Os Segredos Do Golgota Por Robert Tambelain

  • Uploaded by: Sergio Lima
  • 0
  • 0
  • May 2020
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View Os Segredos Do Golgota Por Robert Tambelain as PDF for free.

More details

  • Words: 110,821
  • Pages: 161
robert ambelain os segredos do g�Lgota

http://groups-beta.google.com/group/digitalsource �Ndice introdu��o primeira parte : os zelotes os zelotes. origem do movimento. as sucessivas insurrei��es. o testemunho dos manuscritos do mar morto. os filhos de aar�o. o duplo poder entre os zelotes. a verdade sobre zacarias. os filhos de david. os irm�os e lugares-tenentes de jesus. os que continuaram a luta contra roma, e os que desertaram. ezequ�as-har-gamala. o antepassado de jesus. suas opera��es contra s�ria. � capturado e mandado crucificar por herodes, o grande. juda-har-gamala. filho de ezequias, pai de jesus. o que se sabe dele. sua morte no curso da revolu��o do censo, no ano 6. os irm�os santiago. sobre a incerteza reinante no que concerne a seu posto dentro da fam�lia dav�dica. sua morte na palestina e em jerusal�m. a mistifica��o de santiago de compostela. andr�, ali�s eleazar, ali�s l�zaro. irm�o de sim�o-pedro e, portanto, de jesus. relacionado com um "tema de ressurrei��o". a ressurrei��o de l�zaro. sobre a d�vida de tal milagre, ignorado por mateus, marcos, lucas e paulo. poss�vel explica��o. judas-bar-judas, o irm�o g�meo de jesus, ali�s tom�s, ali�s lebeo, ali�s tadeu. o procurador cuspio fado o manda decapitar. felipe. � dos que abandonaram o movimento depois da morte de jesus. o que a hist�ria ignora dele. mateus. � dos que desertam do movimento. provavelmente tio de jesus, possivelmente pai de jo�o da gischala, outro chefe zelote que destacar� durante o ass�dio de jerusal�m. bartolomeu, ali�s bar-thalmai. executado por ordem do procurador cuspio fado, depois de sua captura em idum�ia. iochanan ou jo�o o evangelista. tamb�m irm�o de jesus. n�o esteve jamais em roma, mas foi o chefe religioso dos zelotes. morreu em jerusal�m ao mesmo tempo que santiago o menor. as "l�nguas de fogo" do pentecostes. o que foi em realidade o "dom de l�nguas". significado psiqui�trico da "glossolalia". o que era o ritual de tikun chabouth. menahem, o "consolador" anunciado por jesus. neto de judas da gamala, toma massada, logo jerusal�m, faz-se proclamar rei, cai em uma tirania sangrenta e por �ltimo � executado pelos israelitas. sim�o-bar-cleof�s. descendente de david tamb�m, � crucificado em jerusal�m depois de um novo levantamento. sim�o-bar-kokheba. chamado o "filho da estrela", apoiado pelo rabbi skiba, desencadeia a grande revolu��o do ano 135. a princ�pio obt�m a vit�ria, mas logo � esmagado pelas legi�es romanas, e ser� o respons�vel pelo fim de jerusal�m como na��o. maria, m�e de jesus. sua genealogia. suas d�vidas referentes � divindade de seu filho suscitaram a cria��o do personagem imagin�rio de maria de magdala. morreu tamb�m em jerusal�m. as grandes fam�lias: asmonea, dav�dica, herodiana, disputam o trono de israel. a meio-irm� de maria m�e de jesus n�o � outra que mariamna ii, ali�s cle�patra de jerusal�m, novena esposa de herodes o grande. seus compl�s e seu final. o verdadeiro herodes filipo ii: lysanias, meio-irm�o de salom� Ii e seu marido real. o por que do embrulho criado pelos monges copistas.

segunda parte : os segredos do g�Lgota jesus-bar-juda. como se censurou a t�cito, suetonio e flavio josefo, para melhor sustentar a lenda de um deus encarnado. jesus-barrab�s. impossibilidade de uma substitui��o penal em jerusal�m naquela �poca. por que se criou esse personagem imagin�rio, destinado a mascarar a atividade zelote de jesus. o crime do templo. o caminho de jeric� � jerusal�m. o ataque dos mercados e dos peregrinos. a maquiagem das palavras nos relatos iniciais. a verdade sobre a paix�o. impossibilidade da farsa da zombaria, contr�ria �s leis romanas, e sua explica��o; os fatos reais sobre os quais se abordou ulteriormente. o segredo de sim�o de cirene. uma controv�rsia discreta entre os exegetas dos primeiros s�culos. o que mascarava essa discuss�o. a evas�o de jesus. capturado seis semanas antes de pascal, evadido com o acordo t�cito de pilatos, revolta a samaria. � capturado de novo em lydda e devolvido � Jerusal�m, onde � crucificado. duas quedas em desgra�a bastante misteriosas. pilatos � denunciado pelos saduceus por ter permitido a evas�o de jesus e, por conseguinte, a revolu��o dos samaritanos. � exilado � Vienne, onde morre. por sua vez, herodes antipas � tamb�m exilado � Vienne. motivos reais. quando morreu jesus? por que s�o err�neos os dados avan�ados pelos exegetas oficiais. como calcular exatamente o dia e o ano da morte de jesus. o mist�rio da tumba. teve jesus o privil�gio de contar com uma tumba ritual, ou foi arrojado � fossa da inf�mia, como todos os condenados � morte? sobre a incinera��o do cad�ver de jesus em makron, samaria, em 1 de agosto de 362, por ordem do imperador juliano. impossibilidade de que se tratasse de jo�o, o batista. ressuscitados da sexta-feira santa. impossibilidade de admitir tal conto. tratavase de combatentes zelotes ocultos no cemit�rio ritual do monte das oliveiras. a sombra de tib�rio. por que o imperador pensava fazer de jesus um tetrarca, ou inclusive um rei de israel. jesus era um pe�o em sua estrat�gia contra os partos. aos mortos da massada reprova-me que, de vez em quando, entretenha-me com tasso, dante e ariosto. mas � que n�o sabem que sua leitura � a deliciosa beberagem que me ajuda a digerir a grosseira subst�ncia dos est�pidos doutores da igreja? � que n�o sabem que esses poetas me proporcionam brilhantes cores, com ajuda dos quais suporto os absurdos da religi�o? ... benedicto xiv, papa resposta ao r.p. montfaucon (1)

introdu��o um iniciado pode ser o instrumento de uma fatalidade assassina, cujo fim escapa a nossa compreens�o... maurice magre, priscilla d'alexandrie no recinto do templo reservado aos homens, os judeus piedosos se reuniram j�, voltados para o este, com a cabe�a coberta pelo taleth, com os tephilim em m�o, a ponto de salmodiar a ora��o ritual logo que despontasse o sol: "louvado seja, oh eterno, nosso deus, rei do universo, voc� que criou a luz e conservou as trevas... louvado seja, oh eterno, nosso deus, rei do universo, que deu ao galo a intelig�ncia para distinguir o dia da escurid�o ..." na noite escura do �ltimo dia de nis�n, o escuro veludo azul do c�u estava salpicado ainda por mil diamantes. no poente, mais escuro, declinavam as estrelas de khus, o arqueiro, enquanto que no levante, mais claro j�, viam-se ascender pouco a pouco as de ab menkhir, a baleia. foi ent�o quando o grande galo solit�rio do templo, o �nico tolerado na cidade santa, e ao que alimentavam com trigo as m�os fr�geis das filhas dos cohanim, aquele ao que chamavam o avisador, aquele galo cantou, advertindo deste modo aos levita de guarda da sa�da do sol.

ent�o, de toda a cidadela antonia se elevou um clamor ritmado. a coorte da legi�o i, formada em quadrados atr�s de sua �guia e seus pend�es, e conforme era costume em s�ria, saudava a apari��o do sol, e os veteranos, com o bra�o direito levantado, de cara ao astro rei, repetiam a tripla sauda��o ao "sol invictus". n�o era acaso ele, sob o nome de mitra, quem partia invisivelmente a cabe�a deles, assegurando assim a gl�ria de roma em todos os combates? (2) com tonalidades amareladas, amarant�ceas e alaranjadas a crescente luz alagava o horizonte em amplos mantos paralelos e ascendentes, e jerusal�m, como respondendo � chamada do profeta: "recuperava sua luz ..." (3) logo chegaria a alvorada; o frescor noturno desvanecia-se progressivamente, e mil aromas diversos se misturavam ao desejo da brisa e de suas mudan�as de humor, jogando como um gatinho jovem por ruelas e encruzilhadas. ao aroma de metzo, ferik, rechta ou difna, que coziam lentamente da v�spera no forno das fam�lias ricas (pois jud�ia sofria o a�oite da fome), acrescentava-se o aroma, algo �cido, da intimidade das mans�es que ao fim tornaram-se a abrir ao exterior, e tamb�m o perfume de ervas arom�ticas procedentes dos bosques pr�ximos. nos abrigos das velhas depend�ncias do exterior da cidade, sacudindo-se de sua pelagem poeirenta o frescor da noite passada, os pequenos asnos cinzas sopravam sob os primeiros raios de sol, liberando o acre vapor de suas camas de palha. e aqui, dominando tudo, flutuava esse poderoso aroma, formado pelo suor, o couro e as armas engraxadas, que acompanham em qualquer parte aos soldados. os cavaleiros do i augusto estavam, efetivamente, ali, fi�is � terra, completamente silenciosos, na cabe�a de suas guarni��es alinhadas ao longo dos fossos de defesa. atr�s deles, � sombra rosa e ocre das fortifica��es muradas, estava totalmente aberto � porta de damasco, que eles jamais franquearam montados em suas cavalgaduras, dado que a entrada � Cidade santa estava vedada aos cavalos, tanto por respeito aos costumes religiosos judaicos, como por sua inutilidade em uma cidade t�o acidentada como jerusal�m. e a asa legion�ria, acampada muito perto da cidade, acudira simplesmente ao encontro do tribuno de cavalaria, seu chefe, que aconchegou-se no pal�cio do procurador, em uma opera��o preliminar a uma mudan�a de guarni��o. os homens e seus chefes foram equipados exatamente igual � seus companheiros fi�is. um grande escudo oblongo cobria o flanco esquerdo do cavalo, a longa espada regulamentar pendia da cela ao mesmo lado. a sua direita o legion�rio conservava a adaga curta e larga. mas al�m da lan�a dos legion�rios fi�is, este levava em bandoleira um aljava de couro com tr�s flechas de ferro cortante como uma navalha de barbear. separado deles, perto de um grupo de oficiais silenciosos, o tribuno de cavalaria ia e vinha lentamente: parecia estar esperando algo. de repente ouviram os passos de uma pequena tropa armada, chocando-se contra as pedras do caminho, e pouco depois apareceram, � luz do amanhecer, uma trintena de homens. era o destacamento explorador que o tribuno enviara em vanguarda. a cavalaria do i augusto devia abandonar seu acampamento pr�ximo � Jerusal�m, onde era de pouca utilidade em caso de dist�rbios urbanos, para instalar-se em cesar�ia mar�tima, nos limites da plan�cie do saron, frente ao mar. e o tribuno se alegrou de abandonar jerusal�m, essa cidade de fan�ticos, para encontrar-se de novo com a tranq�ilidade das guarni��es romanas e tamb�m com os corpos quentes e m�rbidos das cortes�s idum�ias. porque os quadros superiores de roma n�o tinha direito a levar consigo a suas esposas aos territ�rios de ultramar; o imp�rio temia, e com raz�o, que o clima, ao que as sensuais romanas resistiam bem pouco, e as influ�ncias sobre o car�ter, abrandassem �s guarni��es legion�rias. n�o obstante, antes de empreender a marcha, � alvorada, pelo caminho sinuoso que descendia atrav�s do vale do terebinto, ainda meio escuro, e no que tanto cavaleiros como cavalos constitu�am uns alvos ideais para os arqueiros da dissid�ncia judia, o tribuno de cavalaria mandou um destacamento a efetuar um reconhecimento at� uma certa dist�ncia. depois, uma vez o sol estivesse no alto, a asa legion�ria cavalgaria por um terreno descoberto, onde estaria em condi��es de

responder a qualquer emboscada, e de castigar severamente a seus eventuais agressores. o centuri�o que estava ao mando das tr�s dec�rias de exploradores, reordenou as filas, ordenou o alto, e logo, r�gido sob sua capa escarlate, com o bra�o direito levantado, saudou o magistrado militar: - centuri�o, como est� o caminho? - tranq�ilo e seco, tribuno ... nessas regi�es mediterr�neas, bastante baixas de latitude, as auroras e os crep�sculos s�o muito curtos. e o sol nascente j� come�ava a lan�ar seus brilhos pelo horizonte, irradiando uma nova luz que abra�ava com seus raios as avermelhadas muralhas da antiga cidade de adoni tsedek. no alto, dominando a cidade santa, o ouro e o cobre vermelho do teto e das gigantescas portas do novo templo lan�avam um insuport�vel e deslumbrante fulgor. e sob o ligeiro calor que insidiosamente se deixava sentir, a brisa de repente levou um aroma ao mesmo tempo adocicado e nauseabundo. farejando esse ligeiro vento com um gesto de asco, o tribuno se dirigiu lentamente para o �ngulo do recinto novo, de onde podiam distinguir-se, ao longe, as massas da torre psephinos. entre esta e a porta de damasco se elevava um mont�culo que os judeus chamavam g�lgota, uma palavra hebr�ia que significa cr�nio. segundo uma de suas inveross�meis lendas, era ali onde repousava o corpo incorrupt�vel de ad�o, e era precisamente o cr�nio deste o que estava revestido pela terra daquela colina est�ril. calva como um lugar maldito pelo c�u e pelos homens, a colina tinha, tanto de dia como de noite, um aspecto sinistro. ali era onde, de dia, precipitavam-se em busca de pasto os corvos e abutres. ali era onde, de noite, rondavam com o mesmo fim o chacal e a hiena. pois assim � o destino dos lugares de execu��o, que faz que a morte alimente � vida. no topo do monte calvo se erguiam alguns postes pat�bulos, que pareciam esperar sua sinistra travessa, e tamb�m duas cruzes completas, recortando-se sobre o c�u claro da jud�ia. o tribuno de cavalaria, seguido por alguns oficiais, aproximou-se lentamente, e, ao chegar a curta dist�ncia, deteve-se e olhou. nas cruzes havia dois crucificados. estavam mortos. e possivelmente j� da antev�spera. mas longe estavam j� os tempos em que roma, em sua toler�ncia religiosa, permitia �s fam�lias dos condenados a morte n�o escravos que descessem do ignominioso pat�bulo o cad�ver do ser querido antes do p�r-do-sol, para, segundo a lei judia, "n�o manchar a terra santa de israel". (4) por isso era que, apoiados sobre sua lan�a, com o nariz tampado por sua capa de sua classe marrom, alguns soldados da iii cyrenaica, embora lhes revolvesse o est�mago, montavam um guarda, apesar de tudo vigilante, frente � G�lgota. e � que, por ordem do tib�rio alexandre, os corpos tinham que permanecer nas cruzes pat�bulas at� que a putrefa��o e os rapazes levassem a termo sua a��o natural. assim, conforme tinha declarado o procurador, j� n�o se veria renascer jamais aquela absurda lenda que tinha seguido � execu��o de jesus, o "rei dos judeus", filho primog�nito de judas o galileu, e crucificado quatorze anos antes, em tempos do procurador poncio pilatos. porque seus faccion�rios, os zelotes, bem corrompendo ou embebedando � tropa do templo encarregada da vigil�ncia da tumba, conseguiram apartar a laje sepulcral, recuperando o cad�ver, previamente embalsamado com mirra e alo�s para este fim, e o levaram em segredo � Samaria, onde os judeus n�o podiam penetrar nem efetuar pesquisa alguma. ali o tinham inumado secretamente em uma tumba na apar�ncia ocupada j� por um tal ioannes, ao que os judeus chamavam o batista. e logo seus seguidores afirmaram que ressuscitara. esta vez os criadores de lendas o deixariam francamente dif�cil, j� que n�o havia muitas possibilidades de que, ante os imundos despojos que ficassem fixados a cada um dos pat�bulos, pudessem montar semelhantes fantasias. cada uma das cruzes levava, atr�s da cabe�a do crucificado, uma placa em que se gravou a fogo uma inscri��o triling�e. Na da esquerda podia ler-se: "sim�o-barjud�, crimes e banditismo". na da direita inscrito: "jacob-bar-juda, chefe zelote, idem".

complacente, o tribuno comentou para aqueles dos centuri�es que n�o sabiam ler:

- o da esquerda � o famoso sim�o, chamado tamb�m "a pedra"; era o irm�o de jesus, o rei dos judeus, e lhe aconteceu como rival do herodes agripa, como pretendente ao trono de israel. o da direita � Jacobo, seu outro irm�o, que ao final foi o preferido de suas bandas, mas sua morte tampouco resolve nada, porque deixa um neto, menahem... enquanto roma n�o tenha aniquilado esta fam�lia, n�o teremos paz nestas regi�es. silenciosos, envoltos em suas capas vermelhas, os centuri�es contemplavam os corpos dos justi�ados, pois a asa legion�ria aquartelada na bet�nia n�o havia nem assistido nem participado da execu��o, j� que lhe mantiveram em reserva para o caso de que se produzissem poss�veis dist�rbios. ao redor das duas cruzes, manchadas pela urina e os excrementos dos condenados, formavam redemoinhos se enxames de moscas zumbindo. e o tribuno de cavalaria, por sua parte, revivia a espantosa cena dessa dupla crucifica��o. naquela manh�, muito cedo, a turma de guarda na cidadela antonia arrojou as notas de congrega��o geral, notas repetidas pelos outros diversos aquartelamentos. pouco depois, as grades de antonia abriu-se ao alto da dupla escada de pedra, e apareceram, em filas apertadas, os man�pulos. os homens foram em equipe de assalto, levando unicamente a espada curta e o pilum ou lan�a, e o escudo ao bra�o esquerdo. tomaram a dire��o do g�lgota, lugar incomum das execu��es, para o que convergiam deste modo todos os outros destacamentos. cent�ria atr�s cent�ria, o som r�tmico de seus passos sobre o pavimento tinha congregado pelas ruelas e detr�s das janelas �s multid�es judias de todos os bairros pr�ximos, silenciosas e graves. formados em quadrado, os dois ter�os da coorte dos veteranos colocaram-se ao redor da f�nebre colina, dando-lhe as costas e fazendo frente � multid�o, mantida a respeitosa dist�ncia. de antonia � G�lgota as tropas ordin�rias estavam cotovelo a cotovelo, apertando aos curiosos contra as muralhas, e bloqueando em tripla fila �queles que, em quantidades inumer�veis, vinham amontoar-se pelas ruelas transversais. esperaram longo momento. no intervalo, da cidadela tinha sa�do uma carreta atirada por um escravo, escoltada por alguns legion�rios ligeiramente armados. na carreta havia dois braseiros, sacos de carv�o de lenha, foles, e meia d�zia de flagra, esp�cie de grandes ma�os, cuja manga de madeira se convertia em ferro no extremo superior e levava quatro caixas com bolas de bronze e cujos an�is eram planos e oblongos. e um longo murm�rio temeroso tinha deslocado ent�o entre a multid�o: "os l�tegos de fogo... os l�tegos de fogo...". uma vez chegados � G�lgota, os soldados que, segundo o costume romano, deviam exercer o of�cio de verdugos, dispuseram os braseiros, colocaram carv�o, acenderam e ati�aram o fogo com ajuda dos foles de couro. quando o carv�o j� n�o era mais que brasas ardentes inundaram nele as cadeias dos flagra, cuidando que as mangas de madeira n�o estivessem ao alcance das fa�scas acesas. bruscamente a multid�o se agitou, e, voltando-se, os legion�rios a retiveram e a fizeram retroceder a golpes de escudo ou de mangas de pilum. acabava de sair de antonia um novo cortejo. precedidos e emoldurados pelos homens de um man�pulo completo, dois homens de idade avan�ada caminhavam lentamente, com o torso nu. tinham-lhes baixado as vestimentas at� os rins, e avan�avam com os bra�os em cruz, atados a uma madeira que, � maneira de jugo, repousava sobre seus ombros e sua nuca. do pesco�o de cada um deles pendurava uma prancha que levava uma inscri��o em latim, grego e hebreu: a que devia figurar atr�s de suas cruzes. seus rostos estavam p�lidos e marcados, envoltos por uma cabeleira e uma barba hirsutas, seus olhos ardiam de febre, e de seus flancos palpitantes sobressa�am das costelas. o curto trajeto de antonia � G�lgota realizou-se, em um sil�ncio de morte, ao passo lento dos condenados. para dar maior solenidade � dupla execu��o, tib�rio alexandre tinha proibido o habitual acompanhamento das chorosas. ao p� da colina, o man�pulo deteve-se sob uma ordem breve, e s� uns poucos soldados empurraram com suas lan�as aos dois homens para o topo, ao encontro com seus verdugos.

primeiro despiram completamente aos condenados, logo lhes conduziram para o poste vertical de sua futura cruz. ali, de uma rasteira, fizeram-lhes cair de bru�os, de cara contra a madeira. sujeitaram-lhes fortemente a cintura com uma cadeia, e o pesco�o com outra, os bra�os seguiam atados � travessa que levavam em cima. dois casais de verdugos tiraram, cada um, um flagrum do fogo do braseiro e colocaram em ambos os lados de cada condenado. o situado � esquerda devia golpear em primeiro lugar, e o outro devia seguir. voltaram a cabe�a e esperaram; o centuri�o exactor mortis levantou a m�o, e baixou-a. os verdugos situados � esquerda balan�aram suas cadeias, ao vermelho branco, e, com toda sua for�a, golpearam os flancos dos dois condenados. um horr�vel alarido brotou do peito dos condenados, mas os verdugos, depois de um breve lapso de tempo, arrancaram a carne viva dos flagra, e j� os dos segundos executantes batiam do outro lado, com o mesmo breve lapso de espera e o mesmo golpe para sua extra��o da carne. e as el�sticas e pesadas descargas de ferro vermelho vivo continuariam abatendo-se com cad�ncia, em meio aos gritos de sofrimento e de um aroma de carne chamuscada, abrindo nos flancos e rins dos condenados longos sulcos negruscos, onde, como magras l�grimas, destilavam o soro e o sangue. a intervalos regulares voltavam a introduzir seus flagra no fogo dos braseiros, e os recuperavam de novo quando estavam bem vermelhos. a lei judia (que em mat�ria de castigo n�o utilizava mais que o l�tego de couro) limitava a trinta e nove o n�mero de chicotadas que um condenado podia receber. mas a lei romana n�o fixava nenhum limite no caso de uma condena��o a morte. de todo modo, e a fim de que os condenados n�o morressem sob os espantosos sofrimentos do flagra e padecessem integralmente a crucifica��o que devia seguir, o exactor mortis respons�vel pela execu��o, ao ver que um dos dois homens se desvaneceu, ordenou ao fim: "satis..." (5). os verdugos se detiveram, mas n�o obstante um deles cruzou uma �ltima vez as costas de sua v�tima. o l�tego de videira do centuri�o assobiou e lhe golpeou em pleno rosto. "hei dito bastante ...", exclamou irado. o homem se levou com a m�o a sua cara tumefacta, e n�o pronunciou palavra. desataram aos condenados e os separaram dos postes. a continua��o desenvolveu-se como todas as crucifica��es. fez-se beberem aos dois homens a bebida calmante oferecida pelas mulheres de uma confraria judia que assistia aos condenados a morte. continuando, sem olhares, puseram-os de costas contra o ch�o, e a areia e o cascalho sujo penetraram nas feridas supurantes, pelo pr�prio peso do corpo, fazendo estalar as ampolas e arrancando longos gemidos dos dois desafortunados. simultaneamente cravaram os verdugos um grosso prego nas palmas de suas m�os, e os dobraram a golpes de martelo, fazendo penetrar a cabe�a dos pregos na carne dos dedos. depois levantaram cada homem, de maneira que a madeira ao qual assim parecia introduzira-se no oco disposto para tal fim no poste pat�bulo. ataram-no todo em diagonal, e, para que o peso do corpo n�o rasgasse a palma da m�o, cravaram, sempre a martelada limpa, uma enorme espiga sob as partes sexuais de cada homem, a fim de que suportasse a carga. e o fio do �ngulo de semelhante suporte, ao ferir o per�neo, acrescentava ainda mais dor ao supl�cio do condenado. por �ltimo, e com ajuda de um novo prego para cada um, fixaram ambos os p�s, fazendo ranger os ossos, e logo desataram os antebra�os das ligaduras anteriores. a fim de que os futuros cad�veres pudessem ser atacados comodamente pelos animais carn�voros, seus p�s estavam a menos de dois palmos do ch�o. a tudo isso terei que acrescentar que os membros inferiores e superiores dos dois rebeldes n�o foram previamente quebrados, sem d�vida para que os condenados permanecessem mais tempo com vida. a sede, o calor, as moscas deveriam aumentar os dores f�sicas, j� terror�ficas por si mesmos, pois o sangue e o soro que destilava as costas faziam que se aderissem � rugosa madeira as feridas em carne viva. continuava a febre. para o entardecer acenderam diante deles um abundante fogo de lenha, tanto para iluminar o g�lgota para permitir aos legion�rios da legi�o siria (6) que se esquentassem no frio das noites de nis�n. al�m disso, e por prud�ncia, outras duas

tochas ardiam permanentemente detr�s das cruzes, no alto de umas varas plantadas no ch�o. e pouco a pouco, com a noite, as m�os dos crucificados se crisparam ao redor das enormes pontas dos calvos, e os dedos, j� mortos, produziam o efeito de uma aranha encolhida sobre si mesmo. as cabe�as pendiam sobre o peito, e os corpos desabados, em ziguezague, causavam a impress�o de uma suprema ren�ncia � vida. para os dois moribundos, que tremiam de febre e aos que a asfixia ganhava pouco a pouco, cada hora equivalia a um dia, e cada dia a uma semana. apesar disso, pela segunda vez lhes negou uma morte piedosa e doce. por volta do meio-dia seguinte, obedecendo �s ordens recebidas, o chefe da patrulha de controle deu uma ordem, e um legion�rio de rosto curtido pela idade e as campanhas aproximou-se dos im�veis crucificados. fez deslizar-se e descer a ponta de seu pilum sob a axila direita e, apoiando-a, o soldado foi encontrando o relevo das costelas. � altura de uma delas se deteve e, lentamente, introduziu sua lan�a: da ferida fluiu um pouco de sangue. o agonizante estremeceu-se ligeiramente e voltou a respirar. a seguir o legion�rio dirigiu-se � segunda cruz, e repetiu o processo. e assim o supl�cio durou mais. timidamente, um centuri�o perguntou: "tribuno, n�o foi a conseq��ncia do nascimento dessa supersti��o judia sobre a pseudo-ressurrei��o daquele jesus, por isso tib�rio c�sar promulgou o decreto que castigava � pena capital aos que deslocassem a laje das tumbas para tirar os cad�veres delas ...?". o tribuno refletiu um instante: "sem d�vida, provavelmente foi isso. mas tamb�m para evitar que os da seita de h�cate se apoderem dos despojos f�nebres que necessitam para suas invoca��es mal�ficas ...". seguiu um sil�ncio. logo, acompanhado por seus oficiais, o tribuno de cavalaria retornou sossegadamente � Porta de damasco, onde esperavam os cavaleiros e cavalos, procedentes de seus aquartelamentos de betfage e bet�nia. fez um sinal a um centuri�o, ouviu-se uma breve ordem, e todos montaram em suas cavalgaduras. houve uma segunda ordem e, em sil�ncio, a asa legion�ria ficou em movimento, ao passo, na claridade da manh�, com o �nico ru�do dos cascos de seus cavalos ou o tinido de suas armas. o fogo da noite acabava de morrer em suas brasas ainda avermelhadas, e dos �ltimos ramos com que o alimentaram se elevava ainda, �s vezes, um magro fio de fuma�a cheirosa e azul, s�mbolo de uma do�ura estranha a esses lugares, e que n�o chegava a cobrir o nauseabundo aroma que chegava das cruzes pat�bulas. a certa dist�ncia, posados nos postes que ainda estavam livres, grasnaram um casal de corvos, e logo alisaram suas plumas. invis�vel, mas alegre, um grilo lan�ou desde sua min�scula toca seu canto para o sol. ent�o uma sombra vaga pareceu descer ante a luz. em um v�o silencioso e el�stico, levantando com suas asas o p� amarelo do g�lgota, v�rios abutres abatiam-se pesadamente sobre os crucificados. os primeiros em chegar lan�avam j� para o abd�men, � maneira de seu l�tego, seus pesco�os largos e cortados terminados em um pesco�o farpado e cortante. e com raivosos grunhidos os abutres pin�avam nos cad�veres, afundando sua cabe�a at� o cora��o mesmo das v�sceras, salpicando-se mutuamente com as v�sceras, e com sua plumagem j� manchada. os legion�rios s�rios contemplavam tranq�ilamente este terr�vel espet�culo, apoiados negligentemente em seu pilum. e um deles, depois de ter bocejado de aborrecimento e de sono, pronunciou o velho prov�rbio aramaico: "esteja onde esteja a carni�a, os abutres se reunir�o em volta dela ...". um pouco afastado, o decuri�o que estava ao mando do pequeno grupo de guarda se voltou, com desprezo, e colocando sua m�o por cima da viseira de seu quepe, contemplou o c�u. alt�ssimo, sobre as nuvens, acabava de aparecer um v�o de cegonhas. estas aves brancas, em forma��o, batiam suas asas negras a um ritmo majestoso e regular, e se dirigiam por volta do mar. vinham de muito longe, de al�m das ru�nas de babil�nia e de pers�polis, e logo que come�aram os dias de bonan�a, quando o clima era ainda temperado, empreenderam a fuga para evitar o t�rrido ver�o dessas regi�es. o decuri�o seguia-as com o olhar, silencioso e grave. era um grego, um dos

�ltimos descendentes dos bactr�adas, destronados e dispersados antigamente pela invas�o dos sakas, que desceram de uma parte long�nqua da �sia, e nunca pisaram no ch�o da gr�cia. oprimiu-lhe o cora��o, com seu pesar. as cegonhas foram sobrevoar sua verdadeira p�tria; elas atravessariam possivelmente o c�u de h�lade por cima de corinto, ou, ro�ando a harmonia d�rica do partenon, iriam aninhar no cora��o da acr�poles pelo pelargikon das nove portas que, como suprema honra, os atenienses tinham batizado como a "muralha das cegonhas". e � manh� seguinte, quando remontassem o v�o, iriam beber, sedentas, �s �guas prof�ticas do vale do delfos. eram os s�mbolos viventes da piedade e da bondade no mundo antigo, e conheceriam, sem compreend�-la e sem apreci�-la, uma paz que o decuri�o ainda n�o conhecera jamais, em uma p�tria ainda n�o manchada por dogmatismos limitados nem por fanatismos sanguin�rios, e onde o pensamento do s�bio permanecia livre e imortal. por orgulho ante seus homens, o bactr�ada se tragou as l�grimas que pugnavam por aparecer em seus olhos, e, com seu pesar, seus l�bios murmuraram, pensando nos formosos p�ssaros que se perdiam no espa�o, a sauda��o e o desejo da antiga acaya: "sede felizes ...". mas, devido � emo��o daquele instante, n�o advertiu o f�nebre press�gio. com efeito, as cegonhas voavam da m�o direita � m�o esquerda, e isso era o an�ncio de desgra�a para a terra que acabavam de sobrevoar. notas complementares para falar a verdade, os cavalos n�o estavam absolutamente proibidos na cidade santa, embora o deuteron�mio (17, 16) precisa: "o rei n�o dever� multiplicar seus cavalos". entretanto, parece que sua circula��o foi regulamentada e, sobretudo, proibida nos bairros pr�ximos ao templo; isto era por causa de seus excrementos, que sujavam as sand�lias de qu�o fi�is subiam ao santu�rio. por isso as quadras de salom�o (se � que se tratava realmente das quadras deste rei, e n�o simplesmente das dos templ�rios, coisa que em troca sim que � certa) foram constru�das nos limites do recinto sudeste da cidade, o mais longe poss�vel do templo, e lim�trofes com a porta da fonte, frente ao monte do esc�ndalo (veja-se plano de jerusal�m, cap. 27). primeira parte - os zelotes tudo est� tirado de seus pr�prios autores! para que necessitamos de outros testemunhos, se j� lhes contradizem bastante entre v�s mesmos ... celso, discurso verdadeiro o mundo s� ser� salvo, se o for, por insubmissos.

1 - os zelotes

andr� Gide d�-se o nome de "disc�pulos" aos que est�o submetidos a uma disciplina. esta palavra vem do latim disciplina, que significa regra, lei. entre os judeus, esta disciplina � a lei, a tor�. e agora sabemos que os messianistas, os zelotes ou os sic�rios eram fan�ticos da lei. queriam instaurar em israel uma teocracia em que n�o haveria mais rei que deus, e n�o haveria mestres, a n�o ser ju�zes simplesmente. recha�avam rotundamente toda presta��o de juramentos. releiamos os evangelhos: "mas n�o lhes fa�am chamar rabbi, porque um s� � seu mestre..." (mateus, 23, 8). "mas eu lhes digo que n�o jurem de maneira nenhuma (...) seja sua palavra: sim, sim; n�o, n�o; tudo o que sucede disto, do mal procede". (mateus, 5, 34-37). pois bem, entre os manuscritos descobertos perto do mar morto, nas grutas do khirbet-qumran, encontra-se um "manual de disciplina", esp�cie de ritual de uma estrat�gia militar mesclada com ritos ocultos e cabal�sticos. nele se "ordena" o combate, como uma liturgia oculta, os estandartes levam nome de anjos, que s�o ao mesmo tempo nomes de poder (como uma cabala), e esse ritual de uma batalha ao mesmo tempo oculta e militar evoca indevidamente o local de jeric� (Josu�, 6, 5).

se o dep�sito de qumran se realizou para p�r os manuscritos portadores das escrituras sagradas em lugar seguro, � porque importantes dist�rbios amea�avam sua exist�ncia. essas escrituras sagradas, compostas por manuscritos de diversas �pocas antes de nossa era, deveram gozar do privil�gio de todas as santas escrituras entre os judeus. expressam a palavra divina, ou a dos profetas do senhor. seriam transcritas sobre peles de animais puros, com a tinta ritual, por escribas especialistas. se estes cometiam algum engano de transcri��o, detinham-se imediatamente, n�o podia efetuar-se nenhuma retifica��o (nem raspar), simplesmente se relegava o texto interrompido e imperfeito a um lugar especial, chamado ginnza, junto com os quais lhe precederam, e voltava a come�ar a citada transcri��o. uma vez terminada, seria objeto de uma esp�cie de venera��o por parte dos fi�is da comunidade israelita. o leitor seguiria o texto linha por linha, palavra por palavra, com ajuda de um instrumento especial, a "m�o da tor�". esta consiste em uma vara de madeira preciosa, terminada em uma min�scula m�o de bronze, prata ou ouro. uma vez efetuado o dep�sito de qumran, as escrituras sagradas seriam envoltas cuidadosamente em um pano de linho, e depositadas em vasilhas de terra cozida, no seio da gruta. tendo em conta o respeito imenso que testemunham os fi�is � tais escrituras sagradas, � inimagin�vel supor que para envolver tomassem qualquer trapo usado. isso constituiria uma aut�ntica mancha ritual para os manuscritos, que, assim profanados, fossem inutiz�veis. portanto, o que se utilizaria para envolver os citados textos seriam pe�as de linho novo. pr�tica que, em realidade, � universal neste campo. pois bem, em janeiro de 1951, no instituto de estudos nucleares da universidade de chicago, procedeu-se a uma an�lise dos elementos vegetais que formavam esse tecido, com ajuda do "carbono 14". este procedimento, descoberto pelo doutor w. libby, � j� cl�ssico para as investiga��es arqueol�gicas, e se ap�ia no seguinte princ�pio: todo ser vivo, vegetal ou animal, absorve ao respirar "carbono 14", corpo radioativo que permanece no organismo inclusive depois da morte do vegetal ou do animal. mas o grau de radioatividade diminui de forma regular � medida que o tempo passa, e esse grau pode medir-se. ao apreciar desta maneira o res�duo, pode estabelecer-se com uma consider�vel precis�o a data em que a mat�ria org�nica (vegetal ou animal) deixou de viver. este m�todo foi suficientemente controlado como para que j� n�o fique em d�vida seu valor. e no que concerne �s malhas novas que serviram para envolver os manuscritos do mar morto, quando foram postos em lugar seguro nas grutas de khirbet-qumran, o "carbono 14" permite afirmar que o linho com o qual est�o elaborados foi compilado 1917 anos antes do experimento de chicago. deduzamos 1917 de 1951, e teremos o ano 34 de nossa era, data m�dia da crucifica��o de jesus pelos romanos (7). mas com o "carbono 14" h� uma margem poss�vel de engano de meio s�culo, antes ou depois dessa data. de modo que esses documentos puderam ser ocultos desde ano 15 antes de nossa era, aos 85 desta. tenhamo-lo em conta. isto demonstra, n�o obstante, que posto em lugar seguro os manuscritos foi efetuado em pleno per�odo de dist�rbios. agora bem, os evangelhos n�o nos falam nem da sangrenta revolu��o do censo, quando teve lugar o pretendido nascimento de jesus em pres�pio, nem de uma revolu��o que coroasse o per�odo em que foi crucificado em jerusal�m pelos romanos. e em lugar de uma �poca buc�lica, cheia de do�ura e de paz, � beira do lago do genezaret, encontramo-nos historicamente inundados em uma das inumer�veis e sangrentas revolu��es judias. o leitor que estude a hist�ria do cristianismo nos livros piedosos continuar� ignorando que do ano 68 antes de nossa era ao ano 6 desta (a famosa revolu��o do censo, da qual n�o se fala jamais) houve trinta e seis revolu��es judias, que essas revolu��es representam milhares de judeus messianistas crucificados por roma, cidades e povos incendiados e arrasados v�rias vezes, campos desolados, rebanhos aniquilados e uma fome sangrenta. esse leitor continuar� ignorando que se estabeleceram oficialmente governos judeus. entre o ano 66 e o 58 a.c., quer dizer, em oito anos, contam-se na jud�ia

vinte e seis movimentos surgidos. e isso que as fontes que nos falam do tema emanam de flavio josefo, partid�rio da colabora��o com roma, cujos manuscritos perderam-se e foram substitu�dos por c�pias dos s�culos ix e xii de nossa era, efetuadas no fundo dos conventos pelos famosos monges copistas. membros da dinastia asmonea, expulsos do poder por pompeyo, arrastaram ao povo � revolu��o oito vezes entre o ano 58 e o 27 a.c. organizaram-se umas "guerrilhas" que tentavam periodicamente golpes de for�a. no ano 43 a.c., ezequ�as, pai de judas da gamala, de estirpe real e dav�dica, j� fazia tempo que perseguia �s legi�es romanas. no final o capturaram e crucificaram. costobaro (27 a.c.), bagoas (6 a.c.), judas da gamala e matthiatas (5 a.c.) continuaram a luta contra roma. no ano 6 a.c. levantou-se um governo federal judeu, frente aos estabelecidos por roma, que agrupavam por uma parte a tracon�tide, a batania e a auran�tide, por outra parte galil�ia e perea, e por �ltimo jud�ia, idum�ia e s�ria. esse governo judeu � o de sim�o em jeric�, do pastor athronge na jud�ia e de judas da gamala, filho de ezequ�as, em s�foris. as legi�es romanas esmagaram este �ltimo movimento, e dois mil patriotas judeus foram crucificados. coponio, futuro procurador, aniquilou aos combatentes galileus dentro do mesmo templo, onde se tinha entrincheirado. no curso desse combate foi onde pereceu zacarias, pai do futuro batista, "entre o templo e o altar". finalmente, a cidade foi tomada, incendiada, e seus habitantes deportados e vendidos como escravos (cf. alphonse s�ch�: histoire de nation juive). sem d�vida, maria, seus filhos e suas filhas escaparam a esta sorte mediante uma fuga organizada de antem�o, j� que voltaremos a encontr�-los mais tarde, quando retornaram � Galil�ia. n�o � menos evidente que, quando o imperador juliano declararia mais tarde a s�o cirilo de alexandria, seu antigo condisc�pulo, em uma carta citada por este �ltimo: "o homem que foi crucificado por poncio pilatos era sujeito do c�sar, e vamos demonstrar...". (cf. cirilo de alexandria: contra juliano), empregou o termo servus, que significava escravo, ou obnoxius, que significa o mesmo, porque o termo de sujeito, no sentido que lhe damos agora, traduziria-se por civis, cidad�o. e, evidentemente, jesus n�o era cidad�o romano! por conseguinte, os habitantes de s�foris se converteram todos em "escravos de c�sar", quer dizer, em servos e servas do imp�rio romano, igual a todos os deportados. este era o caso de todos qu�o fugitivos foram ent�o considerados como escravos contumazes. cirilo de alexandria ressaltou a demonstra��o do imperador juliano, a fim de n�o revelar essa condi��o. porque, com efeito, ela implicava a crucifica��o inevit�vel para jesus e todos os seus, e mais ainda quando � este caso se acrescentava o agravante de rebeli�o contra roma. mas naquela �poca terei que fazer recair a responsabilidade da morte de jesus sobre os desgra�ados judeus. essa foi, provavelmente, uma das raz�es do segundo casamento de maria, desta vez com o misterioso zebedeu. (8) e essa condi��o de escravo contumaz, de deportado convertido em servo do imp�rio, �-nos confirmada pelo comodiano de gaza, o mais antigo poeta crist�o, que viveu no s�culo iii, e que nos declara que jesus era "inferior", que pertencia a uma classe "abjeta" (em latim abjectus significa recha�ado, e aplica-se a uma classe social, n�o a uma categoria moral), e precisa al�m disso: "esp�cie de escravo" (cf. comodiano: carmen apologeticum). est� muito claro. jesus estava, pois, classificado pela pol�cia romana dentro da categoria dos rebeldes contumazes, quer dizer, dos "escravos de c�sar" em fuga, por ter escapado � deporta��o do ano 6. esta vida de guerrilheiros � margem da lei, tendo em conta as exig�ncias da sobreviv�ncia, implicava por parte dos zelotes, indevidamente, requisi��es ou inclusive pilhagens. por isso flavio josefo, como bom fariseu aristocrata, julgaos com severidade: "quando festo chegou � Jud�ia, encontrou-a destro�ada por bandoleiros que incendiavam e saqueavam todos os povos. aqueles aos quais se chamava sic�rios -eram bandoleiros- fizeram-se ent�o muito numerosos. serviam-se de adagas curtas,

pouco mais ou menos da mesma longitude que os acinaces persas, mas estavam curvados, como os que os romanos chamam sicae, e com eles esses bandidos matavam muita gente, e a eles devem seu nome". (flavio josefo: antig�idades judaicas, xx, viii. 10.) logo vem essa misteriosa revolu��o que o exame das malhas da gruta de khirbet-qumran com a ajuda do "carbono 14" fez-nos descobrir providencialmente, e cujo relato - coisa curiosa- desapareceu de todas as c�pias dos autores antigos. essas malhas datam aproximadamente dos anos 32-34 de nossa era. abramos aqui um par�ntese. entre os numerosos documentos chamados "do mar morto", existem uns cilindros de cobre cujo texto hebreu p�de ser decifrado em 1456, em gr�-Bretanha, pelo wright baker, na universidade de manchester. s�o do s�culo i de nossa era. est�o redigidos em um dialeto coloquial, o de michna, parte mais antiga do talmud, e n�o em hebreu neocl�ssico. sabe-se (dupont-sommer em seus manuscrits de mer morte) que os zelotes estiveram constitu�dos pela fra��o pol�tica militante dos ess�nios, dos quais por ultimo se separaram. para cecil roth, os homens de qumran (lugar onde foram descobertos todas esses manuscritos) eram zelotes. pois bem, esses cilindros nos falam de um tesouro consider�vel, composto de umas duzentas toneladas de ouro, prata e outras mat�rias preciosas, oculto em sessenta pontos diferentes de terra santa. compreende-se que nero, a quem apesar de tudo repugnava as execu��es in�teis, preferisse fazer pagar aos chefes enormes resgates, e aos militantes ordin�rios os abandonasse �s leis romanas e �s terr�veis pr�ticas que estas implicavam. aqui, uma vez mais flavio josefo demonstra ser um excelente historiador, pois como se v�, suas afirma��es est�o corroboradas pelos cilindros de cobre de qumran. mas voltemos para a luta dos zelotes. quatorze anos mais tarde, jud�ia e galil�ia foram a�oitadas pela fome: o contr�rio seria de sentir saudades. e no ano 47 de nossa era, nova revolu��o importante (houve outras e quanto a isso, j� as veremos). e tib�rio alexandre, procurador da jud�ia, cavaleiro romano, sobrinho de fil�n, manda crucificar aos chefes do movimento, em jerusal�m. como se chamam? chamam-se jacobo (quer dizer, santiago...), e sim�o, e tamb�m eles s�o "filhos de judas da gamala". conforme nos diz flavio josefo, e irm�os de jesus (cf. marcos, 6, 3). e a revolu��o do ano 47 � a continua��o da de 34, que era a continua��o da do ano 6 (revolu��o do censo), que por sua vez era a continua��o das precedentes. observar-se-� que judas da gamala, ao proclamar uma esp�cie de rep�blica judia, no ano 6 de nossa era, cunhou umas moedas que levavam em enxerto esta qualifica��o. deste epis�dio permanece um eco discreto no seio dos evangelhos: "ent�o retiraram-se os fariseus e celebraram conselho para ver o modo de surpreend�-lo em alguma declara��o. enviando seus disc�pulos com herodianos para dizer-lhe: "mestre, sabemos que �s sincero e que com verdade ensinas o caminho de deus, e n�o se te d� de ningu�m, e que n�o fazes acep��o de pessoas. dize-nos, pois, teu parecer: � l�cito pagar tributo ao cesar, ou n�o?". jesus, conhecendo sua mal�cia, disse: "por que me tentais, hip�critas? mostrai-me a moeda do tributo". eles lhe apresentaram um den�rio. e lhes perguntou: "de quem � esta imagem e esta inscri��o?". responderam-lhe: "de c�sar". disse-lhes ent�o: "pois dai a c�sar o que � de c�sar, e a deus o que � de deus"..." (mateus, 22, 15-21). havia, pois, uma moeda que, aos olhos de jesus, era "ortodoxa", e outra que n�o o era. (9) desta filia��o dav�dica roma sempre desconfiar�, muito ou pouco. � testemunho disso a seguinte passagem de eus�bio da ces�rea: "ficavam ainda, da ra�a do salvador, os netos de judas, de quem se dizia que era seu irm�o carnal. denunciou-lhes tamb�m como membros da ra�a de david e o evocatus os transferiu ante o domiciano c�sar..." (eusebio da ces�rea, hist�ria eclesi�stica, iii, xx, i). recordemos que judas era o verdadeiro nome de taoma, o irm�o g�meo de jesus (10) como contam taciano e s�o efr�n. mas � muito dif�cil desentranhar as verdadeiras personalidades de todo este mundo confuso, ou que se fez intencionalmente confuso. julgue-se: "depois da ascens�o de jesus, judas, chamado tamb�m tom�s, enviou ao abgar, rei de edesa, ao

ap�stolo tadeu, um dos setenta disc�pulos ...". (eusebio da ces�rea, hist�ria eclesi�stica, xxx, xx, i.) como se v�, eusebio confirma ao taciano e a s�o efr�n no que diz respeito ao verdadeiro nome do g�meo de jesus. assim, quando lemos um epis�dio evang�lico no que se fala de um tal judas, � poss�vel que se trate de tom�s. porque havia dois personagens com tal nome entre os disc�pulos de jesus. do mesmo modo, quando nos encontramos com o nome do alfeu, pai de santiago o menor, n�o prestamos aten��o a maioria das vezes ao fato de que se tratava de um apelido, e de um apelido em l�ngua grega. porque essa palavra designa a um homem afetado de psoriasis (alphos: herpes branco). seu verdadeiro nome possivelmente era sim�o o leproso, o da bet�nia (mateus, 26, 6; marcos, 14, 3). e do mesmo modo, quando nos encontramos com um tal sim�o o cananeu (marcos, 3, 18; lucas, 6, 15; atos, 1, 13), n�o estabelecemos rela��o alguma com sim�o, o zelote, ali�s sim�o o sic�rio. pois bem, em hebreu um cananeu � o que � do can�, e can�, em hebreu, significa zelo, fanatismo, ci�mes. can�, cidade da galil�ia onde t�m lugar as famosas bodas, �, portanto, o centro de reuni�o dos zelotes, os sic�rios, o centro do integrismo judaico (do grego zelotes: ciumento, fan�tico). e sim�o o cananeu e sim�o o zelote s�o um s� e �nico personagem. e, o que � mais, esse personagem � um ap�stolo (atos, 1, 12-14) e um "irm�o do senhor" (marcos, 6, 3). em can� se encontravam em fam�lia, como o prova o texto de jo�o: "ao terceiro dia houve umas bodas em can� da galil�ia, e estava ali a m�e de jesus. foi convidado tamb�m jesus com seus disc�pulos � bodas..." (jo�o, 2, 1-2.) as rela��es entre galileus e zelotes s�o evidentes, e inclusive indiscut�veis. flavio josefo nos diz deles: "logo os galileus, ao cessar a guerra civil, consagraram-se aos preparativos contra os romanos". (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, manuscrito eslavo, ii, xi.) porque, conforme nos diz mais tarde: "os galileus s�o guerreiros ..." (op. cit., iii, tt.) por outro lado, em nossa �poca, o cardeal jean dani�lou nos diz em sua obra th�ologie du jud�o-christianisme, que: "...aqui os galileus parecem ser outro nome dos zelotes..." (op. cit., p. 84), e "... galil�ia parece ter sido um dos principais focos do zelotismo.� (op. cit., p. 84.) o historiador protestante oscar cullmann observa deste modo em seu livro dieu et c�sar que "aos galileus mencionados em lucas, 13, 1, ter� que identific�los como zelotes ...". agora bem, antes de todas essas autoridades, o imperador juliano, no s�culo iv, utilizava o termo de galileu para designar aos crist�os. portanto, zelotes, galileus, crist�os, foram os termos que designaram sucessivamente aos primeiros partid�rios de jesus, antes de que a heresia paulina tivesse estendido sua confus�o sobre os gentis e sobre os judeus da di�spora. nem sequer o verdadeiro nome de batista deixou que ser mat�ria de investiga��o: "o dom�nio de arquelao foi confiado por c�sar a um de seus oficiais chamado coponio, com poder de vida e morte sobre o que quisesse. e houve em seus tempos um homem da galil�ia que reprovava aos judeus descendentes de abraham o que trabalhassem agora para os romanos, que lhes pagassem tributo, e que tivessem assim uns donos mortais, por haver-se privado do dono imortal. o nome deste homem era judas, e tinha decidido viver afastado, sem parecer-se com ningu�m mais..." (flavio josefo, guerra dos judeus. ii, ii). esse judas era, evidentemente, judas o gaulanita. "e naqueles tempos apareceu jo�o, o batista, pregando pelo deserto da jud�ia. vestia uma pele de camelo, com um cintur�o de couro ao redor dos rins, e se alimentava de gafanhoto e tamb�m de mel silvestre ..." (mateus, 3, 1 e 4.) n�o se apresenta aqui, enganosamente, ao mesmo personagem com outro homem? a verdade � que algu�m se perde, e essa � a finalidade perseguida. o outro santiago, chamado o maior, tem por pai a um tal zebedeu. agora bem, esse nome � totalmente desconhecido na tradi��o judia do antigo testamento. encontramos zabdi (que significa dotado), zabud (filho de natan, i reis, 4, 5),

zabulon (que significa morada), zebul (ju�zes, 9, 28), zebach (ju�zes, 5), zeeb (ju�zes, 7, 25), com o significado de "m�o direita", quer dizer, o membro viril paterno, e isso � tudo. em sua vers�o francesa da b�blia cat�lica, lemaistre de sacy traduz zebedeu por dom, dotada (em feminino), mas o dictionnaire h�breu-fran�ais de sander (paris, 1859), destinado aos rabinos, n�o conhece nenhum zebedeu, e em hebreu traduz dom por tr�s letras: zain-beth-daleth, e isso se pronuncia zabad. depois vem zabdiel, que significa "dom de deus". assim, h� um mist�rio sobre esse zebedeu, pai de santiago, o maior (ou seja, de jacobo o primog�nito), quem tamb�m leva um nome que n�o � hebreu, como alfeu, pai de santiago, o menor (jacobo, o benjamim). toda esta embrulhada selva de nomes que �s vezes se substituem por apelidos, apelidos que trocam ao desejo dos copistas, ou inclusive nomes que n�o t�m nenhuma realidade em israel, tudo isso n�o tem outro objetivo que desviar o leitor que sinta, embora n�o seja, sen�o um m�nimo de curiosidade, e que esteja desejoso de verificar dados. porque n�o se trata de compreender mas sim de acreditar. e aqui o que importa, j� seja apagando o estado da galil�ia e da jud�ia sessenta anos antes de nossa era e sessenta depois (quer dizer, cento e vinte anos de guerras, de rebeli�es desumanas e de repress�es sangrentas, agravadas ainda pelo horror de uma guerra civil permanente entre os terroristas integristas, zelotes-sic�rios, e os judeus colaboradores, fariseus-saduceus), ou embrulhando as pistas nominais e as genealogias, � impedir ao leitor perspicaz que desemboque onde n�s desembocamos: no fato de que jesus � o filho leg�timo de judas da gamala e de maria, sua esposa, o neto de exequias, pai de judas da gamala, e como tal, descendente de david, e rei leg�timo de israel. desde onde esta frase dos atos dos ap�stolos: "reunidos lhe perguntavam: "senhor, � agora quando vais restabelecer o reino de israel? ele lhes disse: 'n�o � para v�s conhecer os tempos e os momentos que o pai fixou em virtude de seu poder...'." (atos, 1, 6-7). o texto grego de qu�o feitos chegou at� n�s � do s�culo iv. inicialmente estava "o pai", ou simplesmente "meu pai"? porque neste ultimo caso ter�amos uma alus�o evidente ao judas da gamala. n�o esque�amos que ao jesus lhe chama "filho do carpinteiro" (mateus, 13, 55), mas em hebreu, heresh significa ao mesmo tempo carpinteiro e mago. se o termo que ter� que ter em conta � este �ltimo, ter�amos uma alus�o a um aspecto particular do pai de jesus, e n�o seria nada desatinado supor que tinha deixado, de antem�o, umas instru��es, das quais se afirmou que eram prof�ticas, que davam o desenvolvimento cronol�gico das guerras zelotes, quer dizer, uma esp�cie de plano de campanha que abrangia um per�odo de tempo bastante longo. pilatos, que representava ao c�sar e ao imp�rio romano, n�o se equivocou ao fazer transcrever em tr�s l�nguas (judia, grega e latina) a identidade oficial de jesus: "jesus de nazar�h, rei dos judeus". por outra parte, observa-se que o vinho, na religi�o de zoroastro, fonte primitiva da de mitra, e especialmente nesta �ltima, simboliza a realeza. pois bem, o que � o que declara jesus? o seguinte: "eu sou a videira verdadeira, e meu pai � o agricultor..." (jo�o, 15, 1) e em mateus (17, 24-26), pretende-se "filho de rei". de modo que, ou jesus copia seu simbolismo da religi�o de mitra (religi�o que para os judeus piedosos era maldita), ou um escriba que estava � corrente desta imaginou tal passagem, no curso de sua reda��o no s�culo iv, e as palavras atribu�das ao jesus s�o inventadas. assim, em quem confiar? notas complementares sobre a analogia dos termos galileus e zelotes, possu�mos outro exemplo, extra�do dos pr�prios evangelhos. lucas (13, 1-4) conta-nos que na ocasi�o da queda da torre de silo�, pilatos mesclou o sangue de dezoito galileus com a de seus sacrif�cios. esta torre, pr�xima � piscina de silo�, formava parte do recinto sudoeste da cidade de jerusal�m, frente ao monte do esc�ndalo. ao vir de qumran, o centro

zelote onde foram descobertos os manuscritos chamados do mar morto, desembocava-se na porta da fonte, e ao penetrar na cidade, na torre. se esta se derrubou, matando assim a dezoito galileus, e se pilatos foi o respons�vel por isso, � que se entrincheiraram ali, porque n�o se derrubou sozinha. esses homens eram, portanto, os zelotes, e como os �nicos sacrif�cios admitidos pela lei judia eram exclusivamente os oferecidos no templo de jerusal�m, a gente pode perguntar-se de que natureza eram esses sacrif�cios que os zelotes ofereciam no seio de uma torre fortificada, e que suscitaram uma interven��o armada da pot�ncia ocupante. 2 - os filhos de aar�o acaso n�o est� seu irm�o aar�o, o levita?... aar�o, seu irm�o, ser� seu profeta... �xodo, 4, 14, e 7, 1 esta simples frase nos fala da exist�ncia de um sacerd�cio independente e individual, ao mesmo tempo adivinhat�rio e m�gico, muito antes de que mois�s tivesse instaurado um pontificado no seio de israel, ainda inexistente como na��o organizada. o leitor se convencer� disso se reler a hist�ria de mica no livro dos ju�zes, nos cap�tulos 17 a 19, ambos inclusive, porque: "essa mica tinha uma capela para deus; fez, portanto, um ephod e um teraphim, isto � vestidura sacerdotal e �dolos: e consagrou a um de seus filhos, que lhe serve de sacerdote.(11) porque naquele tempo n�o havia rei em israel, e cada um fazia o que lhe parecia bom". (ju�zes, 17, 5-6). consagrados por mois�s, aar�o e seus filhos converteram-se no tronco da filia��o sacerdotal e nos antepassados carnais de todos os cohanim (em hebreu: sacerdotes, pont�ficees). a genealogia os mostra como primos dos filhos de david: abraham se casa com sara isaac se casa com rebeca jacob se casa com lea jud� se casa com bath-schua lev� se casa com x ... david se casa com bath-scheba (12) aar�o se casa com elischeba exequias se casa com x ... jud� se casa com myrhiam zacarias se casa com elischeba jesus-bar-jud� iochanan-bar-zacariah sabemos que a corrente integrista dos zelotes estava invariavelmente dirigida: a) por um descendente de david, em posse do poder tempor�rio. b) por um descendente de aar�o, em posse do poder espiritual. e assim, conforme nos diz flavio josefo, com o judas da gamala houve um fariseu chamado saddoc. com o sim�o-bar-kokba esteve rabbi akiba. e com o jesusbar-juda esteve iochanan-bar-zacariah, ali�s jo�o, o batista. por isso o primeiro se submeteu ao batismo, administrado pelo segundo. esta subordina��o de jesus ao jo�o aparece, al�m disso, sublinhada pela frase impaciente de batista, que envia � seus disc�pulos a repreender ao jesus, quem, depois da deten��o de jo�o, retirouse � Galil�ia (mateus, 4, 12), logo � Tiro e ao sid�n, em vez de passar � a��o direta: "� voc� o que tem que vir, ou (afinal) teremos que esperar a outro...? (mateus, 11, 1 a 4). essas diversas constata��es v�o permitir-nos agora indagar quem podia ser esse misterioso saddoc, nome que em hebreu significa "o justo", e que portanto devia ser necessariamente cohen (sacerdote), e descendente de aar�o. para isso, estudaremos atentamente a vida do pai de jo�o, o batista. trata-se de zacarias, em hebreu sacaria. o proto-evangelho de santiago nos fala dele, e associa sua morte, por ordem de herodes, o grande, � famosa matan�a dos inocentes, sobre a que j� fizemos luz na obra precedente. (13) vejamos o que diz disso esse ap�crifo c�lebre: "herodes procurava jo�o, e enviou a seus servidores junto ao zacarias, dizendo: "onde escondeste a seu filho?...". ele lhes

respondeu: "estou ao servi�o de deus, e ligado ao templo do senhor; n�o sei onde se encontra meu filho". os servidores se afastaram e contaram tudo isto ao herodes. e este, irritado, disse-lhes: "seu filho deve reinar sobre israel". e lhes enviou de novo junto ao zacarias, dizendo: "diga a verdade! onde est� seu filho?...". os servidores partiram e contaram tudo isto ao zacarias. e zacarias disse: "eu serei m�rtir de deus se derramas meu sangue. porque o todo-poderoso receber� meu esp�rito, porque � um sangue inocente a que voc� disp�e a derramar � porta do templo do senhor...". e, ao amanhecer, deram morte ao zacarias, e os filhos de israel n�o sabiam que lhe tinha dado morte. na hora da sauda��o os sacerdotes foram ao templo. e zacarias n�o veio, como era costume, ante eles para benz�-los. os sacerdotes se detiveram, esperaram ao zacarias para saud�-lo na ora��o e benzer ao alt�ssimo. como demorava, todos foram presa do medo; um deles, mais valoroso, entrou no templo e viu, perto do altar, sangue coagulado. uma voz dizia: "deram morte ao zacarias, e seu sangue n�o se apagar� at� que chegue seu vingador". ao ouvir estas palavras sentiu medo, e saiu para levar a not�cia aos outros sacerdotes". se tiv�ssemos alguma d�vida, aqui ter�amos confirma��o de sobra que toda esta hist�ria refere-se na realidade, n�o a pseudo matan�a dos inocentes de bel�m da jud�ia, mas � agita��o zelote. porque nos diz: "seu filho deve reinar..." portanto, herodes est� ciente da exist�ncia desse duplo poder no partido zelote, porque o filho de um cohen como zacarias n�o pode acessar ao trono de israel, por ser filho de aar�o, e n�o filho de david. mas herodes sabe que o pretendente ao trono tempor�rio estar� respaldado pelo pretendente ao pontificado, e que os dois co-pr�ncipes ser�o ipso ipso os advers�rios da dinastia idum�ia dos herodes. esse texto do proto-evangelho de santiago pode comparar-se com o de lucas: "zacarias, seu pai, encheu-se do esp�rito santo e profetizou dizendo: "bendito o senhor, deus de israel, porque visitou e redimiu a seu povo, e suscitou a nosso favor um poder salvador na casa de david, seu servo, como tinha prometido pela boca de seu santos profetas desde antigamente, um salvador que nos libera de nossos inimigos e do poder de todos os que nos aborrecem..." (lucas, 1, 67-71). pois bem, trata-se de seu pr�prio filho, o futuro batista, e n�o de jesus. al�m disso, el salvador assim anunciado � nada menos que um messias guerreiro, e n�o um cordeiro... houve rivalidades entre as duas fam�lias? n�o seria imposs�vel, ao menos em um per�odo dado. no s�culo iv, os copistas de eusebio fizeram desaparecer tudo isso. por outro lado, nesse relato se fala de deixar a mancha de sangue de zacarias sobre as lajes do santo templo, at� que chegue "seu vingador"... aqui do que se trata �, indubitavelmente, de repres�lias zelotes, em virtude da lei mosaica de tali�o, porque o de um vingador n�o tem nada de evang�lico. (14) esse vingador ser� seu filho iochanan, o batista, e para convencer-se disso, o leitor n�o ter� mais que reler uma certa passagem de flavio josefo que trata, justamente, do chamado batista: "a seu redor se reuniram gente, porque se sentiam muito exaltados para lhe ouvir falar. herodes (antipas) temia que semelhante faculdade de persuas�o suscitasse uma rebeli�o, j� que as multid�es pareciam dispostas a seguir em todo os conselhos desse homem..." (flavio josefo: antig�idades judaicas, xviii, v, 118). herodes, o grande, tinha mandado matar zacarias por prud�ncia. seu filho herodes antipas far�, pois, matar ao batista pelo mesmo motivo. veja-se a este respeito o cap�tulo consagrado ao tema na obra precedente. (15) e nova confirma��o de tudo o que est� relacionado com as atividades zelotes, imediatamente depois das passagens do proto-evangelho de santiago citados antes. o texto termina assim: "pois bem, eu, santiago, que tenho escrito esta hist�ria, como se produziram dist�rbios em jerusal�m � morte de herodes, retirei-me ao deserto, at� que a agita��o se acalmou em jerusal�m." (cf. protoevangelio de santiago, 25). herodes, o grande, morreu no ano 6 antes de nossa era. esses dist�rbios foram, em realidade, o resultado da primeira revolta dirigida pelo judas da gamala, pai de jesus, contra arquelao, filho de herodes o

grande e seu sucessor designado; iniciaram-se no ano 5 antes de nossa era. e essa foi a verdadeira "fuga ao egito" de maria e de seus filhos menores. foram enviados l�, em lugar seguro, longe dos combates que liberava o chefe da fam�lia, judas da galil�ia. porque naquela �poca, santiago era ainda um menino, e n�o um homem feito, como tende a fazer acreditar, ao silenciar a presen�a de sua m�e e de seus irm�os e irm�s. ele, ou os escribas an�nimos do s�culo iv... ao redigir seu apocalipse, jesus recordar� essa fuga: "e estando gr�vida, gritava com as dores do parto e as �nsias de parir (...) a mulher fugiu ao deserto, aonde tinha um lugar preparado por deus, para que ali a alimentassem durante mil duzentos e sessenta dias". (apocalipse, 12, 2 e 6). o que equivale a quarenta e dois meses. essa perman�ncia no egito foi, portanto, de uns tr�s anos e meio. o drag�o vermelho que persegue � mulher simboliza roma, porque os pretorianos da guarda imperial tinham a cota de armas vermelhas e os centuri�es ordin�rios um manto da mesma cor. as sete cabe�as do drag�o s�o as sete colinas da capital do imp�rio romano, e os dez chifres s�o os dez reis vassalos. e, efetivamente, foram as legi�es de publio quintilio varo, legado de roma em s�ria do ano 6 ao ano 4 de nossa era, quem reprimiu sem piedade esta revolu��o. foram crucificados mais de dois mil rebeldes ao redor de jerusal�m. portanto, foi no curso desta repress�o quando foi assassinado zacarias, tio de jesus, marido de isabel, prima de maria. morreu no 8� dia do m�s de thot, segundo um f�lio do manuscrito n� 1.305 da biblioteca nacional, redigido em copto sah�dico. isto nos d� em 5 de agosto do ano 4 antes de nossa era, quer dizer, o segundo ano da revolu��o, o de seu afastamento final por varo, e este abandonou a seguir s�ria, com dire��o � Germ�nia. como vimos, o combate final desenvolveu-se no templo de jerusal�m, transformado em fortale�a pelos insurretos, e jesus fez alus�o � morte de zacarias, se dermos cr�dito ao texto de mateus: "... para que caia sobre v�s todo o sangue inocente derramado sobre a terra, do sangue do justo abel at� o sangue de zacarias, filho de baraquias, (16) a quem mataram entre o templo e o altar... na verdade lhes digo que tudo isto vir� sobre esta gera��o...". (cf. mateus, 23, 3536). como se v� pelo texto, uma vez mais nos encontramos em presen�a de um jesus zelote, rancoroso, que em modo algum praticava o perd�o das ofensas, pelo contr�rio, a lei de tali�o, coisa que politicamente constitu�a seu direito e seu dever. mas � muito prov�vel que esse texto fora h�bil pelos escribas do s�culo iv, que eram muito anti-semitas, e, al�m disso, estavam obrigados a dar adula��o aos romanos. porque zacarias n�o foi assassinado pelos judeus, como lhe faz dizer ao jesus no evangelho de mateus, mas sim pelos legion�rios de varo ou pelos mercen�rios gregos de arquelao, filho e sucessor de herodes, o grande. sobre o fato de que o zacarias assassinado "entre o templo e o altar" fora o pai de batista, e n�o o profeta "filho de baraqu�as, filho de addo", que viveu sob o dar�o, quer dizer, no s�culo v antes de nossa era, basta-nos como prova o testemunho de or�genes, quem em seu tratado xxvi, cap�tulo xxiii, sobre "s�o mateus", diz-nos que o profeta foi lapidado (cf. ii paralipomenos, xxiv, 20 e seguintes), enquanto que o pai de batista foi assassinado pelas costas. em suas antig�idades judaicas (xvii, ix, manuscrito grego), flavio josefo nos diz que os rebeldes, tomando como pretexto que arquelao n�o mandava castigar aos oficiais de herodes, o grande, que queimaram vivos a qu�o jovens arrancaram do frontisp�cio do templo a �guia de ouro que herodes ordenara inserir, entrincheiraram-se no templo de jerusal�m, que, por sua colossal arquitetura, constitu�a uma verdadeira fortaleza. uma tropa de soldados mercen�rios, mandada por um quiliarca, foi enviada ao templo para apaziguar aos insurretos, mas estes mataram a todos os soldados. ent�o foi quando se iniciou a repress�o, no curso da qual se combateu inclusive dentro do santo lugar, e resultou morto zacarias "entre o templo e o altar", coisa que estritamente n�o quer dizer nada, t�o somente significa que sucumbiu entre o altar e o santo, e por conseguinte, no pr�prio santu�rio. segundo nicol�s de damasco, o n�mero de insurretos superava os dez mil. quanto aos mortos, crucificados ou cansados em combate (como no caso de zacarias), estes se elevaram a mais de tr�s

mil. e aqui se exp�e um problema hist�rico, uma tentativa de recupera��o da verdade. agora � seguro que esse tal zacarias desempenha, ao lado de judas, o gaulanita, o papel de possuidor do poder espiritual, j� que � cohen (sacerdote), e portanto filho de aar�o, qu�o mesmo o chamado judas tem a autoridade tempor�ria como filho de david. n�o � menos certo que iochanan, o batista, seu filho, desempenhou o mesmo papel ao lado de jesus, filho de judas o gaulanita. por conseguinte, seu companheiro de equipe (de jesus) n�o foi judas, seu irm�o g�meo, ali�s tom�s (t�ama: g�meo em hebreu), a n�o ser o chamado jo�o. e isto varre a hip�tese que, como �ltimo recurso, poderiam sustentar alguns de nossos leitores, que, depois da revela��o da exist�ncia de tal irm�o g�meo, imaginariam um jesus todo do�ura (e al�m deificado) e um jesus, provavelmente barrab�s, todo viol�ncia, manchado de numerosas mortes, pilhagens e saqueador desumano de ped�gios e prostitutas. porque jesus e jo�o foram, como se viu, chefes t�o violentos tanto um como outro, do mesmo modo como fossem, irmanados pela mesma paix�o, sim�o-bar-kokba e rabbi akiba, e muito antes que eles judas da gamala e rabbi saddoc. e esta nova constata��o nos abre horizontes inesperados. qual era, ent�o, o verdadeiro nome de zacarias, ou, melhor ainda, qual era o verdadeiro nome de rabbi saddoc? porque, evidentemente, trata-se do mesmo personagem... zacarias significa em hebreu "mem�ria de deus". � uma alus�o ao fato de que a mancha de sangue n�o dever� apagar-se at� que chegue "seu vingador". em realidade, seria mais adequado dizer sakariel, nome de um dos sete arcanjos �s ordens da justi�a divina. saddoc significa em hebreu "o justo", termo evocado pela frase de mateus (23, 35-36), � tamb�m cohen, e portanto filho de aar�o, de modo que seu t�tulo oficial � o de rabbi saddoc. e isso se l�: "mestre justo". seria ele o "mestre de justi�a" dos manuscritos do mar morto? n�o. porque o que citam os textos de qumran � submetido ao supl�cio pelo "sacerdote �mpio", arist�bulo ii, rei e supremo sacerdote de israel por volta dos anos 65-63 antes de nossa era. trata-se provavelmente de on�as, e, segundo a lenda, tamb�m ele apareceu a seus disc�pulos depois de morto. mas como o "mestre de justi�a" recebe tamb�m o qualificativo de "messias de aar�o e de israel" (enquanto que o liberador tempor�rio espera-se simplesmente sob o nome de messias), pensamos que aqui se trata de um t�tulo que designa uma fun��o, e n�o de um nome, que qualificasse uma individualidade. flavio josefo nos conta que, com efeito, o nome de "legislador" era, depois do de deus, objeto de m�xima venera��o. quem blasfemasse sobre ele ou o injuriasse, no seio da comunidade dos ess�nios seria r�u de morte". (cf. guerra dos judeus, ii, viii, 145-152). por conseguinte, no seio dos zelotes, que como se sabe procediam da corrente ess�nia primitiva, da qual constitu�am a ala guerreira, o nome do possuidor do poder espiritual n�o se pronunciava; utilizavam-se circunl�quios, an�logos � regra pitag�rica: autos �pha, ou seja, "ele h� dito..." assim, � prov�vel que esses nomes de zacarias e de saddoc fossem subterf�gios que nos velem o verdadeiro nome do companheiro de guerra de judas da gamala. mas � bem certo que esse personagem foi o pai de batista e o marido de isabel, prima de maria. fica ainda um �ltimo ponto que precisamos dizer de jesus que � "sacerdote segundo a ordem de melquisedec" (salmos, 110, 4; hebreus, 10, 6; 20; 7, 17), � reconhecer implicitamente que possu�a um sacerd�cio comum a toda a descend�ncia de abraham, que foi o primeiro investido com tal sacerd�cio (g�nese, 14, 18), que � qu�o mesmo n�o dizer nada. porque em virtude desta ordena��o heredit�ria um israelita podia efetuar, no seio de sua fam�lia, a cerim�nia da noite s�bado (sabbat), com a b�n��o de kidduch, efetuada sobre a ta�a de vinho, e a do hamotzi, pronunciada sobre dois p�es. e isso � o que permitiu ao david comer os p�es j� consagrados ao yav� pelo pont�fice aquimelec (cf. i samuel, 21, 1 a 6). observar-se-� que, no segundo livro de enoc, diz-se que esse melquisedec foi o filho de sophonim, esposa de nir e irm� de no�. foi concebido em sua velhice sem que ela houvesse "dormido com seu marido", e o iluminou de forma milagrosa, porque estava destinado a ser "chefe dos sacerdotes de outra ra�a". (41, 3-4) agora bem,

este ap�crifo � judeu, e foi descoberto tamb�m em qumran. portanto, dele tirou a lenda de jesus ao que se refere a sua concep��o e nascimento milagrosos. por outro lado, em fun��o da filia��o judaica dos altos graus da francoma�onaria tradicional, � pelo que se pode celebrar o jantar melquisedeciano nos cap�tulos do 18� grau, onde se congregam os "cavaleiros da rosacruz". porque o fundador imagin�rio dos rosacruzes, rosenkreutz, n�o � outra coisa que um ep�nimo, deforma��o do hebreu rocem koroz, que significa "pr�ncipe arauto"...(17) jesus, portanto, n�o detinha a n�o ser uma esp�cie de sacerd�cio laico, se esses dois termos n�o se acoplarem. 3 - os filhos de david todo homem � uma guerra civil ... jean lart�Guy, os libertadores ...

actus apostolorum... praxeis apostol�n

quem quer que esteja, embora um pouco, versado em latim ou em grego, traduzir� corretamente estes t�tulos por atos dos ap�stolos. mas esse plural, ao ler a obra, resultar� bastante decepcionante. com efeito, salvo a segunda parte dos atos, que trata exclusivamente da a��o de saulo, ali�s paulo, dos onze ap�stolos restantes s� se trata na primeira parte; os quinze primeiros cap�tulos s�o tipicamente petrinos, e s�, e de forma muito breve, no primeiro se fala deles. no curso do texto encontraremos simplesmente sim�o, chamado o zelote, quer dizer, pedro (e j� demonstramos na obra anterior que se trata do mesmo personagem, [18]) ao santiago, o maior (jacobo em hebreu) e santiago, o menor. porque o felipe chamado em 7,5 e em 21,8, n�o � outro que o di�cono, eleito com outros seis em 6,5. n�o � portanto o ap�stolo, chamado entretanto, em 1, 13, e que desaparecera n�o se sabe onde nem como. qu�o mesmo andr�, tom�s, bartolomeu e judas, sobre os quais n�o subsistiu no corpus neotestament�rio nada que seja historicamente v�lido. por isso, sobre todos esses homens que n�o foram nunca outra coisa que irm�os e parentes de jesus, e agentes da resist�ncia judia nacional, (19) um n�o pode a n�o ser somar-se � conclus�o de monsenhor d�chense, membro do instituto, que em sua obra les origines du culte chr�tien nos diz que: "os ap�stolos mission�rios, com a �nica exce��o de s�o jo�o, tinham desaparecido sem deixar nenhuma lembran�a concreta. a lenda que logo se apoderou deles, parece hav�-lo feito com tanta mais liberdade, quanto que n�o chocavam a n�o ser com tradi��es muito fugazes..." (cf. d�chense, les origines du culte chr�tien, paris 1903, pp. 14 e 15). ter� que acreditar que este bispo letrado n�o era um historiador muito curioso, j� que se fosse t�o tenaz como n�s, terminaria por descobrir a verdade. a menos que, no interesse do corpo ao qual pertencia, preferisse silenciar seus pr�prios descobrimentos. melhor ainda, clemente de alexandria, disc�pulo de pantenio, que era por sua vez um disc�pulo imediato do ap�stolo marcos (portanto, n�o h� mais que dois elos entre clemente e marcos), diz-nos o seguinte, que confirma a opini�o de monsenhor d�chense, mas que nos p�e no caminho de futuros descobrimentos sensacionais: "escolhidos, n�o todos confessaram ao senhor pela palavra, e n�o todos morreram em seu nome. entre eles se contam mateus, felipe, tom�s, e muitos outros... (cf. clemente de alexandria, stromates, iv, ix). ter� que entender que este autor, um dos grandes escritores eclesi�sticos dos primeiros s�culos (foi o mestre de or�genes), sugere com meias palavras que esses homens, tanto ap�stolos como disc�pulos, desinteressaram-se rapidamente da miss�o que lhes confiara jesus? porque nos atos dos ap�stolos n�o se conta nada deles, e � verdadeiramente curioso. possivelmente possuamos a explica��o desta prudente retirada por sua parte em uma passagem muito curiosa do evangelho segundo mateus: "os onze disc�pulos foram � Galil�ia, ao monte que jesus lhes indicara, e, vendo-lhe, prostraram-se, embora alguns vacilaram... aproximando-se, jesus lhes disse...". (mateus, 28, 1617).

assim, ao v�-lo enfim a plena luz, ele ou seu s�sia, o irm�o g�meo (20), alguns deles, os menos ing�nuos, acreditam que pode tratar-se de um engano. n�o � exatamente jesus, ao menos n�o o que foi crucificado em jerusal�m. h� diferen�as, a maquiagem das pseudo-chagas n�o � perfeita, ou se diluiu um pouco, e alguns estigmas da paix�o, do rosto ou � frente, est�o ausentes ou s�o diferentes; e possivelmente o irm�o g�meo n�o � um s�sia rigorosamente exato. e da� essa d�vida discreta, essa retic�ncia cort�s mas significativa, que condicionar� logo sua retirada da lenda que j� est� em curso de elabora��o. agora se compreende o motivo do desaparecimento do primeiro evangelho de mateus, simples recopila��o em aramaico de senten�as, m�ximas, frases lapid�rias, pronunciadas por jesus enquanto ainda estava vivo. o desaparecimento desse texto se produziu j� na �poca em que o grande or�genes recolhia todo o h�beas judeu-crist�o existente. naquela �poca deplora e reconhece n�o ter � m�o a n�o ser o segundo mateus, o nosso, o pseudomateus. e mais ainda, h� um fato muito estranho: sobre a pretendida chegada de sim�o-pedro � Roma e sobre sua crucifica��o de cabe�a para baixo, a seu pedido, (21) as ep�stolas de paulo, de jo�o, de santiago, e os atos dos ap�stolos, guardam um mutismo total. e no s�culo vi, eusebio da cesar�ia poder� nos dizer, cheio de d�vidas: "os assuntos dos judeus estavam nesse ponto. quanto aos santos ap�stolos e disc�pulos de nosso salvador, estavam dispersos por toda a terra habitada. tom�s, segundo conta a tradi��o, obteve na partilha o pa�s dos partos, andr� a escitia, jo�o a �sia, onde viveu. morreu em �feso. pedro parece ter pregado em ponto aos judeus da di�spora, e na galacia, bitinia, capadocia e �sia". (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, i, 1). rufino, em sua tradu��o latina da obra de eusebio da cesar�ia, acrescenta o seguinte depois de tom�s: "mateus obteve eti�pia, e bartolomeu a �ndia anterior". pouco antes, eusebio nos assinalou, possivelmente involuntariamente, a ambig�idade da tradi��o petrina: "conta-se que sob seu reinado (de nero c�sar), ao paulo cortaram a cabe�a na mesma roma, e que aparentemente pedro foi crucificado ali. e isto confirma o fato de que, at� agora, d�-se os nomes de pedro e paulo aos cemit�rios de tal cidade". (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, ii, xxv, 5). suponhamos que um cataclismo destru�ra nossas bibliotecas. dentro de dois mil�nios aproximadamente se deduziria que as ru�nas do arco do triunfo albergam a tumba de um general chamado de gaulle, apoiando-se com todo argumento em: a) a presen�a de uma tumba e de um esqueleto, ou de suas cinzas; b) o culto rendido em 11 de novembro de cada ano, durante lustros, ao homem ali inumado; c) o fato de que semelhante monumento n�o podia em modo algum ter sido ereto sobre a tumba de um soldado de segunda classe, e para o c�mulo, completamente desconhecido de identidade e de comportamento guerreiro; d) o nome mesmo, dado ao lugar sobre a que tinha sido ereto o arco. e isso � o que aconteceu, pouco a pouco, com o nome dado a esse cemit�rio em roma, quatro s�culos depois da morte dos interessados. de fato, os "santos ap�stolos do senhor" n�o escreveram jamais nada de todo o legend�rio que nos apresenta e administra h� vinte s�culos bem cumpridos. se duvid�ssemos disso nos bastaria relendo o dictionaire de th�ologie catholique: "clemente de alexandria conheceu tamb�m algumas tradi��es orais procedentes, n�o dos pr�prios ap�stolos, mas sim do meio apost�lico..." em outras passagens recorda esse car�ter oral: "os presb�teros n�o escreviam". (cf. clemente de alexandria, ecogloe propheticae, xxvii). "esta doutrina chegou at� n�s verbalmente (n�o escrita) dos ap�stolos..." (cf. clemente de alexandria, stromates, vi, vii, 61). por essas declara��es sem ambig�idade se v� o que ter� que acreditar sobre a autenticidade dos pseudo-evangelhos redigidos pelos mesmos ap�stolos. 4 - ezequias-har-gamala os mortos das batalhas perdidas s�o as raz�es para esperar que tenha vencidos ... marcel pagnol: la fille du puisatier

no ano 46 antes de nossa era, herodes, segundo filho de antipater, � o governador da galil�ia por ordem de c�sar. tem ent�o uns vinte e sete anos. depois de inumer�veis persegui��es e combates, seus mercen�rios idumeus e s�rios conseguem capturar ezequias, que causa estragos em s�ria, ent�o prov�ncia romana, desde seus inexpugn�veis redutos da alta galil�ia; herodes o manda crucificar. (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xvii, x). este epis�dio situa-se, provavelmente, no ano 43 antes de nossa era. em seguida, herodes � chamado a comparecer ante hircano ii, pont�fice e rei de israel, da dinastia asmon�ia (os macabeus), quem lhe reprova verbalmente a morte de ezequ�as. herodes consegue fazer-se absolver, tanto gra�as a uma boa defesa, como � sombra enfurecida de roma, que hircano n�o se atreve a confrontar apesar de tudo (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xiv, xvii); com efeito, o legado imperial interv�m em seguida em seu favor: "que fique isento herodes de todo processo, tanto se tiver incorrido em falta como se n�o". esta � a imperativa ordem que sexto c�sar, governador de s�ria e parente de julio c�sar, dirigiu nesta ocasi�o ao hircano ii. (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, manuscrito eslavo, i, iv). tanto se tiver incorrido em falta como se n�o... sexto c�sar reconhecia aqui implicitamente o car�ter leg�timo do combate levado a cabo por ezequ�as. e ent�o se exp�e outra quest�o: como hircano ii, pont�fice e rei de israel, p�de sentir-se indignado pelo fato de que herodes mandasse executar ao cabe�a de uns bandoleiros? pois simplesmente porque esse "bandoleiro" era, em realidade, o chefe da estirpe real, um "filho de david"; esse rei "em pot�ncia" provavelmente tinha recebido j� a un��o entre seus seguidores, e seu banditismo era, de fato, a manifesta��o da resist�ncia judia. hircano ii, embora tinha um sucessor leg�timo na pessoa de seu irm�o arist�bulo ii, n�o esqueceria que a dinastia asmon�ia era uma usurpadora do trono de israel, e que a legitimidade real e religiosa, associadas, repousavam no seio da filia��o dav�dica. porque, como pont�fice supremo, n�o esqueceria a promessa divina, essa promessa que o profeta natan recebeu do eterno e que tinha ordem de comunicar ao david: "quando seus dias tenham chegado ao c�mulo e tenha repousado com seus pais, eu farei subsistir a semente que sair� de suas v�sceras... por isso ser�o est�veis sua casa e seu reino para sempre ante mim... (cf. ii samuel, 7, 12, 16). pois bem, esse ezequias tinha um filho, que lhe sucederia em cabe�a do movimento. 5 - juda-har-gamala a guerra e a fome vagavam por nossas cidades, e n�s grit�vamos, desesperados, nos supl�cios: quando vir� a nosso lado, liberdade? quanta demora, justi�a! maurice magre, le po�te et la cit�, la libert� "havia deste modo um tal judas, filho de ezequ�as, aquele tem�vel cabe�a de bandoleiros a quem antigamente herodes n�o conseguisse apreender a n�o ser depois das maiores dificuldades. esse judas reuniu ao redor de s�foris, na galil�ia, uma tropa de desesperados, e efetuou uma incurs�o no pal�cio real. apoderou-se de todas as armas que se encontravam ali, equipou com elas a todos quantos lhe rodeavam, e se levou todas as riquezas que recolhera de tal lugar. aterrorizava a todos em volta por causa de suas invas�es e seus saques, que tinham como meta alcan�ar uma elevada fortuna e inclusive as honras da realeza, j� que esperava elevar-se a tal dignidade, embora n�o mediante a pr�tica da virtude, a n�o ser precisamente mediante os excessos da injusti�a" (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xvii, x). deixemos ao flavio josefo e seu rancor (porque as teve com os zelotes), e constatemos que, de fato, ao apoderar do pal�cio real de s�foris, e ao expulsar dele �queles aos quais considerava usurpadores (herodes, o grande, e toda sua corte), judas-bar-ezequ�as n�o fez a n�o ser vingar a seu pai e recuperar seus leg�timos bens. ainda mais que h� uma zona de sombras bastante misteriosa em tudo isso. logo o veremos. maria-bath-ioachim, a m�e de jesus e a esposa de judas da

gamala, nascera em s�foris, e nessa primeira fase que entrou em guerra, judas-barezequ�as possivelmente tinha outras contas que arrumar das quais j� n�o sabemos nada, pois maria era tamb�m de filia��o dav�dica, e sua fam�lia era rica, como logo veremos. e isto tende a demonstrar que judas da gamala e seu pai ezequ�as n�o foram uns bandoleiros ordin�rios, como pretende flavio josefo, mas sim existiu uma doutrina, que foi elaborada por ele e que logo se converteu na de todo seu movimento. em suas antig�idades judaicas, flavio josefo nos descreve quatro seitas que se repartem o povo hebreu. primeiro cita aos fariseus e os saduceus, logo aos ess�nios. e a seguir uma quarta: "mas um tal judas o gaulanita, da cidade da gamala, acompanhou-se de um fariseu chamado saddoc, e se precipitou na rebeli�o. pretendiam que tal censo n�o trazia consigo a n�o ser uma servid�o completa, e apelavam ao povo a que reivindicasse sua liberdade... a quarta seita filos�fica teve como autor a esse judas, o galileu. seus sect�rios concordam em geral com a doutrina dos fariseus, mas sentem um invenc�vel amor pela liberdade, j� que julgam que deus � o �nico chefe e o �nico senhor".( cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xviii, i). esse judas da gamala, chamado tamb�m judas da galil�ia ou judas, o galaunita, cujo nome de circuncis�o era judas-bar-ezequias, morreu no curso da segunda revolu��o do ano 6 de nossa era. teve v�rios filhos, dos quais pelo menos seis pereceram de morte violenta, em m�os de roma e de seus procuradores. o mais c�lebre foi, evidentemente, jesus, seu filho primog�nito. 6 - sim�o-pedro alguns eruditos dizem que s�o pedro n�o esteve jamais em roma; e o papa se viu em dificuldades na hora de replicar a tais s�bios... s� S�o paulo � indubit�vel que esteve ali... martin lutero, wider das papsttum vom teufel gestiftet de fato, a lenda da morte de sim�o-pedro em roma n�o apareceu nem tomou corpo at� princ�pios do s�culo iii. j� precisamos as circunst�ncias em uma obra precedente. (22) por isso � que o papa pio xi (cardeal achille ratti, 1857-1939) p�de declarar, em privado, naturalmente, que em sua opini�o "era seguro que s�o pedro n�o p�s jamais os p�s em roma...". � evidente. e, com efeito, sim�o-pedro desaparece bruscamente, em s� algumas linhas, dos atos dos ap�stolos. fora detido por ordem de herodes agripa i (rei da jud�ia desde ano 37, rei da jud�ia e de samaria desde o ano 41, morto em 44). sim�o-pedro estava encadeado, dormindo entre quatro soldados do chamado herodes agripa. um anjo lhe apareceu no curso da noite, e as cadeias se soltaram. seguiu ao anjo, e as comportas abriram-se sozinhas, misteriosamente, ante ele. uma vez na rua, o anjo desapareceu e pedro recuperou o contato com a realidade. dirigiu-se ent�o, a toda pressa, a casa de �maria, m�e de jo�o, de apelido marcos", deu-se a conhecer � servente rodeh atrav�s da porta, e mandou aviso ao santiago e a seus irm�os de sua libera��o. isso significa que: "depois saiu e se foi a outro lugar...". (cf. atos dos ap�stolos, 12, 6 a 17). e j� est�... (23) isso � tudo, e nunca mais ouviremos falar de sim�o-pedro no relato apost�lico. e dom j. dupont o. s. b., cuja vers�o dos atos dos ap�stolos seguem na b�blia de jerusal�m, conclui, tranq�ilizado no que se refere � sorte de sim�opedro, mas sem demonstrar tampouco muita curiosidade pelo que segue: "encontramos aqui uma pequena hist�ria cheia de vida, de detalhes pitorescos, de prod�gios populares...". (op. cit., p�g. 115). de prod�gios populares. recordemos o termo, � perfeito. ao menos este exegeta n�o � v�tima de toda essa perp�tua fantasmagoria. porque relatar o fim de sim�o-pedro e de jacobo-santiago, crucificados ambos no ano 47 em jerusal�m, por ordem de tib�rio alexandre, procurador de roma, "por ser filhos de judas de gamala, (24)" seria descobrir o bolo. mas � evidente que o tal sim�o, como todos outros, morreu na palestina. por tratar-se de uma regi�o submetida por excel�ncia � revolu��es espor�dicas, esta prov�ncia estava sujeita a uma vigil�ncia especial por parte das autoridades romanas. e se se t�m em conta os postos militares, com barreiras, e �s vezes inclusive leva (como as famosas portas cil�cias que separavam s�ria de

cil�cia e obturavam um estreito desfiladeiro), postos que cortavam todas as vias de comunica��o, e que terei que franquear necessariamente para passar de uma prov�ncia a outra (abonando as inevit�veis taxas de passagem, como � �bvio, tanto para os homens como para os animais), tendo em conta que terei que justificar de maneira v�lida uma peti��o de embarque com destino � It�lia, a causa do decreto de tib�rio c�sar (no ano 19), confirmado pelo de claudio (em 49), pelo que se expulsava da it�lia aos judeus livres, e n�o se permitia que permanecessem ali mais que os escravos do lugar e que eram propriedade de um dono, tendo em conta todas essas consider�veis dificuldades, n�o vemos como sim�o-pedro, chamado o zelote, quer dizer, o sic�rio, ou tamb�m sim�o ishkarioth, quer dizer, o "matador" (lucas, 6, 15, e atos, 1, 13), com tal reputa��o, obteria das autoridades romanas ocupantes a permiss�o e o visto que facilitassem uma viagem � Roma, capital do imp�rio romano. e al�m disso, a que teria ido ali? todo o movimento zelote, que desde que se produzira a morte de jesus, seu irm�o maior, (25) o dirigia ele, ajudado por jacobo-santiago, "irm�o do senhor" (cf. paulo, ep�stola aos g�latas, 2, 9), tinha seus interesses e seus motivos, assim como as atividades pol�ticas que resultavam de tudo isso, exclusivamente na palestina. recordemos a recomenda��o de jesus: "n�o v�o aos gentis nem penetrem em cidade de samaritanos; mas v�o �s ovelhas perdidas da casa de israel ..." (mateus, 10, 5-6, e 15, 24). e clemente de alexandria (stromates, vi, v, 43), e eusebio de cesar�ia (hist�ria eclesi�stica, v, xviii), contam que jesus ordenou aos ap�stolos que n�o se afastassem de jerusal�m durante doze anos. isto nos leva ao ano 47 de nossa era, e este ano � precisamente o da morte de pedro e de santiago, crucificados em jerusal�m. como se v�, esses vers�culos constituem a nega��o mesma da miss�o que se atribuir� logo saulo-paulo, e justificar�o a desconfian�a, e logo a hostilidade, que lhe testemunhar�o os sucessores de jesus na cabe�a do messianismo pol�tico. por outro lado, tentando afirmar essa estadia de pedro em roma, o papa pio xii fez efetuar longas e custosas escava��es a fim de provar que seus restos foram descobertos sob a bas�lica de s�o pedro de roma. de fato, s� se encontraram, em um esconderijo das muralhas da base, algumas ossaturas n�o identificadas. tamb�m podia tratar-se dos vest�gios de um sacrif�cio de funda��o, rito tr�gico que os col�gios romanos de construtores conservaram durante longo tempo, j� que, inclusive sob os imperadores crist�os, as fam�lias proibiam aos meninos e aos adolescentes que, ao cair a noite, aproximassem-se das grandes pedreiras de constru��o. por certo que, depois desta burla oficial, o r.p. maxime gorce, arque�logo e provincial dos dominicanos, abandonou indignado a igreja cat�lica, e passou � Igreja anglicana. de todo modo, esses restos t�o penosamente descobertos seriam a contradi��o do que se oferece � venera��o dos fi�is na bas�lica de s�o jo�o de letr�n, ou seja, um tabern�culo, em cima do altar papal, que encerra, segundo a tradi��o da igreja, os cr�nios de pedro e de paulo. tal bas�lica, constru�da originariamente pelo papa milc�ades por ordem de constantino, destru�da e restaurada v�rias vezes, incendiada no ano 1308, reconstru�da por clemente v, volta a incendiar em 1360, volta a reconstruir sob urbano v, deve possivelmente todas suas desgra�as ao bem conhecido antagonismo desses dois ap�stolos, que n�o podiam sofrer-se mutuamente. e essa inflamada antipatia se perpetuaria ent�o post mortem, sobretudo se saulopaulo estava detr�s da deten��o e a execu��o de pedro e de santiago, como tudo tende a fazer acreditar. estudamos em outra obra a t�cnica das "interpola��es com reengaje" que utilizaram (e das que abusaram) nossos falsificadores an�nimos do s�culo iv. (26) aqui nos limitaremos a p�r de manifesto a que foi utilizada pelos mesmos para fazer acreditar que jesus confiou a dire��o de sua "igreja" ao sim�o-pedro. pretens�o que, por outra parte, cai por si mesmo se se recordar que, para ele, a cria��o de uma organiza��o religiosa com proje��o no futuro era absolutamente impens�vel, j� que o chamado jesus afirmava que o fim do mundo estava pr�ximo e que tudo isso devia acontecer "antes de que esta gera��o passe". (mateus, 24, 34;

marcos, 13, 30; lucas, 21, 32). coloquemos, pois, em evid�ncia a impostura dos escribas "�s ordens de...". tomamos nossas cita��es da vers�o cat�lica romana de lemestre de sacy: marcos, 8, 27-30; mateus, 16, 13-20; lucas, 9, 18-21: "ia jesus com seus disc�pulos �s aldeias de cesar�ia de filipo, e no caminho lhes perguntou: quem dizem os homens que sou eu? eles lhe responderam: uns, que jo�o batista; outros que elias, e outros, que um dos profetas. ele lhes perguntou: e v�s, quem dizem que sou eu? respondendo pedro, disse-lhe: voc� � o messias". fragmento interpolado "e lhes encarregou que a ningu�m dissessem isto dele". "vindo jesus � regi�o de cesar�ia de filipo, perguntou a seus disc�pulos: quem dizem os homens que � o filho do homem? eles responderam: uns, que jo�o o batista; outros, que el�as, outros, que jerem�as ou outro dos profetas. e ele lhes disse: e v�s, quem dizem que sou eu? tomando a palavra sim�o-pedro, disse: voc� � o messias, o filho de deus vivo". "e jesus, respondendo, disse: bem-aventurado voc�, sim�o-bar-jona, porque n�o � a carne nem o sangue quem isto te revelou, a n�o ser meu pai, que est� nos c�us. e eu digo a t� que voc� � pedro, e sobre esta pedra edificarei eu minha igreja, e as portas do inferno n�o prevalecer�o sobre ela". "ent�o ordenou aos disc�pulos que a ningu�m dissessem que ele era o messias". "aconteceu que, orando ele a s�s, estavam com ele os disc�pulos, aos quais perguntou: quem dizem as multid�es que sou eu? respondendo eles, disseram-lhe: jo�o batista; outros, el�as; outros, que um dos antigos profetas ressuscitou. disse-lhes ele: e v�s, quem dizem que sou eu? respondendo pedro, disse: o ungido de deus". "jesus lhes proibiu com amea�as dizer isto". � f�cil constatar que a famosa passagem conhecida como o das "chaves" foi interpolada, e isso em uma �poca em que ter� que impor a supremacia do bispo de roma sobre todas as demais. o evangelho de jo�o, por sua parte, ignora tudo isto. em conclus�o, al�m do princ�pio dos atos dos ap�stolos (1, 13), onde se evoca sua exist�ncia embora de forma muito r�pida, n�o sabemos nada canonicamente v�lido sobre esses onze homens, j� que o que compunha doze fora executado por eles ou por ordem deles, como conseq��ncia de sua trai��o (sobre a morte de judas iscariotes remetemos ao leitor � obra precedente). (27) tal como assinala monsenhor duchesne, e antes dele clemente de alexandria, todos desapareceram de repente e sem fazer ru�do na hist�ria. esse sil�ncio foi intencionado. muitos s�culos depois, um dominicano italiano, jacques de voragine, que morreu em 1298, redigiu um amplo comp�ndio hagiogr�fico ao qual intitulou, com toda franqueza, legenda �urea, quer dizer, a lenda dourada. portanto, n�o se trata mas sim de lendas e de nada mais, do contr�rio teria intitulado seu livro hist�ria aurea, hist�ria dourada. al�m disso, a gente pode perguntar-se de que documentos, ignorados ou desconhecidos, disporia no s�culo xiii, al�m dos arquivos secretos do papado. e se essas pe�as existissem como deve ser, e fossem conservadas, n�o deixariam de nos expor isso ainda em nossos dias. e tal n�o � o caso. mas o m�todo hist�rico deve ser implac�vel, e n�o se deve deter nem limitar por nenhum tabu. al�m disso, o verdadeiro historiador e curioso por natureza; h� nele um pouco de juiz de instru��o. e, como deforma��o profissional, todo sil�ncio lhe parece suspeito, pois � uma negativa a dar resposta. por conseguinte, essa negativa oculta algo muito importante, e portanto � a� onde ter� que afundar. em contrapartida, o historiador conformista n�o � mais que um simples histori�grafo, um d�cil compilador, e seu papel � muito diferente. partindo desses princ�pios b�sicos, n�s aprofundaremos na segunda parte o "secreto da igreja" (28), esse segredo evocado pelo juramento do bispo o dia de sua consagra��o, e � t�o secreto que o pontifical romano s� fala em singular: concilium vero ... esta segunda parte do segredo tem rela��o com os "filhos de david", portanto, � conveniente estudar antes suas caracter�sticas geneal�gicas.

voltemos, pois, agora aos outros filhos de judas da galil�ia, e vejamos o que diz a respeito flavio josefo: "foi sob este �ltimo precursor (tib�rio alexandre) quando sofreu jud�ia a enorme car�ncia de mantimentos que fez que a rainha elena (rainha de abdiadena) comprasse trigo do egito a elevado pre�o para distribui-lo aos indigentes, tal como disse antes. foi tamb�m naquele momento quando capturaram aos filhos de judas da galil�ia, que incitaram ao povo a rebelar-se contra os romanos quando quirino procedia ao censo de jud�ia, como contamos precedentemente. esses dois eram jacobo e sim�o. alexandre ordenou crucific�-los..." (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xx, v, 2). � evidente que jacobo, nome hebraico, � nosso santiago ap�stolo (em latim: jacobus; em grego: jacobos). seu companheiro � nosso sim�o, por apelido pedro. e por esta raz�o � que n�o se encontra j� nenhum rastro mais dele depois do s�nodo de jerusal�m (atos dos ap�stolos, 15), nem tampouco de seu irm�o santiago, ali�s jacobo. eusebio da cesar�ia, em sua hist�ria eclesi�stica, qu�o �nico confirma � que se achava em jerusal�m "durante a �poca da fome" (op. cit., iii, vii, 8), o que nos confirma que se trata, efetivamente, de nosso personagem. encontramo-nos, pois, nos anos 46-47, e tudo coincide � perfei��o. assim, sim�o-pedro e santiago, o maior, (29) ali�s sim�o-bar-juda e jacobo-bar-juda segundo seus nomes de circuncis�o, foram crucificados juntos, em jerusal�m, sob o procurador tib�rio alexandre. observe-se tamb�m que sempre lhes cita como insepar�veis: "logo, passados tr�s anos, subi � Jerusal�m para conhecer cefas (ali�s sim�o-pedro), a cujo lado permaneci quinze dias. a nenhum outro dos ap�stolos vi, se n�o foi ao santiago, o irm�o do senhor". (cf. paulo, ep�stola aos g�latas, 1, 18-19). sim�o-pedro n�o morreu, portanto, em roma no ano 64 ou 67 (n�o se est� muito seguro da data), crucificado de cabe�a para baixo a pedido dele. faltaria, pois, saber onde esteve e o que fez durante os dezessete ou vinte anos que separam o ano 47, em que desaparece do novo testamento, sob o claudio c�sar, de sua pretendida morte em roma, no 64 ou 67. agora bem, sim�o-pedro e santiago, seu irm�o, t�m outros v�rios irm�os mais, e isto n�o o inventamos: "n�o � acaso o carpintero, (30) filho de maria, e o irm�o de santiago, de jos�, de judas e de sim�o? e suas irm�s n�o vivem aqui entre n�s...? (marcos, 6, 3). jesus, por outro lado, faz uma alus�o muito clara � suas rela��es familiares e de sangue com sim�o-pedro, quando lhe diz: "bem-aventurado voc�, sim�o-bar-jona (em ac�dio: o anarquista, o fora da lei), porque n�o � a carne nem o sangue quem isto te revelou, a n�o ser meu pai, que est� nos c�us ..." (mateus, 16, 17). o que quer dizer claramente que o fato de que jesus seja o cristo, em hebreu o messiah t�o esperado, sim�o-pedro o reconhece n�o por efeito de uma simples tradi��o familiar, por causa dos la�os da carne e do sangue, mas sim por uma verdadeira intui��o espiritual de origem divina. o que implica, por outra parte de jesus, a confiss�o impl�cita dos la�os familiares e de sangue com sim�o-pedro, coisa que nos ocultou sempre cuidadosamente. sobre a absoluta certeza de que os termos de irm�os e irm�s n�o devem tomarse no sentido de primos e primas, e sobre a demonstra��o que disso fizemos, remetemos � obra precedente. (31) esse "carpinteiro" do qual fala marcos � Jesus. e ent�o, silogismo inatac�vel, se santiago (jacobo) e sim�o (sim�o) s�o irm�os de jesus, e se forem deste modo filhos de judas da galil�ia, � que este �ltimo tamb�m o �. e se este descobrimento satisfaz ao historiador equilibrado e sincero, � porque pode concluir que maria, sua m�e carnal, concebeu-o como se concebe a todos os filhos dos homens. nenhum arcanjo veio a fecund�-la em nome de um esp�rito santo, terceira "pessoa" de uma trindade divina desconhecida em israel, j� que semelhante hip�tese constituiria uma blasf�mia sobre a unicidade divina. e, o que � mais, os disc�pulos de jo�o, o batista ignoraram sempre que houve um esp�rito santo: "ele (paulo) achou ali alguns disc�pulos e lhes disse: "recebestes o esp�rito santo ao abra�ar a f�?". eles lhe responderam: "nem sequer

ouvimos que exista um esp�rito santo?..." (cf. atos dos ap�stolos, 19, 1-3). observemos de passagem que maria foi milagrosamente fecundada pela orelha, como assegura �s vezes o povo ordin�rio em s�o de brincadeira: "no mesmo instante, enquanto a virgem santa dizia essas palavras e se humilhava, o verbo de deus penetrou nela por sua orelha ... e no mesmo momento come�ou o embara�o da santa virgem". (cf. o livro arm�nio da inf�ncia, v, 9). ter� que confessar que para a popula��o judia, imbu�da da c�lebre salmodia ritual: "schema israel! adonai elohenou! adonai echad!...", quer dizer, "escuta, oh israel! yav� � nosso deus, yav� � um s�..." (deuteron�mio, 6, 4), ver que lhes ensinassem que h� tr�s deuses diferentes em um s� representaria pura e simplesmente uma blasf�mia. por outra parte, a afirma��o injuriosa, lan�ada ulteriormente por alguns talmudistas, de que jesus foi o bastardo adult�rio de maria e de um legion�rio s�rio chamado bar-panteros, n�o tem fundamento, uma vez descoberto seu marido real, pai leg�timo de seus filhos. e agora vamos poder estabelecer a ficha de filia��o de cada um dos outros ap�stolos, e ver o que foi deles. para relembrar � mem�ria, recordemos seus nomes dados por mateus (10, 2), lucas (22, 14), e atos (1, 2). s�o: sim�o, andr�, santiago, o maior, jo�o, felipe, bartolomeu, mateus, tom�s, santiago, o menor, tadeu, judas iscariotes. n�o fazemos figurar ao d�cimo segundo, chamado sim�o, porque j� demonstramos sua identidade como sim�o-pedro. n�o obstante, parece-nos necess�rio efetuar um �ltimo resumo em rela��o a ele, j� que h� contradi��es que n�o podem reduzir-se ao sil�ncio se n�o se contribu�rem com argumentos apropriados: por l�gica, o sim�o apelidado o zelote (lucas, 6, 15; atos,1, 13), o cananeu (marcos, 3, 18), ou o iscariotes (jo�o, 6, 70), ao que jesus chama bar-jona (em ac�dio: fora da lei), ao que herodes agripa i faz capturar em jerusal�m no ano 45 de nossa era (atos, 12, 3), � o mesmo personagem que sim�o filho de judas da gamala, e portanto, zelote como seu pai, e a quem o procurador tib�rio alexandre mandou crucificar com seu irm�o jacobo (santiago) no ano 47 em jerusal�m (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xx, c, 2). negar esta identidade parece-nos, portanto, uma grande imprud�ncia, j� que seria sublinhar que jesus n�o se rodeava mas sim de extremistas, partid�rios de toda viol�ncia. n�o podemos deixar o personagem de sim�o-pedro sem mostrar uma vez mais a desavergonhada falsifica��o sofrida pela hist�ria, ao passar pelo c�lamo dos escribas an�nimos do s�culo iv. vejamos um mesmo epis�dio, relatado primeiro por flavio josefo, e logo por eles: "aconteceu que um judeu de jerusal�m, chamado sim�o, que tinha a reputa��o de conhecer bem a lei, convocou � multid�o a uma assembl�ia enquanto o rei (herodes agripa i) tinha partido para � Cesar�ia, e ousou acus�-lo de impuro e de merecer ser expulso do templo, cujo acesso n�o estava permitido a n�o ser �s pessoas do pa�s. uma carta do prefeito da cidade fez saber ao rei que sim�o discutira assim ao povo, o rei lhe mandou acudir � Cesar�ia e, como ent�o se encontrava no teatro, fez-lhe tomar assento a seu lado. logo, com calma e suavidade, disse-lhe: "me diga se houver aqui algo que esteja proibido pela lei..." o outro, n�o sabendo o que responder, rogou-lhe que lhe perdoasse. ent�o o rei se reconciliou com ele mais r�pido do que se esperava, posto que julgava que a suavidade era mais digna de um rei que a c�lera, e sabia que � grandeza conv�m mais a modera��o que o arrebatamento. e deixou ir sim�o, depois de lhe haver devotado inclusive um presente". (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xix, viii, 4). � evidente que este epis�dio � o equivalente daquele dos atos no que vemos o sim�o-pedro e aos outros que "estando todos reunidos no p�rtico de salom�o, ningu�m dos outros se atrevia a unir-se a eles, mas o povo os tinha em grande estima". (cf. atos dos ap�stolos, 5, 12-13). porque se n�o se atreviam a unir-se a eles, � que suas arengas eram muito comprometedoras, n�o se tratava dos lugares comuns sobre o amor ao pr�ximo ou a boa conduta moral. e por isso o prefeito de jerusal�m, que representava ao rei herodes agripa i, acreditou-se na obriga��o de advertir a este �ltimo. a continua��o, como acabamos de ler em flavio josefo, reza com aquilo de que bem est� o que bem acaba, e esse relato est� dentro da

plausibilidade mais evidente. mas vejamos no que se converte essa hist�ria sob a pluma de nossos piedosos falsificadores: "por aquela mesma �poca, o rei herodes maltratou alguns membros da igreja, e deu morte, pela espada, ao santiago, irm�o de jo�o. (32) vendo que isto era do agrado dos judeus, mandou capturar tamb�m ao pedro. isto acontecia durante os dias do p�o �zimo. depois de hav�-lo capturado e encarcerado, p�-lo sob a guarda de quatro esquadras de quatro soldados cada uma, com a inten��o de faz�-lo comparecer ante o povo depois de p�scoa. assim, pedro estava na pris�o, e a igreja n�o cessava de dirigir ora��es a deus, rogando por ele. "a noite que precedeu ao dia em que herodes ia faz�-lo comparecer, pedro, preso por duas cadeias, dormia entre dois soldados; e havia uns sentinelas diante da porta, guardando a pris�o. e eis que apareceu um anjo do senhor, e uma luz brilhou na masmorra. o anjo despertou pedro, dando-lhe uns toques no flanco e lhe dizendo: "te levante r�pido!". as cadeias ca�ram de suas m�os. e o anjo lhe disse: "ponha o cintur�o e as sand�lias". e assim o fez. o anjo lhe disse ainda: "te envolva com seu manto e me siga". pedro saiu e o seguiu, sem saber que o que fazia o anjo era real, e imaginando que era v�tima de uma vis�o. quando passaram pelo primeiro guarda, e logo o segunda, chegaram � porta de ferro que conduz � cidade, e esta se abriu sozinha diante deles, sa�ram e entraram em uma rua. e em seguida o anjo abandonou pedro. "ent�o pedro, voltado em si, disse: "agora me dou conta de que realmente o senhor enviou seu anjo e me arrancou das m�os de herodes e de toda a espera do povo judeu". depois de ter refletido, foi � casa de maria, a m�e de jo�o, por apelido marcos, onde estavam muitos reunidos e orando. golpeou a porta do vest�bulo e saiu uma serva chamada rodeh, que logo reconheceu a voz de pedro, fora de si de alegria, sem abrir a porta, correu a anunciar que pedro estava no vest�bulo. eles lhe disseram: "est� louca". insistia ela em que era assim, e ent�o disseram: "ser� seu anjo". pedro seguia golpeando, e quando lhe abriram e lhe conheceram, ficaram estupefatos. lhes fazendo sinal com a m�o de que calassem, pedro lhes contou como o senhor lhe tirara do c�rcere, e acrescentou: "contem isto ao santiago e aos irm�os". depois saiu e foi a outro lugar". (cf. atos dos ap�stolos, 12, 1-17). todo coment�rio seria, evidentemente, in�til. mas ainda assim, permitimos nos assombrar de que sim�o-pedro, que estava t�o severamente vigiado, conservasse ao alcance da m�o toda seu pequeno equipamento: manto, cintur�o e sand�lias. e do mesmo modo, � igual a surpresa que o redator an�nimo dos atos dos ap�stolos, que nos afirma que foi lucas, secret�rio de s�o paulo (33), quem freq�entou ao pedro, ignore tudo que se refere ao lugar aonde acudiu este �ltimo, assim como as atividades posteriores deste. porque jamais volta a aparecer pedro nos relatos dos atos, e t�o somente nos inteiramos de sua sorte �ltima atrav�s de flavio josefo. h� ainda um ponto a assinalar sobre a inexist�ncia da no��o de um pont�fice a princ�pio do s�culo iv: eusebio da cesar�ia, ao redigir sua c�lebre hist�ria eclesi�stica, em sua primeira metade, n�o conhece outra coisa em roma que um bispo como outros. julgue-se: "os mesmos recomendaram ao irineu, que ent�o era o sacerdote da cristandade de lyon, ao bispo de roma do que se acaba de tratar... (op. cit. v, iv, 1). o c�nego bardy, em suas notas �s tradu��es de eusebio, observa (op. cit, v, iv, 2): "o t�tulo de padre n�o � aqui a n�o ser um termo de respeito. sabe-se que, mais tarde, sob a forma de "papa", converter-se-� no t�tulo reservado ao bispo de roma". isto aparece sublinhado ainda por outra passagem de eusebio: "para mim, recebi esta regra e este modelo de nosso bem-aventurado papa heraclas" (op. cit. vii, vii, 41). agora bem, heraclas era simplesmente bispo de alexandria. da� a nota do c�nego bardy: "a palavra papa aplica-se ainda nesta �poca a todos os bispos". sobre o de "bispo de roma", simplesmente, e n�o "o papa", citemos ainda, do mesmo eusebio da cesar�ia: hist�ria eclesi�stica, v, xxiv, 9; xxv, 14; xl, iii, 3; vi, xlvi, 3; iv, v, 2; vii, v, 3, vi; vii, vii, 6; v, 21, etc�tera.

assim, no s�culo iv, para o historiador oficial da igreja dos primeiros s�culos, n�o existe nenhuma papa cabe�a da igreja, s� h� um bispo de roma, sem mais, igual, mas n�o superior, a todos outros. e necessitar-se-�o s�culos e s�culos para chegar a ver os fi�is, ignorando tudo da hist�ria de sua religi�o, prosternar-se ante um homem quase deificado, e beijar devotamente sua sand�lia, com grande esc�ndalo dos primeiros doutores da reforma. notas complementares nos atos dos ap�stolos (9, 36-42), vemos sim�o-pedro ressuscitando a um tal tabitha-dorcas, que figura "entre os disc�pulos" (sic) e que vive em joppe. agora bem, em guerra dos judeus, de flavio josefo, vemos um tal jo�o (iochanan), da cidade de gischala da galil�ia, chefe zelote insurreto, levantado contra roma, que "... querendo matar tamb�m �queles, enviou a um assassino chamado tabitha...". (op. cit., iv, ii, manuscrito eslavo). e o manuscrito grego da mesma obra o diz: "... filho de dorcas", quer dizer, em hebreu: x...-bar-tabitha. a partir da� � f�cil estabelecer nosso silogismo. a) maior: tabitha-dorcas � um disc�pulo de jesus (atos, 9, 36), e figura entre eles, em joppe; b) menor: este tabitha-dorcas tem um filho, chamado x...-bar-tabitha, que � um sic�rio, sob as ordens de jo�o da gischala, chefe zelote insurreto; c) conclus�o: esses "disc�pulos de jesus" n�o s�o, pois, outra coisa que zelotes, que contam entre eles elementos ainda mais extremistas (sic�rios), coisa que a continua��o nos confirmar� (veja o cap�tulo 8), j� que, segundo flavio josefo, esse jo�o era: galileu, mago e aspirante � realeza, o que demonstra que era, mais que provavelmente, "filho de david" ele tamb�m. como se v�, ca�mos sem cessar nos mesmos ambientes, e n�o sa�mos da mesma fam�lia. sobre a pseudo-tumba de pedro em roma, cf. maxime gorce, la verit� avant tout (paris, 1959, j. vitiano �dit.). 7 - os irm�os santiago s�o os ricos os que lhes oprimem e lhes arrastam ante os tribunais, e s�o eles os que blasfemam do formoso nome que foi invocado sobre v�s. ep�stola de santiago, ii, 6-7 se duvid�ssemos de que santiago da ep�stola � um zelote, bastar-nos-ia continuando a leitura, pois � muito edificante sobre este particular: "agora lhes toca a v�s, ricos! chorem, gritem pelas desgra�as que vai abater sobre v�s! suas riquezas est�o podres, e suas vestimentas ro�das pelos vermes. seu ouro e sua prata est�o oxidados, e sua ferrugem se elevar� em testemunho contra v�s: como um fogo devorar� sua carne. amassastes seus tesouros nos �ltimos dias! grita contra v�s o sal�rio dos oper�rios que t�m feito a colheita em seus campos e do que lhes privastes! e os gritos desses colhedores chegaram at� os ouvidos do senhor dos ex�rcitos..."(34) (op. cit. v, 1-5). est� muito claro, e t�o mais que a citada ep�stola est� dirigida "�s doze tribos que est�o dispersas", quer dizer, a toda a di�spora. como observa muito exatamente charles guignebert: "...o interesse que lhe concede � grande, porque aparece como muito pouco crist�o, muito judaizante, e antipaulino). (cf. charles guignebert, o cristo, i, i.) sobre os dois ap�stolos que levam esse nome, o maior e o menor, reina uma confus�o provavelmente intencionada, e organizada para o s�culo iv. eusebio da cesar�ia nos diz, com efeito, o seguinte: "houve dois santiagos: um era o justo, que foi precipitado do pin�culo do templo e golpeado at� a morte com uma fortifica��o de batanear, e o outro, que foi decapitado". (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, ii, i, 5.) seja o que for, para o teofilacto, bispo de acrida, em bulgareia, antes de 1078, a "maria, m�e de santiago" citada em lucas (24, 10), e evocada em jo�o (19, 24-27), n�o � outra que a "th�otok�s", quer dizer, maria m�e de jesus (cf. seu coment�rio sobre o protoevangelio de santiago, citado pelo abade emile amann em prot�vangile, paris, 1910, letouzey �dit., imprimatur paris, 1910).

temos, pois, um bispo do oriente que, no s�culo xi, ignora, ou nega, a perp�tua virgindade de maria, e o que � pior, sabe que jesus e santiago s�o verdadeiros irm�os, no sentido de consang�inidade da express�o. o c�nego g. bardy, tradutor, comentarista e anotador da obra de eusebio da cesar�ia (imprimatur: divione, 1951), ao p� da p�gina 50 do quarto tomo acrescenta as seguintes nota: (9) "nesta passagem, clemente (hypotyposes, livro vii) parece n�o conhecer mais que a dois santiagos: o justo e o irm�o de jo�o. haveria, pois, que concluir que identifica ao justo com o filho de alfeu, que � mencionado nos evangelhos como um dos doze; cf. m-j. lagrange, op. cit., p�gina 87. esta conclus�o n�o se imp�e absolutamente. em outro lugar (stromates, vii, 93-94), clemente faz de santiago, o justo, um filho de jos�. e o mesmo adumbrat.in epist. canonicas, fragmento 13, staehlin edit., iii, 206". "(10) clemente de alexandria, hypotyposes, fragmento 13, staehlin edit., iii, p. 199. staehlin atribui inclusive a frase seguinte a clemente. pelo contr�rio, os editores de eusebio atribuem-na ao historiador. sobre estes fragmentos das hypotyposes, veja-se th. zahn, forschungen, iii, p. 73 e ss." tentemos ver claro, embora n�o seja nada f�cil. herodes agripa i morreu em cesar�ia, na primavera, e provavelmente em 10 de mar�o do ano 44 (no calend�rio gregoriano, quer dizer, o 1 no calend�rio juliano), de uma morte muito digna, como nos precisa flavio josefo (antig�idades judaicas, xix, viii), e n�o escandalosa, como pretendesse o an�nimo autor dos atos dos ap�stolos (12, 21-24). seria ele quem mandou decapitar ao santiago "irm�o de jo�o", e portanto "filho de zebedeu", se dermos cr�dito aos mesmos atos (12, 1-2), e isso teria lugar em jerusal�m, ao mesmo tempo que procedia � deten��o de sim�opedro. j� vimos que tudo isso era falso (veja o cap�tulo 6). desde esse momento, permitimo-nos expor algumas quest�es bastante embara�osas: a) se santiago (jacobo), filho de zebedeu e irm�o de jo�o, foi segundo os atos dos ap�stolos, decapitado em finais do ano 43 ou princ�pio do ano 44 em jerusal�m, por ordem de herodes agripa i, como p�de evangelizar a espanha e morrer nela, se sua tumba se encontrar oficialmente na bas�lica de santiago de compostela, na extrema ponta noroeste da espanha atl�ntica, o que implica que tinha que passar necessariamente pelas "colunas de h�rcules" (gibraltar), coisa que, naquela �poca, era uma verdadeira aventura marinha? na realidade, at� o s�culo vii n�o come�aria a difundir a lenda de santiago evangelizando a espanha, e foi na primeira metade do s�culo ix quando uma estrela resplandeceu acima de um campo, assinalando assim a tumba do ap�stolo, at� ent�o ignorada. o rei alfonso ii de ast�rias aproveitou em seguida a ocasi�o e mandou erigir uma igreja que os �rabes infi�is, insens�veis ao piedoso engano, fizeram demolir a seguir. b) se foi s� seu cad�ver o que foi milagrosamente transportado pelos ares ao famoso campo de "compostella", como p�de evangelizar a espanha uma vez morto? c) se de verdade evangelizou em vida a espanha, depois da morte de jesus, e se, depois de retornar imediatamente � Jud�ia, foi decapitado ali nos anos 43 ou 44, exp�em-se outras perguntas: 1) como p�de em t�o pouco tempo evangelizar essa mesma espanha, e uma regi�o desconhecida, onde a pr�pria roma logo que tinha acesso? 2) por que retornou imediatamente � Jud�ia, para que ali lhe decapitassem, ignorando assim a sorte que lhe esperava? 3) por que, depois dessa execu��o, foi transferido milagrosamente seu cad�ver � ponta atl�ntica extrema dessa "prov�ncia" romana, que n�o o era mais que de nome, e que virtualmente se limitava � suas regi�es mediterr�neas? porque, afinal de contas, o santu�rio de compostela representa, h� numerosos s�culos, um imenso ingresso para a cristandade, e a venda do livro dos atos dos ap�stolos tamb�m. ent�o, pois, qual dos dois obt�m uma arrecada��o il�cita, e portanto impura? como se v� por tudo isto, os escribas iniciais, desejosos de velar a qualquer pre�o a verdadeira personalidade dos dois jacobo-santiago, embrulharam-se

mutuamente em suas reda��es trucadas. e isso aconteceu por falta de uma sincroniza��o de seus trabalhos comuns, imposs�vel de obter naquela �poca pela aus�ncia de comunica��es regulares. a verdade, como sempre, � muito mais singela. recapitulemos. santiago, o maior, foi crucificado no ano 47, com sim�o-pedro, � sa�da do s�nodo de jerusal�m, durante a �poca de fome que seguiu � nova insurrei��o dos zelotes (veja o cap�tulo 6). n�o foi absolutamente decapitado por ordem do rei herodes agripa i, porque o rei benevolente e generoso que nos descreve flavio josefo, o rei que perdoa inj�rias e as cal�nias de sim�o-pedro e o deixa partir logo ap�s dando-lhe inclusive alguns presente (veja o cap�tulo 6), n�o tinha nenhuma raz�o para fazer cortar a cabe�a a seu irm�o, e � ao tib�rio alexandre, procurador de roma, a quem ter� que imputar esta dupla crucifica��o. e se dermos cr�dito � Clemente de roma em sua i ep�stola e � carta de ignacio de antioqu�a aos romanos, sim�o-pedro foi executado depois de ser denunciado (cf. clemente de roma, i ep�stola, v). n�o � necess�rio procurar nada, o respons�vel por tal den�ncia foi saulo-paulo (35), e nela estava inclu�do tamb�m santiago. santiago, o menor, por sua parte, foi lapidado no ano 63, por ordem de anan�as, pont�fice de israel e saduceu, quer dizer, da casta conservadora e pr�romana, e bastante materialista, j� que recha�ava a imortalidade da alma e as recompensas p�stumas. esta execu��o, como teve lugar durante a suspens�o do jus gladii, por ordem de roma, e situou-se no intervalo de tempo que separou a sa�da do procurador festo e a chegada de seu sucessor albino, foi a causa da destitui��o de anan�as. de todo modo, a condena��o foi aplicada por crimes de direito comum: banditismo, saques, ataque a m�o armada, embora inspirados por motivos indiscutivelmente pol�ticos, e os crimes de direito comum dependiam da justi�a romana, n�o da do sanedr�n, pois este n�o julgava a n�o ser os delitos religiosos. da� a san��o contra anan�as. e aqui temos a prova: "uma vez morto festo, nero deu o governo da jud�ia ao abino, e o rei agripa tirou o supremo sacerd�cio de jos�, para dar ao anan�as, filho de anan�as. esse anan�as pai foi considerado como um dos homens mais afortunados do mundo, j� que gozou tanto como quis de tal dignidade, e teve cinco filhos, que a possu�ram, todos, depois dele, coisa que jamais aconteceu a nenhum outro. anan�as, um deles, e de que falamos agora, era um homem audaz e empreendedor, e da seita dos saduceus, que, como dissemos, s�o os mais severos de todos os judeus, e os mais rigorosos em seus julgamentos. escolheu o per�odo em que festo tinha morrido, e albino ainda n�o tinha chegado, para reunir um conselho ante o que fez apresentar-se ao santiago, irm�o de jesus, de apelido o cristo, e a alguns outros, acusou-os de ter transgredido � Lei, e os condenou a ser lapidados. esta a��o desagradou extraordinariamente a todos aqueles habitantes de jerusal�m que tinham piedade e um verdadeiro amor pela observ�ncia de nossas leis. enviaram secretamente ao rei agripa, para lhe rogar que ordenasse ao anan�as que n�o voltasse a fazer nada semelhante, j� que o que fizera n�o tinha desculpa. alguns deles foram ante albino, que fora � Alexandria, para lhe informar do que acontecera, e lhe comunicar que anan�as n�o poderia nem deveria reunir esse conselho sem sua permiss�o. ele entrou em seus sentimentos e escreveu ao anan�as encolerizado e amea�ando-lhe com que o faria castigar. agripa, ao lhe ver t�o irritado contra ele, retirou-lhe o supremo sacerd�cio, que n�o tinha exercido mais que durante quatro meses, e o concedeu ao jesus, filho de damneus. "quando albino chegou � Jerusal�m, empregou toda sua aten��o em devolver a calma � prov�ncia, mediante a morte de uma grande parte desses ladr�es. nesses mesmos tempos, anan�as, que era um supremo sacerdote de grande m�rito, ganhava o cora��o de todo o mundo. n�o havia ningu�m que n�o o honrasse, por causa de sua liberalidade". (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xxi, viii). � perfeitamente evidente que todo esse fragmento do manuscrito de flavio josefo sofreu modifica��es dos monges copistas, e al�m modifica��es pouco inteligentes. porque: a) nos diz que anan�as e seus filhos sucederam no supremo sacerd�cio, e ao mesmo

tempo que um deles sucedeu a um tal jos�. h�, portanto, contradi��o; b) nos diz que santiago, irm�o de jesus (� Santiago, o menor, porque o maior morrera com sim�o-pedro no ano 47), foi lapidado junto com alguns outros por ter transgredido � Lei judia. agora bem, essa mesma lei judia, da qual os saduceus eram observadores t�o estritos, pro�be pronunciar v�rias condena��es de morte no mesmo dia. contra isso � contra o que protestaram os habitantes de jerusal�m, mas n�o contra o fato de condenar a violadores da lei, porque o fato de protestar por isso seria violar tamb�m a lei... santiago, o menor, e esses "outros" foram, pois, julgados e condenados por outros motivos? quais? aqui est�o: c) o �ltimo par�grafo dessa cita��o nos diz que albino "empregou toda sua aten��o em devolver a calma � prov�ncia, mediante a morte de uma grande parte desses ladr�es." mas, onde se tinha falado de ladr�es em todo o texto precedente? em nenhuma parte. ao menos n�o no relato dos monges copistas, porque no de flavio josefo sim que se falava! qu�o mesmo nos cap�tulos precedentes, j� que nos detalha as exa��es dos sic�rios. de fato, a passagem que os monges copistas suprimiram cuidadosamente nos dava, com efeito, o relato da execu��o de "santiago (jacobo), irm�o de jesus, de apelido o cristo", mas n�o se tratava somente da viola��o dos usos religiosos da lei judia, mas sim de uma viola��o do direito comum puro e simples. nessa passagem retirada pelos copistas figurava o termo de "ladr�es", j� que a ele se refere a continua��o. mas nossos copistas mais ou menos ignorantes, tendo em conta a �poca (alta idade m�dia), soletrando penosamente linha por linha, seguindo com o dedo, palavra a palavra, n�o liam t�o comodamente como n�s, e n�o viram que sua interpola��o n�o enquadrava com a continua��o do texto. a fim de evitar utilizar uma tradu��o contempor�nea que pudesse refletir os apliques ideol�gicos e as prefer�ncias religiosas dos tradutores, tomam o texto de flavio josefo na tradu��o de arnauld d'andilly (1588-1674), tradutor de v�rias obras religiosas, irm�o maior de antoine arnauld, o "grande arnauld", defensor dos jansenistas contra os jesu�tas, e de ang�lique, sua irm�, abadessa de port-royal. santiago, o maior, morreu, pois, numa idade bastante avan�ada, por volta do ano 63 de nossa era. e sua morte ser� muito rapidamente vingada por seu sobrinho menahem, neto de judas da gamala, e esse menahem far� dar morte ao anan�as, em jerusal�m no curso da revolu��o de mar�o do ano 64, que preludiou a grande guerra judia que se declarou oficialmente no ano 66. (36) "toda sua vida -conta-nos epifano- santiago se absteve de banhos, e n�o cortou nem os cabelos nem a barba". sua morte foi a de um judeu ortodoxo somente, segundo flavio josefo. mas hegesippo, citado por eusebio da cesar�ia (cf. hist�ria eclesi�stica, ii, xxiii), assegura-nos que foi a de um bom crist�o. pouco limpo, em todo caso. e fica o "irm�o santiago", chamado o maior. segundo os atos dos ap�stolos (12, 1), herodes agripa i o mandou decapitar em jerusal�m. isso � pouco prov�vel, dado que tal soberano era piedoso, indulgente e bom (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xix, vii). "a natureza desse rei o inclinava a ser benevolente por seus dons e a tentar dar a seus vassalos um alto conceito de sua soberania... alegrava-lhe agradar �s pessoas, gostava que lhe elogiassem seu modo de vida, coisa em que era totalmente diferente do rei herodes (o grande), seu predecessor". (op. cit.) seu comportamento com sim�o-pedro confirma o fato por flavio josefo (veja o cap�tulo 6). como conclus�o diremos que santiago, o menor, foi lapidado, efetivamente, por ordem de anan�as, pont�fice de israel, por atividades zelotes e como guerrilheiro mais ou menos misturado com atos de banditismo, no ano 63 de nossa era, e que santiago, o maior, fora crucificado no ano 47, por ordem de tib�rio alexandre. 8 - andr�, ali�s l�zaro santo andr�, crucificado, prega durante dois dias � vinte mil pessoas. todos lhe escutam, cativados, mas ningu�m pensa em liber�-lo... jules renard, journal este fim em uma cruz em forma de sinal de multiplica��o concorda com a

tradi��o mais comum. de todo modo, s�o pedro cris�logo, em seu serm�o 133, assegura que foi pendurado numa �rvore. veremos no que segue que houve uma terceira solu��o, a crucifica��o romana, provavelmente. esse personagem aparece citado em mateus (4, 18, e 10, 2), marcos (1, 29; 3, 18; 13, 3), jo�o (1, 41; 6, 9; 12, 22), e nos atos (1, 13). eusebio da cesar�ia o cita deste modo em sua hist�ria eclesi�stica, em iii, i; ii, e em iii, xxxix, 4. este autor declara que os atos de andr� s�o considerados como ap�crifos em sua �poca, dado que s� o receberam seitas her�ticas crist�s j� separadas da grande igreja geral. em iii, 2, 1, j� citado, diz simplesmente que andr�, "por isso conta a tradi��o, obteve a escitia". citado tamb�m ao pap�as, "ouvinte de jo�o e disc�pulo de policarpo", diz-nos irineu, mas cujas obras, claro est�, desapareceram, o que faz com que possa ficar em sua boca o que algu�m queira. e a prova �: "pap�as, no pref�cio de seus livros, n�o se mostra jamais a si mesmo como se fosse alguma vez ouvinte ou espectador dos santos ap�stolos. mas nos diz que ele recebeu quanto se refere � f� dos que os conheceram... se em algum lugar chegava algu�m que estivera em companhia dos presb�teros, eu me informava das palavras dos presb�teros: o que dissera andr�, ou pedro, ou felipe, ou tom�s, ou santiago, ou jo�o, ou mateus, ou algum outro dos disc�pulos do senhor; e o que dissera aristion, e o presb�tero jo�o, disc�pulo do senhor". (eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, xxxix, 2-4). e isso � tudo o que nos diz sobre andr�. � pouco. observemos, entretanto, que esse voc�bulo n�o � um nome judeu de circuncis�o. deriva do grego andr�s (homem), e mais concretamente de alexandr�s (homem vencedor). agora bem, segundo opini�o de dom j. dupont, o. s. b., professor da abadia de saint-andr�, que traduziu e anotou os atos dos ap�stolos no marco da b�blia de jerusal�m, esse nome n�o seria em realidade a n�o ser a forma helenizada de eleazar (cf. os atos dos ap�stolos, editions du cerf, paris, 1964, p. 58, nota referente ao iv, 17). em dom j. dupont, beneditino, podemos confiar! alexandr�s, em grego, deu andreas em latim, e alexis e alex em diversas l�nguas, especialmente eslavas, e em grego seguiu como andreas. pois bem, eleazar, no novo testamento, nos apresenta sempre sob a forma contra�da de l�zaro. (37) ele foi o compadre da famosa "ressurrei��o"; voltaremos para isso no pr�ximo cap�tulo. e n�o em v�o as diversas correntes do iluminismo dos rosacruzes fizeram dele o patr�o dos iniciados, quer dizer, daqueles que est�o no segredo. por conseguinte, e primeira constata��o, o misterioso andr�, cujo nome de circuncis�o nos oculta, n�o � outro que eleazar, ali�s l�zaro. ele � o pseudoressuscitado. desde onde seu papel esot�rico no corpus dos alquimistas, onde se encontram s�mbolos como o phenix, que renasce de suas pr�prias cinzas, e, como por acaso, sobre uma pira composta por quatro ou dois troncos de madeira, dispostos em forma de cruz de santo andr�. tamb�m � o "x", imagem da inc�gnita em um problema sem resolver. para n�s, leitor, esse problema por fim j� est� resolvido. a ep�stola de clemente de roma menciona a lenda de f�nix para simbolizar a ressurrei��o: "consideremos o estranho prod�gio que se opera nas regi�es do oriente, quer dizer, na ar�bia. ali se v� um p�ssaro, chamado f�nix. � o �nico de sua esp�cie, e vive quinhentos anos. quando se aproxima seu fim, constr�i-se com incenso, mirra e outros aromas, um sepulcro, onde penetra para morrer nele, quando se cumpriu seu tempo. de sua carne em putrefa��o nasce um verme que se alimenta da podrid�o do p�ssaro morto, e logo se cobre de plumas. quando se fez forte, levanta o f�retro onde repousam os ossos de seu progenitor e, com esse casulo, voa da ar�bia ao egito, at� a cidade de heli�polis. ali, em pleno dia, aos olhos de todos, vai voando a deposit�-lo sobre o altar do sol, depois do qual empreende o v�o de volta. ent�o os sacerdotes, consultando seus anais, constatam que retornou ap�s quinhentos anos". (cf. clemente de roma, ep�stola aos corintios, xxv). assim, na �poca da reda��o da ep�stola (s�culo i) n�o se ignorava que andr� e l�zaro n�o eram a n�o ser uma mesma pessoa, j� que a f�nix constitu�a a chave esot�rica da lenda. por outro lado, a partir do s�culo xviii e a apari��o dos graus elevados da franco-ma�onaria, vemos que os manuscritos rituais mais velhos

nos representam um grau hier�rquico que leva esse voc�bulo: "cavaleiro rosacruz, e � o t�tulo que lhe conv�m melhor); cavaleiro da �guia (...), cavaleiro do pelicano (...), ma�om de heredom (...), cavaleiro de santo andr� (...)". (cf. manuscrito da instruction g�n�rale du grade de chevalier rosacruz, pelo devaux d'hugueville, datado de 1746, no g. bord, la francma�onnerie le france, paris, 1908, p. 512 e ss.). em seu introduction, devaux d'hugueville recorda que a j�ia habitual, que representa ao santo em sua cruz t�pica, �s vezes � substitu�da em certos estados por "uma medalha da ressurrei��o" (sic). a j�ia ma��nica que adorna o sautor vermelho vivo distintivo desse grau representa, al�m disso, um compasso coroado, apoiado sobre um quarto de c�rculo, que leva em sua cara um pelicano alimentando a seus pequenos, e na outra cara uma f�nix sobre sua fogueira de ressurrei��o. observar-se-� que o manuscrito transcreve rosacruz com um z, e n�o rosecroix. lembran�a discreta da verdadeira origem do termo. o hebreu "rosen-koroz" significa "pr�ncipe arauto", e r�z (rosah) significa secreto, quer dizer, "arauto secreto" ou "arauto do segredo". desde a� � de onde nasceu o nome, puramente imagin�rio, do personagem chamado rozenkreutz ou rosenkreutz. assim, os franco-ma�ons do s�culo xviii, ou ao menos os que codificaram o ritual inici�tico, n�o ignoravam que o ap�stolo andr� estava associado em sua lenda a um tema de ressurrei��o. e quem no novo testamento, al�m de jesus, ressuscitara, a n�o ser l�zaro? (38) e mais ainda quando jesus estava representado na outra cara da j�ia como o pelicano que se sacrificava por seus pequenos. (39) sobre o fato de que ele fora tamb�m o patr�o dos iniciados (latim: initium, come�o) temos a prova nos evangelhos can�nicos. ele �, com efeito, quem vai se ver antes, quando deseja ser apresentado ao jesus. para este, rei leg�timo, sen�o legal, de israel, eleazar-l�zaro � algo assim como o grande chambel�n. isto nos precisa jo�o (12, 20-22). mas al�m disso tem em seu poder umas tem�veis chaves, e os escribas an�nimos que no s�culo iv, sob a vigil�ncia de eusebio da cesar�ia e de outros diversos bispos, compuseram por ordem de constantino os atuais evangelhos can�nicos (fazendo desaparecer a seguir os antigos, chamados ap�crifos), esses escribas enredados nas redes de suas censuras, interpola��es e extrapola��es, sem querer deixaram subsistir algumas palavras da verdade. julguese: nos diz que andr� � o irm�o de sim�o-pedro: "caminhando, pois, junto ao mar da galil�ia, viu dois irm�os: sim�o-pedro, e andr�, seu irm�o..." (mateus, 4, 18, e marcos, 1, 16). est� muito claro. esses dois irm�os o s�o no sentido familiar do termo. muito embara�ados, como � de supor, pelo assunto, os exegetas modernos pretendem que esse irm�o n�o seja a n�o ser um associado. mas subsistem outros textos que provam que se tratava de perfeitos irm�os no sentido carnal e familiar do termo, j� que em princ�pio inclusive tinham a mesma moradia familiar: "logo, saindo da sinagoga, vieram � casa de sim�o e andr�, com santiago e jo�o. a sogra de sim�o estava deitada, com febre". (marcos, 1, 29-31). assim, esses dois irm�os tinham a mesma moradia familiar. por outra parte, as homilias clementinas confirmam que tinham o mesmo pai, e que a morte deste os deixara �rf�os. "porque eu e andr�, meu irm�o ao mesmo tempo carnal e ante deus, n�o s� fomos criados como �rf�os..." (cf. clemente de roma, homilias clementinas, xii, vi). que mais faltaria?... e o evangelho de pedro nos diz o mesmo: "quanto a mim, sim�o-pedro, e andr�, meu irm�o, tomamos as redes e fomos ao mar". (cf. evangelho do pedro, 58 a 60). agora recapitulemos de forma definitiva: a) andr�, ali�s eleazar, ali�s l�zaro, � o irm�o de sim�o-pedro, e ambos s�o �rf�os. porque, com efeito: b) sim�o � o filho de judas da gamala, morto no ano 6 de nossa era, no curso da c�lebre revolu��o do censo. c) agora bem, sim�o � o irm�o de jesus: "n�o � acaso o carpinteiro, filho de maria, e o irm�o de santiago, de jos�, de judas e de sim�o? e suas irm�s n�o vivem aqui entre n�s?" (marcos, 6, 3). por conseguinte: d) jesus, sim�o, santiago, andr�, jos� e judas s�o, portanto, todos irm�os, e

todos filhos de judas da gamala. por outra parte, tiveram irm�s (marcos, 6, 3). quais s�o? voltemos para os evangelhos: "havia um doente, l�zaro, da bet�nia, da aldeia da maria e da marta, sua irm�. era esta maria a que ungiu ao senhor com ung�ento e lhe enxugou os p�s com seus cabelos, cujo irm�o l�zaro estava doente. enviaram, pois, as irm�s a lhe dizer: "senhor, que amas est� doente"... (jo�o, 11, 1-4). "marta, pois, assim que ouviu que jesus chegava, saiu-lhe ao encontro; mas maria ficou sentada em casa. disse marta ao jesus: 'senhor, se tivesse estado aqui, n�o tivesse morrido meu irm�o',"... (jo�o, 11, 20-21). "assim maria chegou onde estava jesus, vendo-lhe, ajoelhou-se a seus p�s, dizendo: 'senhor, se estivesse aqui, n�o morreria meu irm�o'..." (jo�o, 11, 3233). agora bem, como acabamos de ver, jo�o nos fala da un��o que maria tinha conferido ao jesus. mas onde comunicou antes este acontecimento? em nenhuma parte! temos que dar um salto para diante, para encontrar o relato da uni�o nos vers�culos 1 a 7 do cap�tulo 12. al�m disso, os textos antigos n�o pareceram tomar-se muito a s�rio seu trabalho. e tanto mais que as duas passagens de jo�o citados s�o absolutamente contradit�rias no que se refere � atitude de maria... e aqui � onde nos espera a maior surpresa, e tamb�m o maior esc�ndalo! evocamo-lo discretamente na obra precedente. ao final do presente cap�tulo levantaremos o v�u. a� o leitor poder� constatar a veracidade do que diz�amos ao princ�pio deste estudo, ou seja, que andr� tinha as chaves de muitos mist�rios... vamos agora a sua sorte final, e para isso joguemos � m�o de nosso flavio josefo. "quando o rei agripa morreu, como contamos no livro precedente, o imperador claudio enviou ao cassio longino, (40) para suceder ao marso, rendendo assim comemora��o � mem�ria do rei que, estando com vida, tinha-lhe pedido em numerosas cartas que marso n�o presidisse mais os assuntos de s�ria. "quando fado chegou como procurador � Jud�ia, encontrou aos judeus de perea em luta contra os filadelfos (41) por causa de uma aldeia chamada zia, cheia de pessoas belicosas, e cujos limites eram disputados por uns e por outros. as pessoas de perea tinham tomado as armas, contra o parecer de seus chefes, e mataram numerosos filadelfos. ao inteirar-se disto, fado se irritou muito porque n�o lhe deixaram a seu cuidado decidir se foram ultrajados pelos filadelfos, e porque n�o temessem recorrer �s armas. "fez-se, pois, com tr�s de seus not�veis, que eram tamb�m respons�veis pela revolu��o, e os mandou encadear. a seguir mandou matar um deles, chamado an�bal, e castigou com o ex�lio aos outros dois, amram e eleazar. fez perecer deste modo ao tholomaios, cabe�a dos bandoleiros que, pouco depois, fora encadeado, e que causara os maiores males � Idum�ia e aos �rabes. a partir desse momento, jud�ia ficou inteiramente purgada de bandoleiros gra�as ao zelo e � prud�ncia de fado. este ent�o mandou ir aos grandes pont�fices e aos pr�ncipes de israel, e lhes convidou a depositar na cidadela antonia as vestimentas sagradas e as roupas pontificais que o costume permitia revestir ao supremo sacerdote, para que estivessem, como antes, em poder dos romanos...". (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xx, i, 1 a 6). mas as coisas n�o acabam a�. sigamos relendo ao flavio josefo: "na jud�ia as coisas adotavam, de dia em dia, uma apar�ncia pior, j� que o pa�s estava de novo cheio de bandoleiros e de impostores que enganavam ao povo. cada dia f�lix capturava a muitos destes e os fazia perecer como a bandidos. eleazar, filho de dinaios, que reunira a seu redor uma equipe de bandoleiros, foi capturado com vida gra�as a um estratagema. depois de lhe dar sua palavra de que n�o lhe faria nenhum dano, persuadiu-lhe de que se apresentasse ante ele, e logo, depois de lhe fazer encadear, enviou-o � Roma..." (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xx, viii, 5). vejamos agora o manuscrito grego da guerra dos judeus: "apenas f�lix ocupou seu cargo, declarou a guerra a esses ladr�es que causavam estragos em todo o pa�s

desde fazia vinte anos, capturou ao eleazar, seu chefe, e a outros v�rios com ele, e os enviou prisioneiros a roma, e deu morte a outro n�mero incalcul�vel de bandidos..." (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, ii, xxi, manuscrito grego). antonio f�lix foi procurador da jud�ia no ano 51 de nossa era, e fazia j� vinte anos que o chamado eleazar causava estragos no pa�s. a coisa remontava-se, por conseguinte, ao ano 30 aproximadamente, ano em que come�a a revolu��o judia dirigida por jesus, quem seria crucificado no ano 35. tudo concorda cronologicamente, e mais ainda quanto que o ano 31 � o da deten��o de jo�o, o batista. ao inteirar-se jesus, refugiou-se prudentemente em tiro e sid�n.(42) notemos, por outro lado, em que os manuscritos eslavo e grego da guerra dos judeus n�o levam indica��o alguma sobre um suposto pai de eleazar chamado dinaios, ou dineus no manuscrito de antig�idades judaicas. n�s afirmamos que se trata a� de uma interpola��o dos monges copistas medievais (os manuscritos s�o da idade m�dia, n�o h� outros). porque que plausibilidade h� em que flavio josefo desse a indica��o referente ao pai de eleazar nas antig�idades judaicas, e n�o a repetisse na guerra dos judeus, que foi posterior? e como um judeu chamado eleazar pode ter um pai chamado dinaios ou dineus, que s�o nomes respectivamente grego e latino, admitindo, al�m disso, que esses nomes estivessem em uso na gr�cia e na it�lia? em hebreu h� um nome feminino desse tipo: dina, que significa "justa" (g�nese, 30, 21, e 34, 1). h� tamb�m um nome comum, ao mesmo tempo hebreu e caldeu: din', que significa "justi�a" e "justo". e se tentamos reconstruir o voc�bulo que designa ao chefe desses zelotes, temos ent�o eleazar-bar-ha-din', quer dizer, eleazar-filho-do-justo. dinaios ou dineus n�o s�o ent�o a n�o ser a tradu��o de apelidos hebraicos em grego e em latim, e n�o nomes. e esse "justo", que � o pai de eleazar, irm�o de sim�o-pedro, de jacobo-santiago, e dos outros irm�os, � evidentemente judas da gamala, o "her�i" (em hebreu geber) da revolu��o do censo. voltemos agora para a sorte de eleazar ali�s andr�, e sigamos com o flavio josefo: "ele tamb�m (nero c�sar) nomeou procurador a esse mesmo f�lix que capturou seiscentos bandidos com seu chefe e uma multid�o de c�mplices deles, e os enviou ao c�sar (nero). este fez crucificar a essa gentinha; quanto aos chefes, retiroulhes incalcul�veis riquezas e os deixou em liberdade". (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, manuscrito eslavo, ii, v). traduzamos: os "c�mplices" desses seiscentos "bandidos" n�o eram outros que os camponeses que lhes abasteciam, e esses "bandidos" eram os guerrilheiros zelotes. de todo modo, � dif�cil imaginar o traslado por mar de semelhante multid�o naquela �poca. foram, efetivamente, crucificados, mas na jud�ia, por ordem do procurador f�lix, e s� os chefes foram enviados � Roma, dado que f�lix lhes prometera astutamente que ele n�o lhes faria mal. eleazar-andr� caiu nesta armadilha. n�o obstante nero, a quem repugnavam as execu��es in�teis, preferiu lhes fazer pagar fortes resgates, em troca da promessa de que se mantivessem tranq�ilos, como acabamos de ver. e a prova de que isto aconteceu efetivamente assim a temos em que aqui perdemos o rastro nominal de eleazar-andr�. dele nunca mais se voltou a ouvir falar, e para paliar esta car�ncia da hist�ria ver�dica, entrou em cena a lenda, como declara monsenhor d�chense em seu livro les origines du culte chr�tien. e da� a aceita��o cort�s mas reticente do alto clero ortodoxo quando o vaticano lhe fez restituir o cr�nio do ap�stolo andr�, depois do encontro de paulo vi e atan�goras. entretanto, uma vez retornados � Jud�ia, depois de pagarem o resgate exigido por nero, nossos zelotes n�o se mantiveram tranq�ilos por muito tempo, e suas vingan�as se exerceram imediatamente. julgue-se: "quando retornaram, entregaram-se � crimes de outro estilo, golpeando �s pessoas em pleno dia em meio da cidade (jerusal�m), e sobretudo durante as festas; mesclavam-se com o povo, e sob suas vestimentas ocultavam umas adagas agudas (a sicca palestina), com os quais atravessavam seus advers�rios; a seguir plantavam-se diante da v�tima e fingiam lamentar o que lhe acontecera e procurar o assassino. sua primeira v�tima foi o supremo sacerdote jonathan, e seguiram muitos outros. um medo horr�vel apoderou-se de todos, e cada um esperava cada dia a morte, como na guerra". (cf. flavio

josefo, guerra dos judeus, ii, v, manuscrito eslavo). no que concerne �s riquezas que serviram para pagar o enorme resgate desse irm�o de jesus e de seus disc�pulos imediatos durante seu curto cativeiro em roma, procediam do imenso saque acumulado pelas lutas zelotes desde fazia quase um s�culo. demonstramos sua exist�ncia real, documentos em m�o, no cap�tulo referente aos zelotes (cap�tulo 1). tudo isto, entretanto, demonstra-nos que: a) eleazar-andr�, seus seiscentos "bandidos" e a "multid�o de c�mplices" deles, n�o eram bandidos ordin�rios e de direito comum, a n�o ser simplesmente guerrilheiros zelotes. b) a natureza de suas atividades e o parentesco os relaciona ipso ipso com os zelotes do movimento anteriormente dirigido por jesus, j� que este �ltimo era seu chefe indiscut�vel, como demonstramos na obra precedente (segundo a obra do historiador protestante oscar cullmann, em seu livro dieu et c�sar). s�o os mesmos, o que explica que esse eleazar-andr�, irm�o de jesus e de sim�o-pedro, fora tamb�m um de seus dirigentes, e com maior raz�o depois da crucifica��o de seus dois irm�os sim�o e santiago em jerusal�m, no ano 47. com eles estava tamb�m outro membro do estado maior primitivo de jesus, e membro tamb�m, sem lugar a d�vida, da grande fam�lia dav�dica, j� que formava parte dos doze; nomeamos ao bartolomeu, que durante as atividades de eleazar-andr� ocupava-se de "evangelizar" a idum�ia e a ambatenha de uma maneira muito peculiar. logo estudaremos seu destino, depois da morte de jesus. quanto � cruz em crucifica sobre a que teria morrido no patras, aparece no s�culo viii, quando se converteu em patr�o de esc�cia. 9 - a ressurrei��o de l�zaro sendo o primeiro na ressurrei��o dos mortos, tinha que anunciar a luz ao povo e aos gentis. atos, 26, 23 acabamos de ver que andr�, ap�stolo, n�o � outro que eleazar, cuja abreviatura � L�zaro. ele � o "ressuscitado" c�lebre. sem d�vida, os esp�ritos desconfiados h� muito tempo, observaram que essa viagem mais � frente n�o lhe deu a conhecer nada novo, e que, tudo o mais, comportou-se como um homem comum, emergindo de um profundo sonho, natural ou provocado. vejamos um pouco mais de perto o relato dos fatos. este n�o nos contribui isso mais que o evangelho citado por jo�o. antes aparecera o epis�dio da filha de jairo, chefe da sinagoga (lucas, 8, 41), mas como nos precisa que a menina dormia e n�o estava morta (jesus disse; lucas, 8, 52), n�o se trata somente de um fen�meno de catalepsia, e n�o de uma ressurrei��o. no caso de l�zaro, ali�s eleazar, ali�s andr�, (43) a coisa � muito distinta. este epis�dio s� figura em jo�o, 11, 1 a 44. aqui est�: "havia um doente, l�zaro, da bet�nia, da aldeia de maria e de marta, sua irm�. era esta maria a que ungiu ao senhor com ung�ento e lhe enxugou os p�s com seus cabelos, cujo irm�o l�zaro estava doente. enviaram, pois, �s irm�s a lhe dizer: "senhor, que amas est� doente". ouvindo-o jesus, disse: "esta enfermidade n�o � de morte, a n�o ser para gl�ria de deus, para que o filho de deus seja glorificado por ela". "jesus amava a marta e a sua irm� e ao l�zaro. embora ouviu que estava doente, permaneceu no lugar em que se achava dois dias mais, passados os quais disse a seus disc�pulos: "vamos outra vez � Jud�ia". (44) os disc�pulos lhe disseram: "rabbi, os judeus lhe buscam para o apedrejar, e de novo vai l�?". respondeu jesus: "n�o s�o doze as horas do dia? se algum caminhar durante o dia, n�o trope�a, porque v� a luz deste mundo; mas se caminhar de noite, trope�a, porque n�o h� luz nele". isto disse, e depois acrescentou: "l�zaro, nosso amigo, est� dormido, mas eu vou despertar-lhe". dizendo ent�o os disc�pulos: "senhor, se dormir, sarar�". falava jesus de sua morte, e eles pensaram que falava do descanso do sonho. ent�o lhes disse jesus claramente: "l�zaro morreu, e me alegro por v�s de n�o ter estado ali, para que acreditassem. mas vamos l�". disse, pois, tom�s, chamado d�dimo, aos companheiros: "vamos tamb�m

n�s morrer com ele". "foi, pois, jesus, e se encontrou com que levava j� quatro dias no sepulcro. estava bet�nia perto de jerusal�m, como a uns quinze dias, (45) e muitos judeus tinham vindo a marta e a maria para consol�-las por seu irm�o. marta, pois, assim que ouviu que jesus chegava, saiu-lhe ao encontro; mas maria ficou sentada em casa. disse marta ao jesus: "senhor, se estivesse aqui, n�o teria morrido meu irm�o; mas sei que quanto pe�a a deus, deus o outorgar�". disselhe jesus: "ressuscitar� seu irm�o". marta lhe disse: "sei que ressuscitar� na ressurrei��o, no �ltimo dia". disse-lhe jesus: "eu sou a ressurrei��o e a vida; quem acredita em mim, embora morto, viver�; e tudo o que vive e acredita em mim, n�o morrer� para sempre. voc� cr� nisto?". disse-lhe ela: "sim, senhor, eu acredito que voc� � o messias, o filho de deus, que veio a este mundo". (46) "dizendo isto, foi e chamou a maria, sua irm�, dizendo-lhe em segredo: 'o mestre est� a�, e chama-a'. quando ouviu isto, levantou-se imediatamente e se foi a ele, pois ainda n�o tinha entrado jesus na aldeia, mas sim se achava ainda no local onde encontrara marta. qu�o judeus estavam com ela consolando-a, vendo que maria se levantava com pressa e sa�a, seguiram-na pensando que ia ao monumento a chorar ali. "assim maria chegou onde estava jesus, vendo-lhe, ajoelhou-se a seus p�s, dizendo: "senhor, se estivesse aqui, n�o morreria meu irm�o". jesus vendo-a chorar, e que choravam tamb�m qu�o judeus vinham com ela, comoveu-se profundamente e se turvou, e disse: "onde o pusestes?". disse-lhe: "senhor, v�m e v�". "chorou jesus. "e os judeus diziam: "como lhe amava!". alguns deles disseram: "n�o p�de este, que abriu os olhos do cego, fazer que n�o morra?". "jesus, outra vez comovido em seu interior, chegou ao monumento, que era uma cova tampada com uma pedra. disse jesus: 'tirem a pedra'. dizendo-lhe marta, a irm� do morto: 'senhor, j� fede, pois est� h� quatro dias'. jesus lhe disse: 'n�o disse que, se acreditar, ver� a gl�ria de deus?'. tiraram, pois, a pedra, e jesus, elevando os olhos ao c�u, disse: 'pai, dou-te gra�as porque me escutaste; eu sei que sempre me escuta, mas pela multid�o que me rodeia o digo, para que acreditem que me enviaste'. dizendo isto, gritou forte: 'l�zaro, sai fora!'. saiu o morto, atado com bandagens p�s e m�os, e o rosto envolto em um sud�rio. jesus lhes disse: 'lhe soltem e deixem ir'." (jo�o, 111, 1 a 44). aqui expor uma pergunta embara�osa: como um homem, com a cara envolta, os membros atados com ataduras, e reduzido ao estado de m�mia impotente, p�de levantar-se, caminhar, dirigir-se a nenhuma parte? voltemos agora atr�s, e tomemos de novo ao jo�o, no cap�tulo 10, e leiamo-o inteiro, at� o vers�culo 39. tudo o que conta se desenvolve em jerusal�m: "...celebrava-se ent�o em jerusal�m a dedica��o. era inverno. e jesus passeava no templo pelo p�rtico de salom�o". (op. cit., 10, 22-23). agora passemos aos vers�culos 39 a 42 do mesmo cap�tulo: "(jesus) partiu de novo ao outro lado do jord�o, ao local em que jo�o batizara a primeira vez, e permaneceu ali". (op. cit., 10, 40-41). o lugar "em que jo�o tinha batizado a primeira vez" � o vau "da bet�nia, ao outro lado do jord�o" (jo�o, 1, 28), quer dizer, um lugar situado na perea, territ�rio chamado, efetivamente, "mais � frente do jord�o" (veja o mapa n� 8 do atlas biblique pour tous, de r.p. grollenger, o.p., editions sequoia). mas n�o � a bet�nia dos arredores de jerusal�m, situada na jud�ia... assim, a "bet�nia, do outro lado do jord�o" (jo�o, 1, 28) � desconhecida, e enon (mais ou menos: "regi�es de fontes"), onde jo�o batizava "porque havia muita �gua", "perto de salim" (jo�o, 3, 23), tampouco pode localizar-se com certeza, conforme nos diz r.p. grollengerg. mas uma vez mais, e de todo modo, n�o � a que est� situada a uns dois quil�metros de jerusal�m, mas sim essa outra est� ao menos a quarenta quil�metros, a v�o de p�ssaro, do outro lado do chamado jord�o. jo�o, o batista, portanto, encontrava-se em perea, e isso est� bem estabelecido. agora saltemos de jo�o 10, 42 ao cap�tulo 12,1: "seis dias antes da p�scoa, veio jesus � Bet�nia, onde estava l�zaro, a quem jesus ressuscitara dentre

os mortos". (jo�o, 12, 1). mas se j� estava ali! se todo o cap�tulo precedente o mostra precisamente em bet�nia! decididamente, essa localidade converteu-se para nossos piedosos falsificadores em uma verdadeira obsess�o, e n�o sabendo j� como sair da miscel�nea de mentiras que elaboraram de maneira t�o imprudente, ca�ram por �ltimo na incoer�ncia. e, com efeito, do mesmo modo que o epis�dio da mulher ad�ltera (jo�o, 8, 3) n�o foi introduzido nesse evangelho at� que acessou ao pontificado o papa calixto (217-222), a pseudo-ressurrei��o de l�zaro tampouco apareceu nos "acertos" dos monges copistas at� os s�culos iv e v. (47) porque � de todo ponto evidente que se mateus, marcos, lucas e os atos dos ap�stolos, assim como todas as ep�stolas de paulo, pedro, santiago, jo�o e judas ignoram semelhante prod�gio (como � o caso), � que na �poca de sua reda��o ningu�m conhecia tal relato. e fica em p� uma prova perempt�ria, a passagem seguinte dos atos dos ap�stolos, na qual paulo, ent�o em cesar�ia mar�tima, no ano 58, declara ao rei agripa e � rainha berenice: "gra�as ao socorro de deus persevero firme at� hoje, dando testemunho a pequenos e a grandes e n�o ensinando outra coisa a n�o ser o que os profetas e mois�s disseram que aconteceria: que o messias tinha que padecer, que sendo o primeiro na ressurrei��o dos mortos, tinha que anunciar a luz ao povo e aos gentis". (cf. atos dos ap�stolos, 26, 23). (48) de modo que paulo ignora que o primeiro ressuscitado dentre os mortos foi l�zaro, e n�o jesus. pelo visto ignora que no instante do �ltimo suspiro deste na cruz da inf�mia, ressuscitaram tamb�m numerosos mortos, que at� ent�o jaziam nas tumbas do cemit�rio ritual de jerusal�m, pr�ximo �s oliveiras, porque: "a terra tremeu e fenderam as rochas; abriram-se os monumentos, e muitos corpos de santos que dormiam, ressuscitaram; e saindo dos sepulcros, depois da ressurrei��o dele, vieram � cidade santa e apareceram a muitos". (cf. mateus, 27, 52-53). por conseguinte, se dermos cr�dito ao jo�o e ao mateus, jesus n�o p�de ser o primeiro ressuscitado dentre os mortos. a menos que tudo isso fora imaginado nos s�culos iv e v. mas se as testemunhas do prod�gio que constituiu a ressurrei��o de l�zaro tiveram uma exist�ncia real, conv�m desvelar o engano de que foram v�timas ou c�mplices, pois vamos ver a forma em que se operou: em todo o egito, e principalmente na pen�nsula do sinai, existe uma solanacea chamada sekaron, quer dizer, "a embriagadora". pertence ao subgrupo dos belenos, � a hyoscyamus muticus. dela, os antigos extra�am o banj ou bang, que, segundo a dose utilizada, era um potente narc�tico ou um simples alucin�geno. por outro lado, conv�m saber o que era o que se entendia por tumba ritual naquela �poca, em israel. em uma parede rochosa, escavava-se primeiro um estreito corredor em suave pendente e a c�u aberto, freq�entemente provido de degraus, a fim de alcan�ar mais rapidamente a profundidade requerida. ent�o, na fachada da frente � qual desembocaria o corredor, praticava-se uma abertura muito baixa, que geralmente se obturava com uma laje de pedra. se a tumba era importante, utilizava-se um molar de gr�o, que se fazia rodar comodamente por uma sarjeta aberta a direita ou a esquerda. depois da abertura assim come�ada na parede, fazia-se uma primeira c�mara funer�ria, no centro da qual se escavava uma pequena fossa. ao redor desta fossa corria um alzapi�, esp�cie de caminho de ronda que permitia circular. na parede do fundo desta primeira c�mara, abria-se outra porta, e escavavase atr�s dela uma segunda c�mara funer�ria. as paredes desta �ltima tinham nichos, nos quais se depositava aos mortos. esses nichos tinham um pendente destinado a facilitar o fluxo dos l�q�idos org�nicos procedentes da decomposi��o dos cad�veres, e esses l�q�idos eram recolhidos em canais que desembocavam na fossa central da primeira c�mara. quando os esqueletos estavam totalmente descarnados e secos, retirava-os de seu nicho e encerrava-os em pequenos oss�rios an�logos a nossos "f�retros de redu��o". os l�q�idos org�nicos evaporavam-se pouco a pouco na fossa central, mas enquanto esta n�o secasse, segundo os termos da lei judia devia-se pintar de branco, com cal vivo, todo o exterior da tumba: escada, laje de fechamento, canal,

marco da porta. desde onde a express�o de "sepulcro branqueado", sin�nimo de "lugar impuro". quando jesus tratava a seus advers�rios com este mesmo termo, a inj�ria n�o era leve, como se v�. isto equivalia, com efeito, a qualifica-los de "carni�a", ou de "podrid�o". voltemos agora para o l�zaro. suponhamos que este �ltimo aceitasse desempenhar o papel de "compadre" em um engano destinado a inflar desmesuradamente a reputa��o taumat�rgica de jesus, e a facilitar assim o recrutamento e a a��o do movimento zelote. (49) absorveria o banj ou um potente narc�tico equivalente. depois de um simulacro de enfermidade de evolu��o r�pida e morte oficial, levarlhe-iam � uma tumba, sempre dormido, e abandonariam no rodap� funer�rio, enrolado dentro do sud�rio habitual e provido das bandagens rituais, e a seguir fechariam a tumba. o herb�rio secreto do vodu africano ou antilhano possui receitas que permitem fazer acreditar em uma morte aparente sem discuss�o poss�vel. era com semelhantes procedimentos que se obtinha, n�o faz ainda muito tempo, aos famosos zumbis, e o c�digo penal haitiano se viu na obriga��o de ditar penas extremamente severas para lutar contra estes assassinos mentais. no caso de l�zaro n�o se trata mas sim de um soneca. a perman�ncia de quatro dias nessa capela funer�ria seria facilitada mediante a contribui��o de alimentos e de �gua por marta e maria. a impureza ritual e o medo supersticioso aos mortos descartavam qualquer indiscri��o noturna. n�o ficava j� a n�o ser acautelar ao jesus e esperar sua chegada, o "milagre" estava pronto. quanto ao aroma de putrefa��o, era f�cil de obter no �ltimo momento com uma pe�a de carne passada, no fundo da cova. quem pode sab�-lo? possivelmente a pseudo-ressurrei��o de l�zaro n�o foi em realidade outra coisa que uma tentativa de ensaio da qual projetava jesus. a crucifica��o veio a transtorn�lo todo. notas complementares observar-se-� que: 1. maria � a irm� de l�zaro, ali�s andr� (jo�o, 11, 1-4). 2. andr� � irm�o de sim�o-pedro, portanto o � tamb�m de jesus (veja o cap�tulo 8). 3. maria � portanto a irm� de jesus, por via de conseq��ncia, qu�o mesmo marta. essas s�o as irm�s an�nimas citadas em mateus (13, 56), e marcos (6, 3). 4. agora bem, maria � a mulher que unge ao jesus com nardo em bet�nia (jo�o, 1-4). 5. e a mulher que unge ao jesus � precisamente a pecadora p�blica da cidade, uma prostituta, segundo lucas (7, 38). 6. maria, irm� de jesus, � portanto uma mulher de m� vida. 7. e jesus anima-a a perseverar, apesar das recrimina��es de marta, sua outra irm� (lucas, 10, 42). come�a-se a compreender aqui por que jesus declara, em mateus (20, 31 e 32), que as prostitutas adiantar�o aos outros crentes no reino de deus, e por que as pessoas "de m� vida" oferecem-lhe um festim na casa de levi (mateus, 9, 10; 11, 19; marcos, 2, 15-16; lucas, 5, 30; 14, 1; 15, 2). 10 - judas-bar-judas, o g�meo ainda existiam, da ra�a do salvador, os netos de judas, a quem chamavam irm�o carnal daquele... eusebio de cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, xx, 1 esse judas (em hebreu: juda, ali�s iehuda, louvor), citado em marcos (6, 3) como irm�o de jesus, n�o deve ser confundido com o judas chamado o iscariotes (em hebreu: "homem do crime"): "disse-lhe judas, n�o o iscariotes: "senhor...". (cf. jo�o, 14, 22). n�o � outro que tom�s (em hebreu: ta�ma, quer dizer, g�meo). taciano, disc�pulo de s�o justino, em seu diatessaron (s�ntese dos quatro evangelhos can�nicos), declara, por volta do ano 175 de nossa era, que judas � em realidade seu verdadeiro nome. mais tarde, s�o efr�n (306-375), um dos padres da igreja siriaca, confirmar� em seus hinos. ter� que saber que tom�s n�o �, em hebreu, um nome pr�prio, a n�o ser simplesmente um adjetivo e um nome comum: ta�ma, no plural ta�mim, significa, como dissemos antes, g�meo. da� o ep�teto de d�dimo (em grego: g�meo) que lhe associa jo�o (11, 16 e 20, 24). a exist�ncia de um irm�o g�meo de jesus foi j� longamente

demonstrada, textos antigos em m�o, em uma obra precedente, a que remetemos a lector. (50) aqui nos limitaremos a citar, simplesmente, um evangelho muito velho, em seu manuscrito copto do s�culo v, o evangelho de bartolomeu: "ele (jesus) falou com eles em l�ngua hebraica, dizendo: "sa�de a ti, pedro, meu zelador, sa�de a ti, meu g�meo, segundo cristo!"... (cf. evangelho de bartolomeu, 2� fragmento, imprimatur: paris, 1904, firmin-didot, �dit.). outro irm�o de jesus, cuja identidade continua um mist�rio, aparece citado por hip�lito de tebas e por jos�, o eclesi�stico, sob o nome de sidonios, "o de sid�n". (cf. abade mine, patrologie, xvi, p. 187). possivelmente foi em sua casa onde se refugiou jesus quando fugiu � Fen�cia (mateus, 15, 21). (51) tamb�m poderia ser o mesmo que os evangelhos can�nicos citam como jesus-bar-aba ou barrab�s, j� que o grande or�genes assegura que em manuscritos antigos se dava a esse bandido o nome de jesus. (52) o que tem que particular no caso do judas � que os escribas an�nimos do s�culo iv, que lhe puseram a m�scara de tom�s sobre o rosto para dissimular que jesus, "filho �nico do alt�ssimo", tinha um irm�o g�meo, � que aqueles falsificadores lhe deram diversos nomes. cita-lhe, efetivamente, com o sobrenome de tom�s em mateus (13, 55), marcos (6, 3), atos (1, 13), judas (1, 1). o fato de que se tratasse do mesmo personagem que o irm�o g�meo de jesus nos confirma isso eusebio da cesar�ia: "o mesmo domiciano ordenou suprimir aos descendentes de david. uma antiga tradi��o conta que alguns hereges denunciaram aos descendentes de judas, que era um irm�o carnal do salvador, como pertencentes � ra�a de david e aparentados com o pr�prio cristo". (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, xix). eusebio contribu�a a� o texto exato de hegesipo em suas mem�rias, compostas por cinco volumes, e que eusebio declara t�-lo em suas m�os. e este hegesipo, judeu converso, viveu de 110 a 180 de nossa era na palestina, visitou diversas igrejas, entre as quais se achava a de roma sob o papa aniceto (155-166), e, uma vez retornado � sua p�tria, comp�s seus hypomnemata, aonde se documentou amplamente eusebio da cesar�ia. por conseguinte, se por um lado tom�s � o mesmo que judas, e � deste modo o irm�o g�meo de jesus, o nome deste �ltimo �, efetivamente, como diziam taciano e s�o efr�n, judas, em hebreu iehuda ou juda, como seu pai carnal judas de gamala. onde tudo isto se complica, embora resulte bastante revelador, � na vers�o protestante da b�blia do pastor louis segond, quem nos diz que judas � tamb�m a mesma pessoa que lebeo, citado em mateus (10, 3), e que � Tadeu (op. cit.). e � tamb�m o sobrinho de levi, ali�s mateus. dessas rela��es familiares se desprende, pois, que o chamado mateus-levi era o tio de jesus (e provavelmente o irm�o de judas da gamala ou de maria), j� que era tio do g�meo do chamado jesus... como se v�, entre os "ap�stolos" nos encontramos realmente "em fam�lia". em uma obra precedente, (53), j� assinalamos que esse tom�s, ta�ma em hebreu, ou g�meo, fora vendido como escravo a fim de lhe permitir atravessar as fronteiras da jud�ia sem temor de ser identificado e detido pela pol�cia romana, depois de ter interpretado seu papel de pseudo-ressuscitado. mas a seguir teve que voltar for�osamente ao terreno das atividades zelotes, j� que o encontramos executado por ordem de cuspio fado, procurador de roma em jud�ia, em finais do ano 45 e princ�pio de 47 de nossa era. tamb�m neste ponto, consultemos ao flavio josefo: "enquanto fado era procurador de roma, um mago chamado theudas (54) persuadiu uma grande multid�o de gente para que lhe seguisse, levando seus bens at� o jord�o. pretendia ser profeta e que, por ordem dele, as �guas do rio se dividissem para assegurar a todos uma passagem f�cil. dizendo isto, seduziu � muitas pessoas. mas fado n�o lhes permitiu abandonar-se a sua loucura. enviou contra eles um esquadr�o de cavalaria, que os surpreendeu, matou a muitos deles e capturou com vida a muitos outros. quanto ao theudas, que foi feito prisioneiro, os a cavalo cortaram a cabe�a e levaram � Jerusal�m. isto �, pois, o que aconteceu aos judeus durante o tempo em que cuspio fado foi procurador". (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xx, v, 1). para encobrir melhor a verdadeira personalidade do irm�o g�meo de jesus,

deram-lhe, pois, v�rios nomes: judas, theudas, tadeu, lebeo, tom�s. mas, o que � pior, pouco a pouco fizeram dele um filho de santiago, o menor, pretendido "filho de alfeu", quem seria decapitado em jerusal�m no ano 44. e todos os exegetas cat�licos e protestantes, ao mesmo tempo, estiveram de acordo. acabamos de ver, � luz de uma verifica��o precisa, o cr�dito que pode conceder-se a conclus�es t�o "autorizadas" como "un�nimes" quando s�o interessadas, porque � bem evidente, tendo em conta os documentos antigos que contribu�ram as provas necess�rias, que tom�s n�o foi outro que o irm�o g�meo de jesus, e n�o um vago parente long�nquo. de todo modo, fica um ponto de p�, muito importante, e que se deve sublinhar. no relato do fim tr�gico de judas, ali�s tom�s, ali�s lebeo, ali�s tadeu, encontramos o princ�pio e o costume de colacarem a disposi��o comum dos bens pr�prios dos fi�is do movimento zelote, entre as m�os dos chefes da comunidade, e que ilustra t�o bem o assassinato de anan�as e de saphira, sua esposa, � m�os dos jovens da guarda de sim�o-pedro. (55) isto explica a configura��o progressiva, desde ezequ�as e judas da gamala, desse enorme tesouro zelote cuja exist�ncia nos revelam os documentos do mar morto e que j� encontramos (veja o cap�tulo 1). notas complementares a gente poderia sentir saudades de que o irm�o g�meo de jesus aceitasse esse papel de ressuscitado, tendo em conta sua incredulidade. de fato, esse epis�dio foi fabricado integralmente, e precisamente para descartar em adiante qualquer car�ter de verossimilhan�a no referente � exist�ncia do chamado g�meo... para prova, basta-nos com o que segue: de troas, ignacio, bispo de antioquia, redigiu por volta do ano 110 ou 115 de nossa era uma ep�stola aos esmirnos, quando se encontrava em caminho para roma, onde seria executado. pois bem, nessa carta dirigida � comunidade da esmirna, contribui-nos a prova de que o epis�dio dessa incredulidade de tom�s, todavia n�o se imaginou naquela �poca: "para mim, eu sei e acredito que, inclusive depois de sua ressurrei��o, jesus cristo tinha um corpo. quando se aproximou de pedro e a seus companheiros, o que lhes disse?: "me toquem, me apalpem, e vejam que n�o sou um esp�rito sem corpo". imediatamente todos lhe tocaram, e ao contato �ntimo de sua carne e de seu esp�rito, acreditaram". (cf. ignacio de antioquia, ep�stola aos esmirnos, iii). porque esse mesmo epis�dio da incredulidade de tom�s n�o o encontramos mais que no evangelho de jo�o (20, 24). agora bem, esse evangelho era desconhecido antes do ano 190. e n�s n�o o possu�mos materialmente at� o ano iv. antes o c�tico era sim�o-pedro! e mateus, marcos e lucas ignoram a incredulidade de tom�s, e com raz�o! se a gente recordar que ignacio foi o disc�pulo daquele sim�o-pedro, o que faz dele um dos quatro "padres apost�licos", ver-se-� obrigado a admitir que aquele se achava nas fontes mesmas da tradi��o oral. quanto a tom�s, discretamente evacuado fora da palestina, em um convento de escravos, guardou-se bem de continuar esse perigoso jogo. podemos ler a seu respeito o seguinte nos stromates de clemente de alexandria: "escolhidos n�o todos confessaram ao senhor pela palavra, e n�o todos morreram em seu nome. entre eles se contam mateus, felipe, tom�s, e muitos outros... " (cf. clemente de alexandria, stromates, iv, iv). se se recordar que clemente era o disc�pulo direto de pantenio, quem por sua vez era disc�pulo direto do ap�stolo marcos, v�-se que o chamado clemente se achava nas fontes mesmas da tradi��o oral ele tamb�m. e confirma implicitamente o que antecede. uma tradi��o eclesi�stica pretende que o beijo de judas iscariotes teve como finalidade designar realmente ao jesus, e evitar aos legion�rios romanos que procedessem a deter seu s�sia, quer dizer, a seu irm�o g�meo. mas para esta tradi��o o s�sia era "seu primo irm�o, santiago, o menor". nos contentemos sabendo que tinha um s�sia, isso j� constitui uma confiss�o ... 11 - felipe eu conhe�o outros escritos, um pouco menos antigos (por poucos s�culos) que os textos de qumr�n, mas mais ricos, e que ilustram, com extremada abund�ncia de

detalhes, um dos lados mais obscuros desses primeiros s�culos de nossa era. jean doresse, les livres secrets des gnostiques d'egypte, introdu��o com efeito, em 1947 descobriu-se em nag-hamadi, no alto o egito, uma biblioteca gn�stica-crist� extremamente rica. recebeu o nome de biblioteca de khenoboskion, antiga shenessit do antigo o egito, e estava composta por quarenta e nove manuscritos, redigidos bem em subakhm�mico, bem em sa�dico. um deles leva por t�tulo: ep�stola de pedro ao felipe, seu irm�o maior e seu companheiro". est� redigido em sa�dico, dialeto do alto egito, chamado tamb�m copto tebano. contribui-nos a prova de que no s�culo v, �poca de sua transcri��o costumavam-se ainda correntemente os la�os de parentesco carnal entre jesus e seus "disc�pulos". n�s j� demonstramos, por exemplo, que sim�o-pedro era o irm�o menor de jes�s. (56) se felipe era irm�o de pedro, � que o era tamb�m de jesus. sobre este ap�stolo dispomos de um duplo testemunho de clemente de alexandria. era de betsaida, "a cidade de andr� e de pedro" (jo�o, 1, 44), o que d� a entender que devia ser mais ou menos primo ou irm�o destes, e portanto de filia��o dav�dica tamb�m. vejamos o que diz eusebio de cesar�ia: "n�o obstante, clemente, cujas palavras acabamos de ler, enumera a seguir o que acaba de ser dito, �queles dos ap�stolos que estiveram casados, por causa daqueles que condenam o matrim�nio: 'recha�ar�o tamb�m aos ap�stolos? pedro e felipe tiveram filhos. felipe inclusive deu � suas filhas � homens. e paulo n�o vacilou em saudar em uma ep�stola a sua companheira, a quem n�o levava consigo, para maior comodidade de seu minist�rio'." (cf. eusebio de cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, xxx, 1). o c�nego g. bardy observa que clemente confunde o ap�stolo felipe com o di�cono felipe, citado em atos dos ap�stolos (21, 9), e essa confus�o j� cometera pol�crato de �feso, em sua carta ao papa v�ctor. foi o di�cono quem teve quatro filhas, por certo que profetisas (videntes). este foi enterrado em hier�polis, assim como duas de suas filhas (op. cit., iii, xxxi,3). deixemos, pois, ao di�cono e voltemos para ap�stolo, sobre o que n�o sabemos nada, salvo a observa��o de clemente, j� citada: "escolhidos, n�o todos confessaram ao senhor pela palavra, e n�o todos morreram em seu nome. entre eles se contam mateus, felipe, tom�s, e muitos outros..." (cf. clemente de alexandria, stromates, iv, 9). o que equivale a dizer que esses personagens, depois da morte de jesus e o fracasso da revolu��o dirigida por ele, voltaram para seus assuntos, menos perigosos e mais proveitosos que as insurrei��es zelotes. � exce��o, entretanto, de tom�s, o irm�o g�meo de jesus, ali�s d�dimo, ali�s judas, ali�s tadeu, o ta�ma hebreu. este, como agora sabemos, embora n�o "confessasse ao senhor pela palavra", morreu apesar de tudo decapitado, sob o nome de theudas, e por ordem de um tribuno que estava ao mando da cavalaria legion�ria enviada em sua persegui��o por ordem de cuspio fado, procurador de jud�ia. como n�o "confessou ao senhor pela palavra", foi executado por direito comum. sem d�vida, mateus, felipe, tom�s, eram daqueles ap�stolos que n�o ca�ram na armadilha da pseudo-ressurrei��o; e tom�s com maior motivo, j� que durante v�rios dias, e adotando certas precau��es, interpretou o papel de jesus "sa�do da tumba". porque em mateus lemos o seguinte, sobre depois da ressurrei��o: "os onze disc�pulos foram � Galil�ia, ao monte que jesus lhes indicara, e, vendo-lhe, prostraram-se, embora alguns vacilaram... (cf. mateus, 28, 16-17). da� o final desenganado do evangelho de pedro: "o �ltimo dia dos �zimos, muitas pessoas retornaram a suas casas, uma vez terminada a festa. e n�s, os doze disc�pulos do senhor, chor�vamos e est�vamos afligidos. e cada um, entristecido pelos acontecimentos, retornou a sua casa. quanto a mim, sim�o-pedro, e andr�, meu irm�o, tomamos nossas redes e fomos ao mar. e conosco estava levi, filho de alfeu, que o senhor...". (cf. evangelho do pedro, 58 a 60). nenhum deles acreditava, pois, na pr�xima ressurrei��o, apesar dos "milagres". deste fragmento final, interrompido bruscamente, teremos em conta, entretanto, que os ap�stolos continuam doze; portanto, judas iscariotes ainda n�o foi executado. no que concerne ao final de felipe, a lenda dourada o faz morrer em

hier�polis, em frigia, crucificado e rematado sob uma chuva de pedras, a instiga��o dos sacerdotes dos santu�rios pag�os. mas para admitir este fim, terei que saber o que tal felipe fazia em frigia, e o ignoramos. al�m disso, se n�o participou da propaganda e na agita��o zelote depois da morte de jesus, no que incomodava aos sacerdotes dos outros cultos? deixemos a lenda e concluamos que n�o sabemos nada sobre esse personagem misterioso, quanto mais que outras tradi��es escol�sticas o fazem morrer de enfermidade, tamb�m em hier�polis, e que outras o fazem perecer crucificado. notas complementares teve mateus-levi descend�ncia? n�o � imposs�vel. na vers�o eslava da guerra dos judeus de flavio josefo observamos esta passagem, relativo ao c�lebre jo�o da giscala, que se ilustrou de diversas maneiras durante o local de jerusal�m: "jo�o (iochanan), filho de levi, mago e homem de maus pensamentos, desejoso de honras e sedento de guerra para dominar sobre todos... (cf. guerra dos judeus, iv, 1, manuscrito eslavo). observemos que esse nome � de origem galileu (giscala est� na galil�ia), que � o filho de um lev�, e mateus, ali�s lev�, � Galileu; que esse jo�o, ali�s iochanan-bar-lev�, � mago, e a fam�lia de jesus, seus irm�os e ele mesmo t�m essa reputa��o; que jo�o da giscala est� desejoso de receber honras e de dominar, e que quer reinar. agora bem, para justificar tais desejos ter� que possuir t�tulos que o permitam, portanto, provavelmente � "filho de david" tamb�m ele. porque naquela �poca s� havia tr�s dinastias que pudessem apresentar candidatos v�lidos: a dav�dica, a asmonea e a herodiana, igual na fran�a era preciso proceder dos borbones, os orl�ans ou os bonaparte para ser um candidato s�rio � coroa. por isso, se jo�o da giscala � filho de mateus-lev�, e se este �ltimo � um tio de jesus (em opini�o geral), isso significa que o chamado mateus-lev� se casou com maria iii, filha de salom�o e de hannnah (ana), e meio-irm� de maria i, m�e de jesus (ver quadro geneal�gico, cap. 19). e ent�o o terr�vel jo�o da giscala teria sido primo de jesus, embora teria nascido muito tempo depois dele. nas fam�lias �s vezes h� cada embrulho... como vemos, tamb�m a�, e como n�s afirmamos sempre, nas inumer�veis insurrei��es zelotes nos encontramos sempre ante a mesma fam�lia, os chefes s�o todos parentes pr�ximos. e como no caso de judas iscariotes, a trai��o do tio lev�-Mateus explica-se muito bem: tentou fazer acontecer a sucess�o din�stica � cabe�a de seu pr�prio filho. esta trai��o, que surpreender� ao leitor, logo a encontraremos, � facilmente demonstr�vel, e est� confirmada pelo celso em seu discurso verdadeiro veja o cap�tulo 27). 12 - mateus falou-se do descobrimento do original de mateus na tumba de bernab�, no chipre... tentaram nos fazer aceitar diversos farrapos de papiro como os restos da edi��o original de mateus... e tudo sem a menor verossimilhan�a! charles guignebert, o cristo, i, iv n�o transcreveremos o nome de mateus com dois "t", j� que em espanhol se escreve com uma s� quando � um simples nome pr�prio, e que em hebreu leva s� um taw em mathan (ii reis, 11, 18 e jerem�as, 38, 1), quer dizer, mem-taw-nun, pontuados respectivamente pelo patah e o quamats. mateus aparece chamado por clemente de alexandria entre aqueles que n�o se preocuparam com o apostolado depois da morte de jesus (veja o cap�tulo 3) e retornaram a seus assuntos pessoais. quer dizer, que o primeiro "evangelho" que leva seu nome, e que desapareceu muito em breve, segundo or�genes, que n�o o conheceu mais que de ouvido, assim como o segundo, que n�s conhecemos agora com esse nome, igual ao pseudo-mateus, ou livro das inf�ncias de maria e de jesus, todos esses textos n�o puderam ter como autor ao personagem chamado sob esse nome em nossos can�nicos ou nos ap�crifos. e conservamos para o final uma opini�o autorizada: "os detalhes que d� a tradi��o sobre seu apostolado e seu mart�rio n�o t�m valor hist�rico". (cf. dictionnaire de th�ologie catholique, tomo x, 1�. parte, p. 359; imprimatur em 26-

3-1928, paris, letouzey �dit., 1929). assim, como o que se afirma a respeito do apostolado de mateus encontra-se desprovido de todo fundamento hist�rico, � �bvio que o mesmo acontece com o "evangelho segundo s�o mateus", j� que n�o h� apostolado sem evangelho. em uma palavra, mateus jamais comp�s texto algum com esse nome, ao menos n�o o mateus citado em mateus (9, 9 e 10, 3), marcos (3, 18), lucas (6, 15) e nos atos (1, 13). � o mesmo personagem que levi, e para convencer-se basta ler em marcos (2, 14) e comparar com mateus (9, 9). e sob esse nome de levi aparece citado em lucas (5, 27), o que confirma a observa��o seguinte: a) "passando jesus dali, viu um homem sentado ao telonio, de nome mateus, e lhe disse: "me siga". e ele, levantando-se, seguiu-lhe...". (cf. mateus, 9, 9). b) "depois disto (jesus) saiu e viu um publicano por nome levi sentado ao telonio, e lhe disse: "me siga". ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-lhe". (cf. lutas, 5, 27-28). segundo eusebio e epifano, citados pelo cardeal jean dani�lou, s. j., o evangelho dos hebreus, chamado tamb�m evangelho dos nazarenos, n�o seria outro que a vers�o aramaica do evangelho de mateus (cf. j. dani�lou, th�ologie du jud�ochristianisme, p. 34). ter� que ter em conta a tradi��o eclesi�stica, segundo a qual este seria um tio de jesus? no caso afirmativo, devia tratar-se, ou do irm�o de judas da gamala, ou do de joaquim, o pai de maria. como diz, acerbo, clemente de alexandria, nesta indiferen�a prudente para as instru��es de um sobrinho "iluminado", pode classificar-se ao levi-mateus entre aqueles que na montanha, ante o pseudoressuscitado, duvidaram. (veja o cap�tulo 3). por outro lado, suas fun��es de ped�gio, ali�s publicano, quer dizer, de cobrador de impostos indiretos, ao servi�o dos ocupantes romanos, faziam dele um pequeno "arrendat�rio geral", o que implica a posse de uma certa fortuna como ponto de partida, fortuna investida na aquisi��o do cargo. este detalhe pareceria descartar tal possibilidade em um homem jovem, enquanto que resultaria mais plaus�vel no caso de um homem amadurecido. por isso a tradi��o nos apresenta isso como o tio de jesus (e n�o como um irm�o ou um primo, e menos ainda como um estrangeiro), coisa que deveremos ter em conta, assim como essa prud�ncia no fato de n�o querer correr o risco de perder tudo em agita��es est�reis. segundo uma tradi��o mais que legend�ria, evangelizou entretanto a palestina e eti�pia, e ali encontrou o mart�rio por querer opor-se ao matrim�nio do pr�ncipe hirtace com sua parenta ifigenia; isso � o que acontece meter-se onde a um n�o importa. n�o obstante, como h� grandes possibilidades de que ningu�m se chamou jamais assim em eti�pia, voltaremos para a opini�o autorizada do dictionnaire de th�ologie catholique j� citado, ou seja, que n�o sabemos nada sobre mateus, e que n�o redigiu nada. o que parece muito mais sensato. observe-se, por outra parte, que eusebio de cesar�ia, ao citar com muita reserva em seu livro iii, cap�tulo i, as regi�es nas quais teriam evangelizado os ap�stolos, tem muito cuidado em nos fazer compreender, d�bio, que daqueles que nos conta, n�o se faz absolutamente respons�vel. pois bem, nessa passagem n�o diz nenhuma palavra sobre mateus. limitemo-nos, pois, � afirma��o de clemente de alexandria, ou seja, que o citado lev�-Mateus, � morte de jesus, retornou tranq�ilamente a seus frut�feros ped�gios, mais remunerantes e menos perigosos que o prosseguimento das lutas zelotes, que terminavam invariavelmente no tradicional supl�cio da crucifica��o. sobre sua morte real n�o sabemos nada v�lido, evidentemente mateus morreu em luch, ou em hier�polis, ou em naddaver (cf. g. las vergnas, j�sus-christ a-t-il exist�? heraclion nega o mart�rio que alguns lhe adjudicam, qu�o mesmo o grande dictionnaire de th�ologie catholique.) em um pr�ximo cap�tulo veremos que o sil�ncio da igreja est� mais que motivado, e que � prudente n�o insistir muito sobre a vida de "s�o mateus", j� que, uma vez mais, tamb�m aqui nos espera um esc�ndalo explosivo... 13 - bartolomeu os evangelhos n�o s�o, evidentemente, novelas, mas tampouco s�o livros de

hist�ria... danielrops, jesus em seu tempo, introdu��o j� imagin�vamos ligeiramente. mas os governos se esfor�am em fazer acreditar o contr�rio, atrav�s da imprensa, das emiss�es religiosas, dos espet�culos televisionados, etc. e aqui temos outra vez a ocasi�o de surpreender a muito famosa "tradi��o" em estado de total impostura. o ap�stolo bartolomeu citado em mateus (10, 3), marcos (3, 18), lucas (6, 14), nos atos (1, 13). eusebio da cesar�ia nos diz isto a respeito dele: "entre esses homens esteve pantenio, e se diz que foi �s �ndias. tamb�m se diz que lhe antecipara o evangelista mateus, j� que alguns ind�genas do pa�s conheciam cristo. �quelas pessoas, bartolomeu, um dos ap�stolos, pregou-lhes, e deixara-lhes, em caracteres hebraicos, a obra de mateus, que conservaram at� a �poca da qual falamos". (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, v, x, 3-4). sabemos por or�genes, o grande doutor e exegeta morto no ano 254, que j� em seu tempo o texto inicial em aramaico ou hebreu do evangelho de mateus perdeu-se e era totalmente desconhecido. supunha-se que estava composto pelos "ditos" de jesus, senten�as lapid�rias, axiomas, etc., mas em todo caso n�o tinha nada em comum com o relato que or�genes tinha em m�os. pois bem, or�genes era disc�pulo direto de clemente de alexandria, quem o era de pantenio. e o chamado pantenio, que estivera "nas �ndias", n�o trouxera a m�nima c�pia desse precioso documento inicial de mateus? incr�vel! e tanto mais que possivelmente poderia inclusive adquirir o original, ent�o em m�os dos habitantes das �ndias, dado que bartolomeu, ap�stolo, tinha-lhes deixado esse texto imensamente precioso em "caracteres hebraicos". coisa que, para os �ndios, que n�o conheciam a n�o ser os alfabetos indi e s�nscrito, e ignoravam o hebreu como linguagem, n�o representava evidentemente nenhum interesse. (e al�m disso, o cristianismo sempre fracassou nas �ndias, em presen�a das doutrinas tradicionais ou do isl�. logo que h� crist�os, e s� entre os �rf�os recolhidos e logo educados "conforme"). ent�o, que interesse podia ter bartolomeu em lhes deixar um exemplar em hebreu? tudo isso soa fabula��o. observemos que o c�nego g. bardy, em sua tradu��o de eusebio de cesar�ia e em suas notas complementares, diz-nos, p�gina 39 do tomo ii (livros v a vii de eusebio de cesar�ia): "trata-se realmente da �ndia, ou da ar�bia do sul?..." esta observa��o � muito pertinente, se se considerar quantas vezes os c�lebres contos de as mil e uma noites chamam a �ndia ao que n�o � mais que o conjunto das regi�es ao sul do mar vermelho. mas ao mesmo tempo � muito perigosa para a lenda oficial, como veremos logo. voltemos agora para misterioso personagem de bartolomeu. em hebreu � Barthalmai, mas sem o nome de circuncis�o pr�vio, quer dizer, x...-bar-thalmai. esse nome aparece citado em livro dos n�meros (13, 22), josu� (15, 14), em ii samuel (3, 3 e 13, 37) e em i cr�nicas (3, 2). lemaistre de sacy lhe d� como significado "filho daquele que det�m as �guas". thalmai n�o significa exatamente isso, porque tamb�m pode ser "filho das fontes de cima", de tal (em hebreu: altura), e de may (em hebreu: fontes, �guas). ent�o seria "filho das �guas do alto". a vers�o sinodal protestante nos precisa, em sua oitava revis�o (paris, 1962, soci�t� biblique fran�aise �dit.), que bartolomeu era provavelmente o mesmo personagem que natanael, citado em jo�o (1, 45 a 50), ao qual jesus encontraria entre a bet�nia do outro lado do jord�o e galil�ia, para onde volta. ent�o seria natanael-bar-thalmai. sobre a sorte final de bartolomeu, a lenda dourada quer nos fazer acreditar que morreu em alban�polis, em arm�nia, esfolado vivo. mas arm�nia n�o est� no caminho das �ndias, nem no da ar�bia meridional, mais curto. consultemos, pois, de novo ao flavio josefo, quem nos revelar� seu destino final, ao mesmo tempo que o de andr�, ali�s eleazar, ali�s l�zaro, como vimos na passagem j� citada. vejamos, agora, o par�grafo que vem imediatamente depois, e que se refere ao bartolomeu: "algum tempo depois (do desterro de eleazar), ele (o procurador cuspio fado)

mandou capturar deste modo ao bartholomaeus, cabe�a dos bandidos que causara tantos males aos idumeus e aos �rabes, e que fora encadeado. cuspio fado condenouo a morte e purgou assim a toda a jud�ia desses inimigos da seguran�a p�blica..." (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xx, i). � evidente que bartholomaeus � a forma greco-latina de nosso bartolomeu; parece, pois, que nos aproximamos da verdade. retrocedamos um pouco e examinemos a opini�o do c�nego g. bardy, quem considera que a viagem evang�lica �s �ndias do ap�stolo de tal nome � pouco prov�vel, e que se tratou simplesmente da ar�bia do sul, a ar�bia meridional, constitu�da pela idum�ia e a nabatea, esta �ltima reino de aretas iv, que possu�a al�m disso a cidade de damasco, cujo etnarca, e n�o os judeus, tentaria capturar saulo-paulo quando este foi ali. (cf. ii ep�stola aos corintios, 11, 32). e a opini�o do erudito c�nego � muito plaus�vel! j� demonstramos antes a impossibilidade e a falta de l�gica de uma viagem �s �ndias do ap�stolo bartolomeu. se a este lhe ocorreu evangelizar a ar�bia do sul (idum�ia e nabatea), fez de uma maneira muito particular. ali, o evangelho cheio de do�ura que conheceremos partir do s�culo iv, para os �rabes idumeus e nabateos se apresentar� sob a forma de bandos de zelotes bem armados, perfeitamente treinados para o combate e os saques consecutivos; o fogo do esp�rito santo lhes transmitia com tochas, e a imposi��o das m�os se realizava com a sicca, aquele sabre curto, meio adaga, meio cimitarra, e que deu nome aos sic�rios, ex-zelotes. j� encontramos, pois, ao bartholomaeus citado por flavio josefo, e que causara "tantos males aos idumeus e aos �rabes" (op. cit.). por outra parte, cuspio fado (e n�o astyage, irm�o do rei de arm�nia), o procurador que mandou executar bartholomaeus, entrou em fun��es no ano 45 de nossa era, um ano depois da morte do rei herodes agripa i, e por designa��o de claudio c�sar. portanto, provavelmente bartholomaeus foi executado em princ�pio do ano 47, j� que tib�rio alexandre, sucessor de cuspio fado, entrou em fun��es no segundo trimestre do ano 47, e em seguida fez crucificar ao sim�o-pedro e ao jacobosantiago, no mesmo per�odo. de modo que parece evidente que essa tripla execu��o pertence a um epis�dio global da repress�o romana. os protagonistas est�o relacionados pelos fatos, e bartolomeu, sim�o-pedro e jacobo-santiago foram capturados e condenados por suas atividades comuns: uma guerrilha nacionalista, complicada por necessidade vital com banditismo puro e simples aos olhos de roma. porque n�o esque�amos que as incessantes guerras civis terminaram, naquela �poca concreta, por levar a fome a toda jud�ia. e da� as invas�es dos zelotes na ar�bia meridional. bartolomeu estaria encarregado da intend�ncia e do aprovisionamento dos grupos ofensivos. no que concerne a seu tipo de morte, devia ser o habitual: a cruz. mas precedida obrigatoriamente de uma terr�vel flagela��o. tamb�m seria precedida de um interrogat�rio submetido a tortura. e, atrav�s dos autores antigos, sabemos que os verdugos romanos usavam em todo o imp�rio luvas de crinas, manoplas ou manoplas de pele de tubar�o, inclusive unhas de ferro, para depois da flagela��o. e isto p�de dar nascimento � lenda de um bartolomeu esfolado vivo. 14 - iochanan, ou jo�o o evangelista n�o importa se forem partid�rios de pascal ou de voltaire, sua f� n�o ser� s�ria at� que n�o tenha resistido � confronta��o com um advers�rio... jean ghehenno, ce que je crois para a clareza da exposi��o, observaremos acima de tudo que conv�m distinguir a v�rios jo�os. em primeiro lugar est� Jo�o, o batista, evidentemente. foi encarcerado por ordem de herodes antipas na cidadela de maqueronte, � beira do mar morto, em 28 de maio do ano 31 de nossa era, e foi decapitado em 29 de mar�o do ano 32, menos de um ano mais tarde. logo est� Jo�o, o ap�stolo, a quem se chama tamb�m "o disc�pulo bem-amado". este ser� o que estudaremos aqui. est� tamb�m jo�o, o presb�tero, de quem foi ouvinte papias. devia ser um dos setenta e dois disc�pulos enviados por jesus de dois em dois (lucas, 10, 1 e 17, fala de setenta, alguns manuscritos falam de setenta e dois).

est�, por �ltimo, jo�o, de apelido marcos, companheiro de bernab� e de saulo, de quem alguns exegetas declaram que � o mesmo que o marcos evangelista, disc�pulo de sim�o-pedro, e de quem outros afirmam que � um personagem diferente. os docetas (57) usavam preferentemente o evangelho de marcos (cf. irineu, contra as heresias, iii, xi, 7), para o vers�culo 31 do cap�tulo v, que contribu�am os disc�pulos de valent�n, e que sugeria que jesus, enquanto estava com vida, tinha j� o mesmo "corpo ilus�rio" afirmado implicitamente por jo�o, 20, 17. sobre as origens familiares de jo�o, o "ap�stolo bem-amado", em mateus descobrimos isto: "passando (jesus) mais adiante, viu outros dois irm�os, santiago filho de zebedeu, e jo�o, seu irm�o, em um barco, com seu pai zebedeu, que compunham as redes, e os chamou. eles, deixando logo o barco e seu pai, seguiramlhe". (mateus, 4, 21). � evidente que se jacobo (santiago) e iochanan (jo�o) obedecem instantaneamente a esta chamada de jesus, � que lhe conhecem j�. a menos que fique em jogo uma fascina��o hipn�tica, n�o se v� como dois homens normais podem comportar-se assim, e menos ainda quando o pai, a quem com semelhante desenvoltura deixam plantado, com suas redes e seu barco, n�o estranha, nem protesta. portanto, n�o � a primeira vez que jesus os chama, o fato � habitual; reconhecem ao "filho de david", como mais tarde o reconhecer� a juventude judia de jerusal�m, a sua chegada em jeric� (cf. mateus, 21, 9, e marcos, 11, 9); a seus olhos � o rei leg�timo, sen�o legal, e esta chamada � uma ordem formal. mas, quem � esse zebedeu? porque n�o o voltaremos a encontrar em nenhuma outra parte. cita-lhe como pai de santiago e de jo�o, sem mais, em mateus (20, 2027, 56), em marcos (3, 17), lucas (5, 10), jo�o (21, 1-3). os atos dos ap�stolos ignoram-no. portanto, � evidente que os escribas an�nimos do s�culo iv n�o quiseram estender-se sobre este personagem. isso significa que para o historiador, curioso e desprovido de complexos dogm�ticos, apresenta muito interesse. voltemos, pois, ao mateus, e vejamos mais de perto: "...entre elas maria madalena e maria a m�e de santiago e jos� e a m�e dos filhos de zebedeu" (mateus, 27, 56). a priori h� tr�s mulheres diferentes. n�o obstante, sejamos desconfiados e vamos ao texto grego original: "en a�s maria � Magdalen� kai maria � to� Iakobous kai'iosef m�ter kai � m�ter t�n ui�n Zebedaiou ..." (mateus, 27, 56). isto nos d�, traduzido corretamente: "entre elas estavam maria madalena, e maria, a m�e de santiago e de jos�, e m�e tamb�m dos filhos de zebedeu ..." (op. cit.). a m�e dos filhos de zebedeu � a maria m�e de santiago e de jos�, pelos motivos que seguem: por que se nomeia a todos os personagens em quest�o, salvo a essa "m�e dos filhos de zebedeu"? porque constituiria uma repeti��o, porque a acaba de nomear, e n�o se pode voltar a repetir. porque se a �, em grego, significa o ou a, tamb�m significa ele ou ela, e se emprega correntemente para ele mesmo ou ela mesma. (cf. gran dictionaire fran�ais-grec et grec-�fran�ais, de g. ozanneaux, recteur d'academie, inspecteur g�n�ral de l'universit�, paris, 1863, tomo ii, p�gina 607). portanto, deve traduzir-se: "... e maria, m�e de santiago e de jos�, ela mesma m�e dos filhos de zebedeu... "; e n�o ou e m�e dos filhos de zebedeu..."; "e a m�e..." a m�e dos filhos de zebedeu ..." esta �ltima tradu��o falseia totalmente o sentido da frase, e tanto mais que n�o � correto repetir o artigo, dobrando-o. esse truque � uma prova mais de que quer ocultar cuidadosamente que em realidade era a m�e dos filhos desse zebedeu, porque se tratava da maria, a m�e de jesus. n�o � acaso o carpinteiro, filho de maria, e o irm�o de santiago, de jos�, de judas e de sim�o?... (marcos, 6, 3). por outra parte, em lucas lemos isto: "e igualmente santiago e jo�o, filhos de zebedeu, que eram companheiros de sim�o..." (lucas, 5, 10). o grego koinonoi tem o sentido de companheiros, associados. em seu vulgata latina, s�o jer�nimo traduz: "... que eram socii simonis", quer dizer, associados. assim, os filhos de zebedeu est�o associados com os filhos de judas da gamala, e t�m um barco em comum. este barco se acha necessariamente na borda de cafarnaum, j� que a moradia de sim�o-pedro se encontra nessa localidade, tal como nos diz marcos (1, 16 a 31), e sim�o vive ali com andr�, seu irm�o (marcos, 1,

29). como n�o deduzir que se trata tamb�m do barco de santiago e de jo�o? acontece o mesmo quase em todas partes, nos portos pesqueiros. o ou os propriet�rios de um barco geralmente empregam primeiro a seus irm�os ou a seus primos; assim, o barco e a pesca s�o coisas familiares. mas isto implica, como � natural, uma proximidade de moradia. al�m disso, cafarnaum, ao noroeste do lago de genezaret, chamado �s vezes pomposamente o mar da galil�ia, � o porto de atraque de jesus. para convencer-se disso, basta relendo ao marcos (4, 13; 8, 5; 11, 23; 12, 24), marcos (1, 21; 2, 1), lucas (4, 23), jo�o (2, 12; 4, 46; 6, 17). provavelmente inclusive nasceu ali, porque se nazar�h n�o existia naquela �poca, (58) bem teve que nascer em alguma parte. agora bem, alguns exegetas protestantes modernos pensam que foi em cafarnaum, e fundamentam sua opini�o nesta passagem: "... e voc�, cafarnaum, levantar-se-� at� o c�u?" (mateus, 11, 23). esta eleva��o gloriosa da cidade a que jesus acusar� de ingratid�o para a gra�a que foi outorgada (quer dizer, seu pr�prio nascimento), aparece explicitada nesta outra passagem: "... nos termos de zabulon e neftalim, cidade situada � beira do mar, (...) ao outro lado do jord�o, (...) esse povo viu uma grande luz..." (mateus, 4, 13 a 16). pois bem, cafarnaum est� situada perto do mar e no territ�rio de zabulon e de neftalim, isso � exato. n�o obstante, faremos observar a nossos distintos colegas que o pa�s do outro lado do jord�o se chama hoje transjord�nia, e que tamb�m pode tratar-se da besaida-julias, situada em territ�rio de neftalim, mas na borda oriental do jord�o. e em betsaida possu�am bens, sem d�vida familiares, sim�o-pedro e andr�-L�zaro: "era felipe de betsaida, a cidade de andr� e de pedro" (cf. jo�o, 1, 44). poderia recordar-se tamb�m a casa-forte (59) que a fam�lia dav�dica possu�a deste modo em gamala. de fato, a lenda dos humildes carpinteiros insuficientemente alojados em nazar� ter� que releg�-la ao campo das mentiras piedosas. a fam�lia de judas-bar-ezequ�as era rica, rica por atar ao longo das guerras sustentadas desde fazia mais de meio s�culo � custas dos s�rios, e tamb�m pelos d�zimos cobrados �s fac��es que permaneceram fi�is aos descendentes dos antigos reis. (veja-se a este respeito a negativa de pagar o ped�gio � entrada de cafarnaum, precisamente porque ele era filho de rei. (cf. mateus, 17, 24). at� agora s� conhec�amos, como irm�os de jesus, aos quais nos citaram os evangelhos, ou seja, ao sim�o, santiago, judas e jos�. n�s descobrimos um quinto, andr�, ali�s l�zaro. mas esse segundo santiago (chamado o menor) e jo�o, seu irm�o, eram-no tamb�m de jesus? por isso descobrirmos sobre os "filhos de zebedeu", resulta que eram meio-irm�os, nascidos do segundo matrim�nio de maria, depois da morte de judas da gamala, seu primeiro marido. remetemos ao leitor a nossos argumentos anteriores, na obra precedente. com efeito, no apocalipse fala-se da voz de "sete trov�es": "quando tiveram falado os sete trov�es..." (apocalipse, 10, 4). "sela as coisas que falaram os sete trov�es..." (op. cit., 10, 5). em um volume precedente demonstramos que esses sete trov�es eram sete irm�os, (60) e temos em jo�o um eco disso: "depois disto apareceu jesus aos disc�pulos junto ao mar de tiber�ades, e apareceu assim: estavam juntos sim�opedro e tom�s, chamado d�dimo; natanael, o de can� da galil�ia, e os de zebedeu e outros dois disc�pulos. disse-lhes sim�o-pedro: "vou pescar". os outros lhe disseram: "vamos tamb�m n�s contigo". sa�ram e entraram no barco..." (jo�o, 21, 13). sabemos que natanael � o mesmo personagem que bartolomeu (veja o cap�tulo 13). estes �ltimos sete disc�pulos s�o, pois: sim�o-pedro, judas, ali�s tom�s, ali�s d�dimo, ali�s o g�meo (ta�ma em hebreu), bartolomeu, ali�s natanael, santiago, o menor, jo�o, e outros dois que n�o se nomeiam. por que? porque que se trata, indubitavelmente, de andr�, ali�s eleazar, ali�s l�zaro (irm�o de sim�o), e de santiago, o maior (irm�o tamb�m de sim�o-pedro), o que faz sete, a fam�lia est� completa, e a� est�o os "sete trov�es". s� falta jesus, que seria o oitavo, mas como � substitu�do por seu irm�o g�meo, tom�s, desempenhando o papel de pseudo-

ressuscitado, voltamos para sete. o termo empregado para dizer "filho do trov�o" � boanerges, e s� no evangelho de marcos (3, 17). s�o jer�nimo, contrariado, reproduz esta palavra em seu vulgata latina, por n�o lhe conhecer nenhuma tradu��o poss�vel nesta l�ngua. o que significa isso? pois simplesmente que essa palavra � intraduz�vel, tanto em grego como em latim como em hebreu. assim, procuremos: boan � um termo grego associado a toda express�o que evoque ru�do ou fragor de algo. anergastos designa todo ru�do desordenado, tumultuoso, inarm�nico. quanto a erges, designaria a id�ia de ativar, de estimular, de inspecionar uma obra qualquer, do grego ergon. pelo contr�rio, em dialeto cretense, ergatones ou ergaones designa aos oper�rios encarregados de inumar aos mortos no campo. e assim, com boanergaones, n�o ter�amos a um manipulador do raio, a n�o ser a um cantor de salmodias f�nebres. quanto ao boanergastos, em um jarg�o muito popular esse pleonasmo poderia designar um ru�do repetido, como um trov�o rugindo ao longe. mas nada em tudo isto nos demonstra que os "filhos do trov�o" possu�ssem o manejo oculto do raio, como pretendem nos fazer acreditar em lucas (9, 54): "senhor, quer que digamos que baixe fogo do c�u que os consuma?..." na antig�idade existia, efetivamente, uma seita, por certo que de car�ter internacional, que dava em alguns lugares sacerdotes, e em outros bruxos, que conheciam o manejo do raio. � um fato provado, e ainda existia no seio do lama�smo tibetano, na seita bon-po, os bon�s negros, por volta de 1950, no tibet oriental, antes da ocupa��o a china. de todo modo, um erudito investigador brit�nico, john marco allegro, professor da universidade de manchester (estudos b�blicos), acaba de proporcionar uma explica��o t�o sensacional como inesperada. ele foi o primeiro representante de gr�-Bretanha na equipe internacional encarregada de preparar a publica��o dos c�lebres manuscritos do mar morto. em sua obra, traduzida em oito idiomas, e intitulada de champignon sacr� et a croix (paris, 1971, albin michel �idt.), estuda o papel da amanita muscaria nos antiq��ssimos cultos da fecundidade do pr�ximo oriente. e aqui temos o que podemos conservar para nosso estudo: o termo de boanerges, como acabamos de ver, n�o significa nada do que jesus pretende expressar em sua frase, relatada por marcos em seu evangelho (3, 17), ao menos em grego. por outro lado, n�o procede de nenhum dos dialetos aramaicos conhecidos. pois bem, como j� observamos em uma obra precedente, o hebreu conservou em seu vocabul�rio palavras procedentes das l�nguas mais antigas: caldeu, ass�rio, ac�dio, e inclusive sum�rio. isso aconteceu com todas as l�nguas, constitu�das por contribui��es sucessivos. e john marco allegro, familiarizado com essas l�nguas mortas, descobriu que boanerges procedia diretamente do sum�rio, e que essa palavra n�o era a n�o ser a contra��o de uma curta frase nesse mesmo dialeto: gesh-pu-an-ur, convertida logo em pu-an-ur-ges, de onde esse termo, incompreendido pelos escribas dos s�culos iv e v: bu-an-er-ges, convertido em boanerges, barbarismo que se tomava por grego. esta curta frase, em sum�rio, significa simplesmente "filho do trov�o", e era t�o somente o nome de um cogumelo alucin�geno, a amanita muscaria, ou amanita phalloide, a amanita matamoscas, a c�lebre muchamore dos xam�s siberianos ou kamtchadales, nossa perigosa "falsa oronja". esse nome, ou apelido, como se queira, deriva da cren�a pr�pria dos homens da sum�ria, segundo a qual nascia da voz mesma do raio ou do estrondo do trov�o, j� que se constatava sua apari��o no ch�o imediatamente depois das tormentas. aqui deixaremos por um momento as revela��es de john marco allegro, para voltar para nossa gram�tica acadia de m. rutten, do museu de louvre (paris, 1937, adrien-maisonneuve �dit.), el�ments d'accadien. os textos acadios mais antigos se remontam � dinastia sem�tica de acad, quer dizer, a 2.800 anos antes de nossa era, e os �ltimos ao s�culo i desta. quer dizer, que n�o � surpreendente encontrar termos procedentes de acad nos diversos dialetos aramaicos. o grupo oriental acadio das l�nguas sem�ticas deu nascimento ao ass�rio e ao babil�nio. e no acadio (como no ass�rio), n�o h� mais que quatro vocais, ou seja, a, i, u, e, que constituem o tetragrama sagrado por excel�ncia, o nome divino dos hebreus: ieua (i�uhah), em hebreu iod-he-vaw-he. estes, apoiando-se nessa tradi��o, tinham-no s�

no cativeiro da babil�nia. agora bem, se houver uma tradi��o fundamental na exegese do antigo testamento, essa � a que qualifica ao deus de israel elohim da tormenta, porque yav� �, efetivamente, o deus do raio. citemos simplesmente, como justifica��o: "o trov�o anuncia que vem..." (j�, 36, 33). "e mostrar� (yav�) como fere seu bra�o... (...) entre nuvens, tempestade e furiosos granizos" (isa�as, 30, 30). "no terceiro dia, ao amanhecer, houve trov�es, rel�mpagos, e uma densa nuvem sobre o monte (sinai) (...). todo o monte sinai estava fumegando, porque sobre ele tinha descido yav� no meio de fogos..." (�xodo, 19, 16-18). recorde o papel do peyotl no m�xico, ou dos cogumelos alucin�genas e te�foras da am�rica do sul. por outro lado, � seguro que, esotericamente, esse cogumelo, a amanita muscaria, � o misterioso fruto do jardim do �den. em plaincourault, perto de m�rigni (indre, fran�a), ela � a que, engrandecida desmesuradamente, flanqueada por ad�o e eva, que velam seus sexos com as m�os. esse afresco se remonta ao s�culo xii. portanto, o papel secreto da amanita ainda era conhecido naquela �poca nos ambientes crist�os heterodoxos mais ou menos "iniciados". conseq��ncia imediata disso, para um primitivo, � evidentemente que o cogumelo que aparece depois da tormenta, sem que nada justifique seu broto do ch�o, � "filho do trov�o", seu sinal e o testemunho da materialidade do deus do raio. conseq��ncia secund�ria: ao utilizar suas propriedades alucin�genas impregna-se da natureza, algu�m se diviniza. e ent�o aparecem os fen�menos de intoxica��o ps�quica. aproximadamente uma hora depois da absor��o da amanita muscaria, o indiv�duo � objeto de pux�es nervosos, de tremores de todos os membros; seguem sacudidas tendinosas. ao princ�pio permanece consciente; ps�quica e interiormente est� de bom humor. logo come�am as alucina��es, os sonhos em vig�lia, as vis�es. o indiv�duo empalidece, seus olhos se voltam fr�geis. ainda s�o poss�veis alguns gestos volunt�rios e conscientes, logo sobrev�m uma tristeza ou uma alegria extremadas. �s vezes o indiv�duo parece �brio, dan�a ou salta sobre o lugar. experimenta tamb�m a necessidade de confessar-se publicamente, de esvaziar-se literalmente de todos seus segredos. � uma verdadeira libera��o, um desafogo. todos estes dados os tiramos de um grande especialista, l. lewin, em sua obra phantastica (op. cit., cap. iv). n�o recorda isto nada ao leitor? voltemos para os evangelhos, a passagem no que se diz que se tinha ao jesus por louco: "ouvindo isto seus parentes, sa�ram para apoderar-se dele, pois dizia-se: est� fora de si..." (marcos, 3, 21). s�o jer�nimo, em seu vulgata latina, texto oficial da igreja cat�lica, traduz por furorem versus, quer dizer, louco furioso. e nos atos de jo�o, ap�crifo do s�culo iv, redigido em grego, mostra jesus dan�ando antes de sua captura ante seus disc�pulos e explicando-lhes o porqu� em um curto discurso, totalmente incoerente: "quem n�o dan�a, n�o sabe o que vai acontecer! ... voc� que dan�a, olhe em mim, que falo, e vendo, participando, mantenho silencio sobre meus mist�rios..." (atos de jo�o, xciv). assim, e para resumir, nossos m�sticos extremistas, chefes da corrente zelote, eram drogados. da� as "vis�es" prof�ticas. e ao qualificar santiago e jo�o de "filhos do trov�o" (boanerges), jesus lhes d� simplesmente o nome de sua droga, assimila-os a ela, algo assim como se a um b�bado inveterado lhe chamasse "bota de vinho", ou a um devorador de carnes semi-cruas, "rosbife". e a isso se reduz provavelmente todo o mist�rio dos pretendidos "manipuladores do raio". (cf. john marco allegro, le champignon sacr� et la croix, em concreto as p�ginas 225 a 230, onde o autor demonstra que os zelotes faziam uso da amanita muscaria). maria, m�e de jesus, aproveitava tamb�m as propriedades desse cogumelo sagrado? n�o � imposs�vel. porque h� documentos muito antigos que lhe atribuem a qualidade de profetisa: "e o anjo gabriel entrou em casa da profetisa, e ela concebeu e iluminou a um filho". esta qualifica��o, in extenso, aparece reproduzida por s�o epifanio, bispo de salamina, e encontra-na em codex sinaiticus e em alexandrinus, conforme nos diz o abade e. amann em sua tradu��o do protoevangelio de santiago. (prot�vangile de

jacques, p. 19, nota 1). pode ent�o admitir-se que, quando maria concebeu jesus de seu leg�timo marido judas da gamala, e enquanto ignorava ainda que estava gr�vida, ao utilizar com fins vaticinadores segundo seu costume (profetisa) o cogumelo sagrado, teve a vis�o de um personagem fabuloso, que ela identificou logo com o anjo gabriel, e percebeu intuitivamente que estava gr�vida, que daria a luz um filho, etc�tera. o que explicaria que, continuando, ao retornar desse estado ao estado de vig�lia habitual, n�o recordasse j� tal alucina��o. e da� a frase do protoevangelio de santiago: "mas maria tinha esquecido os mist�rios que lhe revelara o anjo gabriel", e o fato de que ela n�o revelasse jamais nada dessa concep��o milagrosa aos irm�os menores de jesus. (61) sobre o fato de que jo�o o evangelista � irm�o de sim�o-pedro, e por conseguinte irm�o tamb�m de jesus, dado que pedro o era, (62) temos a prova definitiva na cr�nica de george hamortholos, documento do s�culo ix, e que tende a demonstrar que seu autor possu�a ainda os cinco livros de papias: coment�rios �s palavras do professor. voltemos para evangelho de jo�o: "disse-lhe jesus: "apascenta meus cordeiros (...) na verdade, na verdade te digo: quando foi jovem, voc� se rodeava e foi aonde queria; quando envelhecer, estender� suas m�os e outro rodar� e se levar� aonde n�o queira". isto o disse indicando com que morte havia (pedro) de glorificar a deus. depois acrescentou: "me siga ... "(jo�o, 21, 15, 1819). ent�o vem a passagem em que jesus diz de jo�o: "eu quero que ele fique assim at� que eu venha; que tens tu com isso? segue-me tu". (jo�o, 21, 22). e nesses vers�culos trata-se unicamente de sim�o-pedro e de jo�o, o evangelista. pois bem, em sua cr�nica, georges hamortholos nos diz de jo�o que foi "morto pelos judeus, cumprindo, igual a seu irm�o, a palavra que cristo pronunciara sobre eles..." (op. cit.) esse irm�o �, portanto, evidentemente sim�o, e n�o � de santiago de quem se trata aqui. por conseguinte, jo�o � irm�o de sim�o-pedro, e portanto irm�o de jesus, e morreu em jud�ia, como eles, o que suprime toda indecis�o sobre as diversas tumbas que se afirma que s�o as suas. mas, sobretudo, isso implica que tiveram a mesma m�e (e possivelmente o mesmo pai), de onde a frase de jo�o confirma: "jesus, vendo sua m�e e ao disc�pulo a quem amava, que estava ali, disse � m�e: 'mulher, eis a� a seu filho'. logo ao disc�pulo: 'eis a� a sua m�e'..." (jo�o, 19, 26). e isto exp�e ent�o outro problema, o das rela��es de identidade entre o misterioso alfeu e sim�o, o leproso. em mateus (10, 3), marcos (3, 18), lucas (6, 15), e atos (1, 13) inteiramonos de que h� um santiago (jacobo) que � filho de alfeu, e esse lev�, sentado no posto de ped�gio, e por conseguinte publicano, � o mesmo que mateus, como j� vimos precedentemente (veja o cap�tulo 12). isso confirma que o chamado alfeu � tamb�m da fam�lia, e seu filho santiago outro tanto. agora bem, o grego alphos significa herpes branco, quer dizer, psoriasis. n�o � dif�cil adivinhar que se trata de um nome hel�nico que acompanhava, como era costume, o nome hebreu de circuncis�o, e que tal nome era deste modo um apelido. qual era ent�o o nome de circuncis�o? estamos em nosso direito de supor que se tratava de sim�o, o leproso, cuja moradia se achava em bet�nia, e que vivia com marta e maria, irm�s de l�zaro, ali�s andr�, irm�o de jesus, irm�s do chamado jesus (mateus, 26, 6; marcos, 14, 3) como foi demonstrado antes (veja o cap�tulo 9). ent�o seria um mesmo personagem, com diversos nomes, provavelmente um tio av� de jesus, j� que era o pai de mateuslev�, por sua vez tio do chamado jesus. e ao estudar a personalidade da jovem maria, irm� de jesus, veremos por que o ostracismo legal comprometido por seu apelido (a psoriasis naquela �poca freq�entemente era tomada como uma lepra), impondo-lhe uma vida � parte, fora de jerusal�m, como ela. por outro lado, alfeu � a forma helenizada do hebreu eliphas, que significa "deus o purificado". seria ent�o o famoso nome de substitui��o que se impunha em israel a um doente, no curso de um ritual especial, em lugar do nome de circuncis�o, a fim de desviar uma enfermidade ou um perigo. eliphas tinha

substitu�do ent�o ao zebedeu, amea�ado de lepra (em realidade de psoriasis), e logo traduzido ao grego por alfeu, de alphos (herpes branco), porque significaria a purifica��o. dos vers�culos nos quais se cita aos dois irm�os, santiago e jo�o, como "filhos de zebedeu", resulta que santiago � provavelmente o maior. acabamos de ver que procediam do segundo matrim�nio de maria, m�e de jesus, j� que a morte de judas da gamala, seu primeiro marido, situar-se-ia por volta do ano 6 de nossa era, data da revolu��o do censo. esse segundo matrim�nio, conforme � lei judia, pode situar-se portanto por volta do ano 7 de nossa era. santiago teria nascido no ano 8, e jo�o, que viria em seguida, por volta do 9 ou 10. o prazo legal que separaria a morte, publicada e certificada, de judas o gaulanita, e o novo matrim�nio de maria deveria ser muito curto, j� que com esta segunda uni�o do que se tratava era de dar um protetor leg�timo e eficiente aos filhos do chefe zelote morto em combate. os romanos, com efeito, esfor�avam-se por suprimir por todos os meios poss�veis � descend�ncia dav�dica, conforme diz eusebio da cesar�ia em sua hist�ria eclesi�stica (iii, xii, xx, xxxii). e fica um eco das priva��es que esta morte conduziu ao lar familiar na obra atribu�da a clemente de roma: "a essas palavras, pedro respondeu: '... porque eu e andr�, meu irm�o ao mesmo tempo carnal e ante deus, n�o s� fomos criados como �rf�os, mas sim al�m disso, por causa de nossa pobreza e de nossa situa��o penosa, acostumamos desde a inf�ncia ao trabalho...'." (cf. clemente de roma, homilias clementinas, xii, vi). por conseguinte, jo�o contaria uns vinte e quatro ou vinte e cinco anos na �poca da crucifica��o de seu meio-irm�o maior jesus, no ano 35 de nossa era, �poca de tal morte, quando jesus teria, como j� se disse, e segundo s�o irineu, uns cinq�enta anos de idade. segundo a tradi��o eclesi�stica, jo�o teria morrido sob o reinado de trajano, quer dizer, por volta do ano 98, que foi quando come�ou tal reinado. jo�o contaria, por conseguinte, oitenta e oito anos. isto nos parece muito, tendo em conta os acontecimentos tr�gicos nos quais se viu necessariamente envolto. porque seu irm�o santiago (o menor) morreu no ano 63, quer dizer, � idade aproximada de cinq�enta e cinco anos. a opini�o de v�rios historiadores � que jo�o morrera na palestina, e portanto muito antes do que diz a lenda. sobre este tema citaremos, uma vez mais, georges hamartholos (chamado jorge, o monge), quem, em sua cr�nica do ano 850 nos conta que "papias, testemunha do acontecimento, diz que jo�o morreu �s m�os dos judeus". (cf. migne, patrologie grecque). o martirol�gio de s�ria, que � do s�culo iv, fixa em 27 de dezembro a morte dos dois irm�os, santiago e jo�o, que passaram juntos a melhor vida. tudo isto implica uma dupla inverossimilhan�a, das duas tumbas eretas em �feso. haveria, pelo menos, uma a mais. (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, xxxix, e e vii, xxv, 16). � morte de jesus, seu irm�o maior, jo�o teria recebido dele a miss�o de velar por maria, a m�e de ambos; e da� a c�lebre passagem: "jesus, vendo sua m�e e ao disc�pulo a quem amava, que estava ali, disse � m�e: 'mulher, eis a� a seu filho'. logo disse ao disc�pulo: 'eis a� a sua m�e'...".(jo�o, 19, 26). o texto acrescenta que, a partir desse momento jo�o tomou em sua casa, o que implica que antes devia viver em casa de seus outros filhos, e confirma o que diz�amos antes, ou seja, que jo�o era filho de maria, e portanto irm�o de jesus. entretanto, esse texto parece falseado, por causa de um manuscrito descoberto recentemente. david flusser, em seu livro jesus, citando o descobrimento desse ap�crifo, (63) diz que as palavras reais de jesus deveriam ser: "pega seus filhos e vai!". (op. cit., p. 28). a presen�a veross�mil, ao p� da cruz, de sim�o, santiago e judas, conhecidos como disc�pulos de jesus, e portanto, sujeitos ao risco de ser capturados pelos legion�rios de guarda naquele lugar, faz-nos duvidar da veracidade de tal epis�dio. a menos que o manuscrito estivesse mal traduzido, que a passagem fora mais ou menos decifr�vel, e que terei que ler: "pega suas filhas e vai...", porque

segundo os can�nicos ao p� da cruz patibular s� h� mulheres. seja o que for, o epis�dio de jo�o tendo que encarregar-se de maria em sua casa parece muito suspeito aos olhos do historiador desconfiado. com efeito, segundo s�o irineu, disc�pulo e ouvinte dos "padres apost�licos" ("que conhecera os ap�stolos"), jesus morreu com cinq�enta anos, "pr�ximo � velhice". como foi crucificado por volta do ano 34 ou 35 de nossa era, nasceu em 16 ou 17 antes desta. maria, sua m�e, n�bil legalmente com idade de doze anos e meio, p�de t�-lo quando tinha uns quinze anos. ela nascera, portanto, por volta do ano 32 antes de nossa era, o que significaria que nesse momento contaria aproximadamente sessenta e cinco anos. pois bem, a quem se far� acreditar que jo�o se ocupou de evangelizar a �sia, e que viveu nela, como assegura eusebio da cesar�ia? (cf. hist�ria eclesi�stica, iii, i). quer dizer, que esteve sempre caminhando, velando, cuidando e subserviente �s necessidades de uma m�e anci�. porque naquela �poca, e mais ainda em todo o oriente m�dio, uma mulher de mais de sessenta e cinco anos, e depois de passar por todas as trag�dias que sabemos, aparentaria muito mais. achamo-nos historicamente muito longe da imagin�ria de saint-sulpice, em que maria aparenta sempre uns quinze anos, e nos apresenta como uma jovem t�mida e bem educada. seguro que o apostolado itinerante de jo�o n�o podia acompanhar-se de semelhante carga. (64) mas isto n�o � tudo. igual a sim�o-pedro e que jacobo-santiago, seus meio-irm�os, desaparece totalmente dos atos dos ap�stolos depois do s�nodo de jerusal�m, no ano 47. o que se faz dele? mist�rio. porque vinte e tr�s anos mais tarde, se dermos cr�dito ao tertuliano, encontra-se em roma, no ano 70, quer dizer, seis anos depois do inc�ndio da cidade e do varrido efetuado entre qu�o crist�os residiam ali. que fazia, pois? apostolado, claro! mas, neste caso, por que n�o se sabe nada de seu trabalho na capital do imp�rio romano? chega ent�o o reinado de domiciano, segundo filho de vespasiano, que governar� o imp�rio desde ano 81 at� o 96. em 81, jo�o teria uns setenta e um anos. ao comprometer-se na persegui��o ordenada por esse imperador contra todas as seitas e sociedades secretas, sejam as quais forem (os crist�os n�o s�o os �nicos afetados), jo�o e outros sofrer�o o mart�rio, segundo a hist�ria oficial. ser� submerso em uma cuba de azeite fervendo, �s portas de roma. mas sair� dela fresco e bem disposto, claro est�, tertuliano chega inclusive a acrescentar que "revigorado", e conseguir� fugir, apesar da guarda e dos espectadores, pela porta latina, de onde seu nome de s�o-jo�o-porta-latina. aqui ca�mos em pleno del�rio piedoso; julgue-se, se n�o. a porta latina. porta latina, abre-se, efetivamente, sobre o caminho que, ao sul de roma, conduz para as catacumbas de s�o calixto. est� pr�xima �s termas de caracalla, e se situa a apenas mil e quinhentos metros do coliseu. pois bem, est� aberta na muralha de defesa constru�da por ordem do imperador aureliano, muralha que foi constru�da entre os anos 270 e 275 de nossa era, quer dizer, finais do s�culo iii, a fim de proteger � capital do imp�rio romano das invas�es b�rbaras. ao lado desta porta se levanta a capela de s�o giovanni in oleo, quer dizer, "s�o jo�o no azeite", lugar tradicional no qual se afirma que teve lugar o milagre. porque, como milagre, � e bem gordo isso de sair intacto de um banho em uma cuba de azeite em ebuli��o, e logo fugir por uma porta que ainda n�o existe, qu�o mesmo a muralha da qual forma parte. observar-se-�, al�m disso, que eusebio da cesar�ia, que redige sua hist�ria eclesi�stica no s�culo iv, ignora totalmente a vinda de jo�o � Roma, e a fritura em azeite fervendo. entretanto, eusebio leu de praescript haeretic de tertuliano, morto no ano 240, onde figura este epis�dio. e n�o o teve em conta. por outra parte, a tradi��o oriental situava este epis�dio em �feso. algu�m perde, a verdade! o mais prov�vel (se � que jo�o foi � Roma, coisa que resulta bastante duvidosa) � que, importunados por suas pr�dicas e escandalizados por seus ataques contra a religi�o do imp�rio, os paroquianos agarrassem-no e atirassem-no dentro de um recipiente de azeite frio ou, mais simplesmente ainda, esvaziaram-lhe uma �nfora de azeite em cima da cabe�a. e tentou fugir, todo viscoso, n�o seria pela porta latina, ainda inexistente. logo lhe apanhariam de novo, j� que o encontramos em patmos, uma das ilhas esp�radas, ao norte do mar egeu. o que prova que a

aventura do azeite, se admitir sua realidade, n�o procedia de uma condena��o a morte legal, j� que o banho de azeite fervendo n�o � um castigo ordenado por um magistrado, e no caso de uma condena��o a morte pr�via, n�o teria visto tal pena comutada por uma deporta��o livre, depois do novo delito de fuga. toda esta lenda n�o descansa sobre nada plaus�vel. foi relevado desta deporta��o � Patmos no ano 98, primeiro ano do reinado de nerva, imperador muito benevolente, e foi residir em �feso, cidade de jonia, tamb�m sobre o mar egeu. em sua estadia em tal cidade foi onde morou, claro est�, que: "o dia do senhor (um domingo), � terceira hora (�s nove da manh�), produziuse um grande tremor de terra, uma nuvem se elevou de repente ante os olhos de todos e o transportou � Jerusal�m, ante a soleira da moradia se achava a virgem maria, m�e de deus. empurrando a porta, entrou..." (cf. m�liton, livre du passage de tr�s-sainte-vierge marie, m�re de dieu, cap�tulo iv e seguintes). e o bom s�o melit�n, que foi bispo de sardes, em l�dia, conta-nos, maravilhado todo ele, como os santos ap�stolos, apesar de estarem "dispersos por toda a terra", chegaram com os mesmos meios sobrenaturais que jo�o � mans�o de maria, quem subiu aos c�us levada pelos anjos, deixando-lhes dessa ascens�o memor�vel um testemunho evidente: seu formoso cintur�o azul. conhecemos outros exemplos destes: em constantinopla, em soissons, em quintin, em notre-dame de paris, em chartres, em assis, em prato (italia), em montserrat (catalu�a), quer dizer, quatro na francia, do total de oito. n�o em v�o a fran�a � a "filha maior da igreja". como isto nos ares, por cima de jerusal�m, desenvolvia-se no ano 98, e maria nasceu, aproximadamente, como estabelecemos antes, no ano 32 antes de nossa era, quando teve lugar essa ascens�o aos c�us ela contaria, portanto, 32 + 98 = 130 anos. o que � muito para uma viagem assim. n�o ria voc�, leitor. porque, ante o grande estupor do mundo protestante, e dos consternados te�logos e exegetas cat�licos, o papa pio xii fez desta lenda da ascen��o da virgem, em carne e osso, um dogma definitivo, e um artigo de f� para toda a igreja cat�lica. mas ter� que observar que, quando o bom s�o melit�n comp�s ou recolheu esse relato, chamado inicialmente transitus mariae, quer dizer, no s�culo iv, ignorava ainda que os escribas an�nimos, que operavam ao mesmo tempo que ele, imaginariam confiar ao jo�o sua m�e maria no evangelho de jo�o (19, 27), j� que os mostra separados desde fazia muito tempo, nem que mais tarde morresse em �feso, em lugar de jerusal�m. para concluir, recordando que em �feso n�o faz ainda muitos anos mostravamse v�rias tumbas diferentes do ap�stolo jo�o, e sabendo por outra parte que houve v�rios personagens com este nome na hist�ria balbuciada dos primeiros s�culos, n�s manteremos uma prudente reserva. e mais quando, igual � Cr�nica de georges hamartholos, um manuscrito do s�culo iv de felipe de sida (por volta do ano 430) contribui-nos a afirma��o de papias, quem ensinava que "jo�o morreu em jud�ia, muito antes da destrui��o de jerusal�m por tito, no ano 70". o que destr�i, evidentemente, toda a lenda. deixemos, pois, esses relatos infantis acumulados sobre essa figura t�o interessante do disc�pulo "que jesus amava", deixemos aos historiadores eclesi�sticos enredar-se a mais n�o poder em suas m�ltiplos contradi��es, e nos limitemos a considerar simplesmente que iochanan-bar-zabdi, ali�s jo�o filho de zebedeu, morreu na palestina, no curso das repres�lias romanas exercidas contra o movimento messianista ou zelote, como todos seus irm�os e meio-irm�os, e que se a lenda aceitar a mentira, a hist�ria, pelo contr�rio, exige ter aparelhada a verdade. porque o que em troca sim � certo, � que jo�o participou tamb�m na luta messianista. e na hist�ria eclesi�stica de eusebio da cesar�ia lemos o seguinte, que resulta bastante desconcertante: "tamb�m jo�o, aquele que repousou sobre o peito do senhor e que foi sacerdote (em hebreu: cohen), e levou o petalon, que foi m�rtir e didascalo, repousa em �feso". (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, xxxi, 3). "o trono (em grego: tronos) de santiago, daquele que foi o primeiro que recebeu do salvador e dos ap�stolos o episcopado da igreja de jerusal�m, e a quem as divinas escrituras designam habitualmente como o irm�o de cristo, conservou-se

at� nossos dias". ((cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, vii, xix). o petalon era uma ins�gnia pontif�cia, pr�pria do supremo sacerdote de israel. est� descrito no �xodo (28, 36-38) como uma l�mina de ouro puro, com a inscri��o gravada "consagrado ao yav�", e estava fixado sobre a tiara do pont�fice, em meio de sua cinta frontal. (65) assim, jo�o seria, em uma esp�cie de heresia associado � corrente zelote, o equivalente do pont�fice supremo da ortodoxia judia. mas se tratava de um cisma, embora dentro da grande linha da lei recebida do sinai. e ante esta constata��o de um jo�o, rival do cohen-ha-gadol, por l�gica devemos varrer a imagem de um jo�o enquadrando-se dentro de todas as elucubra��es her�ticas dos fundadores crist�os de saulo-paulo. porque esta rivalidade entre o jo�o e o pont�fice supremo sa�do das classes dos saduceus implica que jamais o citado jo�o imaginou um deus em tr�s pessoas, uma das quais constituiria seu pr�prio irm�o. e logo, em seus disc�pulos, acharemos a prova, quando estes dizem: "nem sequer ouvimos que exista um esp�rito santo..." (cf. atos dos ap�stolos, 19, 2). por outra parte, os tronos episcopais n�o aparecer�o sob o aspecto de cadeiras, de pedra ou de m�rmore, at� que os crist�os possuam bas�licas, quer dizer, pelo menos at� o s�culo iv. esse trono de santiago, que na opini�o dos exegetas cat�licos devia ser de madeira, e provavelmente de cedro, era significativo da autoridade de santiago, do mesmo modo que o petalon o era de jo�o. era, portanto, um trono real, e n�o uma cadeira que simbolizasse a autoridade espiritual. observemos, al�m disso, que na passagem de eusebio citada anteriormente, santiago recebera "do salvador e dos ap�stolos" a autoridade sobre a igreja de jerusal�m, quer dizer, toda a igreja primitiva. o que varre definitivamente a pretendida "primazia de sim�o-pedro", t�o c�moda para assentar as pretens�es da futura igreja de roma, embora sim�o-pedro n�o estivesse jamais em roma, e embora foi indiscutivelmente o primeiro bispo da antioquia, o que o situaria esta �ltima imediatamente depois da de jerusal�m. foi, efetivamente, quem consagrou ao evod, primeiro bispo de antioquia. (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, xxii). voltando para o duplo poder da corrente zelote, constataremos que o chefe tempor�rio est� sempre acompanhado de um chefe espiritual: - judas da gamala com o cohen fariseu saddoc. - jesus-bar-juda (jesus) com o iochanan-bar-zakariah (o batista). (66) - jacob-bar-juda (santiago) com o iochanan-bar-zabdi (jo�o). - sim�o-bar-kokheba com rabbi akiba-ben-ioseph. e isto � uma prova mais de que jo�o, "o ap�stolo bem-amado" jamais foi outra coisa que um militante zelote, como todos seus irm�os. n�o obstante, ainda nos parece necess�rio aqui um �ltimo resumo, como aconteceu com a biografia de sim�opedro. � evidente que se o ap�stolo jo�o morreu na jud�ia muito antes do ano 70 (data da destrui��o de jerusal�m), tal como testemunha papias, citado por felipe de sida, quem no s�culo iv ainda possu�a sua exegese das senten�as do senhor, � que foi executado ali pelos romanos como zelote, j� que naquela �poca roma s� perseguia a estes, dado que a persegui��o do ano 64 consecutiva ao inc�ndio da capital do imp�rio ainda n�o transbordara os limites da cidade. (67) e tinha outras coisas que fazer, em lugar de redigir um evangelho que n�o aparece citado mais que, pela primeira vez, na obra de irineu, quer dizer, por volta do ano 190 de nossa era... conclus�o inevit�vel: o fato de que os irm�os e disc�pulos de jesus fossem todos zelotes militantes, e perecessem no curso dos combates que respondiam a esta m�stica, como acabamos de demonstr�-lo, prova de maneira definitiva que o pr�prio jesus n�o foi jamais outra coisa que o chefe supremo desse movimento, tal como j� desenvolvemos extensamente em uma obra precedente. 15 - as "l�nguas de fogo" do pentecostes receber� seu batismo! esse segundo batismo anunciado por jesus, e que caiu

sobre os ap�stolos um dia de tormenta que a janela estava aberta!... gustave flaubert, la tentation de saint antoine, iv "quando a �gua curva um bast�o, minha raz�o o endireita...", disse la fontaine em seu animal dans la lune. e � bastante evidente; mas s� o � para a gente com sentido comum, e a ingenuidade humana, a credulidade faminta de coisas sobrenaturais "a todo custo", n�o o entendem assim. neste breve estudo consagrado ao "milagre" do pentecostes, e que n�o tem outro objetivo que restabelecer o clima real no que p�de nascer sua lenda, nos limitaremos a citar os textos concretos, e que n�o podem ser discutidos. releiamos, pois, os atos dos ap�stolos: "ao cumprir o dia do pentecostes, estando todos juntos em um lugar, produziu-se de repente um ru�do proveniente do c�u como o de um vento que sopra impetuosamente, que invadiu toda a casa em que residiam (os ap�stolos). apareceram, como divididas, l�nguas que pareciam de fogo, que se posaram sobre cada um deles, ficando todos cheios do esp�rito santo; e come�aram a falar em l�nguas estranhas, conforme o esp�rito outorgava-lhes expressarem-se. residiam em jerusal�m judeus var�es piedosos, de quantas na��es h� sob o c�u, e havendo-se deslocado a voz, juntou-se uma multid�o, que ficou confusa para lhes ouvir falar com cada um em sua pr�pria l�ngua. estupefatos de admira��o, diziam: 'todos estes que falam, n�o s�o galileus? pois como n�s os ouvimos cada um em nossa pr�pria l�ngua, em que nascemos? partos, medos, elamitas, os que habitam mesopot�mia, jud�ia, capad�cia, o ponto e a �sia, fr�gia e panf�lia, o egito e as partes de l�bia que est�o contra cirene, e os forasteiros romanos, judeus e partid�rios, cretenses e �rabes, ouvimo-los falar em nossas pr�prias l�nguas as grandezas de deus!'. todos, fora de si e perplexos, diziam-se uns aos outros: 'o que quer dizer isto?'. outros, escarnecendo, diziam: 'est�o carregados de mosto'..." (cf. atos dos ap�stolos, 2, 1 a 13). antes de mais nada, e dirigido aos leitores que desconhe�am as diversas liturgias, tanto judias como crist�s, recordaremos que a p�scoa judia tem lugar na lua cheia que segue ao equin�cio da primavera. o sol encontra-se ent�o no signo de �ries (m�s de nis�n), e a lua, ipso facto, no signo de libra. a p�scoa segue um per�odo de cinq�enta dias (cinq�enta, em grego: pentekost�s), que constitui um ciclo de sete semanas (sete vezes sete dias), seguido de que faz cinq�enta, dia crucial para os cabalistas e os m�sticos judeus. essa p�scoa comemora a "sa�da do egito". o dia que faz cinq�enta, chamado chabuoth em hebreu, corresponde � entrega das pranchas da lei ao mois�s em monte sinai: matan torah. para realizar na alma do cabalista uma "ascens�o" simb�lica para deus e receber a ilumina��o pessoal, existe um ritual, que por certo variou no curso dos s�culos, e � o ritual do tikun chabuoth, observado fielmente na noite do pentecostes por m�sticos e cabalistas judeus. e � isso, e nenhuma outra coisa, o que observaram os d�scipulos e irm�os de jesus naquela noite do chabuoth do ano de sua crucifica��o. � seguro que, antigamente, esse ritual compreendia fumiga��es compostas por produtos vegetais anag�genos, (68) e a ingest�o de vinhos de ervas nos quais se puseram em infus�o produtos vegetais alucin�genos. sobre o uso desses produtos, basta relendo tudo o que concerne �s escolas de profetas e � embriaguez em rituais dos cohanim: i samuel, 9, 9; 10, 10; 19, 20; isa�as, 28, 7; salmos, 75, 9; isa�as, 29, 9; miqu�ias, 2, 11; �xodo, 15, 20; ju�zes, 4, 4; ii reis, 22, 14; nehem�as, 6, 14; isa�as, 8, 3. por isso � que dom j. dupont o.s.b., professor na abadia beneditina de saint-andr�, tradutor e anotador dos atos dos ap�stolos no marco da b�blia da escola b�blica de jerusal�m, esclarece discretamente as coisas em suas notas, que n�s resumiremos: a) h� uma afinidade entre o esp�rito e o vento, j� que em hebreu esp�rito significa sopro; b) a forma das chamas se relaciona aqui com o dom das l�nguas; por sua forma e sua mobilidade, a l�ngua simboliza a chama; c) o fen�meno do pentecostes "vincula-se no carisma da glossolalia, freq�ente nos primeiros anos da igreja". encontram-se antecedentes no antigo profetismo

israelita. estavam anunciados "transportes" desse mesmo estilo para o fim dos tempos; d) no que concerne � compreens�o da mensagem expressa por um dos "possu�dos" pelo esp�rito santo, e isso para todos os olhares, fosse qual fosse sua nacionalidade, tratava-se de uma repeti��o aleg�rica do que acontecera no sinai, onde a voz de deus ouvia-se em setenta e duas l�nguas diferentes, tantas como na��es conhecidas havia ent�o. por �ltimo, diz-nos dom dupont, o milagre das l�nguas aparece aqui como "o s�mbolo e a antecipa��o maravilhosa da miss�o universal dos ap�stolos". moderemos, pois, nosso entusiasmo. tal como sublinha dom dupont, � indubit�vel que, por tudo o que acabamos de ver, tal relato foi "h�bil", deu-lhe uma trama simb�lica, e � in�til querer encontrar nele uma realidade hist�rica concreta. quanto � embriaguez verbal dos ap�stolos, que acabavam de sair da noite do tikun chabuoth e de suas fumiga��es e ingest�es de alucin�genos, o r.p.j. dupont a qualifica, de forma bastante plaus�vel, de glossolalia: "o fen�meno do pentecostes vincula-se no carisma da glossolalia, freq�ente nos primeiros anos da igreja..." (cf. actes des ap�tres, editions du cerf, paris, 1964, p. 2, nota a.). e o que � a glossolalia? perguntar-se-� o leitor. o nouveau petit larousse, em sua edi��o de 1969, dar�-lhe de forma bastante sucinta sua defini��o: glossolalia, n. f. "enfermidade perturbadora da linguagem, pela qual o doente cria palavras, dotando-as de significado." (grande enciclop�dia larousse, t.5, p. 273). � tudo, e � mais que suficiente. isso significa que "certos doentes mentais" formulam, em um jarg�o pr�prio deles, "ensinos" recebidos do mesmo deus, e que alguns ing�nuos se esfor�am por encontrar nisso significados prof�ticos. em 1785, o c�ndido willermoz foi v�tima de uma alucina��o deste tipo, e seu jarg�o demencial incitou inclusive ao l.c. de saint-martin a jogar ao fogo, entusiasmado, seus pr�prios livros! (69) (cf. alice joly, un mystique lyonnais, p�ginas 230 a 240). o manuscrito da biblioteca de grenoble (pap�is de prunelle de li�re, livre del initi�s, p. 25) proporciona-nos numerosos casos. citemos, por exemplo: "ser puro, ser sozinho, plenitude em triplo ur, inacess�vel ao sentido, vista infinita, inocente amor, vivam nele...? (1), perturba��es dos ur, s�o inacess�veis a sua emana��o, tr�s vezes afastada do centro do ser. ousou, esse ser sa�do do ser mesmo, atribuir-se � produ��o. o voulia, seus puros ornos, que tinha em seus seos..." o ritual da ordem martinista de papus, composto pelo teder, conservou alguns ecos disso, com a chamada a um certo noudo-roabts (op. cit., p�ginas 32 e 80), termo que est� diretamente extra�do dessa assombrosa linguagem. 16 - menahem o "consolador" ...e menahem, que fora criado com herodes, o tetrarca, e saulo. atos dos ap�stolos, 13, 1 contrariamente ao que se est� acostumado a afirmar, menahem n�o era um filho de judas da galil�ia, a n�o ser s� um de seus netos, e a cronologia hist�rica est� a� para demonstr�-lo. mas de quem era filho? no estado de nossa documenta��o, n�o podemos avan�ar nenhum nome v�lido. � um "filho de david" e um membro da fam�lia real, isso � tudo. mas afirmar que � o filho de sim�o-pedro, de santiago ou de andr�, � imposs�vel. tudo o que sabemos dele o devemos ao flavio josefo, como sempre: "n�o obstante, menahem, filho de judas, o galileu, aquele grande sofista que em tempos de quirino reprovara os judeus que, em lugar de obedecer s� a deus, eram t�o covardes para reconhecer aos romanos como amos, menahem, depois de atrair junto a ele algumas pessoas de alta condi��o, tomou pela for�a massada, onde se achava o arsenal do rei herodes, e depois de armar numerosas pessoas que n�o tinham nada a perder, e a ladr�es que lhe uniram e aos que utilizava como guarda, retornou � Jerusal�m como rei, erigiu-se em chefe da revolu��o, e ordenou continuar o ass�dio do alto do pal�cio..." (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, ii, xxxii). (70) isto tem lugar sob o procurador gessio floro, que entrara em fun��es no ano 63, nono ano do reinado de nero. esse ano, saulo-paulo fora absolvido em roma,

pelo tribunal imperial ante o qual pedira a comparecer. e a revolu��o de menahem se produziu na primavera do ano 64, pouco antes da p�scoa, como sempre. a grande guerra judia estalaria dois anos mais tarde, no ano 66, e terminaria com a destrui��o total de jerusal�m, no ano 70. a fim de estimular aos combatentes palestinos em sua luta contra roma, e a fim de lhes fazer acreditar na predi��o do apocalipse (difundida j� desde o ano 28, em vida de jesus -seu autor confessado- e n�o em 94 ou 96) (71) realizar-seia, e que seguiria � chegada do famoso "reino de deus" na terra, incendiaram roma. este inc�ndio seria o an�ncio do final dos tempos. saulo-paulo seria quem deu a ordem. e n�o lhe podia negar isso ao menahem, com quem fora criado, e que al�m disso o tinha sujeito por uma esp�cie de chantagem que j� desvelamos em �o homem que criou ao jesus cristo.� no momento, recordemos simplesmente uma determinada passagem dos atos dos ap�stolos: "havia na igreja de antioquia 72 profetas e doutores: bernab� e sim�o, chamado n�ger, lucio de cirene, e menahem, irm�o de leite do tetrarca herodes e saulo..."(cf. atos dos ap�stolos, 13, 1). a chegada desse menahem fora anunciada pelo pr�prio jesus, em vida: "e eu rogarei ao pai, e lhes dar� outro consolador..." (jo�o, 14, 16). "se eu n�o me for, o consolador n�o vir� a v�s..." (jo�o, 16, 7). esse termo de consolador (em grego: parakl�t�s) n�o significa somente isso, mas tamb�m, e sobretudo, defensor, conselheiro. e em hebreu, o grego parakl�t�s, que deu nosso par�clito, diz-se simplesmente menahem! uma vez mais, os escribas an�nimos que compuseram nos s�culos iv e v os atuais evangelhos nos fizeram tomar, astutamente, o pireo por um homem, mas invertendo a f�rmula. a um homem, sucessor do mais humano de jesus, fizeram-no passar por uma entidade, esp�cie de deus secund�rio, que com muita dificuldade podem explicar e justificar frente � Israel. e no ponto no qual pretendiam fazer esperar uma interven��o celeste, jesus queria dizer, simplesmente: "enviar-lhes-ei a meu sobrinho...". mas continuemos a leitura de flavio josefo, embora esteja censurado e interpolado: "como (ao menahem) faltavam-lhe m�quinas, e n�o podia ir abertamente a sapa por causa dos disparos que os assediados (legion�rios romanos, mercen�rios de agripa, levita regulares) lan�avam do alto, recorreu a uma mina. come�aram a trabalhar de longe, e quando a conduziram at� debaixo de uma torre, saparam os fundamentos e a sustentaram depois com pe�as de madeira, �s quais prenderam fogo antes de retirar-se. quando essas madeiras se queimaram, a torre se desmoronou. mas os assediados previsram o que podia acontecer, e uma parede que tinham constru�do com extrema dilig�ncia surpreendeu e deteve os assediantes. assediados n�o deixaram de enviar recado ao menahem e aos outros chefes dos sediciosos, para lhes pedir que pudessem retirar-se com seguran�a, e o concederam somente aos judeus e �s tropas do rei agripa". (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, ii, xxxii). menahem continua ent�o cercando �s tropas romanas que ficaram sozinhas, e estas evacuaram ent�o o stratopedon, e se retiram �s torres reais de hippicos, de fazael e de mariamna. isto aconteceu no 6� dia de setembro do ano 64. fazia, portanto, seis meses que roma tinha ardido. ao dia seguinte, os partid�rios de menahem, depois matar uma parte da guarni��o de roma e incendiado o stratopedon, capturaram anan�as, o supremo sacerdote, assim como ezequ�as, seu irm�o, refugiados nos esgotos do pal�cio, e executaram-nos, vingando assim a morte de santiago, o menor, lapidado por ordem do citado anan�as no ano precedente. a seguir sitiaram as tr�s torres reais, onde os romanos continuaram resistindo. mas menahem, envaidecido por seus �xitos, perdeu de vista a doutrina dos zelotes: "deus � o �nico rei", e logo se tornou um insuport�vel tirano, que chegou inclusive a revestir a p�rpura real e a coroa de ouro. ent�o eleazar, filho de anan�as, reuniu a seus partid�rios saduceus e, aproveitando que o citado menahem entrara com grande pompa ao templo santo para oferecer ali um sacrif�cio, atacou ao guarda de menahem, capturou-o ou matou-o. alguns fugiram para a cidadela de massada, entre eles outro eleazar, parente de menahem. quanto ao pr�prio menahem, foi procurado ativamente, e por �ltimo o capturaram em uma localidade chamada

ophlas, onde estava escondido. conduziram-no � Jerusal�m "e o executaram em p�blico, depois de fazer-lhe sofrer uns torturadores inauditos. do mesmo modo trataram aos principais ministros de sua tirania, e em especial ao absal�n". (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, ii, xxxi). assim morreu menahem, neto de judas da gamala e sobrinho de jesus, sobre cujo nome, e devido a uma surpreendente confus�o, construir-se-ia a lenda da exist�ncia de uma pessoa divina nova: o esp�rito santo. o que logo surpreenderia muito aos disc�pulos de jo�o, o evangelista, j� que nos atos dos ap�stolos lemos o seguinte: "no tempo em que apolo se achava em corinto, paulo, atravessando as regi�es altas, chegou a �feso, onde achou alguns disc�pulos, e lhes disse: 'recebestes ao esp�rito santo ao abra�ar a f�?'. eles lhe responderam: 'nem sequer ouvimos que exista um esp�rito santo!'... "disse-lhes: 'pois que batismo recebestes?'. eles lhe responderam: 'o batismo de jo�o'..." (cf. atos dos ap�stolos, 19, 1-3). evidentemente, arrumaram-as para fazer acreditar que se tratava de disc�pulos de jo�o, o batista. mas isso acontecia no ano 54, ano em que saulopaulo estava em �feso. como imaginar que o batista, que morreu no ano 31, tivesse ent�o disc�pulos nessa cidade de jonia, assentada � beira do mar egeu? jamais houve mandeanos (nome dos disc�pulos de batista) na gr�cia. em troca, �feso est� associada � estadia de jo�o, o evangelista, e � simplesmente aos seus a quem encontra saulo-paulo. e, por conseguinte, a gente n�o pode a n�o ser assombrar-se ante o fato de que o disc�pulo "que jesus amava", que devia escrever o "evangelho espiritual", ignorasse a exist�ncia do esp�rito santo, conclus�o aniquilam-lhe, j� que nesse mesmo evangelho fala dele. e a� � onde surpreenderemos uma vez mais aos falsificadores an�nimos do s�culo iv com as m�os na massa. porque, tenhamos em conta a vers�o oficial de disc�pulos de jo�o, o batista, em �feso, no ano 54, embora tivesse morrido vinte e dois anos antes. n�o lhes ensinou a exist�ncia do esp�rito santo? ent�o, como pode lhes falar dele em jo�o (1, 29 a 34), em mateus (3, 11), em marcos (1, 8), em lucas (3, 16)? se, pelo contr�rio, e mais plausivelmente, em �feso do que se trata � de um grupo de disc�pulos de jo�o, o evangelista, resulta igualmente incoerente. porque, se jo�o ignorar a exist�ncia de um esp�rito santo, como pode falar dele em seu evangelho? e se conhecer sua exist�ncia, como seus disc�pulos imediatos podem ignorar semelhante postulado teol�gico de partido? a verdade � que o evangelho de jo�o n�o � de jo�o. aparece com s�o irineu, no ano 190, citado pela primeira vez, e desconhece-se seu autor. e, como faz observar ernest renan com raz�o, se esse evangelho existisse na �poca de marcion, quer dizer, por volta do ano 150, data m�dia de sua doutrina pessoal, que emprego n�o faria dele, em lugar do de lucas, e que conclus�es n�o tiraria! mas o fato de que marcion ignore totalmente o evangelho atribu�do ao jo�o demonstra que naquela �poca, e em todas as comunidades crist�s em que marcion passou um tempo, especialmente em roma, desconhece-se ainda esse texto capital. e essas comunidades marcionitas s�o precisamente as principais bases de partida da nova religi�o: sinope, �feso, hier�polis, esmirna, etc�tera. o que nos refor�a em nossa opini�o de partido nesta disgress�o, ou seja, que no pensamento de jesus, esse "consolador" cuja vinda previa para depois da sua, esse parakl�t�s, era um homem de carne e osso, seu pr�prio sobrinho, menahem, consolador em hebreu. quem acabou muito mal, como vimos na leitura de flavio josefo. notas complementares sem afirmar nada de maneira absoluta, pode supor-se que menahem bem podia ser o filho de eleazar, ali�s l�zaro, ali�s andr�, � leitura das duas velhas vers�es de flavio josefo: "porque nesses dias, maneo, sobrinho de l�zaro, a quem jesus ressuscitou da tumba, j� podre..." (cf. flavio josefo, guerras da jud�ia, v, vii, manuscrito eslavo). esse texto foi manipulado pelos monges copistas ortodoxos, j� que n�o h� nenhuma possibilidade de que flavio josefo falasse da pseudo-ressurrei��o de l�zaro. tomemos, portanto, a vers�o grega: "maneo, filho de l�zaro, depois de ter

fugido para o tito, contou-lhe que desde o d�cimo quarto dia de abril, at� o primeiro dia de julho, tinham evacuado 115.880 corpos mortos pela porta em que ele tinha o mando". (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, v, xxxvii, manuscrito grego). se esse nome de maneo � a forma helenizada de menahem, este �ltimo seria, pois, um neto de judas da gamala, e seria o filho de andr�, ali�s l�zaro, sobrinho de jesus, qu�o mesmo o menahem oficial. e ent�o n�o seria o fato de querer proclamar-se rei o que provocou sua execu��o, a n�o ser o de transgisir com tito, coisa que foi considerada como uma trai��o. 17 - sim�o-bar-cleof�s deus n�o tem necessidade de nossas mentiras. le�O xiii aqui temos a outro membro da estirpe dav�dica que, por isso mesmo, terminou tragicamente sua vida, sob o reinado de trajano. "depois de nero e domiciano, sob o reinado daquele cujo tempo examinamos agora (trajano), levantou-se uma persegui��o contra n�s parcialmente e em algumas cidades, segundo conta a tradi��o, a conseq��ncia de um levantamento dos povos. sim�o, filho de cleof�s os povos, por isso sabemos consumiu sua vida no mart�rio. com toda seguran�a alguns de seus hereges acusaram ao sim�o, filho de cleof�s, de ser da ra�a de david e crist�o. como era crist�o (messianista, e portanto zelote n. do a.) foi atormentado de diversas maneiras durante v�rios dias, e depois de assombrar profundamente ao juiz e a quem rodeava, teve um final semelhante � paix�o do senhor". (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, xxxii). o chronicon paschale situa esta morte no ano 105, precisando-nos que sim�o foi tamb�m crucificado: "...simeon, filius cleophae, qui in hierosolymis episcopatum tenebat crucifigitur cui succedit lustus..." (cf. chronicon paschale: ad annum 107). isto acontecia em jerusal�m, onde o citado sim�o era "bispo e teve como sucessor justo". tratou-se, portanto, de uma nova revolu��o zelote, que terminou com uma execu��o de tipo rigorosamente romano: a cruz. mas sim�o era bispo de jerusal�m t�o somente in partibus infidelium, porque a igreja de tal nome (a comunidade messianista zelote) n�o podia residir ali, dado que a aproxima��o � cidade estava proibida a todo judeu de ra�a, sob pena de morte. de fato, desde ano 70, a igreja de jerusal�m tinha sua sede em bolota, na perea (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, v, 3), mas foi nessa cidade onde crucificaram ao sim�o. a revolu��o do ano 105, no curso da qual foi crucificado tal sim�o, "filho de cleof�s", foi seguida de outra, nos anos 115-117, por parte dos judeus do egito. (73) esta tampouco teve futuro. e agora chegamos � �ltima, a que abocou na dispers�o total da na��o judia, ao ficar jerusal�m totalmente arrasada, e sem que pudesse identificar-se absolutamente nada de sua antiga topografia, no ano 70 de nossa era, segundo flavio josefo; mais de um milh�o de mortos, perto de cem mil prisioneiros levados como escravos: esse foi o balan�o da revolu��o de menahem, o "consolador" anunciado por seu tio jesus. e desse pseudo-profeta uns ardilosos astuciosos souberam fazer um terceiro deus, em menos de quatrocentos anos. 18 - sim�o-bar-kokheba o tr�gico na vida dos homens s�o menos seus sofrimentos que seus fracassos. thomas carlyle tamb�m aqui encontramamo-nos em presen�a de uma verdadeira "guerra santa", e poderemos seguir, at� o aplastamento final, o af� cont�nuo por observar religiosamente a lei mosaica. ainda existem poucos documentos descobertos sobre a revolu��o de sim�o-barkokheba. resumiremos aqui os trabalhos dos diversos especialistas neste tema: - de m.p. prigent, professor na faculdade de teologia protestante da universidade de estrasburgo, autor de duas confer�ncias no centro de estudos orientais da universidade de genebra; - de m. valent�n nikiprowelszky, professor do coll�ge de france, especialista em hist�ria da corrente zelote, e que prefaciou a reedi��o das obras de flavio

josefo, em sua tradu��o de arnauld d'andilly, no editions lidis; - de m.a. dupont-sommer, professor em sorbone, diretor na ecole des hautes-etudes, em seus nouveaux aper�us sur les manuscrits de la mer morte; - de m. g�rard nahon, em seu livrinho les h�breux, etc�tera. antes que nada, ter� que estabelecer o clima particular no qual viviam jud�ia e galil�ia, depois da terr�vel repress�o de tito. o templo est� arrasado. e, tal como diz o talmud: "os chacais se instalaram na convoca��o do sancta santorum..." nas moedas romanas cita-se a jud�ia como "jud�ia capta", quer dizer, jud�ia cativa. como jerusal�m e seus extensos arredores estavam proibidos a todo judeu de ra�a, o sanedr�n, convertido agora em simples corte de justi�a religiosa, deslocar-se-ia sucessivamente, ao desejo das suspeitas romanas, de yabn� a uscha, ao schefaram, ao beth-sheorim, ao s�foris, ao tiber�ades. eram tempos de luto. os chefes de israel ordenaram ent�o penit�ncia para comemorar o aniquilamento do santo templo, e criaram o ticha b'ab, jejum total e p�s descal�os durante vinte e quatro horas, leitura das lamenta��es de jeremias, e luzes das sinagogas apagadas. durante os oito dias que precediam ao ticha b'ab, n�o se comia carne, n�o se bebia vinho, n�o se cortava o cabelo, e se postergavam bodas e noivados. isso constituiria, na idade m�dia, o famoso "sabbat negro" das comunidades judias da alemanha. apesar do enorme golpe demogr�fico causado pela derrota, tentaram voltar a cultivar as terras afastadas de jerusal�m; teriam que viver apesar de tudo, por israel do manh�, porque n�o se perdeu a esperan�a. os camponeses judeus, convertidos em "escravos de c�sar", n�o eram outra coisa que servos medievais. alguns "colaboradores" prudentes, em geral os saduceus, conservaram gra�as a sua covardia durante a revolu��o seu patrim�nio familiar, e �s vezes inclusive o aumentaram. a hist�ria � um eterno voltar a come�ar. e estavam tamb�m os crist�os ... gozavam de um certo n�mero de privil�gios, porque a maioria, se n�o todos, eram s�rios ou gregos, o que lhes permitia residir na nova jerusal�m, proibida aos judeus. e esse favor acentuaria um pouco mais o �dio entre essas duas fac��es religiosas. mas, como diria mais tarde g�rard de nerval em aur�lia, "existe um segundo sentido dos acontecimentos humanos..." assim, estimulado pelas provas de um long�nquo passado, �s quais aconteceram consoladoras gl�rias, israel rogava pela reconstru��o do santo templo, "logo e em nossos dias...", como reza a f�rmula ritual. mas da esperan�a � ilus�o �s vezes n�o h� mais que um passo, e a pressa � m� conselheira. o ing�nuo povo imaginar� rapidamente que os "dias do messias" n�o estiveram jamais t�o pr�ximos. foi ent�o quando a corrente zelote, essa corrente que se acreditava definitivamente extinta dos suic�dios de massada, os queimados vivos da cesar�ia mar�tima e os crucificados de jerusal�m, reapareceu de novo, como se levantaria de repente um tuf�o vingador. um "pr�ncipe de israel", sim�obar-kokheba, reuniram aos "maquis" da alta galil�ia, aos dos estepes des�rticos, e levantou o estandarte da �ltima revolu��o judia cunhada com a estrela de david. era de estirpe dav�dica, porque descendia tamb�m ele de judas da gaulanita. era, portanto, um sobrinho neto de jesus, e prova disso � que rabbi akiba-ben-ioseph, o c�lebre doutor e cabalista, (74) o apresenta como o messias-rei, liberador da na��o judia. deu-lhe o nome m�stico de sim�o-bar-kokheba, quer dizer, sim�o filho da estrela, alus�o a c�lebre profecia: "um astro se levanta de jacob, um cetro se eleva de israel, ferir� os flancos de moab, abater� a todos os filhos de set, edom se converter� em sua posse, e se apropriar� de seir, seu inimigo. israel manifesta sua for�a; e aquele que sai de jacob, reinar� como soberano... (cf. n�meros, 24, 17-19, or�culo de balaam, filho de beor). (75) tamb�m o espectro de judas da galil�ia devia estremecer-se de alegria quando se remontava ao sheol cada tarde de cada sabbat, j� que seus princ�pios se respeitavam escrupulosamente: o poder espiritual o exercia rabbi akiba, e o poder temporal sim�o-bar-kokheba. de todo modo, esse entusiasmo geral trope�ou tamb�m com alguns c�ticos. e

rabbi iochanan-ben-torta n�o vacilou em declarar, zombador: "akiba, antes te brotar� erva das mand�bulas, que o filho de david chegue..." (cf. talmud de jerusal�m, ta'anith, iv, 7). esta ironia, conservada pelos historiadores talmudistas, contribui-nos entretanto, a prova da filia��o dav�dica de sim�o-barkokheba, porque, sen�o fosse assim, rabbi akiba jamais o apoiasse e assistido com sua autoridade nesta revolu��o. mas esse cepticismo era pr�prio dos intelectuais, fartos de tantas guerras in�teis, porque o povo, entretanto, seguia. encontramonos no ano 132, sob o imperador adriano. e de repente, a tempestade brotada dos guerrilheiros zelotes varreu literalmente as legi�es de tineius rufus, legado imperial. a insurrei��o generalizou-se. sim�o-bar-kokheba, "pr�ncipe de israel" (j� n�o ocultava esta condi��o) cunhou moedas oficiais que levavam em cunho: "pela liberdade de jerusal�m". constituiu a seguir um ex�rcito regular, nomeou governadores regionais, percebeu os impostos em dinheiro e os d�zimos em esp�cies. mas tr�s anos mais tarde, a "�ltima batalha" tocou a seu fim, e no ano 135 julio severio aniquilou aos �ltimos rebeldes. fugindo de ein-gueddi, nas bordas desoladas do mar morto, quartel general do "filho da estrela", resultaram dizimados pouco a pouco, perseguidos pelas legi�es romanas, superiores em n�mero e armamento, e fortificaram-se nas grutas de nahal hevert e de murrabaat, para morrer nelas. como acabaram? n�o se sabe exatamente. o que � seguro � que foram vencidos sobre tudo pela fome. julio severio dispunha de 65.000 homens. de modo que puderam rodear facilmente todo o maci�o. no curso das escava��es de 1953 descobriram nessas grutas, que se abriam a escarpados vertiginosos, esqueletos, sobretudo de mulheres e de meninos, mortos de fome e de sede. ainda est�o em estudo os arquivos e os manuscritos. o saque dos rebeldes, composto de objetos que provinham de templos pag�os, de baixela e de vasilhas de cobre, estava acompanhado de cestos que continham cr�nios e ossaturas humanas. de onde procediam? mist�rio. eram provavelmente os restos de mortos judeus, em espera do pequeno sepulcro de pedra, arca final de todos os defuntos em israel. o que fizeram de sim�o-bar-kokheba? morreu no curso dos �ltimos combates, e sua cabe�a provavelmente foi levada ante julio severio, segundo o costume da �poca. quanto ao rabbi akiba, foi feito prisioneiro e mantido encarcerado durante dois anos, e no ano 135, quando caiu beitar, onde morreu o "filho da estrela", foi esfolado vivo, e logo assado a fogo lento, na cesar�ia mar�tima, ante as autoridades romanas. suas �ltimas palavras foram para proclamar sua f�: "escuta, oh, o israel: yav� � nosso deus, yav� � um s�..." (cf. deuteron�mio, 6, 4). outros nove doutores, disc�pulos deles, sofreram supl�cio com ele, e s� um escapou aos romanos: o c�lebre sim�o-bar-iochai. para isso, viveu doze anos, com seu filho, nas pedreiras pr�ximas � Cafarnaum, � beira do lago de genezaret. seria ali, nas trevas s� rasgadas pela luz da lamparina de azeite, onde comporia o sepher-ha-zohar ou livro do esplendor, conforme reza uma lenda tardia. esta �ltima revolu��o, que inicialmente se suscitou com a inten��o de oporse � reconstru��o de jerusal�m sob o aspecto de uma cidade totalmente pag� e vedada aos judeus por ordem do imperador adriano, custou a vida de seiscentas mil pessoas de ambos os sexos. nasceu judia desapareceu como entidade pol�tica e geogr�fica, e a popula��o foi vendida nos mercados de escravos de todo o imp�rio romano, ou foi deportada por cidades inteiras, em qualidade de "escravos de c�sar". o nome de sim�o-bar-kokheba, ou "filho da estrela", converteu-se ent�o no sim�o-bar-kozab, ou "filho da mentira" atrav�s de um trocadilho, j� que koseba voltava kozab (em hebreu: mentira). e aqui voltaremos a encontrar jesus, seu tio av�, com seu conhecimento dos truques sabidos por todos os titeriteiros ambulantes. no apocalipse encontramos a seguinte "revela��o de jesus cristo" (op. cit. 1, 1), importante alus�o a um indiscut�vel ilusionismo: "mandarei minhas duas testemunhas para que profetizem, durante mil duzentos e sessenta dias, vestidos de

saco. estes s�o duas oliveiras e os dois casti�ais que est�o diante do senhor da terra (adonai-ha-aretz). se algu�m quiser lhes fazer mal, sair� fogo de suas bocas, que devorar� a seus inimigos" (apocalipse, 11, 3-5). pois bem, em seu discurso preliminar ao dictionnaire des h�r�sies, des erreurs et des schismes, dedicado ao monsenhor de choiseul, arcebispo de albi (besan�on, 1817), o abade pluquet diz o seguinte a respeito de sim�o-ben-koseba: "quando adriano quis enviar uma col�nia a jerusal�m, o impostor barcochebas (sic) anunciou-se aos judeus como um messias. com a estopa acesa que levava na boca, e por meio da qual soprava fogo, persuadiu ao povo de que, com efeito, era o messias; os principais rabinos publicaram que era o cristo, e os judeus o ungiram e o proclamaram seu rei". (op. cit., p. 131). aqui ter� que entender o termo cristo no sentido judaico tradicional: messiah, messias em hebreu. n�o h� nenhuma alus�o ao jesus cristo, por parte dos judeus, claro est�. mas voltemos para apocalipse. que o redigisse jesus em vida, por volta do ano 27 ou 28 de nossa era, como demonstramos em uma obra precedente, (76) ou ditado depois de sua morte ao jo�o, "o disc�pulo bem-amado" n�o muda o fato de que fora ele seu autor oficial: "revela��o de jesus cristo, que deus lhe deu para instruir a seus servos sobre as coisas que t�m que acontecer logo". (apocalipse, 1, 1). pois bem, a nafta e o petr�leo conhecem-se da mais remota antig�idade. nas civiliza��es da mesopot�mia e em fen�cia se utilizava o asfalto para o calafetado dos navios e a constru��o das estradas. o petr�leo servia deste modo para o sistema de ilumina��o, para a limpeza e para fins medicinais. (cf. michel mourre, dictionnaire d'histoire universelle, tomo ii, p. 1.638: p�trole). a nafta � uma esp�cie de bet�n l�q�ido, transparente, ligeiro e muito inflam�vel. o petr�leo destilado parece-lhe enormemente. encontra-se na persia, nas bordas do mar caspio, na sicilia e na calabria. � evidente que essa misteriosa "�gua" que verte o profeta elias sobre a lenha de seu altar, no topo do monte carmelo, (77) e que se acende imediatamente, ante sua prece, n�o � outra coisa que nafta, acesa com ajuda de uma lupa, ou de um cristal que fizesse as vezes dela. e o "truque" de sim�o-ben-koseba consistia em conservar em sua boca uma bola de estopa cheia de petr�leo, e cuspi-lo repentinamente, atrav�s da chama de uma pequena tocha sustentada diante dele. mas para a �poca e a um ignorante, o rosto queimado do advers�rio o seria por um prod�gio inexplic�vel, e a profecia do apocalipse se realizou... evidentemente, em nossos dias todo mundo viu um ilusionista que, nas feiras, nos circos ambulantes, ou inclusive em uma pra�a p�blica de bairro, "cospe fogo" desta maneira. mas retrocedamos vinte s�culos, nos situemos no centro de uma massa popular totalmente subjugada pelas supersti��es mais comuns, e admitiremos que o problema se exp�e desde outro �ngulo. pois bem, em uma obra precedente j� vimos que o segredo da p�lvora era conhecido pelos sanedritas. (78) acabamos de estabelecer que o emprego do petr�leo e da nafta, em mat�ria de "milagres" religiosos, tamb�m o era. assim, ao afirmar com anteced�ncia que esses dois representantes oficiais, essas duas "testemunhas", cuspir�o com sua pr�pria boca fogo sobre seus advers�rios, jesus em seu apocalipse nos demonstra que se acostumara com esses truques, que provavelmente ele utilizou, (79) e celso tinha raz�o em seu terr�vel discurso verdadeiro ao classific�-lo entre os magos, termo que, em nossos dias, � sin�nimo de ilusionista, j� que h� truques que ainda n�o foram explicados. e isto nos leva ainda mais longe na via das constata��es. ao adotar e realizar o truque discretamente aconselhado no apocalipse para assentar melhor suas pretens�es de messias liberador, sim�o-ben-koseba, pr�ncipe de israel, revelou-se n�o s� como filho de david (indispens�vel para desempenhar esse papel), mas tamb�m como disc�pulo de jesus de nazar�, cujo verdadeiro nome era jesus-barjuda, j� que, acompanhado pelo rabbi akiba, pretendia cumprir a profecia da "testemunha" que cuspiria um fogo mortal. e em eusebio da cesar�ia lemos o seguinte: "um homem chamado barchochebas estava ent�o � lideran�a dos judeus. esse nome significa estrela. pelo resto, era

um ladr�o e um assassino, mas, com seu nome, impunha-se aos escravos como se fora uma luz vinda do c�u para lhes ajudar, e milagrosamente destinada a ilumin�-los em suas desgra�as". (cf. eusebio da cesar�ia, hist�rias eclesi�sticas, iv, vi, 2). traduzamos: era um zelote, um sic�rio (de onde a acusa��o de que era um assassino), cobrava o d�zimo messianista, (80) de onde a acusa��o de ladr�o. mas continuemos: "o mesmo justino, recordando a guerra que teve ent�o lugar contra os judeus, acrescenta isto: 'e efetivamente, na guerra judia que teve lugar agora, bar-cochebas, o chefe da revolu��o dos judeus, conduziu a terr�veis supl�cios s� aos crist�os, se n�o renegavam e n�o blasfemavam de jesus cristo'... " (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iv, viii, 4, citando ao justino, em i apolog�tico, xxxi, 6). pode demonstrar-se melhor que o "jesus cristo" do ano 135, �poca da revolu��o de sim�o-ben-koseba, � o criado integralmente por saulo-paulo, quer dizer, um jesus totalmente estranho ao ideal zelote e, sobretudo, ao jesus da hist�ria real, ao filho de david crucificado por poncio pilatos, e que se sim�oben-koseba acreditou ter que realizar a promessa do apocalipse � que se sentia sucessor de seu verdadeiro autor, e n�o queria ouvir nada sobre esse cristianismo obra de saulo-paulo, e que a seus olhos isso constitu�a a maior trai��o ao nacionalismo judeu? o �dio que os judeus extremistas sentiam para saulo-paulo provavelmente estava relacionado com a morte de sim�o-pedro e de jacobo-santiago, no ano 47. suspeitavam que foram entregues por saulo-paulo ao tib�rio alexandre, quem os fez crucificar em jerusal�m, como j� vimos no come�o. de todo modo, a acusa��o de eusebio da cesar�ia contra bar-kokheba nos oferece algumas d�vidas, se se tiver em conta que seu alter ego, rabbi akiba, era um feroz advers�rio da pena de morte. agora bem, saulo-paulo n�o fora durante tanto tempo seu desumano advers�rio, chefe de uma tropa ao servi�o de roma e dos herodes, como para n�o achar-se na necessidade de ter que justificar aos olhos de roma seu passo ao juda�smo nazareno, e para isso deveria mostrar-se como fiel vassalo, e pactuar alguns compromissos importantes. a um ex-colaborador � muito dif�cil escapar a seu passado e liberar-se da tutela de seus antigos chefes. e ainda lhe � mais dif�cil apagar tal passado e converter-se em amigo daqueles a quem se perseguiu. a hist�ria � um eterno voltar a come�ar. acreditam �til resumir brevemente a sorte de cada um dos personagens evang�licos, � luz do que descobrimos no curso de nossas investiga��es. vejamos, pois, essa recapitula��o do mais eloq�ente: jesus: crucificado no ano 35 em jerusal�m, sob o procurador poncio pilatos. judas iscariotes: enforcado e estripado no ano 35, em jerusal�m, por ordem dos disc�pulos imediatos. (81) mateus, ali�s lev�: desaparecido sem deixar rastro imediatamente depois da morte de jesus. poderia ser executado pelos disc�pulos. felipe: desaparecido sem deixar rastro imediatamente depois da morte de jesus. judas, ali�s tadeu, ali�s lebeo, ali�s tom�s: decapitado no ano 45 na jud�ia, sob o procurador cuspio fado. bartolomeu, ali�s natanael: crucificado no ano 47 em jerusal�m, sob o procurador cuspio fado. sim�o-pedro: crucificado no ano 47, sob o procurador tib�rio alexandre, ao mesmo tempo que seu irm�o santiago o maior. santiago o maior: crucificado no ano 47, em jerusal�m, sob o procurador tib�rio alexandre, ao mesmo tempo que seu irm�o sim�o-pedro. andr�, ali�s l�zaro: capturado no ano 51 pelo procurador antonio f�lix, enviado � Roma, ante o imperador, liberado em troca de um resgate por nero c�sar, voltado para a jud�ia e desaparecido no ano 56. jo�o: quase com toda seguran�a lapidado em jerusal�m, no ano 63, ao mesmo tempo que seu irm�o santiago o menor. santiago o menor: lapidado em jerusal�m, no ano 63, ao mesmo tempo que seu irm�o jo�o, sob anan�s, supremo sacerdote saduceu, sendo procurador titular albino.

ao terminar a reda��o deste cap�tulo, o autor quer render uma justa comemora��o a todos esses homens que souberam morrer, de uma morte freq�entemente espantosa, para que seus compatriotas e seus filhos gozassem do bem mais prezado: a liberdade. a desmitifica��o do cristianismo inserida necessariamente em uma desmitifica��o das massas das quais abusou. pascal evocou muito bem, em uma de suas frases, sabiamente evocadora, o aspecto aberrante de toda guerra militar, justificada pelo fato de que o advers�rio vive "ao outro lado do rio..." mas henri de montherlant justificou por sua vez outro aspecto dos combates sem quartel que enfrentam �s vezes aos homens: "a guerra civil � a boa guerra, aquela em que se sabe a quem se mata e por que se mata..." a guerra militar nem sempre pode justificar-se. recordemos as palavras amargas de anatole france: "a gente cr� morrer pela p�tria, e morre por alguns industriais!..." mas a que levaram a cabo os ferozes zelotes contra os ocupantes romanos e suas tropas mercen�rias foi uma guerra "santa", justa, embora o obscuro destino n�o lhes proporcionasse a vit�ria. por isso, deveria respeitar sua mem�ria, embora terei que lavar sua hist�ria de todas as imposturas acumuladas pelos s�culos. e isto, o autor destas p�ginas devia diz�-lo. 19 - maria, m�e de jesus ela elevou os olhos ao c�u e disse: quem sou eu, senhor, para que todas as na��es da terra um dia me benzam?..." porque maria esquecera os mist�rios que lhe revelara o arcanjo gabriel... protoevangelio de santiago, xii, 2 o cap�tulo que tratasse dos "filhos de david" e n�o desse o m�ximo de informa��es in�ditas sobre maria, a m�e de todos eles, seria um cap�tulo incompleto. por isso � importante apresentar todo um pequeno universo humano que, a partir de agora, permanecer� � margem da religi�o nova montada por aquele aventureiro de qu�o m�stico foi saulo-paulo. (82) como j� dissemos em nossa primeira obra, (83) e segundo as afirma��es dogm�ticas da igreja cat�lica, ignoramos tudo que possa referir-se aos pais de maria, m�e de jesus; e tal igreja, considerando este terreno como terrivelmente perigoso para a lenda crist�, nega-se, por conseguinte, a ensinar nada oficial a este respeito. n�o obstante, n�s, que n�o nos atenemos a essa prudente reserva, e por motivos diametralmente opostos, abordaremos o problema das origens familiares da m�e de jesus da hist�ria. as genealogias reproduzidas nos evangelhos de mateus e de lucas, por contradit�rias que sejam, s� se aplicam ao pai oficial de jesus, quer dizer, ao evanescente jos� da lenda, cujo suposto nome de circuncis�o, segundo lucas (3, 24), era ioseph-bar-heli, e segundo mateus (1, 16), era ioseph-ben-iacob. como se v�, os escribas do s�culo iv n�o ficaram de acordo ao compor seus relatos. nos can�nicos n�o t�m nada sobre maria, e � um ap�crifo c�lebre, do qual a igreja tira abundante informa��o para suas necessidades iconogr�ficas, o protoevangelio de santiago, que nos diz que seu pai se chamava joaquim e sua m�e ana, em hebreu hannah. esse sil�ncio reprovador e rabugento dos exegetas oficiais nos oculta, evidentemente, algo, coisa que cabe ao historiador sincero, curioso por natureza, a desentranhar o motivo secreto de tal sil�ncio. em primeiro lugar afirmaremos que maria procedia de uma fam�lia bastante rica, por surpreendente que resulte esta afirma��o. este fato o estabelecemos seriamente a partir de uma constata��o do mais corriqueiro: a da riqueza indiscut�vel da fam�lia dav�dica em geral, quer dizer, a import�ncia dos bens que possu�a, mais a import�ncia dos diversos ganhos recebidos por seus membros. sobre estes, remetemos ao leitor a nossa obra precedente e a seu cap�tulo intitulado "o d�zimo messianista". (84) sobre os bens im�veis desta fam�lia podemos tomar j� em conta com toda certeza a casa familiar de gamala, aquele ninho de �guias penduradas por cima da borda oriental do mar da galil�ia; a moradia de cafarnaum, citada em mateus (4, 13) e em marcos (1, 29) como propriedade de sim�o e andr�, irm�o de jes�s; (85) a de s�foris, destru�da

durante os anos 6 aos 4 antes de nossa era pelas legi�es de varo, legado de s�ria, durante a primeira revolu��o de judas da gamala, marido de maria e pai de jesus; esta moradia desapareceu, evidentemente, no inc�ndio de tal cidade. podemos acrescentar a de betsaida, "a cidade de andr� e de pedro" (jo�o, 1, 44), j� que, repitamo-lo, eram irm�os de jesus, no sentido carnal de termo. (86) conhecemos tamb�m a passagem da hist�ria eclesi�stica de eusebio da cesar�ia, no qual o autor mostra aos "parentes carnais do salvador, bem para vangloriar-se, ou simplesmente por diz�-lo..." (cf. eusebio da cesar�ia, op. cit., i, vii, 11-14), que nos revela as verdadeiras origens da fam�lia herodiana. pois bem, para conhecer a genealogia de uma fam�lia, para vangloriar-se, ter� que ser familiar dela, mais ou menos pr�ximo. e mais tarde abordaremos o problema do matrim�nio de herodes, o grande, com uma "filha de david", parenta de jesus, por ser meio-irm� de sua m�e maria. observaremos, de passagem, que tischendorf considera como aut�nticos os nomes dos pais de maria (cf. tischendorf, de evangeliorum apocryphum origine et usu). e, efetivamente, nas lendas judias, maria chamam-na filha de heli, ali�s jehohakim, que de fato � o mesmo nome (heliakim). assinalaremos, a este respeito, a concord�ncia do talmud de babil�nia (op. cit., sanedr�n: f� 67) com o talmud de jerusal�m (op. cit., f� 77). o protoevangelio de santiago nos diz o seguinte: "havia um homem rico, rico em excesso, chamado joaquim, que levava suas oferendas ao templo em quantidade dupla, dizendo: 'o que sobre ser� para todo o povo' (depois dos sacerdotes)..." (cf. protoevangelio do santiago, 1, 1). e eustaquio, bispo de antioquia e m�rtir (� 360), contribui os mesmos dados, sem consider�-los como legend�rios, a n�o ser dando-os por certos. (cf. commentaire sur l'oeuvre des six jours, in patrologie grecque, tomo xviii, col. 772). sobre a filia��o real e dav�dica de maria, observemos de passagem que o mesmo protoevangelio de santiago nos mostra � faxineira da ana, m�e de maria, aconselhando a sua ama que rodeie a diadema real que possui, para afastar a tristeza causada por sua esterilidade (cf. protoevangelio de santiago, ii, 2). sua uni�o com joaquim, da mesma filia��o dav�dica que ela, est� testemunhada por outro documento antigo: "quando ele (joaquim) tinha vinte anos, tomou por esposa ana, filha de isacar, e de sua pr�pria tribo, quer dizer, da ra�a de david..." (cf. pseudo-mateus, i, 2). do mesmo modo, o abade emile amann, doutor em teologia, ao traduzir e comentar o protoevangelio de santiago consagrado � Maria, � suas origens e � sua inf�ncia, pode observar que, segundo o pr�prio texto: "joaquim (o pai de maria) � 'extremamente rico'; eis a� uma resposta direta �s acusa��es judias sobre a pobreza de maria..." (cf. e. amann, protoevangelio de santiago, p. 181, imprimatur de 1 de fevereiro de 1910, letouzey edith., paris, 1910). encontramo-nos, pois, muito longe da fam�lia miser�vel que nos apresenta sem cessar para nos enternecer. conhecemos, com efeito, a acusa��o injuriosa de toledoth ieshuah (a gera��o de jesus), que afirmava que este era o filho bastardo de maria e de um mercen�rio romano chamado pantero. paralelamente, o talmud nos contribui um eco disso: "descobri em jerusal�m um manuscrito geneal�gico no qual est� escrito que este (jesus) � o filho bastardo de uma mulher ad�ltera..." (cf. rabbi sim�o-ben-azzai, talmud). estimamos que se trata a� de uma ignor�ncia volunt�ria da verdadeira acusa��o inicial, porque � indubit�vel que semelhante delito por parte de maria conduzisse-lhe s�rias dificuldades, por crime de adult�rio. a lei de mois�s implicava, com efeito, a lapida��o para a mulher a que se reconhecia culpada de tal delito (cf. lev�tico, xx, 10). em troca, nenhum autor judeu pretendeu jamais que esta arriscasse nada neste campo. pelo contr�rio, e como j� se sublinhou, jesus conta ao menos com quatro mulheres culpadas desse importante delito em israel entre sua mais ilustre antepassada, (87) e sua indulg�ncia para elas se estende inclusive �s prostitutas, que entretanto s�o severamente recha�adas pela lei de mois�s e pelos profetas. provavelmente ao que os talmudistas faziam alus�o era a essa ascend�ncia molesta, mas logo mal compreendida pela tradi��o oral.

seja o que for, e ao escolher semelhante ascend�ncia, o "filho de deus" estaria muito mal inspirado se logo condenasse � mulher ad�ltera que um dia lhe apresentou para que a julgasse (jo�o, viii, 3 a 11). mas voltemos para maria, sua m�e. (88) segundo s�o jo�o damasceno, em sua homilia sobre o natal da bem-aventurada virgem maria (patrologia, xcvi, col. 664-667), maria teria nascido em s�foris, na galil�ia, a alguns quil�metros de nazar� atual (ent�o inexistente), e muito perto de pres�pio da galil�ia. para embrulhar melhor o problema, os escribas an�nimos que "arrumaram" os evangelhos antigos no s�culo iv, tiveram a id�ia de situar o nascimento de jesus em bel�m da jud�ia, a uns dez quil�metros ao sul de jerusal�m, e n�o j� na galil�ia, e sim na jud�ia. e tudo isso a fim de que nascesse na cidade onde o pr�prio david tinha nascido. mas, j� que era descendente de david por linha de sangue, jesus podia muito bem prescindir de tal mentira para continuar sendo-o, indiscutivelmente, do mesmo modo que jamais um delfin da fran�a precisou nascer em paris, em l'�le de la cit�, ber�o dos capetos, para ser logo rei leg�timo. porque entre pres�pio da galil�ia e bel�m da jud�ia h�, a v�o de p�ssaro, uns cento e dez quil�metros... � evidente que semelhantes enganos foram premeditados. � muito prov�vel que maria, galil�ia de nascimento, como precisa jo�o damasceno, permanecesse em sua prov�ncia natal e entre sua fam�lia para iluminar a seu "primog�nito" (lucas, 2, 6-7), e sem d�vida tamb�m aos seguintes (marcos, 6, 3). e o famoso censo de quirino n�o serve para nada, como j� demostramos, (89) e menos quando se tem em conta que jesus n�o nasceu nessa �poca, a n�o ser uns vinte e tr�s anos antes. observemos de passagem que em dezembro de 1969, o professor harmut stegemann, doutor em teologia protestante da universidade de bonn, publicou uma tese segundo a qual jesus n�o teria nascido nem em bel�m da jud�ia nem nazar� da galil�ia, e sim em cafarnaum, quer dizer, na galil�ia, � beira do lago de genezaret, e ao extremo norte deste. teria se falado de "jesus de nazar�" porque (no s�culo iv) ignorava-se a raiz aramaica de tal nome. este significaria, em realidade, mais ou menos: "guardi�o da justi�a de deus". observemos tamb�m que tal doutor protestante nos contribui aqui uma confirma��o do papel tipicamente messi�nico, no sentido zelote do termo, de jesus da hist�ria. a imprensa da alemanha federal reproduziu numerosas passagens dessa tese, �s vezes em primeira p�gina, em especial a k�lnische rundeschau, que pouco antes do natal de 1969 consagrou um editorial a essa aut�ntica "bomba" lan�ada por um te�logo conhecido. assim, o te�logo stegeman considera que h� motivos fundados para pensar que jesus nasceu em cafarnaum, onde se estabeleceram seus parentes. por nossa parte, estamos de acordo com esse exegeta sobre o fato de que jesus n�o nasceu, em modo algum, em bel�m da jud�ia. mas sim que p�de ter nascido em pres�pio da galil�ia, perto de s�foris, onde nasceu sua m�e, muito perto dessa nazar� que se criaria no s�culo viii para dar satisfa��o aos peregrinos, depois de hav�-la imaginado simplesmente no s�culo iv. mas pres�pio da galil�ia � uma localiza��o perigosa para a verdade, qu�o mesmo s�foris, j� que se acham a pouco menos de trinta e cinco quil�metros a v�o de p�ssaro da gamala, a cidade ref�gio dos zelotes, pendurada de seu espor�o rochoso, como um falc�o escrutinando a plan�cie, ao outro lado do lago de genezaret. � a famosa "montanha" que sai repetidamente nos evangelhos, montanha que se guardam bem de nos nomear... e cafarnaum est� a menos de quinze quil�metros, muito perto do feudo familiar de judas da gamala, ali�s judas, o gaulanita, ou judas da galil�ia (atos, v, 37), o her�i da revolu��o do censo, o primeiro marido de maria, o pai de seus cinco primeiros filhos e de suas duas filhas. por isso � provavelmente que o primeiro ato deste �ltimo, quando levantar� o estandarte de sua primeira revolu��o, no ano 6 de nossa era, consistir� em apoderar-se de s�foris, do pal�cio de herodes, de seu arsenal e de seu tesouro. e, por essa elei��o, pode suspeitar exist�ncia de uma rela��o entre a primeira investida das unidades de zelotes que descendiam do ninho de �guias da gamala, e a localidade aonde nasceu maria, esposa de judas da galil�ia, seu chefe, e m�e de

seus filhos. segundo o protoevangelio do santiago, ela nasceria no ano 14 antes de nossa era, de modo que quando teve lugar a crucifica��o de jesus contaria quarenta e nove anos, e vinte e seis quando este foi submetido, � idade de doze anos, ao exame de sua maioria de idade civil e religiosa ante os doutores da lei. ent�o ele se convertia, como todos os pequenos judeus do mundo, em um ben-ha-torah, um "filho da lei". (90) esta cronologia daria como resultado que maria deu a luz � idade de quatorze anos. mas estes dados s�o falsos. de toda nossa investiga��o, dos desacoplados e das severas confronta��es cronol�gicas �s quais nos entregamos h� uns dez anos, resulta que jesus nasceu por volta do ano 16 ou 17 antes de nossa era, (91) e se maria deu a luz quando contava quinze anos (as meninas, em israel, eram n�biles a partir dos doze anos e meio), ela deveria nascer ao redor do ano 32 antes de dita era. por outra parte, o mesmo jo�o damasceno nos d� em seu de fide orthodoxia (iv, patrologia, xciv, col. 21.157) a genealogia de maria. como � natural, s� nos fala de jos�, e n�o de judas da gamala. vejamo-la reproduzida a seguir: david teve de betsab�, esposa de uria estirpe de salom�o estirpe de nat�n mathan mathat pantheros jacob...(irm�os carnais) ... heli bar-pantheros joaquim jos� (quem se casou com) maria no concernente � vida de maria depois da crucifica��o de jesus, sua morte e a �poca desta, j� tratamos estes temas no estudo do destino de jo�o (veja o cap�tulo 14), portanto n�o voltaremos sobre isso. por outra parte, no primeiro volume j� chamamos a aten��o do leitor sobre a inexist�ncia de uma mulher apresentada sob o nome de maria de magdala. com efeito, tertuliano, que investiga � pr�pria magdala (ali�s tariquea segundo alguns, e que n�s consideramos err�neo), n�o p�de recolher ali informa��o alguma; maria madalena era totalmente desconhecida naquele lugar. esta investiga��o, efetuada entre os ambientes crist�os, deveria recolher, entretanto, uma tradi��o, por m�nima que fosse, se esta mulher tivesse existido. mas n�o houve nada disso. tertuliano nasceu por volta dos anos 150/160 de nossa era, e morreu por volta de 240. sua viagem produziu-se por volta do ano 200. e logo nada mais... pois bem, os atos dos ap�stolos, as ep�stolas de paulo, as de pedro, de santiago, de jo�o e de judas, a hist�ria eclesi�stica de eusebio da cesar�ia, todos estes textos, que se afirmam que s�o s�rios, todos eles ignoram tamb�m a exist�ncia de tal mulher. o mesmo acontece com a maioria dos ap�crifos neotestament�rios. o que � pior ainda: alguns deles identificam maria, m�e de jesus, com aquela que os evangelhos can�nicos denominam como maria de magdala, quando, na ressurrei��o de jesus, este pede a sua primeira interlocutora que n�o lhe toque fisicamente, por n�o ter remontado ainda at� seu pai. comparemos simplesmente esses textos, e o leitor ficar� informado. vejamos, primeiro, o evangelho de jo�o: "no primeiro dia da semana, maria madalena veio muito de madrugada, quando ainda era de noite, ao sepulcro, e viu retirada a pedra (...) maria ficou junto ao monumento, do lado de fora, chorando. enquanto chorava, inclinou-se para o monumento, e viu dois anjos vestidos de branco, sentados um � cabeceira e outro aos p�s de onde estivera o corpo de jesus. disseram-lhe: "por que choras, mulher?" ela lhes disse: "porque levaram a meu senhor e n�o sei onde o puseram". dizendo isto, voltou-se para atr�s e viu jesus que estava ali, mas n�o reconheceu que fosse jesus. "disse-lhe jesus: "mulher, por que choras? a quem buscas?" ela, acreditando que era o hortel�o, disse-lhe: "senhor, se tu o levastes, dize-me onde o puseste, e eu o levarei". disse-lhe jesus: "maria!". ela, voltando-se, disse-lhe em hebreu: "rabboni!", que quer dizer mestre). jesus lhe disse: "n�o me toques, porque ainda n�o subi ao pai"... (jo�o, 20, 1 a 17). observar-se-� que a hipot�tica maria de magdala fora � horta de jos� de

arimat�ia com a inten��o de retirar dele o cad�ver de jesus, e levar-lhe. e isto, extra�do do mais c�lebre dos evangelhos can�nicos, aquele no qual se ap�iam todos os mistagogos das seitas crist�s heterodoxas mais descabeladas qu�o mesmo os fi�is das igrejas ortodoxas at� n�o poder mais, isto confirma o que j� demonstramos no primeiro volume deste estudo, (92) ou seja, que os fi�is de jesus contavam levando seu cad�ver para retirar a seu destino final o que levava de lhe denigrirem a primeira inuma��o. se n�o lhe podia deixar na tumba oferecida por jos� de arimat�ia, era porque esta, em realidade, n�o era outra coisa que a fossa infamante (fossa inf�mia), em que se tornava aos corpos dos condenados a morte depois de sua execu��o. segunda conclus�o, jos� de arimat�ia era, efetivamente, o ioseph-har-hamettim, o "jos� da fossa dos mortos" que j� desvelamos em uma obra precedente, e n�o um "conselheiro distinto" como pretende marcos (15, 43). (93) mas voltemos para a misteriosa maria de magdala: vejamos agora o evangelho dos doze ap�stolos, que o grande or�genes considerava como um dos mais antigos evangelhos conhecidos, anterior inclusive ao lucas atual: "as m�es deste pa�s viram a morte de seus filhos e v�o � tumba para ver o corpo daqueles aos que choram... ela abriu os olhos, porque os tinha baixados, para n�o olhar ao ch�o por causa dos esc�ndalos. disse com alegria: 'mestre! meu senhor e meu deus! meu filho! ressuscitaste, ressuscitaste de verdade...' e queria agarr�-lo e beij�-lo na boca. mas ele a impediu e lhe rogou, dizendo: 'm�e, n�o me toque. espera um pouco ... n�o � poss�vel que nada carnal me toque at� que eu v� ao c�u. entretanto, este corpo � aquele com o que passei nove meses em seu seio... sabe estas coisas, oh minha m�e, sabe que sou eu, a quem voc� alimentou. n�o duvide, m�e, de que eu sou seu filho. sou eu, quem a deixou em m�os de jo�o quando eu estava pendurando da cruz. agora, minha m�e, apresse em advertir a meus irm�os e dizer-lhe (cf. evangelho dos doze ap�stolos, 14� fragmento). pois bem, o evangelho de jo�o, no vers�culo 17 do cap�tulo xx, menciona a mesma ordem de jesus a maria de magdala, de que fosse advertir a seus irm�os. todo o desenvolvimento �, portanto, id�ntico nos dois evangelhos. s� que, enquanto no dos doze ap�stolos a interlocutora de jesus � sua m�e maria, nos de jo�o, de lucas, de marcos e de mateus, trata-se de maria madalena. vejamos agora o evangelho de bartolomeu. seguimo-nos encontrando ante o sepulcro, a manh� da ressurrei��o: "e jesus gritou na l�ngua divina: "marikha! marima! thiath!. o que significa: 'maria! m�e do filho de deus!' maria conhecia o significado destas palavras. virou-se e disse: 'mestre! filho de deus todopoderoso!... meu senhor e meu filho!...' e el salvador lhe disse: 'sa�de a ti, que levaste a vida do mundo inteiro! sa�de, minha m�e, minha arca santa! sa�de a ti, minha m�e, minha cidade e meu lugar de repouso!... v� junto a meus irm�os para lhes dizer que ressuscitei que entre os mortos'..." (cf. evangelho de bartolomeu. 2� fragmento). vejamos ainda o evangelho de gamaliel, que ainda n�o foi publicado com divis�o em cap�tulos e vers�culos. foi descoberto no ano 1956, em um convento de eti�pia, pelo r.p. van den oudenrijn, da universidade de friburgo, com outros quatro manuscritos. forma parte do que se chama os ap�crifos et�opes, e, como todos os outros j� conhecidos, pertenceu ao velho fundo primitivo dos crist�os coptos do egito e da abisinia, junto com o evangelho dos doze ap�stolos e o de bartolomeu. e este evangelho de gamaliel nos confirmar� tamb�m o valor de nosso descobrimento. muito cedo, maria, m�e de jesus, foi junto � tumba de seu filho. coisa que resulta ainda muito mais plaus�vel, porque � mais humano que o fato de nos apresentar a uma mulher de costumes duvidosos, que n�o pertencia � fam�lia, como a primeira em apresentar-se com o defunto, deixando � m�e alheia a este piedoso dever. e maria, m�e de jesus, segundo este evangelho n�o encontrou o corpo de seu filho, mas sim discutiu com um desconhecido, que ela sup�s que era o hortel�o, igual nos textos can�nicos j� citados. "isto senhor � o que entristece, porque nessa tumba n�o encontrei o corpo de meu filho bem-amado, para chorar sobre ele, o que teria consolado minha

tristeza... e agora, se forem o guardi�o desta horta, vos conjuro a que me informem"... e jesus lhe disse: "maria... j� derramaste suficientes l�grimas at� agora... olhe-me no rosto, minha m�e, para te convencer de que sou seu filho..." e ela disse ent�o: "ent�o ressuscitaste, oh, meu senhor e meu filho...". (cf. evangelho de gamaliel, extratos). � perfeitamente evidente, para qualquer que o veja com boa f�, que a cena relatada por esses tr�s evangelhos antigos � absolutamente id�ntica � descrita em jo�o (20, 1-18), mas l� onde este �ltimo p�e em cena a uma tal maria de magdala, desconhecida pelos textos neotestament�rios posteriores (atos dos ap�stolos, ep�stolas diversas, hist�ria eclesi�stica, etc.), os antiq��ssimos manuscritos coptos citados nos falam por sua vez, de maria, m�e de jesus... e vamos ver agora um argumento que refor�ar� o que demos na obra precedente (94) sobre a identidade absoluta entre a maria, m�e de jesus, e maria de magdala. tomemos para isso o importante estudo que o abade loisy, ilustre exegeta e probo historiador, consagrou precisamente a esse epis�dio de maria na tumba, na manh� da ressurrei��o, em seu enorme trabalho intitulado le quatri�me �vangile: "segundo s�o efr�n (expos� de la concordance des �vangiles, moesinger, 268), as palavras: 'n�o me toque...', etc., jesus dirigiu-as � sua m�e, e parece seguro que o diatessaron de ticiano contava da m�e de jesus o que nosso evangelho conta de maria de magdala. o mesmo acontece com um tratado da antioquia do s�culo iv, falsamente atribu�do ao justino m�rtir (questions et r�ponses de l'orthodoxie, q. 48, cf. harnack, no theol.-literatur-zeitung, 1899, p. 176), que n�o depende de s�o efr�n, mas sim poderia depender tamb�m de diatessaron. � l�cito, portanto, perguntar se taciano, em lugar de interpretar nosso evangelho (de jo�o) por uma tradi��o ap�crifa, n�o conheceria, pelo contr�rio, por um ou outro caminho, o dado primitivo, e se o evangelista que conduziu � m�e de jesus ao p� da cruz n�o lhe teria dado um papel capital no relato da ressurrei��o, e logo esse papel seria atenuado em uma reda��o posterior, e transladado a maria de magdala para concordar com a tradi��o sin�tica... efr�n diz que maria duvidara da ressurrei��o, tal como lhe havia predito sim�o (cf. lucas, 2, 35). (sobre essa "d�vida", veja-se nosso livro: �vangiles synoptiques, tomo i, p. 359)". (cf. alfred loisy, le quatri�me �vangile, paris, 1921, e. nourry, �dit., p. 504). j� lemos s�o efr�n: "maria duvidava da ressurrei��o..." efr�n � o pai da igreja sir�aca, assistiu ao conc�lio de nic�ia, foi amigo de s�o basilio e o pai da escola m�stica da edesa. nasceu por volta do ano 306, e morreu em 373. suas conclus�es exeg�ticas fizeram chiar os dentes a alguns mistagogos de pequenos cen�culos heterodoxos. pior para eles; este tipo de problemas ultrapassa seu entendimento. porque se maria, efetivamente (segundo a profecia do velho sim�o quando teve lugar a apresenta��o de jesus ao templo pouco depois de seu nascimento [lucas, 2, 25 e 34-35]: "e uma espada atravessar� sua alma...", deveria sofrer a pena mais terr�vel que possa sentir uma m�e, � que ent�o tinha que enfrentar-se com o mais horr�vel desespero ante a morte de seu filho, e isso implicava que n�o acreditasse em sua futura ressurrei��o nem na deifica��o que lhe aconteceria, e portanto, que jamais dera f� a suas palavras. o que aparece confirmado por mateus (12, 46-50), marcos (3, 21), jo�o (7, 2-4). realmente, esquecera ao arcanjo gabriel, se � que alguma vez houve tal arcanjo. o certo � que toda a documenta��o contribu�da pelo abade loisy e citada in extenso antes, refor�a nossa tese, ou seja, que na tradi��o primitiva era a maria, m�e de jesus, a quem se dirigiu jesus ressuscitado, e n�o a maria de magdala. e esta ignor�ncia geral dos textos neotestament�rios ulteriores, como a dos padres da igreja j� citados, prova-nos que jamais houve uma mulher com tal nome no s�quito de jesus, ao menos n�o uma mulher distinta � sua m�e. maria, m�e de jesus, e maria de magdala s�o uma s� e mesma pessoa. por outro lado, uma tradi��o eclesi�stica pretende que esta maria de magdala morreu em �feso, onde foi inumada. em finais do s�culo ix, o imperador le�o vi o s�bio devolveu seus restos � Constantinopla. � f�cil compreender que se tratava de maria, m�e de jesus, morta e inumada em �feso... as lendas provenzais do

desembarque das tr�s "marias" em saintes-maries-de-la-mer e dos trinta e tr�s anos de penit�ncia lacrimosa de maria de magdala no topo do pico de sainte-baume, (95) onde morreu, foram elaboradas no s�culo xi para esconder a verdade. logo voltaremos para este tema das diversas tumbas de maria. e agora voltamos de novo, atrav�s de outra s�rie de argumentos, �s conclus�es de nossa obra precedente, quer dizer, que maria, esposa de judas da gamala, m�e de jesus e de suas irm�s e irm�os, � a mesma maria madalena, e portanto que jamais existiu uma cortes� de alta linhagem que levasse tal nome. quanto � explica��o admitida pelo abade loisy, ou seja, que se transferiu um personagem real a outro puramente imagin�rio, simplesmente para que o evangelho de jo�o concordasse com os de mateus, marcos e lucas, n�o acreditam que seja v�lida. porque ent�o ficaria por justificar a cria��o inicial de uma maria de magdala. esta explica��o � muito singela, j� a demos em nossa primeira obra. (96) s� faltaria: a) suprimir toda alus�o que permitisse adivinhar que o apocalipse era em realidade muito anterior aos evangelhos, e que a hist�ria dos "sete trov�es" era uma perigosa chave do problema; b) suprimir a prova de que esses "sete trov�es" eram sete irm�os, um dos quais era jesus, o primog�nito, e que todos eram filhos de maria, qu�o mesmo as jovens �s quais os evangelhos can�nicos chamam "suas irm�s" (cf. marcos, 6, 3). fazendo isto podia ao fim afirmar a virgindade perp�tua de maria; c) fazer acreditar que a mulher que no sepulcro, ante aquele a quem ela toma pelo hortel�o, desespera-se pela morte de jesus, e por conseguinte n�o cr� absolutamente na ressurrei��o prometida, n�o podia ser maria, sua m�e. e por parte de uma mulher estranha � fam�lia, isso resultava mais plaus�vel. claro que ficam outros pontos curiosos nesta impostura dos escribas do s�culo iv. por exemplo, magdala pode significar tamb�m penteadora, perfumeira, em aramaico. maria, em um momento dado de sua vida, depois da morte de seu marido judas da gamala, bem p�de ver-se na obriga��o de fazer subsistir a seus filhos, e ficar a exercer esta profiss�o junto a algumas mulheres da aristocracia idum�ia. com efeito, segundo o talmud de babil�nia (cf. shabbath, 104 b, e hagigag, 4 b), maria teria exercido a profiss�o de penteadora, mas segundo o mesmo talmud de babil�nia (sanedr�n 106 b), ao descender dos reis de israel, teria se comprometido com um h�resch, palavra hebr�ia que significa bem um carpinteiro, bem um mago. (97) por outra parte, a aldeia de tal nome evoca curiosamente a cidade zelote, j� que, com uma s� letra de diferen�a, magdala � o anagrama da gamala, s� sobra a letra daleth. e � sabida a import�ncia das transposi��es de letras na cabala. n�o se atreveriam a falar de maria de magdala e acrescentariam a daleth (d) para velar melhor esse nome que convinha n�o voltar a pronunciar jamais: maria de gamala, porque sen�o se estabeleceria imediatamente uma rela��o evidente com judas da gamala. temos um exemplo dessas transposi��es de letras na toponimia da fran�a, e � o da c�lebre gruta de lourdes. na �poca de maria bernarda soubirous ainda se chamava a essa gruta massabielle. pois bem, esse nome n�o � mais que a transposi��o anagram�tica de beelissama, esp�cie de astart� importada pelos navegantes fen�cios, e cujo nome n�o era outra coisa que a deforma��o afeminada de bell-sam�n, o "senhor dos c�us". e na gruta de massabielle, no come�o de nossa era, celebrava-se o culto a essa mesma deusa beelissama. durante muito tempo, na gruta onde bernarda acreditou ver a virgem maria, quando contava uns quinze anos, houve um bloco de m�rmore desconhecido nos pirineus, e que era um res�duo dessas liturgias pag�s. esse bloco desapareceu rapidamente. possivelmente foi o condensador daquele que se desprendeu, em 11 de fevereiro de 1858, formapensamento que impressionou o psiquismo da menina. um altar religioso sempre est� mais ou menos carregado magneticamente. (98) voltando para a maria, m�e de jesus, constataremos que os manuscritos mais antigos do evangelho de mateus nos precisam que "jacob engendrou ao jos�, o marido de maria, e jos� engendrou ao jesus" (cf. mateus, 1, 16). fato confirmado por

saulo-paulo: "... a respeito de seu filho, nascido da semente de david segundo a carne". (cf. paulo, ep�stola aos romanos, 1, 3). � evidente que esta semente n�o vem de maria, mas sim de jos�, afirma��o que prova que naquela �poca dava ao jesus ainda um pai perfeitamente carnal, o que exclu�a a virgindade de sua m�e. se duvid�ssemos disso, n�o ter�amos mais que reler a vulgata latina de s�o jer�nimo, vers�o oficial da igreja cat�lica, e ler�amos nela que: "...de filio suo, qui factur est ei ex-semine david secundum carnem..." (cf. epistula ad romanos: i, 3). os originais gregos mais antigos utilizam o termo spermatos, que significa o esperma masculino, qu�o mesmo o termo semine utilizado por jer�nimo. ocumenius (cf. patrologia grega, cxviii, col. 217) e teofilacto, bispo da acrida na bulg�ria antes de 1078 (cf. patrolog�a grega, cxxii, col 293), dizemnos: "santiago, a quem o senhor designou com anteced�ncia bispo de jerusal�m, era o filho de jos� o carpinteiro, o pai segundo a carne, do n. s. jesus cristo". assim, at� finais do s�culo xi, nas igrejas do oriente n�o se ignorava que jesus tivera um pai perfeitamente carnal, e que o esp�rito santo n�o tinha tido nada a ver nesta gera��o. voltemos, pois, a genealogia de maria, dada por jo�o damasceno (supra, p. 138). vemos nela que seu pai chamava-se joaquim, e seu av� X...-bar-pantheros. trata-se, evidentemente, do mesmo panthero da toledoth ieshuah que j� vimos. e � av� de maria, o pseudo-amante mercen�rio de roma. e se maria nasceu no ano 32 antes de nossa era, se seu pai a engendrou aos vinte anos, se ele mesmo foi engendrado pelo seu quando este contava tamb�m vinte anos (a idade limite do matrim�nio dos jovens no israel antigo), isso nos d� a data descoberta por daniel-rops em jesus em seu tempo (p. 68), porque 32 + 20 + 20 = 72, data muito pr�xima a de 78 dada por tal autor (evidentemente antes de nossa era). e portanto, teria morrido no curso das lutas civis que rasgaram durante seis anos � na��o judia sob o reinado sangrento de alexandre janeo. este rei, que pertencia � dinastia asmonea (os macabeus, 99) contemplou sadicamente, de terra�o de seu pal�cio em jerusal�m, e rodeado de suas concubinas, a crucifica��o de oitocentos de seus advers�rios, enquanto se procedia, ante seus olhos, a degolar suas esposas e filhos (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xiii, xxii). o av� de maria devia participar dessas lutas fratricidas, porque, ao helenizar seu nome, segundo o costume judeu da �poca, fez-se de panthero, panther�s, em grego pantera. e este nome n�o podia designar a um homem particularmente pac�fico. pelo que antecede podemos admitir que a fam�lia de maria pertencia tamb�m ao cl� dos kanaim, ou zelotes, o que justifica que lhe escolhessem um marido dentro do mesmo meio, ou seja, judas-bar-ezequ�as, futuro judas da galil�ia. no que concerne � virgindade perp�tua de maria, "antes durante e depois" dessa uni�o t�o humana com o her�i judeu que devia ilustrar seu nome com grande rapidez, acreditam que fizemos justi�a a esta inverossimilhan�a em nossa primeira obra. (100) e nem sequer o moderno tema da partenog�nesis, mediante o qual uma f�mea se fecunda e d� a luz sem a colabora��o de um macho, afirma��o muito discutida no que se refere a sua possibilidade no seio da humanidade ou dos animais superiores, este tema n�o poderia sustentar-se como explica��o plaus�vel para essa concep��o milagrosa por parte da maria dos evangelhos. porque se o fato pode produzir-se em teoria no seio da humanidade, a mulher n�o poderia parir jamais outra coisa que uma criatura de seu pr�prio sexo, quer dizer, uma filha. e jamais se p�s em d�vida o sexo masculino de jesus, quanto mais que a igreja cat�lica possui em seus templos, religiosamente conservados pelo clero e os fi�is, dezenove prep�cios do menino divino, todos eles o qual mais aut�ntico, o que constitui uma prova definitiva de tal masculinidade. n�o obstante, aos argumentos apresentados na primeira obra, (101) conv�m acrescentar a confiss�o impl�cita dos te�logos. nos diaconales de monsenhor bouvier, bispo de le mans, membro da congrega��o do indice, inseridos em dissertatio in sextum decalogi praeceptum et supplementum ad tractatum de matrimonio (le mans, 1827, exemplar da bibloteca real), descobrimos este estudo de um caso particular:

"pergunta-se: 1�) se um homem e uma mulher, bem instru�dos de sua comum impot�ncia ou de um deles, podem contrair matrim�nio com a inten��o de prestaremse m�tuo socorro e de permanecer sempre na castidade. "r. s�nchez (i; 7, disp. 97, n� 13) e muitos outros te�logos que cita, afirmam que o matrim�nio � l�cito neste caso, e ap�iam sua opini�o nas provas seguintes: os que contra�ram matrim�nio, embora afetados por uma mesma enfermidade, podem viver juntos como irm�o e irm�, evitando o perigo de cair no pecado; portanto, se pensarem razoavelmente que n�o ter� que temer tal perigo, podem casar-se com vistas a ajudarem-se mutuamente, apesar do conhecimento que t�m de sua impot�ncia. assim foi como a bem-aventurada virgem e s�o jos� contra�ram verdadeiro matrim�nio, com a inten��o formal de conservarem-se castos e de n�o fazer uso do coito. "mas a opini�o mais geral de outros te�logos � que semelhante matrim�nio n�o � l�cito, j� que, conforme dizem, um matrim�nio assim seria nulo se n�o houvesse esperan�a de consum�-lo. seria uma verdadeira impostura, uma profana��o das cerim�nias religiosas, e por conseguinte um sacril�gio, o fato de contrair voluntariamente um matrim�nio nulo; jamais devem autorizar-se semelhantes uni�es. quanto ao exemplo contribu�do mais acima, negam que seja aplic�vel nesse caso, j� que o matrim�nio da bem-aventurada maria e de s�o jos� era v�lido". (op. cit., supplementum, 1� quest.). era v�lido... do que antecede, umas quantas conclus�es se imp�em por si mesmas: a) o marido verdadeiro de maria n�o era impotente, e ela n�o era est�ril, j� que seu matrim�nio seria nulo, o que a maioria dos doutores cat�licos negam, como acabamos que ver; b) n�o se trataria, pois, do tal jos�, j� que no momento de sua uni�o com maria contaria uns oitenta e um anos, (102) se se der cr�dito aos diversos evangelhos da inf�ncia. pelo visto morreria por volta dos cento e onze anos, e uns trinta anos antes � duvidoso que se achou ainda em estado de procriar. al�m disso, o matrim�nio de um homem em estado de impot�ncia sexual estava proibido pela lei judia, e o desgra�ado marido n�o tinha ent�o mais que duas semanas para lhe devolver a liberdade a sua esposa; (103) c) se os te�logos crist�os afirmarem em sua grande maioria (op. cit., dixit) que o matrim�nio de maria era v�lido, e o marido n�o podia ser jos�, essa uni�o se consumou, pois, com o judas da galil�ia, ali�s judas da gamala, de onde o nascimento de jesus e de seus irm�os e irm�s menores. ficam ainda um conjunto de documentos ainda mais provadores a este respeito, e n�o os silenciaremos, tendo em conta a autoridade de seus autores. sabemos por eusebio da cesar�ia que or�genes, o grande did�scalo alexandrino, a quem o papa le�o xiii qualificava de "o maior dos padres da igreja do oriente", adquirira em propriedade as escrituras conservadas pelos judeus e redigidas em caracteres hebreus. para as ler, aprendeu tal l�ngua. logo "fez-se � busca das diversas edi��es daqueles que, al�m da vers�o chamada dos setenta, traduziram as sagradas escrituras; e, al�m das tradu��es correntes e em uso, as de aquila, de simmaco e de theodotion". (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, vi, xvi, i, 2). dessas quatro vers�es do antigo testamento conformou seus c�lebres tetraples, texto sin�tico onde os vers�culos de cada vers�o est�o dispostos frente a frente em quatro colunas, com o fim de estabelecer compara��es. a vers�o chamada dos setenta (setenta tradutores "inspirados" d�o uma vers�o id�ntica do texto, mas a hist�ria de tal "inspira��o" est� fundada na carta de aristeo, ap�crifo do s�culo ii) foi realizada a pedido de ptolomeo, filho de lagus, no s�culo iii antes de nossa era, para a c�lebre biblioteca de alexandria. nesse texto, a c�lebre passagem de isa�as (7, 14) aparece traduzido assim: "por isso o senhor lhes dar� ele mesmo um prod�gio: uma virgem conceber�, e dar� a luz a um filho que ser� chamado emmanuel". pois bem, esta � a �nica vers�o dos setenta que utiliza a palavra grega parthenos (virgem). as outras vers�es utilizam o termo neanis, quer dizer, jovem.

quem foram seus autores? simmaco, theodotion e aquila. simmaco era ebionita (ali�s nazareno). tinha legado suas obras a uma tal juliana, que as deu diretamente ao or�genes (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, vi, xvii). portanto era quase contempor�neo de or�genes, e vivia, pois, no s�culo ii, tenhamo-lo em conta. ao theodotion de �feso n�o lhe conhecemos apenas, mas devia ser um personagem importante do cristianismo, j� que o grande or�genes conserva sua tradu��o de isa�as. este, original de sinope, a cidade onde nasceu marci�n, viveu tamb�m no s�culo ii de nossa era. primeiro foi disc�pulo de taciano, fez-se marcionita e logo ebionita em �feso. a igreja ortodoxa n�o recha�ou sua tradu��o da b�blia, e sua vers�o de daniel ainda em nossos dias continua utilizada pelas igrejas do oriente. fica aquila de ponto. arquiteto origin�rio tamb�m de sinope, parente do imperador adriano, recebeu deste o encargo de reconstruir jerusal�m por volta dos anos 130-135. primeiro sentiu-se seduzido pela religi�o judia, mas a seguir converteu-se ao cristianismo, cuja comunidade estava autorizada a residir nessa cidade, proibida aos judeus. logo voltou para juda�smo, e por volta do ano 138 de nossa era redigiu uma vers�o da b�blia que leva seu nome e que durante muito tempo preferiu-se � dos setenta. assim, no s�culo ii, notemos bem, estamos em presen�a de quatro textos gregos da mesma passagem de isa�as, e os quatro se apoiavam em um texto hebreu inicial. a l�gica nos imp�e, portanto, recorrer simplesmente a este �ltimo. tomemos por conseguinte a b�blia do rabinato franc�s, em isa�as, 7, 14, e vejamos que termo hebreu utilizou o profeta. o texto franc�s da vers�o masor�tica est� redigido assim: "ah, certo! o senhor lhes d� um sinal de si mesmo. eis a� que a mo�a est� gr�vida, e dar� a luz a um filho, ao que chamar� Immanu�l". (isa�as, 7, 14). o hebreu n�o permite distinguir quem tem raz�o, dentre a vers�o do rabinato franc�s (mo�a) ou da de theodotion de �feso, de aquila do ponto, e de simmaco (jovem). mas h� outros argumentos, estes irrefut�veis, que n�o permitem admitir nem por um instante a tradu��o dos setenta: virgem. porque mo�a ou jovem, no esp�rito do profeta isa�as, � necess�rio e indevidamente o mesmo, j� que segundo a lei judia a jovem n�o podia conceber fora do matrim�nio, sob pena de morte, e portanto converter-se em mo�a. se se tratava de uma virgem a quem nenhum homem tinha fecundado, � que foi o eterno, atrav�s de seu ruah elohim (esp�rito santo), o progenitor do menino por nascer. tese dogmaticamente afirmada pela igreja cat�lica, as igrejas do oriente e o protestantismo. agora bem, para um profeta do s�culo viii antes de nossa era (isa�as viveu sob o reinado de ezequ�as), imaginar que yav� se rebaixasse e se degradasse, atrav�s de seu ruah, violando as leis naturais que ele estabelecera, e atuasse sobre o sistema reprodutor de uma adamita, contrariamente a suas prescri��es do sinai, era algo pura e simplesmente impens�vel... (104) com efeito, no deuteron�mio lemos o seguinte: "se n�o se encontraram os sinais da virgindade da jovem (no matrim�nio), levar�o a jovem � porta da casa de seu pai, e as pessoas da cidade a lapidar�o at� que mora" (deuteron�mio, 22, 2021). dito de outro modo, yav� ditou uma lei no sinai, segundo a qual qu�o virgem fora deposit�ria de sua oculta atividade fecundadora deveria ser lapidada at� a morte, assim que se constatasse que levava o futuro emmanuel... a isso chama-se tentar ao diabo! por outra parte, yav� administra a si mesmo uma severa san��o, porque na g�nese se l� isto: "quando os homens come�aram a multiplicar-se sobre a superf�cie da terra e nasceram filhas, ent�o os filhos de deus (os anjos) viram que as filhas dos homens eram agrad�veis e tomaram por esposas quantas preferiram..." (g�nese, 6,. 1-2). desse incubado coletivo, o c�lebre livro de enoch nos proporciona todos os

detalhes: esta obra, muito antiga, aparece j� citada por dois fragmentos recolhidos no s�culo i antes de nossa era por alexandre polyhistor, e conservados por eusebio da cesar�ia (cf. princ�pios evang�licos, ix, xvii, 8). al�m disso, o livro dos jubileus, composto pouco depois do ano 135 antes de nossa era, cita-o sob o t�tulo de livro da queda dos anjos. "e o senhor disse ao gabriel: 'v� a esses bastardos e a esses r�probos, e aos filhos das cortes�s, e os faz desaparecer, a esses filhos dos veladores do c�u'..." (op. cit., 10, 9). "e o senhor disse ao mikael: 'v�, encadeia semyaza e a seus companheiros, que se uniram �s mulheres a fim de manchar-se com elas em toda sua impureza. e quando todos seus filhos estejam degolados, e quando eles mesmos virem o fim de seus bem-amados, encadeia-os para setenta gera��es sob as colinas da terra, at� o dia que se consome o julgamento eterno'..." (op. cit., 10, ii). "logo mikael, gabriel, rafael e phanuel se apoderar�o deles nesse grande dia, e os precipitar�o � fogueira ardente, a fim de que o senhor de todos os esp�ritos os castigue por sua iniq�idade..." (op. cit., 54, 6). esse texto �, portanto, a condena��o formal de toda fecunda��o de uma mulher por uma criatura espiritual. partindo desse princ�pio, a igreja cat�lica afirmou a possibilidade dos dem�nios de fecundar a uma mulher (incubat), ou de acoplar-se de noite com um homem (succubat). (105) n�o inventamos nada. tom�s de aquino estudou esses fatos com detalhe em sua suma teol�gica, esses princ�pios s�o de f�, porque tamb�m a� "roma falou", mas como, para um cat�lico de estrita observ�ncia, n�o oferece discuss�o poss�vel. vejamos o texto oficial de tom�s de aquino: "ter� que dizer, com s�o agust�n, que muitos afirmam saber por sua pr�pria experi�ncia, ou pelo que contam outros, que os faunos e os silvanos, chamados �ncubos pelo vulgo, freq�entemente foram maus para com as mulheres, e obtiveram delas gozos sexuais; portanto, seria imprudente neg�-lo. agora bem, se do coito demon�aco houver algum que nas�a, n�o � pelo esperma dos dem�nios nem pelo corpo que estes revestem, mas sim pelo esperma do homem, que serve de s�cubo ao dem�nio que desempenhou logo o papel de �ncubo com uma mulher..." (106) tira-se daqui e fica de l�... o c�lebre te�logo n�o nos deu o motivo dessas copula��es diab�licas nem o interesse que o diabo podia ter nelas. acrescentemos que todos os padres da igreja, em sua c�ndida ingenuidade, acreditavam na exist�ncia de glifos, de drag�es, etc. s�o jer�nimo nos afirma que "toda alexandria p�de ver um s�tiro vivo...". o mesmo o contemplou! e uma manada de centauros, ao encontrar jesus no deserto, renderam-lhe comemora��o (cf. vieu de paul l'ermite, vii, viii). s�o agust�n nos diz: "eu era j� bispo de hipona, quando fui � Eti�pia com alguns servidores de cristo para pregar ali o evangelho. vimos muitos homens e mulheres sem cabe�a, com dois grandes olhos no peito..." (cf. s�o agust�n, serm�es, xx-xiii). n�o nos burlemos deles; a televis�o francesa, no curso de um debate, apresentou a um catedr�tico do instituto des hautes etudes, que afirmou sua cren�a no valor dos pactos selados com satan�s, embora estes n�o apareceram "a n�o ser na �poca em que tinha lugar os contratos em sua boa e devida forma...". o diabo mant�m-se comum na atualidade, ele n�o � um esp�rito retr�grado! qu�o mesmo o livro de enoch, o zohar hadash (se��o yitro) precisa-nos que samael, o anjo tentador, e seu par feminino lilith, corromperam o primeiro casal humano, samael com eva, e lilith com ad�o. o sepher ammud�-Schiba nos conta a mesma lenda, mas lilith chama-se heva, e samael converte-se em leviathan. outro texto, o sepehr emmeck-ameleh nos transmite o mesmo tema. como se v�, a sexualidade "de grupo" n�o � nada novo. ent�o, tendo em conta essa tradi��o religiosa que considera com horror toda copula��o psico-pneum�tica entre uma criatura humana e uma criatura espiritual, como supor nem por um instante que o profeta isa�as pudesse imaginar a fecunda��o de uma mulher, embora virgem, pelo eterno, o deus inacess�vel de israel? e mais quanto que o "messias" dos crist�os n�o se chamou emmanuel, a n�o ser s� Jesus, e que n�o viveu jamais em um tempo em que israel tivesse que temer uma dupla

ocupa��o, "procedente do egito e de ass�ria" (op. cit., 7, 18-20), a n�o ser uma �nica ocupa��o, a de roma, quer dizer, do outro lado dos mares. a profecia n�o coincide com os fatos hist�ricos e sua �poca, e o messias anunciado n�o se chama jesus. voltemos para maria, m�e de jesus. a primeira esposa do pseudo-jos� teria chamado salom�, teria sido a filha de aggeo, irm�o de zacarias, e portanto prima irm� de jo�o, o batista, conforme nos diz nic�foro, citando ao hip�lito de porto. ou tamb�m teria chamado escha, traduzido �s vezes por estha ou por esther, segundo outras tradi��es. tampouco aqui os fabricantes de lendas puderam ficar de acordo, tendo em conta as dificuldades da �poca em mat�ria de rela��es epistolares. por outra parte, um certo n�mero de observa��es complementares contribuem com provas mais contundentes neste terreno. e � indubit�vel que o que nossos te�logos modernos constr�em sobre a "diviniza��o" da m�e de jesus deixaria absolutamente estupefatos aos disc�pulos de seu filho. em primeiro lugar, jesus despreza a sua m�e. julgue-se: 1. "mulher, o que h� em comum entre eu e voc�?..." (jo�o, 2, 4). observar-se-� que se situa, de forma bastante descort�s, antes dela na frase. 2. "algu�m lhe disse ent�o: 'sua m�e e seus irm�os est�o fora e desejam te falar'. ele, respondendo, disse ao que lhe falava: 'quem � minha m�e e os quem s�o meus irm�os?...' e estendendo sua m�o sobre seus disc�pulos, disse: 'eis aqui minha m�e e meus irm�os. porque quem fez a vontade de meu pai, que est� nos c�us, esse � meu irm�o, e minha irm�, e minha m�e'..." (mateus, 12, 47-50). essa passagem, muito precisa, demonstra-nos perfeitamente que no caso de seus irm�os, n�o se trata de disc�pulos, porque estes acreditariam nele. (107) agora bem, segundo o dogma cl�ssico, jesus � uma das tr�s "pessoas" da trindade, em qualidade de filho; portanto, participou "antes do tempo" (conc�lios de �feso, da calcedonia, de constantinopla ii) na dota��o privilegiada que foi pr�prio da alma lhe preexistam de maria, ou seja, sua concep��o imaculada, livre de pecado original. (cf. tom�s de aquino, suma teol�gica, xxvii; pio ix, defini��o do dogma da imaculada concep��o). e entretanto, de tudo isso, jesus, deus encarnado, n�o se lembra. e da� seu desprezo pelas mulheres em geral, e por sua m�e em particular: "sim�o-pedro disse: 'que maria saia dentre n�s, porque as mulheres n�o s�o dignas da vida eterna...'. e jesus disse: 'eu a atrairei a fim de volt�-la var�o, para que se converta em um esp�rito lhe vivifiquem semelhante a v�s, os var�es... porque toda mulher masculinizada entrar� no reino dos c�us'..." (cf. evangelho conforme tom�s, manuscrito copto do s�culo iv, p. 118). "e tom�s perguntou: 'quando oramos, de que maneira devemos orar?'. e jesus respondeu: orem no lugar onde n�o haja nenhuma mulher'..." (cf. di�logo do salvador, manuscrito copto, p. 142). "a mulher n�o � digna da vida eterna..." (cf. jesus: loggion, 101). devemos convir que tudo isto contradiz muito nossos dogmas modernos. e mais quando no instante de sua morte, segundo o novo dogma do encargo, promulgado pelo papa pio xii, ela entraria "em carne e osso", a inst�ncias de seu filho, no para�so, levada por uns anjos que vieram procur�-la. e tampouco disto se lembra jesus, o filho, quem de acordo com o pai e com o esp�rito santo lhe concedeu de antem�o esse privil�gio inaudito. e entretanto, essa decis�o, anterior ao nascimento de maria, tomaram em comum as tr�s "pessoas" da trindade. por �ltimo, maria n�o concedeu nenhum valor �s revela��es do arcanjo gabriel. vejamos de novo o que dizem os evangelhos: 1. "porque maria esquecera os mist�rios que lhe revelara o arcanjo gabriel..." (cf. protoevangelio de santiago, xii, 2). 2. "porque seus irm�os tampouco acreditavam nele..." (cf. jo�o, 7, 5). assim, maria n�o lhes revelara quem era em realidade seu irm�o maior, e isso porque formulara em alta voz sua aceita��o de ser fecundada pelo esp�rito santo, e seu parto foi t�o milagroso como essa mesma fecunda��o, porque logo permaneceu igual virgem como antes. e tudo isso n�o a surpreendia o m�nimo! entretanto, se ela n�o lhes tinha cr�dulo tudo que de maravilhoso tinha

acompanhado � chegada de seu filho maior, mediante essa revela��o ela lhes evitava duvidar dele, e judas, seu neto, (108) n�o poderia j� entregar ao jesus e prejudicar-se ao faz�-lo, j� que essa trai��o n�o era necess�ria para a reden��o, dado que a amea�a de crucifica��o, procedente dos romanos, pesava sempre sobre a cabe�a de jesus. voltando para a mistifica��o do encargo, "em carne e osso", pois o �, e grande, embora se tenha elevado ao n�vel dogm�tico, ante o estupor de todo o mundo protestante, expor agora aos cat�licos de estrita observ�ncia algumas pergunta embara�osas: o que pensar, por exemplo, disto?: "mas n�o se tem nenhuma prova da partida de jo�o; pode inclusive conjeturarse que a viagem de jo�o � �feso n�o foi anterior ao ano 58. nessa data paulo se deteve, passou um tempo ali e evangelizou a igreja de �feso, apesar de que tinha como regra n�o compilar no campo de outro, isso significa que, naquela �poca, o ap�stolo jo�o n�o tinha adquirido ainda os direitos sobre a igreja de �feso. pois bem, no ano 58 maria estava com setenta e seis anos, e nessa idade parece bastante inveross�mil uma mudan�a de resid�ncia que conduzisse uma viagem t�o fatigante e t�o longa como a de jerusal�m � �feso; portanto, maria n�o teria abandonado jerusal�m, e teria morrido ali". (cf. dom h. leclercq, dictionnaire d'arch�ologie chr�tienne et de liturgie, viii, col. 1.382). deixemos a dom leclercq com suas ilus�es cronol�gicas e atentemos s� �s suas conclus�es, l�gicas at� n�o poder mais. aqui citaremos patrice bousset, conservador da biblioteca hist�rica da cidade de paris: "no s�culo iv se ignora tudo referente �s circunst�ncias de tal morte, mas no s�culo seguinte h� duas teorias opostas, a da sepultura em jerusal�m e a de sepultura em �feso. e no s�culo vi se afirma a exist�ncia de uma tumba e de uma igreja consagrada � Virgem em getsemani, tumba que estaria convocada no mesmo lugar da casa em que viveu e morreu maria. a bas�lica, reconstru�da em princ�pio do s�culo vii, seria destru�da no s�culo xi. segundo a tese da morte em �feso, maria passou os �ltimos anos de sua vida em uma casa que jo�o construira para ela nos arredores da cidade, teria morrido em tal casa e enterrada pelos ap�stolos. naturalmente, umas escava��es permitiram encontrar "a casa da sant�ssima virgem" em �feso, do mesmo modo que em jerusal�m se mostrava aos peregrinos o terreno sobre o qual maria emitiu seu �ltimo suspiro". (cf. patrice boussel, des reliques et de leur bon usage, 8.) e por que n�o? terei que atrair aos peregrinos. o leitor convir� em que essas contradi��es e esses testemunhos opostos fazem cair toda a lenda mariana. porque ainda no s�culo vi, gr�goire de tours assinala a presen�a de rel�quias do corpo da virgem em uma igreja de auvernia, e no s�culo ix se fala de outras novas em lu�on. mais adiante, como � evidente, e � medida que ia perfilando a lenda da ascens�o de maria, m�e de jesus, aos c�us, levada pelos anjos, fez-se desaparecer essas comprometedoras rel�quias. mas esqueceram de censurar os numerosos manuscritos existentes. e, o que � mais, em 1952 descobriram no monte das oliveiras, perto de "dominus flevit", convoca��es de tumbas contempor�neas � �poca de jesus. nelas se acharam um certo n�mero de sepulcros pequenos, de redu��o, nos quais se depositava os ossos descarnados e secos, depois de uma perman�ncia mais ou menos longa nas tumbas cl�ssicas de duas c�maras funer�rias. sobre esses pequenos sepulcros de redu��o estava inscrito o nome do defunto, ou em grego, ou em aramaico. entre eles descobriram, agrupados, os de jairo, marta, maria, sim�o-bar-jona (ali�s sim�opedro), jesus, salom� e fil�n de cirene (cf. r.p. luc h. grollengerg, atlas biblique pour tous, p. 177). � evidente que s�o falsos, que foram rubricados em uma �poca para os s�culos iv-v- no qual do que se tratava era de deslumbrar aos peregrinos. e isso demonstra que naquela mesma �poca a lenda crist� n�o possu�a ainda todo seu car�ter maravilhoso. e concretamente a ascens�o de jesus n�o tinha sido ainda establecida. (109) e partindo dessa base, como imaginar a de maria, sua m�e?... e se eram aut�nticos � ainda mais grave, j� que nos demonstra que jesus foi inumado em carne e que n�o houve jamais ressurrei��o alguma, j� que o cad�ver se decomp�s e logo os ossos foram juntados em um sarc�fago de redu��o. e ent�o a

mesma conclus�o se imp�e para o caso de sua m�e, maria. se duvid�ssemos disso, n�o ter�amos mais que recordar as quest�es provocadas pelas tr�s tumbas diferentes situadas em jerusal�m, getsemani e �feso, e pelas rel�quias corporais conservadas em auvernia e em lu�on. em outro campo, o da arte, temos a mesma constata��o. nenhuma tradi��o crist�, nenhum documento can�nico mostra maria recebendo em seus bra�os o corpo de jesus, � descida da cruz. nenhum documento deste tipo pinta a maria banhada em l�grimas ante seu filho crucificado. e isso � significativo. (110) para chorar a seus filhos mortos, as m�es antigas tiveram �s vezes acentos de uma tr�gica beleza. e o primeiro voccero corso, aquele hino imprecat�rio com o que se abria toda vingan�a, punho em alto, na soleira do famoso "pal�cio verde", foi indubitavelmente clamado por uma delas, sob o f�nebre mezzaro negro. sempre ignoraremos como se comportaria maria a noite da morte de jesus. conforme nos conta flavio josefo, os zelotes tinham como princ�pio n�o lamentar-se jamais, nem em seu pr�prio supl�cio nem ao contemplar o de outros. e tanto por seu passado familiar, que acabamos de ver, como pelo exemplo do marido morto em combate, myrhiam-bath-ioachim teria como m�xima o verso de seu antepassado o salmista: "que o eterno seja sempre a rocha de meu cora��o..." (cf. salmos, 73, 26). e semelhante atitude engrandece �quela mulher que foi a muito digna esposa de judas o gaulanita, muito mais que as afeta��es lacrimosas das pseudo-tradi��es marianas. maria, "m�e dos sete trov�es", n�o podia derramar l�grimas. notas complementares enquanto corrig�amos as provas da presente obra, nosso amigo francis mazi�res nos indicou que se acabava de abrir a tumba da virgem maria em �feso. essa tumba resultou estar completamente vazia, o que demonstra a veracidade do encargo de maria em carne e osso. absolutamente luminosa id�ia! agora n�o fica j� mais que abrir as de jerusal�m, de getsemani, recuperar os fragmentos corporais que se disputaram as cidades da idade m�dia, e ningu�m poder� negar j� o prod�gio. qu�o mesmo n�s, o leitor se persuadir� de que a tumba de �feso foi j� aberta no s�culo ix pelo imperador le�o vi, e que os restos que esta continha foram transferidos � Constantinopla. sob o nome de maria de magdala... inumada j� em saint-maximin, perto de sainte-baume... um milagre mais! 20 - as grandes fam�lias aquele que possui mulher e filhos proporcionou ref�ns � Fortuna, j� que s�o obst�culos para as grandes empresas, tanto virtuosas como malignas... f rancis bacon du mariage au c�libat em sua primeira obra, l'enigme de j�sus-cristo, daniel mass�, fazendo-se eco das tese anteriores de arthur heulhard (de verdadeiro nome arthur nivernoys), diznos que maria, m�e de jesus, foi durante um tempo a filha pol�tica de herodes, o grande: "sua m�e, vi�va, tornara a casar-se, com herodes, o grande", (op. cit., p. 98). daniel mass� equivoca-se uma vez mais. mas ter� que reconhecer a este autor que, atrav�s de uma massa enorme de afirma��es diversas, �s vezes incontroladas ou err�neas, em ocasi�es teve brilhos de uma intui��o absolutamente fulgurantes. como nas obras que sucederam n�o nos contribuiu a prova desta alian�a matrimonial, vimo-nos na obriga��o de procur�-la. n�o foi uma tarefa nada f�cil, j� que os monges copistas manipularam suficientemente o texto inicial de flavio josefo para que os manuscritos medievais que chegaram at� n�s (os �nicos, l�stima!) constituam um labirinto de contradi��es e de incoer�ncias totalmente desconcertante. necessitamos de uma maior paci�ncia, de inumer�veis horas (a maioria delas noturnas), de reflex�o e de verifica��es, para chegar a estabelecer essa prova desencorajadora da alian�a matrimonial entre as fam�lias dav�dica e herodiana, que, n�o obstante, n�o afeta diretamente maria, m�e de jesus. mas a conclus�o � realmente gratificante, porque faz que este �ltimo, durante um tempo, fora sobrinho de herodes, o grande, primo por alian�a de seu filho e sucessor herodes arquelao, de seus outros filhos herodes antipas e herodes

filipo i, tio por alian�a das princesas berenice e drusilla, sem esquecer a seu am�vel primo saul-bar-antipater, futuro "s�o paulo". quanto a sua m�e maria, esposa e vi�va de judas da gamala, converte-se n�o na esposa, a n�o ser na irm� pol�tica do pr�prio herodes, o grande... (111) como bem se v� atrav�s desta breve exposi��o geneal�gica, o problema merecia que lhe consagrassem numerosas horas de investiga��o. de todo modo, e sem antecipar conclus�es, podemos j� assegurar ao leitor que, por parte da fam�lia dav�dica, n�o se tratava de outra coisa que de um plano bem maturado e preconcebido, que tinha como objetivo a retomada do trono de israel, ent�o composto pelos reino da jud�ia e da samaria. e disso permanece uma confiss�o de jesus, confiss�o que demonstra que jamais pensou em outra coisa: "jerusal�m, jerusal�m, que matas aos profetas e apedreja aos que lhe s�o enviados! quantas vezes quis reunir a seus filhos � maneira que a galinha re�ne a seus frangos sob as asas, e n�o quis!..." (cf. mateus, 23, 47). e da� as rela��es com o territ�rio impuro de samaria, apesar das proibi��es judias. porque se, frente ao poderio romano, conseguia reunificar a jud�ia e a samaria, israel podia esperar sua libera��o, enquanto que se um filho de herodes continuava ocupando o trono e reinando sobre esse conjunto, roma continuava sendo a pot�ncia ocupante. e agora passemos � demonstra��o hist�rica desta assombrosa alian�a. o abade migne, em seu dictionnaire des apocryphes (tomo ii, paris, 1858), diz-nos que a igreja do oriente tomou como v�lido um texto intitulado do nascimento da virgem e atribu�do a s�o cirilo da alexandria. segundo essa tradi��o manuscrita, ana (em hebreu hannah), a m�e de maria, era por sua vez filha de um tal stolano e de sua esposa emerantia, nomes gregos que, segundo costume da �poca, acompanhavam aos sobrenomes hebreus, j� que o nome de circuncis�o desse stolano seria mathan, como veremos seguidamente. segundo esse manuscrito, ana casou-se com dezoito anos com joaquim, que tinha vinte, e de quem o protoevangelio de santiago diz que pertencia � estirpe de david como ana, que era um homem muito rico e que pertencia � estirpe sacerdotal, j� que em certas �pocas foi pont�fice no templo (cf. abade emile amann, o prot�vangile de jacques, paris, 1910, letouzey & an�, imprimatur do 1-2-1910). observemos que eli, sua forma completa de eliakim, e tamb�m iehojakim s�o um mesmo nome. (cf. talmud de babil�nia; sanedr�n, f� 67, e talmud de jerusal�m, f� 77). recordemos tudo isto: filia��o dav�dica, sacerdotal, e uma grande riqueza familiar. essas tr�s qualidades s�o muito importantes, j� que permitem situar � fam�lia de maria e de jesus em um n�vel social bastante elevado. em primeiro lugar, e durante vinte anos, ana n�o p�de conceber nenhum filho. e s� aos trinta e oito anos p�de dar a luz por fim a uma filha, que recebeu o nome de maria (em hebreu miry�m), filha que mais adiante se converteria em esposa de judas da gamala e m�e de jesus. esse mesmo ano ana enviuvou, e ent�o se casou em segundas n�pcias, "conforme mandava o senhor" (op. cit.), com seu cunhado, um tal clopas, porque n�o tinha podido dar um filho ao joaquim, seu primeiro marido. e este era, efetivamente, o costume que se impunha imprescritivelmente em israel. (deuteron�mio, 25, 5). o mesmo ano desse novo matrim�nio legal, ana deu a luz uma segunda filha, a que se deu deste modo o nome de maria (ii) em lembran�a de qu�o prod�gios tinham precedido (segundo a lenda) ao nascimento da primeira, e que nos relata o protoevangelio do santiago. esse segundo marido, necessariamente irm�o do primeiro, morreu antes do nascimento da maria ii, e ana o chorava ainda quando um anjo lhe apareceu e a amea�ou a que se preparasse a contrair novas n�pcias. de fato, ela seguia na obriga��o legal de casar-se com o terceiro irm�o, ao n�o ter podido dar a luz a nenhum var�o que pudesse perpetuar o nome do pai defunto, e n�o � absolutamente necess�rio imaginar uma apari��o ang�lica para obter a aplica��o da lei judia, coisa comum naquela �poca. e temos, pois, ana casada com seu segundo cunhado, que se chamava salom�o (e

n�o salom�, como p�e por engano o texto grego). um ano mais tarde nascia uma terceira filha, a que se voltou a p�r o nome de maria (iii). e pouco depois, conforme nos diz o livro do nascimento da virgem, ana era vi�va pela terceira vez. isto � muito menos seguro, e o constataremos em seguida, no exame de outros documentos que nos contribuir�o o por que das mortes dos dois primeiros maridos, t�o pr�ximas que n�o podiam a n�o ser estar integradas em uma cat�strofe geral. completando a tradi��o desse texto do nascimento da virgem, o dictionnaire de bible do abade vigouroux (tomo i, paris, 1925, letouzey & an�, imprimatur do 28-10-1891, 1� edi��o), diz-nos que ana era filha de mathan, cohen, quer dizer, sacerdote pont�fice, nascido em bel�m da jud�ia, e que ela era a �ltima das tr�s filhas do chamado mathan, chamadas maria, sovei e ana. como se v�, a �rvore geneal�gica come�a a perfilar-se. provavelmente para mascarar este caminho, que resultar� ser do mais revelador, a igreja cat�lica declararia de uma vez por todas "fazer profiss�o de f� de n�o saber nenhuma das circunst�ncias que acompanharam o natal de maria, e n�o nos dizer nada dela j� que a escritura e a tradi��o apost�lica n�o lhe tinham contribu�do nada..." (cf. o prot�vangile de jacques, op. cit., p. 49, citando ao c�lebre hagi�grafo adrien baillet). entretanto: "n�o vacilo em considerar esses nomes (os dos familiares de maria) como aut�nticos -diz-nos o n�o menos c�lebre exegeta tischendorf. com efeito, em meados do s�culo ii (por volta de 150) lhes podia conhecer melhor. que necessidade havia, pois, de forjar outros novos?..." (cf. tischendorf, de evangeliorum apocryphorum origine et usu, 1851). o historiador independente tem interesse em ser mais curioso. para isso � necess�rio estudar um pouco esse nome de maria, sobretudo do ponto de vista onom�stico, j� que se converter� em uma das chaves do enigma por resolver. maria n�o � nome hebreu comum. n�o se encontra citado mais que uma s� vez no antigo testamento, no caso da irm� de mois�s (cf. �xodo, 15, 20; n�meros, 12, 1; 20, 1; 26, 59; deuteron�mio, 24, 9; miqu�ias, 6, 4). e isso � bastante estranho: uma s� mulher se chamou assim em toda a hist�ria de israel, ao menos dentre os personagens hist�ricos conhecidos. hiller, em seu onomasticum sacrum (tubinga, 1706, p. 173), demonstrou que na forma hebr�ia miry�m, a termina��o am n�o tem nenhum significado preciso, que � uma simples forma final. esse nome derivaria simplesmente do �rabe marja (o j tomado aqui por um i, quer dizer, acentuando o car�ter gutural de r). teria o significado de "grossa, forte", termos sin�nimos de beleza feminina nessas regi�es do oriente m�dio. a forma ass�ria � mar�. Hiller nos precisa al�m que a pontua��o masor�tica -os pontos vocais em hebreu- d� miry�m, mas vers�es diversas fazem supor que d� mary�m. j� o temos! quando mais adiante nos encontrarmos em presen�a de um nome de origem hebraica que se pronuncie mariamna, recordaremos que flavio josefo simplesmente compilou aos historiadores e panegiristas de herodes, o grande, nicol�s de damasco e seu irm�o ptolomeo de ascalon, e que estes eram s�rios, quer dizer, �rabes. eles utilizaram a forma �rabe de marja (maria em grego), acrescentando a desin�ncia hel�nica am, j� que redigiam suas hist�rias em l�ngua antiga. voltemos agora para segundo marido de ana chamado clopas, ali�s cleophas (cf. jo�o, 19, 25, e lucas, 24, 18). nos manuscritos iniciais dos evangelhos can�nicos, redigidos como se sabe em grego, esse nome aparece transcrito como klopa, contra��o do grego kleopatros, que significa "(nascido) de um pai ilustre"; portanto, tem o mesmo significado que antipas ou antipater, em grego antip�tros: "(nascido) de um pai ilustre". o nome hebreu abraham, que significa "pai elevado de uma multid�o", e que procede de abram, que significa "pai elevado", � o que melhor lhe corresponde. em l�ngua �rabe d� Ibrahim. pelo contr�rio, a forma ortogr�fica da klopa mostra uma deriva��o de uma raiz aramaica. passemos agora a seu feminino cle�patra (em grego kleop�tra), que logo encontraremos como duplo hel�nico de mariamna em hebreu. numerosas princesas eg�pcias levaram esse nome entre as procedentes das dinastias sel�ucida e ptolemaica. a mais c�lebre foi, indubitavelmente, cle�patra vii, nascida em

alexandria no ano 66 antes de nossa era, e morta na mesma cidade no ano 30 antes da mesma, aos trinta e seis anos de idade. foi filha de ptolomeo xi o auletes, e se casou, segundo o costume do egito, com seu pr�prio irm�o ptolomeo xii. foi amante sucessivamente de julio c�sar e de antonio, corrompeu literalmente a este �ltimo e fez com ele iniciando-o nas orgias, cl�ssicas e homossexuais, comuns e compartilhadas, nas quais ela era perita. uma rainha de s�ria levou tamb�m esse nome. significava, qu�o mesmo klopa, "(nascida) de um pai ilustre". concluamos j� que, quando vemos aparecer esse nome aplicado a uma princesa judia, esposa de herodes, o grande, � que haver� uma poss�vel associa��o de id�ias com a do egito, e provavelmente pelas mesmas raz�es. (112) e agora voltemos para a hist�ria. no evangelho de jo�o se diz que clopas tinha uma esposa chamada maria: "estavam, junto � cruz de jesus sua m�e e a irm� de sua m�e, maria a de cleof�s..." (cf. jo�o, 19, 25). pois bem, os manuscritos gregos dos evangelhos can�nicos jamais apresentam uma constru��o gramatical deste tipo para explicar semelhantes rela��es conjugais. assim, por exemplo, em mateus (27, 19), � esposa de pilatos a chama em grego gun� (mulher, esposa); em lucas (17, 32), � esposa de lot a chama igual; e em jo�o (4, 7), a mulher de samaria recebe o mesmo qualificativo. assim: "...juana, mulher de chuza, intendente de herodes...", traduz-se: "... iokana, gun� Kouza ..." (op. cit.) pelo contr�rio, a frase de jo�o (19, 25): "... maria, mulher de cleof�s...", est� composta de modo totalmente distinto: "... maria � tou klop�...", quer dizer: "... maria (filha) de klopa ...", e n�o "mulher de". essa � a antiga tradu��o da citada passagem do evangelho de jo�o. a nova vers�o n�o � mais que uma modifica��o mais, destinada a nos fazer perder o fio do enigma. vejamos a prova: existem uns atos apost�licos (actus apostolorum) atribu�dos a um tal abd�as, que seria bispo de babil�nia, quer dizer, em realidade de roma, segundo o vocabul�rio petrino convencional. esses atos, redigidos primeiro em hebreu, logo traduzidos por seu disc�pulo eutropio ao grego, e logo do grego ao latim por julio, o africano, a igreja cat�lica os considera apesar de tudo como uma obra redigida inicialmente em latim, e datada do s�culo vi (cf. j.a. fabricius: codex apocryphum, novum testamentum, hamburgo, 1703). e nesses atos apost�licos de abd�as, maria ii aparece n�o como a mulher, mas sim como a filha de clopas, como afirm�vamos antes. e h� ainda outro testemunho disso: "clopas era irm�o de jos�, e ao morrer clopas sem filhos, jos�, segundo alguns, casou-se com sua mulher e procurou filhos a seu irm�o. maria (maria de clopas), aqui mencionada, seria um de seus filhos". (cf. teofilacto, bispo de acrida na bulgaria, por volta do ano 1078, na patrolog�a grega, tomo cxxiii, col. 293). este autor confunde, portanto, ao jos� e �quele salom�o com o que ana, m�e da maria i, teria se casado em terceiras n�pcias. como j� demonstramos a inexist�ncia de tal jos�, (113) imaginado para fazer desaparecer ao judas da gamala, temos que voltar para o salom�o citado pelo documento atribu�do ao cirilo de alexandria e intitulado o nascimento da virgem. mas segue em p� o segundo testemunho: maria ii era a filha de clopas, e n�o sua esposa. voltamos, portanto, a estar em posse das ferramentas e as chaves necess�rias para for�ar a porta do tenebroso calabou�o aonde a igreja dos primeiros s�culos encerrou a verdade hist�rica. retornemos, pois, � dinastia herodiana, e, para come�ar, fa�amos o invent�rio do verdadeiro har�m que possuiu herodes, o grande, conforme os costumes de sua �poca, j� que flavio josefo nos diz a respeito que "esse pr�ncipe gozava com o abuso da liberdade que nos d� a lei de possuir v�rias esposas..." (cf. flavio josefo, a guerra dos judeus, i, xvii). ter� que acrescentar, em favor dele, que foi durante toda sua vida um grande amante da beleza feminina, e que jamais escolheu a suas esposas por suas riquezas familiares, a n�o ser acima de tudo por sua beleza, e j� s� por isso lhe ser� perdoado muito! n�o obstante, tampouco esqueceu associar a isso nobres origens, j� que flavio josefo nos diz que mandou queimar as genealogias dos hebreus, depositada no templo, a fim de n�o permitir que nenhuma delas pudesse, como no caso da primeira mariamna, humilh�-lo incessantemente, tendo em conta suas

pr�prias origens n�o reais. a lista de suas esposas e dos filhos que estas lhe deram nos proporciona o texto das antig�idades judaicas (xviii, i) e o da guerra dos judeus (i, xvii), em sua vers�o grega. o mesmo pode dizer-se da vers�o eslava: herodes, o grande se casou, pois, sucessivamente, com: 1�: doris, que foi m�e de antipater. foi repudiada pela primeira vez quando o rei decidiu casar-se com mariamna i, que lhe segue. � morte desta, doris foi reintegrada a pedido de seu filho no favor e o leito de herodes, e logo repudiada pela segunda vez quando teve lugar o compl� de antipater, e ent�o foi despojada de todos seus bens e j�ias. era provavelmente uma grega de dec�polis, federa��o helen�stica de dez cidades, situadas ao leste do lago de tiber�ades, e que pompeyo tinha liberado da domina��o judia no ano 62 antes de nossa era. com efeito, este nome se encontra, em sua forma balc�nica de dorisca, na hungria, yugoslavia e transilvania, onde visivelmente � de origem grega. 2�: mariamna i, filha do rei alexandre e da rainha alexandra. era, pois, a neta de hircano ii, rei e supremo sacerdote, e de arist�bulo ii, rei e supremo sacerdote. pertencia, portanto, � dinastia asmonea, chamada dos macabeus. foi executada por uma falsa acusa��o de adult�rio, por ordem de herodes, o grande, quem, quando teve reconhecido seu engano, esteve a ponto de perder a raz�o. o rei teve dela cinco filhos: duas filhas e tr�s filhos. o maior, alexandre, casou-se com glapyra, filha de arquelao, rei da capadocia, e o menor, ant�gono, casou-se com a filha de salom� I, irm� de herodes, o grande, qu�o mesma tinha acusado de adult�rio a mariamna i. 3�: mariamna ii, filha de sim�o, cohen e pont�fice, e que foi elevado ao pontificado pelo herodes com ocasi�o de tal matrim�nio. teve um filho chamado herodes filipo i (que se casaria com herodias, neta por sua vez de mariamna i e de herodes), e que morreu no ano 34 de nossa era. primeiro foi criado em roma, e designado mais tarde como sucessor de herodes, o grande, em segunda posi��o, depois de seu meio-irm�o arquelao. entretanto, foi apagado desta sucess�o quando descobriu o compl� no qual participou sua m�e mariamna ii, e sobre o que teremos que voltar. 4�: malthak�, a samaritana, possivelmente, apesar de tudo, de origem grega tamb�m (dec�polis), j� que seu nome, maltakia em grego, significa "do�ura, brandura". deu ao rei dois filhos: arquelao e antipas, e uma filha, olympia. morreu durante os enfrentamentos contra roma, frente a c�sar augusto, dos membros da dinastia herodiana e seu filho arquelao. possivelmente aproveitaram a aus�ncia destes para suprimi-la. tamb�m p�de perecer durante a guerra civil que enfrentou aos partid�rios de achiab, tio av� de salom� Ii, aos de arquelao. j� analisamos este epis�dio das lutas din�sticas em nossa primeira obra. (114) 5�: cle�patra de jerusal�m. esta indica��o de origem e de resid�ncia precisam que foi judia. teria um filho, segundo os historiadores modernos (em seguida teremos a prova), e dois segundo seus predecessores, chamar-se-iam herodes e filipo. este �ltimo teria sido educado em roma tamb�m, qu�o mesmo seu meio-irm�o herodes filipo i, filho de mariamna ii. e ent�o se exp�e a pergunta: por que ele, e n�o seu irm�o maior? como n�o se encontra nenhum rastro v�lido desses dois personagens, geralmente se considera que se trata simplesmente de um texto corrompido nos manuscritos gregos, ao ter dado lugar um mau decl�nio � introdu��o da "e" entre o herodes e filipo, quando terei que ler simplesmente herodes filipo. mais adiante veremos que, com efeito, n�o � mais que o mesmo personagem que herodes filipo i, filho de mariamna ii, o que implica que esta �ltima n�o seja outra que a citada cle�patra de jerusal�m. 6�: pallas, de quem herodes teve um filho chamado fazael. 7�: fedra, que foi m�e de uma filha chamada roxana. 8�: elpide, que lhe deu uma filha chamada salom� (salom� Iii). 9�: x ..., filha de um de seus irm�os, e portanto sua pr�pria sobrinha. o costume do oriente m�dio permitia a um tio casar-se com a filha de seu irm�o ou de sua irm�. sob o claudio c�sar e a proposi��o de vitelio, o senado romano confirmou por unanimidade este costume e a legalizou (cf. t�cito, annales, xii, vi-vii). desta uni�o herodes n�o teve filhos.

10�: x' ..., sua prima irm�, provavelmente nabatea e filha de um irm�o ou de uma irm� de sua m�e cypros i, tampouco desta uni�o teve herodes descend�ncia. pois bem, primeira observa��o: flavio josefo enumera com toda precis�o a dez esposas, e antes tinha declarado que herodes, o grande, tinha tido nove (cf. antig�idades judaicas, xvii, i), portanto h� uma repetida. e isso � assim nas diversas vers�es de flavio josefo, tanto na grega como na eslava, tanto nas antig�idades judaicas como na guerra dos judeus. este engano ter� que imput�-lo aos copistas medievais, quem em sua paix�o por fazer desaparecer de tal autor tudo que pudesse revelar a verdade hist�rica, jamais tiveram a suficiente intelig�ncia e fria raz�o para controlar suas censuras, interpola��es, etc�tera. sabendo que procuramos uma esposa da dinastia dav�dica, vejamos quais das esposas de herodes, o grande, respondem a dita exig�ncia. observar-se-� que a vers�o eslava da guerra dos judeus fala apenas de uma mariamna, filha de um supremo sacerdote. por instinto, o copista retificou o n�mero das esposas, mas fazendo-o cometeu outro engano! vejamos agora em que condi��es se casou herodes, o grande, com a segunda mariamna, depois de mandar executar � primeira, fundando-se em uma den�ncia caluniosa de sua irm� Salom� I, quem queria desembara�ar-se dessa cunhada a que odiava e de seu marido, de quem fez o amante daquela. flavio josefo nos diz o seguinte: "ele (herodes) pensou em voltar a casar-se, e como n�o procurava seu prazer na mudan�a, quis escolher a uma pessoa em quem pudesse depositar todo seu afeto. e assim tomou uma puramente por amor, � maneira que vou contar. sim�o, filho de boeto alexandre (115) que era pont�fice e de uma ra�a muito nobre, tinha uma filha de uma beleza t�o extraordin�ria que n�o se falava de outra coisa em jerusal�m. o rumor chegou at� Herodes. quis v�-la, e jamais amor algum a primeira vista foi maior que o que este sentiu por ela. julgou que n�o devia abusar de seu poder raptando-a, como poderia faz�-lo, por medo de passar por um tirano, e acreditou que melhor seria casar-se com ela. mas como sim�o n�o era de uma t�o grande qualidade como para t�o alta alian�a, nem tampouco de uma condi��o nada desprez�vel, quis elev�-lo a uma grande honra a fim de faz�-lo mais consider�vel. assim, privou do supremo sacerd�cio ao jesus, filho de phabet, a deu, e se casou com sua filha". (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xv, xii). israel jamais teve a n�o ser duas dinastias reinantes em toda sua hist�ria. a dinastia asmonea, chamada dos macabeus, que precedeu a n�o judia dos herodes, n�o reinou mais de um s�culo, do ano 135 aos 37 antes de nossa era. n�o se beneficiava de nenhuma profecia ilustrativa. em troca era muito distinta no caso da dinastia dos filhos de david, que governou israel desde ano 1015 at� o 107 antes de nossa era, bem de fato, bem legitimamente. em seu caso possu�a a promessa de yav�, expressa ao rei david pelo profeta nat�n: "ocorrer� que quando seus dias tenham chegado ao c�mulo e tenha repousado com seus pais, eu farei subsistir a semente que sair� de suas v�sceras e farei est�vel seu reino (...) e eu farei est�vel o trono de seu reino para sempre (...) por isso ser�o est�veis sua casa e seu reino para sempre ante mim. seu trono permanecer� firme para sempre!" (cf. samuel, 7, 12 a 16). esta promessa se realizou durante mais de um mil�nio, �s boas ou �s m�s. tudo isso est�, pois, muito claro. a "ra�a muito nobre" a que faz alus�o flavio josefo para referir-se a mariamna ii e a seu pai sim�o �, indubitavelmente, a de david, tanto mais que, por outro lado, � de filia��o sacerdotal, e por conseguinte descendente deste modo de aar�o. e da� que fora elevado ao supremo sacerd�cio. a nova esposa de herodes, o grande, era assim de sangue real e filha do pont�fice de israel. temos, pois, por conseguinte a prova absoluta de que o rei contou efetivamente, entre suas esposas, com uma "filha de david". mas quais podiam ser os la�os familiares diretos desta mariamna ii com a maria, m�e de jesus? essa � a segunda parte do enigma que temos que resolver. antes que nada conv�m precisar quem essa era "cle�patra de jerusal�m" com a que se casou depois de malthak� a samaritana, com quem o tinha feito por volta do ano 21 antes de nossa era.

necessariamente, e apesar de seu nome, cle�patra era judia, j� que nos precisa que era "de jerusal�m". sabemos que naquela �poca era j� antigo o costume de levar um nome grego acrescentado no nome hebreu. sabemos deste modo que cle�patra significa "(nascida) de um pai ilustre" (em grego kleop�tra). qu�o mesmo clopas (em grego klop�). quem podia ser, pois, essa judia "nascida de um pai ilustre", de suficiente "nobre ra�a" para ser tomada por esposa pelo rei herodes, o grande? conhecendo as deforma��es f�ceis utilizadas pelos monges copistas quando desejavam obscurecer um ponto da hist�ria, podemos imaginar que seu nome era, em hebreu, bath-clopas ("filha de clopas"), qu�o mesmo essa maria de clopas, em grego "maria � tou klop�", que os atos apost�licos de abd�as, bispo de babil�nia, afirmam que foi a filha de clopas, e n�o sua esposa, como diz jo�o (19, 25). dado que este evangelho apareceu por volta do ano 190 de nossa era, que ignoramos de que jo�o se trata (em todo caso n�o do ap�stolo), concederemos nosso voto ao abd�as. possivelmente houve al�m outro motivo para o apelido hel�nico dado a essa filha de clopas, uma alus�o � Cle�patra rainha do egito, e em seguida o analisaremos. por outra parte, mariamna n�o � outra coisa, como vimos anteriormente, que uma desin�ncia grega do hebreu miry�m, ali�s maria. se podemos estabelecer que mariamna ii e cle�patra foram uma mesma e �nica mulher, teremos desatado completamente o n� do enigma. de sua uni�o com herodes, o grande, mariamna ii tivera um filho chamado herodes filipo i, que se casou com herodias, sua prima, neta de mariamna i e de herodes, o grande. cle�patra de jerusal�m, por sua parte, tivera um filho chamado herodes filipo ii, quem se casaria com salom� Ii, filha de herodes filipo i e de herodias. daniel-rops, em jesus em seu tempo, adere-se, evidentemente, a esta c�moda solu��o para afogar a verdade hist�rica (op. cit.; iii, um canton dans l'empire). "dos quatro filhos de herodes, todos estavam vivos quanto jesus, mas nenhum tinha seus poderes. o maior, herodes filipo i, neto por parte de m�e do supremo sacerdote sim�o, tinha sido explicitamente deserdado; a falta de territ�rio, esperava obter o soberano pontificado, mas a mitra branca e o peitoral sagrado, em lugar de recompensar sua espera, reca�ram sobre seus tios av�s, um ap�s o outro..., deixando a ele, simples sacerdote, como presa dos sarcasmos de sua ambiciosa esposa herodias". (op. cit.) e, em outro cap�tulo, daniel-rops n�o vacila em dar a salom� Ii como esposa ao fantasma herodes filipo ii: "e filipo-herodes filipo ii-, irm�o do tetrarca, e tetrarca a sua vez de gaulan�tide e a tracon�tide, que pouco depois se casaria com salom�..." (op. cit.: v, a s�mence d l'eglise). todas estas afirma��es de daniel-rops constituem uma s�rie de enganos interessados, e tudo isto � falso, contr�rio aos textos antigos, j� que flavio josefo jamais deu o nome da esposa do pseudo-herodes filipo ii. e, em primeiro lugar, daniel-rops reconhece que herodes n�o teve mais que quatro filhos. nomeemo-los: 1�: antipater, filho de doris, 2�: herodes filipo i, filho de mariamna ii, 3�: herodes antipas, filho de malthak� a samaritana, 4�: herodes arquelao, filho da mesma. tendo em conta que os dois filhos de mariamna i, alexandre e arist�bulo, est�o j� mortos, isso n�o d� a n�o ser quatro filhos, e a� estamos de acordo com daniel-rops. mas como pode falar ent�o desse herodes filipo ii, filho de cle�patra de jerusal�m, o que elevaria a cinco o n�mero dos filhos de herodes, o grande, vivos naquele tempo? qu�o mesmo os monges copistas da idade m�dia, daniel-rops se embrulhou em seu esfor�o por dissimular a verdade... e vejamos outras provas de que este herodes filipo ii jamais existiu. na vers�o eslava da guerra dos judeus de flavio josefo, � Herodes filipo i, filho de mariamna ii, o marido de herodias, quem � o tetrarca, e isto o confirma o relato, no mesmo flavio josefo, da partilha do reino de herodes, o grande, por c�sar augusto, assim como um velho evangelho ap�crifo copto, mais antigo que o segundo lucas, se dermos cr�dito ao or�genes, e que n�s denominamos o evangelho

dos doze ap�stolos. aqui est�o esses textos definitivos que varrem ao mesmo tempo por todas as interpreta��es "arrumadas" de daniel-rops: "voc� confiscar� ao filipo, tirar� sua casa, dar� procura��o de seus bens, de seus servidores, de seu gado, de todas suas riquezas, de tudo o que � dele; e voc� me enviar� essas coisas � sede de meu imp�rio. todos seus bens, voc� os contar� para mim, e n�o lhe deixar� nada, exceto sua vida, a de sua mulher e de sua filha. isto � o que diz tib�rio ao �mpio herodes antipas". (cf. evangelho dos doze ap�stolos, 2� fragmento). trata-se, pois, sem lugar a d�vida, de herodes filipo i, o tetrarca, marido de herodias e pai de salom� Ii, aquele ao que daniel-rops converte em um pobre cohen, sem nenhuma tetrarquia. continuemos: "filipo, achando-se em sua prov�ncia, teve um sonho: uma �guia lhe tinha arrancado os dois olhos. reuniu a seus sabios. (116) como todos explicavam o sonho de forma diferente, esse homem que representamos antes, que ia vestido com peles de animais e que desencardia ao povo nas �guas do jord�o, acudiu subitamente a seu encontro sem ser chamado, e disse: 'escuta a palavra do senhor. nesse sonho que viu, a �guia � seu amor ao lucro, porque esse p�ssaro � violento e rapace, e esse pecado te arrancar� seus olhos, que s�o sua prov�ncia e sua mulher'." (cf. flavio josefo, a guerra dos judeus, ii, 4, manuscrito eslavo). tamb�m aqui, como se v�, trata-se de herodes filipo i, marido de herodias e pai de salom� Ii, e que � tetrarca, como sublinha flavio josefo. a �guia designa roma, e neste caso concreto ao tib�rio. continuemos. � morte de herodes, o grande, e ao ser protestado seu testamento, a fam�lia herodiana acudiu � Roma para levar o lit�gio ante o imperador augusto. depois de ter ouvido as partes, o imperador resolveu assim o problema: "n�o proclamou rei ao arquelao, mas sim da metade do reino que antes estava submetido ao herodes (o grande) fez uma etnarquia que lhe concedeu, prometendo honr�-lo mais tarde com o t�tulo de rei se por sua virtude se mostrava digno disso. depois de dividir a outra metade em duas partes, as deu aos outros dois filhos de herodes, ao filipo e ao antipas... antipas teve por sua parte a perea e a galil�ia, que anualmente lhe rendiam duzentos talentos. a batanea, com a tracon�tide e a auran�tide, e uma parte do que se chamou o dom�nio de zenodoro reportaram ao filipo cem talentos". (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xvii, xi, manuscrito grego). o quarto filho de herodes, o grande, tinha morrido, efetivamente, pouco antes do desaparecimento de seu pai, executado por ordem dele e com o consentimento do imperador, por compl� criminal contra o rei. era antipater, filho de doris. n�o ficavam, pois, mais que tr�s: arquelao, herodes filipo i e herodes antipas. como se v�, este herodes filipo i, filho de mariamna ii, que fora deserdado pelo herodes, o grande, em ocasi�o do compl� de sua m�e, foi restabelecido em seus direitos de herdeiro parcial por c�sar augusto, porque n�o participara da conjura��o materna. e foi efetivamente ele o primeiro marido de herodias, o pai de salom� Ii, que mais tarde foi despojado por tib�rio c�sar de sua tetrarquia, por causa da acusa��o caluniosa de seu meio-irm�o herodes antipas. mas, perguntar� o leitor, e herodes filipo ii, do que daniel-rops fazia um tetrarca e o marido de salom� Ii? �, simplesmente, o mesmo personagem que herodes filipo i, que foi desdobrado pelos monges copistas e daniel-rops, para fundamentar a exist�ncia dessa cle�patra de jerusal�m, personagem t�o imagin�rio como ele, e duplo engano de mariamna ii, como acabamos de demonstrar. para isso inventou um filho. quanto ao verdadeiro personagem de tal nome, encontraremo-lo em outro lugar, no pr�ximo cap�tulo. e uma nova pergunta aflora nos l�bios, ou seja, o por que dessa nova falsifica��o de flavio josefo por parte dos copistas medievais. a armadilha � muito h�bil. naquela �poca as fortalezas possu�am sempre v�rios recintos murados, ou ao menos seu torre�o. o mesmo aconteceu aqui. porque vamos descobrir a uma "filha de david", parente pr�xima de maria, m�e de jesus, e cujo comportamento, inclusive justificado por uma conjura��o pol�tica, � simplesmente escandaloso. ao criar a um dupla de tal personagem, sempre lhe poder� dissociar de jesus e de sua

m�e, e a honra dav�dica ficar� a salvo... se um historiador curioso consegue estabelecer que uma meio-irm� de maria se casou com herodes, o grande, argumentarse-� amplamente sobre o rigor moral de seu comportamento, muito diferente ao da outra, escandaloso, e a base estar� jogada. em montaria a isto lhe chama por parte da ca�a, "dar o cambalacho", e as trombas de ca�a o assinalam mediante uma formosa e forte fanfarra... recapitulemos, pois, sobre o resultado de nossas investiga��es: 1) mariamna ii n�o � outra que uma miry�m, filha de david, esposa indiscut�vel de herodes, o grande, m�e de herodes filipo i, e portanto sogra de herodias e av� de salom� Ii. 2) cle�patra de jerusal�m n�o tem exist�ncia hist�rica, qu�o mesmo seu pseudofilho herodes filipo ii, quem jamais foi, e com raz�o, nem tetrarca nem marido de salom� Ii. o nome desta esposa imagin�ria deriva do apelido hel�nico de seu pai clopas (em grego klop�) e, como ele (kleopatr�), ela � "de pai ilustre". trata-se, portanto, de mariamna ii. 3) mariamna ii, ali�s miry�m, filha de david, chamar-se-� Maria em nosso idioma, e maria em grego. como � o mesmo personagem que a cle�patra de jerusal�m, � efetivamente a "maria de cleof�s" do evangelho de jo�o (19, 25), no texto grego deste: "marie � tou klop�". 4) como maria de cleof�s era a segunda filha de ana, m�e de maria, m�e de jesus, embora de pai diferente (seu tio, segundo a lei judia), era, pois, meio-irm� de maria i, m�e de jesus, e tia deste �ltimo. 5) por seu matrim�nio com herodes, o grande, mariamna ii, ali�s maria de cleof�s, meio-irm� de maria m�e de jesus, fez deste �ltimo o sobrinho por alian�a do rei herodes, o grande, e primo por alian�a de seus filhos, os tetrarcas herodes antipas e herodes filipo i. agora, e segundo a t�cnica habitual de l'ecole des chartes, m�todo comprovadamente v�lido, conv�m controlar e delimitar cronologicamente todas essas assombrosas conclus�es: - maria i, m�e de jesus, teria nascido por volta do ano 30 ou 32 antes de cristo. sua m�e, ana, contaria ent�o 38 anos, segundo os textos j� citados. - jesus nasce por volta dos anos 15 ou 17 antes de nossa era (segundo s�o irineu), e morre aproximadamente aos cinq�enta anos de idade, no ano 35 de nossa era. - se joaquim morreu no ano 30 ou 32 a.c., clopas (cleof�s) teria morrido no -28. - ana, m�e de maria i, nascera por volta dos anos - 68 ou -70. herodes, o grande, viera ao mundo no ano -73; portanto, contava mais ou menos a mesma idade que ana, pois s� era tr�s ou quatro anos maior que ela. - ana teve uma segunda filha com cleof�s, aproximadamente no ano -28. esta (ali�s mariamna ii, ali�s cle�patra de jerusal�m) teria nascido, por conseguinte, por volta do ano -28. - em -28 herodes, o grande, contava com 45 anos. casou-se com mariamna i (filha de hircano) no ano -37, e a mandou executar no ano -29, oito anos mais tarde. casaria com mariamna ii no ano -13 ou -11, portanto ela contava ent�o quinze anos de idade, conforme era costume naquelas regi�es, e teria nascido nos anos -28 ou -26. como maria i, m�e de jesus, tinha nascido por volta do ano -30, os dados coincidem. - herodes, o grande, morre no ano -4, aos sessenta e nove anos de idade. mariamna conta ent�o uns vinte e dois anos. ca�ra em desgra�a no -5, e antipater, filho de doris, tinha morrido no -4. - herodias tinha nascido no -7 e morreu no ano 39 de nossa era; portanto contava doze anos quando se casou com herodes filipo i, no ano 5 ou 7 de nossa era. ele morreu no 34 do mesmo, e tinha nascido por volta do ano -10. - salom� Ii, a filha de ambos, nasceu por volta dos anos 6 ou 8 de nossa era, e morreu em 73 desta, quando contava uns sessenta e cinco anos de idade; portanto, tinha 28 anos � morte de jesus. e quando teve lugar tal execu��o, no ano 35 de nossa era, as tr�s marias (117) contavam portanto: - maria i, m�e de jesus, nascida por volta do ano -30 ou -32, uns sessenta e cinco

anos. - maria ii, ali�s mariamna ii, ali�s cle�patra de jerusal�m, nascida por volta do ano -28, uns sessenta e tr�s anos de idade. - maria iii, outra meio-irm�, nascida por volta do ano -26, uns sessenta e um anos de idade. tamb�m aqui coincide tudo. por outra parte, se como dizem os textos eclesi�sticos, mariamna ii, ali�s maria ii, � a filha de cleof�s, e se cleof�s for o irm�o de jos�, em realidade judas da gamala, mariamna ii, ali�s cle�patra de jerusal�m, � nem mais nem menos que a tia de jesus. como foi esposa de herodes, o grande, dos anos -13 ou -11 ao -5, quer dizer, durante seis ou oito anos, jesus foi o sobrinho de herodes, o grande, durante todo esse tempo... e foi primo de seus filhos: antipater, herodes antipas, herodes filipo i, de suas filhas: olympia, roxana, salom� Iii, cypros iii, salampsio; de suas netas: as princesas drusilla e berenice, e, especialmente, daquela que cedeu sua cama e seu mesa: (118) a princesa salom� Ii, vi�va de herodes lysanias, ao que logo estudaremos, e futura esposa de arist�bulo iii, rei de arm�nia... tudo isto explica muito melhor que o sonho premonit�rio da esposa de pilatos o fato de que este quisesse "liberar o jesus" (cf. lucas, 23, 20, e jo�o, 19, 12). coisa que nos oculta cuidadosamente. e tudo o que � mais ainda, esse parentesco "por alian�a" (porque, apesar de tudo, n�o � mais que isso) estende-se de jesus a saulo-paulo. como este �ltimo era o neto de herodes, o grande, por parte de sua m�e cypros ii, e seu sobrinho neto por parte de seu pai antipater ii, (119) se estabelece um la�o de parentesco entre ambos personagens, queira ou n�o. porque a irm� de herodes, o grande, a vingativa e ciumenta salom� I, converteu-se em tia de mariamna ii, ali�s cle�patra de jerusal�m, ali�s maria ii, quando esta se casou com herodes, o grande, nos anos -13 ou -11; e salom� n�o morreu at� um ano mais tarde, no 10 antes de nossa era. de todo modo, se cleof�s era o pai de mariamna ii, este morreu, conforme nos dizem, antes do nascimento de sua filha. e ent�o, como p�de herodes, o grande, fazer dele um pont�fice de israel quando se casou com sua filha mariamna ii doze ou quinze anos mais tarde, por volta do ano 11 antes de nossa era? e al�m disso, como podia chamar-se sim�o? vejamos a explica��o, que � muito singela, cleof�s, segundo marido de ana, m�e de maria i, realmente tinha morrido, e foi seu irm�o, que por seu matrim�nio com ana se converteu no padrasto de sua filha mariamna ii, quem a deu em matrim�nio ao herodes, o grande, e por esse fato se converteu em supremo sacerdote. � que o hebreu utiliza a mesma express�o para designar ao pai e ao padrasto. esta fun��o de supremo sacerdote a recebeu necessariamente sob o nome hebreu de sim�o, ali�s sim�o, seu nome de circuncis�o, portanto ritual (e n�o de salom�, que � um nome feminino, como diz equivocadamente o texto grego do livro do nascimento da virgem). os nomes de circuncis�o iniciais �s vezes eram modificados no curso da vida, em certas circunst�ncias graves, e seguindo um ritual concreto. ent�o do que se tratava era de desviar para um nome que j� n�o era levado por nenhum ser vivente, amea�as de ordem particular ou geral. assim, por exemplo, flavio josefo nos diz que caif�s, o pont�fice que julgou ao jesus do ponto de vista religioso, chamava-se inicialmente josefo (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xviii, ii, 35). por outra parte, o leitor n�o deixar� de assombrar-se ante essa s�rie de mortes entre os maridos sucessivos da desafortunada ana, condenada pelo destino a uma viuvez permanente. e a priori isso parece incr�vel. primeiro n�s acreditamos em uma lenda constru�da por contistas dotados da cl�ssica simplicidade infantil, comum antigamente a essas regi�es. mas ante a verdade hist�rica tudo se explica, pelo contr�rio, muito bem. se partirmos da cronologia crist� cl�ssica, com um jesus nascido no ano 1 de nossa era, temos uma maria sua m�e nascida provavelmente por volta do ano 15 de nossa era. agora bem, neste per�odo da hist�ria judia, nada justifica a morte de seu pai, logo a de seu padrasto, em dois anos sucessivos. se, pelo contr�rio, levassemos em conta a afirma��o de s�o irineu, de um

jesus "morto na soleira da velhice, e pr�ximo aos cinq�enta anos de idade", � que nascera por volta do ano 17 antes de nossa era, e sua m�e, maria i, por volta do ano 34 ou 32 antes desta. e precisamente essa �poca � um per�odo especialmente cruel para israel, e logo vamos poder julg�-lo. ant�gono, filho de arist�bulo, disputa com seu tio hircano o trono da jud�ia. expulso da galil�ia por herodes, o grande, futuro rei dessa prov�ncia, ant�gono se refugia entre os partos e vai, junto com seu rei, apoderar-se de jerusal�m. hircano e fazael caem prisioneiros. fazael, carregado de cadeias, se suicidar� partindo o cr�nio contra os muros de sua cela. em caso de necessidade, ajudaram-lhe. ao hircano cortaram as orelhas por ordem do ant�gono, a fim de que, por tal mutila��o infamante, seja indigno do supremo sacerd�cio. e ant�gono ocupa ent�o o trono da jud�ia. mas herodes, que primeiro se refugiou no egito, vai � Roma implorar o apoio de antonio, e este �ltimo o faz proclamar rei da jud�ia pelo senado romano. al�m disso, proporciona-lhe tropas mercen�rias para expulsar por sua vez ao ant�gono e aos partos de seu novo reino. achamo-nos no ano 39 antes de nossa era. herodes embarca ent�o com seu ex�rcito romano e estabelece moradia em jerusal�m. durante essa opera��o se casa com mariamna i, filha de hircano, tanto por sua beleza para legitimar com dita alian�a seu acesso ao trono, j� que mediante ela se converte, efetivamente, no genro do rei leg�timo. ao cabo de seis semanas de moradia, jerusal�m cai em poder dos assediantes; todos os inimigos de herodes caem, degolados, e apesar da interven��o do pr�prio herodes saqueiam a cidade, devastam o templo, multiplicam-se as pilhagens, as viola��es e os assassinatos � medida que se ocupa � Cidade santa por parte dos mercen�rios. ant�gono � capturado e imediatamente enviado � Roma, onde antonio o manda executar. mas na jud�ia, herodes enfrenta s�rias oposi��es, sobretudo no �mbito fariseu. ent�o � quando manda dar morte a todos os militantes da oposi��o, degolar a todos os membros do sanedr�n, e afogar no jord�o a seu cunhado arist�bulo, irm�o de mariamna i, sua pr�pria esposa. n�o lhe perdoar� nada de tudo isto. tais fatos s�o relatados por flavio josefo em sua guerra dos judeus (manuscrito eslavo, 1, 16, e manuscrito grego, i, xii). encontramo-nos no ano 37 de nossa era. avancemos sete anos e nos encontramos no ano 30 antes da mesma. uma s�rie de terr�veis tremores de terra devasta toda jud�ia, mal reposta ainda dessa desumana guerra. contam-se mais de trinta mil mortos, e perece quase todo o gado. por causa das dezenas de milhares de cad�veres de homens e de animais, a c�lera faz sua apari��o, e ipso facto a febre tif�ide, devido �s fontes e cisternas polu�das. ao ver isto, os �rabes nabateos, caso que o israel se achava muito debilitada por tais desgra�as, invadiram o territ�rio nacional e, como n�o resistiram melhor �s diversas epidemias, aumentaram o n�mero dos mortos (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xv, vii). tendo em conta que se produzem inexatid�es em mat�ria cronol�gica (em todo esse per�odo as datas estabelecidas o s�o com um ano, como m�nimo, de margem de engano; o monge denys-le-petit se equivocou efetivamente em seus c�lculos, j� que nossa era teria que ter come�ado, em realidade, cinco anos antes), pode supor-se que as mortes dos maridos de ana, m�e de maria i, produziram-se nessa terr�vel �poca que vai da proclama��o de herodes como rei da jud�ia, no ano 39 antes de nossa era, at� a tomada de jerusal�m dois anos mais tarde (no ano -37), as matan�as que a seguiram, os sismos, as epidemias, e logo a invas�o �rabe no ano -32. por conseguinte, e por muito surpreendente que pare�am por sua cercania no tempo, as viuvez sucessivas de ana n�o foram inventadas pelos cronistas que redigiram o livro do nascimento da virgem, atribu�do a s�o cirilo de alexandria e tido como v�lido pela igreja do oriente. s�o, como se v� por seu marco hist�rico geral, algo do mais plaus�vel. e voltemos agora para mariamna ii. fica ainda por precisar o verdadeiro rosto dessa inesperada tia. �, quando menos, estranhamente curioso, mas para compreend�-lo ter� que volt�-lo para situar dentro do conjunto dos personagens desse surpreendente afresco. em sua guerra dos judeus (manuscrito grego, i, xix), flavio josefo mostra ao

herodes, o grande, expulsando de sua corte a seu irm�o feroras, porque n�o queria repudiar a sua esposa, que tramava um compl� contra o rei. feroras morreu pouco depois em seus dom�nios. herodes descobriu ent�o que queria envenen�-lo � inst�ncias de antipater, filho de doris, e repudiou esta pela segunda vez. logo apagou de seu testamento ao herodes filipo i, filho de mariamna ii (maria de cleof�s) e destituiu ao sim�o, supremo sacerdote, pai desta. o manuscrito eslavo da guerra dos judeus nos d� os mesmos detalhes, e seria uma l�stima n�o public�los, e agora vai poder se ver por que: "essas palavras foram como uma punhalada para o rei. submeteu a tortura a todas as mulheres que estavam em sua casa. uma delas, em meio dos torturas, exclamou: 'deus que rege o c�u e a terra, faz recair sua vingan�a sobre a m�e de antipater (doris), pois ela � a autora de todos nossos males...'. o rei recolheu estas palavras e seguiu interrogando para tentar saber a verdade. a mulher contou ent�o quanto se amavam a m�e de antipater (doris) e feroras (irm�o de herodes, o grande) e como se reuniam �s escondidas antipater, feroras e as damas: 'ao voltar de sua casa bebiam durante a noite, sem admitir junto a eles a nenhum escravo nem homem livre, nem homem, nem mulher'. depois de falar assim esta mulher, herodes ordenou que se submetesse a tortura �s escravas, mas todas em separado. e sob os golpes deram todas uma resposta un�nime: qu�o mesma dera aquela mulher". (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, manuscrito eslavo, i, 12). o texto grego das antig�idades judaicas nos confirma a rela��o eslava da guerra dos judeus, o que demonstra que a convic��o do autor estava perfeitamente fundada: "as torturas dessas mulheres (faxineiras) revelaram-no tudo: as orgias, as reuni�es clandestinas, e inclusive as palavras ditas em segredo pelo rei herodes a seu filho (antipater), e contadas �s mulheres de feroras..." (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xvii, iv, manuscrito grego). essas palavras secretas demonstram a exatid�o das afirma��es das serventes, e elas n�o inventaram nada sob a tortura, e mais tendo em conta que foram interrogadas em separado. portanto, tratava-se de orgias sexuais e m�gicas, no curso das quais se tentava enfeiti�ar ao herodes, o grande. h� uma confirma��o disso nos salmos de salom�o, documento composto no s�culo que coroava o in�cio de nossa era, dado que nisso lemos o seguinte: "em ocultos subterr�neos cometiam suas exasperantes iniq�idades; uniam-se o filho com a m�e, e o pai com a filha. fornicavam cada um com a mulher de seu vizinho, e faziam entre eles pactos baixo juramento a este respeito..." (cf. salmos de salom�o, viii, 9-11, paris, 1911, letouzey & an� �dit.). como se v�, tudo se produz do mesmo modo que nas cerim�nias m�gico-sexuais do tantrismo ou nos sabbats medievais: a viola��o dos tabus atrav�s da libera��o alimentar e sexual, as conjura��es, os julgamentos de obedi�ncia, etc�tera. pois bem, mariamna ii, ali�s maria de cleof�s, meio-irm� de maria e tia de jesus, era membro de tal conjura��o e participava de sortes orgias: "parecia que os emane do alexandre e de arist�bulo120 erravam por toda parte para fazer descobrir as coisas mais ocultas, e tirar testemunhos e provas da boca daqueles que estavam mais afastados de toda suspeita. porque ao submeter a tortura aos irm�os de mariamna, filha de sim�o, supremo sacerdote, descobriu por suas confiss�es que ela era culpada de tal conspira��o. herodes fez pagar aos filhos o crime de sua m�e, e apagou de seu testamento ao herodes filipo i, o filho que tivera dela e a quem tinha declarado seu sucessor. (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, i, xix, manuscrito grego). herodes, com efeito, n�o podia englobar em sua vingan�a a seu pr�prio filho, j� que herodes filipo i n�o contava ent�o mais que cinco anos de idade, dado que sua m�e mariamna ii caiu em desgra�a no ano 5 antes de nossa era, e ele tinha nascido no ano 10. assim, maria de cleof�s, tia de jesus por ser meio-irm� de maria sua m�e, e esposa de herodes com o nome de mariamna ii, participara do compl� encaminhado � morte deste e �s orgias sexuais e m�gicas celebradas com tal fim. tendo em conta tudo que develamos em nosso primeiro volumen, (121) pode supor-se que isso o realizava em benef�cio da dinastia dav�dica em geral, e de seu sobrinho jesus em particular. como tinha nascido no ano -17, no ano -5, quando teve lugar o compl� de sua tia, contava j� doze anos, quer dizer, a maioridade

civil e religiosa. e � bastante duvidoso que maria, sua m�e, ignorasse a conspira��o que se realizava em favor de seu filho primog�nito. e isto confirma o que sustentamos desde o come�o de nossa investiga��o, ou seja, que o judeucristianismo primitivo n�o foi jamais outra coisa que uma extensa empresa pol�tica, e nada mais, e em modo algum uma predica��o m�stica, como nos tentam fazer acreditar h� vinte s�culos. conv�m observar a este respeito que o rep�dio de mariamna ii e os motivos de tal san��o n�o alteraram em modo algum as rela��es entre ela e sua meio-irm� Maria i, m�e de jesus. temos a prova disso nos pr�prios evangelhos can�nicos: "estavam junto � cruz de jesus sua m�e e a irm� de sua m�e, maria a de cleof�s..." (cf. jo�o, 19, 25). agora sabemos que ter� que ler "filha de" cleof�s. n�o obstante, esse grupo permanecera relativamente herodiano, j� que entre as mulheres que seguiram jesus "e lhe serviam" quando estava na galil�ia, achavase salom� Ii (cf. marcos, 15, 41), quem durante um tempo foi a concubina de jesus (veja o cap�tulo 27), e "juana, mulher de chuza, intendente de herodes" (cf. lucas, 8, 3). aqui se trata, evidentemente, de herodes antipas, e n�o de herodes, o grande, que morrera j� fazia tempo. a presen�a de salom� Ii, neta de herodes, o grande, vi�va de lysanias, tetrarca de abilene, a da juana, mulher de chuza, intendente de antipas, junto � Maria, m�e de jesus, e maria, filha de cleof�s, ali�s mariamna ii, esposa repudiada de herodes, o grande, em resumo, tudo o que se costuma chamar "�s santas mulheres" segundo a tradi��o crist�, situa-nos em presen�a de um ambiente do mais curioso. porque sua santidade est� ainda por demonstrar. no caso da maria ii, filha de cleof�s, as orgias sexuais e m�gicas nas quais participou da vida de herodes excluem toda santidade, � bem evidente. salom� Ii foi a concubina de jesus como o demonstra o evangelho conforme tom�s, isto n�o a desprestigia, j� que ela foi vi�va naquela �poca, e jesus n�o estava casado, conforme se sup�e. mas esta situa��o, batizada pelo judeu-cristianismo com o nome de fornica��o, n�o implica tampouco nada de santidade... sobre a juana, esposa de chuza, intendente de herodes antipas, a gente poderia perguntar-se por que seu marido a deixava vagabundear assim desde a galil�ia, no seio de um grupo zelote, que praticava n�o s� a comunidade de bens, mas tamb�m a de mulheres, como veremos em seguida. possivelmente era a donzela de salom� Ii, ou possivelmente fora repudiada por chuza, por sua conduta. o que fica disso � que as "santas mulheres" como as qualifica piedosamente daniel-rops, n�o constituem a n�o ser uma lenda mais. agora bem, com sua presen�a em jerusal�m durante a execu��o de jesus, contribuem uma explica��o complementar a todos esses favores e amparos misteriosos das que ele se beneficiou at� o dia em que, aos olhos de roma e de seu procurador, a ta�a ficou cheia. em uma obra cunhada com o imprimatur (paris, 15-1-1957) e intitulada la date de c�ne, annie jaubert faz alus�o a isso (p. 129), e oscar cullmann, pastor protestante, demonstrou em seu livro deus e c�sar que o processo de jesus tinha sido um processo puramente zelote. como se v�, nossa tese se mant�m. vamos agora abordar um tema particularmente delicado, e cujas conclus�es causar�o esc�ndalo, embora n�o tenham escapat�ria poss�vel: o da comunidade de bens que inclu�a... as mulheres, nos meios apost�licos primitivos. sabemos por flavio josefo, que durante tr�s anos foi membro de sua seita, que os ess�nios aceitavam, n�o o matrim�nio, a n�o ser simplesmente a uni�o sexual, com vistas � procria��o de filhos e a renova��o de seus membros, mas com mulheres cuidadosamente escolhidas, e purificadas cada vez, antes do coito, mediante ritos bem precisos (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, ii, vii, ix; ii, viii, x; antig�idades judaicas, xviii, i, 5). como os ess�nios estavam repartidos em quatro classes separadas, � f�cil compreender que unicamente os membros da classe mais baixa, por conseguinte os mais jovens, tinham a possibilidade de copular. mas, dir�o voc�s, como conciliar isto com a afirma��o de fil�n de alexandria, quem nos assegura, por outra parte

que: "nenhum ess�nio pode tomar mulher..."? (cf. fil�n, quod omnis probus liber, xii). e tanto mais que plinio o confirma: "...sine ulla femina, omni venere abdicata..." (cf. plinio, natura historiarum, v, xvii). captar-se-� melhor o matiz recordando que praticavam o comunismo absoluto. qualquer que entrasse na sociedade, abandonava tudo o que possu�a em m�os da comunidade, e isso � o que com toda seguran�a impressionou mais ao flavio josefo e o que possivelmente lhe moveu a sair dela (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, ii, viii, 3). podemos, pois, concluir que os ess�nios efetivamente n�o se enredavam nos la�os do matrim�nio legal e segundo a tradi��o corrente em israel, expressa pela lei judia, mas sim assumiam simplesmente a procria��o, necess�ria para perpetuar sua seita, fecundando mulheres que tinham em comum, quando tinha lugar seu passo pelo grau mais baixo, umas mulheres que, entretanto, eram escolhidas e purificadas com este fim. e isso �, provavelmente, o que explica que os membros dos graus superiores da ordem se achassem na necessidade de purificar-se por sua vez quando tinham contato material com os dos graus inferiores, aos que consideravam como impuros por causa de sua vida sexual. pois bem, n�s sabemos agora que os zelotes procediam inicialmente dos ess�nios. igual a eles, recha�avam um bom n�mero de tabus legais, mas, pelo contr�rio, observavam muitos outros costumes de maneira particularmente integral. e a comunidade de bens a encontramos entre os disc�pulos de jesus: "a multid�o dos que tinham acreditado tinha um cora��o e uma alma sozinha, e nenhum tinha por pr�pria coisa alguma, antes o tinham tudo em comum (...) quantos eram donos de fazendas ou casas, vendiam-nas e levavam o pre�o da venda, e o depositavam aos p�s dos ap�stolos, e a cada um lhe repartia segundo sua necessidade." (cf. atos dos ap�stolos, 4, 32-35). esta aprecia��o, nossos ap�stolos sabiam orient�-la perfeitamente segundo seus pr�prios interesses, j� que lemos um pouco mais adiante: "por aqueles dias, tendo crescido o n�mero dos disc�pulos, surgiu uma fala��o dos hel�nicos contra os hebreus, porque as vi�vas daqueles eram mal atendidas no servi�o cotidiano..." (cf. atos dos ap�stolos, 6, 1). (122) e vamos agora constatar que nosso santos disc�pulos do senhor n�o s� praticavam, mas sim, al�m disso, exigiam, colocarem a disposi��o comum de suas esposas, e muito provavelmente tamb�m de suas filhas. tomemos uma vez mais a hist�ria eclesi�stica de eusebio da cesar�ia: "naqueles tempos nasceu tamb�m a heresia chamada dos nicola�tas, que durou muito pouco (123) e da que tamb�m faz men��o o apocalipse chamado de s�o jo�o. (124) esses hereges pretendiam que nicol�s era um dos di�conos, companheiros de est�v�o, escolhidos pelos ap�stolos para o servi�o dos indigentes". (cf. atos dos ap�stolos, 6, 5). ao menos clemente de alexandria, no terceiro stromate, conta com seus pr�prios termos o seguinte a respeito: "diz-se que tinha uma mulher na flor de sua vida. depois da ascens�o do salvador, os ap�stolos lhe reprovaram que estivesse ciumento. ent�o conduziu a sua esposa ao centro da assembl�ia e a abandonou a quem queria casar-se com ela. dizse que essa a��o se ajustava � f�rmula: "ter� que fazer pouco caso da carne...". e quando imitam sua a��o e suas palavras, sem exame, os que seguem sua heresia, se prostituem de maneira vergonhosa... estando assim as coisas, o abandono em meio dos ap�stolos de sua mulher, que era um objeto de ci�mes, era sinal de ren�ncia � paix�o, e a contin�ncia frente aos prazeres procurados com mais afinco ensinava a fazer pouco caso da carne. em meu parecer, n�o queria, conforme ao mandamento do senhor, servir a dois amos: ao prazer e ao senhor". (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, xxix, 1-2, citando clemente de alexandria, stromates, iii, 52-53). este texto exige j� v�rias observa��es: a) nicol�s o di�cono, que recebera o esp�rito santo (cf. atos, 6, 5-6), estava n�o obstante muito ciumento de sua bonita esposa. sem d�vida tinha raz�es para isso, j� que via que a desejavam, conforme era costume, posto que: b) os ap�stolos, que tamb�m receberam ao esp�rito santo, o reprovam, o que demonstra que h� entre eles homens que desejam possui-la por sua vez, segundo o

habitual entre sua comunidade de bens. mas isso prova deste modo que tampouco eles est�o liberados dos "gozos grosseiros da carne"... c) conforme ao uso apost�lico e zelote, procedente dos ess�nios, nicol�s o di�cono se inclina, e conduz a sua bonita esposa ao centro da assembl�ia apost�lica e dos disc�pulos, abandonando-a a eles; d) clemente de alexandria "pensa" que se deve interpretar sua decis�o no sentido de um desprendimento das coisas carnais, mas, como se v�, n�o est� do todo seguro, n�o o afirma. e, efetivamente, se nicol�s estava ciumento de sua formosa mulher, � porque a queria, e tinha boas raz�es para estar em guarda e passar por um ciumento. entretanto, a execu��o sum�ria, por ordem de sim�o-pedro, de anan�as e de saphira, sua esposa, por infra��o grave das regras comunit�rias, fizeram-lhe reflexionar; (125) e) a mulher de nicol�s n�o foi oferecida em matrim�nio a quem queria tom�-la por esposa (que j� era o c�mulo!), tal como diz eusebio da cesar�ia, e seu tradutor, o c�nego g. bardy retrocedeu ante a enormidade escandalosa da frase exata, j� que o texto grego desse stromate de clemente de alexandria emprega o termo �p�trepem, que vem de �pitrepo, que significa entregar, ceder, abandonar e de maneira nenhuma casar-se. de fato a jovem foi entregue � comunidade dos "santos homens de deus". rasput�n existiu em todas as �pocas, como se v�. essa comunidade das mulheres se estendia deste modo �s mo�as, o que exclui, igual no seio dos ess�nios, a constitui��o de casais duradouros e legais. vejamos uma vez mais o testemunho de clemente de alexandria, contribu�do por eusebio da cesar�ia: "n�o obstante, clemente, cujas palavras acabamos de ler, enumera a seguir do que acaba de ser dito, �queles dos ap�stolos que estiveram casados, por causa daqueles que condenam o matrim�nio: "recha�ar�o tamb�m aos ap�stolos? pedro e felipe tiveram filhos. felipe inclusive deu suas filhas a homens. e paulo n�o vacilou em saudar em uma ep�stola a sua companheira, a quem n�o levara consigo para maior comodidade de seu minist�rio..." (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, iii, xxx, 1, citando a clemente da alexandria, stromates, iii, 2526). pois bem, aqui est� o texto grego de clemente: "philippe d� kai tas tugat�ras andrasin exedoken" (op. cit.). e exedoken vem de ekdidomi, que significa tanto entregar (um escravo ou uma mulher), como dar em matrim�nio. dado que acabamos de ter a prova de que os meios apost�licos primitivos punham em comum �s esposas, n�o pode se ter em conta o segundo sentido de ekdidomi, a n�o ser s� o de entregar, abandonar como foi tamb�m o caso da muito formosa esposa de nicol�s o di�cono, "objeto de ci�mes" (sic), entre os disc�pulos. e tanto mais que uma forte corrente majorit�ria condenava o matrim�nio. n�o ficava, ent�o, como �nica solu��o poss�vel, mais que o concubinato sucessivo. notas complementares um fato parece n�o surpreender ningu�m no mundo dos historiadores do cristianismo: o fato de que jesus, modesto carpinteiro em parada perp�tua, e que dizia ser de origem muito humilde, fora julgado por pilatos, procurador de roma. em jesus em seu tempo, daniel-rops escreve: "de fato, esta hist�ria n�o teve para o cidad�o de roma que viveu sob o tib�rio mais import�ncia da que teria para n�s a apari��o de qualquer obscuro profeta em madagascar ou a reuni�o" (op. cit.: introduction. ce qu'en su les contemporains). pois bem, em roma � o imperador, pontifex maximus (pont�fice supremo) e c�sar (sagrado), quem delega os poderes de oferecer sacrif�cios aos deuses do imp�rio, assim como de justi�ar e de pronunciar senten�as; dele emanam e descendem os diversos poderes religiosos, civis e militares, at� os mais humildes magistrados romanos, como uma cascata legalista. como imaginar ao pilatos, que representava ao c�sar na jud�ia, e que portanto constitu�a a m�xima autoridade romana, sancionando roubos de galinhas, agress�es diurnas e noturnas, e crimes diversos? isso � algo simplesmente impens�vel. em todas as cidades dependentes de roma havia magistrados encarregados de repartir a justi�a romana segundo as leis de roma e os costumes locais, combinadas e associadas.

se jesus fosse um obscuro agitador, uma vez capturado podia ser executado ou crucificado sobre o terreno, por ordem de um simples centuri�o, por hav�-lo surpreso com as m�os na massa, e sobrou exemplos disso. em caso de ser um personagem mais importante, podia ser enviado ao magistrado romano da cidade mais pr�xima, para o exerc�cio do jus gladii. se era ainda mais importante, uma vez conduzido � Jerusal�m bastava fazendo-o comparecer ante o tribuno das coortes, governador de antonia e chefe de armas de jerusal�m. o tribuno das coortes, como magistrado militar, conservava ainda sob o imp�rio os privil�gios honor�ficos que, sob a rep�blica, davam-lhe classe de c�nsul, a falta dos poderes deste. quer dizer que, como chefe de todo o movimento zelote, e inclusive como "filho de david" e pretendente do trono de israel, se se fazia comparecer ao jesus ante o governador de antonia lhe concedia, j� s� com isto, uma enorme import�ncia, e a senten�a do tribuno das coortes fosse deste modo igual de regular e legal que se pronunciada pelo procurador de roma. (126) isso significa, pois, que jesus era efetivamente um pouco muito distinto a um simples chefe rebelde, e por isso foi levado a comparecer ante pilatos. ao faz�-lo, n�o ignoravam que ia gozar de poderosas influ�ncias, e que unicamente o procurador imperial estava em posi��o de apreciar o valor e o interesse destas, para t�-las em conta ou ignora-las. (127) coisas todas que um tribuno das coortes n�o podia permitir-se confrontar. e isto o que faz n�o � mais que vir em apoio de tudo que dissemos sobre as rela��es que uniam as dinastias herodiana, asmonea, dav�dica, ante as autoridades, tanto romanas como judeus e religiosas. 21 - o verdadeiro herodes filipo ii � bem sabido que a verdade n�o sempre � veross�mil ... fran�ois, marqu�s de sade, histoire secr�te d'ysabelle de bavi�re, reine de france como se acaba de ver pelo estudo que foi objeto do precedente cap�tulo, o personagem de herodes filipo ii foi criado integralmente para justificar a exist�ncia de uma pseudo-cle�patra de jerusal�m, e velar deste modo que n�o era outra que a maria de cleof�s dos textos apost�licos, meio-irm� de maria m�e de jesus, ali�s mariamna ii, esposa de herodes, o grande, e m�e de herodes filipo ii, este perfeitamente real, j� que foi o primeiro marido de herodias, m�e de salom� Ii. e ent�o se exp�e um novo problema, o de determinar a identidade do primeiro marido desta �ltima, antes de que se convertesse na egeria de jesus, (128) e logo na esposa de arist�bulo iii, rei de arm�nia. este importante problema, que uma vez resolvido podia projetar uma nuvem de descr�dito sobre a fam�lia dav�dica, primeiro por causa dessa alian�a matrimonial, e logo pelas libertinagens nas quais participou a citada mariamna ii, os historiadores eclesi�sticos dos primeiros s�culos resolveram a sua maneira, invari�vel. desta vez n�o criaram um personagem imagin�rio, mas sim o suprimiram. e assim, � in�til procurar algum rastro de salom� Ii nas obras de jo�o crist�stomo, de atanasio de alexandria, etc. para eles, a dan�arina que pediu a cabe�a de batista foi herodias, ignoram salom�, sua filha... e o mesmo acontece com eusebio da cesar�ia, quem em sua hist�ria eclesi�stica (i, viii, 13) menciona salom� I, irm� de herodes, o grande, mas ignora por completo que herodias que ele cita em tal obra (op. cit., i, xi, 1; i, xi, iv, 1) teve uma filha chamada salom�, e que esta foi a dan�arina respons�vel pela decapita��o de jo�o, o batista, segundo os evangelhos can�nicos (cf. mateus, 14, 6, e marcos, 6, 22). pareceria como se o bispo da cesar�ia, historiador da igreja primitiva, panegirista de constantino, copista e difusor dos evangelhos oficiais, n�o os lesse jamais. (129) de fato, tais retic�ncias, omiss�es, encobrimentos e mentiras s�o, para o historiador, sempre mais gratificantes. encontramo-nos no ano 29 de nossa era, j� que tib�rio foi imperador no ano 14. da morte de herodes, o grande, e a interpreta��o de seu terceiro testamento por c�sar augusto em roma, em presen�a de toda a fam�lia herodiana, seu reino foi dividido em tr�s partes, ou seja: - uma metade para arquelao, que compreendia jud�ia e samaria;

- uma quarta parte para herodes antipas (da� seu nome de tetrarca), que compreendia galil�ia e perea; - uma quarta parte (a �ltima) para herodes filipo i, que compreendia batanea, tracon�tide, gaulan�tide e auran�tide. este era ent�o o marido de sua sobrinha herodias, que se converteria na concubina oficial de herodes antipas quando este repudiou � filha de aretas, rei do nabatene. portanto herodes filipo era do mesmo modo, devido a este fato, o pai de salom� Ii. considerando que herodes filipo ii, filho de cle�patra de jerusal�m, ambos os personagens imagin�rios, n�o p�de ser marido desta, quem foi, ent�o, o primeiro c�njuge de salom� Ii? n�o fica mais que um, lysanias, a quem tamb�m lhe chama herodes lysanias. tomemos pois em m�o o problema dos documentos hist�ricos, e releiamos atentamente a passagem de lucas: "no d�cimo quinto ano do imp�rio de tib�rio c�sar, sendo governador da jud�ia poncio pilatos, tetrarca da galil�ia herodes, e filipo, seu irm�o, tetrarca da iturea e da tracon�tide, e lysanias tetrarca do abilene, sob o pontificado de an�s e caif�s, foi dirigida a palavra de deus ao jo�o, filho de zacarias, no deserto". (cf. lucas, 3, 1-2). h� que reconhecer que quem redigiu esta passagem parece querer provocar controv�rsias, porque n�o deixou de levant�-las durante s�culos. e inclusive nas origens! come�ando por luciano de samosata, o terr�vel ironista grego, quem nas seitas em leil�o se mofa assim: "o 7 do m�s em curso, sendo zeus pritano, poseidon proedro, apolo epistato, e momo, filho da noite, cartulario, o sonho prop�s o que segue...". durante muito tempo os exegetas da cr�tica liberal sustentaram que lucas, ou quem falasse em seu nome, tinha dado uns nomes ao azar, e que isso n�o se tinha em p� frente a verifica��es. mas n�o h� nada disso, e o dictionnaire d'arch�ologie chr�tienne de dom cabrol e dom leclercq nos contribui a prova. o nome do abilene procede do da cidade de abila, hoje souq-wadi-barada, situada no lado oriental do anti-l�bano, no caminho de beirut � Damasco. esta cidade gozava de uma certa notoriedade em princ�pio de nossa era, e foi a capital de uma pequena dinastia local que desempenhou um papel na hist�ria do oriente m�dio. segundo flavio josefo (cf. antig�idades judaicas, xiii, xv, xvi; xiv, iii, vii, xiii; xv, iv; guerra dos judeus, i, ix, xiii), ptolomeo, filho de meneo, emir dos bedu�nos n�mades dos arredores de damasco, foi o fundador desta fam�lia. viveu por volta do ano 85 antes de nossa era, e se fez muito tem�vel ante os damascenos. flavio josefo o considera capaz de todas as maldades, e mais ainda devido ao fato de ser parente de dionisio, tirano de tr�poli, por isso tinha a quem parecer-se. n�o obstante, quando pompeyo penetrou em s�ria, no ano 63 antes de nossa era, assolou totalmente o pequeno reino de ptolomeo, fez-lhe pagar um enorme resgate, devastou calcis (hoje andjor), heli�polis (hoje baalbeck), e fez decapitar a seu terr�vel parente dionisio de tr�poli. ptolomeo conseguiu pagar o exorbitante tributo, e assim conservou seu feudo. depois da morte tr�gica de arist�bulo ii (no ano 49 antes de nossa era), ptolomeo recolheu em seus estados � fam�lia deste �tlimo, e casou a seu filho filipion com alejandra, filha de arist�bulo ii. logo, ao encontrar a de seu gosto, e lamentando n�o hav�-la conservado para si mesmo, fez assassinar a seu filho filipion e tomou por esposa. morreu no ano 40 antes de nossa era, e seu filho lysanias sucedeu-lhe. o novo "dinasta" (t�tulo que lhe d� Flavio josefo) sustentou os direitos do ant�gono, filho de arist�bulo ii, e para isso se aliou com os partos. cle�patra do egito fez que antonio lhe desse morte no ano 34 antes de nossa era, o que lhe permitiu apoderar-se de uma parte de seus estados, entre os quais provavelmente se encontravam calcis e abila, e possivelmente inclusive tamb�m paneas e a regi�o do lago ulatha. ao defunto lysanias sucedeu-lhe zenodoro, chamado �s vezes tamb�m zen�n, quem, com o t�tulo de "eparca", possuiu a tracon�tide, a batanea, o hauran, e extensos dom�nios ao redor da jamnia. de todo modo, e como seu car�ter belicoso e saqueador era incorrig�vel, c�sar augusto, para castig�-lo por suas invas�es, confiscou-lhe a tracon�tide, a batanea e o hauran, e confiou esses territ�rios ao herodes, o grande. zenodoro encontrou-se com que era simplesmente propriet�rio de

um territ�rio reduzido, sito no pa�s do lago ulatha, ali�s houleh, com o paneas e seus arredores imediatos. a sua morte, este territ�rio, assim reduzido pelo rigor romano, voltou para o herodes, o grande, cujo favor aumentava sem cessar. mas a lembran�a de seus direitos subsistiu durante muito tempo ainda, j� que flavio josefo, no ano 4 antes de nossa era, � morte do herodes, o grande, menciona que herodes filipo recebeu, para a constitui��o de seu tetrarquia, "uma parte dos dom�nios de zenodoro", e mais tarde ainda, no ano 36 de nossa era, menciona no lote de herodes agripa i, "a tetrarquia de lysanias"; logo, no ano 52, claudio c�sar retira calcis ao herodes agripa i, e lhe d�, em compensa��o "a abilene de lysanias". mas, como penetrar na abilene de lysanias se, no mesmo dia, retira-se ao calcis? outros autores antigos nos falam de ptolomeo e de zenodoro, por exemplo estrab�n e dion cassius. mas nada disto justifica como lucas p�de citar a um lysanias, tetrarca do abilene, sob o reinado de tib�rio c�sar, se o lysanias mais pr�ximo tinha morrido no ano 34 antes de nossa era, como j� vimos. felizmente chegaram at� n�s, duas inscri��es antigas que nos provaram que houve outro lysanias, mais pr�ximo a n�s. a primeira foi descoberta em nebi-abil, ali�s abila, por pococke. a segunda em souq-wadi-barada, por r.p. savignac, em abril de 1912. estava gravada sobre a parede da montanha, no bordo de um antigo atalho que, procedente da localidade, conduzia a um templo cujas ru�nas se v�em ainda na rocha que domina o vale. vejamo-la na tradu��o do grego antigo: "� sa�de dos senhores augustos e de toda sua casa, nymphaios, filho do abimmeos, liberto do tetrarca lysanias, criou este caminho, construiu o templo e plantou todas as planta��es com seus pr�prios meios. ao deus cronos e � P�tria, em testemunho de piedade". como vemos, o templo estava dedicado ao cronos (saturno), e devia estar rodeado de um bosque sagrado, j� que os carvalhos verdes que ainda subsistiam em 1912 continuam considerados pelos ind�genas como sagradas (cf. revue biblique, 1912, nova s�rie, tomo ix, pp. 534-536). pelos trabalhos de dittenberger (cf. orientis graeci inscriptiones, 606, nota i) se sabe agora que a express�o "senhores augustus" designava ao imperador e a toda sua fam�lia. n�o pode tomar-se em conta ao nero e a sua m�e agripina, porque no ano 37 a tetrarquia desaparecera, e sob o claudio n�o se considerou jamais como augusta a messalina; portanto, n�o ficam mais que tib�rio c�sar e a imperatriz livia, que foi declarada com justi�a augusta depois da morte de augusto, e que morreu no ano 29. a dedicat�ria de nymphaios, "liberto do tetrarca lysanias", � por conseguinte anterior ao ano 29 de nossa era e posterior ao ano 14, ano da morte de augusto. esta nos prova que um tetrarca reinava ent�o em abilene e chamava-se lysanias, evidentemente o segundo deste nome. e simplesmente foi ele o primeiro marido de salom� Ii, filha de herodes filipo i e de herodias. mas como terei que afian�ar a exist�ncia de um herodes filipo ii com o fim de creditar a uma cle�patra de jerusal�m, diferente � escandalosa mariamna ii, e cortar assim toda prova de uma alian�a matrimonial entre os filhos de david e os herodianos, fez-se desaparecer a este lysanias por ser muito revelador, e deu-se � Salom� Ii em matrim�nio ao imagin�rio herodes filipo ii. n�s, pacientemente, procuramos ao lysanias dentro do extenso panorama dos membros da dinastia herodiana, e acreditam que o encontramos. conv�m admitir, com efeito, que a exist�ncia de um fragmento de territ�rio no seio de uma tetrarquia governada por um herodes, e que entretanto continua propriedade de um dos "dinastas" descendentes de ptolomeo, filho de meneo, � mais que improv�vel. este enclave tornaria rapidamente, sob um pretexto qualquer, ao tetrarca herodiano propriet�rio do conjunto. portanto temos que admitir razoavelmente que o dono desse pequeno feudo interior era, tamb�m ele, da fam�lia dos herodes. uma vez admitido isto, podemos busc�-lo. e provavelmente aqui o temos: "o imperador, depois de hav�-los ouvido, levantou a sess�o do conselho (...) a batanea, com a tracon�tide, a auran�tide, e uma parte do que se chamou o dom�nio de zenodoro, reportavam ao filipo cem talentos". (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xii, xi, 4).

"esses foram os filhos dos filhos de herodes. quanto � Herodias, sua irm�, esta se casou com herodes (herodes filipo i), que herodes, o grande, tivera mariamna (ii), a filha do supremo pont�fice sim�o, e tiveram por filha salom� (ii), depois de cujo nascimento herodias, desprezando as leis nacionais, e detr�s separar-se de seu marido, ainda vivo, casou-se com herodes (herodes antipas), irm�o consang��neo de seu primeiro marido, e que possu�a a tetrarquia da galil�ia. sua filha salom� (ii) casou-se com filipo, filho de herodes, tetrarca de tracon�tide. e como morreu sem deixar filhos, voltou a casar-se, desta vez com arist�bulo, filho de herodes irm�o de agripa. dele teve tr�s filhos: herodes, agripa e arist�bulo". (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xviii, v, 4). recapitulemos sobre tudo isto: "sua filha salom� se casou com filipo, filho de herodes, tetrarca de tracon�tide...". isto explica tudo! o tetrarca de tracon�tide � Herodes filipo i, primeiro marido de herodias, e ambos tiveram uma filha, salom� Ii, antes de que tal herodias o abandonasse para viver com seu meioirm�o herodes antipas. mas como se viu anteriormente, a m� constru��o da frase faz acreditar que salom� Ii se casou com o tetrarca, quer dizer, com seu pr�prio pai! agora bem, al�m de salom� Ii, esse mesmo tetrarca de tracon�tide teve outro filho, chamado tamb�m filipo, e como tamb�m era um herodes, trata-se do verdadeiro herodes filipo ii, e este n�o foi imagin�rio, nem filho da imagin�ria cle�patra de jerusal�m. como tinha por pai ao mesmo que engendrasse � Salom� Ii, ainda admitindo que fossem de m�es diferentes (coisa muito poss�vel, e inclusive muito comum naquela �poca), salom� Ii era meio-irm� dela, e ele era seu marido... coisa que era deste modo muito corrente naquela �poca, e n�o s� entre os soberanos eg�pcios. e ele � Herodes lysanias tetrarca de abilene. quando morre, deixando salom� Ii vi�va e sem filhos, ela ser� durante um tempo a amiga de jesus, segundo precisa o terr�vel evangelho segundo tom�s, (130) e mais tarde contrair� segundas n�pcias, como se h� dito antes, com arist�bulo iii, a quem nero converter� em rei de arm�nia. (131) mas como p�de lucas saber da exist�ncia desse filho de herodes filipo i, cujo min�sculo feudo inseria-se na tetrarquia de seu pai, e que foi um personagem t�o apagado que flavio josefo, que se informava t�o abundantemente nas hist�rias do ptolomeo do ascal�n e do nicolas de damasco, bi�grafos da dinastia herodiana, nem sequer o menciona? pois simplesmente por saulo-paulo, de quem ele era o secret�rio e o companheiro de confian�a. e isto constitui uma prova mais de que este �ltimo n�o era absolutamente um judeu obscuro, deportado ou nascido em tarso, a n�o ser a mesma pessoa que o pr�ncipe herodiano sa�l, irm�o de costobaro, e neto, por parte de sua m�e cypros ii, do rei herodes, o grande, e cuja verdadeira exist�ncia j� analisamos em um precedente volume. (132) porque o judeu obscuro n�o conheceria todos os membros desta fam�lia, t�o numerosa, e de filia��es extremamente complicadas, enquanto que o pr�ncipe herodiano n�o poderia ignorar a nenhum de seus primos. e essa frase terrivelmente reveladora de lucas (iii, 1-2), precisa-nos al�m disso a data exata em que come�ou a revolu��o anti-romana que jesus devia comandar pessoalmente, fazendo pregar previamente a guerra santa por seu primo jo�o, o batista, ou seja, "o d�cimo quinto ano do reinado de tib�rio c�sar", ou seja no ano 28 de nossa era. esta revolu��o, provavelmente espor�dica, caminho pela retirada � Fen�cia, por desigualdades, pela retirada aos maquis da alta galil�ia ou � solid�o des�rtica da selvagem jud�ia, para terminar na fuga � Samaria, durou de fato uns seis anos aproximadamente. (133) permanece um testemunho sobre a virul�ncia da citada armas lan�adas por batista, de flavio josefo: "as pessoas reuniram-se em torno dele, porque estavam muito exaltadas lhe ouvindo falar. herodes (antipas) temia que semelhante faculdade de persuas�o n�o suscitasse uma revolta, j� que a multid�o parecia disposta a seguir em tudo os conselhos deste homem ..." (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xviii, v, 118). como se v�, nos discursos reais de batista n�o se tratava de pr�dicas morais ou devocionais. tratava-se clara e sinceramente de varrer aos ocupantes romanos e a seus homens viciados, os reyezuelos herodianos. porque as predica��es religiosas n�o podiam suscitar a desconfian�a, e menos a ira de herodes antipas, antes ao

contr�rio. n�o podia ser o mesmo no caso de discursos incendi�rios de car�ter pol�tico. segunda parte os segredos do g�lgota

tranq�ilize-os, oh mistos!

seu deus ressuscitou suas penas e seus sofrimentos assegurar�o sua salva��o ...

julius formicus maternus de errore: xviii, ritual do deus mitra 22 - jesus-bar-juda

em todas partes se viu a povos arrastados por um s� milagre falso; e jesus cristo n�o p�de fazer nada do povo judeu, com uma infinidade de milagres verdadeiros?... esse milagre, o da incredulidade dos judeus, � o que conv�m explicar ! diderot, pens�es philosophiques, addition jesus-bar-juda, ali�s jesus da galil�ia, mais tarde jesus de nazar�, � um nome que vemos aparecer no c�none neotestament�rio. no antigo testamento o voltamos a encontrar, evidentemente, numerosas vezes, mas sob a forma de josu�, j� que jesus � Josu�, qu�o mesmo josu� � tamb�m jesus. em hebreu esse nome se pronuncia ieoshuah, e se escreve exatamente assim: iod-he-waw-shin-ain, e n�o iodhe-shin-waw-he, como alguns m�sticos crist�os do s�culo xvii quereriam nos fazer acreditar, seguidos mais adiante pelos martinistas contempor�neos e os seguidores do �professor� philippe de lyon. jamais, e insistimos neste termo, jamais um rabino, cabalista ou n�o, permitir-se-ia semelhante sacril�gio: romper o nome sagrado introduzindo nele uma quinta letra! e o que � mais, modificar assim seu valor numeral, quer dizer, 26, fazendo-o passar a 326. de fato, foi por ignor�ncia no campo te�rgico pelo que nossos modificadores do tetragrama divino introduziramno em seu centro. em cabala pr�tica, a letra shin significava no esquema operativo, e no centro do tetragrama circular, muito diferente, mas isso o mundo n�o sabe. em uma obra precedente consagramos um cap�tulo a esses famosos �anos obscuros de jesus�. contribu�mos a prova de que, a princ�pio de nossa era, quando n�o contava ainda mais que vinte e tr�s anos aproximadamente, houve uma insurrei��o dirigida por ele que implicou a tomada de jeric�, e, ao abandonar essa cidade, execu��es de prisioneiros ou de ref�ns. por outra parte, o procedimento chamado do carbono 14 n�o nos proporcionou a n�o ser uma data m�dia sobre o momento da oculta��o clandestinamente dos manuscritos de qumran, o ano 34 de nossa era, mas o per�odo se estende antes e depois, em uma �franja� de uns cinq�enta anos. e isto confirma o que record�vamos antes.

por outro lado, quando jesus chama sim�o-pedro barjonna (em acadio: anarquista, fora da lei), este pequeno detalhe sublinha que o chamado sim�o-pedro est� envolto faz tempo que (como precisam seus outros apelidos: cana�ta, zelote) em uma luta a m�o armada contra os ocupantes romanos e contra os saduceus, seus �colaboradores�. este per�odo dos �anos obscuros de jesus� seria o mais violento. primeiro porque ele era jovem, qu�o mesmo seus irm�os e disc�pulos, logo porque seu pai judas da gamala e seu tio zacar�as j� n�o estavam ali para moderar a toda essa juventude ardente. diversas provas disso subsistem ao contr�rio. nem suetonio em sua vida dos doze c�sares, nem t�cito em suas hist�rias ou em seus annales nos contam nada referente � Jud�ia nesse per�odo. os relatos se interrompem bruscamente, ou aparecem anormalmente cortados em compara��o com os cap�tulos precedentes ou seguintes. � olhos vistos os ciumentos monges copistas passaram por ali. mas apesar de tudo, subsiste uma prova de sua interven��o, uma �ltima prova; encontra-se nas antig�idades judaicas de flavio josefo: �para o mesmo tempo, sobreveio na jud�ia uma grande como��o, e um grande esc�ndalo em roma�. (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xviii, iv, manuscrito grego). seria in�til procurar outros detalhes no que fica de cap�tulo; a censura dos monges copistas se exerceu de forma total. mas a apertada compara��o com os textos correspondentes de t�cito em seus annales (libero i, cap. lxxxv) demonstra que se trata do per�odo coberto por dito livro ii, quer dizer, do ano 16 de nossa era (769 de roma) ao ano 19 da mesma (772 de roma). e mais concretamente essa grande como��o que sobreveio a jud�ia teve lugar no ano 19 de nossa era, sendo c�nsules em roma julio silano e norbano flacco, e procurador na jud�ia valerio grato. jesus estava em sua melhor idade, e naquele lugar. mas n�o saberemos jamais o que aconteceu ali. seria muito grave nos dizer isso j� que permitiria que a verdade subsistisse. em todo caso, foi bastante violento para justificar o decreto de tib�rio c�sar expulsando aquele ano a todos os judeu da it�lia... e se tiv�ssemos alguma d�vida, bastar-nos-ia relendo o pr�prio texto dos evangelhos can�nicos e compar�-los desde esta perspectiva que se desenha agora pouco a pouco. tomemos, pois, ao jo�o. depois do c�lebre pr�logo no que o texto que falsamente lhe � atribu�do identifica ao jesus e o verbo divino, tomando essas afirma��es de textos pag�os mais antigos, vemos aparecer ao jesus, na hist�ria do cristianismo, no instante mesmo de seu batismo pelo jo�o batista, quando fazia j� longo tempo que tinha chegado � idade adulta. de seu nascimento milagroso, de sua juventude, jo�o n�o sabe nada ou n�o nos conta nada (op. cit., i, 29). tomemos agora ao lucas. este faz nascer ao jesus no ano 6 de nossa era, quando teve lugar o censo de quirino, quer dizer, doze anos depois da morte de herodes, o grande. n�o h� nada dos reis magos, da matan�a dos inocentes, etc. quanto � fuga ao egito, n�o nos diz nenhuma palavra disso. simplesmente que �o menino (jesus) crescia e se robustecia no esp�rito e vivia nos desertos at� o dia de sua manifesta��o ao israel� (op. cit., 1, 80). logo voltamos imediatamente para epis�dio do censo, o que � de todo incoerente, assistimos a seu exame catequ�stico pelos doutores da lei, passa-se rapidamente sobre sua inf�ncia e nos encontramos, tamb�m aqui, frente ao batismo de jesus, sem que nos tenha contado nada de sua adolesc�ncia ou de sua juventude. passemos ao marcos. aqui, qu�o mesmo em jo�o, encontramo-nos bruscamente em presen�a de um jesus que vai da galil�ia � Jud�ia para fazer-se batizar pelo jo�o, o batista. como se trata de um �batismo de penit�ncia em remiss�o dos pecados� (lucas, 3,3), ter� que supor que jesus n�o tinha a consci�ncia tranq�ila e que tinha pecados a perdoar. mas de nascimento milagroso, dos reis magos, da matan�a dos inocentes, da fuga ao egito, marcos n�o sabe nada, ou ao menos n�o nos informa nada. fica mateus. ele � quem nos conta tudo concernente � maravilhosa fecunda��o de maria, o milagroso natal, o epis�dio dos reis magos, a matan�a dos inocentes, a fuga ao egito, etc. mas, n�o obstante, faz nascer ao jesus no ano 6 antes de nossa era, em vida ainda de herodes o jesus do mateus conta, pois, doze anos quando o do

lucas nasce! isto n�o tem import�ncia, o problema n�o � de uma s� incoer�ncia. mas depois da fuga ao egito, tamb�m mateus nos p�e em presen�a de um jesus adulto, que acode ao jo�o para que lhe batize. assim, nenhum evangelista can�nico nos diz o que fez jesus desde sua primeira inf�ncia at� sua maturidade (trinta anos, segundo uns, e cinq�enta segundo s�o irineu). ignoramos a sorte da santa fam�lia durante os pesados e perigosos anos nos que aconteceram as indom�veis revolu��es judias e as implac�veis repress�es romanas. agora sabemos o porqu� desse sil�ncio, tendo em conta o que flavio josefo nos d� a entender, comparado cuidadosamente com t�cito. da juventude guerreira de jesus vale mais n�o dizer uma palavra. 23-jesus-barrab�s a verdade � sempre estranha, mais estranha que a fic��o ... lorde byron, dom jo�o, xiv os evangelhos can�nicos nos contam o epis�dio da substitui��o de jesus por um amotinador que fora encarcerado por um assassinato que cometera no curso de uma rebeli�o, e que por tal motivo tamb�m ele fora condenado � crucifica��o. �era costume que o procurador, com ocasi�o da festa, desse � multid�o a liberdade de um detento, que pedissem. havia ent�o um prisioneiro famoso chamado barrab�s. estando, pois, reunidos, disse-lhes pilatos: �a quem querem que lhes solte? a barrab�s ou ao jesus, o chamado messias? pois sabia que por inveja o entregaram. (...) eles responderam: �ao barrab�s!�...� (mateus, 27, 15-18, 21). alguns detalhes complementares, inclusive com algumas diferen�as muito ligeiras, podemos encontr�-los no marcos (15, 6 a 15), no lucas (23, 17-19), e no jo�o (18, 39-40). mas nenhum vers�culo contribui com contradi��o alguma a breve narra��o feita pelo mateus. os manuscritos iniciais que possu�mos (e que, recordemo-lo, remontam-se todos ao s�culo iv, como m�nimo) transcrevem esse nome de quatro maneiras diferentes: varaba, barabas, barrab�s e bar-rabban. desde onde estas diversas significa��es: 1 � bar-rabba ................. filho do doutor 2 � bar-rabban ............... filho de nosso doutor 3 � bar-abba .................. filho do pai 4 � bar-abban ................ filho de nosso pai 5 � bar-abba .................. filho de abba observaremos, antes que nada, que n�o se sabe nenhuma outra coisa deste nome, salvo que, segundo mateus, era um prisioneiro famoso, segundo marcos um sedicioso que cometera um assassinato durante um motim, lucas precisa que esse assassinato fora cometido �na cidade�, quer dizer, em jesus, e jo�o se limita a qualificar de bandido, termo que, com o de �galileu�, designava ent�o aos insurretos zelotes em geral. o nome pr�prio de jesus, que or�genes afirma que era o de barrab�s, vem testemunhado por alguns dos manuscritos mais antigos, como: a) o codex korideth (s�culos vii-ix); b) o groupe do minuscules, publicado pelo k. lake em 1902; c) o palimpsesto do monast�rio de santa catalina no monte sina�, encontrado pelo lewis e gibson, e que se remontaria ao s�culo iv. como observa muito acertadamente r.p. lucien deiss em sua obra synopse des evangiles, � imposs�vel imaginar que ningu�m se atreveu a inventar, ulteriormente, semelhante identidade de nomes pr�prios. quanto mais que o grande or�genes, que morreu no ano 254, assegurou, como j� dissemos antes, que tal nome figurava em certos manuscritos que obravam em seu poder, com o que deste modo nos contribui a prova de que, j� no s�culo iii, existiam documentos mais antigos que os tr�s que aqui citamos, e que aplicavam o nome de jesus a esse misterioso barrab�s. daniel-rops, examinando essa possibilidade de proceder � substitui��o legal de um condenado por outro por ocasi�o da p�scoa judia, diz o seguinte no jesus em seu tempo: �discutiu-se muito sobre esse direito de gra�a que o povo podia

reclamar, e que o procurador, segundo o evangelho, teria possu�do. a gra�a era, em israel, muito estranha; os reis n�o dispunham dela, e em troca tinham o poder de aumentar uma pena que eles julgassem insuficiente. e, com efeito, a remiss�o das penas n�o � concili�vel com o princ�pio mesmo da lei mosaica, que v� na falta uma ofensa a deus. em roma s� podia apelar-se aos com�cios em caso de senten�a capital, mas n�o se v� que o povo tomase a iniciativa de pedir a gra�a sem peti��o pr�via do condenado. agora bem, um papiro que data do ano 86 ou 88 de nossa era confirmou o epis�dio evang�lico ao mostrar a um prefeito do egito perdoando a um culpado �por causa da multid�o�. o fundamento jur�dico do ato de gra�a importa pouco, tanto se se trata de uma forma da abolitio, anistia que os imperadores promulgavam por ocasi�o de suas vit�rias ou de certas festas, como de uma indulgentia, direito de gra�a que estava na m�o da pessoa do imperador, e que este fizesse extensivo a seu representante. neste caso parece que se tratou de uma medida excepcional, resultante de uns h�bitos locais dos quais n�s n�o estamos informados...� (cf. daniel-rops, j�sus et su temps, x, �o processo de jesus�). toda esta longa exposi��o, verbosa e vaga, em realidade est� destinada exclusivamente a nos fazer admitir uma inverossimilhan�a hist�rica, e vamos demonstrar o porque, em suas obras, flavio josefo n�o faz alus�o nenhuma s� vez a semelhante costume, ele que era t�o prolixo no que concernia �s tradi��es judias. e, em primeiro lugar por que daniel-rops n�o nos d� as refer�ncias exatas desse papiro? pois simplesmente porque n�o lhe poderia alegar como argumento em apoio da substitui��o de jesus por barrab�s, e nosso autor n�o quer que o leitor possa lhe contradizer seu falacioso argumento. � que tal documento n�o � outro que o papiro de flor�ncia n� 50, que data do ano 85 de nossa era, e que nos proporciona um exemplo de gra�a concedida a um acusado por um magistrado romano a pedido da multid�o. cont�m, com efeito, o processo verbal de um julgamento ditado pelo g. septimius vegetus, governador do egito, em favor de um tal fibion, quem, por sua pr�pria autoridade, e estimando-se acima da lei, tinha encarcerado a um homem honor�vel e a sua esposa, que eram seus devedores. e o governador declarou ent�o: �mereceria ser flagelado! mas te entregarei ao povo� (cf. a. deissmann; licht vom osten, de neue testament und die neu entdeckten texte der hellenistisch-r�mischen welt, tubinga, 1908, pp. 193194). � �bvio que o chamado fibion merecia a flagela��o legal por tal crime de seq�estro arbitr�rio, mas se era civis romanus era imposs�vel, j� que a lex valeria do ano 509 antes de nossa era proibia golpear a um cidad�o romano sem uma decis�o popular pr�via e decisiva, e a lex porcia, do ano 248, tamb�m de antes de nossa era, proibia fazer uso em nenhum caso dos a�oites lictoriais. a senten�a do governador septimius vegetus, que declarava ter em conta a decis�o popular, aplicava aqui, portanto, a lex valeria do ano 509 a.c., e isso demonstra irrefutavelmente que o tal fibion era um civis romanus, coisa que a aud�cia de seu ato j� fazia presumir. neste caso o epis�dio em quest�o n�o pode, pois, levar-se em conta para justificar a chamada de pilatos solicitando a opini�o do povo judeu, pois � evidente que jesus n�o � cidad�o romano, e muito mais tarde, o imperador juliano, em sua carta ao cirilo, bispo de alexandria e antigo seu condisc�pulo nas escolas de atenas, declararia que: �o homem que foi crucificado pelo p�ncio pilatos era servo de c�sar, e vamos demonstrar...� (cf. cirilo da alexandria, contra julianum). de fato, o termo exato era escravo de c�sar (servur caesaris), alus�o ao prov�vel nascimento de jesus em s�foris e � deporta��o da popula��o de tal cidade pelo varus. mas voltemos para problema da autenticidade de tal substitui��o. o dictionnaire da bible, do f. vigouroux, sacerdote de saint-sulpice (tomo i, 2�. parte, 1926, letouzey & an�, imprimatur inicial de 26 de outubro de 1891), diz-nos o seguinte: �esse costume de dar a liberdade a um prisioneiro por ocasi�o das festas da p�scoa n�o aparece mencionada em nenhuma outra parte, nem nas sagradas escrituras nem no talmud (...) costumes similares existiam entre os romanos durante os dias das lectisternes, e entre os gregos durante as solenidades

do bacchus eleuthereus�. entre os gregos, baco era o mesmo deus que dionisos, quem levava o apelido de liberador (liber), dado que a embriaguez possui, com efeito, o dom de liberar das preocupa��es e de exagerar as paix�es habitualmente refreadas. quanto �s lectisternes, tratava-se de uma cerim�nia propiciat�ria decidida em um per�odo de grandes calamidades p�blicas, e celebrada em roma e nas grandes cidades do imp�rio para obter o afastamento de tais provas. aquele dia se oferecia um banquete ritual aos principais deuses de roma, suas ef�gies apareciam reclinadas sobre leitos para comer na mesma sala em que se desenvolvia esse aut�ntico �jantar dos invis�veis�. da� o furor de saulo-paulo ante a participa��o de seus disc�pulos nesses �gapes tipicamente pag�os: �porque se algum vir , que tem ci�ncia, sentado � mesa em um santu�rio de �dolos, na fraqueza de sua consci�ncia, n�o se acreditar� induzido a comer as carnes sacrificadas aos �dolos?...�. (cf. i ep�stola aos corintios, 8, 10). tendo em conta o que precede, fica exclu�da a possibilidade de que semelhante festa pudesse jamais haver-se celebrado na cidade santa de jerusal�m, e menos ainda no templo aonde residia a shekinah, �a presen�a divina�. isso suscitaria tais subleva��es por parte dos judeus, que a nenhum procurador romano lhe passasse nem sequer pela cabe�a tal id�ia. recorde-se que pilatos, depois de penetrar de noite na cidadela antonia, em jerusal�m, as ins�gnias das legi�es (que n�o ter� que confundir com suas �guias) que foram a acampar ali, teve que as fazer sair do lugar ante a iminente rebeli�o, j� que os sucessivos imperadores deram ordem de respeitar na jud�ia os princ�pios religiosos da popula��o. pois bem, as ins�gnias legion�rias ostentavam, ou o busto dos imperadores, ou s�mbolos animais: andorinha, javali, �guia, etc. al�m disso, nos acampamentos lhes rendia um culto p�blico. coisas, todas elas, que a lei de mois�s reprovava. por outra parte, se em roma podia exercer o direito da gra�a, isto tinha que acontecer antes de ser pronunciada a senten�a. depois, n�o era costume desmentila, pois isso comprometeria a falibilidade da justi�a. n�o ficava, pois, ao condenado mais que a sorte de encontrar-se pelo caminho para sua execu��o a uma vestal (estas possu�am o privil�gio de conceder a gra�a ipso facto a todo condenado com o que se cruzassem pelo caminho), ou recorrer a indulgentia imperial. por isso suetonio nos conta que nero, a quem horrorizava o derramamento de sangue, um dia, ao princ�pio de seu reinado, no momento de referendar a condena��o a morte de um criminoso not�rio, deixou o �estilo� com o que se dispunha a assinar e murmurou abatido: �ai! por que me ensinariam a escrever?...� (cf. suetonio, vida dos doze c�sares, nero, 10). e t�cito observaria, al�m disso, que: �quando n�o pode evitar uma condena��o, adiava tanto, que o acusado tem tempo de morrer de velho...� (cf. t�cito, annales, xviii, 33). tudo isso demonstra claramente que, uma vez pronunciada a senten�a, n�o se acostumava a modific�-la. fica o conceito de gra�a judicial no israel antigo. este n�o existia ali absolutamente, e unicamente umas revela��es novas podiam justificar a suspens�o provis�ria de uma senten�a capital, e eventualmente uma revis�o. esse car�ter definitivo da condena��o fora precisado pelo profeta isa�as: se se fizer gra�a ao �mpio, ele n�o aprende a justi�a; na terra corrompe a retid�o, n�o repara na majestade de yav� ... (isa�as, 26, 10) desde onde a hostilidade geral dos mestres da torah ante a pena de morte, porque � um castigo irrevers�vel. estava acostumado a afirmar-se que um sanedr�n que pronunciasse onze condena��es de morte em sete anos era uma assembl�ia de assassinos. e rabbi eleazar-ben-azaria chegava ainda mais longe: para sua escola, onze condena��es � pena capital em setenta anos justificavam j� esse apelativo de �tribunal assassino�. outros, como rabbi tarphon e rabbi akiba eram contr�rios totalmente � pena de morte (cf. talmud, iv, nezikim, 5 makkoth). quer dizer, que toda essa hist�ria de uma substitui��o legal de um culpado por outro, de um condenado a morte por assassinato no curso de uma revolta,

perdoado contrariamente � todos os costumes, tanto judias como romanas, por um procurador t�o rude e desumano como parece que estava acostumado a ser p�ncio pilatos, toda essa hist�ria n�o constitui a n�o ser uma mentira mais dos escribas an�nimos dos s�culos iv e v, anti-semitas patentes e aduladores interessados dos novos imperadores crist�os. n�o obstante, ainda fica por ver outra misteriosa substitui��o, problema que logo vamos abordar. porque, que prisioneiro famoso podia ter sido encarcerado por aqueles dias, al�m de jesus? ningu�m conhece barrab�s, fora dos textos evang�licos do s�culo iv. flavio josefo, o talmud de babil�nia, o talmud de jerusal�m, todos ignoram dito personagem. eusebio da cesar�ia (falecido no ano 340), ao redigir sua hist�ria eclesi�stica, uma obra enorme, n�o conhece barrab�s. sim que cita a um tal agapios, quem figurava entre os m�rtires da palestina no curso da persegui��o dos anos 306-307, e a quem a gra�a imperial preferiu frente a um escravo obscuro que tinha assassinado a seu amo. e o texto nos diz que foi �julgado digno de piedade e benevol�ncia, quase da mesma maneira que o famoso barrab�s em tempos do salvador...� (cf. op. cit., des martyribus palestinae, vi, 5). mas existem duas resenhas diferentes desse texto, uma curta e uma longa, a primeira em grego, a segunda em sir�aco. �as rela��es entre as duas resenhas s�o dif�ceis de determinar...�, diz-nos o p. mond�sert, s.j., e � evidente. n�o estamos absolutamente convencidos de que todo o conjunto proceda do eusebio da cesar�ia. porque s� nesse texto indeciso aparece uma alus�o � Barrab�s, e isso � algo muito surpreendente, tendo em conta a import�ncia do resto de sua obra, onde n�o faltaram as ocasi�es para pod�-lo citar. para n�s, jesus e jesus-barrab�s n�o s�o a n�o ser a mesma pessoa, e essa substitui��o n�o se imaginou at� muito mais tarde, para fazer desaparecer o papel de outro misterioso bloco. n�s citamos ao sim�o de cirene, quem substituiu em realidade ao jesus e foi crucificado em seu lugar, seis semanas antes da p�scoa, e a morte, desta vez bem real, deste �ltimo. quando o leitor chegar ao pr�ximo cap�tulo, intitulado o crime do templo, poder� constatar que o �bandoleiro famoso, autor de um assassinato no curso de uma rebeli�o na cidade� n�o p�de ser outro que jesus, pois n�o havia nenhum mais. 24- o crime do templo h� homens nos que a vergonha se ceva al�m da tumba � o primeiro autor da supersti��o judaica ... fabius quintilianus, de institutione oratoria nos textos evang�licos aparece citado um documento que exp�e todo o problema referente � autenticidade do relato tradicional sobre a crucifica��o de jesus. trata-se do texto da senten�a abreviada que figurava sobre a cruz, e que se atribui ao pr�prio pilatos. coisa em si j� bastante duvidosa, pois dificilmente imaginamos ao procurador de roma na jud�ia fazendo o trabalho dos auxiliarii e aplicando-se, inclusive de ser necess�rio com a l�ngua fora, em riscar sobre uma prancha de madeira o motivo da condena��o de um rebelde judeu, no que concorria al�m disso o agravante de ser tamb�m um bandoleiro. para este fim tinha a seus escribas, e seria um deles o que se ocuparia do titulus legal. a inautenticidade de tal texto vem sublinhada pelo fato de que os evangelhos sin�ticos e o do jo�o n�o est�o totalmente de acordo sobre ele. vejamos as variantes: mateus: �eis aqui ao rei dos judeus� (27, 37), marcos: �o rei dos judeus� (15, 27), lucas: �este � o rei dos judeus� (23, 38, jo�o: �jesus de nazar�, rei dos judeus� (19, 19). os evangelhos iniciais que chegaram at� n�s est�o redigidos em grego. n�o � preciso ser um grande letrado para compreender que, traduzidas ao latim, � imposs�vel que essas quatro inscri��es diferentes d�em invariavelmente �i.n.r.i.�. mas foi esse o texto que figurou na cabe�a da cruz de jesus? isso � algo perfeitamente duvidoso, porque: n�o � poss�vel que pilatos dissesse que jesus era origin�rio de nazar�, j�

que tal localidade n�o existia naquela �poca, pois a criaram (trocando de nome a um lugar dado, para satisfazer aos peregrinos iluminados) para o s�culo viii. o texto latino da vulgata de s�o jer�nimo, texto oficial da igreja cat�lica, tampouco o diz. qualifica ao jesus de nazareus, quer dizer, de nazareno, ou, o que � o mesmo, �consagrado ao senhor�, em hebreu nazir. as leis do nazareato est�o precisadas no livro dos n�meros (6, 2); por outra parte, pilatos n�o p�de dar este qualificativo ao jesus, j� que: a) evidentemente, este n�o era um motivo de condena��o aos olhos da lei romana, era algo que n�o lhe podia reprovar ao jesus; b) jesus jamais foi nazareno, ou n�o o era desde fazia j� bastante tempo, porque tal consagra��o lhe proibia beber vinho, comer carne, aproximar-se das pessoas ritualmente impuras aos olhos da lei judia, e, sobretudo, aproximar-se de um cad�ver ou toc�-lo. coisas todas elas das que ele nunca se privou. pelos citados motivos, e com perd�o dos m�sticos mais heterodoxos, jesus n�o foi jamais nazareno no curso de sua vida p�blica. por conseguinte, se n�o podia ter sido origin�rio de nazar�, se n�o era nazareno, o texto da condena��o atribu�do ao pilatos �, pois, um texto mendaz. os escribas an�nimos dos s�culos iv e v, ao redigir, por ordem, uns evangelhos oportunistas, colocaram este texto em substitui��o de um titulus real, mas infamante, que justificava o que jesus tivesse sido crucificado cabe�a acima, como os malfeitores e os escravos, e n�o cabe�a abaixo, como acontecia com os rebeldes, o que tivesse sido seu caso se s� lhe tivesse acusado de qualificar-se de �rei dos judeus�. tamb�m � prov�vel que a pancarta que acompanhava a toda execu��o na cruz tivesse ido primeiro pendurada do pesco�o do condenado, quem a levaria assim do lugar de sua deten��o ao de sua execu��o. seus bra�os estariam ent�o estendidos lateralmente e atados � madeira transversal, que repousava sobre sua nuca � maneira de um jugo. isso era tudo o que levava o condenado, j� que o poste vertical de tal cruz permanecia fincado no ch�o, na convoca��o habitual das crucifica��es. esta formalidade legal justificava o que se dissesse que o desgra�ado �levou sua cruz�, como precisam os autores antigos (s�neca, cicer�n, plutarco, etc.), mas � que se tinha em conta que era imposs�vel que o condenado carregasse com a totalidade, que representava um peso de uns setenta quilogramas, �s vezes depois inclusive de uma terr�vel flagela��o que minava suas �ltimas for�as (a maioria das vezes, e com o fim de evitar tal risco, esta flagela��o lhe infligia no lugar mesmo da crucifica��o). essa travessa ao que estavam atados os bra�os do futuro crucificado impedia, al�m disso, qualquer intento de evas�o, j� que n�o permitia uma fuga r�pida pelas estreitas ruelas transversais, embora lhe facilitasse tal fuga, e lhe dificultava deste modo o procurar ref�gio em alguma moradia amiga, dado que a abertura da porta n�o permitia uma penetra��o f�cil. al�m disso, expor ao condenado �s inj�rias, bofetadas, escarros, pedradas e proje��o de imund�cies por parte de seus advers�rios da v�spera; e o mundo antigo n�o sabia o que era a piedade. voltando para os verdadeiros motivos da condena��o de jesus, � evidente que estes foram muito numerosos. est�, sem d�vida, o fato de que se dissesse �rei dos judeus�, coisa que se acrescenta �s atividades zelotes e a seus habituais atos de viol�ncia, aos pagamentos de um d�zimo muito parecido a nosso moderno racket, e inclusive ao banditismo puro e simples. n�o condenemos aos zelotes sem compreend�los. um guerrilheiro come tamb�m ao menos uma vez ao dia, e o dinheiro foi sempre o nervo da guerra. e aqui vamos por fim a abordar o estudo desse famoso crime, cometido no curso de uma rebeli�o pelo misterioso jesus-barrab�s, �bandoleiro famoso�, encarcerado com outros sediciosos (cf. marcos, 15, 7). agora sabemos (veja o cap�tulo anterior) que jesus e barrab�s s�o um mesmo personagem. n�o percamos, pois, nosso tempo epilogando de novo este problema. quando nosso chefe zelote faz sua entrada triunfal em jerusal�m, o famoso dia chamado �de ramos�, montado sobre um asno que caminhava ao lado de sua m�e asna, o fato nos parece j� suspeito. com efeito, a fim de n�o manchar a cidade

santa, cavalos, asnos, c�es, cordeiros, cabras, etc., n�o podiam circular por dentro dela. n�o esque�amos que o verdadeiro nome da cidade se mantinha em segredo, e n�o se podia pronunciar: kedesha, �a santa�. se dizia simplesmente ierushalaim (jerusal�m), do mesmo modo que se dizia adonai (senhor), em lugar do nome impronunci�vel do iaweh, que era o tetragrama divino. portanto, os animais destinados ao sacrif�cio penetravam na cidade pela porta do norte, passavam por diante da cidadela antonia e chegavam assim rapidamente ao recinto de espera do interior do templo. mas passemos por cima esses enganos de nossos copistas, e vejamos como os jovens judeus aclamavam ao jesus como o esperado libertador: �hosanna ao filho do david! bendito o que vem em nome do senhor! hosanna nas alturas! ...� (cf. mateus, 21, 9). o escriba se confunde com aleluia ... porque hosanna n�o significa, nem muito menos, �louvado seja�, a n�o ser �nos libere�, o que implica que nossos jovens pertenciam, ao menos ideologicamente, � corrente dos zelotes. e isso demonstra que o chamado epis�dio foi manipulado. ent�o dispuseram diante de jesus, pelo caminho, e � medida que ele avan�ava, inumer�veis vestimentas, e as multid�es cortavam ramos de palmas e de �rvores diversos e as dispunham a seu passo. n�o � dif�cil imaginar que todo esse grupo que acompanhava ao jesus e que, desde jeric�, recebia a parte de aclama��es entusiastas que lhe correspondia, estava composto por partid�rios da resist�ncia judia contra roma. eram militantes zelotes... transcorreram alguns dias. jesus fora detido, e outra multid�o (mas, que n�o era a mesma...) reclamou apaixonadamente ao procurador romano que lhe dessem morte, por blasfemo e sacr�lego. o que era, ent�o, o que tinha acontecido? a que veio semelhante mudan�a de atitude? daniel-rops, em jesus em seu tempo, atribui-o � variabilidade popular. isto poderia ser certo no caso de uma multid�o corrente, mas n�o no de uma massa de seguidores com os olhos fixos -e com que viol�ncia!- em uma ideologia muito precisa, elaborada dotrinalmente. voltemos, pois, aos evangelistas... �(jesus) estando sentado em frente do gazolif�cio, observava como a multid�o ia jogando moedas no tesouro, e muitos ricos jogavam muitas... (cf. marcos, 12, 41). e n�o ignora a exist�ncia do famoso �tesouro do templo�, o korban, alimentado tanto pelas doa��es como pelos dep�sitos provis�rios, j� que numerosos judeus ricos preferiam confiar sua fortuna a essa cidadela religiosa, antes que perd�-la em sua moradia em m�os de malfeitores. al�m disso, o templo abrigava o arsenal dos levitas encarregados de sua defesa e da pol�cia de seus recintos: arcos, flechas, lan�as, escudos, espadas, fundas, etc., tudo estava ali. e ter� que reconhecer que o dinheiro e as armas constituem a riqueza essencial de todo movimento revolucion�rio. indubitavelmente, nos dizem com freq��ncia que do que se tratava era de expulsar o mercantilismo dos �mercados do templo�. mas por que atacou jesus igualmente aos desafortunados peregrinos que, ao chegar a jerusal�m e ver-se objeto de tal viol�ncia, n�o entenderam absolutamente nada? porque isso � o que aconteceu, se dermos cr�dito aos evangelhos: �entrou jesus no templo e arrojou dali a quantos vendiam e compravam nele, e derrubou as mesas dos cambistas e os assentos dos vendedores de pombas...� (mateus, 21, 12; marcos, 11, 15; lucas, 19, 45; jo�o, 2, 13-17). de fato, tudo estava j� preparado, minuciosamente, com anteced�ncia. jesus n�o atirou ele sozinho todas as bancas dos cambistas e derrubou a todos os mercados que esperavam, na sala de espera, a venda de seus animais. porque n�o era dentro do templo onde estavam expostos os animais, pois semelhante coisa era impens�vel. al�m disso, n�o podiam prescindir desses fornecedores, porque sem eles, sem suas vendas, faziam-se imposs�veis as oferendas de sacrif�cios. e se n�o se tratava mais que de reprimir esses sacrif�cios, n�o era necess�rio agredir a esses desgra�ados peregrinos que n�o deveram compreender nada de tal esc�ndalo.

fazia s�culos e s�culos que a lei judia era assim, e se terei que modific�-la, o certo � que n�o tinha que s�-lo entregando-se a semelhantes atos de viol�ncia. assim, esta briga fora organizada de antem�o. e se desencadeou depois de umas palavras de jesus. a gente pode perguntar-se, tendo em conta tudo o que antecede, se todo o dinheiro assim dispersado pelo ch�o, essas pe�as de ouro e prata rodando a centenas daqui para l�, foram recuperadas a seguir por seus propriet�rios leg�timos. porque sabemos que o �tesoureiro� era um tal judas iscariotes (jo�o, 13, 29), que roubava na bolsa quanto se metia nela (jo�o, 12, 6), porque �era ladr�o� (id.), e mais tendo em conta que seu nome significa �homem criminal�. e apesar de todos esses inconvenientes, jesus o conserva como tesoureiro. assombroso! nesse ataque ao templo, nesse esc�ndalo, o leitor reconhecer� facilmente a t�cnica habitual dos trapaceiros modernos, extorquindo aos propriet�rios dos sal�es noturnos, ou saqueando seus estabelecimentos se se mostrarem recalcitrantes. n�o h� nada novo sob o sol. entretanto, � prov�vel que o estrategista do templo que estava ao mando da tropa lev�tica, avisado dessa revolta a m�o armada, enviasse imediatamente um destacamento armado para restabelecer a ordem. e que, paralelamente, da pr�xima cidadela antonia, que dominava o templo, a cent�ria legion�ria �de dia�, alertada por suas vigias, fosse a cortar a retirada ao jesus e a seus homens. e seria assim como nosso barrab�s e alguns de seus c�mplices cairiam em m�os dos romanos, e se veriam encarcerados por homic�dio cometido no curso de uma revolta, na cidade (cf. marcos, 15, 7). assim, chegamos j� � medula do problema que evoca o t�tulo deste cap�tulo. o grupo de exaltados e de homens dispostos a tudo que invadiu o templo seguindo ao jesus ia armado com clavas, as armas elementares e cl�ssicas de todo o mundo �rabe sempre. o pr�prio termo vem dessa l�ngua: matrak, com o mesmo significado. com toda probabilidade foram armados deste modo com a sicca, essa adaga grande e curva que lhes deu nome (sicarii). vejamos os textos dos evangelhos: mateus: �... outros, cortando ramos de �rvores, estendiam-nas no meio-fio...� (op. cit., 21, 8). marcos: �... outros cortavam folhagem dos campos...� (op. cit., 11, 8). lucas: este autor n�o fala de ramos, a n�o ser s� das vestimentas estendidas sobre o caminho. jo�o: este nos apresenta outra vers�o, indubitavelmente muito mais ver�dica: �ao dia seguinte, a numerosa multid�o que tinha vindo � festa, tendo ouvido que jesus chegava a jerusal�m, tomaram ramos de palmeira e sa�ram a seu encontro gritando: hosanna!� (op. cit., 12, 12-13). n�o era quest�o de cobrir o caminho do jeric� a jerusal�m, j� de por si bastante rudimentar, com ramos de �rvores, que n�o teriam feito a n�o ser entorpecer a marcha do jovem asno sobre o que avan�ava jesus. mas na m�o de seus seguidores constitu�am perfeitamente umas armas improvisadas, porque do sul de marrocos, em pa�s bereber, at� o sul da tunicia, e em todo o oriente m�dio, a arma mais estendida � um ramo de palmeira, despojada de suas folhas, e que se apresenta sob o aspecto de uma clava cujo extremo grosso pode medir de cinco a seis dedos de largura, e a extremidade menor, a que se conserva na m�o, uns dois dedos. a flexibilidade de semelhante pau, que recorda um pouco a forma do pen-baz bret�o, ou inclusive do makila basco, faz dele uma tem�vel arma contundente. agora bem, o texto inicial do jo�o (2, 15) emprega o termo skoinion, que significa sogas, para designar o molho de cordas com que jesus teria golpeado �queles �que compravam e que vendiam�. se observarmos que em grego se utiliza skoidion para traduzir um ramo de �rvore, � evidente que algu�m pode perguntar-se se sob o raspador perito e prudente dos ardilosos escribas an�nimos do s�culo iv, a delta de skoidion n�o se converteria na inocente ny de skoinion. porque basta fazendo a parte superior da delta para obter uma ny muito apresent�vel. em uma palavra, jesus teria ido armado tamb�m ele, igual a seus seguidores, n�o de um simples molho de cordas recolhido

sobre o terreno, mas sim de um ramo de �rvore, de uma clava, atalho e preparado com vistas a esta manifesta��o no seio do templo. recordemos algumas de suas palavras: �e quanto �queles inimigos meus que n�o quiseram que eu reinasse sobre eles, tragam-me isso para c� e degolem em minha presen�a! e dito isto, seguiu adiante, subindo para jerusal�m...� (lucas, 19, 27-28). �eu vim jogar fogo na terra, e o que tenho que querer mas sim se acenda?...� (lucas, 12, 49). �porque vim a separa ao homem contra seu pai, e � filha contra sua m�e, e � nora contra sua sogra, e os inimigos do homem ser�o os de sua casa...� (mateus, 10, 35-36). �n�o pensem que vim a p�r paz sobre a terra; n�o vim p�r paz, a n�o ser espada...� (mateus, 10, 34). �e quem n�o tenha espada, venda seu manto e compre uma...� (lucas, 22, 36). e isto � algo que desagradar� a certos admiradores do famoso serm�o da montanha que se limitam prudentemente aos vers�culos 20 a 23 do cap�tulo 6 do lucas, omitindo, por prud�ncia e ast�cia, as maldi��es que comp�em, imediatamente depois, os vers�culos 24 a 26. porque ter� que fazer desaparecer todo rastro de jesus zelote, que amaldi�oava violentamente a seus inimigos. voltemos agora para epis�dio do templo. jesus propinou golpes de clava a inimigos e a mercados com os que se aprovisionavam. teve mortos e feridos, em propor��o ao n�mero de agressores e de v�timas. e esse seria o �crime� que lhe faria perder jesus grande n�mero de partid�rios, que inclusive �s vezes chegaram a somar-se ao n�mero de seus advers�rios. porque, voltemo-lo para dizer, o grito de hosanna que clamam os jovens judeus a sua chegada � Porta dourada, procedente de jeric�, significa �nos libere...� em hebreu. o que todos esperam, por conseguinte, � que jesus os leve a assalto da cidadela antonia, onde se acha entrincheirada a guarni��o romana de jerusal�m, e que, mediante os prod�gios anunciados, expulse aos odiados ocupantes fora da cidade santa. em lugar disso o que faz � lev�-los a atacar a seus pr�prios correligion�rios, tanto aos comerciantes habituais como aos piedosos peregrinos! e no pr�prio recinto do templo, o lugar mais sagrado de todos, o que constitui um sacril�gio mais! por pouco que nossos zelotes roubassem aos cambistas, ou inclusive fraturassem aquelas escovas que tanto interessavam ao jesus, essa juventude apaixonada, mas idealista, descobriu que, em lugar de achar-se frente a um liberador, o que tinham era a um simples guerrilheiro que atuava al�m como bandoleiro. porque esse assassinato atribu�do ao hipot�tico barrab�s, mas que sem lugar a d�vida foi obra de jesus, encontra-se na filigrana de nossos manuscritos gregos. e aqui temos a demonstra��o. em marcos (15, 7) nos diz que barrab�s est� encarcerado por assassinato, e no manuscrito grego inicial esse termo vem dado pelo nome de phonon, com o mesmo significado (crime, assassinato). tr�s vers�culos mais longe nos inteiramos de que os chefes dos sacerdotes tinham entregue jesus ao pilatos por inveja, quer dizer, por phtonon no grego do manuscrito inicial. entre phonon, que significa assassinato, e phtonon, que significa inveja, h� no grego cursivo uma similitude bastante inc�moda. basta inserindo, depois da phi de phonon, uma simples theta, e ent�o se obt�m phtonon, que significa inveja. e assim ficar� apagado todo rastro do crime sacr�lego cometido por jesus. come�amos a compreender por que nossos documentos mais antigos do cristianismo nos chegaram sempre, n�o em aramaico, a n�o ser em grego. porque � uma l�ngua cuja grafia se disp�e � muitos acertos, como pode constatar-se pelo que segue: � evidente que esta compara��o � particularmente demonstrativa, j� que o esc�ndalo causado por essas pilhagens e esses assassinatos foi tal, como verdadeiro sacril�gio que violava a casa do eterno, que jesus teve que fugir e ocultar-se na cidade durante perto de seis meses. aqui temos a prova. no tomo ii de seu synopse des quatre evangiles, r.p. boismard, recolhendo uma tese sustentada tempo atr�s pelo cardeal jean dani�lou, estima que n�s situamos a festa de ramos em uma data muito diferente da realidade hist�rica, ao coloc�-la oito dias antes de p�scoa. de fato, a entrada de jesus sob as aclama��es

da juventude judia desenvolveu-se seis meses antes, durante a festa dos tabern�culos, quer dizer, no outono precedente. vejamos o que tem tudo isso. inicialmente, duas grandes festas marcavam o ano judeu: a da primavera e a do outono, que se converteram uma na p�scoa judia (anivers�rio da sa�da do egito), e a outra na festa das cabanas, ou festa das colheitas de uvas, convertida em festa dos tabern�culos. a primeira se desenvolvia invariavelmente durante a lua cheia do m�s de nisan, a segunda durante os primeiros dias do m�s de tischri. a socoth, ali�s festa dos tabern�culos, que se observava desde tempos muito remotos como uma festa da natureza, implicava que os israelitas viveram durante sete dias em tendas ou em cabanas, chamadas mais tarde tabern�culos. passaremos por cima o ritual das cerim�nias pr�prias de socoth, para sublinhar seu significado messi�nico. e aqui citaremos ao cardeal jean dani�lou em seu livro os symboles chr�tiens primitifs: �a festa parece ter, efetivamente, uma rela��o muito especial com as esperan�as messi�nicas. as origens dessa rela��o s�o obscuras. mas parece que a festa dos tabern�culos estaria ligada, ou com a festa anual da instaura��o real, ou, como pensa kraus, com a renova��o da alian�a com o rei dav�dico. os restos desintegrados desta festa seriam os que subsistiriam nas tr�s grandes festas judias do tischri: rosh-h�-Shana, kippur, e sukkoth. esta festa teria adquirido no juda�smo um car�ter messi�nico, quer dizer, que se relacionava com a espera do vindouro rei. aqui n�o se trata das primeiras origens da festa, que parecem ser uns ritos sazonais, mas sim de uma transforma��o que sofrera na �poca real e que teria introduzido nela elementos novos� (op. cit., p. 11). �assim, para os judeus, a festividade dos tabern�culos, onde cada um comia e bebia com sua fam�lia em sua cho�a adornada com ramos variados, apareciam como uma prefigura��o dos gozos materiais no reino messi�nico. as esperan�as messi�nicas alimentadas pela festa podem nos explicar que esta desse ocasi�o a uma certa agita��o pol�tica, e que os padres da igreja punham aos crist�os especialmente em guarda contra ela� (op. cit., p. 13). sublinhamos algumas frases que no livro de jo�o dani�lou n�o aparecem sublinhadas, ao menos voluntariamente. n�s j� demonstramos que jesus reconhecera ante pilatos que reivindicara a realeza de israel, sem discuss�o poss�vel, e que fora necess�ria sua captura para que ele considerasse ent�o que se equivocou e se visse na obriga��o de situar essa dignidade real no outro mundo. agora provamos que participara de uma agita��o pol�tica comemorativa da instaura��o da realeza em israel, e que nessa circunst�ncia se deixou aclamar como rei liberador e como soberano, j� que aparece sublinhada sua qualidade de �filho de david�. pois bem, ele n�o desautorizou essas manifesta��es de entusiasmo, essas aclama��es t�o precisas, essa qualidade de �liberador�, antes ao contr�rio, prestou-se a elas complacente, ao subir de jeric� � jerusal�m encabe�ando seus partid�rios, depois de mencionar que teria que degolar a todos aqueles que n�o o queriam reconhecer como rei. (cf. lucas, 19, 11 a 27). e ent�o, como admitir nem por um momento que o procurador representante de roma na jud�ia n�o se sentisse na obriga��o de castigar severamente, fosse qual fosse a simpatia que ele pudesse sentir para o jesus? isto, evidentemente, n�o demorou para chegar, j� que o abade laurentin, resumindo o texto de p. boismard, diz-nos no peri�dico o figaro de 25 de maio de 1972: �quanto a sua entrada em jerusal�m (os ramos) parece que teve lugar muito antes do que dizem os evangelistas, durante a festa dos tabern�culos (par. 273., p. 333), de modo que jesus teria passado seus �ltimos dias em jerusal�m, n�o como um homem que ensinasse ainda com �xito, mas sim como um proscrito que se oculta e que finalmente ser� tra�do e entregue por um dos seus�. aqui devemos particularizar. a festa dos tabern�culos desenvolve-se em setembro, e jesus morreu na p�scoa, quer dizer, em abril; portanto, encontrou-se proscrito durante seis meses, e se viu obrigado a ocultar-se em jerusal�m, literalmente pego na armadilha, sem poder sair dela durante todo este per�odo. se a gente recordar que jesus se viu j� na obriga��o de fugir quando estava em fen�cia, e que logo, reconhecido pela mulher canan�ia (mateus, 15, 21-24), e n�o

podendo �seguir oculto ali� (sic) (marcos, 7, 24-25), teve que fugir de novo, e tentar despistar � pol�cia romana lan�ada atr�s dele, convir� que esta atitude resulta mais surpreendente em um �filho de deus� vindo a oferecer-se em sacrif�cio para aplacar a c�lera de seu pai. o leitor mais indulgente considerar� ent�o que o �filho de deus� n�o tinha muita pressa por assegurar a salva��o da humanidade, j� que, durante todo esse tempo perdido, e segundo a dogm�tica crist�, esta continuava condenando-se, dado que: �os meninos que nascem e que morrem sem receber o sacramento do batismo n�o podem salvar-se, j� que para eles, e segundo a ordem estabelecida por deus na sociedade dos homens, n�o existe outro meio que este para incorporar-se � Jesus cristo e receber sua gra�a, sem a qual n�o existe salva��o entre os filhos do ad�o�. (cf. tom�s de aquino, suma teol�gica, lxviii, 3). esse car�ter temeroso do pseudo-sacrif�cio volunt�rio tamb�m est� reconhecido em daniel-rops, j� que nos diz no jesus em seu tempo: �ela explica tamb�m o deslocamento repentino de jesus, desejoso de passar � soberania mais benevolente do tetrarca filipo, passando ao outro lado do rio (o jord�o) para n�o permanecer mais tempo em poder de antipas, o assassino de s�o jo�o batista� (op. cit., p. 257, la mort du pr�curseur). veja-se o compreendemos! e tamb�m como tudo resulta mais claro ao voltar-se mais humano... quanto ao lugar onde se oculta jesus em jerusal�m durante seis longos meses depois do ataque ao templo (segundo opini�o de daniel-rops e de numerosos exegetas, houve dois ataques deste g�nero), ignoramo-lo. � pouco prov�vel que se refugiasse em uma moradia amiga, porque havia sempre a possibilidade de uma den�ncia por parte de um vizinho hostil, ou a quem lhe atra�ra a recompensa oferecida. e uma fuga assim implicava um percurso bastante longo pela cidade inflamada de rumores. � mais prov�vel que jesus fugisse para a porta norte (veja o cap�tulo 27), e sa�sse da cidade em dire��o ao que flavio josefo chama as �cavernas reais�. a poucos passos da atual porta de damasco, sob a escarpada rocha coroada pela muralha da cidade, observa-se uma pequena porta fechada; ali haveria antigamente as pedreiras de bezatha, de onde se extra�ram em diversas �pocas os formosos blocos de pedra empregados nas constru��es do templo ou dos pal�cios asmoneos e herodianos. essas pedreiras foram inauguradas pelo rei salom�o. o arque�logo cl�ment ganneau descobriu, do mesmo modo, um graffiti fen�cio naquele lugar. no exterior, o orif�cio de entrada desemboca no fosso antigo da cidade. foi indubitavelmente nestes amplos subterr�neos onde tiveram lugar aquelas assembl�ias secretas �s quais fazem alus�o os salmos de salom�o, no curso das quais tinham lugar orgias sexuais de formas rituais que implicavam uma sobreviv�ncia dos cultos � Astart� e � Baal, tomados provavelmente das long�nquas tradicionais do tantrismo hindu. remetemos ao leitor ao cap�tulo 20. � pouco prov�vel que os zelotes n�o conhecessem a exist�ncia de tais pedreiras, quanto mais se se tem em conta que a tia de jesus, maria ii (ali�s mariamna ii, ali�s cleopatra de jerusal�m), n�o ignorava, como j� vimos, essas mesmas tradi��es orgi�sticas, posto que as praticara no pal�cio de herodes, o grande. e, quando chegou o momento, foi ali de onde jesus foi aos dom�nios de ierahmeel, nas oliveiras, retiro que seu sobrinho judas iscariotes revelou ao tribuno das coortes, governador da antonio e chefe de armas de jerusal�m (cf. jesus ou o segredo mortal dos templ�rios, p�gina 274 e seguintes). porque a lenda do jantar pascal em jerusal�m e logo, imediatamente depois, a sa�da em dire��o �s oliveiras, � inveross�mil. as portas da cidade estavam fechadas e vigiadas, patrulha romanas percorriam as ruas, porque a p�scoa era um per�odo de agita��o messi�nica; e, por �ltimo, o �xodo (12, 22) especifica-o de forma cortante: depois da comida pascal estava proibido sair da moradia at� a alvorada seguinte. todo judeu encontrado de noite pela cidade, seria suspeito e detido pelas patrulhas. 25- a verdade sobre a paix�o que o juiz n�o empreste ouvidos aos v�os clamores da multid�o. com muita freq��ncia deseja perdoar ao culpado e condenar ao inocente... diocleciano, axiomas jur�dicos

quando se l� nos evangelhos sin�ticos o relato da paix�o de jesus, em especial tudo o que tem rela��o com a montagem de esc�rnio que aconteceu � flagela��o legal, quando se for aos legion�rios romanos revestindo ao jesus com uma cl�mide escarlate, provavelmente tirada dentre as roupas velhas de seu quartel, logo lhe pondo na m�o um cano, a modo de cetro irris�rio, e por �ltimo coroando-o com uma coroa de espinhos; surpreende constatar que, no evangelho de lucas, esta frase, que entretanto � impressionante, � totalmente ignorada por seu redator. mas lucas, de quem a igreja afirma que foi o autor de tal relato, atevese ao de seu mestre, que foi o ap�stolo paulo. se este se achava em jerusal�m no ano 36 de nossa era, quando teve lugar a lapida��o de est�v�o, estudando a thora aos p�s de seu mestre o rabban gamaliel, devia encontrar-se tamb�m nesta cidade no ano precedente, o 35, quando se produziu a morte de jesus. e, entretanto, n�o sabe nada dessa exibi��o de esc�rnio. que estranho! para a maioria dos historiadores conformistas, a historicidade deste epis�dio n�o oferece nenhuma d�vida. e daniel-rops, em jesus em seu tempo, diz-nos o seguinte: �esse outro supl�cio, pilatos n�o o tinha ordenado. mas a multid�o humana � feroz com os vencidos, e o que pode esperar-se de uma soldadesca desenfreada? esses soldados eram s�rios, bedu�nos, mandados possivelmente por alguns oficiais romanos. entregava-lhes um judeu que n�o devia valer muito, j� que o governador o tinha mandado flagelar. �aqui � onde pode defender a hip�tese de uma imita��o de costumes mais ou menos carnavalescos. algum daqueles soldados poderia achar-se em alguma guarni��o de alexandria ou da mesopot�mia, e ser ali testemunha de uma festa de origem estrita que se conhecia com o nome de sacaea: escolhia-se um rei de pantomina que, durante dois ou tr�s dias podia permitir-lhe tudo, inclu�do o utilizar �s concubinas reais, mas, ao final da festa, era despojado de suas vestimentas reais, a�oitado e enforcado. �em algumas legi�es romanas, durante a festa das saturnais, escolhia-se ao acaso um soldado como �rei saturno�, e, depois de inumer�veis epis�dios de desenfreados bacanais, lhe dava morte�. (cf. daniel-rops, jesus em seu tempo, x). observemos que para o pr�prio daniel-rops os elementos deste relato parecem incertos, emprega o termo de hip�tese, que pode defender-se, embora pilatos n�o tivesse ordenado esse inesperado suplemento da flagela��o legal. na opini�o do abade loisy, que foi professor de hebreu no institut catholique de paris, professor de sagradas escrituras, e logo professor de hist�ria das religi�es no coll�ge de france (1857-1940), tudo isto n�o se tem em p�: �n�o h� nem necessidade de assinalar que semelhante procedimento se ajustava muito pouco aos h�bitos da justi�a romana, ao car�ter de pilatos e � verossimilhan�a do caso! para o evangelista isso n�o era a n�o ser um meio de alargar o drama e de acentuar o crime dos judeus�. (cf. a. loisy, o quatri�me �vangile, jean, xix, 2-5, coment�rio). e � exato at� n�o poder mais. o direito romano, que subsiste ainda em bom n�mero de nossos textos legislativos europeus, era absoluto. n�o havia fantasia alguma na aplica��o das penas, tudo estava previsto, catalogado, considerado. unicamente, coisa que daniel-rops ignora ou finge ignorar, � que o costume pedia que todo acusado, fosse qual fosse sua classe social, no momento de comparecer ante seus ju�zes, despojasse-se de suas vestimentas habituais e se revestisse de outras ignominiosas, proporcionadas pela pris�o. isto se fazia com o fim de incitar aos ju�zes � piedade, assim para refrear a altivez de certos detidos cuja origem ou riqueza podiam voltar insolentes. esse foi o caso de jesus, e lhe fez despir, como a todo mundo. porque, � volta de casa de herodes antipas, vestem-lhe com as roupas �deslumbrantes� que este lhe fez ficar, em lugar de suas vestimentas feitas de farrapos no curso do combate das oliveiras. pois bem, estas roupagens, segundo os exegetas, consistiam em uma t�nica branca, id�ntica a que revestiam os tribunos das coortes antes do combate, ou os candidatos que aspiravam em roma a um elevado cargo p�blico. em fun��o de dito uso legal, despojou-se jesus de suas aduladoras roupas e lhe fazer vestir roupas infamantes. coisa que se fez, mas

muito antes do comparecimento ante o procurador, e muito antes da flagela��o que lhe seguiu. e essas roupagens a seguir lhe foram restitu�das legalmente, j� que s�o estes mesmos, tecidos sem costura (jo�o, 19, 23), e portanto de m�ximo luxo, os que os soldados romanos que atuaram de verdugos jogaram �s tais quando teve lugar a crucifica��o. (op. cit.) tudo isto desmente o epis�dio da exibi��o de brincadeira. n�o era absolutamente legal, j� que o direito romano n�o deixava nada � fantasia dos verdugos. o juiz era o �nico que decidia sobre tal ou qual pena, o instante de sua aplica��o, e o de sua suspens�o. fica essas aparentes refer�ncias hist�ricas �s quais se remete daniel-rops para justificar a identifica��o de jesus com um �rei de carnaval�. � real o fato de que, entre os escitas, houvesse soberanos ef�meros sacrificados tal como se disse. mas roma n�o dominava aquelas regi�es, j� que rapidamente fizesse desaparecer semelhantes sacrif�cios humanos, ela que os tinha extirpado sem piedade nas galias dru�dicas, e em todos os lugares onde plantava as ins�gnias de suas legi�es. recordemos que ao pai de tertuliano, que era centuri�o legion�rio, um dia lhe encarregou como exactor mortis que fizesse crucificar a todos os sacerdotes de cartago culpados de ter prosseguido clandestinamente com os sacrif�cios humanos habituais dedicados ao deus moloch. o fato de que as legi�es romanas designasse, durante a festa das saturnais, um deus ef�mero para o tempo que durasse a festa, n�o implicava que seus camaradas tivessem o direito de sacrific�-lo a seguir. � preciso n�o conhecer absolutamente nada da implac�vel disciplina existente naquelas regi�es, para admitir, embora s� seja um instante, a hip�tese de tal crime ritual, assim tolerado pelos tribunos das coortes e seus centuri�es. durante as saturnais, em roma (primeiro durante um dia, logo durante tr�s, mais tarde quatro, logo cinco e por �ltimo sete dias), ficava perturbado o ritmo habitual da sociedade, os escravos recebiam o mesmo trato que os amos, e alguns inclusive chegavam a abusar disso, sem que a seguir lhes pudesse castigar. por conseguinte, como imaginar semelhantes assassinatos no seio das legi�es romanas? � indubit�vel que em roma havia tamb�m um saturnalicius princeps, an�logo ao �rei saturno� dos soldados, que encabe�ava todas essas licenciosidades um pouco � maneira do rei carnaval da cidade de niza. mas nem ali nem em roma se dava morte a ser humano algum. e � preciso remontar-se �s �pocas mais long�nquas para encontrar nos velhos cultos mediterr�neos o sacrif�cio desse ef�mero soberano, suposta encarna��o do deus, cujo sangue derramado asseguraria a fertilidade da terra. por certo que t�cito nos conta que nero, quando era ainda um adolescente, foi designado pela sorte como �rei saturno� no curso dessas mesmas festas saturnais, e � evidente que a ningu�m lhe ocorreu a id�ia de sacrific�-lo. (cf. t�cito, annales, xiii, xv). nada disso existia, pois, na �poca de jesus, e n�o temos nenhuma refer�ncia sobre essas misteriosas legi�es romanas nas quais um soldado se enfrentasse com o fato de ter que ser executado com ocasi�o da celebra��o das saturnais. e possu�mos a lista completa de tais unidades, assim como suas localiza��es hist�ricas em tal ou qual �poca. como imaginar, ent�o, que algumas delas houvessem possu�do o privil�gio de levar a cabo assassinatos rituais, se todos estes estavam proibidos em todo o imp�rio, sob pena de morte? por �ltimo, as saturnais tinham lugar a partir de 17 de dezembro; na �poca de jesus duravam tr�s dias, por isso finalizaram na noite de 19. simbolizavam o retorno ao caos primitivo, j� que a partir do 20 ou de 21 de dezembro, data m�dia do solst�cio de inverno, o sol ao remontar-se sobre a ecl�ptica anunciava uma nova era anual. mas jesus foi crucificado no m�s de nis�n, que cobre a luna��o da p�scoa judia, e se situa entre 21 de mar�o e 21 de abril. estamos, pois, muito longe das saturnais. de modo que a hip�tese de daniel-rops de que jesus foi assimilado a um �rei de carnaval� e sofresse, a dito t�tulo, os vexames dos legion�rios, carece de fundamento. ent�o, em que �poca se imaginou toda essa s�dica montagem teatral? indubitavelmente em �poca bastante tardia, j� que as ata pilati, c�lebre ap�crifo copto, n�o o conhecem, mas o evangelho de pedro, em troca, apresenta-nos isso sob outra forma, fora do pret�rio e fora de antonia, e desta vez � a multid�o que

submete jesus � maus entendimentos e lhe imp�e a coroa de espinhos. como se v�, todos esses relatos est�o longe de concordar e abundam as contradi��es. vejamos esta passagem: �e ele (pilatos) entregou-o ao povo a v�spera dos �zimos, sua festa. e estes, depois de ter tomado ao senhor, empurravam-no correndo, e diziam: �arrastamos ao filho de deus, j� que est� em nosso poder�...� (cf. evangelho do pedro, 7). em realidade, provavelmente o fato de impor ao jesus as vestimentas infamantes de compara��o ante os ju�zes, costume habitual e legal, e que, por pura casualidade, resultou ser uma velha cl�mide militar usada, seria o que desencadeou o processo de elabora��o da lenda, e cada qual contribuiu algo � ela. por outra parte, em seu livro th�ologie du jud�o-christianisme, o cardeal jean dani�lou nos diz o seguinte: �a ep�stola ao bernab� cont�m uma s�rie de entrevistas que parecem vir de um midrash crist�o sobre o lev�tico e os n�meros. os ritos judeus est�o descritos neles de forma que ponham em relevo os pontos de contato com o cristianismo...� (cf. jean dani�lou, ep�stola ao bernab�, iii, midrash chr�tiens, p. 112). os midrashim (plural de midrash) s�o par�frase de textos do antigo testamento, ligeiramente diferentes a estes �ltimos e redigidos pelos doutores da lei de forma mais clara que os textos iniciais, de modo que se pudessem suprimir os inevit�veis coment�rios. incluem bom n�mero de ensinos preciosos sobre as tradi��es rituais judaicas, tradi��es que sem eles n�s ignorar�amos. e o exame desses midrashim, no que concerne a todo o ritual da v�tima propiciat�ria descrito em lev�tico (cap�tulos 4, 9, 10 e 16), demonstra-nos que o epis�dio da velha t�nica escarlate imposta ao jesus quando teve que comparecer, e em fun��o do uso legal romano, foi o que desencadeou o processo de cria��o da lenda da paix�o. julgue-se: �o que diz o senhor em casa do profeta? que comam do macho caibro devotado no dia do jejum por todos os pecados. e tenham isto em conta: que todos os sacerdotes, e s� eles, comam as v�sceras n�o lavadas com vinagre�. (ep�stola do bernab�, vii, 4). eis a� a origem da esponja e do vinagre ... desde a� procede deste modo o tema (ignorado por jesus) da ingest�o de sua pr�pria carne sob as formas eucar�sticas, ao ser ele a v�tima propiciat�ria por excel�ncia, sacrificada por todos os pecados do mundo. continuemos: �prestem aten��o ao que est� prescrito: tomem os machos caibros, formosos e semelhantes, e ofere�am. que o sacerdote tome um para o holocausto pelos pecados. quanto ao outro, o que far�o dele? o outro, conforme est� escrito, est� maldito. cuspam todos sobre ele, ferroem, coroem sua cabe�a com l� escarlate, e que seja assim expulso ao deserto�. (ep�stola de bernab�, vii, 6-8). �quando todo isso se executou, que quem se leve a macho caibro o conduza para o deserto, tire-lhe a l�, que por� sobre uma sar�a�.(ep�stola do bernab�, vii, 8). � evidente que todo isso sugeriu aos escribas crist�os um bom n�mero de imagens an�logas. como jesus j� estava prefigurado pelo carneiro pelo que abraham substitui a seu filho isaac quando o sacrif�cio deste, e este carneiro tinha os chifres enganchados em umas sar�as, podia continu�-la composi��o dessa cena imagin�ria que � a paix�o. a cl�mide escarlate (o escarlate, no simbolismo judaico, era a imagem do pecado) permitiu identificar ao jesus com a v�tima propiciat�ria, a que se coroava com uma l� escarlate que representava os pecados do povo de israel. o arbusto de sar�as sobre a que o encarregado enganchava a citada l� escarlate sugeriu a id�ia de uma coroa de espinhos, ao que seguiu a esponja embebida de vinagre. muito mais tarde, melit�n, bispo de sardes, em l�dia (morto por volta do ano 195), redigiria uma homilia sobre a paix�o, em que declarou audazmente: �voc� (deus) puseste o escarlate sobre seu corpo, e o espinho sobre sua cabe�a...� (cf. melit�n de sardes, homilia sobre a paix�o, xiii, 3-4). tanto mais que em roma, al�m dos farrapos legais, os detidos compareciam com a cabe�a rodeada por duas cintas, uma branca e o outra escarlate, a primeira (velamenta) como presun��o de inoc�ncia, a segunda (infulae) de culpabilidade (cf.

t�cito, hist�rias, iii, xxxi). � muito poss�vel que este costume legal fora observado durante o processo de jesus ante um procurador romano. e isto n�o o ignoravam os escribas an�nimos dos s�culos iv e v. e tiraram bom partido disso. a psican�lise moderna permitir� captar facilmente o processo pelo qual se criou a lenda da paix�o de jesus a partir de um fato corriqueiro, e o humilde legion�rio que lhe fez revestir uma velha t�nica regulamentar em desuso n�o podia imaginar que ia assegurar, durante s�culos, um imenso e frut�fero com�rcio, o das ef�gies, quadros, gravados, etc., representando uma s�rie de feitos totalmente imagin�rios. sem d�vida nos apresentar� como obje��o as �vis�es� da irm� Anne-catherine emmerich. mas al�m de que visse o pilatos a cavalo, em cortejo (devia confundi-lo com o centuri�o da semana!) e que ignora ao sim�o de cirene, pois jesus levava ele mesmo a cruz, tamb�m esteve na lua. muito antes que os astronautas, evidentemente. e ali encontrou aos habitantes desta, que s�o temerosos, t�midos, vivem em cavernas e n�o rendem nenhum culto a deus, o que a seus olhos n�o est� bem, claro. (cf. sex de catherine emmerich, iii, 15 a 18). n�o riamos, leitor! quando os primeiros foguetes sovi�ticos chegaram a nosso sat�lite, um douto c�nego, diretor do osservatore romano dominical, declarou gravemente no curso de uma confer�ncia de imprensa e a um grupo de jornalistas italianos assombrados, que quando cheg�ssemos � Lua expor�amos o problema de saber se seus habitantes �teriam conservado a gra�a quando ad�o a perdeu, ou se, pelo contr�rio, perderiam-na ao mesmo tempo que ele� (sic). semelhante candura n�o precisa de coment�rios, evidentemente. como � natural, possu�mos todas as rel�quias da paix�o, fragmentos da t�nica escarlate, cano, coroa de espinhos, n�o faltam mais que os cuspes da soldadesca. acrescentemos � Santa face, os pregos, a cruz, a pancarta, a lan�a, a esponja, os tecidos, e inclusive a escada do pret�rio, que agora se acha em s�o jo�o de letr�n. o leitor que se interesse pelo estudo da ingenuidade humana encontrar� tudo isso em des reliques et cde leur bon usage, de patrice boussel, conservador na biblioth�que historique da ville de paris (paris, 1971, balland �d.). vejamos agora a verdade, leitor, e n�o se parece em nada � lenda. e, em primeiro lugar, o que � essa coroa de espinhos que pusseram em jesus os legion�rios romanos, lhe acrescentando assim sofrimentos, e em sinal de brincadeira frente a suas pretens�es reais? ao princ�pio houve a seu respeito um sil�ncio de quatro s�culos, ningu�m falava dela, e os historiadores n�o encontraram seu rastro at� as afirma��es de s�o paulino, bispo de nole, na companhia, em documentos do s�culo v. cem anos mais tarde, gregorio de tours nos afirma que os espinhos t�m fama de permanecer sempre verdes, e saint germain, � volta de uma peregrina��o � Jerusal�m, diz-se que recebeu do imperador justiniano um desses espinhos, que ele depositou piedosamente nas arcas da igreja saint-vincent-et-sainte-croix, que logo se converteria em saint-germain-des-pr�s. se se der cr�dito � tradi��o, carlos magno seria recompensado com um certo n�mero delas pela imperatriz irene, ou pelo ent�o patriarca de jerusal�m. n�o se puseram de acordo. onde o problema se converte em mist�rio � em 1239, quando chega a coroa a paris, quase totalmente intacta. o mist�rio se acrescentar� quando constatarmos que, na mesma �poca, ruhault do fleury nos afirma que os habitantes da cidade de pisa, na it�lia, fizeram construir a igreja de santa-maria-dellaspina para abrigar nela duas partes dessa coroa. porque 1239 � precisamente o ano em que luis ix, ali�s s�o luis, mandar� construir a sainte-chapelle, para albergar dito objeto, que uns ardilosos venezianos venderam a bom pre�o. esse rei era um ing�nuo e um fan�tico. foi ele quem decidiu que a partir de ent�o se atravessasse a l�ngua dos blasfemos com um ferro ao vermelho vivo (incluindo entre eles aos hereges e aos judeus, claro est�), e que se queimasse vivo, com a thora enrolada ao redor do peito nu, aos rabinos que se negassem a admitir a divindade de jesus. luis ix, filho de uma m�e particularmente fan�tica, dona branca da castilla, levava em suas veias sangue espanhol, o que explica muitas coisas. � �bvio que jamais se analisaram tais espinhos, n�o se sabe sequer se estiveram alguma vez

ensang�entadas; jamais se procurou com o carbono 14 a �poca de sua apari��o no mundo vegetal. esse tipo de experimentos quase nunca os autorizam. hoje que os espinhos est�o dispostos prudentemente por toda a europa crist�, a rel�quia j� n�o se apresenta mais que sob o aspecto de seu suporte de c�rculos de junco, o juncus balticus dos bot�nicos, trancados e atados uns aos outros por uma quinzena de ligamentos. esse suporte permitiria aos legion�rios romanos enrolar nele os ramos espinhosos propriamente ditos, feitos com o rhamus spina christi dos arque�logos crist�os. essa planta � muito comum na jud�ia. daniel-rops se pergunta se jesus a levava ainda na cruz. antes de resolver esta quest�o, exp�e outras, mais molestas. basta relendo o que todos os autores antigos sublinharam no referente � disciplina no seio das legi�es, a perfeita harmonia e a total limpeza dos acampamentos, embora estivessem montados rapidamente de noite, depois de uma etapa fatigante, para imaginar o que devia ser a cidadela antonia, onde residiam seis cent�rias de veteranos, um tribuno das coortes com classe de c�nsul e que exercia as fun��es de chefe de armas de jerusal�m, para negar-se a admitir que se tolerou nem por um s� instante a presen�a de matagais espinhosos e matas de juncos no p�tio de dita cidadela. ent�o, onde se teriam procurado os legion�rios ditos juncos e espinheiros? os fossos, por prud�ncia, estavam cuidadosamente desprovidos de toda vegeta��o que pudesse mascarar ao inimigo, e herodes, o grande tinha mandado revestir as muralhas exteriores com placas de m�rmore branco, com o fim de impedir qualquer escalada, conforme nos diz flavio josefo. por outra parte, essas pontas agudas vegetais t�m uns oito cent�metros de longitude; enrol�-los ao redor da coroa de junco representaria indevidamente que o encarregado sofresse feridas nas m�os, j� que os legion�rios romanos n�o dispunham absolutamente de luvas de ferro que lhes protegessem. e, uma vez mais, por que prod�gio todos esses acess�rios de uma �paix�o� absolutamente ilegal puderam ser recolhidos pelos disc�pulos, todos eles zelotes, procurados por roma? ainda mais quando umas leis muito severas castigavam, inclusive com a pena de morte, a quem quer que se procurasse elementos materiais que tivessem formado parte de uma execu��o capital ou uma inuma��o: sangue do justi�ado, restos corporais, ossos, pregos de cruz, etc., em vista a posteriores opera��es m�gicas. pois bem, uma vez mais, n�s possu�mos milagrosamente todos esses objetos. no mundo antigo era costume crucificar ou empalar ao condenado com a prova material do delito que lhe reprovava, quando isso era poss�vel, ou com as ins�gnias de sua fun��o ou de sua classe social. assim por exemplo, quando nabucodonosor, rei de babil�nia, saca os olhos ao sedec�as, rei da jud�ia (quem j� tem a mand�bula perfurada com um anel soldado a uma cadeia que sustenta nabucodonosor), com um ferro de lan�a ao vermelho vivo, sedec�as leva ainda a tiara real. este costume conheciam os romanos. no ano 69 de nossa era, a cidade de terracina, na it�lia, que se rebelara contra vitelio c�sar, foi entregue por um escravo que pertencia a um tal vergilio capito. como recompensa, vitelio lhe concedeu ao escravo o anel de ouro que fazia dele um cavaleiro romano. quando este imperador foi tombado, e logo assassinado pelos partid�rios do romaciano, o escravo que tinha tra�do a seu amo e que tinha entregue a cidade de terracina, foi crucificado, mas levando no dedo o anel de ouro da ordem eq�estre com o que vitelio o tinha honrado t�o escandalosamente (cf. t�cito, hist�rias, iii, lxxii e iv, iii). esta forma legal n�o tinha por objeto honrar ao condenado, a n�o ser sublinhar a for�a do poder que lhe podia dar a morte, e a import�ncia da cerim�nia capital. esse foi, sem lugar a d�vida, o caso de jesus. estava condenado a morte por roma por haver-se proclamado rei de israel e hav�-lo reconhecido ante pilatos. n�o h� nada de surpreendente, portanto, no fato de que jesus levasse a coroa real durante todo o cerimonial de sua execu��o. mas, perguntar�o, de onde sa�a essa coroa desconhecida? observaremos que esse s�mbolo da realeza antiga n�o se apresentava sob o aspecto das pesadas coroas europ�ias que conhecemos da idade m�dia. em todo o oriente m�dio se trata,

simplesmente, da coroa chamada �radiada�, composta por uma estreita banda que rodeava a cabe�a e de onde brotavam, como raios (de onde seu nome), umas pontas que se abriam para fora. encontra-se nas moedas de ant�oco ep�fano, rei de s�ria, e ainda era utilizada nos primeiros s�culos de nossa era pelos reyezuelos dessas regi�es. essa foi, como � natural, a coroa dos reis de jud� e de israel. o ouro da coroa principal, a das consagra��es e as cerim�nias grandiosas, fazia dela, tendo em conta sua densidade, um ornamento muito pesado. aliviava-se, portanto, a banda de suporte e o n�mero de pontas. e para as cerim�nias cotidianas se utilizava uma coroa de cobre, que era uma r�plica exata da coroa de ouro oficial. uma coroa de cobre, de forma um pouco diferente, foi descoberta no deserto de jud�, procedente sem d�vida do tesouro de engaddi. esse tipo de coroa tinha a vantagem de que era muito mais leve, j� que como a densidade do cobre � de 8,92, e a do ouro de 19, 3, o peso era de menos da metade. al�m disso, como esse metal era muito comum, apenas se corria o risco de tentar aos ladr�es, e sua cor, uma vez batido as asas com o estanho, dava-lhe uma apar�ncia muito pr�xima ao ouro, e o aliviava um pouco mais. possuiu jesus uma coroa desse tipo e dessa natureza? provavelmente. faz alus�o a ela em seu apocalipse, que redigiu em vida como j� demonstramos. assim lemos isto: �vi, no meio do trono e dos outros seres viventes, e em meio dos anci�es, um cordeiro que estava ali como imolado. tinha sete chifres e sete olhos... (cf. apocalipse, 5, 6). a vers�o de lemaistre de sacy precisa que o cordeiro estava de p� e como degolado. e isto � uma prova mais de que o apocalipse foi redigido em vida de jesus. esse texto n�o inclui nenhuma alus�o � crucifica��o, a maior parte dos manuscritos falam de uma degola��o, e o cordeiro est� de p�. agora bem, jesus sabia perfeitamente que pereceria em m�o dos romanos. mas n�o sup�s nem por um instante que seria na cruz da inf�mia, reservada aos criminosos comuns e aos escravos rebeldes. acreditava que figuraria no desfile triunfal de seu vencedor em roma, onde ele apareceria coroado, para logo, segundo o costume, ser degolado como aconteceu com seus tr�gicos predecessores. a alus�o aos sete chifres (o corno era s�mbolo de poder) e aos sete olhos era simplesmente uma alus�o �s sete pontas da coroa �radiada� e �s p�rolas ou �s gemas que a terminavam. que jesus possu�sse uma coroa de cobre entre seus efeitos pessoais n�o �, em si, nada estranho. sua av� Ana, m�e de sua m�e maria, possu�a seu pr�prio diadema real, se dermos cr�dito ao protoevangelio de santiago: �ana se lamentava duplamente, dizendo: �chorarei minha viuvez e minha esterilidade�. mas eis aqui o que aconteceu o dia do senhor; judith, sua faxineira, disse-lhe: at� quando afligir� sua alma? chegou o dia do senhor (o sabbat), e n�o se permite lamentar. vamos, toma esse diadema que me deu a ama de servi�o e que n�o me permite rodear, porque eu sou uma faxineira, e � uma banda real� (abade. e. amann, protoevangelio de santiago, ii, 2). esse tradutor observa com toda justi�a que o termo grego utilizado no manuscrito � kephalodesmion, que designa muito exatamente diadema no sentido etimol�gico da palavra, quer dizer, �a banda mais ou menos adornada que serve para prender os cabelos e que, fixada na parte baixa da tiara persa, converte-se em um ornamento real. n�o sem inten��o, o autor faz que se proponha este adorno � mulher de joaquim. quer fazer pensar muito discretamente na dignidade de ana; s� ela pode levar tal cinta, pois s� a filha dos reis � digna dela�. (op. cit., coment�rio do abade e. amann, tradutor do protoevangelio). e a coroa de cobre dos reis de jud� podia muito bem encontrar-se j� na antonia, com as vestimentas sagradas, a tiara e a roupa do pont�fice de israel, como nos conta flavio josefo: (antig�idades judaicas, xx, i, 1 a 6). al�m disso, os filhos de david reivindicavam tamb�m o poder pontif�cio. em eusebio da cesar�ia lemos o seguinte: �tamb�m jo�o, aquele que repousou sobre o peito do senhor e que foi sacerdote (em hebreu cohen), e que levou o petalon, que foi did�scalo e m�rtir...� (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, vii, xix). o petalon era uma ins�gnia pontif�cia, pr�pria do supremo sacerdote de israel. est� descrito no �xodo (28, 36-38) como uma l�mina de ouro que levava a

inscri��o �consagrado ao yav� e que estava fixado sobre a tiara do pont�fice. por outra parte, e sempre em eusebio, descobrimos um detalhe bastante importante: �tamb�m o trono de santiago, daquele que foi o primeiro em receber do salvador e dos ap�stolos, o episcopado da igreja de jerusal�m, e ao que as divinas escrituras designam em geral como o irm�o de cristo, conservou-se at� a atualidade�. (cf. eusebio da cesar�ia, hist�ria eclesi�stica, vii, xix). agora bem, os tronos episcopais n�o aparecer�o, sob o aspecto de cadeiras de pedra ou de m�rmore, at� que os crist�os possuam bas�licas, quer dizer, no s�culo iv. esse trono, que na opini�o dos exegetas e dos arque�logos devia ser de madeira, e quase com toda seguran�a de cedro, era um sinal de autoridade de santiago, irm�o de jesus, e essa autoridade era tempor�ria, j� que jo�o possu�a a autoridade espiritual (o petalon). era, portanto, um trono real, e n�o uma cadeira episcopal, desconhecida naquela �poca. e ent�o, por que os filhos de david n�o foram possuir uma coroa, se existia entre eles um trono, e sua av� Ana levava �s vezes, nos dias de grande solenidade, um diadema real? assim, � mais que prov�vel que jesus fora crucificado meio doido com essa coroa de cobre. a coroa de ouro ter� que exclui-la, j� que seria confiscada, tendo em conta seu valor, e logo enviada ao tib�rio, e seu peso teria dissuadido aos zelotes de conserv�-la permanentemente no curso de seus movimentos e campanhas. jesus devia lev�-la habitualmente, e este ornamento era o que fazia que as pessoas o reconhecessem como o �filho de david�. ocultou-se este detalhe pelo que se imaginou, muito mais tarde, a coroa de espinhos, cuja morfologia se adaptava perfeitamente a de coroa �radiada� e aos sete chifres do cordeiro vencedor descrito no apocalipse. � conveniente observar, por certo, que unicamente mateus (27, 29), marcos (15, 17), e jo�o (19, 2 e 5) conhecem o epis�dio da coroa de espinhos, em troca lucas o ignora por completo. segundo os tr�s primeiros, impuseram-na � Jesus no pret�rio, no seio da cidadela antonia, enquanto que segundo o evangelho de pedro (6 e 7), foi a multid�o hostil a que lhe coroou com ela, no caminho para o g�lgota, fora da fortaleza. pelo contr�rio, nas ata pilati foi no instante da crucifica��o quando jesus recebeu essa dolorosa diadema: �depois destas coisas, jesus saiu do pret�rio com os dois ladr�es. quando chegou ao lugar designado, lhe despojou de suas vestimentas, lhe rodeou um linteum, e se colocou sobre sua cabe�a uma coroa de espinhos. de maneira similar foram crucificados os dois ladr�es, dimas a sua direita e cestas a sua esquerda�. (op. cit., x). este velho ap�crifo copto � o que mais se aproxima da verdade hist�rica; quando se acabava de cravar o titulus que indicava que se tratava de jesus rei dos judeus� (cf. mateus, 27, 37), p�s ao condenado a coroa de cobre, da que provavelmente se deram procura��o durante o local dos dom�nios de ierahmeel, depois do combate das oliveiras. tal costume se perpetuou durante muito tempo ainda, j� que mais de treze s�culos mais tarde, em 10 de junho de 1358, quando se teve vencido a jacquerie, carlos, o mau, fez coroar a seu chefe, guillermo calot, com um aro de ferro, previamente avermelhado ao vermelho vivo, antes de faz�-lo decapitar. e � que guillermo calot fora proclamado �rei dos jacques� ao princ�pio da insurrei��o. esta coroa de sete pontas adornadas com gemas �, por outra parte, um s�mbolo cl�ssico do reino de deus sobre o universo criado, como sublinham as ora��es judias cotidianas com sua permanente alus�o a tal realeza: �seja louvado, yav� nosso deus, rei do universo, voc� que... etc�tera�. aparece com freq��ncia representada na ornamenta��o lit�rgica do juda�smo tradicional. possu�mos um pequeno relic�rio de ferro forjado descoberto por um de nossos amigos em val�ncia (espanha), e nele domina a abertura de dois portinhas que descobrem um pergaminho aonde est� transcrito ritualmente o nome divino shadai, quer dizer, �todopoderoso�. de fato, as sete pontas ou corno da coroa radiada se referem esotericamente aos sete sephiroth inferiores: geburah (o rigor), hoesed (a miseric�rdia), tipheret (a beleza), netzah (a gl�ria), hod (a vit�ria), iesod (o fundamento), malkuth (o reino). constituem o microprosopio ou �pequeno rosto�, o �casal inferior� da cabala judia tradicional.

esse nome de �coroa� � deste modo o da sephirah suprema, chamada em hebreu kether, ou �soleira da eternidade�. as sete gemas ou p�rolas que coroam as pontas figuram os sete esp�ritos ante o trono (cf. apocalipse, 4, 5), e os sete arcanjos cl�ssicos: miguel (o sol), gabriel (a lua), anael (v�nus), rafael (merc�rio), zaquiel (j�piter), orifiel (saturno), samael (marte). no ritmo quatern�rio, relativo aos arcanjos dos outros elementos, est�o miguel, gabriel, rafael, uriel. ao reivindicar esta coroa, jesus pretendia substituir ao metatron-saar-ha-panim (o �pr�ncipe dos rostos� de deus), ali�s saar-ha-olam (o �pr�ncipe do mundo�), ou saar-ha-gadol (o �grande pr�ncipe�), a quem tamb�m lhe d� o nome de miguel (�semelhante a deus�), chamado na profecia do daniel: �naqueles tempos se levantar� Miguel, o grande pr�ncipe, protetor dos filhos de nosso povo...�. (cf. daniel, 12, 1). neste caso, como podia permitir-se jesus, sem cair em uma heresia blasfemat�ria indiscut�vel, recha�ar a esse grande pr�ncipe, protetor de israel segundo a vontade divina, e reduzi-lo � classe de poder demon�aco, no evangelho do jo�o?: �agora o pr�ncipe deste mundo ser� arrojado fora...� (cf. jo�o, 12, 31). �porque vem o pr�ncipe do mundo, que em mim n�o tem nada...� (cf. jo�o, 14, 30). �o pr�ncipe deste mundo j� est� julgado ...� (cf. jo�o, 16, 11). depois disto, � Igreja ainda lhe ocorrer� constituir uma archicofradia de san miguel, cuja sede se acha precisamente no famoso monte de dito nome (mont saint-michel), a �maravilhosa do ocidente�, e difundir um exorcismo especial colocado sob o patroc�nio do arcanjo. notas complementares observar-se-� que os termos mais freq�entes utilizados nos evangelhos can�nicos para designar os espinhos da coroa s�o (nos originais gregos) akanthon (mateus, 27, 29, e jo�o, 19, 2) e akanthinon (marcos, 15, 17). lucas ignora a exist�ncia da citada coroa. pois bem, esse termo est� muito pr�ximo ao tamb�m grego de akanthos, que designa o acanto ornamental, e n�o ao tem�vel e doloroso rhamus spina christi, de espinhos de oito cent�metros de longitude. porque o acanto possui uma esp�cie espinhosa e outra n�o espinhosa. por outro lado, o grego akane e akan�s designa uma cesta, termos ambos que se aproximam de akanea: espinheiro (arvorezinha). a coroa de espinhos da suposta paix�o seria uma corriqueira e insignificante cesta de barriga para baixo, a que teriam arrancado o fundo? neste caso, no lugar da crucifica��o seria onde teria lugar este ilegal ultraje, mais tarde e por parte dos advers�rios judeus de jesus. porque uma vez crucificado ficava abandonado �s rapinas e urubus de todas as esp�cies, a lei romana j� n�o protegia o cad�ver... o famoso sud�rio do tur�n (existem trinta e nove exemplares...) n�o prova nada, j� que desde sua apari��o, na idade m�dia, a igreja pro�be que se fa�a ostenta��o dele, e o bispo de troyes declarou que recolhera a confiss�o do falsificador que o realizou. 26 - o segredo de sim�o de cirene e logo deus, �s vezes, faz um milagre! pionius adormeceu � m�o de seus verdugos... o sangue de policarpio apagava as chamas de sua fogueira! gustave flaubert, la tentation de saint antoine, iv qualquer que tenha lido o relato da paix�o de jesus sabe que, debilitado pela flagela��o pr�via, n�o p�de levar sua cruz at� o lugar de sua execu��o, e que os legion�rios romanos requereram para isso os servi�os de um tal sim�o, origin�rio de cirenaica. tomemos o texto mesmo dos evangelhos e anotemos cuidadosamente seus m�nimos detalhes: �depois de haver-se divertido com ele, tiraram-lhe o manto, puseram-lhe seus vestidos e lhe levaram a crucificar. ao sair encontraram a um homem de cirene, de nome sim�o, ao qual requereram para que levasse a cruz�. (mateus, 27, 31-32). �depois de haver-se burlado dele, tiraramlhe a p�rpura e lhe vestiram seus pr�prios vestidos. tiraram-lhe para lhe crucificar e requereram a um transeunte, um certo sim�o de cirene, que vinha do

campo, o pai de alexandre e de rufo, para que tomasse a cruz� (marcos 15, 20-21). �quando lhe levavam, jogaram m�o de um certo sim�o de cirene, que vinha do campo, e lhe carregaram com a cruz para que a levasse atr�s de jesus�. (lucas, 23, 26-27). jo�o, em seu evangelho, ignora totalmente a exist�ncia desse sim�o de cirene, e o que � mais ainda, viu o jesus levar ele mesmo sua cruz: �tomaram, pois, ao jesus, que, levando sua cruz, saiu no local chamado calv�rio, que em hebreu se diz g�lgota�. (jo�o, 19, 16-17). assim, o �ap�stolo bem-amado�, a mais poss�vel testemunha ocular dos fatos, n�o viu a n�o ser a um s� portador da cruz patibular, e era o pr�prio jesus. o mesmo acontece nos atos dos ap�stolos e nas ep�stolas, tanto nas do paulo, sim�opedro, ou jo�o como nas do santiago, todos os quais ignoram a esse sim�o de cirene. e muito mais tarde, no s�culo iv, eusebio da cesar�ia, em sua hist�ria eclesi�stica, n�o o menciona tampouco. o que explica que o grand dictionnaire de th�ologie catholique de vacant n�o cont�m nenhuma rubrica com dito nome, e que o dictionnaire de bible de vigouroux se limita a resumir em umas poucas linhas muito breves o que dizem mateus, marcos e lucas. desse sil�ncio um pouco inquietante, e que permitir� sonhar ao exegeta liberal, habituado �s arg�cias dos antigos tabeli�es, daniel-rops consola-se rapidamente declarando: �pode admitir-se que o homem que levou pessoalmente a cruz recebeu dela a gra�a de sua convers�o�. (cf. daniel-rops, jesus em seu tempo, xi). mas se seus filhos alexandre e rufo foram, como se viu, ulteriores disc�pulos de saulo-paulo, que logo se retiraram dentre seus fi�is (i tim�teo, 1, 20; ii tim�teo, 4, 14), isso significa que o cristianismo de paulo n�o correspondia ao que eles esperavam dele, o que nos induz a tirar a conclus�o de que sim�o, seu pai, era um zelote, de onde sua forma��o inicial, que os levou a abandonar a nova religi�o conservadora, pro-romana, e contr�ria � lei de mois�s, do tal saulopaulo. e aqui se exp�e j� uma primeira pergunta. os ensinos e os ritos da igreja cat�lica nos falam de uma �via crucis� com o passar do qual jesus, afligido pelo peso da cruz, caiu ao ch�o no transcurso das quatorze �esta��es� do chamado �caminho�. e se recomenda encarecidamente que se fa�a part�cipe de seus benef�cios aos meninos em idade precoce: �assim, tamb�m um beb� de tr�s ou quatro anos de idade pode efetuar, com intelig�ncia e emo��o, uma r�pido via crucis� (cf. liturgie, paris, 1947, bloud & gay, p. 989). evidentemente, algo do mais apropriado para sua idade! no curso desta reconstitui��o de uma via dolorosa puramente imagin�ria, durante a qual jesus caiu supostamente um certo n�mero de vezes, h� inclusive uma mulher que, ao secar o rosto do mestre, encontrou-se com que este se fixou milagrosamente desenhado sobre o tecido que ela utilizara. a essa santa mulher lhe d� o nome de ver�nica, j� que em latim verax significa verdadeiro, e em grego ikon quer dizer imagem. por outra parte, seria por causa dessas repetidas quedas pelo que o centuri�o exactor mortis, a quem correspondia ordenar todo o aparelho judicial para a execu��o, pediria ao sim�o, o cireneu, que aliviasse de sua carga ao jesus, para lhe permitir assim alcan�ar ainda com vida o lugar da crucifica��o. na leitura dos evangelhos can�nicos e dos vers�culos que citaremos a seguir, constatar-se-� que n�o h� nada de tudo isso, e que nenhum texto apost�lico nos contribui tais detalhes. interessados fabricantes da lenda crist� foram quem, ao longo dos s�culos, imaginaram semelhantes coisas. e como n�o deixaram de adjudicar suculentas indulg�ncias, o �via crucis� se converteu em uma cerim�nia bastante lucrativa, sem omitir o aspecto comercial de seus acess�rios materiais. porque tamb�m os evangelhos ap�crifos mais antigos ignoram, igualmente a seus irm�os os can�nicos, esses detalhes destinados a sensibilizar �s multid�es crentes, assim como a pr�pria exist�ncia de sim�o, o cireneu. e, indevidamente, isso incitar� ao historiador curioso a aprofundar nesse estranho enigma. � evidente que se os legion�rios romanos requeriam a ajuda de sim�o � sa�da do pret�rio (mateus, 27, 31), toda a lenda da via dolorosa se vem abaixo, j� que

nada nos evangelhos evoca a menor queda, nem t�o somente a m�nima dificuldade de marcha por parte de jesus. e, portanto, todo o ritual da �via crucis�, sua solene festa da primeira sexta-feira de mar�o, suas reconstitui��es em jerusal�m durante a semana santa, e em tantas cidades do mundo, s� repousam sobre uma tradi��o mendaz e um simples interesse comercial e tur�stico. e nossa primeira pergunta ser� a seguinte: por que se inventou esse suplemento de sadismo e se acrescentou a um conjunto j� de por si bastante cruel? tudo o que agora vai seguir, permitir� lhe dar uma resposta. quando a gente rel� atentamente, pesando bem todos os termos, certos textos crist�os dos primeiros s�culos, fica surpreso por uma s�rie de afirma��es tendenciosas a consolidar a tradi��o comum, quer dizer, que foi jesus, e em modo algum nenhum outro personagem, quem foi crucificado. coisa que seria bastante sup�rflua se a tradi��o cl�ssica n�o tivesse discutido antigamente. pois bem, vejamos alguns desses textos: �oh, insensatos g�latas! quem lhes fascinou a v�s, ante cujos olhos foi apresentado jesus como morto na cruz?...� (cf. paulo, ep�stola aos g�latas, 3, 1). �foi realmente atravessado por pregos, em sua pr�pria carne, sob o p�ncio pilatos e herodes o tetrarca...� (cf. ignacio da antioquia, ep�stola aos esmirnos, 1). �sabemos que foi ele quem foi crucificado, nos dias de p�ncio pilatos e do pr�ncipe arquelao, e que foi crucificado entre dois ladr�es, e que junto com eles desceram-no da �rvore da cruz e foi sepultado no lugar chamado qaranjo...� (cf. le testament en galil�e, iii, 20; ap�crifo et�ope, imprimatur em paris, 1912). � evidente que se a crucifica��o real de jesus n�o fosse posta jamais em d�vida, essas perempt�rias afirma��es resultariam das mais sup�rfluas. por outro lado, a nega��o do fato surgiu muito em breve, j� que ignacio da antioquia, um dos quatro �padres apost�licos�, era disc�pulo direto de sim�o-pedro, e segundo a tradi��o eclesi�stica viveu dos anos 35 a 107 de nossa era. tamb�m aqui seguimos encontrando nas fontes mesmas do movimento. e outro ap�crifo c�lebre abre uma primeira greta na trama da lenda cl�ssica. julgue-se, na leitura dos atos de jo�o: �essa cruz, pois, re�ne nela todas as coisas com uma palavra, ela as separa das coisas inferiores, e, ao ser �nica, conduz todas as coisas � Unidade. mas n�o � a cruz de madeira que ver� ir daqui! e quem est� sobre a cruz tampouco sou eu, a quem agora n�o v�, e de quem s� ouve a voz. teve-me por quem n�o sou, ao n�o ser o que parecia ser a muitos outros, j� que me tinham por outra coisa, vil e indigna de mim...� (cf. atos de jo�o, xcix). por conseguinte, nesse estranho texto jesus revelaria a seu bem-amado jo�o que n�o foi ele quem viu crucificado na cruz de madeira, a cruz material, a n�o ser outro personagem, vil e indigno de ser sequer renomado. e se o leitor duvida ainda de nossa interpreta��o desta passagem, vejamos o que segue, que contribui ainda mais prova: �entretanto, eu n�o padeci nenhum dos sofrimentos que me viram sofrer... em uma palavra, o que se diz de mim, n�o me aconteceu, e o que n�o se diz, em troca, sofri-o ...� (cf. atos de jo�o, ci). aqui vemos apontar uma interpreta��o oficial a que se deixou um tempo desenvolver-se livremente, a fim de sufocar melhor a verdade hist�rica, muito embara�osa. trata-se da tradi��o gn�stica chamada dos docetas, segundo a qual o corpo de cristo n�o foi a n�o ser uma pura apar�ncia, que o fez assim insens�vel ao sofrimento e � impureza pr�prios da natureza humana. permanece um eco disso em cor�n, o que testemunha que mahoma tamb�m consultou abundantemente velhos documentos gn�sticos no que concerne a sua concep��o do personagem de jesus: �n�o lhe deram morte, n�o lhe crucificaram! um corpo fant�stico enganou a sua barb�rie... os que discutem sobre este respeito n�o t�m mais que incertezas, e a verdadeira ci�ncia n�o lhes ilumina. o que eles seguem � uma opini�o, mas n�o fizeram morrer ao jesus...� (cf. cor�n, iv, 156). esta tradi��o irracional, mas que enfebrecia o entusiasmo dos exaltados da m�stica, foi professada por muito grandes doutores crist�os, gn�sticos ou ortodoxos, at� os s�culos iv e v. de um tratado perdido de hip�lito de roma, reconstru�do a partir dos textos do pseudo-tertuliano (cap�tulo i), de philaster

(diversarum haereseon liber, xxxii), e de epifanio (adversus haereses, xxiv, 1-4 e passim), eug�ne de faye extrai a seguinte conclus�o em seu livro gnostiques et gnosticisme: �conforme diz (hip�lito de roma �n. do a.-), bas�lides teria professado um docetismo extremo em mat�ria de cristologia. esse docetismo n�o tinha em si nada que pudesse sentir saudades � Clemente de alexandria. n�o era muito menos doceta que bas�lides! quem n�o o era mais ou menos no s�culo ii? mas o que n�o deixou de indignar e de excitar seu esp�rito cr�tico seria a f�bula da substitui��o de jesus cristo por sim�o o de cirene. n�o � mais estranho que n�o o mencionasse em nenhuma parte? se verdadeiramente seu autor era o pr�prio bas�lides, como perdera clemente uma ocasi�o t�o boa de confundi-lo? como um agrippa castor n�o faria, pelo menos parece, men��o alguma? carreguemos esta absurda inven��o na conta dos adeptos posteriores da seita, e estaremos provavelmente mais perto da verdade hist�rica ...� (cf. eug�ne de faye, gnostiques et gnosticisme, p. 53). nesta conclus�o do pastor de faye h� possivelmente uma contradi��o. clemente de alexandria provavelmente falou dela, qu�o mesmo agrippa castor, mas os monges copistas os censurariam espontaneamente, enquanto que os encarregados de copiar ao epifano n�o acreditaram �til. por isso � pelo que podemos encontrar esta estranha tradi��o na homilia xx de epifano e em teodoredo (hoer. fob., i), quem nos resume a opini�o de bas�lides: �jesus na realidade n�o se encarnou, simplesmente adotara a apar�ncia de um homem, e, durante a paix�o, burlava-se dos judeus e do crucificado, sem que eles o vissem. logo ascendeu de novo aos c�us, sem ser conhecido nem pelos anjos nem pelos homens...� (cf. epifano, homilia, xxiv). o que demonstra, sem discuss�o poss�vel, que esta afirma��o se transmitiu j� aos meios gn�sticos de sua �poca, e que o c�lebre doutor a utilizava. agora bem, bas�lides ensinou em alexandria por volta dos anos 120-140 de nossa era. assim, tamb�m aqui, encontramo-nos nas fontes mesmas do cristianismo. agora s� fica, pois, examinar mais de perto estes ensinos realmente curiosos. mas, acima de tudo, o que ter� que acreditar de tudo isto? segundo bas�lides, no momento da crucifica��o no g�lgota, jesus �se burlava dos judeus e do crucificado, sem que eles o vissem�. consultemos agora ao paulo, em sua ep�stola aos colossences: �...cancelou a ata escrita contra n�s com suas prescri��es, que nos era contr�ria, e a tirou do meio, cravando-a na cruz; e tendo despojado aos principados e �s potestades, exibiu-os publicamente, triunfando deles pela cruz...� (cf. ep�stola aos colossences, 2, 13). como se v�, para o bas�lides, jesus se burla do crucificado; e, para o paulo, jesus faz brincadeira dos arkontes, cravados � cruz. h� a� mais que um paralelismo, se a gente quer tomar por mol�stia de remeter-se ao que nos dizem os j� citados atos de jo�o, e volt�-los para ler atentamente: �quem est� sobre a cruz tampouco sou eu... o que se diz de mim, n�o me aconteceu... �. e o que estava na cruz era um ser vil, indigno dele... al�m disso, ficam ainda as estranhas afirma��es contr�rias (que n�o se imporiam sem uma raz�o de peso) do testament no galil�e e da ep�stola aos esmirnos, que nos asseguram que foi jesus o crucificado, e que foi realmente sua pr�pria carne a que sofreu esse supl�cio, e n�o outra pessoa. outra tradi��o, que procede diretamente da gnosis ca�nica, pretende que foi judas iscariotes o crucificado em lugar de jesus, esse judas em quem tinha entrado satan�s quando foi devotado o p�o molhado de vinho. e, como novo eco dessa enigm�tica tradi��o, os maniqueos ensinavam que o pr�ncipe das trevas fora crucificado em lugar de jesus... citaremos a este respeito a ep�tre du fondement, de man�s, que nos proporcionam alexandre de lycopolis e evode d�uzale. pois bem, n�s sabemos por fontes fidedignas que o fundador do manique�smo fizera reunir por seus primeiros disc�pulos textos crist�os extremamente antigos, textos que desapareceram com a destrui��o dos seus. vejamos esta passagem: �o inimigo esperava ter crucificado ao salvador, pai dos justos. mas foi ele quem se encontrou crucificado. nesta circunst�ncia a realidade foi muito diferente �s apar�ncias. o pr�ncipe das trevas

se viu, pois, sujeito � cruz; levou com seus companheiros a coroa de espinhos, e foi revestido com as vestimentas de p�rpura. bebeu o fel e o vinagre que, segundo alguns, lhe deu a beber ao salvador. todos os sofrimentos que este pareceu padecer, foram reservados aos tenebrosos arcontes. eles sozinhos foram atravessados pelos pregos e a lan�a...� (cf. evode d�uzale, des croyances manich�enes, 38). � poss�vel que os templ�rios recolhessem em oriente ecos desta estranha tradi��o, o que justificaria � seus olhos o cuspir sobre o crucifixo. mas o que � seguro � que a cruz segura por forquilhas, chamada tamb�m �cruz dos loucos� ou �cruz cornuda�, e que, por isso parece, foi o talism� de wallenstein, aonde fora necessariamente levada como paradigma inici�tico pelos c�taros, bogomilos e neomaniqueos. dito isto, e tendo em conta que os legion�rios romanos com toda seguran�a n�o crucificaram a l�cifer em lugar de jesus, e com raz�o, ter� que admitir que foi sim�o, chamado de cirene, quem tomou seu lugar na cruz. e fez desaparecer essa realidade hist�rica, t�o pouco brilhante, por isso se deu nascimento � lenda do diabo crucificado! tanto em um caso como no outro era, pois, o �ve�culo� carnal do dem�nio o que tinha sofrido o supl�cio da cruz. ter� que reconhecer que tudo isso, uma vez afastado o v�u das fantasmagorias, � bastante estranho. e � mente acode uma pergunta: que fato oculto cuidadosamente, p�de justificar essa enigm�tica quest�o entre exegeta, quest�o da qual quer apartar a todo custo ao simples crente, de onde o volunt�rio aspecto nebuloso de suas afirma��es rec�procas? e uma vez mais ser� Celso, em seu terr�vel discurso verdadeiro, quem nos por� sobre a pista. como amigo de juventude do imperador juliano, sabia, igual ao imperador, h� que atener no que este �ltimo chamava com desprezo os �galileus�, e sobre as origens do cristianismo. � evidente que, ao estar os dois associados a uma rea��o filos�fico-pag�, os arquivos da chancelaria imperial, que normalmente estavam fechados �s pessoas comuns, estavam-lhes totalmente abertos. pois bem, o que nos diz ele? isto, que est� muito claro: �mas como receber como deus �quele que, entre outras coisas � motivo de queixa, n�o realizou nada do que prometera? �quele que, convencido, julgado, e condenado a supl�cio, escapou vergonhosamente, e foi capturado de novo nas condi��es mais humilhantes, gra�as � trai��o daqueles mesmos aos quais ele chamava seus disc�pulos?... (cf. celso, discurso verdadeiro, ii, 16, j.j. pauvert, �dit., paris, 1965). como se observar�, aqui n�o se trata j� de judas iscariotes. aquele n�o desempenhou nenhum papel mais, al�m do da primeira deten��o de jesus, porque em realidade houve dois, com seis semanas de intervalo, como logo veremos. em sua segunda captura, foram alguns de seus �disc�pulos� que o entregaram aos romanos, e tamb�m a estes tentaremos lhes dar um nome. houve, portanto, duas deten��es de jesus, separadas por uma evas�o e uma fuga, o que implica dois processos. e a brevidade de que narram os evangelhos, que � o segundo, brevidade que sempre surpreendeu aos historiadores e que fez correr muita tinta, desprende-se do fato de que n�o consistiu a n�o ser em uma simples e r�pida identifica��o, cujas formalidades legais eram muito singelas. pilatos fez apresentar ao jesus ante o caif�s e os principais sanedritas, que representavam o poder religioso, e saduceu, e logo ante herodes antipas, tetrarca da galil�ia, de quem dependia jesus por seu nascimento (lucas, 23, 7), o que implica que n�o nascera em pres�pio da jud�ia, a n�o ser em pres�pio da galil�ia, pr�xima ao s�foris, p�tria de sua m�e maria. continuando, quando tudo estava como devia ser, pilatos o mandou crucificar sem mais pre�mbulos, e desta vez de maneira definitiva. daniel mass� conta que, em certas vers�es do talmud de babil�nia, leu que jesus foi capturado pela primeira vez seis semanas antes da p�scoa. assim se explicariam as contradi��es entre os evangelhos sin�ticos de mateus, marcos e lucas, e o de jo�o, j� que se trataria do relato de duas fases diferentes do final de jesus. isso justificaria que jo�o n�o fale de sim�o de cirene, qu�o mesmo os outros evangelhos ap�crifos, e o fato de que o evangelho de pedro e outros ap�crifos n�o citem jamais ao judas iscariotes. a raz�o � que uns e outros n�o relatam a mesma fra��o das �ltimas semanas da vida de jesus-bar-juda.

mas, qual foi, ent�o, em realidade, o papel exato de sim�o, o cireneu? observaremos, em primeiro lugar, que a id�ia da substitui��o se acha j� em germe em nossos evangelhos e na trama geral de todos os relatos para-evang�licos, com essa substitui��o de jesus-bar-juda e jesus-bar-abbas. porque, como admitir que este �ltimo, �culpado de assassinato no curso de uma rebeli�o� (marcos, 15, 615), na espera de ser executado na cruz, encarcerado com seus c�mplices, possa ser indultado pelo procurador p�ncio pilatos, verdadeiro �governador � russa�, no sentido que podia dar-se a esse termo na �poca do zarismo? pilatos era um procurador de m�o dura, justo mas implac�vel, que n�o dependia mas sim do legado imperial de s�ria, e por conseguinte era dono absoluto de toda a palestina, dado que, ao ser superior hier�rquico dos tetrarcas colaboradores de roma, estes estavam virtualmente � suas ordens. por que pretender que este homem sentisse escr�pulos frente a um rebelde, que era al�m guerrilheiro com freq�entes tend�ncias ao banditismo puro e simples, e que tocava diferentes meios, entre eles o da prostitui��o? e como podia distinguir e oferecer, no lugar de jesus, a um criminoso qualificado como famoso, e que era igual de indesculp�vel ante as leis de roma? que o leitor se remeta ao cap�tulo 23, �jesus-barrab�s�, e que releia tudo o que contribu�mos sobre a tese negativa da exist�ncia concreta desse tal barrab�s. repetimos, jesus-barrab�s n�o � outro que jesus-bar-juda. da� o fato de que seja ignorado em tantos textos ulteriores. voltemos agora para o sim�o o de cirene, e para isso tomemos o texto grego e suas diversas variantes nos mais antigos manuscritos evang�licos conhecidos: 1�. cireneu aparece neles como kurenaion, traduzido por kureneo no texto grego dos atos dos ap�stolos (2, 10). 2�. diz-se nos evangelhos sin�ticos que sim�o, o cireneu, �voltava do campo�, mas algum de seus manuscritos gregos iniciais nos dizem que �vinha a seu encontro�, por exemplo, o codez bezae, ou codez cantagrigiensis, que � do s�culo v. pois bem, em grego kureo significa encontrar, e esse prefixo figura nos verbos que significam lutar: - kurebasia: combate, pend�ncia, enfrentamento, duelo, viol�ncias; - kurebazo: brigar, combater, lutar, enfrentar-se. n�o procuremos mais! esse termo de kurenaion, ao que quer fazer significar cireneo, n�o resulta ser aqui a n�o ser uma express�o impr�pria, que designa simplesmente o fato de que sim�o n�o voltava absolutamente dos campos, mas sim ia realmente �ao encontro� do man�pulo legion�rio que conduzia ao jesus ao lugar de sua execu��o. e, al�m disso, com o sentido habitual de oposi��o, combate, viol�ncias, etc., tal e como o relata o codez bezae. e a� foi onde jesus conseguiu fugir, no transcurso dessa nova revolta a m�o armada, enquanto que sim�o, chefe do comando zelote liberador, foi capturado pelos romanos, quem imediatamente depois lhe crucificou em lugar de jesus. esses dois fatos, aparentemente distintos, mas perfeitamente relacionado pela l�gica mais absoluta, est�o justificados historicamente por: celso, quem em seu discurso verdadeiro nos diz que jesus conseguiu fugir, e fugir de maneira vergonhosa, j� que seu liberador sim�o de cirene foi crucificado em seu lugar, tal como contam: bas�lides de alexandria, em seu evaggelion, citado por hip�lito de roma, s�o epifano e teodoredo, e que assim, segundo o ao flavio josefo, em suas antig�idades judaicas e sua guerra dos judeus, com o combate do monte garitzim, na samaria. mas observemos j� o fato de que n�o deixa de ser do mais surpreendente que o �filho de deus�, vindo livremente aqui embaixo para oferecer-se em sacrif�cio e aplacar a c�lera de seu pai, aproveitasse a primeira ocasi�o para fugir, e permitir que crucificassem em seu lugar a seu humilde liberador. sobre o per�odo da vida de jesus que se estende desde essa evas�o at� sua captura definitiva, obtemos o seguinte de flavio josefo; mas, em primeiro lugar, precisemos a data exata. em jesus ou o segredo mortal dos templ�rios, nos aderimos � tese do ano 35 de nossa era (789 de roma, segundo varron) para a morte de jesus.

vejamos, pois, o que diz flavio josefo: �os samaritanos n�o careceram tampouco de dist�rbios, pois estavam incitados por um homem que n�o considerava grave o mentir, e que o combinava tudo com finalidade de agradar ao povo. ordenou-lhes que subissem com ele ao monte garitzim, ao que t�m como a mais santa das montanhas, lhes assegurando com veem�ncia que, uma vez chegassem ali, mostraria uns copos sagrados enterrados por mois�s, quem os tinha colocado ali em dep�sito. eles, acreditando que suas palavras eram ver�dicas, tomaram as armas, e, depois de instalar-se em um povo chamado tirathana, aderiram � quantas pessoas puderam recolher, de forma que iniciaram a ascens�o da montanha em massa. mas pilatos se apressou a ocupar com antecipa��o o caminho pelo que deviam efetuar a ascens�o, e enviou ali cavaleiros e soldados � p�, e estes, carregando contra as pessoas que se reuniram ao povo, mataram uns na refrega, puseram outros em fuga, e a muitos os levaram prisioneiros, os principais dos quais foram executados por ordem de pilatos, assim como os mais influentes dentre os fugitivos�. (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xviii, iv, 1, manuscrito grego). sobre o lugar da deten��o de jesus depois desta aventura do monte garitzim, sobre as pr�prias condi��es nas quais foi capturado, encontramos o seguinte no talmud de jerusal�m: �para melhor espiar ao sedutor (das multid�es), ocultou-se � duas testemunhas na c�mara do fundo, e colocou ao acusado na c�mara exterior, deixando arder uma luz a seu lado, a fim de poder v�-lo enquanto se escutava sua voz... assim se fez com o ben sotada na lydda! ocultou-se, para espi�-lo, a dois s�bios doutores, logo lhe conduziu (em seguida) ante o tribunal, e foi lapidado� (cf. talmud de jerusal�m, sanedr�n, 25, cf. yebamoth 15 d.). sabemos que o apelido do ben sotada, em hebreu �filho da separa��o�, � um ep�teto injurioso que os talmudistas aplicaram ao jesus da� em diante, durante suas pol�micas crist�s que formavam os disc�pulos de saulo-paulo. o motivo era que jesus descendia, atrav�s de salom�o, de david, e de betsab�, quer dizer, de um casal ad�ltero e assassino, o primeiro por ter mandado matar urias, marido da segunda, que consentiu isso; portanto, trata-se efetivamente de nosso personagem, e n�o de um hom�nimo. por outra parte, esta passagem nos d� o lugar de sua captura final: lydda, cidade situada a trinta quil�metros do monte garitzim, no caminho de jerusal�m ao joppe. por �ltimo, primeiro foi capturado e interrogado por seus advers�rios saduceus nessa mesma cidade, e logo entregue por eles aos romanos. o que coincide com o relato de celso em seu discurso verdadeiro, s� que confunde a trai��o de judas e a dos saduceus, a quem toma por disc�pulos de jesus. pelo contr�rio, o talmud de jerusal�m pretende que foi lapidado, com o fim de ocultar a crucifica��o por parte dos romanos de um �filho de david� que lhes fora entregue pelos saduceus. isto n�o lhes parecia muito honor�vel, e al�m disso era ilegal. � prov�vel que os saduceus cedessem ante o medo � repres�lias romanas em caso de negarem-se. mas, como se v�, as diversas migalhas de informa��o que nos chegaram de fontes diversas: judias gerais com o talmud, particulares com o flavio josefo, romanas com o celso, concordam todas perfeitamente, inclu�da essa suposta em liberdade por parte de pilatos, imaginada pelos monges bizantinos, e depois continuada pelos copistas da vers�o eslava, para dissimular melhor a fuga de jesus � Samaria. logo pilatos caiu em desgra�a ante o vitelio, c�nsul e governador de s�ria, por motivos que logo analisaremos: conforme parece, foi devido �s queixas desses samaritanos. j� veremos o que devemos acreditar de tudo isso. recorreu pilatos ao cesare apello, a apela��o ao c�sar, privil�gio de todo cidad�o romano, e seu em especial, por ser amicus caesaris? � muito poss�vel. mas, do mesmo modo, tamb�m vitelio p�de n�o querer lhe aplicar uma san��o por si mesmo, e remeter-se ao imperador, neste caso tib�rio, que j� estaria devidamente informado. seja o que for, pilatos embarcou em dire��o � Roma, aonde, entretanto, n�o chegou at� depois da morte do imperador, que n�o devemos esquecer que se converteu em seu sogro por alian�a, ao haver-se casado (segundo certas tradi��es) em terceiras n�pcias com julia, av� de sua esposa claudia procula. este �bito foi,

evidentemente, muito contr�rio para pilatos, como veremos a seguir. de todo modo, aqui abriremos um par�ntese. al�m de flavio josefo, de fil�n de alexandria e dos textos neo-testament�rios (evangelhos, atos apost�licos, t�o can�nicos como ap�crifos), p�ncio pilatos, procurador da jud�ia, s� aparece citado em t�cito, em seus anais, libero xv, xliv. o que induz a certos historiadores racionalistas a negar sua exist�ncia real. � muito f�cil lhe dar uma resposta a isto: t�cito n�o nos d� os nomes de todos os procuradores que governaram jud�ia, e isso n�o significa que roma deixasse �s vezes a essa prov�ncia, t�o dif�cil de governar, sem seu representante. pois bem, n�s conhecemos os nomes de todos os procuradores, mas s� atrav�s de flavio josefo, e pilatos figura efetivamente entre eles, em v�rias fases de ditos relatos. al�m disso, possui-se a placa dedicat�ria de um edif�cio constru�do em cesar�ia mar�tima em honra do imperador tib�rio. em tal inscri��o permanecem ainda leg�veis os nomes de tib�rio e de p�ncio pilatos. essa placa se conserva na atualidade no museu de israel, em jerusal�m, e responde �s d�vidas sobre a exist�ncia do procurador. pois bem, como dissemos antes, tib�rio faleceu em 16 de mar�o do ano 37 de nossa era, em misena. se os fatos de samaria relatados antes por flavio josefo se desenvolveram nos primeiros meses do ano 35, pode admitir-se que a queixa dos samaritanos (se foi esse o verdadeiro motivo da queda em desgra�a de pilatos, o que � muito duvidoso, como logo veremos) n�o foi levada ao governador de s�ria nem admitida at� v�rios meses depois de tais acontecimentos. porque vitelio jamais admitiria que se exigisse dele uma resposta imediata. ent�o se ordenou uma investiga��o sobre os fatos alegados. a prud�ncia romana n�o podia deixar descuidada � Samaria, prov�ncia em geral pac�fica. quanto tempo se demorou, depois da admiss�o dessa queixa, em decidir tal investiga��o? quanto tempo durou? quanto tempo transcorreu entre seus in�cios e a decis�o do governador vitelio de enviar pilatos ante tib�rio c�sar? quantas semanas, ou inclusive meses, passaram desde que se decidiu envi�-lo � Roma, at� que se embarcou? e quantas semanas no mar, desde sua partida at� a morte de tib�rio? entre o final de jesus, em abril do ano 35, e o de tib�rio, em mar�o do 37, transcorreram dois anos. se recordarmos que entre a apela��o ao c�sar formulada por saulo-paulo em cesar�ia mar�tima e a senten�a final em roma passaram-se no m�nimo trinta e dois meses, na opini�o dos exegetas cat�licos mais qualificados, o lapso de tempo comprometido pelos fatos antes citados n�o pode ser mais plaus�vel, e inclusive resulta muito breve. e agora voltamos para epis�dio narrado por flavio josefo. quem era esse impostor (termo usado por arnauld d�andilly em sua tradu��o do grego) que amotinou aos samaritanos? por que, se se tratava era simplesmente de encontrar uns copos sagrados ocultos antigamente pelo mois�s, mandou-lhes tomar as armas? e esse impostor, de onde vinha? a resposta � f�cil. chamava-se jesus... e vinha, naturalmente, da jud�ia, mais exatamente de jerusal�m, de onde fugira depois de sua libera��o pelos zelotes, deixando que crucificassem em seu lugar a seu chefe, sim�o, mais tarde chamado �de cirene�. a tradu��o de arnauld d�andilly nos diz que pilatos �capturou alguns, e mandou cortar a cabe�a dos principais ...�. esse tipo de execu��o se reservava geralmente aos prisioneiros executados no pr�prio campo de batalha, j� que suas cabe�as levavam a autoridade interessada, como prova. n�o foi isso, evidentemente, o que se aplicou ao jesus, j� que segundo nos diz foi �entregue pelos seus� (cf. celso, op. cit.). a fim de mostrar ao povo judeu que roma tinha sempre a �ltima palavra, tiveram-no encadeado a jerusal�m, e depois de hav�-lo apresentado rapidamente �s tr�s autoridades legais para sua identifica��o, crucificaram-no, desta vez definitivamente, tal como o descrevemos j� em uma de nossas obras precedentes. e isso justifica, al�m disso, que se citem dois lugares como convoca��o de sua crucifica��o. nos evangelhos can�nicos tratase do g�lgota, ao noroeste da cidade, imediatamente depois da guerra do efraim. nas ata pilati trata-se do monte das oliveiras, ao leste de jerusal�m, depois de ter franqueado a porta dourada. a evas�o teve lugar, for�osamente, enquanto

conduziam jesus para o g�lgota, e a verdadeira crucifica��o teve lugar, portanto, nas oliveiras. agora veremos por que: daniel-rops, em jesus em seu tempo, cap�tulo x, descreve-nos o lugar onde se desenvolveu o pseudo-epis�dio da mofa, no curso do qual os veteranos da coorte se burlaram de jesus, �rei dos judeus�. nesse lugar h� uma esp�cie de mosaico chamado lithostrotos. pois bem, este se encontra situado �em um �ngulo do p�tio de antonia, perto de uma escada que conduzia ao corpo de guarda�, conforme segue nos precisando daniel-rops. assim, para ir � G�lgota, jesus passou com sua escolta legion�ria por diante da porta do norte, de onde sa�a precisamente o caminho que conduzia � Samaria. e saiu da cidadela antonia, e n�o do pal�cio de herodes, que se convertera em resid�ncia do procurador. pelo contr�rio, na segunda e definitiva sa�da para seu destino, foi desta �ltima convoca��o de onde se encaminhou para o monte das oliveiras, ou, mais provavelmente ainda, para o cemit�rio ritual de tal nome. dessas duas fases distintas das �ltimas semanas de jesus, desses dois processos, tentou-se real�ar um s� relato, com o fim de escamotear certa evas�o, bastante irritante em um �filho de deus�. e isso explica as incoer�ncias, as contradi��es e as diverg�ncias existentes entre os textos neo-testament�rios. al�m disso, nos meios gn�sticos, que logo escapariam � disciplina escritur�ria da grande igreja, nasceria dessas mesmas mesclas t�o torpes uma tradi��o bastarda que, ao perpetuar-se, contaria que jesus n�o apareceu na cruz, a n�o ser um tal sim�o, chamado �de cirene�, quem tamb�m teria levado �a cruz de jesus�. a levou, isso � certo, mas n�o no sentido que se daria a esta express�o nos futuros acertos dos evangelhos. porque quando bas�lides de alexandria, que era disc�pulo de glaucia, que por sua vez era disc�pulo de sim�o-pedro, afirma-nos que �tudo aconteceu como dizem os evangelhos�, se tivermos em conta que para ele n�o foi jesus o crucificado, a n�o ser sim�o �de cirene�, este fato nos demonstra ipso facto que tais evangelhos n�o s�o os que chegaram at� n�s, e que estes �ltimos n�o s�o outra coisa que textos manipulados, elaborados no s�culo iv sob a vigil�ncia de eusebio da cesar�ia. em sua �poca, por volta dos anos 120-140 de nossa era, havia outros evangelhos, que desapareceram no s�culo iv, e � a eles aos quais faz alus�o bas�lides. agora fica por estudar as condi��es daquela libera��o moment�nea de jesus, libera��o que � �bvio que s� p�de produzir-se com a ajuda de numerosas cumplicidades, e, sobretudo, com o acordo t�cito de autoridades romanas, acordo secreto sem o qual a evas�o n�o podia sair bem. e tamb�m aqui, como dizia byron, a verdade � sempre estranha, mais estranha que a fic��o... 27- a evas�o de jesus com uma mentira como est�mulo, pesca-se uma carpa de verdade... shakespeare, hamlet se algu�m consulta numerosos indique b�blicos, constatar� que um dos vers�culos mais assombrosos do novo testamento n�o aparece mencionado neles. com efeito, se um busca a palavra �liberar�, a palavra �pilatos�, ou o termo �liberar�, v�-se for�ado a constatar que o vers�culo 12 do cap�tulo 19 do evangelho de jo�o n�o t�m nenhuma refer�ncia. e isso conduz ao historiador, curioso por natureza, e mais ainda se for imparcial, a procurar o porqu� dessa estranha omiss�o. vejamos, pois, essa passagem: �ap�s, pilatos procurar� liberar ao jesus...� (cf. jo�o, 19, 12). mateus (27, 11-31), e marcos (15, 1-20) d�o a entender a mesma inten��o de parte do procurador. mas em troca lucas � igualmente categ�rico como jo�o: �de novo pilatos se dirigiu a eles, querendo liberar ao jesus...� (cf. lucas, 23, 20). tomemos agora o manuscrito eslavo da guerra dos judeus de flavio josefo, que nesta vers�o se intitula a tomada de jerusal�m. trata-se de uma transcri��o efetuada pelos monges ortodoxos na idade m�dia; os manuscritos datam dos s�culos xv e xvi, sobre c�pias perdidas dos s�culos xi-xii. a c�lebre interpola��o relativa ao jesus, que figurava habitualmente nas vers�es gregas e �rabes das antig�idades judaicas, foi transferida aqui pelos escribas bizantinos nos s�culos iv e v, o que constitui com toda seguran�a a melhor prova dessa manipula��o

intencional. pois bem, na passagem que trata da insurrei��o samaritana do monte garitzim, j� relatada, lemos o que segue, e s�o os monges copistas ortodoxos os respons�veis: �este (pilatos) enviou homens, matou a muitos entre o povo, e se apoderou daquele fazedor de milagres. investigou sobre ele e soube que fazia o bem e n�o o mal, que n�o era nem rebelde nem �vido do poder real, e lhe soltou, porque tinha curado a sua mulher, que morria. e quando retornou ao lugar de costume, continuou fazendo ali as obras acostumadas. e de novo, como grande n�mero de gente se reuniam em torno dele, foi renomado por suas obras por cima de todos�. (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, manuscrito eslavo, ii, 4). esta passagem � uma interpreta��o livre do mateus, 27, 19. t�nhamos ou n�o t�nhamos raz�o, leitor, ao afirmar que o homem que revoltou aos samaritanos fez tomar as armas sob um falacioso pretexto, entrincheirou-se em tirathana e foi finalmente capturado, n�o era outro que jesus? e nos diz que pilatos o soltou. cometer�amos um grande equ�voco se supus�ramos que o que acabamos de revelar aqui ao p�blico em geral o ignoravam os exegetas cat�licos e protestantes. o fato de n�o mencionar nos indique b�blicos essa inten��o de pilatos de liberar o jesus constitui a prova disso. e mais quando daniel-rops, historiador oficial da igreja cat�lica, confessa-nos em jesus em seu tempo: �ele (pilatos) n�o desejava outra coisa que a libera��o de jesus...�, e �mais que nunca quisesse soltar �quele profeta que invocava o poder divino...� (op. cit., le proc�s de j�sus x, ecce homo). quisesse? mas se j� o tinha feito uma vez! por outra parte, epifano, em seu de fide, aludindo ao culto que se celebra (em sua �poca) �em certos lugares� durante a semana da paix�o, na quinta-feira santa, � nona hora, sabe de uma tradi��o transmitida por alguns que afirmam que �essa quinta-feira, para a nona hora, os ap�stolos puderam reunir-se com jesus em segredo, e este efetuou com eles em sua pris�o a fra��o do p�o�. (cf. epifano, de fide, fragmentos publicados por holl, p. 206, 17-20), e citados por annie jaubert, em la date da c�ne, p. 88). este surpreendente epis�dio nos confirma isso victoris, bispo de poetovio, em pannonia, falecido no ano 304, em seu tratado de fabrica mundi. � perfeitamente evidente que para penetrar, e al�m v�rias pessoas, no calabou�o de um prisioneiro do estado, ter� que gozar de poderosos amparos, ou de cumplicidades t�citas. pois bem, al�m da benevol�ncia secreta do procurador, jesus tinha poderosos protetores no partido fariseu, vale citar nicodemos, �um dos principais entre os judeus� (cf. jo�o, 3, 1), o que d� a entender que era membro do sanedr�n, ou a esses fariseus an�nimos que v�o advertir jesus de que antipas tem a inten��o de faz�-lo assassinar (cf. lucas, 13, 31). de fato, n�o tinha outros advers�rios que os saduceus, seita que agrupava � classe materialista, rica, colaboradora de roma e inimizade dos zelotes. se a esses partid�rios lhes acrescenta as influ�ncias femininas, nada desprez�veis, para citar s� Salom� Ii, princesa herodiana, vi�va de herodes filipo, enteada e ao mesmo tempo sobrinha de herodes antipas, e iochanah (juana), mulher de chuza, intendente do mesmo tetrarca, e claudia procula, esposa de pilatos, constatar-se-� que n�o est� abandonado no mundo das esferas oficiais influentes (cf. jesus ou o segredo mortal dos templ�rios, p�gs. 289 a 303; o homem que criou jesus cristo, p�gs. 183 a 202). e mais, entre salom� Ii e jesus existiram umas rela��es muito estreitas; est�o testemunhadas por um evangelho muito antigo, que se acreditava que tinha desaparecido para sempre, e que providencialmente foi encontrado de novo no alto egito, em nag-hamadi, no ano 1947. o manuscrito � do s�culo iv, est� redigido em copto, sobre um texto inicial de princ�pios do s�culo iii. e nele lemos este desanimador vers�culo: �jesus disse: �dois repousar�o l�, sobre um leito... um morrer�, o outro viver�! e salom� disse: �e voc� quem �, homem? de quem saistes para te haver metido em minha cama e ter comido em minha mesa?...�.� (cf. evangelho de tom�s, f�lio 43, vers�culo 65). isto nos parece muito claro. porque a hip�tese de um leito para comer, dos utilizados nos banquetes antigos, n�o � rent�vel. as mulheres estavam sentadas, os homens deitados, elas n�o tinham leito pr�prio, e se se recostavam depois do

festim, era por convite do homem (cf. petronio, o satiric�n, 67). por outro lado, pode admitir-se que no talmud, e para evitar ser condenados � fogueira por crime de lesa majestade divina, os talmudistas dispersassem tudo que concernia ao jesus e situassem todas as passagens que se referem a ele em �pocas diferentes. assim podiam arg�ir que o jesus que eles desprezavam n�o era o mesmo ao qual os crist�os deificaram. uma singela ordem oral, integrada na tradi��o secreta rab�nica, permitia ent�o aos iniciados estabelecer a verdade hist�rica. e ante os ju�zes reais ou ante a inquisi��o, sempre podiam jogar com as palavras e sair bem liberados do atoleiro. no talmud de jerusal�m, por exemplo, lemos o seguinte: �rabbi abun disse: �em presen�a de um partid�rio e de um renegado que deseje voltar a ser judeu, este �ltimo ter� a prioridade, a causa do fato sobrevindo�.� (cf. talmud de jerusal�m, volume 6, tratado horaioth, iii). � indubit�vel que o jesus evocado aqui � o mesmo do novo testamento, embora o fato de associ�-lo ao josu�-Ben-parabia tenda a dissociar o dele. com efeito, josu�-Ben-parabia viveu no ano 60 antes de nossa era. mas, admitindo que outro jesus fosse herege naquela �poca, n�o se v� bem como, no s�culo iv, o fato de ser recha�ado em sua peti��o de reintegra��o ao juda�smo p�de ser �grave por suas conseq��ncias� para os judeus de ent�o. o �nico que corresponde a essa defini��o � o nosso. foi de sua hist�ria de onde sa�ram todas as persegui��es e as matan�as que israel teve que sofrer durante s�culos. al�m disso, todos os jesus citados como hereges no talmud foram executados numa v�spera de p�scoa. e essa � a chave que permite aos rabinos talmudistas orientar-se nesse esoterismo hist�rico. basta saber, porque s� os romanos se permitiam violar assim a santidade da semana pascal. agora bem, no ano 60 a jud�ia n�o era ainda prov�ncia romana, e n�o o seria at� o ano 69, com a entrada de pompeyo em jerusal�m. voltemos para a libera��o de jesus, afirmada pelos monges copistas ortodoxos. imaginar que este homem, cuja captura nas oliveiras exigiu a mobiliza��o de uma coorte de veteranos, quer dizer, de seiscentos soldados de elite, acompanhados de um importante destacamento de milicianos do templo, e dirigidos por um tribuno militar, magistrado com classe de c�nsul, repito, imaginar que este homem p�de ter sido posto em liberdade pelo procurador de roma � vista e em presen�a de toda a cidade de jerusal�m, guarni��o inclu�da, � um perfeito disparate. qu�o �nico p�de fazer pilatos � facilitar uma evas�o, adotando todas as medidas oportunas para que esta fosse um �xito: debilidade num�rica da escolta de execu��o, elei��o de um lugar e um itiner�rio especialmente prop�cios para uma fuga, acordo secreto com os partid�rios, e acordo tamb�m com o interessado no que diz respeito a seu desaparecimento e a sua neutralidade atr�s dessa discreta �libera��o�. e isso foi o que aconteceu em parte. os arquivos do imp�rio romano compreendiam diversos tipos de documentos. estavam as atas do senado, o jornal de roma, e os arquivos imperiais. estes �ltimos estavam compostos por notas redigidas pelo imperador ou por seus secret�rios, e os relat�rios confidenciais enviados a roma pelos legados imperiais, governadores de prov�ncias, etc. o pr�prio t�cito, apesar do favor de que gozava por parte dos imperadores nerva e logo trajano, jamais p�de inteirar do conte�do de tais arquivos imperiais (coment�rios principais), (cf. h. goelzer, tacite, annales, introduction, xii-xiii), e foi o papa greg�rio i quem os mandou destruir, como dissemos antes. agora bem, houve um homem que, indubitavelmente, foi autorizado a informarse nesses documentos confidenciais, e foi celsus, ali�s celso, o �terceiro celso�, geralmente ignorado pelos historiadores oficiais, e com raz�o. celso, amigo do imperador juliano, seu companheiro de estudos nas escolas de atenas, aluno, amigo e companheiro de libanio, e a quem julio c�sar fez governador das prov�ncias da capadocia e cil�cia, pretor de bitinia, colaborou com o imperador na rea��o pag� que se desenvolveu do ano 361 a 363. aparece citado por amiano marcelino e por libanio, contempor�neos deles, assim como por paul allard, historiador cat�lico,

em seu livro julien. enquanto o jovem imperador (a quem os crist�os denominariam o ap�stata depois de faz�-lo assassinar) redigia seu livro contra os galileus, celso compunha seu famoso discurso intitulado alet�s logos ou discurso verdadeiro, logo mais conhecido com o nome de contra os crist�os; e pode admitir-se perfeitamente que seu poderoso amigo juliano, para esta colabora��o, abrir-lhe-ia os arquivos imperiais sem nenhuma dificuldade, ao menos no que correspondia ao per�odo sobre o que versava o trabalho que preparava celso, quer dizer, os onze anos do procurador p�ncio pilatos. e no discurso de verdade ou discurso verdadeiro descobrimos esta surpreendente passagem j� citada: �mas como receber como deus �quele que, entre outras coisas motivo de queixa, n�o realizou nada do que prometera? �quele que, convencido, julgado e condenado ao supl�cio, escapou vergonhosamente, e foi capturado de novo nas condi��es mais humilhantes, gra�as � trai��o daqueles mesmos aos quais ele chamava seus disc�pulos...� (cf. celso, discurso verdadeiro, ii, 16). que se tranq�ilize o leitor, logo conheceremos o nome do segundo traidor que entregou jesus. esta evas�o se conseguiu gra�as � cumplicidade t�cita de p�ncio pilatos, e provavelmente tamb�m de herodes antipas, tetrarca bonach�o, indeciso e ardiloso, que possivelmente cedeu �s inst�ncias de sua sobrinha e enteada salom� Ii, assim como de pilatos e claudia procula. sobre a cumplicidade de pilatos existe ainda um documento, um velho ap�crifo do s�culo vi, apoiado em um texto inicial muito mais antigo, e que recebe o nome de pseudo-marcellus. imprimatur de 8-9-1921, paris, letouzey & an� �dit., paris, 1922). nos atos de pedro se fala de uma carta que p�ncio pilatos teria dirigido ao imperador claudio, e que figura no pseudo-marcellus. �foi sugerida pelo tertuliano, ou corria j� em certos c�rculos crist�os?...�, pergunta-se o abade vouaux. n�o pode dizer-se nada a respeito. mas uma alus�o surpreendente j� a primeira vista, e � o fato de que p�ncio pilatos dirigisse uma carta ao imperador claudio. porque pilatos morreu em vienne no ano 39, e claudio n�o foi imperador at� o ano 41. pensamos que se trata de um aplique de um copista muito ciumento. n�o � imposs�vel que pilatos redigisse um relat�rio (e n�o uma carta) dirigido � aten��o de claudio, mas este �ltimo ainda n�o era imperador. n�o esque�amos que este passou por vienne ao ir combater aos bret�es, quando pilatos estava ainda deportado nesta cidade (ou muito perto dela), no ano 39. este relat�rio, provavelmente uma queixa ou justifica��o, pilatos o teria redigido com a esperan�a de obter seu progresso, perdoado, quando claudio passasse por vienne, sendo ent�o legado imperial e c�nsul. no texto do pseudo-marcellus que chegou at� n�s (e que provavelmente foi h�bil e embelezado pelos escribas an�nimos em suas posteriores resenhas), pilatos recorda os milagres de jesus, o �dio dos pr�ncipes, dos sacerdotes, sua crucifica��o e sua ressurrei��o, que os judeus teriam tentado fazer passar por uma mentira de parte dos guarianes. deixemos essa verborr�ia e tenhamos em conta que com toda probabilidade pilatos dirigiu um relat�rio justificativo ao claudio, ent�o simples c�nsul. a benevol�ncia do procurador para com o jesus seria justificada pelo fato de que tib�rio, em um momento de seu reinado, teve a id�ia de dar a tetrarquia de herodes filipo, que acabava de ser destitu�do (no ano 34 de nossa era), ao jesus, com o fim de aplacar a resist�ncia judia latente, ao lhes dar um �filho de david� como soberano de batanea, tracon�tide, gaulan�tide e auran�tide. dois evangelhos nos contam este fato, o de jo�o (6, 15), e o conhecido como evangelho dos doze ap�stolos fragmento ii. este �ltimo estava considerado pelo grande or�genes como muito anterior ao de lucas. por outra parte, o que confirma esta decis�o de tib�rio (que fracassou a conseq��ncia de intrigas locais na palestina), � que uma histoire da ville de vienne, de mermet, sen., (paris, 1828, didot �dit.), cont�m uma hist�ria in�dita da cidade de vienne sob os doze c�sares de um tal trebonius rufinus, senador romano, dirigida ao c. plino coecilio secundo. trebonius rufinus diz ser antigo administrador da cidade de vienne. este texto dataria do ano 109 ou 110 de nossa

era. nele pode ler-se, no cap�tulo vii do livro vi, que tib�rio tinha proposto ao senado de roma que admitissem ao jesus na classe dos deuses do imp�rio. depois de um exame atento da informa��o que possu�am, o senado recha�ou essa proposta, porque lhes parecia inconveniente deificar, qu�o mesmo a um c�sar romano, a um indiv�duo que fora submetido ao supl�cio reservado aos rebeldes e aos escravos, e al�m por senten�a de um procurador de roma. v�m a seguir algumas linhas sobre as persegui��es que tiveram lugar sob o nero. de todo modo, e para ser objetivo, conv�m assinalar que o que pretendia tib�rio n�o era proclamar ao jesus como deus no sentido que lhe d�o ao termo os crist�os atuais. n�o se tratava mas sim da apoteose, quer dizer, da apoteose ou glorifica��o p�stuma que elevava a um morto � categoria dos her�is divinizados; zeus conservava o primeiro lugar na teogonia secular. para tib�rio, este fato carecia de import�ncia; suetonio nos diz dele que tinha estudado astrologia em rodas, com o astr�logo trasilo como professor, e que era �indiferente aos deuses e � religi�o, j� que se entregava � astrologia e acreditava firmemente que tudo obedecia � Fatalidade...�. (cf. suetonio, vida dos doze c�sares, tib�rio, xiv e lxix). � evidente que, se este fato for ver�dico, os padres recrutas, respons�veis pela gl�ria do imp�rio, n�o podiam p�r no mesmo pedestal a um rebelde judeu e a augusto, o maior de seus imperadores. isto deveria lhes parecer impens�vel, ou inclusive ofensivo. mas um se perguntar� atrav�s de quem tinha ouvido tib�rio falar de jesus? pois simplesmente atrav�s de um relat�rio de pilatos. quando teve lugar a destitui��o de herodes filipo, por ocasi�o da den�ncia de um pseudo-compl� feita por seu primo irm�o herodes antipas, o procurador teve que prestar contas dos acontecimentos que a motivaram. provavelmente foi consultado sobre a elei��o do poss�vel sucessor. impulsionado por sua esposa claudia procula, possivelmente amiga de salom� Ii (os membros da alta sociedade, como � natural, freq�entavam-se, fosse qual fosse sua origem), p�de sugerir ao jesus. isso explicaria que fora primeiro inimigo de herodes antipas, quem esperava ser o herdeiro dos bens de seu primo irm�o. porque essa hostilidade aparece testemunhada nos evangelhos can�nicos: �naquele dia se fizeram amigos um do outro, herodes e pilatos, pois antes eram inimigos�. (cf. lucas, 23, 12). entretanto, possivelmente h� algo mais que essas rela��es entre pilatos e tib�rio, ou sua esposa claudia procula, ou salom� Ii. com efeito, consultemos de novo o evangelho dos doze ap�stolos, e voltemos para esse epis�dio da investiga��o de tib�rio sobre o jesus, relatada em nossa primeira obra. carios, enviado do imperador, tinha como miss�o estabelecer essa rela��o, com o fim de nomear ao jesus tetrarca, substituindo ao herodes filipo, destitu�do dessa dignidade. e vejamos o que diz j� sobre isso esse misterioso evangelho: �quanto ao carios, enviou junto ao imperador ao ap�stolo jo�o, quem lhe relatou muitas coisas a respeito de jesus. o imperador tib�rio concedeu grandes honras ao jo�o e escreveu, sobre jesus, que tomassem para faz�-lo rei, segundo o que est� escrito nos evangelhos, ou seja: �e jesus, conhecendo que viriam para lhe arrebatar e lhe fazer rei, retirou-se outra vez ao monte, ele sozinho...�.� (cf. jo�o, 6, 15). temos, pois, que o evangelho dos doze ap�stolos confirma o que j� nos dizia outro ap�crifo copto, os atos de pilatos. e em um fragmento conservado na biblioteca nacional de paris (manuscrito nro. 129/17, f�lio 10), o mesmo evangelho dos doze ap�stolos contribui ainda outra precis�o: �depois deste tempo, quando tib�rio c�sar passou (pela palestina), herodes o tetrarca foi encontrar-se com ele, sendo pilatos o prefeito da jud�ia...�. sem d�vida n�o se encontra nenhuma estadia concreta de tib�rio na jud�ia. mas antes de ser imperador viajou muito. nasceu em roma em 16 de novembro do ano 42 antes de nossa era, converteu-se em imperador no ano 14 de nossa era, morreu em misene em 16 de mar�o de 37. foi c�nsul no �20, e aquele mesmo ano foi � Arm�nia para restaurar ali o reino de tigrano. logo foi governador de galia transalpina, e no ano �15 foi respaldar ao druso com as legi�es de rin e de danubio. do �15 aos �9 obteve numerosas vit�rias sobre os ilirios e os panonios. no �12 se casou com

julia i, filha de augusto, foi adotado por este imperador no ano 4 de nossa era, e viveu ent�o, do �16 at� o 4 de nossa era, na ilha de rodas, pois se afastou rapidamente de sua esposa, por causa de seus adult�rios. quando retornou � Roma, no ano 4, partiu para a conquista da germania setentrional e chegou at� o curso inferior de elba. no ano 6 de nossa era efetuou campanhas nas b�lc�s e em iliria. em 14 foi imperador, e se retirou em 27 � ilha de capri. pois bem, rodas est� a pouco mais de 700 km. da cesar�ia mar�tima, e isso s� representava uns dez dias de navega��o, naquela �poca. por que tib�rio n�o teria que estar jamais na palestina, se esteve em arm�nia, e logo em rodas, mais perto? deste homem n�o sabemos tudo; os anais de t�cito n�o come�am, em seu primeiro livro, at� o ano 14 de nossa era, sob os consulados de sexto pompeyo e sexto apuleyo. e suetonio, em sua vida dos doze c�sares, despacha em s� quatro linhas as atividades anteriores de tib�rio no oriente m�dio: �tomou suas primeiras armas na expedi��o contra os c�ntabros em qualidade de tribuno militar, logo, depois de conduzir um ex�rcito ao oriente, devolveu ao tigrano o trono de arm�nia e o coroou com o diadema diante de seu tribunal. recuperou deste modo as ins�gnias que os partos tinham arrebatado ao m. crasso�. (cf. suetonio, vida dos doze c�sares, tib�rio, ix). tenhamos em conta que os partos ocupavam persia e babil�nia at� o �ufrates, e que ali se est� muito perto de antioquia de s�ria. por conseguinte, � seguro que tib�rio esteve nessas regi�es. em que �poca? o evangelho dos doze ap�stolos lhes contribui uma precis�o a que parece que os exegetas n�o prestaram aten��o: �sendo pilatos prefeito da jud�ia...�. prefeito da jud�ia ou prefeito na jud�ia? prefeito da jud�ia faria dele um administrador civil, e pilatos era militar. prefeito na jud�ia o mostraria como simples prefeito legion�rio, quer dizer, algo assim como general, j� que tinha sob suas ordens os seis tribunos das coortes habituais em uma legi�o romana. encontramo-nos, pois, antes do ano 26 de nossa era, data na qual, sendo tib�rio imperador, pilatos foi renomado procurador da jud�ia. e nesse per�odo jesus contava j� mais de quarenta anos, posto que tinha nascido em 17 de nossa era. como se v�, n�o h� nenhuma impossibilidade hist�rica no fato de que tib�rio, no curso de uma estadia mais ou menos longa em s�ria ou palestina, ouvisse falar de jesus nos meios aristocr�ticos onde necessariamente o receberam: dinastia herodiana (herodes antipas, tetrarca, salom� Ii, herodias, etc.), hierarquia religiosa judia (membros do sanedr�n, pont�fice, supremos sacerdotes diversos, etc.), hierarquia militar ocupante (quadros da administra��o romana, civil e militar). e n�o � imposs�vel que a placa comemorativa descoberta em cesar�ia, que menciona tib�rio e pilatos, n�o seja o testemunho de uma visita de tib�rio � Jerusal�m, e al�m na �poca em que jesus era da m�xima atualidade, tanto pelo papel que desempenhava, como por suas alian�as familiares... quanto ao fato de que se enviasse ante o tib�rio ao ap�stolo jo�o, o irm�o mais jovem de jesus, por ordem de carios, � evidente que se trata de uma pura inven��o dos piedosos copistas. um simples relat�rio de tal carios, enviado do imperador, bastava a este �ltimo para dar-se por informado. mas se tib�rio teve a id�ia de confiar um dia uma tetrarquia ao jesus, este projeto p�de muito bem germinar em sua mente no curso dessa estadia em s�ria ou palestina, sem necessidade de interrogar ao tal jo�o. possu�a muitos outros meios de investiga��o, por ser j� c�nsul, legado de c�sar, etc�tera. e agora podemos fazer o balan�o de nossos descobrimentos: 1. vimos que pilatos desejava liberar jesus, mas que n�o podia faz�-lo oficialmente. 2. vimos que em sua mente havia em germe uma id�ia de substitui��o, que os evangelhos ocultaram, com o assunto de jesus barrab�s. 3. vimos que numerosos textos combatem, com palavras de duplo sentido, uma tese que pretendia que jesus n�o fora crucificado. 4. vimos que certas tradi��es afirmavam que sim�o de cirene fora crucificado em lugar de jesus. 5. vimos que o texto de celso afirmava que jesus se evadiu e fora entregue por

seus disc�pulos. 6. sabemos que os evangelhos sin�ticos de mateus, marcos, lucas, afirmam que sim�o de cirene levava a cruz de jesus, enquanto que o de jo�o afirma que jesus chegara ao lugar da execu��o levando ele mesmo sua cruz. 7. sabemos que esses evangelhos n�o est�o de acordo no que diz respeito ao dia da semana e a hora da crucifica��o; esse � um problema que divide os exegetas h� s�culos. 8. sabemos que uma tradi��o afirmava que jesus tinha recebido em sua pris�o a visita de alguns de seus ap�stolos. 9. sabemos que as ata pilati afirmam que jesus foi crucificado nas oliveiras, fato confirmado pelo relato da peregrina eteria, enquanto que os evangelhos can�nicos (arrumados no s�culo iv) afirmam que foi no g�lgota. em seu di�rio de viagem, intitulado peregrinatio ad loca sancta, peregrina eteria nos mostra, com efeito, que por volta do ano 400, quer dizer, ainda em princ�pio do s�culo v, em jerusal�m a obla��o da quinta-feira santa se realizava de noite, no g�lgota, enquanto que a comemora��o da agonia e da morte de jesus se realizava no gets�mani e no monte das oliveiras. isso prova que, naquela �poca, sabia-se que a execu��o tivera lugar nas oliveiras, mas que, apesar de tudo, algo tinha acontecido no g�lgota. o que? j� n�o possu�am a chave! 1. o talmud de babil�nia afirmava que jesus foi �detido� 40 dias antes de ser executado. tenhamos simplesmente em conta o fato de que a condena��o e a execu��o estiveram separadas por um per�odo de aproximadamente seis semanas. por certo que lucas distingue dois comparecimentos de jesus ante pilatos, em 23, 1 a 7, e em 23, 13 a 25. 2. logo constataremos que os motivos alegados nas diferentes vers�es das antig�idades judaicas e da guerra dos judeus de flavio josefo s�o incoerentes e contradit�rias no que se refere � queda em desgra�a de p�ncio pilatos e de herodes antipas. 3. sabemos que pilatos teve que reprimir uma revolta armada de grande envergadura, dirigida por um l�der que se dizia profeta e mago, que revoltou boa parte de samaria, depois da morte �oficial� de jesus segundo os evangelhos can�nicos, e que esse profeta mago foi conduzido a jerusal�m e executado. em vista de tudo isto, podemos concluir que: houve, efetivamente, duas deten��es de jesus. a primeira teve lugar umas seis semanas (40 dias) antes da p�scoa e de sua verdadeira crucifica��o. foi seguida de um processo romano como deve ser, com todo o aparelho e as min�cias exigidas por esse direito romano do que ainda est�o impregnadas todas nossas legisla��es contempor�neas. foi condenado a morte e conduzido a um lugar de execu��o incomum, o g�lgota, com o fim de faz�-lo passar, ao sair da antonia, e do pret�rio, por diante da porta do norte, de onde partia, imediatamente depois, o caminho que conduzia � Samaria, territ�rio proibido aos judeus legalistas, e onde jesus tinha amigos. para permitir a evas�o, o destacamento que o conduzia para o g�lgota era de n�mero reduzido. al�m disso, n�o era jesus quem levava os pregos os quais deveriam estar atados pelos punhos, a n�o ser um portador desconhecido. a flagela��o ainda n�o lhe fora aplicada, j� que nos casos de condena��o a morte freq�entemente tinha lugar na mesma convoca��o da execu��o. assim, jesus estava em posse de todas suas faculdades. ao passar diante da porta do norte, um comando zelote suscitou um motim entre os partid�rios de jesus, que foram em massa. o movimento libertador teve lugar do interior da cidade para a porta do norte, e n�o da porta para a cidade, a fim de facilitar a fuga do condenado. no curso da escaramu�a, o chefe do comando cainita, um tal sim�o, que n�o era de cirene, mas sim ia �ao encontro� dos legion�rios, ficou em m�os destes �ltimos, e foi executado no lugar de jesus, no g�lgota, aquele mesmo dia. bem a cavalo, bem em mula (a hist�ria do pequeno asno possivelmente investiu a verdade), jesus e sua gente conseguiram chegar � Samaria. na pris�o puseram-lhe a par dos entendimentos que se realizaram em seu favor. comprometeram-se em seu

nome a renunciar a toda atividade zelote, e a cair no esquecimento. mas ele logo renunciaria a dobrar-se ante essa cl�usula e reempreenderia as hostilidades em samaria. pilatos se veria ent�o na obriga��o de enviar a suas tropas a reduzir esta nova insurrei��o. entre os prisioneiros figurava jesus, entregue por alguns de seus disc�pulos, que identificaremos ao final do presente volume. o prisioneiro foi conduzido � Jerusal�m. e efetivamente tinham transcorrido umas seis semanas desde sua fuga ou sua primeira condena��o. jesus ent�o, e s� a fim de que lhe identificassem, foi apresentado �s tr�s autoridades oficiais: as religiosas, com o an�s e caif�s e uma delega��o do sanedr�n; a administrativa, com o herodes antipas, tetrarca da galil�ia e perea (pois jesus era galileu); e as ocupantes, com o p�ncio pilatos. isso explica a brevidade do prazo transcorrido entre o comparecimento e a execu��o, brevidade que sempre deixou estupefato ao historiador e fez acreditar na ilegalidade dessas formalidades. de fato, o processo tinha j� lugar em sua forma regular, e jesus era simplesmente um contumaz, condenado a morte, e que escapara de seus guardas fazendo uso da for�a. n�o havia nenhuma necessidade de come�ar de novo com outro processo. jesus foi conduzido a seguir ao lugar habitual das execu��es, quer dizer, ao cemit�rio das oliveiras, ao p� do monte, e foi crucificado entre dois bandidos salteadores de caminhos, segundo os evangelhos can�nicos, mas na realidade entre dois de seu guarda-costas. seus nomes tenderiam a relacion�-los com dois antigos gladiadores dados � fuga. das mesclas que se realizaram entre estes dois casos nasceram as contradi��es que se encontram nos diferentes evangelhos, e as incoer�ncias que neles descobriram � indubit�vel que n�o se devem a outra coisa. entretanto, � poss�vel que essas mesclas fossem premeditadas, posto que terei que fazer desaparecer a todo custo qualquer rastro de um jesus prisioneiro e evadido. desgra�adamente, havia muitas gretas na elabora��o da f�bula, e a verdade acaba sempre saindo � luz. em marcos temos precis�es sobre seu desejo de permanecer oculto: �jesus, partindo dali (de jerusal�m), foi para os limites de tiro e sid�nia. entrou em uma casa, n�o querendo ser de ningu�m conhecido, mas n�o foi poss�vel ocultar-se, porque logo, ouvindo falar dele, uma mulher cuja filhinha tinha um esp�rito impuro entrou e se prostrou a seus p�s...� (marcos, 7, 24-25). de modo que desejava que ningu�m soubesse quem era, e permanecer oculto. estranha atitude para um deus encarnado, vindo a proclamar a verdade �s multid�es, essa de fugir e meter-se �em uma casa�, e querer �ocultar-se� nela. essa casa era, provavelmente, a do misterioso irm�o cujo nome ignoramos, e que vivia em sid�nia, com o apelido de sidonios. seria este o misterioso filho oculto de que falamos no cap�tulo 10? conhecemos a continua��o do assunto; jesus, ao n�o poder permanecer mais tempo em fen�cia, dado que lhe reconheceram, foge de novo: �saindo de novo dos limites de tiro, foi por sid�nia por volta do mar da galil�ia, atravessando os limites de dec�polis...� (marcos, 7, 31). pois bem, se se examinar o mapa dessas regi�es, constatar-se-� que jesus tentou lhes dar o cambalacho �s pessoas de tiro. desde essa cidade se remontou, com efeito, para o norte, com o passar do litor�neo mediterr�neo, at� Sid�nia, cidade situada a uns cinq�enta quil�metros por cima de tiro. assim os tirios puderam supor que ia definitivamente da palestina. e se proporcionaram alguma informa��o sobre ele � delegacia romana, essa informa��o foi err�nea. de sid�nia voltou ent�o, transversalmente para o este, mas por dec�polis, de novo � Galil�ia. tudo isto � perfeitamente normal por parte de um homem cuja cabe�a est� posta a pre�o, e que tem �s legi�es romanas em perp�tua opera��o policial contra suas pr�prias tropas, mas � totalmente il�gico por parte de um �predestinado�, vindo essencialmente para sacrificar-se. na realidade, essas retiradas estrat�gicas em fen�cia e samaria ser�o sua segunda e terceira fuga, j� que, quando jesus se

refugiou no egito, depois do fracasso da revolu��o dirigida por seu pai judas de gamala, no ano 6 antes de nossa era, contava j� doze anos (pois nascera por volta de �17), e possu�a portanto a maioridade civil e religiosa segundo os termos da lei judia. e tr�s fugas sucessivas � muito para um messias. os deslocamentos de jesus durante os quatro anos de sua vida p�blica n�o s�o, pois, devidos ao azar. est�o necessariamente ligados a uma necessidade de seguran�a. ao pretender restaurar um reinado de car�ter religioso, herdar o trono de david, e estar rodeado de zelotes, alguns dos quais tinham bastante m� reputa��o, se se tiver em conta seus apodos, n�o podia a n�o ser estar vigiado pela pol�cia romana, a que se acrescentava a dos tetrarcas idumeos. por isso, quando vemos os historiadores crist�os dando o nome de �retiro� � sua viagem � Fen�cia, e no sentido piedoso do termo, n�o podemos deixar de nos assombrar, e entender essa palavra em seu significado militar, quer dizer, �retirada�. com efeito, quando um se encontra em jerusal�m, a cidade santa, onde, como bom judeu de ra�a, tem-se direito ao acesso ao pen�ltimo recinto, o dos homens, cada dia (e jesus n�o se priva disso), nesse templo que � o �nico lugar de culto regular, com exclus�o de qualquer outro, como justificar que fora realizar um retiro � Fen�cia, estado cuja popula��o era sempre hostil ao povo hebreu, cujos cultos eram essencialmente pag�os, e onde, indevidamente, a impureza ritual espreitava a cada instante? no pior dos casos, podia meditar �� montanha�. de fato, tratava-se de uma �retirada militar�, quer dizer, de uma fuga, e precisamente em uma regi�o em que n�o se pensaria nem por um instante que jesus pudesse refugiar-se. de jerusal�m, onde se encontrava ent�o, at� Sid�nia, atrav�s da jud�ia, a samaria hostil e galil�ia, h� em total uns cento e noventa quil�metros a v�o de p�ssaro, aproximadamente. sempre ignoraremos o caminho exato que seguiu jesus, mas podemos supor que, junto com os poucos disc�pulos que lhe acompanharam (sem d�vida os mesmos de sempre, sim�o, santiago e jo�o), mesclou-se a uma caravana de peregrinos que se dirigiam � Fen�cia para as cerim�nias comemorativas da morte e ressurrei��o de adonis. porque se dermos cr�dito aos trabalhos dos exegetas e historiadores cat�licos, foi precisamente em junho do ano 29 quando jesus se refugiou em fen�cia. e chegou ali justo para as cerim�nias anuais, as quais se desenvolveram, como veremos, no solst�cio de ver�o, quando floresce a �rosa de damasco�, essa an�mona consagrada ao adonis. mas permaneceria ali pouco tempo, dez dias ao todo, j� que foi reconhecido: �saindo dali jesus (de jerusal�m), retirou-se as partes de tiro e do sid�nia. uma mulher canan�ia daqueles contornos come�ou a gritar, dizendo: �tenha piedade de mim, senhor, filho de david: minha filha � imperfeitamente atormentada pelo dem�nio...� mas n�o lhe respondia palavra. os disc�pulos lhe aproximaram e lhe rogaram, dizendo: �despede-a, pois vem gritando detr�s de n�s...�. � (mateus, 15, 21-24). e, com efeito, assim corriam o risco de ser identificados, o que, como � natural, n�o lhes convinha absolutamente. nossos personagens n�o tinham, pois, a consci�ncia tranq�ila do ponto de vista pol�tico, dado que, em tiro e sid�nia, n�o corriam absolutamente nenhum perigo por parte das autoridades religiosas judias, assim, para amea��-los, n�o ficavam a n�o ser as autoridades romanas, que n�o exerciam sobre a popula��o do oriente m�dio nenhum controle religioso, excetuando o que concernia aos sacrif�cios humanos. fica agora o problema do segundo denunciante que, provavelmente com outros, mais obscuros, decidiu entregar jesus aos romanos, depois do fracasso da insurrei��o de garitzim. quais s�o ent�o �aqueles aos que ele chamava seus disc�pulos�?, segundo a express�o de celso em seu discurso verdadeiro (op. cit., ii, 16). n�o procuremos. encontram-se entre aqueles que clemente de alexandria diz que abandonaram �a miss�o que jesus lhes tinha creditado�. �escolhidos, n�o todos confessaram ao senhor pela palavra, e n�o todos morreram em seu nome. entre eles se contam mateus, felipe, tom�s, e muitos outros...� (cf. clemente de alexandria, stromates, iv, 9).

e para justificar esta trai��o est� s� o cansa�o de sete anos de fracassos sucessivos, de vida errante, de fugas consecutivas aos golpes de m�o mais ou menos gratificantes, e estava tamb�m o interesse. no que consistia? primeiro, indubitavelmente, na certeza de que se beneficiariam de impunidade pela participa��o naquela rebeli�o de samaria, logo, provavelmente, em uma importante recompensa, j� que sem d�vida a cabe�a de jesus fora posta a pre�o. do mesmo modo, era preciso que o traidor possu�sse uma certa autoridade hier�rquica e moral sobre a massa dos partid�rios, para poder p�r em marcha seu projeto. n�o podia ser tom�s, o g�meo, ali�s judas, j� que, como sabemos agora, logo desempenharia o papel de jesus ressuscitado. (cf. jesus ou o segredo mortal dos templ�rios, pp. 263 a 267). n�o podia ser felipe, j� que a �tradi��o�, apesar de tudo, o faz morrer mais tarde pela causa, e existe uma ep�stola de pedro ao felipe, seu irm�o maior e seu companheiro, manuscrito do s�culo v, redigido em copto tebano, e que tende a assentar a possibilidade de ulteriores contatos entre esses dois irm�os de jesus. n�o fica, pois, ningu�m mais que mateus, ali�s levi, tio de jesus, funcion�rio de roma, j� que era tributo e mantinha uma rela��o bastante curiosa com o �meio� dessas regi�es, como nos contam os pr�prios evangelhos can�nicos: �e aconteceu que, estando jesus sentado � mesa em casa daquele (do mateus), vieram muitos publicanos e pecadores sentar-se com jesus e seus disc�pulos�. (cf. mateus, 9, 10). marcos (2, 15) precisa-nos que se tratava da moradia de levi-mateus, e lucas (5, 29), que esse festim (sic) devotado pelo mesmo causou esc�ndalo entre os judeus ordin�rios. se a gente recordar que o talmud colocava aos tributos ao mesmo n�vel que os vadios e os alcoviteiros, que para ser tributo era preciso ter comprado esse �ped�gio� aos ocupantes romanos, e que esse cargo, muito remunerador, implicava o fato de ter que espremer a seus pr�prios compatriotas, convir� em que o personagem de levi-mateus n�o era do mais recomend�vel, pois tinha apostado sobre os dois bandos e tinha jogado um duplo jogo, como tantos �colaboradores� de todas as �pocas. e o que fica ent�o � que o tio mateus, personagem pouco limpo a n�vel moral, p�de muito bem ter sido o segundo traidor que entregou jesus, seu sobrinho e seu rei leg�timo. o que justificaria ent�o o sil�ncio total dos historiadores da igreja a seu respeito, e sua negativa a afirmar nada sobre seu fim. possivelmente foi t�o tr�gico como o de seu outro sobrinho, judas iscariotes!

28 - duas quedas em desgra�a bastante misteriosas no paradosis pilati, o imperador julga e manda executar ao pilatos, a quem esse documento oriental apresenta como um m�rtir, enquanto que os textos ocidentais fazem dele um criminoso... abade f. amiot, les �vangiles apocryphes, 2�. parte, ii a igreja copta e a igreja grega santificaram ao p�ncio pilatos, confirmando de maneira definitiva o car�ter de m�rtir que a maioria do igrejas orientais que n�o reconhecem � batata concediam j� ao procurador que fez crucificar ao jesus. se a gente recordar que a igreja copta � uma das mais antigas entre as igrejas orientais, que � a herdeira dos padres do deserto, que foi, concretamente a igreja de s�o atanasio, e que n�o se aderiu definitivamente � doutrina monofisita at� meados do s�culo v, com seu patriarca de alexandria dioscoro, sucessor de s�o cirilo no ano 444, convir� em que devia possuir tradi��es sa�das das mesmas fontes do cristianismo primitivo. ent�o, seu culto de dul�a para p�ncio pilatos deve incitar ao historiador imparcial a elucidar esse enigma. n�s n�o deixaremos de nos consagrar a ele, naturalmente.

j� um simples trocadilho de mau gosto nos demonstra que o texto latino da vulgata de s�o jer�nimo, vers�o oficial da igreja cat�lica, deve nos mover � desconfian�a. vejamos, pois, uma vez mais os evangelhos: �disse-lhe ent�o pilatos: �logo voc� � rei? respondeu jesus: �voc� diz que sou rei. eu para isto vim ao mundo, para dar testemunho da verdade; tudo o que � da verdade ou�a minha voz�. pilatos lhe disse: �e o que � a verdade?...� (cf. jo�o, 18, 37-38). em latim, pergunta ir�nica de pilatos: �o que � a verdade?�, traduz-se: �quide est veritas?...� (cf. novum testamentum latine, secundum editionem sancti hieronymi, londres, 1911). e a tradi��o eclesi�stica pretende que a resposta se d� nos termos mesmos da pergunta: �qui est vir ad est...�, quer dizer, �est� diante de ti...�. como imaginar que jesus e pilatos se divertissem fazendo anagramas em semelhantes circunst�ncias, porque n�o se trata de outra coisa? tudo isso nos demonstra que tais textos, pretensamente aut�nticos, foram triturados, a fim de lhes fazer dizer o que a verdade inicial n�o dizia. e portanto, devemos desconfiar. voltemos para a hist�ria de pilatos. citado por t�cito (anais, xv, xliv, 4), por flavio josefo (antig�idades judaicas, xviii, v, vii; guerra dos judeus, ii) e por fil�n de alexandria, foi renomado procurador da jud�ia por tib�rio c�sar o d�cimo segundo ano de seu reinado, quer dizer, em 26 de nossa era. permaneceu no cargo durante onze anos, embora de fato sua procuradoria terminasse j� no ano 36, quando vitelio, seu superior hier�rquico, governador de s�ria, obrigou-lhe a justificar-se a roma, ante o imperador, quer dizer, um ano depois da morte de jesus. pilatos pertencia � ordem eq�estre, que constitu�a a classe dos cavaleiros romanos. acredita-se que seu nome era lucius pontius pilatus, e era filho de marcos pontius, quem, durante a guerra dos astures, aliados de roma contra seus compatriotas, recebera certa elei��o o cl�ssico pilum de honra, com a cidadania romana, j� que inicialmente era de origem espanhola. seu filho, nosso p�ncio pilatos, teria nascido em sevilha, teria servido sob as ordens de germ�nico julio c�sar, o vencedor de arminio e o vingador de varo na germania. segundo o evangelho de nicodemos, teria se casado com uma tal claudia procula. dado que daniel-rops reproduziu, e bastante mal, em seu livro jesus em seu tempo, diversos dados hist�ricos sobre esta �ltima, em especial as opini�es de rosadi e de aurelio macrobio em seus saturnais, vamos estudar suas origens, a fim de apagar os enganos de daniel-rops, que a converte em filha de julia, e deste modo em neta de augusto: houve, na realidade, duas julias: julia i, filha de c�sar augusto, nasceu no ano 27 antes de nossa era, da uni�o desse imperador com scribonia. esta se casou sucessivamente com marco claudio marcelo, e logo com agripa marcelo, de quem teve uma filha, julia ii, e, por �ltimo, em terceira n�pcias, com tib�rio claudio nero, ali�s tib�rio, futuro c�sar. se se observar que agripa marcelo tinha tido sob suas ordens na espanha, a marco poncio, pai do futuro pilatos (cf. suetonio, vida dos doze c�sares, augusto, lxv, e tib�rio, ix), compreender-se-� melhor a uni�o de seu filho lucio p�ncio pilatos com a futura claudia procula. julia i, da que se provou que cometera adult�rio com um tal julio antonio, foi internada por ordem de seu pai augusto na ilha de pandateria, onde permaneceu cinco anos. logo foi transferida ao reghium (estreito de sicilia), onde morreu � idade de cinq�enta e dois anos, em 15 de nossa era. julia ii, sua filha, e por conseguinte neta de augusto, teve por pai, como dissemos antes, agripa marcelo. casou-se com lucio paulo, e rapidamente foi acusada de adult�rio com um tal d. silano. ent�o foi deportada por sua vez, sempre por ordem de c�sar augusto, � ilha de trimera, perto da costa de apulia, no ano 8 de nossa era, onde morreu � idade de uns quarenta e cinco anos, em 28 de nossa era, depois de ter permanecido ali durante vinte. tinha nascido por volta do ano 17 antes de nossa era. bem de sua rela��o com d. silano, ou de outra aventura, tinha tido uma filha, que augusto lhe proibiu reconhecer e criar. (cf. suetonio, vida dos doze c�sares, augusto, lxv). foi: claudia procula. esta era, portanto, a bisneta de augusto, e n�o a neta.

nasceu por volta do ano 3 de nossa era, e contava aproximadamente vinte e tr�s quando pilatos se converteu em procurador da jud�ia, no ano 26. seu av�, Agripa marcelo, tinha tido na espanha sob suas ordens a marco poncio, pai de p�ncio pilatos. n�o h� nada de extraordin�rio, por conseguinte, em que a neta do primeiro se casasse com o filho do segundo. entre esses dois homens existiam uns la�os, lembran�as de campanhas militares no seio das legi�es. mas julia i, av� de claudia procula, casou-se em terceira n�pcias com tib�rio, o futuro imperador. e por esse fato, este �ltimo se convertia em av� por alian�a de claudia procula. e, ao casar-se com claudia procula, p�ncio pilatos se converteu em seu neto por alian�a. n�o deve nos surpreender, pois, que logo se beneficiasse de um cargo como o de procurador de roma na jud�ia, e do t�tulo invejado em todo o imp�rio de amicus caesaris, �amigo de c�sar�. porque n�o era algo isso de ser o neto, embora fora por alian�a, do imperador. o leitor desejoso de verificar nossas afirma��es poder� remeter-se �: a) t�cito: anais, i, 53; iii, 24; iv, 44, 71. b) suetonio: vida dos doze c�sares, ii augusto, 19, 31, 63, 64, 65, 72; iii tib�rio, 7, 10, 11, 50. aurelio macrobio, em seu saturnais, insinua que julia ii, m�e de claudia procula, teria dado sua filha ao tib�rio, seu padrasto, durante seu ex�lio � ilha de trimera, e que este muito bem p�de corromp�-la. mas se recordarmos que este imperador se retirou � Capri no ano 27 de nossa era, quando p�ncio pilatos era j� procurador da jud�ia fazia um ano, se claudia procula lhe permitiu seguir a seu marido � Palestina, ignorou tudo referente a esses �quadros viventes� e essas orgias, parece que indescrit�veis, que constitu�ram o interesse dessa perman�ncia na encantadora ilha. pelo contr�rio, se a lex oppia, que proibia �s esposas dos altos funcion�rios de roma acompanhar seus maridos aos territ�rios de ultramar, foi aplicada, � evidente que p�de seguir tib�rio � Capri, e assistir ou participar dessas cenas desenfreadas. acreditam, em benef�cio da d�vida, que a lei n�o foi aplicada. um senador chamado severo cecina prop�s voltar a aplicar estritamente a lex oppia, j� em desuso. contradisse-lhe valerio mesalino, e finalmente tib�rio resolveu a quest�o fazendo que o senado romano recha�asse a proposi��o de severo cecina (cf. t�cito, anais, iii, 34). por conseguinte, nada impede de acreditar que claudia procula acompanhasse pilatos � Jud�ia. e seu matrim�nio n�o fez a n�o ser preceder a esse costume que tanto os reis da fran�a observaram para com suas bastardas. consistia em fazer casar-se com um oficial de velha mas pequena nobreza, sem fortuna, quem, ao lhes dar um nome honor�vel, gozavam a seguir de ascens�es e de vantagens substanciais. n�o h� nada novo sob o sol. este �, pois, nosso procurador em fun��es na jud�ia. � um governador ao mesmo tempo firme e ardiloso, mas tamb�m flex�vel. sabia castigar severamente, mas tamb�m sabia dobrar-se por diplomacia. julgue-se: �continuando, tib�rio enviou � Jud�ia um procurador que, em segredo e de noite, fez introduzir em jerusal�m a imagem de c�sar chamada semaia (era um busto do imperador fixado no alto das ins�gnias). mandou levant�-la na cidade. � manh� seguinte os judeus, em vista disso, foram presa de um grande tumulto; estavam horrorizados ante esse espet�culo, ao ver pisoteada sua lei. porque esta proibia que houvesse na cidade imagem alguma. as pessoas dos arredores, quando se informaram deste acontecimento, acudiram todos, a toda pressa. precipitaram-se � Cesar�ia e suplicaram ao pilatos que retirasse a semaia de jerusal�m e que lhes permitisse manter os costumes de seus pais. como pilatos recha�ou seus rogos, ca�ram prosternados e permaneceram assim, im�veis, cinco dias e cinco noites. depois do qual pilatos se sentou em seu trono no grande hip�dromo, e convocou ao povo para lhe dar sua resposta. logo ordenou a qu�o soldados rodeassem subitamente com suas armas aos judeus. estes, � vista deste inesperado espet�culo das tr�s coortes que lhes rodeavam, tremeram em grande maneira. pilatos, amea�ador, disse-lhes: �degolar-lhes-ei a todos sen�o receberem a imagem de c�sar�. e ordenou a qu�o soldados desembainharem as espadas. todos os judeus, de comum acordo, tornaram-se ao ch�o e estenderam o pesco�o, enquanto clamavam: �estamos dispostos a ser imolados como ovelhas, antes que

transgredir a lei...�, e pilatos, surpreso ante seu temor de deus e sua pureza, mandou retirar de jerusal�m a semaia�. vejamos agora outro epis�dio, embora de conclus�o muito diferente: �pilatos conduziu �gua � Jerusal�m com cargo sobre o tesouro sagrado, captando a fonte dos cursos de �gua � duzentos est�dios de l�. os judeus ficaram muito descontentes pelas medidas adotadas com respeito a esta �gua. milhares de pessoas se reuniram e lhe gritaram que cessasse em dita empresa; alguns chegaram inclusive a injuri�-lo violentamente, como costumam fazer �s multid�es. mas ele, depois de enviar ao lugar da reuni�o um grande n�mero de soldados, revestidos com as roupas judaicas e levando porretes ocultos sob suas vestimentas, ordenou-lhes pessoalmente que se retirassem. como os judeus faziam gesto de lhe injuriar, deu aos soldados o sinal convindo antes, e os soldados golpearam ainda mais violentamente do que lhes tinha prescrito pilatos, castigando ao mesmo tempo os causadores da desordem e a outros. mas os judeus n�o manifestavam nenhuma debilidade, at� o ponto que, ao ser surpreendidos desarmados por gente que lhes atacavam com prop�sitos deliberados, morreram em grande n�mero naquele mesmo lugar, ou se retiraram cobertos de feridas. assim foi como se reprimiu esta rebeli�o�. (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xviii, iii, 60-62, manuscrito grego). o manuscrito eslavo de guerra dos judeus (ii, 4), diz-nos o seguinte: �como o povo clamava contra ele (pilatos), enviou uns homens � golpe�-los com paus. tr�s mil foram esmagados enquanto fugiam, e o resto se calou� (op. cit.) faremos aqui uma primeira observa��o. como puderam os legion�rios obter em jerusal�m suficientes vestimentas judaicas rituais (novas, ou em desuso, compradas de comerciantes de brech�) para vestir com elas aos homens do servi�o de repress�o, e como umas compras de semelhante envergadura puderam acontecer desapercebidas � popula��o judia? poder� supor-se que se fez aqui uso do famoso �telefone �rabe� e como esses legion�rios, de origem estrangeira (germanos, franceses, tracios, etc.), disfar�ados com trajes t�picos judeus, puderam passar desapercebidos? e, pode supor-se que um procurador de roma recorresse a tal subterf�gio, absolutamente ilegal, sem expor-se a que lhe reprovasse que desacreditava �s legi�es do imp�rio? a verdade nos vem dada na vers�o eslava de guerra dos judeus citada antes. esta nos diz �uns homens�, e n�o soldados, como faz a vers�o grega. de fato, pilatos recorreu � sect�rios tipicamente judeus, mas advers�rios dos fariseus e dos saduceus cl�ssicos. esta alian�a sem futuro devia tratar-se com indubit�veis contrapartidas. mas tamb�m aqui pilatos, procurador h�bil e ardiloso, soube manobrar. roma n�o interveio oficialmente, e os mortos desta repress�o foram carregados � conta de um enfrentamento entre fac��es opostas. isto liberou o procurador de toda responsabilidade. e agora se exp�e o problema de saber com quem se aliou momentaneamente pilatos. a resposta � �bvia. os ess�nios tinham entre seus costumes cotidianos a obriga��o de entregar-se a numerosas ablu��es; todos os autores antigos que trataram sobre eles nos relatam seu culto � limpeza corporal. provavelmente a fac��o sa�da desta seita e que se converteu na dos cana�tas ou zelotes foi a que se encarregou de tal repress�o, sentindo-se al�m muito felizes de poder por fim haver-lhe legalmente com seus mortais inimigos os saduceus e seus partid�rios. no pior dos casos, poderia pensar-se em que se recrutou � volunt�rios samaritanos. estes �ltimos, qu�o mesmo os zelotes, tinham motivos de sobra para sentirem-se felizes de poder enfrentar-se aos judeus legalistas em alvoro�os nos quais a autoridade ocupante estava de sua parte. n�o obstante, a continua��o de nosso estudo mostrar� que � mais plaus�vel que se tratasse dos zelotes. h� alian�as que, por mais surpreendentes que pare�am, n�o deixam de ter sua raz�o de ser, por um tempo. agora vem um �ltimo argumento em favor dessa alian�a epis�dica que, com toda probabilidade, tratou-se� entre pilatos e os pr�prios zelotes. no talmud lemos o que segue: �rabbi joss� e rabbi sime�o estavam juntos, e com eles se encontrava judas, o filho de um partid�rio. rabbi judas abriu a boca e disse: �que formosos s�o os trabalhos dessa na��o (roma); t�m aberto ruas, arrojadas pontes, edificado

termas!�. rabbi joss� guardou sil�ncio, e rabbi sime�o respondeu: �tudo isso que constru�ram, fizeram s� para eles mesmos; t�m aberto ruas, mas para estabelecer ali a prostitutas, termas para seu prazer, e pontes para perceber ped�gios...�. (cf. talmud, sabbat, 33b). � evidente que o mundo da prostitui��o e o das termas tinham uma necessidade comum: a de abundante fornecimento de �gua. pois bem, o partido zelote obtinha uns ganhos substanciosos das alcoviteiras e das prostitutas; para nos convencer deles, tomemos de novo os evangelhos can�nicos: �e jesus lhes disse: �na verdade lhes digo que os publicanos e as meretrizes lhes precedem no reino de deus�...�. (cf. mateus, 21, 31). �estando sentado (jesus) � mesa em casa deste (de levi, o tributo), muitos publicanos e pecadores estavam recostados com jesus e com seus disc�pulos...� (marcos, 2, 15; lucas, 5, 29). volte-se para ler todo o cap�tulo intitulado o d�zimo messianista, na primeira obra desta s�rie, e se constatar� que as rela��es entre os zelotes e o �meio� daquela �poca n�o s�o uma simples lenda. por conseguinte, se as prostitutas, seus �protetores� e seus clientes necessitam �gua corrente, se pilatos tomar todas as medidas para realizar as canaliza��es correspondentes, � l�gico admitir que os zelotes tomariam partido em favor desses trabalhos, e se oporiam aos sect�rios das outras correntes religiosas, advers�rios deles. releiamos agora o �ltimo epis�dio de flavio josefo sobre p�ncio pilatos. que o leitor pese bem os termos, porque logo nos servir� para esclarecer todo o mist�rio do g�lgota: �os samaritanos n�o careceram tampouco de dist�rbios, pois estavam incitados por um homem que n�o considerava grave mentir, e que combinava tudo com fim de agradar ao povo. ordenou-lhes que subissem com ele ao monte garitzim, ao que t�m como a mais santa das montanhas, lhes assegurando com veem�ncia que, uma vez chegassem ali, mostrar-lhes-ia uns copos sagrados enterrados por mois�s, quem os colocara ali em dep�sito. eles, acreditando que suas palavras eram ver�dicas, tomaram as armas, e, depois de instalar-se em um povoado chamado tirathana, aderiram � quantas pessoas puderam recolher, de forma que iniciaram a ascens�o da montanha em massa. mas pilatos se apressou a ocupar com antecipa��o o caminho pelo que deviam efetuar a ascens�o, e enviou ali cavaleiros e soldados � p�, e estes, carregando contra as pessoas que se reuniram ao povo, mataram uns na refrega, puseram a outros em fuga, e a muitos levaram prisioneiros, os principais dos quais foram executados por ordem de pilatos, assim como os mais influentes dentre os fugitivos. �uma vez acalmado este dist�rbio, o conselho dos samaritanos acudiu ao vitelio, personagem consular, governador de s�ria, e acusou pilatos de ter massacrado �s pessoas que tinham perecido; porque n�o era para rebelar-se contra os romanos, a n�o ser para escapar � viol�ncia de pilatos, por isso se reuniram em tirathana. depois de enviar um de seus amigos, marcelo, para ocupar-se dos judeus, vitelio ordenou ao pilatos que voltasse para roma para prestar conta ao imperador dos atos dos quais lhe acusavam os judeus. pilatos, depois de dez anos de perman�ncia na jud�ia, apressou-se a ir � Roma, por obedi�ncia �s ordens de vitelio, �s quais n�o podia objetar em nada. mas antes de que chegasse � Roma, sobreveio a morte de tib�rio. (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xviii, iv, 1-2). toda esta longa passagem soa manipula��o, e uma manipula��o bastante torpe, porque durante onze anos pilatos governou jud�ia com m�o de ferro. pelas numerosas repress�es que assumiu nas diversas rebeli�es, seu superior vitelio jamais lhe repreendeu. quando mandou esmurrar e matar a tr�s mil judeus em jerusal�m, no caso das canaliza��es de �gua, nenhuma san��o esfriou seu zelo. e agora os samaritanos se reuniam e tomavam as armas, apoderavam-se da cidade de tirathana, recrutavam pessoas entre a popula��o desta prov�ncia, sob a dire��o de um agitador que a reda��o medieval (qu�o �nica chegou a n�s de flavio josefo) guarda-se bem de nos descrever, entretanto, o que apresenta mais sob o duplo aspecto de um agitador e um enganador. e o que faz pilatos? seu dever de procurador, qu�o mesmo antes. reprime essa mobiliza��o a m�o armada, essa ocupa��o e esse entrincheiramento no

topo de um monte de car�ter sagrado, pr�prio para exacerbar o fanatismo religioso dos rebeldes. e se pretende que o governador de s�ria, seu chefe, o reprovasse? isso, simplesmente, impens�vel. e tanto mais que este �ltimo n�o ignora que pilatos � o neto por alian�a do imperador tib�rio. e o escriba medieval que �concerta� assim o texto de flavio josefo se enreda em suas mentiras, chegando inclusive a confundir judeus e samaritanos! o que prova que n�o estava copiando um texto, mas sim estava redigindo outro, com uma finalidade muito concreta. porque � evidente que os ricos e poderosos saduceus foram os que, depois de ter acabado por inteirar-se da com�dia do g�lgota e a evas�o de jesus, alertaram ao vitelio, legado imperial em s�ria. entre a elabora��o de seu relat�rio e a queixa que apresentaram, p�de muito bem transcorrer um ano, e da� que entre a morte de jesus e a partida de pilatos para roma haja uma margem de tempo que os separe, ou seja de abril do ano 35, a dezembro de 36. pois bem, com p�ncio pilatos acontece qu�o mesmo com salom�, filha de herod�as e de herodes filipo: numerosos textos patr�sticos os silenciam prudentemente, havida conta do papel que desempenharam na vida de jesus. por isso g. ory, em seu livro le christ et j�sus (p�ginas 186 e 187) cr� �til sublinhar alguns sil�ncios sobre o procurador romano. n�s estamos acostumados, com efeito, a um credo cl�ssico, que declara sem rodeios: �... foi crucificado por p�ncio pilatos...�, ignorando, em geral, que n�o h� um s� credo na tradi��o crist�. conhecemos a origem dessa f�rmula. no conc�lio de nic�ia (ano 325 de nossa era), para n�o deixar aos hereges arianos nenhuma possibilidade escapat�ria, os padres conciliares acreditaram por bem compor uma f�rmula de f� que n�o era, afinal de contas, outra coisa que o s�mbolo dos ap�stolos, precisado e desenvolvido no esp�rito do conc�lio. no de constantinopla (ano 381) acrescentouse os artigos dominum et vivificantem, e a continua��o (salvo o filioque, que se acrescentou posteriormente), a fim de contrariar aos maced�nios, que negavam a divindade do esp�rito santo. esse � o motivo pelo qual a esse segundo conc�lio chama-se tamb�m concilio niceo-constantinopolitano. nas liturgias orientais, as diversas f�rmulas do credo utilizadas por elas n�o mencionam sempre pilatos, como por exemplo a bizantina, a arm�nia e a cald�ia, enquanto que as liturgias s�ria, maronita e copta fazem men��o dele. o credo de ant�oco (s�culo iii) cita-o, o de epifano (s�culo iv) tamb�m. pelo contr�rio, o credo citado de eusebio, qu�o mesmo o de nic�ia, ignoram-no, e ainda mais o conc�lio de jerusal�m (s�culo iv). irineu, em sua obra contra os hereges n�o cita pilatos (s�culo ii), mas tertuliano o nomeia o v�u das virgens (s�culo ii). como se v�, alguns se sentem molestados pela presen�a deste personagem, enquanto que outros n�o v�em nenhum mal em inclui-lo em seus relatos ou coment�rios. assim, eusebio da cesar�ia, em sua cr�nica, diz-nos por boca de s�o jer�nimo em seu texto latino que: �pontius pilatus in multas incidens calamitates, propia se manu interficit, scribunt romanorum historici...� (cf. chronic. ad annum 39, edit. helm, p. 178). ou seja: p�ncio pilatos, por efeito de sua condena��o, afundou-se na mis�ria e se matou por sua pr�pria m�o, tal como dizem as hist�rias romanas. muito antes que eusebio, fil�n de alexandria nos conta tamb�m que o procurador pereceu de morte violenta. com efeito, quando pilatos navegava rumo � It�lia, e enquanto se achava ainda em alto mar, morreu tib�rio c�sar, em mar�o do ano 37. seu sobrinho neto cal�gula foi quem lhe sucedeu. se pilatos tinha esperado que seu av� por alian�a tib�rio c�sar o deixasse facilmente em liberdade, n�o aconteceu o mesmo com seu sucessor. cal�gula condenou ao ex�lio em vienne, galias, o procurador cansado, e este passou os �ltimos anos de sua vida entre as brumas de r�dano. a presen�a romana nesta cidade se remontava � Julio c�sar, e vienne converteu-se rapidamente em um lugar de ex�lio rigoroso. uma tradi��o, parece ser que bastante afian�ada, sustenta que p�ncio pilatos abriu as veias, ou que se atirou ao gier, no monte pilatos, a umas tr�s l�guas aproximadamente de vienne, entre o argental e condrieu. o mont pilat, ou monte pilatos, um dos mais altos de c�vennes, foi durante

muito tempo, at� meados do s�culo xix, um maci�o amplo e sombrio, coberto de bosques em seus pendentes inferiores, e, mais acima, de pastos. um de seus principais topos, a crista da perdiz (cr�t da perdrix), de 1.434 m., v� nascer ao gier. as �guas deste brotam de um verdadeiro po�o artesiano aberto pela natureza no topo desta montanha. no curso dos s�culos se encheu parcialmente esse po�o com ajuda de fragmentos de rochas e de lenha morta, a fim de que o gado que ia a ele para alimentar-se n�o corresse nenhum perigo. o gier, durante muito tempo, levou sementes de ouro. primeiro atravessa penosamente algumas pradarias, logo seu pendente se inclina, e seu leito se encontra obstru�do pelos restos de rochas que o oprimem. ent�o se converte em corrente, grunhe, joga espuma, e chega ao fim � cascata denominada o salto de gier, onde suas �guas se precipitam de uma altura de mais de trinta metros, em massas deslumbrantes. segundo a tradi��o, pilatos se teria precipitado em gier, bem no abismo inicial de onde brotavam ent�o as �guas deste rio, ou, mais provavelmente, em salto de gier. n�o � imposs�vel que se aberto antes as veias. tampouco � il�gico que o procurador estivesse confinado concretamente no monte pilatos, j� que naquela �poca um aqueduto romano conduzia at� as portas de lyon, passando por vienne, as �guas deste rio. e, al�m disso, durante muito tempo se considerou que as pedras que se encontram dispersas no topo de pilatos, e que recebem ali o nome local de chirats, n�o eram outra coisa que os restos de uma constru��o de vigil�ncia estabelecida pelos romanos. um pequeno castrum lhes permitiria a estes vigiar a regi�o, ao mesmo tempo que lhes permitia proteger a fonte de gier, que alimentava de �gua pot�vel vienne e lyon. os historiadores antigos fixam a morte de pilatos no ano 39 de nossa era; portanto, permaneceu dois anos em todo o rigor do ex�lio, ao que se acrescentava possivelmente um cativeiro localizado no monte pilatos, sob a vigil�ncia dos legion�rios aquartelados no castrum daquele lugar. sua morte coincide com o passo de tib�rio claudio nero druso, futuro claudio c�sar, pelo vale de r�dano, no ano 41. este �ltimo, sobrinho de tib�rio, sucederia cal�gula depois do assassinado deste. no momento conduzia �s legi�es romanas contra os bret�es. era portador de uma ordem de execu��o contra pilatos, mas este se inteirou e preferiu dar-se morte ele mesmo, a fim de evitar o opr�bio de ser atirado � fossa inf�mia, como todo condenado a morte executado legalmente? � muito poss�vel. t�cito nos conta que, com efeito, aqueles que, condenados a morte, tomavam a dianteira e a davam livremente eles mesmos, viam respeitado seu testamento e tinham as honras funer�rias (cf. t�cito, anais, vi, xxxv). seja o que for, pilatos se suicidou quando esteve naquela regi�o o futuro claudio c�sar, e n�o pode descartar-se a priori uma rela��o entre ambos os fatos. possivelmente foi � mem�ria do procurador de roma a quem se erigiu essa esteira funer�ria an�nima da �poca franco-romana, descoberta no s�culo passado no vale de r�dano, e t�o emotiva em sua simplicidade: �se as cinzas faltarem nesta urna, oh caminhante, ao menos eleva seu cora��o para o esp�rito que a morte liberou, ao fim para sempre ...� porque este epit�fio tem resson�ncias crist�s, e n�o foram os seguidores dos deuses do imp�rio quem o mandou erigir, pois � an�nimo. e ent�o se exp�e uma pergunta: por que n�o se atreveram a nomear ao defunto? agora nos falta encontrar o verdadeiro motivo de sua queda em desgra�a, que n�o radica no fato de ter sufocado uma revolta a m�o armada em samaria, quando esta fora sempre sua maneira de atuar, e fazia j� onze anos. e se as igrejas do oriente o consideram como um m�rtir, se as igrejas copta e grega o santificaram, � porque sua morte estava relacionada, favoravelmente, com a de jesus... ao fazer isso, estabeleceram necessariamente um elo de causa e efeito entre esses dois �bitos por ordem judicial. se n�o se tratou mais que de recompensar a t�tulo p�stumo uma certa benevol�ncia, que os pr�prios evangelhos can�nicos nos relatam j�, tivesse bastado com a simples santifica��o. mas o fato de consider�-lo como um m�rtir demonstra que reconheceram implicitamente que a morte do procurador no monte pilatos, perto de vienne, precedida de seu ex�lio, era conseq��ncia de

suas interven��es em favor de jesus. a import�ncia destas �ltimas aparece sublinhada mais ainda pelo fato de que, at� o s�culo v, segundo testemunho de la sex de pierre l�ib�re, citada pelo dictionnaire d�archeologie chr�tienne, de dom cabril e dom leclerq, houve em jerusal�m uma �igreja de pilatos� (op. cit., no artigo pr�toire). esta igreja foi arrasada quando teve lugar a destrui��o de jerusal�m pelos persas e os �rabes, no ano 614. elevava-se ent�o na convoca��o do pretorio, o que � muito significativo. santificado, inscrito no martirol�gio, com uma igreja dedicada a seu nome, o fato � que pilatos n�o p�de ter sido exilado, e logo haver-se visto obrigado a dar-se morte por ter esmagado uma rebeli�o samaritana. foi t�o duramente sancionado por roma porque, possivelmente inconscientemente, foi manipulado e enganado em favor de jesus. e isto confirma al�m disso o que diz�amos sobre a primeira condena��o de jesus, sua evas�o organizada e facilitada, a com�dia de sua crucifica��o prevista no g�lgota, lugar incomum, a libera��o por um comando zelote dirigido por um tal sim�o, que n�o era de cirene, a captura deste, sua execu��o ali mesmo em lugar de jesus, a fuga deste �ltimo � Samaria, e, em vez de cair no esquecimento, a nova insurrei��o. da� a segunda captura e a verdadeira crucifica��o final, mas desta vez nas oliveiras. mas agora deixaremos momentaneamente ao procurador, para estudar uma desgra�a similar e paralela, e provavelmente justificada pelos mesmos motivos: a de herodes antipas. quando foi crucificado jesus, no ano 35 de nossa era, nosso tetrarca governava a galil�ia e a perea da morte de seu pai, herodes, o grande. contava aproximadamente cinq�enta e cinco anos e sempre levara uma vida muito apraz�vel. foi renomado tetrarca por c�sar augusto, recebeu deste a melhor parte da heran�a de seu pai, e foi, como ele, um construtor. edificou, em especial, e tomando como modelo as cidades helen�sticas, uma nova cidade, a que chamou tiber�ades, em honra ao tib�rio c�sar, o imperador reinante. foi paternal para com seu povo, e ardiloso, mas sem excessiva vontade, e se deixava dominar facilmente por sua sobrinha e esposa herod�as, a quem convencera de que fora viver maritalmente com ele quando caiu em desgra�a seu meio-irm�o herodes filipo, primeiro marido desta. assim era o homem, um reyezuelo a quem gostava de viver bem e, a ser poss�vel, sem complica��es. sem d�vida, a morte de jo�o, o batista, foi imposta pela necessidade de manter a paz em seus dom�nios. e agora nos encontramos de caminho para roma, no ano 38, imediatamente depois do comparecimento de pilatos ante cal�gula e de seu ex�lio em vienne. o que ia fazer ali? consultemos ao flavio josefo. herodes agripa i acabava de ser renomado rei de toda uma parte da palestina. com efeito, tinha recebido a tetrarquia de seu tio herodes filipo, morto no ano 34 de nossa era. esta compreendia a batanea, a tracon�tide, a gaulan�tide e a auran�tide; mais adiante roma acrescentaria a galil�ia e a perea, e muito mais tarde, ao advento de claudio c�sar, possuiria todo o reino de seu antepassado herodes, o grande. no come�o do favor romano que sucedeu a uma longa queda em desgra�a, sua eleva��o suscitou o ci�mes de sua irm� Herod�as. julgue-se: �herod�as, irm� do novo rei agripa e mulher de herodes, tetrarca da galil�ia e perea, n�o p�de olhar sem inveja esta prosperidade de seu irm�o, que o elevava acima de seu marido. ardia em ci�mes ao ver aquele que antigamente se viu obrigado a refugiar-se ao lado dela, porque n�o tinha sequer meios para pagar suas d�vidas, retornar cheio de honra e de gl�ria. uma mudan�a de fortuna t�o grande lhe resultava insuport�vel, principalmente quando o via caminhar vestido de rei, em meio de todo o povo. e n�o podendo dissimular o despeito que lhe ro�a sem cessar o cora��o, apressava de cont�nuo a seu marido para que fosse � Roma a fim de obter uma honra semelhante, dizendo que ela n�o podia continuar vivendo assim...� (cf. flavio josefo, antig�idades judaicas, xviii, ix). adivinha-se a continua��o de seus argumentos. mas a que se torna bastante nebulosa � a deste assunto e suas conclus�es, ao menos no que diz respeito �s suas justifica��es: �como herodes gostava da tranq�ilidade e desconfiava da corte

romana, fez tudo o que p�de para distrair a sua esposa desses pensamentos, mas quanto mais via-o resistir, mais lhe pressionava, sem que houvesse nada que sua paix�o por reinar n�o lhe impedisse de fazer para consegui-lo ...� (cf. flavio josefo, op. cit., xviii, ix). herod�as conseguiu persuadir ao herodes antipas de que apresentasse sua peti��o ante o imperador, nesse momento cal�gula. ambos embarcaram, pois, para roma. mas herodes agripa i teve a not�cia das gest�es de seu tio. enviou um de seus libertos, um homem de confian�a chamado fortunato, a que apresentasse ao imperador uma oposi��o solidamente fundamentada. fortunato, aproveitando melhores ventos que a nave de herodes antipas e herod�as, chegou ao mesmo tempo que eles � capital do imp�rio. no que consistiam seus argumentos? nisto: herodes antipas era acusado por herodes agripa i de participar do compl� de sejano contra tib�rio, de favorecer ao artab�n, rei dos partos, contra ele, herodes agripa i, e de reunir secretamente, em um arsenal clandestino, material para armar e equipar a setenta mil guerreiros. cal�gula, impressionado ante tais acusa��es, perguntou ent�o ao herodes antipas se tudo isso era verdade, e este �ltimo confessou lastimosamente que, por desgra�a, era a pura verdade. ent�o o imperador lhe destituiu de sua tetrarquia, que deu ao herodes agripa i, confiscou toda sua fortuna, e condenou � ex�lio perp�tuo em lyon, galias. n�o obstante, como soube que herod�as era a irm� de herodes agripa i, cal�gula decidiu lhe deixar a fortuna de seu marido, e a liberdade. nobremente, herod�as respondeu que seu amor para seu marido a obrigava a recusar e a lhe seguir no ex�lio. coisa que foi imediatamente concedida por cal�gula. agora bem, nada disto resiste a um exame. em primeiro lugar, fazia oito anos que fora liq�idado o compl� de sejano. e como imaginar que este �ltimo tivesse necessidade de incluir entre seus c�mplices a um obscuro pr�ncipe palestino, que al�m disso residia v�rios milhares de quil�metros de roma, �nico centro vital do imp�rio romano aonde valia a pena dirigir o golpe essencial da conspira��o? em segundo lugar, imaginar que herodes agripa favoreceria a entrada das tropas de artab�n na tetrarquia de herodes agripa i era lhe prestar o desejo de ser por sua vez despojado por eles da sua. porque isto n�o deixou acontecer; portanto, o segundo argumento n�o se tem mais em p�. por �ltimo, supor que herodes antipas dispunha dos meios para recrutar, equipar, armar, alimentar, alojar e pagar � setenta mil mercen�rios, era esquecer que seu feudo, por sua exig�idade, dificilmente podia proporcionar-lhe; nem a popula��o, nem os ganhos desta tetrarquia o permitiam. n�o esque�amos que mais tarde, no ano 135, sob o imperador adriano, quando roma dever� contar com um ex�rcito consider�vel para liq�idar a rebeli�o de sime�o-bar-koseba, reuniria dez legi�es, quer dizer, exatamente setenta mil homens! de onde poderia tirar antipas semelhante ex�rcito? por outra parte, sublinha-se o fato de que herodes antipas era um homem apraz�vel, que n�o tem nem quer complica��es, e que resiste o melhor que pode �s instiga��es de sua esposa. assim, como imagin�-lo na pele de semelhante conspirador? isso n�o parece com ele. al�m de tudo isto, n�o omitiremos de assinalar ao leitor que, em guerra dos judeus do mesmo flavio josefo, os motivos dessa queda em desgra�a s�o totalmente diferentes. cal�gula exila antipas �por sua avareza� (op. cit., ii, xvi). essas variantes s�o obra dos monges copistas cat�licos que, na idade m�dia, �arrumaram� as obras de flavio josefo em suas vers�es gregas. mas se tomarmos a vers�o eslava de guerra dos judeus, que foi acomodada por monges copistas que pertenciam � Igreja ortodoxa, inteiraremo-nos de que o imperador despojou antipas de seus bens e o exilou com herod�as pelo simples motivo de �sua insaciabilidade�. e, al�m disso, tudo isto n�o se desenvolve j� durante o reinado de cal�gula, e sim durante o de tib�rio, e herodes antipas e herod�as n�o foram exilados em lyon, galias, a n�o ser � Espanha. (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, ii, iv, manuscrito eslavo). assim, as incoer�ncias, contradi��es, diferen�as consider�veis que se v�em

n�o fazem a n�o ser sublinhar que os monges copistas que censuraram, interpolaram e maquiaram a obra de flavio josefo na idade m�dia, fizeram-no de qualquer maneira, tentando ocultar a todo pre�o algum fato importante: o verdadeiro motivo da queda em desgra�a de herodes antipas. aqui chegamos no mesmo ponto do problema j� exposto no caso de p�ncio pilatos. agora nos corresponde, portanto, indagar a verdade, embora esta tenha que traumatizar e desolar �s almas m�sticas e sens�veis. nestas circunst�ncias devemos recordar o conselho de anatole france: �aprendamos de montaigne a verdadeira d�vida, a d�vida indulgente, que nos disp�e a compreender todas as cren�as, sem ser presa de nenhuma delas, e a n�o desprezar aos homens quando se equivocam...� para concluir com o destino de herodes antipas e de herod�as, recordaremos simplesmente que foram com efeito exilados ambos por cal�gula no ano 38 de nossa era, que chegaram em lyon, ou, o que � mais prov�vel, em vienne, cidade de deporta��o, situada a 31 km. ao sul daquela, e que morreram no ano 39, qu�o mesmo pilatos, e quase com toda seguran�a a mesma vez que claudio passou por ali, quando ia guerrear contra os bret�es. eusebio da cesar�ia (cf. hist�ria eclesi�stica, i, xi, 3) confirma-nos que se tratava, efetivamente, de �vienne das galias�; flavio josefo diz lugdunum, ou seja, lyon em latim. alguns, ante sua afirma��o na guerra dos judeus (ii, xvi), que situava dito ex�lio na espanha, supuseram que se tratava de saint-bertrand-de-comminges, ao norte dos pirineos, que em latim se chamava lugdunum convenarum. mas aquele lugar jamais esteve situado na espanha, e todos os historiadores s�rios se aderiram � teoria de que se tratava de lyon do vale de r�dano, ou mais exatamente de sua cidade vizinha, vienne, onde eusebio da cesar�ia situa a deporta��o do tetrarca e de herod�as. n�o obstante, antes de fechar este cap�tulo, recordaremos ao leitor que os livros vii, viii, ix, x e xi dos anais de t�cito, que cobriam todo o per�odo de cal�gula imperador e de claudio c�nsul, desapareceram providencialmente. � para acreditar que o historiador latino justificava, com seus dados hist�ricos, a tese que sustentamos aqui. 29 - quando morreu jesus? procurando provas � quando encontrei dificuldades!... diderot, pens�es, lxi para lemaistre de sacy, eminente tradutor de uma b�blia cat�lica a n�o poder mais, jesus morreu no ano 33 de nossa era, d�cimo nono ano do reinado de tib�rio c�sar. para a maioria dos exegetas protestantes, isso aconteceu no ano 31, d�cimo s�timo ano desse mesmo reinado. para daniel-rops, historiador oficial da igreja cat�lica, foi no ano 30, d�cimo sexto do chamado reinado. n�s sustentamos na obra precedente desta s�rie que jesus morrera no ano 35, ao ano vinte e um do reinado de tal imperador. alguns retrocederam muito mais e falaram do ano 27. mas ningu�m chegou mais longe que s�o irineu, disc�pulo dos �padres apost�licos�, quem fez morrer jesus aos cinq�enta anos de idade, �pr�ximo � velhice�, sob o claudio c�sar. j� n�o se sabia quando tinha nascido jesus, e resulta que tampouco se sabe muito menos quando morreu. de modo que tentaremos, por nossa vez, contribuir com um pouco de claridade a este problema. daniel-rops, em jesus em seu tempo, diz-nos o seguinte sobre o ano da crucifica��o: �se se seguir a indica��o do quarto evangelho, cujas notas cronol�gicas s�o as mais precisas, deve-se admitir que a morte teve lugar no mesmo dia de p�scoa (jo�o, 18, 28), quer dizer, segundo o calend�rio lit�rgico judeu, em 14 de nis�n. pois bem, a coincid�ncia entre uma sexta-feira e a p�scoa s� se realizou, na �poca de cristo, em 11 de abril do ano 27, em 7 de abril do ano 30 e em 4 de abril de 33. se se comparar esta informa��o com as indica��es que temos j� sobre seu nascimento, e a dura��o do minist�rio p�blico de jesus, vemo-nos induzidos a escolher a segunda destas tr�s datas. a �semana santa� come�ou, portanto, no domingo 2 de abril do ano 30, e foi na sexta-feira 7 quando jesus foi elevado sobre a cruz, em uma colina nua, �s portas de jerusal�m� (cf. daniel-rops, jesus em seu tempo, cap. ix, p. 439). e uma vez mais surpreendemos a este autor cometendo toda uma s�rie de

enganos, para n�o dizer que sustentando uma tese sem preocupar-se das contradi��es que saem a seu encontro. qualquer que, como o autor das presentes linhas, esteja familiarizado com os c�lculos cosmogr�ficos, possui um jogo de efem�rides planet�rias que abrangem geralmente dois s�culos, de 1800 ao ano 2000, o que � mais que suficiente para toda investiga��o deste g�nero. porque � �bvio que, para semelhantes c�lculos, n�o podemos utilizar o c�mputo eclesi�stico habitual, muito prim�rio, mas sim devemos calcular de novo, muito matematicamente, as neomenias e suas �pocas exatas. pois bem, em astronomia h� uma lei, a que se denominou o ciclo de ouro de meton, pelo nome do astr�nomo ateniense que a descobriu por volta do ano 433 antes de nossa era. esta lei assegura que, cada dezenove anos, a lua volta a encontrarse, no mesmo grau e aproximadamente � mesma hora, em conjun��o com o sol (lua nova), e na mesma posi��o zodiacal. esse � o ciclo lunar dos astr�nomos. quando, duas semanas mais tarde, chega ao ponto oposto, quer dizer, cento e oitenta graus mais longe em seu curso, e ao signo zodiacal oposto, � lua cheia. observemos de passagem (porque � bom rir um pouco) que os exegetas dos primeiros s�culos estavam todos, e por uma vez, de acordo em um ponto, ou seja, que quando o senhor criou, repentinamente e ao mesmo tempo, todas as constela��es, a lua foi criada e apareceu em oposi��o ao sol, toda redonda, e contando j� quinze dias de idade. voltando para ciclo de meton, constataremos que portanto pode estabelecer-se por um momento dado a longitude lunar, e assim se obt�m facilmente a data do calend�rio, quer dizer, a data da lua nova e da lua cheia. o dia da semana o precisar� qualquer calend�rio perp�tuo bem conhecido, que se remonte at� o s�culo i. e se entregamos �s verifica��es descritas acima, vemo-nos for�ados a constatar que tudo o que daniel-rops nos afirma sobre a data da p�scoa judia dos anos 27, 30 e 33 de nossa era � falso: 1. ano 27 � segundo ele, a p�scoa judia do nis�n (m�s lunar que come�a na lua nova que segue ao equin�cio da primavera), caiu em 11 de abril, sexta-feira. e � um engano; a neomenia de nis�n recaiu, em realidade, em 2 de abril, e como a p�scoa judia tinha lugar 14 dias mais tarde (cf. n�meros, 28, 16), isso a faz cair em 16 de abril, e esse dia era uma quarta-feira. 2. ano 27 � segundo ele, a p�scoa judia do nis�n caiu em um 7 de abril e sextafeira. e tamb�m isso � falso, porque foi 12 e na quarta-feira, j� que a neomenia teve lugar em 29 de mar�o. 3. ano 33 � segundo ele, a p�scoa judia caiu em 4 de abril e sexta-feira. e continua err�neo, porque a neomenia teve lugar em 27 de mar�o, a p�scoa foi 10 de abril, e sexta-feira. mas como o dia n�o come�ava em realidade, segundo costume em israel, at� p�r-do-sol, e jesus morreu muito antes de que ca�sse a noite, segundo diz �s quinze horas, isso faz que se encontrassem ainda na jornada da quintafeira. se, pelo contr�rio, ficamos com a data do ano 35, como desenvolvemos em nossa primeira obra, constatamos que a lua nova do nis�n tem lugar em 2 de abril, e que a lua cheia se situa em 16 de abril, quer dizer, um s�bado; mas em virtude da regra judia recordada antes, como jesus morreu antes de p�r-do-sol, estamos ainda na jornada da sexta-feira. como, por certo, anotaram com toda exatid�o os disc�pulos e seus sucessores, inicialmente todos judeus. jesus, portanto, morreu no ano 35 de nossa era, em 15 de abril, e n�o no ano 30, 31 ou 33, segundo os historiadores oficiais da igreja. mas, por que toda essa s�rie de enganos por parte dos exegetas? e por que essa elei��o preferencial, sem bases matem�ticas exatas, de daniel-rops? tudo isso n�o � fortuito. se alguns podem alegar, a modo de desculpa, que quiseram respeitar uma tradi��o secular, n�o � menos certo que os que a estabeleceram o fizeram intencionadamente. nas origens, da igreja dos primeiros s�culos, houve historiadores e exegetas que sabiam perfeitamente a que se ater sobre as verdadeiras origens do cristianismo. n�o ignoravam que o velho sonho messianista dos judeus integristas que aspirava � domina��o das na��es pag�s,

sonho aniquilado pela destrui��o de israel no ano 135 de nossa era, e pela dispers�o de todo esse desafortunado povo, esse velho sonho fora transposto por uns ardilosos compadres vindos da gentilidade em sua maior parte. o sonho desmesurado de saulo-paulo, sua ambi��o de realizar uma religi�o nova que coroaria um verdadeiro imp�rio oculto, esse sonho surpreendente come�ava a realizar-se. e terei que alimentar o mito, fazer desaparecer a realidade hist�rica. para isso, o jesus da hist�ria devia ceder seu lugar ao cristo da lenda crist�. ficaram em m�os � obra. e com este fim, entre outras �modifica��es piedosas, cuidaram bem de estabelecer o m�ximo tempo de separa��o poss�vel entre a morte de jesus e a queda em desgra�a de pilatos, a fim de fazer desaparecer todo rastro dessa assombrosa rela��o entre a morte do primeiro e a queda em desgra�a do segundo. porque a evas�o � Samaria que aconteceu ao �retiro� em fen�cia, que seguiu � �fuga� ao egito, o passo prudente de uma tetrarquia a outra quando se deteve o batista, os seis meses oculto em jerusal�m, sem poder sair dali, o perp�tuo errante do norte ao sul e do sul ao norte, todos esses epis�dios s�o muito reveladores como para n�o ver o verdadeiro rosto daquele que n�o fora jamais outra coisa que o chefe da resist�ncia judia contra roma, papel, por certo, perfeitamente honor�vel, mas que n�o podia assumir um deus encarnado, vindo a prop�sito para oferecer-se em sacrif�cio. tudo isso confirma a exist�ncia no seio da igreja desse misterioso �secreto� evocado pelo juramento do bispo no curso da cerim�nia da consagra��o, como j� demonstramos no primeiro volume desta s�rie. e esse �segredo� encobre simplesmente o velho sonho de domina��o universal. 30- o mist�rio da tumba estamos em nosso direito de conjeturar que, a tarde da paix�o, o corpo de jesus foi desprendido da cruz pelos soldados e arrojado em alguma fossa comum... abb� loisy, quelques letres por desgra�a para os redatores dos evangelhos, a lenda do enterro de jesus em uma tumba honor�vel est� em contradi��o absoluta com o direito penal romano. e ningu�m ignora o car�ter imprescrit�vel deste. t�cito nos recorda esse aspecto severo das leis romanas em seus anais: �como os condenados a morte, al�m do confisco de seus bens, eram privados de sepultura, enquanto que aqueles que se executavam a si mesmos recebiam as honras f�nebres e sabiam que seus testamentos seriam respeitados, valia a pena acelerar sua morte�. (cf. t�cito, anais, vi, xxxv). por outra parte, a destrui��o de s�foris, p�tria de sua m�e maria, e a deporta��o de toda a popula��o dessa regi�o, no ano 6 antes de nossa era, pelas legi�es de varo, faziam de todos seus habitantes �escravos de c�sar�, e esta desumana medida se aplicava tanto a seus filhos como �queles que, mais afortunados, empreenderam a fuga e escaparam. por isso o imperador juliano podia responder ao bispo cirilo de alexandria, seu antigo condisc�pulo nas escolas de atenas: �o homem era escravo de c�sar, e demonstraremos...� (cf. cirilo de alexandria, contra julianum). quer dizer que jesus, assim, aos olhos de roma, era um simples escravo de c�sar e um rebelde contumaz, sobre quem pudera exercer uma misteriosa benevol�ncia sa�da de diversos meios (o pr�prio daniel-rops o reconhece em seu jesus em seu tempo) por raz�es igualmente misteriosas, jesus crucificado n�o podia esperar nesse oculto amparo. inexoravelmente varrido pela pot�ncia ocupante, definitivamente condenado a morte, e ao mais infamante dos supl�cios legais implicados por esta, as imbrica��es legais deviam escalonar-se em sua ordem imut�vel, sem que nenhum motivo �til nem v�lido aos olhos de roma pudesse suavizar. por tudo isso, � impens�vel que jesus se beneficiou de uma tumba honor�vel e ritual, pois s� a fossa inf�mia dos condenados a morte podia receber seu cad�ver. e assim foi. e, com efeito, ficam alguns testemunhos mais conhecidos desse importante detalhe. o imperador juliano, que tinha ao seu dispor os arquivos imperiais, em

sua ep�stola ao pothius confirma que jesus teve como sepultura a fossa comum legal para os condenados a morte. o pr�prio jesus n�o ignorava que iria parar ali, como todo justi�ado, e o predisse com toda claridade, em sua par�bola de mateus (21, 39) e marcos (12, 8), quando os vingadores assassinam ao filho do dono da vinha, �e lhe agarrando, mataram-lhe e lhe arrojaram fora da vinha�. esta tradi��o se perpetuou durante longo tempo depois dos in�cios do per�odo apost�lico. existe, com efeito, um velho evangelho j� citado, que conhecemos como o evangelho dos doze ap�stolos, onde lemos o seguinte: �conduziram pilatos e o centuri�o at� o po�o de �gua da horta, po�o muito profundo... olharam para baixo, no po�o, e os judeus gritaram: �oh, pilatos! o corpo de jesus, que morreu, n�o � esse da�...�.� (op. cit., 15� fragmento). sem d�vida a continua��o do texto arruma o assunto, pois pilatos lhes diz: �acreditam que � o nazareno?�. eles responderam: �acreditamos...�. ent�o ele disse: �conv�m colocar seu corpo em uma tumba, como se faz com todos os mortos� (op. cit., 15� fragmento). por conseguinte, em princ�pio, os legion�rios romanos que desencravaram o cad�ver de jesus (e n�o jos� de arimat�ia, segundo mateus (27, 59), marcos (15, 46), lucas (23, 53) e jo�o (19, 38), pois � impens�vel que a pol�cia romana abdicasse suas obriga��es legais e penais sobre uns civis muito suspeitos), esses legion�rios jogaram o cad�ver de jesus � fossa inf�mia. com o abade loisy, antigo professor de hebreu do institut catholique de paris, o acad�mico cat�lico edouard le roy negou que se concedeu uma tumba regular ao jesus (cf. dogme et critique). e � evidente. esse fato que lhe precipitasse em uma fossa, que em realidade n�o era outra coisa que um oss�rio legal (tamb�m existia um em roma, no cemit�rio esquilino), facilitou aos disc�pulos desejosos de assentar a f�bula da ressurrei��o o roubo do cad�ver. � evidente que n�o todos estiveram no segredo, mas sim houve uns quantos encarregados da opera��o. e o mesmo evangelho copto nos contribui alguns ecos do fato: �ele (pilatos) chamou o segundo. disse-lhe: �sei que voc� � um homem veraz, mais que todos estes. diga-me quantos ap�stolos tiraram da tumba o corpo de jesus�. este respondeu: �vieram todos os onze, assim como seus disc�pulos, tiraram-no furtivamente, e se separaram s� deste outro (de judas)�. ele (pilatos) chamou ent�o ao terceiro e lhe disse: �valorizo seu testemunho muito mais que o desses outros. quem tomou o corpo de jesus da tumba?�. respondeu-lhe: �jos� com nicodemos e seus parentes�. chamou o quarto e lhe disse: �voc� � o mais considerado entre eles, e despedi todos. diga-me agora o que foi que aconteceu quando tiraram de suas m�os o corpo de jesus na tumba�. disse-lhe: �nosso senhor prefeito, isto foi: n�s dorm�amos, descuidamo-nos e n�o pudemos saber quem o tinha tirado. em seguida nos levantamos, buscamo-lo e n�o o encontramos... e ent�o foi quando avisamos...�.� (cf. evangelho dos doze ap�stolos, 15� fragmento). pilatos compareceu ent�o � tumba, n�o convencido por todas essas contradi��es. observar-se-� que nem por um instante negam os ap�stolos que o cad�ver fora roubado; portanto tampouco eles acreditam na ressurrei��o. na tumba, o procurador n�o v� a n�o ser as mortalhas atiradas no ch�o, e objeta: �se tivessem pego o corpo, teriam levado as mortalhas com ele...�. mas os judeus presentes lhe fazem observar: �mas n�o v� que n�o s�o as suas, a n�o ser outras, estranhas?...�. n�o se tratava, portanto, de mortalhas com as quais se ligavam as m�os e sustentavam o queixo, mas sim de outras, cuja presen�a n�o se explica, a menos que se tratasse de ataduras. porque nesse velho evangelho, t�o imprudentemente redigido, n�o se fala em nada de sud�rios e aqui � onde vamos evocar outras hip�teses sobre a pseudo-ressurrei��o. na primeira obra desta s�rie, demos nossa explica��o pessoal desta. uma vez morto jesus, substitu�ram-no por seu irm�o g�meo, provavelmente o que vivia em sid�nia, e conhecido pelo nome de sidonios. conhecemos sua exist�ncia atrav�s de josefo, o eclesi�stico, e de hip�lito de tebas (cf. migne, patrologie, cvi, p. 187). mas existem outras explica��es para essas manifesta��es t�o discretas de

jesus depois de sua morte. porque � muito surpreendente que o �filho de deus� ressuscitado n�o pudesse manifestar-se em toda sua gl�ria, tanto diante de an�s e caif�s como diante de todo o povo de israel... e � estranho tamb�m que essas poucas manifesta��es n�o fossem a n�o ser encontros noturnos, em um caminho, em uma casa amiga, e que esse glorioso ressuscitado s� circulasse sob uma apar�ncia que n�o permitisse reconhec�-lo a simples vista. e, o que � mais, alguns de seus disc�pulos �duvidaram� dessa ressurrei��o (cf. mateus, 28, 18), pois sabiam de antem�o a que se ater a esse respeito. e, antes de mais nada, abordando outros trabalhos exeg�ticos, citaremos ao schalom-ben-chorin, quem em seu livro jesus bruder jesus (der nazarener in j�discher sicht) fala-nos, entre outros autores, de h.s. reimarus (1694-1768), o qual em seus wolffenb�tteler fragmentem (lessing 1777), sob o t�tulo von der zwecke jesu und seiner j�nger, seguia a tradi��o dos toledoth jeschuah, fonte judia an�nima segundo a qual o corpo fora roubado pelos disc�pulos. para schalom-ben-chorin, a tese da ressurrei��o dataria da �vis�o� de saulopaulo (cf. i ep�stola aos corintios, 15, 14), quem nos apressa a escolher: �e se cristo n�o ressuscitou, v� � nossa predica��o...�. o que emana de saulo-paulo, se n�o se houverem dissolvidos nos limbos, fiquem tranq�ilos! nossa elei��o aparece. sobre este mesmo tema possu�mos ainda outras tradi��es. para o doutor hugh j. schoenfield, em sua obra the passover flot (ed. hutchison, 1965), que foi o resultado de quarenta anos de investiga��es e confronta��es de fatos, jesus tinha programado deliberadamente sua vida de maneira que se adaptasse perfeitamente, em todos os pontos, �s profecias do antigo testamento. por outro lado, arrumaram-na para que fosse executado numa sextafeira, j� que o sabbat se iniciava naquele mesmo dia ao p�r do sol, coisa que obrigaria aos executores a retir�-lo da cruz antes do anoitecer. deste modo, s� teria permanecido na situa��o de um crucificado durante algumas horas. mas estes, por regra geral, morriam muito depois de t�o curto espa�o de tempo, e da� o assombro de pilatos ao inteirar-se de que jesus j� tinha morrido. (marcos, 15, 44). a raz�o terei que procurar na esponja molhada em vinagre, que em realidade fora embebida de um narc�tico, com o que se provocou a inconsci�ncia de jesus e uma certa catalepsia. imediatamente depois da inuma��o, jos� de arimat�ia e nicodemos teriam procedido a levar o corpo da tumba. sempre segundo o doutor hugh j. schoenfield, jesus teria recuperado ulteriormente o conhecimento, mas, muito debilitado pela flagela��o e a crucifica��o, haveria falecido algum tempo depois. assim se explicariam os contatos verbais e visuais com os disc�pulos, a exibi��o de suas chagas, etc., e logo seu desaparecimento, que em seguida teriam transformado em ascens�o corporal ao c�u. citaremos ainda outro autor alem�o: kurt berna, presidente da international foundation for the holy shroud, de zurich, quem em seu livro, muito ilustrado, que se intitula jesus nicht am kreuz gestorben (jesus n�o morreu na cruz, de ed. hans naber, stuttgart, 1962), diz-nos, com fotografias em seu apoio, que o sud�rio de tur�n n�o seria um sud�rio fict�cio (conhecem-se 39 ...). a folha de pilum do legion�rio romano n�o havia tocado o cora��o, e como o fato de que brotasse sangue e �gua n�o constitu�a jamais uma prova de falecimento, podia admitir-se que jesus estava vivo quando lhe depositou na tumba. a seguir fizeram-no voltar em si e teriam-no vestido com roupas de jardineiro. todas essas explica��es seriam aceit�veis, a condi��o de que jesus pudesse ser depositado em uma tumba com c�maras, como era costume no israel antigo. do momento em que o corpo foi jogado � fossa inf�mia, todas essas medidas de reanima��o e de disfarce s�o dificilmente aceit�veis. a fossa inf�mia do cemit�rio das oliveiras era vis�vel de todas as partes, e possivelmente inclusive colocavam ali um sentinela depois de cada execu��o. pois bem, tudo tende a nos demonstrar que jesus, qu�o mesmo os dois ladr�es crucificados a seu lado, foi jogado a essa mesma fossa, e o imperador juliano, que dispunha de arquivos e de leis para lhe ajudar, n�o o afirmou sem provas ao cirilo de alexandria. agora, para explicar as �apari��es� p�stumas, n�o fica j� mais explica��o que a de um cupincha que fizesse este papel, neste caso seu irm�o g�meo, cuja

exist�ncia, se n�o seu papel, n�o pode ficar em d�vida. recapitulemos. legalmente, o cad�ver de jesus foi depositado (ou melhor atirado) na fossa dos condenados a morte, e os dos dois ladr�es tamb�m. quebraram-lhes as pernas, antes de desencrav�-los, para que a asfixia acabasse rapidamente com eles, ao n�o poder sustentar-se mais sobre seus p�s, segundo a vers�o oficial. mas as cruzes possu�am uma esp�cie de cavilha, sobrando a que repousava o per�neo dos condenados, o que acrescentava a todos os outros sofrimentos o do �cavalete�. por conseguinte, a ruptura das pernas n�o tinha por objetivo acabar com eles, a n�o ser s� impedir que, uma vez jogados na fossa inf�mia, pudessem sair-se ou rebelarse. para os c�mplices eventuais do exterior havia, sem lugar a d�vida, um ou dois sentinelas de guarda. os dois ladr�es seguramente agonizaram ali, e o t�tano ou a gangrena acabariam o que a crucifica��o n�o tinha terminado. no caso disto jesus foi ainda mais singelo: estava aparentemente morto, mas, por prud�ncia, um decuri�o da patrulha de controle lhe afundou o tri�ngulo de sua lan�a no flanco. porque tinha anunciado sua ressurrei��o, e tamb�m por medo aos fen�menos de vampirismo, terror do mundo antigo, � pelo que lhe perfurou o flanco. a seguir o cad�ver foi reunir-se com os dois ladr�es ainda vivos, na mesma fossa de inf�mia. porque estes provavelmente ainda n�o tinham morrido, seus estertores, seus gemidos, ainda eram aud�veis. quando os sentinelas n�o ouviram nenhum outro ru�do, avisaram, e abandonaram definitivamente seu posto de guarda. ent�o foi quando chegaram os zelotes, com toda seguran�a de noite, apoderaram-se do corpo de jesus, e o levaram, ao amanhecer, � Samaria. pr�ximo contribuiremos a prova formal disso, com ajuda de um texto conhecido do s�culo ii. em caso mais extremo pode admitir-se ainda que pilatos aceitou, quando teve constatado devidamente o �bito, que os disc�pulos ou a fam�lia retirassem o cad�ver da fossa inf�mia e o depositassem em uma tumba ritual. porque, apesar de tudo, era um �filho de david�, e tinha gozado de numerosos e poderosos apoios. isto pilatos n�o ignorava, e no ponto em que se encontravam, este �ltimo favor n�o conduzia nenhuma conseq��ncia. al�m disso, se como afirmam as ata pilati, em sua segunda deten��o foi crucificado nas oliveiras, o cemit�rio ritual se encontrava ali, e n�o faltavam tumbas vazias. esta �ltima hip�tese vem confirmada no texto do evangelho dos doze ap�stolos, em seu 15� fragmento, onde se v� o procurador fazendo retirar pelos judeus (ou os disc�pulos?) o corpo de jesus fora da fossa comum, e aconselhando que lhe depositassem em uma tumba. nossos contraditores habituais, por toda resposta, arg�em por sua vez �que n�o est�o de acordo�. isto � pouco, em aus�ncia de qualquer argumento, apoiado por um documento. para eles, que um homem fora flagelado com l�tegos de chumbo, que fora crucificado, que recebesse uma lan�a no flanco, morrera, estivesse enterrado durante tr�s dias, e logo ressuscitasse, fresco e disposto, tudo isso � mais plaus�vel. mas que lhes diga que simplesmente roubaram clandestinamente seu cad�ver, e que uns quantos listillos montaram com destreza uma pequena com�dia que teve um perfeito �xito, havida conta da �poca e da ignor�ncia geral do povo, e se voltar�o indignados, alegando que � impens�vel, il�gico e inveross�mil. �acredito nas testemunhas que se deixam degolar...�, afirmava pascal. l�stima! a hist�ria demonstrou que tamb�m se pode morrer por uma causa est�pida, inclusive inepta. e a frase de jean rostand conserva aqui toda sua sabedoria: �freq�entemente � mais f�cil morrer pelo que algu�m cr�, que renunciar a isso ...� 31- sobre a incinera��o do c�daver de jesus digam ao rei: o formoso templo adornado est� em ru�nas, o louro m�ntico morreu, a fonte gorgoteante emudeceu, apolo n�o tem j� morada... spiros alibertis, bizance et thessalonique, le dernier oracle de delphes n�o queremos terminar esta parte sobre o mist�rio da tumba sem voltar, a pedido de diversos leitores da obra precedente, ao problema da incinera��o dos

restos de jesus, no ano 362, em sebasta, samaria, e por ordem do imperador juliano. antes de mais nada releremos as p�ginas que t�m rela��o com esta sensacional destrui��o (que varre definitivamente a lenda da pseudo-ressurrei��o), que aparece j� relatada no primeiro volume. n�o ter� que confundir este epis�dio do que com justi�a se chama a rea��o pag�, com a transfer�ncia dos restos do bispo babylas, dos que se serviram os crist�os para manchar o templo de apolo em dafne, nos sub�rbios da antioquia de s�ria. essa exuma��o teve lugar no mesmo ano 362, em 21 de outubro, quando c�sar, juliano, achava-se na antioquia. mas entre a sebasta de samaria e dafne de s�ria h� aproximadamente 450 km a v�o de p�ssaro; portanto, trata-se de dois fatos bem diferentes. resumamos. juliano, desejoso de abrir de novo o templo de apolo em dafne, e de restaurar o culto e seu or�culo, deu a ordem de retirar dele o corpo do bispo de antioquia babylas, que estava inumado ali. consultado o or�culo vizinho, este respondeu, com efeito, que antes teria de purifica-lo: �tirem os cad�veres...�. nessas regi�es, e desde fazia milhares de anos, manchava-se e profanava o lugar do culto odiado esparramando nele ossos e restos de cad�veres (n�meros, 19, 16; i reis, 13, 2; ii reis, 21, 14-16; ezequiel, 6, 5). os crist�os levaram ent�o os restos de babylas entoando c�nticos, e, como vemos, sem sofrer nenhuma persegui��o nem mol�stia. de noite, e como por azar, o fogo do c�u caiu sobre o santu�rio e o reduziu a cinzas, com a est�tua e todos os acess�rios do culto de apolo. e jo�o cris�stomo declarou ter sido testemunha ocular deste acontecimento, em sua quarta homilia sobre o elogio de s�o paulo, e em seu discurso contra os gentis. concluamos que esperou de noite para ordenar lhe emprender fogo, porque que coisa vaga e imprecisa podia estar esperando ali, nada menos que durante horas? e o mesmo aconteceria no ano 404, a noite em que seria exilado de bizancio por ordem da imperatriz eudoxia. os crist�os incendiariam os monumentos mais formosos da cidade, e em especial sua maravilhosa biblioteca. pouco antes, e nesse mesmo ano 362, mas em agosto, juliano tinha ordenado abrir a tumba daquele a quem ele chamava �o morto�, �a quem os judeus adoram como um deus...�, �a quem pretendem ressuscitado...�. fariam queimar seus restos e dispersar suas cinzas em samaria, e muito mais tarde os crist�os, para sair do apuro, afirmariam que se tratava simplesmente dos restos de jo�o, o batista. mas ningu�m pretendeu jamais que o batista ressuscitara, e ningu�m o adorou jamais como a um deus, nem sequer seus pr�prios disc�pulos, os mandeanos, para quem n�o foi mais que um profeta. o �nico personagem que corresponde � essas defini��es � Jesus. porque, ou a cabe�a do batista, que foi decapitado na fortaleza de maqueronte, na transjordania, foi exposta �s rapinas cravada na ponta de uma lan�a, no alto da torre mais elevada, ou foi levada por um pequeno destacamento de cavaleiros � Jerusal�m, ante herodes antipas. ambos os costumes se seguiam naquela �poca. no primeiro caso, os disc�pulos de jo�o, o batista, n�o obtiveram nenhum vest�gio de seu mestre. no segundo caso, puderam atacar o pequeno destacamento pelo caminho de jerusal�m, e lhes roubar a cabe�a do batista. mas esta jamais foi conduzida � Samaria, por v�rias raz�es: a) n�o h� necessidade de uma tumba para guardar uma cabe�a, bastam um relic�rio, uma urna ou um pequeno sarc�fago. mas em sabasta o que se abriu foi uma tumba. al�m disso, n�o se fala de restos no caso de uma cabe�a, diz-se �o cr�nio� ou �a cabe�a�. e o que os pag�os incineraram em sebasta, no ano 362, foi um esqueleto, os restos de um esqueleto. nada de uma cabe�a; b) eusebio de cesar�ia, em sua hist�ria eclesi�stica (i, xi), falando da execu��o de batista, ignora a lenda da cabe�a entregue a seus disc�pulos, e n�o fala de nenhuma inuma��o; c) sozomenes, em sua hist�ria eclesi�stica (vii, 21), diz-nos que a cabe�a de batista foi a �nica que se salvou, foi transladada de jerusal�m � Cil�cia, e dali � Constantinopla. n�o se fala em nada de sebasta... d) o que varre definitivamente a lenda da conserva��o da cabe�a de jo�o, o

batista, � que uma segunda cabe�a foi inumada, no s�culo iv, na igreja de teodosio, em damasco. e ainda hoje, na mesquita dos omeyas, um ed�culo de m�rmore pretende conter outra. tr�s cabe�as para um s� decapitado � muito... e) segundo a lei judia, o corpo dos condenados a morte n�o era devolvido a seus familiares. foram, portanto, os restos de jesus os que juliano mandou incinerar em agosto do ano 362 em makron de samaria, e n�o os de batista. no cap�tulo do primeiro volume consagrado a este problema figuram outros argumentos. em especial a confiss�o do pseudo or�genes em seu contra celsum. a ele remetemos ao leitor. 32 - ressuscitados da sexta-feira santa quando ouviram falar da ressurrei��o dos mortos, uns puseram-se a rir, outros disseram: �ouviremo-lhe sobre isto outra vez ...� atos dos ap�stolos, 17, 32 cometer�amos um grande engano se supus�ssemos por um instante que o p�blico culto, os fil�sofos em particular, e todos os membros da classe aristocr�tica do imp�rio romano, constitu�ram uma massa consider�vel de ing�nuos e papanatas. tudo o mais ter� que deixar isto �s popula��es sem�ticas do oriente m�dio daquela �poca. a d�vida cartesiana, o respeito pela raz�o n�o nasceram no s�culo xvii, mas sim era j� pr�prio do mundo hel�nico e latino. se duvid�ssemos disso, bastar-nosia reler o que declarava um s�bio imperador do s�culo iv em rela��o aos pseudoressuscitados da sexta-feira santa. estamos nos referindo ao juliano c�sar: �como? uma massa de defuntos que ressuscitam e que passeiam por jerusal�m � morte desse deus (jesus), sem que nenhum senador romano tenha sido informado jamais de nenhuma de suas aventuras, nos tempos em que o senado romano era o amo da jud�ia, e fazia que seu procurador e todos os comissionados lhe prestassem contas exatas de tudo o que acontecia?... como? uns prod�gios que teriam ocupado a aten��o do mundo inteiro teriam sido ignorados em toda a terra?... como? o pr�prio nome do evangelho teria sido desconhecido pelos romanos durante mais de dois s�culos?...� (cf. juliano c�sar, contra os galileus, suplemento). o evangelho ao que o imperador juliano faz alus�o neste texto � o de mateus, em seu cap�tulo 27, vers�culos 51 a 54. acrescentemos que nem flavio josefo, que entretanto fora submetido a tantas revis�es e fora t�o completado pelos monges copistas, nem os dois talmuds, tanto o de jerusal�m como o de babil�nia, nem nenhum autor antigo que tivesse tratado a hist�ria dessas regi�es, ouviram falar jamais dessa inesperada sa�da pela cidade dos mortos do cemit�rio de jerusal�m. e, o que � mais, os outros evangelhos can�nicos, tanto o de marcos como o de lucas e o de jo�o, ignoram esse pasmoso prod�gio. tomemos, pois, o texto de mateus no instante preciso em que nos descreve a morte de jesus: �... a terra tremeu e se fenderam as rochas; abriram-se os monumentos, e muitos corpos de santos mortos, ressuscitaram, e saindo dos sepulcros, depois da ressurrei��o dele, vieram � cidade santa e apareceram a muitos...� (cf. mateus, 27, 51-54). os atenienses, membros de are�pago, c�lebre tribunal com sede na colina consagrada a ares (o marte grego), burlaram-se de saulo-paulo quando este lhes falou da ressurrei��o de jesus. o que diriam se lhes anunciassem, al�m disso, a dos mortos do cemit�rio ritual de jerusal�m? ante esta demencial afirma��o do an�nimo redator do evangelho segundo mateus, os padres da igreja tentaram justificar os fatos supostos. vamos, pois, tomar o conhecido dictionnaire de bible, de f. vigouroux, sacerdote de saintsulpice (paris, 1922, letouzey & an�, edith.), e ver o que tem de tudo isso aos olhos do d�cil crente: �embora o evangelista relaciona essas ressurrei��es com a morte mesma do salvador, estamos de acordo em admitir que estas n�o se produziram antes da de jesus cristo, �o primeiro renascido entre os mortos� (cf. i corintios, 15, 20). os sepulcros puderam abrir-se no momento do tremor de terra, mas os mortos ressuscitados n�o tiveram que permanecer vivos durante umas quarenta horas. apareceram a seguir para testemunhar a ressurrei��o, e por conseguinte a divindade de jesus. n�o apareceram com formas fict�cias, como aquelas das quais se servem os anjos, mas com seus verdadeiros corpos, de outro modo a abertura de seus sepulcros

n�o teria raz�o de ser. seus corpos estavam, portanto, no estado que descreve s�o paulo (cf. i corintios, 15, 35, 44) para os corpos ressuscitados�. �trata-se aqui de personagens santos, provavelmente falecidos bastante recentemente para ser reconhecidos por aqueles aos que se mostraram. s�o mateus n�o diz o que foi deles depois dessas apari��es. s�o agust�n (epist. �cliv, 9; ad evod. xxxiii, col. 712) pensa que retornaram �s suas tumbas. mas muitos outros acreditam que, associados � ressurrei��o corporal de cristo, acompanharam-lhe ao c�u em corpo e alma no dia de sua ascens�o (cf. s�o ambrosio, in ps. i, 54, tomo xiv, col. 951; serm. lxi, 2, tomo xvii, col. 729; s�o jer�nimo, epis. cxx, 8, 2, tomo xxii, col. 993; s�o epifanio, haeres. lxxv, 8, tomo xlii, col. 513)�. dir-se-ia que estamos sonhando! assim que uns mortos recentes ressuscitam no instante em que jesus exala o �ltimo suspiro na cruz. suas tumbas se abrem por efeito do sismo, mas eles permanecem deitados dentro, embora transmutados em seu �corpo de ressurrei��o�, at� que o pr�prio jesus tenha ressuscitado. o que exige que esses mortos permane�am deitados, a c�u aberto, desde sexta-feira santa at� a alvorada do domingo, quer dizer, durante umas quarenta horas. sem mover-se, naturalmente, e sem padecer o frio das noites de nis�n na palestina. logo, no domingo pela manh�, � alvorada, entram em bloco em jerusal�m, v�o visitar seus parentes mais amealhados, e logo voltam para seus sepulcros, a esperar ou o julgamento final, ou a ascens�o de jesus, que n�o se produzir� at� quarenta dias mais tarde. como n�o nos diz que o encarregado do cemit�rio comunal fechou de novo suas tumbas, deveriam sofrer muito frio noturno durante essas seis semanas. por �ltimo, o dia solene da ascens�o, elevam-se pelos ares e servem de cortejo de honra ao jesus enquanto ascende. o molesto � que nem mateus nem jo�o, em seus evangelhos, falam-nos de uma ascens�o de jesus, e s� a citam marcos e lucas, o primeiro a situa na galil�ia (marcos, 16, 7), enquanto que o segundo a situa na jud�ia. s� que n�o est� de acordo consigo mesmo, porque em seu evangelho tem lugar em betania, povoado situado a poucos quil�metros de jerusal�m (op. cit., 24, 50), e nos atos dos ap�stolos a situa em jerusal�m, no monte das oliveiras (op. cit., 1, 9 e 12). que o entenda quem pode. esta lenda com o tempo desenvolveu-se. daniel-rops, em jesus em seu tempo, conta-nos (op. cit., xi) que entre esses mortos havia dois filhos do santo anci�o sime�o, presente quando maria e jos� subiram ao templo, no natal de jesus (cf. lucas, 2, 25 a 35). esses dois filhos de sime�o, coisa curiosa, levam nomes latinos: chamavam-se carinus e leucius, e depois de sua inesperada ressurrei��o instalaram-se em arimat�ia. como essa palavra n�o faz a n�o ser velar o cemit�rio das oliveiras, em jerusal�m (har-ha-mettim, em hebreu, significa fossa dos mortos; o povo de arimat�ia n�o tinha exist�ncia hist�rica naquela �poca), nossos dois ressuscitados retornaram, pois, �s suas tumbas. � o melhor que podiam fazer. mas um autor apost�lico antigo, citado por eusebio da cesar�ia, assegura que encontrou outros ressuscitados da sexta-feira santa muito mais tarde em alexandria. como nossos fen�menos, segundo nos diz, tinham revestido seu �corpo de ressurrei��o�, n�o puderam morrer de novo, e tiveram que passear-se pelo vasto mundo na espera do julgamento final. o que nossos narradores apost�licos esquecem de nos dizer � o espanto que devia apoderar-se da popula��o de jerusal�m ante essa prociss�o alucinante de cad�veres brotados de seus sepulcros. n�o esque�amos que o mundo antigo conhecia perfeitamente a lenda, de uma vez fascinante e terr�vel, do vampiro que subsistia em uma vida larval em sua tumba, e cujo �duplo� flu�dico se desprendia de noite para ir literalmente bombardear o fluido vital dos humanos dormindo, qu�o mesmo uma esponja absorvendo um pouco de �gua. o r.p. dom augustin calmet, da ordem de s�o benito, e abade de senores, em lorena, consagrou-lhes um curioso tratado, intitulado dissertations sur les apparitions des anges, d�mons, esprits, et sur les revenants et vampires de hongrie, boh�me, moravie et sil�sie (cf. paris, 1746). pois bem, desse espanto t�o natural, mateus n�o nos diz nada. nem dos problemas aos que deveriam enfrentar os herdeiros e sucessores desses mortos, que tinham �retornado� desta guisa, e dos quais podia esperar-se que queriam recuperar

seu antigo posto na casa, nem do lado c�mico da prociss�o, j� que esses mortos, segundo o costume judeu, tinham os punhos e os tornozelos atados com mortalhas, e al�m disso estavam estreitamente envoltos em seu sud�rio. e esta dificultosa prociss�o devia parecer-se raivosamente a um monte de carreira de sacos. de fato, e segundo os costumes antigos de toda a concha mediterr�nea, todo morto sa�do de sua tumba devia ter o cora��o atravessado e a cabe�a atada. logo se queimava definitivamente o cad�ver sobre uma fogueira. e agora tentaremos encontrar a verdade por tr�s da lenda. em primeiro lugar observaremos que, prudentemente, marcos, lucas e jo�o se guardaram bem de incluir este relato em seus evangelhos. voltemos, pois a imprudente narra��o de mateus. nos diz que: �abriram-se os monumentos, e muitos corpos de santos mortos, ressuscitaram, e saindo dos sepulcros... vieram � cidade santa...� (cf. mateus, 27, 51-54). antes de nada, como sabiam, naquela �poca, que se tratava de santos, se em israel antigo n�o conhecia a glorifica��o p�stuma, an�loga � apoteose praticada em roma para seus imperadores e por atenas para seus her�is? de fato, a palavra santo se traduz em hebreu por kadosh, e significa simplesmente separado, posto � parte. nos salmos de salom�o, composi��o realizada em princ�pio de nossa era (um s�culo a cavalo do ano 1, aproximadamente), esse termo designa aos justos, aos possuidores da santidade legal, quer dizer, aos fariseus. os manuscritos do mar morto apresentam �s seitas de qumran qualificando-se a si mesmos assim. por outra parte, os cana�tas, ou zelotes, tiravam seu nome de zelador, o primeiro termo do hebreu, e o segundo do grego. lemaistre de sacy, al�m disso, em sua not�vel tradu��o francesa do novo testamento, diz-nos simplesmente que esses santos �estavam dormidos�. come�amos j� a ver um pouco mais claro. resumamos. o cemit�rio ritual situado nas oliveiras era ipso facto um lugar totalmente impuro para os judeus. ali n�o se ia mais que para as inuma��es, e a seguir purificarem-se durante v�rios dias. � evidente que para os zelotes, que n�o observavam o sabbat, que n�o lavavam ritualmente as m�os antes das comidas, uma viola��o a mais ou a menos dos tabus religiosos importava pouco. e o cemit�rio ritual, com seus numerosos vazios, compostos cada um por duas c�maras funer�rias separadas por uma laje m�vel, constitu�a um conjunto de redutos secretos onde n�o corriam o risco de que ningu�m lhes incomodasse. essas s�o as �sepulturas dos santos�, que sob a pluma do pseudo-mateus se converteram em milagrosas tumbas. foi a ressurrei��o, em realidade, uma sa�da em massa dos combatentes zelotes refugiados no cemit�rio, e que penetrariam em jerusal�m com o fim de vingar ao jesus, seu chefe e seu rei? foi simplesmente uma esp�cie de carga operada pelos legion�rios de roma, alertados por um advers�rio dos zelotes, e estes fugiram do cemit�rio para refugiar-se na cidade? tratou-se, pelo contr�rio, da apari��o do comando zelote que liberou jesus, sob as ordens de sim�o, persumido cireneu? � muito tarde para precis�-lo. n�s, pessoalmente, inclinamo-nos pela segunda hip�tese, a do velho guarda zelote oculta no seio das tumbas e a que os romanos teriam feito sair. quanto aos �ressuscitados� da sexta-feira santa, os deixamos com muito gosto aos amantes do fabuloso. no evangelho de marcos permanece um �ltimo eco desta explica��o, embora sabiamente deformado pelos colaboradores de eusebio da cesar�ia em sua escola de copistas: �chegaram ao outro lado do mar, � regi�o dos gerasenos, e assim que saiu jesus do barco veio a seu encontro, saindo dentre os sepulcros, um homem possu�do de um esp�rito impuro, que tinha sua morada nos sepulcros e nem ainda com cadeias ningu�m podia atar-lhe, pois muitas vezes lhe tinham posto grilh�es e cadeias, mas ele tinha quebrado as cadeias e quebrado os grilh�es, sem que ningu�m pudesse lhe sujeitar. continuamente noite e dia ia entre os monumentos e pelos monges gritando e atirando pedras. vendo de longe jesus, correu e se prostrou ante ele...� (cr. marcos, 5, 1-6). em primeiro lugar, precisaremos que o r.p. de tonqu�dec, da companhia de jesus, que at� sua morte, durante cerca de meio s�culo, foi o exorcista oficial da

diocese de paris, declarou a nosso chorado amigo paul-cl�ment jagot, que em toda sua carreira n�o tinha encontrado jamais um s� caso de posse, a n�o ser simplesmente doentes mentais. pois bem, ele era doutor em medicina, especialista em neuropsiquiatria. observemos que a igreja cat�lica, em sua reforma das ordens menores, acaba de suprimir a dos exorcistas. ou seja, que j� n�o h� mais dem�nios nem possessos. uma vez exposto isto, sentimos saudades de que um pseudo-possesso, necessariamente subalimentado por causa dessa vida errante, tivesse apesar de tudo bastante for�a muscular para romper umas cadeias que o sujeitavam estreitamente, e logo, com suas m�os, quebrar os grilh�es que lhe travavam os tornozelos. � algo digno de ver, sobretudo levando em conta que as cadeias antigas n�o eram precisamente braceletes de adorno. al�m disso, naquela �poca, ante semelhante fen�meno humano de for�a, sempre podiam baixar a esse louco furioso a qualquer masmorra bem profunda, onde, com ou sem cadeias, estava seguro que n�o sairia. de fato, esse conto evang�lico veio a sobrepor-se ao fato hist�rico evidente, ou seja, que uns escravos rebeldes, uns gladiadores que tinham quebrado com seus terr�veis ludi, e uns insurretos zelotes perseguidos por roma, tinham quebrado simbolicamente suas cadeias e estabelecido seus ref�gios em tumbas. 33- a sombra de tib�rio alguns estimam que, lendo no futuro, soube tudo isto adiantado, e que desde fazia tempo tinha previsto que reprova��o e que espantosa reputa��o lhe reservava o destino. suetonio, vida dos doze c�sares, tib�rio, lxvii j� vimos anteriormente que tib�rio tinha projetado dar a tetrarquia de herodes filipo i ao jesus. ficamos com a hip�tese segundo a qual tinha ouvido falar dele em s�ria, com ocasi�o de sua campanha na mesopot�mia, onde tinha vencido aos partos no �ufrates. sabemos tamb�m que pilatos, seu neto por alian�a, tinha protegido ao jesus at� o ponto de facilitar sua evas�o. e sobre este projeto de jesus como tetrarca permanece um testemunho no evangelho de jo�o: �e jesus, conhecendo que foram lhe arrebatar e lhe fazer rei, retirou-se outra vez ao monte ele sozinho�. (op. cit., 6, 15). sem d�vida pilatos estivera submetido �s press�es de certos elementos das dinastias dav�dica e herodiana, ao que se acrescentaram influ�ncias dos fariseus igualmente poderosas. mas n�o era um homem que se comprometesse sem ter atr�s dele a aprova��o imperial; portanto agora conv�m procurar no tib�rio a sombra protetora que durante um tempo velou pelo jesus, rei leg�timo, se n�o legal, de israel. conhecemos imperador atrav�s de t�cito em seus anais (i, 53; iii, 24; iv, 44 e 71), atrav�s de suetonio em sua vida dos doze c�sares (cf. augusto, 19, 31, 63, 64, 65, 72; tib�rio, principalmente, 7, 10, 11, 50), e por aurelio macrobio em seus saturnais. de tudo isto resulta que o homem era melhor que sua lenda. chegou at� n�s uma frase que demonstra seu liberalismo: �em um estado livre, a palavra e o pensamento devem ser livres ...� (cf. suetonio, vida dos doze c�sares, tib�rio, 28). por outra parte, manifesta uma certa atitude lassa para com outros, as separa��es de conduta de seus semelhantes lhe deixam indiferente, e neste aspecto se op�e � severidade moral tradicional de roma, e que o senado romano perpetua. assim, por exemplo, ante os adult�rios de sua esposa julia n�o interv�m, n�o a acusa nem declara contra ela, e ser� Augusto, pai de julia, quem adotar� as medidas necess�rias para a san��o legal inevit�vel, j� que a filha de um c�sar n�o podia seguir escandalizando ao imp�rio. tib�rio, al�m disso, fugia das multid�es, e seus isolamentos sucessivos em rodas e logo em capri o demonstram de forma indiscut�vel: procurou inconscientemente as ilhas. mas o que o diferencia indiscutivelmente dos outros imperadores � a indiferen�a religiosa que nos conta t�cito: com efeito, n�o acreditava nem na exist�ncia dos deuses nem no valor da religi�o do imp�rio. era fatalista, e n�o

acreditava mais que no destino, e se tinha obstinado a essa opini�o atrav�s de uma pr�tica continuada da astrologia, que tinha estudado em rodas, com o astr�logo trasilo como professor, e a quem sempre conservou a seu lado, entre seus �ntimos. pode, portanto, sustentar a hip�tese de um tib�rio supersticioso, que descobriria nos astros o futuro daquele modesto chefe zelote chamado jesus, e, a partir de ent�o, negaria ir contra aquele destino fatal que constitu�a sua �nica cren�a. por outra parte, desprezava aos covardes e aos servis: �conta-se que tib�rio, cada vez que abandonava o senado, exclamava em grego: �oh, homens! sempre dispostos � escravid�o!...� aparentemente, esse homem que n�o aceitava a liberdade p�blica, sentia asco ante semelhante resigna��o de escravos�. (cf. t�cito, anais iii, 65). podemos tirar a conclus�o de que tib�rio desejava a liberdade para aqueles que eram dignos dela, assim � como pode conciliar-se ao suetonio e a t�cito. e, desde esse suposto, a indom�vel resist�ncia judia n�o podia a n�o ser suscitar a admira��o do imperador. por outro lado, o que refor�ava a opini�o de tib�rio sobre o futuro de jesus, era que umas estranhas correntes ideol�gicas estavam percorrendo o velho mundo naquela �poca. os judeus esperavam a um messias que dominaria ao mundo inteiro, e que governaria as na��es com uma vara de ferro (cf. salmos, 2, 9). e o patriarca jacob lhes havia predito: �n�o ser� tirado o cetro de jud� nem a fortifica��o de mando dentre seus p�s, at� que venha o schilo ao qual dar�o obedi�ncia os povos...� (cf. g�nese, 49, 10). conclus�o: o misterioso schilo, palavra hebr�ia que significa enviado, messias, estava pr�ximo, j� que o cetro acabava de sair de jud�, no ano 6 antes de nossa era, e a jud�ia se converteu em prov�ncia romana. em israel ningu�m ignorava essas coisas; foi jo�o, o batista quem perguntou ao jesus: �� voc� o que tem que vir, ou temos que esperar a outro?...� (lucas, 7, 19); e a samaritana responde ao jesus: �eu sei que o messias est� por vir...� (jo�o, 4,25). flavio josefo nos confirma esta id�ia geral: �o que incitou aos judeus � guerra, foi um or�culo equ�voco das escrituras, que anunciava que um homem sa�do do pa�s se converteria em dono do universo� (cf. flavio josefo, guerra dos judeus, vi, v, 4). reconhe�amos que isso foi o que aconteceu depois, e que, do s�culo iv, a vara de ferro das profecias manteve o reino de um personagem em cujo nome se fez correr muito sangue e muitas l�grimas! e quando o papa paulo vi, ajoelhado, pediu perd�o ao mundo pelo triste passado da igreja, isto n�o reparou aquilo. tib�rio refor�ara tamb�m na id�ia de um dominador universal sa�do da palestina pela amb�gua arte das sibilas. mas n�o devia ignorar as profecias judias, j� que seu ex-ministro sejano, que era muito anti-semita, fazia expulsar aos judeus da it�lia no ano 19 de nossa era, e, evidentemente, naquela ocasi�o teriam dado procura��o de alguns livros de profecias. desse conhecimento geral nos contribuem o testemunho t�cito (cf. hist�rias, v, xiii) e suetonio (cf. vida dos doze c�sares, vespasiano, iv). por outra parte, esperava-se uma esp�cie de revolu��o geral no mundo conhecido. j� no ano 43 antes de nossa era, enquanto octavio estava em roma, cunhou-se moedas que anunciavam a volta da idade de ouro, estimava-se que o grande c�rculo de pit�goras se fechou, e virgilio saudava essa �grande volta� de maneira t�o amb�gua em sua iv �gloga, que os crist�os transformaram sua alus�o em profecia messi�nica, em proveito dele. essas eram as obscuras raz�es que fizeram do supersticioso tib�rio um protetor inconsciente de jesus. mas teve outros amparos mais s�rios, e mais claros tamb�m, porque eram puramente pol�ticos. e vamos agora examin�-las, porque no caso do imperador correspondiam a um sentido pol�tico muito perito, ao que se aliava uma indiscut�vel ci�ncia da estrat�gia. suetonio, em sua vida dos doze c�sares (cf. tib�rio, ix), diz-nos: �recuperou deste modo as ins�gnias que os partos tinham arrebatado ao m. crasso�. este autor n�o conta nada mais sobre a citada campanha. se t�cito, em seus anais, n�o tivesse sido cuidadosamente expurgado, agora dispor�amos de uns relatos que se iniciariam antes da ascens�o de tib�rio a p�rpura imperial, e possuir�amos ainda os livros vii a xii, que desapareceram, providencialmente, acrescentar�amos n�s.

de todo modo, e tamb�m de maneira muito providencial, suetonio conservou o rastro do passo de tib�rio por s�ria antes de sua eleva��o a p�rpura imperial, e quando ia combater aos partos: �quando empreendeu sua primeira expedi��o e atravessou a maced�nia para conduzir seu ex�rcito a s�ria...� (cf. vida dos doze c�sares, tib�rio, xiv). tib�rio, portanto, desembarcou necessariamente em selucia, porto da antioquia de s�ria; dali n�o havia mais que 500 quil�metros at� Jerusal�m. como supor nem por um instante que tib�rio n�o tentasse contemplar a prestigiosa cidade, e aquele templo extraordin�rio que se contava entre as maravilhas da �poca? e mais quando ter� que ter em conta que n�o possu�mos, digamo-lo uma vez mais, os livros vii a xii dos anais de t�cito, e que s� chegou at� n�s um fragmento do livro v. possivelmente teve uma campanha contra os �rabes nabateus, porque faz tempo que nos testemunhou a exist�ncia de uma guerra entre roma e estes. j� estava latente desde tempos de augusto, sogro de tib�rio. e para ir combater a esses nabateus, terei que passar pela galil�ia, samaria e... jud�ia. a partir do ano 16 de nossa era (769 de roma), os partos se agitam de novo, dirigidos pelo artab�n. este �ltimo, pr�ncipe da dinastia dos ars�cidas, com suas manobras alimenta a agita��o de arm�nia e em cil�cia. mas ser� nos anos 34 e 35 (ano da morte de jesus) quando a guerra entre roma e os partos alcan�ar� seu ponto culminante. artab�n, expulso de seu reino, ser� substitu�do pelo fraates, e este pelo tir�dates. tib�rio nomeia ao vitelio legado imperial de s�ria. roma consegue ent�o o apoio dos arm�nios, dos albanos e dos iberos, estes dois �ltimos assentados no sul do c�ucaso, ao oeste do mar caspio. artab�n, vencido, v�-se obrigado a refugiar-se em escitia, e tir�dates, aliado de roma, penetra na mesopot�mia a instiga��o do vitelio, entra por �ltimo na seleucia e � coroado em ctesifon. mas a nobreza parta toma a decis�o de restaurar ao artab�n no poder, p�e em p� de guerra �s tropas e obriga ao tir�dates a retirar-se. se um consulta o mapa dessas lutas entre roma e os partos, observar� que para o imp�rio romano essa incessante guerra n�o podia tomar-se � ligeira. e mais quanto que ainda terei que contar com as hostilidades dos �rabes nabateus. e o territ�rio controlado pelas legi�es se limitava, de fato, a s�ria, galil�ia, samaria, a dec�polis e jud�ia. todo o norte da �sia menor estava flutuante, e sua resist�ncia aos partos estava em fun��o da lealdade de suas na��es a roma. agora bem, tib�rio, por experi�ncia hist�rica, n�o desconhecia o arrojo e o valor militar dos combatentes judeus. fazia muito tempo que os reinos do egito empregavam para a vigil�ncia de suas fronteiras a unidades mercen�rias judias, das que n�o tinham a n�o ser louvores. e se o imperador desprezava aos c�es lambedores (�oh homens! sempre dispostos � escravid�o!�), em troca apreciava em muito o valor. e atr�s dessa atitude racional estava a inconsciente cren�a nesse homem que devia vir da jud�ia para governar o mundo com punho de ferro. acrescentemos a isso sua f� na astrologia, que praticava sem cessar, e seu perfeito conhecimento da estrat�gia militar daquele tempo, e tudo volta claro. por isso, quando sejano, seu primeiro-ministro, decidiria no ano 19 de nossa era, e por �dio �s religi�es eg�pcia e judia, expulsar da it�lia a todos os judeus livres, tib�rio c�sar criaria, com quatro mil jovens judeus libertos, uma legi�o destinada a reprimir o bandidismo e a anarquia na cerde�a, a�oite que causavam estragos ali em estado latente. este fato nos confirma t�cito (anais, ii, lxxxv) e suetonio (cf. vida dos doze c�sares, tib�rio, xxxvi). de maneira que, se se podia unificar totalmente a palestina, reunindo sob um s� cetro, leg�timo e indiscut�vel, a jud�ia, a idum�ia, a samaria, a dec�polis e a galil�ia, possuir-se-ia um s�lido bast�o, que seria ao mesmo tempo montanhoso e �rido, de cara aos �rabes nabateus, e f�rtil e fecundo de cara � S�ria romana. toda a borda oriental do mediterr�neo ficava assegurada, deste modo, em m�os dos romanos, sem necessidade de grandes efetivos militares. ent�o bastava armando somente o norte da �sia: cil�cia, lycaonia, galacia, capadocia, arm�nia, prov�ncias que, desde fazia tempo, ou ao menos algumas delas, abasteciam de excelentes unidades auxiliares, ficando assim definitivamente jugulada a amea�a parta, assim como a procedente da ar�bia p�trea. mas uma alian�a anti-romana

alcan�ar� seu apogeu no ano 614, quando cosroes ii, o sas�nida, rei da persia, e seus aliados �rabes destruir�o totalmente a nova jerusal�m de adriano. quem pode dizer se o projeto de tib�rio c�sar de fazer dos judeus uma na��o segundo a f�rmula �amiga e aliada do povo romano� n�o mudasse em face do velho mundo durante longo tempo? seu �xito tivesse economizado a guerra desastrosa dos anos 66-70, o nivelamento de jerusal�m, logo a �ltima revolu��o do ano 135, com a dispers�o total do povo judeu, e milh�es de cad�veres... se a frase do evangelho de jo�o j� citada: �e jesus, conhecendo que vieram para lhe arrebatar e lhe fazer rei, retirou-se outra vez ao monte ele sozinho...� (jo�o, 6, 15) � ver�dica, ter� que deplorar ent�o a cegueira do chefe zelote ao refugiar-se na cidade familiar de gamala, em vez de aceitar o oferecimento romano. porque se retirou ali sozinho, conforme nos diz o texto evang�lico. o que prova que seus disc�pulos n�o eram de sua opini�o. e esse desacordo explica possivelmente as trai��es sucessivas destes. � certo que um s� � tra�do pelos seus, conforme reza a sabedoria das na��es, mas esse duplo abandono demonstra perfeitamente que os disc�pulos de jesus jamais tinham ouvido falar de um reino que n�o fosse deste mundo, e que ele sempre lhes tinha feito ver a restaura��o de israel unicamente do plano tempor�rio. e assim foi inclusive depois da pseudo-ressurrei��o, j� que nos atos dos ap�stolos l�em isto: jesus aparece aos disc�pulos e lhes recomenda que n�o se afastem de jerusal�m, o que contradiz aquela de �v�o, e batizem a todas as na��es...� de mateus (28, 19). e eles lhe replicaram: �senhor, � agora quando vais restabelecer o reino de israel?...� (atos, i, 6). como tib�rio c�sar, com seu conhecimento da �arte dos caldeus�, era melhor profeta, prop�s ao senado romano que se concedesse a apoteose aos declara��es de jesus... outro problema, o �ltimo, exp�e-se no referente �s circunst�ncias da morte de tib�rio c�sar. consultemos de novo ao suetonio: �n�o atrevendo a arriscar nada sem achar-se em lugar seguro, resolveu voltar para sua ilha (capri) a todo custo. mas, retido pelas tempestades e pelo agravamento de seu mal, morreu pouco tempo depois na cidade de lucullus, aos setenta e oito anos de idade, vinte e tr�s de seu principado, o d�cimo s�timo dia antes das calendas de abril, sob o consulado de c. acerronio pr�culo e de c. poncio nigrinio. alguns pensam que gayo lhe tinha administrado veneno que o minou lentamente�. (cf. suetonio, vida dos doze c�sares, tib�rio, lxxiii). t�cito, em seus anais, precisa-nos outros detalhes: �o d�cimo s�timo dia antes das calendas de abril, sua respira��o se deteve, e se acreditou que completara seu destino mortal. no meio j� de uma aflu�ncia de felicita��es, gayo c�sar sa�a para tomar posse do imp�rio, quando de repente lhe levaram a not�cia de que tib�rio tinha recuperado a palavra e a vista, e que tinha mandado chamar �queles que deviam lhe levar mantimentos para reanimar seu desfalecimento. o espanto foi geral. dispersaram-se a toda pressa, e cada um adotou um ar de afli��o ou de ignor�ncia. gayo c�sar, im�vel e silencioso, caiu do alto de suas esperan�as e esperou os �ltimos rigores. macron, sem perder a cabe�a, deu ent�o ordem de asfixiar ao anci�o sob seu manto de cobertores, e de abandonar o lugar. assim foi o final de tib�rio, aos setenta e oito anos de idade�. (cf. t�cito, anais, vi, lvi). resumamos. segundo suetonio, gayo, por apelido cal�gula, diminutivo de caliga, termo que designava uma curta bota militar, teria mandado envenenar ao tib�rio, e o confirma um pouco mais adiante (cf. suetonio, cal�gula, xii). como o anci�o (que o tinha designado como sucessor) parecia voltar em si, macron, prefeito das coortes pretorianas, ordenou asfixiar ao imperador. agora bem, cal�gula era o amante da esposa de macron, ennia naevia (e foi por ela que teve a seu lado ao marido), e esta lhe prometeu por escrito e sob juramento que se casaria com ele se se convertia em imperador. � prov�vel que fora macron quem animasse ao tib�rio a escolher ao gayo, ali�s cal�gula, como sucessor. porque o imperador tinha lido nos astros tudo o que faria cal�gula, e tinha declarado abertamente: �que gayo vivia para sua pr�pria perdi��o (para ele, tib�rio), e para a de todos; que estava

criando assim uma hidra para o povo romano, e um novo faet�n para o universo...� (cf. suetonio, vida dos doze c�sares, cal�gula, xi e xii). mas tib�rio, sem religi�o mas fatalista, aceitou o destino e fez de seu futuro assassino seu sucessor, porque �estava escrito nos astros�. n�o obstante, n�o nos contentamos com essas conclus�es dos historiadores antigos. h� outra coisa, em fun��o do que revelamos nas p�ginas precedentes; est� o problema das lutas incessantes entre roma e os partos, e o das fac��es romanas. como tib�rio morreu em misena, na cidade de lucullus, cal�gula presidiu o duelo imperial. ao retornar � Roma, o senado, que sempre esteve em surda rivalidade com o imperador defunto, anulou a cl�usula de testamento pela qual tib�rio deixava como co-herdeiro do imp�rio romano a seu outro neto, tib�rio, filho de druso, ainda adolescente, e fez de cal�gula o novo c�sar. (cf. suetonio, cal�gula, xiii, xiv). e aqui � onde aparece a m�o invis�vel da pol�tica, e onde voltamos para o que t�nhamos evocado precedentemente. porque gayo c�sar seguiu exatamente a linha contr�ria de seu tio av� Tib�rio. sempre em suetonio, lemos o seguinte: �assim artab�n, rei dos partos, que proclamava seu �dio e seu desprezo para tib�rio, solicitou por si mesmo a amizade de cal�gula, teve uma entrevista com ele, e, atravessando o �ufrates, rendeu comemora��o �s �guias, �s ins�gnias romanas e �s ef�gies dos c�sares�. (cf., suetonio, cal�gula, xiv). o vasto plano de tib�rio ficara destru�do definitivamente; apesar do passageiro �xito de trajano na mesopot�mia, muito mais tarde, de novo as legi�es romanas se bateriam em retirada sob adriano. a partir de ent�o, a pax romana n�o transbordaria jamais o �ufrates. 30 de junho de 1971 � 15 de setembro de 1972. observa��o as notas permenacem conforme o original em espanhol.

notas 1 prosper lambertini, arzobispo de bolonia, luego cardenal en el c�nclave de 1740, a la muerte de clemente xii, y luego tambi�n papa, de 1740 a 1758, fue el discreto protector de voltaire. como ese c�nclave se eternizaba, y �l no era candidato, declar� bromeando: "�quieren un santo? �pues tomen a gotti! �un pol�tico? �tomen a aldobrandi! �un tonto simp�tico? �pues t�menme a m� ...!" tras algunas vacilaciones, el esp�ritu santo se decidi� e hizo elegir a prosper lambertini por sus pares, bajo el nombre de benedicto xiv. y fue un excelente papa, hombre de estudios y adem�s escritor, como le�n X, aquel que consideraba al cristianismo como una f�bula (cf. el hombre que cre� a jesucristo). este arranque de benedicto xiv lo hemos extraido de la histoirde des papes, de pierre de luz, par�s, 1960, albin michel �dit., imprimatur par�s, 1960. 2 t�cito, historias, iii, 24. 3 isa�as, 60, 1. 4 deuteronomio, 21, 23. 5 en lat�n: bastante. 6 la i augusta era de reclutamiento sirio, la iii cirenaica de reclutamiento argelino y tunecino, la iii augusta de reclutamiento �bero. s�lo la cohors ii italica civium romanorum, a la que habr�a pertenecido el centuri�n Cornelio (hebreos, 10, 1) era de reclutamiento italiano. pero los altos mandos, suficientemente pol�glotas, cambiaban bastante f�cilmente de unidad. 7 porque es falso que jes�s tuviera s�lo dos a�os de actividades p�blicas, y san ireneo tiene raz�n al hacerlo morir hacia la cincuentena. el episodio de la mujer ad�ltera narrado en juan (7, 3 a 11) demuestra que el hecho tuvo lugar antes del a�o 30, ya que despu�s de esa fecha los jud�os no tuvieron ya derecho a condenar a muerte y a ejecutar. 8 jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 85-86 (ed. mart�nez roca, barcelona, 1982). 9 de esta moneda poseemos ejemplares, descubiertos en massada, en abrigos situados bajo el muro de la casamata del segundo palacio, llamado "palacio del oeste". se

descubrieron all� numerosas monedas, la mayor parte de las cuales datan del segundo y tercer a�o de la revoluci�n jud�a contra herodes, en especial tres "shekels" muy raros, fechados "a�o 5", y que fueron los �ltimos acu�ados durante esa revoluci�n. esas informaciones las hemos extraido del guide blue "israel", p�gina 489, edici�n de 1966 (hachette edith.) 10 jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 60-69. 11 el papel de m�dium atribuido a un ni�o virgen, o al menos imp�ber, es cl�sico en todas las mancias del oriente medio, y mois�s no lo innovar� con el joven josu� (cf. �xodo, 23, 11; n�meros, 27, 18). 12 es la forma hebraica de betsab�, esposa de ur�as, a quien david hizo matar en combate, a traici�n, a fin de quitarle a la mujer (ii samuel, 11, 1 a 27). jes�s descend�a, por lo tanto, de una pareja ad�ltera y asesina, seg�n Mateo, 1, 6. extra�a elecci�n para un dios encarnado deseoso de dar ejemplo. la iglesia, que rechaza el divorcio, lo santific� y fij� su fiesta el 20 de diciembre. hay que observar, por cierto, que el esposo (o la esposa) que asesina a su c�nyuge puede volverse a casar, una vez purgada su pena de prisi�n. porque en este caso no se trata de un divorcio, sino de una viudedad. y las segundas nupcias son legimitadas por la iglesia. 13 jes�s o el secreto de los templarios, pp. 50-53. 14 san jer�nimo, en su comentario sobre el protoevangelio de santiago, nos afirma que en su �poca (347-420) los peregrinos cristianos veneraban todav�a en jerusal�n, en el lugar donde se levantaba anta�o el templo destruido en el a�o 70, los restos de la sangre de zacar�as. deb�an renovar con bastante frecuencia esta maculatura tan provechosa. es cierto que en la edad media, en europa, se vend�an corrientemente botellas que conten�an un fragmento del manto de san jorge, embebido por su sudor cuando combat�a al drag�n, etc�tera. 15 jes�s o el secreto de los templarios, pp. 126-138. 16 si zacar�as es el alter ego de judas de gamala, su padre baraqu�as pudo haberlo sido de exequias, padre del citado judas, del mismo modo que juan el bautista lo ser� de jes�s. 17 en el siglo xviii, los rituales mas�nicos transcrib�an el nombre con una "z", roze-croix. 18 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 70-90. 19 la palabra ap�stol significa enviado, agente, misionero, mensajero. el lat�n apostolus podr�a, por lo tanto, sustituir a �ngelus, que tiene el mismo significado. se denominaba apostoli a las cartas de aplazamiento que iban de un tribunal a otro, al que se apelaba. al exigir que le enviaran al tribunal imperial (cesare apello), saulo-pablo hac�a el papel de apostoli. 20 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 60-69. 21 los rebeldes pol�ticos eran crucificados cabeza abajo (cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 225-226). por lo tanto, no era necesario reclamarlo. 22 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, p. 82. 23 m. guy fau, cr�tico tan "racionalista" como distinguido, y que tuvo a bien hacernos el honor de atacarnos por nuestra tesis de un jes�s zelote, se tom� la molestia de redactar 522 p�ginas para demostrarnos la inexistencia del personaje (lo que exige, despu�s de su lectura, varios comprimidos de alka seltzer). no obstante, en su inmerecida benevolencia, nos dice que "sin embargo parece que puede admitirse la existencia de los tres ap�stoles, santiago, pedro y juan". (op. cit. p. 333). ya se ve que es posible tener disc�pulos sin necesidad de existir uno mismo. 24 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, p. 81. 25 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, p. 81 26 cf. el hombre que cre� a jesucristo, pp. 94-95. (ed. mart�nez roca, barcelona, 1985). 27 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, p. 274-286. 28 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, p. 16-17. 29 los ex�getas no est�n de acuerdo sobre cu�l es el santiago a quien corresponde el sobrenombre de mayor y a cual conviene aplicarle el de menor. uno era hermano

de jes�s, el otro de juan. hablaremos de ello m�s adelante. 30 en hebreo, heresh significa a la vez carpintero o mago; por lo tanto es dif�cil decir cu�l de las dos acepciones debe tenerse en cuenta. los escribas griegos del siglo ix eligieron, evidentemente, carpintero para sus traducciones de las fuentes jud�as, porque confesar que era mago ... 31 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, p. 60 y ss. 32 ahora se sabe por flavio josefo que eso es falso (v�ase el cap�tulo 7). 33 �fue lucas realmente el secretario de pablo? monse�or ricciotti, historiador de la iglesia, lo duda. 34 iawet sabaoth, en hebreo. es de esp�ritu zelote a m�s no poder. 35 cf. el hombre que cre� a jesucristo, pp. 79-92. 36 cf. el hombre que cre� a jesucristo, pp. 244-245. 37 alexandr�s (al), tiene por analog�a eleazar (el). su contracci�n rec�proca da, pues, andr�s y l�zaro. 38 el mosaico del templo de dafne, que representa el f�nix (museo del louvre), no lo muestra sobre una pira en forma de cruz, sino sobre un mont�culo. s�lo a partir de la �poca en que se asocia el f�nix y san andr�s es cuando se sit�a a este p�jaro sobre una hoguera en forma de aspa, s�mbolo de la resurrecci�n. eso es muy significativo. 39 por cierto que ahora se toma equivocadamente al pel�cano como s�mbolo de la caridad y del sacrificio. �porque la leyenda de esta ave jam�s ha significado tal cosa! nos dice simplemente que, al volver a su nido, el pel�cano es atacado por sus polluelos, muertos de hambre. al defenderse, los mata. tres d�as mas tarde, al regresar al nido, se apiada de ellos, y al derramar sobre cada uno de ellos una gota de su propia sangre, los hace volver a la vida. ese es el tema de toda iniciaci�n. los peque�os quieren dar muerte a su padre (el iniciado matar� al iniciador, dice el viejo adagio esot�rico); el iniciador dar� muerte al iniciado, pero le har� revivir a continuaci�n a un nuevo nivel de conciencia (el pel�cano mata a sus peque�os y los resucita luego). es todo el tema mas�nico de la "muerte de hiram" en el ritual del grado de maestre. por otra parte, y en el mundo antiguo, esa leyenda a quien se atribu�a era al buitre. y fue el cristianismo quien la transfiri� al pel�cano. 40 casio longino, c�lebre jurisconsulto, fue consul suffect en el a�o 30, proc�nsul de asia en el 40, gobernador de siria en el 45 a 50. por lo tanto fue del 45 al 50 cuando eleazar, alias andr�s, fue capturado por primera vez, y sin duda en el a�o 47, cuando sus hermanos sim�n-Pedro y santiago fueron crucificados, a la salida del s�nodo de jerusal�n. su adversario, saulo-pablo, sin lugar a dudas no fue ajeno a este fin. 41 filadelfia se convirti� en amman, capital de transjordania. se observar� que, para atacar la idumea y la arabia nabatea, hab�a que tener un fondo de bandolerismo en mente. a menos que se tratara de simples operaciones de avituallamiento y de cobro de contribuciones, de grado o por fuerza. 42 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 126-138, y 184-190. 43 v�ase el cap�tulo 8. 44 �como si betania no estuviera en judea! los escribas ignaros del siglo iv no ten�an ninguna idea de la geograf�a de palestina. 45 un estadio equivale a 185,015 metros. 46 observemos que el tema de una resurrecci�n final estaba lejos de ser una creencia oficial en el israel de aquella �poca. en cuanto a la idea de un hijo de dios en el sentido que nosotros le damos hoy, hubiera sido blasfematoria. 47 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios: "las piezas del expediente", cat�logo de los manuscritos, pp. 24-36. 48 eso son afirmaciones gratuitas, y a un doctor de la ley de aquella �poca no le era dif�cil demostrar que saulo-pablo ignoraba todo sobre las escrituras en lo que concern�a al mes�as esperado. 49 durante las guerras tribales que desolaron el ex-congo belga, los brujos vend�an a los guerreros negros un "agua m�gica" destinada a hacerlos casi inmortales.

50 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 60-69. 51 op. cit., pp. 184-190. 52 de hecho, veremos m�s adelante que hay muchas posibilidades de que se tratara del mismo jes�s. 53 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 65-67. 54 theudas es la forma griega de tadeo, en hebreo: todah. el talmud, sin embargo, no conoce m�s que a cinco (y no doce) disc�pulos de jes�s. Son: matai (mateo), nagai (nicodemo), netzer (?), nuni (nun), y todah (tadeo). 55 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 169-170. 56 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 70-90. 57 docetismo: doctrina gn�stica seg�n la cual jes�s s�lo us� una materializaci�n moment�nea, sin realidad carnal, lo que implica que no hubo gestaci�n intrauterina, ni nacimiento f�sico, ni sufrimientos corporales, ni muerte normal. desapareci� del mismo modo que hab�a aparecido. 58 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 85-86. 59 flavio josefo, en sus antig�edades judaicas, habla en diversas ocasiones de la "fortaleza de gamala". 60 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 111-112. 61 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 58-59. 62 id., pp. 70 a 90. 63 cf. s. pin�S, en the jewish christians of the early centuries of cristianity, p. 61. 64 el transitus mariae dice lo contrario. 65 en hebreo k.a.e.s., es decir, "kadosh adonai elohim sabaoth" (santo es el se�or, dios de los ej�rcitos). 66 estudiaremos este emparejamiento en otro cap�tulo. 67 por lo tanto habr�a muerto en jerusal�n, a la vez que santiago el menor, bajo el pontificado de anan�as, en el a�o 63 de nuestra era, entre la muerte del procurador festo y la llegada de albino, su sucesor. 68 anag�geno: que suscita un clima m�stico en la psique de un individuo. todo producto anag�geno (incienso, g�lbano, etc.) puede desencadenar un estado premedi�mnico en determinados individuos predispuestos a ello. 69 cf. carta de l.c. de saint-martin a j.b. willermoz del 29 de abril de 1785, reproducida por papus, p�ginas 180 a 183 de su libro. l.c. de saint-martin (par�s, 1902, chacornac edit.) 70 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 227 a 229. 71 id. pp. 30-36. 72 asamblea se dice en griego ekklesia, y en hebreo es el kahal local, min�sculo reflejo del sanedr�n. los profetas son all�, m�s modestamente, roeh (videntes), y los doctores rabbis (maestros). 73 el cleof�s del que se trata aqu� no pudo ser, naturalmente, el contempor�neo de jes�s, citado en lucas (24, 18). 74 rabbi akiba, sabio cabalista, es uno de los cuatro doctores que penetraron en lo m�s profundo de esta ciencia, llamada "el jard�n" (cf. talmud, chagigah, 14b). "cuatro entraron en el pardes (para�so): rabbi ben asai contempl� y muri�; ben soma mir� y perdi� la raz�n; acher introdujo el desorden en las plantaciones, s�lo rabbi akiba entr� y sali� sano y salvo". una tradici�n tard�a pretende que rabbi akiba fue el autor del sepher yezirah. pero s�lo fue su comentarista. 75 edom y seir designan la idumea geogr�fica, y sobre todo la dinast�a idumea de los herodes. beor es el nombre caldeo del dios con cabeza de asno, y balaam "hijo de beir" monta una asna que habla y distingue al �ngel del eterno (n�meros, 22, 21-35). los que est�n familiarizados con el esoterismo comprender�n esos vers�culos de palabras veladas ... 76 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 30-36. 77 cf. i reyes, 23, 24-38. 78 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 248-252. 79 id., pp. 139-150. 80 id., pp. 80-84.

81 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 274-288. 82 cf. el hombre que cre� a jesucristo. 83 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 55-56. 84 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 162-183. 85 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 54-69. 86 id., y cap�tulo 8. 87 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 150-151. 88 el talmud de babilonia (sanedr�n, 106), reconoce que mar�a descend�a de david. 89 op. cit., pp. 59-69. 90 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 123-125. ese es todo el prodigio de "jes�s ante los doctores de la ley": el simple examen de un ni�o de primera comuni�n, una vez terminado de aprender el catecismo ... 91 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 45-53. 92 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 241-258. 93 id., pp. 210-212. 94 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 109-114. 95 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 109-111. el demencial relato de la leyenda de mar�a magdalena, colocada por los �ngeles en un pico entonces inaccesible, y luego elevada por ellos cada ma�ana hasta la cima m�s alta, para que se secara, dado que la gruta era muy h�meda, es t�pico de la ingenuidad de las multitudes de la antig�edad. 96 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 112-114. 97 el pseudo-or�genes, en su contra celso, niega expl�citamente que el evangelio calificara a jes�s de carpintero. no obstante, marcos lo afirma en su evangelio (6, 3), y con todas sus letras, en griego. por lo tanto, el texto de marcos que el pseudo-or�genes conoci� en su �poca, era diferente al nuestro. 98 se observar� que tom�s de aquino, san bernardo, san buenaventura y santa catalina de siena se alinearon en la edad media en las filas de los adversarios de la inmaculada concepci�n. por lo visto a catalina de siena se le apareci� la virgen mar�a para confirmarle que no era en modo alguno inmaculada. pues bien, la iglesia acaba de proclamar a catalina de siena "doctor de la iglesia" ... �c�mo conciliar estas contradicciones" 99 cf. el hombre que cre� a jesucristo, p. 73, esquema geneal�gico de dicha dinast�a, de la cual proced�a saulo-pablo por v�a femenina. 100 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 54-69 y 104-114. 101 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 54-69 y 104-114. 102 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 37-44 y 54-59. 103 id., pp. 38 y 39 sobre las referencias en el talmud en lo que respecta a esa restricci�n de matrimonio que sufr�a un hombre impotente. es preciso observar que el hecho de haber confiado una joven de quince a�os, todo lo m�s, a un anciano impotente de ochenta y un a�os, hubiera causado esc�ndalo en israel. (cf. talmud, san. 76a; yeb. 101b; deuteron. 29, 19s y 76b). 104 en lo que se refiere a una virginidad conservada por mar�a despu�s del parto, basta con releer a lucas (2, 22-24) para convencerse de que estuvo obligada a someterse a los ritos de purificaci�n propios de las parturientas (lev�tico, 12, 1-8). 105 �el incubo es un demonio macho copulando con una mujer, a veces con un falo doble! la s�cuba es un demonio hembra, que desempe�a todas las funciones de una mujer ... �hay, asimismo, demonios hermafroditas, para las personas 'ambivalentes'!. 106 cf. san agust�n, de la ciudad de dios, xv, 23; santo tom�S de aquino, suma teol�gica, p. i., 9, 51, art. 3, ad. 6. 107 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 54-59. 108 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 274 y 286-288. 109 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 241-258. 110 los evangelios can�nicos nos dicen que fue jos� de arimatea quien desclav� el cuerpo y lo sepult� (Mateo, 27, 39; marcos, 15, 46; lucas, 23, 53; juan, 19, 38). 111 cf. el hombre que cre� a jesucristo, pp. 110-123, y esquemas geneal�gicos de

las p�ginas 72, 73 y 112-113. 112 mucho antes de mesalina, tuvo cleopatra de egipto la costumbre de ir a veces a prostituirse durante noches enteras a un lupanar elegante de egipto. tambi�n la duquesa de orl�ans, cuyo nombre de soltera era louise-henriette de bourbon-conti, madre del futuro philippe-�galit�, pudo confesar con franqueza que ignoraba qui�n era el padre de su hijo: 'cuando uno cae sobre una zarza, �sabe acaso cu�l es la espina que le ha pinchado? ..." (cf. andr� castelot, philippe-�galit�, le prince rouge, p. 19, sfelt. �dit., par�s, 1950). esta naturaleza tan rica morir�a a los treinta y dos a�os, agotada por tantos excesos. 113 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 37-44 y 106-114. 114 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 300-301. 115 y no "de alejandr�a", como el texto griego alterado puede hacer creer, ya que tanto �l como su hija eran de jerusal�n. �un sacerdote del templo no resid�a en egipto! 116 �dif�cilmente puede uno imaginar a un simple cohen con onirom�nticos a su disposici�n! en cambio, en el caso de un tetrarca, es algo obvio. 117 sobre las tres mar�as, consultar: hemo de halberstadt (+ 853), disc�pulo de alciuss y amigo de raban maur; gerson y su serm�n sur la nativit� de marie; jean eck en sus acta sanctorum. 118 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 294-295. 119 cf. el hombre que cre� a jesucristo, pp. 72 y 73. 120 hijo de herodes el grande y de mariamna i, ejecutado en sebasta (samaria), por orden de su padre, en el a�o 7 antes de nuestra era. 121 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios. 122 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 162-183. 123 la herej�a nicola�ta perduraba todav�a en el siglo iv, como demuestra san epifano en su tratado de las herej�as. lo que prueba que esa costumbre de las mujeres en comunidad estaba muy arraigada en los medios cristianos primitivos. 124 hemos demostrado en jes�s o el secreto mortal de los templarios (p�ginas 30 a 36) que el apocalipsis fue redactado por jes�s en vida. por consiguiente, esa costumbre que a continuaci�n fue denominada nicola�smo era practicada todav�a en aquellos tiempos en los medios zelotes. lo que es m�s, seg�n san ireneo (cf. contra los herejes, i, xxvi, 3), esta costumbre se remontaba hasta el di�cono nicol�s, por lo tanto hasta los propios tiempos apost�licos. 125 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 169-173. 126 el hecho de que saulo-pablo fuera pr�ncipe herodiano es lo que movi� al tribuno claudio lysias a enviarlo, escoltado, ante el procurador antonio f�lix (cf. el hombre que cre� a jesucristo, p�ginas 36 a 48). un pr�ncipe de sangre real no pod�a ser juzgado por un simple tribuno. del mismo modo fue enviado andr�seleazar ante ner�n C�sar. otros, por el contrario, fueron ejecutados sobre el terreno, al ignorar los legionarios su rango ... 127 esto no es nada exclusivo del mundo antiguo, y un decano del colegio de abogados amigo nuestro nos ha explicado el mecanismo contempor�neo, que es de lo m�s sencillo ... 128 cf. presentaci�n de gilbert lely (par�s, 1953, gallimard �dit.), quien observa que sade no se equivoc� al llamarla as�, ya que la firma de la reina era, efectivamente, ysabel, y la forma de isabeau era extremadamente rara en las actas oficiales. 129 sobre el car�cter ilusorio de esta danza de salom� Ii, cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 136-138. 130 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 289-303. 131 cf. el hombre que cre� a jesucristo, pp. 185-186. hay que observar que las hijas y los hijos eran educados totalmente aparte y separados. cuando se hallaban en contacto, en la adolescencia, no se produc�a entre ellos esa repulsi�n instintiva que existe por regla general cuando crecen juntos. adem�s, a menudo eran de madres diferentes, pues se trataba de matrimonios por inter�s. de ah� las frecuentes uniones entre hermanos y hermanas en el mundo antiguo y en esas regiones.

132 cf. el hombre que cre� a jesucristo. 133 cf. jes�s o el secreto mortal de los templarios, pp. 126-138 y 184-190.

http://groups-beta.google.com/group/viciados_em_livros http://groups-beta.google.com/group/digitalsource

Related Documents


More Documents from "Thiago Arruda"

Trilha Da Mente Focada
April 2020 10
Uso Dos Epis
April 2020 4
Lista_de_jogos_ps2
April 2020 5
April 2020 4
Poder Da Solucao
April 2020 5
April 2020 3