A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.
A tradução como novo objeto de saber: isso significa duas coisas. Primeiramente, o fato de que, enquanto experiência e operação, ela é portadora de um saber sui generis sobre as línguas, as literaturas, as culturas, os movimentos de intercâmbio e de contato, etc. Esse saber sui generis, seria o caso de manifestá-lo, de articulá-lo, de confrontá-lo com os outros modos de saber e de experiência a que se referem esses domínios. E nesse sentido, é preciso considerar antes a tradução como sujeito de saber, como origem e fonte de saber. Em segundo lugar, esse saber deveria, para se tornar um “saber” no sentido estrito, tomar uma forma definida, quase institucional e estabelecida, própria a permitir seu desdobramento num campo de pesquisa e de ensino. É o que quisemos chamar às vezes “tradutologia” (outros nomes menos felizes foram igualmente sugeridos). Mas isso não quer dizer, pelo menos de início, que a tradução se tornaria o objeto de uma “disciplina” específica referindo-se a uma “região” ou um “domínio” separados, na medida mesmo em que, justamente, ela não é alguma coisa de separado. De fato, a tradutologia, enquanto forma ou campo de saber, poderia ser, primordialmente, aproximada dessas formas de “discursos” recentes que são a “arqueologia” de Michel Foucault, a “gramatologia” de Jacques Derrida ou a “poetologia” desenvolvida na Alemanha por Beda Alemann. Pois, mais do que disciplinas “regionais”, trata-se aqui da emergência de tipos de reflexão que se referem a dimensões já recortadas por outras disciplinas constituídas, mas recortadas de tal modo (ou justamente porque houve recorte) que a riqueza imanente de seu conteúdo não pode mais aparecer plenamente. A tradução constitui uma tal dimensão. Portadora de um saber próprio, ela só pode ser o sujeito desse saber se der acesso a uma tradutologia no sentido esboçado aqui. Será o caso assim de fundar – ou de radicalizar as tentativas de fundação já existentes, frequentemente decisivas – um espaço de reflexão e, portanto, de pesquisa. Esse espaço, como havíamos indicado no início dessa obra, cobrirá simultaneamente o campo da tradução no seio dos outros campos de comunicação interlinguísticos, interliterários e interculturais, a história da tradução e a teoria da tradução literária, “literária” englobando tanto a literatura no sentido estrito quanto a filosofia, as ciências humanas e os textos religiosos. O saber que tomará como tema esse espaço será autônomo: não dependerá em si nem da linguística pura ou aplicada, nem da literatura comparada, nem da poética, nem do estudo de línguas e literaturas estrangeiras, etc., ainda que todas essas disciplinas reivindiquem, cada uma a sua maneira, o campo da
tradução. Entretanto, na própria medida em que esse campo cruza, por sua natureza, uma multiplicidade de domínios e, principalmente, os das disciplinas mencionadas, haverá forçosamente interação entre estas e a tradutologia. Nenhuma reflexão sobre a tradução pode fazer a economia dos benefícios da linguística e da teoria da literatura. A tradutologia é por excelência interdisciplinar, precisamente porque se situa entre disciplinas diversas, frequentemente afastadas umas das outras. Seu ponto de partida se baseia em algumas hipóteses fundamentais. A primeira é a seguinte: sendo um caso particular de comunicação interlingüística, intercultural e interliterária, a tradução é também o modelo de qualquer processo desse gênero. Goethe nos ensinou isso. Isso significa que todos os problemas que essa comunicação pode trazer surgem claramente, como se estivessem concentrados na operação da tradução e que é, por conseguinte, possível compreender e analisar os outros modos de intercomunicação a partir do horizonte da tradução. Podemos dizer que esta ocupa um lugar análogo ao da linguagem no seio dos outros sistemas de signos: como o disse Benveniste, a linguagem é, em um certo sentido, apenas um sistema se signos entre outros; mas, em um outro sentido, é o sistema dos sistemas, aquele que permite interpretar todos os outros. Encontraremos a confirmação desse fato na relação de encaixamento recíproco que possuem a teoria generalizada da tradução e a teoria restrita. De Novalis a George Steiner e Michel Serres, vimos edificarem-se teorias nas quais Convém portanto articular uma teoria restrita e uma teoria generalizada da tradução, sem todavia dissolver (como é o caso nos românticos alemães) a primeira na segunda. O que remete a dizer que essa teoria restrita deveria funcionar como o arquétipo de qualquer teoria das “trocas” ou das “translações”. A posição desse arquétipo caracteriza-se por um paradoxo: sua unicidade. A relação que liga uma tradução ao seu original é única em seu gênero. Nenhuma outra relação – de um texto para um outro, de uma língua para uma outra, de uma cultura para uma outra – lhe é comparável. E é justamente essa unicidade que faz a espessura significante da tradução; interpretar os outros intercâmbios em termos de tradução é querer (com ou sem razão) lhes dar essa mesma espessura significante. A segunda hipótese da tradutologia é que a tradução, quer se trate de literatura, mas também de filosofia ou até de ciências humanas, desempenha um papel que não é o de simples transmissão: esse papel, ao contrário, é tendencialmente constitutivo de toda literatura, de toda filosofia e de toda ciência humana.