UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA / UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS/PORTUGUÊS
O PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA EM FACE DAS TENSÕES DO ENSINO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO DOCENTE CIOLI FRICKES RODRIGUES – MATRÍCULA : 110051068
Trabalho apresentado como parte das exigências da disciplina Diversificadas 7 da Universidade Aberta do Brasil/Universidade de Brasília para obtenção do título de Licenciado em Letras/Português.
Ipatinga 2015
O PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA EM FACE DAS TENSÕES DO ENSINO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO DOCENTE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Aberta do Brasil/Universidade de Brasília como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciado em Letras/Português. Orientadores: profa. Msc. Maria Marlene Rodrigues da Silva e profa. Msc.Elizabete N. Raiol Lopes
TERMO DE APROVAÇÃO
CIOLI FRICKES RODRIGUES
O PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA EM FACE DAS TENSÕES DO ENSINO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO DOCENTE
Banca examinadora do trabalho de conclusão de curso apresentado a Universidade Aberta do Brasil/Universidade de Brasília como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Letras/Português. Aprovada em ____/____/_____.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________ Profa. Dra. Edna Cristina Muniz da Silva
_________________________________________________ Profa. Msc. Maria Marlene Rodrigues da Silva
_________________________________________________ Profa. Msc. Elizabete Nepomuceno Raiol Lopes
Aos incansáveis professores de Língua Portuguesa, destinados continuamente à reflexão de suas práticas de ensino, na busca da melhor contribuição para a o ensino eficaz na pós modernidade.
AGRADECIMENTOS A Deus autor e sustentador de todas as coisas; À minha esposa Débora e a minha filha Gabriella que são contínuas inspirações na jornada acadêmica; À Universidade de Brasília, Universidade Aberta do Brasil e Polo da UAB-UNB em Ipatinga - MG; À professora Elizabete Lopes pelas constantes orientações no decurso deste trabalho; À professora Ana Lúcia Pena, ex-tutora presencial da UAB-UNB polo Ipatinga, MG, incansável e exímia em sua dedicação aos alunos; Aos professores de Língua Portuguesa que participaram desta pesquisa; Às escolas citadas neste trabalho que cederam o tempo de seus professores para as entrevistas, compreendendo sobretudo o valor da pesquisa acadêmica.
“É preciso, pois, estar consciente das opções que fazemos ou fizemos em todos os níveis, ao estruturar e realizar o ensino de Português para os falantes dessa língua...” Luiz Carlos Travaglia
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10 Referencial Teórico .................................................................................................... 12 Metodologia ................................................................................................................ 12 1. O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA PERSPECTIVA VARIACIONISTA .................................................................................................... 12 2. O PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA ............................ 14 3. A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA PRÁTICA DOCENTE EM IPATINGA..16 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................24 APÊNDICES ...............................................................................................................26 Apêndice A - Questionário para pesquisa de campo....................................................26 Apêndice B - Transcrições de entrevistas.....................................................................27 Apêndice C - Transcrições de questionários.................................................................32
RESUMO
Esta pesquisa enfoca o desenvolvimento do ensino da Variação Linguística em face a forma tradicional de ensino da norma culta. Parte do pressuposto que a língua é sujeita a variações, e tendo o professor como sujeito da pesquisa, verifica as suas posturas diante de algumas dificuldades que podem sabotar o ensino da Variação Linguística, através de pesquisa qualitativa, em caráter de amostragem, entre dez professores de Ensino Médio, de quatro escolas particulares e públicas da cidade de Ipatinga-MG, e analisa dados, comprovando em resultados, como a formação acadêmica, despreparo para o ensino da Variação Linguística, o preconceito linguístico, o senso comum, assim como as crenças e as atitudes linguísticas do professor influenciam a sua prática pedagógica sabotando o ensino linguístico. Conclui que essas dificuldades, caracterizadas como tensões, sabotam o ensino da Variação Linguística, e aponta para algumas propostas, com vistas a resolução de antigo problema, que é a formação continuada do docente de Língua Portuguesa, com vistas ao ensino linguístico desprovido de uma tradição gramatical rígida e irreflexiva.
Palavras-chave: variação linguística, norma culta, tensões no ensino, educação linguística, professor de língua portuguesa.
ABSTRACT
This research focuses on the development of education of Variation Linguistics in contrast to the traditional way of teaching of standard dized grammar. It assumes that language is subject to variation, and has teachers as research subjects. It checks their positions on some difficulties that can sabotage the teaching of Linguistic Variation. It uses qualitative research, in representative as from based on the experiences of ten high school teachers from four private and public schools in Ipatinga-MG. It analyses the survey data, proving through its outcomes that academic background, lack of preparation for teaching Variation Linguistics, linguistic prejudice, teacher´s common sense of cultural norm, as well as their beliefs and attitudes can influence their teaching styles in class. It demonstrates how some of these difficulties, wich is characterized das tensions, undermine the teaching of Variation Linguistics, and point to some proposals aimed at resolving the long-standing problem, which is the continued education of portuguese teacher. In this work. I propose a teaching model unbound to a rigid and unthinkg grammatical tradition. Keywords: linguistic variation, cultural norms, tensions in education, linguistic education, portuguese teacher.
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INTRODUÇÃO O presente trabalho intitulado: O Professor de Língua Portuguesa em Face das Tensões do Ensino da Variação Linguística: Reflexões sobre a Atuação do Docente, aborda a forma do ensino da Variação Linguística diante da tradição do ensino gramatical. Partindo do pressuposto que a língua é historicamente situada e heterogênea, logo sujeita a variações e mudanças no espaço e no tempo e considerando que o sistema linguístico não é homogêneo, mas constituído de regras variáveis ao lado de “regras categóricas”1 , que atuam em todos os níveis linguísticos: fonológico, morfológico, sintático, lexical e discursivo, verifica-se que, apesar das orientações tanto legais quanto pedagógicas, o ensino da Língua Portuguesa ainda se amalgama em estruturas tradicionais de ensino da gramática normativa. Tal fato remonta um processo educacional que valorizava um eixo orientadorprescritivo no Brasil, até meados dos anos 1940, que manteve a tradição do “purismo linguístico” e a “clientela elitizada”2. Naquele contexto cabia ao professor o uso dos manuais e a imersão no estudo da língua, pois assim teria a garantia da superioridade da Língua Portuguesa, bem como a conservação do seu público alvo, a elite, a quem era oferecido às formas institucionais de ensino. Uma vez que a língua é comumente tida como um sistema homogêneo, há forte tendência de valorização da norma culta, e com isso a gramática tradicional assume papel determinante, assim Gorski e Coelho (2009), afirmam que a abordagem didática no ensino gramatical, não pode ser classificatória e desvinculadas do seu uso real; mais do que ensinar regras, o professor de Língua Portuguesa precisa levar em consideração a Variação Linguística e a educação linguística.3
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Termo utilizado pela Sociolinguística e descrito por Wiedemer (2009), que introduziu uma nova abordagem gramatical da língua, mostrando a variação sistemática que ocorre em situações sociais e linguísticas. 2 Silva (2009, p.40) ao mencionar a concepção de língua, que orientou a pedagogia do vernáculo BrasilColônia e o ensino no século XX, diz que a clientela atendia a uma concepção de ensino para a elite e que o objeto de estudo era a gramática latina, portuguesa e/ou histórica (“purismo linguístico” ou “protecionismo linguístico”) que preconiza que os idiomas deveriam ser protegidos de línguas "mais fortes". 3 “Educação linguística”, de acordo com BAGNO e RANGEL(2005), abrange um conjunto de fatores socioculturais, que durante toda a vida do indivíduo, que lhe possibilitam ampliar, adquirir e desenvolver o conhecimento de sua língua. Algo muito mais do que um sistema a ser ensinado ou aprendido em sala de aula.
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Possenti (2000), destaca em seu livro Por Que (Não) Ensinar Gramática na Escola, que pesquisadores ao falarem a professores de Língua Portuguesa, apresentam programas de ensino que funcionem, contudo os professores esperam que os especialistas apresentem propostas que lhes sejam “práticas”, porém o autor afirma que isso não acontece, na verdade os métodos não são funcionais se ocorrer apenas remendos. Propõe uma revolução no ensino de Língua Portuguesa. O professor de Língua Portuguesa, segundo Sírio Possenti (2000), é um agente ativo no processo de mudanças e ao citá-lo, afirma que as únicas pessoas em condições de encarar um trabalho de modificação das escolas são eles. Qualquer projeto de ensino que não considere o professor, sua formação, seu preparo para o ensino da Variação Linguística, e a superação de suas crenças e atitudes linguísticas visando o ensino da língua, doravante nesta pesquisa como tensões, fracassará. Possenti (2010), afirma que nada será resolvido se não mudar a concepção de língua e de ensino de língua na escola. Detecta-se que os professores de Língua Portuguesa, em análise neste trabalho, não são os únicos culpados desta situação. Oliveira (2006), propõe algumas indagações: desinformação, não compreensão, falta de cobrança, de interesse? Caso sim, é por parte de quem? Alunos? Professores, diretores, secretários da educação, prefeitos, MEC, a mídia? Certamente a situação complexa do ensino de Língua Portuguesa, não é de responsabilidade exclusiva do professor. Marionise Oliveira (2006), afirma que mesmo os professores formados neste contexto pós PCNs ainda carecem de auxílio de ordem prática em suas vivências de sala de aula. Esta pesquisa encontra a sua fundamentação teórica em Possenti (2000), e em seu conceito da Variação Linguística para o ensino do português, em Ilari (1995), na perspectiva social ensino de Língua Portuguesa, em Bagno & Rangel (2005), no tocante aos conflitos entre língua e sociedade bem como nos conceitos de norma, variação e mudança linguística. Ainda em Bagno (2007), nas caracterizações da língua e a trajetória do preconceito linguístico no Brasil, em Travaglia (1995), na abordagem do ensino de Gramática na perspectiva interacional. Em Aguilera (2009), quanto as crenças linguísticas, em Oliveira (2010), em práticas de ensino da Língua Portuguesa pós PCNs,em Cyranka (2007), quanto as atitudes linguísticas de alunos, em Silva e Cyranka (2009), em estudos sobre a Língua Portuguesa ontem e hoje, e em Mendonça (2006), no senso comum sobre a língua.
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Metodologicamente a pesquisa concentra-se no estudo de caso de quatro escolas do município de Ipatinga – MG, sendo duas particulares e duas públicas. Utiliza-se a pesquisa qualitativa, com o objetivo de identificar algumas dificuldades, ou tensões, que estejam sobre dez professores de Língua Portuguesa do ensino médio. Objetiva-se com este trabalho demonstrar a práxis do ensino da Variação Linguística, e como o professor de Língua Portuguesa percebe a realidade da Variação Linguística em sua prática pedagógica. Decorrendo as seguintes questões: Quais dificuldades estão diante deste docente, que apesar de seguir uma legislação educacional, que valoriza as diversas formas da gramática, contribui ainda para a “sabotagem” do ensino da Variação Linguística? Pode o professor de Língua Portuguesa, com a formação que possui, vencer o senso comum, o preconceito linguístico e ficar isento de suas crenças e atitude linguísticas com vistas ao ensino da Variação Linguística? Este Trabalho organiza-se em três capítulos. No primeiro apresenta-se o ensino da Língua de Portuguesa na perspectiva variacionista, no segundo o papel do professor de Língua Portuguesa e as tensões que podem sabotar ao ensino linguístico e no terceiro situa-se a realidade do ensino da Variação Linguística na cidade de Ipatinga-MG, apresentando os resultados da pesquisa qualitativa de forma descritiva. 1. O ENSINO DO PORTUGUÊS NA PERSPECTIVA VARIACIONISTA Torna-se necessário partir da abordagem sociocultural, pois ela veicula inúmeras culturas, tratando da diversidade linguística e de suas variedades distintas dentro de comunidades específicas. Neste sentido, Travaglia (1995, p. 10) afirma que “não há bom ensino sem o conhecimento profundo do objeto de ensino”. Esse trabalho partilha dessa proposição, uma vez que para o ensino de uma língua deve-se considerar três aspectos: o prescritivo, o descritivo e o produtivo. Ao resumir o ensino prescritivo, destaca-se que tem como foco, levar o aluno a substituir seus próprios padrões de atividades linguísticas inaceitáveis, por outros aceitáveis. O ensino descritivo, o segundo a ser destacado pelo autor, apresenta a linguagem como ele funciona. Travaglia (1995, p.39), ao definir o ensino descritivo, destaca: “fala de habilidades já adquiridas, sem procurar alterá-las, porém mostrando como podem ser utilizadas”. Tal conceituação apresenta a língua materna desempenhada com um papel importante, pois é a que o aluno mais conhece. Neste tipo de ensino está embutido o ensino linguístico, entendendo como seu uso pode se aplicar em contextos sociais. Difere-se da normativa, pois não trabalha a gramática
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como norma e o professor descreve a Variação Linguística transformando os fatos na língua observados em leis de uso da língua. Diante destes aspectos, ressalta-se que nas décadas de 1980 e 1990, a concepção de linguagem foi modificada e de muitas formas influencia o ensino de Língua Portuguesa até hoje. Estudos da sociolinguística são amplamente aplicados ao ensino da Língua Portuguesa. O ensino da disciplina de Língua Portuguesa foi muito influenciado pelas teorias da linguística, da sociolinguística e da psicolinguística (SILVA, 2009). Esses conceitos estão refletidos nos PCNs de Língua Portuguesa, e marcam no ensino da Língua quando conceitua: “a variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa” (BRASIL, 1998a, p. 29). Desta forma, os PCNs foram elaborados para nortear o ensino de Língua Portuguesa, e o trabalho do professor, deixando claro os objetivos gerais para o ensino, no qual o aluno seja capaz de aprender e ter domínio da linguagem, como atividade discursiva e cognitiva, portanto há uma orientação legal para que os docentes e discentes da disciplina de Língua Portuguesa identifiquem as variações linguísticas, compreendendo o regionalismo, as diferenças dos falares. Quanto ao conceito de Análise Linguística, Silva (2008), afirma que é uma das principais perspectivas teórico-metodológicas, contrapostas ao ensino da gramática tradicional, que é definida como uma prática muito pouco assumida entre os docentes. Pontuando alguns aspectos do ensino, com ênfase na gramática tradicional, (RIBEIRO, 2001 p.146), faz perguntas muito pertinentes ao professor. As respostas devem levar o professor a reflexões e a novos posicionamentos: que objetivo(s) se tem com a proposição do ensino da gramática na escola, do nível fundamental ao superior? Que concepção de linguagem subjaz às teorias propostas? Que tipo de ensino é enfocado? Qual é o público a que se dirige o aprendizado da gramática? 2. O PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA O papel do professor é definido de acordo com quadro referencial, e de acordo com uma proposta educacional, quando estruturadas, resultam numa prática pedagógica própria. Travaglia (1995, p.11), afirma que o professor deve posicionar-se e evitar com isso percorrer caminhos indesejáveis, como menciona: “a) os objetivos do ensino de língua materna. b) a concepção de linguagem; c) a concepção de gramática; c) tipos de ensino de língua; e) as variedades da língua”. Todas estas questões são norteadoras para o docente. Caso os docentes não estejam certos das questões pontuadas, compromete-se
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o ensino da Variação Linguística, como estratégica para uma educação linguística, livre de programas pré-fabricados, e assim Sírio Possenti (2000), defende o ensino de Língua Portuguesa livre de receitas e de formas pré-formatadas, esclarece contudo, que sua afirmação quanto a isto é para alunos que já escrevem e leem minimamente. Para ele “o que já é sabido não precisa ser ensinado.” (p. 46), grifo meu. Segundo esse linguista trata-se de um ensino voltado para a realidade do aluno, e não para o programa, ensino partindo do que o aluno já sabe, e o faz considerando um levantamento estratégico de dados, e uma investigação, livre da tradição. É nesta direção que o professor de Língua Portuguesa, precisa ter bem definido o seu papel, para o ensino da Variação Linguística tendo em vista a educação linguística. Tais definições garantem que o professor desenvolva uma linha de trabalho, uma fundamentação filosófica para o desempenho de seu papel, bem como a sua prática pedagógica. Neste sentido a missão educacional é maior do que propriamente ensinar uma regra. O papel do professor é apresentar aos alunos que existem modos de falar a mesma língua, e que isso é apenas diferente e não deficiente, levando o aluno a valorizar sua variação linguística apreendida junto à família, comunidade ou região, contudo existem tensões que podem elevar ainda mais o comprometimento do ensino da Variação Linguística e a educação linguística. 2.1 Tensões que influenciam o professor em face ao ensino da Variação Linguística. Além da tradição do ensino de Língua Portuguesa, pautado em regras rígidas, observa-se tensões que nem sempre são perceptíveis, mas que constituem-se como fatores de sabotagem ao desenvolvimento do ensino da Variação Linguística: a) Formação acadêmica do professor Destaca-se o grande abismo entre as orientações dos PCNs e a formação acadêmica do professor de letras. Apesar de todos estes anos terem se passado, há ainda vários problemas a serem resolvidos quanto a formação do professor de Língua Portuguesa. Silva e Cyranka (2009, apud , MATENCIO, 1994, p.81), destaca que há um verdadeiro hiato entre os avanços científicos na área de linguagem e a sua incorporação na formação do professor, bem como em sua prática de sala de aula, um outro aspecto que destaca-se é a afirmação de (SILVA e CYRANKA 2009, p.285): “[...] a massificação do ensino e a proliferação de cursos rápidos, refletido na proliferação de faculdades privadas, sem investimento em pesquisa”.
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b) Despreparo para lidar com a Variação Linguística Não obstante os problemas identificados na formação acadêmica do professor, constata-se um outro não menor, que é o despreparo para lidar com a Variação Linguística em sala de aula conforme (SILVA e CYRANKA 2009,p.286): “[...] a falta de formação continuada dos professores em serviço constitui um dos maiores entraves para a sua qualificação profissional”, deixando o professor distante das inovações dos estudos linguísticos, bem como distante da pesquisa acadêmica. c) As crenças e as atitudes linguísticas A conceituação de atitudes linguísticas (CYRANKA, 2007), está relacionada à avaliação linguística, ao exame dos julgamentos dos falantes em relação à língua ou ao dialeto utilizado por seu interlocutor, em relação à variedade considerada padrão. Considerando a necessidade de quebra de um modelo, Mariosine Oliveira (2010), afirma em estudos recentes sobre as práticas do Ensino de Língua Portuguesa no contexto pós PCNs, a necessidade de abrir-se um caminho para uma discussão mais ampliada. Se considerarmos os componentes de uma atitude, vamos encontrar no estudo “Crenças e Atitudes Linguísticas: o que dizem os falantes das capitais brasileiras”, conforme Vanderci
Aguilera
(2009,
apud
FERNANDES
1998,
p.
182):“(componente
cognoscitivo); a valoração (componente afetivo); e a conduta (componente conativo)”. Uma vez que a atitude linguística de um indivíduo é o resultado de suas crenças, conhecimentos, afetos e tendências, evidencia-se que o comportamento diante da língua ou de uma situação sociolinguística, é o resultado direto deste somatório. d) O preconceito linguístico A quarta tensão evidencia-se em Bagno (2007), como o preconceito linguístico, pautado no ensino da língua, como sempre se baseou na norma gramatical de Portugal, como regras que aprendemos na escola, que em boa parte, defende, não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil impregnada de mitos, gerando preconceitos. Tal aspecto reflete-se em fatores que dificultam o ensino da Variação Linguística. O preconceito linguístico, tanto refletido pelo professor, quanto pelos alunos, como um fator de tensão para o ensino da Variação Linguística, já representa em si mesmo o cerne do problema. Bagno (2002), apresenta entre os oito mitos do senso comum que geram preconceitos, dentre eles: “a língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma
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unidade surpreendente”. Para ele, esse é “o maior e mais sério dos mitos” e “como (pre)conceito irreal” (p.18). e) Senso Comum “Senso Comum” conforme (MENDONÇA, 2006, p. 13), define-se em situações de uso da língua, de acordo com os “mitos” que são perpetuados pela mídia de referência. O aparato midiático traz consigo a tendência de reprodução de um modelo. Não descartase que na sociedade existem duas ordens de discurso que se contrapõem: o discurso cientifico de base linguística e o discurso do senso comum ligado a noção de erro (BAGNO, 2007). Evidencia-se que há no senso comum, uma forma certa de se falar, incluindo nela a noção de erro, especialmente propagado pela mídia e seus instrumentos nos meios de comunicação, enfatizando com suas ênfases subliminarmente, que a língua é difícil de aprender, cheia de truques e regras, e que apenas alguns a dominam. 3. A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA PRÁTICA DOCENTE EM IPATINGA Objetivando compreender melhor as práticas pedagógicas utilizadas pelos professores, para a abordagem da Variação Linguística em sala de aula, empreendemos o estudo de caso entre dez professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio em quatro escolas (públicas e particulares) da cidade de Ipatinga, MG4. Foram entrevistados professores do Instituto Educacional Mayrink Vieira, (dois professores denominados como Adília e Benício); da Escola Educação Criativa (três professores: Divino, Esperança e Felicidade); Escola Militar Estadual Tiradentes, (três professores: Florisvaldo, Guilhermina e Heralda) e da Escola Estadual Maurílio Albanese Novaes, (professores Indianara e Jurema). A metodologia utilizada foi entrevista com perguntas direcionadas, bem como questionários respectivamente. As entrevistas nas escolas Educação Criativa e Mayrink Vieira (particulares), foram gravadas no ambiente escolar e devidamente transcritas, e as pesquisas nas escolas estaduais Tiradentes e Maurílio Albanese, os professores preencheram o questionário sem a presença do entrevistador. As abordagens foram realizadas com o objetivo de pontuar em análise documental, os resultados em caráter de amostragem, considerando-os como
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Para efeito de apresentação dos sujeitos da pesquisa serão especificadas as escolas, mas não os docentes, sendo estes indicados com nomes fictícios.
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parte representativa da população estudada. Através deste instrumento, permitiu-se a aplicação, interpretação e descrição dos dados. O questionário aplicado continha cinco perguntas. Na primeira – O Ensino de Língua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta”, e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa? – , o foco era o professor face à sua experiência escolar com a norma culta, a fim de saber se teve relação com sua escolha profissional5. Para essa dupla pergunta os três professores pesquisados na escola Educação Criativa, responderam unanimemente que em sua educação escolar, a prioridade sempre foi a norma culta. O professor Divino, afirmou que quem soubesse mais regras, sabia a Língua Portuguesa. No tocante a escolha profissional um afirmou ter sido influenciado pelo amor ao ensino, e pela falta de opções na época, e o segundo não respondeu diretamente a questão e o terceiro justificou a opção pela facilidade comunicativa e a experiência de ensino que já realizava em sua comunidade religiosa, portanto a formação destes três docentes foi pautada no ensino tradicional da Língua Portuguesa, excluindo a Variação Linguística, sendo esta atribuída como um conceito novo ou recente, mesmo em 2015. Quanto aos dois professores pesquisados através de entrevista, do Instituto Mayrink Vieira, ambos responderam que em sua formação escolar, a prioridade foi a norma culta, sendo que um deles justificou a escolha profissional por influência do pai, que era professor, e o outro justificou a escolha pelo fato de amar ler desde criança, com destaque para a profa. Adília que disse que quem não soubesse as regras estava “fora do esquema” e que tudo era decorado. O prof. Benício reforçou que a formação foi estritamente na norma culta, demostrando que a Variação Linguística não foi alvo de estudo na faculdade, tampouco seus métodos de ensino, evidenciando que a formação foi limitada. Os três professores pesquisados, através de questionário, na Escola Estadual Militar Tiradentes, afirmaram que a formação escolar foi estritamente na norma culta, contudo destaca-se que um deles, pela grande dificuldade que enfrentou com a Língua Portuguesa, mencionando a palavra “trauma”, foi muito influenciado na universidade pelo contato com a sociolinguística, quando então passou a “conhecer a língua”, porém não foi claro quanto ao que motivou pela escolha profissional, o segundo justificou ter 5
Ver questionário em Apêndices.
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sido influenciado pela leitura e pela palavra, e o terceiro inspirou-se em professores que teve. Quanto aos dois professores pesquisados através de questionário, da Escola Estadual Maurílio Albanese, um afirmou que nunca teve dificuldade com a norma culta, e por causa da facilidade de aprender a língua e as regras, sentiu-se motivado a ensiná-la, a segunda reconhece que a experiência com aprendizado da norma culta não foi boa e decidiu pela docência pelo amor à literatura e a Língua Portuguesa, portanto os dois docentes pesquisados reafirmam, a exemplo dos docentes da E. Educação Criativa e Mayrink Vieira, que não foram formados para ensinar a Variação Linguística em sala de aula, com uma única consideração que foi a profa. Guilhermina da escola estadual Tiradentes, que teve experiência e contato com a sociolinguística na universidade e afirmou que identificou-se muito e aplica conceitos de Variação em sala de aula, apresentando que a sua experiência foi relevante para o ensino da Variação Linguística com contraposição a norma culta. A segunda pergunta – O professor considera a sua formação adequada para lidar com a Variação Linguística em sala de aula? –, teve como foco verificar o preparo do docente para lidar com a Variação Linguística em sua prática pedagógica. Para esta pergunta, os três professores da Escola Educação Criativa, responderam unanimemente que não sentiam-se preparados, que os conceitos de Variação Linguística são recentes, sendo que um não viu isso como relevante, o outro justificou que o Enem não cobra isso com muitas questões, sendo que o prof. Felicidade afirmou que a Variação Linguística não foi objeto de estudo acadêmico no ensino superior. Observou-se que nenhum dos três entrevistados foram qualificados para o ensino da Variação Linguística na faculdade, mas somente o prof. Divino afirmou que desenvolveu pesquisas na área, e teve que fazer por conta própria, por atuar como docente universitária do curso de letras da Faculdade Pereira de Freitas (particular) na cidade, mas que seu uso do ensino da Variação Linguística é utópico e muito distante da realidade de sala de aula. Quanto aos dois professores pesquisados através de entrevista, do Instituto Mayrink Vieira, ambos responderam que não tiveram formação adequada para lidar com a questão em sala de aula, mas estudam e pesquisam por conta própria sobre o tema, mas nada foi detectado especificamente quanto ao ensino da Variação Linguística.
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Os três professores pesquisados através de questionário, na Escola Estadual Militar Tiradentes, unanimemente afirmaram que sim, que consideram a formação adequada para lidar com a Variação Linguística em sala de aula, bem como os dois professores pesquisados através de questionário, da Escola Estadual Maurílio Albanese, responderam que sim. Destaca-se, portanto, que todos os professores das escolas particulares afirmaram que não tiveram o preparo para ensinar a Variação Linguística e não se sentem preparados para ensiná-la, já curiosamente, todos os professores das escolas estaduais, afirmaram sentirem-se preparados para ensiná-la, mesmo tendo sido ensinados estritamente na norma culta, sendo que aqui está uma contradição entre o que aprenderam na faculdade e o que responderam como afirmativo nesta questão. A terceira pergunta – O professor acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor?). Caso sim, como o professor administra isso? –, teve como objetivo verificar se o professor constata o preconceito linguístico em seu comportamento ou em sala de aula, e como o administra. Os três professores pesquisados na Escola Educação Criativa, responderam unanimemente que sim existe, e que administram bem a questão quando observada, sendo que destaca-se a afirmação de um professor, de que pais, alunos e escola assumem posições quanto ao tema, e observou que em todos estes públicos o preconceito é real. O terceiro professor afirmou que o livro de Marcos Bagno “A Língua de Eulália”, o fez entender mais a questão. Quanto aos dois professores pesquisados através de entrevista, do Instituto Mayrink Vieira, responderam que não, não existe, sendo que um afirmou na escola estadual tudo é bullying. Os três professores pesquisados através de questionário, na Escola Estadual Militar Tiradentes, responderam diferentemente: um afirmou que ocorre às vezes justificando que a língua oral permite variações, o segundo afirmou que o livro de Marcos Bagno intitulado “A Língua de Eulália” o ajudou a compreender o tema, e o terceiro negou a existência de preconceito, e os dois professores pesquisados através de questionário, da Escola Estadual Maurílio Albanese, responderam que não existe e não presenciaram este preconceito em sala de aula. Destaca-se que os professores das escolas particulares unanimemente reconheceram a existência do preconceito linguístico, e os professores das escolas estaduais em sua maioria, curiosamente negaram. A quarta pergunta – O professor traz para a sala de aula suas crenças e atitudes linguísticas. O professor acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a
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maneira como os alunos aprendem? –, teve como objetivo verificar se o professor consegue perceber a sua influência linguística sobre os alunos e como se posiciona. Os três professores pesquisados na Escola Educação Criativa, responderam unanimemente que sim, sendo que um afirmou que isso não é relevante, outro justificou-se dizendo que os alunos se espelham no professor, o terceiro apesar de reconhecer a influência linguística, procura ser neutro. Quanto aos dois professores pesquisados através de entrevista, do Instituto Mayrink Vieira, responderam que sim, sendo que um afirmou que o aluno assume o registro que achar melhor, e o outro afirmou que é inevitável. Os três professores pesquisados através de questionário, na Escola Estadual Militar Tiradentes, as respostas foram unânimes afirmando que sim, e os dois professores pesquisados através de questionário, da Escola Estadual Maurílio Albanese, responderam que sim. Destaca-se que a maioria dos professores reconhecem que suas atitudes e crenças linguísticas influenciam o processo educativo, com isso observa-se com estas respostas, que as crenças dos professores refletem-se na maneira como o ensino é desenvolvido para a maioria deles, e que em sala de aula há forte tendência de manutenção do ensino tradicional, pautado em normas, de acordo com as crenças e atitudes desta maioria. A quinta pergunta – O senso comum afirma que a Língua Portuguesa é muito difícil, e cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? –, teve como objetivo verificar se o professor reconhece o senso comum que define a língua como difícil, e como ele desenvolve estratégias para vencêlo. Dos três professores pesquisados na Escola Educação Criativa, dois responderam reconhecer que observam o senso comum conceituando a língua como difícil, sendo que um deles afirma desenvolver formas de ensino que levem o aluno a superar isto, e um deles tenta dissuadir seus alunos, justificando que quando o aluno chega na escola já fala o português. Quanto aos dois professores pesquisados através de entrevista, do Instituto Mayrink Vieira, ambos responderam que sim, sendo que um afirmou que desenvolve estratégias para vencer o problema e o segundo afirmou que leva os alunos a refletirem que a sociedade irá cobrá-los.
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Os três professores pesquisados através de questionário, na Escola Estadual Militar Tiradentes, dois afirmam que as regras gramaticais não podem ser quebradas e que devem ser valorizadas, fortalecendo o valor delas para a formação do aluno, e dentre os dois professores pesquisados através de questionário, da Escola Estadual Maurílio Albanese, um afirmou que usa o “bate-papo” como estratégia para tornar as regras menos maçantes, afirmando alcançar bons resultados e o outro disse que mostra aos alunos que eles já conhecem a língua. Destaca-se que que a profa. Guilhermina, da Escola Militar Tiradentes, que afirmou usar como estratégia para vencer o senso comum, sempre valorizar o registro linguístico que o aluno traz para sala de aula, e que apresenta o português padrão como ferramenta de ensino e não como uma regra rígida, demonstrando conhecer as estratégias do ensino linguístico aplicado em sua prática pedagógica. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo “O Professor de Língua Portuguesa em Face das Tensões do Ensino da Variação Linguística: Reflexões sobre a Atuação do Docente”, ora apresentado, demonstrou evidencias de forte conservação do ensino tradicional da norma culta em face ao ensino da Variação Linguística no universo de escolas pesquisadas em Ipatinga,MG. No estudo observou-se que a maioria dos docentes, formou-se estritamente na norma culta, evidenciando que a formação foi voltada para o ensino de regras rígidas, e que a maioria, fez escolha a profissional, por terem o domínio da norma padrão, sendo a única ressalva a profa. Guilhernina da Escola Estadual Militar Tiradentes, que justificou o seu reconhecimento, de sua prática docente através dos conceitos da sociolinguística aprendido na faculdade de letras. Tal formação reflete sobre a maneira como ensinam, e ao mesmo tempo, enquanto a maioria dos docentes pesquisados, reconheceu que a formação obtida foi adequada para lidar com a Variação Linguística em sala de aula, não se referiram a nenhuma estratégia para o ensino linguístico em práticas docentes. Estas constatações sinalizam que ainda há problemas na formação do professor de letras, que inibem o desenvolvimento de um plano metodológico que contemple a Variação Linguística, confirmando que a primeira tensão é real quanto o abismo entre as determinações dos PCNs quanto a língua e seu uso, e a formação do professor de letras. Outro fato demonstrado como tensão na prática docente, pôde ser parcialmente confirmado, pois a maioria dos professores das escolas estaduais, negaram existência do preconceito linguístico em sala de aula, porém os docentes das escolas particulares o
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reconheceram, mas detectou-se que nenhum deles desenvolve estratégias de ensino da Variação Linguística, apenas dissuadem os alunos da ideia, fato que considera-se preocupante, pois os que negam fecham os olhos para a realidade, e os que o observam nada desenvolvem na prática docente, além de dissuadirem a si mesmos e os alunos da realidade, ao negarem o preconceito linguístico. Confirma-se que a maioria absoluta dos docentes percebe que suas crenças e atitudes linguísticas, exercem influência decisiva sobre como ensinam a língua, e sobre como os alunos aprendem, comprovando que é fator de tensão, comprovando que quem sabe mais e domina melhor as regras, influencia ensinando o que se crê, promovendo a sabotagem do ensino da Variação Linguística. Constatou-se algo que precisa ser superado, tanto pelos docentes como pelos alunos, que é a efetividade do senso comum, que estabelece uma relação entre a língua e seus falantes, criando e fortalecendo o mito, que a Língua Portuguesa é difícil, levando o professor a uma acomodação às regras gramaticais em face ao ensino linguístico, pois todos os docentes apenas dissuadem a si mesmos e os alunos desta ideia, crendo que o certo é ensinar a norma culta. Os professores de Língua Portuguesa, nas escolas pesquisadas em Ipatinga, MG, em sua maioria (90%), não estão preparados para o ensino linguístico, em razão das tensões presentes comprovadamente demonstradas nesta pesquisa, contudo aponta para o caso da profa. Guilhermina da Escola Estadual Tiradentes, a única que evidenciou desenvolver em sua prática docente, o ensino da Variação Linguística, trazendo esperança no universo pesquisado, representando apenas um caso entre os dez docentes, ou seja 10% dos entrevistados. Desempenhando determinante papel, o professor de Língua Portuguesa já enfrenta e supera inúmeros conflitos em sala de aula, desde o desinteresse dos alunos, pressões dentro e fora da escola quanto a resultados e posturas adequadas no uso da Língua Portuguesa dentre outras, e reconhecendo que o professor de Língua Portuguesa, não é o único responsável na resolução destes problemas, acredita-se que que o desenvolvimento de estratégias educacionais no ensino da Variação Linguística, visando uma educação linguística é de fundamental importância. Considerando que o professor pode e deve ser o agente destas mudanças, o presente trabalho comprova que as tensões são reais e sabotam o ensino da Variação
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Linguística, e propõe ao professor de Língua Portuguesa as supere, definindo uma filosofia educacional gramatical, para o ensino da língua que contemple o ensino linguístico em detrimento do ensino tradicional. Recomenda-se a necessidade de uma formação continuada, processo no qual o docente com a norma culta que traz consigo, estará em contato com novas formas de ensino da língua, oferecendo-lhe a oportunidade de rever as suas crenças linguísticas, dando oportunidade de assumir novas posturas e encontrar na educação linguística e análise linguística, alternativas para o ensino reflexivo, promovendo então uma educação de Língua Portuguesa, de caráter reflexivo e de uso em diferentes contextos. Diante dos resultados, observa-se também de forma emergente no recorte feito e analisado, a necessidade de uma reflexão mais aprofundada sobre a influência que o exame Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), exerce na definição do que se ensina no ensino médio, detectado na pesquisa como um fator de peso para o ensino da norma culta, criando uma pressão sobre os docentes, pais, alunos e instituições educacionais, em detrimento de formas de ensino na perspectiva variacionista, de onde emerge mais uma grande tensão ainda a ser estudada e discutida.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUILERA, Vanderci. Crenças e Atitudes Linguísticas: o que dizem os falantes das capitais brasileiras. Revista Estudos Linguísticos. São Paulo, vol.37, núm.2. p.105112,maio-ago.2008. Disponível em . Acesso em 01 de mai. 2015. BAGNO, Marcos; RANGEL, Egon.Tarefas da Educação Linguística no Brasil. Revista Brasileira de Linguística Aplicada. Belo Horizonte. vol.5, núm.1. p.63-81, 1° sem. 2005. Disponível em < http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=339829596004>. Acesso em 10 nov. 2014. BAGNO, Marcos. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997 _______. Preconceito lingüístico – o que é, como se faz. 15 ed. Loyola: São Paulo, 2002. _______. Nada na Língua é por acaso. Ed. Parábola: Brasília, 2007. BRASIL. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais : língua portuguesa: terceiro e quarto ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998. 104 p. Disponível em< ftp://ftp.fnde.gov.br/web/pcn/05_08_lingua_portuguesa.pdf>. Acesso em 14 nov. 2015. CYRANKA, Lucia. Atitudes Lingüísticas de Alunos de Escolas Públicas de Juiz de Fora – MG. Universidade Federal Fluminense- Niterói, 2007. Disponível em Acesso em 10 fev, 2015. GORSKI, E.M.; COELHO, I.L. Variação Linguística e Ensino de Gramática. Universidade Federal de Santa Catarina. In: Work. pap.Linguíst. 10(1):73-91, Florianópolis jan. jun. 2009. Disponível em . Acesso em 11 de out. 2014. ILARI, Rodolfo. Lingüística e ensino da língua portuguesa como língua materna. In: Reunião promovida pela APEOESP-Campinas, 1995. Disponível em. Acesso em 13 set. 2014. _____________. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. MENDONÇA, Maria Célia. O Senso Comum Sobre Língua: Notas Sobre um Discurso Marcado Pelo Outro. Coleção Mestrado em Linguística (Unifran), Volume 2. Franca, São Paulo, 2007. Disponível em
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. Acesso em 05 dez. 2014. MORESI, Eduardo. (Org.) Metodologia da Pesquisa. Universidade Católica de Brasília. DF, 2003. OLIVEIRA, Marisione. Práticas de Ensino de Língua Portuguesa em Contexto Pós PCN. 2010, 56 f. Monografia (Licenciatura em Letras) Instituto de Letras, Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em < https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/31933/000785211.pdf?sequence=1>. Acesso em 15 nov. 2014. POSSENTI, Sírio. Gramática na Cabeça. Revista Língua Portuguesa. São Paulo, ano 5, nº67,p.16-17.2011. Disponível em . Acesso em 13 set. 2014. ____________. Por Que (não) Ensinar Gramática na Escola. Coleção Leituras no Brasil. Campinas, São Paulo. Ed. Unicamp, 2000. RIBEIRO, Ormezinda. Ensinar ou Não Gramática na Escola? Eis a Questão. Revista Linguagem & Ensino. Uberaba. Vol. 4, n°1, p.141-157.2001. Disponível em < http://www.rle.ucpel.tche.br/index.php/rle/article/view/265>. Acesso em 10 nov. 2014. SILVA, Noadia Iris. Ensino Tradicional de Gramática e Prática de Análise Linguística na Aula de Português. 2009, 163f. Dissertação (Mestrado em Linguística) Instituto de Pós Graduação em Letras. UFPE. Recife, 2009. Disponível em . Acesso em 05 dez. 2014. SILVA, V.; CYRANKA, L.F. A Língua Portuguesa na Escola: Ontem e Hoje. Linhas Críticas. Revista da Faculdade de Educação. UNB, Brasília, v. 15, n. 29 p. 271-287, jul./dez. 2009. Disponível em . Acesso em 13 set. 2014. TRAVAGLIA, Luis Carlos. Gramática e Interação: Uma proposta para o ensino de gramática no 1° e 2° graus. 7ª Ed. Cortez: São Paulo, 1995. WIEDEMER, Marcos Luiz. Variação e Gramaticalização no uso de Preposições em Contextos de Verbos de Movimento no Português Brasileiro. 2013. 250f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista, Campus de São José do Rio Preto, SP. 2013. Disponívelem. Acesso em 10 mai 2015.
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APÊNDICES
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO Nome: Escola: 1. O Ensino de Língua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta”, e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa? 2. Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística? Sim ; Não ; Não, mas preparo-me estudando; Não, mas a instituição investe em minha formação visando este ensino. 3. Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor? Caso sim, como o professor administra isso? 4. Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem? 5. A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizagem?
Fonte: Elaborado pelo autor.
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APÊNDICES B - TRANSCRIÇÕES DE ENTREVISTAS ENTREVISTA 1 – Dia 20 de abril de 2015. ESCOLA EDUCAÇÃO CRIATIVA – Ipatinga – MG Professora Kelly (caracterizada como professor Divino) Kelly Cristina da Silva. Formada em Letras pela Universidade de Caratinga – MG e é pós graduada em Língua portuguesa. PERGUNTAS/RESPOSTAS 1 – O Ensino de Língua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar. Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta”, e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa ? O ensino de LP é como muitos professores ainda trabalham: ensinar a norma culta. Os vestibulares da época era norma culta. Era decorar as regras. Quem soubesse decorar as regras dominava a Língua Portuguesa. Sempre houve uma aptidão para ensinar. Na região só havia 3 opções: ou pedagogia, matemática ou letras na época. Saiu da faculdade certa que ia dar aula de literatura, mas aconteceu do professor de literatura ser o de português. Ama ensinar. Mudou muito o trabalho com a língua, desde que estudou. 2 – Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística? Ao se formar em 93, não havia a variação linguística. Foi deparar-se com a VL de acordo com o material didático , em pesquisas. Hoje trabalha na Faculdade Pereira de Freitas com o curso de Letras. Teve que tomar conhecimento da VL por conta própria. 3 - Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor ?). Caso sim, como o professor administra isso? Existe preconceito linguístico por parte do aluno, família e escola. A Coordenação da escola acredita que o ensino de LP é o ensino de gramática. Se ao chegar em casa os pais percebem que não há ensino de gramática, irão questionar que tipo de ensino é dado aos filhos ? É como se o professor não tivesse ensinado. O aluno acredita que o professor tem que falar 100% padrão. Se na sala de aula usa uma variação, os alunos observam. O professo de LP não tem o direito de usar a VL. E não só o professor, mas o aluno está avaliando de acordo com a VL. Há um conflito. Os alunos já trazem de casa a seguinte cobrança: o seu professor de LP não está te ensinando gramática não? A família e a escola cobram. 4 - Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem ? Eu assumi uma postura. O ensino é muito maior do que a gramática normativa. O ambiente da escola é o ambiente do aprendizado. O aluno já traz a VL, e apresenta ao aluno que as situações de uso da língua. Ainda existe uma ideia na cabeça do aluno que existe uma norma padrão. 5 – A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? Eu tento mostrar pro menino que ele já sabe a LP. Esta língua não é difícil. Eu pergunto pra ele se ele já sabe o português. Eu entendo que estou me comunicando com você. Ele não domina um padrão consagrado, e muitas vezes este consagrado tem falhas, então ele diz... ah eu sei o português, por isso eu digo que ele já sabe o português, mas não domina uma regra, e que o
28 português é muito mais do que a regra. Aí eu ensino que o padrão .... E muitas vezes o aluno me diz. Tá vendo como a língua é difícil. É um trauma. A família acredita nisso, a escola acredita nisso. ENTREVISTA 2 – Dia 20 de abril de 2015. ESCOLA EDUCAÇÃO CRIATIVA – Ipatinga – MG Professora Ivanilda ( caracterizada como professora Esperança) Ivanilda Oliveira Paiva Guimaraes. Formada Em Letras Portugues / Ingles , pos graduada em LP, e mestre em educação e linguagem – Chile PERGUNTAS/RESPOSTAS 1 - O Ensino de Lingua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar .Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta” , e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa ? O ensino mudou muito. Partíamos da nomenclatura e depois a maneira de aplicar. A gramática era cobrada de forma isolada. Ensinava-se o sujeito como aquele que pratica e sofre a ação. Não sabia deslocar o sujeito no texto. Hoje os pedagogos ampliaram muito o ensino através do construtivismo. Acredita que o aluno se perde dentro do texto. Surge-se a forma nova do trabalho alindando o construtivismo com o tradicionalismo. O aluno tem que estudar dentro de um texto, mas se ele não entender o contexto e não entende. Ele precisa entender a nomenclatura. Mudou neste ponto. Participei de um treinamento, com a ideia do Vygotsky com os atuais. Os grandes mestres reconhecem que todas essas questões estão muito longe. O ENEM não apresenta a VL, e é o de novo que há em termos de cobrança. Isso está anos luz distante do professor que está em sala de aula. Nem o professor consegue fazer o ENEM. Nós que estudamos um pouquinho mais, agente busca. Não há uma capacitação específica. Muito raramente. Quando acontece, acontece em escolas boas como esta. É uma coisa muito rara. A maioria dos professores não conseguem preparar os alunos para o ENEM. 2 – Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística? Adequada? só a formação não. Temos que buscar muito. Trabalhei muito em pesquisa fora da faculdade. Buscando e se informando. Estudamos um livro da IRANDÉ. Muito além da gramática. A comunicação se faz da mesma maneira. Temos que ler, mas não estão ao alcance de todos. Se tiver que extrapolar o livro didático, o professor não sabe fazer o ENEM. A origem do problema está lá dentro da faculdade. O PROFESSOR tem que ir além da faculdade. Não é ali que ele se desperta para o conhecimento. Se ali ele não for estimulado, não vai fazer mais nada não. 3 - Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor ?). Caso sim, como o professor administra isso ? Sim. O professor tem que ter um cuidado muito grande. Ele é um espelho. Nas primeiras séries, nas fundamentais, ele influencia muito. O aluno ainda olha para o professor como modelo. O professor é o responsável pelo preconceito linguístico. Existe forma errada de falar ou de escrever ? Se você não reestruturar a sua frase, você está agindo com preconceito. Ele é mais sério quando parte do professor para o aluno. 4 - Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem ? Muito. O conhecimento puro quanto a vivência de mundo. Se ele não souber colocar isso, vai trabalhar o aluno de forma muito.
29 5 – A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? A Lígia Fagundes Teles, fala sobre o poema de BILAC, e perguntou para o Pai, como a LP pode ser sepultura ? O pai responde. Espero que você escreva em LP, e este poema é muito bonito. Lígia Fagundes aprendeu a valorizar muito a língua. Se a gente não gosta, não aprende. Ela não é difícil, é complexa. ENTREVISTA 3 – Dia 29 de abril de 2015. ESCOLA EDUCAÇÃO CRIATIVA – Ipatinga – MG Professor Florisvaldo ( caracterizada como professor Felicidade) Florisvaldo Feitosa da Silva. Formado em licenciatura Português em Caratinga – MG ( UNEC ) , francês e em 2002 ingressou no magistério. PERGUNTAS/RESPOSTAS 1 - O Ensino de Lingua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar .Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta” , e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa ? A minha formação como discente, foi no rigor na norma culta. Não havia esta noção de VL. A interpretação ficava subjacente ao domínio da Norma Culta. Eu me destaquei muito no CDP da Usiminas. E o contato com a pastoral , e o gosto pela pessoa me fez migrar de professor. O meu descontentamento teve sua base como educador em minha comunidade religiosa. A educação religiosa, me ajudou. Eu usava muito o poder da linguagem para promover reflexões, o que me despertou o gosto pela educação. 2 – Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística? A VL não foi um objeto de estudo acadêmico no ensino superior. Algumas reflexões apenas. Não houve reflexão aprofundada no tema. Foi uma formação no rigor da língua. Não teria condição de dar aula hoje. Se saísse da faculdade hoje e tivesse que dar aula, não teria nenhuma condição, pelas mudanças acentuadas que ocorreram. 3 - Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor ?). Caso sim, como o professor administra isso ? A Língua de Eulália é bem interessante. É de bom tom que o professor ministre a aula no acedemicismo, e em linguagem mais acadêmica possível. Há uma linguagem em sala de aula. Há pouco minimamente o preconceito linguístico. O professor diz que se a comunicação aconteceu está ok. Errado é não se comunicar. Nas situações do dia a dia. Quando acontece alguém de fora dar uma palestra, os alunos comentam, outros por curiosidade e outros por preconceito linguístico. O meu aluno conseguiu hoje perceber o diferente. 4 - Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem? Inevitavelmente somos indivíduos com realidades linguísticos, sou mineiro mas com uma influência nordestina. Temos uma linguagem oriundo de uma comunidade religiosa. O professor de LP, tem que abrir mão disso para auxiliar, que os contextos é que influenciam a forma como me comunico. A realidade sócio cultural linguística influencia o professor, mas ele precisa ser plural.
30 5 – A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? Eu costumo dizer para os meus alunos que uma criancinha consegue dominar a LP. Há um diagnóstico que não conseguimos atuar muito ele, pois há uma prova e logo vem o segundo bimestre. O aluno sabe que a LP é um entrave, mas acredito que o problema não está na língua e sim como se trabalha a língua. Vale a pena pensar se a língua tem que traduzir o que ele diz, de forma muito rápida A leitura dos clássicos é uma dificuldade muito grande. Temos alunos que não assistem notícias, que não leem jornais, por isso um entrave. As vezes na avaliação ele transcreve a sua oralidade. Ele não percebe qual linguagem usar em cada ambiente.
ENTREVISTA 4 – Dia 29 de abril de 2015. INSTITUTO EDUCACIONAL MAYRINK VIEIRA Professora Regina ( caracterizada como professora Adília). Professora Maria Regina Matos Teixeira, formada em Licenciatura Plena em LP e Francês. PERGUNTAS/RESPOSTAS 1 - O Ensino de Lingua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar. Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta” , e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa ? Na minha época o ensino da Norma Culta era através das regras da gramática. Foi o ensino pautado nessas regras. Se não adequasse a essas regras estava fora do esquema. Regras de crase, de uso de pronome, tudo decorado. Meu pai era professor, e tive opção de ir para um centro maior, mas foi uma opção mesmo estudar letras. 2 – Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística? A minha formação foi adequada para trabalhar com as regras gramaticais. As mudanças ocorrendo tiveram que ser incorporadas. Se vivermos num meio cultural maior teremos que lidar com isso. 3 - Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor ?). Caso sim, como o professor administra isso ? A nossa escola aqui, agente lida com crianças que vem de um meio cultural e social mais elevado. Essa variação linguística, ocorre de forma com o meio dele. Caso observado alguma variação que ele traz, usamos isso para adequar. O reforço desta ideia de preconceito é mais acentuado até mesmo por isso. 4 - Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem ? Influencia na medida em que o aluno vê isso como uma outra possibilidade de registro. O aluno faz uma avaliação em cada situação comunicativo vai usar um registro diferente. 5 – A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? Agente só consegue vencer isso a medida que ensinamos para o menino que a sociedade vai cobrar isso dele. Se ele tem textos jornalísticos tem que fazer, se tem que fazer uma redação, vai ter que usar. Dependendo de uma situação. Pedimos sempre que eles mostrem que existem placas em desacordo com a norma culta. Não dizemos que existem erros, mas que não estão adequadas a norma culta. O próprio livro traz isso. E questionamos o porquê que eles escrevem do jeito que
31 falam. No meio escolar temos que trabalhar os enunciados, pois o mineiro diminui a língua. E ensinamos que existem muito mais palavras dissílabas do que monossílabas. ENTREVISTA 5 – Dia 23 de abril de 2015. INSTITUTO EDUCACIONAL MAYRINK VIEIRA - Ipatinga – MG Professora Joana D´arc de Paula Carvallho ( caracterizada como professor Benício). Joana D´arc Moreira. Formada em Língua Portuguesa, Licenciatura plena em Língua Portuguesa e Literatura. PERGUNTAS/RESPOSTAS 1 - O Ensino de Lingua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar .Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta” , e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa ? A minha formação foi basicamente na norma culta. Quis muito dar aula por causa da literatura. A leitura me levou a interessar-me ao ensino. 2 – Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística? A formação de faculdade ? Ah... já tem tento tempo né ? O que me ajuda mesmo é a experiência de sala de aula e o estudo diário. 3 - Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor ?). Caso sim, como o professor administra isso ? Na escola pública sim. Eles zoam, mas aqui não. Há mais bullying, e é com tudo. 4 - Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem ? Sim. Influencia 5 – A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? Outro dia um aluno me disse. Professora... Eu quero falar CA Alba. Agente não fala CA Alba, e sim estamos o tempo todo corrigindo. Ensinamos sempre que a língua falada é diferente da língua escrita, e é lógico que temos a nossa programação. Outro dia vimos escrito em Uberlandia uma propaganda Venha Disfrutar, ao invés de desfrutar e um aluno outro dia me perguntou se eu tenho whatsapp, e queria saber como é que eu escrevo, então eu expliquei que eu uso sim o “tb” e que existem formas comunicativas que são próprias. O meu aluno me pediu meu whatsapp, e eu mando algumas coisas pra ele. Eu falo com eles que a linguagem rápida é real mas que existe a culta. Tenho percebido muito que os alunos no estado não estão conseguindo distinguir “estar de está”. Temos que passar a pronunciar melhor. É necessário transcrever.
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APÊNDICE C - TRANSCRIÇÕES DE QUESTIONÁRIOS QUESTIONÁRIO 1 – Dia 27 de maio de 2015. ESCOLA MILITAR TIRADENTES - Ipatinga – MG Professora Claudineia ( caracterizada como professora Heralda). Formada em Língua Portuguesa, Licenciatura plena em Língua Portuguesa e Literatura. PERGUNTAS/RESPOSTAS 1 - O Ensino de Lingua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar .Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta” , e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa ? O meu contato com a norma culta se deu por meio da escola, uma vez que meus pais tinham pouca formação acadêmica, e por gostar muito dos meus antigos professores e consequentemente da matéria, me tornei professora de LP. 2 – Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística? Sim 3 - Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor ?). Caso sim, como o professor administra isso ? Não. Talvez exista curiosidade em relação às diferenças. 4 - Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem ? Com certeza, os alunos se espelham no professor. Cabe ao professor conduzir, filtrar e eliminar alguns pontos negativos. 5 – A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? Como professora, tento mostrar aos meus alunos que existem convenções linguísticas e que porá sermos aceitos em determinados meios sociais temos que ater a estas convenções, portanto devemos aprende-las e usá-las quando se fizer necessário. QUESTIONÁRIO 2 – Dia 27 de maio de 2015. ESCOLA MILITAR TIRADENTES - Ipatinga – MG Professora Jaqueline ( caracterizada como professor Florisvaldo). Formada em Língua Portuguesa, Licenciatura plena em Língua Portuguesa. PERGUNTAS/RESPOSTAS 1 - O Ensino de Lingua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar .Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta” , e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa ? Meu aprendizado da “norma culta” foi muito bom, sempre gostei de aprender a forma “correta” de falar e escrever e sempre li muito. O gosto pela leitura e pelas palavras me motivou a escolher essa disciplina para ensinar. 2 – Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística?
33 Sim. 3 - Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor ?). Caso sim, como o professor administra isso ? Às vezes isso acontece. Procuro mostrar aos alunos que a língua tem como finalidade a comunicação e a língua oral permite variações. 4 - Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem ? Sim. O professor acaba imprimindo em suas aulas as suas crenças, as suas atitudes e isso pode tornar mais fácil a aprendizagem do aluno, depende da forma como ele consegue transmitir os conhecimentos. 5 – A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? Tenho mostrar aos meus alunos a aplicação da língua, das regras no seu dia-a-dia. Mostro a eles a importância de escrever bem e como isso interfere em sua vida escolar e profissional. QUESTIONÁRIO 3 – Dia 27 de maio de 2015. ESCOLA MILITAR TIRADENTES - Ipatinga – MG Professora Helena ( caracterizada como professora Guilhermina). Formada em Língua Portuguesa, Licenciatura plena em Língua Portuguesa. PERGUNTAS/RESPOSTAS 1 - O Ensino de Lingua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar .Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta” , e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa ? Como aluna do Ensino Fundamental, sofri um aprendizado cheio de traumas, observações de que “não conhecia “ a língua, uma desvalorização sistemática da bagagem linguística do aluno. Já na universidade, conheci a visão dos gramáticos e dos linguistas e me identifiquei com a visão da sociolinguística. 2 – Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística? Sim. 3 - Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor ?). Caso sim, como o professor administra isso ? Sim. Através do conhecimento e do estudo de noções da sociolinguística. Lemos e refletimos embora de forma rápida o livro A Língua de Eulália, de Marcos Bagno. Sempre que possível eu mesma em meu discurso brinco com as variações linguísticas e relaciono-as sempre a questão cultural. 4 - Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem ? Claro que o professor tem influencia sobre seus alunos, mas temos que ter consciência e tentar fazer com que os alunos exerçam a liberdade de pensar, e exercitem suas argumentações.
34 5 – A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? Procuro ao máximo valorizar o registro linguístico do aluno e ensinar o registro do português padrão como mais uma ferramenta. É necessário o domínio dessa ferramenta, desse instrumental, mas a Língua Portuguesa é uma língua viva e sofre a influencia do registro dessa juventude. Procuro conscientizar meus alunos disso. QUESTIONÁRIO 4 – Dia 06 de junho de 2015. ESCOLA ESTADUAL MAURÍLIO ALBANESE NOVAES - Ipatinga – MG Professora Eliane Maria Lopes Gonçalves ( caracterizada como professora Indianara). Formada em Língua Portuguesa, Licenciatura plena em Língua Portuguesa. PERGUNTAS/RESPOSTAS 1 - O Ensino de Lingua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar .Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta” , e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa ? Nunca tive problemas com o uso da norma culta, pois sempre fui uma boa leitora e a aprendizagem foi ocorrendo automaticamente. Minha motivação a ser professora de LP veio exatamente da facilidade em aprende-la. 2 – Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística? Sim. Quando surgem dúvida pesquiso. 3 - Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor ?). Caso sim, como o professor administra isso ? Não. Nunca presenciei momentos preconceituosos em sala de aula no que tange o emprego da língua. 4 - Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem ? Com certeza. Da interação entre professor e aluno ocorre sempre mudança de paradigma. 5 – A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? Primeiro, procura através de bate-papo mostrar aos alunos a necessidade da aprendizagem da língua e depois busco estratégias que os ajudem a assimilar as regras da língua de forma menos maçante e cansativa. Tenho alcançado resultados.
QUESTIONÁRIO 5 – Dia 18 de junho de 2015. ESCOLA ESTADUAL MAURÍLIO ALBANESE NOVAES - Ipatinga – MG Professora Rosângela Medeiros ( caracterizada como professora Jurema). Formada em Língua Portuguesa, Licenciatura plena em Língua Portuguesa. PERGUNTAS/RESPOSTAS
35 1 - O Ensino de Lingua Portuguesa mudou muito desde a sua formação escolar. Como foi a sua experiência de aprendizado escolar da “Norma Culta” , e o que o motivou a ser um professor de Língua Portuguesa ? Sim. Mudou muito. Minha experiência com relação ao aprendizado não foi boa, não se ensinava como hoje. Me motivei a ser professora pelo amor à literatura e a própria LP. 2 – Considera a formação adequada para lidar com a Variação Linguística? Sim. 3 - Acredita existir preconceito linguístico em sala de aula (por parte dos alunos ou do professor ?). Caso sim, como o professor administra isso ? Sim. 4 - Crer levar para sala crenças e atitudes linguísticas. Acredita que isso pode influenciar a maneira como ensina, e a maneira como os alunos aprendem ? Sim. 5 – A Língua Portuguesa é muito difícil, cheia de truques e malícias (só os mais espertos conseguem aprendê-la). Como o professor consegue vencer esta “pecha” que há sobre a Língua Portuguesa e seu ensino-aprendizado? Mostrando aos alunos que eles já conhecem a língua e sabem articulá-la.