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PSICOPATOLOGIA DA APRENDIZAGEM

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A994p

Azevedo, Tássia Lopes de. Psicopatologia da aprendizagem [recurso eletrônico] / Tássia Lopes de Azevedo. – São Paulo, SP : Cengage, 2016. 10 Mb : il. ; PDF.



Inclui bibliografia. ISBN 13 978-85-221-2255-4 ISBN 10 85-221-2255-5



1. Aprendizagem - Psicopatologia. 2. Educação inclusiva. 3. Linguagem - Psicopatologia. 4. Distúrbios de aprendizagem. 5. Distúrbios de comportamento. 6. Desenvolvimento motor - Distúrbios. 7. Desenvolvimento cognitivo - Distúrbios I. Título. CDU 37.015.3 CDD 370.1523 Índice para catálogo sistemático: 1. Aprendizagem: Psicopatologia

37.015.3

(Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 10/1507)

PSICOPATOLOGIA DA APRENDIZAGEM

Psicopatologia da aprendizagem

© 2016 Cengage Learning Edições Ltda.

Autora: Tássia Lopes de Azevedo

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados, sem a permissão por escrito da Editora. Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos 102, 104, 106, 107 da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

Gerente editorial: Noelma Brocanelli Editoras de desenvolvimento: Gisela Carnicelli, Regina Plascak e Salete Guerra Coordenadora e editora de aquisições: Guacira Simonelli Produção editorial: Sheila Fabre Copidesque: Sirlene M. Sales Revisão: Vania Ricarte Lucas

Esta editora empenhou-se em contatar os responsáveis pelos direitos autorais de todas as imagens e de outros materiais utilizados neste livro. Se porventura for constatada a omissão involuntária na identificação de algum deles, dispomo-nos a efetuar, futuramente, os possíveis acertos. Esta editora não se responsabiliza pelo funcionamento dos links contidos neste livro que possam estar suspensos.

Diagramação: Alfredo Carracedo Castillo Capa: Estúdio Aventura Imagens usadas neste e-book por ordem de páginas: Yongcharoen_kittiyaporn/Shutterstock; Denis Kuvaev/Shutterstock; Gladskikh Tatiana/Shutterstock; Marzolino/ Shutterstock; Everett Historical/ Shutterstock; Denis Kuvaev/Shutterstock; Ruslan Guzov/Shutterstock; Olimpik/ Shutterstock; Suzanne Tucker/ Shutterstock; Aleutie/Shutterstock; Anita Ponne/Shutterstock; CLIPAREA l Custom media/Shutterstock; Sebastian Kaulitzki/ Shutterstock; Andrea Danti/Shutterstock; PathDoc/Shutterstock; Pitju/Shutterstock; 82049359/Shutterstock; Kletr/ Shutterstock; Tatyana Vyc/Shutterstock; PathDoc/Shutterstock; Kotin/ Shutterstock; Rawpixel/Shutterstock; Alex Brylov/Shutterstock; 3445128471/ Shutterstock; ChameleonsEye/ Shutterstock; williammpark/Shutterstock; yykkaa/Shutterstock; Robert J. Gatto/ Shutterstock; Asier Romero/Shutterstock; Ollyy/Shutterstock; Pressmaster/ Shutterstock

Para permissão de uso de material desta obra, envie seu pedido para [email protected] © 2016 Cengage Learning Edições Ltda. Todos os direitos reservados. ISBN 13: 978-85-221-2255-4 ISBN 10: 85-221-2255-5 Cengage Learning Edições Ltda. Condomínio E-Business Park Rua Werner Siemens, 111 - Prédio 11 Torre A - Conjunto 12 Lapa de Baixo - CEP 05069-900 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3665-9900 Fax: 3665-9901 SAC: 0800 11 19 39 Para suas soluções de curso e aprendizado, visite www.cengage.com.br

Apresentação

Apresentação Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga o estudo como fonte inesgotável de conhecimento. Pensando na imensa necessidade de atender o desejo desse exigente leitor é que foi criado este produto voltado para os anseios de quem busca informação e conhecimento com o dinamismo dos dias atuais. Com esses ideais em mente, nasceram os livros eletrônicos da Cengage Learning, com conteúdos de qualidade, dentro de uma roupagem criativa e arrojada. Em cada título é possível encontrar a abordagem de temas de forma abrangente, associada a uma leitura agradável e organizada, visando facilitar o aprendizado e a memorização de cada disciplina. A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a interação com o assunto tratado. Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos “Atenção”, que o alertam sobre a importância do assunto abordado, e o “Para saber mais”, que apresenta dicas interessantíssimas de leitura complementar e curiosidades bem bacanas, para aprofundar a apreensão do assunto, além de recursos ilustrativos, que permitem a associação de cada ponto a ser estudado. Ao clicar nas palavras-chave em negrito, o leitor será levado ao Glossário, para ter acesso à definição da palavra. Para voltar ao texto, no ponto em que parou, o leitor deve clicar na própria palavra-chave do Glossário, em negrito. Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance do conhecimento de maneira objetiva, concisa, didática e eficaz.   Boa leitura!

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Prefácio

Prefácio O ser humano é complexo. É através do indivíduo que as emoções se traduzem, que as sensações assumem forma, que as palavras se personificam. É, portanto, no âmbito dessa complexidade, que cada ciência e cada instituição deve orientar a dinâmica de seu trabalho. Ajudar o indivíduo quando ele sente raiva ou quando está frustrado, apaixonado, deslumbrado, vazio ou incompleto não é tarefa fácil. O profissional que lida com o ser humano nessas condições assume papel de extrema importância, porque será ele a peça fundamental que vai ajudar o indivíduo a equilibrar as emoções e tudo o que tem relação com sua vida: família, amigos e escola. Mas qual é a incumbência da instituição educadora? O que cabe a ela administrar? Neste e-book, procuramos identificar esses pontos e, para isso, elaboramos um estudo abrangente. Na Unidade 1, o leitor terá acesso a um conteúdo que vai explorar os principais conceitos da psicopatologia e os déficits relacionados a cada problema passível de ser enfrentado pelo educador. Na Unidade 2, o foco é voltado para a estrutura motora: suas principais vertentes e dificuldades. Na Unidade 3, falamos sobre os aspectos relacionados à linguagem e toda a problemática que a envolve. E, finalmente, na Unidade 4, alguns comportamentos são analisados, como os violentos, os amenos, os homicidas e as consequências que causam cada um deles. O conteúdo oferecido neste e-book traz respostas a perguntas que permanecem durante muito tempo na mente do educador e ratifica questões que precisam ser cuidadosamente ponderadas por todos aqueles que estão envolvidos com a educação. Este é um conteúdo essencial a você, professor, e tem por objetivo auxiliar sua trajetória como educador. Boa leitura!

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Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

UNIDADE 1

A PSICOPATOLOGIA E A ESCOLA

Capítulo 1 Apresentação, 11 Capítulo 2 O que é psicopatologia?, 11 Capítulo 3 O conceito de normalidade em psicopatologia, 12 Capítulo 4 Breve história da psicopatologia, 14 Capítulo 5 A educação inclusiva e a psicopatologia, 16 Capítulo 6 Identificando as principais psicopatologias da

aprendizagem, 20

Capítulo 7 Entendendo a psicopatologia, 23 Capítulo 8 Principais psicopatologias detectadas nos alunos em

contexto escolar, 25

Capítulo 9 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, 26 Capítulo 10 Transtorno específico de aprendizagem, 27 Capítulo 11 Transtorno de oposição desafiante, 28

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Psicopatologia da aprendizagem

Capítulo 12 Transtorno do espectro autista, 29 Capítulo 13 Transtornos do desenvolvimento intelectual, 30

Conclusão, 31 Glossário, 32

Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

1. Apresentação A disciplina de Psicopatologia da Aprendizagem trata de quatro assuntos relacionados ao tema em questão: (1) A psicopatologia e a Escola; (2) Psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas; (3) Psicopatologia da linguagem; e (4) Psicopatologia das condutas agressivas e distúrbios de comportamento. Esta primeira unidade contempla discussões acerca da “Psicopatologia e a Escola”. Muitos já devem ter lido ou escutado que a escola deve garantir, de fato, os direitos dos alunos que apresentam alguma demanda relacionada à saúde mental, ou seja, uma psicopatologia. Devem, também, ter refletido sobre como a psicopatologia pode interferir no aproveitamento e desempenho do aluno. Por se tratar de um campo vasto, o estudo da psicopatologia e sua relação com a escola abrangem diversas reflexões, tais como: o que é psicopatologia; como identificá-la; como a sua história se construiu; e como é vista a educação inclusiva neste campo. Esta primeira unidade busca se aprofundar nessas reflexões, com o objetivo de compreender e construir um pensar crítico sobre o assunto.

2. O que é a psicopatologia? Psicopatologia é o estudo das causas e da natureza dos transtornos psíquicos, isto é, analisa os problemas relacionados ao funcionamento das funções mentais, bem como os componentes psicológicos das perturbações somáticas. Trata da natureza essencial da doença mental, suas causas, mudanças estruturais e formas de manifestação. Condutas psicopatológicas consistem em sintomas de configuração e duração variadas, que incidem em dois tipos de transtornos mentais: (1) orgânicos, que são aqueles que apresentam causas físicas evidentes; e (2) funcionais, que significam padrões comportamentais atípicos, sem claros indícios de alterações orgânicas cerebrais. A investigação da psicopatologia é a vida psíquica compreendida, que se manifesta por meio de condutas sensorialmente percebidas e nas exteriorizações das diferentes formas de linguagem. Para isso, é necessário interpretar qualquer forma de manifestação da pessoa, como expressões, gestos e comportamentos (PAIM, 2008). Para identificar a existência de casos de psicopatologia, deve-se investigar a história clínica de forma minuciosa e fazer um resumo detalhado dos fatores sociais, psicológicos e biológicos que podem contribuir para o surgimento de um transtorno mental particular. Portanto, a psicopatologia pode ser identificada por sinais comportamentais, vivências subjetivas e queixas relatadas pela pessoa e sua família.

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Psicopatologia da aprendizagem

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IQUE ATENTO! A psicopatologia é uma área de conhecimento interdisciplinar que visa se aprofundar nos estados psíquicos relacionados ao sofrimento mental.

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URIOSIDADE! A psicopatologia é uma área de conhecimento multidisciplinar, que envolve um conjunto de discursos com variados objetivos, métodos e questões.

Este campo tem como principal base a Psiquiatria. Porém, também envolve o conhecimento de outros áreas, como: Biologia, Neurociência, Psicologia, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Linguística e História.

3. O conceito de normalidade em psicopatologia O conceito de saúde e de normalidade na psicopatologia são questões complexas, uma vez que cada ser humano está inserido em crenças e culturas distintas. É claro que, ao tratar de situações em que as alterações mentais e comportamentais são acentuadas e de longa duração, a diferenciação entre o normal e o patológico não é tão complexa (DALGALARRONDO, 2008). Porém, existem casos limítrofes que oscilam entre a constatação do “saudável” e do “patológico”, o que torna difícil a identificação e compreensão de ambos os estados. Tal condição viabiliza dilemas como: o que é considerado normal? o que é patológico? onde termina a saúde e inicia a doença? Uma forma de responder a tais questionamentos é através da identificação do conceito de normalidade na psicopatologia, por meio de definições acerca do que é saúde e o que é doença mental. Desta forma, no Quadro 1, serão apresentados alguns exemplos de definições sobre os critérios de normalidade. O que é considerado normal e o que é considerado patológico?

Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

Quadro 1 - Critérios de normalidade Saúde pela ausência da doença É a presença da saúde pela ausência da doença, ou seja, não há sinais e sintomas de alterações mentais exacerbadas. Saúde ideal Neste caso, a normalidade se estabelece por uma norma ideal que é socialmente construída e referendada. Saúde pelo critério estatístico A normalidade consiste em características (peso, comportamento, sono etc.) observadas com mais frequência. Embasada em determinadas distribuições estatísticas na população em que se vive. Saúde pelo bem-estar É a normalidade não apenas como ausência de doença, mas sim considerando o bem-estar físico, social e mental do indivíduo. Saúde funcional É baseada em aspectos funcionais, não necessariamente quantitativos. É considerado patológico quando o sofrimento pode interferir na harmonia biológica do indivíduo e/ ou atingir seu grupo social. Saúde pelo processo Considera os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial de acordo com as mudanças em cada período etário. Saúde subjetiva A normalidade se dá pela percepção subjetiva do próprio indivíduo sobre o seu estado de saúde e bem-estar. Saúde como liberdade A normalidade, neste caso, é vista pela possibilidade de liberdade existencial. Caso esta liberdade não esteja presente, considera-se a chegada da doença. Saúde operacional Neste critério procura-se trabalhar operacionalmente com as definições sobre o que é normal e patológico. *Nota-se: Todo o conteúdo desta tabela foi adaptado para este livro e obteve como base os significados dos critérios por Dalgalarrondo (2008).

Como mostra o quadro, há diversos critérios adotados para normalidade e anormalidade na psicopatologia. Porém, a escolha de um significado para tais critérios depende de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional. A normalidade, em suas diversas constituições, se transpõe de forma flexível, demonstrando que seu significado se transforma de acordo com as condições individuais. Portanto, pode-se afirmar que o limite entre o normal e o patológico é impreciso. Por exemplo: duas pessoas podem se submeter a situações de risco, semelhantes ou iguais, porém o que vai determinar o normal e o patológico é a reação que cada uma delas terá diante da sua realidade.

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Psicopatologia da aprendizagem

Portanto, é para além do corpo que se deve olhar, pois o que adoecerá não são apenas partes ou totalidades anatômicas. O adoecimento vai além dos limites do corpo, envolvendo um mal-estar que pode, também, estar inserido nos diversos contextos sociais (CANGUILHEM, 2010). Os critérios de normalidade e patologia variam de acordo com a função dos fenômenos específicos com os quais se trabalha, e também de acordo com a opção teórica do profissional. Portanto, o campo da psicopatologia permite o uso e a associação de vários critérios de normalidade, desde que se mantenha uma postura crítica e reflexiva sobre como utilizá-los para compreender o ser humano.

4. Breve história da psicopatologia A história da doença mental enquanto fenômeno psicossocial caminha junto com a trajetória do homem. Em diferentes tempos, em vários séculos e décadas, encontram-se indícios de pessoas que sofreram alteração comportamental no que se refere ao descontrole emocional, a ponto de causar estranheza em seus semelhantes. A psicopatologia surgiu nos hospícios, com a institucionalização e segregação de pessoas ditas loucas, que apresentavam comportamentos atípicos, atitudes estranhas, personalidades desagradáveis ou incomuns e, até mesmo, “possessões demoníacas”. Na Idade Média, a loucura era considerada uma espécie de “possessão demonía­ ca” e, na Modernidade, época do Racionalismo, passa a ser vista como perda da consciência de si.

Ilustração de 1868 de um antigo prédio psiquiátrico em Paris.

Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

Institucionalização/segregação de pessoas com transtornos mentais.

Com os cuidados médicos e uma visão mais humanizada sobre a doença mental, a “loucura” passa a ser considerada psicopatologia, e não mais “possessão” ou perda da razão. Embora o surgimento da psicopatologia tenha se dado nos hospícios de alienados, aos poucos, este ramo da ciência foi ganhando autonomia, tornando-se um conhecimento independente da psiquiatria. Sendo assim, oferece indispensável colaboração aos profissionais de todos os grupos de ciências humanas e da saúde. Cada época histórica, no entanto, trata de maneira única os fenômenos caracterizados, avaliando aspectos culturais, sociais e políticos do período.

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URIOSIDADE! A psicopatologia é um fenômeno de caráter único do ser humano. Nos animais, pode haver alteração de comportamento, mas isso não é derivado de uma psicopatologia, pois o animal não põe em questão seu ser, ou seja, não há sentimentos como a culpa, o inconformismo, a raiva, o vazio, portanto, não há sofrimento psíquico.

A história da psicopatologia é determinada por fatores biológicos e sociais, tendo o seu desenvolvimento durante a primeira metade do século XIX. No início do século XIX, a psicopatologia se baseava em informações obtidas a partir da observação da manifestação do comportamento, atuando na interface entre a filosofia e a psiquiatria clínica.

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Psicopatologia da aprendizagem

Partindo para o século XX, houve o encontro da psicopatologia com a fenomenologia, havendo uma aliança entre os campos. Com sua ênfase na subjetividade e descrições neutras, a fenomenologia tornou-se a parceira ideal para a psicopatologia. A contribuição deste campo levou a uma pluralidade de pontos de vista psicopatológicos, que tiveram fortes influências dos métodos de Karl Jasper (1883 – 1969) e Ludwig Binswanger (1881 – 1966). Assim, a influência da fenomenologia fez com que a psicopatologia evoluísse para além de meras descrições de sintomas.

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TENÇÃO! A psicopatologia é o campo que descreve, define e classifica sinais e sintomas de doenças mentais. Esse campo prosperou no século XIX e, no início do século XX, com fundamental contribuição de Karl Jaspers e sua abordagem fenomenológica.

5. A educação inclusiva e a psicopatologia Para falar de inclusão, é importante entender a trajetória desde o início deste movimento até os dias de hoje. O movimento mundial denominado de educação inclusiva teve grande visibilidade no final da década de 1970, ganhando forças a partir de 1980. Obteve amplo crescimento, no entanto, no início do ano de 1990, por meio do documento elaborado durante a conferência mundial de educação para todos, na cidade de Jomtien, na Tailândia (Unesco, 1990). Na luta para que os direitos da educação se estabelecessem a todos, concebeu-se na Conferência Mundial de Educação Especial de Salamanca, em 1994, a resolução da Organização das Nações Unidas – Declaração de Salamanca (Unesco, 1994). Com a Declaração de Salamanca de 1994, todo aluno passou a ter direito à educação, com a garantia ao oferecimento de um nível adequado de aprendizagem. Ao destacar a valorização da individualidade de cada educando, independente de apresentar necessidades especiais ou não, a Declaração de Salamanca obteve avanços significativos. A história sobre o movimento da educação inclusiva mostra que alguns países buscam atender alunos com alguma necessidade especial nos sistemas educativos em geral. Esta ideia vem evoluindo com a extensão da educação inclusiva como uma reforma que visa responder à diversidade entre todos os estudantes. Países desenvolvidos, como os Estados Unidos da América, Canadá, Espanha e Itália foram os pioneiros na implantação de escolas e classes inclusivas. Na década de 70, em países escandinavos, a Europa iniciou o processo de educação inclusiva, gerando classes e escolas para esse propósito.

Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

Movimentos mais radicais para inclusão ocorreram na Itália. Na Espanha, entretanto, o processo foi mais gradual. Nos Estados Unidos e Canadá, ocorreram alguns movimentos que deram início à educação inclusiva. Em relação a outros países como Alemanha, Holanda, Luxemburgo e França, as experiências para a prática inclusiva foram criadas de maneira isolada. Os movimentos a favor de práticas inclusivas na educação obtiveram força a partir do final dos anos 80, ganhando destaque na década de 90 e expandindo até os dias de hoje. O Brasil ganhou visibilidade no século XIX ao inspirar-se na experiência Europeia. Embora iniciativas isoladas e precursoras tenham ocorrido anteriormente à década de 90, apenas nesta época a educação inclusiva obteve marcos importantes que, de fato, colaboraram para sua evolução. No século XVIII e em meados do século XIX, os indivíduos que apresentavam qualquer necessidade especial, como deficiência ou doença de saúde mental, eram protegidos em instituições residenciais e segregados socialmente. Em razão da preocupação com o desenvolvimento educacional, surge, no final do século XIX e meados do século XX, a inserção de classes especiais dentro de escolas regulares, visando oferecer à pessoa deficiente uma educação segregada. Com o objetivo de garantir o acesso e permanência de pessoas com qualquer tipo de necessidade especial no ensino regular, o Ministério da Educação (MEC) passou a fomentar a política de construção de sistemas educacionais inclusivos. Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por meio da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, garante a oferta de atendimento educacional especializado (AEE) na rede regular de ensino àqueles detentores de deficiência (BRASIL, 1990). No final do século XX, houve um movimento cujo objetivo era integrar indivíduos portadores de deficiência em ambientes escolares, com a preocupação de oferecer subsídios educacionais os mais próximos possíveis daqueles garantidos às pessoas “normais”. Porém, nesta fase, a educação se baseava no fato de que o aluno deveria ser alfabetizado até o limite de sua capacidade. Ainda que, na década de 90, as discussões fossem ampliadas, nota-se, pelas descrições históricas, que existiram poucos avanços no que se refere à efetivação da construção dos contextos educacionais inclusivos. Em 2001, o Plano Nacional de Educação (PNE), por meio da Lei no 10.172, de 9 de janeiro daquele ano, reafirmou a importância da garantia de vagas em estabelecimentos de ensino regular para alunos com diferentes tipos e níveis de

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Psicopatologia da aprendizagem

necessidades especiais e assegurou a Educação Especial como modalidade de educação escolar (BRASIL, 2001). No ano de 2006, surgiu o Plano Nacional de Educação e Direitos Humanos e, posteriormente, em 2007, chega o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE). No primeiro documento, existem temas relacionados às pessoas com deficiência e currículos escolares, tendo este sido elaborado pelo MEC, Ministério da Justiça, Unesco e Secretaria Especial dos Direitos Humanos. O PDE aborda questões pautadas na infraestrutura das escolas, no que diz respeito a salas com recursos multifuncionais, acessibilidade das edificações escolares e formação docente. O Decreto no 6.571, em 2008, dispõe que o AEE deve estar integrado ao projeto pedagógico do ensino regular e obriga a União a prestar apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino no oferecimento da modalidade (BRASIL, 2008). Como complemento, a Resolução no 4 CNE/CEB, de 2009, orientou o estabelecimento do AEE no sistema regular de ensino no contraturno e, preferencialmente, nas salas de recursos multifuncionais. A Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (BRASIL, 2012). O último Plano Nacional de Educação, vindo com a Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, definiu as bases da política educacional brasileira para os próximos 10 anos. Com relação à educação inclusiva, ele busca universalizar (preferencialmente no sistema regular de ensino) o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado para crianças e adolescentes de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. As limitações encontradas nestes documentos dizem respeito ao termo “preferencialmente”, que surge, na maior parte, sobre a educação inclusiva, e abre brechas para que pessoas com alguma necessidade especial permaneçam, muitas vezes, matriculadas apenas em escolas especiais.

Aluno com necessidade especial.

Vivenciamos um momento em que se fala, mundialmente, sobre inclusão escolar na rede regular de ensino. A legislação é explícita quanto à obri-

Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

gatoriedade em acolher e matricular todos os alunos. Porém, não é suficiente apenas esse acolhimento. O aluno com alguma necessidade especial, mais especificamente com algum tipo de psicopatologia, que é a população investigada nesta unidade, deve ter condições efetivas de aprendizagem e desenvolvimento de suas potencialidades. Os sistemas de ensino devem se organizar para que, além de garantir essas matrículas, assegurem, também, a permanência de todos os alunos, sem perder de vista a intencionalidade pedagógica e a qualidade do ensino. Os fundamentos teórico-metodológicos da Educação Inclusiva baseiam-se na concepção de educação de qualidade para todos e no respeito à diversidade dos educan­dos. Para isso, é imprescindível uma participação mais qualificada dos educadores para o avanço desta importante reforma educacional, que objetiva o atendimento das necessidades educativas de todos os alunos, com ou sem necessidades especiais. É um grande desafio fazer com que a Inclusão ocorra sem se perder de vista que, além das oportunidades, é preciso garantir o avanço na aprendizagem, bem como o desenvolvimento integral desta população.

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ARA SABER MAIS! Quer se aprofundar nos documentos e leis relacionados à Educação Especial? Consulte os links:

• Declaração de Salamanca: . Acesso em: 18 abr. 2015. • MEC/SEESP: . Acesso em: 18 abr. 2015. • Lei 8.069: . Acesso em: 18 abr. 2015. • Lei 10.172: . Acesso em: 18 abr. 2015. • Decreto 6.571: . Acesso em: 18 abr. 2015. • Lei 12.764: . Acesso em: 18 abr. 2015. • Lei 13.005: . Acesso em: 18 abr. 2015.

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Psicopatologia da aprendizagem

6. Identificando as principais psicopatologias da aprendizagem Por uma série de circunstâncias relacionadas às questões biopsicossociais, milhares de crianças, adolescentes e jovens precisam de uma atenção educacional específica, adaptada à sua necessidade pessoal e social. Aqueles cujas respostas psicoeducacionais e sociais exigidas por sua situação não são respondidas devido à falta de profissionais qualificados, ou em razão de meios inadequados, entre outros fatores, acabam, com frequência, não evoluindo em questões socioeducativas. A escola é um ambiente que ultrapassa seu papel acadêmico, influenciando no pleno desenvolvimento e bem-estar do aluno. Os sintomas advindos da psicopatologia exercem considerável impacto ao indivíduo, não só pelo fato da presença característica do distúrbio, mas, também, pela virtude da discriminação, que muitas vezes os impedem de participar de atividades escolares. As psicopatologias podem interferir no ambiente escolar, dificultando o desempenho daqueles que a possuem. Essa dificuldade pode surgir devido aos critérios e diagnósticos não tratados, que em grande parte possibilitam déficits psíquicos em: (1) comunicação, e (2) aspectos motores, (3) sociais, (4) emocionais e (5) comportamentais. Problemáticas advindas da psicopatologia, muitas vezes, dificultam o acompanhamento do ritmo normal de ensino-aprendizagem por parte do aluno, o que tornam necessárias intervenções educacionais específicas. Mas, como podemos identificar que o aluno possui algum tipo de psicopatologia que interfere na aprendizagem sem que exista um laudo com o diagnóstico concreto?

Diversas psicopatologias envolvem a aprendizagem.

Cada pessoa possui um ritmo diferenciado de desenvolvimento e amadurecimento da aprendizagem, que devem ser respeitados. Porém, aqueles alunos que apresentam não só ritmos distintos de aprendizagem, mas, também, características sintomáticas, que podem afetar as questões acadêmicas (de ensino e aprendizado), e interferir no campo social, de interação e de necessidades mais elementares da vida cotidiana, devem ser observados e receber a atenção necessária. Além disso, é

Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

muito importante trocar informações com a família sobre aspectos fenomenológicos observados. Em relação às psicopatologias que envolvem a aprendizagem, há uma série de especificidades que necessitam ser levadas em consideração. Para melhor compreender, vamos listar, a seguir, algumas queixas e características advindas de possíveis psicopatologias, como: (1) agitação; (2) ansiedade; (3) teimosia; (4) mentiras; (5) agressividades; (6) expressão de sentimentos de maneira inadequada; (7) dificuldade de interação/relacionamento; (8) déficits acadêmicos; (9) medos; (10) angústia; (11) falta de apetite; (12) problemas com sono e vigília. Essas são apenas algumas características que podem ser observadas em uma suposta doença mental. O campo da psicopatologia inclui um vasto número de fenômenos humanos diferenciados, associados a um diagnóstico de doença mental. Ao identificar sintomas característicos da psicopatologia, dois aspectos básicos devem ser considerados (DALGALORONDO, 2008): • As características dos sintomas – São as estruturas básicas dos sinais e sintomas. Essas estruturas são semelhantes em problemáticas da mesma classe. • Conteúdo – É a consistência da alteração estrutural dos sinais e sintomas. Este aspecto, geralmente, é individual e depende da vivência de cada um. Portanto, a característica é a forma dos sintomas (alucinação, ideia obsessiva, labilidade afetiva etc.), e o conteúdo é o que pode ser utilizado para preencher a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de perseguição etc.).

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TENÇÃO! Para memorizar, observe o exemplo: um escolar de família muito religiosa possui grande ansiedade e medos constantes e exacerbados de novas situações, chegando a desmaiar algumas vezes. Para lidar com seus temores, procura a religião, rezando sempre antes de alguns atos. Características dos sintomas – ansiedade, medo e desmaios. Conteúdo – Consistência do medo, da ansiedade, religião e crenças.

Ainda de acordo com Dalgalarrondo (2008), é importante observar além das características e conteúdo, o aspecto global do escolar, considerando sua postura, expressão corporal e atitudes psicológicas específicas e gerais. Para que não haja consequências devido a precipitações errôneas, é necessário observar o caso de forma detalhada e trocar informações com profissionais relacionados da área. As observações globais do indivíduo são necessárias e importantes, pois a pessoa adoece na sua totalidade. As funções psíquicas não funcionam de forma

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Psicopatologia da aprendizagem

isolada e as alterações psicopatológicas não são compartimentalizadas desta ou daquela função. Cada ser é único e, ao apresentar uma peculiaridade e subjetividade individual, desenvolve suas aptidões e/ou seus déficits e necessidades de maneira singular. A família também é um grande aliado neste desafio, trazendo informações adicionais sobre a interação e desenvolvimento do aluno no ambiente domiciliar, o que pode enriquecer as estratégias utilizadas para lidar com esta criança ou adolescente no ambiente escolar. A escola, ao possuir clara finalidade social, cultural e educativa em sua origem e posterior evolução, deve oferecer seu apoio para aqueles que têm necessidades derivadas da inabilidade da psicopatologia, a fim de motivar seus alunos a atingirem os objetivos que foram delimitados a eles, e interiorizarem normas sociais e valores culturais da sociedade onde vivem (GONZÁLES, 2007). Ao reconhecer as diferenças psicopatológicas que devem ser pedagogicamente atendidas, as escolas podem e devem colaborar de maneira eficaz para compensar qualquer forma de desigualdade, oferecendo respostas concretas para que esses sujeitos possam atingir os fins educacionais adequados à sua idade e capacidade. A fim de superar a condição da psicopatologia, a escola pode e deve oferecer a ajuda necessária de acordo com a condição de cada um, dentro do contexto educacional o mais normalizado possível. Com a finalidade de atingir a integração e inclusão de fato, o sistema educacional deverá proporcionar ao aluno o apoio necessário para sua escolarização, considerando, até mesmo, estratégias para o rompimento de suas necessidades. Para tal, é preciso romper paradigmas e estabelecer um ambiente educacional em que a segregação de alunos não seja considerada. A escola, para garantir o acesso aos direitos fundamentais do aluno, deve aceitar e valorizar as diferenças, incluir, acompanhar e oferecer tudo aquilo que o escolar necessita para seu desenvolvimento. É dever da escola oferecer ajuda necessária a todo aluno que precisa.

Vimos, até o momento, que o contexto da educação exerce papel

Unidade 1 – A psicopatologia e a escola

fundamental para a escolarização, interação e desenvolvimento do aluno com psicopatologia. Porém, as características desta população têm se mostrado um desafio para professores e outros profissionais que atuam na área. O sucesso no processo da educação escolar depende da integração entre os profissionais das áreas da educação e da saúde, além da interação com familiares dos escolares com psicopatologia. Para além, é importante que os profissionais que atuam na comunidade escolar tenham condições de conhecer as especificidades da psicopatologia e sejam capazes de identificar as necessidades que a mesma atribui. Para que a educação inclusiva aconteça de modo satisfatório, é importante considerar a formação inicial e continuada do educador e dos profissionais das demais áreas que lidam com essa população. Profissionais que se envolvem com a psicopatologia no âmbito educacional devem se capacitar para atuar nesta área, direcionado por conhecimentos científicos, e não apenas com base em experiências vividas ou por reações meramente expressas como resultado do acaso. Portanto, além de se aprofundarem no tema em questão, caberá aos profissionais planejarem e aplicarem ações mais completas, podendo tomar como base inicial os dados aqui descritos.

7. Entendendo a psicopatologia Todo ser humano possui uma história que é caracterizada pela soma das ações de suas vivências cotidianas. Aquele que não apresenta respostas adaptativas pode apresentar algum tipo de psicopatologia. Para ilustrar esta linha de pensamento, vamos começar com um estudo de caso de um aluno da 1ª série do Ensino Fundamental com problemas de adaptação ao contexto escolar ao qual estava inserido. Em seguida, abordaremos sua trajetória pelo discurso psicopedagógico que vigora em alguns ambientes escolares. Matheus ingressou para 1ª série do Ensino Fundamental com 6 anos e meio de idade. Nos primeiros meses de aula, a escola se queixou com a família sobre o comportamento do aluno, alegando que a criança apresentava comportamentos diferentes dos demais colegas: ele era bastante desatento, impulsivo, agressivo, e apresentava dificuldades na socialização. O aluno brigava diariamente com os colegas e professores. A mãe acreditava que o comportamento de Matheus era devido à idade da criança. Mesmo desconfiada de que tal comportamento era uma fase do garoto, levou-o a um médico psiquiatra que atende na rede pública. A criança recebeu diagnóstico de transtorno de atenção e hiperatividade (TDAH) com transtorno opositivo desafiador (TOD) associado.

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Marli (mãe) explicou à escola que os pais estavam passando por uma separação e que havia muitas brigas entre o casal. Posteriormente ao laudo médico e relatos da mãe sobre os problemas familiares, a escola, professores e alunos passaram a temer a criança e a esperar ações agressivas e impulsivas por parte dela. O aluno, ao vivenciar essa dinâmica escolar, passou a apresentar comportamentos agressivos mais intensos. Após um ano nesta escola, a criança foi transferida para outra instituição de ensino regular. Dentro de quatro anos, Matheus passou por três escolas. Na última tentativa de incluir a criança, a proposta não foi alfabetizá-lo, mas sim permitir que ele vivenciasse o Transtorno de Atenção e Hiperatividade associados a Transtorno Opositivo Desafiador. processo de socialização, com o intuito de “trabalhar” a sua “adaptação”. Tal proposta pedagógica falhou e foi justificada pela gravidade da problemática do aluno. Desta forma, a criança foi encaminhada para uma escola especial. Na escola especial, Matheus passou a se expressar de forma introvertida, era retraído, demonstrava medo da nova rotina e se comunicava respondendo apenas o que lhe era perguntado, soltando frases curtas e objetivas. Em atividades lúdicas, demonstrava pouca interação com os brinquedos, outras crianças e adultos. Apesar das dificuldades, os processos cognitivos de Matheus se mantinham preservados em relação a reconhecimento de letras e números, noção sequencial e de quantidade (conservação e reversão), orientação espaço-temporal, desenhos com formas e coordenação fina em atividades de recorte e colagens. Nas reuniões escolares quinzenais com a mãe, percebeu-se certa fadiga e desânimo com as constantes demandas da escola. Além disso, Marli relatou grandes preocupações com o futuro do filho: expressava sua angústia, demarcada pela suposição de que seu filho fosse depender financeiramente e emocionalmente de sua família por um longo tempo.

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ARA SABER MAIS! Podem haver outros transtornos associados ao TDAH? Pesquisas mostram que a maioria das pessoas com TDAH apresentam um ou mais distúrbios associados. A comorbidade mais comum é o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD). Desordens como depressão, ansiedade, tiques e a Síndrome de Tourette também podem ser observadas em pessoas com TDAH.

Algumas considerações sobre o caso O caso ilustra um paradoxo entre a inclusão e a exclusão, o que, atualmente, podemos encontrar em alguns contextos escolares. Pode-se notar esse paradoxo, por exemplo, na tentativa da escola de socializar o aluno, eximindo-o do seu direito à aprendizagem acadêmica, e ao encaminhá-lo para outras escolas ou uma instituição especial, alegando a gravidade da problemática da criança. Neste caso, a escola mostrou uma visão assistencialista ao lidar com uma situação desafiante. Aceitou a inserção da criança no ambiente educacional, porém, apenas acatou as observações médicas (diagnóstico), sem, no entanto, buscar alternativas que mitigassem os problemas do aluno, auxiliando-o no contexto escolar. Ao destacar a problemática do aluno, acabou por contribuir para a formação de mecanismos que excluíssem o próprio sujeito e sua singularidade. A partir do caso apresentado, interessa-se pensar no efeito do processo de segregação pautado no diagnóstico, eximindo a subjetividade e potenciais que a criança possui. Neste e em outros casos, é importante reconhecer a dificuldade e a problemática do aluno, e até seu diagnóstico advindo de uma psicopatologia. Desde que isso auxilie na resolução das necessidades, e supere barreiras para que ocorra a inclusão efetiva. Portanto, a educação e a formação individual para identificação, realização pessoal, integração e promoção social são determinadas pela igualdade de oportunidades. Assim, este caso procurou ilustrar uma experiência escolar com o quadro psicopatológico de uma criança que desvia do padrão, quando o contexto escolar não cumpre com sua proposta.

8. Principais psicopatologias detectadas nos alunos em contexto escolar A infância e a adolescência são fases do desenvolvimento que implicam mudanças físicas, psicológicas, cognitivas e socioculturais, tendo como finalidade a aquisição da autonomia e identidade. As variações de contextos sociais e interpessoais compõem inúmeros desafios que podem se tornar fatores de risco para a saúde e para o ajustamento social e emocional desta população.

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O período escolar abarca diversas oportunidades e escolhas que envolvem ampla atividade psicológica. Esta fase constitui um período crítico de desenvolvimento emocional, gerando comportamentos que podem interferir na saúde mental do indivíduo. Portanto, é importante que os profissionais da educação e da saúde, pais e familiares criem condições para que as crianças e jovens desenvolvam suas competências pessoais e sociais, para que se tornem capazes de: • resolver seus problemas harmoniosamente; • tomar decisões quando necessário; • conduzir conflitos interpessoais, de expressão e comunicação; lidar com frustrações e emoções. O desenvolvimento dessas competências auxilia em condutas “saudáveis” que visam a capacidade de escolhas e manutenções positivas para a saúde e bem-estar. De acordo com Dejours (1992), a saúde é a capacidade de buscar um projeto de vida que direcione o bem-estar. Neste sentido, cabe ao sistema educacional construir respostas preventivas perante as características e dimensão dos problemas de saúde mental. Jaspers (2003) afirma que a psicopatologia como uma ciência autônoma procura compreender, aprender e refletir sobre o que ocorre na alma humana. Portanto, o campo da psicopatologia é fundamentado na observação e sistematização de fenômenos psíquicos do ser humano, e auxilia, incansavelmente, profissionais que atuam com elementos da saúde mental. Neste tópico, serão brevemente citadas e explicadas algumas psicopatologias possíveis de serem encontradas em crianças, adolescentes e jovens em contexto escolar. Será utilizado como referência o Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (DSM-5, 2014).

9. Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade Muitas vezes tendemos a associar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) a um elevado problema comportamental de caráter “indisciplinar” de uma criança sem limites e sem modelos educacionais aceitáveis. Na verdade, ao se tratar de déficit de atenção e hiperatividade, estamos nos referindo a um quadro de sinais e sintomas de base neurológica que pode resultar em problemas relevantes ao desenvolvimento biopsicossocial. De acordo com o DSM-5 (2014), este transtorno é caracterizado por persistentes características de desatenção e/ou hiperatividade que interferem no funcionamento e desenvolvimento do indivíduo, com níveis que variam de leve a grave.

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De acordo com alguns aportes teóricos, o TDAH se manifesta mais frequentemente em meninos com idade anterior aos sete anos, podendo, no entanto, o diagnóstico ocorrer mais tardiamente (BIRD et al., 1998). Os ambientes domiciliar e escolar, por ser um local de grande interação das crianças e adolescentes, são locais propícios para identificar as manifestações dos sinais e sintomas do TDAH. Os alunos manifestam suas necessidades escolares e sociais por meio de descuido em atividades escolares e outras tarefas, como: desorganização, dificuldade em concretizar alguma tarefa, erros grosseiros em atividades acadêmicas, déficits na realização de atividades de vida diária (higiene, vestuário e alimentação) e comprometimento na interação social. São alunos que apresentam facilidade em se distrair, além de dificuldade em se manter quieto. Normalmente, por conta dos déficits da psicopatologia, esses alunos apresentam fracasso escolar motivado pela falta de concentração e inquietação em hábitos de estudo. Quanto às repercussões escolares, alunos com TDAH, muitas vezes, demonstram dificuldade na integração da linguagem, problemas de leitura (compreensão e expressão), de escrita, de coordenação (déficits visomotores), dificuldade na execução de tarefas matemáticas e menor capacidade de aprendizagem geral (GONZÁLEZ, 2007). A perturbação e dificuldade apresentadas irão variar de acordo com a idade e o nível de desenvolvimento do sujeito.

10. Transtorno Específico de Aprendizagem O Transtorno Específico de Aprendizagem (TEA) muitas vezes é interpretado, para aquele que não o conhece, como preguiça, desleixo e falta de vontade de aprender. Porém, não se trata disso. O TEA é uma dificuldade na aprendizagem e no uso das atividades acadêmicas, com alteração em um ou mais dos processos cognitivos básicos que envolvem o entendimento e/ou uso da linguagem oral ou escrita. Pode se manifestar pela falta de habilidade de se expressar ou de compreender a leitura/ escrita, dificuldade em dominar a ortografia ou de realizar cálculos matemáticos. Esses sinais e sintomas devem persistir por, pelo menos, 6 meses antes de serem identificados como possível TEA. São observadas no TEA interferências significativas no desempenho acadêmico, como a expressão de habilidades acadêmicas abaixo do esperado para a idade cronológica do indivíduo. As dificuldades de aprendizagem se iniciam no período escolar e se manifestam completamente diante de exigências pelas habilidades acadêmicas (DSM-5, 2014).

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TENÇÃO! No caso do TEA, as dificuldades acadêmicas não podem ser explicadas por outros transtornos mentais ou neurológicos (por exemplo: a deficiência intelectual), adversidade psicossocial, falta de proficiência na língua de instrução acadêmica ou instrução educacional inadequada.

De acordo com o DSM-5 (2014), estão envolvidos no TEA a Dislexia e a Discalculia. Em suma, a Dislexia é referenciada pela dificuldade de aprendizagem caracterizada por problemas no reconhecimento preciso ou fluente da palavra, na interpretação e ortografia. A Discalculia (termo alternativo) é considerada um déficit no processamento de informações numéricas, nas aprendizagens de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluentes. Escolares com TEA compartilham o fardo de baixo desempenho escolar e, muitas vezes, são rotulados como alunos “incompetentes”. Alunos com TEA não precisam ser rotulados ou receber especulações sobre seu desempenho. Necessitam, sim, de apoio e orientação profissional, para que superem as barreiras impostas por suas dificuldades, e ressaltem suas potencialidades.

11. Transtorno de Oposição Desafiante Ao se deparar com um aluno de humor raivoso e comportamento desafiador, podemos acreditar que essa criança, adolescente ou jovem tem vários problemas no lar e não recebe o limite e a atenção necessária para conter seu comportamento. Este fato pode ser verídico. Porém, esse indivíduo, independente dos fatores de risco, pode apresentar sinais que vão muito além de uma questão de limites e educação no lar. O aluno pode apresentar Transtorno de Oposição Desafiante (TOD). O TOD é classificado pela presença de um padrão de humor raivoso e irritável, condutas desafiantes ou índole vingativa. Para diferenciar o TOD de má educação e falta de limites advindos da conduta familiar, é preciso observar com cautela a duração dos comportamentos questionáveis e perceber se o aluno apresenta, por no mínimo 6 meses, pelo menos quatro dos sinais seguintes: (1) perda da calma com frequência; (2) frequentemente sensível e facilmente incomodado; (3) raivoso e ressentido; (4) questionador das figuras de autoridade; (5) desafiador acintoso e contrário à obediência; (6) incomodado com outras pessoas; (7) maldoso ou vingativo mais de uma vez em tempos recentes (DSM-5, 2014). A característica principal deste transtorno é a conduta persistente e repetitiva de comportamentos que infringem os direitos ou normas sociais do próprio indivíduo e de outrem.

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Esta perturbação comportamental pode se manifestar nos diversos contextos (escolar, domiciliar e social) do indivíduo. No âmbito escolar, devido às alterações comportamentais, o aluno pode sofrer dificuldades de aprendizagem e socialização. Tais características do TOD podem acarretar no aprendizado ineficiente e até suspensão ou expulsão escolar.

12. Transtorno do Espectro Autista O Transtorno do Espectro Autista (TEA) envolve diversos déficits demarcados por perturbações do desenvolvimento neurológico. Esses déficits aparecem em múltiplos contextos e se manifestam em fatores sociais e de comunicação, como por exemplo: (1) dificuldade na reciprocidade socioemocional; (2) problemas com o uso da comunicação não verbal para interagir socialmente; e (3) déficits no ajuste do comportamento para interação social. Considerado um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), o TEA tem influência genética e seus sintomas são manifestados devido às alterações em estruturas encefálicas. A seriedade dos sintomas se dá na comunicação social e em padrões comportamentais restritos e repetitivos (DSM-5, 2014). Devido às alterações de comportamento e dificuldades significativas na comunicação e interação social, alunos com TEA podem apresentar dificuldades escolares, de aprendizagem e no desenvolvimento pessoal, como déficits no domínio da linguagem e no uso da imaginação para lidar com brincadeiras/jogos simbólicos, dificuldade de interação, comportamentos inapropriados e ausência no domínio da linguagem. Esses déficits podem, consequentemente, interferir no processo de aprendizagem das atividades escolares, sociais e de vida diária. A fim de minimizar os déficits sociais, comportamentais e de comunicação, é importante envolver o aluno em situações de interação com o próximo e nas atividades. É importante explorar as potencialidades do aluno, respeitando sempre seus limites. Além disso, a utilização de algumas técnicas,

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) envolve déficits demarcados por perturbações do desenvolvimento neurológico.

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como preparar o aluno nas mudanças de rotina, ampliar o seu tempo para a realização das tarefas, ser claro em explicações e oferecê-las quantas vezes for possível, devem ser consideradas, desde que estas sejam eficazes para o progresso escolar e social do estudante.

13. Transtornos do Desenvolvimento Intelectual O Transtorno do Desenvolvimento Intelectual (TDI) é popularmente conhecido por Deficiência Intelectual (DI). O TDI pode surgir em diferentes níveis (leve, moderado, grave e profundo), proceder de modo independente, ou ter associado outro transtorno mental ou físico. Esse transtorno se manifesta ao longo do desenvolvimento humano, por meiode alterações intelectuais, cognitivas e adaptativas que podem limitar o indivíduo nas suas atividades diárias, como a comunicação, participação social e independência em múltiplos ambientes (casa, escola, trabalho e comunidade). Com relação à escola, as dificuldades dos alunos com TDI podem aparecer claramente nas aprendizagens acadêmicas, por meio de déficits nas funções intelectuais que envolvem o raciocínio, a resolução de problema, o planejamento e organização de ideias, os pensamentos abstratos e as alterações na coordenação ou função motora. Esses déficits, portanto, podem resultar em fracasso no desenvolvimento cognitivo, psíquico, físico e sociocultural. O aluno com TDI não precisa ser identificado ou caracterizado por suas limitações significativas. Ele necessita de apoio educacional e social contínuo. Para isso, a escola deve propor modificações de forma que possibilite ao aluno um ensino de qualidade, promovendo medidas que o auxiliem no acesso e compreen­ são do conhecimento, de acordo com suas capacidades. Além das psicopatologias apresentadas, existe uma extensa lista que caracteriza e explica os sinais e sintomas clínicos de cada uma delas. Seria possível refletir páginas e páginas sobre cada quadro clínico, entretanto, o propósito não é tornar-se especialista em cada problemática, mas sim refletir sobre as psicopatologias mais frequentes no contexto escolar.

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ARA SABER MAIS! Para saber um pouco mais sobre os transtornos relacionados à saúde mental, consulte o Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (DSM-5): American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders – DSM-5. 5 ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013.

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Conclusão Esta Unidade procurou contribuir com reflexões acerca do campo da Psicopatologia no contexto educacional. Buscou percorrer um caminho que detalhasse a interface entre a Psicopatologia e a escola, com o objetivo de compreender os passos para a inclusão efetiva desta população. O aluno com psicopatologia, devido à dificuldade no funcionamento das funções mentais, pode apresentar especificidades que devem ser pedagogicamente atendidas. Ao compreender as desigualdades psicopatológicas, devemos pensar em formas de compreender o indivíduo, sem ressaltar suas diferenças. E, a partir de um olhar crítico, oferecer respostas para que essa população consiga atingir fins educacionais adequados à sua idade e capacidade. No entanto, com o intuito de continuar a percorrer essa caminhada, na próxima unidade, continuaremos a investigar as questões do campo da psicopatologia, porém, com enfoque nas condutas motoras e funções cognitivas.

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Glossário – Unidade 1 Atípico – Aquilo que não é típico, que não é comum. Biopsicossocial – É a compreensão do homem por meio de três fatores, o biológico, o psicológico e o meio social. Cognitivo – Ato ou efeito de processar conteúdos mentais que fazem parte do desenvolvimento intelectual. Aquisição de conhecimento. Déficit – É a falta de algo. Em termos médicos, déficit é um distúrbio que causa desenvolvimento inadequado de aptidões mentais, físicas e sociais. Hospício – Instituição que acolhe pessoas com transtornos mentais. Esse termo, atualmente, é denominado como hospital psiquiátrico. Labilidade afetiva – Mudanças bruscas de humor ou de estado de ânimo, sem motivos aparentes. Instabilidade afetiva. Paradigma – Adotar a referência de um modelo estabelecido. Psicopatologia – área de estudos que está na base da psiquiatria e tem por objetivo estudar os sofrimentos e transtornos mentais. Psíquico – Diz respeito ao cérebro e seu amplo funcionamento. Segregar – É o ato de separar, isolar ou expulsar o indivíduo do convívio em diferentes contextos. Transtorno – Desordem na área psíquica. É o ato ou efeito de transtornar, causando desarranjo ou distúrbios psíquicos relacionados a uma resposta emocional. Visomotor – Movimentos coordenados entre o sentido da visão e função motora da mão.

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UNIDADE 2

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PSICOPATOLOGIA DAS CONDUTAS MOTORAS E DAS FUNÇÕES COGNITIVAS

Capítulo 1 Apresentação, 34 Capítulo 2 Entendendo o desenvolvimento motor, 34 Capítulo 3 O que são transtornos de condutas motoras?, 37 Capítulo 4 Entendendo o desenvolvimento cognitivo, 43 Capítulo 5 Transtornos cognitivos da psicopatologia, 45 Capítulo 6 O processo da aprendizagem e a psicopatologia das

condutas motoras e das funções cognitivas, 49 Conclusão, 51 Glossário, 52

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1. Apresentação Esta unidade contempla reflexões sobre o tema “Psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas”. Serão abordadas as ocorrências dos transtornos das condutas motoras e das funções cognitivas no que se refere aos principais déficits em relação ao processo de aprendizagem e desenvolvimento do indivíduo. Para compreender tais etapas, é necessário, primeiramente, familiarizar-se com o processo de desenvolvimento e organização do sistema motor e cognitivo de ordem psíquica. Por se tratar de um assunto complexo, muitas reflexões surgirão ao longo da leitura, tais como: como ocorre o processo de desenvolvimento motor e cognitivo? Como se dá a organização da estrutura motora e cognitiva? O que são transtornos de condutas motoras e cognitivas? Quais são as psicopatologias mais frequentes das condutas motoras e das funções cognitivas? Como ocorre o processo de aprendizagem diante dos transtornos motores e das funções cognitivas?

A medula espinhal conduz impulsos nervosos das regiões do corpo até o encéfalo, produz impulsos e coordena as atividades musculares e os reflexos.

Nesta segunda unidade, tais reflexões e perspectivas serão aprofundadas com o objetivo de compreendermos e construirmos um raciocínio crítico sobre o tema em questão.

2. Entendendo o desenvolvimento motor O desenvolvimento motor é um conjunto de processos de mudança que tem lugar durante toda a vida, com acentuada expressão na infância e na adolescência. A atividade motora é visível desde o embrião que, mesmo ainda sem a formação do tubo neural, possui fibras musculares que fazem parte do desenvolvimento e auxiliam na formação do ser. Tais fibras vão se estruturar a partir de incitações fisiológicas do organismo e, posteriormente, em função do sistema sensorial. Ocorre, portanto, um processo de organização e integração entre os diversos sentidos e funcionamentos da fisiologia humana.

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Esse processo de organização progride para a maturação que integra o movimento, os sentidos, o ritmo, formando uma construção espaço-temporal, que progride para o reconhecimento de objetos, sequências, tamanhos, até chegar ao reconhecimento e compreensão da imagem e esquema corporal, obtendo, por fim, a atividade motora verbal, a fala.

Mas como ocorre a organização da estrutura motora? A organização da estrutura motora do tônus e da propriocepção ocorrem progressivamente, gerando uma harmonia ao movimento. Essa organização se dá pela integração sensorial e motora, que acontece por meio do sistema nervoso central (SNC), em operações cada vez mais complexas. O desenvolvimento da conduta motora é uma atividade complexa, que envolve grande campo das áreas corticais, com a interação entre milhares de células nervosas denominadas neurônios. Os neurônios são formados por dendritos, axônio e corpo celular. Essas três partes são responsáveis por receber, processar e conduzir informações. A condução sináptica entre um neurônio e outro ocorre por meio do corpo celular, que recebe informações e as transmite para o axônio. Este, por sua vez, conduz sinais elétricos até os dendritos do próximo neurônio. A transmissão de mensagens só acontece quando o axônio está maduro, ou seja, completamente formado. O axônio se torna maduro quando é envolvido por uma camada de gordura e proteína denominada mielina. O processo de mielinização acontece de modo diferenciado, uma vez que os neurônios se mielinizam em épocas distintas do desenvolvimento do organismo. O desenvolvimento motor se dá ao longo da vida, sob contínua alteração, proporcionado pela interação entre exigências biológicas e condições ambientais. Para compreender melhor essa alteração, discorreremos, brevemente, sobre algumas etapas do desenvolvimento motor humano (GALLAHUE; OZMUN, 2005): 1. Fase motora reflexa – Ocorre na vida intrauterina até um ano de idade. É a presença de mo-

Dendritos, Axônio e Corpo Celular compondo o neurônio.

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vimentos involuntários (reflexos), que são a base para o desenvolvimento motor, por meio dos quais ocorrem os primeiros contatos do indivíduo com o meio ambiente. 2. Fase dos movimentos rudimentares – Ocorre nos dois primeiros anos de idade. Refere-se aos primeiros movimentos voluntários que, apesar de imperfeitos e descontrolados, são de suma importância para a aquisição de movimentos mais complexos. Corpos de neurônios realizando condução sináptica.

3. Fase dos movimentos fundamentais – Ocorre dos dois aos sete anos de idade. Nessa fase, as crianças exploram suas capacidades motoras. Assim, os movimentos fundamentais são básicos para qualquer outra combinação de movimentos.

4. Fase dos movimentos especializados – Ocorre dos 7 aos 14 anos de idade. A criança e o adolescente começam a refinar suas habilidades fundamentais e passam a combiná-las para a execução de inúmeras atividades, sejam cotidianas ou de lazer. 5. Fase dos movimentos adquiridos – Ocorre dos 14 anos de idade em diante. É a utilização do repertório motor, adquirido ao longo da vida, para a realização de atividades do cotidiano, instrumentais e de lazer. 6. Fase motora madura – Ocorre na fase adulta até atingir a velhice. Nesta fase da vida, ocorre o declínio do desempenho motor, causado por múltiplos fatores biológicos, sociais e ambientais. O desenvolvimento é caracterizado por uma série de marcos que englobam as habilidades motoras fundamentais, levando o indivíduo a adquirir características significativas e de importantes repercussões. As habilidades motoras não ocorrem de forma isolada. e se desenvolvem sistematicamente, de acordo com as capacidades adquiridas. Cada aquisição motora influencia no comando mental, no que se refere às funções cognitivas e condutas motoras (FONSECA, 2014). O desenvolvimento e desempenho motor ocorrem de maneira contínua e se alteram ao longo da vida. O comportamento motor se adapta e evolui de acordo com a estrutura biológica, influência ambiental e necessidades individuais. Sendo assim, pode-se acreditar que a evolução neuropsíquica proporciona uma evolu-

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ção ou integração sensório-motora, que acontece por meio do sistema nervoso central, em operações cada vez mais complexas.

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ARA SABER MAIS! Ao imaginarmos um simples movimento de agarrar uma caneta, levantá-la e colocá-la de volta a mesa, acreditamos que o processo de cumprir essas etapas é simples. Vamos tentar refletir sobre esse processo? Para o SNC, sua execução seria como imaginamos? Para o SNC, esse “simples” processo é um árduo trabalho. A execução do movimento inclui diversas etapas, como: (1) compreender as propriedades físicas do objeto; (2) buscar referências anteriores sobre o objeto e movimento; (3) enviar impulsos nervosos para os músculos aplicarem uma força determinada e realizar a contração muscular; (4) relaxar vagarosamente o músculo para soltar o objeto no momento oportuno. Nestas etapas de movimento, é necessária a organização de programas motores e, para a intervenção de diversas sensações, é fundamental a participação de diferentes centros nervosos motores e sensoriais originários de receptores sensoriais, articulares e cutâneos do membro solicitado.

3. O que são transtornos de condutas motoras? No campo da Psicopatologia, podemos encontrar, com frequência, transtornos mentais que influenciam nas condutas e funções motoras. A psicopatologia da função motora é a desorganização psicomotora, causada por um transtorno mental. Essa desorganização causa inquietação corporal, desorganizando as funções de atividades básicas do indivíduo. O que é identificado nas psicopatologias da conduta motora é uma perturbação no esquema corporal, na propriocepção (imagem corporal) e no tônus muscular, o que, consequentemente, gera desordem nas noções de espaço, lateralidade, ritmo, além de disfunções da coordenação motora, do equilíbrio, da força e dos reflexos. O corpo do indivíduo está em constante interação com o outro, consigo mesmo e com o mundo. O transtorno mental, ao se instalar, causa uma grave desorganização nas relações do indivíduo, dificultando a interação do ser nos seus diversos contextos (social, escolar e familiar). Vale ressaltar a importância de dissociar as alterações psicopatológicas da conduta motora de alterações físicas causadas por deficiências neurológicas (como paralisia cerebral, mielomeningocele, trauma crânioencefálico etc.). Como nosso foco de estudo é a Psicopatologia, excluiremos qualquer alteração motora que seja exclusivamente relacionada às deficiências de ordem neurológica, e focaremos nas disfunções motoras advindas de uma psicopatologia.

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ARA SABER MAIS! As principais causas de distúrbios motores são as falhas na comunicação dos neurônios, causados por estímulos externos concorrentes e por distúrbios neuroquímicos.

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TENÇÃO! Como nosso foco são os transtornos mentais advindos da psicopatologia das condutas motoras e funções cognitivas, é fundamental dissociar as alterações psicopatológicas das alterações motoras causadas por deficiências neurológicas (como paralisia cerebral, mielomeningocele, trauma crânioencefálico etc.).

Portanto, para compreendermos melhor a psicopatologia das funções motoras, serão abordados os aspectos mais frequentes dos distúrbios que alteram o movimento, sendo estes: (1) instabilidade psicomotora; (2) atraso motor; e (3) tiques e arritmias. Instabilidade Psicomotora A instabilidade psicomotora trata de uma alteração na integração entre a postura e a motricidade. O início desta instabilidade se dá precocemente, e pode ter origem genética ou surgir como consequência de uma psicopatologia. Os sinais e sintomas da instabilidade psicomotora podem ser observados desde quando a pessoa ainda é um bebê, pela ausência ou déficits dos reflexos involuntários. Nos primeiros anos de vida, a instabilidade se torna mais visível, pois está é a fase de descoberta e início de movimentos voluntários (engatinhar, andar, pegar, soltar etc.). O atraso, ausência ou descoordenação extrema dos movimentos podem indicar a presença de instabilidade psicomotora.

Criança nervosa.

Portanto, a instabilidade psicomotora pode apresentar características clínicas, como: (1) dificuldade de expressão corporal; (2) presença de movimentos exacerbados; (3) atitudes expansivas e impulsivas; (4) agitação e inquietação; (5) incapacidade de relaxar; (5) descontro-

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le emocional; (6) tiques; (7) atividades desorganizadas e descoordenadas; (8) desatenção; (9) alterações das relações interpessoais; (10) alteração motora da fala. Qualquer transtorno psicomotor afeta o indivíduo como um todo, pois atinge uma unidade indissociável, composta pelas funções cognitivas, afetivas e motoras. Apesar de a instabilidade atingir uma unidade indissociável, não se deve considerar que haverá a presença de alterações na inteligência, uma vez que não há relação entre o nível intelectual e a instabilidade motora. Porém, em alguns casos, a instabilidade motora e o déficit intelectual podem ocorrer concomitantemente. Os transtornos psicomotores, contudo, não podem ser observados e tratados como um distúrbio unicamente motor, pois podem incidir de uma psicopatologia que afeta as condutas motoras. Inibição motora A atividade motora, conforme demonstrado anteriormente, ocorre por meio da inter-relação entre a atividade corporal e o funcionamento psicológico, considerando aspectos qualitativos e quantitativos do comportamento motor singular. A inibição motora pode se manifestar pela lentidão geral dos movimentos. São indivíduos “desajeitados”, lentos para realizarem atividades, caem mais facilmente e apresentam equilíbrio prejudicado. A lentidão motora não afeta apenas as atividades físicas, mas também traz disfunções na fala, nas expressões e no curso do pensamento, além de humor deprimido. Outras características observadas em indivíduos com atraso motor são: (1) respostas curtas (monossilábicas), (2) lentidão nas respostas; (3) pouca gesticulação; (4) inibição; (5) angústia diante das situações; (6) cansaço e fadiga e; (5) expressão facial triste ou mesmo ausência de expressão. Aquele que apresenta inibição motora se esforça para não ser notado, mas se comporta de forma em que é improvável que não seja observado por suas inabilidades e dificuldades. Tiques Os tiques são movimentos involuntários, arrítmicos e incontroláveis de contrações musculares rápidas que ocorrem repetidas vezes e de maneira estereotipada. Essa disfunção ocorre de forma inapropriada, repentina e despropositada, como se um ato primitivo se tornasse habitual e passasse a ser reproduzido involuntariamente sem causa e objetivo aparente (AJURIAGUERRA; MARCELLI, 1991). É comum que os tiques incidam na face e ombros, porém podem aparecer em outras partes do corpo, ou mesmo estarem presentes na fala. Para além, os

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tiques podem se localizar unicamente em um local ou se difundir em demais estruturas do corpo. Piscar os olhos, mover os ombros, sacudir a cabeça, franzir a testa, pigarrear, estalar a língua, fungar, e emitir vocalizações são alguns exemplos de tiques que podemos observar comumente. Além desses movimentos relativamente mais comuns de se observar, há aqueles mais elaborados, como por exemplo: atos gestuais (coçar determinada parte do corpo, fazer careta etc.), imitar repetidas vezes um movimento (ecopraxia), realizar gestos obscenos (copropraxia), cheirar repetidamente um objeto, refazer os próprios passos (por exemplo: andar nas pontas dos pés), rodopiar, assumir e manter posturas incomuns. Além dos tiques citados, há também aqueles que envolvem a área motora da fala, que são: (1) reproduções das próprias palavras ou sons (palilalia); (2) modificações no tom da voz; (3) repetição da última palavra ou expressão ouvida (ecolalia);e emissão de palavras ou expressões inadequadas (coprolalia). Os tiques da fala motora são emitidos de forma repentina e espontânea (AJURIAGUERRA; MARCELLI, 1998). O comportamento repetitivo dos tiques pode ocorrer devido a alterações psicopatológicas, podendo envolver apenas alguns músculos e sons simples, ou acometer múltiplos grupos musculares e palavras sem contexto. Os tiques podem aparecer de diversas formas e com intensidade e velocidade variadas, sendo que os mais frequentes são aqueles de movimentos rápidos. Os tiques lentos podem estar presentes como consequência da psicopatologia, porém são mais incomuns. Ficar alerta a esses sinais é de extrema importância, pois as características dos tiques advindos de uma psicopatologia podem afetar gravemente a independência e autonomia daqueles que a possuem. Além disso, é possível comprometer o desempenho da aprendizagem e interação social nos ambientes em que essa população está inserida. Movimentos estereotipados Os movimentos estereotipados são comportamentos motores repetitivos que surgem sem um propósito claro e de maneira súbita. Esses movimentos costumam ser ritmados, sem função adaptativa evidente. O repertório de comportamento motor é variado e cada indivíduo pode apresentar um padrão comportamental específico. Os movimentos estereotipados são identificados por não lesivos e lesivos (DSM-5, 2013). Os não lesivos geralmente são: (1) balanço do corpo; (2) movimentos do tronco para frente e para trás, (3) rotação da cabeça; (3) movimento de chacoalho das mãos. Os lesivos compreendem bater no próprio corpo, jogar-se ao chão, puxar os cabelos etc.

Unidade 2 – Psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas

Movimentos estereotipados podem causar sofrimento para o indivíduo, uma vez que, além de complexos, tais movimentos prejudicam a exploração e interação social, o que traz consequências para a realização e aprendizado de atividades elementares e escolares.

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ARA SABER MAIS! Para saber mais sobre a psicopatologia das condutas motoras, consulte: AJURIAGUERRA, J.; MARCELLI, D. Manual de psicopatologia infantil de Ajuriaguerra. Porto Alegre: Artmed, 1998 e COHEN, D.M.; MARCELLI, D. Infância e Psicopatologia. 8 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

Algumas psicopatologias das condutas motoras Neste tópico, citaremos e explicaremos, brevemente, algumas psicopatologias das condutas motoras possíveis de serem encontradas em crianças, adolescentes e jovens. Utilizaremos como referência o Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (DSM-5, 2014).

Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) As habilidades motoras coordenadas no TDC se apresentam abaixo da média esperada para a idade cronológica do indivíduo. Os déficits encontrados neste transtorno estão relacionados à falta substancial da coordenação, lentidão e imprecisão no desempenho das habilidades motoras grossas e finas (DSM-5, 2014). Os indivíduos com TDC tendem a derrubar objetos com frequência, a esbarrar no que está por perto, e a apresentar dificuldade em apanhar um objeto, fazer recortes com tesoura, escrever e praticar esportes. O TDC forma um grupo bastante diversificado, pois a dificuldade para algumas pessoas pode estar presente em inúmeras áreas, enquanto que para outras o problema pode surgir apenas em atividades e contextos específicos. Os déficits na aprendizagem surgem com limitações nas habilidades motoras atribuídas pelo TDC. O indivíduo apresenta, muitas vezes, dificuldade para acompanhar atividades acadêmicas no tempo atribuído; desajeitamento e inconsistência no desempenho de tarefas, como escrita correta e organizada; problemas de ritmo de aprendizagem; ; déficit na realização do uso dos dois lados do corpo de forma coordenada e equilibrada, com em atividades esportivas; e dificuldade na realização de atividades cotidianas, como autocuidado, desempenho escolar, atividades sociais e de lazer. A presença do TDC exige que as crianças e adolescentes que o possuem sejam observados e recebam a atenção e auxílio necessários para seu desenvolvimento, não só no que diz respeito aos problemas atribuídos às habilidades motoras e

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suas consequências, mas, também, em possíveis manifestações de ordem emocional e comportamental. Devido ao fracasso e prejuízo que o TDC pode causar nas atividades de aprendizagem e interação, a população que se encontra nesta condição de vulnerabilidade psicossocial pode desenvolver sentimentos de baixa estima e inferioridade.

Transtorno do Movimento Estereotipado (TME) De acordo com o DSM-5 (2014), o TME consiste no comportamento motor repetitivo que compromete o desenvolvimento em atividades acadêmicas e interações sociais. Os sinais e sintomas podem aparecer em graus que vão de leve a grave, com comportamentos autolesivos ou não. Este transtorno está associado a alguma condição genética ou fatores ambientais (por exemplo, o uso do álcool e drogas). O Transtorno de Movimento Estereotipado pode ser caracterizado como um sintoma primário ou secundário a um distúrbio, podendo estar associado a uma gama de síndromes neurogenéticas, como X-Frágil, Rett etc. (DSM-5, 2014). Esse transtorno afeta o nível de aprendizagem, devido à presença de modificações comportamentais, de movimentos repetitivos sem propósito ou de condutas autolesivas, que contribuem com falta de interesse nas atividades, alterações afetivas e isolamento social. Além disso, por ser um sintoma secundário a uma síndrome o TME pode apresentar alterações cognitivas associadas às alterações de movimento.

Transtorno de Tique (TT) O Transtorno de Tique se manifesta de forma repentina, rápida, recorrente e não ritmada. São transtornos do movimento ou vocalização que ocorrem sem propósito e intencionalidade (DSM-5, 2014). Os tiques são incoercíveis e podem desaparecer em alguns momentos. Porém, retornam posteriormente. As características deste transtorno podem ter sua forma simples (piscar os olhos, sacudir os ombros, pigarrear, fungar etc.) ou complexa (bater em si mesmo, saltar, pular, repetir determinadas palavras etc.). Compondo a classe dos transtornos do tique, podemos considerar duas subclasses, que se diferenciam pelas características atribuídas a cada uma delas. A Síndrome de Tourette, em que há múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais presentes, que podem aparecer em alguma instância no quadro, mas não necessariamente no mesmo momento; e o Transtorno de Tique Vocal Persistente, em que um ou mais tiques vocais ou motores podem estar presentes, mas não ambos ao mesmo tempo (DSM-5, 2014).

Unidade 2 – Psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas

Este transtorno pode trazer sofrimentos significativos ou prejuízo nos diversos contextos do indivíduo. No que se refere à aprendizagem, crianças e adolescentes com tiques podem sofrer alterações emocionais, o que pode levar ao isolamento e ansiedade em se expor, por vergonha ou medo, prejudicando as interações dessa população em atividades sociais, educativas e de lazer.

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ARA SABER MAIS! Para saber mais sobre transtornos relacionados à psicopatologia das condutas motoras, consulte o Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (DSM-5) em: AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION. 5 ed. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5. Washington: American Psychiatric Association, 2013 e AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION. Referência rápida aos critérios diagnósticos do DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

4. Entendendo o desenvolvimento cognitivo A cognição é um conceito muito falado, porém pobremente definido. Diversos autores trazem definições sobre a cognição, porém dificilmente conseguem defini-la concretamente ou de maneira convincente. Dalgalarrondo (2008) acredita que a cognição advém da inteligência, e que são as habilidades cognitivas do indivíduo que, em processos intelectuais, facilitam o conhecimento e exploração do mundo. As habilidades cognitivas envolvem diversas e complexas funções mentais, como: (1) raciocínio; (2) reflexão; (3) abstração; (4) linguagem; (5) memória, atenção; (6) criatividade; e (7) resolução de problemas, dentre outras ações. Essas funções são necessárias para identificar algumas situações e encontrar atitudes para conseguir resolvê-las ou lidar com as mesmas, respondendo as exigências de adaptação biológica e sociocultural. A cognição apresenta uma dimensão de rendimento psíquico que, com o mínimo de esforço, é capaz de gerar um rendimento máximo e funcional. Portanto, quanto maior o nível de adaptações do indivíduo, e quanto mais breve ele conseguir adquirir conceitos e juízos e saber utilizá-los, maior será sua habilidade cognitiva (DALGALARRONDO, 2008).

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ARA SABER MAIS! A cognição não é algo palpável, que apresenta certeza absoluta sobre seu funcionamento e desenvolvimento. Trata-se de uma forma de estudar e refletir sobre as dimensões do funcionamento mental, construída pelas áreas da saúde e de humanas, a fim de compreender o ser humano e suas ações.

Para compreender o processo de desenvolvimento cognitivo, é de suma importância reconhecer e citar a obra e reflexão do grande pensador Jean Piaget. Para este autor, o processo cognitivo é visto de vários ângulos, ou seja, são considerados fatores biológicos e sociais. Porém, ambos os fatores se integram,

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A cognição advém da inteligência.

visto que os processos cognitivos do ser humano não são apenas de caráter inato. Eles sofrem mudanças ao longo da vida,e, também, não são somente ensinados por outrem, uma vez que o ser humano não nasce com todas as suas funções cognitivas amadurecidas. Assim, as funções mentais do indivíduo se constroem por meio de experiências que envolvem estruturas cognitivas inatas e vivências socioculturais.

De acordo com Piaget, os processos de desenvolvimento cognitivo se sucedem através da substituição de esquemas prévios, ou seja, pela aquisição e integração de novos esquemas cognitivos, e não apenas pela aquisição de habilidades mentais.

Como ocorre o processo de desenvolvimento cognitivo? Apresentaremos, brevemente, algumas etapas do desenvolvimento cognitivo, de acordo com a ideia de Jean Piaget: 1. Período sensório-motor – Ocorre do nascimento até os dois primeiros anos. Neste período, a criança inicia o processo de ações mentais e cognitivas pelos atos reflexos, que vão se tornando semi-intencionais até se integrarem aos movimentos. Nesta fase, ainda não há a presença da linguagem e funções simbólicas. Portanto, as ações cognitivas se constroem por meio de um conjunto coordenado de atividades sensório-motoras. A imitação é uma função fundamental neste período. Apenas ao final deste período é que as funções cognitivas progridem, com o início da simbolização de uma causa, da resolução de problemas, e da percepção parcial de objetos que não estão no alcance de sua visão. Este é o período do egocentrismo, ou seja, em todas as suas ações, a criança está centrada em si própria. 2. Período Pré-Operacional – Ocorre dos 2 aos 7 anos de idade. Gradualmente, as crianças se tornam mais sofisticadas no pensamento simbólico. Nesta fase, o repertório da criança vai evoluindo com relação à compreensão de símbolos e o desenvolvimento da linguagem. O que auxilia, também, em seus

Unidade 2 – Psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas

processos emocionais e interacionais. O pensamento simbólico vai ganhando força e, no decorrer desse processo, a criança vai demonstrando avanços nas funções cognitivas relacionadas a espaço, causalidade, categorização e numeração. Surge a capacidade de usar símbolos ou representações mentais, ou seja, palavras, números e imagens ganham significado. 3. Período operatório concreto – Ocorre dos 7 aos 12 anos de idade. Presente no início da escolarização formal, trata-se do desenvolvimento do pensamento lógico. A criança começa a compreender melhor os conceitos espaciais, de causalidade, categorização, conservação e numeração. Portanto, há um domínio em relação aos números e uma capacidade de raciocinar sobre eles. Além disso, é nesta etapa que a criança passa a ser mais cooperativa, e apresenta plena socialização, desenvolvida por meio do âmbito escolar e do contexto ambiental. Período operatório-formal – Apenas nesse período o pensamento abstrato chagará ao seu desenvolvimento íntegro, tornando-se possível a aquisição do sistema lógico e abstrato mais desenvolvido da cognição. Esse sistema se constitui de combinações complexas de classes e sistemas de transformação de proposição lógica, que incluem a abstração matemática (inversão, conservação, entre outras funções). As etapas que constituem o processo de desenvolvimento cognitivo não estão vinculadas apenas ao aparato de maturação do indivíduo, mas também ao ambiente social no qual ele está inserido. A fim de assimilar as contribuições que o meio social oferece, o indivíduo deve estar em condições suficientes para compreender tais estímulos, o que depende do amadurecimento de sua capacidade cerebral.

5. Transtornos cognitivos da psicopatologia Como pudemos ver no item anterior, a cognição é um amplo processo integrado de funções mentais. A mente, ao sofrer modificações devido a um transtorno, passa a alterar não só questões relacionadas ao pensamento, linguagem, memória, percepção sensorial, atenção e noções de orientação espaço-temporal, mas, também, afeta as funções do humor e os aspectos emocionais, uma vez que esses sentidos se integram no processo psíquico. As psicopatologias das funções cognitivas englobam uma população heterogênea, que se caracteriza pelas dificuldades nos aprendizados escolares. Este grupo é definido pelo DSM-5 (2013) como portador de um transtorno identificado pelas limitações substanciais no funcionamento atual, denominado deficiência intelectual (DI). Geralmente, as deficiências intelectuais são identificadas precocemente, ao notar-se o atraso nas etapas do desenvolvimento infantil. Porém, algumas vezes, passam despercebidas e só serão notadas na fase escolar.

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Como vimos nas etapas de desenvolvimento cognitivo de Piaget, o processo de desenvolvimento inicial das habilidades cognitivas se dá por reflexos e movimentos involuntários e voluntários. Portanto, serão identificados transtornos cognitivos naquelas crianças que demonstrarem atraso motor e, com o desenrolar de seu desenvolvimento, déficits intelectuais e emocionais. Por acometer aspectos cognitivos, a DI supõe que o indivíduo apresente uma capacidade intelectual inferior à média, gerando, muitas vezes, limitações significativas em algumas habilidades nas áreas de: (1) comunicação; (2) cuidados próprios; (4) socialização; (6) aprendizagem; (7) interação; e (8) participação (CABALLO; SIMÓN, 2005). Devido à lesão nos sistemas funcionais psíquicos, o déficit geral da DI não concede que as produções das operações cognitivas e afetivas alcancem seu maior desenvolvimento. Desta maneira, os deficientes intelectuais estarão limitados no que diz respeito à construção das formas superiores de tais processos, e, por isso, suas funções cognitivas, afetivas e comportamentais estarão limitadas de acordo com o grau do comprometimento (leve, moderado, severo, profundo). Apesar de as características da DI serem disponibilizadas em manuais psiquiátricos (como o DSM-5 e CID-10), e apontem o comprometimento das habilidades cognitivas, intelectuais, de linguagem e adaptação social, não se deve atribuir a esses sintomas a condição de fatores que compõem o indivíduo. O paciente apresenta limitações e necessidades que devem ser observadas. Porém, não é correto considerar somente aquilo que ele não consegue realizar, é importante levar em consideração o potencial que possui e a independência conquistada para a realização de algumas tarefas.

Esclarecendo os graus da psicopatologia das funções cognitivas O atraso cognitivo é uma condição de desenvolvimento interrompido ou incompleto das capacidades mentais, que se manifesta pelo comprometimento das habilidades cognitivas (OMS, 1993). As alterações das habilidades cognitivas podem se manifestar como consequência secundária de inúmeras psicopatologias. Dificilmente conseguiríamos enumerar e refletir sobre todas as situações em que este comprometimento pode estar presente. No DSM-5 (2013), o grupo que apresenta alterações cognitivas como principal consequência é definido, no transtorno de desenvolvimento, como deficiência intelectual ou atraso no desenvolvimento intelectual. Como essa categoria já foi explicitada na unidade anterior, nos atentaremos agora às diferenças das suas características de acordo com os níveis do transtorno.

Unidade 2 – Psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas

Deficiência Intelectual Leve Como o nome já diz, a deficiência intelectual acomete, principalmente, aptidões intelectuais que englobam o quociente de inteligência (QI). O QI é a medida da capacidade intelectual, baseada na averiguação das habilidades cognitivas, como funções verbais, visuais, espaciais, temporais, abstratas, lógicas, entre outras. Na DI leve, encontramos o QI abaixo da média correspondente à idade cronológica do indivíduo, com medidas intelectuais de 50-69, sendo que o QI considerado dentro da normalidade é de 99-120. De acordo com a OMS (CID-10, 1993), os indivíduos que apresentam grau leve de deficiência intelectual possuem, frequentemente, dificuldades mais significativas nas atividades de leitura, escrita e conceitos abstratos (raciocínio lógico, resolução de problemas matemáticos etc.). Porém, após o desenvolvimento da fala, são capazes de utilizá-la adequadamente tornando-se independentes em atividades cotidianas (autocuidado, higiene, vestuário etc.), e desenvolvendo interação social positiva. Crianças e adolescentes com DI leve, devido às suas dificuldades, podem desenvolver transtornos emocionais e de comportamento, sendo possível o desenvolvimento de depressão, ansiedade e/ou condutas agressivas. Devido às dificuldades em alguns aspectos que interferem no aprendizado, essa população deve receber auxílio e estímulos os mais precoces possíveis, e serem acompanhadas continuamente. É importante lembrar que essas crianças e adolescentes podem conquistar autonomia e independência, apenas precisam de auxílio para isso. Deficiência Intelectual Moderada Na deficiência intelectual moderada, o indivíduo apresentará QI na faixa de 35 a 49, ou seja, a inteligência desses sujeitos encontra-se bem abaixo da média considerada habitual. Portanto, o desenvolvimento neuropsicomotor desses indivíduos geralmente é lento e incompleto, principalmente no que diz respeito às habilidades de linguagem e compreensão (DALGALARRONDO, 2008). A aquisição da aprendizagem desses indivíduos é bastante limitada, com considerável dificuldade nas habilidades de leitura, escrita e cálculos matemáticos. Além disso, comumente, podem haver incapacidades neurológicas associadas à DI, como déficits físicos e epilepsia. Em atividades cotidianas, esses indivíduos podem atingir independência em tarefas simples, desde que monitoradas e adaptadas quando preciso. Portanto, essa população necessita de acompanhamento e estímulos constantes para que

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atinja seu nível máximo de aprendizagem e, assim, possibilite sua inclusão plena nos diferentes contextos. Deficiência Intelectual Grave Neste grau, o QI considerado é bem abaixo do habitual, com nível de 20 a 34. Sendo assim, o desenvolvimento neurológico, psicológico e motor sofrem grandes consequências na infância, e perduram em alguns aspectos em diferentes fases do desenvolvimento. É comum a ausência ou o atraso motor da fala, chegando raramente no desenvolvimento da fala contextualizada e clara. Nas atividades cotidianas, o indivíduo necessita de supervisão e auxílio constante. Nas questões de aprendizagem, o desenvolvimento das diversas habilidades cognitivas é bem limitado, o que dificulta o acompanhamento de atividades acadêmicas em geral. Outra implicação frequente é a epilepsia, que causa consequência e comprometimento neurológico e físico. Além disso, alterações afetivas e emocionais estão presentes (DALGALARRONDO, 2008). Levando em consideração os comprometimentos advindos da DI grave, percebe-se a necessidade de adaptar o ambiente e as atividades, de acordo com as limitações da criança ou adolescente. O auxílio frequente em atividades escolares e cotidianas também é necessário. Portanto, cabe ressaltar que as adequações e estímulos são essenciais. Porém, o sentimento de inferiorização e descrença não devem se fazer presentes. Deficiência Intelectual Profunda Os indivíduos com DI profunda se caracterizam por apresentar QI abaixo de 20 e comprometimentos neurológicos, psíquicos e motores graves. De acordo com a possibilidade do QI, essas pessoas possuem dificuldade exacerbada em entender comandos simples e complexos, graves limitações físicas e motoras, além de ausência da fala e falta de controle dos esfíncteres. Frequentemente, há síndromes neuropsiquiátricas e genéticas associadas à DI profunda e condutas autolesivas e agressivas (DALGALARRONDO, 2008). Esses comportamentos graves limitam consideravelmente o processo de desenvolvimento das habilidades cognitivas. Portanto, esses indivíduos necessitam de constante acompanhamento para que possam desenvolver e/ou manter suas possibilidades.

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ARA SABER MAIS! Para saber mais sobre Psicopatologia das Funções Cognitivas, consulte as referências: DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008 e CABALLO, V.E.; SIMÓN, M.A. Manual de psicopatologia clínica infantil e do adolescente. 1ª ed. São Paulo: Editora Santos, 2005.

6. O processo da aprendizagem e a psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas A aprendizagem constitui-se de diversas definições. No entanto, não nos atentaremos a todas elas, com o intuito de discutirmos apenas a que mais se encaixa com a temática desta unidade. A aprendizagem é considerada uma mudança de comportamento que ocorre por estímulos internos (neuroquímicos) e externos, ou seja, pelo processo de plasticidade neural dos processos cognitivos e pela prática ou experiência anterior (ANDRADE; ROLIM, 2004). A aprendizagem é um processo de amadurecimento em diversos sentidos, que opera sob um sistema de significações, dependendo essencialmente da memória e da atenção. É um processo, portanto, que desencadeia o desenvolvimento global, pois a aprendizagem traz um amadurecimento pessoal e grupal nos diversos aspectos biopsicossociais. Nas psicopatologias das condutas motoras e das funções cognitivas, encontramos, muitas vezes, entraves nas questões de aprendizagem devido à desorganização funcional do SNC, o que traz consequências consideráveis para a aquisição de conhecimento habilidades motoras/psicomotoras, emocionais, socioafetivas, cognitivas e interacionais. Além das psicopatologias, há crianças e adolescentes que demonstram dificuldade para aprender, mesmo sem apresentarem distúrbios evidentes, e apesar de exibirem adequada função intelectual, capacidade motora, equilíbrio emocional e bom funcionamento dos sentidos sensoriais. Devemos ficar atentos a essa população, sem considerá-los possuidores de transtornos mentais. Muitas vezes, as tentativas de se estabelecer diagnósticos àqueles com alguma dificuldade de aprendizagem são convenientes, pois acobertam e justificam possíveis incompetências nos processos e métodos de ensino. Crianças e adolescentes com transtornos mentais têm direito à escolarização na rede regular de ensino, e necessitam de oportunidades de aprendizagem que estimulem o máximo de seu potencial cognitivo, afetivo e social. Assim, o processo de educação demanda a adaptação de recursos e estratégias que promovam o processo de ensino-aprendizagem. Contudo, muitas vezes, além de não haver materiais e ambientes adaptados, os educadores não possuem o

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preparo suficiente para cumprir ações direcionadas e efetivas facilitadoras da aprendizagem. A educação torna-se importante, pois é um processo que facilita o acesso às diversas formas de comunicação, o convívio com as diferenças, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais, além de favorecer o respeito, a valorização e as relações interpessoais (BRASIL, 2008). Aquelas crianças e adolescentes que apresentam alguma psicopatologia, normalmente, necessitam de maior atenção e do uso de estratégias básicas e específicas, que devem ser avaliadas e utilizadas de acordo com o caso em questão. São escolares que terão que aprender aquilo que é ensinado, através de seus potenciais e habilidades singulares. O aprendizado e a socialização daqueles com psicopatologia das condutas motoras e/ou funções cognitivas podem ser comprometidos por dois motivos. O primeiro trata-se da desvalorização da criança ou adolescente por parte do educador, ao concluir que estes não são capazes de aprender e desenvolver suas habilidades, acreditando comodamente que são “coitados” ou “incapazes”. A outra questão é enxergar o escolar como um problema, acreditando que suas limitações não são reais, subestimando o fato de que há um comprometimento psicopatológico e, portanto, privando-o da atenção necessária, que poderia auxiliar no desenvolvimento geral de sua aprendizagem. O importante é não atribuir limitações e necessidades a esta população, e, sim, reconhecer e oferecer soluções para que todos tenham a mesma oportunidade de aprender e se desenvolver. A educação tem um papel importante no desenvolvimento humano e social da criança e do adolescente. Portanto, a educação, como qualquer outro direito constitucional dos cidadãos brasileiros, deve ser exercida e com dignidade.

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TENÇÃO! A presença dos seguintes aspectos:

1) Desinteresse severo em aprender; 2) Atraso no desempenho global; 3) Prejuízo na atenção; 4) Déficit de cognição (apreensão e processamento de informações). Pode indicar a presença de uma possível psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas.

Unidade 2 – Psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas

Conclusão Esta Unidade buscou contribuir com reflexões acerca do campo da Psicopatologia das condutas motoras e funções cognitivas, no que se refere aos principais déficits em relação ao processo de aprendizagem e desenvolvimento do indivíduo. Nem sempre existem evidências clínicas claras das causas da psicopatologia das funções motoras e/ou cognitivas que possam atingir conclusões decisivas. Portanto, é importante conhecer as psicopatologias e suas limitações, para assim sugerir soluções e encontrar caminhos que ofereçam o estímulo à aprendizagem efetiva e de qualidade. Independentemente da dificuldade, não se deve generalizar um determinado diagnóstico com o intuito de resolver o problema presente. O importante é reconhecer os auxílios que podem ser oferecidos para que todos tenham a mesma oportunidade de aprender e se desenvolver, apesar de suas limitações. A Psicopatologia não deve ser vista como um problema sem solução, mas sim como um desafio que faz parte do próprio processo da aprendizagem. Na próxima unidade, continuaremos a investigar as questões do campo da psicopatologia, porém com enfoque nas funções da linguagem.

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Psicopatologia da aprendizagem

Glossário – Unidade 2 Condução Sináptica – Transmissão de impulsos nervosos de um neurônio a outro. Distúrbio – Interrupção ou interferência na função de um órgão ou sistema. Espaço-temporal – Capacidade de realizar uma ação que envolve simultaneamente as habilidades de percepção de espaço e tempo. Esquema Corporal – Aquisição de consciência do corpo como um todo e de suas partes. Neuroquímico – Processos químicos que ocorrem no cérebro e no sistema nervoso central, de forma geral. Plasticidade Neural – Capacidade dos neurônios de compor novas conexões a cada momento. Propriocepção – Habilidade de compreender onde cada parte do corpo está situada. Psicomotor(a) – Função integrada entre o sistema psíquico e motor. Sensório-Motor(a) – Processo sensorial e motor, que funciona de forma integrada. Síndrome – Conjunto de sintomas resultantes da condição de um estado clínico de adoecimento específico. Tônus – Estado de contração mínima de um músculo que está na situação de repouso.

Unidade 2 – Psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas

UNIDADE 3

PSICOPATOLOGIA DA LINGUAGEM Capítulo 1 Apresentação, 54 Capítulo 2 Entendendo o desenvolvimento da linguagem, 54 Capítulo 3 As relações entre pensamento e linguagem, 57 Capítulo 4 Como ocorrem a produção e a promoção da linguagem?, 58 Capítulo 5 Processo de comunicação, 59 Capítulo 6 Entendendo a Psicopatologia da Linguagem, 61 Capítulo 7 Características da psicopatologia da linguagem, 63 Capítulo 8 Breve histórico da psicopatologia da linguagem, 64 Capítulo 9 Educação de alunos com transtorno da linguagem, 65 Capítulo 10 Como detectar a psicopatologia da linguagem?, 66 Capítulo 11 Algumas psicopatologias da linguagem, 67

Conclusão, 70 Glossário, 71

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Psicopatologia da aprendizagem

1. Apresentação Esta unidade contempla reflexões sobre o tema Psicopatologia da linguagem. Para compreender as psicopatologias da linguagem e suas características, é importante conhecer o desenvolvimento linguístico e como ocorre o processo sistêmico da comunicação. Portanto, trataremos, inicialmente, de assuntos relacionados à linguagem, como: o desenvolvimento linguístico; as relações entre pensamento e linguagem; a produção e promoção da linguagem; e o processo de comunicação. Compreendendo estas etapas, seguiremos para o nosso foco principal, que são as psicopatologias da linguagem. Abordaremos temas que vão desde a história deste transtorno até as características das psicopatologias e suas implicações no desenvolvimento do indivíduo nos contextos educacionais. Nesta terceira unidade, aprofundaremos tais reflexões, com o intuito de oferecer subsídios para que o leitor compreenda e construa um pensar crítico sobre o assunto.

2. Entendendo o desenvolvimento da linguagem Para compreender a psicopatologia da linguagem, antes, é importante conhecer como a linguagem se desenvolve e se torna significativa para a comunicação humana. A criança com desenvolvimento típico aprimora a sua linguagem de uma forma impressionante, seguindo etapas do desenvolvimento que impulsionam os processos linguísticos. Neste tópico, explicaremos o desenvolvimento da linguagem até o surgimento das expressões linguísticas, porém, não seguiremos com as mudanças complexas deste sistema. Por isso, abordaremos o período do nascimento até os 5 anos de idade.

Linguagem inicial (até os 12-13 meses) A linguagem inicial corresponde ao pensamento pré-verbal e a fala pré-intelectual do bebê. Tem seu início a partir dos gritos, balbucio, choro e sorriso, que indicam, geralmente, o estado emocional e as necessidades do bebê. À medida em que o bebê adquire melhor coordenação de seus sistemas orgânicos, os sons vão se refinando e ganhando mais qualidade. Embora ainda sejam produzidos aleatoriamente, esses sons são provocados em resposta aos estímulos oferecidos ao bebê e se sucedem de forma não específica. Com a evolução dos sons, a partir de 6-8 meses, aproximadamente, o bebê começa a se comunicar de maneira mais clara. Produz sons em resposta ao estímulo do adulto, além disso, reproduz a fala com algumas emissões vocálicas

Unidade 3 – Psicopatologia da linguagem

e consonânticas, que são fundamentais para a formação das palavras (MARCELLI; COHEN, 2010). Este é um período de grande interação, por meio do início da locomoção (engatinhar, arrastar-se), da manipulação (agarrar) e da exploração ambiental (sentidos) para conhecer e entender os símbolos.

Linguagem ingênua (de 10 meses até aproximadamente 3 anos) Esta fase está relacionada à manipulação de objetos e ao início do sentido das palavras. As primeiras palavras, geralmente, aparecem de maneira repetitiva, assim como a manipulação de objetos e o reconhecimento de mundo. Inicialmente, o vocabulário infantil é pobre, com expressão de palavras curtas. Com a evolução da criança, as palavras vão ganhando mais sentido e são reproduzidas em maior número. Aos 12 meses, uma criança pode adquirir, aproximadamente, de 5 a 10 palavras, mas ainda não forma frases. Com 2 anos, pode atingir 200 palavras e formar frases. Por volta dos 18 meses, as crianças começam a combinar palavras para formar frases curtas, iniciando a conexão de duas palavras. De maneira gradual, a aquisição e o uso das palavras vão se tornando independentes, e a organização linguística se estrutura com o aparecimento sucessivo de afirmações, negações, interrogações etc. (MARCELLI; COHEN, 2010). A criança coBebê balbuciando. meça a adquirir a capacidade de manipular os termos: porquê, quando, se, mas etc. Porém, esse domínio é operacional, não havendo ainda uma apropriação das funções lógicas (causais, temporais, condicionais etc.) ligadas a estes termos. Para além, a criança assimila a estrutura externa dos símbolos e considera a palavra como parte do objeto, ou seja, crianças pequenas explicam o nome dos objetos pelas suas propriedades.

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Psicopatologia da aprendizagem

Linguagem externa (a partir dos 3 anos de idade) Este é um período bastante intenso e complexo da aquisição da linguagem, marcado por um enriquecimento quantitativo deste sistema. A criança com 3 anos e meio a 5 anos, pode dominar até 1.500 palavras, porém, nem sempre compreende o sentido dos vocábulos. O acesso à linguagem se caracteriza pelo abandono da comunicação rudimentar infantil, que é substituída por construções cada vez mais próximas da linguagem do adulto. Assim, a linguagem vai se tornando, concomitantemente, um meio de conhecimento, sendo possível a utilização de símbolos para auxiliar nas resoluções intrapessoais. A linguagem não verbal permanece durante toda a vida e é fundamental para a comunicação, porém, as situações nesta fase vão ganhando sentido oral para além dos gestos e ações.O enriquecimento da linguagem ocorre a partir de duas principais formas linguísticas: (1) pela atividade verbal individual, em que a criança utiliza gramaticalmente e expressivamente formas únicas de se comunicar; e (2) por meio de modelos, em que ações e falas são consequentes à influência do adulto, ou seja, as crianças expressam a linguagem que observam nos adultos (MARCELLI; COHEN, 2010). Os processos de aquisição da linguagem mostram, claramente, a influência que o meio exerce no desenvolvimento linguístico. Esse período, portanto, é marcado pela fala interior, ou seja, a criança já é capaz de compreender e interiorizar os símbolos externos. A partir desta etapa, o pensamento é transformado em palavras.

Criança de três anos.

Com o desenvolver da criança, aproximadamente com 4 ou 5 anos, a linguagem vai se tornando cada vez mais complexa, de tal forma que ela pode abdicar de suportes concretos para se comunicar. A linguagem implícita passa, portanto, a se tornar mensagem verbal e expressiva.

Unidade 3 – Psicopatologia da linguagem

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ARA SABER MAIS! Para saber mais sobre o desenvolvimento da linguagem, consulte as referências: COHEN, D.M.; MARCELLI, D. Infância e Psicopatologia. 8 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010 e VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

3. As relações entre pensamento e linguagem Como vimos na unidade anterior, as habilidades cognitivas e a forma como estruturar o pensamento não são determinadas apenas por fatores congênitos. São, também, resultado das atividades adquiridas pelo indivíduo nas suas vivências sociais. Portanto, para além de fatores congênitos, as atividades cognitivas básicas do indivíduo incidem de acordo com sua história social e acabam se constituindo conforme o desenvolvimento histórico e social de sua comunidade (VYGOTSKY, 2008). A história social em que o indivíduo está inserido e suas experiências pessoais são fatores que determinarão sua forma de pensar. No processo da formação cognitiva, a linguagem tem um papel importante na determinação do desenvolvimento e aprendizagem do pensar, uma vez que formas avançadas de pensamento são transmitidas através das palavras. A linguagem tem um papel essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo. Não se trata apenas da expressão do conhecimento adquirido. Existe uma inter-relação entre pensamento e linguagem onde um proporciona recursos ao outro. A linguagem é desenvolvida desde o início do convívio social e ambiental, por um processo psíquico. Em outras palavras, a linguagem, em processo de aquisição da língua, é inicialmente social, evocando o meio externo e, gradativamente, se tornando um sistema de símbolos. Vygotsky constata que o pensamento e a linguagem são dois processos que não dependem um do outro para se desenvolverem, porém se complementam e seguem o mesmo curso em um dado momento. Pessoa externalizando o pensamento.

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Psicopatologia da aprendizagem

No desenvolvimento ontogenético, o pensamento e a linguagem têm raízes diferentes, ou seja, é estabelecido no desenvolvimento da linguagem, um estágio pré-intelectual, e no desenvolvimento do pensamento, um estágio pré-linguístico. Com o tempo, essas linhas se encontram, e o pensamento torna-se verbal e a fala racional (VYGOTSKY, 2008). Contudo, o crescimento intelectual e cognitivo do indivíduo ocorre, principalmente, através dos meios sociais do pensamento, ou seja, através da linguagem.

4. Como ocorrem a produção e a promoção da linguagem? A linguagem envolve demasiadas funções comunicativas, sendo considerada uma ferramenta utilizada para a comunicação e para o processo de partilha de informação. Sendo assim, podemos afirmar que a linguagem, como ferramenta de comunicação, busca o compartilhamento e expressão dos pensamentos, facilitando a interação do indivíduo nos seus diferentes contextos, além de promover aprendizado, desenvolvimento interpessoal e independência. Para a efetivação da linguagem, é preciso que o envio das mensagens seja compreensível, permitindo que o receptor receba e compreenda as mensagens enviadas. A comunicação sempre envolve um emissor e um receptor de mensagens, mas nem sempre envolve a linguagem oral. O ser humano, em grande parte de sua interação significativa, se comunica de forma gestual e expressiva. Gestos estes que podem surgir como complemento à fala, ou como comunicação principal.

A falha na comunicação causa a não compreensão da mensagem pelo receptor.

Unidade 3 – Psicopatologia da linguagem

Codificar os pensamentos em sinais e símbolos é uma parte importante da comunicação. Os sinais anunciam alguns acontecimentos imediatos (pessoas, ações ou emoções), e os símbolos são empregados na transmissão das mensagens. A linguagem, portanto, envolve a compreensão e o uso dos sinais e dos símbolos, através dos quais as ideias são representadas. É um método regulador básico da comunicação, e pode ser caracterizada pelos seus diversos significados e ações. Desta forma, a linguagem pode ser considerada uma função comunicativa, que garante a socialização do indivíduo, ou mesmo um suporte do pensamento, com a formação do pensar lógico e abstrato. A linguagem pode ser considerada, também, um instrumento de expressão dos estados emocionais e afetivos, ou mesmo da interação com o mundo de maneira expressiva e/ou lúdica (DALGALARRONDO, 2008). Portanto, a linguagem é um sistema de símbolos eventuais e de signos linguísticos, que têm significados específicos, criados por convenções históricas. A linguagem como criação individual e de um grupo é considerada socialmente humana.

5. Processo de comunicação Para compreendermos os transtornos da linguagem, é preciso entender, primeiramente, como ocorre o processo de comunicação e a forma de interação entre as pessoas. Portanto, neste tópico, serão abordados os processos de comunicação, como ocorrem e como se desenvolvem. Para que aconteça o processo de comunicação, é necessário que haja uma mensagem que chega até o emissor e é transferida para um receptor que a recebe e a processa. O emissor tem um pensamento ou uma ideia que é transmitida por meio de um código, para que o receptor possa entendê-la (SMITH, 2008). Desta maneira, a comunicação ocorre apenas quando o receptor compreende a mensagem da forma como o emissor pretendeu que ela fosse entendida.

A comunicação ocorre quando o receptor compreende a mensagem da forma como o emissor pretendeu que ela fosse entendida.

Os sinais da comunicação referem-se a alguns acontecimentos, ações, pessoas ou emoções que podem ser

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Psicopatologia da aprendizagem

transmitidos por meio de gestos, encontros sociais, emissão da voz, e sons (assobio, suspiro e gemido). Já os símbolos da comunicação transmitem mensagens por meio de sons (símbolos vocais), letras do alfabeto (símbolos escritos) e linguagem de sinais (símbolos gestuais). Portanto, a linguagem consiste de sinais, símbolos e regras que devem ser seguidos, enquanto que a comunicação se refere ao tempo (passado, presente ou futuro); a uma pessoa ou objeto; a uma ação; a um conceito; ou a uma emoção. Para que ocorra a comunicação, ou seja, a codificação do pensamento, o emissor deverá, então, selecionar um mecanismo de expressão (voz, linguagem de sinais, gestos ou escrita) para emitir a mensagem. Este mecanismo deve ser compreensível para o receptor, a fim de ser decodificado por ele. Por exemplo: Na comunicação com uma pessoa surda, tornaA comunicação por meio de sinais -se inviável o uso da voz, pois a mensagem a ser também é efetiva. transmitida não será processada. No entanto, a comunicação por outros meios é possível. Se o indivíduo entender a fala por meio da leitura dos lábios ou através de gestos ou expressões faciais, por exemplo, essa comunicação se torna efetiva. Como podemos observar nas figuras, a comunicação é um processo de troca de conhecimento, ideias, opiniões e sentimentos. Sendo que a linguagem é o método regulador básico do sistema comunicativo, envolvendo a compreensão e o uso dos sinais e símbolos que representam as ideias. Portanto, a comunicação se torna insatisfatória se o emissor ou receptor for incapaz de utilizar e compreender os sinais adequadamente.

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ARA SABER MAIS! A linguagem, enquanto sistema de comunicação, é uma característica das atividades mentais do ser humano, pois se baseia em um diversificado sistema de regras relativas a símbolos que transmitem significados. Além disso, a linguagem humana é muito mais complexa do que as formas de comunicação das outras espécies, uma vez que há uma infinidade de expressões que são criadas socialmente para transmitir inúmeras informações.

Unidade 3 – Psicopatologia da linguagem

6. Entendendo a psicopatologia da linguagem Não se sabe ao certo se tal transtorno interfere no pensamento e na inteligência do indivíduo. Mas a linguagem tem seu processo independente? Na literatura científica, não se pôde comprovar a independência e a autonomia da linguagem. É incerto afirmar que a linguagem é intimamente conectada ao pensamento. Até onde se sabe, a linguagem nada mais é do que uma parte ou forma do pensamento. Inúmeras pesquisas afirmam que crianças com Síndrome de Down de grau leve, muitas vezes, possuem habilidades linguísticas próximas as de um indivíduo com desenvolvimento típico. Por outro lado, há estudos sobre os transtornos específicos de linguagem que apontam que essa população, embora tenha um desempenho cognitivo próximo do habitual, apresenta graves dificuldades na linguagem expressiva e/ou receptiva. Desta forma, pesquisas mostram que, possivelmente, há certa independência cognitiva (de inteligência e pensamento) entre o comando da linguagem e os outros domínios cognitivos (DALGALARRONDO, 2008).

A dificuldade em receber, enviar, processar e compreender conceitos ou sistemas de símbolos verbais, não verbais e gráficos prejudica a capacidade de transmitir ou receber ideias, fatos, sentimentos e desejos.

Portanto, a psicopatologia da linguagem é a dificuldade em receber, enviar, processar e compreender conceitos ou sistemas de símbolos verbais, não verbais e gráficos. Prejudica a capacidade de transmitir ou receber ideias, fatos, sentimentos e desejos, e pode envolver linguagem ou fala, incluindo, a leitura e a escrita. Envolve o transtorno da fala e da linguagem que, embora relacionados, afetam conjunturas diferentes.

Para melhor compreender os transtornos da fala e da linguagem, explicaremos agora seus significados e as características das áreas que podem ser afetadas.

Transtorno da Fala O transtorno da fala é causado por uma disfunção que afeta negativamente a linguagem e a comunicação do indivíduo e envolve a dificuldade da articulação, dos sons e da fluência da voz.

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Psicopatologia da aprendizagem

A disfunção na articulação das palavras é a produção atípica dos sons da fala, caracterizada por substituições, omissões, adições ou distorções que possam interferir na inteligibilidade. Dificuldades na articulação podem ter relação com fatores intrínsecos do indivíduo, como sua idade, seu contexto cultural, e o ambiente em que se comunica. Por exemplo: No processo de desenvolvimento de uma criança, erros ao articular a fala são habituais. Porém, se esses erros perdurarem, deve-se ficar atento à possibilidade de um déficit na fala. A disfunção na fluência da fala envolve a interrupção do fluxo verbal, caracterizada pelo déficit no ritmo e pela repetição de sons, sílabas, palavras e frases (SMITH, 2008). Contudo, a ausência da qualidade vocal, sonora, de ressonância e duração é uma característica do déficit da vocalização. Tais aspectos são considerados um problema quando não estão de acordo com a idade e/ou sexo do indivíduo. O surgimento deste déficit não é comum em indivíduos em idade escolar. Porém, deve-se procurar auxílio especializado caso a voz seja incompatível com a idade e o sexo da criança e/ou adolescente.

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TENÇÃO! O transtorno da fala é causado por uma disfunção que afeta negativamente a linguagem e a comunicação do indivíduo, e envolve dificuldade de articulação dos sons e de fluência da voz.

Transtorno da Linguagem A linguagem é um sistema complexo que utilizamos para nos comunicar, expressa por meio da comunicação verbal e não verbal. A comunicação verbal envolve os sons da fala, que são combinados para produzirem palavras e sentenças. O uso dos sons, letras (símbolos) e palavras é governado pelas regras da língua. Entretanto, a comunicação não verbal consiste em sistemas de linguagem que fazem uso dos gestos ou de outras formas de comunicação que não incluem o som da fala. Os transtornos de linguagem afetam três sistemas da comunicação, a saber: (1) forma; (2) conteúdo; e (3) uso (SMITH, 2008). A forma é o sistema de regras utilizado em todos os tipos de linguagem, porém com componentes próprios. Por exemplo: A linguagem oral é composta por fonologia, morfologia e sintaxe. Sendo que a fonologia é o sistema de sons da língua, que inclui várias combinações de sons. A morfologia orienta as partes das palavras que formam os seus elementos básicos de significado e estrutura. E a sintaxe determina onde uma palavra é alocada em uma determinada sentença. Considera-se conteúdo a intenção e significado das expressões faladas ou escritas. Para que a comunicação se efetive, além das regras e da forma de linguagem, as palavras devem ser significativas.

Unidade 3 – Psicopatologia da linguagem

Por fim, o uso da linguagem é referente as regras sobre a utilização do idioma para fins sociais, ou seja, é a aplicação da linguagem em várias formas de comunicação. O transtorno da linguagem, contudo, pode afetar qualquer combinação dos cinco subsistemas da linguagem, ou seja, fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática.

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TENÇÃO! A psicopatologia da linguagem é a dificuldade em receber, enviar, processar e compreender conceitos ou sistemas de símbolos verbais, não verbais e gráficos. Prejudica a capacidade de transmitir ou receber ideias, fatos, sentimentos e desejos, e pode envolver linguagem verbal (fala) ou não verbal (leitura e a escrita).

7. Características da psicopatologia da linguagem A psicopatologia da linguagem é composta por um extenso e diversificado grupo de indivíduos. Os déficits prejudicam o processo de linguagem verbal e não verbal, ou mesmo a composição desses dois sistemas. Alunos com transtorno da fala (linguagem verbal), no que diz respeito à articulação, fluência ou problema de voz, geralmente, não apresentam dificuldades na aprendizagem escolar. Entretanto, dependendo da gravidade do transtorno, esses alunos podem apresentar dificuldades na interação social e nos aspectos emocionais e afetivos, o que pode, consequentemente, influenciar negativamente o desempenho deste aluno. Possíveis sinais ou características dos transtornos de linguagem Fala Presença de erros frequentes na articulação das palavras. Defluências na sequência ou no ritmo da fala, como repetições de palavras, prolongamentos e interrupções na fala. Alteração na qualidade e tom da voz. Falar de forma demasiadamente rápida ou lenta. Linguagem Déficits em seguir instruções orais. Incapacidade de combinar letras com sons. Presença de vocabulário inadequado. Demonstrar formação pobre de conceitos. Dificuldades de entender mensagens ou de conversar com outros. Problemas para expressar as necessidades individuais. Fonte: elaborado pelo autor. *É importante levar em consideração o desenvolvimento do indivíduo de acordo com sua idade, contexto cultural e ambiente em que está inserido, antes de concluir a presença de qualquer psicopatologia da linguagem.

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Psicopatologia da aprendizagem

Diferentemente do transtorno da fala, os transtornos da linguagem podem, além de afetar a produção da linguagem oral, ocasionar outras consequências múltiplas. Podem estar presentes, concomitantemente, aos transtornos da linguagem, alterações cognitivas que afetam a competência social e o aprendizado acadêmico. Desta forma, no quadro 1, são apresentados alguns sinais e características que podem ser observados nas psicopatologias da linguagem. De acordo com as características observadas no quadro acima, pode-se dizer que as limitações advindas da psicopatologia da linguagem influenciam no desenvolvimento escolar do indivíduo, uma vez que dificultam suas habilidades de fala, escrita e compreensão, interferindo tanto na aprendizagem acadêmica, quanto em sua interação social.

8. Breve histórico da psicopatologia da linguagem Os transtornos de comunicação têm sido documentados durante séculos. Devido às psicopatologias da linguagem, indivíduos foram isolados e eram motivos de piada por apresentarem comprometimentos de linguagem. Em grande parte dos países, programas de tratamento da linguagem não eram oferecidos em escolas regulares até o século XX. Por exemplo, nos Estados Unidos não estavam disponíveis, nas escolas públicas, auxílios e programas que estimulassem as correções da linguagem. Em contrapartida, por volta de 1910, em Chicago, as escolas investiam em professores itinerantes que ajudavam as crianças que gaguejavam. Em Nova York (1913), também era oferecido apoio aos indivíduos com psicopatologia da linguagem, por meio da oferta de programas de estimulação. Em meados do século XX, as escolas foram ampliando o olhar para auxiliar a população com psicopatologia da linguagem, com o surgimento de especialistas que ofereciam assistência aos alunos com transtorno. Porém, este serviço ainda era muito limitado. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, militares iniciaram seus próprios programas de pesquisa clínica, com o desenvolvimento de procedimentos que identificavam indivíduos com diferentes problemas de linguagem e prejuízo na audição. Este ato incentivou a ampliação de programas escolares voltados aos transtornos de linguagem. Com a preocupação com o processo de inclusão, por volta de 1959, diversos estados americanos implementaram leis que sugeriam a oferta de serviços de atenção aos alunos com psicopatologias e deficiências diversas, incluindo aqueles com transtorno de linguagem. Para que fosse possível o cumprimento das leis, o estado ofereceu recursos financeiros às escolas públicas.

Unidade 3 – Psicopatologia da linguagem

No Brasil, por volta do século XIX, passou-se a perceber a necessidade de atenção aos indivíduos com transtornos. Porém, apenas no século XX houve investimento na inclusão dessa população, com o oferecimento de auxílios estimulados por leis e diretrizes. No que diz respeito ao sistema escolar, o Brasil obteve elevado crescimento com relação à inclusão. Ainda assim, devemos continuar prosperando para garantir constitucional e efetivamente o direito de todos à educação.

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TENÇÃO! Não se esqueça de alguns marcos teóricos: • Meados do século XX – Escolas dão importância para a população com distúrbio de linguagem; • Segunda Guerra Mundial – Militares iniciaram programas de pesquisa clínica com relação aos problemas de fala e prejuízo na audição; • 1959 – Estados americanos implementaram leis que sugeriam a oferta de serviços de atenção aos alunos com transtorno de linguagem; • Século XIX, no Brasil – Percebeu-se a necessidade de atenção aos indivíduos com transtornos de linguagem; • Século XX – Oferecimento de auxílios para a inclusão escolar, estimulados por leis e diretrizes.

9. Educação de alunos com transtorno da linguagem Os transtornos da linguagem podem ser detectados precocemente, com o atraso ou ausência da aquisição da fala e/ou compreensão dos símbolos. Na presença de algum déficit, a linguagem não evolui como o esperado para o marco de desenvolvimento. O desenvolvimento tardio da linguagem faz com que o indivíduo se distancie dos seus colegas e se isole socialmente. Esse isolamento social, associado às dificuldades pela psicopatologia, podem causar alterações emocionais, de aspectos psicológicos e afetivos. Aspectos de alteração cognitiva também podem estar presentes em algumas formas de manifestação das psicopatologias da linguagem. Desta forma, intervenções e estímulos devem ser iniciados o mais precocemente possível, pois contribuem para a prevenção, manutenção ou ganho dos aspectos positivos presentes em cada indivíduo. Programas escolares de estímulo e auxílio ao aluno com psicopatologia da linguagem devem iniciar desde a pré-escola, pois esses alunos apresentam necessidades educacionais específicas e, na ausência de intervenções, as limitações podem se tornar mais graves. Esses programas devem amplificar a cooperação, estimular os diálogos espontâneos, facilitar as interações sociais com os colegas e criar um ambiente que estimule o desenvolvimento da comunicação (fala e linguagem).

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O desenvolvimento dos indivíduos que possuem transtorno de linguagem ocorre por meio de ações promovidas pelos educadores e familiares, com a criação de um ambiente que estimule o desenvolvimento da linguagem, e promova a prática social de leitura e escrita, precocemente. Por meio dos estímulos, o aluno forma conceitos, desenvolve habilidades, relaciona ideias, institui conceitos lógicos, explora a expressão oral e corporal, envolve-se socialmente, e constrói seu próprio conhecimento. Outra atividade importante para intensificar a linguagem é a interação com o ambiente e com outras pessoas. Tal atividade pode ter grande incentivo na escola, uma vez que o ambiente educacional é um local em que o aluno passa grande parte do seu tempo, convivendo com inúmeras pessoas e suas diversidades. Além disso, as escolas e profissionais devem modificar o padrão de ensino, acrescentando apoios e adaptações planejadas, visando a promoção de um ambiente rico em linguagem e comunicação. Para isso, é importante que os profissionais da educação e saúde criem, juntamente com a escola, condições para que as crianças e os jovens desenvolvam suas competências pessoais e sociais. Sendo assim, deve-se promover um ambiente estimulador, com as seguintes estratégias: (1) promoção da comunicação entre os alunos; (2) oferta de situações de exploração da linguagem, a partir da fala, leitura, interpretação e criação de histórias; (3) uso de referências de acordo com a experiência e conhecimento do aluno, evitando expressões indiretas (SMITH, 2008). Logo, podemos considerar que o envolvimento dos profissionais no processo de aprendizagem do aluno contribui para a superação das barreiras, e favorece a inclusão social e escolar de indivíduos com psicopatologia da linguagem, oferecendo apoio para o seu desenvolvimento de diversas maneiras.

10. Como detectar a psicopatologia da linguagem? A psicopatologia da linguagem é caracterizada pela ocorrência de déficits orgânicos e não orgânicos, sendo que o déficit orgânico envolve o sistema nervoso central e órgãos periféricos, e o não orgânico, fatores relacionados às questões ambientais e emocionais. As habilidades da linguagem dependem, grandemente, de diversos sistemas e suas funções integradas. Para que haja um funcionamento íntegro do processo da linguagem, as habilidades psíquicas e musculares devem proceder de acordo com as influências do meio ambiente, das condições emocionais e fatores de maturação do indivíduo. É difícil estabelecer uma única causa para o problema. O que se observa é a somatória de diversas causas.

Unidade 3 – Psicopatologia da linguagem

Sendo assim, torna-se essencial investigar a história do transtorno da linguagem, considerando todos os fatores que circundam o indivíduo, além de observar alterações no desenvolvimento da linguagem, comparando a etapa do desenvolvimento linguístico com o contexto geral do desenvolvimento sensório-motor e cognitivo do indivíduo, a fim de traçar uma avaliação global das capacidades e aquisições do mesmo (VITTO; FÉRES, 2005).

11. Algumas psicopatologias da linguagem Neste tópico, citaremos e explicaremos, brevemente, algumas psicopatologias da linguagem possíveis de serem encontradas em crianças, adolescentes e jovens em contexto escolar. Serão abordados os seguintes transtornos da linguagem: dislalia; dislexia; afasia; e gagueira. Dislalia: A Dislalia é a alteração funcional ou orgânica da linguagem falada. É caracterizada pela dificuldade em articular as palavras, havendo omissão ou substituição de fonemas. As dislalias orgânicas são os defeitos das estruturas anatômicas que compõem o sistema fonador (língua, boca, palato etc.). Enquanto que nas dislalias funcionais não há alteração nas estruturas orgânicas. As causas, geralmente, são emocionais e interpessoais (DALGALARRONDO, 2008). O indivíduo com dislalia usa de forma errada, ou tem dificuldade em pronunciar as letras s e z, além de não pronunciar alguns sons. De acordo com a literatura, a dislalia é um transtorno de linguagem bastante comum e fácil de identificar. Geralmente, acomete crianças entre os 3 e 5 anos de idade. A dislalia não afeta habilidades cognitivas, porém pode causar alterações emocionais que, consequentemente, podem influenciar na falta de interesse acadêmico e social. Desta maneira, é essencial acompanhar esse aluno e entrar em contato com a família para procurar um especialista. Algumas estratégias também podem ser usadas para que o aluno acompanhe e se interesse pelas atividades escolares, como: (1) articular claramente as palavras, fazendo com que o aluno perceba todos os fonemas; (2) não chamar a atenção do aluno na frente dos demais estudantes; e (3) oferecer maior atenção àquelas palavras que o aluno tem mais dificuldade. Por exemplo: O aluno, ao tentar pronunciar a fala “Tomei água”, articula “Omei aga”. Isso ocorre devido à possível troca de alguns sons por outros. Ao invés de dizer “Quero suco”, acaba pronunciando “Telo suco”. Também pode substituir o r pela letra l, por exemplo, “tleis”, ao invés de três.

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É possível, também, ocorrer omissão ou substituição dos fonemas k e g pelas letras d e t. Por exemplo: ao tentar dizer cadeira, pronuncia “tadeira”, ou “dato”, ao invés de gato. Ou, então, pronuncia a letra l de forma incorreta, como: “palanta”, e não planta, ou “confilito”, no lugar de conflito. Dislexia: A Dislexia se caracteriza como déficit na habilidade da leitura. O indivíduo não desenvolve a leitura na idade habitual, sem que haja transtorno ou disfunção sensorial (MARCELLI; COHEN, 2010). Geralmente, a dislexia é notada na idade escolar, pois os déficits desse transtorno são observados conforme as atividades acadêmicas vão ganhando complexidade. A detecção e o diagnóstico desse transtorno são mais demorados, pois deve-se observar atentamente a criança. Além disso, antes dos 7 ou 8 anos de idade, os erros cometidos na leitura são habituais. Uma vez detectado o transtorno, nota-se que: o indivíduo não compreende os símbolos da escrita quando lê; pode apresentar uma leitura lenta, silábica, e mostrar dificuldades em reconhecer palavras, até mesmo as mais familiares. Esse transtorno não apresenta causa evidente. O que vai caracterizá-lo é o déficit na decodificação dos símbolos escritos e a dificuldade no reconhecimento imediato das palavras. A defasagem da dislexia aumenta de acordo com as exigências e complexidade das atividades escolares, que se modificam a cada ano. As dificuldades escolares, inicialmente, são centradas na leitura, mas se não forem tratadas, atingem o indivíduo em outros aspectos da aprendizagem. Sendo assim, alunos com dislexia precisam de acompanhamento e atenção às suas necessidades. Caso as necessidades não sejam atendidas, o indivíduo poderá não acompanhar o ritmo prosposto e/ou não progredir em seu nível de aprendizagem.

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ARA SABER MAIS! Outros fatores associados à dislexia, que influenciam no desenvolvimento da aprendizagem, podem surgir. Sendo estes: • Disortografia: Erros constatados no início da aprendizagem, como confusões e omissões, e dificuldade de transcrever homófonos, além de confusão de números e gênero, e erros gramaticais consideráveis. • Atraso na linguagem: Esse atraso é um antecedente comum na dislexia e é suplementar à leitura. • Transtorno da organização espaço-temporal: Confusões de letras que apresentam formas similares, mas são invertidas em suas colocações, como “p-q”e “b-d”. Inclui, também, erros no reconhecimento da lateralidade (direita-esquerda).

Unidade 3 – Psicopatologia da linguagem

Afasia: A afasia é a incapacidade de compreender e utilizar símbolos verbais, pela perda da linguagem falada e escrita (DALGALARRONDO, 2008). Nela, ocorre a perda das habilidades cognitivas adquiridas pela vivência e experiência do indivíduo. Trata-se de um transtorno orgânico da linguagem, pois ocorre principalmente pela lesão neuronal do sistema nervoso central. Os quadros de afasia são variados e afetam diferentes áreas cerebrais que envolvem a habilidade de linguagem. Sua consequência vai desde a dificuldade de articular as palavras até a perda total da linguagem oral e da capacidade de compreender conceitos transmitidos em forma de palavras e símbolos. Alunos com afasia precisam de estímulos precoces e constantes, a fim de favorecer as situações de aprendizagem. Portanto, é importante que o aluno seja incentivado a se comunicar, a interagir com outros alunos, e a explorar o ambiente em que está inserido. Além disso, é essencial não expor o aluno em público,nem corrigi-lo a todo o momento, respeitando seu tempo para se expressar, a fim de evitar a sensação de fracasso. Gagueira: Considerada uma disfunção na fluência comum e no padrão temporal da fala, a gagueira afeta áreas do cérebro responsáveis pela linguagem. Caracteriza-se pela fala interrompida e descontinuada, repetições de sílabas, prolongamentos e bloqueios. Além dessas alterações no ritmo da fala, a gagueira pode ser frequentemente acompanhada de diversas alterações motoras, como: (1) tiques ou movimentos contínuos da face (como piscar os olhos); (2) movimentos com a cabeça (balançar ou torcer a cabeça); e (3) movimentos com membros inferiores (bater o pé no chão, balançar as pernas), entre outros. Algumas dessas alterações surgem espontaneamente, outras são tentativas de se libertar do bloqueio que impede o indivíduo de falar (DSM-5, 2014). Alterações emocionais, como ansiedade em relação à fala, ou limitações sociais e acadêmicas, podem estar presentes como consequência dos sinais e sintomas da gagueira. É importante, respeitar as necessidades desse aluno e valorizar sua iniciativa e participação, destacando suas potencialidades, e incentivando o desenvolvimento do aprendizado do mesmo.

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Psicopatologia da aprendizagem

Conclusão Esta unidade procurou contribuir com reflexões acerca do campo da Psicopatologia da Linguagem, área que estuda os transtornos da fala e da linguagem “geral”, no que se refere às características dos transtornos e suas implicações no desenvolvimento do indivíduo em contextos educacionais. Compreender as psicopatologias da linguagem implica em conhecer o desenvolvimento e o processo linguístico para, então, entender como ocorrem os transtornos relacionados a esse sistema. Conhecer o campo e suas divergências é essencial ao profissional para que construa uma visão crítica em relação ao processo de aprendizagem de alunos com psicopatologia da linguagem e, assim, possa auxiliar nas superações das barreiras encontradas nas questões escolares. No entanto, com o intuito de continuarmos a percorrer essa caminhada, na próxima unidade, investigaremos as questões do campo da psicopatologia com enfoque na Psicopatologia das Condutas Agressivas e Distúrbios de Comportamento.

Unidade 3 – Psicopatologia da linguagem

Glossário – Unidade 3 Decodificar – Identificar e decifrar sinais linguísticos por um receptor. Desenvolvimento Típico – Transformações progressivas do organismo em uma sequência ordenada dos sistemas para aquisição de novas funções. Disfunção – Comprometimento parcial ou completo de uma função. Emissor – Aquele que, na função da linguagem, transmite algo a alguém. Fatores Congênitos – Algo que a pessoa possui desde o nascimento. No caso de uma anormalidade, o indivíduo já a possui ao nascer. Fonema – Unidade sonora da fala, capaz de diferenciar uma palavra de outra. Homófono – Palavras que possuem o mesmo som, mas seu significado ou ortografia são diferentes. Ontogenético – Processo evolutivo de um ser, que se sucede durante todo o período de vida. Orgânico – Diz respeito aos órgãos do corpo. Pragmática – Estudo do uso da linguagem, levando-se em conta a fala, a língua em uso. Receptor – No processo de comunicação, o receptor é aquele que recebe mensagens transmitidas. Semântica – Relação dos signos com aquilo que eles significam. Signo – Sinal que simboliza, representa e indica algo. Símbolo – Representação significativa de uma ideia, entidade física ou processo.

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Unidade 3 – Psicopatologia da linguagem

UNIDADE 4

PSICOPATOLOGIA DAS CONDUTAS AGRESSIVAS E DOS DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO

Capítulo 1 Apresentação, 74 Capítulo 2 Compreendendo o comportamento humano, 74

Conclusão, 90 Glossário, 91 Referências, 92

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Psicopatologia da aprendizagem

1. Apresentação Esta unidade contempla reflexões sobre o tema Psicopatologia das condutas agressivas e dos distúrbios de comportamento. Abordaremos como ocorrem os transtornos das condutas agressivas e dos distúrbios do comportamento, no que se refere à compreensão dos aspectos do comportamento e da agressividade, das características das psicopatologias, e das particularidades dos portadores de tais transtornos em ambientes escolares. Por se tratar de um assunto amplo e complexo, ao longo da leitura, algumas reflexões poderão surgir, tais como: Como ocorre o comportamento? Quais são os fatores que podem influenciar no comportamento? O que são condutas agressivas? Quais as formas de manifestação das condutas agressivas? Como é a participação dessa população na escola? Quais são as principais psicopatologias das condutas agressivas e dos distúrbios de comportamento? Nesta unidade, aprofundaremos tais reflexões e suas perspectivas, com o objetivo de esclarecer e de proporcionar um pensar crítico sobre o assunto.

2. Compreendendo o comportamento humano Aspectos globais do comportamento são grandemente estudados no campo da psicopatologia. Tentaremos explicitar o comportamento de forma precisa, o que não é fácil, por se tratar de um assunto vasto e pouco delimitado. Para iniciar, é preciso considerarmos algumas definições de comportamento, comumente empregadas para caracterizá-lo. De acordo com alguns autores, o comportamento é uma maneira de operar em circunstâncias determinadas, a fim de garantir a sobrevivência do indivíduo ou da espécie. Outra definição se refere ao comportamento como reações do indivíduo em um determinado meio e unidade de tempo, sendo que o comportamento pode incidir em um grupo de atividades ou limitar-se a uma só (comportamento singular). O comportamento possui algum grau de determinação genética, além de ser produto e instrumento do processo de evolução do meio. Isto quer dizer que o comportamento deriva de influências biológicas e ambientais. No caso específico do ser humano, esses dois sistemas se integram e interagem entre si. Podemos dizer que o comportamento é composto pela integração entre os fatores experimentados e vividos pelo indivíduo em diferentes tempos (passado, presente), com a presença de aspectos hereditários integrados às funções neurofisiológicas. As aprendizagens e os estímulos que integram o indivíduo são fatores que comumente condicionam e determinam o comportamento. O indivíduo, embora tenha uma extensa capacidade de aprender, demonstra que a aprendizagem não acontece de maneira aleatória. Portanto, as origens

Unidade 4 – Psicopatologia das condutas agressivas e dos distúrbios de comportamento

O que somos hoje é o resultado de um processo de evolução.

comportamentais não estão presentes apenas na gestação, mas, também, ao longo da construção histórico-cultural e social formada ao longo dos anos. Desta maneira, podemos considerar que o que somos hoje é decorrente da junção de predisposições biológicas e de nossa história pessoal e sociocultural. Além disso, o significado adaptativo, ou seja, aquele relacionado à situação em que o indivíduo se encontra é de grande importância para a compreensão dos aspectos de seu comportamento social, além de suas habilidades cognitivas. Cada organismo lida de forma singular com processos orgânicos e estímulos externos, o que leva cada indivíduo a apresentar comportamentos e ações únicas. Isso demonstra que as pessoas possuem comportamentos distintos, mesmo sob as mesmas circunstâncias. O comportamento engloba diversos aspectos, sendo que um deles é o afetivo, compreendendo várias modalidades de vivências emocionais, como: estados de ânimo; emoções; sentimentos; afetos; e paixão. Abaixo, abordaremos, brevemente, cada uma destas modalidades (DALGALARRONDO, 2008): Estado de ânimo – É o estado emocional apresentado em um dado momento. Esse estado considera a vertente somática e a vertente psíquica, que se unem para constituir o equilíbrio e bem-estar existencial. Emoções – São reações afetivas desencadeadas por estímulos significativos que podem surgir de forma aguda e intensa. É um sentimento que ocorre em um curto prazo de tempo, originado pelo indivíduo como reação a certas excitações internas ou externas.

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Assim como o estado de ânimo, a emoção é uma experiência psíquica e somática. Sentimento – São configurações afetivas estáveis, ou seja, menos reativas aos estímulos passageiros. Sua sensação é mais duradoura e intensa, comparada à emoção. Os sentimentos se constituem de fenômenos mentais, considerando muito pouco o fator somático. Além disso, os sentimentos estão frequentemente associados ao conteúdo intelectual, por meio de representações sociais e culturais, que implicam na forma de sua expressão. Afeto – É o elemento emocional de uma ideia que expõe uma forma de estado de humor e de sentimento. É a qualidade emocional expressa por meio de uma representação mental. Paixão – Um sentimento afetivo extremamente intenso que envolve a atividade psíquica como um todo, direcionando os sentimentos para um único ponto. Há grande número de expressões corporais e gestuais nesta forma de comportamento. Além dessas modalidades, há outros sentimentos que compõem formas do comportamento humano, como: afeição; apego; ciúmes; empatia; alegria; desprezo; medo; raiva; nojo; irritabilidade; e outros. Diante da diversidade que compõe o comportamento, é possível considerar que cada pessoa nasce com um potencial biológico para desenvolver ações ao longo da vida. Por isso, é comum que, nesta caminhada, o indivíduo apresente pequenos equívocos durante o aprendizado de novos comportamentos, sentimentos e conceitos, possibilitando dificuldades situacionais e superação

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TENÇÃO! O comportamento consiste em reações do indivíduo em um determinado meio e unidade de tempo. Este estado possui algum grau de determinação genética, além de ser produto e instrumento do processo de evolução do meio. Além disso, o comportamento engloba diversos aspectos, sendo que um deles é o afetivo, referente a várias modalidades de vivências emocionais.

Como ocorre o comportamento? Existem dois tipos de comportamento: (a) comportamentos externos (que são observados publicamente); e (b) comportamentos internos (que não são observados publicamente). Os comportamentos externos são aqueles que podem ser diretamente vistos pelas pessoas que estão ao redor de quem pratica a ação. Um exemplo de comportamento observável é a emoção, que instiga o ato de sorrir, chorar, dentre outras ações que são claramente vistas e percebidas.

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Já os comportamentos internos são percebidos diretamente pela própria pessoa que está executando a ação, ou seja, não são observados por outras pessoas. Um exemplo de comportamento interno são os sentimentos, pois nem sempre são expressos de maneira clara e, por isso, são difíceis de serem notados publicamente. Portanto, é importante não apenas ver o que o aluno está fazendo, mas, também, observá-lo, conversar com ele e ouvi-lo, a fim de compreender o que está ocorrendo, o que ele pensa e sente.

Influência do ambiente sobre o comportamento

Comportamento observável.

O ambiente influencia o comportamento humano, e vice-versa, ou seja, quando nos comportamos, modificamos elementos do meio ambiente e influenciamos as pessoas que estão a nossa volta. Porém, também sofremos influência de outras pessoas por seu comportamento. Assim, os comportamentos se referem a todas as atividades do indivíduo com relação ao seu ambiente, como ações, verbalizações, reações, sentimentos, emoções e pensamentos. Mas o que é ambiente? O termo ambiente é comumente empregado para se referir aos locais em que o ser humano e os animais habitam e se comportam, mas não se resume a “lugares’’. Significa, também, qualquer acontecimento capaz de afetar o indivíduo, produzindo mudanças no seu comportamento e no seu desenvolvimento, de maneira global.

Ilustração de um comportamento não observável.

Os eventos ambientais podem ser externos e internos. Os ambientes externos correspon-

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dem ao ambiente físico e social e, os internos, ao funcionamento psíquico e fisiológico.

Fatores que podem influenciar no comportamento Inúmeros fatores podem influenciar o comportamento do indivíduo, porém, com relação à aprendizagem, há alguns aspectos que geram grande impacto em indivíduos na fase escolar, como por exemplo: • Fatores econômicos, que podem reduzir a oportunidade de aprendizagem; • Estímulo aversivo, excessivo ou inapropriado; • Modelos e reforço de comportamento inapropriado. Além desses e de outros fatores, a influência escolar também é de suma importância, pois a grande proporção de tempo que a criança, adolescente ou jovem despende na escola faz com que esse ambiente represente o lugar onde suas dificuldades psicológicas têm maior expressão e, consequentemente, é mais propício, também, para o início de qualquer mudança de comportamento. A forma como os profissionais interagem e ensinam seus alunos é crucial para a promoção de comportamentos socialmente adequados, ou de comportamentos considerados inadequados, entendidos como déficits ou excedentes comportamentais, que prejudicam a interação do aluno com os pares de sua convivência.

Descrição das disfunções do comportamento As disfunções do comportamento são condutas sintomáticas, porém, não devem ser integradas previamente a uma disposição patológica particular (COHEN; MARCELLI, 2010). Deve-se observar atentamente a causa da disfunção comportamental, uma vez que esta pode ocorrer por fatores congênitos, adquiridos, ou por consequências de alterações neurológicas e psíquicas. Diante de cada disfunção do comportamento, é importante investigar de maneira imparcial seu motivo, sendo este frequentemente subjetivo a cada indivíduo. Associadas à disfunção do comportamento, podem aparecer alterações em diversos aspectos que compreendem os sentimentos, emoções e afetos, a saber: (1) alteração de humor; (2) ansiedade e angústia; (3) medo; e (4) alterações de emoções e sentimentos. Abaixo, abordaremos, brevemente, cada uma destas alterações (DALGALARRONDO, 2008): Alterações de humor – Alteração do estado de ânimo do indivíduo, apresentada em um determinado momento e situação. Este estado de ânimo pode se dar tanto na inibição quanto na exaltação das bases afetivas do humor. Esta alteração pode ocorrer em diversos graus e surgir em diferentes formas, como na expressão dos sentimentos (choro e risos sem motivos aparentes e significativos);

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na exaltação do estado de ânimo (euforia); e na irritabilidade exacerbada (condutas desagradáveis, reações agressivas a estímulos exteriores). Esses sinais e sintomas de alterações surgem não só de estímulos externos, mas, também, podem ser impulsionados por fatores orgânicos.

Jovem apresentando alteração de comportamento.

Ansiedade e angústia – Ansiedade e angústia são sensações que, em grande parte, surgem concomitantemente, porém não são idênticas, apresentando diferenças de reações e sentimentos entre elas.

A ansiedade é um sentimento desconfortável, uma antecipação negativa sobre o futuro, e uma inquietação interna desagradável. Essa sensação pode incluir diversas manifestações psicossomáticas e fisiológicas, como sudorese, rubor, tremor, taquicardia, tensão, tontura etc. Diferente da ansiedade, a angústia é uma sensação relacionada ao aperto no peito e nó na garganta. Assemelha-se à ansiedade, mas apresenta uma conotação diversificada, é uma sensação que se revela e transparece mais corporalmente, e é relacionada a algum fato vivenciado pela pessoa. Medo – Refere-se a um objeto ou situação, ou seja, o indivíduo tem medo ou receio de algo ou alguém, ou mesmo de situações que ele imagina que possam trazer resultados desagradáveis. O medo é um sentimento que proporciona um estado de alerta, gerando um grande receio em fazer algo, pois esta situação traz a sensação de ameaça física ou psicológica ao sujeito. Alterações de emoções e sentimentos – As alterações relacionadas aos sentimento e emoções ocorrem desde a diminuição da excitabilidade emotiva, ou seja, incapacidade de sentir-se feliz ou triste, até a perda das vivências afetivas e inadequação de sentimentos. Nesta condição, mudanças repentinas e imotivadas de humor, sentimentos e/ ou emoções também se fazem presentes. Contudo, é importante observar as mudanças nos aspectos relacionados direta ou indiretamente ao comportamento do indivíduo, para assim compreender a razão ou origem de suas dificuldades e necessidades.

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Disfunções do comportamento Podemos encontrar inúmeras disfunções do comportamento, porém, serão relatadas aqui aquelas mais encontradas na população escolar. Assim, abordaremos dois grandes grupos, a saber: (1) psicopatologias das condutas sociais; e (2) psicopatologias do consumo de substâncias.

Psicopatologia das condutas sociais As psicopatologias das condutas sociais são disfunções do comportamento que podem ocorrer em qualquer grau de atividade intelectual, como: fuga, mentira e furto. Associadas a estas atividades, podem surgir sentimentos de caráter afetivo que incidem de maneira externa (agressividade, violência, fuga, suicídio etc.) ou interna (inibição, mutismo, ansiedade, medo etc.). Fuga Podemos considerar a fuga como uma ausência voluntária do indivíduo de forma inesperada. Frequentemente, as fugas ocorrem para evitar uma situação conflituosa, ou pela dificuldade em solucionar situações problemáticas. A fuga pode ocorrer em diversas situações, portanto, focaremos naquela relacionada ao aprendizado, que é nosso tema de estudo. Os casos mais comuns de fuga acontecem por fobia escolar: a criança ou adolescente são ansiosos e, geralmente, se sentem culpados por sua conduta ou comportamento. Por isso, isolam-se ou não vão à aula, com medo de passarem por situações aversivas, como constrangimentos, ou atitudes que evidenciem suas necessidades. Outra situação de fuga é a recusa escolar, o aluno não vai à escola, e fica pela rua até completar o horário de aula. Estes casos geralmente estão relacionados aos transtornos de condutas desafiantes, podendo estar associados a pequenos roubos, mentiras e condutas agressivas. Esses alunos, comumente, apresentam fracasso escolar e não manifestam culpa ou ansiedade. Existe, também, a fuga advinda das psicopatologias, como o autismo ou outros transtornos, como a psicose. Nestas situações, as fugas são pouco elaboradas, devido à dificuldade de referência de espaço e tempo, além de déficit de identidade. Trata-se de uma necessidade compulsiva da criança ou do adolescente de escapar de qualquer limite imposto na situação ou no ambiente em que se encontra. Mentira A mentira, como parte do comportamento, se torna exacerbada quando é utilizada para benefício próprio ou prejuízo a outra pessoa. Ela pode ser exposta pelo indivíduo de três formas: mentira utilitária, mentira compensatória ou mitomania.

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A mentira utilitária tem por objetivo tirar vantagens ou evitar desagrado. A mentira compensatória busca expressar uma imagem inexistente e irreal. O indivíduo elabora uma personalidade narcisista, de um falso eu, que demonstra certa imaturidade e incerteza de identidade. Não podemos considerar a mentira como uma atitude patológica antes dos 6 anos de idade. A criança mente e inventa histórias pois está desenvolvendo sua criatividade e expandindo seu conhecimento de mundo. Dizer a verdade se integrará aos poucos em uma conduta social. Porém, se esta conduta permanecer após os 6 anos de idade, há um indício da presença de transtornos psicopatológicos mais acentuados. No caso da mitomania, considera-se um nível extremo de invenção de identidade fabulosa. É considerada uma psicopatologia desde a infância, pois a criança mitômana apresenta carência extrema em aportes afetivos e incertezas de identidade. As mentiras e pensamentos fantasiosos do mitomaníaco são de ordem fisiológica e, geralmente, são pretensiosas, malignas e perversas, trazendo consequências na interação do indivíduo. Furto Estudos apontam que o roubo é a conduta delinquente mais comum na infância e adolescência. Este é um comportamento mais observado em meninos do que em meninas e, com o tempo, esta atitude se agrava. O ato de tomar algo para si apenas é considerado furto quando o indivíduo adquire consciência do que é certo ou errado, do que é dele e do que é do outro. A criança passa por um período em que tudo lhe pertence. Nele, ela ainda não tem noção da diferença entre tomar e roubar. Porém, se o ato de roubar persistir após a idade de socialização (aproximadamente a partir dos 6 -7 anos), que é quando a criança compreende conceitos e regras sociais, esta conduta passará a ser compreendida como um aspecto psicopatológico. A ação do furto pode surgir por atitudes presentes desde a infância, e que podem perdurar ao longo do desenvolvimento do indivíduo. Os motivos mais frequentes, desencadeadores desta ação, são carências afetivas por abandono familiar,

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separação dos pais; extremo rigor, ou total renúncia educativa (COHEN; MARCELLI, 2010). Assim, o roubo é uma conduta desviante, delinquente e antissocial, que pode iniciar em certo grau e progredir para o investimento perverso da conduta.

Psicopatologias do consumo de substâncias As pesquisas trazem que, cada vez mais, crianças e adolescentes em fase escolar estão se envolvendo com diferentes tipos de drogas, sejam elas lícitas ou não. As substâncias mais comuns utilizadas por crianças e adolescentes são álcool, cigarro, maconha, medicamentos e substâncias desviados do seu uso indicado, como solvente e cola. De acordo com algumas pesquisas, grande parte da população escolar que faz uso de drogas apresenta idade entre 10 e 12 anos. Alguns fatores de risco que levam ao uso de drogas são alterações comportamentais que podem estar presentes devido à presença de psicopatologias do comportamento, como Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade, Transtorno de Conduta e Transtorno de Oposição Desafiante (COHEN; MARCELLI, 2010). A influência familiar, como o modelo dos pais ou membros familiares no uso de substâncias, e a influência do meio, em que se considera a incitação de amigos, companheiros e situações negativas e frustrantes na fase escolar, não são descartados. Na fase escolar, os fatores familiares e os ambientais são preponderantes, enquanto que os psicopatológicos são considerados como causas secundárias para a procura por substâncias químicas. Portanto, como consequência do uso dessas substâncias, tem-se grande indicativo do aparecimento de transtornos psicopatológicos, além de condutas desviantes, que vão desencadear principalmente na fase da adolescência ou adulta.

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ARA SABER MAIS! Estudos mostram que quanto mais precoce é o início do uso de álcool e drogas, maior é o risco do consumo abusivo ou dependência dessas substâncias na fase adulta.

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ARA SABER MAIS! Para saber mais sobre as características das disfunções do comportamento, consulte: DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 438 p. COHEN, D.M; MARCELLI, D. Infância e Psicopatologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010, 685 p. AJURIAGUERRA, J.; MARCELLI, D. Manual de psicopatologia infantil de Ajuriaguerra. Porto Alegre: Artmed, 1998. 412 p. MARCELLI, D.; BRACONNIER, A. Manual de psicopatologia do adolescente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. 429 p.

Unidade 4 – Psicopatologia das condutas agressivas e dos distúrbios de comportamento

O distúrbio de comportamento e a Escola É na instituição escolar que as crianças e os adolescentes se deparam com inúmeros desafios, além de expandirem sua rede de relações interpessoais. Trata-se de um ambiente que oferece diferentes estímulos e conceitos, auxiliando-os grandemente em seu desenvolvimento, formação de personalidade e comportamento. Como os alunos passam grande parte do tempo na escola, e é lá que seu desempenho é estimado, este local passa a ser considerado propício para a observação e avaliação de condutas e alterações psíquicas. Os alunos com distúrbio de comportamento geralmente apresentam condutas que interferem no seu aprendizado e interação com os demais, como: (1) temperamento difícil (irritável, raivoso e agressivo); (2) pouca sensibilidade à punição; (3) atenção rebaixada; (4) impulsividade; (5) dificuldade no autocontrole; (6) hiperatividade; (7) dificuldades na linguagem e comunicação; (8) problemas de interações diárias na escola; (9) desempenho acadêmico pobre e fracasso escolar; (10) dificuldade para resolver problemas. Portanto, os déficits no comportamento interferem na aprendizagem do aluno, o que traz consequências para a aquisição de habilidades cognitivas, além de levar à rejeição de colegas e possíveis suspensões, ou até expulsão da escola. Os distúrbios de comportamento acarretam dificuldades no relacionamento e desempenho escolar, o que causa grande impacto na vida da criança e do adolescente e na de quem está ao seu redor. Portanto, a escola enquanto um ambiente que oferece subsídios para o desenvolvimento do indivíduo deve acolher

Alunos com distúrbio de comportamento geralmente apresentam baixo desempenho escolar.

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esta população e intervir, de modo que o aluno se sinta seguro dentro deste ambiente livre de discriminação. Para isso, é fundamental a organização escolar, a presença do manejo necessário para lidar com as necessidades dessa população, permitindo que a aprendizagem seja um processo acessível para o alcance do desenvolvimento do indivíduo.

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TENÇÃO! Alunos com distúrbio de comportamento geralmente apresentam condutas que interferem no seu aprendizado e na interação com os demais. Portanto, a escola como um ambiente que oferece subsídios para o desenvolvimento do indivíduo deve acolher esta população, e intervir, de modo que o aluno se sinta seguro dentro deste ambiente livre de discriminação.

O que são condutas agressivas? A agressividade nada mais é do que a ausência de equilíbrio expressa através da autoagressão ou da agressão a outrem. É uma ação observável, que gera prejuízo físico ou emocional para a própria pessoa, ou para aqueles que o cercam. O comportamento agressivo é natural da espécie humana e é exposto de diversas formas e em diferentes situações. Por exemplo: A agressividade pode surgir como estado de tensão particular, por meio de comportamentos arredios e falas grosseiras, ou por autodefesa, como o revide a uma agressão física. Pode, também, ser exposta através da destruição de objetos, como ao quebrar copos e pratos, intencionalmente, em um momento de exaltação. Em suma, a agressividade pode ser expressa por via motora, emocional, somática, verbal, por manipulação, entre outras maneiras. Existem três formas observáveis de comportamentos agressivos, relacionados aos sistemas físico, emocional ou psicológico (verbal), e social. O primeiro se refere ao prejuízo físico, realizado por meio do ataque corporal. A agressividade verbal remete a ataques emocionais ou psicológicos, através de agressões por palavras ou expressões verbais. O terceiro aspecto é relacionado à exclusão ou isolamento do indivíduo por um grupo social. A conduta agressiva, portanto, surge por uma série de razões que podem aparecer de forma isolada, ou associadas. Ao longo do processo de desenvolvimento de crianças e adolescentes, podemos observar comportamentos agressivos que podem ou não ser naturais, dependendo do período de maturação e do contexto situacional. Entretanto, se essas condutas se mostram frequentes e exacerbadas, elas podem indicar sinais de psicopatologia. Em alguns momentos, a presença das condutas agressivas se dá de maneira complexa na formação e desenvolvimento do indivíduo, o que exige o discernimento dos fatores que impulsionam a agressividade. Essa compreensão é importante para auxiliar na investigação e na atenção às crianças e adolescentes que apresentam comportamentos agressivos.

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ARA SABER MAIS! A agressividade como comportamento animal está intimamente relacionada à ideia de território. Podemos observar que: O animal, ao se afastar do seu território, torna-se arredio, apresentando um estado de alerta, próximo da agressividade. Porém, por não conhecer o ambiente, menos agressivas serão suas condutas. Em contrapartida, quando está próximo do seu território, o animal parece apresentar um comportamento menos agressivo. Porém, suas condutas serão mais agressivas caso haja necessidade.

Formas de manifestação das condutas agressivas Se a agressividade faz parte do processo de maturação infantil, e tende a diminuir com o decorrer do desenvolvimento, como podemos distinguir a agressividade como processo natural de atitudes consideradas psicopatológicas? As crianças e os adolescentes podem apresentar, ao longo do desenvolvimento, comportamentos agressivos desafiadores e antissociais, e não apresentarem qualquer disfunção ou transtorno psicopatológico. Nas escolas, podem ocorrer brigas entre os alunos, birras ou mesmo quebra de brinquedos e objetos em geral. Essas atitudes vão consistir em um comportamento agressivo que pode ser considerado patológico dependendo da persistência da conduta, e do grau de prejuízo que tais comportamentos contínuos causem à sociedade em geral. O indivíduo que apresenta condutas agressivas, geralmente, reage diante de motivos banais. Na presença de qualquer contrariedade, age de forma violenta, demonstrando baixa tolerância às frustrações. Essa intolerância provoca uma desorganização do comportamento do aluno, fazendo com que seus atos não sejam controlados psicologicamente. As graves reações exacerbadas de agressividade representam uma das principais características da psicopatologia das condutas agressivas. A fim de esclarecer as diferentes condutas agressivas, explicaremos, brevemente, aquelas mais encontradas na população escolar, a saber: (1) condutas violentas; (2) condutas homicidas; (3) inibição grave da agressividade; e (4) autoagressão.

Condutas violentas As condutas violentas são ações mais observadas em pré-adolescentes e adolescentes. O risco de desenvolvimento de condutas violentas surge com a ausência de intervenção na infância, pois essa população geralmente vivencia situações de violência e desenvolve atitudes agressivas. Para além, o mecanismo de isolamento e exclusão e o reforço de condutas comportamentais patológicas também são fatores de risco para o desenvolvimento de condutas agressivas.

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Essas condutas envolvem a depredação de objetos materiais de ambientes de convivência ou públicos, como a destruição de objetos domiciliares (quebrar ou incendiar), e de móveis ou objetos escolares, da sala de aula ou de outros alunos etc. Além de destruições ambientais e locais, esse tipo de conduta antissocial pode ocorrer, também, por meio de roubo com ameaça, extorsão etc. (COHEN; MARCELLI, 2010). As atitudes apresentadas nas condutas violentas costumam ser impulsivas e descontroladas, e podem ocorrer de forma individual ou em grupos.

Condutas homicidas As condutas homicidas em crianças e adolescentes se diferem das atitudes do adulto. No caso do aparecimento desses comportamentos nesta fase, é preciso muita atenção, pois, geralmente, este ato vem de sintomas psicopatológicos relacionados à carência familiar; impulsividade; imaturidade afetiva e confusões de identidade. Geralmente, essas condutas podem se desenvolver com atitudes perversas e vingativas. Essa população frequentemente desafia autoridades, e incomoda ou traz prejuízos sociais. As características encontradas neste transtorno de comportamento ocorrem, comumente, devido às desorganizações patológicas da construção da personalidade.

Inibição grave da agressividade Os indivíduos com inibição grave da agressividade são aqueles que não só sentem medo de punições físicas e psicológicas, mas se sentem vitimados e buscam situações de exclusão e agressões. Essa população apresenta comportamentos passivos e submissos. São indivíduos que não possuem reações diante de agressões, não protestam, não manifestam sentimentos de rivalidade etc. Abalam-se fácil e subitamente, de forma exacerbada, e sentem-se vitimados, perseguidos e ameaçados constantemente. Além disso, as características desta conduta levam o indivíduo a fantasiar situa­ções autodestrutivas, por meio da imaginação de situações de ameaça e perseguição no ambiente real. Este transtorno apresenta graus patológicos que vão de inibições leves até a incapacidade de autodefesa.

Condutas autoagressivas A conduta autoagressiva envolve comportamentos de automutilação, desde os mais simples (como cutucar e retirar cascas de feridas) até os mais complexos (como arrancar os cabelos, jogar-se ou bater a cabeça no chão). Essas condutas podem ser consequências de alterações psíquicas (emocionais e afetivas) ou até advindas de encefalopatias.

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Portanto, a automutilação pode ser característica de inúmeras causas, como: falta de percepção da dor; dificuldade ou ausência da percepção do próprio corpo; autoestimulação etc. Na maioria dos casos, a causa da autoagressão é inespecífica, de difícil detecção de uma etiologia precisa. As condutas autoagressivas parecem surgir como uma resposta impulsiva a certa motivação. Como, por exemplo: a autoagressão como resposta à frustração; ou a automutilação como pedido de atenção ou solicitação a quem está por perto; ou até como uma autoestimulação para suprir alguma necessidade emocional ou afetiva. A automutilação pode surgir, também, esporadicamente, em crises de exaltação e agitação, que são causadas pelo estado de raiva e irritação extrema. A autoagressão por crises é notada em crianças e adolescentes em situações de sofrimento psíquico e emocionalmente abalados. O comportamento agressivo, em geral, refere-se a perturbações comportamentais presentes em diversos contextos. No ambiente escolar, o aluno pode sofrer dificuldades de aprendizagem e socialização devido às alterações comportamentais e dificuldade de interação e socialização. Tais dificuldades, associadas às características diversas da psicopatologia das condutas agressivas, podem acarretar em problemas de aprendizagem, além de frustrações, abalo emocional e suspensão ou expulsão escolar. Devido aos déficits causados por este transtorno, alunos com condutas agressivas podem apresentar dificuldades de concentração, inquietação e desinteresse por hábitos de estudo, o que traz dificuldade na execução de tarefas acadêmicas e sociais, e menor capacidade de aprendizagem geral.

Psicopatologia das condutas agressivas e a escola A conduta agressiva é um tema que preocupa a instituição escolar, pois o número de alunos com tais comportamentos está aumentando cada vez mais. A escola, como um ambiente de aprendizagem, facilita a aquisição de normas e valores, e a criação da identidade. Por isso, deve-se ficar atento aos sinais claros da conduta agressiva para, assim, poder intervir de maneira adequada, a fim de expandir a participação desses alunos nos contextos acadêmicos e de interação. Com o intuito de identificar a agressividade advinda da psicopatologia, é importante identificar a esfera da agressividade e apontar auxílios que facilitem a aprendizagem, gerando oportunidades de envolvimento nas atividades escolares. As escolas, portanto, deveriam oferecer mudanças em nível organizacional e funcional, não apenas no sentido de modificar ou adaptar o currículo oferecido, mas, também, de oferecer oportunidades de participação e inserção dos alunos, independentemente de suas limitações, sem distinção ou diferenciação, e de promover intervenções sistêmicas, a fim de proporcionar estratégias educativas

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que auxiliem no acesso ao conhecimento por todos, sem estigmatizar aqueles alunos com condutas agressivas. Contudo, é essencial que a escola identifique, precocemente, condutas agressivas, para que possa atuar na prevenção e controle dos sinais deste transtorno, por meio da integração e do oferecimento de práticas sociais positivas a essa população.

Principais condutas agressivas e distúrbios de comportamento Neste tópico, citaremos e explicaremos, brevemente, algumas psicopatologias das condutas agressivas e distúrbios de comportamento possíveis de serem encontradas em crianças, adolescentes e jovens em contexto escolar. Utilizaremos como referência o Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (DSM-5, 2014). Transtorno de Oposição Desafiante (TOD) Este transtorno é comumente observado em crianças e adolescentes em fase escolar. O TOD pode surgir associado à outra psicopatologia (por exemplo, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) ou, então, aparecer na sua forma singular. Portanto, não nos aprofundaremos nas características deste transtorno, visto que ele já foi abordado na Unidade 1. Transtorno Explosivo Intermitente (TEI) O Transtorno Explosivo Intermitente é uma falha em controlar impulsos agressivos que causam, consequentemente, explosões de raiva, ataques de fúria e irritações exageradas. Esse transtorno é manifestado por meio de agressões verbais (discussões e ofensas) ou físicas (dirigido a pessoas, animais ou propriedades). As agressividades geradas no indivíduo são frequentes e ocorrem por motivos banais. O comportamento incontrolável pode ser de causa biológica ou psicossocial, e ocasiona, posteriormente aos ataques, sentimento de culpa e vergonha. O TEI pode surgir associado a outros transtornos (como, por exemplo, ao Transtorno do Espectro Autista, ao Transtorno de Conduta e ao Transtorno de Oposição Desafiante) ou, também, aparecer de forma independente. Transtorno da conduta (TC) No Transtorno de Conduta, o indivíduo apresenta um padrão de comportamento repetitivo e persistente, que viola normas sociais e direitos próprios ou de outras pessoas. Para identificar o TC, é preciso observar com cautela o número de manifestações de condutas antissociais e perceber se o aluno apresenta, em um ano,

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pelo menos três dos seguintes sinais: (1) agressão a pessoas e animais; (2) depredação de propriedades; (3) mentiras frequentes; (4) furtos; (5) violações de regras graves. Além da presença de comportamentos antissociais, esta população comumente apresenta sintomas emocionais e afetivos, como: (1) emoções pró-sociais limitadas; (2) ausência de remorso ou culpa; (3) insensibilidade e falta de empatia; (4) despreocupação pelo comportamento exacerbado; (5) indiferença afetiva. Esse transtorno pode incidir na infância e na adolescência, e apresenta níveis que vão do mais leve ao mais grave. Transtorno da Personalidade Antissocial (TPAS) O Transtorno de Personalidade Antissocial geralmente se manifesta na adolescência, por meio de comportamentos que desconsideram e violam os diretos de outrem. O indivíduo com este transtorno apresenta características antissociais que refletem em dificuldades de relacionamentos interpessoais, e envolvem comportamentos como: dificuldade em se ajustar às normas sociais; comportamentos inadequados e inaceitáveis (como mentir, trapacear e manipular); descaso pela segurança de si e do outro; ausência de responsabilidade nas ações; falta de empatia e de sentimentos; e ausência de culpa por ter prejudicado ou ferido alguém. Estão presentes, além das dificuldades de relacionamentos interpessoais, problemas em adaptar-se às normas sociais, devido à impulsividade característica deste transtorno. Os sintomas do transtorno social não são causados apenas por fatores sociais, mas,também, por consequências orgânicas.

Por que é importante conhecer as psicopatologias das condutas agressivas e dos distúrbios de comportamento? Alunos com psicopatologias das condutas agressivas e dos distúrbios do comportamento geralmente apresentam alterações de condutas que levam às dificuldades nas aprendizagens. As alterações de comportamento podem ser acompanhadas de outras dificuldades, como a de comunicação e interação social. Esses déficits, consequentemente, interferem nas atividades escolares e sociais. Tais características podem acarretar no fracasso escolar e até em suspensão ou expulsão desse aluno. Conhecer os sinais e sintomas dos transtornos de comportamento e agressividade é importante para a promoção de estratégias que possam minimizar os déficits sociais, comportamentais e de comunicação, por meio da utilização de algumas técnicas eficazes para o progresso escolar e social do aluno.

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Psicopatologia da aprendizagem

O aluno com psicopatologia das condutas agressivas e dos distúrbios de comportamento necessita de constante apoio educacional e social. Para isso, a escola deve oferecer um ensino de qualidade, promovendo medidas que auxiliem na inclusão e acesso desses alunos ao conhecimento e aprendizagem.

Conclusão Esta unidade procurou contribuir com reflexões acerca do campo da Psicopatologia das Condutas Agressivas e dos Distúrbios de Comportamento, no que se refere às características dos transtornos e suas implicações e particularidades no ambiente escolar. O aluno com transtorno de comportamento e agressividade pode apresentar particularidades que devem ser pedagogicamente atendidas, devido à presença de condutas que interferem no seu aprendizado e interação social. A agressividade e os distúrbios do comportamento são temas complexos dentro da psicopatologia. Conhecer esse campo significa entrar em contato com diversas variáveis que incluem a compreensão do desenvolvimento comportamental, construído pela interação entre o organismo e o ambiente. É essencial que os profissionais desenvolvam um olhar crítico em relação ao processo de escolarização de alunos com psicopatologia das condutas agressivas e dos distúrbios de comportamento para que possam auxiliar nas superações das barreiras que ainda são encontradas nas questões da aprendizagem e socialização desta população, em contextos escolares e sociais. No entanto, seguimos esta caminhada com a construção de reflexões gerais sobre as diversas psicopatologias da aprendizagem no contexto escolar, com o intuito de oferecer informações sobre o tema, e subsídios para que os profissionais da área possam fazer a diferença em sua prática.

Unidade 4 – Psicopatologia das condutas agressivas e dos distúrbios de comportamento

Glossário – Unidade 4 Automutilação – Comportameto de agressão direta ao próprio corpo. Aversão – Ato de evitar algo por repulsa. Conduta – Forma de agir, manifestação do comportamento. Distúrbio – Interrupção ou interferência na função de um órgão ou sistema. Encefalopatia – Patologia que afeta o funcionamento encefálico. Fisiológico – Refere-se ao funcionamento orgânico e sistêmico do corpo humano. Maturação – Processo de desenvolvimento orgânico e fisiológico dos seres vivos. Mutismo – Estado voluntário ou involuntário da não expressão da linguagem. Ausência de expressão do pensamento. Orgânico – Diz respeito aos órgãos do corpo. Psicossomático – Tendência a transferir para o corpo um problema de ordem psíquica. Psíquico – Diz respeito ao cérebro e seu amplo funcionamento. Somático – Condições que se referem aos sintomas físicos.

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Psicopatologia Referências da aprendizagem

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Psicopatologia da aprendizagem

PSICOPATOLOGIA DA APRENDIZAGEM

Este livro, bastante didático e de fácil entendimento, trata da psicopatologia e a escola, abordando a psicopatologia das condutas motoras e das funções cognitivas, da linguagem e das condutas agressivas e distúrbios de comportamento.

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