Magro, de olhos azuis, carão moreno, Comentários: Esse soneto é considerado o Auto-retrato do poeta. Ele foi corrigido, pelo próprio Bocage, na edição de 1804. Os versos "Inimigo de hipócritas, e frades" e "Num dia em que se achou cagando ao vento" foram substituídos, respectivamente, por "E somente no altar amando os frades" e "Num dia em que se achou pachorrento", no qual pachorrento tem o significado de paciente. Optamos por divulgar a primeira versão do poema porque a consideramos mais original. Nesse soneto, no qual o poeta vê com humor e um certo cinismo as suas desventuras, percebe-se toda a instabilidade do poeta, tanto no sentido físico, quanto no moral. Ele é incapaz de assistir, aqui empregado no sentido de morar, "num só terreno". Apenas vi do dia a luz brilhante Comentários: Nesse soneto Bocage faz referência a morte de sua mãe. Em seguida ele nos fala sobre a sua entrada para Marinha de Guerra e sobre as suas viagens. Essa idéia é reforçada com a presença da "Marte" o deus romano da guerra. Finalizando o poema o eu-lírico, que deseja a paz da sepultura, se opõem aos homens que procuram como loucos os bens materiais, que não passam de quimeras, ou seja, sonhos fantasiosos. Ó tranças, de que Amor prisão me tece, Comentários: Esse soneto é um ótimo exemplo do estilo árcade. Nele temos a presença da natureza e de figuras mitológicas como Vênus e Júpiter. O poema é construído baseado na oposição beleza e o seu efeito. As mãos da musa tecem o fado do poeta, os seus lábios tiram a sua paz. A beleza da mulher amada é detalhada por quase todo o poema e, no final, ela é comparada a Vênus, deusa da beleza e do amor, e em nada perde para ela, pois até mesmo Júpiter por ela suspira. Da pérfida(1) Gertrúria o juramento Comentários: Tudo leva a crer que esse soneto foi inspirado na traição de Gertrudes (Gertrúria) que casou-se com o irmão de Bocage, Gil Bocage, quando o poeta estava na Índia. Nesse poema percebe-se a dor e amargura do eu-lírico ao perceber que sua amada o traiu. A conclusão do poema é muito cínica. O amor é comparado com as flores, belas, porém, pouco duradouras. Das terras a pior tu és, ó Goa, Comentários: Essa Goa sobre a qual Bocage descarrega o seu Sarcasmo é muito diferente daquela que foi conquistada por Afonso de Albuquerque e que se transformou no maior centro comercial do oriente. Na visão do poeta Goa é "Das terras a pior" , seus habitantes são pretensiosos e vivem se vangloriando do seu luxo e riqueza, porém o império está em franca decadência, o império está falido e corrupção toma conta de seus habitantes. Para reverter essa situação, concluí ironicamente o poeta, somente Merlin com sua poderosa magia.
Camões, grande Camões, quão semelhante Comentários: Nesse soneto Bocage invoca Camões, comparando as suas desventuras com as dele. As semelhanças entre os dois são muitas: Ambos cruzaram o cabo da Boa Esperança, eram boêmios, briguentos, tiveram muitos amores e morreram quase na miséria. No último terceto do poema, Bocage, como era de costume no período Neoclássico, admite que Camões é o seu modelo. No entanto, ele lamenta o fato de se equiparar ao "grande Camões" "Nos transes da ventura" e não no dom de fazer versos. Incultas produções da mocidade Comentários: Esse soneto pode ser considerado como o julgamento literário que Bocage faz dos poemas que escreveu na juventude. Ao criticá-los, ele crítica também o estilo da época e o fingimento das composições árcades. Por
meio da forma imperativa, ele amplia a intensidade apelativa do poema e pede aos leitores para que tenham piedade de seus versos, pois é só piedade eles buscam. A utilização de iniciais maiúsculas em "Fingimento" e "Despotismo" personifica idéias abstratas. Ao fazer isso, ele pode estar tentando transferir a eles um pouco da responsabilidade pela autoria dessas "Incultas produções".
Lembrou-se no Brasil bruxa insolente Comentários: Esse soneto, de tom extremamente irônico, foi dedicado a Domingos Caldas Barbosa, presidente da Nova Arcádia. Nele, Bocage compara Caldas a um demônio que, para iludir os portugueses, disfarça seus guinchos em canções. Esse demônio, por ser descendente da rainha Ginga, adversária dos portugueses durante a época da colonização, é um inimigo do povo português.
Cartaz: Comentários: Soneto com tom satírico. Nele é anunciado a repetição de uma peça, cuja tradução é atribuída a Belchior Manuel Curvo Semedo, membro da Nova Arcádia. No entanto, essa peça só está sendo apresentada porque o tradutor é "amigo do empresário". Note que a peça será apresentada em uma quarta-feira, referência irônica às reuniões da Nova Arcádia que, por acontecerem às quartas-feiras, ficaram conhecidas como "quartas-feiras de Lereno". Vós, ó Franças, Semedos, Quintanilhas, Comentários: O tom desse soneto é irônico. Nele, Bocage compara os membros da Nova Arcádia à "pestes condenadas". Ele ainda zomba deles usando nomes árcades como Jove e Pindo. Essas "pestes", como diz Bocage, fazem uma poesia maçante e vivem perseguindo Elmano, que, além de ser um poeta superior, é um homem honrado, que nunca se lembra deles porque está ocupado com a verdadeira poesia "coisas sérias, de mais alto estado". A superioridade de Elmano fica clara no último terceto: ele está no Pindo sob a proteção de Apolo e das musas enquanto que os outros... Em algumas publicações esse verso é completado com "mijando" ou "cagando".As duas palavras se encaixam perfeitamente no verso, ou seja, a métrica e rima ficam perfeitas.
Sanhudo, Inexorável Despotismo, Comentários: Esse é um soneto que reflete as idéias liberais da Revolução Francesa. No poema existe uma atitude prêromântica, pois o Despotismo opressor não consegue atingir o coração que é livre. Vale lembrar que os autores do Romantismo, que estaria por vir, tinham posições políticas muito semelhantes a essas. Por isso, reforça-se ainda mais a antecipação romântica de Bocage.
Liberdade, onde estás? Quem te demora? Comentários: Esse é outro soneto ideológico. Nele existe a defesa dos ideais liberais e a crítica ao Despotismo opressor. Por isso, o poema torna-se uma espécie de canto a liberdade, que possuí a função de acorda Portugal, uma terra que ainda está adormecida. Novamente temos o uso de iniciais maiúsculas para personificar idéias abstratas. Importuna Razão, não me persigas;
Comentários: Nesse soneto temos traços do Arcadismo e também do Romantismo. Marília está em outros laços, que pode ser entendido como outros braços. Essa visão real, essa "Importuna Razão" persegue o eu-lírico, que, aos invés de lhe dar ouvidos, prefere apreciar sua loucura. A Razão, personificada pelo uso de iniciais maiúsculas, pede para o eu-lírico fuja de sua amada, porém, seu desejo "É carpir, delirar, morrer por ela.". Nota-se claramente que nesse poema existe um conflito entre a razão Arcade e a emoção tipicamente Romântica.
Oh retrato da morte, oh Noite amiga Comentários: Nesse soneto percebe-se claramente os traços prê-românticos de Bocage. A morte se faz presente, confunde-se com a noite e é amiga do eu-lírico, mais que isso, ela é a "Calada testemunha" do seu pranto. Além disso, surgem fantasmas e mochos, figuras noturnas, que como ele são inimigos da claridade. Claridade essa que não deve ser vista simplesmente como luz, mas sim como a luz do conhecimento e da razão, que se opõe a noite, ou seja, a incerteza, aos mistérios da alma. No entanto, esse clima Romântico, que envolve o eu-lírico, não chega até a mulher amada, que dorme tranqüilamente.
Meu ser evaporei na lida(1) insana Comentários: Esse soneto, de tom confessional, é um dos poemas de Bocage mais reproduzidos no Brasil. Ele foi escrito pouco antes da morte de Bocage e é outro exemplo do pré-romântismo, porque a emoção, mais uma vez é contraída pela rigidez do verso. No poema, o eu-lírico nos mostra como a sua vida foi consumida em prazeres e amores. No último terceto ele invoca Deus, arrepende-se dos erros cometidos em vida e, mostrando que está totalmente reconciliado com a religião, espera encontrar na eternidade o perdão Divino.
Já Bocage não sou!... À cova escura
Comentários: Esse talvez seja um dos sonetos mais famosos de Bocage. Ele é o exemplo perfeito do termo prê-romântico porque as emoções são contraídas, ou seja, estão presas a rigidez do verso perfeito e a forma fixa de soneto. Esse poema foi escrito pouco antes da morte do poeta. Nele vemos um eu-lírico arrependido da sua vida desgarrada e reconciliado a vida religiosa. Ao dizer "Rasga meus versos, crê na eternidade" ele se desprende dos valores materiais e mostra-se totalmente voltado para a eternidade.