Para utilizar a gramática como nosso instrumento de trabalho é preciso que antes tentemos defini-la e apontemos a que paradigma está nos referindo. O dicionário Aurélio (1993, p. 227) traz dois significados para gramática: “Estudo ou tratado dos fatos da linguagem e das leis naturais que a regulam”, ou ainda, “Livro onde se expõem as regras da linguagem”. No primeiro significado apontado pelo dicionário, consideramos que se trata da visão descritiva, já que esta pode analisar tanto a língua falada quanto a escrita, sem preocupações quanto a estabelecer regras ou impor valores. Observa a língua como “objeto científico que se quer conhecer” (CUNHA, 2005, p. 4) e, por isso precisa descrever o que percebe em seu uso. Já a segunda significação que o dicionário propõe, refere-se à gramática normativa, com a qual realizaremos este trabalho. Ela gera um sistema de regras comprometido com o emprego correto da língua portuguesa, considerando certos os usos estabelecidos por pessoas de prestígio social. Seus exemplos são, normalmente, retirados de obras literárias clássicas do cânone português/brasileiro. A gramática normativa da língua portuguesa, aquela comumente utilizada nas aulas de português, ao apresentar um tema faz uso da gramática descritiva de modo a ilustrar como o elemento a ser estudado aparece no sistema da língua. Em seguida, ela prescreve o uso correto do português com a pretensão de que sua reflexão sobre o sistema lingüístico se torne regras uniformes para todos os falantes. Pretendemos, neste trabalho, explorar como se dá a aproximação da gramática descritiva com a normativa, já que a segunda pode usar a primeira em sua construção. Através da análise da apresentação dos pronomes possessivos na gramática normativa, procuraremos demonstrar como se relacionam a descrição e a prescrição em tal livro. 2. Desenvolvimento 2.1. A apresentação dos possessivos ao leitor 1ª Descrição X Prescrição. Pronomes Possessivos Verificamos que em algumas gramáticas, como a de (CUNHA), ao apresentar os pronomes possessivos o fazem de forma sistematizada. Veja: “os pronomes se referem às pessoas do discurso” (MÁRIO A. PERINI) “Eles estabelecem uma relação de posse/pertinência com as pessoas gramaticais, ou simplesmente mostra uma referência a cada uma delas”. (LUIZ RICARDO Leitão)
“Apresentam três series de formas, correspondentes à pessoa a que se referem variando com o gênero e o número da coisa possuída e com o numero de pessoas representadas no possuidor”. (LUIZ RICARDO LEITÃO)
Observe tabela abaixo. Um possuidor
1a.
Pessoa
2a.
Pessoa
3a.
Pessoa
Vários possuidores
Um objeto
Vários objetos
Um objeto
Vários objetos
Masc.
Meu
Meus
Nosso
Nossos
Fem.
Minha
Minhas
Nossa
Nossas
Masc.
Teu
Teus
Vosso
Vossos
Fem.
Tua
Tuas
Vossa
Vossas
Masc.
Seu
Seus
Seu
Seus
Fem.
Sua
Suas
Sua
Suas
Ex.: Eu não sou da sua rua, Eu não falo a sua língua, Minha vida é diferente da sua. (Marisa Monte, Eu não sou da sua rua) A palavra sua, refere-se aos substantivos” rua “e “língua”.
Minha e sua, refere-se ao substantivo “vida”.