Introdução
O Romantismo foi um movimento artístico que marcou a Alemanha entre o século XVIII e XIX. Esta corrente tinha como particular característica agrupar harmoniosamente a pintura, música e literatura, despertando sentimentos estéticos virados para o subjectivo, a imaginação e o sonho. A arte foi, por isso, uma experiência central no Romantismo Alemão. O presente trabalho não pretende analisar a fundo este movimento em todas as suas vertentes, mas sim apresentar a literatura e a pintura românticas como parte de um conjunto comum, destacando algumas obras de pintura que serviram de apoio aos contos alemães, como o caso de Adrian Ludwig Richter.
A pintura romântica: uma perspectiva geral
Como todas as áreas abrangidas por esse enorme período que é o Romantismo, as características formais e temáticas da pintura romântica não revelam grandes diferenças em relação à concepção geral do Romantismo. As grandes bases do Romantismo assentam no indivíduo e no primado do sentimento e da imaginação sobre a razão e o intelecto. Os seus principais temas e características reflectiam-se na fuga para o sonho, para o exótico e para um passado medieval, tendo sempre em consideração a natureza que rodeava o homem. Esta natureza desempenha, tanto na pintura como na literatura, um papel de destaque, quer pelo seu aspecto selvagem e misterioso, como pela harmonia das suas imagens. Todas as características típicas do Romantismo podem ser consideradas literárias ou pictóricas. Na pintura romântica predomina o sensível, a cor e a iluminação local e a ideia de movimento. Tal como na literatura, a natureza é extremamente importante para o autor pois revela os seus estados de alma. Por norma, os quadros românticos paisagísticos evocam sentimentos de contemplação, melancolia e solidão. Para além das paisagens, a pintura romântica destaca também a pátria, com quadros tipicamente nacionalistas, recriando cenas históricas, passando ainda pelos quadros de teor religioso e da cultura popular. A pintura alemã do romantismo abrangia, em suma, várias formas e conteúdos, desde os retratos e cenas interiores, passando pelas paisagens simbólicas e atmosféricas, até quadros que tematizam a literatura e obras literárias e que contam a sua própria história. Neste aspecto de ligação entre a pintura e a literatura, os contos populares e infantis ocupam um lugar de extrema importância, pois concretizam as duas vertentes, poética e artística. Os contos de fadas, as lendas, os mitos e os contos populares foram redescobertos pela literatura alemã no final do século XVIII. Este tipo de literatura popular era visto como Naturalpoesie, a forma mais pura de poesia preservando assim o Nationalgeist. A poesia e a literatura popular sobreviveram à passagem do tempo e foram recuperados pelos românticos porque os seus temas iam de encontro aquilo que estes artistas procuravam como os paraísos idílicos, o passado distante e a idade de ouro, quando o homem vivia em harmonia com a natureza. A recuperação dos contos
populares tinha também o objectivo político de unir o povo alemão em volta da sua cultura e tradição. Adrian Ludwig Richter encaixava bem nesta característica romântica, pois os seus quadros tinham um cunho popular. Richter pintava também paisagens (seguindo assim a tradição romântica alemã) para além de ilustrar vários contos de fadas, livros de lendas e mitos. As suas ilustrações estão presentes em mais de 150 livros. Foi, aliás, a ilustração que o tornou conhecido. Os seus desenhos estavam sempre próximos da natureza e eram modelados ao estilo dos contos, com traços distintivamente românticos, como o desejo de fuga para o sonho, mas também com quadros que retratavam os encantos da vida familiar e doméstica.
Mädchen aud der Wiesel 1
Um caso particular: Ludwig Richter
Richter foi um conhecido pintor e ilustrador alemão que nasceu a 29 de Setembro de 1803. Quando era criança viaou com o seu pai, o também artista Karl August Richter,através de Sachsen, para poder absorver a paisagem e para mais tarde recriar o exemplo daquilo que tinham observado. Em 1823 viajou para Itália, onde travou conhecimnto com o grupo alemão, Os Nazarenos, que exerceram grande influência na sua formação como pintor. Alguns anos mais tarde, em 1836, foi professor na Academia de Dresden, tornando-se depois famoso pelas suas ilustrações dos contos bastante conhecidos, como por exemplo, dos irmãos Grimm e Bechstein. Richter foi um dos pintores mais conhecidos do chamado Spätromantik. Na sua obra, para além de ilustrações, reproduz também cenas populares e quadros que reflectem a natureza com uma simplicidade infantil.
Hansel E Gretel, Grimm1
Ludwig Richter opôs-se ao simbolismo enigmático e sombrio dos seus antecessores, rejeitando a melancolia dos primeiros românticos em favor de um mundo mais divertido, lírico e imaginativo.
Herdmanns Lied 1
O pintor começou a sua carreira a pintar paisagens, mas a sua admiração pelos contos fê-lo ganhar a vida como ilustrador, criando imagens tipicamente alemãs, tal como os contos que ilustrava. Para além dos contos infantis dos Grimm e de Deutsches Märchenbuch de Ludwig Bechstein, Richter ilustrou ainda os Volkskalendern de Nieritz, os Alemannen
Gedicheten de Hebel e obras como Lied von der Glocke, de Schiller, Goethe-Album e a colecção Fürs Haus.
Lied von der Glocke, Schiller
Nas suas ilustrações e quadros, Richter utiliza linhas nítidas que combinam com o conteúdo narrativo dos seus desenhos. As suas personagens surgem em locais familiares, os cenários estão repletos de detalhes imaginativos, mostrando em muitas imagens o homem em harmonia com a natureza.
As cenas festivas combinam sonho e realidade, criando uma harmonia tipicamente romântica, que representa claramente o desejo romântico de fuga. As suas ilustrações são o paradigma das ilustrações de contos de fadas, pois Richter consegue mostrar a compreensão que sente pelo carácter humano, revelando o carinho que sente pelas personagens, que de certa forma são também suas. Os desenhos de Deutschen Volksmärchen, contêm imagens da vida alemã carregadas de sentimentalidade, humor e fantasia. A colecção Fürs Haus – Im Winter, apresenta também cenas caseiras e religiosas da vida quotidiana durante os meses de Inverno. As imagens ilustradas parcialmente de textos famosos de Mathias Claudius delineam a vida perfeita da burguesia alemã. O sentimentalismo é temperado com marcas de lirismo e detalhes precisos. Richter pintou também um grande número de paisagens, dos seus passeios em Dresden, Suíça e Roma, quase sempre pinturas a óleo, mas utilizando aguarelas em alguns quadros. A primeira dos seus quadros data de 1848.
Richter consegiu unir de forma surpreendente a pintura e a literatura nas suas ilustrações. Como quase todos os pintores românticos, Richter era um bom leitor, cujo prazer que sentia por uma boa história marcava-o com tanta intensidade que sentia a necessidade de contá-la através dos desenhos com todos os detalhes indicados, fosse na interpretação de mitos, poesia, contos de fada ou populares ou dramas.
Outras exemplos da obra de Richter