Aula_02_canon E Apócrifos

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Seminário Teológico Água da Vida

Escola de Liderança do Projeto Água da Vida

A Escritura A Revelação Geral e a Revelação Especial Conhecemos a Deus porque Ele se auto-revelou. Sem essa revelação jamais conheceríamos qualquer coisa, nem mesmo em parte, do ser divino, de Sua vontade e de seus feitos. Tudo o que teríamos é a absolutização da afirmação de Paulo: “Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver...” (I Tm. 6: 16). Essa auto-revelação de Deus possibilita ao homem conhecê-lo de duas formas: 1. 2.

Revelação Geral – Ainda que a natureza e as obras da criação e da providência manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, estes não são suficientes para dar ao homem o conhecimento da necessidade de salvação. Sl 19:1; 1Cor 1:21; Ef 2:1-2; Rom 3:10-12. Revelação Especial – O homem tem, de maneira inata, a possibilidade e a capacidade de conhecer a Deus. Isto se conclui por pelo menos dois motivos: a. A própria característica da criação de Deus - Fomos feitos à Sua “imagem e semelhança”. b. O propósito divino para o homem - Ef. 1:1-6. A revelação Especial é um conhecimento adquirido e não inato. A luta contra o pecado, a necessidade de santificação, a dependência dos conselhos de Deus, por exemplo, não surgem espontaneamente na mente humana, mas resultam de constante e consciente busca de conhecimento – Sl 119:105; 2Tim 3:16.

Podemos conhecer a Deus de três formas: 1. Nas descrições bíblicas. O que a Bíblia diz que Ele é. 2. Nos seus nomes. Os nomes de Deus representam a sua própria personalidade e a sua própria essência. 3. Em seus atributos. Os atributos divinos são características conferidas a Deus, próprias do ser divino.

O Cânon do Novo Testamento Por que estudar o processo de formação do Cânon? Diante do histórico interesse do homem por aquilo que é oculto, o cristão desse início de século precisa se posicionar frente às diversas “teorias da conspiração” que tanto são suscitadas em nossos dias. Livros como O Código da Vinci, e a análise tendenciosa de recentes descobrimentos, como os manuscritos dos evangelhos de Tomé e Maria Madalena, propõem uma ruptura entre a ortodoxia cristã e realidade histórica, alegando ser a primeira um grande engodo da igreja para chegar a fins obscuros e particulares, sugerindo em segundo plano a impossibilidade de um Deus soberano e interessado na própria igreja, mediante a apresentação de pressupostos e, de uma maneira muito interessante, um conto de ficção. Discutir, conceituar e entender os processos de formação do cânon torna-se imprescindível para a estruturação da autenticidade que creditamos às Escrituras, ainda que a própria história nos mostre que esses processos de fato passaram por mãos humanas. O Termo Cânon A palavra cânon vem do assírio Qânu. É usada 61 vezes no Antigo Testamento, sempre em seu sentido literal que significa cana, balança, e também, cana para traçar os cestos, ou ainda, bastão reto. Já no grego Clássico, passou a ter o sentido de medição, equivalente a qualquer objeto que servisse para mesma função, tais como: vara de medição, esquadro, braço da balança, etc. “Aristóteles (384-322 a.C.), comentando a perspicácia do ‘homem bom’ em discernir a verdade, disse ser este a norma (kanwn) e a medida (Metron) da verdade”.(Costa, 1998, p.20).

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O primeiro a usar a palavra cânon foi Orígenes, um dos Pais da Igreja 1. Ele se referia à coleção de livros sagrados, livros que eram ou serviam de regras e fé para o ensino cristão. Orígenes viveu entre os anos 185-254 da era cristã. Os primeiros Sínodos da Igreja passaram a chamar suas decisões de cânones. No Novo Testamento, somente Paulo usa o termo cânon (kanwn). Duas vezes como esfera de ação (2 Co 10.13,15), uma vez como campo (2 Co 10.16) e uma vez, como regra (Gl. 6.16). “François Turretini (1623-1687) - o campeão da ortodoxia Calvinista no século XVII – assinala que as Escrituras são chamadas ‘canônicas’ por duas razões: porque elas estabelecem o ‘cânon e padrão de fé e prática’ e, também, porque nelas nós temos todos os livros canônicos”. (Cp. cit, p. 34). A Igreja reformada, ou seja, aquela que segue os padrões estabelecidos pela reforma protestante de 1517, reconhece como cânon os livros aceitos pelos judeus, ou seja, 39 livros do AT e mais os 27 do NT, e rejeita, porém, os apócrifos 2 que foram incluídos na Vulgata de Jerônimo3 e reconhecidos como inspirados pela Igreja Católica Romana, no Concílio de Trento (1545-1563). Finalmente, cânon é o conjunto de escritos, únicos possuidores de autoridade normativa para fé cristã, em contraste com os escritos que não o são, ainda que contemporâneos.

Formação do Cânon do Novo Testamento Apesar de ser constantemente interpretado pelos Pais da Igreja no sentido do novo testamento, o antigo testamento era considerado como autoridade absoluta e verdade básica. Suas citações são introduzidas com as fórmulas tradicionais: “A Escritura” e “Está escrito”. O conceito de inspiração foi derivado do judaísmo, assim como dos gregos, mas só recebeu seu significado específico quando os cristãos adotaram do judaísmo a idéia de Cânon, isto é, que certos volumes são santos e cada palavra neles escrita tem autoridade, pertencendo a um livro autorizado. Os cristãos estenderam o princípio de que esta autoridade somente pertence aos textos originais, que datavam do período primitivo da igreja e por isso continham o Evangelho verdadeiro. Adolf von Harnack4, dentre outros, defende a tese de que teriam, o gnosticismo, o marcionismo e o montanismo 5 obrigado à igreja fixar o Cânon do Novo Testamento, mas essa interpretação é errônea. Os limites do Novo Testamento não estavam mais fixados em fins do século II do que em seu começo. A idéia de um cânon era coisa comum entra os cristãos ortodoxos dessa época, que já utilizavam o cânon do Antigo testamento. E também não era nova a idéia do caráter canônico de alguns escritos apostólicos. Há uma grande discussão sobre a certeza de que o cânon judaico, ou seja, os livros do A.T., estaria fechado nos dias de Jesus. O motivo dessa discordância é o Sínodo de Jânia em 90 d.C., que segundo alguns historiadores teria determinado a abrangência do cânon do A.T. tal como o conhecemos, mas não se pode afirmar categoricamente essa questão. O fato é que o povo já adotava e reconhecia a totalidade dos livros escritos até o cativeiro babilônico, restando apenas questões rabínicas sobre os livros de Provérbios, Eclesiastes, Cantares e Ester. “O primeiro pai da igreja a falar de forma inequívoca de um Novo Testamento em paralelo com o Antigo foi Irineu. Mas os livros de Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Policarpo, a Didaquê, Epístola de Barnabé, O Pastor de Hermas, Justino, Taciano, Tertuliano, Orígenes, entre outros, já usavam o Novo Testamento, tendo-o como inspirado, no mesmo sentido do Antigo6” Após o tempo de Irineu houve um reconhecimento universal do caráter plenamente canônico dos escritos especificamente cristãos, popularmente conhecidos a partir desta época como Novo Testamento. 1

Foram os primeiros autores cristãos do período subapostólico. Sua importância para nós dá-se, ao lado do N.T. como sendo as fontes mais antigas do testemunho da fé cristã. 2 Que significa oculto, escondido. O primeiro a usar essa terminologia foi Gerônimo no séc. IV. 3 A tradução latina escrita por Jerônimo, levou 34 anos para ser escrita e ganhou esse nome por utilizar um latin de uso comum, vulgar segundo os eruditos. 4 R.Seeberg, op.cit., p.142. Ver também González, História do Pensamento Cristão, p.163: Em sua opinião, possivelmente Adolf Von Harnack tenha exagerado na importância de Marciom para formação do Cânon do Novo Testamento. A novidade em Marciom se encontra no fato de que ele ofereceu uma lista fixa de livros inspirados. 5 As principais seitas religiosas daquele momento histórico. 6 J.N.D.Kelly, op.cit., p.41 Teologia Sistemática – 01 – Aula 02______________________________________________________________________________________Pg2

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O CRITÉRIO CANÔNICO Alguns críticos argumentam que a igreja não tinha a Bíblia como tal até quase o início do quinto século. Isso, porém, é uma distorção de todo o processo do desenvolvimento canônico. A igreja reuniu-se em concílio em várias ocasiões nos primeiros séculos para decidir as disputas sobre quais livros pertenciam propriamente ao cânon. Embora a grande maioria dos livros que atualmente se acham incluídos no Novo Testamento claramente funcionava com autoridade canônica desde que foram escritos, houve alguns poucos livros cuja inclusão no cânon do Novo Testamento foi muito debatida. Esses livros incluíam Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. A igreja estabeleceu os critérios de avaliação de um livro quanto a sua inclusão no cânon. Na seleção do material que iria compor os primeiros escritos, as necessidades missionárias e apologéticas são o critério para testimonia, ditos, milagres e parábolas de Jesus que, nos primórdios da nova era, iriam formá-los. Neste processo gradual de fixação de um cânon, foram observados os seguintes critérios: 1. A apostolicidade O livro sujeito à avaliação da igreja deveria ter sido escrito por um dos doze apóstolos ou possuir o que se chamaria hoje de imprimatur - que em latim significa imprima-se – apostólico. Ou o escrito deveria ser de alguém que estivera em contato chegado com apóstolo e, quando possível, produzido a seu pedido ou haver sido especialmente comissionado para fazê-lo. Como conseqüência este documento deveria pertencer a um período bem remoto. Quanto aos Evangelhos, estes deveriam manter o padrão apostólico de doutrinas particularmente com referência à encarnação e ser na realidade um evangelho e não porções de evangelhos, como tantos que circulavam naquele tempo. Houve alguns livros que durante muito tempo estiveram na iminência de serem incluídos no cânon, dentre eles o Didaquê, o Pastor de Hermas e o Apocalipse de Pedro 7, mas que no final deixaram de garantir sua admissão, geralmente porque lhes faltavam esta marca indispensável. 2. Universalidade Quando era impossível demonstrar a autenticidade apostólica, o critério de uso e circulação do livro na comunidade cristã universal era considerado para sua aferição canônica. O livro deveria ser aceito universalmente pela igreja para dela receber o seu imprimatur. Alguns dos livros que mais tarde foram incluídos tiveram de aguardar um tempo considerável antes de obterem reconhecimento universal. Durante muito tempo, então, Hebreus esteve sob suspeita no Ocidente, e em geral, no quarto e quinto séculos, Apocalipse era do cânon nos lugares influenciados pela escola de Antioquia. A Igreja se manteve sob absoluto silêncio sobre Tiago até a segunda metade do quarto, e, em certos círculos, as epístolas de 2 Pedro, 2 e 3 João e Judas, que estavam ausentes de quase todas as primeiras listas, continuaram a ser tratadas como duvidosas por muito tempo. 3. O caráter concreto do livro O livro deveria possuir qualidades espirituais, e qualquer ficção que nele fosse encontrada tornava o escrito inaceitável. Muito embora a matéria não contrariasse os escritos ortodoxos da Igreja, a ficção o tornava inaceitável. É o caso do autor de Atos de Paulo e Tecla que, segundo Tertuliano, foi afastado do sacerdócio na Ásia, sobra acusação de escrever ficção como história real. O mesmo fato acontece com o apócrifo Bel e o Dragão, que é fantasioso e irreal. 4. Ortodoxia Um livro só estaria sujeito à inclusão no cânon bíblico quando a totalidade de seus ensinamentos apresentasse plena concordância com os ensinos apostólicos. O exemplo clássico é o caso de Serapião 8, que sancionou o uso do chamado Evangelho de Pedro na comunidade Cristã de Rhosso, na Cicília. Embora estivesse de acordo com os ensinamentos ortodoxos, estava enxertado com ensino de mestres hereges e, como conseqüência, levou muitos cristãos de Rhosso a abandonarem a fé. 7

J.Scott.Horrell, op.cit., p.10. Ele também menciona os livros apócrifos (“difícil de entender, escondido”), que foram os 12 livros aceitos na época da Reforma pelo Concílio de Trento (c.1546). 8 Apud C.F.D. Moule, The Birth od the New Testament (Nova York: Harper & Row, 1962), p.193 Teologia Sistemática – 01 – Aula 02______________________________________________________________________________________Pg3

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5. Autoridade diferenciadora Antes mesmo que os Evangelhos fossem mencionados juntos, já os cristãos distinguiam livros que eram citados e lidos como tendo autoridade divina e outros que continuaram fora do Novo Testamento. Por volta de 130, a Epístola de Barnabé (6.14) usa para citar Mateus a mesma fórmula usada nas cartas de Paulo para se referir à autoridade do Antigo Testamento para corroborar seu ensino. Pode se concluir que alguns livros do “Novo Testamento” já era utilizados no mesmo pé de igualdade que os do Antigo Testamento, isto é, eram considerados divinamente inspirados e, portanto possuidores de divina autoridade. 6. Leitura em público Nenhum livro seria admitido para leitura pública na igreja se não possuísse características próprias. Muitos livros eram bons e agradáveis para leitura particular, mas não podiam ser lidos e comentados publicamente, como se fazia com a lei e os profetas na sinagoga. Segundo o comentário de Almeida, em sua última revisão, é esta leitura que Paulo exorta Timóteo a praticar (I Tm. 4:13).

O primeiro documento oficial que prescreve como canônicos os 27 livros do Novo Testamento atual foi a Carta de Páscoa, escrita por Atanásio em 367 para as Igrejas sob sua jurisdição como bispo de Alexandria. 9 Concílios posteriores como os de Hipona Régia (393), Calcedônia (451) apenas aprovaram e deram uma expressão uniforme àquilo que já era aceito como um fato pelas igrejas há um bom tempo. Segundo Van Bruggen, Devemos fazer aqui uma notação de cunho histórico. Embora se sugira de muitos lados que a própria igreja tenha formado o cânone, isso não é historicamente correto. O cânone do Antigo Testamento, assim como está impresso, sem os livros apócrifos, já existia na época de Jesus. Mas ninguém pode indicar quando este cânone teria sido adotado. A mesma coisa vale para o cânone do Novo Testamento. Em muitos livros pode-se ler que ele foi aprovado definitivamente apenas no concílio de Cartago em 397. No entanto, se formos consultar as atas deste concílio, verificaremos que somente um artigo (XLVII) trata dos textos bíblicos. No início se diz: “Houve unanimidade também neste ponto: fora dos textos canônicos não se pode ler nada na igreja com o nome de ‘Escrituras Sagradas’10”.

Houve também vários livros que disputavam a condição de canônicos, mas que não foram incluídos. A maioria esmagadora desses livros “compunha-se de obras espúrias escritas por hereges gnósticos” do século II. Tais livros nunca receberam uma consideração séria. Esse ponto é menos prezado pelos críticos que alegam que mais de dois mil volumes resultaram numa lista de 27. Daí eles perguntam: “Quais são as probabilidades de que os 27 selecionados sejam os corretos?” De fato, apenas dois ou três livros que não foram incluídos no cânon foram levados em consideração. Foram estes: 1 Clemente, O Pastor de Hermas e a Didaquê. Estes livros não foram incluídos no Cânon das Escrituras porque não foram escritos por apóstolos e os próprios autores reconheceram que a autoridade deles estava subordinada aos apóstolos. O questionamento dos críticos reflete em parte o temor de alguns cristãos que, até os dias atuais, ficam perturbados com a dúvida: “Como saber se o cânon do Novo Testamento inclui os livros certos?” A resposta pode ser exposta sob pelo menos três perspectivas: 1. O cânon é uma coleção infalível de livros infalíveis. Visão católico Romana que apela à infalibilidade da igreja. Esta é vista como “criadora” do cânon, tendo portanto, a mesma autoridade que a própria Bíblia. 2. O cânon é uma coleção falível de livros infalíveis. Visão do protestantismo clássico que nega a infalibilidade da igreja. O cânon não foi “criado”, mas sim, identificado, reconhecido e recebido pela igreja. 3. O cânon é uma coleção falível de livros falíveis. Uma visão dos críticos liberais. 9

Merril C. Tenney, op.cit., p.437: Esta carta “estabelece uma distinção nítida entre ‘os escritos inspirados por Deus...transmitidos aos nossos pais por aqueles que foram testemunhas oculares e servos da palavra desde o início’, e os ‘chamados escritos’ dos hereges”. Após expor a lista dos livros canônicos, Atanásio acrescentou: “Estes são mananciais da salvação...que ninguém lhes acrescente ou deles retire seja o que for”. 10 Jakob van Bruggen, Para Ler a Bíblia, p.11. Ele ainda afirma: “O concílio, portanto, não aprovou o cânone mas proibiu o uso de textos não – canônicos na leitura litúrgica. Segue depois, no artigo, uma lista de textos canônicos. Não para aprová-los, mas para assegurar o que foi decidido.” Teologia Sistemática – 01 – Aula 02______________________________________________________________________________________Pg4

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Apêndice 1 A Igreja Antiga Reconhece o Novo Testamento11

100 d.C.

200 d.C.

250 d.C.

300 d.C.

400 d.C.

Novo Testamento usado por Orígenes

Novo Testamento usado por Eusébio

Novo testamento reconhecido no ocidente pelo concílio de Cartago

Quatro evangelhos Atos Epístolas de Paulo: Romanos 1 &2 Coríntios Gálatas Efésios Filipenses Colossenses 1& 2 Tessalonicenses 1 & 2 Timóteo Tito Filemon

Quatro evangelhos Atos Epístolas de Paulo: Romanos 1 &2 Coríntios Gálatas Efésios Filipenses Colossenses 1& 2 Tessalonicenses 1 & 2 Timóteo Tito Filemon

1 Pedro 1 João

1 Pedro 1 João

Apocalipse de João

Apocalipse de João (autoria em dúvida)

Disputados

Disputados, mas bem conhecidos

Hebreus Tiago 2 & 3 João Judas O pastor de Hermas Epístola de Barnabé Didaquê Evangelho aos Hebreus

Tiago 2 & 3 João Judas

Todas as datas são aproximadas Diferentes partes do Novo Testamento foram escritas até este tempo, mas não foram coletadas e definidas como “Escrituras”. Antigos escritores cristãos (Policarpo e Inácio, por exemplo) citaram os Evangelhos e as Epístolas de Paulo, além de outros escritores cristãos e fontes orais. As epístolas de Paulo foram coletadas até o fim do primeiro século. Mateus, Marcos e Lucas foram reunidos perto de 150 d.C.

Novo Testamento usado na Igreja de Roma (o “Cânon Muratoriano”) Quatro evangelhos Atos Epístolas de Paulo: Romanos 1 &2 Coríntios Gálatas Efésios Filipenses Colossenses 1& 2 Tessalonicences 1 & 2 Timóteo Tito Filemon Tiago 1 & 2 João Judas Apocalipse de João Apocalipse de Pedro Sabedoria de Salomão Para uso reservado, não no culto público O Pastor de Hermas

11

Quatro evangelhos Atos Epístolas de Paulo: Romanos 1 &2 Coríntios Gálatas Efésios Filipenses Colossenses 1& 2 Tessalonicenses 1 & 2 Timóteo Tito Filemon Hebreus Tiago 1 & 2 Pedro 1,2 & 3 João Judas Apocalipse de João

Excluídos O Pastor de Hermas Epístola de Barnabé Evangelho aos Hebreus Apocalipse de São Pedro Atos de Pedro Didaquê

Tim Dowley, (ed.), Eerdman’s handbook to the History of Christinity. Grand Rapids, Michigan: Eermans, 1977.pp.94-95. Teologia Sistemática – 01 – Aula 02______________________________________________________________________________________Pg5

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Literatura Apócrifa Após a nossa resumida análise do processo de formação do Cânon, vamos caminhar rumo à seguinte pergunta: O que diziam os livros excluídos do Cânon do Novo Testamento? Vamos começar a nossa “busca”, através de uma segunda pergunta: Por que a Bíblia católica mantém, apesar da decisão conciliar de 451 em Cartago, os livros apócrifos em seu Cânon? Teria a igreja falhado? A doutrina da Infalibilidade da igreja católica está baseada em Mateus 16,18-20, Mateus 28,19-20 em que, segundo a interpretação católica, Jesus funda sua Igreja sobre a pessoa de Pedro, afirmando que as portas do Inferno não prevaleceriam sobre sua Igreja, depois Jesus orando para que a Fé de Pedro (e de seus legítimos sucessores) não desfalecesse; e, finalmente quando Jesus, que é Deus e Infalível, assegura que assistiria seus apóstolos todos os dias até o fim do mundo, para que eles nunca venham a ensinar o erro e heresia na hora de pregar o Evangelho. Diante desse pressuposto, a igreja teria exercido sua autoridade espiritual, infalível, para elaborar o Cânon.Mas essa conclusão constitui um erro, no mínimo histórico, pois já vimos que a igreja teria somente reconhecido oficialmente os livros que já formavam o Cânon Bíblico. Posteriormente, a igreja católica reconheceu alguns livros apócrifos ao cânon como sendo divinamente inspirados. Como a sua autenticidade foi constatada em uma época posterior ao concílio, os livros passaram a ser considerados “Dêutero-Canônicos”12, ou seja, canônicos de segunda época. O que, afinal, diziam os livros apócrifos? Os Apócrifos do Novo Testamento podem ser classificados em, pelo menos, 2 categorias: Apócrifos de origem cristã e apócrifos de origem gnóstica. 1. Apócrifos Cristãos Tais escritos vem geralmente da parte de cristãos simples, admiradores de Jesus e desejosos de exaltá-lo, revelando o seu poder desde a infância. Tais são o Evangelho Árabe da Infância, o Evangelho Armênio da Infância, a História de José o Carpinteiro e outros. A linguagem desses evangelhos é popular e, por vezes ,incorreta. Os milagres atribuídos a Jesus são extravagantes ou, vez por outram de mau gosto. Não são anteriores ao Séc. II. Os evangelhos não gnósticos podem ser classificados em quatro categorias: 1. 2. 3. 4.

Apócrifos da Natividade de Maria ou de Jesus: O proto-Evangelho de Thiago e suas reelaborações latinas, como o Evangelho do Pseudo-Mateus e o da Natividade de Maria; Apócrifos da Infância: Assim os evangelhos árabe, armênio e latino da infância de Jesus, a História de José Carpinteiro; Evangelhos da Paixão do Senhor, da Descida a Mansão dos Mortos e da Ressureição: Tais são o Evangelho de São Bartolomeu, as Atas de Pilatos; Apócrifos Assuncionistas: Narram a morte e a assunção de Maria aos céus.

Nesses apócrifos, existem várias notícias que a tradição católica respeita: assim os nomes de Joaquim e Ana, os pais de Maria, a apresentação de Maria no templo aos três anos de idade, o nascimento de Jesus entre o boi e o asno, os nomes dos três reis magos, Belquior, Baltasar e Gaspar, o nome dos dois ladrões Dimas e Gestas, o nome do soldado que desferiu o golpe da lança em Jesus, Longino, dentre outras. Com a intenção de preservar a tradição católica, Pe. Estevão Bittencourt escreve: “Os artigos de fé referentes à descida de Jesus à mansão dos mortos e à Assunção de Maria, tão minuciosamente relatados pelos apócrifos, têm sua origem na Tradição oral anterior a tais escritos. Estes dão colorido vivo às verdades da fé. Não se pode esquecer que, conforme São João (20, 30 e 21, 25), ficou fora da Tradição escrita ou dos Evangelhos muito do que Jesus fez e disse”. Os estudiosos hoje afirmam que os Evangelhos apócrifos são posteriores aos evangelhos canônicos (o quarto Evangelho data de 100 aproximadamente), embora possam provir de uma tradição oral antiga.

12

Ver apêndice 2 – livros apócrifos da Vulgata Latina Teologia Sistemática – 01 – Aula 02______________________________________________________________________________________Pg6

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2. Apócrifos Gnósticos Esta categoria supõe ensinamentos secretos que Jesus partilhava com seus discípulos. Julgavam os gnósticos que esses ensinamentos não eram partilhados com o grande público. Jesus teria ensinado especialmente após a sua ressurreição, quando passou sobre a terra quarenta dias, ou dezoito meses, ou ainda, 12 anos antes da sua definitiva ascensão aos céus. Nesse período haveria transmitido aos apóstolos doutrinas secretas oriundas do mundo indo-iraniano, particularmente do zoroastrismo persa. Alguns desses ensinamentos são: 1.

2.

3.

4.

No princípio havia um ser perfeito. Poderia ser chamado “Pré-Pai” ou “Pré-Princípio”. Em determinado momento esse Ser quis comunicar-se, não guardando para si só, toda a sua riqueza de vida. Gerou então uma entidade divina dita “o Unigênito”e, com ele, sua companheira chamada “Verdade”. Atendendo ao desígnio do Pré-Pai, o Unigênito foi emitindo ondas concêntricas denominadas “eones”; estes são divinos e vêm designados cada qual com seu nome: Logos, Vida, Luz, Filho do Homem..., constituindo o “Pleroma” ou a Plenitude. Porém, um desses eones, a Sofia ou Sabedoria, quis antes do tempo marcado, chegar ao conhecimento (gnose) do Pré-Pai; portanto, pecou. Tal pecado acarretou na formação de uma substância informe e densa, que deu origem ao universo material, conseqüentemente, a matéria é má porque é fruto do pecado. Os homens para os gnósticos se dividem em três categorias: Os hílicos (hyle=matéria), que não possuem sopro divino nem centelha divina; os psíquicos (psyché=alma) que são uma porção intermediária entre matéria e espírito e ainda os pneumáticos (pneuma-espírito). Os hílicos nunca se salvarão. Os psíquicos são os cristãos comuns, se prestarem atenção aos preceitos divinos e levarem uma vida reta obterão uma salvação intermediária e desfrutarão da eternidade em um céu inferior. Por último, os pneumáticos o seu espírito se tornará uma divindade e entoará hinos de louvor e glória para sempre. A Sofia, sabedoria, se arrependeu de seu pecado. E em conseqüência vem do Pleroma divino um Salvador. Para desempenhar sua missão na Terra, entra no corpo de um ser humano especial, Jesus de Nazaré, nascido de uma Virgem. O corpo desse Salvador é meramente aparente, como um fantasma. Não pode ser matéria, encarnado, porque o divino não se mistura com a matéria. A missão de Jesus consiste em pregar a gnose, ou seja, em fazer com que os homens espirituais saibam de onde vieram, quem são e para onde vão. Aquele que tem em seu íntimo a centelha divina procura por si mesmo a iluminação da gnose. Ele o faz sem se apoiar na comunidade ou igreja, pois se salva sozinho. Não há, portanto, interesse em evangelizar ou pregar a gnose.

Essa teria sido a pregação secreta de Jesus aos discípulos. Hoje, alguns estudiosos apresentam esse Jesus gnóstico como “o outro Jesus” e apesar de uma exposição tão breve e resumida do pensamento gnóstico, já podemos perceber que este é totalmente incompatível com o Jesus canônico. Fica portanto o dilema: Jesus canônico, ou Jesus Gnóstico?

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Livros apócrifos que fazem parte da Vulgata Latina: Tobias – (200 a.C.) É uma história novelística sobre a bondade de Tobiel, pai de Tobias e alguns milagres preparados pelo anjo Rafael. Apresenta: Justificação pelas obras (4:7-11;12:8); Mediação dos santos (12:2), superstições (6:5; 79, 19), um anjo engana Tobias e o ensina a mentir (5:16-19) Judite – (150 a.C) História de uma heroína viúva e formosa que salva sua cidade enganando um general inimigo e decapitando-o. Sua grande heresia é a própria história, onde os fins justificam os meios. Adições a Ester – (110 a.C.) – Quem lê o livro canônico de Ester notará que o nome de Deus não aparece uma só vez em seu texto. Sentindo esta falta, copistas habilidosos dentre os helenistas resolveram infundir-lhe pequenos trechos sobre Deus. Fizeram-no, entretanto, tais acréscimos não conseguiram incorporação no “Ester” canônico. Sabedoria de Salomão – (40 a.C.) – Livro escrito com a finalidade exclusiva de lutar contra a incredulidade e idolatria do epicurismo, filosofia grega que cria na identificação do bem soberano com o prazer (saúde do corpo e sossego do espírito). Apresenta: O corpo como prisão da alma (9:15), doutrina “estranha” sobre a origem do corpo e da alma (8:19-20), salvação pela sabedoria (9:19). Eclesiástico – (180 a.C.) – É muito semelhante ao livro de provérbios, não fosse as tantas incoerências. Apresenta: Justificação pelas obras (3:33-34), trato cruel aos escravos (33:26, 30; 42:1,5), incentiva o ódio aos samaritanos (50:27-28) Baruque – (100 A.D.) – Apresenta-se como sendo escrito por Baruque, o cronista do profeta Jeremias, numa exortação aos judeus quanto à destruição de Jerusalém. Porém, é de data posterior, quando da 2ª destruição de Jerusalém, no pós-Cristo. Traz entre outras coisas a intercessão feita pelos mortos (3:4) I Macabeus – (100 a.C.) – Descreve a história de três irmãos da família dos Macabeus, que no chamado Período Interbíblico, lutam contra os inimigos dos Judeus, visando a preservação do seu povo e sua terra. II Macabeus – (100 a.C.) – Não é a continuação de I Macabeus, mas um relato paralelo, cheio de lendas e prodígios de Judas Macabeu. Apresenta: Oração pelos mortos (12:44-46), culto e missa pelos mortos (12:43), o próprio autor não se julga inspirado (15:38-40; 2:25-27), intercessão pelos santos (7:28;15:14) Adições a Daniel : Capítulo 13 – A história de Susana -segundo esta lenda, Daniel salva Susana num julgamento fictício, baseado em falsos testemunhos. Capítulo 14 – Bel e o Dragão – a história apresenta a necessidade da idolatria. Capítulo 3:24 – o cântico dos três jovens na fornalha.

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