O Velho E O Novo

  • November 2019
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O VELHO E O NOVO (ou será, O BONITO E O FEIO?)

Freqüentemente o velho e o novo se colocam lado a lado. Mesma cidade, mesmo bairro, mesma rua e quase o mesmo endereço. Mas épocas muito diferentes. Normalmente a passagem do tempo aperfeiçoa as coisas, mas na arquitetura brasileira não tem sido assim. Por arquitetura brasileira, por favor entendam a arquitetura saída da cabeça do cidadão médio brasileiro, para atender sua necessidade imediata de moradia ou de local de trabalho. É a arquitetura sem arquiteto, figura mais que desconhecida e supérflua. No máximo um engenheiro civil, para referendar o projeto “bolado” pelo proprietário. Isto vem moldando o país. O resultado? Bem, o resultado tem sido um país cada vez mais feio, mais sem estilo, mais sem vida. Compare algumas situações. O que é que está havendo? Deu pra reparar a graça que as construções antigas têm, por mais simples que sejam? Deu pra ver o desleixo e feiúra das construções novas? Será que antigamente o povo dispunha de arquitetos com uma facilidade que hoje não existe mais? Será que o povo de antes era muito mais rico? Será que as condições humanas e materiais à disposição do construtor antigo eram maiores? Será que havia antes uma circulação maior de informações e portanto, mesmo o ‘qualquer um’ podia ter acesso a projetos e literatura que hoje não existem mais? Tudo pouquíssimo, pouquíssimo provável. Mas olhe qualquer foto antiga de qualquer cidade. Diversos estilos, diversos momentos, diversos lugares, mas sempre muito legal. Simpáticas, bonitas, agradáveis, elegantes e honestas, não importando se o local era de gente rica ou não. Qualquer paiol antigo era muito mais bonito que uma infinidade de construções caras de hoje em dia. Antes, a aparência externa era sempre um fator considerado seriamente. Mas porque e como, todo um país perde a preocupação com a cara das cidades? Será que esta coisa toda é na realidade uma das conseqüências de algo mais profundo? O que será que acontecia antes que não acontece mais? O que significa as pessoas não se interessarem pela aparência do que constroem e do que os outros constroem também? É claro que na absoluta maioria das cidades não existe a mais mínima legislação sobre o que, como e onde construir. Não existem leis de uso e ocupação de solo adequadas, que garantam ao menos a salubridade das casas. Que dirá normas que definam estilos ou qualidade estética. Isto é um complicador. Mas se falta legislação agora, antes faltava também.

Conclui-se portanto, que espontaneamente as pessoas de então tinham um senso que não têm mais hoje. Que senso seria este? Deixe-me lembrar um pequeno detalhe sobre duas palavras: cidadania e cidadão. Todos parecem desconhecer que ambas derivam da palavra cidade. Então cidadania é se interessar pela cidade. E cidadão é o indivíduo que se interessa pela cidade. Cidadania portanto, originalmente, é muito diferente do que o simples portar de documentos. E cidadão, é originalmente muito além do que a categoria de pessoas que carrega a identidade no bolso. Então o conceito cidadão em nosso país virou o indivíduo que está ai para exigir os seus direitos. Todos estão encharcados de direitos. Não se dá destaque mais algum às obrigações, conseqüências e responsabilidades de cada um. Esta é a linha para se entender a feiúra impune das cidades. Ninguém mais se sente participando de coisa alguma, muito menos da construção de uma cidade. Esqueceram todos que a cidade tem a cara que as construções que a compõem têm. E como ninguém mais se interessa pela cidade, como a cidadania acabou, tanto faz como tanto fez. Feio passa a ser o que a cidade merece. E como ele próprio também já não olha mais para os lados, para que caprichar em algo pelo qual ninguém mais se interessa? Evidentemente as conseqüências desta perda de cidadania, vão muito além da perda de estética das cidades que é a primeira. A degeneração visual por sua vez implica no recrudescimento da individualidade, da alienação, da perda das identidades culturais e históricas, da desvalorização patrimonial e do embrutecimento. E a qualidade de vida passa a ser medida pelo indivíduo pela qualidade da televisão que ele tem. Uma vez trancado dentro de casa, a televisão transporta-o a todo tipo de realidades fantásticas e belas que ele não dispõe mais, mas que não fazem mais falta, já que estão muito bem substituídas. Antes não havia televisão, de forma que as horas vagas eram preenchidas com passeios e caminhadas pela vizinhança e pelo footing. As pessoas observavam e eram observadas e ninguém queria fazer feio ou destoar. As pessoas se interessavam pelo viam, e conseqüentemente na hora de construir, queriam dar a sua contribuição positiva. Hoje a vida se passa dentro da casa e apenas o interior interessa. Este é um caminho sem retorno? Difícil responder. As coisas já atingiram Acreditamos que este é o momento de feiúra

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