FOCALIZAÇÃO IN SITU NO PORTUGUÊS DO BRASIL: INTERFACE SINTAXEFONOLOGIA Autor: Rafael Berg Esteves Trianon Orientador: Alessandro Boechat de Medeiros (UFRJ) Co-orientador: Albert Rilliard (UFRJ/LIMSI) Linha de pesquisa: Gramática na Teoria Gerativa A focalização é um tema que desperta interesse na comunidade linguística atualmente. Dentro da corrente gerativa, o movimento que ficou conhecido como Cartografia Sintática (BELLETTI, 2004; CINQUE, 1999; RIZZI, 1997, 2004) tem se dedicado a explicar as motivações para a existência de construções sintáticas específicas para veicular informação focalizada (clivadas, por exemplo). Em geral, a explicação parte da necessidade de satisfação de um critério chamado Focus Criterion (RIZZI, 1997) ou pela necessidade de valoração/checagem de um traço foco (ABOH, 2010). Independente do mecanismo adotado, a consequência é a necessidade de um movimento A-barra, de modo que o constituinte precisa se mover para uma projeção dedicada no CP para a veiculação do foco. Nessa perspectiva, a entonação específica das sentenças cujo foco permanece in situ se deve também a esse movimento, uma solução adotada por estudos recentes sobre a relação entre foco, prosódia e a abordagem cartográfica (BOCCI, 2013). No entanto, se a focalização in situ (ou seja, quando não há alteração no ordenamento dos constituintes na sentença) também envolve movimento A-barra (ainda que esse movimento não seja “visto”), é necessário assumir que todas as restrições que subjazem a tal tipo de movimento também atuem na focalização in situ, como efeitos de ilha sintática. No entanto, isso não ocorre, como mostram os dados abaixo:
(1)
O João entregou a carta para o irmão DA MARIA (não do Jorge)
(2)
*Foi DA MARIA que o João entregou a carta para o irmão t
Haja visto que (1) é gramatical, como é possível que haja o movimento do PP [da Maria], uma ilha sintática (como mostra o dado em (2))? A única resposta possível é que o PP, na realidade, não se moveu para a periferia da sentença, mas permaneceu mesmo in situ. No entanto, apenas afirmar que não houve movimento não resolve o problema levantado pelas propostas cartográficas: tendo em vista a validade empírica do modelo T da arquitetura da gramática, como é possível explicar a existência de um fenômeno que possui efeitos tanto em LF como em PF sem apelar para uma estrutura sintática específica? Esse trabalho busca
uma proposta alternativa. Nossa hipótese é a de que, no caso da focalização in situ, o traço de foco é valorado internamente ao DP, através de uma operação de Agree entre o núcleo D (que possui um traço foco não-interpretável) e uma projeção de foco fP interna ao DP (com traço foco interpretável). Em línguas de foco morfológico (como na língua chádica Gurúntum (HARTMANN; ZIMMERMANN, 2009)), esse núcleo é realizado fonologicamente, enquanto em português não. O movimento para CP que ocorre nas clivadas (e outras construções do tipo) ocorre quando a projeção fP não está presente na estrutura, o que obriga o DP a se mover para especificador de FocP na periferia esquerda para que seu núcleo possa sondar um núcleo com traço foco interpretável (o núcleo Focº). O problema óbvio que se levanta nessa hipótese é o de que essa operação de Agree não respeita a Condição de Ativação (CHOMSKY, 2001). No entanto, assumimos a proposta de Bošković (2007), que advoga pela validade da Condição de Ativação apenas para operação de Move, propondo que essa condição não é um princípio do sistema linguístico, mas apenas uma consequência de casos de movimento cíclico e que não se aplica a Agree. Referências Bibliográficas ABOH, E. O. Information structuring begins with the numeration. Iberia, v. 2.1, p. 12–42, 2010. BELLETTI, A. Aspects of the Low IP Area. In: The Structure of IP and CP. The Cartography of Syntactic Structures, vol. 2. New York: Oxford University Press, 2004. BOCCI, G. The Syntax-Prosody Interface: A cartographic perspective with evidence from Italian. Philadelphia: John Benjamins, 2013. BOSKOVIC, Z. On the Locality and Motivation of Move and Agree : An Even More Minimal Theory. Linguistic Inquiry, v. 38, n. 4, p. 589–644, 2007. CHOMSKY, N. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, I. (Ed.). . Ken Hale: a life in language. Cambridge: MIT Press, 2001. p. 1:52. CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-Linguistic Perspective. Oxford: Oxford University Press, 1999. HARTMANN, K.; ZIMMERMANN, M. Morphological focus marking in Guruntum (West Chadic). Lingua, v. 119, p. 1340–1365, 2009. RIZZI, L. The Fine-Structure of the Left Periphery. In: HAEGEMAN, L. (Ed.). Elements of Grammar. Kluwer Academic Publishers. p. 281–337, 1997. RIZZI, L. The structure of CP and IP: the cartography of syntactic structures, volume 2. New York: Oxford University Press, 2004.