UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UFRN Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Programa de pós-graduação em Estudos da Mídia Seminário: A Mídia Alternativa, Identidade e Políticas de ‘Mediação’ Código: PEM0020 Nível: Mestrado e Doutorado Número de Créditos: 1/15 horas Data e Hora: 17 de agosto das 9:30 às 12:30 e das 15:00 às 18:00 horas 18 de agosto das 15:00 às 18:00 horas Local: Auditório do LABCOM Conferencista Convidada: OLGA GUEDES BAILEY Ementa Compreensão analítica sobre mídia alternativa na contemporaneidade, identidade e políticas de ‘mediação’. Exclusão de grupos ‘sem privilégios’ na esfera pública; complexidade da definição de ‘mídia alternativa’. Problematiza as rápidas mudanças que acontecem nas práticas midiáticas e suas relações com as práticas sociais no pós-mídias digitais. Conceito de mídia alternativa e a relação mediação/mediatização.
Objetivos e Conteúdo Programático Compreensão e reflexão sobre: ●
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Media Alternativa: possíveis definições/proposições ● Mídia Alternativa ● Mídia Comunitária ● Mídia da Sociedade Civil ● Mídia Rizomática Mídia Alternativa & Esfera Pública A Mídia Alternativa como alternativa para a grande Mídia A Mídia Alternativa conectada com a sociedade civil A Mídia Alternativa e a Democracia ● Mediação e Mediatização
Bibliografia sugerida: BAILEY, Olga at al. Understanding Alternative Media. London, Open University Press, 2007. (trad. Regina Cunha e disponível para leitura no ato da inscrição)
COULDRY, Nick. Space of digital storytelling. Mediatization or mediation? Alternative understandings of the emergent Space of digital story telling. New Media Society, 10; 373, 2008. LEWIS, P. M. & JONES, Susan. From the margins to the curtting edge. IAMCR, 2006. SCHULZ, Winfried. Reconstructing Mediatization as an Analytical Concept. European Journal of Communication, 19; 87, 2004. Perfil acadêmico Professora titular da Universidade de Nottingham Trent, Reino Unido. Atividades Coordenadora do programa de pós-graduação em ‘Mídia e Globalização’. Participante do programa de graduação em ‘Mídia’, e responsável pela disciplina de graduação ‘Jornalismo e Sociedade’. Responsável pela disciplina de pós-graduação ‘Análise da Mídia’. Integrante do grupo de pesquisa Instituto de Análise Cultural. Membro do Conselho editorial da revista americana Communication and Theory. Publicações (recentes)
Ed. 2007. Understanding alternative media. Maidenhead : Open University Press.
Ed. 2007. Transnational lives and media: re-imagining diasporas. London : Palgrave. Capitulos de Livros BAILEY, O.B. (2009) Citizen Journalism and Child Rights in Brazil, in S. Allan & E. Thorsen (eds.) Citizen Journalism: global perspectives. New York: Peter Lang. BAILEY, O.G.,2008. Diasporic identities and mediated experiences in everyday life . In: Rydin, I. and Sjöberg, U., eds., Mediated crossroads: identity, youth culture and ethnicity: theoretical and methodological challenges. Göteborg : Nordicom, pp. 17-38. BAILEY, O.G. and JAMBIERO, O.,2008. Brazilian broadcast media: historical overview . In: Lugo, J., ed. The media in Latin America. Maidenhead : Open University Press . BAILEY, O.G.,2007. Transnational identities and the media . In: Bailey, OG., ed. Transnational lives and the media: re-imagining diaspora. Basingstoke : Palgrave/Macmillan, pp. 212-230.
BAILEY, O.G. and HARINDRANATH, R.,2005. Racialized 'othering'; the representation of asylum seekers in news media . In: Allen, S., ed. Journalism: critical issues.. Maidenhead : Open University Press, pp. 274-286. Artigos em Jornais BAILEY, OG. and HARINDRANATH, R.,2006. Ethnic minorities and the politics of communication in multicultural Britain and Australia . International Journal of Media and Cultural Politics. vol 2(3) , pp. 299-316. Pesquisas atuais e interesses profissionais ·Comunicação International. ·Transnacionalismo: mídia e internet. ·Mídia e globalização. ·Mídia alternativa e democracia. ·Migração, diáspora, identidades, e mídia. ·Espaços online: analises culturais e políticas ·Políticas comunicacionais dos migrantes nas sociedades multiculturais. ·Multiculturalismo; 'raça' e representação. ·Mídia e cidadania e a esfera pública. ·A mídia latino americana. Projetos atuais Diaspora, mídia e identidade (em conjunto com Prof. Sonja de Leeuw, da Universidade de Utrecht e Prof. Ingegerd Rydin, da Universidade de Estocolmo, Suécia). BBC Serviço Mundial – Práticas de jornalismo na América Latina e Diáspora (em conjunto com dra. Sonia de Nelson, da Universidade de Singapore).
Vínculos acadêmicos e atividades profissionais recentes Professora Visitante de Jornalismo da Universidade de Finanças Econômicas de Shangai, China. Professora Visitante de Estudos da Mídia na Universidade de Fortaleza, Ceará, Brasil. Examinadora do Mestrado em Cinema e Mídia da Universidade de Gloucester. Editora do jornal acadêmico ‘Corpo e Sociedade’ da Sage Ed. Membro do ECREA Associação de Pesquisa em Comunicação e Educação da Europa, representante da seção ‘Migração, Diáspora e Mídia’. Membro do Conselho editorial da revista americana Communication and Theory.
Filmografia: UMA ONDA NO AR Jorge, Brau, Roque e Ezequiel são quatro jovens amigos que vivem em uma favela de Belo Horizonte sonham em criar uma rádio que seja a voz do local onde vivem. Eles atingem seu sonho ao criarem a Rádio Favela, que conquista os moradores por dar voz aos excluídos, mesmo operando na ilegalidade. Porém, o sucesso da rádio repercute fora da favela, trazendo também inimigos para o grupo, que acaba enfrentando a repressão policial para a extinção da rádio.
Informações Técnicas: Título no Brasil: UMA ONDA NO AR Direção: Helvécio Ratton Roteiro: Jorge Durán e Helvécio Ratton Produção: Simone Magalhães Mattos Pais de Origem: Brasil Gênero: DRAMA Tempo de Duração: 92 minutos Ano de Lançamento: 2002 Estudio: Quimera Produções
Uma onda no ar Resenha por Alessandro Piolli Uma onda no ar é a história da criação e do desenvolvimento da Rádio Favela de Belo Horizonte - "a voz livre do morro", como a chamavam seus idealizadores. A rádio pirata entrava no ar todos os dias no horário do programa estatal A Voz do Brasil. A tática e o amplo alcance dos transmissores da rádio, que mandavam suas ondas bem além da favela, incomodavam as autoridades. Jorge, um dos idealizadores da Rádio, que é negro e morador da favela, acaba sendo perseguido e preso pela polícia. Atrás das grades, é questionado por outro detento sobre como foi criação da Rádio... Começa uma história de luta, resistência cultural e política contra o racismo e a exclusão social, em que a população da favela encontra uma importante arma: a comunicação. As músicas escolhidas para o filme mostram uma atenção especial da rádio em valorizar a diversidade da cultura afro na América e sua força como mecanismo de protesto. Quem assiste o filme pode apreciar desde o rap nacional dos Racionais MCs, passando pelo break, o samba, o blues, o funk, a música da gente dos morros, até o berimbau da capoeira. As descontinuidades temporais de algumas cenas são marcadas por músicas que também tem o papel de estabelecer conexão entre diferentes universos tratados no filme: a política, a polícia, a favela, a escola, a rádio e o crime. A Rádio desempenha outros importantes papéis como, por exemplo, o de promover a comunicação dentro e fora da favela. As vozes de protesto aparecem de maneira bem direta, pedindo mais verbas para geração de empregos, melhorias nas escolas e menos dinheiro para armar a polícia. Essa
programação, "afinada" com a população excluída, aparece nas falas dos locutores como expressão do descontentamento sobre a condição da população pobre. A utilização desse meio de comunicação para se promover mudanças positivas rendeu um prêmio das Nações Unidas à Rádio Favela, pelo seu papel educativo e de prevenção ao uso e tráfico de drogas. O racismo é mostrado em diferentes espaços. Um dos episódios mais marcantes de discriminação racial acontece na escola. Jorge tinha uma bolsa para estudar num colégio da elite de Belo Horizonte, pois sua mãe era a faxineira da escola. Durante a apresentação de um seminário sobre a libertação dos escravos, os alunos afirmam que a Lei Áurea teria resolvido de forma definitiva a questão do negro na história do país. Ele discorda, dizendo que Lei Áurea não representou efetivamente a liberdade para o negro, questionando a situação dos descendentes dos escravos no atual contexto. O desenrolar desse episódio, ao mesmo tempo em que despertou raiva, estimulou o rapaz a refletir sobre sua luta. O racismo, mascarado pela idéia de que no Brasil não existe discriminação racial e a condição de exclusão social, da qual ainda partilha boa parte da população negra, foram alguns dos principais motivos que estimularam a iniciativa da criação da rádio. A possibilidade do cinema interferir na construção da identidade do negro, devido à visibilidade que esse veículo proporciona, tem gerado importantes discussões sobre produções que abordam a questão. O filme Cidade de Deus, por exemplo, apesar de ser muito elogiado pela crítica cinematográfica, é alvo de severas críticas de lideranças da favela que inspirou o filme. O raper MV Bill protestou, na ocasião do lançamento, em rádios e jornais, contra a imagem estereotipada que, segundo ele, aumenta o preconceito e não auxilia na transformação da realidade, referindo-se às cenas de assassinato a sangue frio, às crianças com armas na mão e outras imagens de violência escolhidas para mostrar a realidade na favela. Já o criador da Rádio Favela, Misael Avelino dos Santos, considera Uma Onda no Ar um contraponto importante à visão apresentada em Cidade de Deus. Apesar de o filme, segundo Misael, atenuar cenas de violência da polícia, ele o elogiou por "tocar o som da vitória" mostrando que existem possibilidades para a superação dos problemas das favelas.
ANEXO I O original em inglês, do texto a seguir foi publicado no blog de Estudos Culturais da Universidade de Nottingham , no dia 28 de julho de 2009, pela prof. dra. Olga Bailey onde ela discorre sobre sua pesquisa acerca da Mídia Cidadã e os Direitos das Crianças no Brasil, que está publicada na íntegra no cap. 10 do livro Citizen Journalism: Global Perspectives I da série Global Crises and the Media editado em 2009, por Stuart Allan and Einar Thorsen. A mídia alternativa cidadã e os direitos das crianças no Brasil Olga Bailey (trad. Regina Cunha) O Brasil é um país marcado pela desigualdade social. As crianças das famílias pobres são as primeiras a sofrer as consequências das disparidades econômicas e sociais. Ainda que o Brasil tenha uma das mais avançadas leis de proteção às crianças, o ECA Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, o governo atual investe muito pouco em programas que beneficiem diretamente as crianças. Em algumas regiões do país, uma grande parte da população infantil, 62 milhões com idade abaixo de 18 anos, vivem em condições de pobreza cujas vidas estão marcadas pela falta de (entre outras coisas), uma educação apropriada, saúde, e dignidade; pois muitas delas são vítimas de abusos, crimes e violência. Na última década, esta questão – Direitos das Crianças – foi debatida pela esfera pública, inclusive pela mídia nacional, pelos políticos, e pela sociedade civil (através das ONGS). O debate público produz várias iniciativas não-governamentais que objetivam garantir que os direitos das crianças sejam cumpridos – desde as necessidades básicas, como direito à uma vida decente, até o direito à informação, comunicação e participação, como cidadãos que ‘fazem’. As pesquisas da dra. Bailey discutem o jornalismo cidadão como um potencial facilitador das mudanças sociais nas vidas das vulneráveis crianças brasileiras, que não têm conhecimento de seus direitos, não vêem possibilidades de inclusão na sociedade que as relegou para um status de segunda classe, como ‘não-cidadãos’, sem nenhuma perspectiva, além da própria pobreza. No cenário dos direitos da comunicação, as crianças devem ser vistas como atores sociais, que podem ter voz na interpessoal comunicação do seio da família, na comunidade, e também, na mídia. Já que as crianças têm acesso restrito à mídia, e muitas vezes, nem possuem representação nos meios de comunicação, elas podem se tornar produtoras da mídia alternativa, expressando seus pontos de vista; obtendo-se assim, uma participação democrática e plural das crianças nos debates sobre assuntos mais relevantes para suas vidas. As pesquisas da dra. Bailey concentraram-se em dois projetos produzidos pela ONG Comunicação e Cultura, que são o Clube do Jornal e o Primeiras Letras, atualmente em produção nas escolas públicas estaduais e municipais do Ceará e Pernambuco. O Clube do Jornal conta com a participação de alunos de 125 escolas. As crianças são treinadas e ficam responsáveis pela produção do ‘jornal’, que depois de editado e impresso é distribuído na comunidade. Outras 809 escolas fazem o jornal Primeiras Letras que trabalha com dois professores ‘treinados’ em cada escola, para que a produção do jornal integre o currículo dentro da sala de aula. O projeto objetiva desenvolver o potencial político em prol das práticas de participação e exercício da cidadania, de tal maneira que a criança e o jovem se posicionem na comunidade como atores sociais, e assim tenham poder para atuar como agentes de transformação individual e social.
Clube do Jornal: alunos brasileiros exibem jornais feitos por eles (2009)
África: crianças e jovens curiosos para ver os jornais britânicos (1872)