Análise de Mídia
Mudanças Climáticas Uma análise de 50 jornais no primeiro semestre de 2008
Sumário Resumo Executivo 1. Introdução 2. Metodologia de Pesquisa 2.1. Adaptações na metodologia 3. Mudanças Climáticas: o arrefecimento da discussão 4. O Enfoque da Cobertura 4.1. Medidas de Enfrentamento: Mitigação e Adaptação 4.1.2. O Mercado de Crédito de Carbono 4.2. Efeito Estufa 4.2.1 Os Gases de Efeito Estufa (GEE) 4.2.2. Metas para a Redução de Emissões 4.3. Energia Combustível 5. Foco Institucional 5.1. Foco no Governo 6. Meio Ambiente e Desenvolvimento 7. A Qualificação da Cobertura 7.1. Fontes Ouvidas Considerações Finais Anexo – Lista de Jornais Monitorados Ficha Técnica
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Resumo Executivo
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ste documento apresenta os principais resultados alcançados a partir do monitoramento de 50 jornais impressos de 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, durante o primeiro semestre de 2008. O objetivo da pesquisa é avaliar em que medida questões relacionadas ao fenômeno das mudanças climáticas repercutem na imprensa nacional e investigar a qualidade do conteúdo produzido em relação a essa temática. No âmbito de uma parceria firmada com a Embaixada Britânica no Brasil em 2007, a ANDI realizou um primeiro estudo sobre o tratamento editorial oferecido às mudanças climáticas, com base na produção dos mesmos 50 diários entre julho de 2005 e junho de 2007. De maneira a identificar as potenciais alterações neste cenário, a ANDI elaborou, então, este monitoramento.
Números gerais da cobertura Os resultados da análise de mídia desenvolvida a partir dos textos publicados entre 2005 e 2007 evidenciaram um aumento significativo no número de matérias sobre mudanças climáticas a partir do segundo semestre de 2006, mantendo-se em ascensão até junho de 2007. Já no primeiro semestre de 2008, a cobertura apresentou uma queda significativa. A mesma tendência foi observada em pesquisas internacionais. Em 2005/2007 cada periódico publicou em média uma notícia a cada quatro dias, em 2008 esse índice caiu para uma notícia a cada sete dias.
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Apesar da redução no total de matérias, alguns aspectos devem ser considerados: • O volume de notícias alcançado em 2007 foi impulsionado por uma agenda internacional repleta de eventos suficientemente expressivos para despertar o interesse da imprensa; • Durante o primeiro semestre de 2008 a agenda internacional não contou com eventos da mesma expressão. Por essa razão, a imprensa brasileira esteve mais voltada para assuntos internos; • Apesar da redução em relação ao segundo semestre de 2006 e ao primeiro de 2007, a quantidade de matérias veiculadas em 2008 está acima da média observada nos primeiros 12 meses monitorados (julho/2005 a junho/2006); • Entre 2005 e 2007, os seis jornais de referência nacional foram responsáveis por 37% da cobertura. Em 2008, essa concentração foi ainda mais expressiva, chegando a 48%; • A oscilação do número de notícias publicadas nos jornais de grande circulação entre o primeiro e o segundo monitoramento foi menos significativa do que a média geral.
Temas mais abordados • No primeiro semestre de 2008 a abordagem da imprensa se concentrou em quatro sub-temas: Medidas de Enfrentamento (18,6%); Conseqüências e Impactos (11,5%); Questões Energéticas (10,8%) e Efeito Estufa (9,0%); • Entre 2005 e 2007, os três tópicos mais abordados foram: Efeito Estufa (26,1%), Questões Energéticas (13,5%) e Conseqüências e Impactos da mudança climática (12,1%).
Estratégias de mitigação • Nós dois períodos analisados, cerca de 40% dos textos abordaram estratégias de mitigação, ainda que esse não fosse o foco central da notícia. Já os recursos de adaptação foram citados em apenas 3,6% das notícias analisadas em 2005/2007, subindo para 6,8% em 2008; • Dentre as estratégias de mitigação mencionadas, houve uma concentração no setor energético, com 45,1% em 2005/2007 e 28,7% em 2008.
Gases de efeito estufa • 50% das matérias sobre mudanças climáticas publicadas nos dois períodos fizeram menção aos gases de efeito estufa (GEE); • 50% das matérias onde há referência aos GEE publicadas nos dois períodos indicaram a fonte responsável pela sua emissão; • 15% das notícias publicadas em 2005/2007 mencionaram a existência de obrigações ou metas de redução de emissões. Em 2008, esse percentual subiu para 22,6%.
Foco institucional • Não houve alterações significativas no foco institucional entre 2005/2007 e 2008. Os dois períodos são caracterizados por uma valorização da esfera governamental, especialmente do Poder Executivo. • Em 2005/2007, as articulações desenvolvidas no âmbito internacional ocuparam destaque (46,7%). Já em 2008, houve uma valorização da esfera governamental interna (53,8%).
Políticas públicas • Ainda que o número de matérias focadas no governo brasileiro tenha evoluído em 2008, a referências a políticas públicas não manteve a mesma tendência. Em 2005/2007, 20% dos textos sobre mudanças climáticas fizeram menção a iniciativas tomadas pelo governo. Em 2008, esse percentual caiu para 12,2%.
Elementos de contextualização
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A cobertura sobre mudanças climáticas realizada no primeiro semestre de 2008 não se afastou significativamente do padrão apresentado no primeiro estudo elaborado pela ANDI. Se, por um lado, podemos identificar avanços na menção a: • Questões sobre desenvolvimento: 15% em 2005/2007 e 25% em 2008; • Causas: 36,5% em 2005/2007 e 37,6% em 2008; • Soluções: 41,8% em 2005/2007 e 44,1% em 2008; • Conceito de mudanças climáticas: 1,4% em 2005/2007 e 3,9% em 2008.
Por outro lado, houve alguns retrocessos na referência a: • Consequências do fenômeno: 58,5% em 2005/2007 e 36,2% em 2008; • Dados estatísticos: 56,6% em 2005/2007 e 40% em 2008; • Legislação: 42,3% em 2005/2007 e 32,6% em 2008; • Aspectos que explicitem a gravidade do problema: 31,9% em 2005/2007 e 22,6% em 2008.
Fontes ouvidas • Um aspecto positivo está na redução do número de matérias onde não foi possível identificar ao menos uma fonte consultada, caindo de 24,9% em 2005/2007 para 18,3% em 2008; • As fontes mais citadas nos dois períodos foram: especialistas (18,6% em 2005/2007 e 23% em 2008) e fontes governamentais (18% em ambos); • Vale destacar a redução na utilização de fontes ligadas a governos estrangeiros, caindo de 11,5% em 2005/2007 para 4,7% em 2008.
Considerações gerais Após um período de pico, entre o último semestre de 2006 e início de 2007, proporcionado pelo lançamento de pesquisas importantes sobre o impacto das mudanças climáticas, e a conseqüente mobilização da comunidade internacional, a cobertura assumiu uma tendência decrescente. Não obstante, dois aspectos merecem ser observados: • O aumento em relação ao segundo semestre de 2005 e o primeiro de 2006; • O comportamento diferenciado entre os periódicos de referência nacional e aqueles de circulação regional, sendo que no primeiro grupo a queda na cobertura foi menos significativa que no segundo. Em 2008, houve uma mudança no enquadramento do tema, com uma transferência do discurso direcionado às conseqüências para uma valorização das estratégias de enfrentamento do problema. Dentre os avanços podemos citar a abordagem da relação entre mudanças climáticas e desenvolvimento e uma relativa valorização da realidade brasileira. Ainda que o tema continue sofrendo forte influência da pauta internacional, há uma crescente presença do discurso de atores nacionais, especialmente da esfera governamental.
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Introdução
O
fenômeno conhecido por mudanças climáticas pode ser definido como uma variação de temperatura que ocorre em escala global. Ainda que tais alterações possam fazer parte de uma dinâmica natural, a discussão sobre elas tem ganhado espaço significativo na agenda internacional nas últimas décadas. A crescente preocupação com o impacto causado pelo aumento da temperatura terrestre está associada a dois aspectos principais: as variações acima da média e a descoberta de que a ação humana tem contribuído sobremaneira para a alteração do equilíbrio climático do planeta. A despeito das divergências na abordagem do tema, existe hoje um forte movimento de conscientização, protagonizado por ambientalistas, especialistas e personalidades políticas do mundo todo, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a necessidade urgente de mudança na forma em que se dá o relacionamento entre o ser humano e o meio ambiente.
Os relatórios lançados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)1 em 2007, as reuniões da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima2, além de outras pesquisas3 têm insistido em um aspecto fundamental: a ação intensiva e articulada do governo, do setor privado e da sociedade civil possui um papel decisivo na busca e na implementação de alternativas capazes de desacelerar o avanço das mudanças climáticas, bem como minimizar o seu impacto sobre o planeta. Dentro deste contexto, é razoável alegar que cabe à mídia uma posição de destaque no processo de informação e de sensibilização da sociedade. Essa atuação não pode ser negligenciada, por exemplo, no debate sobre tópicos cruciais como a necessidade de alcançarmos um equilíbrio entre as políticas de desenvolvimento e as de preservação do meio ambiente.
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1 O IPCC lançou três relatórios em 2007. O primeiro deles buscava avaliar o sistema climático do planeta, o segundo procurava identificar as vulnerabilidades e o terceiro avaliava as opções para a redução das emissões de gases de efeito estufa. 2 A Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (UNFCCC), também conhecida como Convenção do Clima, foi criada em 1992 com o objetivo de alcançar a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera abaixo dos níveis considerados perigosos para o equilíbrio climático do planeta, por meio do acordo entre os países. Desde 1995, as nações signatárias do documento têm se reunido anualmente nas Conferência das Partes (COP) . A conferência mais recente (14ª) foi realizada em Poznam, na Polônia, em dezembro de 2008. 3 Um dos estudos mais expressivos sobre mudanças climáticas foi publicado em outubro de 2006 pelo economista Nicolas Stern. Encomendado pelo governo britânico, o documento, que ficou conhecido como Relatório Stern, ressalta os impactos das mudanças climáticas e reforça a necessidade de investimentos públicos para o equacionamento do problema.
Investigar o comportamento da imprensa diante de temáticas de relevância social tem sido um dos desafios assumidos pela ANDI. Essa postura surge como resultado da idéia de que a mídia pode e deve contribuir para o desenvolvimento humano, por meio da promoção do debate sobre questões de interesse público. Para que esse aporte seja efetivo, é necessário que imprensa seja capaz de: • Oferecer ao cidadão informações confiáveis e contextualizadas; • Organizar a agenda pública de debates em torno de questões relevantes, de forma plural e inclusiva; e • Exercer o controle social sobre os órgãos oficiais de governo e sobre as políticas públicas implementadas pelos mesmos4.
A trajetória da ANDI no acompanhamento da cobertura sobre mudanças climáticas No âmbito de uma parceria firmada com a Embaixada Britânica no Brasil em 2007, a ANDI realizou um primeiro estudo sobre o tratamento editorial oferecido ao fenômeno das mudanças climáticas. A investigação foi elaborada com base na produção jornalística de 50 diários entre julho de 2005 e junho de 2007. Os resultados destacam dois grandes desafios para a imprensa brasileira: a manutenção do volume de cobertura alcançado no primeiro semestre de 2007, impulsionada por uma série de acontecimentos específicos, e a qualificação das notícias veiculadas. Entre outros aspectos esta qualificação passa pela inserção da mídia no debate sobre estratégias de desenvolvimento sustentável e de políticas públicas que incidam diretamente sobre o problema colocado em tela. De maneira a avaliar as potenciais alterações neste cenário, a ANDI propôs a realização de um novo acompanhamento. Em foco estão os avanços e/ou retrocessos registrados pelas redações brasileiras na abordagem de uma questão de extrema relevância e que exige mudanças significativas na nossa forma de pensar o meio ambiente. Com base na metodologia de análise utilizada anteriormente, a ANDI monitorou a cobertura sobre mudanças climáticas operadas pelos mesmos 50 jornais entre janeiro e junho de 2008. A análise comparativa entre os resultados auferidos no monitoramento desses dois períodos será discutida no presente documento. Vale destacar que a ANDI, em parceria com a Embaixada Britânica e o Conselho Britânico no Brasil lançou, em dezembro de 2008, o site Mudanças Climáticas – Informações para um jornalismo contextualizado (www.mudancasclimaticas.andi.org.br), que tem o objetivo de fornecer conteúdo aprofundado e atualizado sobre o tema para auxiliar jornalistas na cobertura do fenômeno.
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4 ANDI, Facing the Challenge: Children rights and human development in Latin American news media, Brasília, 2006.
Metodologia de pesquisa
O
s dados apresentados a seguir foram coletados e trabalhados com base em um método definido como “análise de conteúdo”. Segundo Anders Hansen5, esse tipo de leitura agrega um conjunto de técnicas capazes de sistematizar e descrever quantitativamente os conteúdos abordados pela mídia, identificar e quantificar a ocorrência de características específicas do texto jornalístico e, com base nelas, fazer inferências a respeito da mensagem e dos significados presentes nos textos. Para que essa análise fosse desenvolvida, a pesquisa foi dividida em algumas etapas: • Definição do período a ser estudado: janeiro a junho de 2008; • Definição do universo a ser pesquisado: 50 jornais brasileiros. Os textos foram selecionados por meio de um clipping eletrônico com base em um conjunto de palavras-chave que permitia a identificação das notícias referentes às “mudanças climáticas”; • Elaboração de uma amostra razoavelmente representativa do universo a ser analisado: essa amostra foi construída com base no método chamado de “semana composta”, desenvolvido por Anders Hansen. Partindo do pressuposto de que há uma regularidade na cobertura feita pela imprensa, é possível fazer uma seleção aleatória de dias no ano, desde que todos os dias da semana sejam contemplados, e que haja um equilíbrio entre eles e os meses representados. Para a presente pesquisa foram sorteados 42 dias ao longo de seis meses; • Montagem de um questionário estruturado: nesse instrumento estão contempladas as variáveis que se pretende observar e avaliar; • Classificação das notícias selecionadas; e • Análise dos resultados.
2.1. Adaptações na metodologia Tendo em vista que o propósito deste relatório é apresentar uma análise comparativa entre os dados levantados entre 2005/2007 e em 2008, é necessário fazer algumas ressalvas metodológicas: • Em 2005/2007, as notícias coletadas foram agrupadas em duas categorias: notícias gerais sobre meio ambiente e notícias sobre mudanças climáticas. Já em 2008, foram selecionadas apenas notícias sobre mudanças climáticas; • Os textos coletados em 2005/2007 foram divididos quanto a sua densidade. Para isso verificou-se em cada uma das matérias se sua menção a algum dos temas vinculados a mudanças climáticas era “mínima” (1 linha do texto), “mínima-média” (1 parágrafo), “média” (1 retranca) ou “alta” (todo o texto). Em 2008,
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5 Hansen, Anders. Mass Communication Research Methods. New York University Press, NY, 1998.
optou-se por restringir o universo analisado para as notícias cujo tema principal estivesse estreitamente ligado à mudanças climáticas, ou seja, aquelas cuja densidade seria definida como média ou alta na classificação aplicada ao universo 2005/2007. Diante dessas adaptações, é importante esclarecer o leitor de que os dados apresentados a seguir fazem uma comparação direta entre as matérias sobre mudanças climáticas classificadas como média ou alta no período 2005/2007 e aquelas coletadas em 2008. Esse cuidado é fundamental para que os universos a serem comparados guardem as mesmas características e proporções.
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Mudanças Climáticas: o arrefecimento da discussão
A
percepção de que aumento da temperatura do planeta poderia se tornar um problema de grande impacto para as gerações futuras ganhou proporções internacionais no final da década de 1980 e início dos anos 1990. Naquele momento, alguns estudos começaram a enfatizar não apenas a gravidade da questão, mas a influência da ação humana na sua manifestação. O discurso do cientista James Hansen no Senado Americano, em 1988 e o alerta dado por outros 700 cientistas na Conferência Mundial do Clima, em Genebra, em 1990, impulsionaram o debate sobre o tema. A imprensa brasileira, no entanto, demonstrou um interesse tardio por ele. Foi só a partir 2006 que passou a dedicar atenção mais constante à discussão sobre as variações de temperatura, cada vez mais evidentes em diversas partes do planeta. As campanhas e as articulações relacionadas ao fenômeno parecem ter conseguido maior repercussão a partir das evidências apontadas nos relatórios lançados pelo IPCC ao longo de 2007 e da abordagem impactante apresentada por Nicholas Stern, em seu relatório The Economics of Climate Change, publicado em 2006. Some-se a isso o lançamento do filme Uma Verdade Inconveniente, produzido pelo excandidato à presidência dos Estados Unidos, Al Gore, que faz um alerta urgente e incisivo sobre os efeitos das mudanças climáticas. O filme foi recebido positivamente em diversos países e conquistou um Oscar em 2007. Em fevereiro deste mesmo ano, AL Gore, juntamente com o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, receberam o prêmio Nobel da paz, pelos esforços na disseminação de informação sobre as mudanças de temperatura no mundo. Os resultados da análise de mídia elaborada pela ANDI com base nos textos veiculados entre 2005 e 2007 evidenciaram um aumento significativo no número de matérias sobre mudanças climáticas a partir do segundo semestre de 2006, mantendo-se em ascensão até junho de 2007. Conforme foi ressaltado na conclusão do primeiro estudo6, um dos desafios impostos à imprensa na abordagem do tema era, justamente, a manutenção do volume de notícias alcançado em 2007, claramente impulsionado pelos acontecimentos listados há pouco. A avaliação da cobertura realizada ao longo do primeiro semestre de 2008 demonstra, entretanto, que de modo geral os diários brasileiros não conseguiram manter o foco
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6 ANDI, Mudanças Climáticas na Imprensa Brasileira, Brasília, 2007.
sobre o fenômeno no mesmo nível de intensidade. Naquele período, cada periódico publicou, em média, uma matéria sobre a temática a cada quatro dias. Já no primeiro semestre de 2008, a média foi de uma notícia por jornal a cada semana (sete dias). Gráfico 1- Distribuição de notícias sobre Mudanças Climáticas por trimestre (Jul/2005 - Jun/2008)* 2500
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* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas. Os dois últimos trimestres de 2007 (jul/set e out/ dez) não foram monitorados pela ANDI.
Ainda que os dados indiquem uma redução no volume total de notícias sobre as mudanças climáticas nos 50 jornais monitorados, o aparente arrefecimento da discussão merece uma avaliação cuidadosa. Neste sentido, alguns aspectos devem ser considerados:
1º. O impacto da agenda internacional O período que se estende de julho de 2006 a junho de 2007 representa um momento muito peculiar no debate sobre as mudanças climáticas. Conforme foi discutido anteriormente, a cobertura sobre o tema foi claramente impulsionada por uma agenda internacional repleta de eventos e atividades suficientemente expressivos para despertar o interesse da imprensa e para elevar significativamente a produção editorial. Diante de um cenário internacional menos movimentado do ponto de vista de fatos marcantes, como foi o primeiro semestre de 2008, a queda no volume da cobertura não chega a ser um dado surpreendente, já que a mídia costuma trabalhar com os acontecimentos a partir de uma perspectiva temporal mais restrita e imediata. Dentre os poucos destaques da agenda climática no primeiro semestre de 2008 estão a 9ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CDB) e o encontro Climate Change Talks, promovido pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC), ambas realizadas em Bonn, na Alemanha, a primeira entre os dias 19 e 30 de maio e a segunda entre os dias 2 e 13 de junho.
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Se observarmos a distribuição das notícias veiculadas no período analisado, perceberemos que a cobertura se concentrou em junho, momento que coincide com a realização
do segundo encontro. Entretanto, já em maio é possível identificar um leve aumento no número de notícias. Outro fato que também impulsionou o volume de textos em junho, em foi o lançamento dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS), feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também em junho de 2008. Os resultados alcançados em 2008 corroboram a hipótese levantada no primeiro estudo sobre mudanças climáticas feito pela ANDI, de que a cobertura sobre o tema é, em grande medida, influenciada pela agenda internacional. O pico observado em junho de 2008 (marcado pela realização da Climate Change Talks, em Bonn, na Alemanha) evidencia esta tendência. Do mesmo modo, vale ressaltar a recente valorização do contexto nacional, conforme indica a repercussão do IDS na imprensa brasileira.
Gráfico 2 - Distribuição das notícias sobre Mudanças Climáticas (Jan/2008-Jun/2008)* 40,00%
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30,00%
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0,00% jan/08
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mar/08
abr/08
mai/08
jun/08
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
Ainda que a curva da cobertura esteja diretamente associada ao contexto externo, é possível dizer que o primeiro semestre de 2008 foi caracterizado por uma valorização da esfera interna, especialmente no que diz respeito ao foco central da notícia, que passou a se concentrar no governo brasileiro e não mais nos governos estrangeiros, como no período anterior, e na crescente recorrência a fontes nacionais, como será observado em outra sessões deste documento. Esse ressurgimento da esfera interna pode ser explicado, em alguma medida, pela “calmaria” observada no cenário internacional.
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2º. Aumento da cobertura em relação aos primeiros 12 meses de monitoramento Apesar da redução em relação ao segundo semestre de 2006 e ao primeiro de 2007, a quantidade de matérias veiculadas em 2008 está acima da média observada nos primeiros 12 meses monitorados (julho/2005 a junho/2006), quando foi identificada aproximadamente uma notícia a cada nove dias.
3º. Concentração nos jornais de grande circulação Seguindo a mesma tendência observada no primeiro levantamento implementado pela ANDI, é possível observar um comportamento diferenciado entre os jornais de alcance regional e os de abrangência nacional, onde estão incluídos a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, Correio Braziliense e os segmentados (com viés mais econômico), Valor Econômico e Gazeta Mercantil. Entre 2005 e 2007, os seis jornais de referência nacional foram responsáveis por 37% da cobertura. Em 2008, essa concentração foi ainda mais expressiva, chegando a 48%. Tabela 1 – Distribuição de notícias, segundo tipo de jornais* (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)
Tipo de jornais Jornais de Abrangência Nacional Jornais Econômicos Jornais Regionais Total
2005/2007 24,0% 13,0% 63,0% 100,0%
2008 33,0% 15,0% 52,0% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
A oscilação do número de notícias publicadas neste grupo, entre o primeiro (julho/2005 a junho de 2007) e o segundo (janeiro a junho de 2008) monitoramento foi menos significativo do que a média geral. Em 2008, os jornais de maior alcance publicaram uma notícia a cada dois dias. Entre junho de 2006 e julho de 2007, seu índice médio fora de uma notícia por dia. Estes dados nos permitem inferir que: 1. Apesar da queda no volume geral de notícias veiculadas em 2008, é possível dizer que a discussão sobre mudanças climáticas continua sendo uma pauta importante nos diários de circulação nacional, nos quais a cobertura ainda pode ser considerada significativa. 2. Os jornais de circulação regional, por sua vez, apresentam uma dificuldade em sustentar o foco na agenda climática. Cabe investigar se isso ocorre pela falta de receptividade e de conhecimento qualificado por parte das redações, ou pela reduzida eficácia dos grupos que poderiam trabalhar pelo agendamento da questão em nível local.
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Pesquisas internacionais corroboram os resultados encontrados no monitoramento dos impressos brasileiros. Ao investigar os noticiários noturnos das redes de televisão americanas ABC, CBS e NBC, o pesquisador Robert J. Brulle, da Universidade da Filadélfia, também constatou uma queda na cobertura em 2008, em relação ao número de notícias publicadas em 2007.
Segundo Brulle, os fenômenos naturais decorrentes das alterações de temperatura no planeta perderam o caráter de “grande notícia” que possuíam no momento em que o tema entrou em evidência no cenário internacional. A redução no volume total de notícias observada em 2008, foi acompanhada por uma abordagem menos dramática, como se a sociedade estivesse se acostumando aos impactos das mudanças climáticas7.
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7 Robert J. Brulle in Bud Ward, 2008’s Year-Long Fall-off in Climate Coverage; Tracking the Trends, and the Reasons Behind Them, http://www.yaleclimatemediaforum.org/2008/12/2008-year-long-fall-off-inclimate-coverage, acessado em 19 de janeiro de 2009.
O Enfoque da Cobertura
A
análise das notícias sobre mudanças climáticas publicadas no primeiro semestre de 2008 indica uma abordagem concentrada em quatro sub-temas: Medidas de Enfrentamento (18,6%); Conseqüências e Impactos (11,5%); Questões Energéticas (10,8%) e Efeito Estufa (9,0%). Juntos, esses aspectos são responsáveis por aproximadamente 50% da cobertura. Entre 2005 e 2007, os três tópicos mais abordados foram: Efeito Estufa (26,1%), Questões Energéticas (13,5%) e Conseqüências e Impactos da mudança climática (12,1%). Tabela 2 - Tema da notícia* (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)
Temas Medidas de enfrentamento Conseqüências e impactos da mudança climática Energia combustível Mudança climática em geral Efeito estufa Ação coletiva internacional Aquecimento global em geral Causas da mudança ou do aquecimento Desenvolvimento Agricultura Pesquisas científicas e questões tecnológicas Legislação Eventos climáticos extremos Indústria Vulnerabilidades Camada de ozônio Desertificação Outros Total
2005/2007 7,3% 12,1% 13,5% 3,6% 26,1% 2,8% 4,6% 5,2% 1,4% 2,0% 3,4% 3,9% 3,1% 1,4% 0,5% 1,1% 1,9% 5,5% 100,0%
2008 18,6% 11,5% 10,8% 10,8% 9,0% 7,9% 7,9% 5,4% 3,9% 3,2% 3,2% 2,2% 1,4% 1,4% 0,7% 0,0% 0,0% 2,2% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
Se comparado aos resultados encontrados entre 2005 e 2007, chama a atenção que as Medidas de Enfrentamento tenham deixado a condição de quarto sub-tema mais abordado para assumir o lugar central na cobertura realizada no primeiro semestre de 2008.
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É curioso observar que esse comportamento vai ao encontro daquilo que Antony Downs define como “ciclos de atenção temáticas”. Os dados indicam a passagem de um estágio
onde o foco da mídia estava voltado para os efeitos do problema colocado em tela, para outro onde as soluções começam a ganhar destaque8.
4.1. Medidas de enfrentamento – mitigação e adaptação Em seu famoso relatório publicado em 2006, Nicholas Stern foi categórico ao afirmar que as mudanças climáticas afetarão diretamente a vida diária de pessoas no mundo inteiro. Para que o impacto dessas transformações possa ser minimizado é necessário que os governos e a sociedade como um todo se mobilizem na busca de medidas urgentes de enfrentamento da questão. O destaque conferido aos efeitos das mudanças climáticas em 2006 e 2007 fez com que a gravidade do problema fosse reconhecida por dirigentes do mundo inteiro. A despeito da efetividade dos discursos assumidos pelos governos dos mais diversos países, deve se dar crédito ao fato de que existe, hoje, uma retórica internacional que enfatiza a necessidade da redução das emissões como medida incondicional de equacionamento do problema. Como afirma Eduardo Viola, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, “chegamos em 2008 em um ambiente político cultural cada vez mais sensível a reconhecer a necessidade de esforços incisivos para lidar com o aquecimento global, ambiente este que promete chegar a um novo momento em 2009, com a eleição do novo presidente dos EUA”9. Diante desse cenário, não surpreende que a imprensa brasileira tenha direcionado o foco de sua atenção para a discussão das medidas de enfrentamento do fenômeno. A comunidade científica divide tais medidas em dois grupos: • Mitigação: aquelas que incidem diretamente sobre as causas das mudanças climáticas, especialmente os gases geradores de efeito estufa; e • Adaptação: aquelas que têm por objetivo o desenvolvimento de práticas, produtos e tecnologias que se adaptem mais facilmente a temperaturas mais altas e aos outros fenômenos decorrentes das variações climáticas. Tabela 3 - Percentual de matérias que mencionam formas de mitigação* (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)
Menciona formas de mitigação Sim Não Total
2005/2007 45,9% 54,1% 100,0%
2008 38,7% 61,3% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
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8 Os cinco estágios descritos por Downs são: 1º - O problema existe, mas não chama atenção da imprensa; 2º - A descoberta do problema, com foco nos males e nas conseqüências associada a ele; 3º - As percepções sobre as soluções e os custos associados a elas; 4º - A perda de interesse pelo tema; 5º - O estágio pós-problema, quando o tema sai da agenda da imprensa. Para mais detalhes ver: Downs, Anthony. Up and down with Ecology: the issue-attention cycle. http:// antonydowns.com/upanddown.html, acessado em 25 de novembro de 2008. 9 Viola, Eduardo. Mudanças Climáticas e políticas públicas. Mimeo
Entre 2005/2007, o volume de notícias cujo enfoque central era a mitigação ou a adaptação foi de 7,3%. Em 2008 esse percentual subiu para 18,6%. É importante ressaltar que há uma discrepância no espaço concedido a cada conjunto de medidas. Nos dois períodos analisados, cerca de 40% dos textos abordaram estratégias de mitigação, ainda que este não fosse o foco central da notícia. Já os recursos de adaptação foram mencionados em apenas 3,6% das notícias analisadas em 2005/2007, evoluindo para 6,8% em 2008. Tabela 4 - Percentual de matérias que mencionam formas de adaptação* (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)
Menciona formas de adaptação Sim Não Total
2005/2007 3,6% 96,4% 100,0%
2008 6,8% 93,2% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
Diante dos da referência pouco expressiva às formas de adaptação, é necessário ressaltar a importância da ampliação do debate sobre estas estratégias, especialmente em áreas consideradas mais vulneráveis às mudanças climáticas, como é o caso do nordeste brasileiro e da região coberta pela Floresta Amazônica, conforme indica o Relatório de Clima do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais10 . O impacto sobre esses ecossistemas pode levar ao aumento das secas no nordeste e, em um caso extremo, à substituição da Floresta por outro tipo de vegetação no norte do país, o que irá prejudicar a economia e a saúde da população dessas regiões. Tabela 5 - Estratégias de mitigação por áreas de consideradas prioritárias pela ONU* (% sobre o total de notícias que mencionam formas de mitigação – 2005/2007 e 2008)
Áreas de atuação Oferta de energia Transporte Indústria Florestas e uso do solo Resíduos Agricultura Outros Total
2005/2006 45,1% 7,5% 6,8% 26,4% 6,4% 4,1% 3,8% 100,0%
2008 28,7% 17,6% 15,7% 14,8% 2,8% 1,9% 18,5% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
De acordo com as Nações Unidas, há setores considerados críticos em relação à emissão de gases, nos quais as medidas de mitigação devem começar a incidir imediata
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10 Marengo, José A. Caracterização do clima no século XX e cenários no Brasil e na América do Sul para o século XXI derivados dos modelos de clima do IPCC. CPTE/INPE São Paulo, Brasil, 2007. Disponível em: http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/content/um-olhar-sobre-nossas-cinco-regioes. Acessado em 05 de março de 2009.
mente. Dentre as áreas prioritárias destacam-se as de edificação, agricultura, indústria, energia renovável, reflorestamento, transporte e resíduos sólidos. No conjunto dessas categorias, a utilização de energia combustível foi a mais mencionada pela imprensa nos dois períodos monitorados. Apesar do destaque conferido ao setor energético nos textos dos dois períodos analisados pela ANDI, os dados coletados em 2008 demonstram uma mudança relativamente significativa na abordagem da imprensa no que se refere aos setores potencialmente mais importantes para a aplicação de medidas de mitigação. Conforme aponta a Tabela 5, em 2005/2007 essas práticas estavam claramente concentradas na Oferta de Energia (45%) e no Reflorestamento e Uso do Solo (26,4%). Já em 2008, houve uma distribuição mais equilibrada entre as áreas de atuação propostas pela ONU. Vale destacar que as medidas de mitigação relacionadas à utilização de energia se pautaram basicamente na substituição de combustíveis fósseis pelo etanol, cuja cobertura foi impulsionada pela propaganda positiva feita pelo Governo Federal tanto interna como externamente. Outro ponto de atenção para a imprensa brasileira foi a associação entre a produção de etanol e a crise mundial de alimentos. O assunto gerou um acentuado debate entre dois grupos. Um deles acredita que a utilização do solo para culturas que podem servir como fonte de energia potencializa a escassez de alimentos, bem como impulsiona a alta dos preços desses produtos. No segundo, estão os que defendem a conversão de determinados produtos agrícolas em combustíveis, tentando dissociá-la da atual crise de alimentos.
4.1.2. O mercado de créditos de carbono Outro aspecto que salta aos olhos na análise da Tabela 5 é o aumento no número de menções a outras áreas de mitigação (de 3,3% para 18,5%). Em 2008, a grande maioria das estratégias incluídas nesta categoria se refere à venda de créditos de carbono no mercado de carbono. O crédito é um certificado emitido quando há redução dos gases de efeito estufa por parte do setor produtivo. Estabelecido na Convenção-Quadro das Nações Unidas, o mercado de carbono faz parte de uma estratégia de redução de emissões, definido como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). O MDL permite que empresas e governos de países desenvolvidos invistam em projetos de energia limpa (que reduzem as emissões de carbono) nas nações em desenvolvimento. Ao diminuir o nível das emissões, esses projetos geram créditos de carbono, que podem ser adquiridos pelos seus investidores. Ao comprar esses créditos, os países ricos podem compensar parte das suas emissões, cujos limites estão estabelecidos no Protocolo de Quioto. O Brasil ocupa o 3º lugar no mundo em número de projetos aprovados (287 até junho de 2008). Os setores mais atuantes são os de produção de energia sustentável, suinocultura e aterro sanitário.
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O aumento expressivo no número de matérias em que as estratégias de mitigação são discutidas no âmbito do MDL permite dimensionar a importância que o mercado de carbono tem assumido tanto nacional quanto internacionalmente. Dados da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima indicam que, hoje, mais de 60 países implementam
projetos de Desenvolvimento Limpo. O Brasil ocupa a terceira posição entre os que cosguiram reduzir o volume de emissões, perdendo apenas para a China e para a Índia11.
4.2. O efeito estufa Conforme apontado anteriormente, o primeiro estudo realizado pela ANDI sobre a cobertura das mudanças climáticas apontou o efeito estufa como a temática central da grande maioria das notícias (26,1%). Ainda que seja possível identificar uma alteração de comportamento no enquadramento do tema entre os dois períodos aqui comparados, com destaque para a recente valorização das medidas de enfrentamento, é importante notar que a preocupação com o efeito estufa continua sendo um dos pontos fortes da cobertura. No primeiro semestre de 2008, as matérias sobre o assunto corresponderam a 9% do total analisado, o que faz dele o quarto sub-tema mais abordado.
4.2.1 – Os gases de efeito estufa (GEE) Responsável pelo aquecimento global, o efeito estufa ocorre na medida em que gases presentes na atmosfera absorvem parte da radiação solar. Dentre os vários gases responsáveis por esta absorção destacam-se o CO2 (dióxido de carbono), CH4 (metano), o N2O (óxido nitroso), o O3 (ozônio) e os CFCs (clorofluorcarbonos). Tabela 6 - Percentual de matérias que mencionam um ou mais gases de efeito estufa e/ ou aerosóis* (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)
Menciona gases de efeito estufa
2005/2007
2008
Sim
55,8%
59,9%
Não
44,2%
40,1%
Total
100,0%
100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
Pouco mais de 50% das matérias sobre mudanças climáticas publicadas nos dois períodos fizeram menção aos GEE, ainda que este não tenha sido o foco central das notícias. Considerado o principal gás de efeito estufa, o CO2 foi também o mais mencionado. Tabela 7 - Percentual de matérias que mencionam as fontes responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa* (% sobre o total de notícias que mencionam gases de efeito estufa – 2005/2007 e 2008)
Mencionam as fontes responsáveis pela emissão
2005/2007
2008
Sim
50,7%
50,3%
Não
49,3%
49,7%
Total
100,0%
100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
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11 Fonte: Miguez, José. O MDL no Brasil: pioneirismo, resultados e perspectivas. http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/content/o-mdl-no-brasil-pioneirismo-resultados-e-perspectivas, acessado em 17 de dezembro de 2008.
Adicionalmente, aproximadamente 50% das matérias onde há referência aos GEE publicadas nos dois períodos indicam a fonte responsável pela sua emissão. De acordo com o IDS, Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, divulgado pelo IBGE em 2008, 75% das emissões de CO2 no Brasil são decorrentes das queimadas e do desmatamento, que ocorrem principalmente na Amazônia e no Cerrado. Atentos a essa realidade, os jornalistas apontam, em sua maioria, o uso inadequado do solo, especialmente por meio de queimadas, como fonte de emissão dos GEE. Outra fonte recorrentemente mencionada pela imprensa são os veículos movidos a combustíveis fosseis, o segundo colocado na lista de emissores do IDS.
4.2.2. Metas para redução das emissões Uma justificativa para o volume de citações aos gases de efeito estufa está no fato de que a redução no nível de suas emissões é uma das principais medidas de mitigação em discussão hoje em dia. O Protocolo de Quioto prevê a redução, até 2012, de emissão de gases poluentes em 5,2% em relação aos níveis encontrados em 1990. Além disso, a discussão sobre a diminuição no volume de emissões foi impulsionada pelas negociações acerca de um novo acordo climático global, que prevê novas estratégias de mitigação, especialmente em relação à degradação e ao desmatamento das florestas. A semente desse novo acordo foi plantada em 2007, na COP 13, realizada em Bali. A expectativa é que o acordo seja assinado na conferência de Copenhague (COP 15), em 2009. Apesar da referência significativa aos gases, apenas 15% das notícias publicadas em 2005/2007 mencionaram a existência de obrigações ou metas de redução de emissões. Em 2008, esse percentual subiu para um patamar mais consistente, 22,6%. Tabela 8 - Percentual de matérias que mencionam metas para a redução de emissão de gases de efeito estufa* (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)
Mencionam metas para a redução de emissão Sim Não Total
2005/2007 15,4% 86,6% 100,0%
2008 22,6% 77,4% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
4.3. Energia combustível A discussão sobre questões energéticas foi outro ponto de destaque. Entre 2005/2007, 13% das matérias sobre mudanças climáticas tinham foco nesta questão; em 2008 esse índice ficou em 10,8%. Via de regra, os conteúdos abordados se concentraram na utilização dos combustíveis fosseis (27,2% entre 2005/2007 e 26,9% em 2008). As fontes energéticas consideradas menos poluentes, como os biocombustíveis, ocuparam um espaço menos expressivo na cobertura. O único destaque foi o etanol, presente em 15,1% do total de notícias analisadas em 2008.
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A respeito do aumento significativo na cobertura sobre o etanol em 2008, vale, mais uma vez, chamar a atenção para campanha promovida pelo Governo Federal em prol da utilização do produto brasileiro. O crescente interesse internacional por fontes de energia
renováveis, o relativo esgotamento da matriz energética proveniente do petróleo e a valorização dos preços da cana- de-açúcar foram aspectos que contribuíram para o fortalecimento de uma política de incentivo à produção de etanol em todo o país. Em tempo de mudanças climáticas, o governo brasileiro não tem poupado esforços na defesa do produto. Essa foi a estratégia adotada pelo Brasil nas convenções realizadas em Bonn, cuja cobertura da imprensa procurou ressaltar o empenho do governo em questionar as acusações de que a cultura da cana-de-açúcar para a produção de biocombustíveis poderia potencializar a crise de alimentos. Tabela 9 - Fontes de energia* (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)*
Tipo de energia Combustivéis fosséis/carbono Etanol Energia “limpa” Biodiesel Eólica Hidroelétrica Solar Agroenergia Hidrogênio Nuclear
2005/2007 27,2% 3,3% 2,3% 5,6% 0,9% 0,6% 1,2% 0,3% 0,0% 0,5%
2008 26,9% 15,1% 10,4% 6,8% 3,9% 2,9% 2,2% 0,4% 0,4% 0,4%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas. * A variável permite marcação múltipla.
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Foco Institucional
U
m aspecto importante a ser considerado nas análises de mídia é o espaço conferido a cada uma das instituições que conformam o ambiente social, o lugar de fala e as responsabilidades atribuídas a elas na cobertura de um determinado tema. O foco institucional procura investigar em que medida essas instituições são responsabilizadas pelo problema apresentado. A esse respeito, chama a atenção que o percentual de matérias onde não foi possível identificar tal foco tenha subido de 16% para 25,8% em 2008. O dado é um indicativo de que a temática tem sido tratada sob o leque da generalidade por uma parte expressiva da imprensa. O grande problema nesse tipo de abordagem é a dificuldade em imputar créditos e/ou cobrar repostas dos atores/instituições que devem compartilhar a responsabilidade pelo problema. Tabela 10 - Foco institucional (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)*
Perspectiva institucional Do Poder Executivo Do Setor privado Das Instituições de Ensino e Pesquisa Intersetorial Dos Organismos Internacionais Das Organizações da Sociedade Civil Do Poder Legislativo Do Movimento Social Do Poder Judiciário NFPI Total
2005/2007 23,3% 10,1% 17,4% 14,2% 8,6% 5,9% 2,8% 1,1% 0,5% 16,2% 100,0%
2008 29,4% 14,3% 10,8% 9,7% 5,0% 3,6% 1,1% 0,4% 0,0% 25,8% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
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A Tabela 10 demonstra que, nos casos onde houve um enquadramento do foco institucional, ele não sofreu grandes alterações entre 2005/2007 e 2008. Os dois períodos são caracterizados pela preponderância da esfera governamental, especialmente do Poder Executivo. É importante observar, no entanto, a valorização do setor privado, que deixa de ser o quarto grupo mais focalizado pela mídia em 2005/2007, para assumir o segundo lugar em 2008 (14,3%), ultrapassando as instituições de ensino e pesquisa e as ações intersetoriais, destacadas em 2005/2007.
5.1. Foco no Governo Se por um lado, a perspectiva governamental se mostrou a mais expressiva em ambos os períodos, por outro, houve uma relativa inversão no nível de governo preponderante. Em 2005/2007, as políticas de desenvolvimento assumidas no âmbito internacional ocuparam destaque (46,7%). Já em 2008, houve uma valorização da esfera governamental interna (53,8%). E, mais uma vez, os níveis estaduais e municipais permaneceram fora do foco de atenção da imprensa. Tabela 11 - Esfera de Governo (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)
Nível de governo mencionado União Governos estrangeiros Estados Parceria entre governos nacionais Municípios Parceria entre dois ou mais níveis de Governo Não está explícito ou não foi possível identificar Total
2005/2007 26,0% 46,7% 10,7% 4,7% 6,0% 4,7% 1,3% 100,0%
2008 31,7% 24,4% 15,9% 7,3% 6,1% 0,0% 14,6% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
Ainda sobre as mudanças observadas no enquadramento da perspectiva governamental, houve um decréscimo na menção a políticas públicas (nacionais ou internacionais). Em 2005/2007, 20% dos textos sobre mudanças climáticas fizeram menção a iniciativas tomadas pelo governo. Em 2008, esse percentual caiu para 12,2%. Tabela 12 - Percentual de matérias que mencionam políticas públicas* (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)
Mencionam políticas públicas Sim Não Total
2005/2007 20,0% 80,0% 100,0%
2008 12,2% 87,8% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
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Meio Ambiente e Desenvolvimento
A
atividade humana figura hoje como uma das principais causas das mudanças climáticas. Não são raros os especialistas que apontam os padrões de consumo das sociedades contemporâneas, bem como a adoção de práticas desenfreadas de crescimento econômico, como agentes potencializadores desse fenômeno. Neste sentido, o Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008, publicado pelo PNUD, chamou a atenção para a relação estreita entre mudanças climáticas e desenvolvimento, seja porque as medidas de crescimento adotadas até aqui incidem diretamente sobre o equilíbrio ecológico, seja porque as alterações de temperatura exigem que tais estratégias sejam repensadas. Diante dessa constatação, não é exagero dizer que um dos grandes desafios das sociedades atuais é pensar alternativas de desenvolvimento que não sejam uma ameaça à saúde ambiental do planeta. Uma ausência importante na cobertura de 2005/2007 foi, justamente, essa discussão. Neste período, não mais que 15% das notícias trouxeram alguma reflexão a esse respeito. Em 2008, houve uma mudança de cenário, com o percentual subindo para 25%. Dentre os fatores que impulsionaram essa pauta é possível citar a repercussão do relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD e dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, lançado pelo IBGE em junho de 2008. Neste documento são apresentados, dentre outros aspectos, indicadores que relacionam desenvolvimento sustentável e meio ambiente, no Brasil. Ademais, conforme já foi colocado anteriormente, há uma crescente valorização das medidas de enfrentamento do problema na imprensa brasileira. Em meio às alternativas de mitigação e adaptação, figuram também as estratégias de desenvolvimento sustentável. A valorização da discussão sobre desenvolvimento não repercutiu com a mesma intensidade em questões associadas a ele, como os padrões de consumo. Os dados coletados em 2008 indicam uma estabilidade no acesso a essa questão, com aumento inexpressivo de 6,1% para 7,5%. Os baixos percentuais são um indicativo de que os diários analisados não têm como prática o questionamento dos hábitos assumidos pela sociedade, provavelmente porque há uma dificuldade em dimensionar o seu impacto sobre o meio ambiente e, menos ainda, associá-los às mudanças climáticas.
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Um aspecto importante a ser considerado é o fato de que as notícias sobre mudanças climáticas ainda são majoritariamente veiculadas nos cadernos de ciência. Quando acessadas as discussões sobre política e economia fica claro que elas permanecem, em sua maioria, ignorando a temática. Isso ajuda a explicar a ausência de um viés mais consistente
dos modelos e políticas de desenvolvimento na abordagem desta pauta. Nesse sentido, é possível dizer que, há um espaço importante a ser ocupado na cobertura oferecida à agenda climática. Tabela 13 - Estratégias de desenvolvimento* (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)
Tipo de estratégia mencionada Desenvolvimento sustentável Crescimento econômico Desenvolvimento econômico Desenvolvimento sócio-ambiental Desenvolvimento humano Desenvolvimento comunitário Desenvolvimento social Não menciona estratégias de desenvolvimento Total
2005/2007 10,0% 2,6% 1,7% 0,0% 0,0% 0,0% 0,2% 85,5% 100,0%
2008 11,1% 6,5% 3,6% 1,8% 1,1% 0,7% 0,4% 75,0% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
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A Qualificação da Cobertura
A
construção de um jornalismo de qualidade passa, necessariamente, pela capacidade de estabelecer relações entre a notícia, ou fato jornalístico, e o contexto social onde ele acontece. Para que isso ocorra é importante que a imprensa lance mão daquilo que chamaremos aqui de elementos de contextualização. Tais elementos proporcionam ao leitor não apenas o conhecimento do fato (no nosso caso, as alterações de temperatura), mas a compreensão das variáveis associadas a ele. A percepção da sociedade sobre a gravidade e a extensão de um problema depende diretamente da quantidade e da qualidade da informação que chega até ela. Ao longo deste texto, foram apresentados vários elementos de contextualização importantes sobre o fenômeno das mudanças climáticas, dentre os quais podemos citar a discussão sobre os padrões de consumo; a menção aos gases de efeito estufa, às fontes de emissão, às metas de redução e às formas de mitigação e de adaptação; bem como a apresentação de políticas públicas. Ainda assim há um conjunto de outros elementos que merecem ser destacados, como pode ser observado na tabela abaixo. Tabela 14 - Elementos de contextualização (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)*
Elementos de contextualização Menciona soluções Menciona dados estatísticos Menciona causas Menciona conseqüências Menciona legislação Explicitam a gravidade do problema Apresenta o conceito de mudanças climáticas Menciona globalização
2005/2007 41,8% 56,6% 36,5% 58,5% 42,3% 31,9% 1,4% 1,6%
2008 44,1% 40,1% 37,6% 36,2% 32,6% 22,6% 3,9% 0,4%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas. * A variável permite marcação múltipla.
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Seja na avaliação dos dados apresentados na tabela acima, ou nas análises desenvolvidas em outros tópicos deste documento, fica evidente que a cobertura sobre mudanças climáticas realizada no primeiro semestre de 2008 não se afastou significativamente do padrão apresentado no primeiro estudo feito pela ANDI. Por um lado, é possível identificar alguns avanços, como na discussão sobre desenvolvimento, na apresentação de metas de redução de emissões e nas estratégias para a solução do problema. Por outro lado, houve uma queda considerável na referência a políticas
públicas, na abordagem sobre a gravidade do problema e suas conseqüências, bem como na menção a dados estatísticos e legislações. Apesar da redução na menção de indicadores importantes, como o de política públicas é preciso reconhecer que a cobertura sobre as mudanças climáticas apresenta um nível de qualificação maior do que o observado em outras temáticas pesquisadas pela ANDI. Dados de 2007, indicam que, por exemplo, somente 4% das notícias sobre infância e adolescência publicadas em periódicos nacionais mencionaram legislações, e apenas 16% citaram políticas públicas e/ou dados estatísticos. Diante disso, os percentuais apresentados na Tabela 14 não deixam dúvidas de que os textos sobre mudanças climáticas veiculados nos diários brasileiros seguem apresentando ao leitor um conjunto de informações mais completo do que o observado em outros temas. De modo geral, não houve grandes diferenças na abordagem apresentada pelos jornais regionais e nacionais monitorados em 2008. Como pode ser observado na Tabela 15, a distribuição dos elementos de contextualização entre os dois grupos foi bastante equilibrada. Valer ressaltar, no entanto, que os diários de maior alcance se prenderam mais a discussão sobre soluções que aqueles de circulação local. Tabela 15 - Elementos de contextualização por grupos de jornais (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas –2008)*
Jornais de circulação Nacional 54,3
Jornais Regionais 45,1
Menciona dados estatísticos
41,4
32,9
Menciona causas
40,0
36,6
Menciona conseqüências
34,3
36,6
Menciona legislação
24,3
29,1
Explicitam a gravidade do problema
24,3
20,7
Menciona Política Pública
13,4
11,0
Apresenta o conceito de mudanças climáticas
11,4
2,4
Menciona globalização
1,4
0
Elementos de contextualização Menciona soluções
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refereaos temas das mudanças climáticas. * Nesta tabela os diários de caráter econômico foram contabilizados como jornais de circulação nacional. * A variável permite marcação múltipla.
7.1. Fontes Ouvidas
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Um aspecto positivo observado em 2008 foi a redução do número de matérias onde não foi possível identificar ao menos uma fonte consultada (de 24,9% para 18,3%). Esse é um indicativo que a imprensa tem conferido lugar de fala às instituições envolvidas na questão. Já no que se refere aos atores ouvidos, há uma reprodução do quadro observado em 2005/2007, caracterizado pela preponderância dos especialistas e das fontes governamentais. É importante ressaltar o aumento no espaço concedido aos especialistas entre os dois períodos analisados. Se em 2005/2007 eles eram ouvidos praticamente na mesma proporção que as fontes governamentais, no primeiro semestre de 2008 eles se destacam e se apresentam como principal fonte ouvida em 1⁄4 da cobertura.
Vale salientar ainda o aumento na recorrência a fontes ligada aos Organismos Internacionais em 2008 (de 6,5% para 11,9%), potencializada pela utilização de vozes ligadas ao IPCC e pelo decréscimo de menções aos governos estrangeiros, causado por uma valorização da esfera interna, como foi discutido na análise sobre o foco institucional. Tabela 16 - Fontes ouvidas* (% sobre o total de notícias referentes às mudanças climáticas – 2005/2007 e 2008)
Fontes ouvidas Especialistas/Técnicos Poderes públicos Organismos Internacionais Empresas não estatais Organizações da sociedade civil Governos estrangeiros Sindicados e federações de trabalhadores Empresas estatais Outros NFPI Total
2005/2007 18,6% 17,6% 6,5% 7,0% 9,5% 11,5% 0,2% 0,5% 3,7% 24,9% 100,0%
2008 23,0% 17,7% 11,9% 10,4% 5,0% 4,7% 2,5% 0,0% 6,8% 24,9% 100,0%
* Foram consideradas nesta tabela apenas as notícias classificadas como densidade média ou alta no que se refere aos temas das mudanças climáticas.
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Considerações Finais
O
s resultados apresentados neste estudo indicam que o agendamento das mudanças climáticas ainda não pode ser considerado uma prioridade pela imprensa brasileira de forma geral. Após um período de pico, entre o último semestre de 2006 e início de 2007, proporcionado pelo lançamento de pesquisas importantes sobre o impacto deste fenômeno, a cobertura assumiu uma tendência decrescente. Não obstante, dois aspectos merecem ser observados: o aumento da cobertura em relação a 2005, quando a mídia nacional ainda não havia se despertado para a importância da temática e o comportamento diferenciado entre os periódicos de referência nacional e aqueles de circulação regional. Apesar da redução no número de notícias em relação ao boom observado em 2007, é possível dizer que a agenda climática tem encontrado uma forte repercussão na pauta conduzida pelos jornais de circulação mais ampla. Um aspecto importante a ser observado é a mudança no enquadramento do tema. Se entre 2005 e 2007 havia uma preocupação proeminente em relação às conseqüências do fenômeno, os resultados alcançados em 2008 indicam uma valorização das estratégias de enfrentamento. A mudança na forma de abordagem pode ser um reflexo dos avanços alcançados no nível internacional. A esse respeito, governos e especialistas das mais variadas partes do planeta, antes concentrados nas evidências e nos impactos do problema, têm avançado no debate sobre soluções. Alguns exemplos claros desta tendência podem ser encontrados na discussão sobre metas de redução de emissões, sobre a política de crédito de carbono ou sobre fontes de energia limpa e renovável.
No que diz respeito à qualidade da informação oferecida pela mídia, o resultado não é desanimador, já que parte significativa das notícias se preocupa em oferecer ao leitor informações que facilitem a sua compreensão sobre problema. Não obstante, o decréscimo na menção a políticas públicas, bem como a dificuldade em conceituar o fenômeno colocado em discussão, indica que ainda há espaços importantes a serem ocupados.
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Dentre os avanços, podemos citar a abordagem sobre a relação entre mudanças climáticas e desenvolvimento e uma relativa valorização da realidade brasileira. Ainda que esta pauta continue sendo influenciada pela agenda internacional – conforme evidencia o pico observado em junho, em parte em função da realização da reunião promovida pela UNFCCC em Bonn –, há uma crescente presença do discurso de atores nacionais, especialmente da esfera governamental. Vale citar ainda o número de notícias que destacaram localidades específicas do território brasileiro, que subiu de 35% entre 2005/2007 para 39% no primeiro semestre de 2008. Ainda que modesto, esse avanço pode ser o início de uma linha ascendente.
Em relação às limitações, a mais evidente é a ausência de uma discussão mais ampla sobre políticas públicas no primeiro semestre de 2008. Não podemos perder de vista a concepção de que a imprensa tem um papel importante no relacionamento entre governo e sociedade. Não é exagero dizer que ela tem a função de cobrar um posicionamento dos poderes públicos no que se refere a questões de interesse nacional, bem como de tornar público as suas ações, facilitando assim as práticas de accountability. É importante esclarecer que a valorização dos atores governamentais, conforme foi apresentado em várias partes deste documento, não foi acompanhada por uma discussão de ações e proposições concretas. Isso explica o descompasso entre a preponderância do foco institucional no governo e a redução na menção a políticas públicas. Por fim, é preciso enfatizar que os desafios na cobertura desta temática são maiores hoje do que foram no passado, especialmente porque há uma urgência na busca de soluções – as quais passam pela conscientização da sociedade a respeito do seu papel na preservação do equilíbrio ambiental. Um dos principais desafios colocados à cobertura deste tema é a necessidade de deixar as páginas especializadas e assumir um caráter transversal. É fundamental contemplar não apenas os aspectos técnicos relacionados ao fenômeno das mudanças climáticas, mas também trazer para o centro da discussão questões relativas à política, à economia e ao comportamento. O problema não pode ser concebido simplesmente como uma questão ambiental. Em primeiro lugar porque os impactos previstos atingem os mais diversos setores. Segundo, porque não é possível pensar em soluções dissociadas do contexto das políticas públicas, dos modelos de desenvolvimento econômicos ou dos padrões de consumo e de comportamento assumidos pelas sociedades contemporâneas. Diante disso, é preciso que imprensa assuma a responsabilidade de levar o conhecimento técnico sobre o tema para o âmbito de outras editorias, propiciando assim a necessária diversificação do debate.
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Anexo Lista de Jornais Monitorados A Gazeta ² Acre O Rio Branco ² Acre Gazeta de Alagoas ² Alagoas Tribuna de Alagoas ² Alagoas A Crítica - Manaus ² Amazonas Diário do Amazonas ² Amazonas Diário do Amapá ² Amapá A Tarde ² Bahia Correio da Bahia ² Bahia Diário do Nordeste ² Ceará O Povo ² Ceará Correio Braziliense ² Distrito Federal Jornal de Brasília ² Distrito Federal A Gazeta ² Espírito Santo Diário de Vitória ² Espírito Santo Diário da Manhã ² Goiás O Popular ² Goiás O Estado do Maranhão ² Maranhão Estado de Minas ² Minas Gerais Hoje em Dia ² Minas Gerais Correio do Estado ² Mato Grosso do Sul A Gazeta ² Mato Grosso Diário de Cuiabá ² Mato Grosso Diário do Pará ² Pará O Liberal ² Pará
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Correio da Paraíba ² Paraíba O Norte ² Paraíba Diário de Pernambuco ² Pernambuco Jornal do Commercio ² Pernambuco Meio Norte ² Piauí Folha de Londrina ² Paraná Gazeta do Povo ² Paraná Jornal do Brasil ² Rio de Janeiro O Dia ² Rio de Janeiro O Globo ² Rio de Janeiro Diário de Natal ² Rio Grande do Norte Tribuna do Norte ² Rio Grande do Norte Diário da Amazônia ² Rondônia O Estadão do Norte ² Rondônia Folha de Boa Vista ² Roraima Correio do Povo ² Rio Grande do Sul Zero Hora ² Rio Grande do Sul A Notícia ² Santa Catarina Diário Catarinense ² Santa Catarina Folha de S.Paulo ² São Paulo O Estado de S.Paulo ² São Paulo Valor Econômico ² São Paulo Gazeta Mercantil ² São Paulo Jornal da Tarde ² São Paulo Jornal do Tocantins ² Tocantins
Ficha Técnica
Realização
ANDI • Agência de Notícias dos Direitos da Infância
Análise de Mídia Mudanças Climáticas
Coordenação de Produção Tainá Frota Projeto Gráfico e Diagramação Diogo Moraes e Pedro Ernesto Capa Diogo Moraes
Brasília, fevereiro de 2009
Supervisão Editorial Veet Vivarta Edição Aline Falco e Marília Mundim Texto e Coordenação de Pesquisa Diana Teixeira Barbosa Assistente de Coordenação Osvaldo Assis Rocha Neto Pesquisadores Ana Potyara André Cidade Piauilino da Silva Bruno Gontyjo do Couto Danillo Ferreira dos Santos Rafael Costa
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