Mak0136 - Pierre Bourdieu

  • June 2020
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  • Words: 1,252
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A economia das trocas simbólicas

Pierre Bourdieu

Modos de produção e modos de percepção artísticos  “Obras de arte” (socialmente designadas como tais)  objetos de diferentes percepções  Experiência estética ≅ experiência do sagrado  oscila entre ponto de vista do sujeito e do objeto Intenção estética  Faz a obra de arte  Panofsky: obra de arte é o que exige apreensão guiada por intenção estética  Saussure: ponto de vista estético cria objeto estético  sobrepõe-se à intenção pratica (utilitária / funcional)p  percepção da forma mais do que da função  produto das normas e das convenções sociais (definem fronteira socialmente mutável entre objeto técnico e objeto de arte) Competência artística  intenção e aptidão do espectador em conformar-se com as normas que regem a relação com a obra de arte  dela depende a apreensão e apreciação da obra  percepção é sociológica, e não natural Cultura legítima  as condições históricas e sociais que determinam que certo objeto deva ser admirado são reproduzidas pela educação, o que leva ao “esquecimento” de tais condições, passando a falsa idéia de uma categoria a priori  o controle da cultura dominante é tanto maior quanto menos ela se manifesta enquanto tal, ou seja, o reconhecimento de sua legitimidade reside no desconhecimento de sua verdade objetiva Arbitrário cultural  Família e escola são investidas do poder de impor um arbitrário cultural (um arbitrário das admirações), e estão em condições de impor uma aprendizagem ao fim da qual certas obras surgem como naturalmente dignas de serem admiradas  Mascara o arbitrário da inculcação (das significações inculcadas e de suas condições)

Percepção “pura”  Produto de longo trabalho de depuração, desde o momento em que a obra se despoja de suas funções mágicas ou religiosas  Categoria socialmente distinta de profissionais da produção artística  em condições de libertar seus produtos de toda e qualquer servidão cultural Campo artístico  A constituição de um campo artístico relativamente autônomo é concomitante à explicitação e à sistematização dos princípios de uma legitimidade propriamente estética, capaz de impor-se tanto na esfera da produção como na da recepção da obra de arte  Dinâmica do campo artístico faz o artista fazer valer a afirmação da forma sobra a função, do modo de representação sobre o objeto representado: obra de arte tende a exigir disposição propriamente estética (exigida pela arte anterior somente de modo condicional) Modo de percepção estético      

É produto de uma transformação do modo de produção artístico Privilegia a impressão do instante no que ela tem de fugidio Relação distanciada e mutável com as coisas Atitude puramente estética da receptividade contemplativa Expulsa da pintura todo elemento não-ótico (conteúdo literário e narrativo) Impressionismo: exige do espectador uma disposição propriamente estética passível de tornar-se princípio de todo um estilo de vida

Pós-impressionismo  Leva às últimas conseqüências a afirmação da autonomia da arte  Exige categoricamente do espectador ma disposição propriamente estética  Artista moderno assegura a si próprio um domínio completo de sua arte  Paradoxo: exige uma leitura que implica o domínio do código de comunicação que tende a ser questionado Museu  Corte (espaço fechado e separado) entre o mundo sagrado da arte e o mundo profano da não-arte  Galerias (séc. XVI e XVII): obras organizadas segundo os padrões de gosto de um amador (o colecionador)  Museu: requer olhar propriamente estético capaz de exercitar-se mesmo sobre objetos que não tenham sido produzidos com esse fim

Inversão simbólica  Artistas reivindicam o monopólio da competência artística (alvo: contestação simbólica da ordem burguesa)  A arte “pura” iguala todos os espectadores, compelindo à indignidade cultural a fração não-cultural da classe dominante  Arte moderna: pretensa universalidade, acaba servindo de instrumento de legitimação da dominação burguesa  Porção dominada da classe dominante (artistas/intelectuais): relação de ambivalência com as frações dominantes e com as classes dominadas  Elites incomodadas com a “arte social’, encontram um ponto de convergência nos românticos e parnasianos, que recusam o utilitarismo Critica formalista  Formalismo acadêmico: autonomia absoluta da arte  Critica formalista subordinada às convenções e conveniências sociais do bom-tom e do bom gosto; suspeita com arrogância de qualquer pesquisa que coloque em risco o ideal da contemplação desinteressada  Prende-se às qualidades formais da obra, negligenciando o assunto da obra (não considera as condições sociais de produção da obra de arte) Distinção  Consumo puro e desinteressado da obra de arte: maneira encontrada pelas frações dominantes de transcender simbolicamente os limites da existência burguesa  Contestação simbólica do burguês vira objeto de consumo do burguês  Tentativas radicais de destruição simbólica da arte (obras infinitamente reprodutíveis / autodestrutivas): inversão mágica  Representação carismática da obra dedicada ao culto “rotinizado” do “gênio criador” (versus desvalorização do “escolar”)  confere consagração a alguns eleitos (com base em sua aptidão para entender o mundo da arte)  “Amor pela arte”: barreira invisível (a mesma instituída pelo museu)  consumo da obra de arte exerce função de distinção  Diferenças que eram puramente econômicas passam a ser criadas pela posse dos bens simbólicos: elites realizam antigo sonho de conciliar poder temporal e grandeza espiritual (como a aristocracia)  Privilégio deriva da superioridade moral  Ilusão do “a priori” (inconsciência da história): distinção natural  Qualidade estética da forma de consumo (distancia desligada surge como única legítima)  função social de distinção

Decifração  Obra de arte enquanto bem simbólico só existe para aquele que detêm os códigos de decifração para apropriar-se da mesma  Percepção propriamente estética enfatiza únicos traços estritamente pertinentes dentro das possibilidades estilísticas (um estilo como modo de representação onde se exprime o modo de percepção próprio de uma época, classe ou fração de classe)  competência artística é resultado de conhecimento pratico (convívio com as obras + aprendizagem explícita)  Percepção ingênua fundada no domínio prévio do universo dos significantes e significados  Apreensão das redundâncias estilísticas: apreensão dos traços estilísticos que definem a originalidade de uma época em relação a outra, ou de uma escola em relação a outra (a captação das semelhanças implica a referência às diferenças)  Obras-testemunhas: apresentam em grau elevado as qualidades reconhecidas em um sistema de classificação.  Sistemas de classificação disponíveis constituem o principio das distinções pertinentes, aproximando obras que outras épocas costumavam separar e vice-versa  Imagem privada (individual) depende da imagem pública (social) dessa obra  Toda obra é feita duas vezes, primeiro pelo produtor e depois pelo consumidor  Não contando com os instrumentos de apropriação simbólica, espectadores passam a aplicar-lhes inconscientemente o código válido para a decifração dos objetos do mundo familiar (apreensão ingênua  estão fadados a uma “estética funcionalista”)  Compreensão imediata das representações do mundo supõe um acordo entre o artista e o espectador quanto às regras que definem a figuração do real  Quando se conhece melhor um maior número de estilos, diminui a obrigatoriedade de aplicar os códigos disponíveis; admite-se que a obra possa “falar” códigos ignorados  Obra “realista”: coincide com regras de representação objetiva do mundo (conservadorismo estético aproxima-se do popular em sua recusa em romper com códigos conhecidos para entregar-se a exigências internas da obra)  Nos momentos de ruptura, as obras produzidas segundo novo modelo são percebidas, durante certo tempo, segundo modelos antigos (habitus cultivado)  O fato de ser destituído de chaves não predispõe à compreensão da obras de arte que propõe uma ruptura: estas exigem a aptidão necessária para romper com todos os códigos  domínio pratico do "código dos códigos”.

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