O Futuro Do Queijo Serra Da Estrela - O Caso De Celorico Da Beira

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_________________________________________________________Património Cultural e Animação

Universidade da Beira Interior Mestrado em Educação Social e Comunitária

Queijo Serra da Estrela: património do passado e do futuro

Património Cultural e Animação Autor: Steven Casteleiro

Orientação: Professor Doutor Michael Heinrich Josef Mathias

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"És forte porque estás próximo da origem da criatura. És nutritivo porque manténs o melhor do leite. És quente, porque és gordo..." Hipócrates - 450 A.C. referindo-se ao queijo

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Índice 1. Introdução

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2. Objectivo do Trabalho

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3. Noção de Património Cultural

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4. História do Fabrico do Queijo

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4.1. História do Queijo Serra da Estrela

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5. Queijo Serra da Estrela: especialidade ameaçada?

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6. Projectos de Intervenção local

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7. Conclusões

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8. Referências Bibliográficas

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9. Anexo – Região Produtora do Queijo Serra da Estrela

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1. Introdução

A legislação em vigor estipula que Património cultural é o conjunto de todos os bens representativos do valor de uma civilização e testemunhos da cultura de um povo. O Queijo Serra da Estrela e a sua história, intimamente ligada à história da pastorícia na Serra da Estrela, podem ser considerados uma mais valia cultural que interessa preservar. Existe todo um conjunto de saberes, tradições e factos históricos associados a esta especialidade gastronómica dos concelhos da região da Serra da Estrela que interessa conhecer melhor para assim os poder preservar na memória colectiva dos habitantes da região e também do povo português. O queijo Serra da Estrela é um cartão de visita para os visitantes da região da Serra da Estrela, sejam portugueses ou estrangeiros, pois estes também reconhecem a qualidade do Queijo, que conquistou ao longo do tempo reputação internacional. O segredo do fabrico do Queijo Serra da Estrela está no leite de ovelha que é utilizado mas está também na utilização do coalho da flor do cardo ou nos verdes pastos utilizados para as ovelhas. A tradição na confecção deste produto viu-se entretanto confrontada com novas directivas que tornam a produção do Queijo Serra da Estrela mais apertada e de acordo com certos parâmetros definidos e dados a conhecer aos actuais produtores ou potenciais produtores. Esta realidade veio constituir um desafio para algumas localidades tradicionalmente associadas à produção do Queijo Serra da Estrela, mas veio também constituir uma dificuldade potencial para famílias social e economicamente menos capazes de enfrentar um novo contexto, onde a necessidade de investir num novo espaço e se adaptarem a novas regras determinam muitas vezes a extinção do negócio ligado à produção do Queijo Serra da Estrela. Pelos aspectos referidos, O Queijo Serra da Estrela constitui um símbolo da identidade e cultura não apenas dos habitantes da Serra da Estrela mas do próprio país que interessa preservar.

2. Objectivo do trabalho

Este trabalho foi elaborado no âmbito da cadeira de Património Cultural e Animação do Mestrado em Educação Social e Comunitária.

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Pretendeu-se desenvolver um trabalho monográfico sobre o Queijo Serra da Estrela, especialidade confeccionada há longa data pelas gentes tradicionalmente ligadas à pastorícia na região da Serra da Estrela e que constitui um bem que interessa preservar pois representa um símbolo de uma história antiga, ligada à história dos pastores da Serra da Estrela. O Queijo Serra da Estrela testemunha uma grande parte da cultura popular portuguesa da região da Serra da Estrela mas encontra-se actualmente ameaçado, por alguns factores que serão abordados neste trabalho de síntese. Alguns esforços têm sido efectuados pelos agentes e entidades com interesse directo na preservação do Queijo Serra da Estrela. No sentido de recolher dados para o trabalho e procurar respostas a algumas questões foi efectuada uma visita ao concelho de Celorico da Beira, localidade onde se visitou o Solar do Queijo, no antigo Quartel dos Bombeiros e ainda o Museu do Agricultor e do Queijo, inaugurado em 2002 pelo então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio.

3. Noção de Património Cultural O Decreto – Lei n.º 107/01 de 08 de Setembro estabelece as bases da política e do regime de protecção e valorização do património cultural em Portugal. No artigo 2º, ponto um, pode ler-se que “para os efeitos da presente Lei integram o património cultural todos os bens que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante, devam ser objecto de especial protecção e valorização”. No ponto dois do mesmo artigo refere-se ainda que o “interesse cultural relevante,

designadamente

histórico,

paleontológico,

arqueológico,

arquitectónico,

linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico, social, industrial ou técnico, dos bens que integram o património cultural reflectirá valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade”. Pelo acima exposto pode considerar-se que o Queijo da Serra, especialidade gastronómica da região da Serra da Estrela, com toda a história do seu fabrico, intimamente ligada à história da pastorícia na Serra da Estrela, pode ser considerado como um bem representativo do património cultural da região da Serra da Estrela e do país.

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4. História do Fabrico do Queijo

A origem do queijo é incerta. Apesar de muitos pormenores permanecerem desconhecidos, sabe-se que se trata de um bem alimentar bastante antigo, cujas origens remontam à antiguidade, admitindo-se que tenha sido inventado mesmo antes da manteiga. Segundo algumas lendas o queijo terá sido descoberto por um dos filhos de Apolo, Aristeu, Rei de Arcádia1. Os Assírios, os Caldeus e os Egípcios e, posteriormente, os Gregos e os Romanos apreciavam o queijo, do qual fabricavam inúmeras variedades, cujas imensas virtudes conheciam, pois utilizavam-no quer na alimentação dos soldados quer na dos atletas. Na Roma antiga nasceu o comércio do queijo, Llegaban - a capital de todas as províncias italianas, mas também outras mais distantes como Nimes, Saboya e regiões actualmente pertencentes à Suíça, onde se importava o "caseus alpino" para Roma. A confecção do queijo baseia-se em três descobertas fundamentais, que ficaram para sempre na história. A primeira descoberta está relacionada com a obtenção do leite, há mais de 10.000 anos. O leite é utilizado pelo homem desde que surgiu a ideia de ordenhar os animais para beber o seu leite. A influência da temperatura foi um importante aspecto identificado, pois em caves onde existia habitualmente o fogo e calor, o leite coalhava mais depressa. Assim nasceu a segunda descoberta, o conhecimento técnico da arte da queijaria, que rapidamente conduziu a outro: quando o leite coalhava e solidificava, escorria um líquido e a coalhada ficava mais consistente. Mais tarde passou a colocar-se o leite coalhado numa cesta de vime ou outro recipiente com furos, para deixar correr o soro. Esta técnica permite actualmente a produção de uma variedade de queijo bastante apreciada, uma pasta branca e consistente que constitui o requeijão. A última descoberta importante para o fabrico de queijos foi a do coalho, enzima digestiva que se pode retirar de certas plantas, como é exemplo os cardos ou do estômago de alguns animais como de cabritos, vitelos ou borregos. Constitui um importante coagulante das proteínas do leite, etapa indispensável para a obtenção de queijo.

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História do Queijo, disponível a partir de http://www.gastronomias.com/queijos/inicio.htm (consultado a 24 de

Março de 2008)

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O uso da inflorescência do cardo Cynara cardunculus no fabrico de todos os tipos de queijo de ovelha portugueses, nomeadamente os queijos Serra da Estrela, queijo de Serpa, Évora ou Castelo Branco, vem de tempos que remontam à ocupação da Península Ibérica pelos Romanos, constituindo no presente, uma tradição nacional sobre a utilização deste coalho de origem vegetal. As propriedades do cardo não se afastam das propriedades de outros coagulantes vegetais e no fabrico do queijo Serra da Estrela é o coagulante que é obrigatório utilizar2. Este aspecto foi também reforçado na explicação dada pela Dra. Maria de Jesus, Directora Técnica do Museu do Agricultor e do Queijo, de Celorico da Beira.

4.1. História do Queijo Serra da Estrela

A história do fabrico do Queijo da Serra da Estrela está intimamente ligada à história da pastorícia e da transumância efectuada no Inverno pelos pastores da Serra. O interesse pela exploração ovina tinha múltiplas causas e não apenas a obtenção de leite para o fabrico de queijo. Segundo Dias, J. (2000) no texto A história do fabrico de queijo na Beira Baixa in Via Láctea, nº 15 o interesse centrava-se também “na produção de lã, destinada a abastecer as indústrias de lanifícios da Covilhã, Fundão, Castelo Branco e Alcains, originando grandes concentrações de gado nesta região da Beira Baixa”. Os pastores da região da Serra da Estrela efectuavam longas caminhadas, a transumância, pois devido à baixa fertilidade dos solos no Inverno levavam as ovelhas para regiões mais baixas. Segundo o mesmo autor, Dias, J. (2000) ao longo destas caminhadas encontram-se na região da Serra da Estrela e também em Castelo Branco “as cabanas e queijeiras redondas, datadas da época luso-romana. Estas construções, conservando os caracteres originários, eram formadas de pedras pequenas e soltas, sobrepostas com cuidado e sem nenhuma argamassa. A sua função era servir de guarida aos pastores e, outras vezes, para o fabrico de queijos confiado ali aos pastores.” Mas a passagem do gado pela região obrigava ao pagamento de um imposto, o o montádigo, que foi mais tarde alvo de grandes protestos por parte dos pastores da Serra da Estrela, pois muitas vezes era cobrado de forma abusiva.

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A importância dos coagulantes do leite para produção de queijo, disponível a partir de

http://blog.comunidades.net/apbvai/index.php?op=arquivo&pagina=2&mmes=01&anon=2006 (consultado a 25 de Março de 2008)

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Por esse motivo foi mais tarde apresentada uma petição, no século XVI ao Rei D. João IV e segundo Dias, J. (2000) os pastores obtiveram a seguinte resposta:

“Eu haja por bem fazer mercê aos pastores da serra da Estrela, que indo pastar seus gados fora do termo, e para o campo de Ourique, Alentejo, Idanhas não sejam acoimados nos baldios, e coutadas, por onde pastarem (…), porque a lã, queijos, e o pão que onde estão se acrescenta, é em muito proveito comum (…).”

Com o passar do tempo, a criação de gado na região da Serra da Estrela foi crescendo em importância. No século XVIII e para a região da Beira Baixa em particular, a economia assentava principalmente na produção de produtos agrícolas e pastoris como a produção de azeite, vinho, produção de trigo e centeio. A pastorícia consistia na exploração de gado ovino e caprino. O fabrico do queijo tende assim, a surgir como o aproveitamento de recursos provenientes da criação de gado. Assiste-se à expansão do mercado do queijo e no final do século XIX, como resultado do desenvolvimento industrial, realizam-se grandes exposições na Europa primeiro com forte procura na capital do país e com o passar do tempo, além portas (Dias, J., 2000). Os inúmeros concursos nacionais e internacionais que surgiram vieram contribuir para a afirmação dos queijos produzidos nas diferentes regiões de Portugal. Seguindo um pouco o que se fazia pela Europa foram organizadas algumas exposições onde participaram queijos produzidos na região da Beira Baixa e de outras localidades, com queijos de ovelha e de cabra. O fabrico do Queijo Serra da Estrela obedece aos seguintes procedimentos: 

O Queijo Serra da Estrela produz-se a partir de leite cru de ovelhas de raça Bordaleira ou Churra Mondegueira e a sua fabricação é artesanal. A ordenha é manual e depois o leite é aquecido em banho-maria numa temperatura aproximada de 28ºC. É adicionado em seguida uma infusão de cardo (Cynara cardunculus) e sal;



O processo de coagulação demora cerca de 40 minutos e a coalhada é lentamente apertada com as mãos, e mantida sob pressão até ao esgotamento total do soro. Este líquido será posteriormente aproveitado para o fabrico do requeijão;



A maturação do queijo é feita num ambiente com 90% de humidade relativa e com uma temperatura que pode variar entre 6ºC e 12ºC. Durante este processo o queijo é lavado e virado com alguma frequência, de modo a que a crosta se mantenha lisa

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e limpa. Após um período de cerca de 40 dias, o queijo está pronto para ser consumido (Fotografia 1); 

O Queijo Serra da Estrela caracteriza-se por ser um queijo de pasta semimole amanteigada, de cor branca ou ligeiramente amarelada. É um queijo com forma de cilindro baixo, regular, com abaulamento lateral e um pouco na face superior, sem que os bordos estejam bem definidos;



Os diâmetros variam entre 15 cm e 20 cm, a altura em 4 cm e 6 cm e o seu peso oscila entre 1 kg e 1,7 kg.

Fotografia 1- O Queijo Serra da Estrela com rótulo onde se observa a presença de um conjunto de elementos identificativos essenciais. Para ser considerado Queijo Serra da Estrela tem que obedecer a um comjunto vasto de parâmetros.

5. Queijo Serra da Estrela: especialidade ameaçada?

A agricultura constitui uma das alavancas indispensáveis ao desenvolvimento das zonas rurais mais desfavorecidas. Mas a sobrevivência depende da promoção dos produtos confeccionados com qualidade, através de produtos específicos e originais, orientados para um nicho ou segmento de mercado. Segundo Isabel Dinis (1999) no texto Denominações de origem e desenvolvimento rural: O caso do "queijo Serra da Estrela", “a competitividade das explorações agrícolas só pode ser mantida ou à custa da redução dos custos de produção, particularmente através de uma maior mecanização, que reduz ainda mais a contribuição do sector agrícola para o emprego no meio rural, ou através de um aumento da produtividade, muito improvável nas regiões com maiores limitações naturais e estruturais, ou ainda pela procura constante de valorização dos produtos, essencialmente associada à qualidade”.

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O interesse que se tem vindo a verificar pelos produtos tradicionais é devido, segundo a mesma autora, num conjunto de tendências que se fazem sentir nas sociedades ocidentais e que estão relacionados com a necessidade de atenuar os efeitos negativos sobre o espaço rural e por outro com a ideia de revalorização do património rural, nas suas vertentes natural e cultural. Por outro lado, existem sectores do consumo urbano que revelam alguma desconfiança acerca da falta de qualidade dos produtos industriais. Este facto aliado a uma maior apetência pelos produtos naturais associados às tradições justifica o aumento do interesse pelos produtos agrícolas, na actualidade. Mas para que um determinado produto agrícola tenha sucesso são necessárias políticas baseadas na qualidade dos produtos confeccionados e que se integrem, como refere Dinis, I. (1999) formas de protecção dos produtos agrícolas ou alimentares, que se possam identificar pela sua proveniência geográfica, o seu modo de produção e as suas qualidades específicas que protejam os produtores da concorrência de produtos que não sejam genuínos, que lhes permite a prática de preços mais elevados. A área de produção do Queijo Serra da Estrela abrange os seguintes concelhos: A Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia, Seia, Manteigas, Penalva do Castelo, Mangualde, Nelas, Carregal do Sal e Oliveira do Hospital e ainda algumas freguesias dos concelhos de Aguiar da Beira, Trancoso, Guarda, Covilhã, Tondela, Viseu, Arganil e Tábua. Alguns destes concelhos são áreas em franco declínio rural, com êxodo das populações para outras regiões e em marginalização, onde existem freguesias com uma população bastante envelhecida ou que já terão desaparecido. A agricultura continua a ter um peso muito importante na economia da região. As Denominações de Origem Protegida – DOP – que constituem um sucesso em França revelam que este poderá ser uma das soluções ao permitir a manutenção da competitividade de alguns sectores de actividade e contribuir para a fixação de populações nos seus territórios de origem. “A percepção deste facto tem levado à incorporação da questão da qualidade na concepção de instrumentos de política sectorial, bem visível, no caso da Política Agrícola Comum, no reconhecimento e apoio à agricultura biológica e também no incentivo à regulamentação de DOP, Indicações Geográficas Protegidas e Certificados de Especificidade” (Dinis, I., 1999). As DOP tradicionalmente utilizadas para o vinho são relativamente recentes para o mercado do queijo e surgem, segundo Dinis, I (1999) com base em duas motivações: uma devido a uma possível reacção à perda de qualidade de um produto considerado uma especialidade tradicional, devido ao alargamento da produção ou à utilização indevida da designação; a outra pode ter origem numa vontade da própria comunidade em defender a identidade local através da revitalização de costumes e tradições.

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A região de produção do Queijo Serra da Estrela é um exemplo onde se tem vindo a implementar uma DOP nos últimos anos como forma de promover um produto de qualidade. Na figura 1 apresenta-se uma etiqueta do Queijo Serra da Estrela. A rotulagem do queijo é efectuada de forma distinta dos demais queijos feitos com leite de ovelha.

Figura 1- Rótulo de um queijo Serra da Estrela onde se observa a presença de um conjunto de elementos identificativos essenciais.

A rotulagem do Queijo Serra da Estrela é diferenciada dos demais queijos de leite de ovelha em vários aspectos: - O holograma de certificação produzido pela Casa da Moeda com número de série; - O símbolo europeu de denominação de origem protegida (DOP); - Um número de licenciamento da queijaria; - A zona comum a todos os produtores DOP; -A identificação individual de cada produto.

A rotulagem do produto segundo as regras acima expostas é uma das estratégias implementadas no sentido de certificar o produto com o selo de qualidade. Segundo a Dra. Maria de Jesus, Directora Técnica do Museu do Agricultor e do Queijo de Celorico da Beira, para se fazer uso da DOP para o Queijo Serra da Estrela é necessário obedecer a um conjunto de requisitos: •

Produzir o queijo apenas na região demarcada do Queijo Serra da Estrela (DOP), que abrange os concelhos de Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia, Seia, Manteigas, Penalva do Castelo, Mangualde, Nelas, Carregal do Sal, Oliveira do Hospital e algumas freguesias dos concelhos limítrofes;



Produzir o queijo de acordo com as regras legalmente estabelecidas, adicionando apenas o leite de ovelha Bordaleira Serra da Estrela e/ou Churra Mondegueira crú, sal e flor de cardo;

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Obter o leite a partir de rebanhos da raça Bordaleira Serra da Estrela e/ou Churra Mondegueira isentos de Brucelose, isto é, com um estatuto sanitário B3 ou superior e cujas condições de manuseio e higiene sejam consideradas boas;



Possuir uma queijaria licenciada para a fabricação do queijo;



Submeter o queijo a uma série de análises microbiológicas que deverão enquadrarse nos limites legalmente estabelecidos no que diz respeito à presença de certas bactérias como a Listeria, Salmonela, Staphylococcus Aureus e Escherichia Coli;



Após a aprovação do queijo nas análises microbiológicas é submetido a um painel de especialistas/provadores que o classificam de acordo com certas propriedades organolépticas como o aspecto da crosta, a forma e consistência, a textura e cor da pasta e o sabor e aroma. O valor mínimo de aprovação neste painel é de 15 valores (numa escala de 0 a 20).

Segundo Dinis, I. (1999) a génese de uma denominação de origem é um processo sequencial que exige desde logo a criação de uma estrutura de cooperação que proceda à organização de um dossier de pedido de registo da denominação e construa a argumentação justificativa desse pedido. Este dossier inclui um caderno de especificações do produto, onde se fixam as regras e os compromissos mútuos e do qual fazem parte a descrição do produto e do seu método de obtenção, a delimitação da área geográfica de produção, os elementos que provam que o produto é originário da região e tem com ela uma estreita relação e também as referências relativas ao controlo da denominação. No caso particular do Queijo Serra da Estrela, segundo a Directora do Museu entrevistada a entidade responsável pela certificação do queijo é a ESTRELACOOP3 juntamente com a Beira Tradição. Apenas as queijarias que estejam licenciadas podem utilizar a Denominação DOP. Segundo Isabel Dinis, (1999) a construção destas queijarias exige investimentos avultados, que dificilmente os produtores, em especial os mais pequenos, têm capacidade de suportar. Para além disso este licenciamento envolve um conjunto de entidades (Câmaras Municipais, Ministério da Saúde, Ministério do Ambiente, Ministério da Agricultura), com actuações nem sempre concertadas e com níveis de exigência incompreensíveis para pequenas unidades artesanais.

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Estrelacoop – Cooperativa dos Produtores de Queijo da Serra, informações disponíveis a partir de:

http://www.fapoc.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=51 (consultado dia 22 de Abril de 2008)

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Verifica-se ainda que mesmo aqueles produtores que obtiveram licenciamentos provisórios ou definitivos das suas queijarias, optam com frequência pela não certificação do queijo. O facto de apenas parte da produção ser passível de certificação e só esta ter escoamento garantido através do agrupamento de produtores, faz com que fique retida na exploração uma parte importante da produção. Os intermediários que antes compravam toda a produção a um preço negociado no início da campanha recusam-se a levar apenas a produção de qualidade inferior, ou pagam-na a preços muito baixos. Em resultado o preço médio de venda diminui e o produtor vê assim reduzirem-se os resultados económicos da exploração. Outro aspecto que tem constituído um obstáculo está relacionado com a morosidade no processo de certificação que leva a que os produtores guardem os produtos fabricados por mais tempo do que o previsto. As condições climatéricas adversas que surgiram nos últimos anos também constituem uma das causas para a crise que se está a fazer sentir no fabrico e venda deste produto tradicional. Todos os aspectos descritos contribuem para que o cenário actual não seja particularmente animador e têm provocado o alerta de representantes locais, como o Presidente da Câmara de Fornos de Algodres, José Miranda, onde numa notícia publicada em 20064 manifesta a preocupação quanto ao futuro do Queijo Serra da Estrela, pelos obstáculos que têm sido colocados aos produtores que exercem a actividade.

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“Queijo da Serra pode acabar dentro de 10 anos” notícia disponível a partir de:

http://diario.iol.pt/noticia.html?id=646084&div_id=4071 (consultado dia 25 de Abril de 2008)

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6. Projectos de Intervenção local

No âmbito do trabalho desenvolvido foram visitados o Solar do Queijo e o Museu do Agricultor e do Queijo, ambos localizados no concelho de Celorico da Beira (Fotografias 2 e 3).

Fotografia

2

-

Solar

do

queijo,

no

antigo

quartel

dos

Bombeiros

Voluntários de Celorico da Beira, situado junto ao Castelo.

Fotografia 3 - Museu do Agricultor e do Queijo em Celorico da Beira, inaugurado em 2002, pelo então Presidente da República Dr. Jorge Sampaio.

Enquanto que o Solar do Queijo tem como finalidade a divulgação e comercialização do Queijo Serra da Estrela (DOP), através da organização de certames de divulgação, provas e concursos, o Museu do Agricultor e do Queijo, recentemente constituído tem como finalidade uma perspectiva didáctica sobre a história da Agricultura na região, onde se inclui naturalmente a história do fabrico do Queijo da Serra.

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Com âmbitos diferentes as casas visitadas constituem projectos de intervenção locais que se destinam a impulsionar por um lado o comércio e a divulgação do produto e por outro à preservação do Queijo Serra da Estrela como símbolo da identidade e cultura não apenas dos habitantes da Serra da Estrela mas do próprio país.

7. Conclusões O Queijo Serra da Estrela é um produto obtido por esgotamento lento da coalhada, após coagulação do leite de ovelha cru - isto é, sem qualquer tratamento térmico e/ou químico, obtido exclusivamente através da ordenha de fêmeas da raça Bordaleira Serra da Estrela ou de raça Churra Mondegueira. Da receita fazem parte ainda a acção enzimática das proteínas da flor do cardo provenientes da região demarcada. O queijo Serra da Estrela tem uma história intimamente ligada à história da pastorícia e da transumância na região mais alta de Portugal continental. Esta zona do país apresenta actualmente características intrínsecas específicas, no que respeita a um conjunto de factores, como a fragilidade socio-económica e a debilidade demográfica. Este produto tradicional representa um esforço de gerações de pessoas que trabalharam para constituir um produto resultante da actividade da pastorícia da região. A DOP surgiu com o propósito de garantir a qualidade do produto mas também de forma a contribuir para evitar situações que colocassem em risco a credibilidade do fabrico do queijo. São inúmeros os requisitos para se poder ostentar a DOP do Queijo Serra da Estrela, entre os quais ter uma queijaria licenciada, produzir o queijo de acordo com as regras estabelecidas e submeter o produto a uma série de análises físico-químicas e microbiológicas. Após aprovação nestes parâmetros, o queijo deve ser submetido a um painel de provadores. O queijo Serra da Estrela é uma especialidade conhecida a nível internacional, que constitui um símbolo de uma região mas também do país, sendo por isso parte do património cultural e tradicional de Portugal que importa preservar.

---FIM---

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Referências Bibliográficas

A importância dos coagulantes do leite para produção de queijo, disponível a partir de http://blog.comunidades.net/apbvai/index.php?op=arquivo&pagina=2&mmes=01&anon=20 06 (consultado a 25 de Março de 2008)

DINIS, Maria Isabel R. (1995) - Os produtos tradicionais de qualidade e o desenvolvimento rural: A denominação de origem “Queijo Serra da Estrela”. Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa. Tese de Mestrado.

ESTRELACOOP – Cooperativa dos Produtores de Queijo da Serra, informações disponíveis a partir de: http://www.fapoc.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=51 (consultado dia 22 de Abril de 2008)

Fragata, A., 2003. Da qualidade dos produtos agrícolas tradicionais: elementos para a sua elaboração social e técnica. In Portugal Chão, José Portela e João Castro Caldas (Coords). Celta Editora. Oeiras, pp. 449-462.

História do Queijo, disponível a partir de http://www.gastronomias.com/queijos/inicio.htm (consultado a 24 de Março de 2008)

Isabel Dinis, Denominações de Origem e Desenvolvimento Rural: O Caso do "Queijo Serra da Estrela, Fevereiro, 1999. “Queijo da Serra pode acabar dentro de 10 anos” notícia disponível a partir de: http://diario.iol.pt/noticia.html?id=646084&div_id=4071 (consultado dia 25 de Abril de 2008)

Rebelo, A., G. (1994) – Queijaria Racional: realidade dos nossos queijos tradicionais. Ministério da Agricultura. Lisboa.

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Anexo

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Anexo 1 - Delimitação geográfica da área de produção do queijo Serra da Estrela

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