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Montar urn escudo solar no espa~o e na estratosfera sao dois dos rnegaprojectos inova o problerna do aquecirnento global. Ma
MANUEL
U UM ESCRITOR DECANCOES'
ALEGRE
AS METAMORFOSES DO POETA-DEPUTADO
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luco qualquer. 0 britanico naturalizado americano, formado em Oxford, e professor de astronomia e de Angel naonoe departaurn maciencia optica mento de Astronomia da Universidade do Arizona. Pelo caminho, foi coleccionando premios na sua area e louvores dos seus pares. Fez-se membro da americana Academia Nacional de Ciencias e da britmica
Roger
Sociedade Real de Astronomia. E imaginou uma solw;;ao original para resolver 0 aquecimento global: instalar urn escudo no espac;;opara proteger a Terra do Sol. o escudo e mais que uma ideia atirada para 0 ar - 0 astronomo trabalha no projecta ha anos e tern quase todos os porrnenores planeados. 0 imenso guarda-sol teria 2 mil quilometros de diametro (mais ou menos a distancia que separa Lisboa de Amesterdao) e seria formado por lentes de vidro, repletas de buraquinhos, redondas, corn 60 centirnetros de diametro, mais fmas que uma folha de papel e corn apenas urn grama de peso. Vinte milhoes de toneladas dessas placas chegariam para filtrar 2% da luz solar e tratar da saude de urn planeta febril. Nada que umas centenas de milhares de milhoes de euros nao resolvam.
nio da ficc;;aocientifica. Nao saDsoluc;;oes consideradas prioritarias na guerra cono professor do Arizona nao esta so- tra 0 aquecimento da Terra - pelo menos zinho na sua aparente extravagancia. por agora, enquanto ha esperanc;;a num Apropria NASAacredita que este pode ser entendimento global quanta it redu<;;aode urn pequeno pre<;;oa pagar para resolver 0 emissoes de dioxido de carbono que efecmaior dos desafios ambientais por que 0 tivamente trave ou suavize 0 fenomeno. Homem ja passou. Urn departamento seu, No entanto, em caso de emergencia, e na o lnstituto de ldeias Conceptuais Avanc;;a- eventualidade de 0 PIano A falhar, alguns das, ajudou a financiar a investiga<;;aode cientistas querem que 0 mundo conte corn urn PIano B. Roger Angel. o mastodontico escudo solar integra NASCE A CONTROVERSIA urn conjunto de ideias de geoengenharia Amae de urna das mais discutidas ideias do (interven<;;oesde grande escala, ate niveis planetarios, para controlar 0 clima) que, momento e a propria Natureza. Em 1991,a apesar de ainda se restringirem it discus- erup<;;aodo Monte Pinatubo, nas Filipinas saDacademica,ja ultrapassaram 0 domi(a mais violenta explosao vulcmica do seculo XX), enviou para a estratosfera 17 milhoes de toneladas de dioxido de enxofre
A NASA ajudou a financiar a investiga~o sobre 0 escudo solar 86
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(S02). Anuvem bloqueou suficiente calor do Sol para que, nesse ano, a temperatura media do planeta descesse praticamente meio grau centigrado.
Urn ana mais tarde, ja a temperatura voltara ao que era - e it sua inexoravel subida. Mas 0 exernplo estava dado. Paul J. Crutzen, urn cientista holandes do reputado instituto alemao Max Planck e vencedor do Premio Nobel da Quimicaem 1995, apoiou-se na erupc;;ao do Pinatubo para estudar os riscos e os beneficios de replicar a nuvem reflectora, espalhando S02 na estratosfera, atraves de baloes. Apadrinhado pelo presidente daAcademia Nacional de Ciencias dos EUA,0 especialista em ciencia atmosferica publicou as suas conclusoes numa revista cientifica, em 2006, defendendo a necessidade de urn «pIano de contingencia» coma este para enfrentar 0 aquecimento global. Nesse momento, Crutzen escancarou as portas it polemica. Muitos cientistas e ambientalistas encararam a proposta coma urn perigoso desviar de atenc;;oes do que deve ser a prioridade de todos os governos: a reduc;;aodas emissoes de ga-
A erup~o de 1991 do Pinatubo, nas Filipinas, deu pistas sobre como travar 0 aquecimento
Agora ou DUDea Faltam sete meses para se decidir 0 futuro do planeta. Entre 7 e 18 de Dezembro, em Copenhaga, as Na<;:6es Unidas vao discutir e assinar - assim se espera - osucessor do Protocolo de Quioto, para vigorar entre 2013 e 2020, Ja nao ha muito tempo para negocia<;:6es e compassos de espera: faltam tres anos Recorde-se que 0 para terminar 0 perfodo de vigencia de Quioto (2008-2012). protocolo que regula as emiss6es de gases com efeito de estufa do mundo industrializado, apesar de ter si do assinado em 1997, 56 foi ratificado em 2005 e sem a assinatura do maior poluidor do mundo, os EUA. Desta vez, com a mudan<;:a de administra<;:ao de Bush para Obama, nao se esperam grandes barreiras americanas. As aten<;:6es estarao viradas para a China, um megapoluidor com muitas reticencias em aderir a maci<;:as redu<;:6es de emissao, dada a sua necessidade de crescimento. o Governo chines deve comprometer-se apenas a aumentar a sua eficiencia energetica, 0 que ja nao e mau. 0 que nao pode acontecer e sair-se da Dinamarca sem um acordo. «Ninguem espera que Copenhaga seja um fracasso. Ha uma pequenfssima probabilidade de nao dar certo», diz Francisco Ferreira, da Quercus. Os receios sac outros. «0 acordo tem de ser pensado para que a entrada em vigor seja celere. Se acontecer 0 mesmo que com Quioto, teremos protocolo a regular as emiss6es.»
Regresso its origens A tecnica
do CCS
(sigla inglesa para Capta<;:ao e Sequestra<;:ao de Carbono) e aplicada as centrais termoelectricas. 0 di6xido de carbono
(C02) produzido
nesse processo e injectado em minas de carvao ou aqufferos salinos, onde fica armazenado. No ca so das plataformas extractoras
de petr6leo,
o C02 e injectado em po<;:os vazios INFOGRAFIA GN/VISAO
varios anos de vazio, sem qualquer
ses corn efeito de estufa. «Optar por urn pIano desses seria admitir que nao nos conseguimos livrar do vicio dos combustfveis f6sseis», diz Filipe Duarte Santos, 67 anos, ffsico da Faculdade de Ciencias da Universidade de Lisboa e coordenador do SIAM, 0 mais amplo estudo portugues sobre os efeitos das altera\;oes climaticas. «A solu\;ao tern de passar pelas energias renovaveis e pela floresta\;ao. projectos de geoengenharia nao fazem sentido agora.» PI OR A EMENDA ...
Apesar da monumentalidade de algumas das propostas radicais para combater 0 aumento das temperaturas, do ponto de vista tecnico os desafios sao menores do que se poderia imaginar. 0 trabalho de Paul J. Crutzen, considerado uma auto ridade quase absoluta na sua area, mostrou que as quantidades necessarias de dioxido de enxofre para interromper 0 aquecimento seriam bastante baixas. Pouco mais de urn milhao de toneladas de S02 fariam 0 trabalho, concluiu 0 cientista (outros elevam a fasquia ate 4,5 milhoes de toneladas, uma quantidade ainda perfeitamente exequfvel). Nem 0 facto de ser preciso manter 0 gas na atmosfera, corn recarregamentos constantes, seria uma barreira consideravel. Na verdade, e bem mais facil para 0 mundo espalhar S02 na estratosfera do que cortar as emissoes de dioxido de carbono num curto espa\;o de tempo. Crutzen estimou 0 custo do pIano em 37 mil milhoes de euros, 0 equivalente a 5% dos gastos militares mundiais. Uma ninharia, considerando que combater 0 aquecimento corn as tecnicas tradicionais custara 1% do PIB mundial e os prejufzos causados pelas altera\;oes climaticas podem atingir 20% do PIB do planeta, de acordo corn 0 ~ 21 DE MAlO DE 2009
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Material reflector no mar e em terra Plataformas de plastico branco flutuante espalhadas pelos oceanos ou pelfcula espelhada nos desertos aumentariam 0 albedo da Terra >Pros: nao interferem quimicamente com a atmosfera (imitam 0 papel reflector do gelo) >Contras:
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os 30% de luz solar que 0 planeta envia de volta para 0 espa<;o
~ farnoso relatorio do economista britanico Nicholas Stem. Outras quest5es se levantarn: 0 dioxido de enxofre enfraquece a camada de ozono e potencia as chuvas :kidas (so nao ha consenso cientifico em relac;ao ao grau de influencia). Ao escolher combater 0 aquecimento corn este tipo de armas, a Humanidade pode criar mais problemas do que aqueles que resolve. «Ageoengenharia interfere corn os sistemas terrestres, a urna escala global», avisa Filipe Duarte Santos. «Por isso, mais do que em qualquer outro campo, aqui tern de ser aplicado 0 prin-
Os ambientalistas temem que estas ideias desviem a aten~o do essencial: reduzir asemissoes 88 vIsAo
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dpio da precauc;ao: nao podemos por em pratica nenhurna destas ideias, enquanto nao tivermos urn conhecimento completo das suas consequencias.» o ambientalista Francisco Ferreira, 42 anos, dirigente da Quercus, concorda corn o professor de Fisica, apelidando a geoengenharia de «tiro no escuro que pode sair caro». Alem da irracionalidade de se remediar em vez de se prevenir (reduzindo as emiss5es e aurnentando a eficiencia energetica), comenta, seria pessimo enveredar por estas soluc;5es. Mesmo que funcionassem. «Nao se faria nenhum esforc;o para substituir as actuais fontes de energia. Quando os combustiveis fosseis acabassem, 0 mundo ficaria descalc;o.» o unico exemplo viavel de geoengenharia, acrescenta 0 ambientalista, e a captac;ao e sequestrac;ao de carbono (CCS, a sigla inglesa por que e conhecida intemacionalmente). 0 que, para Portugal, nao e mau de todo; esta quase a arrancar urn projec-
to-pHoto no Norte do Pais, tomando-o nurn dos pioneiros neste carnpo. A TERRA VOLTAS
A CCS, na sua forma mais promissora - em centrais termoelectricas -, consiste em injectar 0 dioxido de carbono, re sultante do processo de queima de combustiveis fosseis, em minas de carvao, poc;os de petroleo ou aquiferos salinos. Em vez de serem enviados para a atmosfera, os gases corn efeito de estufa ficam presos debaixo do solo. Os projectos mais avanc;ados nesta area sac os das plataformas norueguesas, no mar do Norte (que usam os poc;osde gas e petroleo coma reservatorios) e uma centnil de produc;ao de energia na Alemanha (que injecta 0 C02 nurn aquifero salino). o arquipelago de Svalbard, no Cfrculo Polar Arctico, pretende usar a mesma tecnica para se tomar a primeira comunidade do mundo corn emiss5es zero. Varias instituic;5es portuguesas tern estudado a possibilidade de se aplicar 0 CCS no nosso pais. 0 resultado deveni chegar ainda este ano, corn 0 lanc;arnento de urn projecto na bacia carbonffera do Douro: a central da Tapada do Outeiro comec;ara a injectar algum do C02 que produz nas minas de carvao, por baixo dos concelhos
Tao simples como apertar um botio Devera arrancar este ano 0 primeiro projecto portugues
de sequestra~o decarbono
de Gondomar e Castelo de Paiva. Manuel Lemos de Sous a, 71 anos, professor catedratico da Universidade Fernando Pessoa e mentor do projecto, assegura que a CCS e a unica saida possivel para se atingir as metas relativas as emiss5es que a Comissao Europeia definiu para 2020. Ha so urn problema: em Portugal, a localiza<;ao dos aquiferos salinos nao esta estudada, pelo que 0 unico local onde se consegue aplicar a tecnica, par enquanto, e mesmo no Douro. «0 gran de problema desta tecnologia e 0 transporte, que, para ser viavel, tern de se efectuar em pipeline. E em Abrantes e Sines [onde estao as grandes termoelectricasJ, nao ha bacias carboniferas.» A capta<;ao e sequestra<;ao de carbono nao esta isenta de pecados: tern de se gastar grandes quantidades suplementares de energia para injectar 0 C02 (5% a 6% em minas de carvao, mais de 30% nos aquiferos profundos), este e dificil de instalar em centrais ja existentes e nao resolve 0 problema do gas ja existente na atmosfera, 0 que limita 0 seu alcance. Alguns cientistas tern teorizado sabre a adapta<;ao da tecnologia para que se aspire - literalmente - 0 dioxido de carbono produzido anualmente e que paira no planeta. Mas entao, sim, 0 trabalho sera digno de Hercules: ha 30 mil milh5es de toneladas par ana para sugar. E ainda haveria que arranjar espa<;ono subsolo. DUVIDAS ETICAS
As erup<;5es sao dos fenomenos que mais mexem corn 0 clima. Nao admira que estimulem a imagina<;ao dos investigadares e lhes deem ideias. «0 Pinatubo provocou varias altera<;5es atmosfericas. Essa erup<;ao e a do Santa Helena, em 1980 [nos EUAJ forneceram muitos dados uteis aos cientistas», explica Victor Hugo Forjaz, 68 anos, vulcanologo e presidente do Observatorio Vulcanologico dosA<;ores. Urn exemplo dessas li<;5es,alem do dioxido de enxofre, foram as 40 mil toneladas de po de ferro que cairam no mar, quando ~
Com OS automatismos Somfy OS seus Estores, Toldos e Cortinados sobem e baixam sem
esfor~o.
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Dioxido de enxofre na estratosfera Grandes quantidades (entre 1.5 e 4,5 milh5es de toneladas) de 502 espalhadas na estratosfera por bal5es. foguet5es ou avi5es bloqueariam algum calor do Sol >Pros: eficacia comprovada; relativa facilidade de par em pratica; efeitos rapidos >Contras: 0 di6xido de enxofre e lesivo para a camada de ozono; se descer da estratosfe ra, r;r:n [:8 lllUl'lIIet; I_et .111.lJ:•~I.Il. .•.
~ 0 Pinatubo explodiu, e aurnentaram a concentra<;ao de fitopH'incton na superficie das aguas. 0 aurnento, segundo urn estudo do ingH~sAndrew Watson, professor de Ciencias Ambientais da Universidade de East Anglia, contribuiu para urn pequeno declinio da concentra<;ao de dioxido de carbono na atmosfera (como todas as plantas, 0 fitoplancton absorve C02). Dai nasceu 0 pIano de fertilizar vastas areas da superficie oceanica corn ferra; terminado 0 seu ciclo de vida, as plantas iriam para 0 fundo do mar, levando consigo 0 C02. Seria urn metodo seminatural de aspirar os gases corn efeito de estufa. So falta contabilizar os efeitos nos fnigeis ecossistemas marinhos.
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A facilidade tecnica de polvilhar 0 mar corn ferro, e de outras propostas do genera, aliada a extraordinaria dimensao das suas consequencias, leva a discussao para niveis morais e eticos. A que Estado ou organismo caberia 0 direito ou 0 dever de assumir uma responsabilidade desta envergadura? Que hipoteses de sucesso teria urn eventual dialogo no ambito das Na<;oes Unidas, sabendo-se que ate algo tao (proporcionalmente) simples coma o lixo espacial continua por resolver? E 0 que impede urn pais de fazer justi<;apelas proprias maos, agindo unilateralmente, se concluir que as altera<;oes climaticas saDcaoticas para a sua popula<;ao? A ULTIMA
Ha quem pretenda aspirar da atmosfera todo 0 C02 emitido anualmente 90
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SOLUCAO
As solu<;oesde geoengenharia que pretendem resolver 0 aquecimento global dividem-se entre as que se ocupam do C02, coma a CCS e a fertiliza<;ao oceanica, e as que se concentram em bloquear a luz solar. Neste grupo, ha alternativas mais
terra-a-terra do que 0 complicadissimo escudo solar montado no espa<;o. Uma praposta classica e a instala<;ao de milhares e milhares de quilometras quadrados de pelicula reflectora em desertos. Ou 0 seu equivalente no mar: incontaveis plataformas de plastico branco a flutuar nos oceanos poderiam reflectir luz suficiente para equilibrar as contas do clima. Outra conceito que tern sido debatido recentemente e 0 da aspersao de agua do mar nas nuvens baixas - as moleculas de sal multiplicariam 0 poder reflector das nuvens. Para ja, todos estes prajectos (corn a honrosa excep<;ao da CCS, que ja deu 0 salto para 0 mundo real) saDapenas fruto daJ:uriosidade intelectual de investigadores descrentes num entendimento entre os governos que va a tempo de impedir as consequencias catastroficas do aquecimento global. Foi essa a justifica<;ao dada pelo Nobel da Quimica Paul J. Crutzen, no seu artigo sobre os efeitos reflectores do dioxido de enxofre na estratosfera: se falhar urn acordo internacional, «a engenharia climatica (oo.) e a unica op<;aodisponivel para reduzir rapidamente a temperatura». Ate agora, admitiu 0 cientista, «ha poucas razoes para optimismos». E ja havera razoes para 0 Homem brincar aos deuses? m