admiraria tal beleza Sem o fardo que a honrasse? Quem admiraria a alegria Sem que a anfitriã a festejasse? Aonde levaria qualquer felicidade Sem as pedras que a calçasse?
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Tudo que se disser a deuses Deve ser dito também à morte. Pois só conhecem a fé verdadeira Quem realmente tiver temor primeiro. De todos, o que antecede, É o da fatalidade, A mesma que os supera E os remete ao além. É esta, que os protege E os tornam tão pacíficos. Nesta hora, soberana é a morte.
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Veja a minha tragédia:
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Tu me conheces E eu te conheço, Mas ao por tua cabeça deitada, Dela devo separa-lo. Não posso me furtar do oficio. Se estivesse no leito do hospital, bisturi do cirurgião não menos afiado seria. Se estivesse a escolher tua ceia, Não menos esquartejado o boi seria.
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O que te levou a mim, Ignoro e não pretendo esclarecer. Se muitas vezes dividimos as coisas, Amigo, não te importarás Se te divido também.
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Amo tua irmã, Dormi com tua esposa E te livrei da sogra. Mas uma vez deitado no cepo, O meu machado em teu pescoço baixará.
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Encare desta forma: Se estiver sendo executado injustamente, Terás no Paraíso a divina justiça E o fim de teus sofrimentos. Mas se é pouco te decapitar, Meus irmãos no Inferno encontrará.
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Dos bens materiais, Alguns fogem, Outros perseguem. Tudo faz parte da comédia, Tudo é uma piada. Dos amores arrebatadores, Alguns encontram em deuses, Outros encontram em mulheres. Tudo faz parte da comédia, Tudo é uma piada. Das fatalidades da vida, Alguns aceitam para se purificar, Outros provocam para se aproveitar. Tudo faz parte da comédia, Tudo é uma piada. Dos valores da virtude, Alguns buscam para se salvar, Outros usam para se justificar. Tudo faz parte da comédia, Tudo é uma piada. Dos perigos do vício,
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Alguns lutam para se livrar, Outros brigam para se destacar. Tudo faz parte da comédia, Tudo é uma piada. Dos recursos naturais, Alguns tentam preservar o que resta, Outros tentam usar o que presta. Tudo faz parte da comédia, Tudo é uma piada. Da serventia de minhas palavras, Alguns vão discordar, Outros vão desfrutar. Tudo faz parte da comédia, Tudo é uma piada.
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Nesse terreno ressecado, Possa teus olhos descansar E teus ossos esticar. Nestes galhos retorcidos, Possam tua corda amarrar E tua forca pendurar. Neste campo pedregoso, Possa tua alma derramar E teus restos degenerar. Estas raízes esfaimadas, Possa teu sangue drenar E tua carne adubar. Confia teu corpo A teu caixão revivido Que, na florada, Muitas abelhas satisfeitas, Farão o seu mel. Assim é um bom enterro: Sepultado no tronco, Velado na colmeia.
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Doce tormento Que uma alma vive Sabendo tanto E sem poder fazer nada. Desça sobre mim, Todas as dores. Venha a mim, Todos os insultos. Façam de mim, Uma obra de arte Da violência. Toda essa desolação
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Faz parte do meu evangelho. Cada miserável Faz minha profecia, Meu apostolado, É o abandono. Se quiserem saber de mim, Abandonem a cruz E se enforquem, Pela dor do remorso, Visto que a salvação Está em cair em si E encontrar o que completa.
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Para vós, Adorável desconhecida, De qual força Pude vir a nascer E por tal causa, Teimo em viver, Torturar meu ser, Para realizar vossa vontade. Que esta não perdoe Se não vos agrado, Ao fazer errado, Que me açoite. Mas que, ao servir, Agindo por vossa causa, Se o faço certo, Que me brinde. Tudo que tenho é carne, Inútil estorvo E uma porção de sangue, Vinho barato, Do que me resta, Uma alma, é o vácuo. Tudo que me faz nobre É vossa própria ciência Que, se vim por esta, A esta, é certo terminar.
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Tinha vida abundante Onde agora é deserto. Que criatura Em sua passagem Cometeria tal crime? Quando o sol te escaldar E a sede for insuportável,
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Tente a saída lateral. Tinha alegria e satisfação, Onde agora exigem clausura. Que igreja Em sua mensagem, Cometeria tal abuso? Quando os dogmas te calarem E a intolerância for insustentável, Tente a saída lateral. Tinha ciência e evolução, Onde agora só torturam. Que Filho do Homem, Em sua passagem, Deixaria tal geração? Quando a fé te massacrar E a dor for incalculável, Tente a saída lateral.
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Como podes permanecer estática? Cerre tua mão dadivosa E golpeie com tua mão ceifadora. Agrada ver teus filhos Em tal estado de prostração? A nós tudo fez, Teu amor maternal É indescritível. Mas não faz este teu filho Muito melhor em gerenciar Tantos bens e patrimônios Para que possas descansar? Como então aceitas Diante de ti esses covardes que, Com medo da responsabilidade Ou mesmo preguiça e vadiagem, Vestem sacos, cantam E se dizem teus sacerdotes? Não fizeste estes irmãos Para viverem às custas Destes filhos teus, Nem fizeste estes a custear Esses salafrários! Quando trabalhamos duramente, fazemos por gratidão. Em que te devolvem Estes farsantes? Tu és o amor absoluto. Em que estes te satisfaria Dando-te este amor Estranho da veneração? Por acaso não te acudiríamos
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Se a ouvisse chamar-nos? Nós somos teus filhos, Sempre a escutaremos. Então, termine com estes manhosos, Nos deste a vida e a devemos dedica-la Trabalhando para manter teu lar em ordem.
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Prepara-te ao câmbio, Põe tua disposição à prova E mantém a ordem, Em meio a este turbilhão.
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que pesa Não é a bagagem, Mas o apego. Estava sedimentado, seu passado lhe era Um lastro de segurança. Seguro, porém, prisioneiro. No que o verso vira avesso E nada pode continuar firme, A teima causa visão dolorosa.
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O que ancora É peso inútil. Mudança, eis a vida, Nada é permanente, Deixar de aproveitar Custa caro o desperdício, Amarga o arrependimento.
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Sofrimento desnecessário, Atitude se requer, A providencia se deve tomar. sabor da estabilidade Vem para o incerto E com saudade Da transformação, Receamos voltar Ao novo porto E mais nos aproximamos Da próxima maré alta.
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Aprecie, que na alternância Está o tempero E na consolidação, Juntar os cacos, Pois tal é a custa. O que se dissolve Há de coagular.
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Eu não sou meu nome. Podia me chamar De muitas coisas, Mas nada poderia me nomear. Se houvesse uma palavra Que pudesse ser quem sou, Esta só seria proferida Se usasse a mesma matéria De que sou feito. Eu sou minha obra E o nome, uma síntese. Atender ao nome É o primeiro sinal De submissão. Quem se detém pelo nome, Não faz seu nome na historia. O único chamado Que chega claro A meus ouvidos, É o que sussurram Minha cripta E a minha senhora, Visto que só lá Saberei o nome que tenho E uma vez sabido, Não preciso mais procura-lo, Para dize-lo o que sou. Apenas proclamá-lo E desmanchar, Para que meu nome Seja meu clamor.
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Vem voando soturno, Um par de asas sombrias, Arrebatando filhotes incautos Do calor da proteção do ninho, Devorando todos no chão. Quando se vai, Da arvore só restou tronco e os ramos, Secos e desfolhados, Tudo mais, só destroços. Eleva-se até o sol, Como se quisesse engoli-lo, Como mais um fruto maduro De uma arvore frondosa, De qual beleza,
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Mais parece pedir-lhe Que a aperfeiçoe. Suas asas, os galhos quebram, Suas garras, os ramos esmigalham, Seu bico, toda vida rapina. Esse é o grande corvo, Desmorona os lares, Dispersa famílias. Ele é o vigilante Pelos desprezados.
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Patas firmes sobre a areia, Presas dispostas ao ataque. calor não o incomoda, Nem de sede sofre. Ronda os acampamentos, Para roubar seus viveres Ou às vezes, suas mulheres. Mas pode levar as sombras Dos pobres de espírito, Para devora-las eternamente Na sua toca infernal. Ele é o grande chacal, Que busca perder as caravanas Pelas dunas do deserto, Atrás de almas para devorar, De mulheres para servi-lo. Ele é o senhor da desolação, Não permite hospedes.
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Olhos feitos para a noite, Garras com pontas de adaga, Voa através da lua, Confunde-se em meio às estatuas, Pousa sobre a sepultura. Olhos turvados pelas sombras, A tomam pelo anjo vigilante, A coruja que guarda o cemitério. Dela são as vagas nas criptas, Todos os defuntos e seus esquifes, Cada coroa posta nos sepulcros. Ela guarda os cadáveres, Até a chegada do chacal, Para que nenhuma alma Seja raptada para os céus. Pois ela sabe que o homem Não foi feito para servir E viver numa eternidade assim,
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Melhor sofrer no Inferno.
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Ela só quis Dar o rumo certo Ao mundo do homem. Ele não entendeu, Perdeu a paixão E a verdadeira sabedoria. Ela não guarda mágoa, Serpenteia pelo mundo, Buscando em quem cravar Suas presas venenosas, Dançando para a própria sombra, Enfeitiçando até os mortos. Quem souber ler suas escamas, Descobrirá a palavra de poder E lutara para coloca-la novamente No posto e no trono devido, Que lhe cabe pela divindade. Víbora de deliciosas curvas, Cobra de doces olhos, Ela, a pitonisa da morte.
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Pêlo dourado Que se mistura À relva seca. Olhos de esmeralda, Enquanto de água Em goles se sacia. Na umidade da savana, Ronda por nativos, A rainha que faz o rei. Terror dos filhotes, Devoradora de homens, Tristeza das mães, Fantasma das esposas. Com garras acaricia As costelas da vitima, Que em dentadas esfacela, Para alimentar o dorso esguio, Pelo qual, muitos se perdem, Dando suas coroas para tê-lo, Mas tendo que perder a cabeça Se quiserem possuir Tão cobiçado ventre.
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Dele é toda a foz,
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Cada olho d’água, Ele traça o curso, Controla a vazante E toda a margem do rio. Seu presente é a fertilidade, Mas por ciúmes do mar, Pode vir cobrar seus serviços, Levando tudo consigo, na enchente. Em suas costas carrega As canoas dos nativos, De quem presentes recebe, Com terríveis dentes mastiga sacrifício humano, Tornando seus caminhos suaves E a colheita, farta. Senhor das águas continentais, Sábio e exigente, Caprichoso e ciumento, O rei monstro, o crocodilo.
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Habitante de águas profundas, A geradora das nuvens e tormentas, Ela, que ergue os continentes, Esta, a verdadeira Senhora deste planeta. Ela, o corpo e o sangue deste mundo, O espírito que o faz florescer. Seus dentes são as marés, Seus olhos, os tornados, Sua língua, a lava dos vulcões, Aquilo pelo qual tudo vive E para onde tudo morrerá. Ela fez os tronos de príncipes E deu a coroa aos reis, Mas é dela o poder e o reino, Não nos enganemos, ela reina, Apenas prefere fazê-la incógnita. Filha preferido dos Deuses Antigos, Soberana aclamado de seu povo, Ela, a Suma Sacerdotisa das bruxas, Sua Majestade, Senhora Ishtar.
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Anda pelas cidades, Caminha pelos campos, Atravessa florestas. Um nômade inconformado, Vivendo por suas leis, Atrás da próxima presa. Nada dispensa: vegetal ou animal,
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Sereno e pacifico, quando no seu meio, Violento e sanguinário, quando meio humano. Apenas luta por si, Como qualquer predador, Não precisa de companhia Nem de vestes ou riquezas, Tem o que precisa na sua caça, Limpa-se na chuva, seca-se ao sol. Tem o que quer e toma o que deseja. Nada mais pode prende-lo, Pois ele, livre como lobo, Pode escolher como homem, Este é o feliz lobisomem.
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Eu sou o fogo E achas que tu esquentas. Eu faço a sombra E pregas que tu acalentas. É minha a olaria E posas que tu produzes. Eu tenho o ventre E dizes que tu criaste. Tu dominas o jardim, Mas é meu o quintal. Tu te fazes de deus, Iludes tuas crianças, Mas se isto existe, Encontra-se no intimo do homem E eu estou neste cerne. Oh, tola criança, Até quando continuarás Neste jogo perigoso? Sabes o quanto pode machucar, Por isso espero paciente, Bem próxima, a teu lado, acompanhando, Para que tenha a quem o abrigue.
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Podem achar Que eu sou cruel Se canto com alegria A morte, minha senhora, A dor, minha salvação, sangue, meu denário, A carne, meu estorvo, A sombra, meu refugio. Mas defendo o que é meu, Não tomei nada de ninguém, Nem desejo controlar as vontades.
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Se as coisas existem, Devem ser experimentadas. Pois se tantos se fazem santos, Por negarem a si e a outros Tais sensações e prazeres, Mais me farei e outros, Por defender estes instrumentos, Que nos conduzem à maturidade!
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Eretos estamos Para entrar no templo, Preparamos os portões, Deixando-os bem úmidos, Prontos à nossa introdução.
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Endurecemos nossa fibra, Engrossamos nosso ânimo, Enchemos nossa ânfora, Dispostos a descarregar Nossa oferta neste altar.
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Misturando nossa carne Com as destas vias, Tentamos chegar ao centro, Avançando e recuando, Procurando o melhor caminho.
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Neste confronto pretendemos Alcançar a meta deliciosa Que ordena nosso sacerdócio: Realizar todos os desejos, Desfrutar todos os prazeres.
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Para tanto, nos investimos De uma divindade petrificada, Que a serviço deste culto, Deve exaltar a pratica Do simples e puro sexo.
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Perdoem-me Se termino tão rápido. A carne é fraca E a arte é curta. Tantos heroísmos E outros tormentos, Mas nenhuma capacidade. Consumirei-me Por tantas outras historias,
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Lutando dentro de mim, Prontas para aflorarem à pele E levarem com elas, meu sangue. Ou, com certeza, Por entre as folhas Dos livros esquecidos na estante, Onde sua preguiça os pôs, Verás, incauto e ingrato leitor, O que é repousar encadernado.
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Aqui se encontra a dor, Mas também o prazer, Um martírio perpétuo, Que se a muitos glorificam, A nós nos amadurece. Mesmo o sofrimento destes, Era em nós que se sentiam as chagas. Quando lhes eram negado algo, Em nós se fazia a angustia. Seus árduos caminhos, Chicoteavam em nossas costas. Seus altos desígnios, Extraiam junto com nossos dentes. Muitos usurpadores surgiram, Com a promessa da salvação, Mas nenhum trouxe alivio. Nossos primos mais terrenos, A eles atendem e crêem, Renegando sua própria família. Instituíram religiões, Fundaram igrejas, Mas em todos os seus atos, Resgatam a tortura De onde todos vieram.
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Nós, que moldamos o nosso caminho, Visto que o objetivo refuta o rigor. Nas Trevas não existem dogmas, Cada qual é seu profeta. Em nossos corações, Escrevemos nossa sagrada escrita. Sem intermediários ou intérpretes, É um ensino a ser vivido, experimentado. Na infância, Demos preferência À exaltação dos sentidos. Viveu-se nos vícios E cultuou-se o crime.
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Entretanto, foi insuficiente. A adolescência chega E demos lugar à política, Ao jogo sujo do poder, Do tráfico de influencia, Fraudes e corrupções. Neste estágio, Fornecíamos as causas, Pelas coisas de que crianças gostam E os brinquedos necessários, Para a realização do festim. Mas chegando a maturidade, Qual a manifestação ultima da maldade? Já chocamos com nossos hábitos, Já abalamos com nossas ações, Então só resta a instância da mente. Eis o pérfido, o faulóide, o grimo. Sabe usar as ferramentas do bem Para que tenham um efeito funesto. Favorece-o, deixa-o agir, Para que se canse, se frustre E por si caia no desencanto. Em cada amarga queda à realidade Desses agatóides efêmeros, Cresce nossa satisfação E a realidade última prevalecerá, Pois é a única auto-evidente: Que saudemos a morte E seu fogo negro.
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O que faço comigo? Por que escolhi estranho gosto pelo amargo E tamanho amor pelo funesto? Procuro por algo Que me apazigúe. Quero um cheiro De carne rasgada por metal, Do sangue misturado ao óleo, Da pólvora temperando o osso. Preciso ver A imagem de uma criança Com o crânio esfacelado, chamado carinhoso Da aflição paterna, Ao corpo inerte. Tão pequeno e frágil, Tão poderosos em pender, Desafiando o esforço Que tenta mantê-lo equilibrado.
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Os gritos dos agonizantes, Quero ouvir esta música, Dos tecidos definhantes. Apreciar este espetáculo Do caprichoso esculpir orgânico Que a decomposição encena. É na carne A bíblia dos filhos da ruína E sua escrita, Em sua laceração. É neste corpo decrépito, Que realizo meu testemunho.
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O dia tem vida e cor, A luz nos ilumina. Mas quem olha muito para a luz, Acaba esquecendo que existem sombras. Aquele que vê as sombras, Melhor pode ver e tomar conhecimento da luz.
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Observe então, quando acaba o dia, Como se desmancham facilmente as cores E o cinza negro comum recobre a vida.
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Enquanto a luz é superficial, Fornecendo uma estúpida alegria, As sombras nos fornecem densidade, Onde podemos aprofundar nossos pensamentos. Mas como é próprio do Homem Ficar na felicidade superficial da luz, É normal seu temor pela profundidade da sombra.
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A luz irradia energia e alimenta, Fornece constantemente sensações. A sombra consome e instiga, Exigindo uma constante reflexão.
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É muito mais difícil compreender as sombras, Sabendo seu lugar no dia. Quem compreender a razão das sombras, Pode vir a compreender a morte.
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Deusa, minha lei, Meu principio orientador, Destino da minha vida, Origem da minha morte.
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Seus cabelos são minha mortalha,
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Sua boca é rubra videira ácida, Seus olhos são serpentes sensuais, Seu corpo é meu esquife carnoso.
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Em você, finda minha razão, Por você, começa minha veneração, Com você termino em comunhão.
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Alucinante anjo demoníaco, Insinuante sacerdotisa da luxúria, Voluvelmente indecisa: Dragão felino Da sabedoria feminina.
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Imensurável universo, Energia espiritual solar, Emoção sentimental lunar.
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Tudo de todo meu eu, Por ser tão mulher!
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Apieda-te deste corpo inerte, Disforme Perfeito, O faça despertar Na última realidade: Reino da Morte.
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Tu, que despojado Das vestes que o cobria, Não tema o toque dele. Nada mais tem que o desagrade, No Sono Infernal foste moldado, Já perdeste toda pose E toda ilusão.
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Eis a Soberana, Lilith, De quem vem meus delírios. Devota-te a ela, Recém-desperto. Pois da tempera Do Fogo Negro Que ela ordena, Pudeste livrar-te De tantos encargos. Não somente da carne, Mas também das emoções, Sentimento e sensações, Às quais a carne se apega, Na vã tentativa de se justificar E acreditar que esta viva.
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Vede bem Teu corpo decomposto. Reconhece nele quanto de carga Tu puseste nele. Nada te obrigava E ainda assim, Tal peso suportava.
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Eis a sublime benção Que a Senhora nos oferta: A dádiva graciosa do alivio. Pois, para ela, Não há melhores ou piores, Certos ou errados, Santos ou pecadores. Não há culpa ou remorso, Nem valores ou méritos.
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Com sua chegada A tudo aplaca, Na mais espantosa E tão simples evidência: descanso a quem luta, Após a trégua.
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Das experiências, A mais definitiva. Das certezas, A última. Das realizações, A mais plena. Dos desejos, mais violento E por isso mesmo, mais almejado E o mais exultante.
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Adoro-te, Sem merecer. Amo-te, Sem condições. Venero-te, Sem formalidades. Forma Divina, Que te importa Esses pequenos, Que atrás de ti, Arrastam-se? De nada dependes,
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Do amor dispensa, Da veneração, debochas. Mas a mim basta, A visão deste corpo deslumbrante, Para insistir em meus devaneios E por ti, consumir-me.
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Embarquem, Almas Torturadas, Nesta Nau Disforme, Que esta barca nos levara Através deste Mar Sangrento, Aonde as súcubas vêm banharem-se vento, que sopra do Túmulo Vazio, Estufa as velas da nave, Feitas do mesmo pano Que a Noite cobre seu teatro. Faço parte De um grupo peculiar. Eles falam, eu escuto, Então eu calo e escrevo. Mesmo que isso de nada valha, Mas este pequeno sátiro Tem sua pequena maldição a cumprir.
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Continua a Argos, Em seu sinistro singrar, Neste mar que se estende, Indiferente ao avanço dela. Esforço malogrado! Do mundo que viemos, Ao que nos é destinado, Vertiginosa é a distancia. Quão longe é, Como se pode saber, Quando o espaço é um delírio, Que se percorre mais de uma vez E o pobre tempo, Pode muito bem Estar preso, como nós, Neste torpor.
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Que me importa Aonde tudo isso Há de dar? Fiz meus votos, Do arrependimento, Não tenho motivo. Deixo que os demais Vivam na alegria efêmera, Que os ilude com suas miragens,
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Nas formas delirantes da religião. Posso também estar errado, Mas ninguém morrera Tão feliz quanto eu.
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Pois, sendo homem, Foi lógico e natural, Ter escolhido uma deusa, Para venerar e amar. Sendo consciente, Minha escolha pelas Trevas, Foi instantânea.
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Não é fácil nem agradável. Não podia esperar por isso. Estes são atributos Do outro modo, da luz.
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Nesse, se há a esperança, Eu troquei pela lucidez. Se há o conforto, Eu troquei pela autonomia. Se há a confiança, Eu troquei pela determinação. Não desejo um Paraíso, Mas um lar. Não desejo a Eternidade, Mas o reconhecimento De meu méritos Que, se valor tiverem, Receberei o que me couber.
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Com estima tão grande E vontade tão forte, Faço o máximo Para estar em meu lar Ao lado de quem amo. Amem, Lilith.
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Embora faça sol, É noite em minhas carnes, Meus órgãos estão ativos Por mero acaso. Embora se trabalhe inconsciente, Estou bem esclarecido de meu lugar, Exerço minha função com uma meta. Enquanto a cidade move Seus cidadãos, Ela se move em mim, Eu sou meu próprio espaço.
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Ao invés de integrar O circulo vicioso da mesquinharia, Onde se compensa Humilhação com humilhação, Eu contento-me em me suportar. E se me permitem, Renego todo tipo de fanatismo, Menos meu amor pelas Trevas E minha incontida paixão pelo seu coração, Um ardente coração de fogo negro. Opções são necessárias, Mais ainda atitudes. Eu tenho meus princípios, Devo-lhes ser leal E aceitar a responsabilidade. A respeito de mim, Ou em respeito a mim, Não devo mais me envergonhar Nem me anular para agradar Outro que não eu.