Revista Calebe 02

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  • Words: 13,724
  • Pages: 27
SETEMBRO de 2009

Ano 1

Nº 2

“antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” I Pe 3:15

04 - BIOGRAFIA Hudson Taylor

06 - PARA FAZER PENSAR E AGIR

07 - COMENTÁRIO BÍBLICO Salmo 8:5

11 – A REALIZAÇÃO DA CRUZ John Stott

12 - DÚVIDAS DOS LEITORES O Censo de Israel

15 - DEVOÇÃO OU REVOLTA: As duas opções diante das perplexidades da vida

18 - NOVOS TEMPOS, VELHAS CRENÇAS Crítica do Neo-Paganismo sob uma Ótica Cristã

25 - ARQUEOLOGIA BÍBLICA O Jardim do Éden

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J

Hudson Taylor

ames Hudson Taylor, nasceu em 1832, na cidade de Barnsley, em Yorkshire, na Inglaterra. Era de família metodista, e recebeu muita influência espiritual de seus pais e avós, bem como seus irmãos William e Amélia. Seu pai, um farmacista, sempre teve preocupação com a condição espiritual da China, e sempre que tinha oportunidade, realizava reuniões especiais para discutir como poderia ajudar aquele tão grande país. Quando Hudson tinha apenas cinco anos, ele disse ao seu pai: ―Quando eu crescer serei um missionário na China‖. Apesar desta afirmação, os anos de adolescência de Hudson foram conturbados, e as influências de amigos não lhe ajudaram. Porém, sua mãe e irmã não cessavam de interceder por ele. Em junho de 1849, aos dezessete anos, ao ler um folheto escrito pelo seu pai acerca da obra de Cristo, Hudson compreendeu o plano da salvação, e como resultado, entregou sua vida a Jesus. Neste mesmo ano, sentiu a chamada do Senhor para trabalhar como missionário na China. Ao dizer sim à chamada, começou a se preparar em todos os aspectos de sua vida, a fim de atingir o objetivo de evangelizar a China. Logo começou a aprender o Mandarim através de uma cópia do Evangelho de Lucas. Hudson também soube da grande necessidade de médicos na China, e assim começou a estudar medicina, a fim de estar preparado para o campo em que iria trabalhar. Seu treinamento médico começou na cidade de Hull e continuou em Londres. Além

disso, estudou Teologia, Latim e Grego. Por saber que deveria depender totalmente de Deus para o seu sustento diário na China, Hudson muitas vezes colocava-se em situações para provar sua própria fidelidade e confiança em Deus. Enquanto estava em Hull, vivia basicamente se alimentando de aveia e arroz, e grande parte do seu salário ofertava para a obra do Senhor. Um certo dia, quando evangelizava os pobres, um certo homem lhe pediu que fosse orar por sua esposa que estava morrendo em casa. Ao chegar ali, viu uma casa cheia de crianças passando fome, e a mãe que estava muito enferma. Compadecido daquela situação, depois de orar, tirou do seu bolso a única moeda que tinha, o sustento da semana, e ofereceu ao casal. Milagrosamente, naquele mesmo dia, alguém lhe procurou e trouxe um envelope cheio de dinheiro. Esta experiência ensinou a Hudson Taylor que Deus era o seu provedor. No dia 19 de setembro de 1853, com 21 anos, e associado à Sociedade de Evangelização Chinesa, Hudson Taylor partiu para a China a bordo do navio de carga chamado Dumfries. Após seis longos meses de viagem com intempéries e perigos de morte, ele chega finalmente em Xangai. Ao juntar-se com outros missionários ingleses, residentes daquela mesma cidade, Hudson notou a grande deficiência da evangelização no interior do país. Nesta época, a China estava passando por momentos tumultuosos, e Xangai havia sido tomada por rebeldes. Por isso, todos os

missionários estavam nas cidades da costa, e envolvidos mais com o comércio e a política externa, do que verdadeiramente com a evangelização da nação. Ponderando tudo isso em seu coração, Hudson decidiu que haveria de trabalhar no interior da China, onde o evangelho não tinha sido levado. Assim, ele começou o seu trabalho distribuindo literatura e porções bíblicas para as vilas ao redor de Xangai, sendo uma delas Sungkiang. Ao estar no meio do povo, ele notou como as pessoas o olhavam diferente por causa de sua roupa ocidental. Sendo assim, ele decidiu adotar os costumes da terra, vestindo-se como um chinês, deixando seu cabelo crescer e fazendo uma trança, como os outros chineses. Este ato conquistou o respeito de muitos chineses, porém, para os missionários ocidentais, uma falta de senso. Em 1856, Hudson começou a trabalhar na cidade proeminente de Ningpo. Ali, se casou em janeiro de 1858 com a senhorita Maria J. Dyer, filha de missionários, porém orfã, que trabalhava numa escola para meninas. Um ano depois, Hudson assumiu a direção da Missão Hospitalar de Londres em Ningpo. Não só Deus o prosperou, como muitos dos doentes aceitaram a Jesus e se recuperaram de suas enfermidades. Ele começou a orar por mais missionários para o país. Depois de estar sete anos na China, Hudson regressou à Inglaterra por motivos de saúde. Ao partir em 1860 para a Inglaterra, não imaginava que estaria seis anos longe do

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campo. Apesar da distância, o seu coração estava ligado à China. De frente a um mapa da nação, todos os dias ele orava, pedindo que Deus enviasse pessoas dispostas a ganhar as almas chinesas. Juntamente com o Sr. F. Gough, Hudson fez a revisão do Novo Testamento para o chinês e escreveu vários artigos sobre as missões na China.

__________________ ―Ao recrutar alguns missionários, Taylor viu a necessidade de ter uma missão que suportasse e direcionasse esses novos missionários‖ __________________ Ao recrutar alguns missionários, Taylor viu a necessidade de ter uma missão que suportasse e direcionasse esses novos missionários no interior da China. Para este fim, é que a ―Missão para o Interior da China‖ foi fundada. Durante o tempo que esteve na Inglaterra, enviou cinco obreiros para a China, e em 1864, Hudson pediu a Deus 24 missionários, dois para cada província já evangelizada no interior e dois para a Mongólia. Deus assim cumpriu o seu desejo, e em 26 de maio de 1866, Hudson e Maria, seus quatro filhos e os 24 missionários estavam embarcando no navio Lammermuir em direção à China. Estabelecidos em Ningpo e em Hangchow, o trabalho missionário começou a se expandir para o sul da província de Chekiang. Dez anos depois, o norte de Kiangsu, o oeste de Anhwei e o sudeste de Kiangsi tinham sido alcançados. Em um período de três anos, Hudson sofreu a perda de

sua filha mais velha Gracie, seu filho Samuel, seu filho recémnascido, e em julho de 1870, sua esposa também morre de cólera. Mesmo passando por este vale, Hudson Taylor não desistiu de sua chamada para a grande China. Em 1871, quando voltava para visitar o restante de seus filhos que haviam sido enviados à Inglaterra, Taylor teve a oportunidade de viajar com uma grande amiga e missionária na China, Jennie Faulding, com a qual se casou em 1872 na Inglaterra. Entre 1876 e 1878 muitos outros missionários vieram dar o seu apoio no campo, vindos de todas as partes do mundo. Hudson esteve por alguns meses acometido de uma enfermidade na coluna, a qual o paralisou, porém, ainda na cama, ele conseguiu enviar dezoito novos missionários para a China. Milagrosamente, depois de muitas orações, Deus o curou e ele voltou a caminhar com saúde completa. Em 1882, Hudson orou ao Senhor por 70 missionários, e fielmente Deus proveu os missionários e o suporte para cada um deles. Em 1886, Hudson toma outro passo de fé, e pede ao Senhor 100 missionários. Milagrosamente, 600 candidatos se escreveram vindos da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda, se prontificando para o trabalho. Em novembro de 1887, Hudson anuncia alegremente a partida dos cem missionários para a China. O trabalho da Missão se espalhou por todo o interior do país, segundo o desejo de Hudson Taylor, e no final do século, metade de todos os missionários evangélicos do país estavam ligados à Missão. Em outubro de 1888, depois de haver visitado os Estados Unidos e Canadá, Hudson parte mais uma vez em direção à China, acompanhado de sua esposa e mais 14 missionários. Durante os

próximos quinze anos, Hudson dispendeu o seu tempo visitando a América, Europa e Oceania, recrutando missionários para China. O desafio agora não era apenas de cem, mas de mil missionários. Em abril de 1905, com 73 anos, Hudson Taylor faz a sua última viagem à China. Sua esposa Jennie havia falecido, e ele tinha passado o inverno na Suécia. Seu filho Howard, que era médico, juntamente com sua esposa, decidiram acompanhar Hudson nesta viagem. Ao chegar em Xangai, ele visita o cemitério de Yangchow, onde sua esposa Maria e quatro de seus filhos foram sepultados, durante o seu trabalho naquele grande país. Após haver percorrido todos as missões estabelecidas pela sua pessoa, Hudson Taylor, estabelecido agora na cidade de Changsa, deitou-se numa tarde de 1905 para descansar, e deste sono acordou nas mansões celestiais.

__________________ ―Em 1882, Hudson orou ao Senhor por 70 missionários, e fielmente Deus proveu os missionários e o suporte para cada um deles‖ __________________ A voz que cinquenta e dois anos atrás havia dito a Hudson Taylor: ―Vai à China‖, agora estava dizendo: ―Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco fostes fiel, sobre muito te colocarei; ENTRA NO GOZO DO TEU SENHOR!‖

Fonte: http://www.sepoangol.org/hudson.htm

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Salmo 8:5

“Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.” (RA) “Contudo, pouco menor o fizeste do que os anjos e de glória e de honra o coroaste.” (RC) “Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra.” (NVI) Prezado Robson, Paz esteja contigo, Estou com uma dúvida e acho que você pode me ajudar acerca do salmo 8:5, sobre um suposto erro de tradução. O nome “Deus” aparece em muitas traduções, como na Almeida que tenho em casa. Alguns dizem que na realidade o nome Deus deveria ser trocado por “seres celestes” ou “anjos”. Até aí tudo bem, mas, a nota da ARA que traz o nome de Deus no versículo, diz que no original o termo a ser traduzido é elohim. Agora começa a dúvida. Se esse nome é “elohim” ele se refere a Deus? Então a tradução está ou não errada? Atenciosamente, H.S.W. Graça e Paz irmão, Obrigado pelo seu e-mail. Em primeiro lugar, o termo

~yihol/a

que aparece no texto é . Esse é o termo traduzido como ―Deus‖ (elohim). Em segundo lugar, vejamos as traduções bíblicas em português, acima. Em terceiro lugar, vejamos a definição da palavra elohim (deus) de acordo com o Strong's Hebrew and Greek Dictionaries: ―deuses no senso ordinário; mas especificamente quando utilizado no plural e especialmente com o artigo significa Deus supremo; ocasionalmente aplicado por via de deferência para magistrados; e às vezes como um superlativo: anjos, Deus, deuses, juízes.‖

Vejamos, ainda, o sentido

da palavra elohim (deus) de acordo com o Brown-DriverBriggs' Hebrew Definitions: - Original: - Transliteração: 'elohiym - Fonética: el-o-heem' - Definição: 1. (plural) regras, juízes, divino, anjos, deuses 2. (plural intensivo significado singular) deus, deusa, divino, trabalhos ou posses especiais de Deus, o (verdadeiro) Deus, Deus

Portanto, a palavra elohim ou eloah (forma singular), pode significar: Deus, deus, deuses, anjo, anjos, juízes. Assim sendo, ambas as traduções estão corretas. Tanto é correto traduzir ―menor do que Deus‖ como também ―menor que os anjos‖. Vejamos, ainda, o que R. N Champlin nos diz acerca do termo ―elohim‖: ―É patente que El é a raiz desse nome de Deus, que está no plural. Tem o sentido de ―poderoso‖ ou ―forte‖. Todavia, os eruditos não concordam entre si quanto à natureza exata da combinação. Elohim é a forma plural de Eloá. Alguns têm pensado que essa palavra significava forte. A forma plural, além de ser um plural majestático também indicava deuses, um emprego legítimo no hebraico. Contudo, reiteramos que, nos escritos em hebraico, o nome de Deus tornase mais proeminente quando está em sua forma plural, porquanto tem então uma função aumentativa. No plural, esse vocábulo hebraico também era usado para indicar os anjos, como representantes de Deus,

além de serem, eles mesmos, grandes poderes espirituais. Por semelhante modo, os magistrados humanos podiam ser assim chamados, meramente por causa da idéia de ―força‖ ou ―autoridade‖, neles investida e não por serem divindades. Interessante é o uso que Jesus fez do termo, na citação que aparece em João 10:34,35, de Salmos 82:6, que alude aos poderes humanos como ―deuses‖ ... Algumas vezes, a literatura ugarítica trazia o uso aumentativo da palavra elohim, que alguns estudiosos chamam de ―plural majestático‖. Em Deu. 4:35,39; 1 Reis 8:60; 18:39; Isa. 45:18, encontramos menção a Deus, com o uso dessa palavra no plural. Porém, em trechos como Êxo. 18:11; 20:23; 1 Sam. 4:8; 11 Reis 18:33, etc., os deuses pagãos são mencionados. A mesma palavra envolve juízes ou governantes humanos, conforme se vê em Êxo. 21:6 e 22:28. Os anjos também são chamados assim, em Jó 1:6; 2:1 e 38:7. Ver também Sal. 82:6. O Novo Testamento, seguindo a Septuaginta, cita Salmos 97:7 como uma alusão aos anjos; e, naquele salmo, aparece a palavra hebraica elohim...‖ (CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 2. págs. 343,344)

Segundo Harris, Archer e Waltke o termo elohim significa: Deus, deuses, juízes e anjos. Também, por 2570 vezes na Bíblia o termo é utilizado com o sentido de divindade. Porém, frequentemente é um termo que acompanha o nome pessoal de Deus, Yahweh (Jeová), sendo a expressão favorita da Bíblia para se referir aos títulos. Vejamos: ―elohim. Deus, deuses, juízes,

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anjos. Esta palavra é geralmente vista como o plural de eloah, e é mais frequentemente achada na Escritura... O plural é usualmente descrito como um plural majestático e não tem a pretensão de significar um plural verdadeiro quando usado para Deus... O termo ocorre geralmente com o sentido de deidade umas 2570 vezes na Escritura... Ao indicar o verdadeiro Deus, elohim funciona como o sujeito de toda atividade divina revelada ao homem como objeto de toda reverência verdadeira e temor do homem. Freqüentemente elohim é acompanhado pelo nome pessoal de Deus, Yahweh (Gen 2:4-5; Ex 34:23; Sl 68:18 etc.)... O termo elohim é o termo favorito em títulos... A primeira categoria de títulos pertence ao seu trabalho de criação... A segunda categoria de títulos expressa a soberania de Deus... Outra categoria de títulos está focalizada ao redor da majestade e glória de Deus... Sem dúvida a categoria mais freqüente de títulos pertence a Deus como salvador... Semelhantemente, nós achamos títulos que unem Deus como um todo ou como parte da nação de Israel... E finalmente, nós achamos títulos que expressam a intimidade de Deus com seu povo...‖ (HARRIS, R. Laird & ARCHER, Gleason L. & WALTKE, Bruce K. Theological Wordbook of the Old Testament. Vol 1. págs. 44, 45)

Por último, William Wilson confirma que o termo elohim é usado com freqüência para se referir ao verdadeiro Deus, mas também como o nome geral de ídolos e falsos deuses. Vejamos: ―Ainda este título é também o nome geral de ídolos e falsos deuses, o qual é provavelmente usado para fazer referência ao verdadeiro Deus...‖ (WILSON, William. Wilson‘s Old Testament Word Studies. pág. 196)

A Septuaginta é uma tradução do Antigo Testamento para o grego, ou tradução dos Setenta, e foi feita por setenta sábios judeus (por isso o termo LXX) na cidade de Alexandria, a

pedido de Ptolomeu Filadelfo (285-247a.C.). Nesta tradução o texto de salmos 8:5 é apresentado com o termo anjo (angelos – ἀγγέλους). Vejamos: ἠλάττωςασ αὐτὸν βραχφ τι παρ' ἀγγζλουσ, δόξῃ καὶ τιμῇ ἐςτεφάνωςασ αὐτὸν Desta forma as duas traduções estão corretas, já que o próprio texto de Salmo 8:5 declara que o homem é menor do que Deus, e o texto de 2Pe 2:11 também afirma que o homem é menor que os anjos. De uma forma ou de outra, o texto de Sl 8:5 está se referindo ao homem e não a Jesus Cristo, apesar de Hb 2:9 ser um texto semelhante e se referir a Jesus Cristo. Assim sendo, o homem é tanto inferior a Deus quanto aos anjos. Vejamos porque o Sl 8:5 se refere ao homem e não a Jesus Cristo: a) ―que é o homem, que dele te lembres?‖ (v. 4). O texto está falando sobre o homem; b) ―e o filho do homem, que o visites?‖ (v. 4). O texto está falando sobre o descendente do homem; c) ―fizeste-o‖ (v.5). Fez quem? O homem citado no versículo anterior; d) ―Deste-lhe domínio sobre as obras de tuas mãos‖ (v.6). Foi dado o domínio a quem? Ao homem citado no texto. e) foi dado domínio sobre o quê? Os versículos 7 e 8 respondem: • ―ovelhas e bois‖; • ―animais do campo‖; • ―aves dos céus‖; • ―peixes do mar‖; • ―tudo o que percorre as sendas dos mares‖ f) tudo isso está de acordo com o texto de Gn 1:26, que se refere ao homem, e não a Jesus.

Portanto, o texto refere-se ao homem, e não a Jesus Cristo.

A versão bíblica Revista e Corrigida utiliza no Salmo 8:5 o termo ―anjo‖ porque baseou-se na LXX. John L. Mackenzie afirmou o seguinte:

"As citações do Antigo Testamento são 41 no total, das quais 21 em comum com Marcos e Lucas; todas essas 21 citações seguem o texto da LXX (Septuaginta)..." (MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. Paulus Editora. pág 588) F. Davidson concorda que a interpretação se refere ao homem ao afirmar: ―A meditação sobre o propósito essencial da criação, como revelada desde a antigüidade, evidencia uma particularidade tripla que eleva o homem do desprezível a uma posição de espantosa eminência. Ele foi criado por Deus como "um pouco menor do que os anjos" (Almeida) ou "menor do que Deus" (SBB) (5). O hebraico é ‘elohim. Esta imagem divina transmitida ao homem é acompanhada por certos atributos, glória e honra, que torna o homem superior a todas as outras criaturas. Além disso, o mundo e a sua forma de vida têm sido postos sob a autoridade do homem. Esta consciência de uma chamada e de um destino elevados evocam no salmista a frase de louvor final e exuberante do verso 9.‖ (DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia. pág. 769)

O escritor de Hebreus no texto de Hb 2:9 também baseouse na LXX, já que escreveu para os judeus helenísticos, que conheciam mais o grego do que o hebraico. O autor diz:

Revista e Atualizada ―vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem.‖ (Hb 2:9)

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Revista e Corrigida ―vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.‖ (Hb 2:9)

O texto de Hebreus não está dizendo que Jesus é uma criatura (um ser criado), mas que para poder morrer na cruz, ―por causa da paixão da morte‖, ―por causa do sofrimento da morte‖, Ele nasceu em forma de homem e, portanto, como homem foi feito menor que os anjos. Mas, menor em que sentido? Ora, se o homem comum foi coroado de ―glória e de honra‖, quanto mais Jesus Cristo ao se fazer homem, e dando a própria vida por amor ao homem. Considero muito importante atentarmos especialmente para dois versículos de Hb 2. Vejamos: ―vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem.‖ (Hb 2:9) ―Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo‖ (Hb 2:14)

Já que o texto de Salmos nos diz que o homem foi feito ―menor do que Deus‖ e que a este homem Deus coroou de ―honra e glória‖. O mesmo se pode dizer da natureza humana de Jesus Cristo. Observe bem: ―natureza humana‖. Como homem, Jesus passou a sangrar (Jo 19:34), suar (Lc 22:44), sentir dor física (Mt 27:26), sentir fome (Mt 4:2), sentir sede (Jo 19:28), sentir

sono (Mt 8:24) etc. Por esta razão, Ele tornou-se menor do que Deus, menor que os anjos, já que o Pai celestial, e os anjos, não sangram, não suam, não sentem dor física, não sentem fome, não sentem sede nem sentem sono. Como homem, porém perfeito, Jesus Cristo venceu a morte. Jesus Cristo tornou-se menor do que o Pai por não ter, temporariamente, a glória que o Pai tem. Entretanto, continuou com os atributos Divinos em Sua natureza. Observe que o próprio Jesus disse: ―e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.‖ (Jo 17:5 – RA) ―E, agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.‖ (Jo 17:5 – RC)

Portanto, Jesus foi feito menor por estar, temporariamente, sem a glória que tinha com o Pai. Por isso, não é correto afirmar que Jesus perdeu Sua divindade enquanto encarnado. A Kenosis, doutrina do esvaziamento de Cristo, afirma que Ele esvaziou-se da Glória, mas não da Divindade. É importante observar que Hb 2:14 diz que Jesus se fez carne, pois ―teve participação comum de carne de sangue‖, e que este foi o propósito principal de Cristo ao assumir essa condição inferior, a de incapacitar, quebrar o poder e tornar inoperante o Diabo e suas obras. Ainda, apesar de uma certa semelhança, enquanto o texto de Sl 8:5 fala sobre o homem, o texto de Hb 2:9 fala de Jesus. Por último, tenho observado há alguns anos que sempre que alguns estudantes da Bíblia se deparam com

passagens mais difíceis de se entender sempre têm buscado refúgio na seguinte afirmação: ―foi erro de tradução‖. Em muitos casos, esse tipo de afirmação é tendenciosa, e pode levar à outras conclusões. Considero perigoso seguir por esse caminho. Entendo, todavia, que existem palavras que não foram bem traduzidas em algumas versões da Bíblia, como Leviathan, que não é um crocodilo, e Behemoth, que não é um hipopótamo (Jó 40 e 41), mas não podemos sempre afirmar isso em primeira instância. Como pudemos ver, não existe má tradução nesse caso, já que a palavra pode ser traduzida das duas formas. O que houve foi uma má interpretação, na tentativa de associar Salmos e Hebreus para dar a entender que Jesus, em Sua natureza, é menor que Deus ou que os anjos. Assim, poderíamos finalizar dizendo que Jesus ‗foi‘ menor que o Pai e os anjos enquanto homem, e apenas em Sua natureza humana. Nunca em Sua natureza Divina. Vemos em Colossenses 1:19 e 2:9 que Jesus possui todos os atributos que o Pai. Assim, Jesus torna-se menor fisicamente, mas não espiritualmente. Considero de muita importância atentar para o significado dos termos ―Filho do homem‖ e ―Filho de Deus‖, quando aplicados a Jesus, pois mostram Sua natureza humana e sua natureza Divina, respectivamente.

Espero ter podido ajudar. Que Deus te abençoe rica e abundantemente. Prof. Robson T. Fernandes

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Curso de Apologética Básico e Extendido História Apologética do Antigo Testamento História Apologética do Novo Testamento História das Religiões Mundiais Teologia Apologética I Teologia Apologética II Teologia Apologética III Apologética Heresiologia Fé e Ciência Hermenêutica Exegese Apologética I Exegese Apologética II

Duração: 01 ano 08 disciplinas 02 aulas por semana

Duração: 01 ano 12 disciplinas 03 aulas por semana

Igreja Cristã Nova Vida Campina Grande – PB Rua Vigário Calixto, 1555 - Catolé

Duração: 01 ano 04 disciplinas 01 aula por semana 10

John Stott Movido pela perfeição do seu santo amor, Deus em Cristo substituiu-se por nós, pecadores. É esse o coração da cruz de Cristo. Ele nos leva agora a nos voltarmos do acontecimento para as suas conseqüências, do que aconteceu na cruz para o que ela alcançou. Por que tomou Deus o nosso lugar e levou o nosso pecado? O que realizou ele com seu auto-sacrifício e sua auto-substituição?

__________________ “Movido pela perfeição do seu santo amor, Deus em Cristo substituiu-se por nós, pecadores. É esse o coração da cruz de Cristo.” __________________ O Novo Testamento dá três respostas principais a essas perguntas, as quais podemos resumir com as palavras "salvação", "revelação" e "conquista". O que Deus fez em Cristo por meio da cruz é salvarnos, revelar-se a si mesmo e vencer o mal. Neste capítulo enfocaremos a salvação mediante a cruz. Seria difícil exagerar a magnitude das mudanças ocorridas como resultado da cruz, tanto em Deus quanto em nós, especialmente nos tratos de Deus conosco e em nosso relacionamento com ele. Verdadeiramente, quando Cristo morreu e ressurgiu dentre os mortos, raiou um novo dia, teve

início uma nova era. Esse novo dia é o "dia da salvação" (2 Coríntios 6:12), e as bênçãos "de tão grande salvação" (Hebreus 2:3) são tão ricamente diversas que não podemos defini-las adequadamente. Seriam necessários muitos quadros para retratá-las. Assim como a igreja de Cristo é apresentada na Escritura como a sua noiva e o seu corpo, como as ovelhas do seu rebanho e os ramos da sua videira, como a sua nova humanidade, sua casa ou família, como templo do Espírito Santo e pilar e fortaleza da verdade, da mesma forma a salvação de Cristo é ilustrada através da vivida imagem de termos como "propiciação", "redenção", "justificação" e "reconciliação", os quais se constituem o tema deste capítulo. Além do mais, apesar de as imagens da igreja serem visualmente incompatíveis (não podemos perceber o corpo e a noiva de Cristo ao mesmo tempo), contudo, por trás de todas encontra-se a verdade de que Deus está chamando um povo para si mesmo, assim também apesar de as imagens da salvação serem incompatíveis (justificação e redenção conjuram respectivamente mundos diversos da lei e do comércio), contudo, por trás de todas encontra-se a verdade de que Deus em Cristo levou o nosso pecado e morreu a nossa morte a fim de nos libertar do pecado e da morte. Tais imagens são auxílios indispensáveis à compreensão humana dessa doutrina. E o que transmitem, por serem dadas por Deus, é verdadeiro. Entretanto, não devemos deduzir dessa

afirmativa que compreender as imagens é esgotar o significado da doutrina. Pois além das imagens da expiação jaz o seu mistério, as profundas maravilhas que, penso eu, haveremos de explorar por toda a eternidade. Acho que o termo "imagens" da salvação (ou da expiação) é melhor que "teorias" da salvação. Pois teorias em geral são conceitos abstratos e especulativos, ao passo que as imagens bíblicas da obra da expiação de Cristo são quadros concretos, e pertencem aos dados da revelação. Não são explicações alternativas da cruz, que nos provêem uma variação da qual escolhermos, mas complementares, cada uma contribuindo com uma parte vital ao todo. Quanto às imagens, a "propiciação" nos introduz aos rituais de um sacrário, a "redenção" às transações do mercado, a "justificação" aos procedimentos de um tribunal de lei, e a "reconciliação" às experiências de casa ou familiares. Meu argumento é que a "substituição" não é uma "teoria" ou "imagem" que deva ser colocada ao lado das outras, mas, pelo contrário, o fundamento de todas elas, sem o qual perdem a força de convencer. Se Deus em Cristo não tivesse morrido em nosso lugar, não poderia haver propiciação, nem redenção, nem justificação, nem reconciliação. Além do mais, todas as imagens têm início no Antigo Testamento, mas são elaboradas e enriquecidas no Novo, particularmente ao serem diretamente relacionadas a Cristo e à sua cruz. Trecho do Livro: A cruz de Cristo de John Stott. Editora Vida. págs. 72,73.

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Graça e paz! amigo irmão, Minha dúvida é acerca do censo feito em Israel por Davi: em um texto fala de 1.100 mil homens + 470 mil em Judá. Já em outro fala de 800 mil + 500 mil em Judá. Como se explica isso? Seu irmão, J.A. Graça e Paz J.A., Obrigado pelo seu e-mail. Em primeiro lugar, vejamos os textos: ―Deu Joabe ao rei o recenseamento do povo: havia em Israel oitocentos mil homens de guerra, que puxavam da espada; e em Judá eram quinhentos mil.‖ (2Sm 24:9) ―Deu Joabe a Davi o recenseamento do povo; havia em Israel um milhão e cem mil homens que puxavam da espada; e em Judá eram quatrocentos e setenta mil homens que puxavam da espada.‖ (1Cr 21:5)

Em segundo lugar, precisamos observar um dado importante citado no texto. Vejamos: ―Porém os de Levi e Benjamim não foram contados entre eles, porque a ordem do rei foi abominável a Joabe‖ (1Cr 21:6)

Aqui entendemos que na contagem apresentada no texto de 1 Crônicas não são contabilizadas as tribos de Levi

e Benjamim. No texto de 1Cr 27:1-15 encontramos o número de 288.000 soldados + 12.000 que tinham sido designados para Jerusalém, segundo o texto de 2Cr 1:14, o que totaliza os 300.000 que ―faltam‖ no texto de 1Cr 21:5. Em resumo, Samuel apresenta o número do recenseamento sem os 288.000 e os 12.000 citados anteriormente, enquanto que 1Crônicas faz a contagem contabilizando os 288.000 mais os 12.000. Vejamos as contas: 800.000 (2Sm 24:9) + 288.000 (2Cr 1:14) + 12.000 (1Cr 21:5) = 1.100.000 (1Cr 21:5) Em terceiro lugar, 1Cr 21:5 cita os 470.000 sem contabilizar os 30.000 do exército efetivo de Judá (2Sm 6:1). Sendo assim, vamos as contas: 470.000 (1Cr 21:5) + 30.000 (2Sm 6:1) = 500.000 (2Sm 24:9) Assim sendo, não existe nenhuma contradição no texto,

mas apenas algumas ―guarnições‖ que não foram citadas por motivos específicos. Quais foram esses motivos? 2Sm 24:9 diz que os 800.000 eram ―homens de guerra‖ e os 500.000 estavam em Judá. Ora, o termo ―homens de guerra‖ se referia a todo aquele que estava apto para a guerra, ou seja, poderia ser empregado no combate rápida e prontamente, o que não era o caso dos 288.000 que tinham a incumbência de servir ―ao rei em todos os negócios‖ (1Cr 27:1), e os 12.000 que tinham a incumbência de guardar Jerusalém, não de ir para a guerra. Esses homens poderiam ir para a guerra? Sim, mas em último caso, porque era preciso uma guarnição para cuidar de Jerusalém, para que ela não ficasse desguarnecida (12.000) e tropas para cuidar do rei e cumprir as tarefas por ele designada, enquanto os outros,

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800.000, estavam em combate. Já imaginou se todos fossem para a guerra? As cidades e o rei ficariam sem proteção. Ainda, 2Sm 24:9 é específico ao afirmar que em ―Judá eram quinhentos mil‖. Ora, 1Cr 21:5 diz que em Judá ―eram quatrocentos e setenta mil homens que puxavam da espada‖, ou seja, homens comuns, cidadãos, que estavam aptos a ir para a guerra. Além dos cidadãos, haviam mais 30.000 que faziam parte do exército regular, que estavam baseados em Judá. Portanto, quando 2Sm 24:9 diz que em ―Judá eram quinhentos mil‖, está apresentando a soma total de homens, em Judá, que ―puxavam da espada‖. Vejamos, por fim, dois comentários bíblicos a respeito: Esta discrepância decorre do fato de quem se incluía em cada relato. No registro de 2 Samuel, o número de homens valorosos que puxavam da espada era 800.000, mas este número não incluía o exército permanente de 288.000 descrito em 1 Crônicas 27:1-15, nem os 12.000 que tinham sido especificamente destacados para Jerusalém, referidos em 2 Crônicas 1:14. Incluindo-se estas parcelas, chega-se ao total de 1.100.000 homens valorosos, que constituíam o exército total de homens em Israel. O número de 470.000 citado em 1 Crônicas 21 não incluía 30.000 homens do exército permanente de Judá mencionado em 2 Samuel 6:1. Isso é evidente pelo fato de que o autor de Crônicas menciona que Joabe não tinha completado a contagem dos homens de Judá (1 Cr 21:6). Assim, todos os números estão corretos, de acordo com os grupos que foram neles incluídos ou deles excluídos em cada relatório.

(GEISLER, Norman & HOWE, Thomas. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e "Contradições" da Bíblia. pág. 115) e) O censo e a praga (2Sm 24.1-25) 1. DAVI FAZ O RECENSEAMENTO DA POPULAÇÃO (2Sm 24.1-9). Segundo parece a nação ofendera já muito a Deus (1) e o pecado de Davi, ao contar o povo, torna-se o pretexto para uma punição geral. Deus, para provar o caráter de Davi, permite que este seja tentado. De acordo com 1Cr 21.1 "Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar Israel". O recenseamento levado a cabo por Davi tinha por motivo o orgulho e o desejo de grandeza. Davi insistiu em contar o povo apesar dos solenes avisos de Joabe e do conselho dos seus oficiais. A atitude de Joabe conta muito a seu favor (3, Cf. 1Cr 21.3). Demonstra as excelentes qualidades que possuía se bem que estas fossem largamente anuladas pela sua ambição, crueldade e espírito dominador. Joabe e os seus homens cumpriram fielmente as ordens que o rei insistia em dar-lhes contra o seu bom aviso (4). Dentro de nove meses e vinte dias (8) voltaram a Jerusalém com o resultado do censo: Israel possuía 800.000 homens capazes de prestar serviço militar e Judá 500.000. Os resultados diferem dos apresentados em 1Cr 21.5, segundo os quais Israel possuiria 300.000 a mais e Judá 30.000 a menos. Muitos comentadores explicam a diferença atribuindo-as simplesmente a erro do texto ou da tradição oral. Muitas podem ser as explicações das discrepâncias, entre as quais as seguintes: 1. podem ter-se feito duas contagens, uma para as

listas particulares das várias comunidades que se mencionam em Crônicas, e a outra para os registros públicos; 2. 2Sm 24.9 pode não incluir as tribos de Benjamim e Levi, tribos que seriam incluídas em 1Cr 21.5; 1Cr 3. Crônicas pode incluir os homens não israelitas das dez tribos; 4. o exército regular de 288.000 homens (1Cr 27.1-15) pode incluir-se no número dado em 1Cr para Israel e excluir-se em 2Sm; e os 30.000 homens comandados pelos trinta heróis (1Cr 11.25) podem estar incluídos em Judá, segundo Samuel, mas excluídos em 1Cr 21.5. Trata-se, evidentemente, de conjecturas; mas conjecturas úteis na medida em que nos mostram que é possível explicar a discrepância sem pôr em dúvida a correção dos números. Têmse levantado objeções quanto ao número de homens em idade de prestar serviço militar, argumentando-se implicar ele uma população de pelo menos seis milhões de habitantes, número que se julga excessivo para um pequeno país como a Palestina. Considerada, contudo, a grande fertilidade da terra, o número é aceitável; disso são prova as inumeráveis ruínas de cidades e vilas ainda existentes. (DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia. págs. 509-510)

Espero ter podido ajudar.

Que Deus te abençoe rica e abundantemente.

Prof. Robson T. Fernandes.

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Revista CALEBE – Setembro de 2009

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Carlos Osvaldo Pinto “Seja o indivíduo, seja a nação, os dois primeiros salmos enfatizam a futilidade de existência independente de Deus” Os salmos 1 e 2 formam uma introdução apropriada para o livro de Salmos. Uma vez que o livro como um todo se preocupa com os conflitos existenciais do homem, não é de admirar que o Espírito Santo propusesse, em seu início, as duas únicas maneiras pelas quais o indivíduo pode fazer frente às perplexidades da vida. Ambos poemas tratam de revolta contra Deus e da devoção que Lhe é devida; em ambos transparece o tema da justiça retributiva de Deus e da futilidade da existência humana independente dEle. A bem-aventurança com que se inicia o primeiro, encerra o segundo.

__________________

“Deus é soberano, longânimo para com o homem, justo em sua avaliação e retribuição da rebeldia humana.” __________________ No salmo 1 as duas maneiras de encarar a vida aparecem num plano individual, contrastando o homem que pauta sua vida pela Lei do Senhor com aquele que O despreza. No salmo 2, as duas maneiras são projetadas nacionalmente, em termos da

submissão dos povos ao justo governo de Deus através do Seu Ungido. O inter-relacionamento dos dois primeiros salmos, portanto, não parece ser mera coincidência. É claro que o editor final do saltério quis comunicar através deles um referencial para a vida feliz: a submissão a Deus, quer mediante a absorção pessoal de Sua vontade revelada nas Escrituras, quer pela obediência voluntária ao reino teocrático estabelecido por Ele, produzirá uma vida de realização pessoal que só pode ser expressa pela expressão hebraica áshrê, que sugere uma alegria vinda do próprio céu. Fruto ou Palha? O salmo 1 nos apresenta a avaliação divina de dois tipos de homens. O primeiro rejeita o mal e concentra seus pensamentos e imaginação na aplicação pessoal da Lei de Deus; o segundo não o faz, identificando-se com os que rejeitam a companhia e o controle de Deus em sua vida. A avaliação certamente é sugestiva: o primeiro é comparado a uma árvore frutífera, bem suprida em suas necessidades de alimento e capacitada para atingir o pleno potencial a ela designado por Deus (a

palavra hebraica usada para descrever este tipo de homem indica algo ou alguém que é fiel a um padrão, que é como deve ser!). O segundo, aos olhos de Deus, é inútil como a palha do trigo, que na Palestina antiga era lançada aos ares do alto dos morros e levada, sem direção, pelo vento. Que contraste! O fim de suas vidas também assinala profundo contraste; com o segundo, Deus não se envolve em amor, em autorevelação, mas em castigo, trazendo a destruição de todos os sonhos, filosofias e expectativas que constituem o caminho dos ímpios. Já com o primeiro, há um envolvimento e aprovação especiais, expressos na palavra conhecer (cf. 2 Timóteo 2.19). O indivíduo realizado é aquele que renuncia às concepções humanistas dos desligados de Deus, à conduta dos desviados de Deus e à companhia dos desprezadores de Deus. Embora tal renúncia nos possibilite investir energias e dedicar tempo à busca e à prática da vontade de Deus, obtendo assim nossa realização, traz também a inimizade e hostilidade do ímpio, como o restante do livro de Salmos deixa entrever e como afirmou o Senhor Jesus (Mateus 5.10; 7.13-14) e o apóstolo Paulo

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(2 Timóteo 3.12).

__________________ “O indivíduo realizado é aquele que renuncia às concepções humanistas dos desligados de Deus, à conduta dos desviados de Deus e à companhia dos desprezadores de Deus.” __________________ Do indivíduo para a nação As quatro cenas apresentadas no salmo 2 têm sido fonte de perplexidade para muitos comentaristas. Um salmo cuja estrutura é tão elaborada não poderia ser um acidente literário. Há nele a intenção de projetar a rebeldia humana do coração do indivíduo para a vida das nações. Escrito e utilizado tendo em vista a coroação dos descendentes de Davi como regentes de Yahweh, o Supremo Rei, este salmo vai além do ungido humano para nos mostrar o Ungido divino (cf. Atos 13.33), em quem as "fiéis promessas feitas a Davi" terão cumprimento total. Deus é soberano, longânimo para com o homem, justo em sua avaliação e retribuição da rebeldia humana. Seu plano eterno é intervir na História de modo a demonstrar definitivamente não apenas a fragilidade do homem e quão hediondo é o pecado, mas também que a essência da realização e felicidade para a raça humana está na submissão

voluntária ao senhorio do Messias. Pela perspectiva divina, este nosso mundo só será radicalmente transformado em sua estrutura pela intervenção pessoal do Messias Divino. Esforços libertários, sejam eles ideológicos ou teológicos, de direita, esquerda ou centro, não produzirão a Utopia esperada. O fato de vivermos nos últimos tempos deve nos levar ao equilíbrio que evita a passividade diante do crescimento brutal da injustiça humana e evita também um ativismo antropocêntrico onde queremos tirar das mãos de Deus as rédeas do mundo.

__________________ “No salmo 1 as duas maneiras de encarar a vida aparecem num plano individual, contrastando o homem que pauta sua vida pela Lei do Senhor com aquele que O despreza” __________________ Nossa missão é, ainda hoje, a de convidar homens a se submeterem ao senhorio de Deus mediante a fé em Cristo, nosso divino Messias, morto por nossos pecados e ressureto ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Nele há bem-aventurança – alegria celestial – para todos, a despeito de sua condição política, intelectual ou sócioeconômica.

__________________ “No salmo 2, as duas maneiras são projetadas nacionalmente, em termos da submissão dos povos ao justo governo de Deus através do Seu Ungido.” __________________ Carlos Osvaldo Cardoso Pinto, carioca de nascimento e paulista de ministério. Casado com Artemis, pai de Lailah (sogro de Marcos), Yerusha e Tirzah. Graduado pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida (Bacharel em Teologia) e pelo Seminário Teológico de Dallas (Th.M. e Ph.D.), serve a Igreja Brasileira há 25 anos no SBPV e por meio de conferências e material impresso. Tem três livros publicados pela Edições Vida Nova. Gosta de ler, cozinhar, nadar e qualquer esporte com bola.

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Ricardo Quadros Gôuvea Revista CALEBE - Agosto de 2009

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Introdução Em 1925, o lendário pensador cristão inglês G. K. Chesterton (1) afirmou que, se não houvesse sido pelo surgimento e fortalecimento da igreja cristã, a Europa teria continuado pagã, a civilização ocidental não teria jamais existido na forma como a conhecemos, e, culturalmente, "a Europa seria hoje muito parecida com a Ásia." (2) Chesterton sugeriu ainda que, se o paganismo clássico houvesse se prolongado até hoje [no ocidente]... haveria ainda pitagóricos ensinando reencarnação, assim como ainda há hinduístas ensinando reencarnação na Ásia. Haveria ainda estóicos criando uma religião a partir da razão e da virtude, assim como ainda há confucionistas na Ásia criando uma religião a partir da razão e da virtude. Haveria ainda neoplatonistas estudando verdades transcendentes cujo sentido seria misterioso para as outras pessoas e disputado até mesmo entre eles, assim como ainda há budistas na Ásia estudando um transcendentalismo misterioso para os outros e disputado até mesmo entre eles. Haveria ainda apolonianos inteligentes aparentemente adorando o deus-sol mas explicando que na verdade eles adoram o princípio divino, assim como ainda há na Ásia zoroastrianos aparentemente adorando o sol mas explicando que estão adorando a divindade. Haveria ainda dionisíacos dançando selvagemente nas montanhas, assim como ainda há na Ásia derviches dançando selvagemente no deserto. Haveria ainda multidões indo às festas dos deuses... e haveria muitos deuses para serem adorados, como há na Ásia, ainda pagã... Haveria ainda sacrifícios humanos secretos a Moloque, assim como ainda há na Ásia sacrifícios humanos secretos à deusa Kali. Haveria

ainda muita feitiçaria, e boa parte dessa feitiçaria seria magia negra. Haveria ainda muita admiração por Sêneca, e muita imitação de Nero, assim como na Ásia os elevados epigramas de Confúcio coexistiram com as torturas chinesas. (3) Talvez Chesterton nunca tenha chegado a perceber que suas palavras eram proféticas. A civilização ocidental há muito já caminhava a passos largos para um quadro impressionantemente semelhante ao pintado por ele, um quadro que hoje é a reprodução fiel da religiosidade moderna. O que Chesterton não previu foi que o chamado neopaganismo teria características muito piores que as do antigo paganismo — a cosmovisão religiosa da antigüidade que havia sido posta de lado com o surgimento da igreja e a conversão da Europa ao cristianismo. A casa foi varrida, mas, como nas palavras de Cristo relatadas por Mateus, o último estado tornou-se pior do que o primeiro (Mt 12.43-45). I. Ascensão e Queda do neopaganismo (e algumas questões metodológicas) Uma das principais características da chamada Era Moderna (sécs.16–20) foi o surgimento do neo-paganismo, cuja decadência estamos hoje assistindo naquilo que tem-se chamado de "Nova Era". Esse "movimento" religioso não é, portanto, genuinamente novo, e nem é na verdade um movimento, e, acima de tudo, não é de fato pós-moderno, como alguns têm sugerido. O pós-modernismo implica em ir além do beco sem saída da modernidade e inclusive da típica religiosidade moderna.. (4) A chamada Nova Era pode ser tudo menos pós-moderna. Pelo contrário, ela é moderníssima. Mas, nesta fase de transição em que estamos

vivendo, ela representa o modernismo não no seu apogeu, mas sim na sua mais completa decadência. (5) O neo-paganismo não é novidade. Trata-se, para começo de conversa, da recuperação e apropriação da mentalidade religiosa da antigüidade pré-cristã. Como ironicamente sugeriu Chesterton, "trata-se de uma profunda verdade que o mundo antigo era mais moderno que o mundo cristão." (6) Isto é, a Idade Moderna está mais próxima do paganismo que do cristianismo. Além disso, o neopaganismo não é novo porque esta recuperação e apropriação tiveram início há seis séculos atrás, no princípio da chamada Idade Moderna. Os primeiros a estarem envolvidos nesse processo de reapropriação do paganismo foram os humanistas dos séculos XV e XVI. Numa atividade genuinamente arqueológica, esses pensadores e filólogos dedicaram suas vidas à recuperação da literatura e cultura da antigüidade grecoromana. (7) Essa atividade não é condenável per se.. Porém, uma vez levada a cabo, permitiu a reapropriação da mentalidade pagã por parte dos eruditos europeus da época que sentiam-se insatisfeitos com o cristianismo e a religiosidade que lhes era oferecida. Em parte, essa insatisfação é compreensível, uma vez que a igreja da época vivia talvez a maior crise espiritual de sua história. Mas nem todos os humanistas sentiram-se atraídos pela religiosidade pagã. Muitos consideraram mais sensato lutar por uma reforma eclesiástica e ansiar por um avivamento espiritual. Tanto o avivamento quanto a reforma vieram por fim a acontecer, fruto, em grande parte, do esforço desses mesmos pioneiros humanistas. Nesse sentido, os líderes da Reforma Protestante também eram humanistas, sem deixarem de ser cristãos. (8) A verdade,

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porém, é que a semente do neopaganismo foi igualmente lançada nos campos da intelectualidade européia, e os primeiros frutos maduros dessa semeadura foram colhidos nos séculos subseqüentes, dando por fim início ao movimento intelectual conhecido pelo nome de Iluminismo. O Iluminismo do século XVIII representou o estabelecimento definitivo do neo-paganismo como o ideal intelectual por excelência da modernidade. (9) Todos os mais importantes pensadores iluministas ou rejeitaram o cristianismo por completo, trocando-o por uma mentalidade religiosa pagã (Diderot, D‘Holbach, Hume), ou procuraram adaptar a fé cristã às concepções helenistas recém-recuperadas e assimiladas, produzindo heterodoxias gritantes como o deísmo (John Locke, John Toland, Voltaire, La Metrie ) e a teologia kantiana. (10) A maçonaria é outra aberração neo-pagã que teve origem no iluminismo francês. Tanto os teóricos da Revolução Francesa quanto os "Pais" federalistas americanos, teóricos da Revolução Americana, estavam alicerçados na filosofia iluminista e no neo-paganismo. O Modernismo havia chegado ao seu apogeu. Os séculos subseqüentes, XIX e XX, assistiriam a partir de então ao lento declínio da modernidade (o marxismo e o existencialismo marcam, por exemplo, e de formas diferentes, esse declíno). Entretanto, nunca o declínio do neo-paganismo esteve tão evidente quanto agora, em que ele se manifesta em suas formas mais cruas e vulgares, nos diferentes componentes desse conglomerado de noções religiosas pagãs que chamamos de Nova Era. Cabe-nos, portanto, enquanto pensadores cristãos, compreender a natureza do neo-paganismo, um aspecto importante da história

da teologia moderna, e também da realidade diária destes tempos de transição em que estamos vivendo. A Nova Era é, sem dúvida, um fenômeno cultural, mas não é propriamente uma religião, uma nova organização religiosa; não possui líderes explícitos, membros, estrutura hierárquica, estatutos, confissão de fé, etc. Diferentemente do que muitos livros evangélicos populares querem nos fazer crer, a Nova Era não é tampouco uma conspiração secreta. (11) Este tipo de sensacionalismo evangélico patrocinado pela liderança de nossas igrejas, estimulado por outra falácia teológica chamada "batalha espiritual", possui um grave efeito nocivo. (12) Nós, cristãos, passamos a lutar contra um inimigo inexistente, um fantasma, uma ficção da nossa imaginação, em vez de enfrentarmos a verdadeira horda que nos cerca. A miscelânia chamada Nova Era é composta de manifestações neo-pagãs diferentes umas das outras, que vão desde popularizações de religiões orientais como o hinduísmo, o budismo e o taoísmo, até as mais crassas superstições pagãs como astrologia, o poder curativo dos cristais, adivinhações e necromancia. Nós, brasileiros, muito antes de importarmos dos Estados Unidos o conceito de Nova Era, já estávamos há muito tempo acostumados com as formas mais decadentes da religiosidade moderna, pois o espiritismo é um excelente exemplo de neo-paganismo. Do ponto de vista apologético, cada uma dessas manifestações neopagãs deve ser combatida e derrotada individualmente, e não como uma amálgama informe e uma abstração, como freqüentemente tem acontecido. Isso não significa, por outro lado, que o fenômeno não possa ser analisado do ponto de vista antropológico, filosófico ou teológico. Sem dúvida, cabe-nos

buscar compreender o neopaganismo em termos genéricos. Isso não é contraditório, pois esta análise não tem por objetivo a mistura e a confusão das diferentes manifestações neo-pagãs sob um mesmo rótulo e o subseqüente confronto apologético com esta quimera, este monstro de Frankenstein, composto de partes juntadas de diferentes corpos e origens. Essa "arqueologia epistemológica" (13) implica em descobrir as pressuposições fundamentais do fenômeno, e produzir dessa maneira um arsenal de noções filosóficas e teológicas que possam de fato auxiliar no combate específico e individual dessas diferentes expressões religiosas neopagãs. (14) II. O Paganismo, o NeoPaganismo e a Fé Cristã: Esboço de um Estudo Comparativo A religiosidade pagã nada mais é que o espírito humano submetido à força da gravidade, isto é, limitado a um estado de mínima resistência. Em outra palavras, é a religiosidade humana no seu estado natural, sofrendo a pressão e o impacto da Queda em toda a sua inteireza. (15) O termo "paganismo" vem da palavra latina pagani que significa "camponeses" ou "gente do campo, do interior". O termo pagani ganhou a conotação atual porque esses camponeses foram os últimos a se converterem ao cristianismo após sua instituição no século IV como religião oficial do Império Romano, e os últimos a abandonarem as crenças e práticas da religiosidade grecoromana. (16) É curioso notar que, inversamente, o neopaganismo teve origem nas cidades, e até hoje é nos grandes centros urbanos e nos países mais desenvolvidos que o mesmo encontra maior aceitação e menos resistência.

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É um erro pensar que o paganismo é uma grande tolice, que nada tem de aproveitável (ainda que o decadente neopaganismo às vezes nos deixe essa impressão). Chesterton resume brilhantemente a história espiritual da humanidade em uma de suas frases mais famosas: "O paganismo era a melhor coisa que havia no mundo; e a fé cristã surgiu, e era melhor ainda. E tudo o mais depois disso tem sido comparativamente pior e pequeno." (17) Como sugere Rist, (18) Agostinho, assim como muitos outros intelectuais convertidos ao cristianismo nos primeiros séculos da era cristã, "viu sua conversão não tanto como uma substituição mas como uma expansão e um enriquecimento de suas posições anteriores." (19) Há pelo menos três elementos no paganismo pré-cristão que o fazem respeitável: (i) um senso de piedade, (ii) uma moralidade objetiva e absoluta, e (iii) um senso de transcendência, de percepção do divino e de respeito em face do misterioso. (20) O cristianismo resgatou o que o paganismo possuía de melhor à luz da revelação divina, num lento processo que teve início no primeiro século e seguiu-se até o fim da Idade Média. (21) No neo-paganismo do nosso tempo esses elementos desapareceram, e o que sobra é o invólucro, a superfície, a superstição vazia e irracional. O neo-paganismo é, portanto, não somente um anticristianismo mas também um anti-paganismo, por incrível que pareça. Analisemos cada um destes elementos isoladamente. A. Piedade O senso de piedade (latim pietas) a que estamos nos referindo refere-se ao instinto religioso natural de respeito a algo maior que o ser humano. Isto implica na humildade de se reconhecer como parte subordinada do grande

processo e esquema universal. Vemos o reflexo dessa mentalidade no neo-paganismo na adoção do chamado modelo newtoniano. (22) O resultado disso no paganismo da antigüidade era uma religiosidade em que a palavra de ordem era moderação (grego sophrosyne), (23) expressa na frase "nada em demasia" inscrita em todos os templos de Apolo, junto ao famoso "conhece-te a ti mesmo" (24) (o mesmo sentimento aparece na expressão aristotélica in medio virtus). (25) As religiões pagãs da Ásia na sua maioria ainda mantém esta tradição de reverência, de reticência e de moderação. A civilização ocidental não pratica nem compreende essa reverência e o neo-paganismo, portanto, difere do seu ancestral neste importante aspecto. Ao contrário, o neo-paganismo diviniza o homem, é a religião do homem como o novo deus, pregando "o valor infinito do ser humano" e "a autonomia do pensamento crítico." (26) O neopaganismo confunde-se, portanto, com o humanismo contemporâneo, o qual se transformou em uma quasereligiã o. (27) No movimento da Nova Era, que se trata do neopaganismo em avançado estado de putrefação, o humanismo se manifesta de forma mais crassa, como, por exemplo, no fato de que quase todas as práticas, terapias e crenças da Nova Era são voltadas para o bem-estar do ser humano, para o seu aperfeiçoamento, para o seu conforto e prazer. Além disso, há o pressuposto implícito em todas as diferentes manifestações neo-pagãs de que o ser humano é capaz de resolver os seus problemas espirituais por si mesmo, através de exercícios, meditação ou utilização "racional" (ou irracional) de objetos naturais como plantas e cristais. É evidente que um retorno

mais fiel ao paganismo da antigüidade não seria a solução para a busca religiosa do ser humano moderno, e muito menos do ser humano pósmoderno. Apenas a fé cristã possui aquilo que o ser humano necessita e busca. A piedade cristã não é somente superior à piedade pagã (piedade esta que, como dissemos, o neopaganismo não possui), mas é uma piedade qualitativamente diferente. Um aspecto fundamental da piedade cristã está em reconhecer-se como criatura diante do Criador. Qualquer piedade que torne opaca a distinção entre o Criador e as criaturas é inerentemente incompatível com a piedade cristã. Como afirmou Chesterton, a natureza não é minha mãe; na verdade, ela é minha irmã, como dizia Francisco de Assis. Mais importante que isso é o fato de que a piedade cristã assume como pressuposto a verdade teológica do pecado original. O ser humano não é apenas um ser corrompido até o mais profundo do seu ser, mas é também corrompido em todos os aspectos do seu ser, inclusive sua razão, que sofre os chamados efeitos noéticos do pecado. Nossa razão não é confiável, somos constantemente condicionados pelos impulsos recebidos do meio em que vivemos, e somos igualmente impulsionados por instintos inconscientes sobre os quais não temos qualquer controle. Mas a diferença crucial e primordial entre a piedade cristã e a piedade pagã está na certeza cristã de que não há nada que um ser humano possa fazer para obter o favor divino. A piedade pagã tem como elemento fundamental o esforço humano para obter o favor divino por meio de sacrifícios, rituais e promessas.. Infelizmente muitos cristãos deixam-se iludir pela mentalidade pagã que continua influenciando a igreja, levando

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muitos a abraçar uma cosmovisão pagã, ainda que sob o disfarce de elementos cristãos. A piedade cristã tem, como ponto de partida, o renderse diante da soberania divina, o tornar-se receptáculo da graça divina imerecidamente outorgada àqueles que humildemente se aproximam de Deus em um ato de arrependimento pelo pecado, contrição sincera e confiança no perdão divino. B. Moralidade O que chamamos, a seguir, de moralidade objetiva e absoluta, refere-se ao fato de que os antigos pagãos que levavam a sério o seu paganismo insistiam na existência de leis morais inquestionáveis, inegociáveis e permanentes. Essas leis morais eram vistas como naturais, evidentes na natureza das coisas, descobertas e não criadas pelo homem. O neopaganismo procurou resgatar essa moralidade racionalista pagã, levá-la às últimas conseqüências e adaptá-la à realidade da vida moderna. Esse extremo racionalismo acabou se revertendo em um irracionalismo, e por fim tornouse relativista, subjetivista e pragmático, chegando-se lentamente à conclusão de que o ser humano cria suas próprias leis morais, e que estas variam conforme o tempo e a cultura. Os valores morais de um indivíduo não podem ser considerados errados, pois não existe um padrão ou norma absolutos que determinem o certo e o errado em questões éticas. A grande imoralidade do ponto de vista neo-pagão é justamente dizer que algo é moralmente errado.. O grande erro é dizer que algum tipo de comportamento é errado. O único absoluto é que não há absolutos. A única coisa que deve levar alguém a sentir-se culpado é essa mesma pessoa sentir-se culpada por algo.

Este relativismo moral de hoje em dia é o correspondente moderno do politeísmo da antigüidade. O que está verdadeiramente por trás dessa grande variedade de moralidades, de bens morais, é uma enorme variedade de deuses modernos: o sucesso, a felicidade, o sexo, o dinheiro e o progresso, por exemplo. O neopaganismo é, portanto, não apenas uma forma de humanismo (de divinização do ser humano), mas também uma forma de politeísmo idólatra em que cada ser humano torna-se um deus, um absoluto sagrado, transmissor em vez de receptor da lei moral. (28) Mas isso não significa que um retorno à moralidade précristã é a resposta.. Essa aliás, tem sido a proposta da filosofia moderna racionalista no últimos trezentos anos. (29) A ética cristã compartilha da objetividade e da absolutividade características da ética pagã (que o neo-paganismo não possui), mas as semelhanças terminam aí. É bem verdade que a ética cristã tem sofrido a má influência da filosofia racionalista, e tem adquirido dessa forma uma similaridade à ética pagã maior do que é recomendável. Mas sob o prisma correto percebe-se que os pontos de vista pagãos e cristãos são radicalmente diferentes. Enquanto a ética racionalista encontra seu fundamento na supremacia e na autonomia da razão humana, a ética cristã fundamenta-se na revelação especial de Deus, nas Escrituras Sagradas. A ética racionalista, quando teísta, sugere que Deus aprova certa atitude ou comportamento humanos porque eles são bons em si mesmos. Creio que a ética cristã deve opor-se a esta cosmovisão e sugerir o oposto, isto é, que uma certa atitude ou comportamento humanos são bons porque Deus os aprova. Essa inversão ilustra a natureza essencialmente diversa e em

certo sentido oposta das éticas cristã e clássica-pagã. C. Religiosidade Finalmente, o senso de transcendência a que em seguida nos referimos é o maravilhar-se diante do mistério, que levava o pagão pré-cristão ao ato de adoração. No mundo moderno, o sentido, o instinto e a prática da adoração per se entraram em declínio. Na civilização ocidental é cada vez menor o número de pessoas que adoram seja quem ou o que for. Mesmo em nossas igrejas temos visto essa influência nefasta do neo-paganismo, levando nossas comunidades a adotar liturgias em que o sentimento de reverência cede lugar à descontração e o bemestar do adorador torna-se mais importante que sua contrição e dedicação. Os efeitos se fazem presentes também na teologia moderna, em que as doutrinas são desmitologizadas, desmiraculizadas e desdivinizadas. Assim, até mesmo teólogos cristãos tornaram-se adeptos da mentalidade moderna neo-pagã, uma vez que o neo-paganismo, diferentemente do velho paganismo da antigüidade, abandonou a crença no sobrenatural e no transcendente e tornou-se naturalista e imanentista. Aos poucos a religiosidade neo-pagã foi-se tornando, portanto, não somente uma forma de humanismo disfarçado e uma re-edição piorada do politeísmo, mas também uma forma popular de panteísmo. O panteísmo popular moderno é uma religiosidade muito confortável em que Deus é transformado numa espécie de "força" à la Guerra nas Estrelas, disponível sempre que necessário, mas que não incomoda. (30) É conveniente para os seres humanos veremse como "bolhas da grande espuma divina" em vez de compreenderem- se como filhos rebeldes de um Pai divino e

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justo, desesperadamente carentes de se reconciliarem com Ele, e absolutamente impotentes no que se refere a essa condição espiritual.. O panteísmo rejeita qualquer idéia que se assemelhe ao conceito bíblico de pecado porque pecado implica em separação entre Deus e o pecador (Rm 3.19-20; 5.12; 8.7-8; 11..32), e ninguém pode estar separado da totalidade. Por isso, não pode haver temor de Deus sob uma perspectiva panteísta.. Portanto, do ponto de vista neopagão, o que a Bíblia chama de "princípio da sabedoria" (Pv 1.6) é aquilo que precisa ser erradicado das mentes acima de tudo.. A solução, portanto, não se encontra em uma apropriação mais cautelosa ou mais exata do paganismo clássico précristão. Apenas a fé cristã possui as respostas para os problemas práticos, teóricos e religiosos do mundo de hoje. O senso de transcendência do paganismo não pode ser visto como equivalente ao senso de transcendência cristão. Este último é qualitativamente diferente daquele. Não é à toa que a mais explicitamente pagã de todas as heterodoxias modernas, o deísmo, seja uma teologia que enfatize a transcendência divina ao preço da imanência divina. A fé cristã ortodoxa rejeita ambas as opções radicais de transcendência (deísmo) e de imanência (teologia liberal do século XIX) das correntes teológicas que buscaram a síntese do paganismo com o cristianismo. A conclusão a que se chega é que o neopaganismo acaba por cair, ou no racionalismo, ou no irracionalismo. Os grandes pensadores cristãos dos últimos séculos, percebendo essa terrível encruzilhada, insistiram na necessidade de enfatizar a totalidade humana, de salientar o fato de que o ser humano precisa ser compreendido em

sua inteireza, sem ser dividido, fracionado, compartimentalizado . O ser humano não é apenas razão, ou emoção, ou vontade, ou corpo, ou espírito. O ser humano é um todo, e só pode ser compreendido corretamente se visto como um todo. Minha opinião é que teorias dicotomistas ou tricotomistas são racionalismos que devem ser rejeitados. Afirmando a unidade do ser humano, e as simultâneas e completas transcendência e imanência de Deus, o cristianismo não deixa espaço para noções panteístas, e se mostra superior tanto ao paganismo quanto ao neopaganismo. Post-Scriptum Como afirmei no início, a chamada Nova Era não é uma conspiração. Mas na unificação dos inimigos da fé cristã, a saber, panteísmo, politeísmo e humanismo, unificação esta levada a cabo pelo neopaganismo, pode-se perceber a estratégia do inferno, que todavia não pode prevalecer contra a Igreja. Pelo contrário, é a Igreja que está por lhe arrombar as portas (Mt 16.18). No Calvário, quando as forças anti-cristãs dos mundos grego, romano e hebreu se uniram na crucificação de Cristo (fato este simbolicamente representado na acusação contra Cristo afixada na cruz, escrita em três línguas: Lc 23.38; Jo 19..19-20), o triunfo do mal foi também a derrota do mal, e a morte do Filho de Deus significou a redenção do ser humano (ver Cl 1.13-14). Nós estávamos condenados pelas nossas transgressões, e Deus nos deu vida em Cristo, perdoando-nos nossos delitos, "tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando sobre eles

na cruz" (Cl 2.13-15). Certamente, o neo-paganismo de nossos dias estará em breve tão morto e enterrado quanto o velho paganismo dos antigos está hoje. E o Deus revelado em Jesus Cristo , aquEle que pronunciou a primeira palavra, terá novamente a última palavra. "Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era, e que há de vir, o Todopoderoso" (Ap 1.8). _________________ NOTAS DO TEXTO 1 G. K. Chesterton (1874-1936) é um autor que precisa ser mais lido no Brasil. Chesterton era um grande amigo de C. S. Lewis. Seus livros ensinam como se faz filosofia cristã de primeira qualidade e foram algumas das melhores respostas cristãs ao pensamento moderno. Eu recomendo, por exemplo, os livros Orthodoxy (Nova York: Doubleday, 1990 [1908]), Heretics (Londres: G. Lane, 1905) e The Everlasting Man (San Francisco: Ignatius Press, 1993 [1925]). 2 Chesterton, The Everlasting Man, 237. 3 Ibid., 237-38. Minha tradução. 4 Para saber mais sobre o chamado pósmodernismo, ver Stanley J. Grenz, Pósmodernismo: Um Guia para Entender a Filosofia do Nosso Tempo (São Paulo: Vida Nova, 1997). Esse livro é uma boa introdução ao assunto. Outros livros que podem ser de auxílio nesse complicado tema filosófico e cultural são: Brian D. Ingraffia, Postmodern Theory and Biblical Theology (Cambridge, Inglaterra: Cambridge University Press, 1995), especialmente pp. 167ss.; J. Richard Middleton e Brian J. Walsh, Truth Is Stranger than It Used to Be (Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1995), especialmente a primeira parte, pp. 7-84; David S. Dockery, ed., The Challenge of Postmodernism (Wheaton, Illinois: BridgePoint, 1995); e Gene Edward Veith, Jr., Postmodern Times (Wheaton: Crossway, 1995). Ver também o meu artigo "A Morte e a Morte da Modernidade: Quão Pósmoderno é o Posmodernismo? " Fides Reformata 1:2 (Julho-Dezembro 1996), 5970. 5 O que se chama de modernismo é a cosmovisão que prevaleceu durante os últimos três séculos, caracterizada pelo seu cientificismo, historicismo, racionalismo, e otimismo humanista, entre outras coisas. Ver Robert B. Pippin, Modernism as a Philosophical Problem (Oxford: Blackwell, 1991). 6 Chesterton, tradução.

Orthodoxy,

259.

Minha

7 Ver Peter Gay, The Enlightenment: The Rise of Modern Paganism (Nova York: W. W. Norton & Company, 1966), 256- 321. A teoria básica de Peter Gay serviu também de base para este artigo, isto é, que "o iluminismo foi uma mistura volátil de

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classicismo, impiedade, e ciência; les philosophes, resumindo, eram pagãos modernos." Ibid., 8. 8 Os especialistas divergem, contudo, quanto ao relacionamento e envolvimento entre humanistas e reformadores, e se seria historicamente correto considerar estes um sub-grupo daqueles. Ver, por exemplo, os estudos do erudito calvinista tcheco Josef Bohatec sobre esse assunto: Die Religionsphilosophi e Kants, 1938, reimpresso em 1966. 9 Confira Gay, The Enlightenment, 3-27. 10 Ver Immanuel Kant, Religion within the Limits of Reason Alone (Nova York: Harper Torchbooks, 1960). 11 Ver, por exemplo, as populares obras de ficção de Frank Peretti (e.g., Este Mundo Tenebroso), e livros como : John Bevere, The Bait of Satan (Orlando: Creation House, 1994) e Bob Larson, Straight Answers on the New Age (Nashville: Nelson Publishers, 1989). Não que estes livros sejam imprestáveis, ou que seus autores sejam charlatães. Mas há uma atitude que me parece errada entre os chamados "profetas da desgraça" do evangelicalismo americano, uma vontade de formular teorias místicas e maniqueístas de conspiração e de uma espécie de "ocultismo cristão" que considero heterodoxo e prejudicial para a saúde espiritual da igreja. 12 Para saber mais sobre o tema "batalha espiritual," ver o livro de David Powlison, Power Encounters: Reclaiming Spiritual Warfare (Grand Rapids: Baker, 1995) e também o livro de Augustus Nicodemus G. Lopes, O que Você Precisa Saber sobre Batalha Espiritual (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997). 13 Ainda que eu esteja aqui fazendo uso da expressão cunhada pelo pensador pósmoderno Michel Foucault em Arqueologia do Conhecimento, isso não significa que estou adotando ipsis litteris o método do filósofo francês, que por sinal possui boas qualidades.. 14 O método aqui adotado enquadra-se melhor dentro da tradição estabelecida pelo filósofo calvinista holandês Herman Dooyeweerd. Ver, por exemplo, Roots of the Western Culture (Toronto: Wedge Publishing Foundation, 1979). 15 Ver o capítulo "Christianity and the New Paganism," em Peter Kreeft , Fundamentals of the Faith: Essays in Christian Apologetics (San Francisco: Ignatius Press, 1988), 102. 16 Ibid. 17 Citado por Kreeft, Fundamentals of the Faith, 102. Minha tradução. Ver o capítulo "The Escape from Paganism," em Chesterton, The Everlasting Man, 232-49, e o capítulo "Authority and the Adventurer," em Orthodoxy, 141-60. 18 John M. Rist, estudioso de Agostinho e professor na Universidade de Toronto, Canadá, é uma das maiores autoridades vivas sobre o pensamento do celebrado bispo de Hipona. 19 John M. Rist, Augustine: Ancient Thought Baptized (Cambridge, Inglaterra: Cambridge

University Press, 1994), 12. Minha tradução.. Eu creio, todavia, que é inadequado interpretar a experiência de conversão dessa forma. Ainda que haja uma inegável continuidade, a conversão implica numa completa transformação do indivíduo no mais íntimo do seu ser, e toda continuidade que ocorrer tem que ser interpretada à luz dessa transformação essencial. Na vida do próprio Agostinho podemos ver como toda a bagagem trazida do paganismo recebeu em suas mãos uma nova significação. Mas a continuidade existe, e talvez a melhor forma de explicá-la é perceber que a conversão representa, não um giro de 180 graus, mas sim um giro de 360 graus, isto é, a vida prossegue, e o indivíduo inicia, após sua conversão, um longo processo de reavaliação de suas idéias e concepções através do qual ele redimensiona sua existência. 20 Kreeft, Fundamentals of the Faith, 102-106. 21 Uma das questões mais controvertidas da história da teologia refere-se justamente ao grau de penetração e influência das idéias pagãs durante a construção do edifício teórico da teologia cristã. Não existem respostas fáceis para esse complexo problema. Muito do que há de melhor na teologia conservadora dos últimos trezentos anos representa um esforço no sentido de procurar uma aproximação maior e mais pura ao ensino das Escrituras, livre dos preconceitos e distorções provocados pela influência pagã na igreja e na teologia cristã desde o primeiro século até os nossos dias. 22 John Locke e Isaac Newton foram os mais importantes mentores do iluminismo. Todavia, eles funcionaram mais como ícones, símbolos de uma revolução do pensamento que propriamente uma influência concreta em termos de idéias que muitas vezes não eram conhecidas ou eram mal compreendidas. Ver, por exemplo, o excelente estudo de Gerd Buchdahl, The Image of Newton and Locke in the Age of Reason (Londres: Sheed & Ward, 1961). A física newtoniana teve de qualquer modo um papel importante no iluminismo servindo de inspiração e paradigma para todas as áreas do conhecimento. Boas introduções para os aspectos gerais do pensamento newtoniano, e boas biografias de Newton (o método biográfico ajuda bastante aqueles que, como eu, têm dificuldades de compreender as nuances da física newtoniana), são Louis T. More, Isaac Newton: A Biography (Nova York: Dover, 1962); J. D. North, Isaac Newton (Oxford: Oxford University Press, 1967); Richard S. Westfall, The Life of Isaac Newton (Cambridge, Ingl.: Cambridge University Press, 1993); A. Rupert Hall, Isaac Newton: Adventurer in Thought (Oxford: Blackwell, 1992); Frank E. Manuel, The Religion of Isaac Newton (Oxford: Clarendon Press, 1974) e I. Bernard Cohen, The Newtonian Revolution (Cambridge, Ingl.: Cambridge University Press).

23 Ver os diálogos de especialmente Mênon e Êutifron.

Platão,

24 O famoso gnothi seauton de Sócrates. 25 Ver Aristóteles, Ética a Nicômaco. Como sugere Chesterton, "o paganismo declarava que a virtude estava no equilíbrio; o cristianismo declarou que a virtude está no conflito: a colisão de duas paixões aparentemente opostas". Orthodoxy, 92. "São Francisco, ao louvar tudo que é bom, conseguia ser um otimista mais exagerado que Walt Whitman. São Jerônimo, ao condenar toda maldade, era capaz de pintar um quadro ainda mais escuro do que Schopenhauer. " Ibid., 96. "O leão se deitará com o cordeiro. Mas note que este texto tem sido interpretado de forma muito suave. Nós somos constantemente assegurados por nossas tendências tolstoyanas que, quando o leão se deita com o cordeiro, ele se torna igual a um cordeiro. Mas isso é uma anexação brutal e um imperialismo da parte do cordeiro. Isso é apenas o cordeiro absorvendo o leão em vez de o leão comendo o cordeiro. O verdadeiro enigma é: pode o leão se deitar ao lado do cordeiro e todavia manter toda sua ferocidade real? Esse é o enigma que a igreja tentou resolver; esse é o milagre que ela alcançou." Ibid., 98. 26 Gay, The Enlightenment, 226. 27 O conceito de quase-religiõ es foi criado nos anos 60 pelo teólogo neoliberal Paul Tillich para referir-se a fenômenos secularistas, como, por exemplo, o marxismo, o nazismo, o humanismo e o cientificismo. 28 Ver, por exemplo, o volume de ensaios sobre cristianismo e cultura editado por Os Guinness e John Seel, No God but God: Breaking with the Idols of our Age (Chicago: Moody Press, 1992). 29 A ética moderna em geral tem privilegiado uma metodologia racionalista. Tanto a ética deontológica de Kant e seus seguidores, quanto a ética utilitarista dos ingleses Bentham e Stuart Mill são calcadas na ética pagã, e desconhecem a noção de uma ética baseada na revelação especial de Deus. Os pressupostos básicos por trás das éticas racionalistas são a supremacia e a autonomia da razão humana. 30 Ver a crítica que o celebrado pensador cristão inglês C. S. Lewis já fazia nos anos 40 a essa mentalidade em seu livro Miracles (Nova York: Macmillan, 1947).

Ricardo Quadros Gôuvea é ministro presbiteriano e tem o grau de Mestrado em Teologia pelo Westminster Theological Seminary, em Filadélfia, Estados Unidos, onde atualmente conclui o seu doutorado (Ph.D.) na mesma área.

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Robson T. Fernandes

“E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado” (Gênesis 2:8) A mesopotâmia é conhecida como sendo o berço da civilização, pois é nessa região que a humanidade começou. Ali Adão e Eva foram formados. O relato bíblico do livro de Gênesis nos fornece uma série de descrições geográficas, ricas em detalhes, servindo como uma preciosa fonte de pesquisas e informações que podem ajudar o estudante a localizar lugares e comprovar histórias. Eu acredito que esse fato ocorre devido a intenção que o escritor e o autor (Moisés e Deus) têm a intenção de mostrar a veracidade e realidade dos fatos e eventos descritos no livro. É importante notar que em toda a Bíblia, de Gênesis até o Apocalipse, sempre ocorreu uma preocupação de se detalhar os fatos, para que o leitor pudesse acreditar na sua veracidade. No caso do Éden, muitas informações geográficas são dadas, e serão comentadas a seguir. Mesopotâmia é uma palavra de origem grega e significa: ―entre rios‖. Esse nome foi dado devido a região está localizada entre dois dos principais rios da região, o Tigre e o Eufrates. É um oásis em meio a uma região desértica. O texto bíblico de Gênesis 2 nos dá informações importantes como: 1. Do Éden nascia um rio

que se dividia em quatro braços: Pisom, Giom, Tigre e o Eufrates; 2. A etimologia (origem) das palavras usadas; 3. Terras e lugares citados no texto; É importante observar que o texto de Gênesis, escrito por Moisés, foi desenvolvido apenas após o Dilúvio. Isto nos faz relembrar que antes da Torre de Babel, e consequentemente antes do Dilúvio todo o globo falava o mesmo idioma, todavia, as expressões citadas no livro de Gênesis, com relação ao Éden, têm sua origem em outros idiomas, que não o hebraico. Isso é de uma importância fundamental, como iremos ver. Alguns nomes são citados no texto (Gn 2:8-14): •

Éden Nome que possui duas origens: a forma Suméria de Éden que quer dizer: "estepe", ou "campo aberto", ou o Semítico, denotando: "luxo" ou "delícia"; • Jardim Localizado ao Leste do Éden. Observe que o jardim era apenas uma parte territorial dentro da região denominada Éden; • Um Rio Não denominado, vindo de fora do jardim e regandoo, dividindo-se em quatro braços; • Pisom Primeira divisão do rio principal que vem até a terra de Havilá;



Havilá Terra ou distrito; • Giom Segunda divisão do rio principal que vem até a terra de Cuxe; • Cuxe Etiópia (Cuxe em hebraico). Uma terra ou distrito; • Tigre Terceira divisão do rio principal que vem até a terra da Assíria; • Assíria (Asshur em hebraico); • Eufrates Quarta divisão do rio principal. Os lugares citados no texto recebiam outros nomes, no período pré-diluviano, mas esses nomes não são utilizados por Moisés. Os nomes utilizados pelo escritor eram os nomes modernos – da época. Eram os nomes do período pós-diluviano. Então, uma pergunta nos vem à mente: Por que isso ocorreu? A resposta é simples: porque o autor queria que os leitores conseguissem identificar o local para ter a certeza da veracidade do texto. Os lugares citados no texto recebiam outros nomes, no período pré-diluviano, mas esses nomes não são utilizados por Moisés. Os nomes utilizados pelo escritor eram os nomes modernos – da época. Eram os nomes do período pós-diluviano. Então, uma pergunta nos vem à mente: Por que isso ocorreu?

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A resposta é simples: porque o autor queria que os leitores conseguissem identificar o local para ter a certeza da veracidade do texto.

Mesopotâmia

Vejamos alguns exemplos: "Assíria" (hebraico, Asshur) é um nome que os hebreus deram e que se origina de Asshur um filho de Sem, nascido depois do Dilúvio (Gn10:22). Então, no conceito hebraico o nome não existia antes do Dilúvio. "Havilá" é um nome pósdiluviano (Gn 10:29). "Etiópia" (Cush, ou Cuxe – Gn l0:6). Nome dado após o dilúvio, originário do neto de Noé, Cuxe, e filho de Cam. Isso é uma evidência forte de que o escritor estava usando nomes conhecidos na época. Esse é um fato de importância fundamental pois mostra conclusivamente que ao usar nomes conhecidos o escritor tinha a intenção que os leitores da época conseguissem entender com clareza a mensagem e reconhecer geograficamente a localização do Éden. Daí a evidência conclusiva de que o lugar (Éden) era real. Se o escritor não tivesse a intenção de que o Éden fosse localizado, identificado, não teria dado tantas informações geográficas a respeito nem tão pouco teria usado os nomes conhecidos no

período. Precisamos entender, ainda, que o jardim do Éden foi destruído com o Dilúvio, mas o local denominado biblicamente de Éden continuava lá, não o jardim, mas o local. Observe o fato de que o profeta Ezequiel usou o nome Éden para se referir a uma localidade existente em seus dias, em Ezequiel 27:23. Segundo esse texto o profeta Ezequiel localiza o Éden na região conhecida como Babilônia. Na Bíblia, o jardim do Éden não é só o nome do lugar onde Adão e Eva viveram, mas também uma representação metafórica do Jardim de Deus, isto é, o lugar onde Yahweh mora: Is 51:3; Ez 28:12-15, 31:8-18. A localização exata do Jardim do Éden permanece um mistério, todavia, o texto de Gênesis 2:8 afirma que Deus plantou o "jardim no Éden, da bando do Oriente", isto é, no Leste. Essa afirmação aponta para um lugar ao leste de Canaã, que também possuía quatro rios: o Pisom, o Giom, o Tigre e o Eufrates (vv. 1014). O Tigre e o Eufrates como sabemos hoje em dia, sem sombra de dúvida, os dois rios da Mesopotâmia que possui o seu curso inalterado ainda hoje. O Giom (possivelmente o hebraico para "esguichar") e Pisom (normalmente entendido como sendo uma forma do verbo semítico "pular para cima") são mais difíceis de se identificar. Muitos estudantes acreditam que o Giom é o rio Nilo, e que Cuxe é associado com Nubia, ao sul do Egito.

Se esta associação estivesse correta, todo o restante da descrição do local do Éden não poderia fazer o menor sentido, porque nenhuma parte dessa região converge com o Tigre e o Eufrates.

Leitos dos dois rios localizados por satélite

Outros identificam Cuxe como a terra dos Cassitas, ao leste do Tigre, também conhecido como Cuxe durante os tempos antigos. Esta teoria faz um sentido geográfico melhor. Finalmente, ainda há outra posição de alguns estudantes que acham que o Giom e o Pisom eram canais ou afluentes do Tigre e Eufrates. Há alguns anos uma equipe de pesquisadores conseguiu através de satélite tirar algumas fotos que mostram o leito de dois rios de grande porte juntos ao Tigre e ao Eufrates, que acredita-se tratar do Giom e do Pisom. Essa mesma região é conhecida pela sua terra de tom avermelhado. O interessante é que o texto bíblico relata que naquele lugar Deus fez o homem do pó da terra (Gn 2:7) e pôs nele o nome de Adão. É importante saber que a palavra Adão, no hebraico, significa: ―Vermelho‖. Assim sendo, localiza-se o Éden na região da Mesopotâmia, exatamente como o relato bíblico descreve, e o jardim do Éden ao Leste, contudo, o local exato do jardim não se sabe ao certo, mas as evidências históricas e geográficas são indiscutíveis. Um dia ele esteve ali.

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ENSAIOS APOLOGÉTICOS - UM ESTUDO PARA UMA COSMOVISÃO CRISTÃ Francis Beckwith/ William Craig Esse livro apresenta respostas cristãs abrangentes e dotadas de plena autoridade diante dos questionamentos impostos pelo pluralismo religioso comum em nossa sociedade relativista e fascinada pela espiritualidade. ONDE ENCONTRO? http://hagnos.com.br OS FUNDAMENTOS

R. A. Torrey Nestes dias de identidade fragmentada e doutrinas diluídas, o rumo ditado por nossa sociedade faz com que seja fácil tornar-se tão tolerantes, que quase deixamos de ter convicções, ou tão intolerantes, a ponto de nos acharmos os "donos da verdade". Esta obra oferece uma reflexão sobre a fé cristã a partir de suas bases bíblicas, sem perder de vista sua relevância prática em nosso contexto. ONDE ENCONTRO? http://hagnos.com.br COMO PREGAR DOUTRINAS BÍBLICAS Charles C. Ryrie Em nome da integridade da ortodoxia cristã — e, por extensão, da saúde espiritual do povo de Deus —, Charles C. Ryrie, um dos mais renomados teólogos da atualidade, oferece a pastores, pesquisadores, mestres e estudantes das Escrituras uma obra singular: Como pregar doutrinas bíblicas. Ela ensina a apresentar os conceitos fundamentais da fé de maneira bíblica e acessível, tanto no ensino quanto na pregação. ONDE ENCONTRO? http://www.mundocristao.com.br

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