O SAL TEM UTILIDADE NO AQUÁRIO DE AGUA DOCE Abrasileirei e simplifiquei este artigo, de fonte desconhecida, citado em uma lista de aquariofilia americana (que não se compara com a nossa)
O sal, historicamente, tem sido uma commodity de valor econômico não pequeno. Ele é parte de nosso sangue e, como um eletrólito necessário, uma necessidade para nossa vida. Nós perdemos sal no suor e nas lágrimas, bem como no processo mais convencional de eliminar fluidos. O sal é e tem sido ao longo da história utilizado para preservar alimentos assim como para aumentar os sabores. É também empregado nos modernos subúrbios norte-americanos em 'amaciante' de água - aos quais vamos retornar mais tarde. Ele tem por alguma - para mim estranha razão se tornado popular como um aditivo rotineiro a aquários de água doce. Esse é o assunto básico deste artigo. Cloreto de sódio (Na Cl) é o material branco cristalino familiar em quase que todas as cozinhas. Sal de cozinha é adquirido em supermercados locais e neste país, também contém iodo e antiendurecedor como aditivos. Iodo é um halogêneo e é necessário para vertebrados. É necessário para nosso metabolismo como parte essencial do hormônio da tiróide, que é o nosso marca-passo metabólico. Solos de boa parte deste país são deficientes em iodo e podem resultar em 'bócio, hipertrofia da glândula tireóide por insuficiência de consumo de iodo. Assim, iniciou-se a prática de adicionar iodo ao sal destinado ao consumo humano. Essa é a forma mais segura (os níveis de iodo são mínimos) e a maneira mais certa de proteger a população dessa deficiência porque o sal é quase universal na preparação de alimentos. Os níveis de iodo adicionados ao sal de cozinha são tão pequenos que qualquer vertebrado aquático será conservado em salmoura antes que uma concentração tóxica de iodo possa ser atingida, então este mito urbano não tem fundamento. De fato, alguns dos habitantes de nossos aquários precisam de iodo - a maior parte dos crustáceos tem uma demanda significativa dele e alguns peixes podem desenvolver bócio pela falta de iodo. A tão discutida toxidade do iodo pode ser considerada o mito urbano número um. Sal, cloreto de sódio, é hidrófilo - exposto ao ar, com umidade maior do que no Saara ao meio dia, ele vai absorver umidade do ar na superfície dos cristais individuais, que derretem na superfície e cimentam entre si - em suma eles 'empedram'. Os saleiros não funcionam com sal endurecido, então são adicionados aditivos para evitar o empedramento. Araruta é o mais comum, mas outros também são empregados. Novamente, como o iodo, as quantidades são pequenas (embora maiores do que as do iodo) e são seguras para alimentos e para peixes. Sal Kosher é sugerido como alternativa ao sal de cozinha, porque ele não possui iodo. Esta, claro, é uma resposta ao mito urbano número um. Mas há quem suspire de horror a tal sugestão, pois o sal kosher pode ter prussiato amarelo de soda (o sal de sódio do ácido prússico, um ferro- ou ferrocianeto) como seu agente anti-endurecedor. Cruzes ! Este é um cianeto composto ! Você está mandando seus peixes para a câmara de gás e ele vai matá-los instantaneamente. Mais uma vez, a quantidade é pequena, segura para alimentação e os peixes serão conservados em salmoura muito antes que uma toxidade potencial seja atingida. Mito urbano de sal número dois. Agora, vamos para o mito urbano número três (com subseções a, b, c, d e e para minha conveniência).
"Você deve adicionar uma quantidade 'x' de sal à água do seu aquário". A quantidade 'x' pode variar com o autor e a mitologia local, mas, geralmente, é da ordem de uma colher de sopa para cada cinco galões (vinte litros). Note: esse conselho é dado sem qualquer perguntas sobre a dureza da água, natureza do peixe mantido, presença ou ausência de plantas vivas ou volume real de água no aquário. E é apresentada como uma das maiores verdades reveladas sobre manutenção de peixes em cativeiro, universal, raramente se alguma vez qualificada ou restringida e eminentemente adequada para entalhar em pedra sobre a porta de entrada de sua sala de peixes. Seus peixes vão viver felizes para todo o sempre. Se você detectou um traço de sarcasmo, você começa a entender a minha posição em relação a tais éditos. Uma pequena mas significativa digressão sobre água na natureza, nos Estados Unidos e nos nossos aquários, antes da dissecação do grande mito: nós geralmente medimos a dureza de nossa água de torneira por dureza geral (GH) e por dureza de carbonatos/alcalinidade (KH). Dureza geral pode ser expressa em ppm ou graus. Um grau de dureza geral é o equivalente a 17,6 mg CaCO3 (carbonato de cálcio) por litro (1 mg/l = 1 ppm) GH é medir a concentração de ions de cálcio e magnésio (Ca++ e Mg++) na amostra. O termo surgiu historicamente porque águas com altos níveis de Ca e Mg são mais difíceis de utilizar para lavar roupas - é mais duro de produzir espuma do sabão (ou detergente), então: água 'dura'. Por favor, note que sódio (Na+) NÃO é medido nesse teste. Resinas de troca de ions comuns, tais como as utilizadas como enchimento em filtros de aquários e in amaciantes (redutores de dureza) domésticos normalmente trocam Na+ por Ca++ e Mg+ +. Além disso, note que pela natureza da química da resina, as cargas precisam se equilibrar. Dois ions Na+ precisam ser adicionados à água para cada Ca++ (ou Mg++) removido. A água resultante será mais mole pela definição de moleza de lavanderia, mas a água agora contém mais ions do que tinha antes do amaciante. O total de sólidos dissolvidos (TDS) na água é mais alto do que o com que você iniciou. Mas o teste de GH mostra leituras mais baixas. A importância disso para criadores de peixes é que aqueles peixes para os quais se quer 'amolecer' a água não desejam realmente 'água mole' (eles não lavam roupa), eles querem água com menos sólidos dissolvidos, o que inclui baixo GH como nós medimos, mas também baixo Na+ e Cl-. Os peixes amazônicos e alguns do sudeste asiático e de rios africanos vem de águas com baixo TDS - sim, a água vai dar baixo GH, mas uma leitura de sódio será baixa também, enquanto que as resinas de troca de ions baixam o GH pelo aumento expressivo de sódio. Se você precisa baixar o TDS você precisa deionizá-la (DI) ou aplicar osmose reversa (RO). De outra forma, você está se enganando quanto a tornar a água mais próxima a do ambiente natural ou nativo dos peixes. Esse é o mito urbano número 3. Dureza de carbonatos ou KH é uma medida da capacidade natural de tamponamento da água, comum e confusamente chamada de alcalinidade (embora a conexão com o pH é na melhor das hipóteses duvidosa). Na maioria das águas naturais, o sistema primário de tamponamento é carbonato-bicarbonato (CO3-- , HCO3-). Utilizar a maioria dos produtos de tamponamento é um exercício fútil se o objetivo é mover o pH para um outro nível diferente do da sua água de torneira após aeração, a menos que sua água tenha KH 3 ou menos (raro mas possível nos USA).
Essa prática mais provavelmente vai estressar seus peixes pela troca constante de pH resultante dessas adições. Elas estão, claro, aumentando o TDS da água do aquário. Como a maioria desses tampões é baseada em fosfato, é comum que essa prática contribua para explosões de algas. O carbonato pode ser removido pelas resinas de troca de ions mencionadas acima (trocado por Cl-, cloreto). Cloretos não tem influência como tampões. Carbonatos são também reduzidos por RO ou DI. KH excessivamente baixo (<3-4) é uma desgraça, pois o aquário não tem outro processo de neutralizar os ácidos resultantes da nitrificação da amônia (potencial para redução de pH), ou da utilização de carbonato pelas plantas em busca de uma fonte de carbono (potencial para explosão de pH). Adição de cloreto de sódio a água de baixo KH para o benefício de ciclídeos africanos ou peixe de água salobra aumenta a osmolaridade (outra medida do total de ions presentes na água), o que em certo grau é benéfico. Isso nada faz, repito, nada faz, para tamponar a água para pH alcalino preferidos por esses peixes. Esse é o mito urbano número três b. O mito urbano três c é a idéia que o sal é tônico para os peixes quando mantido nos aquários em nível moderado (aproximadamente uma colher de sopa para cinco galões). Se os seus peixes forem os comunitários mais comuns tetras, coris, acará bandeira e similares ou mesmo os Rasboras e maior parte dos anabantídeos, são peixes, na maior parte, de água mole e de baixo TDS. Ainda não me explicaram como a água de torneira mais comum dos USA, que é moderadamente dura para dura, e alcalina, irá melhorar pelo aumento daquelas mesmas coisas em que a nossa água difere da água natural em que esses peixes vivem. Certamente muitos desses peixes se adaptam bem a nossas condições locais de água. Isso é melhor para proprietários e peixes do que constantemente batalhar com parâmetros oscilantes da água. Mas a idéia que a água é melhorada para esses peixes pela adição de ainda mais sais dissolvidos me choca - eu não consigo ver nenhum sentido nisso. O mito urbano três d é relacionado com o três c, o uso profilático de sal, pela manutenção de um nível dele no aquário, para evitar doenças infecciosas comuns. Eu sou um ferrenho partidário do uso de sal, normalmente acompanhado de elevação de temperatura no tratamento do mais comum parasita que temos, o Ichthyophthirius multifiliis ou íctio, um protozoário ciliado. Apenas a forma de nado livre desse parasita é tratável. Nem a fase de crescimento por penetração no peixe, nem o estágio de multiplicação por cistos que ocorre sobre ou dentro do substrato são combatíveis. Contudo não estou convencido da eficácia da dosagem prescrita (eu uso uma colher de sopa para cada galão de água real do aquário). A última lenda urbana é a três e: a adição de sal na mesma proporção de uma colher de sopa para cinco galões é benéfica para ovovivíparos. Aqui o pêndulo fica muito próximo do mito. Esses peixes (livebearers) como grupo são nativos de estuários onde as águas costumam ser duras e alcalinas, pelo menos, e podem ser salobras. Cloreto de sódio combina com seu habitat, certo ? Bem, talvez. Se sua água é moderadamente dura para dura (GH 8-12 ou mais, KH na mesma faixa), então algum NaCl será tudo que é preciso, se algo é preciso. Se sua água for mole e ácida, você precisa de tamponamento tanto quanto da adição de minerais na água, e NaCl, apenas, não será suficiente.
Você precisa adicionar corais moídos ou aragonita mais sal, ou utilizar mix marinho ao invés de sal apenas. O mix marinho contém todo o espectro de cations e anions (ions carregados positiva e negativamente, tais como Na+, Ca ++; Cl-, CO3--) encontrados no mar, e será mais do que adequadamente tamponado. O uso de 'sal marinho' uma espécie de sal de cozinha provindo da evaporação de lagoas de água marinha) não será um substituto adequado. Água salgada nessas lagoas de evaporação se submete a um grande número de reações interessantes e durante o processo de concentração, de modo que o produto final não atende a composição ou habilidade funcional para suportar vida que estava presente na água marinha original ou na água preparada com mix marinho. Ë bom para a mesa, inapropriado para uso em aquário, devido a diferenças significativas da água do mar. Sal vale a pena ? Claro. Ele pode ser parte do tratamento em certas condições durante uma infecção aguda. Ele pode ser parte do adequado regime de manutenção de longo prazo de certos tipos de peixes. Deve ele estar sempre em nossos aquários de água doce, a despeito de sua água e de seus peixes ? Em minha modesta opinião, absolutamente não. Traduzido por William Soares