Meu Livro

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  • Words: 17,209
  • Pages: 51
 

Ai, que saudades que eu tenho do Clark Gable

ÍNDICE 1. Ai, que saudades que eu tenho do Clark Gable 2. Uuuuuuuuuuuhhhhhhhhhhh 3. A Moça da Ribanceira do Rio Paraopeba 4. Nossa Primeira Noite 5. Seu nome é José Eugênia? 6. A Virgem de Gadalupe. 7. O vela Preta 8. Agruaras de um Viajante 9. O Fiscal da Rue du Comerce 10. Em 2007 muita coisa aconteceu........ 11. Em 1947 os sucessos eram.. 12. Zéfiro

Ai, que saudades que eu tenho do Clark Gable Minha Mãe trabalhava no hospital Odilon Bherens e sempre estava la para busca-lá e muitas vezes a esperava na sala de recepção. Um dia, esperando minha mãe, me deparei com uma senhora com uma idade que me pareceu em torno de uns 80 anos. Ela era pequena, magra. Seu olhar denotava um misto de sanidade e insanidade. Me olhava e sorria. Algumas vezes permanecia com seu olhar fixado em mim sorrindo, parecendo que queria me contar alguma coisa. Vi que ela as vezes falava alguma coisa e como estava a poucos metros dela, me aproximei e ouvi, para minha surpresa, ela dizer, continuando com seu sorriso, fixo em mim: “Ai, que saudades que eu tenho do Clark Gable!” Ao ouvir aquela frase, dei um sorriso e pensei: deve ser completamente maluca esta mulher. Mas intataneamente, lembrei-me de minha avó e de minha mãe e de como elas falavam sobre os filmes e os artistas de sua época. Minha mãe por exemplo, quando se falava de algum filme, ela imediatamente lembrava do filme “Ben Hur” e do sua principal estrela o ator “Charlston Heston”. Me lembro com um sorriso da minha mãe dizendo que o melhor filme que ela tinha assistido tinha sido “Ao sul de Pago pago”. Para mimnha surpresa um dia na casa sa minha avó, quando soletrava “As time goes by” do fime “Casablanca”, minha avó começou a cantar a versão desta música em portugues: “Enquanto houver amor…………”.

  Todas estas lembranças me vieram momentâneamente e fiquei imaginando o quanto o cinema deve ter influenciado as pessoas e os costumes de uma época. Eu mesmo me lembrei de uma artista que adorava: “Äudrey Hepburn”. Como me lembro do filme “A princesa e Plebeu”. Como fiquei encantado com a história e como fiquei muito tempo sonhando. Até hoje nos meus devaneios sonho me encontrar com uma princesa.Quantas pessoas eu conheço que gostam do cinema da década de 40 e 50. Eu mesmo outro dia peguei um filme numa locadora, famoso na época chamado “Suplício de uma Saudade”. A musica eu sempre me lembro desde pequeno: “O amor é a coisa mais maginifica do mundo”. Todas estas coisa me passaram rapidamente pelos meus pensamentos. E porque então, pensei, aquela senhora não poderia vislumbrar seu artista preferido. O heroi de um filme famoso “E o vento Levou”. Quantas pessoas se lembram do filme e imagino que a grande maioria o conhece, pois este filme é reprisado até hoje. Quanto drama havia nos filmes, e quem sabe ela tambem tinha o seu e aquilo poderia ser uma forma dela demosntrar a saudade de sua época ou de um drama.

  Me aproximei dela comovido e ela novamente disse: “Ai, que saudades que eu tenho do Clark Gable!” Aproveitei a sua fala e perguntei: “A senhora gostava muito dele?” “Adorava ele, era tão lindo”. Me respondeu.“Então a senhora assistiu E o Vento Levou?” “Não”. Me disse ela. Pensei então em outro filme famoso do Clark Gable. “Então a senhora assistiu Os Desajustados?”. “Não.” Me disse ela novamente. “Mas qual filme a senhora assistiu do Clark Gable?” “Nenhum”. Me disse ela com um olhar de interrogação e assustado. E agora, pensei, de onde ela gosta do Clark Gable. Deve ser por fotos, pensei novamente. “A senhora então tinha muitas fotos dele?” Perguntando já com uma certa ansiedade. “Nunca tive uma foto dele. “Ai, que saudades que eu tenho do Clark Gable!” Ai fiquei espantado e lhe perguntei, abruptamente: “Mas de onde a senhora ja viu o Clark Gable? Na televisão? “Não. Aqui no Hospital.” Me disse ela sorrindo. “No hospital? Como?” . Perguntei íncredulo.

  “Uma vez eu estava aqui e do meu lado estava uma senhora muita gorda e me pareceu muito triste. Perguntei a ela o porque de tanta tristeza e ela me disse que iria para a sala de parto dai algumas horas. E a sua tristeza, ela me dissse, era porque não tinha conseguido uma madrinha para seu filho até aquele momento. Achava um mal presságio ter um filho sem uma madrinha. Fiquei pensativa, um pouco, porque uma das coisas que mais queria na vida era ter um afilhado. Ta resolvido seu problema, lhe disse, eu posso ser a madrinha dele, se a senhora aceitar. Ela me olhou, como que não acreditando, e me disse que eu não a conhecia, mas que se eu aceitasse mesmo, ela ficaria muito feliz, pois me disse que com certeza eu seria uma madrinha muito boa. Combinamos que no dia seguinte eu iria visitá-la no hospital para conecer meu afilhado. E assim no dia seguinte la estava eu visitando meu afilhado: ele era lindo, gordinho e pretinho como um carvão. Fiquei logo gostando muito dele. Perguntei se ja tinha nome e mãe me respondeu: seu nome é Clark Gable. Fiquei mais algum tempo com ela lhe dei meu endereço, e não sei porque nunca mais tive notícias deles.” “Ai, que saudades que eu tenho do Clark Gable!”

Úuuuuuuuuuhhhhhhhhhh Uóxinton era o nome dele, pois foi assim que foi registrado. Magrinho, fraquinho e cheio de anemia. E no coração, para completar: apaixonado. E mais: o rapaz também era banguela e gago. Sem nenhum dente. Úoxintom nasceu em Moeda. Foi por isso, por causa da banguelice e gagueira, que Uóxinton, tinha que dobrar a língua para pronunciar UUUUU........UUUUUU..........óxiton. Ganhou o apelido de Ú.

Fotografia do Ú quando não tinha dentadura Vivia Ù pelos caminhos de Moeda. Sempre de cabeça baixa e quase nunca abria a boca para falar. Falava por gestos e sem olhar para a pessoa com quem conversava. Um dia se apaixonou por uma moça da região. Seu nome era Cotinha. Branquinha, branquinha que dava até gosto de imaginar como ela era debaixo daqueles vestidos de chita que ela usava.

Cotinha Ú se aproximou dela, mas ela o desdenhou dizendo: “que não iria namorar um homem que não tinha nem dente, imagine o que não deveria ter também”, assim dizia ela.

Ú resolveu morrer. Sentou na ponte velha do Paraopeba e esperou o caminhão de leite passar, pois sabia que Cotinha ia e voltava nele.

Ú na Ponte do Paraopeba Quando o caminhão passou, ele pulou no rio. Do caminhão algumas pessoas viram, pararam o veículo e correram para salvar Ù. A Cotinha nem olhou, ficou sentadinha no caminhão com o rosto totalmente indiferente. Trouxeram o Ù desfalecido e o levaram ao posto de saúde. Ù se salvou. Diante destas dificuldades resolvemos comprar uma dentadura para o Ú. Ele foi ao prático lá de Moeda e em uma semana nós tínhamos um outro Ù.

Ú feliz com dentadura Vivia sorrindo, ficou conversado e a todos mostrava sua dentadura. Diante de tamanha mudança até a Cotinha resolveu conversar com ele.

Diante de tanta felicidade, Ù até arrumou um serviço. Virou tirador de leite na casa do Totonho.

Curral do Totonho Mas um dia veio à desgraça. Ù tirava leite, e enquanto tirava leite, punha a dentadura na taboa do curral. Entretido na tiração do leite, ouviu um barulho. Croc...croc..croc........

A vaca que comeu a dentadura do Ú Olhou para a vaca que fazia o barulho, olhou para o lugar onde estava a dentadura e então desfaleceu. O Croc, croc era a vaca mastigando sua dentadura. Ù não morreu, mas voltou ao que era, com a agravante que tinha conhecido um pouco da felicidade de ter dentes. Mais uma vez nos reunimos e compramos uma outra dentadura para o Ù. Conseguimos recuperá-lo. Com a nova dentadura Ù começou então a participar de todas as atividades do Taquaraçu.

Caçada de Tatú Ia a festas, dançava e participava de caçadas. Um dia na Venda do Crésio a Cotinha até chamou ele para dançar. Mas um dia numa caçada de tatu na madrugada,

O Tatu que levou a dentadura no momento em que os cachorros localizaram o bicho, passaram por Ù na correria e o atropelaram. Ele caiu e a dentadura rolou de sua boca e entrou com o tatu no seu buraco. Ù ficou três dias no lugar perto do buraco do tatu tentando recuperar a dentadura, escavou toda a periferia e nada. Tivemos que tirar ele a força, pois a inanição já tomava conta dele. Não pensamos duas vezes. Compramos outra dentadura para o Ù. Mas agora ele não ia mais a caçadas, não tirava leite, e nem fazia corridas. O Ù tornou se uma pessoa de movimentos comedidos. Mas um dia ao atravessar a ponte do Paraopeba, a Cotinha o viu e o chamou. ÙUUUUUuuuuuuuuu! Reconhecendo a

voz da sua amada ele fez um movimento brusco com a cabeça tentando localizar Cotinha. A dentadura desta vez era um pouco folgada e se descolou de sua boca aberta, pela surpresa de ser chamado pela Cotinha e lá foi ela para o fundo do Rio Paraopeba. Tivemos que tira o Ù da ponte.

Dentadura do Ú que saiu voando Ficamos algum tempo sem tomar uma decisão, pois já eram 03 dentaduras perdidas. “Eta sujeito azarado!”, pensávamos nós. O Ù desta vez se superou. Não saia mais de casa e muito menos da cama. Diante deste quadro eu mesmo comprei lhe uma bela dentadura e o mandei a um dentista de verdade lá em Brumadinho. Agora sim, era uma dentadura que não saia, ficava como que colada na sua boca e pouco ele a tirava. Ù retornou a todas as suas atividades, inclusive entrou para o time de futebol do Taquaraçu, o Estrela Solitária Futebol Clube.

O Estrela Solitária Futebol Clube Ù jogava bem e virou ídolo do Taquaraçu. Começou a namorar a Cotinha e o povo comentava que aquele caso ia dar casamento. A Cotinha começou até crescer uma barriguinha e já era objeto de fuxicos. “É este Ù num é bobo nada, já encheu o bucho da Cotinha.”

Cotinha de bucho cheio Um dia o Estrela foi jogar lá na Casinha. Como sempre o time já ia vestido com o uniforme e com a roupa por cima. Antes do jogo eles se reuniam num lugar perto do campo e tiravam a roupa e as dentaduras. “ Gente num era só o Ù que usava dentadura, era o time todo” . No meio do jogo começa uma briga. Como nossa torcida ficava incentivando o seu ídolo, gritava: “UUU.....UUUUUUUUUUU.

Jogo na Casinha A torcida do casinha achando que aquilo era provocação avança no time do Estrela. Um mais esperto junta toda a roupa, as dentaduras e põe num saco e todos vão correndo para o caminhão que os havia trazido. Durante o retorno todos olhavam para o saco. Mal o caminhão chegou no Taquaraçu, pularam dele ainda em movimento, com o saco.

Algumas das dentaduras do saco Tiraram tudo e colocaram no chão e cada um procurava sua dentadura. Experimenta uma experimenta outra, muitos ficaram com dentaduras diferentes. Até hoje quando se encontram perguntam: “Deixa-me ver sua dentadura?”.

Ú com a dentadura trocada O Ù casou com a Cotinha. Tem dois Uuzinhos, mas a dentadura dele parece que é meio grande, pois ta sempre de boca aberta.

A Moça da Ribanceira do Rio Paraopeba Em um dos pequenos povoado das ribanceiras do Rio Paropeba, vivia um honrado e velho pescador de nome Edgar; tinha uma formosa filha chamada Janine, com quem compartilhava sua vida e a quem a amava com ternura. No povoado todos o respeitavam. Janine vivia triste, apesar de todo amor do seu pai; vivia na ribanceira com os pés sendo acariciado pelas águas e com os olhos no fim na curva do rio. Chiquinho, o barqueiro da “Amada Morena”, estava enamorado por Janine, mas ela nada sabia de seus sentimentos porque sempre teve medo de confessar. No entanto, como ficava sempre pensativo com a melancolia de sua amada secreta, não perdia uma palavra quando os outros conversavam a respeito da origem daquela tristeza. O povo dizia que Janine vivia sem alegria porque estava enamorada de um jovem moreno que chegou do rio e entrou em sua casa...E que o conheceu durante as festas na cidade de Moeda onde se venera São Francisco de Óculos, amigo do Ravengar.....E que o jovem conversou com a linda ribeirinha e ela correspondeu... E que numa próxima viagem conversaria com seu pai para casar se com ela, em Moeda, talvez... Desde então ela esperava cada amanhecer tratando de descobrir na curva do rio o cumprimento daquela barca adorada em que chegaria o brilhante resplendor da cabeleira que rodeava o rosto amado... E um dia a barca encostou-se ao povoado e o jovem moreno desceu, e os enamorados se encontraram na ribanceira, conversaram e se amaram...Mas ao voltar a partir, Janine soluçou frente ao rio ate perdeu os sentidos. Sua amiga Adriana, sempre amiga e prestativa, a encontrou sobre a ribanceira. A febre a fez delirar e o delírio a moveu a confessar sua historia aos seus amigos, Adriana, Graziela, Vânia e Isidoro. Foram correndo todos, então contar ao pai da Janine o que aconteceu. Edgar, o velho pescador, sabedor da situação, foi então conversar com seu antigo patrão, o malvado Juliao, pai do moreno amado. Mas o dono de seu primeiro barco, Juliao, levou a historia como uma a mais dos homens que freqüentam as ribanceiras do Rio das velhas, disse então: “As mocas das ribanceiras são tão sonhadoras e tão românticas, tão doces para amar...”. E depois de um trago na Macaubana, pinga de Moeda, e dois bocejos, respondeu pausadamente: “Amigo Edgar, tua historia passara a historia e será historia... Meu filho me pediu varias vezes que fosse conversar com você, eu lhe disse muitas coisas e muita razoes para não fazer isso. Por ultimo o enviei a Brumadinho; ali passando alguns dias esquecera este tonto capricho e será envolvido pelas sombras do esquecimento da “sua moca da ribanceira dos Rio Paraopeba”. Mas a moca da ribanceira não era como as outras mocas, era sua filha adorada, sua Janine... Edgar queria morrer decepcionado pela entrevista com aquele malvado Juliao, chorava frente ao rio e deixando lentamente que a umidade subisse, que segundo a crença do povo da Serra poderia ter a virtude de “secar suas dores...”.

Todas as amigas, menos o Isidoro, da Janine foram contar ao Chiquinho, aquele barqueiro da “Amada Morena”, sempre enamorado. Ele então se foi encontrar com o pai dela numa tarde, acercou-se para consolá-lo e então abriu seu coração. Chiquinho confessou seu amor secreto e ambos planejaram um possível casamento, se Janine aceitasse, pois Chiquinho a adorava apesar do que aconteceu. Ela poderia esquecer o moreno ausente nos braços ardentes que se estendiam para estreitá-la. No dia seguinte conversou com a moca e pediu-lhe que fosse sua esposa. Prometeu que iriam embora daquele lugar se ela tivesse medo de ser pasto das conversas, recomeçariam a vida em outra ribanceira do Rio Paraopeba. Eles não comentaram seus planos e o casamento foi efetuado. Houve festa e banquete. Isidoro num canto, muito triste cantarolava baixinho: “Ah este cara tem me consumido, com seus olhinhos de bandido...” Na celebração, durante a sobremesa, enquanto Chiquinho comemorava com os convidados, Janine saiu à ribanceira para olhar a curva do rio... Tirou os sapatos para sentir a água nos pés... Quando Chiquinho a saiu a buscar Janine, completamente embriagado, lá só encontrou os sapatos e o véu de noiva estendido sobre a ribanceira. De tanto chorar caiu no rio e Isidoro imediatamente, que também chorava, pulou para salva-lo. Abraçados os dois sumiram pelas verdes matas da Serra perto de Belo Vale, e nunca mais houve noticia dos dois. Dizem que vivem numa casinha entre Belo Vale e Moeda. Vânia e Graziela quando viram o véu na ribanceira correram a buscá-lo, lutaram as duas pela sua posse ate despedaça-lo. Ate hoje as duas se estranham, pois dizem que quem achar um véu numa ribanceira casara com um príncipe. No povoado ficou o comentário, que alguém disse que viu a jovem subir a uma barca estranha e desapareceu entre os reflexos da tarde morena na curva do rio, com o barqueiro Silvio.

NOSSA PRIMEIRA NOITE 1. O Jantar Prepararei eu mesmo todos os climas antes, durante e depois do jantar. 1.1 O Clima da Poesia Recitarei a poesia abaixo para que o clima entre nos se relaxe. Adão e Eva de José Régio Olhamo-nos um dia, E cada um de nós sonhou que achara O par que a alma e a cara lhe pedia. E cada um de nós sonhou que o achara... 1.2 O Clima das Conversas Contarei casos para você, meu amor, que o caminho para as grandes conquistas amorosas passa quase sempre pela gastronomia. Como exemplo, contarei que segundo a mitologia da Serra da Moeda, Zezinho da Boa Morte comeu uma suculenta sopa de feijão, antes de desflorar quarenta e cinco virgens durante uma noite. Contarei que a ligação das peixes do Paraopeba ao prazer sexual vem desde os nativos da região, sendo o alimento eleito para o efeito. Contarei que o mais conhecido aventureiro do século XVIII, Joãozinho de Santana, que segundo rezam as crônicas teria levado mais de 4.000 mulheres para a cama em 72 anos de vida, tinha como prato favorito cascudo do paraopeba com pinga. Darei-te as receitas, e o que te poderei dizer foi que as criei para você. 1.3 O Clima da Musica Colocarei uma música que eu adoro, e te convidarei para dançar. Ao som de “Meu Violão em Seresta” te conduzirei nos meus braços, pelo gramado, sobre um céu estrelado e a lua nos sorrindo, olhando te nos olhos. 2. Nosso Jantar 2.1 A Pinga Macaubana Te servirei um copinho de Pinga, mas me lembrarei do alerta que o famoso escritor Belovalense fazia: um pouco de Pinga estimula o sexo, mas em excesso pode comprometer seriamente o idílio. 2.2 Meu Comportamento durante o Jantar 1. Com carinho e com o uso da decoração servirei seu prato. 2. Começaremos e terminaremos a refeição ao mesmo tempo. 3. Usarei talheres de prata. 4. Não irei repetir o prato e com carinho não lhe servirei outra porção. Repetições só na cama.

5. Não beberei em demasia a deliciosa pinga e delicadamente te servirei na mesma medida. Lembrarei-me que a pinga em demasia pode comprometer o nosso desempenho. 6. Convidarei-te a retirar a louca e lavar os pratos para se sinta a vontade e relaxada. 2.3 Receitas do nosso jantar 2.3.1 O Prato Principal - Galinha ao Molho Pardo Dourar alho e cebola em azeite numa panela. A seguir vá colocando os pedaços da galinha e acrescentando água aos poucos de forma que quando a galinha estiver cozida, haverá um pouco do caldo do cozimento da mesma. A galinha deve ser temperada com sal e durante o cozimento somente folhas de louro devem ser acrescido. O sangue da galinha deve ser misturado com uma colher de vinagre logo após o seu abate. Este sangue deve então ser misturado na panela para mais um tempo de cozimento. Este prato era servido num prato tendo ao fundo pedaços de pão e salsa picada. 2.3 A sobremesa – Doce de Leite com Amora Colla as amoras e enfeite o doce de leite. 3. A Pequena Refeição do Dia Seguinte 3.1 Como será Preparei de véspera uma infusão da seguinte forma: colocarei algumas flores de camomila, sementes de erva-doce e folhas de manjerona num jarro com água de preferência mineral e deixarei na geladeira, que lhe servirei num copo com pequenos ramos colhidos de antemão. Em seguida preparei dois biscoitos com geléia de jabuticaba. Acompanharei com sua bebida de preferência, que lhe perguntarei antes: “café ou chá ”. Se você quiser café acrescentarei sementes de abobora, e te farei lembrar que esta semente é um potente afrodisíaco. Em seguida lê servirei ovo que tirarei a tampa e colocarei pedacinhos de torresmo à gema. 3.2 Meu Comportamento 1. Acordarei silenciosamente antes de você, e assim terei tempo de preparar a pequena refeição da manhã. 2. Comprarei vários tipos de chás para o caso. 3. Antes de acordar lhe entregarei entre beijos um ramo de flores. 4. Não a convidarei para ir tomar o café em outro lugar que não seja na cama. 5. Não servirei suco de pacote. 6. Não me inspirar em cafés sofisticados, tipo hotel 7. Após a pequena refeição, entre leves, suaves e vorazes beijos farei que meu desempenho seja o mesmo da noite anterior. Assim será a nossa primeira noite.

SEU NOME É JOSÉ EUGÊNIA? Seus cabelos eram escuros e seus olhos também. Era magra, pequena e seu olhar me impressionou. Era um olhar atrevido, insinuante e que se fixaram nos meus, quando a olhei debaixo dos pés de jabuticaba. Ela tinha 3 anos.

Moreninha da R. Hervália. O ano era 1963, eu tinha 15 anos, e Belo Horizonte nesta época ainda tinha muito do seu nome original: “Cidade das Alterosas”. Grande parte da cidade era ainda arborizada e os jovens tinham a Av. Afonso Pena e adjacências como ponto de encontro.Nesta época estudava no Colégio Militar, estava no primeiro ano científico e poucas vezes vinha a Rua Hervália, onde minha família residia. Eu era alto, muito alto para a época, jogador de basquete e tinha o porte ereto e não me incomodava quando outros me chamavam de “vara-pau”. Era quase loiro e com olhos verdes e traços azulados.

Típico jogador de basquete. Eu 12 anos a mais e os confrontos que tinha com sua mãe não permitiam nada, a não ser olha-lá e talvez quem sabe brincar um pouco com aquela pequena menina. Mas a insistência dos seus olhos quando a vi pela primeira vez me encorajavam o suficiente para me aproximar e dizer : “ Hei moreninha!”. Não me respondeu e saiu correndo.

Sorvete da Kibon Onze anos se passaram e um dia ela estava numa lanchonete da Av. Pedro II onde se vendia sorvete da Kibon. Lembro-me que usava roupas colegiais, chupava pastilhas e estava tomando sorvete. Às vezes me lançava longos olhares e eu às vezes insistia no olhar e me lembro que nestes momentos sentia suas faces ruborizadas. Outras vezes ela me olhava com um olhar atrevido, insinuante e que se fixaram nos meus.

R. Hervália nos anos 70 Seu irmão era o José Eugênio, meu amigo de infância, que enchia meus pensamentos de fantasias, quando me contava suas aventuras em Pirapora. Eram histórias de piranhas, sucuris e jacarés. Quando me deitava depois de longas conversas, fechava os olhos e me transportava para aqueles cenários. A bem da verdade também contava grandes aventuras em Moeda, terra da minha mãe onde muitas vezes passava minhas férias. Trocava as piranhas, jacarés e sucuris por onças enormes e grandes florestas. Passei a freqüentar aquela lanchonete. Trabalhava na Usiminas e não era difícil encontra-la no horário da manhã. Passei então a fazer lanches na lanchonete onde ela sempre estava chupando pastilhas e tomando sorvete.

Meu lanche No começo não ia sempre, mas depois impulsionado pela insistência daqueles pequenos olhos passei a ser um freqüentador diário daquela pequena lanchonete onde o garçom passou a me cumprimentar e a já me servia sem ao menos eu fazer o pedido. Aos poucos deixei de ser uma novidade para aqueles pequenos olhos , pois passei a ser uma ator sem muita importância daquele pequeno teatro. Isto fez com que eu me tornasse mais corajoso, pois meu desejo de atuar de uma melhor forma passou a ser meu objetivo. Vários planos eu fiz. Nos meus pensamentos imaginava: Um dia eu me aproximaria dela e poderia perguntar: “Você estuda onde?”. Não esta é muita fraca. Já sei! “Você gosta de sorvete?” Não serve também. Ainda mais se ela me respondesse: “Sorvete? Isto é mingau”. E se eu citasse Sheakspeare? “Duvides que as estrelas sejam bolas de fogo......................” . Ela iria pensar que eu era maluco. Poderia ser objetivo. Chegaria até ela e lhe diria olhando nos seus olhos: “Adorei você!”. E se eu tropeçasse ou gaguejasse e ela me respondesse: “Vai procurar alguém do seu tamanho!”. É na verdade eu nem sabia quantos anos ela tinha. Sabia que era irmã do José Eugênio. Nestas idas e vindas dos meus pensamentos, um dia ela saiu mais cedo e fui atras dela. Ela notou que eu a seguia e diminuiu os passos. Quando me aproximei, não sabia o que dizer.

Partiu dela um “Ola? Você tem um jeito esquisito? Me cutucou com seu dedo na minha barriga e perguntou: “ Você joga basquete?”. Imediatamente senti um enorme arrepio e respondi gaguejando: “Imagino que você gosta de pessoas esquisita e jogo basquete sim e você é a José Eugênia, não?. Quantos anos você tem? Respondeu-me que tinha 14 anos. E assim fomos conversando e andando pela redondeza, até pararmos na R. Magnólia, onde próximo a uma casa ela parou e ficou em um degrau acima numa pequena escada. Não havia ninguém por perto. Já tínhamos conversado muito. Ela demonstrava vivacidade e tinha uma voz encantadora. Quando paramos meus pensamentos voavam: “E agora? Que faço?”. Lembrei-me da música: “Pedi lhe um beijo não deu, um abraço não quis dar”. Lembrei da outra: “Perdoa meu amor este pecado, sublime impulso de te haver beijado.”. Na verdade não sabia se lhe pedia um beijo ou lhe roubava. Lhe roubei um beijo e tive seu consentimento. Foi um beijo pequeno e suave, quase um roçar de lábios, mas foi o suficiente para ela dizer que precisava ir embora. Não insisti, eu tinha 27 anos e fiquei com medo, e ainda tinha sua mãe. Já tinha me dito seu nome: Maria Eugênia. A noite em casa não sabia o que fazer. Fiquei chateado, preocupado e sonhava com aqueles olhos insinuantes. Nunca mais voltei a Lanchonete. Nunca esqueci da moreninha que chupava pastilhas e me olhava atrevidamente. A José Eugênia. Não, Maria Eugênia.Cinco anos mais tarde, encontrei com uma pessoa de sua família e fingindo desinteresse fui perguntando por todos. “E aquelas duas menores? A Joca ou Dadá?” E agora pensei. Joca ou Dadá? “É onde estão as duas? A Joca esta em Januária estudando e a Dada esta em Belo Horizonte. Deve ser a Joca, pensei”. A Joca é a Maria Eugênia? Sim. Puxa, mas ela foi estudar longe? É, MAS ELA DEVE ESTAR ATUALMENTE EM PIRAPORA.”. Nos despedimos, e pensei: vou passear em Pirapora. Quem sabe encontro com ela “ por coincidência” . Uma semana passei em Pirapora. Navegava no Rio São Francisco entre o Bambuzinho e o Barranco. Nada de Joca ou de Maria Eugênia. Lá deixei meu navio e meus sonhos.

Moreninha que eu pensava encontrar nas praias de Pirapora Casei-me tive filhos e por muitas experiências passei. Conheci parte do mundo e muitas coisas eu vi. Minha vida teve altos e baixos, mas vivi intensamente. Treze anos se passaram. Universidade Católica era onde minha mãe aos 66 anos estudava e foi onde encontrei a Maria Eugênia. Para minha surpresa, num sábado pela manhã, na Católica. A encontrei conversando com minha mãe .Barba grande, olhar irreverente combinavam com minha camisa azul listada. Aos45 anos eu era um aquariano típico. Figura do Aquariano

Ela conversando, insistia no seu olhar e no seu sorriso. Minha mãe se afastou. Aquele sorriso fez com que eu me tornasse mais corajoso, pois meu desejo era de atuar definitivamente de uma melhor forma. Vários planos eu fiz. Nos meus pensamentos imaginava. Vou me aproximar dela e poderia perguntar: “Você estuda onde?”. Não esta é muita fraca. Já sei! “Você gosta de sorvete?” Não serve também. Ainda mais se ela me respondesse: “Sorvete? Aqui?”. E se eu citasse Sheakspeare? “Duvides que as estrelas sejam bolas de fogo......................” . Ela iria pensar que eu era maluco. Poderia ser objetivo. Olharia nos seus olhos e lhe diria: “Adorei seu sorriso!”. E se eu tropeçasse ou gaguejasse e ela me respondesse: “Vai procurar alguém do seu tamanho!”. Nestas idas e vindas dos meus pensamentos, me cutucou com seu dedo na minha barriga e perguntou: “Você ainda joga basquete e ainda continua esquisito? Imediatamente respondi:” Imagino que você gosta de pessoas esquisitas”. A resposta foi um longo sorriso e um olhar insinuante que me fez voltar 30 anos. Não perdi tempo, pedi seu telefone e lhe disse que adoraria encontrar com ela. Me deu o telefone errado e não tive mais notícias suas.Dez anos se passaram, sou avô e adoro escrever. Moro com minha mãe e voltei a R. Hervália, passei nas jabuticabeiras. Lembrei-me da Maria Eugênia. Onde estará ela? Hoje eu recebi um bilhete da Maria Eugênia. Dizia: “...........Estou tentando ligar para sua casa e só dá ocupado. Então ..............são 21:30 dê uma chegada aqui em casa. Vou tomar um banho e te espero.

A VIRGEM DE GADALUPE, LA REINA DE LAS AMERICAS, DE LAS ISLAS DE LAS ANTILHAS Y DE LAS ISLAS FILIPINAS. Em 1531 uma senhora do céu apareceu a um pobre Nativo em um serro ao noroeste da cidade atual do México; foi identificada como a mãe do Deus verdadeiro, e requisitou-lhe que solicitasse ao bispo que construísse um templo no lugar e deixou uma imagem de si mesma. A roupagem da sua imagem, um tecido de cactos de pouca qualidade que deveria se ter deteriorado em 20 anos ainda hoje não mostra os sinais do tempo 475 anos depois e ainda desafia toda a explicação cientifica. A origem do nome Guadalupe sempre tem sido motivo de controvérsias, e muitas possíveis explicações têm sido dadas. Crê-se como a mais provável que seja o resultado da tradução do nahuatl ao espanhol das palavras usadas pela Virgem durante sua aparição ao tio enfermo de Juan Diego, o Nativo para quem a Virgem apareceu. Nossa Senhora usou o termo azteca (nahuatl) de coatlaxopeuh, o qual se pronuncia "quatlasupe”, que soa parecido com a palavra Guadalupe. “Coa” significa serpente, “tla” o artigo "la", e “xopeuh” significa afastar. Assim Nossa Senhora deve ter se referido a ela mesmo como “a que afasta a serpente”. As informações acima são as resultadas de uma pesquisa que fiz antes de ir a Basílica de Guadalupe. Fui a Basílica por minha mãe. Ela me solicitou que levasse para ela medalhas e imagens da Virgem. Muito impressionado fiquei com o Santuário, sua grandeza e a exploração comercial do local. Passeando pelo local em busca de medalhas me deparei com uma mulher Nativa, enrolada num pano de tecido roto, que a percorria do rosto ao meio das pernas. Era morena escura tal como os Nativos e o tecido tampava uma parte do seu rosto. Estava sentada sobre as pernas e quando me viu estendeu um sorriso e sua mão. Depositei em suas mãos algo como 50 reais e me sentei numa escada acerca. Olhava aquela nativa me sorrindo e uma grande tranqüilidade se apossou de mim. Imaginava que todos que passavam me olhavam com estranheza; mas passavam por mim como se ali eu não estivesse. Depois de algum tempo, me levantei, joguei lhe um beijo e sai em direção ao estacionamento. No caminho resolvi voltar. Quando cheguei onde estava a Nativa, não mais a vi.

A Virgem Ansioso perguntei aos barraqueiros que estavam ali por perto e todos me afirmaram que ali não tinha estado nenhuma Nativa. Insisti e contei-lhes que tinha dado 200 pesos a Nativa. Busquei minha carteira para mostrar, pois tinha certeza que só tinha uma nota de 200 e para minha total surpresa lá estava a nota, tal como a Casa da Moeda Mexicana lhe desenhou. Desconcertado sai

tropeçando com os barraqueiros me olhando como se eu fosse um tonto. Seria a Virgem de Guadalupe, me perguntava. A partir deste dia passei a andar no meu bolso uma grande medalha da Virgem. Não a tirava para nada e dormia com ela debaixo do meu travesseiro. Adormecia e acordava tal como que ela estivesse junto de mim todo o tempo, me protegendo. Assim se passou uns dias, e numa tarde no escritório da ENERG, senti falta de minha carteira, com meus documentos e todo meu dinheiro. Tinha o costume de estar sempre com a carteira na minha maleta. Busquei toda maleta e nada achei. Desesperei-me, pois eram mais de 6000 dólares, passaporte e o visa mexicano. Meu primeiro pensamento foi que me roubaram. Assustado sai correndo em direção ao Hotel. No caminho pensava na amolação que iria ter com a perda dos documentos. Ida a migração, não poderia ir para obra e ainda teria que pedir mais dinheiro à empresa. Que amolação.Chegando ao quarto do Hotel, procurei e procurei a carteira e nada. Tirei tudo para fora. Suava e me desesperava. Sentei e comecei a pensar e automaticamente pus a medalha da Virgem na mão. Pouco tempo passou e algo me fez olhar para porta. Lá estava uma camareira me olhando sorrindo. Imediatamente perguntei-lhe se tinha arrumado meu quarto e visto uma carteira. Disse-me que não tinha feito ainda a faxina e me perguntou se já tinha procurado dentro da mala. Claro que sim, lhe disse que já virado e revirado a malha. Olhei para ela e continuava me sorrindo e algo me fez ir a mala. Abri a mala e lá estava a carteira. Assustado olhei para a porta e a camareira lá não mais estava. Procurei-a pelo andar, escadas e outros andares e nada. Fui à recepção e perguntei por ela. Com aquela descrição me disseram que não tinha ninguém trabalhando como camarareira. Com uma mão segurando a carteira e a na outra a medalha da Virgem fui para meu quarto. Deitei na cama com as duas mãos ocupadas e dormi. Dormi profundamente e acordei. Olhei para as minhas mãos e elas estavam vazias. Mirei a mesa do lado e lá estava a minha carteira com a medalha por cima. Devo ter enlouquecido pensei. Numa bela manha mexicana poucos dias adiante, la estava eu no meu quarto me embelezando para uma reunião na CFE. Separei meu terno, todo cheiroso, minha gravata italiana, meus sapatos moedenses, minha meia que minha mãe me deu de Natal e minha camisa azul da cor do céu. Procurei o cinto e não achei. Procurei e procurei e nada. O telefone tocou e me informaram que o pessoal que viria me buscar me chamava. Pus a calça, a camisa e logo notei que a calça esta larga e descia. Naquele momento não me preocupei, pus as meias, os sapatos e segurando a calça na beira da pia com o corpo coloquei a gravata. Olhei-me no espelho, segurando as calças e me achei bonito. Meus olhos contrastavam com a camisa formando um belo conjunto. O telefone me tirou daquele momento de euforia. Tinha que andar rápido me informaram. Coloquei o paletó e sai com uma mão segurando a pasta e a outra segurando a calça. Não me preocupava, compraria no caminho um cinto. Qual o que, as lojas só abrem depois das 11 me informou o motorista. Como a reunião estava marcada para as 11h30min e iríamos para um café perto da CFE, imaginei que deveria haver alguma loja por perto e daria tempo para comprar o cinto. Do lado do café havia uma loja que vendia cintos, mas estava fechada. Perguntei ao garçom que horas abria a loja e me informou que as 11 abriria. Assim sendo desfrutei da comida mexicana. Enchilladas, tacos e tortillas acompanhadas do meu olhar a loja onde havia os cintos mais lindos que já tinha visto. O tempo passava e a loja não abria. Passava das 11. Levantei-me segurando a calça e fui ver os cintos. Havia de todos os modelos, negros, castanhos e de longe já escolhia qual iria comprar porem a loja não abria e o pessoal já tinha pagado a conta. Pedi para esperar,

mas me informaram que já estava na hora. Fiquei nervoso e incomodado. Como iria fazer, pensava. Segurando a calça, com os companheiros me olhando de modo estranho fomos para reunião.Minha primeira dificuldade foi na portaria. Carregava a maleta numa mão e segurava a calça com a outra. O porteiro me parou e me mandou abrir a maleta. Segurei a calça na borda da mesa com o corpo, porque tive que abrir a maleta com as duas mãos. O guarda me olhava desconfiado. Terminada a revista, fechei a maleta e não reparei que a calça desceu um pouco e uma pequena parte ficou debaixo do sapato. Quando andei tropecei e minha calça desceu. Para não ficar sem calça, rapidamente a segurei e subi com as duas mãos e minha maleta foi ao chão fazendo barulho e despertando a atenção de todos que estavam na portaria. Segurando com uma mão a pantalona, como dizem os espanhóis, abaixei para pegar a maleta. Suava e respirava ofegante e quase que correndo fui para o elevador para ficar livre da situação. No décimo andar fomos conduzido para uma sala, onde me sentei rapidamente e pensei que agora iria ficar livre do problema por algum tempo. Daqui não me levanto pensava eu. A reunião se iniciou e aos poucos fui esquecendo da famigerada. Há pouco tempo estávamos na reunião, quando um mexicano entrou na sala e disse em bom tom: “Hoje e dia de treinamento de sismos e vamos evacuar o prédio. Todos deverão se retirar e não podem usar elevadores, somente as escadas”. Um frio de imenso passou pela minha coluna. E hoje pensei. Na mesma hora também disseram que as maletas poderiam ficar na sala. Pelo menos duas mãos vou ter para segurar esta maldita calça, pensava. Dirigi-me para as escadas segurando aquela que com certeza colocaria fogo ou a jogaria no lugar mais horrível do México. No quinto andar aconteceu. Não percebi, mas a desgraçada foi para baixo, ficou debaixo do sapato e ela desceu completamente e fiquei nu, com as minhas partes a mostra. As escadas estavam repletas e todos pararam para me admirar, pois a desgraça aconteceu no patamar. Homens e mulheres. Aqui faço um aparte para contar um segredo. Não uso cuecas. Instantaneamente sai correndo com ela nas mãos, não permitindo que a curiosidade e a admiração tomassem conta daquela boa gente. Entrei no andar e escondi numa sala. Que se dane este treinamento e daqui não saio tão cedo. Estava com este pensamento quando imediatamente segurei a medalha da Virgem que estava em dos bolsos. Acalmei-me e passei a olhar a sala, foi quando vi em cima de uma mesa um cinto. Acreditem. Um cinto. Imediatamente fui ate a mesa e dei sorte, pois serviu direitinho. Com ela segura desci as escadas e passei por toda aquela gente agora com toda confiança e fui ate a loja. Comprei um cinto bem horroroso e voltei para a CFE com o outro na mão. O treinamento já tinha terminado e fui ate o quinto andar entregar o cinto. Pus o cinto na mesa e perguntei aos que me olhavam com curiosidade de quem era o cinto. Surpresos me responderam que nunca o tinham visto. De posse dessa informação e já sem nada que me surpreendesse, tomei posse do cinto.Hoje o cinto que encontrei o uso diariamente. A outra protagonista desta historia foi jogada no lixo mais sujo que encontrei junto com o cinto horroroso que comprei. A medalha da virgem presenteei a minha mãe, que a usa com o meu retrato. Hoje uso cueca, obedecendo a um pedido de infância da minha mãe. Tornei-me devoto da Virgem que junto com o São Francisco de Óculos e a Turma da Felicidade peco para me protegerem.

Um colega mexicano disse que passou por mim de carro um dia e me perguntou depois quem estava comigo no meu carro. Assegurei a ele que estava sozinho. Não acreditou.

O VELA PRETA Meu primeiro contato com o mundo do ensino foi com o Colégio São Francisco. O Colégio era um mistério. Acreditem, as freiras eram chamadas de “Clarissas Franciscanas do SS. Sacramento” e não podiam ver ninguém.

Fachada do Colégio São Francisco Imaginem! Quanto mistério! O Colégio era perto de uma floresta, no início de uma elevação, num lugar chamado “Caiçara”. Depois do colégio era só floresta, e com certeza cheia de lobos e onças. Lógico.

Minha Primeira Turma Minha emoção foi enorme quando aos 6 anos, meu me comunicou: “ Meu filho! Você vai estudar no Colégio São Francisco.” No dia seguinte lá estava eu numa pequena sala, esperando meu pai que conversava com a “ Madre” . Enquanto esperava, 3 meninos da minha idade, me faziam companhia: o Eli, João Flávio e o Eustáquio. Na cumplicidade própria da idade começamos a rodar e a sentir a tontura ocasionada pelo movimento. Foram meus primeiros amigos. Neste colégio aprendi os primeiros ensinamentos e mistérios da religião católica. As aulas começavam as 7 horas com uma missa No recreio havia outra missa e todas as vezes que nossa professora, a Irmã Maria Gorete, entrava na sala, rezávamos a Ave Maria. Com a Irmã Maria Gorete, também aprendi a ajoelhar sobre um milho.

Figura 3 – Irmã Goreth Meu interesse pela leitura se iniciou também com ela. Lembro-me de pegar livros na biblioteca da sala para ler a tarde, quando sonhava com castelos, aventuras e de vez em quando com princesas. Só de vez em quando. A biblioteca era um armário existente na própria sala onde eram guardados os livros de leitura. Cada sala tinha sua pequena biblioteca para uso dos alunos. O nome da biblioteca era sempre Castro Alves, Machado de Assis, Coelho Neto e etc. Em um dos livros aprendi o termo “ouvido de mercador”.

Contos de Fadas Na primeira oportunidade, numa redação em sala, usei o termo. Qual não foi a minha surpresa, quando recebi uma reprimenda da Irmã Maria Gorete pôr ter usado o termo. Fiquei bravo. Fui para casa, e sem contar nada, comecei a escrever e ler muito, pois precisava saber o que era “ ouvido de mercador”. Foi o primeiro grande incentivo pelo hábito da leitura. Minha primeira comunhão, foi para mim, como se Deus tivesse me dado um aviso.

Senti-me santificado. O processo se iniciou com aulas de catecismo, práticas e teóricas. Aprendemos tudo sobe hóstias, inclusive sua fabricação e sua receita. Íamos para a fábrica de hóstias, onde maravilhados, aprendemos tudo sobre o processo. Paralelamente treinávamos a confissão. Não podia haver erros.

Santinho Primeira Comunhão Os pecados variavam de “indecências à mentiras”. “ Padre: fiz indecência.” Meu filho, dizia o Padre: “ Esta arrependido.” “ Sim.” Respondíamos, de cabeça baixa, com o semblante carregado de tristeza pelos pecados cometidos. “ Então, meu filho, reze o ato de contrição”. Rezávamos e o Padre, nos perdoava, e nos mandava rezar tantas Ave Marias e tantos Padre Nossos. Fora da igreja antes da confissão apostávamos quem iria rezar mais Ave Marias e Padre Nossos.

Vitrais da Igreja São Francisco No dia da confissão, na Igreja de São Francisco, estávamos todos preparados. Tremia quando fui para o confessionário. Gaguejei meus pecados; e no final o padre me pediu o Ato de Contrição. Não consegui dizer, tinha ficado mudo. O padre saiu do confissionário gritando: “Este menino não sabe rezar o ato de contrição.” Foi uma confusão. As professoras ficaram perplexas, e depois de muito tempo conseguiram que eu balbuciasse algumas palavras. Estava em estado de choque. Todos já tinham confessado. Não conseguia rezar o Ato de Contrição. Depois de muita discussão e reuniões secretas entre o Padre e a Irmã Gorete, (sempre ela) definiu-se que eu leria o Ato de Contrição. Mesmo assim não conseguia balbuciar nada do que estava escrito. O Padre desistiu e mandou eu rezar um monte de orações. Os meninos

que de longe a tudo assistiam, estavam boquiabertos com o que acontecia. Quando passei por eles, todos vieram perguntar: “Quantas Aves Marias e Padre Nossos o Padre mandou rezar”. Olhei bem nos olhos de cada um e disse: “Cem de cada um”. Fez-se um silêncio e todos me olhavam admirados. Assim fiz minha confissão e fiquei em estado de graça durante quase 1 semana. Não podia cometer pecados. O castigo era enorme. Eu mesmo estabeleci uma clausura. Fiquei em silêncio, não falava com ninguém. Como as “Clarissas”, encerrei me no quarto, e só recebia pão e água. Todos me entendiam.

Foto Comemorativa – Minha Turma com a Irmã Gorete. Não sou eu que porta a Bandeira No dia da Comunhão, mamãe fez um terno todo branco (de calças compridas), camisa branca e sem gravata. Os sapatos não me lembro da cor, acho que era preto. Papai me comprou uma vela, quase preta, um cinza bem escuro.

Meus Coleguinhas

Quando sai de casa, mais parecia um anjo. O Vela Preta

No caminho, as pessoas mexiam comigo. No colégio me reuni, com meus colegas, e então reparei na minha vela. Eu era uma vela preta num rebanho de velas brancas. As velas dos meus colegas tinham lacinhos e desenhos doirados. Quando me reuni com os meninos na Capela, a Irmã Gorete, viu a vela preta. Seu rosto se transfigurou. Devo ter feito um olhar de anjo, pois carinhosamente, ficou ao meu lado, durante a missa. Senti-me confortado e protegido, pois os meninos olhavam com inveja, pois tinha ela, a Irmã Gorete ao meu lado. Ela me acompanhou na fila para a comunhão, sem a vela, que ficou no banco. Tremi na hora. Permaneci com a hóstia na boca até ela desmanchar pôr completo, conforme fomos instruídos. Terminada a missa fomos para um salão cheio de mesas repletas de groselhas e sucos num festival de cores, que nunca mais meus olhos esqueceram. Junto aos sucos, havia pratos repletos de biscoito champanhe, que era delícia da época.

Bolo da Minha Primeira Comunhão Terminado o grande evento fui para casa em contemplação. De cabeça baixa, com a vela preta na mão, provavelmente rodeada com uma aureola, fui caminhando. Numa determinada rua, passou um caminhão, cheio de operários que mexeram comigo e passou numa poça cheia de água e transformou meu lindo terninho numa veste cheia de barro. Cheguei em casa desesperado e chorando muito. Tinha 7 anos.

Agruras de um Viajante Sai de Belo Horizonte atrasado, o vôo que estava marcado para 19h25min saiu 21h20min e assim sendo cheguei a São Paulo às 22h10min. Meu vôo na Air Canadá estava para as 22h50min. Assim sendo corri para o Checking sendo logo informado que a fila para o embarque estava longa Realmente a fila parecia que começava na Augusta no centro de São Paulo. A hora passava e nada de chegar a minha vez. Desesperado perguntava todo o tempo ao pessoal da Infraero, que meu vôo estava para sair, mas me mandavam continuar na fila. Quando estava para chegar a Policia Federal, um atendente chegou a mim e disse: “Passa na frente de todos, e saia correndo, pois esta prestes a perder o vôo.” Assim fiz e sai correndo. A impressão que tive foi igual aos filmes de aventura: o avião já tinha iniciado a decolagem e eu na pista correndo, tentando pular na porta que estava aberta, e as aeromoças gritavam comigo: “Corre, pois vamos fechar a porta.”. Consegui. Sentei-me suado, ofegante ao lado de uma Senhora e um lindo bebe. Quando o avião estava já no meio da pista pronto para decolar, ouvimos um aviso: “O avião esta sem os dispositivos de emergência e terá que passar por uma inspeção antes de decolar”. Ali ficamos por uma hora, e como estava perto da porta entrou uma pessoa de manutenção e disse: “Acho que vai dar!” Senti um frio na espinha, pois na mesma hora o bebe ao meu lado deu um grito e começou a chorar. A mãe tentando consola-lo dizia:” Não chore vai, dar tudo certo.”. O avião decolou, e não sei se com o sistema de emergência ou não. O que posso dizer ‘e que o bebe sentindo o perigo que nos encontrávamos gritou e chorou todo o tempo. Para acalmá-lo pedi a Senhora para colocá-lo um pouco no meu colo. Ela vendo o meu rosto de infinita bondade, com doçura me deu o bebe. Ele parou imediatamente de chorar se aconchegado ao meu tronco forte e viril. Puxando minha barba, sorria. Neste doce momento senti um barulhinho característico. Os fluidos do bebe vazaram sua fralda e molharam minha camisa. A mãe entrou em desespero. Tentei acalma-la dizendo que isto não era nada, tive filhos e sabia como era. Assim passei minhas 12 horas de viagem, com um cheirinho na minha camisa, consolando a senhora e o bebe. O vôo estava previsto para chegar a Toronto as 06h15min e meu vôo para o México estava previsto para 08h35min. Comuniquei a Comissária meu problema já que estávamos atrasados cerca de 01h30min. Ela me disse que eu teria que correr. Passar na alfândega, pegar a mala, fazer o Checking e correr para o embarque. Para me ajudar ela disse que me colocaria como primeiro na porta de saída. Quando o avião pousou, me dirigi imediatamente a porta de saída. Neste momento um comissário muito feio pulou na minha frente e aos gritos dizia: “Vá para seu lugar, primeiro são os da Primeira Classe”. A ira se apossou de mim e antes que eu empurrase o Comissário a doce Comissária disse: “O cavalheiro vai ser o primeiro a sair.” Tenho certeza que fiz 100 metros em menos de 10 segundos. Passei na alfândega, peguei a minha mala, que alias foi uma das ultimas, fiz o Checking e corri para o embarque. O portão era o 155. Quando tomei o elevador e me deparei onde estava, vi com amargura que estava no 27. Mais uma vez fiz 100 metros em menos de 10 segundos. Bati todos os recordes olímpicos. Cheguei ao embarque, orgulhoso com a minha performance olímpica. Feliz embarquei rumo ao México. Sentei-me ao lado de um senhor italiano, dono de um Hotel em Manitoba no Canadá. Imediatamente ficamos amigos. Ele falava mal o inglês, espanhol e ate o

próprio italiano. Entendemos-nos muito bem nestas três línguas. Ele não entendia o que eu dizia e vice versa. Ficamos muito amigos e chegou a me convidar para passar uma temporada no seu hotel. Estávamos entretidos em nossa conversa, quando chegou um comissário pedindo para examinar a janela. Disse-nos que precisava verificar a quantidade de neve que estava acumulado nas asas, pois isto poderia ser um impedimento para decolagem. Nevava e a mesma acumulava nas asas. O avião iniciou o processo de decolagem, com o comissário de olho na nas asas. Dizia-nos que com a velocidade na pista a tendência era da neve com o vento descolar das asas. Se isto não acontecesse os flaps não poderiam se movimentar e a decolagem seria abortada. A neve se descolou e o avião decolou. Foram cinco horas de viagem, que aproveitei para orar para a Nossa Senhora de Aparecida, a Virgem de Guadalupe e aos meus orixás Oxalá, Ogum e Iemanjá. A todos dei atenção e dividi igualmente meu tempo a cada um para que nenhum fosse prejudicado. Logo que sai do avião, vi uma placa: “Passageiros oriundos da América do Norte.” Como estava vindo do Canadá, nela entrei para passar pela Migração. Era um lugar todo arrumado, e me surpreendi, pois quando chegava do Brasil, passávamos por uma fila horrível. Já neste lugar, não havia fila e era cheio de atendentes. Quando cheguei ao balcão, o funcionário me tratou com toda delicadeza. Quando lhe entreguei o passaporte, o homem se transfigurou. Devo ter ficado quase uma hora com ele me entrevistando. Mas minhas dificuldades não acabaram ai: minha mala foi a ultima, deu vermelho na inspeção de bagagem e revistaram tudo. As placas da Siemens nem perguntaram o que era. Cansado, deprimido e angustiado embarquei para Tepic pela Aeromar, coligada da Aeromexico. Na sala 01 embarquei num ônibus. O ônibus rodou todo o aeroporto e depois de muito tempo, foi parar num lugar ermo, onde havia um avião do tempo do Charles Lindeberg ou do Sacadura Cabral. Era um bimotor todo enferrujado. Procurei o nome da companhia e lá estava: Aeromar. Do lado da porta havia uma placa com os dizeres: “Cuidado com a Hélice.” Antes de entrar no avião notei que dois homens giravam a hélice e logo depois ouvi o barulho de um motor engasgando. Assustado sentei num banco e ainda bem que o avião estava vazio. Durante a viagem senti um cheiro de azedo e notei que minha calça estava ficando molhada. Levantei e foi então que percebi: tinham vomitado no assento que tinha escolhido. Estou no Hotel Lãs Palomas em Tepic e fiquei horas no aeroporto de Tepic, pois o Ramon, não foi me buscar. Enquanto esperava todos os táxis foram embora e depois de muito tempo a segurança me disse que o aeroporto iria fechar e que não poderia ficar mais. O pessoal da empresa aérea me deu carona numa caminhonete e fui na carroceria. Já me encontrei com o Ramon. Estou muito bem.

O FISCAL DA RUE DU COMERCE - PARIS - AVENIDA DE LA MOTTE PIQQUTE Chegaram bem cedo. Ele muito alto, carregando duas valises bem grande. Ela pequena, atras dele, com o rosto mal humorado. Entraram no Hotel Printemps, aqui na Rue du Comerce, pertinho da torre Eiffel. Não ficaram muito tempo. Sairam e se dirigiram a padaria, e por la ficaram algum tempo, provavelmente fazendo seu “ petit dejeneur”. Sairam da padaria, desta vez ela já aparentava um rosto bem humorado. Tive então tempo de reparar melhor. Ela muito bonita e ele muito sério e preocupado. Pensei comigo: americanos pobres, de férias neste nosso hotelzinho. Parecem simpáticos. Foram para o lado da Motte Piquete. Provavelmente foram passear na Ecole Militaire, Invalids ou na Tour Eiffel. Não os vi mais naquele dia. Mas minha curiosidade, fez com que eu fosse perguntar ao meu amigo, gerente do hotel. Brasileiros, me disse o meu amigo. Então fiquei mais curioso. Naquele dia não os vi mais. No dia seguinte estava eu novamente no meu lugar de sempre, vijiando a rua, as pessoas e os acontecimentos, tal como meus amigos me chamavam: “fiscal de rua”. Pouco ligo para este apelido, pelo menos tenho sempre muitas coisas que contar. Meus filhos creceram e vivem suas vidas em outros lugares, minha querida companheira, hoje mora no céu. Algumas vezes ela aparece, não sei se em sonhos ou acordado. Só sei que a vejo tal como ela era: pequena, olhos negros e muito branca. Sempre me dá conselhos. Deve ser velhice, ou então estou ficando maniáco de tanto ficar sozinho. Mas é interessante. Posso pensar na minha vida, nos meus antigos projetos. Ora, não é que a moça brasileira se parece com a minha querida esposa. Olhei as horas: 12:30. Até agora não sairam. Fui perguntar ao meu amigo gerente. Desta vez ele me perguntou o porque de tamanha curiosidade. Como sempre respondi justificando o meu apelido: “Sou ou não sou um fiscal de rua” . Meu amigo me olhou por uns instantes e disse que eles estavam ainda no quarto. Voltei e fui de novo para o meu lugar. Não demorou muito, e pronto: la estavam eles de mão dadas andando em direção a Motte Piquete. Não resisti, fui atraz. No caminho ele parou na padaria e comprou uma baguete e saiu comendo pela rua. Este brasileiro conhece nossos costumes, ou é um comilão. Ela parou na banca de crepe e delicadamente comprou um e la sairam os dois comendo pela rua. Fiquei curioso em perguntar para o moço da banca qual crepe que ela tinha escolhido. Mas fiquei em dúvida, não queria chamar atenção. Bem mais a frente entraram num café. Entrei também e fui para o balcão e fiquei reparando os dois. Ela pediu um “cafe au lait” e um croissant. Conversaram um pouco, se beijaram, ele levantou e saiu deixando-a sozinho. Para onde ele foi? Porque a deixou? Resolvi esperar. Ela terminou seu café, pagou a conta e saiu. Fui atraz. Ela foi na direção de Etoile e entrou imaginem onde? No bar grego. Onde se serve sanduiche grego. De fora fiquei olhando ele vorazmente comendo o sanduiche e ela amorasamente olhando-o. Que cara esquisito e comilão. Resolvi ir embora, mas com a certeza que ela não me saia da cabeça. Fiquei imaginando porque e só então novamente me dei conta que ela era muita parecida com a minha querida. Ah meu Deus, estou ficando

maluco! Logo uma brasileira. Voltei para o meu ponto e fiquei pensando. Hummm! A senhora que trabalha no hotel é minha conhecida e uma vez ela me disse que morou no Brasil. Com certeza ela deve estar arrumando o quarto destes dois. Ahhh! “deixa pra lá”. Não posso fazer isto. O que ela vai pensar de mim.

Maluco ela ja deve imaginar que sou. Mas seria muito bom ela roubar uma calcinha da moça para mim. Será que é cheirosa? Não posso ficar pensando nisso. Não posso ficar pensando nisso. Não posso ficar pensando nisso. Vou tomar o meu vinho e esquecer. É vou fazer isto e depois vou fazer umas compras.Já estou eu aqui de novo. Não consegui dormir. Passei a noite toda pensando nos dois. Como deve ser o nome destes dois. Vou lá no hotel arrumar um jeito de saber.No hotel fui logo dizendo ao meu amigo: Voçe está sabendo das confusões la no Brasil? Tem um tal de um estado de Minas Gerais que está fazendo a maior confusão. Deixe eu ver a ficha dos dois brasileiros, quero ver de onde são. Aqui no hotel não anotamos estes dados “, disse o meu amigo. “ Deixe eu ver a ficha. Ora, voce “ enche o saco”. Olha aqui a ficha e veja se tem alguma anotação.” . João Luiz e Bernadete então era o nome dos dois e “ le chambre est le neuf”. Quase tudo que eu queria saber. “ Meu amigo, quando eles decerem pergunte de onde eles são? talvez tenham alguma coisa interessante para contar. Voce sabe como sou curioso.” Gaston, não vou perguntar nada e não venha mais aqui para me pertubar com suas bobagens, por favor” . Disse Pierre, o meu amigo gerente. Agora eu só precisava saber onde era o “neuf”. Vou conversar com a minha amiga Jannete, a arrumadeira.Hoje é o terceiro dia e de novo estou a espera dos dois. Já passa do meio dia. Será que eles vieram aqui só para dormir. Paris é tão bonita. Se bem que esta época! Ou será que eles ficam fazendo amor toda a manha. Só pode ser, os dois saem famintos. Como será os dois “fazendo amor? O tal do João Luiz é muito grande. A Bernadete daquele tamanho. Como será os dois na cama? Nossa, minha curiosidade esta aumentando muito. Tenho que arrumar um jeito de ver os dois na cama. Será possível? Posso falar para o Pierre que vou passar uns dias no hotel, pois meu apartamento esta fazendo uma limpeza ou uma detetização. Éhh, já fiz isto uma vez..Lá vem eles. São duas horas da tarde. Novamente eles fazem os mesmos percursos do dia anterior. Padaria, café e o grego. Como este brasileiro gosta de sanduiche grego. Vou conversar com a Janette. Ela sai do serviço as 4 horas. “ Janete, voce quer ganhar 200 FF?” Fui logo perguntando. “Mas tem que ser um segredo nosso”. Ela no final concordou com tudo: iria pegar uma calcinha da Bernadete e me falar de qual quarto se poderia ver a janela do quarto dos dois. Hoje já é o quarto dia que estou com esta fixação doentia de vijiar o casal de brasileiros. Novamente fizeram a mesma coisa: ela no crepe e o “café au lait” e ele no grego. Porém hoje fizeram uma pequena estravagância: entraram na doceria e parece que fizeram uma festa, tal foi a quantidade de doces que comeram e que de longe observei. São uns glutões. Depois de se “intupirem” de doces

entraram no Metro e provavelmente, foram para o San Michel. Provavelmente para comerem mais ainda. Combinei com a Janete que ela passaria aqui em casa as 4 e meia. A Janette me trouxe a calcinha. Estava lavada, não era como eu queria. Ela me disse que foi a única que conseguiu. Parece que a Bernadete lava as calcinhas usadas todos os dias. O quarto, a Janete me disse que o 15 tinha uma boa visão do quarto dos dois. Novamente fiz ela me prometer que este segredo seria nosso e de mais ninguém. Paguei. Janete foi embora e então fui-me deitar botei a calcinha no rosto e lá fiquei sonhando o resto do dia. No dia seguinte, fizeram diferente. Ele comprou uma baguete e ela um crepe e foram em direção contraria. Parece que ele levava também uma caixa que me pareceu ser um queijo. Ele comia do que estava na caixa e mordia o pão. Ela ia como sempre delicadamente mordiscando o crepe. Faziam uma figura interessante. Pareciam diferentes. Fiquei pensando no que eles combinavam. De repente vi que entraram no correio. Esperei sairem e os acompanhei a distância. De repente pararam e me pareceu que discutiam. Algum tempo depois ela foi numa direção e ele na outra. Ele parou e encostou numa mureta. Passei por ele e vi que chorava. Fui até a esquina. Quando me voltei ele estava indo na direção dela. Esperei. Pois tinha certeza que eles voltariam pelo mesmo caminho. Estava certo. Depois de algum tempo lá vinham eles de mão dadas e com semblantes anuviados. Isto me deu o que pensar. Pois comecei a lembrar da minha vida com a minha mulher. Tantas tormentas e tantas brigas. Hoje tenho certeza que as brigas não eram devido as nossa diferenças. As brigas eram sempre pelo estado de espirito que estavamos naquele momento. Tantas são as variaveis do cotidiano. O pior é que não sabemos nunca lidar com ele. Tantas e tantas coisas poderiam ser evitadas. Fiquei pensando nos dois. Será que eles vieram direto do Brasil para Paris, ou passaram em algum lugar antes. Onde? Brasileiro gosta de chegar em Portugal ou Espanha em primeiro lugar. Será? Ha quanto tempo estão na Europa? Com certeza passaram o Natal com a família e embarcaram. Será que estão cansados? Será uma “lua de mel” ou será que são amantes. Gostei da idéia de amantes. Mas eles não tem cara de amantes, provavelmente moram juntos. A forma de se olharem é muito amorosa. Quando estão juntos, ele parece estar o tempo todo a protegendo. Gosto dele. Na verdade tenho inveja dele. Gostaria de estar no seu lugar.Estamos no quinto ou sexto dia da minha obsessão. Já nem sei mais. Acordei cedo e fui para o hotel. Pierre não estava. Perguntei ao seu empregado se tinha algum quarto vago. Ele olhou, olhou e me disse que tinha. Perguntei quais os que estavam vago e logicamente escolhi o quarto de número........? De

número ..........? 15. Peguei a chave, subi, entrei no quarto e corri para janela. Que decepção. A janela do quarto 9 estava fechada com cortina. Resolvi esperar. Deitei na cama olhando para a janela do 9 e acabei dormindo. Acordei assustado e olhei para a janela. A cortina estava aberta e vi movimento no quarto. Consegui ver a Bernadete saindo do banho enrolado na toalha. Meu coração disparou. Quantos anos que esta sensação já não me acontecia. Ela passou pela janela e não mais a vi. O João Luiz estava deitado e parece que esperando por ela. Para minha decepção quando a vi novamente ela estava de roupa e já preparada para sair. A sensação permaneceu ainda durante algum tempo. Mesmo depois deles terem ido embora um resquício da sensação ainda permanecia em mim. Sabia que eles só voltariam a noite. Então desci e fui fazer outras coisas. Com certeza voltaria a noite. Na saida Pierre, veio me questionar porque tinha alugado um quarto. Dei as explicações que tinha preparado, mas parece que não consegui convence-lo. Não tem importância. Para aumentar ainda mais a minha ansiedade, Pierre me disse, com um olhar de cumplicidade: que os brasileiros iriam embora no dia seguinte pela manhã. Passei o dia todo nervoso. Nada me fazia ficar sossegado. Tentei tomar vinho e dormir. Nada. Os minutos eram contados um por um. Quando os ponteiros marcaram 19 horas, peguei uns livros, a minha máquina fotográfica e o tripé e fui para o hotel. Graças a Deus que Pierre tinha ido embora. Peguei a chave, subi, olhei para a janela. A cortina estava aberta. Preparei a máquina, fixei o tripé e apontei para a janela e fiquei esperando. As 23 horas 12 minutos e quarenta e treis segundos eles chegaram. Primeiro arrumaram as malas. Como demoraram Tomaram banho e se deitarão. Não suportava mais de ansiedade. Morria de medo deles fecharem a cortina. Esta espera é insuportável.Então aconteceu. Começaram a se beijar, se acariaciarem dentro do cobertor. Estava pronto para fotografar, mas queria tirar uma só fotografia: a melhor de todas. Ele então aconteceu. A sensação era tão forte que desmaiei. Acordei no dia seguinte e ansiso fui ver a máquina. Não tinha nenhuma foto. Corri la embaixo e perguntei se os brasileiros ja tinham ido. Tinham ido. Voletei correndo e fui ver novamente a máquina. Nada. Sera que sonhei?

Em 2007 muita coisa aconteceu........ Conhecem Kiri Kanewa? Uma grande soprano. Ela é originaria da polinésia e para mim uma das maiores sopranos da atualidade. Canta com um sentimento tão grande que sempre que a ouço me sinto em êxtase. Ela canta os clássicos com perfeição, mas também nos faz conhecer a musica do seu povo. Te mando de presente duas músicas cantadas por ela, uma clássica e uma do seu povo. Muitas vezes fico pensando como alguém pode cantar com tanta perfeição e tanto sentimento e as vezes imagino que a música do seu povo, que foi grandemente dizimado pelos ingleses, ela canta com mais emoção. Para mim é tudo obra de alguem. Quando um ser humano consegue se libertar dos seus "grilhões", imagino que ele chega perto. O ser humano é uma das suas grandes obras. Cada um a seu modo chega perto, o artista com sua obra chega de uma forma. O pobre, o polinésio, e todos da nossa diversidade humana também podem chegar. O filósofo também chega, mas de sua forma. Todos nós O buscamos. Uns conseguem com mais velocidade e outros não. Vamos renegar os que não conseguem? Não posso acreditar nisso. Será que uns chegam sem saber? Eu acredito nisso. Nunca me decepcionei com Ele. Tento talvez entender o ser humano e o porquê das suas dificuldades em encontrar com ELE. É tão fácil, não é? Parece fácil, mas não é. Uns O encontram com a humildade, outros imaginam que o encontraram simplesmente adotando seus ensinamentos e outros nunca O encontrarão. Porque isso? Penso que isso faz parte da natureza do homem e este poder de julgar o certo do errado, imagino que nasce do fato de "termos sido criados a sua imagem e semelhança". Por outro lado nos defrontamos com “ o que “estamos fazendo aqui, quem somos e para onde vamos”. É muito "confusão" para pobres mortais. Muitos adotam o seu livro, tem a certeza da fé e pregam sua palavra. Mas e o nosso vizinho que passa necessidades? Vamos o deixar a sua própria sorte e que ele encontre o caminho? Será isso que esta escrito? Tenho certeza que não. Eu creio e tenho fé e também no ser humano. Como poderia não ter fé no ser humano. Como? E a natureza a nossa volta, que funciona com tanta perfeição? Ela também faz parte da sua obra. Será que acreditamos somente em parte da sua obra? Santo Agostinho tem uma história muito engraçada. A história conta que ele tinha muita luxúria. Um dia escreveu: "Oh Deus me libertai dessa luxúria... mas espera só mais um pouquinho." Isso me parece algo que representa uma humildade e que ele como ser humano sabe que não infalível. Será que estou conseguindo me expressar? Ajudem-me com as sua palavras. As que estão no Livro eu com certeza o encontrarei. E em 2007 novamente muita coisa aconteceu... Neste ano reencontrei amigos muito queridos que são muito importantes para mim. Reencontrei amigos de faculdade, de infância que há muito tempo não

tinha notícias. Alguns amigos novamente casaram-se, outros novamente tiveram filhos, outros ainda ficaram outra vez noivos e outros comemoraram o sucesso dos herdeiros. Outros também tiveram a sorte de terem netos. Também fiz novos amigos e reafirmei as amizades antigas. Nunca fui bom em manter contato, mas este ano fiz um esforço maior. Com a ajuda de alguns de vocês consegui saber mais notícias e ficar um pouco mais perto. Mudei de emprego! Agora trabalho para minha “outra empresa”, mas com uma função totalmente diferente. Por isto considero que assumi novas funções. O desafio está sendo grande, porém com muito aprendizado. Descobri novas pessoas, novas formas de pensar e de trabalhar. Comemorei sessenta anos. Oba! Neste ano, como no ano passado, muita coisa aconteceu. Talvez não tenha telefonado no aniversário de cada um, me perdoem. Mas é verdade que vocês são importantes para mim! Senti-me impotente diante das dificuldades das pessoas, dos amigos e parentes. Alguns estão sem emprego, outros ainda adolescentes perderam os pais, ou filhos, alguns foram embora, outros não tem o que comer, outros tentam conviver com a dor da perda. Em nenhum destes casos fui capaz de ajudar. No final deste ano, ainda falta muita coisa para acontecer... apesar dos dias passarem rápido. Mais pessoas ficarão noivas, outras farão aniversários, outras continuaram com fome e eu ainda tenho que alcançar muitas metas. O resumo deste ano é que em cada um destes momentos pude sentir a presença de Alguém comigo. Apesar da dor no peito pelas situações que não posso controlar, sinto uma tranqüilidade ao dormir e em saber que existe um plano para cada um de nós. Não é fácil obedecê-Lo sempre, mas tenho um exemplo de que é possível melhorar e perseverar. Quem já vive esta experiência sabe bem disso, não é? Esta mensagem é para compartilhar com vocês o que vivi e para desejar um muitas felicidades. Que vocês tenham a chance de conhecer um pouco mais Dele e do sentido da vida e desfrutar também de coisas que não podemos comprar. Sentir o amor, a confiança são uma das coisas que não são possíveis de comprar...

Entrem em contato e mandem notícias também!

Em 1947 os sucessos eram.. Nasci em 1947 e neste período nosso país era governado por Eurico Gaspar Dutra. Dutra tomou posse em 1946 e seu mandato terminou em 1950. Eurico Gaspar Dutra havia sido ministro da Guerra do governo de Getúlio Vargas e foi por este apoiado nas eleições. Isso demonstra a forte influência que Getúlio mantinha sobre a maior parcela da população nacional. Dutra (PTB e PSD) venceu as eleições contra Eduardo Gomes, candidato da UDN, e Yedo Fiúza, do PCB. Primeiramente, deve-se destacar a promulgação de uma nova Constituição, cujos traços principais foram o retorno da democracia, assegurando mandato presidencial de 5 anos, eleições diretas e a manutenção de inúmeros direitos trabalhistas conquistados ao longo da Era Vargas. No plano interno, o general Dutra pretendeu acatar os objetivos de interesse da classe dominante. O Estado Novo de Vargas havia sido adequado à burguesia para uma acumulação primitiva de capital. Depois disso, já fortalecida, o Estado tornou-se um obstáculo, e a burguesia passou a querer participar mais de perto nas decisões governamentais. Em 1947 os sucessos musicais eram: Adeus-Cinco Letras que choram, Caminhemos, Copacabana , Marina. Destas, Marina de Ari Barroso, eu escolhi para o ano que nasci. “Marina, morena Marina você se pintou...” Também sobre o Hino da Artilharia Brasileira eu nasci. Meu pai era oficial de artilharia do exercito brasileiro. “Eu sou a poderosa Artilharia. Que na luta se impõe pela metralha...” Entre Marina e a Artilharia dei meus primeiros passos. Um dos grandes filmes do ano foi Os Melhores Anos de Nossa Vidas de William Wyler com atuação de Fredric March. De 1951 a 1953 o Brasil foi governado por Getulio Vargas. Getúlio foi eleito com 48,9% dos votos, mas a UDN tentou impugnar as eleições alegando que não houve maioria. O Supremo Tribunal e o Exercito garantiram a posse. O ano de 1953 foi de sérios problemas, devido ao aumento do custo de vida que atingiu a classe operária e classe média que o apoiva. Depois de várias dificuldades Getúlio se suicidou em 24 de agosto de 1954. Lembro me dos embates de Carlos Lacerda nas rádios e o dia da sua morte. Meu pai deitado em sua cama chorou muito. Teresa da Praia de Billy Blanco e Tom Jobim com interpretação de Dick Farney e Lucio Alves foi um dos grandes sucessos do ano. “Oh, Dick ! Fala, Lúcio, arranjei novo amor no Leblon, que corpo bonito... “O melhor filme de 1954 foi sem dúvida A Um Passo da Eternidade de Fred Zinnemann com atuação de Montgomery Clift, Burt Lancaster e Debora Kerr. Gosto muito deste filme. O primeiro grande marco inicial da Bossa Nova aconteceu em primeiro de março de 1958,quando João Gilberto cantou, com a batida de violão diferente, 'Chega de Saudade', posteriormente gravada por Eliseth Cardoso, no disco 'Canção do amor demais'. Em 1956, ninguém falava em Bossa Nova, mas o apartamento onde morava Nara Leão, no Edifício Palácio Champs Elysée, em frente ao Posto 4, já era ponto de reunião dos rapazes bronzeados de Copacabana: Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli e outros. Em 1956 eu estudava no Grupo Escolar Melo Viana e fazia o terceiro ano do primeiro grau. Nesta época nada sabia de música ou política. Era péssimo em português e meus pais me colocaram em aulas particulares com a mesma professora do Grupo Escolar. O resultado foi que um dia ganhei nota máxima numa redação em sala de aula, onde escrevi sobre a dor de um pássaro preso. Surpresa total,

pois não imaginava isso e era um dos predadores de pássaros, matando-os com minha atiradeira infalível. Com 10 anos de idades, em 1957, meu pai me fez prestar concurso para o Colegio Militar de Belo Horizonte. Era dezembro de deste ano e apos o concurso o Natal se aproximava. Pedi de presente soldadinhos de chumbo, um pequeno trem com trilhos e suas composições e imaginem, uma espada de pirata. Ganhei os presentes e a notícia de que tinha passado no concurso. Foram os meus ultimos brinquedos. Em 1958 usava o uniforme do Colégio Militar e aprendi a marchar, bater continência e outros protocolos da vida militar. Meu pai se ufanava pelo meu início militar. Eu aprendi a cantar o hino do Colégio Militar: “Somos jovens destemidos e vibrantes a marchar os alunos sempre unidos do Colégio Militar...”Desafinado , Eu não existo sem você, Evocação nº2, Eu Sei Que Vou Te Amar eram as músicas mais tocadas. A dupla Vinicius e Tom Jobim e Dolores Duran eram os grandes sucessos. “Eu sei que vou te amar. Por toda minha vida eu sei que vou te amar...”De Tom Jobim e Vinicius de Morais esta música já fazia as meninas corarem e eram versos que todo jovem no inicio da sua adolescência aprendia a cantar. Neste ano cantavase Evocação nº1 , Ouça, Se Todos Fossem Iguais a Você. “Ouça, vá viver, Sua vida com outro bem...” “Vai tua vida, Teu caminho é de paz e amor, A tua vida é uma linda canção de amor...” “Vai minha tristeza, E diz a ele que sem ele não pode ser, Diz-lhe numa prece que ele regresse, Porque eu não posso mais sofrer, Chega de saudade...”De Dolores Duran é a primeira música e a segunda e terceira foram compostas por Vinicius de Morais e Tom Jobim. Nesta época já ouvia as rádios e cantarolava principalmente estas músicas. Cantarolava mais pelo fato que minha mãe cozinhava sempre o mesmo, mas cantava. Parafraseando Adélia Prado. A Ponte do Rio Kwai foi o grande filme de 1958. Filme de David Lean com Alec Guinness. O filme Orfeu do Carnaval foi um grande sucesso. Produção franco-ítalo-brasileira de 1958. Ele conquistou a Palma de Ouro na Festival de Cannes de 1959 e o Oscar como melhor filme estrangeiro. O produtor do filme, Sacha Gordine, exigiu que a partitura original da peça incluísse canções inéditas, aí surgiram "O nosso Amor" de Tom, "Felicidade" de Vinícius e Tom, "Manhã de Carnaval" de Luís Bonfá, "Samba de Orfeu" de Bonfá e Antonio Maria. Manhã de Carnaval nunca esqueci e muitas vezes baixinho a cantarolo. “Manhã tão bonita manhã, na vida uma nova canção...” A partir de 1960 o Brasil entrou numa nova era. Juscelino construiu Brasília e foi apelidado de Presidente Bossa Nova. Juscelino Kubitschek assumiu a presidência do Brasil em 1956, foi eleito por uma aliança entre PSD e PTB, com 36% dos votos, seu slogan prometia 50 anos em cinco, seu Programa de Metas atraiu US$ 2,1 bilhões em investimentos externos, mais de 400 multinacionais se instalaram no país, a inflação chegou a 30,5% em 1960. Em 1961 Juscelino Kubitschek passou seu governo a Janio Quadros da UDN e seu vice do PTB foi João Goulart iniciado na vida política por Getúlio Vargas. “Eis aqui este sambinha feito numa nota só, outras notas vão entrar mas a base é uma só, esta outra é conseqüência do que acabo de dizer, como eu sou a conseqüência inevitável de você...”A Bossa Nova estava a pleno vapor. O clima de euforia com a inauguração de Brasília em 21 de abril de 1960 transmitiu uma sensação que o pais tinha atingido uma base democrática. Janio Quadros tomou posse em 31 de janeiro de 1961. Era um político polêmico

e apoiou a revolução cubana tendo visitado Fidel Castro em 1960. Janio herdou de JK uma dívida de 2 bilhões de dólares e por isso tomou varias medidas de controle financeiro que fez que até seus correligionários lhe angariassem antipatias. Em 25 de agosto de 1961 num gesto teatral deu um golpe renunciando ao governo. Alegou forças terríveis contrarias a seu governo. Jango Goulart foi ministro de Getúlio, Vice de JK e Vice de Jango. Tomou posse em setembro depois de varias crises e uma solução que foi chamada de solução de compromisso se adotou o parlamentarismo. O governo passa a ser exercido pelo Presidente e um Conselho de Ministros que era responsável pela direção política e a administração federal. Jango foi simplesmente um Chefe de Estado, mas continuou com a sua política externa de apoio a Cuba e entrou em rota de colisão com os interesses americanos. O Governo de Jango se consumiu em crises políticas e lutas entre a esquerda e a direita e nada fazia administrativamente. O numero de 149 greves em 1963 desestabilizou o governo. Leonel Brizola criou a Frente de Mobilização Popular em apoio ao Governo, o sindicalismo cresceu e foi criado a CGT - Comando Geral dos Trabalhadores e no campo nasceram as Ligas Camponesas. A toda essa mobilização política de esquerda correspondia uma movimentação de direita somando os empresários, militares e igreja católica que se organizavam para combater o avanço dos movimentos sociais. O governo de Jango foi marcado do inicio ao fim pelo estigma do Golpe de Estado. Se em agosto de 1961, não foi consolidado, menos de 03 anos depois os militares apoiados pelas camadas dominantes e da classe média uma nova ordem político-instituicional ao país depondo Jango. Neste período minha vida se dividia entre o Colégio Militar e a meninada da Rua Hervália. Havia horas dançantes nas casas e as músicas variavam entre a Bossa Nova, “Twist”, o Rock e a orquestra de Ray Conniff. Lembro-me bem de que as mocinhas usavam vestido tubinho e o cabelo preso com o laquê. Nas festas se oferecia cachorro quente e um palito que vinha espetado um pedaço de salsicha, queijo e uva. Este palito tinha o nome de “capeta” e não me lembro a razão. Dançava se separado, mas quando se iniciava Ray Connif tentávamos nos encostar-se às meninas. Não me lembro na época de nenhuma discussão políticas entre os jovens que conhecia. Minha vida no Colégio sempre foi de mal a pior. Varias vezes fui chamado por psicólogos, aconselhado a sair e quase fui expulso. Estão voltando as flores, O Barquinho, Poema do Adeus, Garota de Ipanema, Minha Namorada, Samba em prelúdio, Volta por cima, Chove Chuva e Mas que nada foram os grandes sucessos desta época. De Carlos Lyra e Vinicius de Moraes cantávamos apaixonadamente: “Se você quer ser minha namorada, Ah que linda namorada você poderia ser , Se quiser ser somente minha exatamente esta coisinha...”. Inesquecível e sucesso mundial foi Garota de Ipanema, musica de Vinicius e Tom Jobim. Porem a música que canto até hoje é Chove Chuva, musica de Jorge Ben que foi basicamente a sua estréia no mundo musical: “Chove chuva, chove sem parar... Chove chuva, chove sem parar... Pois eu vou fazer uma prece Pra Deus nosso senhor Pra chuva parar de molhar O meu divino amor Que é muito lindo...”. Lawrence da Arábia, Amor sublime amor e O apartamento foram os grandes filmes da época. Amor Sublime Amor retrata, de maneira musical, uma acirrada briga entre gangues de Nova York. Os americanos, conhecidos como Jets, são os donos do lugar por muito tempo, e sentem a necessidade de proteger o 'seu' território quando uma gangue de porto-riquenhos, os Sharks, tentam tomá-la. Em meio a essa guerra, Tony, um ex Jet, e Maria, irmã do líder Shark, se apaixonam, em uma leitura diferente da obra de "Romeu e Julieta", de Shakespeare. O filme tem uma trilha musical

muito bonita e tem em minha opinião a musica “Maria” o seu ponto alto. Este filme é conhecido por “West Side History” e é minha paixão até hoje. “The most beautiful sound I ever heard: Maria, Maria, Maria, Maria. All the beautiful sounds of the world in a single word: Maria, Maria, Maria, Maria, Maria, Maria…” Por parte de mãe minha tataravó, trisavó, bisavó e avó tinham o nome de Maria. Acho que não tem nada a ver? Tem? Em 31 de março de 1964 tem inicio meu envolvimento com a política. No Colégio Militar já não tinha muitas oportunidades. Se continuasse seria expulso. Meus pais então ficaram sabendo da abertura de vagas na Escola Preparatória de Cadetes de Campinas. Muitos dos meus colegas estavam indo e minha família iniciou um processo de convencimento. “Vai meu filho, será tão bom para você. “ Fui. Na despedida dos alunos que iriam para Campinas o comandante do Colégio Militar compareceu. Apertou a mão de cada um e desejou felicidades. Quando chegou a mim, apertou minha mão, me olhou nos olhos e disse em voz alta para todos ouvirem: “Você não deveria ir, não tem capacitação para a vida militar”. Lagrimas rolaram nos olhos do meu pai e os colegas me olhavam com um misto de medo e admiração, pois retribui o aperto de mão do comandante e disse também em voz alta: “Um dia quem sabe nos encontraremos de outra forma”. Houve um grande silêncio e o comandante se retirou precipitadamente, talvez para não estragar a festa. Este comandante no posto de General foi presidente do Conselho Nacional de Petróleo e realmente o encontrei mais tarde já como engenheiro. Não me reconheceu, mas eu tentei ele se lembrar. Acabou sendo preso por corrupção. Fomos para Campinas de ônibus e chegamos à tarde de 31 de março de 1964. A noite presenciamos a chegada de muitos civis aprisionados. Lembro-me muito bem das vésperas do golpe de 64. Os meios de comunicação daquela época encontravam-se divididos em facções ideologicamente mais coesas do que os pequenos partidos de esquerda de hoje. E o engodo da chamada “versão imparcial dos fatos” era descaradamente vendido a um público leitor ingênuo e crente na honestidade de uma imprensa “que só tinha compromisso com a verdade”. De um lado, tínhamos jornais como o Binômio, o Correio da Manhã e outros que apoiavam João Goulart e a necessidade das chamadas Reformas de Base, entre elas, a reforma agrária. Do outro lado, outros jornais de grande peso e os Diários Associados, tendo à frente Assis Chateaubriand e, por trás, os governadores, deputados, generais, brigadeiros, almirantes, um bando forte e poderoso de conspiradores, jogavam pesado para desacreditar o presidente da república e convencer o povo de que o país estava à beira do caos, a ponto de se “converter” ao comunismo ateu e totalitário. Participei da “Marcha da Família Com Deus Pela liberdade” por curiosidade. Participei da tal “marcha” contrariado, já que, como alguns amigos, eu era a favor do governo, pois detestava o Colégio Militar, os militares e na época era inimigo do meu pai. Simpatizava muito mais com aqueles que queriam melhorar a situação dos pobres do que com aqueles que queriam ignorar a miséria e preservar seus privilégios. Era assíduo telespectador dos debates na TV entre o Calmon e o Brizola, admirava Brizola pelo seu atrevimento em desafiar os ricos e sentia profundo desprezo por aqueles senhores e senhoras com os quais desfilei com Deus para derrubar João Goulart. Antes do dia 31 março de 1964, lembro-me perfeitamente das batalhas de som de rádio que travavam entre os vizinhos que moravam na Rua Hervália. Duas grandes emissoras de rádio batalhavam pela audiência e pelo poder. Uma emissora apelava para a mobilização do povo e do exército para nos salvar do comunismo e preservar a democracia no país.

Outra emissora colocava-se do lado do governo e defendia a “legalidade” e a democracia expressa através da vontade soberana do povo. O governo de Jango não tinha mais rumo. Para a Embaixada Americana não havia duvida que o pais caminhava para um golpe comunista. O clima da radicalização crescia com Brizola e Roberto Marinho com outros criou a Rede da Democracia denunciando o perigo comunista. Os políticos de centro como Tancredo Guimarães aderiram a Rede de Democracia. A efetiva guinada do Governo para a esquerda se deu em 13 de março no Comício da Reformas na Central do Brasil ao lado do Ministério da Guerra. Este dia é histórico e para grande decepção da esquerda que se dividiam em discussões a direita passou a ofensiva. O conservadorismo respondeu com a “Marcha da Familia. Com Deus pela Liberdade” em 19 de março. Em São Paulo se reuniu 200.000 pessoas. Em 26 de março ocorreu a chamada Revolta dos Marinheiros pela proibição pelo Ministro da Marinha da comemoração do segundo aniversario da Associação dos Marinheiros. Em 31 de março o General Mourão Filho deslocou tropas para o Rio de Janeiro e o Presidente do Congresso Auro de Moura Andrade lançou um manifesto rompendo com o governo. Brizola e III Exército reagiram, mas reavaliou não querendo que o país entrasse numa guerra civil e se acomodou. Jango saiu do Rio para Brasília e depois para Porto Alegre e em seguida abandonou o pais. A Flor e o Espinho, Festa de Arromba e Matriz ou Filial foram os sucessos musicais do ano. Retrato Festa de Arromba a musica marco para este ano. "Vejam só que festa de arromba, No outro dia fui parar, Presentes no local, O radio e a televisão, Cinema, mil ornais, Muita gente, confusão...”Festa de Arromba de Roberto e Erasmo Carlo já tinha seu auge na chamada Jovem Guarda. De um lado o inicio dos Governos Militares e de outro a inocência das musicas da Jovem Guarda. As Aventuras de Tom Jones foi o filme do ano. Filme Tonny Richardson e Albert Finney como o ator principal. Não achei muita graça e já me posicionava contra o “way of life” americano. Minha vida em Campinas durou pouco menos de um ano. Cheguei em 31 de março de 1964 e sai em fevereiro de 1965. Realmente não tinha aptidão para a vida militar. Era bom aluno e atleta, qualidades enaltecidas pela escola, mas não tinha o espírito da disciplina. Não entendia a frase: “Mais que comandar o sublime é obedecer”. Estava sempre preso por indisciplinas e quando cheguei à pontuação mínima permitida fui afastado do exercito a “bem da disciplina”. Ganhei o certificado militar de segunda categoria, significando que se houver uma guerra não serei convocado. Cheguei a uma madrugada de fevereiro na minha casa. Toquei a canpanhia e meu pai atendeu. Perguntou-me que eu fazia ali e lhe respondi que tinha sido desligado da Escola. Abriu a porta e ficou sete anos sem me dirigir a palavra. Nesta época meu pai costumava fazer textos para a Revista do Clube Militar. Um dos seus textos teve destaque porque contou parte da sua vida de militar quando permaneceu em Fernando de Noronha e depois por doença saiu de Recife ao Rio por trem e barco fluvial. Navegou no São Francisco de Juazeiro a Pirapora e de trem até o Rio passando por Belo Horizonte. No final do texto confessa a saudade da vida militar, mas se sentia recompensado pelo fato de que seu filho mais velho seguiria seus passos. Em 1965 os Festivais da Record tinham uma repercussão enorme. Neste ano apareceu Chico Buarque com a Banda, Geraldo Vandré com Disparada, Arrastão de Edu Lobo, Namoradinha de um Amigo Meu de Roberto e Erasmo Carlos, Eu preciso aprender a ser só de Marcos e Sergio vale e Trem das Onze de Adoniram Barbosa. Destas vale a pena recordar: “Estava a toa na

vida, o meu amor me chamou, para ver a banda passar tocando coisas de amor...” e “Ai, se eu te pudesse fazer entender, sem teu amor não posso viver, e sem nós dois o que resta sou eu, eu assim, tão só...”. My Fair Lady é um filme americano do gênero comédia musical, dirigido por George Cukor e baseado na peça teatral Pigmalião, de George Bernard Shaw e foi o filme do ano na minha opinião. Sem graça. De 1965 a 1967 me iniciei nas lidas estudantis do Colégio Estadual contra o regime militar. Participava de conversa com os jovens lideres e intelectuais daquele universo. Não atuava ainda diretamente mas estava sempre nos movimentos. Tive amigos daquela época que participaram de assaltos a banco, no sequestro do embaixador americano e alguns foram mortos pela repressão. Por falta de oportunidade não participava diretamente, mas ja distribuia panfletos mas não fazia discursos. Por outro lado foi quando me iniciei na carreira de jogador de basquete e nestes anos pertenci a selecionados mineiros e participei de campeonatos brasileiros. Namorava bastante e viajava muito e muitas vezes deixei de participar com mais força pois sempre me voltava para o basquete. No início do ano de 66, meu pai me colocou contra a parede: “ Escuta aqui: contra a força não há resistência! Você ta colocando sua vida em risco à toa e ta estragando o seu futuro. Só chega de madrugada e chega bêbado. Sei da turma de comunista que você anda. Por isso, você escolhe: ou você mora aqui, estudando e cuidando do seu futuro, ou sai da minha casa!”. Na mesma hora, sem vacilar, escolhi a segunda opção. Peguei minhas coisas, e fui para casa da minha tia. Contei a ela o acontecido e ela movimentou as mulheres da família. Acabou que meu pai permitiu que morasse no quarto dos fundos, mas sem direito a alimentação. Não fui o primeiro nem o único, mas, certamente, fui um dos que rompeu com o pai e tentou viver sua vida. Não que meu pai tivesse me cobrado ou me ridicularizado, mas o que ele fez me abriu os olhos. Almoçava e jantava no Minas Tênis Clube onde jogava basquete e escondido minha mãe me dava comida, lavava minha roupa e um trocado. Ganhava também algum jogando basquete. De 1965 a 1967 é a era do pscodelimo. Apresenta um tom mais ácido, revela as experiências com drogas, a perda da inocência, a revolução sexual e os protestos juvenis contra a ameaça de endurecimento dos governos. É ilustrativo que os Beatles, banda que existiu durante toda a década de 60, tenha trocado as doces melodias de seus primeiros discos pela excentricidade psicodélica, incluindo orquestras, letras surreais e guitarras distorcidas. "I want to hold your hand" é o espírito da primeira metade dos anos 60. "A day in the life", o espírito da segunda metade. Nesta época teve início uma grande revolução comportamental como o surgimento do feminismo e os movimentos civis em favor dos negros e homossexuais. O Papa João XXIII abre o Concílio Vaticano II e revoluciona a Igreja Católica. Surgem movimentos de comportamento como os hippies, com seus protestos contrários à Guerra Fria e à Guerra do Vietnã e o racionalismo. Esse movimento foi também a chamado de contracultura. Ocorre também a Revolução Cubana na América Latina, levando Fidel Castro ao poder. Tem início também a descolonização da África e do Caribe, com a gradual. No Brasil com Castelo Branco Presidente se faz o AI-2 (válido até 1979), que retoma as decisões do Ato Institucional I - AI-1 (tinha prazo de validade); O AI-2 institui o bipartidarismo, os militares alegaram que se precisava só de 2 partidos grandes como nos EUA, um partido de direita e outro de esquerda; Bipartidarismo: Arena (situação): apóia o governo, formado pela antiga UDN; MDB (oposição comportada): composta pelo PSD, PTB, PCB (extinto a sigla,

mas tinha os políticos), era uma oposição comportada que não colocava obstáculos ao governo. Arena: Delfim Neto, Marco Maciel, Ary Valadão, Caiados, ACM, Maluf, Otávio Lage, o PFL surge daí; MDB: FHC, Itamar Franco, Mario Covas, Íris, Mauro Borges, Brizola, o PMDB e o PSDB surgem daí; Em 1966 ocorreram eleições para Governadores, nos estados mais politizados e ricos foram eleitos candidatos do MDB (Rio Grande do Sul, São Paulo). Em Goiás foi eleito candidato da Arena; Em 1966 institui-se o AI-3 que estabelece as Eleições indiretas para Governadores e Vice-Governadores (serão eleitos pela Assembléia Legislativa); Na verdade, os lugares onde a Arena ganhou os candidatos continuam no poder, mas os eleitos pelo MDB são cassados e não podem assumir os cargos. O AI-3 foi feito na verdade para garantir isso; Os prefeitos das capitais e das cidades de Segurança Nacional serão escolhidos pelo governador; Íris foi eleito em 1964 e cassado em 1966, pois era modernista, da esquerda, contra o governador Otávio Lage e Íris era do MDB, seus direitos foram cassados por 10 anos; Em 1967 institui-se o AI-4, que é a convocação da Assembléia Nacional Constituinte, que era dominada pelos políticos da Arena, pelos militares. A Constituição de 1967 foi voltada para os militares. Tem a votação da Constituição de 1967, os militares fazem a Constituição e mandam aprová-la, mas o Congresso faz duas ressalvas: Proibição de fechar o Congresso; Criou-se a Imunidade Parlamentar. Neste período houve um crescimento enorme na musicalidade. Brigas, Hoje, Laranja Madura, Alegria Alegria, Apelo, A Praça, Carolina, Fotografia, Noite dos Mascarados, Prova de Fogo, Samba do Avião, Sem Fantasia, Travessia, Upa Neguinho, Viola Enluarada, Andança, Caminhando, Modinha, Samba do crioulo doido, Você passa eu acho graça, Cantiga por Luciana, Gente Humilde, País Tropical foram os grandes sucessos.

O INÍCIO DA REVOLUÇÃO SEXUAL NO BRASIL: CARLOS ZÉFIRODomingo de tarde, pegava meu carrinho de guia, que eu mesmo construi, enchia de revistas do Mandraque, Batmam, Tarzan, Búfalo Bill, David Crocket... e lá no fundo os preciosos catecismos. Eu ia todos os domingos na Praça São Francisco, onde havia um Cineminha, e onde os meninos se encontravam para barganhar coisas e revistas. Os catecismos como chamávamos valia muito. Afora isso os catecismos eram vendidos clandestinamente nas bancas de jornal, geralmente escondidos em livros ou revistas. Os catecismos era as revistinhas de Carlos Zéfiro.Se ainda hoje há pessoas que não se sentem bem comprando uma revista erótica, imagine como era naquela época, quando não existia pílula, não havia motéis e a noiva para casar ainda tinha que ser virgem. Quando um carinha ia à zona primeira vez a família e os amigos festejavam, rindo disfarçadamente, se a donzela fizesse indecência era expulsa de casa.

Os quadrinhos de Carlos Zéfiro mostravam como era o sexo, a maravilha que os mais velhos nos proibiam. Seus desenhos extraordinários mostravam mulheres nuas, mostrando suas partes, claro, já pensou eu dizendo: “mostrava a b...”. Não ia ter graça. E claros mostravam também aquelas coisas grandes e duras. Eu era um menino de uns 10 anos quando conheci o Zéfiro. Elas já vinham com o cheiro do pecado. Sempre tiveram, pois o sexo era assim considerado. Eram manuais insuperáveis de puro prazer. Ali, os meninos se deslumbravam com o que menos conheciam e com o que mais sonhavam... Era uma loucura ler aquelas revistas, aquelas mulheres com suas partes expostas, um deslumbramento.

Um dia lendo aquelas revistinhas pensava: “quando isto vai acontecer comigo? E se eu me transformar no homem da revistinha e for capaz de conquistar tantas mulheres.. Ah se o condão dos deuses me tocasse e me transformasse num daqueles homens.” Tantos sonhos cabiam na minha cabeça, dentro do banheiro da minha casa.Cada um de nós entrava na pele do personagem do Zéfiro e é um mistério como ele conseguia essa magia de dar vida aos seus desenhos e encarnando-o na gente. Não eram histórias excepcionalmente bem desenhadas. Eram tudo meio apressadinhas e ingênuas as histórias, mas o diabo (no bom sentido) é que o Zéfiro foi tocar no âmago dos meninos e dos barbudos. O gostoso daquele sexo tinha outra face, era fantasia da controvérsia em torno da existência de Zéfiro. Ele existia ou não existia? Era uma pessoa ou várias. E assim as histórias se desdobravam. Os sabidinhos contavam ter 200 ou mais revistinhas, o que nos deixava loucos de ciúmes e inveja. Tinha menino que sabia de cor o nome da cada história, e com o peito estufado, para ser mais homem discorria sobre os títulos: “Acerto, Alba, Alice, Aline, Amigos...Amigos..., Amor, Amor à Três, Andréa, Ângela, A Professora, Anjo Mau, Asa Sul, Assaltante, O Atleta, Aventuras de João Cavalo, Bacana, Bailarina, Benta, Biruta, Boas Entradas, Bom Começo, Carlos e Leda, Carnaval, Carnaval 1, Carnaval 2, Carona 1, Carona 2, Castigo, Célia, Celita, Cientista, Cínia, Clara, Condessa, O Conselheiro, Conselhos Quadrados, Copacabana 1967, Criada, A Cura, A Decisão, Degraus da Vida, Desastre 1, Desastre 2, Desforra, A Despedida, Destino 1, Destino 2, Desvario, Diana, Sacerdotisa, Difícil, Dilza, Divórcio 1, Divórcio 2, Domada pelo Sexo 1, Domada pelo Sexo 2, Edy, Encontro, O Entrevistador, Escolhida, Estupro, Eu e Leda 1, Eu e Leda 2, Eu e o Coroa, Eu Fui Hipie 1, Eu Fui Hipie 2, Eu Fui Hipie 3, Eu Fui Hipie 4, Família, Farsa, Faxina, Férias de Amor 1, Férias de Amor 2, O Filho do Diabo, Fim de Trauma, Flora, Formatura, Frutos Proibidos, Fugitivo, Garçonete, Garotas Virgens, Gata, Gilka, Golpe do Baú 1, Golpe do Baú 2, Golpe do Baú 3, Helen, Helena, Hélia, Hotel dos Prazeres, Índia, Irene, Íris, Irmã da Índia, Ivete, Jacira 1, Jacira 2, Janaina, João Cavalo, João Cavalo na Fazenda, Kátia, Lagarto, Laura, Lealdade, Leda, Lia, Lili, Lua de Mel 1, Lua de Mel 2, Mara e o Pintor, Margô, Maria, Proibida, Maria Lúcia, Capixaba, Marina, Mauro 1, Mauro 2, Medo, Mestra, Meu Primo 1, Meu Primo 2, Minha Vida no Convento, Modelo, Nayá, Néa, Aeromoça, Negra, Negrinha, Nélia, Nilda, Nilza, Nora, No Retiro, Noviço, Odaléa, Parafuso e a Mulher Biônica, Parceira, Passeio, Pato, Pecadora, Pensão, Pinicada, Pinta, Prefeita, Promoção, Proteção, Pudor, Pupila 1, Pupila 2, Putas Também Gozam, Quem é o Pai?, Resgate, Reveillon, Robinson Crusoé Século

XX, Robinson Moderno, Rosa Cigana, Safari, Seca, Semi-Virgem, Senhoria, Sítio, Strip-Tease, Suzete, Tânia, Tarada, Tarzan, Tentação, Titia , Titio, Trem de Luxo 1, Trem de Luxo 2, Troco, Tuca, Último Estalo, Vedete, Vera, Viagem, Vida Amorosa de Dorian Gray, Vida, Paixão e Morte de um Sofá, Vingança, Viúva 1, Viúva 2, Viúvo Alegre, Vizinha, Xexéu, Zelma 1, Zelma 2 ...”. Eu li todas essas.

Essas revistinhas que apareciam com a assinatura de Carlos Zéfiro eram clandestinas e eram vendidas com muito cuidado. Alguns jornaleiros a escondiam num cantinho oculto da banca e só vendiam para conhecidos. Eu fui apresentado ao “baixinho”, dono de uma banca na Rua Tupinambás esquina com Avenida Paraná. Sempre que sobrava um dinheirinho comprava uma no “baixinho”. Escondia dentro da calça e já voltava correndo para casa para ler aquela história emocionante, no banheiro claro. E as revistinhas também iam parar na mão dos meninos mais safadinhos, os Joãozinhos de sempre, que apareciam nas portas dos colégios. Estes meninos também animavam a leitura nas sessões conjuntas escondidos nos matinhos mais próximos, com as incríveis histórias. Mas sempre um mais afoito gritava: “passa a página que estou quase...”. Sob o manto de Zéfiro, ele atravessou incólume, são e salvo, os terríveis anos da ditadura militar. “Cacem este homem! Cacem Zéfiro, inimigo da moral e dos bons costumes. Este devasso , inventor de histórias que só prejudicam a nossa infância e os nossos rapazes. Essa juventude que vai ser a salvação da pátria brasileira.” Depois de 64, depois do golpe militar a Sociedade Tradicional Paulista & Propriedade fizeram de Zéfiro o inimigo público numero 1. Os pais nesta época quando viam os filhos magros, de olhos fundos e mãos calejadas sempre iam às autoridades. No Colégio Militar tinham um professor que tinha mania de pedir ao aluno: “abra suas mãos...esta muito funda....que você anda lendo?” Eles caçaram Zéfiro por anos e anos, e botem anos nisso e não pegaram o cara. Zéfiro: o guerrilheiro da anarquia e do delírio sexual ...o herói da revolução sexual brasileira. Eu estou falando de um Brasil dos anos 50 e 60 onde havia um moralismo tremendo. Era muito difícil fazer “indecências com as meninas e a gente só tinha sexo com as prostitutas e sempre de um jeito só e uma mesma posição. É, então vem o Zéfiro e ensina para os meninos, e para todos... rapazes e barbudos também... até gente: senhoras. Que sexo podia ter uma variedade de situações e de posições. As

mulheres de Zéfiro deliravam quando os homens deixavam as mesmices e se jogavam na aventura de que tudo é possível. Zéfiro foi, então um maravilhoso pedagogo da liberdade do sexo. Um aventureiro a apontar novos caminhos para a sedução. A sensação era que eles nos dizia: “Ousem ! Ousem!” Ele nos dizia sempre, também que o tédio é o avesso de uma boa vida sexual. Que é preciso colocar nossos corpos diante deste espelhos transformadores, mágicos, e que era preciso que nós entrássemos dentro de caleidoscópios. E que também deixássemos que todas as cores tocassem nosso amores e que a mulher devia ser tratada como uma deusa da carne e que deveríamos ter carinho e sabedoria para conquista-las. E que a conquista era alguma coisa que se alcançava no mundo secreto e fantástico do escondido, onde tudo é possível e onde tudo é renovável.

Zéfiro retratou mulheres e homens de certa época. As mulheres são carnudas, de corpos esguios, próximo de esculturas,. Os seios amplos e aconchegantes... e quentinhos. As ancas carnudas e bundas generosas. Doces mulheres de Zéfiro. Os homens são portadores de “mastros”, musculosos e sempre aptos a fazer a delicia de uma mulher a quem o marido era relapso, de uma viúva, ou a revelar a donzela alguns segredinhos. Este cara que escapou de todas as repressões, foi o guerrilheiro invencível do sexo. Foi estudado por muitos, não ficou rico e acabou indo embora em 1992. Acredito que esteja espalhando prazeres em outras dimensões.

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