||-- O CULTO A IFA-ORUNMILÁ E SEU QUADRO SACERDOTAL. --|| O culto de Orunmilá é absoluta e radicalmente patriarcal. Somente homens podem exercer o cargo de hierarquia máxima, somente homens podem ser babalaôs e não existe correspondente feminino para tal cargo. Até a prática do homossexualismo é considerada como grave interdição para estes sacerdotes, o que significa dizer que os homossexuais, tanto quanto as mulheres não podem ser babalaôs. As mulheres possuem, dentro do grupo, uma função de suma importância. Sua iniciação restringe-se ao cargo ou título de “apetebís” consideradas como esposas legítimas de Orunmilá e depositárias de sua total confiança. São as apetebís que zelam pelos objetos usados nas consultas oraculares e as comidas de Orunmilá, assim como todos os adimus oferecidos a qualquer entidade dentro da ritualística de Ifá, devem ser feitos por elas. Orunmilá não aceita alimentos que lhes sejam oferecidos e que não tenham sido preparados por uma de suas esposas, uma apetebí. Desta forma, sem a presença da mulher o culto fica estático, sem poder ser realizado em sua totalidade. A iniciação ao quadro sacerdotal do culto de Ifá-Orunmilá dividese em duas partes: Awofakan – Corresponde à introdução ao primeiro portal do culto o que é permitido também aos homossexuais. Neste primeiro passo o iniciando recebe a primeira mão de Ifá, composta de um número limitado de ikins (caroços do fruto de dendezeiro ritualisticamente consagrados) que irão compor o se Ifá particular. O termo significa: “primeira mão de Ifá”. Neste estágio o candidato, se tiver caminhos para chegar ao cargo de babalaô, deve dedicar-se ao estudo do sistema oracular aprendendo, sempre sob a orientação de seu babalaô ou do ojubonã, a manipular o opelê e os ikins, a compreender as mensagens contidas nos 256 Odu, a identificá-los através de suas configurações indiciais e a decorar, entender e decodificar o maior número possível de itans e sentenças contidas em cada Odu. Os procedimentos litúrgicos básicos também fazem parte do aprendizado daquele que, somente após haver aprendido o mínimo indispensável poderá então ser iniciado e consagrado para o cargo de hierarquia maior. Infelizmente, o que se tem verificado é exatamente o contrário e é comum ver-se hoje, pessoas iniciadas como babalaôs sem o mínimo conhecimento inerente à sua função. Babalaô – O cargo sacerdotal de hierarquia máxima dentro do culto. O termo significa “Pai que possui o segredo” e por seu peso e importância só pode ser aplicado a alguém que domine um mínimo indispensável para exercer tão importante função. Ser iniciado neste cargo sem possuir o saber indispensável é um
desrespeito aos princípios básicos que regem o culto, alguma coisa comparável a alguém colar grau ou diplomar-se numa área acadêmica, antes de cursar a faculdade. Ser iniciado em Ifá sem nada saber não é “ser” babalaô, quando muito, é “estar” babalaô. Epega afirma que ...”Os Babalawos são ensinados a reverenciar os nomes dos dois primeiros discípulos de Ifa ensinados pelo próprio Orunmila em Ile-Ife, de nomes “Akoda” e “Aseda”. Eles serviram como mão e pés para Orunmila e ele agiu através deles, eles viajaram e ensinaram a doutrina em outras partes do mundo. Por isso os Babalawos quando eles se encontram em seus círculos para consultar o Ifa, repetem: “Awa juba Akoda” significando “Nós reverenciamos Akoda”, e “Awa juba Aseda”, significando “Nós reverenciamos Aseda”, “Akoda ti nko gbogbo aye n’Ifa”, “Akoda que está ensinando o Ifa para todo o mundo”, “Aseda ti nko gbogbo agba n’imoran”, significando “Aseda que está ensinando todos os antigos conhecimentos”... Os babalaôs dividem-se me diferentes categorias, de acordo com seu grau de conhecimento sobre os mistérios do culto, sendo que no topo da hierarquia encontra-se o “Arabá” ou “Alabá” cargo ocupado por anciãos de incontestável sabedoria não só no âmbito da religião como também no procedimento em relação à humanidade. Somente os Arabás podem possuir o “Igbadu” a cabaça de Odu, também conhecido como “Igba Iwa” a cabaça da existência. O Igbadu é um elemento do culto cercado do mais profundo mistério, determinante de inúmeros tabus e que confere, a quem o possui, um poder extremo onde se inclui, segundo afirmam, controle sobre a vida e a morte. No Igbadu estariam contidas, por representação, todas as energias do universo, os Odu-Ifá e o axé de todas as entidades sobrenaturais. Desta forma, somente um grande sábio poderia ter livre acesso a tamanho poder. O Igbadu é, segundo Epega, ...”recebido como um objeto de reverência, representando Odudua. Acredita-se que através de sua influência o recebedor possa conquistar todos os seus inimigos e ter uma vida longa, feliz e próspera”... Ninguém poderá ser legitimamente considerado babalaô se, mesmo tendo sido submetido integralmente ao processo iniciático se, ao fim deste processo, não for levado diante do Igbadu e ali, posternar-se reverenciando tudo o que nele está contido assim como tudo o que representa. Às mulheres, no entanto, é proibido olhar o igbadu ou mesmo penetrar no local onde se encontra. A punição para esta interdição é a morte ou a cegueira total.
Este é, sem dúvida, um dos motivos que impede as mulheres de ascenderem ao cargo de babalaô. Apetebí – Cargo feminino e único reservado às mulheres dentro do culto de Ifá. Não existe apetebí do sexo masculino da mesma forma que não existe awofakán ou babalaô do sexo feminino. Não se conhece hierarquia dentro do quadro de apetebís e todas possuem a mesma importância dentro do culto. Baba Ifaleke "Ogbebara".
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