ATAQUES DE PÂNICO... ALGUMAS INFORMAÇÕES Talvez mais do que qualquer outra emoção, a ansiedade é frequentemente caracterizada por um conjunto de sintomas físicos: o coração a bater com força, os músculos tensos (por vezes com dores e tremuras), falta de fôlego, sudação, etc. Esta componente fisiológica da ansiedade é o que leva frequentemente as pessoas a pensar que o seu problema é orgânico, sendo que muitas vezes os exames médicos que fazem não revelam quaisquer alterações. A ansiedade é uma resposta biológica normal, concebida pela natureza para ajudar o organismo. Ela é uma resposta ao perigo que prepara o indivíduo para a acção, permitindo que este tenha uma de duas respostas: atacar ou fugir.
MECANISMOS DA ANSIEDADE O que acontece é que, quando determinado perigo é percepcionado ou antecipado, o cérebro envia uma mensagem a uma secção do sistema nervoso, que é o sistema nervoso autónomo. Este, por sua vez, divide-se em duas secções, o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático, que estão directamente envolvidos no controlo dos níveis de energia do organismo. O Sistema Nervoso Simpático (SNS) é aquele que liberta a energia, que prepara o organismo para atacar ou fugir. A sua actuação provoca, ao nível físico e psíquico, diversas alterações ou sintomas, cujo objectivo é preparar, de determinada forma, o organismo para a acção. A nível físico, o SNS é, por exemplo, o responsável pelo aumento do ritmo cardíaco e da força dos batimentos cardíacos (conduzindo a uma sensação de ter o «coração acelerado»), com o objectivo de aumentar a distribuição de oxigénio pelos tecidos; é também o SNS que induz o aumento do ritmo respiratório (conduzindo às sensações de falta de fôlego, asfixia e por vezes dores e «aperto» no peito), com o objectivo de levar mais oxigénio até aos tecidos; outro exemplo de actividade do SNS é a mudança na direcção do fluxo sanguíneo, e a consequente diminuição do fornecimento de sangue ao cérebro (conduzindo a tonturas, visão desfocada, confusão, sensação de «irrealidade» e ruborização), com o objectivo de deslocar o fluxo sanguíneo para os locais onde, nesse momento, é mais útil (os grandes músculos, como os das
pernas e dos braços). A nível psíquico, o SNS é responsável pela criação de um estado de alerta (o que cria dificuldades de concentração e de memória), com o objectivo de procurar eventuais perigos no meio envolvente. Porque o SNS funciona em termos de tudo-ou-nada, quando é activado estes sintomas tendem a aparecer em conjunto. Muito importante é notar ainda que desagradáveis, estes sintomas não são perigosos! Afinal, não faria sentido que a natureza criasse um mecanismo cujo objectivo é proteger o organismo e que, ao fazê-lo, prejudicasse esse mesmo organismo! O Sistema Nervoso Parassimpático (SNP) é o sistema restaurador, que faz com que o organismo volte ao seu estado normal. Quando o organismo «já teve o suficiente» da resposta de ansiedade, activa o SNP, cujos efeitos, no geral, são opostos aos do SNS, e que vai reinstalar o estado de relaxamento. Também é importante notar que devido à actuação do SNP, a ansiedade não continua para sempre, nem aumenta até níveis muito elevados e, possivelmente prejudiciais!
MAS PORQUE É QUE EU SINTO ESTES SINTOMAS MESMO QUANDO NÃO PARECE HAVER PERIGO? Há várias explicações. Em alguns casos, a pessoa vive habitualmente sob elevados níveis de stress que resultam na produção quase contínua dos sintomas. Outras pessoas, ainda que experienciando sensações que são comuns a outras pessoas, tendem a prestar uma maior atenção a estas sensações. Por exemplo, se se concentrar durante alguns minutos no seu pé esquerdo, possivelmente vai notar aí uma infinidade de pequenas sensações das quais antes não se tinha dado conta; uma pessoa ao concentrar-se, por exemplo, no batimento cardíaco, vai reparar em alterações que todos temos sem nos darmos conta.
COMO É QUE, A PARTIR DA ANSIEDADE, SURGEM OS ATAQUES DE PÂNICO? Os ataques de pânico provêm de uma reacção de medo aos sintomas que constituem a resposta de ansiedade; pode-se dizer que o pânico é o medo do medo. O ciclo que conduz à sua ocorrência é o seguinte:
O primeiro ataque de pânico é, quase sempre uma experiência muito forte – até porque nesse momento, a pessoa julga que tem um problema físico eventualmente perigoso. A partir desse momento, os sintomas da resposta de ansiedade ficam associados à experiência desagradável do ataque de pânico. Por este motivo, de cada vez que eles ocorrem no futuro, a pessoa associa-os a esta experiência, o que aumenta a ansiedade e precipita o ataque de pânico. Esta sequência tem inicio com uma má interpretação das sensações físicas (estímulos internos) e/ ou de estímulos externos como um sinal de perigo iminente. Esta interpretação distorcida produz um estado de apreensão que acarreta uma intensificação ou catastrofização das sensações físicas que seriam consideradas normais em estados de ansiedade. Com isto, ocorre um aumento adicional na apreensão, produzindo mais sensações físicas, que culminam num ataque de pânico. LIDAR COM OS ATAQUES DE PÂNICO Tendo em conta aquilo que foi dito até aqui, seguem-se duas abordagens possíveis para lidar com os ataques de pânico. Há, contudo, que ter em conta que a implementação destas abordagens não garante que estes desapareçam magicamente. Estas constituem apenas algumas sugestões que poderão ser úteis como ponto de partida para começar a abordar o problema. Abordagem nº1: Naturalizar a ansiedade. O que acontece é que se a pessoa conseguir evitar fazer a interpretação errada de que os sintomas são perigosos e acreditar que os sintomas, ainda que desagradáveis, são completamente inofensivos, os ataques de pânico deixam de ocorrer. Isto pode ser, no início, algo difícil de fazer, uma vez que a interpretação errada foi
repetida várias vezes, acabando por se tornar bastante automática e difícil de disputar. É importante persistir, e encontrar, para cada interpretação errada e assustadora dos sintomas, uma resposta «correcta». Abordagem nº2: Tolerar a ansiedade. Esta abordagem procura confrontar a ansiedade, que é a base do pânico, lidando com ela, para um nível em que se torne mais fácil de gerir. Dos vários procedimentos possíveis, dois se destacam pela sua simplicidade e eficácia: a respiração diafragmática e o relaxamento muscular progressivo. A sua combinação é particularmente eficaz na obtenção do estado de relaxamento pretendido.
RESPIRAÇÃO DIAFRAGMÁTICA O diafragma é um músculo largo, em forma de leque, que separa a cavidade toráxica (acima do diafragma) da cavidade abdominal (abaixo do diafragma). A maior parte das pessoas não respira de forma suficientemente profunda porque utiliza na respiração apenas a cavidade torácica. Uma forma de respirar utilizando toda a capacidade dos pulmões e permitindo receber cerca de 7 vezes mais oxigénio é a respiração diafragmática, também conhecida por respiração abdominal, que se caracteriza por fazer uma maior utilização do diafragma e da cavidade abdominal. Na respiração diafragmática, quando a pessoa inspira, o diafragma desloca-se para baixo, ficando quase plano (diminuindo a pressão do ar nos pulmões e puxando o ar para dentro) e o abdómen desloca-se para fora (figura da esquerda). Quando a pessoa expira, o diafragma desloca-se para cima, ficando semelhante a um cone (aumentando a pressão do ar nos pulmões e empurrando o ar para fora), e o abdómen desloca-se para dentro (figura da direita)
Ao aumentar a recepção de oxigénio, a respiração diafragmática pode apresentar variados benefícios ao nível físico e psíquico; nomeadamente, estimula a resposta de relaxamento, permitindo descer o nível de ansiedade. Este treino deve ser feito pelo menos 2 vezes por dia, 5 ou 6 minutos de cada vez, em alturas em que se encontre livre de distracções e interrupções. A prática vai acabar por lhe permitir incorporar a respiração diafragmática na sua vida quotidiana e, eventualmente, nos momentos em que se sente mais ansiosa.