Aluno: Lucas da Silva Rodrigues Prova de Sinóticos e Atos 2018.1 - Professora Maria Clara 1 - Como entender o termo euangelion nos textos Veterotestamentários, nos escritos Neotestamentários e no pensamento grego. Existiria uma diferença semântica? Em caso afirmativo, queira indicar a influência desta para a teologia bem como suas implicações jurídicas. Há diferença semântica do termo de acordo com o contexto, tendo no mundo grego significados variados, porém no contexto bíblico tanto no antigo quanto no novo testamento possui significados mais precisos. Uma coisa é certa, que apesar da diferença de significados o tema central deste termo é a boa notícia No mundo grego o termo evangelho possuía vários os significados que poderiam ser uma recompensa por uma boa notícia; poderia ser qualquer notícia feliz, ou seja, a própria notícia; sacrifício oferecidos aos deuses por uma boa notícia. No Antigo Testamento esse termo começa a tomar formas específicas, poderia ser o anúncio de boas novas na vida privada ou na vida nacional como a morte de um inimigo: 2 Samuel 18, 19s. 26 “Disse Aquimaás, filho de Sadoc: "Vou correndo anunciar ao rei a boa nova de que Iahweh lhe fez justiça e o livrou de seus inimigos." “... a sentinela avistou outro homem que vinha correndo, e a sentinela que estava sobre a porta gritou: "Vem outro homem que corre sozinho." E Davi disse: "Esse é ainda um mensageiro de bom augúrio." um vitória: Salmos 68,12 - “ O senhor deu uma ordem, ele tem como mensageiro um exército numeroso”. Em Isaías 40-66 o termo adquire significado religioso com a consolação de Israel o perdão dos pecados e o fim do exílio dado rei Ciro que foi instrumento de Deus para libertação do povo. Posteriormente, ainda no Antigo Testamento, o termo adquire o significado do anúncio da salvação messiânica. Em Jesus o termo começa a se associar a sua pessoa ele veio anunciar o reino de Deus e as condições para se entrar e viver no reino, mas não exclusivamente isso, pois os evangelistas não se concentravam nos seus feitos e ensinamentos, mas em cada traço de sua vida Pode-se ver em Lc 4, 19-21 Jesus cita a profecia de Isaías que dizia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, por que ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação dos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor. Enrolou o livro, entregou ao servente e sentou-se. Todos na sinagoga olhavam-no, atentos. Então começou a dizer-lhes: ‘ Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura.’”. Nessa passagem Jesus apresenta publicamente que ele é a Boa Notícia. Diante do exposto, é provável que o termo Evangelho tenha sido tomado da literatura helenística, porém com um novo significado; um significado religioso que tem como objetivo final o anúncio do Reino de Deus e a vinda da era messiânica e que já no Antigo Testamento o significado já começava a tomar esse rumo a partir do profeta Isaías.
2 - No Evangelho podem ser encontrados vários gêneros literários. Apresente os principais elementos de três destas formas literárias. Os gêneros literários são formas que a mensagem, mesmo a mais original, adquire para passar seu ensinamento ou mostrar uma determinada realidade. Relatos de Milagre: as características desse gênero literário contém elementos semelhantes na literatura judaica, helenística ou cristã. Nos evangelhos eles possuem elementos bem definidos como: curas, intervenções na natureza ou exorcismos. São geralmente pontos que dão estrutura a esse gênero: 1) introdução, apresentando a situação; 2) Súplica de intervenção, que manifesta a confiança do pedinte e dos que o cercam; 3) Intervenção de Jesus geralmente sob forma de breve palavra ou gesto. 4) Menção do efeito produzido; 5) Reação dos espectadores: Temor e admiração… Esses elementos estão presentes em diversas passagens do evangelho podendo haver pequenas variações, mas sempre com estrutura quase fixa. Tomemos o exemplo de Mateus 8, 23-27: “Depois disso, entrou no barco e os seus discípulos o acompanhavam. E, nisso, houve no mar uma grande agitação , de modo que o barco era varrido pelas ondas. Ele, entretanto, dormia.” Note-se que nestes dois versículos (v. 23 -24) há a apresentação da situação. “Os discípulos então chegaram-se a ele e o despertaram, dizendo: ‘Senhor, salva-nos, estamos perecendo!’”. Se vê a súplica de intervenção (v.25). “Disse-lhes ele: ‘Por que tendes medo, homens fracos na fé?’ Depois, pondo-se de pé, conjurou severamente os ventos e o mar.” Aqui se vê a intervenção de jesus (v.26). “E houve grande bonança” Menção do efeito produzido (v.26). Por fim, o quinto elemento dessa estrutura onde claramente se mostra a reação de admiração e temor por parte dos espectadores: “Os homens ficaram espantados e diziam: ‘Quem é este a quem até os ventos e o mar obedecem?’” (v.27) Parábola: Esse gênero é o mais presente no mundo judaico e remonta o antigo testamento com o exemplo do livro de 2 Samuel 12. O intuito da parábola é produzir uma comparação em forma de história que seja verossímil a situação do ouvinte. O efeito a ser produzido pela parábola, é levar o ouvinte a julgar a história e, consequentemente, a considerar a sua própria situação, sem ter disso consciência. É também próprio da parábola a função de transmitir um ensinamento. As características presentes sempre se iniciam com uma comparação: “É como se…”, “O reino dos Céus é semelhante a…”. Em Lucas 13,18 há um exemplo de parábola que tem por objetivo transmitir um ensinamento em forma de comparação: “Dizia, portanto: ‘A que é semelhante o Reino de Deus e a que hei e comparálo? É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e lançou em sua horta; ele cresce, torna-se árvore e as aves do céu se abrigam em seus ramos’.” Anunciações: Por meio da anunciação a pessoa toma ciência de que terá uma missão a cumprir no seu meio. Esse gênero está presente no Antigo Testamento, mas é diversas vezes retomado no novo. Pode-se encontrar nele uma estrutura com, geralmente, sete partes: 1) A apresentação do cenário e
das personagens; 2) Um enviado divino saúda a personagem; 3)Essa se admira e manifesta o seu temor; 4) O enviado divino transmite sua mensagem; 5) O fato provoca uma pergunta da parte do interessado; 6) Um sinal é dado; 7) O enviado divino se afasta. O que se deve salientar é que nesse gênero o cerne não é a psicologia da personagem ou nos seus méritos, mas na missão. No anúncio a Zacarias, por exemplo, pode-se usar o exemplo que está em Lucas 1,8-20: “Ora, aconteceu que, ao desempenhar suas funções sacerdotais diante de Deus no turno de sua classe, coube-lhe, por sorte, conforme o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para oferecer o incenso. Toda a assembléia do povo estava fora, em oração, na hora do incenso. Apareceu-lhe, então, o Anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. Ao vê-lo, Zacarias perturbou-se e o temor se apoderou dele. Disse-lhe, porém, o Anjo: ‘Não temas Zacarias, porque tua súplica foi ouvida e Isabel, tua mulher, te dará um filho, ao qual porás o nome de João. Terás alegria e regozijo, e muitos se alegrarão com seu nascimento. Pois ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho nem bebida embriagante, ficará pleno do Espírito Santo ainda no seio de sua mãe e converterá muitos dos filhos de Israel ao senhor, seu Deus. Ele caminhará à sua frente, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos rebeldes à prudência dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto’. Zacarias perguntou ao Anjo: ‘De que modo saberei disso? Pois sou velho e minha esposa é de idade avançada’ Respondeu-lhe o Anjo: ‘ Eu sou Gabriel; assisto diante de Deus e fui enviado para anunciar-te essa boa nova. Eis que ficarás mudo e sem poder falar até o dia em que isso acontecer, porquanto não crestes em minhas palavras, que se cumprirão no tempo oportuno” 2- Exponha os argumentos básicos das teses de Strauss e Dibellius. Como estas teorias influenciaram o pensamento de R. Bultmann? Strauss levanta o posicionamento da “historização do mito Jesus”. Assume hegeliana de “mito” que se resume em relatos que contrariam as leis da natureza ou a evolução histórica com o objetivo de exaltar uma ideologia. Em resumo, Strauss assume uma visão racionalista dos milagres de Jesus dando significado as passagens do evangelho de acordo com essa visão. Dibellius desenvolve a história das formas evangélicas, onde afirma que as unidades literárias dos Evangelhos, que se destacam do contexto com certa independência, denunciam sua origem: a pregação sobre Jesus. Esta forma de enxergar os evangelho visava filtra aquilo que era mito e aquilo que realmente foi a sua pregação. Essas duas teorias influenciaram Bultmann e fizeram com que ele fizesse distinção entre “palavras de Jesus” e “Narrativas evangélicas”: As palavras de Jesus se classificam em: ● Apoftegmas, ou seja, palavras de Jesus que se enquadram em uma cena, cujo sentido pode ser polêmico, didascálico e biográfico ● Sentenças de Jesus, atribuídas diretamente a Jesus, sem roupagem literária (Mc 2,21). ● Sentenças sapienciais: exortações, máximas etc. ● Sentenças proféticas: Promessas, ameaças (Mt 5,3), Sentenças legislativas: Todo aquele que repudiar…( Mc 10,11). As Narrativas evangélicas, Bultmann classifica como narrativas de milagres, de legendas e de mitologias. O estudo das formas literárias pode ser útil em muitos aspectos para o desenvolvimento
da pesquisa e dos estudos, mas quando se usa em um contexto ideológico ele passa a tomar um viés perigoso. Como foi o caso de Bultmann que se valendo de um pensamento racionalista radical, desconstruiu toda a narrativa e toda a estrutura evangélica, chegando a conclusões insustentáveis.
4 - Sobre o Problema Sinótico, disserte sobre os seguintes pontos: a) O que se entende por concordância? A concordância é quando se apresentam relatos idênticos nos três livros, denominada tríplice tradição. Vemos por exemplo que há concordância nos três evangelhos quanto aos relatos do Ministério na Galiléia e Viagem a Jerusalém, por exemplo. As concordâncias se fazem presentes nos três livros quando o relato tem a ver com o cerne do conteúdo da Revelação. b) O que se entende por discordância? As discordâncias ocorrem por conta da adaptação do texto de acordo com a necessidade do destinatário. É levado em conta a cultura e os costumes do povo, a forma de falar sempre se atentando àquilo que de fato vai fazer sentido para a comunidade. Podemos citar como exemplo o Sermão da Montanha, que ao ser escrito para os gregos deveria o título de Sermão da Planície, pois para o hebreu o profeta e autoridade falava do monte e para o grego o orador, o filósofo falava na praça. Porém, há de se destacar que a omissão (como no exemplo agora exposto, o Sermão da montanha não aparece no livro de Marcos) ou modificação destas passagens não altera em nada o conteúdo essencial da Revelação. c) Qual o mérito da Teoria da Tradição Oral: A teoria tem como estrutura as premissas de que os evangelhos nasceram a partir da catequese oral que era transmitida com fidelidade com estrutura fixa e estereotipada. As semelhanças se explicam porque todos dependem da mesma tradição oral e as diferenças pelas personalidades dos evangelistas. Ela tem o mérito de dar a importância a tradição oral, fator permanente presente no curso da tradição, não somente no início, mas torna-se insuficiente para explicar o problema sinótico.