Maio

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  • Words: 19,739
  • Pages: 32
Caminhos para a Missão Fazendo Missiologia contextual

C

oletânea de artigos organizada pelos padres Guy Labonté e Joachim Andrade, publicada pelo Centro Cultural Missionário da CNBB de Brasília. O livro é uma colaboração na reflexão teológica e missioná­ria. Durante o ano, o Centro Cultural Missionário - CCM recebe missionários(as) que se preparam para a Missão, tanto nas Igrejas-irmãs dos diversos continentes, quanto na nossa Igreja do Brasil. Recebe a assessoria de vários professores, pastores, educadores e peritos. A maioria dos artigos no livro foi escrita por esses colaboradores. É um instrumento para as pessoas que atuam nas comunidades, que formam grupos de reflexão e também que têm sede de aprofundar alguns temas relacionados à espiritualidade, teologia e antropologia da Missão. É um convite aos leitores para cumprir melhor o seu compromisso de discípulos missionários. A imagem dos discípulos de Emaús (capa) inspira a discernir o que o Senhor fala pelas pessoas e na realidade, em busca de novos caminhos no horizonte da missão.

Pedidos

Centro Cultural Missionário – CCM SGAN 905 – Conjunto B – 70790-050 – Brasília, DF

Tel.: (61) 3274.3009 E-mail: [email protected]

Preço: R$ 40,00

www.ccm.org.br

EDITORIAL

Convocar e enviar

José Altevir da Silva

O

fio condutor da missão da Igreja que une as reflexões missiológicas do Concílio Vaticano II, das Conferências de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida encontra sua origem na missão de Deus, concretizada na Criação, na Encarnação e na Redenção (cf. AG 2ss). Pelo envio de Jesus Cristo ao mundo, a missão de Deus ganha ao mesmo tempo, visibilidade e vulnerabilidade. Jesus nos revela o rosto misericordioso e justo de Deus. É a lógica do Deus-Amor, da gratuidade e do serviço demonstrado no lava-pés e na cruz. O Vaticano II destacou uma novidade teológico-pastoral para a ação missionária da Igreja. A missão não é mais algo exterior, uma entre tantas atividades, mas parte integrante da identidade e natureza eclesial (cf. AG 2) que se definiu como povo de Deus, sacramento universal da salvação. O povo de Deus em seu conjunto, por sua natureza e vocação é missionário, chamado “para manifestar e comunicar a caridade de Deus a todas as pessoas e povos” (AG 10). A aplicação do Vaticano II na América Latina e no Caribe fez com que a Igreja no continente passasse do “ter missões” – com a finalidade de ganhar almas – ao “ser missionária” para estar universalmente próxima do outro - opção pelos pobres - “responsabilidade para com o mundo” (AG 36b). A Igreja aprendeu os dois movimentos básicos de sua missionariedade com Jesus de Nazaré: convocar e enviar. Ao colocar no centro do seu discurso a necessidade de ser discípula missionária, a Conferência de Aparecida resgatou a identidade e a natureza da Igreja. Para que isso se concretize, o documento aponta caminhos que passam pela “conversão pastoral e renovação missionária das comunidades” cristãs. “Esta firme decisão missionária deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais das dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da Igreja. Nenhuma comunidade deve se isentar de entrar decididamente, com todas as suas forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” (DA 365). Iniciativas nessa direção, como a Missão Continental, o Ano Catequético Nacional, o Ano Paulino e o despertar para a missão além-fronteiras, quando bem articuladas entre si, são grandes oportunidades para implementar o ousado projeto de Aparecida. Para alcançar a necessária conversão pastoral e renovação missionária pela iniciação cristã, a Igreja deveria retomar os dois movimentos fundamentais na vida e na missão de Jesus: a convocação e o envio – proximidade na universalidade. Convocar significa chamar do individualismo, da dispersão desarticulada, de uma massa alienada e indefinida, de uma instituição pesada, de uma estrutura ultrapassada, para constituir comunidades alicerçadas na relação fraterna de irmãs e irmãos, e enviar essas comunidades ao mundo. Congregar em função do envio e enviar em função de formar nas comunidades, agentes do Reino. Aqui está o sentido da vida comunitária dos cristãos das Comunidades Eclesiais de Base e de todas as comunidades cristãs. Educar para viver a fé na proximidade e na universalidade resgata a identidade missionária da Igreja discípula de Jesus morto e ressuscitado, sacramento universal da salvação entregue ao serviço e à inclusão na unidade e diversidade. 

SUMÁRIO MAIO 2009/04

1 - O globo e as sandálias, significando convocação e envio da comunidade cristã. 2 - Irmão Israel José Nery. Fotos: Jaime C. Patias

 Mural-----------------------------------------------------04 Cartas

 OPINIÃO--------------------------------------------------05 Oração pela Unidade Renatus Porath

 África----------------------------------------------------06 Libertação: tarefa inacabada? Michael Mutinda

 PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07 As diferenças enriquecem Rosa Clara Franzoi

 VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08 Notícias do Mundo Fides / MISNA / ZENIT

 ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10 Leitura Orante da Palavra de Deus Patrick Gomes Silva

 TESTEMUNHO-------------------------------------------12 O anjo da estrada Anna Pozzi

 FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14 Vamos trabalhar! Humberto Dantas

 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA ---------------------------15 Iniciação à vida cristã Antônio Possamai

 Juventude missionária ----------------------------19 Que crise é essa? Vanessa Ramos e Jonathan Constantino

 DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20 A conversão da Igreja Lírio Girardi

 especial -------------------------------------------------22 100 Anos em Missão Rosa Clara Franzoi

 IGREJA ----------------------------------------------------23 Dia Mundial das Comunicações Karla Maria

 infância missionária ------------------------------24 Queremos vida em abundância Roseane de Araújo Silva

 ENTREVISTA IRMÃO NERY------------------------------26 Catequese, caminho para o discipulado Jaime Carlos Patias

 ATUALIDADE----------------------------------------------28 CEBs ampliam horizontes da missão Dirceu Benincá

 volta ao brasil---------------------------------------30 CNBB / IAM Comire Sul 1 / Notícias do Planalto

- Maio 2009

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Mural do Leitor Ano XXXVI - Nº 04 Maio 2009

Diretor: Jaime Carlos Patias Editor: Maria Emerenciana Raia Equipe de Redação: Patrick Gomes Silva, Rosa Clara Franzoi, Júlio César Caldeira, Cristina Ribeiro Silva e Michael Mutinda Colaboradores: José Tolfo, Vitor Hugo Gerhard, Roseane de Araújo Silva, Humberto Dantas, Karla Maria, Dirceu Benincá, Gianfranco Graziola, Ricardo Castro e Cecília Soares de Paiva Agências: Adital, Adista, CIMI, CNBB, Fides, IPS, MISNA, Radioagência Notícias do Planalto e Vaticano Diagramação e Arte: Cleber P. Pires Jornalista responsável: Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) Administração: Luiz Andriolo Sociedade responsável: Instituto Missões Consolata (CNPJ 60.915.477/0001-29) Impressão: Edições Loyola Fone: (11) 2914.1922 Colaboração anual: R$ 50,00 BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 Instituto Missões Consolata (a publicação anual de Missões é de 10 números)

Missões é produzida pelos Missionários e Missionárias da Consolata Fone: (11) 2256.7599 - São Paulo/SP (11) 2231.0500 - São Paulo/SP (95) 3224.4109 - Boa Vista/RR Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Missionária Latino-Americana) e da UCBC (União Cristã Brasileira de Comunicação Social)

Redação

Rua Dom Domingos de Silos, 110 02526-030 - São Paulo Fone/Fax: (11) 2256.8820 Site: www.revistamissoes.org.br E-mail: [email protected]

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Morte e Vida

Sete meses se passaram desde que atravessei o Atlântico para me lançar na missão Ad Gentes e ancorar na cultura africana, até então por mim desconhecida. Escrevo como aluno do curso de língua e cultura Macua, no norte de Moçambique, oferecido pela arquidiocese de Nampula aos missionários estrangeiros. Aqui é tempo de fortes chuvas e fome. No último final de semana uma comunidade teve que cancelar batismos de crianças por faltas de condições, noutra fiz 26 batizados sem clima de festa, pois não havia alimentos. No término da missa, todos voltaram às suas casas. O normal era ficarem na comunidade para o almoço. Neste tempo o povo alimenta-se somente de folhas de mandioca, esperando a colheita do milho, que produz uma vez ao ano. Como carril (carne ou molho) encontra-se rãs, gafanhotos ou outros insetos. Uma mãe desesperada suicidou-se por ver que acabara o alimento para seus filhos. Como falar de morte, cruz, sofrimento, perdas, dor, sem perder a esperança na vida? Na Páscoa de Jesus encontramos a resposta definitiva para este binômio morte e vida. Ele nos garantiu que a morte não tem a última palavra. Aqui predomina a motivação de continuar caminhando e lutando para que haja vida para todos. Alguns me dizem que depois da dor da paixão vem a alegria da ressurreição. Esta dinâmica pascal realmente está misturada paradoxalmente na vida do povo Macua. A luz do círio acesa em cada vigília pascal rompe definitivamente as forças da morte e da tristeza. Todos agem e vivem como vitoriosos, mesmo mergulhados na dor de crucificados pelo contexto social de pobreza absoluta. Também tenho refletido sobre esta experiência pascal de Jesus acontecendo em minha caminhada de padre missionário Fidei Donum. Quando retomo meu projeto pessoal de vida tenho descoberto que sou convidado pelo mestre a renunciar aos meus planos pessoais em vista de um projeto maior. Este processo de morte e perdas se transforma em vida nova na perspectiva do seguimento de Jesus. O caminho do discípulo é na verdade o caminho da semelhança com o mestre e Ele nos ensinou que não veio fazer a sua vontade, mas a vontade Daquele que o enviou. Esta é a medida do amor. Uma boa notícia deste tempo pascal é que não estou mais sozinho em Moma.

Voltou para arquidiocese de Nampula o padre Luiz Cardalga, padre diocesano da Espanha que atuou mais de 30 anos no Brasil. Tem 73 anos e já foi missionário em Moçambique. Também estamos felizes com a chegada do missionário leigo Antônio Daniel da cidade de Esteio, arquidiocese de Porto Alegre. Irá morar conosco em Moma e atuará na pastoral das duas paróquias que atendemos. Continuamos na certeza que o Espírito irá suscitar mais vocações missionárias para atuar no projeto do Regional Sul 3 em Moçambique.

Padre Maurício da Silva Jardim, da arquidiocese de Porto Alegre, RS, missionário do Projeto Igrejas Solidárias RS-MoçambiqueAmazônia, do Regional Sul 3 da CNBB.

Terremoto na Itália

O drama da paixão do Senhor foi vivido de forma muito mais sofrida, na Sexta-Feira Santa, 10 de abril, na região de Abruzzo, Itália. Uma missa autorizada pelo papa neste dia em que não se celebra a Eucaristia em nenhuma igreja, marcou o funeral de 205 das 290 vítimas do terremoto de Áquila, Itália. Ao chegar à cidade se notava o desconcertamento provocado pelos abalos sísmicos. Pessoas pelas ruas, grande tráfego de veículos, em muitas casas as marcas da destruição. A missa presidida pelo cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano contou, segundo fontes oficiais, com cerca de 8.000 pessoas. Estiveram presentes o arcebispo de Áquila Giuseppe Molinari, os bispos de Abruzzo e Molise, o presidente da República, Giorgio Napolitano e o primeiro ministro Silvio Berlusconi. As palavras do arcebispo expressaram o sentimento da maioria dos presentes: “queremos um abraço divino do teu corpo ressuscitado para que desta profunda história de morte nasça uma nova e luminosa história de vida e esperança”. A celebração foi realizada na praça de armas da Academia Militar de Copito, um dos únicos edifícios que não foi atingido. Durante a homilia, Bertone afirmou que “debaixo dos tijolos que caíram nascerá o sonho de reconstruir, a vontade de recomeçar”. A grande e impressionante marca de esperança que brota de uma tragédia como esta aparece nos inúmeros voluntários que se fazem presentes na região.

Padre Arlindo Pereira Dias, membro do Conselho Geral dos Missionários do Verbo Divino em Roma esteve presente na celebração de Abruzzo. Maio 2009 -

OPINIÃO

Oração pela Unidade Que todos sejamos um, unidos na tua mão! (Ez 37, 17) ensinou os criadores dessa Semana, no ano de 1908, a buscar a oração conjunta. Ao rezarem juntos, perceberam que muros poderiam ser transpostos. Viram que a oração feita com pessoas da outra comunidade cristã encurtava distâncias, abria o diálogo e despertava para tarefas comuns. Com certeza, eram idealistas, pessoas incansáveis na busca dessa unidade, mas aprenderam a orar em conjunto.

Iniciativa importante

de Renatus Porath

H

á 101 anos essa Semana de Oração está sendo promovida. No Brasil, ela vem sendo organizada pelo menos há 25 anos pelas Igrejas que compõem o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC): Católica, Luterana, Episcopal Anglicana, Ortodoxa, Reformada, Presbiteriana Unida e outras. Como a oração nasce da necessidade, da falta, da ausência, do aperto, e até do sofrimento, essa Semana nasceu como iniciativa de homens e mulheres que sentiram falta de oração no seu tempo. Eram pessoas que acreditavam em Jesus e sofriam com a ­ausência de unidade entre as muitas Igrejas cristãs. Pareciam mais concorrentes entre si, disputando clientes, do que colaboradoras na tarefa confiada a elas pelo Senhor da Igreja. A Boa Nova de Jesus Cristo criava comunhão entre pessoas com Deus, mas cada qual acreditava que era à sua mesa da Eucaristia que Ele estava presente e não na outra comunidade que também se dizia Igreja de Jesus Cristo. Esse desconforto, esse sofrimento por causa da ausência de unidade, de comunicação entre pessoas e comunidades que se diziam cristãs - Maio 2009

Ainda continuamos com essa oração comum após mais de um século de sua prática nessa Semana. Como gostaríamos de poder complementar essa oração com a celebração da Ceia do Senhor igualmente em conjunto! Confesso que nos acostumamos facilmente com nossa história de separações e divisões no percurso de dois mil anos de Igreja. Para vergonha nossa, até ódio chegamos a alimentar entre nós cristãos. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é uma iniciativa importante que nos faz ensaiar a oração conjunta e, assim, conhecer-nos mutuamente. Em nossas orações queremos olhar para nossas próprias fileiras, nos encorajando para o diálogo e a reconciliação. Queremos também olhar para fora e ver desafios conjuntos que podemos abraçar com nosso testemunho de fé e amor. Homens e mulheres da Coreia, comprometidos com a busca pela unidade, elaboraram o material para o uso nesses oito dias de oração, nas Igrejas do mundo todo (cfr. site do CONIC: www.conic.org.br). A realidade de uma Coreia dividida entre Norte e Sul inspirou a busca do tema em Ezequiel 37, 17: Que todos sejam um em tuas mãos! Quanta divisão na grande comunidade humana. E pior ainda, quanta divisão na grande comunidade de Jesus Cristo, comprometendo o Evangelho e a vontade de Deus de curar as feridas. A Semana inicia no primeiro dia lembrando em oração a escandalosa história de separações e divisões na Igreja; no segundo dia, intercede pelo fim da guerra e violência; no terceiro, pelo fim da desigualdade entre ricos e pobres; no quarto dia, a oração se concentra na necessidade de um testemunho que nasce da unidade para proteger a terra; no quinto dia, a intercessão se volta para os que sofrem; no sexto dia, o tema é o pluralismo que destrói a comunidade e a diversidade que enriquece; no sétimo dia, a Semana culmina lembrando que a comunidade de Jesus Cristo, na sua pluralidade, muitas vezes insuportável, precisa buscar o espírito do Sermão da Montanha, porque como cristãos e cristãs somos chamados a ser “artesãos da reconciliação e portadores de esperança”. Que Deus, que nos mantém unidos em sua mão, nos renove por inteiro, como indivíduos e comunidade, para que o mundo creia que somos seus discípulos! (Jo 17) 

Renatus Porath é pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e professor da área bíblica na Escola Dominicana de Teologia (EDT).

Errata:

Na edição de abril, rubrica Opinião, "Carajás: tragédia para não ser esquecida", onde se lê: "foram abertos, pela Polícia Militar do Estado do Pará, 1.445 processos para investigação dos policiais envolvidos no massacre. Dos 155, apenas dois foram condenados..." , leia-se: "foram abertos, pela Polícia Militar do Estado do Pará, 144 processos para investigação dos policiais envolvidos no massacre, dos quais apenas dois foram condenados..."

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Curiosidade Com 54 países e uma população de cerca de 800 milhões de habitantes, a África é o continente que abriga as mais antigas evidências da presença humana no planeta. Foi dividido e ocupado pelas potências da Europa a partir do século XV. Milhões de africanos foram escravizados e as forças coloniais mantiveram a exploração dos recursos naturais da região, mesmo após o fim da escravidão. Persistem rivalidades étnicas entre populações de países cujas fronteiras foram criadas artificialmente pelas nações européias no fim do século XIX. Isto explica porque a África responde atualmente por 2% do PIB mundial. Tem quase metade de sua população vivendo abaixo da linha de pobreza e sofre com epidemias como AIDS, cólera e tuberculose.

Libertação tarefa inacabada?

N

de Michael Mutinda

Jaime C. Patias

o dia 25 de maio de 2009 todos os amantes da paz celebrarão o Dia da Libertação da África. Este será o quinquagésimo primeiro aniversário deste dia escolhido para comemorar, lembrar e homenagear aqueles que se sacrificaram pela libertação dos povos africanos, dentro e fora do continente. O Dia da Libertação da África - DLA - foi fundado em Accra Gana, na primeira Conferência dos Países Independentes da África, no dia 15 de abril de 1958. O objetivo era marcar em cada ano subsequente o progresso do movimento de libertação do continente e, ao mesmo tempo, renovar o compromisso e a determinação do povo para libertar-se da dominação estrangeira e da exploração. A Conferência de Todos os Povos da África, realizada de 8 a 13 de dezembro de 1958, também em Accra, reafirmou a resolução da Conferência dos Países Independentes da África de exortar todos os africanos e todos os amigos deste continente dispersos pelo mundo para observar o Dia da Liberdade da África como data para renovar as forças. No mesmo ano, sob as orientações

do Partido Democrático da Guiné - PDG -, o povo da República da Guiné alcançou a sua independência. Assim, Gana e Guiné serviram como inspiração e base para o movimento pan-africano em todo o mundo. A partir de 1959 até 1963 as revoluções se intensificaram e celebrações para marcar o Dia da Liberdade da África foram realizadas em Azania (África do Sul), Etiópia, Guiné e Quênia. E como resultado das lutas organizadas no continente, houve um aumento do número de países que se tornaram independentes.

Questões urgentes

Foi no contexto destas revoluções que a Organização da Unidade Africana - OUA - foi fundada em Addis Abeba, Etiópia, em 25 de maio de 1963. Com a presença de mais de 110 pessoas representando 31 países africanos, 21 movimentos da libertação e centenas de apoiadores e observadores internacionais, a OUA foi originalmente destinada a trazer força, unidade e coordenação desta revolução africana. A OUA proclamou que o Dia da Liberdade da África deveria tornar-se, doravante, o Dia da Libertação da África e teria de ser celebrada anualmente a marca histórica da fundação da OUA, e levar adiante o propósito e intenção do Dia da Liberdade da África. No fim do apartheid - África do Sul - em 1994, novas ideias de libertação foram colocadas na ordem do dia para o continente. Questões de saúde, segurança alimentar, justiça ambiental, educação decente, os direitos das mulheres, a política de inclusão cultural e liberdades foram colocados como o núcleo da libertação da África.

E o desafio para frente?

Mais de 50 anos após o início do Dia da Libertação da África, ainda existem territórios coloniais (como o caso do Sahara Ocidental) e manifestações de opressão e exploração. A libertação da África exige que o povo tome controle dos seus governos e que as questões de planejamento e organizações sejam discutidas e executadas nas aldeias, vilas e cidades em vista do bem-estar, paz e justiça como princípios do ser humano. Este dia deve alimentar as ideias, dentro e fora da África, de derrubar as fronteiras de opressão e controle que foram criadas desde 1885. Ainda esperamos ver esta libertação. Será que é uma tarefa inacabada? 

Michael Mutinda é seminarista imc, queniano, estudando teologia no ITESP, Ipiranga, São Paulo. Abertura do Fórum Social Mundial 2007 em Nairóbi, Quênia.

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Maio 2009 -

Somos diferentes, mas semelhantes.  Josiah Kokal

eles possuem muitos elementos que se assemelham, que os aproximam. São elementos comuns, no nosso caso, a todas as casas. Todas as casas têm portas, telhado, janelas etc.

Diferenças

Raça, língua, religião, educação, classe social etc. Todo esse papo, apenas para demonstrar aquilo que, absolutamente, ninguém contesta: somos seres diferentes, porém, com muitos elementos que nos assemelham, que nos aproximam. Todos sabemos que as diferenças existem e chegam a provocar briga, violência, marginalização e até guerras. Por que isto acontece? Porque esquecemos um pormenor importante: se existem as diferenças, continuam existindo as semelhanças e estas deveriam ajudar na superação daquelas. Mas, não, nos intrigamos com as diferenças perdendo até a nossa racionalidade, cometendo absurdos. A realidade é que nós que nos julgamos seres inteligentes - e de fato o somos - muitas vezes não temos a capacidade mental e a sensibilidade humana para perceber estas semelhanças que há entre nós e ficamos apenas nas diferenças.

Comportamentos diferentes de Rosa Clara Franzoi

V

amos fechar os olhos por um instante e pensar, por exemplo, na casa dos nossos sonhos. Se tivéssemos que descrevê-la para alguém, certamente a pintaríamos com as cores mais vivas e brilhantes, já que todos amamos o belo. Observaremos que as casas imaginadas serão todas muito lindas, porém, diferentes umas das outras. Podem ser até muito parecidas, mas, nunca serão idênticas. É que cada pessoa tem a sua própria identidade, a sua própria imaginação, o seu próprio pensamento e assim por diante. Contudo, se formos analisar os objetos imaginados, iremos perceber que, embora diferentes,

Quer ser um missionário/a? Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui - 02611-001 - São Paulo - SP Tel. (11) 2231-0500 - E-mail: [email protected]

Centro Missionário “José Allamano” - padre Patrick Gomes Silva Rua Itá, 381 - Pedra Branca - 02636-030 - São Paulo - SP Tel. (11) 2232-2383 - E-mail: [email protected]

Missionários da Consolata - padre César Avellaneda Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 - 69072-970 - Manaus - AM Tel. (92) 3624-3044 - E-mail: [email protected]

- Maio 2009

Nos nossos relacionamentos do dia a dia, quando não percebemos nitidamente a dignidade do ser humano que é igual a todos, acabamos criando uma série de diferenças no tratamento com as pessoas. Muitas vezes resistimos, mantendo-nos irredutíveis, fixos na convicção de que somos mais; os outros são inferiores e devem ser tratamos como tais. Esta atitude é desastrosa e com certeza, vai nos levar ao isolamento, porque ninguém gosta de quem se julga superior. Diante do diferente, devemos confrontar nossas atitudes com as atitudes do outro e num gesto de grandeza de espírito, reconhecer que o outro é tão bom quanto nós e às vezes até melhor; e que a diferença da cor da pele, grau de estudo, religião, classe social não nos torna nem maiores e nem menores perante os nossos iguais. Somos apenas diferentes. Este modo de proceder é um ato de justiça, pois estamos oferecendo ao outro aquele tratamento que gostaríamos que fosse dado a nós. “As pessoas verdadeiramente grandes são aquelas que fazem com que todos se sintam grandes” (Gilbert Chesterton). 

Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.

Para refletir:

Ler Mt 5, 43-47 e responder: 1. O texto nos diz que Deus não faz distinção entre as pessoas. Às vezes temos dificuldade de agir assim. Por que será? 2. Deus ama a todos com amor de Pai, sem julgamentos antecipados. Muitas vezes, nós julgamos as pessoas, mesmo sem saber as causas deste ou daquele erro. Por que? 3. O amor ao próximo deve ser tão natural para o cristão quanto viver e respirar. Acontece isto em nossos relacionamentos com as pessoas?

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pró-vocações

As diferenças enriquecem

VOLTA AO MUNDO 8

Colômbia Justiça e direitos humanos

Assassinatos, massacres, despejos forçados de civis, torturas, perseguições por razões culturais ou políticas, desaparecimentos: são crimes diante dos quais uma delegação de deputados do “Partido Trabalhista” e dos sindicatos ingleses se disse indignada, depois de uma semana de visita na Colômbia, durante a qual recolheu testemunhos de organizações da sociedade civil, dirigentes indígenas, camponeses, professores e ex-reféns da guerrilha. Num documento lido no Parlamento de Bogotá, os observadores denunciaram os “graves crimes” de responsabilidade do governo e das Forças Armadas. “Com as evidências recolhidas, não temos nenhuma dúvida, de que o governo e as forças públicas são cúmplices de violações dos direitos humanos”, afirmou a deputada Sandra Osborne, do “Partido Trabalhista” de Londres, membro da Comissão das Relações Exteriores do Reino Unido. “Além disso, estamos convencidos”, acrescentou, “que as ações são apoiadas pelo governo e pelo Exército. Estes crimes são agravados pela impunidade da qual se beneficiam os responsáveis”. Num país que se encontra em guerra desde 1964, segundo as estatísticas mais recentes das organizações não governamentais, fora os enfrentamentos armados, somente no ano de 2007, foram assassinados 1.400 civis; no ano de 2008 os deslocados devido à violência aumentaram em 41% se comparados com o ano de 2007 (estima-se que são pelo menos três milhões em todo o país); em média, somente oito em cada 100 assassinatos são investigado pela magistratura. A deputada Osborne, que em breve apresentará um informe ao governo de Londres, entre outras coisas, solicitou aos países estrangeiros para “não aprovarem qualquer forma de Tratado de Livre Comércio, até que os direitos humanos dos trabalhadores sejam respeitados de maneira certificada a nível internacional”.

Mianmar Novos evangelizadores

A formação de sacerdotes, religiosos e leigos é essencial para a missão da Igreja, sendo ainda muito importante para poder proclamar a Boa Nova. Com esta consciência o “Instituto de Formação Mianmar” continua formando e doando à Igreja local agentes eclesiásticos, religiosos e leigos, para o trabalho pastoral e para a

evangelização. Recentemente dez sacerdotes, nove irmãs e uma leiga receberam o diploma, numa cerimônia que contou com a participação de dom Salvatore Pennacchio, Delegado Apostólico em Mianmar, e de vários bispos, religiosos e leigos. O Instituto propõe um itinerário de formação de três anos, que inclui cursos no período de verão, encontros especiais e seminários no exterior, segundo a especialização escolhida. O Instituto é convencionado com a Pontifícia Universidade de Teologia de Dublin, que reconhece os créditos. O acordo foi iniciado em Mianmar pela Sociedade de São Colombano, a pedido dos bispos birmaneses, em 2003. Podem ser feitos ainda cursos de antropologia, vocação cristã, desenvolvimento humano, espiritualidade, consulente familiar, sexualidade e celibato, oração cristã, doutrina cristã e direção espiritual. O diretor do Instituto, padre Michel McGuire, da Sociedade de São Colombano, ressaltou que a formação deve estar sempre unida com a relação que desenvolve nos candidatos a fé e a esperança.

Vaticano Visita do papa à África

Há duas coisas que Bento XVI não poderá esquecer de sua primeira visita à África: sua alegria e seu senso do sagrado. De 17 a 23 de março, o papa fez visita apostólica aos Camarões e a Angola. “Sobretudo, impressionaram-me dois aspectos, ambos muito importantes – confessou ao dirigir-se aos milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro. O primeiro é a alegria visível nos rostos das pessoas, a alegria de sentirem-se parte da única família de Deus, e agradeço ao Senhor por ter podido compartilhar com as multidões destes nossos irmãos e irmãs momentos simples de festa cheia de fé”. O segundo aspecto que impressionou o papa foi “o forte senso do sagrado que se respirava nas celebrações litúrgicas, característica esta comum a todos os povos africanos e imersa, poderia dizer, em cada momento de minha permanência entre aquelas queridas populações. A visita me permitiu ver e compreender melhor a realidade da Igreja na África na variedade de suas experiências e dos desafios que se encontram para enfrentar neste tempo”.

O sangue dos Mártires

No domingo, dia 29 de março, Bento XVI deu graças a Deus pelo sangue que derramaram e continuam derramando os missionários no mundo para anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. O papa compartilhou este sentimento com os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, como explicou, após ter constatado em sua viagem aos Camarões e a Angola o apreço que as pessoas têm por esses evangelizadores. No último dia 24 de março, além disso, por iniciativa do Movimento Juvenil Missionário das Obras Missionárias Pontifícias italianas, recordou-se no mundo todos os missionários que foram assassinados. O dia escolhido foi o do assassinato de dom Oscar Arnulfo Romero, arcebispo de San Salvador, em 1980, atualmente em causa de beatificação. Em 2008, pelo menos 20 missionários foram assassinados no mundo, segundo um informe realizado pela agência Fides. 

Fontes: Fides, Misna, ZENIT. Maio 2009 -

Intenção Missionária Néo Monteiro

Para que as Igrejas Católicas de recente fundação, agradecidas ao Senhor pelo dom da fé, estejam dispostas a participar da Missão universal da Igreja, oferecendo sua disponibilidade para pregar o Evangelho ao mundo inteiro.

Comunidade cristã de Mecanhelas, Niassa, Moçambique.

N

de Vitor Hugo Gerhard

a primeira semana de abril, alguns meios de comunicação social divulgaram a seguinte notícia: “nos Estados Unidos da América, por ocasião da Páscoa deste ano, 150 mil pessoas irão livremente professar a fé católica, deixando suas denominações cristãs de origem e aderindo ao catolicismo”. Para um país considerado pai do materialismo e do consumo exagerado, proveniente de outras tradições cristãs, é uma notícia realmente auspiciosa. Com isso, esta nação já ultrapassa a cifra dos 52% de católicos entre os seus concidadãos.

A Igreja Católica está organizada hoje, no mundo inteiro, em cerca de 3.000 dioceses. Isso significa, matematicamente, uma diocese para cada 370 mil católicos ou para cada dois milhões de habitantes. Somos também mais de 400 mil padres que, divididos numericamente, representamos um para cada três mil católicos ou um para cada 16 mil habitantes do planeta. Coloquei estes dados apenas para ilustrar a ideia central da intenção missionária deste mês. Isto é, a Igreja é missionária pela sua própria natureza e constituição. Pedir que seja missionária, é supor que talvez não o seja. Mas o pedido a ser feito é que a Igreja Católica, e cada uma de suas comunidades, pequenas, médias e grandes, continuem sendo e se expandam sempre mais como células missionárias, bases de lançamento do Evangelho para todos os povos, todas as nações, e todos os rincões do planeta. As Igrejas jovens, de recente fundação, exatamente pela sua juventude, estão carregadas de entusiasmo e ricas em novas experiências. São aquele sinal de esperança tantas vezes lembrado pela própria hierarquia católica. São também o sinal visível da universalidade da Igreja, sua catolicidade (sinônimos entre si) e presença jovial no meio do mundo e dos povos. Que esta realidade seja motivo de reerguimento do nosso bom astral e autoestima, nos ajudando na oração e na prática das virtudes, nestes tempos pascais que nos remetem ao Pentecostes. 

Vitor Hugo Gerhard é sacerdote diocesano de Novo Hamburgo e trabalha na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Canela, RS.

Páscoa Missionária Durante a Semana Santa, um grupo de sete Leigas Missionárias da Consolata – LMC, quatro seminaristas e dois padres do Instituto Missões Consolata estivemos nas cidades de Baependi, Varginha e Nepomuceno, no sul de Minas Gerais, diocese de Campanha. Enfrentar o medo, se deparar com o novo, com o outro, com o próprio Cristo, foi um dos desafios que nós, mulheres comuns, mães, jovens estudantes e professoras, enfrentamos em uma breve missão, a caminho da Missão Ad Gentes. O objetivo foi vivenciar a Páscoa com o povo e ajudar as comunidades a preparar as celebrações, visitar as famílias, os doentes e colocar-nos à disposição das comunidades. A expectativa e o medo de enfrentar a novidade e os desafios da missão foram amenizados pela calorosa acolhida das famílias e dos padres José Roberto e Geraldo em Baependi, Jean Poul Hansen em Varginha, Benedito A. Ferreira e Joaquim das Chagas em Nepomuceno, seminaristas diocesanos e colaboradores. Lucrécia, Lucília e eu estivemos em três comunidades de Varginha depois de sermos acolhidas pelas irmãs e postulantes Beneditinas da Divina Providência. As - Maio 2009

leigas do Rio de Janeiro, Ângela, Jeanette, Jeanice e Marly e os seminaristas Júlio César e Michael Mutinda, com o padre Jaime C. Patias atuaram em duas comunidades e na Matriz de Baependi. Padre Luiz Andriolo e os seminaristas Dieu Donné e Denis Gitari auxiliaram em Nepomuceno. No sul de Minas, a Semana Santa se revela de modo muito especial. A fé ganha as ruas, estradas e ladeiras, se manifesta nas inúmeras celebrações e procissões. Os fiéis caminham com a Mãe das Dores e o Cristo morto, descem-no da Cruz, o sepultam, sentem as dores de Maria, se recolhem. O luto é traduzido no silêncio e no respeito. No Sábado Santo, com a certeza da ressurreição, vibram de alegria. As famílias se reúnem nas comunidades e na cidade que se transforma para a Grande Páscoa. Para nós, leigas missionárias, “discípulas urbanas”, viver a Páscoa com o povo de Minas indicou o caminho da missão de ser a presença do Cristo, na simplicidade e no serviço, acolhendo o outro em suas dores, sorrisos e sabores.

Karla Maria, LMC de São Paulo.

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espiritualidade

Leitura Orante da Palavra de Deus

A exemplo do que aconteceu com Maria, a Palavra não nos pode deixar indiferentes.

de Patrick Gomes Silva

Passos da Leitura Orante da Palavra Disposição: é importante criar um ambiente adequado que favoreça o recolhimento e a escuta da Palavra de Deus.

1. Invocação ao Espírito Santo

Peça o auxílio do Espírito Santo para acolher a Palavra. Você não vai “estudar” a Palavra, vai escutar o que Deus tem a lhe dizer. Repita: “Envia, Senhor, o teu Espírito”.

2. Leitura (o que a Palavra diz em si) Objetivo: Conhecer bem o texto • Ler devagar e sem pressa! • Sublinhar o que achar importante • Ler os comentários presentes na Bíblia • Transcrever algumas frases ou palavras, se achar útil Algumas perguntas podem ajudar: Quais são as personagens? Onde decorre a ação? Quando acontece? O que fazem as personagens?

3. Meditação (o que a Palavra diz hoje a mim)

Reler o texto em primeira pessoa, colocando-se na pele da personagem! Encontrar a afirmação central, depois: Repetir - Memorizar Confrontar a sua vida atual com a Palavra escutada: a. Sua vida com Deus b. Sua vida com os outros c. Sua vida consigo mesmo

4. Oração (o que a Palavra me faz dizer)

Responder à Palavra escutada através da oração. Fazer isto em três etapas: 1. Pedindo perdão pela Palavra não vivida 2. Agradecendo e louvando pelas maravilhas que Deus operou e opera em sua vida 3. Fazendo seus pedidos a Deus, de modo especial, pedindo o dom do Espírito Santo.

5. Contemplação (a Palavra me leva ao Coração de Deus)

Sinta a presença de Deus, não é tempo de palavras, mas apenas de silêncio. Permita que Deus fale no silêncio, lugar privilegiado de Sua presença.

6. Missão e Ação (a Palavra me leva aos outros)

A Palavra não nos pode deixar indiferentes, depois de escutar o que Deus tem a dizer, é tempo de descer da montanha e ir ao encontro dos irmãos e irmãs e de se colocar em ação/missão: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.

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"A

Bíblia esteja sempre presente como Palavra de Deus e como expressão da Missão Continental entre nós, incentivando o povo à Lectio Divina, ou seja, ao exercício da leitura orante da Sagrada Escritura. Essa prática muito salutar de abordagem da Palavra de Deus (...), favorece o encontro pessoal com Jesus Cristo” (DGAE 63; cf. DA 249). Estas palavras extraídas do “Projeto Nacional de Evangelização: o Brasil na Missão Continental”, documento número 88 produzido pela CNBB, nos incentivam a nos aproximarmos da Palavra de Deus através da Lectio Divina, um esquema tão antigo e sempre atual que é conhecido como Leitura Orante da Palavra (veja no quadro o esquema dos passos desta proposta de oração). Sugerimos, nesta edição, o estudo de um texto bíblico bem conhecido: “o anúncio do Anjo a Maria”, que o evangelista Lucas nos transmitiu.

O contexto

O episódio da Anunciação faz parte do chamado Evangelho da infância, que é formado pelos dois primeiros capítulos de Lucas. É importante recordar que o episódio não é uma crônica daquilo que aconteceu naquele dia, mas sim o resultado de uma reflexão que Maria conduziu em sua vida, à luz das palavras e dos acontecimentos sucessivos e, com ela, a comunidade cristã primitiva. Já no Antigo Testamento se encontram textos que contêm anúncios de nascimentos: o nascimento de Ismael (Gênesis 16, 11-12), de Isaac (Gênesis 17, 18), de Sansão (Juízes 13, 7), do Messias (2Samuel 7, 14; Isaías 7, 14-17). Este pano de fundo serve para iluminar o texto que será considerado.

Lectio (Lc 1, 26-38)

v. 26: No sexto mês o anjo Gabriel foi enviado por Deus – Antes de mais nada, trata-se de uma referência temporal imMaio 2009 -

Jaime C. Patias

Aline Martins durante encontro celebrativo das CEBs, 2007, São José dos Campos, SP.

portante, que liga este texto ao anúncio do nascimento de João Batista, no texto precedente. O portador da mensagem, tal como no anúncio de Zacarias, é o anjo Gabriel: um mensageiro divino. A visita do anjo a Maria recorda todas as outras visitas de Deus às várias mulheres do Antigo Testamento, tais como Sara, Ana, a mãe de Sansão.Atodas, foi anunciado o nascimento de um filho com uma missão importante na realização do plano de Deus. Gabriel é recordado no livro de Daniel como aquele que contempla a face de Deus. A uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré – Nazaré era um pequeno lugarejo, naquele tempo com cerca de 150 habitantes, lugar desprezado e de população mista (judeus e não-judeus), não reconhecida como sendo exemplar na observância da lei e do culto sacro. Famosa a expressão de Natanael: “O que pode vir de bom de Nazaré?” Aí passava uma importante estrada romana, a via maris, que ligava a Mesopotâmia ao Egito, muito frequentada por comerciantes. Esta região é significativa para Lucas, pois representava que o Evangelho devia ser escutado e acolhido por todo tipo de pessoa. v. 27: A uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria – O mensageiro divino é enviado a uma mulher, ao contrário daquilo que sucedera no texto precedente, quando apareceu a Zacarias. Aqui é uma mulher que é chamada a colaborar com o plano divino. José é um homem de “classe”, pertencente à descendência de Davi. Segundo as profecias o Messias deveria - Maio 2009

descender de Davi e nascer de uma virgem, vemos como o evangelista nos mostra que Jesus tem todas as suas “cartas” em dia. O nome “Maria” provém da raiz “mar” que significa “senhora”, que por sua vez recorda “Eva”, assim, em Maria teremos uma nova Criação. v. 28: Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo – Traduzir a saudação trazida pelo anjo a Maria não é fácil, o “Ave” não consegue exprimir todo o sentido da exultação que o original comporta. É importante sublinhar o sentido da alegria presente neste anúncio. Também a tradução “cheia de graça” não é suficientemente clara, melhor seria dizer: “alegra-te, cheia do favor de Deus”. A palavra “graça” significa aqui “favor, benevolência”, ou seja, Maria é agraciada com um favor que vem do próprio Deus. O Senhor está contigo é a certeza da assistência divina, muitas vezes no Antigo Testamento encontramos esta promessa. v. 29: Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação – É a perturbação que vem da incompreensão das palavras do anjo, por mais que procure entender, Maria sente uma compreensível ignorância. v.30: O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus – “não temas” uma expressão também usada nos relatos dos chamados do Antigo Testamento. O sentido é claro aqui, perante uma missão árdua, estas palavras querem trazer a calma, confiança àquela que agora recebe a missão. É interessante recordar que esta expressão

“não temas” ocorre 365 vezes na Bíblia, como se Deus quisesse assegurar que todos os dias podemos colocar nossa confiança n’Ele. vv. 31-33: Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim – Temos a descrição daquilo que vai acontecer com Maria: terá um filho de nome Jesus, ao qual desde logo são atribuídos vários títulos messiânicos. v. 34: Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? – Maria, ao contrário de Zacarias, pede um esclarecimento de tudo aquilo que o anjo lhe está dizendo. Se num primeiro momento ela fica perturbada, agora é tempo de pedir explicações. v. 35: Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus – Eis a explicação: o autor da concepção será o Espírito Santo. A força do Altíssimo que envolverá Maria recorda o Espírito que pairava sobre as águas no momento da Criação no livro do Gênesis. Trata-se claramente de uma ação divina e não humana. O Espírito é o doador e “originador” da vida. vv. 36-37: Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível – Um sinal não pedido é dado a Maria. Este sinal é um dom de Deus, o qual oferece uma antecipação daquela luz e graça que abraçará a pessoa que é interpelada por Ele. Para demonstrar a onipotente ação de Deus é recordada a gravidez inesperada de Isabel, da qual Maria é familiar e, portanto, bem conhece o sofrimento que a condição estéril causou nesta. Eis que é proclamada a glória de Deus: nada é impossível para Ele. v. 38: Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela – Maria não precisa ver para acreditar, acredita de imediato nestas palavras e aceita o plano divino: “eis aqui a Serva do Senhor”. O texto demonstra a alegria de Maria, que mesmo não compreendendo inicialmente o projeto divino, entende que é chamada a ser colaboradora deste grande plano de salvação e, portanto, aceita participar dele, a serviço do seu Senhor. O anjo termina a sua missão, começa a missão de Maria. 

Patrick Gomes Silva, imc, é diretor do Centro Missionário José Allamano, em São Paulo.

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testemunho

O anjo da estrada fotos: Arquivo Andare

Luta em favor dos “últimos da fila”.

Irmã Eugênia com jovens recuperadas e reintegradas na sociedade, Nigéria, África.

A

de Anna Pozzi

missionária da Consolata, irmã Eugênia Bonetti, dedica-se ao combate do tráfico de jovens destinadas à exploração sexual. Foi convidada a participar do I Congresso Latino-Americano de Pastoral de Rua, realizado na Colômbia de 19 a 24 de outubro de 2008.

O grito da jovem Maria

Um dia, do escritório da Cáritas italiana, irmã Eugênia dirigia-se para a missa. O grito de socorro de uma jovem nigeriana lhe interrompeu o caminho e daquele momento em diante, mudou seus projetos de vida e de missão. Irmã Eugênia, 69 anos, dos quais 24 vividos no Quênia, ainda tem bem presente aquele episódio aterrador. O rosto de Maria - era este o nome da jovem agredida - demonstrava horror e desespero. O seu grito encontrou eco no

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O nosso serviço é voltado em particular, àquelas que deixam a rua para iniciar um caminho de reintegração social e familiar. coração de irmã Eugênia. Um pedido de socorro, de misericórdia, mas também um grito de denúncia e de condenação. A luta da missionária, das estradas da África transferiu-se, às estradas e ruas da Itália, de dia e de noite, em favor e ao lado das mulheres condenadas à escravidão sexual. Meras prostitutas para quem as usa; vítimas e escravas para quem conhece as suas histórias de desonra e submissão. Irmã Eugênia encontrou milhares delas na Nigéria, em Turim, Tirana, Milão, Bucareste e em outros lugares de origem, trânsito e destinação de jovens traficadas. Desde que

em 1993 começou a enfrentar o problema, jamais deixou de atender pessoalmente os inúmeros casos que encontrou, além de ter criado uma rede de pessoas, que com ela agem, na prevenção, denúncia, e combate a este crime.

Coração africano

“Quando parti para a Missão do Quênia - narra a missionária - no longínquo ano de 1967, pensava que a minha vida fosse dedicada à África. Lutávamos para promover a educação, especialmente das jovens e para a emancipação das mulheres, num contexto fortemente machista. Quanta alegria, determinação e coragem! Eu sentia que a mensagem do Evangelho, de esperança e libertação, trazida por Cristo, se realizava nos ideais que me haviam fascinado na juventude e que me acompanharam na busca vocacional e no desejo de me tornar missionária na África”. Hoje, às vésperas dos 70 anos de Maio 2009 -

possa criar em si a consciência do valor da própria vida e dignidade”. “A Igreja e todos os cristãos, são chamados a fazer alguma coisa” – sustenta a missionária – “O silêncio e a indiferença podem ser uma forma de conivência”. Irmã Eugênia procurou e encontrou aliados: em primeiro lugar as 250 religiosas pertencentes a 70 congregações diferentes, que, em mais de uma centena de centros e casas de acolhida, lutam diariamente para tirar estas jovens das ruas e oferecer-lhes uma chance de futuro. “Nossa força é o trabalho em rede”, explica. “Uma rede que abrange uns 30 países, de origem, trânsito e destinação das jovens traficadas. Em toda parte, outras Irmãs locais fazem um trabalho precioso de prevenção e sensibilização, de proteção às moças e suas famílias, e de acolhida e inserção na sociedade das que voltam para casa.

O reconhecimento Irmã Eugênia com mãe e filha nigerianas. A mãe foi ajudada pela irmã na Itália.

idade e dos 50 de Profissão Religiosa, irmã Eugênia continua cheia de energia e de projetos, determinada, batalhadora, sempre próxima das pessoas, especialmente das mulheres. Atrás do rosto desta grande empreendedora, decidida e eficiente, bate um coração que muito se dedicou a África; um coração vital, hospitaleiro, misericordioso, que sabe acolher as riquezas e as fraquezas das pessoas, a alegria e o cansaço, as esperanças e as decepções. Com seu caráter forte e batalhador, não podia aceitar, impassível, a dolorosa decisão de ter que voltar para a Itália em 1991. E a outra vocação surgiu no encontro fortuito com Maria. “Suas roupas, suas atitudes, mostravam abertamente de onde vinha e o que fazia. As pessoas que cruzavam nosso caminho admiravam-se de ver uma religiosa ao lado de uma prostituta. Eu mesma não sabia como explicar isto às pessoas. Estava apressada para chegar em tempo à missa. Diante do pedido de socorro, parei para escutá-la. E graças a Maria, descobri mais uma vocação dentro da minha vocação missionária”.

As muitas Marias da vida

Na época, Maria tinha 30 anos e três filhos, deixados na Nigéria. Comprada e vendida por diversos traficantes, meses de viagem em condições desumanas, Maria não imaginava que o trabalho que lhe foi oferecido significaria vender o corpo para pagar uma dívida absurda, ajudar sua família e obter os documentos. Sua história é semelhante a de muitas outras jovens nigerianas, e que tende a atingir meninas sempre mais jovens e com menor grau - Maio 2009

de instrução, enganadas por uma rede de traficantes que negocia a exploração das escravas: 30 mil apenas na Itália.

O desafio

“Esta nova situação - diz irmã Eugênia - me desafiava, como pessoa e como religiosa, eu que questionava a minha vida, a minha vocação e as minhas motivações missionárias. Eu sonhava com a África e queria levar estas mulheres para a minha casa! Seu grito, porém, dizia-me algo mais. Talvez que eu pudesse ser o instrumento para uma nova missão, nova fronteira, ligada à dignidade da pessoa; em especial a pessoa humilhada, esmagada, explorada. Cristo colocou o ser humano e a sua dignidade como centro da sua obra redentora e deve ser este fundamento do nosso agir e do nosso serviço. A missão está lá onde vivem as pessoas, muitas vezes em condições desumanas. É ali que devemos mostrar que somos discípulos missionários de Jesus Cristo”.

Uma resposta corajosa

Nos Estados Unidos, o trabalho da irmã Eugênia foi duplamente reconhecido pelo Departamento de Estado, em 2004 e em 2007 por sua luta contra as escravidões modernas. Em 2007, George W. Bush e sua esposa Laura, em viagem pela Itália, quiseram encontrar-se pessoalmente com ela. “O que podemos fazer para apoiar o seu trabalho?” perguntaram. E irmã Eugênia respondeu: “combater muito mais do que já se faz, todas as formas de pobreza e corrupção. Promover a educação, trabalho e formação humana para que cada pessoa

As jovens surpreendem. Como Joy, que retornou à Nigéria. Quando se encontra com irmã Eugênia abraça-a longamente. Joy é uma jovem bela e sorridente. Diplomou-se recentemente em psicologia com o objetivo de ajudar outras jovens, traumatizadas como ela, a cicatrizar as feridas da alma, e a recomeçar a viver. “Obrigada, irmã Eugênia, muito obrigada!” Não se cansa de repetir-lhe e de abraçá-la, com um largo sorriso e olhos brilhantes de reconhecimento. É assim esta “rocha” chamada Eugênia, que não resiste e se emociona a cada reencontro. No Congresso de Bogotá, pediram a ela para que apresentasse o trabalho que está sendo feito na Itália para recuperar e reintegrar quem é vítima de exploração sexual. “A nossa experiência de religiosas que procuram há vários anos dar respostas adequadas a este tipo de problema, através de uma centena de comunidades de acolhida para mulheres exploradas e os seus filhos, suscita sempre grande admiração. Para nós consagradas, esta resposta, nada mais é do que uma maneira de viver a nossa fidelidade e atualidade dos nossos carismas de fundação, que tem especial preocupação com a promoção da mulher e a proteção às crianças. O nosso serviço é voltado, em particular, àquelas que deixam “a rua” para iniciar um caminho de reintegração social e familiar. É este um trabalho que fazemos em conjunto com a Cáritas e com todas as forças que operam neste sentido. Graças a esta colaboração, milhares de mulheres puderam mudar de vida e reintegrar-se na sociedade. Só trabalhando em comunhão e não por competição, conseguimos tais resultados”, concluiu. 

Anna Pozzi é jornalista italiana.

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fé e política

Vamos trabalhar!

A preocupação com as eleições de 2010 toma conta das ações dos governantes em 2009. Divulgação

O encontro com os prefeitos em fevereiro foi outro equívoco marcante. O presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff, sua candidata predileta, reuniram milhares de governantes locais em Brasília e afirmaram: gastem, invistam que teremos recursos para crescer, sobretudo em virtude do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Pois bem, além de o PAC se assemelhar a um conjunto exagerado de promessas, com os incentivos fiscais que precisaram ser dados à indústria, e com a diminuição das atividades econômicas, os recursos repassados para as prefeituras diminuíram, e a bonança prometida se transformou em lamento. Nas últimas semanas, diversos estados assistiram manifestações de prefeitos reclamando a falta de dinheiro para pagar salários de servidores. A saúde e a educação estão postas em xeque em diversos locais. Cidades arrecadam muito menos do que precisam, dependem de repasses federais e parece que foram estimuladas a planejarem um cenário próspero que não existe. Diante da distância entre os discursos otimistas e a ­realidade, Lula perde fôlego perante a opinião pública, apesar de ainda deter altíssimos índices de aprovação de seu governo. A despeito de tudo isso, Dilma se torna mais conhecida e cresce nas pesquisas eleitorais.

Serra x Dilma

de Humberto Dantas

A

proveitando uma frase que caracterizará o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ‘nunca antes na história desse país’ antecipamos de forma tão escancarada, escandalosa e exagerada uma eleição presidencial. As estratégias tomam conta das principais atitudes de políticos e partidos por todo o território nacional. O que não faltam são exemplos de atitudes eleitoreiras, que se aproximam dos limites legais para lançarem nomes, ideias e projetos. O governo federal pauta claramente suas realizações nas disputas de 2010. Assim, parece ignorar os reais e devastadores efeitos e impactos da crise econômica mundial, chamando-a de "marolinha", quando uma onda gigantesca eleva os índices de desemprego, reduz a atividade comercial e impacta a qualidade de vida. Cerca de meio milhão de brasileiros, por exemplo, já deixaram a tão sonhada classe média – C – e voltaram para as camadas ‘D’ e ‘E’ nos últimos meses. A comemorada prosperidade oferece espaço para momento significativamente delicado.

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Por outro lado a oposição parece apostar nas colocações equivocadas do presidente. O programa dos Democratas - DEM, partido de oposição - na televisão deu conta de que a "marolinha" do presidente se transformou em enchente. Mas apostar nesse tipo de propaganda indica que tem gente tentando lucrar com a crise, torcendo pela desgraça do país. No PSDB, partido que efetivamente deverá rivalizar com Dilma do PT, José Serra, SP e Aécio Neves, MG, se preparam para uma prévia que pode não ocorrer. O objetivo é saber em torno de qual candidatura o partido se concentrará, correndo o risco de haver nova quebra e pouco empenho de alguns setores. Nesse caso, é importante destacar os excessivos recursos despendidos pelo governo paulista com propaganda institucional. A prestação de contas dos atos públicos tem se tornado exagerada. As ações correm o país, em horário nobre de televisão. Além disso, José Serra tenta se firmar como um gestor dos mais competentes. Seu estilo se distancia de Lula, seu carisma não atinge os índices daquele que ocupa o posto com o qual sonha. Assim, suas atitudes tentam provar que antes de um amigo ou de um pai, o povo precisa de um técnico, de um administrador hábil. Para tanto, distribui pelo Brasil material para prefeituras e aliados que mostram como trabalhar de forma eficiente. Tudo indica que em 2010 teremos uma disputa bastante acirrada. Mas devemos esclarecer: faltam 14 meses para as definições oficiais das candidaturas e 18 meses para as eleições. Enquanto isso, a crise demite, a propaganda despende e a sociedade se pergunta: temos efetivamente gente preocupada com o nosso presente, ou apenas com o futuro das lideranças políticas nacionais? Fiquemos ligados, a urgência da crise nos coloca, mais do que nunca, como os legítimos demandantes de direitos e bem-estar. 

Humberto Dantas é cientista político, coordenador de cursos na Assembleia Legislativa de São Paulo e apresentador do programa Despertar da Cidadania na rede Canção Nova de Rádio. Maio 2009 -

Iniciação à vida cristã

FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

“Desafios da Missão: Iniciação Cristã, Missão Continental e Missão AlémFronteiras”, foi o tema da 28ª Assembleia Geral do Conselho Missionário Nacional - COMINA, realizada em Brasília, de 12 a 15 de março. Um dos conferencistas foi dom Antônio Possamai, bispo emérito de Ji-Paraná, Rondônia, que debateu o tema em estudo.

N

ão sou especialista em Catequética. Apenas tenho algumas convicções que se baseiam na leitura que faço da história atual da nossa Igreja. Ao longo da minha vida pastoral tentei algumas experiências no sentido de dar outra direção ao processo de educação na fé, valorizando a iniciação cristã. Estas experiências nem sempre tiveram tanto êxito, mas algumas foram promissoras e gratificantes. Continuo alimentando a esperança de que um dia acontecerá uma total virada na condução do processo de acolhida e introdução do povo na nossa Igreja, bem como no processo de educação da fé.

ao apontar a necessidade de fé mais comprometida com a vida. A Encíclica Evangelii Nuntiandi (1975) poderia ter sido o grande passo para esta mudança. Este documento reprova uma catequese de tipo “verniz superficial”. Tomo a liberdade de citar alguns exemplos do nosso tradicional comportamento neste campo, comportamento muito distante de uma iniciação cristã: continuamos batizando crianças sem nos preocuparmos se há condições para entender que o batismo deve ser uma resposta a um chamado e sem entender o alcance e as consequências deste sacramento; continuamos com a

“catequese” de primeira Eucaristia, e só, sem estarmos atentos ao “antes” e ao “depois”, embora bastante atentos ao “dia”: roupa, filmagens, fotografias, um pouco de atenção à liturgia, à festa na família e outros detalhes. O “antes” é a vida familiar, social e eclesial do candidato. O “depois” é a caminhada do “eucaristizado” dentro da comunidade. O mesmo acontece com a “catequese” de crisma. Crisma-se quando o candidato concluiu o programa e, normalmente, baseados unicamente no testemunho do catequista, excluída a comunidade que não acompanhou o candidato na sua caminhada eclesial e social; quase José Altevir da Silva

de Antônio Possamai

Um pouco da realidade

Muito se tem escrito sobre o tema da iniciação cristã nestes últimos anos. O Diretório Nacional de Catequese dedica bom espaço para o tema. Entretanto, a caminhada vai prosseguindo muito lentamente. Nossa Igreja do Brasil continua teimando em acreditar numa história que comprovadamente não tem dado certo. Falta a coragem eclesial de dar uma virada. Teima na prática de catequeses pontuais. Em vista dos sacramentos. Não em vista da vida cristã, da união entre fé e vida. Até mesmo a cúpula da Igreja se preocupa muito mais com dados estatísticos do que com a qualidade dos católicos, embora o Magistério da Igreja seja insistente

- Maio 2009

Padre Joachim Andrade, SVD e dom Antônio Possamai durante Assembleia do COMINA, Brasília, DF.

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José Altevir da Silva

28ª Assembleia Geral do COMINA, março de 2009, sede das Pontifícias Obras Missionárias, Brasília, DF.

Como nos queixarmos de que não temos vocações para os mais diversos ministérios consagrados ou leigos na Igreja se não fornecemos aos nossos católicos uma iniciação cristã que os leve a um encontro e a uma decisão pessoal com Cristo e com sua Igreja?

Jaime C. Patias

nenhuma catequese para o sacramento do matrimônio, para os poucos que ainda procuram este sacramento. Enfim, falta-nos a visão e o compromisso de “educar para viver a fé”, educação que se projete em todas as circunstâncias da vida: familiar, eclesial, social, empresarial, política, jurídica etc. e que se estenda para toda a vida. Fica então bem claro que dá para entender porque temos um catolicismo tão insignificante e tão dividido. Vejamos alguns exemplos: como nos queixarmos de que não temos vocações para os

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mais diversos ministérios consagrados ou leigos na Igreja se não fornecemos aos nossos católicos uma iniciação cristã que os leve a um encontro e a uma decisão pessoal com Cristo e com sua Igreja? Como nos queixarmos de que tenhamos tantos governantes dos três poderes constitucionais, tantos empresários tão injustos e tão corruptos se não os educamos na fé? Como nos queixarmos de que nossa juventude e nossos casais não valorizam o sacramento do matrimônio, e a família vai desmoronando? O que é que nos preocupa como missionários? O número ou a qualidade dos cristãos católicos?

Um pouco de história

Nos primeiros séculos do nosso tempo o processo para ingressar na Igreja era muito exigente. Era levado muito a sério o tempo do “catecumenato”. Após o primeiro anúncio – querigma – se a resposta era “sim”, o candidato ingressava no grupo dos catecúmenos. Era uma caminhada relativamente longa dependendo do progresso do candidato. Tinha duração variável, normalmente de dois a três anos. Entretanto, em alguns casos, este tempo poderia exigir até mais anos de preparação. Na Igreja primitiva este itinerário era muito exigente. Para os pagãos havia uma preparação catecumenal prévia ao batismo. Esta preparação consistia numa instrução na fé cristã Formação missionária para seminaristas, Centro Cultural Guido e, sobretudo, tratava-se de Conforti, Curitiba, Paraná.

criar no convertido uma nova conduta, pela participação na vida da comunidade eclesial. O catecumenato introduzia o convertido na vida da Igreja, no cerne dos três ministérios: da palavra, litúrgico e da conduta ou vivência cristã. Sem a demonstração concreta de trilhar o caminho de Jesus, o catecúmeno não era admitido e introduzido no seio da comunidade eclesial. Temos o testemunho de alguns escritores, como Justino e Hipólito de Roma que afirmam que do século I em diante o catecumenato era uma instituição bem organizada. Os candidatos eram admitidos sob a condição de um exame de sua conduta ou comportamento, bem como das reais motivações da conversão. O imperador Constantino talvez estivesse bem intencionado quando decretou a liberdade para os cristãos viverem publicamente sua fé. Mas, sem prever, deu início a uma vida cristã sem coerência e sem compromisso. Ser cristão foi se tornando sempre mais fácil e até mesmo vantajoso. O cristianismo aos poucos tornou-se a religião oficial do Império. Aos poucos os bispos foram se tornando príncipes, com suas roupagens e palácios, e, em certos casos, até mesmo administradores políticos e governadores de Estados, com seus exércitos, distanciando-se sempre mais do modelo de Jesus Cristo e do modelo dos Apóstolos. Havia, consequentemente, muitas vantagens. Ser cristão não oferecia mais perigos. E o catecumenato foi se extinguindo. Lá pelo século V, tinha praticamente desaparecido. E multidões iam ingressando na Igreja. Vivemos o nosso modo de ser

Maio 2009 -

FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

A iniciação cristã deve ser cada vez mais percebida, recebida e vivenciada a partir da ótica missionária, pois missão não é uma opção aleatória que fazemos na Igreja, mas é parte integrante da sua própria natureza. E poderia continuar engrossando esta lista de vítimas de um cristianismo sem compromisso.

É urgente mudar

E agora? Faz-se urgente nos vestirmos de coragem para darmos uma virada na história. E o tempo está mais uma vez propício para nós, católicos, que vivemos na América Latina. O Espírito nos vem falando com insistência, como recentemente nos falou em Aparecida. O episcopado latino-americano e caribenho mostrou-se preocupado com este tema da Iniciação Cristã e deixou-nos ricos ensinamentos. Tenhamos presente que estamos sendo convocados para uma Permanente Missão Continental. Não mais apenas periódicas Santas Missões Populares, por sinal muito valiosas; nem somente a celebração do mês missionário com sua oferta; nem mesmo tão somente com o envio de alguns missionários para regiões mais necessitadas; e muito menos restringindo a visão missionária à responsabilidade de algumas congregações religiosas. Aliás, desde o Vaticano II com a definição de Igreja como “Povo de Deus”, participantes do Jaime C. Patias

cristão em decorrência deste fato até nossos dias. Não só fomos perdendo a qualidade de sermos fermento, sal e luz, mas, muito pior, como cristãos católicos somos motivos de escândalos e de páginas vergonhosas na nossa história. Fomos perdendo significado e deixando de ser admirados, como acontecia com as primeiras comunidades cristãs. E foram acontecendo fatos que, analisados em nossos dias, nos causam escândalo. Vejamos: os impérios católicos foram se expandindo, tomando terras, continentes com a cruz e a espada; povos nativos foram sendo sacrificados, negros foram sendo escravizados. Convenhamos: a atual situação da África deve-se ao comportamento das nações conquistadoras e colonizadoras, sempre cristãs (católicas ou protestantes). No Brasil, com destaque para a Amazônia, atualmente avançam o agronegócio, o desmatamento, as queimadas, a poluição do solo, das águas e do ar, a concentração da terra até mesmo mediante a contratação de pistoleiros, matando, e até, muitas vezes, colocando o nome de alguma santa na porteira da fazenda. Ainda como católicos não profetizamos contra um sistema neoliberal que provoca a falência da sociedade e aumentamos o número de famintos, de doentes, de mortos prematuramente. Promovemos guerras e, para alimentá-las, fabricamos armas as mais sofisticadas e mortíferas. É bom lembrar que grande parte das minas que aleijam e matam em Angola são fabricadas num país marcadamente católico como é o Brasil.

Estudo dos Salmos durante Curso de Verão 2009, promovido pelo CESEP na PUC-SP.

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munus profético, sacerdotal e servidor de Cristo recebemos o recado de sermos uma Igreja toda e sempre missionária. Infelizmente pouco caminhamos. E pensar que já se passaram mais de 50 anos desde que o Espírito falou de maneira tão forte! E nem se trata somente de uma missão para que aumente o número de batizados e que frequente a missa dominical ou que batize seus filhos e contribua com o dízimo. Tudo isto será consequência de uma missão que tenha por base uma séria iniciação cristã que de fato eduque para a vivência da fé. Iniciação que deve atingir todas as pessoas de todas as idades. Aparecida começa a tratar do tema da iniciação cristã vendo brevemente o que acontece com os católicos na América Latina e Caribe: “são muitos os cristãos que não participam da Eucaristia dominical nem recebem com regularidade os sacramentos nem se inserem ativamente na comunidade eclesial... Temos alta porcentagem de católicos sem a consciência de sua missão de ser sal e fermento no mundo, com identidade cristã fraca e vulnerável” (DA 286). Logo mais adiante julgar a realidade como um grande desafio que questiona a fundo a maneira como estamos educando na fé e como estamos alimentando a experiência cristã (DA 287). E adianta uma convocação para mudar. É o agir: desafio que devemos encarar com decisão, coragem e criatividade, visto que em muitas partes a iniciação cristã tem sido pobre ou fragmentada... “Impõe-se a tarefa irrenunciável de oferecer modalidade de iniciação cristã, que além de marcar o quê, também dê elementos para o quem, e como e onde se realiza” (DA 287). É a forma de assumir o desafio de uma nova evangelização para a qual já fomos muitas vezes convocados. Voltemos um pouco mais para a nossa história para que melhor entendamos a situação atual. A partir do século IV, com as “conversões” em massa, o catecumenato se reduziu ao tempo da Quaresma, quando se administrava aos convertidos uma catequese básica. Aparece então um fato novo: cresce o número de crianças ao batismo e diminui o número de adultos. Este fato novo explica a substituição da instrução pelo rito. A razão é o surgimento de uma deter-

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minada teologia do pecado original, que induzia a batizar as crianças o quanto antes. Podemos então afirmar que as mudanças havidas no século IV desestruturaram a catequese, sem que até hoje se tenha encontrado uma resposta satisfatória a desafios que perduram desde essa época. O batismo das crianças antes do processo catequético, a primeira eucaristia no início deste processo e a confirmação no final do mesmo, dão a impressão de que a função da catequese é preparar para a recepção dos sacramentos. Sugere também que catequese é assunto de crianças. E com isto, desapareceu a catequese de iniciação. Tudo isso é reflexo de um modelo eclesiológico que ainda privilegia a sacramentalização. Os resultados são estes de que falei anteriormente. A partir desta realidade marcada por tantas negatividades, devemos afirmar que é impossível ser um cristão sem passar por um processo de iniciação cristã. E tem mais: a iniciação cristã não pode ser feita somente pela pessoa da/o catequista porque a fé e o tesouro da mensagem evangélica são realidades que se recebem pessoalmente, mas através da comunidade. A iniciação cristã pressupõe uma comunidade de fé, no interior da qual o catequizando, uma vez inserido, é capaz de fazer um processo, que começa pela catequese de iniciação e continua com a catequese de adultos. Este ensinamento nos obriga a pensar: o que se pode esperar de um catequizando que não vê e nem sente uma comunidade de fé? Pior ainda: de uma família que não vive a fé, mas apenas busca o rito? Como se trata de iniciação ao cristianismo como um todo, entende-se por participação em uma comunidade concreta mais que a presença em atos de culto, na vida da Igreja como um todo. Para a iniciação cristã, é muito importante o contexto no qual a comunidade e, dentro dela, catequizandos, catequistas, pais e padrinhos estão inseridos. O contexto é importante, não simplesmente por uma questão de buscar-se uma linguagem adequada para que se dê uma comunicação mais efetiva, mas, sobretudo, para que os catequizandos possam ir encarnando a fé cristã na vida pessoal, comunitária e social. Voltando ao que nos ensina o Ma-

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Arquivo Missões

FORMAÇÃO mISSIONÁRIA na vida cristã os adultos batizados e não suficientemente evangelizados; b) as crianças batizadas em um processo que as leve a completar sua iniciação cristã; c) os não-batizados que, havendo escutado o querigma, queiram abraçar a fé (DA 293). Continua nosso documento ensinando o seguinte: “Propomos que o processo catequético de formação adotado pela Igreja para a iniciação cristã seja assumido em todo o continente como a maneira ordinária e indispensável de introdução na vida cristã e como a catequese básica e fundamental” (DA 294).

Concluindo

gistério da Igreja da América Latina, vejamos a provocação que nos faz Aparecida: “Temos alta porcentagem de católicos sem a consciência de sua missão de ser sal e fermento no mundo, com identidade cristã fraca e vulnerável” (DA 286). “Isto constitui um grande desafio que questiona a fundo a maneira como estamos educando na fé e como estamos alimentando a experiência cristã; desafio que devemos encarar com decisão, coragem e criatividade, visto que em muitas partes a iniciação cristã tem sido pobre ou fragmentada” (DA 287). E fala ainda mais fortemente: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convocando-as para segui-Lo, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora” (DA 287).

Paróquia e iniciação cristã

A iniciação cristã dá a possibilidade de uma aprendizagem gradual no conhecimento, no amor e no seguimento de Cristo. Desta forma, ela forja a identidade cristã com as convicções fundamentais e acompanha a busca do sentido da vida. Uma comunidade que assume a iniciação cristã renova sua vida comunitária e desperta seu caráter missionário. Ensinam nossos bispos em Aparecida: a paróquia precisa ser o lugar onde se assegure a iniciação cristã e terá como tarefas irrenunciáveis: a) iniciar

Nestes últimos tempos o Espírito nos tem falado repetidas vezes e com muita insistência. Valem para nós as palavras do Salmo 95: "Quem dera que hoje ouvísseis sua voz; não endureçais os corações, como em Meriba, como no dia de Massa no deserto, onde vossos pais me tentaram, me provaram, apesar de terem visto as minhas obras". Creio muito oportuno ir concluindo com esta citação de Aparecida. “Assumimos o compromisso de uma grande missão em todo o continente, que de nós exigirá aprofundar e enriquecer todas as razões e motivações que permitam converter cada cristão em discípulo missionário. Necessitamos desenvolver a dimensão missionária da vida de Cristo. A Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do continente. Necessitamos que cada comunidade cristã se transforme num poderoso centro de irradiação da vida em Cristo. Esperamos por um novo Pentecostes que nos livre do cansaço, da desilusão, da acomodação ao ambiente; esperamos uma vida do Espírito que renove nossa alegria e nossa esperança” (DA 362). E, finalmente: no episódio da Visitação, Maria, grávida de Jesus, nos dá duas lições: 1) tem pressa: “partiu apressadamente para a região montanhosa”. 2) muito cedo iniciou seu Filho na vivência da sua missão: entrando na casa de Isabel e Zacarias tornou alegres aquelas pessoas e fez João pular de alegria no ventre de Isabel. O missionário vibra com a sua vocação. 

Dom Antônio Possamai é bispo emérito de Ji-Paraná, Rondônia.

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Roteiro de Encontro

Tema do mês: Refletindo sobre a crise a) Acolhida b) Invocação do Espírito Santo c) Dinâmica d) Apresentação do tema, questionamentos e debate e) Compromisso mensal f ) Oração conclusiva

A queda do capital. Ilustração: Carlos Lattuf

de Vanessa Ramos e Jonathan Constantino

É

cada dia mais comum assistir a telejornais, ouvir programas no rádio, ler em revistas, jornais ou na internet, notícias relacionadas a uma tal crise econômica mundial. Mas, apesar de presente em discursos e noticiários, pouco se tem feito no sentido de explicar o que é essa crise: suas origens, características e consequências.

Crise de quê?

A crise está relacionada ao modelo atual de organização da sociedade em que vivemos. Enfrentamos os efeitos de uma globalização propagada como a integração dos povos, cujo lema era o pensar global e agir local. Mas, na prática, andamos na contramão, na qual a lógica é globalizar a produção e localizar a riqueza, intensificando-se uma política deliberada que não vem por acaso. A crise é reflexo da liberdade do movimento dos capitais em um mercado financeiro sem regras. Esse processo de especulação mercantil, financeiro e produtivo é semelhante a um carro que possui apenas o pedal de aceleração (lucro). O carro acelera sem se preocupar com os pedestres que podem entrar em sua frente. Assim, o “mercado sem freios” atropela as relações mínimas de sustentabilidade e de sobrevivência. Nesse sentido, a estruturação de nossa sociedade sobre relações individualistas entre os seres humanos, a economia e relações financeiras desregradas, a devastação ambiental e o consumismo exacerbado, gerou não apenas uma crise econômica mundial, mas sim uma Crise Estrutural do modelo capitalista de produção, colocando-o em xeque.

Consequências

Dentre as consequências desta crise, a mais imediata é o aumento do desemprego. Devido à diminuição do consumo e à redução da demanda de produção, as empresas tendem a fechar postos de trabalho. Há uma investida dos empresários na busca da flexibilização das leis trabalhistas, o que lhes permitirá explorar ainda mais os trabalhadores para poderem garantir seus lucros. Outra ação constatada em momentos de crise é o aumento da repressão aos oprimidos que lutam pela efetivação de seus direitos e denunciam as mazelas do sistema capitalista. Essa repressão ocorre de modo ideológico, através dos meios de comunicação; ou de modo efetivo, através das polícias, dos serviços militares e do Judiciário.

E agora?

Que crise é essa?

Fica cada vez mais evidente, nesses dias, o quão desumana e injusta é a lógica do sistema capitalista na qual um pequeno grupo concentra as riquezas produzidas por uma maioria de trabalhadores. Em tempos de crise há uma tendência muito forte ao agravamento da barbárie, na qual os prejudicados serão os trabalhadores, as mulheres, os negros, indígenas e jovens, principalmente os mais pobres. Há uma dívida a ser paga. Não é justo que os trabalhadores paguem por uma crise que não foram eles que construíram. Por isso, como Jesus Cristo, devemos nos posicionar radicalmente ao lado dos oprimidos e não de seus opressores e atentarmos ao alerta que seus ensinamentos e atitudes nos fazem sobre uma outra forma de relação com o mundo e o próximo, num modo de vida integral e comunitário. 

Vanessa Ramos, do Cimi-SP e colaboradora da revista Missões e jornal Brasil de Fato. Jonathan Constantino, professor e colaborador da revista Missões e jornal Brasil de Fato.

Para refletir:

1. Você já ouviu falar da crise? 2. Você se sente afetado por ela? 3. O que a juventude tem a ver com a crise?

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de Lírio Girardi

"E

stou celebrando com os índios a vitória que acaba de acontecer no Supremo Tribunal Federal”. Era a voz de dom Roque Paloschi, atual bispo de Roraima que, do outro lado da linha, respondia à minha chamada telefônica. O motivo da celebração era o desfecho final do julgamento concluído em 19 de março de 2009, no qual o STF confirmou a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em área contínua - 1.700.000 hectares - conforme assinada pelo presidente da República, em 15 de abril de 2005. Em especial os Povos Indígenas, a Igreja de Roraima, missionários e missionárias, leigos e leigas, e todas as pessoas e organizações que colaboraram, lutaram e sofreram até chegar este dia, têm mil motivos para se alegrar e celebrar esta vitória, apesar das resalvas impostas pelo STF. Desde o século XVI, a Igreja esteve presente junto aos Povos Indígenas de Roraima. E o recente Documento de Aparecida confirma esse compromisso dos discípulos missionários.

Documento de Aparecida

“Como discípulos missionários a serviço da vida, acompanhamos os povos indígenas e originários no fortalecimento de suas identidades e organizações próprias, na defesa do território na educação intercultural bilíngue e na defesa de seus direitos”. (DA 530) Desde o século XVI, padres jesuítas e carmelitas trabalharam junto a esses Povos, muitas vezes acompanhando expedições de “Resgate e Descimentos”, cuja finalidade era aprisionar índios e levá-los como escravos para Manaus e Belém. Freis franciscanos e padres diocesanos também estiveram junto aos índios, frequentemente envolvidos na luta contra a concorrência dos protestantes. Os monges beneditinos e beneditinas, de 1908 a 1948, marcaram significativamente a vida e a cultura, principalmente dos povos Macuxi, Wapixana, Ingarikó, Maiongon e Taurepang, visitando, convivendo, estudando as línguas e a cultura

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As opções da Igreja Católica na sua caminhada com os Povos Indígenas de Roraima. Lírio Girardi

Destaque do mês

A conversão da Igreja

Curso sobre a história do povo na Bíblia e a história do povo Macuxi, em 1993, Raposa Serra do Sol, RR.

e organizando a catequese. A partir de 1948, chegaram também os missionários e missionárias da Consolata, que deram continuidade a este trabalho. A partir de 1990, várias congregações masculinas e femininas e o clero local reforçaram a presença da Igreja na região.

Que presença?

Até o Concílio Vaticano II luzes e sombras misturam-se. Os missionários eram enviados a evangelizar todos, indistintamente: fazer cristãos-católicos, batizar. Essa era a missão no tempo do cristianismo monocultural: plantar a Igreja Católica, para todos, índios e não-índios. O estudo das línguas e da cultura ajudava nesse processo de catequização. Os missionários faziam longas viagens, a pé, no lombo do burro, ou em transportes precários para garantir a “desobriga” - deveres cristãos. As escolas eram espaços privilegiados. As igrejas eram poucas. A sede da fazenda do gado tornou-se estratégica para o missionário se apoiar, reunir o povo, celebrar a missa, batizar e administrar os casamentos. A introdução do gado, em 1777, nessa região habitada por diferentes Povos Indígenas, significou o início da invasão das terras, da dominação e exploração dos índios. A fazenda tornouse o centro deste processo. Sem julgar as intenções, a Igreja foi parceira em muitos aspectos, omissa em outros, e também profética, em alguns momentos. Desde o

início, aconteceram choques entre alguns “coronéis de Roraima”, detentores do poder econômico e político, e a Igreja.

Depois do Vaticano II

Os documentos do Vaticano II (1962), de Medellín (1968) e de Puebla (1979), trouxeram, para a Igreja, novas luzes, novos valores, novas atitudes e, principalmente, uma nova leitura da realidade, iluminada pela Palavra de Deus. Com isso, os missionários descobriram a tensão e o conflito existente entre a aldeia e a fazenda, entre índios e fazendeiros invasores que chegaram de mansinho, pedindo licença para colocar o gado. O índio acreditou. O gado foi se multiplicando; invadiu as terras, as roças, - não havia cercado -, semeando medo, destruição e tristeza. O índio tornou-se mão de obra barata das fazendas e perdeu a posse da terra. Nessa situação, ele precisava pedir licença ao fazendeiro para pescar, caçar e tirar palha do buritizal para cobrir a casa. O dono da terra havia se tornado escravo. A língua indígena também foi cedendo espaço para o português. A língua Macuxi passa a ser chamada de “gíria”. As outras também. Para ser gente, precisa falar português. “Nós pensávamos que o Deus do branco era bom”, disse o velho Tuxaua Gabriel Macuxi, referindo-se a essa traição. Com a invasão da terra e a perda da língua, o índio perdeu suas raízes, sua Maio 2009 -

da Polícia e da Funai e do modo como atuavam os missionários. A Assembleia foi suspensa, pela truculência da Polícia e da Funai que exigiam a retirada do presidente do CIMI. Dom Aldo Mongiano se opôs, já que dom Tomas Balduíno era seu convidado especial. Os índios tiveram que voltar para suas casas. Foi então que eles entenderam que deveriam se organizar a partir de si mesmos. Começaram as reuniões nas comunidades indígenas e nas diferentes regiões do Estado. As Assembleias continuaram. O movimento indígena foi tomando corpo: nasceram novas lideranças comunitárias, novas organizações – Conselhos – e em 1987, foi criado o Conselho Indígena de Roraima - CIR, hoje uma das mais dinâmicas e respeitadas organizações da Amazônia e do Brasil. b) Preparação de Agentes de Pastoral. Em 1978, a Diocese de Roraima realizou o primeiro Curso sobre Indigenismo, assessorado pelo especialista de cultura indígena, o padre jesuíta Bartolomeu Mellia. Daí nasceu o Primeiro Documento da Pastoral Indigenista da Igreja de Roraima, que denunciou a triste realidade de abandono e sofrimento dos Povos Indígenas, sua marginalização econômica, cultural e ideológica; escolheu, como objetivos a defesa das terras indígenas, a preservação da cultura, o estudo das línguas, a comunhão de vida com os índios, e sua autonomia; e propôs como Linhas de Ação: denunciar casos de violação de terras indígenas; continuar apoiando as assembleias anuais dos chefes indígenas; preparar os agentes de pastoral indigenista; sensibilizar o povo de Roraima sobre a realidade indígena; em sintonia com o CIMI e a Igreja do Brasil - CNBB. c) Investimento de recursos econômicos. Além de destinar agentes de pastoral, a Igreja investiu recursos em projetos

Diocese de Roraima

Criada em 1977 (desde 1908 era Prelazia de Roraima), compreende todo o Estado. São 226 mil quilômetros quadrados, com uma população atual em torno de 400 mil habitantes, dos quais, mais de 40 mil índios, de nove etnias diferentes: Macuxi, Wapixana, Yanomami, Ingarikó, Taurepang, Patamona, Wai-Wai, Atroari-Waimiri e Yekuana. identidade. Explorados e desprezados, os Macuxi e Wapixana, nos anos 60 e 70, do século passado, tinham vergonha de serem índios. Consideravam-se “caboclos”, porque índio é bicho, diziam os brancos.

Uma opção histórica

Uma nova leitura da realidade levou em 1974, os missionários da Consolata em Roraima a escolher os Povos Indígenas e as Comunidades Eclesiais de Base CEBs - como prioridades de seu trabalho. Em 1978 foi a Diocese de Roraima que, em Assembleia fez a opção preferencial pelos índios e indicou a Pastoral Indigenista como prioridade. Em 1979, dom Aldo Mongiano, bispo de Roraima, publicou uma Carta Pastoral com o título: “Podem os missionários evangelizar os índios?”. Foi uma resposta ao presidente da Fundação Nacional do Índio - Funai - que proibia os missionários de trabalhar com os Povos Indígenas. O bispo denunciou a vergonhosa situação de abandono e exploração que eles sofriam e afirmou que a Igreja iria continuar sua missão, apesar da proibição. a) Assessoria ao movimento indígena. Desde os anos 1970, a Igreja promovia, na Missão Surumu, a 200 quilômetros de Boa Vista, encontros de lideranças indígenas, sobre temas como: alfabetização, higiene, construção de casas e aprendizagem da Celebração da Palavra de Deus. Em janeiro de 1977, foi realizada a Primeira Assembleia dos Tuxauas de Roraima, em Surumu, com a participação de 147 lideranças, os bispos dom Aldo Mongiano, de Roraima e dom Tomás Balduíno, presidente do Conselho Indigenista Missionário - CIMI -, missionários(as), leigos(as) e jornalistas. Esta Assembleia marcou a arrancada do movimento indígena. Após um dia inteiro de fala das lideranças Macuxi e Wapixana, quando denunciaram seu sofrimento e a invasão do gado em suas terras, queixaram-se - Maio 2009

Arquivo CIR

Marcos desta opção

Gado do Projeto "Uma Vaca para o Índio", Muriru, RR.

que respondessem às necessidades concretas dos índios, como: ferramentas para incentivar a produção; escolas indígenas para preservar a língua e a cultura Macuxi e Wapixana; encontros entre missionários e lideranças sobre tradições indígenas, com a assessoria de Pajés Macuxi; promoção da mulher indígena, através de cursos de corte e costura que gerou o Movimento das Mulheres Indígenas de Roraima; cooperativas comunitárias, para favorecer as trocas e o comércio dos produtos indígenas, entre as diversas comunidades; cursos de formação de lideranças, para tuxauas, professores, agentes de saúde, catequistas, conselheiros, vaqueiros; encontros de formação política, em todos os níveis, visando a participação dos índios na Assembleia Nacional Constituinte de 1988. d) Um projeto libertador. Foi o gado invasor que ocupou e roubou a terra do índio. Dizia-se: “somente quem tem gado tem direito a ter terra”. Alguém concluiu: vamos criar condições para o índio ter o seu gado, já que ele aprendeu a lidar com o gado das fazendas. Dessa realidade e inspirado pela Palavra de Deus, nasceu o projeto econômico, político e social, “Uma vaca para o índio”. O Estatuto estabeleceu como objetivos: recuperar a terra, criar união entre as comunidades indígenas e melhorar a alimentação. Cada comunidade que optava pelo projeto, se comprometia a construir o curral e escolher o vaqueiro. Assinava o termo de compromisso e recebia 52 cabeças de gado para cuidar, durante cinco anos. Após esse tempo, a comunidade repassava 52 cabeças para outra comunidade e ficava com o fruto. Este projeto foi o motor da luta de libertação. Semeou coragem, incentivou a união das comunidades e principalmente ocupou e recuperou a terra. O papa João Paulo II, através do cardeal Tonini, arcebispo de Rimini, que visitou as comunidades indígenas, enviou, como oferta pessoal, a quantia para comprar dez cabeças de gado para os índios. O apoio e a generosidade de muitas pessoas e organizações foram extraordinários. O projeto distribuiu 8.500 cabeças de gado a 150 comunidades. Hoje, esse gado ultrapassa 30 mil cabeças e continua recuperando a terra, alimentando a esperança e a vontade de lutar e viver. A conquista da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, sua demarcação e homologação, e a confirmação pelo STF, selando definitivamente a vitória dos Povos Indígenas, deve-se muito ao projeto “Uma vaca para o índio”. (continua na próxima edição). 

Lírio Girardi, imc, é superior provincial do Instituto Missões Consolata no Brasil.

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100 Anos em Missão “Eu te dou a vocação: vai e funda...”

de Rosa Clara Franzoi

O

olhar atento de um homem chamado José Allamano – sacerdote da diocese de Turim, norte da Itália – foi a pedra de toque para o início da congregação das Missionárias da Consolata. No coração dele pulsava um ardente zelo pelo anúncio do Evangelho. Após uma profunda experiência do Cristo Missionário, acabou cedendo ao forte apelo. A vontade de ser missionário era tanta que ele teria ido pessoalmente para a Missão se a sua frágil saúde o permitisse. Como os santos sempre acham saídas para justificar seus ideais e sonhos, José Allamano, quase como “revanche” decidiu reunir discípulos e discípulas, para que, de certa forma concretizassem o que a ele estava sendo negado. O olhar se voltava para o continente africano, onde o missionário Guglielmo Massaia deixara profundas marcas de um grande serviço de evangelização no país da Etiópia e de onde fora expulso com outros missionários. Enfrentando dificuldades, em 1901 o padre Allamano funda o Instituto das Missões, para padres e irmãos. E em 1903 já envia os primeiros quatro missionários para o Quênia, na África.

Missionárias da Consolata

Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.

Jaime C. Patias

Com a dedicação e o esforço dos missionários, o campo apostólico vai se expandindo e o trabalho evangelizador tornase mais abrangente. São necessárias novas forças. Os mis-

sionários apresentam ao fundador a necessidade da presença de missionárias, especialmente para o campo da promoção da mulher e da infância. Tentando contornar o problema, Allamano faz um apelo às congregações religiosas femininas já existentes para um trabalho missionário na África. Seu apelo foi acolhido por algumas famílias religiosas, e no primeiro momento, o caso parecia estar resolvido; porém, por uma série de razões, não foi possível dar continuidade ao projeto. Diante do impasse, José Allamano expõe o problema ao então papa Pio X e trava-se o seguinte diálogo: Pio X: Por que não fundas tu um Instituto feminino, como fizeste com os missionários? Allamano: Santidade, eu não tenho vocação para fundar um Instituto para mulheres. Pio X: Ah! Se a questão for só esta, eu te dou a vocação: Vai e funda. Allamano toma as palavras de Pio X como uma ordem. E desde aquele momento, começa a pensar na fundação. Muitas coisas aconteceram entre este diálogo e a concretização da obra. Além da enorme responsabilidade, teve que enfrentar a descrença de muitos, para os quais a Missão não era compatível com as mulheres. Começa toda uma história de sofrimentos, mas ele não desiste. José Allamano acredita e aposta em suas futuras missionárias. E a memorável data chega: no dia 29 de janeiro de 1910 ele anuncia o início do Instituto das Missionárias da Consolata. 

Irmãs Inezinha Bombardelli e Rebecca Gallazzo durante celebração de Jubileu de Profissão Religiosa, em São Paulo.

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Maio 2009 -

Dia Mundial das Comunicações de Karla Maria

C

riado pelo Concílio Vaticano II através do Documento Inter Mirifica em dezembro de 1963, o Dia Mundial das Comunicações é celebrado todos os anos na festa da Ascensão do Senhor. O tema sugerido para este ano vai de encontro à preocupação da Igreja em assumir no mundo a sua missão de evangelizar, utilizando as inúmeras ferramentas disponíveis. Com o intuito de refletir sobre a relação da Igreja com a comunicação, ferramenta indispensável

"Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade", este é o tema proposto pelo papa Bento XVI para a celebração, em 24 de maio, do 43° Dia Mundial das Comunicações. da sociedade contemporânea, a Igreja concentra sua atuação em um novo contexto, onde as relações humanas (no trabalho, nos lares, escolas, em especial na educação de crianças e jovens), são fomentadas e orientadas pelas novas tecnologias, pelos meios de comunicação. “Estas tecnologias são um verdadeiro dom para a humanidade: por isso devemos fazer com que as vantagens que oferecem sejam postas a serviço de todos os seres humanos e de todas as comunidades, sobretudo de quem está necessitado e é vulnerável”, diz a mensagem do papa Bento XVI proferida em 24 de janeiro de 2009. O pontífice argumenta também, que não podem ser apenas os países industrializados a ter acesso a tais avanços tecnológicos, que devem ser disponibilizados também aos países mais pobres. Dirigindo-se aos jornalistas católicos, o papa convidou a jamais renunciar à coerência e à busca da verdade.

Importância dos meios

“Embora seja motivo de maravilha a velocidade com que as novas tecnologias evoluíram em termos de segurança e eficiência, não deveria surpreender-nos a sua popularidade entre os usuários porque elas respondem ao desejo fundamental que têm as pessoas de se relacionar umas com as outras. Este desejo de comunicação e amizade está radicado na nossa própria natureza de seres humanos, não se podendo compreender adequadamente só como resposta às inovações tecnológicas. À luz da mensagem bíblica, aquele deve antes ser lido como reflexo da nossa participação no amor comunicativo e unificante de Deus, que quer fazer da humanidade inteira uma única família”.

Bento XVI recorda também a importância daqueles que dirigem os meios de comunicação e geram seus conteúdos: “aqueles que operam no setor de produção e difusão de conteúdo dos novos media não podem deixar de sentir-se obrigados ao respeito da dignidade e do valor da pessoa humana”. O Dia das Comunicações neste ano será celebrado em 24 de maio, e todas as dioceses, as Pastorais da Comunicação, comunicadores populares e meios de comunicação católicos, se organizam para celebrar a data e refletir sobre o tema. “Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade”, é responsabilidade de todos os cristãos, em especial dos comunicadores, que devem utilizar os meios disponíveis com ética e compromisso. A Pastoral da Comunicação é fundamental neste processo. Para uma atuação consciente nas comunidades, é imprescindível a informação e uma lúcida Pastoral da Comunicação. Contudo, para que ela seja mais do que um mural de recados, ou a simples exaltação de instituições e pessoas ocupando cargos hierárquicos é necessário que seus agentes de pastoral e comunicadores recebam formação, apoio e condições para comunicar ao mundo o essencial: a Boa Nova de Jesus. “O anúncio supõe conhecimento profundo das tecnologias para se chegar a uma conveniente utilização” afirma o papa Bento XVI, que reforça sua mensagem em especial aos jovens. 

Karla Maria, LMC, é estudante de jornalismo e colaboradora da revista Missões. - Maio 2009

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Queremos vida em abundância! Infância Missionária

“Nós somos povo que caminha em romaria pra garantir a água nossa cada dia!” Roberto Malvezzi (Gogó) de Roseane de Araújo Silva

N Fábio Pinheiro

o mês dedicado às mães e a Maria, Nossa Senhora, vamos falar de uma preocupação constante de muitas mães nos dias atuais, que é a saúde dos pequeninos. Como será que ela anda de um modo geral? As crianças e os idosos parecem ser os mais vulneráveis e são constantemente vítimas de políticas públicas insuficientes. Várias das doenças que os aflige estão ligadas diretamente à falta de água e saneamento, trocando em miúdos, doenças que poderiam ser evitadas. Dados oficiais do sistema de saúde pública indicam que 700 mil internações hospitalares por ano foram causadas por doenças relacionadas à falta ou inadequação de saneamento nos últimos 10 anos. Deste número, para cada 100 internados estimase que 65 sejam crianças menores de 10 anos. Para que o tratamento de esgoto e serviço de coleta chegue a todos os lares brasileiros, seria necessário investir três vezes os recursos atuais, ou seja, cerca de nove bilhões de reais por ano, até o ano de 2020. O investimento é pequeno diante dos benefícios trazidos para a população. Atualmente menos da metade dos domicílios brasileiros têm acesso à coleta de esgoto, trazendo com isso doenças que atingem adultos e crianças. A doença mais comum nestes casos é a diarreia. Para se ter uma ideia, quando a Pastoral da Criança surgiu há 18 anos, a diarreia era a principal

Sugestão para o grupo Acolhida (destacar nesse mês o continente africano, preparar o ambiente com os símbolos missionários, as cores dos continentes, Bíblia e imagens de crianças) Motivação (objetivo): trazer à reflexão do grupo a problemática da falta de saneamento básico e os males que causa para as crianças e adolescentes que sofrem esse drama. Oração espontânea por todas as crianças e adolescentes em leito de hospital. Partilha dos compromissos semanais Leitura da Palavra de Deus (sugestões para os 4 encontros): Realidade Missionária: Mateus 9, 35-38. No Evangelho de Mateus, Jesus nos dá o exemplo de observar a realidade e agir com compaixão em favor dos mais injustiçados. Dessa maneira continuamos a missão de Jesus: levar a Boa Notícia do Reino de Deus a todas as crianças e adolescentes de nossa comunidade. Espiritualidade Missionária: João 4, 1-15. Ao conversar com uma mulher samaritana, Jesus supera os preconceitos existentes em sua época e enxerga a necessidade da samaritana em encontrar a fonte de água viva. Nos dias de hoje, muitas pessoas sofrem pela falta de saneamento e água potável, que as impede de ter uma vida digna. O que fazer então? Compromisso missionário: João 10, 14-18. Jesus se apresenta como o bom pastor, aquele que dá a vida pelas suas ovelhas e não busca seus próprios interesses. Seguir a Jesus é seguir seu exemplo também, na doação e no serviço aos irmãos. Nosso sacrifício desse mês será feito pelas crianças e adolescentes de Mali, na África que sofrem a escassez de água. Vida de Grupo: João 13, 34-35. O maior dos mandamentos é o amor, como nos ensinou Jesus. Através do amor ao próximo seremos reconhecidos como seguidores de Jesus, onde quer que estejamos. Esta é a alternativa de vida que Jesus nos propõe, com vida digna e liberdade diante das situações de morte. Um sinal de vida em nossas comunidades é o trabalho junto às crianças pequenas da Pastoral da Criança, com a pesagem mensal das crianças. Marcar uma visita a uma comunidade vizinha, para acompanhar a atividade. Momento de agradecimento (fazer preces espontâneas a partir do tema e da reflexão do Evangelho). Canto e despedida.

causa de morte entre crianças. Graças ao trabalho de “formiguinha” das líderes das comunidades e o famoso soro caseiro, hoje em dia esta doença é a terceira causa de morte no Brasil. O nosso compromisso como crianças e adolescentes missionários é manter a todos bem informados sobre os acontecimentos que envolvem as pessoas dos continentes (6º Compromisso da IAM). Isso nos ajuda a estarmos atentos ao que ocorre em nosso meio, assim como fez Maria nas Bodas de Caná da Galiléia (Jo 2, 1-12), quando Jesus realizou o seu primeiro sinal. Sua palavra nos convida a uma ação constante: “Façam o que ele mandar!” A partir de pequenos gestos em nossa comunidade, podemos sim colaborar, seja na separação do lixo ou mesmo não desperdiçando água. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, cerca de 900 milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso à água potável, enquanto que 125 milhões de crianças menores de cinco anos vivem em lares sem acesso a fontes de água potável. Devemos ser solidários a partir de nossa casa. Há muito o que fazer! De todas as crianças do mundo – sempre amigas!  Favela do Maruim, em Natal, RN.

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Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná. Maio 2009 -

- Maio 2009

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caminho para o discipulado Jaime C. Patias

Entrevista

Catequese, Nosso coração arde quando Ele fala, explica as Escrituras e parte o pão (Lc 24, 13-35). “Não estamos falando do tradicional cursinho vestibular para Primeira Eucaristia, Crisma, Batismo ou Matrimônio”. de Jaime Carlos Patias

A

44ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil em 2006 aprovou a realização, em 2009, do Ano Catequético Nacional. A abertura oficial aconteceu no dia 19 de abril, com celebrações especiais em todas as paróquias do Brasil e o seu encerramento será na festa de Cristo Rei, dia 22 de novembro. O objetivo é dar novo impulso à catequese como uma dimensão de toda ação evangelizadora da Igreja para o discipulado. Irmão Israel José Nery, membro do Grupo de Reflexão de Catequese - GRECAT, organismo da CNBB e presidente da Sociedade de Catequetas Latino-Americanos - SCALA, nos dá as coordenadas do Ano Catequético e avalia seu alcance eclesial. É urgente recuperar a concepção da catequese como processo permanente de educação da fé e não somente em vista à preparação aos sacramentos. Irmão Nery, o que pretende a Igreja com o Ano Catequético Nacional? Ela pretende “mobilizar-se por inteiro” para assumir e viver a catequese como uma ação eclesial imprescindível para que possa ser e agir conforme o Evangelho, encarnada e libertadora, na realidade do

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Irmão Nery Brasil. Não se trata, portanto de Ano da Catequese, mas de um Ano Catequético. Não é para ficar limitado aos catequistas. A Igreja quer que todas as pastorais, todos os movimentos, todas as congregações, todas as iniciativas dos fiéis, desenvolvam seriamente a dimensão catequética que, aliás, todas possuem pelo simples fato de serem eclesiais. Infelizmente isso ainda não está acontecendo, pois por enquanto está restrito ao pessoal da catequese, que ainda não percebeu o alcance real deste Ano Catequético. Como a Igreja pretende envolver a todos neste Ano Catequético? Colocando em prática as orientações do Documento de Aparecida, sobretudo no que se refere à conversão dos católicos,

Natural de Machado, MG, Irmão Israel José Nery pertence ao Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs (Irmãos Lassalistas), fundado, em 1680, na França, pelo Padroeiro dos Professores, São João Batista de La Salle (1651-1719). Além de trabalhos em sua Província Religiosa, Ir. Nery é escritor com 53 livros publicados. É também autor de vários CDs de canções e DVDs (Ed. Paulinas). ao discipulado missionário, à iniciação cristã, à catequese permanente, à Igreja de comunhão e participação - como um grande plenário de pequenas comunidades, à luta profética por um mundo justo e solidário e na defesa e promoção da vida. Além Maio 2009 -

Luigi Cason

O que é o GRECAT? Grupo de Reflexão Catequética, criado em 1984 para ajudar na operacionalização do documento Catequese Renovada. O Grupo acompanha a reflexão e sistematização da catequese. É responsável pela produção de textos, animando a caminhada catequética. É formado por catequetas: religiosas/os, leigas/ os e presbíteros, que se reúnem duas vezes ao ano. A 3ª Semana Nacional de Catequese que ocorrerá em Itaici, Indaiatuba, SP, nos dias 6 a 11 de outubro contará com palestras como as do cardeal dom Cláudio Hummes, frei Carlos Mesters e do biblista Francisco Ourofino. disso, ela quer operacionalizar o Diretório Nacional de Catequese - DNC e resgatar a riqueza da Catechesi Tradendae ou seja a Catequese Hoje (de João Paulo II), e da Conferência de Puebla, pois ambas celebram 30 anos em 2009. Para facilitar o processo de mobilização nacional, a CNBB publicou um excelente texto base, que está organizado a partir do relato dos Discípulos de Emaús (Lc 13-35). Este Ano Catequético poderá contribuir para a renovação da Igreja? Sim, sem dúvida. Mas é fundamental deixar claro que não estamos falando de catecismo, mas de catequese. E também não estamos falando do tradicional “cursinho vestibular para Primeira Eucaristia” ou “cursinho vestibular para Crisma ou Batismo ou Matrimônio”. A proposta da Igreja é outra e bem desafiadora. Trata-se primeiramente de ajudar a pessoa a realizar o seu encontro pessoal com Jesus Cristo vivo, a se converter, dar seu sim a Deus, como pede o Documento de Aparecida. Ora, isso exige uma mudança no modo de compreender e realizar a catequese. Acredito que uma grande contribuição deste Ano Catequético consistirá, portanto, em trazer para a prática as orientações do Documento de Aparecida no capítulo 6, que nos direcionam para a Catequese de Iniciação à Vida Cristã, apoiada na grande riqueza do Catecumenato da Igreja dos séculos III ao V e no Ritual de Iniciação Cristã de Adultos - RICA. E neste processo, a Igreja confirmará algumas prioridades em sua ação evangelizadora e catequética: a conversão do próprio católico, a começar pelos adultos, e nova formação dos presbíteros, catequistas - Maio 2009

Jovens da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Monte Santo, BA.

e agentes de pastoral a partir do novo conceito de catequese. E como vai ficar então a tradicional preparação aos sacramentos? É um assunto delicado e complicado. Para isso, porém, é preciso de uma vez por todas aceitar que o mundo da cristandade já não existe mais. Estamos num pluralismo cada vez mais amplo. E comprovado está, que um grande número de batizados na Igreja Católica se sente desestruturado face a tantas propostas religiosas e cristãs que se multiplicam dia a dia. Muitos tomam consciência que não são convertidos, ignoram sua fé, não possuem convicções sólidas e são religiosamente infantis. Percebem que seu cristianismo de tradição não lhes dá o suporte necessário para enfrentar este mundo em mudança. Eles se sentem disponíveis a quem lhes fizer uma oferta de conversão e de compromisso. Em Aparecida, os bispos analisaram essa realidade e concluíram que mais do que continuar sacramentalizando é essencial evangelizar, oferecer oportunidade para conversão, para o encontro pessoal com Jesus Cristo. Como consequência, daí virão, o engajamento na Igreja, a frequência aos sacramentos, a opção vocacional, o compromisso com a construção do Reino de Deus. A Iniciação à vida cristã, que tem outro ritmo e outra metodologia que a preparação aos sacramentos, contemplará no devido tempo a vida sacramental, mas como parte de um processo catequético, litúrgico e comunitário que, de fato, possibilite ao fiel se converter e se comprometer com o Senhor, a Igreja e o Reino. É preciso, aqui, ler DA 294. Este ano promete, então, ser revolucionário, no bom sentido da palavra? É isso mesmo. Mas precisamos ter os pés no chão ao mesmo tempo que os

olhos e o coração fixos no horizonte como se víssemos o invisível. A nossa Igreja ainda tem o peso da rotina pastoral, da formalidade nas orações e celebrações, da frieza intelectual no estudo da Bíblia e da Teologia; o peso de uma estrutura de manutenção do seu status quo que lhe dificulta muito ver que ela está ficando para trás na história. E como, na Igreja, a hierarquia comanda tudo, urge que bispos e padres, seminaristas, diáconos (e lideranças cristãs) decidam de vez por um modelo de Igreja de conversão, de comunhão e participação, de escuta e misericórdia, de discipulado missionário, de serviço e profetismo. Só assim os leigos e leigas (98% dos católicos) terão vez e voz. Basta analisar a realidade do Brasil para comprovar que, apesar de ser o maior país cristão do mundo, os cristãos, por não serem em sua grande maioria convertidos, pouco significam para reais e necessárias mudanças na sociedade brasileira. O Ano Catequético visa, sim a renovar a Igreja como um todo. Como está organizado este Ano Catequético? Temos à disposição o excelente texto base (Ed. CNBB) que desenvolve o tema: “Catequese: caminho para o discipulado” e o lema: “Nosso coração arde enquanto ele fala, explica as escrituras e parte o pão” (cf. Lc 24, 13-35). Há ainda vários subsídios como o CD de Hinos e Canções (Ed. Paulinas), o cartaz, spots, releases, artigos e entrevistas para rádio, TV, revistas, jornais. E um dos momentos altos de 2009 será a Terceira Semana Brasileira de Catequese, de 6 a 10 de outubro, em Itaici, Indaiatuba, SP, precedida por várias realizações nos regionais, nas dioceses e nas paróquias. 

Jaime Carlos Patias, imc, diretor da revista Missões e mestre em Comunicação, com a colaboração de Rosa Clara Franzoi.

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Atualidade

CEBs ampliam horizontes d José Roberto Garcia

O 12º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs visa fortalecer a articulação entre elas, aprofundar sua identidade, comunhão e espiritualidade missionária e ecológica.

11º Intereclesial das CEBs em 2005, Ipatinga, MG. de Dirceu Benincá

C

ompreender a realidade como ela é, com vistas a defender a vida e a integridade da criação. Esta é a perspectiva para a qual se orienta o 12º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base, a realizar-se de 21 a 25 de julho de 2009, em Porto Velho, Rondônia. Tendo como tema “CEBs - Ecologia e Missão” e lema “Do ventre da Terra o grito que vem da Amazônia”, o evento deve reunir

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cerca de três mil participantes do Brasil e de outros países. O objetivo do encontro é aprofundar a dimensão missionária das CEBs no âmbito eclesial, sociopolítico e ecológico diante das graves questões verificadas no contexto atual. Espera-se que o 12º encontro das CEBs seja um momento muito proveitoso para ampliar o conhecimento e a sensibilidade sobre a Amazônia, onde vivem aproximadamente 25 milhões de pessoas numa área de 5.030.730 quilômetros quadrados (Amazônia Legal brasileira).

Em particular, a região enfrenta sérios problemas de devastação das florestas, agressão aos seus povos e culturas decorrente da implantação de grandes projetos capitalistas, entre os quais duas hidrelétricas: Santo Antônio e Jirau. De acordo com o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, em análise feita na reunião da equipe ampliada e dos assessores das CEBs, ocorrida em Porto Velho, de 21 a 25 de janeiro passado, vivemos uma crise mundial em quatro dimensões: financeira,de governança, ecológica e de humanidade. São crises inter-relacionadas Maio 2009 -

com impactos negativos, que nos desafiam para novas ações. As Comunidades Eclesiais de Base sentem-se imbuídas da missão profética de contribuir com a salvaguarda da Casa Comum. “O 12º Intereclesial quer fortalecer a articulação e a comunicação das CEBs; aprofundar sua identidade, comunhão e espiritualidade missionária e ecológica, à luz do Documento de Aparecida. Reunir as pessoas e comunidades na beleza de sua diversidade humana e cultural, oriundas das diferentes regiões do país, de várias igrejas e práticas, na vivência da fé indígena, cabocla e multirracial, na igualdade, na partilha e fraternidade”. A afirmação é de dom Moacyr Grechi, arcebispo de Porto Velho, na apresentação do texto base, livro que serve como subsídio preparatório ao evento, publicado pela Editora Paulus.

Metodologia do encontro

A estrutura do encontro está baseada em uma imagem fluvial que motiva à união e participação de todos na grande travessia em tempos agitados por ventos neoliberais. Haverá momentos coletivos com a presença da grande assembleia, no espaço identificado como Porto. Em outros momentos, os participantes se reunirão em 12 plenárias, caracterizadas como Rios. Em alusão aos rios da região, tais plenárias terão os seguintes nomes: Guamá, Gurupi, Tapajós, Tocantins, Purus, Juruá, Madeira, Guaporé, Jari, Oiapoque, Araguaia e Itacaiunas. Para partilha de experiências e aprofundamento de questões e desafios, os membros de cada plenária se distribuirão em grupos menores, nas chamadas Canoas. Os primeiros três dias serão dedicados a ver a realidade e ouvir os gritos que emergem da terra e dos povos da Amazônia, bem como conhecer e socializar as lutas em defesa da vida. A idéia é estabelecer ligações entre o contexto local e os gritos e lutas presentes em todo Brasil, América Latina e Caribe, olhando também os sinais e as expressões do mundo novo desejado pelas comunidades. Auxiliarão neste propósito as visitas que serão feitas às comunidades indígenas, de agricultores, de extrativistas, de ribeirinhos, de garimpeiros, de acampados, de bairros, de afrodescendentes, em casas de detenção, - Maio 2009

Jaime C. Patias

da missão Formação de lideranças das CEBs, Obra Social Magnificat, 2009, diocese de São José dos Campos, SP.

hospitais, Casa do Menor e recuperação de pessoas com deficiência. Seguindo a prática das CEBs nesses grandes encontros, haverá momentos celebrativos de louvor e penitência, a caminhada dos mártires e a romaria das comunidades, sempre contemplando a dimensão ecumênica, multirreligiosa e multicultural. O encontro adotará o método ver, julgar e agir, consagrado pelas CEBs ao longo de sua trajetória. O olhar atento e amplo sobre a Amazônia será iluminado pelo Evangelho da Vida e analisado criticamente sob o ponto de vista social, político, econômico, cultural, eclesial e ecológico. Com o objetivo de motivar para a luta em favor da justiça e preservação dos ecossistemas, serão ouvidos testemunhos proféticos de pessoas como: Rigoberta Menchú, ativista indígena guatemalteca, Prêmio Nobel da Paz em 1992; Desmond Tutu, bispo anglicano da África do Sul; Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia; Marina Silva, senadora e ex-ministra do Meio Ambiente.

Alimentando a utopia

Ancorados na utopia de uma “terra onde corre leite e mel” (Ex 3, 8), ‘terra regada pelo rio de água viva, em cujas margens as árvores dão frutos doze meses por ano e suas folhas servem para curar as nações’ (Cf. Ap. 22,2), sonho mesmo de uma “terra sem males”, acalentado pelos Povos Indígenas desde há muito tempo, os participantes do 12º Intereclesial terão oportunidade de reafirmar seus compromissos. Tais compromissos estarão relacionados com a caminhada

das CEBs, com a solidariedade aos povos da Amazônia, bem como com a sustentabilidade do planeta. Diversos encontros de nível diocesano e regional foram realizados ou ainda serão com o objetivo de preparar esse grande evento. Entre eles, o “Dozinho”, de 26 a 28 de setembro de 2008, em Porto Velho, com a participação de aproximadamente 1.600 pessoas, encontro que serviu para motivar as comunidades locais na preparação do 12º Intereclesial e fortalecer o espírito de acolhida das delegações. Uma cartilha popular, cujo roteiro está baseado no texto base, também será utilizada pelas comunidades no processo de preparação do encontro. As CEBs, autodefinidas como “fermento na massa” e “novo jeito de ser Igreja”, procuram ser fiéis à aliança estabelecida com o Criador, que diz: “Quero fazer uma aliança com os animais da floresta e as aves do céu, com os répteis do chão e tudo o que vive na terra. Vou eliminar o arco e as armas de guerra para que todas as criaturas descansem em segurança. Então, vou me casar contigo na justiça e na misericórdia, na fidelidade e na compaixão. Eu escutarei os céus e eles escutarão a terra, e a terra escutará as plantações” (Os 2, 18-19. 21). Com esse propósito, as CEBs seguem trabalhando pela transformação do mundo existente e pela construção do Reino de Deus, horizonte maior da missão! 

Dirceu Benincá é sacerdote, membro da Equipe Ampliada Nacional das CEBs. Coautor do livro “CEBs: nos trilhos da inclusão libertadora”, Paulus, 2006.

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VOLTA AO BRASIL

Belém - PA Irmã Dorothy Stang

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O Tribunal de Justiça do Pará anulou, no dia 7 de abril, o julgamento que absolveu o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida. Ele é acusado pelo Ministério Público do Estado de ser um dos mandantes do assassinato da missionária Dorothy Stang. Os desembargadores do tribunal determinaram a prisão imediata do fazendeiro até o novo julgamento, que ainda será marcado. A Justiça entendeu que o julgamento deveria ser anulado, porque a defesa usou uma prova ilegal ao exibir um vídeo com o depoimento de outro participante do crime para inocentar o fazendeiro. O coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e advogado da família de Dorothy Stang, João Batista Afonso, destacou a importância da decisão do tribunal: “Segundo dados da CPT, são mais de 800 assassinatos no Pará, nos últimos 30 anos, sem que um mandante esteja cumprindo pena atrás das grades. A absolvição do Vitalmiro Bastos era um resultado mais do que escandaloso. Então, a anulação do julgamento é um passo importante nessa luta contra a impunidade dos mandantes de assassinatos do campo no Pará”. A defesa do fazendeiro informou que vai recorrer. Na mesma sessão, os desembargadores anularam também o julgamento de Rayfran das Neves, que foi condenado a 27 anos de prisão como executor de Dorothy. Para os desembargadores, os jurados não consideraram que Neves praticou o crime visando a promessa de recompensa. Se isso tivesse ocorrido, a pena de Rayfran poderia ser maior. No dia 17 de abril, nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belém, estreou o documentário “Mataram Irmã Dorothy”. Narrado pelo ator Wagner Moura, o filme revela bastidores do controvertido julgamento dos assassinatos da missionária americana. Dirigido pelo americano Daniel Junge, o longa-metragem, de 94 minutos, também investiga as razões da morte da freira, bem como sobre os verdadeiros mandantes do crime. Ano passado, o filme venceu o Prêmio do Público e Grande Prêmio do Júri no Festival South by Southwest; recebeu menção honrosa do júri no FIC Brasília; e participou das seleções oficiais do Festival do Rio e Mostra Internacional de São Paulo.

São Paulo - SP Infância e Adolescência Missionárias

Coordenadores diocesanos da Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionárias – IAM, do Regional Sul 1 da CNBB, realizaram, de 24 a 26 de abril, no Centro Missionário José Allamano, Zona Norte da capital paulista, mais um encontro de formação. Além de intensificar a formação permanente dos coordenadores em conformidade com o Documento de Aparecida, o encontro teve por objetivo aprofundar a articulação entre os coordenadores das diversas dioceses e facilitar o trabalho conjunto das dioceses com o Secretariado Nacional, em Brasília. A coordenadora estadual da IAM, Nadia Maria da Silva Fusinato, vem trabalhando para implantar grupos nas dioceses do estado como uma das tarefas do Conselho Missionário Regional - COMIRE. Segundo informou, “não se trata de formar pessoas apenas

para fazer coisas, seguir organizações, mas formar pessoas missionários(as), que tenham um encontro pessoal com Deus e façam sua experiência de se apaixonar por Jesus e pela Missão. Pessoas que sejam solidárias, que partilhem e verdadeiramente amem o outro”.

2ª Mobilização Regional

A partir do dia 23 de maio, a IAM do Regional Sul 1 realizará a 2ª Mobilização Regional com o tema “IAM – Discípulos Missionários nos Cinco Continentes”. O objetivo é celebrar os 166 anos de fundação da IAM, divulgando o protagonismo missionário das crianças e adolescentes em comunhão com todos os povos por meio da oração, do sacrifício e da solidariedade universal. Para isso, será realizada uma coleta em todas as paróquias e dioceses do estado em favor das crianças de Maua, Província de Niassa, Norte de Moçambique, África. Os encontros baseados na Metodologia das Quatro Áreas Integradas, além de cartazes, vídeos, dinâmicas e orações estarão disponíveis no blog da Garotada Missionária: garotadamissionaria.blogspot.com. Caberá a cada diocese distribuir o material e preparar a mobilização com o gesto concreto, que encerrará as atividades, a ser realizado entre os dias 20 e 21 de junho. O Regional Sul 1 da CNBB abrange o estado de São Paulo e conta com 46 dioceses, sendo que, em 34 delas a IAM encontra-se organizada, somando ao todo, 338 grupos.

Rio de Janeiro - RJ Medalha Chico Mendes de Resistência

José Batista Afonso, advogado da Comissão Pastoral da Terra - CPT do Regional Norte 2 (Amapá e Pará) da CNBB foi homenageado no dia 1º de abril, no Rio de Janeiro, com a medalha Chico Mendes de Resistência. A indicação para a homenagem foi comunicada aos integrantes da CPT do Regional durante a sua Assembleia Regional da Comissão Pastoral da Terra. A homenagem da entrega da medalha Chico Mendes de Resistência foi criada em 1989 pelo Grupo Tortura Nunca Mais, no sentido de marcar para sociedade em geral o que foi o Golpe Militar de 1964 e seus inúmeros efeitos que se fazem sentir ainda hoje. Batista recebeu a medalha na categoria Violência Rural por sua atuação em defesa dos direitos dos trabalhadores rurais que lutam pela terra e por um desenvolvimento, onde a Vida, a Justiça Social e o respeito à Natureza prevaleçam. José Batista Gonçalves Afonso é mineiro. Nasceu no Vale do Jequitinhonha em 28 de fevereiro de 1964. 

Fontes: CNBB, IAM Comire Sul 1, Notícias do Planalto. Maio 2009 -

Tenha o mundo em suas mãos! Hoje, mais do que nunca precisamos comunicar para informar os cidadãos na sua capacidade de refletir e entender a realidade. Quando falamos de comunicação na Igreja não devemos pensar apenas nos meios. Entendemos de maneira especial o processo de comunicação nos espaços de reflexão para as comunidades, as pastorais, os grupos, os movimentos, nas diversas iniciativas que criam interação entre pessoas movidas pelos valores do Evangelho. A revista MISSÕES, editada pelos missionários e missionárias da Consolata no Brasil, é um meio de informação e formação que visa contribuir com a construção de um mundo mais justo e solidário através de subsídios pastorais, espirituais, sociais e culturais. Seu público alvo são as lideranças e os cidadãos em geral, as famílias, os jovens e os agentes de pastoral das comunidades cristãs. Neste sentido, MISSÕES apresenta matérias sobre:

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Atualidade da sociedade e movimentos sociais Espiritualidade e temas pastorais Articulação de projetos sociais e ambientais Estudos sobre os desafios para a missão da Igreja Subsídios para uma pastoral missionária Testemunhos de vida e de experiência Reflexões para a juventude Trabalhos didáticos para as crianças, e muito mais.

Com isso, a revista MISSÕES deseja ajudar os seus leitores a olhar para fora do próprio mundo, além das próprias fronteiras eclesiais, culturais e geográficas. A solidariedade em vista do bem comum é fruto da participação de todos. Faça parte desse projeto!



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