FERREIRA, José Ribeiro & MORAIS. Rui. A Busca da Beleza: A arte e os artistas na Grécia Antiga. Vol. I Arquitetura Grega, Coimbra: Simões & Linhares, 2008.
A arte grega apresenta “as qualidades do povo que as criou: racionalismo, clareza, sentido de harmonia e da proporção”. A arte grega pode ser distribuída em três grandes épocas: 1) a Arcaica (sécs. VII e VI a.C) - a característica mais saliente é o esforço pelo inteligível. 2) a Clássica (sécs. V e IV a.C) - salienta-se pelo sentido e superação da materialismo, idealismo e transparência; 3) a Helenística (sécs. III-I a C.) – distingue pelo poder de observação, pelo gosto do concreto e do real, pelo individual, pelo individual, pelo singular. Segundo Ferreira e Morais: A arte grega é uma das principais manifestações da pólis e aparece em função da vida dessa cidade-estado e da sua população. Se é certo que, para os Gregos a pólis era, acima de tudo, o concreto dos cidadãos e não propriamente o espaço – ou, como sublinha Tucídides (7.77.7), «a pólis são os cidadãos e não as muralhas nem os barcos viúvos de homens» –, não deixam de ter importância os edifícios e locais onde a população habitava e se reunia, onde dirimia as suas contendas e tomava as suas decisões políticas, onde administrava o Estado e recebia os embaixadores e delegações estrangeiras, onde prestava culto aos seus deuses e lhes dirigia preces, onde convivia ou realizava manifestações culturais, onde vibrava ou competia nos jogos, onde assistia e se deliciava com o canto e a dança (2008:9). A pólis ou Estado tinha no povo ou dêmos a sua soberania e dava primazia às tradições e normas, que a regiam e a que dava o nome de lei (thesmós ou nomos) e que eram exercidas e postas em prática pelas instituições, a saber: a Assembleia, o Conselho e os Magistrados. Esta trilogia constitucional já se encontrava constituída quando a pólis aparece. As transformações da pólis fez-se originar sociedades diversas, com constituições e modos de vida diferentes, criando novas instituições. O sistema da pólis espalha-se por todo o Mediterrâneo e Mar Negro, durante o período arcaico quando se lançaram na colonização para resolver os problemas demográficos. O comércio e a indústria artesanal que se desenvolveu em virtude da colonização, sobretudo no fabrico de cerâmica, armas e cultivo da oliveira e vinha para produção do vinho e do azeite, enquanto produtos competitivos originou a tática militar hoplita que baseia numa infantaria de homens comuns e cavalaria de nobres. A introdução da moeda como inovação no comércio do séc. VII, este permitiu a acumulação riqueza e surgimento de uma nova classe de enriquecidos, os plutocratas em detrimento da classe dos nobres que desprezavam o trabalho manual e o comércio. O comércio, a atividade militar produziu desigualdades sociais e acentuação da pobreza causando o desfasamento entre detentores de poder político, militar e económico. O resultado desse processo de transformação social são “graves lutas sociais que os Estados gregos, de modo geral, tentam resolver pela nomeação de estadistas, os legisladores (sécs. VII-VI), que, aceites pelas diversas fações, compõem códigos de leis e encetam reformas sociais, económicas e políticas que quase nunca conseguem resolver os conflitos. Por isso, as cidades acabam, na generalidade, por desembocar em regimes autocráticos, as tiranias (sécs. VII- VI a.C), que centralizam os poderes e se mantêm duas ou três gerações. Ao desaparecerem, quase todas antes de terminar o séc. VI a.C., qualquer que seja o regime instaurado – ora oligarquias (tenham elas
por base o nascimento, a riqueza ou os dois), ora democracias, mais ou menos evoluídas -, as póleis que elas deixam já não são as mesmas: os poderes não estavam nas mãos dos aristocratas, mas centralizados nas diversas instituições que passam daí em diante, quer se trate de uma oligarquia, quer de uma democracia, a dirigir a pólis.” (FERREIRA & MORAIS, 2008:11-12). … A arquitetura grega segundo Ferreira & Morais, não prescinde da beleza, da proporção e da medida e fugia dos grandes edifícios. Nos edifícios gregos privilegia-se de modo geral a simplicidade e a harmonia. Em termos de materiais a arquitetura grega recorria a pedra, em particular realce para o mármore, a madeira era utilizada nas estruturas que seguravam os telhados, nas colunas e paredes dos tempos mais antigos; os adobes e o tijolo; terracota é um material muito usado nos ornamentos (antefixas, métopas). Os blocos de pedras ou mármore eram arrancados de pedreiras que situavam em locais elevados e depois penosamente transportados, às vezes por mar, para distantes:
Transporte dos blocos de pedra e mármore
Ordens e Estilo da Arquitetura grega A estrutura da arquitetura grega caracterizava pelas linhas retas, horizontais e verticais. As plataformas de assento das construções eram planificadas em elevações (estereóbata). O estilóbata, as colunas e o entablamento (arquitrave friso e cornija). Estilóbata é o retângulo que delimita do degrau superior de estereóbata em que assentava as colunas do templo grego. As colunas eram constituídas por uma base, fuste e capitel e poderiam ser quadradas e cilíndricas (as mais usais), lisas ou sulcadas por caneluras que variavam em número e execução conforme as ordens. No fuste formava os tambores na parte superior
e inferior - um buraco para os fixar e lhes dar consistência era cheio por um espigão ou batoque de madeira e uma camada de calcário moído ocultava as fissuras da acoplagem ou junturas.
Espigão de madeira que unia os tambores
A arquitrave assentava diretamente nos capitéis das colunas que é lisa ou ligeiramente ornamentada, ao contrário do friso que é profusamente carregado de elementos decorativos: pode ser constituído por grupos de três colunelos (os tríglifos) e por quadrados e retângulos esculpidos em relevo (as métopas). Nos tríglifos pendem as gútulas. As cornijas, ora corre sobre o friso (cornija horizontal), ora dispõe-se ao longo da franja lateral das empenas (cornija inclinada). Por baixo das cornijas havia placas ou modilhões (os mútulos) com denticulados das régulas ou gútulas. Entre a parte superior do friso e da cornija vem o frontão, quase decorado com uma escultura de vulto ou em relevo. É a utilização ou ausência destes elementos e a sua disposição que determina o estilo ou ardem que o caracteriza: a) A ordem dórica, a mais antiga, a coluna não tem base e pousa sobre o estilóbata, tem arestas vivas no fuste que encimada por um capitel simples (ábaco e equino). A arquitrave é quase sempre lisa e o friso aparece divido pela sucessão de triglifos e de métopas esculpidas.
Esquema da ordem dórica
b) A ordem iónica era ornamentada e delicada. As colunas têm arestas boleadas assento numa base elaborada (toro, escócia e plinto) e tem e capitel volutas
(ábaco). A arquitrave é seccionada em ligeiros degraus ou percorrida por um ou mais filamentos, em relevo.
Esquema da ordem iónica 1: plinto; 2: tróquilos; 3: toro; 4: equino com coxim e volutas; 5: ábaco; 6: arquitrave; 7: friso decorado; 8: ulvas e dardos; 9: cornija horizontal; 10: tímpano; 11: cornija oblíqua; 12: remate côncavo cimeiro; 13: frontão; 14: acrotério que oculta o telhado. Capitel iónico, visto de lado e do lado do juste
c) A ordem coríntia é uma variante iónica, diferindo no capitel: substituição das volutas por um elemento decorativo vegetal – as folhas de acanto que brota em filas sobrepostas e enrolando em pequenas volutas nos quatros canto do capitel.
Capitel coríntio
Cariátides do Pórtico Sul do Erectéion
Templo de Segesta
A utilização das duas ordens define outros tantos estilos: o dórico e o iónico que apresentam uma distribuição geográfica, à semelhança dos dialectos. O primeiro era usado de preferência na Grécia continental e nas colónias ocidentais; o segundo predominava na Iónia e nas ilhas do Mar Egeu. Na Ática, em especial na Acrópole (como veremos em «Atenas, escola da Hélade»)1, e nos grandes santuários (como Delfos, Olímpia, Epidauro), verificou-se uma junção dos dois: o dórico no exterior e o iónico no interior (FERREIRA & MORAIS, 2008:31).
Mútulos (cima) e regula (baixo), alinhada pelos triglifos e pelo capitel. Templo da Concórdia em Agrigento
Coluna do Templo E de Selinunte, em que o tufo siciliano aparece recoberto com estuque
Friso de mulheres de Cnossos
Friso processional, encontrado em Pilos, no Palácio de Nestor.
Figura 9 Cerâmica micénica (séc. XIII a.C.)
Figura 10 Cerâmica micénica (séc. XII a.C.)