RAMÍREZ, C. J. Acoustic and perceptual characterization of the epenthetic vowel between the cluster formed by consonant + liquid in Spanish. In Selected Proceedings of the 2nd Conference on Laboratory Approaches to Spanish Phonetics and Phonology, ed. Manuel Díaz-Campos, p. 48-61. Somerville, MA: Cascadilla Proceedings Project, 2006.
Textos relevantes citados Rosner, Burton and John Pickering. 1994. Vowel perception and production. Oxford: Oxford University Press. - Fala de um tal de post cursor effect, segundo o qual um elemento X, quando postado após de um elemento V, é percebido com a mesma qualidade deste. Interessante Widdison, Kirk. 2004. Perceptual awareness of vowel fragments appearing in Spanish Cr and CC environments. Paper presented at Laboratory Approaches to Spanish Phonology, Indiana University, Bloomington, Indiana, Sep. 17-18, 2004.
Informações extraídas do texto
- Autor trata o fenômeno da suarabácti ‒ usando inclusive esse nome ‒ como um caso de epêntese. Em seus exemplos, mostra uma vogal plena na transcrição fonética. Em todos os exemplos, a vogal verificada é sempre cópia da vogal núcleo. O autor verificou que a qualidade da VI não difere da qualidade da vogal núcleo, e explica essa similaridade por meio da noção de harmonia vocálica, a qual, segundo ele, faz com que “novas vogais sejam similares à vogal nuclear forte mais próxima” (p. 54). Essa explicação vai ao encontro das propostas por modelos fonológicos autossegmentais citados por Steriade (1992) e não explica o porquê de o processo de harmonia ser sempre engatilhado pela vogal nuclear da sílaba original do tepe, e não por outra vogal nuclear vizinha, uma vez que qualquer das duas poderia ser entendida como a “mais próxima”. Por exemplo, na palavra vértebrum, uma das integrantes do experimento de Ramírez, a vogal cuja qualidade é copiada é sempre [u], e jamais [e], sendo que ambas são igualmente próximas ‒ já que a proximidade é um argumento utilizado pelo autor ‒ do centro do cluster, posição em que a VI ocorrerá.
- Aspectos avaliados: duração e frequência de formantes da VI. - Variantes controladas: *ponto de articulação da C1 *presença do flepe ou da lateral *vozeamento da C1 *tonicidade
*qualidade de V *modo de articulação de C1 - Percepção: teste de percepção foi realizado para avaliar se os falantes têm ou não consciência da presença da VI. - Informantes: falantes de diferentes países da América latina, sendo eles: Colômbia, México, El Salvador, Peru.
- A VI não foi verificada em todas as produções, e foram observadas ‒ ainda que intuitivamente ‒ diferenças de produção entre os falantes.
Figura X - espectrograma da palavra grupo
Fonte: Ramírez (2006, p. 51)
- Em termos de duração, observou-se que a VI apresentava uma média de 32% da vogal nuclear, o que converge com bastante precisão com o que foi verificado em Silveira (2008), que indicava uma duração de 1/3 da vogal nuclear no português. - Ponto de articulação: descritivamente, verificou-se uma média de ocorrências superior em contextos dentais (78%) do que em bilabiais (39%), labiodentais (25%) e velares (43%). Estatisticamente, entretanto, tal diferença não se mostrou significativa. Ainda assim, esse resultado é, de certa forma, surpreendente. De acordo com Steriade (1992) (conferir), não se esperaria VI no contexto alveolar porque o gesto de ponto de língua já estaria no alvo quando o tepe fosse realizado, fazendo com que o articulador principal
não se movesse. Há, dessa forma, duas possibilidades de resposta: ou i) o fato de o ponto de articulação ser dental, e não alveolar, exerceu influência, exigindo a movimentação de ponta de língua ou ii) a hipótese de Steriade está equivocada. O ponto de articulação alveolar é o mais propenso à emissão da VI, porque o articulador precisa, necessariamente, sair dos alvéolos para a eles voltar, logo em seguida, a fim de explicitar os dois gestos alveolares. Como o ponto de articulação é o mesmo para os dois gestos conseguintes, não há sobreposição do gesto de ponta, impedindo o eclipse ‒ ocultação ‒ da vogal intrusiva. Gafos aponta para essa possibilidade, ao afirmar que a única forma da VI ocorrer em dois gestos de ponta consecutivos é se houver um alinhamento onset = offset release, o que necessariamente estaria ocorrendo nos dados de Ramírez. Essa hipótese atenderia ao Princípio de Contorno Obrigatório, atualizada por Gafos (2002), o qual afirma que a sobreposição de gestos idênticos deve ser evitada. Todas essas observações devem ser relativizadas porque a análise estatística inferencial não revelou diferenças significativas nos resultados de Ramírez, no que se refere à influência do ponto de articulação. - A presença da VI é maior quando o cluster é formado por flepe do que quando é formado pela lateral. - Sonoridade: a duração da VI é significativamente maior quando a C1 é vozeada do quando é desvozeada. Os autores atribuem esse fato a uma maior dificuldade em contabilizar a vogal quando antecedida por uma consoante sonora. O resultado, entretanto, vai inteiramente ao encontro dos achados por Lisker e Abramson (XXXX), de que vogais antecedidas por consoantes sonoras são mais longas do que as seguidas por surdas. - Tonicidade: não revelou diferenças estatísticas, provavelmente devido a limitações do experimento. - O autor não verificou diferenças significativas entre a vogal nuclear e a VI, o que serviu para ele supor tratar-se de qualidades semelhantes - por que ele não fez um teste de correlação, no lugar de um de diferenças? - Foi verificado, entretanto, assim como detectado por Silveira, uma tendência à centralização da VI, ainda que fosse verificada uma aproximação às características da vogal nuclear.
Fonte: Ramírez (2006, p. 54).
- Teste de percepção - Objetivo: investigar se os falantes são capazes de reconhecer a VI - Metodologia: 3 categorias: VI plena, VI parcial e VI zero. Para a obtenção da segunda categoria, a faixa central do elemento vocálico foi recortado, a fim de preservar as transições presentes nas bordas. Lembrando que, em conversa com o Dênis, ele informou que tal procedimento é problemático, por extrair o trecho mais estável da vogal. - Foi perguntado aos informantes qual das formas era considerada mais nativa ou natural dentre as três a eles apresentadas - bastante subjetivo! - Resultado: VIs plenas foram consideradas as mais naturais nas sequências kr, gr, dr; em tr, a forma mais natural foi a com a VI cortada; nas sequências pr e br, não foram reveladas diferenças significativas. - O cruzamento das variáveis ponto de articulação e duração da VI revelou uma diferença significativa quando essas duas variáveis atuam em conjunto. Dessa feita, os autores propõem que “quando o ponto de articulação do primeiro e do segundo elementos do cluster são ou muitos afastados ou muito próximos, a vogal epentética serve como um elemento de fronteira que permite a diferenciação entre eles” (RAMÍREZ, 2006, p. 57).