O Ateneu-resumo Cursinho

  • November 2019
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Curso e Colégio Energia – Rio do Sul/Lages Obras Literárias – Vestibular 2008 – Profª Marilene Maria Schmidt Goebel O Ateneu - Raul Pompéia Biografia: Raul d’Ávila Pompéia nasceu em Angra dos Reis (Estado do Rio) a 12 de abril de 1863 e morreu no Rio de Janeiro a 25 de dezembro de 1895. Bacharelado em Letras, pelo Colégio D. Pedro II, em 1880, e formado em Direito, pela Faculdade do Recife, em 1886, exerceu vários cargos públicos, entre eles o de Diretor da Biblioteca Nacional. Os seus artigos de crítica literária e diversos contos, folhetins e crônicas, ficaram espalhados pela imprensa da época. Escritor pouco fecundo, Raul Pompéia deixou escritos romances de boa qualidade, onde se nota a influência da escola realista e a marca indelével de um profundo espírito de observação, que fez dele um dos melhores escritores psicólogos da literatura brasileira. Dotado de rara habilidade para o desenho, ilustrou alguns livros seus e de outros autores, tendo feito também magistrais caricaturas de diversas personalidades da vida pública. Por motivos ainda mal esclarecidos, suicidou-se com um tiro, aos trinta e dois anos. Em 1880, publicou o primeiro livro, o ensaio literário Uma Tragédia no Amazonas e um ano mais tarde lançou Canções Sem Metro, poesias. O romance O Ateneu, publicado em 1888, popularizou o nome do autor, por ter sido considerado um admirável estudo psicológico, onde ele demonstrou a sua excepcional capacidade de análise do comportamento psíquico de seus semelhantes. No mesmo ano de 1888, publicou ainda, em folhetins na Gazeta da Tarde, o romance Alma Morta. Obras: Poema em prosa: Canções sem Metro, 1881 Romance: Uma Tragédia no Amazonas, 1880; As jóias da Coroa, 1882; O Ateneu, 1888; Conto: Microscópicos, 1881 O ATENEU – RAUL POMPÉIA – RESUMO E ANÁLISE OBRA DA UFSC / UDESC e ACAFE ANO DE PUBLICAÇÃO: 1888 ESCOLA LITERÁRIA: REALISMO / NATURALISMO / IMPRESSIONISMO TEMA: A CORRUPÇÃO NO INTERNATO (=> A educação (sexual e intelectual) do adolescente como reflexo de uma sociedade decadente./ => Crítica a um Brasil que agoniza no atraso sob o jugo da monarquia e do escravismo) ROMANCE MEMORIALISTA – 12 CAPÍTULOS - RIO DE JANEIRO NARRAÇÃO: 1ª PESSOA (SÉRGIO: NARRADOR-PERSONAGEM) ENREDO - “O romance O Ateneu é uma das obras mais importantes do Realismo brasileiro. Trata-se de uma narrativa na primeira pessoa, em que o personagem Sérgio, já adulto, conta sobre seu tempo de aluno interno no Colégio Ateneu. A ação do livro transcorre no ambiente fechado e corrupto do internato, onde convivem crianças, adolescentes, professores e empregados. É dado o início do romance com o pai de Sérgio advertindo "Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta" Dr. Aristarco é o diretor do colégio. Figura soberba, cheia de empáfia e que visava apenas o lucro. Tinha o sonho de ver um busto com a sua face. Sérgio vai narrando as decepções, os medos, as dúvidas, a rígida disciplina, as amizades, os acontecimentos em torno da própria sexualidade, as questões nem sempre respondidas. O romance é um diário de um internato: as aulas, a sala de estudos, a diversão nos banhos de piscina, as leituras, o recreio, o que acontecia nos dormitórios, no refeitório e as disputas. O mundo da escola é sempre visto e retratado a partir da perspectiva particular de Sérgio. Desse modo, a instituição, os colegas, os professores e o diretor Aristarco são representados em função de certa ótica, claramente caricatural, em que os erros, hipocrisias e ambições são projetados e realçados. Misturando alegria e tristezas, decepções e entusiasmos, Sérgio, pacientemente reconstrói, por meio da memória, a adolescência vivida e perdida entre as paredes do famoso internato. A obra acaba com o incêndio do Ateneu pelo estudante Américo. No incêndio o diretor fica perdido, estático com o que está acontecendo com seu patrimônio e naquele mesmo dia é abandonado pela esposa. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA 1) Embora nem tudo em O Ateneu possa ser comprovado na realidade, pois o autor mistura o real com a ficção, pode-se dizer que o romance tem muito de autobiográfico, retratando a passagem do autor pelo Colégio Abílio. Algumas identificações são possíveis: a) O Ateneu = Colégio Abílio; b) Sérgio = Raul Pompéia (adolescente); c) Dr. Cláudio = Raul Pompéia (adulto); d) Dr. Aristarco = D. Abílio Borges. 2) Como é próprio desse tipo de narrativa (com traços autobiográficos), o livro é narrado em primeira pessoa. 3) Raul Pompéia se revela no livro através de Sérgio, que pode ser visto de duas perspectivas: Sérgio-protagonista (o adolescente que vive a ação do romance) e Sérgio-narrador que reflete bem o adulto Raul Pompéia que, na verdade, está escrevendo o romance. Pode-se falar ainda, numa terceira presença de Raul Pompéia no livro, revelada pelo Dr. Cláudio, que se mostra maduro, grave, ponderado e lúcido. 4) Embora tenha sido rotulado de “crônica de saudades” e apresente traços autobiográficos, O Ateneu não é um livro de memórias, mas um romance, em que o autor “manipula o seu material pela imaginação, misturando o real com a ficção”. 5) O Ateneu apresenta doze capítulos e, pode ser dividido em quatro partes: a) apresentação do Ateneu, por fora, antes da entrada de Sérgio (Capítulo I); b) o primeiro ano de Sérgio no Ateneu (Capítulo II a VII); c) o segundo ano de Sérgio no internato (Capítulo VIII a XI); d) a destruição do Ateneu pelo incêndio (Capítulo XII). VIVENCIAS + MEMÓRIAS = PASSADO E PRESENTE ESCRITA DO ROMANCE = PRESENTE Entre dois mundos: a família e a sociedade Microcosmo: família Cosmo: Ateneu Macrocosmo: sociedade REALIDADE X FICÇÃO

A fonte documental de Raul Pompéia foi o famoso Colégio Abílio, dirigido por Abílio Borges, Barão de Macaúba, onde o autor fizera seus primeiros estudos. Assim, pode-se fazer a correlação: Ficção: O Ateneu , Aristarco, Sérgio Realidade: Colégio Abílio, Abílio Borges, Raul Pompéia Duas passagens, metaforicamente, criticam a realidade sócio-política: 1. Episódio em que Jorge, filho de Aristarco, recusa-se a beijar a mão da princesa (a República não se curva à Monarquia); 2. Américo põe fogo no Ateneu. (O aluno simboliza o mundo novo que destrói o mundo velho – América X Europa) PERSONAGENS 1) Sérgio: pode ser visto de dois ângulos: como protagonista, é um adolescente inexperiente e tímido que é conduzido pelas mãos do pai para fazer a sua iniciação na escola da vida. À medida que vai “crescendo dentro do mundo sombrio do internato (e da vida), vai-se tornando amargo, cético e sarcástico: agora é o adulto Raul Pompéia quem certamente fala pelo protagonista-narrador. Sérgio é bem um símbolo do adolescente às voltas com o doloroso aprendizado da vida; é a criança perdendo a sua pureza virginal, fazendo a sua iniciação no mundo podre e carcomido de hipocrisia dos adultos. 2) Aristarco: Etimologicamente, o seu nome significa “governante de melhores”. Revela-se, ao longo do livro, prepotente, autoritário, arrogante e vaidoso. Representa bem o educador tradicional com seus métodos rígidos de disciplinas e com sua empáfia: “Acima de Aristarco, Deus. Deus tão-somente; abaixo de Deus, Aristarco”. Aristarco, sem dúvida, representa bem, com seu colégio, o mundo social com seus valores, bajulações, discriminações e convenções. Afinal, o internato era um espelho da sociedade. 3) Ema: Pode ser vista de dois ângulos: anagrama de mãe, na qual o protagonista projeta a figura de sua genitora com o seu carinho, sua compreensão e a sua ternura; e mulher, evocada pela protagonista de Madame Bovary, de Flaubert, cujo nome é também Ema. Ao contrário da revelação marcada pelo ódio com Aristarco, “Sérgio e Ema constituem a história de amor do romance”. O relacionamento de Sérgio com ela é ambíguo, indo do maternal ao erótico, como declara: “Não! Eu não amara nunca assim minha mãe”. - Representando bem a decadência moral que se quer mostrar, destacam-se Venâncio, subserviente e bajulador de Aristarco; Silvino, inspetor corrupto; Ângela, a canarina sensual, que costumava assistir ao banho dos rapazes; e os colegas de Sérgio com os quais o protagonista mantém um relacionamento bastante estreito e íntimo: Bento Alves, trabalha na biblioteca e apaixona-se por Sérgio; Franco, a imagem da insegurança e do fracasso; mau aluno, perseguido, vítima de discriminações, Américo, o incendiário. Rebelo, o aluno modelo; Sanches, seu protetor e iniciador na sexualidade; Egbert, um amigo sincero que o ajuda a enfrentar os problemas; Rômulo, desprezível e corrompido; Nearco da Fonseca, rico, inteligente, ginasta. ESTILO DE ÉPOCA Em o Ateneu, podem-se detectar aspectos de vários estilos de época, desde o Naturalismo até o Modernismo. 1) O estilo naturalista se manifesta no livro através das descrições de Ângela e na abordagem do homossexualismo que se pode entrever nas relações de Sérgio com Sanches, Bento Alves e Egbert. Muitas vezes, as personagens são descritas nos seus aspectos bestiais e animalescos, priorizando-se o seu lado instintivo, como é comum no Naturalismo. 2) Além desses aspectos visivelmente naturalistas, sobressaem na obra outros que filiam ao estilo realista. Como se pode perceber pela leitura de O Ateneu, Raul Pompéia tende para a crítica ferina e caricatural de pessoas e instituições sociais; revela um pessimismo cético na visão da sociedade; manifesta maior preocupação com a análise em detrimento do enredo, razão por que a narrativa é arrastada, anda devagar; em suma, priorizando a análise dessecante e profunda, o autor revela forte carga psicológica na descrição das personagens. Esses aspectos citados, como se sabe, configuram o Realismo e estão bem presentes em O Ateneu. 3) Raul Pompéia, após ter passado pelo Realismo-Naturalismo, “só encontrou plena e satisfatória expressão dentro dos cânones do Impressionismo”, tendo tido a nossa “primeira grande repercussão” nesse estilo de época, que se destaca mais na pintura. O mais importante no Impressionismo é o instantâneo e único, tal como aparece ao olho do observador. Não é o objeto, mas as sensações e emoções que ele desperta, num dado instante,, no espírito do observador, que é por ele reproduzido caprichosa e vagamente. No Impressionismo, pois, o que importa são as impressões, as sensações que ficam, não os fatos acontecidos. 4) Outra tendência estilística que pode ser detectada em O Ateneu é a modernista que se manifesta através da postura crítica assumida pelo autor, ao longo da obra. O autor critica e satiriza, como é comum no Modernismo, o tom retórico e verbalista da poesia parnasiana. Com sua genialidade, Raul Pompéia antecipa o Modernismo, podendo ser visto como um dos precursores do movimento que eclodiu em 1922, com a famosa Semana da Arte Moderna. LINGUAGEM 1) A linguagem se revela acadêmica, marcada pela correção e obediência aos padrões gramaticais. É uma língua distante do leitor moderno, mais afeito aos coloquialismos e à linguagem informal do estilo modernista. Além de outras, o autor usa, com freqüência, construções clássicas, hoje pouco comuns, como a colocação apossinclítica do pronome (uso do pronome átono antes de palavra tida como atrativa): “disse que me não interessavam as intrigas”. 2) Destaca-se a erudição do autor revelada através de citações e referências clássicas, a que o leitor de hoje está pouco acostumado. Veja, por exemplo, a passagem abaixo, em que o autor perpassa o exceto de figuras mitológicas: “Era mais que uma revelação temerosa do Olimpo; era como se Júpiter mandasse Mercúrio catar a terra os raios já disparados e os unisse ao estoque inavaliável dos arsenais do Etna...” 3) Tendência para a adjetivação excessiva, que se casa bem com a atmosfera pictórica de feição impressionista que perpassa o livro. Quase sempre o substantivo vem acompanhado de adjetivo, como revelam os excertos seguintes: “Ele, como um deus caipora, triste, sobre o desastre universal de sua obra”. “Erigia-se na escuridão da noite como imensa muralha de coral flamante, como um cenário animado de safira com horripilações errantes, de sombra, como um castelo fantasma batido de luar verde emprestado à selva imensa dos romances cavalheirescos”. 4) Tendência para o símile (= comparação), explicitada pela conjunção “como”: “No pátio o silêncio dormia ao sol como um lagarto”: “As condecorações gritavam-lhe no peito como uma couraça de gritos”: “As mangueiras, como intermináveis serpentes, insinuavam-se pelo chão”. 5) Uso com muita freqüência de outras figuras de estilo:

Hipérbole: “Aristarco arrebentava de júbilo!” “Um olhar penetrante, adorador, de enlevo, que subia, que furava o céu como a extrema agulha de um templo gótico” Metáforas: "Aristarco todo era um anúncio. "; "O tempo é funeral para sempre das horas."; “O Ateneu é uma sementeira uma horta” Personificação ou Prosopopéia: "O sol vinha também à capela e colava de fora aponte as vidraças." "... sorriram as rosas místicas de maio. "- "Os olhos riam, destilando uma lágrima de desejo."- "O Ateneu olhava."- "O grêmio esclarecido rejubilou. "- "quando o sentimento fala..." Metonímias: "O futuro tinha reservado para Nearco um feixe de melhores palmas... " "Acima de Aristarco – Deus / Deus tão somente; abaixo de Deus –Aristarco." Eufemismo: "os tempos felizes " /"saudade dos dias que correram como os melhores " / "Crônica de saudades" 6) Atmosfera impressionista pelo cromatismo (obsessão pela cor), ora tendendo para o vermelho (“há sons brilhantes como a luz vermelha”, “trazia um ferro na mão gotejando vermelho”); ora para o branco (“ao fundo daquelas altíssimas paredes do Ateneu, claras da caiação, do tédio, claras, cada vez mais claras”). ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES 1) A narrativa de O Ateneu é dominada por traços satíricos e caricaturescos. 2) A escola, em O Ateneu, é vista como um reflexo da sociedade (“Não é o internato que faz a sociedade; o internato a reflete”). Nela sobressaem os casos de corrupção, deslealdade, amizades perigosas, homossexualismo e outras degenerescências sociais. 3) O doloroso e pungente aprendizado da vida pela criança. A cena inicial, em que o pai deixa o filho à porta do Ateneu, é bem um símbolo do ingresso da criança no mundo adulto: “Vais encontrar, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta”. 4) O sentimento de vingança acaba-se instalando nas cabeças em formação. A necessidade de libertação desse mundo de opressão, que rouba a liberdade de ação e a espontaneidade dos gestos, é uma conseqüência natural e lógica: a catarse é uma válvula que descomprime, liberta e alivia. E é assim que termina O Ateneu – com vingança do ser violentado contra o mundo que o oprime: o incêndio, ao final, é bem um protesto contra a violência a hipocrisia e esse mundo de aparências construído pelos homens da Terra. FICHA DE LEITURA Autor: Raul Pompéia Obra: O Ateneu (1888 ) – Crônica de Saudades Gênero Literário: romance Época: realismo (séc. XIX ) – 2ª metade Enredo: história de um menino que aos onze anos entra para um internato e ali começa seu contato com o mundo, por meio de experiências pessoais e de novos amigos durante dois anos letivos. Personagens: Sérgio, Aristarco, Ema, Ângela, Rebelo, Franco. Espaço: o colégio Ateneu, no Rio de Janeiro. Tempo: da narrativa – o autor adulto; da história – infância do autor. O tempo cronológico não supera dois anos, que vão desde a entrada de Sérgio no colégio até o incêndio que o destrói totalmente, por volta da última década do séc. XIX; predomina o tempo psicológico por ser um romance de memória em que fatos e pessoas vêm a tona da consciência conforme sua importância no momento da narração. Foco narrativo: 1ª pessoa / narrador-personagem Contexto econômico-social: Brasil Império, oligarquia cafeeira do Vale do Paraíba, cuja mão de obra era escrava e sua posterior decadência. Movimentos pró-abolição e república. Grupos sociais heterogêneos: latifundiários escravistas, bacharéis, brancos livres, escravos e operários, imigrantes europeus, garimpeiros, camponeses, funcionários. Título e Subtítulo: O Ateneu, do latim ATHENAEUM constitui o título do livro; o subtítulo Crônica de saudades já antecipa Início “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, Eu tinha onze anos. (...) Aqui suspendo a crônica das saudades. Saudades verdadeiramente? Puras recordações, saudades talvez se ponderarmos que o tempo é a ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo — o funeral para sempre das horas. Rio de Janeiro, março de 1888. FIM

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