Metros Sexual

  • November 2019
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METROSSEXUAL A FRONTEIRA ENTRE O FENÓMENO DE PROPAGANDA E O NASCER DUM NOVO HOMEM O QUE É UM METROSSEXUAL? Jornais e revistas de todo o mundo já escreveram muitas páginas com definições do termo mas, mesmo assim, e porque não é dado como adquirido que “todos” o conhecem, começamos este artigo com uma explicação sobre do que realmente se trata e da sua origem. ‘Metrossexual’ é um neologismo inventado, há uma década, pelo jornalista inglês Mark Simpson para definir nos seus artigos uma tipologia de homem: jovem urbano (25-45 anos), com um poder aquisitivo acima da média; heterossexual, com gostos requintados, alguns dos quais considerados – pelos clichés sociais – próximos do universo comportamental feminino e ‘gay’, como, por exemplo, a preocupação em estar a par das últimas tendências da moda, a frequência de salões de beleza, o interesse pela cosmética e pela própria aparência – depilar-se, manter impecável o cabelo, arranjar as unhas, etc. O ‘metrossexual’ não receia exteriorizar as suas emoções, mostra-se delicado e atento com a mulher e os filhos dando valor aos aspectos afectivos. Em síntese, o ‘metrossexual coloca-se nas antípodas do ‘macho’, tido como um homem forte e distante, incapaz de exteriorizar as próprias emoções e que evita ocupar-se de tudo o que considera supérfluo. O jogador de futebol David Beckham foi “eleito” como embaixador dos ‘metrossexuais’. Obviamente não bastou o engenho de Mark Simpson para popularizar à escala planetária o termo. ‘Marketeers’, editores de revistas de moda, marcas de cosmética e moda viram no rótulo a oportunidade de anunciar o “nascimento dum novo tipo de homem”. Enfim, trata-se de catalogar um “novo tipo de consumidor”.

ESPECIAL O DERRUBAR DUMA IMAGEM SECULAR

CHICK

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Mark Jacobs, numa entrevista (1) recente, disse que a ‘metrossexualidade’ será tão comum e indispensável para o capitalismo, que dentro de dez anos a palavra nem será mais usada e a tendência será invisível. Para alguns, como o psicólogo americano Alon Gratch, assistimos

a um processo de libertação masculina de costumes tão radical como foi o das mulheres, e que por detrás dos rótulos esconde-se algo mais complexo (2). Gratch sustenta que os novos traços comportamentais nascidos nas grandes metrópoles transferem-se à cultura global através do marketing e da propaganda. As mudanças parecem, em grande parte, determinadas pelo derrubar duma imagem que permaneceu praticamente intacta até à década de 60. Foi determinante a emancipação da mulher na sociedade e, consequentemente, no mundo do trabalho; a mudança do conceito de autoridade perante a mulher e os filhos; a perda da sua posição como chefe da família, elemento único do sustento do grupo; e, por fim, a sua exclusividade na iniciativa sexual. Com o fim do poder absoluto, o homem “arquiva” a sua faceta de “conquistador-dominador” passando a ter que conformar-se com a de “sedutor-seduzido”. Não são poucos, também entre os homens, aqueles que anseiam que as características atribuídas ao homem ‘metrossexual’ se tornem dominantes na sociedade, apagando os traços definidos como característicos da personalidade masculina tais como, o lado violento, predador e excessivamente pragmático.

A REACÇÃO: O TECNO-MACHO O movimento de “resistência” não tardou muito a surgir através de outros “caçadores de tendências” americanos: é o ‘tecno-homem’ ou, como definem alguns meios mais inspirados, é o ‘tecno-macho’. Na verdade, não é reivindicado como movimento de resistência, mas sim como um movimento que vem substituir o fenómeno da ‘metrossexualidade’.

JOVEM URBANO (25-45 ANOS), COM UM PODER AQUISITIVO ACIMA DA MÉDIA; HETEROSSEXUAL, COM GOSTOS REQUINTADOS, ALGUNS DOS QUAIS CONSIDERADOS – PELOS CLICHÉS SOCIAIS PRÓXIMOS DO UNIVERSO COMPORTAMENTAL FEMININO E GAY, COMO, POR EXEMPLO, A PREOCUPAÇÃO EM ESTAR A PAR DAS ÚLTIMAS TENDÊNCIAS DA MODA, A FREQUÊNCIA DE SALÕES DE BELEZA, O INTERESSE PELA COSMÉTICA E PELA PRÓPRIA APARÊNCIA

O ‘tecno-macho’ vai ao ginásio, cuida da forma física mas, obviamente, nada quer ter a ver com cremes e maquilhagem; não abdica dos gadgets tecnológicos, do seu telemóvel de última geração, de horas investidas a dominar a consola de vídeo-jogos e, naturalmente, adora carros potentes. Com o ‘tecno-macho’ elimina-se qualquer traço de feminilidade no comportamento e deixa-se de “flirtar” com tudo o que possa ser identificado como próximo da sensibilidade ‘gay’. O aspecto do ‘tecno-macho’, dizem, é o do homem “duro” com um olhar frio e algo robótico. Também aqui um futebolista, o sueco Fredrick Ljungberg, foi considerado um “embaixador” da espécie. Curiosamente, pudemos ver a sua imagem numa das últimas campanhas da Calvin Klein Underwear. Os críticos afirmam que este estereótipo de homem, mais “tecnologizado” e muito menos sensível, representa um regresso ao passado. Mas, se olharmos em redor, em Portugal concretamente, veremos que, mais do que um novo fenómeno, os ‘tecno-machos’ são a realidade dominante. Revistas como Maxim’s ou Ego, pela linha editorial escolhida, ilustram-nos perfeitamente.

UNDERWEAR PARA TECNO-MACHOS OU PARA METROSSEXUAIS? Ao ‘tecno-macho’ basta ostentar a ‘griffe’, no fundo símbolo de poder e status. O ‘metrossexual’ quer algo mais: design, originalidade e qualidade. Há pelo menos uma década, a Moda Íntima masculina tem vindo a ganhar importância em termos qualitativos. Os homens indiferentes ao que vestem estão em minoria, e é evidente a melhoria dos produtos e o maior cuidado das marcas em todos os segmentos do mercado. Hoje, mesmo na oferta dos hipermercados que continuam a ser um lugar de eleição nas compras de íntimo masculino, vislumbra-se uma preocupação com a qualidade e, inclusive, com o design. Durante a maior parte da década de 90, as ‘griffes’ internacionais de maior sucesso mantiveram uma posição conservadora no que se refere ao estilo (cortes, cores, design), limitando-se a “contagiar” com o seu ‘lifestyle’ as suas linhas de ‘underwear’. As gamas de ‘underwear’ de ‘griffes’ como a Calvin Klein, Armani, Dolce & Gabbana,

IMPETUS

Hugo Boss, etc. continuam a seguir esse caminho que lhes abriu portas para um sucesso inquestionável sem apostar claramente na inovação dos produtos. A “realpolitik” das ‘griffes’, considerou a roupa interior como uma gama de acessórios com possibilidades de introduzir um certo nível de massificação e obter um excelente retorno financeiro. Por outro lado, as marcas tradicionais, após se cansarem de lutar apenas em função do preço, começaram a introduzir novidades nos tecidos e, timidamente, elementos de design (estampados bem-humorados que seguiam o exemplo das gravatas); além de, nalguns casos, procurarem parecerem-se um pouco mais às ‘griffes’ adoptando alguns dos sinais que as distinguem. Já em pleno século XXI, várias marcas europeias especialistas do sector, decidiram dar o salto apostando fundamentalmente na tecnologia e design. Bruno Banani, Hom, Grigioperla, Impetus, Punto Blanco, citando apenas algumas das mais conhecidas no nosso país, representam a nova dinâmica do íntimo masculino e a vanguarda, tanto em design, como na utilização de novos materiais. Se, no início, temiam um enquadramento no cliché ‘gay’, a realidade é que a difusão mediática do fenómeno ‘metrossexual’ abriu uma enorme “auto-estrada”: a dum público muito mais vasto, onde a margem de crescimento é realmente prometedora.

A NOVA ROUPA INTERIOR As marcas estão a revolucionar um sector, até há pouco considerado monolítico, com as suas propostas arrojadas. Os cortes ganharam uma dinâmica inteiramente nova: o ‘retro-shorty’ conquista adeptos, completamente justo ao corpo graças à Lycra® e extremamente confortável quando não tem costuras laterais (seamless). Seguindo as tendências da moda exterior, o

comprimento da perna é mais curto e a cintura sensivelmente mais baixa. Os materiais variam entre o algodão com elastano, até às microfibras de última geração e o modal (fibra procedente da celulose), com um leque de acabamentos inimagináveis. Algumas marcas começam a apostar nos têxteis técnicos, com a introdução de tecidos que possuem propriedades que contribuem para a protecção e bem-estar do corpo: térmicas, dermatológicas, bacteriostáticas, bacteriológicas, até então privilégio da roupa desportiva e das mais evoluídas gamas de roupa interior feminina. A utilização de cores, o arrojo dos estampados, a procura de novos efeitos e texturas nos tecidos, aproximam o ‘underwear’ masculino às tendências da moda exterior. O conceito de ‘t-shirt’ interior deixa praticamente de existir, ficando relegado às gamas básicas das marcas. Qualquer modelo de ‘t-shirt’ duma marca de roupa interior, como Punto Blanco ou Impetus, tem um nível de qualidade e sofisticação superior em relação à maioria das marcas que se dedicam ao vestuário exterior. O Estilismo joga, fundamentalmente, com dois elementos: o desportivo, recriando-se na geometria e contraste de tons e recorrendo à iconografia das diversas modalidades, e o “temático”, onde tanto vale como tema de inspiração o Pacífico Sul como a ‘pop-art’ de Andy Warhol.

ESPECIAL IMPETUS

PUNTO BLANCO

UMA MARCA PORTUGUESA ABRE CAMINHO NA EUROPA Merece uma menção especial a Impetus, por ser uma marca portuguesa que conseguiu galgar um caminho no mercado internacional. O facto de utilizar, como canal prioritário de distribuição, o retalho multimarcas e os grandes armazéns como El Corte Inglés e Galeries Lafayette, talvez não lhe dê a visibilidade nos nossos media – ao nível doutras marcas bem sucedidas e com projecção fora das nossas fronteiras, como a Salsa, ou a Lanidor. Mas, na realidade, a Impetus é com toda a probabilidade a marca portuguesa que mais vendas realiza além fronteiras. Actualmente é uma das 5/6 marcas europeias especializadas em ‘underwear’ masculino de maior projecção nos segmentos moda, apresentando-se também como uma das mais avançadas tecnologicamente, graças aos avultados investimentos e à sua mentalidade empresarial, onde a procura pelo valor acrescentado se converteu num objectivo a alcançar.

CARGO, O GUIA DO METROSSEXUAL AMERICANO Não é definida como revista, mas sim como um catálogo de orientação sobre os novos produtos e tendências que interessam ao homem ‘metrossexual’. Lançado pela Condé Nast, nos Estados Unidos, não deixa de ser interessante e bem elaborado como conceito. Aos olhos de um europeu, o conteúdo não parece tão arrojado como ‘à priori’ sugeria. Parecem-nos mais próximas do conceito que temos de ‘metrossexual’ as edições da Vogue dedicadas ao homem, editadas pela mesma Condé Nast.

(1) Época, Brasil. (2) Veja, Brasil

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BRUNO BANANI

CHICK

HOM

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