Magik O Poder

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  • Words: 58,283
  • Pages: 136
Dr.Egmon Strauss

Há muito tempo trás, num tempo tão longínquo e distante quanto os sentimentos dos homens existia um paraíso, um lugar no qual quem mergulhasse sentiria a magia da Vida no seu mais elevado esplendor. Era o Reino das Fadas. Os grandes anciões do passado diziam que cada elemento da criação feito por Absollon, o Deus supremo. Senhor do Tempo, do Espaço e de toda Magia. Tudo em sua criação tinha um destino único e divino. O destino das fadas era proteger Fairyllan, o sopro divino. A lenda que relata a estória de Faryllan e o avanço da glaciação ordenada por Raice, o rei do Gelo, para conquista do sopro divino foi encontrada em alguns escritos. Os escritos foram encontrados há muito tempo atrás por um missão dos grandes sábios, abaixo de uma camada de gelo de 400 metros de espessura, nas profundezas de uma caverna de gelo localizada onde a noite perdura por seis meses e onde nasce a aurora boreal. A extensão dos escritos tinha mais de 11.000 metros e o pouco que nos chegou é apenas parte dos fragmentos que permaneceram depositados nos corações e mentes dos sábios do passado, que transmitiram a sabedoria das fadas guardiãs para os homens.

Dedicadoa a Fada sem asas, amiga companheira Shan, que caminha agora no mundo da Enfermagem e que com seu

coração espiritual mostrou o sentido dos sentimentos nobres e o desejo de cuidar dos que amamos....

‫ﻗﻟﻢﻢﻤﺚﺗﺱﻍﻻﻚﻖﻱﻬﻱﻯﺸﺿ‬ ‫מןסףثةסץתذضفה‬љ ‫غﻤنأطذثאﺾﺜﺳﺜﺘﻐﻜﻗﻚﻐ‬

Escritos proféticos em língua fairyllan desenhados pelos antigos sábios, cujo significado diz: “O sopro divino é eterno, e no futuro e para todo o sempre existirá e será carregado, por novas guardiãs e guardiões; fadas sem asas que caminharão pela Terra... e terão o sopro divino em seus corações”.Canto XI Texto Sagrado do Reino das Fadas

No início de tudo somente existia o Silêncio: a respiração do Supremo...Eis, que emerge das profundezas Absollon, o incriado e criador de tudo. E do Silêncio o todo II

poderoso fez surgir o Não-Silêncio. O primeiro Não Silêncio criado nasceu a partir do Coração de Absollon; o segundo da Mente; o terceiro nasceu da interação entre a mente e o coração de Absollon, estes eram seus Olhos; o quarto Não Silêncio surgiu quando os Olhos de Absollon mergulharam nas profundezas de Tudo. Assim o Deus Supremo criou Tudo que existe e há de existir; criou o Espaço e o Tempo: Passado, Presente e Futuro. E na sua imensa Sabedoria fez tudo baseado no Silêncio e no Não Silêncio. Do Silêncio o Supremo fez o “fairyllan, o sopro divino”, o poder da transmutação que transforma Tudo, da mente, do coração, da matéria e da energia. Do Não Silêncio fez as “batidas do coração de Deus”, que Tudo ordena e estabiliza através das Leis Sublimes do Amor. Após a “respiração” de Absollon iniciar e o “coração” começar a bater, Tudo começou a seguir o ritmo do Supremo então surgiu o Céu Infinito e Terras Infinitas, que serviriam de morada para os filhos e filhas do Senhor de Tudo.E assim foi feito... No Silêncio das novas terras, algumas começaram a despertar e nestas surgiram à vida. E a vida se desenvolveu seguindo o ritmo da “respiração e do coração” de Absollon, e eis então que surgirão os primeiros guardiões do “sopro divino”, as Fadas. E Absollon então, novamente fechou os Olhos. Desse momento em diante somente a sua Respiração e o seu Coração eram ouvidos. E assim foi feito pelo Supremo...

Da comunhão entre o Silêncio e o Não Silêncio, nasceu a Mudança, a expressão magna da Respiração de Absollon e símbolo da passagem de Tudo e do momento de Tudo. Esta é a Sabedoria do Supremo, que vem sendo passado através do Fairyllan desde dos tempos mais imemoriais, bem anteriores a todos os Homens da Terra. Canto I Texto Sagrado do Reino das Fadas Enquanto o grande sábio instruía os mais novos nos textos sagrados, eles olhavam atentamente, com aqueles olhares expressivos próprios dos habitantes do Reino das Fadas; doces e de brilhos indescritíveis, como se fossem auroras boreais, alterando-se e expressando o interior mais íntimo de cada um.Os olhos das fadas acompanhavam a expressão profunda e clara de seus sentimentos e pensamentos. Dentre todos os olhares o que possuía o brilho mais singular era de Nallab Enilorac. Ela tinha uma rara luminescência azulada que se fosse focada durante muito tempo tinha-se a impressão de mergulhar nos oceanos mais belos e viajar as galáxias mais longínquas. Nallab era detentora de um meigo sorriso, simples e belo, como as manhãs de Primavera ensolaradas. Nallab pertencia a uma longa ascendência de sábios e guardiões do Fairyllan, o sopro divino, e assim como muitos dos que vieram antes de si, tinha o destino de proteger Fairyllan. No entanto, sua missão seria árdua, a mais difícil em 100.000, pois a Terra vivia o seu período III

de transição; era chagado o tempo em que o poder do Sol enfraqueceria e o Reino de Raice, a geração mais recente dos reis do Gelo, avançaria numa tentativa de dominar o “o sopro divino”, o poder da transmutação. Mas, ela apenas pressentia, sensação que a envolvia em momentos que seu coração ficava em Silêncio, sentindo a “Respiração do Supremo”. Nallab tinha os pensamentos distantes, enquanto o sábio falava, estava mergulhada no respirar de Absollon... _ Nallab! Nallab! Disse o sábio ancião com uma voz grave e poderosa. _ Simmm...Grande sábio. Disse num tom reflexivo e de murmúrio. _Estava novamente desatenta, não é? _Desculpe-me é que às vezes sinto que algo está para acontecer, depois que papai foi levado para o Reino de Gelo... Não sei! Sinto tanto a sua falta... _ Minha, pequenina, Absollon têm o Tempo certo para todas as coisas e tudo será respondido no momento certo, nem cedo demais, nem tarde demais, pois sua resposta jamais chega atrasada. O ancião fitou com doçura os olhos de Nallab, que do azul começavam a brilhar nas bordas, numa tonalidade rósea, cor que expressava um amor intenso e profundo pelo pai. E num silêncio grandioso, a pequenina fada sentiu a compaixão e o amor do mestre ancião. Após o término do cultivo dos sentimentos sagrados, nome dado à transmissão dos saberes pelo grande sábio, as fadas levantaram vôo de cima das grandes flores douradas. O Reino das

Fadas era algo espetacular, em alguns momentos raros haviam sido vislumbrados por alguns homens, estes o descreveram ao longo da história humana, como Nirvana, Céu, Éden, Paraíso e outras incontáveis nomenclaturas. A doce Nallab deixava o olhar brincar nos ares e admirava os Rios Suspensos, que tinham cheiro dos perfumes mais graciosos e eram brilhantes como os raios de luz; as árvores altas recobertas por um musgo verde amarelado, que quase se confundiam com o pôr do Sol. As flores macias e coloridas espalhadas por todo o horizonte e sob as quais Nallab gostava de dar vôos rasantes, que faziam subir uma nuvem de pólen. Nallab voava graciosa e enquanto ia, em direção a sua casa, brincava com borboletas imperiais que faziam um verdadeiro redemoinho multicor ao seu redor. As fadas são seres divinos por natureza e lembram os melhores e mais nobres sentimentos expressos pelos homens da Terra. Dotadas de uma alegria contagiante e poderes mágicos espetaculares que são usados para auxiliar os ciclos da Natureza, curar seres doentes e transmitir conhecimentos sutis e profundos que muitas vezes são esquecidos. A direção da casa de Nallab coincidia com o local onde o Sol de Primavera se punha, e enquanto volta para seu lar via-se em seu olhar azulado, os reflexos de raios avermelhados e arroxeados do sol do poente. _ Até breve minhas amigas! Disse com um lindo sorriso, que lembrava uma IV

daquelas expressões de surpresa, como “Arrá, você estava aqui”. Então as borboletas voltaram para suas casas, assim como a fadinha. Logo ao longe a pequena já avistava o seu radiante lar, que ficava no alto do Monte Cósmico, local onde era possível observar tudo o que se passava nos “corações” de todos os seres do planeta, próximo à fonte de Fairyllan. A casa de qualquer fada era sempre feita com elementos belos e delicados sempre associados às belezas da natureza. A entrada do Lar de Nallab era no topo de um girassol gigante situado no alto do Monte Cósmico, e alimentado com a magia das fadas. Sua entrada se fazia pelo caule e no interior de sua casa as paredes lembravam cristais vivos que traziam imagens belas da floresta para o interior do seu reduto. Na adorável família de Nallab Enilorac, tinha duas irmãs e sua querida mãe; pois segundo as misteriosas vontades do grande Absollon, um de seus irmãos não conseguiu sair do interior do ovo cósmico (local onde nascem às fadas) e seu papai havia sido levado para o Reino do Gelo. Muitas vezes ela não entendia algumas coisas, mas sabia que tudo têm um propósito, mesmo que em inúmeras vezes não seja plenamente compreendido. Mas quando chegava em seu lar, tudo ficava bem, o amor partilhado entre suas irmãs e a adorável mãe eram intensos; e ela sentia que um laço divino havia unido todas e sabia que às vezes o Supremo cria condições estranhas para fortalecer os laços eternos do amor sincero. O amor sincero era considerado o

maior bem que uma fada poderia possuir, sendo que a totalidade de suas magias e seus dons emanava deste sentimento. Naquela noite sua mãe havia feito uma deliciosa sopa de vegetais, que pôde sentir logo ao entrar em seu lar. _ Neimaste! Disse alegremente a pequenina ao entrar e avistar a família. Esse termo na língua de fairyllan significa: “Eu saúdo o seu Deus interior”. Logo que a viram as suas irmãzinhas correm em sua direção e a envolveram num afetuoso e caloroso abraço. Sua mãe também percebeu sua chegada e flutuando no ar enviou uma luz rósea na direção da filha, que ficou brilhando na mesma coloração. A família para Nallab era o presente mais precioso do mundo, às vezes, ela ficava pensando como tudo seria triste se não houvesse pessoas para partilhar. _ Olá maninha! Disse afetuosamente uma das irmãs. _ Oi Prillan, você está linda hoje! E as três sorriam e a casa se enchia de alegria. _ Venham minhas pequenas, hora de permitir que Absollon nos alimente...Estas palavras da linda mãe fada ecoavam pelo espaço. Todos se sentaram sob algumas formas plumosas em forma de graciosas plantas e animais, a mãe sentava-se na rosa (o símbolo da fortaleza, que sobrevive mesmo ao clima mais difícil); Prillan a mais nova, sentava-se no cão (símbolo da fidelidade e amor a família); Grascy sentava-se num pássaro que carregava um graveto no bico (símbolo da temperança e união do lar); e Nallab, a V

mais velha sentava-se numa tartaruga com asas de borboleta(símbolo do amor as profundezas da vida e do amor a mudança para céus mais altos e azuis). Passados alguns instantes os olhos das quatro brilharam intensamente, como sóis divinos emanando um brilho dourado. Suas mãos se tocaram e começaram a entoar um canto cíclico. Lindo e sublime como tudo que as fadas realizam...“mei lanoá, dgui ento wish kali... inestra vive, velo elk emn Waiji qw Absollon”, cujo significado aproximado quer dizer, que a união e o amor estejam acima de tudo; e um cristal puro jamais poderá ser quebrado de fora para dentro e somente de dentro para fora, que Absollon o supremo sempre sustente esta família e a mantenha unida em todas as dificuldades e alegrias. Depois se levantaram e olhando-se firmemente nos olhos umas das outras, compartilham um delicado beijo nas faces róseas uma das outras. Essa tradição fortalecia os laços entre as fadas, pois elas sabiam o que as formigas haviam ensinado, tudo que fica solitário se enfraquece e tudo que junto está fica vivificado. Findado o tradicional ritual, sentaram-se para degustar o delicioso preparo da mãe. _ Mamãe...Disse com uma voz meiga a pequena Nallab. _Sim, minha fadinha!Sorriu a mãe. _Será que posso participar na próxima Lua Cheia, do ritual Sagrado na Colina Cósmica? _Por quê algo a pertuba?Olhou a mãe, com soubesse o que se passava nas profundezas da filha.

_Na verdade sim mamãe...Disse a pequena baiShando os olhos e dando duas agitadas nas pequenas asas. _ Às vezes, quando mergulho no grande Silêncio, ouço e sinto um vento frio me tocar as faces e imediatamente lembro do dia quando papai foi levado pelo Grande Frio. Os imensos e expressivos olhinhos de Nallab oscilavam entre o verde musgo e o amarelo, somente o cerne permanecia com a habitual coloração de azul oceânica profunda. Aos poucos o olhar materno ficou levemente orvalhado e começou a relembrar os alegres momentos quando, as três irmãs brincavam próximas ao mar, vigiadas pelos olhos dos dois esteios da família. Rapidamente em sua mente veio o nascimento de cada uma das filhas, Nallab havia nascido no Verão, e as outras duas na Primavera. A época de nascimento de uma fada tinha uma grande influência em sua vida, pois determinava as influências dos ciclos supremos, Nallab havia nascido no Verão, uma época incomum para uma fada nascer; a maioria nascia na Primavera juntamente com o desabrochar das flores. Sua mãe abaixou os olhos emudecendo. E durante breves instantes refletiu, ela sabia que a filha estava destinada a alguma missão concedida pelo Supremo, pois somente uma fada a cada 10.000 anos nascia fora da Primavera. Também sabia que o ciclo de nascimento no Verão dotava a fada de poderes de transmutação do Fairyllan sobrenaturais.

VI

Então esboçando um leve sorriso, disse a filha: _Amanhã quando o sol estiver a pino, minha pequena, iremos procurar a Imperatriz e pediremos os seus sábios conselhos... A filha sorriu satisfeita e acariciou a mãos da adorada mãe. Depois que terminaram o delicioso jantar, Nallab foi colocar as irmãs para dormir, nos confortáveis FOLLENS, flores de uma maciez de nuvens e quentes como os raios de sol de uma tarde de verão. As fadas criam que atos delicados, amorosos e sinceros, permitem que o coração fique alegre e sensível; elas diziam que o coração dos homens se endurece, quando se esquecem desta simples lição. _Você vai dormir agora? Perguntou a mãe numa voz suave. _Ainda não mamãe, eu quero admirar um pouco à noite e ouvir o grande Silêncio... A mãe então beijou a fadinha e envolveu-a nos seus amorosos braços. Nallab começou a agitar suas asinhas até a entrada do seu adorável Lar, e lá ficou durante alguns longos minutos, ouvindo a melodia dos grilos e sapos, que naquela noite pareciam cantar em perfeita melodia harmônica. A fadinha tinha o olhar distante, cujo brilho lembra agora o de um cristal dourado, e ali ficou sentada durante um longo tempo, sentindo o vento brincar nos seus cabelos dourados e admirando a luz das estrelas cadentes que percorriam o céu. Seus pensamentos ficaram silenciados, simplesmente sentindo uma

doce sensação de paz, como estivesse sendo embalada por Absollon. E neste instante sentia todos que amava próximos de si, lembrava de suas irmãs; de seu avô que estava se recuperando de um Mal da Floresta; da doçura de sua mãe e das aventuras que participava com o pai; do desejo de encontrar o Grande Segredo da vida de qualquer fada, o Amor Supremo. Enquanto era envolvida por todas estas sensações maravilhosas e abraçada aos próprios joelhos, acompanhava o balançar das folhas, enquanto uma leve lágrima fugia de seus olhos. Aos poucos um leve som de asas batendo foi ouvido, era sua mãe. Parando ao lado da filha e estendo sua delicada mão, convidou a fadinha a entrar. Sem dizer uma palavra uma a outra, iniciaram o que as fadas chamavam de a “Voz de Absollon”, o momento em que dois Silêncios se encontram. E seguiram para o interior do Lar. Mãe e filha, então se deitaram bem próximas, num mesmo FOLLEN, pois segundo a tradição das Fadas, a filha mais velha devia dormir junto com os pais. Essa tradição acreditava que todas as coisas mais bonitas e invisíveis adquiridas na vida de uma fada eram transmitidas durante o sono; e a filha ou filho mais velho é que deveria ser a guardiã das melhores vivências dos pais, para poder transmitir as irmãs e irmãos, e suas gerações futuras. Assim Nallab adormeceu, envolta no calor materno e sendo preenchida pela fortaleza e a bondade da mãe, que era transmitida durante o sono: o momento VII

em que as Fadas se encontravam na Mente e no Coração do Soberano Criador, e o instante em que o coração da mãe ensinava as lições mais nobres ao coração da filha.

O sol ainda não havia se erguido no horizonte, e apenas os últimos e mais vigorosos grilos iam entoando as últimas notas daquela longa noite estrelada de cantoria. Nallab durante toda a noite teve sensações perturbadoras, às vezes emitindo pequenos grunhidos, e noutras tendo pequenos espasmos no macio FOLLEN. A alguns instantes antes de Marte despontar no horizonte e dar lugar ao sol do alvorecer, suas emoções perturbadoras pareceram se agigantar, como um grande, e crescente mal a estivesse envolvendo... Estava envolvida num estado de torpor, entre o mundo Real e o mundo dos Sonhos; o estado em que situações misteriosas ocorrem e ocorreram em todas as gerações das Fadas e dos Humanos. Uma sensação gélida invadiu o ambiente quente e aconchegante típico do lar de Fadas, e como uma mensagem corresse pelo ar ouviu, uma mensagem do vento Sul lhe sussurrando aos ouvidos. O frio e o áspero hálito de Raice

aproximaram-se de sua delicada e sensível alma, e em palavras gélidas e penetrantes, que oscilavam entre uma grave rouquidão e o silvo de uma serpente, assim como espinhos ela sentiu uma voz dentro de sua mente... _ Nallab...Nallab... sei quem você é! E desta vez, suas gerações não suportarão o poder dos meus antepassados... _A milhares de anos, que espero por esta oportunidade. Para conquistar o último dos poderes, a força controladora da Natureza, o conhecimento superior! _ Eu vigio seus sonhos, seus pensamentos, conheço quem você é, mesmo que você ainda desconheça... é chegada a hora minha Rainha. A hora de uma nova escolha e um novo tempo.Ah, Ahhhh, Arahhhh! Após a última frase uma gargalhada estridente foi sentida em seu interior e uma sensação perturbadora dominou seu corpo. Repentinamente sua respiração se acelerou e seus espasmos se multiplicaram, sua agitação foi crescendo intensamente. De súbito sua mãe acordou com os espasmos da filha. _ Nallab, Nallab! Acorde, acorde! É mamãe, minha filha! A mãe de Nallab pressentiu algo estranho no ambiente, ela já havia ouvido falar do hálito de Raice, mas nunca havia presenciado tal fato. Segundo os conhecimentos das diversas gerações de fadas, o hálito de Raice, era um encanto em que o vento Sul era controlado, para VIII

impregnar a mente de um ser, dando acesso aos pensamentos e sensações mais ocultos de cada ser. Nallab estava envolvida pelo encanto do rei Raice e sua mãe sabia que somente havia um modo de libertar sua pequena e amada filha. Aquela figura que antes tinha o rosto agitado começou a entrar num estado de serenidade, a mãe de Nallab postou-se próximo à filha e começou a emitir o “Chamado Sagrado”, que em língua humana dizia mais ou menos isso: _ Ó grande Absollon, que em tudo está e tudo governa, impregna-me com a luz da manhã e o poder do vento cósmico. Ó sagrada luz venha até nós e ilumine as trevas. E como estivesse realizando um chamado cíclico, as palavras retornavam e vinham continuamente, até atingirem um estado contínuo como o murmurar das águas de uma cachoeira. Os olhos da mãe começaram a sofrer uma transmutação, de repente seu olhar refletia lugares lindos e distantes, em que despontavam o nascer do sol. À medida que as luzes destes sóis erguiamse no horizonte, seu corpo começou a aquecer-se e dispersar o frio que estava instaurado no ambiente. Suas asas começaram a bater tão rápido, como as de um beija-flor; do centro do coração e dos olhos começou a irradiar um brilho róseo violáceo, que cresceu pouco a pouco, e culminou numa pequena explosão de luz pura que iluminou e foi refletida por todos os cristais da parede. _Nallab, você está bem? Disse a mãe serenamente e olhando a filha com ternura.

Nallab abriu os olhos lentamente, sem entender muito bem o que havia ocorrido e repetindo de modo sussurrante as últimas palavras que impregnaram a sua doce alma: “é chegada a hora minha rainha”. _Mamãe, o que aconteceu? Eu estava ouvindo uma voz, triste que me deu muito medo. E com os olhos marejados e a respiração ainda veloz, a pequenina se lançou aos braços da mentora e amiga. _Calma filha, agora está tudo bem...Tudo já passou... Um leve agitar de asas foi escutado vindo da direção em que suas irmãs dormiam e uma voz doce e sonolenta ressoou no ambiente. _Mamãe, está tudo bem... Eu e Prillan, não conseguíamos nos mexer e sentimos um frio muito grande que nos acordou... _ Calma minha pequena, agora está tudo bem, mamãe está aqui e sempre estará ao lado de vocês. Disse a mãe com uma voz aveludada. _O mal já se foi... Tudo ficará bem agora. _ Que mal, mamãe? Disse Prillan com um olhar curioso e de brilho esmeralda. _ Venham minhas pequenas, sentem-se aqui! Disse a mãe apontando para o grande FOLLEN. As meninas obedeceram ao pedido da genitora e ficaram em silêncio, observando os gestos graciosos e amorosos da mentora. _ Chegou o momento, meus tesouros, de vocês conhecerem a Verdade IX

do que houve aqui. Ouçam com atenção e guardem estas palavras em vossos corações, pois chegará o momento, que vocês precisarão delas... E num tom profundo e emocionante, a grande Fada começou a narrativa. “Quando Absollon fez o Tudo, deu a cada elemento um propósito único, um propósito feito especialmente para cada ser da Natureza. E aos primeiros de nossos antepassados confiou os cuidados do Fairyllan, o sopro divino”. E confiou aos antigos sábios do fairyllan, o auxilio das forças transmutadoras, confiando a cada um deles a influência e ordenação dos fluxos da Natureza. Assim a energia fairyllan, podia ser vista agindo no nascer do Sol, no movimento das águas, no nascer das sementes, nas relações da natureza, no ciclo das chuvas e dos ventos, no frio e no calor e em todos os outros inumeráveis e infindáveis processos da oscilação da vida. Cada um dos antigos sábios estava em harmonia com Absollon; a respiração de Absollon e dos sábios eram um único movimento; o bater do coração de Absollon era o mesmo que o bater dos corações dos sábios; a mente e olhos do Supremo eram um com os sábios. Absollon e os guias do fairyllan eram um único corpo. Os guias do fairyllan entoavam constantemente o “Canto do Silêncio”, sendo assim, suas mentes e corações eram as partes ativas do Supremo. Um dia algo diferente começou a ocorrer e o que era certo, começou a ficar incerto...

Glacius era uma das fadas responsáveis pelo movimento do fairyllan que ordenava o frio do planeta. Mas um dia, sua respiração e batimentos do coração começaram a destoar do movimento Natural do Supremo. Glacius queria dominar, ser o senhor de todo o saber e assim ocupar o lugar de Absollon. Mas o Supremo conhecia cada obra de sua criação e Tudo sabia, e para com Tudo destinava seu Amor profundo no Silêncio; pois, sabia que o Silêncio a todas as coisas ordena e guia. E assim Absollon silenciou, e através do Silêncio emanou o equilíbrio. Os sábios e sábias tentaram curar Glacius, mas sua alma estava corrompida e impregnada de orgulho e ambição deletéria. E pouco a pouco, foi ficando distante do Supremo; ficou distante do Silêncio e sua mente foi se tornando agitada e o coração de fada começou a esfriar. Depois que seu coração começou a esfriar e endurecer, o poder que ordenava começou a ordená-lo; e o frio que antes orientava, começou a orientar a si próprio. Seu rosto doce e meigo de outra hora tornou-se endurecido, e o frio transbordou por seus olhos, que ficaram semelhantes a cristais de gelo; e depois todo o seu corpo ficou gélido, pois o coração de uma fada é que ordena sua forma exterior. Daquele momento em diante não era mais mensageiro da essência pura do fairyllan, mas mensageiro corrompido: era o Rei de Gelo. Durante muitos milhares de anos, o Silêncio tem ordenado o Tudo, X

permitindo que ocorra o despertar da “consciência de Absollon”, nas fadas e nos demais seres. Glacius tentou durante muito tempo, controlar os segredos do fairyllan e obter o conhecimento pleno para comandar todos os fluxos naturais do planeta. O poder de Glacius cresceu e a ligação que os sábios possuiam com o Supremo diminuiu. Então, o desequilíbrio do rei do Gelo começou a envolvê-los, e uma parte de seus corações esfriou. À cerca de 100.000 anos Glacius direcionou todo o seu poder para envolver a Terra, e o frio se espalhou por toda a superfície; e sua intenção foi tão intensa, que o fairyllan o transmutou num cristal de gelo. No entanto, antes de entregar-se totalmente a sua ambição, uma parte de seu coração de fada sentiu necessidade de ter um filho para cumprir seus desejos, se ele falhasse. E assim aconteceu o improvável, seqüestrou uma das antigas fadas que ordenavam a energia do Calor, e nela gerou Raice, o único fada nascido no Inverno. Depois roubou o conhecimento da fada seqüestrada, uma das ancestrais de nossa família e transmitiu o poder a Raice. Desse modo seu herdeiro, além de ser possuidor de um talento natural para manipular o fairyllan do Frio, havia aprendido também sobre a manipulação do fairyllan do Calor. Após a morte de Glacius, seu filho assumiu o trono e os propósitos do pai, assim utilizando-se de seus próprios talentos inatos começou a dar prosseguimento aos desejos do pai, figura

esta que nada mais era agora do que uma profunda marca em suas memória, suas ações e um amuleto no pescoço. O pai transformado em cristal de gelo, ainda parecia vivo; ali dependurado no pescoço do filho na forma de uma corrente. O pai era o amuleto de Raice, que impregnava o filho com os seus próprios desejos frustrados. A força de Raice foi estimulada e refinada durante os milhares de anos que seu pai esteve ao seu lado e agora ele está de volta, vivo numa ambição insana que habita o espírito do filho”. _Filhas, esta é a história, na qual os nossos antepassados diretos se ligam a Raice. _ Mamãe, então era a voz de Raice que ouvi em minha mente? Disse a pequena Nallab com um olhar interrogativo e já mais calmo. _ Isso mesmo minha flor... _Mas o que ele queria de mim? Por que eu? A mãe acariciou os cabelos amendoados da filha, sorriu levemente e levantando-se caminhou até uma das paredes de cristal. Então erguendo as mãos, disse: “naime saint lao, ma nabu”. E o cristal da parede começou a brilhar e dele sai um cristal menor de cor dourada ligado a um elo de folhas prateadas, e tão brilhante quanto à luz das esferas celestes. Caminhando em direção as filhas que as olhavam surpresas, a mentora pôs o colar ao redor do pescoço de Nallab e olhando fundo em seus olhos disse: _ Eis minha pequena, que lhe entrego a chave de seu destino! A

XI

pequena olhava atenta e admirada o pequeno objeto. Ao segurá-lo de modo que estivesse todo envolto em sua pele macia, o cristal iniciou um brilho súbito e uma voz ressoou no recinto, dizendo: “Ó pequena filha do Verão, és tu o Sol, que afastará o Frio do novo tempo e verterá o gelo em água, e da água nova vida nascerá. Serás a lembrança daquele que se esqueceu do calor do amor...” “Nós somos as vozes de todos aqueles que passaram e hoje permanecem vivos dentro das memórias ocultas das novas gerações: somos os Espíritos de seus Antepassados”. Nallab não entendia racionalmente todos os fatos, mas sabia que de alguma forma que algo havia se transformado para sempre naquela manhã. Era como lanços distantes do tempo estivessem sendo refeitos, pois ela sabia que o grande Silêncio de Absollon era misterioso e certamente a guiaria rumo ao melhor caminho. _Quando parecer confuso é por que o novo chegou, pois somente o novo incomoda, o que é velho pouca transmutação causa. O novo move o fairyllan, na direção do Supremo... Estas palavras foram repetidas em tom sussurrante pelo jovem Nallab e era um dos trechos pertencentes aos textos sagrados. O fairyllan interno começava a agitar e reorganizar o seu interior, ela apenas percebia o fluxo ocorrendo em sua mente. Ela tentava decifrar o mistério racionalmente, mas no fundo sabia que a verdade somente poderia ser extraída do

grande Silêncio, que Tudo Sabe e Tudo Responde. A jovem ergueu aquele lindo e profundo olhar oceânico, e como estivesse admirando o infinito, olhou bem nas profundezas da alma de sua mãe e disse: _Mamãe, eu acho que este é o sinal que confirma o chamado. Eu devo participar do ritual sagrado na Colina Cósmica... A mãe olhou-a carinhosamente e apenas acenou a cabeça duas vezes, bem vagarosamente para cima e para baixo. Então, as quatro fadas, se deram às mãos e como soubessem o que cada uma estivesse pensando, começaram a agitar suas asas e seguiram rumo a saída da casa. O sol acabava de despontar no céu e lindo raios avermelhados e roxos, pintavam o horizonte e há tempos que os grilos já haviam se retirado para o descanso após a fatigante noite de cantoria. As quatro fadas, tinham um elo intenso ligando-as, talvez ele sempre tenha existido; algumas vezes o silêncio de cada uma delas era um diálogo terno e doce, sem palavras, mas que tudo dizia. E naquele momento em que os primeiros raios da manhã as guiavam entre as flores, num diálogo era dito: é chegada à hora de procurarmos a Imperatriz para cumprir as vontades do grande Absollon, sejam quais forem. À medida que iam se afastando do seu adorável lar, este ia ficando cada vez menor, até que transformou se num pálido ponto que confundiu se com os campos

XII

floridos, espalhados por todo o sem fim de terras do Reino da Fadas.

Logo ao longe o palácio da Imperatriz foi avistado, ele parecia ser construído de luz e ao seu lado havia duas frondosas árvores, que mais lembravam dois gigantes, por onde corriam duas cascatas cristalinas, que logo ao alvorecer formavam duas cachoeiras arco-íris. O castelo tinha a forma da mais linda flor da Terra e no seu topo havia uma gigantesca esfera que refletia toda o galáxia, que abarcava o Sistema Solar. O local onde a Imperatriz habitava era guardado unicamente pela magia das fadas, que num passado distante edificou uma barreira radiante, pela qual somente as energias que seguissem na respiração do Supremo poderiam atravessar. O centro do palácio ficava localizado no topo da Colina Cósmica, local onde estava situada a fonte; a fonte depositária do Fairyllan, o sopro divino. À medida que iam se aproximando da entrada do palácio, as quatro fadas sentiam um cheiro doce e relaShante nas circunvizinhanças, e toda a agitação ia se esvaecendo e sendo preenchida por uma sensação de bem estar indescritível. Logo à frente, das águas radiantes advindas das

cascatas surgiram quatro espirais brilhantes, como se fossem discos de luz pura: um dourado, um violeta, um esverdeado e outro rubi. As quatro então se alinharam e segurando as mãos umas das outras, iniciaram a formação do “fluxo de Absollon”, segundo a evocação de certas palavras secretas emanadas numa tonalidade doce e calmante: ...Aimi...Aini....Aiti...woki,Dharma, jiti Kama ,Karma, guira... banta lannki...Aimi fuipy kesy...Evocamos a ti, ó Todo Poderoso. Ó Absollon, nossa respiração é uma contigo e o ar que penetra em nós é o vosso próprio corpo. E assim, enquanto as quatro fadas, iam repetindo tais palavras, aos poucos seus olhos foram se transfigurando e do bater de suas asas, começou a ser exalado. Era um pó brilhante semelhante às esferas fluidas. Os olhos de Nallab ficaram na coloração do disco dourado; os de sua mãe ficaram violetas; os de Prillan ficaram esverdeados e os de Grascy se tornaram rubis. Lentamente suas mãos antes unidas, se separaram; e flutuando separadamente, envoltas pelas esferas fluidas, foram sendo arrastadas por algum fluxo oculto na direção das espirais de luz, que correspondiam às cores nos olhos de cada uma. Pouco a pouco, a luz das espirais pelas quais estavam envoltas; oscilou e desta oscilação, num movimento ressonante, vibraram em uníssono com a respiração de Absollon. Neste intervalo nada existia somente o Supremo, onde tudo é harmônico. Desse modo à barreira havia XIII

assumido uma forma ausente para as quatro fadas, pois agora elas não eram individualidades, mas eram o próprio Absollon que em tudo penetra e tudo ordena. Novamente, o fluxo que antes, as tinha separado; agora as uniam; cada uma numa ponta, fechando uma figura geométrica que lembrava, uma estrela de quatro pontas. Dentro do perímetro do palácio havia um Fluxo Oculto que ordena os processos e os desejos, e graças a tal fato, o desejo de Nallab foi ouvido; e o fluxo as levou diretamente até a Imperatriz. Enquanto estavam envoltas naquela sensação de paz plena, Nallab observava pequenos trechos de imagens que vinham a sua mente, imagens do pai na terra do Gelo; imagens de flores congeladas e fadas que mais lembravam estátuas feitas de um gélido cristal. De repente via a si própria com uma coroa de flores congeladas em sua fronte, e ouvia a voz de Raice, dizendo: “é chegada a hora minha rainha...”. Subitamente sentiu um leve frio lhe subindo pelas costas, o que desviou sua atenção de seus próprios pensamentos e a trouxe a focar sua atenção no caminho que a levaria até a Imperatriz.Seus olhos apenas conseguiam reconhecer um imenso corredor tubular, cujo material era estranho a tudo que já havia visto; era um corredor feito por borboletas multicores, que realizavam um movimento espiral continuo. No final deste tubo vivo, estava presente uma linda flor de aparência similar a uma rosa gigante, contudo mais

brilhante que o próprio sol ao nascer do dia e transparente como as puras águas de uma cascata. Ao redor desta flor, havia uma fonte circular que não lembrava nada em toda a natureza, era como fosse uma vibração multicor elementar; que lembrava talvez milhares de cordas de uma harpa. Em meio à transparência e ainda ofuscadas pelo intenso brilho, visualizaram uma linda e tênue imagem, em cujas mãos, havia ligado algo que parecia um condensado daquelas mesmas cordas. Delicadamente, a Imperatriz tocava com os minúsculos e ágeis dedos, naqueles fios vinculados, a fonte circular, a qual sofriam constantes transmutações em suas cores e formas. A Imperatriz tinha uma tez violeta radiante; longos cabelos negros e seus olhos...Nossa! Seus olhos eram espetaculares, era como fossem camaleões, pois onde ela olhava, dava a impressão que estavam penetrando na intimidade daquele ser, seja ele animado ou inanimado. _ Como ela é linda...!Disse Nallab, baixinho para si mesma. Quando estavam a apenas alguns metros de distância da Imperatriz, a imensa e peculiar rosa despertou num desabrochar. E do seu interior emergiu a Imperatriz, linda como as fadas sempre são e vibrando segundo o bater do coração de Absollon. E do interior da flor, um perfume tão penetrante e relaShante, impregnou os pulmões das quatro. Ao verem tal beleza indescritível, as três filhas e a mãe ajoelharam-se humildemente frente à Imperatriz; elas XIV

ainda permaneciam naquele estado flutuante que as estava envolvendo desde a entrada. _ Se aproxime pequenina...Disse a Imperatriz numa voz melódica e penetrante. Nallab sabia que tais palavras se dirigiam a ela. Lentamente ela soergueu a cabeça permeada por seus lindos cabelos dourados, e erguendo os olhos que já haviam retornado a sua coloração azul oceânica. _ Sim, minha Imperatriz! Disse timidamente a jovem fadinha. _“Nai bi, in te...nai bi, in te... nai bi, in te...” Repetia a Imperatriz numa entoação, que lembrava os canto das baleias. Novamente o fluxo começou a agir em Nallab, e num estado de quase semiconsciência foi sendo levada pela força flutuante até um palmo de distância da Imperatriz. _ Confie minha pequena Nallab...Disse de modo tranqüilizante, a voz da Imperatriz. _ Estenda suas duas mãos e as ponha sobre seu coração Nallab. Quando as delicadas mãozinhas da fadinha estavam postas sobre o peito, houve um pequeno intervalo, que fez o respirar de Nallab ficar mais profundo e sereno. Então, a sábia Imperatriz ergueu suas lindas mãos de luz e as fundiu com as mãos da pequenina. De longe a mãe e as irmãs, admiravam a cena e viam um fluxo radiante sair do coração da Imperatriz e adentrar no coração da adorável fada de olhos oceânicos. A Imperatriz estava

conversando diretamente com o coração da fadinha, aquele que tudo sabe e tudo conhece; pois, algumas vezes as palavras dão uma forma aparente a um sentimento real. Uma fada sabe que os corações conhecem todos os caminhos, pois eles são os ouvidos que percebem a vibração do respirar do Supremo. Do rosto de Nallab escorreu uma grossa gota e em sua memória surgiu a imagem de tempos difíceis, de um inverno rigoroso em que o alimento era escasso; e viu sua mãe trazendo somente algumas parcas raízes para alimentação da família, as quais eram consumidas com lágrimas nos olhos de toda sua família. Se via sentada solitária em cima de uma flor, rogando ao grande Absollon e silenciando suas emoções angustiadas pelas lembranças de um passado difícil, que ainda desconhecia o significado para o seu futuro. Pouco a pouco, as grossas gotas foram escorrendo do canto de seus olhos e percorrendo a face rósea da fadinha, até encontrarem se novamente na ponta de seu queixo; e cair em direção ao chão. No entanto, à medida que a gota ficava mais próxima do chão foi alterando sua forma, assumindo o formato de um cristal de gelo, que ao cair no chão quebrou em pequenos fragmentos e retornou a seu estado líquido. Aquela gota havia revelado os segredos ocultos de seu coração e mais uma das profecias dos textos sagrados havia se cumprido: “Em tempos difíceis o gelo transformará as lágrimas da enviada e da XV

dificuldade do futuro ela buscará o calor interno. E nesse processo o fluxo encontrará os opostos, então o Gelo irá acender o Fogo, e o Fogo irá transformar o Gelo; pois assim disse Absollon, o Supremo”.Canto VII Texto Sagrado do Reino das Fadas A Imperatriz havia escutado a voz do coração da pequena até o recôndito mais profundo. E enxugando uma das lágrimas, que persistia na face da fadinha, lhe disse: _ Minha pequena você é muito mais, do que pensa que é, e o tempo lhe trará as respostas de seu destino...Disse a sábia imperatriz com um leve e afetuoso sorriso. _ Mas minha grande Imperatriz, por que estas visões e a sensação de frio me perturbam? _ Por que é chegado o tempo... _ Tempo do que? Disse a pequenina com os seus lindos e penetrantes olhos azuis. _ Tempo de encontrar o que sempre buscou, aquilo que você tentou encontrar em muitos livros e em diversas fadas e situações criadas por ti... _E o que é?Disse de maneira intrigada, a jovem Nallab. _ O sentido...O sentido de tudo; o Fluxo que guia a vida de cada fada... _ É o... Disse timidamente a fadinha. _ Sim, minha pequena é a energia Fairyllan, o sopro da vida, para nós fadas; e que têm o nome de Amor para os

humanos. Contudo é a energia que tudo move; é a respiração de Absollon. _ Tudo virá a seu tempo e o Supremo me disse, que seu preparo já começou, mas que muito ainda está por se fazer. Disse de modo terno e com o seu penetrante olhar, a Imperatriz. Nallab abaixou a cabecinha e enxugando as últimas lágrimas, sentiu novamente aquela sensação fria em seu corpo. Delicadamente a Imperatriz segurou uma das mãos da fada e dirigiu se rumo as proximidades do círculo, que envolvia a flor gigante de onde a Imperatriz havia saído. Graciosamente a sábia fada estendeu as mãos e disse: _Mia kundali, Mia kundali, mia Kundali Nallab! Que em língua humana significaria, “Ó fonte transmuta, ó fonte transmuta, ó fonte transmuta Nallab”. Uma espiral tripla emergiu daquelas misteriosas águas se ergueram até a altura da fronte de Nallab e começaram a entrar-lhe pelas narinas, boca e ouvidos. A fadinha sentiu-se tonta, e visualizou terras distantes com flores duras como pedras, e outras em que as águas estavam escuras como o lodo. Depois viu as mesmas terras, no entanto uma linda luz transmutava as duras flores, e estas ficavam macias e tênues; e transmutava o lodo, que era vertido em flores laranjas e amarelas, e as águas ficavam brilhantes como cristais. A última memória que lembrava se vindo a mente foi à imagem de sua amada família, e um rosto liso e gelado, que brilhava como um fogo frio. Então, o frágil corpinho de Nallab, foi se dobrando XVI

até ficar envolta tão somente pelo brilho radiante do pó, o qual fazia flutuar. Agora a fadinha estava inconsciente e parecia dormir um profundo e tranqüilo sono. _ Mãe se aproxime...Disse serenamente a Imperatriz.Lentamente a mãe se aproximou da filha e da sábia fada. _ Sim, minha Imperatriz. Disse a mãe de Nallab num tom respeitoso. _ Sua filha dormirá durante 4 dias, os quais representarão todas as estações do ano terrestre. Durante esse processo ela morrerá e renascerá diversas vezes, como os próprios ciclos naturais. Disse a Imperatriz em tom profundo e solene. _Durante estes dias você e suas duas filhas, devem realizar o “Canto do Silêncio”, para que sua pequena inicie o que veio iniciar. Enquanto a rainha falava, a mãe e as filhas, olhavam atentas a cada uma das palavras sagradas emitidas pela Imperatriz. _ Sim, minha imperatriz! Assim será feito! Disse a mãe olhando a filha de modo afetuoso. _ Que Absollon, o senhor dos senhores, nos guie através de sua respiração, orientando todos os processos e retirando dos nossos pensamentos e ações o Mal ilusório, que tenta confundir nosso ser. Disse a Imperatriz, serenamente enquanto emitia uma luz dourada que partia de seu coração. A luz cresceu e envolveu as quatro fadas, e enquanto a luz banhava cada uma delas, a Imperatriz recitava um dos trechos das antigas escrituras:

“Quando o Tempo é chegado, somente o Respirar de Absollon impera, e tudo segue o caminho que veio para seguir”. Canto II Texto Sagrado do Reino das Fadas _ Até breve, queridas servas de Absollon...Disse a Imperatriz, enquanto já se dirigia para o interior da tênue flor de onde havia saído. Repentinamente uma pequena explosão se formou no recinto e o túnel de borboletas transportou instantaneamente Nallab e sua família, diretamente para o seu adorável Lar.

A realidade da pequena Nallab havia sofrido uma ruptura temporária; agora estava mergulhada no mundo de todas as possibilidades, no qual ocorrem as quatro estações dos sentimentos, ela estava no coração de Absollon... Nos quatro dias de inconsciência da fadinha, segundo as palavras da Imperatriz, ocorreria a morte e o renascimento interno de Nallab. Assim, os sentimentos da pequena viveriam o Verão, o Outono, o Inverno e a Primavera. Na primeira estação entraria em contato com as forças celestes do Supremo, sendo a colhida pela chama interna do coração de Absollon, que tudo transforma.

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Na segunda estação, o Outono, os pensamentos e as emoções antigas que não tenham mais necessidade serão renovados, segundo as palavras do Supremo: “as folhas antigas cairão ao solo e a fonte da vida elas voltarão; então a fonte da vida irá transformar o velho em novo”. No período da terceira estação, será o momento de Nallab voltar-se em direção a si mesma, mergulhando em seu passado esquecido e encontrando o alimento precioso que a sustentará no frio desta estação, em que os músculos enrijecem e os “alimentos da alma” ficam escassos. Na última estação as sementes de seus atos criados ao longo de sua existência de fada virão à tona e despertarão do seu sono nas profundezas da terra, dando origem as árvores frutíferas, as flores e a todas as belezas e encantos da Natureza... Durante quatro longos dias suas irmãs e sua mãe realizaram o “Canto do Silêncio”, que ligaria Nallab a respiração do Supremo Absollon.

“A estação do Verão”

O corpo de Nallab movia-se oscilando para cima e para baixo, agora ela acompanhava os batimentos do

coração de Absollon. Assim permaneceu durante alguns instantes; instantes estes que pareciam tão longos como o nascer de um novo tempo. Lentamente a graciosa fada começou a abrir os seus expressivos olhos oceânicos, então sentiu uma agradável e doce sensação de acolhimento nunca antes experimentada em toda a sua existência. Pairou os olhos no chão e viu uma imagem de um esplendor sem fim, parecia uma um oceano, lindo e radiante, que se estendia até o infinito, com a superfície tão macia quanto às flores de pétalas mais delicadas. Ao olhar para baixo visualizou lindas imagens do adorável planeta Terra, tais como graciosos casais de baleias e flamingos que cuidavam de seus filhotes e ursinhos que brincavam na macia relva; galáxias distantes e sóis tão lindos que mal podia descrever. Nallab foi tomada de uma emoção sem igual, e ajoelhando-se perante tal imensidão e beleza, sentiu uma sensação de profunda gratidão a Absollon, o Supremo; e naquele instante era como sentisse toda a imensidão da criação, não existia mais a fada Nallab, somente existia a sensação que ela era apenas uma das infinitas expressões do Amor de Absollon. E enquanto as últimas e grossas gotas de emoção fugiam de seus olhos profundos, um brilho diferente começou a envolver seu corpo. Então, seu corpo de fada lembrou-se do passado e o que antes era grande, foi retornando ao seu frágil corpinho de fada menina; e Nallab, naquele instante voltou a ter o corpo de XVIII

sua infância. Ela estava admirada com o ocorrido, tudo era tão mágico, permeado por uma magia delicada e sutil, que escapa ao raciocínio lógico. De longe, quase das bordas daquela imagem de oceano sem fim, surge um brilho rubi, tão intenso como o brilho da estrela mais brilhante. A pequena não consegue admirar a imagem diretamente e desvia o olhar da figura. Pouco a pouco, a misteriosa figura se aproxima da fadinha. Um vento forte e aconchegante é sentido nas róseas faces de Nallab, seus cabelos amendoados são acariciados pelo estranho vento. Uma nova e súbita emoção invade a mente da pequena, e uma vontade irreprimível atraiu sua fronte e seu olhar em direção ao estranho fenômeno. Vagarosamente ergueu seus olhinhos ainda marejados pelas últimas e persistentes lágrimas, avistou a imagem do que ela considerou a própria origem do Fairyllan, uma linda Fênix Gigante estava a sua frente, olhando diretamente em seus úmidos olhos. O corpo da Fênix flamejava, suas penas tinham um brilho douradoavermelhado, que oscilava em rápidos padrões de mudança. Os seus olhos pareciam dois imensos sóis dourados, em cuja posição das pupilas, apenas existiam figuras dos mais distantes recantos do Universo, por onde, imagens surgiam e desapareciam num piscar de olhos. Eram imagens de todo sortilégio de vida, planetas, galáxias, paisagens, mudanças climáticas e expressões de emoções de variados seres vivos.

_ Seja bem vinda, pequena, Nallab... Falou em tom profundo e sereno, sua voz parecia uma mistura de uma suave brisa, o murmurar de uma cachoeira e os trovões de uma tempestade. Nallab olhava admirada aquela imagem divina. _ Meu nome é Kundali, a Fênix sagrada. Sou a geradora das vontades de Absollon, expressas através do Fairyllan. _Pequenina Nallab, sente-se confusa, eu sei... Toda mudança é confusa, todo intervalo entre o antigo e o novo é assim, pois no intervalo das coisas ocorrem as vontades imutáveis do Supremo. A fadinha olhava admirada tanta beleza, e balbuciando um pouco interrogou a Fênix; e nesse instante, seus olhinhos começaram a assumir um brilho de um azul tão puro e tênue, que não existiriam cores na Terra para efetuar a comparação. _ Ó grande Kundali, porque estou aqui? _Estás aqui, porque cada um está onde deve estar. O fluxo de Absollon a trouxe até aqui, para iniciar sua missão e ser livre, adquirir a liberdade de ser o que veio ser. _E o que é? Disse docemente a fadinha. _A expressão dos próprios potencias infinitos, pois tu, pequenina, é a expressão da consciência da Natureza, e como tal, nasceu para servir a tudo e a todas as coisas existentes. _ Ó grande Fênix, e o que ocorreu com meu corpo? XIX

Fez se uma pequena pausa, então a grande ave disse: _ Teu corpo minha pequena Nallab é a expressão de seus pensamentos, vejo em teus olhos a profundeza do coração de criança... _ O que isto quer dizer?! _ Tudo na Natureza possui o coração de criança, das pedras às fadas. O coração de criança é uma faculdade, que liga o ser aos mistérios profundos da vida, no qual o ser sente o próprio universo. Neste estado cada segundo torna-se mágico. _ Em nome de Absollon, lhe digo Nallab, que encontrará em breve esta magia. Magia esta que virá do paradoxo, no qual o gelo irá queimar, e neste momento, se expressará o sinal de um novo tempo. Nallab ficou olhando a grande ave, com um olhar interrogativo, não compreendendo o significado daquele paradoxo. _ E o que devo fazer, grande Fênix? Disse a pequenina. _ Apenas seja, viva intensamente e serenamente. Siga a respiração de Absollon, sinta os olhos de Absollon; viva o coração do Supremo, e a expressão de tudo que sempre buscou, através de caminhos outros, se realizará. Uma nova pausa se fez e neste instante Nallab ouviu e sentiu sob os pés apoiados naquele oceano sob o qual caminhava, o coração de Absollon... A grande Fênix se aproximou da pequena e a envolveu nas suas imensas asas. Um brilho intenso começou a fluir dos olhos de Nallab, e de repente viu todo

o seu corpo flamejando e nas suas asas de fada, começou a surgir o mesmo brilho das penas da fênix. Kundali, a Fênix sagrada, começou a flutuar com fadinha ainda envolta em suas asas e aos poucos aquelas duas figuras começaram a submergir naquelas fascinantes águas. Nallab sentia que algo estava sendo transformado naquele instante, talvez estivesse imortalizando o seu coração de criança. A grande Ave então abriu as imensas asas de fogo e segurou a fadinha com seus pés, e estas duas figuras, que agora pereciam um; deslocavam-se a uma velocidade de aceleração contínua em direção as profundezas do Oceano. Os sons do coração de Absollon tornavam-se cada vez mais intensos e Nallab, sentiu algo estranho lhe envolvendo a mente e as emoções. O coração do Supremo a envolvia. De repente a fadinha avistou um brilho descomunal que pulsava e de cada pulsação surgia uma criação infinita. Quando estava bem próxima do brilho, Kundali lhe lançou ao centro e lhe disse estas palavras: _ Nallab, seja o que veio ser, transmute os medos, as iras e o tédio... e assim, tuas asas serão o movimento de Absollon, que em tudo está e tudo é. A fadinha começou a agitar suas asas flamejantes e mergulhou naquelas oscilações. Uma onda percorreu todo o seu pequenino ser e neste instante seus olhos já não eram os mesmos, viam além; e seus ouvidos já não eram os mesmo, ouviam além; e suas asas já não mais eram as mesmas, iam além do tempo e do XX

espaço; e seu coração e mente, não mais estavam separados, mais eram uma unidade. E à medida que ia mergulhando mais e mais, e se aproximando da essência do Supremo, percebeu que ia pouco a pouco, tornando-se o próprio oceano: infinito e pacífico, no qual a felicidade e a magia imperam. Sua consciência foi se expandindo e somente sentia uma compaixão imensa por tudo, e seu único desejo era servir e entregar o melhor de si. Subitamente surge em sua mente uma imagem e uma sensação, ela visualiza Raice, o Rei do Gelo. Ele sente um breve arrepio lhe subindo pelas faces, e admirou o olhar de Raice observando o pôr-do-sol. Seus olhos eram brancos como um cristal de gelo e expressavam profundidade. Nallab sentiu uma grande compaixão por ele; de algum modo parecia muito solitário, não uma solidão física, mas uma profunda solidão espiritual. E nos seus olhos, viu fugirem duas lágrimas líquidas, Nallab sorriu para ele de modo doce e ele olhou para ela, e timidamente baixou os olhos. Assim, num milionésimo de instante, a fadinha sabia que a chama do bem ainda vivia nele, pois o seu coração aqueceu suas lágrimas, que naquele segundo eram de forma fluida. Logo em seguida a imagem desapareceu e a consciência de Nallab, começou a se confundir com a do rei do Gelo, e aquele estranho de algum modo lhe parecia familiar, como localizado numa memória distante no tempo e no

espaço. E à medida que a queda ia ocorrendo, a compaixão e o Amor novamente a envolviam; então, emergiu espontaneamente em sua mente um último pensamento: “Sou a expressão de Absollon, e nesta existência serei a chama, que transmuta o mal em bem e tudo que é frio será aquecido, pois sou aquela que nasceu no Verão”. A última imagem que Nallab visualizou foi a de uma linda flor amarela e brilhante como a estrela vespertina, que nascia no meio do Gelo. Depois disso tudo se apagou e seu corpo se confundiu com as vibrações do coração do Supremo. “A estação do outono”

“As folhas antigas cairão ao solo e a fonte da vida elas voltarão; então a fonte da vida irá transformar o velho em novo” Canto VIII Texto Sagrado do Reino das Fadas. Nallab ainda sentia as sensações vivenciadas junto com a Grande Fênix, e aquele seu último pensamento ainda ecoava em seu interior: “Sou a expressão de Absollon, e nesta existência serei a chama, que transmuta o mal em bem e tudo que é frio será

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aquecido, pois sou aquela que nasceu no Verão”. Ela sentia seu corpo leve e sereno, e já havia retornado ao seu tamanho original, e de algum modo misterioso sabia que algo em sua essência havia se transmutado. Diante de seus olhos brilhantes, avistou um lindo vale, com folhas secas pelo chão, cujas colorações variavam do marrom ao avermelhado. Nallab estava entre dois gigantescos paredões rochosos, em cujo chão repousavam folhas secas. No alto do vale ela apenas, visualizava árvores adormecidas, esta era a forma das fadas descreverem o momento em que as árvores perdem suas folhas. Então em voz alta, interrogou: _ Que lugar é este?! A resposta veio de todos os lados, na forma de um eco que repetia sua própria dúvida. Para descobrir que lugar era aquele, invocou as palavras mágicas da “Posição Suprema”, que revelam a qualquer fada a essência do lugar. Sua respiração foi ficando profunda e calma, cada vez mais profunda e calma; suas asas ainda mantinham o brilho das asas da fênix, e lentamente a pequenina começou a agitá-las e ficou pairando no ar. As palavras começaram a fluir dos lábios de Nallab, como uma leve brisa marítima, que percorre a costa, e assim disse: “Revelatum, ia kundali... revelatum ia kundali... revelatum ia kundali ino Absollon...”. E assim suas palavras foram se repetindo. De repente as folhas começaram a agitar-se e uma corrente de

ar luminosa na forma de um Urso correu do fundo do vale e seguiu em sua direção. Aquela imensa figura parou frente à fadinha e disse: _ És tu, ó pequena fada que evoca Revelatum, o farejador de essências? Disse o grande espírito revelador. _Sim, ó grande espírito... Disse Nallab, com os seus imensos olhos radiantes, como os olhos de uma criança. _ E o que desejas, minha pequena? _ Desejo saber onde estou... Disse a fada de modo afetuoso. _ Tu estas na terra das quatro estações, o mundo onde os sentimentos se transmutam e a fada entra em contato com os seus poderes não-manifestos. _ Você foi transportada para cá, pela magia da Imperatriz, e...Você acaba de vir da estação do Verão e esta é a estação do Outono. Nallab ouvia atentamente as sábias palavras do grande espírito, aquele que revela a essência dos lugares e dos seres. _Nallab, esse é o local em que o velho será transmutado no novo, aqui deverá encontrar a caverna dos Quatro Ventos do Tempo: o Passado, o Presente, o Futuro e o Não-Tempo, onde tudo é uma única essência. _ E o porquê do eco em todas as direções? Disse a fadinha, se aproximando de Revelatum. _ Os Ecos pequena fada, são fruto do que você é, ele é o consolidar de novas possibilidades. Disse Revelatum, emitindo uma brisa com cheiro de perfume do campo. _ Não entendo, grande Espírito, o que isto significa? XXII

_ Minha pequena, cada emoção ou pensamento que ocorra em sua essência, fica ecoando em seu interior; alguns se repetem durante, segundos, minutos, dias e outros a vida toda. Isso é o Eco. _Sinto que em seu coração um novo eco se forma, uma figura de Gelo, Raice, têm visitado o seu coração e o seu coração, Nallab têm visitado o dele; você sente-se confusa, em dúvida. Mas, isso faz parte da ação do Fairyllan, a transmutação está tocando ambos. Nallab abaixou a cabeça, enquanto pairava no ar, como estivesse buscando em seu interior as respostas do novo tempo. Após alguns breves instantes, a fadinha ergueu os olhos e disse: _ Para que direção fica a caverna dos Quatro Ventos do Tempo, ó grande Espírito? _ Voe o mais alto que puder e quando estiver tocando a borda do céu encontrara a fluxo da respiração de Absollon. A partir deste ponto o fluxo a conduzirá ao que busca, não temas, as grandes fadas estão contigo. Pouco a pouco, a figura do grande Urso foi assumindo uma forma mais diáfana e antes de desaparecer emitiu a seguinte frase que ressoou por todo o vale: “Quando um ser inspira, o universo inteiro entra em si; quando ele expira o universo inteiro sai de si”. _ E lembre-se Nallab, quando libertar as correntes de seu pensamento irá libertar as correntes de seu corpo... E assim Revelatum desapareceu e apenas o eco de sua voz permaneceu ecoando

quatro ou cinco vezes, até desaparecer no infinito. Na mente da fadinha, as palavras do grande Espírito ainda se faziam presente e ocorria a manifestação do Eco, pois algo novo estava se consolidando... Aquele momento representava o início do cumprimento das profecias sagradas: “O sopro divino é eterno, e no futuro e para todo o sempre existirá e será carregado, por novas guardiãs e guardiões; fadas sem asas que caminharão pela Terra... e terão o sopro divino em seus corações”.Canto XI Texto Sagrado do Reino das Fadas Falando em baixo tom para si mesma, Nallab, dizia: _ O Eco em minha mente, representa a consolidação de algum novo momento... A fadinha ainda pairava no ar. Lentamente soergueu a cabeça e com suas faces róseas como o pôr-do-sol no mar, olhou para o céu infinito; então mirando a borda do céu, disparou num vôo em espiral, movendo as asas numa velocidade superior ao dos beija-flores e deiShando atrás de si, um rastro de um pó brilhante advindo do movimento de suas asas. Aos poucos foi adquirindo altura e às vezes quando admirava a terra, via a mesma encolhendo paulatinamente. Além da impressão de encolhimento da terra, percebia que o seu intenso calor corporal ia ficando a cada instante mais raro, sendo seqüestrado constantemente pelos XXIII

frios ventos que pairam as grandes alturas. Nallab tentou se concentrar, tornando sua respiração lenta e profunda, numa tentativa de elevar sua temperatura física, mas tudo parecia em vão. Como último recurso, emitiu um som inaudível a quase totalidade dos humanos...e pouco a pouco, o brilhante pó que lhe escapa das asas começou aderir ao seu corpo e emitir uma luz avermelhada, a qual dava a fadinha à forma de uma grande brasa voadora. A terra já estava bem distante e os pontos antes distintos de cores, parecia agora um único todo esverdeado enevoado. A pequena fada transpassava imensas nuvens que agora iam tornandose mais e mais freqüentes no seu trajeto, que a inicio eram grossas e espessas; e aos poucos iam tornando-se menos compactas. Nestes momentos que se passaram entre o céu e a terra, Nallab sentiu saudades de sua família e de seu pai que já a muito havia desaparecido de seus olhos, mas não de seu coração. E ali naquelas grandes alturas, onde o silêncio impera e as aparências das coisas são percebidas, a fada sentiu solidão; e no interior de sua mente ouviu novamente um velho Eco: “Ó pequena filha do Verão, és tu o Sol, que afastará o Frio do novo tempo e verterá o gelo em água, e da água nova vida nascerá. Serás a lembrança daquele que se esqueceu do calor do amor...” E aquelas palavras apenas passearam pelo seu interior, pois a compreensão delas ainda estava velada a

mente de Nallab, somente o seu coração as entendia. A fadinha se encontrava a imensa altitude, tão alta que até as estrelas já começavam a aparecer. Foi neste instante que a pequena visualizou uma imagem divina e as palavras de Revelatum tornaram-se reais; ela conseguiu encontrar o fluxo da respiração de Absollon, a qual lembrava um imenso cardume composto pelas mais diversas, matizes de cores da Natureza, que alternavam do azul brilhante dos olhos de Nallab às delicadas cores das orquídeas amarelas. A fadinha estava maravilhada com aquela imagem e naquele instante, nasciam em sua mente todas as mais belas e intensas figuras naturais que sua memória havia armazenado durante sua vida. Então num tom solene e reflexivo disse para si mesma: _ Ó Absollon, quantas maravilhas existem... E após repetir tais palavras, era como seu coração antes agitado pelas memórias de saudade, houvesse retornado a um estado de paz. Pouco a pouco, foi sentindo uma leve correnteza de energia... que a puxava em direção ao fluxo. Neste instante suas vontades ficaram quase inutilizadas, pois, nenhum de seus pensamentos se concretizava numa ordem para seu corpo fádico, ela estava totalmente sendo guiada pelo fluxo. Assim o fluxo e Nallab tornaram-se um único ser; agora ela parecia uma linda e leve flor silvestre que é guiada pela correnteza de um ribeirão límpido. Enquanto o fluxo a impulsionava ela via XXIV

imagens rápidas e fugazes, que pareciam materializar-se e desmaterializar-se em frações de segundo; após este processo apenas um Eco restava dentro de si. Ecos de sua infância alegre; ecos de sua busca; ecos da época conhecida entre as fadas, como das bemaventuranças, ou busca do sentido da vida e da compreensão das emoções, através de rituais sagradas e símbolos sagrados; ecos de solidão e vazio; ecos do presente; ecos distantes do futuro... Nestes últimos ecos apenas via algo como uma fada de gelo, que assumia uma nova forma...Via também duas pessoas abraçadas chorando uma ao ombro da outra. Eram ecos de emoções profundas, daquelas que dão sentido as nossas vidas, mas não um sentido qualquer e sim um sentido mágico de ser cuidado e de cuidar. O caminho de Nallab dentro do fluxo era uma jornada interior em todos os Tempos, que assumiam para a fadinha a imensa diversidade de Ecos que lhe tocavam o coração e a mente. E assim foi sua jornada em direção a caverna dos Quatro ventos do Tempo... aos, poucos avistou uma linda imagem, que ali das grandes alturas lembrava uma estrela oito pontas, com quatro pontas maiores e quatro menores ligadas aos intervalos estabelecidos entre duas pontas maiores. Ali no topo da montanha, havia uma abertura com a forma de disco incandescente, cujo centro possui uma coloração dourada; foi por este ponto que o intenso e suave fluxo que guiava Nallab adentrou na abertura que permitiria a

pequena entrar em contato com os quatro tempos... No intervalo entre o exterior e o interior da montanha, um último Eco lhe surgiu espontaneamente... “apenas procuro a felicidade, viver com o coração de criança, num mundo sem dor, sem morte e sem coisas que tragam tristezas”. E depois desse último Eco, sentiu saudades de um mundo que ela sentia ter estado, mas não se lembrava e de repente tudo se apagou.

O fluxo foi tornando-se mais e mais lento; enquanto o corpo de Nallab descia como seguro por uma mão invisível. Pouco a pouco, uma sensação de leveza invadiu seu frágil corpo e lentamente ela abriu aqueles expressivos olhos, lindos e profundos como os mais belos oceanos. Abaixo de si sentiu uma morna brisa que a sustentava e tocou de maneira curiosa, o foco daquela estranha sensação. Sentiu um leve e agradável formigamento. Ao erguer suas mãozinhas e admira-las, percebeu um brilho fluido semelhante aos da aurora boreal, que serpenteava por seus dedos. Num breve intervalo de tempo, seu corpo deixou de descer e ficou inclinado na posição da base de uma montanha sustentada por uma planície. Então XXV

apoiando suas mágicas mãos sob a brisa foi se erguendo. Sua cabeça admirava o brilho magno que vinha da abertura superior, naquele instante Nallab lembrava as sementes que emergiam das trevas na direção da luz. E como estivesse refletindo em baixo tom disse: _Acho que estou aonde devia estar...Esta deve ser...Sim, a caverna dos Quatro Ventos. E ao final de sua última frase, as palavras “quatro ventos”, começaram a se repetir numa intensidade cada vez maior. Um pequeno tufão então se formou, mas era um tufão diferente...que brilhava como um diamante e trazia consigo uma sensação de paz.e leveza. De repente, um halo de luz violeta se formou a meia altura e a partir começou a se definir algo, que Nallab descrevia como rostos magníficos, cujas formas lhe pareciam ser instáveis. Respeitosamente a fadinha se pôs de joelhos e abaiShando a fronte disse: _ Neimaste... Disse a pequena. Sua voz era solene e respeitosa, expressando o profundo significado daquela palavra, cujo significado em língua fádica era: “Eu saúdo o seu Deus interior”. De igual maneira a figura lhe respondeu, emitindo um lindo vento que arco-íris que serpentou em sua direção. _Meu nome é Taimitus, o representante dos quatro tempos. Sou o Vento Sagrado que em tudo penetra e tudo move. Sou aquele que traz significados a existência... aquele, que liga os fios de tudo que existe.

Nallab admirava a figura com os olhos marejados de emoção e a coloração dos olhos oscilava entre o azul infinito e o róseo. _ Ouça pequena, cada elemento que vê ou sente, seja nas profundezas de sua mente ou nas profundezas de seu coração, são fios... fios tecidos por Absollon para criar a Teia Suprema, a teia da Existência. _Todos nós temos um destino, uma papel a ser desempenhado, o meu é unir os fios da criação. _E qual é o meu grande Espírito do Tempo? Disse a fadinha em tom balbuciante e com a voz cheia de emoção. _Minha pequenina... és na tua doçura que encontrará a resposta.Disse o grande Taimitus. _Que resposta? _ Você nasceu com um dom, o dom de perceber e manipular fairyllan. É por este motivo que seu coração se compadece diante da dor e do sofrimento, é por isso que diante de cenas de amor e bondade seus olhos brilham mais intensamente que o da maioria e seu coração sente mais do que o dos outros. Tu tens o dom da comunicação suprema, pois o coração e aquele que tudo entende, ele seria o idioma de Absollon, a língua que com tudo pode falar. _Mas... Eu acho, que não sou o que você me diz... Disse humildemente Nallab. _Você somente é, aquilo em que paira sua consciência, não temas ser; seja o que veio ser neste mundo. _Mas como? _Deve vencer os seus medos, suas dúvidas, suas descrenças... as respostas XXVI

estão na direção dos quatro ventos, quando você, minha adorável fada, ao inspirar cada um dos Ventos, será transportada em direção às respostas... Fez-se um instante de silêncio que para Nallab, foram equivalentes a uma eternidade. _Adorável Nallab, o Tempo segue o movimento de minha forma; e para encontrar o que busca lembre-se... Inspire cada um dos ventos do tempo, eles farão parte de ti e eles trarão até você as respostas que a impulsionarão rumo à respiração de Absollon. O Vento do Passado lhe mudará o presente e o Vento do Presente mudará seu futuro, pois são elos de uma mesma cadeia, até chegar à compreensão do Tempo Integral. Nallab ouvia atentamente cada palavra do grande Espírito, sua atenção estava toda centrada naquele ser. _E lembre-se minha pequena, nada temas, confie em seu coração, pois você tem os olhos que vêem o que muitos ignoram; têm os ouvidos que escutam o que poucos escutam e têm o coração que sente o que poucos sentem, sua tristeza vem da incompreensão da Verdade... _Que Verdade, grande Taimitus?Disse a fada com os olhos que brilhavam agora como duas esmeraldas. _Tuas tristezas são invisíveis, eu sei de suas angústias do passado, quando fazia perguntas e ninguém respondia e tentou buscar em muitos caminhos; mas eles não faziam por mal, cada um somente pode entregar o que encontrou. De repente um forte som começou a ser emitido do centro do tufão, que oscilava como as ondas do oceano...

“OHM....OHM...OHM...OHM...OHM...”, então o frágil corpo de Nallab sentiu uma tênue vibração, que pouco a pouco foi se intensificando. Neste instante a fadinha, havia percebido algo mágico, como uma voz interior que lhe dizia: suas respostas não estão na família tão somente, nas memórias boas ou ruins ou num companheiro; o real significado que busca habita um lugar. E este lugar se chama Sonho. Pouco a pouco, a figura de Taimitus seguiu na direção de uma abertura circular que cabia tão somente Nallab. Assim Taimitus desapareceu, num imenso clarão e a única coisa que restou no ar foi às memórias que haviam acabado de ser forjadas e uma suave voz que disse: _Tenha coragem estarei contigo, siga o Vento do Passado e saiba que o que procuras vive neste lugar chamado Sonho, o seu grande sonho, o local onde tudo se sustenta por si só; não temas o velho, pois o passado também é guia. Não temas a mudança, pois teme-la é temer a própria energia do fairyllan... _E que Absollon a guie... E assim Taimitus desapareceu, mas sem perceber o primeiro Vento já guiava a graciosa fada, o Passado a partir daquele instante seria o seu guia. Dentro do coração de Nallab um novo Eco era criado, que vibrava na seguinte freqüência: “o que procuras vive num lugar chamado Sonho... não temas a mudança, pois teme-la é temer a própria energia do fairyllan”. A fadinha ergueu a cabeça e novamente admirou a luz e sem saber o XXVII

porquê, diante do Eco que pairava em seu coração sentiu vontade de chorar. E seguiu em direção a entrada pela qual o Vento do Passado haveria de guiá-la, e quanto mais próxima encontrava-se da entrada mais seus olhos se enchiam de lágrima. O Vento do Passado impregnou sua alma e neste instante sentiu saudades dos tempos em que era apenas uma fadinha; as saudades moram no Vento do Passado. À medida que avançava através do túnel, sentia a lágrimas a descerem como grossos filetes por entre os róseos vales de suas bochechas macias. Ela viajava agora pelo universo do tempo passado, no qual entraria em contato com a sua criança interior, no tempo em que era apenas uma semente de fada. Pouco a pouco, sua visão foi ficando turva e sensações de emoções intensas do passado vinham à tona; as lágrimas haviam inundado seus olhos brilhantes e seu coração ia paulatinamente sendo abatido pelo sopro do passado. Nallab não agüentou avançar mais nenhum passo, era um momento difícil olhar para tudo que o vento do passado lhe trouxera: a perda do pai; os momentos de solidão; as saudades daqueles que amava; o incomodo trazido através do sonho com Raice; a sua visão da primeira morte de uma fada e de um adorável ursinho pardo; as cenas do não respirar de um peixe; os lindos amanheceres; as palavras alegres de amparo de sua mãe... Tudo, simplesmente tudo renascia; todo o passado havia retornado, com a intensidade de todas as memórias e

emoções que acompanham cada uma das lembranças, pois as lembranças sempre são carregadas pelos ventos das sensações. A pequena fada, então recomeçou a marcha, contudo movia-se para trás, aquele encontro com a sua própria história a assustava; muitas emoções estavam confusas, algumas vezes temos que alenta-las; elas são vivas, precisam ser curadas e acariciadas. As emoções são seres vivos, as fadas assim o criam. Os passos da fadinha faziam, um som rítmico, que iam se mesclando ao som de sua respiração agitada. Lágrimas ainda desciam intensas por sua face. Passados alguns instantes, ali estava ela novamente no ponto inicial, frente a frente com a entrada por onde circula o Vento do Passado. Vagarosamente dobrou os seus delicados joelhos sobre o chão da caverna e ali de cabeça abaixada chorou...e neste momento o brilho azulado de seus olhinhos foi tornando-se cinza, como nuvens de tempestade que se abraçam ao céu azul. Sua mente e seu coração sofriam e sorriam, pois às vezes, o fluxo do passado é assim. E enquanto chorava cabisbaixa algo aconteceu, um Eco límpido e reluzente ressoou em sua essência...Era um tesouro, uma daquelas memórias mágicas, feitas de amor e delicadeza, partes da expressão do Supremo; elas impulsionam os seres na direção de Absollon. Elas permitem que, a magia e,o poder de fairyllan flua através destes seres. Frente a si começou a se formar uma esfera leve e fluida como as lindas XXVIII

cores da natureza, e dela um delicioso e adocicado perfume, foi exalado. E do perfume, doces melodias de diversos pássaros permearam o ar, e pouco a pouco a esfera se transformou em diversas e pequeninas esferas que, iam paulatinamente sendo sorvidas pela inspiração de Nallab. Então, a memória emergiu das profundezas de sua essência... Nessa época Nallab contava com a idade de quatro luas, pois os ciclos de desenvolvimento das fadas seguem a influência direta do Sol e da Lua. O pai de Nallab a tinha apoiada em seu colo e os dois admiravam uma violenta tempestade de raios e trovões do interior de uma bolha mágica, que os protegia das violentas gotas. _ Minha pequena, por que temes os raios e a tempestade? Disse o pai de Nallab, com uma voz austera e aconchegante. _Ela é brava! Disse a pequenina, fazendo um gracioso biquinho com os lábios e escondendo a cabeça nos braços do pai. _Minha criança não tenha medo das expressões de Absollon...O pai sorriu docemente, enquanto se formava uma serpente azulada, um raio no céu. _Ouça minha criança...Sempre que sentir medo é porque falta a verdade...

_Que verdade, papai? Disse Nallab, virando delicadamente sua cabecinha e olhando profundamente dos olhos de seu adorável pai. _Lembre-se minha pequena, tudo que está distante de Absollon gera medo, pois Absollon é a verdade e a verdade é a mãe de todo Amor... _Todo Amor mesmo, papai?! Disse a fadinha arregalando os seus imensos olhos azuis. _Sim, minha criança... Com a verdade pode amar o medo, os animais, as outras fadas, as dificuldades, um companheiro, tudo nasce da verdade. Dela nasce à coragem, que é apenas mais uma das expressões de Absollon, assim como a tempestade, tudo no fim é verdade e amor. _Quando a verdade e o amor agem juntos, emerge um maior fluxo de fairyllan que, tende a acompanhar a intensidade de seu coração... quanto maior a intensidade, mais fairyllan fluirá por você. Uma imensa pausa se fez no ar e ali de dentro da bolha mágica, os dois, pai e filha admiravam as forças da tempestade. De repente o silêncio foi rompido e o pai de Nallab disse: _Minha criança hoje eu lhe entregarei um presente...

XXIX

lembre-se sempre que estiver frente a qualquer medo evoque estas palavras mágicas, elas lhe levarão de volta ao fluxo da respiração do Supremo e em direção a ausência de medo, pois todo medo é fruto de uma árvore sem seiva. Oh amável, Absollon: Guie minhas palavras para que eu possa dizer a verdade a partir de uma consciência de amor. Abra minha mente e a encha de amor, o fairyllan das manifestações, como as sementes que desabrocham e se enchem de Luz. Abra minha boca e a encha de amor. Deixe que as palavras, que eu estou prestes a dizer sejam escutadas por ouvidos cheios de amor. Mantenha-me em um estado constante e consciente de amor para que eu possa abrir meu coração de uma maneira benéfica e amorosa. Sei que as palavras que estão sendo sentidas são a verdade da experiência de outra pessoa. Sei que as palavras que digo vêm da minha experiência. Rezo para conseguir dize-las com amor e para que elas sejam acolhidas com amor. Eu te agradeço, oh Supremo! Pois és tu, a essência do amor, o fairyllan das manifestações., e neste instante minha respiração e sua

respiração se fazem num único movimento. Após o pai de Nallab evocar estas palavras mágicas, o temor da fadinha havia desaparecido, a ilusão havia sumido. Agora a pequenina sentia a verdade, que tudo emerge de Absollon, tudo é parte e expressão do corpo de Absollon. _Papai?! Disse a fadinha sorrindo tranqüila e com os olhos oscilando entre o róseo e o dourado. _Diga minha criança...Olhou o pai sorrindo levemente com os cantos dos lábios. _Nós fazemos parte do corpo de Absollon... O pai oscilou levemente a cabeça e então disse: _Minha pequena Nallab, sempre estivemos no corpo de Absollon e nele nenhum mal existe, nenhuma dor existe, nenhum medo existe... Tudo é uma ilusão criada pela não percepção; que nada mais é que a saída ou o desvio do fluxo da respiração Suprema. Então, pai e filha, ficaram admirando o brilho azulado dos raios e o agitar das folhas das velhas árvores que vivenciavam mais uma tempestade. E ali permaneceram durante um longo período... Ele, acariciando os seus macios e perfumados fios

XXX

amendoados; ela tranqüila e serena, sentindo a sabedoria e o carinho daquele que a guiava nos mistérios da existência... Nallab ainda podia sentir as sensações daquela memória: o carinho de seu pai, suas palavras de sabedoria... o Eco das palavras mágicas. As palavras mágicas ecoavam em seu coração e durante aquele momento sua tempestade interior silenciou, e a pequena adentrou novamente no fluxo de Absollon. E assim a pequena havia encontrado, a mistério que a guiaria através do Vento do Passado, Nallab devia permitir-se sentir a verdade... a essência de cada memória do passado e ama-las, desse modo, o fairyllan das manifestações transmutaria os processos; medo viraria coragem; dor viraria aprendizado; morte seria transformada em transcendência e a solidão se transmutaria em reflexão, um fluxo de significados entre ela e Absollon. Desse modo a pequenina fez, e aos poucos o cinza em seu olhar foi se dissipando e o brilho de azul infinito retornou para emoldurar sua face angelical. Lentamente ergueu se com uma determinação plena no olhar e marchou mais uma vez. Agora flutuava no ar e se dirigia rumo ao fluxo do Vento do Passado que seguia por aquela abertura a sua frente. Novamente o Vento do Passado, permeou o seu interior e novamente todas as memórias lhe surgiram à mente, mas agora era diferente...Nallab reconhecia que cada experiência havia sido

importante, cada uma expressava a sabedoria de Absollon e desse modo à fadinha acolheu e amou todo o seu passado e agradeceu; agradeceu pelo que seus olhos viram; pelo que seus ouvidos ouviram; pelo que seu coração sentiu; agradeceu ao fairyllan que age na Natureza e ao avançar no espaço por onde fluía o Vento do Passado, disse em tom suave e doce: _Oh fairyllan, agradeço… agradeço por você transformar o velho em novo e o novo em velho. _Sou grata, por transformar o que é não vivo em vivo e o que é vivo, em não vivo. _Agradeço pela noite virar dia e o dia virar noite e a tristeza se transmutar em alegria. _Agradeço também aqueles a quem vi adoece, pela doença, pois, sei que tudo é expressão de Absollon e existe um sentido de ser mesmo que eu desconheça. _Hoje confio...Confio em teu propósito e vejo que, todos os meus medos e as minhas dores são advindos da não confiança...Somente, a verdade e o amor confiam. _ Somente a verdade e o amor nada temem, pois juntos perfazem uma das manifestações do fairyllan, o fairyllan que transmuta as ações, as emoções... a minha existência. Novas lágrimas desciam pelas róseas faces de Nallab, mas agora eram lágrimas doces, pois quando uma fada chora suas lágrimas assumem as propriedades das emoções que as criam é por tal razão que podem ser doces, amargas, azedas, ácidas, frias ou quentes, XXXI

as lágrimas são criadas em seus corações fádicos. A fadinha sorria para si própria e uma imensa alegria invadia o seu ser. Depois de seguir um longo caminho no interior da abertura, Nallab avistou uma luz azulada num local que parecia ser à saída do fluxo do Vento do Passado. Ao cruzar a fronteira de luz, a pequena visualizou num breve lapso de tempo, Tamitus, cujas palavras ecoaram rápida e intensamente dentro de si: _Eis que o Vento do Passado vira o Vento do Presente, e deste encontro subsiste um ponto em que a transmutação se manifesta, um lugar que nem é passado nem presente, é tão somente transmutação... E assim Nallab, adentrou num novo fluxo, o fluxo do Vento do Presente que seguia em direção a uma nova abertura que transpassava o paredão rochoso e desse modo ela o seguiu, buscando uma nova lição, pois acaba se um momento e inicia-se outro, o fluxo do tempo é constante e flui em direção a Absollon, o Eterno...

Seu corpinho estava leve e a sua mente alegre, e algo havia ocorrido.Talvez, fosse devido à transposição da fronteira, falada por Taimitus. A forma com a qual ocorriam às

manifestações dos seus pensamentos e das suas emoções estava alterada. Ela tentava se lembrar do passado, mas nada emergia de seu ser...agora Nallab, respirava um novo fluxo, o fluxo do Vento do Presente. Uma onda de energia transpassava e agitava todo o seu ser, suas vibrações sutis lembravam o tocar rítmico dos tambores; o Vento do Presente era ritmado, ele ocorria em pulsos, como as batidas de um coração. Nallab tentou avançar na direção da entrada por onde o fluxo do presente fluía, mas nenhum dos músculos de suas asas agitou-se. Ela estava paralisada. Não sabia o que fazia naquele lugar e quem era ela, pois estas respostas são carregadas pelo Vento do Passado, o Vento do Presente simplesmente pulsa. Da entrada localizada no paredão rochoso ela observava um pulso, algo que era similar a uma serpente flamejante, que ora tinha uma chama avermelhada e ora tinha uma chama violeta, este era um pequeno elo do fluxo do Vento Presente. Este ia avançando lentamente em sua direção, e aos seus olhos era como este pulso desaparece-se e reaparece-se continuamente, parecia não ter uma seqüência de eventos, ou ela que apenas não conseguia vislumbrá-los. O fluxo num movimento serpenteante dirigiu-se para Nallab e então parou frente à pequena e imóvel fada, que apenas pulsava. O pulso ficou ereto e foi assumindo a forma de uma imensa serpente flamejante, cujo lado direito tinha uma chama avermelhada e o lado esquerdo tinha uma chama violeta;

XXXII

no entanto, a cada pulsação as colorações se invertiam. De repente a serpente flamejante dividiu-se, e cada uma de suas metades entrou por cada uma das narinas da pequena fada; e desse modo o Vento do Presente agiu em si, reconstruindo todo o seu ser; renovando o seu pulsar interno. E ao longo desta renovação, sua respiração se alterou; seus batimentos se alteraram; seus pensamentos começaram a vir em pulsos e não mais, se afiguravam a um rio em movimento... e neste momento ela sentiu que o presente era uma ilusão. O presente era um movimento pulsante, que quando era encadeado, como os elos de uma corrente, dava a impressão do movimento. O pulsar das serpentes se espalhou por cada fragmento e elemento oculto de sua essência até permear tudo que ela é... E assim, Nallab sentiu-se sem nome e percebeu que seu real nome. Era um pulsar; um pulsar de desejos e intenções profundas e intensas, que se manifestam através de seu corpo fádico. E neste momento Nallab sentiu-se integrada ao Vento do Presente e sentiu que seu deslocamento em direção ao sentido deste, dependeria não de seus músculos e sim de sua disposição, sua intenção; de seu desejo, pois o desejo é o elemento que move o ser no Vento do Presente. A pequenina e graciosa fada, assim o fez.. Desejou com intensidade e o deslocamento ocorreu. Quem a visse, teria a impressão que ela desaparecia e reaparecia em pulsos constantes, que acompanhavam o pulsar do Vento do Presente. Desse modo a fada

foi conduzida e seguiu o fluxo do tempo Presente e em seu coração à medida que era conduzida pela pulsação do presente fazia uma descoberta, que mais tarde seria trazida pelo Vento do Passado... “viver é pulsar; é o desejo que move; ele é o poder que canaliza fairyllan”. O Vento do Presente pulsou e Nallab ressoou, acompanhando cada pulsar, até que finalmente através de um intenso e brilhante pulso ela chegou em uma nova fronteira. Uma fronteira entre o presente e o futuro, então Taimitus apareceu novamente e a envolveu numa esfera dourada e fez vibrar palavras em seu coração: _Minha criança, o Vento do Futuro é a janela que apresenta as inúmeras possibilidades se existir, cada escolha constrói um conjunto de possibilidades. _Mas independente de qualquer escolha, todas no tempo apropriado conduzirão você minha fadinha, até Absollon, pois tudo retorna ao fluxo de sua respiração. _ Tudo é a sua respiração. Tudo é o seu corpo. Tudo é feito da essência de Absollon. Os olhos da fada brilhavam intensamente e imagens se formavam naquelas duas expressivas esferas que eram os seus olhos, imagens de flores nascendo; imagens de plantas murchando; imagens de um mundo distante em que o céu e a terra eram cinzas e a terra antes macia era dura como uma rocha; e as fadas eram grandes e sem asas... Nallab sentia tudo aquilo e ficou maravilhada e triste ao mesmo tempo, pois o futuro é assim confuso, ele é o XXXIII

Vento que traz a mudança. E toda mudança traz consigo um pouco de confusão, pois não é passado e nem é presente, simplesmente é uma terra a ser moldada pronta a receber qualquer semente. E ao olhar para o novo paredão viu que este Vento não tinha uma única passagem por onde fluía, mas tinha um número infinito de passagem de fluxo. Então, pouco a pouco, a figura de Taimitus foi ficando mais tênue e a esfera em que Nallab estava começou a se comprimir, até ficar minúscula. E à medida que ela se comprimia, o seu brilho ia se tornando cada vez mais intensificado. Quando a esfera atingiu o tamanho de um grão de areia, ela explodiu numa explosão simplesmente gigantesca; e o que era tão somente um grão, assumiu uma proporção infinitesimal. Neste mesmo momento, já não havia mais o paredão, mas somente um infinito espaço aberto de coloração escura e de aparência infinita e impalpável. Era o Nada, de onde Tudo pode ser criado. E neste espaço, infinitos grãos dourados flutuavam. E dentro de cada grão existia uma pequena e doce fada, eram infinitas Nallabs que, ali existiam. Uma dos grãos começou a crescer e a Nallab, contida nele também. E em torno deste, os outros começaram a gravitar... A fadinha vivenciava emocionada a cena e seus olhos iam ficando orvalhados, diante de tanta beleza. Após alguns breves segundos de admiração,

Taimitus surgiu novamente e com uma voz de trovão, disse: _Pequena Nallab, este é o campo de todas as possibilidades... no qual, tudo que deseja se torna possível. Esta é a real forma do Vento do Futuro. E desse modo, a mente da fada sentiu-se novamente próxima de um mistério profundo e assim, reconhecendo a fronteira entre o presente e o futuro, no qual o desejo é o artífice do futuro; são as suas mãos modeladoras. Talvez, o desejo seja as mãos de Absollon, pensou Nallab profundamente, num pensamento fugaz como a luz. Nallab desejou tocar cada esfera e pelo simples fato de desejar, assim se fez. Nesse instante não eram mais seus braços que tocavam, não mais eram suas pernas que se deslocavam, não era tão somente os seus olhos que observavam... o desejo da fada, era agora a extensão de sua percepção. Todos os seus aparelhos corpóreos haviam se amplificado pelo poder do desejo. Sua atenção focalizou-se numa brilhante esfera próxima a borda do infinito e naquele instante os olhos da fada mergulharam na esfera, e um dos milhares de futuros se abriu perante sua percepção... O planeta estava escuro, a terra parecia recoberta por uma rocha de um cinza mórbido, e grandes árvores de pedra que refletiam as luz solar erguiam em corredores longos e tortuosos...e muitos animais estavam doentes e famintos; seres bípedes com movimentos apressados cruzavam por entre o cinza, com um olhar confuso e vazio. Nallab, XXXIV

então pensou consigo: este futuro seria muito triste, para todos nós. Após alguns instantes seu desejo foi dirigido à outra esfera e nesta, uma nova janela do tempo se abriu: Num tempo lindo onde instrumentos voadores feitos de um material tão sutil quanto às asas de uma libélula, flutuavam pelo ar; milhares de seres viviam em harmonia e seus olhos eram plenos de luz e consciência. Assim era uma só família. Os seus pensamentos eram suficientes para modificar a matéria, o tempo e o espaço. Haviam mergulhado os segredos mais recônditos da Natureza e sabiam como e porquê pedir... Mais ao longe, Nallab via uma época em que a vida migraria para outras esferas celestes, num tempo em que as sementes da vida poderiam ser programas e depositadas em qualquer superfície inóspita, e então esta grande semente, que possui os segredos da geração da vida aprenderia a transformar o ambiente inabitado em habitado; iniciando uma sequência de sinais geradores de uma multiplicidade de vidas de toda ordem. Desse modo, a fadinha vislumbrou diversas possibilidades, que ascendiam do divino ao profano; da dor de diversos seres do planeta a harmonia sublime; do vazio existencial de seres futuros a sua completude em Absollon; viu tempos de destruição de vidas, de esperanças, de sentimentos nobres, de sonhos puros; mas também viu a criação e o entendimento da linguagem da natureza, em toda a sua simplicidade e elegância... O futuro era amplo, um horizonte finito, contudo sem fronteiras, que acorda

de seu profundo sono através de um desejo sincero e ativo nas profundezas de um Universo visível e invisível. Nallab assistia a cada uma das cenas maravilhada, ela rompia a barreira do Tempo. Lá ao longe viu algo, seu coração acelerou e ao pousar seus olhos naquela esfera de coloração diferente das demais, sorriu silenciosamente. Daquele brilho róseo emanava um segredo... o segredo de sua missão, o segredo de sua existência e de seu propósito de existir. E assim, Nallab desejou fervorosamente conhecer o interior daquela esfera e seu desejo esticou os braços e seu olhar deslocou-se para além do horizonte das limitações e ela mergulhou novamente. Nas profundezas do desconhecido não manifesto, que agora se manifestava para si. As imagens e as sensações permeavam sua alma de fada, e como a chuva primaveril, caia para se juntar num grande veio de água. Sua mente sorvia cada gota deste futuro, ela era o solo que absorvia a chuva do saber. Nallab viu um tempo gélido, no qual a Cidade das Fadas estava destruída. Vislumbrou fadas congeladas, com a aparência de estátuas de gelo. E ouviu vozes. Gritos de fadas, gritos daqueles que amava. Viu legiões gigantescas de fadas e animais da floresta voarem em direção ao palácio da Impetriz; porém a imperatriz não estava mais lá, ela estava congelada, assim como a fonte de fairyllan. Seus olhos foram se enchendo de lágrimas e seu coração foi ficando apertado, pois, viver o futuro é trazer XXXV

tudo; as memórias e as emoções vinham juntas, com as asas de um mesmo pássaro enigmático. Ao longe viu em imagens rápidas de Raice, cenas confusas; cenas de dor e de uma grande mudança. Sentiu seus lábios tocarem, os frios lábios de Raice; sentiu as seus mãos tocarem sua face e sentiu tocando as faces de Raice. Viu uma guerra, entre o Verão e o Inverno; entre o Velho e o Novo, vislumbrou uma fusão cósmica, algo que liberaria o fairyllan. Através da mente de Nallab imagens de fadas sem asas marchavam por sua mente e via uma expedição de sábios, uma caverna extensa como as praias da costa Oeste, com escrita fádica e uma história intensa, que haveria de marcar uma Nova Era. Mas, o seu coração ainda não entendia, pois alguns fragmentos do futuro precisam ser experimentados, para revelarem o seu real sabor; antes disso, tudo permanece insólido, como a descrição do sabor de uma deliciosa fruta. Numa última cena, que dançava insistentemente dentro de si, a fadinha viu algo estranho, uma poça de água brilhante e morna, em que via refletida sua própria imagem. Duas gotas caiam. A imagem agitava-se e ela sentiu paz, amor e alegria; ela sentiu Absollon lhe sussurrando aos ouvidos e auscultou o seu respirar. E como houvesse um tremor em seu espírito, sua alma vibrou intensamente e a imagem que mais se aproximaria do que a pequena experimentava, era o nascer de uma ilha no oceano. Primeiramente todas as

partículas das profundezas se agitam e das profundezas emerge um novo fragmento de terra. Um novo fragmento que abrigará algo novo, vidas novas, uma nova história, num universo de infinitas possibilidades. Uma nova ilha de consciência surgiu dos recônditos desconhecidos de Nallab. Algo que ela apenas conseguia sentir como um calor, uma mudança de estado que ao tentar ser descrita, se perderia num labirinto de palavras incompletas. Os olhos da fada estavam transfigurados e seus cabelos brilhavam como uma tocha de chamas vermelhas e douradas. Uma fraca brisa a início parecia dirigir-se de todas as direções, para a posição ocupada por Nallab. Pouco a pouco, o que era apenas uma fraca brisa transformava-se num forte vendaval, que agitava violentamente os cabelos flamejantes da fada, que aparentemente parecia permanecer numa outra dimensão. O forte vendaval unia-se em Nallab, ela era o centro, no qual todo o oscilar se aglomerava. Num movimento de dupla espiral, a fada permanecia suspensa e agia como o centro do furioso tufão. Paulatinamente a forma de Nallab foi avançando no tempo, sua imagem envelhecia e envelhecia, mais e mais, até desagregar por completo. E de sua desagregação os velhos fragmentos se uniam a novas formas dos reinos animais, vegetais, minerais; das esferas celestes e das esferas fádicas. O Vento do Futuro a carregava em suas asas, esta era a razão da alteração de XXXVI

sua forma, no entanto, sua essência era mais fundamental e as alterações internas que se processavam eram difíceis de serem visualizadas através do mundo dos sentidos densos. Aos poucos o ambiente foi se transformando e após um breve clarão ali estava ela, novamente na caverna dos quatro Ventos. Seus cabelos e olhos já haviam retornado a antiga forma, mas a sua alma jamais haveria de retornar a seu antigo tamanho, pois, sempre que a mente e a alma se abrem a uma grande experiência, jamais voltam a assumir seu tamanho original. Nallab abriu os olhos vagarosamente e em seus ouvidos, ainda auscultava o sussurrar do futuro, numa tonalidade baixa e envolvente; que lembrava o agitar das folhas do bambu. Permaneceu parada durante alguns instantes, sentindo a respiração de Absollon; sentindo os vestígios do surgimento de uma nova consciência. Vagarosamente foi retornando a um estado de maior consciência de si e num sussurro que lembrava o coro da doce voz de cem mil fadas, ouviu... “A integralidade é alcançada pelo não desejo, que tudo move; pela não força que qualquer elemento desloca; pelo permanecer que tudo encontra. Ela é o som do silêncio... ela é o coração de Taimitus, o guardião do Tempo”. Após ouvir estas palavras o mistério volitou por cada espaço de sua doce mente, e como uma semente depositada em terra fértil germinou. E da dúvida adveio a luz. E da luz frutificou a verdade que guiaria Nallab. E Nallab

compreendeu... e dessa nova compreensão descobriu que o Vento do Tempo Integral somente permearia o seu ser, se ela permanece-se. Então, Nallab permaneceu, e neste instante sua alma buscou o Silêncio; e neste instante ela simplesmente foi e permitiu que sua essência profunda se manifestasse. A pequena fada simplesmente era. Naquele segundo, ela realizava o que devia realizar e estava despida de todo e qualquer julgamento; era como um pássaro que simplesmente canta ou como um rio que simplesmente corre. Nallab era; simplesmente era... Foi assim que o Vento que carrega o tempo integral movimentou-se, sem se deslocar e penetrou, sem-penetrar; pois o Tempo Integral é o local no qual tudo é, e onde a lógica das palavras se transmuta, no paradoxo. Todo o medo havia se dissipado; toda dúvida havia se dissipado; toda a descrença havia se dissipado; pois estas emoções são todas os frutos da mente, elas são advindas das sementes da ilusão, que evita reconhecer a impermanência de tudo que existe e plaina nos campos do passado e do futuro. Nallb sentia-se segura internamente, serena como as tartarugas gigantes marinhas, que mantêm a respiração profunda e os olhos serenos mesmo diante dos maiores perigos do mar. Era uma grande montanha, que permanecia inalterada mesmo diante da mais violenta expressão da Natureza, sua mente era pura serenidade. No interior desta sensação de serenidade, Nallab novamente viu. Ela XXXVII

começava a entender parte do propósito de sua criação; pois ela ouvia sua fada interior, uma essência guia que orienta todas as fadas da Terra. A mente precisa estar silenciada para que possa ouvir a fada interna, e intuitivamente a pequena fada pressentia que o Vento do Tempo Integral realizava tal milagre: o Silenciar da Mente, o momento em que a mente flui como os grandes rios, no qual, toda turbulência é rapidamente dissipada pelo correr das águas. Os olhos de Nallab brilhavam lindamente, e a sua coloração azulada dava a impressão de expressarem o correr tranqüilo de um rio em direção ao oceano sem fim. Repentinamente, uma imensa esfera construída por uma luz pastosa, foi se formando a sua frente, vibrando ritma e serenamente. Pouco a pouco, a imagem de Taimitus foi se configurando ao seu redor; o centro era a expressão do coração de Taimitus. E novamente a fada identificou aqueles rostos magníficos, cujas formas lhe pareciam ser instáveis. De repente como ouvisse novamente aquele imenso coro de 100.000 doces vozes de fada, sentiu seu corpo vibrar, a cada palavra; a cada nota sonora. Sentia o corpo como a fina membrana de um tambor, tocada por delicadas mãos. E a voz disse, numa mistura de sons compreensíveis e incompreensíveis: “Pequenina os quatro Ventos lhe alimentaram a alma e junto aos quatro Ventos, quatro verdades foram-lhe entregues, a verdade dos quatro tempos...”

Nallab olhava de modo interrogativo e aquelas palavras pareciam fazer pouco sentido em seu ser. O grande Espírito escutou os passos da dúvida caminhando em seu interior e afavelmente disse: _Seu coração está em dúvida diante de minhas palavras... Nallab mantinha os olhos na figura de Taimitus, e acenou levemente a fronte para cima e para baixo de modo muito sutil, confirmando as palavras do grande Espírito do Tempo. E com imensa sabedoria Taimitus filtrou o Saber e entregou para a pequenina, o refinado néctar do conhecimento e assim disse... Quando uma fada voa durante um dia e uma noite numa só direção uma verdade é revelada: a sombra de uma fada somente torna-se perceptível, quando o seu corpo é tocado pela luz de uma certa direção. Do nascer ao pôr do Sol, a sua sombra parece deslocar-se, num instante parece estar atrás, no outro parece desaparecer mesmo havendo luz; posteriormente terá a impressão que ela está a sua frente e quando a luz desaparece por completo a fada pode crer que sua sombra desapareceu... Todos estes instantes são ilusões criados no interior da mente fádica. O Sol representa minha imagem, a fonte dos quatro Ventos. O corpo da fada representa o Vento do Presente; a sombra atrás representa o Vento do Passado; a sombra para frente representa o Vento do Futuro; a sombra que desaparece na luz, é o momento em que a fada vivente percebe, XXXVIII

que somente Existe; a sombra que desaparece diante da escuridão é o momento quando a fada adentra na Fonte Celestial e mergulha em Absollon. Através do meu movimento, pequenina, cria-se a ilusão de Três Ventos do Tempo, o Vento do Passado, do Presente e do Futuro; em sua mente a inicio parecerão três realidades: a posição da sombra atrás, a posição da sombra na frente, o desaparecer da sombra. Todos são e não são reais... e a única forma que existe é o Processo, o movimento da sombra em relação ao deslocar do corpo. Este Processo é a expressão do Vento do Tempo Integral, para qual todos os outros Ventos se manifestam e se revelam; todo véu de dúvida cai diante do Vento do Tempo Integral. Taimitus terminou de falar e ao terminar sua profunda e sabia fala, olhou para o fundo da alma de Nallab e nela viu surgir à luz do entendimento. Então, disse: _ Aprendeste o que vieste aprender é o momento de partir, pois quando findasse uma estação começa-se outra... Os olhos da fadinha luziam e um delicado sorriso foi se formando entre as duas extremidades de seus lábios róseos. E num tom profundo e agradecido, Nallab disse: _Neismate... Eu saúdo o seu Absollon interior e eu parto agradecida pelos ensinamentos que me doaste... A imagem de Taimitus foi desaparecendo, criando correntes de ar moldadas pela mistura dos Ventos. Pouco a pouco, os Ventos foram modificando o

espaço da caverna, no qual vários orifícios iam se formando por todos os lados. E por estes orifícios, tênues raios delicados como pétalas de rosas incidiam todos sob o corpo de Nallab. De repente, os olhos da fadinha foram ficando pesados e diante deles somente apareciam folhas secas e diversas árvores com folhas envelhecidas, que lhe pareciam sussurrar pelo leve farfalhar das folhas... “sempre chega o momento em que as folhas velhas devem se renovadas para que sua essência sirva de alimento a um novo começo...” Uma sensação áspera e gélida parecia envolver todo o seu corpo... Nallab havia sido transportada para um novo processo, o qual, representava a estação de maior dificuldade. Era o momento de mergulhar nas próprias profundezas do passado; um mergulho no Abismo de si mesma; num lugar gélido e seco, onde estaria sempre acompanhada pela privação e escassez. Todo alimento deveria ser extraído do aprendizado de seu próprio ser; sua falha em alimentar-se de sua essência seria o sinônimo de servir de alimento a própria terra. “A estação do inverno”

XXXIX

Fuuuu....fuuu....... Um medonho vento gélido assobiava, junto às orelhas graciosas da fada. Parecia lhe sussurrar palavras aos ouvidos; a sua voz, pouco a pouco, foi adentrando no reino proibido: o coração de Nallab. Uma sensação de temor começou a nascer, e cresceu e cresceu. A respiração tornou-se acelerada e uma angústia estranha foi se manifestando. Geralmente tais emoções não são próprias das fadas, contudo chega-se um momento em que a fada deve harmonizarse com as suas próprias trevas internas, para que manifeste a verdadeira magia, onde dois pólos se manifestam, um criando e outro renovando. Sem este saber nenhuma fada pode evocar e dirigir o fairyllan pleno. A angústia cresceu e a respiração não mais pode satisfazer o seu intenso desejo de respirar. Então, Nallab acordou; parecia ainda reter em sua expressão traços de uma angústia misteriosa. Talvez advinda de um medo oculto, nas zonas abismais de sua essência. Levantou-se meio cambaleante e sentiu as mãos duras e frias como granito. O frio parecia ficar a cada instante mais intenso e a sensação de rigidez e frieza de suas mãos parecia serpentear das extremidades para o centro de seu corpo: a sede do coração fádico. Suas forças iam escorrendo na tentativa para de manter o seu corpo aquecido, elas eram a madeira que queimaria até o fim, para manter Nallab viva. Quase não conseguia pronunciar magia alguma, a rigidez era tamanha, que somente sons inarticulados e

monossilábicos eram capazes de sair de si. De repente, ouviu uma voz em seu interior, lhe sussurrando: “_ Pequena evoque o animal guia, chame o grande lobo branco...” E assim, Nallab fez, e com as mãos graníticas envoltas na neve do chão ela uivou, o mais alto e forte que pôde. As fadas ao longo de sua existência aprendem a comunicação com os seres dos três reinos; minerais e os que pertencem aos grandes e pequenos, vegetais e animais. Um uivo intenso foi ouvido e aparentemente vinha de uma distante cadeia montanhosa na borda do horizonte. E o uivo ecoou por toda a extensão do deserto branco. Nallab emitiu novamente um novo uivo, no qual, evocava ajuda. Um novo uivo foi emitido em resposta, contudo lembrava o som de uma imensa alcatéia, que se comunicava em uníssono, com a fada. Passadas macias foram sendo ouvidas e paulatinamente assumiram dimensões sonoras colossais, uma onda gigantesca de lobos dirigia-se rumo a fada. À frente de todos, seguia um lindo lobo branco que irradiava uma suave luz dourada. Eles deslocavam-se rápidos como o vento e mal pareciam tocar a neve. Nallab sabia que a Natureza sempre está disposta ao auxílio, sendo uma gigantesca teia, na qual todos os fios se sustentam. A aparência do grande lobo branco era colossal. Pouco a pouco, suas passadas foram ficando mais e mais lentas e a alcatéia assumia um novo XL

ritmo. O corpo da fada tinha uma leve coloração que lembrava as violetas dos bosques. De cabeça baixa o grande lobo aproximou-se da pequenina, enquanto era observado pelos outros lobos. O corpo da fada tremia de modo rítmico, numa última tentativa de manter-se aquecida. O grande lobo achegou-se de seu rosto e humildemente lambeu as suas faces recobertas por uma fina porção de neve. Então, os lindos olhos azulados, ergueram-se num gesto de gratidão pela doce sensação de calor sentida no rosto, que deixava sua moldura na fofa neve. O grande lobo branco tinha os olhos brancos e brilhantes, como o mais puro cristal de gelo. Depois de sua tentativa de amparar a fada, o imenso lobo sentou-se a sua frente e fixou os seus radiosos olhos de cristal na fada e uivou. Uivou de um modo alto e penetrante, naquele breve segundo, entoava um chamado, pois, os sons de toda a natureza são evocações de energias poderosas. Os sons podem mobilizar fairyllans poderosos. Nallab sentia o som lhe percorrendo todo o corpo, tal como uma onda vibrante. As extremidades de seu corpo foram mudando do tom violáceo para o róseo e imagens misteriosas lhe surgiram à mente. Ela sentia que o chão a forçava para erguer-se; sentia o ar a impulsionando em direção ao claro céu; os tênues raios de luz pareciam ligar-se a ela, como teias, obrigando-a a erguer-se. O uivo fez algo, ele havia ativado um processo. E neste processo Nallab se confundia com a Natureza e a Natureza

conspirava para que a fada erguesse-se para o cumprimento de seu propósito. Seu fairyllan interno havia sido desencadeado pelo grande lobo. Em movimentos reptilianos, ela foi se erguendo e parecia expressar uma estátua magnífica em movimento, na qual, cada pequena modificação ia esculpindo a materialização do fairyllan. Enquanto se erguia, tinha a nítida impressão que a energia transmutadora habitava as mais ínfimas formas de sua mente e de seu corpo. Sem saber, o porquê, ela assumia a mesma posição sentada do grande Lobo Branco, que a admirava como o milagre do nascimento de um novo filhote. Assim, lobo e fada ficaram frente a frente. Os olhos azulados de Nallab refletiam a reluzente imagem daquela magnífica imagem de pêlos. Pouco a pouco, os seus ritmos começaram a ficarem acoplados; sobreposto; sincrônicos. A respiração de Nallab se equivalia ao do grande lobo. O oscilar do corpo se equivalia ao do grande lobo. Simultaneamente, os dois emitiram um longo e intenso uivo. Num uivo que se repetia e parecia tocar as estrelas mais longínquas. Algo estava ocorrendo, Nallab desconhecia e, no entanto, ela confiou neste desconhecido; neste novo futuro; nesta nova possibilidade que se construía em si. Os imensos olhos da fada foram se transformando e no lugar daquele brilho oceânico, um novo brilho surgia. E o que o era um tom oceânico, tornou-se da coloração de um lindo cristal de gelo.

XLI

Seus olhos e os olhos do Grande Lobo emitiam o mesmo brilho. Ambos, fada e lobo ergueram o olhar em direção as galáxias mais longínquas e uivaram numa só voz e baiShando a cabeça lentamente marcharam um, na direção do outro. Neste momento eles eram a expressão de um espelho perfeito, no qual, imagem e objeto se confundiam num único ser. Tuf...tuf...Tuf...tuf...Tuf...tuf...Tuf... Ritmicamente moviam-se e a cada deslocamento uma marca de seus seres era esculpida na maciez daquele mármore alvo. Então ficaram frente a frente, numa só respiração; num só movimento, num só brilho. E por fim, a magia aconteceu... Seus corações e pensamentos foram pouco a pouco, assumindo um mesmo compasso. E Nallab escutou dentro de si o manifestar da magia e como expressasse os pensamentos do grande lobo, disse: “No frio te protegerei... minha força é sua força. Meu ser é seu ser. Minha magia é sua magia, somos um só processo, você e Eu. Nesta parte da jornada seremos Nós e não mais Nallab e Eu”. De modo cíclico a fada ia dizendo e avançando na direção do grande Lobo: _Somos um só processo... Ambos se achegaram até não restar mais nenhum vazio, entre ela e o lobo. Delicadamente suas cabeças se tocaram e um brilho surgiu do topo de suas cabeças e naquele instante Absollon sorriu. E lentamente seus corpos foram se misturando, como o encontro das águas do rio limitado, com o oceano infinito. E

das misturas das duas águas, uma única forma foi assumida. Não eram mais dois corpos separados, eles agora se tornavam um processo único; eram como o ar quente e o ar frio que se misturavam ou como o encontro de duas grandes nuvens, que do encontro perfazem um único processo, um só corpo. O brilho da cabeça serpenteou da cabeça em direção ao centro da terra e uma luz amarelada, como a fluorescência dos vaga-lumes foi emitida daquele novo processo. Da pele lisa e rósea da fada uma fina pelugem de fios branco-dourados foi nascendo, lembrando o nascimento da grama nas planícies. O seu corpo assumiu uma forma encorpada e vigorosa constituída por densas musculaturas de formas delicadas; era uma frágil flor com o vigor do Jatobá e dos antigos Carvalhos e Sequóias. Agora, braços, pernas, mãos, pés, enfim, toda a extensão corporal da fada ficava protegida. Suas orelhas típicas das fadas foram assumindo uma forma mais similar as orelhas de lobos, revestidas por pêlos em todo o seu exterior. Nallab continuava bela. Os seus olhos antes azuis, agora eram dois cristais de gelo, incrustados na moldura de seu rosto róseo. Sentia força e agilidade em cada microrregião de seu novo corpo. Seus sentidos pareciam mais lúcidos e intensos, sentia-se capaz de perceber o som de uma folha a cair na neve e sentir o cheiro de uma gota de mel a quilômetros. Novos sentidos e sensações emergiram da fusão. E enquanto se XLII

acostumava ao novo universo que se criava em si, ouviu o grande espírito do Lobo Branco, que habitava em si: _Vê toda a neve ao seu redor? Disse a voz em seu interior. _Sim, vejo...Disse Nallab, dentro da mente. _E o que ela representa? _O frio e a escassez... _Observe mais de perto pequena, sinta a essência, não a Ilusão. A neve e o frio irão tentar confundir seus sentidos, nem a neve, nem o frio são reais. Sua mente é que os torna reais. Disse a voz do grande lobo. _ Pegue um punhado de neve e ponha da boca. Prontamente a nova Nallab abaixou-se e pôs um punhado de neve em sua nova mão com pêlos dourados na parte externa. _Perceba o processo... Falou num tom sussurrante, o grande lobo interno. Nallab sentiu o frio da neve sendo aquecido e a forma fria e gelada, foi assumindo um estado líquido que foi incorporado ao seu interior. _ Compreendes pequenina? Este é o processo, este é o modo como sua mente funciona. _O que era frio e sólido foi transmutado pelo seu calor interno. O seu interior modificou a forma ilusória. Saiba que toda neve que observa neste instante está em três formas simultaneamente: ela é a expressão de água sólida, líquida e gasosa ao mesmo tempo. O seu calor ou frio interno é que lhe mostrará uma das formas.

Nallab teve um novo brilho interno e de alguma forma sentia que o grande lobo interno lhe mostrava a conexão do todo, no qual, a mente ordena e transmuta a realidade. Era um ponto sutil da criação em que sonho e realidade assumem um único corpo. A fada esboçou um leve sorriso de felicidade, pois, um conhecimento profundo traz em seu cerne o germe da alegria. Naquele segundo uma semente havia brotado no interior da alma de Nallab. Novamente a voz interna do grande lobo vibrou em si: _O Inverno será o seu guia, ele ensinará para você o segredo depositado na Ilusão. A Ilusão é o vaso em que a semente da Verdade dormita... _ Aprenderá a não confundir o formato da terra, com o formato do vaso. E perceberá que é a sua mente que se curva e modela a forma do vaso. Este é o início do caminho que a levará ao cerne de fairyllan. A alcatéia permanecia parada, todos observavam atentamente a transformação profunda que se processava na fada. A respiração de Nallab era lenta e profunda. Os brilhos de seus olhos eram intensos como o reflexo de um intenso raio de luz num cristal de gelo. De repente, em sua mente Nallab, observou surgir à imagem do grande lobo e ouviu um uivo interno e viu um clarão dentro de sua mente, e junto com ele, uma nova mensagem: _Ao longe, depois do grande espelho de Gelo, você deve encontrar a XLIII

metade de meu coração. Meu coração é constituído por uma essência de fogo, que mora no corpo de pêlos brancos e uma essência de gelo, que habita no corpo de pêlos negros. _ Mas, como encontrarei o lugar? Disse a fada. _Saiba que não é o lugar o mais importante de sua jornada atual, o que você encontra será o Ser, um fragmento de minha polaridade. Disse serenamente o lobo interior. _Tenha confiança em Absollon e em seu novo corpo e em seus novos sentidos, eles lhe conduziram até Méddos, o guardião da Ilusão, o grande lobo Negro. Ao derrotar Méddos e conseguir o seu coração de gelo obterá a última chave, a chave que lhe conduzirá no caminho de fairyllan, em direção à estação da Primavera. Nallab acenava afirmativamente com a cabeça, como falasse frente a frente, com outro ser. Os lobos observavam atentos ao agitar dos seus cabelos dourados em que curtos e frios fios de ventos insistiam em movimentar. _Sim, confiarei nos poderes de Absollon e na sua expressão, Oh grande lobo branco que agora se manifesta em mim... Disse a fada plena de fé. _Pequena estarei sempre contigo e tenha cautela, pois Méddos alimenta-se de Sombras, do mesmo modo que eu me alimento de Luz. Ele fareja e se alimenta de antigos e recentes medos, ele vive das Sombras do Passado, que ecoam no Presente. Pouco a pouco, a voz interna que lhe falava foi silenciando mais e mais, até

sumir num uivo distante e profundo; intenso e aconchegante como os raios de primavera. Nallab fez um movimento de giro com a cabeça, sondando todas as circunvizinhanças. Sentia o corpo plenamente aquecido e dotado de força e vigor, parecia que os pêlos dourados de seu corpo tinham a propriedade de criar e reter, calor entre a camada de ar e sua pele. Ao seu redor a alcatéia perfazia um círculo, no qual, a fada era o ponto convergente de todos os olhares dos outros lobos. Então, todos os lobos num gesto de respeito, curvaram a parte posterior de seus corpos; como o curvar dos servos, frente a um rei. Permaneceram nesta postura durante alguns instantes, então Nallab agradeceu, na língua dos lobos; emitindo um agudo uivo, dirigindo o olhar ao céu. Depois, os lobos de ergueram e responderam a gentileza e gratidão de Nallab. De algum, modo eles sabiam que a jornada do corpo que agora continha o espírito do grande lobo branco, seu mentor neste momento, devia seguir em direção ao coração de Méddos e que tal tarefa deveria ser realizada na solidão. A alcatéia agrupou-se novamente e um dos lobos cujos pêlos eram cor de fogo, conduziu o grupo e o mesmo som de passadas macias foram sendo ouvidas, diminuindo mais e mais. Contudo a audição de Nallab ouvia tudo mais claramente, o macio afundar na neve; a quebra de gravetos do chão; a respiração da onda de lobos. Ficou ali sentada, observando pacientemente até o último

XLIV

lobo sumir no fundo das montanhas em que os últimos raios do dia corriam. A fada tinha a leve impressão que os lobos corriam atrás dos últimos e fugidios raios de sol, que iam dando lugar para os raios lunares e o brilho das estrelas.

A noite já se apresentava iminente. Maravilhosas estrelas bordavam o tecido celestial. O silêncio parecia reger uma linda harmonia musical repleta dos sons do vento e das marcas das pegadas de Nallab, que ficavam impressas na delicada matriz de neve. Seus novos olhos tinham a propriedade de guia-la em meio às trevas, para ela a noite era semelhante ao dia; todos os elementos que a cercavam emitiam um suave luz esbranquiçada. O espírito do grande lobo interior ia lhe dizendo à medida que caminhava vagarosamente no interior daquela fria noite... _A luz que vê pequenina é o espírito da Natureza. Ele está em tudo e é um único corpo, que aparenta ser vários. Sempre que estiver perdida ou desejar

achar algo, pergunte para o espírito que habita cada elemento, pois se mantiver o espírito brando e puro, sua atenção será redobrada. Assim, você conseguirá ouvir a voz da natureza, ela é sua Mãe e sua Mestra Guia. Nallab caminhava tranqüilamente no interior da fria noite. O som do vento parecia mais melodioso e lhe trazia uma sensação de serenidade. Na calmaria de seu andar, admirava as diversas moradas que existiriam nas distantes moradas estrelares. As palavras do grande espírito realizavam o milagre da repetição em seu interior, era um fluxo sereno e reconfortante. Lembravam-lhe os doces e tranqüilos sons das nascentes, que nascem e renascem continuamente. _Todas as respostas vivem no espírito da natureza...Dizia Nallab, em profundo tom reflexivo. Às vezes, tinha a impressão de estar sendo observada a cada passo, que era construído no avançar de sua nova estrada. E no momento de uma dessas leves impressões, ela voltou seu olhar para trás. Não avistou absolutamente nada, somente uma imensa moldura feita de gelo, em que centenas de pegadas haviam sido esculpidas. De repente, o vento pareceu assumir uma qualidade mais violenta e crescente, dando início ao nascimento de forte tempestade de neve. A neve caía intensamente e o céu antes bordado por estrelas, dava lugar ao branco da neve. O negro do céu metamorfoseava no branco da neve.

XLV

O vento agitava violentamente o cabelo da jovem fada e parecia tentar deter cada um dos firmes passos que ela dava. Após caminhar no coração da tempestade durante alguns instantes, percebeu que seria melhor procurar abrigo. Logo a frente avistou um corredor de altas árvores desfolhadas e organizadas como um labirinto vivo, feito de uma madeira de tonalidade verde escuro e marrom. O som do vento estava cada vez mais intenso e o que antes lembrava uma suave harmonia, agora ia pouco a pouco se transfigurando em diversos sons similares e centenas de gemidos. Nallab abraçou uma das árvores que estava a sua frente, entre encostando suas delicadas faces no sólido tronco, como estivesse procurando apoio e suporte. Um tênue vapor gasoso foi exalado, quando a pelugem dourada da fada tocou no gelo do tronco. Então, lembrando das seguintes palavras do grande espírito do lobo, “sempre que estiver perdida ou desejar achar algo, pergunte para o espírito que habita cada elemento, pois se mantiver o espírito brando e puro, sua atenção será redobrada. Assim, você conseguirá ouvir a voz da natureza, ela é sua Mãe e sua Mestra Guia”. E assim notas suaves saíram dos lábios da fada: _Grandes irmãs árvores, eu preciso de um abrigo. Coloco-me humildemente diante de sua fortaleza e sabedoria. Grandes irmãs guiem-me no caminho... À medida que foi repetindo cada uma dessas palavras, uma sensação de

unicidade e bem-aventurança foi preenchendo o coração de Nallab. E algo começou a ter início, a fada começou a ouvir o agitar de folhas, contudo, nenhuma das árvores aparentava possuir folhagens. Era a voz das árvores que Nallab auscultava, o coração das árvores lhe respondiam. Para ela os sons de folhas eram mais intensos que o som do vento. O som das folhas invadiu sua consciência e algumas árvores pareceram emitir um brilho mais intenso que outras, perante os olhos da fada. A sabedoria daquelas magníficas criaturas viventes lhe mostrava o caminho, o caminho para um abrigo seguro, no qual ela pudesse ser protegida. Segundo, a antiga sabedoria das fadas, “todos os que cuidam e protegem a Natureza, são cuidados e protegidos por ela”. Em meio aquela escuridão branca decorrente da força da tempestade, Nallab foi guiada pelo espírito das árvores. A voz do vento em seus ouvidos era nítida e somente ela era ouvida. O brilho continuou a guia-la; seus olhos estavam praticamente inutilizáveis e o vendaval gélido forçava Nallab a caminhar de olhos fechados, contudo o brilho irradiado das árvores ainda era visível. O espírito daqueles imensos vegetais estava além dos olhos orgânicos. Mais e mais, o tato e a audição eram requeridos. De repente, a adorável fada reconheceu em meio ao som uníssono das farpas de ar, um som diferente. Nallab sabia que na diferença subsiste o Sinal, a voz de Absollon. XLVI

Absollon utiliza-se de Sinais baseados na diversidade para comunicar-se com sua criação, a fada sabia que ao seguir os Sinais, ia de encontro ao chamado do Supremo. O vento assobiava ainda em seus poderosos ouvidos, mas naquele instante ele era apenas o pano de fundo para o Sinal. O Sinal era o som de uma gota caindo na água. Nallab começou a centrar toda sua atenção na voz de Absollon e a cada gota que caía os novos sentidos de Nallab interpretavam aquele ruído, como a vibração continua de um diapasão ou da lâmina de um metal chocando-se contra uma rocha. A intensidade sonora foi seguindo uma curva crescente. A irradiação vegetal foi aumentando diante dos olhos cerrados de Nallab até um ponto em que a razão da pequena foi confundida. Ela havia chegado num espaço circular e por mais atentamente que observasse, a intensidade luminosa formava um círculo ao seu redor; não sabia por onde seguir, ninguém consegue interpretar pela igualdade plena uma resposta, somente a diferença pode fornecer a resposta. Após alguns instantes de confusão, Nallab libertou sua mente da dúvida e como uma pétala flutuando nas corredeiras, ela entregou-se a Respiração de Absollon. Somente o vento era percebido novamente, parecia um som imóvel parado em sua mente. Então ela começou a ouvir novos passos, não passadas na neve; mas, sim passadas no vento. Toda sua atenção focalizou-se nestas passadas, sua audição apurou-se mais e mais, para poder perceber as

sutilezas e descobrir, quem o que caminhava no vento. Em sua mente a pequena perguntava: _Quem ou o que és tu? E uma voz ressoou dentro de si: _Pequenina não existe o “que” tudo é o “quem”. Tudo é vivo, sinta a vida em tudo e um novo sinal será revelado. Então, em sua mente a pergunta foi reconstruída sob uma nova forma: _Quem é que és tu que caminha ao vento? E o “quem” que caminhava no vento lhe respondeu: _Sou o elemento que liga a luz a terra, sou como o ar que faz a conexão entre o celeste e o terrestre. Eu sou, o que tu chamas folha. Sou única e semelhante ao mesmo tempo. Mas como é possível ser única e semelhante simultaneamente? Disse Nallab surrando perante o vento gélido. Então, a folha disse: _Toda a criação é fruto do paradoxo, ele é o encontro do rio com o oceano. É o breve instante em que o finito encontra-se com o infinito, ele é o espaço finito no qual inexistem fronteiras. Sigame e encontrara o abrigo, somente no paradoxo acharás a segurança e a Verdade sobre o poder de fairyllan. As passadas da folha foram sendo ouvidas na estrada de vento e Nallab seguia atentamente seu som até pousar num ponto específico do círculo. Nallab aproximou-se e ao aproximar-se ouviu novamente o som da gota reverberante e sentiu o cheiro de terra úmida. Seu novo corpo, meio fada, XLVII

meio lobo, começou a lhe transmitir sua sabedoria infinita acumulada ao longo das inúmeras gerações. Assim, ela sentiu vontade de cavar no local especificado pela folha. E assim ela fez... Cavou e cavou, mais e mais, a inteligência daquele novo corpo a conduzia. Ela havia aprendido que o corpo possui conhecimentos ancestrais e que o corpo de uma fada não é somente o corpo de uma fada, mas o corpo de todas as fadas e seres ancestrais. Ele é a coloração infinita expressa num quadro finito, seu corpo. Nallab vislumbrou, pouco a pouco, a orla de uma cavidade a se abrir. Do centro da mesma um raio avermelhado de luz pálida construía um feixe reto e tênue ao longo da forte tempestade. A orla foi crescendo aos poucos até que a fada pudesse perceber o que existia naquele espaço. Nallab percebeu de imediato uma significativa mudança de temperatura entre o interior da abertura e o exterior ocupado por ela, tinha a sensação de um hálito de verão a sair em movimentos rítmicos, similares ao ato de respirar. Olhou atentamente a abertura e mesmo a luz estando fraca pode observar os detalhes graças a sua visão lupina. A cavidade parecia a principio ser um cilindro rochoso de tonalidade vermelho acinzentado de cerca de oito metros de profundidade e diâmetro diminuto, cuja abertura equivalia a duas vezes a altura de Nallab. Após o reconhecimento inicial, Nallab direcionou sua mente a um único

propósito: adentrar naquele abrigo para o qual ela havia sido conduzida. Antes de descer examinou atenciosamente a borda e procurou descobrir a melhor maneira de percorrer o cilindro vertical. Sentiu algo estranho, nas extremidades de suas mãos e pés, eis que emergem lâminas prateadas de aparência tão afiada como as garras da águia gigante. A sabedoria corporal novamente lhe sussurrava uma direção. Nallab em tom reflexivo, então disse: _Grande de Espírito do Lobo Branco que em habita mim, eu lhe agradeço por me guiar na compreensão do fairyllan. A fada começou a deslocar-se pelo interior da cavidade aquecida. Descia lentamente, mesmo sentindo que as unhas lhe davam aderência plena e a cada novo movimento olhava para a parte superior da abertura, que ia paulatinamente ficando mais e mais escura, como os olhos que se fecham. Devido à força da tempestade a neve foi ocultando novamente a abertura e fechando a cicatriz que Nallab havia esculpido sobre o corpo da terra. O ruído do vento havia cessado e a fada somente ouvia o tilintar das gotas sobre a água e sobre uma superfície mais sólida, que ela julgou ser possivelmente uma rocha. Seu corpo a guiava num movimento ritmado, em que os membros opostos eram movimentados de modo simultâneo. Tu...puf...tu...puf... era o som construído pelo ritmo de descida.

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Algumas lascas rochosas se desprendiam e ecoavam pelas paredes até tocar o fundo. De repente algo acontece. Nallab perde a aderência e desce escorregando com as duas unhas das mãos fincadas no corpo rochoso, em velocidade crescente. Sua respiração acelerou e uma sensação de medo invadiu o seu ser. Ela começou a escorregar aproximadamente do meio do cilindro e desceu de modo acelerado até o fundo. Após chegar a profundidade daquela garganta rochosa, a fada correu rapidamente os olhos pelas paredes que a conduziram até aquele local. E reconheceu finas gotas que deslizavam pela parede e uma erva de coloração preto espumosa, que revestia certas regiões do cilindro, inclusive o ponto em perdeu o seu ritmo de descida. Naquela descida violenta; pequenos microcortes haviam se instalado em suas mãos e pernas, mas nada muito grave. O chão que agora a sustentava era liso e escorregadio e forrado por aquelas ervas de coloração preta espumosa. Havia dois cilindros rochosos horizontais, uma deles Nallab conseguiria caminhar de pé, no outro; contudo ela teria que rastejar para poder percorre-lo. Novamente prestou atenção na sua nova e poderosa audição. Reconheceu que da abertura mais estreita o som do tilintar era mais intenso e da abertura mais larga sons semelhantes à digestão de alimentos eram ouvidos. Além disso, Nallab sentia uma significativa diferença na temperatura do vento advinda de cada região. Da abertura maior o vento era

mais quente e trazia com sigo um cheiro amargo e ácido, bem como uma luz de coloração avermelhada. Por diversas razões de ordem instintiva, no qual, o instinto do Espírito do Grande Lobo Branco a guiava; a fada optou em seguir pelo cilindro rochoso mais estreito. Aproximou a passos cuidadosos da abertura de modo que não deslizasse no escorregadio das ervas e assumiu a forma de lobo rastejante. À medida que avançava sentia uma sensação úmida sob os pêlos e uma certa viscosidade que oferecia resistência ao movimento. A única luz que iluminava seu trajeto era aquela proveniente do outro buraco, porém à medida que ela avançava, naquele trajeto a sinuosidade ia aumentando, parecia que estava rastejando no interior de uma cobra rochosa de movimento serpenteante. O serpentear do trajeto ia despistando a parca luz que a iluminava logo no início, até ela seguir somente guiada por sua visão lupina, que podia ser descrita como um misto de preto e branco, tons de cinza, vermelho e dourado. Depois de rastejar por cerca de 70 metros avistou novamente a luz. Era um clarão azulado localizado na extremidade oposta do túnel condutor. Nallab se dirigiu até ele, buscando que seu rosto recoberto pelo dourado dos pêlos fosse tocado pela luz. De maneira determinada ela avançou mais e mais até alcançar a luz. Seus olhos começaram novamente a serem estimulados, contudo à medida que XLIX

avançava os estímulos iam agredindo os seus olhos. Nallab começou a perceber que não somente as tempestades nos deixam cegos, mas que também o excesso de luz pode nos conduzir a cegueira. Cegueira mental, pois é a mente que decodifica a informação, os olhos são apenas condutores da informação. Novamente teve que fechar os olhos. E de olhos fechados avançou até sentir os primeiros raios de luz a tocar-lhe as faces. No entanto, esta sensação agradável rapidamente foi substituída pela sensação de descontrole e pavor, pois o plano rochoso que ligava o interior e o exterior do túnel tinha a configuração inclinada. Nallab escorregava acelerada pela rampa recoberta da viscosidade das ervas pretas e mesmo com as unhas manifestas, não conseguia reduzir sua velocidade. Desceu mais e mais rápido, que mal sua mente conseguia interpretar as informações que eram conduzidas pelo seu aparelho visual. A única interpretação que sua mente fazia era que estava descendo de modo acelerado. De repente só sentiu o ar lhe faltar e tudo ficou escuro. Uma viscosidade plena parecia envolver todo o seu corpo. Instintivamente começou a nadar em direção a superfície, ela havia caído, num ambiente aquoso preenchido por aquelas estranhas ervas. E assim Nallab nadou na escuridão, no que julgou ser a direção da superfície. Seus braços tiveram que mover se vigorosamente e seus pulmões aproveitavam de modo máximo o ar

armazenado antes da queda naquele ambiente aquoso. Com os olhos abertos naquele ambiente aquoso, ela viu novamente a luz azulada. No entanto, sua forma parecia mais difusa como estivesse atravessando uma grossa rede. Ao chegar na superfície Nallab se viu impedida de sair, uma rede de ervas parecia bloquear seu objetivo. Começou a desesperar-se e afundar em direção a escuridão. Repentinamente o uivo do Grande Lobo vibrou em seu espírito e seus dois pés uniram lado a lado, como o pólo sul e o pólo norte de um imã e iniciaram vigorosos movimentos ondulantes. A fada começou a ganhar grande marcha. Agilmente ela levantou os braços e uniu as mãos num movimento magnético, após esta fusão às lâminas prateadas emergiram e Nallab rasgou a rede e ergueu-se cerca de um metro no ar. Instantaneamente após rasgar a rede vegetal, a mesma se reconstruiu e Nallab caiu de pé sob aquele corpo de ervas de consistência gelatinosa. E com um movimento de agilidade felina saltou com o maior impulso que pode e firmouse a um paredão rochoso. A respiração dela era rápida e seus olhos brilhavam intensamente, era a própria expressão do Lobo Branco. Lentamente deslocou a cabeça, num movimento quase reptiliano. Tudo era silêncio naquele estranho ambiente, com exceção de algumas gotas que tilintavam no chão rochoso provenientes, talvez do teto. Grossos filetes aquosos cavalgavam nos pêlos de

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Nallab, precipitando-se ferozmente em direção a um concentrado de algas. A fada sentia entrar através de suas poderosas narinas um odor desagradável, algo entre o cheiro de musgo e enxofre. Lentamente ergueu os olhos em direção ao teto e começou a fincar suas garras, e após parcos instantes começou a conquistar altura para observar melhor o local. Logo abaixo de si reconheceu o tanque tentou traga-la e a rampa que a conduziu até aquele espaço. No teto pode observar a presença de estalactites de tonalidades azulada, que de algum modo produziam a tonalidade azulada no local. Além do tanque a havia sorvido, a fada notou a existência de seis outras estruturas similares, separadas entre si por um sólido chão de granito cinza escuro, talvez proveniente de magma vulcânico. Seus olhos astutos calcularam a distância que a separava do solo; seguidamente sua inteligência corporal precisou a força requerida para alcançar solo firme, e posteriormente Nallab impulsionou seu próprio corpo em direção ao solo. No instante que fixou-se ao solo um som abafado e seco foi produzido e um sutil clarão produziu-se nas estalactites, após o breve estímulo sonoro cessar os cristais pareceram que retornaram a intensidade luminosa inicial. Do paredão de onde havia se lançado desprendeu algumas pedras pontiagudas, que vieram a cair na rede de algas, sendo tragadas pelas águas turvas. Um som de água abafado foi captado pela audição da fada.

E novamente houve um amento na luminosidade advinda das estalactites, após a extinção do estímulo o brilho retornou a intensidade original. _De algum modo o som relacionase com a luz... Dizia Nallab para si mesma. O espaço em que ela encontrava-se parecia ser gigantesco, iniciando-se estreito e abrindo-se como os ramos de uma árvore, que criam imensas galerias subterrâneas feitas por um misto de rochas graníticas e estalactites geradoras de uma luz azulada, segundo sua percepção era capaz de detectar. Lá ao longe havia uma luz de pálida intensidade, sendo que daquele ponto em diante a escuridão parecia imperar. Como seus sentidos não conseguiam reconhecer o que havia próxima a zona escura, a fada resolveu estimular as estalactites a produzirem maior intensidade luminosa. Pouco a pouco, entrou em contato com a essência do lobo interior... e após alguns instantes emitiu um intenso uivo que pareceu permanecer no ar, ecoando mais e mais. Tal como uma onda marítima, o som propagou-se pelo ar e a intensidade luminosa progressivamente cresceu. No ponto mais distante, aquele que estava envolto pelo manto da escuridão, a fada observou algo semelhante a um imenso paredão pregueado por minúsculos pontos radiantes não reconhecíveis por Nallab. Naquele ponto da jornada, poucas opções pareciam se apresentar a ela, mas a mais sensata escolha era prosseguir em LI

sua missão. Durante horas a fada percorreu aquelas estranhas formações rochosas, que perante os jogos de luz e sombra pareciam esculpir figuras de ordem diabólica nas paredes. Às vezes, ela olhava para trás, parecia que estava sendo seguida de longe, essa era a impressão que impregnava seus sentidos. À medida que avançava em seu trajeto percebeu que o número de estalactites ia ficando mais parco e disperso, reduzindo assim a intensidade luminosa e envolvendo Nallab por uma quantidade de luz bem tímida. Além de notar uma mudança na quantidade de estalactites, a fada reconheceu que uma nova formação feita de cristais erguia-se a sua frente. Repentinamente ela parou. A sua frente uma incrível imagem a impressionou, um vale diferente de tudo o que já tinha visto. O vale estava repleto por uma delicada formação vegetal: com grama, flores, árvores e animais, porém existia um pequeno detalhe toda aquela formação era feita por cristais de cores tão delicadas e tênues, como os olhos da fada nunca haviam repousado. No centro, existia uma imensa coluna construída por duas espirais uma ascendente constituída por um plasma de fogo e a outra descendente, feita por um plasma de gelo. No cume da coluna havia uma imagem titânica de um grande lobo de granito sentado, em seu interior existiam dois espaços correspondentes ao espaço dos dois corações.

Nallab ainda matinha a sensação de admiração perante tão grandioso esplendor. E em seu interior somente um radioso agradecimento a Absollon era capaz de descrever a imagem vislumbrada. Lentamente ela avançou até a entrada da floresta de cristal multicor e admirou o brilho refletido dos dois plasmas; os raios luminosos do fogo e do gelo reverberavam pela imensa paisagem. À medida que adentrava no mundo de cristal, tomava o máximo de cuidado para evitar destruir aquele quadro perfeito. Delicadamente suas mãos deslocaram-se no ar em direção as pétalas de uma rosa de cristal rubro; entre seus dedos ela sentia que aquele material fazia o calor de seus dedos correrem para o ponto tocado. Quando os dedos de Nallab escorregaram pela borda mais fina, um fino sulco abriu-se no seu dedo indicador, seguido pela emersão de um fluido róseo luminoso, era o sangue fádico. Neste instante a voz do grande lobo branco, ecoou em seu ser e disse: _Doce Nallab tenha cuidado com o desejo de tocar as aparências belas, pois existem duas formas de se tocar a beleza de Absollon, o toque do todo e o toque da parte. _Como posso diferenciar os dois, sábio espírito? _ No toque do todo você e a beleza se confundem e não há dor ou feridas, és como o ar que envolve e preenche. No toque da parte suas mãos atingem um ponto, e age como o graveto que abre um sulco no chão, assim há dor e ferida. LII

Então o grande espírito lhe disse, novamente: _Encontra o toque do todo e conseguirá cruzar a floresta de cristal sem se ferir... Nallab permaneceu pensativa assentada nas palavras do grande espírito, e compreendeu que a travessia seria extremamente árdua se não descobrisse o toque real. Nallab recuou dois passos e buscou entrar na respiração do Supremo, buscando ouvir a voz que tudo sabe e tudo encontra. Seu grau de concentração foi aumentando gradativamente e sensações agradáveis de sua infância lhe permearam a mente. De repente como o brotar de uma semente uma memória reapareceu em si... Certa vez quando a fada era apenas uma fadinha, encontrou Dristy, uma pequenina amiga de sua infância, ela estava sentada numa rocha à beira de um ribeirão. De seu lindo rosto escorriam lágrimas grossas, que mesclavam se as águas do rio. Nallab, então aproximou se de Dristy e tentou lhe entregar uma doce palavra de amizade. Dristy começou a chorar mais intensamente e sai voando em direção aos campos de margarida. Nallab ficou sem entender o porque daquilo e considerou que tinha ferido mais a amiga. Ao voltar para casa naquele dia, tinha uma triste névoa envolvendo seus olhos. Enquanto ficava admirando o céu estrelado daquela noite, seus sábios pais se achegaram dela e suas vozes novamente puderam ser ouvidas:

“_Minha adorável criança o que aconteceu? Perguntou a mãe amorosamente. Então, Nallab recontou a triste história daquele dia e no final disse: _Papai porque minhas palavras machucaram, Dristy? Durante alguns instantes um silêncio pairou na atmosfera, então seu pai olhou diretamente aqueles imensos olhos azuis e falou: _Minha pequenina existem duas formas de toque na criação de Absollon; o toque da parte e toque do todo. Ambos são expressões do desejo de unificação e tem uma profunda ligação com a energia fairyllan e a forma como fairyllan se expressa no mundo dos sentidos. _No toque da parte ocorre um desejo que impele as criaturas vivas a se tornarem unas com as outras. No toque do todo se manifesta o desejo de partilhar a vida. _Minha criança para tocarmos sem ferir é necessário reconhecer quais das faces de fairyllan devemos manifestar. Seu desejo de partilhar vida pode ferir se for dado de um modo que não respeite o momento preciso. _Filha, respeitar o momento é permitir que cada um entre em contato consigo mesmo, encontrando em seu interior o

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significado; a voz de Absollon. Disse amorosamente sua mãe. _Quando manifestar o toque da parte, fairyllan se condensará; quando expressar o toque do todo fairyllan se expandirá. As fadas minha criança,, assim como todos os seres da natureza necessitam dos dois momentos. Reconhecer o tempo em que cada uma dessas qualidades se expressará é evitar a ofensa e a dor dos seres que nos rodeiam...” A última coisa que pode sentir, foi um doce beijo dado em sua face por sua mãe e o ressoar das sábias palavras. Nallab lembrava se que o toque da parte é quando fairyllan se condensa, causando transmutações nas formas, e que o toque do todo é o momento em que o fairyllan se expande, causando transmutações nas essências. Após estas breves reflexões a frase do grande espírito retornou em si: “-Encontra o toque do todo e conseguirá cruzar a floresta de cristal sem se ferir...” _Agora compreendo...será preciso alterar minha essência para não ser ferida na travessia. Disse a fada para si mesma. Pouco a pouco, a fada pôs se de joelhos no frio chão de cristal e iniciou o canto solene, evocatório dos ensinos das fadas do Ar... _ Krihhn, ent dendral essn, shi... _ KRIHHN, ENT DENDRAL ESSN, SHIIII! E assim, enquanto repetia as palavras mágicas, a essência Dendral, ou árvore de ar começou a se expressar. Seu

corpo foi assumindo uma forma etérea, eram ramos de ar capazes de envolver superfícies próximas. Parecia que Nallab era capaz de envolver a superfície que tocava, assumindo assim, os contornos da mesma. Era o toque do todo que se expressava. Desse modo, ela seguiu cruzando a floresta de cristal sem ferir se, nas pontiagudas folhas de grama ou pétalas de flores. A fada cruzava a magnífica estrutura de cristal com a velocidade do vento Leste e à medida que avançava tinha pensamentos fugazes de como aquele ambiente era maravilhoso. Após percorrer uma imensa distância numa velocidade fantástica, alcançou a parte central daquele ambiente. Lá estava a imensa coluna de plasma duplo, os dois vértices da espiral: um de fogo o outro de gelo. Olhou para cima admirada. A base da coluna era mais larga do supunha devia ter cerca de cem metros de raio, por trinta metros de altura. A estátua no cume aparentava ter cinqüenta metros de altura, tinha traços vigorosos e musculosos. Nallab sentiu-se como um besouro diante de uma Gigantesca sequóia. O brilho proveniente das duas espirais era magnífico e na base inferior havia inscrições estranhas que a fada nunca havia visto. A fada aproximou-se da base para observar com maior agudeza e lentamente aproximou suas etéreas mãos daquele material de aparência similar as estalactites que havia em abundância e que a esta altura já eram escassas. LIV

Vagarosamente o brilho alternante das duas espirais alterava as cores da superfície do rosto de Nallab e da floresta de cristal. Vagarosamente a fada tocou a gigantesca e estranha escrita da base da coluna, quando a fada tocou na primeira inscrição, um uivo foi ouvido. Posteriormente escorregou uma de suas mãos em direção ao segundo sinal e um uivo mais agudo foi sendo produzido. A cada toque numa das inscrições um uivo era produzido, era uma frase, um dialeto que se construía a cada toque na estrutura. Suas delicadas mãos deslizavam pelo relevo que adornava a imensa coluna, naquele instante parecia que a fada tocava as cordas de uma delicada harpa, onde cada uma das notas representava uma intensidade, um timbre ou uma freqüência de uivo lupino. Durante o movimento de circundar a estrutura algo estranho começou a ocorrer em seu íntimo, o espírito do grande lobo branco, começou a movimentar-se por sua mente e corpo. E sem entender como, ela começou a adquirir o saber sem saber. Pouco a pouco, os uivos foram adquirindo vida; eles começavam a serem preenchidos pelo significado. Em sua mente uma rede complexa de significados emergia e fazia-se luz frente às emissões sonoras antes ocultas. Num tom vibrante e intenso, Nallab sentia este significado a se formar: “Duas essências ordenam o mundo, o fogo ascendente faz a vida aparecer; o gelo descendente faz a vida

desaparecer. Ambos são partes do movimento de fairyllan. O coração do Lobo Supremo é o impulso que conduz a energia sagrada, seu fluido sagrado nasce quando o coração de fogo funde-se ao coração de gelo. Os dois grandes guardiões, representantes da luz e das trevas, possuem a chave que lhe conduzirá através de duas grandes portas. A primeira porta é aberta pelo coração do lobo branco, ela lhe conduzirá ao reino do já entendido, o reino da consciência. A segunda porta é aberta pelo coração do lobo negro, ela lhe conduzirá ao reino do ser entendido, o reino da inconsciência. O primeiro lobo alimenta-se do que se sabe, o segundo alimenta-se do que não se sabe. Nas alturas, onde o Lobo Supremo vigia, e aguarda aquele que preencherá o vazio. Quando o fogo e o gelo preencherem o vazio, ele despertará. Somente assim o uivo sagrado poderá ser ouvido e a essência viva de fairyllan finalmente poderá ser compreendida.”“. As palavras pareciam ainda correr dando voltas e mais voltas pelo interior da fada e particularmente uma frase ressoava mais intensa que todas demais:

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O uivo sagrado poderá ser ouvido e a essência viva de fairyllan finalmente poderá ser compreendida. Após extrair o significado do imenso cilindro, Nallab iniciou uma escalada com seu corpo fluido como ar, apoiando em pequenos desenhos em relevo que pareciam contar uma antiga história, talvez sobre a origem dos dois grandes espíritos: o Lobo Branco e o Lobo Negro. Um longo espaço separava Nallab do cume do monólito colossal. À medida que ganhava altura olhava de vez em quando para a espetacular floresta de cristal, e fugazes imagens de seu lar brincavam, como borboletas ao vento na sua mente. Seus braços estavam já tensos devido ao imenso esforço muscular requerido para vencer o imenso vazio, entre a terra e o céu. Ao realizar o último movimento que a conduziria a estrutura cume, podíamos ver o titânico esforço necessário. Seus braços fortes graças as espírito do lobo branco, apresentavam uma musculatura definida e de aparência vigorosa própria dos lupinos. Lentamente sentou-se num movimento peculiar aos lobos e olhou admirada a imagem esculpida na rocha. Os traços e as linhas juntavam-se em modos perfeitos e harmônicos, o Lobo Supremo, era magnífico em cada mínimo detalhe. Sereno e vigoroso, semelhante aos antigos deuses; assim era o Lobo Supremo.

No interior dos olhos do Lobo Supremo havia dois cristais de brilho intenso, que pareciam acompanhar cada movimento de Nallab. Pareciam existir pequenos sulcos semelhantes a vasos sanguíneos que percorriam todo o corpo daquela figura escultural, ao centro, no espaço destinado ao coração, podia-se reconhecer um espaço perfeito, sob o qual havia dois símbolos:

A fada aproximou-se mais da estátua colossal a fim de observar a existência de detalhes significativos que a levassem à compreensão da simbologia. A passos firmes foi se aproximando das duas patas dianteiros do gigante de pedra. Lentamente olhou para cima e reconheceu sua real pequenez diante do colosso. Então seus olhos fugazes correram pelo chão tentando rastrear pistas que a conduzissem, sinais condutores que lhe indicariam o caminho a tomar. Havia tênues desenhos similares a escrita vista ao redor da coluna. Nallab tocou levemente as figuras e um novo som foi emitido. E o som sem sentido, ressoou por seus ouvidos. E o que era sem sentido foi interpretado pelo espírito do lobo Branco: Quando o céu e a terra se juntarem, a linguagem do universo falará. Quando fogo e LVI

gelo se misturarem, a língua do universo entrará em movimento. Então quando dois se transmutarem em um, o símbolo sagrado emergirá e novamente a energia pulsará. No último trecho, a fada reparou na existência de um novo símbolo:

Durante alguns instantes a fada ficou reflexiva tentando depurar as informações trazidas até si pelos seus sentidos. Pouco a pouco, foi acalmando mais e mais a respiração; e assim os laços que a ligavam ao espírito e a sabedoria do lobo branco, tornaram-se então mais estreitos. Desse modo, o sentido foi revelado pela sabedoria depositada em seu interior e a voz do grande Lobo Branco vibrou em sua mente: O símbolo é o sinal, o elo que conecta você ao propósito. Um expressa o infinito, o outro expressa o finito, a diferença entre eles está na posição. O posicionar manifesta o modo da mente colocar-se frente ao propósito. Para encontrar o coração de gelo, deve buscar uma nova posição, quando assim o fizer um novo caminho se abrirá frente aos seus olhos. Uma

nova posição cria uma nova mente seguindo o mesmo propósito. É o propósito que nos impulsiona, siga-o e ele lhe conduzirá na direção de Méddos. Nallab então compreendeu que a pirâmide voltada para cima, representava o infinito e que a pirâmide voltada para baixo expressava o finito. Intuitivamente sentiu que sua posição ereta lhe dava a sensação de estar perante o infinito, desse modo resolveu assumir uma nova posição. Apoiando a cabeça na base de pedra, ela permaneceu com a cabeça apoiada no frio chão criando a visão do finito. A fada havia apreendido que cada posição lhe traz sinais capazes de guia-la em direção ao propósito. Com as pernas voltadas para o alto e os olhos rentes ao chão na direção oposta as patas frontais do colosso, uma nova percepção começou a revelar-se. Naquela posição ela percebeu sutis relevos, delicados desenhos, que pareciam exprimir um sinal, como um mapa daquela terra. Então, reconheceu que nas imagens inscritas havia um brilho tênue dos locais de sua jornada: a planície gelada, a floresta e o subterrâneo com a floresta de cristal. Era uma replica miniatura daquele universo da estação do inverno circunscrita na forma de um imenso círculo frente aos seus olhos. Dentro todos os pontos um lhe chamou mais a atenção, era um ponto que parecia refletir a luz, como um grande espelho, talvez fosse um indicativo que ali estava mais

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um sinal, era o sinal do grande Espelho de Gelo, a morada de Méddos.

Nallab concentrou-se para manter a imagem em sua mente e vislumbrou por detrás da imagem a magnífica expressão de um lago sereno. Essa era uma antiga de técnica de retenção de imagem utilizada pelas fadas, que lhes conferia uma capacidade de retenção de dados espantosa. Vagarosamente seus pés foram tocando o chão, o seu corpo formou uma configuração de arco seguida pela forma ereta. Os detalhes referentes à imagem estavam fixados com uma precisão impressionante. A fada começou a reconstruir a imagem no ar com sua imaginação, tentando acoplar os detalhes que ela considerou ser a floresta de cristal real ao modelo grafado no chão. Seu grau de concentração era intenso. Após conseguir alinhar as imagens da imagem real e do modelo grafado no chão, pode identificar a direção do hipotético Espelho de Gelo, pois a simples reflexão dos raios naquela região do relevo do chão, não significava que ali era a localização do Espelho de Gelo. Aquele sinal do brilho mais intenso no chão era a única evidência mais consistente que ela possui para avançar em sua busca. _Creio que a direção do suposto espelho encontra-se além daquele imenso

paredão pregueado por minúsculos pontos radiantes, que avistei próximo ao local daquelas estranhas “algas escuras”. Falava a fada em tom reflexivo para si mesma. Sua cabeça moveu-se em direção aos olhos do grande colosso e pela última vez ela admirou aquela figura tão viva. Depois virou-se e caminhou até a borda circular para efetuar a descida e avançar na direção do grande paredão pregueado por pontos radiantes, cuja natureza Nallab desconhecia. À medida que descia cuidadosamente admirava em visão panorâmica a floresta de cristal. Quando estava a dois metros do chão lançou-se ao ar e graças à fluidez de seu corpo, decorrente da essência Dendral ou magia da árvore de ar, tocou nos afiadas folhas e cristal sem ferir-se. Alguns instantes depois de tocar o solo a fada mirou seu objetivo e com a velocidade do vento Sul cruzou o trecho que a separava do misterioso paredão. Mais a frente cruzou um ribeirão de cristal azulado, cuja, as gotas do vítreo material flutuavam no ar. Pouco a pouco, a imagem da beleza de cristal foi sendo substituída pela aridez cinza e por um vento fétido que parecia sair de um grande sulco central do paredão. A figura antes admirada por Nallab, foi sendo substituída por uma imagem de sombria. O jogo de luzes e sombras presentes no local, devido ao brilho do material que incrustava o paredão, parecia dar vida a alguns seres invisíveis, que pareciam observar atentamente a fada. LVIII

Por instante ela parou e disse: “Dendral ess...Ess...Essss...” Desse modo a magia foi desfeita e seu corpo retornou a forma original. _Que lugar medonho! Disse Nallab em tom sussurrante. À medida que avançava na direção do paredão um som abafado de cascalho e areia era criado. Às vezes o vento fétido que sai do sulco central erguia um pouco de poeira frente aos seus olhos e invadia seu sensível olfato. De algum modo o brilho do que Nallab julgou serem cristais incrustados, exercia um certo fascínio sobre ela. Aquele brilho parecia estar envolto em algum mistério. A fada achegou-se do paredão, e reconheceu que o sulco central encontrava-se a aproximadamente 100 metros a sua direita. Suas suaves mãos tocaram no rochedo e deslizaram na aspereza da superfície. A cerca de dois braços de distância ela percebeu a existência de daqueles misteriosos cristais. A passos firmes movimentou na direção dele, durante alguns instantes permaneceu parada a sua frente. Uma rajada de vento fez seus cabelos arquearem no ar, flutuando brevemente e depois assumindo a posição original. Nallab sentiu um leve frio a correr por sua espinha. Abaixou um pouco para alinhar seus olhos com o cristal e o tocou de leve. No entanto ao toca-lo ouviu um grito de intensa dor que parecia ter saído do material, de repente um material gasoso aprecia surgir no interior do

material. Aos poucos o material foi assumindo uma forma horrenda. A imagem dona do grito era horripilante, tinha um olhar de rapina e parecia estar roendo ossos. A fada deu dois passos para trás e pareceu ter sido perturbada pela terrível figura. Pôs se em movimentação novamente em direção ao grande sulco. A meia distância do sulco admirou um grande conglomerado daqueles cristais, que estavam agrupados de forma a lembrar olhos de aranha. O impulso pelo desconhecido levou Nallab a observar mais de perto. Tocou num cristal de coloração verde escuro. Após alguns breves instantes uma risada tenebrosa foi ouvida e ela viu um leão com cauda de cobra que perseguia alguns antílopes. Correu e correu até alcançar um, então um jato de sangue voou sobre o cristal e o mesmo ficou vermelho. Nallab observava atenta às terríveis imagens, que se construíam no interior do cristal. Tudo absolutamente tinha um aspecto sombrio e asqueroso, diferente de toda a beleza que a fada sempre foi acostumada a admirar. Às vezes, surgiam figuras fugazes como o clarão do relâmpago, pareciam fadas gigantes, contudo sem asas, suas sombras pareciam impressas no chão, e ao redor existia muita fumaça e algo que lembrava picos de pedra. Aquelas figuras atormentaram profundamente a mente tranqüila da fada. Nallab buscou serenar a mente e ligou-se através do poder da respiração com Absollon, o Supremo. Aos poucos, suas

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emoções e pensamentos começaram a lembrar o suave movimento da brisa. Um leve pensamento da sua amada família visitou a sua mente, enquanto estava conectada a respiração do Supremo. Durante alguns instantes sentiu um profundo agradecimento pelo desabrochar da jornada. Algumas pedras que pareceram desprender-se do alto do paredão, produziram um ruído que foi capaz de lhe trazer a atenção de volta. Nallab continuou a avançar na direção do grande sulco. As luzes dos cristais piscavam de modo que os seus passos, ora eram na Luz, ora eram nas trevas. Um vento gélido proveniente da abertura chocou-se contra seu rosto. Após alguns instantes uma nova rajada avançou sobre ela, no entanto, as pequenas partículas de areia que o vento carregava, provocava um leve ardor nos olhos de Nallab. Abertura parecia possuir cerca de dez metros de largura, que ao confluírem com a altura do paredão, provocavam em quem ali estivesse uma sensação de insignificância e fragilidade. Nallab posicionou-se próximo ao ponto central da grande Garganta de pedra. Rajadas de vento rítmicas, como o arfar de uma respiração ofegante e gelada, erguiam seus cabelos. Um súbito terror retornou ao coração da fada. Sua mente insistia em avançar, mas de algum modo suas pernas pareciam paralisadas pelo medo. Do meio do vento que corria em sua direção, era possível perceber uma sutil multidão de

gemidos horripilantes, que entravam pelos ouvidos da fada. _Que sensação estranha... Disse Nallab em tom vacilante. Nallab buscou retomar o eixo da concentração. Avançou mais três passos e novamente suas pernas se petrificaram. O vento parecia cada vez mais sombrio e gélido. Do fundo da Garganta uma nuvem de poeira erguia-se, bloqueando que a visão da fada sondasse as profundezas. _Sua coisa insignificante! O que deseja em meus domínios? Disse um som apavorante, que de alguma forma parecia controlar o vento. _Estou à procura de Méddos, o grande lobo que habita a região do Espelho de Gelo. Disse serenamente a fada. _Suma daqui criatura ou se arrependerá amargamente! À medida que as palavras eram ditas o vento tornava-se, mais e mais bravio. _Verme se avançar mais um passo será esmagada pelos seus próprios medos! Disse a voz em tom sarcástico. _Sai de meus domínios fada insolente... Nallab permanecia serena, enquanto o vento e as palavras tentavam violentá-la. _Minha pequena, esse é o elo. A garganta de pedra é o hálito que lhe conduzirá a Méddos, tenha muito cuidado...Disse um leve sussurro no interior de sua mente. Mais dois passos foram dados em direção ao desconhecido fundo do sulco. Parecia que as pernas da fada iam ficando mais e mais pesadas. LX

_Você se arrependerá por desafiar meu poder! Crê ser superior ao grande Méddos, eu te esmagarei verme! Disse aquela voz de trovão cheia de ódio. Corajosamente ela tentava avançar, mais o vento era intensificado a cada passo. De repente, uma rajada com a força de um tufão, esbarrou em seu corpo, derrubando-o como a tempestade que joga a árvore ao chão. Valentemente ela apoiou-se no chão buscando reerguer-se e avançar. A poeira tocava o seu rosto, que ardia levemente devido ao impacto das partículas. A força de suas pernas parecia ser insuficiente para vencer aquele vento. Nallab postou-se na posição quadrúpede e tinha uma espécie de chamas nos olhos, que miravam o fundo da Garganta de pedra. _Eu devo avançar, pois assim o Supremo, me ordena. Sou a filha da Luz a serviço da Luz, sou filha de Absollon. Disse a fada numa certeza inquebrantável. Suas mãos comprimiam a poeira do chão entre os dedos e o seu olhar parecia incendiar-se. Algo entre a raiva e a determinação começou a emergir de seu íntimo. E a frenesi tomou conta de seu corpo. O espírito do grande lobo Branco começou a manifestar-se. Os olhos de Nallab foram ficando avermelhados de um vermelho rubi, sua musculatura pareceu desenvolver-se instantaneamente e seu volume aumentou. Suas garras emitiam proeminências de ponta afiada em cuja lateral ramos se abriam. Sua respiração acelerou e o brilho dos pêlos dourados retornou mais intenso.

Parecia possuir a força de um búfalo das planícies. Ainda na posição quadrúpede cravou as poderosas garras no chão e moveu sua poderosa musculatura contra o vento. O interior da Garganta queria afastar Nallab de seu caminho, mas a fada avançou, mais e mais. Era uma luta entre dois Titãs, um cujo desejo era o afastamento e outro cujo desejo era a aproximação. Pouco a pouco, ela foi avançando diante o vento contrário, até que o brilho avermelhado de seus olhos fosse ocultado pela intensa nuvem de poeira. E enquanto avançava, pensava: _ Retroceder nunca, desistir jamais. Tudo eu posso na força de Absollon. A chama de seu desejo lhe impulsionava para as profundezas da Garganta. A sensação que permeava a fada era que escalava em terreno íngreme, tinha a impressão de estar subindo uma montanha que tocava as nuvens, cujo vento a todo instante tentava lhe lançar em direção ao ponto inicial. Nallab sentia o grito do vento em seus ouvidos, que parecia tentar ensurdece-la. A poeira advinda erguida pelo forte vendaval tentava enfurecida penetrar em seus olhos e suas narinas, era com se uma intenção petrificadora tentase a todo custo imobilizar a audição, a visão e a respiração da fada. Quando seus passos já haviam ganhado muito do novo terreno, surgiu uma nova situação que tentaria paralisar sua musculatura. A força do vento começou a bradar mais intensamente e carregou junto a si um frio de ordem

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indescritível que tentaria imobilizar a musculatura da fada. Enquanto avançava diante dessa nova barreira Nallab sentia pequenos cristais de gelo formarem-se na ponta de seus pêlos protetores e o ar aquecido por seus pulmões ao sair instantaneamente formava uma nuvem gasosa que se destacava no ambiente. Segundo o julgamento da fada, ela teve a impressão de ter caminhado durante dois sóis e uma lua, o vento e fria local pareciam infatigáveis. A vontade firme da fada começava a mostrar sinais de cansaço evidentes e com o cansaço veio a dúvida, e com a dúvida adveio o medo. O medo de falhar em seu propósito. O coração de Nallab gemeu numa sutil onda de desesperança e breve desespero. E o medo correu pelo ar em ondas, tal como as ondulações de uma pedra lançada num lago de águas tranqüilas. Méddos mantinha-se oculto nas trevas, contudo seus sentidos permaneciam alerta e ele farejou o cheiro de desesperança e ouviu o sutil ruído de medo que o coração da fada emitiu, num breve momento de fraqueza. Méddos é o espírito que caminha na escuridão e no interior das trevas ela fareja os temores dos corações. E bem ali ele encontra aquilo que o move, que o alimenta, ali Méddos encontra os temores da alma. Nallab não desconfiava que o frio, o vento, a poeira e a dificuldade, eram todos mensageiros que buscavam encontrar os pontos escuros de sua mente; medos desconhecidos por ela mesma e

que conduziriam o Grande Lobo Negro até o seu coração. O medo era o seu alimento. Méddos sabia dos misteriosos caminhos da alma, conhecia suas trilhas e reconhecia que existiam quatro grandes direções condutoras para penetrar na alma: a emoção é o primeiro caminho, o sentimento é o segundo, o pensamento é o terceiro e a ação é o quarto caminho. Por qualquer uma dessas trilhas o Grande Lobo Negro era capaz de farejar as inseguranças do coração e pelo desconhecido dominar e pelo domínio escravizar. Era assim que Méddos agia pelos caminhos ocultos na penumbra da alma e no desconhecido da mente. Para Nallab tais fatos ainda eram desconhecidos. O vento começou a mudar e com a mudança trouxe novos sons disfarçados em seus correntes ascendentes e descendentes. Era o hálito de Méddos que lhe imprimia novos sons, sons que medos havia farejado no leve vacilar da fada, aquele fragmento de desesperança o conduziu por uma das trilhas da alma e na escuridão ele encontrou o portão guardião dos medos da fada. Nallab começou a perceber pequenos fragmentos sonoros ocultos no interior do vento, algo que ela reconhecia como breves sons familiares... _Filha! Dizia solta ao vento e que lhe lembrava o pai. _Nallab, onde você está? A voz doce da mãe, dizia. _Mamãe morreu, Nallab, por que você não está aqui? Humm,hummm!! Um choro LXII

copioso que lembrava a voz de sua irmã mais nova. De repente essas curtas frases desapareciam e se confundiam com os sons do vento cortando pelo rosto da fada. Seu coração começou a vacilar e sua mente voltou-se para trás. Uma pequena confusão começou a instalar-se sob suas certezas. Após algumas dezenas de passos, ela viu a imagem do pai que desapareceu no meio de uma suave neblina que pairava no ar. _Papai! Disse, Nallab num tom entre a angustia e a saudade. E sai correndo em direção a imagem o mais rápido que pode, pois sua musculatura estava já um pouco fatigada pelo vento contrário. Caminhar na direção da toca de Méddos consumia-lhe as energias imensamente. Logo mais à frente a fada ouviu um grito de terror e medo. Então viu a fonte emissora do som, era sua mãe. Ela estava encostada numa das pontas do paredão, tinha os olhos fundos e um filete de sangue fádico escorria por entre seus lábios. _Mamãe, o que houve? ! Disse Nallab angustiada por ver a mãe daquele modo. Um novo impulso a lançou em direção ao objeto de seu amor e novamente ele desapareceu quando estava pronta a toca-la. O portão guardião de seus medos começou a abrir-se mais e mais. Méddos sabia como abri-lo e como acender a chama fria da angústia e temor no coração da fada.

Enquanto avançava Nallab se interrogava no silêncio de seus pensamentos: _ O que está acontecendo comigo? _ Por que sinto o medo tão perto? Méddos agia no silêncio e espreitava sua presa, sua intenção era enfraquece-la, desgasta-la, para poder derrota-la; para cada pensamento de insegurança e medo de Nallab, existia um odor característico que alimentava mais e mais o Grande Lobo Negro. Enquanto os temores da fada cresciam, Méddos também crescia alimentado pelos vapores de medo que percorriam o espaço. As reflexões da fada são interrompidas repentinamente por um uivo agudo e horripilante. Após o ameaçador som, uma voz emerge do horizonte enevoado e diz: _Como ousa invadir os meus domínios seu inseto insolente, eu te esmagarei entre meus dentes, estou sedento para quebrar os seus ossos! Disse Méddos num tom intimidador. Aos poucos o horizonte enevoado começou a se abrir e a imagem do grande Espelho de Gelo revelou-se aos olhos fatigados da fada. O espelho era gigantesco e seus reflexos eram de um tom escuro, que oscilavam entre um marrom e um pardo. Algo estranho parecia habitar suas profundezas, parecia algo fluido e escuro que existia abaixo da camada de gelo. Na realidade o gelo local parecia mais uma espécie de gelo negro do que propriamente o gelo que Nallab

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havia visto na superfície da Estação do Inverno. Méddos estava sentado numa postura austera, na outra margem do Grande Espelho, tinha um aspecto de colosso. Nallab julgou que talvez ele tivesse cerca de 4 metros de altura, seus olhos eram de um vermelho flamejante e pareciam emitir uma onda de ódio que tocava o coração da fada. _Verme, ainda lhe resta uma última chance para fugir! Vá! Disse a potente voz do Lobo Negro num tom tempestuoso. A mensagem emitida por Méddos foi anunciada por um vento forte e gélido que transpassou o rosto de Nallab erguendo os seus cabelos e fazendo-os agitarem-se. Por alguns instantes cada músculo de seu corpo tremeu, mas o equilíbrio foi restabelecido e o Grande Lobo Branco, vibrou em seu espírito. Nallab sentou-se em frente ao Grande Lobo Negro separado dele pelo gigantesco espelho de gelo, e de seu interior um potente uivo foi emitido. Depois ela cerrou os dentes e firmando os olhos em seu alvo disse: _Sou filha de Absollon e vim como serva do Grande Espírito, o grande Lobo Branco me guiou até aqui para cumprimento do propósito. Nada me fará retornar. Disse Nallab possuída por uma intensa determinação. _Hahhahhaaa! Riu sarcasticamente o Lobo Negro. _Verme irei de esmagar pela sua insolência e devorarei todos os seus medos.

A fada pareceu não intimidar se com a afirmação de Méddos. Lentamente Méddos ergueu uma das patas e bateu novamente no solo. Um leve tremor foi sentido por Nallab do lado oposto, após alguns breves instantes uma espécie de vapor negro começou a subir pela superfície do Grande Espelho e criando uma espessa neblina que ocultou toda imagem do outro lado. Um pouco daquela estranha nuvem seguiu em direção a fada e foi tragada por sua inspiração. Seu coração começou a acelerar, sua respiração encurtou, seu estômago parecia tentar contrair-se, uma raiva misteriosa começou a dominar parte de seu ser. A fada sentiu a mente confusa e o irracional parecia sobrepor-se ao racional, o equilíbrio pareceu dar lugar ao desequilíbrio e a coragem dar lugar ao medo. O espírito do Grande Lobo Branco uivou em seu interior para guia-la na dificuldade: _Minha pequena mantenha a mente alerta e o coração confiante, pois irá iniciar a travessia entre a terra conhecida e a terra desconhecida; entre aquilo que conhece de si e aquilo que desconhece. Somente quando conhecer os seus medos poderá derrotar Méddos, o vapor no ambiente irá favorecer que os seus medos se revelem... _Seus medos são seres vivos, eles nascem, crescem e transcendem... _Sua mente tentará protege-la contra o que é LXIV

desconhecido de si mesma e como cada medo é vivo ele tentará manter sua vida de quatro modos: Primeiro tentará ameaçar, depois tentará atacar, depois tentará fugir e por fim tentará apaziguar. Na ameaça o seu nome é ansiedade, no ataque o seu nome é raiva, na fuga o seu nome é desculpa ou lógica e no apaziguamento o seu nome é entendimento. _Minha adorável Nallab nada tema estarei contigo, Eu e todos os seus antepassados. Primeiro permita se sentir, depois permita se entender, depois permita se mudar. Fareje a Verdade; conheça a Verdade e a Verdade vos libertará. As palavras do Grande Lobo Branco misturaram-se as suas emoções como a chuva às águas do rio e pouco a pouco seus sinais vitais retornaram a antiga situação serena. Nallab firmou sua mente no alvo invisível que deveria estar na margem oposta e deu o primeiro passo na direção do desconhecido. Ao pisar na lisa superfície do grande espelho viu algo estranho ocorrer, uma tênue luminosidade começou a se formar logo abaixo de seus pés e um líquido de aparência viscosa começou a ganhar forma. A ansiedade brotou em seu coração e com ela todos os típicos sinais. Após alguns instantes viu a imagem de fadas cujo seu coração amava, fadas afogadas flutuando logo abaixo de

seus pés, seus olhos já sem brilho a observavam, via a imagem de sua mãe, de seu pai, de suas irmãs, de seus amigos, todas flutuando abaixo de si, somente separadas pela lâmina do Espelho de Gelo. O medo crescia dentro da pequena e em seus pensamentos vagavam fragmentos de dor, uma lágrima escorreu por entre os seus doces olhos e a tristeza invadiu o seu ser. Por instante pensou em recuar, mas algo a impulsionava, ela sabia que em alguns momentos uma força faz as escolhas é como escolher entrar num rio com forte correnteza, depois que se está dentro é a correnteza que escolhe nossa direção. Nallab havia escolhido entrar no rio, mas era a correnteza que escolhia por ela. E a correnteza a arrastava na direção do avanço. Suas pernas pareciam enfraquecidas. De olhos fechados e marejados ela avançava e durante vários momentos abria os olhos e via abaixo de si o rosto deformado de seus familiares flutuando e a observando. Seu coração fraquejou. Às vezes era possível ver dois pontos flamejantes observando Nallab, ela estava sendo vigiada ao longo por Méddos, que crescia mais e mais alimentado pelos medos da fada. _Isso não é real! É uma ilusão! Disse Nallab afirmando para si mesma e cerrando os punhos como buscasse forças em seu interior. Enquanto falava essas palavras grossas lágrimas corriam de sua face. Mais à frente ela observou a neblina se adensar e criar novas imagens. Uma guerra começou a construir-se ao LXV

seu redor, de repente parecia que todo o ambiente havia se transformado e ela havia sido transportada para um novo local, em que fadas guerreavam. Flechas voam pelo ar e atingiam outras de suas irmãs que estavam ao seu lado, essas caiam e de seus ferimentos escorriam grossos filetes de sangue que lavavam a terra. Nallab via um campo de atrocidades e mortes, sangue de suas irmãs fadas, sangue de seus irmãos animais. Árvores eram assassinadas, animais eram assassinados, fadas eram mortas, aquilo era um campo de horrores. _Querido Absollon, quanta dor! Não quero mais ver isso! Falou Nallab quase beirando o desespero e fechando firmemente os olhos. Depois ao abrir os seus olhos ela viu um novo cenário... Viu a fome, viu a peste, viu a violência, viu a morte de vários de seus irmãos: eram rios que morriam, eram animais da terra, dos ares e das águas que morriam em dor. Seu coração estava sendo agredido, ela se deparava frente a frente com os seus medos mais secretos. _Absollon concede-me as forças para mergulhar no mistério de mim mesma! Disse a fada emocionada. De repente correntes saíram das profundezas do espelho e enrolaram-se nos pés, braços e pescoço da fada. A fada sentiu o seu corpo imobilizado. O cenário agora se figurava num ambiente árido sem nenhuma vegetação. Do fundo surgem: seu pai, sua mãe, seus amigos, suas irmãs... _ Meus amados são vocês? Disse Nallab totalmente absorta na ilusão.

A imagem deles começou a ficar mais nítida e todos pareciam esboçar um sorriso sarcástico. _Querida Nallab! Disse a imagem da mãe, com uma voz pálida. A mãe trazia um objeto de aparência afiada e pontiaguda que reluzia frente a uma tênue e dispersa luz ambiente. A fada tentou mover-se, mas as correntes a impediam. _Você sempre foi uma menina muito má...eu nunca gostei de você. Disse a mãe seriamente. _Mas, mamãe! Disse Nallab entre um tom desesperado e decepcionado. O restante do numeroso grupo começou a avançar e em fila marcharam na direção de Nallab dizendo: _Você foi muito má, nós te odiamos!Nunca mais queremos vê-la! Diziam todos em coro. A primeira a aproximar foi sua mãe. _Você é maldita! Erguendo o objeto e ferindo o delicado rosto de Nallab, fazendo um sulco pelo qual escorria seu precioso fluido de vida. _Mamãe, o que houve? Disse Nallab assustada e em copioso choro. Os outros seguiram um a um amaldiçoaram Nallab, seu pai aproximouse dela e erguendo uma das mãos lhe bateu nas róseas faces e disse: _como você pôde?! Suas irmãs olharam-na com ares de decepção e seus amigos uns a ignoravam, outros a amaldiçoavam e a violentavam com palavras e tapas no rosto. A fila que seguia em sua direção lembrava a marcha fúnebre daqueles que LXVI

carregam seus mortos, cada gesto de escárnio daqueles que a amavam matava pouco a pouco o coração da fada. Nallab chorava em acordes de profunda tristeza e suas lágrimas ecoavam no ambiente de forma sombria. Quando todos as figuras da fila prestaram suas honras a fada, um a um deram as costas a ela, até sumirem no horizonte. Somente o vazio permaneceu e junto com ele a dor do abandono, tudo era silêncio de uma qualidade mórbida e triste, como a nuvem que fica diante do enterro de entes amados. Naquele instante somente o eco era o seu companheiro, sua mente estava confusa e atordoada. _Hahaha!!!Soou nos ares uma risada de escárnio e prazer pelo sofrimento alheio. Era o som da voz de Méddos que permeava a confusão. Escondido nas trevas, o grande Lobo Negro saboreava os medos da fada. E de tristeza Nallab uivou, era um uivo seco e denso, que naquele momento era a expressão de seu interior. Parece que o uivo carregou uma mensagem até o infinito e o infinito respondeu a tristeza de sua alma. E Absollon lhe enviou um sinal... e das profundezas da Ilusão surgiu um delicado beija-flor que trazia em seu bico uma pequenina gota dourada. A cabeça da fada pendia molemente sobre o seu peito. O beija-flor seguiu em alta velocidade na direção de Nallab e em sua frente bateu as asas parecendo flutuar no ar, de suas asas saiam sutis vibrações de um brilho sedoso. Com os olhos tristes e o coração pesaroso ela reuniu todas suas forças no

sentido de erguer a fronte, parecia que uma força magnética lhe atraia a atenção de cada músculo para levantar a cabeça. Num gesto sublime os olhares da fada e do pássaro se cruzaram e por um instante o ar faltou aos pulmões de Nallab e como um animal sufocado, ela abriu a boca e ergueu um pouco mais a cabeça, na tentativa de sorver do ar ambiente. Seus olhos estavam moles e pesarosos, após o pesar veio a tristeza e com a tristeza o desânimo e desejo de desistir de tudo. Delicadamente o pequenino pássaro seguiu até os lábios abertos de Nallab e lançou-lhe em seu interior a pequenina gota. A gota que expressava a resposta do infinito a sua infinita tristeza, era a resposta que Absollon lhe enviava em meio à dor. A gota caiu levemente pelo ar num movimento leve e vagaroso, como se naquele instante o tempo caminhasse mais lentamente. Vagarosamente a gota percorreu a distância entre o céu e os lábios entre abertos da fada até que lhe tocasse na língua. Ao tocar sua delicada língua a gota espalhou-se por toda a estrutura como as águas que preenchem os sulcos do terreno. Nallab sentiu um leve refrigério permeando todo o seu ser e então a sensação começou a descer por sua garganta, e da garganta foi para os pulmões e dos pulmões foi para cada parte acima e abaixo de seu coração. E de seu coração tocou um de seus tristes pensamentos e tudo ficou mais claro em seu interior... E uma cena se construiu dentro de si:

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Nallab estava sob um campo de gramado verde e aparência fértil, ao longe ela avistou o grande lobo Branco que trazia algo em sua boca. Ele aproximou-se dela em movimentos graciosos e sentado-se em sua frente tocou suas mãos. A fada formou uma concha de carne, com as duas mãos unidas e o grande lobo depositou as diversas sementes em suas mãos, e disse: _Minha pequena, eis aqui as possibilidade, cada semente é uma possibilidade. A terra aceita todas as possibilidades, ela acolhe sem julgar, ela nada teme e tudo revela. Nallab ouvia atentamente cada palavra do grande Espírito. Com as sementes em suas mãos graciosamente ela caminhou alguns passos e uma a uma foi depositando as sementes na terra, sendo que a última semente ele engoliu e depositou dentro de si mesma. O céu começou a aglomerar nuvens de um cinza escuro e a chuva desceu dos céus e caiu das alturas. A água tocou o solo, tocou a semente e assim a possibilidade despertou e cada semente revelou a majestade existente em si, e em poucos instantes as sementes alcançaram o seu explendor. E Nallab ouviu uma voz:

_Em cada semente existe uma possibilidade, desejosa por manifestação, bloquear esse desejo é bloquear a essência da semente. O medo surge quando se bloqueia uma nova possibilidade de emoção, de sensação, de ação ou de pensamento. Confie no céu dele emana a fonte que desperta a possibilidade. A terra acolhe a possibilidade e o céu desperta a possibilidade. E naquele instante Nallab percebeu. E de dentro para fora uma nova luz surgiu em seu ser, e daquele momento em diante ela reconheceu que os que ela temia não eram os fatos, mas a possibilidade; possibilidade de ficar sozinha, possibilidade de ser traída, possibilidade de ver a violência. Seus medos são os bloqueios de uma possibilidade... _Quando o vento é muito forte as folhas se agitam; quando a chuva é muito forte o rio transborda; quando o sol é intenso as folhas murcham. Nas costas de um evento, sempre vem outro evento. Disse o grande Lobo Branco em tom doce e suave. _Uma semente é o desejo de expressão de uma possibilidade, toda possibilidade que é bloqueada traz consigo um outro evento. Do mesmo modo que o vento forte agita as folhas,

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a possibilidade bloqueada gera o medo. O medo é a forma que uma possibilidade bloqueada encontra para expressar-se, dele podem nascer dois frutos: a fuga da possibilidade ou o ataque à possibilidade. _Doce Nallab, toda desculpa, toda raiva, todo preconceito, toda descrença, todo orgulho, todo egoísmo, todo medo; é uma forma de bloqueio ou não aceitação de uma possibilidade qualquer, uma possibilidade de sentir, agir e perceber a vida de outro modo possível. Falou amorosamente o grande Lobo Branco. Durante alguns instantes a voz do grande Lobo silenciou e Nallab permaneceu parada sentindo a chuva acariciando cada parte de seu corpo. As gotas escorriam pela rósea face da fada e Nallab de instantes em instantes, sorvia para dentro de si as gotas do céu. E a semente que estava em seu interior começou a despertar, ela havia aceitado uma nova possibilidade. E naquele momento mais luz acendeu-se em seu coração... _A vida é a expressão das possibilidades, bloquear as possibilidades é tapar os ouvidos a voz de Absollon. Disse Nallab em tom reflexivo.

_Eu me permito, eu me aceito, eu manifesto e acolho novas possibilidades, novos jeitos de sentir, de agir, de viver. Absollon é a terra fértil que acolhe todas as possibilidades, tal como meu criador, eu acolho todas as possibilidades, sem preconceitos, sem julgamentos, sem sentenças... Fez se uma breve pausa. _Eu simplesmente aceito cada uma das possibilidades...Falou Nallab com a voz imersa em profundas emoções. Duas lágrimas correram de seu rosto e misturaram-se as gotas que brincavam nas curvas de suas bochechas. E a semente brotou dentro de si e naquele instante ela aceitou a possibilidade de ver-se e aceitarse, e assim ela se perdoou. E ela entendeu que toda experiência é uma estrada que a conduz ao coração de Absollon. De repente houve um clarão em sua mente, e sua mente se expandiu. Sua mente se abriu para uma grande idéia e daquele momento em diante ela jamais retornaria a seu tamanho original. Seus olhos antes pesarosos abriram-se e o brilho do entendimento e da compaixão retornou a sua alma. Nallab olhou para o alto e sentiu as correntes a lhe restringirem a liberdade, e

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compreendeu que as correntes eram feitas do sutil material que constitui seus próprios medos. Ela havia criado sua própria prisão e agora criava sua própria chave na reconquista de sua liberdade para ser novas possibilidades. Do interior de seus pulmões brotou uma força tremenda, um vendaval de proporções gigantescas fez ressoar suas cordas vocais, e um uivo intenso e profundo ecoou por todo o ambiente. Era o uivo da liberdade, era o uivo que a autorizava a ser o campo de todas as possibilidades. Após o uivo Nallab sentiu as forças voltando a seu corpo e o espírito do grande Lobo Branco que antes estava dentro despertou. O gigante interior havia despertado. O seu corpo começou a sofrer novas modificações, seus músculos foram assumindo os contornos do grande Lobo Branco arrebentando todas as correntes que limitavam sua liberdade. Suas orelhas foram mais e mais assumindo a forma das do grande espírito. Sua face foi se modificando, seu tamanho e vigor cresceram a níveis indescritíveis. Ela assumia a forma do próprio Grande Lobo Branco, sua coloração branca parecia emitir um tênue reflexo dourado e o ardor do coração de fogo estava aceso no centro de seu peito. A força emanava daquela imagem num tom próximo ao divino. O único sinal que permitia reconhecer que Nallab habitava com o grande espírito, era o seu doce e fluido olhar incrustado naquela face do Lupus celestial, o lobo celeste.

_Desse momento em diante pequena Nallab, somos um só processo, em cada nome reside uma energia, desse momento em diante somos não mais o Lobo Branco e Nallab, mas Luminus... Ressou uma voz no interior daquele novo corpo. Os pensamentos e as emoções eram um só processo, não se sabia onde começava os de Nallab e terminava o do Lobo Branco. Eles eram um só movimento, um só sentimento, uma só ação, eles eram Luminus. Um urro de raiva pode ser ouvido do interior da neblina. _Maltida, seja! Disse Méddos eletrizado por um ódio incontrolável. Pouco a pouco a ilusão foi sendo dissipada, a névoa foi progressivamente sendo dissolvida e grande espelho de gelo novamente pode ser vislumbrado em sua grandiosidade. Nallab sentia-se una com o grande Lobo Branco e sentia seus sentidos bem mais ampliados, e a agilidade celeste parecia ordenar cada micro espaço de seu corpo lupino. Ela sentia o cheiro de Méddos vindo em sua direção, o cheiro de seu hálito rancoroso e inflexível tentava inebria-la. Ao longe seus poderosos olhos foram tocados por dois fragmentos de um pálido vermelho oculto sob um véu de neblina que encobria o horizonte. Pareciam incidir de alto, como o sinal de um farol marítimo, que sumia e tornava a reaparecer brevemente. De repente um novo urro rompeu o silêncio, forte como os trovões de uma tempestade insana.

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O espelho de Gelo negro vibrou e sua vibração percorreu as patas vigorosas de Luminus, que permaneceu sereno. Aqueles dois pontos vermelhos acenderam-se como o fogo em madeira seca intensificando o seu brilho. _Maldita eu te devorarei! HaHaHaaa! Disse Méddos num tom ameaçador. Paulatinamente Méddos começou a romper a distância que o separava de Luminus. Passo a passo o espaço foi sendo rompido, cada passo era equivalente a uma forte vibração sob o solo. Lembrava o andar de um gigante. Aos poucos o véu que ocultava o corpo de Méddos foi sendo rompido e a imagem medonha do grande animal começou a se desenhar frente Luminus. Méddos estava com uma aparência gigantesca, parecia um mar de trevas deslocando-se com duas tochas incrustadas na sua face. Os seus dentes estavam exposto e um grosso fluido escorria pela lateral dos caninos, era o próprio ódio saindo de seu ser. Luminus permanecia sereno e sentia nitidamente o cheiro amargo que o Méddos exalava; ouvia as grossas gotas que escorriam pelos afiados caninos do grande animal tocando o chão; sentia uma forte vibração que corria pelo chão e depois se espalhava por cada músculo de seu corpo. De repente o grande Lobo Negro emite um intenso rosnado, de alguma forma seus olhos avermelhados se acendem mais e mais, como se o ódio o alimentasse. Então num movimento repentino mostra a fiadas garras saindo tanto das patas dianteiras como traseiras,

eram garras afiadas, negras como o espaço sem fim. Vagarosamente ergue sua gigantesca pata e torna a baixa-la com muita fúria, fincando as garras sob o espesso manto de gelo negro. Luminus sentiu uma vibração mais intensa a percorrer lhe toda a extensão de seu corpo, seu coração começou a aquecer-se e a chama interna fez com que seus pêlos intensificassem o brilho. Após Méddos perfurar o gelo negro, um ruído de estilhaçar pode ser ouvido por Luminus. O gelo sob as patas do Lobo Negro começou a quebrar em grandes blocos, sendo recortados por cinco risco que pareciam dirigir-se rumo a Luminus. Cada garra produziu um risco, esses pareciam serpentes frenéticas rasgando o espelho de gelo e tentando alcançar sua presa...Luminus. Alguns dos grandes blocos criados flutuavam agitados sob um espesso líquido negro que existia logo abaixo do espelho de gelo, outros por sua vez afundavam escondendo-se dos firmes movimentos de Méddos. O grande Lobo Negro marchava em direção a sua presa, e pisar naquele estranho fluido negro, era para ele equivalente a caminhar em solo firme. Era o momento em que a escuridão sustentava a escuridão. Luminus elevou os níveis de sua percepção e manteve-se atento para reconhecimento das sutilezas dos sons, das imagens, das vibrações, dos cheiros. Sua atenção estava ativada, naquele momento cada músculo e sentido se encontrava prontamente responsivo a qualquer mínimo estímulo.

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Os risco vinham avançando mais e mais rápido. Um vinha pelo centro, dois pela esquerda e dois pela direita de Luminus. O risco central mirava o centro do animal de coração de fogo. Ao aproximar-se do animal, o risco central dividiu-se em dois, um seguiu pela esquerda e o outro pela direita, formando uma ilha no espaço ocupado por Luminus. O gelo lateral afundou como fosse pedra, contrariando a própria aparência ilusória dos fatos, da esperada flutuação do gelo. Luminus se viu ilhado, cercado por trevas de todos os lados, para onde olhava somente via escuridão gelada e líquida vigiando cada movimento por mais simples que fosse. A cada passo do gigante Méddos oscilações eram produzidas nas águas negras, que pareciam dirigir-se diretamente ao corpo fusionado do Lobo Branco e de Nallab. Um novo rosnado banhando em sangue foi emitido. O coração de Luminus sentiu algo estranho, suas percepções lhe diziam que algo estava acontecendo. Movimentando-se sobre o bloco flutuante ele viu filetes negros erguendo-se em tal velocidade e criando uma prisão ao seu redor, cuja base era o próprio bloco. Eram linhas fluidas e escuras, que se assemelhavam à viscosidade do petróleo e cercavam o Lobo Branco por todas as direções. O bloco então começou a afundar lentamente e o líquido negro começou a permear primeiramente as patas de Luminus. Luminus emitiu um rosnado de força e tentou avançar sobre aquela prisão fluida, de algum modo à substância do

gradeado parecia sólida como um rochedo. Pouco a pouco o líquido negro do lago foi aproximando-se mais e mais da cabeça de Luminus. Uma força instintiva foi evocada por um forte e intenso uivo, como estivesse chamando cada músculo para uma única ação: encontrar a liberdade. Suas garras saltaram para fora como facas afiadas, nem pareciam garras, estavam mais próximas de filetes luminosos de um branco intenso e puro. Num movimento súbito, realizou um movimento de patas que lembravam o desenho do “S” e do “X”, a estrutura rompeu por alguns instantes e Luminus lançou-se com tamanha força que permaneceu em trajetória durante cerca de 8 segundos, até cair na margem de terra firma. O ódio emanava das profundezas de Méddos. O frio de seu coração começou a se intensificar e espalhando-se pelas extremidades de seu corpo: as patas. O grande Lobo Negro ainda parecia flutuar nas águas fluidas e viscosas, mas algo diferente iniciou a transformação dos pontos nos quais pisava. Onde as sua patas tocavam começou a congelar e o fluido antes aquoso foi pouco a pouco assumindo a aparência pétrea, o frio de seu coração solidificava os locais que suas grossas patas tocavam. Méddos emitiu um rosnado de raiva e marchou acelerado em direção a Luminus. Suas passadas eram velozes, parecia que ele deslizava sobre as águas negras. A cada instante que tocava as águas essas se solidificavam. Seus olhos assumiram um vermelho intenso, era uma LXXII

chama de gelo incrustada no seu focinho enrugado pela exposição de sua dentição afiada. Luminus podia sentir um vento gélido soprando em sua direção e permanecia sereno observando a distância entre os dois encurtando-se mais e mais. Então, das profundezas de seu coração emergiu uma mensagem, uma mensagem advinda do uivo essencial, aquele que conhece todos os caminhos e todas as respostas. _Luminus, sua razão têm fronteiras que não podem ser ultrapassadas sem o coração. Enquanto a razão toca o finito, o coração toca o infinito. Antes de a razão elaborar a pergunta, o coração já possui a resposta. _Deixe que a pureza de seu coração lhe conduza e guie seus músculos, seus pensamentos, suas ações; ele é o único que se lembra do caminho de volta, somente ele sabe como voltar a Fonte, retornando ao seio de Absollon. Ele é o guia que lhe conduz, ele é o guerreio que lhe protege, ele é o sábio que lhe aconselha, ele é o professor que lhe ensina. Nada absolutamente nada pode abalar um coração puro e confiante...confie...confie...confie ... A mensagem enviada por seu coração ressoou dentro de si e tal como uma onda espalhou-se em sua mente; dentro de si emergiu um grande som seguido por um grande silêncio, e do

encontro do Som e do Silêncio, veio uma nova lição... Naquele instante razão e coração estavam alinhados numa comunicação perfeita, juntos perfaziam a harmonia entre a matéria e a energia que impulsiona o propósito. Dentro da mente de Luminus ocorria um fluxo perfeito; a razão e o coração batiam harmonicamente em meio às experiências como as asas de uma borboleta azul. Méddos vislumbrava o olhar fluido de Luminus e Luminus vislumbrava o olhar duro de Méddos. Os olhos do grande Lobo Negro lembravam duas bolas flamejantes em rota de colisão. O coração do grande Lobo Branco despertou e naquele momento os músculos foram guiados pelo uivo essencial, a voz do coração lupino. O corpo de Luminus virou graciosamente e acelerou em direção a floresta de cristal. Seus movimentos eram ágeis e fluidos, e sua velocidade era intensa. À medida que perfazia o caminho de volta via a paisagem circundante passar frente a seus olhos como a imagem distorcida de uma imagem tremula nas águas agitadas de um riacho. Méddos corria furioso atrás de sua presa. Suas passadas eram pesadas e rápidas, e criavam um forte tremor no chão. O seu rosnar era alto e forte, tecido por um ódio flamejante. De algum modo Méddos parecia à sombra de Luminus; seus corpos simétricos diferenciados unicamente pelo tamanho e movendo-se num mesmo ritmo. Méddos a sombra, Luminus a luz.

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Logo ao longe Luminus avistou a saída da Garganta Rochosa. As passadas firmes de Méddos faziam o paredão rochoso vibrar. As estruturas mais frágeis do corredor se precipitavam na forma de pedras e poeira que caiam do alto. Luminus desviava agilmente dos obstáculos que tentavam bloquear o seu caminho. Furioso o Grande Lobo Negro rasga o ar num salto fugaz que tenta corta seu alvo com as afiadas garras. As garras não chegam a tocar Luminus, mas este sente um frio cortante tocando-lhe uma das patas traseiras e criando um leve traço de sangue. À medida que avançava em direção saída do paredão um som rápido e veloz de cascalho e areia atritado era produzido. Quase não conseguia sentir o vento fétido do local. Toda a sua atenção se dirigia a floresta de cristal. Méddos estava na fronteira de seus domínios, pouco a pouco, a aridez de sua morada foi sendo substituída pelo brilho do ribeirão de cristal azulado, o sinal que unia dois mundos: a aridez da morada de Méddos e a floresta de cristal. _Von pelan furgate! Disse Luminus, logo após cruzar o ribeirão de cristal. Seus pêlos aumentaram de volume e brilho; todo o seu corpo parecia apresentar uma forma rígida e de musculatura bem definida. Luminus adentrou na floresta de cristal com a mesma velocidade. Os cristais que a compunham iam se despedaçando frente ao vigoroso corpo do titã branco. Méddos, logo atrás seguia em marcha vigorosa, poucos instantes antes

de tocar o ribeirão de cristal, criou um novo impulso nas patas traseiras, que o elevaram do chão e o fizeram cair já dentro da floresta. O ponto em que ocorreu sua queda formava um círculo de fragmentos e pó do cristal abalado, que envolvia aquele centro negro. O lobo Branco avançava pela floresta, abrindo uma trilha em meio aos estilhaços de árvores e flores, que não resistiam ao vigor de seu corpo. De repente após ganhar certa distância, Luminus parou e sentou-se sobre as suas patas traseiras. Seu olhar era de absoluta concentração e todos os seus sentidos permaneciam plenamente responsivos. Méddos seguia pelo caminho deixado por Luminus, corria intensamente e a cada passo o chão circunvizinho vibrava e fazia um leve tilintar sair do cristal próximo. O lobo Negro deixava atrás de si um rastro de um fluido claro e fétido que escorria por entre os seus caninos. Méddos sentia o cheiro agridoce de Luminus; e Luminus sentia o cheiro ácido e fétido de Méddos. Ambos se farejavam e sabiam que à distância que os separava, tornava-se menor a cada instante de tempo que se passava. O grande Lobo Branco observava o espaço vazio criado pelo seu movimento, uma trilha que tinha em seu ponto mais distante uma curva. Luminus sentia Méddos se aproximando e seu coração lhe dizia que o confronto estava próximo. Os cristais próximos a Luminus começaram a tilintar, era o sinal. De repente uma imensa figura negra começou a se construir no final da curva. LXXIV

Sua respiração era intensa, um forte rosnar acompanhava cada expiração. Os seus olhos ardiam em ódio, sentimento que era a manifestação do desejo de continuar existindo em sua atual forma. A hora de enfretar Méddos havia chegado. _ É chegada a hora do grande confronto, todo confronto é uma oportunidade de mudança. Disse Luminus serenamente. _Você pagará pela insolência de me desafiar, eu sou aquele que protege os seres de novas possibilidades! Falou Méddos rosnando, com os olhos fixos em Luminus. _E eu aquele que traz aos seres novas possibilidades! Falou Lumninus, num tom profundo e forte. _Você se arrependerá enormemente por ter me desafiado! Rosnava Méddos. Pouco a pouco, Méddos começou a marchar, inicialmente lentamente, pouco a pouco, foi acelerando e avançou na direção de Luminus. O grande Lobo Branco, por sua vez ficou em posição de ataque e marchou na direção do Lobo Negro. Eram dois meteoros prontos para um choque profundo, um meteoro feito de gelo e um feito de fogo; um era responsável pela cristalização, o outro pela transformação, eram partes internas do fluxo da Natureza. O coração de ambos começou a liberar sua força interior. O coração de gelo perfez frio e envolveu o corpo negro de modo que tudo em torno de Méddos era gelado. Suas unhas afiadas eram como espadas de gelo prontas a cortar o adversário. O coração de fogo perfez fogo

e envolveu o corpo branco de modo que tudo em torno de Luminus era quente. Suas unhas tinham a fluidez da água e o calor do sol. Em torno de Méddos se formou uma tênue película esbranquiçada e fria; em torno de Luminus uma película avermelhada e quente. As duas naturezas foram aos poucos reduzindo a distância que as separava. Os olhos fluidos de Luminus assumiram uma coloração violácea e miraram diretamente o vermelho dos olhos de Méddos. A meia distância o lobo Negro saltou num terrível e feroz ataque sob o Luminus, lançando suas poderosas garras contra o irmão. Liminus defendeu-se com um movimento cruzado. As unhas se encontraram, os corpos se encontraram; a cada aproximação de seus corpos ouviase um ruído de água lançada ao fogo e uma pequena nuvem vaporosa se formava. Méddos violentamente lançou as poderosas dentições numa das patas de Luminus. Esse ergueu num movimento felino e velozmente atacou a pata traseira, rasgando-a levemente com suas garras. O lobo negro gritou furioso por ter sido atingido e erguendo rapidamente uma das patas sob o peito de Luminus, lançou-lhe a grande distância. Luminus deslizou pelo chão de cristal destruindo as estruturas de cristal que estavam a sua frente. Logo em seguida Méddos saltou sobre ele, com as garras prontas a perfura-lo. Luminus então mirou um dos olhos daquela grande mancha negra que despencava sobre si, e num ágil movimento lançou uma das LXXV

unhas, como um raio. O raio cruzou o espaço e atigiu Méddos, enquanto caia na direção do seu irmão. A dor percorreu o corpo do Lobo Negro e este instintivamente cobriu um dos olhos, perdendo seu ataque perfeito. Luminus ergueu as garras e o atingiu próximo ao abdômen. Méddos entrou numa espécie de frenesi de ódio, um amargo ódio. Seus urros podiam ser ouvidos a longas distâncias. _Maldito, seja! Disse Méddos com o corpo ferido. Pequenas gotas de um sangue negro escorriam dos olhos e do abdômen de Méddos. _Negrum...Negrum...Malom spiritus! Começou a falar num tom sussurrante que aumentava mais e mais. Era a evocação do que subsiste nas profundezas, evocava a energia bloqueada na escuridão. Uma nuvem escura começou a surgir na direção do paredão rochoso e os pontos luminosos incrustados nele começaram a brilhar mais intensamente. Um vapor fétido e escuro começou a adensar-se e soprar na direção de Méddos. _Nada temas Luminus, pois dentro de cada casca de trevas existe a semente de Absollon. Todo erro contém a semente do acerto, todo medo contém a semente da coragem, todo desconhecido contém a semente do conhecido, todo escuro contém a semente da claridade...Disse o uivo elementar, a voz do coração.

A nuvem pairava sobre a figura assustadora de Méddos, fazendo uma espiral negra. Num movimento rápido e fugaz o redemoinho desceu e penetrou nas duas narinas do grande Lobo Negro. Imediatamente algo começou a acontecer, ele cresceu mais e criou uma ilusão. A ilusão de que tudo a sua volta era um campo de guerra onde fadas sofriam mutiladas; pais maltratavam filhos; mostrava o vazio, a angústia e a tristeza dos corações. E na ilusão dessa imagem criou a imagem de Nallab, e mostrou para sua consciência todos os seus temores mais ocultos; o medo de sentir solidão, a ausência do amor, o medo do prazer, mostrou-lhe o medo de ser julgada e condenada pelos outros... e um a um, todos os bloqueios foram vindo a tona, tudo que estava oculto começou a se manifestar no cenário da Ilusão. _Confie, por detrás de toda Ilusão existe a realidade, não argumente contra a Ilusão, acolha o fato, entenda o fato, aceite fato, ame o fato. Valorize tudo, dentro da casca dos medos, existe a semente da Iluminação. Disse a voz do coração. Luminus fechou os olhos para poder enxergar a realidade e entendeu que nada adiantava enfrentar fisicamente Méddos, mas era necessário enfrenta-lo no interior de sua mente e coração. Sua mente e os fatos começaram a serem sincronizados. Depois fechou os ouvidos, para escutar e permaneceu imóvel para se movimentar. Luminus havia entendido que onde existe julgamento, existe um LXXVI

limite e todo limite ainda está distante de Absollon; somente a aceitação a tudo acolhe é o vazio, que tudo contem, isso é o caminho do ilimitado, a estrada de Absollon. Imóvel e atendo ao uivo essencial, a voz do coração, Luminus entendeu que o julgamento o aprisionava a Méddos, que somente o acolhimento sincero de seu irmão iria permitir que Absollon se manifestasse nele. Lembrou-se que dentro de tudo que é mau e ruim, existe a semente de Absollon esperando o momento de despertar. Seu corpo começou a brilhar numa leve claridade dourada e seu coração começou a amar o irmão, sem julga-lo e acolhendo-o num sentimento eterno. Méddos continuava furioso e avançou para atacar Luminus com todo o seu poder. Mas todo ataque era em vão, suas poderosas garras atravessavam o irmão, como uma espada numa nuvem de vapor. _Maltido, morra! Gritava Méddos cheio de rancor e ódio. Luminus permanecia inerte absorvido pela aceitação plena, o universo o protegia por manifestava o amuleto e técnica de proteção mais poderosa do universo: a pureza do coração de uma criança, onde impera a simplicidade, o amor pelo novo e pelo diferente, a alegria e a bondade... Durante um tempo não mensurável, Méddos enfrentou o que achava ser o seu adversário, mas o que ele não reconhecia, era que estava enfrentando a si próprio, estava despertando a seu próprio uivo essencial.

_Os músculos de seu irmão ficarão cansados e o vigor será convertido em exaustão; e a raiva será convertida em reconhecimento de sua fragilidade. Aqueles que não conseguem ouvir a voz do coração diretamente, o coração lhes fala pelo corpo. Os músculos de Méddos lhe ensinarão o que é a exaustão e o limite, e ele verá e sentirá o limitado dentro de si. Nesse momento Méddos terá medo de se ver limitado e a ilusão começará a ser desfeita, e assim ele verá a si mesmo...Disse a voz do coração a Luminus. Méddos foi sentia a exaustão dominando cada músculo e caiu cansado no chão, aquela imagem gigante e vigorosa, parecia frágil e estava no limite suas forças. O que ele ainda não compreendia, era que todo limite nos leva a um nível superior, quando se chega ao fundo, o próprio fundo nos impulsiona para o alto. Luminus olhava o irmão caído e exausto. Sentiu amor por seu irmão Méddos. Grossas gotas de sangue negro escorriam pelo ferimento. Então Luminus aproximou-se do irmão e colocou uma das patas sobre os ferimentos do olho e do abdômen e disse... _Ermetum luminus! Disse Luminus emocionado. As feridas começaram a curar-se e o tecido foi refeito como se nada houvesse ocorrido. Os vivos olhos vermelhos de Méddos pareciam possuir LXXVII

um brilho mais fraco. E neste momento uma dúvida surgiu no coração frio do Lobo Negro... O coração de Luminus sentiu a dúvida no coração do irmão e lhe disse: _Meu irmão, eu sinto a dúvida em ti, a dúvida é a mensageira de uma nova possibilidade, de um novo caminho...Disse Luminus compadecido pela fragilidade do irmão. _Porque, maldito?! Disse Méddos rosnado mais fracamente. _Por que estamos ligados desde nosso nascimento, somos parte de um mesmo processo. Disse afetuosamente Luminus ao irmão. A dúvida no coração de Méddos começou a crescer e com ela a imagem de uma nova possibilidade de entendimento da escolha já feita. Então Méddos viu de onde vinha seu ódio, ele era o guardião que escondia a aceitação de uma nova possibilidade. O lobo Negro começou a aceitar uma nova possibilidade e com isso o guardião foi perdendo sua função, assim o ódio foi decrescendo, mais e mais. O corpo de Méddos foi aos poucos encolhendo e enquanto ele olhava para Luminus sentia uma identificação com o irmão. Delicadamente num gesto afetuoso, Luminus lambia carinhosamente o rosto do irmão caído e exausto. Naquele momento ocorreu uma conversa profunda e silenciosa entre os dois corações, o frio e o quente, falavam entre si. De repente, o espírito do Grande Lobo Branco, foi saindo junto com a expiração de Luminus. E com ele o corpo

de Luminus foi se modificando até retornar a forma de Nallab, que permanecia flutuando no ar, enquanto as essências seguiam o seu propósito. Então o corpo do Grande Lobo Branco ficou lado a lado ao do Grande Lobo Negro, e naquele instante os corações dos irmãos fizeram as pazes. Seus corpos de fundiram e flutuando no ar, começou a irradiar um novo e intenso brilho, coração de fogo e de gelo agora habitavam um único espaço. O volume de seus corpos começou a diminuir e do interior daquele brilho surgiu um novo ser, um lindo filhote metade branco e metade negro. Nallab olhava admirada para a cena. O pequeno animal se aproximou dela e começou a lamber delicadamente sua pela rósea. E num uivo singelo lhe entregou um presente, um pedaço de seu novo coração. O uivo essencial ainda vivia dentro da fada e sua coração lhe disse: _Minha criança receba o presente que te ofertam, pois somente aceitando o que lhe dão, poderá aceitar o que não lhe dão. O coração se regenera e a partir de um único ponto pode renascer, pois ele é feito de um material tênue e essencial infinito; ele não conhece limites de matéria e de energia. Nallab uivou e agradeceu o amigo, acariciando gentilmente aquele lindo filhote. E assim recolheu o coração sobre as mãos, e vislumbrou o brilho intenso do fogo e o brilho difuso do gelo, ambos fundidos como uma espécie de jóia rara, LXXVIII

fluida e leve. Pouco a pouco, o lobinho foi se afastando e após um último olhar para trás, começou a correr rápido como vento; inicialmente rente ao chão, depois cada vez mais começou a elevar-se pelo ar. Para ele ar e chão eram uma única coisa, pois agora ele tinha as duas essências: a essência da fluidez e a essência da solidez. O coração brilhava nas mãos de Nallab. Seus imensos e expressivos olhos azuis esverdeados estavam repletos por num ar de beleza celeste, havia paixão uma paixão de vida ardendo no interior deles. Sentia-se modificada, a voz de seu coração falava-lhe claramente a mente. O uivo essencial então soou dentro de si e começou a guiar seus passos na direção do colosso de pedra. A fada retornava a parte central da floresta de crista e admirava novamente as imensas colunas de plasma duplo, os dois vértices da espiral: um de fogo o outro de gelo. A admiração permeou todo o seu ser. Seus olhos tocaram a imagem do colosso de pedra assentado naquela estrutura de 100 metros de raio e 30 metros de altura. Um brilho violeta pareceu brotar do cume da estrutura e seguiu como dois raios grossos e inclinados, que tocavam o chão. Ao longe os raios começaram a movimentar-se e cruzaram-se; e do cruzamento da luz surgiu uma imagem no chão: a imagem de uma borboleta azul. O uivo essencial conduzia Nallab e ele a conduziu até a imagem no chão. Vagarosamente ela marchou até a figura impressa no chão e daquele ponto pode ver a vigorosa estátua do lobo gigante,

com os seus 50 metros de uma musculatura polida e vigorosa. As espirais centrais de fogo e gelo mantinham-se se movendo mais e mais rápido. De repente o silêncio se rompeu e Nallab disse: _Oh Gigante de pedra eis que lhe trago o que me foi pedido, conduza-me nessa jornada do encontro comigo mesma! Disse a fada em tom de suplica e humildade. De repente um uivo intenso percorreu todo o espaço e a floresta de cristal vibrou. O som era abafado e tão forte como Nallab nunca havia sentido. O gigante começava o seu despertar. Uma escada começou a formar-se degrau a degrau na forma de uma pirâmide, os músculos de Nallab movimentavam-se pelo uivo essencial. A luz em forma de borboleta acompanhava cada um de seus passos. Seus passos eram fortes e rítmicos. Seu corpo foi distanciando-se do chão na direção do Gigante.O coração de fogo e gelo brilhava em suas mãos. Seus olhos pareciam extasiados e Nallab parecia ter entrado numa espécie de transe. A borboleta de luz azulada marchava simultaneamente aos passos da fada. Passo a passo foi se aproximando e a imagem do gigante foi crescendo, como uma montanha a sua frente. A borboleta parecia guiar a fada até o local preciso e assim ela o fez, conduziu Nallab até uma posição em que ficasse frente a frente diante do colosso de pedra. O uivo essencial dominava cada fragmento de seu corpo e orientava cada um de seus movimentos, ela havia se LXXIX

entregado e seu coração sabia que a entrega é modo mais íntimo de ligação com Absollon. A plenitude mora em Absollon, a entrega é a porta que conduz ao Supremo. Parada em frente ao gigante ela sentiu a grandeza permeando o seu Ser e um sentimento de gratidão a invadiu primeiro em palavras, mas as palavras foram insuficientes para agradecer. Depois vieram os pensamentos, mas eles foram insuficientes também para Nallab expressar gratidão. Seu coração vibrou intensamente e ela entregou cada parte de seu espírito, ela ofertou-se como serva de Absollon... A emoção transbordou de seu coração, então ela curvou os joelhos frente ao gigante. E com a fronte baixa deixou lágrimas regarem o coração composto pela essência do fogo e do gelo. O brilho do coração aumentou mais e mais, até formar uma espécie de película dourada ao redor do mesmo. Então, a luz azulada em forma de borboleta deslocouse na direção do coração, que estava nas mãos da fada. Nallab estava imersa num sentimento indescritível; uma sensação que estava além das palavras, pois aonde as palavras não chegam o coração ultrapassa. A borboleta pareceu condensar-se no ar e irradiar de suas asas um brilho tênue azul-esverdeado. Aos poucos aquela imagem alada pousou frente a Nallab e recolheu de suas mãos o coração uno dos Grandes Lobos. Ajoelhada à fada admirava o vôo da borboleta. A cada bater de asas uma vibração ressoava pelo ar...

Shan...Shan...Shan...e um pó brilhante como as gotas de orvalho flutuavam agitadas no espaço. A borboleta voou e voou, até tocar o espaço vazio em forma de coração, localizado no centro do peito do Gigante de pedra. E como a água que preenche a abertura da rocha ela se liquidificou no centro do peito, um líquido de coloração azul radiante. O espaço antes vazio agora se preenchia; fogo e gelo se mesclavam na fluidez do líquido. O brilho do fogo ficou quase solar, o brilho do gelo ficou quase polar. As essências começaram a se fundir ao corpo do Gigante, clamando por seu despertar. Os sulcos, semelhantes a veias, existentes no corpo do grande animal começaram a serem preenchidos pelas duas essências. Um brilho solar e um brilho polar fluía por todo o corpo do Gigante adormecido. Seu corpo parecia estar sendo percorrido por serpentes elétricas de coloração avermelhada e azulada. Um uivo intenso ressou no ar; parecia o eco de um trovão no interior de uma caverna. Os olhos do Gigante ardiam numa luz dourada e seu corpo rochoso parecia assumir uma forma de pele rochosa. Lentamente ele curvou-se frente à fada, que parecia um inseto perto de uma grande montanha. Olhos dourados do Gigante se cruzaram aos olhos azulados da fada. Parecia que um mergulhava nas profundezas da alma um do outro. Era só admiração, era só intensidade, era só gratidão; e assim emergiu um som, o som da voz do Gigante.

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_Sou grato, aquela que me desperta, sou um com você e desejo que seu sonho se realize, pois seu sonho é o sonho de Absollon. Falou em tom forte e suave, um tom que tudo vibrava e nada destruía. _Somos um só processo, um só caminho, eu lhe levarei até a estação da Primavera, o local do renascimento. As pernas de Nallab começaram a mover-se na direção da imensa cabeça do animal e graciosamente suas mãos deslizaram pela face do Gigante. O uivo essencial a guiava. Ela, então subiu no focinho do Gigante de Pedra e ajoelho-se de modo a ficar entre os dois olhos dourado. Uma luz confortadora parecia sair dos olhos do grande animal, uma luz doce e acolhedora. Um novo pulso soou em seu coração e suas mãos começaram a movimentar-se e construíam a imagem do infinito na testa do grande animal. E juntamente com o movimento das mãos, a boca de Nallab começou a mover-se e sons saíram das profundezas de seu Ser... _Sua mente é minha mente, seu coração é meu coração, seus olhos são meus olhos... Eu e ti somos um só processo ligados pela entrega. Eu me entrego a ti. A voz da fada estava profunda e serena, parecia em tonalidade quase hipnótica. Um novo som emergiu das profundezas do Gigante e mesclaram se sincronicamente a última frase da fada... _ Eu e ti somos um só processo ligados pela entrega. Eu me entrego a ti.

Disse a Gigante com sua voz de trovão plácido. As vozes começaram a iniciar um ciclo que iniciava por “Eu e ti...” e findava em “... me entrego a ti”, Gigante e Nallab, em uníssono. As palavras se repetiam e a cada repetição o brilho nos olhos dos dois se intensificava. A magia condutora havia sido evocada, a magia que funde Criador e criatura havia sido formada; a renúncia, a entrega... Essa é a magia que orienta tudo em direção a plenitude do Amor, da Vida, do Propósito e dos Prazeres e Sentidos. O corpo da fada começou a brilhar numa tonalidade dourada e suas mãos foram atravessando a testa do Gigante, e pouco a pouco, o seu corpo foi se fundindo a cabeça do Gigante. Sua consciência ultrapassou as fronteiras das palavras e somente o silêncio era capaz de explicar suas sensações. Ela via através dos olhos do Gigante, ela ouvia através dos ouvidos do Gigante, ela sentia os movimentos e emoções do gigante. Era como tudo que antes lhe impregnava os sentidos tivesse se transformado. A floresta de cristal tinha uma aparência vivida e não de vidro e ela podia perceber os processos que ocorriam no interior de cada planta, o fluxo do crescer, o fluxo do produzir; os fluxos da vida perpassavam frente os seus olhos. Tudo parecia perfeito os sons eram todos harmônicos, as emoções de medo aprisionadas nos cristais incrustados no rochedo que conduzia a Méddos, haviam se transformado e somente existia a compaixão e a luz. Nallab sentia todos os LXXXI

cheiros ao mesmo tempo, elas pareciam à sinfonia perfeita. Parecia que cada sensação era sentida de modo integral, em conjunto, todas simultaneamente, em unidade. O gigante começou a deslocar-se, cada passo era uma vibração e cada vibração era a magia de Absollon a se expressar. A floresta tremia com completo e após a primeira vibração a floresta de cristal se transmutou, e o que era morto, ficou vivo. E o Gigante uivou, e o que era escuro e triste ficou claro e alegre. Seus passos pareciam lentos, no entanto seu movimento parecia instantâneo. Um novo passo, uma nova vibração; e o rio de cristal ganhou vida. Borboletas de todas as cores começaram a sair na nova floresta e revoavam em torno do Gigante. Numa velocidade espantosa, ele deslocou-se instantaneamente na direção do rochedo e a cada vibração de suas patas, somente luz surgiu no interior dos cristais de sofrimento incrustados no paredão. E o que era seco ficou pleno de vida verde; e o que era pó vibrou na forma de diversas formas de vida, insetos, plantas e animais das mais diversas formas e cores. E chegando ao Grande Sulco do paredão uivou e o paredão foi permeado de luz e águas começaram a correm do alto para baixo, e dois magníficos espelhos de águas desciam como cataratas pelas bordas. Cada elemento gerado pelo som, pela sensação, pela visão cria uma vibração e cada vibração incrusta em si o poder de transmutar a realidade.

A água corria abundante pelas bordas e corriam para fundir-se ao rio, antes de cristal, agora fluido e vivo. De modo instantâneo o Gigante atingiu o grande Espelho de Gelo, e com um único passo uma nova vibração brotou e as águas antes negras, começaram a borbulhar por calor. Uma densa lava fluía de sua profundezas e calor transmutou todo frio escuro e líquido, até que surgisse no local um lago de lava vulcânica. O Espelho de Gelo havia se transmutado num Espelho de Lava, um lago de lava. O gigante uivou tão alto que toda a Estação do Inverno foi invadida pela vibração da harmonia, depois deu um imenso saltou e mergulho no centro do Lago vulcânico. Nallab sentia a lava invadindo cada centímetro de seu corpo derretendo não seus ossos, não sua pele, mas tudo aquilo que ela não mais desejava. Via em manchas negras espalhadas por sua mente, por sua alma; o calor fluido e intenso da lava parecia transformar cada mancha. Toda mancha é um bloqueio, que impede a expressão plena. A lava derretia e transmutava cada medo, cada preocupação, cada angústia, cada dúvida, cada descrença... Pouco a pouco, ele se viu realmente como é; sem manchas, uma mente límpida como a água de fogo, a lava. O Gigante mergulhou mais e mais fundo, e através dos olhos do Gigante ela vislumbrou a magia das vibrações e entendeu que cada elemento emitia sons, cheiros, sensações, imagens e gostos, tudo era vivo e tinha algo para dizer. Toda LXXXII

a dúvida pode ser respondida, quando a mente está alerta e confiante, o mestre está em seu coração. O uivo essencial emergiu de seu Ser e disse: _Qualquer dúvida que possa existir já foi respondida, o Universo a tudo respondeu. Quando tiver dúvidas... _Pense numa pergunta clara e definida, olhe para qualquer livro, ou qualquer forma, ou qualquer elemento da natureza seja ele animado ou inanimado e diga... _Mente interior localize nesse objeto, texto ou forma, a resposta para essa pergunta. Irá surgir em sua mente uma intensa e primeira frase, uma imagem ou uma sensação, ela é a resposta do que deve ser feito; ela é a voz essencial, a voz do coração. Nallab entrou numa espécie de turbilhão de êxtase cósmico indescritível. Sua consciência se expandiu a até a fronteira das palavras; e depois até a fronteira dos pensamentos; e depois até a fronteira das emoções e depois até o todo, nesse ponto nenhum símbolo pode trazer o que Nallab sentia; pois o limite do símbolo é o todo. Sua consciência ficou nesse estado e ela via todos os segredos do surgimento do Universo, da manifestação da toda vida à morte; do encontro e do desencontro; do futuro e do passado. Naquele momento o Universo era um imenso corpo, tudo era parte de um Ser

vivente, cada célula, cada sentimento, cada galáxia e estrela, era um processo da vida desse Ser, que se chama Universo. Essa foi à última imagem e sensação, antes dela vislumbrar a entrada da Estação da Primavera. Era o coração entreaberto de uma Fênix, que existia no ponto que separa as profundezas do lago de lava e a última Estação... Foi assim que Nallab cruzou a fronteira entre a Estação do Inverno e da Primavera, em busca da compreensão de fairyllan, a energia da transmutação. “Estação da Primavera”

Nallab adormecia suavemente sob o cerne macio de uma flor de Lótus gigante. Lentamente começou a movimentar os seus membros de modo suave como tivesse acordado de um longo e tranqüilo sono. A sensação do Grande Lobo Rochoso, ainda permeava todo o seu Ser; era quase possível sentir a sua força, a densidade de seu poder de mudança ressoava em cada fragmento de sua memória. O último instante que lhe figurou na mente foi o mergulho no coração da Fênix. Pouco a pouco, seus olhos se abriram para uma nova estação. Suas mãos tocaram na maciez do centro do Lótus. O

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céu estava escuro e pontilhado de estrelas; uma fluidez de uma luz boreal serpenteava no espaço escuro. Graciosamente ele ergueu-se e vislumbrou a Lótus Gigante que a absorvia. Um leve sorriso de emoção escapou pelo canto de seus doces lábios e seus olhos brilharam intensamente, como refletissem a luz dos olhos de Absollon. Por todos os lados que olhasse só via uma névoa envolvendo todo o horizonte. O espaço da flor de lótus era o único espaço visível, o centro macio e dourado como o próprio sol parecia emitir uma doce vibração de aconchego; as pétalas brancas macias e diáfanas pareciam oscilar como o barco diante do leve marejar das ondas. Nallab desconhecia tudo que estava além daquele manto de névoa que encobria alguma realidade, além das fronteiras do lótus. A respiração de Absollon começou a envolvê-la num suave balanço, um balanço cósmico e acolhedor. Seus olhos brilharam e por detrás daquele brilho divino uma tonalidade azul leve e suave brotou, não se sabia se ocultava a tranqüilidade do Céu ou a aventura do Mar. E das profundezas de seu coração, ouviu uma voz; era o som mais claro que já havia ouvido em toda a sua existência. Um som melodioso e tranqüilo como a brisa marítima soou, e nas asas do vento surgiu uma mensagem: _Abra os seus braços.... _Lance-se no espaço.... _Confie...no Senhor.... _Confie no Amor........ E som se repetiu leve e suave. E as pernas de Nallab ouviram o som e todo o

seu corpo o escutou. E o corpo obedeceu à voz do coração. Pouco a pouco ela começou a correr, primeiro lentamente. Depois mais e mais rápido. Saía do centro dourado; chegava ao início das pétalas, até tocar a última borda de uma pétala que a lançou além da neblina, lançou-a no espaço sem fim. Antes de saltar e tocar a última pétala que a sustentava, Nallab olhou para o alto e agradeceu a Absollon por tudo. E viu um instante tornar-se uma eternidade, aquele momento parecia transcorrer em lentos movimentos. Seus olhos vagarosamente admiraram o céu estrelado e o movimento da aurora boreal. Então ela observou a neblina e nada via além dela, via somente uma parede vaporosa que guardava o mistério do infinito, o mistério daquele lugar. Seu corpo ergueu-se no espaço e ela flutuou, como o borboleta que plana na brisa, leve e graciosa. E nada viu somente a neblina, e no silêncio do movimento seu coração sussurrou novamente... _Abra os seus braços.... _Lance-se no espaço.... _Confie...no Senhor.... _Confie no Amor........ E em sua voz melodioso sussurrou de si para o Todo dizendo: _Mais nada temo, confio em ti Absollon... E ela abriu as asas, como uma graciosa garça branca e libertou sua mente de todo medo, toda dúvida e toda descrença. Então, Absollon emergiu das profundezas de seu Ser. Seus abraços permaneciam abertos, seu coração permanecia aberto. Seu tórax estava LXXXIV

levemente inclinado para frente para o maior mergulho de sua vida, ela mergulhava nas profundezas do Infinito; na direção do Todo. No início somente vislumbrou a neblina, depois pouco a pouco, o mistério foi revelando-se frente aos seus olhos. O denso vapor foi ficando fluido e ralo. Então, ela sentiu uma das maiores emoções de toda a sua existência, para qualquer lado que olhasse naquela perspectiva de cima para baixo, avistava um oceano sem fim de águas brilhantes e azuladas. Era o oceano mais lindo que seus olhos já haviam tocado, milhares de pontos luminosos dançavam nas águas acariciadas pela leve brisa. A luz parecia vir de todos os lugares e ao mesmo tempo de lugar algum parecia que a luz era proveniente de diversos sóis invisíveis, cujo efeito era claro perante os seus sentidos. Enquanto seguia na direção do oceano, Nallab sentia o vento tocando o seu corpo envolvendo-a numa sensação de calor e acolhimento. O vento não a feria de modo algum, ele perfazia acolhimento e segurança infinita a todo o seu Ser. Das profundezas daquele quadro angelical, flores gigantes emergiam distribuídas pelo horizonte sem fim. Era um jardim lindo e gracioso, sustentado não pela terra da superfície, mas sim pelas profundezas do oceano. Lótus Gigantes, Margaridas reluzentes, Rosas de todas as cores, Crisântemos e outras infinitas flores, todas tão diversas e ao mesmo tempo tão harmônicas umas com as outras; eram como notas musicais distintas entre si e que se combinavam

numa harmonia bela e perfeita, talvez fosse a orquestra de Absollon a tocar os sentidos de Nallab. Nallab sentia o vento doce e suave tocando os seus cabelos; acariciando sua pele; falando em seus ouvidos. Seus olhos miravam o brilho das águas e ela dirigiase ao que parecia ser o centro gravitacional de todas as flores. Era uma flor de lótus gigantesca de pétalas macias, ornada com um brilho incomum de cristal; uma luz dourada reluzia de todo o seu corpo celeste. De algum modo à fada voava em direção ao seu cerne dourado como o sol. Ela lembrava uma gaivota mergulhando das grandes alturas, para recolher os peixes das grandes profundezas do oceano. Pouco a pouco, seu corpo foi sendo envolvido por uma sensação de calor e paz radiante. Seus olhos refletiam o brilho da imensa flor de lótus; do cerne da flor gigantesca uma espiral, como um tufão de luz dourada parecia formar-se numa beleza extrema, uma beleza serena e delicada. Nos olhos de Nallab onde antes somente havia o brilho dourado, começou a emergir o reflexo do tufão de luz. E a fada se viu no reflexo da luz do tufão; e o tufão se viu no reflexo dos olhos de Nallab. Os reflexos se aproximaram até que a fada tocasse o cerne da flor de lótus e mergulhasse em seu interior. Uma luz fluida seguia como um rio que marcha para as profundezas do oceano, levando graciosamente a fada, em seu movimento. No interior do corpo que alimentava a flor, tudo era luz, tudo era paz, tudo era Absollon. A fada ainda LXXXV

desconhecia qual seria o objeto de seu encontro, mas de algum modo seu coração lhe sussurrava, que ele entraria em contato com as raízes de sustentação do cosmo. A cada instante Nallab mergulhava mais e mais, naquele cosmo líquido, em direção as raízes de sustentação do Todo. Uma leve frase brotou de seu coração e lhe disse: _Tu encontrarás a essência que busca, a essência de fairyllan. Depois de beber das sete raízes que sustentam o cosmos você estará pronta; e a chama interna estará acesa para você Ser o que veio Ser, a expressão perfeita de Absollon. E a fada chegou onde seu coração anunciara, ela estava nas profundezas do oceano, onde a lótus sagrada sorve o seu sustento. Naquele local tudo que ela observava era permeado por uma luz interna. Seus joelhos se dobraram e seus olhos brilharam de gratidão por poder aprender e sentir a vida pulsando dentro de si. E na confusão das emoções, o coração lhe disse e os seus lábios acompanharam a voz de seu coração, e um doce som correu de seu interior: _Transfiguron, in me troxto Absollon! E ao fim da última letra soprou, como quisesse criar vento. E do vento que ela soprou surgiu uma borboleta azul e a borboleta a guiou. E a borboleta disse: _Doce Nallab eu sou a materialização do seu desejo de

transmutação, sou a voz de suas profundezas. _Estamos no centro do Cosmos interno, no interior da flor de Lótus celestial. A Lótus celestial é composta por sete raízes que estruturam e sustentam toda a criação deste Universo, que é somente uma frase de Absollon. _Após beber da água que escorre das sete raízes, você e fairyllan serão um só, você e Absollon farão uma só respiração, um só movimento, um só pensamento. A borboleta voou e à medida que planava no ar conduziu Nallab até a circunferência que representava as sete raízes. Era uma esfera gigantesca e alta que parecia representar o sustentáculo da flor de Lótus celestial. Dela corriam sete cataratas, que caiam nas cores das sete cores do arco-íris. As cores eram delicadas e pareciam que aquelas águas eram vivas. No centro existia uma flor de lótus feita de um cristal multicor, em cujo centro existiam seis arcos prateados entrelaçados, como seis anéis. A borboleta azul planou vagarosamente, por cada uma das cataratas e num som celestial, ela disse: _Eis aqui as sete raízes que alimentam a flor celestial. No Universo que tu conheces elas podem ser descritas como os sete princípios. E na mente e coração de Nallab, emergiu uma mensagem e a mensagem dizia: "Os lábios da LXXXVI

Sabedoria estão fechados, exceto aos ouvidos do Entendimento." Então os lábios da Sabedoria se abriram e a borboleta começou a inicia-la nos mistérios que sustentam o Cosmos, e com um doce som, disse enquanto os sons das águas das cataratas passeavam pelo ar: _Eis que os lábios se abrem para revelar-te os sete princípios, as sete raízes, que lhe ensinarão sobre fairyllan, a energia da transmutação, os sete princípios são: I. O Principio Mental: “O TODO é MENTE; o Universo é Mental” II. O Principio de Correspondência “O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima.” III.O Princípio de Vibração “Nada está parado; tudo se move;tudo vibra.” IV. O Principio de Polaridade “Tudo é Duplo; tudo tem pólos; tudo tem o seu oposto;o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias

verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados.” V. O Principio de Ritmo “Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação.” VI. O Principio de Causa e Efeito “Toda a Causa tem seu Efeito, todo Efeito tem sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei; o Acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei.” VII. O Principio de Gênero “O Gênero está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e o seu princípio feminino; o gênero se manifesta em todos os planos.” Nallab mantinha o coração e a mente permeável ao novo saber que a tanto procurava, naquele instante seu espírito sorvia das águas do conhecimento. Ao fundo o som das cataratas se fazia por testemunha do sublime momento. Após a borboleta revelar os setes pilares, um breve silêncio se fez e somente as cataratas falavam, falavam na linguagem misteriosa dos LXXXVII

sons da natureza. E no meio do silêncio o coração da fada compreendeu o sentido das águas e as águas chamaram Nallab; e seu coração entendeu o chamado, pois o coração puro e tranqüilo tudo absorve em si e tudo compreende a respeito de toda linguagem da natureza. No interior de sua mente começou a ouvir um vento suave e aos poucos imagens translúcidas se construíram por todo o recinto, organizados de forma concêntrica. De repente os o vento que ouvia dentro de si, transformou-se num coro, um coro celestial: _Saudações pequenina irmã, somos tuas irmãs, as fadas ancestrais guardiãs dos segredos e servas de Absollon. Um breve silencia foi tecido no ar. _Nallab se fordes uma verdadeira buscadora da essência podereis compreender e aplicar estes Princípios; se o não fordes deveis vos desenvolver, porque de outra maneira os preceitos de Absollon serão para vós somente palavras, palavras, palavras!!! Então após a última frase as águas das cataratas pareceram agitar-se; gotículas corriam pelo ar carregadas pelos braços do vento e tocavam o corpo da fada. Seus cabelos foram ficando recobertos por pequenas partículas aquosas e seus olhos azulados estavam profundamente reflexivos. E assim o coração de Nallab falou as irmãs: _Fadas ancestrais, irmãs de tempos imemoriais peço-vos a benção para

prosseguir em direção ao encontro de meu destino e tornar-me o que vim Ser. _Em nome do todo poderoso nos a abençoamos querida Nallab, para o mergulho em si mesma. Que a força do mares lhe traga o que foi perdido; que a luz do sol ilumine e aqueça tudo o que é escuro e frio; que a terra sustente seu coração; que o vento lhe traga as lembranças esquecidas; pois tu já é aquilo que busca Ser, você está aqui não para ser perfeita, mas para saber que já é perfeita. _Nós e todo o Universo lançamos sobre ti nossas bênçãos e conspiramos para que o melhor de si seja realizado. Que assim seja em nome de Absollon. Quando o coro disse “que assim seja em nome de Absollon”, as cataratas brilharam e as gotas depositadas em seus lindos cabelos brilharam e o dourado de seus cabelos, pouco a pouco, foi alterando sua coloração, como o por do sol; o dourado foi dando lugar ao negro e o brilho dourado dos fios pareceu acender cada fio negro. A cabeça de Nallab brilhava. Uma luz solar era irradiada de seus cabelos negros. Por fim o coro celestial emitiu uma última mensagem: -Os Princípios da Verdade são Sete; aquele que os conhece perfeitamente possui a Chave Mágica com a qual todas as Portas do Templo Interior e

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Exterior podem ser abertas completamente. O coração de Nallab ouviu o chamado das águas para beber do primeiro princípio. Sua mente já não era a mesma, de algum modo o brilho dourado revelava que a chama interior começou a acender. Como que um imã a arrastasse ela flutuou no ar na direção do lótus de cristal. Ao chegar mais perto percebeu que o lótus tinha sete pétalas principais que iam diminuindo gradativamente seguindo um padrão regular, que conferia a flor uma beleza celeste. Uma das pétalas de cristal desceu vagarosamente pelo ar na direção da catarata de águas douradas e criou uma ponte entre a fada e as águas. Flutuando no ar ela pousou delicadamente sobre a flor, suavemente como uma borboleta sagrada. As águas desciam com uma forte intensidade sobre o seu corpo, contudo seu toque era suave e acolhedor. O brilho dourado permeou todo o seu corpo. Num movimento vagaroso e suave, ela foi reclinando sua tez para trás; fechou os olhos e abriu a delicada boca de lábios avermelhados e finos. O dourado da água percorreu seu interior e num processo mágico começou a saciar sua mente e seu coração. Então a mente e o coração metabolizaram o líquido celestial; seus lábios se mexeram e disseram: _O TODO é MENTE; o Universo é Mental. De repente somente essa informação existia e todos os mistérios contidos nela se revelaram. Um brilho dourado como uma grande explosão

aconteceu em seu interior, então o conhecimento se manifestou... A Realidade substancial que se oculta em todas as manifestações e aparências que conhecemos sob o nome de Universo Material, Fenômenos da Vida, Matéria, Energia. Tudo que lhe toca os sentidos materiais é ESPÍRITO, é INCOGNOSCíVEL e INDÈFINFVEL em si mesmo, mas pode ser considerado como uma MENTE VIVENTE INFINITA e UNIVERSAL. Todo o mundo fenomenal ou universo é simplesmente uma Criação Mental do TODO, sujeita às Leis das Coisas criadas, e que o universo, como um todo, em suas partes ou unidades, tem sua existência na mente do TODO, em cuja Mente vivemos, movemos e temos a nossa existência. A Natureza Mental do Universo, explica todos os fenômenos mentais e psíquicos que ocupam grande parte da atenção pública, e que, sem tal explicação, seriam ininteligíveis e desafiariam o exame científico. E uma imagem se construiu dentro de Nallab... ela viu o processo, tudo que sua mente gerava criava um movimento no Universo pronto a ser executado; cada gesto, cada sentimento, cada pensamento, cada imagem, era trabalhada para que se

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materializasse no Cosmos. Se pensasse em beleza, a beleza era criada; se pensasse na alegria a alegria era criada; se pensasse em abundância e prosperidade, tal era criado. Todos os sentidos mobilizam a energia do Cosmos, crie através da mente o belo, o justo e o bom através daquilo que fala, daquilo que vê, daquilo que ouve, daquilo que respira, daquilo que toca. Permeie cada sentido com a beleza, tanto na ação, quanto na reação, e o Cosmos irá realizar a sinfonia que tu compuseste através de todos os seus sentidos. A imaginação é mais poderosa que o conhecimento, imagine a perfeição, então transmita-a as suas atitudes diárias concentrando-se no Agora, liberte a mente da dúvida, do medo e da descrença...e o Universo se porá em marcha para realizar o seu pedido, ele é o construtor dos desejos da mente. Quando a mente positiva, se alinha com a ação positiva, todo o Cosmos inicia a execução de sua obra mental, ela se alimentará da chama de sua vontade inconsciente e consciente. Quanto mais brilhante a chama de sua pureza, mais ele enxerga o seu desejo; e ele fará de Tudo, ele se

mobilizará por inteiro para que o seu desejo puro seja realizado. Toda ruína começa na mente; toda prosperidade começa na mente. Toda força começa na mente; toda fraqueza começa na mente. Toda saúde começa na mente; toda doença começa na mente. Toda união começa na mente; toda separação começa na mente. Todo sonho começa na mente; todo pesadelo começa na mente. Lembre-se O TODO É MENTE; O UNIVERSO É MENTAL. Uma cadeia liga o Todo a Mente: a emoção desencadeia um pensamento, um pensamento desencadeia uma ação, uma ação desencadeia um processo a ser executado pelo Universo. Cada emoção, cada pensamento, cada ação, se perfazem em sementes que contém uma complexa gama de informações prontas a germinar; o Universo é o local onde as sementes são lançadas, ele é a terra fecunda que alimenta cada semente proveniente dos sentidos, modifique o modo como usa os sentidos e modificará as sementes lançadas. Tudo o que é lançado floresce para ser colhido

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pela mente individual que criou a semente. Uma nova consciência emergia de Nallab, e todos os seus sentidos se modificaram, ela compreendeu que todos os seus sentidos são como o movimento da batuta do maestro, eles são capazes de mobilizar todos os instrumentos de uma orquestra ao seu dispor. Os sentidos mobilizam energias criadoras do Cosmos, eles são o movimento da batuta; modifique o movimento da batuta e irá modificar todo o Cosmos que a permeia. Seus olhos brilhavam num tom dourado, brilhavam o princípio incorporado de que “O TODO é MENTE; o Universo é Mental”, ela imaginava alegria; de repente tudo dentro de si era alegre; cada gesto, cada pensamento e sentimento refletiam essa imagem; o Universo materializava tudo que se construía em sua mente, e sua mente se materializava no Universo. Assim ela havia incorporado o próprio principio Mental, ela era a personificação do principio Mental. A pétala de cristal sob a qual ela estava apoiada iniciou um brilho fluido e multicor intenso que pulsava. A segunda pétala curvou-se graciosamente para que Nallab pudesse ligar-se e mesclar-se na direção da segunda catarata. As águas tocaram primeiramente a superfície da pétala cristal e lentamente correram pelo liso cristal. Algumas gotículas de um azul luminoso de brilho intenso e que pareciam possuir diversas tonalidades organizadas harmonicamente, tocaram todo o corpo da fada. E assim novamente ela desejou e seu desejo foi

guiado pelo Princípio Mental; sua mensagem havia sido impressa nas páginas do Cosmos, o conhecimento de fairyllan seguia em sua direção. A água azulada escorria por todo o seu corpo e por ela passava a paz e tranqüilidade eram impressas. Então, reclinando a cabeça para trás ele permitiu, que um novo princípio fosse incorporado a sua essência. Uma sensação de integralidade foi sentida ele sentia o Infinito através da finitude do seu corpo e naquele momento o seu coração sentiu e entendeu a resposta. E das profundezas do coração emergiu uma frase que surgiu como uma intensa sensação elétrica que percorreu Nallab dos pés a cabeça; e assim a voz de sua essência moveu seus lábios: _ O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima. Disse Nallab mergulhada na essência do Cosmos. E sua voz interior lhe disse: A compreensão deste Princípio permite os meios de explicar muitos paradoxos obscuros e segredos da Natureza. Existem planos fora dos nossos conhecimentos, mas quando lhes aplicamos o Princípio de Correspondência chegamos a compreender muita coisa que de outro modo nos seria impossível compreender. Este Princípio é de aplicação, e manifestação universal nos diversos planos do

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universo material, mental e espiritual: é uma Lei Universal. É um dos mais importantes instrumentos mentais, por meio dos quais pode ver além dos obstáculos que encobrem à vista do Desconhecido. O seu uso constante rasgava aos poucos o véu de Neblina é um vislumbre da face do mistério guardião que pode ser percebido. Justamente do mesmo modo que o conhecimento dos Princípios da Geometria habilita o Ser, enquanto estiver no seu observatório, a medir sóis longínquos, assim também o conhecimento do Princípio de Correspondência habilita o Ser a raciocinar inteligentemente, do Conhecido ao Desconhecido. Estudando a mônada, ele chega a compreender o as fadas celestiais. Do conhecido pode ir ao desconhecido; do erro pode encontrar o acerto; na imperfeição pode compreender o caminho da perfeição. Existem atalhos que ligam o Todo, estradas que põe em conexão os elementos desconhecidos, mantenha os sentidos alertas, o coração flexível e a mente aberta, e permita-se observar as possibilidades. Toda descoberta surge da permissão de novas possibilidades; permitir-se é trilhar o caminho da conexão

entre o conhecido e desconhecido. O material possui uma correspondência espiritual e o espiritual possui uma correspondência material. Mergulhe no macrocosmo e entenderá o microcosmo, mergulhe no microcosmo e entenderá o macrocosmo. Observe seus processos internos, medos, angústias, sonhos, desejos, repressões, vontades, amores e perceberá que existe uma correspondência, uma conexão entre o passado e o presente. A conexão espaço tempo, armazenada em suas memórias, frutos de suas escolhas conscientes e inconscientes. Uma memória de um passado triste e amargo pode criar uma correspondência com um futuro triste e amargurado. Um conflito não resolvido pode criar correspondências com insucessos amorosos, familiares, intelectuais e espirituais; resolver o conflito é reconhecer o que se sente é permitir uma nova possibilidade não importa qual seja; você somente pode mudar aquilo que existe para sua consciência. Correspondência é a analogia que conecta sua percepção a outros Universos, a palavra pode ser conectada a

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emoções, a descrições, a processos mágicos, a escritos que sobreviverão a séculos. Os números podem se conectar a cálculos, a construções de edifícios, ao estudo da vida, ao estudo da mente. Quando admira uma lagarta virando borboleta, ocorre uma correspondência, e o Ser pode perceber que uma estrutura que rasteja pode voar graciosamente pelos céus. Quando os olhos observam a luz afastando as trevas, ocorre uma correspondência e o que é mal é associado à escuridão e o que é bom à luz. Pequenina haverá um tempo um tempo em que as fadas serão invisíveis e nesse tempo novos seres descobrirão correspondências com os tempos imemoriais; eles mergulharam na neblina do desconhecido e perceberão que toda correspondência decorre do fluxo de energia de fairyllan, a esse movimento será dado o nome de espaço-tempo. A partir da relação surge a conexão e descobre-se que toda conexão é possível tudo que parece desconecto possui um atalho de correspondência. Nomes novos surgirão para buscar a conexão entre o conhecido e o desconhecido, eles serão em número de seis: a

ciência, a arte, explicação mágica, a explicação religiosa, a explicação lógica e a explicação histórico relacional. Após muitas luas, eles perceberão, que a Analogia é a linguagem do Cosmos, através da qual, você pode conversar com todos os elementos da Natureza. Na correspondência o Todo sabe como funciona a unidade e a unidade sabe como funciona o Todo. Permita-se uma nova possibilidade, um novo significado, Tudo no Cosmos possui um significado; existe um sentido para a Terra ser assim, para você possuir certas emoções; para a semente germinar; para os lobos terem pêlos e as aves penas; para existirem plantas na terra e na água, animais microscópicos e gigantescos. Existe um sentido para cada coloração e forma de tudo que existe no Cosmos, seja um urso polar ou galáxia longínqua. Uma simples mosca pode lhe ensinar sobre o mundo dos átomos, sobre os processos de interação entre eles, sobre vôo, sobre as emoções superiores, mostrando que existem larvas que são postas em matérias mortas; podem existir larvas que se multiplicam em pensamentos mortos, todo pensamento é morto, quando

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representa um conflito mal resolvido. A imaginação é a arte de criar possibilidades, permitir o surgimento de correspondências, Analogias que guiam o Ser do conhecido ao desconhecido, permita que a pergunta floresça Nallab...qual a relação entre os números e o movimento; qual a relação entre as dificuldades presentes e o passado; qual a relação entre essa doença e os hábitos; qual a relação entre tristeza e morte; qual a relação entre ação positiva e amor. As relações podem ser tecidas com inúmeros fios, que quando ordenados de modo adequado fazem emergir uma resposta para toda pergunta. Lança as palavras e elas se organizaram num sentido: Fios de Lã, Frio, Agulha, Roupa. Lance os sentimentos e eles se organizarão num sentido: Medo, Passado, Família, Desejo, Felicidade. Tudo que o Ser lançar adquire vida; viver é conectar-se, a Conexão de Universos em comunicação. Permitir novas Conexões é permitir que as respostas brotem das profundezas do Infinito. Lembre se cada sentimento, cada ação, cada pensamento, cada sonho é permeado pela correspondência. Quando olhar algo e emocionar se algum

significado foi ativado dentro de si; quando ouvir ou sentir incômodo algum processo foi desencadeado. A correspondência pode leva-la a entender o seu Universo Interior, a partir dos fatos exteriores; e pode levar em direção da compreensão das Leis do Cosmos, a partir do entendimento de si mesma e da permissão de novas Conexões. Conexão pura, conexão de Luz, conexão em direção ao desconhecido exterior e interior; o Ser se conhece através das tecnologias, situações e reações. E lembre-se você é o finito conectado ao infinito. Seus olhos reluziam de alegria, pois o conhecer traz luz a essência. Seus lábios moveram-se emocionados e disseram: _O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima. Nallab abaixou os olhos e viu o brilho do cristal e durante alguns instantes contemplou-o; e seu coração compreendeu, pois havia incorporado o Princípio da Correspondência. Naquele instante Razão e Intuição confluíam como duas asas de uma poderosa ave, que vislumbrava o chão de grandes alturas. E do cristal ela ouviu a voz do Cosmos e de sua conexão ela entendeu que as Mente de Ser límpida e cristalina, deve possuir várias cores e aceitar todas as luzes que entram em si e nesse momento houve uma conexão e ela XCIV

entendeu que as diferenças devem ser entendidas e acolhidas, mas somente quando existe transparência, verdade para consigo, isso é possível. Através do mundo exterior ela se conectava diretamente com seu mundo interior; e a partir de seu mundo interior ela se conectava ao mundo exterior. Ela então lembrou se da forma do cristal e da sensação de beleza, e uma nova correspondência se formou. Nallab admirou em sua mente o padrão regular das pétalas de cristal e uma Conexão com o Cosmos se estabeleceu, e uma voz falou dentro de si: As pétalas seguem um padrão, um código que organiza a variação de tamanho segundo uma lei de regularidade. Existe um padrão elementar que dá ritmo, forma e controle a cada ser vivo, existe um padrão organizador, um pergaminho de informações depositado na mínima unidade, no cristal seria a menor pétala possível; nos seres vivos seria a menor unidade viva. A alegria transbordou de seu interior. Seus cabelos negro molhados pela água azul, refletiam uma tênue luz azulada. Seu coração lhe impulsionou na direção da próxima pétala, que lentamente baixou. Ela sentia a correspondência entre o seu movimento circular na direção de cada catarata, como a ascensão de uma espiral que se direciona ao infinito. Seu corpo deslocou-se lentamente no espaço na direção da próxima pétala.

As águas esverdeadas lembravam o brilho difuso da luz sobre a campina e o respingo das minúsculas gotículas que vinham em seu encontro quando a tocava produziam uma leve vibração que percorria todo o seu Ser. Nallab formou uma concha com as mãos à medida que recebia todo o impacto das águas sobre o seu corpo. Uma doce vibração percorria o seu corpo, como uma sutil onda de eletricidade. Então a concha de suas mãos recolheu em si parte da grande catarata; em movimentos suaves suas mãos ergueram-se na direção de seus delicados e doces lábios, naquele momento a essência da catarata incorporou-se a seu Ser. Uma corrente elétrica tocou cada fragmento de seu corpo e suas profundezas vibraram como a terra que vibra frente ao tremor dos grandes terremotos. E da grande vibração criada em seu coração e mente, surgiu uma abertura; e da abertura se formou um som, que instruiu o seu coração, a sua essência. E seus lábios vibrarão em sintonia com o Princípio de Vibração e assim ela compreendeu: _Nada está parado; tudo se move; tudo vibra. E os lábios da sabedoria cósmica lhe iniciaram... Tudo está em movimento: tudo vibra; nada está parado. Das ordens variáveis de Vibração emerge Toda diferença entre as diversas manifestações da Matéria, Energia, Mente e Espírito. Desde O TODO, que é Puro Espírito, até a forma mais grosseira da Matéria, tudo está XCV

em vibração; quanto mais elevada for a vibração, tanto mais elevada será a posição na escala. A vibração do Espírito é de uma intensidade e rapidez tão infinitas que praticamente ele está parado, como uma roda que se move muito rapidamente parece estar parada. Na extremidade inferior da escala estão as grosseiras formas da matéria, cujas vibrações são tão vagarosas que parecem estar paradas. Entre estes pólos existem milhões e milhões de graus diferentes de vibração. Desde o corpúsculo e a luz, desde o átomo e a molécula, até os mundos e universos, tudo está em movimento vibratório. Isto é verdade nos planos da energia e da força (que também variam em graus de vibração); nos planos mentais (cujos estados dependem das vibrações), e também nos planos espirituais. Permita que a vibração das águas cósmicas se manifeste em sua essência e abrirá a porta do Templo Interior, então conhecerá as suas vibrações mentais, assim como também a dos outros. Somente os Mestres podem aplicar este Princípio para a conquista dos Fenômenos Naturais, por diversos meios.

E enquanto a voz ressoava em sua essência uma imagem se formou e juntamente com a imagem um cetro de cristal esverdeado com um sol na ponta foi entregue em suas mãos. E voz continuou: "Aquele que compreende o Princípio de vibração alcançou o cetro do poder". Abra as suas mãos para recebê-lo, lembre-se que suas mãos estão ligadas a sua mente e seu coração; abra a mente, abra o coração e o cetro lhe será entregue. E a mente e o coração de Nallab se abriram e o cetro se depositou dentro de si e a magia de fairyllan se manifestou. Tudo que subsiste no Cosmo é parte essencial de um mesmo processo. A Matéria, Energia, Mente e Espírito são vibrações variáveis do Corpo desse Universo. Entre duas interações emerge a Forma; entre duas formas emerge o Espaço; entre dois espaços emerge o Tempo; entre dois tempos emerge toda vibração. A vibração é feita de dois estados é o ponto em que o Ontem se liga ao Agora, a essa ligação chamamos Intervalo. Mude o Intervalo e transmutará toda Vibração do Mundo Interior e Exterior. Quando maior a vibração, menor o intervalo; quanto menor o intervalo, menor o espaço; quanto menor o espaço, menor o tempo. Quanto menor o tempo, maior a integralidade; quanto XCVI

maior a integralidade, mais próxima você estará de Absollon. A vibração do Espírito alimenta a Mente; a vibração da Mente alimenta a Energia; a vibração da Energia alimenta a Matéria. São como quatro serpentes que mordem uma a cauda da outra, quanto maior a vibração, maior a energia fairyllan. A serpente que carrega a maior energia em si, a vibração mais rápida, alimenta todos os processos. Quando o espírito sente inveja, medo, desânimo, orgulho, sofrimento, ocorre uma vibração. Essa vibração alimenta a mente, então a mente produz imagens tristes, infelizes e escuras, cria sons de autoflagelação e diz: você não pôde! Você merece sofrer! Você é pobre! Você é feio! Então, a mente afeta a energia e influencia sua vibração, e tudo que é feito fica complicado e difícil, até as coisas mais simples ficam complexas. A fala, o ouvir, o agir, o sentir, o experimentar são algumas das manifestações da energia. A energia é a propriedade que modifica os fluxos. Se sua energia for de ordem negativa, os fluxos se modificarão num sentido negativo gerador de dor. Assim, encontrará dificuldade de falar harmonicamente com os

outros; terá dificuldade de lidar com palavras ásperas; agirá de modo que causará dor aos outros e a si mesma e sentirá que ninguém gosta de você e que muitos a perseguem. Pouco a pouco, a energia irá alimentar a vibração da matéria, e o corpo poderá ficar cansado, com dores e com falta de disposição. Toda a cadeia de fatos foi afetada. Reconheça a vibração de quem você é, como é seu matéria, sua energia, sua mente e seu espírito. Você descobrirá que existem ganchos, que tentarão aprisioná-la na dor, vibrações que não são suas. Dentro de cada Ser existe possibilidade de surgir a Prisão Vibratória e dentro de cada Ser existe a possibilidade de surgir a Chave que a libertará de qualquer prisão. A Prisão Vibratória é uma situação que a impede de alcançar o seu estado natural de “Fazer de si mesma uma Luz” e ser a própria felicidade e a própria plenitude em todos os aspectos da existência. Nallab conheça as paredes e poderá libertar-se e dominar o cetro do poder. Para cada coisa do Universo existe um nome, as paredes são quatro e seus nomes são: a auto-obsessão, a obsessão entre seres espirituais, a

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obsessão entre seres materiais e a obsessão confluente. A auto-obsessão é o estado de dor que é gerada pelo tipo de sentimento, de atitude e reações frente às diversas situações, no qual o Ser acredita em algo que não é. O eco do passado soa forte nesse estado. Você poder mudar o passado, mudando o modo como você enxerga o passado. Se disser para uma criança que ela é inútil, machucá-la e colocar medos e “Nãos”, ela irá criar uma Prisão Vibratória, que no futuro irá trazer dores, medos e angústias em seu coração. A obsessão entre seres espirituais; são influências negativas sobre esses seres, sendo expressos por vibrações que tentam influenciar os sentimentos, as atitudes e os comportamentos de um dos seres. A obsessão entre seres materiais; são comportamentos que impedem ou dificultam a evolução do outro no sentido da descoberta de fairyllan, excesso de superproteção, excesso de ciúme, medos projetados, no qual, faz com que o outro ser acredite que certos medos, pensamentos e sentimentos são próprios dele; quando na realidade são influências da vibração de outros seres materiais. Quando estiver

próximo do ódio e da raiva poderá ser influenciada por tais emoções; assim como quando estiver próxima do amor e do cuidado sincero. A obsessão confluente seria o estado de percepção de sensações que se alteram em seu interior numa direção negativa e geradora de angústia. Quando está alegre e entra num certo ambiente começa a sentir tristeza; quando ama uma pessoa e começa a sentir ódio da mesma. Todas essas emoções são entradas em freqüências que não são suas. Para quebrar as paredes da Prisão Vibratória e segurar o cetro do poder abra o seu coração ligue-se a Absollon através da oração e mantenha a mente alerta para distinguir qual vibração é Sua e qual não é. A vibração rápida dos sentimentos gera alegria e felicidade onde passar, a vibração lenta gera dor, tristeza e mágoa. Se a vibração for lenta acelere-a pondo a vibração de seu Espírito numa nova direção. Se sentir ou sentirem medo, estimule pensamentos de coragem, emoções de coragem, ações de coragem; quando em desânimo e sensação de paralização, crie movimento; mobilize o espírito e mentalize uma cena como colher uma flor,

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falar algo; planeje um pequeno sonho e a ser realizado em poucos instantes; transforme seu sonho em ação. Desse modo a vibração se alterará. Mobilize o Espírito, centralize e sature a Mente com imagens contrárias, ouvindo, vendo e sentindo tudo de modo bom e feliz; direcione a Energia para um certo movimento na Matéria, falando, pensando, fazendo a vibração contrária e a vibração se modificará. Sinta o fluxo da respiração de Absollon é na pura doação que as vibrações se alteram pelo poder de fairyllan... Se estiver triste, leve alegria aos tristes. Se estiver com medo, leve coragem aos fracos. Se estiver com angústia leve conforto aos angustiados. Se estiver em trevas, leve luz aos que estiverem nas trevas. Se tiver vergonha, motive os outros através das suas atitudes a sentirem coragem. Se ficar teimosa, deixe o pensamento e as emoções flexíveis. Se desanimar, anime os outros a continuar. O Universo modifica vibrações através da pura doação; o egoísmo cristaliza a energia de evolução. Entregue-se aos outros e seja o campo

fecundo onde eles podem ser o melhor de si mesmos, acolha e cuide dos outros; e todo o Universo cuidará e acolherá você Nallab, e nesse estado toda vibração poderá assumir uma nova direção. Modifique a vibração em seu universo Interior e conseguirá modificar outros universos Interiores e a própria vibração do universo exterior. As quatro chaves da Prisão Vibratória são: a Modéstia, o Bom-Humor, a Gratidão e o Equilíbrio. A modéstia permitirá que seu espírito se mantenha aberto e não seja corrompido pelo orgulho e pelas conquistas; o bom-humor lhe dará leveza na vida e toda situação áspera será alterada imediatamente para a suavidade; a gratidão evita qualquer tipo de desgaste, agradeça por tudo, por todos os seres, por todas as situações, por todas as atitudes suas e dos outros, sejam do passado ou do presente; e o equilíbrio que é o fato de manter a vida em movimento, sempre sonhando, realizando sonhos e ajudando os outros a realizarem os sonhos deles. Quando compreender esse Princípio e possuir o cetro do poder em suas mãos, tudo que tocar com o cetro se transmutará numa nova vibração: o ódio

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vibrará pureza; a dor vibrará consolo; a tristeza vibrará alegria; a doença vibrará saúde; a fome vibrará saciedade; o frio vibrará calor e o excesso de calor vibrará frio; a ignorância vibrará sabedoria. Toque a si mesma com o cetro e modificará sua própria vibração; toque ao outro e modificará a vibração do outro; toque qualquer coisa do universo e a modificará. O cetro age primeiro no Espírito, depois na Mente, depois na Energia e depois na Matéria, siga o fluxo de Absollon e confie no movimento de sua respiração. Abençoe a areia e espelhe-a pelo mundo e quando espalhar mude a vibração da areia dizendo: “Que toda criatura viva que tenha contato com um grão sequer desta areia possa ser abençoada, protegida e por fim iluminada.” Lembre-se doce Nallab... Seja a sua respiração, Ah Sorria, Ei Relaxe, Oh E lembre-se, não há como errar, em Absollon toda vibração se modificará. Nallab inspirou profundamente como sorvesse através de suas narinas o cheiro adocicado de uma flor e uma nova luz reluziu dentro de si; uma nova vibração foi incorporada ao seu hálito de vida. Seus olhos azulados estão magníficos num tom azul esverdeado, em

de tom topázio e esmeralda, então com olhos mirando infinito, disse sentindo que suas palavras, pensamentos e emoções, podiam agora alterar qualquer vibração do Universo: _ Tudo está em movimento: tudo vibra; nada está parado, este é o Princípio da Vibração. E um leve sorriso de satisfação escorreu pelo canto de seus lábios róseos. A pétala sobre a qual a fada se apoiava brilhou em tonalidades vibrantes de verde e ela pode reconhecer a vibração de tudo que a cercava, sentia a vibração de seu Espírito, de sua Mente, a vibração da Energia e da Matéria circundante e compreendeu que por mais diversas que possam parecer às diversas vibrações, subsiste em todas elas a freqüência de Absollon, a vibração da perfeição; a vibração da Iluminação. E daquele instante em diante Nallab permeou o coração pela compaixão e gratidão plena onde abençoou cada elemento do Universo. Cada elemento é iluminado e reverenciar a luz interna de cada elemento é glorificar ao Supremo. Sua respiração seguia a vibração do Supremo, e a vibração ecoou em seu coração; e de seu coração fez o movimento de seu corpo na direção da próxima pétala de cristal. O cristal desceu lentamente e a fada tocou-o de modo gracioso. As águas da próxima catarata lembravam o brilho avermelhado do pôrdo-sol, tinham uma temperatura amena e confortante. Nallab marchava de olhos fechados como se mãos invisíveis a guiassem; lentamente reclinou a cabeça para trás e C

durante alguns instantes sentia as águas avermelhadas da catarata massageando cada centímetro de seu corpo. Seus pensamentos estavam serenos e enquanto as águas corriam por seu corpo, imagens de nascimento e morte; alegria e tristeza; crescimento e estagnação e outros pares surgiam em sua mente. Sentia calor e frio simultaneamente, cansaço e fortaleza e outras percepções duais. Seus lábios se abriram e ela sentiu o líquido de coloração pôr-do-sol alimentando cada espaço de sua essência. Em seus olhos era possível visualizar imagens graciosas de uma luz avermelhada mal definida. As águas percorrem seu corpo, sua energia, sua mente e por fim tocaram seu espírito; e ao tocar sua essência ela sentiu o encontro do finito com o infinito, o encontro do rio com o grande oceano. E em sua mente brotou a semente que sustenta todo entendimento e põe em movimento tudo que existe e a voz cósmica iniciou a sua instrução: Essas são as águas da Polaridade, guardiã do Principio de Polaridade. Tudo é Duplo; tudo tem pólos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados. Este Princípio encerra a verdade: tudo é Duplo; tudo tem dois pólos; tudo tem o seu

oposto. Ele explica os velhos paradoxos, que deixaram muitos seres perplexos, e que foram estabelecidos assim: A Tese e a Antítese são idênticas em natureza, mas diferentes em grau; os opostos são a mesma coisa, diferindo somente em grau; os pares de opostos podem ser reconciliados; os pontos extremos se tocam; tudo existe e não existe ao mesmo tempo; todas as verdades são meiasverdades; toda verdade é meiofalsa; há dois lados em tudo, assim é a essência das coisas... Ele explica que em tudo há dois pólos ou aspectos opostos, e que os opostos são simplesmente os dois extremos da mesma coisa, consistindo a diferença em variação de graus. O Calor e o Frio, ainda que sejam; opostos, são a mesma coisa, e a diferença que há entre eles consiste simplesmente na variação de graus dessa mesma coisa. Olhai para os processos sentidos e interpretados e verá que tudo é relativo. Não há coisa de calor absoluto ou de frio absoluto; os dois termos calor e frio indicam somente a variação de grau da mesma coisa, e que essa mesma coisa que se manifesta como calor e frio nada mais é que uma forma, variedade e ordem de Vibração.

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Assim o calor e o frio são unicamente os dois pólos daquilo que chamamos Calor; e os fenômenos que daí decorrem são manifestações do Princípio de Polaridade. O mesmo Princípio se manifesta no caso da Luz e da Obscuridade, que são a mesma coisa, consistindo a diferença simplesmente nas variações de graus entre os dois pólos do fenômeno Onde cessa a obscuridade e começa a luz? Qual é a diferença entre o grande e o pequeno? Entre o forte e o fraco? Entre o branco e o preto? Entre o perspicaz e o néscio? Entre o alto e o baixo? Entre o positivo e o negativo. O Princípio de Polaridade explica estes paradoxos e nenhum outro Princípio pode excedê-lo. O mesmo Princípio opera no Plano mental. O Amor e o ódio, dois estados mentais em aparência totalmente diferentes. E, apesar disso, existem graus de ódio e graus de Amor, e um ponto médio em que usamos dos termos Igual ou Desigual, que se encobrem mutuamente de modo tão gradual que às vezes temos dificuldades em conhecer o que nos é igual, desigual ou nem um nem outro. E todos são simplesmente graus da mesma coisa, como compreendereis se meditardes um momento. E mais do que isto é possível mudar as

vibrações de ódio em vibrações de Amor, na própria mente de cada um de nós e nas mentes dos outros. Muitos de vós buscadores tiveram experiências pessoais da transformação do Amor em ódio ou do inverso, quer isso se desse com eles mesmos, quer com outros. Podeis, pois tornar possível a sua realização, exercitando o uso da vossa Vontade por meio de fairyllan. Deus e o Diabo são os pólos da mesma coisa e aquele, que entende a arte de transmutar consegue transmutar o Diabo em Deus, por meio da aplicação do Princípio de Polaridade. A Arte de Polaridade fica sendo uma fase da Alquimia Mental, conhecida e praticada pelos conhecedores de fairyllan. O conhecimento do Princípio habilitará o buscador a mudar a sua própria Polaridade, assim como a dos outros, se ele consagrar o tempo e o estudo necessário para obter o domínio da arte. Quando perceberdes que tudo é não é ao mesmo tempo, compreenderá que a dor nasce da ilusão... Aquilo que se olha e não se vê, chama-se invisível Aquilo que se escuta e não se ouve, chama-se inaudível

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Aquilo que se abraça e não se possui, chama-se impalpável Estes três não podem ser revelados Por isso se fundem e se tornam um Enquanto superior não é luminoso Enquanto inferior não é vago O Constante que não pode ser nomeado É o retorno à não-existência É a expressão da não-expressão É a imagem da não-existência A isso se chama indeterminado Encarando-o, não se vê sua face Seguindo-o, não se vê suas costas Quem mantém o Caminho Ancestral Poderá governar a existência presente Quem conhece o Princípio Ancestral Encontrará a ordem do Caminho A ordem do Caminho emerge quando não quando deixa de classificar os fatos, as atitudes e as coisas como boas e más, bonitas e feias, certas e erradas, melhores e piores; daí nasce todo conflito, e todo conflito gera confusão e toda confusão gera desarmonia e toda desarmonia gera dor e a dor leva a morte. A morte dos relacionamentos, a morte das amizades, a morte da felicidade.

O Princípio de Polaridade é a chave da transmutação mental capaz de dissolver qualquer ilusão e permitir que a luz cruze o portal que liga o finito, que é tu, ao infinito que é Absollon. Quando o portal está fechado e a mente situa-se nas sombras da ilusão, a mente se alimenta de três venenos, que fazem com que o conflito ganhe vida. Os três venenos que precisam ser destilados e transmutados são: a ignorância sobre a Verdade, o Apego e a Aversão. Quando a Luz toca a Ignorância sobre a Verdade, toda ilusão e confusão se dissolvem, nesse instante o Ser deixa de contar histórias para si mesmo e deixa o mundo da fantasia; pára de criar desculpas e justificativas e reconhece-se como é: “aquele que quer fazer alguma coisa descobre o meio, aquele que não quer fazer nada descobre uma desculpa. Onde houver desculpas, fantasias e justificativas, haverá Ignorância sobre a Verdade e Ilusão sobre si , sobre o outro e sobre o mundo. Quando a Luz dissolve o Apego toda ilusão desfaz. Onde existe apego existe sofrimento, pois os apegos passam a controlar a direção da existência. O apego ao passado é noltalgia, o apego ao futuro é fantasia; o apego a um comportamento é

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teimosia; o apego à matéria e materialismo; o apego à vida é medo; o apego ao outro é egoísmo. Do Apego nascem duas raízes que iludem a consciência: o orgulho e a inveja. Quando se apego as realizações e posses elas tornam-se uma fonte de orgulho. Esses apegos fazem nos definir pelos apegos. Quem sou eu? “Eu sou a fada rainha”, “Eu sou a fada de olhos azuis”, “Eu sou a mulher do chefe”, “Eu sou a melhor fada no vôo”. O orgulho é responsável em grande parte pro mantermos uma personalidade rígida; ele nos fixa em um lugar, nos cerceia, mata o fluxo vivo da autenticidade e do espírito. A inveja como o orgulho cria uma visão dualista da existência, uma visão baseada em polaridade. “Ela tem alguma coisa a mais ou algo que eu não tenho”, “Ela está tentando tirar alguma coisa de mim. Eu não vou deixar isso acontecer”. Agarrar-se ao orgulho ou à inveja é uma manifestação do apego ao ego. Purificar-se do orgulho e da inveja é essencial para que possamos afrouxar e diminuir a visão incorreta da realidade, totalmente centrada no ego, trazendo para nossas vidas a harmonia e a reconciliação.

Toda compulsão é fruto do apego. Tudo que se faz sem querer fazer é fruto do apego. Quando apego domina a vida o Ser se confunde com os defeitos e as situações perenes da vida. O Ser confunde a teimosia e a impaciência como traços da personalidade; o Ser não deixa o outro seguir o seu caminho e chama isso de amor; o Ser age violentamente e acha que essa é sua natureza. O apego confunde e a confusão causa dor. Toda intriga é gerada a partir do apego. A natureza do Apego é a inflexibilidade. E a inflexibilidade cria os grilhões que a aprisionam a um pólo da polaridade, desse modo pensa que calor e frio; certo e errado; pior e melhor, medo e coragem, bonito e feio, sejam elementos diferentes do processo. Quando pensa e sente em termos de um pólo, fica preso no julgamento e o julgamento é permeado pela separação. Absollon é integração, o caminho do Supremo tudo abarca, tudo compreende, tudo aceita. A aversão é um modo de dizer que não gostamos de alguma. Todas as aversões formadas, ou antipatias são respostas a apegos frustrados. Quando a mente edifica pensamentos de julgamento estes podem estar permeados

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por aversão: “Nallab não gosta de fadas gananciosas”; “Nallab fica insegura e ansiosa quando está sozinha, ela detesta se sentir assim”. Saiba observar seu interior, ouça seu interior e ouvirá as instruções do coração lhe instruindo: “Nós não gostamos quando não conseguimos o que queremos; não gostamos de experiências desagradáveis. Quando o não gostar é reforçado, ele cresce e se torna raiva, ódio ou inimizade. As mudanças são a soma de inúmeros não conseguir que se transmutam no conseguir; toda mudança gera ansiedade, medo, angústia, que advém do apego. O apego a comportamentos antigos gera aversão de pessoas, sentimentos e situações; e os elementos da vida são vistos como imperfeitos, quando na realidade são instrutores do domínio da energia fairyllan.” Abra os ouvidos para escutar e o coração para compreender: os três venenos geralmente trabalham juntos para criar a dor do seguinte modo... Somos ignorantes da verdade, pensamos que podemos nos fazer felizes satisfazendo um apego qualquer, talvez a uma pessoa específica

ou lugar, coisa, sentimento, pensamentos, comportamentos, grupos e inúmeros outros apegos. Inevitavelmente vamos nos desapontar, quando então a aversão, antipatia ou até mesmo o ódio rosnarão e colocarão seus afiados dentes para fora. Esse é o trágico ciclo gerador da dor, em seu interior podemos encontrar um quarto veneno, a resistência à mudança. No seu caminho em direção a libertação perceberá que todos tendemos a nos agarrar aos nossos hábitos negativos e solidificar nossos padrões repetitivos de comportamento. Estamos sempre fazendo o que fizemos antes; ou andando em círculos. Por apego sofremos, não abandonamos facilmente nossas rotinas, nossas zonas de conforto, por mais insatisfatórias que elas sejam. Pense num processo de mudança e imaginese dentro dele e sinta a voz da consciência corporal e verá o seguinte processo: “A respiração e o coração aceleram um pouco, um incomodo e uma ansiedade invisível aparece, sinto vontade de não pensar no assunto; vontade de me afastar da fonte seja ela uma situação, seja ela uma pessoa, seja ela um pensamento. A emoção crescerá se você caminhar na direção de

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descobrir de onde ela vêm, o conflito parecerá ter aumentado. Mas isso é ilusão o conflito não aumentou, ele apenas está sendo observado mais de perto é como uma grande montanha que quando observada de longe parece pequena e a medida que se aproxima dela, ela aumenta de tamanho. O tamanho do conflito cresceu não porque ficou maior, e sim porque a consciência observou o problema de mais de perto. Poderá ocorrer vontade de ficar sozinho, vontade de chorar, vontade de dormir, vontade de gritar e sumir do mundo, esse é o chamado. O chamado que convida a consciência a se reformular e se reorganizar, pois emoções cada conflito é uma emoção permeada por intensa energia mental e emocional. E Nallab viu uma imagem e ouviu um som vivido, ela via a imagem da dissolução do conflito: Uma rocha sólida. Um martelo gigante. A energia mental impulsionava o martelo para o Céu e a energia emocional impulsionava o martelo em direção a Terra. O martelo subia lentamente e descia rapidamente; o martelo subia lentamente e descia rapidamente; o martelo subia lentamente e descia rapidamente. A cada instante

sua força de descida era mais e mais intensa, mais e mais poderosa. Quando tocava a rocha, a rocha vibrava e uma pequena lasca se desprendia. O poder do martelo descia impulsionado pelas mãos do Supremo. Um som alto era ouvido, quando o martelo Supremo tocava a rocha, era um som de trovão. O martelo seguia o ritmo do Supremo. Uma subida, uma poderosa descida, um som, uma lasca. Uma subida mais alta, um poder de descida maior, um som mais poderoso, uma lasca maior. Ritmo e poder. Ritmo e poder. Ritmo e poder interior. Ritmo e poder da vontade. Ritmo e poder da vontade Suprema. Para cima e para baixo. Para cima e para baixo mais e mais forte, mais e mais rápido. As lascas voavam pelo ar. A rocha vibrava como um gongo. Dezenas de batidas, centenas de batidas, milhares de batidas, a rocha não resistiu. A rocha não consegue resistir ao poder do martelo Supremo. É o peso do Cosmos que se choca contra a rocha. Então a rocha antes sólida se dobra ao poder do martelo de Absollon. Então das profundezas de Nallab emergia uma voz profunda e que fez vibrar todo o seu espírito, como o martelo

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também a atingisse. E a voz falou no tom dos trovões: “Tudo que for sólido, virará pó”. O conflito é sólido e ele deve retornar a sua natureza, e a sua natureza é o pó. Que o que é sólido vire pó. Que o conflito vire pó e se dobre a natureza do martelo Supremo. Quando o Princípio de Polaridade for Uno contigo entenderá que o que rege o calor e frio, são em essência a mesma coisa, sendo que o que as diferencia é uma questão de grau; situações boas e ruins são interpretações de diferentes graus de uma experiência, lembre-se a transmutação mental é o resultado da utilização desse Princípio, você verá que todo sofrimento e mágoa foram gerados quando começou a julgar e separar os fatos, não integrando os paradoxos. Que a energia de fairyllan transmute e dissolve toda dualidade e não dualidade em mente... Uma luz brilhou na consciência de Nallab. Que tu sejas a mente perfeita, que une os paradoxos e gera os paradoxos; que aceita as diferenças e entende as diferenças; que muda o antigo e permite a chegada do novo. Tu és Luz, faça-te Luz!

Uma explosão de nível transcendente ocorreu em seu interior, e seus olhos viam tudo como um princípio. E os conflitos se dissolveram, pois os venenos haviam sido depurados e transmutados. E os conflitos antes sólidos haviam virado pó, e o pó foi carregado pela respiração de Absollon, o Supremo. A pétala de cristal seguinte se curvou gentilmente no espaço e Nallab avanço mais um passo na direção do entendimento de fairyllan. O som da força das cataratas fazia com que todo o seu Ser vibrasse. Águas alaranjadas de uma tonalidade viva e brilhante tocaram primeiramente a ponta de seus pés. Um imenso fluxo de vitalidade começou a percorreu o seu corpo. As águas tocaram sua fronte de modo que Nallab sentiu uma energia invadindo sua essência. O som das cataratas alaranjadas tinha um ritmo próprio que parecia ocorrer na mesma freqüência dos batimentos cardíacos de Nallab. Seu corpo emitia um suave brilho alaranjado que lembrava a luz da coroa solar. Seus lábios estavam com um leve sorriso incrustado. Então, como a margarida do campo, eles se abriram para receber o líquido sagrado. À medida que as águas se confundiam com seu próprio Ser, som e movimentos começaram a ser notados; ritmos que vinham de seu próprio interior, sons de seu coração, sons de sua respiração, ciclos de pensamentos emoções. Nallab era permeada pela percepção de ritmo. E eis que a voz da essência se manifestou e começou a CVII

instrui-la na direção do mistério, na direção de fairyllan: "Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação." Este Princípio contém a verdade que em tudo se manifesta um movimento para diante e para trás, um fluxo e refluxo, um movimento de atração e repulsão, um movimento semelhante ao do pêndulo, uma maré enchente e uma maré vazante, uma maré -alta e uma maré baixa, entre os dois pólos, que existem, conforme o Princípio de Polaridade. Existe sempre uma ação e uma reação, uma marcha e uma retirada, uma subida e uma descida. Isto acontece nas coisas do Universo, nos sóis, nos mundos, nos homens, nos animais, na mente, na energia e na matéria. Esta lei é manifesta na criação e destruição dos mundos, na elevação e na queda das nações, na vida de todas as coisas, e finalmente nos estados mentais do Ser. As grandes fadas descobriram e aplicavam também certos meios de

dominar os seus efeitos no próprio ente com o emprego de fórmulas e métodos apropriados. Elas aplicavam a Lei mental de Neutralização. Eles não podem anular o Princípio ou impedir as suas operações, mas aprenderam como se escapa dos seus efeitos na própria pessoa, até um certo grau que depende do Domínio deste Princípio. Aprenderam como empregá-lo, em vez de serem empregados por ele. As grandes fadas ancestrais conseguiam polarizar até o ponto em que desejassem, e então neutralizavam a Oscilação Rítmica pendular que tenderia a arrastá-lo ao outro pólo. Todos os indivíduos que atingiram qualquer grau de Domínio próprio executam isto até um certo grau, mais ou menos inconscientemente, mas aquele que domina o fairyllan, o faz conscientemente e com o uso da sua Vontade, atingindo um grau de Equilíbrio e Firmeza mental quase impossível de ser acreditado pelas massas populares que vão para diante e para trás como um pêndulo. Este Princípio e o da Polaridade foram estudados secretamente pelas fadas ancestrais e os métodos de impedi-los, neutralizá-los e empregá-los formam uma parte

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importante da Transmutação Mental Dentro de cada Ser existe um impulso de evolução que segue em velocidade perfeita, um ritmo perfeito. A percepção do ritmo perfeito fica encoberto pelo obscurantismo da ilusão, que se manifesta através da negação da existência da escura ilusão. Quando nega em si mesma o reconhecimento dos defeitos inerentes à existência condicionada você permanece aprisionada nas amarras da ilusão. Para acender a chama interior é essencial que rompa os sistemas de negação que existem em sua vida; observe além dos véus da ilusão, reconheça que você é, e descubra a verdade das coisas como elas realmente são. Existem três dificuldades na vida que interferem no ritmo perfeito e impedem sua transmutação mental, e o domínio de fairyllan. Os problemas que impedem seu ritmo de evolução perfeito são: As dificuldades comuns e cotidianas: não é possível conseguir sempre o que se quer, e isto faz com uma imensa parte dos buscadores se tornem infelizes pelo menos uma parte da existência. Como você nasceu, mais cedo ou mais tarde vai experimentar a dor física e

emocional. Nascimento, envelhecimento, doença, desgostos, desapontamentos, conflitos, são coisas que acontecem a todos. Todos problemas nos ensinam a ter uma atitude mais realista. Eles ensinam que a vida é o que é: imperfeita, mas com um enorme potencial para a alegria e a satisfação. Saiba que todas as coisas na vida ou funcionam mal, ou não são confiáveis, ou são de pouca importância. Mais cedo ou mais tarde verá que as diversões acabam, que os encontros são impermanentes e que temos dores e fome, nada vêm com garantias. As dificuldades causadas por mudanças das circunstâncias: quase todos os mais belos momentos da vida são passageiros. Pode sentir uma alegria suprema, um amor divino, ver uma cena inesquecível, ter uma conversa impressionante e mágica, ter uma experiência espiritual, estes são momentos de genuína felicidade. O que todos enfrentamos é que estes momentos não duram: a alegria vira tristeza, a cena inesquecível fica comum e os momentos de amor cósmico e de êxtase são esparsos e rápidos. Desse modo você acaba sentindo nostalgia, desapontamento e perda. Saiba

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que nada que é bom irá durar para sempre; até mesmo os melhores momentos da vida trazem em si um atributo doceamargo. Reconheça que todas as circunstâncias são passíveis de mudança, tudo muda, tudo é impermanente. A vida é mudança, ele e feita de circunstâncias mutantes. A vida é assim. As dificuldades causadas pela natureza imperfeita da existência condicionada: somos combinações complexas que estamos sempre em continua mudança, somos perenes e temos uma existência dependente. A juventude acaba, as forças diminuem, o esquecimento existe, precisamos das pessoas, precisamos do sol, do ar, da água, da terra, precisamos conversar e sermos cuidados; somos dependentes. Isso é parte da realidade. Toda individualidade é constituída por cinco componentes: a forma, os sentimentos e sensações, as percepções, a intenção e vontade e a consciência. A forma inclui toda a materialidade que pode ser representada pelos sinais de correspondência existentes na Natureza: os elementos físicos da terra (solidez); da água (fluidez); do fogo (calor); do ar

(movimento); e do espaço (as cavidades), todos esses elementos juntos formam você. Os sentimentos e emoções incluem os sentidos que lhe conectam as realidades são em número de seis: a visão (olho), a audição (ouvido), o olfato (nariz), o paladar (língua), o tato (pele) e a mente ou sentido que lida com o mundo das idéias e pensamentos. A percepção que é a combinação dos sentimentos e as sensações com o reconhecimento e julgamento. Envolve o seu senso de belo, de sabores agradáveis, de sons preferidos, de seres que você estima e aversões a coisas e seres. A intenção e a vontade envolve o que deseja ou busca para si, para seus pais, para seus amigos; é o que a motiva e a impulsiona; é o porque você faz o que faz. A sua intenção cria um laço de responsabilidade com as coisas com as quais você entra em contato. À vontade e as intenções dirigem a mente; a mente controla a forma com que se pensa, fala e age. As intenções estabelecem o que é ou o que não é importante. As intenções passadas condicionam ou perpetuam as intenções atuais, os hábitos e as propensões.

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A consciência é o que faz perceber o mundo, ela está ligada diretamente a cada um dos sentidos, desse modo existe uma consciência visual, uma consciência auditiva, uma consciência gustativa, uma consciência táctil, uma consciência olfativa e uma consciência mental. Essas consciências são separadas e criam a ilusão que são juntas. Quando elas entram em movimento criam a ilusão de unidade, são como um disco que contenha as sete cores do arcoíris, se você gira em alta velocidade, ele parecerá branco e não que tem sete cores. Saiba que tudo é impermanente. Seus pensamentos e emoções são efêmeros, os estados de consciência estão mudando a todo instante, o que se pensa é imprevisível sempre passível de mudança, os pensamentos e sentimentos não tem durabilidade. Isso é um fato da existência condicionada convencional. Em sua essência existe uma luz interna ilimitada, desimpedida e imaculada, mascarada pelos sentidos e pelo apego. Todo sofrimento surge quando ocorre o apego e a identificação com o objeto que desejamos.

Negar a mudança é bloquear a energia de fairylan, aceitar a impermanência é liberar a energia da plenitude e paz. Quando segue o fluxo do rio avança rapidamente, quando nada contra o sentido do rio você se cansa e fica triste. E uma imagem surgiu em seu interior, e ela enxergou a essência da instrução interior: Veja aquela estrada. Veja essa pedra que você deve empurrar. Empurre a pedra. Você verá que existem locais que são difíceis de rolar a pedra, e locais que são fáceis de rolar a pedra. Ouça a voz da pedra. Ela diz por onde quer ir e por onde não quer ir. A pedra lhe mostra o caminho. Observe tudo e veja que cada situação lhe ensina o caminho, você não precisa mudar nada exteriormente, basta mudar interiormente. Você verá que existe a paz celestial nas coisas deixadas como são basta ouvir a voz das coisas, dos fatos, das situações, a vida fala. Permita que tudo seja como é; esse é o refúgio onde não existem desejos, uma expansão luminosa e aberta onde nada falta. Pequena Nallab ouça o ensinamento das fadas ancestrais: “Deixe tudo como está, e descanse sua mente exausta”. Pare de classificar,

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pare de fantasiar, pare de inventar desculpas, observe sem julgar e verá a verdade que a impede de liberar o ritmo de evolução perfeito. Tudo têm o seu tempo. Um dia para nascer e um dia para morrer, um dia felicidade e um dia para tristeza, um dia para o sucesso e um dia para o fracasso, um dia para solidão e um dia para companhia, um dia de construção e um dia de destruição, um dia de acordar e um dia de dormir, um dia de acerto e um dia de erro, um dia de ajudar e um dia de ser ajudado, um dia de ganhar e um dia de perder, um dia de conseguir e um dia de não conseguir, um dia de paz e um dia de conflito. Tudo é impermanente, o desejo de que as coisas não mudem causam sofrimento. Quando acredita que o conflito não deve existir, quando acredita que a dor não deve existir, quando sente que a alegria deve ser eterna está apegada ao desejo de não mudança. Esse a lei é a mudança e você não a aceita, isso gera um paradoxo em seu interior, e o paradoxo gera sofrimento. A aceitação da impermanência das coisas é o elemento que harmoniza os paradoxos e os conflitos.

Esse é o ritmo da existência, esse é o ritmo da mudança. A vida é assim. E em seu interior Nallab entendeu e das profundezas do espaço sem fim surgiu uma onda, um som elevado e tranqüilo, era a voz das fadas ancestrais que diziam: "Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação." E Nallab sentiu sua essência assumir um novo ritmo, e seus pensamentos e emoções assumiram um novo ritmo. Ela havia entrado do ritmo da percepção pura, seus sentidos vibravam em novo ritmo, seguindo a respiração de Absollon. Então ela sussurrou, em tom profundo e pleno de compaixão: _Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação. Basta aceitar as coisas como elas são, vendo a perfeição. Tudo já é perfeito como é. Ela entendeu que a perfeição não é para ser alcançada, mas para ser reconhecida. Então ela disse, com os olhos brilhando intensamente: _ Desperte Nallab! Não pense que é, saiba que é! Conhecer a Verdade, expressar a Verdade, personificar a

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Verdade e viver com ela; estes são os passos para a libertação. Em seu interior um furacão de luz nascia e tudo transformava, corrigindo todas imperfeições no entendimento do ritmo da vida. E a voz do coração lhe instruía: Incorpore tudo da vida numa percepção espiritual, o sublime existe no vulgar, basta perceber. Saiba que todos são iluminados, veja todos como iluminados todos num estado de perfeição. Quando retirar as folhas secas do chão, perceba o sentido espiritual; quando comer sinta a comida de um modo espiritual; quando falar, fale de modo espiritual; veja de modo espiritual. O espiritual tudo permeia, a vulgaridade é ilusão; a classificação e ilusão; a separação é ilusão. O espiritual é a capacidade de extrair profundidade e beleza das coisas, e auxiliar outros a perceberem a beleza e perfeição das coisas. Saiba que através do comum pode alcançar o domínio de fairyllan, se conseguir perceber o que está por detrás da ilusão. Se não gosta de gritos, veja a beleza oculta; se não gosta de multidões, veja a beleza das multidões; se não gosta de situações difíceis, veja a perfeição oculta. Quando evita o

mundo você se afasta da libertação, pois separa o mundo em dois grupos, o perfeito e o imperfeito, o bom e o mau, o feio e o bonito; quando aceita e extrai o ensinamento da situação, você integra o conflito. Consegue observar além da ilusão das coisas, as coisas não são imperfeitas. Tudo é perfeito em sua expressão. Fugir do mundo e das situações do mundo é negar o ritmo da vida. Seja como o cisne celestial, que pousa sobre as águas e mantêm as águas tranqüilas. Saiba que o problema não estar em viver as situações mundanas e sim em ser influenciado por elas. Re-signifique o modo como enxerga às situações, troque os olhos comuns, por olhos espirituais, troque os ouvidos comuns por ouvidos espirituais; troque as sensações comuns, por sensações espirituais. Então verá a luz e das profundezas do abismo ouvirá o som dos trovões dizendo: Em toda percepção perfeita existe a compaixão e a compreensão, sempre que fugir do mundo e das situações, estará fugindo do ensinamento; o ensinamento condutor da iluminação interior. Agradeça a todos por tudo, aprenda com todos, concentre-se na perfeição

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potencial e não na aparência da imperfeição dos teus; quando enxerga em cada instante, em cada Ser, em cada emoções, em cada situação, um Mestre e enxerga-o como um Mestre que lhe ensina o caminho de fairyllan, segue em direção a libertação. Permita que sua compaixão e compreensão perfeita se manifestem e elas lhe conduzirão a felicidade plena, compreenda e compadeça-se com todos os fatos, evite classifica-los em termos de bons ou ruins, apenas veja a Verdade: tudo é perfeito como é, o apego é o distorce a percepção da perfeição. No instante que conseguir ter compaixão pelo que julgava vulgar, no momento que extrair a beleza dos locais incômodos; quando você se permitir errar aprendendo com cada erro; quando se entregar ao mundo, o mundo se entregará a você. Isolar-se do mundo permanentemente é afastar-se da entrega; o Universo lhe fornece o que você precisa. Se você se entrega pouco o Universo lhe entrega pouco. Quando você se entrega e se dispõe a perceber a perfeição existente em tudo e em todos, o Universo se entrega a você, e o poder cósmico é liberado.

Lembre-se todos são seus mestres, tudo é seu mestre; todos os fatos podem conduzi-la a iluminação, perceba a beleza dos fatos, tenha compaixão, compartilhe compaixão, aceite que a vida é assim e você é parte do processo. Um processo que somente existe um tipo de Ser, todos são seres iluminados; transmute cada um de seus sentidos e a energia de fairyllan se depositará em seus mente e em seu coração. Uma luz reluziu em sua mente e ela entendeu que não são os fatos que a incomodam, mas a interpretação imperfeita dos fatos. E assim ela modificou o seu interior e tudo do exterior se modificou. Desse modo abandonou a perspectiva dualista, com o coração valente; com a coragem do guerreiro espiritual determinado a atingir a transcendência e a integração total. O brilho fugaz e radiante da determinação permeava a luz de seus olhos e em sua alma ardia a firme vontade de abandonar os apegos a pensamentos, emoções, ações e padrões que impediam sua libertação. E assim ela reconheceu em seu íntimo quem era e como estava, retirou as fantasias mentais, retirou as desculpas, retirou os apegos a coisas e pessoas, e assumiu o firme propósito de alcançar a iluminação, custasse o custar. Seu corpo moveu-se no espaço em ritmo determinado e tranqüilo. Os olhos azulados refletiam o brilho alaranjado das águas. A próxima pétala abaixou lentamente e recolhendo-a suavemente CXIV

sobre si. As águas de coloração anil emitiam um brilho quase metálico. Ritmicamente ela ergueu as mãos e esfregou as águas no rosto, sentindo um doce frescor. Balançou os cabelos negros no ar, abriu a boca e sorveu o fluido cósmico. E a lei do Cosmo iniciou a transmutação interior. Uma explosão. Um som suave. Um perfume doce. E quando tudo se mesclou emergiu o ensinamento e o coração lhe instrui nos mistérios do Universo: "Toda a Causa tem seu Efeito, todo Efeito tem sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei; o Acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei." Este princípio contém a verdade que há uma Causa para todo o Efeito e um Efeito para toda a Causa. Explica que: Tudo acontece de acordo com a Lei, nada acontece sem razão, não há coisa que seja casual; que, no entanto, existem vários planos de Causa e Efeito, os planos superiores dominando os planos inferiores, nada podendo escapar completamente da Lei. Quando perfaz uma elevação mental a um plano superior toma-se Causador em vez de receptor de Efeitos. As massas do povo são levadas para frente; os desejos e as vontades dos outros são mais

fortes que as vontades delas; a hereditariedade, a sugestão e outras causas exteriores movemnas como se fossem peões no tabuleiro de xadrez da Vida. Mas os Mestres de fairyllan, elevando-se ao plano superior, dominam o seu gênio, seu caráter, suas qualidades, seus poderes, tão bem como os que o cercam e tornam-se Motores em vez de peões. Eles ajudam a jogar a criação, quer física, quer mental ou espiritual, é possível sem partida da vida, em vez de serem jogados e movidos por outras vontades e influências. Empregam o Princípio em lugar de serem seus instrumentos. Os Mestres obedecem à Causalidade do plano superior, mas ajudam a governar o plano material. Neste preceito está condensado um tesouro do Conhecimento Fádico: aprenda-o quem quiser, sua vontade e renúncia o levarão até ele. Tudo que existe está ligado de modo íntimo, arranque uma folha de grama e o Universo como um todo estremecerá. Esse é o movimento do Universo, essa é a forma como ele se desloca no sentido da respiração de Absollon. A natureza da causa e efeito nasce a partir das relações entre os fatos, as energias, as mentes,

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os corpos; tudo está em relação com tudo. Por mais que queira se isolar do Universo não conseguirá, será como o peixe que tenta viver fora da água. No Universo existe uma Causa primordial que é a expressão do Supremo, uma causa perfeita que coloca tudo em conexão, todos estamos ligados pela teia da existência. A causa primordial desencadeia um Efeito primordial, esse efeito diz que tudo que existe deve assumir diversos arranjos e expressar o mais pleno potencial de manifestação. Os arranjos são modos de combinar os elementos, cada arranjo desencadeia um conjunto de processos. Cada pensamento, cada emoção, cada sentimento, cada movimento, cada ação e cada não-ação cria um arranjo. O arranjo é a conexão com o Cosmos. Existe um arranjo superior e um arranjo inferior. O primeiro se baseia na respiração de Absollon e mostra a direção perfeita que já existe em tudo é ela que guia o surgimento da vida a partir do não vivo, que orienta o nascimento dos planetas e a morte das galáxias. E ela quem permite que o sol permita o desenvolvimento da vida e os ciclos de vento e evaporação.

O segundo se baseia na relação das múltiplas possibilidades, tudo pode ser combinado, mas nem tudo pode permanecer. A conexão superior orienta a conexão inferior. O arranjo superior tende a se manifestar no arranjo inferior. Quando conhece-se as leis que regem o Cosmos o Ser torna-se causador e não simples receptor. Entre os dois planos existe um fio que os conecta, esse fio é chamado de acaso, coincidência, caos, desordem, mas ele é a ponte que liga o mundo da matéria ao mundo do espírito. O mundo material é a replica do mundo espiritual. O mundo espiritual cria um arranjo esse arranjo está conectado ao campo de possibilidades, eles se interagem e se a conexão for estável ela perdura até cumprir o seu ciclo e depois se desfaz. Toda Causa tem um Efeito e todo Efeito tem uma causa. Quando se sente triste isso gera um efeito ao seu redor, quando observa o efeito de estar triste percebe que por detrás dele existe uma causa. Se tiver um pensamento mal criará um efeito, se tiver um pensamento bom criará outro efeito. Se sentir-se ansiosa existe uma causa para esse efeito. Toda emoção, pensamento, ação, e

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sentimento existentes no Cosmos, está em conexão. Desse modo se observar o que existe nas duas pontas do fio CausaEfeito pode chegar ao conhecimento da Verdade sobre si e sobre a organização do Universo. Lembra-se das flores do campo, cada flor foi gerada por esse processo causa-efeito, e cada flor cria uma rede de causaefeito com todos os elementos que interagem com ela. Assim é com tudo. Você tornou-se o que é devido à interação, você foi influenciada e influencia um processo. Trate os seres como eles são e eles continuarão respondendo do mesmo modo, trate-os como gostaria que fossem e eles expressão isso. Visualize a perfeição plena em cada processo. Coloque amor como causa e o efeito será amor; compartilhe e o efeito será compartilhado; tenha compaixão e a compaixão virá até ti. Cuide de todos do melhor modo possível e permita que expressão o melhor que existe em sua essência; e o universo cuidará de você e permitirá que você manifeste o melhor de sua essência. Ajude o Cosmos a cumprir a perfeição e o Cosmos lhe ajudará a realizar a plenitude. O modo

como essa conexão causa-efeito se processa no Universo é como um coro, pronto a cantar. Existe um ser que produz uma certa nota musical, de repente todos os seres que produzem a mesma nota se juntam e se somam num único coro. Quando tem bons pensamentos, bons sentimentos, boas intenções e boas ações, você cria uma conexão com todos os seres do Universo que entoam essas atitudes. Nesse momento você se multiplica e age como elemento causador, que auxilia o Cosmos a realizar o seu propósito. O propósito do Cosmo é ser o campo de todas as possibilidades da matéria, dos sentimentos, da mente e do espírito. Toda possibilidade é criada a partir da conexão entre os seres e elementos. Se você seguir a lei de causa e efeito de modo a permitir que cada ser que cruze o seu caminho possa manifestar o melhor de si. Se sua intenção for: Que todos os seres possam ser felizes, contentes e realizados. Que todos os seres possam se sentir saudáveis e perfeitos. Que todos possam ter aquilo que querem e de que precisam.

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Que todos estejam protegidos contra o mal, e livres do medo. Que todos os seres tenham paz interior e bem-estar. Que todos estejam despertos, liberados e independentes, e não tenham limitações. Que haja paz neste mundo e no universo inteiro. Se sua intenção seguir a respiração de Absollon, o universo conspirará pela manifestação plena de todo o seu potencial, todas as forças do Cosmos virão em teu auxílio, pois assim é a lei; assim é a conexão. E assim o coração de Nallab ficou satisfeito e percebeu como ela está ligada a tudo, e reconheceu toda a cadeia de eventos que se desencadeia com cada intenção, e entendeu que cada intenção move a roda dos sentimentos, dos pensamentos e das ações. Uma ação pode estremecer todo o universo próximo, um pensamento pode mudar toda a direção de uma vida, uma ação pode modificar a vida de todo um processo vivo, pois tudo no universo é vivo. O universo é uma célula do corpo de Absollon, o Supremo. Nallab sentiu um grau intenso de responsabilidade e compromisso, com cada um dos seres do universo. Ela havia entendido que uma causa poderia mudar todo o fluxo de efeitos e que um efeito poderia mudar toda uma causa. Ela havia entendido que os acontecimentos ativados pela intenção não dependiam da

esperança para se expressar e sim do tempo. Ela enxergava toda a rede de eventos que poderia ser desencadeada por cada intenção e visualizava o modo de modificar os processos, físicos, mentais, emocionais e espirituais de si mesma e de todos os seres que a cercavam. Nallab estava em conexão com o Cosmo e sabia como o Cosmo agia segundo o princípio de causa e efeito, para modificar todos os aspectos da existência. A última pétala deslocou-se antes de Nallab se movimentar. O universo vinha em sua direção para que ela expressa sua perfeição inerente. Ela serviu o universo, agora o universo a servia. A fada aceitou o convite da pétala de cristal e subiu em sua superfície. A pétala deslocou-se na direção das águas de coloração violácea, que transmitiam a sensação do próprio mundo da realização plena. Antes de beber da água ela anteviu os efeitos. Pois conhecia as causas e visualizava os efeitos que se desdobrariam. Seu espírito sentiu o sopro do Universo sobre si, o sopro do porvir. Ela abriu os lábios e o infinito a tocou e a preencheu. E a última peça do quebracabeça cósmico foi colocado e o coração lhe instruiu em sua sabedoria infinita... "O Gênero está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e o seu princípio feminino; o gênero se manifesta em todos os planos."

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Este princípio encerra a verdade que o gênero é manifestado em tudo; que o princípio masculino e o princípio feminino sempre estão em ação. Isto é certo não só no Plano físico, mas também nos Planos mental e espiritual. No Plano físico este Princípio se manifesta como sexo, nos planos superiores toma formas superiores, mas é sempre o mesmo Princípio. Nenhuma criação quer física, quer mental ou espiritual, é possível sem este Princípio. A compreensão das suas leis poderá esclarecer muitos assuntos que deixaram perplexas as mentes dos homens. O Princípio de Gênero opera sempre na direção da geração, regeneração e criação. Todas as coisas e todas as pessoas contêm em si os dois Elementos deste grande Princípio. Todos os elementos machos têm também o Elemento feminino; todas as coisas fêmeas têm o Elemento masculino. Se compreenderdes a filosofia da Criação, da Geração e da Regeneração mentais, podereis estudar e compreender este Princípio cósmico. Ele contém a solução de muitos mistérios da Vida. Esse Princípio é nobre e sagrado. Para aquele

que é puro, todas as coisas são puras; para os vis, todas as coisas são vis e baixas. Esse Princípio fornece a chave do templo que liberta e cura mente de muitas dúvidas sobre o funcionamento do Todo. Essa chave mostra como ocorre a Criação, a Geração e a Regeneração de todos os processos, sejam eles mentais, emocionais, físicos ou espirituais. O Todo funciona como um organismo vivo e tudo que existe nele também. Planetas, Galáxias, seres vivos, sentimentos, memórias, relacionamentos e toda a imensa gama de possibilidades segue esse modelo. O gênero masculino é a essência ativadora, o gênero feminino é a essência provedora. Quando a essência feminina acolhe a masculina ocorre a Criação. Quando você era pequena você estava aberta a receber informações do meio, você era um receptáculo pronto a receber as influências do meio. As informações e estímulos externos ativaram vias mentais, emocionais, corporais e espirituais em seu interior. Nessa primeira parte do processo acontece a Criação. Desse modo tudo que foi criado cresce, se desenvolve, entra em declínio e se desintegra, esse movimento

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ocorre na forma de diversos ciclos, ciclos que podem duram períodos infinitesimais de tempo, até tempos galácticos, esse processo é o da Geração ou desenvolvimento. Após o processo de Geração ter se concretizado, acontece a Regeneração, que pode ser expresso como o mecanismo pelo qual o processo reinicia o ciclo de manifestação plena. Na etapa de Regeneração o declínio é alimentado com a ascensão, e a morte é alimentada com a vida. Assim funcionou o nascimento do Universo, assim funcionou o surgimento dos astros, assim funcionou o surgimento da vida, assim funcionou o surgimento das emoções, sentimentos, comportamentos e pensamentos. Quando conhece esse Princípio sabe como Criar, como Desenvolver e como Regenerar qualquer processo da Natureza, física, emocional, mental ou espiritual. Se desejar criar vida dentro de um Ser, descubra o que seu potencial deseja; alimente seu potencial e ele se manifestará. Se a infelicidade estiver viva dentro de seu coração ou de outro Ser, reconheça do que ela se alimenta. Ela se alimenta do apego, veja se o apego é a uma

pessoa, a um sentimento, a uma memória, a uma vivência. Quebre o processo de Geração e Regeneração dessa emoção através da tomada de consciência da causa. Será preciso estar em sintonia com o modo como a pessoa entende a vida e a morte, e falar na hora certa e calar na hora certa; somente a experiência lhe mostrará como funciona esse mecanismo de Criação, Geração e Regeneração de Tudo que existe. Ponha dor na infância, ponha negativismo, ponha pessimismo, alimente todos os dias. O processo será criado, irá se desenvolver e no futuro se regenerar no ciclo da vida, da morte e dos renascimentos; pois tudo nasce, tudo morre e tudo renasce no Universo, sejam fenômenos físicos, sejam fenômenos mentais e espirituais. Nallab incorporou o último processo, através dele Criou a luz, através dele Desenvolveu a Abertura Ilimitada, através Regenerou todos os pontos obscuros e confusos de sua mente e coração. A luz iluminou todos os espaços, seu corpo era luz, sua mente era luz, seus desejos eram luz, suas ações eram luz. Ela era a pura expressão da Luz suprema dos olhos de Absollon. Seu corpo começou a flutuar no espaço e dele emanava um brilho dourado como ouro puro e celeste. A respiração de Absollon a impulsionava pelo ar na CXX

direção do centro do lótus de cristal. O som das cataratas pareceu ficar mais intenso e sublime, a luz do ambiente parecia mais clara e vívida, o ar entrava por suas narinas como um néctar sagrado. Todos os sentidos captavam a perfeição, a plenitude. No centro do lótus, seis arcos prateados começaram a brilhar em todos as sete cores das cataratas, no brilho mais suave e lindo que os olhos podem vislumbrar. Então os arcos se alinharam. O brilho de Nallab do dourado começou a refletir tons celestiais referentes às cores das águas sagradas, ele era o sétimo arco. Absollon a soprou como uma pluma na direção dos arcos, e ela ficou envolta pelos arcos. E o sopro do Supremo entrou por todo o seu Ser e se materializou em palavras. Os olhos de Nallab se fecharam e o brilho ficou tão intenso que somente podia se ver a luz multicor e o reflexo da mesma no cristal. _Sou a filha da luz, todos somos. Fadas Ancestrais, seres dos Cosmos, Absollon, o Supremo, assumo o compromisso. Sua voz silenciou no exterior e reiniciou no interior de sua essência: Os seres sencientes são incontáveis: eu prometo liberálos. As ilusões são inesgotáveis: eu prometo transcendê-las. Os ensinamentos do Caminho Espiritual são ilimitados: eu prometo dominálos. O caminho iluminado do Mestre de Fairyllan é

incomparável: eu prometo incorporá-lo. Que o poder da transmutação perfeita se manifeste em sua plenitude. As fadas ancestrais que dominaram os poderes da libertação plena através de fairyllan entoavam louvores celestes. Um vento forte derivado da respiração de Absollon permeou o ambiente. Um fogo vivo começou a percorrer todo o corpo de Nallab, cada pensamento, cada limite, cada emoções foi sendo transmutada. O fogo acendeu o poder cósmico e liberou o poder de fairyllan. Uma energia elétrica percorria cada elemento do corpo de Nallab. De repente o vento transformou-se num tufão de Luz, Eletricidade e Fogo. As águas das cataratas começaram a se modificar, cada catarata produzia fios nas cores correspondentes a cada Princípio. As águas desciam na forma de fios luminosos e fluidos. Fios dourados, fios avermelhados, fios alaranjados se mesclavam no em meio ao tufão. Então os fios começaram a deslocar-se no espaço na direção do centro do lótus. Pouco a pouco os fios foram cercando Nallab por todos os lados e unindo-se. As mãos do Universo teciam algo ao redor da fada, o Cosmos tecia um casulo. Os fios misturavam-se como serpentes de fogo brilhante que flutuavam no ar. O casulo foi tecido, com as águas sagradas. Um casulo fluido, um casulo de plenitude. O tufão ficou mais e mais forte, raios elétricos, fogo e luz permeavam CXXI

todo o ambiente. Aos poucos Nallab havia desaparecido e adormecia no interior do casulo. O lótus de cristal se fechou e a fada permaneceu no interior do casulo, que estava no interior do lótus. E ela viu, e ela sentiu e ela entendeu os pensamentos do Supremo. Nallab e Absollon eram um só. Ela alcançou o domínio pleno de fairyllan e alcançou a inconcebível paz interior, a cessação do desejo e do apego. Era o fim do sofrimento. Era a libertação, a liberdade duradoura, a realização e a iluminação. E ela enxergou tudo de modo claro, sem separação, e os véus das muitas vidas se abriram para ela. E ela viu que tudo era parte de uma única vida, a morte era o mediador de um ciclo. De olhos fechados no interior do casulo, sentiu como se um novo Universo nascesse, uma energia indescritível varreu toda a sua essência. Viu o nascimento do Cosmos e uma explosão interna, e emitiu um grito que reorganizou todo o seu corpo, todo o seu pensamento, todo o seu sentimento, todas as suas memórias. E ela se viu como realmente era, a expressão perfeita de Absollon. A luz aumento, uma chama violeta percorreu todo o seu Ser. A lótus se abriu e do interior do casulo era possível observar a chama violeta. O casulo foi evaporando e os vapores foram sendo sorvidos pela fada. E o universo Regenerou todo o seu Ser. E todo o Cosmos lhe sussurrou em uníssono: Es tu renascida, es tu plenitude, es tu perfeição. Desse

momento em diante sua essência se transforma e com ela tudo em você se transforma. Nallab foi assumindo feições celestiais e os cabelos foram ficando negros, as asas sumiram, pois não precisava mais delas, e o corpo foi assumindo um funcionamento perfeito, como o próprio universo. E o Universo lhe batizou... Es tu desse momento em diante NAHS, a iluminada. Em nome de Absollon todo o Cosmos lhe abençoa, para realizar o propósito do Supremo. Uma luz dourada como um sol resplandecia de todo o seu Ser. Tudo que se achegava de si assumia um novo ritmo, ela era a expressão viva de Absollon, exalando a perfeição e absorvendo a perfeição de todos os processos. Quando cada um de seus sentidos repousava sobre a realidade, ela via uma realidade perfeita e harmônica, que emergia do vazio. O vazio permeava o todo, dele emana toda a criação e perfeição de tudo que há. Seus olhos permaneciam fechados, mas viam. Ao ver, existia apenas o ato de ver; não havia aquele que vê nem o que é visto. Ao ouvir, existe apenas o ato de ouvir; ninguém ouvindo e nada a ser ouvido. Era como se um som saísse de uma flauta mágica, porém não havia flautista, havia apenas a melodia pura. Nahs havia quebrado aberto os cinco grilhões que aprisionam a realidade do Ser: os desejos foram rompidos, a má vontade foi superada, a preguiça e o torpor ou preguiça espiritual foi superado, a inquietação e as dúvidas. A sua CXXII

realidade perfeita emergiu e ela encontrou o caminho de uma vida impecável e perfeita, o caminho do equilíbrio, da sanidade, da força interior, da pureza, do controle de si, da firmeza e da moderação. Ela equilibrava mente e coração desenvolvendo capacidades equivalentes: compaixão com sabedoria; amor com verdade. Sua mente havia despertado e ela havia percebido que o despertar do coração permite o despertar da mente, como o desabrochar de uma flor. As pétalas se abrem e o centro se mostra, são processos ligados. Quando deixamos a realidade entrar, as outras pessoas entrarem, ocorre a compreensão sobre a essência, e a perfeição inata floresce, a semente da perfeição nasce. A mudança do meio interior permite o desabrochar da perfeição inata. Seu coração lhe sussurrava: “Pequena dúvida, pequena iluminação; grande dúvida, grande iluminação”. Nahs havia percebido todas as respostas sobre si mesma, havia feito perguntas invisíveis nas profundezas de sua alma, perguntas profundas sobre a vida e a morte, e sobre seu papel nesse processo. E as reflexões a levaram a quatro pensamentos transformadores: “A existência é preciosa. Esta vida, dotada de prazeres, qualidades e oportunidades; é difícil de ser obtida, é tênue, e facilmente perdida, por isso este é o momento para praticar a espiritualidade com diligência. Se o Ser desperdiçar sua

oportunidade de realizar sua meta de vida, quando haverá outra oportunidade?” “Todas as coisas são impermanentes; em especial, o nosso alento vital que é uma bolha em um rio que corre. A hora de nossa morte é incerta, e partimos sozinhos deste mundo. Todos irão morrer, tudo que foi juntado será separado, tudo é efêmero. A morte faz parte da vida e deve ser refletida e pensada. Aprendendo a morrer você aprenderá a viver.” “A lei de causa e efeito nos segue como a sombra que segue nosso corpo; palavras, pensamentos, e ações, tanto virtuosos como não virtuosos geram conseqüência. Os resultados de nossas ações nos seguem.” “Existe um oceano de sofrimento ou existência cíclica que permeia a existência e tudo que ele contém, inclusive o prazer e a dor, são como uma grande festa pública a caminho do túmulo. Perder dói. A vida é difícil, crescer é difícil, ficar doente é difícil, ficar velho e morrer é doloroso. Sentimos impotência, ansiedade e insegurança, por não termos o controle sobre os acontecimentos, e por sermos levadas para lá e para cá por circunstâncias e condições que

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não compreendemos. Somente podemos ver as escolhas que compreendemos.” Seus olhos permaneciam fechados, no entanto tudo viam. De repente ela iniciou um movimento suave que acariciou todo o ambiente. As águas das cataratas tinham uma harmonia perfeita e luminosa, tudo para ela era vivo e deveria ser protegido, abençoado e despertado. Um impulso perfeito fez ressoar seu coração e a cortina que a separava de si mesma havia sido rasgada. Então como uma flecha que corta o ar, ela mergulhou no interior da esfera, em direção a superfície do oceano. Sem asas Nahs ergueu vôo, comandada por sua mente coração. Raios de uma luz branca eram percebidos por seus sentidos, tudo era luz. Ao chegar a superfície do oceano vislumbrou as flores gigantes e o reflexo da água. E como uma libélula celestial voou rente ao espelho de água, rápido, cada vez mais rápido. Sua velocidade era tamanha que criava um vácuo, um espaço vazio entre ela e o meio circundante. E o vácuo formou um sulco nas águas daquele oceano raro. Sua aceleração parecia progressivamente indo à direção da velocidade absoluta. O sulco das águas ficava mais e mais profundo. De repente, quando sua velocidade aproximava-se da velocidade plena, ela deslocou-se na direção do céu infinito. E mergulhou no infinito desaparecendo como um ponto de luz dourado, que iluminava todo o imenso ambiente.

“Nahs a Desperta”

“Quando os quatro ciclos internos se consolidarem e o pensamento seguir a respiração de Absollon, no frio dos tempos é o sinal; a mudança estará próxima. Quando as fadas forem de gelo e o gelo imperar, a resnascinada chegará e o seu coração derreterá o frio e trará a chama de fairyllan ao mundo”. Texto Sagrado do Reino das Fadas Canto XXV Das profundezas do universo interior emergiu Nahs. Pouco a pouco, seus dedos começaram a se mexer, primeiramente o dedo mínimo, depois o indicador e por fim todos os outros. Suas mãos se fecharam e abriram. O seu corpo como um todo retornava a vida; todo o seu corpo renascia. Um brilho dourado era emitido do alto de sua cabeça e uma doce e morna brisa de paz permanecia no ambiente. Seus olhos permaneciam fechados enquanto seu corpo se ergueu, no entanto, ele via tudo, percebia tudo em sua profundidade. Então viu, um deserto. Um imenso deserto onde somente existia solidão gelada. Tudo estava paralisado pelo frio. CXXIV

Tudo era silêncio. Ali repousada no interior do castelo de cristal da Imperatriz, ela viu o fim de uma era. Seu interior se compadeceu pelo cessar da vida e extraiu a beleza da solidão gelada, era bondade, compaixão e sabedoria, que eram exalados de seu Ser. Então, Nahs em doce tom disse para todos os seres: _Os seres sencientes são incontáveis: eu prometo liberá-los. _As ilusões são inesgotáveis: eu prometo transcende-las. E em seu interior o coração lhe sussurrou um fragmento da realidade: Se parece sabedoria, mas não mostra bondade nem compaixão, não é sabedoria. Se parece amor, mas não é sábio, não é amor. Suas percepções ampliadas lhe fizeram ouvir um pedido de socorro, Nahs sentia a dor dos corações clamando, ela sentia a própria dor e o desespero de todo os seres congelados. O vento gelado e a nevasca eram intensos, tudo lembrava um pouco a floresta de cristal pela qual ela havia passado. A força da neve encobriu a própria imagem do sol e impediu que olhos adormecidos vissem além de dois palmos de distância. Ela flutuou pelo chão do palácio graciosamente e seguiu em direção ao chamado. Algo a chamava na direção do ponto inicial reconheceu o imenso corredor tubular de material antes estranho a tudo que já havia visto, agora pálido e gelado como um coração endurecido; o corredor feito por

borboletas multicores, que realizavam um movimento espiral contínuo, havia acabado e Nahs observava as borboletas congeladas e frias caídas no corredor, que a conduziria à imperatriz. A compaixão suprema por tudo que existe aflorou e ela tocou cada uma das borboletas e a cada todas elas retornavam a vida. Uma luz dourada e de calor ameno surgiu por todo o seu corpo, de repente ela lembrou-se do Princípio da Polaridade e desfez a ilusão do frio. O corredor renascia e as borboletas voam em torno nele fazendo uma espiral de borboletas. A cada passo que Nahs dava, tudo ao seu redor ser transformava, ela lembrava os passos do Grande Lobo de Pedra, que através de suas vibrações modificava o meio ilusório e permitia que a perfeição emergisse. Ao final deste tubo vivo, estava presente uma linda flor congelada de aparência similar a uma rosa gigante, que possui somente uma pequena ponta vermelha e descongelada. O dedo indicador da imperatriz tocava essa ponta que ainda permanecia viva. A imperatriz tinha todo o corpo congelado, com exceção do dedo indicador que transmitia vida a flor. Suas faces antes róseas estavam pálidas e brilhantes como um lago de gelo cristalino. A fonte circular de vibração antes multicor elementar, que lembrava talvez milhares de cordas de uma harpa; estava congelada. Nahs reconheceu de imediato através de um dos princípios aprendidos que as cordas eram feitas de finos filetes CXXV

das águas das cataratas sagradas, que ela bebeu. Passo a passo, Nahs dirigiu seu corpo na direção da imperatriz e da fonte. O gelo começou a modificar-se e a vida foi retornando ao ambiente. No centro do peito da imperatriz um fraco brilho permanecia, era a chama de seu coração, era a chama de fairyllan, o desejo de manter a harmonia das coisas. Nahs se aproximou da Imperatriz e erguendo uma das mãos tocou em seu coração. O brilho que se escondia por detrás do cristal cresceu mais e mais, e uma tonalidade rósea espalhou pelo corpo da Imperatriz. E o gelo derreteu. E a rosa reviveu e as águas começaram a movimentar-se. Naquele instante a luz de Absollon reviveu a tudo e a todos. Então a Imperatriz das Fadas sorriu numa leveza e acolhimentos únicos e disse: _Bendito seja, pequenina. Bendita é aquele que nasceu na estação do Verão, para desabrochar os botões fechados. Então, a Imperatriz se ajoelhou e beijou as mãos da desperta. Nahs sorriu gentilmente e pegando nas mãos da Imperatriz, as beijou em ternura e disse: _Grata sou a ti e a todos os que me conduziram a fonte, de hoje em diante e por todo o sempre serei a serva de Absollon. E assim ela mergulhou nos olhos de brilho camaleônicos da imperatriz, com os seus olhos fechados. E através deles viu o que havia se passado e como num flash enxergou uma imagem, que se construía assim:

A imagem de Glaciu surgiu diante de seus olhos e viu a intensidade de sua ambição em dominar fairyllan, o segredo último. O nascimento de Raice. O seqüestro de uma das antigas fadas que ordenavam a energia do Calor, a mãe Raice, o único fada nascido no Inverno, apareciam em sua mente. Os aprendizados inatos do domínio do fairyllan do frio e o roubo do conhecimento de fada das ancestrais de sua família, nascida na estação do Verão. Após a morte de Glacius, seu filho assumiu o trono e os propósitos do pai, assim utilizando-se de seus próprios talentos inatos começou a dar prosseguimento aos desejos do pai, figura esta que nada mais era agora do que uma profunda marca em suas memória, suas ações e um amuleto no pescoço. O pai transformado em cristal de gelo, ainda parecia vivo; ali dependurado no pescoço do filho na forma de uma corrente. O pai era o amuleto de Raice, que impregnava o filho com os seus próprios desejos frustrados. A força de Raice foi estimulada e refinada durante os milhares de anos que seu pai esteve ao seu lado e agora ele está de volta, vivo numa ambição insana que habita o espírito do filho.

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O hálito de Raice se espalha pelo mundo, um vento frio e forte começa a vir de todas as direções, os corações de todos ficam atormentados. As crianças são levadas para o palácio e protegidas pelos poderes da Imperatriz. Todos os mais sábios se reúnem e realizam o Grande ritual de evocação dos Ancestrais, a energia abriu os portais da fonte Sagrada, no alto do Monte Cósmico. E do Interior da fonte surgiu uma escada para proteger a todos. Alguns não conseguiram fugir a tempo. O hálito de Raice seguia rápido como uma serpente pelo ar, e onde tocava o seu veneno era destilado; o frio era o seu veneno e quem o que fosse tocado por ele ficava instantaneamente congelado. A imperatriz permaneceu no palácio, tentando proteger a todos até que eles chegassem a fonte. Lutou bravamente com a força de seu espírito, mas Raice avançou. Seu corpo começou a congelar e somente a chama de fairyllan em seu coração permaneceu acesa. Duas lágrimas foram congeladas enquanto caiam na direção do chão, ela sentia a dor de todos os seus irmãos da Natureza. No terceiro dia que o hálito de Raice soprou pela Terra, tudo

na superfície já estava congelado. Cada planta e animal do planeta havia sido paralisado pelo frio intenso. Ela sentia a dor e desespero das mães tentando proteger seus filhos, que tentando protege-los abraçando, ficavam imóveis após o toque; mãe e filho congelados num abraço eterno. De repente Raice apareceu e suas faces olharam para Nahs e por um instante seu coração derreteu um pouco. E ela ouviu o som de uma das frases do passado ditas por ele: _ Eu vigio seus sonhos, seus pensamentos, conheço quem você é, mesmo que você ainda desconheça... é chegada a hora minha Rainha. A hora de uma nova escolha e um novo tempo. E a frase “minha rainha” e “a hora de uma nova escolha e um novo tempo”, e um sentimento emergiu, pois cada palavra leva na direção de um sentimento ou uma rede deles. Enquanto Nahs ouvia “minha rainha”, sentiu a chama do Amor sendo acesa no coração frio de Raice e quando ele disse, “a hora de uma nova escolha e um novo tempo”, ela sentiu a perfeição e o desejo de despertar clamando dentro de seu coração. Para Raice ainda era desconhecido o sentido, mas o segredo profundo de fairyllan

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começava a se revelar em suas profundezas, o amor derretia um fragmento do gelo e iniciava o seu processo de transmutação, mobilizando a energia luminosa e perfeita existente dentro de cada elemento e Ser da natureza. Aos poucos a imagem foi se desfazendo como o reflexo radiante e límpido de águas cristalinas, que quando agitadas se desmancham. Assim ela entendeu que havia acontecido. _Imperatriz é chegada a hora de fazer aquilo que estamos aqui para fazer...Disse a desperta em tom angelical e meigo. A Imperatriz se aproximou ambas tocaram as mãos e iniciaram a poderosa magia de transmutação dos fluxos. Suas vozes moviam-se em uníssono, num movimento que lembrava o deslocar das lagartas sobre a terra, que migram para serem borboletas. _Oh antigas fadas ancestrais, nós a evocamos, nós nos fazemos unas contigo e com todo o Cosmo. _Oh Absollon, manifeste através nós o seu desejo perfeito, o seu pensamento perfeito e a sua ação perfeita...Transmutum...Transmutum... Trnasmutum...Como as batidas de um tambor as palavras eram ditas. E as palavras ecoaram por todo o recinto; e do recinto ecoaram por todo o palácio; e do palácio ecoaram por todo o reino; e de todo o reino ecoou por todos os seres; e de todos os seres ecoaram por todo o Cosmo até atingir o vazio luminoso de onde tudo emerge.

Então o movimento de fairyllan emergiu e a corrente dos fluxos foi pouco a pouco sendo modificada. E o vento foi se acalmando e o sol brilhou, e os seres retornaram a vida. Fairyllan havia criado uma redoma protetora que protegia todo o reino. A imperatriz sorriu satisfeita e ambas agradeceram, agradeceram a tudo e a todos, pois a gratidão é o caminho que conduz o coração e a mente a perfeição latente, que em tudo habita. _É chegada a hora...De fechar um ciclo e reiniciar um novo ciclo; toda morte é parte do recomeço, emoções morrem, pensamentos morrem, idéias morrem, corpo morrem. Este é o ciclo da vida, a efemeridade é parte da existência. A Imperatriz compreendia cada palavra. Pois Nahs havia aprendido a falar a cada coração, ela entendia a cada Ser do Universo. Suas palavras iam diretas a essência perfeita de cada elemento. Desse modo a Imperatriz entendeu que sua missão era acalmar o povo e reuni-los próxima a fonte de fairyllan. Nahs começou a brilhar intensamente como um sol e flutuando no ar desapareceu em velocidade perfeita na direção de Raice. Para ela não mais existiam limites materiais, era como o cisne que repousa nas águas sem fazer ondas, nada poderia interferi-la, pois era a própria expressão do universo. Como uma fecha de fogo ele cruzou a imensa distancia que separava o reino das fadas do castelo de Raice. Por onde sua energia tocava a vida retornava e o frio era dissolvido, pois ela nada mais

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tinha o que temer, nenhuma ilusão existia; tudo eram perfeição e luz pura. Enquanto cruzava o espaço, transmutando o frio, o vento e a estagnação. A imperatriz reunia a todos ao redor da fonte de fairyllan, novos e velhos. Todas as gerações de fadas estavam ali reunidas. As fadas distantes ouviam o canto sagrado que a Imperatriz emitia e o mais rapidamente vinham voando de todas as direções. O canto sagrado era a voz de Absollon, que onde fosse emitido gerava um impulso irresistível na direção de servir ao chamado do universo. Era o próprio chamado do Supremo expresso através desse canto ancestral das fadas, era o canto abençoado que agrupava os seres numa imensa rede universal. Outros seres do reino ouviram o chamado e do alto do monte Cósmico uma linda imagem se construía... Todos os insetos alados e terrestres dirigiam-se até o monte; todos os animais terrestres e alados se reuniam no alto da montanha. As plantas e os animais aquáticos dirigiam sua atenção para o monte. Naquele momento todos os seres ouviam o chamado de Absollon e cada elemento era atraído para lá, num intenso desejo de louvar e servir. A teia da vida era percebida e a perfeição de cada Ser na direção do Supremo, começava a ser manifesta. Todos estavam ao redor da imensa fonte de fairyllan, com suas águas sagradas. Em suas águas surgia a imagem de Nahs se dirigindo em sentido de Raice. Ao longe Nahs reconheceu a morada de Raice e reduzindo sua

velocidade, flutuou em posição vertical sobre o chão. E ouviu uma voz: _Bem vinda minha rainha! Disse Raice com um tom sussurrante que vinha de todos os lados. Pouco a pouco, um portal de gelo gigante começou a se abrir e o convite para entrada da desperta havia sido feito. Raice ainda desconhecia mais suas profundezas haviam convidado a iluminação para derreter o gelo de seu coração. Nahs via a tristeza de seu coração e entendia as causas de seu sofrimento, ela reconhecia que havia somente uma tênue nuvem de poeira que o separava do despertar. À medida que flutuava sobre o chão coberto de neve, a neve mantinha-se intacta, pois Nahs estava permeada por compaixão plena e respeitava tudo do modo que Raice havia deixado, em seu reino. Dirigindo-se em direção ao senhor do Gelo, ela emitia pensamentos e intenções perfeitas. Ela conversava diretamente com o coração de Raice. E no coração de Raice palavras eram delicadamente plantadas: O desperto não pode, nem quer forçá-lo a trilhar o caminho da verdade e da libertação. O desperto não pode, nem quer forçá-lo a trilhar o caminho da compaixão e da autopurificação. O desperto não pode, nem quer, forçá-lo a seguir as lições libertadoras do caminho espiritual, que conduzem a abertura do coração. Ninguém

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além de você controla o seu destino. O coração de Raice lhe dizia: Abra os portões e convide a desperta para entrar. Eu desejo o despertar. Entre e permanece em mim iluminada. No entanto não saberás o que se passa, a ilusão lhe dirá que ela entra para morrer, mas a essência perfeita lhe diz que ela entra para libertar. Raice já havia feito a escolha e naquele momento que se construía, era apenas a oportunidade dele compreender o porquê da escolha. Nahs sabia que o cristal era a nuvem de poeira que separava Raice do despertar pleno. Ela sentia a energia de Raice e dirigia-se até o local onde o mesmo estava. Após cruzar um imenso corredor de gelo, ela viu ele sentado sobre seu trono frio. Ao lado do trono ela viu a imagem de seu pai, uma estátua de gelo cristalino. E lembrou-se daquele que havia sido seu pai e da época em que havia sido levado para a terra do gelo, há muito tempo atrás. No entanto, como seu coração e mente estava totalmente aberta ela permitiu que a memória fluísse sem se apegar e a memória passou, e quando ela passou somente a perfeição foi sentido, somente o desejo de ver todos despertos e felizes permaneceu. A imagem não mais confundia seus sentidos, através dos olhos fechados ela via luz, luz em tudo, luz em tudo. _Bem vinda há muito tempo que espero por esse momento...Disse Raice.

E ela disse: _Raice meu amado gostaria de lembrar-se? _De quê? Disse Raice num misto de confusão e raiva. A raiva era a guardião da verdade que tentava se revelar e impedia a sua expressão plena. Nahs foi se aproximando mais e mais, a sua luz começou a ser irradiada pelo ambiente e tocar nas frias faces de Raice. A muito tempo de Raice não era tocado por nada que não fosse o frio e o vento gelado. E seu coração sentiu vontade de lembrar-se. E a desperta ouviu o seu coração e falou diretamente nas profundezas dele... Lembra-se do tempo em que nós dois éramos um, o tempo em que estávamos habitando a essência de um grande animal. O tempo em que eu era a metade esquerda do coração e você a metade direita. Ali foi o início de nossa ligação. Nós dois num único movimento, movendo o grande animal, nós dois desejando que ele conseguisse puxar a pesada carroça. Ao nosso lado foi colocados um outro animal mais fraco e nós sentimos vontade de afasta-lo para que pudéssemos ajuda-lo. Foi o primeiro momento em que a compaixão ressoou em nós, aquele foi o nosso primeiro passo em direção ao despertar, duas metades, uma intenção. Isso foi há muito tempo atrás. E durante muitos ciclos e CXXX

processo a vida e o universo nos ligaram... Houve o tempo em que éramos duas pétalas de uma rosa; as duas metades de um coração; um tempo em que éramos, as duas asas de um inseto e as duas asas de um pássaro; os dois lábios que se amam. O tempo passou e com ele novos ciclos foram iniciados e nós viramos “elementares” antes de virarmos fadas. E aprendemos juntos sobre o fogo, o ar, a terra e todos os primeiros ciclos menores. Durante muitas vidas estivemos ligados pelos laços invisíveis da perfeição. E durante muitas vidas fomos fadas ligadas, e durante muito tempo nós marchamos na direção de Absollon. Sou grata a ti por tudo e voltei para compartilhar o que começamos há muito tempo, o caminho do despertar. E o som dos tempos imemoriais ressoou na mente e no coração de Raice: Em todas as minhas vidas futuras, Que eu nunca caia sob a influência de maus companheiros; Que eu nunca faça mal nem a um fio de cabelo de qualquer ser vivo;

Que eu nunca seja privado da luz sublime do caminho espiritual. Para alcançarmos o despertar, a iluminação existe um caminho, quer você acredite quer não, quer você goste disso quer não, você tem que praticar esse ensinamento se quiser chegar a iluminação, ao despertar: “Dê todo o lucro e ganho de tudo que aprendeu e conquistou aos outros, e sem egoísmo aceite toda a culpa e toda a perda”. Enquanto Nahs falava diretamente ao coração de Raice, ele vivenciou um instante de consciência total, instante esse, que é um instante de liberdade perfeita e de iluminação; e no meio da confusão de si mesmo conseguiu vislumbrar o caminho e duvidou por um instante. A desperta sentiu a dúvida de seu coração e lhe revelou diretamente em sua essência: Está perto demais, por isso não o vemos. Parece bom demais para ser verdade, por isso não acreditamos. É profundo demais, por isso não conseguimos imaginar. Não está fora de nós, por isso não podemos obtê-lo novamente. Então imagens foram geradas pelo poder de fairyllan, no interior de Raice, através daquela primeira chama de amor que havia derretido um fragmento do CXXXI

gelo, entrou toda a transmutação, toda a energia fairyllan fluiu por lá; o sopro divino preencheu todo o seu interior com o vazio luminoso de onde tudo emerge. Uma estrada de luz apareceu em sua mente e com ela viu Nahs na outra ponte e uma voz interna lhe disse: Até chegar ao caminho, Você vagueia pelo mundo Com o precioso Desperto Completamente envolto dentro de si Como um trouxa de trapos ...você tem esse Desperto precioso. Desembrulhe-o rápido! E naquele instante em que vislumbrava seus processos internos ele compreendeu a escolha que seu coração havia feito há muito tempo atrás e que estava adormecido, como a semente que permanece adormecida no frio do inverno. Passo a passo ele se dirigiu mais e mais dentro de si, Nahs era a companheira de muitas vidas e muitos ciclos que a conduzia de volta sua natureza perfeita e luminosa. A estrada de luz sustentava Nahs e Raice, e passo a passo ele avançou, e em cada avanço um fragmento de trevas era iluminado. E naquele instante ele se desapegou e confiou na respiração de Absollon e seguiu a respiração de Absollon. Nahs tinha uma caixa sobre as mãos e lhe entregou e ele aceitou a entrega. Pois somente a

aceitação pode conduzir ao despertar... Raice abriu a caixa e viu um espelho e nas profundezas do espelho viu uma lagarta escura como as trevas. E viu a lagarta vagando sobre a terra e sentiu o desejo da lagarta de tocar o céu e conquistar a liberdade plena. A lagarta então começou a construir um casulo brilhante e durante algum tempo ela adormeceu para as coisas do mundo. Pouco a pouco o casulo começou a se abrir e de seu interior surgiu uma linda borboleta azul. As borboletas estão saiu das profundezas do espelho e fundiu ao coração de Raice. Então Raice se fundiu ao desejo de transmutação e o sopro divino começou a curar cada chaga de sua alma. Ele viu um brilho, ele sentiu o chamado para o despertar e do fundo de seu coração essas palavras jorraram: Eu me refugio no Desperto, o mestre iluminado; eu me comprometo com a iluminação. Eu me refugio no Caminho, o ensinamento espiritual; eu me comprometo com a verdade como ela é. Eu me refugio na Família cósmica, a comunidade espiritual; eu me comprometo em viver a vida iluminada.

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Raice havia entendido que sob cada pensamento, cada ação, sob o sol da consciência tornam-se sagrados e não existem fronteiras entre o sagrado e o profano. Pouco a pouco, ele retornou a percepção no ambiente do palácio e viu Nahs bem próxima de si. Ela aproximouse de modo gentil e terno, e ainda de olhos fechados observou o seu interior. As faces de Raice ainda estavam geladas devido ao uso do fairyllan do frio e seus olhos lembravam dois cristais gelados. E o calor daquele primeiro amor derreteu aos poucos o gelo interior, e um fragmento do gelo derretido caiu como uma gota de lágrima. Nahs se aproximou dele e ternamente colou a sua mão no rosto que há muito não era tocado. Depois colocou as duas mãos. Lentamente levantou a cabeça e mirou os olhos na direção de seus olhos. Raice olhava tudo de modo singelo e um sentimento de compaixão e servidão por todos os seres emergiu em si. A luz de Nahs era intensa, o dourado começou a tocar e envolver cada área gelada de sua alma. Ele sentia um leve calor acariciando cada parte de seu corpo gelado. De repente algo ocorreu e a magia foi evocada... Vagarosamente os olhos de Nahs foram se abrindo e mirando as profundezas da alma de Raice, ele vislumbrou a perfeição. Seus olhos eram ternos e luminosos como um oceano de luz pura; e ele mergulhou nesse oceano. E luz iluminou todo o ambiente interno e

externo, e houve um momento de êxtase e entese. Nahs olhava fixamente Raice, o companheiro de outros ciclos e muitas vidas e o envolvia com brilho de Absollon. Seus lábios foram se aproximando de Raice. O gelo de suas faces derretia e a tez colorida e viva retornava ao seu rosto iluminado. Então os lábios se tocaram e selaram um novo tempo, um novo processo; e a profecia se realizou: “Em tempos difíceis o gelo transformará as lágrimas da enviada e da dificuldade do futuro ela buscará o calor interno. E nesse processo o fluxo encontrará os opostos, então o Gelo irá acender o Fogo, e o Fogo irá transformar o Gelo; pois assim disse Absollon, o Supremo”.Canto VII Texto Sagrado do Reino das Fadas Era a fusão do Cosmo a união iluminada de tempos imemoriais que se consolidava. Através daquele beijo iniciaram o selamento do final de um ciclo. A luz iluminou-se em cada um e ambas fundiram-se em mente, coração e espírito, da fusão dos três elementos a aliança cósmica os uniu e o infinito se expressou em cada um. E ambos se fundiram no vazio luminoso e acenderam ao campo das fadas libertas. E o universo sussurou para Raice: Desse momento em diante o Cosmo lhe batiza e todos os que seus Ancestrais libertos lhe CXXXIII

abençoam... desse momento em diante tu será...Shan. Ambos serão a polaridade de um processo, um novo processo. Nahs e Shan, os despertos, os servos do Cosmo, a respiração de Absollon. Vocês são fairyllan, o sopro divino. Era o fim de uma era, um fim de um ciclo que havia sido selado. Aquele era o sinal do término da existência das fadas e ascensão a novos ciclos. Então, era chegada a hora de haverem novos guardiões e guardiãs de fairyllan. Na luz Nahs e Shan, ascenderam e iniciaram um novo ciclo de servidão e junto, iniciaram a transmutação lenta da era do Gelo. E durante 100.000 anos terrestres trabalharam pelo preparo do novo ciclo, controlando harmonicamente o fluxo de energia que determina o calor e o frio do planeta e de todos os seres. Depois de muitos séculos surgiram os novos guardiões e durante muito tempo Nahs e Shan, agiam em cada um deles lembrando os sobre os efeitos do calor e do frio; aquecendo seus corpos de dentro para fora e de fora para dentro e esfriando seus corpos do exterior para o interior e do interior para o exterior; lembravam que a água pode estagnar quando congela, fluir e se adaptar quando está líquida e ascender ao céu quando vaporiza. Através desses efeitos da Natureza eles tentavam lembrar a todos os seres sobre o caminho para o despertar. Eles se eram os agentes do movimento de frio e calor do mundo, cumprindo o sagrado voto...

As ilusões são inesgotáveis: eu prometo transcendê-las. Os ensinamentos do Caminho Espiritual são ilimitados: eu prometo dominálos. O caminho iluminado do Mestre de Fairyllan é incomparável: eu prometo incorporá-lo. Que o poder da transmutação perfeita se manifeste em sua plenitude. E depois de muito e muito tempo surgiram os homens e a profecia esquecida se cumpriu novamente: “O sopro divino é eterno, e no futuro e para todo o sempre existirá e será carregado, por novas guardiãs e guardiões; fadas sem asas que caminharão pela Terra... e terão o sopro divino em seus corações”.Canto XI Texto Sagrado do Reino das Fadas E o homem foi o herdeiro do conhecimento de fairyllan, que deve ser usado para iluminar, abençoar e proteger todos os seres e processos do planeta. E assim mais um ciclo se fechou, e após todo fechamento ocorre uma nova abertura; um novo processo emerge. Assim Nahs e Shan, depositaram sua compaixão e o desejo de servir outros no sentido da iluminação... e deixaram os escritos na página da natureza para lembrar os homens quem realmente são, perfeitos e iluminados; e deixaram grafados nas profundezas de uma caverna os 11.000 metros de escrito sobre o processo. CXXXIV

Nas últimas linhas existia o néctar de toda sabedoria das fadas, elementos que conduziriam as gerações futuras de novos guardiões ao despertar e esse foi à última mensagem deixada por compaixão e sabedoria dos antigos despertos... “Olhe para tudo como se fosse um sonho” “Coloque a responsabilidade no lugar certo” “Reflita sobre a bondade de todas as pessoas que encontrar” “Todas as atividades devem ser conduzidas com uma Única intenção, em tudo que fizer seja gentil, bondoso, cuidadoso, compassivo, amoroso, justo, razoável e generoso, com todos inclusive com você mesmo” “Todos os ensinamentos estão de acordo entre si” “Reflita sempre sobre o que provoca dificuldades em sua vida, sem desculpas ou fantasias” “Não transfira as cargas dos seus problemas para os outros, eles já carregam os seus próprios problemas” “Não afunde na autopiedade” “Mantenha a mente sempre alegre” “Aceite a si próprio como é” “Valorize onde o que você têm e onde chegou” “Leve aos outros o seu amor e compaixão”

“Troque felicidade e amor por sofrimento e dor, ajude aos outros” “Pense que a vida é curta e você pode morrer a qualquer momento, aprenda a morrer e você viverá, porque não há ninguém que tenha aprendido realmente a viver sem ter também aprendido a morrer” A última linha terminava em letras douradas e dizia... “O buscador que segue o caminho é uma luz que brilha sobre o mundo que sabe que toda felicidade existente neste mundo vem de pensar nos outros, e todo o sofrimento vem da preocupação consigo mesmo. Que Absollon ilumine o caminho de todos aqueles que buscam” E assim contaram os antigos...

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