Engenharia Biomédica 08/09 IST 3º Ano - 1º Semestre
Laboratório Engenharia Genética TP1
INTRODUÇÃO DE PLASMÍDEOS EM BACTÉRIAS
Relatório elaborado por: • • • •
Ariana Gonçalves, nº 57301 Carlos Santiago, nº58445 Filipe Condessa, nº 58370 Miguel Machado, nº 58557
Introdução: Este trabalho experimental teve por objectivo transferir DNA recombinado de Escherichia Coli para Pseudomonas Aeruginosa por conjugação triparental. Para tal, vai utilizar‐se uma bactéria – P. aeruginosa mutante – à qual foi retirado o gene que codifica uma proteína bifuncional com actividades de fosfoglicomutase e fosfomanomutase fundamentais para a produção do polissacárido alginato (o gene algC) e tentar devolver‐lhe a capacidade de produzir essa proteína. Irá ser reintroduzido o gene algC que lhe é natural, através do plasmídeo pNZ49, e também dois outros plasmídeos: o pLC100, com o gene pgmG, e o plasmídeo pMM66(HE), onde o pgmG foi clonado.
Mapas de restrição dos plasmídeos pMMB66(HE), pLC100 e pNZ49. Para introduzir os plasmídeos na bactéria, vai recorrer‐se a uma técnica à qual se dá o nome de conjugação triparental. O seu nome advém do facto de utilizar um intermediário para tornar a conjugação possível. A conjugação é um fenómeno que pressupõe determinadas condições para a sua realização. Por um lado, é necessário que o plasmídeo que pretendemos
transferir possua um gene que o torne mobilizável entre células, o gene mob. Por outro lado, a conjugação envolve a formação de uma estrutura que serve de “ponte” para a transferência do plasmídeo, à qual se dá o nome de pilus; para que o pilus se forme, é necessária a presença do gene tra na célula. Verificadas estas condições celulares, a conjugação é viável. No caso dos plasmídeos utilizados neste trabalho: pLC100, pMMB66(HE) e pNZ49 são mobilizáveis, i.e, contêm o gene mob (mob+). Contudo, não são autotransmissíveis, pois não contêm o gene tra: são mob+tra‐. É nesta altura que se recorre a um terceiro elemento: uma estirpe de E. coli que contém o plasmídeo pRK2013 portador dos genes tra e mob. Esta nova estirpe, ajudante, quando em contacto com as outras estirpes de E. coli, transferirá o seu plasmídeo, conferindo‐lhes a capacidade de conjugação com a P. aeruginosa. Nesta altura, apenas nos resta garantir que as condições físicas próprias para a conjugação se mantenham, para que haja transferência dos plasmídeos das estirpes de E. coli dadoras para a de P. aeruginosa, receptora. Sabe‐se também que estes plasmídeos são suportados por uma vasta gama de hospedeiros que sejam bactérias Gram‐negativas, podendo assim replicar quer em E. coli , a célula dadora, quer em P. aeruginosa, que neste trabalho funciona como célula receptora. Completada a experiência de transferência do plasmídeo, há que evidenciar que, de facto, houve reintrodução de um gene produtor da proteína bifuncional na P. aeruginosa. E, para verificar que a experiência foi bem sucedida, pode analisar‐se a expressão fenotípica do dito gene, i.e., confirmar a formação da enzima. Esta confirmação faz‐se verificando se há produção do exopolissacárido alginato, que, na prática, significa o aparecimento de um muco. Contudo, é fulcral que se elimine do sistema as estirpes de E. coli, visto que estas também são produtoras de fosfoglicomutase, o que interferiria com a avaliação dos resultados. Esta selecção é feita através do uso do meio PIA (Pseudomonas Isolation Agar), dado que E. coli não cresce em meio PIA e que P. aeruginosa é naturalmente resistente a ampicilina. As placas de PIA contendo carbenicilina visam seleccionar os transconjugantes de P. aeruginosa, ou seja, impede o crescimento de E. coli e também de P. aeruginosa que não contenham os plasmídeos pLC100, pMMB66(HE) e pNZ49, visto que estes conferes imunidade à carbenicilina.
Resultados: Para o cálculo da frequência recorreu-se à seguinte expressão: º
ê
é º
é
Para cada plasmídeo, o número total de células foi obtido a partir do cálculo das Unidades Formadoras de Colónias por volume (UFC/mL) resultantes da contagem do número de colónias formadas no meio de cultura PIA (não selectivo) para as concentrações 10-5, 10-6 e 10-7. Por sua vez, o número de células transformadas resulta o número de colónias formadas no meio de cultura PIA-Km (selectivo) para as concentrações 10-1, 10-2 e 10-4. De uma forma geral, as UFC/ml serão calculadas a partir da expressão: º
ó çã
10
Há que referir que não foram contadas as colónias para as concentrações mais elevadas, quer em meio PIA (10-5) quer em PIA-Km (10-1), devido ao seu elevado número. Plasmídeo pNZ49 Tabela 1. Estimativa de UFC/mL.
Meio de Cultura PIA-Km PIA-Km PIA-Km PIA PIA
Diluição -2
10 10-3 10-4 10-6 10-7
Nº colónias
UFC/mL
86 26 5 107 46
86000 260000 500000 1.07x109 4.6x109
Tabela 2. Frequência e valores médios de UFC transformadas e UFC totais.
Valor Médio de UFC Transformadas Valor Médio de UFC Totais Frequência
2.82x105 2.83x109 9.947*10-5
Imagem 1. Colónias de P. aeruginosa com o plasmídeo pNZ49.
Plasmídeo pMMB66(HE) Tabela 3. Estimativa de UFC/mL.
Meio de Cultura
Diluição
Nº Colónias
UFC/mL
PIA-Km PIA-Km PIA PIA
10-3 10-4 10-6 10-7
301 112 127 9
3.0x106 1.12x107 1.27x109 9.0x108
Tabela 4. Frequência e valores médios de UFC transformadas e UFC totais. 7.11x106 1.09x109 6.5x10-3
Valor Médio de UFC Transformadas Valor Médio de UFC Totais Frequência
Imagem 2. Colónias de P. aeruginosa com o plasmídeo pMMB66.
Plasmídeo pLC100 Tabela 5. Estimativa de UFC/mL.
Meio de Cultura
Diluição
Nº Células
UFC/mL
PIA-Km PIA-Km PIA-Km PIA-Km PIA-Km PIA PIA PIA
10-2 10-2 10-3 10-4 10-4 10-5 10-6 10-7
209 36 3 1 6 972 127 28
209000 36000 30000 100000 600000 9.72x108 1.27x109 2.61*109
Tabela 6. Frequência e valores médios de UFC transformadas e UFC totais. 1.95x105 1.681x109 1.160x10-4
Valor Médio de UFC Transformadas Valor Médio de UFC Totais Frequência
Imagem 3. Colónias de P. aeruginosa com o plasmídeo pLC100.
Antes da experiência: Tabela 7. Características dos Plasmídeos utilizados.
Plasmídeo
Hospedeiro
Descrição
Tamanho (Kb)
pMMB66(HE) pLC100 pNZ49 pRK2013
E.coli HB101 E.coli HB101 E.coli HB101 E.coli HB101
Vector, Apr Gene pgmG, Apr Gene algC, Apr Kmr, tra+
8.9 10.3 11.6 4.8
Tabela 8. Características das estirpes Bacterianas utilizadas.
Estírpe
Fenótipo
Genótipo
P. Aeruginosa 8858 E. Coli HB101
AlgF-
algChsr R, hsd M, rec A
Fenótipo
Genótipo
Depois da experiência: Tabela 9. Características observadas.
Estírpe
+
P. Aeruginosa 8858
Alg (img. 4) + Alg (img. 5) Alg (img. 6)
+
pgmG + algC pgmG ; algC
Imagem 4. P.aeruginosa com pLC100, 10-2, com formação de alginato
Imagem 5. P.aeruginosa com pNZ49, 10-2, com formação de alginato
Imagem 6. P.aeruginosa com -6 pMMB66(HE), 10 , sem formação de alginato
Gráfico 1. Logarítmo de frequência (ordenadas) em função do tamanho do plasmídeo (abcissas). 0 ‐0,5
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
‐1 ‐1,5 ‐2
pMMB66(HE)
‐2,5 ‐3 ‐3,5 ‐4 ‐4,5
pLC100 pNZ49
14000
Discussão: A utilização da estirpe ajudante E. Coli HB101 foi fulcral para este trabalho dado que, embora os plasmídeos pLC100, pNZ49 e pMMB66(HE) possuam o gene mob que permite a sua mobilização, não possuem o gene tra, presente no plasmídeo pRK2013 de E. Coli HB101 e que torna possível a criação do pilus e, consequentemente, torna a conjugação viável. O uso dos plasmídeos pLC100, pMMB66(HE) e pNZ49, que codificam resistência ao antibiótico carbenicilina, garantiu que apenas as espécies transformadas se desenvolvessem no meio de cultura PIA‐Km. Contudo, deveriam ter sido efectuados ensaios de controlo para confirmar as premissas nas quais se efectuaram os cálculos das frequências, ou seja, que apenas as espécies transformadas de interesse se desenvolveram em meio de cultura PIA‐Km. A existência de conjugação triparental foi observada pela expressão do fenótipo mucoso aquando da utilização de apenas dois plasmídeos: pNZ49 (algC de P. Aeruginosa) e pLC100 (pgmG de E.Coli). Dado que a estirpe receptora é uma estirpe de P. Aeruginosa mutante sem capacidade de produção de alginato, confirma‐se que estes plasmídeos codificam uma proteína bifuncional com actividade de fosfoglicomutase e fosfomanomutase. Com efeito, o fenótipo mucoso observado recorrendo ao plasmídeo pLC100 permite‐nos concluir a existência de completamentação heteróloga, visto que o plasmídeo pLC100 contém o gene pgmG proveniente de S. elodea. Da mesma forma, a observação do fenótipo mucoso aquando da utilização do plasmídeo pNZ49 permite‐nos concluir a existência de completamentação homóloga visto este conter o gene algC de P. Aeruginosa. Por outro lado, a não observação do fenótipo mucoso aquando da introdução do plasmídeo pMMB66(HE) seria de esperar visto ser um vector sem genes para codificar proteínas bifuncionais com actividade de fosfoglicomutase e fosfomanomutase, pelo que não poderia haver formação de alginato. As frequências obtidas foram: • 6.5x10‐3 para pMMB66(HE) • 1.160x10‐4 para pLC100 • 9.947x10‐5 para pNZ49. Apesar de não haver uma relação linear entre o tamanho do plasmídeo e a frequência com que ele é transmitido, para estes três exemplos ficou provado que há, de facto, uma dependência. Constata‐se que quanto maior é o tamanho do plasmídeo, menor é a probabilidade de este ser transferido para outras células, como seria aliás de esperar. Os resultados obtidos vão ao encontro do que é dito na teoria, pelo que se pode considerar que o trabalho foi bem sucedido.
Bibliografia: Arsénio Fialho, Jorge Leitão, Leonilde Moreira, Cristina Viegas e Isabel Sá‐Correia. Guia de Trabalhos Laboratoriais de Engenharia Genética. Lisboa: Secção de Folhas da AEIST, 2008. S.B. Primrose, R.M. Twyman. Principles of Gene Manipulation and Genomics 7th Edition. Oxford: Blackwell Publishing 2007