OS PAIS DA IGREJA I . O NOME A designação “Pai da Igreja” é uma forma de respeito e consideração dada aos bispos[i], especialmente os ocidentais, que eram chamados de “pais” (patres)[ii] da igreja. Dois termos em particular merecem atenção: – Patrística: estudo da vida e da obra dos Pais da Igreja. – Patrologia: estudo dos manuais de literatura patrística; livros que procuram sintetizar e explicar os principais pais, suas obras e o período compreendido.[iii]
1. PERÍODO COMPREENDIDO Trata-se do período em que os pais da igreja tiveram atuação na história da igreja. Por tal motivo é chamado período patrístico e vai desde o final da era apostólica, data em que foram realizados os últimos escritos do Novo Testamento (c. 100 d.C.)[iv] até o Concílio de Calcedônia (c. 451 d.C.).
Um termo cronológico médio é o Concílio de Nicéia[v] (c. 325 d.C.) que dividiu os pais em[vi]: – Pais ante-nicenos ou pré-nicenos: trata-se dos pais da igreja que viveram entre 100 d.C. e 325 d.C. – Pais nicenos: trata-se dos pais que viveram e participaram dos eventos relacionados ao Concílio de Nicéia. – Pais pós-nicenos: trata-se dos pais da igreja que viveram ou atuaram principalmente entre 325 d.C. e 451 d.C.
III. PRINCIPAIS DIVISÕES[vii] O estudo da Patrística pode ser dividido conforme a ênfase adotada, o estilo dos pais, a cronologia entre outros aspectos. Segue abaixo as linhas básicas do estudo dos “Pais da Igreja”.
III.A. OS PAIS APOSTÓLICOS. São pessoas e documentos que interpretaram e pregaram a mensagem apostólica na primeira geração [de cristãos] depois dos apóstolos [ou melhor, depois da morte do último apóstolo].[viii]
Os principais tipos de literatura dessa época são: epistolar (em forma de cartas), catequética (instruções eclesiásticas) e apocalíptica (ênfase em profecias)[ix]. A ênfase destes escritos era a edificação da igreja. Dentre os Pais Apostólicos destacam-se: Clemente de Roma, Policarpo, Inácio de Antioquia, Epístola de Barnabé, epístola a Diogneto, Segunda Epístola de Clemente aos Coríntios, Papias; o Pastor de Hermas (apocalíptico), O Didaquê (catequético).
III.B. OS APOLOGISTAS[x]. Foram os escritores cristãos do século II e início do século III que se preocuparam em realizar uma defesa racional do Cristianismo diante das acusações pagãs, por meio de livros e cartas dirigidas às autoridades romanas da época. Seus principais representantes foram: a). Aristides; b). Justino Mártir (o mais importante do século II d.C.[xi]); c). Taciano; d). Atenágoras; e). Teófilo de Antioquia (primeiro a usar a palavra trias relacionada à Trindade); f). Tertuliano (ocidental) – gigante da oratória que usou pela primeira vez a palavra Trindade. g). Minúcio Félix (ocidental).
É interessante notar que os apologistas orientais de maneira genérica utilizaram-se da Filosofia para defender-se e atacar o paganismo. Os
apologistas ocidentais, em geral, tinham aversão ao uso apologético da Filosofia.
III.C. OS POLEMISTAS.[xii]
Os pais polemistas preocuparam-se em combater as heresias que ameaçavam a Igreja. Dentre estes se destacam: a). Ireneu (o primeiro sistematizador da Teologia; grande escritor antignóstico); b). Clemente de Alexandria[xiii]; c). Orígenes. d). Tertuliano de Cartago[xiv].
III.D. OS PAIS ANTI-GNÓSTICOS. É uma categoria utilizada principalmente por Berkhof[xv] com o intuito de enfatizar a importância de se refutar o gnosticismo. Seus proponentes são principalmente os polemistas. Dentre eles destacamse: Ireneu de Lião, Hipólito e Tertuliano.
III.E. OS PAIS PÓS NICENOS[xvi] Representam os pais da igreja do período entre 325 d.C. e 451 d.C. que procuraram “estudar a Bíblia em bases mais científicas a fim de desenvolverem mais a teologia cristã”.[xvii] É interessante notar que devido à transferência da capital do Império para Constantinopla em 330 d.C. começaram a haver desdobramentos teológicos diferentes entre a Escola Oriental (Constantinopla, Alexandria, Antioquia) e a Escola Ocidental (principalmente Roma).
III.E.1. PAIS PÓS-NICENOS ORIENTAIS – João Crisóstomo (c. 347-407 d.C.) – foi patriarca de Constantinopla e destacou-se no campo da retórica e oratória. Suas homilias até hoje são lidas e destacam-se pela eloquência e clareza de ideias.
– Teodoro de Mopsuéstia (c. 350 d.C. – 428 d.C.) – destacou-se como exegeta; desprezou a interpretação alegórica e enfatizou a interpretação literal, enfatizando os aspectos gramaticas e históricos. – Eusébio de Cesaréia (c. 265-339 d.C.). Foi historiador da igreja. Tinha grande prestígio diante de Constantino[xviii].
III.E.2. PAIS PÓS-NICENOS OCIDENTAIS. Três gigantes se destacam: – Jerônimo (c. 340-420 d.C.). Destacou-se como comentarista, mas principalmente como tradutor, realizando a mais famosa tradução da bíblia para o latim: a Vulgata. – Ambrósio de Milão (c. 340-397 d.C.). Destacou-se como administrador eclesiástico e pregador da Palavra. Curiosidades sobre sua conversão são narradas por González.[xix] – Agostinho (c. 354-430 d.C.). Destacou-se como filósofo e teólogo. Se não foi o maior de todos, certamente foi o mais influente. Combateu o maniqueísmo, o donatismo e o pelagianismo, além de escrever grandes tratados teológicos e comentários bíblicos. Sua influência se faz sentir entre católicos, protestantes e filósofos seculares.
CONCLUSÃO É de grande valia o estudo dos pais da igreja, para entendermos o desenvolvimento teológico nos primeiros séculos da era cristã, o aprendizado com seus erros e acertos e a sua influência para todos os teólogos principais que os sucederam.[xx]